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  • i

    1

    Universidade de Braslia

    Instituto de Psicologia

    Programa de Ps-graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes

    NORMATIZAO E VALIDAO DO TESTE NO-VERBAL

    DE INTELIGNCIA SON-R 2-7[a] PARA O BRASIL

    Girlene Ribeiro de Jesus

    Orientador: Prof. Dr. Jacob Arie Laros

    Braslia DF

    Fevereiro de 2009

  • ii

    Universidade de Braslia

    Instituto de Psicologia

    Programa de Ps-graduao em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes

    NORMATIZAO E VALIDAO DO TESTE NO-VERBAL

    DE INTELIGNCIA SON-R 2-7[a] PARA O BRASIL

    Girlene Ribeiro de Jesus

    Tese de doutorado apresentada ao Programa de

    Ps-graduao em Psicologia Social, do

    Trabalho e das Organizaes, como requisito

    parcial para a obteno do grau de doutor em

    Psicologia Social, do Trabalho e das

    Organizaes.

    Orientador: Prof. Dr. Jacob Arie Laros

    Braslia DF

    Fevereiro de 2009

  • iii

    NORMATIZAO E VALIDAO DO TESTE NO-VERBAL

    DE INTELIGNCIA SON-R 2-7[a] PARA O BRASIL

    Tese de doutorado defendida diante e avaliada pela banca constituda por:

    _________________________________________________________________

    Prof. Ph.D. Jacob Arie Laros (Presidente)

    Universidade de Braslia

    _________________________________________________________________

    Prof. Ph.D. Dalton Francisco Andrade (Membro)

    Universidade Federal de Santa Catarina

    _________________________________________________________________

    Profa. Dra. Rosana Maria T. Tristo (Membro)

    Universidade de Braslia

    _________________________________________________________________

    Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia (Membro)

    Universidade Federal da Paraba

    _________________________________________________________________

    Prof. Docteur. Luiz Pasquali (Membro)

    Universidade de Braslia

    _________________________________________________________________

    Profa. Dra. Isolda de Arajo Gnther (Suplente)

    Universidade de Braslia

  • iv

    Agradecimentos

    Ao Deus Onisciente, Onipotente, Onipresente, por todas as coisas.....

    s minhas duas famlias, uma de sangue: Maria Creuza, Jos Clementino, Luiz, Jos

    Joo, Reis, Gilson, Gardnia, Neide, Gleiciane e Vnia, por todo o apoio, incentivo, carinho,

    compreenso e pelo esprito de doao; outra do corao: Josu e Maria da Guia, por serem

    dois anjos em minha vida, por tudo que fizeram e fazem por mim de corao, por serem os

    responsveis diretos por eu estar hoje na Psicologia, no tenho como agradec-los por tudo.

    Ao meu amigo e orientador, Professor Jacob Arie Laros, responsvel direto pelo xito

    desse trabalho. Sempre calmo, paciente e com muita disposio para ensinar e corrigir.

    Presente em todos os momentos. Tenho muito que agradecer!

    Ao amigo e professor Valdiney, por ter me mostrado o mundo da pesquisa e

    influenciado diretamente minha escolha dentro da Psicologia.

    professora Rosana, pela orientao em muitos momentos, pela preciosa ajuda

    durante os estudos com o teste no Distrito Federal e pelas proveitosas discusses.

    Aos demais membros da banca, por terem prontamente aceito o convite para

    colaborarem com o presente trabalho.

    Ao professor Neto, por ser um grande amigo e incentivador.

    Ao professor Peter J. Tellegen, da Universidade de Groningen, pelo programa de

    normatizao e pela contribuio fundamental nas anlises.

    minha amiga Maja, por tudo que fez por mim ao chegarmos em Braslia, seu apoio e

    ajuda foram essenciais.

    minha amiga Fabiana, sempre presente, colaborando comigo em todas as coisas, no

    tenho como agradecer.

    Ao CESPE/UnB e aos amigos da Coordenadoria de Pesquisa em Avaliao pelo

    apoio. Ao CNPq e Universidade de Groningen, Holanda, pelo apoio financeiro.

    minha amiga Camila Akemi, meu brao direito na pesquisa, responsvel pelo

    acompanhamento de toda a coleta e finalizao da base de dados.

    A todos que contriburam com o nosso grupo de pesquisa: Cleide, Juliana, Mica, Lana,

    Nilza e Rafaela. A todos os estudantes de graduao e ps-graduao que colaboraram com

    esse projeto.

    A todos os pais e responsveis pelas crianas que participaram desse estudo. Muito

    obrigada!

  • v

    Agradecimento s instituies

    Nossos agradecimentos sinceros s seguintes instituies escolares,

    fundamentais para a realizao da presente pesquisa: Manaus-AM

    CMEI Nossa Senhora da Paz Escola Municipal Jos Tavares de Macedo

    Araguana-TO Creche Dona Regina Escola Lar Adventista Escola Criativa Tocantinpolis-TO

    Centro Educacional Nossa Escolinha Escolinha Jardim da Mnica Escola Paroquial Cristo Rei

    Augustinpolis-TO Escola Mun. Dalva Marina R. Mingossi

    Escola Municipal Presidente Kennedy EMEI do Jardim So Judas Tadeu Salvador-BA

    Escola Paroquial de Santana Escola Cid Passos

    Escola Municipal Vale das Pedrinhas So Lus-MA

    So Jos do Vale do Rio Preto-RJ

    Colgio Adventista de So Lus Universidade Infantil Rivana Berenice Escola Branca de Neve

    Fortaleza-CE Escola Alba Frota

    Escola So Vicente de Paula Porto Alegre-RS Imperatriz-MA

    Colgio Adventista de Imperatriz Escola Raio de Sol Escola Aquarela Conselho Tutelar Santa Felicidade

    Estreito-MA Igreja Alto Bonito Escola Nice Braga

    Sobral-CE Escola de Ens. Fund. Rainha da Paz

    So Joo do Paraso-MA Escola Municipal Natividade Marinho

    Escola Municipal Sebastio Archer Escola Mrio Flores Irar-BA

    Creche Municipal Elysio Santana Escola Municipal Allan Kardec

    Escola Prof. Alzira Dantas de Oliveira Escola de Ensino Mdio Joo Pedro Nunes

    Dom Feliciano-RS Ipecaet-BA

    Creche Olvia Carneiro Escola Nova Gerao Creche Jlia Medeiros

    Escola Municipal Antero Alves Escola Joo Durval Carveiro Creche Estrela Guia

    Acarape-CE Ncleo Intelectivo Fnix

    Creche Raio de Luz Igreja- Pastoral da Criana Escola Adlia Jac Externato So Jos

    So Paulo-SP CEI Parque Casa de Pedra

    Igreja Presbiteriana de Tucuruvi Colgio Madrid

    Sistema SESI/SP de Escolas Escola Tia Olvia Belo Horizonte-MG

    Escola Municipal Arthur Guimares Centro Educacional Casa Verde

    TanGram Sistema de Ensino Rio de Janeiro-RJ

    Escola NAU Escola CCBF Campinas-SP

    CEMEI Jardim Maria Rosa EMEI Prof. Manuel Affonso Ferreira

    Guarulhos-SP

    Sumar-SP

    Escola Nilza Thomazini Esmeraldas-MG

    Escola Pingo de Gente

    Escola Municipal Santa Isabel Ribeiro Branco-SP

    Escola Sonho Meu Escola Hilda Matarazo

    Escola Brincar e Aprender Escola Pequena Casa da Criana

    Curitiba-PR

    Escola Guara

    So Jos dos Pinhais-PR Centro de Ateno da Juventude

    Escola Baba de Passarinho Escola Meu Tesouro

    So Gabriel-RS Unidade Bsica de Sade Brando Jnior

    Escola Catulino Pereira da Rosa Projeto Social Paz e Bem

    Creche Municipal Recanto Amigo Braslia-DF

    Jardim de Infncia da 308 sul

    Escola Classe 206 Sul Goinia-GO

    Valparaso de Gois-GO Igreja Catlica Franciscana de Valparaso

    Escola Rainha da Paz Pirenpolis-GO

    Creche Aldeia da Paz E as demais no citadas...

  • vi

    Agradecimento aos examinadores

    A realizao da coleta de dados s foi possvel devido significativa participao dos

    psiclogos e estudantes listados a seguir, a eles nossos sinceros agradecimentos:

    Alessandra Maia Vitor (Psicloga)

    Amanda Ladislau Leonardo (Psicloga)

    Ana Clara de Sousa Bittencourt Bastos (Estudante)

    Ana Cristina Passos Gomes (Psicloga)

    Camila Akemi Karino (Psicloga)

    Carolina Silva Bandeira de Melo (Psicloga)

    Cinthia Figueiredo de Nores Brito (Psicloga)

    Clara Mutti Vasconcellos (Psicloga)

    Darlene Cardoso Ferreira (Psicloga)

    Elaine Arima (Psicloga)

    Enio Santos (Estudante)

    rica Pardini Marino (Psicloga)

    Iara Sousa Lima (Psicloga)

    Joice Ferreira da Silva (Psicloga)

    Leticia Seicenti Silva (Psicloga)

    Luciana de Avila Quevedo (Psicloga)

    Mariana Saissu Sousa (Estudante)

    TiagoAugusto (Psiclogo)

    Shana Gularte Della Vechia (Estudante)

    Vilma Barbosa Pellegrino (Psicloga)

    William Martins de Oliveira (Psicologia)

    Zuleide Oliveira Feitosa (Psicloga)

  • vii

    Dedicatria

    Dedico esse trabalho a todas as crianas

    com idade entre 3 e 8 anos, que tornaram

    possvel a realizao da pesquisa.

    Fotos autorizadas pelos pais ou responsveis

  • viii

    No que sejamos capazes por ns

    mesmos de pensar alguma coisa como se

    partisse de ns, mas a nossa capacidade

    vem de Deus. I Cor. 3:5

  • ix

    Sumrio

    1. Introduo ......................................................................................................................... 11.1 Justificativa ..................................................................................................................... 31.2 Objetivos ......................................................................................................................... 42. A inteligncia .................................................................................................................... 62.1 O conceito de inteligncia .............................................................................................. 62.2 Metforas sobre a inteligncia ........................................................................................ 92.3 Histrico de alguns modelos de inteligncia .................................................................. 122.4 O modelo hierrquico de habilidades cognitivas de Cattell e Horn ............................... 142.5 A teoria dos trs estratos ................................................................................................. 173. Histrico dos testes SON de 1943-2009 ........................................................................... 193.1 O teste no-verbal de inteligncia SON-R 2-7 ............................................................ 223.1.1 Estudos de validao do SON-R 2-7 ........................................................................ 243.2 O teste no-verbal de inteligncia SON-R 2-7[a] ........................................................ 263.2.1 Descrio dos subtestes do SON-R 2-7[a] ................................................................ 284. Mtodo .............................................................................................................................. 324.1 Amostra ........................................................................................................................... 324.1.1 Estudo piloto ................................................................................................................ 324.1.2 Estudos de validao .................................................................................................... 324.1.3 Pesquisa nacional de normatizao ............................................................................. 334.2 Instrumentos ................................................................................................................... 464.3 Procedimento .................................................................................................................. 484.3.1 Procedimento utilizado na pesquisa nacional de normatizao ................................... 494.4 Anlise dos dados ........................................................................................................... 535. Resultados do estudo piloto .............................................................................................. 545.1 Resultados do estudo de validao de contedo ............................................................. 545.2 Resultados do estudo piloto do SON-R 2-7 ................................................................. 586. Normatizao do SON-R 2-7[a] .................................................................................... 616.1 O Modelo de Regresso Logstica .................................................................................. 626.2 Os escores Escalares ....................................................................................................... 696.3 Resultados da Normatizao ........................................................................................... 697. Caractersticas Psicomtricas do SON-R 2-7[a] ............................................................ 727.1 Resultados do estudo de validao ................................................................................. 737.1.1 Anlise da consistncia interna .................................................................................... 747.1.2 Anlise Fatorial ............................................................................................................ 787.1.2.1 Anlise Fatorial de Informao Plena FIFA........................................................... 787.1.2.2 Anlise Simultnea dos Componentes Principais SCA.......................................... 807.1.2.3 Anlise Fatorial Confirmatria CSA ..................................................................... 827.1.2.4 Anlise Fatorial de Segunda Ordem ......................................................................... 847.1.3 Anlise dos itens pela Teoria de Resposta ao Item ...................................................... 867.2 Anlise por hiptese ....................................................................................................... 908. Relao do SON-R 2 -7[a] com variveis externas ...................................................... 958.1 Nvel socioeconmico (NSE).......................................................................................... 958.2 Durao da testagem ....................................................................................................... 978.3 Influncia do examinador ............................................................................................... 988.4 Diferenas regionais ....................................................................................................... 998.5 Influncia do gnero ....................................................................................................... 1008.6 Avaliao realizada pelos examinadores ........................................................................ 101

  • x

    9. Consideraes Finais ........................................................................................................ 10310. Limitaes e Agenda de Pesquisa ................................................................................... 10711. Referncias ..................................................................................................................... 118

  • xi

    Lista de Tabelas

    Tabela 4.1 Nmero de cidades, nmero de crianas de 1 a 9 anos, e percentagem de crianas de 1 a 9 anos por categoria de IDH ................................................................... 33Tabela 4.2 Amostra para a pesquisa nacional ................................................................ 34Tabela 4.3 Quantidade de cidades por regio e quantidade de elementos a serem testados por regio ........................................................................................................... 35Tabela 4.4 Nmero de municpios e elementos por categoria de IDHM ....................... 35Tabela 4.5 Quantidade de elementos em cada regio por categoria de IDHM .............. 36Tabela 4.6 Municpios selecionados em cada regio ..................................................... 37Tabela 4.7 Percentual de crianas que freqentam escola nos municpios selecionados (Censo de 2000) ......................................................................................... 39Tabela 4.8 Plano amostral segundo a quantidade de crianas escolares e no escolares 40Tabela 4.9 Comparao dos percentuais de crianas no-escolares .............................. 41Tabela 4.10 Plano amostral com ajuste da quantidade de crianas no-escolares, segundo dados da PNAD 2006 ....................................................................................... 41Tabela 4.11 Quantidade de crianas matriculadas na rede pblica e privada (Censo Escolar de 2006) .............................................................................................................. 43Tabela 4.12 Quantitativo previsto e obtido de crianas por cidade e estado na amostra final ................................................................................................................................. 44Tabela 4.13 Quantitativo de crianas por faixa de IDH das cidades ............................. 45Tabela 4.14 Examinadores e municpios nos quais eles aplicaram o SON-R 2-7[a]... 52Tabela 5.1 QI de execuo, raciocnio e total das crianas da creche e do CEAL ........ 59Tabela 5.2 Percentual de acerto, correlao item-total e fidedignidade dos subtestes do SON-R 2-7 .............................................................................................................. 60Tabela 6.1 Coeficientes da regresso linear mltipla entre o escore e a idade transformados .................................................................................................................. 64Tabela 6.2 Estatsticas descritivas dos escores digitalizados ......................................... 66Tabela 6.3. Coeficientes da regresso logstica dos escores digitalizados ajustados pela idade e o escore ....................................................................................................... 66Tabela 6.4 Coeficientes do ajuste do e.p.m pela idade ............................................... 69Tabela 6.5 Estatsticas descritivas dos escores normatizados e do QI do SON-R 2-7[a] .................................................................................................................................. 70Tabela 6.6 Normas brasileiras para converso dos escores brutos em escores normatizados (M=10, DP=3) do SON-R 2-7[a] nos grupos de idade 3;3 e 7;9 ........... 71Tabela 6.7 Normas brasileiras para converso dos escores normatizados em QI (M=100, DP=15) do SON-R 2-7[a] ............................................................................. 71Tabela 7.1 Mdia e desvio padro dos escores brutos por grupo de idade .................... 72Tabela 7.2 Proporo de acerto dos itens dos subtestes do SON-R 2-7[a] ................. 73Tabela 7.3 Fidedignidade (lambda 2 de Guttman) e desvio-padro (DP) dos escores brutos ............................................................................................................................... 75Tabela 7.4 Fidedignidade (lambda 2 de Guttman) e erro padro de mensurao (e.p.m) dos escores normatizados do SON-R 2 -7[a] ................................................... 76Tabela 7.5 Generalizabilidade e erro padro de estimao para os escores normatizados da Escala de Execuo (EE), Escala de Raciocnio (ER) do SON-R 2-7[a] .................................................................................................................................. 77

  • xii

    Tabela 7.6 Cargas fatoriais dos itens do SON-R 2-7[a] no fator nico e a mdia por subteste ............................................................................................................................ 79Tabela 7.7 Cargas fatoriais dos itens do SON-R 2-7[a] nos dois fatores e a mdia por fator ........................................................................................................................... 80Tabela 7.8 Autovalor e percentual de varincia explicada por componente e grupo de idade dos dois componentes principais via anlise SCA 82Tabela 7.9 Coeficientes de determinao (cargas fatoriais), erro padro e correlao mltipla ao quadrado (SMC) da AFC do SON-R 2-7[a] ............................................. 83Tabela 7.10 Coeficientes de determinao (cargas fatoriais) do SON-R 2-7[a] nos fatores de primeira e segunda ordem............................................................................... 85Tabela 7.11 Soluo Schmid-Leiman para o SON-R 2-7[a] nos fatores de primeira e segunda ordem .............................................................................................................. 86Tabela 7.12 Parmetros a e b dos 60 itens do SON-R 2-7[a] ..................................... 89Tabela 7.13 Coeficientes de correlao entre a idade e o escore bruto nos subtestes do SON-R 2-7[a] ............................................................................................................... 91Tabela 7.14 Coeficientes de correlao entre as escalas do SON-R 2-7[a] e do WPPSI-III e o intervalo de confiana de 95% das correlaes ....................................... 92Tabela 7.15 Coeficientes de correlao entre as escalas do SON-R 2-7[a] e do WISC-III e o intervalo de confiana de 95% das correlaes ........................................ 93Tabela 7.16 Coeficientes de correlao entre as escalas do SON-R 2-7[a], as MPC de Raven e o CMMS (Colmbia) e o intervalo de confiana de 95% das correlaes... 94Tabela 8.1 Grau de escolaridade dos pais ou responsveis ........................................... 95Tabela 8.2 Cargas fatoriais no fator nvel socioeconmico (NSE) ................................ 96Tabela 8.3 Comparao dos escores normatizados nos postos percentlicos do nse...... 97Tabela 8.4 Durao da aplicao por faixa de idade, de tempo e por subteste .............. 98Tabela 8.5 Estatsticas descritivas do QI das crianas por examinador ......................... 99Tabela 8.6 Mdia, desvio padro e intervalo de confiana da mdia para o QI das crianas por regio e localidade ...................................................................................... 100Tabela 8.7 Mdia, desvio padro e estatsticas do teste t para a comparao de mdias por sexo .......................................................................................................................... 101Tabela 8.8 Percentual, mdia e desvio padro por situao de testagem e grupo de idade ................................................................................................................................ 102

  • xiii

    Lista de Figuras

    Figura 3.1 Histrico dos testes SON de 1943 a 2009, com base em Drunen (2003) .............20

    Figura 3.2 Itens do subteste Mosaicos ....................................................................................28

    Figura 3.3 Itens do subteste Categorias ..................................................................................29

    Figura 3.4 Itens do subteste Situaes ....................................................................................30

    Figura 3.5 Itens do subteste Padres .......................................................................................31

    Figura 5.1 Mudanas do SON-R 2-7 para o SON-R 2-7[a]...............................................54

    Figura 5.2 Mudanas no item 10 do subteste Categorias do SON-R 2-7 para o

    SON-R 2-7[a].........................................................................................................................55

    Figura 5.3 Mudanas no item 11 do subteste Categorias do SON-R 2-7 para o

    SON-R 2-7[a].........................................................................................................................56

    Figura 5.4 Mudanas no item 12 do subteste Categorias do SON-R 2-7 para o

    SON-R 2-7[a].........................................................................................................................56

    Figura 5.5 Mudanas no item 13 (alternativas) do subteste Categorias do SON-R 2-7

    para o SON-R 2-7[a]..............................................................................................................57

    Figura 5.6 Mudanas no item 13 do subteste Categorias do SON-R 2-7 para o

    SON-R 2-7[a].........................................................................................................................57

    Figura 5.7 Mudanas no item 14 do subteste Categorias do SON-R 2-7 para o

    SON-R 2-7[a].........................................................................................................................58

    Figura 8.1 Distribuio da amostra segundo o nvel socioeconmico ...................................96

  • xiv

    Resumo

    Os objetivos principais da presente tese foram estabelecer normas brasileiras para o teste no-verbal de inteligncia SON-R 2-7[a], originalmente desenvolvido na Holanda, e obter evidncias sobre sua validade no Brasil. Para tanto, foi realizado inicialmente um estudo de validao de contedo de quatro subtestes (Mosaicos, Categorias, Situaes e Padres) do SON-R 2-7, que avalia raciocnio abstrato, concreto e espacial. Esse estudo resultou em algumas mudanas, implementadas no subteste Categorias. A seguir foi realizado um estudo piloto com crianas de uma instituio de ensino regular e uma instituio destinada a crianas com problemas auditivos. Os resultados indicaram boa qualidade psicomtrica do teste e todos os subtestes apresentaram ndices de fidedignidade satisfatrios. Aps o estudo piloto, os estudos de normatizao e validao foram iniciados. O processo de normatizao foi realizado com uma amostra nacional composta por 1.200 crianas de 3 anos e 3 meses a 7 anos e 9 meses de idade. As crianas que participaram do estudo eram provenientes de todas as regies brasileiras, de 13 estados diferentes. Cada grupo de idade foi representado por uma amostra de 120 crianas, que foi estratificada segundo o sexo, situao educacional e variveis demogrficas. Um passo de fundamental importncia na normatizao foi a transformao dos escores brutos em escores distribudos normalmente com mdia e desvio fixos. Tais transformaes geralmente so efetuadas separadamente para cada grupo de idade. No obstante, na pesquisa atual um mtodo diferente foi utilizado: as distribuies dos escores para todos os grupos de idade foram ajustadas simultaneamente como uma funo contnua da idade. O procedimento de ajuste foi usado a fim de minimizar as diferenas entre a distribuio observada e a distribuio populacional estimada. O mtodo foi desenvolvido na Holanda para a normatizao do SON-R 5-17, sendo tambm utilizado para a normatizao do SON-R 2-7. A grande vantagem de sua utilizao que o uso da informao de todos os grupos simultaneamente torna a normatizao mais precisa. Outro benefcio essencial desse mtodo a possibilidade de calcular escores normatizados para cada idade exata na faixa pesquisada. Uma vez finalizada a normatizao foi verificada a fidedignidade do teste: o ndice mdio de consistncia interna dos subtestes foi 0,79. O subteste Categorias mostrou a fidedignidade mdia mais alta (0,81) e Situaes a mais baixa (0,77). A fidedignidade mdia do SON-R QI foi 0,92. A validade de construto do teste foi verificada por meio da Anlise Fatorial Confirmatria e da soluo Schmid-Leiman. Os resultados obtidos embasam a distino que feita no SON-R 2-7[a] entre a Escala de Execuo e a Escala de Raciocnio bem como um fator geral. A validade convergente do SON-R 2-7[a] foi verificada com os seguintes testes de inteligncia: Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence-Third Edition (WPPSI-III), a Escala Wechsler de Inteligncia para Crianas-Terceira Edio (WISC-III), a Escala de Maturidade Mental Columbia (EMMC) e as Matrizes Progressivas Coloridas (MPC) de Raven. Com esses testes o SON-R 2-7[a] mostrou os seguintes coeficientes de validao: 0,75, 0,67, 0,68 e 0,56, respectivamente. O alto ndice de correlao com o WPPSI-III (0,75) sugere que o SON-R 2-7[a] est medindo de forma mais ampla o construto de inteligncia que as MPC de Raven e a EMMC. Assim, o presente estudo disponibiliza um instrumento de avaliao de habilidades cognitivas vlido, fidedigno e com normas brasileiras para a avaliao de crianas pr-escolares, sendo o mesmo capaz de contribuir para diagnsticos clnicos de atrasos ou dificuldades especficas do desenvolvimento cognitivo de crianas em faixa etria prioritria para interveno precoce.

    Palavras-chave: Teste no-verbal de inteligncia para crianas, SON-R 2-7[a], normatizao, validao, procedimento de ajuste simultneo de grupos de idade separados.

  • xv

    Abstract

    The main objectives of this doctoral thesis were to establish Brazilian norms for the non-verbal test of intelligence SON-R 2-7[a], originally developed in the Netherlands, and to obtain evidence about its validity in Brazil. To accomplish these goals, initially, a validation study was undertaken of the content of the four subtests (Mosaics, Categories, Situations and Patterns) of the SON-R 2-7[a] which assess abstract and concrete reasoning and spatial insight. This first study resulted in a number of changes in items of the subtest Categories. As a second step a pilot study was realized with children of an institution of regular education and an institution for children with hearing problems. The results of this study indicated good psychometric qualities of the test as a whole, and satisfactory reliability indices of the individual subtests. After the pilot study the normatization and validation studies were initiated. The normatization was performed using a national sample of children of Brazil, consisting of 1,200 subjects from 3 years and 3 months to 7 years and 9 months of age. The children that participated came from all five regions in Brazil and from 13 different states. Each age group was represented by a sample of 120 children that was stratified according to sex, educational type and demographic variables. A step of vital importance in the normatization was the transformation of raw subtest scores to normally distributed scores with a fixed mean and standard deviation. These transformations are usually carried out separately for each age group. However, in this research a different method was used: the score distributions for all age groups were fitted simultaneously as a continuous function of age. This fitting procedure was used in order to minimize the difference between the observed and the estimated population distribution. The method was developed in the Netherlands for the normatization of the SON-R 5-17 and was also used for the normatization of the SON-R 2-7. A major advantage of this method is that the use of information on all groups simultaneously makes the normatization much more accurate. Another essential benefit of this method is the possibility to calculate norm scores for each exact age in the examined age range. Once the normatization was concluded, the reliability of the test scores was examined: the mean internal consistency of the subtests was .79. Categories showed the highest mean reliability coefficient (.81) and Situations the lowest mean reliability index (.77). The mean reliability of the SON-R IQ score is .92. The construct validity of the SON-R was investigated by means of Confirmatory Factor Analysis and Schmid-Leiman solution. Results of this analysis supported the distinction made in the SON-R 2-7 between the Performance Scale and the Reasoning Scale and a general factor. The convergent validity of the SON-R 2-7[a] was examined by the combined administration of the SON-R test with the following intelligence tests: the Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence-Third Edition (WPSSI-III), the Wechsler Intelligence Scale for Children-Third Edition (WISC-III), the Columbia Mental Maturity Scales (CMMS) and Ravens Colored Progressive Matrices (CPM). With these tests the SON-R showed, in the above mentioned order, the following validation coefficients: .75, .67, .68 and .56. The relative high correlation with the WPPSI-III (.75), a test battery of a broad intelligence construct, suggests that the SON-R 2-7 [a] is measuring a broader intelligence construct than Ravens CPM and the Columbia. With the present study a valid, reliable instrument that assesses cognitive abilities of young children with Brazilian norms becomes available. This instrument will hopefully contribute to improve clinical diagnoses of specific difficulties in the cognitive development of children in the priority age group for early intervention.

    Key words: Non-verbal test of intelligence for young children, SON-R 2-7[a], normatization, validation, simultaneously fitting procedure of separate age groups.

  • 1

    1. Introduo

    De acordo com Snijders, Tellegen e Laros (1989), em termos gerais a inteligncia

    pode ser descrita como o quanto algum capaz de desempenhar tarefas que exigem

    habilidades cognitivas. Ser capaz de usar essas habilidades visto como uma caracterstica

    individual, a qual se quer avaliar.

    Acerca desse tema, Brody (2000) argumenta que todos os pioneiros da rea da

    inteligncia acreditavam que esta se tratava de um trao hereditrio. Entretanto, todos eles

    tambm tinham conscincia de que o desenvolvimento da inteligncia poderia ser atrapalhado

    pela inadequabilidade do meio. Spearman (1904), por exemplo, verificou que a habilidade de

    discriminao sensorial, que ele equivocadamente pensava ser o corao da inteligncia, era

    influenciada pelo meio (associado ao nvel socioeconmico). No teste de Binet tambm eram

    notadas diferenas no desempenho de crianas com diferentes nveis socioeconmicos.

    Ao longo dos tempos surgiram muitos modelos que procuraram dar conta do que seria

    a inteligncia e qual sua fonte ou o que pode influenci-la. Os modelos hierrquicos, por

    exemplo, tm como pressuposto bsico que a estrutura da inteligncia pode ser descoberta por

    meio da anlise da interrelao de escores em testes de habilidade mental. Assim, um

    conjunto de habilidades interrelacionadas visto como um fator (Davidson & Downing,

    2000). Os modelos hierrquicos atuais podem ser melhor compreendidos em termos de duas

    teorias psicomtricas anteriores, a de Spearman e a de Thurstone. E dois modelos hierrquicos

    contemporneos ajudam a conciliar a viso dos dois, a Teoria de Inteligncia Fluida e

    Cristalizada (Teoria Gf-Gc).

    A Teoria Gf-Gc explica e prediz o desenvolvimento da inteligncia ao longo da vida

    (Horn, 1994; Horn, Donaldson & Engstrom, 1981). A inteligncia fluida vista como o

    potencial para aprender, menos suscetvel escolarizao e oportunidades para aprender; a

  • 2

    inteligncia cristalizada, por sua vez, tem a ver com conhecimentos e habilidades adquiridos

    por meio da escolarizao e oportunidades de aprendizagem.

    Os testes tradicionais de inteligncia geral, como o Stanford-Binet (ver Thorndike,

    Hagen & Sattler, 1986) e os testes de inteligncia Wechsler (Weiss, 1982) se centram mais na

    inteligncia cristalizada, ou seja, mais no resultado final da aprendizagem do que no potencial

    para a aprendizagem. Segundo Tellegen e Laros (2004; 2005), testes de inteligncia que

    aferem meramente o resultado final da aprendizagem subestimam a habilidade para aprender

    de pessoas que tiveram poucas oportunidades para adquirir conhecimento e habilidades para

    obterem um bom desempenho em uma situao de teste. Em particular, membros de minorias

    tnicas, pessoas com baixo nvel socioeconmico e pessoas com problemas de aprendizagem

    estariam em desvantagem quando testadas com um teste tradicional de inteligncia geral.

    Alm disso, de acordo com Tellegen e Laros (2005), os testes tradicionais de

    inteligncia vm sendo criticados em seu contedo por defensores de testes de inteligncia

    culturalmente justos. Pelo fato dos testes tradicionais de inteligncia geralmente fazerem

    apelo para habilidades de linguagem especficas, tanto nos contedos quanto nas instrues do

    teste, esses testes colocariam membros de minorias culturais em desvantagem (ver Jesus &

    Laros, 2006). Este argumento tambm se aplica a pessoas com problemas de linguagem e

    auditivos. Para todos esses grupos, um baixo desempenho no teste poderia refletir,

    primariamente, um conhecimento verbal pobre, em vez de raciocnio ou habilidade para

    aprendizagem pobre. Tais crticas levaram ao desenvolvimento de testes no-verbais de

    inteligncia, com o objetivo de minimizar a dependncia do conhecimento adquirido e da

    habilidade verbal, tais como as Matrizes Progressivas de Raven (Raven, 1938), os testes

    SON (Snijders-Oomen, 1943) e o Cattell's Culture Fair Intelligence Test (Cattell, 1950).

    Uma das grandes vantagens dos testes no verbais diz respeito maior facilidade para

    adequao a diferentes culturas, uma vez que o processo de adaptao de testes no-verbais

  • 3

    menos complicado do que o exigido para testes que utilizam linguagem escrita ou falada

    como parte do seu contedo. No obstante, o fato de os testes no-verbais no exigirem

    traduo no significa que esses instrumentos possam ser utilizados sem um estudo emprico

    que verifique sua adequao cultura na qual ser utilizado.

    A esse respeito, Van de Vijver e Poortinga (1997) assinalam que no se pode assumir

    que instrumentos psicolgicos desenvolvidos em uma cultura, quando utilizados em outra,

    tenham propriedades psicomtricas como validade e fidedignidade simplesmente assumidas,

    mas precisam ser empiricamente demonstradas. O vis, por exemplo, pode mudar as

    propriedades psicomtricas de um instrumento quando ele usado em uma cultura diferente.

    Os testes SON so indicados como exemplo de testes com contedo cultural reduzido,

    ou seja, esses testes aferem uma quantidade limitada de contedo cultural, contedo este que

    eles no objetivam mensurar. Ademais, os testes SON tm como foco a inteligncia fluida,

    isto , o potencial para aprender. Dessa forma, o Teste No-verbal de inteligncia SON-R 2-

    7 foi escolhido como objeto de estudo na presente tese.

    1.1 Justificativa

    No contexto brasileiro, praticamente no h teste no-verbal de inteligncia

    normatizado para toda a faixa etria contemplada pelo SON-R 2-7[a]. De acordo com dados

    do Conselho Federal de Psicologia (disponvel no site desse rgo), que vem avaliando todos

    os testes psicolgicos disponibilizados no mercado brasileiro, entre os testes de inteligncia

    para crianas encontra-se com avaliao favorvel, at agosto de 2007: o Teste No-Verbal de

    Raciocnio para Crianas TNVRI, destinado faixa etria entre 5 anos e 9 meses e 13 anos e

    3 meses; a Escala de Inteligncia Wechsler para Crianas (WISC-III), adaptada para crianas

    com idades entre 6 e 16 anos; o teste R-2 (Teste No-Verbal de Inteligncia para Crianas),

    adaptado com uma populao de 5 a 11,5 anos (Rosa & Alves, 2000); o Colmbia - CMMS

  • 4

    (Escala de Maturidade Mental Colmbia) indicado para crianas entre 3 anos e 6 meses e 9

    anos e 11 meses.

    A presente pesquisa visa contribuir para amenizar a lacuna existente nesse campo no

    Brasil, pois se prope a validar e estabelecer normas brasileiras para o Teste No-verbal de

    Inteligncia SON-R 2-7[a], com uma amostra proveniente de todas as regies brasileiras e

    representante de diferentes extratos socioeconmicos do pas, uma vez que os testes

    disponibilizados at o momento foram validados com populaes especficas de determinadas

    regies e reas metropolitanas e no com representantes das cinco regies brasileiras (ver

    Alchieri, Noronha & Primi, 2003).

    Disponibilizar um instrumento com normas nacionais para a avaliao de crianas

    pequenas de fundamental importncia para a rea de avaliao psicolgica e

    neuropsicolgica infantil. Por exemplo, Campbell e Ramey (1995) apontam que a interveno

    precoce crucial para o desenvolvimento cognitivo. Esses autores realizaram um importante

    estudo longitudinal com crianas estadunidenses negras no qual verificaram que at aos 15

    anos de idade ainda se podia verificar o efeito, sobre o desenvolvimento cognitivo, da

    interveno realizada no perodo da infncia at os cinco anos de idade.

    1.2 Objetivos

    Objetivo Geral

    Nesse contexto, o objetivo geral da presente tese foi estabelecer normas e obter dados

    sobre a validade do Teste No-verbal de Inteligncia SON-R 2-7 [a] para o Brasil.

    Objetivos especficos

    1. providenciar normas brasileiras do teste no-verbal de inteligncia SON-R 2-7[a]

    para crianas na faixa entre 2 e 8 anos;

  • 5

    2. verificar a estrutura fatorial do teste no-verbal de inteligncia SON-R 2-7[a] no

    contexto brasileiro, isto , verificar a validade de construto do instrumento;

    3. verificar a validade convergente do SON-R 2-7[a].

    A presente tese est dividida em nove sees, alm da introduo, na prxima seo

    apresentada uma explanao sobre o conceito e os modelos de inteligncia. A seguir

    apresentado o histrico dos testes SON e o mtodo da presente pesquisa. A primeira seo de

    resultados apresentada com os resultados do estudo piloto com o teste, a seguir

    apresentado o modelo de normatizao utilizado, a seo seguinte trata da validade de

    construto do teste e a prxima seo sobre a relao do teste com variveis externas e, por

    fim, so traadas consideraes finais sobre o estudo.

  • 6

    2. A inteligncia

    Os indivduos diferenciam-se uns dos outros em vrios aspectos, tanto em suas

    habilidades de entender ideias complexas quanto na adaptao ao ambiente, a aprendizagem

    por meio da experincia e as formas variadas de utilizao do raciocnio. Dessa forma,

    razovel entender por que o desempenho intelectual de uma pessoa pode variar em ocasies e

    domnios diferentes, e segundo os diferentes critrios pelos quais for julgada (Neisser & cols,

    1996).

    Segundo Neisser e cols. (1996) muitos tericos argumentam que h diferentes

    inteligncias (sistemas de habilidades) e apenas poucas delas podem ser aferidas com testes

    psicomtricos tradicionais. Por sua vez, outros tericos enfatizam o papel da cultura,

    determinando concepes diferentes de inteligncia e influenciando a aquisio de

    habilidades intelectuais (Hu & Oakland, 1991). Seguindo outra direo, estudiosos do

    desenvolvimento humano frequentemente enfocam mais os processos pelos quais todas as

    crianas vm a pensar inteligentemente do que na medio das diferenas individuais entre

    elas.

    Nesse contexto, a seguir ser tratado o conceito de inteligncia, bem como os modelos

    propostos para o seu estudo.

    2.1 O conceito de inteligncia

    Boring (1923) props que a inteligncia o que os testes de inteligncia aferem.

    Apesar da operacionalidade dessa definio, o autor no esperava que a mesma colocasse um

    ponto final na discusso sobre o tema. Sternberg (2000) ressalta que nessa poca no era claro

    o que os testes de inteligncia mensuravam, portanto, a definio de Boring no deixava claro

    o que era a inteligncia.

  • 7

    Um dos estudos mais famosos sobre a definio de inteligncia foi feito pelos editores

    do Journal of Educational Psychology (Intelligence and its measurement,, 1921) em um

    simpsio com especialistas, o qual obteve definies como as seguintes (Sternberg, 2000, p.

    8):

    O poder de dar boas respostas sob o ponto de vista da verdade ou dos fatos (E. L. Thorndike);

    Habilidade para raciocinar abstratamente (L. M. Terman);

    Capacidade sensorial, capacidade para reconhecimento perceptual, extenso ou flexibilidade de associao, facilidade e imaginao, ateno, rapidez ou prontido para responder (F. N. Freeman);

    Habilidade para aprender ou aprender a se ajustar ao meio (S. S. Colvin);

    Habilidade para se adaptar adequadamente a situaes da vida relativamente novas (R. Pintner);

    A capacidade para saber e ser dotado de conhecimento (B. A. C. Henmon);

    Um mecanismo biolgico por meio do qual os efeitos da complexidade dos estmulos so agregados para produzir um efeito unificado no comportamento (J. Peterson);

    A capacidade para inibir um ato instintivo, a capacidade para redefinir essa inibio luz de experincias imaginadas, de tentativas e erros, e a capacidade de perceber a modificao produzida no comportamento social como vantagem para o indivduo como um animal social (L. L. Thurstone);

    A capacidade para adquirir capacidade (H. Woodrow);

    A capacidade para aprender ou para se beneficiar das experincias (W. F. Dearborn); e

    Sensao, percepo, associao, memria, imaginao, discriminao, julgamento e raciocnio (N. E. Haggerty). De acordo com Sternberg (2000), existem algumas caractersticas em comum nas

    definies apresentadas nesse simpsio. Alguns pontos em comum so a habilidade para se

    adaptar ao meio e a habilidade para aprender. Em outro simpsio realizado em 1986, 65 anos

    mais tarde, os especialistas convidados buscaram atualizar as definies do primeiro. Entre os

    participantes estavam: Anne Anastasi, Paul Bates, Jonathan Baron, John Berry, Ann Brown,

  • 8

    Earl Butterfield, John B. Carroll, Howard Gardner, Robert Glaser, Jacqueline Goodnow, John

    Horn, Lloyd Humphreys, Arthur Jensen e Robert Sternberg. Alguns temas proeminentes em

    ambos os simpsios foram: atributos como adaptao ao meio, processos mentais bsicos e

    pensamento de ordem superior (por exemplo: raciocnio, resoluo de problemas e tomada de

    deciso) e a quantidade de inteligncias, se uma ou muitas, embora no se tenha chegado a

    qualquer consenso. Assim como no primeiro simpsio, no segundo alguns especialistas

    definiram a inteligncia estritamente em termos de elementos biolgicos ou cognitivos,

    enquanto outros incluram muitos outros elementos, como motivao e personalidade.

    Da mesma forma que nos dias atuais, tambm nesses dois simpsios no houve um

    consenso geral entre os especialistas acerca da natureza da inteligncia. E, embora seja um

    tema corrente no campo da psicologia e muito estudado por especialistas que adotam

    diferentes vertentes de estudo, ainda h muita divergncia sobre o que e como pode ser

    mensurada a inteligncia humana.

    Neisser (1979) props que a inteligncia pode ser prototipicamente organizada, ou

    seja, para esse autor no existem atributos claros que possam defini-la, mas apenas atributos

    caractersticos que tendem a ser tpicos em pessoas inteligentes. Segundo essa viso, uma

    pessoa inteligente algum que possui certos atributos, mas no h atributos particulares

    identificados como necessrios e suficientes para descrever uma pessoa inteligente.

    Mesmo Binet no conseguiu definir claramente a inteligncia. No final de sua vida, ele

    notou que a inteligncia est contida no significado de quatro termos: compreenso,

    inventividade, direo e crtica. Ele argumentou que a inteligncia um processo direcionado

    compreenso de um mundo externo em direo reconstruo. E a reconstruo deve estar

    sujeita a uma avaliao crtica por parte do sujeito (Brody, 2000).

    Segundo Sternberg (1990), um bom mtodo para entender a inteligncia por meio de

    modelos tericos. E esses modelos frequentemente utilizam metforas para explicar as

  • 9

    pesquisas existentes em inteligncia bem como para clarear questes futuras. Na prxima

    seo sero tratadas algumas dessas metforas.

    2.2 Metforas sobre a inteligncia

    No livro editado por R. J. Sternberg no ano de 2000, Handbook of intelligence, o

    captulo escrito por ele: The concept of intelligence, apresenta vrias metforas sobre a

    inteligncia, relatadas a seguir:

    I. Metfora geogrfica

    A inteligncia vista como um mapa da mente. Alguns tericos dessa viso so:

    Spearman (1927), Thurstone (1938), Guilford (1985), Cattell (1967), Vernon (1971) e Carroll

    (1993). A unidade bsica de anlise nessa metfora o fator, tipicamente eleito como a fonte

    das diferenas individuais. Algumas vantagens dessa viso: (a) especificao clara das

    estruturas mentais propostas; (b) operacionalizao direta por meio de testes mentais; e (c)

    disponibilidade de maquinrio sofisticado para a implementao.

    II. Metfora computacional

    A unidade bsica de anlise o processo elementar de informao. Alguns dos

    tericos adeptos dessa viso so: Simon (1976), Hunt (1978) e Sternberg (1977). Os

    expoentes dessa viso geralmente utilizam em seus estudos anlise do tempo de reao,

    anlise de protocolos e simulao no computador. Entre as vantagens dessa viso esto: (a)

    sua especificao detalhada dos processos e estratgias mentais; (b) anlise do tempo real em

    tarefas de execuo; e (c) disponibilidade de maquinrio sofisticado para a implementao.

  • 10

    III. Metfora biolgica

    Entre os principais tericos dessa perspectiva esto: Luria (1973), Hebb (1942),

    Halstead (1951) e Vernon (1971). A unidade principal de anlise varia entre as teorias. Para

    Hebb, era a conjuno celular; para Vernon, a velocidade da conduo neuronal. Outros,

    como Luria e Halstead, propuseram teorias estruturais ligando partes do crebro a vrias

    funes intelectuais. Os mtodos de anlise utilizados incluem mensurao de potenciais

    evocados, de velocidade da conduo neuronal, avaliao da especializao hemisfrica e

    escaneamento de partes do crebro envolvidas em diferentes tipos de tarefas mentais.

    Algumas vantagens dessa metfora: (a) relaciona a inteligncia com sua fonte no crebro; e

    (b) geralmente utiliza tcnicas de mensurao e experimentos precisos.

    IV. Metfora dos sistemas

    Baseia-se na noo de que a inteligncia um sistema complexo que integra muitos

    nveis de anlise, incluindo o geogrfico, o computacional, o biolgico, o antropolgico e o

    sociolgico. O sistema e seus elementos em interao so a unidade de anlise. Entre os

    principais tericos esto Gardner (1993) e Sternberg (1997). Algumas vantagens dessa

    metfora so: (a) o reconhecimento da complexidade da inteligncia; (b) a integrao de

    mltiplos nveis de anlise; e (c) a extenso de habilidades includas nas teorias.

    V. Metfora sociolgica

    Essa metfora enfatiza a importncia da socializao para a inteligncia. Entre os

    tericos mais conhecidos so includos Vygotsky bem como Feuerstein (1980). Um construto

    bastante relevante para Vygotsky a internalizao, por meio da qual a criana orienta o seu

    comportamento nas interaes sociais e ento internaliza aspectos importantes da situao e

    os torna seus. Para Feuerstein um construto chave a aprendizagem mediada, ou seja, a

  • 11

    aquisio de conhecimento que ocorre quando um mediador, em geral um parente ou

    professor, explica o ambiente para a criana. Entre as vantagens dessa metfora esto: (a) o

    reconhecimento da importncia da internalizao de experincias inicialmente obtidas com

    outros; (b) o reconhecimento do papel do mediador na internalizao; e (c) o reconhecimento

    da diferena entre capacidade latente e habilidade desenvolvida.

    VI. Metfora gentica-espistemolgica

    O principal terico Piaget (1972) e a unidade fundamental de anlise o esquema.

    Para Piaget o esquema est presente durante todo o desenvolvimento. Eles so estruturas que

    esto presentes desde o nascimento e vo se expandindo tanto quantitativamente, o que

    chamou de assimilao, quanto qualitativamente acomodao. Esses esquemas so

    construtos hipotticos, estruturas intelectuais que organizam os eventos como eles so

    percebidos pelo organismo e classificados em grupos, de acordo com caractersticas comuns.

    Assim sendo, os esquemas do adulto emergem dos esquemas da criana, os quais no momento

    do nascimento so de natureza reflexa (Wadsworth, 1997).

    O mtodo tpico de pesquisa sob essa viso a observao via estudos de caso e

    experimentao. Algumas vantagens dessa metfora so: (a) a compreenso que se tem dela

    como uma teoria de inteligncia e desenvolvimento intelectual; (b) a quantidade expressiva de

    pesquisas realizadas sob o enfoque dessa metfora com crianas de todas as idades ao redor

    do mundo; e (c) os detalhes com os quais muitas estruturas e processos so descritos. Entre as

    desvantagens esto: (a) a concentrao da teoria em aspectos lgicos e cientficos da

    inteligncia; (b) o estabelecimento do comeo do ltimo estgio de desenvolvimento

    intelectual aproximadamente aos 11 ou 12 anos de idade, sendo quase certo que os indivduos

    alcancem maturidade intelectual antes dessa idade; e (c) a superestimao das idades nas

    quais as crianas so capazes de apresentar vrios avanos intelectuais. Tendo como base a

  • 12

    metfora geogrfica, adotada no presente estudo, na seo a seguir ser delineado um

    histrico de alguns dos modelos mais importantes na rea de inteligncia.

    2.3 Histrico de alguns modelos de inteligncia

    Francis Galton, seis anos depois da publicao da clebre obra de Darwin A origem

    das espcies, publicou dois artigos, ambos intitulados Caractersticas e talentos hereditrios.

    Segundo esse autor a hereditariedade explicava as caractersticas cognitivas, ele tambm

    acreditava em hierarquias raciais. Em 1882 Francis Galton montou um laboratrio no Sul de

    Kensington, no museu de Londres com o objetivo de mensurar diferenas individuais. Ele

    aferia, por exemplo, habilidades de discriminao sensorial auditiva e visual, bem como

    tempo de reao a estmulos (Brody, 2000).

    Galton (1869) verificou a relao entre a inteligncia de parentes e constatou uma

    relao significativa apenas entre parentes de primeiro grau (pais e filhos). Esse pesquisador

    introduziu o estudo com gmeos e sugere que gmeos que so similares desde o nascimento

    continuam similares e gmeos que nascem dissimilares continuam dissimilares, mesmo

    quando expostos a ambientes similares. Ele argumentava que esses dados evidenciavam a

    dominncia da natureza sobre o meio.

    Binet se ops s idias de Galton, ele no concordava com a mensurao da

    inteligncia focada em processos cognitivos elementares. Ele estava convencido de que a

    inteligncia deveria ser estudada focando-se em processos mentais complexos. Binet e Henri

    (1896 citado em Brody, 2000) expressaram suas dvidas sobre a pesquisa em inteligncia

    direcionada ao estudo de diferenas individuais em funes simples. Eles ficaram espantados

    com o espao dado s sensaes e processos simples e com a pouca ateno dada aos

    processos superiores.

    De acordo com Brody (2000), o debate sobre a relevncia de tarefas simples ou

    complexas para a mensurao da inteligncia apresentada em dois dos mais importantes

  • 13

    artigos na histria da pesquisa em inteligncia: um de Spearman publicado em 1904 e um de

    Binet e Simon publicado um ano depois. Spearman desenvolveu uma teoria, Binet e Simon

    desenvolveram um teste.

    Spearman (1904) fez estudos de correlao entre vrias medidas de discriminao

    sensorial e encontrou correlaes positivas; tambm correlacionou estas com desempenho

    acadmico e tambm encontrou ndices positivos. Ele chegou concluso de que o elemento

    comum e essencial nas inteligncias coincide com o elemento comum e essencial nas funes

    sensoriais (Spearman, 1904, p. 269). Assim, Spearman assumiu que deve existir uma

    habilidade intelectual comum, responsvel pelas principais correlaes positivas encontradas.

    Ele chamou de inteligncia geral, g, essa habilidade. Ele assumiu que a varincia em uma

    medida pode ser explicada por uma teoria de dois fatores: um componente atribudo a g e uma

    segunda fonte especfica de varincia, s.

    Segundo Brody (2000, p. 19), Binet e Spearman discordaram substancialmente no

    mbito do estudo da inteligncia. Binet escreveu que alm de ficar espantado com a viso de

    Spearman de que a inteligncia estaria relacionada com a habilidade de discriminao

    sensorial, tambm assinalou que a noo de g como uma entidade singular era enganosa, pois

    dois indivduos poderiam obter o mesmo escore usando conhecimentos e habilidades muito

    diferentes.

    A viso de que o fator g no era suficiente para explicar a inteligncia e a ideia de que

    poderia haver fatores especficos, alm do g, levou Thurstone a elaborar sua teoria

    (Thurstone, 1931, 1938 citado em Brody, 2000; Thurstone e Thurstone, 1941). Ele

    desenvolveu um mtodo de anlise fatorial mltipla para verificar fatores independentes. A

    anlise de Thurstone (1938) revelou sete fatores independentes, ou habilidades mentais

    primrias, que poderiam obter interpretao psicolgica, a saber: (1) compreenso verbal -

    saber as definies de palavras, (2) fluncia verbal - produzir rapidamente um grande nmero

  • 14

    de palavras, (3) facilidade numrica - resoluo de problemas matemticos, (4) raciocnio

    espacial - rotacionar mentalmente figuras ou objetos, (5) velocidade perceptual - reconhecer

    rapidamente caractersticas de estmulos, (6) induo - resolver analogias e encontrar regras

    ou princpios para completar problemas e (7) memria - lembrar listas de palavras, figuras ou

    nmeros (Davidson & Downing, 2000).

    No obstante, Thurstone notou que no era possvel obter uma estrutura simples de

    fatores independentes; ele chegou concluso de que os fatores tinham que ser oblquos,

    ento, era possvel realizar anlises com fator de segunda ordem, o que poderia levar ao g.

    Guilford desenvolveu um modelo de inteligncia que no era hierrquico (ver

    Guilford, 1967, 1981, 1985). Ele desenvolveu uma taxonomia tri-dimensional que lhe

    permitia classificar qualquer teste quanto sua posio nas dimenses de operao, produo

    e contedo. Ele distinguiu cinco operaes: cognio (conhecimento), memria, produo

    divergente (gerao de alternativas), produo convergente e avaliao.

    Dois modelos hierrquicos contemporneos ajudam a conciliar a viso de Spearman e

    Thurstone. A Teoria de Inteligncia Fluida e Cristalizada (Teoria Gf-Gc) clarifica a noo de

    Spearman de um fator geral e til para explicar o desenvolvimento da infncia at a idade

    adulta (Horn, 1994). Por outro lado, a Teoria dos Trs Estratos de Carroll (1993) baseada na

    meta-anlise de uma grande quantidade de resultados psicomtricos, incluindo os dados que

    formaram a Teoria Gf-Gc (Davidson & Downing, 2000). As sees a seguir trataro dessas

    duas teorias de forma mais detalhada.

    2.4 O modelo hierrquico de habilidades cognitivas de Cattell e Horn

    Raymond B. Cattell foi estudante e pesquisador associado de Spearman nos anos de

    1930. Ele se mudou para os Estados Unidos em 1937 e por muitos anos dedicou-se quase que

    exclusivamente pesquisa e ao estudo de metodologias de anlise de fatores, especialmente

    no campo da personalidade. No obstante, ele fez muitas incurses na rea de inteligncia.

  • 15

    Em um artigo publicado em 1943 sobre inteligncia de adultos (Cattell, 1943), ele props a

    possvel existncia de dois tipos de inteligncia: uma fluida, que refletiria habilidades

    bsicas de raciocnio e estaria relacionada a processos mentais mais superiores; e uma

    inteligncia cristalizada, refletindo o quanto o indivduo capaz, parcialmente com base no

    nvel de inteligncia fluida, de aprender e aproveitar de suas experincias culturais,

    educacionais etc. A Inteligncia Fluida foi assim nomeada porque foi concebida como sendo

    capaz de permear muitos tipos de atividades mentais; a cristalizada foi assim chamada porque

    foi pensada como um tipo de produto final de experincias at um determinado ponto na vida

    de um indivduo (Carroll, 1993).

    Cattell notou o paralelismo dessa distino com a distino de Hebb (1942) entre

    Inteligncia A e Inteligncia B, sendo a primeira a capacidade determinada

    biologicamente e a segunda, a inteligncia gerada por meio da experincia e da educao.

    Assim, a teoria das inteligncias fluida e cristalizada, agora geralmente chamada Teoria Gf-

    Gc, passou por muitas checagens e testes experimentais (Cattell, 1963, 1967). Um estudante

    de Cattell, John Horn, forneceu o primeiro teste claro da teoria em sua tese de doutorado,

    usando as tcnicas fatoriais de ordem superior thurstonianas (Carroll, 1993).

    Estudos de Horn, Cattell e outros tm refinado a Teoria Gf-Gc; por exemplo, um

    grande estudo de vinte fatores primrios de Hakstian e Cattell (1978) revelou seis fatores de

    segunda ordem, incluindo no somente Gf e Gc, mas tambm Gv (Capacidade de

    Visualizao), Gps (Velocidade Geral Perceptual), Gm (Capacidade Geral de Memria) e Gr

    (Capacidade Geral de Recuperar). Ademais, foram feitas correes entre esses fatores de

    segunda ordem, sugerindo a existncia de trs fatores de terceira ordem, inteligncia fluida

    original, capacidade de concentrao e cultura escolar. Todavia, esses achados devem

    ser considerados com cautela, sendo necessrios estudos futuros (Carroll, 1993).

  • 16

    Uma caracterstica interessante da Teoria Gf-Gc, desenvolvida por Horn (1985; Horn,

    Donaldson & Engstrom, 1981) que as habilidades da inteligncia fluida tendem a declinar

    com o avano da idade, pelo menos em alguns indivduos, enquanto as habilidades

    cristalizadas, como vocabulrio, no (Carroll, 1993). A esse respeito, Bugg, Zook, DeLosh,

    Davalos e Davis (2006) encontraram, em um estudo realizado com pessoas entre 20 e 89 anos

    de idade, um declnio da inteligncia fluida com o avano da idade. Esses autores concluram

    que esse fator era devido ao processo de envelhecimento geral e ao declnio das funes

    frontais do crebro, bem como a outros fatores no identificados.

    Em seu maior livro sobre habilidades, Cattell (1971 citado em Carroll, 1993)

    incorporou a Teoria Gf-Gc em uma teoria nova, mais geral a teoria tridica, que prope

    que as habilidades cognitivas encaixam-se em trs tipos, a saber: capacidades, que so

    habilidades que refletem limites para a ao do crebro como um todo; capacidades

    internas, que so tipos de organizao local para diferentes modalidades motoras e

    sensoriais; e aes, que so habilidades para realizar coisas em diferentes reas de contedo

    cultural, adquiridas por meio de investimento da inteligncia fluida no aprendizado.

    Ademais, Cattell postulou um nmero de dimenses por meio das quais os fatores de

    habilidade podem ser caracterizados. Duas dessas dimenses so relacionadas com fases de

    ao entrada, processo e sada, e duas delas referem-se a contedo envolvimento de

    dimenses culturais e de experincia, e envolvimento de dimenses organizacional-neural. O

    restante so parmetros de processo, tais como nvel de complexidade, grau de exigncia da

    memria e velocidade demandada (Carroll, 1993).

    Segundo Carroll (1993), o modelo de Horn-Cattell um verdadeiro modelo

    hierrquico que cobre todos os maiores domnios do funcionamento intelectual. Numerosos

    detalhes necessitam ser melhor estudados, mas entre os modelos disponveis esse parece

  • 17

    oferecer a abordagem mais razovel e bem estabelecida para uma teoria aceitvel acerca da

    estrutura das habilidades cognitivas.

    2.5 A teoria dos trs estratos

    A teoria dos trs estratos (Carroll, 1993) est baseada na anlise de mais de 460

    estudos. Esse modelo similar a outros modelos hierrquicos, mas difere da Teoria Gf-Gc,

    por exemplo, na incluso do fator geral de terceira ordem no pice da hierarquia (Davidson &

    Downing, 2000). Carroll (1993) descreve a estrutura da inteligncia como uma pirmide. No

    topo da pirmide est o Estrato III, equivalente conceitualmente ao fator g de Spearman.

    Embora Carroll no apoie a interpretao de Speraman do g como representando energia

    mental, ele concorda que o g est por trs de todas as atividades intelectuais e tem um alto

    grau de hereditariedade.

    No meio da pirmide, Estrato II, esto oito fatores que so influenciados de diferentes

    formas pelo g. Essas habilidades gerais, que so similares aos fatores de segunda ordem na

    Teoria Gf-Gc, representam a permanncia de caractersticas individuais que podem

    influenciar a performance em determinado domnio. Essas oito habilidades so: inteligncia

    fluida, inteligncia cristalizada, memria e aprendizagem geral, percepo visual ampla, vasta

    percepo auditiva, ampla habilidade de recuperao, ampla velocidade cognitiva e

    velocidade de processamento (Davidson & Downing, 2000).

    A base da pirmide, Estrato I, consiste de numerosas habilidades especficas, tais

    como raciocnio quantitativo e conhecimento lxico. De acordo com Davidson e Downing

    (2000), assim como no modelo gf-gc, alguns desses fatores representam as habilidades

    mentais primrias de Thurstone. Cada habilidade no Estrato I est relacionada com uma ou

    mais das oito habilidades que compem o Estrato II.

    No obstante a estrutura proposta por Carroll (1993), ele enfatiza que seus trs

    estratos no so definidos de forma rgida. As habilidades em cada estrato refletem apenas seu

  • 18

    grau de generalidade no comando de grande parte do comportamento inteligente. Davidson e

    Downing (2000) assinalam que o Estrato I representa habilidades muito especializadas, que

    refletem a aquisio de estratgias particulares ou tipos especficos de conhecimento; o

    Estrato II, por sua vez, contm habilidades no muito especializadas, presentes em muitos

    domnios do comportamento inteligente; enquanto o Estrato III tem uma habilidade, g, que

    est por trs de todos os aspectos da atividade intelectual. Devido ao fato de a generalidade

    ser uma questo de grau, algumas habilidades podem ser difceis de alocar em um estrato.

    Portanto, Carroll admite que podem existir estratos intermedirios entre os trs estratos que

    ele identificou.

    Muitos estudos ainda precisam ser feitos nessa rea para que se possa compreender

    melhor os pontos menos estabelecidos desse modelo. No Brasil, alguns estudiosos do campo

    da inteligncia tm construdo instrumentos e realizado pesquisas com o intuito de

    compreender melhor e aferir a inteligncia fluida (Pasquali, 2005; Primi, 2001). O presente

    trabalho tambm se configura como uma contribuio para esse campo de estudo,

    especialmente no mbito da psicologia infantil.

  • 19

    3. Histrico dos testes SON de 1943-2009

    No incio dos anos 40 Snijders-Oomen (1943) construiu uma escala de inteligncia

    no-verbal (SON) objetivando avaliar crianas surdas. A inteligncia foi operacionalizada por

    essa autora em termos da habilidade para aprender; do quanto as crianas podem aproveitar da

    instruo adquirida na escola. O teste SON desenvolvido por Snijders-Oomen foi o primeiro

    teste que contemplou uma grande rea da inteligncia sem ser dependente do uso da

    linguagem.

    O diagrama a seguir sumariza o histrico dos testes SON, desde sua primeira verso

    at o estudo atual de normatizao no Brasil.

  • 20

    SON (1943)

    Snijders-Oomen Normas para Crianas surdas,

    de 4-14 anos

    SON-58 (1958) Snijders & Snijders-Oomen Normas diferenciadas para crianas surdas

    e ouvintes, de 4-16 anos

    SON Pr-escolar (1975) Starren-SON (1975)

    Snijders & Snijders-Oomen Starren Normas diferenciadas para crianas surdas e ouvintes,

    Normas diferenciadas para crianas surdas e ouvintes,

    de 7-17 anosde 3-7 anos

    SON-R 2 -7 (1998) SON-R 5 -17 (1988) Tellegen, Winkel & Laros Snijders, Tellegen & Laros Normas gerais Normas gerais de 2-8 anos de 5-17 anos

    SON-R 2 -7[a] (2009) SON-I 6-40 (em desenvolvimento) Laros, Tellegen, Jesus & Karino Tellegen & Laros

    Normas gerais brasileiras, Normas gerais europias, de 3-8 anos de 6-40 anos

    Figura 3.1. Histrico dos testes SON de 1943 a 2009, com base em Drunen (2003)

    Conforme observado nesse diagrama, a primeira verso do teste SON foi desenvolvida

    para a avaliao do funcionamento cognitivo de crianas surdas com idade entre 4 e 14 anos

    (Snijders-Oomen, 1943). Fazendo uso de tarefas novas e tarefas recm desenvolvidas na

    poca, Snijders-Oomen desenvolveu uma bateria de testes que incluiu diversas tarefas no-

    verbais relacionadas habilidade espacial e aos raciocnios abstrato e concreto. O objetivo do

  • 21

    teste era fornecer uma indicao clara da habilidade de aprendizagem e das chances de

    sucesso na escola. Um requisito para a bateria de testes foi que as vivncias familiares e a

    educao formal deveriam influenciar minimamente os resultados do teste.

    Para essa mesma autora forma, coerncia concreta, abstrao e memria de

    curto-prazo foram vistos como sendo representaes aceitveis de funcionamento intelectual

    tpico para sujeitos que estavam sofrendo de surdez precoce. O objetivo dessa bateria de testes

    era quebrar o vis dos testes de execuo no-verbal empregados naquela poca e permitir

    que funes como abstrao, simbolismo, entendimento de situaes comportamentais e

    memria ficassem mais acessveis para a avaliao no-verbal (Tellegen, Winkel, Wijnberg-

    Williams & Laros, 1998).

    A primeira reviso do teste foi publicada em 1958, o SON-58 (Snijders & Snijders-

    Oomen, 1958). Nesta a primeira verso foi expandida e normatizada tanto para crianas com

    audio como para crianas surdas com idade entre 4 e 16 anos.

    Na segunda reviso foram desenvolvidas duas baterias distintas de testes, pois em

    todos os subtestes do SON original um tipo de item diferente parecia mais apropriado para

    crianas acima de seis anos. Assim, o SSON (Starren, 1975) foi desenvolvido para crianas de

    7 a 17 anos e o SON 2-7, geralmente chamado de SON Pr-escolar, ou P-SON (Snijders &

    Snijders-Oomen, 1976), para crianas de 2 a 7 anos.

    Em 1988 foi publicado o SON-R 5-17 como resultado da terceira reviso do teste

    (Laros & Tellegen, 1991; Snijders, Tellegen & Laros, 1989; Tellegen & Laros, 1993). Ele foi

    desenvolvido para uso tanto com crianas ouvintes quanto com crianas surdas, com idade

    entre 5 e 17 anos. Foi feito um esforo na construo desse teste para combinar as vantagens

    do SSON e do SON-58.

    A COTAN (Commissie Testaangelegenheden van het nederlandse Instituut van

    Psychologen), Comisso do Instituto Nacional dos Psiclogos da Holanda, responsvel pela

  • 22

    avaliao de testes, analisou o SON-R 5-17. Todos os aspectos do teste avaliados (base

    terica para a construo, execuo do manual e dos materiais, normas, fidedignidade e

    validade) foram julgados como bom, que o maior conceito em uma escala de quatro nveis

    (Evers, Van Vliet-Mulder & Ter Laak, 1992). Isto quer dizer que o SON-R 5-17

    considerado um dos testes de melhor credibilidade na Holanda (Sijtsma, 1993).

    Finalizada a reviso do SON-R 5-17, foi iniciada a reviso do SON Pr-escolar, o

    que resultou na publicao do SON-R 2-7 (1998). Este o teste utilizado na presente

    pesquisa. Dessa forma, a prxima seo tratar de forma mais pormenorizada do mesmo.

    3.1 O teste no-verbal de inteligncia SON-R 2-7

    As principais razes para a reviso do SON Pr-escolar (1975) foram: (1) a

    necessidade de atualizar as normas, modernizar os materiais do teste e (2) proporcionar uma

    boa comparao com os itens destinados s crianas mais novas do SON-R 5 -17 (Tellegen

    e cols., 1998).

    Segundo Tellegen e cols. (1998), como o SON Pr-escolar foi publicado em 1975 era

    necessrio uma reviso, pois Cronbach (1996) aconselha revisar testes de inteligncia depois

    de um perodo de mais de 20 anos. As normas tm a tendncia de ficarem obsoletas ao longo

    do tempo. Ademais, alguns pesquisadores fizeram estudos nos quais observaram que o

    desempenho em testes de inteligncia em 10 anos aumenta cerca de 2,5 pontos na escala de

    QI (100, 15) (Lynn & Hampson, 1986; Flynn, 1987). Em geral, por questes prticas, como

    financiamento e tempo, no se revisa as normas dos testes a cada 10 anos. E quanto aos testes

    SON, o programa de correo do teste j calcula esse efeito do tempo sobre o QI. oferecida

    uma estimativa do QI chamada QI Flynn.

    De acordo com Tellegen e cols. (1998) outra razo para a reviso do SON Pr-escolar

    foi devido aos materiais, que j estavam antiquados. O terceiro motivo para a reviso foi

    buscar melhorar a fidedignidade e a generalizabilidade do teste, em especial para os limites

  • 23

    superiores e inferiores da faixa etria. No manual do SON Pr-escolar so apresentados dados

    que mostram que os subtestes diferenciam muito pouco os grupos limtrofes de idade. Alm

    disso, no SON Pr-escolar no havia normas para os subtestes individuais, apenas para o

    escore total. Assim, no era possvel calcular o QI se um subteste deixasse de ser

    administrado. Por fim, as normas eram apresentadas por grupo de idade de seis meses, o que

    poderia levar a um desvio de seis pontos de QI se a idade no correspondesse ao meio do

    intervalo.

    A ltima razo para a reviso do SON Pr-escolar foi possibilitar a comparao dos

    resultados do SON-R 2 -7 com os do SON-R 5-17. Assim, o teste para crianas mais

    novas deveria ser muito similar ao teste para crianas mais velhas. Uma sobreposio nas

    faixas de idade dos testes tambm era considerada desejvel (Tellegen & cols., 1998). A

    reviso no se restringiu construo de normas novas, mas os itens, os subtestes e as

    instrues foram tambm submetidos a uma ampla reviso, em todos os aspectos.

    Tellegen e cols. (1998) referem que o SON-R 2-7 foi construdo nos anos de 1991 e

    1992. Nesse perodo foram elaboradas trs verses experimentais do teste, administradas em

    mais de 1.850 crianas com idades entre 2 e 7 anos. A verso final foi construda com base

    nos dados dessa pesquisa, nas experincias e observaes dos examinadores, comentrios e

    sugestes de psiclogos e educadores.

    A pesquisa de normatizao do SON-R 2-7 foi realizada entre os anos de 1993 e

    1994 com mais de 1.000 crianas, com idade na faixa etria do teste. Para a validao do teste

    foram aplicados outros testes de inteligncia e linguagem em grande parte das crianas que

    participaram da pesquisa de normatizao (Tellegen & cols., 1998). A seguir sero relatados

    alguns estudos sobre a validao do SON-R 2-7.

  • 24

    3.1.1 Estudos de validao do SON-R 2-7

    A validade do SON-R 2-7 foi verificada em vrios estudos de validao na Holanda

    e outros pases como Inglaterra, Estados Unidos e Austrlia. Nesses estudos foram

    comparados os resultados no SON-R 2-7 com os resultados em outros testes de inteligncia

    e cognitivos.

    Os resultados do SON-R 2-7 foram comparados na Holanda com os dos seguintes

    testes: WISC-R, WPPSI-R, TONI-2, Stutsman, Kaufman-ABC, BOS 2-30, LDT, RAKIT,

    TOMAL, DTVP-2 e os testes de desenvolvimento da linguagem Reynell e Schlichting. O

    tamanho da amostra dos vrios estudos de validao variou de 26 a 558 sujeitos. As 21

    correlaes do SON-R 2-7 com outros testes no-verbais de inteligncia variaram de 0,45 a

    0,83, com mdia de 0,65. As 12 correlaes com medidas gerais de inteligncia variaram de

    0,54 a 0,87, com mdia de 0,65. As 19 correlaes do SON-R 2-7 com medidas de

    habilidade verbal e inteligncia verbal variaram de 0,20 a 0,71, com mdia de 0,48 (Tellegen

    & cols., 1998).

    O estudo de validao do SON-R 2-7 na Austrlia foi realizado em 1996. A amostra

    do estudo tinha 155 sujeitos, 72 meninos e 83 meninas, com idade mdia de 4 anos e 5 meses

    (DP=10 meses). Nessa amostra havia trs grupos diferenciados de crianas: (1) sem nenhum

    tipo de deficincia (N = 59), (2) com problemas auditivos (N = 59) e (3) com retardo no

    desenvolvimento (N = 37). A correlao do SON-R 2-7 com o WPPSI-R na amostra total da

    Austrlia foi 0,78. Considerando os trs grupos de crianas citados, a correlao entre o QI da

    escala de execuo do WPPSI-R e o SON-R 2-7 foi 0,74, 0,74 e 0,75, respectivamente. No

    grupo de crianas sem qualquer tipo de deficincia a correlao do SON-R 2-7 com a escala

    verbal (r=0,54) foi menor do que a correlao com a escala de execuo (r=0,74) do WPPSI-

    R (Tellegen e cols., 1998).

  • 25

    O estudo de validao realizado nos Estados Unidos (Oeste da Virgnia) foi efetuado

    por meio da aplicao do SON-R 2-7 e cinco outros testes cognitivos: WPPSI-R, Kaufman-

    ABC, Escalas de Habilidades Infantis de McCarthy (MSCA), Teste de Figura e Vocabulrio

    Peabody Revisado (PPVT-R) e a Escala Pr-escolar de Linguagem 3 (PLS-3). A

    correlao entre o SON-R 2-7 e o escore total do WPPSI-R foi 0,59; as correlaes com as

    escalas de execuo e verbal foram 0,60 e 0,43, respectivamente. A idade mdia das 75

    crianas que fizeram ambos os testes foi 5,1 anos (Tellegen & cols., 1998).

    A correlao do SON-R 2-7 com o Kaufman-ABC foi 0,66; com a escala no-verbal

    do Kaufman-ABC foi 0,61 e a idade mdia das 31 crianas que fizeram tanto o Kaufman-

    ABC quanto o SON-R 2-7 foi 4,6 anos. Com o ndice cognitivo geral do MSCA o SON-R

    2-7 mostrou uma correlao de 0,61; com a escala verbal foi 0,48 e com a escala de

    execuo perceptual foi 0,61 (Tellegen & cols., 1998).

    Por fim, a correlao do SON-R 2-7 com o PPVT-R foi 0,47, a idade mdia das 29

    crianas que fizeram ambos os testes foi 5,5 anos. Com o escore total de linguagem do PLS-3

    a correlao foi 0,61, com a Escala de Compreenso Auditiva foi 0,59 e com a Escala de

    Comunicao Expressiva foi 0,56. A idade mdia das 47 crianas que fizeram ambos os testes

    foi 4,6 anos (Tellegen & cols., 1998).

    De acordo com Tellegen e cols. (1998) a pesquisa de validao na Inglaterra foi

    realizada em 1996. Alm do SON-R 2-7 foram aplicadas as Escalas Britnicas de

    Habilidades (BAS). Ambos os testes foram aplicados em 58 crianas, 34 meninos e 24

    meninas. A idade mdia das crianas foi 6;3 anos (DP=3 meses). O intervalo entre a aplicao

    dos testes variou de alguns dias a algumas semanas. Nessa amostra h trs grupos

    diferenciados de crianas: um grupo sem deficincias especficas (N = 20), um grupo que tem

    o ingls como segunda lngua (N = 22) e um grupo com problemas de aprendizagem (N = 16).

  • 26

    A correlao do SON-R 2-7 com a verso reduzida da BAS foi 0,80. Quando os dois

    subtestes no-verbais do BAS foram includos a correlao aumentou para 0,87. A correlao

    com a parte verbal (trs subtestes verbais) da verso reduzida do BAS foi 0,71, enquanto a

    correlao com a parte de execuo (trs subtestes no-verbais) foi 0,78. As correlaes no

    grupo de crianas sem deficincias foram consideravelmente menores do que nos outros dois

    grupos (0,56 vs. 0,76 e 0,78).

    No Brasil o SON-R 2-7 foi administrado por Quesada (2007) em um estudo com 30

    crianas epilpticas, com idade entre 3 anos e 7 meses e 6 anos e 11 meses. Alm do SON-R

    2-7 foi aplicado o WPPSI-III e a correlao entre os dois testes mostrou altos ndices entre

    todos os tipos de QI avaliados (r > 0,50). O QI total, de raciocnio e de execuo do SON-R

    2-7 obteve correlaes variando de 0,55 a 0,82, com o QI verbal, de execuo, total,

    velocidade de processamento, organizao perceptual e resistncia distrao do WPPSI-III.

    3.2 O teste no-verbal de inteligncia SON-R 2-7[a]

    O SON-R 2-7[a] uma verso abreviada do SON-R 2-7, pois dos seis subtestes

    que compem este ltimo apenas quatro fazem parte do SON-R 2-7[a], a saber: Mosaicos,

    Categorias, Situaes e Padres, administrados nessa ordem. O SON-R 2-7[a], objeto da

    presente pesquisa, um teste de inteligncia geral para crianas com idade de at 7 anos e

    nove meses. Ele avalia um espectro largo de habilidades cognitivas e as instrues podem ser

    dadas tanto de maneira verbal como no-verbal, dependendo das possibilidades de

    comunicao da criana. Os subtestes do SON-R 2-7[a] podem ser agrupados em dois tipos

    de teste: de raciocnio (Categorias e Situaes) e de execuo com enfoque espacial

    (Mosaicos e Padres).

    As habilidades de raciocnio tm sido consideradas tradicionalmente como a base da

    funo de inteligncia (Carroll, 1993). Testes de raciocnio so centrais na maioria dos testes

    de inteligncia e podem ser divididos em testes de raciocnio abstrato e concreto. Testes de

  • 27

    raciocnio abstrato, como Categorias, so embasados no relacionamento entre conceitos que

    so abstratos, isto , os que no so determinados pelo tempo ou espao. Nos testes de

    raciocnio abstrato, um princpio de ordem precisa ser derivado do material que foi

    apresentado como estmulo, que precisa ser aplicado ao material novo. Nos testes de

    raciocnio concreto, como no de Situaes, o objetivo criar uma conexo real de tempo-

    espao entre pessoas e objetos (Laros & Tellegen, 1991).

    Os testes espaciais so similares aos testes de raciocnio concreto porque, em ambos os

    casos, um relacionamento dentro de um todo espacial precisa ser construdo. A diferena est

    no fato de que os testes de raciocnio concreto dizem respeito a um relacionamento entre

    partes de uma figura que faz sentido e os testes espaciais se referem a um relacionamento de

    forma entre partes de uma figura (ver Carroll, 1993). Testes espaciais tm sido utilizados

    por muito tempo como componentes integrais dos testes de inteligncia. Os subtestes

    espaciais includos no SON-R 2-7[a] so Mosaicos e Padres.

    Uma caracterstica importante que Mosaicos e Padres tm em comum que o item

    resolvido enquanto os materiais do teste esto sendo manipulados. Por essa razo, esses dois

    subtestes so chamados testes de execuo (ver Tellegen & cols., 1998).

    A administrao do SON-R 2-7 individual e o tempo mdio de resposta de 50

    minutos. Um elemento importante das instrues do SON-R 2-7 o mostrar como fazer

    por parte do aplicador em parte dos itens. Outro aspecto muito importante da administrao

    o feedback que o examinador oferece depois de cada item. Esse feedback no apenas

    informar se a resposta da criana foi certa ou errada, mas o examinador ajuda a criana a

    encontrar a soluo correta. Devido a esse aspecto o SON-R 2-7 possui mais similaridade

    com testes que aferem potencial para aprender do que com testes tradicionais de inteligncia

    (Tellegen & Laros, 1993).

  • 28

    3.2.1 Descrio dos subtestes do SON-R 2-7[a]

    Mosaicos

    O subteste Mosaicos composto por 15 itens e um exemplo. Na parte I de Mosaicos a

    criana precisa copiar padres simples de mosaicos numa moldura utilizando 3 a 5 quadrados

    vermelhos. O nmero de quadrados a serem utilizados e a possibilidade de o examinador

    demonstrar o item primeiro ou no determina a dificuldade dos itens.

    Por sua vez, a parte II de Mosaicos requer que padres diversificados de mosaicos

    sejam copiados com quadrados vermelhos, amarelos e vermelhos/amarelos em uma moldura.

    Nos itens mais fceis da parte II, somente quadrados vermelhos e amarelos so utilizados e o

    desenho impresso no tamanho real. Nos itens mais difceis, todos os tipos de quadrados so

    utilizados e o desenho apresentado numa escala menor. A Figura 3.2 apresenta um exemplo

    desse subteste.

    Item 3 Item 9 Item 14 (Parte I) (Parte II) (Parte II)

    Figura 3.2 Itens do subteste Mosaicos

    Categorias

    O subteste Categorias possui 15 itens. Na primeira parte 4 ou 6 cartes precisam ser

    postos na categoria correta. Nos primeiros itens, os desenhos nos cartes que pertencem

    mesma categoria possuem uma semelhana clara. Por exemplo, uma fatia de bolo

    apresentada em diferentes posies. Nos ltimos itens da parte I o conceito adjacente

  • 29

    categoria precisa ser compreendido para que o item possa ser finalizado com xito. Por

    exemplo, veculos motorizados so contrastados com os que no so.

    Os itens da parte II do subteste Categorias so de mltipla escolha. So apresentados

    trs desenhos para a criana que tm algo em comum e dois espaos vazios devem ser

    preenchidos por desenhos que tm esse mesmo algo em comum, mas esto em outra pgina

    que tem cinco desenhos. A criana deve escolher, entre os cinco, os dois objetos adequados

    categoria em anlise. O nvel de dificuldade determinado pela quantidade de abstrao

    necessria para descobrir a categoria adjacente a cada item. Na figura a seguir apresentado

    um exemplo desse subteste.

    Item 4 Item 11 (Parte I) (Parte II)

    Figura 3.3 Itens do subteste Categorias

    Situaes

    O subt