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09/01/18 Planalto intervém e debate sobre "regra de ouro" é adiado Por Edna Simão, Fábio Pupo, Ribamar Oliveira e Fabio Graner | De Brasília O governo suspendeu a discussão em torno de flexibilização da "regra de ouro" das finanças públicas, dispositivo da Constituição que proíbe emissão de dívida para pagamento de despesas correntes, como salários e aposentadorias. A orientação foi dada pelo presidente Michel Temer ontem durante reunião com os ministros Dyogo Oliveira (Planejamento) e Henrique Meirelles (Fazenda), que resumiu a questão, em entrevista coletiva: "Não é discussão adequada para este momento. Previdência é nossa maior prioridade". Temer resolveu intervir na polêmica porque estava preocupado com "o barulho" provocado na semana passada pela proposta de suspensão temporária do dispositivo. O temor do presidente era que o calor da discussão, que chegou a irritar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM- RJ), pudesse contaminar a tramitação da reforma da Previdência, prevista para fevereiro. "Uma briga agora com o Maia enterra de vez a Previdência", disse uma fonte. "A prioridade do governo é essa reforma", acrescentou. Após a orientação de Temer, Meirelles e Dyogo convocaram uma entrevista coletiva sobre o tema. Além de ressaltarem que a "regra de ouro" só será debatida no momento adequado, destacaram que o dispositivo, assim como o teto de gastos, vai ser cumprido neste ano. O atendimento será possível graças à devolução antecipada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de empréstimo de R$ 130 bilhões ao Tesouro Nacional. As preocupações sobre a "regra de ouro", no entanto, permanecem em relação a 2019, já que o Planejamento calcula "buraco" de R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões para cumprir a norma no ano que vem. Até agosto, a equipe econômica terá que encaminhar ao Congresso Nacional uma peça orçamentária BRASIL Valor Econômico para o próximo ano com uma solução para o imbróglio. "Existem discussões e preocupações com os anos futuros, mas achamos que não é discussão adequada para este momento", ressaltou Meirelles. O ministro da Fazenda defendeu que, no momento adequado, haja regras de autoajustamento em caso de rompimento dos limites da "regra de ouro". A proposta é similar ao teto de gasto, que quando estourado aciona medidas como suspensão de concursos e reajustes de salários. O ministro do Planejamento adiantou que o governo estudará juridicamente a possibilidade de mandar o Orçamento de 2019 com um crédito extraordinário para cumprir a "regra de ouro". Na avaliação dele, a Constituição não seria clara sobre isso e existiria dúvida quanto à legalidade de usar a ressalva durante a elaboração do Orçamento, ou somente durante sua execução. A dúvida, na verdade, já chegou a ser analisada por estudo técnico

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Page 1: Valor Econômico BRASIL€¦ · de gasto, que quando estourado aciona medidas como suspensão de concursos e reajustes de salários. O ministro do Planejamento adiantou que o governo

09/01/18

Planalto intervém e debate sobre "regra de ouro" é adiado

Por Edna Simão, Fábio Pupo,Ribamar Oliveira e Fabio Graner |De Brasília

O governo suspendeu adiscussão em torno de flexibilizaçãoda "regra de ouro" das finançaspúblicas, dispositivo da Constituiçãoque proíbe emissão de dívida parapagamento de despesas correntes,como salários e aposentadorias. Aorientação foi dada pelo presidenteMichel Temer ontem durante reuniãocom os ministros Dyogo Oliveira(Planejamento) e Henrique Meirelles(Fazenda), que resumiu a questão,em entrevista coletiva: "Não édiscussão adequada para estemomento. Previdência é nossa maiorprioridade".

Temer resolveu intervir napolêmica porque estava preocupadocom "o barulho" provocado nasemana passada pela proposta desuspensão temporária do dispositivo.O temor do presidente era que ocalor da discussão, que chegou airritar o presidente da Câmara dosDeputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pudesse contaminar a

tramitação da reforma daPrevidência, prevista para fevereiro."Uma briga agora com o Maiaenterra de vez a Previdência", disseuma fonte. "A prioridade do governoé essa reforma", acrescentou.

Após a orientação de Temer,Meirelles e Dyogo convocaram umaentrevista coletiva sobre o tema.Além de ressaltarem que a "regra deouro" só será debatida no momentoadequado, destacaram que odispositivo, assim como o teto degastos, vai ser cumprido neste ano.O atendimento será possível graçasà devolução antecipada pelo BancoNacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) deempréstimo de R$ 130 bilhões aoTesouro Nacional.

As preocupações sobre a "regrade ouro", no entanto, permanecemem relação a 2019, já que oPlanejamento calcula "buraco" de R$150 bilhões a R$ 200 bilhões paracumprir a norma no ano que vem.Até agosto, a equipe econômica teráque encaminhar ao CongressoNacional uma peça orçamentária

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para o próximo ano com umasolução para o imbróglio. "Existemdiscussões e preocupações com osanos futuros, mas achamos que nãoé discussão adequada para estemomento", ressaltou Meirelles.

O ministro da Fazenda defendeuque, no momento adequado, hajaregras de autoajustamento em casode rompimento dos limites da "regrade ouro". A proposta é similar ao tetode gasto, que quando estouradoaciona medidas como suspensão deconcursos e reajustes de salários.

O ministro do Planejamentoadiantou que o governo estudarájuridicamente a possibilidade demandar o Orçamento de 2019 comum crédito extraordinário paracumprir a "regra de ouro". Naavaliação dele, a Constituição nãoseria clara sobre isso e existiriadúvida quanto à legalidade de usar aressalva durante a elaboração doOrçamento, ou somente durante suaexecução.

A dúvida, na verdade, já chegoua ser analisada por estudo técnico

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elaborado em dezembro pelaConsultoria de Orçamentos eFiscalização Financeira (Conof), daCâmara dos Deputados. Segundo odocumento, a Constituição indicaque a "regra de ouro" não se aplicasomente à execução da despesa."Conclui-se que a regra de ouro deveser observada antes desse momento- na elaboração e na aprovação dosorçamentos", afirma o estudo. Porisso, o problema pode continuar nasmãos da equipe econômica nesteano.

Dyogo explicou que o governobuscará o cumprimento ou alteraçãoda regra "de forma responsável".Segundo ele, o processo deajustamento das contas públicasdeve continuar. "Vamos buscar ocumprimento da regra de ouro, ousua alteração, de uma formaextremamente responsável e

coerente com o processo decontenção de despesas eajustamento das contas públicas, quetem produzido resultados muitoimportantes de redução de risco-país, de juros e de inflação. Tudo queestá acontecendo na economiabrasileira é resultado disso e tem queser continuado", disse ele,completando que a "regra de ouro"não vai ser tratada de imediato."Ficará para depois."

Os ministros afirmaram que aprioridade, no momento, é aprovara reforma da Previdência, porquesem ela até mesmo outro dispositivo- o teto de gastos - pode chegar aoponto de ser rediscutido pordificuldade de cumprimento. Mesmoassim, Meirelles disse que asmudanças na concessão debenefícios previdenciários nãogarantiria um cumprimento

automático da "regra de ouro",porque os efeitos da reforma seriaminstalados de forma gradual.

Os ministros procuraram reforçarque o descumprimento da "regra deouro" está diretamente ligado aoselevados déficits da Previdência, oque só demonstra a urgência naaprovação de mudanças nas regrasde concessão de benefícios.

Meirelles ainda foi perguntadosobre as incertezas das contaspúblicas diante de agências declassificação de risco. Ele afirmouque o governo está "tentandoviabilizar o cumprimento de todos ositens" da legislação. "O que estamosdiscutindo é agora uma atualizaçãono sentido de garantir asustentabilidade fiscal."

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Teto para o gasto público é averdadeira âncora fiscal do governo

Por Ribamar Oliveira | Brasília

Independentemente da existênciaou não da chamada "regra de ouro",o cumprimento do teto de gastosimpõe o controle das despesas daUnião pelo governo e garante aredução do endividamento público.A Emenda Constitucional 95, quecriou o limite para o gasto, prevê,inclusive, duras medidas de ajuste seo teto for rompido.

Assim, o teto de gastos passou aser a verdadeira âncora fiscal dogoverno brasileiro. Ele garante queas despesas orçamentáriasaumentem apenas pela inflação. Como crescimento positivo da economia,os gastos da União cairão emproporção do Produto Interno Bruto(PIB). Enquanto o teto existir, a"regra de ouro" será inócua.

Para que ela seja cumprida nofuturo, no entanto, o governo precisarespeitar o limite para as despesas eas metas fiscais estabelecidas na Leide Diretrizes Orçamentárias (LDO).O teto e as metas fiscais é que

levarão o Orçamento da União aoequilíbrio e ao controle doendividamento público.

Em entrevista ontem, juntamentecom o ministro da Fazenda, HenriqueMeirelles, o ministro doPlanejamento, Dyogo Oliveira, deumais ou menos este recado, usandooutras palavras. "A suspensãotemporária da 'regra de ouro' não vaiaumentar ou diminuir as despesas",explicou. "Nem piora a meta fiscal[que prevê a realização de umresultado primário anual]. "

Dyogo observou que os déficitsprimários que a União tem registradodesde 2014 "são criados pelasdespesas correntes e não pelosinvestimentos". Ou seja, o que estáaumentando o endividamento são asdespesas correntes e não oinvestimento, ao contrário do quedetermina a "regra de ouro". Elaestabelece que a dívida só podecrescer para pagar investimentos,inversões financeiras e amortizaçõesdo endividamento anterior.

O importante do ponto de vista

fiscal, disse Meirelles, é que oCongresso aprove as medidas decontrole das despesas, como areforma da Previdência. "Docontrário, daqui a pouco estaremosdiscutindo a mudança no teto degastos", disse o ministro da Fazenda."Não este governo, mas os futuros."

Com a União registrando déficitelevados nos últimos anos, a "regrade ouro" só foi cumprida com o usode artifícios contábeis. Pelametodologia usada pela Fazenda, osrecursos de emissão de títulosarrecadados em exercíciosanteriores, e não aplicados emdespesas no exercício atual sãoconsiderados na apuração da "regrade ouro".

Outra fonte de recursos paracumprir a "regra de ouro" foi oresultado contábil positivo registradopelo Banco Central, principalmentecom a desvalorização do real, que étransferido ao Tesouro. Também foifundamental o retorno dosempréstimos feitos pelo Tesouro aosbancos públicos, como o BNDES.O problema é que essas fontes

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secaram.

Para cumprir a "regra de ouro" em2019, o governo teria que cortarentre R$ 150 bilhões e R$ 200bilhões nas despesas, informou oministro do Planejamento. "Isto éimpossível", disse Meirelles, queestava ao lado de Dyogo. Lembrouque as despesas discricionárias(aquelas que o governo não estáimpedido de cortar pela legislação)estão previstas em cerca de R$ 120bilhões para este ano. Para cortar deR$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões,seria necessário parar todo o Estadobrasileiro.

Assim, o Congresso terá queaprovar a suspensão da "regra deouro" antes da elaboração daproposta orçamentária para 2019,

que será concluída no dia 31 deagosto.

Nada é mais significativo paraexpressar o teto de gasto como anova âncora fiscal do que a decisãodo Congresso, que, ao revisar aprevisão de receita da União em R$5 bilhões, por causa de umaestimativa de maior crescimento daeconomia neste ano, não utilizou odinheiro extra para aumentar asdespesas. Usou parte dos recursospara melhorar a meta fiscal de 2018,reduzindo a previsão de déficitprimário de R$ 159 bilhões para R$157 bilhões. Outra parte foi utilizadapara aumentar a verba do Fundeb,que está fora do teto de gastos.Mesmo assim, o presidente MichelTemer vetou o aumento.

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BPC segue em alta e pode terbatido recorde em 2017

Por Edna Simão | De Brasília

As despesas do governo federalcom o Benefício de PrestaçãoContinuada (BPC) vão continuarcrescendo e devem encerrar o anode 2017 com um novo recorde. Noacumulado de janeiro a novembrodo ano passado, esse gasto somouR$ 49,778 bilhões, o que representaum aumento de 5,8% ante mesmoperíodo de 2016. Os números,divulgados pelo Tesouro Nacional,estão corrigidos pelo Índice dePreços ao Consumidor Amplo(IPCA) de novembro de 2017. Aprincipal justificativa para essaelevação é a indexação ao saláriomínimo.

Somente de 2010 até openúltimo mês de 2017, odesembolso do governo compagamento do BPC registrou umcrescimento real de 40,77%.Apenas em novembro, segundodados do Ministério doDesenvolvimento Social, mais de 4,5milhões de pessoas receberam essebenefício, sendo dois milhões sãoidosos e 2,5 milhões são pessoascom deficiência.

O governo tentou conter oacelerado ritmo de aumento desse

gasto propondo mudanças nas regrasde concessão do benefício naproposta de reforma da PrevidênciaSocial. Porém, para reduzir asresistências, acabou retirandoalterações do texto. A ideia da equipeeconômica era desvincular obenefício do salário mínimo eaumentar a idade exigida dos atuais65 anos para 70 anos. Com isso,haveria uma equiparação com aspráticas internacionais. Por exemplo,nos maioria dos países daOrganização para a Cooperação eDesenvolvimento Econômico(OCDE), esse tipo de auxílio não éatrelado ao salário mínimo.

A proposta de aumento da idadepara solicitação do benefício visavadar um tratamento diferenciado entreas pessoas que contribuem para aprevidência e as que não, que é ocaso do BPC, pago mensalmentepara idosos com 65 anos ou mais epessoas portadoras de deficiênciaincapacitadas para o trabalho, comrenda per capita familiar inferior a 1/4 do salário mínimo. A proposta deReforma da Previdência, que ogoverno espera que seja votada emfevereiro na Câmara, fixa uma idademínima de aposentadoria de 62 anospara mulheres e 65 anos parahomens, com equiparação de regrasentre servidor público e privado.

A vinculação do benefício aosalário mínimo é a principaljustificativa dada por técnicos dogoverno para a elevação aceleradada despesa com o BPC. Neste ano,a pressão vai continuar. O valor dosalário mínimo saltou de R$ 937 em2017 para R$ 954 em 2018, umreajuste de 1,81%.

Para tentar diminuir esses gastoso governo está fazendo um pente-fino no BPC, assim como o auxílio-doença e aposentadoria porinvalidez. O foco era o benefícioconcedido judicialmente. No casodo BPC, os idosos acima de 65 anose as pessoas com deficiência devemfazer o cadastramento no CadastroÚnico para Programas Sociais doGoverno Federal até dezembro desteano, segundo Portaria Interministerialn° 5/2017, publicada no final do ano.

A previsão inicial do governo erauma economia de R$ 800 milhõesao ano com a inscrição dosrecebedores de benefícios sociais emum cadastro único e com aregulamentação da revisão bianual debenefícios sociais. Esse retorno, noentanto, só será obtido ao fim de umprocesso que pode levar até doisanos. A revisão desses benefíciosnão era feita desde 2008 e passaráa ser regularizada.

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PIS/Pasep de cotistas com mais de60 anos será pago a partir do dia 24

Por Fábio Pupo | De Brasília

O pagamento de cotas do PIS/Pasep para pessoas com mais de 60anos terá início no dia 24 de janeiro,informou o Ministério doPlanejamento. A nova etapa desaques abrange cerca de 4,5 milhõesde cotistas com saque total de R$7,8 bilhões.

O crédito automático em contapara os beneficiários com contacorrente ou poupança individual naCaixa e Banco do Brasil será feitono dia 22 à noite. O Pasep beneficia1,8 milhão de cotistas com o valortotal de R$ 3,2 bilhões. O PISatende 2,7 milhões de pessoas comsaque total de R$ 4,6 bilhões.

Essa nova etapa de saquesocorreu após MP publicada pelogoverno no fim de 2017 que reduziua idade mínima para o saque dascotas do PIS/Pasep para 60 anos,tanto para homens quanto mulheres.Segundo o Planejamento, a iniciativatem como objetivo ativar ocomércio, a indústria e os serviços,além de gerar empregos.

Tem direito às cotas otrabalhador cadastrado no fundoentre 1971 e 4 de outubro de 1988e que ainda não sacou o saldo totalde cotas na conta individual departicipação. Homens e mulheres apartir de 60 anos têm direito aosaque dos dois programas.

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'Minha Casa' entregará maisunidades neste ano, diz ministro

Por André Ramalho | Do Rio

O governo pretende aumentar em2018 a entrega de unidadeshabitacionais do programa MinhaCasa, Minha Vida. O ministro dasCidades, Alexandre Baldy (PP-GO),disse ontem que, independentementede motivações eleitorais, uma "força-tarefa" tem sido montada paraacelerar as obras. A expectativa éentregar cerca de 75 mil unidadesainda no primeiro trimestre. Oorçamento do ministério para oprograma habitacional em 2018 é deR$ 70 bilhões.

Ontem, Baldy se reuniu, no Rio,com o presidente da Câmara dosDeputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o governador LuizFernando Pezão (MDB) e liderançaspolíticas fluminenses para tratar daretomada das obras de umempreendimento em Itaboraí, naregião metropolitana.

"Acredito que esse número [deunidades entregues em 2018] seja

maior que em 2017, pelo fato deestarmos retomando muitas obras",afirmou o ministro, sem mencionarquantas unidades foram entregues noano passado.

Ele argumenta que, em 2017, ogoverno deixou de investir cerca deR$ 24 bilhões no programa, devidoaos problemas de capitalização daCaixa Econômica Federal, e que esteano pretende intensificar, com o"menor esforço orçamentáriofinanceiro possível", a retomada daconstrução de cerca de 70 milunidades do programa habitacional,que se encontram "paralisadas oucom andamento em ritmo lento".

"Estamos fazendo uma força-tarefa de forma que a gente possanão só manter a construção do MinhaCasa, Minha Vida, mas tambémretomar as obras que estãoparalisadas, que estão para serentregues, no Rio de Janeiro e noBrasil", disse.

Questionado sobre se aceleridade do governo nas entregas

de novas moradias teria relação comas eleições deste ano, Baldy negou."Há muito tempo o governo vemtrabalhando duro e elegendo osprogramas sociais entre suasprioridades."

O ministro disse ter firmado umtermo de compromisso com aCedae, o Banco do Brasil, governodo Estado do Rio e a Prefeitura deItaboraí, para que seja encontradauma "solução definitiva" para aconclusão de um empreendimento de3 mil unidades no município.

Segundo Baldy, as obras docomplexo estão praticamenteconcluídas, mas ainda faltaminvestimentos relacionados aosistema de abastecimento de água daregião, assumidos e não cumpridospela prefeitura local. Ainda de acordoele, o Ministério das Cidades secomprometeu a investir R$ 33milhões no projeto de saneamento,que atenderia 40 mil moradores daregião.

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Mudança adiada

Governo decide deixardiscussão sobre regra fiscal paradepois da reforma da Previdência

Martha Beck, Eliane Oliveira eLetícia Fernandes

-Brasília- Diante da repercussãonegativa provocada pela notícia deque a equipe econômica estariaestudando uma flexibilização da regrade ouro — que proíbe o governode se endividar para pagar despesascorrentes, como folha de salários —o presidente Michel Temer decidiuadiar o debate. Logo pela manhã,ele convocou a equipe econômica emandou os ministros da Fazenda,

Henrique Meirelles, e doPlanejamento, Dyogo Oliveira,darem dois recados ao mercado. Oprimeiro deles é que nada serádiscutido antes da reforma daPrevidência. E o segundo é quequalquer mudança não envolveráuma simples suspensão da regra deouro. Será preciso criar ummecanismo de ajuste automático nosgastos públicos quando a norma, queestá prevista na Constituição, fordescumprida. Com isso, o Paláciodo Planalto espera acalmarinvestidores que ficarampreocupados com a gestão dascontas públicas.

— A orientação do presidenteconfirma aquilo que já tínhamosadiantado, que não deve haverflexibilização ou suspensão pura esimples. O que podemos estudar, nomomento adequado, são regras deautoajustamento, como, porexemplo, o que já foi colocado peloteto de gastos. Acionamentoautomático de mecanismos ajustáveis— disse Meirelles em entrevistaconvocada depois da reunião com opresidente.

Ele destacou que não há qualquerrisco de descumprimento da regra em2018 e que o foco agora tem queser de trabalho pela aprovação da

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reforma da Previdência. Já o ministrodo Planejamento destacou que adificuldade do governo para honrara regra ocorre justamente porque opaís tem despesas obrigatórias muitoelevadas, especialmente com opagamento de aposentadorias.

MAL-ESTAR ENTREMEIRELLES E MAIA

A Constituição prevê que asoperações de crédito do governonão podem ser maiores que asdespesas com investimentos. Issoserve justamente para que o governonão emita dívida para pagar despesascorrentes. O problema é que a crisefiscal gerou um quadro em que ogoverno tem endividamento e gastoscorrentes elevados e investimentosbaixos.

— O que achamos é que (mudara regra de ouro) não é uma discussãoadequada para este momento. Agora,nós estamos focados na Previdência— disse Meirelles.

Oliveira lembrou que a discussãodeve ser retomada este ano porcausa do Orçamento de 2019: — Oque afeta a regra de ouro é o fato deque o nosso déficit fiscal é geradopelo déficit da Previdência. O quetemos que fazer é tratar da maiordespesa do governo, que é adespesa com Previdência. É isso queajuda a resolver o problema da regrade ouro.

A reunião de Temer com a equipeeconômica também foi uma forma decolocar panos quentes sobre o mal-estar que a discussão fiscal gerouentre Meirelles e o presidente daCâmara dos Deputados, Rodrigo

Maia (DEM-RJ), ambosinteressados em disputar as eleiçõespara presidente. Na semanapassada, a equipe econômica chegoua começar a discutir ajustes na regrade ouro na casa de Maia com odeputado Pedro Paulo (PMDB-RJ),que trabalha numa Proposta deEmenda à Constituição (PEC) parareduzir o engessamento doOrçamento no país.

No entanto, logo em seguida,Meirelles disse que o ideal não seriaflexibilizar a regra. Maia interpretouisso como uma tentativa da equipeeconômica de jogar o assunto nocolo do Congresso e afirmoupublicamente que, diante disso, nãocolocaria nenhuma alteração naregra de ouro em votação noCongresso.

Durante a entrevista ontem,Meirelles tentou afastar a ideia deque a equipe econômica está emconflito com o Congresso: — Nãome parece que existam divergências.(...) A definição da pauta é dopresidente da Câmara.

Já Maia, perguntado se estariaorientando Pedro Paulo a não incluira regra de ouro em sua PEC, afirmouque o tema jamais esteve naproposta de emenda à Constituição:— Nunca esteve. Foi coisa daequipe econômica. Como eles estãodivididos, vamos tratar da PEC dasdespesas obrigatórias.

DESEQUILÍBRIO DEATÉ R$ 200 BI EM 2019

O ministro do Planejamentoexplicou que o governo precisadebater a regra de ouro porque ela

corre o risco de ser descumprida apartir de 2019. Segundo Oliveira, odesequilíbrio previsto no Orçamentodo ano que vem está estimado entreR$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões.Sem algum tipo de ajuste, o governoteria que encaminhar projeto de leiao Congresso prevendo um corte degastos nesse valor, sendo que isso éimpossível. As despesas passíveis decontingenciamento (discricionárias)estão pouco acima de R$ 100bilhões.

— Se você cortar toda a despesadiscricionária do governo, ela é umpouco maior que R$ 100 bilhões. Sea gente cortasse tudo, ainda assim,não seria a solução — disse Oliveira.

Meirelles e Dyogo asseguraramque não há risco de descumprimentoda regra de ouro em 2018, pois ogoverno já negociou com o BNDESa devolução de R$ 130 bilhões aoTesouro. Esses recursos serãousados para reduzir o rombo nascontas públicas.

Diante do risco para o ano quevem, Temer pediu à equipeeconômica que encontre alternativaspara quando for enviado aoCongresso o Orçamento de 2019,o que tem de acontecer em agosto.Segundo interlocutores do Planalto,embora a equipe econômica tenhacomeçado a debater o assunto comPedro Paulo, Temer ainda não haviase posicionado sobre o assunto.

— Essa especulação sobre aregra de ouro começou sem queTemer tivesse fechado uma posição.Por conta disso, ele chamou umareunião e pediu que a equipeeconômica estude uma alternativa

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para cumprir o Orçamento de 2019,mas sem flexibilizar a regra — disseum aliado do presidente.

Apesar do otimismo da equipeeconômica em relação aofechamento das contas de 2018,Pedro Paulo alertou que o adiamentodo debate sobre a regra de ouro vaiobrigar o governo a tomar medidasamargas ainda este ano. Segundo ele,não haverá problemas apenas em2019.

— O ano de 2017 foi fechadocom muita dificuldade, e este ano nãoserá diferente. Do total doOrçamento, só 9,5% são despesasdiscricionárias, o resto é obrigatório.E não adianta dizer que o problemaestá resolvido porque o BNDES vairepassar R$ 130 bilhões ao Tesouro.Há um furo de R$ 182 bilhões —afirmou o deputado.

Meirelles também disse ontemque, apesar de o país ter três âncorasfiscais (teto de gastos, meta deresultado primário e regra de ouro),não se pode abrir mão de nenhumadelas: — As três âncoras sãoimportantes. A regra de ourobasicamente estabelece limites parao crescimento da dívida, mas não éespecífica em relação às despesas.Para isso, existe o teto. E a meta deprimário é um resultado para o ano.

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Corpo a corpo : Margarida Gutierrez

"Sem ajuste, 2019 pode terapagão de serviço público"

Para especialista, debate sobremedida só reforça urgência de votaralterações na aposentadoria

Marcello Corrêa

• Como vê a mudança dogoverno em relação àflexibilização da regra de ouro?

O que se discute é que não fazsentido flexibilizar a regra de ourosem punição. A ideia do Meirelles éflexibilizar a regra de ouro e, cadavez que ela fosse flexibilizada,despesas obrigatórias deixariam deser obrigatórias. Não sei até queponto é boa, mas talvez seja viável.O risco dessa proposta é dizer quevai se comprometer e, na hora,acabar não conseguindo cumprir.Acontece a mesma coisa com a PECdo teto de gastos, que pode não sercumprida em 2019. É importantelembrar que pode até flexibilizar aregra como uma maneira de garantirque a coisa não vai explodir, mas temo gasto previdenciário, que é umabomba-relógio.

• A devolução dos R$ 130bilhões do BNDES resolve oproblema?

Vai dar uma folga, porque issopermite abater dívidas e com issoganhar fôlego para a regra de ouro.É uma receita que financia umadespesa. Mas depois não tem. Oproblema começa em 2019.

• Que alternativas o governotem sem flexibilizar a regra?

A alternativa é fazer uso do caixaúnico do Tesouro, o que o governojá tem feito. Uma parte dessa contaé dinheiro carimbado, mas uma partesignificativa é formada por recursosque o governo pode usar para abatera dívida pública em determinadosmomentos e eventualmente pagardespesas correntes. Se o governoestá tão preocupado com 2019 equer flexibilizar a regra de ouro éporque, provavelmente, os recursosdisponíveis hoje não serão suficientespara pagar a despesa corrente.

• Se esses recursos tambémestão no fim, o que pode acontecerem 2019?

Sem isso, pode ter apagão dosserviços públicos e começar a nãopagar aposentados, por exemplo,como a gente já começou a ver nosestados. (A prioridade) é cumprir aregra de ouro, que está naConstituição. Se não tem dinheiro,não tem.

• Como esse debate afeta aquestão da reforma daPrevidência?

Coloca mais premência sobre anecessidade de votar a reforma. Nãoé a reforma do Temer, é dasociedade. É impossível o país viverassim. No Brasil, temos regrasprevidenciárias que são um pontofora da curva no mundo.

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Para sair do impasse

O governo quer a suspensão daregra de ouro junto com um conjuntode medidas: a possibilidade de usarrecursos de superávits passados queestão na conta única, mudar o artigoconstitucional que dá aos servidoresdireito a aumento salarial todo ano,reduzir carga horária e salário deservidor. Para o governo, 2019 é oano que já começou. Ele tem quepreparar o Orçamento e há umimpasse.

Quando o ministro HenriqueMeirelles fala em adiar a discussãoé porque houve forte reação. Masno governo admite-se que dá parafechar as contas de 2018, mas nãodá para fazer o Orçamento dopróximo ano. A ideia é apresentarum conjunto de propostas junto coma suspensão da regra de ouro.

Algumas delas: na conta únicaestão receitas de impostos quetinham destinação específica, nãousadas nos anos em que houvesuperávit. Pela lei, essa receita sópode ser usada naquele objetivopara a qual estava destinada. A Cide,por exemplo, que é para investimentoem estradas. O governo quer aliberdade de remanejar essesrecursos. Outra mudança é no artigoda Constituição que dá aofuncionário público o direito areajuste anual. O governo quer nãoreajustar durante a crise. A terceiramedida seria a possibilidade dereduzir horas trabalhadas deservidores de áreas não essenciais

para diminuir os salários. O ministroTeori Zavascki morreu antes dejulgar uma Ação Direta deInconstitucionalidade (Adin) noSupremo sobre isso.

O que se diz no governo é que acrise é maior e mais ampla do queeles estão conseguindo explicar.Admitem que comunicaram mal aideia de quebrar a regra de ouro, queestabelece que só pode haveraumento de endividamento namesma proporção dos investimentos.A ideia é reapresentar a propostajunto com outras mudançasconstitucionais.

Pela lei, a regra de ouro secumpre duas vezes: quando oPlanejamento faz o Orçamento e oentrega em agosto ao Congresso e,depois, quando o Tesouro prova aofim do ano que não quebrou a regra.Portanto, o impasse de 2019 érealidade agora. Teria que haver umajuste que os técnicos calculam entreR$ 180 bilhões e R$ 200 bilhões numano, 3% do PIB. Um ajuste"impossível"

O grande risco seria o Congressose enganar com o curto prazo. Deimediato, há notícias boas: o déficitde 2017 ficará menor em R$ 30bilhões, como eu já escrevi aqui, eem 2018 haverá o repasse de R$130 bi do BNDES para o Tesouro,como informou ontem o "Valor"! Aconfusão é o ano que vem, por issoo que se diz no governo é que as

boas notícias de curto prazo têm queser vistas como uma janela deoportunidade:

— A ideia de que se poderesolver o problema aprovandocrédito suplementar, como foisugerida por alguns economistas, éequivocada. Esse recurso é para serusado quando uma despesa nãoprevista aconteceu, uma catástrofe,por exemplo, e o gasto real que ogoverno terá com uma rubrica émaior do que a orçada. Mas ogoverno não pode fazer umOrçamento com despesasdeliberadamente subestimadas para,no ano seguinte, pedir um créditosuplementar ao Congresso.

Quem olha a série do BancoCentral dos resultados do Tesourovê que o Brasil, de 1991 até 2014,teve apenas um pequeno déficitprimário, de 0,25% do PIB em 1997.No começo do segundo mandato dogoverno Fernando Henrique, elelevou o resultado para superávitatravés de um aumento de impostos.As receitas líquidas foram de 14%do PIB para 18%. E as despesassubiram de 14% para 16%.Atualmente seria difícil fazer o ajusteatravés do aumento de cargatributária. Seria impossível tambémcortar porque a rigidez doOrçamento aumentou em vez dediminuir. Agora é de 92% dos gastos.

— A situação é trágica. O paísem 2020 entrará no sétimo ano de

MIRIAM LEITÃOO GLOBO

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09/01/18

superávit. Não se deveria permitirque chegasse nesse ponto, maschegou. O investimento público daUnião em 2014 foi 1,4% do PIB. Em2016 foi 1%, ou, R$ 65 bilhões. Em2017 deve fechar em 0,6% do PIB,entre R$ 40 bi e R$ 45 bi. Mesmose fosse a zero não seria suficiente.Hoje para dizer a verdadeprecisaríamos de um ajusteimpossível, de 2% do PIB — admiteum alto funcionário da áreaeconômica.

Esse tom dramático se pode ouvirde vários integrantes da equipe. Opaís chegou num impasse fiscal. Elesdizem que é preciso agir agora parater Orçamento para 2019, ano emque o governo será outro.

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09/01/18 EDITORIALFOLHA DE SÃO PAULO

Sem fim, sem fins

A Zona Franca de Manaus é o exemplo de almanaquede como programas de benefício tributário se perpetuame se agigantam, sob os mais variados pretextos, à medidaque interesses privados e políticos passam a prevalecersobre os objetivos originais da medida.

Criada em 1967 pelo regime militar, a ZFMproporcionaria incentivos para o desenvolvimentoeconômico da Amazônia. Seu prazo era de três décadas;no ano passado, ela completou meio século de vida; apóssucessivas alterações, sua vigência está estabelecida naConstituição até o longínquo 2073.

Metas de fomento industrial ou regional poucoimportam a esta altura. Pode-se apostar que, em qualquercenário futuro, um poderoso lobby empresarial eparlamentar buscará nova prorrogação das benesses.

Apenas neste ano, o governo abrirá mão de R$ 283bilhões em receita tributária –muito, diante daarrecadação efetiva esperada de R$ 1,3 trilhão. Domontante, 84% dizem respeito a benefícios sem data paraacabar. Os mais de R$ 20 bilhões referentes à ZonaFranca, ironicamente, estão em minoria.

Programas do gênero não raro despertam simpatiaque obscurece suas distorções. O maior deles, o Simples,começou como alívio para empresas minúsculas; hojeabarca aquelas com faturamento anual até R$ 4,8milhões, teto regularmente elevado pelo Congresso.

Não é difícil entender a permissividade: reduzirimpostos rende dividendos políticos imediatos paragovernantes e congressistas, a custo opaco –ainda quereal– para o restante dos contribuintes.

Foi preciso o Orçamento federal chegar ao

esgotamento para que o tema ganhasse relevo na políticaeconômica. Conforme noticiou esta Folha, umlevantamento do Tribunal de Contas da União constatouque 53% dos benefícios nem mesmo estão vinculados aum órgão responsável pelo monitoramento de seusresultados.

Rever o alcance de tais iniciativas e, quando for ocaso, fixar prazos para seu encerramento são modosmenos traumáticos de reforçar as contas públicas do que,por exemplo, instituir novos tributos ou paralisarinvestimentos.

Não se trata de demonizar a renúncia fiscal, muitasvezes justificável, nem de imaginar que seus valorespossam ser convertidos de imediato em arrecadação.

Irracional e injusto é que negócios de viabilidadeduvidosa prosperem à sombra do Estado sem vantagemsocial correspondente.

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Nos últimos 2 anos, estataiscustaram R$ 40 bi à União

Entre as 149 empresas federais,18 não sobrevivem sem dinheirodo Estado

As 131 que conseguem sesustentar, não raro, buscamcapitalização, mas não chegam apagar dividendos

FLAVIA LIMA - DE SÃOPAULO

Nos últimos dois anos, o governodirecionou mais de R$ 40 bilhõespara estatais federais. O raio X daestrutura das empresas foi feito peloIFI (Instituição Fiscal Independente),do Senado, e inclui 149 empresas:18 financeiramente dependentes daUnião e 131 independentes.

Segundo o levantamento, areceita das empresas dependentesfoi de R$ 16,8 bilhões em 2016.Deste total, mais de 90% vieram doOrçamento da União. SegundoJosué Pellegrini, do IFI, não devemter havido mudanças significativas,com os números repetindo-se em2017.

Entre as independentes, emborarecebam este nome porque têm maisautonomia em relação ao governopara se manter, o fluxo de aportesfederais foi de R$ 6 bilhões em 2016e outros R$ 2,4 bilhões previstos para2017. Desta forma, o total recebidopelas 149 empresas deve ter passadode R$ 40 bilhões nos últimos doisanos.

É preciso olhar o universo deempresas com cuidado porque ele êdiverso e inclui casos muitodiferentes. Inclui a Valec, estataldependente que cuida de ferrovias eque teve ex-diretores envolvidos emdesvios em obras; e a Infraero,estatal independente que administraaeroportos, mas que, sozinha,recebeu R$ 3,4 bilhões em aportesdo governo nos últimos dois anos.

Mas também empresas como aEmbrapa, de pesquisa agropecuária,conhecida por sua excelência eminovação. "Nossa proposta foi foijogar um pouco de luz nas estatais",diz Pellegrini, autor do estudo. Eleafirma que a organização de

atividades de interesse público soba forma de empresas sugerecapacidade de geração própria derecursos— o que acaba nãoocorrendo em muitos casos.

Muitas estatais — dependentesou não — dão prejuízos ao cofrespúblicos.

Entre as estatais dependentescom passivos maiores do que ativos,os casos mais contundentes são doGHC, rede hospitalar gaúcha, compassivo de R$ 2,7 bilhões, e aEmbrapa, cujo passivo era de R$ 1,3bilhão em 2016.

Entre as independentes, o grupoEletrobras sustenta, de longe, a piorsituação, com patrimônio líquidonegativo de R$ 20,3 bilhões em2016. Os dados são de 2016 porqueos do ano passado ainda não estãodisponíveis. Entre um ano e outro,porém, o quadro não mudou deforma significativa, diz Pellegrini.

SALÁRIOS

MERCADOFOLHA DE SÃO PAULO

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Entre as estatais dependentes dogoverno, os custos com o salário defuncionários passam, em algunscasos, de R$ 20 mil ao mês, sem agarantia de que a maioria ofereçaretorno proporcional ao investimentodemandado do poder público.

Do orçamento total dasdependentes, 86% eram absorvidos,em média, por salários e outrasdespesas correntes e apenas 14%direcionados para investimentos.

Em setembro de 2017, as 18empresas reuniam 74 mil empregados— uma alta anual de 11,4% desde

2011, ano em que o número defuncionários efetivos era de 40,3 mil.

Entre as empresas com maiorautonomia em relação ao governo,o ponto de atenção ê outro: adistribuição de lucros na forma dedividendos, que funcionam comouma contrapartida dessas empresasà União.

Foram R$ 4,8 bilhões emdividendos pagos atê setembro de2017, ante R$ 1,5 bilhão em igualperíodo de 2016. A marca, porém,ainda está muito distante do volumeanual entre R$ 12 bilhões e R$ 28

bilhões desembolsado entre 2008 e2015.

Para Pellegrini, se não existecapacidade de geração de receitaprópria entre as dependentes, seriamelhor incluí-las em outros gastos daadministração direta, como aquelesque o governo tem com ministérios.Entre as independentes, ê precisoavaliar se o Estado precisa mesmoestar presente no setor.

Em nota, o Ministério doPlanejamento disse que não comentadados de terceiros.

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Governo decide suspenderdiscussão sobre ‘regra de ouro’

Para o presidente Temer, êpreciso esperar a reforma daPrevidência; desgaste entreMeirelles e Rodrigo Maia tambémprejudica negociação

GUSTAVO URIBE, DANIELCARVALHO e MAELI PRADO -DE BRASÍLIA

Após atrito da equipe econômicacom a Câmara e em meio àsnegociações da reforma daPrevidência, o presidente MichelTemer desistiu da flexibilizaçãoimediata da chamada regra de ourodo gasto público — que impede aemissão de dívida em volume acimados investimentos.

A decisão, tomada em reuniãonesta segunda-feira (8), podeempurrar para o governo que assumirem 2019, quando o descompassodeve alcançar entre R$ 150 bilhõese R$ 200 bilhões, o ônus dodescumprimento da norma.

O objetivo da regra ê evitar queo Estado se endivide para pagardespesas correntes, como pessoal emanutenção, deixando a conta parafuturos governos. Também punegestores e o presidente pelo crimede responsabilidade, que poderiaresultar em processo deimpeachment.

Uma proposta de emenda à

Constituição com a suspensãotemporária da punição vinha sendodiscutida entre o presidente daCâmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),e o ministro da Fazenda, HenriqueMeirelles. Ambos têm interessedireto no tema, pois são prê-candidatos à Presidência.

No entanto, os dois condutoresda proposta trocaram farpas no finalda semana passada, o que acabouinviabilizando as mudanças.

Meirelles disse ser contra "asuspensão pura e simples" da regra,defendendo no lugar a criação demecanismos automáticos de controlede despesas, como proibição dereajustes salariais e concessão dedesonerações fiscais.

Maia reagiu. Disse que adeclaração do ministro "encerra oassunto" e determinou que odeputado Pedro Paulo (PMDB-RJ),que estava elaborando a proposta,não tratasse mais do tema.

Nesta segunda, como antecipadopela Folha, Temer determinou, emencontro entre ministros palacianose a equipe econômica, que aproposta de flexibilização da regrade ouro só deve ser discutida casofique claro que a reformaprevidenciária não será aprovadaneste ano.

Ele ponderou que o apoio àalteração passaria a mensagem deque o governo não acredita mais nareforma. E orientou os ministrosMeirelles e Dyogo Oliveira(Planejamento) a procuraralternativas para evitar que a regranão seja cumprida.

CRÍTICAS

Nos bastidores, Temer fez críticasàs posturas de Meirelles e de Maiaque, na opinião dele, disputamabertamente o posto de candidatodo governo à Presidência. Após oencontro, Meirelles e Dyogoafirmaram que a discussão da regranão ê "adequada" para o momentoatual.

Por enquanto, segundo eles, aFazenda e o Planejamento estudarãoos aspectos jurídicos de uma brechana lei, que permitiria ao governopagar despesas correntes comoperações de crédito no caso de oCongresso aprovar recursossuplementares.

Neste ano, segundo cálculos doTesouro, o governo precisa de R$184 bilhões para se adequar. "Aorientação do presidente ê que nãodeve haver flexibilização oususpensão pura e simples da regra.O que podemos estudar são regrasde auto ajustamento em caso desuperação do limite", disse Meirelles.

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Saques das cotas do PIS/Pasepcomeçam no próximo dia 24

De São Paulo- Pessoas com maisde 60 anos de idade poderão sacaras cotas do PIS/Pasep a partir dodia 24, conforme calendáriodivulgado pelo Ministério doPlanejamento nesta segunda (8).Segundo a pasta, 4,5 milhões decotistas poderão efetuar o saque deum montante que totaliza R$ 7,8bilhões.

Quem tem conta-corrente oupoupança individual na Caixa e noBanco do Brasil receberá o créditoem conta automaticamente na noitede 22 de janeiro.

A redução da idade mínima parasaque entrou em vigor no sábado,por meio de medida provisóriaeditada pelo presidente MichelTemer. 0 benefício vale para quemfoi cadastrado no PIS/Pasep antesde 4 de outubro de 1988.

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Temer adia mudança na ‘regra de ouro’

Meirelles e Rodrigo Maiadivergem sobre norma que impedeque País emita títulos da dívidapública para bancar despesascorrentes

Depois das críticas em torno dapossibilidade de mudar a regra deouro do Orçamento para evitar seudescumprimento, o governodecidiu adiar as discussões dotema para depois da reforma daPrevidência. Ainda descartouflexibilizar ou suspender a normaconstitucional, considerada vitalpara evitar a explosão da dívidapública.

O ministro da Fazenda,Henrique Meirelles, disse que aorientação do presidente MichelTemer é apresentar uma propostaque crie mecanismos de ajuste nosgastos em caso de violação, masque o assunto será debatido no“momento adequado”. AConstituição hoje prevê quedescumprir a regra de ouro é crimede responsabilidade, passível deimpeachment. A regra de ouroimpede que o País emita títulos dadívida pública para bancardespesas correntes, como saláriose conta de luz.

Meirelles assegurou que anorma será cumprida em 2018 coma devolução de mais recursos peloBNDES (que diminui a

necessidade de endividamento).Mas há um rombo de R$ 150bilhões a R$ 200 bilhões a sercoberto em 2019. Na edição doEstado de ontem, o procurador quedenunciou as pedaladas fiscaisainda no governo da ex-presidenteDilma Rousseff (PT), JulioMarcelo, afirma que abrir mão dachamada regra de ouro é quebrara responsabilidade fiscal e umretrocesso histórico para asfinanças públicas do País.

Ainda não há uma propostaformal para mudar a regra de ouroe prever os mecanismos de ajuste.Além disso, a equipe econômicaestuda alternativas viáveis doponto de vista jurídico parapreencher esse buraco, já que asolução precisa constar no projetode Lei Orçamentária Anual(PLOA) de 2019, que precisa serapresentado até 31 de agosto desteano.

Uma das ideias é apontar naproposta de Orçamento que ogoverno recorrerá, no ano quevem, à única ressalva permitida naregra de ouro: a aprovação decréditos suplementares. Issopermitiria ao governo elevardotações de despesas no ano quevem, e esses gastos seriamfinanciados com operações decrédito sem violar a regra de ouro.

Orçamento.

A dúvida do governo é se esseexpediente pode ser consideradojá na elaboração do Orçamento ousó pode ser acionado durante oexercício de 2019, o que impediriao governo considerá-la naproposta. “O texto constitucionalnão é preciso e há interpretaçõesque apontam nas duas direções”,explica o ministro doPlanejamento, Dyogo Oliveira.

Essa alternativa, porém, podeenfrentar resistências do Tribunalde Constas da União (TCU).Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a corte de contas podedecidir fazer uma análise préviapara dizer se o expediente está deacordo com a lei. O entendimentopreliminar no TCU é de que issopoderia resultar na apresentaçãode um Orçamento com despesas“sabidamente subestimadas”.

O descumprimento da regra deouro em 2019 seriaresponsabilidade do próximopresidente, mas o envio de umPLOA com uma previsão fictíciade despesas e em desacordo coma Constituição é um problema querecairia no colo da atual equipe degoverno. O governo ressaltou quea análise jurídica dessapossibilidade ainda não foiconcluída.

ECONOMIAO ESTADO DE S. PAULO

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Mas a costura alternativa seriaessencial para o caso de oCongresso Nacional não aprovarnenhuma alteração na regra de ouroeste ano. Depois de apoiarinicialmente as discussões, opresidente da Câmara, RodrigoMaia (DEM-RJ), voltou atrás edecidiu abandonar a ideia. “Nãohaverá debate de regra de ouro.Não há uma posição única nogoverno, então, não vale a penadiscutir”, afirmou Maia.

Maia e Meirelles, ambospresidenciáveis, divergiram sobrea forma de mudança na regra deouro. Enquanto o ministro daFazenda defende a criação demecanismos de ajuste nasdespesas, o presidente da Câmarapreferia a suspensão temporária daregra. “Tivemos reunião hoje

(ontem) com o presidente e aorientação dele confirma a nossaopinião de que não deve haver umaflexibilização ou uma suspensãopura e simples da norma”, frisouMeirelles.

O ministro, porém, evitou partirpara o embate com Maia e disseapenas que pautar qualquerproposta de mudança na regra é“decisão do presidente daCâmara”.

Fiscal.

O pesquisador e especialistaem contas públicas do InstitutoBrasileiro de Economia (Ibre) daFundação Getulio Vargas (FGV),José Roberto Afonso, avalia quemudar a regra de ouro seria uma

“enorme contradição” e que a“saúde fiscal brasileira está muitomal”. Para ele, o governo deveriarecorrer à válvula de escape eapontar quais despesas correntesprecisariam ser financiadas comdívida de forma excepcional.

O economista José Luis Oreiro,professor da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ) e daUniversidade de Brasília (UnB),afirma que a equipe econômicaerrou no “timing” do debate eainda não tem uma proposta clarapara a questão.

IDIANA TOMAZELLI,EDUARDO RODRIGUES,FABRÍCIO DE CASTRO, IGORGADELHA e ALTAMIRO SILVAJÚNIOR

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CONJUNTURA »Regra de ouro pode prever compensações

Ministros negam intenção deflexibilizar a norma que proíbe o

governo de se endividar parapagar gastos do dia a dia.

Estudos avaliam a possibilidadede criar mecanismos de ajuste

nas despesas caso limite dedívida seja atingido

» ROSANA HESSEL» HAMILTON FERRARI -

ESPECIAL PARA O CORREIO

Após reunião com o presidenteMichel Temer, no Palácio doPlanalto, na manhã de ontem, oministro da Fazenda, HenriqueMeirelles, e o do Planejamento,Dyogo Oliveira, convocaram umaentrevista para alinhar o discursosobre a proposta de emenda àconstituição destinada a alterar achamada regra de ouro, que proíbeo governo de se endividar parapagar despesas correntes, comosalários e benefícios da Previdência.O texto da PEC está sendo redigidopelo deputado Pedro Paulo (MDB-RJ), como se fosse uma ideia doLegislativo, mas fontes da Esplanadaadmitem que a orientação aoparlamentar vem sendo feita pelaequipe econômica.

Os ministros afirmaram que nãopretendem flexibilizar a regra, e quenenhuma iniciativa será tomada nestemomento. Mas admitiram queestudam alternativas para alterá-la“de forma responsável e coerentecom processo de contenção de

despesas e ajustamento das contaspúblicas”. Segundo eles, isso poderiaser feito com o estabelecimento decontrapartidas para o caso dedescumprimento, como foi feito nocaso da Emenda Constitucional 95,a PEC do Teto, que limitou ocrescimento da despesa global dogoverno à variação da inflação noano anterior. “A orientação dopresidente confirma aquilo quetínhamos adiantado, como a nossaopinião de que não deve haver umaflexibilização ou uma suspensão purae simples. O que podemos estudarserão regras de autoajustamento. Emcaso de superação dos limites daregra de ouro, por exemplo, vamospropor os mesmos limites colocadospelo teto (dos gastos)”, disseMeirelles.

O titular da Fazenda reafirmouque o governo continua trabalhandona continuidade do ajuste fiscal, quepassa, principalmente, pela reformada Previdência. De acordo comDyogo Oliveira, “não há risco dedescumprimento da regra de ouro em2018”. Ele adiantou, contudo, queserão necessários de R$ 150 bilhõesa R$ 200 bilhões em 2019 para quea norma seja obedecida. Ele avisouque as mudanças na regra precisamser feitas ainda este ano para valerno Orçamento de 2019, cujaproposta precisa ser enviada aoCongresso Nacional até agosto.“Não é possível reduzir R$ 200bilhões no Orçamento, porque asdespesas possíveis de corte (asdiscricionárias) serão menores doque esse valor”, afirmou.

ECONOMIACORREIO BRAZILIENSE

Henrique Meirelles e Dyogo Oliveira, após reunião com MichelTemer: risco de descumprimento em 2019

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Pelas contas da Secretaria doTesouro Nacional, neste ano, odescasamento para o cumprimentoda regra de ouro é de R$ 184 bilhões.Em 2017, o governo não descumpriua regra de ouro porque o BancoNacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES)devolveu R$ 50 bilhões dosadiantamentos que recebeu doTesouro Nacional. Para fechar ascontas em 2018, as autoridadescontam com a devolução de R$ 130bilhões restantes previstos noacordo firmado entre a instituição ea União. “Já conversamos com oBNDES”, disse Meirelles. “O bancovai cumprir seu papel e fazer adevolução destes recursos, que estãodisponíveis. A situação para 2018está totalmente equacionada”,completou.

Alguns analistas, no entanto,acreditam que será difícil que orepasse seja integral. “Acredito queo BNDES só terá condições dedevolver R$ 80 bilhões, no máximo.Se devolver R$ 130 bilhões, ficarádescapitalizado em um momento emque a economia estará retomando aatividade e quando se espera que ademanda de crédito aumente”,alertou José Luís Oreiro, da

Universidade de Brasília (UnB).

Tarefa difícil

O deputado Pedro Paulo, que foio encarregado de elaborar a PEC,admite que há risco de o governo nãocumprir a regra de ouro em 2018,apesar da avaliação da equipeeconômica. “Pode ser que o governoconsiga cumprir, mas será uma tarefamuito difícil”, disse o parlamentar.“Os próximos presidentes tambémsofrerão com isso. Então, é precisocriar um mecanismo para parar decriar despesas obrigatórias, que hojeconsomem 50% do orçamento”,defendeu. Para ele, não há duvidasde que esse tema precisará entrar napauta das eleições. “Existe umproblema, isso é fato, e ele não podeser empurrado com a barriga. O paísnão tem dimensão do seu problemafiscal e essa situação terá que serenfrentada em algum momento”,declarou.

José Roberto Afonso,pesquisador do Instituto Brasileiro deEconomia da Fundação GetulioVargas (Ibre-FGV), um dos autoresda Lei de Responsabilidade Fiscal(LRF), disse não entender anecessidade do governo de alterar a

regra de ouro por meio de uma PECneste momento. “A Constituição jáprevê uma válvula de escape. A regrapode ser quebrada através de umalei que abra um crédito adicional, masé exigido que tenha finalidade precisae maioria absoluta do Congresso”,afirmou ele, lembrando que muitosgovernos estaduais devem ter usadoessa flexibilidade.

O peso da Previdência

O ministro do Planejamento,Dyogo Oliveira, explicou que o riscode descumprimento da regra de ouroé resultado dos rombos consecutivosnos últimos anos nas contas públicas,principalmente na Previdência, porisso a necessidade da reforma. “Osistema de Previdência é o grandeelemento de desequilíbrio das contaspúblicas”, frisou. O ministro daFazenda, Henrique Meirelles,garantiu que o próximo presidenteencontrará um país muito melhor doponto de vista econômico, apesar dacrise fiscal. “Em primeiro lugar, o paísestá crescendo. Em segundo lugar,queremos uma situação fiscalajustada e para isso estamostrabalhando duro”, disse ele, tambémdefendendo a reforma no sistema deaposentadorias.

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CONJUNTURA »Saques no PIS/Pasep

» BRUNO SANTA RITA*

Pessoas com mais de 60 anospoderão sacar os recursos dascontas PIS/Pasep a partir de 24 dejaneiro. A Medida Provisória nº 813/2017, que reduziu a idade mínimade saque, deve favorecer 4,5milhões de cotistas dos fundos edistribuir R$ 7,8 bilhões. Desse total,R$ 3,2 bilhões serão para 1,8 milhãode cotistas do Pasep e R$ 4,6bilhões, para 2,7 milhões de cotistasdo PIS.

Quem tem conta-corrente oupoupança individual na Caixa ou noBanco do Brasil receberá o dinheiroautomaticamente nas contas na noitede 22 de janeiro. Nos últimos mesesde 2017, foram sacados R$ 2,2bilhões por idosos com mais de 62anos (mulheres) e 65 anos (homens).Para eles, os saques foram reabertosontem. No total, os recursos do PIS/Pasep têm potencial de beneficiar12,5 milhões de trabalhadores einserir R$ 26,6 bi na economia,segundo o ministério do

Planejamento.

Os participantes do Paseppodem consultar o saldo disponívelpara saque nos terminais deautoatendimento do Banco do Brasilou acessar lo site www.bb.com.br/pasep. Basta ter em mãos o CPF ea data de nascimento ou o númerode inscrição no programa.

Consumo

No caso dos contribuintes doPIS, os saques até R$ 1,5 mil podemser feitos no autoatendimento daCaixa apenas com a Senha Cidadão.Com o cartão, a Senha Cidadão eum documento de identidade comfoto, os saques também podem serefetuados em Unidades Lotéricas eunidades do Caixa Aqui.

Para os saques até R$ 3 mil,Autoatendimento, UnidadesLotéricas e Caixa Aqui estãodisponíveis, com uso da SenhaCidadão, Cartão do Cidadão edocumento com foto. Acima de R$3mil, os saques só podem ser feitos

nas agências da Caixa, medianteapresentação de documento oficialde identificação com foto.

Newton Marques, professor deeconomia da Universidade deBrasília, acredita que os saquespodem ter efeito positivo no consumoe na atividade econômica. O ideal,porém, segundo Marques, seria queos brasileiros usassem o dinheiropara amortizar dívidas. “Mas nemsempre isso acontece”, afirma.

“Eu vou usar o dinheiro do PISpara comprar eletrodomésticos ecoisas para a casa”, disse oaposentado José Alves, 65 anos.Para Manoel Martins, 76 anos, osplanos giram em torno de umconsumo mais sutil e de necessidade.Ele pretende usar o dinheiro paragastos diários. Ele explica que, comoteve um acidente vascular cerebral(AVC) recentemente, os recursosserão usados para cuidar da saúde eda alimentação.

* Estagiário sob supervisão deOdail Figueiredo

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