usos e costumes

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25 Os usos e costumes na cultura judaica Recordo-me de minha decepção quando li a Bíblia pela primeira vez. Pensava tratar-se de um manual de religião. Qual não foi meu desapontamento quando me deparei com um livro de história. Descobri que as páginas do Antigo Testamento contam a trajetória de um povo, seu relacionamento de obediência, mas também de rejeição a Deus e como aguardavam o seu Messias prometido. O Novo Testamento prossegue relatando a chegada do Messias. Porém, como esse povo que tanto o aguardava não o recebeu como o Cordeiro de Deus, ele se tornou o Cristo de todas as nações. A Bíblia, portanto, sendo um livro histórico, registra primordialmente a cultura dos judeus. Suas páginas fornecem grande parte do que se sabe hoje sobre os hebreus. Cada episódio narrado traz um contexto cultural riquíssimo. Neste capítulo nos prenderemos especificamente às roupas e aos adornos da cultura oriental, procurando compreender o que a Bíblia ensina sobre o assunto. OS judeus, como todos os outros povos, criaram uma forma de expressão cultural na sua indumentária. Os povos antigos consideravam a comida e a vestimenta necessidades básicas (1 Tm 6:8). Vestir-se para a labuta não requeria muito esmero, as roupas para trabalhar deveriam ser básicas e muito simples, de forma que se pudesse entrar no trabalho ou dele sair com rapidez. Um antigo palestino podia demorar muitas horas ataviando-se com adereços, perfumes, jóias turbantes, mantos e capas, quando se vestia para uma festa culto religioso ou casamento, mas nunca gastaria esse tempo todo quando se vestia para trabalhar. 1 Na antigüidade, um traba- lhador que perdesse tempo vestindo-se para o trabalho era considerado de pouca qualificação. Alguns historiadores enxergam nas roupas largas e frouxas da cultura palestina uma expressão do pensamento entanto, havia uma diversificação enorme na maneira como as pessoas se trajavam; as roupas transmitiam valores, tanto estéticos como morais. Na cultura judaica, a nudez representava pobreza vergonha e fragilidade moral. Quando empobrecido pelo mordaz ataque do Diabo, Jó viu-se fragilizado e bradou: "Nu saí do ventre de minha mãe, e nu voltarei; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!" Em Gênesis 37 o pecado gerou vergonha quando Adão e Eva perceberam que estavam nus. Assim, os judeus buscavam cobrir-se para demonstrar sua dignidade e pureza diante de Deus

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Page 1: Usos e Costumes

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Os usos e costumes na cultura judaica

Recordo-me de minha decepção quando li a Bíblia pela primeira vez. Pensava

tratar-se de um manual de religião. Qual não foi meu desapontamento quando me

deparei com um livro de história. Descobri que as páginas do Antigo Testamento

contam a trajetória de um povo, seu relacionamento de obediência, mas também de

rejeição a Deus e como aguardavam o seu Messias prometido. O Novo Testamento

prossegue relatando a chegada do Messias. Porém, como esse povo que tanto o

aguardava não o recebeu como o Cordeiro de Deus, ele se tornou o Cristo de todas as

nações.

A Bíblia, portanto, sendo um livro histórico, registra primordialmente a cultura dos

judeus. Suas páginas fornecem grande parte do que se sabe hoje sobre os hebreus.

Cada episódio narrado traz um contexto cultural riquíssimo. Neste capítulo nos

prenderemos especificamente às roupas e aos adornos da cultura oriental, procurando

compreender o que a Bíblia ensina sobre o assunto.

OS judeus, como todos os outros povos, criaram uma forma de expressão cultural

na sua indumentária. Os povos antigos consideravam a comida e a vestimenta

necessidades básicas (1 Tm 6:8). Vestir-se para a labuta não requeria muito esmero,

as roupas para trabalhar deveriam ser básicas e muito simples, de forma que se

pudesse entrar no trabalho ou dele sair com rapidez. Um antigo palestino podia

demorar muitas horas ataviando-se com adereços, perfumes, jóias turbantes, mantos

e capas, quando se vestia para uma festa culto religioso ou casamento, mas nunca

gastaria esse tempo todo quando se vestia para trabalhar.1 Na antigüidade, um traba-

lhador que perdesse tempo vestindo-se para o trabalho era considerado de pouca

qualificação. Alguns historiadores enxergam nas roupas largas e frouxas da cultura

palestina uma expressão do pensamento entanto, havia uma diversificação enorme na

maneira como as pessoas se trajavam; as roupas transmitiam valores, tanto estéticos

como morais.

Na cultura judaica, a nudez representava pobreza vergonha e fragilidade moral.

Quando empobrecido pelo mordaz ataque do Diabo, Jó viu-se fragilizado e bradou:

"Nu saí do ventre de minha mãe, e nu voltarei; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou;

bendito seja o nome do Senhor!" Em Gênesis 37 o pecado gerou vergonha quando

Adão e Eva perceberam que estavam nus. Assim, os judeus buscavam cobrir-se para

demonstrar sua dignidade e pureza diante de Deus