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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA Iracilda Delourdes Graboski REFLEXÕES SOBRE TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA PSICANALÍTICA DE ADOLESCENTES CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

Iracilda Delourdes Graboski

REFLEXÕES SOBRE TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA

PSICANALÍTICA DE ADOLESCENTES

CURITIBA 2010

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Iracilda Delourdes Graboski

REFLEXÕES SOBRE TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA

PSICANALÍTICA DE ADOLESCENTES

Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Universidade TUIUTI do Paraná, como requisito fundamental para a obtenção do título de especialização. Orientadora Professora Mestre: Angela M. S.Valore.

CURITIBA 2010

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TERMO DE APROVAÇÃO

Iracilda Delourdes graboski

REFLEXÕES SOBRE TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA PSICANALÍTICA DE ADOLESCENTES

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Especialista em Psicologia Clínica – Abordagem Psicanalítica, no curso de pós-graduação em Psicologia Clínica da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, junho de 2010.

___________________________________________________

Pós-Graduação em Psicologia Clínica

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Profª. Mestre Angela M.S. Valore

Universidade Tuiuti do Paraná - UTP

Prof. Dr. Jorge Sesarino

Universidade Tuiuti do Paraná - UTP

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A transferência na adolescência é arte de

escutar o silêncio que grita as palavras, as

palavras não ditas, o balbuciar de uma

monossílaba, e a palavra sussurrada é a fala

do silêncio, é um encontro privilegiado

pelo corpo que fala, sem palavra, com

presença, cada novo encontro, estimularam

as reflexões na clinica com adolescentes.

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AGRADECIMENTOS

� A Deus, em todos os passos.

� À minha Orientadora Mestre Angela M. S. Valore, pelo apoio e pela direção

neste percurso na elaboração deste trabalho pelos caminhos infindáveis da

transferência na psicanálise.

� Aos professores da pós-graduação, pela maneira única e singular de cada um

compartilhar os conhecimentos com destaque para aqueles que escolheram

transmitir a psicanálise, Dayse Maluceli, Dr. Jorge Sesarino e Maria Otilia

Bento Holz.

� Enfim, aos amigos e colegas que se fizeram presente durante este trajeto para

completude deste trabalho em cada momento especial em sala de aula, nas

supervisões e até nas leituras freudianas nas segundas-feiras.

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Queda do Outro.

Dignidade do Sujeito.

Transferência não é apenas repetição.

A verdadeira mola do amor.

A interpretação de Sócrates.

LACAN, 1992.

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SUMARIO 1. INTRODUÇÃO 09

2. Cap. I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 10

3. Cap. II – HISTÓRICO DO CASO CLÍNICO 26

4. Cap. III – DISCUSSÃO DO CASO CLÍNICO 28

5. Cap. IV – CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS 36

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40

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RESUMO

Este trabalho tem por foco a Transferência; mediante um recorte clínico perceber como se instala a transferência na clínica psicanalítica de adolescentes. Na teoria de Sigmund Freud, a transferência é o fenômeno natural do humano, que se dá pela fala do paciente. Para Jacques Lacan, a transferência é estruturante e é por meio da linguagem que o sujeito se estrutura. É nas palavras pelo discurso que o sujeito é castrado simbolicamente e pode se organizar como sujeito inserido no social. Reflexão de escutar o silêncio que se repete nas tentativas de discurso, na clínica este dizer silenciosos sem palavra ou por um “sim, não, não sei, ou mais menos.” Quando esta foi única forma de gritar, para tornar-se sujeito é com esta demanda de análise que a vivenciei na práxis, na clinica psicanalítica de adolescente. O complexo de dificuldade, e consternação do analista, para escutar o adolescente. Em que lugar esta família, qual espaço o adolescente tem neste momento, ou necessita dar e pode suportar neste tempo de mudanças e transformações? A demanda é dele, da família, da escola? Palavras-chaves: transferência, adolescente, psicanálise, família.

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1 INTRODUÇÃO

A psicanálise, como abordagem de trabalho, apresenta vários conceitos

instigantes para uma pesquisa; dentre estes, é a transferência que me faz mais questão;

“O que é transferência?”. E, dentre as peculiaridades da transferência na clínica, me

deparo com a adolescência, escutar o adolescente, esse novo desfio da sociedade

moderna. Na teoria psicanalítica estes conceitos estimulam e fundamentam uma

atualização da práxis na clinica.

A transferência, fenômeno comum e natural que ocorre em todas as relações

humanas, está presente no cotidiano de todos nós. Para a psicanálise, a transferência

(übertragung) surgiu em 1895, quando passou a ter o significado que utilizamos até

hoje. Já a adolescência não é um conceito clássico do vocabulário psicanalítico, este

conceito é relativamente recente, tendo surgido no último século.

Pesquisando a bibliografia a respeito com enfoque em Freud e Lacan, bem

como outros teóricos, descobri que a transferência na psicanálise não é uma invenção

de Freud; mas este fenômeno o interroga. Sendo a transferência um dos fundamentos

basilares da psicanálise, ainda hoje causa inquietações em como se dá este fenômeno.

A Transferência, para Lacan, é estruturante, e é pela linguagem que o sujeito

se estrutura, nas palavras do discurso o sujeito é castrado simbolicamente e pode

organizar-se como sujeito inserido no social. Essa manifestação espantosa e

absolutamente mágica me impulsiona a questionar, interpretar, compreender e

apreender o conceito “Transferência”, pois a cada nova leitura, aponta novas

possibilidades de refletir sobre o manejo da clínica psicanalítica, com adolescente e

sua complexidade.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 SOBRE TRANSFERÊNCIA

A transferência é um fenômeno universal que ocorre em todas as relações

humanas. A transferência e a psicanálise não são invenções de Freud; mas este

fenômeno acontece na clínica, a transferência, o interroga e o faz divergir da opinião

científica de seu colega e amigo Breuer, e Charcot, Chrobak. “Esta utilização da

transferência no tratamento e a instauração da associação livre permitirão a Freud

diferenciar radicalmente a psicanálise dos métodos da sugestão utilizados durante a

hipnose.” (STRYCKMAN, 1997, p. 259).

As particularidades da transferência para o médico, graças às quais ela excede, em quantidade e natureza, tudo que se possa justificar em fundamentos sensatos ou racionais, torna-se inteligíveis se tivermos em mente que essa transferência foi precisamente estabelecida não apenas pelas idéias antecipadas conscientes, mas também por aquelas que foram retidas ou que são inconscientes. (FREUD. 1912, vol. XII p. 112)

Com o novo método de trabalho, o médico neurologista foi dando lugar para

o psicólogo e posteriormente para o psicanalista, “[...] Freud revisou continuamente

suas teorias. Com o passar do tempo, seu interesse foi-se desviando gradualmente dos

problemas neurológicos e teóricos para os problemas psicológicos e clínicos.”

(FREUD, vol. IV, 1900, p.23)

O estudo sobre associação das palavras para considerar as sutilezas e os

enigmas na época, para Freud, poderia ser explicado pela fala. Essa nova metodologia

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de tratamento é chamada de associação livre; o paciente em seu discurso não necessita

estar focado em um problema específico que ele não podia ou deixava de recordar, o

tratamento analítico possibilita dualidades de afetos na transferência, ora gentil e

afetuosa em outro momento é o oposto, agressivo e hostil, “Freud observa que esta

transferência “sexual” não é provocada por uma ou outra das partes em presença. Em

outros termos, ela não é imputável à pessoa, ao ego do analisante ou do analista”.

(STRYCKMAN, 1997, p. 263).

No “Dicionário psicanálise Freud & Lacan”, segundo Scryckman,

encontramos algumas definições do termo transferência, tais como:

[...] 1. A transferência é um processo que se constitui pela fala ( talking-cure) endereçada ao analista. Para Lacan a transferência é uma transferência da fala sob forma de uma demanda devida ao fato da presença real do analista. [...] 2. Isto que se transfere, diz-nos Freud, é um saber sexual inconsciente, um saber sobre o objeto. A transferência é um fenômeno inconsciente. Isto que se transfere, para Lacan, é um saber suposto a um sujeito suposto saber: Este S.s.S. se funda pelo fato de que o analista desloca, transfere a demanda que lhe é endereçada. [...] 3. Este saber da transferência é um saber insabido do sujeito da transferência mas suposto ao analista, por aquele que ignora. Para Freud, há um desejo de saber. [...] 4. Para Lacan, este saber insabido não é garantido por nada mas pelo analisante, ele é suposto ao Outro. Para Lacan, não há desejo de saber porque o desejo não é causado, fundado por um saber. Para Lacan, há o S.s.S.. (1997, p. 263, 264).

Freud (1912) escreveu no texto “Dinâmica da transferência” que a

transferência reflete a vida amorosa do sujeito no cotidiano. Devemos lembrar que às

vezes ela se apresenta de forma positiva, o amor, é o caso em que o analisante vê o

analista com consideração e estima, mas também pode aparecer na situação oposta, e

esta condição, à qual Freud chamou transferência negativa, caracteriza-se pela falta de

confiança, ou seja, “ficar de olho” no analista.

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O desejo de amar justifica-se pelo querer ser amado, aparece o fenômeno a

que chamamos de um efeito de transferência, o afeto que aparece aqui na roupagem

do amor, o engano, sim, efeito de amor, sinaliza, marca a semelhança no campo do

narcisismo. A primeira identificação é investida pela onipotência que permite a

identificação primária, narcísica e precede o eu ideal. “[...] amor intervém aqui em sua

função de engano, face de resistência da transferência, efeito de alienação, na relação

do sujeito com o outro.”(STRYCKMAN, et al 1997, p. 296).

Freud chama atenção, no texto “Observações sobre o amor transferencial”

(1915[1914]), ao manejo da transferência na clínica psicanalítica, o qual pode levar o

analista em formação a inquietações e perturbações no decorrer do trabalho, a

momentos de conflito. E é com base nessa afirmação que o presente trabalho se

desenvolve, pois, muito mais do que uma questão teórica, foi a partir de sua prática e

observação clínica que Freud teorizou.

Como sabem, nunca nos vangloriamos da inteireza e do acabamento definitivo de nosso conhecimento e de nossa capacidade. Estamos tão prontos agora, como estávamos antes, a admitir as imperfeições da nossa compreensão, a aprender novas coisa e a alterar os nossos métodos de qualquer forma que possa melhorar. (Freud, vol. XVII, 1919 [1918], p.173)

Entretanto, a transferência é a condição fundamental para que advenha uma

análise. A transferência precisa de constante atualização pelos conteúdos apresentados

pelo paciente em sua análise. O analista em formação, “[...] logo aprende a encarar as

dificuldades como insignificantes e, ao invés, fica convencido de que as únicas

dificuldades realmente sérias que tem de enfrentar residem no manejo da transferência.

(FREUD, vol. XII 1915, p. 177)

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Porém, Lacan (1964) afirma que essa relação se instaura de maneira

assimétrica e não tem reciprocidade.

“ [...] nessa relação de um a outro, institui-se uma procura da verdade em que um é suposto saber, ou pelo menos saber mais que o outro.A respeito deste, surge logo o pensamento de que não somente ele não deve se enganar, como também que se pode enganá-lo. O enganar-se, no mesmo movimento, é remetido ao sujeito. Não é simplesmente que o sujeito esteja, de maneira estática, na falta, no erro. É que, de maneira movente, em seu discurso, ele é essencialmente situado na dimensão do se enganar.” (1964 p.131).

Um dos casos apresentado por Freud em “O estudo sobre a histeria, 1895”, a

célebre paciente de Breuer e de Freud, Ana O. clarifica e testifica o fenômeno da

transferência e do enganar-se. Ao descobrir e utilizar método de tratamento de cura

pela fala, “talkin cure” ou limpeza de chaminé – como a paciente Ana O. chamou na

época e Breuer denominou método catártico –, ele percebeu que ao recordar e relatar

com detalhes o momento da aparição dos sintomas eles desapareciam. Ciente desse

fato, a paciente continua a falar, apresentou grandes progressos caminhando

aparentemente para uma cura. Com a sua dedicação, esta paciente apontou uma

significativa melhora, mas ele precisou dispor muito de seu tempo aos cuidados desta

paciente, o que o levou interromper o tratamento. Na época, ele havia dito que a

paciente parecia assexuada, mas foi surpreendido na mesma noite, quando foi

chamado com urgência, encontrou a paciente em meio às dores de um parto histérico:

“fim de uma gravidez imaginária passada despercebida e que se produziu em resposta

aos cuidados dados por Breuer.” Ele desconhece o motivo da repentina mudança e

recorre à hipnose para conseguir acalmá-la.Viaja no dia seguinte com a esposa.

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Podemos pensar no conceito das neuroses, de Freud (1894 a 1905); a defesa

contra a castração, pela fixação em um contexto edipiano, de maneira que toda a

neurose é infantil. A neurose do adulto ou do adolescente é uma revivescência da

neurose infantil.

Freud (1905) começou a falar de Zwangsneurose (neurose obsessiva), a partir

dos sintomas de pensamentos ou de atos compulsivos esta neurose foi sendo

construída por meio da análise dos mecanismos da histeria. Segundo ele, na infância

há uma excitação sexual precoce, quando este trauma é sofrido passivamente constitui

a histeria, mas, se houve atividade com prazer, estabelece a neurose obsessiva.

Freud, no texto Observações sobre “O Amor Transferencial (1915[1914])”,

diz que o amor de transferência aparece com uma liberdade menor, que o amor da vida

cotidiana mostra mais uma dependência infantil.

O psicanalista sabe que esta trabalhando com forças altamente explosivas e que precisa avançar com tanto cautela e escrúpulo quanto um químico. Mas quando foram os químicos proibidos, devido ao perigo, de manejar substancias explosivas, que são indispensáveis por causa de seus efeitos? [....} Mas acreditar que as neuroses podem ser vencidas pela administração de remediozinhos inócuos é subestimar grosseiramente esses distúrbios, tanto quanto sua origem quanto á sua importância pratica. [...] da mesma maneira nunca seremos capazes de passar sem uma psicanálise estritamente regular e forte, que não tenha medo de manejar os mais perigosos impulsos mentais e de obter domínio sobre eles, em beneficio do paciente (vol. XII, (1915 [1914]), p. 187, 188).

Chemama R. e Vandermersch B. (2007), no “Dicionário de Psicanálise: Freud,

retoma o conceito de transferência.

Para Freud (1914) as psiconeuroses são divididas em neuroses narcisistas o que

é chamado hoje de psicose em outro grupo, às neuroses de transferência nas quais

estão inclusas a histeria, a neurose obsessiva e histeria de angústia (não consegui

entender?). “Nas neuroses narcísicas, a libido é investida no eu, não sendo mobilizável

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pelo tratamento analítico. Ao contrário, nas neuroses de transferência, a libido,

investida em objetos fantasmáticos, é facilmente transferida para o psicanalista.

No discurso, o paciente atravessado pela transferência coloca o analista em um

lugar de quem sabe, imaginário, sujeito suposto, ele pensa que o analista sabe algo

dele, que possa aliviar o seu sofrimento, o qual mais tarde Lacan vai chamar de (SsS)

sujeito suposto saber. Dito de outra maneira: a transferência na psicanálise é

fundamental, trata-se do pivô da análise, a princípio o paciente supõe que é o analista o

sujeito que sabe dele, do seu sofrimento, da sua história, como curá-lo, é aquele que

sabe. Permitir este suposto saber, no início do tratamento, compete ao praticante

sustentar o significante que o analisante lhe atribui e com isso se instala a

transferência.

O analisando pode ser motivado, como diz Freud, por certa confiança em seu

analista, isso será permitido até o ponto eficaz, pelos fatores de transferência que nele

são despertados. É necessário ter muita clareza e convicção de que quem sabe é o

paciente quando traz o seu saber insabido para o analista. “O analista não deve ser

aquele que, de antemão, tem resposta para tudo, mas aquele que abre questões e as

deixa abertas” (RASSIAL, 1999, p.165).

Em seu Seminário livro 08 “A transferência”, Lacan (1960-1961) refere-se

ao começo, metáfora do amor início da criação; trata-se do amor da enunciação à

formação, construção, parafraseado como teoria da transferência.

Essa relação de amor se constrói no imaginário da transferência. “Trata-se de

referi-la a uma experiência. Esta, no entanto, conhecemos muito bem, na medida em

que tenhamos, de alguma forma, experiência analítica”. (LACAN, 1960-1961, p.12).

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No começo era o amor”[...] No começo. [...] No começo era o verbo. [...] No começo da experiência analítica, vamos lembrar foi o amor. Este amor é algo diferente da transparência própria da enunciação, [...] É um começo espesso, um começo confuso. É um começo não de criação, mas de formação Logo chegarei ao ponto histórico, onde nasce, do encontrro de um homem e uma mulher, de Joseph Breuer e Anna O. (LACAN, 1992, p.11e12).

Para Lacan (1964), a transferência é um dos quatro conceitos freudianos

principais e fundamentais da psicanálise. Pensar o que é transferência entre Analista e

analisante, como ela se instala, priorizando o discurso de livre associação, o contexto

da realidade, revela significante por meio de uma demanda e possibilita o início do

trabalho de análise.

O analista deve ocupar o lugar de escuta sempre, segundo Lacan, para que

possa emergir o sujeito, e se faz necessário estimular a fala do paciente, abrindo

questões no discurso, o que possibilita a transferência. Para Lacan, “...- a arte de

escutar equivale quase à de bem dizer.” (1964, p.119).

Para Stryckman, “Centrar a transferência nesta perspectiva, nesta dialética da

fala, é indicar que é somente pelo plano simbólico (pela fala) que a função da

transferência pode ser compreendida”. (1997, p. 274)

A transferência na análise é a busca do sem sentido da realidade, é poder

escutar o insistido do recalcado para dar sentido. O sujeito repete o sintoma até ser

decifrado. O trabalho na transferência é a busca da verdade sobre si mesmo, querer

saber sobre o desconhecido que o consciente recalcou, é teorizar, falar, o estranho que

dá abertura à transferência quando o analisante se entrega à livre associação.

O que é importante não é, de modo algum, o que entra lá, conforme a palavra do evangelho, mas o que sai de lá. [...] A transferência é ao mesmo tempo obstáculo á rememoração e presentificação do fechamento do inconsciente, que é a falta, sempre no momento preciso, do bom encontro. (LACAN, 1964, p.138)

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O trabalho na clínica se direciona para escutar o paciente. Inclinando-se para

poder escutá-lo, o analista poderá dar um lugar para isso que sobrevém e que, de

alguma forma, estaria ligado à dor de existir. É preciso que ele se deixe cindir pela

palavra, analisando o que ele diz pelo significante. É na sua fala que está entremeado

um saber que advém a respeito dele e sobre o qual sujeito não tem domínio. Nesse

lugar é possível supor um sujeito ao seu saber inconsciente e que acredite que há um

Outro que o escute o que ele tem a dizer.

O desejo desponta, é o que chamamos comumente de um efeito de

transferência, o que não é outra coisa senão um efeito de amor, assinalável, portanto

no campo do narcisismo. O amor aparece em sua função de engano, na transferência,

efeito de alienação, na relação do sujeito com o outro.

A transferência, como já vimos por intermédio de Freud, Lacan e outros

teóricos, é a condição fundamental de análise. Apesar de ser a condição de análise,

Freud afirma ainda neste texto de 1905[1901] que o tratamento analítico não cria a

transferência, simplesmente a revela. Isso significa que a transferência acontece o

tempo todo na nossa vida. Entretanto, o uso que a psicanálise faz da transferência, e a

partir do manejo, é que faz dela uma clinica completamente diferente de todas as

outras. A psicanálise é uma clinica sob transferência.

Só te conheço de retrato, Não te conheço de verdade, Mas teu sangue bole em meu sangue E sem saber te vivo em mim E sem saber vou copiando Tuas imprevistas maneiras, Mais do que isso; teu fremente Modo de ser, enclausurado Entre ferros de conveniência Ou aranhóis de burguesia, Vou descobrindo o que me deste Sem saber que o davas, na líquida

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Transmissão de taras e dons, Vou te compreendendo, somente De esmerilar em teu retrato O que a pacatez de um retrato Ou o seu vago negativo, Nele implícito e reticente, Filtra de um homem; sua face Oculta de si mesmo; impulso Primitivo; paixão insone E mais trevosas intenções Que jamais assumiram ato Nem mesmo sombra de palavra, Mas ficam dentro de ti Cozinhada em lenha surda. Acabei descobrindo tudo Que teus papéis não confessaram Nem a memória de família Transmitiu como fato histórico E agora te conheço mais do que a mim próprio me conheço, pois sou teu vaso e transcendência teu duende mal escarnado. Refaço os gestos que o retrato não pode ter, aqueles gestos que ficaram em ti à espera

de tardia repetição, e tão meus eles se tronaram, e tão aderentes ao meu ser que suponho tu os copiaste de mim antes que eu os fizesse, e furtando-me a iniciativa, meu ladrão, roubaste-me o espírito. (Carlos Drummond de Andrade, Antepassado).

2.2 SOBRE ADOLESCÊNCIA

Adolescência é um momento especial na vida, privilegiado no último século, o

qual nada mais é o que era, é o momento da existência no qual não é mais possível

encontrar a criança em sua plenitude e o adulto ainda não se faz presente, é somente

uma promessa. Adolescência é o tempo dos avatares físicos, psíquicos e sociais. A

puberdade, ou seja, as mudanças físicas, corporais biológicas são facilmente

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observáveis, é a criança desabrochando ou brotando para um corpo de adulto. Para

Freud, nos Estudos sobre Histeria (1893-1895), a palavra adolescência não tinha o

mesmo conceito que tem na atualidade, considerando inclusive que na língua alemã

não há um termo específico para o nosso termo adolescência.

A adolescência é complexa. Este fenômeno aponta para duas teorias possíveis.

“Alguns apresentarão a adolescência com o início um ou dois anos depois da

puberdade, pois seria o tempo necessário para a maturação fisiológica se transforme

numa espécie de identidade consolidada. Outros defenderão ao contrário desta teoria e

vão afirmar que a adolescência começa antes da puberdade, pois esta é antecipada pela

adoção precoce de comportamentos e estilos de adolescentes mais velhos”.

(CALLIGARIS, 2000, p19).

De acordo com Manoni O. (1999) no livro “A crise de adolescência”, a

mudança começa pelo biológico, a mudança do corpo, a puberdade,

...embora adolescência de fato comece após a puberdade e encerre na fase adulta com acesso à idade adulta, é preciso perceber bem sua originalidade. A puberdade permanece uma crise puramente individual, que não apresenta nenhum problema social. Ela não se modifica com a situação sócio-histórica. Tem efeitos psíquicos e psicológicos, mas não questiona o social, ao passo que a adolescência já ameaça criar um conflito de gerações. (apud Ariane Deluz, 1999, p. 18).

Rassial (1999), no livro “O adolescente e o Psicanalista”, relata que muitos dos

pacientes de Freud eram muito jovens, e esclarece que:

[...] a adolescência não é um conceito clássico vocabulário psicanalítico. [...] os trabalhos sobre adolescência permanecem por muito tempo marginais, em

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prol particularmente das pesquisas sobre a primeira infância; em sua maioria, os analistas ainda são muito reticentes em engajar jovens sujeitos numa análise. [...] A puberdade fisiológica perturba a imagem do corpo construída na infância. O que aparece como o cumprimento último da humanização, para o adulto, pode se apresentar como uma catástrofe para o adolescente. (1999, p. 12, 17)

E nesse momento especial, ao qual chamamos de adolescência, parece que

tudo se mistura, aglutina, num laço que envolve o íntimo e o social, a promessa e a

renúncia, a vida e a morte, e a realidade parece estar no imaginário; é um lugar de

passagem dos encontros, das possibilidades que vislumbra no horizonte vivência das

aberturas e de fechamento do inconsciente e o recalcado.

Com efeito, no livro “Mais tarde... é agora!, Ruffino R. (2004) traz:

O discurso da psicanálise e os conceitos que ela põe em movimento são essa interface (embora não se esgotem nisso). Por outro lado, não está dado desde já aquilo que da história da civilização e da cultura humana possa interessar para a questão da constituição da subjetividade. Ao contrário, isso há de ser construído. Quando tentemos fazê-lo, só obtemos algum resultado quando reordenamos esse material por perguntas capazes de serem articuladas desde o campo da psicanálise e a partir das categorias do real, do imaginário e , principalmente, do simbólico que nos remete ao ensino de Lacan. (2004, p.73)

Manoni M. (1999), em “A Crise de Adolescência”, aponta para o nó de

vivenciar a adolescência entre o desejo de ser acolhido e o medo de ser sufocado, pela

demanda dos adultos, ao lembrar que não existe mais a criança na sua completude e o

adulto ainda está em plena metamorfose. Isso é evidenciado e lembrado por algum

adulto próximo, em discursos tais como: “você não é mais criança ou você não pode

agir assim você ainda é uma criança”; nesse desdobramento de valores, o momento é

de decisão em que as velhas identificações estão por cair e as novas ainda estão em

construção.

Para Saggese E.(2001) no livro “Adolescência e Psicose”;

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Para a psicanálise a loucura, na sua forma radical de psicose, implica na experiência de perda do giro particular de nosso espírito, mas também num esforço do sujeito de readquirir uma forma de dizer sua verdade particular. Esses dois momentos se deixam apreender em situações-limite de indivíduos na travessia da adolescência. (2001, p. 53)

Segundo Calligaris (2000), podemos dizer que este momento de passagem, ao

qual chamamos na atualidade de adolescência, por si só não é uma demanda de

análise:

A idéia de que uma analise possa produzir uma mudança subjetiva importante, não se trata de produzir um novo sujeito, totalmente diferente. Os adolescentes amam, estudam, brigam e trabalham. Mas também vivem um interminável conflito com seus corpos que se esticam e teimam em se transformar de maneira desordenada. E ainda precisam lidar com a dificuldade de crescer dentro do complicado contexto da família moderna. “A adolescência, nessa altura, não precisa acabar. Crescer, se tornar adulto, não significaria nenhuma promoção. Consistiria em sair do ideal de todos para se tornar um adulto que só sonha com a adolescência. [...] Por que desejar se tornar adulto quando os adultos querem ser adolescentes?” ( 2000, p.74).

A psicanalista Maud Mannoni na apresentação do livro “A crise de

adolescência” (1999), afirma:

O analista nada poderá com o adolescente se ficar próximo de a um sério (saber) que o adolescente contesta. É no imaginário, nos diz Octave Manoni, que encontramos a cura, nos livrando pelo jogo. Mas há que se preservar na análise um espaço de fantasia. Espaço constituído (como sublinhava Freud em 1907) pela reserva formada ao se passar do princípio do prazer ao principio de realidade. O que se libera, diz Freud, da prova de realidade é a fantasia reencontrada nos jogos infantis (1999, p. 13).

No livro “Mais tarde... é agora! Ensaios sobre a adolescência”, Octave

Mannoni, no texto A adolescência é analisável?, traz que, segundo Lacan o analisante

acredita, no imaginário, supõe que o analista sabe, e quando o analista no início aceita

ocupar este lugar de S.s.S (sujeito suposto saber) instala-se a transferência. (Mannoni

O. 2004, p.28)

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A adolescência apresentada por Mannoni (2004) é este lugar de passagem e de

encontro entre o individual e o social – o adolescente se vê diante de múltiplas

possibilidades, escolhas e promessas – e é também momento de lutos e fechamentos.

A adolescência, o encontro ou entroncamento do mundo interno e externo, entre o

íntimo e o social, adolescência de transição, de passagens, das novas possibilidades, da

abertura e fechamentos. Daí porque é preciso entender bem a singularidade deste

momento. A puberdade é fisiológica e individual, não contribui para nenhum problema

social. Os psíquicos já têm a ver com o adolescer, no livro “Mais tarde... é agora!

Chassaig Pontua; “...o ressurgimento das experiências de separação, especialmente a

angustia do oitavo mês descrita por Spitz, o luto dos objetos infantis, [...] a renúncia à

segurança do meio familiar e á imagem parental idealizada, etc...” A dor do existir

separações, os lutos. (Chassaing J., 2004, p. 38)

Essa crise da adolescência ameaça criar um conflito de gerações. Na maioria

dos casos, os distúrbios da adolescência geram discórdias, dos adolescentes com os

pais, os adultos às autoridades e mesmo à sociedade em seu conjunto, algumas vezes é

pontual à classe social dos pais.

De acordo com Rasssial (1999), a adolescência é tempo de perdas e de

mudanças de confrontações com os pais, com o espelho. Para o adolescente não-

psicótico, uma identificação no olhar e na voz supostos do primeiro Outro, esta voz

que vem da mãe na experiência do estádio do espelho.

“[...] Na adolescência, os processos de identificações são repetidos, pela evocação, inscrição, repetição de gestos arcaicos, em termos já ai, ou então o impasse seria tal que o destino do sujeito pudesse ser modificado por ele? Eis a questão. [...]Para precisar a diferença entre os dois processos de identificação diferentes o da primeira infância e adolescência, direi que aí entra em jogo, de outro modo, a questão da relação entre o ser e o ter.”. (1999, p.43).

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Rassial (1999) aponta para assimetria, é a analogia entre o ser ele mesmo

sintoma para o Outro, justamente a mãe, e o ter a primeira identificação sexual, que

caminha do nascimento ao direcionar o sujeito a estar ao lado do homem ou da mulher.

No mundo adulto, os pais continuam sendo representantes ( p.43).

No seminário livro 11 “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise”

(1964), Lacan chama de “significante unário” o primeiro significante representando o

sujeito; é atravessado pelo discurso que possibilita constituir consciente como

inconsciente norteando as identificações do sujeito em seus significantes.

Bergès j. e Balbo G., no seu livro “ Jogo de posições da mãe e da criança”,

Ensaios sobre o transitivismo (2002), apresentam o cerne das identificação na

construção do sujeito em seus significantes e em sua relação inaugural com o afeto

“dor”.

Para que haja identificação é preciso necessariamente que haja discurso; enquanto não há discurso, não há identificação.[...] O significante que faz traço unário tem de especial o fato de que, a partir do afeto de um outro, representa o sujeito para um significante do corpo afetado o que deve ser afetado pelo próprio sujeito. [...]O transitivismo vem vincular um afeto – a dor – que não é sentida por ninguém. A voz que não é sem voz, que não é alucinada, é carregada de afeto. A voz que é completamente desprovida de afeto é uma voz sem voz. (2002, p 86,101)

Diz Lacan que existe abertura da transferência pelo fato de o adolescente se

colocar na posição de buscar a sua verdade ao se entregar ao método da associação

livre, a respeito de a sua identidade e seu verdadeiro desejo. No limite de sua palavra,

é neste limite de sua palavra que está o analista como grande Outro, ouvinte

fundamental que define a significação, é neste contexto que o seu silêncio é tão

essencial para o desdobramento da palavra, não devemos nos precipitar para satisfazer

24

a demanda do paciente, a demanda de quem sou? Qual é meu desejo? Que quero de

verdade? Miller, J.A.(2002p.73)

No livro “O adolescente e o psicanalista” (1999), Francoise Dolto apresenta um

caso de mutismo de adolescente, reconhecendo o silêncio como um dizer que vem

interromper o ruído do mundo. Um dizer não dito; ela apresenta o silêncio como ato e

não sintoma. Dolto relata um caso de um adolescente silencioso, ela se propõe a

emudecer e a escutarem juntos o silêncio. O silêncio em uma análise não deve ser

percebido como impotência de falar, neste lugar é possível dizer pelo calar.

(RASSIAL, 1999, p.162).

O livro “Mais tarde... é agora! Ensaios sobre a adolescência”, Octavio

Mannoni, no texto A adolescência é analisável?, esclarece que:

[...] as crises dos adolescentes são influenciadas pelos problemas de seus pais. Em termos analíticos, se verá que aí nesse momento, os jovens escolhem novos modelos identificatórios, e que freqüentemente não os encontram. [...] Nas sociedades inteiramente estáveis, esses modelos são evidentes, e as crises da adolescência, devido a este fato, são muito menos visíveis. ( 2004, p.20)

A crise de adolescência requer acompanhamento; entretanto, não podemos

fazer desta etapa uma batalha, olhá-la como doença, ignorá-la, mas devemos sobretudo

acompanhá-la e, se soubermos como, explorá-la, para que o sujeito tire dela o que há

de melhor. A adolescência precisa ser vista com normalidade, mas sem idealização.

Em todo caso, é preciso aceitá-la. Winnicott observa também que o adolescente não

pede absolutamente para ser “compreendido”, e isso no adolescente caminha junto

com uma atitude – que se deve respeitar – que algumas vezes parece intransigência.

Compreender, ser compreendido é pactuar ou aceitar compromissos. (Mannoni O. ,

2004, p.23)

25

Os conflitos do adolescente com sua família em alguns momentos são

dissimulados, discretos, quase imperceptíveis, em outros momentos são abertos de

oposição, reivindicação, mas sempre presente, mesmo nos casos bastante normais, em

que a terapia não é julgada necessária. A evolução pulsante das sociedades na

atualidade vem acentuando a crise dos adolescentes no momento atual. (Manonni

M.,2004, p. 24)

As inquietações que moveram privilegiar este tema “Reflexões sobre

transferência na clinica psicanalítica de adolescente”, não se fecham em si, mas deram

início ao percurso. Por meio deste trabalho foi possível apreender alguns saberes, este

percurso é o início de uma jornada ímpar e infinita. Assim surge uma experiência de

articular a teoria à pratica psicanalítica na clínica com adolescente.

26

3. RECORTE DE UM CASO CLÍNICO

Pela ética profissional e zelando pelo bem-estar do paciente e dos familiares, os

nomes mencionados neste relato são fictícios. Este trabalho teve durabilidade de cerca

de três anos, o atendimento iniciou na clínica da UTP e continuou no consultório, até

janeiro de 2010.

Caio Adão Jr. tem 13 anos, filho único, os pais são separados, ele morava com a

mãe, estava cursando a 5ª série pela segunda vez. Foi encaminhado pela pedagogia

com a queixa de dificuldade na aprendizagem, inclusive troca de letra na escrita e na

leitura. Caio veio acompanhado da mãe, D. Verônica. Ela pediu para o Caio sair da

sala e começou a falar; que estava separada desde que Caio tinha 4 anos e que quando

seu pai saiu de casa, ele ficou muito triste e não se recuperou até este momento. Que a

família dela dizia que ele parecia com o pai: “o Sr., Caio Adão, você é da mesma cor

(moreno) come igual até o jeito de pegar os talheres é igual”, e essa comparação o

deixava triste. A mãe diz: “eu peço para eles pararem, mas não adianta, riem e

continuam fazendo”. O Caio é muito tímido e tem dificuldade de relacionamento na

escola com os colegas e a professora; não conversa, só responde o que lhe é

perguntado. Depois desse primeiro contato, só falei com a mãe três vezes durante o

período de atendimento, no início era o pai que o trazia para o atendimento e a mãe

vinha buscá-lo, posteriormente era o somente o pai que o trazia e voltava para buscá-

lo, no último ano o seu pai continuava o trazendo, mas Caio voltava sozinho de ônibus

para casa. O analisante sempre entrou sozinho no consultório.

27

A mãe de Caio estava atendendo a uma demanda da escola, que solicitou o

acompanhamento pedagógico, e este profissional diante da reprovação escolar,

solicitou um trabalho paralelo da psicologia, entendeu que a dificuldade de

aprendizagem poderia estar relacionada ao psíquico. Apesar da inquietação, a timidez,

a tristeza e apatia do filho não eram prioridades para mover os pais a buscarem ajuda

profissional, eles entendiam este estado como normal e passageiro. A solicitação é da

escola no papel de Outro, o movimento desta procura se deu pelo fracasso escolar.

28

4. DISCUSSÃO DO CASO

A mãe relatou na primeira entrevista, depois de pedir para que Caio Adão Jr,

saísse da sala: “Ele ficou muito triste com a separação e a cada dia foi ficando mais

quietinho”. D. Verônica não queria ou não podia mexer na zona das larvas, no

desconhecido conhecido, falar sobre a sua dor pela separação do marido, para falar do

pai, ela precisava haver-se com a sua própria falta, a perda do marido. Quando Sr.

Caio saiu de casa não estava abandando o filho, mas parece que isso não pode ser

falado pela mãe e sua família; comprometendo ainda mais este acontecimento o pai foi

sendo destituído, desmerecido em sua conduta, cor da pele e trejeitos.

O silêncio e a apatia neste caso são um grito de protesto, uma defesa, para

poder ser cindido como sujeito. Diante disso, ele preferiu ausentar-se da realidade

familiar e social.

Acredito que a D. Verônica trouxe o seu filho neste lugar, a clinica, para este

Outro, suposto saber, neste caso a psicóloga, para poder remexer nestes conflitos e

afetos da separação, os quais ela mesma não pode simbolizar, elaborar e colocar em

palavras.

Em “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise” (1964), Lacan nos

ensina que: “[...] Nunca é sem perigo que se faz remexer lago na zona de larvas, e

talvez seja mesmo a posição do analista – se ele se ocupa de verdade – dever ser

sitiado – quero dizer, realmente – por aqueles em quem ele evocou esse mundo de

larvas sem ter podido sempre trazê-las à luz.” (LACAN, 1964, p.28).

29

Durante o primeiro ano de atendimento, as sessões se dividem entre períodos de

entrevista e o silêncio que predominava nas sessões com escassas mudanças; quando

este se tornava denso, a psicóloga ofertava caixa de brinquedos, papel, lápis e nada

despertava o interesse do paciente. Diante das recusas procurava desenvolver um

diálogo, mas não conseguia sucesso, as resposta se resumiam em: “não, sim, não sei,

normal e mais ou menos”. O paciente permanecia sentado, encurvado, com os

cotovelos apoiado nos joelhos, olhando para baixo ou com as mãos cruzadas e olhando

para chão, ou ainda de cabeça baixa e braços cruzados. Durante os anos de

atendimentos, ele teve quatro faltas e chegava pontualmente nos horários

estabelecidos.

Foi possível perceber que o silêncio e a apatia aqui é um ato e não um sintoma.

O livro “O adolescente e o psicanalista” (1999), Francoise Dolto apresenta um

caso de mutismo de adolescente, reconhecendo o silêncio como um dizer que vem a

interromper o ruído do mundo. Um dizer não dito, ela apresenta o silêncio como ato e

não como sintoma. O silêncio em uma análise não deve ser percebido como

impotência de falar, pois neste lugar é possível dizer pelo calar. (RASSIAL, 1999,

p.162).

Caio só respondia o que era perguntado, ele estava vivendo uma apatia na

escola, em casa e no consultório, ou seja, uma introspecção social. Somente atendia às

demandas de Outros, parecia que tinha desistido de desejar, por consequência

demandar.

Ao fazer perguntas sobre ele, como “o que você vai fazer no final de semana?”,

a resposta era imediata: “a minha mãe que sabe”. Era ela quem escolhia a sua roupa,

30

calçados, hora de comer, ele atendia a suas ordens sem questionar. A mãe procurou a

clinica dizendo que ela não sabia mais o que fazer, que ele é quietinho, bonzinho, bem

comportado, mas também não brinca e não conversa com os colegas, com as

professoras, não pergunta quando tem dúvida, quando não consegue copiar do quadro

todas lições do quadro, deixa as tarefas inacabadas, mas não fala com a professora,

tem dificuldade com os números e com as letras, não tem amigos na escola, ou na

rua, reprovou o ano passado, a diretora pediu para procurar ajuda.

Bergés (2008, p.427) diz que o saber inconsciente, este não sabido, é com ele

que se tem a ver na aprendizagem “O saber, o que eu não sei por causa do

recalcamento, saber inconsciente, é ele que determina os sintomas.” O sintoma nessa

criança/adolescente aponta para isso, a troca de letra, que está atrelada, ao mesmo

tempo, ao amor/ódio que nutre pelos pais e o lugar que ocupa diante do estranho que

lembra o conflito entre eles. Ele não pode saber do porquê este é o significante da

origem e do conflito.

Por motivo de agenda de sala para atendimento na clínica da UTP, foi

necessário mudar os horários de atendimento, e a psicóloga ligou para o Caio Adão Jr.

informando sobre a necessidade da mudança, solicitando este remanejamento. No

início, o pai era quem levava o Caio para o atendimento, ao final da tarde, a mãe o

pegava na volta do trabalho. A necessidade de troca de horário no atendimento para o

início da tarde apresentou para o Caio outra forma de fazer que a mãe não conhecia.

No livro “Mais tarde... é agora! Ensaios sobre a adolescência”, para Octave

Mannoni, no texto A adolescência é analisável?, segundo Lacan o analisante acredita,

no imaginário, supõe que o analista sabe, e quando o analista, no início, aceita ocupar

31

este lugar de S.s.S (sujeito suposto saber) instala-se a transferência. (Mannoni O.

2004, p.28)

Esse atendimento começou como os anteriores. Quando o silêncio se tornava

ensurdecedor, voltavam as perguntas, “que vamos fazer hoje?”, “como foi a semana,

na escola, em casa?”, e continuavam as respostas de palavras únicas, “por que você

não me conta como é seu dia a dia?”.

Caio falou:“é tudo igual todos os dias”, e fez um relatório de suas atividades.

Silencia e depois diz, “mas hoje foi diferente”.

Analista pergunta: “diferente como?”

“Eu fui almoçar com o meu pai e fiquei na firma com ele, se eu ficar com este

horário, o meu pai poderá almoçar comigo, duas vezes por semana.”

A psicóloga entendeu isso como uma demanda, não aceitou de imediato, mas

também não rejeitou, devolveu para o Caio dizendo: “se você quiser ficar com este

horário, podemos manter.”

O analisando pode ser motivado, como diz Freud, por certa confiança em seu

analista, isso será permitido até o ponto eficaz, pelos fatores de transferência que nele

são despertados. É necessário ter muita clareza e convicção de que, quem sabe é o

paciente quando traz o seu saber insabido para o analista. “O analista não deve ser

aquele que, de antemão, tem resposta para tudo, mas aquele que abre questões e as

deixa abertas” (RASSIAL, 1999, p.165).

Essa mudança no cotidiano aproximou Caio do pai; ele pode perceber e receber

o amor e a atenção do pai, que ele pensava que havia perdido, que lhe fora roubado.

32

Os pais separam-se quando ele tinha quatro anos, o pai foi embora com a

mulher do padrinho dele, que morava perto de sua casa; depois da separação ele só via

o pai quando este o visitava, o que nem sempre acontecia toda semana. Ele dizia que

não gostava de visitar o pai em sua casa porque odiava a mulher dele.

Segundo Freud, no texto Observações sobre “O Amor Transferencial

(1915[1914])”, o amor de transferência aparece com uma liberdade menor do que o

amor da vida cotidiana, mostra mais uma dependência infantil, o podemos pensar no

conceito que toda a neurose é infantil. “Os quatro conceitos fundamentais da

psicanálise” (1964), Lacan nos ensina que, desde o início da vida, toda a demanda,

além de satisfação de necessidade, constitui-se como demanda de amor.

A mãe de Caio estava atendendo a uma demanda da escola diante da reprovação

escolar, apesar da inquietação com a timidez do filho, esta não era a prioridade para

movê-la a buscar ajuda.

A mudança para a 5ª série e a entrada da adolescência levaram-no a reviver as

separações, as perdas e os lutos, esta nova inserção em um social menos infantilizado,

não era mais a mãe que sabia, tinha as professoras, os tios, e pode encontrar o pai da

realidade, não somente o pai da história contada pela família. Começou a aproximar-se

mais dos tios maternos e paternos. Foi o momento de organizar e reorganizar-se como

sujeito, diante dessas novas experiências.

A transferência se instala por um deslocamento de afeto, neste momento ficou

explícito que é possível fazer trocas, mudanças sem perdas, mas com acordos e

combinados.

33

O adolescer é crescer, desenvolver, viver, reviver “...o ressurgimento das

experiências de separação, especialmente a angústia do oitavo mês descrita por Spitz,

o luto dos objetos infantis, [...] a renúncia à segurança do meio familiar e à imagem

parental idealizada, etc...” A dor do existir separações, os lutos. (Chassaing J., 2004, p.

38)

O aproveitamento escolar foi melhorando, mas foi um ano difícil, as trocas de

letras foram diminuindo, ele passou a ocupar as suas tardes no conserto e na troca de

peças da bicicleta. Do ato intelectual e passou para o ato da realidade atuando pelo

significante troca.

O ano seguinte, ele trazia em seus discursos muitos acidentes, morte e tragédia,

parecia que onde ele fosse acontecia uma quase morte ou morte. Durante essa

ambivalência de vida e morte, o Caio Adão se permitiu crescer em estatura, assim

como os pés – depois de um ano e meio, no espaço de dois meses, ele deixou de usar o

tênis número 33 e passou para o número 37. As últimas letras que trocadas foram: “V

pelo F”. Ao ser perguntado pela psicóloga: “o que te lembra o V e o F?”

A resposta imediata foi V de Verônica e F de falso.

A Psicóloga repete: “ Verônica e falso?”

“É, mas também pode ser verdadeiro e falso”, e em seguida mudou de assunto

dizendo que iria para uma escola de futebol.

Podemos pensar que não se trata de dificuldade de aquisição de um

conhecimento da pedagogia, e sim um saber insabido o jogo da sexualidade. Esta

recusa está relacionada a um outro saber (inconsciente) que se diferencia da aquisição

de conhecimento (consciente); conhecimento este referente ao conteúdo escolar. Saber

34

inconsciente que diz respeito ao saber insabido e que está apoiado num corpo

erotizado.

Diz Lacan, existe abertura da transferência pelo fato do adolescente se colocar

na posição de buscar a sua verdade ao se entregar ao método da associação livre, a

respeito de a sua identidade e seu verdadeiro desejo. No limite de sua palavra, é neste

limite de sua palavra que está o analista como grande Outro, ouvinte fundamental que

define a significação e neste contexto que o seu silêncio é tão essencial para o

desdobramento da palavra, não devemos nos precipitar a satisfazer a demanda do

paciente, a demanda de quem sou? Qual é meu desejo? Que quero de verdade? (Miller,

J.A., 2002, p.73)

Ao final do segundo ano de atendimento, os pais vieram ao consultório para

uma reunião junto com o Caio Adão, propondo o final do trabalho para a psicóloga.

Segundo o entender deles, os objetivos foram atingidos de maneira satisfatória. A

psicóloga perguntou se ele estava de acordo. Para sua surpresa, ele disse: “mais ou

menos, na escola eu estou bem, mas agora que vou entrar na adolescência, quero

continuar vindo aqui”.

Os pais aceitaram a sua demanda, ele continuou; começou a trabalhar no

período da tarde e mesmo assim vinha aos atendimentos de maneira pragmática1. Foi

por meio da transferência, na análise, que ele encontrou este lugar de escuta do

recalcado e pode dar sentido à busca da verdade sobre si mesmo, querer saber sobre o

desconhecido, o qual ainda pode lhe causar estranheza, mas não o assusta. Agora ele

sabe que é possível falar sobre esse estranho.

1 A tese fundamental é que a idéia que temos de um objeto qualquer nada mais é senão a soma das idéias de todos os efeitos imagináveis atribuídos por nós a esse objeto, que possam ter um efeito prático.

35

No final desse ano ele mesmo marcou o retorno para o início do próximo ano, e

nesse dia faltou. Quando a psicóloga ligou e não conseguiu falar com ele, ele retornou

dois dias dizendo que o tio havia sido assassinado no dia anterior à sessão, mas que

iria na próxima semana. Na semana seguinte ele veio, fez o pagamento e pediu para

encerrar, disse que estava bem, apesar da morte do tio. A psicóloga perguntou se ele

queria falar sobre isso, disse que não. Levantou-se, agradeceu, despediu-se e saiu.

A arte ou desejo do analista é fazer emergir o amor pelo saber, esse amor que se

reatualiza na transferência. Lacan (1964) conclui que: o desejo do analista não é um

desejo puro. É um desejo de encontrar a diferença absoluta, aquela que interfere

quando, confrontado com o significante primordial, o sujeito diante de uma única

possibilidade de se assujeitar a ele. Só ai pode emergir a significação de um amor sem

limite, porque fora dos limites da lei, somente onde ele pode viver.

36

5. CONCLUSÃO

Este trabalho estimulou e continua a instigar diante destes dois conceitos

transferência e adolescência na prática psicanalítica. Este percurso aponta a

investigação que não esgota por si somente. A cada novo encontro entre o psicólogo e

paciente ou analista e analisante, emergem as questões pertinentes à transferência, isso

propicia novas reflexões sobre transferências na clinica psicanalítica de adolescente.

No início o objetivo principal foi buscar uma resposta para a questão: “O que é

transferência?” Foi possível perceber a transferência na psicanálise como fenômeno,

segundo Freud, ou estrutural, como nos ensina Lacan, pelo viés que o inconsciente é

estruturado como uma linguagem.

A escolha deste recorte clínico foi privilegiando as peculiaridades da

transferência na clínica, ao deparar com alguns adolescentes. Escutar o adolescente,

neste novo tempo da sociedade atual. Na teoria psicanalítica estes conceitos estimulam

e fundamentam uma atualização, e reatualização conceitual, na medida em que foram

avançando os atendimentos, na mesma proporção preocupação pela ausência do

discurso, o silêncio. Foi necessário explorá-los em supervisão.

A transferência para Lacan é estruturante. É por meio da linguagem que o

sujeito se estrutura, nas palavras do discurso que o sujeito é castrado simbolicamente e

pode se organizar como sujeito inserido no social. Sendo a linguagem estruturante para

o sujeito, vivenciar a escuta do não dito, o silêncio que grita, pede socorro, e discorda

do lugar que ocupa na dinâmica familiar. Foram momentos de angústia para o

psicólogo ao se deparar com a sua própria falta, e ao mesmo tempo ocupar o lugar de

suposto saber.

37

Por meio do desejo do analista de encontrar a diferença, Caio Adão pode

encontrar um lugar de escuta, foi possível escutá-lo no não dito, no ato do silêncio. A

transferência, a coragem e o desejo de vida, foram necessários para permitir ser

marcado na ressignificação dos significantes unários ou seja, os traços unários.

Os pais de Caio Adão Jr. não apresentavam uma demanda deles ou do filho,

mas estava atendendo à demanda da escola que solicitou o atendimento psicológico, na

ordem do saber de conhecimento, esta foi demanda da necessidade, a demanda de

amor não estava em questão. A mãe de Caio estava atendendo a uma demanda da

escola diante da reprovação escolar, apesar da inquietação com a timidez do filho, esta

não era a prioridade para movê-la a buscar ajuda

Lacan nos ensina que desde o início da vida, toda a demanda, além de satisfação

de necessidade constitui-se como demanda de amor. Mediante os encontros semanais

com o analista, ele pode encontrar a diferença entre aprender escolar e o apreender do

conhecimento, Caio Adão Jr. pode encontrar um lugar de escuta, foi possível escutá-lo

como sujeito, entre os não ditos e ato de silêncio, confrontado com o significante

primordial, o paciente vem pela primeira, para atitude de se assujeitar a ele.

O avanço na análise progrediu a princípio pela transferência com mãe e o pai do

paciente ao colocar o psicólogo neste lugar do suposto saber, o manejo da

transferência foi aparecendo quando a psicóloga solicita a troca de horário, e esta

mudança oportunizou a ele a fazer os arranjos familiares, para atender à demanda. A

mudança da realidade permitiu um movimento, um giro na subjetividade, um

deslocamento, no imaginário e passou a supor que o psicólogo sabia dele e assim foi

instalada a transferência.

38

Para o Caio Adão Jr. foi fundamental os pais estarem dispostos a ultrapassar os

conflitos da separação, trabalhar essas questões, pensar sobre o lugar do filho no seu

desejo, foi essa ocasião que eles puderam se implicar no sintoma do filho.

Foi por meio da análise, que ele pode identificar e trabalhar os conflitos

familiares, seus medos, suas identificações e pode reconstruir. Por um olhar diferente

para a realidade, ele se permitiu crescer e adolescer, aprendeu a apreender pelo

conhecimento que é possível fazer trocas, que o verdadeiro nem sempre é Verônica, e

o falso pode ser verdade quando é possível resgatar no imaginário e trazer à luz o

simbólico pela palavra.

O final desta análise se deu pelo desejo do paciente que já se permitia fazer suas

escolhas com segurança. A psicóloga concordou, por entender que os o material

trazido pelo paciente trabalhado até este momento foi sendo incorporado no saber do

próprio falante. Respeitar esta escolha é apostar no sujeito que emergiu. As reflexões

sobre transferência na clínica psicanalítica de adolescente devem continuar a cada

novo encontro; permita-me concluir este trabalho tomando emprestadas as palavras do

poeta no início do poema “A folha”.

A natureza são duas.

Uma,

Tal qual se sabe de si mesma.

Outra, a que vemos. Mas vemos?

Ou é a ilusão das coisas?

(Carlos Drummond de Andrade, A folha).

39

3. BIBLIOGRAFIA ANDRADE, C. D. A paixão medida. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2002, p.57. BERGÉS, J. e BALBOA, G. Jogo de posições da mãe e da criança. Porto Alegre: Ed. CMC, 2002, p 86, 101. BERGÉS J., O Corpo na Neurologia e na Psicanálise. Porto Alegre: Ed. CMC, 2008, p.427. CALLIGARI, C. A Adolescência. (Folha explica) São Paulo:Ed. Publifolha, 2000, p 19. CHASSAIG, E. Identificações , “Mais tarde” É Agora. In _____.Org.: CORREA, A.I. Mais tarde... é agora! Ensaios sobre a adolescência. 2ª edição, Salvador: Ed. Ágalma- 2004, p. 38. CHEMAMA, R. & VANDERMERSCH, B. Dicionário de psicanálise. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo – Rio Grande do Sul: Ed. Unisinos, 2005, p. 377, 378. FREUD, S. A interpretação dos Sonhos (1ª Parte), (1900). Obras psicológicas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. IV (1900), Rio de janeiro: Imago, 1996, p. 23. FREUD, S. A Dinâmica da Transferência (1912). Obras psicológicas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. XII (1911 -1913), Rio de janeiro: Imago, 1996, p.112. FREUD, S. Observações Sobre o Amor Transferencial (Novas Recomendações Sobre a Técnica da Psicanálise III), (1915[1914]0). Obras psicológicas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. XII (1911 -1913), Rio de janeiro: Imago, , 1996. p. 177. FREUD, S. Linhas de Progresso na Terapia Psicanalítica (1919[1918]0). Obras psicológicas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. XVII (1917 -1918), Rio de janeiro: Imago, 1996. p.173. LACAN, J. O seminário, livro 08: a transferência, 1960-1961. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992, p.12 . LACAN, J. O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise, 1964. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1998. p.131

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