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URBANIDADE: VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE E PERCEPÇÃO NOS ESPAÇOS URBANOS EDIFÍCIOS COMO ARTICULADORES E ESTRUTURADORES DE URBANIDADE NO CENTRO EXPANDIDO DA CIDADE DE SÃO PAULO MARIA VICTORIA MARCHELLI UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE . 2016

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URBANIDADE: VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE E PERCEPÇÃO NOS ESPAÇOS URBANOSEDIFÍCIOS COMO ARTICULADORES E ESTRUTURADORES DE

URBANIDADE NO CENTRO EXPANDIDO DA CIDADE DE SÃO PAULO

MARIA VICTORIA MARCHELLI

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE . 2016

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

MARIA VICTORIA MARCHELLI

URBANIDADE: VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE E PERCEPÇÃO NOS ESPAÇOS URBANOS

EDIFÍCIOS COMO ARTICULADORES E ESTRUTURADORES DE URBANIDADE NO CENTRO EXPANDIDO DA CIDADE DE SÃO PAULO

São Paulo2016

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MARIA VICTORIA MARCHELLI

URBANIDADE: VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE E PERCEPÇÃO NOS ESPAÇOS URBANOS

EDIFÍCIOS COMO ARTICULADORES E ESTRUTURADORES DE URBANIDADE NO CENTRO EXPANDIDO DA CIDADE DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, na linha de pesquisa Urbanismo Moderno e Contemporâneo: Representação e Intervenção da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Isabel Villac

Com apoio: CAPES e MackPesquisa

São Paulo2016

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profa. Dra. Maria Isabel Villac, pelo incentivo, disponibilidade,

troca de conhecimentos e pelos ricos momentos de discussão.

À Profa. Dra. Lizete Rubano e ao Prof. Dr. Vladimir Bartalini pelas sugestões

apresentadas no momento do exame de qualificação, de grande importância

para a construção final deste trabalho.

Ao Mackenzie e à CAPES pela concessão de bolsa de estudos para a elaboração

deste trabalho.

Ao escritório Brasil Arquitetura e Aflalo & Gasperini Arquitetos pela disponibilização

de material iconográfico.

Às Administradoras dos edifícios Copan, Itália, Galeria Metrópole e Praça das Artes

pelo atendimento fornecido e pelas informações e materiais disponibilizados.

Ao Prof. Dr. Roberto Righi pelo auxílio na construção de artigos acadêmicos.

Aos amigos da turma da pós-graduação, em especial a Paola Nese, Michelle

Taveira e Lara Citó pela troca de informações e companheirismo nestes dois anos.

A colega de mestrado e amiga Roberta Squaiella, pelo apoio durante o percurso

do trabalho, através de troca de informações e textos, produção de artigos,

construção da pesquisa e motivação e força constante.

À querida amiga Cristiane Martins Novo pelo auxílio dado para a elaboração

gráfica deste trabalho e parceira em algumas das visitas in loco.

Aos amigos pela força e compreensão das ausências constantes.

À minha família, especialmente Alejandro, Ana Lia e Gianfranco, pelo apoio, força

e paciência durante este período.

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Nada substitui a visão e o estudo direto dos fenômenos sobre o terreno. O observador exercitado pode ali captar as relações múltiplas entre os fatores físicos e o homem, que escapam à descrição livresca ou à representação cartográfica. Mas veja bem, para ser capaz de fazer estas observações ao vivo, é necessário saber viajar e saber olhar (E.ARDILLON, 1901, apud BESSE, 2014, p. 73).

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A presente dissertação tem como objetivo construir o conceito de urbanida-

de por meio da relação entre os aspectos de verticalização, de densidade e

de percepção com os objetos arquitetônicos e os elementos morfológicos

que compõem o espaço urbano. Expandindo-se da definição enciclopé-

dica de “cordialidade” e de “civilidade”, entende-se esse conceito como o

conjunto de qualidades entre o espaço e o objeto que se materializam na

cidade (AGUIAR, 2012). Foram escolhidos 04 (quatro) edifícios para analisar

a relação entre o objeto construído e a paisagem urbana, de maneira a

identificar as características que contribuem para a conformação de urba-

nidade. Os edifícios em questão dividem-se em duas categorias. A primeira

trata-se dos edifícios Copan (1952), Galeria Metrópole (1956) e Edifício Itália

(1959), representando o período moderno em que, pela mudança de le-

gislação, conseguiram atingir altas densidades, verticalização acentuada e

maior reprodutividade do solo urbano. A segunda categoria analisa o edi-

fício Praça das Artes (2012), representante da contemporaneidade e com

maiores desafios legislativos. Os elementos atuantes e presentes nesses

edifícios como permeabilidades, menores barreiras entre os espaços públi-

co e privado, multifuncionalidade de usos, entre outros, contribuíram para a

qualidade do espaço urbano resultante. Assim, esses elementos apresenta-

ram relações de escala e de permanência e tiveram poder de propulsão de

urbanidade (FRANCO, 2005). Procura-se explorar o conceito de urbanidade,

de forma a identificar que na paisagem urbana o que prevalece não é apenas

o caráter quantitativo (densidade, verticalização, coeficientes), e sim a relação

dos elementos para conformar espaços com qualidade, funcionalidade, esté-

tica e urbanidade. É a partir da integração que a cidade se desenha, se aproxi-

ma da escala humana e garante maior urbanidade, dinamicidade e vitalidade.

Palavras chave: Urbanidade. Verticalização. Densidade. Percepção. Paisa-

gem urbana. São Paulo.

RESUMO

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This thesis aims to build the concept of urbanity through the relationship

between verticalization, density and perception aspects with architectural

objects and morphological elements that build up the urban space. Furthering

the encyclopedic definition of “cordiality” and “civility,” this concept is

understand as a set of qualities between space and object that are materialize

in the city (AGUIAR, 2012). They were chosen 04 (four) buildings to examine

the relationship between the built object and the urban landscape, in order

to identify the characteristics that contribute to the shaping of urbanity. The

buildings in question are divided into two categories. The first of them consists

of Copan Building (1952), Galeria Metrópole (1956) and Italia Building (1959),

representing the modern period in which the change in legislation, provide

them to reach high densities, strong verticalization and greater reproducibility

of urban land. The second category analyzes the Praça das Artes complex (2012),

representative of contemporaneity and with major legislative challenges. The

active elements present in these buildings as permeabilities, smaller barriers

between public and private spaces, multifunctional uses, among others,

contributed to the quality of the resulting urban space. Thus, these elements

presented scaling and persistence relationships and had urbanity propulsion

power (FRANCO, 2005). It is seek to explore the concept of urbanity, in order to

identify that in the urban landscape what prevails is not only the quantitative

approach (density, vertical, coefficients), but the relationship of the elements

to conform spaces with quality, functionality, aesthetics and urbanity. It is

from the integration that the city is drawn, approaches the human scale and

ensures greater urbanity, dynamism and vitality.

Key words: Urbanity. Verticalization. Density. Perception. Urban Landscape.

São Paulo.

ABSTRACT

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1. Vista aérea da região central de São Paulo. 20

Figura 1.2. Comparação das densidades e das alturas (alta, baixa e média). 39

Figura 1.3. Comparação entre a cidade de Parma e o projeto Saint-Dié (Le Corbusier). 48

Figura 1.4. Recorte do centro de São Paulo (figura e fundo). 49

Figura 1.5. Esquema de espaços positivos (centrípeto) e negativos (centrífugo). 54

Figura 1.6. Esquema de espaço exterior negativo. 55

Figura 1.7. Esquema de espaço exterior positivo. 55

Figura 1.8. Esquema de transformações dos espaços. 55

Figura 1.9. Esquema de transformações dos espaços. 55

Figura 2.1. Mapa São Paulo, 1895. 64

Figura 2.2. Mapa São Paulo, 1913. 65

Figura 2.3. Mapa São Paulo, 1924. 65

Figura 2.4. Mapa São Paulo, 1951. 65

Figura 2.5. Implantação dos edifícios no Centro Novo de São Paulo. 66

Figura 2.6. Imagem área do centro de São Paulo. 67

Figura 2.7. Edifício Copan. 68

Figura 2.8. Implantação Edifício Copan. 69

Figura 2.9. Imagem aérea. 69

Figura 2.10. Planta pavimento térreo. 70

Figura 2.11. Acesso pela Rua Araújo. 71

Figura 2.12. Visual desde a Rua Unaí (sentido Vila Normanda). 71

Figura 2.13. Visual desde a Rua Unaí (sentido Avenida Ipiranga). 71

Figura 2.14. Copan - Figura e fundo. 73

Figura 2.15. Copan - Figura e fundo. 73

Figura 2.16. Copan - Espaço positivo - permeabilidade. 73

Figura 2.17. Percurso interno. 74

Figura 2.18. Percurso interno. 75

Figura 2.19. Elevação sudeste. 76

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Figura 2.20. Elevação sudoeste. 77

Figura 2.21. Visual desde a Rua Unaí. 78

Figura 2.22. Copan - Detalhe do brise da fachada. 79

Figura 2.23. Copan - Vista aérea. 80

Figura 2.24. Copan - Vista aérea. 80

Figura 2.25. Visual desde a Rua Araújo. 81

Figura 2.26. Visual desde a Rua Araújo. 81

Figura 2.27. Copan - Relação entre distância e altura. 82

Figura 2.28. Visual desde a Avenida Ipiranga. 83

Figura 2.29. Visual desde a Rua da Consolação, destaque para o skyline urbano. 84

Figura 2.30. Figura e fundo a partir da figura 2.29. 85

Figura 2.31. Edifício Itália. 86

Figura 2.32. Planta pavimento térreo. 87

Figura 2.33. Entrada desde a Avenida Ipiranga. 88

Figura 2.34. Visual da entrada desde o interior do edifício. 88

Figura 2.35. Visual da galeria interna. 88

Figura 2.36. Edifício Itália - Figura e fundo. 89

Figura 2.37. Edifício Itália - Figura e fundo. 89

Figura 2.38. Edifício Itália - Espaço positivo- permeabilidade. 89

Figura 2.39. Desenho esquemático- volumetrias e setorização. 90

Figura 2.40. Corte longitudinal. 91

Figura 2.41. Detalhe do brise da fachada. 92

Figura 2.42. Visual para o Edifício Itália desde a esquina da Praça da República. 93

Figura 2.43. Montagem do mapa com base no Mapa Digital da Cidade (MCD). 94

Figura 2.44. Visual desde o terraço do Circolo Italiano. 95

Figura 2.45. Edifício Itália, 1970. 95

Figura 2.46. Visual desde a varanda do Circolo Italiano. 96

Figura 2.47. Visual desde a varanda do Circolo Italiano. 96

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Figura 2.48. Edifício Itália - Relação distância e altura. 97

Figura 2.49. Ponto nodal no1. 98

Figura 2.50. Ponto nodal no2. 98

Figura 2.51. Ponto nodal no3. 98

Figura 2.52. Montagem do mapa com base no Mapa Digital da Cidade (MCD). 99

Figura 2.53. Visual para o Edifício Itália desde o Edifício Copan. 100

Figura 2.54. Avenida Ipiranga, São Paulo, 1953. 100

Figura 2.55. Centro de São Paulo. 101

Figura 2.56. Centro de São Paulo. 103

Figura 2.57. Galeria Metrópole - Maquete. 104

Figura 2.58. Implantação. 105

Figura 2.59. Corte longitudinal. 105

Figura 2.60. Planta do pavimento térreo (Passeio São Paulo). 106

Figura 2.61. Planta da 3a sobreloja (Passeio Capri). 106

Figura 2.62. Visual do vazio central desde interior do edifício. 107

Figura 2.63. Galeria Metrópole - Figura e fundo. 109

Figura 2.64. Galeria Metrópole - Figura e fundo. 109

Figura 2.65. Galeria Metrópole - Espaço positivo- permeabilidade. 109

Figura 2.66. Elevação. 110

Figura 2.67. Corte longitudinal. 111

Figura 2.68. Visual do pórtico de entrada desde a Praça Dom José Gaspar 113

Figura 2.69. Visual desde a Avenida São Luís. 113

Figura 2.70. Visual desde a Praça Dom José Gaspar. 113

Figura 2.71. Visual desde a Praça Dom José Gaspar. 113

Figura 2.72. Visual interna, destacando-se o vazio central. 113

Figura 2.73. Conexão visual entre os jardins por meio do vazio central. 114

Figura 2.74. Distribuição de usos ao redor do vazio central. 115

Figura 2.75. Visual desde o jardim da cobertura - continuidade com a Praça Dom José Gaspar. 116

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Figura 2.76. Visual para a Praça Dom José Gaspar desde a 3a sobreloja. 116

Figura 2.77. Visual para a Rua Basílico da Gama desde a 3a sobreloja. 116

Figura 2.78. Conexão dos espaços interior e exterior por meio das aberturas 117

Figura 2.79. Visual desde a 20 sobreloja para a calçada e a Avenida São Luís. 118

Figura 2.80. Galeria Metrópole - Relação distância e altura. 119

Figura 3.1. Planta de situação - recorte centro de São Paulo. 123

Figura 3.2. Praça das Artes. 124

Figura 3.3. Planta de situação. 125

Figura 3.4. A quadra 27 e seu entorno, São Paulo, 1925. 126

Figura 3.5. Vista aérea São Paulo, 1930. 126

Figura 3.6. Visual desde o edifício Martinelli, São Paulo, 1930. 126

Figura 3.7. Imagem aérea. 127

Figura 3.8. Planta pavimento térreo. 128

Figura 3.9. Percurso interno da quadra. 129

Figura 3.10. Planta primeiro pavimento. 130

Figura 3.11. Planta segundo pavimento. 130

Figura 3.12. Panorâmica da praça - uso para ensaio fotográfico. 131

Figura 3.13. Praça sendo usada para o Mercado Mundo Mix Afro. 131

Figura 3.14. Inauguração Praça das Artes, apresentação Escola de dança. 132

Figura 3.15. Praça das Artes - Figura e fundo. 133

Figura 3.16. Praça das Artes - Espaço positivo- permeabilidade. 133

Figura 3.17. Programa. 134

Figura 3.18. Programa detalhado. 135

Figura 3.19. Corte longitudinal, visual para Avenida São João. 136

Figura 3.20. Corte longitudinal. 136

Figura 3.21. Visual desde a calçada da Avenida São João. 137

Figura 3.22. Visual desde o pórtico para a Rua Conselheiro Crispiniano. 138

Figura 3.23. Visual desde a entrada pela Rua Conselheiro Crispiniano, para o pórtico. 138

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Figura 3.24. Croqui- projeto. 139

Figura 3.25. Croqui- projeto. 139

Figura 3.26. Panorâmica, conexão Rua Conselheiro Crispiniano e Avenida São João. 140

Figura 3.27. Panorâmica, conexão Rua Conselheiro Crispiniano e Vale Anhangabaú. 140

Figura 3.28. Visual desde a praça, destaque para os caixilhos e as passarelas/marquises. 142

Figura 3.29. Visual interna - aberturas. 143

Figura 3.30. Visual interna - aberturas. 143

Figura 3.31. Visual para Anhangabaú, destaque do Edifício Martinelli. 144

Figura 3.32. Visual para Conselheiro Crispiniano. 145

Figura 3.33. Visual para Conselheiro Crispiniano. 145

Figura 3.34. Visual desde a varanda para o Vale do Anhangabaú. 146

Figura 3.35. Elevação desde a Rua Formosa. 147

Figura 3.36. Elevação desde a Avenida São João. 147

Figura 3.37. Visual desde a Rua Conselheiro Crispiniano. 148

Figura 3.38. Visual desde o Edifício Martinelli. 149

Figura 3.39. Vista aérea com inserção do projeto. 149

Figura 3.40. Praça das Artes - Relação distância e altura. 150

Figura 3.41. Vista Praça das Artes. 151

Figura 4.1. Visual da região central de São Paulo desde a cobertura do Edifício Copan. 155

Figura 4.2. Edifício Copan. 159

Figura 4.3. Edifício Itália. 159

Figura 4.4. Galeria Metrópole - Maquete. 159

Figura 4.5. Praça das Artes. 159

Figura 4.6. Comparação das densidades e alturas (alta, baixa e média). 159

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15LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

Gráfico 1.1. Esquema dos conceitos. 25

Gráfico 1.2. Esquema dos conceitos com o espaço urbano. 58

Gráfico 1.3. Esquema conceitual de síntese. 61

Gráfico 4.1. Comparação das densidades físicas permanentes. 156

Gráfico 4.2. Comparação das densidades físicas transitórias. 156

Gráfico 4.3. Comparação dos coeficientes de aproveitamento. 157

Gráfico 4.4. Comparação das alturas. 158

Gráfico 4.5. Comparação da área do terreno versus a área construída. 160

Tabela 1.1. Quadro populacional, crescimento de São Paulo. 33

Tabela 1.2. Número médio de construções em São Paulo. 35

Tabela 4.1. Urbanidade centrípeta e centrífuga. 163

Tabela 4.2. Síntese dos 04 (quatro) edifícios analisados. 164

Av. Avenida.

CA Coeficiente de aproveitamento.

CEP Código de Endereçamento Postal.

D Distância.

Dr Doutor.

H Altura.

Ha Hectare.

Hab Habitantes.

Km² Quilômetro quadrado.

M Metros.

N Norte.

N0 Número.

ONU Organização das Nações Unidas.

S/ Sem.

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1. URBANIDADE : VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE, PERCEPÇÃO 32

Elenco de conceitos para a construção de urbanidade 32

1.1 Verticalização 32

1.1.1 Processo de verticalização na cidade de São Paulo 33

1.2 Densidade 36

1.2.1 Densidade física 36

1.2.2 Densidade percebida 36

1.2.3 Densidade urbana 37

1.3 Percepção 41

1.3.1 Ambiência 41

1.3.2 Construção da imagem na paisagem urbana 42

1.3.3 Figura e Fundo - Teoria de Gestalt 46

1.4 Urbanidade 50

1.4.1 A construção do conceito 50

1.4.2 Construção dos espaços livres, fluentes e, das permeabilidades 52

1.4.3 Morfologia urbana 56

1.4.4 Indicadores de análise de urbanidade 58

SUMÁRIO PROPOSTO

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2. REPERTÓRIO MODERNO NA CIDADE TRADICIONAL 64

Análise dos edifícios Copan, Itália e Galeria Metrópole 64

2.1 Desenho do centro da cidade de São Paulo 64

2.1.1 Permeabilidades centrais urbanas 66

2.2 Edifício Copan 68

2.2.1 Ficha técnica 68

2.2.2 Implantação do edifício e traçado urbano 69

2.2.3 Espaços positivos e permeabilidades 72

2.2.4 Embasamento 76

2.2.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada 78

2.2.6 Escala e paisagem urbana 81

2.3 Edifício Itália 86

2.3.1 Ficha técnica 86

2.3.2 Implantação do edifício e traçado urbano 87

2.3.3 Espaços positivos e permeabilidades 88

2.3.4 Embasamento 90

2.3.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada 92

2.3.6 Escala e paisagem urbana 94

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2.4 Galeria Metrópole 104

2.4.1 Ficha técnica 104

2.4.2 Implantação do edifício e traçado urbano 105

2.4.3 Espaços positivos e permeabilidades 107

2.4.4 Embasamento 110

2.4.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada 112

2.4.6 Escala e paisagem urbana 115

3. REPERTÓRIO CONTEMPORÂNEO NO CENTRO EXPANDIDO 122

Análise do edifício Praça das Artes 122

3.1 Relações urbanas 122

3.1.1 Articulação entre os edifícios modernos e a Praça das Artes 122

3.2 Praça das Artes 124

3.2.1 Ficha técnica 124

3.2.2 Implantação do edifício e traçado urbano 125

3.2.3 Espaços positivos e permeabilidades 133

3.2.4 Embasamento 134

3.2.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada 137

3.2.6 Escala e paisagem urbana 146

3.3 Síntese de urbanidade nos edifícios analisados 152

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19

CONSIDERAÇÕES FINAIS 166

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 168

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 156

4.1 Verticalização e densidade física (permanente e transitória) 156

4.2 Espaços positivos e permeabilidades urbanas 161

4.3 Paisagem, percepção e urbanidade 161

4.4 Urbanidade centrípeta e centrífuga 162

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Figura 1.1 Vista aérea da região central de São Paulo. Fonte: Revista Acrópole, no 295-296, jun. 1963, p. 27.

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INTRODUÇÃO

As cidades, estabelecimentos humanos do território, têm passado por

grandes mudanças, sendo que, desde 2014, 54 % (cinquenta e quatro) da

população mundial reside nelas (ONU, 2014). Dessa maneira, são hoje palco

de novas transformações e discussões, assim como suscetíveis a falta de

planejamentos adequados para uma integrada urbanização.

Milton Santos (2009) verificou, na década de oitenta, que 77 % (setenta e

sete) da população brasileira era urbana. Segundo o relatório Estado das Ci-

dades de América Latina e Caribe 2012 ,1 a população urbana se aproximaria

de 90 % (noventa) até 2050. O processo de urbanização dos países da Amé-

rica Latina, descrito por Paul Singer (1979) deveu-se à ação conjunta entre

dois fatores. O primeiro trata-se da migração rural decorrente do exceden-

te da população, cujo deslocamento foi produzido por fatores de estagna-

ção das forças produtivas, devido à falta de recursos. O segundo, por sua

vez, insere-se no cenário da restruturação das relações de produção frente

a imposição de desenvolvimento no sistema capitalista. Com a especializa-

ção e as novas tecnologias, ocorreu a liberação da força de trabalho devi-

do a que a produção se encaminhava para o mercado e os cultivos foram

abandonados para o consumo local.

Conforme ressaltado por Franco (2005, p. 10), demorou apenas um século

para que a vila de São Paulo se transformasse em “uma das maiores me-

trópoles industriais do mundo contemporâneo”. A implantação dos siste-

mas de transporte sobre trilhos e a inserção dos automóveis estruturaram

a cidade, contribuindo para o espraiamento da mesma. Dessa maneira, a

cidade fragmentou-se em vários núcleos urbanos, conformando os cha-

mados centros expandidos, e assim, os locais de moradia foram separados

dos locais de trabalho, de educação, de cultura, de lazer e de indústria. Essa

separação virou uma das maiores torturas dos países em desenvolvimento:

a ida e a volta do trabalho (VILLAÇA, 1986).

Com a urbanização, São Paulo também passou por um processo de ver-

ticalização para atender à demanda demográfica. Nunca ocorreu um pla-

1 ONU HABITAT. Programa das Nações Unidas para assentamentos humanos. Estado de las ciudades de América Latina y Caribe 2012: rumbo a una nueva transición urbana.

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nejamento consistente e efetivo que conseguisse aproveitar o crescimen-

to vertical para criar um traçado urbano, organizar a paisagem urbana e

promover altas densidades. Como salientado por Somekh (2014, informa-

ção verbal),2 São Paulo é “aparentemente vertical mas não é densa,” ten-

do como coeficiente de aproveitamento médio 1,2 (SOMEKH, 2013). Ao in-

vés de concentrar-se, a cidade se expandiu desordenadamente. Segundo

Somehk (2013, p. 98), a combinação entre “o desenvolvimento do capital

imobiliário na busca de terrenos mais baratos, uma legislação aparente-

mente restritiva e a recorrente desistência de investimentos em transporte

de massa, por parte do poder público”, contribuíram para a configuração

de uma cidade dispersa e elitista, acentuando-se a perda da qualidade do

centro, elemento fundamental das cidades.

O arquiteto e urbanista Vishaan Chakrabarti (2013) expôs no seu livro A

country of cities: A manifesto for an Urban America que precisamos construir

um país de cidades, isto é, um país de trens, torres e árvores e deixar para trás

um país de autoestradas, casas e gramados. Esse modelo está inteiramente

ligado ao entendimento de que as cidades precisam se organizar dentro

do seu tecido urbano, a partir de um adensamento adequado para garantir

uma melhor mobilidade, usufruir de menor espaço físico e proporcionar

maior sustentabilidade, buscando, assim, uma melhor qualidade de vida

para seus habitantes. Segundo Richard Rogers (2001), precisa-se pensar

e planejar as cidades, visando intensificar o uso de sistemas eficientes de

transporte e privilegiar as ruas em favor do pedestre e da comunidade.

Em suma, o economista Edward Glaeser (2011), no seu livro Os centros

urbanos: a maior invenção da humanidade, argumenta que a população

urbanizada deveria viver em cidades densas, construídas em torno

do elevador, em vez de regiões expandidas, as quais são em torno do

automóvel. Esse legado pós fordista, influência das elites norte-americanas

e que virou parte da cultura de vários países, levou às cidades a base do

automóvel e tem criado nelas um grande caos, transcrevendo-se nos

2 Nota fornecida por Nadia Somekh durante a aula de pós-graduação, O edifício e a cidade: produção, planejamento e projeto, ministrada na Universidade Mackenzie em 19 ago. 2014.

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problemas atuais de congestionamentos, poluição sonora e ambiental,

ausência de áreas verdes e transporte público precário.

O fenômeno de cidade dispersa com baixa densidade somado à verticali-

zação, transformou a cidade de São Paulo em um território fragmentado

em que as relações entre edifício e urbe ficaram fragilizadas, assim como a

qualidade dos espaços públicos. Somados à falta de segurança, predomi-

nam, atualmente na cidade, os edifícios gradeados com térreos sem per-

meabilidade. Conforme Somekh (2013, p. 93), o modo que a verticalização

aconteceu em São Paulo, “contribuiu para que a cidade nunca concretizas-

se um projeto de urbanidade consistente e efetivo.”

A falta de planejamentos adequados contribuiu para a expansão do es-

paço residual, conforme denominado pelo Koolhas (2013), de espaço lixo.

Este último interfere na clareza (legibilidade) e na identidade do espaço.

Para transpassar tal efeito, deve-se ultrapassar a artificialidade e, o edifí-

cio relacionar-se com a cidade. Os espaços públicos têm perdido seu valor,

sendo que cada vez menos são incentivados os projetos com urbanidade-

“síntese de qualidade e do caráter da vida urbana” (CULLEN, 2009, p. 66).

A cidade de São Paulo, um verdadeiro palimpsesto arquitetônico, possui

um legado modernista de influência. O centro da cidade representa esse

caráter influente. Ainda que o urbanismo moderno, com seus ditames, não

conseguiu resolver todas as questões da cidade, existem elementos con-

cretos que foram construídos durante esse movimento e que se articulam

com a cidade, estabelecendo um diálogo atuante. Segundo Harvey (2012),

o modernismo foi responsável por espaços sem ligação com o entorno e

subservientes à função social. Pontua-se que o movimento moderno não

resolveu totalmente os males das cidades, principalmente por se basear

em uma série de dogmas. Ainda assim, existem edifícios modernos que

conseguiram ultrapassar tais barreiras.

No centro de São Paulo, especialmente durante o período de 1950-1960,

foram construídos alguns edifícios que se contrapõem a tal visão e deram

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25Introdução

vitalidade à região, a partir da integração entre os espaços interno e o

externo. Tais edifícios foram projetados com a preocupação de serem

espaços onde as barreiras público-privadas fossem anuladas, já que

dialogam com o traçado do modelo de cidade tradicional. Edifícios, os

quais, devido à legislação vigente, conseguiram atingir altas densidades e

usufruíram de elementos arquitetônicos para estabelecer um diálogo entre

a cidade, o edifício e o pedestre. Permeabilidades, marquises, galerias, são

alguns desses elementos.

Segundo Moimas (2014), “De acordo com Costa, a arquitetura brasileira

era, por um lado, resultado da fusão de princípios europeus e da

cultura nacional brasileira e, por outro, o produto de um ‘gênio nativo’”.

A arquitetura moderna brasileira surgiu de modo peculiar porém foi

influenciada pelas ideias europeias modernas, sendo Le Corbusier o

principal vetor de difusão. Destaca-se a destreza dos personagens

brasileiros, como Oscar Niemeyer e dos estrangeiros, Franz Heep e David

Libeskind (influenciado pela cultura brasileira).

Diante deste cenário, o objetivo desta pesquisa é construir o conceito de

urbanidade, entendido como a relação entre os aspectos de verticaliza-

ção, de densidade e de percepção e sua transformação no espaço urbano

(Gráfico 1.1), o qual é composto de objetos arquitetônicos e de elementos

morfológicos. A partir dos conceitos elencados, realizaram-se ensaios de

aproximação (análises) nos edifícios multifuncionais escolhidos, de manei-

ra a exemplificar o conceito de urbanidade.

Gráfico 1.1. Esquema dos conceitos. Fonte: AUTORA, 2015.

VERTICALIZAÇÃO DENSIDADE PERCEPÇÃO

ESPAÇO URBANO

URBANIDADE

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26

Os edifícios escolhidos foram selecionados como objeto de estudo por te-

rem programa de uso misto, inovação na implantação do lote, apresenta-

rem permeabilidade no térreo, promoverem altas densidades e terem a

intenção de criarem espaços coletivos. São de fato edifícios localizados na

área central, centro expandido, da cidade de São Paulo e que, até os dias de

hoje, estabelecem um diálogo atuante com a paisagem urbana, por meio

dos elementos que geram urbanidade.

Os conceitos de verticalização e de densidade estão presentes nesses edi-

fícios. Eles não são sinônimos, são complementares e codependentes, po-

dendo contribuir para uma configuração com urbanidade a partir da arti-

culação com o espaço construído. A relação entre a matéria construída (o

edifício) e o urbano (a cidade) depende das inter-relações físicas, espaciais,

funcionais, morfológicas, figurativas, estéticas, entre outras. Essas relações,

que precisam ser percebidas, ganharão destaque ao longo do trabalho e se-

rão os indicadores de análise. Alguns desses elementos são: a implantação

no lote, as permeabilidades, as volumetrias e as escalas, etc. Isto é, elemen-

tos de percepção visual que fornecem subsídios para a compreensão das

questões estudadas. Esses indicadores também baseiam-se no tripé concei-

tual e estruturador da tese de Fernando de Mello Franco (2005), compreen-

dido pelos elementos: escala, permanência e poder de propulsão.

Os edifícios em análise dividem-se em duas categorias, sendo que a pri-

meira trata-se daqueles construídos durante o movimento moderno: Edifí-

cio Copan (1952), Galeria Metrópole (1956) e Edifício Itália (1959). Surgiram

como experimentações, já que a legislação vigente permitiu-lhes atingir

altas densidades, verticalidade e reprodutividade do solo urbano. Anuncia-

vam também as novas possibilidades de desenho da época, em que a ra-

cionalidade, expressada em formas arquitetônicas funcionais, sobressaia-

se. Por sua vez, o concreto armado vinculava-se com as novas tecnologias

e a busca por funcionalidade evidenciava-se nos partidos e nos desenhos

arquitetônicos. Dessa maneira, os edifícios, majoritariamente, eram multi-

funcionais (sobreposição de usos) para assim atender à dinâmica urbana.

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27Introdução

A segunda categoria analisa a Praça das Artes (2012), edifício projetado e

construído na contemporaneidade, que possui características modernas,

tanto no uso do concreto, quanto na inserção urbana e na tipologia. Por

conseguinte, as ligações dos edifícios com as vias circundantes, permitindo

as permeabilidades, assim como a fragmentação do partido arquitetônico

em diferentes volumes, são características que podem ser lidas como mo-

dernas, ficando explicita a intenção dos arquitetos em estabelecer relações

de continuidade entre o edifício e o passeio público.

Como salientado por Thibaud (2011), as transformações da cidade moder-

na ocorreram a partir de suas ambiências, da “fabricação sensível de terri-

tórios urbanos” (informação verbal)3. Falar da “ambientação” dos espaços

urbanos é compreender como as mudanças da cidade se encarnam e se

difundem na vida cotidiana. O domínio sensível, perceptivo, é de funda-

mental importância para o entendimento do espaço urbano. Uma ambiên-

cia, por sua vez, é a junção de vários elementos, tornando-os um conjunto

integrado. Buscar, portanto, compreender a dinâmica urbana, é estudar as

relações entre os elementos construídos, a arquitetura, e o observador, ser

humano que habita e interfere no espaço urbano. Compreende-se que a

qualidade do espaço urbano surge de uma interpretação e para ser enten-

dida precisa ser observada diretamente, ao vivo, e por isso é necessário

“saber olhar” (BESSE, 2014). Desse modo, destaca-se que todos os edifícios

foram visitados e percebidos pela autora.

Resumindo-se, a construção do conceito de urbanidade deve-se à busca

por uma equação entre verticalização, densidade e percepção, os quais

servem como elementos de transformação do espaço urbano, contribuin-

do para melhorias na vitalidade (JACOBS, 2013), dinamicidade e na quali-

dade da paisagem urbana. Os edifícios, por sua vez, são compreendidos

como elementos articuladores e estruturadores de urbanidade.

3 Nota fornecida por Jean Paul Thibaud no Seminário Internacional URBICENTROS - “Morte e Vida dos Centros Urbanos “-, Maceió, 2011.

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28

Abordagens

A construção do raciocínio científico surgiu mediante a coleta de dados e

referencial teórico em conjunto com as análises dos quatro estudos de ca-

sos (Edifício Copan, Edifício Itália, Galeria Metrópole e Praça das Artes). Tra-

balhou-se nos campos quantitativo e qualitativo.

Primeiramente, ocorreu a revisão bibliográfica, a qual consistiu no levanta-

mento de dados para a construção da base conceitual da pesquisa, isto é,

o conceito de urbanidade baseado no entendimento sobre verticalização,

densidade e percepção. Somado a isso, acrescentou-se o conceito de mor-

fologia urbana para compreender os elementos que integram o espaço

urbano. Sendo que, neste último, os objetos arquitetônicos também estão

presentes, tornando-se elementos de análise.

Em paralelo, e uma vez escolhidos os edifícios a serem analisados, come-

çaram-se as visitas aos objetos de estudo. Mediante entrevistas com as

Administradoras dos edifícios, conseguiram-se informações fundamentais

para suas análises. Nesse intervalo de tempo, ocorreu também a coleta

de documentos de órgãos públicos tais como: levantamentos, censos de-

mográficos, legislações, leis de zoneamento, mapas, plantas, entre outros.

A partir das visitas aos campos de estudo, foram realizados levantamen-

tos in loco por meio de fotografias, observações e redesenho de algu-

mas áreas, com o intuito de registrar graficamente os dados coletados.

Uma vez tendo visitado os edifícios e definido o conceito de urbanida-

de, fruto da articulação dos demais conceitos, começou a etapa ana-

lítica, a qual constituiu na busca por elementos delimitadores de ur-

banidade, que tornaram-se os indicadores de análise. Para isso, foram

explorados os dados levantados e comparados os edifícios entre si.

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29Introdução

Estrutura

A presente pesquisa foi estruturada em 04 (quatro) capítulos, cujos princi-

pais assuntos são:

Capítulo 1: Apresenta o elenco de conceitos e suas diferentes vertentes.

No campo da verticalização, apoia-se em Somekh (1987; 2013; 2014); no da

densidade em Rapoport (1975), Alexander, Reed e Murphy (1988), Cheng

(2010) e Acioly e Davidson (2011); no da percepção, os autores Lynch (1960),

Cullen (1961), Rowe e Kotter (1977), Ashihara (1982) e Thibaud (2010; 2012)

ganham destaque. O conceito de urbanidade constrói-se pelos textos

dos autores Alexander (1977), Rolnik (1993), Franco (2005), Cullen (2009),

Holanda (2010), Lamas (2011) e Aguiar (2010, 2012, 2015).

Capítulo 2: Analisa os edifícios Copan, Itália e a Galeria Metrópole, repre-

sentativos do período moderno. A partir da pesquisa documental, icono-

gráfica e dos dados históricos, buscam-se elementos visuais, projetuais,

morfológicos e conceituais que gerem urbanidade e, consequentemente,

interfiram na paisagem urbana. Apoia-se nos principais autores: Alexander

(1977), Ashihara (1982), Cullen (2009) e nos específicos de cada projeto.

Capítulo 3: Analisa a Praça das Artes, destacando-se pelo seu caráter con-

temporâneo. Nesse capítulo, também serão buscados elementos visuais,

projetuais, morfológicos e conceituais que gerem urbanidade e, conse-

quentemente, interfiram na paisagem urbana. Apoia-se nos principais

autores: Alexander (1977), Ashihara (1982), Cullen (2009) e em relatos de

Brasil Arquitetura (2015). Sintetiza-se o conceito de urbanidade, presente

nos edifícios analisados, a partir da reflexão dos elementos de escala, per-

manência e poder de propulsão (FRANCO, 2005) e das características que

se sobressaíram.

Capítulo 4: Discussão dos resultados a partir da comparação das análises

dos edifícios, por meio de gráficos comparativos.

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VERTICALIZAÇÃO

DENSIDADE

PERCEPÇÃO

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URBANIDADE

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1. URBANIDADE : VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE, PERCEPÇÃO

Elenco de conceitos para a construção de urbanidade

A construção do conceito de urbanidade deve-se à busca por uma equa-

ção entre verticalização, densidade e percepção, os quais servem como

elementos de transformação do espaço urbano. As descrições e diferentes

vertentes desses conceitos serão apresentadas ao longo deste capítulo.

1.1 Verticalização

A verticalização é compreendida como a “multiplicação efetiva do solo ur-

bano” (SOMEKH, 1987, p. 9), a partir do aproveitamento intensivo da terra

urbana e, como resultante, a construção do espaço vertical.

Com o surgimento dos elevadores, as alturas das construções alavancaram

e ampliaram-se as possibilidades de multiplicação de pavimentos. As

novas tecnologias, como as estruturas de aço e de concreto, contribuíram

para a “reprodutividade do solo urbano, uma vez que o desenvolvimento

da técnica está diretamente ligado às necessidades de produção do

capital” (Ibid, p. 8-9).

O berço da verticalização foi nos Estados Unidos, sendo apoiado pelo de-

senvolvimento capitalista. Como descrito por Somekh,

A verticalização, dentro do modo de produção capitalista, passa a ser lógica. Num dado desenvolvimento tecnológico, que possibilitou o uso do elevador de passageiros e grandes estruturas de aço (no Brasil especificamente de concreto), era de se esperar que a preços fundiários elevados correspondem uma utilização mais intensiva. Com uma mesma quantidade de terra era possível obter mais área construída (SOMEKH, 1987, p. 16).

Segundo Somekh (Ibidem), a verticalização fragmenta-se em dois

processos: crescimento vertical terciário e verticalização residencial. A

habitação é imprescindível para a sobrevivência, é o abrigo da civilização

humana, no entanto, os escritórios estão “ligados a uma divisão técnica da

produção” (Ibid, p. 9).

Os conceitos de verticalização e densidade costumam ser confundidos.

Discorre-se que a “multiplicação da terra urbana, verticalização, implica

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necessariamente de altas densidades construídas” (SOMEKH, 1987, p. 8).

Porém isso não é correto, a altura não determina a densidade. O centro de

Paris é um exemplo claro disso, já que, devido a uma legislação rigorosa,

que determina um gabarito a ser cumprido, não ultrapassa-se da média de

5 (cinco) a 6 (seis) pavimentos, mas a sua densidade é de aproximadamente

209 hab/ha (duzentos e nove) (SÃO PAULO, 2013). Em contrapartida, ape-

sar da exacerbada verticalização, o município de São Paulo atinge apenas

74,58 hab/ha (SMDU, 2010), pois mesmo que alguns edifícios atinjam mais

de 100 (cem) metros de altura, apresentam baixa densidade.

1.1.1 Processo de verticalização na cidade de São Paulo

A cidade de São Paulo passou por uma extensa transformação, decorrente

de um crescimento territorial, econômico e demográfico desde 1990. No in-

tervalo de 20 (vinte) anos, a população de São Paulo dobrou de tamanho.

Verifica-se esse crescimento na tabela a seguir,

Tabela 1.1. Quadro populacional, crescimento de São Paulo.

Fonte: AUTORA, 2015, com base em dados da aula de Marcos José Carrilho e Alessandro José Castroviejo Ribeiro durante a aula de pós-graduação, O edifício e a cidade: produção, planejamento e projeto, ministrada na Universidade Mackenzie em 03 set. 2014.

Ano População hab

1900 239.620

1910 375.439

1920 579.033

1940 1.326.261

1940 2.198.096

O seu crescimento territorial foi potencializado pela criação do Plano

Prestes Maia em 1929, o qual possibilitou o surgimento de um novo sistema

viário estrutural, com avenidas radiais em torno do centro para estruturar

o crescimento horizontal da cidade, facilitando a movimentação entre o

centro comercial/administrativo, a partir das áreas residenciais.

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Este plano também visava a criação de novas centralidades e polos de ati-

vidades, incentivando a construção de edificações nas áreas centrais. Por

sua vez, eram estimuladas as construções altas ao longo das avenidas e a

cidade configurava-se a partir de um novo elemento, o automóvel.

Em 1920, a Lei n° 2.332, menciona os elevadores, estabelecendo-se que sua

existência não eliminava a necessidade da escada (SOMEKH, 1987). Em suma,

estabelecia o Padrão Municipal para controlar a altura dos edifícios. As altu-

ras máximas permitidas eram determinadas em função da largura das ruas:

[…] naqueles construídos no alinhamento das vias públicas a altura deveria ser de no mínimo 5 metros, e de no máximo duas vezes a largura da rua, quan-do esta tivesse menos de 9 metros; de duas vezes e meia, quando a largura fosse de 9 a 12 metros; de três vezes, quando a largura ultrapassasse 12 metros (SOMEKH, 2013, p. 105).

No entanto, “abria-se a possibilidade de aumentar a altura dos edifícios,

cedendo-se um recuo à via pública equivalente as medidas da largura”

(SOMEKH, 2013, p. 105). Em outras palavras, possibilitava-se um maior nú-

mero de pavimentos, caso os edifícios garantissem tais recuos.

Até 1939, a verticalização em São Paulo era um fenômeno central em que

o solo era mais valorizado. A chamada febre dos arranha-céus ocorreu na

década de 1940 e foi incentivada pelo slogan: “São Paulo, a cidade que

nunca para”. A fisionomia da cidade de São Paulo se transformou, os sobra-

dos converteram-se em prédios residenciais, porém, na sua maioria, sem

homogeneidade de alturas entre os edifícios, já que o importante era fazer

render o terreno urbano, valorizar o capital (Tabela 1.2). A lógica comercial,

marcada pelo desejo de lucro, sobrepõe a busca por uma paisagem urbana

ordenada, diferenciando-se, assim, São Paulo das cidades europeias.

O desenvolvimento tecnológico, vinculado à construção vertical, permiti-

ram a afirmação das propostas modernistas em São Paulo e o arranha-céu

foi a representação simbólica desse movimento e o marco do progresso da

cidade (SOMEKH, 1997).

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35Capítulo 1 Elenco de conceitos

Ano Por mês Por dia (25 por mês) Por hora (8 por dia)

1941 1.042 41.7 5.2

1945 923 36.9 4.6

1946 1.243 49.9 6.2

1947 1.243 44.1 5.5

1948 1.499 59.9 7.5

1949 1.641 65.6 8.2

1950 1.486 59.4 7.4

1951 1.624 64.8 8.1

1952 1.626 65 8.11

Tabela 1.2. Número médio de construções em São Paulo. Fonte: AUTORA, 2015, com base em MENDONÇA, 2007.

Nesse período, dentre os edifícios escolhidos para análise, Edifício Copan,

Edifício Itália e Galeria Metrópole, apoiados nas novas tecnologias cons-

trutivas, tiveram seu máximo aproveitamento construtivo.

No decorrer dos anos seguintes, alguns fatores permitiram o espraiamento da

cidade e o distanciamento das áreas centrais: a legislação começa a interferir

na verticalização restringindo a potencialidade construtiva; o Projeto de Lei

n° 5.261 (1957) determina os coeficientes 6 (seis) para projetos de escritórios e

comerciais e 4 (quatro) para projetos residenciais e a busca por terrenos mais

baratos (fruto da capitalização realizada em bolsa de valores) em conjunto

com o uso exacerbado do automóvel. Com essa mudança de coeficientes

ocorreu a “elitização da verticalização” (SOMEKH, 2013, p. 111) já que

delimitou-se a construção de unidades de habitação de 35 m² (trinta e cinco),

resultantes de uma cota mínima de terreno por unidade, sendo definida uma

densidade demográfica de 600 (seiscentos) hab/ha (habitantes/hectare),

inviabilizando as pequenas unidades como as kitchenettes.

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Em síntese, a verticalização de São Paulo expandiu-se ao longo da Região

Metropolitana sem produzir uma cidade compacta e a elitização do cres-

cimento vertical acabou estimulando as desigualdades sociais. A cidade

nunca conseguiu concretizar um “[…] projeto de urbanidade consistente e

efetivo” (SOMEKH, 2013, p. 98).

1.2 Densidade

A dificuldade da análise das densidades deve-se ao abrangente leque de

definições e contextualizações. Estudam-se as seguintes perspectivas: fí-

sica (populacional e construída), percebida e urbana. Ao mesmo tempo,

desenvolvem-se as relações desse conceito com os custos de urbanização,

especulação imobiliária e da eminência da economia criativa.

1.2.1 Densidade física

A densidade física é: “uma unidade numérica que representa a concentração

de indivíduos ou estruturas físicas, para uma dada unidade geográfica. Ela é

objetiva, quantitativa e um indicativo espacial neutro” (CHENG, 2010, p. 7).

A relação entre a população e uma determinada área é usualmente expres-

sa-se em habitantes por hectare (hab/ha) ou habitantes por quilômetro

quadrado (hab/km²). Sendo que 1 (um) km2 equivale a 100 (cem) ha.

Por sua vez, a densidade construída é a razão de edifícios construídos em

um lote (CHENG, 2010). No Brasil, a densidade construída é anunciada pelo

coeficiente de aproveitamento (CA), o qual indica a quantidade máxima

de metros quadrados passíveis de serem construídos em um determinado

lote, somando-se as áreas de todos os pavimentos.

1.2.2 Densidade percebida

A densidade percebida é definida pela percepção e estimativa individual

do número de pessoas presentes em uma determinada área, o espaço dis-

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37Capítulo 1 Elenco de conceitos

ponível e sua organização (RAPOPORT, 1975 apud CHENG, 2010). Apoian-

do-se em Rapoport (1975), os autores Ernest R. Alexander, K. David Reed

e Peter Murphy salientam em Density measures and their relation to urban

form, de 1988, que:[…] ‘densidade é na sua essência uma experiência percebida’, criada de um sistema físico que se transforma em um percebido e que quando combinado com normas pessoais e culturais, produz uma ‘densidade afetiva’ que transcreve contemplações avaliativas como senso de isolamento, sentimento de conforto ou percepção de adensamento (RAPOPORT, 1975, p. 134-135, apud ALEXANDER et al., 1988, p. 3, tradução da autora). 1

Existem dois aspectos que auxiliam a descrição desse conceito: densidade so-

cial e densidade espacial. A primeira trata das interações entre os indivíduos

e os espaços/ambientes, assim como da interação dos indivíduos no espaço.

Já a densidade espacial refere-se à percepção de densidade, em respeito da

relação entre elementos como altura, espaço e justaposição (CHENG, 2010).

1.2.3 Densidade urbana

Densidade urbana é um tema que permanece altamente polêmico.

Formou-se a ideia de que a alta qualidade de vida só é atingida a partir

de densidade populacional baixa (MASCARÓ, 1987, p. 168). “Porém

essa afirmação não é verdadeira, pois cidades como Nova York e Hong

Kong, proporcionam qualidade de vida alta, sistemas de infraestrutura

urbana eficientes e a sua interferência ambiental é menor do que outras”

(MARCHELLI et al., 2015, p. 6).

1 Tradução do texto pela autora. Texto original: “ ‘density itself is a perceived ex-perience’, made up of a physical system which is transformed into a perceived sys-tem and, when matched against personal and cultural norms, generates an ‘affec-tive density’ that communicates evaluative judgments like a sense of isolation, a feeling of comfort, or a perception of crowding”. In: ALEXANDER, E.R; REED, David K; MURPHY, Peter. Density measures and their relation to urban form. Center for Architecture and Urban Planning Research Monographs. Book 37, 1988.

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38

Segundo os autores do livro Densidade Urbana: Um instrumento de planeja-

mento e gestão urbana:

Densidade torna-se um referencial importante para se avaliar tecnicamente e financeiramente a distribuição e consumo de terra urbana, infraestrutura e serviços públicos em uma área residencial. Em princípio, es-pecialistas em habitação têm assumido que, quanto maior a densidade, melhor será a utilização e a maxi-mização da infraestrutura e do solo urbano (ACIOLY, DAVIDSON, 2011, p. 14).

O desenvolvimento urbano que promove altas densidades, “[…] trata de

250 hab/ha de modo qualificado, ou seja, com adequado e planejado uso

misto do solo urbano, misturando funções urbanas (habitação, comércio

e serviços)” (LEITE, 2012, p. 158). Esse sistema é baseado em transporte de

massa, pois a sua densidade é suficiente para suportá-lo, já que permite

que os serviços de transporte público sejam rentáveis. Quanto maior o nú-

mero de habitantes, menores são os custos por grupo familiar.

Por sua vez, Mascaró (1987, p. 175), no seu livro Desenho Urbano e Custos

de Urbanização, exibe como as densidades urbanas interferem nos custos

de urbanização, a partir da realização de gráficos que exemplificam a

incidência do custo de urbanização por família. Em um desses, visualiza-se

que “o custo das redes de infraestrutura é de 2500 dólares/família quando

a densidade é da ordem de 75 hab/ha (densidade global da maioria das

cidades brasileiras),” já quando a densidade atinge valores de 500 hab/ha,

“o custo diminui para 400 dólares/ família, isto é a sexta parte do anterior”.

Evidencia-se que a baixa densidade de ocupação do território de forma

sustentável só é possível em padrões elevados, devido ao alto custo da

infraestrutura urbana. É necessário investir em altas ou médias densidades,

em que parte da população viva de forma concentrada, para que os custos

de urbanização possam ser socializados e diminuam-se os impactos sobre

o meio ambiente (MARCHELLI et al., 2015a).

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39Capítulo 1 Elenco de conceitos

Como já foi expressado, a associação de que altas densidades só podem

ser atingidas por uma verticalização acentuada, é um conceito errado. No

diagrama representado na figura 1.2, mostra-se como para uma mesma

quadra, podem-se articular diferentes tipologias e volumetrias, atingindo-

se a mesma densidade. O último dos três tipos demonstra uma melhor dis-

tribuição dentro do terreno, privilegiando os usos mistos e possibilitando

a criação de áreas permeáveis, as quais, potencialmente, podem tornar-se

espaços semipúblicos.

Figura 1.2. Comparação das densidades e das alturas (alta, baixa e média). Fonte: ROGERS, 1999, adaptada pela autora.

Alta verticalidade -

Baixa ocupação

75 unidades/ha

Baixa verticalidade -

Alta ocupação

75 unidades/ha

Média verticalidade -

Média ocupação

75 unidades/ha

Observação

Procure uma mistura de atividades

Inclua uma variedade de tipologias residenciais

Equipamentos comunitáriosLojas e escritóriosDuplexCasasApartamentos

Conforme Gordon Cullen (2009, p. 9), “uma cidade é algo mais do que o

somatório dos seus habitantes: é uma unidade geradora de um excedente

de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem,

independentemente de outras razões, viver em comunidade a viverem iso-

ladas”. Isto é, com as altas densidades estimulam-se os laços de comunida-

des e integração. Assim, observa-se que a densidade ultrapassa a condição

de coeficiente, ou seja, de apenas ser um elemento numérico, quando in-

centivam-se nos projetos, formas e espaços de integração.

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40

No âmbito do mercado imobiliário e da construção civil, a busca por mode-

los eficientes e com maior cuidado com o meio ambiente são importantes

para o desenvolvimento urbano com teor sustentável. Para que o espaço

urbano não seja dominado apenas pelos interesses imobiliários a partir

de mecanismo informais como a verticalização ou expansão territorial da

construção, os governos locais precisam assumir a monitorização do mer-

cado imobiliário, garantindo um sistema de gestão urbana que maximize

as potencialidades das áreas (ACIOLY; DAVIDSON, 2011).

É inegável a incidência de novas construções nas cidades, porém deve existir

um controle enquanto a sua quantidade e, principalmente, sua qualidade. As

construções são resultados da vitalidade econômica, da pressão do mercado

imobiliário e das necessidades humanas, porém não são representativas do

sucesso urbano se estão em abundância (GLAESER, 2011, p. 134). Em suma, o

economista Glaeser relata: “Se a história das cidades se transformar em uma

camisa de força, elas perderão um de seus maiores triunfos: a capacidade de

construir”, sendo que é necessário avaliar a relevância das construções para

não criar uma excessividade sem propósito.

Glaeser (Ibidem) também argumenta que o excesso de preservação impe-

de que as cidades propiciem construções mais novas, mais altas, mais den-

sas e melhores para seus habitantes, como é apontado:

A frase do Shakespeare: “O que é a cidade senão seu povo?” é verdadeira, mas as pessoas precisam de construções. As cidades crescem construindo para cima ou para fora e, quando a cidade não constrói, as pessoas são impedidas de vivenciar a mágica da proximidade urbana. A preservação da cidade pode exigir, de fato, a destruição de parte dela (GLAESER, 2011, p. 134).

Portanto, pode-se pautar que o mercado imobiliário deve entrar como um

agente contribuidor e não dominador para o desenvolvimento urbano das

cidades, propiciando o crescimento, a densificação e a verticalização de

maneira ordenada.

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41Capítulo 1 Elenco de conceitos

Estabelece-se que a configuração urbana que propicia a propagação dos

conhecimentos entre a população, seja a que incentiva as altas densidades.

Conforme Glaeser (2011) conclui no seu livro, o triunfo das cidades é resulta-

do da aproximação em conjunto das pessoas, pois a partir desta, a cultura,

o conhecimento e as inovações se perpetuam, se transmitem e se realizam.

O teórico e urbanista norte-americano Richard Florida (2005) criou o con-

ceito de economia criativa como sendo a aglomeração e a concentração de

pessoas talentosas e produtivas que impulsionam a verdadeira força eco-

nômica. Novas ideias são geradas e a produtividade aumenta quando os

habitantes se localizam próximos uns aos outros nas cidades. “Uma pessoa

inteligente encontrou outra e produziu uma nova ideia. As ideias se movem

de pessoa para pessoa, dentro dos densos espaços urbanos, e essa troca

eventualmente gera milagres da criatividade humana” (GLAESER, 2011, p. 19).

As cidades, desde as civilizações mais antigas, foram o meio mais eficaz de

transmitir conhecimento e obter informações. A proximidade dentro do am-

biente urbano permite a conexão entre as culturas, possibilitando a colabo-

ração e a produção conjunta de conhecimentos. As cidades bem-sucedidas

sempre investiram nos seus habitantes, aumentando a riqueza da energia

humana. Não existe cidade de sucesso sem capital humano. De fato, é o con-

tato entre as pessoas que permite tais trocas e a arquitetura e o urbanismo

têm um papel fundamental nessas questões. Em termos arquitetônicos, lo-

cais de convívio tornam-se indispensáveis, pois é com a troca de experiên-

cias que as pessoas interagem umas com as outras (MARCHELLI et al., 2015).

1.3 Percepção

1.3.1 Ambiência

A percepção sensível tem se tornado não só o caminho, como inevitável

para os pesquisadores que buscam “captar e restituir a concretude da ex-

periência urbana” (THIBAUD, 2012, p. 4).

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42

Bestetti (2014), descreve que o termo ambiência é oriundo do francês “am-

biance” e, significa meio ambiente, tanto no sentido material, quanto no

efeito que o meio físico induz nos indivíduos (sujeitos).

Considera-se ambiência como parte das propriedades materiais do meio am-

biente e “dos estados afetivos do sujeito sensível” (THIBAUD, 2012, p. 10). A

ambiência é definida como “o espaço-tempo experimentado pelos sentidos”

(Ibid, p. 9). Uma ambiência, por sua vez, é a junção de vários elementos,

tornando-os um conjunto integrado e indissociável.

Por sua vez, Thibaud (Ibidem) descreve que entre o sujeito que percebe e

o objeto percebido, existe um terceiro termo, denominado de “médium”.

Funciona como meio pelo qual a percepção é possível e, por meio deste, o

objeto se torna sensível, visível, audível, entre outros.

Como salientado por Thibaud (2011), as transformações da cidade moder-

na ocorreram a partir de suas ambiências, da “fabricação sensível de terri-

tórios urbanos” (informação verbal)2. Falar da “ambientação” dos espaços

urbanos é compreender como as mudanças da cidade se encarnam e se

difundem na vida cotidiana. O domínio sensível, perceptivo, é de funda-

mental importância para a compressão do espaço urbano, permitindo sua

qualificação e estimulando ambientes mais convidativos e receptivos para

a recreação de atividades humanas.

1.3.2 Construção da imagem na paisagem urbana

A percepção é determinada como o processo mental que permite a re-

lação do homem com seu entorno. A partir dos sentidos, os indivíduos

constroem uma representação, uma imagem. Pode-se salientar que a me-

todologia de Lynch (2006) é uma interpretação dessa teoria. Em 1960, no

seu célebre livro A Imagem da cidade, retoma-se a concepção da percep-

ção como elemento estruturador. Essa percepção, segundo o autor, não é

2 Nota fornecida por Jean Paul Thibaud no Seminário Internacional URBICENTROS - “Morte e Vida dos Centros Urbanos, “ Maceió, 2011.

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43Capítulo 1 Elenco de conceitos

abrangente e sim parcial, fragmentária, misturada “[…] com considerações

de outra natureza. Quase todos os sentidos estão em operação, e a ima-

gem é uma combinação de todos eles” (LYNCH, 2006, p. 2).

No seu livro, são estabelecidos dois conceitos: “imaginabilidade” e “legi-

bilidade”. O primeiro é “a característica, num objeto físico, que lhe confere

uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer obser-

vador dado” (Ibid, p. 11). A “legibilidade” trata-se da clareza da paisagem,

sendo que a partir das imagens constrói-se uma visão clara e organizada

da cidade. Define-se também como a visibilidade em “que os objetos não

são apenas passíveis de serem vistos, mas também nítida e intensamente

presentes aos sentidos” (Ibid, p. 11). O entorno, portanto, tem a capacidade

de comunicar uma clara imagem de si mesmo e, ainda que a imagem varie

de indivíduo a indivíduo, existem elementos em comum que emergem e

permitem constituir grupos de imagens (SANZ, 1992).

Lynch (2006) também evoca que a imagem ambiental pode ser fragmenta-

da em três componentes: identidade, estrutura e significado. Uma imagem

primeiramente precisa da identificação do objeto, descrito também como

identidade, logo deve estruturar-se espacialmente ou paradigmaticamente,

isto é, estabelecer uma relação com o observador e outros objetos. E, por

último, o objeto precisa ter algum significado para o observador, tanto de

conotação prática quanto emocional. Ressalta-se que a relevância na estru-

turação da imagem é a percepção, elemento referente ao ser humano que

é protagonista da visão analítico-perceptiva (SANZ, 1992).

Sendo o pioneiro na introdução da percepção, Lynch (2006) estruturou 05

(cinco) elementos que conformam a paisagem urbana, são eles:

– Vias: “os canais de circulação ao longo dos quais o observador se lo-

comove de modo habitual, ocasional ou potencial” (LYNCH, 2006, p. 52).

Podem ser expressas em ruas, alamedas, canais, ferrovias, etc.

– Limites: “elementos lineares não usados ou entendidos como vias pelo

observador” (Ibid, p. 52). São as barreiras, as fronteiras que têm como papel

separar visualmente duas áreas.

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– Bairros: “regiões médias ou grandes de uma cidade, concebidos como

dotados de extensão bidimensional” (Ibid, p. 52). Ao adentrar o bairro, o

observador reconhece características dele e faz uma associação mental

desse espaço. A identificação é feita pelo lado interno, mas podem ser usa-

dos como referência externa quando visíveis desde fora.

– Pontos nodais: “pontos, lugares estratégicos de uma cidade através dos

quais o observador pode entrar, são os focos intensivos para ou quais ou a

partir dos quais ele se locomove” (Ibid, p. 52). Exemplificam-se a partir de

junções, cruzamentos ou convergências de vias, momentos de passagem,

entre outros.

– Marcos: o observador não adentra neles, sendo externos e “objetos físi-

cos definidos de maneira muito simples: edifício, sinal, loja ou montanha”

(Ibid, p. 53). Alguns deles se destacam pois podem ser avistados de diver-

sos ângulos e distâncias.

O autor expõe que a visualização desses elementos depende das circuns-

tâncias do modo de observação e, a disposição destes na conformação da

paisagem urbana ocorre em conjunto e não isoladamente.

Gordon Cullen (2009), por sua vez, descreve a paisagem urbana como a arte

de tornar coerente e organizado, visualmente, o emaranhado de edifícios,

ruas e espaços que constituem o ambiente urbano (paisagem construída),

buscando entender como as paisagens suscitam reações emocionais nas

pessoas (público). Cullen busca, portanto, compreender o espaço urbano

como um conjunto, que, ao ser percebido simultaneamente, ativa recorda-

ções e emoções nos observadores.

Para estruturar esse conceito, Cullen (Ibidem) recorre a três aspectos. O pri-

meiro é a ótica, entendida pela visão serial, a qual é formada por uma su-

cessão de percepções sequenciais dos espaços urbanos para o observador

que se locomove. Como exemplificado pelo autor, um transeunte durante

seu percurso tem como primeiro ponto de vista a rua, a seguir, ao entrar

em um pátio, revela-se uma nova visual e por fim depara-se com uma outra

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45Capítulo 1 Elenco de conceitos

imagem, um monumento. Ainda que esse aspecto tenha sido um grande

aporte para a arquitetura, vale ressaltar que a visão serial não determina a

observação natural do ser humano, a qual é abrangente e não controlada.

O segundo fator é o local, que diz respeito às relações do sujeito com a sua

posição no espaço, exemplificado pelo sentido de localização, “estou cá

fora”, e posteriormente, “estou a entrar ali para dentro”, e finalmente, “es-

tou aqui, dentro”. Essas percepções estão ligadas às sensações provocadas

pelos espaços, sejam eles abertos, fechados, altos, baixos, etc. O terceiro

aspecto abordado é o conteúdo, que se relaciona com a constituição da ci-

dade, as suas cores, texturas, escalas e estilos que caracterizam os edifícios

e os setores do tecido urbano.

Essa visão também é salientada por Yoshinobu Ashihara (1982) em El diseño

de espacios exteriores, validando que as percepções dos indivíduos dentro

dos espaços, são importantes para a configuração da paisagem. Por sua

vez, descreve que o espaço é uma resultante do conjunto de relações que

vinculam o objeto com o ser humano que o percebe.

O espaço se forma por meio do conjunto de relações que vinculam um objeto com o ser humano que o percebe. Esta correspondência se estabelece, em primeiro lugar, por intermédio da ótica/visual, mas se nos movimentamos em um espaço arquitetônico participam também o olfato, a audição e o tato (Ibid, p. 10, tradução da autora).3

Segundo Lynch (2006), o ser humano usa “as sensações visuais de cor, for-

ma, movimento ou polarização da luz, além de outros sentidos como o

olfato, a audição, o tato, a cinestesia […]” (LYNCH, 2006, p. 5).

Ao longo deste trabalho serão exploradas as relações visuais e expostas as

sensações provocadas.

3 Tradução do texto pela autora. Texto original: “[…] el espacio se forma por medio del conjunto de relaciones que vinculan un objeto con el ser humano que lo perci-be. Esta correspondencia se establece, en primer lugar, por medio de la vista, pero si nos movemos en un espacio arquitectónico participan también el olfato, el oído y el tacto”. In: ASHIHARA, Yoshinobu. El diseño de espacios exteriores. Barcelona: Gustavo Gili, 1982, p. 10.

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46

1.3.3 Figura e Fundo - Teoria de Gestalt

Seguindo a lógica entre sujeito e objeto, a Teoria de Gestalt (1910) se en-

quadra nesse contexto. Ela é do ramo da psicologia experimental e foca na

dinâmica das organizações de elementos visuais em padrões ou configura-

ções, com o intuito de auxiliar na percepção do mundo. Enfatiza a questão

da relação entre o todo e a parte, acreditando que, na visual, o todo é maior

que a soma das partes (CHENG, 2010).

O termo Gestalt, oriundo do alemão, define-se em dois significados “(1) a

forma; (2) uma entidade concreta que possui entre seus vários atributos

a forma” (ENGELMANN, 2002). A forma é definida: “[…] como a figura ou

a imagem visível do conteúdo. De um modo mais prático, ela nos informa

sobre a natureza da aparência externa de alguma coisa. Tudo o que se vê

possui forma” (FILHO, 2003, p. 39).

Para a Gestalt, a arte se manifesta no princípio da pregnância da forma, isto

é, na formação e estruturação de imagens. A pregnância, por sua vez, é a lei

básica da percepção visual e define-se em: “Qualquer padrão de estímulo

tende a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quan-

to o permitam as condições dadas” (FILHO, 2003, p. 36). Uma boa pregnân-

cia significa uma melhor organização formal do objeto.

Para a teoria de Gestalt, percebemos campos estruturados e organizados,

“constituídos de figura e fundo, de tema e campo temático, ou ainda de

formas e horizontes nos quais elas se recortam e em função dos quais se

projetam como unidades ou totalidades figurais” (BARKI et al.; [20??], não

paginado). Destacam-se os seguintes aspectos:

1. Só a figura possui forma sendo o fundo desprovido dela;

2. As linhas de contorno que delimitam o componente figural do resto do campo pertencem à figura;

3. Mesmo encoberto pela figura, o fundo parece continuar por detrás dela, sem se interromper ou perder a unidade;

4. A figura é sempre percebida em plano mais próximo do perceptor;

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47Capítulo 1 Elenco de conceitos

5. A figura constitui-se em componente privilegiado para evocação, pois é a parte melhor vista e dotada de maior condição de estabilidade;

6. No que concerne aos limites discriminatórios, as diferenças perceptíveis são maiores quando produzidas sobre a figura;

7. Na superposição de 02 elementos de superfícies distintas e homogêneas e de tamanhos diferentes, geralmente percebemos o menor elemento como figura;

8. Quando de dois campos de cores distintas e homogêneas, um é consideravelmente maior que o outro e o encerra, o campo pequeno encerrado é geralmente percebido como figura;

9. Se um contorno divide um campo em parte superior e inferior, a parte inferior aparece mais prontamente como figura;

10. As propriedades dos elementos figurais não são permanentes ou imutáveis (reversibilidade) (BARKI et al., [20??], não paginado).

Koffka (1975, p. 194), no seu livro Princípios da Psicologia de Gestalt, argumenta

que a “figura depende sobre o qual aparece.” Isto é, o fundo funciona

como uma estrutura que emoldura a figura, determinando-a. Destaca que

o maior interesse remanesce sobre a figura em vez do fundo, descritivos

como elementos sólidos (figura) e fluidos (fundo). Koffka (Ibidem) também

expõe que existe uma relação entre a dimensão e a contemplação, ou seja,

quanto maior for a parte do fundo, menor contemplação ela requer.

Colin Rowe e Fred Kotter elaboram no livro Collage City (1977) uma crítica à

arquitetura moderna e usufruem da técnica do diagrama de figura-fundo

para uma análise da qualidade do tecido urbano e assim desenvolver uma

teoria que serviu de influência aos ideais pós-modernos. Buscavam, a partir

dessa, revelar a dicotomia entre a cidade tradicional e a moderna, desta-

cando a primeira como densa, compacta e unitária e, não isolada e abstrata

como a segunda.

Como pode-se perceber na figura 1.3, uma é essencialmente preta, a outra

branca, sendo que a primeira é entendida como um acúmulo de vazios em

sólidos não manipuláveis e a segunda, como uma acumulação de sólidos

em vazio não manipulável. Representando-se, figurativamente, como es-

paço na primeira e objeto na segunda.

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Na configuração da cidade tradicional nota-se a interdependência do

edifício e do vazio, sendo ambos protagonistas da concepção urbana. No

entanto, destaca-se que os modernistas priorizavam o objeto (o edifício),

concebendo os projetos a partir da figura, delimitadora do fundo (vazios).

Nomeia-se esse efeito, por Rowe e Koetter (1977), como a crise do objeto,

em que o edifício moderno não é considerado capaz de conformar o espaço

público. Como apontado por Francis D.K Ching (1999), tendemos a organizar

a estrutura física das cidades tanto no espaço edificado que é percebido

Figura 1.3. Comparação entre a cidade de Parma e o projeto Saint-Dié (Le Corbusier). Fonte: ROWE; KOETTER, 1977, p. 62-63.

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49Capítulo 1 Elenco de conceitos

Figura 1.4. Recorte do centro de São Paulo (figura e fundo). Fonte: RIBEIRO, 2010, p. 16.

como a forma (o cheio) e o espaço não edificado, o fundo (vazio). O fundo

tem uma forma visual e a sua qualidade, dimensão e escala derivam de

elementos formais. Como apontado por Baker (1974 apud CHING, 1999), a

definição da forma arquitetônica é resultante do encontro entre massa e

espaço, podendo ter o papel de definição do espaço urbano.

No entanto, os edifícios alternam seu papel na escala urbana, consolidando-

se como elementos estruturadores ou panos de fundo dos espaços com

identidade urbana. Cabe analisar cada caso para obter a qualidade do

espaço urbano resultante, dispensando atribuições de caráter único.

No caso do centro de São Paulo, figura 1.4, assim como afirmado por Ribeiro

(2010, p. 24), não é ao todo correto afirmar uma crise do objeto, “[...] a rua e

os demais espaços públicos abertos e os internos pelas galerias comerciais

continuam a figurar como nas cidades tradicionais.” O edifício e o espaço

público se relacionam, formando parte da paisagem urbana.

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50

1.4 Urbanidade

1.4.1 A construção do conceito

Milton Santos (1992, p. 241) diferenciou os termos cidade e urbano, afir-

mando que a primeira “é o concreto, o conjunto de redes, enfim a mate-

rialidade visível do urbano, enquanto que este é o abstrato, porém o que

dá sentido e natureza à cidade”. De forma geral, pode-se definir a cidade

como o local onde as relações urbanas acontecem.

Expandindo-se da definição enciclopédica: “conjunto de formalidades

e procedimentos que demonstram boas maneiras e respeito entre os ci-

dadãos; afabilidade, civilidade, cortesia, cordialidade” (HOUAISS, 2001, p.

2809), compreende-se neste trabalho o conceito de urbanidade a partir

da sua relação com a escala urbana. Esse conceito, conforme salientado

por Aguiar (2012), é afeito ao conjunto de qualidades que distinguem uma

cidade, estando presente “no modo como a relação espaço/corpo se mate-

rializa”. Objetiva-se compreender o termo urbanidade enquanto realidade

física, que a partir da arquitetura relaciona-se ao entorno, ao local, à cidade,

à paisagem. Segundo Holanda (2010), os elementos precisam se articular

entre si para garantirem qualidade e vitalidade urbana,

[…]para seu florescimento a urbanidade precisa de uma arquitetura com determinados atributos: espaço público bem definido, forte contiguidade entre edifí-cios, frágeis fronteiras entre espaço interno e externo, continuidade e alta densidade do tecido urbano, etc. (HOLANDA , 2010, p. 1).

A qualidade do ambiente é destacada pelo Lamas (2011, p. 26), argumen-

tando que “a arquitetura introduz no planejamento e no urbanismo um

objetivo fundamental, a construção da forma do espaço humanizado”. Se-

gundo Jacobs (2013), quando esse espaço se torna público, é visto como

tendo o papel de valorizar e de articular a vitalidade e a diversidade da

cidade. Conforme apontado por Cullen (2009, p. 66), o conceito de urbani-

dade representa a “síntese de qualidade e do caráter da vida urbana.”

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51Capítulo 1 Elenco de conceitos

Por sua vez, Castelo (2007 apud Aguiar, 2015) destaca que a qualidade do

espaço público urbano é de fundamental importância para caracterizar a

urbanidade, apontando-a:

[…] como uma qualidade típica e única do ambiente construído, uma qualificação vinculada a dinâmica das experiências existenciais, conferidas as pessoas pelo uso que fazem do ambiente urbano público, através da capacidade de intercâmbio e comunicação de que está imbuído esse ambiente (CASTELO, apud AGUIAR, 2015, p. 59).

Segundo Rolnik (1993), o território ultrapassa a noção de espaço quando

existe uma relação com o sujeito. A existência do território vai além da sua

configuração física, ele não existe sem o processo produzido pelas relações

sociais, sendo essa a marca que faz o território. Segundo ela:

[…] há uma relação de exterioridade do sujeito em re-lação ao espaço e uma ligação intrínseca com a sub-jetividade quando se fala em território. O território é uma noção que incorpora a ideia de subjetividade. Não existe um território sem sujeito, e pode existir um espaço independente do sujeito. O espaço do mapa dos urbanistas é um espaço; o espaço real vivido é o território” (ROLINIK, 1993, p. 28).

Como apontado por Fernando de Mello Franco (2005) na sua tese de dou-

torado, o desafio das cidades é a construção de uma relação de urbanidade

a partir da integração sistêmica entre as infraestruturas com a cidade. A

tese (Ibid, p. 62) descreve que na cidade de São Paulo decidiu-se “[…] as-

sociar a implantação dos principais sistemas infra-estruturais responsáveis

pela modernização da cidade com as áreas de várzea”, visando o cresci-

mento da própria cidade. Porém, como apontado por Franco (Ibid, p. 63),

as infraestruturas foram “esvaziadas de uma condição de urbanidade,” não

tendo na sua conformação a função de articulação com a cidade. Destaca-

se que a essência da tese aplica-se na forma em que relacionam-se e arti-

culam-se os projetos nos espaços implantados, podendo-se simplificar em:

“espacialidades que promovessem continuidades” (Ibid, p. 152).

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Franco (Ibidem) delimita 03 (três) elementos estruturantes do ambiente

construído na sua tese: escala, permanência e poder de propulsão. A escala

transcreve-se na magnitude das infraestruturas (redes de ferrovias, margi-

nais, entre outros) na cidade e na sua relação com a mesma. A permanência

“é aquilo que resulta de um valor decantado ao longo do tempo” (Ibid, p.

15), persistindo e desenvolvendo-se. Os sistemas de transporte são consi-

derados por Franco como os principais agentes de propulsão do espaço na

metrópole, pois eles incentivam novas relações de uso e ocupação.

Os 03 (três) elementos foram assimilados e transcritos nas seguintes rela-

ções neste trabalho, já que possuem potencial de articulação e de criação

de associações:

ESCALA: a relação intrínseca entre o edifício e a cidade, a qual apresenta-

se no projeto arquitetônico.

PERMANÊNCIA: a obra permanece como foi projetada inicialmente, sen-

do tanto a sua relação com a morfologia urbana, como o uso dado a ela.

PODER DE PROPULSÃO: o que a obra impulsiona na construção da di-

nâmica urbana e da morfologia da cidade, propulsionando relações de

urbanidade.

Concordando-se com Franco (2005), as intervenções locais têm capacidade

de reverberar sobre a escala urbana. A arquitetura apresenta-se como

instrumento delimitador dessas relações, conferindo-lhe significados às

formas de uso do cotidiano das cidades. Conforme apontado por Aguiar

et al. (2010, p. 3), a cidade, as ruas e os edifícios são “participantes ativos”

na construção de urbanidade. Busca-se, por meio da urbanidade, atingir

uma “cordialidade do espaço”, ou seja, criar projetos com integração,

função e articulação.

1.4.2 Construção dos espaços livres, fluentes e, das permeabilidades

Compreendendo-se a importância do espaço público e livre para a urba-

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53Capítulo 1 Elenco de conceitos

nidade das cidades, Gordon Cullen (2009, p. 12) destaca-se por defender a

dinâmica urbana. Para ele, a cidade tem vigor e dramatismo devido a seus

contrastes, sem eles a cidade passa desapercebida e sem características. Re-

lata ainda que os centros urbanos deveriam ser projetados seguindo a ótica

da “pessoa que se desloca (quer a pé, quer de automóvel),” possibilitando

percursos pelos contrastes entre espaços comprimidos e vazios, espaços am-

plos e delimitados e, alternância de momentos de tensão e tranquilidade.

Como apontado por Norberg-Schulz (1975), o lugar não é apenas uma lo-

calização geográfica e sim uma manifestação concreta do habitar humano.

Considera assim, o espaço como sendo existencial e o espaço arquitetôni-

co pode concretizar-se como tal.

Segundo Cullen (2009), o espaço exterior precisa ter dinamismo e ser usu-

fruído pelos habitantes.

Ao homem não bastam as galerias de pintura; ele necessita de emoção, do dramatismo que é possível fazer surgir do solo e do céu, das árvores, dos edifícios, dos desníveis e de tudo o que o rodeia, através da arte do relacionamento (CULLEN, 2009, p. 30).

Como salientado por Magnoli (2006, p. 217), os espaços livres no tecido ur-

bano são os lugares de vida urbana. “A cidade densamente construída é o

lugar por excelência do espaço livre público contemporâneo. É a esse espa-

ço que cabe o papel de requalificar a cidade existente.”

Ashihara (1982) descreve os espaços livres como sendo positivos e nega-

tivos. A positividade é decorrente de uma intencionalidade humana ou

de um determinado planejamento do espaço em questão. No entanto, a

negatividade de um espaço implica em sua espontaneidade e falta de pla-

nejamento. Esses conceitos estão fundamentados na Teoria do Espaço, na

qual descreve o espaço positivo como centrípeto, pois as forças convergem

com um propósito, já o negativo é o centrífugo, uma vez que as forças se

espalham (Figura 1.5).

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Partindo do princípio de figura e fundo, para Christopher Alexander (1977)

existem dois tipos de espaço exterior, o negativo e o positivo. No seu livro,

A Pattern Language, considera o espaço como sendo negativo quando os

edifícios se localizam de tal maneira que o espaço resultante é apenas re-

sidual e amorfo. Por outro lado, o espaço exterior é positivo quando tem

uma forma distinta e consolidada e, em termos de importância, destaca-se

como as formas dos edifícios que o rodeiam.

Para visualizar esses conceitos, precisa-se observar o espaço consolidado

na concepção geométrica, por meio do uso de diagramas de figura e fundo

reversos. Na figura 1.6, o espaço exterior é negativo já que os edifícios con-

solidam-se como figuras e o restante é fundo, não existindo reversibilida-

de. Na figura 1.7 identifica-se um espaço positivo, já que tanto os edifícios

quanto o espaço exterior aparecem como figuras, contra o fundo formado

pelos edifícios. Existe aqui a reversibilidade.

Segundo Alexander (1977), os espaços positivos são parcialmente enclau-

surados e sua designação é importante pois as pessoas sentem-se mais

confortáveis neles, assim como se apropriam deles. Um espaço negativo

pode transformar-se em positivo quando outros edifícios se articulam a

ele, criando as positividades (Figuras 1.8 e 1.9).

Figura 1.5. Esquema de espaços positivos (centrípeto) e negativos (centrífugo). Fonte: ASHIHARA, 1982, p. 21, adaptada pela autora.

positivo

negativo

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55Capítulo 1 Elenco de conceitos

Figura 1.6. Esquema de espaço exterior negativo. Fonte: ALEXANDER, 1977, p. 518.

Figura 1.7. Esquema de espaço exterior positivo. Fonte: ALEXANDER, 1977, p. 518.

Figura 1.8. Esquema de transformações dos espaços. Fonte: ALEXANDER, 1977, p. 521, adaptada pela autora.

Figura 1.9. Esquema de transformações dos espaços. Fonte: ALEXANDER, 1977, p. 522, adaptada pela autora.

transformar este......... para issotransformar este......... para isso

A busca por uma entidade “positiva” deve ser transcrevida para a escala do

edifício. Na concepção desse último, delimitam-se os espaços internos e

deve ocorrer a integração tanto entre eles quanto com os espaços circun-

dantes (CHING, 1999).

A permeabilidade interfere também na positividade e na qualidade do

espaço interno e urbano. “[…]Na arquitetura se induz à ideia de movimento,

de percurso, de trânsito de um lugar a outro, de passagem e ultrapassagem,

de penetrar e chegar ao outro lado” (VIEIRA, 2015, p. 77). A permeabilidade

compreende-se na diminuição de um percurso por passagens dentro das

quadras de edifícios, permitindo assim, a articulação entre os espaços

público e privado. A ênfase nos espaços e nas articulações é de suma

importância já que a paisagem urbana é, na sua essência, um patrimônio

coletivo de herança natural e social.

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Os espaços livres de permanência e circulação, forma, uso e apropriação

encontram-se em minoria em algumas cidades, principalmente na cidade

de São Paulo. A renúncia pelos espaços públicos é de responsabilidade

tanto dos arquitetos e urbanistas, quanto das legislações vigentes. Como

afirmado por Robert Venturi, “talvez a mais audaciosa contribuição da ar-

quitetura moderna ortodoxa seja seu chamado espaço fluente, usado para

realizar a continuidade de interior e exterior” (VENTURI, 2004, p. 90).

1.4.3 Morfologia urbana

A cidade está em constante transformação e para compreendê-la é neces-

sária a leitura da sua forma, sua morfologia. Esta última é importante para a

construção da urbanidade, pois a cidade estrutura-se a partir dos elemen-

tos morfológicos, os quais se articulam entre si e com a cidade.

O conceito de morfologia urbana consiste no estudo “[…] do objeto- a for-

ma urbana- nas suas características exteriores, físicas, e na sua evolução no

tempo” (LAMAS, 2011, p. 38). Destacando-se as relações recíprocas entre

a estrutura construída e a paisagem urbana, a partir da leitura de instru-

mentos que exprimam a relação objeto-observador. A morfologia urbana

baseia-se em instrumentos de leitura urbanísticos e arquiteturais.

O termo forma urbana corresponde a como se organizam e estruturam os

elementos morfológicos constituintes dos espaços urbanos, em relação

aos aspectos de organização quantitativos, funcionais, qualitativos e figu-

rativos. Conforme salientado,

A forma, sendo o objetivo final de toda a concepção, está em conexão com o ‘desenho’, quer dizer, com as linhas, espaços, volumes, geometrias, planos e cores, a fim de definir um modo de utilização e de comuni-cação figurativa que constitui a ‘arquitetura da cida-de’ (LAMAS, 2011, p. 44).

– Aspectos Quantitativos: tudo aquilo que possa ser quantificado na reali-

dade urbana: densidades, superfícies, fluxos, coeficientes.

– Aspectos de organização funcional: relacionado com as atividades hu-

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57Capítulo 1 Elenco de conceitos

manas e as apropriações de uso para uma determinada área: habitar, co-

merciar, tratar-se.

– Aspectos qualitativos: se refere ao tratamento dado aos espaços, seu

conforto e a comodidade do utilizador: isolamento térmico, acessibilida-

des, conforto acústico.

– Aspectos figurativos: relação com a comunicação estética.

Por sua vez, Lamas (2011) apresenta hierarquicamente os elementos mor-

fológicos que compõem o espaço urbano:

– Solo: entendimento do território, sua topografia e o desenho da cidade.

– Edifícios (o elemento mínimo): por meio deles constitui-se “[…] o espaço

urbano e se organizam os diferentes espaços identificáveis e com ‘forma

própria’: a rua, a praça, o beco, a avenida, etc” (Ibid, p. 84).

– Quarteirão: “[…] agrega e organiza os outros elementos da estrutura ur-

bana: o lote e o edifício, o traçado e a rua e as relações que se estabelecem

com os espaços públicos, semipúblicos e privados” (Ibid, p. 94).

– A fachada: elemento pelo qual a relação entre o edifício e o espaço urbano

é processado. As fachadas manifestam “ […] as características distributivas

(programa, funções, organização), o tipo edificado, as características e lin-

guagem arquitetônica (o estilo, a expressão estética, a época), em suma, um

conjunto de elementos que irão moldar a imagem da cidade” (Ibid, p. 94).

– O logradouro: espaço privado do lote que não está ocupado por cons-

truções. “É através da utilização do desenho do logradouro que se faz par-

cialmente a evolução das formas urbanas do quarteirão até o bloco cons-

truído” (Ibid, p. 98).

– O traçado (a rua): “estabelece a relação mais direta entre a cidade e o

território […] É o traçado que define o plano, intervindo na organização da

forma urbana a diferentes dimensões” (Ibid, p. 98).

– A praça: “[…] distingue-se de outros espaços, que são resultado aciden-

tal de alargamento ou confluência de traçados […] A praça pressupõe a

vontade e o desenho de uma forma e de um programa” (Ibid, p. 100).

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– O monumento: “[…] elemento morfológico individualizado pela sua pre-

sença, configuração e posicionamento na cidade e pelo seu significado”,

tornando-se um polo estruturante da cidade (Ibid, p. 104).

– A árvore e a vegetação: “caracterizam a imagem da cidade, [...] são ele-

mentos de composição e do desenho urbano, servem para organizar, defi-

nir e conter espaços” (Ibid, p. 106).

– Mobiliário urbano: situa-se na dimensão setorial, na escala da rua, sendo

de “[…] grande importância para o desenho da cidade e a sua organização,

para a qualidade do espaço e comodidade” (Ibid, p. 108).

O modo como os elementos se “posicionam, organizam e articulam” (Ibid,

p. 44) condicionará os espaços urbanos e diferenciará um do outro, possi-

bilitando “a comunicação estética do objeto arquitetônico” (Ibid, p. 80). Na

escala urbana, os objetos são os edifícios que se articulam e relacionam

com o espaço urbano.

1.4.4 Indicadores de análise de urbanidade

Conceitua-se neste trabalho que a relação entre os conceitos de densida-

de, de verticalização e de percepção, conforma espaços urbanos com urba-

nidade. Para compreender os espaços urbanos é necessário fazer uma lei-

tura dos elementos morfológicos e dos objetos arquitetônicos, presentes

na realidade urbana (Gráfico 1.2).

Gráfico 1.2. Esquema dos conceitos com o espaço urbano. Fonte: AUTORA, 2015.

URBANIDADE

VERTICALIZAÇÃODENSIDADEESPAÇO URBANO

objetos arquitetônicos

elementos morfológicos PERCEPÇÃO

quantitativa

qualitativafigurativa/estética

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59Capítulo 1 Elenco de conceitos

Como salientado por Besse (2014) na obra de Ardaillon: “primeiro é preciso

olhar, depois é preciso ‘ir ver’, ir a campo” (Ibid, p. 73). Esse olhar difere-se

de uma “dissecação analítica”, reforçando a “visão de conjunto” por meio

dos sentidos. “Se o objeto é a paisagem, o sujeito deste julgamento é o

olhar” (Ibid, p. 74). Conforme descrito por Lynch (2006, p. 6), o sujeito (ob-

servador) deve ter um papel ativo na percepção da paisagem e uma “parti-

cipação criativa no desenvolvimento da sua imagem.”

As análises dos edifícios escolhidos são ensaios de aproximação para evi-

denciar os elementos que auxiliam a geração de urbanidade nos espaços

urbanos. Partindo-se da ótica visual e perceptiva, dos conceitos analisa-

dos e dos elementos - escala/permanência/poder de propulsão, busca-se

constituir uma série de atributos (indicadores) que auxiliem nas análises

dos objetos escolhidos, por meio de aspectos quantitativos, qualitativos,

morfológicos e figurativos/estéticos (Gráfico 1.3):

1) Ficha técnica: breve apresentação do edifício, destacando o arquiteto da

obra, características gerais e elementos técnicos, como a área do terreno, a

área construída, a altura do edifício, o número de pavimentos, a tipologia,

a densidade física (permanente e transitória), 4 entre outros.

2) Implantação do edifício e traçado urbano: relação do edifício com o ter-

reno e as vias circundantes, destacando-se o uso das irregularidades do ter-

reno para conformação do projeto. Descrevem-se os percursos criados, re-

sultantes do projeto arquitetônico e da sua inserção na morfologia urbana.

3) Espaços positivos e permeabilidades: mediante os gráficos de figura-

fundo, representam-se as áreas resultantes positivas dos edifícios. A partir

da apropriação do pavimento térreo para atividades de uso público, pro-

porcionam-se maiores funcionalidades e permeabilidades nos espaços.

4 Os números referentes as densidades foram estimados pelas Administradoras dos edifícios analisados, em função de uma projeção calculada em relação aos usos dos espaços.

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4) Embasamento: distribuição do programa e sua representação geomé-

trica em volumes.

5) Pregnância da forma e tratamento de fachada: destacam-se os elemen-

tos de projeto que contribuem para a uniformidade dos edifícios e possibi-

litam o “convite” no território urbano. Por exemplo, as marquises permitem

melhores condições uma vez que protegem os pedestres e, dessa maneira,

humanizam os edifícios gerando, assim, maior urbanidade. Destacam-se

também os tratamentos de fachada que contribuem para a consolidação

da imaginabilidade (LYNCH, 2006).

6) Escala e paisagem urbana: compreender a relação do edifício com seu

entorno, elencando os elementos da paisagem que encontram-se próxi-

mos, tais como praças, parques, edifícios, etc. Serão realizados estudos

gráficos para determinar a relação com os edifícios da frente, consideran-

do a rua como elemento de separação e distanciamento das construções.

Simplifica-se essa relação em D/H, distância por altura, (ASHIHARA, 1982).

Quando o coeficiente é maior do que 1 (um), segundo Ashihara, tem-se a

impressão de que a distância que os separa é menor.

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61Capítulo 1 Elenco de conceitos

Gráfico 1.3. Esquema conceitual de síntese entre os conceitos, os indicadores de urbanidade, os elementos transcritos pela tese de Franco (2005) e a estrutura do trabalho.

Fonte: AUTORA, 2015.

FICHA TÉCNICA

IMPLANTAÇÃO DO EDIFÍCIO E TRAÇADO URBANO

EMBASAMENTO

PREGNÂNCIA DA FORMA E TRATAMENTO DE FACHADA

ESPAÇOS POSITIVOS E PERMEABILIDADES

verticalização e densidade percepção e ótica visual

PROPULSORES

DE URBANIDADE

ESCALA PERMANÊNCIA

ESCALA E PAISAGEM URBANA

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Edifício Copan

Edifício Itália

Galeria Metrópole

Análises dos edifícios multifuncionais modernos 000002

2

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2. REPERTÓRIO MODERNO NA CIDADE TRADICIONAL

Análise dos edifícios Copan, Itália e Galeria Metrópole

2.1 Desenho do centro da cidade de São Paulo

A cidade de São Paulo passou por grandes transformações, mas seu centro

preservou o traçado original das antigas formações que consistem, na sua

maioria, em quadras irregulares e lotes profundos.

Conforme salientado por Lamas (2011, p. 94), o quarteirão foi um instru-

mento urbanístico presente na produção da cidade tradicional, “[…] per-

mitindo a localização e a definição da arquitetura e relacionando-a com a

estrutura urbana”. As praças também tiveram destaque, evidenciando na

sua constituição a relação entre o “vazio (espaço de permanência)“ com os

edifícios e suas fachadas (LAMAS, 2011, p. 102). A praça se diferencia do res-

tante dos vazios, por enfatizar no seu desenho urbano, o caráter coletivo.

A arquitetura moderna “já nasce marcada pelo tecido antigo, pelas assimi-

lações e distorções” (RIBEIRO, 2007) (Figuras 2.1 a 2.4). Acredita-se que esse

seja o motivo pelo qual, ao serem inseridos na malha urbana, os edifícios

modernos não perderam o papel de articulação de espaços e de criação de

permeabilidades, remetendo ao modelo de cidade tradicional. Por meio da

Figura 2.1. Mapa São Paulo, 1895.Fonte: SÃO PAULO, 2015.

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Figura 2.2. Mapa São Paulo, 1913.Figura 2.3. Mapa São Paulo, 1924.Figura 2.4. Mapa São Paulo, 1951.Fonte: SÃO PAULO, 2015.

apropriação dos alinhamentos e dos limites dos terrenos, desenharam-se

os espaços públicos. Como apresentado no capítulo anterior, o centro de

São Paulo não carece da crise do objeto (ROWE; KOETTER, 1977), já que “os

edifícios não nascem isolados como objetos; mas contaminados pela vida;

formas difíceis” (RIBEIRO, 2007). Trata-se de uma arquitetura de assimilação

e de continuidades, a qual se expressa na trama urbana e tem como papel

a criação de um espaço público coletivo que se conecta com a paisagem

urbana e, tem também o poder de intervenção na produção da cidade.

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2.1.1 Permeabilidades centrais urbanas

Os edifícios modernos escolhidos para serem analisados no seu contexto

possuem uma alta “imaginabilidade” e “legibilidade”, conforme teoria do

Lynch (2006). Eles representam a imagem do centro da cidade de São Paulo.

São as figuras que se destacam no fundo da paisagem e conformam os es-

paços públicos da cidade.

Os edifícios icônicos Copan, Itália e Galeria Metrópole localizam-se próximos

uns aos outros, e criam, por meio de seus passeios, permeabilidades que

transformam a malha urbana, tornando-se um diferencial da área central.

O uso do pavimento térreo para a criação de espaços público-privados, as

galerias, permitiram dinamicidade na cidade. Os percursos, as passagens e

os atalhos desenham o tecido urbano e provocam vitalidade na cidade. Do

edifício Copan pode-se chegar à Galeria Metrópole passando pelo edifício

Conde Silvio Penteado e atravessando a Avenida São Luís. Trata-se de um

pequeno percurso, porém representativo dos princípios da arquitetura e do

urbanismo modernos em São Paulo, nos quais os edifícios estabelecem re-

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Figura 2.5. Implantação dos edifícios no Centro Novo de São Paulo, destacando-se os térreos permeáveis. Fonte: SERAPIÃO, 2011, p. 111, adaptada pela autora com base em FONTENELE, 2010, p. 169.

1-Edifício Copan

2-Edifício Itália

3-Edifício Conde Silvio Penteado

4-Edifício Louvre

5-Conjunto Zarvos e Ambassador

6-Galeria Metrópole

7-Edifício Esther e Arhur Nogueira

8-Galeria Califórnia

9-Galeria Louzã

10-Conjunto Presidente

11-Galeria Guatapará

12-Galeria Itá e R. Monteiro

13-Galeria Nova Barão

14-Galeria das Artes

15-Galeria 7 de Abril

16-Galeria Ipê

17- Galeria Itapetininga

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Figura 2.6. Imagem área do centro de São Paulo. Fonte: GOOGLE EARTH, 2015, adaptada pela autora.

lações de dependência com o traçado urbano, a partir das permanências e

permeabilidades estabelecidas (Figuras 2.5 e 2.6).

Segundo o autor Franco (2005, p. 15), os monumentos, os edifícios icônicos,

“mantêm sua importância pelos valores arquitetônicos da matéria, da for-

ma e da capacidade de estruturar relações urbanas no contexto atual que

elas se inserem”.

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1-Edifício Copan

2-Edifício Itália

3-Praça da República

4-Galeria Metrópole

5-Praça Dom José Gaspar

6- Biblioteca Mário de Andrade

7- Praça Ramos de Azevedo

8- Teatro Municipal

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(Companhia Pan-Americana (Co-Pan) de Hotéis e Turismo)Empreendimento idealizado para compor o IV Centenário da cidade.

Arquiteto: Oscar Niemeyer

Colaborador: Carlos Alberto Cerqueira Lemos

Ano: 1952-1956

Localização: Avenida Ipiranga, 200 - República

Vias: Avenida Ipiranga, Vila Normanda, Rua Araújo e Rua Unaí

Tipologia: Mista (Habitacional e Serviços)

Altura: 130 m

Número de pavimentos: 32

Área do terreno: 6006,35 m2 / 0,6 ha

Área construída: 116.152,00 m² / 11,62 ha

Coeficiente de aproveitamento (CA): 19

População permanente (habitantes + funcionários): 5225 hab

População transitória (população permanente + visitantes): 8225 hab

Densidade física permanente (população/área construída): 450,00 hab/ha

Densidade física transitória (população/área construída): 708,00 hab/ha

Figura 2.7. Edifício Copan. Fonte: WIKIPÉDIA, 2015.Quadro 2.1. Quadro Edifício Copan. Fonte: AUTORA, 2015 com base nos dados cedidos pela Administração do Condomínio Edifício Copan, maio. 2015.

2.2 Edifício Copan

2.2.1 Ficha técnica

O edifício Copan, nomeado o “Maciço Turístico Copan” foi idealizado pelo

arquiteto Oscar Niemeyer. Como apontado por Carlos Lemos (ANGIOLILLO

2014), co-autor do projeto: “Não se sabendo bem o que fazer com essa classe

(classe média), Loureiro e Frias chegaram a uma conclusão que era lógica. Fazer

um prédio grande, variado e ver o que vendia. Uma espécie de laboratório.”

Esse edifício tornou-se paradigma do modelo de “cidade vertical” e possui até

seu próprio Código de Endereçamento Postal (CEP).

O programa original do edifício constava de um hotel de 600 aptos, com sa-

lões, restaurantes e lojas, um cinema para 3500 pessoas, um teatro para 700

pessoas, uma garagem para 500 carros, uma área residencial de 900 aptos e

uma galeria com mais de 100 lojas. Compreendendo-se a dinâmica turística,

foi alterado o projeto para abrigar 1160 unidades habitacionais, divididas em

seis blocos de A a F, e o hotel foi substituído pela sede do banco Bradesco. No

total remanesceram 73 lojas (Quadro 2.1).

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69Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

2.2.2 Implantação do edifício e traçado urbano

O lote original e irregular foi dividido em dois e separado pela rua Unaí,

a qual possui uma configuração sinuosa e, além disso, tem como função

conectar os edifícios para criar uma unidade de conjunto. De um lado foi

projetada uma lâmina regular e do outro uma lâmina curva. Como enfa-

tiza Lemos: “E aquele ‘s’ não é gratuito não. Ele está concordando com as

irregularidades das divisas posteriores. Ele se harmoniza muito bem com

aquilo” (LEMOS, 2004 apud BARBARA, 2004, p. 220) (Figuras 2.8 e 2.9).

A distribuição das galerias no térreo é perimetral, criando um percurso a ser

seguido e permitindo as conexões entre a Avenida Ipiranga (primeira peri-

metral do Plano de Avenidas Prestes Maia), a Vila Normanda, a Vila Unaí e a

Rua Araújo. Os corredores das galerias são sinuosos e rampeados, pois incor-

poram a topografia descendente do terreno natural, promovendo o ajuste

dos níveis entre as ruas circundantes. O desnível entre a Vila Normanda e a

Rua Araújo é de quatro metros (BARBARA, 2004).

Figura 2.8. Implantação Edifício Copan. Fonte: OUKAWA, 2010, p. 26, adaptada pela autora.Figura 2.9. Imagem aérea. Fonte: MILIAUSKAS ARQUITETURA, 2015.

Avenida Ipira

nga

Avenida Consolação

Avenida São João

BRADESCO

Rua

Ara

újo

Vila Norm

anda

Rua Unaí

EDIFÍCIO COPAN

N

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70

As galerias configuram um espaço de circulação interno que trata-se de

um passeio semipúblico, o qual expressa uma continuidade com o espaço

público externo. A curva, por sua vez, delimita o compasso do pavimento

térreo, o ritmo, traçando seu percurso e possibilitando o passeio urbano,

definindo-o como um espaço com urbanidade (Figura 2.10).

O espaço exterior integra-se, também, com o interior a partir das gene-

rosas aberturas, que são cinco no total. Ainda que o acabamento do piso

interno seja diferente do da calçada, a conexão entre ambas as partes não

fica comprometida. Devido à implantação do edifício, as calçadas também

se alargam e se integram com o térreo e, consequentemente, estende-se

o espaço público (Figuras 2.11 a 2.13).

Pode-se destacar que o passeio criado é sinuoso, assim como sua forma

e, conforme Mendoça (2007), contraria a máxima corbusiana que “diz

que o homem que sabe onde vai, vai em linha reta” (LE CORBUSIER apud

MENDOÇA, 2007, p. 105). A ondulação é objetiva, um desvio obrigatório a

um eixo, com vista a “querer oferecer uma desaceleração do fluxo veloz da

cidade pela introdução da curva” (Ibid, p. 105).

Figura 2.10. Planta pavimento térreo.Fonte: GALVÃO, 2007, p. 26, adaptada pela autora.

A

B

C

E

FD

Circulação - 26 % da área do pavimento térreo

Acesso - Blocos de apartamentos

Acesso pedestres

Acesso estacionamento

A

E

E

E

s/escala

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71Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.11. Acesso pela Rua Araújo. Figura 2.12. Visual desde a Rua Unaí (sentido Vila Normanda).Figura 2.13. Visual desde a Rua Unaí (sentido Avenida Ipiranga).Fonte: AUTORA, mar. 2015.

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72

Como descrito por Dardel (2013), a reta é uma imposição do homem em

uma condição geográfica, a curva, no entanto, expressa maior naturalida-

de. Na ótica do local, Cullen (2009) destaca a ondulação como um item

importante da paisagem urbana. A descreve como um desvio obrigatório

com um objetivo e que, dentre algumas qualidades, proporciona elemen-

tos vitais como a luz e a sombra.

A partir do percurso e da possibilidade do atalho, estabelece-se o diálogo

com a cidade. Nos dizeres de Argan, “o edifício não interrompe o movimen-

to da cidade, a arquitetura não fecha nem segrega, e sim filtra e intensifica

a vida” (ARGAN, 1992, p. 197), proporcionando maior urbanidade.

No projeto original, existia uma maior conectividade entre os dois edi-

fícios, já que eram previstas lojas nas duas laterais da rua Unaí. Essa úl-

tima não atuaria como um separador, como nos dias atuais, mas como

um conector. A conexão se estenderia no nível dos terraços, pois ambos

ligariam-se mediante uma passarela. Porém, com a construção da sede

bancária, a passarela nunca foi realizada.

2.2.3 Espaços positivos e permeabilidades

Como pode-se perceber nas figuras ao lado, o edifício (figura) predomi-

na no fundo. A implantação do edifício delimita-se com o aproveitamento

máximo da quadra. No entanto, o edifício conforma no seu interior o espa-

ço semipúblico, sendo ele positivo, pois se destaca dentro da figura e pos-

sui uma forma distinta e coerente. Como salientado por Bloomer e Moore

(1982), o edifício pode estimular potencialmente o movimento. O percurso

interno é um espaço positivo e permeável, transcreve-se na curva e deli-

mita-se pelas entradas. A transposição da quadra ocorre pela circulação, a

qual possibilita maior fluidez entre o espaço exterior e interior. Por sua vez,

a permeabilidade representa 26 % (vinte e seis) da área total do pavimento

térreo (Figuras 2.14 a 2.16).

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73Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.14. Copan - Figura e fundo. Figura 2.15. Copan - Figura e fundo. Figura 2.16. Copan - Espaço positivo - permeabilidade. Fonte: AUTORA, 2015.

N

Permeabilidade - 26% da área do pavimento térreo

Figura

30 m

Figura

Fundo

Espaço positivo

FundoFigura

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74

A importância da percepção dos espaços construídos é salientada por

Geoffrey Scott na sua obra La Arquitectura del Humanismo (1914). Nela, trata

sobre os termos de escala e ornamento nos edifícios, expondo que:

Em qualquer edifício, podem distinguir-se três coisas: a magnitude que realmente tem (medida mecânica), a magnitude que parece ter (medida visual), e a sensação de magnitude que produz (medida corporal). As duas últimas têm sido muitas vezes confundidas, porém a única que possui valor estético é a sensação de magnitude (SCOTT, 1914 apud BLOOMER; MOORE, 1982, p. 40, tradução e grifo da autora). 1

Adentrando o edifício Copan, depara-se com um pé direito avantajado.

Acredita-se que, se o pé direito fosse mais próximo da escala humana, em

termos perceptivos, o espaço ficaria enclausurado. O aumento significativo

do pé direito provoca a percepção da sensação de magnitude do espaço

construído. O fato desse percurso ter comércios e serviços torna-o um es-

paço com funcionalidade e uso urbano (Figuras 2.17 e 2.18).

Figura 2.17. Percurso interno. Fonte: AUTORA, dez. 2014.

1 Tradução do texto pela autora. Texto original: “En cualquier edificio pueden distin-guirse tres cosas: la magnitud que realmente tiene (medida mecánica), la magnitud que parece tener (magnitud visual), y la sensación de magnitud que produce (medi-da corporal). Las dos últimas han sido muchas veces confundidas, pero la única que posee valor estético es la sensación de magnitud. In: SCOTT, 1914 apud BLOOMER, Kent C.; MOORE, Charles W. Cuerpo, memoria y arquitectura. Introducción al diseño arquitectónico. Madrid: Blume, 1982.

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75

Figura 2.18. Percurso interno. Fonte: AUTORA, mar. 2015.

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76

2.2.4 Embasamento

Concordando-se com Barbara (2004, p. 208), o Copan: “com seus diversos

programas, é desenhado como um trecho da cidade; mais do que um edifí-

cio, pode ser entendido como um complexo equipamento urbano.”

Rua

Ara

újo

Vila

Nor

man

da

Área permeável - pavimento térreo

Figura 2.19. Elevação sudeste. Fonte: OUKAWA, 2010, p. 39, adaptada pela autora.

Rua Unaís/escala

resi

denc

ial

com

erci

al

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77Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Av.

Ipir

anga

Área permeável - pavimento térreo

Figura 2.20. Elevação sudoeste. Fonte: OUKAWA, 2010, p. 39, adaptada pela autora.

Rua Unaí

s/escala

O embasamento do programa ocorre em dois volumes, ou blocos, o co-

mercial (base de 12 (doze) a 16 (dezesseis) metros de altura) e o residencial

(lâmina vertical de formato sinuoso e longínquo). A bipartição em volumes,

permitiu a separação dos usos e contribuiu para suavizar a robustez do edi-

fício, impactando na paisagem urbana (Figuras 2.19 e 2.20).

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78

2.2.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada

O edifício Copan ganha proporções mais próximas da escala do pedestre,

com a presença dos balcões das sobrelojas os quais avançam sobre as en-

tradas, funcionando tanto como superfícies de projeção como também de-

marcações dos acessos ao prédio. Essas formas arquitetônicas delimitam

espaços de uso público, permitindo a ocupação e a apropriação do territó-

rio urbano, por meio de elementos de caráter transitório como o conjunto

de mesas e cadeiras dos bares e dos restaurantes (CULLEN, 2009) (Figura

Figura 2.21. Visual desde a Rua Unaí. Fonte: AUTORA, dez. 2014.

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79Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.22. Copan - Detalhe do brise da fachada. Fonte: SKYCRAPERCITY, (Cristiano Mascaro), 2003.

2.21). A partir da definição dos usos nos espaços, amplificam-se as relações

de urbanidade.

O uso de brises de concreto nas fachadas da lâmina vertical e residencial

acentuam a horizontalidade da fachada e criam ritmo. Sua textura fica evi-

dente pela proximidade com a escala do observador (ASHIHARA, 1982).

Porém, para visualização do conjunto como uma unidade, é necessário

afastar-se. Como definido por Cullen (2009), esse conceito chama-se de

perspectiva delimitada, pois o observador é convidado a recuar a fim de

contemplar. Quanto maiores as distâncias, melhor é a compreensão da in-

serção do edifício na escala urbana.

Conforme ressaltado por Barbara (2004), o espaçamento de um metro entre

as lâminas dos brises cria um efeito um tanto curioso. O observador, ao olhar

para eles, desde a cota da rua, visualiza uma uniformidade. Já ao afastar-se

amplia-se a visibilidade do interior dos apartamentos, contrapondo o cheio

ao vazio (Figuras 2.22 e 2.23).

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Figura 2.24. Copan - Vista aérea. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013.

Figura 2.23. Copan - Vista aérea. Fonte: UOL, 2012.

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81Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

2.2.6 Escala e paisagem urbana

O afastamento do conjunto em relação à Avenida Ipiranga permite esta-

belecer proporções de amplitude e a materialização da lâmina no espaço

urbano fica menos densa (ALEXANDER et al., 1988) (Figura 2.24).

O próprio volume sinuoso participa nessa concepção, pois cria um espaço

central aberto, representado pela Rua Unaí, que melhora a percepção de

amplitude. O Copan, em ambas extremidades, tem suas empenas limítrofes

a outros edifícios, os quais possuem um gabarito menor. Como a maior face

da lâmina, a curva, é livre de contatos, o edifício expande-se no território.

(Figuras 2.24 a 2.26).

Figura 2.25. Visual desde a Rua Araújo. Fonte: GOOGLE EARTH, 2015.Figura 2.26. Visual desde a Rua Araújo. Fonte: AUTORA, mar. 2015.

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82

Um outro elemento de análise é a relação entre as alturas dos edifícios

vizinhos (H) e sua separação em relação ao distanciamento das constru-

ções (D) (ASHIHARA, 1982). Aplicando-se esse conceito, compreendido

pela simplificação D/H, teremos 52/130 m = 0.4 (Figura 2.27). Porém, no

caso do Copan, tanto a implantação do edifício quanto a largura da ave-

nida contribuem para a qualidade do espaço, ainda que o coeficiente seja

menor do que 1 (um). Na escala do pedestre, o espaço resultante não é

enclausurador, já que a forma curva do edifício gera movimento e espa-

cialidade (Figuras 2.28 e 2.10).

Figura 2.27. Copan - Relação entre distância e altura. Fonte: AUTORA, 2015.

H

D

Av.

Ipir

anga

30 m

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83Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.28. Visual desde a Avenida Ipiranga. Fonte: GOOGLE EARTH, 2015.

Ao analisarmos o Copan desde a Rua da Consolação, percebemos que ele

dialoga com o gabarito da Paróquia da Nossa Senhora da Consolação, pois,

ainda que se sobressaia em termos de altura, existe um certo distancia-

mento com a Paróquia e por causa da sua implantação, nesta perspectiva,

não visualizamos a total dimensão do Copan. Portanto, a Paróquia não per-

de seu protagonismo na conjuntura da paisagem (Figura 2.29).

Nas figuras 2.29 e 2.30, existe uma mistura arquitetônica entre as constru-

ções formais horizontais e verticais, sendo que perceptualmente a compo-

sição destaca-se pela sua verticalidade (FILHO, 2003). Os elementos cons-

trutivos conformam ao todo um equilíbrio dinâmico que, pelas linhas e

contornos irregulares, denotam certa proporção e apresentam relações de

escala. Os edifícios são as figuras que delimitam o skyline urbano.

Figura 2.10. Planta pavimento térreo.Fonte: GALVÃO, 2007, p. 26.

s/escala

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Figura 2.29. Visual desde a Rua da Consolação, destaque para o skyline urbano.Fonte: AUTORA, 2015.

Edifício Copan

Paróquia da Nossa Senhora da Consolação

Edifício Ipiranga 165

Edifício Itália

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85Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.30. Figura e fundo a partir da figura 2.29.Fonte: AUTORA, 2015.

Figura Fundo

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Patrocinado pelo Circolo Italiano.

Arquiteto: Franz Heep

Ano: 1959

Localização: Avenida Ipiranga, 344 - República

Vias: Avenida Ipiranga e Avenida São Luís

Tipologia: Mista (Comercial e Serviços)

Altura: 165/168 m

Número de pavimentos: 46

Área do terreno: 2.382,00 m2 / 0,24 ha

Área construída: 52.000,00 m² / 5,2 ha

Coeficiente de aproveitamento (CA): 22

População permanente (condôminos + funcionários): 4800 hab

População transitória (população permanente + visitantes) : 8000 hab

Densidade física permanente (população/área construída): 923,00 hab/ha

Densidade física transitória (população/área construída): 1538,00 hab/ha

Figura 2.31. Edifício Itália. Fonte: GOUVEIA, 2013.Quadro 2.2. Quadro Edifício Itália. Fonte: AUTORA, 2014, com base nos dados cedidos pela Administração do Condomínio Edifício Itália, mar. 2015.

2.3 Edifício Itália

2.3.1 Ficha técnica

O edifício Itália foi idealizado pelo Circolo Italiano, tradicional clube da co-

lônia italiana de São Paulo. Até 1962, era o edifício mais alto da América

Latina e do mundo em concreto armado (MENDONÇA, 2007).

O programa consiste de uma galeria comercial com 14 lojas, um auditório

para 350 pessoas, um conjunto de escritórios (240 condôminos no total)

e, no 44º andar, um restaurante, que tem a vista panorâmica do centro da

cidade como sua maior atração. O pavimento do restaurante possui um

caráter simbólico, pois torna-se um mirante do espetáculo urbano.

Uma das curiosidades do edifício é que ele não foi projetado para atender a

uma demanda significativa de número de pessoas, em relação à proporção

de número de vagas no subsolo. Existem apenas 04 vagas, o restante do

pavimento é destinado para a infraestrutura do edifício (Quadro 2.2).

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87Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

2.3.2 Implantação do edifício e traçado urbano

Situa-se em um lote de esquina, formado pela confluência da Avenida Ipi-

ranga com a Avenida São Luís. O arquiteto Franz Heep aproveitou a dimen-

são total do terreno, ocupando o pavimento térreo por toda a sua extensão

(Figura 2.32). Na sua concepção original, o térreo possuía maior permeabi-

lidade, já que para ambos os lados das avenidas existia uma entrada ativa.

Ainda que remanesceu a área das galerias, as quais se dispõem perime-

tralmente (lojas, café, sede bancária), o fechamento da entrada pela Aveni-

da São Luís (grades foram colocadas por segurança e apenas usa-se para

triagem) impede o fluxo dinâmico do passeio público. O projeto, na sua

concepção, tinha maior diálogo entre as áreas público e privada. A própria

entrada pela Avenida Ipiranga é gradeada e composta por uma escadaria,

o que bloqueia a continuidade da calçada com o espaço interior, além de

não ser acessível (Figuras 2.33 e 2.34).

Figura 2.32. Planta pavimento térreo.Fonte: MENDOÇA, 2007, p. 75, adaptada pela autora.

Circulação - 33 % da área do pavimento térreo

Acesso pedestres

Avenid

a Ipira

nga

Avenida São Luís Acesso estacionamentoE

E

s/escala

N

Acesso - Bloco escritório e restaurante

Acesso - Bloco Circolo Italiano

B

C

B

B

B

B

C

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88

A dinâmica de circulação do edifício se dá pela coluna central que possui

19 (dezenove) elevadores no total. Desse último, 12 (doze) dão acesso ao

conjunto de escritórios e 02 (dois) acessam o restaurante e o terraço, ponto

atrativo do edifício. Além disso, existem outros 05 (cinco) elevadores de uso

exclusivo do Circolo Italiano.

Figura 2.33. Entrada desde a Avenida Ipiranga. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.34. Visual da entra-da desde o interior do edifício. Fonte: AUTORA, dez. 2014.

Figura 2.35. Visual da galeria interna.Fonte: AUTORA, dez. 2014.

2.3.3 Espaços positivos e permeabilidades

Percebe-se novamente a predominância da figura no

fundo. Porém, destacam-se os espaços positivos inte-

riores que são resultantes da delimitação da figura. Na

sua totalidade, 33 % (trinta e três) é área permeável em

relação ao pavimento térreo (Figuras 2.36 a 2.38). No

entanto, devido ao fechamento da entrada da Avenida

São Luís, o fluxo dentro do edifício ficou mais contido.

A falta de definição de usos no decorrer do pavimento

térreo torna-o menos funcional e, em termos de uso,

não muito convidativo. O que predomina nesse pavi-

mento são os elementos de circulação vertical e a falta

de adensamento faz com que o pé direito se destaque

em relação à escala humana (Figura 2.35).

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89Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.36. Edifício Itália - Figura e fundo. Figura 2.37. Edifício Itália - Figura e fundo. Figura 2.38. Edifício Itália - Espaço positivo- permeabilidade. Fonte: AUTORA, 2015.

Permeabilidade - 33% da área do pavimento térreo

Permeabilidade interrompida

15m

Fundo

Fundo

Figura

Figura

Figura

Espaço positivo

N

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90

Figura 2.39. Desenho esquemático- volumetrias e setorização.Fonte: AUTORA, 2015 com base em maquete da Administração do Edifício Itália.

anexo- conjunto de escritórios

Torre - lâmina verticalconjunto de escritórios

base- serviços + acessos

Circolo Italiano

2.3.4 Embasamento

O edifício se divide em 03 (três) partes: o embasamento, a torre e dois edi-

fícios laterais (Figuras 2.39 e 2.40). O embasamento se projeta acima da su-

perfície do lote e dele emergem a torre e os edifícios laterais. Estes últimos

funcionam como pano de fundo na composição arquitetônica e a simples

vista não parecem conformar parte do mesmo edifício. Dentro da base, a

partir da galeria cria-se “um fluxo urbano para dentro do limite do lote”

(MENDONÇA, 2007, p. 82).

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91Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Av.

Ipir

anga

Área permeável - pavimento térreo s/escala

Figura 2.40. Corte longitudinal. Fonte: ITÁLIA, 2015, adaptada pela autora.

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92

Figura 2.41. Detalhe do brise da fachada. Fonte: AUTORA, mar. 2015.

2.3.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada

O uso dos brises na fachada não só auxiliam nas rela-

ções de iluminação como também criam uniformidade

na fachada, de maneira a ocultar elementos que possam

interferir esteticamente, como é o caso dos pilares, caixi-

lhos (Figuras 2.41 e 2.42). O uso de brises móveis auxilia-

ram nessa ocultação:

De tudo, então, resulta não apenas a unidade da fachada que tantos alardeiam, mas uma formulação orgânica, cuja projeção externa não revelará ao espectador onde começa e onde acaba - o monumento é para ser visto de todos os lados, a noção da fachada foi totalmente eliminada, como preconiza a moderna arquitetura. Tudo o que o edifício Itália oferece, externamente, é face, é frente, é unidade (HABITAT, s/n apud MENDOÇA, 2007, p. 83).

A entrada ao edifício destaca-se por seu pé direito duplo

e o acesso recuado permite que a mesma esteja coberta

pelo pavimento superior. Atualmente, as grades delimi-

tam a entrada, direcionando-a a uma menor porção do

espaço. Ainda assim, preserva-se o espaço entre a grade

e o portão, o qual pode ser usado publicamente.

Elementos construtivos, como a extensão do pavimento

superior possibilitando uma área de proteção ao pedes-

tre, aumentam a área de calçada, tornando-se exemplos

de caráter humano, que geram maior urbanidade.

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93Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.42. Visual para Edifício Itália desde a esquina da Praça da República. Fonte: AUTORA, mar. 2015.

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94

2.3.6 Escala e paisagem urbana

A torre configura-se mediante uma planta elíptica, direcionando a menor

porção para o vértice. Isso deixa o edifício mais esbelto nessa fachada e

menos denso na paisagem urbana. Pela sua forma singular, o edifício cria

diferentes perspectivas, ora parece circular, ora retangular (Figuras 2.43 e

2.45). Posicionando-se na Praça da República, o edifício adquire propor-

ções grandiosas, como nomeado por Cullen (2009). Ele se destaca da paisa-

gem, dominando-a e induzindo uma sensação de onipresença.

O edifício adquire caráter de símbolo/ícone quando não só se destaca mas

auxilia na valorização do seu entorno. Segundo Ashihara (1982), a monu-

mentalidade fundamental, na sua essência, é adquirida quando uma obra

arquitetônica é isolada. Porém, ela também pode acontecer quando ao

redor dessa obra existam outros conjuntos de edifícios com relações de

influência entre uns com os outros, denominada de monumentalidade

Edifício Itá

lia

Praça da República

Figura 2.43. Montagem do mapa com base no Mapa Digital da Cidade (MCD). Fonte: S. PAULO 2015, adaptada pela autora.

E2

E1 = eixo Avenida IpirangaE2 = eixo Praça da República

E1

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95Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

complexa. Esse é o caso do Edifício Itália, o qual é capaz de “perturbar” o

espaço e de atingir certos atributos como luminosidade e penumbra, per-

meabilidade, humanidade e urbanidade (Ibidem).

O bloco que se estende sobre a calçada, conforme salientado anteriormen-

te, possui o terraço, o qual faz parte do Circolo Italiano (Figura 2.44), por-

tanto seu uso é restrito. No entanto, o restaurante do Circolo possui uma

varanda, a qual abre-se para a mesma visual (Figuras 2.46 e 2.47).

Ambos ambientes criam uma nova condição de contemplar o entorno;

desde o terraço, a visual se dá pela copa das árvores, criando uma conti-

nuidade com a Praça da República. Nesse patamar, o próprio barulho da

rua minoriza-se. A proximidade com o pedestre é maior desde a varanda,

podendo contemplar a dinamicidade urbana.

Figura 2.44. Visual desde o terraço do Circolo Italiano. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.45. Edifício Itália em 1970. Fonte: S.P In Foco, 2015.

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96

Figura 2.46. Visual desde a varanda do Circolo Italiano. Figura 2.47. Visual desde a varanda do Circolo Italiano. Fonte: AUTORA, maio. 2015.

Praça da República

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97Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Baseando-se no conceito de Ashihara (1982), a relação D/H, tem-se

como resultado 35/160 m = 0.22, e mais uma vez, o coeficiente deu

abaixo de 1 (um). Acredita-se que o afastamento visual com a Praça

da República e a própria implantação do conjunto no lote funcionem

como elementos desestimuladores, contribuindo para que exista um

distanciamento entre o edifício e o seu entorno, resultando em um

espaço que ao ser percebido é agradável e não enclausurador (Figura

2.48). A configuração do edifício em formato de vértice contribui

também para a espacialidade resultante (Figura 2.32).

H

D

Av.

Ipir

anga

Figura 2.48. Edifício Itália - Relação distância e altura. Fonte: AUTORA, 2015.

20 m

Figura 2.32. Planta pavimento térreo.Fonte: MENDOÇA, 2007, p. 75.

s/escala

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98

Para os 03 (três) pontos nodais representados na figura 2.52, seguindo a

metodologia de Lynch (2006), percebe-se que os edifícios, tanto Copan,

quanto Itália, se destacam na paisagem e se tornam marcos dela. Eles não

apenas integram o espaço construído, como dão dinamicidade (Figuras

2.49 a 2.51).

Existe uma conexão visual entre ambas as partes; dos pavimentos do edifí-

cio Copan pode-se visualizar a esbelteza da forma do edifício Itália. Quando

analisamos o Copan, especificamente, o formato sinuoso permite a leveza

e o desmembramento dos edifícios ao seu redor. Ele se destaca, irreduti-

velmente, ao ser comparado com seu entorno, mas não atua como uma

barreira visual, pois a curva permite a criação de diferentes visuais. Como

visualiza-se na figura 2.53, desde o Copan é possível ver o Edifício Itália, e

ambos têm uma relação simbiótica, pois juntos caracterizam e dialogam

com a área central da cidade.

Percebe-se que o posicionamento da planta elíptica do Edifício Itália, como

ilustrado na figura 2.55, acompanha o movimento da curva do Edifício

Copan e também relaciona-se com o Edifício Ipiranga 165 (antiga sede do

Hotel Hilton e projetado por Mário Bardelli).

Figura 2.49. Ponto nodal no1. Figura 2.50. Ponto nodal no2. Figura 2.51. Ponto nodal no3.

Fonte: AUTORA, mar. 2015.

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99Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.52. Montagem do mapa com base no Mapa Digital da Cidade (MCD).Fonte: S. PAULO, 2015, adaptada pela autora.

pontos nodais

vias

Edifício Ipiranga

165

Praça da República

Edifício Itália

Edifício Copan

1

2

3

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100

Figura 2.53. Visual para o Edifício Itália desde o Edifício Copan.Fonte: STENERI, s/data.

Figura 2.54. Avenida Ipiranga, São Paulo, 1953.Fonte: JAYO, 2013.

Como representado na figura 2.56, o centro de São Paulo se expandiu

verticalmente e desordenadamente, criando um skyline peculiar. Na

paisagem urbana, os edifícios Copan e Itália se destacam. A figura 2.54 ilustra

o centro de São Paulo antes dos edifícios Copan e Itália serem construídos.

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101

Figura 2.55. Centro de São Paulo.Fonte: Acervo Administração Copan, 2015, adaptada pela autora.

Edifício Itália

Edifício Copan

Edifício Ipiranga 165

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103Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.56. Centro de São Paulo.Fonte: SP Turis (Caio Pimenta), 2015.

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104

2.4 Galeria Metrópole

2.4.1 Ficha técnica

O Conjunto Maximus nomeado posteriormente de Centro Metropolitano

de Compras, é também conhecido por Galeria Metrópole.

O projeto é fruto de um concurso fechado que previa a construção de uma

galeria comercial nos pavimentos inferiores, sobre os quais seria erguida

uma torre de escritórios.

No arranjo final do projeto, a galeria comercial abriga 402 lojas, uma sala

de cinema com capacidade para 1200 espectadores e, no corpo vertical,

distribuem-se os conjuntos comerciais (Quadro 2.3).

Centro Metropolitano de Compras

Arquitetos: Giancarlo Gasperini e Salvador Candia

Ano: 1956

Localização: Avenida São Luís, 187

Vias: Avenida São Luís, Praça Dom José Gaspar e Rua Basílio da Gama

Tipologia: Mista (Comercial e serviços)

Altura: 76,5 m

Número de pavimentos: 23

Área do terreno: 4.627,21 m2 / 0,46 ha

Área construída: 35.151,00 m² / 3.51 ha

Coeficiente de aproveitamento (CA): 7,6

População permanente (condôminos + funcionários): 1200 hab

População transitória (população permanente + visitantes): 5200 hab

Densidade física permanente (população/área construída): 342 hab/ha

Densidade física transitória (população/área construída): 1481,00 hab/ha

Figura 2.57. Galeria Metrópole - Maquete. Fonte: SERAPIÃO, 2011, p. 53.Quadro 2.3. Quadro Galeria Metrópole.Fonte: AUTORA, 2015 com base nos dados cedidos pela Administração do Condomínio da Galeria Metrópole, maio. 2015.

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105Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

2.4.2 Implantação do edifício e traçado urbano

A riqueza da Galeria Metrópole encontra-se na sua implantação, circunda-

da de três vias, Avenida São Luís, Praça Dom José Gaspar e Rua Basílio da

Gama. A Avenida São Luís teve seu alargamento na década de 1940, sendo

parte do Perímetro de Irradiação do Plano de Avenidas e é um eixo urbano

caracterizado pela presença de vegetação. Adjacente à galeria, encontra-

se a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, que foi inaugurada durante

a administração do prefeito Prestes Maia. A conexão entre ambos ocorre

pela Praça Dom José Gaspar, sendo que, nos dias atuais, o gradil que con-

torna a biblioteca acaba criando um isolamento maior (CECCO; PERRONE,

2005) (Figuras 2.58 e 2.59).

Praça Dom José Gaspar

Galeria MetrópoleBiblioteca Mário

de Andrade

Avenida São Luís

Rua

Cons

olaç

ãoRua Dr. Brulio Gomes

Figura 2.58. Implantação. Fonte: CECCO; PERRONE, 2005, adaptada pela autora.Figura 2.59. Corte longitudinal. Fonte: CECCO; PERRONE, 2005, adaptada pela autora.

Área permeável

s/escala

N

s/escala

Rua Basílio da Gama

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106

Figura 2.61. Planta da 3a sobreloja (Passeio Capri). Fonte: Acervo AFLALO; GASPERINI, 2015.

Circulação - 43% da área do pavimento térreo

Acesso - Bloco escritório

Acesso pedestres

B

Acesso estacionamentoE

E

B

B

Figura 2.60. Planta do pavimento térreo (Passeio São Paulo). Fonte: Acervo AFLALO; GASPERINI, 2015, adaptada pela autora.

N

s/escala

s/escala

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107Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Figura 2.62. Visual do vazio central desde interior do edifício. Fonte: AUTORA, dez. 2014.

Atualmente é possível ter acesso pela Rua São Luís (utilizando-se de um acesso

rampeado) e pela Praça Dom José Gaspar (em nível). A entrada pela Rua Basílio da

Gama, para acompanhar o nível do terreno, é composta por uma escadaria.

Os elevadores e as escadas são componentes da circulação vertical. As escadas ro-

lantes estabelecem as ligações entre os pavimentos comerciais, sendo elementos

mecânicos que permitem maior fluxo vertical (Figuras 2.60 e 2.61).

2.4.3 Espaços positivos e permeabilidades

O edifício atua como figura e a permeabilidade no pavimento térreo é de 43 % (qua-

renta e três) (Figuras 2.63 a 2.65). Distribuem-se comércios e serviços, possibilitando

o uso e a função do edifício.

O espaço interno resultante é agradável e a somatória entre o pé-direito duplo e a

presença do vazio central garantem-lhe amplitude (Figura 2.62).

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108

Figura

Figura

Fundo

Fundo

N

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109Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Permeabilidade - 43% da área do pavimento térreo

Figura

Espaço positivo

30 m

Figura 2.63. Galeria Metrópole - Figura e fundo. Figura 2.64. Galeria Metrópole - Figura e fundo. Figura 2.65. Galeria Metrópole - Espaço positivo- permeabilidade. Fonte: AUTORA, 2015.

N

Nesse edifício, a permeabilidade não concentra-se apenas no pavimento térreo mas

distribui-se pelos andares superiores, tendo o vazio como elemento central dessa dis-

posição. A permeabilidade, portanto, expande-se horizontalmente e verticalmente,

intensificando as conexões de urbanidade.

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110

2.4.4 Embasamento

O programa segmenta-se em dois blocos, horizontal (comércio e serviços)

e vertical (escritórios). As três vias que contornam o edifício criam um per-

curso com urbanidade a ser seguido (Figuras 2.66 e 2.67).

A Galeria Metrópole foi projetada como uma quadra urbana vertical: são ao

todo 05 (cinco) pavimentos de galeria comercial, sendo eles o pavimento

inferior (Passeio Nova York), o térreo (Passeio São Paulo), a 1ª sobreloja

(Passeio Londres), a 2ª sobreloja (Passeio Paris) e a 3ª sobreloja (Passeio Capri).

Figura 2.66. Elevação.Fonte: SERAPIÃO, 2011, p.32., adaptada pela autora.

s/escala

escr

itór

ios

com

erci

al

Av.

São

Luí

s

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111Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Área permeável

Figura 2.67. Corte longitudinal.Fonte: Acervo AFLALO; GASPERINI, 2015, adaptada pela autora.

s/escala

Av.

São

Luí

s

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112112

2.4.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada

No pavimento térreo, as lojas da galeria são dispostas ao redor de um jar-

dim interno (praça), que é visualizado em qualquer um dos níveis, median-

te a existência de um vazio central que serve como elemento conector e

de estruturação do espaço interno. Ao redor do vazio, estão voltadas as

frentes das lojas e dos restaurantes e o espaço resultante serve tanto como

travessia do público, como também para atividades de permanência.

Essa sutileza no projeto reforça a integração de continuidade entre o espa-

ço interno e o exterior, compreendido pela Praça Dom José Gaspar, sendo

elemento de importância para o conceito de urbanidade. Acima desse jar-

dim, localiza-se uma abertura zenital que permite a incidência de luz na-

tural (Figura 2.72). O pavimento térreo, portanto, configura-se como uma

extensão do espaço urbano e funciona como um centro de confluência e

irradiação de percursos para os pedestres.

O corpo horizontal avança em projeção, 1.20 metros (CUNHA, 2007, p. 198),

sobre o espaço público que contorna o edifício. Esse artifício é relevante,

pois não só suaviza as entradas, como também serve de proteção para os

transeuntes e permite ser apropriado para diferentes usos (Figura 2.69).

A entrada à Galeria, desde a Praça Dom José Gaspar, é emoldurada por um

pórtico, o qual tem como função enquadrar a paisagem (Figuras 2.68, 2.70

e 2.71). Esse elemento arquitetônico funciona como transição entre os espa-

ços público e privado, onde o observador consegue distinguir “estou aqui

dentro,” “estou aqui fora” (CULLEN, 2009). De fato, desde o interior do edi-

fício consegue-se apreciar a praça, e esse é um dos pontos principais, em

que o observador é convidado a contemplar. A praça não só tem um grande

fluxo de passagens, como também é ocupada para fins sociais e comercias,

como é o caso do conjunto de mesas e cadeiras, objetos de apoio dos res-

taurantes da galeria.

A apropriação do espaço público dá maior vitalidade à praça, deixando de

ser apenas um local de transição e podendo ser destinado para a contem-

plação, as relações sociais, comerciais e de trabalho, entre outros.

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113113

Figura 2.68. Visual do pórtico de entrada desde a Praça Dom José Gaspar.Fonte: AUTORA, dez. 2014.Figura 2.69. Visual desde a Avenida São Luís. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.70. Visual desde a Praça Dom José Gaspar. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.71. Visual desde a Praça Dom José Gaspar. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.72. Visual interna, destacando-se o vazio central.Fonte: AUTORA, dez. 2014.

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Figura 2.73. Conexão visual entre os jardins por meio do vazio central. Fonte: AUTORA, dez. 2014.

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115Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

2.4.6 Escala e paisagem urbana

No último pavimento da área comercial, aproveitando-se do espaço dei-

xado pela ausência das escadas rolantes, consolida-se mais um jardim que

visualmente integra-se com a Praça Dom José Gaspar, a partir da continui-

dade espacial. Esse pavimento funciona como belvedere urbano (Figuras

2.73, 2.74, 2.75 e 2.76).

A implantação do edifício, com o bloco horizontal estendendo-se perime-

tralmente pelo limite da quadra e o volume vertical em uma proporção

menor, delimitou um recuo/afastamento com as construções circundantes.

Dessa maneira, permitiu-se melhor iluminação e ventilação nas salas co-

mercias, como também aproveitaram-se as esquinas, as quais possibilitam

ângulos de apreciação da paisagem urbana.

A relação com o seu entorno permite a formação de permeabilidades vi-

suais. Ainda que a Galeria Metrópole esteja implantada entre volumes de

edificações preexistentes, ela se destaca. Não representa apenas um pas-

seio, mas dialoga diretamente com o seu entorno a partir das aberturas,

elementos que enquadram a paisagem.

Figura 2.74. Distribuição de usos ao redor do vazio central. Fonte: AUTORA, dez. 2014.

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116

Figura 2.75. Visual desde o jardim da cobertura - continuidade com a Praça Dom José Gaspar.Figura 2.76. Visual para a Praça Dom José Gaspar desde a 3a sobreloja. Figura 2.77. Visual para a Rua Basílico da Gama desde a 3a sobreloja. Fonte: AUTORA, mar. 2015.

Praça Dom José Gaspar

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117Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

Os balcões, extensões dos pavimentos da galeria, também têm essa função,

pois a partir deles consegue-se dialogar com a paisagem. Eles funcionam

como “passeios sobrepostos” (GASPERINI, 1960, apud, CUNHA, 2007, p. 173).

Como salientado por Cunha (2007), o “passeio sobreposto” representava

a cultura da cidade da época, que tinha como um dos costumes de maior

agrado sentar-se em volta de um café e “ver” a cidade (Figuras 2.78 e 2.79).

A ocupação em esquina, por sua vez, permite os diferentes ângulos e vi-

suais (Figura 2.77).

Figura 2.78. Conexão dos espaços interior e exterior por meio das aberturas (ligação com a Praça Dom José Gaspar).Fonte: AUTORA, maio. 2015.

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118

Figura 2.79. Visual desde a 20 sobreloja para a calçada e a Avenida São Luís.Fonte: AUTORA, maio. 2015.

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119Capítulo 2 A

nálises - Repertório Moderno

D

Av.

São

Luí

s

H

Utilizando-se do conceito do Ashihara (1982), D/H= 43/100 m = 0.43, o coe-

ficiente resultou em um número menor do que 1 (um), porém como salien-

tado anteriormente, a própria implantação do edifício e o recuo do bloco

vertical permitem uma melhor configuração urbana e, portanto, a percep-

ção do espaço não fica comprometida (Figuras 2.80 e 2.60). A distribuição

do programa em diferentes níveis e no pavimento térreo, garantem-lhe ao

projeto maior espacialidade, sendo que o projeto se abre para a rua.

Figura 2.80. Galeria Metrópole - Relação distância e altura. Fonte: AUTORA, 2015. 20 m

Figura 2.60. Planta do pavimento térreo (Passeio São Paulo). Fonte: Acervo AFLALO; GASPERINI, 2015.

s/escala

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Praça das Artes

Análise do edifício contemporâneo000003

3

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1223. REPERTÓRIO CONTEMPORÂNEO NO CENTRO EXPANDIDO

Análise do edifício Praça das Artes

3.1 Relações urbanas

3.1.1 Articulação entre os edifícios modernos e a Praça das Artes

Os edifícios anteriormente analisados no capítulo 02 (dois) - Edifício Copan,

Edifício Itália e Galeria Metrópole - se assemelham, na sua configuração, ao

edifício Praça das Artes pois têm como característica projetual se amoldar

ao terreno, garantindo conexões no nível térreo (Figura 3.1).

A conectividade dos projetos ocorre, também, pela conexão com os espa-

ços verdes (vazios permeáveis, decorrentes da cidade tradicional) circun-

dantes que permitem um respiro na cidade de São Paulo, conformando um

ritmo entre volumes abertos e fechados.

O projeto Praça das Artes, surge da apropriação de resíduos da cidade tra-

dicional, os logradouros e, a partir deles, busca estabelecer conexões. Ao

ser implantado em uma diferente década e com maiores restrições legais

(coeficientes de aproveitamento, taxa de ocupação, gabarito de altura, en-

tre outros), poderia ter comprometido a qualidade urbana, porém uma sé-

rie de atributos, que serão indicados a seguir, não o permitiram.

Destaca-se que o modelo de cidade tradicional comparte arquiteturas de

diferentes estilos e décadas sem perder o elo de conexão urbana.

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123

1- Edifício Copan

2- Edifício Itália

3- Praça da República

4- Galeria Metrópole

5- Praça Dom José Gaspar

6- Biblioteca Mário de Andrade

Figura 3.1. Planta de situação - recorte centro de São Paulo. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015, adaptada pela autora.

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

7- Teatro Municipal

8- Praça Ramos de Azevedo

9- Vale do Anhangabaú

10- Edifício Praça das Artes

11- Central de Correios

12- Largo do Paissandu

11

12

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124

Praça das artes

Arquitetos: Brasil Arquitetura e Marcos Cartum (representante da

Secretaria da Cultura)

Ano: 2006 - 2012

Localização: Avenida São João, 281 - República, São Paulo

Vias: Avenida São João, Rua Conselheiro Crispiniano e Rua Formosa

Tipologia: Educacional e Cultural

Altura: 04 a 50 m

Número de pavimentos: 02 a 13

Área do terreno: 7.210 m2 / 0, 72 ha

Área construída: 28.461,63 m² / 2,84 ha

Coeficiente de aproveitamento (CA): 4

População permanente (alunos + funcionários): 2500 hab

População transitória (população permanente + visitantes): 3000 hab

Densidade física permanente (população/área construída): 880,00 hab/ha

Densidade física transitória (população/área construída): 1056 hab/ha

3.2 Praça das Artes

3.2.1 Ficha técnica

A Praça das Artes consiste em um complexo cultural e educacional que

abriga grupos artísticos do Teatro Municipal de São Paulo; é sede da Escola

Municipal de Música, da Escola de Dança, da administração da Fundação

Teatro Municipal e do SP-Cine (TEATRO MUNICIPAL, 2015). Dessa maneira,

com o projeto atendeu-se a demanda de falta de espaço do Teatro Municipal

que era um problema que já vinha se estendendo há anos (Quadro 3.1).

O projeto da quadra Q27 consistiu na desapropriação de lotes e na restaura-

ção do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e da antiga fachada

do Cine Cairo, para conformar o grupo de volumes monolíticos. No seu en-

torno, existem outros edifícios tombados e com alto teor histórico, destacan-

do-se o edifício dos Correios (1922) e o Teatro Municipal (1911), obra de Ra-

mos de Azevedo. O conjunto abriga o Centro de Documentação, uma galeria

de exposições, restaurantes, cafés e um estacionamento, distribuído em dois

níveis de subsolo. Futuramente, no edifício a ser construído em nova fase,

abrigará a Discoteca Oneyda Alvarenga e um auditório para 250 pessoas.

Figura 3.2. Praça das Artes. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013.Quadro 3.1. Quadro Praça das Artes. Fonte: AUTORA, 2015 com base nos dados cedidos pela Administração da Praça das Artes, out. 2015.

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125Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

3.2.2 Implantação do edifício e traçado urbano

O terreno pertencia, até o início de 1970, ao Exército Brasileiro e foi usado

como área de transbordo de lixo e, ao ser transferido para o Município, o

edifício do Exército foi demolido, criando uma falha inicial no terreno. O

projeto da Praça das Artes, surge da conciliação de três elementos: terreno

com fundo de lote, lotes vizinhos e preservação do Conservatório Dramático

e Musical de São Paulo, objetivando a regeneração de uma zona central

(FERRAZ apud GALERIA ARQUITETURA, 2014).

Segundo o arquiteto Marcelo Ferraz (ARQ BACANA, 2013): “O projeto tem um

papel urbanístico importante de recuperar parte do centro, de mostrar que

esses fundos de lote, espaços ociosos, uma herança do nosso lote colonial,

podem se transformar em áreas densamente urbanas, em áreas de grande

atividade.” A complexidade do projeto consistia na apropriação do terreno

ocioso de maneira a criar um espaço com qualidade e funcionalidade urbana.

O terreno possui uma forma em formato de “T” e liga a Rua Conselheiro

Crispiniano à Avenida São João (liberada ao pedestre desde a iniciativa dos

anos 1970) e com a desapropriação de outros terrenos expandiu-se até a

Rua Formosa/Vale do Anhangabaú (esse trecho da praça ainda não está

realizada e será feita na próxima fase, que não tem data definida até o mo-

mento) (Figura 3.3).

Figura 3.3. Planta de situação. Fonte: CARVALHO, 2014, adaptada pela autora.

Rua Formosa

Rua Conselheiro Crispiniano

Praça das Artes

1

2

1- Teatro Municipal

2- Praça Ramos de Azevedo

3- Vale do Anhangabaú

4- Central de Correios

5- Largo do Paissandu

3

5

4

Aveni

da S

ão Jo

ão

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126

Figura 3.4. A quadra 27 e seu en-torno, São Paulo, 1925. Figura 3.5. Vista aérea São Paulo, 1930.Figura 3.6. Visual desde o edifício Martinelli, São Paulo, 1930.Fonte: NOSEK, 2013, p. 6-7, 22, 18-19, adaptada pela autora.

1

1- Viaduto do Chá

2- Teatro São José

3- Sede da Companhia Light

4- Palacete Prates

5- Cinema Cairo

6- Conservatório Dramático e

Musical

7-Departamento Fiscal

8- Praça dos Correios

9- Hotel Esplanada

1- Palacete Prates

2- Edifício Martinelli

3- Edifício Frontão Nacional

4- Cinema Cairo

5- Cinema Marrocos

6- Conservatório Dramático e

Musical

7-Departamento Fiscal

8- Central de Correios

9- Praça dos Correios

10- Edifício Companhia Light

11- Viaduto do Chá

12- Teatro Municipal

3

6

5

8

7

4

4

9

2

8

34

7

2

6

1

5

9

1

1

8

6

7

4

3

1210

11

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127Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

Figura 3.7. Imagem aérea. Fonte: NOSEK, 2013, p. 26, adaptada pela autora.1- Teatro Municipal

2- Praça Ramos de Azevedo

3- Vale do Anhangabaú

4- Central de Correios

5- Largo do Paissandu

6- Praça das Artes

7 - Edifício Martinelli

8- Viaduto Santa Efigênia

9- Mosteiro de São Bento

1

2

3

4

5

67

8

9

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128

Destaca-se nas figuras 3.4 a 3.7 que o projeto tem como desafio a aproxi-

mação com edifícios icônicos vizinhos que conformam a paisagem urbana.

Como salientado por Ferraz (apud OLIVEIRA, 2007), “não é preciso destruir

a cidade velha e construir uma nova: elas andam paralelamente.”

Buscando-se constituir um projeto com bom aproveitamento da quadra,

em que prevalecesse além do edifício, a praça, surge um desenho com um

miolo de quadra central que se distribui pelas três frentes de acesso, crian-

do um percurso permeável com urbanidade a ser seguido.

O percurso criado na quadra remete ao traçado modernista das galerias

comerciais, como apresentado no capítulo anterior, que ligavam ruas pa-

ralelas ou confluentes. Esse percurso, representado pela praça, “rasga” o

terreno e “costura” a malha urbana (Figuras 3.8 a 3.11).

O projeto da Praça das Artes não nasce de uma ideia pronta, ele se amolda

ao terreno, realizando conexões com o tecido urbano e seguindo o declive

Rua

Form

osa

Futura Expansão

Circulação - 60 % da área do pavimento térreo

Acesso- Blocos

Acesso pedestres

B Acesso estacionamentoE

B B

E

Av. São João

Rua

Cons

elhe

iro

Cris

pini

ano

Praça central

Figura 3.8. Planta pavimento térreo. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013, adaptada pela autora.

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129Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

natural. Tem caráter irradiador, pois, por meio do interior da quadra expandem-se

as conexões com as ruas circundantes. Para reforçar as articulações entre os espaços

interno e externo, os térreos dos volumes foram mantidos livres. Já os volumes dos

edifícios elevaram-se para que o térreo fosse livre para o pedestre.

Conforme salientado por Fanucci (apud INSTITUTO DE ENGENHARIA, 2013), o pro-

jeto consiste em : […] uma arquitetura intestina que vai entrando pelas entranhas e se apropria dos vazios. A Praça das Artes foi uma apropriação de um lugar como ele estava e se ofereceu, mas ao mesmo tem-po foi uma provocação de novas situações urbanas, uma pre-paração para futuras transformações naquele espaço urbano (FANUCCI apud INSTITUTO DE ENGENHARIA, 2013, s/n.)

O espaço público, decorrente da praça, é o elemento de destaque do projeto e,

como salientado por Luís António Jorge:

Espaço público é um intervalo: uma noção de espaço-tempo que pode ser representada por um vazio, uma abertura, uma ausência, uma suspensão, uma pausa no intenso fluxo da me-trópole (JORGE apud NOVEK, 2013, p. 68).

Figura 3.9. Percurso interno da quadra. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015.

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A praça transforma-se de um vazio central para um vazio urbano quando assume o papel de conexão den-

tro do perfil da cidade. Torna-se não apenas um lugar de passagem, mas de permanência, estimulando o

convívio e o encontro. Potencializam-se as trocas de experiências, já que a praça é usada para ensaios foto-

gráficos, por grupos artísticos, feiras, entre outros. Dessa maneira, a praça está constantemente mudando,

sendo altamente versátil e irradiando urbanidade (Figuras 3.12 a 3.14).

Figura 3.10. Planta primeiro pavimento. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013.

Figura 3.11. Planta segundo pavimento. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013.

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Figura 3.12. Panorâmica da praça - uso para ensaio fotográfico. Fonte: AUTORA, nov. 2015.

Figura 3.13. Praça sendo usada para o Mercado Mundo Mix Afro. Fonte: TEATRO MUNICIPAL, 2015.

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Figura 3.14. Inauguração Praça das Artes, apresentação Escola de dança. Fonte: SÃO PAULO, 2012.

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133Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

Permeabilidade - 60% da área do pavimento térreo

Figura

Figura

Fundo

Fundo

N

30 m

Figura 3.15. Praça das Artes - Figura e fundo. Figura 3.16. Praça das Artes - Espaço positivo- permeabilidade. Fonte: AUTORA, 2015.

3.2.3 Espaços positivos e permeabilidades

A permeabilidade predominante do projeto concentra-se na área destina-

da à praça (coberta e descoberta), representando 60 % (sessenta) do total

do pavimento térreo. A praça é a essência do projeto, estruturando e irra-

diando as conexões para o interior do edifício. Conforme salientado por

Alexander (1977), a praça neste caso funciona tanto como figura quanto

como fundo, atendendo ao conceito de reversibilidade e tornando-se um

espaço positivo (Figuras 3.15 e 3.16).

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134

3.2.4 Embasamento

Segmenta-se o programa em 07 (sete) volumes, que se distribuem escalo-

nadamente, conformando a espacialidade do projeto. Por meio da posição

e da fragmentação dos volumes, criam-se espaços de contraste, cheios e

vazios, que proporcionam qualidade ao projeto. As alturas dos volumes fo-

ram definidas pelas distâncias e alinhamentos com os edifícios vizinhos, de

maneira a não ofuscar a paisagem urbana existente. Conforme salientado

por Dornellas (apud FRAJNDLICH, 2013), “o projeto é moldado nos prédios

vizinhos” (Figuras 3.17 e 3.18).

Figura 3.17. Programa. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013.

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135Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

Figura 3.18. Programa detalhado. Fonte: INFRAESTRUTURA URBANA, 2012, adaptada pela autora.

Edifício Anexo/Administrativo:

13 andares com estrutura e vedação em concreto e grandes “panos de vidro”.

Programa: Hall de acesso com circulação (elevadores e escadas), sanitários, áreas de apoio às escolas, e áreas administrati-vas nos quatro últimos pavimentos.

Edifício Escola:

Cinco andares com estrutura e acabamen-to em concreto e revestimentos acústicos internamente.

Programa: Escola de música e dança do município de São Paulo, áreas administra-tivas e restaurante de todo o conjunto.

Edifício Auditório/Discoteca (a ser construído na nova fase):

Sete andares com estrutura e vedação em concreto. Auditório. Ampliação da escola de música e dança. Discoteca Oneyda Alvarenga.

Edifício conservatório (restaurado):

Sala de exposições no térreo.

Sala de concertos no 1o pavimento.

Centro documentação:

Acervo técnico e de partituras de todo o conjunto.

Praça com área construída de 2 mil m²

(a ser construída na nova fase).

Edifício Corpos Artísticos:

12 andares com estrutura e acabamento em concreto e revestimentos acústicos internamente.

Programa: Salas de ensaios da Orquestra Sinfônica Municipal, Orquestra Experi-mental de Repertório, óperas, Coral Líri-co, Coral Paulistano e balé da cidade.

PROGRAMA PRAÇA DAS ARTES

Praça Ramos de Azevedo

Rua Conselheiro Crispiniano

Avenida São João

Rua Formosa

Prédio 04 andares

Cine Cairo

Edifício sindicato dos comerciários

Sobrado 03 (antigo depósito dos comerciários)

Sobrado 02

Sobrado 01

Conservatório

Cine Saci

Limite do projeto Prédios demolidos

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Figura 3.19. Corte longitudinal, visual para Avenida São João. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015, adaptada pela autora.

Figura 3.20. Corte longitudinal. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015, adaptada pela autora.

Pórtico - Área coberta Pé-direito livre Praça - futura expansão

Pórtico - Área coberta Pé-direito livre

Pé- direito livre

Ave

nida

São

Joã

o

Rua

Form

osa

Rua

Cons

elhe

iro

Cris

pini

ano

Rua

Form

osa

Área Permeável

Área Permeável

10 m

5 m

10 m5 m

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137Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

3.2.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada

Desde a calçada da Avenida São João, a entrada é emoldura por um pórtico

de concreto, o qual segue o gabarito do Conservatório Dramático e Musical

e, torna-se um ponto de convite para adentrar a quadra, além de um espaço

de transição entre o espaço interior do exterior (CULLEN, 2009). Esse pórtico

se estende até o limite do lote, faceando com a empena cega do edifício

vizinho e cria um espaço de convívio e permanência coberto, com mobiliá-

rio urbano. Essa área diferencia-se do espaço a céu aberto, aproximando-se

da escala do pedestre, já que, ao ser coberto, o pé direito é reduzido. Esse

é um espaço que marca o contraste, já que ao avançar para ambas laterais,

desemboca-se em espaços abertos e com pé direito livre, que evidenciam a

verticalidade dos edifícios do seu entorno (Figuras 3.19 a 3.27).

Figura 3.21. Visual desde a calçada da Avenida São João. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013, adaptada pela autora.

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Figura 3.22. Visual desde o pórtico para a Rua Conselheiro Crispiniano. Fonte: AUTORA, out. 2015.

Figura 3.23. Visual desde a entrada pela Rua Conselheiro Crispiniano, para o pórtico. Fonte: AUTORA, out. 2015.

Empena Cega

Pórtico

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139Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

Edifícios vizinhos -verticalidade

Figura 3.24. Croqui- projeto. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013, adaptada pela autora.Figura 3.25. Croqui- projeto. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013, adaptada pela autora.

Conselheiro Crispiniano

São João

Conselheiro Crispiniano

Anhangabaú

São

João

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Figura 3.26. Panorâmica, conexão Rua Conselheiro Crispiniano e Avenida São João. Figura 3.27. Panorâmica, conexão Rua Conselheiro Crispiniano e Vale Anhangabaú. Fonte: AUTORA, nov. 2015.

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141Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

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142

O uso de concreto aparente nas fachadas confere-lhe identidade e per-

mite estabelecer um diálogo com os edifícios vizinhos, pois destaca a sua

contemporaneidade sem ter caráter opressor, já que ele estabelece uma

neutralidade. O concreto assume uma duplicidade de funções, sendo tanto

estrutura quanto vedação. Pode-se salientar que, a partir da neutralidade

da fachada, reforça-se a urbanidade do espaço.

Por sua vez, as lajes e as marquises tornam-se locais de sombra e proteção

aos pedestres, sendo, projetualmente, espaços vazios dentro dos cheios

(Figura 3.28). As janelas (aberturas), no entanto, foram projetadas para ga-

rantirem maior ligação e conexão entre interior e exterior. Conforme sa-

lientado por Fanucci (apud GALERIA ARQUITETURA, 2014), por meio delas

Figura 3.28. Visual desde a praça, destaque para os caixilhos e as passarelas/marquises.Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013, adaptada pela autora.

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143Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

revela-se o que ocorre dentro do prédio e, ao mesmo tempo, desde dentro, visuali-

za-se o movimento da cidade. A composição das aberturas “faz alusão à irregulari-

dade das partituras de John Cage” (WISNIK, apud FRAJNDLICH, 2013).

A composição das aberturas cria ritmo na fachada, interferindo na dinamicidade

urbana. Dessa maneira, o edifício (volume sólido) não se fecha para o seu entorno,

permitindo a contemplação do centro da cidade desde diferentes pontos visuais. O

edifício, portanto, recorta e filtra a cidade (Figuras 3.29 a 3.33).

Figura 3.30. Visual interna - aberturas. Fonte: GALERIA ARQUITETURA, 2014.

Figura 3.29. Visual interna - aberturas. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015.

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Figura 3.31. Visual para Anhangabaú, destaque do Edifício Martinelli. Fonte: NOVEK, 2013, NELSON KON, p. 90.

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145Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

Figura 3.32. Visual para Conselheiro Crispiniano. Fonte: NOVEK, 2013, NELSON KON, p. 84.

Figura 3.33. Visual para Conselheiro Crispiniano. Fonte: NOVEK, 2013, NELSON KON, p. 84.

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Figura 3.34. Visual desde a varanda para o Vale do Anhangabaú. Fonte: AUTORA, out. 2015.

Edifício Martinelli

3.2.6 Escala e paisagem urbana

A distribuição do projeto em volumes e a sua implantação permitiram a

articulação com a paisagem urbana, estabelecendo-se um diálogo entre o

novo e o antigo, em outras palavras, entre o contemporâneo e o patrimô-

nio histórico e cultural. Respeitando-se os gabaritos dos edifícios vizinhos,

o edifício Praça das Artes destaca-se, constituindo-se em espaços abertos e

fechados, determinados pelas diferentes alturas dos volumes, que direcio-

nam visuais distintas. A disposição dos volumes do projeto e a sua articula-

ção com os edifícios adjacentes ocorre pelos recuos, os quais conformam

vazios que recortam a cidade em diferentes ângulos e permitem o diálogo

com ela. Os recuos estabelecidos permitem o afastamento, soltando do

seu entorno o bloco monolítico (Figuras 3.35 e 3.36).

Desde a varanda, em direção ao Vale do Anhangabaú, consegue-se visua-

lizar o Edifício Martinelli (primeiro arranha-céu de São Paulo, figura 3.34). A

partir do tom avermelhado do concreto da torre vertical que comporta o

bloco de circulação do projeto, estabelece-se a relação visual entre ambos

edifícios (Figura 3.38).

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147Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

Recuo Recuo

Recuo

Figura 3.35. Elevação desde a Rua Formosa. Fonte: NETLAND, 2015, adaptada pela autora.

Figura 3.36. Elevação desde a Avenida São João. Fonte: NETLAND, 2015, adaptada pela autora.

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148

Estando dentro da quadra, por meio da conexão visual estabelecida, ex-

põe-se a essência do centro da cidade, a verticalidade dos edifícios e a pre-

dominância do concreto (Figura 3.37).

Ao mesmo tempo, desde a Avenida São João visualiza-se o skyline da ci-

dade de São Paulo, destacando-se os edifícios analisados neste trabalho,

Edifício Copan e Itália (Figura 3.38).

Ainda que as conexões entre o projeto Praça das Artes, o Teatro Municipal

e a Central de Correios não sejam físicas, se articulam a partir do vazio ur-

bano (Figura 3.39).

Mantendo uma verticalidade média, o projeto Praça das Artes não sobre-

põe sua volumetria acima dos monumentos, mas, ainda assim, se destaca,

tanto pelo material escolhido, quanto pela articulação dos volumes, ou

seja, pelos elementos que auxiliam na urbanidade.

Figura 3.37. Visual desde a Rua Conselheiro Crispiniano. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013.

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149Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

Edifício Copan Edifício Itália Torre avermelhada (Praça das Artes)

Teatro Municipal

Central de Correios

Central de Correios

Figura 3.38. Visual desde o Edifício Martinelli. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013, adaptada pela autora.Figura 3.39. Vista aérea com inserção do projeto. Fonte: NETLAND, 2015, adaptada pela autora.

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150

D

Rua

Cons

elhe

iro

Cris

pini

ano

H

H

Utilizando-se do conceito do Ashihara (1982), D/H= 13,5/10 m = 1.35 e 35/10

m = 3.5, o coeficiente resultou em um número maior do que 1 (um) e, se-

gundo Ashihara (Ibidem), esse coeficiente permite ter uma percepção de

que o espaço de separação é maior. A implantação do edifício e o recuo

do bloco vertical permitiram um respiro na quadra, contribuindo para a

percepção do espaço (Figuras 3.40 e 3.8).

Figura 3.40. Praça das Artes - Relação distância e altura. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015, adaptada pela autora. 20 m10 m

05 m

Figura 3.8. Planta pavimento térreo. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013.

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151Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

Figura 3.41. Vista Praça das Artes. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013.

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152

3.3 Síntese de urbanidade nos edifícios analisados

Percebe-se que os edifícios tiveram, em ambas categorias, a capacidade de

estabelecer relações com o seu entorno a partir da articulação da malha

urbana, da criação de percursos e da sua configuração espacial. Assim, os

edifícios, como descrito por Lynch (2006), por meio dos componentes de

estrutura e identidade, compuseram a imagem urbana.

Os percursos criados tornaram-se espaços coletivos, expandindo as re-

lações do interior da quadra para o exterior e, dessa maneira, criaram-se

espaços fluentes (VENTURI, 2004), irradiando conexões que representam

urbanidade. Em outras palavras, a morfologia da cidade adentrou-se e

dissolveu-se nos edifícios. As permeabilidades, por sua vez, remontam a

característica de formação da cidade tradicional e estiveram presentes em

todos os edifícios. A partir das galerias, ou mesmo da praça criada no edifí-

cio Praça das Artes, recortou-se a cidade, permitindo a conexão entre dife-

rentes vias e pontos da cidade.

Dessa maneira, o Edifício Copan surge como uma experimentação que se

acerta com as formas da cidade tradicional, o Edifício Itália adquire a for-

ma urbana e a Galeria Metrópole vai além da morfologia no nível térreo,

introduzindo a rua elevada. Esses edifícios transcenderam o caráter monu-

mental para estabelecerem associações. O edifício Praça das Artes, por sua

vez, faz uma revisão dos conceitos de cidade tradicional, malha urbana e

percursos urbanos.

É na malha urbana e na cidade que se estabelecem as relações de legibilida-

de e legitimidade do espaço. O espaço urbano precisa apresentar urbanida-

de, entendida dentre as suas características, como valor e direito, objetivan-

do ser universal a todos os cidadãos.

Os edifícios inserindo-se na malha urbana, têm como responsabilidade ar-

ticular a vida urbana. E conforme apontado no capítulo 1 (um) destacam-se

três elementos: escala, permanência e poder de propulsão (FRANCO, 2005),

que permitem estabelecer relações e criar espaços com urbanidade. O ter-

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153Capítulo 3 A

nálises - Repertório Contemporâneo

mo escala, nos edifícios analisados, esteve presente na forma em que os

arquitetos embasaram o programa em diferentes volumes e como permi-

tiram as conexões com seu entorno, a paisagem urbana. Destacando-se

nos edifícios modernos a contraposição entre público e privado, represen-

tados na forma projetada em volume horizontal (comercial/uso público) e

vertical (privado - escritórios ou residências). Ocorreu, assim como na Praça

das Artes, a sobreposição de usos e funções. A criação dos espaços coleti-

vos, semipúblicos e com funcionalidades, permitiu torná-los em espaços

de permanência, que se relacionam com a morfologia urbana. Isto é, locais

com usos e estimuladores de encontros que possam não só acentuar a vi-

talidade urbana, como também beneficiar aos pedestres. Dessa maneira, o

espaço construído relaciona-se com o espaço público, garantindo-lhe qua-

lidade ao edifício e a cidade. E nessa articulação, os objetos arquitetônicos

têm a capacidade de reverberar e de propulsionar as relações urbanas, in-

centivando as conexões entre as diferentes escalas: rua, edifício, cidade,

metrópole (VIÉGAS, 2003).

Destaca-se que a cidade tradicional, inevitavelmente, cria relações de ur-

banidade. A cidade precisa funcionar como um sistema (FRANCO, 2005)

em que seus elementos devam se articular como um todo e estruturar

o ambiente construído. O edifício, a partir dos seus coeficientes, sua im-

plantação, suas permeabilidades, sua forma, sua escala, entre outros, tem

a capacidade de se relacionar com a paisagem urbana e de criar relações

de urbanidade. Conseguindo, assim, trazer a cidade para seu interior. Na

conformação de urbanidade a forma material do edifício abstrai-se, já que

a expressão e as relações criadas se sobrepõem, prevalecendo e perpe-

tuando na cena urbana.

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4DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Figura 4.1. Visual da região central de São Paulo desde a cobertura do Edifício Copan. Fonte: AUTORA, maio. 2015.

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4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Verticalização e densidade física (permanente e transitória)

Como foi observado, os edifícios em análise possuem alta verticalidade e

variam uns dos outros em relação a sua densidade física. As densidades

alteram-se também de acordo com a inserção do fluxo transitório diário.

Porém, os edifícios que sobressaíram-se, em termos de densidade, foram o

Edifício Itália e a Praça das Artes. A densidade da Galeria Metrópole sofreu

uma oscilação maior, decorrente do uso do edifício para o horário de almo-

ço (Gráficos 4.1 e 4.2).

Gráfico 4.1. Comparação das densidades físicas permanentes. Fonte: AUTORA, 2015.

Gráfico 4.2. Comparação das densidades físicas transitórias. Fonte: AUTORA, 2015.

450,00

923,00

342,00

880,00

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

900,00

1.000,00

Ed. Copan Ed. Itália Galeria Metrópole Praça das Artes

Comparação densidade física permanente (hab/ha)

708,00

1.538,001.481,00

1.056,00

0,00

200,00

400,00

600,00

800,00

1.000,00

1.200,00

1.400,00

1.600,00

1.800,00

Ed. Copan Ed. Itália Galeria Metrópole Praça das Artes

Densidade física transitória (hab / ha)

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157

19

22

7,60

4,00

0

5

10

15

20

25

Ed. Copan Ed. Itália Galeria Metrópole Praça das Artes

Comparação coeficiente de aproveitamento (CA)

Gráfico 4.3. Comparação dos coeficientes de aproveitamento. Fonte: AUTORA, 2015.

Os edifícios modernos (Copan, Itália e Galeria Metrópole), ultrapassaram

os coeficientes 6 (seis) e 4 (quatro), conforme descrito no Projeto de Lei n°

5.261. É evidente que, caso os edifícios analisados fossem decorrentes da

legislação atual, não poderiam ter sido construídos nesta configuração (Grá-

fico 4.3), tanto pelo descumprimento dos coeficientes quanto por não res-

peitarem os recuos obrigatórios.

Evidencia-se que o edifício Praça das Artes, apesar de ter o menor coe-

ficiente de aproveitamento, conseguiu atingir alta densidade (resultados

maiores que 250 hab/ha). Esse edifício é também o que apresenta menor

verticalidade, sendo que, devido à distribuição da espacialidade do proje-

to no terreno, permitiu-se o maior aproveitamento do solo e da densidade

(Gráficos 4.1 a 4.4).

Destaca-se que, como no caso da Praça das Artes, a qualidade do projeto

não fica comprometida pela legislação e pode-se multiplicar a área do terre-

no em prol de área construída com qualidade.

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158

Gráfico 4.4. Comparação das alturas. Fonte: AUTORA, 2015.

130

168

76,50

50

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Ed. Copan Ed. Itália Galeria Metrópole Praça das Artes

Altura (m)

Os 04 (quatro) edifícios modernos ultrapassaram dos 50 (cinquenta) me-

tros de altura (Gráfico 4.4), mas atingiram, proporcionalmente, densidades

menores. Portanto, destaca-se mais uma vez que a verticalidade não de-

termina a densidade, ela apenas é um instrumento.

Em termos volumétricos, a distribuição do edifício Praça das Artes (Figura

4.5) aproxima-se mais do modelo número 03 (três) do desenho de Richard

Rogers (Figura 4.6) em que a partir de uma relação entre o número de vo-

lumes médios e uma altura média, atingem-se densidades satisfatórias e o

espaço não ocupado fisicamente é liberado para praças, jardins internos,

entre outros. Já os edifícios Copan, Itália e Galeria Metrópole se aproxi-

mam do modelo 01 (um), o qual trata-se de um volume único, altamente

verticalizado (Figuras 4.2 a 4.4).

Destaca-se que o modelo de número 03 (três) representa uma melhor dis-

tribuição do projeto, em volumes, pelo território, permitindo a concepção

de edifícios com áreas permeáveis, que podem ser usadas para a criação

de espaços semipúblicos com urbanidade.

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159Capítulo 4 D

iscussão dos resultados

1

2

3

1 11

3

Figura 4.2. Edifício Copan. Fonte: AUTORA, 2015.Figura 4.3. Edifício Itália. Fonte: AUTORA, 2015.Figura 4.4. Galeria Metrópole - Maquete. Fonte: SERAPIÃO, 2011, p. 53, adaptada pela autora.Figura 4.5. Praça das Artes. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013, adaptada pela autora.Figura 4.6. Comparação das densidades e alturas (alta, baixa e média). Fonte: ROGERS, 1999, adaptada pela autora.

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160

Gráfico 4.5. Comparação da área do terreno versus a área construída. Fonte: AUTORA, 2015.

6006,35

2.382,00

4.627,21

7.210,00

116.152,00

52.000,00

35.151,00

28.461,63

0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000

Ed. Copan

Ed. Itália

Galeria Metrópole

Praça das Artes

Comparação área do terreno versus área construída

Área construída (m²) Área do terreno (m²)

No gráfico 4.5, visualiza-se a desproporção dos edifícios entre a área do terre-

no e a área construída, tendo o edifício Copan com a maior diferença. Porém,

ao ser bem articulada, essa desproporção permitiu que os edifícios criassem

espaços semipúblicos com qualidade e vitalidade, respectivamente.

Destaca-se que deve ocorrer uma relação entre a verticalização, a

densidade e o poder público. Esse último, a partir da legislação, tem que

disciplinar o processo de verticalização, por meio de zoneamentos e

definição de gabaritos. Ele assume o papel de destaque quando é gestor

do desenvolvimento. Porém, as legislações não podem ser privativas, de

maneira a não permitirem maiores densidades mesmo que exista tanto o

espaço físico quanto a necessidade para tal. Caso contrário, repercutirmos o

fenômeno da atualidade, a estandardização da fisionomia urbana, dominada

pelo mercado imobiliário, negligenciando as necessidades urbanas. A

legislação acaba muitas vezes amarrando as construções e interferindo

diretamente na dinâmica urbana. A falta de planejamentos adequados

contribui para a expansão do espaço residual, conforme denominado pelo

Koolhas (2013), de espaço lixo.

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161Capítulo 4 D

iscussão dos resultados

4.2 Espaços positivos e permeabilidades urbanas

Apesar de os edifícios modernos serem implantados com maior aprovei-

tamento e ocupação no seu lote, a articulação entre a rua/calçada com o

espaço interno permitiu as permeabilidades e a dissolução das barreiras

público-privadas. Já a Praça das Artes, por meio do percurso interno, tor-

nou-se permeável e irradiadora de conexões urbanas. Esse último, por sua

vez, é um edifício contemporâneo que adquire características modernas, na

conservação da conformação da quadra, possibilitando a criação do espaço

positivo. No caso da Galeria Metrópole, a não restrição dos espaços coleti-

vos ao pavimento térreo e sua continuação pelos 04 (quatro) pavimentos,

ampliou as permeabilidades e as conexões visuais, possibilitando maiores

fluxos urbanos. O recurso utilizado pelos arquitetos, compreendido pelos

terraços, marquises, passarelas e caixilhos, aumentou a conectividade entre

o interior do projeto e o exterior, além de recriar diferentes pontos de con-

templação da paisagem urbana.

A leitura desses edifícios no tecido urbano incentiva o questionamento do

papel do arquiteto e urbanista. Precisa-se, ao projetar a cidade, não se esque-

cer do quadro geral e da criação de elementos na arquitetura, as chamadas

gentilezas urbanas, que permitem maiores proximidades com a escala hu-

mana e conexões com a cidade. Dessa maneira, desenham-se espaços com

caráter coletivo e urbano, valorizando os encontros e ao pedestre.

4.3 Paisagem, percepção e urbanidade

A integração dos edifícios analisados na paisagem urbana faz com que eles

não sejam apenas materializações de dados numéricos (densidade construí-

da, verticalização, coeficiente de aproveitamento, entre outros) e sim objetos

de percepção, conexão, convívio e urbanidade.

A menor complexidade ornamental, característica do movimento moderno,

e que repercutiu na contemporaneidade, permitiu também uma melhor in-

tegração. Como salientado anteriormente, os edifícios modernos dialogam

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162

com a cidade até os dias atuais. Eles se destacam do seu entorno, mas não bloqueiam as relações dos

edifícios circundantes existentes.

Os edifícios analisados, ao dialogar com a paisagem urbana, têm vitalidade, dinamicidade, qualida-

de e urbanidade. O espaço público, portanto, adentra e solidifica-se na construção multiuso, crian-

do um espaço coletivo, possibilitando-se, assim, relações de escala diferentes: rua/avenida; quadra,

edifício, metrópole (VIÉGAS, 2003). A arquitetura possui grande responsabilidade no âmbito urba-

no, portanto sua concepção deve ser coerente, tanto nas questões espaciais quanto funcionais.

Nos dias atuais predominam maus exemplos e esse círculo vicioso deve terminar.

Compreender os edifícios como figuras da paisagem urbana significa atribuir-lhes um caráter

de integração. O desmembramento da figura em espaços “sensíveis”, articuláveis e com usos

permite o estabelecimento de relações entre o espaço interior e o exterior. Com a fabricação das

ambiências, aumenta-se a vitalidade dos espaços urbanos. Como salientado por Ursini (2012, p.

5), o espaço é considerado “franco” quando apresenta “titularidade privada mas com conotações

públicas de uso”. Destaca-se, portanto, a importância dos usos para qualificar os espaços e

estimular as conectividades urbanas.

Objetiva-se que deve ocorrer uma integração entre os elementos quantitativos (verticalização e

densidade) com o qualitativo (percepção). Essa integração, e a devida interpretação dos ambien-

tes, é que permitirá construir urbanidade. Pode-se destacar que os conceitos por si só não são

capazes de criar urbanidade, tornando-se apenas indicadores. No entanto, quando se integram e

se equacionam, interferem na conformação urbana. São codependentes, pois a verticalização não

se sustenta se não há densidade e o espaço precisa ser percebido para ter significado.

Um dos desafios das cidades é criar projetos com urbanidade, ultrapassando as funções primárias

para que contemplem “uma articulação sistêmica na mesma medida em que confiram significado

às formas de uso cotidiano da cidade” (FRANCO, 2005, p. 254, adaptada pela autora).

4.4 Urbanidade centrípeta e centrífuga

Ao longo das análises, percebeu-se que a primeira categoria apresenta uma urbanidade centrípe-

ta, ou seja, a permeabilidade e as conexões ocorrem dentro do espaço interno, o pavimento tér-

reo. No entanto, a Praça das Artes se expande centrifugamente, tendo como ponto de conversão

o interior da quadra permeável, a partir do qual as conexões com os pavimentos térreos e as ruas

circundantes estabelecem-se.

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163Capítulo 4 D

iscussão dos resultados

PERMEABILIDADES URBANIDADE

EDIFÍCIO COPAN CENTRÍPETA

CENTRÍPETA

CENTRÍPETA

CENTRÍFUGA

EDIFÍCIO ITÁLIA

PRAÇA DAS ARTES

GALERIA METRÓPOLE

Tabela 4.1. Urbanidade centrípeta e centrífuga. Fonte: AUTORA, 2015.

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164

- Percurso interno- Térreo dinâmico - alto- Permeabilidade - 26% - Terraço - baixo- Cobertura (acessível mesmo que seja controlada ao público)

- Percurso interno- Térreo dinâmico - moderado- Permeabilidade - 33%- Varanda- moderada- Terraço- moderado (exclusivo)- Cobertura (acessível mesmo que seja controlada ao público)

- Percurso interno e praça urbana - Térreo dinâmico - alto- Permeabilidade - 60%

- Percurso interno- Térreo dinâmico - alto- Pavimentos superiores dinâmicos- Permeabilidade - 43%- Sobrelojas - funcionam comoterraços ativos- Cobertura (não acessível)

Tabela 4.2. Síntese dos 04 (quatro) edifícios analisados. Fonte: AUTORA, 2015.

- Pé direito duplo- Marquise - localizada-Brises

- Pé direito duplo- Marquise - localizada- Brises

- Pé direito duplo- Marquises- Praça- Caixilhos

- Pé direito duplo- Marquise - perimetral- Vazio central

PERMEABILIDADES ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS

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165Capítulo 4 D

iscussão dos resultados

EDIFÍCIO COPAN

EDIFÍCIO ITÁLIA

PRAÇA DAS ARTES

GALERIA METRÓPOLE

02 (dois) (horizontal + vertical)

- Praça da República- Edifício Itália- Edifício Ipiranga 165- Avenida Ipiranga, Vila Normanda, Rua Araújo e Rua Unaí

- Praça da República- Edifício Copan- Edifício Ipiranga 165- Avenida Ipiranga e Avenida São Luís

- Rua Formosa- Rua Conselheiro Crispiniano- Avenida São João-Teatro Municipal- Vale Anhangabaú- Praça Ramos de Azevedo

- Praça Dom José Gaspar- Biblioteca Mário de Andrade- Avenida São Luís e Rua Basílico da Gama

03 (três)(01 horizontal + 02 verticais)

07 (sete) (horizontal + vertical)

02 (dois) (horizontal + vertical)

RELAÇÕES IMEDIATAS COM A PAISAGEM URBANA

NÚMERO DE VOLUMES

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166

A dissertação tratou, em um primeiro momento, de definir os 03 (três) conceitos es-

colhidos, verticalização, densidade e percepção. Eles foram selecionados para cons-

truir o conceito de urbanidade. Como a cidade em que foram analisados os edifícios

trata-se de São Paulo, o conceito de verticalização é de suma importância. Nessa ci-

dade, os edifícios, na sua maioria, são verticais porém não possuem densidade. Este

último conceito, tem fomentado altas discussões, pois, ao projetar com densidade,

potencializa-se o uso do terreno, liberando o espaço para as permeabilidades. A per-

cepção, por sua vez, se articula a partir da ótica, das sensações criadas e das relações

realizadas entre os objetos e os observadores.

Partindo-se dos 03 (três) conceitos e compreendendo-se que um projeto urbano

depende do objeto arquitetônico e dos elementos morfológicos, conceituou-se a

urbanidade. Para conseguir visualizar esse conceito na realidade urbana, foram reali-

zadas análises de 04 (quatro) edifícios. Os 03 (três) primeiros comportaram o período

moderno (Edifício Copan, Itália e Galeria Metrópole) e o quarto edifício foi projetado

e construído na contemporaneidade (Praça das Artes). A análise dos dois períodos

permitiu compreender como as relações urbanas se preservam ao longo do tempo

e também quais características reverberam nos projetos atuais. Expõe-se que desde

o seu início, o projeto da Praça das Artes não teve um perímetro claro para a sua

construção, tendo que se adaptar ao longo do processo projetual e articular-se com

o entorno predominante. Os edifícios modernos, no entanto, tiveram uma quadra

definida e surgiram antes da conformação do centro. Embora os edifícios modernos

e o contemporâneo sejam de épocas diferentes e pensem a cidade de maneira diver-

sa, ambas categorias “respeitam e se inserem” na morfologia da cidade tradicional,

destacando-se como virtude a relação intrínseca entre a arquitetura e a cidade, pro-

movendo essa articulação “necessária” para a urbanidade.

As semelhanças entre ambos os períodos deram-se pelos seguintes elementos: per-

meabilidades, conexões entre o espaço interno e o externo, conformação da quadra,

segmentação do projeto em volumes, altas densidades, tratamento de fachada, en-

tre outros, distinguindo-se entre elementos quantitativos, qualitativos, perceptivos e

estéticos que se tornaram os indicadores de análise. Esses apresentaram relações de

escala e permanência, além de destacarem-se como elementos irradiadores e propul-

sores de urbanidade, permitindo que os edifícios ultrapassassem a formalidade para

efetuar relações urbanas que acentuam o diálogo entre o edifício e a cidade, passando

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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167

da escala local para a urbana (FRANCO, 2005). Assim, com maior diálogo, maiores são as dinâmicas urba-

nas, induzindo a vitalidade na paisagem urbana.

As altas densidades dos edifícios distribuíram-se pelos volumes projetados. No caso dos edifícios

modernos, as alturas atingidas são maiores e as densidades são altas, porém o edifício Praça das

Artes, com menores alturas, sobressaiu-se na densidade. Acentua-se que a verticalização não só

precisa se relacionar com a densidade para que o projeto tenha qualidade, como também depende

dela para se sustentar.

Destaca-se que os coeficientes são representativos da potencialidade e capacidade que cada edi-

fício comporta. A forma que esses recursos são articulados é que permite salientar as relações de

urbanidade, valorizando a cidade e seus cidadãos. A relação de Ashihara (1982) compreendida por

D/H é um exemplo claro disso, já que os coeficientes resultantes não mensuraram as espacialidades

criadas, dependendo da implantação, volumetria e distribuição do programa de cada edifício. A

maneira em que os recursos são usados, ou seja as densidades, os coeficientes, entre outros, é que

permitirá valorizar a vida urbana.

Ressalta-se que projetar qualificadamente significa projetar com urbanidade, por meio da articulação

dos recursos. Os edifícios não podem ser pensados isoladamente, eles precisam se articular com o seu

entorno, a paisagem urbana. Eles não foram concebidos de maneira autônoma, não fecham-se em si

mesmos, e sim integram-se e relacionam-se com o espaço urbano. As análises, por sua vez, serviram

como lições dos elementos representativos de urbanidade. E, como apontado, podem existir duas

formas de urbanidade: centrípeta e centrífuga. Na primeira, as forças convergem para o centro, na

segunda, a partir do centro se espalham. Essa distinção é importante, pois as relações de urbanidade

aumentam quando o espaço público transcende do interior do edifício e se espalha pela quadra.

Expõe-se que o arquiteto tem como responsabilidade ética desenhar espaços públicos. Uma cidade

que segrega e não se articula não tem urbanidade. Ela torna-se obsoleta e é a relação entre os elemen-

tos e os conceitos que permite desenhar a cidade urbanamente, e não apenas quantitativamente. A

cidade surge de números e coeficientes, porém não pode ser dominada pelos mesmos. Projetar com

urbanidade destaca-se como um dos desafios atuais das cidades. E se não ocorrer a integração entre

os objetos construídos e o espaço urbano, essa relação não é possível, comprometendo a qualidade da

cidade. O edifício, portanto, tem o papel de articulador e estruturador para a construção de urbanida-

de. As relações na cidade são mais significativas do que o edifício em si, já que a expressão do mesmo

no espaço urbano sobressai a forma.

Estendendo-se o debate, abre-se a possibilidade de novas investigações que objetivem compreender

novos elementos conformadores de urbanidade.

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Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

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