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manual de psicometria

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  • Manual de Psicometria (Tereza)1 Reviso: 26.01.20012 Reviso: 19.02.20013 Reviso: 22.01.2001Produo: Textos & Formas Ltda.Para: Ed. Jorge Zahar

  • Tereza Cristina Erthal

    MANUAL DE PSICOMETRIA

    8a edio

    Rio de Janeiro

  • Copyright 1987, Tereza Cristina S. Erthal

    Copyright desta edio 2009:Jorge Zahar Editor Ltda.rua Mxico 31 sobreloja

    20031-144 Rio de Janeiro, RJtel.: (21) 2108-0808 / fax: (21) 2108-0800

    e-mail: [email protected]: www.zahar.com.br

    Todos os direitos reservados.A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo

    ou em parte, constitui violao de direitos autorais. (Lei 9.610/98)

    Edies anteriores: 1987, 1993, 1996, 1998, 1999, 2001, 2003

    Capa: Carol S e Srgio Campante

    CIP-Brasil. Catalogao-na-fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

    Erthal, Tereza Cristina, 1955-E69m Manual de psicometria / Tereza Cristina Erthal. 8.ed. Rio de

    Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

    Inclui bibliografi aISBN 978-85-7110-341-2

    1. Psicometria. I. Ttulo.

    CDD: 150.72409-0765 CDU: 159.938.3

    8.ed.

  • SUMRIO

    AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    PREFCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    INTRODUO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    1. HISTRICO DA MEDIDA EM PSICOLOGIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    2. INTRODUO QUANTIFICAO EM PSICOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    2.1. Definio de Psicometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    2.2. Mensurao e Medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    2.3. Mensurao em Psicologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

    2.4. Funes da Medida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

    2.5. Tipos de Medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

    2.6. Dimenses a Serem Medidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

    2.7. Princpio do Isomorfismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

    2.8. Escalas de Medidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    3. TCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

    3.1. Observao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

    3.2. Inquirio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

    3.3. Testagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

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  • 4. NOO GERAL SOBRE A TEORIA DOS TESTES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

    4.1. Conceito de Testes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

    4.2. Classificao dos Testes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

    4.3. Critrios para a Utilizao dos Testes Psicolgicos . . . . . . . . . . . . . . 68

    5. FUNDAMENTOS ESTATSTICOS PARA A CONSTRUO DOS TESTES . . . . . 74

    5.1. Anlise de Itens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

    5.2. Normas e Padronizao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

    5.3. Fidedignidade e Validade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

    6. EXERCCIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

    APNDICE A: EXEMPLO DE PADRONIZAO DOS TESTES . . . . . . . . . . . . 139

    APNDICE B: EXEMPLO DE APLICAO DE NORMAS . . . . . . . . . . . . . . . 143

    APNDICE C: TABELA A REAS E ORDENADAS DA CURVA NORMAL

    TABELA B FUNES DE P. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145

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  • AGRADECIMENTOS

    Meus agradecimentos inestimvel ajuda prestada pelo professorAroldo Rodrigues, pelo incentivo e ensinamentos proporcionados; professora Maria Igns da Silva Sanz, pela troca de conhecimentos, oque muito ajudou a enriquecer este livro; aos ex-alunos e amigos dasfaculdades onde lecionei Faculdade Humanidade Pedro II eEscola Superior de Ensino Celso Lisboa e atuais alunos da Ponti-fcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, pela experincia obti-da nesses contatos enriquecedores; professora Ana Maria Feijo,ex-companheira da disciplina e com quem iniciei este trabalho; a to-dos os que de uma forma ou de outra colaboraram para a elaboraodeste trabalho, em suas diferentes etapas, e ao Departamento de Psi-cologia da PUC/RJ, que me proporcionou a chance de enriquecermeus conhecimentos incentivando-me nessa jornada.

    Um agradecimento especial professora Maria Alice Bogossian,com quem iniciei o meu aprendizado na rea e que infelizmente nopoder tomar conhecimento do testemunho dessa gratido.

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  • Aos meus pais primeiros incentivadoresao meu trabalho intelectual.

    Aos meus filhos Daniel e Rodrigo razo pela qual eu luto.

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  • PREFCIO

    Segundo Westaway, quanto mais a medida exata entra num setorda cincia, mais desenvolvido este setor (Scientific Method: ItsPhilosophical Basis and Its Modes of Application, 1937, p.271). Noh como negar que as cincias humanas so muito mais complexasque as cincias da natureza, muito mais recentes do que estas e, con-seqentemente, muito menos desenvolvidas. No obstante, esta rea-lidade no serve de justificativa para que se negligencie o aprimora-mento dos mtodos da medida em psicologia.

    A psicologia, mais do que qualquer outro setor das cincias so-ciais e humanas, logrou aperfeioar seus mtodos de medida. E faz-semister que continue desenvolvendo-os e burilando-os. Lamentavel-mente, no Brasil, apesar da psicologia ser uma profisso regulamen-tada por lei h 25 anos, o reconhecimento do valor da medida nessadisciplina no partilhado pela maioria dos psiclogos. Tempo pre-cioso gasto por professores e alunos recalcitrantes em admitir acientificidade do saber psicolgico, no combate possibilidade demensurao de fenmenos psicolgicos. Infelizmente, este tempo literalmente perdido, pois as crticas partem de pessoas que comba-tem o que desconhecem, resultando, assim, infrutferos seus argu-mentos. Seria desejvel (e realmente proveitoso) que aqueles que seopem a priori quantificao em psicologia se dessem ao trabalhoelementar de, primeiramente, compreender o que se entende por men-surao de fenmenos psicolgicos para, em seguida, criticar aquilo comque no concordam. Em meus 30 anos de contato quotidiano com apsicologia no Brasil, ainda no encontrei uma crtica sequer quanti-

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  • ficao em psicologia que revelasse, por parte de seu autor, conheci-mento competente do objeto de sua crtica.

    conhecida a razovel averso que ns, povos latino-america-nos, temos pela medida e a quantificao em geral. Tradies histri-cas explicam este fenmeno. Os cursos de estatstica, pesquisa,psicometria e outros que se utilizam de nmeros, equaes matem-ticas e computao em geral no figuram entre os preferidos por nos-sos alunos dos cursos de cincias sociais e humanas. Privilegiados emsua preferncia so os cursos que tratam de problemas epistemolgi-cos, fenomenolgicos, psicopatolgicos, etc... Embora estes ltimossejam importantes e, at mesmo, imprescindveis a uma boa forma-o do psiclogo, lamentvel que os cursos que lidam com aspectosquantitativos sejam to desdenhados por estudantes e at pelos orga-nizadores de currculos em nossos Departamentos de Psicologia.

    O livro da professora Tereza Cristina Erthal tem o grande mritode ser um livro sobre mensurao escrito por uma professora brasilei-ra. Ademais, sendo a autora, alm de professora universitria, umaprofissional que aplica seus conhecimentos psicomtricos sua ativi-dade clnica particular, o livro assume um significado especial, de vezque constitui um testemunho vivo, prestado por uma psicloga apli-cada, da necessidade do estudo da mensurao psicolgica para umaformao slida e adequada do psiclogo, seja qual for sua futurarea de especializao.

    O livro introdutrio, esmera-se em tornar o material acessvel,mesmo aos que no acreditam possuir vocao para lidar com nme-ros e medidas, e apresenta aos estudantes dos primeiros semestres docurso de psicologia as noes bsicas sobre as caractersticas gerais detestes, escalas e medida. A maneira amena de apresentar os princpiosintrodutrios a estes temas dever motivar o aluno a aprofund-losem livros mais avanados. Para os que no se convenceram da neces-sidade e do valor da mensurao em psicologia, este livro lhes dar,pelo menos, o mnimo indispensvel para uma avaliao mais justado papel da medida em psicologia.

    Se complementado com textos mais avanados (que constam dabibliografia apresentada), este manual fornecer ao estudante de gra-duao uma boa viso do setor da psicologia conhecido como psico-

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  • metria. Trata-se de um dos pouqussimos livros brasileiros dognero, o que o torna uma importante contribuio psicologia emnosso pas e faz sua autora merecedora de nossos agradecimentos e denossos elogios.

    AROLDO RODRIGUESCoordenador do mestrado

    da Univ. Gama FilhoOrientador dos cursos de mestrado

    e doutorado da FGV

    PREFCIO 11

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  • INTRODUO

    Este guia de estudo pretende que aqueles que se dedicam s cinciashumanas, e mais especificamente psicologia, possam conscienti-zar-se da importncia da psicometria e tambm familiarizar-se comseus conceitos. Para muitos estudantes, isso constitui um fato inde-sejvel. Optaram pela psicologia para aumentar seu entendimentodas razes por que eles e as pessoas que conhecem, sentem e agem damaneira como fazem acabaram se encontrando a braos com con-ceitos que parecem muito remotos das preocupaes humanas: des-vios-padro, distribuio de freqncia, probabilidades. No surpre-ende que se revoltem e protestem a respeito dos requisitos fixadospara os cursos de psicologia que escolheram. Pem em dvida a im-portncia dos conceitos matemticos e das formulaes quantitativaspara pessoas cujo objetivo obter um conhecimento operacional dapsicologia. Mas a verdade que o pensamento quantitativo constituiatualmente uma caracterstica essencial e no perifrica da psicolo-gia (Tyler, 1973). Sem os mtodos quantitativos, no se podem ex-trair concluses fidedignas na pesquisa do comportamento humano.

    A psicologia, caminhando para ser uma disciplina cientfica, pre-cisa comunicar de forma precisa seus resultados de estudos de pes-quisa. No h comunicao precisa sem quantificao do objeto a serestudado.

    No entanto, no pretenso deste trabalho exaurir todo o assun-to que a psicometria engloba em apenas um guia de estudo, mas elu-cidar assuntos que apenas se consideram bsicos para a suacompreenso. Pretende-se dar uma viso dos princpios, mtodos eproblemas gerais da psicometria, de forma a que o leitor possa adqui-rir uma boa formao na disciplina.

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  • Inicialmente, apresentado o histrico das medidas com a inten-o de demonstrar ao estudante sua repercusso na rea da psicome-tria. Introduzido o processo de quantificao, descrevem-se seusnveis sofisticados de medida, tcnicas e instrumentos de avaliaovariados. O teste constitui o principal instrumento, no por ser omelhor, mas por objetivar as informaes colhidas por outros instru-mentos. Sua construo proposta, indicando-se como se estabele-cem as normas, como se analisam os itens e como se atingem avalidade e a fidedignidade do teste.

    Em suma, o objetivo que se espera atingir com esta obra pode seralcanado se o leitor se conscientizar da enorme importncia da ma-tria para a construo de uma psicologia cientfica.

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  • Desde os tempos primitivos que se nota, entre os seres humanos, apreocupao de fazer observaes cada vez mais acuradas do mundoao redor. A partir da compreensvel necessidade de se estimar a dura-o dos dias e das noites e a sucesso das estaes, desenvolveram-seinstrumentos de aferio do tempo. De igual modo foram surgindomeios para medir distncias, tamanhos, capacidades e outros. Bsso-la, relgio, microscpio, telescpio, sextante, etc. so alguns dos ins-trumentos que apareceram e tornaram possvel a mensurao maisobjetiva das magnitudes dos fenmenos naturais. Entretanto, s apartir do sculo XIX que o ser humano se voltou para si prpriocom o mesmo objetivo. O caminho da psicologia e medida queesta se tornava progressivamente mais cientfica mostrou, no in-cio do sculo passado, um grande desenvolvimento nas medidas defunes na fronteira entre as cincias fsicas e a prpria psicologia.

    A psicofsica veio a constituir; atravs dos trabalhos de Helm-holtz, Weber,* Fechner (1889) e outros, sobre limiares, audio, vi-so, etc., uma das maiores influncias no desenvolvimento dasmedidas em psicologia. Por psicofsica entende-se o estudo preciso equantitativo de como o julgamento humano se processa. , pois, ointeresse no observador humano uma de suas maiores preocupaes.

    Em 1816, no Observatrio Astronmico de Greenwich, Ingla-terra, um astrnomo percebeu que a observao que seu assistente re-gistrava sobre a hora exata em que uma estrela cruzava as linhas daslentes do telescpio diferia da sua prpria observao. A que se deviaesse erro, j que as condies de observao eram as mesmas? Que

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    1. HISTRICO DA MEDIDA

    EM PSICOLOGIA

    * Ambos in Boring, 1950.

  • poderia estar interferindo nos diferentes resultados? Deu-se maiorateno ao fato e se verificou haver certa freqncia nessa variaoentre julgamentos de diferentes pessoas, inclusive em observaesrealizadas pela mesma pessoa. Esse interesse pelos erros de clculo as-tronmico levou formulao do conceito de equao pessoal, que a tendncia que as pessoas tm a subestimar ou superestimar quan-tidades. Em psicologia, esse um conceito de grande utilidade, pois,ao se medir o comportamento humano, comete-se quase sempre al-gum tipo de erro de observao, quer maximizando, quer minimi-zando os dados observados.

    Mais tarde, outro conceito comea a ser formulado: limiar desensao. Trata-se do ponto no qual um estmulo se torna percebidopelo indivduo. Foi Weber (in Boring, 1950) quem se destacou nostrabalhos sobre limiar. Posteriormente, Fechner (1889), em 1860, deucontinuidade aos trabalhos de Weber. Baseou-se no postulado de quea sensao no pode ser medida diretamente, sendo, portanto, conve-niente perguntar ao prprio sujeito se uma sensao est presente ouno. Demonstrou que a lgica e os mtodos da cincia poderiam serusados na medida psicolgica. Com esse fim, desenvolveu mtodospsicofsicos de apresentao de estmulos e elicitao de respostas.

    Originalmente, os mtodos psicofsicos foram empregados ape-nas com estmulos e reaes que podiam ser observados diretamente.Atualmente, no entanto, realizam-se tambm numerosos tipos demedidas cujo atributo pode ser inferido, quando no se pode me-di-lo diretamente (exemplo: atitudes).

    Em 1879, em Leipzig, Alemanha, surge o primeiro laboratriode psicologia experimental, fundado por Wundt. Os primeiros psi-clogos experimentais no se interessavam pela mensurao das dife-renas individuais. Seu principal objetivo era obter uma descriogeneralizada do comportamento humano. A nfase era colocadanum nico sujeito, supondo ser este representativo da reao de ou-tros indivduos. A ateno voltava-se, assim, mais para a uniformida-de do que para as diferenas. A maior contribuio dos psiclogosnessa tarefa foi valorizar o controle rigoroso das condies de obser-vao, ou seja, a necessidade de se dispor de condies padronizadas.

    Outras influncias ocorreram no desenvolvimento dos mtodosde medida em psicologia. Uma delas o crescimento da estatstica veio a favorecer o desenvolvimento das pesquisas, assim como detcnicas e instrumentos necessrios sua realizao. Paralelamente a

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  • isso, surge a revolucionria teoria de Darwin a respeito da evoluodas espcies. Dissidente da teoria esttica do homem, ele verificouque as caractersticas da espcie humana eram desenvolvidas ao lon-go da evoluo. Galton, influenciado por seu primo Darwin, tentamostrar que a maioria das caractersticas pessoais herdada. Na ten-tativa de verificar as semelhanas e diferenas entre pessoas afins eno-afins, criou instrumentos de medida e procurou estabelecer rela-es entre os resultados, fazendo uso de medidas de associao. Foi,portanto, pioneiro nos mtodos de escala de avaliao e de questio-nrio, tendo sido tambm o primeiro a se preocupar com a necessi-dade de padronizao dos testes.

    Pearson, gnio da estatstica, deu continuidade aos trabalhos deGalton e derivou os conceitos de coeficiente de correlao, correlaoparcial e mltipla, anlise fatorial e incio de estatsticas multivariadas.

    Somente no fim do sculo XIX que surgiram testes do tipo sen-srio-motor, como velocidade sensorial e tempo de reao. Cattell eGalton (Cattell, 1950) procuraram mensurar a inteligncia atravsdesses instrumentos. A aferio baseava-se na suposio de que o me-lhor tempo ocorria nos mais capazes. Apesar de no medirem o as-pecto intelectual, como desejavam, deram grande contribuio, poisuniram o movimento da psicologia experimental ao movimento dostestes. Foi Cattell o primeiro a usar o termo teste mental, em 1890(van Kolck, 1981).

    Os primeiros testes mentais prticos surgiram na Frana, no in-cio do sculo, a partir da tradio humanista, cujo interesse era obem-estar social. Tambm surgiu nessa poca uma nova viso dadoena e do desajustamento, com Charcot, Janet e Ribot, que assimmantiveram a tradio estabelecida um sculo antes com Pinel.

    Binet e Simon (in Tyler, 1956) criticaram os testes at ento de-senvolvidos por serem demasiadamente sensoriais e por se concen-trarem em habilidades por demais especializadas. Juntos, com oobjetivo de satisfazer uma exigncia prtica, elaboraram a Escala Bi-net-Simon, que surgiu em 1905 com o intuito de investigar as poss-veis causas de reprovao na escola. Foi, na verdade, a primeiratentativa sistematizada de estudar as diferenas individuais quanto inteligncia. Em 1908, a escala foi agrupada por nveis de idade; em1911, fizeram-se pequenos aperfeioamentos na escala, que se esten-deu at a idade adulta. Nesse perodo, morre Binet e a escala sofrerevises. Como instrumento preliminar, ela sofreu vrias transforma-

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  • es. A primeira, realizada por Terman em 1916, procurou relacio-nar a capacidade mental idade cronolgica, introduzindo autilizao do QI termo criado por Stern em 1912. Uma segundareviso ocorreu em 1937, favorecendo o aparecimento de duas for-mas do teste: L e M. Em 1960 ocorre uma terceira reviso as duasformas se juntaram em uma s: L-M. Reuniram-se os melhores itensde ambas as formas e eliminaram-se os considerados fracos. Foi nestaltima que se introduziu o QI de desvio,

    Na reviso de 1937, a escala passou a ser chamada Escala Stan-ford-Binet, porque os estudos foram realizados na Universidade deStanford. Exigiu, na verdade, quase dez anos de pesquisa.

    Em decorrncia da Primeira Guerra Mundial, em 1916 surgiu anecessidade de se realizar a seleo psicolgica dos convocados para oExrcito americano. O problema consistia em como realizar tal tare-fa individualmente. Otis (especialista do Departamento de Guerrados Estados Unidos) desenvolveu escalas de desenvolvimento mentalcoletivas para esse objetivo, cedendo-as posteriormente ao Exrcito.A primeira escala, publicada em 1918, foi chamada Otis GroupIntelligence Scale, e a segunda, em 1922, Otis Self-AdministeringTests. A primeira era apresentada em duas sries: primria(no-verbal) e avanada (verbal). A segunda abrange trs sries:Otis-Alfa (verbal e no-verbal), Otis-Beta (contedo verbal) eOtis-Gama (tambm de contedo verbal).

    Entretanto, discute-se que o primeiro teste coletivo de intelign-cia, medindo a capacidade intelectual, tenha sido realizado por umacomisso de psiclogos dirigidos por Yerkes: Army Mental Test.Duas formas pertenciam ao teste Army-Alpha (verbal) eArmy-Beta (no-verbal). Utilizaram o material colhido por Otis. Foiatravs da construo e aplicao desses instrumentos que se permiti-ram a elaborao de normas e padres estatsticos para grupos e asclassificaes de profisses de acordo com o nvel mental. Tambmnessa ocasio, e para favorecer o processo seletivo em questo, elabo-rou-se o primeiro teste de personalidade: o Inventrio de Autodescri-o de Woodworth (1918), cujo objetivo era a identificao doscasos de doenas mentais graves. Tratava-se de uma prova prec-ria, pois muito ainda precisava ser feito, tal como ainda ocorre hojeem dia, para se chegar aferio desse construto.

    O objetivo dos testes psicolgicos, inicialmente, era medir a inte-ligncia como um todo, mas nem todas as funes importantes esta-

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  • vam ali representadas. A maioria dos testes media algum aspecto dainteligncia: por exemplo, capacidades especiais para percepo deespao, forma, memria visual, etc. Um teste de inteligncia geralpodia oferecer uma viso global, mas no salientava componentes es-pecficos da mesma. Do estudo estatstico (anlise fatorial) da natu-reza da inteligncia, surgiram os testes de aptido especfica e,posteriormente, as baterias de aptido. O primeiro teste de aptidoespecfica foi o de Seashore, intitulado Teste de Talento Musical,surgido em 1915 (Scheeffer, 1976) e precedendo os testes coletivosde inteligncia. Posteriormente surgiram os testes de aptido mec-nica, raciocnio espacial, etc.

    Alm da inteligncia geral e de seus fatores, havia tendncias dosindivduos a desenvolverem certas habilidades. Para completar as in-formaes que os testes davam orientao educacional e profissio-nal, apareceram os testes de interesse.

    Os ltimos a serem construdos foram os testes de personalidade,fato que se deve complexidade prtica e terica de sua mensurao.Inicialmente surgiram os questionrios, depois os testes situacionaise finalmente as tcnicas projetivas. Os testes de interesse, para com-pletar os dados provenientes dos testes de aptido, despertaram aten-o por volta de 1907. O primeiro teste para investigar interessesprofissionais adequadamente estudado foi o Inventrio de Interessesde Strong, utilizado inclusive para um estudo longitudinal de dezanos de durao, empreendido com o objetivo de investigar tanto avalidade do teste como a estabilidade do interesse (Scheeffer, 1976).

    Existem atualmente publicados diversos testes com o objetivo dequantificar o comportamento humano. necessrio ressaltar queno dos testes que a psicologia se utiliza para alcanar a aferio decaractersticas psicolgicas. Muitos outros instrumentos so utiliza-dos e seu aprimoramento se tornou possvel devido maior nfase naobjetividade da mensurao e ao desenvolvimento cientfico e tecno-lgico de outras reas.

    Em suma, pode-se constatar que, ao longo do tempo, foram seaprimorando as formas de mensurao psicolgica, o que favoreceuo desenvolvimento de pesquisas, com o conseqente progresso noconhecimento cientfico do ser humano. somente atravs de medi-das objetivas e compatveis que se pode chegar medida dos fenme-nos psicolgicos com relativa confiana.

    HISTRICO DA MEDIDA 19

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  • 2.1. Definio de Psicometria

    Pode-se dizer que a psicometria o conjunto de tcnicas que permitea quantificao dos fenmenos psicolgicos. V-se que a importn-cia maior est no processo de quantificao. Por isso, torna-se neces-srio entender como esse processo funciona.

    2.2. Mensurao e Medida

    Medir significa atribuir magnitudes a certa propriedade de um obje-to ou classe de objetos, de acordo com certas regras preestabelecidas ecom a ajuda do sistema numrico, de forma a que sua validade possaser provada empiricamente.

    Existem algumas caractersticas importantes quanto ao processode medir. Em primeiro lugar, ele implica sempre um resultado nu-mrico e no frases descritivas. Assim, diz-se que o processo de men-surao sempre quantitativo.

    Em segundo lugar, apresenta-se em unidades relativamente cons-tantes, desde que as condies de mensurao tambm o sejam. Osistema mtrico um exemplo dessa caracterstica: no tempo em queo metro no existia, a jarda, o palmo, o p, etc. serviram de medioe, evidentemente, no havia unidade constante, pois essa medida de-pendia das caractersticas das pessoas que realizavam tal procedimen-to (tamanho do brao, do p, etc.) Essas perturbaes da medidalevaram busca da uniformidade.

    Em terceiro lugar, e especificamente no caso da psicologia, a me-dida relativa por no dispor de um ponto zero absoluto, como cer-

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    2. INTRODUO QUANTIFICAO

    EM PSICOLOGIA

  • tas variveis da fsica. No existe um ponto zero de inteligncia ouum ponto zero de aptido, embora exista um ponto zero para a vari-vel distncia ou para a velocidade de um corpo em repouso. Dessaforma, preciso exprimir os resultados em funo de algum outroquadro de referncia a mdia, por exemplo , que sirva, arbitra-riamente, como ponto de partida.

    Se a mensurao o processo de atribuir smbolos a objetos se-guindo regras, os nmeros atribudos a esses objetos, ou eventos, de-vem representar quantidades de atributos. Com o intuito doesclarecimento, so definidos abaixo os principais termos:1) smbolo: o que representa o atributo medido. Exemplo: nme-

    ro, letra, palavra, etc.;2) objeto: elemento para o qual a mensurao se dirige. Exemplo:

    em psicologia, pessoas, animais, etc.;3) atributo: caracterstica do objeto aferida pela mensurao. Exem-

    plo: inteligncia, atitude, tempo de reao, etc.;4) instrumento: meio utilizado para medir o atributo do objeto.

    Exemplo: testes, polgrafo, questionrio, etc.;5) regras: formulaes, previamente estabelecidas, que indicam os

    procedimentos para a atribuio de smbolos aos atributos dosobjetos que determinam as relaes entre o objeto e o smbolo.Exemplo: atribuio de percentil em um teste de inteligncia deacordo com o nmero de pontos atingidos

    6) situao-padro: diz respeito ao controle de variveis que podeminterferir no resultado da mensurao, chamado medida. Exem-plo: instrues padronizadas de aplicao de um teste.

    2.3. Mensurao em Psicologia

    Nas cincias exatas, ao contrrio das cincias sociais, a medida conse-gue atingir grande exatido, o que conduz ao estabelecimento de re-laes facilmente comunicveis e precisas. Portanto, quando se quermedir a altura de determinado grupo de sujeitos, pode-se ser exato eobjetivo, pois nesse caso a atribuio de valores est no prprio siste-ma mtrico, o qual atribui valores s diversas alturas dos sujeitos ob-servados de acordo com as regras de atribuio, ou seja, o uso dometro com sua escala.

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  • Como se pode ver, o processo de medio nas cincias exatas conceitualmente simples: Para se fazer mensurao em psicologia,contudo, o processo bem mais complexo. O que se mede uma va-rivel psicolgica definida como uma caracterstica que cada indiv-duo possui em diferentes nveis. No se trata sempre de algoobservvel, como o caso da maioria das variveis fsicas. O psiclo-go lida quase sempre com construtos hipotticos. Quando planejaseus experimentos, recorre, portanto, a diferentes espcies de medi-o que o habilitem a estimar essas variveis, o que requer, evidente-mente, alto grau de abstrao. O primeiro princpio do estudocientfico do comportamento consiste na obrigao do observadorde descrever, de modo adequado e inequvoco, aquilo que est obser-vando.

    De acordo com Hays (1970), algumas vezes a operao de men-surao requer a utilizao de dispositivos mecnicos; em outras ve-zes, serve-se de um estmulo fsico, como um teste; em outras ainda,o procedimento de medida apenas a obedincia a uma regra. Comoocorre em uma entrevista de psicodiagnstico, ainda possvel que oprprio observador seja parte dessa regra. No caso da entrevista psi-colgica, por exemplo, o psiclogo lana mo de toda informaopertinente ao cliente para fazer um diagnstico. Seu treino torna-osensvel ausncia ou presena de algum sintoma. O problema quenem sempre o instrumento humano fidedigno, e o componen-te humano est sempre presente na operao de mensurao, jque, afinal, algum deve ler o instrumento, atribuir um escore noteste, etc.

    Por mais controlado que um processo possa ser, existem nume-rosos fatores que podem influir nas caractersticas medidas e que, porisso, alteram o resultado, tornando-o menos confivel. Isso explicapor que se obtm resultados individuais to diversos atravs de ummesmo instrumento de medida. Se uma parte dessa diferena podeser devida s prprias diferenas na caracterstica medida, parte tam-bm se deve ao erro cometido durante o processo. O problema sa-ber diferenciar bem as duas situaes. Um fator que no facilita taltarefa a dificuldade de se atingirem medidas puras com os instru-mentos de que se dispe. Alm do mais, como j foi explicado ante-riormente, a prpria varivel psicolgica costuma ser de difcil acessoem seu estado bruto. Pode, por exemplo, haver contaminao de ou-tras variveis na obteno da medida de uma delas: (1) de variveis

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  • do prprio sujeito fadiga, falta de motivao, etc.; e (2) de fatoressituacionais falta de uniformidade no que est sendo medido, va-riaes na aplicao, etc. Caso o aplicador no fique atento paraqualquer um desses fatores, pode aumentar a variao entre os resul-tados.

    Assim, erro na observao, erro do instrumento ou erro devido falta de uniformidade na mensurao so falhas que precisam se tor-nar conhecidas para que o experimentador esteja mais apto a contro-l-las.

    Portanto, objetivo da psicometria aplicar mtodos cientficosno estudo do comportamento humano. Para isso necessrio que sedescrevam as circunstncias em que ocorre determinado comporta-mento. Essa descrio deve ser precisa, comunicvel objetivamente,e deve tambm utilizar-se de um instrumento padronizado para queoutro possa tambm medir e classificar o comportamento com a me-nor ambigidade possvel. Todavia, nem sempre se podem seguirfirmemente esses ideais, pois em psicologia os problemas so visivel-mente complexos, no se dispondo sempre de padres da mesmanatureza que a caracterstica medida. A medio se d atravs de in-dcios que se supe estarem ligados s medidas. O que os testes forne-cem apenas uma situao padronizada que permite elucidar algunscomportamentos manifestos que se supe representar a varivel psi-colgica em questo.

    Outro problema que as manifestaes do comportamento soamplamente variveis ao longo do tempo. Isso significa que medemreaes sempre passveis de mudana.

    Cabe, no entanto, ao psiclogo, ao utilizar tcnicas de medidas,conhecer suas limitaes, sabendo ser impossvel abranger a totalidadede cada um dos fenmenos psicolgicos. Deve entender que, sendo es-ses fenmenos demasiadamente complexos, esse objetivo dificilmenteser alcanado. Portanto, seu dever usar instrumentos adequados einterpret-los com prudncia, de modo a minimizar o erro da medidae, paralelamente, obter o grau de discriminao desejado.

    2.4. Funes da Medida

    A observao cientfica no realizada por apenas um cientista; devepretender um consenso entre diversos investigadores, e as discordn-

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  • cias tendem a ocorrer, entre outros motivos, quando no existemmedidas padronizadas. Esse um dos maiores problemas da psicolo-gia: o uso de termos cujos referentes no podem ser adequadamentemedidos, dificultando, dessa forma, que as teorias sejam testadas.

    A medida desempenha um papel fundamental na investigaocientfica, mas no um fim em si mesma. Seu valor somente podeser avaliado sob uma perspectiva instrumentalista, pois do contrriose exagera o valor atribudo aos nmeros, concedendo-se ateno de-masiada objetividade, sem considerar o que possa ser feito poste-riormente com a medida. como se o nmero tivesse um valorcientfico intrnseco. A essa distoro costuma-se denominar msticada quantidade (Kaplan, 1975).

    So quatro as funes que a medida desempenha: quantificao,comunicao, padronizao e objetividade.

    Por quantificao entende-se que a medida permite uma descri-o precisa do fenmeno. Considerando-se que tudo que existe, exis-te em certa quantidade, uma descrio que inclua uma referncia magnitude com que o fenmeno se mostra uma descrio maiscompleta e precisa, pois permite, inclusive, compar-lo com outros.A preciso da medida ser to maior quanto maior tiver sido o cuida-do mantido na mensurao e quanto mais adequado tiver sido o sm-bolo. O smbolo que garante a maior preciso o nmero.

    A medida tambm permite uma melhor comunicao porquecondensa informaes, mais precisa e objetiva. Ao se dizer que amedida de uma mesa de trs metros, no se precisa com isso dizerque essa mesa grande, pois isso j est implcito, uma vez que fogeao padro existente.

    Pode ser um instrumento de padronizao porque assegura aequivalncia entre objetos com caractersticas diversas. O uso do per-centil permite, por exemplo, a formalizao na expresso dos resulta-dos de um teste. H uma unificao da linguagem, facilitando acomunicao.

    A funo de objetividade a que permite classificaes com me-nor ambigidade. Utilizam-se numerais para objetivar caractersticasque so diferentes, mas similares. Ao se empregar, em uma pesquisa,a expresso idoso em lugar de seu correspondente numrico rela-cionado idade, a descrio torna-se cientificamente mais ambgua.

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  • Apenas classificaes livres de ambigidade podem permitir ao pes-quisador enunciar leis sobre o que est medindo.

    2.5. Tipos de Medida

    Existem dois tipos de medida: a fundamental e a derivada. A medidafundamental aquela que obtida como resultado da mensuraodireta, ou seja, o atributo de um objeto alcanado atravs de umacomparao simples e direta com outro objeto que apresenta umaquantidade padronizada dessa propriedade (...) (Hays, 1970). Porexemplo, o peso e o comprimento podem ser medidos diretamenteatravs de comparaes com padres. As caractersticas dos objetosmensurados atravs desse tipo de medida so chamadas extensivas.

    A medida derivada o produto de uma operao de mensuraobaseada em indcios que se supe estarem relacionados com o atribu-to do objeto medido. Como exemplo, tem-se a temperatura de umobjeto: o que nos diz que a temperatura est alta ou baixa o movi-mento ascendente ou descendente do mercrio, pois existe a com-provao de que, com temperaturas altas, esse metal apresentadilatao, o contrrio ocorrendo com temperaturas baixas. As carac-tersticas dos objetos alcanados por essa medida so chamadas in-tensivas.

    A medida do fenmeno psicolgico , em geral, do tipo derivada,e por isso necessrio estabelecer os indcios associados a essas medi-das. Por exemplo: como medir o moral de um grupo? A freqncia ea rapidez com que o xito alcanado no desempenho de uma tarefapelo grupo, podem ser um ndice adequado para uma medida deriva-da relativa ao moral do grupo.

    2.6. Dimenses a Serem Medidas

    As dimenses so chamadas atributos quando so discretas (sexo, es-tado, civil, etc.) e so chamadas variveis quando so contnuas(peso, altura, etc.).

    A diferena entre uma dimenso contnua e uma dimenso dis-creta pode ser explicada quando se consideram altura e estado civilcomo exemplos. Teoricamente, pode-se passar de uma estatura a ou-tra por gradaes mnimas, e somente devido imperfeio de ins-

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  • trumentos que essas gradaes no so alcanadas. No caso doestado civil, no h grau intermedirio entre um estado e outro. Suascategorias so qualitativamente distintas (solteiro, casado, etc.).

    Em psicologia, muitas vezes se obrigado a tratar variveis cont-nuas como se fossem dados descontnuos (atributos) por falta de re-cursos instrumentais adequados para se atingir tal fim. Por exemplo,o desempenho em uma profisso pode ser descrito, teoricamente,atravs de um contnuo que se estende do fracasso ao sucesso absolu-tos. Entretanto, a ausncia de meios disponveis para quantificar taisgradaes obriga o pesquisador a dicotomizar (ou tricotomizar, etc.)a varivel, ou seja, a dividir a varivel em dois atributos polarizados,facilmente qualificveis, e desprezar as possveis variaes entre eles.

    2.7. Princpio do Isomorfismo

    Como a atribuio da magnitude de uma certa propriedade realiza-da com a ajuda do sistema numrico, torna-se imprescindvel o co-nhecimento de certas propriedades matemticas.

    Como se sabe, a matemtica se apia em um conjunto de postu-lados. Um postulado uma proposio assumida como verdadeirasem qualquer necessidade de comprovao. Declara uma suposiofeita sobre alguma relao entre objetos, e sua utilidade consiste nasdedues que se podem extrair dele e de sua combinao com outrospostulados. Todo postulado deve possuir consistncia interna, e suaquantidade depender da necessidade do sistema. O tipo de verdadeenvolvida do tipo lgico e no emprico, o que quer dizer que as de-dues extradas dos postulados permanecem no domnio das idias.Por exemplo, o silogismo o homem mortal; um cavalo mortal;logo, o homem um cavalo uma verdade lgica.

    Mas nenhum postulado ou teorema matemtico expressa direta-mente algo sobre o mundo. A matemtica fornece apenas modelosformais convenientes para a descrio da natureza (Guilford,1954). A estrutura da natureza, tal como o homem a conhece, possuipropriedades paralelas s estruturas dos sistemas lgicos matemti-cos. Esse princpio de equivalncia de forma chamado princpio doisomorfismo. Guilford diz ainda que, de acordo com esse princpio,devem-se usar nmeros e medidas quando e at o ponto em que as

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  • propriedades dos nmeros forem paralelas s propriedades dos obje-tos e eventos.

    Dentre as mais importantes propriedades dos nmeros emprega-dos na medida temos as de identidade, ordem e aditividade. Um fen-meno no precisa satisfazer todas as propriedades dos nmeros paraser mensurvel. Para alguns propsitos, por exemplo, a propriedadede ordem suficiente. Entretanto, quanto mais propriedades so uti-lizadas no processo de atribuio de smbolos, mais informaes e,conseqentemente, mais segurana se obtm sobre suas concluses.

    De tudo que j foi exposto, fica clara a diferena, existente entremensurao e matemtica, termos tomados indevidamente como si-nnimos. A mensurao est ligada ao mundo real: a legitimidade deum sistema de medida funda-se empiricamente. O que se pretende quantificar atributos ou variveis de objetos reais, ou seja, o sistemamatemtico apenas cede sua linguagem, universalmente conhecida,para se estabelecerem relaes entre as diferentes medidas.

    A matemtica, por sua vez, possui um vocabulrio ilimitado, de-finido com rigor absoluto. Seus sistemas so puramente dedutivos nada mais do que regras usadas para a manipulao de smbolos.

    So nove os postulados propostos por Campbell (1950). Os trsprimeiros so de identidade, os dois posteriores so de ordem e osquatro ltimos, de aditividade.1. Identidade

    1) se a = b ento b = a2) ou a = b ou a b3) se a = b e b = c ento a = c

    2. Ordem4) se a > b ento b < a5) se a > b e b > c ento a > c

    3. Aditividade6) se a = p e b > 0 ento a + b > p7) a + b = b + a8) se a = p e b = q ento a + b = p + q9) (a + b) + c = a + (b + c)

    De acordo com a aplicao desses postulados, surgem diferentes n-veis de medida.

    A seo que se segue tratar das escalas de medida ou regras decorrespondncia entre classes de objetos e numerais, assim como deseus nveis de complexidade.

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  • 2.8. Escalas de Medidas

    J vimos que nem todas as medies realizadas na vida diria so toprecisas como seria desejado. Mesmo sendo esse o ideal, em determi-nados casos uma classificao ou ordenao o ponto mximo queum pesquisador pode alcanar.

    Muitas vezes o psiclogo lida com variveis comportamentaispassveis de quantificao horas de privao, intensidade do cho-que, etc. Em outras, no entanto, o processo de mensurao no podeser avaliado diretamente como a capacidade de aprendizagem sobaquelas condies. Torna-se necessrio observar apenas o que ex-plcito conduta do indivduo e medir indiretamente esse trao(ver medida fundamental e derivada).

    S. S. Stevens (1946) elaborou um esquema para classificar dife-rentes nveis de medida que se tornou extremamente til ao psiclo-go. Ordenadas de acordo com seu nvel de refinamento, temos asescalas nominal, ordinal, intervalar e de razo ou proporo. Deacordo com a definio de mensurao, as regras pelas quais os n-meros so atribudos a objetos constituem o critrio bsico que defi-ne uma escala. Cada um desses diferentes nveis e medidas temrestries, normas e mtodos estatsticos prprios. O mais alto nvelda escala requer maior especificidade das regras. Numa escala nomi-nal, os nmeros so usados como smbolos que identificam e diferen-ciam as categorias empregadas. Os nmeros usados como smbolosidentificadores, porm ordenados, compem o nvel de medida or-dinal. Se alm dessas informaes os nmeros estiverem separadospor intervalos iguais, o tipo de escala intervalar. Na escala de razo,os nmeros, alm de darem as informaes precedentes, forneceminformaes acerca da relao ou proporo entre as caractersticasmedidas, sendo, por isso, a escala de mais alto nvel.

    2.8.1. Escala Nominal

    A atribuio de objetos de observao a categorias de acordo com al-gum esquema classificador e seguindo algumas regras especficas doprocedimento a mensurao em seu nvel mais simples e primitivo.Em psicologia, tem sido chamada de mensurao em categoria ou es-cala nominal (Hays, 1970). Em geral se utiliza essa escala para me-

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  • dir atributos por exemplo, cor da pele ou uma varivelcontnua transformada em atributo.

    Quando se observam determinados fenmenos, preciso regis-trar e comunicar os diferentes acontecimentos. Mas sem um esque-ma prvio no seria possvel agrupar os resultados em diferentescategorias. Faz-se necessria uma regra de mensurao que orientaro tipo de classificao a ser empregado.

    Nesse nvel de medida, usa-se um nmero como rtulo para aclasse ou categoria qualitativa. Os membros da classe so considera-dos como sendo iguais ou equivalentes em algum aspecto. Os nme-ros podem ser substitudos por qualquer outro smbolo palavras,letras que seus propsitos ficaro inalterados. Existe apenas umaregra: todos os membros de um conjunto devem ter o mesmo cdi-go, e os membros de outro grupo, cdigos diferentes. Da o termonominal d-se um nome s categorias.

    Dentre os postulados bsicos, os nicos que se aplicam a essa es-cala so os postulados de identidade. Fica implcito que a igualdadeentre os objetos a base para agrup-los em uma mesma categoria.Mas, em psicologia, esse igual no significa igualdade absoluta.Sendo o comportamento dotado de certa complexidade e se sabendoque pode haver falhas de julgamento e at erros no prprio processode mensurao, dificilmente se encontram dois membros de uma ca-tegoria que sejam exatamente iguais. Mas, alm de existirem, por ve-zes, diferenas no-identificveis entre elementos de uma mesmacategoria, a discriminao depende tambm das exigncias ou tole-rncias do observador num momento dado. Assim, de acordo comos propsitos prticos de classificao, podem-se preferir categoriasmais ou menos amplas.

    Quando um cientista utiliza um sistema de classificao, ignorainmeras propriedades do objeto ou fenmeno estudado, limitan-do-se a pr em destaque apenas as propriedades importantes para ascaractersticas em estudo.

    Logo, o sistema de classificao parece basear-se em trs fontes:consideraes tericas, semelhanas ou diferenas observadas e con-sideraes prticas (Hays, 1970). Existem tambm trs condies ex-perimentais para se ajustar um sistema de classificao: as categoriasdevem ser bem-definidas, exaustivas no se pode encontrar umobjeto que no faa parte de uma das categorias e mutuamente ex-

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  • cludentes nenhum objeto pode ser classificado em duas ou maiscategorias simultaneamente.

    A classificao a forma mais simples de mensurao. Talvez porisso alguns autores no hesitam em desprez-la como forma de men-surao. Mas isso no verdadeiro, j que a prpria definio de me-dida obedecida satisfatoriamente. Se os membros de uma categoriapodem ser contados, parece existir mensurao, ainda que precria.Entretanto, compreensvel que surja essa dvida, uma vez que onome escala j sugere um contnuo de algum tipo. Um contnuotem a propriedade de ordem que no se aplica na escala nominal.No se deve esquecer que se trata de um nvel pouco satisfatrio paramedir variveis mais complexas. A aplicao de uma escala nominal auma varivel contnua como a inteligncia permite que a classifica-o de pessoas como inteligentes ou no-inteligentes se faa de formaintrnseca, tornando precria a discriminao.

    Como os smbolos que designam os vrios grupos numa escalanominal podem ser permutados sem alterar a informao essencial arespeito da escala, as nicas estatsticas admissveis so as que perma-necem inalteradas em relao a tal transformao.

    Ainda que precrias, podem-se utilizar operaes estatsticas pou-co complexas, tais como contagem, moda e coeficiente de contingn-cia este quando se deseja saber se as categorias esto de algum modocorrelacionadas. Podem-se comprovar hipteses utilizando-se a esta-tstica no-paramtrica qui-quadrado (X2), prova baseada no desen-volvimento binominal.

    Exemplos da escala nominal

    1. As classificaes deste tipo possuem, em geral, uma estrutura emrvore. Quando se trata, por exemplo, de classificar pessoas segundosua profisso, so possveis dois ramos (entre outros): comerciantes eoperrios mecnicos. Os comerciantes podero ser subdivididos ematacadistas e varejistas, e estes ltimos em padeiros, marceneiros, etc.Os operrios mecnicos podero subdividir-se em fresadores, ajusta-dores, etc. As variveis que distinguem os comerciantes dos operriosno so obrigatoriamente as que distinguem as diferentes categoriasde operrios (Reuchlin, 1971).

    2. Nos ltimos anos, os Estados Unidos foram divididos emreas de servio, cada uma recebendo um nmero por parte da com-

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  • panhia telefnica. Estes so os familiares nmeros de cdigo derea. Assim, qualquer assinante que more na regio da Cidade deNova York recebe o nmero 212; na rea de Chicago, o nmero 312,e assim por diante. A regra dessa atribuio fornecida por uma tabe-la que se encontra na parte inicial da lista telefnica. Se algum quiserconhecer o nmero, de cdigo de rea de uma pessoa residente emOshkosh, Estado de Nebrasca, por exemplo, bastar consultar a ta-bela. Observe que esses nmeros so apenas nomes ou smbolos arbi-trrios para denotar a residncia em determinada regio. Ningum capaz de afirmar que, pelo fato de a pessoa x morar em Chicago e tero cdigo de rea 312 e de a pessoa y residir na Cidade de Nova York eser dona do cdigo de rea 212, x possua 100 unidades de algumacoisa a mais do que y (Hays, 1970).

    3. Ao dividirmos uma turma de indivduos em aprovados e re-provados em um exame, poderamos dar o nmero 1 ao primei-ro grupo e o nmero 2 ao segundo. Poderamos ainda subdividiresses grupos de acordo com algum atributo, tal como inteligncia.Nesse caso, teramos o grupo dos aprovados inteligentes, aprovadosno-inteligentes, reprovados inteligentes e reprovados no-inteligen-tes. A relao entre os grupos poderia ser testada atravs da estatsticaqui-quadrado, j que as variveis trabalhadas esto dicotomizadas.

    2.8.2. Escala Ordinal

    Os nmeros podem servir meramente de nomes ou rtulos de uma ca-tegoria (escala nominal). Esses rtulos representam diferenas qualita-tivas, ainda que no necessariamente quantitativas. Por outro lado,algumas operaes originam nmeros ordinais. Estes fornecem o lugarem que cada objeto se encontra com referncia a alguma caracterstica.Quando a operao de mensurao origina uma variao qual evi-dentemente se atribuem ordinais, d-se a ela o nome de escala ordinal.Nesta, os nmeros atribudos aos objetos possuem as propriedades deidentidade e ordem. Logo, um nvel superior mensurao nominal.Seu objetivo estabelecer gradaes entre fenmenos.

    Para se construir uma escala ordinal, necessrio que exista umaordem entre objetos para que ento se possa atribuir a esses objetossmbolos que estejam ordenados da mesma maneira. Os nmeros

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  • ordinais simbolizam a posio relativa ou a quantidade relativa comreferncia a alguma propriedade (Hays, 1970).

    Contudo, as diferenas entre esses nmeros no revelam, neces-sariamente, as diferenas reais da quantidade da propriedade possu-da pelos objetos. Por exemplo, ao corredor que chega em primeirolugar atribudo o nmero 1, ao que chega em segundo, o nmero 2,e ao terceiro atribudo o nmero 3. Embora a diferena aritmticaentre 2 e 1 seja 1 e entre 3 e 2 tambm seja l, no permitido dizerque a diferena de velocidade entre o primeiro e o segundo a mes-ma que entre o segundo e o terceiro. No necessrio que as catego-rias classificadas estejam espaadas igualmente na escala, ou seja, queo intervalo entre as categorias seja igual. Os nmeros, ento, s pro-porcionam a ordem. Dessa forma, podem ser trocados por outrosnmeros quaisquer, desde que se guarde a mesma ordenao entre osobjetos ou caractersticas do objeto. Por exemplo, os nmeros 2, 4, 7e 9 podem ser substitudos por l, 2, 3 e 4 ou por l0, 25, 30, 43... Oselementos contidos numa mesma categoria so tidos como possuido-res da mesma caracterstica que est sendo medida. A importnciano est no smbolo empregado, mas na ordem mantida entre eles,que dever equivaler ordenao das caractersticas. Conhecidas asposies de cada objeto na escala, podem-se verificar as relaes demaior, igual ou menor entre eles.

    Em psicologia, dificilmente se ultrapassa esse nvel de medida. Ostestes de inteligncia, de personalidade, de atitudes e de aptido so basi-camente ordinais, pois fornecem a posio numa ordenao de resulta-dos. Freqentemente, no entanto, fora-se a igualdade de intervalos,pois isso permite um maior alcance no tratamento estatstico. Entretan-to, mesmo quando h razes para se supor essa igualdade, incorre-se norisco de errar seriamente na interpretao dos dados obtidos.

    As estatsticas permissveis no nvel da escala nominal tambmaplicam-se a essa escala (freqncia, moda, coeficiente de contingn-cia), mas o princpio de ordem possibilita o uso de estatstica adicio-nal: mediana, separatrizes, ordem percentlica e coeficiente decorrelao de ordem de Spearman.

    Exemplos da escala ordinal

    1. Se, num teste de inteligncia, um professor dividiu a classe em doisgrupos, os de nota igual ou superior ao percentil 50 e os de nota infe-

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  • rior a esse percentil 50, essa classificao seria em termos de posiorelativa nas escalas de percentis. Com esses dados podem-se fazerafirmaes classificatrias e comparaes posicionais. Seria, entre-tanto, absurdo dizer, quando lidamos com uma escala ordinal, queum estudante situado no percentil 50 duas vezes mais inteligentedo que um situado no percentil 25. O percentil s fornece a posiorelativa dos indivduos, podendo estabelecer relaes entre eles.

    2. A classificao dos prisioneiros num presdio pode ser ordinal. possvel que se deseje separar os prisioneiros em grupos de acordocom a gravidade dos crimes pelos quais foram condenados. Conside-rando-se que a falsificao um crime menos grave do que o assassi-nato, o prisioneiro nmero 200 (um falsrio) colocado num blocode celas diferente daquele no qual colocado o prisioneiro nmero300 (um assassino). Os nmeros os diferenciam em uma escala no-minal, mas a separao em termos de gravidade do crime os diferen-cia numa escala ordinal, pois h uma ordenao quanto intensidadeda varivel.

    3. Um sujeito, quando submetido a dois estmulos de intensidade f-sica diferente (fontes sonoras ou luminosas, pesos a serem levanta-dos, etc.), poder ser solicitado a declarar qual das sensaes assimsuscitadas a mais intensa.

    2.8.3. Escala lntervalar

    Chama-se escala intervalar ao processo de atribuio de smbolos nu-mricos que expressam no somente a ordem, como tambm o tama-nho da diferena relativa entre as categorias na caracterstica medida.Alm das propriedades das escalas anteriores, possui uma proprieda-de adicional: distncias iguais na propriedade que est sendo medi-da. As diferenas entre os nmeros podem ser comparadas entre si.Na construo da escala de intervalo, pode-se ter certeza de que,quando dois pares de nmeros diferem na mesma quantidade arit-mtica, os objetos aos quais se conferem esses nmeros tm entre si amesma diferena na quantidade real de propriedade medida (Hays,1970). Assim, a diferena entre os nmeros que simbolizam os atri-butos medidos representa a diferena entre tais caractersticas. Se osresultados de um teste so expressos em termos de escores padroniza-

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  • dos, poder-se- dizer, por exemplo, que o rendimento de um indiv-duo em determinado teste no qual obteve um escore T igual a 70 duas vezes superior ao rendimento de um outro que no teste obteveescore igual a 35.

    Entretanto, no se pode dizer que o indivduo tenha o dobro doatributo medido do outro. Os intervalos ou distncias entre cada n-mero e o seguinte so iguais, mas no se pode saber a que distnciaqualquer deles se encontra do ponto zero. A ausncia do zero absolu-to faz com que se utilize a mdia como zero arbitrrio e se calcule adistncia em relao a ela em termos de desvio reduzido.

    No tem sentido afirmar que a temperatura de 10C seja a teraparte da temperatura de 30C, mesmo porque, quando se as conver-te para a escala Fahrenheit, os nmeros resultantes no mantm amesma proporo de 1 para 3. Contudo, perfeitamente possvelafirmar que a diferena entre as temperaturas 10C e 30C metadeda diferena entre 40C e 80C, j que a distncia est sendo estabe-lecida em termos de intervalos iguais e para os quais se pode definir aoperao soma. No tem sentido a adio de duas temperaturas. Parafazermos afirmaes desse tipo seria necessrio conhecermos o zeroabsoluto.

    Da mesma forma, transpondo o exemplo acima para a psicolo-gia, pode-se dizer que se quatro escores 8, 6, 5 e 3 so atribu-dos a um teste de inteligncia, pode-se dizer que a diferena entre asduas primeiras notas igual diferena entre as duas ltimas, e que orendimento do segundo indivduo duas vezes o rendimento doquarto, j que foi estabelecido um intervalo constante. Entretanto,no se pode dizer que a inteligncia do segundo indivduo seja o do-bro da do quarto (a inteligncia uma medida relativa e derivada). verdade que um estudante pode tirar uma nota zero em um exame dematemtica, mas isso no quer dizer que ele no tenha qualquer co-nhecimento da matria. A ausncia desse zero absoluto no nospermite realizar operaes de diviso ou multiplicao, ou seja, esta-belecer relaes (prprio da escala de razo). Numa escala intervalarse estabelece relao entre os intervalos e no entre a quantidade doatributo. Em decorrncia disso, interessante observar que no soas quantidades que so somadas ou subtradas, e sim os intervalos ouas distncias. A soma das quantidades ter pouco significado, umavez que h variao de acordo com a posio que o zero ocupa na es-cala. (Por esse motivo que o oitavo postulado no se aplica a esse n-

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  • vel de medida.) Quase todos os procedimentos estatsticos podem seraplicados, com exceo do coeficiente de variao. Neste, a relao

    entre o desvio e a mdia (CVsx

    ) depende de onde o zero arbitrrio

    est localizado (Guilford, 1954).Importante: em razo dessa escala ser chamada de intervalos

    iguais, muitas vezes se cai no erro de assumir que tais escalas reque-rem um igual nmero de pessoas ou objetos para cada ponto no con-tnuo (distribuio retangular de escores). Mas os intervalos queso iguais. No se avaliam as quantidades, mas os intervalos entreelas.

    Determinao experimental de igualdade dos intervalos

    Em psicologia, difcil encontrar um critrio que permita definir aigualdade de intervalos. No entanto, existem dois meios que facili-tam a determinao desses intervalos: (l) operaes efetuadas pelo ex-perimentador e (2) operaes que utilizam convenes de linguagemestatisticamente definidas.

    Dentro do primeiro tipo, podem-se citar alguns exemplos. Asoperaes de eqidiviso ou eqipartio so explicadas por Reuch-lin (1971): Alguns sujeitos foram solicitados a regular um estmulovarivel de tal modo que a sensao por ele suscitada parecesse igual-mente distante das suscitadas por dois estmulos fixos determinados(trabalhos antigos de J.L.R. Delboluf, nova psicofsica de S.A. Ste-vens). Repetindo-se a operao sobre cada um dos intervalos assimestabelecidos, pode-se definir experimentalmente uma escala de in-tervalos. Nem sempre so satisfatrias a fidelidade e a coerncia dasrespostas. Pode-se utilizar o mesmo mtodo ou ento mtodos vizi-nhos, substituindo-se os estmulos fsicos por outros estmulos, taiscomo opinies ou julgamentos. Por exemplo: pede-se a uma srie dejuzes que classifique fichas em cinco categorias. Sobre cada umadessas fichas ser inscrita uma opinio relativa a um problema deter-minado. Essas categorias devero ser escolhidas de tal forma que osintervalos entre elas (quanto ao carter mais ou menos favorvel daopinio expressa) paream iguais aos olhos do juiz (escala de inter-valos aparentemente iguais de L.L. Thurstone). Outro exemplo ofamoso postulado fechneriano: nele so considerados iguais os inter-

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  • valos que separam duas sensaes percebidas como mais prximaspor um indivduo.

    As operaes estatsticas que determinam a igualdade de interva-los so tambm de dois tipos:1. Grupo da normalizao, que se divide em dois processos:1.a normalizao sobre os resultados aplicando uma transfor-

    mao no-linear (aquela que no obedece equao da reta),porque esta modifica a forma da distribuio. Seu objetivo atin-gir a normalizao. Um exemplo de estatstica aplicada na deter-minao de intervalos o uso de percentil. Entre cada percentilh 1% da populao.

    1.b normalizao sobre as variveis atravs da ponderao deitens, isto , atribuindo pesos de acordo com o nvel de dificulda-de do item. Atua-se nas variveis (acertos e erros) para que elasproduzam resultados iguais aos de uma distribuio normal.

    2. Grupo da no-normalizao distribuio terica.A moda (M0) a unidade intervalar. a distribuio modal que

    proporcionar a igualdade dos intervalos, o que no significa querepresente resultados numericamente iguais. Separa-se a distribuiobimodal em dois intervalos, tomando-se o ponto de inflexo, entre asduas curvas como critrio de separao. Faz-se o mesmo na distribui-o multimodal.

    Em psicologia, esse nvel de medida difcil de ser atingido, dadaa dificuldade de se encontrar um critrio que permita definir a igual-dade de dois intervalos.

    Exemplo de escala intervalar

    1. Alguns sujeitos foram solicitados a regular um estmulo varivelde tal modo que a sensao por ele suscitada parecesse igualmentedistante das suscitadas por dois estmulos fixos determinados. Repe-tindo-se a operao sobre cada um dos intervalos assim estabeleci-dos, pode-se definir experimentalmente uma escala de intervalos(Reuchlin, 1971).2. Um diretor de uma fbrica de parafusos resolve oferecer um abonoextra a seus empregados de acordo com um critrio de produtivida-de. Observa-se a produo de cada operrio e mede-se a quantidadede parafusos que cada um fabrica por dia. O desempenho dos empre-gados classificado em dez categorias espaadas igualmente, de tal

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  • forma que se possa afirmar que os da primeira so dez vezes mais pro-dutivos que os da ltima.3. Escala Fahrenheit ou centgrada para medir temperaturas em umtermmetro. Aqui, a diferena entre 30 e 31 exatamente igual queexiste entre 40 e 41, entre 50 e 51 ou entre quaisquer dois pontos cont-nuos da escala. Na maioria, as escalas usadas para medir caractersticascognitivas nos testes educacionais so, supostamente, escalas intervala-res, embora esse postulado esteja sujeito a excees. Para que isso sejaverdade, os nveis de dificuldade de cada item e os erros de medida tmque ser estritamente controlados (Lindeman, 1976, p.4).

    2.8.4. Escala de Razo, Relao ou Proporo

    Esse o mais sofisticado nvel de medida. Pode-se dizer que interpre-ta diretamente as razes dos valores em termos das razes do grau depropriedade que est sendo medida. O ponto fixo zero no umponto arbitrrio como nas escalas intervalares. Dessa forma, essapropriedade d condies de comparar os valores escalares. Porexemplo, se o peso de uma pessoa de 60 kg, pode-se afirmar com se-gurana que ela duas vezes mais pesada do que outra que pese ape-nas 30 kg. O conceito de peso zero um conceito definvel,baseado na fora da gravidade. Um nmero pode ser justificavel-mente determinado para ser um certo mltiplo de outro.

    Todas as dimenses fsicas comuns podem ser medidas por essa es-cala. Como o prprio nome indica, pode-se ento dividir um nmeropor outro ou estabelecer uma relao de proporo. Todas as opera-es de nmeros fundamentais so passveis, da mesma forma que to-das as operaes estatsticas (inclusive o coeficiente de variao).

    Esse nvel de medida no usado em psicologia, pois at o pre-sente momento no se conseguiu demonstrar a existncia de um zeroabsoluto nos fenmenos psicolgicos. Por exemplo, para medir o n-vel de inteligncia por essa escala, deve-se definir com segurana acondio que corresponda ausncia absoluta dessa caracterstica.

    Exemplo de escala de razo

    1. Se a altura de uma pessoa de dois metros, pode-se afirmar comsegurana que ela duas vezes mais alta do que outra que mea ape-nas um metro. O conceito de altura zero um conceito definvel.

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  • 2. Uma rgua usada como instrumento para medir uma mesa. Po-de-se imaginar cada nmero como uma distncia medida a partir dezero.3. Se os nmeros 2, 4, 7 e 9 representam a quantidade de um certoatributo dos objetos A, B, C e D em termos de uma escala de propor-o, pode-se dizer que B tem duas vezes o atributo de A; C tem 3,5vezes o atributo de A e D, 2,25 vezes o atributo de B.

    Observao: Para maior compreenso do que foi exposto at agora,pratique os exerccios 1, 2, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15,16, 17, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33,34, 35, 36, 37, 38, 40, 41, 42, 43, 44, que se encontram na par-te final do livro (p.131).

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  • A avaliao a atribuio de qualidade aos valores numricos obtidosatravs da medida. Envolve sempre um julgamento de valor. A ava-liao de indivduos sem a utilizao de tcnicas e instrumentos ade-quados praticamente impossvel quando se pretende avaliar seucomportamento em sua globalidade, ou seja, em seus domnios cog-nitivo, afetivo e psicomotor. Por tcnicas de avaliao, entende-se omtodo de se obterem as informaes desejadas. O instrumento deavaliao o recurso usado para esse fim. Ambos devem ser escolhi-dos cuidadosamente, levando-se em conta cada caso e cada situao.

    Basicamente, existem trs tcnicas de coleta de informaes, deacordo com Mediano (1976): observao, inquirio e testagem,conforme quadro abaixo.

    1. Observao Registros de comportamento

    Escala de classificao

    2. Inquirio Questionrio InventrioEscala de atitudeLevantamento de opinio

    Entrevista

    3. Testagem Testes no-padronizados

    Testes padronizados

    39

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    3. TCNICAS E INSTRUMENTOS

    DE AVALIAO

    {

    { {{

  • 3.1. Observao

    o ponto de partida para qualquer estudo cientfico, sendo utilizadacomo forma de estabelecer ou validar os conhecimentos adquiridos.A simples constatao de um fato, exatamente como se apresenta aoindivduo, uma observao. Esta, porm, uma observao vulgar,o meio que o indivduo tem para adquirir informaes a fim de obtermaior controle sobre si mesmo e sobre o seu mundo. Para que tenhaum carter cientfico necessrio que se explicitem hipteses e que aobservao seja suscetvel repetio.

    Em linhas gerais, trata-se de uma tcnica que tem por objetivocolher o maior nmero de informaes nas reas cognitiva, afetiva epsicomotora, embora a primeira apresente maiores dificuldades.Existem dois tipos de observao cientfica: observao assistemticae observao sistemtica. A primeira aquela que se realiza sem qual-quer planejamento prvio. Sua utilidade reside no fato de existiremcomportamentos que s podem ser observados de forma ocasional,pois so de difcil controle. Pode-se citar como exemplo o comporta-mento das pessoas em relao morte de um ente querido. A condi-o necessria para que se possa efetuar tal observao atenoabsoluta, o que Rudio (1983) chama de permanente estado de pron-tido. A casualidade sua principal caracterstica, e ela s deve serusada para o caso de estudos exploratrios.

    O segundo tipo uma observao mais controlada com propsi-tos previamente determinados. Exige planejamento, o campo de ob-servao deve ser delimitado e requer a utilizao de instrumentosadequados para o seu registro, possibilitando o acesso a um nvel desensibilidade que poderia passar despercebido pelo observador. Oinstrumento de observao constitui uma forma de codificar a infor-mao, facilitando a comunicao dos dados e aumentando seu valorheurstico. Sua utilizao adequada impede o risco de observaespuramente subjetivas.

    Os instrumentos de observao mais conhecidos so os registrosde comportamento e as escalas de classificao.

    3.1.1. Registros de Comportamento

    Uma vez determinados os indivduos, a situao padronizada e oscomportamentos que devem ser observados, pode-se utilizar um regis-

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  • tro escrito de um ou mais acontecimentos significativos em relao adeterminada hiptese de trabalho. Esse registro deve ser realizado sema intromisso de opinies ou julgamentos para que no haja o perigoda distoro dos dados. Caso o observador deseje express-las, deve fa-z-lo no final de sua observao, em um item parte.

    Como a observao da conduta se efetua em condies naturais, conhecida pelo nome de anedotrio.

    Podem ser registros contnuos, em que so lanados todos oscomportamentos apresentados por um indivduo durante um pero-do de tempo, ou registros mais quantitativos, como os seguintes: (1)de evento, em que cada ocorrncia do comportamento medido gerauma marca: (2) de tempo, em que se computa o tempo total despen-dido pelo indivduo em uma atividade; (3) de amostragem de tempo,em que se registra o comportamento de um indivduo em cada oca-sio observada (de hora em hora, por exemplo); e (4) de produto, emque se computam as conseqncias de determinada ao, como onmero de cigarros fumados ou de peas produzidas.

    3.1.2. Escala de Classificao ou Avaliao

    A escala de avaliao um dispositivo atravs do qual se ordenam,numa mesma escala, aspectos qualitativos dos indivduos de modo aque esses aspectos possam ter um correspondente numrico. O obje-tivo dessa ordenao manter, com a maior exatido, um intervalorelativamente fixo na graduao das categorias. Diante disso deve oavaliador posicionar o objeto julgado na categoria mais aproximada.Obtm-se, assim, com este instrumento padronizado, uma avaliaoqualitativa mais precisa sobre um objeto qualquer.

    A escala de avaliao um instrumento simples e muito usado namensurao psicolgica. Os psiclogos organizacionais utilizam-naquando pretendem fazer a avaliao de desempenho dos empregadosselecionados pelos seus testes; os psiclogos educacionais, quandoavaliam o rendimento dos alunos; os psiclogos clnicos, por sua vez,empregam-na quando querem avaliar o progresso obtido por seusclientes e relacion-lo com o xito de sua tcnica. Por essa razo, da-remos maiores informaes sobre o assunto.

    TCNICAS DE AVALIAO 41

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  • 3.1.2.1. Tipos de Escala de Avaliao

    a) O sistema grfico o mais utilizado. A avaliao de indivduos serefetuada em uma srie de diferentes traos, ou caractersticas queaparecem representados em um grfico. A linha significa a amplitudedo trao, cabendo ao avaliador registrar uma marca no ponto em quejulga situar-se o observado com respeito quela caracterstica.Trao: habilidade manualEx.:

    b) A escala de avaliao de mltiplas etapas a avaliao, para cada tra-o, de uma srie de categorias contnuas. Pode ser uma escala de n-meros ou de adjetivos.

    Exemplo de escala numrica

    Trao: apresentao em pblico1. o mais desagradvel2. extremamente desagradvel3. moderadamente desagradvel4. ligeiramente desagradvel5. indiferente6. ligeiramente agradvel7. moderadamente agradvel8. extremamente agradvel9. o mais agradvel

    Exemplo de escala de adjetivos

    Trao: motivao de aprendizagem de determinada disciplina( ) cresceu com a continuidade das aulas( ) foi estvel durante todas as aulas( ) diminuiu com a continuidade das aulas( ) foi nula durante as aulas

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    Excelente AcimadaX

    x AbaixodaX

    Deficiente

  • 3.1.2.2. Construo da Escala de Avaliao

    O primeiro passo para a construo de uma escala de avaliao de-terminar o grupo que se pretende avaliar, deixando bem claro o obje-tivo da avaliao. Em seguida, devem-se estabelecer parmetros eestipular critrios para as qualidades que sero avaliadas. Para isso necessria uma definio exata, clara e objetiva da qualidade emquesto. Cada qualidade ser considerada um trao a ser avaliado.Para que a classificao no seja cansativa, deve-se estabelecer um n-mero ideal de traos, habitualmente variando entre quatro e dez. Hduas razes plausveis para a tendncia a incluir o menor nmero detraos: no h muitas variveis diferentes para as quais seria impor-tante obter avaliaes; e ocorre o efeito de halo termo que se re-fere a um erro cometido nas avaliaes dos traos a partir da primeiraimpresso que o indivduo avaliado causa no avaliador. (Esse e ou-tros erros sero mais bem explicados adiante.)

    Cada trao, por sua vez, ser subdividido em categorias (dimen-so da caracterstica medida), supondo-se uma constncia de inter-valos entre elas. O nmero de categorias varia em mdia de 15 a 11.No se deve esquecer que todos os traos de uma mesma escala de-vem ter o mesmo nmero de categorias.

    Por vezes, incluem-se categorias extremas, aparentemente desne-cessrias. H, no entanto, razes para inclu-las, pois essas categoriasservem de ncoras, capazes de diminuir uma tendncia geral dos ju-zes a evitar categorias extremas, deslocando sua avaliao para o cen-tro da escala. Esse tipo de correo chamada efeito de ncora.

    Considerando-se que, na escala de avaliao, o instrumento avalia-dor o ser humano e que este passvel de interferir com sua tendencio-sidade, deve-se estar atento para que seus erros se reduzam na medida dopossvel. Entre os vrios tipos de erros, temos o erro de benevolncia, oerro de severidade, o erro de tendncia central, o efeito ou erro de halo, oerro lgico, o erro de contraste e o erro de proximidade.

    O erro de benevolncia ocorre quando os juzes avaliam os sujei-tos acima do que realmente so. Normalmente, aparece quando jexiste um conhecimento prvio dos indivduos a serem avaliados. Oerro de severidade, ao contrrio do anterior, ocorre quando o juiz,ciente de que o erro de benevolncia possa interferir na sua avaliao,age de forma contrria acaba sendo severo demais com os sujeitosem questo.

    TCNICAS DE AVALIAO 43

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  • Quando, no entanto, os avaliadores no conhecem muito bemos indivduos, tendem a lhes dar uma avaliao central, isto , umaavaliao mdia em relao a todos os traos. Esse o erro de tendn-cia central.

    O efeito de halo ocorre quando os avaliadores se deixam levarpela impresso geral que lhes provoca o indivduo. Se a impresso boa, a avaliao tende a ser positiva, muitas vezes incorrendo no errode benevolncia. Se negativa, no erro de severidade.

    Em outras ocasies, os avaliadores acreditam que dois traos deum indivduo possuem uma relao. Por julgarem estar logicamenterelacionados, do a mesma avaliao a ambos. Nesse caso, caem noerro do tipo lgico.

    O erro de proximidade muitas vezes confundido com o erro l-gico. O avaliador percebe uma relao entre os traos, mas dessa vezuma relao hierrquica. A avaliao dada com base num contnuode intensidade. Traos mais prximos apresentam avaliaes prxi-mas, mas no iguais.

    O erro de contraste conseqncia do fato de o avaliador colocar-secomo ponto de referncia para avaliar outras pessoas. Avalia os sujeitosde modo exatamente oposto ao que faria com relao a si prprio.

    Para se saber at que ponto esses erros influenciam a avaliao,existem procedimentos estatsticos que permitem uma aproximaodo valor real de cada avaliao. Guilford (1954) elaborou alguns pas-sos para se concretizar isso. A seguir, daremos um exemplo para queo leitor acompanhe de perto esse processo.

    3.1.2.3. Avaliao das Escalas de Avaliao

    Considerando-se:A = avaliao feita

    VR = valor real da avaliaoE = erros de avaliao

    tem-se que:

    A = VR + E

    VR = A E

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  • onde: E = EB + EH + EC + ERsendo: EB = erro de benevolncia

    EH = erro de haloEC = erro de contrasteER = erro residual

    EB, EH e EC so incrementos positivos ou negativos, enquantoos outros apenas aumentam a correlao entre os traos, no sendoerros constantes que possam ser agregados nessa equao.

    Ex.:Objetivo da escala: avaliao da criatividadeAvaliao: 4 peritos no assunto (a, b, c e d)Avaliados: 6 pessoas (1, 2, 3, 4, 5 e 6)Traos: 4 traos relacionados criatividade (A, B, C, D)Escala: 11 categorias de 0 a 10.

    1) Avaliaes realizadas por juzesJuiz Trao A Trao B Trao C Trao D

    Avaliado a b c d a b c d a b c d a b c d1 7 6 8 7 8 2 8 7 5 1 8 2 5 0 10 52 7 7 6 7 7 6 6 6 6 6 9 1 5 6 8 23 6 6 4 5 8 9 8 6 10 5 9 8 9 5 10 64 8 8 6 6 9 10 3 1 8 8 7 6 9 7 4 45 8 5 6 7 9 5 4 4 5 1 4 1 9 1 3 16 5 4 3 3 7 8 1 0 7 7 8 4 7 8 0 0

    2) Mdias dos avaliados por juizAval.

    1 2 3 4 5 6 X EBJuiza *6,25 6,25 8,25 8,50 7,75 6,50 7,25 +1,55b 2,25 6,25 6,25 8,25 3,00 6,75 5,46 -0,24c 8,50 7,25 7,75 5,00 4,25 3,00 5,96 +0,26d 5,25 4,00 6,25 4,25 3,25 1,75 4,13 -1,57X 5,56 5,94 7,13 6,50 4,56 4,50 5,70EHC -0,14 +024 +1,43 +0,80 -1,14 -1,20

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  • *Obs.: O indivduo 1, no juiz a, avaliado em todos os traos:

    X

    7 8 5 5

    46 25,

    Considerando-se que o nmero de categorias varia de 0 a 10, a Xesperada 5, e assim:

    5 - 5,70 = -0,70, que o erro residual. (Como esse erro no podeser neutralizado, considera-se 5,70 como a m-dia ideal.)

    O erro de benevolncia calculado comparando-se a mdia deum juiz com a mdia total:

    EBa = 7,25 - 5,70 = 1,55EBb = -0,24EBc = +0,26EBd = -1,57.

    O erro de halo comum calculado pelos afastamentos das m-dias individuais em relao mdia total.

    Assim, 5,56 - 5,70 = 0,14

    3) Mdias corrigidas para os EB e EHC

    Avaliado1 2 3 4 5 6 X

    Juiza 4,84** 4,46 5,27 6,15 7,34 6,15 5,70b 2,63 6,25 5,06 7,69 4,38 8,19 5,70c 8,38 6,75 6,06 3,94 5,13 3,94 5,70d 6,96 5,33 6,39 5,02 5,96 4,52 5,70X 5,70 5,70 5,70 5,70 5,70 5,70 5,70

    Ala = Xla - EBa - EHC1**Ala = 6,25 - (+1,55) - (-0,14) = 4,84

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  • 4) Erro de halo particular a cada juizAvaliado

    1 2 3 4 5 6Juiza *-0,86 -1,24 -0,43 +0,45 +1,64 +0,45b -3,07 +0,55 -0,64 +1,99 -1,32 +2,49c +2,68 +1,05 +0,36 -1,76 -0,57 -1,76d +1,26 -0,37 +0,69 -0,68 +0,26 -1,18EHP = A - X1EHP = 4,84 -5,70*EHP = -0,86

    5) Mdia das avaliaes dos indivduos no mesmo traoTrao

    A B C D X EBJuiza 6,83* 8,00 6,83 7,33 7,25 +1,55b 6,00 6,67 4,67 4,50 5,46 -0,24c 5,50 5,00 7,50 5,83 5,96 +0,26d 5,83 4,00 3,67 3,00 4,13 -1,57X 6,04 5,92 5,67 5,17 5,70ECC +0,34 +0,22 -0,03 -0,53*6,83 = mdia das avaliaes feitas de todos os indivduos pelo juiz a no trao A.

    7 7 6 8 8 5

    6

    ECC = mdia do trao comparada com a mdia total. ECC = 6,04 - 5,70 = 0,34

    6) Mdias corrigidas, por juiz e trao, para EB e ECCTrao

    A B C D XJuiza 4,94 6,23 5,31 6,31 5,70b 5,90 6,69 4,94 5,27 5,70c 4,90 4,52 7,27 6,10 5,70d 7,06 5,35 5,27 5,10 5,70X 5,70 5,70 5,70 5,70 5,704,94 = X da avaliao - EB - ECC4,94 = 6,83 - (+1,55) - (+0,34)

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  • 7) Erro de contraste referente a cada juizTrao

    A B C DJuiz

    a -0,76 +0,53 -0,39 +0,61

    b +0,20 +0,99 -0,76 -0,43

    c -0,80 -1,18 +1,57 +0,40

    d +1,36 -0,35 -0,43 -0,60

    onde EC = X corrigida - Xt-0,76 = 4,94 - 5,70

    Agora podemos chegar ao valor real (VR ) da avaliao de cada indi-vduo para cada trao e para cada juiz.

    VR =A - EVR

    lAa= A

    1Aa- EB

    a- EHP

    a- EC

    aVR

    1Aa= 7 - (+1,55) - (-0,86) - (-0,76)

    VR1Aa

    = 7,07.

    3.1.3. Sistematizao da Observao

    Foi visto que a utilizao adequada de instrumentos favorece a obje-tividade da observao. Entretanto, preciso deixar claro que a obser-vao psicolgica torna-se mais sistemtica quando atribui importncia coerncia dos processos utilizados e promoo de condies sufi-cientemente bem definidas para serem reproduzveis. A definiodas condies da observao fundamental e deve permanecer amesma para todos os sujeitos observados a fim de que se possam efe-tuar comparaes interindividuais

    Segundo Reuchlin (1971), o simples exame dos dados brutos deuma observao dificilmente revela traos singulares e importantes.Sua quantificao, entretanto, favorece uma anlise estatstica com-plexa por exemplo, correlaes entre variveis observadas quepermite ultrapassar a leitura direta dos dados.

    Apesar da maior objetividade proporcionada pela sistematizao,a observao no deve tornar-se por demais rgida para no deformaro prprio contedo observado, separando fundamentalmente obser-vador, observado e os fatos importantes relativos a este.

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  • 3.2. Inquirio

    Muitas informaes sobre o domnio afetivo podem ser obtidas rapi-damente atravs de uma inquirio sistemtica. Sendo as respostas aum questionamento um dado no muito objetivo, sempre que poss-vel deve-se associar a inquirio observao.

    So trs os instrumentos usados na inquirio:

    3.2.1. Questionrio

    Lista de perguntas usada para obter informaes sobre opinies e ati-tudes dos indivduos. Existem trs tipos de questionrios: inventrio,escala de atitudes e levantamento de opinio.

    3.2.1.1. Inventrio

    Diante de uma srie de afirmaes, o indivduo solicitado a marcaraquelas com que concorda. Geralmente o inventrio utilizadocomo instrumento de auto-avaliao.

    O indivduo seu prprio juiz, pois lhe cabe dar sua opinio arespeito das informaes que lhe so apresentadas.

    Ex.:Eu no me canso rapidamente.Acredito que existe uma conspirao contra mim (etc.).

    O indivduo pode responder: certo, errado, no sei dizer;ou pode simplesmente marcar com um x a resposta com que maisconcorda.

    Existem dois tipos de inventrios: aqueles que se destinam a me-dir os interesses dos indivduos (inventrios de interesse profissionale vocacional) e aqueles que se preocupam em traar um diagnsticodo sujeito (inventrios de personalidade: lista de verificao de pro-blemas, inventrio de traos e de ajustamento).

    O inventrio de interesse de Angelini e Angelini um exemplodo primeiro tipo, isto , avalia os interesses profissionais do testando.As atitudes aparecem aos pares, cada par dentro de um quadrado,onde o indivduo dever marcar a atividade que mais gostaria de rea-lizar fazendo um crculo ao redor da letra que a acompanha. Pode

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  • gostar igualmente das duas e fazer um crculo em torno delas; oupode no gostar de nenhuma delas, devendo marcar um x na letracorrespondente.

    Ex.:a) ler um livro sobre guerrab) ler um livro sobre esporte

    Os inventrios de traos medem as diferenas individuais dentroda faixa de normalidade. O Inventrio de Bernreuter constitui umexemplo desse tipo, pois avalia traos como tendncias neurticas,auto-suficincia, introverso-extroverso, etc.

    Os inventrios de ajustamento medem a capacidade do indiv-duo para realizar ajustamentos satisfatrios quando exposto a condi-es de presso e tenso. O Cornell Index um exemplo tpico.

    A lista de verificao de problemas apenas identifica os proble-mas do indivduo para uma orientao individual. Exemplo: Moo-ney Problem Check List.

    De modo geral os inventrios apresentam as desvantagens depossurem itens ambguos, isto , itens que os indivduos respondemapoiados em seus sentimentos gerais ou autoconceito; levam ten-denciosidade e fraude por usarem respostas como sim, no, concor-do, etc., e no indagam sobre respostas que dizem respeito asituaes bem-definidas. Um bom rapport, a utilizao de chaves decorreo e o mtodo de escolha forada so alguns meios de que sepode dispor para minimizar tais dificuldades.

    3.2.1.2. Escala de Atitudes

    uma combinao da escala de classificao com o inventrio. O su-jeito solicitado a expressar sua atitude em relao a determinadaafirmao, assinalando-a nessa escala.

    H dois tipos importantes de escalas de atitude: a escala do tipoThurstone e a escala do tipo Likert. A primeira usada para determi-nar a atitude geral de uma pessoa para com determinado assunto. Naelaborao dessa escala, deve-se obter o maior nmero possvel deafirmaes (100 ou mais) sobre o assunto em questo, exprimindoaspectos diversos, sejam eles favorveis ou desfavorveis. So apre-sentados em folhas separadas a juzes que as distribuem em pilhas

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  • (geralmente 1, 7, 9 ou 11), classificando-as desde as mais desfavor-veis (colocadas na pilha 1) at as que expressam juzos mais favorveis(colocadas nas ltimas pilhas 7, 9 ou 11). anotada a categoriaem que cada juiz classifica cada afirmao. A distribuio das afirma-es em pilhas constitui o processo de construo da escala.

    Determinando-se o nmero de vezes em que uma afirmao colocada na pilha, pode-se estabelecer a mdia de avaliao efetuada.Faz-se tambm uma avaliao da conscincia dos julgamentos emcada afirmao. Eliminam-se as avaliaes espalhadas em vrias cate-gorias, considerando-se apenas aquelas em que h um peso conside-rvel de avaliao em uma categoria ou em um nmero limitado decategorias.

    Uma vez construda, do-se a cada indivduo as pilhas que con-tm tais afirmaes e pede-se-lhe que marque aquelas com queconcorda ou que acha estarem certas.

    Ex.:Atitudes dos alunos em relao sua escola.

    Afirmao Valor da escala1. Nunca consegui descobrir meu papel no meu grupo

    escolar. 9,722. Nunca tive oportunidade de usar minha experincia

    durante as aulas. 8,333. Em geral, sou tratado com respeito. 4,064. Sinto-me integrado ao colgio. 3,185. Penso que se deve ensinar todos os alunos utilizando-se

    os melhores mtodos de ensino. 1,67

    A atitude dos alunos em relao sua escola ser avaliada pelo va-lor mdio das afirmaes que el