valor nutritivo da silagem do resÍduo Úmido de …

148
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS VALOR NUTRITIVO DA SILAGEM DO RESÍDUO ÚMIDO DE CERVEJARIA NA ALIMENTAÇÃO DE VACAS LEITEIRAS Autora: Leiliane Cristine de Souza Orientadora: Profª Drª Claudete Regina Alcalde Co-orientadora: Profª Drª Maximiliane Alavarse Zambom “Tese apresentada, como parte das exigências para obtenção do título de DOUTOR EM ZOOTECNIA, no Programa de Pós-graduação em Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá Área de Concentração: Produção Animal.” MARINGÁ Estado do Paraná dezembro 2013

Upload: others

Post on 03-Nov-2021

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

VALOR NUTRITIVO DA SILAGEM DO RESÍDUO

ÚMIDO DE CERVEJARIA NA ALIMENTAÇÃO

DE VACAS LEITEIRAS

Autora: Leiliane Cristine de Souza

Orientadora: Profª Drª Claudete Regina Alcalde

Co-orientadora: Profª Drª Maximiliane Alavarse Zambom

“Tese apresentada, como parte das

exigências para obtenção do título de

DOUTOR EM ZOOTECNIA, no

Programa de Pós-graduação em

Zootecnia da Universidade Estadual de

Maringá – Área de Concentração:

Produção Animal.”

MARINGÁ

Estado do Paraná

dezembro – 2013

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Souza, Leiliane Cristine de

S729v Valor nutritivo da silagem do resíduo umido de

cervejaria na alimentação de vacas leiteiras /

Leiliane Cristine de Souza. -- Maringá, 2013.

134 f. : il.

Orientadora: Profª Drª Claudete Regina Alcalde.

Co-orientadora: Profª Drª Maximiliane Alavarse

Zambom.

Tese (doutorado) - Universidade Estadual de

Maringá, Centro de Ciências Agrárias, 2013.

1. Aditivos. 2. Vacas leiteiras - Digestibilidade.

3. Leite – Produção e composição. 4. Vacas leiteiras –

Silagem (subproduto da cerveja) – Nutrição. 5.

Parâmetros ruminais. I. Alcalde, Claudete Regina,

orient. II. Universidade Estadual de Maringá. Centro

de Ciências Agrárias. III. Título.

CDD 22.ed.636.2085

ii

SE-

Se és capaz de manter a tua calma quando Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;

De crer em ti quando estão todos duvidando, E para esses, no entanto, achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares, Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,

Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores.

Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires, Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires,

Tratar da mesma forma a esses dois impostores; Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas

Em armadilhas as verdades que disseste, E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,

E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,

E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, Resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo A dar seja o que for que neles ainda existe,

E a persistir assim quando, exaustos, contudo Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes

E, entre reis, não perder a naturalidade, E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,

Se a todos podes ser de alguma utilidade, E se és capaz de dar, segundo por segundo,

Ao minuto fatal todo o valor e brilho, Tua é a terra com tudo o que existe no mundo

E - o que ainda é muito mais – és um Homem, meu filho!

(Rudyard Kipling - tradução de Guilherme de Almeida)

iii

A Deus, por todas as bênçãos concedidas

Aos meus pais, Antonio Julio de Souza e Leila Maria da Silveira e Souza, por

estarem sempre ao meu lado apoiando, incentivando e depositando confiança, pelo

carinho e amor; por serem perseverantes, companheiros, batalhadores e exemplos de

honestidade, dignidade e humildade.

Aos irmãos, Leandra, Alessandro e Alexandre, pelo amor, amizade,

companheirismo e por estarem presentes em todos os instantes.

A eles, dedico, por ser motivo do meu viver, como sinal do amor, carinho e

cumplicidade que nos une.

Dedico

iv

AGRADECIMENTOS

A Deus, por tudo que tem me proporcionado.

À minha família, pelo apoio, incentivo, confiança e por me proporcionar uma

vida digna e a crença de que tudo é possível se o amor, integridade e humildade fizerem

parte do nosso dia a dia.

Ao namorado, e colega de trabalho, Sérgio Mangano de Almeida Santos, pelo

amor, amizade e companheirismo, e também pelas valiosas revisões durante a fase de

correção da tese.

À Universidade Estadual de Maringá e ao Programa de Pós-Graduação em

Zootecnia, pela oportunidade, que possibilitou a realização deste trabalho.

À Universidade Estadual do Oeste do Paraná e ao Programa de Pós-Graduação

em Zootecnia, pela parceria e apoio no desenvolvimento do projeto de pesquisa.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),

pela concessão da bolsa de estudos, de fundamental importância para a realização deste

trabalho.

À Fundação Araucária, pelo financiamento do projeto, por meio do Programa de

Apoio à Pesquisa Básica e Aplicada.

À Professora Drª Claudete Regina Alcalde, pelos ensinamentos e pelas horas

dedicadas à orientação.

À Professora Drª Maximiliane Alavarse Zambom, pela co-orientação.

Agradecimentos especiais aos professores Clóves Cabreira Jobim, Magali Soares

dos Santos Pozza e Marcela Abbado Neres, pelas valiosas contribuições e colaborações

no desenvolvimento deste trabalho.

v

A todos os Professores do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da

Universidade Estadual de Maringá e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná,

pelos ensinamentos e atenção despendidos ao longo dos anos.

Aos funcionários da Estação Experimental Prof. Dr. Antônio Carlos dos Santos

Pessoa, da Unioeste, pela colaboração nos trabalhos e aos funcionários da Fazenda

Experimental de Iguatemi, Vicente Faleiros, Célio Passolongo, Nelson Palmeira e

demais funcionários que colaboraram na execução do experimento.

Aos funcionários do LANA (Laboratório de Alimentos e Nutrição Animal –

UEM), Cleuza Volpato, Creuza Azevedo, Hermógenes Augusto C. Neto e Roberto

Carlos D’Avila, pelo auxílio nas análises laboratoriais.

Aos colegas de equipe: Andressa de Andrade, Ana Paula Possamai, Bruna Susan

de Labio Molina, Daiane Damasceno, Deise Dalazen Castagnara, Eduardo Augusto da

Cruz, Emerson Schmidt, Larissa Mallmann, Ludmila Couto Gomes, Maichel Jhonatas

Lange, Marcelo Neumann, Marisa Maria Pletsch Schneider Vivian, Rodrigo dos Reis

Tinini, Sérgio Mangano de Almeida Santos, Simoni Paladini, Tatiane Fernandes,

essenciais na condução do experimento. Obrigada pela paciência e dedicação de todos.

Aos meus queridos amigos: Ana Claudia Radis, André Krapp, Anésio Moraes,

Fernando Henrique Souza, Franciane Barbieri Dias Senegalhe, Keli Adriana Vidarenko

da Rosa, Kely Melchiotti, Liliane Borsatti, Liliane Cristina Dalla Valle, Michele

Pasqualotto, Natália Holtz Alves Pedroso Mora, Pricila Baldessar, Pryscilla Cenci de

Barros, Tiago Junior Pasquetti, Vaneila Daniele Lenhardt Savaris, que mesmo distantes

estiveram sempre me apoiando e compartilhando as alegrias e vitórias.

Aos amigos queridos integrantes do quinteto fantástico: Eros Ferreira do

Amaral, Letícia Siloto, Carol Mendes e Elton Zemke, obrigada pelo apoio e pelas

alegrias compartilhadas, eu fui abençoada por Deus para ter pessoas especiais como

vocês ao meu lado.

vi

BIOGRAFIA

LEILIANE CRISTINE DE SOUZA, filha de Antonio Julio de Souza e Leila

Maria da Silveira e Souza, nasceu em Iporã, Paraná, no dia 1º de janeiro de 1981.

Em março de 2001, iniciou no curso de Zootecnia, pela Universidade Estadual

do Oeste do Paraná (UNIOESTE – PR), concluindo-o em 2005.

Em 2010, obteve título de Mestre em Produção e Nutrição Animal, pelo

Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual do Oeste do

Paraná, sob orientação da Profª Drª Maximiliane Alavarse Zambom.

Em março de 2010, ingressou no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da

Universidade Estadual de Maringá, em nível de Doutorado, na área de concentração

Produção Animal.

No mês de novembro de 2013, submeteu-se à banca para defesa da Tese.

vii

ÍNDICE

Pág.

RESUMO ......................................................................................................................... ix

ABSTRACT ..................................................................................................................... xi

I. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 1

1. Introdução .......................................................................................................... 1

2. Processo industrial da cevada e obtenção do resíduo úmido de cervejaria ........ 2

3. Caracterização nutricional do resíduo úmido de cervejaria ............................... 4

4. Fermentação do resíduo úmido de cervejaria ..................................................... 7

5. Efeitos da utilização do resíduo úmido de cervejaria sobre os parâmetros

produtivos de vacas leiteiras .................................................................................... 11

Referências Bibliográficas ....................................................................................... 20

II. OBJETIVOS GERAIS ............................................................................................... 26

III. Valor nutricional do resíduo úmido de cervejaria ensilado com aditivos nutrientes

com alto teor de matéria seca ................................................................................... 27

Resumo .................................................................................................................... 27

Introdução ................................................................................................................ 28

Material e Métodos .................................................................................................. 29

Resultados e discussão ............................................................................................. 34

Conclusões ............................................................................................................... 47

Referências .............................................................................................................. 48

IV. Dinâmica fermentativa, microbiológica e estabilidade aeróbia da silagem de resíduo

úmido de cervejaria com uso de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca ... 51

Introdução ................................................................................................................ 52

viii

Material e Métodos .................................................................................................. 53

Resultados e discussão ............................................................................................. 60

Conclusões ............................................................................................................... 72

Referências .............................................................................................................. 73

V. Valor nutritivo do resíduo úmido de cervejaria ensilado com aditivos nutrientes com

alto teor de matéria seca para vacas leiteiras ........................................................... 77

Resumo . .................................................................................................................. 77

Introdução ................................................................................................................ 78

Material e métodos .................................................................................................. 79

Resultados e Discussão ............................................................................................ 84

Conclusão ................................................................................................................ 93

Referências .............................................................................................................. 94

VI. Níveis de inclusão de silagem do resíduo úmido de cervejaria na alimentação e

produção de vacas leiteiras ...................................................................................... 98

Resumo .................................................................................................................... 98

Introdução ................................................................................................................ 99

Material e Métodos ................................................................................................ 100

Resultados e discussão ........................................................................................... 107

Conclusão .............................................................................................................. 126

Referências ............................................................................................................ 128

VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 134

RESUMO

Objetivou-se avaliar a inclusão de farelo de trigo, casca do grão de soja ou milho moído

na ensilagem do resíduo úmido de cervejaria, e seus efeitos sobre o padrão

fermentativo, valor nutricional e nutritivo das silagens, e sobre a produção, eficiência e

composição do leite de vacas da raça Holandês. Primeiramente, o resíduo úmido de

cervejaria (RUC) foi acondicionado em silos experimentais, sendo ensilado in natura

(SRUC), ou acrescido de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca: 20% de

farelo de trigo (SRFT), 20% de casca do grão de soja (SRCGS) ou 20% de milho moído

(SRMM), na matéria natural. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente

casualizado em esquema fatorial 4x7, com quatro silagens e sete tempos de avaliações,

sendo o tempo zero (0) analisado na ensilagem e os demais (1, 3, 7, 14, 28 e 56 dias) na

abertura dos silos, e quatro repetições. Quanto à caracterização químico-bromatológica,

a inclusão dos aditivos proporcionou aumento linear nos teores de matéria seca (MS) e

diminuiu os teores de proteína bruta (PB). Quanto à dinâmica fermentativa, a adição de

milho moído ao RUC proporcionou menor capacidade tampão. O nitrogênio amoniacal

foi maior para a SRFT aos 56 dias de ensilagem e menor para a SRUC no tempo zero

(0). A população de fungos foi maior na SRMM e na SRFT. A SRUC e SRMM

apresentaram os maiores resultados de bactérias ácido-lácticas na ensilagem e de

clostrídios na abertura aos 56 dias. O uso de aditivos nutrientes com alto teor de matéria

seca aumenta a fração disponível de carboidratos e de proteínas do resíduo úmido de

cervejaria ensilado, e a utilização do milho moído apresenta-se vantajosa, pois diminui

as perdas por efluentes e de matéria seca, e melhora a digestibilidade in vitro da matéria

seca. A abertura dos silos é indicada aos 28 dias, pela menor população de clostrídios na

silagem. Com os resultados obtidos, para determinar o valor nutritivo das silagens

x

acrescidas de aditivos, foram utilizadas quatro vacas da raça Holandês, multíparas,

distribuídas no delineamento em quadrado latino (4x4), com quatro períodos

experimentais, de 21 dias cada, e quatro tratamentos. As dietas foram compostas por

feno de Tifton 85, silagens do RUC (SRUC, SRFT, SRCGS ou SRMM) e ração

concentrada, na proporção 60:40 de volumoso:concentrado. Os consumos de MS e

matéria orgânica (MO) aumentaram com as dietas SRFT e SRMM. As maiores

digestibilidades da MS, orgânica, fibra em detergente neutro (FDN) e PB foram

observadas nas dietas SRCGS e SRMM. A produção diária, a produção corrigida para

3,5% de gordura e a composição do leite não foram alteradas pelas dietas. As

concentrações de nitrogênio ureico no leite foram maiores para a dieta SRMM. A

inclusão da casca do grão de soja ou milho moído, na ensilagem do RUC, aumenta a

digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes. No entanto, o uso de aditivos nutrientes

com alto teor de matéria seca não altera a produção, eficiência e composição do leite de

vacas da raça Holandês. Posteriormente, visando avaliar os níveis de inclusão da

silagem do RUC sobre os parâmetros produtivos, foram utilizadas cinco vacas

primíparas, da raça Holandês, distribuídas no delineamento em quadrado latino (5x5),

com cinco períodos experimentais de 21 dias cada, e cinco tratamentos. As dietas foram

compostas por silagens de milho e SRUC, ração concentrada, na proporção 60:40 de

volumoso:concentrado. Os tratamentos consistiram de dieta controle sem inclusão de

SRUC, e os demais, com 15%, 20%, 25% e 30% de inclusão da SRUC. O consumo de

matéria seca não foi influenciado pela inclusão da SRUC e digestibilidade da matéria

seca diminuiu linearmente. A amônia ruminal apresentou efeito linear negativo; as

concentrações de acetato e propionato, a produção e a eficiência produtiva de leite

apresentaram efeito quadrático com a inclusão da SRUC. A inclusão da silagem do

resíduo úmido de cervejaria, na dieta de vacas em lactação, influencia negativamente a

digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes. Entretanto, é favorável por aumentar a

produção e a eficiência produtiva de leite. O teor de gordura no leite diminui

linearmente, porém, aumenta os ácidos graxos insaturados e o ácido linoleico

conjugado.

Palavras-chave: aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, digestibilidade,

estabilidade aeróbia, leite, parâmetros ruminais, subproduto da

cerveja

ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate the inclusion of wheat bran, soybean hulls or

ground corn in the ensilage of wet brewer’s grain, and its effects on the fermentation

dynamics, nutritional value of silages, as well as the production, efficiency and

composition of milk of Holstein cows. First, the wet brewers grain (WBG) was ensiled

in experimental silos, in natura (SWBG), or adding additives with high dry matter

content (absorbent): 20% wheat bran (SWB), 20% soybean hulls (SSH) or 20% ground

corn (SGC), in natural matter basis. The experimental design was a randomized 4x7

factorial, with four silages and seven times of evaluation, being zero time evaluated in

the ensilage, and others (1, 3, 7, 14, 28 and 56 days) in the opening of the silo, and four

replications. With respect to bromatological characterization, the inclusion of additives

linearly increased the dry matter (DM) and decreased the crude protein (CP) contends.

Concerning the dynamic fermentation, the addition of ground corn to the WBG

provided less buffer capacity. The ammonia nitrogen was higher for SWB after 56 days

of ensiling and lower for SWBG at time 0. The population of fungi was higher in SGC

and SWB. The SWBG and SGC showed the highest results of lactic acid bacteria and

clostridia in silage in the opening at 56 days. The use of absorbent additives increases

the available carbohydrates and proteins fractions of ensiled wet brewers grain, and the

use of ground corn was beneficial, because it reduces effluent and dry matter losses, and

improves in vitro digestibility of dry matter. The opening of the silos is indicated at 28

days, due the lower population of clostridia in silage. With these results, to determine

the nutritive value of silages additives, there were used four Holstein cows, multiparous,

distributed in Latin square design (4x4) with four experimental periods of 21 days each

and four treatments. The diets were composed of Tifton 85 hay, WBG silages (SWBG,

xii

SWB, SSH or SGC) and concentrate, 60:40 forage to concentrate ratio. The DM and

organic matter (OM) intake increased with the SWB and SGC diets. The higher

digestibility of DM, organic matter, neutral detergent fiber (NDF) and CP were

observed in SSH and SGC diets. Daily production, corrected to 3.5 % fat, and milk

composition were not changed by diets. The concentrations of urea nitrogen in milk

were higher for SGC diet. The inclusion of soybean hulls or ground corn in the silage of

WBG increases the dry matter and nutrients digestibility however, the use of absorbent

additives does not change the production, efficiency and milk composition of Holstein

cows. Posteriorly, in order to evaluate levels of inclusion of the WBG silage on

production parameters, there were used five primiparous Holstein cows, distributed in

Latin square design (5x5) with five experimental periods of 21 days each and five .

treatments. Diets were composed of corn silage and SWBG, concentrated feed, in 60:40

forage to concentrate ratio. Treatments consisted of control diet without adding SWBG,

and the others with 15 %, 20 %, 25 % and 30 % inclusion of SWBG. The dry matter

intake was not affected by the inclusion of SWBG, and dry matter digestibility

decreased linearly. The ruminal ammonia showed a negative linear effect, and the

concentrations of acetate and propionate, milk production and efficiency showed a

quadratic effect with the inclusion of SWBG. The inclusion of wet brewer’s grain

silage, in the diet of lactating cows decreased the dry matter and nutrients digestibility .

However, it is favorable to increase the milk production and efficiency. The fat content

in milk decreases linearly, but increases the unsaturated fatty acids and conjugated

linoleic acid.

KEY WORDS: absorbent additives, aerobic stability, brewer by-product, digestibility,

milk, ruminal parameters

I. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. Introdução

Em sistemas de exploração pecuária, os gastos com alimentação representam a

maior parte dos custos produtivos. A estacionalidade de produção das pastagens, aliada

à diminuição das áreas para o cultivo de grãos, diminui os recursos alimentares

disponíveis para os ruminantes, refletindo na elevação dos custos de produção.

Estes fatores promovem grandes desafios à pesquisa científica na busca por fontes

alternativas de alimentos que minimizem os custos de produção, para que a produção de

bovinos não esteja totalmente dependente de “commodities” como, por exemplo, o

milho e a soja, cereais imprescindíveis à alimentação humana.

Dentre as estratégias utilizadas para a redução dos custos de produção, tem-se a

substituição de alimentos tradicionais, que competem com a alimentação humana, por

fontes alternativas como os resíduos da agroindústria (Souza et al., 2012).

A incorporação de resíduos agroindustriais na alimentação animal passa a ser

vantajosa sob o ponto de vista nutricional e ambiental, pois além de suprir as exigências

nutricionais dos animais, atende as atuais demandas e expectativas de proteção do meio

ambiente, evitando possíveis danos ambientais provocados quando

2

estes resíduos não recebem uma destinação adequada, causando transtornos ambientais,

sanitários e econômicos (Silveira et al., 2002).

Pela grande pressão política e social para a redução da poluição decorrente das

atividades industriais, a maioria das grandes empresas tenta se adaptar a esta realidade,

modificando seus processos de modo que os resíduos possam ser utilizados. A indústria

cervejeira produz quantidades relativamente grandes de subprodutos e resíduos, como

resíduo de cervejaria ou bagaço, lúpulo e levedura (Mussato et al., 2006). Entretanto,

como a maioria destes tem origem agrícola, podem ser reciclados e reutilizados,

destacando-se como alternativas na alimentação de ruminantes, não somente pela

diminuição dos custos de produção, mas também pela possibilidade de destinação

adequada a este resíduo (Szponar et al., 2003).

2. Processo industrial da cevada e obtenção do resíduo úmido de cervejaria

A cerveja é a quinta bebida mais consumida no mundo, sendo apenas inferior ao

consumo do chá, refrigerante, leite e café. Segundo estimativas da FAOSTAT (2013), a

produção mundial de cerveja foi de 185,19 bilhões de litros em 2011, e no Brasil de

13,3 bilhões de litros.

Segundo Fadel (1999), para cada tonelada de cerveja produzida, são utilizados

150 kg de grãos de cevada, o que resulta em aproximadamente 36,7 kg de MS de

resíduo de cervejaria. Portanto, 25% do material utilizado no processo industrial da

cerveja tornam-se resíduo, que necessita de destinação apropriada. Dessa forma, o

resíduo úmido de cervejaria (RUC) apresenta ampla disponibilidade no mercado

brasileiro.

3

As matérias-primas utilizadas pelas cervejarias no Brasil são água, malte de

cevada, levedura e lúpulo, podendo ainda ser utilizados adjuntos (milho, trigo, aveia e

arroz) (Velasco et al., 2009). O processo de fabricação de cerveja pode ser dividido em

três fases: produção de mosto; processo fermentativo e acabamento ou pós-tratamento.

O RUC é obtido do processamento inicial na fabricação de cerveja, na mosturação, que

consiste na moagem do malte.

Inicialmente, no processo denominado de maltagem, os grãos de cevada

(Hordeum vulgare) são imersos em água à temperatura que pode variar de 5 a 18ºC por

dois dias, para obtenção do malte, que pode ser preparado com outros cereais como o

milho, trigo, aveia e arroz. Posteriormente, a água é drenada para que ocorra a

germinação dos grãos (6 a 7 dias) e hidrólise do amido em dextrina e maltose. Os grãos

germinados são desidratados, cessando a atividade enzimática, sendo dividido em malte,

gérmen e raiz de malte. O grão maltado é prensado, embebido em água e misturado a

outros ingredientes que favoreçam a fermentação, formando o produto final, mosto de

cerveja, e a parte sólida retirada constitui o resíduo úmido de cervejaria (Clark et al.,

1987; Pereira et al.,1999; Mussato et al., 2006; Geron et al., 2010).

Os processos descritos anteriormente são exemplos de grandes indústrias

cervejeiras. No entanto, dependendo o tipo de produção e de cerveja produzida ocorrerá

alterações nas etapas de produção ou na ordem destas.

Assim, o resíduo úmido de cervejaria compõe-se essencialmente por glumas de

malte prensado, ricos em celulose, lignina e compostos que não foram solubilizados

durante o procedimento de fabricação da cerveja, bem como por quantidades variadas

de raízes de malte que são posteriormente adicionadas (Pereira et al., 1999; Mussato et

al., 2006; Tang et al., 2009).

4

3. Caracterização nutricional do resíduo úmido de cervejaria

O valor nutricional do RUC é muito variável, pois a composição química deste

resíduo pode sofrer alterações na concentração de nutrientes, pela qualidade da matéria-

prima, variedade da cevada, época de colheita, qualidade e tipos de ingredientes

adicionados ao processo, bem como pelas variações no processamento utilizado por

cada indústria cervejeira.

Clark et al. (1987) relataram que o RUC pode apresentar valores

proporcionalmente maiores de proteína bruta e de outros nutrientes, quando comparado

com o próprio grão de cevada, pela retirada do amido no processo de fermentação, deste

modo os demais nutrientes elevam-se proporcionalmente.

Basicamente, o RUC é composto por cascas de pericarpo, ricas em celulose e

polissacarídeos não celulósicos e lignina, que recobrem o grão de cevada original, e

dependendo da uniformidade da maltagem, maiores ou menores teores de amido e

ainda, algumas proteínas e lipídios. A casca também contém consideráveis quantidades

de sílica e grande parte dos componentes polifenólicos do grão de cevada (Macleod,

1979)

Segundo o National Research Council (NRC, 2001), o RUC apresenta em sua

composição, aproximadamente, 21,8% de matéria seca (MS); 28,4% de proteína bruta

(PB); 47,1% de fibra em detergente neutro (FDN) e 5,2% de extrato etéreo (EE). Desse

modo, os teores de proteína bruta permitem que RUC seja utilizado como fonte de

proteína.

Além das variações na composição químico-bromatológica, pelo processo de

fabricação da cerveja, López & Pascual (1981) observaram a influência do processo de

secagem sobre a composição química do resíduo úmido de cervejaria e constataram

5

teores de 9,4% e 29,9% de MS; 26,2% e 34,8% de PB e 7,4% e 10,1% de EE na matéria

seca, respectivamente, para os grãos prensados com ou sem água.

Cabral Filho (1999) avaliou o RUC na alimentação de ruminantes, por meio de

sua caracterização nutricional e da sua substituição a alimentos volumosos e observou

valores de 24,8% de PB, 59,9% de FDN e 8,8% de EE. West et al. (1994) relataram

valores de 29,6%, 65,5% e 6,8%, respectivamente, para PB, FDN e EE. Geron et al.

(2007) obtiveram valores de 31,6 % de PB; 59,65% de FDN e 5,46% de EE.

Os maiores atrativos para o uso do resíduo são os altos teores de proteína, desse

modo, diversos autores (Santos et al., 1984; Armentano et al., 1986; Valadares Filho et

al., 1990; Geron et al., 2007) têm avaliado as características da fração proteica. O RUC

pode ser considerado, para vacas leiteiras, uma excelente fonte de proteína, pois esta é

parcialmente resistente à degradação ruminal (Armentano et al., 1986). Pesquisa

realizada por Santos et al. (1984), com vacas leiteiras, a fim de mensurar a fermentação

ruminal, fluxo e absorção de aminoácidos no intestino, relatou que dietas com resíduo

de cervejaria forneceram maiores quantidades de aminoácidos para absorção no

intestino, quando comparado ao farelo de soja.

Clark et al. (1987) observaram resultados indicativos de que aproximadamente

50% da proteína bruta do RUC é resistente à degradação microbiana ruminal e pode ser

considerada como proteína sobrepassante.

No sistema americano Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS,

2002), as proteínas e os carboidratos são classificados de acordo com sua taxa de

degradação, enfatizando a necessidade de sincronização destes no rúmen, para que se

obtenha a máxima eficiência de síntese da proteína microbiana, bem como a redução

das perdas energéticas e nitrogenadas decorrentes da fermentação ruminal.

6

Segundo Ørskov (1988), o crescimento dos microrganismos do rúmen é

dependente da disponibilidade de nitrogênio, e este, da quantidade de proteína

efetivamente digerida no rúmen e da proteína disponibilizada para os outros

compartimentos do trato digestivo para digestão e absorção. E a degradabilidade efetiva

da proteína no rúmen depende de características do alimento, consumo, processamento

dos ingredientes e de possíveis limitações na fermentação ocorrida no rúmen.

O sistema CNCPS caracteriza a proteína dos alimentos em frações, dividindo-as

em frações A, B1, B2, B3 e C. A fração A é considerada de rápida disponibilidade e

constituída basicamente de nitrogênio não proteico; a fração B1 é constituída de

proteínas solúveis (peptídeos, oligopeptídeos e globulinas) e rapidamente degradáveis

no rúmen; a fração B2 de proteínas citoplasmáticas, albuminas e glutelinas, com

degradação intermediária; a fração B3 de proteínas insolúveis, associadas à parede

celular, prolaminas e proteínas desnaturadas em detergente neutro, de degradação lenta

no rúmen; e a fração C de proteína lignificada indisponível no rúmen e no intestino.

Ao comparar as frações nitrogenadas do farelo de soja com as do resíduo de

cervejaria e da silagem do resíduo de cervejaria, Geron et al. (2007) observaram que as

frações A, B1 e B2 são maiores no farelo de soja, expressas em % da proteína bruta. No

entanto, a fração B3, de lenta degradação, foi maior no resíduo, dessa forma, os autores

afirmaram que a adição do resíduo fermentado ou não, reduziria a degradação ruminal

da proteína, possibilitando maior passagem de proteína dietética para o intestino,

disponíveis para o metabolismo animal.

De acordo com o NRC (2001), o resíduo de cervejaria pode ser considerado um

alimento concentrado proteico. No entanto, Harris (1991) indicou que a adição do

resíduo em dietas de vacas em produção contribui para o atendimento dos

requerimentos de fibra e pode ser incluído em até 20% da matéria seca total da dieta.

7

A fibra é considerada um dos principais nutrientes nas dietas para ruminantes, e o

não atendimento de sua exigência pode acarretar diversos distúrbios, principalmente no

gado leiteiro, como redução do teor da gordura do leite, problemas de casco e baixa

conversão alimentar. A capacidade da fibra em manter a saúde do animal e a produção

de gordura do leite, é denominada de fibra efetiva, que está relacionada ao somatório

das habilidades totais de um alimento em substituir a forragem e/ou volumoso nas dietas

e a porcentagem de gordura no leite consumindo esta dieta seja efetivamente mantida

(Mertens, 1997).

Segundo Mertens (1997) e Armentano & Pereira (1997), a fibra em detergente

neutro fisicamente efetiva está relacionada especificamente às características físicas da

fibra (tamanho de partículas) que influenciam a atividade de mastigação e a natureza

bifásica do conteúdo ruminal.

Allen (1997) descreve fibra fisicamente efetiva como a fração do alimento que

estimula a mastigação e, consequentemente, a produção de saliva e secreção de

tamponantes, e estes neutralizam os ácidos produzidos pela fermentação da matéria

orgânica no rúmen. A secreção de tamponantes e o balanço entre os ácidos produzidos

são determinantes do pH ruminal e a queda deste pode reduzir o consumo de matéria

seca, digestibilidade da fibra e produção microbiana (Russel et al., 1992).

4. Fermentação do resíduo úmido de cervejaria

Segundo Brochier & Carvalho (2009), o resíduo úmido de cervejaria (RUC)

apresenta elevada umidade, aproximadamente 80%, o que encarece seu transporte,

forçando, especialmente pequenos produtores a adquirirem e armazenarem grandes

quantidades de resíduo nas propriedades, o que possibilita a rápida deterioração deste

8

material e, consequentemente, diminui seu valor nutritivo, além de constituir-se num

fator de risco à saúde dos animais em função do desenvolvimento de fungos e toxinas.

No entanto, Cabral Filho (1999) e Souza et al. (2012) relataram que, apesar da alta

umidade, é possível o armazenamento do resíduo úmido de cervejaria na forma de

silagem conservando a qualidade do mesmo.

A utilização de aditivos para elevar o teor de matéria seca na ensilagem de

alimentos com elevada umidade, pode melhorar as características da silagem obtida,

visto que, as alterações ocorridas durante a fermentação são diretamente influenciadas

pelos procedimentos adotados na produção e armazenamento dos alimentos

conservados (Jobim et al., 2007).

Diversos aditivos podem ser empregados para elevar o teor de matéria seca,

dentre estes, os aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, caracterizados por

reduzir ou eliminar a produção de efluentes dos silos (Wilkinson, 1998). Segundo

McDonald (1981), o efluente das silagens lixivia compostos nitrogenados, açúcares,

ácidos orgânicos, e sais minerais, dessa forma, a inclusão desses aditivos é uma

alternativa vantajosa, que impede o escape de nutrientes via efluentes e diminui as

perdas de matéria seca. Portanto, o ingrediente usado como aditivo nas silagens deve

apresentar elevado teor de matéria seca, alta capacidade para retenção de água, boa

aceitabilidade e fornecer carboidratos para a fermentação, além de ser de fácil

manipulação, aquisição e de baixo custo.

A casca do grão de soja (CGS) é composta principalmente de fibras, classificada

pelo NRC (2001) como um alimento volumoso seco, apresenta 66,30% de fibra em

detergente neutro, e mesmo com elevados teores de fibra, a digestibilidade in vitro da

matéria seca é de aproximadamente 95% (Belyea et al., 1989; Stern & Ziemer, 1993 ), e

da parede celular cerca de 95,6% (Zambom et al., 2001).

9

Pelos teores de fibra e energia, a CGS pode substituir alimentos tradicionais como

o milho moído e a polpa cítrica, de forma a apresentar potencial para uso na ensilagem

de gramíneas tropicais (Moraes, 2007), embora o teor energético da CGS seja inferior

ao do fubá de milho, que é altamente digestível e não altera o desempenho animal

(Lima et al., 2009), desde que em substituição parcial ou inclusões moderadas.

Segundo Bach et al. (1999), a elevada digestibilidade da FDN da CGS,

proporciona alta produção de ácidos graxos voláteis no rúmen, em razão da fermentação

da fibra no rúmen, além dos benefícios decorrentes da digestão da fibra da dieta total

sobre o pH ruminal (Ludden et al., 1995). Segundo Santos et al. (2004), a substituição

de grãos de cereais pela casca do grão de soja em dietas para vacas lactantes melhora o

ambiente ruminal reduzindo os riscos de acidose subclínica, diminuindo o teor de amido

e aumentando o teor de FDN digestível.

A adequada preservação da silagem depende da produção de ácido lático para

estabilização da fermentação e abaixamento do pH, dependente de suficiente quantidade

de carboidratos solúveis para a fermentação e baixa capacidade tampão do material a ser

ensilado (Van Soest, 1994). A capacidade tampão pode ser definida como a resistência

que o material ensilado apresente ao abaixamento de pH, e pode ser mensurada pela

quantidade de ácido requerida para baixar o pH da forragem após a ensilagem, sendo

exercida por bases inorgânicas de potássio e cálcio, proteína, aminoácidos livres e por

sua capacidade de produção de amônia (Van Soest, 1994).

Segundo McKersie (1985), aminoácidos básicos, aminas, amônia e produtos finais

da degradação de proteína, impedem o rápido abaixamento do pH do material ensilado.

Silagens com pH elevado e baixo conteúdo de matéria seca indicam ocorrência de

fermentações proteolíticas, com produção de aminas e ácido butírico. Os teores de

10

nitrogênio amoniacal podem ser utilizados como indicativo da qualidade no processo

fermentativo.

Quanto maior a capacidade tamponante, maior quantidade de ácido lático terá que

ser produzida, para que o pH atinja níveis inibitórios às atividades enzimáticas e à ação

dos microrganismos nocivos à qualidade da silagem (Muck, 1998).

Para adequada conservação e sucesso no processo de ensilagem, é necessário

garantir a fermentação láctica e inibir o crescimento de microrganismos indesejáveis,

como clostrídios, enterobactérias, leveduras e fungos (Coan et al., 2007). A produção de

ácido lático é fundamental para a estabilização da fermentação e abaixamento do pH,

que é dependente de suficiente quantidade de carboidratos solúveis como substrato para

fermentação e baixa capacidade tampão da forrageira (Van Soest, 1994).

O período após a abertura dos silos é uma fase crítica de todo o processo de

ensilagem. Nessa fase, após a abertura dos silos, com a exposição ao oxigênio inicia-se

a oxidação dos açúcares solúveis e degradação do ácido lático produzido na

fermentação, pois este é utilizado pelos microrganismos que degradam a silagem e,

segundo Oude Elferink et al. (2000), a estabilidade aeróbia pode ser definida como a

resistência ao aumento da temperatura da silagem no painel do silo e durante a oferta

aos animais no cocho.

A deterioração aeróbia, nas silagens após a abertura dos silos, reduz o valor

nutricional e oferece riscos de desenvolvimento de fungos e leveduras, microrganismos

potencialmente patogênicos ou indesejáveis. Segundo Woolford (1990), a deterioração é

evidenciada por uma elevação na temperatura e no pH, causada pelo metabolismo dos

açúcares e ácidos orgânicos. Este metabolismo é intensificado quando a silagem é de

melhor qualidade, em função dos maiores teores de carboidratos solúveis residuais e

ácido láctico, principais substratos utilizados por microrganismos patogênicos.

11

Inicialmente, os compostos solúveis, como carboidratos solúveis e compostos

nitrogenados solúveis são substratos para o desenvolvimento dos microrganismos e as

perdas desses nutrientes resultam em correspondente aumento nos conteúdos de fibra

em detergente neutro, fibra em detergente ácido e cinza e perda de nutrientes digestíveis

(McDonald et al., 1991).

5. Efeitos da utilização do resíduo úmido de cervejaria sobre os parâmetros

produtivos de vacas leiteiras

Segundo Silva et al. (2011), o consumo de matéria seca pelos ruminantes é

regulado por mecanismos físicos, químicos, metabólicos, neuro-hormonais e também

pela ingestão de água. Mertens (1992) relatou que o consumo apresenta limitações

físicas, principalmente pela fibra em detergente neutro da dieta, e limitações

fisiológicas, quando a dieta fornece energia além da necessidade do animal.

O consumo de matéria seca, segundo o NRC (2001), é importante critério na

avaliação de dietas e é também dependente do tipo e qualidade dos ingredientes das

dietas. A digestão dos nutrientes é dependente da interação de diversos fatores, animal,

dieta e ecossistema ruminal, não podendo, dessa forma, ser considerado, somente,

atributo do alimento e o aumento significativo no consumo pode levar a ampliação na

taxa de passagem, reduzindo a digestibilidade dos nutrientes (Van Soest, 1994).

Características do alimento podem promover limitações no consumo de matéria

seca, e, desta forma, interferir na produtividade animal (Mertens, 1997). Não só a

quantidade, mas também os componentes do leite podem ser afetados pelas variações

que ocorrem nas dietas, de modo que 50% das variações que ocorrem na composição de

12

gordura e proteína do leite são consequência de alterações da dieta (González et al.,

2001).

Não foram observados efeitos da adição do RUC, no consumo de matéria seca nos

trabalhos desenvolvidos por West et al. (1994), Belibasakis & Tsirgogianni (1996),

Chiou et al. (1998) e Geron et al. (2010), em dietas para vacas lactantes. Entretanto,

estes mesmos autores observaram que pequenas variações, de 1% a 4%, no consumo de

matéria seca nas dietas com inclusão de RUC até níveis de 30%, ocorreram devido ao

teor de umidade destas rações.

A redução no consumo de matéria seca de vacas leiteiras foi observada, em

pesquisa realizada por Davis et al. (1983), quando estas foram alimentadas com teores

crescentes de RUC (0, 20, 30 e 40% da matéria seca), e, segundo os autores o aumento

da umidade das rações com RUC foi responsável pela diminuição no consumo.

Os valores de energia e proteína do RUC foram superiores aos da silagem de

azevém perene, em avaliações realizadas por Phipps et al. (1995). Os autores

observaram que a substituição de 33% pelo RUC na MS resultou em aumento no valor

nutritivo da dieta para vacas leiteiras, não alterou o consumo de MS e promoveu

aumento na produção de leite.

O uso do resíduo de cervejaria, nas dietas de vacas leiteiras de alta produção,

apresenta vantagens por permitir a complementação dos teores de proteína bruta acima

de 13%, sem provocar excesso na produção de amônia e, desse modo, beneficia a

produção de leite (Velasco et al., 2009).

Na inclusão do resíduo úmido de cervejaria (42,9% e 85,8% na MS) na ração

concentrada de vacas leiteiras, Cardoso et al. (1982) verificaram 23,5% de matéria seca

(MS), 32,3% de proteína bruta (PB) e 68,4% de nutrientes digestíveis totais (NDT) na

MS. Estes autores observaram que a adição deste resíduo fornecido a vacas leiteiras

13

alimentadas com silagem de sorgo como fonte de volumoso, promoveu significativo

aumento na produção de leite nos animais arraçoados com o maior teor de resíduo.

Pesquisa realizada por Johnson et al. (1987), com a inclusão de 25% de resíduo

úmido de cervejaria e silagem do resíduo úmido de cervejaria na dieta de vacas leiteiras,

demonstrou redução no consumo de matéria seca e queda na produção de leite, quando

os animais receberam silagem do RUC na dieta. Os autores relataram que, estes efeitos

se devem à elevação do nitrogênio insolúvel em detergente neutro e à redução do

nitrogênio solúvel, provocados pela fermentação natural do resíduo úmido de cervejaria.

Em avaliações do efeito da relação entre a densidade energética da dieta no pré-

parto e a fonte proteica, utilizando farelo de soja ou resíduo de cervejaria seco, na

alimentação de vacas de alta produção com condição corporal diferentes no pós-parto,

Seymour et al. (1986) não constataram alterações no consumo, produção de leite ou

peso corporal.

Geron et al. (2010), em avaliações da inclusão de até 15% da silagem do RUC nas

dietas compostas por silagem de azevém, silagem de milho e ração concentrada de

vacas da raça Holandês, obtiveram aproximadamente 77% de digestibilidade na MS. Os

autores relataram que o aumento na digestibilidade da dieta foi influenciado pela

composição percentual dos alimentos volumosos, pois a ração com 15% de inclusão da

silagem do RUC apresentava maior proporção de silagem de milho e menor de

proporção de silagem de azevém.

No entanto, Rogers et al. (1986) avaliaram a inclusão de 22 e 40% de resíduo de

cervejaria úmido ou resíduo de cervejaria desidratado na dieta basal, composta por

silagem de milho e amido de milho, para vacas lactantes, e não observaram alterações

na digestibilidade da matéria seca entre as dietas, com valor médio de 69,0% para a

14

ração com resíduo, mesmo com diferentes proporções de silagem de milho entre as

rações.

Dietas com baixos teores de fibra, rapidamente fermentáveis e com reduzido

tamanho de partículas, interferem no pH ruminal. Pelo tamanho de partícula do resíduo

úmido de cervejaria, podem ocorrer efeitos prejudiciais para o ambiente ruminal, como

a diminuição do pH, bem como a rápida fermentação e assimilação de carboidratos, o

que, por sua vez pode provocar distúrbios metabólicos (Aguilera-Soto et al., 2009).

O pH ruminal é um importante parâmetro a ser avaliado, pois reflete diretamente

as características da dieta, além de afetar não só produtos finais da fermentação, mas

também a taxa de crescimento dos microrganismos ruminais (Lavezzo et al., 1998). A

diminuição do pH reduz a degradabilidade da proteína e da fibra, embora seus efeitos

sejam menores sobre a digestão do amido (Hoover & Stokes, 1991).

Caso ocorra redução moderada no pH ruminal, até aproximadamente 5,8,

implicará em redução moderada da digestão da fibra, mesmo que ainda não ocorra

impacto sobre o crescimento dos microrganismos celulolíticos. Entretanto, quando o

pH atinge a faixa entre 5,5 e 5,0, ocorre a redução do número de microrganismos

fibrolíticos, bem como em suas taxas de crescimento, podendo causar inibição na

digestão da fibra (Hoover, 1986). Segundo Hoover (1986), a faixa de pH ideal para a

ótima digestão da fibra varia de 6,2 a 7,0; Van Soest (1994) sugere que este valor seria

de 6,7.

Chiou et al. (1998), em avaliações das características do ambiente ruminal de

vacas leiteiras, substituíram 10% do farelo de soja pelo resíduo de cervejaria, e

observaram menor queda de pH ruminal após o arraçoamento dos animais em

comparação aos demais tratamentos. Segundo os autores, os maiores teores de fibra e a

menor quantidade de carboidratos solúveis presentes na dieta com resíduo seriam

15

responsáveis por este efeito. Entretanto, Dhiman et al. (2003) e Aguilera-Soto et al.

(2009) não relataram mudanças significativas no pH do rúmen, com dietas contendo

15% de resíduo de cervejaria seco.

Os níveis de amônia no rúmen são importantes na síntese de proteína microbiana,

e sua concentração no líquido ruminal é consequência do equilíbrio entre sua produção,

utilização pelos microrganismos e absorção pela parede ruminal, sendo que a utilização

pelos microrganismos depende da quantidade de energia disponível A maioria das

bactérias ruminais é capaz de utilizar amônia como fonte de nitrogênio para síntese de

proteína microbiana. Entretanto, a fermentação ruminal da proteína, frequentemente,

produz mais amônia que os microrganismos podem utilizar. Em muitos casos, mais de

25% da proteína podem ser perdidas como amônia. Em razão de ser um dos

ingredientes mais caros nas dietas de ruminantes, existe considerável interesse na

redução da fermentação ruminal de proteína (Russel et al., 1992).

Segundo Belibasakis & Tsirgogianni (1996), o resíduo úmido de cervejaria

apresentou melhor qualidade da fonte proteica, em comparação ao farelo de soja, com

maior teor de metionina e similar quantidade de lisina, e alto teor de proteína não

degradada no rúmen (40% da proteína bruta). Estas características promoveram

aumento na produção de leite de vacas leiteiras, alimentadas com a inclusão de 16% do

resíduo na dieta. O perfil de aminoácidos está diretamente relacionado à síntese do leite

e a lisina e metionina são os principais aminoácidos limitantes (Clark et al., 1987;

Schwab et al., 1996).

Em estudos realizados com vacas alimentadas com RUC não foram constatadas

diferenças na produção de leite, no entanto, observou-se aumento na proteína do leite

(Mahnken, 2010).

16

Polan et al. (1985) observaram que a utilização do resíduo de cervejaria seco ou

úmido resultou em aumento da proteína do leite em comparação com o farelo de soja.

No entanto, em estudo realizado por West et al. (1994), em vacas alimentadas com o

resíduo úmido, foram relatadas diminuições na percentagem de proteína e aumento na

gordura do leite de vacas que receberam 15% e 30% de resíduo na dieta comparado com

os animais que não foram alimentados com resíduo.

Foi observado por Miller et al. (1970) e Phipps et al. (1995) decréscimo na

percentagem da gordura do leite. Estes autores sugeriram que o menor teor de gordura

do leite deve-se principalmente ao alto conteúdo de gordura insaturada do RUC, pois

elevadas quantidades de gordura insaturada, associadas à diminuição na digestão

ruminal da porção fibrosa são responsáveis pela diminuição nos valores de gordura do

leite.

Como os ácidos graxos constituem cerca de 90% dos triglicerídeos, e estes quase

a totalidade dos lipídios do leite, a composição dos ácidos graxos é determinante nas

propriedades físicas, químicas e organolépticas do leite.

Normalmente, as gorduras das dietas de ruminantes são ricas em ácidos graxos

(AG) com 18 carbonos, por exemplo, esteárico (18:0), oleico (18:1), linoleico (18:2) e

linolênico (18:3) (Staples et al., 2001), sendo os grãos e sementes de oleaginosas, a

principal fonte dos ácidos linoleico e linolênico. A silagem do resíduo úmido de

cervejaria é um alimento rico em ácido oleico e linoleico, com teores de

aproximadamente, 15,74 e 48% da gordura total (Fernandes, 2004).

Geron et al (2007) observaram que a silagem do resíduo úmido de cervejaria,

quando comparado ao farelo de soja, apresentou maiores concentrações de AG

mirístico, palmítico, oleico e linoleico, e menores teores de linolênico, araquídico e

17

gondoico. Segundo estes mesmos autores, a concentração de linoleico foi

aproximadamente 73% maior que o farelo de soja.

Segundo Van Soest (1994), o processo de ensilagem provoca mudanças na

concentração dos ácidos graxos dos materiais ensilados, o que resulta, provavelmente,

das oxidações e formações de polímeros, bem como da atividade dos microrganismos e

das enzimas vegetais durante a fermentação.

A concentração dos ácidos graxos presentes no leite é proveniente da síntese na

glândula mamária, a partir do acetato e β-hidroxibutirato, e dos AG pré-formados do

sangue, oriundos da dieta ou mobilizado de reservas corporais, aproximadamente 40%

do ácido palmítico (16:0), os AG com 18 carbonos e uma pequena porção de ácidos

graxos insaturados com mais de 18 carbonos (Dado et al., 1993; Chilliard et al., 2000).

Segundo Kramer et al. (1997), a composição dos ácidos graxos da gordura do leite

caracteriza-se por conter, desde ácidos graxos com quatro carbonos, até ácidos graxos

de cadeia muito longa, com 26 carbonos, incluindo ácidos graxos de cadeia ramificada e

diversos isômeros dos insaturados, alguns em pequenas concentrações.

A quantidade e a fonte de gordura dietética são consideradas fatores nutricionais

com potencial para alterar a composição de ácidos graxos da gordura do leite (Jenkins

& McGuire, 2006). No entanto, o metabolismo ruminal também provoca modificações

extensas nas gorduras dietéticas, pois as bactérias lipolíticas anaeróbias secretam

lipases, que hidrolisam as gorduras, liberando ácidos graxos do glicerol. Após a

hidrólise, o glicerol é fermentado a ácidos graxos voláteis, e os ácidos graxos

insaturados podem ser metabolizados pelas bactérias ruminais, sofrendo bio-

hidrogenação e isomerização (Staples et al., 2001).

A bio-hidrogenação ruminal dos ácidos graxos insaturados e a quantidade destes

disponíveis para a deposição no tecido adiposo ou secreção na gordura do leite podem

18

sofrer influência de vários fatores. Segundo Bauman & Griinari (2003), mudanças na

fermentação ruminal provocam alterações no pH ruminal e alteram a proporção molar

dos ácidos graxos voláteis no rúmen (acetato e butirato), precursores de ácidos graxos

via síntese “de novo”, provocando assim queda na concentração de gordura do leite. O

aumento na quantidade de ração concentrada na dieta promove queda no pH ruminal,

podendo estar relacionado com a redução na bio-hidrogenação e lipólise no rúmen

(Chouinard et al., 1999).

Os ácidos graxos com menos de dez carbonos presente no leite têm origem na

lipogênese mamária, através da síntese “de novo”, sendo esta também a origem de

aproximadamente metade dos ácidos graxos dos ácidos graxos de 12 a 16 carbonos. Os

ácidos graxos de cadeia longa, com mais de 18 carbonos, têm origem exógena, oriundos

das reservas corporais ou de ácidos graxos absorvidos na dieta (Demeyer & Doreau,

1999)

A isomerização dos ácidos graxos poli-insaturados pode dar origem ao ácido

linoleico conjugado (CLA), principal intermediário da clássica rota de bio-hidrogenação

do ácido linoleico no rúmen (Bauman & Griinari, 2001). O CLA também pode ser

formado endogenamente, por meio da dessaturação do ácido vacênico pela enzima

esteaoril-CoA dessaturase ou delta 9-dessaturase (Bauman et al., 1999; Griinari et al.,

2000; Corl et al., 2001).

O CLA é considerado uma mistura de isômeros posicionais e geométricos do

ácido linoleico com duplas ligações. O isômero mais ativo do CLA, o cis-9, trans-11, é

considerado eficiente na inibição do crescimento de células cancerígenas em humanos

(Staples, 2001; Shingfield et al., 2008). Os produtos lácteos são considerados fontes

ricas em CLA (Pariza et al., 2000; Ip, 2001).

19

Os resultados observados na literatura evidenciam o potencial de utilização do

resíduo úmido de cervejaria nas dietas de vacas leiteiras. No entanto, as variações

observadas nas respostas ao uso deste resíduo, tanto nas características do resíduo

ensilado, quanto nos parâmetros de produção animal, evidenciam a necessidade de

avaliar a utilização de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca na ensilagem do

resíduo úmido de cervejaria, e também, da resposta animal aos diferentes níveis de

inclusão da silagem nas dietas.

20

Referências Bibliográficas

AGUILERA-SOTO, J.I.; RAMIREZ, R.G.; ARECHIGA, C.F. et al. Effect of feed

additives on digestibility and milk yield of Holstein cows fed wet brewer grains.

Journal of Applied Animal Research, v.36, p.227-230, 2009.

ALLEN, M.S. Relationship between fermentation and acidproduction in the rumen and

requirement for physically effectivefiber. Journal of Dairy Science, v.80, p.1447-

1462, 1997.

ARMENTANO, L.E.; HERRINGTON, T.A.; POLAN, C.E. et al. Ruminal degradation

of dried brewers grains, and soybean meal. Journal of Dairy Science, v.69,

p.2124-2133, 1986.

ARMENTANO, L.; PEREIRA, M. Measuring the effectiveness of fiber by animal

response trials. Symposium: Meeting the fiber requirements of dairy cows. Journal

of Dairy Science,v.80, p.1426-1425, 1997.

BACH, A.; YOON, I. K.; STERN, M. D. et al. Effects of type of carbohydrate

supplementation to lush pasture on microbial fermentation in continuous culture.

Journal of Dairy Science, v. 82, p. 153-160, 1999.

BAUMAN, D.E.; GRIINARI, J.M. Regulation and nutritional manipulation of milk fat:

low-fat milk syndrome. Livestock Production Science, v.70, p.15-29, 2001.

BAUMAN, D.E.; GRIINARI, J.M. Nutritional regulation of milk fat synthesis. Annual

of Review Nutrition, v.23, p.203-227, 2003.

BAUMAN, D.E.; BAUMGARD, L.H.; CORL, B.A. et al. Biosynthesis of conjugated

linoleic acid in ruminants. In: AMERICAN SOCIETY OF ANIMAL SCIENCE,

Ithaca, 1999. Proceedings…, Ithaca: Cornel University, 1999. p.1-15.

BELYEA, R. L.; STEVENS, B. J.; RESTREPO, R. J. et al. Variation in composition of

by-products feeds. Journal of Dairy Science, v.72, p. 2339-2345, 1989.

BELIBASAKIS, N.G.; TSIRGOGIANNI, D. Effects of wet brewers grains on milk

yield, milk composition and blood components of dairy cows in hot weather.

Animal Feed Science and Technology, v.57, p.175-181, 1996.

BROCHIER, M.A.; CARVALHO, S. Efeito de diferentes proporções de resíduo úmido

de cervejaria sobre as características da carcaça de cordeiros terminados em

confinamento. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.61,

p.190-195, 2009.

21

CABRAL FILHO, S.L.S. Avaliação do resíduo de cervejaria em dietas de

ruminantes através de técnicas nucleares e correlatas. 1999. 68f. Dissertação

(Mestrado)–Universidade de São Paulo, Piracicaba.

CARDOSO. R.M.; SILVA, J.F.C.; MOTTA, V.A. et al. Produção de leite de vacas

alimentadas com silagem de sorgo suplementada com polpa úmida de cevada.

Revista Brasileira de Zootecnia, v.11, p.38-45, 1982.

CHILLIARD, Y.; FERLAY, A.; MANSBRIDGE, R.M. et al. Ruminant milk plasticity:

nutritional control of saturated, polyunsaturated, trans and conjugated fatty acids.

Annales Zootechnia, v.49, p.182-205, 2000.

CHIOU, P.W.S.; CHEN, C.R.; CHEN, K.J. et al. Wet brewers’ grains or bean curd

pomance as partial replacement of soybean meal for lactating cows. Animal Feed

Science and Technology, v.74, p.123-134, 1998.

CHOUINARD, P.Y.; CORNEAU, L.; BARBANO, D.M. Conjugated linoleic acids

alter milk fatty acid composition and inhibit milk fat secretion in dairy cows.

Journal of Nutrition, v.129, p.1579-1584, 1999.

CLARK, J.H.; MURPHY, M.R.; CROOKER, B.A. Supplying the protein needs of dairy

cattle from byproducts feeds. Journal of Dairy Science, v.70, p.1092-1109, 1987.

COAN, R.M.; REIS, R.A.; GRACIA, G.R. et al. Dinâmica fermentativa e

microbiológica de silagens dos capins Tanzânia e Marandú acrescidas de polpa

cítrica peletizada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p. 1502-1511, 2007.

CORL, B.A.; BAUMGARD, L.H.; DWYER, D.A. et al. The role of delta-9-desaturase

in the production of cis-6, trans-11. Journal of Nutritional Biochemistry, v.12,

p.622-630, 2001.

CORNELL NET CARBOYDRATE END PROTEIN AND PROTEIN SYSTEM –

CNCPS. Ithaca: Cornell University, 2002. Software, version 5.0.18.

DADO, R.G.; MERTENS, D.R.; SHOOK, G.E. Metabolizable energy and absorbed

protein requirements for milk component production. Journal of Dairy Science,

v.76, p.1575-1588, 1993.

DAVIS, C.L.; GRENAWALT, D.A.; McCOY, G.C. Feeding values of pressed brewers’

grains for lactanting dairy cows. Journal of Dairy Science, v.66, p.73-79, 1983.

DEMEYER, D.; DOREAU, M. Targets and procedures for altering ruminant meat and

milk lipids. Proceedings of the Nutrition Society. v.58, p.593–607, 1999.

DETMANN, E.; CECON, P.R.; PAULINO, M.F. Estimação de parâmetros da cinética

de trânsito de partículas em bovinos sob pastejo por diferentes sequências

amostrais. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, p. 222-230, 2001.

DHIMAN,T.R; BINGHAM, H.R.; RADLOFF, H.D. Production response of lactating

cows fed dried versus wet brewers’ grain in diets with similar dry matter content.

Journal of Dairy Science, v. 86, p. 2914–2921, 2003.

FADEL, J.G. Quantitative analyses of selected plant by-product feed stuffs, a global

perspective. Animal Feed Science and Technology, v.79, p.255-268, 1999.

FERNANDES, S.A.A. Levantamento exploratório da produção, composição e perfil

de ácidos graxos do leite de búfalas em cinco fazendas do estado de São Paulo.

2004. 84p. Tese (Doutorado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz

de Queiroz”/Universidade de São Paulo, Piracicaba.

22

FAOSTAT – Food and Agriculture Organization (United Nations). Agriculture

database, Disponível em: < http://faostat3.fao.org/faostat-

gateway/go/to/search/beer/E >. Acesso em: dezembro/2013.

GERON, L.J.V.; ZEOULA, L.M.; ERKEL, J.A. et al. Consumo, digestibilidade dos

nutrientes, produção e composição do leite de vacas alimentadas com resíduo de

cervejaria fermentado. Acta Scientiarum Animal Sciences, v.32, p.69-76, 2010.

GERON, L.J.; ZEOULA, L.M.; BRANCO, A.F. et al. Caracterização, fracionamento

proteico, degradabilidade ruminal e digestibilidade in vitro da matéria seca e

proteína bruta do resíduo de cervejaria úmido e fermentado, Acta Scientiarum

Animal Sciences, v.29, p.291-299, 2007.

GONZÁLEZ, F.H.D. Composição bioquímica do leite e hormônios da lactação. In:

GONZÁLEZ, F.H.D.; DURR, J.W.; FONTANELI, R.S. (Eds) Uso do leite para

monitorar a nutrição e o metabolismo de vacas leiteiras. Porto Alegre: 2001,

p.5-22.

GRIINARI, J.M.; CORI, B.; LACY, S. et al. Conjugated linoleico acid is synthesized

endogenously in lactanting dairy cows by delta-9 desaturase. Journal of Nutrition,

v.130, p.2285-2291, 2000.

HARRIS, B. Value of higher-fiber alternative feedstuffs as extenders of roughage

sources. In: Alternative feeds for dairy & beef cattle, St. Louis, 1991. p.138-145.

HOOVER, W.H. Chemical factors involved in ruminal fiberdigestion. Journal of

Dairy Science, v.68, p.40-44, 1986.

HOOVER, W.H., STOKES, S.R. Balancing carbohydrates and proteins for optimum

rumen microbial yield. Journal of Dairy Science, v.74, p.3630-3644, 1991.

HUIGE, N.J. Brewery by-products and effluents. In: HARDWICK, W.A. (Ed.)

Handbook of Brewing, New York: Marcel Dekker. 1994, p.501-550.

IP, C. CLA and cancer prevention research. In: INTERNATIONAL CONFERENCE

ON CLA, 1, Alesund, 2001, Proceedings…Alesund: Natural ASA, 2001, p.8.

JENKINS, T.C.; McGUIRE, M.A. Major advances in nutrition: impact on milk

composition. Journal of Dairy Science, v.89, p.1302–1310, 2006.

JOBIM, C.C.; NUSSIO, L.G.; REIS, R.A. et al. Avanços metodológicos na avaliação da

qualidade da forragem conservada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, supl.

Esp., p.101-119, 2007.

JOHNSON, C.O.L.E.; HUBER, J.T.; KING, K.J. Storage and utilization of wet brewers

grains in diets for lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v.70, p.98-107,

1987.

KRAMER, J.K.; FELLNER, V.; DUGAN, M.E. et al. Evaluating acid and base

catalysis in the methylation of milk and rumen fatty acids with special emphasis on

conjugated dienes and total trans fatty acids. Lipids, v.32, p.1220-1228, 1997.

LAVEZZO, O.E.N.M.; LAVEZZO, W.; WECHSLER, F.S. Estágio de

desenvolvimento do milho. 3. Avaliação de silagens por intermédio de parâmetros

de fermentação ruminal. Revista Brasileira de Zootecnia, v.27, p.171-178, 1998.

LIMA, M.L.M.; FERNANDES, J.J.R.; CARVALHO, E.R. et al. Substituição do milho

triturado por casca de soja em dietas para vacas mestiças em lactação. Revista

Ciência Animal Brasileira, v.10, p.1037- 1043, 2009.

23

LÓPEZ, J.D.; PASCUAL, J.L.M. Influence of the drying process on the composition of

brewers dried grains. Animal Feed Science and Technology, v.6, p.163-168,

1981.

LUDDEN, P. A.; CECAVA, M. J.; HENDRIX, K. S. The value of soybean hulls as a

replacement for corn in beef cattle diets formulated with or without added fat.

Journal of Animal Science, v. 73, p. 2706-2711, 1995.

MACLEOD, A.M. The physiology of malting in brewing science. In: POLLOCK,

J.R.A (Ed.) 1.ed. New York: Academic Press, 1979. p.145–232.

MAHNKEN, C.L. Utilization of wet brewers grains as a replacement for corn silage

in lactating dairy cow diets. 2010. 51p. Thesis (Master of Science) – Kansas State

University, Manhatttan.

McDONALD, P. The biochemistry of silage. New York: JohnWiley & Sons, 1981.

207p.

McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of silage.

2.ed. Marlow: Chalcombe Publications, 1991. 340p.

McKERSIE, B. D. Effect of pH on proteolysis in ensiled legume forage. Agronomy

Journal, v.77, p.81-86, 1985.

MERTENS, D.R. Análise de fibra e sua utilização na avaliação de alimentos e

formulações de rações. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE RUMINANTES.

Anais… Lavras: SBZ, 1992. p.188.

MERTENS, D.R. Creating a system for meeting the fiber requirements of dairy cows.

Journal of Dairy Science, v.80, p.1463-1481, 1997.

MILLER, T.B.; EL HANG, G.A.; PRATT, G. Evaluation of wisky by product 3.

Effects of calcium supplements on the digestibility and intake of ruminants diet

containing malt distillers grains. Journal of the Science of Food and Agriculture,

v.21, p.19-26, 1970.

MORAES, E.H.B.K. Ensilagem de gramíneas tropicais. Revista Ciência Animal

Brasileira, v.8, p.606-608, 2007.

MUCK, R.E. factors influencing silage quality and their implications for management.

Journal of Dairy Science, v.71, p.2992-3002, 1998.

MUSSATO, S.I.; DRAGONE, G.; ROBERTO, C. Brewer’s spent grain: generation,

characteristics and potential applications. Journal of Cereal Science, v.43, p.1–14,

2006.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient Requirements of Dairy

Cattle. Washington, D.C., 2001. 381p.

ØRSKOV, E.R. Nutricion protéica de los ruminantes. Zaragoza: Acribia, 1988. 178p.

OUDE ELFERINK, S.J.W.H.; DRIEHUIS, F.; GOTTSCHAL, J.C. et al. Silage

fermentation process and their manipulation. In: FAO ELETRONIC ONFERENCE

OF TROPICAL SILAGES, Rome, 2000. Silage making in the tropics with

emphasis on small holders. Proceedings… Rome: FAO, 2000, p.17-30.

PARIZA, M.W.; PARK, Y.; COOK, M.E. Mechanisms of actino of conjugated linolec

acid: evidence and speculation. In: SOCIETY EXPERIMENTAL OF BIOLOGY

MEDICINE, Proceedings... 2000. v.223, p.8-13.

24

PEREIRA, J.C.; GOZZÁLEZ, J.; OLIVEIRA, R.L. et al. Cinética de degradação

ruminal do bagaço de cevada submetido a diferentes temperaturas de secagem.

Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, p.1125-1132, 1999.

PHIPPS, R.H.; SUTTON, J.D.; JONES, B.A. Forage mixtures for day cows: the effect

on dry-matter intake and milk production of incorporating either fermented or urea-

treated whole-crop wheat, brewer’s grain, fodder beet or maize silage into diets

based on grass silage. Animal Science, v.61, p.491-496, 1995.

POLAN, C.E.; HERRINGTON, W.A.; WARK, W.A. et al. Milk production response to

diets supplemented with dried grains, wet brewers grains, or soybean meal.

Journal of Dairy Science, v.68, p.2016-2026, 1985.

POMERANZ, Y.; DIKEMAN, E. From barley to beer-a mineral study. Brewers

Digest, v.51, p.30–32, 1976.

ROGERS, J.A.; CONRAD, H.R.; DEHORITY, B.A. Microbial numbers, rumen

fermentation and nitrogen utilization of steers fed wet or dried brewers´ grains.

Journal of Dairy Science, v.69, p.745-753, 1986.

RUSSELL, J.B.; O'CONNOR, J.D.; FOX, D.G.et al. A net carbohydrate and protein

system for evaluating cattle diets: I. Ruminal fermentation. Journal of Animal

Science, v.70, p.3551-3561, 1992.

SANTOS, K.A.; STERN, M.D.; SATTER, L.D. Protein degradation in the rumen and

amino acid absorption in the small intestine of lactation dairy cattle fed various

protein sources. Journal of Animal Science, v.51, p.244-255, 1984.

SANTOS, F.A.P.; MARTINEZ, J.C.; CARMO, C.A. et al. Sistemas de alimentação

com mecanismos de flexibilidade para a produção de leite. In: ZOCCAL, R.;

AROEIRA, L.J.M.; MARTINS, P.C. et al.(Ed.). Leite: uma cadeia produtiva em

transformação. Juiz de Fora: EMBRAPA, 2004. p.117-162.

SCHWAB, C.G. Amino acid nutrition of the dairy cow: current status. In:

CORNELLNUTRITION CONFERENCE FOR FEED MANUFACTURES, 1996,

Ithaca, NY. Proceedings…. Ithaca, NY: Cornell University, 1996. p.184-198.

SEYMOUR, W.M.; C.P. POLAN. Dietary energy regulation during gestation on

subsequent lactational response to soybean meal or dried brewers grain. Journal of

Dairy Science, v.69, p.2837-2845, 1986.

SHINGFIELD, K.J.; CHILLIARD, Y.; TOIVONEN, V. et al. Trans fatty acids and

bioactive lipids in ruminant milk. In Bioactive Components of Milk. Advances in

Experimental Medicine and Biology, v.606, p.3–65, 2008.

SILVA, J.F.C. Mecanismos reguladores de consumo. In: BERCHIELI, T.T.; PIRES,

A.V.; OLIVEIRA, S.G. et al. (Eds). 2.ed. Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal:

FUNEP, 2011. p.57-77

SILVEIRA, R.N.; BERCHIELLI, T.T.; FREITAS, D. et al. Fermentação e

degradabilidade ruminal em bovinos alimentados com resíduos de mandioca e

cana-de-açúcar ensilados com polpa cítrica peletizada. Revista Brasileira de

Zootecnia, v.31, p.793-801, 2002.

SOUZA, L.C.; ZAMBOM, M.A.; POZZA, M.S.S. et al. Development of

microorganisms during storage of wet brewery waste under aerobic and anaerobic

conditions. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 41, p. 188-193, 2012.

25

STAPLES, C. R.; THATCHER, W. W.; MATTOS, R. Estratégia de suplementação de

gordura em dietas de vacas em lactação. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE

BOVINOCULTURA DE LEITE, 2001, Lavras. Anais… Lavras- UFLA, 2001.

p.298-330.

STERN, M. D., ZIEMER, C. J. Consider value, cost when selecting non forage fiber.

Feedstuffs. v. 65, p. 14-17, 1993.

SZPONAR, B.; PAWLIK, K.J.; GAMIAN, A. et al. Protein fraction of barley spent

grain as a new simple medium for growth and sporulation of soil actinobacteria.

Biotechnology Letters, v.25, p.1717-1721, 2003.

TANG, D, YIN, G; HE, Y. et al. Recovery of protein from brewer’s spent grain by

ultrafiltration. Biochemical Engineering Journal, v.48, p.1-5, 2009.

VALADARES FILHO, S.C.; SILVA, J.F.C.; LEÃO, N.I. et al. Degradabilidade in situ

da material seca e proteína bruta de vários alimentos em vacas em lactação. Revista

Brasileira de Zootecnia, v.19, p.512-522, 1990.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. Ithaca: Cornell University.

Press, 1994. 476p.

VELASCO, F.O.; GONCALVES, L.C.; TEIXEIRA, A.M. et al. Resíduo de cervejaria

para gado leiteiro. In: Alimentos para gado de leite. 1.ed. GONÇALVES, L.C.;

BORGES, I.; FERREIRA, P.D. (Ed) Belo Horizonte: FEPMZV, 2009. 578p.

WEST, J.W.; ELY, L.O.; MARTIN, S.A. Wet brewers grain for lactating dairy cows

during hot, humid weather. Journal of Dairy Science, v.77, p.196-204, 1994.

WILKINSON, J.M. Additives for ensiled temperate forage crops. In. REUNIÃO

ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35. 1998, Botucatu.

Anais...Botucatu: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1998. p.73-108.

WOOLFORD, M.K. A Review. The detrimental effects of air on silage. Journal of

Applied Bacteriology, v.68, p.101-116, 1990.

ZAMBOM, M.A.; SANTOS, G.T.; MODESTO, E.C. et al. Valor nutricional da casca

do grão de soja, farelo de soja, milho moído e farelo de trigo para bovinos. Acta

Scientiarum, v.23, p.937-943, 2001.

ZANINE, A.M.; SANTOS, E.D.; FERREIRA, D.J. et al. Efeito do farelo de trigo sobre

as perdas, recuperação da matéria seca e composição bromatológica da silagem de

capim Mombaça. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal

Science, v. 53, p. 803-809, 2006.

II. OBJETIVOS GERAIS

Avaliar a inclusão do farelo de trigo, casca do grão de soja ou milho moído na

ensilagem do resíduo úmido de cervejaria e seus efeitos sobre as características

químico-bromatológicas, digestibilidade in vitro da matéria seca e orgânica, dinâmica

fermentativa e microbiológica, bem como sobre a estabilidade aeróbia das silagens.

Determinar o valor nutritivo da silagem do resíduo úmido de cervejaria acrescida

de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, e avaliar a inclusão de níveis da

silagem sem aditivos sobre os parâmetros produtivos, de vacas leiteiras.

III. Valor nutricional do resíduo úmido de cervejaria ensilado com aditivos

nutrientes com alto teor de matéria seca

Resumo - Objetivou-se com o presente trabalho avaliar a inclusão do farelo de trigo,

casca do grão de soja ou milho moído na ensilagem do resíduo úmido de cervejaria

(RUC) e seus efeitos sobre a composição químico-bromatológica, as frações de

proteínas e de carboidratos, e a digestibilidade in vitro da matéria seca e da matéria

orgânica. O resíduo úmido de cervejaria foi ensilado in natura (SRUC), ou acrescido de

aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, na matéria natural: 20% de farelo de

trigo (SRFT), 20% de casca do grão de soja (SRCGS) ou 20% de milho moído

(SRMM). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em

esquema fatorial 4x7, com quatro silagens e sete tempos de avaliações, sendo o tempo

zero (0) analisado no momento da ensilagem e os demais (1, 3, 7, 14, 28 e 56 dias) na

abertura dos silos e quatro repetições. No decorrer do período de ensilagem, a inclusão

dos aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca proporcionou aumento linear nos

teores de matéria seca para valores próximos aos considerados adequados para o

processo fermentativo de silagens e diminuiu os teores de proteína bruta pelo efeito de

diluição. O uso de aditivos na ensilagem promoveu maiores teores das frações de

proteína A+B1+B2 e menor fração C. A inclusão do milho na ensilagem do RUC

proporcionou maiores teores de carboidratos, maior proporção da fração de carboidratos

A + B1 e menor da fração C. O uso de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca

aumenta a fração disponível de carboidratos e de proteínas do resíduo úmido de

cervejaria ensilado. A utilização do milho moído na ensilagem apresenta-se vantajosa,

pois melhora a digestibilidade in vitro da matéria seca.

Palavras-chave: digestibilidade in vitro, resíduo de cerveja, silagem, sistema CNCPS

28

Introdução

O resíduo úmido de cervejaria é um dos alimentos alternativos provenientes da

agroindústria que pode ser utilizado na alimentação de ruminantes. Este é resultante da

fase inicial do processo de fabricação de cervejas e sua composição químico-

bromatológica pode sofrer variações na concentração de nutrientes, pela qualidade da

matéria-prima e ingredientes adicionados à cevada (açúcares e xaropes, arroz, aveia,

trigo, milho etc), e pelas variações no processamento adotado pela indústria cervejeira.

Este resíduo caracteriza-se por apresentar aproximadamente 28,4% de proteína

bruta; 47,1% de fibra em detergente neutro e 5,2% de extrato etéreo (NRC, 2001), e

elevada umidade, em torno de 80% (Brochier & Carvalho, 2009). A alta umidade

presente no resíduo de cervejaria encarece seu transporte, o que leva, especialmente,

pequenos produtores a adquirir e armazenar grandes quantidades de resíduo nas

propriedades. Souza et al. (2012) constataram que, mesmo com baixos teores de matéria

seca, é possível o armazenamento do resíduo úmido de cervejaria na forma de silagem,

o que evita a deterioração do material.

A utilização de aditivos para elevar o teor de matéria seca na ensilagem de

alimentos com alta umidade pode melhorar as características da silagem obtida, visto

que as alterações ocorridas durante a fermentação são diretamente influenciadas pelos

procedimentos adotados na produção e armazenamento dos alimentos conservados

(Jobim et al., 2007). Sob essas condições é de fundamental importância a determinação

da composição química da silagem obtida o que possibilita maior acurácia na estimação

da resposta animal.

Dentre os constituintes químicos de maior relevância para a nutrição animal,

destacam-se as frações que compõem as proteínas e os carboidratos, especialmente

29

quando se aborda o uso de resíduos, cuja constituição química e taxa de degradação

apresentam grandes variações (Van Soest, 1994).

No sistema americano Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS,

2002), as proteínas e os carboidratos são classificados de acordo com sua taxa de

degradação, de modo que enfatiza a necessidade de sincronização destes no rúmen, para

que se obtenha a máxima eficiência de síntese de proteína microbiana, e a redução das

perdas energéticas e nitrogenadas decorrentes da fermentação ruminal.

Embora exista diversidade de estudos sobre as alterações na composição químico-

bromatológica dos alimentos conservados, ainda são escassos trabalhos que

contemplem o resíduo úmido de cervejaria ensilado, especialmente quando acrescidos

de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca. Dessa forma, objetivou-se neste

trabalho avaliar a inclusão do farelo de trigo, casca do grão de soja ou milho moído na

ensilagem do resíduo úmido de cervejaria e seus efeitos sobre a composição químico-

bromatológica, as frações de proteínas e de carboidratos, e a digestibilidade in vitro da

matéria seca e da matéria orgânica.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Estação Experimental Prof. Dr. Antônio Carlos

dos Santos Pessoa, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) campus

de Marechal Cândido Rondon – PR. O processamento das amostras e as análises

laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Análises de Alimentos e Nutrição

Animal - – UNIOESTE.

O resíduo úmido de cervejaria (RUC) utilizado no experimento foi obtido em

indústria cervejeira localizada no município de Toledo - PR. O delineamento

30

experimental utilizado nas avaliações da composição químico-bromatológica foi o

inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4x7, com quatro silagens e sete tempos

de avaliações, sendo o tempo zero (0) analisado no momento da ensilagem e os demais

(1, 3, 7, 14, 28 e 56 dias) na abertura dos silos e quatro repetições. Para o fracionamento

de proteínas e carboidratos utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, em

esquema fatorial 4x3, com quatro silagens e três tempos de avaliações (0, 28 e 56 dias).

O resíduo úmido de cervejaria foi ensilado in natura (SRUC), ou acrescido de

aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, na matéria natural: 20% de farelo de

trigo (SRFT), 20% de casca do grão de soja (SRCGS) ou 20% de milho moído

(SRMM), de modo que os teores de matéria seca (MS) atingissem valores próximos aos

considerados adequados para o processo fermentativo de silagens (30% a 35% de MS)

(McDonald et al., 1991).

Para a mistura e homogeneização dos alimentos foi utilizada uma betoneira do

tipo fixa equipada com motor e capacidade de aproximadamente 400 litros. Após a

homogeneização, as misturas foram acondicionadas em silos experimentais de

policloreto de polivinila (PVC) de 500 mm de altura e 100 mm de diâmetro, com

capacidade de aproximadamente 3,0 kg de resíduo, e proporcionou densidade de 745;

820; 780 e 805 kg/m³ para SRUC, SRFT, SRCGS e SRMM, respectivamente.

No fundo dos silos foi colocada uma camada de 5 cm de areia fina seca, para

quantificação de efluentes, separada do material ensilado por uma tela plástica de malha

fina e um tecido de algodão. Foi mensurado o peso dos silos antes da ensilagem (silo,

tampa, areia, tela e tecido) e o peso dos silos após estarem cheios e tampados (silo,

tampa, areia, tela, tecido e RUC) para posteriores avaliações de efluentes e perda de

matéria seca.

31

Após a compactação, os silos foram fechados com tampas de PVC e adaptou-se

uma mangueira de borracha com um corte longitudinal para formar uma válvula do tipo

Bunsen, que permite o livre escape dos gases. Posteriormente, as tampas foram vedadas

com fitas adesivas e os silos foram mantidos em local coberto em temperatura ambiente,

até o momento de abertura.

Decorrido o período de ensilagem previsto (1, 3, 7, 14, 28, 56 dias), os silos foram

abertos e pesados cheios (silo, tampa, areia úmida, tela, pano e silagem) e vazios (silo,

tampa, areia úmida, tela e pano). Na retirada da silagem, descartou-se aproximadamente

10 cm das extremidades, com o intuito de evitar que a porção inicial mais deteriorada,

pela presença de ar remanescente no interior do silo e no espaço entre a tampa e a

silagem, influenciasse nos resultados. A porção restante da massa ensilada foi disposta

em bandejas plásticas e homogeneizada para as amostragens e posteriores avaliações.

Uma porção das silagens amostradas foi submetida à secagem em estufa com

ventilação de ar forçada por 72h a 55ºC. Decorrida a secagem, as amostras foram

processadas em moinho tipo Willey, dotado de peneira com crivo de 1 mm e

armazenadas em frascos plásticos identificados.

Para a determinação da composição químico-bromatológica foram analisados os

teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo

(EE), lignina, celulose e hemicelulose segundo as metodologias descritas em Silva &

Queiroz (2006), fibra em detergente neutro (FDN), FDN corrigido para cinzas e

proteína (FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), segundo a metodologia de Van

Soest et al. (1991). A matéria orgânica foi estimada pela diferença da matéria mineral

com base na matéria seca.

Os carboidratos totais (CT) e os não fibrosos (CNF) foram estimados, segundo

Sniffen et al. (1992), pelas equações:

32

CT = 100 - (%PB + %EE + %MM)

CNF = 100 - (%PB + %FDNcp + %EE + %MM)

A determinação do nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e nitrogênio

insolúvel em detergente ácido (NIDA) foi obtida conforme metodologia descrita por

Licitra et al. (1996). As frações de proteína foram determinadas conforme as

recomendações de Licitra et al. (1996). A fração A, correspondente ao nitrogênio não

proteico, foi obtida após tratamento da amostra com ácido tricloroacético (TCA) a 10%,

e determinou-se o nitrogênio residual pela diferença entre o nitrogênio total e o

nitrogênio residual que se obteve a fração A.

A fração B1 é constituída por proteínas solúveis e rapidamente degradáveis no

rúmen, esta foi determinada pela diferença entre o nitrogênio solúvel total (NNP +

proteína solúvel) e a fração A. Para a obtenção do nitrogênio solúvel total, a amostra foi

incubada com tampão borato fosfato (TBF), e determinou-se o nitrogênio residual

insolúvel no TBF. E o nitrogênio solúvel total foi obtido pela diferença entre o

nitrogênio total e o nitrogênio residual insolúvel no TBF.

A fração B2, proteína verdadeira de degradação intermediária, foi determinada

pela diferença entre o nitrogênio insolúvel em tampão borato-fosfato (TBF) e a fração

NIDN. A fração B3, proteína associada à parede celular potencialmente disponível no

rúmen, foi obtida pela diferença entre os teores de NIDN e NIDA. A fração C, proteína

insolúvel, foi considerada nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA).

As frações de carboidratos foram determinadas conforme as recomendações de

Sniffen et al. (1992). A fração A (açúcares simples) + B1 (amido e pectina) com

elevada taxa de degradação ruminal foi determinada pela equação: A+B1 = 100 –

(fração C + B2); a fração B2 constituída de carboidratos da parede celular de lenta

degradação ruminal, foi obtida pela equação: B2 = (100 x FDN (%MS) – PIDN (%PB)

33

x 0,01 x PB (%MS) - FDN (%MS) x 0,01 x Lignina (%FDN) x 2,4) / CT (%MS); e a e

fração C composta por carboidratos não degradáveis pela equação: C = (100 x FDN

(%MS) x 0,01 x Lignina (%FDN) x 2,4) / CT (%MS).

A composição químico-bromatológica do resíduo úmido de cervejaria e dos

aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca pode ser observada na Tabela 1.

Tabela 1. Composição químico-bromatológica do resíduo úmido de cervejaria e dos

aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca utilizados na ensilagem

Nutrientes Alimentos¹

RUC FT CGS MM

Matéria seca (g/kg) 183,71 861,75 880,00 894,12

Matéria orgânica (g/kg de MS) 956,57 915,12 948,75 987,76

Matéria mineral (g/kg de MS) 43,43 84,88 51,25 12,24

Proteína bruta (g/kg de MS) 231,38 215,13 110,51 87,81

Extrato etéreo (g/kg de MS) 63,68 14,64 15,42 36,85

Fibra em detergente neutro cp² (g/kg de MS) 611,20 490,12 704,02 146,83

Fibra em detergente ácido (g/kg de MS) 226,94 191,72 436,28 59,15

Hemicelulose (g/kg de MS) 524,08 298,40 267,74 87,68

Lignina (g/kg de MS) 60,89 50,12 40,23 3,00

Carboidratos totais (g/kg de MS) 661,51 687,92 822,87 863,23

¹RUC: resíduo úmido de cervejaria; FT: farelo de trigo; CGS: casca do grão de soja; MM: milho moído.

²Fibra em detergente neutro corrigido para cinzas e proteínas.

A determinação da digestibilidade in vitro da matéria seca e matéria orgânica

(DIVMS e DIVMO) foram realizadas, segundo a metodologia de Tilley & Terry (1963),

adaptada ao rúmen artificial, desenvolvida pela ANKOM®, conforme descrita por

Holden (1999).

Foram pesados 0,25 g de amostra de silagens coletadas na abertura aos 56 dias,

pré-secas em estufa de circulação forçada de ar a 55ºC por 72h, colocados em filtros

F57 da ANKOM® e acondicionados em jarros de vidro, os quais continha líquido de

rúmen e solução tampão. O líquido ruminal foi coletado de bovinos canulados e

adaptados por 15 dias, que permaneceram confinados, recebendo alimentação à base de

34

silagem de milho, silagem do resíduo úmido de cervejaria, farelo de soja, milho moído e

suplemento mineral-vitamínico.

O material permaneceu incubado por 48h e no término deste período acrescentou-

se ao fermentador (Rúmen artificial da ANKOM®) solução de HCL – Pepsina (1:10000)

por mais de 24h.

As condições de anaerobiose na homogeneização do líquido ruminal e enquanto

estes eram adicionados aos jarros foram mantidas pela adição de CO2. No término desse

período, os filtros foram retirados do fermentador ruminal, lavados com água destilada

até a total retirada do material aderente ao filtro e, posteriormente, foram secos em

estufa, por 8h a 105°C, para determinação de MS.

As digestibilidades in vitro da MS e da MO foram calculadas pela diferença entre

a quantidade do alimento incubado e o resíduo que permaneceu após a incubação.

Os dados resultantes foram submetidos à análise de variância e teste F de Fischer.

Quando constatado efeito significativo, as médias relativas às silagens do resíduo úmido

de cervejaria foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, e os tempos

de abertura foram estudados por meio de análise de regressão, e considerou-se a

ausência de significância para os desvios de regressão. Para a escolha do modelo foi

considerado o maior coeficiente de determinação (R²) (Pimentel Gomes & Garcia,

2002; Pimentel Gomes, 2009).

Resultados e discussão

Os teores de matéria seca (MS) e dos nutrientes, do resíduo úmido de cervejaria

(RUC), obtidos na ensilagem (dia 0) (Tabela 2) encontram-se entre os valores

observados na literatura: aproximadamente 15% a 30% de matéria seca (MS), 25% a

35

31,69% de proteína bruta (PB), 6,75% a 10,10% de extrato etéreo (EE), 26,33% a

65,77% (FDN) (NRC, 2001; Geron et al., 2007; Souza et al., 2012; Gomes et al., 2012).

As variações na composição químico-bromatológica estão diretamente relacionadas ao

processamento adotado na indústria cervejeira.

A adição de farelo de trigo, casca do grão de soja ou milho moído na ensilagem

do RUC proporcionou aumento (P<0,05) nos teores de MS (Tabela 2), elevando-os para

valores próximos aos considerados adequados para o processo fermentativo de silagens

(30% a 35% de MS) (McDonald et al., 1991). A eficiência dos aditivos, na redução da

umidade das silagens, decorre do alto teor de MS do farelo de trigo, casca do grão de

soja e milho moído (861,75; 880,00 e 894,12 g/kg, respectivamente) (Tabela 1) e da sua

capacidade de retenção de umidade.

Na análise de regressão para os tempos de abertura dos silos, verificou-se

comportamento linear positivo (P<0,05) nos teores de MS, que aumentou 0,25; 0,21;

0,31 e 0,29 g/kg, a cada dia, para a SRUC, SRFT, SRCGS e SRMM, respectivamente.

As variações observadas do momento da ensilagem até a abertura dos silos

devem-se provavelmente às perdas de efluentes, pois segundo Van Soest (1994),

acréscimos nos teores de MS das silagens ocorrem principalmente pela formação e

perda de efluentes na massa ensilada.

O conteúdo de matéria mineral (MM) foi superior (P<0,05) na SRFT (Tabela 2),

pelo maior teor de MM observado no farelo de trigo. Ao longo do período de ensilagem,

os resultados de MM das silagens ajustaram-se ao modelo de regressão linear positiva.

As alterações observadas se devem à perda de efluentes durante a fermentação, que

podem ter carreado nutrientes.

36

Tabela 2. Composição químico-bromatológica do resíduo úmido de cervejaria ensilado in natura (SRUC), do resíduo úmido de cervejaria

ensilado com farelo de trigo (SRFT), casca do grão de soja (SRCGS) ou milho moído (SRMM)

Silagens Tempos de abertura (dias) Média CV%¹ Equação de regressão; R² Valor P

0 1 3 7 14 28 56 L2 Q

2 I

3

Matéria Seca (g/kg)

SRUC 183,69 184,58 187,56 192,01 194,41 196,32 199,12 191,10c

3,49

Y = 187,13 + 0,25x; 0,75 0,013 0,016 NS4

SRFT 298,85 302,29 303,18 304,55 307,93 311,57 314,08 306,06b Y = 300,22 + 0,21x; 0,85 0,002 0,001 NS SRCGS 302,60 310,89

315,59 317,32 319,73 321,77 326,56 316,35a Y = 311,51 + 0,31x; 0,66 0,028 0,047 NS SRMM 310,74 313,12

317,62 318,77 320,33 328,42 328,51 319,65a Y = 315,04 + 0,29x; 0,77 0,005 0,003 NS Matéria Mineral (g/kg de MS)

SRUC 43,43 44,04 44,59 46,07 47,59 48,76 48,93 46,20b

6,64

Y = 44,72 + 0,09x; 0,73 0,003 0,000 NS SRFT 49,61 50,30 52,35 52,94 53,12 54,39 55,06 52,54a Y = 51,27 +0,08x; 0,68 0,011 0,021 NS SRCGS 44,17 44,97 45,41 46,05 46,89 47,72 48,37 46,22b Y = 45,18 + 0,07x; 0,81 0,029 0,001 NS SRMM 44,90 46,16 46,59 47,24 47,85 48,46 48,62 47,12b Y = 46,29 +0,05x; 0,64 0,016 0,013 NS

Proteína Bruta (g/kg de MS)

SRUC 231,38 235,51 235,75 238,23 239,54 243,14 241,73 237,90a

3,54

Y = 233,62 + 0,56x – 0,01x²; 0,91 0,043 0,007 NS SRFT 223,87 223,78 222,84 222,83 224,14 224,32 226,99 224,11b Y = 223,44 + 0,54x + 0,01x²; 0,88 0,005 0,013 NS SRCGS 207,42 207,03 208,16 209,20 212,09 213,20 206,23 209,05c Y = 206,88 + 0,45x – 0,01x²; 0,98 0,068 0,000 NS SRMM 201,36 202,63 202,69 203,49 204,21 204,43 185,10 200,56d Y = 201,46 + 0,44x – 0,01x²; 0,99 0,014 0,000 NS

Extrato Etéreo (g/kg de MS)

SRUC 63,68 -

-

63,93 -

64,31 64,42 64,08a

5,82

Y = 64,08 0,682 0,061 NS SRFT 53,45 - - 53,89 - 52,22 53,73 53,32c Y = 53,32 0,154 0321 NS SRCGS 55,12 - - 54,34 - 53,77 53,73 54,24b Y = 54,24 0,165 0,221 NS SRMM 57,30 - - 56,29 - 56,47 56,90 56,74b Y = 56,74 0,342 0,143 NS

Fibra em Detergente Neutro (g/kg de MS)

SRUC 751,02 753,16 752,77 752,26 756,09 757,33 758,20 754,41a

1,99

Y = 752,53 + 0,12x; 0,77 0,009 0,010 NS SRFT 706,22 702,24 704,91 707,16 712,83 711,70 717,54 708,94b Y = 705,29 + 0,24x; 0,81 0,006 0,002 NS SRCGS 748,08 745,75 746,73 747,59 745,69 747,41 750,42 747,38a Y = 746,47 + 0,06x; 0,63 0,060 0,077 NS SRMM 623,83 624,72 627,76 625,08 626,43 637,06 641,84 629,53c Y = 624,41 +0,33x; 0,90 0,001 0,008 NS

Fibra em detergente neutro corrigida para cinzas e proteínas (g/kg de MS)

SRUC 611,20b -

-

608,70b -

602,91c 607,91b

1,34

Y = 607,68 0,234 0,106 0,000

SRFT 615,70b - - 618,20b - 627,85b 629,60ª

Y = 622,83 0,067 0,099 0,000

SRCGS 656,66a - - 657,80a - 658,26a 642,41ª

Y = 653,78 0,159 0,633 0,000 SRMM 559,88c - - 557,38c - 529,55d 524,07c

Y = 542,71 0,063 0,181 0,000

Continuação pag 37... 36

37

...continuação Tabela 2

Silagens Tempos de abertura (dias)

Média CV%¹ Equação de regressão; R² Valor P

0 1 3 7 14 28 56 L² Q² I³

Fibra em Detergente Ácido (g/kg de MS)

SRUC 226,94 227,26 228,74 229,00 233,32 233,92 232,78 230,28b

3,00

Y = 227,86 + 0,11x; 0,64 0,058 0,003 NS4

SRFT 214,71 213,93 214,67 215,71 217,85 219,16 222,99 217,00c Y = 214,56 + 0,16x; 0,92 0,000 0,000 NS

SRCGS 262,98 264,67 265,25 265,48 266,06 267,98 267,73 265,73a Y = 264,64 + 0,07x; 0,68 0,01 0,011 NS

SRMM 195,17 198,12 199,58 197,65 198,47 200,11 202,85 198,85d Y = 197,30 + 0,09x; 0,73 0,015 0,073 NS

Celulose (g/kg de MS)

SRUC 97,90 -

-

98,11 -

101,48 101,64 99,78b

5,24

Y = 99,78 0,098 0,222 NS

SRFT 99,82 - - 102,32 - 108,87 106,90 104,48b Y = 104,47 0,221 0,087 NS

SRCGS 176,97 - - 177,33 - 177,86 179,56 177,93a Y = 176,01 + 0,04x; 0,97 0,016 0,082 NS

SRMM 76,97 - - 77,33 - 78,87 79,40 78,14c Y = 77,12 + 0,04x; 0,92 0,040 0,095 NS

Hemicelulose (g/kg de MS)

SRUC 524,08 525,90 524,03 523,26 522,77 523,41 525,42 524,13a

3,47

Y = 524,12 0,328 0,151 NS

SRFT 491,51 488,31 490,24 491,45 494,98 492,54 494,56 491,94b Y = 491,94 0,094 0,193 NS

SRCGS 485,11 481,08 481,48 482,11 479,63 479,43 482,69 481,65b Y = 481,65 0,089 0,146 NS

SRMM 428,66 426,60 428,18 427,43 427,96 436,95 438,99 430,68c Y = 430,70 0,093 0,063 NS

Lignina (g/kg de MS)

SRUC 60,89 -

-

61,85 -

62,41 63,15 62,07a

7,83

Y = 62,07 0,060 0,240 NS

SRFT 60,66 - - 60,80 - 61,03 66,70 62,30a Y = 62,30 0,058 0,087 NS

SRCGS 59,03 - - 59,78 - 60,69 61,21 60,18a Y = 60,18 0,049 0,107 NS

SRMM 51,17 - - 50,81 - 51,10 52,82 51,48b Y = 51,48 0,125 0,088 NS Médias seguidas de letras minúsculas diferentes na mesma coluna diferem entre si (P<0,05) pelo teste de Tukey.

1CV: Coeficiente de variação.

2L e Q: efeitos de ordem

linear e quadrática relativos aos tempos de abertura dos silos. 3I: interação silagens x tempo de abertura dos silos.

4NS: Não significativo.

37

38

Os aditivos acrescidos ao RUC na ensilagem proporcionaram efeito de diluição

(P<0,05) nos teores de proteína bruta (PB) das silagens SRFT, SRCGS e SRMM

(224,11; 209,05 e 200,56 g/kg de PB, respectivamente), resultados menores que o

obtido para a SRUC (237,90 g/kg de PB) (Tabela 2).

Observa-se que a SRMM na abertura dos silos aos 56 dias apresentou os menores

teores de PB (185,01 g/kg de MS), este resultado pode estar relacionado à proteólise e

perdas dos compostos nitrogenados. Segundo Chamberlain et al., (1996) após a

ensilagem, a proteína é rapidamente degradada pela atividade proteolítica, promovendo

a quebra da proteína verdadeira em aminoácidos e peptídeos.

A extensão da proteólise durante a ensilagem é influenciada por diversos fatores,

tais como, conteúdo de MS, pH, capacidade tampão, atividade enzimática e microbiana.

A presença de efluentes no silo também podem ter influenciado no processo

fermentativo, tal como aumentar a proteólise e o estabelecimento de bactérias

clostrídicas (Oude Elferink et al., 2000).

Observou-se comportamento quadrático nos teores de PB no decorrer do período

de ensilagem (P<0,05), de forma que os máximos teores foram observados aos 40; 27;

25 e 17 dias de fermentação para a SRUC, SRFT, SRCGS e SRMM, respectivamente.

O aumento nestes teores não pode ser considerado indicativo de melhoria na qualidade

das silagens, pois o aumento de PB não se deve a síntese desta, mas sim ao consumo de

carboidratos solúveis pelos microrganismos durante a fermentação da silagem, o que

provoca aumento proporcional do teor de PB (Neto et al., 2007).

As reduções nos resultados de PB, observadas posteriormente ao ponto de

máximo da fermentação nas silagens, devem-se às reações que ocorrem no material

ensilado, que, segundo Loures et al. (2003), implicam em perda de compostos

nitrogenados como a dissipação lenta e contínua do nitrogênio não proteico durante a

39

respiração. Pode ocorrer variabilidade nos teores de PB, do resíduo úmido de cervejaria,

observados na literatura, pela extração dos componentes solúveis e o aquecimento no

processamento industrial na cervejaria, que promovem alterações na fração proteica do

resíduo.

Os teores de EE não sofreram (P>0,05) oscilações em função dos dias de abertura

das silagens. O maior teor (P<0,05) de EE (64,08 g/kg) observado para a SRUC, em

comparação às demais silagens, está relacionado à composição químico-bromatológica

dos aditivos acrescidos ao RUC na ensilagem, que promoveram efeito de diluição dos

nutrientes. O resultado observado para o EE foi semelhante ao verificado por West et al.

(1994) que constataram teores de 6,8% de EE para o resíduo de cervejaria.

Os teores de FDN e FDA apresentaram diferenças (P<0,05) entre as silagens, pela

composição químico-bromatológica dos ingredientes utilizados na ensilagem. Os

maiores teores de FDN foram observados na SRUC e SRCGS, enquanto a SRMM

apresentou o menor teor (Tabela 2). A FDA foi superior na SRCGS (265,73 g/kg),

seguida pela SRUC (230,28 g/kg), pela SRFT (217,00 g/kg), enquanto a SRMM

apresentou o menor teor de FDA comparada às demais (198,85 g/kg).

No decorrer do período de ensilagem, a FDN e FDA das silagens apresentaram

comportamento linear positivo (P<0,05). Para cada dia do período de fermentação, a

SRFT apresentou um aumento de 0,24 e 0,16 g/kg nos conteúdos de FDN e FDA,

respectivamente. Da mesma forma, a SRMM aumentou a FDN em 0,33 g/kg, e a FDA

em 0,09 g/kg, enquanto a SRCGS elevou seus conteúdos de FDN e FDA em 0,06 e 0,07

g/kg, respectivamente, a cada dia do período de ensilagem.

Ao comparar as silagens, foi possível constatar que os teores de celulose foram

maiores (P<0,05) na SRCGS e menores na SRMM, e o conteúdo de hemicelulose maior

40

(P<0,05) na SRUC e menor na SRMM, no entanto, a hemicelulose das silagens

manteve-se constante ao longo do período de fermentação.

Não foram observadas alterações nos teores de lignina no decorrer do período de

ensilagem, o menor teor observado da SRMM (51,48 g/kg) é pelo menor teor de lignina

do milho moído adicionado ao RUC na ensilagem.

A elevada concentração de fibra observada no RUC é pela remoção de amido e

açúcares, pois, segundo Westendorfand & Wohlt (2002), após o processo de maltagem

permanecem principalmente a parede celular dos carboidratos estruturais, celulose e

hemicelulose.

As variações observadas nas frações fibrosas devem-se à ocorrência de perda

fermentativa de carboidratos totais. A porção fibrosa da massa ensilada pode aumentar

quando há intensa formação de efluentes durante a fermentação, pela redução

proporcional dos compostos solúveis pela formação dos ácidos orgânicos (Van Soest,

1994).

Ainda que o aumento relativo da fração fibrosa esteja relacionado à perda de

carboidratos totais, a correlação com o teor dessa fração não pode ser precisamente

determinada, pois parte dos carboidratos solúveis podem ser convertidos a ácidos

graxos voláteis, sem representar perda de matéria seca, dessa forma, os teores de FDN,

carboidratos e ácidos orgânicos devem ser avaliados em conjunto (Schmidt et al., 2007).

Na avaliação das frações nitrogenadas da proteína bruta (Tabela 3), observa-se

que não houve interação (P>0,05) entre as silagens e os tempos de abertura nos

resultados referentes à fração A, composta por nitrogênio não proteico, assim,

constataram-se diferenças (P<0,05) somente entre as silagens. A inclusão dos aditivos

na ensilagem proporcionou maior fração solúvel (fração A) em comparação a SRUC

41

sem aditivos e os maiores resultados podem ser observados na SRCGS (133,88 g/kg de

PB).

A fração de degradação intermediária (B1) diferiu entre as silagens, foi maior na

SRCGS, e menor na SRFT. A fração B2 apresentou a maior proporção (P<0,05) na

SRMM e menor para a SRUC.

As maiores proporções das frações A + B1, observadas nos resultados para a

SRCGS se devem à casca do grão de soja que apresenta maiores porcentagens das

frações A + B1, o que favorece o desenvolvimento de microrganismos ruminais,

resultando em melhor digestibilidade se comparada com a SRUC que apresentou

menores proporções desta fração. A silagem com maior proporção de fração B2

(SRMM) pode promover sincronismo desta fração com a fração de carboidratos

fibrosos potencialmente degradáveis no rúmen, resultando em melhor aproveitamento

dos nutrientes.

O uso dos aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca na ensilagem

promoveu maiores teores das frações de proteína A+B1+B2, o que aumenta a

disponibilidade de proteína para os microrganismos ruminais. A maior parte das frações

nitrogenadas das silagens encontra-se na fração B1 e B2, que disponibilizam nitrogênio

solúvel e peptídeos no rúmen. Segundo Russell et al. (1992), a adequada disponibilidade

da fração B1 possibilita o aumento da biomassa de bactérias ruminais que utilizam

carboidratos não estruturais. Entretanto, a menor proporção de nitrogênio solúvel

diminui o suprimento de compostos nitrogenados não proteicos, para microrganismos

que fermentam carboidratos estruturais, podendo diminuir a proteína microbiana no

rúmen.

42

Tabela 3. Proteína bruta e frações nitrogenadas do resíduo úmido de cervejaria ensilado

in natura (SRUC), do resíduo úmido de cervejaria ensilado com farelo de

trigo (SRFT), casca do grão de soja (SRCGS) ou milho moído (SRMM)

Silagens Tempo de abertura (dias)

Média CV%¹ Valor P

0 28 56 S² T³ I4

Proteína bruta (g/kg de MS)

SRUC 231,38aA 243,14aA 241,73aA

2,86 0,000 0,065 0,011

SRFT 226,36aA 224,32bA 226,98bA

SRCGS 207,42bA 213,20bcA 206,23cA

SRMM 203,42bA 204,43cA 185,01dB

Fração A (g/kg de PB)

SRUC 72,32 67,07 70,14 69,84d

1,98 0,000 0,070 0,069 SRFT 111,41 112,14 112,89 112,15b

SRCGS 133,99 133,34 134,32 133,88a

SRMM 90,67 92,43 94,50 92,53c

Fração B1 (g/kg de PB)

SRUC 148,30 137,54 143,82 143,22ab

2,85 0,000 0,070 0,069 SRFT 135,62 137,12 138,66 137,13c

SRCGS 146,70 145,37 147,37 146,48a

SRMM 136,11 139,71 143,96 139,93bc

Fração B2 (g/kg PB)

SRUC 324,07 300,55 314,28 312,97d

2,38 0,000 0,070 0,069 SRFT 326,29 329,55 332,93 329,59c

SRCGS 348,00 345,09 349,46 347,52b

SRMM 359,38 367,26 376,55 367,73a

Fração B3 (g/kg PB)

SRUC 238,93 221,59 231,72 230,75b

2,84 0,000 0,070 0,069 SRFT 217,06 219,46 221,95 219,49c

SRCGS 240,89 238,74 241,96 240,53a

SRMM 181,20 187,01 193,85 187,35d

Fração C (g/kg de PB)

SRUC 216,37aB 273,24aA 240,04aAB

10,71 0,000 0,066 0,013

SRFT 209,61aA 201,73bA 193,57bA

SRCGS 130,41bA 137,46cA 126,89cA

SRMM 232,65aA 213,59bAB 191,13bB Médias seguidas de letras minúsculas diferentes na mesma coluna e maiúsculas diferentes na mesma linha

diferem entre si (P<0,05) pelo teste de Tukey. ¹CV: Coeficiente de variação. ²S: efeito silagem. ³T: efeito

tempo de abertura dos silos 4I: interação silagens x tempo de abertura dos silos

A SRMM apresentou os menores resultados (P<0,05) da fração B3 (associada à

parede celular), e a SRCGS apresentou maiores teores desta fração, pela inclusão da

43

casca do grão de soja que, segundo Hashimoto et al. (2007), apresenta maior proporção

da B3 quando comparada ao milho moído. A fração B3 é lentamente degradada no

rúmen (Sniffen et al, 1992), pois está associada à parede celular que apresenta lenta taxa

de degradação e, quando associada à lignina, não estará disponível para a flora ruminal,

o que pode superestimar a proteína total disponível.

Houve interação (P<0,05) entre os fatores (silagens e tempos de abertura) para a

fração C de proteína das silagens. A SRCGS apresentou os menores teores (P<0,05)

desta fração aos 56 dias, e os maiores valores na SRUC (Tabela 3). A inclusão de

aditivos proporcionou menor fração C das silagens pelo efeito de diluição desta, o que

indica maior disponibilidade de proteína para o metabolismo animal.

A alta proporção de fração C observada nas silagens se deve provavelmente ao

processamento industrial do resíduo úmido de cervejaria tornando-a indisponível, visto

que a fração C consiste na proteína associada à lignina, complexo proteína-taninos e

produtos oriundos da reação de Maillard, os quais são altamente resistentes às enzimas

microbianas e indigestível ao longo do trato gastrintestinal (Licitra et al., 1996).

Houve interação (P<0,05) entre os tratamentos para os valores de carboidratos

totais (CT) (Tabela 4). Entre as silagens, os maiores teores de carboidratos totais (CT)

foram observados na SRMM (709,38 g/kg) e os menores resultados na SRUC (644,91

g/kg) aos 56 dias de ensilagem.

A estimativa dos carboidratos totais é dependente dos teores de PB, MM e EE.

Dessa forma, as diferenças observadas para o CT podem ser decorrentes do efeito dos

nutrientes dos alimentos, com maiores teores de proteína bruta e EE no RUC, e maior

proporção de CT no milho moído (Tabela 1). Deste modo, pode-se inferir que a

concentração de CT no milho e o menor teor de PB na SRMM aos 56 dias (Tabela 3),

consequentemente, proporcionaram elevação relativa nos teores de carboidratos totais.

44

Os menores valores de CT observados no resíduo úmido de cervejaria na

ensilagem (tempo 0) e no decorrer da armazenagem (28 e 56 dias) estão relacionados ao

consumo de carboidratos solúveis pelos microrganismos fermentadores, tanto no

processamento industrial da cerveja, quanto durante a fermentação ocorrida nos silos.

Tabela 4. Fracionamento de carboidratos do resíduo úmido de cervejaria ensilado in

natura (SRUC), do resíduo úmido de cervejaria ensilado com farelo de trigo

(SRFT), casca do grão de soja (SRCGS) ou milho moído (SRMM)

Silagens Tempo de abertura (dias)

Média CV%¹ Valor P²

0 28 56 S² T³ I4

Carboidratos totais (g/kg MS)

SRUC 661,51bA 643,79cB 644,92dB

1,17 0,000 0,011 0,013 SRFT 673,07bA 669,08bA 664,22cA

SRCGS 693,30aA 685,32aA 691,67bA

SRMM 696,45aAB 690,64aB 709,38aA

Fração A+B1 (g/kg CT)

SRUC 28,52cA 30,44cA 29,84cA

9,48 0,000 0,633 0,000 SRFT 92,64bA 77,57bB 61,53bB

SRCGS 31,83cA 26,50cA 25,02cA

SRMM 223,81aAB 195,70aB 271,82aA

Fração B2 (g/kg CT)

SRUC 752,04bcA 746,75aA 746,06aA

4,39 0,000 0,691 0,003 SRFT 691,05bB 703,49bA 719,18aA

SRCGS 763,88aA 761,14aA 762,61aA

SRMM 599,84cA 626,77cA 563,51bA

Fração C (g/kg CT)

SRUC 219,44 222,81 224,10 222,12ª

8,47 0,000 0,913 0,734 SRFT 216,31 218,94 219,29 218,18ª

SRCGS 204,29 212,36 212,37 209,67ª

SRMM 176,35 177,53 164,67 172,85b

Médias seguidas de letras minúsculas diferentes na mesma coluna e maiúsculas na mesma linha

diferem entre si (P<0,05) pelo teste de Tukey. ¹CV: Coeficiente de variação. ²S: efeito silagem. ³T:

efeito tempo de abertura dos silos. 4I: interação silagens x tempo de abertura dos silos.

Houve interação (P<0,05) entre as silagens e os tempos de abertura para a fração

rapidamente degradável no rúmen (A+B1), esta foi maior (P<0,05) na SRMM aos 56

dias de ensilagem. Este aumento na fração A + B1, possivelmente esteja relacionado à

hidrólise ácida e enzimática da hemicelulose, pois após a ensilagem, enzimas e

45

microrganismos envolvidos com a fermentação das silagens rompem a estrutura celular,

quebrando as ligações químicas dos carboidratos estruturais, notadamente da

hemicelulose (Chamberlain, 1987; Winters et al., 1987).

Alimentos com elevada fração de carboidratos A+B1 são considerados boas

fontes energéticas, pois promovem o aumento dos microrganismos ruminais que

utilizam carboidratos não fibrosos (Carvalho et al., 2007). Entretanto, caso esta seja a

principal fração dos carboidratos presentes na dieta é necessária a inclusão de fontes

proteicas de rápida e intermediária degradação no rúmen para que ocorra a

sincronização entre a liberação do nitrogênio e de energia (Valadares Filho, 2000).

Para os resultados da fração potencialmente degradável dos carboidratos, fração

B2, observa-se interação (P<0,05) entre os tratamentos, com os menores valores

observados para a SRMM (563,51 g/kg de CT) aos 56 dias e maiores para a SRCGS

(763,88 g/kg de CT) no momento da ensilagem. Estes resultados estão relacionados

com os teores de FDN dos ingredientes utilizados na ensilagem pois, segundo Malafaia

et al. (1998), o valor da fração B2 está relacionado ao teor de FDN, e à quebra das

ligações químicas dos carboidratos estruturais, principalmente a hemicelulose.

Não houve interação para a fração C entre as silagens e os tempos de abertura

(P>0,05). No entanto, observa-se que fração dos carboidratos não degradáveis (fração

C) foi menor (P<0,05) na SRMM (164,67 g/kg). Este resultado se deve a menor

concentração de lignina (51,48 g/kg de MS) observada na composição desta,

comparativamente às demais silagens (61,51 g/kg de MS) (Tabela 2).

Os valores observados para a digestibilidade in vitro da matéria seca da SRUC

(575,89 g/kg) (Tabela 5) foram maiores que os constatados por Geron et al. (2007), que

ao avaliar a silagem do resíduo úmido de cervejaria, observaram resultados de DIVMS

de 435 g/kg. Essas variações para a digestibilidade se devem à composição química do

46

resíduo úmido de cervejaria, possivelmente pelos processos de fabricação de cerveja e

obtenção do resíduo.

A digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) foi maior (P<0,05) para a

SRMM (Tabela 5), em comparação a SRUC, no entanto, os resultados observados para

a DIVMS não refletiram na digestibilidade in vitro da matéria orgânica.

Tabela 5. Digestibilidade in vitro da matéria seca e da matéria orgânica do resíduo

úmido de cervejaria ensilado in natura (SRUC), do resíduo úmido de

cervejaria ensilado com farelo de trigo (SRFT), casca do grão de soja

(SRCGS) ou milho moído (SRMM)

Silagens Tempos de abertura (dias)

Média CV %¹ Valor P 0 28 56

Digestibilidade in vitro da matéria seca (g/kg)

SRUC 576,13 573,97 577,59 575,89b

5,27 0,006 SRFT 602,87 614,30 606,51 607,89ab

SRCGS 615,17 599,99 605,39 606,85ab

SRMM 623,67 627,04 622,24 624,32a

Digestibilidade in vitro da matéria orgânica (g/kg)

SRUC 620,40 618,63 618,70 619,24

7,65 0,241 SRFT 641,24 634,54 628,80 634,86

SRCGS 667,50 654,39 658,16 660,02

SRMM 644,42 650,05 638,26 644,24

Médias seguidas de letras minúsculas diferentes na mesma coluna diferem entre si (P<0,05) pelo teste de

Tukey. ¹CV: Coeficiente de variação.

A maior digestibilidade para a SRMM está relacionada com o efeito aditivo do

milho moído na ensilagem do resíduo úmido de cervejaria, pois este apresenta maior

concentração de carboidratos totais e menor de FDN e lignina. Esta composição do

milho moído acrescido ao RUC proporcionou os melhores resultados, verificados no

fracionamento de carboidratos da SRMM (Tabela 4), e, na menor concentração da

porção fibrosa da SRMM (Tabela 2), o que melhorou a digestibilidade da MS desta

silagem.

47

Os resultados de lignina para a SRMM (51,48 g/kg de MS) também estão

relacionados à maior digestibilidade observada, pois a lignina é negativamente

correlacionada com as digestibilidade in vitro da MS pela limitação da digestão de

polissacarídeos (Jung & Deetz, 1993; Jung et al., 1997).

A quebra das ligações químicas dos carboidratos estruturais, observada nos

resultados de fracionamento dos carboidratos, não atua na remoção da lignina, mas

melhora a digestibilidade pelo aumento da solubilidade da hemicelulose (Klopfenstein,

1978).

Conclusões

O uso de aditivos nutricionais com alto teor de matéria seca (farelo de trigo, casca

do grão de soja ou milho moído) aumenta a fração disponível de carboidratos e de

proteínas do resíduo úmido de cervejaria ensilado, no entanto, não altera a

digestibilidade da matéria orgânica.

48

Referências

BROCHIER, M.A.; CARVALHO, S. Efeito de diferentes proporções de resíduo úmido

de cervejaria sobre as características da carcaça de cordeiros terminados em

confinamento. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.61,

p.190-195, 2009.

CARVALHO, G.G.P.; GARCIA, R.; PIRES, A.J.V. et al. Fracionamento de

carboidratos de silagem de capim-elefante emurchecido ou com farelo de cacau.

Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.1000-1005, 2007.

CHAMBERLAIN, D.G. The silage fermentation in relation to the utilization of

nutrients in the rumen. Process Biochemistry, v.4, p.60-63, 1987.

CHAMBERLAIN, D.G.; MARTIN, P.A.; ROBERTSON, S. Optimizing compound

feed use in dairy cows with high intake of silage. In: Recent developments in

ruminant nutrition 3. Ed. Garnsworthy and Cole, Nottingham, 1996, p. 245 - 263.

CNCPS. Cornell net carbohydrate and protein system. Ithaca: Cornell University,

2002. Software, version 5.0.18.

OUDE ELFERINK, S.J.W.H.O.; DRIRHUIS, F.; GOTTSCHL. J.C. et al. Silage

fermentation process and their manipulation. In: SILAGE MAKING IN THE

TROPICS WITH PARTICULAR EMPHASIS ON SMALLHOLDERS, 1999,

Roma. Proceedings... Roma: FAO, 2000. p.17-31.

GERON, L.J.; ZEOULA, L.M.; BRANCO, A.F. et al. Caracterização, fracionamento

protéico, degradabilidade ruminal e digestibilidade in vitro da matéria seca e

proteína bruta do resíduo de cervejaria úmido e fermentado, Acta Scientiarum

Animal Sciences, v.29, p.291-299, 2007.

GOMES R.C.; MEYER, P.M.; CASTRO, A.L. et al. Accuracy, precision and

robustness of different methods to obtain samples from silages in fermentation

studies. Revista Brasileira de Zootecnia, v.41, p.1369-1377, 2012.

HASHIMOTO, J. H.; ALCALDE, C. R.; ZAMBOM, M. A. et al. Desempenho e

digestibilidade aparente em cabritos Boer x Saanen em confinamento recebendo

rações com casca do grão de soja em substituição ao milho. Revista Brasileira de

Zootecnia, v.36, p.174-182, 2007.

HOLDEN, L.A. Comparision of methods of in vitro dry matter digestibility for ten

feeds. Journal of Dairy Science, v.2, p.1791-1794, 1999.

JOBIM, C.C.; NUSSIO, L.G.; REIS, R.A. et al. Avanços metodológicos na avaliação da

qualidade da forragem conservada. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, supl.

Esp., p.101-119, 2007.

JUNG, H.G.; DEETZ, D.A. Cell wall lignification and degradability. In: JUNG, H.G.;

BUXTON, D.R.; HATIFIELD, R.D. et al. (Eds.) Forage cell wall structure and

digestibility. Madison: America Society of Agronomy, Crop Science Society of

America, Soil Sci. Society of America, 1993. p.315-46.

JUNG, H.G.; MERTENS, D.R.; PAYNE, A.J.; Correlation of acid detergent lignin and

klason lignin with digestibility of forage dry matter and neutral detergent fiber.

Journal of Dairy Science. v.80, p.1622-1628. 1997.

49

KLOPFENSTEIN, T. Chemical treatment of crop residues. Journal Animal Science,

v.46, p.841-848, 1978.

LICITRA, G.; HERNANDEZ, T.M.; VAN SOEST, P.J. Standardization of procedures

for nitrogen fractionation of ruminant feeds. Animal Feed Science and

Technology, v.57, p.347-358, 1996.

LOURES, D.R.S.; GARCIA, R.; PEREIRA, O.G. et al. Características do efluente e

composição químico-bromatológica da silagem do capim-elefante sob diferentes

níveis de compactação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, p.1851-1858, 2003

(supl. 2).

MALAFAIA, P.A.M.; VALADARES FILHO, S.C.; VIEIRA, R.A.M. et al.

Determinação das frações que constituem os carboidratos totais e da cinética

ruminal da fibra em detergente neutro de alguns alimentos para ruminantes. Revista

Brasileira de Zootecnia, v.27, p.790-796, 1998.

McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of silage.

2.ed. Marlow: Chalcombe Publications, 1991. 340p.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient Requirements of Dairy

Cattle. Washington, D.C., 2001. 381p.

NETO, G.B.; SIQUEIRA, G.R.; REIS, R.A. et al. Óxido de cálcio como aditivo na

ensilagem de cana de açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia. v.36, p.1231-1239,

2007.

PIMENTEL GOMES, F.; GARCIA, C. H. Estatística aplicada a experimentos

agronômicos e florestais: exposição com exemplos e orientações para uso de

aplicativos. 11 ed. FEALQ, Piracicaba, 2002. 309p.

PIMENTEL GOMES, F.P. Curso de Estatística Experimental. 15 ed., FEALQ,

Piracicaba. 2009. 451p.

RUSSELL, J.B.; O'CONNOR, J.D.; FOX, D.G. et al. A net carbohydrate and protein

system for evaluating cattle diets: I. Ruminal fermentation. Journal of Animal

Science, v.70, p.3551-3561, 1992.

SCHMIDT, P.; MARI, L.J.; NUSSIO, L.G. et al. Aditivos químicos e biológicos na

ensilagem de cana-de-açúcar. 1. Composição química das silagens, ingestão,

digestibilidade e comportamento ingestivo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36,

p.1666-1675, 2007 (supl.).

SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos.

3.ed. Viçosa: UFV, 2006. 235p.

SNIFFEN, C.J.; O’CONNOR, J.D.; VAN SOEST, P.J. et al. A net carbohydrate and

protein system for evaluating cattle diets: II. Carbohydrate and protein availability.

Journal of Animal Science, v.70, p.3562-3577, 1992.

SOUZA, L.C.; ZAMBOM, M.A.; POZZA, M.S.S. et al. Development of

microorganisms during storage of wet brewery waste under aerobic and anaerobic

conditions. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 41, p. 188-193, 2012.

TILLEY, J.M.A., TERRY, R.A. A two stage e technique for the in vitro digestion of

forage crops. Grass and Forage Science, v.18, p.104-111, 1963.

VALADARES FILHO, S.C. Nutrição, avaliação de alimentos e tabelas de composição

de alimentos para bovinos. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE

50

BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 37., 2000, Viçosa, MG. Anais... Viçosa, MG:

Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2000. p.267-338.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of of ruminant. Ithaca: Cornell University.

Press, 1994.

VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J. B.; LEWIS,B. A. Methods for dietary fiber,

neutral detergent fiber, and non starch polysaccharides in relation to nutrition.

Journal of Dairy Science, v.74, p.3583-3597, 1991.

WEST, J.W.; ELY, L.O.; MARTIN, S.A. Wet brewers grain for lactating dairy cows

during hot, humid weather. Journal of Dairy Science, v.77, p.196-204, 1994.

WESTENDORFAND, M. L.; WOHLT, J. E. Brewing by-products: Their use as animal

feeds.VCNA: Food Animal Practice. v.18, p.233-252, 2002.

WINTERS, A.L.; WHITTAKER, P.A.; WILSON, R.K. Microscopic and chemical

changes during the first 22 days in Italian ryegrass and cocksfoot silages made in

laboratory silos. Grass and Forage Science, v.42, p.191-196, 1987.

IV. Dinâmica fermentativa, microbiológica e estabilidade aeróbia da silagem de

resíduo úmido de cervejaria com uso de aditivos nutrientes com alto teor de

matéria seca

Resumo – Objetivou-se neste estudo avaliar a inclusão do farelo de trigo, casca do grão

de soja ou milho moído na ensilagem do resíduo úmido de cervejaria e seus efeitos

sobre a dinâmica fermentativa e microbiológica sobre a estabilidade aeróbia destas

silagens. O resíduo úmido de cervejaria foi ensilado in natura (SRUC) ou acrescido de

aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, na matéria natural: 20% de farelo de

trigo (SRFT), 20% de casca do grão de soja (SRCGS) ou 20% de milho moído

(SRMM). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em

esquema fatorial 4x7, com quatro silagens e sete tempos de avaliações, sendo o tempo

zero (0) analisado no momento da ensilagem e os demais (1, 3, 7, 14, 28 e 56 dias) na

abertura dos silos e quatro repetições. A adição de milho moído ao resíduo úmido de

cervejaria proporcionou menor capacidade tampão. No decorrer do período de

ensilagem, o comportamento do pH ajustou-se à equação de regressão cúbica para as

silagens avaliadas. Não foram observadas interações entre as silagens e os tempos

avaliados para a temperatura. A SRFT apresentou os maiores resultados de nitrogênio

amoniacal aos 56 dias de ensilagem e os menores valores foram observados na SRUC

no momento da ensilagem (tempo 0). A utilização do milho moído e da casca do grão

de soja na ensilagem diminuiu as perdas por efluentes e as perdas por matéria seca. Os

maiores resultados para a população de fungos foram observados na SRMM e na SRFT.

A SRUC e SRMM apresentaram as maiores populações de bactérias ácido-lácticas na

ensilagem e de clostrídios na abertura aos 56 dias. A estabilidade aeróbia não foi

alterada pela inclusão de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca na ensilagem.

O resíduo úmido de cervejaria ensilado com casca do grão de soja ou milho moído pode

ser eficientemente conservado sob a forma de silagem, pois apresenta menores perdas

por efluente e perdas de matéria seca. A abertura dos silos aos 28 dias demonstra menor

população de clostrídios na silagem.

Palavras-chave: capacidade tampão, microbiologia da silagem, nitrogênio amoniacal,

perdas de efluentes, resíduo de cerveja

52

Introdução

O resíduo úmido de cervejaria, disponível em elevadas quantidades pode ser uma

eficiente alternativa na redução dos custos de alimentação para os ruminantes, em

regiões próximas às indústrias cervejeiras. Este resíduo é proveniente da fase inicial da

fabricação de cerveja, apresenta em sua composição, aproximadamente, 20% de matéria

seca, 28,4% de proteína bruta, 47,1% de fibra em detergente neutro e 5,2% de extrato

etéreo (NRC, 2001).

O elevado teor de umidade observado no resíduo úmido de cervejaria dificulta a

sua efetiva utilização na alimentação dos animais, tanto pelo encarecimento do

transporte, quanto pela dificuldade de armazenamento e conservação nas propriedades

rurais. A ensilagem deste resíduo nas propriedades rurais mostrou-se efetiva na

conservação e manutenção da qualidade do mesmo (Souza et al., 2012).

No entanto, a alta umidade representa uma limitação para o seu aproveitamento na

forma de silagem, pois pode resultar em fermentações indesejáveis, com consideráveis

perdas de nutrientes. Assim, pela alta umidade e ao baixo teor de carboidratos solúveis

do resíduo, a utilização de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca pode

melhorar e/ou preservar as características da silagem obtida, melhorar as condições de

fermentação, inibir o desenvolvimento de microrganismos indesejáveis e reduzir as

perdas por efluentes.

Diversos aditivos podem ser empregados para elevar o teor de matéria seca,

dentre estes, os aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, caracterizados por

reduzir ou eliminar a produção de efluente do silo (Wilkinson, 1998). Dentre os aditivos

mais utilizados podem ser citados o fubá de milho, farelo de trigo, casca do grão de

soja, polpa cítrica e resíduos regionais da agroindústria. Estes melhoram o padrão

53

fermentativo e o valor nutricional das silagens, pela sua composição químico-

bromatológica (Zanine et al, 2006; Silva et al, 2007).

O farelo de trigo apresenta-se como uma alternativa interessante pela redução da

fração fibrosa da silagem (Zanine et al., 2006), o milho moído permite maior

concentração de carboidratos fermentáveis (Jobim et al., 2007) e a casca do grão de soja

contém carboidratos estruturais de fácil degradação (Zambom et al., 2001).

Após a abertura dos silos e na retirada da silagem para o fornecimento aos

animais, a aeração do ambiente permite a ação de leveduras que utilizam o ácido lático

considerado conservante das silagens que desencadeia a degradação aeróbia e,

posteriormente, a elevação do pH e quebra da estabilidade aeróbia.

Objetivou-se neste estudo avaliar a inclusão do farelo de trigo, casca do grão de

soja ou milho moído na ensilagem do resíduo úmido de cervejaria, e seus efeitos sobre a

dinâmica fermentativa e microbiológica, bem como, sobre a estabilidade aeróbia destas

silagens.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Estação Experimental Prof. Dr. Antônio Carlos

dos Santos Pessoa, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) campus de

Marechal Cândido Rondon – PR. O processamento das amostras e as análises

laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Análises de Alimentos e Nutrição

Animal, Microbiologia e Bioquímica da Unioeste e no Laboratório de Análises de

Alimentos e Nutrição Animal da Universidade Estadual de Maringá, Paraná (UEM).

54

O resíduo úmido de cervejaria (RUC) utilizado no experimento foi obtido em

indústria cervejeira localizada no município de Toledo, região Oeste do Paraná e

transportado até as dependências da Estação Experimental da Unioeste.

O resíduo úmido de cervejaria foi ensilado in natura (SRUC) ou acrescido de

aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, na matéria natural: 20% de farelo de

trigo (SRFT), 20% de casca do grão de soja (SRCGS) ou 20% de milho moído

(SRMM), para que os teores de matéria seca ficassem próximos aos recomendados por

McDonald (1981) para o adequado processo fermentativo.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em

esquema fatorial 4x7, com quatro silagens e sete tempos de avaliações, sendo o tempo

zero (0) analisado no momento da ensilagem e os demais (1, 3, 7, 14, 28 e 56 dias) na

abertura dos silos e quatro repetições. Para as avaliações microbiológicas utilizou-se o

delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4x3, com quatro silagens e

três tempos de avaliações (0, 28 e 56 dias) e quatro repetições.

Para a realização das análises químico-bromatológicas, as amostras foram

submetidas à secagem em estufa com ventilação forçada de ar, por 72h, a 55ºC.

Decorrida a secagem, as amostras foram processadas em moinho, tipo Willey, dotado de

peneira com crivo de 1 mm e armazenadas em frascos plásticos identificados. Foram

analisados os teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB),

extrato etéreo (EE), lignina, celulose e hemicelulose, segundo as metodologias descritas

em Silva & Queiroz (2006), fibra em detergente neutro (FDN), FDN corrigido para

cinzas e proteína (FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), segundo a metodologia de

Van Soest et al. (1991).

A matéria orgânica foi estimada pela diferença da matéria mineral com base na

matéria seca. Os carboidratos totais (CT) foram estimados, segundo equações de Sniffen

55

et al. (1992). A composição químico-bromatológica do resíduo úmido de cervejaria e

dos aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca pode ser observada na Tabela 1.

Tabela 1. Composição químico-bromatológica do resíduo úmido de cervejaria e dos

aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca utilizados na ensilagem

Nutrientes Alimentos¹

RUC FT CGS MM

Matéria seca (g/kg) 183,71 861,75 880,00 894,12

Matéria orgânica (g/kg de MS) 956,57 915,12 948,75 987,76

Matéria mineral (g/kg de MS) 43,43 84,88 51,25 12,24

Proteína bruta (g/kg de MS) 231,38 215,13 110,51 87,81

Extrato etéreo (g/kg de MS) 63,68 14,64 15,42 36,85

Fibra em detergente neutro² (g/kg de MS) 611,20 490,12 704,02 146,83

Fibra em detergente ácido (g/kg de MS) 226,94 191,72 436,28 59,15

Hemicelulose (g/kg de MS) 524,08 298,40 267,74 87,68

Lignina (g/kg de MS) 60,89 50,12 40,23 3,00

Carboidratos totais (g/kg de MS) 661,51 687,92 822,87 863,23

¹RUC: resíduo úmido de cervejaria; FT: farelo de trigo, CGS: casca do grão de soja; MM: milho moído.

²Fibra em detergente neutro corrigido para cinzas e proteínas.

No dia da entrega do resíduo úmido de cervejaria na Estação Experimental, a

mistura e homogeneização dos alimentos foram realizadas em betoneira do tipo fixa,

equipada com motor e capacidade de aproximadamente 400 litros. Após a

homogeneização, as misturas foram acondicionadas em silos experimentais de

policloreto de polivinila (PVC) de 500 mm de altura e 100 mm de diâmetro, com

capacidade de aproximadamente 3,0 kg de resíduo, que proporcionou densidade de 745,

820, 780 e 805 kg/m³ para SRUC, SRFT, SRCGS e SRMM, respectivamente.

No fundo dos silos foi colocada uma camada de 5 cm de areia fina seca, para

quantificação de efluentes, separada do material ensilado por uma tela plástica de malha

fina e um tecido de algodão. Foi mensurado o peso dos silos antes da ensilagem (silo,

tampa, areia, tela e tecido) e o peso dos silos após estarem cheios e tampados (silo,

56

tampa, areia, tela, tecido e RUC) para posteriores avaliações de efluentes e perda de

matéria seca.

Após a compactação, foram colocadas tampas de PVC e adaptou-se uma

mangueira de borracha com um corte longitudinal, formando uma válvula do tipo

Bunsen, que permite o livre escape dos gases. Posteriormente, as tampas foram vedadas

com fitas adesivas e os silos foram mantidos em local coberto em temperatura ambiente

até a abertura.

Decorrido o período de ensilagem previsto (1, 3, 7, 14, 28, 56 dias), os silos foram

abertos e pesados cheios (silo, tampa, areia úmida, tela, pano e silagem) e vazios (silo,

tampa, areia úmida, tela e pano).

Na retirada da silagem descartaram-se, aproximadamente, 10 cm das

extremidades com o intuito de evitar que a porção inicial mais deteriorada influenciasse

nos resultados. A porção restante da massa ensilada foi disposta em bandejas plásticas e

homogeneizada para as amostragens e posteriores avaliações. A composição químico-

bromatológica das silagens, analisadas após abertura aos 56 dias, pode ser observada na

Tabela 2.

A quantidade de efluentes (E) foi estimada pelo acréscimo no peso do conjunto

silo, tampa, areia, tela e tecido, como descrita por Jobim et al. (2007) e Balieiro Neto et

al. (2009):

E = ((Pab-Pen)/RUCen)*1000

em que:

E = efluente produzido (kg/tonelada de massa ensilada);

Pab = peso do conjunto (silo, tampa, areia, tela e tecido) na abertura do silo (kg);

Pen = peso do conjunto (silo, tampa, areia, tela e tecido) na ensilagem (kg);

RUCen = resíduo úmido de cervejaria ensilado (kg).

57

A perda total de matéria seca (MS) durante o período de ensilagem foi calculada

pela diferença entre o peso da MS inicial e final dos silos, conforme descrito Jobim et

al. (2007) e Balieiro Neto et al. (2009):

PMS = ((MSi – MSf)/MSi)*100

em que:

PMS = perda total de MS (%);

MSi = matéria seca inicial, calculada pelo peso do resíduo úmido de cervejaria ensilado

(kg) multiplicado pelo teor de MS do resíduo na ensilagem;

MSf = matéria seca final, calculada pelo peso da silagem de resíduo úmido de cervejaria

(kg) na abertura multiplicado pelo teor de MS da silagem na abertura.

Tabela 2. Composição químico-bromatológica das silagens

Nutrientes Silagens¹

SRUC SRFT SRCGS SRMM

Matéria seca (g/kg) 199,12 314,08 326,56 328,51

Matéria mineral (g/kg de MS) 48,93 55,06 48,37 48,62

Proteína bruta (g/kg de MS) 241,73 226,99 206,23 185,10

Extrato etéreo (g/kg de MS) 64,42 53,73 53,73 56,90

Fibra detergente neutro² (g/kg de MS) 607,91 629,60 642,41 524,07

Fibra detergente ácido (g/kg de MS) 232,78 222,99 267,73 202,85

Hemicelulose (g/kg de MS) 525,42 494,56 482,69 438,99

Celulose (g/kg de MS) 101,64 106,90 179,56 79,40

Lignina (g/kg de MS) 63,15 66,70 61,21 52,82

Carboidratos totais (g/kg de MS) 644,92 664,22 691,67 709,38

¹Resíduo úmido de cervejaria ensilado in natura (SRUC); resíduo úmido de cervejaria ensilado com

farelo de trigo (SRFT); com casca do grão de soja (SRCGS) ou com milho moído (SRMM). ²Fibra em

detergente neutro corrigido para cinzas e proteínas.

Foi mensurado o pH das silagens, segundo a metodologia de Cherney & Cherney

(2003), e a temperatura das silagens com auxílio de um termômetro digital portátil tipo

espeto, nos tempos avaliados. Para a capacidade tampão, no momento da ensilagem

(tempo 0), foi utilizada a metodologia de Playne & McDonald (1966), em que 15 g de

58

resíduo foram macerados com 250 mL de água destilada, e titulou-se com solução de

ácido clorídrico (HCL 0,1N) até o pH baixar para 3,0 para liberação do bicarbonato

como dióxido de carbono, então foi titulado com solução de hidróxido de sódio (NaOH

0,1N). A capacidade tampão foi expressa em miliequivalente de alcali requerido para

alterar o pH de 4,0 para 6,0 por 100 g de matéria seca.

Uma porção das amostras do tempo de 56 dias foi utilizada para a extração do

suco da silagem com o auxílio de prensa hidráulica (Carver®) para determinação do

nitrogênio amoniacal, segundo Bolsen et al. (1992).

Na ensilagem (tempo 0) e na abertura dos silos (28 e 56 dias), as análises

microbiológicas foram realizadas com meios de cultura seletivos para cada

microrganismo. Aos 50 g de amostras de silagens foram adicionados 450 mL de água

destilada estéril, mantendo-se este material em agitação e a partir da solução obtida

pipetou-se 1 mL ou 0,1 mL, em sucessivas diluições de 10-1

a 10-9

, utilizando-se tubos

de ensaio contendo 9 mL de água destilada estéril. Posteriormente, a partir dos extratos

diluídos foi realizada a semeadura nas placas de Petri, utilizando 0,1 mL de solução.

Para cada diluição e meio de cultura, a semeadura foi efetuada em triplicata, a contagem

microbiana e os resultados obtidos foram analisados, segundo a descrição de González

& Rodriguez (2003).

As populações microbianas foram determinadas pelas técnicas descritas por Silva

et al. (1997), e utilizou-se os seguintes meios:

Ágar BDA® (ágar batata dextrose) acidificado com solução de ácido tartárico a

10%, para a contagem de leveduras e fungos filamentosos, em que as placas foram

mantidas em temperatura ambiente por cinco a sete dias, diferenciando-os pelas

características físicas das colônias;

59

Ágar MRS® (De Man, Rogosa and Sharpe) para a contagem de bactérias ácido-

lácticas, após incubação por 48h em estufa à temperatura de 37°C;

Ágar VRB® (Violet Red Bile) para contagem de enterobactérias, onde as placas

permaneceram por 48h em estufa a 37ºC;

Ágar RCM® (Reinforced Clostridial Medium) para contagem de clostrídios

mantendo-se as placas em incubação anaeróbia por 48h a 37ºC.

Após o período de incubação, as placas de Petri que apresentaram entre 30 e 300

UFC (unidade formadora de colônia) foram computadas com o contador de colônia

Quebec e os resultados obtidos por meio de médias das placas, na diluição selecionada,

expressos em log UFC/g de silagem.

A avaliação da estabilidade aeróbica foi realizada na abertura dos silos aos 56

dias. As silagens foram dispostas, aproximadamente 2,0 kg, em bandejas plásticas,

homogeneizadas e revolvidas. As temperaturas foram mensuradas com auxílio de um

termômetro digital portátil, tipo espeto, inserido 10 cm no centro da silagem três vezes

ao dia, com intervalo de 8h entre as observações, durante dez dias (Taylor & Kung Jr,

2002; Bernardes et al., 2008). A cada coleta de temperatura também foi retirado

amostras para mensuração do pH (Cherney & Cherney, 2003). A temperatura ambiente

foi aferida com o uso de termômetro digital.

Os parâmetros para avaliação da estabilidade aeróbia, como proposto por O’Kiely

et al. (2001) foram: horas para elevação da temperatura em 2ºC em relação à

temperatura ambiente; número de dias para atingir a temperatura máxima (DTmax);

temperatura máxima atingida pela silagem (Tmax); pH máximo atingido pela silagem

(pHmax); número de dias para se atingir o pH máximo (DpHmax). As variáveis de

temperatura foram calculadas pela diferença da temperatura da silagem em relação à

temperatura do ambiente.

60

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e teste F de Fischer

(Pimentel Gomes & Garcia, 2002; Pimentel Gomes, 2009). Quando constatado efeito

significativo, as médias relativas às silagens do resíduo úmido de cervejaria foram

comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, enquanto os tempos de abertura

foram estudados por meio de análise de regressão e considerou-se a ausência de

significância para os desvios de regressão. Para a escolha do modelo foi considerado o

maior coeficiente de determinação (R²).

Resultados e discussão

A adição de milho moído ao resíduo úmido de cervejaria (SRMM) proporcionou

menor (P<0,05) capacidade tampão (CT) (18,16 meq NaOH/100g de matéria seca),

seguida pela SRFT, SRUC e SRCGS (23,87; 25,50 e 25,65 meq de NaOH/100 g de

matéria seca) que não diferiram entre si. Estes resultados foram menores que os

observados por Allen et al. (1975) de 32,5 meq NaOH/100 g de matéria seca, em

avaliações do resíduo úmido de cervejaria.

A baixa CT observada é considerada um aspecto positivo no processo de

ensilagem, pois é indicativo de que a velocidade do abaixamento do pH poderá ser

rápida, o que também depende dos carboidratos fermentáveis. Além disso, as perdas no

processo de ensilagem serão menores, o que preserva a qualidade da silagem (Muck,

1988).

No decorrer do período de ensilagem, o comportamento do pH das diferentes

silagens ajustou-se às equações de regressão cúbicas (Figura 1), com o menor pH

estimado aos 10,09; 9,75; 9,78 e 10,08 dias de ensilagem, para as SRUC, SRFT,

SRCGS e SRMM, respectivamente.

61

Segundo Hofvendahl & Hahn-Hagerdal (2000), o pH, considerado ótimo para a

produção de ácido lático pelos microrganismos, varia entre 5,0 e 7,0. Assim, o baixo pH

inicial da SRUC, SRFT, SRCGS e SRMM (3,86; 4,47; 4,42 e 3,93, respectivamente)

pode ter favorecido a ação das bactérias ácido-lácticas, com consequente produção de

ácido orgânicos e queda do pH. A ação das bactérias ácido-lácticas é influenciada pelo

pH, pois a atividade catalítica das enzimas e metabólicas dos microrganismos dependem

do pH extracelular (Mussato et al., 2008).

Figura 1. Valores de pH do resíduo úmido de cervejaria ensilado in natura (SRUC), resíduo úmido de

cervejaria ensilado com farelo de trigo (SRFT), com casca do grão de soja (SRCGS) ou com

milho moído (SRMM), no decorrer do período de ensilagem. SRUC: Y = 3,8759 - 0,0869x +

0,0037x² - 0,00004x³, R²: 0,86; SRFT: Y = 4,2166 - 0,1224x + 0,0054x² - 0,00006x³, R²: 0,76;

SRMM: Y = 3,9273 - 0,0819x + 0,0036x² - 0,00004x³, R²: 0,89 e SRCGS: Y = 4,2652 -

0,0999x + 0,0042x² - 0,00005x³, R²: 0,84

Para o rápido abaixamento do pH da silagem aos níveis desejados, além da baixa

capacidade tampão, é imprescindível que exista quantidade suficiente de carboidratos

solúveis fermentescíveis, pois são substratos para os microrganismos produtores de

62

ácido lático. A rápida queda do pH observada nas silagens permite inferir que os teores

de carboidratos solúveis foram suficientes para a fermentação das silagens de qualidade

satisfatória.

Segundo Haigh (1990), o conteúdo de carboidratos solúveis é considerado como

um parâmetro indicador da qualidade da forragem para ensilagem, sendo necessária

uma concentração mínima de 2,5 a 3,0% na matéria seca. No entanto, mesmo após a

ensilagem, pode ocorrer aumento do teor de carboidratos solúveis, pela quebra de

ligações químicas dos carboidratos estruturais, principalmente da hemicelulose

(Chamberlain, 1987).

O aumento (P<0,05) do pH, após os 14 dias de ensilagem, pode estar associado à

atividade de leveduras, pois apenas a redução do pH não é suficiente para inibir o

desenvolvimento destas nas silagens (McDonald et al., 1991). As leveduras podem

causar a deterioração das silagens, promover aumento do pH e risco de

desenvolvimento de microrganismos patogênicos (Rotz & Muck, 1994).

Não foram observadas interações (P>0,05) entre as silagens e os tempos avaliados

para a temperatura. A baixa temperatura observada no processo fermentativo sugere

silagem de boa qualidade, pois altas temperaturas, normalmente, favorecem o

desenvolvimento de microrganismos indesejáveis, pelas condições físicas e químicas

adequadas à proliferação destes, bem como também resultam em silagens de baixa

qualidade nutricional e maiores perdas de matéria seca (Bernardes et al., 2008).

63

Tabela 3. Variação temporal dos valores de temperatura, nitrogênio amoniacal, perdas por efluentes, perdas de matéria seca do resíduo

úmido de cervejaria ensilado in natura (SRUC), do resíduo úmido de cervejaria ensilado com farelo de trigo (SRFT), casca do

grão de soja (SRCGS) ou milho moído (SRMM)

Silagens Tempos de abertura (dias)

Média¹ CV%² Equação de Regressão; R² Valor P³

0 1 3 7 14 28 56 L Q I4

Temperatura ºC

SRUC 30,35 21,88 16,05 15,68 16,40 18,20 21,70 20,04a

4,75

Y = 20,037 0,328 0,498 NS5

SRFT 28,35 22,43 15,93 15,88 16,50 18,18 21,63 19,84a Y = 19,843 0,321 0,414 NS

SRCGS 27,75 22,80 17,68 16,25 15,73 18,13 20,03 19,77a Y = 19,767 0,316 0,215 NS

SRMM 28,95 22,05 16,08 15,43 16,00 18,23 21,68 19,76a Y = 19,774 0,126 0,417 NS

Nitrogênio amoniacal (g/kg de NT)

SRUC 8,87b 9,20c 9,57c 9,80c 10,81c 13,30c 19,20c

12,97

Y = 8,688 + 0,181x; 0,99 0,019 0,833 0,000

SRFT 39,15a 110,08a 117,38a 126,25a 147,76a 173,81a 212,48a Y = 96,292 + 2,319x; 0,75 0,000 0,000 0,000

SRCGS 20,13b 27,13b 30,75b 36,21b 49,39b 67,85b 89,48b Y = 27,136 + 1,202x; 0,96 0,000 0,340 0,000

SRMM 10,94b 24,64b 29,51b 33,41b 42,56b 61,65b 101,40b Y = 20,744 + 1,458x; 0,98 0,000 0,373 0,000

Efluentes (kg/tonelada de material ensilado)

SRUC - 40,47 42,69 47,50 54,83 68,09 69,30 53,81a

29,36

Y = 43,821 + 0,544x; 0,82 0,000 0,072 NS

SRFT - 28,37 39,01 42,00 51,46 53,57 61,01 45,90ab Y = 36,998 + 0,488x; 0,77 0,001 0,137 NS

SRCGS - 28,13 34,51 37,45 42,23 44,54 46,00 38,81b Y = 33,997 + 0,264x; 0,66 0,059 0,242 NS

SRMM - 23,91 28,00 34,17 39,88 44,38 54,43 37,46b Y = 28,225 + 0,508x; 0,90 0,000 0,326 NS

Perda de Matéria Seca (g/kg)

SRUC - 82,14 83,85 88,25 91,96 112,69 119,69 96,43a

45,53

Y = 82,666 + 0,748x; 0,88 0,050 0,621 NS

SRFT - 54,13 54,57 59,50 83,27 104,69 118,75 79,15ab Y = 56,205 + 1,240x; 0,89 0,001 0,281 NS

SRCGS - 59,12 60,73 63,68 64,87 66,51 69,75 64,11b Y = 6,412 0,692 0,855 NS

SRMM - 43,37 54,77 62,21 73,81 81,38 92,84 68,06b Y = 54,201 + 0,755x; 0,73 0,048 0,311 NS

¹Médias na coluna seguidas por letras diferentes minúsculas diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). ²CV: Coeficiente de variação; ³L e Q: efeitos de ordem

linear e quadrática relativos aos tempos de abertura dos silos. 4I: efeito da interação silagem x tempo de abertura dos silos.

5NS: não significativo. 6

3

64

Foram observadas interações (P<0,05) entre as silagens e os tempos de abertura

para os resultados de nitrogênio amoniacal (N-NH3) (Tabela 3). A SRFT apresentou os

maiores resultados (P<0,05) de N-NH3 amoniacal aos 56 dias de ensilagem e os

menores valores foram observados na SRUC no momento da ensilagem (tempo 0). A

inclusão dos aditivos na ensilagem resultou em elevação do nitrogênio amoniacal, e,

segundo Prigge et al., (1976), o aumento na quantidade de nitrogênio solúvel pode

resultar da solubilização ácida ou proteólise pela ação de microrganismos.

O aumento da atividade proteolítica pode diminuir o valor nutritivo das silagens,

por meio da transformação do nitrogênio proteico em nitrogênio não proteico, como

peptídeos e aminoácidos livres (Senger et al., 2005). O que permite às bactérias

proteolíticas fermentar estes produtos, transformando-os em ácidos orgânicos, CO2,

amônia e aminas, que podem reduzir o consumo voluntário das silagens pelos animais

(Mulligan et al., 2002).

Os teores de N-NH3 no decorrer dos tempos de abertura das silagens ajustaram-se

ao modelo de regressão linear crescente. Observou-se aumento linear do N-NH3

(P<0,05) de 0,18; 2,32; 1,20 e 1,46 g/kg de nitrogênio total, a cada dia de ensilagem,

para a SRUC, SRFT, SRCGS e SRMM, respectivamente, sem tendência de

estabilização, o que evidencia a necessidade de avaliação das silagens em períodos

superiores a 56 dias de fermentação.

Estes resultados de nitrogênio amoniacal indicam que a proteólise se estendeu

durante o período de fermentação, e mesmo que estabelecidas rapidamente as condições

ácidas, possivelmente, não foram suficientes para inibir a ação dos microrganismos.

A produção de amônia também pode ter sido consequência dos baixos teores de

carboidratos fermentáveis na SRFT, pois as bactérias ácido-lácticas podem utilizar

aminoácidos como fonte primária de energia para crescimento e metabolismo. As

65

bactérias ácido-lácticas não são proteolíticas, no entanto, se comportam como tal em

função do baixo aporte de nutrientes ou baixo poder de síntese de aminoácidos, sendo

necessário suprimento extra de nutrientes (Pahlow et al., 2003).

Não foram observadas interações (P>0,05) para as perdas por efluente entre as

silagens e os tempos de abertura. Comparando as silagens, observa-se que a utilização

do milho moído e da casca do grão de soja diminuiu (P<0,05) as perdas por efluentes,

pelo maior poder de absorção destes. As maiores perdas observadas (P<0,05) foram

para a SRUC. No decorrer do período de ensilagem, verifica-se comportamento linear

positivo (P<0,05) nas perdas por efluentes, que aumentaram 0,543; 0,486; 0,263 e 0,508

kg/tonelada, a cada dia de ensilagem, para a SRUC, SRFT, SRCGS e SRMM,

respectivamente.

Observou-se a minimização das perdas por efluentes com a inclusão dos aditivos

ao resíduo úmido de cervejaria na ensilagem, pois a quantidade de efluentes está

diretamente ao teor de umidade do material. O mesmo efeito foi constatado por Zanine

et al. (2006) e Andrade et al.(2012) em silagens de forrageiras com elevado teor de

umidade, acrescidas de farelo de trigo, casca do grão de soja e milho moído. Além dos

efeitos positivos na redução de perdas por efluentes, estes autores também observaram

aumento na recuperação de matéria seca e melhorias consideráveis na qualidade das

silagens.

O efluente das silagens carreia diversos nutrientes, como compostos nitrogenados,

carboidratos solúveis, ácidos orgânicos e sais minerais. Dessa forma, constatou-se que a

inclusão dos aditivos foi uma alternativa vantajosa, pois impediu a lixiviação dos

nutrientes e reduziu as perdas de matéria seca, o que demonstra o elevado potencial

como aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca de umidade.

66

As menores perdas de matéria seca (PMS) (P<0,05) foram observadas nas

silagens SRCGS e SRMM, e as maiores na SRUC (Tabela 3). A redução nas PMS está

relacionada ao maior poder de absorção de umidade dos aditivos nutrientes com alto

teor de matéria seca (farelo de trigo, casca do grão de soja e milho moído) e,

consequente aumento da matéria seca do material original.

As perdas de matéria seca também estão relacionadas ao aumento das perdas por

gases, promovido pela fermentação por microrganismos produtores de CO2, pois,

segundo McDonald et al. (1991), há elevadas perdas por gases na fermentação por

bactérias do gênero Clostridium onde ocorrem descarboxilação e/ou oxidação.

Nas análises referentes ao desenvolvimento de fungos filamentosos pôde-se

verificar que houve interação (P<0,05) entre as silagens e os tempos de abertura

(Tabela 4). Os maiores resultados para a população de fungos foram observados na

SRMM no tempo zero (0) e 56 dias e na SRFT aos 56 dias. Os maiores resultados, na

SRFT e SRMM aos 56 dias, contribuem para a deterioração aeróbia, pois após a

abertura das silagens, altas populações de fungos filamentosos podem provocar o

aumento do pH, que possibilita a multiplicação de microrganismos patogênicos (Guerra

et al., 2003).

Os resultados obtidos para a população de fungos são maiores que os observados

por Souza et al. (2012) em avaliações de métodos de conservação do resíduo úmido de

cervejaria em silos experimentais, onde constataram valores médios de 2,45 log UFC/g

de silagem do resíduo. Segundo Jobim et al. (1999), a importância dos fungos

filamentosos está mais relacionada às perdas na superfície do silo durante a utilização

deste do que com a fermentação da silagem.

67

Tabela 4. Presença de microrganismos (log UFC/g silagem) no resíduo úmido de

cervejaria ensilado in natura (SRUC), do resíduo úmido de cervejaria

ensilado com farelo de trigo (SRFT), casca do grão de soja (SRCGS) ou

milho moído (SRMM)

Silagens Tempo de abertura dos silos (dias)

Média CV%¹ Valor P

0 28 56 S² T³ I4

Fungos Filamentosos

SRUC 2,39bB 3,54aA 2,74bB

14,21 0,000 0,000 0,001 SRFT 2,36bB 3,37aA 3,78aA

SRCGS 2,48bB 3,43aA 2,87bAB

SRMM 4,07aA 3,65aA 3,68aA

Leveduras

SRUC 3,60aA 4,18bA 3,69aA

8,35 0,085 0,000 0,017 SRFT 3,45aB 5,12aA 3,62aB

SRCGS 3,75aB 5,36aA 3,79aB

SRMM 4,04aB 5,22aA 3,80aB

Bactérias ácido-lácticas

SRUC 8,23aA 7,01aB 5,24bC

2,67 0,003 0,000 0,009 SRFT 7,83bA 7,09aB 5,43abC

SRCGS 7,83bA 6,85aB 5,36bC

SRMM 8,39abA 7,06aB 5,76aC

Enterobactérias

SRUC 2,58 1,20 1,01 1,60b

40,27 0,000 0,071 0,189 SRFT 2,24 0,99 0,00 1,08b

SRCGS 1,99 0,99 1,32 1,43b

SRMM 3,35 1,57 2,07 2,33a

Clostrídios

SRUC 2,57aC 3,12aB 6,53aA

6,09 0,000 0,000 0,010 SRFT 2,59aB 2,68aB 5,67bA

SRCGS 2,59aB 2,69aB 5,69bA

SRMM 2,57aB 2,93aB 6,16aA

Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na mesma coluna e maiúsculas diferentes na mesma

linha diferem entre si (P<0,05) pelo teste de Tukey. 1CV: Coeficiente de variação. ²S: efeito silagem.

³T: efeito tempo de abertura dos silos. 4I: interação silagens x tempo de abertura dos silos.

Houve interação entre as silagens e os dias de abertura (P<0,05). Ao comparar os

resultados da população de leveduras aos 28 dias de abertura, observa-se que a SRUC

apresentou a menor contagem deste microrganismo em relação às demais silagens. No

decorrer dos dias de abertura dos silos não foram observadas diferenças (P>0,05) de

leveduras para a SRUC, entretanto, para as demais silagens foram observadas alterações

68

(P<0,05) aos 28 dias de ensilagem. A população de leveduras não foi inibida, apesar da

rápida e acentuada queda no pH após a ensilagem, fato que se deve à capacidade das

leveduras se desenvolverem, em condições de anaerobiose, mesmo em pH inferior a 2,0

(McDonald et al., 1991).

Segundo Woolford (1990) e McDonald et al. (1991), silagens que apresentarem

populações de leveduras acima de 5,0 log UFC/g na matéria natural estão, geralmente,

associadas à rápida deterioração da silagem após a abertura dos silos, pois as leveduras

consomem apenas compostos solúveis (açúcares e produtos da fermentação). Quando na

abertura das silagens, estas apresentam contagem de levedura na ordem de 6,0 log

UFC/g, podem em dois ou três dias atingir 9,0 log UFC/g, sendo as silagens

consideradas de baixa estabilidade (Muck et al., 1992).

A deterioração das silagens está mais relacionada à população de microrganismos

(fungos), do que pela composição química da silagem. A respiração dos

microrganismos aeróbios pode ser considerada um dos principais fatores que afetam a

qualidade das silagens. No entanto, o substrato utilizado depende do tipo do

microrganismo, por exemplo, as leveduras consomem açúcares e produtos da

fermentação, e os fungos filamentosos degradam diversos nutrientes, inclusive

carboidratos estruturais e lignina ( McDonald et al., 1991).

Nos resultados obtidos para a população de bactérias ácido-lácticas ocorreu

interação entre as silagens e os tempos de abertura dos silos (P<0,05). Na ensilagem

(tempo 0) foram observados os maiores resultados de bactérias ácido-lácticas (BAL)

para a SRUC e a SRMM. No decorrer do tempo de armazenagem, observa-se

diminuição destes microrganismos em todas as silagens, com menor contagem na

abertura aos 56 dias.

69

A população de bactérias ácido-lácticas da SRUC e da SRMM, no momento da

ensilagem (tempo 0), estava de acordo com as recomendações de McDonald (1991),

pois segundo este mesmo autor, para um rápido abaixamento do pH, a população

considerada ideal é de, aproximadamente, 8,0 log UFC/g de BAL. Ressalta-se que,

mesmo com o rápido decréscimo no pH após a ensilagem e com adequada população de

BAL, o desenvolvimento da população de leveduras não foi inibido.

Segundo Bernardes (2008) e Reis et al. (2004), na ensilagem de gramíneas

tropicais, mesmo em condições de baixa população inicial de BAL, que fermentam

açúcares e produzem ácido láctico e outros produtos, pode ocorrer aumento no número

das BAL com posterior abaixamento de pH e rápida acidificação, o que pode ter

ocorrido com as SRFT e SRCGS, pois não foram observadas grandes alterações nos

resultados de pH.

Não foi observado interação (P>0,05) entre as silagens e dias de ensilagem para

as enterobactérias. No entanto, entre as silagens houve diferença (P<0,05), sendo que a

SRMM apresentou os maiores valores de enterobactérias comparada às demais.

Segundo Mahana (1994), as enterobactérias geralmente não produzem grande

efeito sobre a qualidade das silagens, mas competem com as bactérias ácido-lácticas

pelos carboidratos solúveis no início do processo de fermentação das silagens,

produzindo ácido acético.

Na população de clostrídios, observa-se interação (P<0,05) entre as silagens e os

tempos de abertura. Observou-se que as silagens apresentaram comportamento de

desenvolvimento crescente no decorrer do período de armazenagem, com maior

população de clostrídios aos 56 dias, em comparação as avaliações realizadas no tempo

zero (0) e 28 dias. A SRMM e a SRUC apresentaram os maiores resultados na abertura

aos 56 dias.

70

Segundo Kung Jr (2001), a atividade dos clostrídios também pode estar

relacionada aos resultados de nitrogênio amoniacal obtidos na abertura das silagens,

fato observado para a SRFT, que apresentou elevados teores de nitrogênio amoniacal.

Normalmente, o controle do desenvolvimento de clostrídios depende da redução

do pH e do aumento da pressão osmótica (maior teor de MS) (Coan et al., 2007). As

enterobactérias tem controle semelhante e normalmente são inibidas em pH abaixo de

4,5 (Woolford, 1984; Stefanie et al., 2000). Mesmo com a observação das condições

adequadas de MS e pH, observou-se pronunciado número de enterobactérias e

clostrídios.

A estabilidade aeróbia não foi alterada (P>0,05) pela inclusão de aditivos na

ensilagem, visto que não houve diferença entre o número de horas para que as

temperaturas das silagens se elevassem 2ºC acima da temperatura ambiente (Tabela 5).

Tabela 5. Estabilidade aeróbia do resíduo úmido de cervejaria ensilado in natura

(SRUC), do resíduo úmido de cervejaria ensilado com farelo de trigo (SRFT),

casca do grão de soja (SRCGS) ou milho moído (SRMM) após abertura aos

56 dias

Variáveis Silagens

CV%1

SRUC SRFT SRCGS SRMM

Estabilidade aeróbia² 39 48 48 48 19,67

pH na abertura da silagem 3,52c 3,81a 3,82a 3,65b 0,23

pH máximo atingido 6,19c 7,44b 8,54a 6,12c 3,92

Dias para atingir o pH máximo 9,50ab 9,50ab 10,00a 8,50b 5,33

Temperatura máxima ºC 26,10c 29,30ab 30,15a 27,20bc 4,13

Dias para atingir temperatura máxima 6,00 3,75 5,25 4,25 30,73

Médias seguidas por letras minúsculas na mesma linha diferem entre si (P<0,05) pelo teste de Tukey.

¹CV: Coeficiente de variação. ²Horas para elevação da temperatura da silagem em 2ºC em relação à

temperatura ambiente

A elevação da temperatura é um dos indicadores de quebra da estabilidade aeróbia

de silagens após a abertura dos silos e fornecimento aos animais. A aeração permite a

ação de leveduras que oxidam os ácidos orgânicos (Ostling & Lindgren, 1995),

71

desencadeando, além da elevação de temperatura, a elevação do pH e posterior

degradação aeróbia (Weinberg et al., 1993; Castro et al., 2006).

Os parâmetros que mais alteram a estabilidade aeróbia são a temperatura

ambiente, a concentração de carboidratos solúveis, a população de fungos e a

concentração de ácidos orgânicos em interação com o pH (Pitt et al., 1991; Phillip e

Fellner, 1992).

Na abertura dos silos, a SRFT e a SRCGS apresentaram os maiores valores de pH,

e a SRUC o menor. O início da deterioração se caracteriza pela utilização dos ácidos

orgânicos por leveduras e eventualmente por bactérias produtoras de ácido acético,

provocando o aumento do pH. Quando avaliado o pH máximo atingido, a SRCGS

também apresentou o maior valor, em contraposição as SRUC e SRMM, onde foram

obtidos os menores valores de pH máximo. Isto sugere a menor estabilidade da SRCGS,

pois após a exposição da silagem ao ar, as leveduras presentes utilizam o ácido lático,

elevando o pH, ocorrendo, com isso, a liberação dos microrganismos inibidos pela

acidez, levando a utilização dos nutrientes e degradação do material (Castro et al.,

2006).

O tempo gasto para atingir o máximo pH também foi influenciado pelas silagens

(P<0,05), onde a SRCGS apresentou o maior valor em relação às demais, isso se deve

possivelmente ao maior valor de pH máximo atingido por esta silagem.

O aumento da temperatura das silagens, considerado o segundo estágio da

deterioração, pelo crescimento de microrganismos aeróbios (Woolford, 1978), envolve

a utilização de ácidos orgânicos e outros nutrientes solúveis como fonte de energia,

resultando em perda de nutrientes.

Segundo Siqueira et al, (2005), quando se trata das avaliações na abertura dos

silos, não se pode levar em conta somente o tempo para que a massa atinja 2ºC acima da

72

temperatura ambiente, mas também a temperatura máxima observada, e o tempo gasto

para alcançar a máxima temperatura. De acordo com os valores obtidos, observou-se

que a maior temperatura máxima foi atingida pela SRCGS, e a menor pela SRUC. No

entanto, em relação ao tempo para atingir a máxima temperatura, não houve diferença

(P>0,05) entre as silagens.

Os resultados obtidos permitem inferir que não houve deterioração das silagens

acrescidas ou não de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, e que as mesmas

apresentaram boa estabilidade aeróbia.

Conclusões

O resíduo úmido de cervejaria ensilado com casca do grão de soja ou milho moído

pode ser eficientemente conservado sob a forma de silagem, pois reduz as perdas por

efluente e perdas de matéria seca. Contudo, a estabilidade aeróbia não é influenciada

pelo uso de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca, como o farelo de trigo,

casca do grão de soja ou milho moído.

73

Referências

ALLEN, W,R.; STEVENSON, K.W.; BUCHANAN-SMITH, J. Influence of additives

on short-term preservation of wet brewers grains stored in uncovered piles.

Canadian Journal of Animal Science, v.55, p.609-618, 1975.

ANDRADE A.P.; QUADROS, D.G.; BEZERRA, A.R.G. et al. Aspectos qualitativos da

silagem de capim-elefante com fubá de milho e casca de soja. Semina: Ciências

Agrárias, v. 33, p. 1209-1218, 2012.

BALIEIRO NETO, G.; SIQUEIRA, G.R.; NOGUEIRA, J.R. et al. Perdas fermentativas

e estabilidade aeróbia de silagens de cana de açúcar aditivadas com cal virgem.

Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.10, p.24-33, 2009.

BERNARDES, T. F.; REIS, R. A.; AMARAL, R. C. Perfil fermentativo, estabilidade

aeróbia e valor nutritivo de silagens de capim-Marandu ensilado com aditivos.

Revista Brasileira de Zootecnia, v. 37, n. 10, p. 1728-1736, 2008.

BOLSEN, K.K.; LIN, C.; BRENT, B.E. et al. Effect of silage additives on the microbial

succession and fermentation process of alfalfa and corn silage. Journal of Dairy

Science, v.75, p.3066-3083, 1992.

CASTRO, F.G.F; NUSSIO, L.G.; HADDAD, C.M. et al. Perfil microbiológico,

parâmetros físicos e estabilidade aeróbia de silagens de capim-Tifton 85 (Cynodon

sp.) confeccionadas com distintas concentrações de matéria seca e aplicação de

aditivos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, p.358-371, 2006.

CHAMBERLAIN, D.G. The silage fermentation in relation to the utilization of

nutrients in the rumen. Process Biochemistry, v. 4, p.60-63, 1987.

CHERNEY , J.H.; CHERNEY, D.J.R. Assessing Silage Quality In: Buxton et al. Silage

Science and Technology. Madison, 2003. p.141-198.

COAN, R.M.; REIS, R.A.; GRACIA, G.R. et al. Dinâmica fermentativa e

microbiológica de silagens dos capins Tanzânia e Marandú acrescidas de polpa

cítrica peletizada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.1502-1511, 2007.

GONZÁLEZ, G.; RODRÍGUEZ, A.A. Effect of storage method on fermentation

characteristics, aerobic stability and forage intake of tropical grasses ensiled in

round bales. Journal of Dairy Science, v.86, p.926-933, 2003.

HAIGH, P. M. Effect of herbage water-soluble carbohydrate content and water

conditions at ensilage on the fermentation of grass silages made on commercial

farms. Grass and Forage Science, v.45, p.263-271, 1990.

HOFVENDAHL K.; HAHN-HAGERDAL, B. Factors affecting the fermentative lactic

acid production from renewable resources. Enzyme Microbial Technology, v.26,

p.87-107, 2000.

ÍTAVO, L.C.V.; SANTOS, G.T.; JOBIM, C.C.; et al. Aditivos na conservação do

bagaço de laranja in natura na forma de silagem. Revista Brasileira de Zootecnia,

v.29, p.1474-1484, 2000.

JOBIM, C.C.; LOMBARDI, L.; MACEDO, F.A.F. et al. Silagens de grãos de milho

puro e com adição de grãos de soja, de girassol ou ureia. Pesquisa Agropecuária

Brasileira, v. 43, n. 5, p. 649-656, 2008.

74

JOBIM, C.C.; NUSSIO, L.G.; REIS, A.R. et al. Avanços metodológicos na avaliação da

qualidade da forragem conservada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.101-

119, 2007 (supl.).

JOBIM, C.C.; REIS, R.A.; SHOKEN-ITURRINO, R.P. et al. Desenvolvimento de

microrganismos durante a utilização de silagem de grãos úmidos de milho e de

espigas de milho sem brácteas. Acta Scientiarum – Animal Science, v.21, p.671-

676, 1999.

KUNG JR., L. Silage fermentation and additives. In: SCIENCE ANDTEHCNOLOGY

IN THE FEED INDUSTRY, 17., 2001, Nottingham. Proceedings… Nottingham:

Nottingham University Press, 2001. p.145-159.

MAHANA, B. Proper management assures high-quality silage, grains. Feedstuffs, v.10,

p.12-56, 1994.

McDONALD, P. The biochemistry of silage. New York: John Wiley & Sons, 1981.

207p.

McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of

silage.2.ed. Marlow: Chalcombe Publications, 1991. 340p.

MUCK, R. E., SPOETRA, S. F., WIKESELAAR, P. G. Effects of carbon dioxide on

fermentation and aerobic stability of maize silage. Journal of the Science of Food

and Agriculture, v. 59, p. 405-412, 1992.

MUCK, R.E. factors influencing silage quality and their implications for management.

Journal of Dairy Science, v.71, p.2992-3002, 1988.

MULLIGAN, F.J.; QUIRKE, J.; RATH, M. et al. Intake, digestibility, milk production

and kinetics of digestion and passage for diets based on maize or grass silage fed to

late lactation dairy cows. Livestock Production Science, v.74, p.113-124, 2002.

MUSSATO, S.I.; FERNANDES, M.; MANCILHA, I.M. et al. Effects of medium

supplementation and pH control on lactic production from brewer’s spent grain.

Biochemical Engineering Journal. v.40, p.437-444, 2008.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient Requirements of Dairy

Cattle. Washington, D.C., 2001. 381p.

O´KIELY, P.O.; CLANCY, M.; DOYLE, E.M. Aerobic stability of grass silage mixed

with a range of concentrate feedstuffs at feed-out. In: INTERNATIONAL

GRASSLAND CONGRESS, 19, 2001. São Pedro-SP. Proceedings… Piracicaba-

FEALQ, 2001. p.794-795.

ÖSTLING, C.; LINDGREN, S. Influences of enterobacteria on the fermentation and

aerobic stability of grass silages. Grass and Forage Science, v.50, p.41-47, 1995.

PAHLOW, G.; MUCK, R.; DRIEHUIS, F. et al. Microbiology of ensiling. In:

BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H. (Eds.) Silage science and

technology. Madison: ASA, CSSA, SSSA, 2003. p.31-93.

PITT, R.E.; MUCK, R.E.; PICKERING, N.B. A model of aerobicfungal growth in

silage. 2. Aerobic stability. Grass and Forage Science, v.46, p.301-312, 1991.

PHILLIP, L.E., FELLNER, V. Effects of bacterial inoculation of high-moisture ear corn

on its aerobic stability, digestion, and utilization for growth by beef steers. Journal

Animal Science, v.70, p.3178-3187, 1992.

75

PIMENTEL GOMES, F.; GARCIA, C. H. Estatística aplicada a experimentos

agronômicos e florestais: exposição com exemplos e orientações para uso de

aplicativos. 11ª Ed. FEALQ, Piracicaba, 2002. 309p.

PIMENTEL GOMES, F.P. Curso de Estatística Experimental. 15ª Ed., FEALQ,

Piracicaba. 2009. 451p.

PLAYNE, M.J.; McDONALD, P. The buffering constituents of herbage and of silage.

Journal of the Science of Food and Agriculture, v.17, p.264-268, 1966.

PRIGGE, E.C.; JOHNSON, R.R.; OWENS, F.N., et al. Utilization of nitrogen from

ground high moisture and dry corn by ruminants. Journal of Animal Science,

v.43, p.705-711, 1976.

REIS, R.A.; BERNARDES, T.F.; SIQUEIRA, G.R. Tecnologia de produção e valor

alimentício de silagens de capins tropicais. In: JOBIM, C.C.; CECATO, U.;

CANTO, M.W. (Org). II Simpósio sobre produção e utilização de forragens

conservadas. 2ed. Maringá: UEM/CCA/DZO, 2004, p.34-74.

REZENDE, A. V.; GASTADELLO JÚNIOR, A. L.; VALERIANO, A. R. et al. Uso de

diferentes aditivos em silagem de capim-elefante. Ciência Agrotécnica, v.32,

p.281-287, 2008.

ROTZ, C.A., MUCK, R.E. Changes in forage quality duringharvest and storage. In:

Fahey Jr., G.C., et al. (Eds.), Forage Quality, Evaluation, and Utilization.

American Society of Agronomy Inc., Crop Science Society of America Inc., Soil

Science Society of America Inc., Madison, p.828–868, 1994.

SENGER, C.C.D.; MÜHLBACH, P.R.F.; BONNECARRÈRE SANCHEZ, L.M. et al.

Composição e digestibilidade ‘in vitro’de silagens de milho com distintos teores de

umidade e níveis decompactação. Ciência Rural, v.35, p.1393-1399, 2005

SIQUEIRA, G.R.; BERNARDES, T.F.; REIS, R.A. Instabilidadeaeróbia de silagens:

efeitos e possibilidades de prevenção. In: REIS, R.A.; SIQUEIRA, G.R.;

BERTIPAGLIA, L.M.A. (Eds.). Volumosos na produção de ruminantes. 2.ed.

Jaboticabal: FUNEP, 2005. p.25-60.

SILVA, F.F.; AGUIAR, M.S.M.A.; VELOSO, C.M. et al. Bagaço de mandioca na

ensilagem do capim-elefante: qualidade das silagens e digestibilidade dos

nutrientes. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59,

p.719-729, 2007.

SILVA, N.; JUNQUEIRA, V.C.A.; SILVEIRA, N.F.A. Manual de métodos de análise

Microbiológica de alimentos. São Paulo: Varela, 1997. 295p.

SOUZA, L.C.; ZAMBOM, M.A.; POZZA, M.S.S. et al. Development of

microorganisms during storage of wet brewery waste under aerobic and anaerobic

conditions. Revista Brasileira de Zootecnia, v.41, p.188-193, 2012.

STEFANIE, J.W.H.; ELFEINK, O.; DRIEHUIS, F. et al. Silage fermentation process

and their manipulation. In: FAO ELETRONIC CONFERENCE ON TROPICAL

SILAGE, Rome, 1999, Rome. Proceedings... Rome: FAO, 2000. p.17-30.

TAYLOR, C.C.; KUNG Jr., L. The effect of Lactobacillus buchneri 40788 on the

fermentation and aerobic stability of high moisture corn in laboratory silos.

Journal Dairy Science, v.85, p.1526-1532, 2002.

76

WEINBERG, Z.G.; ASHBELL, G.; HEN, Y. et al. The effect of applying lactic acid

bacteria at ensiling on the aerobic stability of silages. Journal of Applied

Bacteriology, v.75, p.512-518, 1993.

WILKINSON, J.M. Additives for ensiled temperate forage crops. In. REUNIÃO

ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35., 1998, Botucatu.

Anais... Botucatu: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1998. p.73-108.

WOOLFORD, M.K. The problem of silage effluent. HerbageAbstracts, v.48, p.397-

403, 1978.

WOOLFORD, M.K. The silage fermentation. New York: Marcel Dekker, 1984. 350p.

WOOLFORD, M.K. A Review. The detrimental effects of air on silage. Journal of

Applied Bacteriology, v.68, p.101-116, 1990.

ZAMBOM, M.A.; SANTOS, G.T.; MODESTO, E.C. et al. Valor nutricional da casca

do grão de soja, farelo de soja, milho moído e farelo de trigo para bovinos. Acta

Scientiarum, v.23, p.937-943, 2001.

ZANINE, A. M.; SANTOS, E.D.; FERREIRA, D.J. et al. Efeito do farelo de trigo sobre

as perdas, recuperação da matéria seca e composição bromatológica da silagem de

capim Mombaça. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal

Science, v.53, p. 803-809, 2006.

V. Valor nutritivo do resíduo úmido de cervejaria ensilado com aditivos nutrientes

com alto teor de matéria seca para vacas leiteiras

Resumo – Objetivou-se avaliar a inclusão do farelo de trigo, casca do grão de soja ou

milho moído na ensilagem do resíduo úmido de cervejaria e seus efeitos sobre o

consumo e a digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes, bem como sobre a

eficiência, produção e composição do leite de vacas da raça Holandês. Foram utilizadas

quatro vacas da raça Holandês, multíparas, com produção média de 28 litros/dia,

distribuídas no delineamento em quadrado latino (4x4), com quatro períodos

experimentais de 21 dias e quatro silagens. As vacas foram alimentadas com dietas

compostas por feno de Tifton 85, silagens do resíduo úmido de cervejaria e ração

concentrada. Os tratamentos consistiram de silagem do resíduo úmido de cervejaria

(SRUC), silagem do resíduo úmido de cervejaria com farelo de trigo (SRFT), casca do

grão de soja (SRCGS) ou milho moído (SRMM). As dietas não interferiram no peso

corporal dos animais. As inclusões do farelo de trigo ou milho moído, na ensilagem do

resíduo úmido de cervejaria, proporcionaram maiores consumos de matéria seca e

matéria orgânica das dietas SRFT e SRMM. As maiores digestibilidades da matéria

seca, orgânica, fibra em detergente neutro e proteína bruta foram observadas nas dietas

SRCGS e SRMM. A produção diária, a produção corrigida para 3,5 % de gordura e a

composição do leite não foram alteradas pelas dietas. Para o nitrogênio ureico no leite a

dieta SRMM apresentou menor concentração (17,67 mg/dL), estando acima da variação

considerada adequada. A inclusão da casca do grão de soja ou milho moído, na

ensilagem do resíduo úmido de cervejaria, aumenta a digestibilidade da matéria seca e

dos nutrientes. Contudo, o uso de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca não

altera a produção, a eficiência ou a composição do leite de vacas da raça Holandês.

Palavras-chave: digestibilidade, nitrogênio ureico no sangue, produção de leite,

qualidade do leite, resíduo de cerveja, subprodutos agroindustriais

78

Introdução

A sazonalidade da produção forrageira é um dos entraves na alimentação de

bovinos leiteiros, o que por sua vez onera os custos com alimentação no sistema

produtivo. Deste modo, a substituição de ingredientes comumente utilizados, por fontes

alimentares alternativas, é de relevante importância, pois possibilita minimizar os custos

de produção, sem deixar de atender as exigências nutricionais dos animais.

Uma fonte alimentar alternativa é o resíduo úmido de cervejaria (RUC), que se

mostra viável pelo seu valor nutricional, disponibilidade e baixo custo em diversas

regiões brasileiras. Além disso, sua utilização possibilita mitigar a contaminação

ambiental que este resíduo pode acarretar, caso seja descartado de forma incorreta no

meio ambiente.

O RUC é obtido no processo de fabricação da cerveja. Este resíduo caracteriza-se

por apresentar aproximadamente 28,4% de proteína bruta, 47,1% de fibra em detergente

neutro e 5,2% de extrato etéreo (NRC, 2001), e um elevado teor de umidade, cerca de

80% (Brochier & Carvalho, 2009). Embora o RUC apresente adequadas qualidades

nutricionais, a sua conservação é prejudicada pela elevada umidade, o que dificulta o

seu efetivo uso.

Os problemas relacionados com a elevada umidade do RUC podem ser

minimizados com a utilização de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca na

ensilagem, que promovem aumento no teor de matéria seca e impedem a formação de

efluentes que podem carrear compostos nitrogenados, açúcares, ácidos orgânicos e sais

minerais (McDonald &Whittenbury, 1973; Alves et al., 2011), diminuindo as perdas de

matéria seca.

79

O uso de alimentos como aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca

promove, além do aumento do teor de matéria seca, mudanças no padrão fermentativo e

valor nutricional das silagens, pelas suas características químico-bromatológicas. Por

exemplo, o farelo de trigo promove a redução da fração fibrosa das silagens (Zanine et

al., 2006), o milho moído aumenta a concentração de carboidratos solúveis, substratos

essenciais para o desenvolvimento dos microrganismos na silagem (Jobim et al., 2007)

e a casca do grão fornece carboidratos estruturais de alta degradação (Zambom et al.,

2001).

Belibasakis & Tsirgogianni (1996), Chiou et al. (1998) e Geron et al. (2010),

avaliaram a utilização de RUC na alimentação de vacas leiteiras e não constataram

alterações no consumo de matéria seca. No entanto, variações na ordem de 1% a 4%

foram observadas, pelos teores de umidade das dietas. Segundo estes autores, o uso

deste resíduo nas dietas pode melhorar a produção de leite pelo teor de proteína não

degradável no rúmen, que contribui para a maior disponibilidade de aminoácidos para o

metabolismo. E ainda, a disponibilidade de fontes de alimentos que apresentam proteína

de baixa degradabilidade é escassa.

Objetivou-se avaliar a inclusão do farelo de trigo, casca do grão de soja ou milho

moído na ensilagem do resíduo úmido de cervejaria e seus efeitos sobre o consumo e a

digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes, bem como sobre a eficiência, a

produção e composição do leite de vacas.

Material e métodos

O experimento foi realizado na Estação Experimental Prof. Dr. Antônio Carlos

dos Santos Pessoa, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) campus

80

de Marechal Cândido Rondon – PR e na Universidade Estadual de Maringá (UEM),

Paraná. O processamento das amostras e as análises laboratoriais foram realizados no

Laboratório de Nutrição Animal da UNIOESTE.

O resíduo úmido de cervejaria (RUC), utilizado no experimento, foi adquirido em

indústria cervejeira, localizada no município de Toledo, região Oeste do PR,

transportado até as dependências da Estação Experimental e ensilado com aditivos

nutrientes com alto teor de matéria seca (farelo de trigo, casca do grão de soja ou milho

moído).

Foram utilizadas quatro vacas da raça Holandês, multíparas, com peso corporal

(PC) de 618 ± 23 kg, aos 100 ± 20 dias de lactação e produção média de 28 litros/dia.

Estas foram distribuídas no delineamento em quadrado latino (4x4), com quatro

períodos experimentais de 21 dias cada, sendo 14 dias para adaptação à dieta e sete dias

para coleta de dados, totalizando 84 dias e quatro tratamentos.

As dietas foram compostas por 40% de feno de Tifton 85, silagens do resíduo

úmido de cervejaria e ração concentrada (milho moído, farelo de soja e suplemento

mineral-vitamínico). As dietas experimentais foram formuladas de acordo com o

estabelecido pelo NRC (2001), para atender as exigências de vacas em lactação com

600 kg de peso corporal e produção de 25 kg de leite por dia.

Os tratamentos avaliados consistiram do resíduo úmido de cervejaria ensilado in

natura (SRUC), do resíduo úmido de cervejaria ensilado com farelo de trigo (SRFT),

casca do grão de soja (SRCGS) ou milho moído (SRMM).

Para a realização das análises químico-bromatológicas, as amostras das dietas

fornecidas, sobras e fezes foram descongeladas e submetidas à secagem em estufa com

ventilação forçada de ar por 72h a 55ºC, processadas em moinho, tipo Willey, dotado de

81

peneira com crivo de 1 mm, compondo proporcionalmente uma única amostra por

animal por período.

Posteriormente, foram analisadas quanto aos teores de matéria seca (MS), matéria

mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), segundo metodologia de Silva

& Queiroz (2006), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido

(FDA), segundo Van Soest et al. (1991). Os carboidratos totais (CT) e os nutrientes

digestíveis totais (NDT) foram estimados de acordo com a equação descrita por Sniffen

et al. (1992).

A determinação do nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e insolúvel

em detergente ácido (NIDA) foi obtida, conforme metodologia descrita por Licitra et al.

(1996). A composição químico-bromatológica dos alimentos utilizados na formulação

das dietas pode ser observada na Tabela 1.

Tabela 1. Composição químico-bromatológica dos alimentos

Nutrientes Alimentos¹

SRUC SRFT SRCGS SRMM FT85 FS MM

Matéria seca (g/kg) 241,25 304,59 333,95 391,92 908,58 890,30 894,10

Matéria mineral (g/kg MS) 54,90 63,82 45,70 42,17 66,13 61,86 12,27

Matéria orgânica (g/kg MS) 945,10 936,18 954,30 957,83 933,87 938,14 987,73

Proteína bruta (g/kg MS) 265,20 216,00 195,60 194,29 86,53 517,62 87,81

Extrato etéreo (g/kg MS) 72,46 56,61 55,20 61,84 14,03 16,20 46,76

Fibra detergente neutro (g/kg MS) 758,00 704,43 747,21 635,76 802,89 146,79 137,90

Fibra detergente ácido (g/kg MS) 265,52 212,61 239,13 190,89 396,01 93,13 59,09

Hemicelulose (g/kg MS) 492,48 491,82 508,08 444,87 406,88 53,66 78,81

Celulose (g/kg MS) 148,55 87,99 141,95 88,54 274,84 79,33 44,41

PIDN² (g/kg PB) 89,93 59,17 70,65 70,04 474,98 67,64 15,49

PIDA³ (g/kg PB) 34,92 38,10 22,75 33,38 94,76 7,11 2,39

Carboidratos totais4 (g/kg MS) 607,46 663,60 703,51 701,70 833,31 397,55 853,16

¹SRUC: Silagem do resíduo úmido de cervejaria; SRFT: resíduo úmido de cervejaria ensilado com farelo

de trigo; SRCGS: resíduo úmido de cervejaria ensilado com casca do grão de soja; SRMM: resíduo

úmido de cervejaria ensilado com milho moído; FT85: feno de Tifton 85; FS: farelo de soja; MM: milho

moído (MM). ²PIDN: Proteína insolúvel em detergente neutro ³PIDA: Proteína insolúvel em detergente

ácido. 4Estimado segundo a equação de Sniffen et al. (1992).

82

Na ensilagem do resíduo úmido de cervejaria foram acrescentados aditivos

nutrientes com alto teor de matéria seca (farelo de trigo, casca do grão de soja ou milho

moído), na proporção de 200 g/kg com base na matéria natural, com o intuito de atingir

os teores de matéria seca considerados adequados (30% a 35% de MS) para o processo

fermentativo das silagens (McDonald et al., 1991). A abertura dos silos foi realizada

aproximadamente aos 30 dias de ensilagem. Os tratamentos avaliados foram silagem do

resíduo úmido de cervejaria (SRUC), silagem do resíduo úmido de cervejaria com

farelo de trigo (SRFT), casca do grão de soja (SRCGS) e milho moído (SRMM) (Tabela

2).

Tabela 2. Ingredientes e composição químico-bromatológica das dietas

Dietas¹

SRUC SRFT SRCGS SRMM

Ingredientes

Feno de Tifton 85 (g/kg de MS) 400,00 400,00 400,00 400,00

Silagem do resíduo úmido (g/kg de MS) 200,00 200,00 200,00 200,00

Farelo de soja (g/kg de MS) 94,17 109,50 133,50 137,00

Milho moído (g/kg de MS) 289,84 274,50 250,50 247,00

Suplemento mineral-vitamínico® (g/kg de MS) 16,00 16,00 16,00 16,00

Composição químico-bromatológica

Matéria seca (g/kg) 770,51 792,01 788,89 799,47

Matéria mineral (g/kg de MS) 62,82 63,86 62,13 59,53

Matéria orgânica (g/kg de MS) 937,18 936,14 937,87 940,47

Proteína bruta (g/kg de MS) 161,85 163,77 164,83 166,07

Extrato etéreo (g/kg de MS) 35,18 31,71 30,53 31,75

Fibra em detergente neutro (g/kg de MS) 526,55 517,44 524,74 502,48

Fibra em detergente ácido (g/kg de MS) 237,40 228,28 233,46 223,94

Carboidratos totais (g/kg de MS) 740,15 740,66 742,51 742,65

¹SRUC: Silagem do resíduo úmido de cervejaria; SRFT: resíduo úmido de cervejaria ensilado com farelo

de trigo (SRFT); SRCGS: resíduo úmido de cervejaria ensilado com casca do grão de soja e SRMM:

resíduo úmido de cervejaria ensilado com milho moído (SRMM).

As vacas permaneceram alojadas em instalações cobertas providas de bebedouros

e comedouros individuais para receber a alimentação, duas vezes ao dia, às 7 e às 15h, e

83

ordenhadas às 6 e às 18h. Os animais tiveram acesso ao piquete de descanso, sem oferta

de forragem, das 12 às 14h, e após as 21h.

O controle do consumo de matéria seca foi ajustado semanalmente para obtenção

de 10% de sobras. Os consumos da matéria seca e dos nutrientes foram determinados

pela diferença entre o fornecido e as sobras.

No período de coleta dos dados, do 15º ao 21º dia de cada período experimental,

foram realizadas as pesagens dos animais e amostragem das dietas fornecidas e das

sobras, mantendo-as congeladas em freezer para posteriores análises.

As amostras de fezes foram coletadas diretamente na ampola retal do 15º ao 20º

dia de cada período experimental, para determinação da digestibilidade da matéria seca

e dos nutrientes, às 8, 10, 12, 14, 16 e 18h, respectivamente a cada dia.

As estimativas de excreção fecal foram obtidas utilizando-se como indicador

interno a fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), conforme proposto por

Cochran et al. (1986). A FDNi foi estimada pela incubação in situ, após 144h, de

amostras dos alimentos fornecidos, sobras e fezes em filtros F57 da ANKOM®

Technology Corporation, em seguida, foi realizada a análise de fibra em detergente

neutro.

As vacas foram ordenhadas mecanicamente e a produção por animal mensurada

diariamente pelo sistema de copos coletores de leite nas ordenhas da manhã e da tarde

do 15º ao 21º dia.

A produção de leite corrigida (PLC) para 3,5% de gordura foi estimada, segundo

Sklan et al. (1992), pela seguinte equação: PLC=[(0,432 + 0,1625 x %gordura do leite)

x produção de leite em kg/dia].

No 15º e 16º dia de cada período experimental, amostras de leite foram coletadas,

obtidas de maneira proporcional às duas ordenhas diárias, acondicionadas em frascos de

84

polietileno contendo conservante Bronopol® (2-bromo-2-nitropopano-1,3-diol), e

encaminhadas para o Laboratório do Programa de Análises do Rebanho Leiteiro do

Paraná (PARLPR), pertencente à Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da

Raça Holandês (APCBRH), onde foram analisados os teores de gordura, proteína,

lactose e sólidos totais, a contagem de células somáticas e o nitrogênio ureico no leite.

As coletas de sangue foram realizadas no 21º dia de cada período, 4h após o

fornecimento da alimentação da manhã, utilizando tubos de ensaio de 10 mL através da

punção da veia jugular. O soro foi obtido pela centrifugação do sangue a 3500 rpm por

15 minutos e armazenado em eppendorf. A concentração de ureia foi determinada

utilizando kits comerciais da Gold Analisa Diagnóstica Ltda®, e o valor de nitrogênio

ureico foi obtido por meio da multiplicação do valor obtido para ureia por 0,466,

correspondente ao teor de nitrogênio na ureia.

Os dados foram submetidos a análises de variância e teste F de Fisher (Pimentel

Gomes & Garcia, 2002; Pimentel Gomes, 2009). Quando constatado efeito

significativo, as médias relativas aos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey

a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

As dietas não alteraram (P>0,05) o peso corporal dos animais. A inclusão do

farelo de trigo e milho moído, na ensilagem do resíduo úmido de cervejaria,

proporcionou maiores (P<0,05) consumos de matéria seca e matéria orgânica das dietas

SRFT e SRMM pelas vacas (Tabela 3).

A utilização de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca na ensilagem do

resíduo úmido de cervejaria apresentou-se vantajosa para a conservação e qualidade das

85

silagens, pois a inclusão de aditivos na ensilagem deste resíduo aumenta os teores de

matéria seca e melhora o padrão fermentativo das silagens, minimizando as perdas de

matéria seca (Souza, dados não publicados).

Tabela 3. Peso corporal, consumos de matéria seca e dos nutrientes em dietas de vacas

leiteiras alimentadas com silagens do resíduo úmido de cervejaria nas dietas

Variáveis Dietas¹

CV% Valor P SRUC SRFT SRCGS SRMM

Peso corporal (PC) (kg) 620,25 607,50 618,00 611,25

0,120

Consumo (kg/dia)

Matéria seca 20,03b 21,78a 20,39b 21,50a 0,91 0,000

Matéria seca (%PC) 3,23b 3,59a 3,30b 3,53a 1,25 0,000

Matéria orgânica 18,75c 20,42a 19,16b 20,22a 0,83 0,000

Proteína bruta 3,42c 3,65ab 3,60b 3,81a 2,08 0,002

Extrato etéreo 0,76a 0,74a 0,66b 0,71ab 3,39 0,006

Fibra em detergente neutro 10,25a 10,11a 10,35a 9,21b 1,97 0,001

Fibra em detergente neutro (%PC) 1,68b 1,81a 1,71b 1,74ab 1,90 0,006

Fibra em detergente ácido 4,56b 4,79a 4,68ab 4,68ab 0,67 0,044

Carboidratos totais 14,58d 16,03a 14,90c 15,70b 0,85 0,000

Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

¹SRUC: silagem do resíduo úmido de cervejaria, SRFT: resíduo úmido de cervejaria ensilado com farelo

de trigo, SRCGS: resíduo úmido de cervejaria ensilado com casca do grão de soja, SRMM: resíduo úmido

de cervejaria ensilado com milho moído.

O resíduo úmido de cervejaria ensilado com aditivos proporcionou dietas com

aproximadamente 780 g de MS/kg (Tabela 2), devido também aos elevados teores de

matéria seca do feno de Tifton 85 utilizado, o qual contribuiu com os resultados de MS

das dietas e com o consumo observado.

Segundo Lahr et al. (1983), o consumo de MS é alterado pelos teores de MS e

concentração de fibras das dietas. Estes autores observaram reduções na ingestão de MS

pela diminuição linear dos teores de MS das dietas (780; 640; 520 e 400 g/kg de MS),

concluindo que, dietas com níveis inferiores a 650 g/kg de MS, tendem a reduzir o

consumo de MS de vacas em lactação.

Na literatura observa-se que, quando realizadas inclusões de até 30% do resíduo

úmido de cervejaria nas dietas, são constatadas pequenas variações no consumo de

86

matéria seca, de 1% a 4% (Belibasakis & Tsirgogianni, 1996; Chiou et al. 1998), no

entanto, não são encontradas informações quanto à utilização deste resíduo ensilado

com aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca.

West et al. (1994) avaliaram a utilização de resíduo úmido de cervejaria nas dietas

(silagem de milho, silagem de alfafa e ração concentrada) de vacas da raça Jersey com

produção de leite aproximada de 14,5 litros de leite/dia. Estes autores constataram que a

inclusão de 0%, 15% e 30% do resíduo úmido de cervejaria nas dietas com teores de

matéria seca de 54,6%; 43,3% e 35,5%, respectivamente, não provocaram variações no

consumo. No entanto, as dietas com 15% e 30% de RUC, mesmo sem apresentar

significância tendem a diminuir o consumo, devido aos maiores teores de umidade.

Chiou et al. (1998), em trabalhos realizados com vacas que produziam

aproximadamente 20 litros de leite/dia, não constataram efeitos da inclusão de 10% de

resíduo de cervejaria em dietas compostas por feno de alfafa, silagem de milho e ração

concentrada, quando comparados com a dieta controle.

Também não foram observados efeitos no consumo de matéria seca e dos

nutrientes por vacas da raça Holandês com produção média de 28 litros/dia, em

trabalhos realizados por Geron et al. (2010), onde avaliaram a inclusão de 0%, 5%, 10%

e 15% de resíduo úmido de cervejaria nas dietas, com aproximadamente 66% de

matéria seca, compostas por silagens de milho, de azevém e ração concentrada

comercial.

As variações (P<0,05) observadas no consumo de PB, EE, FDN, FDA e CT entre

as dietas se devem às diferenças observadas no consumo de matéria seca e às

características físico-químicas de cada aditivo utilizado na ensilagem do resíduo úmido

de cervejaria.

87

Os teores de FDN e FDA, nas dietas SRUC e SRCGS (Tabela 2) podem ter

influenciado negativamente o consumo, pois segundo Mertens (1992) este também é

dependente de fatores físicos que atuam na distensão do aparelho digestório provocada

pela fibra das dietas, resultando em efeito de enchimento e diminuindo o consumo. A

fermentação mais lenta e o maior tempo de permanência da FDN no rúmen

correlacionam-se negativamente com o consumo (Robinson & McQueen, 1997).

Os teores de FDN das dietas proporcionaram aumento no consumo deste

nutriente, alcançando valores superiores a 1,2% PC sugerido por Mertens (1992). Mas,

mesmo que as dietas apresentaram maiores teores de FDN não limitaram o consumo de

matéria seca, pois foram atendidas as exigências mínimas de consumo de matéria seca

preconizadas pelo NRC (2001) para a categoria de animais utilizados.

A inclusão de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca na ensilagem do

resíduo úmido de cervejaria promoveu diferenças (P<0,05) na digestibilidade da matéria

seca e dos nutrientes, pelas características observadas na composição químico-

bromatológica de cada aditivo.

Os resultados obtidos de digestibilidade da matéria seca, da matéria orgânica e da

fibra em detergente neutro foram maiores (P<0,05) para as dietas SRCGS e SRMM. Na

dieta SRCGS, esses resultados se devem ao aditivo absorvente utilizado na ensilagem,

que possibilitou melhor digestibilidade devido às características da FDN, pois segundo

Belyea et al. (1989) e (Zambom et al., 2001) a digestibilidade in vitro da casca do grão

de soja tanto da matéria seca quanto da parede celular é de aproximadamente 95%,

evidenciando a fibra de melhor qualidade.

Lima et al. (2009) relataram que, embora o valor energético da casca do grão de

soja seja inferior ao do milho, diversos experimentos demonstram que o desempenho

dos animais não se altera quando é feita essa substituição nas dietas. Isto ocorre pela

88

substituição de parte do amido por fibra de alta digestibilidade, gerando então valor

energético positivo.

A dieta SRMM apresentou concentrações menores de FDN e maiores de

carboidratos não fibrosos em sua composição, o que resultou na maior digestibilidade.

Segundo Souza (dados não publicados), a utilização de milho moído no momento da

ensilagem do resíduo úmido de cervejaria possibilitou maior concentração das frações

A+B1 dos carboidratos quando comparado ao farelo de trigo e casca do grão de soja, e

na abertura dos silos aos 56 dias, pela quebra de ligações químicas dos carboidratos

estruturais, o que promoveu o aumento das frações A+B1, que pode possibilitar melhor

sincronização dos nutrientes no rúmen das vacas.

Tabela 4. Digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes, e nutrientes digestíveis totais

em dietas de vacas leiteiras, alimentadas com silagens do resíduo úmido de

cervejaria

Digestibilidade Dietas¹

CV% Valor

P SRUC SRFT SRCGS SRMM

Matéria seca (g/kg) 551,90b 560,14b 636,96a 632,96a 1,73 0,000

Matéria orgânica (g/kg MS) 577,21b 586,58b 659,16a 654,35a 1,62 0,000

Proteína bruta (g/kg MS) 660,17b 671,18b 712,84a 717,79a 1,82 0,001

Extrato etéreo (g/kg MS) 860,98 854,96 871,02 869,36 1,08 0,149

Fibra em detergente neutro (g/kg MS) 502,62bc 453,49c 598,99a 538,90b 4,28 0,000

Fibra em detergente ácido (g/kg MS) 465,37ab 386,84b 492,13a 459,79ab 7,46 0,021

Carboidratos totais (g/kg MS) 543,06b 554,94b 636,79a 629,29a 2,06 0,000

Carboidratos não fibrosos (g/kg MS) 635,41b 689,43a 718,12a 697,14a 3,45 0,040

Nutrientes digestíveis totais (g/kg MS) 578,72b 589,99b 660,76a 646,75a 1,53 0,000

Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de

probabilidade.¹SRUC: silagem do resíduo úmido de cervejaria, SRFT: resíduo úmido de cervejaria

ensilado com farelo de trigo, SRCGS: resíduo úmido de cervejaria ensilado com casca do grão de soja,

SRMM: resíduo úmido de cervejaria ensilado com milho moído.

A utilização do feno de Tifton 85 (908,58 g/kg de matéria seca e 802,89 g/kg MS

de fibra em detergente neutro), que, naturalmente, apresenta menor digestibilidade que a

silagem de milho, comumente utilizada em dietas de vacas leiteiras, pode ter

89

influenciado nos resultados obtidos de digestibilidade da matéria seca (551,90 a 636,96

g/kg). Estes valores de digestibilidade podem ser considerados baixos quando

comparados a outros resultados observados em pesquisas que avaliam a utilização do

RUC. Rogers et al. (1986) analisaram a inclusão de 22% ou 40% de resíduo de

cervejaria úmido e resíduo de cervejaria desidratado nas dietas compostas por silagem

de milho e amido de milho, para vacas lactantes e não observaram alterações na

digestibilidade da matéria seca, que apresentou valor médio de 690 g/kg.

Geron et al. (2010) avaliaram a inclusão de até 15% de resíduo de cervejaria

fermentado nas dietas compostas por silagem de milho, silagem de azevém e ração

concentrada, de vacas da raça Holandês e, obtiveram, aproximadamente, 770 g/kg de

digestibilidade na MS. Segundo os autores, estes resultados foram influenciados pela

variação na composição percentual dos alimentos volumosos nas rações.

Os resultados observados referentes à digestibilidade evidenciam que a qualidade

do volumoso utilizado nas dietas é determinante tanto para a digestibilidade da matéria

seca, quanto para o resultado energético da dieta.

As dietas contendo SRCGS e SRMM apresentaram maior digestibilidade da PB

(P<0,05), pela maior concentração de proteína e da proporção de farelo de soja na ração

concentrada das dietas (Tabela 2). Segundo Armentano et al. (1986), o farelo de soja

apresenta maior digestibilidade da fração nitrogenada em comparação ao RUC, e

disponibiliza maior aporte de proteína degradável para os microrganismos ruminais,

pois no RUC aproximadamente 50% da proteína pode estar na forma de proteína não

degradável no rúmen (Merchen et al., 1979; Santos et al., 1984; Clark et al., 1987;

Geron et al., 2007).

A baixa digestibilidade da proteína bruta do resíduo úmido de cervejaria se deve

ao processamento nas indústrias cervejeiras, que remove ou fermenta a maior parte das

90

proteínas solúveis, albuminas e globulinas, reduzindo a digestibilidade da PB desse

ingrediente (Gilaverte et al., 2011). O uso de aditivos nutrientes com alto teor de

matéria seca (farelo de trigo, casca do grão de soja ou milho moído) na ensilagem do

resíduo úmido de cervejaria promoveu maiores teores das frações de proteína A+B1+B2

e menor de C, aumentando a disponibilidade de proteína para os microrganismos

ruminais (Souza, dados não publicados).

A maior digestibilidade dos nutrientes possibilitou maiores valores de NDT para

as dietas SRCGS e SRMM (Tabela 4), indicando maior disponibilidade de energia

digestível. Estes resultados, pelas características dos aditivos, proporcionaram maiores

valores de digestibilidade da MS dessas dietas. A dieta SRCGS, apesar do menor

consumo observado, decorrente da maior concentração de fibra, apresentou maior

digestibilidade dos nutrientes, pela qualidade nutricional da casca do grão de soja.

Os maiores teores da FDN observados nas dietas SRUC e SRFT influenciaram

negativamente os resultados de NDT, resultado da lenta e incompleta digestão deste

nutriente no trato gastrintestinal (Van Soest, 1994). Os resultados de NDT obtidos para

as dietas SRUC e SRFT foram, aproximadamente, sete unidades percentuais inferiores

às dietas SRCGS e SRMM.

A produção diária de leite (kg/dia) e a produção de leite corrigida para 3,5 % de

gordura, não foram influenciadas (P>0,05) pelas dietas (Tabela 5), mesmo com a

observação de que os resultados de NDT das dietas SRUC e SRFT não tenham atendido

as exigências preconizadas pelo NRC (2001) para a produção de 25 litros de leite.

Polan et al. (1985), Belibasakis & Tsirgogianni (1996) e Chiou et al. (1998)

observaram maior produção de leite ao utilizar resíduo de cervejaria e concluíram que

estes resultados se deve à maior proteína não degradada no rúmen (PNDR) do resíduo, a

91

qual contribuiu para a maior disponibilidade dos aminoácidos essenciais para o

metabolismo da produção de leite.

No entanto, Geron et al. (2010), ao avaliar inclusão da silagem do resíduo de

cervejaria nas dietas de vacas lactantes contendo silagem de milho, silagem azevém e

ração concentrada, não constataram diferenças na produção de leite até o nível de 15%

de inclusão. Segundo os autores, mesmo com as observações de maiores teores da

PNDR do resíduo, estes teores não foram suficientes para atender o aporte dos

aminoácidos considerados essenciais à síntese da produção de leite, como a metionina e

lisina.

Tabela 5. Produção e composição do leite de vacas alimentadas com silagens do resíduo

úmido de cervejaria nas dietas

Parâmetros Dietas¹

CV% Valor de P SRUC SRFT SRCGS SRMM

Produção de leite (PL) (kg/dia) 26,69 27,21 28,48 29,44 6,94 0,277

PL corrigida para 3,5% (kg/dia) 26,89 27,30 26,97 28,82 7,28 0,532

Eficiência PL (kg leite/kg CMS) 1,32 1,24 1,39 1,37 6,45 0,205

Gordura (g/kg) 35,30 35,19 31,55 33,75 4,91 0,060

Gordura (kg/dia) 0,95 0,96 0,90 0,99 8,04 0,493

Proteína (g/kg) 32,85 32,56 32,51 32,88 2,31 NS

Proteína (kg/dia) 0,88 0,89 0,93 0,97 5,42 0,128

Lactose (g/kg) 44,73 46,14 45,45 45,03 2,63 0,425

Lactose (kg/dia) 1,19 1,26 1,29 1,32 6,62 0,243

Sólidos Totais (g/kg) 122,56 124,29 119,50 12144 2,52 0,268

Sólidos Totais (kg/dia) 3,27 3,38 3,40 3,56 6,37 0,266

Contagem de células somáticas (log10) 2,11 2,14 2,18 2,29 10,82 NS

Nitrogênio ureico no leite (mg/dL) 20,52a 20,21a 19,40a 17,67b 3,46 0,004

Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

NS: não significativo. ¹SRUC: silagem do resíduo úmido de cervejaria, SRFT: resíduo úmido de

cervejaria ensilado com farelo de trigo, SRCGS: resíduo úmido de cervejaria ensilado com casca do grão

de soja, SRMM: resíduo úmido de cervejaria ensilado com milho moído.

92

Quanto à composição do leite de vacas da raça Holandês alimentadas com

silagens do resíduo úmido de cervejaria, não foram verificadas diferenças (P>0,05) nos

resultados de gordura, proteína, lactose, sólidos totais e contagem de células somáticas,

com a inclusão de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca na ensilagem do

resíduo úmido de cervejaria (Tabela 5).

Os valores obtidos para gordura e a proteína do leite das dietas analisada

conferem com o mínimo necessário estabelecido pela Instrução Normativa 62 (MAPA,

2011). Do mesmo modo, Polan et al. (1985), Hyslop & Roberts (1990), West et al.

(1994), Kazemi et al. (2009) e Geron et al. (2010) também não observaram efeitos nos

teores de gordura e proteína do leite com a inclusão do resíduo de cervejaria nas dietas

para vacas lactantes. Segundo Jenkins & McGuire, (2006), o percentual de proteína pode

apresentar pequenas respostas às mudanças na composição dietética, o conteúdo de

lactose é raramente modificado e a gordura é o componente mais sensível à

manipulação da dieta

Não foram observadas diferenças (P>0,05) para a lactose entre as dietas, devido à

pequena variabilidade deste componente no produto e a sua participação como agente

regulador da produção de leite, pois segundo Park & Jacobson (1996), a concentração

da lactose é balanceada pela liberação de água no sangue e pela mistura com outros

componentes do leite encontrados nos alvéolos da glândula mamária, dessa forma, a

síntese de lactose controla a quantidade de leite produzido.

Observou-se menor concentração (P<0,05) de nitrogênio ureico no leite (NUL) na

dieta SRMM (17,67 g/dL), e entre os demais tratamentos não houve alterações

(P>0,05), apresentando concentração média de 20,04 mg/dL. Segundo Wittwer et al.

(2000), o excesso de proteínas degradáveis e solúveis no rúmen ou o seu desbalanço

com a energia promovem excessiva formação e absorção de amônia ruminal, com

93

incremento de ureia no leite. A inclusão do milho moído na ensilagem do resíduo úmido

de cervejaria proporcionou maior concentração de carboidratos solúveis, promovendo

maior sincronização de nutrientes no rúmen e diminuindo o excedente de amônia.

Os resultados de NUL obtidos estão acima da variação considerada adequada,

entre 10 e 14 mg/dL, preconizada por Moore & Vargas (1996), Jobim & Santos, (2000),

Campos (2002) e Aquino et al., (2007), o que demonstra o aporte excessivo de proteína

na dieta e déficit de energia ou falta de sincronização das frações degradáveis e não

degradáveis no rúmen (Santos et al., 2012), pois há uma relação direta da concentração

sanguínea de nitrogênio ureico com o aporte proteico da dieta, bem como com a relação

energia: proteína (Claypool et al., 1980; Contreras, 2000), e quanto maior a ingestão de

proteínas na dieta, maior é a concentração de nitrogênio no leite. Dessa forma, o NUL é

importante medida indireta para determinação da eficiência de utilização do nitrogênio

pelo ruminante, e caracterização do balanço nutricional das dietas (DePeters &

Fergunson, 1992; DePeter & Cant, 1992).

Conclusão

A inclusão da casca do grão de soja ou milho moído, na ensilagem do resíduo

úmido de cervejaria, aumenta a digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes. No

entanto, o uso dos aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca não altera a

produção, a eficiência ou a composição do leite de vacas.

94

Referências

ALVES, S. P.; CABRITA, A. R. J.; JERÓNIMO, E. et al. Effect of ensiling and silage

additives on fatty acid composition of ryegrass and corn experimental silages.

Journal of Animal Science, v.89, p. 2537-2535, 2011.

AQUINO, A. A.; BOTARO, B. G.; IKEDA, F. S; RODRIGUES, P. H. M.; MARTINS,

M. F.; SANTOS, M. V. Efeito de níveis crescentes de ureia na dieta de vacas em

lactação sobre a produção e a composição físico química do leite. Revista

Brasileira de Zootecnia, v. 36, p. 881-887, 2007.

ARMENTANO, L.E.; HERRINGTON, T.A.; POLAN, C.E. et al. Ruminal degradation

of dried brewers grains, wet brewers grains, and soybean meal. Journal of Dairy

Science, v.69, p.2124-2133, 1986.

BAKER, L.D.; FERGUSON, J.D.; CHALUPA, W. Responses in urea and true protein

of milk to different protein feeding schemes for dairy cows. Journal of Dairy

Science, v.78, p.2424-2434, 1995.

BELIBASAKIS, N. G.; TSIRGOGIANNI, D. Effects of wet brewers grains on milk

yield, milk composition and blood components of dairy cows in hot weather.

Animal Feed Science and Technology, v. 57, p. 175-181, 1996.

BELYEA, R. L.; STEVENS, B. J.; RESTREPO, R. J. et al. Variation in composition of

by-products feeds. Journal of Dairy Science, v.72, p. 2339-2345, 1989.

BROCHIER, M.A.; CARVALHO, S. Efeito de diferentes proporções de resíduo úmido

de cervejaria sobre as características da carcaça de cordeiros terminados em

confinamento. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.61,

p.190-195, 2009.

CAMPOS, R. Alguns indicadores metabólicos no leite para avaliar a relação nutrição:

fertilidade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 29.,

2002, Gramado, RS. Anais...Gramado, 2002.p.40-48

CHIOU, P. W. S.; CHEN, C. R.; CHEN, K. J. Wet brewers’ grains or bean curd

pomance as partial replacement of soybean meal for lactating cows. Animal Feed

Science and Technology, v. 74, p. 123-134, 1998..

CLARK, J.H.; MURPHY, M.R.; CROOKER, B.A. Supplying the protein needs of dairy

cattle from byproducts feeds. Journal Dairy Science, v.70, p.1092-1109, 1987.

CLAYPOOL, D.W.; PANGBORN, M.C.; ADAMS, H.P. Effects of dietary on high-

producing dairy cows in early lactation. Journal of Dairy Science, v.63, p.6833-

837, 1980.

COCHRAN, R.C.; ADAMS, D.C.; WALLACE, J.D.; et al. Predicting digestibility diets

with internal markers: Evaluation of four potential markers. Journal of Animal

Science, v.63, p.1476-1483, 1986.

CONTRERAS, P. Indicadores do metabolismo proteico utilizados nos perfis

metabólitos dos rebanhos In: GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.O.; OSPINA,

H. RIBEIRO, L.A.O. (Eds.) Perfil metabólico em ruminantes: Seu uso em

nutrição e doenças nutricionais. Porto Alegre: Gráfica UFRGS, 2000. p.23-30.

95

DePETERS, E. J.; CANT, J. P. Nutritional factors influencing the nitrogen composition

of bovine milk: a review. Journal of Dairy Science, v. 75, p. 2043-2070, 1992.

DePETERS, E. J.; FERGUNSON, J. D. Nonprotein nitrogen and protein distribution in

the milk of cows. Journal of Dairy Science, v. 75, p. 3192-3209, 1992.

EICHER, R.; BOUCHARD, E.; BIGRAS-POULIN, M. Factorsaffecting milk urea

nitrogen and protein concentrations inQuebec dairy cows. Preventive Veterinary

Medicine, v.39,p.53-63, 1999.

GERON, L. J. V.; ZEOULA, L. M.; ERKE, et al. Consumo, digestibilidade dos

nutrientes, produção e composição do leite de vacas alimentadas com resíduo de

cervejaria fermentado. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v. 32, p. 69-76, 2010.

GERON, L.J.V.; ZEOULA, L.M.; BRANCO, A.F. et al. Caracterização, fracionamento

proteico, degradabilidade ruminal e digestibilidade in vitro da matéria seca e

proteína bruta do resíduo de cervejaria úmido e fermentado. Acta Scientiarum

Animal Science, v.29, p.291-299, 2007.

GILAVERTE, S.; SUSIN, I.; PIRES, A.V. et al. Digestibilidade da dieta, parâmetros

ruminais e desempenho de ovinos Santa Inês alimentados com polpa cítrica

peletizada e resíduo úmido de cervejaria. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 40,

p. 639-647, 2011.

GUSTAFSSON, A.H.; PALMQUIST, D.L. Diurnal variation of rumen ammonia, serum

urea, and milk urea in dairy cows at high and low yields. Journal of Dairy Science,

v.76, p.475-484, 1993

HARRIS JR., B. Usando os valores de nitrogênio ureico no leite (MUN) e nitrogênio

ureico sangüíneo (BUN). Info Milk, v.1, p.1-4, 1997.

HYSLOP, J.J.; OFFER, N.W.; BARBER, G.D. Effect of including malt distillers grain

(draff) either ensiled alone or with molassed sugar beet shreds as a concentrate

feedstuff for dairy cows. Animal Production, v. 50, p. 581-588, 1990.

JENKINS, T.C.; McGUIRE, M.A. Major advances in nutrition: impact on milk

composition. Journal of Dairy Science, v.89, n.4, p.1302–1310, 2006.

JOBIM, C. C., SANTOS, G. T. Influência da qualidade de forragens conservadas sobre

a qualidade do leite de vacas. In: WORKSHOP SOBRE PRODUÇÃO E

QUALIDADE DO LEITE, 2., 2000, Maringá. Anais... Maringá:

UniversidadeEstadual de Maringá, 2000. p.1-9.

JOBIM, C.C.; NUSSIO, L.G.; REIS, R.A. et al. Avanços metodológicos na avaliação da

qualidade da forragem conservada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, supl.

Esp., p.101-119, 2007.

KAZEMI, M., TAHMASBI, A.M., VALIZADEH, R. et al. Effect of ensiled barley

distillers` grains for Holstein dairy cows. Journal of Animal Veterinary Advances,

v.8, p.807-813, 2009.

LAHR, D.A, OTTERBY, D.E., JOHNSON, D.G., et al. Effects of moisture content of

complete diets on feed intake and milk production by cows. Journal Dairy

Science, v.66, p.1891-1900, 1983.

LICITRA, G.; HERNANDEZ, T.M.; VAN SOEST, P.J. Standardization of procedures

for nitrogen fractionation of ruminant feeds. Animal Feed Science and

Technology, v.57, p.347-358, 1996.

96

LIMA, M. L. M.; FERNANDES, J. J. R.; CARVALHO, E. R. et al. Substituição do

milho triturado por CS em dietas para vacas mestiças em lactação. Ciência Animal

Brasileira. v. 10, p. 1037-1043, 2009.

McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of silage.

2.ed. Marlow: Chalcombe Publications, 1991. 340p.

MCDONALD, P.; R. WHITTENBURY. 1973. The Ensilage Process. Pages 33 In: G.

W. BUTLER AND R. W. BAILEY (Eds) Chemistry and Biochemistry of

Herbage. London, 1973, 33p.

MERCHEN, N.; HANSON, T.; KLOPFENSTEIN, T. Ruminal bypass of brewers dried

grains protein. Journal of Animal Science, v.49,p.192-198, 1979.

MERTENS, D.R. Análise de fibra e sua utilização na avaliação de alimentos e

formulações de rações. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE RUMINANTES.

Anais… Lavras: SBZESAL, 1992. p.188.

MOORE, D.A.; VARGAS, G. BUN and MUN: urea nitrogen testing in dairy cattle.

Compendium Continuing Education Practicing Veterinary, v.18, p.712-721,

1996.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient Requirements of Dairy

Cattle.Washington, D.C., 2001. 381p.

PARK, C.F. JACOBSON, N.L. Glândula mamária e lactação. In: SWENSON, M.J.;

REECE, W.O. Fisiologia dos animais domésticos. Guanabara: 1996, p.645-659.

PEIXOTO JR., K.C. Nitrogênio ureico do leite como indicador de desempenho

reprodutivo de rebanhos leiteiros. São Paulo, 2003.89p. Tese (doutorado) -

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo.

PIMENTEL GOMES, F.; GARCIA, C. H. Estatística aplicada a experimentos

agronômicos e florestais: exposição com exemplos e orientações para uso de

aplicativos. 11 ed. FEALQ, Piracicaba, 2002. 309p.

PIMENTEL GOMES, F.P. Curso de Estatística Experimental. 15 ed., FEALQ,

Piracicaba. 2009. 451p.

POLAN, C. E.; HERRINGTON, W. A.; WARK, W. A. Milk production response to

diets supplemented with dried grains, wet brewers grains, or soybean meal.

Journal of Dairy Science, v. 68, p. 2016-2026, 1985.

ROBINSON, P.H.; McQUEEN, R.E. Influence of level of concentrate allocation and

fermentability of forage fiber on chewing behavior and production of dairy cows.

Journal of Dairy Science, v.80, p.681-691, 1997.

ROGERS, J. A.; CONRAD, H. R.; DEHORITY, B. A. Microbial numbers, rumen

fermentation and nitrogen utilization of steers fed wet or dried brewers´ grains.

Journal of Dairy Science, v. 69, p. 745-753, 1986.

SANTOS, K.A.; STERN, M.D.; SATTER, L.D. Protein degradation in the rumen and

amino acid absorption in the small intestin of lactating dairy cattle fed various

proteins sources. Journal Animal Science, v.58, p.244-255, 1984.

SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos.

3.ed. Viçosa: UFV, 2006. 235p.

97

SKLAN, D.; ASHKENNAZI, R.; BRAUN, A. et al. Fatty acids, calcium soaps of fatty

acids, and cottonseeds fed to high yielding cows. Journal of Dairy Science, v.75,

p.2463-2472, 1992.

SNIFFEN, C.J.; O’CONNOR, J.D.; VAN SOEST, P.J. et al. A net carbohydrate and

protein system for evaluating cattle diets: II. Carbohydrate and protein availability.

Journal of Animal Science, v.70, p.3562-3577, 1992.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of ruminant. Ithaca: Cornell University. Press,

1994.

VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J. B.; LEWIS,B. A. Methods for dietary fiber,

neutral detergent fiber, and non starch polysaccharides in relation to nutrition.

Journal of Dairy Science, v.74, p.3583-3597, 1991.

WEST, J. W.; ELY, L. O.; MARTIN, S. A. Wet brewers grain for lactating dairy cows

during hot, humid weather. Journal of Dairy Science, v. 77, p. 196-204, 1994.

WITTWER, F. Diagnósticos dos desequilíbrios metabólicos de energia em rebanhos

bovinos In: GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.O.; OSPINA, H. RIBEIRO,

L.A.O. (Eds.) Perfil metabólico em ruminantes: Seu uso em nutrição e doenças

nutricionais. Porto Alegre: Gráfica UFRGS, 2000. p.09-22.

ZAMBOM, M.A.; SANTOS, G.T.; MODESTO, E.C. et al. Valor nutricional da casca

do grão de soja, farelo de soja, milho moído e farelo de trigo para bovinos. Acta

Scientiarum, v.23, p.937-943, 2001.

ZANINE, A.M.; SANTOS, E.D.; FERREIRA, D.J. et al. Efeito do farelo de trigo sobre

as perdas, recuperação da matéria seca e composição bromatológica da silagem de

capim Mombaça. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal

Science, v. 53, p. 803-809, 2006.

VI. Níveis de inclusão de silagem do resíduo úmido de cervejaria na alimentação e

produção de vacas leiteiras

Resumo – Objetivou-se avaliar os níveis de inclusão da silagem do resíduo úmido de

cervejaria (SRUC), e seus efeitos sobre o consumo, digestibilidade da matéria seca e

dos nutrientes, parâmetros de fermentação ruminal, bem como, sobre a produção,

eficiência e composição do leite de vacas. Foram utilizadas cinco vacas primíparas da

raça Holandês, distribuídas no delineamento em quadrado latino (5x5), com cinco

períodos experimentais de 21 dias cada, e cinco níveis de inclusão. As dietas foram

compostas por silagem de milho, SRUC e ração concentrada. Os tratamentos avaliados

consistiram de dieta controle sem inclusão de SRUC, e as demais, com 15%, 20%, 25%

e 30% de inclusão de SRUC. O consumo de matéria seca não foi alterado com a

inclusão de SRUC nas dietas, no entanto, o de extrato etéreo, fibra em detergente neutro

e de lignina, aumentou linearmente, e o consumo de carboidratos não fibrosos diminuiu

linearmente. Consequentemente houve efeito linear negativo para a digestibilidade da

matéria seca e dos nutrientes com a inclusão da SRUC. A amônia ruminal apresentou

efeito linear negativo e as concentrações de acetato e de propionato apresentaram efeito

quadrático com a inclusão da SRUC. A produção de leite apresentou efeito quadrático.

Os teores de gordura no leite diminuíram e os de lactose aumentaram ambos

linearmente, com as dietas. Os teores de nitrogênio ureico no sangue e no leite, não

foram alterados com as diferentes dietas. Os ácidos graxos poli-insaturados

apresentaram comportamento quadrático e o ácido linoleico conjugado aumentou

linearmente. A inclusão da silagem do resíduo úmido de cervejaria, na dieta de vacas

em lactação, influencia negativamente a digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes.

Entretanto, é favorável por aumentar a produção e a eficiência produtiva de leite até os

níveis de 15% e 20%, respectivamente.

Palavras-chave: ácidos graxos, composição do leite, digestibilidade, parâmetros

ruminais, nitrogênio ureico no leite, subprodutos da cerveja

99

Introdução

A alimentação dos animais representa um dos principais custos da atividade

leiteira, principalmente quando são utilizados alimentos convencionais, que apesar da

elevada qualidade nutricional apresentam custo elevado, onerando a produção. Deste

modo, o uso de fontes alimentares alternativas, com adequado aporte de nutrientes,

possibilita minimizar os custos, sem interferência nos níveis de produção.

Entre as diversas fontes alimentares disponíveis, destaca-se a silagem do resíduo

úmido de cervejaria, com elevada qualidade nutricional, baixo custo e alto potencial de

inclusão nas dietas de vacas leiteiras. O resíduo úmido de cervejaria é obtido no

processo de fabricação da cerveja, e caracteriza-se por apresentar aproximadamente

24% de matéria seca, 28,4% de proteína bruta; 47,1% de fibra em detergente neutro e

5,2% de extrato etéreo (NRC, 2001; Geron et al., 2007).

As alterações ocorridas na digestibilidade dos nutrientes são, normalmente,

resultantes da competição entre digestão e taxa de passagem. O aumento no consumo

pode intensificar a taxa de passagem, reduzindo a digestibilidade dos nutrientes (Van

Soest, 1994). Em avaliações da inclusão do resíduo úmido de cervejaria na dieta de

vacas leiteiras, Belibasakis & Tsirgogianni (1996), Chiou et al. (1998) e Geron et al.

(2010) não observaram alterações no consumo por estes animais. Rogers et al. (1986)

não constataram alterações na digestibilidade da matéria seca do resíduo úmido de

cervejaria. Mas, Gilaverte et al. (2011) observaram redução na digestibilidade da

proteína bruta, atribuindo este fato ao processamento nas indústrias cervejeiras, que

remove ou fermenta a maior parte das proteínas solúveis.

O equilíbrio do ambiente ruminal depende da manutenção de condições

adequadas de pH, para, dessa forma, maximizar a fermentação ruminal, promovendo o

100

crescimento e atividade microbiana (Berchielli et al., 2006). As características da fibra

do resíduo podem promover menor mastigação, com consequente diminuição na

salivação e menor controle sobre o pH ruminal. Este fato, aliado à rápida fermentação e

assimilação de carboidratos, pode provocar distúrbios metabólicos. No entanto, Dhiman

et al. (2003) e Aguilera-Soto et al. (2009), em avaliações de dietas com 15% de resíduo

de cervejaria, não observaram mudanças significativas no pH do rúmen.

De acordo com Belibasakis & Tsirgogianni, (1996), Chiou et al. (1998), Geron et

al. (2010), o resíduo úmido de cervejaria apresenta elevados teores de proteína não

degradável no rúmen (aproximadamente 50%), altas concentrações de lisina e teores de

metionina similares ao do farelo de soja (Clark et al., 1987), possibilitaram maior

produção de leite. A lisina e a metionina são os principais aminoácidos limitantes da

síntese da produção de leite.

Assim, objetivou-se avaliar os níveis de inclusão da silagem do resíduo úmido de

cervejaria sobre o consumo, as digestibilidades da matéria seca e dos nutrientes,

parâmetros de fermentação ruminal, bem como a produção, eficiência e a composição

do leite de vacas.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Estação Experimental Prof. Dr. Antônio Carlos

dos Santos Pessoa, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) campus

de Marechal Cândido Rondon – PR. O processamento das amostras e as análises

laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da UNIOESTE e no

Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Paraná.

O resíduo úmido de cervejaria (RUC) foi obtido em indústria cervejeira no

município de Toledo, região Oeste do PR, transportado até as dependências da Estação

101

Experimental da UNIOESTE e acondicionado em silos de alvenaria com capacidade

para aproximadamente 1 tonelada.

Foram mensurados, nas silagens, o pH, segundo metodologia de Cherney &

Cherney (2003), a temperatura com auxílio de um termômetro portátil tipo espeto e a

capacidade tampão, segundo Playne & McDonald (1996), onde 15 g de resíduo foram

macerado com 250 mL de água destilada, e titulou-se com solução de ácido clorídrico

(HCL 0,1N) até o pH baixar para 3,0 para liberação do bicarbonato como dióxido de

carbono, então foi titulado com solução de hidróxido de sódio (NaOH 0,1N). A

capacidade tampão foi expressa em miliequivalente de alcali requerido para alterar o pH

de 4,0 para 6,0 por 100 g de matéria seca.

Foram utilizadas cinco vacas primíparas da raça Holandês, com peso corporal

(PC) de 605 ± 2,7 kg, aos 100 ± 20 dias de lactação e produção média de 30 litros/dia,

distribuídas no delineamento em quadrado latino (5x5), com cinco períodos

experimentais de 21 dias cada, sendo 14 dias para adaptação a dieta e sete dias para

coleta de dados, totalizando 105 dias, e cinco tratamentos.

As dietas experimentais foram formuladas de acordo com o estabelecido pelo

NRC (2001), para atender as exigências (15,5% de proteína bruta e 68% de nutrientes

digestíveis totais) de vacas em lactação com 600 kg de peso corporal e produção de 30

kg de leite por dia. As dietas foram compostas por silagens de milho e do resíduo úmido

de cervejaria e ração concentrada (milho moído, farelo de soja, suplemento mineral e

vitamínico). Os tratamentos avaliados consistiram de dieta controle sem inclusão de

SRUC, e as demais, com 15%, 20%, 25% e 30% de inclusão de SRUC.

Para a realização das análises químico-bromatológicas, as amostras das dietas

fornecidas, sobras e fezes foram descongeladas e submetidas à secagem em estufa com

ventilação forçada de ar por 72h a 55ºC, processadas em moinho, tipo Willey, dotado de

102

peneira com crivo de 1 mm, compondo proporcionalmente uma única amostra por

animal por período.

Posteriormente, foram analisadas quanto aos teores de matéria seca (MS), matéria

mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), lignina, celulose e

hemicelulose, segundo metodologia de Silva & Queiroz (2006), fibra em detergente

neutro (FDN), FDN corrigida para cinzas e proteína bruta (FDNcp) e fibra em

detergente ácido (FDA), segundo Van Soest et al. (1991). A matéria orgânica foi

estimada pela diferença do teor de cinzas em relação à matéria seca. A composição

químico-bromatológica dos alimentos e das dietas utilizadas podem ser observadas na

Tabela 1 e Tabela 2, respectivamente.

Tabela 1. Composição químico-bromatológica dos alimentos

Nutrientes Ingredientes¹

RUC SRUC SM FS MM

Matéria seca (g/kg) 164, 88 251,36 320,14 888,13 883,07

Matéria mineral (g/kg de MS) 38,56 40,32 44,25 61,05 11,15

Matéria orgânica (g/kg de MS) 961,44 959,68 955,75 938,95 988,85

Proteína bruta (g/kg de MS) 227,01 242,77 78,61 510,34 90,14

Extrato etéreo (g/kg de MS) 82,14 89,57 68,09 16,78 48,09

Fibra em detergente neutro² (g/kg de MS) 632,96 665,18 420,50 137,42 126,48

Fibra em detergente ácido (g/kg de MS) 227,10 228,04 251,41 80,99 41,56

Hemicelulose (g/kg de MS) 405,86 437,14 169,09 56,43 84,92

PIDN³ (g/kg de MS) 66,51 63,54 16,17 4,28 9,42

PIDA4 (g/kg de MS) 69,00 61,73 85,81 7,21 2,28

Carboidratos totais5 (g/kg de MS) 652,29 627,34 809,05 411,82 850,62

¹RUC: Resíduo úmido de cervejaria, SRUC: silagem de resíduo úmido de cervejaria, SM: silagem de

milho, FS: farelo de soja, MM: milho moído. ²Fibra em detergente neutro corrigida para cinzas e proteína.

³PIDN: proteína insolúvel em detergente neutro. 4Proteína insolúvel e detergente ácido.

5Estimado

segundo a equação de Sniffen et al. (1992).

As determinações do nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e do

nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) foram obtidas conforme descrita por

103

Licitra et al. (1996). Os teores de carboidratos totais (CT) foram estimados, segundo

Sniffen et al. (1992).

Os carboidratos não fibrosos (CNF) foram estimados pela diferença entre CT e a

FDN corrigida para cinza e proteína (FDNcp). Os nutrientes digestíveis totais (NDT)

foram obtidos, segundo equação descrita por Weiss (1999).

Tabela 2. Ingredientes e composição químico-bromatológica das dietas

Teores de inclusão da SRUC¹

0% 15% 20% 25% 30%

Ingredientes (g/kg de MS)

Silagem do resíduo úmido de cervejaria 0,00 150,00 200,00 250,00 300,00

Silagem de milho 600,00 450,00 400,00 350,00 300,00

Farelo de soja 175,23 116,67 97,15 77,63 58,11

Milho moído 204,15 262,52 281,97 301,43 320,88

Suplemento mineral-vitamínico® 20,00 20,00 20,00 20,00 20,00

Composição químico-bromatológica

Matéria seca (g/kg) 554,98 543,65 539,87 536,09 532,31

Matéria mineral (g/kg de MS) 59,28 58,18 57,81 57,44 57,07

Matéria orgânica (g/kg de MS) 940,72 941,82 942,19 942,56 942,93

Proteína bruta (g/kg de MS) 157,59 160,87 156,36 157,73 158,36

Extrato etéreo (g/kg de MS) 34,02 41,80 44,40 46,99 49,59

Fibra em detergente neutro (g/kg de MS) 316,34 357,74 371,54 385,34 399,14

Fibra em detergente ácido (g/kg de MS) 168,90 164,71 163,31 161,91 160,52

Lignina (g/kg de MS) 24,25 27,73 28,89 30,05 31,21

Celulose (g/kg de MS) 133,62 125,83 123,24 120,64 118,05

Lignina (g/kg de MS) 24,25 27,73 28,89 30,05 31,21

Carboidratos não fibrosos (g/kg de MS) 453,32 419,84 414,28 402,83 390,33

Carboidratos totais (g/kg de MS) 749,10 739,15 741,44 737,84 733,18

¹SRUC: silagem do resíduo úmido de cervejaria

As vacas permaneceram alojadas em instalações cobertas providas de bebedouros

e comedouros individuais para receber a alimentação, duas vezes ao dia, às 7 e às 15h, e

ordenhadas às 6 e às 18h. Os animais tiveram acesso ao piquete de descanso, sem oferta

de forragem, das 12 às 14h, e após às 21h.

104

O controle do consumo de matéria seca foi ajustado semanalmente para obtenção

de 10% de sobras. Os consumos da matéria seca e dos nutrientes foram determinados

pela diferença entre o fornecido e as sobras.

No período de coleta de dados, do 15º ao 20º dia de cada período experimental,

foram realizadas as pesagens dos animais e amostragem das rações fornecidas e das

sobras, mantendo-as congeladas em freezer para posteriores análises.

As amostras de fezes foram coletadas diretamente na ampola retal do 15º ao 20º

dia do período experimental, para determinação da digestibilidade da matéria seca e dos

nutrientes, às 8, 10, 12, 14, 16 e 18h, respectivamente a cada dia.

A estimativa de excreção fecal foi obtida utilizando como indicador interno a fibra

em detergente neutro indigestível (FDNi), conforme proposto por Cochran et al. (1996).

A FDNi foi obtida após 288h de incubação (in situ) dos alimentos fornecidos, sobras e

fezes, em filtros F57 da ANKOM®

Technology Corporation, em seguida, foi realizada a

análise de fibra em detergente neutro.

As vacas foram ordenhadas mecanicamente e a produção por animal mensurada

diariamente pelo sistema de copos coletores de leite nas ordenhas da manhã e da tarde

do 15º ao 21º dia. A produção de leite corrigida (PLC) para 3,5% de gordura foi

estimada, segundo Sklan et al. (1992), pela seguinte equação: PLC=[(0,432 + 0,1625 x

%gordura do leite) x produção de leite em kg/dia].

No 15º e 16º dias de cada período experimental, amostras de leite foram coletadas,

obtidas de maneira proporcional às duas ordenhas diárias, acondicionadas em frascos de

polietileno contendo conservante Bronopol® (2-bromo-2-nitropopano-1,3-diol), e

encaminhadas para o Laboratório do Programa de Análises do Rebanho Leiteiro do

Paraná (PARLPR), pertencente à Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da

105

Raça Holandesa (APCBRH), onde foram analisados os teores de gordura, proteína,

lactose e sólidos totais, a contagem de células somáticas e o nitrogênio ureico no leite.

Foram coletadas amostras de leite para análise da composição de ácidos graxos da

gordura do leite. A gordura foi extraída por centrifugação, segundo metodologia

descrita por Murphy et al. (1995), esterificada conforme método 5509 da ISO (1978)

com KOH/metanol e n-heptano. Posteriormente, os ésteres metílicos de ácidos graxos

foram analisados em cromatógrafo gasoso Trace GC Ultra® com injetor automático,

equipado com detector de ionização de chama a 240ºC coluna capilar de sílica fundida

(100 m de comprimento, 0,25 mm de diâmetro interno e 0,20 μm, Restek 2560). Os

ácidos graxos foram quantificados por comparação com o tempo de retenção de ésteres

metílicos de ácidos graxos de amostras padrões (Sigma Aldrich®).

As coletas de sangue foram realizadas no 21º dia do período experimental, 4h

após o fornecimento da alimentação da manhã, utilizando tubos de ensaio de 10 mL

através da punção da veia jugular. O soro foi obtido pela centrifugação do sangue a

3500 rpm por 15 minutos e armazenado em eppendorf. A concentração de ureia foi

determinada utilizando kits comerciais da Gold Analisa Diagnóstica Ltda®, e o valor de

nitrogênio ureico foi obtido por meio da multiplicação do valor obtido para ureia por

0,466, correspondente ao teor de nitrogênio na ureia.

Para as avaliações dos parâmetros de fermentação ruminal foram utilizados quatro

bovinos machos, castrados, canulados no rúmen, com peso corporal médio de 400 kg,

distribuídos no delineamento em quadrado latino (4x4), com quatro períodos

experimentais de 21 dias cada, sendo 14 dias para adaptação a dieta sete dias para coleta

de dados, totalizando 84 dias e quatro tratamentos.

Os animais permaneceram confinados, recebendo alimentação duas vezes ao dia

(7 e 15h), em cochos individuais para controle do consumo de matéria seca. As dietas

106

foram formuladas de acordo com o estabelecido pelo NRC (1996), composta por

silagens de milho, do resíduo úmido de cervejaria e ração concentrada. Os tratamentos

avaliados consistiram de dieta controle sem inclusão de SRUC, e os demais, com 20%,

25% e 30% de inclusão de SRUC.

Para a determinação pH, nitrogênio amoniacal (N-NH3) e ácidos graxos de cadeia

curta, foi coletado líquido ruminal 20º dia, via cânula ruminal, nos tempos 0, 2, 4, 6 e 8h

em cada período experimental. O tempo zero (0) corresponde à amostra colhida antes da

primeira refeição e o tempo oito (8), antes do fornecimento da segunda alimentação.

Na coleta de líquido ruminal foi mensurado o pH da amostra, utilizando-se um

potenciômetro digital, e retiradas duas alíquotas de 50 mL. Em uma das alíquotas foi

acrescentado 1 mL de ácido sulfúrico 1:1 e utilizada para a determinação de amônia,

enquanto a outra porção, sem acidificação, foi utilizada para determinação da

concentração de ácidos graxos de cadeia curta. A dosagem de amônia foi determinada

pela destilação do líquido ruminal com hidróxido de potássio 2 N, de acordo com a

técnica descrita por Ferner (1965), modificada por Vieira (1980).

Os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), acético, propiônico e butírico foram

analisados por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) com detector UV,

seguindo metodologia utilizada por Lazaro (2009), utilizando as seguintes condições

cromatográficas: fase móvel, solução de acetonitrila (10%) mais ácido trifluoracético

(0,025%), com adição de solução de água (90%) mais 0,05% ácido trifluoracético,

temperatura do forno de 47°C, fluxo de 0,6 mL/min e comprimento de onda de 208 nm.

As amostras e as diluições para se obter as curvas de calibração foram preparadas em

balão volumétrico (5 mL) e acidificadas com 2 µl de solução de ácido sulfúrico (2M).

Em seguida, as amostras foram filtradas em membrana com porosidade de 0,22 µm.

107

Os dados foram submetidos às análises de variância e testados pelo teste F de

Fisher (Pimentel Gomes & Garcia, 2002; Pimentel Gomes, 2009). As médias referentes

aos níveis de inclusão foram estudadas por meio de análises de regressão (P<0,05)

testando-se os modelos, linear e quadrático, considerando-se ausência de significância

para os desvios da regressão. Para a escolha do modelo foi considerado o maior

coeficiente de determinação (R²). Os dados referentes aos valores de pH e às

concentrações de amônia no líquido ruminal também foram analisados como segue:

ajustada uma equação para pH e outra para amônia em função do tempo, para cada

animal dentro de cada tratamento e período, com estas equações foram calculados o

tempo transcorrido para atingir o máximo de acidez (pH) e as concentrações máximas e

mínimas de amônia. Esses pontos críticos foram analisados como variáveis biológicas,

por Anova e quando significativos, foram ajustadas equações de regressão em função

dos tratamentos.

Resultados e discussão

O resíduo úmido de cervejaria (RUC) utilizado na ensilagem apresentou pH

inicial de 4,29, este baixo pH pode ser favorável para a ação das bactérias ácido-lácticas

e a produção de ácido lático no processo de fermentação, promovendo contínua queda

de pH. O abaixamento do pH é dependente, além da capacidade tampão, da

concentração dos carboidratos fermentáveis.

O valor de capacidade tampão (CT), observado no momento da ensilagem do

resíduo (20,76 meq NaOH/100 g de matéria seca), foi inferior aos obtidos por Allen et

al. (1975) de 32,5 meq NaOH/100 g de matéria seca, em avaliações do resíduo úmido

de cervejaria

108

A baixa CT observada é considerada um aspecto positivo no processo de

ensilagem, pois é indicativo de que a velocidade do abaixamento do pH poderá ser

maior. Além disso, possibilita minimizar perdas no processo de ensilagem, e, portanto, a

obtenção de silagem com melhor qualidade (Muck, 1988).

Não foram observados efeitos (P>0,05) dos níveis de inclusão da silagem do

resíduo úmido de cervejaria sobre o peso corporal dos animais e sobre o consumo de

matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), fibra em detergente

ácido (FDA) e carboidratos totais (CT) expressos em kg/dia (Tabela 3).

Seymour et al. (1986), Belibasakis & Tsirgogianni (1996), Chiou et al. (1998),

Firkins et al. (2002) e Geron et al. (2010) em avaliações da inclusão do RUC ou silagem

de RUC na dieta de vacas leiteiras também não constataram alterações de consumo.

West et al. (1994) observaram que o consumo de MS tende a diminuir com a inclusão

de 15% e 30% do RUC nas dietas, pelos maiores teores de umidade. Segundo Lahr et al.

(1983), diminuição nos teores de matéria seca das dietas provoca redução no consumo.

No entanto, os teores médios de matéria seca, de 541 g/kg (Tabela 2) não promoveram

alteração no consumo observado.

De acordo com Mertens (1992), os teores de FDN das dietas atuam na distensão

do aparelho digestório, sendo um dos fatores físicos que provocam diminuição do

consumo, No entanto, os maiores teores da FDN obtidos nas dietas com SRUC não

promoveram alterações no consumo de MS.

109

Tabela 3. Peso corporal e consumo de matéria seca e dos nutrientes de vacas alimentadas com dietas contendo ou não silagem de resíduo

úmido de cervejaria (SRUC)

Variáveis Teores de inclusão da SRUC

Equação de regressão; R² CV%¹ Valor P²

0% 15% 20% 25% 30% L Q

Peso Corporal (kg) 609,80 608,00 602,00 607,20 600,80 Ŷ=605,56 0,24 0,05 0,74

Consumo kg/dia

Matéria seca 21,86 21,49 21,42 21,86 21,44 Ŷ= 21,61 1,00 0,39 0,55

Matéria seca (%PC) 3,58 3,53 3,55 3,60 3,57 Ŷ = 3,57 2,26 0,80 0,49

Matéria orgânica 20,56 20,22 20,17 20,6 20,21 Ŷ= 20,35 2,46 0,47 0,54

Proteína bruta 3,48 3,51 3,37 3,44 3,40 Ŷ= 3,44 2,47 0,09 0,62

Extrato etéreo 0,74 0,91 0,92 1,02 1,05 Y= 0,741 + 0,011x; 0,98 2,31 0,00 0,90

Fibra em detergente neutro (FDN) 6,63 7,50 7,78 8,26 8,36 Y= 6,191 + 0,060x; 0,98 2,91 0,00 0,91

FDN corrigida para cinza e proteína 6,16 6,61 6,77 7,13 7,10 Y= 6,143 + 0,034x; 0,96 3,38 0,00 0,92

Fibra em detergente ácido 3,57 3,43 3,40 3,45 3,38 Ŷ= 3,45 5,03 0,11 0,61

Celulose 2,83 2,63 2,59 2,58 2,50 Y= 2,818 - 0,011x; 0,96 5,55 0,03 0,66

Lignina 0,50 0,58 0,60 0,64 0,66 Y= 0,504 + 0,005x; 0,99 7,70 0,00 0,99

Carboidratos não fibrosos 10,18 9,19 9,11 9,00 8,66 Y= 10,102 - 0,049x; 0,96 2,40 0,00 0,16

Carboidratos totais 16,34 15,8 15,88 16,13 15,75 Ŷ= 15,98 2,72 0,11 0,43 ¹CV: Coeficiente de variação (%). ²L e Q: efeitos de ordem linear e quadrática.

109

110

O consumo de extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em

detergente neutro corrigida para cinzas e proteína (FDNcp) e lignina, das vacas

alimentadas com dietas compostas por níveis crescentes de SRUC, aumentou

linearmente (P<0,05) pelo incremento na concentração destes nutrientes na dieta, visto

que não houve efeito (P>0,05) no consumo de matéria seca. A cada 1% de inclusão da

SRUC na dieta observa-se aumento de 0,011 kg no consumo diário de EE, pelos

maiores teores presentes na composição química da SRUC.

O consumo de FDN ajustou-se a equação linear crescente (P<0,05), pela maior

concentração deste nas dietas com SRUC, com aumento de 0,060 kg/dia a cada 1% de

inclusão da SRUC. O teor de FDN dos alimentos está relacionado com o enchimento do

rúmen, por ser a fração mais lentamente digerida. Em alimentos com baixa taxa inicial

de digestão, a distensão ruminal parece ser o fator mais importante na limitação do

consumo, antes mesmo de que as necessidades energéticas do animal sejam atendidas.

Mas, em forragens altamente digestíveis, a limitação do consumo parece estar mais

relacionada com a liberação de nutrientes no rúmen, do que pelo efeito físico na

distensão ruminal (Borges et al., 2009).

Younker et al. (1998), em avaliações da inclusão do resíduo de cervejaria em

substituição ao volumoso ou ao concentrado da dieta, observaram que, quando o resíduo

de cervejaria substituia o volumoso, não havia alteração no consumo de MS, mas

quando substituiu o concentrado, ocorreu diminuição significativa na ingestão de MS,

pela maior concentração de FDN nas dietas.

Observou-se redução linear (P<0,05) no consumo de carboidratos não fibrosos

(CNF) à medida que aumentava os níveis de inclusão de SRUC na dieta. Os teores de

CNF da SRUC observados Tabela 2 refletiram no menor consumo.

111

Houve redução linear (P<0,05) para a digestibilidade da matéria seca, matéria

orgânica, proteína bruta, fibra em detergente ácido, celulose, carboidratos totais,

carboidratos não fibrosos e nos nutrientes digestíveis totais (NDT), enquanto a

digestibilidade do extrato etéreo e fibra em detergente neutro não foram alteradas com a

inclusão da SRUC nas dietas (Tabela 4).

A digestibilidade da MS reduziu em 3,123 g/kg a cada 1% de inclusão da SRUC

nas dietas. Na dieta, com a inclusão de 30% de SRUC, a digestibilidade da MS

diminuiu aproximadamente 91 g/kg em relação à dieta controle. Isso se deve à

composição química das dietas, visto que a menor proporção de silagem de milho e a

maior de SRUC resultaram em menores teores de carboidratos não fibrosos, e maiores

de FDN, o que segundo Kozloski et al. (2006) explica a menor digestibilidade aparente

da matéria seca.

Os resultados observados para digestibilidade da MS foram inferiores aos obtidos

por Geron et al. (2010), que em avaliações da inclusão de até 15% de resíduo de

cervejaria fermentado nas dietas, compostas por silagens de milho, silagem de azevém e

ração concentrada, de vacas da raça Holandês, não constataram variações na

digestibilidade, obtendo valores de aproximadamente 77% de digestibilidade na MS.

Rogers et al. (1986) também analisaram a inclusão de 22% de resíduo de cervejaria

úmido, e 40% de resíduo de cervejaria desidratado na dieta composta por silagem de

milho e amido de milho, e não observaram alterações na digestibilidade da matéria seca,

com valor médio de 69%.

A inclusão da SRUC na dieta promoveu a redução linear (P<0,05) para

digestibilidade da PB, na ordem de 1,358 g/kg a cada 1% de inclusão. A menor

digestibilidade pode ser explicada por diferenças na composição percentual das dietas,

com a diminuição na proporção de farelo de soja (Tabela 2), em relação ao resíduo.

112

Tabela 4. Digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes, e nutrientes digestíveis totais das dietas de vacas, em função dos níveis de

inclusão de silagem do resíduo úmido de cervejaria (SRUC) nas dietas

Parâmetros Teores de inclusão da SRUC

Equação de regressão; R² CV%¹ Valor P²

0% 15% 20% 25% 30% L Q

Matéria seca (g/kg) 700,40 666,01 650,83 620,88 608,49 Y = 705,547 – 3,123x; 0,96 2,52 0,000 0,152

Matéria orgânica (g/kg MS) 720,91 687,59 671,75 642,59 632,37 Y = 725,704 – 3,036x; 0,96 2,39 0,000 0,187

Proteína bruta (g/kg MS) 714,63 703,61 702,42 706,07 658,94 Y = 721,580 – 1,358x; 0,81 2,40 0,001 0,016

Extrato etéreo (g/kg MS) 861,19 852,34 877,89 879,85 863,84 Ŷ = 867,016 3,56 0,498 0,942

Fibra em detergente neutro (g/kg MS) 451,00 472,70 470,73 447,51 471,65 Ŷ = 462,720 8,01 0,614 0,633

FDN corrigida para cinza e proteína (g/kg MS) 442,31 432,12 424,47 392,06 408,08 Ŷ = 419,812 10,53 0,117 0,797

Fibra em detergente ácido (g/kg MS) 456,68 399,28 352,63 299,84 339,56 Y = 455,834 – 4,791x; 0,84 9,94 0,000 0,477

Celulose (g/kg MS) 580,11 500,43 470,77 397,57 417,97 Y = 582,152 – 6,043x; 0,92 4,99 0,000 0,904

Carboidratos não fibrosos (g/kg MS) 879,84 847,99 823,24 789,09 761,17 Y = 890,805 – 3,918x; 0,93 3,02 0,000 0,067

Carboidratos totais (g/kg MS) 715,84 674,42 653,24 613,97 602,77 Y = 722,395 – 3,908x; 0,96 2,96 0,000 0,145

Nutrientes digestíveis totais (g/kg MS) 726,79 724,24 717,01 698,28 692,34 Y= 732,955 – 1,179x; 0,76 2,55 0,016 0,123

¹CV: Coeficiente de variação (%). ²L e Q: efeitos de ordem linear e quadrática.

112

113

Segundo Gilaverte, et al. (2011), o processo industrial do resíduo úmido de

cervejaria para obtenção da cerveja remove ou fermenta a maior parte das proteínas

solúveis, albuminas e globulinas, o que também contribui para a menor digestibilidade

nas dietas com SRUC.

O processamento industrial, realizado nas cervejarias, altera as frações

nitrogenadas do resíduo úmido, na qual aproximadamente 46,4% da proteína do resíduo

está na fração B3 + C (Souza, dados não publicados), ou seja, indisponíveis para o

metabolismo animal. Segundo Licitra et al. (1996), a fração C consiste na proteína

associada à lignina, complexo proteína-taninos e produtos provenientes da reação de

Maillard, e, sendo altamente resistentes às enzimas microbianas e, indigestíveis ao

longo do trato gastrintestinal.

As maiores concentrações de fibra e os menores teores de carboidratos não

fibrosos, nas dietas com SRUC, influenciaram negativamente os teores de nutrientes

digestíveis totais (NDT), promovendo redução linear (P<0,05) de 1,179 g/kg MS a cada

1% de inclusão da silagem do resíduo. No entanto, os resultados obtidos de NDT

superaram em todas as dietas o valor estimado inicialmente de 68% de NDT.

Nas avaliações dos parâmetros de fermentação ruminal, observou-se que os

resultados de pH não foram influenciados (P>0,05) pela inclusão da SRUC nas dietas

(Tabela 5), apresentando pH médio de 6,51. O ponto crítico (máxima acidez) estimado

para o pH ruminal também não foi influenciado pelos níveis crescentes de SRUC. Em

média, o pH ruminal teve seu ponto crítico estimado em 6,32, obtido aproximadamente

3,54h (3h33min) após a alimentação da manhã.

114

Tabela 5. Valores de pH, amônia (N-NH3) e ácidos graxos de cadeia curta no líquido ruminal de bovinos alimentados com dietas contendo

silagem do resíduo úmido de cervejaria (SRUC)

Parâmetros Teores de inclusão da SRUC

Equação de regressão; R² CV%¹ Valor P²

0% 20% 25% 30% L Q

pH

pH 6,57 6,57 6,39 6,52 Y = 6,515 1,58 0,186 0,966

Ponto de mínimo pH² 6,35 6,32 6,25 6,39 Y = 6,329 3,26 0,713 0,411

Ponto crítico mínimo³ 3,51 3,69 3,46 3,53 Y = 3,548 8,31 0,969 0,512

Amônia

N-NH3 (mg/100 ml) 23,23 19,294 17,352 16,45 Y = 23,341 - 0,227x; 0,98 21,62 0,046 0,864

Ponto de mínima N-NH3 (mg/100 mL)² 17,28 16,193 9,692 13,18 Y = 14,087 48,70 0,270 0,918

Ponto crítico mínimo³ 4,64 3,72 4,70 2,94 Y = 3,999 31,13 0,212 0,515

Ponto de máxima NNH3 (mg/100 mL)4 29,83 24,069 22,63 21,191 Y = 29,826 - 0,287x; 0,93 11,86 0,004 0,592

Ponto crítico máximo³ 2,31 2,09 1,807 2,418 Y = 2,156 43,64 0,845 0,523

Ácidos graxos de cadeia curta

Total mMol 118,64 109,431 108,44 110,50 Y = 111,756 18,90 0,514 0,764

Acetato 73,27 67,76 67,79 68,39 Y = 73,272-0,501x + 0,011x²; 0,75 2,26 0,002 0,055

Propionato 21,12 24,68 24,45 23,78 Y = 21,124 + 0,356x - 0,009x²; 0,99 3,95 0,002 0,019

Butirato 6,60 7,47 7,70 7,91 Y = 7,412 26,96 0,351 0,920

Acetato/Propionato 4,12 2,97 2,98 3,10 Y = 4,122 - 0,105x + 0,002x²; 0,98 5,60 0,000 0,006

¹CV: Coeficiente de variação (%). ²L e Q: efeitos de ordem linear e quadrática. ²Ponto crítico mínimo para pH (máxima acidez) e ponto crítico mínimo de amônia

(menor concentração), mensurados no tempo 0 (antes da alimentação) e 2;4;6;8h após a primeira alimentação. ³Ponto crítico - mínimo ou máximo – horas (valor

absoluto) para atingir o ponto crítico de pH ou de amônia.

114

115

Com os resultados de pH obtidos, pode-se inferir que os tratamentos não

influenciaram a ação das bactérias celulolíticas, uma vez que os valores de pH

estiveram permanentemente acima de 6,2. Segundo Russell & Dombrowski (1980) e

Mould et al. (1983), o crescimento das bactérias celulolíticas e a degradação das frações

fibrosas são comprometidos em pH menor que 6,1, sendo totalmente inibidos em

valores inferiores a 5,9.

A adequada fermentação ruminal, em decorrência da manutenção de valores

apropriados de pH (6,55), pode também ser constatada pelo fato da digestibilidade da

FDN (Tabela 4) não ter sido alterada pela inclusão da SRUC, pois segundo Shriver et al.

(1986), a digestibilidade de nutrientes, como a FDN, não são comprometidas quando o

pH se mantém entre 6,2 a 7,0.

Os valores de pH observados podem ser atribuídos à manutenção da proporção de

volumoso:concentrado, ao teor de FDN da dieta e ao manejo alimentar em duas porções

diárias, aumentando o tempo de mastigação e produção de saliva. De acordo com De

Veth & Kolver (2001), a digestibilidade da FDN é reduzida quando o pH ruminal

permanece quatro h em valores abaixo de 6,0 indicando que a média do pH, como

também suas flutuações diárias, influenciam a atividade microbiana.

O comportamento do pH no tempo após a alimentação apresentou comportamento

quadrático (6,950 – 0,248H + 0,023H²; R² 0,99; em que H = hora) com máxima acidez

1,08h após a alimentação (Figura 1). Estes dados diferem dos relatados por Geron et al.

(2008), que ao testar níveis de inclusão de RUC na alimentação de bovinos, obteve

mínimo pH (máxima acidez) em média, 4h após a alimentação.

As concentrações médias de amônia (N-NH3) apresentaram efeito linear negativo

(P<0,05) com a inclusão de SRUC, a cada 1% de inclusão observou-se redução de 0,227

mg de N-NH3/100 mL de líquido ruminal. Níveis de inclusão da SRUC acima de 20%

116

proporcionaram diminuição nas concentrações de amônia ruminal, obtendo-se valores

inferiores aos recomendados por Mehrez & Ørskov (1977), os quais devem estar entre

19 e 23 mg/100 mL, para a máxima atividade fermentativa.

Os valores estimados para mínima produção de nitrogênio amoniacal foi de 14,08

mg/100 mL observados 3,99 (3:59h) após a alimentação da manhã. Os resultados

obtidos ficaram acima do mínimo requerido para que ocorra fermentação ruminal, que é

de 5 mg de N-NH3/100 mL (Satter & Slyter, 1974; NRC, 1996).

Os valores estimados para a máxima produção de nitrogênio amoniacal

apresentaram efeito linear negativo (P<0,05) com a inclusão de SRUC, e a cada 1% de

inclusão observou-se redução de 0,287 mg de N-NH3/100 mL. Os valores máximos

estimados para N-NH3 foram obtidos em média 2,15 (2h09min) após a alimentação.

Figura 1. Variação do pH e da concentração de nitrogênio amoniacal (N-NH3) do líquido

ruminal de bovinos alimentados com dietas contendo silagem do resíduo úmido de

cervejaria, durante o período de 0, 2, 4, 6 e 8h após a alimentação

O comportamento da concentração de amônia ruminal após a alimentação

apresentou efeito linear (22,581 – 0,900H; R² 0,62; em que H = hora) em relação ao

117

tempo, a cada hora a concentração diminuiu 0,900 mg de N-NH3/100 mL de líquido

ruminal (Figura 1). Segundo Moreira et al. (2001), a concentração de amônia ruminal

pode ser afetada pelo tempo de amostragem, registrando efeito quadrático.

Os resultados obtidos referentes à concentração de amônia se devem à

característica proteica do resíduo úmido de cervejaria, com maior valor,

aproximadamente 50%, de proteína não degradável no rúmen (PNDR) em relação ao

farelo de soja, o que minimizou as perdas de nitrogênio amoniacal nas dietas com

inclusão da SRUC, onde se utilizou menor proporção de farelo de soja (Armentano et

al.,1986; Clark et al., 1987; Geron et al., 2007).

A produção total de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e as concentrações de

butirato não foram alteradas (P>0,05) pela inclusão da SRUC nas dietas. No entanto, as

concentrações de acetato e de propionato apresentaram efeito quadrático (P<0,05) com

a inclusão da SRUC (Tabela 5). A mínima concentração de acetato no rúmen foi

estimada com a inclusão de 22,77% de SRUC. A máxima concentração de propionato

no rúmen foi estimada com a inclusão de 19,77% de SRUC.

A proporção acetato:propionato também apresentou efeito quadrático (P<0,05)

com a inclusão da SRUC. Esse comportamento se deve basicamente ao efeito

quadrático observado nas concentrações de acetato e propionato. O ponto mínimo na

razão acetato: propionato foi observado com a inclusão de 26,25% de SRUC, essa

redução pode estar relacionada com os teores de lipídios insaturados e teores de fibra

efetiva das dietas.

Segundo Geron et al. (2007), o resíduo úmido de cervejaria apresenta elevados

teores de ácidos graxos insaturados, o que influenciou nos resultados obtidos. O

aumento da proporção molar de propionato é decorrente do acréscimo de produção e

pela concomitante redução da produção de acetato e butirato (Van Nevel & Demeyer,

118

1988). De acordo com Richardson et al. (1984) e Chalupa et al. (1986), os lipídios

insaturados apresentam efeito tóxico sobre as bactérias celulolíticas do rúmen e

reduzem a proporção acetato: propionato e, consequentemente, o suprimento de ácido

acético, precursor direto de 50% da gordura do leite.

A produção de leite e a eficiência produtiva de leite, com a inclusão de SRUC nas

dietas, ajustaram-se ao modelo quadrático de regressão (P<0,05). A máxima produção

estimada foi observada com a inclusão de 15,78% da SRUC e a máxima eficiência

produtiva com a inclusão de 20% da SRUC (Tabela 6).

O aumento na produção de leite está relacionado com a proteína não degradada no

rúmen (PNDR) do resíduo úmido de cervejaria, pois segundo Belibasakis &

Tsirgogianni (1996), representa aproximadamente 50% da proteína bruta. O resíduo

apresenta melhor qualidade da fonte proteica, com teores maiores de lisina e similares

de metionina em relação ao farelo de soja, promovendo aumento na produção de leite,

pois estes aminoácidos são os principais aminoácidos limitantes à síntese do leite (Clark

et al., 1987; Cozzi & Polan, 1994; Schwab et al., 1996).

Cardoso et al. (1982), Polan et al. (1985), Belibasakis & Tsirgogianni (1996) e

Chiou et al. (1998) observaram maior produção de leite ao utilizar resíduo de cervejaria,

e concluíram que isso se deve à maior PNDR do resíduo, o qual contribuiu para a

disponibilidade dos aminoácidos para o metabolismo da produção de leite. No entanto,

Geron et al. (2010) não observaram diferenças na produção de leite com a inclusão de

até 15% de silagem do resíduo de cervejaria nas dietas de vacas da raça Holandês. Estes

autores atribuíram esse resultado ao fato de que, mesmo com elevados teores de PNDR,

ainda assim, a inclusão do resíduo de cervejaria não atendeu ao aporte necessário de

lisina e metionina no intestino delgado, o que poderia promover maior produção de

leite.

119

Tabela 6. Produção, eficiência e composição do leite de vacas da raça Holandês alimentadas com dietas contendo silagem do resíduo

úmido de cervejaria (SRUC)

Parâmetros Teores de inclusão da SRUC

Equação de regressão; R² CV%¹ Valor P²

0% 15% 20% 25% 30% L Q

Produção de leite (PL) (kg/dia) 29,42 31,27 30,47 31,65 29,61 Y = 29,390 + 0,221x - 0,007x²; 0,63 4,40 0,315 0,035

PL corrigida para 3,5% de gordura (kg/dia) 27,72 27,73 27,39 26,37 25,29 Y = 28,233 - 0,074x; 0,65 6,48 0,050 0,140

Eficiência da PL (kg de leite/kg CMS³) 1,35 1,46 1,42 1,45 1,38 Y = 1,338 + 0,012x - 0,0003x²; 0,88 4,90 0,120 0,030

Gordura (g/kg) 31,46 27,71 28,48 24,77 26,13 Y = 31,319 - 0,198x; 0,82 8,65 0,001 0,694

Gordura (kg/dia) 0,93 0,87 0,87 0,78 0,77 Y = 0,939 - 0,005x; 0,83 7,84 0,007 0,356

Proteína (g/kg) 29,58 30,77 30,75 30,87 29,93 Y = 30,380 3,91 0,363 0,086

Proteína (kg/dia) 0,87 0,96 0,94 0,98 0,89 Y = 0,854 + 0,011x - 0,0003x²; 0,74 4,02 0,006 0,000

Lactose (g/kg) 46,38 47,20 47,01 47,03 47,34 Y = 46,506 + 0,028x; 0,76 1,05 0,013 0,441

Lactose (kg/dia) 1,36 1,48 1,43 1,49 1,40 Y = 1,363 + 0,011x - 0,0003x²; 0,70 5,6 0,150 0,050

Sólidos Totais (g/kg) 116,52 114,82 115,58 111,85 112,56 Y = 116,900 - 0,145x; 0,71 2,76 0,036 0,576

Sólidos Totais (kg/dia) 3,43 3,59 3,52 3,54 3,33 Y = 3,403 + 0,026x - 0,001x² 2,89 0,777 0,018

Contagem de células somáticas (log10) 2,44 2,51 2,67 2,51 2,49 Y = 0,524 13,95 0,703 0,505

Nitrogênio ureico no sangue (mg/dL) 20,41 23,66 20,08 23,5 21,92 Y = 21,91 38,16 0,646 0,442

Nitrogênio ureico no leite (mg/dL) 17,29 19,85 17,47 19,97 18,61 Y = 18,638 8,36 0,115 0,260

¹CV: Coeficiente de variação. ²L e Q: efeitos de ordem linear e quadrática. ³CMS: Consumo de matéria seca.

119

120

Ainda, Johnson et al. (1987) observaram queda na produção de leite e relataram

que estes efeitos se devem à elevação do nitrogênio insolúvel em detergente neutro e à

redução do nitrogênio solúvel, provocados pela fermentação natural do resíduo úmido

de cervejaria no processo de fabricação de cerveja. As amplas variações nos resultados

de produção de leite, observadas na literatura, quanto à utilização do resíduo úmido de

cervejaria, se devem às diferenças de ingredientes e de processamento utilizados pelas

indústrias cervejeiras.

A cada unidade percentual de inclusão da SRUC nas dietas a produção de leite

corrigida para 3,5% de gordura, diminuiu 0,074 kg/dia, pelo efeito linear negativo

também observado nos resultados de gordura do leite.

Os resultados da gordura do leite apresentaram efeito linear (P<0,05) negativo

nas dietas com a inclusão da SRUC e os menores teores possivelmente estão

relacionados ao aumento do extrato etéreo (Tabela 2) na composição das dietas e ao fato

do resíduo de cervejaria ser uma fonte rica em ácidos insaturados (aproximadamente

76,6% do total identificado), de acordo com Geron et al. (2007). Corroborando com

estas afirmações, Miller et al. (1970) e Phipps et al. (1995) observaram que as

diminuições nos teores de gordura do leite se deviam, principalmente, ao alto conteúdo

de gordura insaturada do resíduo de cervejaria.

Os lipídios podem promover efeito inibitório sobre a digestibilidade da matéria

seca, o que pode foi constatado na Tabela 4, e também promovem diminuição da

proporção acetato: propionato no rúmen, contribuindo para a redução do suprimento de

ácido acético, precursor de 50% da gordura do leite, principalmente dos ácidos graxos

de cadeia curta (Chalupa et al., 1986; Palmquist, 1989).

O aumento da proporção molar de propionato e redução de acetato, observados

até os níveis de 19,77% e 22,77%, respectivamente, influenciaram negativamente os

121

teores de gordura do leite, pois conforme cita González (2001), o ácido acético

proveniente da fermentação ruminal contribui efetivamente na síntese de gordura do

leite.

Não foram observados efeitos (P>0,05) na concentração de proteína no leite,

contudo, a produção diária de proteína apresentou efeito quadrático positivo com a

inclusão da SRUC, com ponto de máxima estimado para 18,33% de inclusão. O

aumento da produção de leite, sem que o teor de proteína no leite fosse alterado,

promoveu esse aumento na produção diária de proteína.

A concentração de lactose (g/kg) no leite apresentou aumento linear em resposta

aos níveis de inclusão da SRUC na dieta, com aumento de 0,028% para cada 1% de

inclusão da SRUC na alimentação. No entanto, em relação à produção de lactose por dia

(kg/dia), observa-se efeito quadrático, com ponto de máxima estimado para 18,33% de

inclusão. Segundo Gonzalez (2001), a lactose é o nutriente mais estável da composição

química do leite e está diretamente relacionada à regulação da pressão osmótica na

glândula mamária, de forma que maior produção de lactose determina maior produção

de leite, com mesmo teor de lactose.

A inclusão da silagem do resíduo úmido de cervejaria não alterou (P>0,05) os

teores de nitrogênio ureico no sangue (NUS) e nitrogênio ureico no leite (NUL). No

entanto, os resultados obtidos nos dois parâmetros estão acima dos níveis considerados

adequados, de 10 a 14 mg/dL (Moore & Vargas, 1996) o que pode estar relacionado

com excesso de proteína, falta de sincronização entre as frações nitrogenadas, ou na

proporção energia: proteína (Contreras et al., 2000). Segundo Russel et al. (1992), a

produção e a absorção excessiva de amônia podem aumentar a excreção de nitrogênio e

o custo energético pela produção de ureia no fígado, o que foi constatado pelos elevados

teores de nitrogênio ureico no sangue e no leite.

122

A alta correlação obtida entre NUS e NUL se deve ao baixo peso molecular da

ureia sanguínea, que atravessa o epitélio alveolar da glândula mamária e se difunde no

leite (Wittwer, 2000).

Os teores dos ácidos graxos cáprico e esteárico na gordura do leite diminuíram

linearmente (P<0,05) com a inclusão de SRUC nas dietas (Tabela 7). A concentração

total dos ácidos graxos saturados (AGS) apresentou comportamento linear negativo

(P<0,05) com redução de 0,120 g/100 g de lipídios totais a cada 1% de inclusão da

SRUC.

Segundo Chilliard et al. (2000), os ácidos graxos de cadeia curta são sintetizados,

principalmente, pelas células epiteliais da glândula mamária, a partir do acetato e do β-

hidroxibutirato, originados no rúmen. Assim, os resultados obtidos sugerem que a

inibição da síntese de ácidos graxos de cadeia curta na gordura do leite pelos aumentos

dos níveis de inclusão da SRUC e, consequentemente, dos teores de extrato etéreo das

dietas, pode ser explicada pela diminuição da relação acetato/propionato no rúmen, e

pelo fornecimento de ácidos pré-formados para a glândula mamária.

Segundo Nagaraja et al. (1997), o aumento de fontes de gordura nas dietas é

considerado vantajoso, não só por disponibilizar maior quantidade de energia aos

animais, mas também por promover redução na produção de metano, redução na

concentração de nitrogênio amoniacal no rúmen, melhorar a eficiência da síntese

microbiana pela redução do número de protozoários ciliados, e ainda, aumento na

concentração no leite de n-6, n-3 e CLA, que têm sido apontados como promotores de

inúmeros benefícios à saúde humana (Lin et al., 1995; Tanaka, 2005).

A concentração total dos ácidos graxos monoinsaturados (AGMI) apresentou

comportamento linear positivo (P<0,05) com a inclusão da SRUC, com aumento de

0,079 a cada 1% de inclusão da SRUC.

123

Tabela 7. Composição de ácidos graxos (g/100 g de lipídios totais) no leite de vacas da raça Holandês alimentadas com dietas contendo

silagem do resíduo úmido de cervejaria (SRUC)

Ácido Graxo Teores de inclusão da SRUC

Equação de regressão; R² CV%¹ Valor P²

0 15 20 25 30 L Q C

8:0 (caprílico) 1,267 1,267 1,27 1,269 1,271 Y = 1,269 38,62 0,547 0,113 0,66

10:0 (cáprico) 1,709 1,504 1,525 1,268 1,226 Y = 1,740 - 0,016x; 0,88 10,4 0,000 0,009 0,573

13:0 (n-tridecílico) 1,693 1,902 2,11 2,769 3,636 Y = 1,707 - 0,051x + 0,0038x²; 0,99 7,11 0,000 0,000 0,000

14:0 (mirístico) 7,835 7,413 7,464 7,183 7,013 Y = 7,382 25,32 0,068 0,275 0,205

15:0 (pentadecílico) 0,147 0,145 0,148 0,147 0,143 Y = 0,146 14,82 0,109 0,363 0,095

16:0 (palmítico) 27,523 27,929 26,688 26,646 26,233 Y = 27,004 16,64 0,313 0,299 0,029

18:0 (esteárico) 18,493 17,059 17,352 16,543 15,633 Y = 18,577 - 0,0867x; 0,90 5,01 0,000 0,559 0,008

22:0 (behênico) 0,12 0,118 0,123 0,096 0,117 Y = 0,115 38,2 0,734 0,439 0,284

15:1(pentadecenoico) 0,133 0,191 0,234 0,237 0,293 Y = 0,218 56,4 0,111 0,713 0,208

17:1(heptadecenoico) 0,678 0,74 1,128 0,83 0,873 Y = 0,850 25,38 0,203 0,096 0,131

18:1n-9c (oleico) 29,793 30,698 30,843 31,216 31,608 Y = 29,775 + 0,0587x; 0,98 4,17 0,002 0,081 0,544

20:1 (gondoico) 0,338 0,372 0,437 0,427 0,598 Y = 0,434 99,17 0,147 0,395 0,568

18:2n-6t (linoleico) 1,249 1,291 1,244 1,212 1,235 Y = 1,246 13,48 0,019 0,000 0,000

18:2n-6c (linoleico) 6,176 6,133 6,534 6,872 7,066 Y = 6,156 - 0,019x + 0,0017x²; 0,94 14,21 0,943 0,018 0,008

18:3n-6 (γ-linolênico) 0,518 0,796 0,358 0,75 0,734 Y = 0,631 53,9 0,253 0,892 0,797

18:3n-3 (α-linolênico) 0,596 0,567 0,595 0,598 0,583 Y = 0,588 25,21 0,615 0,647 0,047

18:2 c9t11 (ácido linoleico conjugado) 0,464 0,489 0,597 0,573 0,542 Y = 0,468 + 0,003x; 0,54 12,38 0,016 0,376 0,066

Continuação pag 124...

123

124

...continuação Tabela 7

Ácido Graxo Teores de inclusão da SRUC

Equação de regressão; R² CV%¹ Valor P²

0 15 20 25 30 L Q C

C20:2n-6 (eicosadienoico) 0,381 0,396 0,457 0,445 0,488 Y = 0,370 + 0,003x; 0,82 16,73 0,029 0,543 0,783

C20:3n-6 (dihomo-γ-linolênico) 0,249 0,205 0,158 0,113 0,174 Y = 0,180 40,96 0,181 0,605 0,852

C20:4n-6 (araquidônico) 0,148 0,122 0,138 0,152 0,125 Y = 0,137 34,53 0,548 0,7 0,094

C20:5n-3 (eicosapentanoico) 0,184 0,151 0,162 0,214 0,248 Y = 0,192 72,26 0,753 0,37 0,203

Outros 0,305 0,511 0,435 0,441 0,160 Y = - - - -

AGS 58,988 57,753 56,981 56,12 55,373 Y = Y = 59,201 - 0,120x; 0,97 3,92 0,000 0,328 0,017

AGMI 31,001 32,039 32,72 32,831 33,421 Y = 30,970 + 0,079x; 0,93 3,38 0,000 0,044 0,485

AGPI 10,012 10,208 10,299 11,049 11,206 Y = 10,004 - 0,0181x + 0,002x²; 0,93 11,66 0,336 0,353 0,004

n-3 0,79 0,731 0,771 0,838 0,706 Y = 0,767 24,47 0,872 0,455 0,025

n - 6 8,868 9,065 9,026 9,695 9,948 Y = 8,8731 - 0,0231x + 0,002x²; 0,92 12,2 0,373 0,305 0,005

n-6/n-3 11,227 12,408 11,701 11,573 14,092 Y = 12,200 23,06 0,322 0,267 0,384

¹CV: Coeficiente de variação. ²L, Q e C: efeitos de ordem linear, quadrática e cúbica.

124

125

Os teores do ácido oleico, com maior concentração entre os monoinsaturados, na

gordura no leite apresentaram comportamento linear (P<0,05) com aumento de 0,059

g/100 g de lipídios total, a cada 1% de inclusão da SRUC, o que indica que pode ter

ocorrido a bio-hidrogenação incompleta dos ácidos graxos insaturados da dieta, a ação

da enzima delta 9 dessaturase sobre o ácido esteárico, com formação do ácido oleico

(Chilliard, 2000). Normalmente, alimentos de origem vegetal são ricos em ácido

linoleico e oleico, e estes, pela sua influência no metabolismo ruminal, podem estar

relacionados ao aumento observado de propionato no rúmen (Chalupa et al., 1986),

como pode ser observado na Tabela 5.

A concentração total dos ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) apresentou

comportamento quadrático (P<0,05) com a inclusão da SRUC, demonstrando elevação

a partir do seu ponto de mínima concentração, estimado para 4,52% de inclusão do

resíduo. O aumento no teor dos AGPI na gordura do leite pode ser considerado benéfico

do ponto de vista do consumo humano, pois está relacionado a menores riscos de

enfermidades cardíacas (Castro et al., 2004).

A concentração do ácido linoleico (C18:2n-6) na gordura do leite apresentou

comportamento quadrático (P<0,05), apresentando elevação a partir de 5,59% de

inclusão da SRUC. Os teores obtidos para o ácido linoleico refletiram nos resultados de

n-6, que também apresentaram comportamento quadrático (P<0,05), com elevação a

partir 5,77% de inclusão da SRUC. As elevadas concentrações do ácido linoleico na

gordura do leite podem estar relacionadas aos teores deste na silagem do resíduo úmido

de cervejaria, pois segundo Geron et al. (2007), são encontrados elevados teores de

linoleico neste alimento, aproximadamente 50 g/100 g de gordura.

Os resultados referentes ao ácido linoleico conjugado (CLA) estão de acordo com

os padrões observados na literatura, de 0,30 a 0,55 g/100 g de gordura, e apresentaram

126

comportamento linear positivo (P<0,05), com aumento de 0,003 g/100 g de lipídios

totais, a cada 1% de inclusão da SRUC. O aumento da concentração de CLA pode estar

relacionado com a diminuição do teor de gordura total do leite, pois, segundo Baumann

(2001), este ácido graxo possivelmente provoca diminuição na atividade das enzimas

associadas à síntese “de novo” na glândula mamária.

O aumento da concentração de CLA na gordura do leite pode ser obtido pela

manipulação da dieta, com a inclusão de fontes ricas em ácidos poli-insaturados, no

entanto, está sujeito às mudanças provocadas pela bio-hidrogenação, e frequentemente,

relacionado com a depressão da gordura do leite (Corl et al., 2000; O’Donnell-Megaro

et al., 2012), fato observado no presente trabalho.

Os resultados observados para a concentração de n-3 e a razão entre n-6/n-3 não

foram influenciados (P>0,05) pelos teores de inclusão da SRUC. A elevada razão n-6/n-

3 obtida no leite (aproximadamente 12 g/100 g de lipídios totais) pode estar relacionada

com os teores de ácido linoleico (n-6) das dietas, visto que a SRUC apresenta altos

teores deste ácido. Normalmente, a razão de n-6/n-3 dos alimentos, em geral mais

próxima de 1 (Simopoulos, 2002), está correlacionada com a prevenção de doenças

cardiovasculares e inflamatórias, sendo recomendada para o consumo humano a razão

4:1, de n-6/n-3.

Conclusão

A inclusão da silagem do resíduo úmido de cervejaria, na dieta de vacas em

lactação, influencia negativamente a digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes.

Entretanto, é favorável por aumentar a produção e a eficiência produtiva de leite até os

níveis de 15% e 20% de inclusão, respectivamente. O teor de gordura no leite diminui

linearmente com a inclusão da silagem do resíduo úmido de cervejaria, porém, a

127

composição de ácidos graxos da gordura do leite melhora com aumento dos ácidos

graxos insaturados e do ácido linoleico conjugado.

128

Referências

AGUILERA-SOTO, J.I.; RAMIREZ, R.G.; ARECHIGA, C.F. et al. Effect of feed

additives on digestibility and milk yield of Holstein cows fed wet brewer grains.

Journal of Applied Animal Research, v.36, p.227-230, 2009.

ALLEN, W,R.; STEVENSON, K.W.; BUCHANAN-SMITH, J. Influence of additives

on short-term preservation of wet brewers grains stored in uncovered piles.

Canadian Journal of Animal Science, v.55, p.609-618, 1975.

ARMENTANO, L.E.; HERRINGTON, T.A.; POLAN, C.E. et al. Ruminal degradation

of dried brewers grains, and soybean meal. Journal of Dairy Science, v.69,

p.2124-2133, 1986.

BAUMAN, D.L.; GRIINARI, J.M. Regulation and nutritional manipulation of milk fat:

low-fat milk syndrome. Livestock Production Science, v.70, p.15-29, 2001.

BELIBASAKIS, N. G.; TSIRGOGIANNI, D. Effects of wet brewers grains on milk

yield, milk composition and blood components of dairy cows in hot weather.

Animal Feed Science and Technology, v.57, p.175-181, 1996.

BERCHIELLI, T.T.; RODRIGUEZ, N.M.; OSÓRIO NETO, E. et al. Nutrição de

ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006. 583p.

BORGES, A. L. da C. C. et al. Regulação da ingestão de alimentos. In: GONÇALVES,

L. C. et al. (Ed.). Alimentação de gado de leite. Belo Horizonte: FEPMVZ, 2009.

p 1-25.

CARDOSO. R.M.; SILVA, J.F.C.; MOTTA, V.A. et al. Produção de leite de vacas

alimentadas com silagem de sorgo suplementada com polpa úmida de cevada.

Revista Brasileira de Zootecnia, v.11, p.38-45, 1982.

CASTRO, L.C.V.; FRANCESCHINI, S.C.C.; PRIORE, S.S.E. et al. Nutrição e doenças

cardiovasculares: os marcadores de risco em adultos. Revista de Nutrição, v.17,

p.369-377, 2004.

CHALUPA, W., VECCIARELLI, B., ELSER, E. et al. Ruminal fermentation “in vitro”

of long chain fatty acids. Journal of Dairy Science, v. 69, p.1293-1303, 1986.

CHALUPA, W.; VECCHIARELLI, B.; ELSER, A.E. Ruminal fermentation in vivo as

influenced by long chain fatty acids. Journal of Dairy Science, v.69, p.1293-1301,

1986.

CHERNEY , J.H.; CHERNEY, D.J.R. Assessing Silage Quality In: Buxton et al. Silage

Science and Technology. Madison, 2003. p.141-198.

CHILLIARD, Y.; FERLAY, A.; MANSBRIDGE, R.M. et al. Ruminant milk plasticity:

nutritional control of saturated, polyunsaturated, trans and conjugated fatty acids.

Annales Zootechnia, v.49, p.182-205, 2000.

CHIOU, P. W. S.; CHEN, C. R.; CHEN, K. J. Wet brewers’ grains or bean curd

pomance as partial replacement of soybean meal for lactating cows. Animal Feed

Science and Technology, v.74, p.123-134, 1998.

CHOUINARD, P.Y.; CORNEAU, L.; BARBANO, D.M. Conjugated linoleic acids

alter milk fatty acid composition and inhibit milk fat secretion in dairy cows.

Journal of Nutrition, v.129, p.1579-1584, 1999.

129

CLARK, J.H.; MURPHY, M.R.; CROOKER, B.A. Supplying the protein needs of dairy

cattle from byproducts feeds. Journal Dairy Science, v.70, p.1092-1109, 1987.

COCHRAN, R.C.; ADAMS, D.C.; WALLACE, J.D.; et al. Predicting digestibility diets

with internal markers: Evaluation of four potential markers. Journal of Animal

Science, v.63, p.1476-1483, 1986.

CONTRERAS, P. Indicadores do metabolismo proteico utilizados nos perfis

metabólitos dos rebanhos In: GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.O.; OSPINA,

H. RIBEIRO, L.A.O. (Eds.) Perfil metabólico em ruminantes: Seu uso em

nutrição e doenças nutricionais. Porto Alegre: Gráfica UFRGS, 2000. p.23-30.

CORL, B.A.; BAUMGARD, L.H.; DWYER, D.A. et al. The role of delta-9-desaturase

in the production of cis-6, trans-11. Journal of Nutritional Biochemistry, v.12,

p.622-630, 2001.

COZZI, Cl., POLAN, C.E. Corn gluten meal or dried brewers grains as partial

replacement for soybean meal in the diet of Holstein cows. Journal of Dairy

Science, v.77, p.825-834, 1994.

De VETH, M.J.; KOLVER, E.S. Diurnal variation in pH reduces digestion and

synthesis of microbial protein when pasture is fermented in continuous culture.

Journal of Dairy Science, v.84, p.2066-2207, 2001.

DHIMAN, T.R.; BINGHAN, H.R.; RADLOFF, H.D. Production response of lactating

cows fed dried versus wet brewer’s grain diets with similar dry matter content.

Journal of Dairy Science, v.86, p.2914-2921, 2003.

FIRKINS, J.L.; HARATINE, D.I.; SYLVESTER, J.T. et al. Lactation performance by

dairy cows fed wet brewers grain or whole cottonseed to replace forage. Journal of

Dairy Science, v.85, p.2662-2668, 2002.

GERON, L.J.V.; ZEOULA, L.M.; ERKEL, J.A. et al. Consumo, digestibilidade dos

nutrientes, produção e composição do leite de vacas alimentadas com resíduo de

cervejaria fermentado. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v.32, p.69-76, 2010.

GERON, L.J.V.; ZEOULA, L.M.; BRANCO, A.F. et al. Caracterização, fracionamento

proteico, degradabilidade ruminal e digestibilidade in vitro da matéria seca e

proteína bruta do resíduo de cervejaria úmido e fermentado. Acta Scientiarum

Animal Science, v.29, p.291-299, 2007.

GERON, L.J.V.; ZEOULA, L.M.; ERKEL, J.A. et al. Coeficiente de digestibilidade e

características ruminais de bovinos alimentados com rações contendo resíduo de

cervejaria fermentado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p.1685-1695, 2008.

GILAVERTE, S.; SUSIN, I.; PIRES, A.V. et al. Digestibilidade da dieta, parâmetros

ruminais e desempenho de ovinos Santa Inês alimentados com polpa cítrica

peletizada e resíduo úmido de cervejaria. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40,

p.639-647, 2011.

GONZÁLEZ, F.H.D. Composição bioquímica do leite e hormônios da lactação. In:

GONZÁLEZ, F.H.D.; DURR, J.W.; FONTANELI, R.S. (Eds) Uso do leite para

monitorar a nutrição e o metabolismo de vacas leiteiras. Porto Alegre: 2001,

p.5-22.

130

JOHNSON, C.O.L.E.; HUBER, J.T.; KING, K.J. Storage and utilization of wet brewers

grains in diets for lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v.70, p.98-107,

1987.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION- ISO. Animal

and Vegetable Fats and Oils – Preparation of Methyl Esters of Fatty Acids.

Geneva, Switzerland: Method ISO 5509, 1978.

KOZLOSKI, G.V.; TREVISAN, L.M.; BONNECARRÈRE, L.M. et al. Níveis de fibra

em detergente neutro na dieta de cordeiros: consumo, digestibilidade e fermentação

ruminal. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.58, p.893-

900, 2006.

LAHR, D.A, OTTERBY, D.E., JOHNSON, D.G., et al. Effects of moisture content of

complete diets on feed intake and milk production by cows. Journal Dairy

Science, v.66, p.1891-1900, 1983.

LENG, R.A. Factors affecting the utilization of “poor-quality” forages by ruminants

particularly under tropical conditions. Nutrition Research Reviews, v.3, p.277-

303, 1990.

LICITRA, G.; HERNANDEZ, T.M.; VAN SOEST, P.J. Standardization of procedures

for nitrogen fractionation of ruminant feeds. Animal Feed Science and

Technology, v.57, p.347-358, 1996.

LIMA, F.E.L.; MENEZES, T.N.; TAVARES, M.P. et al. Ácidos graxos e doenças

cardiovasculares: uma revisão. Revista de Nutrição, v.13, p.73-80, 2000.

LIN, H.; BOYSLON, T.D.; CHANG, M.J. et al. Survey of the conjugated linoleic acid

contents of dairy products. Journal of Dairy Science, v.78, p.2358-2365, 1995.

MEHREZ, A.Z.; ØRSKOV, E.R. A study of the artificial fiber bag technique for

determining the digestibility of feeds in the rumen, Journal of Agriculture

Science, v.88, p.645-650, 1977.

MERTENS, D.R. Análise de fibra e sua utilização na avaliação de alimentos e

formulações de rações. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE RUMINANTES.

Anais… Lavras: SBZ, 1992. p.188.

MERTENS, D. R. Physically effective NDF and its use in formulating dairy rations. In:

SIMPÓSIO INTERNACIONAL EM BOVINOCULTURA DE LEITE: NOVOS

CONCEITOS EM NUTRIÇÃO, 2001, Lavras. Anais... Lavras: UFLA-FAEPE,

2001. p. 25-36.

MILLER, T.B.; EL HANG, G.A.; PRATT, G. Evaluation of wisky by product 3.

Effects of calcium supplements on the digestibility and intake of ruminants diet

containing malt distillers grains. Journal of the Science of Food and Agriculture,

v.21, p.19-26, 1970.

MOORE, D.A.; VARGAs, G. BUN and MUN: urea nitrogen testing in dairy cattle.

Compendium Continuing Education Practicing Veterinary, v.18, p.712-721,

1996.

MOREIRA, A.L.; PEREIRA, O.G.; GARCIA, R. et al. Produção de leite, consumo e

digestibilidade aparente dos nutrientes, pH e concentração de amônia ruminal em

vacas lactantes recebendo rações contendo silagem de milho e fenos de alfafa e de

131

capim-coastcross. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30 (Supl.1), p.1089-1098,

2001.

MOULD, F.L.; ØRSKOV, E.R.; MANNS, O. Associative effects of mixed feeds. I.

Effects of type and level of supplementation and the influence of the rumen pH on

cellulolysis in vivo and dry matter digestion of various roughages. Animal Feed

Science and Technology, v.10, p.15-30, 1983.

MUCK, R.E. factors influencing silage quality and their implications for management.

Journal of Dairy Science, v.71, p.2992-3002, 1988.

NAGARAJA, T. G.; NEWBOLD, C. J.; Van NEVEL, C. J. et al. Manipulation of

ruminal fermentation. In: HOBSON, P.N. STEWART, C.S. (Ed.) The rumen

microbial ecosystem, 2.ed. Blackie Academic & Professional, 1997, p. 523-632.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of beef cattle.

7.ed. Washington, D.C.: National Academy Press, 1996. 232p.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC.Nutrient Requirements of Dairy

Cattle.Washington, D.C., 2001. 381p.

O’DONNELL-MEGARO, A.M.; CAPPER, J.L.; WEISS, W.P. Effect of linoleico acid

dietary vitamin E supplementation on sustained conjugated linoleico acid

production in milk fat from dairy cows. Journal of Dairy Science, v.95, p. 7299-

7307, 2012.

PALMQUIST, D.L. Suplementação de lipídios para vacas em lactação. In: SIMPÓSIO

SOBRE NUTRIÇÃO DE RUMINANTES, 6, 1989, Piracicaba. Anais...Piracicaba:

FEALQ, 1989. p.11-25.

PHIPPS, R.H.; SUTTON, J.D.; JONES, B.A. Forage mixtures for day cows: the effect

on dry-matter intake and milk production of incorporating either fermented or urea-

treated whole-crop wheat, brewer’s grain, fodder beet or maize silage into diets

based on grass silage. Animal Science, v.61, p.491-496, 1995.

PIMENTEL GOMES, F.; GARCIA, C. H. Estatística aplicada a experimentos

agronômicos e florestais: exposição com exemplos e orientações para uso de

aplicativos. 11 ed., FEALQ, Piracicaba, 2002. 309p.

PIMENTEL GOMES, F.P. Curso de Estatística Experimental. 15 ed., FEALQ,

Piracicaba, 2009. 451p.

PLAYNE, M.J.; McDONALD, P. The buffering constituents of herbage and of silage.

Journal of the Science of Food and Agriculture, v.17, p.264-268, 1966.

POLAN, C.E.; HERRINGTON, W.A.; WARK, W.A. et al. Milk production response to

diets supplemented with dried grains, wet brewers grains, or soybean meal.

Journal of Dairy Science, v.68, p.2016-2026, 1985.

RICHARDSON, L.F.; RAUN, A.P.; POTTER, E.L. et al. Effect of monensin on

ruminal fermentation in vitro and in vivo. Journal of Animal Science, v.58, p.194-

202, 1984.

ROGERS, J. A.; CONRAD, H. R.; DEHORITY, B. A. Microbial numbers, rumen

fermentation and nitrogen utilization of steers fed wet or dried brewers´ grains.

Journal of Dairy Science, v. 69, p. 745-753, 1986.

132

RUSSELL, J.B.; O'CONNOR, J.D.; FOX, D.G.et al. A net carbohydrate and protein

system for evaluating cattle diets: I. Ruminal fermentation. Journal of Animal

Science, v.70, p.3551-3561, 1992.

RUSSELL, J.B.; DOMBROWSKI, D.B. Effect of pH on the efficiency of growth by

pure cultures of rumen bacteria in continuous culture. Applied Environmental

Microbiology, v.39, p.604-610, 1980.

SATTER, L.D.; SLYTER, L.L. Effect of ammonia concentration on rumen microbial

protein production in vitro. Britanic of Journal Nutrition, v.32, p.199 – 205,

1974.

SCHWAB, C.G. Amino acid nutrition of the dairy cow: current status. In:

CORNELLNUTRITION CONFERENCE FOR FEED MANUFACTURES, 1996,

Ithaca, NY. Proceedings…. Ithaca, NY: Cornell University, 1996. p.184-198.

SEYMOUR, W.M.; NOCEK, J.E.; SICILIANO-JONES, J. Effects of a colostrums

substitute and of dietary brewer’s yeast on the health and performance of dairy

calves. Journal of Dairy Science, v.78, p.412-420, 1995.

SHRIVER, B.J.; HOOVER, W.H.; SARGENT, J.P. et al. Fermentation of a high

concentrate diet as affected by ruminal pH and digesta flow. Journal of Dairy

Science, v.69, p.413-419, 1986.

SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos.

3.ed. Viçosa: UFV, 2006. 235p.

SIMOPOULOS, A.P. Omega-3 fatty acids in wild plants, nuts and seeds. Asia Pacific

Journal of Clinical Nutrition, v.11, S163-73, 2002.

SKLAN, D.; ASHKENNAZI, R.; BRAUN, A. et al. Fatty acids, calcium soaps of fatty

acids, and cottonseeds fed to high yielding cows. Journal of Dairy Science, v.75,

p.2463-2472, 1992.

SNIFFEN, C.J.; O’CONNOR, J.D.; VAN SOEST, P.J. et al. A net carbohydrate and

protein system for evaluating cattle diets: II. Carbohydrate and protein availability.

Journal of Animal Science, v.70, p.3562-3577, 1992.

TANAKA, K. Occurrence of conjugated linoleic acid in ruminant products and its

physiological functions. Animal Science Journal, v.76, p.291-303, 2005.

VAN NEVEL, C.J.; DEMEYER, D.I. Manipulation of ruminal fermentation. In:

HOBSON, P.N. (Ed.) The ruminal microbial ecosystem. Essex: Elsevier, 1988.

p.387-443.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of of ruminant. Ithaca: Cornell University.

Press, 1994.

VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J. B.; LEWIS,B. A. Methods for dietary fiber,

neutral detergent fiber, and non starch polysaccharides in relation to nutrition.

Journal of Dairy Science, v.74, p.3583-3597, 1991.

VIEIRA, P.F. Efeito do formaldeído na proteção de proteínas e lipídios em rações

para ruminante. Viçosa, MG: UFV, 1980. 98p. Tese (Doutorado em Zootecnia)-

Universidade Federal de Viçosa, 1980.

WEISS, W. Energy prediction equations for ruminant. In: CORNELL NUTRITION

CONFERENCE FOR FEED MANUFACTURERS, 61, 1999, Ithaca.

Proceedings... Ithaca: Cornell University, 1999. p.176-185.

133

WEST, J. W.; ELY, L. O.; MARTIN, S. A. Wet brewers grain for lactin dairy cows

during hot, umid weather. Journal of Dairy Science, v. 77, p. 196-204, 1994.

WITTWER, F. Diagnósticos dos desequilíbrios metabólicos de energia em rebanhos

bovinos In: GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.O.; OSPINA, H. RIBEIRO,

L.A.O. (Eds.) Perfil metabólico em ruminantes: Seu uso em nutrição e doenças

nutricionais. Porto Alegre: Gráfica UFRGS, 2000. p.09-22.

YOUNKER, R. S.; WINLAND, S. D.; FIRKINS, J. L. et al. Effects of replacing forage

fiber or non fiber carbohydrates with dried brewers grains. Journal of Dairy

Science, v.81, p. 2645-2656, 1998.

VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inclusão de aditivos nutrientes com alto teor de matéria seca na ensilagem do

resíduo úmido de cervejaria, para elevar os teores de matéria seca, é vantajosa quando

se utiliza a casca do grão de soja ou milho moído, de forma a aumentar as frações

disponíveis de carboidratos e de proteínas, e diminuir as perdas por efluentes e perdas

de matéria seca e total.

Embora a utilização da casca do grão de soja ou milho moído na ensilagem

aumente a digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes, não se observam respostas

na produção, eficiência ou na composição do leite das vacas, quando comparadas à

silagem do resíduo ensilado sem aditivos.

A silagem do resíduo úmido de cervejaria pode ser utilizada sem prejuízos da

produção leiteira, visto que aumenta a produção de leite até 15% de inclusão. Além

disso, proporciona melhorias na composição do leite, sob o ponto de vista do consumo

humano, em decorrência do aumento das concentrações dos ácidos graxos insaturados e

do ácido linoleico conjugado.