allevato resolucao

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  • 8/13/2019 allevato Resolucao

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    unesp

    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO

    EM EDUCAO MATEMTICA

    REA DE CONCENTRAO EM ENSINO E APRENDIZAGEM DA

    MATEMTICA E SEUS FUNDAMENTOS FILOSFICO-CIENTFICOS

    Orientadora: Profa. Dra. Lourdes de la Rosa Onuchic

    INSTITUTO DE GEOCINCIAS E CINCIAS EXATAS

    RIO CLARO2005

    ASSOCIANDO O COMPUTADOR RESOLUO DE PROBLEMAS FECHADOS:

    ANLISE DE UMA EXPERINCIA

    NORMA SUELY GOMES ALLEVATO

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    Instituto de Geocincias e Cincias Exatas

    Campusde Rio Claro

    ASSOCIANDO O COMPUTADOR

    RESOLUO DE PROBLEMAS FECHADOS:ANLISE DE UMA EXPERINCIA

    Norma Suely Gomes Al levato

    Orientadora: Profa. Dra. Lourdes de la Rosa Onuchic

    Tese de Doutorado elaborada junto ao Programa de Ps-

    Graduao em Educao Matemtica, rea de

    Concentrao em Ensino e Aprendizagem da Matemtica

    e seus Fundamentos Filosfico-Cientficos, para a

    obteno do ttulo de Doutor em Educao Matemtica.

    Rio Claro (SP)2005

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    510.285 Allevato, Norma Suely Gomes

    A434a Associando o computador resoluo de problemas fechados:

    anlise de uma experincia / Norma Suely Gomes Allevato.

    Rio Claro : [s.n.], 2005

    f. 370

    Tese (doutorado) Universidade Estadual Paulista, Institutode Geocincias e Cincias Exatas

    Orientador: Lourdes de la Rosa Onuchic

    1. Matemtica Processamento de dados. 2. Software grfico.

    Sala de aula. 3. Estudo e ensino . 4. Tecnologias informticas.

    5. Aprendizagem. I. Titulo

    Ficha Catalogrfica elaborada pela STATI Biblioteca da UNESP

    Campus de Rio Claro/SP

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    Ao meu marido, Valdir, e ao meu

    filho, Fbio, pela pacincia e amor

    incondicional que me dedicaram

    durante a caminhada que culminou

    com este trabalho.

    Ao meu querido irmo Celso que,

    certamente, estaria vibrando

    comigo por mais esta conquista. (in

    memorian)

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela proteo e auxlio, e por ter me presenteado com tantas pessoas

    maravilhosas, que foram presena constante nesta empreitada.

    Ao meu amado marido, Valdir, pelo amor e dedicao inabalveis, pelo incentivo e

    pela confiana que sempre depositou em mim.

    Ao meu amado filho, Fbio, por ter suportado minha ausncia, e por sempre me

    perguntar ao telefone: "Voc j est vindo? A que horas voc vai chegar?"

    querida Cida, por ter compreendido to bem o quanto eu precisava de sua ajuda e

    por ter feito, por mim e pela minha famlia, muito mais do que tinha obrigao de fazer. Porter cuidado com tanto carinho de minha casa, e especialmente do meu filho, na minha

    ausncia.

    minha famlia toda, pelo incentivo constante e, de maneira especial, s minhas

    mes Cidinha e Jandira, e s minhas irms Lucelena e Solange por terem, tambm, tantas

    vezes, "assumido" meu filho por mim. minha irm Silvana por me dizer: "Eh! Deixe a gente

    ajudar!, por sua imensa ajuda e apoio.

    D. Lourdes, minha orientadora querida, por ter me concedido o privilgio de suaconvivncia e de sua amizade; por ter confiado e exigido, desafiado e acompanhado; pela

    orientao segura e constante.

    Ao Marcelo Borba, tambm pelo privilgio de sua amizade, pelo incentivo e pela

    confiana que depositou em mim.

    amiga Deinha, por ter sido uma companheira to fiel, pelos momentos de alegria,

    de estudo e de reflexo.

    Ao amigo Walter Paulette, por ter me acompanhado desde o incio at o fim do

    doutorado, me incentivando e me ajudando.

    Ao professor que abriu as portas de sua sala de aula para que eu fizesse minha

    pesquisa, pela sua coragem e por ter me proporcionado to ricos momentos de reflexo e

    aprendizagem.

    Aos membros do GPIMEM, pela aprendizagem, pela confiana e pelo carinho que

    sempre demonstraram.

    Aos professores Marcelo Borba, Nilson Machado e Vera Figueiredo pelas valiosas

    sugestes apresentadas no exame de qualificao.

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    A todos os colegas do Programa de Ps-Graduao, pela convivncia, pelo afeto,

    pelos momentos de alegria, de trabalho e de reflexo.

    Aos meus professores, aos funcionrios do Departamento de Matemtica, da

    Biblioteca e da Seo de Ps-graduao e a todos os que, de alguma forma, contriburam

    para a realizao deste trabalho.

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    RESUMO

    O objetivo desta pesquisa analisar de que forma os alunos relacionam o que fazem na

    sala de aula, quando utilizam lpis e papel, com o que fazem no laboratrio de informtica,quando esto utilizando o computador na resoluo de problemas fechados sobre funes.

    Ela foi desenvolvida seguindo a proposta metodolgica de Romberg, a abordagem adotada

    foi do tipo qualitativa e a coleta de dados foi feita, essencialmente, por observao-

    participante em sala de aula, mas tambm foram utilizados questionrios, entrevistas e

    anlise documental.

    A pesquisa foi desenvolvida com alunos de 2o semestre do curso superior de

    Administrao de Empresas. O contedo central que estava sendo estudado era funes e

    a metodologia de ensino adotada pelo professor era o ensino-aprendizagem de Matemtica

    via resoluo de problemas, particularmente problemas fechados e relacionados a temas da

    rea de Negcios. A proposta didtica para a pesquisa era levar os alunos a trabalhar com

    estes problemas utilizando o softwaregrfico Winplot.

    Problemas, no laboratrio, muito parecidos com os que eram resolvidos em sala de

    aula, permitiram estabelecer um paralelo entre procedimentos e conhecimentos que os

    alunos utilizavam quando estavam sem o computador e quando estavam com ele. A

    mediao do softwaretrouxe novas possibilidades no tocante aos processos de resoluo

    dos problemas e causaram conflitos com as concepes prvias dos alunos sobre esta

    atividade.

    A especificidade do softwaree dos problemas fez emergir problemas secundrios e

    tanto evidenciou lacunas de conhecimento, como foi veculo para o "preenchimento" dessas

    lacunas e para a construo de novos conhecimentos. Ainda, a nfase na representao

    grfica de funes, condicionada pelo software grfico, permitiu aos alunos experimentar

    novas formas de considerar antigos contedos.

    Esta investigao tambm destacou a linguagem sob duas perspectivas. Os dados

    sugerem que semelhanas e diferenas entre a sintaxe do software e a linguagem

    matemtica algbrica devem ser consideradas quando o computador utilizado no ensino

    de Matemtica. E, tambm, o confronto entre os termos prprios das linguagens utilizadas

    pelos atores participantes desse contexto a Matemtica, o software, as aplicaes rea

    de Negcios, as pessoas aponta para a possibilidade de novas abordagens de ensino, em

    que se d maior ateno a estes aspectos.

    PALAVRAS-CHAVE: Resoluo de problemas, Computadores, Educao Matemtica.

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    ABSTRACT

    The objective of this study was to analyze how students relate what they do in the

    classroom, when using paper and pencil, with what they do in the computer laboratory, when

    using the computer to solve closed-ended problems about functions. It was done following

    the Romberg's methodological proposal, a qualitative research approach was used, and data

    collection involved mainly participant-observation in the classroom, although questionnaires,

    interviews, and document analysis were also employed.

    The study was carried out with university-level students of Business Administration in

    their second semester. The central theme being studied was functions, and the mathematics

    teaching-learning approach adopted by the teacher was problem solving, in particular, closed

    problems and those related to the field of business. The didactic proposal of the research

    was to guide the students in using the graphing software Winplotto work with the problems.

    The problems posed to the students in the laboratory were very similar to those

    solved in the classroom, which made it possible to draw parallels between the procedures

    and knowledge used by the students with and without the computer. The mediation of the

    software introduced new possibilities with respect to the problem-solving processes, and

    caused conflicts with students previous conceptions regarding this activity.

    The specificity of the software and the problems posed caused secondary problems

    to emerge, and pointed to gaps in knowledge, as well as serving as a vehicle to fill these

    gaps and construct new knowledge. In addition, the emphasis on graphic representations of

    functions, resulting from the use of the graphing software, allowed students to experiment

    with new ways of considering old themes.

    This study also highlighted the language, from two perspectives. The data suggest

    that differences and similarities between the syntax of the software and the mathematical

    language of algebra should be considered when computers are introduced in the teaching ofmathematics. Also, the confrontation between the terms from the different languages used

    by the actors participating in this context mathematics, the software, the applications to the

    field of business, the people point to the possibility of new teaching approaches that give

    greater attention to these aspects.

    KEY WORDS: Problem solving, computers, mathematics education.

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    SUMRIO

    Introduo 1

    Captulo 1 - Metodologia da Pesquisa 15

    Captulo 2 - Resoluo de problemas 35

    Captulo 3 - Educao Matemtica e Computadores 71

    Captulo 4 - Contexto do Estudo 105

    Captulo 5 - Descrio Analtica dos dados 123

    Captulo 6 - Os dados luz da literatura apreciada 293

    Consideraes finais 317

    Referncias 327

    Anexos 337

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    ii

    NDICE

    Introduo

    A trajetria pessoal e a gnese da investigao

    A trajetria escolar e acadmica - opo pela Educao e pela

    Matemtica

    A trajetria profissional - opo pela Educao Matemtica

    A literatura e a relevncia da investigao

    A pergunta de pesquisa

    A organizao da tese

    Captulo 1- Metodologia da Pesquisa1.1 - A complexidade do campo de estudos e a justificativa dos mtodos

    1.2 - O Modelo de Romberg e esta pesquisa neste modelo

    1.2.1 - Identificao do fenmeno de interesse

    1.2.2 - Modelo preliminar

    1.2.3 - Relacionar com idias de outros

    1.2.4 - Estabelecimento das conjecturas

    1.2.4.1 - As conjecturas e a pergunta inicial

    1.2.4.2 - A metodologia de pesquisa qualitativa

    1.2.4.3 - Uma nova pergunta de pesquisa e a pergunta de

    pesquisa definitiva

    1.2.5 - Estratgia geral para coleta de evidncias

    1.2.6 - Procedimentos especficos

    1.2.6.1 - Fase inicial do modelo preliminar

    1.2.6.1.1 - Anlise documental

    1.2.6.1.2 - Questionrios

    1.2.6.1.3 - Observao

    1.2.6.1.4.- Entrevista

    1.2.6.2 - Fase intermediria do modelo preliminar

    1.2.7 - Fase final do modelo preliminar - Coletar evidncias

    1.2.7.1 - Observao participante

    1.2.7.2 - O registro das evidncias

    1.2.7.2.1 - Gravaes

    1.2.7.2.2 - Documentos

    1.2.7.2.3 - Dirio de campo

    1

    4

    4

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    iii

    1.2.8 - Interpretar evidncias

    1.2.9 - Transmitir os resultados a outros

    1.2.10 - Antecipar as aes de outros

    Captulo 2 - Resoluo de problemas

    2.1 - Os problemas e a construo do conhecimento matemtico

    2.1.1 - A resoluo de problemas e a atividade matemtica

    2.1.2 - O que e o que no um problema (matemtico)

    2.1.3 - Os objetivos da resoluo de problemas na Educao

    Matemtica

    2.2 - Concepes sobre resoluo de problemas

    2.2.1 - Ensinar sobre resoluo de problemas

    2.2.2 - Ensinar para a resoluo de problemas

    2.2.3 - Ensinar atravs da resoluo de problemas

    2.3 - Resoluo de problemas na sala de aula

    2.3.1 - O encaminhamento

    2.3.2 - Dificuldades na implementao

    2.4 - A minha pesquisa no cenrio das pesquisas j realizadas

    Captulo 3 - Educao Matemtica e Computadores3.1 - A funo do computador

    3.1.1 - O computador e a atividade humana

    3.1.2 - O computador e a aprendizagem matemtica

    3.2 - Aspectos emergentes

    3.2.1 - Crenas sobre fazer e ensinar Matemtica

    3.2.2 - Visualizao

    3.2.3 - Representaes mltiplas

    3.2.4 - Conjecturas e refutaes3.2.5 - Conhecimento como rede

    3.2.6 - Concepes matemticas que se repetem

    3.2.7 - Aprendizagem colaborativa

    3.2.8 - Coletivos pensantes

    3.3 - O computador em sala de aula

    3.3.1 - A funo do professor

    3.3.2 - Dificuldades com a utilizao do computador em sala de aula

    3.4 - A nova Matemtica emergente

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    iv

    3.5 - Resoluo de problemas e computadores

    3.6 - A minha pesquisa no cenrio das pesquisas j realizadas

    Captulo 4- Contexto do Estudo

    4.1 - As demandas atuais para a formao profissional

    4.2 - Os aspectos normativos e legais

    4.3 - A instituio

    4.4 - O curso

    4.5 - A disciplina Matemtica II

    4.6 - Os recursos disponveis

    4.7 - O professor

    4.8 - Os alunos

    4.9 - O pesquisador neste contexto

    Captulo 5- Descrio Analtica dos dados

    5.1 - Apresentao dos dados

    5.1.1. Formas de apresentao e convenes utilizadas

    5.1.2. Organizao do captulo

    5.2 - Subtema 1 - A resoluo de problemas com computador e a resoluo de

    problemas sem computador5.2.1 - A dinmica da aula e seus efeitos

    5.2.1.1 - Cenrio 1

    5.2.1.2 - Limitaes

    5.2.1.3 - Avanos

    5.2.1.4 - Transcendendo os dados e apontando possibilidades

    5.2.2 - Relacionando conhecimentos e procedimentos

    5.2.2.1 - Cenrio 2

    5.2.2.2 - Limitaes5.2.2.3 - Avanos

    5.2.2.4 - Transcendendo os dados e apontando possibilidades

    5.2.3. Concepes sobre resoluo de problemas

    5.2.3.1 - Cenrio 3

    5.2.3.2 - Limitaes

    5.2.3.3 - Avanos

    5.2.3.4 - Transcendendo os dados e apontando possibilidades

    97

    102

    105

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    108

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    144

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    v

    5.3 - Subtema 2 - A avaliao

    5.3.1 - Problemas secundrios evidenciam lacunas de conhecimento.

    5.3.1.1 - Cenrio 4

    5.3.1.2 - Limitaes

    5.3.1.3 - Avanos

    5.3.1.4 - Transcendendo os dados e apontando possibilidades

    5.3.2. - A compreenso dos estudantes cresce e se aprofunda

    5.3.2.1 - Cenrio 5

    5.3.2.2 - Limitaes

    5.3.2.3 - Avanos

    5.3.2.4 - Transcendendo os dados e apontando possibilidades

    5.3.3. - O professor em foco e o foco do professor

    5.3.3.1 - Cenrio 6

    5.3.3.2 - Limitaes

    5.3.3.3 - Avanos

    5.3.3.4 - Transcendendo os dados e apontando possibilidades

    5.4 - Subtema 3 - A linguagem

    5.4.1 - A linguagem pode ser a causa do conflito

    5.4.1.1 - Cenrio 75.4.1.2 - Limitaes

    5.4.1.3 - Avanos

    5.4.1.4 - Transcendendo os dados e apontando possibilidades

    5.4.2 - A linguagem matemtica e o uso do computador

    5.4.2.1 - Cenrio 8

    5.4.2.2 - Limitaes

    5.4.2.3 - Avanos

    5.4.2.4 - Transcendendo os dados e apontando possibilidades

    Captulo 6- Os dados luz da literatura apreciada

    6.1 - A resoluo de problemas com o computador e a resoluo de problemas

    sem o computador

    6.2 - A avaliao

    6.3 - A linguagem

    185

    185

    186

    212

    212

    213

    213

    214

    243

    243

    244

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    245

    252

    253

    253

    254

    254

    254268

    268

    269

    269

    269

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    291

    291

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    296

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    310

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    vi

    Consideraes finais

    Retomando a pergunta de pesquisa

    As contribuies deste estudo para a Educao Matemtica

    As limitaes deste estudo

    As perspectivas de novos estudos

    Ainda no o fim

    Referncias

    Anexos

    I - Questionrio

    II - Entrevista

    III - Aplicativos de Matemtica

    IV - Lista de problemas analisados

    317

    319

    322

    323

    324

    326

    327

    337

    339

    343

    347

    361

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    vii

    NDICE DE PROBLEMAS

    Problema 1 131

    Problema 2 132, 258

    Problema 3 133, 158, 215, 259, 270

    Problema 4 136

    Problema 5 138

    Problema 6 141

    Problema 7 142

    Problema 8 151, 210

    Problema 9 155, 194, 276

    Problema 10 156, 189, 206

    Problema 11 162, 256

    Problema 12 164, 217, 262, 283

    Problema 13 172

    Problema 14 175, 202, 220

    Problema 15 180, 189, 208Problema 16 186, 199, 289

    Problema 17 198

    Problema 18 207, 240

    Problema 19 223

    Problema 20 223, 280

    Problema 21 229

    Problema 22 234

    Problema 23 237, 257

    Problema 24 254

    Problema 25 265

    Problema 26 273

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    17/377

    viii

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 138

    Figura 2 139

    Figura 3 141

    Figura 4 142

    Figura 5 142

    Figura 6 143

    Figura 7 143

    Figura 8 147

    Figura 9 148

    Figura 10 148

    Figura 11 150Figura 12 179

    Figura 13 179

    Figura 14 181

    Figura 15 192

    Figura 16 192

    Figura 17 199

    Figura 18 205

    Figura 19 222

    Figura 20 228

    Figura 21 233

    Figura 22 234

    Figura 23 242

    Figura 24 246

    Figura 25 260

    Figura 26 271

    Figura 27 272

    Figura 28 275

    Figura 29 278

    Figura 30 278

    Figura 31 279

    Figura 32 279

    Figura 33 284

    Figura 34 287

  • 8/13/2019 allevato Resolucao

    18/377

    ix

    NDICE DE GRFICOS

    Grfico 1 132

    Grfico 2 137

    Grfico 3 150

    Grfico 4 157

    Grfico 5 159

    Grfico 6 160

    Grfico 7 163

    Grfico 8 165

    Grfico 9 168

    Grfico 10 169Grfico 11 172

    Grfico 12 174

    Grfico 13 176

    Grfico 14 177

    Grfico 15 182

    Grfico 16 187

    Grfico 17 190

    Grfico 18 191

    Grfico 19 193

    Grfico 20 194

    Grfico 21 200

    Grfico 22 202

    Grfico 23 204

    Grfico 24 208

    Grfico 25 209

    Grfico 26 215

    Grfico 27 216

    Grfico 28 218

    Grfico 29 219

    Grfico 30 219

    Grfico 31 220

    Grfico 32 225

    Grfico 33 226

    Grfico 34 227

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    x

    Grfico 35 232

    Grfico 36 233

    Grfico 37 235

    Grfico 38 238

    Grfico 39 255

    Grfico 40 257

    Grfico 41 258

    Grfico 42 261

    Grfico 43 263

    Grfico 44 266

    Grfico 45 267

    Grfico 46 268

    Grfico 47 270

    Grfico 48 273

    Grfico 49 274

    Grfico 50 277

    Grfico 51 281

    Grfico 52 283

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 149

    Tabela 2 163

    Tabela 3 164

    Tabela 4 167

    Tabela 5 168

    Tabela 6 201

    Tabela 7 255

    Tabela 8 256

    Tabela 9 258

    Tabela 10 263

    Tabela 11 265

    Tabela 12 265

    Tabela 13 266

    Tabela 14 267

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    INTRODUO

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

    2

    Introduo

    A trajetria pessoal e a gnese da investigao

    A trajetria escolar e acadmica - opo pela Educao e pela Matemtica

    A trajetria profissional - opo pela Educao Matemtica

    A literatura e a relevncia da investigao

    A pergunta de pesquisa

    A organizao da tese

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

    3

    INTRODUO

    O sujeito do conhecimento um sujeito histricoque se encontra inserido em um processoigualmente histrico que o influencia.

    ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI

    Esta tese apresenta alguns resultados de uma pesquisa cujo fenmeno de interesse o ensino de Matemtica atravs da resoluo de problemas utilizando os computadores.

    Por vezes, ao pensar em sua redao, ou mesmo ao tentar redigi-la, assustava-me o

    desafio que seria escrever um texto (a tese) que, realmente, fosse o retrato desta trajetria

    de 4 anos em que se desenvolveu a pesquisa, durante o curso de doutorado no Programa

    de Ps-Graduao em Educao Matemtica da UNESP em Rio Claro. Seria um trabalho

    difcil "contar tudo", comeando com a apresentao do problema da pesquisa, passando

    pela metodologia, pelo levantamento bibliogrfico, pelos dados, at chegar sua anlise e

    apresentao dos resultados.

    Estes momentos dedicados a escrever fizeram-me perceber melhor, no somente o

    peso da responsabilidade de relatar de forma consistente e bem fundamentada esta

    trajetria como a necessidade de buscar fatos e aspectos de uma caminhada que durou, na

    realidade, bem mais do que 4 anos. Essa percepo me faz lembrar as palavras de

    Romberg (1992) que, ao tratar das atividades realizadas pelos pesquisadores ao

    desenvolverem uma pesquisa, afirma: "toda pesquisa comea com uma curiosidade sobre

    um fenmeno particular no mundo real" (p.51)1

    . Mas, se uma curiosidade desencadeia umprocesso de pesquisa, o que desencadeia uma curiosidade? No meu caso, creio que tal

    curiosidade tem razes em experincias e vivncias bem anteriores ao especfico curso de

    doutorado durante o qual desenvolvi esta pesquisa.

    Todas essas experincias e vivncias apresentam-se em minha mente como um

    grande emaranhado de fatos no exatamente seqenciais, s vezes nebulosos e, muitas

    vezes, bastante distantes no tempo. Neste captulo proponho-me, inicialmente, a tentar

    resgat-las, organiz-las e apresent-las, acreditando que isto seja necessrio, embora no

    1Traduo de "All research begins with curiosity about a particular phenomenon in the real world".

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

    4

    suficiente, para atingir a consistncia desejada e justificar este trabalho. Em seguida, a fim

    de fortalecer estas justificativas, farei uma breve apresentao de algumas pesquisas,

    apontando algumas lacunas percebidas a partir de estudos analisados. Ento so

    apresentados os objetivos desta pesquisa e, finalmente, a forma como est organizada estatese.

    A TRAJETRIA PESSOAL E A GNESE DA INVESTIGAO

    A TRAJETRIA ESCOLAR E ACADMICA - OPO PELA EDUCAO E PELA MATEMTICA

    O interesse pela rea de Educao, particularmente o desejo de ser professora,

    levou-me a optar pelo curso de Magistrio no, ento, 2o grau. Por apresentar um gosto

    explcito e uma relativa facilidade em Matemtica, fui aconselhada vrias vezes, inclusivepor meus prprios professores, a optar por outra habilitao. Em suas falas, havia a

    expresso velada de uma crena que via o Magistrio como um curso indicado para os

    considerados "menos capacitados". De fato, havia uma cultura vigente de que os alunos em

    geral mas, especialmente as alunas, que pareciam no ter "capacidade" para outras

    habilitaes ou para o curso superior, deveriam ser encaminhados ao Magistrio; assim,

    poderiam pelo menos "dar aulas num meio perodo".

    Em especial, esta predileo pela Matemtica alimentava em mim a inteno de

    seguir a vida escolar cursando uma licenciatura nesta rea. Isto tambm era, na opinio de

    alguns, um forte motivo para eu no fazer o Magistrio, uma vez que havia outras

    habilitaes que poderiam me oferecer mais condies, no que se refere a contedos

    matemticos. Seria isto, quem sabe, a expresso de uma idia em que subsiste a crena de

    que para ensinar Matemtica mais importante saber Matemtica do que saber ensinar, ou

    de que, para fazer Matemtica preciso conhecimento e preparao, mas para ensinar,

    no.

    fato que o Magistrio no me dera uma forte formao matemtica. No tivedificuldade para passar no vestibular porque o curso superior de Matemtica era pouco

    procurado, mas no foi sem dificuldade que cursei e conclu minha licenciatura em

    Matemtica na Universidade Estadual de Londrina - UEL. Durante a licenciatura, porque

    tinha realmente gosto e interesse em aprofundar meus conhecimentos, cursei algumas

    disciplinas especficas do bacharelado, de modo que, com mais um semestre e muito estudo

    tornei-me tambm bacharel em Matemtica. A essa altura j ministrava aulas, na rede

    pblica estadual, para alunos de 5asrie e 2ograu.

    No era comum poca, como no o tambm hoje, que muitos alunos gostassem

    de Matemtica e quisessem, de fato, dedicar-se docncia. Alguns faziam o curso porque

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

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    era fcil passar no vestibular e no conseguiam entrar nos cursos que realmente queriam;

    outros entravam em Matemtica e ficavam tentando transferir-se para outros cursos como

    engenharias, agronomia; havia tambm os que achavam que o curso lhes daria condies

    de serem aprovados em concursos pblicos; frustrados, muitos desistiam do curso antesmesmo do trmino do primeiro ano. Lembro-me de minha formatura com apenas cinco

    alunos, trs dos quais haviam entrado na faculdade um pouco antes de mim; uma nica

    formanda era minha colega de turma. Assim, incentivada por meus professores da

    faculdade, inscrevi-me no mestrado em Matemtica Pura que era oferecido na prpria

    universidade.

    A TRAJETRIA PROFISSIONAL - OPO PELA EDUCAO MATEMTICA

    Logo em seguida fui convidada a ministrar aulas para os cursos superiores de

    Cincias Econmicas e Administrao de Empresas, substituindo uma professora que

    estava em licena mdica. Ser professora universitria era uma oportunidade ao mesmo

    tempo atraente e desafiadora. Dediquei-me com mais afinco ao mestrado, pois entendia que

    adquirir conhecimentos mais profundos de Matemtica era indispensvel s demandas

    profissionais que eu estava enfrentando. No semestre seguinte assumi outras aulas no

    departamento de Matemtica, agora como professora contratada. Um tempo depois, o

    departamento abriu concurso pblico para professores e, tendo sido aprovada, tornei-me

    professora efetiva na universidade.

    Aps alguns anos, mestrado concludo e j com experincia em ensino superior,

    mudei-me para So Paulo onde continuei trabalhando: ministrei aulas para muitos cursos

    diferentes, de vrias disciplinas diferentes, em universidades pblicas e particulares.

    Detalhes e reclamaes parte, no fcil dar aulas de Matemtica. Em geral,

    enfrentamos uma forte rejeio, por parte dos alunos, disciplina, rejeio que eles

    transferem, muitas vezes inconscientemente, a ns, professores. Muitos alunos apresentam

    grandes dificuldades para aprender Matemtica, tiram notas baixas nas avaliaes, so

    reprovados vrias vezes, questionam a necessidade da disciplina para sua formao. Os

    professores reclamam muito do baixo aproveitamento e desinteresse dos alunos nas

    disciplinas, da falta de recursos, da falta de apoio para qualificao e aperfeioamento

    profissional. Coordenadores e diretores alardeiam os altos ndices de reprovao e pedem

    providncias, renovao e atualizao das prticas.

    Foi neste quadro que, numa certa ocasio, por sugesto de um colega professor, nos

    propusemos a formar um grupo de estudos para estudar um software. Aprender a utiliz-lo,orientar os alunos de Clculo dos mais diversos cursos a utiliz-lo tambm, elaborar

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

    6

    trabalhos a serem realizados pelos alunos, eram alguns dos nossos objetivos. As

    dificuldades para viabilizar horrios para os encontros, o alto custo do material (manuais,

    livros, etc) e do software, a falta de recursos por parte da instituio, entre outras razes,

    contriburam para que, do grupo de estudos, restassem apenas intenes.

    Ainda assim, j nessa poca, alguns professores de alguns cursos, permitamos que

    os alunos utilizassem calculadoras nas aulas de Clculo, Matemtica Financeira, Clculo

    Numrico e Estatstica. No vamos problemas com isso, pelo contrrio; as calculadoras

    pareciam ser fortes aliadas da aprendizagem em sala de aula. Mas no havia reflexo

    sistemtica, por parte dos professores, sobre sua utilizao: suas possibilidades, suas

    potencialidades, as implicaes de sua utilizao no eram analisadas. Apenas

    elaborvamos exerccios (Ou eram problemas?) que exigiam compreenso e raciocnio por

    parte dos alunos, que no fossem meras aplicaes mecnicas de algoritmos ou rotinas.

    Entretanto, agora percebo que nem ns mesmos, os professores, tnhamos clareza do que

    queramos ou fazamos.

    Apesar das dificuldades, o gosto pela profisso permanecia e ainda permanece. E,

    porque permanece, me torna mais atenta s suas vicissitudes, aos detalhes, s falhas e

    carncias, e me faz buscar aprimoramento e aprofundar compreenses. S que, naquele

    momento, eu sentia que estudar e aprender mais Matemtica no me ajudaria no que eu

    queria. Os problemas que eu percebia com meus alunos, com minhas aulas, com minhasavaliaes, no se resolveriam se eu no buscasse aprofundamento nas questes relativas

    ao ensino da Matemtica.

    Esta busca levou-me a ingressar no Programa de Ps-Graduao em Educao

    Matemtica da UNESP, em Rio Claro, inicialmente como aluna especial.

    Simultaneamente ocorreram mais dois fatos que foram decisivos nesta opo pela

    Educao Matemtica. O primeiro foi um convite, por parte do diretor da faculdade em que

    eu trabalhava, para implementar um projeto que visava disponibilizar aulas de Clculo, quefossem acessveis aos alunos, via internet, como um recurso de apoio s aulas presenciais.

    O segundo foi uma proposta de emprego, numa faculdade em implantao, em que

    ministraria aulas de Matemtica para alunos do curso de Administrao de Empresas, em

    salas de aula totalmente informatizadas: alunos e professores com computadores de ltima

    gerao. Quanto ao projeto das "aulas" pela internet, no pude assumir pois resolvi afastar-

    me daquela instituio para dedicar-me ao doutorado na UNESP, mas aceitei as aulas na

    nova faculdade. Eram poucas aulas por semana e parecia que no me tomariam muito

    tempo.

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

    7

    Confesso que o novo "ambiente de trabalho" era fascinante e, associado

    possibilidade de desenvolver pesquisa, representava uma oportunidade de renovao de

    minha prtica docente. Tinha muito trabalho: preparao de arquivos de aula em

    PowerPoint, sesses de treinamento para utilizao e familiarizao com os recursos,criao de estratgias para contornar as dificuldades com a nova configurao da sala de

    aula. Mas o fascnio, que inicialmente tambm estava presente nos alunos, logo deu lugar a

    uma espcie de frustrao diante de algumas constataes: apesar dos recursos

    disponveis e de todo o empenho, a maioria dos professores (em que me incluo) dava "aulas

    tradicionais". As aulas estavam aqum do esperado, no por serem tradicionais, mas pelos

    resultados que mostravam ao serem conduzidas tal e qual, apesar do novo contexto, eu

    diria, informatizado. Os alunos no apresentavam melhora, qualitativa ou quantitativa, na

    aprendizagem dos contedos matemticos, estavam mais dispersos em sala de aula e

    apresentavam, agora, uma forte resistncia utilizao de livros e do "lpis-e-papel".

    Embora ainda iniciando meu contato com o programa de doutorado da UNESP,

    comeava a vislumbrar uma possibilidade de pesquisa. Tive, ento, conhecimento que no

    programa havia um grupo de professores e alunos desenvolvendo pesquisas na linha de

    Novas Tecnologias e Educao Matemtica2; li alguns de seus trabalhos e conheci e

    conversei com alguns membros desse grupo.

    Numa das disciplinas que cursei - Aprendizagem Matemtica - ainda como alunaespecial, por sugesto do ento professor da disciplina, Geraldo Perez, fiz algumas leituras,

    resenhas e um trabalho sobre resoluo de problemas que foi decisivo na definio de meu

    tema de pesquisa. Em princpio me causava uma certa estranheza este tema: "resoluo de

    problemas o que fazemos o tempo todo em Matemtica; o que haveria para pesquisar a

    este respeito?", pensava ingenuamente. Mas atravs deste trabalho tive um primeiro contato

    com alguns nomes de peso em resoluo de problemas, como Plya (1945) e Schoenfeld

    (1980), e me interessei pelo assunto. Soube tambm que no programa tambm havia um

    grupo de pesquisa trabalhando nisto3.

    Num contato inicial para discusso do meu projeto de pesquisa, a Profa. Dra. Lourdes

    de la Rosa Onuchic, coordenadora do GTERP e orientadora deste trabalho, apresentou-me

    a viso de resoluo de problemas como metodologia de ensino e, ficou definido, ento, que

    minha pesquisa teria como fenmeno de interesse o ensino de Matemtica atravs da

    resoluo de problemas utilizando os computadores.

    2GPIMEM - Grupo de Pesquisa em Informtica, outras Mdias e Educao Matemtica, coordenadopelo Prof. Dr Marcelo de Carvalho Borba. www.rc.unesp.br/igce/pgem/gpimem.html3GTERP - Grupo de Trabalho e Estudos sobre Resoluo de Problemas, coordenado pela Profa. DraLourdes de la Rosa Onuchic.

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

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    A LITERATURA E A RELEVNCIA DA INVESTIGAO

    Uma vez que a relevncia de uma investigao tambm se mede pela forma como

    ela se articula com as lacunas de pesquisas j realizadas, relacionadas aos aspectos de quetrata, organizei esta seo em subsees intituladas de acordo com alguns desses

    aspectos, apresentando justificativas para...

    ...A PESQUISA EM SALA DE AULA

    Thompson(1989), ao apresentar uma pesquisa sobre as concepes e crenas de

    professores de Matemtica a respeito da resoluo de problemas, destaca que os relatos de

    estudos em resoluo de problemas no descrevem o que realmente acontece na sala de

    aula e falham na avaliao da eficcia do ensino, pois apresentam resultados quantitativos

    (como quantos problemas foram resolvidos) e no qualitativos. Assim, considera que o

    conhecimento sobre as prticas de ensino desejveis mais um folclore do que uma

    evidncia de pesquisa.

    Tambm Ponte (2000) valoriza a investigao e a reflexo sobre a prtica e sugere

    que sejam realizados estudos que dem especial ateno experimentao de novas idias

    na sala de aula:

    "Deste modo, o conhecimento profissional est estreitamente ligado aco. Este conhecimento tem, necessariamente, uma forte relao com oconhecimento comum (usado na vida quotidiana) e ganha consistnciaquando se articula com o conhecimento acadmico." (p.11)

    Assim, embora minha pesquisa seja voltada mais aos alunos do que ao professor,

    sou levada a acreditar que ela bastante relevante neste aspecto, pois se refere a uma

    investigao realizada, realmente, sobre a prtica, e descreve e analisa o que realmente se

    passou em sala de aula, onde as situaes vivenciadas pelos alunos so diretamente

    configuradas pela forma com que o professor conduz o ensino e vice-versa.

    Acrescente-se a estes o fato de que a grande parte das pesquisas realizadas em

    sala de aula, envolvendo resoluo de problemas, apresenta resultados quantitativos como:

    quantos problemas foram resolvidos ou quantos foram resolvidos corretamente, etc. A

    pesquisa que estou desenvolvendo qualitativa, de modo que os aspectos analisados por

    mim tero um enfoque mais na natureza e aprofundamento das compreenses relativas

    resoluo de problemas.

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

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    ...A PESQUISA COM RESOLUO DE PROBLEMAS E COMPUTADORES

    Grande parte dos estudos sobre resoluo de problemas tem destinado esforos no

    sentido de analisar qual sua funo no ensino e aprendizagem de Matemtica, e esta

    funo tem sido, freqentemente, associada ao tipo de problema proposto aos alunos.

    Deste modo, os problemas so classificados, e classificaes apresentadas por vrios

    autores podem ser encontradas na literatura de pesquisa (SHIMADA, 1997; CONTRERAS,

    CARRILLO, 1998; HASHIMOTO, BECKER, 1999; DANTE, 2000; VAN DE WALLE, 2001;

    PEHKONEN, 2003;). O tipo dos problemas que foram propostos aos alunos participantes de

    minha pesquisa apresenta semelhanas com os exerccios de algoritmos e os problemas-

    padro, apresentados por Dante (2000); com a concepo tecnolgica, considerada por

    Contreras e Carrillo (1998); e, especialmente, com os problemas fechados, conforme

    entendem Shimada (1997) e Pehkonen (2003). Ocorre, porm, que a incluso do

    computador, e particularmente, do software grfico Winplot, mediando a resoluo dos

    problemas colocou os alunos diante de situaes que tornam consideravelmente nebulosas

    as fronteiras que definem estes tipos de problemas apontados por estes autores. Seus

    estudos no incluem a influncia deste mediador, o computador, na configurao dos

    problemas e do que pode advir desta influncia, no tocante aprendizagem da Matemtica

    atravs dos problemas. Em meu trabalho, vale destacar, foi possvel, inclusive, estabelecer

    um paralelo entre utilizar ou no o computador na resoluo do mesmo tipo de problema, o

    que permitiu perceber aspectos que no esto presentes em outros estudos.

    Os procedimentos dos quais os alunos lanam mo e os conhecimentos prvios aos

    quais recorrem se modificam ao passarem da sala de aula para o laboratrio. Estudos

    anteriores, baseados na "teoria da reorganizao", de Tikhomirov (1981), dedicaram-se a

    analisar de que forma os processos de pensamento dos alunos se reorganizam neste novo

    contexto em que as tecnologias informticas (TI) so utilizadas (BORBA, 1999;

    VILLARREAL, 1999; BORBA; PENTEADO, 2001; BENEDETTI, 2003). Inicialmente, gostaria

    de pontuar que nestes trabalhos as atividades realizadas pelos alunos foram preparadas

    especialmente para serem realizadas com algum tipo de tecnologia informtica, com

    caractersticas de atividades abertas, pois tinham, na maior parte das vezes, objetivos

    exclusivos de pesquisa, diferentemente dos problemas resolvidos em meu estudo.

    Percebo nestes estudos mais uma caracterstica comum: eles pem foco nas

    representaes mltiplas de funes, e analisam de que forma a coordenao entre estas

    representaes algbrica, numrica e grfica ajuda a promover uma compreenso

    matemtica mais abrangente dos contedos matemticos. Nestes estudos nenhuma das

    trs representaes ocupou lugar de destaque, no entanto, em minha pesquisa, h nfase

    na representao grfica em virtude da utilizao de um softwaregrfico.

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    Um outro aspecto que desenvolvi neste trabalho refere-se avaliao, tratado sob a

    perspectiva da deteco de lacunas de conhecimento nos alunos, e de como a resoluo de

    problemas associada ao softwareserviu de apoio para a superao das dificuldades, para a

    aprendizagem de contedos matemticos e para novas formas de compreender contedosj conhecidos. Trabalhos anteriores apontam para o potencial avaliativo da resoluo de

    problemas (SCHROEDER; LESTER, 1989; CAMPBELL, 1996; ONUCHIC, 1999; VAN DE

    WALLE, 2001; DIEZMANN; WATTERS; ENGLISH, 2001). Porm, novamente, nenhum

    destes estudos considera a mediao do computador nas atividades e, em meu estudo,

    procurei mostrar e analisar como essas deficincias se manifestaram a partir da presena

    do computador, no ambiente de resoluo de problemas.

    Ademais, vi poucos trabalhos voltados utilizao de tecnologias informticas,

    dedicarem-se a questes especficas acerca da avaliao. Bizelli e Borba (1999) fazem

    meno a questes relacionadas a isto; eles salientam que a carncia de conhecimento

    matemtico pode impedir a correta e efetiva utilizao dos recursos de um software. Mas a

    avaliao no era o foco de seu estudo.

    Dificuldades na resoluo de problemas com a utilizao do Winplot no foram

    decorrentes apenas da presena de lacunas de conhecimento nos alunos. Em meu estudo,

    no decorrer da resoluo dos problemas, surgiram problemas secundrios que me levaram

    a analisar aspectos relativos linguagem. Pierce e Stacey (2002) desenvolveram um estudoem que o "insightalgbrico" foi o centro das anlises. Segundo as autoras, esta parte do

    sentido simblico, necessrio para encontrar uma soluo matemtica para um problema

    matemtico, afetada quando se faz Matemtica utilizando softwares algbricos. Dois

    elementos, o reconhecimento de convenes e propriedades bsicas (como das diferenas

    entre linguagens) e a identificao de caractersticas-chave dos objetos matemticos, entre

    outros, compem o insightalgbrico. Os fatos que ocorreram durante minha investigao

    apontam para a necessidade de olhar com cuidado e levar em considerao a linguagem do

    software utilizado, particularmente a sua sintaxe, em relao linguagem matemtica

    algbrica. Os estudos de Henry Pollak (1986), e Waits e Demana (2000) indicam quais

    mudanas a tecnologia provoca na Matemtica, e Borba e Penteado (2001) afirmam que a

    informtica pode transformar o tipo de Matemtica que abordada em sala de aula. Porm,

    o caso da linguagem, da forma como considerei, refere-se a mudanas que a tecnologia

    provoca na forma de abordar os contedos matemticos e, quem sabe, incluso de novos

    contedos no ensino, no especificamente considerados, ao menos at aqui, matemticos.

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    Considero no menos relevantes os aspectos da linguagem voltados terminologia,

    isto , ao conjunto de termos que se utiliza na Matemtica, em relao aos que o software

    em uso apresenta, aos que o professor utiliza e aos que a rea de aplicao dos problemas

    exige (se forem aplicados a outras reas). Estes aspectos relacionados linguagememergiram, especialmente, de um tipo de ensino bastante mais individualizado que se

    configurou no laboratrio de Informtica, em relao sala de aula normal, das

    caractersticas dos enunciados e dos problemas propostos e, certamente, da forma como

    so nomeados e organizados os recursos do Winplot. Meus dados apontam para a

    necessidade de que professor e alunos "dominem esses termos", no simplesmente

    conhecendo seu nome, mas o significado daqueles termos, ou seja, a que conceito ele se

    refere. Alguns estudos (BENEDETTI, 2003; MACHADO, 2000; VILLARREAL, 1999) reiteram

    que, na presena de tecnologias informticas, preciso que o professor seja capaz de

    romper a rigidez que, em geral, caracteriza a organizao das atividades. preciso rever e

    promover mudanas na forma de tratar e na seleo dos contedos (WILLOUGHBY, 2000).

    Porm, vale destacar, nenhum desses estudos apontados anteriormente dedica-se,

    especificamente, a estes aspectos relacionados ao domnio da linguagem, ou melhor, das

    linguagens, sob a perspectiva que adotei em minha pesquisa.

    Encerro esta seo com consideraes de carter um pouco mais geral. No tocante

    utilizao de recursos auxiliares de ensino e aprendizagem, durante a atividade de

    resoluo de problemas, Ponte (1994) realizou um estudo em que procurou conhecer o que

    pensavam algumas professoras sobre a resoluo de problemas. Uma das dificuldades

    apontadas por elas foi a de encontrar material de apoio apropriado para este tipo de

    atividade. Ento Ponte (1994) afirma que, se verdade que, em alguns casos, basta-nos o

    enunciado da tarefa e material de escrita, tambm verdade que a utilizao de recursos,

    como softwaredinmico de Geometria e softwares algbricos, proporcionam a realizao de

    investigaes bastante interessantes que, de outro modo, se tornariam difceis ou mesmo

    impossveis de realizar. Portanto, tm sido apontadas caractersticas marcantes que tornamo computador um poderoso recurso de ensino, e as implicaes de sua associao

    resoluo de problemas no ensino de Matemtica merecem ser pesquisadas e analisadas.

    E, particularmente, entre as pesquisas que analisei, a utilizao de softwares grficos no

    ensino de Matemtica, conforme ocorreu em minha pesquisa, no tem sido muito explorado.

    A PERGUNTA DE PESQUISA

    Assim, a partir do entrelaamento de minha trajetria pessoal (escolar, acadmica e

    profissional), das demandas trazidas pelas lacunas de pesquisa percebidas na literaturasobre resoluo de problemas e computadores e, claro, de elementos emergentes nos

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

    12

    caminhos da prpria pesquisa, foi possvel elaborar uma pergunta diretriz. Esta pergunta a

    expresso de quais foram, afinal, os objetivos desta investigao. Compreender...

    De que forma os alunos relacionam o que fazem na sala de aula, quando ut ilizam lpis

    e papel, com o que fazem no laboratrio de informtica, quando esto utilizando o

    computador na resoluo de prob lemas fechados sobre funes?

    A ORGANIZAO DA TESE

    Esta tese est organizada em 8 partes, alm das referncias e anexos:

    INTRODUO

    Nesta parte, onde se insere a presente seo, apresento minha trajetria pessoal(escolar, acadmica e profissional) seguida de uma breve apresentao da literatura de

    pesquisa relacionada resoluo de problemas e utilizao dos computadores na

    Educao Matemtica, na tentativa de explicitar qual foi a gnese e qual a relevncia

    desta investigao. Segue-se a apresentao da pergunta de pesquisa e, finalmente, das

    linhas gerais do contedo de cada parte desta tese, isto , de sua organizao.

    CAPTULO 1 - METODOLOGIA DA PESQUISA

    No captulo 1 apresento e discuto alguns elementos da proposta metodolgica de

    Romberg (1992), que voltada ao processo de desenvolvimento de uma pesquisa em

    Educao Matemtica. Tambm explicito de que forma tal proposta fundamentou as opes

    que nortearam minha pesquisa. Justifico, ainda, a opo pela abordagem qualitativa e relato

    as mudanas realizadas no projeto inicial, e apresento os procedimentos adotados na

    coleta, registro e anlise dos dados.

    CAPTULO 2 - RESOLUO DE PROBLEMAS

    O captulo 2 dedicado a apresentar um retrato das pesquisas j desenvolvidas no

    mbito da resoluo de problemas. Inicialmente abordo a importncia dos problemas como

    mola propulsora da atividade matemtica e da produo do conhecimento matemtico.

    Apresento posies sobre o que um problema e sobre a funo da resoluo de

    problemas na Educao Matemtica. Em seguida analiso algumas diferentes concepes

    sobre resoluo de problemas e termino tratando de algumas questes voltadas mais

    especificamente implementao da resoluo de problemas em sala de aula.

    CAPTULO 3 - EDUCAO MATEMTICA E COMPUTADORES

    No captulo 3 so apresentados alguns estudos voltados insero dos

    computadores no ensino. Inicio por uma reflexo sobre a relao do computador com a

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    Introduo__________________________________________________________________________________________

    13

    atividade humana e a aprendizagem de Matemtica. Ento dedico uma seo a destacar

    alguns aspectos emergentes deste contexto. Sigo analisando alguns estudos que abordam

    questes especificas, relacionadas utilizao do computador na sala de aula, e alguns que

    tratam de resoluo de problemas e computadores.

    CAPTULO 4 - CONTEXTO DO ESTUDO

    O captulo 4 foi destinado apresentao das caractersticas do contexto em que

    esta pesquisa foi desenvolvida. Partindo de aspectos mais gerais at atingir os mais

    especficos, apresento informaes referentes s demandas atuais para a formao do

    Administrador de Empresas e s leis que regem estes cursos; instituio de ensino, ao

    curso e disciplina onde realizei a pesquisa; ao perfil do professor da turma, dos alunos

    pesquisados e, at mesmo, do pesquisador.

    CAPTULO 5 - DESCRIO ANALTICA DOS DADOS

    No contedo deste captulo apresento descritiva e analiticamente os dados

    construdos na pesquisa. O captulo foi organizado em vrias partes, cada uma delas

    tratando de um dos subtemas relacionados ao tema de minha pesquisa, que ensino de

    Matemtica atravs da resoluo de problemas utilizando os computadores. Os subtemas

    fixados foram: (1) a resoluo de problemas com o computador e a resoluo de problemas

    sem o computador, (2) a avaliao e (3) a linguagem. Em cada um desses subtemas so

    apresentados cenrios, que so conjuntos de dados agrupados por estarem relacionados a

    um aspecto particular do subtema em questo.

    CAPTULO 6 - OS DADOS LUZ DA LITERATURA APRECIADA

    As anlises desenvolvidas no captulo 5 so, aqui, ampliadas e aprofundadas

    atravs do relacionamento dos dados com a literatura de pesquisa apresentada e discutida

    nos captulos 2 e 3, isto , quela que trata de resoluo de problemas e do uso das

    tecnologias informticas, especialmente os computadores, na Educao Matemtica. Este

    captulo foi organizado na mesma ordem em que os dados foram apresentados no captulo

    5, ou seja, de acordo com os subtemas.

    CONSIDERAES FINAIS

    Nesta ltima parte, retomo minha pergunta de pesquisa a fim de sintetizar as

    compreenses e tecer algumas concluses que constru ao longo desta investigao, e que

    foram orientadas por esta pergunta. Expresso o que sinto no tocante s contribuies que

    minha pesquisa possa trazer Educao Matemtica. Tambm comento as principais

    limitaes que percebi em meu estudo, e aponto para novos estudos que podem ser

    realizados e que vislumbrei em funo deste que realizei.

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    Captulo 1

    METODOLOGIA DA PESQUISA

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    Captulo 1 Metodologia da Pesquisa___________________________________________________________________________

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    Captulo 1 - Metodologia da Pesquisa

    1.1 - A complexidade do campo de estudos e a justificativa dos mtodos

    1.2 - O Modelo de Romberg e esta pesquisa neste modelo

    1.2.1 - Identificao do fenmeno de interesse

    1.2.2 - Modelo preliminar

    1.2.3 - Relacionar com idias de outros

    1.2.4 - Estabelecimento das conjecturas

    1.2.4.1 - As conjecturas e a pergunta inicial

    1.2.4.2 - A metodologia de pesquisa qualitativa

    1.2.4.3 - A nova pergunta de pesquisa e a pergunta de pesquisa

    definitiva

    1.2.5 - Estratgia geral para coleta de evidncias

    1.2.6 - Procedimentos especficos

    1.2.6.1 - Fase inicial do modelo preliminar

    1.2.6.1.1 - Anlise documental

    1.2.6.1.2 - Questionrios

    1.2.6.1.3 - Observao

    1.2.6.1.4.- Entrevista

    1.2.6.2 - Fase intermediria do modelo preliminar

    1.2.7 - Fase final do modelo preliminar - Coletar evidncias

    1.2.7.1 - Observao participante

    1.2.7.2 - O registro das evidncias

    1.2.7.2.1 - Gravaes1.2.7.2.2 - Documentos

    1.2.7.2.3 - Dirio de campo

    1.2.8 - Interpretar evidncias

    1.2.9 - Transmitir os resultados aos outros

    1.2.10 - Antecipar as aes dos outros

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    Captulo 1 Metodologia da Pesquisa___________________________________________________________________________

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    CAPTULO 1

    METODOLOGIA DA PESQUISA

    A pesquisa cientfica exige criatividade,disciplina, organizao e modstia, baseando-seno confronto permanente entre o possvel e oimpossvel, entre o conhecimento e a ignorncia.

    MIRIAM GOLDENBERG

    Ao ingressar como aluna regular no programa de doutorado em EducaoMatemtica, defrontei-me com uma premente necessidade de compreender as perspectivas

    e os fundamentos de Metodologia de Pesquisa. Evidenciava-se uma lacuna em minha

    formao universitria de Graduao em Matemtica, e at mesmo de Mestrado em

    Matemtica Pura, no qual no houve preocupao com questes desta natureza.

    Entretanto, para fazer pesquisa em Educao Matemtica, era preciso buscar subsdios

    configurao e conduo de um trabalho de investigao cientfica cuja consistncia

    depende, tambm, dos recursos oferecidos pela Metodologia de Pesquisa e adotados pelo

    pesquisador.

    Como bem coloca Severino (1996) "[...] a metodologia um instrumental

    extremamente til e seguro para a gestao de uma postura amadurecida frente aos

    problemas cientficos, polticos e filosficos que nossa educao universitria enfrenta"

    (p.18). Entendo, estendendo esta idia, que tal instrumental deva ser utilizado em

    investigaes em Educao, na realidade em qualquer nvel.

    Tendo sempre em mente que meu objetivo era desenvolver uma pesquisa em

    Educao, particularmente em Educao Matemtica, tomei conhecimento das orientaesde Thomas A. Romberg, apresentadas em um trabalho intitulado Perspectivas sobre

    Conhecimento e Mtodos de Pesquisa4, e publicado no Handbook of Research on

    Mathematics Teaching and Learning, em 1992. Romberg educador, matemtico e

    professor de Currculo e Ensino do Centro Wisconsin de Pesquisa em Educao, da

    Universidade de Wisconsin - USA.

    Neste captulo de minha tese, pretendo apresentar e discutir alguns elementos dessa

    proposta metodolgica de Romberg, que voltada ao processo de desenvolvimento de uma

    4Traduo de Perspectives on Scholarship and Research Methods.

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    Captulo 1 Metodologia da Pesquisa___________________________________________________________________________

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    pesquisa em Educao Matemtica. Tambm pretendo explicitar de que forma tal proposta

    fundamentou as opes que nortearam minha pesquisa.

    1.1. A COMPLEXIDADE DO CAMPO DE ESTUDOS E A JUSTIFICATIVA DOS MTODOS

    A indiscutvel complexidade do cenrio em que se realiza o ensino-aprendizagem-

    avaliao da Matemtica leva os professores e pesquisadores a buscarem fundamentao e

    perspectivas para investigar as variadas questes que surgem neste cenrio. Esta

    complexidade decorre da presena e inter-relao de diversos fatores trazidos ao contexto

    escolar por, pelo menos, cinco elementos: o professor, os alunos, a disciplina (no caso, a

    Matemtica), a escola e a sociedade.

    Considerado o "guia" ou "gerente" do ensino, o professor norteia sua prtica a partir

    do conhecimento do perfil e das necessidades de seus alunos. Ambos, alunos e

    professores, tm suas atividades condicionadas estrutura escolar (organizao, recursos,

    ideologias, ...) e s peculiaridades da disciplina, a Matemtica, como pertencente a um

    conjunto de outras tantas disciplinas que integram as grades curriculares. Ademais, a

    instituio escolar foi criada por grupos sociais para preparar seus jovens a serem membros

    da sociedade. A respeito destas relaes, Ldke e Andr (1986) complementam:

    Cada vez mais se entende o fenmeno educacional como situado dentro de

    um contexto social, por sua vez inserido em uma realidade histrica, quesofre toda uma srie de determinaes. Um dos desafios atualmentelanados pesquisa educacional exatamente o de tentar captar essarealidade dinmica e complexa do seu objeto de estudo, em sua realizaohistrica.(p.5).

    Desta mirade de elementos surgem muitas questes e a necessidade de buscar em

    outras reas como a Sociologia, a Filosofia, a Pedagogia e outras, subsdios para a

    conduo de investigaes que tragam possveis respostas s questes. Quando as

    perspectivas de cada uma dessas reas so trazidas para a Educao Matemtica, esta

    produz seus prprios conjuntos de conceitos, mtodos e procedimentos. A EducaoMatemtica constitui-se, ento, em um rico campo de estudos, no qual a compreenso de

    suas prprias perspectivas e princpios fundamental na conduo de investigaes e na

    escolha dos mtodos de pesquisa. Diferentes mtodos pressupem e dependem no s das

    diferentes

    "formas pelas quais as informaes so coletadas, analisadas e relatadas,mas, tambm, dos muitos tipos de questes tipicamente levantadas e dosprincpios e paradigmas sobre os quais os mtodos para investigar taisquestes so baseados"5. (ROMBERG, 1992, p.50)

    5Traduo de way in which information is gathered, analyzed, and reported, but also the very typesof questions typically asked and the principles or paradigms upon which the methods to investigatesuch questions are based. (p.50)

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    Captulo 1 Metodologia da Pesquisa___________________________________________________________________________

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    1.2. O MODELO DE ROMBERG E MINHA PESQUISA NESTE MODELO

    Romberg (1992) associa o termo "pesquisar" a um processo no qual se realizam

    atividades no de forma mecnica ou prescrita: "As atividades envolvidas em fazer pesquisa

    englobam mais caractersticas de uma arte do que de uma disciplina puramente tcnica".6

    (p.51) Neste sentido o bom pesquisador, assim como um bom artista, deve ser criativo e

    ousado, no significando, entretanto, que no existam critrios de avaliao e julgamento

    para o que considerado um trabalho cientfico (ou artstico) aceitvel.

    A partir dessas consideraes Romberg (1992) destaca dez atividades que considera

    essenciais ao desenvolvimento de uma pesquisa salientando que, embora sejam

    apresentadas seqencialmente, no necessariamente se realizam nesta ordem e tampouco,

    na prtica, se separam to nitidamente:

    (ROMBERG, 1992, p.51)

    6Traduo de The activities involved in doing research embody more characteristics of a craft than ofa purely technical discipline. (p.51)

    1. Fenmeno deinteresse

    2. Modelopreliminar

    3. Relacionarcom idiasde outros

    4. Questes ou conjecturas

    7. Coletarevidncias

    8. Interpretarevidncias

    9. Relatarresultados

    10. Antecipar as aes dos

    outros

    5. Selecionar estratgias de pesquisa

    6. Selecionarprocedimentos de pesquisa

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    Nos itens que seguem, apresento alguns esclarecimentos sobre cada uma dessas

    atividades, tratando de relacion-las com as aes que nortearam minha pesquisa.

    1.2.1. IDENTIFICAO DO FENMENO DE INTERESSE

    O termo fenmeno pode ser entendido como "tudo o que objeto da experincia

    possvel, isto , que se pode manifestar no tempo e no espao segundo as leis do

    entendimento" (FERREIRA,1986). Japiass e Marcondes (1996) apresentam o significado

    de fenmeno nos seguintes termos: "tudo o que percebido, que aparece aos sentidos e

    conscincia".

    A identificao do fenmeno de interesse (atividade 1), ou tema geral da pesquisa,

    situa a curiosidade do pesquisador e corresponde ao ponto de partida para um trabalho de

    pesquisa. Ele tem origem no emaranhado de relaes que compem as questes relativas

    Educao Matemtica e que a constituem um campo de estudos extremamente frtil.

    O fenmeno de interesse desta pesquisa

    O ensino de Matemtica atravs da resoluo de problemas

    utilizando computadores.

    O interesse e a relevncia deste tema so justificados, inicialmente, pela curiosidade

    e necessidade, trazidas por fatos de minha trajetria acadmica e profissional, de obter

    compreenses mais profundas a respeito de minha rea de atuao, que o ensino de

    Matemtica, conforme j foi narrado na introduo. Somam-se a estes, imperativos trazidos

    pelas demandas e lacunas percebidas na rea e que justificam pesquisar sobre tal tema.

    Esta percepo decorre da anlise dos estudos j realizados que so relacionados ao tema

    desta investigao.

    1.2.2. MODELO PRELIMINAR

    Ao recomendar a construo de um modelo preliminar como uma das atividades(atividade 2) que os pesquisadores devem realizar, Romberg (1992) se distingue de outros

    autores que tratam do assunto, tornando seu trabalho, neste aspecto, original. O modelo

    preliminar um dispositivo heurstico7que ajuda a "clarear" um fenmeno complexo e serve

    como ponto de partida e como orientao para o desenvolvimento do processo de pesquisa.

    Consiste num esquema onde se indicam as variveis componentes do fenmeno e as

    relaes entre elas. Variveis so os elementos que compem e interferem no fenmeno

    de interesse.

    7Heurstica: "Que se refere descoberta e serve de idia diretriz numa pesquisa, de enunciao dascondies da descoberta cientfica" (JAPIASS; MARCONDES, 1996).

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    Tal como o nome enfatiza, o modelo preliminar reflete a idia inicial do pesquisador

    sobre o fenmeno que pretende estudar. Ele poder ser alterado, e a pesquisa ser

    reorientada, em virtude de novos e inesperados fatos ou fatores que possam surgir no

    decorrer da pesquisa.

    Para esta pesquisa elaborei o modelo preliminar a seguir, no qual destaco trs partes

    as quais expressam trs momentos da pesquisa, a saber: a de explorao, a de idealizao

    e a de realizao, no necessariamente disjuntas. Conforme comentado no pargrafo

    anterior, no decurso da investigao alguns encaminhamentos e procedimentos, realmente,

    tiveram que ser modificados em relao a esta minha primeira "idia". A forma como

    realmente se configuraram ser esclarecida na seo 1.2.7.

    Ex erimentos de ensino

    Ensino da Matemticaatravs da resoluo de

    problemas comtecnologia

    Ex erimentos em sala de aula

    Mudanas decomportamento

    Propostade

    ensinoMudanas naaprendizagem

    REALIZAO

    Criao de umprojeto

    IDEALIZAO

    Contexto

    Curso

    Instituio

    Aspectos

    sociolgicos

    Recursosdisponveis Disciplinas

    Perfil do alunoingressante

    Aspectosnormativos

    Perfil doprofessor

    pesquisador

    EXPLORAO

    MODELO PRELIMINAR

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    Na fase de explorao, a principal tarefa foi caracterizar o contexto da pesquisa, ou

    seja, tentar abarcar, tanto quanto possvel, os elementos constituintes do cenrio em que ela

    foi levada a cabo. Considero salutar remeter o leitor s consideraes de Romberg (1992) e

    de Ldke e Andr (1986), j analisadas na seo 1.1 deste captulo, segundo as quais umdos desafios da pesquisa educacional compreender e captar as complexas determinaes

    histricas e sociais em que se inserem os fenmenos educacionais.

    Na fase de idealizao foram preparados as atividades e os experimentos para

    coleta de evidncias, ou de dados, como tambm conhecida. Na ltima fase, a de

    realizao, foram realizados os experimentos, a interpretao das evidncias e a elaborao

    do texto da tese.

    1.2.3. RELACIONAR COM IDIAS DE OUTROS

    Ao "relacionar o fenmeno de interesse com idias de outros" (atividade 3), conforme

    diz Romberg (1992), o pesquisador procurar conhecer as pesquisas j desenvolvidas

    relacionadas ao seu tema. Conhecer o que outros pesquisadores pensam e quais so suas

    idias e concepes tericas; identificar lacunas de pesquisa e saber como tais idias e

    concepes podem ampliar, explicar ou modificar o modelo preliminar.

    Trata-se de conhecer "o estado da arte" e localizar sua pesquisa dentro do espectro

    daquelas j realizadas no campo de estudo em que ela se insere. Deste modo, opesquisador ir, tambm, identificar-se com um grupo cientfico particular e esta

    identificao criar referncias tericas e metodolgicas importantes orientao da

    investigao. O trabalho de buscar referncias em outros trabalhos acompanha toda a

    pesquisa. Um vasto conhecimento de estudos relacionados ao seu tema de investigao

    permitir ao pesquisador ter parmetros para o estudo do fenmeno, particularmente para a

    interpretao das evidncias.

    A pesquisa apresentada nesta tese apia-se, especialmente, em dois campos

    tericos: a resoluo de problemas e a utilizao dos computadores no ensino de

    Matemtica. Assim, os trabalhos envolvendo resoluo de problemas ou envolvendo a

    utilizao dos computadores so, certamente, uma referncia importante minha pesquisa.

    Entretanto, em minha busca por essas referncias percebi que so muito poucas as

    pesquisas que tratam desses dois aspectos simultaneamente, ou seja, que relacionam a

    utilizao do computador a aspectos especficos ligados resoluo de problemas. Por isso,

    quero crer que se faz necessrio desenvolver pesquisa sobre a prtica em sala de aula, e

    analisar como os alunos, imersos num ambiente informatizado de aprendizagem e

    totalmente voltado resoluo de problemas, manifestam sua "produo matemtica", como

    aprendem Matemtica.

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    1.2.4. ESTABELECIMENTO DAS CONJECTURAS

    1.2.4.1. AS CONJECTURAS E A PERGUNTA INICIAL

    Baseadas na curiosidade geradora da investigao, isto , no fenmeno de

    interesse, sero formuladas conjecturas ou levantadas questes de pesquisa (atividade 4).

    A orientao das questes no passado ou no presente, em geral, aplica-se melhor a estudos

    descritivos enquanto que as questes orientadas no futuro so prprias de estudos

    preditivos.

    A respeito do meu fenmeno de interesse, elaborei, inicialmente, as seguintes

    conjecturas:

    - o ensino da Matemtica, no curso de Administrao de Empresas, atravs da

    resoluo de problemas promove atitudes de investigao, persistncia,

    autoconfiana e aprendizagem de contedos matemticos;

    - o uso de computadores pode favorecer o ensino de Matemtica no curso de

    Administrao de Empresas, no sentido de estimular a criatividade e atitudes de

    investigao, bem como promover a experimentao;

    - a insero dos computadores no ensino da Matemtica, no curso de Administrao

    de Empresas, atravs da resoluo de problemas leva aos alunos uma perspectiva

    mais prtica e interessante da disciplina.

    Na tentativa de formular uma questo, ou pergunta, de pesquisa que correspondesse

    s conjecturas apresentadas cheguei seguinte:

    De que forma se modifica o processo de ensino-aprendizagem-

    avaliao quando se oferece, a alunos do curso de Administrao de

    Empresas, a oportunidade de aprender Matemtica atravs da

    resoluo de problemas utilizando computadores?

    Entretanto, o amadurecimento de idias que experimentei em minha caminhada no

    empreendimento desta pesquisa me levaram a repensar estas conjecturas e a pergunta de

    pesquisa. Vale destacar, nesta caminhada, dois "momentos" que foram totalmente

    determinantes neste amadurecimento: as longas e densas sees de orientao e os

    estudos e discusses realizados no GPIMEM e no GTERP. Este repensar foi decorrente,

    tambm, de uma melhor compreenso a respeito das questes relacionadas metodologia

    de pesquisa, compreenso esta construda, especialmente, no decurso da disciplina

    Metodologia de Pesquisa Qualitativa.

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    Sigo, deste modo, apresentando algumas dessas compreenses para, em seguida,

    recolocar minha pergunta de pesquisa.

    1.2.4.2. A METODOLOGIA DE PESQUISA QUALITATIVA

    Referindo-se aos modelos "alternativos" ao positivismo, para as pesquisas em

    Cincias Sociais, Alves-Mazzotti (2001) analisa o paradigma qualitativo. Ela destaca que ele

    engloba uma vasta gama de tradies, cada uma delas com seus pressupostos e

    metodologias. Procurarei, a seguir, contemplar as caractersticas mais gerais e mais

    freqentemente apontadas na literatura como sendo as que melhor configuram as pesquisas

    qualitativas(ALVES-MAZZOTTI, 2001; BOGDAN E BIKLEN, 1994; LDKE E ANDR,1986).

    1) As pesquisas qualitativas seguem uma tradio compreensiva ou interpretativa,

    significando que partem do pressuposto de que as pessoas agem em funo de suas

    crenas, percepes, sentimentos e valores, de modo que seu comportamento no

    se d a conhecer de modo imediato, mas precisa ser desvelado.

    2) Decorre da primeira, a viso holstica dos estudos qualitativos, que parte do princpio

    de que a compreenso de um fenmeno s possvel a partir da compreenso das

    inter-relaes que configuram um determinado contexto.

    3) A tradio compreensiva e interpretativa pressupe, tambm, a natureza descritiva

    dos dados. So realizadas descries detalhadas de situaes, fatos, pessoas e

    comportamentos observados; citaes literais das falas das pessoas, trechos ou

    ntegras de documentos so freqentemente registrados.

    4) A abordagem indutiva tambm uma caracterstica marcante das pesquisas

    qualitativas. Ela permite ao observador realizar observaes mais livres, deixando

    que padres e categorias surjam natural e progressivamente durante a coleta e

    anlise dos dados. Os pesquisadores no se prendem a buscar evidncias que

    comprovem hipteses definidas a priori.5) A fonte direta dos dados nas pesquisas qualitativas o ambiente natural. Os

    problemas so estudados no ambiente em que eles ocorrem naturalmente, supondo

    um contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e o fenmeno que

    est sendo investigado.

    6) O principal instrumento de investigao o prprio pesquisador. Ainda que alguns

    pesquisadores se utilizem de gravadores de udio ou vdeo para registrar os dados,

    o entendimento que este tem dos registros feitos o instrumento chave das anlises.

    7) A preocupao com o processo que orienta as investigaes qualitativas, mais do

    que com o produto. Ao pesquisador interessa observar como um fenmeno se

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    manifesta, como se evidencia, nas atividades e interaes dentro do contexto do

    estudo.

    A nfase qualitativa no processo vem sendo apontada como particularmente til e

    adequada a pesquisas educacionais. Utilizando-se de uma anlise comparativa, Bogdan e

    Biklen (1994) justificam: "As tcnicas quantitativas conseguiram demonstrar, recorrendo a

    pr e ps-testes, que as mudanas se verificam. As estratgias qualitativas patentearam o

    modo como as expectativas se traduzem nas actividades, procedimentos e interaces

    dirios"(p.49).

    1.2.4.3. UMA NOVA PERGUNTA DE PESQUISA E A PERGUNTA DE PESQUISA DEFINITIVA

    A partir do entendimento destes aspectos que caracterizam as pesquisas qualitativas

    e compreendendo sua relevncia para as pesquisas educacionais, julguei que o paradigma

    que melhor atende s expectativas que tenho para este trabalho de investigao o

    qualitativo. Ele me possibilitaria adotar uma postura mais aberta na interpretao dos dados

    coletados, com nfase na interpretao, e direcionaria meu olhar aos processos, mais que

    aos resultados. Tentei, ento, desprender-me de minhas conjecturas iniciais; desprender

    sim, pois abandon-las totalmente seria uma intil pretenso, uma vez que significaria

    negar, tambm, alguns de meus pressupostos existenciais. Modifiquei ligeiramente a

    redao de minha pergunta de pesquisa, inserindo as expresses "como se realiza".

    Acredito que esta alterao tenha modificado profundamente seu significado, agora

    evidenciando mais os processos e o tratamento indutivo que pretendi dar minha pesquisa.

    A nova verso de minha pergunta de pesquisa foi

    Como se realiza o processo de ensino-aprendizagem-avaliao

    quando se oferece a alunos do curso de Adminis trao de Empresas

    a oportunidade de aprender Matemtica atravs da resoluo de problemas

    utilizando computadores?

    Ocorreu ainda que, por ocasio do exame de qualificao, as percepes,

    observaes e reflexes desenvolvidas em conjunto com os professores que compuseram a

    banca, ajudaram-nos a ver que os dados, naquele momento j coletados, dificilmente

    responderiam pergunta de pesquisa anterior. Eu precisava direcionar o foco de minha

    busca e, entre outras decises, uma foi a de no mais me preocupar com aspectos

    especficos da rea de Administrao de Empresas. Acrescente-se a esta deciso, a

    percepo de que meus dados configuravam situaes caractersticas de experincias

    iniciais de utilizao do computador no ensino, tanto por parte dos alunos como do

    professor. Assim, dando espao ao j destacado tratamento indutivo que caracteriza as

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    pesquisas qualitativas, percebi que os dados apresentavam-se de tal forma que trariam

    respostas mais apropriadas seguinte pergunta:

    De que forma os alunos relacionam o que fazem na sala de aula, quando util izam lpis

    e papel, com o que fazem no laboratrio de informtica, quando esto uti lizando o

    computador na resoluo de problemas fechados sobre funes?

    E esta , afinal, a pergunta que orienta esta minha pesquisa, cabendo destacar que,

    sem ignorar outros elementos constituintes do contexto em que ela foi desenvolvida, meu

    olhar esteve voltado mais aos alunos.

    1.2.5. ESTRATGIA GERAL PARA COLETA DE EVIDNCIAS

    A seleo de uma estratgia geral (atividade 5) bem como a seleo dos

    procedimentos de pesquisa compem essencialmente uma parte de idealizao da

    pesquisa. Ela resulta diretamente do fenmeno de interesse, da pergunta de pesquisa e do

    modelo preliminar. Ao selecionar a estratgia ficar determinado o quepesquisar.

    A estratgia geral definida para esta pesquisa foi aplicar um projeto de ensino de

    Matemtica atravs da resoluo de problemas utilizando computadores, e analisar suas

    implicaes.

    1.2.6. PROCEDIMENTOS ESPECFICOS

    Tendo uma estratgia geral definida, o pesquisador escolher que procedimentos

    sero utilizados para levar a cabo esta estratgia, isto , ele decidir como colocar em

    prtica sua estratgia (atividade 6). Tais procedimentos fazem a ligao entre a estratgia

    geral e os mtodos de pesquisa, tornando exeqvel o que foi idealizado.

    Romberg (1992) ressalta que muitos mtodos de pesquisa especficos tm sido

    apresentados na literatura, os quais classifica dividindo em trs grupos. Um grupo refere-se

    queles que devem ser utilizados quando as evidncias j existem; o caso da

    historiografia, da anlise de contedo (ou anlise documental) e das anlises de tendncia,

    estes ltimos visando principalmente fazer extrapolaes. Num outro grupo esto os

    mtodos usados quando as situaes existem, mas as evidncias precisam ser

    desenvolvidas; incluem-se aqui, entre outros, as entrevistas e as observaes estruturadas,

    as entrevistas e as observaes clnicas, os estudos de caso, a pesquisa-ao, a etnografia.

    H ainda um terceiro grupo de mtodos que devem ser aplicados quando as situaes no

    existem e, portanto, precisam ser criadas para que as evidncias possam ser desenvolvidas;

    neste grupo esto, por exemplo, os experimentos de ensino e os experimentos

    comparativos.

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    Retomarei o modelo preliminar apresentado na seo 1.2.2, desta vez considerando-

    o por partes, a fim de associar e justificar a escolha desses mtodos e procedimentos para

    cada momento particular desta pesquisa. Ressalto que as fronteiras que separam os

    conceitos de mtodo e procedimentos so notadamente difusas, de modo que tratarei deambos, mais ou menos simultaneamente, a seguir.

    1.2.6.1. FASE INICIAL DO MODELO PRELIMINAR

    A fase inicial, de explorao (cujo diagrama reapresento a seguir), tem como objetivo

    caracterizar o contexto em que a pesquisa ser desenvolvida. Foram utilizados os mtodos

    de anlise documental, questionrios e entrevista.

    1.2.6.1.1. ANLISE DOCUMENTAL

    A anlise documental utilizada quando as evidncias j existem, mas precisam ser

    selecionadas e organizadas. Aqui foram estudados documentos e trabalhos de pesquisa

    sobre aspectos da realidade social e profissional do administrador de empresas, leis e

    regulamentaes para os cursos superiores de Administrao de Empresas, o projeto

    pedaggico do curso na instituio e o programa da disciplina Matemtica, onde a efetiva

    coleta de dados se realizou.

    1.2.6.1.2. QUESTIONRIOS

    Este mtodo utilizado quando as situaes existem, mas as evidncias precisam

    ser desenvolvidas. Foram aplicados questionrios aos alunos do curso de Administrao de

    Empresas e que cursam a disciplina Matemtica II, a fim de delinear seu perfil (Anexo I).

    Foram constitudos de questes estruturadas a respeito de sua vida escolar, de sua relao

    com a Matemtica, de sua experincia com a utilizao de computadores no ensino e de

    sua opo profissional.

    Contexto

    Curso

    Instituio

    Aspectossociolgicos

    Recursosdisponveis Disciplinas

    Perfil do alunoingressante

    Aspectosnormativos

    Perfil doprofessor

    pesquisador

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    1.2.6.1.3. OBSERVAO

    As informaes necessrias para traar o perfil do professor foram obtidas de uma

    entrevista e de conversas informais entre ele e o pesquisador. Mas tambm se pde inferirimportantes elementos sobre seu perfil a partir das observaes realizadas na coleta de

    dados.

    1.2.6.1.4. ENTREVISTA

    Foi realizada uma entrevista semi-estruturada (Anexo II) com o professor, que

    permitiu esclarecer algumas de suas idias e concepes sobre resoluo de problemas,

    sobre o ensino de Matemtica e sobre a utilizao do computador no ensino de Matemtica.

    1.2.6.2. FASE INTERMEDIRIA DO MODELO PRELIMINAR

    Na fase intermediria, de idealizao, ocorreu a escolha dos softwares a serem

    utilizados pelos alunos e a elaborao de problemas geradores de novos contedos que

    seriam aplicados aos alunos da j referida turma de ingressantes do curso de Administrao

    de Empresas. So problemas criados pelo pesquisador ou adaptados de livros-texto. Estes

    problemas tinham a finalidade de introduzir e orientar a compreenso e formao de

    conceitos como os de funo, limites de funes, taxa mdia de variao, taxa de variao

    instantnea, derivada, e assim por diante, conforme o programa pr-estabelecido para a

    disciplina.

    Os softwares escolhidos, inicialmente, foram o Excel e o Winplot. O Excel, sendo

    uma planilha eletrnica, possui vrios atributos que o tornam um recurso bastante rico.

    Permite ao usurio relacionar estruturas de carter numrico, algbrico, lgico e grfico;possibilita o trabalho com grande quantidade de nmeros e seu funcionamento recursivo

    constitui-se num atributo bastante interessante.

    O Winplot8 um softwaregrfico, gratuito, muito eficiente no estudo de funes de

    uma ou duas variveis, derivadas, integrais, equaes diferenciais e outros assuntos. Deste

    modo, enquadra-se bem aos contedos que seriam trabalhados com os alunos, quais

    sejam: funes de uma varivel, limites, derivadas e suas aplicaes. especialmente

    8A verso em portugus, preparada pelo Prof. Adelmo Ribeiro de Jesus, pode ser obtido no endereohttp://math.exeter.edu/rparris/winplot.html.

    Criao de umprojeto

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    simples de ser utilizado e disponvel, atualmente, em portugus (sua verso original foi

    produzida em lngua inglesa).

    1.2.7. FASE FINAL DO MODELO PRELIMINAR - COLETAR EVIDNCIAS

    neste momento que se recolhem as informaes que fornecero subsdios para

    tentar responder s perguntas norteadoras da pesquisa. (ROMBERG; 1992)

    A coleta de evidncias foi esboada, conforme j foi mostrado na seo 1.2.2., na

    parte referente fase de realizao (terceira fase) do meu modelo preliminar:

    Nesta etapa foram, realizados, primeiramente, alguns experimentos-piloto, os quais

    consistiram da aplicao das atividades envolvendo resoluo de problemas, em sala deaula. Estes experimentos haviam sido idealizados, inicialmente, para serem realizados com

    grupos pequenos de alunos. Entretanto, uma vez que a coleta de evidncias seria feita em

    sala de aula, optamos, eu e minha orientadora, por realizar tambm os experimentos-piloto

    em sala de aula. Eles foram de fundamental relevncia, pois apontaram possveis ou

    necessrios ajustes nos enunciados dos problemas, na orientao para a utilizao do

    computador, bem como nos procedimentos adotados pelo professor na conduo da

    atividade. Tambm sinalizaram para alguns aspectos que podero ser relevantes na efetiva

    coleta e anlise das evidncias.

    Esta coleta (atividade 7) consistiria na aplicao dos problemas em sala de aula e

    deveria ocorrer no segundo semestre do ano de 2002, ano em que foram realizados os

    experimentos-piloto. As atividades seriam aplicadas pelo prprio pesquisador, que era o

    professor da turma de alunos da disciplina Matemtica, do primeiro semestre do curso

    superior de Administrao de Empresas.

    Entretanto, no momento em que iniciaria a coleta de evidncias, por motivos

    administrativos, a faculdade onde ela seria realizada decidiu no formar a turma e, portanto,no havia tais alunos ingressantes que participariam da pesquisa. Tomo aqui as idias de

    Skovsmose e Borba (2000), segundo as quais podem ocorrer trs tipos de situao no

    Ex erimentos de ensino

    Ensino da Matemticapor meio da resoluo de

    problemas comtecnologia

    Ex erimentos em sala de aula

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    decorrer de uma pesquisa, das quais a primeira a que se refere situao corrente.Trata-

    se de um conjunto de fatos e acontecimentos que configuram o cenrio em que est

    inserida a pesquisa, e que caracterizado por tomar uma direo no necessariamente

    imaginada pelo pesquisador.

    O pesquisador, ento, analisa possibilidades e idealiza encaminhamentos (situao

    imaginada) que possibilitem dar continuidade pesquisa. Entre algumas alternativas

    analisadas para dar prosseguimento minha pesquisa, optou-se por observar as aulas de

    um outro professor. Tal professor tambm ministra aulas de Matemtica para alunos de

    Administrao de Empresas e tambm fundamenta seu ensino em resoluo de problemas.

    Ao ser consultado sobre esta possibilidade colocou-se prontamente disposio. Props-se

    a dividir suas aulas realizando metade de cada uma delas na sala de aula convencional9e a

    outra metade no laboratrio de Informtica, utilizando o softwareWinplot. E assim foi que

    ocorreu a redefinio do mtodo de coleta de evidncias. Cabe aqui, um paralelo a um

    terceiro tipo de situao apresentada por Skovsmose e Borba (2000), a situao arranjada,

    a qual refere-se a uma alternativa prtica de soluo de imprevistos emergentes durante o

    processo de investigao, possibilidades alternativas assumidas pelo pesquisador.

    Estes fatos nos remetem a um recurso bastante presente em pesquisas qualitativas,

    que o, assim chamado, design emergente. Ele constitui-se na escolha e configurao de

    mtodos e procedimentos de pesquisa no decurso de sua realizao. Caracteriza-se poratender s demandas que surgem das contingncias e fatos que emergem durante o

    processo de investigao. No se trata de adotar o espontanesmo, mas de compreender a

    necessidade de estabelecer um relacionamento interativo e flexvel, em que os instrumentos

    se configuram a partir do objeto de pesquisa, evidenciando, isto sim, um certo grau de

    flexibilidade necessrio ao rigor metodolgico.

    1.2.7.1. OBSERVAO PARTICIPANTE

    O professor da turma foi muito solcito e aberto e explicitou sua satisfao, inclusive

    em poder contar com o auxlio do pesquisador na implementao das aulas utilizando o

    software. Ficou definido, assim, que eu adotaria a observao participante. De acordo com a

    classificao elaborada por Romberg (1992), e j comentada na seo 1.2.6, este mtodo

    utilizado quando a situao existe, mas as evidncias precisam ser desenvolvidas. A

    situao, neste caso, refere-se turma de alunos em questo, em suas aulas de

    Matemtica II.

    9Refiro-me sala de aula em que os recursos auxiliares de ensino, disposio do professor, sosomente os tradicionais: a lousa e o giz. Doravante ser designada, muitas vezes, apenas como"sala de aula" a fim de evitar repeties.

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    Este um dos mtodos mais utilizados pelos pesquisadores qualitativos. Na

    observao participante "o pesquisador se torna parte da situao observada, interagindo

    por longos perodos com os sujeitos, buscando partilhar seu cotidiano [...]" (ALVES-

    MAZ