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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
VITOR BRUNO MARQUES DA COSTA
INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS
CURITIBA
2018
VITOR BRUNO MARQUES DA COSTA
INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientador:: Prof. Dr. Rafael Knorr Lippmann.
CURITIBA
2018
TERMO DE APROVAÇÃO
VITOR BRUNO MARQUES DA COSTA
INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no Curso de Graduação em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, de de 2018.
Bacharelado em Direito
Universidade Tuiuti do Paraná
_________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite
Coordenação do Núcleo de Monografia Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito
_________________________________ Orientador: Prof. Dr. Rafael Knorr Lippmann
Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito
_________________________________ Examinador: Prof. (a). Dr. (a). Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito
_________________________________ Examinador: Prof. (a). Dr. (a). Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por proporcionar um Universo repleto de
conhecimento e sabedoria, por estar cuidando de nós nos dias de apreensão e
nos preparando para a glória.
Ao meu pai Wilson, por me proteger, acompanhar e investir respeito e
amor incondicional, também por todos os seus ensinamentos.
À minha família por todo amparo e parceria nessa caminhada.
À instituição de ensino Universidade Tuiuti do Paraná, a qual fiz
grandes amigos que hoje são uma segunda família. Por todos funcionários da
instituição, bem como o corpo docente da Faculdade de Direito da UTP, pela
orientação e apoio.
“O sentimento de igualdade de direitos, ou de pessoa, na mais extrema
desigualdade de fortuna e condição, é o fundo da dignidade anglo-saxônia”.
(Joaquim Nabuco)
RESUMO
O Novo Código de Processo Civil, Lei nº 13.105, de 16 de Março de
2015, trouxe uma novidade oriunda do Direito Comparado, fundamentado no
modelo alemão conhecido como "Musterverfahren".
A elevada quantidade de processos com demandas idênticas muitas
vezes resulta em insegurança jurídica quanto a qualidade das decisões, bem
como na divergência destas de acordo com a turma de magistrados, mesmo
quando a questão litigiosa é semelhante.
Este instituto promete dar maior isonomia nas decisões e, por
conseguinte, segurança jurídica para o processo judicial brasileiro.
Principalmente por se tratar de uma técnica processual com natureza objetiva,
no intuito de fixar tese jurídica, de modo vinculativo com a sua aplicação
obrigatória nas demandas em que se discutam questão jurídica de direito.
Embora o tema seja novo e a biblioteca sofra com escassez do tema, o
estudo buscou por palestras em simpósios de direito constitucional e
processual civil, dissertações, artigos e monografias de mestres e doutores
especialistas e processualistas civis, bem como livros que tratam deste novo
instituto.
O IRDR sendo admitido pelo tribunal, suspenderá todos os processos
que tenham a mesma questão de direito, no Estado ou Região, pelo prazo
máximo de (01) ano, podendo ser prorrogado e, inclusive, estendido a outros
estados ou regiões. O Tribunal julgando o incidente, fixará tese jurídica a ser
aplicada em todos os processos suspensos e futuros. Da decisão caberá
recursos pelos legitimados e reclamação no caso do descumprimento da tese
pelos juízes.
PALAVRAS-CHAVES: Instituto de Resolução de Demandas Repetitivas,
IRDR, Processo Civil, Precedentes, Musterverfahren, Direito Comparado,
Precedentes Obrigatórios.
ABSTRACT
The new Code of Civil Procedure, Law nº. 13.105, of March 16, 2015,
brought a novelty derived from Comparative Law, based on the German model
known as "Musterverfahren".
The high number of cases with identical claims often results in legal
uncertainty as to the quality of decisions as well as their divergence according
to the class of magistrates, even when the issue in question is similar.
This institute promises to give greater isonomy in the decisions and,
therefore, legal security for the Brazilian judicial process. Mainly because it is a
procedural technique with an objective nature, in order to establish a legal
theory, in a binding way with its mandatory application in the demands in which
the legal issue of law is discussed.
Although the subject is new and the library suffers from a shortage of
the subject, the study has sought lectures in symposia of constitutional and civil
procedural law, dissertations, articles and monographs of master and doctoral
specialists and civil proceduralists, as well as books dealing with this new
institute .
The IRDR being admitted by the court, will suspend all cases that have
the same issue of law, in the State or Region, for a maximum period of (01)
year, and may be extended and extended to other states or regions. The Court
deciding the incident, will establish legal theory to be applied in all suspended
and future proceedings. The decision will be up to the appeals by the
legitimates and a complaint in the case of the non-compliance of the thesis by
the judges.
KEY WORDS: Repetitive Demands Resolution Institute, IRDR, Civil Procedure,
Precedents, Musterverfahren, Comparative Law, Precedents Required.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 09
2. DIREITOS HOMOGÊNEOS 11
3. O MODELO PROCESSUAL ALEMÃO: MUSTERVERFAHREN 13
4. O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS 16
4.1 NATUREZA JURÍDICA E O CONCEITO 16
4.2 CABIMENTO E PRESSUPOSTOS OBJETIVOS 21
4.3 LEGITIMIDADE 24
4.3.1 TERCEIROS INTERESSADOS 25
4.3.2 AMIGO DA CORTE 26
4.4 COMPETÊNCIA 27
4.5 PROCEDIMENTO E LIMITES TEMPORAIS 28
4.6 JULGAMENTO E A APLICAÇÃO DA TESE JURÍDICA 31
4.7 RECURSOS 34
4.7.1 LEGITIMADOS RECURSAIS 35
5. IRDR NO ESTADO DO PARANÁ 37
6. CONCLUSÃO 43
REFERÊNCIAS 46
9
1. INTRODUÇÃO
O legislador pensou no Instituto de Resolução de Demandas Repetitivas
(IRDR) como um instrumento processual que visa a motivação de precedente
obrigatório, de modo a uniformizar a jurisprudência e reduzir o excesso de
recursos nos tribunais de segunda instância1, bem como no Superior Tribunal de
Justiça e Supremo Tribunal Federal. Por conseguinte, trazendo maior segurança
jurídica nas decisões proferidas pelo judiciário.
Os princípios basilares mais pretendidos pelo judiciário brasileiro é a
busca pela celeridade, eficiência e isonomia processual2. Embora o IRDR venha
suspender3 a tramitação de todos os feitos que versem sobre a mesma
controvérsia em todo estado ou região, ulteriormente poderá contribuir com os
princípios da economia processual e da duração razoável do processo4, de modo
que o sistema jurisdicional eleve-se a um patamar mais coerente e harmônico5.
Cabe entretanto analisar que aumento das demandas processuais em
ações individuais que versem sobre o mesmo tema em litígio, continuarão a ser
propostas gerando milhares de sentenças individuais. Nesse viés, permanecerá a
burocratização da jurisdição, o que pode inviabilizar que novel instituto garanta a
1 Não obsta destacar que o IRDR ajudará a dirimir que o processo delongue, reduzindo a
tramitação dos atos e manifestações a respeito da tese jurídica firmada, confiando ao processo e aos jurisdicionados decisões de forma rápida, conveniente e respeitável. 2 TEMER, Sofia. Incidente de resolução de demandas repetitivas. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016,
p. 39. 3 Lei n. 13.105, de 16 de Março de 2015, Código de Processo Civil: Art. 980. O incidente será
julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus. Parágrafo único. Superado o prazo previsto no caput, cessa a suspensão dos processos prevista no art. 982, salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário. 4 Segundo o levantamento do “Selo Justiça em Números” do Conselho Nacional de Justiça, ipsis
litteris: "O tempo do processo baixado no Poder Judiciário é de 1 ano e 9 meses na fase de conhecimento e de 4 anos e 10 meses na fase de execução no 1º grau de jurisdição e de 8 meses no 2º grau. No que se refere ao tempo de duração dos processos que ainda estão pendentes de baixa, o termo final de cálculo foi 31 de dezembro de 2016. Observa-se que o Poder Judiciário apresentou tempo do estoque superior ao da baixa tanto no 2º grau, com 2 anos e 5 meses de duração (3,6 vezes superior ao tempo de baixa), quanto no 1º grau, nas fases de conhecimento, com 4 anos e 4 meses (2,5 vezes superior ao tempo de baixa), e de execução, com 7 anos e 4 meses (1,5 vez superior ao tempo de baixa). Disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros. Acesso em 18.março.2018. 5 MENDES, Aluísio Gonçalves de Castro; RODRIGUES, Roberto de Aragão ribeiro. Reflexões
sobre o incidente de resolução de demandas repetitivas previsto no projeto de novo código de processo civil. RePro. Vol. 211, set/2012, p. 191, in TEMER, Sofia. Incidente de resolução de demandas repetitivas. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016, p. 39.
10
duração razoável do processo, haja vista que o IRDR decidirá exclusivamente
sobre questão comum de direito6.
É nesse sentido que podemos abordar o grande avanço do IRDR, o
processo coletivo no incidente tem a prolação de sentença única que define a
questão controvertida de direito, ou seja, aplica tese jurídica de modo definitivo,
respeitando o interesse da coletividade por uma segurança jurídica que,
consequentemente, prestará eficácia aos recursos públicos atendendo a duração
razoável do processo7.
Com isso o Novo Código de Processo Civil8, enxergando a necessidade
de adaptar os instrumentos processuais concernentes ao sistema judiciário
brasileiro provindo do CPC/73, trouxe o tema do Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas (IRDR), consequência do Direito Comparado, baseado no
modelo alemão conhecido como "Musterverfahren"9.
A necessidade deste instrumento no sistema atual foi regrada pelo
legislador, ao observar o excesso10 e a pluralidade de ações com pretensões
individualizadas, cuja matéria de direito seja idêntica11, inclusive visualizando o
6 TESHEINER. José Maria; MUA. Cíntia Teresinha Burhalde. Incidente de resolução de
demandas repetitivas e ação coletiva relativa a direitos individuais homogêneos: diálogo integrativo. Diálogo Integrativo. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 2016. p. 8. Disponível em < https://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/tribunal_de_justica/centro_de_estudos/publicacoes/doc/Dialogo_integrativo.pdf > Acesso em 29 de Abril de 2018. 7 TESHEINER. José Maria; MUA. Cíntia Teresinha Burhalde. Incidente de resolução de
demandas repetitivas e ação coletiva relativa a direitos individuais homogêneos: diálogo integrativo. Diálogo Integrativo. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 2016. p. 10. Disponível em < https://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/tribunal_de_justica/centro_de_estudos/publicacoes/doc/Dialogo_integrativo.pdf > Acesso em 29 de Abril de 2018. 8 Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm 9 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro e RODRIGUES, Roberto Aragão Ribeiro, In “Reflexões
sobre o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas previsto no Projeto de Novo Código de Processo Civil. Revista de Processo 2012, REPRO 211. Pág 193. 10
Em levantamento realizado pelo CNJ por meio do “Selo Justiça em Números”: O Poder Judiciário brasileiro finalizou o ano de 2016 com 79,7 milhões de processos em tramitação. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros. Acesso em 18.março.2018. 11
O incidente de resolução é uma técnica processual destinada a criar uma solução para a questão replicada nas múltiplas ações pendentes. Bem por isso, como é óbvio, a decisão proferida no incidente de resolução de demandas repetitivas apenas resolve casos idênticos. in MARINONI, Luiz Guilherme. O “problema” do incidente de resolução de demandas repetitivas e dos recursos extraordinário e especial repetitivos. Revista de Processo. vol. 249. ano 40. p. 399-419. São Paulo: Ed. RT, nov. 2015.
11
insucesso da resolução de conflitos12. Nessa acepção, embora possam existir
pretensões idênticas com partes diversas, é possível identificar julgados com
soluções distintas, causando forte insegurança jurídica13. Em outras palavras, o
IRDR nada mais é que um instrumento processual que tem por objetivo impedir a
disparidade dos julgados em casos semelhantes14.
O IRDR estabelece que haverá a discussão da questão jurídica (direito
material ou processual), a formulação de uma tese e, posteriormente, a aplicação
desta tese nos casos concretos. Deve-se observar a viabilidade do IRDR perante a
concentração das questões e argumentos que são colocados nas decisões.
Nesse sentido, além dos precedentes, jurisprudências e súmulas, o
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas torna-se um instrumento
processual, que pode ser bem visto na sua tentativa alavancar a confiança e
segurança da prestação jurisdicional.
2. DIREITOS HOMOGÊNEOS
O Novo CPC acompanhou a evolução social que historicamente
desenvolve-se em tutelas coletivas15, muito embora, o direito processual fosse
criado para atender direito individuais16, nesse sentido, o código de processo atual
oportuniza celeridade para as demandas repetitivas.
A aplicabilidade do IRDR será evidente na prática quando abordada aos
direitos individuais homogêneos, haja vista que a fixação da tese se contrária aos
interesses individuais, poderá vincular obrigatoriamente processos atuais e futuros,
12
Apenas 11,9% das sentenças e decisões proferidas no Poder Judiciário em 2016 foram homologatórias de acordo. Ou seja, Para cada 100 processos judiciais encerrados em 2016 (com sentença ou decisão terminativa), 12 conflitos foram resolvidos por meio de acordo entre as partes em disputa. Com o novo código de processo civil, a tendência é que o número de conciliações frutíferas aumentem. Justiça em Número - Conselho Nacional de Justiça. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros. Acesso em 18.março.2018. 13
Portanto, o IRDR pode ajudar a uniformizar os julgados e, consequentemente, impedir que decisões diferentes ocorram para casos com matéria idêntica. 14
SOUZA, Artur César de. Resolução de Demandas Repetitivas, Comunicação de Demanda
Individual e Incidente de resolução de Demandas Repetitivas, Recursos Repetitivos. São Paulo: Almedina, 2015, p.110. 15
Falta de mecanismos para a defesa de direitos metaindividuais como uma das causas violadoras do acesso à justiça (CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução: Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1988. p. 6-10.) 16
DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Salvador/BA. Editora Juspodivm. 19ª ed. 2017.
12
o que, em tese, não diminuirá a demanda processual, haja vista a necessidade de
se buscar justiça em caso de descumprimento da interpretação jurídica a ser
respeitada.
A doutrina minoritária acompanha esse entendimento, senão, vejamos o
entendimento do douto Prof. Desembargador José Maria Tesheiner ao lado da
Exma. Juíza de Direito Cíntia Teresinha Burhalde Mua:
O crescente aumento das demandas processuais não será diretamente mitigado pelo novel instituto: continuarão a ser propostas milhares de ações individuais relativas ao mesmo conflito; instaurado o IRDR e decidida a questão comum unicamente de direito, seguir-se-ão milhares de sentenças e fases de cumprimento individuais, mantendo-se o padrão da atuação atômico-burocrática da jurisdictio, inviabilizando a efetivação da garantia da duração razoável do processo (artigo 5o, LXXVIII , CF/88), com acentuado custo político-econômico-social ... Como dissociar as questões de direito dos fatos? A regulamentação do IRDR não prevê mecanismo de exclusão, através do qual as partes possam demonstrar que seu processo não envolve a mesma questão de direito e, portanto, ilidir a suspensão do artigo. Nesta quadra,haveria violação ao contraditório e à ampla defesa?
17
Por outro lado, Sofia Temer entende que embora a repetitividade tenha a
peculiaridade dos direitos individuais homogêneos, não deve ser confundida entre
questões e demandas repetitivas18. O magistrado quando provocado perante uma
demanda que postula uma relação jurídica material, estará diante de um
determinado pedido e causa de pedir, estes não determinarão se a demanda é
repetitiva, mas sim, as questões de direito cujas repetições possuam pontos
controvertidos.19
A repetitividade da demanda nem sempre atingirá o direito individual
homogêneo, pois aferirá também questões jurídicas homogêneas20, ou seja, a
17
TESHEINER, José Maria. MUA, Cíntia Teresinha Burhalde. Incidente de resolução de demandas repetitivas e ação coletiva relativa a direitos individuais homogêneos: diálogo integrativo. 2016. Disponível em: https://www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/tribunal_de_justica/centro_de_estudos/publicacoes/doc/Dialogo_integrativo.pdf . Acesso em 23.março.2018 18
TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Jus Podivm, 2016.
p. 59-60. 19
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 199. 20
TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Jus Podivm, 2016. p. 63.
13
repetitividade poderá suceder-se de demandas que possuam objetos, pedidos e
causas de pedir heterogêneas.
Frisa-se, a saber, que as ações coletivas inerentes aos direitos individuais
homogêneos não se limitam às relação de consumo, conforme podemos analisar
dos julgados do Superior Tribunal de Justiça:
É cabível o ajuizamento de ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos não relacionados a consumidores, devendo ser reconhecida a legitimidade do Sindicato recorrente para propor a presente ação em defesa de interesses individuais homogêneos da categoria que representa. Precedente em caso idêntico. (STJ, 2a. Turma, REsp 1257196 / RS RECURSO ESPECIAL 2011/0095430-8, Min.Mauro Campbell Marques, rel., j. 16/10/2012).
O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que o artigo 21 da Lei n. 7.347/1985, com redação dada pela Lei n. 8.078/1990, ampliou o alcance da ação civil pública também para a defesa de interesses e direitos individuais homogêneos não relacionados a consumidores, sendo, portanto, legítima a propositura da presente ação pelo Sindicato em defesa de interesses individuais homogêneos da categoria que representa. (STJ, 2a. Turma, AgRg no REsp 1241944 / SP AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL2011/0050145-1, Min. Cesar Asfor Rocha, rel., j. 24/04/2012)
O incidente poderá coincidir com a Ação Coletiva pois ambas poderão
abordar direitos individuais homogêneos quando existente uma questão
comum controvertida. Mas o incidente diverge principalmente da ação coletiva,
pois essa última também serve para julgar outros direitos, além do individual
homogêneo.
O incidente então será capaz de ser ocasionado na ação coletiva
desde que haja controvérsia a respeito da mesma matéria de direito individual
homogêneo, independentemente da existência de outras ações, sejam elas
individuais ou coletivas.
3. O MODELO PROCESSUAL ALEMÃO: MUSTERVERFAHREN
Por volta dos anos 1999 e 2000 uma empresa de telefonia denominada
"Deutsche Telekom" disponibilizou ações na Bolsa de Valores de Frankfurt,
acarretando severos prejuízos aos acionistas que ajuizaram mais de 13 mil ações
14
junto a Câmara de Direito Comercial de Frankfurt. Não bastante, calculou-se que
para julgar cada caso levaria em torno de 15 (quinze) anos.21
Identificando a necessidade de agilizar o trâmite processual das
demandas repetitivas do caso “Telekom”, o legislador alemão apresentou a
solução introduzindo um instrumento que possibilita julgar igualmente fatos e
matérias de direito com pretensões repetitivas, muito embora oriundas em ações
individuais, padronizando o procedimento “Musterverfahren” como instrumento de
coletivização decisória.22
O Musterverfahren é um procedimento considerado como piloto23, que
analisa a demanda das questões de fato e de direito, quando repetida em
demasiados litígios, assim este modelo tem por objetivo formar uma decisão cujo
entendimento seja estendido a estes semelhantes processos24. Dessa forma, o
modelo alemão mencionado permite que o julgado decida sobre questão coletiva
idêntica propostas em demandas individuais, independentemente se de fato ou
de direito25. Assim, a decisão é acolhida como paradigma para resoluções de
exabundantes demandas processuais com causa de pedir semelhantes26.
21
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Mecanismos de resolução de demandas repetitivas no direito estrangeiro: um estudo sobre o procedimento-modelo alemão e as ordens de litígios em grupo inglesas. Revista de Processo. São Paulo: Ed. RT, vol. 238, dezembro 2014. p. 7-8. 22
CABRAL, Antonio do Passo. O novo procedimento-modelo (Musterverfahren) alemão: uma
alternativa às ações coletivas. Revista de Processo. São Paulo: Ed. RT, vol. 147, maio 2007. p. 5-6. 23
Em nota CANTUÁRIA: “Com efeito, a referência aos modelos de direito comparado acaba por revelar, na prática, o entendimento do Órgão Especial do Eg. TJSP acerca do modelo adotado pelo Código de Processo Civil de 2015: se de causa-piloto ou procedimento-modelo. E é precisamente o que ocorre na decisão analisada (embora fazendo referência indistinta à nomenclatura dos modelos), ao destacar que o julgamento do IRDR implica “o dever de julgar o caso, de modo que a cognição no IRDR se vincule à luz dos direitos subjetivos concretos, postulados pelas partes em juízo. Daí a conclusão de Antonio do Passo Cabral: ‘... nossa concepção é a de que o legislador optou por um formato híbrido”. in TJSP - Incidente de Resolução 0027305-03.2016.8.26.0000 - 9.a Câmara de Direito Privado - j. 27/7/2016 - v.u. - julgado por Amorim Cantuária - Área do Direito: Processual. Revista dos Tribunais - Revista de Direito Privado. Vol. 73. JRP\2016\98669. p. 219. 24
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Incidente de resolução de demandas repetitivas: a luta contra a dispersão jurisprudencial excessiva. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p.185/186. 25
CABRAL, Antonio do Passo. O novo procedimento-modelo (Musterverfahren) alemão: uma alternativa às ações coletivas. Revista de Processo. São Paulo: Ed. RT, vol. 147, maio 2007. p. 6. 26
RALF-THOMAS WITTMANN. “Contenzioso di massa in Itália, in Europa e nel mondo, Milão,
Giuffrè, 2008, p. 178, in BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas responsáveis pela elaboração do Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010. P. 381. Disponível em: https://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf.
15
Embora existam três modelos do musterverfahren, colocamos o enfoque
no procedimento utilizado aos investidores em mercado de capitais alemão,
KapMug27. Diferencia-se do IRDR pois neste modelo é permitido que as questões
comuns sejam de fato ou de direito28, inclusive a instauração deve provir por meio
de expresso requerimento por vontade partes de qualquer das ações repetitivas,
impossibilitando que o juiz de origem ou do tribunal venha instaurar o incidente de
ofício29, tal feito possível no IRDR conforme será demonstrado adiante. Mas
assemelha-se pois o processamento e julgamento é realizado pelo tribunal de
instância superior30.
Após o registro e publicação com ampla divulgação31, o Tribunal
apresenta a escolha de partes que atuarão como principais do Musterverfahren,
destacando que não há prejuízo para os demais autores ou réus da demanda a
ser discutida, pois podem participar contribuindo na estratégia processual das
partes principais. Suspenso os processos, a decisão (musterentscheid), será
utilizada para fundamentar as demandas repetitivas suspensas, da qual caberá
recurso (rechtsbeschwerde)32.
Por obviedade a decisão possui efeito erga omnes perante as ações
suspensas no juízo originário, todavia, não vincula possíveis ações futuras após o
27
CABRAL, Antonio do Passo. O novo procedimento-modelo (Musterverfahren) alemão: uma alternativa às ações coletivas. Revista de Processo. São Paulo: Ed. RT, vol. 147, maio 2007. p. 9. 28
CABRAL, Antonio do Passo. O novo procedimento-modelo (Musterverfahren) alemão: uma
alternativa às ações coletivas. Revista de Processo. São Paulo: Ed. RT, vol. 147, maio 2007. p. 6. 29
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Mecanismos de resolução de demandas repetitivas no direito estrangeiro: um estudo sobre o procedimento-modelo alemão e as ordens de litígios em grupo inglesas. Revista de Processo. São Paulo: Ed. RT, vol. 238, dezembro 2014. p. 11 - 13. 30
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Mecanismos de resolução de demandas repetitivas no direito
estrangeiro: um estudo sobre o procedimento-modelo alemão e as ordens de litígios em grupo inglesas. Revista de Processo. São Paulo: Ed. RT, vol. 238, dezembro 2014. p.13. 31
No CPC/2015, a instauração dos processos modelos será sucedida da mais ampla e específica divulgação e publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça, de modo similar ao procedimento-modelo tedesco. NUNES, Dierle. O IRDR do Novo CPC: este "estranho" que merece ser compreendido. Justificando. Disponível em http://justificando.cartacapital.com.br/2015/02/18/o-irdr-novo-cpc-este-estranho-que-merece-ser-compreendido/. Acesso em 19.março.2018. 32
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Mecanismos de resolução de demandas repetitivas no
direito estrangeiro: um estudo sobre o procedimento-modelo alemão e as ordens de litígios em grupo inglesas. Revista de Processo. São Paulo: Ed. RT, vol. 238, dezembro 2014. p. 16 - 18.
16
musterentscheid, ou seja, a coisa julgada limita-se pela litispendência individual
no trâmite do ato decisório33.
Sobre este tema, o Prof. Dr. Dierle Nunes esclarece :
“E aqui cabe uma preocupação extraída do procedimento alemão quanto à eficácia de tal decisão, uma vez ser necessário atentar para o que estabelece o importante §16.2 do KapMuG que determina que o julgamento-modelo afetará o autor-representante e os demais demandantes, mas estes estarão vinculados na medida de sua participação no procedimento. Isso significa que, com fulcro no princípio do contraditório, cuja materialidade encontra forte guarida na jurisprudência consolidada do Tribunal Constitucional Federal, os demandantes que se incorporarem muito tardiamente ou que não participarem da causa não estarão vinculados à decisão-modelo. O legislador alemão mostrou-se bastante preocupado com a proteção substantiva às garantias das partes envolvidas; por tal razão, só se submeterão à autoridade do julgamento os demandantes que tiverem a efetiva oportunidade de influenciar a decisão no procedimento. Para tanto, o interessado deverá demonstrar o impedimento de ter podido auxiliar na formação do julgado e/ou a inconsistência (negligência) do litigante padrão
34.”
Portanto este instituto que influenciou o IRDR no novo CPC, busca
gerenciar as demandas repetitivas, não admitindo instauração ex officio pelo
juízo, devendo as partes apontar quais os pontos do litígio (streitpunkte) querem
ver resolvidos e quais provas pretendem produzir no incidente, além de
demonstrar que a repercussão é extraprocessual e interfere na resolução de
outras demandas similares35.
4. O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS
4.1 NATUREZA JURÍDICA E O CONCEITO
Conforme vimos nos tópicos anteriores, a fonte de inspiração do IRDR é
o Direito Comparado, em que este incidente processual ocorre dentro de
33
CABRAL, Antonio do Passo. O novo procedimento-modelo (Musterverfahren) alemão: uma alternativa às ações coletivas. Revista de Processo. São Paulo: Ed. RT, vol. 147, maio 2007. p. 11. 34
NUNES, Dierle. O IRDR do Novo CPC: este "estranho" que merece ser compreendido. Justificando. Disponível em http://justificando.cartacapital.com.br/2015/02/18/o-irdr-novo-cpc-este-estranho-que-merece-ser-compreendido/. Acesso em 19.março.2018. 35
TJSP - Incidente de Resolução 0027305-03.2016.8.26.0000 - 9.a Câmara de Direito Privado - j. 27/7/2016 - v.u. - julgado por Amorim Cantuária - Área do Direito: Processual.
17
determinado processo já existente, tendo por finalidade julgar um caso piloto, de
modo a estabelecer um precedente de eficácia vinculante, ressalvado aqui dentro
dos limites do tribunal, seja de justiça ou tribunais federais.
O instituto tem ainda dois propósitos que lhe dão uma natureza híbrida,
sendo que o primeiro é de ser uma técnica criada para que um determinado
tribunal forme um bom precedente obrigatório no tocante a questão repetitiva de
um caso piloto que represente muito bem a controvérsia, inclusive para os casos
futuros. O segundo propósito é o de ajudar o tribunal a administrar, gerir e julgar
os demais processos (como os suspensos pela instauração do IRDR), além do
caso piloto, cuja questão seja idêntica.
Este caso piloto poderá dar ensejo a uma tese jurídica com força
vinculante, cuja razão de decidir seja seguida por todos os magistrados ao
solucionarem casos que tenham correspondência com aquele. Nesse sentido,
quanto ao IRDR, ensina o Desembargador Alexandre Freitas Câmara:
“Incidente processual destinado a, através do julgamento de um caso piloto, estabelecer um precedente dotado de eficácia vinculante capaz de fazer com que casos idênticos recebam (dentro dos limites da competência territorial do tribunal) soluções idênticas, sem com isso esbarrar-se nos entraves típicos do processo coletivo, a que já se fez referência. Através deste incidente, então, produz-se uma decisão que, dotada de eficácia vinculante, assegura isonomia (já que casos iguais serão tratados igualmente) e segurança jurídica (uma vez que, estabelecido o padrão decisório a ser observado, de forma vinculativa, pelos órgãos jurisdicionais em casos idênticos, será possível falar-se em previsibilidade do resultado do processo).”
De modo a garantir a segurança jurídica, é sabido que o ordenamento
jurídico brasileiro adota precedentes judiciais com cuidados ao civil law. Nesse
viés, utiliza instrumentos processuais com a finalidade de solucionar casos
repetitivos, como: a súmula vinculante, incidente de assunção de competência, o
recurso especial e recurso extraordinário, a vista de exemplo36.
A função dos Tribunais Superiores no Brasil é de que sirvam de
orientação e paradigmas, dar a última palavra de acordo com suas competências,
portanto, a necessidade de respeitar a decisão dos tribunais superiores é, sem
dúvida, em razão da codificação do sistema brasileiro (civil law).
36
DIDIER Jr, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil 3. Ed. JusPodvm, 2016, p.588.
18
Segundo a Advogada Flávia Teixeira Ortega (2017):
“A natureza jurídica do IRDR é de incidente processual. Não tem natureza de recurso, pois falta a taxatividade. Ademais, o Tribunal pode julgar apenas a tese jurídica, não está julgando em concreto o processo, mas sim os juízes competentes. Diferentemente dos recursos, que julga-se a causa em concreto. Além disso, também não possui natureza de ação, pois pressupõe a existência de ações sobre uma mesma matéria. Assim, não se
trata de ação coletiva*.”37
Destaca-se que o IRDR diferencia-se das ações coletivas* pois o
jurisdicionado deve submeter-se a decisão em IRDR, inclusive, na ação individual
o processo só suspende por iniciativa do autor e pode ter o curso normal sem
considerar uma ação coletiva porvindoura38, já no IRDR a suspensão independe
da vontade do autor.
Além disso, o conceito que se dá às demandas repetitivas não
necessariamente considera a causa de pedir e pedidos, mas sim que possuam
questões jurídicas homogêneas, bem como a existência de controvérsia quanto
ao ponto de direito que está a se repetir em diversos processos.39
O desenvolvimento do pensamento jurídico contemporâneo mescla
questões de fato e as questões de direito para que a norma jurídica seja
construída a partir de uma conjuntura concreta.40 Logo, sendo o incidente
aplicado às questões jurídicas preeminentemente de direito, quer dizer, aquelas
questões em que o magistrado considere à forma como o texto normativo deverá
ser interpretado.41
É este inclusive o entendimento do Advogado Eduardo Talamini (2016): "trata-se do mecanismo que permite aos tribunais de segundo grau (TJs e TRFs) julgar por amostragem demandas repetitivas, que tenham por objeto controvertido uma mesma e única questão de direito. Seleciona-se como amostra um caso, ou um conjunto
37
ORTEGA. Flávia Teixeira. NCPC - Entenda o Incidente de Resolução de demandas Repetitivas (IRDR). Notícias JusBrasil. Setembro de 2017. Disponível em https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/490644453/ncpc-entenda-o-incidente-de-resolucao-de-demandas-repetitivas-irdr . Acesso em 04/06/2018. 38
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo: tutela de interesses coletivos e tutela coletiva de direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 175. 39
TEMER, Sofia. Incidente de resolução de demandas repetitivas. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016 40
ABBOUD, Georges; CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Interpretação e aplicação dos provimentos vinculantes no Novo Código de Processo Civil a partir do paradigma do pós-positivismo. Revista de Processo. São Paulo, v. 40, n. 245, jul. 2015. p. 357-378. 41
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 197.
19
de casos, em que a questão jurídica repetitiva é discutida e que retrate adequadamente a controvérsia."
42
Deste modo, o IRDR também não é pressuposto recursal, este
entendimento também é claro para Marcos de Araújo Cavalcanti, ao afastar a
natureza jurídica recursal do IRDR, considerando que este instrumento
processual não está no livro III que trata dos remédios processuais a fim de
impugnar decisões judiciais (Art. 994 CPC/15), que inclui: "apelação, agravo de
instrumento, agravo interno, embargos declaratórios, recurso ordinário, recurso
especial, recurso extraordinário, agravo em recurso especial ou extraordinário e
embargos de divergência”, sendo que estas impugnações inclusive fazem parte
do mesmo processo da decisão judicial preexistente.43
A doutrina brasileira compreende também a existência de semelhanças
entre o IRDR e o recurso especial e extraordinário44 (mesmo porque o art. 928 do
CPC/15 define que são espécies do gênero casos repetitivos45).
Essa é uma premissa teórica importantíssima da qual demonstra que o
julgamento de casos repetitivos é um gênero que tem duas espécies: O IRDR e
os Recursos Repetitivos. Há portanto regramento para cada uma dessas
espécies, assim, no caso de existir algum tipo de lacuna em uma delas, mas em
contrapartida existir regramento na outra espécie, é possível buscar analogia
desta última, haja vista que ambas espécies tem seus regramentos
comunicáveis, ou seja, há um sistema de normas relacionadas aos julgamentos
de casos repetitivos.
Este instituto passa a ser considerado como uma técnica que ajuda ter
decisões iguais para casos iguais, confirmando a segurança jurídica, celeridade e
42
TALAMINI. Eduardo. Incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR): pressupostos. Migalhas de Peso. 28 de março de 2016. Disponível em. http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI236580,31047-Incidente+de+resolucao+de+demandas+repetitivas+IRDR+pressupostos . Acesso em 04 de junho de 2018. 43
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR). –
São Paulo. Ed Revista dos Tribunais, 2016. p.177/178. 44
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Et al. Novo CPC Urgente. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 716. 45
Art. 928. Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a decisão proferida em: I - incidente de resolução de demandas repetitivas; II - recursos especial e extraordinário repetitivos. Parágrafo único. O julgamento de casos repetitivos tem por objeto questão de direito material ou processual.
20
isonomia processual, lembrando vagamente a motivação dos precedentes e os
recursos extraordinários e especial repetitivos46.
Nesse mesmo sentido, José Miguel Garcia Medina muito bem sintetiza o
propósito do instituto em comento, qual seja, “(...) a concretização da segurança
jurídica, evitando instabilidade e proporcionando previsibilidade”. (MEDIDA,
2016).47
É impensável que demandas de casos semelhantes recebam decisões
completamente diferentes, por exemplo apenas porque um recurso foi para
câmaras diferentes, é o que a doutrina chama de jurisprudência lotérica
(CÂMARA, 2016). Logo, a decisão de todas as turmas devem dar tratamento
isonômico a casos isonômicos.
A razão da decisão da tese é que deve vincular a relação do debate
processual que fixará a tese, obtendo a previsibilidade do que está a ser decidido,
ou seja trazendo a segurança jurídica e não apostando mais numa loteria, tendo
em vista ser possível pautar as condutas a luz da jurisprudência firmada.
Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Jr ensina que:
“"é inegável que o regime processual das demandas de massa, na medida em que possibilita uma rápida fixação de tese jurídica que é objeto de milhares ou até milhões de ações, proporciona a uniformização da jurisprudência, aumenta em muito a previsibilidade das decisões, e, portanto, a segurança jurídica
48.”
O incidente, portanto, é um instrumento processual que solucionará,
supostamente, diversos litígios em que sejam discutidos matérias em que a
questão de direito sejam repetitivas. Buscando deste modo uniformizar prováveis
litigantes que estejam em similar situação no caso discutido49. Observa-se que o
incidente não é instaurado para resolver demandas de massa (que se repetem),
mas sim de questões que se repetem em diversos processos, sejam em
demandas individuais ou coletivas.
46
BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015. p.614. 47
MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo Civil Comentado. 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 1.412 48
As demandas de massa e o projeto do novo Código de Processo Civil. In: FREIRE, Alexandre; et a1!. Novas tendências do processo civil. Vol. 111. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 53 49
THEODORO JR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Execução forçada, processo
nos tribunais, recursos e direito intertemporal. v. III. 49. ed. rev. atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016. p.913
21
4.2 CABIMENTO E PRESSUPOSTOS OBJETIVOS
Consoante art. 976 do CPC, há hipóteses para o cabimento da
instauração deste instrumento, sendo: (I) existência de repetição de processos
em que haja controvérsia exclusivamente de direito, (II) implicando ainda em risco
de ofensa à isonomia e à segurança jurídica50. A repetição e o risco devem ser
pragmáticos, jamais abstratos. Devendo ser existente e efetiva, inclusive desde o
momento em que o incidente é instaurado.51
O inciso primeiro supramencionado oportuniza abrir parênteses para
diferençar brevemente o IRDR da assunção de competência, pois para o primeiro
busca-se prevenir divergência (aquela projetada para o futuro). Já no IRDR deve
de fato existir uma demanda significativa, leia-se não idênticas em relação ao
caso, mas sim de demandas que tenham a mesma matéria de direito, exemplo:
extensão previdenciária para quem tem maior idade, prazos prescricionais,
índices de juros aplicados, se leasing é contrato de consumo (questão material) e
pressupostos da inversão do ônus da prova se são cumulativos ou alternativos
(questão processual), expurgos inflacionários de planos de saúde. Neste ponto
vale destacar que a quantidade de processos é subjetiva em relação as
demandas considerando a realidade de cada região.
Já quanto ao inciso segundo verificamos a existência da preocupação do
legislador quanto a segurança jurídica, pois são valores que explicam a intenção
de atender a necessidade de uniformização da jurisprudência.
Assim, deve necessariamente existir decisões conflitantes para a
instauração do incidente, caso contrário, se houver apenas decisões no mesmo
sentido, ou seja, de forma igual para os casos idênticos, não haveria razão para
instauração do IRDR com o intuito de que o Tribunal venha pacificar
50
Livro III. Capítulo VIII da Lei n° 13.105 de 16 de Março de 2015. Art. 976: É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando houver, simultaneamente: I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito; II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica. 51
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de
Processo Civil: Tutela dos Direitos Mediante Procedimento Comum. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais Ltda, 2015, p. 579.
22
entendimento de modo a fixar a tese, haja vista que nesta situação não haveria
risco a isonomia e segurança jurídica.
Diante disto, a doutrina vai no sentido de que a instauração do IRDR
pressupõe a existência de processo pendente no respectivo tribunal, seja um
recurso, remessa necessária ou qualquer causa de competência originária.
Senão vejamos os Enunciados do Fórum Permanente de Processualistas Civis:
“Enunciado 342: O incidente de resolução de demandas repetitivas aplica-se a
recurso, a remessa necessária ou a qualquer causa de competência originária.”
Também o “Enunciado 344: A instauração do incidente pressupõe a existência de
processo pendente no respectivo tribunal.”
Daniel Amorim Assunção Neves, no mesmo sentido, afirma:
“Concordo com o Enunciado 342 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) no sentido de o incidente, ora analisado, aplicar-se a recurso, remessa necessária ou qualquer processo de competência originária de Tribunal”
52
Ou seja, para a instauração do IRDR deve existir no tribunal pelo menos
um processo que esteja pendente de julgamento, o qual será utilizado como
causa piloto, bem como também deve haver uma repetição de processos, mesmo
que estejam em primeiro grau.
Nessa linha, Marcos de Araújo Cavalcanti53 destaca o Enunciado nº 87
do V Fórum Permanente de Processo Civil: o IRDR não pressupõe apenas a
existência de demasiados processos sobre a mesma questão, não obstante,
imperioso analisar o possível risco de quebra da isonomia, bem como da ofensa
à segurança jurídica.54
Inclusive, é interessante observar o entendimento pacificado no Fórum
supramencionado, consoante Enunciado nº 345, explanando que as normas
basilares dos recursos extraordinários e especiais repetitivos complementam e
52
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado. Salvador: Juspodium, 2016. p. 1.593; 53
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR). – São Paulo. Ed Revista dos Tribunais, 2016. Coleção Liebman/coordenadores Teresa Arruda Alvim Wambier, Eduardo Talamini. p.. 215. 54
Enunciados do V Fórum Permanente de Processualistas Civis. Disponível em http://portalprocessual.com/wpcontent/uploads/2015/06/Carta-de-Vit%C3%B3ria.pdf. Acesso em: 18.8.2018.
23
são interpretadas conjuntamente aos Instituto de Resolução de Demandas
Repetitivas, completando-se ambas reciprocamente.55
Embora exista divergência doutrinária quanto a instauração, Marcelo
Mazzola ensina que o IRDR pode ser instaurado sempre que existir a repetição
de processos contendo controvérsia sobre questão homogênea de direito e risco
de ofensa à isonomia e segurança jurídica. Assim continua seu ensinamento: "O
incidente pode ser instaurado perante os tribunais locais – com previsão de REsp
dotado de efeito suspensivo e RE com repercussão geral (art. 987 do CPC) –, ou
diretamente no STJ." (MAZZOLA, 2017) 56
Neste ponto de vista Mazzola acompanha o entendimento de Fredie
Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha:
“(…) não há nada que impeça a instauração de IRDR em tribunal superior. É bem verdade que, no STJ, há o recurso especial repetitivo e, no STF, há o recurso extraordinário repetitivo e o recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida, mas é possível haver IRDR em causas originárias e em outros tipos de recursos no âmbito dos tribunais superiores. O IRDR é cabível em tribunal superior. Não há nada, absolutamente nada, no texto normativo, que impeça o IRDR em tribunal superior”.
57
Sobre a sistemática, ainda a doutrina Fredie Didier Jr.:
“O IRDR é, como seu próprio nome indica, um incidente. Trata-se de um incidente, instaurado num processo de competência originária ou em recurso (inclusive na remessa necessária). Instaurado o incidente, transfere-se a outro órgão do mesmo tribunal a competência funcional para julgar o caso e, igualmente, fixar o seu entendimento a respeito de uma questão jurídica que se revela comum em diversos processos. Há, no IRDR, a transferência de competência a outro órgão do tribunal para fixar a tese a ser aplicada a diversos processos e, ao mesmo tempo, a transferência do julgamento de pelo menos dois casos: esse órgão do tribunal, que passa a ter competência para fixar o entendimento aplicável a diversos casos, passa a ter competência para julgar os casos que lhe deram origem. Sendo o IRDR um incidente, é preciso que haja um caso tramitando no tribunal. O incidente há de ser instaurado no caso em que esteja em curso no tribunal. Se não houver caso em trâmite no tribunal, não se terá um incidente, mas um processo originário. E não é possível ao legislador ordinário criar
55
Enunciados do V Fórum Permanente de Processualistas Civis. Disponível em
http://portalprocessual.com/wpcontent/uploads/2015/06/Carta-de-Vit%C3%B3ria.pdf. Acesso em: 18.8.2018. 56
MAZZOLA. Marcelo: STJ - Processamento do IRDR por sistemática do repetitivo. JOTA. 04 de Outubro de 2017. Disponível em https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/stj-processamento-do-irdr-por-sistematica-do-repetitivo-05082017 . Acesso em. 04 de Junho de 2018. 57
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. v. 3. Salvador: Jus Podvim, 2016, p. 630
24
competências originárias para os tribunais. As competências do STF e do STJ estão previstas, respectivamente, no art. 102 e no art. 105 da Constituição Federal, as dos tribunais regionais federias estão estabelecidas no art. 108 da Constituição federal, cabendo às Constituições Estaduais fixar as competências dos tribunais de justiça (art. 125, § 1º, CF). O legislador ordinário pode - e foi isso que fez o CPC criar incidentes processuais para causas originárias e recursais que tramitem nos tribunais, mas não lhe cabe criar competências originárias para os tribunais. É também por isso que não se permite a instauração do IRDR sem que haja causa tramitando no tribunal”
58
Por fim não há qualquer possibilidade do instituto fazer análise fática
idêntica, ou seja, somente questões de direito material, bem como de direito
processual devem ser suficientes para instaurar incidente, desde que apurando
questões de direito. Aqui é vital salientar que, conquanto o IRDR não busca
analisar questões probatórias ou fáticas, não obsta no caso em que as provas
venham ferir o objetivo principal do instituto, o incidente poderá ser arguido.59
4.3 LEGITIMIDADE
Os legitimados ativos60 estão descritos no art. 977 do CPC/15, sendo: (I)
Juiz ou Relator, por meio de ofício, (II) Partes, Ministério Públicos61 ou Defensoria
Pública, podendo inclusive atuar como custos legis62. Em ambos os casos o
incidente será direcionado ao Presidente do Tribunal. O terceiro interessado ou
assistente litisconsorcial, poderá ter legitimidade para ingressar no pólo ativo.
58
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: o processo civil nos tribunais, recursos, ações de competência originária de tribunal e querela nullitatis, incidentes de competência originária de tribunal. 13ª ed. Salvador: Juspodium, 2016, f. 625. 59
SOUZA, Artur César de. Resolução de Demandas Repetitivas, Comunicação de Demanda Individual e Incidente de resolução de Demandas Repetitivas, Recursos Repetitivos. São Paulo: Almedina, 2015. p.176. 60
Em nota LIPPMANN: “O art. 986, que trata sobre a revisão da tese firmada no julgamento do
IRDR, admite que o respectivo requerimento seja formulado unicamente “pelos legitimados mencionados no art. 977, inciso III”. É dizer: com a alteração (supostamente) redacional, operada nos incisos do art. 977, suprimiu-se sorrateiramente a legitimidade das partes para postular revisão da tese firmada no IRDR.” in LIPPMANN. Rafael Knorr. Primeiras Reflexões Sobre o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Cadernos Jurídicos - OAB Paraná. nº 60. Setembro.2015. 61
Em respeito ao art. 127 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Ministério Público atua em defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis, tendo fator relevante e indispensável em caso de litígios de demandas coletivas. 62
É a atuação do Ministério Público como fiscal da lei. DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24. ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2005.
25
4.3.1 TERCEIROS INTERESSADOS
A condução do incidente nem sempre será realizada pelo sujeito que o
provocou, mas também poderá ser conduzida pelo sujeito que tenha melhores
condições de apresentar argumentos e elementos para a resolução da questão a
ser discutida.
Salienta-se que o contraditório será exercido pelo direito à influência,
estendendo-o como direito ao convencimento, isto com o intuito de se atingir
pluralidade argumentativa e primazia, esperando maior racionalidade da decisão.
Deste modo o debate no incidente pode ser ampliado pela intensificação
dos argumentos que serão levados à apreciação judicial por meio dos sujeitos:
condutores (ou líderes), sujeitos sobrestados, o amicus curiae, o Ministério
Público e a Defensoria Pública.
Por este viés, explica Sofia Temer:
“sujeitos condutores (ou líderes), que deverão ser escolhidos dentre os que possam apresentar o máximo de perspectivas argumentativas para o debate, ou seja, devem ser sujeitos que levem ao tribunal maior quantidade e qualidade de argumentos sobre a controvérsia jurídica, mesmo que não sejam os sujeitos que tiveram iniciativa para suscitar o incidente; sujeitos sobrestados, ou seja, as partes dos processos repetitivos, que terão interesse para intervir no incidente por força do direito ao contraditório como direito de influência, a despeito de não terem qualquer vínculo jurídico com os sujeitos condutores; ... o Ministério Público, que, pela condição de fiscal da ordem jurídica, deverá atuar no incidente em todos os seus atos, podendo suscitá-lo, conduzi-lo ou participar de sua instrução; a Defensoria Pública, que terá legitimidade para instauração, condução e participação no incidente quando a matéria debatida apresentar pertinência no que se refere à defesa de vulneráveis, conforme suas atribuições constitucionais.”
Vale lembrar a participação destes sujeitos deve aprofundar
eficientemente o debate, apresentando novos argumentos ou informações.63
63
"A necessidade de apresentar alguns elementos para construir esse sistema de participação
diferenciado, parece, para nós, que o principal filtro para nortear a atuação dos sujeitos sobrestados seja a apresentação de novos argumentos que possam contribuir com a definindo da melhor solução racional para a questão de direito objeto do incidente. Afinal, se se entende que a violação ao contraditório decorreria, no caso, da impossibilidade de influenciar a convicção do tribunal sobre a questão de direito, não haveria nenhuma violação em vedar repetição de argumentos já apresentados, pelo simples fato de estes não terem nem potencialidade para exercer tal influência" (TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Juspodivrn, 2016, p. 177). No mesmo sentido: BASTOS, Antonio Adonias Aguiar. O
26
4.3.2 AMIGO DA CORTE
É possível a intervenção de amicus curiae (amigo da corte) no IRDR,
podendo inclusive com a exceção a regra de que no IRDR o amicus curiae pode
interpor recurso.6465
Fredie Didier Júnior denomina o amigo da corte como o “terceiro que,
espontaneamente, a pedido da parte ou por provocação do órgão jurisdicional,
intervém no processo para fornecer subsídios que possam aprimorar a qualidade
da decisão”66 (DIDIER JÚNIOR, 2015).
Importante sua participação já que pode contribuir para a solução do litígio
fornecendo novos fundamentos e elementos, de repente, ignotos as partes ou ao
magistrado. O legislador no artigo 98367 do CPC oportunizou que terceiros
interessados na lide possam manifestar-se.
Sobre o tema Sofia Temer explica:
"embora não se equipare ao sujeito sobrestado, também pode intervir no incidente, ainda que na defesa de algum interesse (institucional, acadêmico, político, econômico), mas sua participação dependerá da demonstração do requisito da representatividade, entendido como capacidade e idoneidade do sujeito e como pertinência em relação ao objeto do incidente. Sua participação também deverá ser autorizada quando a manifestação for relevante, ou seja, quando trouxer novos argumentos e informações para o debate e sua participação"
68
devido processo legal nas demandas repetitivas. 2012. 266p. Tese (Doutorado em Direito) — Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Direito. Salvador, 04.04.2012, p. 177). 64
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR). –
São Paulo. Ed Revista dos Tribunais, 2016. Coleção Liebman/coordenadores Teresa Arruda Alvim Wambier, Eduardo Talamini. p 257. 65
Amicus curiae (artigo 138, §3º, do Novo Código de Processo Civil). Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação. § 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas. 66
DIDIER JÚNIOR. Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. – 17. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. p.522. 67
Art. 983 do CPC. O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades com interesse na controvérsia, que, no prazo comum de 15 (quinze) dias, poderão requerer a juntada de documentos, bem como as diligências necessárias para a elucidação da questão de direito controvertida, e em seguida, manifestar-se-á o Ministério Público, no mesmo prazo. 68
TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 263.
27
Veja que o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas pode
envolver demandas repetitivas de direito coletivo indubitável, atingindo pessoas
em cenários semelhantes. Segundo a doutrina majoritária, o amicus curiae deve
ser admitido haja vista a repercussão da decisão perante toda a população,
participando na formação da tese por meio do convencimento do julgador no
exercício de sua soberania.69
Embora o amigo da corte possa propiciar contribuição técnica para o
julgamento, o relator pode entender não existir a necessidade da participação
deste no incidente. Nesse sentido, Marcos de Araújo Cavalcanti destaca que o
terceiro interessado ou o amicus curiae terá sempre a função de acrescentar o
debate, mas não deve ser considerado como parte principal ou líder da demanda
perante o judiciário.70
4.4 COMPETÊNCIA
O artigo 97871 do CPC/15 trata da competência para o julgamento do
IRDR, preferindo o responsável pelo incidente de uniformização de
jurisprudência, sendo em regra pela Corte Especial de cada tribunal72. Logo,
salvo se a demanda for originária do próprio tribunal73, a competência é do grau
superior ao do juízo cuja existência de demandas repetitivas justifiquem a
instauração do IRDR.
Nesse sentido, Sofia Temer:
“O Código prevê que a tese jurídica deverá ser observada, a princípio, pelo tribunal (estadual ou regional) que a fixou, além dos
69
OLIVEIRA NETO, Olavo, MARQUES NETO, Elias Marques, OLIVEIRA, Patrícia Elias Cozzolino. Curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Verbatim. 2015. p.433. 70
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 383. 71
Art. 978. O julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo regimento interno dentre
aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência do tribunal. Parágrafo único. O órgão colegiado incumbido de julgar o incidente e de fixar a tese jurídica julgará igualmente o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária de onde se originou o incidente. 72
Breve comparativo entre o IRDR e a Ação Coletiva: o primeiro o Tribunal tem competência originária para julgar a questão semelhante, na ação o Tribunal tem competência recursal para julgar, após o juiz de primeiro grau realizar o julgamento originário. 73
SOUZA, Artur César de. Resolução de Demandas Repetitivas, Comunicação de Demanda
Individual e Incidente de resolução de Demandas Repetitivas, Recursos Repetitivos. São Paulo: Almedina, 2015. p.135.
28
juízos inferiores a ele vinculados. Não obstante, uma vez interposto recurso contra a decisão e analisada a questão pelo STF ou STJ, a tese ganha abrangência nacional.”
74
Sendo o IRDR um incidente, pode ser instaurado num processo cuja
competência seja originária ou até mesmo em recursos, existindo a transferência
de competência para outro órgão do tribunal que fixará a tese solucionadora do
litígio75.
Um exemplo seria ter como causa piloto um recurso de apelação em que
o relator do recurso encaminha um ofício ao presidente do tribunal, comprovando
que estão presentes os requisitos para o cabimento do Incidente de Resolução
de Demandas Repetitivas, consequentemente o presidente do tribunal determina
a instauração do IRDR e remete os autos ao órgão especial do tribunal que seja
responsável para fazer a análise do caso para então fixar tese e, conjuntamente
julgar o recurso de apelação, causa piloto.
De modo apenas a tratar de curiosidades, o IRDR deve respeito da
previsão do Art. 9776 da Constituição Federal da República quanto ao quórum
qualificado, pois se instaurado IRDR para decidir a respeito de
inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo de poder público, somente pelo
voto de maioria absoluta é que se poderia declarar a inconstitucionalidade.
4.5 PROCEDIMENTO E LIMITES TEMPORAIS
O processamento do incidente, que não se confunde com uma ação77, é
regrado do artigo 976 a 987 do Código de Processo Civil (2015).
74
TEMER. Sofia. Recursos no incidente de resolução de demandas repetitivas: quem pode recorrer da decisão que fixa a tese jurídica?. in Nunes, Dierle. A nova aplicação da jurisprudência e precedentes no CP02015 / Dierle Nunes, Aloisio Mendes, Fernando layme. - 1. ed. - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2017. p. 1050). 75
DIDIER JÚNIOR, Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: o
processo civil nos tribunais, recursos, ações de competência originária de tribunal e querela nulitatis, incidentes de competência originária de tribunal. - 13. Ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2016. p 625. 76
Art. 97, CF: “Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.” Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm . Acesso em 30 junho 2018. 77
A título de curiosidade, o IRDR não se confunde também com a ação coletiva, já que o primeiro pode ser instaurado apenas por uma parte interessada.
29
Deve ser cumprido o art. 97978 do CPC dando ampla divulgação por meio
de registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça referente ao pedido de
instauração do IRDR.
A ampla divulgação é imprescindível79 para instaurar o IRDR, haja vista
que sua decisão poderá afetar setores sociais. A propagação proporciona a
sociedade civil e afins ter pleno conhecimento do teor, oportunizando a exclusão
da instauração, a suspensão de processos que tratem da tese jurídica, bem como
quanto a existência do IRDR.
O incidente também deve ser instruído com documentos que satisfaçam
o artigo 976 do CPC/15, como as cópias de processos repetitivos sobre a matéria
de direito e a comprovação de risco de ofensa à segurança jurídica ou da
isonomia. Admitido o incidente e designado um relator, este poderá com fulcro no
artigo 982 do CPC/15, (I) suspender os processos pendentes individuais e
coletivos, que tramitam no Estado ou na região, conforme o caso, (II) requisitar
informações a órgãos em cujo juízo tramita processo no qual se discute o objeto
do incidente, (III) intimar o Ministério Público para, querendo, manifestar-se.
Impreterível destacar a divergência jurisprudencial que acarreta em torno
do artigo 313, IV80 comparado ao 982, I81 do CPC, pois a descrição do primeiro
nos diz que admitido o IRDR, automaticamente todos os processos estarão
suspensos, todavia, o último faculta ao relator suspender os processos idênticos.
Apesar disso, o entendimento majoritário é de que os dispositivos
mencionados devem ser interpretados em conjunto, sendo a suspensão dos
processos consequência da admissão do incidente, podendo o relator informar
78
Art. 979. A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e específica divulgação e publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça. § 1o Os tribunais manterão banco eletrônico de dados atualizados com informações específicas sobre questões de direito submetidas ao incidente, comunicando-o imediatamente ao Conselho Nacional de Justiça para inclusão no cadastro. § 2o Para possibilitar a identificação dos processos abrangidos pela decisão do incidente, o registro eletrônico das teses jurídicas constantes do cadastro conterá, no mínimo, os fundamentos determinantes da decisão e os dispositivos normativos a ela relacionados. § 3o Aplica-se o disposto neste artigo ao julgamento de recursos repetitivos e da repercussão geral em recurso extraordinário. 79
YOSHIKAWA, Eduardo Henrique de Oliveira, O incidente de resolução de demandas Repetitivas no Novo Código de Processo Civil, Comentários aos arts. 930 a 941 do PL 8.046/2010, Revista de Processo 2012, RePro 206, pág 243. 80
Art. 313. Suspende-se o processo: IV- pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas. 81
Art. 982. Admitido o incidente, o relator: I - suspenderá os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado ou na região, conforme o caso.
30
aos órgãos jurisdicionais competentes o teor da decisão que admitiu este IRDR82,
podendo o fazer comunicando a direção dos fóruns que transmitam o teor
informativo nas respectivas varas83.
É possível que se estenda84 a suspensão dos processos para outra
região por meio de requerimento de um legitimado, podendo este até ser de outra
região. O requerimento deve ser feito ao Superior Tribunal de Justiça quando a
questão for infraconstitucional e ao Supremo Tribunal Federal se for questão
constitucional, isto pois um tribunal de determinada região não tem jurisdição em
outras regiões. Sofia Temer nesse sentido esclarece:
“Considerando a potencial abrangência nacional da tese fixada no IRDR (decorrente do julgamento dos recursos especial ou extraordinário), deve ser possibilitado às partes dos processos em trâmite perante outros estados ou regiões que interponham recurso aos tribunais superiores, inclusive para o fim exclusivo de provocar a extensão da tese para âmbito nacional, sem postular sua modificação.”
85
Caso haja recurso especial ou extraordinário, a tese fixada pelo STJ ou
STF deve estar vinculada aos outros tribunais, caso contrário importante salientar
que estender a suspensão dos processos para outra região não significa que o
IRDR também será instaurado nesta última, mas apenas que os processos que
contenham a mesma semelhança de direito também fiquem suspensos.
Assim entende a doutrina majoritária (Teresa Alvim, Maria Conceição,
Leonardo Ribeiro e Rogério Mello):
“Admitido pelo relator, que terá, então, constatado estarem presentes os requisitos do art. 976, este determinará a suspensão dos processos que versarem a mesma quaestio iuris, sejam individuais ou coletivos, que estiverem tramitando no mesmo
82
CAVALCANTI, Marcos de Araújo, Incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR). – São Paulo. Ed Revista dos Tribunais, 2016. Coleção Liebman/coordenadores Teresa Arruda Alvim Wambier, Eduardo Talamini. p. 272. 83
MONTENEGRO FILHO, Misael. Novo Código de Processo Civil Comentado. – São Paulo: Atlas, 2016. p.891. 84
Art. 982. Admitido o incidente, o relator: § 3o Visando à garantia da segurança jurídica, qualquer legitimado mencionado no art. 977, incisos II e III, poderá requerer, ao tribunal competente para conhecer do recurso extraordinário ou especial, a suspensão de todos os processos individuais ou coletivos em curso no território nacional que versem sobre a questão objeto do incidente já instaurado. § 4o Independentemente dos limites da competência territorial, a parte no processo em curso no qual se discuta a mesma questão objeto do incidente é legitimada para requerer a providência prevista no § 3o deste artigo. 85
TEMER. Sofia. Recursos no incidente de resolução de demandas repetitivas: quem pode recorrer da decisão que fixa a tese jurídica?. in Nunes, Dierle. A nova aplicação da jurisprudência e precedentes no CP02015 / Dierle Nunes, Aloisio Mendes, Fernando layme. - 1. ed. - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2017. p. 1050).
31
Estado (justiça estadual) ou na mesma região (justiça federal). A suspensão é intrínseca à razão de ser do instituto, consequência natural do juízo positivo de admissibilidade”.
86
No intuito de garantir a celeridade dos processos suspensos, o legislador
estipulou no art. 980 o prazo máximo de um ano para o julgado do IRDR com
preferência sobre os demais feitos (com exceção dos que envolvam réu preso e
pedido de habeas corpus), todavia, em respeito ao princípio da isonomia e
segurança jurídica da decisão do jurisdicionado, pode ser prorrogado o prazo
desde que devidamente fundamentado.
4.6 JULGAMENTO E A APLICAÇÃO DA TESE JURÍDICA
Oportuno momento para diferenciar o IRDR quanto as ações coletivas
que tutelam direitos individuais homogêneos: a sentença desta última fará coisa
julgada "erga omnes" quando ocorrer a procedência do pedido, é o que nos traz a
legislação do art. 103, inciso III do CDC87. Não obstante, instaurado o IRDR e
resolvendo a questão jurídica, independente do resultado este será aplicado a
todos.
Assim entende a doutrina majoritária que acompanham os doutos Aluísio
Gonçalves de Castro Mendes e Roberto de Aragão Rodrigues:
No que se refere à extensão dos efeitos da decisão proferida, também há nítida diferença entre o incidente contido no Projeto de novo Código de Processo Civil e as ações coletivas que tutelam direitos individuais homogêneos. Com efeito, se nestas ocorre a extensão subjetiva da coisa julgada para alcançar os membros do grupo substituídos somente nas hipóteses de procedência (secundum eventum litis), a solução adotada pelo incidente de resolução de demandas repetitivas é diversa, e consideravelmente mais contundente, na medida em que a decisão proferida neste procedimento quanto à questão jurídica central comum às ações isomórficas produzirá eficácia pro et contra. Por outro lado, não se pode desconsiderar que os mecanismos processuais das ações repetitivas, apesar de sua adequação à tutela dos direitos individuais homogêneos, também possuem
86
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogério Licastro Torres de. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 1.404 87
Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada: erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81. Art. 103 Inc. III da Lei n. 8.078 de 11 de Setembro de 1990.
32
uma limitação, que consiste na imprescindibilidade de ajuizamento de ações individuais, fator que inviabilizaria a proteção dos denominados danos de bagatela. Assentada a premissa de que tanto os mecanismos representativos das ações coletivas como aqueles regidos pela lógica do julgamento por amostragem dos processos seriados possuem limitações na função de tutela dos direitos individuais homogêneos, sustentamos a coexistência harmônica entre eles, mesmo após o advento do incidente de resolução de demandas repetitivas, apontado como a grande novidade do Projeto de novo Código de Processo Civil e que passará a ser analisado a seguir
88.
Julgando o incidente e fixando a tese jurídica, será aplicado a todos os
processos presentes e futuros, sejam eles individuais ou coletivos, desde que
versem sobre idêntica questão de direito, tramitando na jurisdição do tribunal89.
Mas, posteriormente havendo recurso extraordinário ou especial, a decisão do
STF ou STJ terá efeito erga omnes, aplicando a tese em todo território
nacional90.
O IRDR portanto não julgará a causa ou demanda, mas fixará uma tese
com interpretação a respeito de direito controvertida. Nesse sentido, Sofia Temer
esclarece que devido o IRDR analisar somente questões de direito, a sua
cognição é limitada haja vista não considerar a "causa-piloto" (fundamentos
fáticos), mesmo que haja desistência dos elementos fáticos o incidente
prosseguirá e pelo modus operandi de sua aplicação às causas com questões
idênticas, bem como à participação de interessados que não possuam relação
com o direito material em litígio.91
Assim, se autor da causa-piloto desistir da lide, torna a causa em modelo,
haja vista que não haveria julgamento da demanda, mas apenas da questão, o
88
Mendes, Aluísio Gonçalves de Castro & RODRIGUES, Roberto de Aragão. Reflexões sobre o incidente de resolução de demandas repetitivas previsto no Projeto de novo Código de Processo Civil. Revista de Processo, v. 211, Set/2012, p. 191. 89
O código menciona no Art. 927, CPC/15 que os juízes e tribunais devem observar: "os
acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos". Aqui destaca-se que à decisão que julga o incidente tem sua aplicação obrigatória no âmbito do tribunal que a proferir. 90
Art. 987 do CPC/15. Do julgamento do mérito do incidente caberá recurso extraordinário ou especial, conforme o caso. § 1o O recurso tem efeito suspensivo, presumindo-se a repercussão geral de questão constitucional eventualmente discutida.§ 2o Apreciado o mérito do recurso, a tese jurídica adotada pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça será aplicada no território nacional a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito. 91
TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Jus Podivm, 2016. p. 68-69.
33
que ainda assim fixaria a tese em IRDR92. Isso demonstra que o modelo adotado
pelo legislador no código brasileiro é misto, pois o julgamento inicialmente é feito
através de uma causa-piloto (regra geral), mas pelo entendimento de Sofia Temer
a desistência do Autor da causa-piloto, transfere o objetivo formado a um
"modelo” da questão controvertida.93
Então o IRDR busca resolver o litígio normativo e a razão do
ordenamento jurídico fixando a tese por meio de um julgamento objetivo para que
posteriormente, direitos subjetivos possam ser tutelados com a tese jurídica no
caso concreto.94
Ademais, o incidente tem natureza objetiva, haja vista sua instauração
provocar julgamento coletivo quando submetida à análise do tribunal, não
necessariamente fazendo referência a algum caso concreto, independente de
conflito de interesses, deste modo, a tese fixada em IRDR abrangerá todos os
processos cuja questão repetitiva seja discutida.95 Em outras palavras, A
consequência do julgado que fixa a tese jurídica do incidente será aplicada aos
processos suspensos, bem como os futuros processos propostos após o
julgamento do IRDR, sendo que os novos processos devem seguir a decisão
firmada neste.
92
O legislador foi inteligente evitando que grande litigantes continuem apostando na incerteza ou indecisão de julgados. 93
"Embora seja coerente imaginar que o incidente será formado a partir do(s) processo(s) de onde tenha se originado requerimento ou ofício visando a instauração, sendo as panes destes processos selecionadas como sujeitos condutores do incidente, é possível que haja escolha de outros sujeitos que apresentem melhores condições de representar a controvérsia, já que o objetivo será formar, no IRDR, um "modelo" da questão controvertida para apreciação do tribunal. Nesse sentido, é o entendimento de Antonio do Passo Cabral, para quem "devendo existir uma decisão de afetação entre a admissão do IRDR e o início da instrução, não é obrigatório que o próprio processo de onde partiu o ofício ou petição de instauração do incidente venha a ser afetado. A admissão do incidente não leva à automática afetação do processo de onde ocorreu a provocação pela sua instauração"...Por outro víes, ainda nas palavras de Sofia Temer: Fredie Didier e Leonardo Carneiro da Cunha defendem a participação das partes dos processos repetitivos no incidente, por terem interesse jurídico na resolução da questão. Entendem, contudo, que o fazem na condição de assistentes do caso-piloto, até porque defendem que o IRDR julga também a causa (conflito subjetivo). (TEMER. Sofia. Recursos no incidente de resolução de demandas repetitivas: quem pode recorrer da decisão que fixa a tese jurídica?. in Nunes, Dierle. A nova aplicação da jurisprudência e precedentes no CP02015 / Dierle Nunes, Aloisio Mendes, Fernando layme. — 1. ed. — São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2017. p. 1042). 94
TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Jus Podivm, 2016. p. 80. 95
CAVALCANTI, Marcos de Araújo. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 198.
34
4.7 RECURSOS
Admitido ou rejeitado o IRDR, sendo a decisão colegiada, em regra esta
decisão é irrecorrível. Todavia, havendo a inadmissibilidade do IRDR, equipara-
se à coisa julgada formal, ou seja, há possibilidade de propor novo incidente,
desde que observados e corrigidos os erros provenientes da inadmissão.
Há algumas hipóteses em que o incidente não será admitido, como
exemplo: pela ilegitimidade para a propositura da ação ou já existir diligência
equivalente, como recurso repetitivo pendente de julgamento no Supremo
Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça, portanto não haveria motivo
para instaurar o IRDR em segunda instância.
Nessa perspectiva leciona Fredie Didier Junior:
“O IRDR é instaurado a partir de um caso que esteja no tribunal, seja um processo originário, seja um recurso (inclusive a remessa necessária). Somente cabe o IRDR enquanto pendente causa de competência do tribunal. A causa de competência do tribunal pode ser recursal ou originária. Caberá o IRDR, se estiver pendente de julgamento no tribunal uma apelação, um agravo de instrumento, uma ação rescisória, um mandado de segurança, enfim, uma causa recursal ou originária. Se já encerrado o julgamento, não cabe mais o IRDR. Os interessados poderão suscitar o IRDR em outra causa pendente, mas não naquela que já foi julgada”
Cabe destacar também o ensinamento do desembargador Amorim
Cantuária, nessa mesma lógica:
“Desse modo, a partir do modelo adotado no art. 976 e incisos do NCPC, entendo, com apoio na doutrina alemã, que o requerimento suscitando esta espécie de Procedimento-Modelo não será admitido quando: a causa estiver pronta para julgamento; quando puder prolongar ou postergar indevidamente o processo; quando o meio de prova requerido for inadequado; quando as alegações não se justifiquem dentro dos objetivos do procedimento, ou ainda, quando um ponto controvertido não aparentar necessidade de ser aclarado com eficácia coletiva (KapMuG § 1.o). Nesse passo, portanto, é lícito concluir, que a coexistência de ambos os pressupostos previstos no art. 976, incs. I e II do NCPC, exigem a demonstração de um superior interesse público, o de ser conveniente e oportuna a uniformização e consolidação da jurisprudência, com eficácia coletiva.”
96
96
TJSP - Incidente de Resolução 0027305-03.2016.8.26.0000 - 9.a Câmara de Direito Privado - j.
27/7/2016 - v.u. - julgado por Amorim Cantuária - Área do Direito: Processual. Revista dos Tribunais - Revista de Direito Privado. Vol. 73. JRP\2016\98669. p. 219.
35
Do julgamento do mérito caberá recurso especial ao Superior Tribunal de
Justiça ou recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal. Destaca-se que
ambos possuem efeito suspensivo, tendo em vista as demandas semelhantes já
existentes, sendo que sua decisão terá efeito de repercussão geral, por
conseguinte aplicando a todos os processos individuais e coletivos em que se
discutam aquela questão de direito em todo território nacional.97
Em caso da tese não ser respeitada, o Prof. Dr. Dierle Nunes ensina,
consoante Art. 985 § 1º do CPC/15, que caberá reclamação98, vejamos:
Pontue-se que não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação e se o incidente tiver por objeto questão relativa a prestação de serviço concedido, permitido ou autorizado, o resultado do julgamento será comunicado ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada. Esta determinação final se dá evidentemente pela percepção do deficit de fiscalidade que passamos no Brasil.
99
Isto pois a reclamação é o instrumento adequado para que se preserve a
própria aplicação das teses firmadas pelos tribunais, de modo que tenha por
finalidade valer a força do seu entendimento.
4.7.1 LEGITIMADOS RECURSAIS
Por obviedade os sujeitos condutores do incidente, chamados como
"partes" no código, possuem legitimidade para arguir controvérsia contra a tese
fixada.
Conforme vimos anteriormente, consoante art. 138, § 3º, CPC/2015, o
amigo da corte também pode recorrer desta decisão, no presente estudo foi
verificado a doutrina pacífica quanto a este ponto.
97
Art. 987. Do julgamento do mérito do incidente caberá recurso extraordinário ou especial, conforme o caso. § 1o O recurso tem efeito suspensivo, presumindo-se a repercussão geral de questão constitucional eventualmente discutida. § 2o Apreciado o mérito do recurso, a tese jurídica adotada pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça será aplicada no território nacional a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito. 98
Art. 985. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada: § 1o Não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação. 99
NUNES, Dierle. O IRDR do Novo CPC: este "estranho" que merece ser compreendido.
Justificando. Disponível em: http://justificando.cartacapital.com.br/2015/02/18/o-irdr-novo-cpc-este-estranho-que-merece-ser-compreendido/. Acesso em 19.março.2018.
36
O Ministério Público por força do art. 996100, pode recorrer no caso de ser
o condutor do incidente, bem como fiscal da lei. A Defensoria Pública além de
também poder atuar como sujeito condutor, dependendo da questão poderá fazer
parte como amigo da corte, mas Sofia Temer atenta no caso em que seja parte
de processo suspenso: "se enquadrará como sujeito sobrestado" (TEMER, 2017).
Os sujeitos dos processos repetitivos sobrestados também possuem
legitimidade recursal reconhecida, embora haja divergências doutrinárias,
entendo responsável a majoritária de Sofia Temer, Fredie Didier JR, Antonio
Bastos, Antônio Adonias, Sérgio Arenhart, Antonio Cabral, Ronaldo Cramer,
Marcos Cavalcanti e Daniel Neves, que acompanham inclusive o Enunciado nº 94
do Fórum Permanente de Processualistas Civis.101
Assim Sofia Temer esclarece:
Corroboramos tais vozes doutrinárias, aderindo à posição que reconhece legitimidade recursal às partes dos processos repetitivos. Com efeito, os sujeitos sobrestados não apenas podem intervir no incidente na fase instrutória, mas também podem interpor recursos contra a decisão final, o que decorre da importância de se permitir o exercício do direito de participação no processo judicial, enquanto esfera de exercício do poder estatal» e é fortalecida pela visão do IRDR como técnica do processo objetivo.
102
No IRDR não há substituição processual e os sujeitos sobrestados não
são substituídos pelo sujeito condutor, por este motivo a doutrina especializada
defende a legitimidade recursal daqueles que possuem interesse e legitimidade
para atuar no incidente. Isto pois, assim que se forma o precedente estes sujeitos
serão afetados pela tese jurídica, e o vínculo se justificará entre o sujeito
sobrestado e o objetivo debatido no incidente.
Tendo então interesse jurídico para interposição de recurso, deve existir
um filtro da utilidade da intervenção recursal em que novos e relevantes
100
Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. 101
Enunciado 94 do FPPC: "(art. 982, fi 40; art. 987) A pane que tiver o seu processo suspenso nos termos do inciso I do art. 982 poderá interpor recurso especial ou extraordinário contra o acórdão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas". 102
TEMER. Sofia. Recursos no incidente de resolução de demandas repetitivas: quem pode recorrer da decisão que fixa a tese jurídica?. in Nunes, Dierle. A nova aplicação da jurisprudência e precedentes no CP02015 / Dierle Nunes, Aloisio Mendes, Fernando layme. - 1. ed. - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2017. p. 1046).
37
fundamentos sejam trazidos para o debate, caso contrário o recurso poderá não
ser admitido.
Nessa concepção, Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha:
"para serem admitidos como intervenientes no incidente, é preciso que demonstrem a utilidade de sua intervenção. É preciso, em outras palavras, que demonstrem que têm novos argumentos para apresentar, podendo contribuir efetivamente (e com utilidade) da discussão e da formação do precedente".
103
Entende-se que se o sujeito condutor atuar com argumentos abrangentes
e completos, menos haverá de ser analisado quando os sujeitos sobrestados
atuarem, evitando que na ausência de recurso do sujeito condutor o tema seja
novamente amplamente debatido104, pelo contrário, tendo como efeito que os
recursos dos sujeitos não condutores sejam admitidos apenas parte, quando não
reproduzirem meramente os argumentos já apontados.
Para se evitar que existam muitos recursos contra a decisão,
acompanhando o que acontece no Musterverfahren105 (fundamento de inspiração
para o IRDR no Brasil), a doutrina vem entendo que há a possibilidade de nomear
novos líderes para a fase recursal, desde que objetivamente tragam novas e
melhores perspectivas argumentativas, melhorando a apresentação do debate
para os tribunais superiores, obedecendo o regime de recursos repetitivos.106
5. IRDR NO ESTADO DO PARANÁ
Neste tópico destaco uma breve pesquisa de acompanhamento dos
Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) que tramitam107 no
Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), ressalvando que o incidente está em
prática em diversos Estados brasileiros.
103
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil. Vol. 3. 13 ed. Salvador: Juspodivrn, 2016, p. 608. 104
TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Juspodivrn, 2016, p. 247. 105
"Os intervenientes também podem recorrer ou aderir a recursos de outrem. A lei disciplina
ainda a nomeação de outros líderes para as partes caso o Musterhlitger ou o Musterbehlagte não recorram ou desistam dos recursos interpostos" (CABRAL, Antonio do Passo. O novo procedimento-modelo (Musterverfahren) alemão: uma alternativa às ações coletivas. Revista de Processo, 2007, vol. 147, p. 142). 106
Arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015. 107
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. IRDR. Núcleo de Gerenciamento de Precedentes. Disponível em: https://www.tjpr.jus.br/nugep-irdr .Acesso em: 30 Jun 2018.
38
Até o presente momento da pesquisa, O Tribunal de Justiça do Paraná
admitiu108 12 (doze) Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas, sendo
eles:
1. IRDR 001 1537839-9: Inclusão da Tarifa de Uso do Sistema de
Distribuição de Energia Elétrica - TUSD e da Tarifa de Uso do Sistema de
Transmissão de Energia Elétrica - TUST na base de cálculo do ICMS para
consumidores cativos;
2. IRDR 002 1561113-5: a) A indevida cobrança de valores referentes à
telefonia sem solicitação do usuário, com o consequente pedido de indenização
por danos morais, em contrato de prestação de serviços de telefonia móvel; b)
ocorrência de dano moral indenizável, em virtude da cobrança de serviço de
telefonia móvel sem a solicitação do usuário, bem como, se configurado o dano,
seria aplicável o reconhecimento in re ipsa ou a necessidade de comprovação
nos autos; c) prazo prescricional incidente em caso de pretensão à repetição dos
valores supostamente pagos a maior ou indevidamente cobrados em se tratando
de serviços não contratados de telefonia móvel advindos de contratação sem a
solicitação do usuário, - se decenal (artigo 205 do Código Civil), trienal (artigo
206, IV do Código Civil), ou outro prazo; d) repetição do indébito simples ou em
dobro e, se em dobro, se prescinde, ou não, da comprovação da má-fé do credor
(artigo 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor) ou da sua culpa
(imprudência, negligência e imperícia), para telefonia móvel; e) abrangência da
repetição de indébito – se limitada aos pagamentos documentalmente
comprovados pela autora em fase instrutória ou passível de o quantum ser
apurado em sede de liquidação de sentença, mediante determinação à parte ré
de apresentação de documentação, para telefonia móvel;
3. IRDR 003 1675775-6: Definir, via IRDR, acerca da suspensão dos
efeitos individuais versando sobre a mesma matéria até que se julgue a ação civil
pública proposta;
108
Tribunal de Justiça do Paraná. Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR)
admitidos no TJPR. 2018. disponível em https://www.tjpr.jus.br/nugep-documentos/-/document_library_display/N6iT/view/11090622?_110_INSTANCE_N6iT_redirect=https%3A%2F%2Fwww.tjpr.jus.br%2Fnugep-documentos%2F-%2Fdocument_library_display%2FN6iT%2Fview%2F7174878 . Acesso em 30 junho 2018.
39
4. IRDR 004 1620630-7: Aplicabilidade da regra de imputação do
pagamento prevista no art. 354 do Código Civil de 2002 em liquidação ou
cumprimento de sentença, quando a matéria não for objeto de apreciação na fase
de conhecimento;
5. IRDR 005 1676846-4: (a) Se a aferição da legitimidade ativa requer a
demonstração de que os autores residem no imóvel e são usuários regulares do
serviço de fornecimento de água perante a Sanepar; (b) Quais elementos
caracterizam a efetiva interrupção na prestação de serviço de fornecimento de
água; (c) Se a paralisação temporária no fornecimento de água, para fim de
manutenção ou reparo na rede, configura ato ilícito; (d) Se a cobrança da taxa
mínima configura cobrança abusiva; (e) Se a interrupção no fornecimento de
água, caso comprovada, por si só e por qualquer lapso temporal, enseja dano
moral; (f) Se reiteradas interrupções no fornecimento de água, caso
comprovadas, e ainda que motivadas por força maior, caso fortuito ou
necessidades de manutenção ou reparo na rede, ensejaram dano moral; (g) Se a
presença de impurezas na água, por si só, causa dano moral;
6. IRDR 006 1708407-9: Possibilidade de servidores do Poder Judiciário
do Estado do Paraná terem incluídas na base de cálculo de seus adicionais por
tempo de serviço, os valores relativos à parcela de ajuste, adicional de tempo
integral por dedicação exclusiva, gratificação por serviço extraordinário e a
vantagem pessoal nominalmente identificada;
7. IRDR 007 1510100-9: Possibilidade de servidores temporários
contratados pelo Estado do Paraná mediante processo seletivo simplificado por
desempenharem as mesmas funções dos cargos equivalentes efetivos, poderem
receber "Adicional de Atividade Penitenciária";
8. IRDR 008 1677689-3: Como definir a data-base para progressão de
regime em caso de superveniência de nova condenação no curso da execução
penal;
9. IRDR 009 1745419-6: Alteração de polo passivo de execução fiscal,
pela morte do sujeito tributário passivo ocorrida após o lançamento e antes da
propositura daquela, mediante redirecionamento contra o respectivo espólio;
10. IRDR 010 1711022-8: Constitucionalidade do artigo 33 da Lei
Estadual nº 18.907/2016, dispositivo legal que adiou a data-base para
40
implantação da revisão geral dos vencimentos dos servidores públicos estaduais
do Paraná.
11. IRDR 011 1746576-0: Eficácia da coisa julgada da sentença
penal que reconheceu a licitude/atipicidade e a inexistência de excesso doloso ou
culposo dos agentes públicos envolvidos no episódio denominado operação
centro cívico, como causa de exclusão da responsabilidade civil do Estado
fundada na culpa exclusiva da vítima.
12. IRDR 012 1746707-5: Prazo prescricional e respectivo termo
inicial das pretensões de declaração de inexistência de empréstimo consignado
c/c pedidos de repetição de indébito e de indenização por danos morais,
embasadas na contratação fraudulenta de empréstimo consignado em nome de
indígena/analfabeto (parte autora).
Há ainda a instauração de outros 4 (quatro) IRDR perante o TJPR:
1. 1561113-5: da Comarca de Pato Branco - 2ª Vara Cível e da Fazenda
Pública sobre telefonia móvel.
2. 1675775-6: da Região Metropolitana de Maringá - Foro Central de
Maringá sobre a interrupção do fornecimento de água decorrente de enchente do
rio que abastece a cidade;
3. 1537839-9: da 1ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba acerca da não
incidência do ICMS sobre a distribuição (TSUD) e transmissão (TSUT), bem
como, que sobre energia elétrica encargos e tributos, seja aplicada a alíquota
geral do ICMS de 18%;
4. 16206307: Aplicabilidade da regra de imputação do pagamento em
liquidação.
No mais até o presente momento não109
foram admitidos no Tribunal de
Justiça do Paraná (TJPR) 20 (vinte) instaurações de Incidentes de Resolução de
Demandas Repetitivas (IRDR), sendo:
109
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas
(IRDR) não admitidos no TJPR. Disponível em: https://www.tjpr.jus.br/nugep-documentos/-/document_library_display/N6iT/view/11521071?_110_INSTANCE_N6iT_redirect=https%3A%2F%2Fwww.tjpr.jus.br%2Fnugep-documentos%2F-%2Fdocument_library_display%2FN6iT%2Fview%2F7174878 . Acesso em: 30 Junho 2018.
41
1. Processo 1260594-0-01 - Direito Administrativo - Prescrição do direito
à concessão de evolução funcional apresentado por servidores públicos inativos
em ações de conhecimento;
2. Processo 1423982-4-01 - Direito Administrativo - Servidor estadual,
promoção por escolaridade. Artigo 25 da Lei nº 15.179/2006;
3. Processo 1446600-5-03 - Recurso já julgado - Direito Administrativo -
Reconhecer o direito dos Servidores do Município de Londrina, que ingressaram
na carreira após 19/01/2004 de receber o reajuste mínimo previsto no § 2º, art. 42
da Lei Municipal nº 9.337/2004, no valor de R$ 265,00, observado o disposto no
art. 30 da Lei do PCCS quanto a tabela de vencimentos, bem como todas
consequências e reflexos dele decorrentes, a partir da data da nomeação.
4. Processo 1500312-6-03 - 1º Caso de IRDR não admitido no TJ/PR -
Direito Processual Civil - Legitimidade dos poupadores do Estado do Paraná
contra o antigo Banco Bamerindus, nos limites da coisa julgada na Ação Civil
Pública 808239-98.1993.8.26.0100 da 19ª Vara Cível de São Paulo;
5. Processo 1535595-4 - Direito Previdenciário - Constitucionalidade
formal da Lei Estadual nº 18.370/2014, aprovada na Assembleia Legislativa por
meio do rito denominado "Comissão Geral"
6. Processo 1546333-1 - Direito Civil - Indenização por danos morais
decorrente da demora na baixa de gravame de alienação fiduciária;
7. Processo 1550770-3 - Direito Constitucional e Administrativo - Dever
jurídico do Município em fornecer vaga em creche. Existência de Repercussão
Geral reconhecida pelo STF (Tema 548);
8. Processo 1556899-7 - Direito Civil e do Consumidor - a) configuração
de dano moral indenizável "in re ipsa" em decorrência exclusivamente da
indevida cobrança de valores a título de prêmio de seguro, anuidades - ou outras
cobranças não contratadas, em fatura de cartão de crédito; b) repetição do
indébito simples ou em dobro e, se em dobro, se prescinde ou não da má-fé da
instituição financeira (artigo 42, § único, do Código de Defesa do Consumidor) ou
da sua culpa (imprudência, negligência e imperícia); c) abrangência da repetição
do indébito - se limitada aos pagamentos documentalmente comprovados pela
autora ou passível de "quantum" a ser apurado em sede de liquidação de
42
sentença, mediante determinação à parte ré de apresentação de documentos; d)
o prazo prescricional sobre a referida pretensão;
9. Processo 1559370-9 - Direito Civil - Repetição de indébito e
indenização por danos morais em virtude de cobrança de parcelas referentes a
empréstimo consignado inexistente;
10. Processo 1560729-9 - Direito Administrativo - Remuneração de
horas extras a professores da rede pública;
11. Processo 1562592-0 - Direito Civil - Prescrição da pretensão de
cobrança de honorários advocatícios;
12. Processo 1567649-4 - Direito Tributário - Incidência ou não de
ICMS sobre as taxas cobradas pelo uso dos sistemas de distribuição e
transmissão de energia elétrica;
13. Processo 1575597-0 - Direito Administrativo - Direito do servidor
– agente de cadeia pública temporário - ao recebimento do Adicional de Atividade
Penitenciária (APP);
14. Processo 1579527-4 - Direito Público - Direito ao auxílio
alimentação de servidora Municipal.
15. Processo 1583308-8 - matéria já afetada pelo STJ - Direito Civil
- Prescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário, fundadas em atos
tipificados como ilícitos de improbidade administrativa.
16. Processo 1591478-0 - ausência de causa pendente - Direito
Civil - Prazo prescricional para ação de cobrança - art. 205 ou 206 do Código
Civil;
17. Processo 1595724-3 - Direito Público - Recomposição dos
prejuízos sofridos pelos servidores públicos da Câmara Municipal de Curitiba em
razão da aplicação da regra de conversão estabelecida no Decreto Municipal
141/94, não observando os contornos normativos da Medida Provisória 434/94,
convertida na Lei Federal nº 8.880/94, que instituiu a URV;
18. Processo 1602331-1 - Direito Público - Incidência do § 2º do art.
42 da Lei nº 9.337/2004, do Município de Londrina, a todos os servidores do
Poder Executivo Municipal, e não apenas àqueles que entraram em exercício
funcional anteriormente à publicação da referida Lei;
43
19. Processo 16206369 - prescrição intercorrente - anteriores ao
CPC/15 - tema já afetado STJ - Direito Processual Civil - Prescrição intercorrente
por inexistência de intimação pessoal do exequente para diligenciar nos autos;
20. Processo: 1567819-6 - Direito Tributário - Incidência ou não de
ICMS sobre as taxas cobradas pelo uso dos sistemas de distribuição e
transmissão de energia elétrica;
Imperioso analisarmos as diferentes demandas em direito material ou
processual, não obstando que suas peculiaridades possuam em comum a
questão de direito a ser discutida.
A efeito de estudo destaca-se alguns exemplos da não admissão dos
IRDR conforme estudamos nos tópicos anteriores, como aqueles que já tiveram
recurso julgado (1446600-5-03), pela matéria já ter sido afetada pelo STJ (ou
STF) por meio de repercussão geral (1583308-8), pela ausência de causa
pendente (1591478-0), pela prescrição intercorrente (16206369).
6. CONCLUSÃO
Em meio a insegurança jurídica em que o Brasil vivencia, o legislador
pátrio trouxe o novel instituto denominado Incidente de Resolução de Demandas
Repetitivas, objetivando uniformizar questões de direito controvertidas de modo a
assegurar que as decisões dos tribunais sejam pacificadas e respeitadas no
âmbito de sua região, possibilitando ainda que isso ocorra na seara nacional.
Este estudo teve por objetivo revelar que o novo código de processo civil
de fato buscou “ser novo”, observando meios de criar uma espécie de instituto
dentro do gênero “casos repetitivos”, demonstrando que o código de 1973 talvez
não estivesse solucionando de modo objetivo as questões de direito
controvertidas, principalmente aquelas cujas demandas coletivas abrangessem o
direito individual homogêneo.
Para isso o legislador baseou-se no direito comparado, buscando na
jurisprudência alemã modos de resolução de conflitos em massa. Não bastasse
buscar evoluir, a doutrina brasileira entende o IRDR no Brasil como sendo
híbrido, possibilitando o devido processo legal isonômico nas demandas
repetitivas.
44
Este instituto, em regra, utiliza uma demanda como causa-piloto quando
estiver no tribunal, deixando sobrestado outras demandas cuja questão de direito
controvertida possuam semelhanças, consequentemente, quando o tribunal julgar
a causa-piloto aplicar-se-á as demandas suspensas.
Embora parte da doutrina entenda que há a possibilidade de duas regiões
instaurarem IRDR cuja questão de direito seja semelhante e julgar cada qual de
modo distinto, respeitando este viés, vou de encontro com outro posicionamento:
acredito na prestação jurisdicional segura e igualitária, respeitando os objetivos
deste instituto. Isto pois, o código traz e a doutrina vem de acordo que os
legitimados recursais podem levar a questão litigiosa aos tribunais superiores,
cuja decisão terá efeito vinculativo e obrigatório a todos os tribunais.
Parte da doutrina entende que o objetivo do IRDR em agilizar a prestação
jurisdicional e diminuir o número de processos judiciais não seja alcançado, uma
vez que, mesmo após fixada a tese jurídica, interessados continuarão a ingressar
com ações individuais. Penso por outro viés, que a segurança jurídica trazida
pela tese fixada inibirá as demandas propostas, haja vista saber de antemão o
que se esperar do resultado.
Não obsta destacar que a tese pode ser discutida futuramente, ou seja,
revisada pelo mesmo tribunal caso as características da ratio decidendi tragam
novas realidades ou circunstâncias reais que sua aplicabilidade não satisfaz mais
os processos coletivos ou a demanda deva ter nova análise da questão debatida.
O IRDR vem sendo aplicado em diversas regiões do país, a efeito de
estudo local, trouxe a ementa das instaurações e teses, aceitas e rejeitadas, pelo
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.
Por fim, a verdade é que devemos aguardar o trâmite dos Institutos de
Demandas Repetitivas para analisar se de fato seus objetivos serão alcançados,
ou se a doutrina, se permitem chamar “negativa”, esteja correta a respeito das
imprecisões deste instituto. Não foi tema do presente estudo, mas diz-se até
quanto a inconstitucionalidade do IRDR, o que veremos adiante se algum recurso
extraordinário chegar ao Supremo Tribunal Federal.
Feliz é que temos doutrinadores interessados em examinar e debater a
fundo este instituto, de modo que ficando entre nós ou não, alcançando seus
objetivos ou não, acarretam calorosas e competentes teses no intuito do
45
legislador pátrio: melhorar a jurisdição, minimizar litígios, buscar uma justiça
célere, sempre objetivando uma justiça justa, isonômica e confiável.
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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47
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