valendo - analise semiótica da canção - amar é tudo

15
1 CENTRO UNIVERSITÁRIO SANT’ANNA CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA ANÁLISE DA CANÇÃO Prof. Peter Dietrich ANÁSILE SEMIÓTICA DA CANÇÃO: AMAR É TUDO Djavan Aluno: José Fernando Rodrigues Semestre: 1º R.A. 90137107 Sala: B205

Upload: fernandorodri8418

Post on 21-Jun-2015

2.059 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Trabalho de Semiótica da Canção do Curso de Música da Unisantanna/1ºSEM/2010

TRANSCRIPT

Page 1: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

1

CENTRO UNIVERSITÁRIO SANT’ANNA

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

ANÁLISE DA CANÇÃO

Prof. Peter Dietrich

ANÁSILE SEMIÓTICA DA CANÇÃO:

AMAR É TUDO

Djavan

Aluno: José Fernando Rodrigues

Semestre: 1º

R.A. 90137107

Sala: B205

São Paulo/SP

Junho, 2010

Page 2: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

2

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 3

2. TEXTO DE BASE: AMAR É TUDO 4

3. NÍVEL FUNDAMENTAL 5

4. NÍVEL NARRATIVO 5

5. NÍVEL DISCURSIVO 6

6. ANÁLISE MELÓDICA 7

A – figura 1..............................................................................................................................7

A – figura 2..............................................................................................................................8

B – figura 3..............................................................................................................................8

C –figura 4...............................................................................................................................9

C – figura 5..............................................................................................................................9

C – figura 6............................................................................................................................10

C – figura 7............................................................................................................................10

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 11

8. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 11

Page 3: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

3

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende analisar a construção do sentido da canção “Amar é

tudo”, de Djavan, nos planos do conteúdo e da expressão do texto. Neste, usaremos a

transcrição melódica elaborada por Luiz Tatit, onde nos permite verificar o sentido

gerado pela interpretação e tessitura da canção; naquele, usaremos a ferramenta “Teoria

Semiótica da Canção” na qual analisaremos o texto como um percurso gerativo que vai

do mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto, nos três níveis de

profundidade que a semiótica estabelece: fundamental, narrativo e discursivo.

Page 4: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

4

2. TEXTO DE BASE: AMAR É TUDO

Autor: Djavan

Meu amor

Eu nem sei te dizer quanta dor

Mesmo à noite não sabia

O que o amor escondia

Minha vida

Que fazer com minh’alma perdida?

Foi um raio de ilusão

Bem no meu coração

E veio com tudo

Dissabor e tudo

Veio com tudo

Dissabor e tudo

Eu sei, eu não sei viver sem ela

Assim, um simples talvez me desespera

Ninguém pode querer bem sem ralar

Não há nada o que fazer

Amar é tudo.

Page 5: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

5

3. NÍVEL FUNDAMENTAL

Num nível mais abstrato, percebemos, em Amar é tudo, uma oposição de base a

partir da qual se constrói o sentido do texto: /sofrimento/ VS /felicidade/.

No inicio da canção há uma afirmação de dor, ilusão e dissabor (“... eu nem sei

te dizer quanta dor...”; “... foi um raio de ilusão bem no meu coração...”; “... veio com

tudo, dissabor e tudo...”), onde contrapõe com a afirmação que amar é realmente o que

completa a felicidade (“... amar é tudo.”).

O termo /sofrimento/ é, na canção, disfórico, enquanto o termo /felicidade/ é

eufórico, ou seja, o primeiro tem valor negativo e o segundo positivo.

Sofrimento → Não-sofrimento→ Felicidade

Disforia Não-disforia Euforia

Podemos perceber estas relações pelo quadro das articulações:

4. NÍVEL NARRATIVO

Identificamos um sujeito: “Eu”, e um objeto: “Ela” no texto Amar é tudo, que

tem a seguinte narrativa: O sujeito “EU” reconhece seu estado passional e que não há

nada que ele possa fazer para alterá-lo (“... eu sei, eu não sei viver sem ela...”), (“... não

há nada o que fazer...”). Este fato é também identificado pelo tratamento que o sujeito

FELICIDADE SOFRIMENTO

NÃO-SOFRIMENTO NÃO-FELICIDADE

Page 6: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

6

dá ao objeto “ELA” no inicio de cada estrofe (“Meu amor...”), (“Minha vida...”),

mantendo assim uma relação de conjunção com a felicidade (“Amar é tudo”).

Ao perceber que ficou ou poderia ficar sem seu amor, o sujeito entra em

disjunção com a felicidade, adquirindo um estado de sofrimento (“... que fazer com

minh’alma perdida...”), pois não imaginava que ficar sem sua amada lhe causaria tanta

dor e sofrimento (“... eu nem sei te dizer quanta dor, mesmo a noite não sabia o que o

amor escondia.”). Este estado de sofrimento é identificado pelo sujeito (“... foi um raio

de ilusão, bem no meu coração...”) e posteriormente intensificado na terceira estrofe

(“... e veio com tudo, dissabor e tudo. Veio com tudo, dissabor e tudo...”).

Ao reconhecer sua dependência de amar (“... eu sei, eu não sei viver sem

ela...”), percebe sua fragilidade emocional (“... assim, um simples talvez me

desespera...”), aceita sua condição de dependência e prisão (“... ninguém pode querer

bem sem ralar...”), constata a afirmação de ser tudo o ato de amar (“... não há nada o

que fazer...”), voltando a ter conjunção com a felicidade (“... amar é tudo.”).

O sujeito “EU” é manipulado através do sofrimento por um segundo sujeito: “A

PAIXÂO” (/querer-fazer/). Esta manipulação lhe é dada para que faça algo no propósito

de manter a relação de conjunção com o objeto “ELA” (/dever-fazer/). Mesmo o sujeito

“EU” tendo competência para manter o estado de conjunção com a felicidade (/poder-

fazer/), percebe que sua performance deve ser constante (/saber-fazer/), pois assim, seu

objeto de valor lhe é mantido, constituindo uma sanção positiva. Do contrário, sua vida

é de dor, ilusão e dissabor. Uma vida de sofrimento onde é verificada uma sanção

negativa.

5. NÍVEL DISCURSIVO

O enunciador é a voz do discurso marcado na primeira pessoa, “EU” (“Eu nem sei te dizer....; eu sei, eu não sei viver sem ela...”). Ele projeta no enunciado um ator “ELA”, não marcado na terceira pessoa, a quem o discurso é direcionado. O tempo está marcado no presente (“eu nem SEI; eu SEI...”) e também pode ser não marcado, pois, a qualquer tempo a possibilidade da perda o deixa desesperado (“assim um simples TALVEZ me desespera”), e o espaço é marcado aqui/agora (“VEIO com tudo, ninguém PODE QUERER bem..., amar É tudo).

Page 7: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

7

PESSOA TEMPO ESPAÇOMARCADA EU PRESENTE AQUI/AGORANÃO-MARCADA ELA SEMPRE

O tema é o próprio título da canção “AMAR É TUDO” ou poderia ser apenas “AMAR”, pois, após toda reflexão a conclusão clara do enunciador é que não há nada que ele possa fazer a não, amar.

As figuras: dor, ilusão e dissabor, remetem ao tema sofrimento; a figura: alma perdida faz referencia à seu estado incondicional de amar; a figura “ralar” remete ao tema da manutenção do sentimento.

6. ANÁLISE MELÓDICA

Para a análise melódica da canção, usaremos o diagrama criado por Luiz Tatit, em que a letra é colocada em várias linhas, sendo cada linha a diferença de um semitom, ignorando assim o ritmo e também a harmonia. Nesta distância entre a linha mais aguda e a mais grave, temos a tessitura da canção analisada.

A – figura 1

RE

DOSI

LA ta

SOL Meu amor eu dor

FA nem MI sei quan-

RE te zer

DO di-

Page 8: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

8

A – figura 2

RE

DOSI

LA bia o dia

SOL mes- que o a-

FA mo a morMI noi-

es- RE não sa-

con-DO te

B – figura 3

RE tudo tudo

DO veio com dis- bor e SI

LA

SOL E sa-

FAMI

RE

DO

Page 9: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

9

C –figura 4

RE Eu

DO seiSI

eu verLA

semSOL não vi- e-

FA sei laMI

RE

DO

C – figura 5

RE As-

DO sim de-SI

um vezLA

SOL sim- tal- me pe-

FA ples ses MI

RE ra

DO

Page 10: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

10

C – figura 6

RE Nin-

DO guemSI

po- bemLA

semSOL de rer ra-

FA que- larMI

RE

DO

C – figura 7 tu

RE Não do

DO há SI

na- zerLA

marSOL da o fa- a é

FA que MI

RE

DO Segundo Tatit, esta é uma canção passionalizada, pois, seu foco principal é a

desaceleração do pulso. A conseqüência disso é o aumento da tessitura e da duração das notas, valorizando o perfil melódico. Observamos uma recorrência de saltos intervalares tanto nas partes A, B e C; assim como o prolongamento das vogais.

É importante ressaltar que as partes A e B possuem inflexões descendentes nos tonemas, o que confere uma instabilidade ou interrogação na frase. Já na parte C a inflexão do tonema é descendente onde o caráter passa a ser afirmativo e conclusivo.

Page 11: VALENDO - analise semiótica da canção - amar é tudo

11

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos observar na análise da canção “Amar é tudo”, que uma canção não é fim apenas no texto e sua melodia. Existe um percurso do sentido que o compositor emprega, no qual é corroborado pela interpretação que se dá ao dizer o que a canção fala.

Ao identificar o fundamental no texto e analisá-lo com a melodia proposta, percebemos que sua credibilidade poderá ser absorvida de forma diferente em cada interpretação que se dá, causando também, sentidos diferentes a quem se ouvi.

Semiótica da canção então trás para nós, atuantes da musica em geral, uma possibilidade de acerto maior na interpretação da canção, do que teríamos apenas executando-a.

Fiquei ligeiramente envolvido com a canção analisada, pois, apesar de já admirá-la, agora passei a entendê-la melhor.

8. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

PICON, Andréa; DIETRICH, Peter. Preciso me encontrar: o intérprete como produtor de sentido. Anais do Primeiro Encontro Nacional de Cognição e Artes Musicais. Curitiba: Deartes-UFPR, p.125-130, mai. 2006.

TATIT, L. A. M; O cancionista: composições de canções do Brasil. São Paulo. EDUSP 1996

Postal, Jairo. Análise Semiótica do Texto A parábola do filho pródigo. 2006 Barros, Diana Luz; Teoria Semiotica do Texto, Parma. 2005