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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Carolina Pauli e Silva PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Carolina Pauli e Silva

PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

CURITIBA

2011

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PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR

Curitiba

2011

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Carolina Pauli e Silva

PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao Curso de Direito da Faculdade de

Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do

Paraná, como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profa. Juliana Silvia Tavares

CURITIBA

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO Carolina Pauli e Silva

PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em Direito no curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, pela seguinte banca examinadora.

Curitiba,___ de ____________ de 2011.

_______________________________________ Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

Orientadora: Professora Juliana Silvia Tavares Universidade Tuiuti do Paraná / Curso de Direito

Professor Me. Silvio Brambila Universidade Tuiuti do Paraná / Curso de Direito

Professora Silvia Fragüas Universidade Tuiuti do Paraná / Curso de Direito

5

Dedico este trabalho à minha mãe, Isolete

Pauli, ao meu pai, Antonio Carlos da Silva

e à minha avó, Iverly Lour Silva.

6

Agradeço a Deus, por ter me concedido

meios e oportunidade para a realização

deste trabalho, e

A professora Juliana Silvia Tavares pela

brilhante orientação.

Ius est ars boni et aequi

(O direito é a arte do bom e do justo)

7

RESUMO O presente trabalho monográfico apresenta, inicialmente, considerações gerais sobre a Teoria Geral dos Contratos abordando o conceito de contrato, as origens do instituto e suas transformações no decorrer da História, desde o contrato no direito romano até os atuais instrumentos de contratação em massa. Na sequencia, discorrerá sobre os princípios contratuais da autonomia da vontade, da boa-fé objetiva e da função social do contrato. Finalmente, ingressará na análise da proteção contratual no Código de Defesa do Consumidor subdividindo-a, em proteção pré-contratual, proteção durante a formação do contrato, proteção na execução do contrato e proteção pós-contratual. PALAVRAS-CHAVES: proteção contratual, cláusulas abusivas, nulidades.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................10

2. NOÇÕES DA TEORIA GERAL DOS CONTRATOS......................................12 2.1. O CONCEITO DE CONTRATO ....................................................................12

2.2. O CONTRATO NO DIREITO ROMANO........................................................13

2.3 A CRISE DO CONCEITO DE CONTRATO.....................................................14 2.4. PRINCÍPIOS CLÁSSICOS.............................................................................17

2.4.1. AUTONOMIA DA VONTADE .....................................................................19 2.4.1.1. LIBERDADE CONTRATUAL...................................................................21 2.4.1.2. FORÇA OBRIGATÓRIA DOS CONTRATOS..........................................22 3. DAS LIMITAÇÕES À LIBERDADE CONTRATUAL........................................25 3.1. BOA-FÉ OBJETIVA.......................................................................................26 3.2. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO..............................................................30 4.PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.33 4.1.O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR................................................33 4.2. PROTEÇÃO CONTRATUAL NA FASE PRÉ-CONTRATUAL.......................37 4.3. PROTEÇÃO CONTRATUAL NA FORMAÇÃO DO CONTRATO..................41 4.4. PROTEÇÃO CONTRATUAL NA EXECUÇÃO DO CONTRATO...................44 4.4.1. O Artigo 51 do CDC....................................................................................47 4.5 PROTEÇÃO NA FASE PÓS-CONTRATUAL.................................................52 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................58 ANEXOS...............................................................................................................61

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1. INTRODUÇÃO

O contrato é instrumento de circulação de riquezas. Ele representa as

características da sociedade pela qual é moldado, por isto seu conceito evolui no

decorrer da História. Na concepção clássica, os contratos eram essencialmente

paritários e submetidos à autonomia da vontade dos contratantes, embora sujeitos à

supremacia da ordem pública. Contudo uma concepção mais social e

intervencionista do contrato introduz os princípios da equidade, da boa-fé objetiva e

da função social da propriedade.

Estas alterações no instituto do contrato ocorreram em conformidade às

mudanças nas relações sociais e econômicas das chamadas economias de massa.

E as relações de consumo, por sua vez, são alteradas pelo surgimento dos grandes

centros urbanos, pela explosão demográfica citadina, pela revolução industrial, pela

mecanização do trabalho e pelos meios de comunicação.

A revolução industrial alavancou um ritmo de produção alucinado a fim de

atender à demanda de uma grande massa de consumidores surgindo, assim, uma

necessidade urgente de agilidade negocial que permitisse contratar no menor tempo

possível com o maior número de consumidores. A solução para tamanho volume de

negociações foi a estandardização dos contratos.

O acirramento da concorrência empresarial fomentou o surgimento dos

cartéis, monopólios, holdings e empresas multinacionais, acentuando a posição de

força do fornecedor/disponente, que acabava por impor unilateralmente as cláusulas

contratuais ao parceiro mais fraco.

10

O consumidor, o sujeito mais importante na economia de massas, aquele

que movimenta toda a cadeia de produção, para a qual se abrem vagas de emprego

e que faz circular a riqueza, justamente é ele, paradoxalmente, o mais desprotegido

na relação contratual. Ele é anônimo e vulnerável em face do fornecedor.

O fortalecimento da posição contratual do fornecedor paralelo à

vulnerabilidade do consumidor, abriu caminho para o abuso contratual e o

extrapolamento dos limites razoáveis da autonomia da vontade, surgindo assim

desequilíbrio nas relações contratuais, que culminaram, muito frequentemente, em

cláusulas supressoras de direitos, atentando severamente contra o princípio da boa-

fé.

É neste contexto sócio-econômico que o direito das relações de consumo

foi inserido nos currículos das faculdades de Direito no Brasil, no final do século XX,

após o advento da Constituição Federal de 1988.

A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 5º, XXXII, instituiu a defesa

do consumidor, expressada infra-constitucionalmente no Código de Defesa do

Consumidor, cuja elaboração foi determinada pelo artigo 48, do Ato das Disposições

Constitucionais transitórias. Tal codificação trata-se de mecanismo de defesa do

consumidor contra abusos e é dentro dele que encontramos disciplinada a proteção

contratual do consumidor de que trata este trabalho.

11

3. NOÇÕES DA TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

4.

2.1. CONCEITO DE CONTRATO

Contrato, em sentido amplo, é todo negócio jurídico que se forma pelo

concurso de vontades. Em sentido estrito, refere-se ao acordo de vontades que

reflete em obrigações na esfera patrimonial (GOMES, 2008, p.10).

Na concepção clássica, conceitua-se contrato como o acordo de vontades

com a finalidade de produzir efeitos jurídicos, ou seja, constituir, modificar ou

extinguir direitos (PEREIRA, 2007, p.5) (GOMES, 2008, p.14). Orlando Gomes

refere-se ao conceito tradicional de contrato como o “negócio jurídico bilateral, ou

plurilateral, que sujeita as partes à observância de conduta idônea à satisfação dos

interesses que regularam” (GOMES, 2008, p.10).

Contudo, o conceito tradicional do contrato sofreu modificações. Sobre

isto Lucas Abreu Barroso afirma que:

“Na pós-modernidade, a capacidade científica do direito em produzir verdades encontra-se absolutamente mitigada, devendo ser encarado como conhecimento jurídico aquilo que corresponda rigorosamente aos fatos concretos da realidade socioeconômica. Portanto, resta impossível oferecer um conceito estrutural de contrato, nos moldes tradicionais da sistemática civilista, pois o contrato hoje é um instituto multifacetário, abarcando as diversas vicissitudes da sociedade, a partir de suas múltiplas interações humanas.” (MORRIS, 2008, p.40).

No transcurso da História o conceito clássico de contrato foi se

transformando em virtude das modificações ocorridas na realidade sócio-econômica.

Com o advento da revolução industrial, novos princípios passaram a integrar o

contrato e antigos princípios tiveram a sua eficácia mitigada, alterando-se

substancialmente a estrutura do instituto contratual.

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2.2 O CONTRATO NO DIREITO ROMANO

O termo “contrato” vem do latim contractus, que significa contrair, unir

(VENOSA, 2006 p. 360). No direito romano clássico nem todo contrato gerava

obrigação, para tanto era necessário, além do acordo de vontades pronunciado com

as formulas corretas, a causa civilis, ou seja, o fundamento jurídico. Só havia dois

contratos formais: o nexum e a stipulatio. O primeiro era um empréstimo realizado

perante cinco testemunhas, cuja responsabilidade recaia sobre o próprio corpo do

devedor. Já o segundo era a promessa solene de uma prestação, pronunciada em

resposta a uma pergunta do credor (MARKY, 1995, p. 119-130).

As expressões conventio e pacta eram utilizadas para referir-se a

negócios jurídicos. A conventio era o termo mais genérico que englobava os todos

os negócios jurídicos bilaterais (VENOSA, 2006, p.360). A pacta referia-se aos

negócios jurídicos, em regra, sem força cogente (VENOSA, 2006, p.360). A

executoriedade das convenções estava vinculada ao cumprimento das solenidades,

ou seja, a pronunciação correta das fórmulas, com predomínio da oralidade

(MARKY, 1995, p. 119-130) (VENOSA, 2006, p. 360).

Após Justiniano o elemento subjetivo da vontade começa a ter

prevalência sobre as fórmulas. É neste período que passa a existir uma ação para

cada para cada contrato firmado, mesmo que atípico, conferindo ao praetor

importante papel no preenchimento das lacunas do ordenamento jurídico romano.

Ademais, qualquer convenção seria dotaria de força cogente desde que amparada

nas formalidades da stipulatio (MARKY, 1995, 120). Sobre este período afirma

Thomas Marky:

“Os dois contratos formais do período primitivo, naturalmente, não podiam satisfazer às exigências de um comércio já desenvolvido como o de Roma depois das Guerras Púnicas. Tornavam-se necessárias outras formas mais

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adequadas a esses reclames. Elas foram elaboradas pela jurisprudência republicana. O nexum caiu em desuso. A stipulatio, porém, constando de formalidades amenas (...) continuou em vigor durante toda a evolução do direito romano.” (MARKY, 1995, 120)

As alterações ocorridas na sociedade romana antiga provocaram

modificações proporcionais no universo contratual. A intensificação do comércio,

ocorrida em virtude das guerras de expansão do Império Romano, demandou a

criação de novas formas contratuais, alem daquelas típicas do período formulário, e

a entrega de uma maior autonomia ao praetor.

2.3 A CRISE DO CONCEITO DE CONTRATO

Próprio do direito privado, o conceito clássico de contrato recebe enorme

influência dos ideais liberais da revolução francesa (KHOURI, 2006, p.25). Sobre o

clássico contrato paritário Silvio de Salvo Venosa afirma:

“A idéia de um contrato absolutamente paritário é aquela ínsita ao direito privado. Duas pessoas, ao tratarem de um objeto a ser contratado, discutem todas as cláusulas minudentemente, propõe e contrapõe a respeito de preço, prazo, condições, formas de pagamento, etc., até chegarem ao ponto culminante, que é a conclusão do contrato. Neste tipo de contrato, sobreleva-se a autonomia da vontade: quem vende ou compra; aluga ou toma alugado; empresta ou toma emprestado está em igualdade de condições para impor sua vontade nesta ou naquela cláusula, transigindo num ou noutro ponto da relação contratual para atingir o fim desejado” (VENOSA, 2006, p.361-362).

A suposição de que a igualdade formal dos indivíduos asseguraria o

equilíbrio da relação contratual não encontrou respaldo no mundo fenomênico

(GOMES, 2008, p.8). As novas relações sócio-econômicas oriundas da sociedade

de consumo, na qual a informação sobre o produto, preço e condições de

negociação são veiculadas pelos meios de comunicação, havendo um gigantesco

volume de contratos a serem celebrados gerando assim uma necessidade de

agilidade negocial, incutem profundas transformações nas contratações habituais

(VENOSA, 2006, p.362).

14

Da crescente complexidade social surgiu uma nova técnica de

contratação, simplificando o processo de formação do contrato (GOMES, 2008, p.8).

Os contratos de massa: estandardizados, com cláusulas pré-dispostas, existindo

pouca ou nenhuma possibilidade de negociação para o consumidor (CAVALIERI

FILHO, 2010, p.103-104), passando-se, na prática, a dissociar a relação contratual

do clássico acordo de vontades (GOMES, 2008, p.9).

O desequilíbrio tornou-se evidente (GOMES, 2008, p.8) diante da

hipertrofia da vontade do fornecedor/disponente que redigia o contrato abusivamente

de forma a dar a maior garantia possível ao seu próprio interesse e praticamente o

impunha ao consumidor/aderente (ALMEIDA, 2009, p.132-138).

O consumidor foi se tornando cada vez mais vulnerável ou seja, fraco ou

débil em razão da sua condição ou de suas características próprias, bem como, em

face da posição de superioridade de força do fornecedor (MIRAGEM, 2008, p.62-63).

A vulnerabilidade ocorre em três aspectos: fático, técnico e jurídico.

A vulnerabilidade fática é aquela decorrente da inferioridade econômica

que o torna sucetível ao superendividamento. A vulnerabilidade técnica corresponde

à ausência de conhecimentos específicos sobre o processo produtivo e sobre os

atributos do produto. Já a vulnerabilidade jurídica alude à falta de informação acerca

de seus direitos, inclusive quanto a quem recorrer ou reclamar, a falta de assistência

jurídica, a dificuldade de acesso à justiça, a impossibilidade de aguardar o demorado

tramite processual (CAVALIERI FILHO, 2010, p.44-45). A vulnerabilidade, assim

compreendida, é o princípio que veio a fundamentar toda a proteção consumerista

(MIRAGEM, 2008, p.62-63).

O resultado deste contexto não pode ser diferente: na sociedade de

massas, a adesão da massa consumidora vulnerável aos contratos eivados de

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cláusulas abusivas acarretou em danos massivos (SCHMITT, 2008, p.158). O

surgimento destas novas modalidades de contratos (de adesão, contratato-tipo,

standardizados) implicou na chamada crise do contrato, ou seja, a crise do conceito

tradicional de contrato (VENOSA, 2006, p.361-362). Sobre este momento, Cláudia

Lima Marques afirma:

“(...) Para muitos, o que foi denominado de crise do contrato, era, em verdade, a crise do dogma da autonomia da vontade. Efetivamente, no mundo atual podemos verificar que o campo de utilização dos contrratos tem se ampliado. Não só o número de contratos concluídos é bem maior, em virtude do desemvolvimento da sociedade de consumo, como novos tipos de contratos foram criados (por exemplo: leasing, franchising, factoring, know-how, hedging, shopping center), demonstrando a maleabilidade e a fecundidade deste instrumento jurídico.” (MARQUES, 2002, p.154)

Na nova economia de massas a autonomia da vontade e a força

obrigatória dos contratos são mitigadas pela supremacia do interesse público sobre

o privado com o intuito de reequilibrar as relações contratuais desequilibradas pela

supremacia da empresa, corporação ou ente estatal fornecedor de produtos ou

serviços ante os interesses do consumidor (ALMEIDA, 2008, p.139).

Diante da inferioridade de fato do consumidor, buscou o Estado

compensá-lo com uma superioridade jurídica no intuito de reequilibrar a relação

contratual (GOMES, 2008, p.8) (ALMEIDA, 2009, p.142) (BENJAMIN, 2009, p. 59).

O contrato deixou de ser simples manifestação da autonomia da vontade

para tornar-se uma estrutura de conteúdo complexo e híbrido, dotado de disposições

voluntárias e compulsórias, expressão do antagonismo social entre as partes

contratantes (GOMES, 2008, p.17).

O que ocorreu, de fato, foi uma renovação da teoria contratual no direito

contemporâneo (MIRAGEM, 2008, p.143). Sobre isto afirma Sergio Cavalieri Filho:

“O contrato não morreu, como chegou-se a preconizar num determinado momento de sua evolução. Pelo contrário, revitalizado pelos novos princípios que o informam, está mais vivo do que nunca. Apenas deixou de ser um instrumento do egoísmo individual, para se tornar um poderoso fator

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de aprimoramento social, fazendo a riqueza circular e fomentando a produção. Tudo depende do uso que se faz dele. Se utilizado em harmonia com os princípios do CDC, o contrato será também instrumento indispensável para fazer produtos e serviços chegarem a milhões de consumidores.”(CAVALIERI FILHO, 2010, p.119).

A crise do conceito de contrato não representou uma crise do instituto

contratual, instituto este de grande importância para a realização das operações

comerciais e circulação das riquezas produzidas no seio da sociedade.

Representou, entretanto, uma crise do princípio da autonomia da vontade que teve a

sua eficácia restringida em face da boa-fé objetiva e da função social do contrato.

2.4. PRINCÍPIOS CLÁSSICOS

Etimologicamente, princípio significa inicio, começo, ponto de partida.

Juridicamente, os princípios são as normas norteadoras e originárias de todo um

ordenamento jurídico. Trata-se de normas genéricas com alto teor de abstração

sendo, portanto, aplicáveis em diversas situações. As regras, por sua vez, são

proposições normativas com relato objetivo e descritivo de conduta, com aplicação

mais específica (CAVALIERI FILHO, 2010, p.29-30).

Embora os princípios existam há muito tempo, apenas a dogmática

moderna conferiu a eles status de norma jurídica, abandonando a idéia de que sua

dimensão era puramente axiológica e destituída de eficácia. Como norma jurídica, os

princípios são elementos de coesão, são eles que impõe uma leitura sistêmica do

ordenamento jurídico, tanto na criação quanto na interpretação das regras

(CAVALIERI FILHO, 2010, p.29-31). Sobre a eficácia dos princípios afirma Celso

Antonio Bandeira de Mello:

“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão aos seus valores fundamentais, contumélia irremissível

17

a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isto porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura neles esforçada”. (CAVALIERI FILHO, 2010, p.32).

A dimensão dos princípios é dada pela sua importância (diferentemente

das regras, cuja dimensão é a validade ou invalidade). Os princípios não são

aplicados excluindo um a aplicação dos outros, mas por ponderação de valores,

sopesamento. Assim, apenas o caso concreto poderá dizer qual princípio irá

prevalecer em determinada situação (CAVALIERI FILHO, 2010, p.30).

Os princípios, substrato lógico e ideológico do ordenamento jurídico,

possuem ainda mais importância no direito das relações de consumo. Isto porque

este ramo do sistema jurídico funciona com bases principiológicas. A intensidade do

grau de abstração dos princípios confere ao magistrado liberdade para preencher

eventuais omissões tornando a proteção contratual praticamente insucetível de

lacunas.

A seguir, passa-se a analisar a descrição dos princípios prevalecentes

nos contratos tradicionais, (autonomia da vontade e obrigatoriedade dos contratos).

Para depois, em capítulo próprio abordar os princípios norteadores dos contratos de

massa (boa-fé objetiva e função social do contrato).

2.4.1. AUTONOMIA DA VONTADE

A autonomia da vontade foi contribuição da corrente de pensamento dos

canonistas e dos jusnaturalistas (GOMES, 2008, p.6). O jusnaturalismo baseou o

desenvolvimento ideológico do princípio nas construções de Kant acerca da moral,

as quais consideram o indivíduo é um ser essencialmente livre por natureza, que

apenas pode obrigar-se a partir da sua própria vontade. Em virtude da sua liberdade,

não seria possível agir contra seus próprios interesses razão pela qual todo acordo

de vontades seria, teoricamente, justo (SCHMITT, 2008, p.44) (GOMES, 2008, p.6).

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Porém, foi o direito canônico que desempenhou papel decisivo na

construção do dogma clássico da autonomia da vontade ao defender que a

obrigação nasce de um ato de vontade criado pela declaração, cujo fundamento de

validade e força obrigatória encontram-se na própria palavra empenhada. Tal

vinculação era decorrência da moral cristã medieval que considerava pecaminoso o

descumprimento de uma obrigação já contraída (SCHMITT, 2008, p.46) (GOMES,

2008, p.6).

O princípio da autonomia da vontade refere-se ao poder de auto-

regulamentação dos interesses próprios (RÁO, 1999, p.49), Sobre ela, Cristiano

Heineck Schmitt afirma que:

“A relação contratual, na concepção tradicional do contrato, tem em sua base dois princípios fundamentais do direito civil, verdadeiros desdobramentos do princípio da autonomia da vontade e que são os princípios da liberdade contratual e da obrigatoriedade do contrato” (SCHMITT, 2008, p.47 citando SCHIDT DA SILVA, 1996, p.131-132).

O auge da autonomia da vontade como direcionadora da ordem jurídica

em relação ao direito privado deu-se no século XIX, século marcado pelo liberalismo

econômico (SCHMITT, 2008, p.47-48). Neste contexto, a autonomia da vontade era

absolutamente adequada à ideologia da burguesia ascendente, que buscou afastar

o intervencionismo estatal (VENOSA, 2006, p.371).

Para a dogmática jurídica o elemento volitivo é um requisito essencial do

contrato. Ele compreende a vontade propriamente dita, a vontade de declarar e a

vontade do conteúdo da declaração (RÁO, 1999, p.117-121). A vontade real

efetivamente expressada na declaração é aquela eficaz e atuante nos negócios

jurídicos (RÁO, 1999, p.49). A coincidência entre a vontade real e a declaração é

19

presumida, tratando-se de presunção relativa, passível de prova em contrário pela

parte que alega a divergência (RÁO, 1999, p.193).

A autonomia da vontade está intimamente relacionada com o elemento

contratual volitivo, toda a sua construção se embasa no pressuposto da livre

manifestação da vontade real. Nas relações regidas pelo Código Civil, eventual vício

de consentimento afronta diretamente o dogma da autonomia da vontade sendo

causa de invalidação do negócio jurídico.

As cláusulas supressoras ou restritivas de direitos constantes dos

contratos aderidos pelo consumidor evidenciam vício referente à impossibilidade da

livre manifestação da vontade real, podendo ser invalidadas com fulcro no princípio

da supremacia da ordem pública e no art. 51 do CDC.

2.4.1.1. LIBERDADE CONTRATUAL

A liberdade contratual é princípio norteador, sobretudo, dos contratos

paritários e pressupõe a igualdade formal entre os contratantes (VENOSA, 2006,

p.371) (SCHMITT, 2008, p.49). No direito privado a liberdade de contratar é tão

grande que o Código Civil, em seu artigo 425, permite a estipulação de contratos

atípicos avençados conforme a livre vontade dos contraentes (GONÇALVES, 2008,

p.22).

Ela possui um elemento interno e outro externo. O elemento interno

refere-se à vontade psíquica e o elemento externo, à vontade manifesta (RÁO, 1999,

p.117-121) (SCHMITT, 2008, p.49-50). A conjunção de ambos os elementos, ou

20

seja, a vontade manifestada com perfeição é pressuposto de validade do negócio

jurídico (MELLO, 2009, p.38).

Segundo Orlando Gomes, in verbis:

“O conceito de liberdade de contratar abrange os poderes de auto-regência de interesses, de livre discussão das condições contratuais e, por fim, de escolha do tipo de contrato conveniente à atuação da vontade. Manifesta-se, por conseguinte, sob tríplice aspecto: a) liberdade de contratar propriamente dita; b) liberdade de estipular o contrato; c) liberdade de determinar o conteúdo do contrato” (GOMES, 2008, p.9).

Tal liberdade também pode ser analisada sobre dois aspectos: a

liberdade de contratar ou não, obrigando-se pelo conteúdo do contrato, e a liberdade

de avençar contratos típicos ou atípicos (VENOSA, 2006, p.371).

Esta liberdade nunca foi ilimitada, pois sempre teve que se adaptar às

normas de ordem pública e aos bons costumes (ALMEIDA, 2009, p. 141) (GOMES,

2008, p. 27) (DINIZ, 1999, p.32). Entretanto, estas limitações, que sempre existiram,

não foram suficientes para coibir abusos, pois consentiram o exercício da liberdade

de contratar tornando excessivo o poder da autonomia da vontade (GOMES, 2008,

p.27).

A liberdade contratual é o desdobramento do dogma da autonomia da

vontade que outorga igualdade formal às partes contratantes, entendendo-as como

plenamente capazes de defender seus próprios interesses. Um dos aspectos da

autonomia da vontade consiste na liberdade para determinar o conteúdo do contrato.

Com o advento das economias de massa, este aspecto da liberdade

contratual foi sendo cada vez mais suprimido ao contratante consumidor, que já não

podia negociar as cláusulas do instrumento contratual. Assim, o pressuposto da

igualdade formal deixou de corresponder à prática social, que não deixou dúvidas

21

quanto à gritante desigualdade material, expressa nos âmbitos da realidade

econômica, técnica e jurídica do consumidor.

2.4.1.2. FORÇA OBRIGATÓRIA DOS CONTRATOS

Inspirado no do Código Civil Francês, o princípio da força obrigatória dos

contratos pacta sunt servanda1 dispõe que o contrato tem força de lei entre as partes

(VENOSA, 2006, p.371) (SCHMITT, 2008, p.54) (GOMES, 2008, p.7 e 38). Seu

fundamento está na necessidade de segurança jurídica (GONÇALVES, 2008, p.28).

Portanto, desde que celebrado com observância de todos os pressupostos e

requisitos necessários à sua validade ele deve ser executado pelas partes como se

suas disposições fossem norma legal (GOMES, 2008, p.38).

Este princípio dota os contratos de força cogente. Desta forma, o

ordenamento jurídico deve fornecer as partes mecanismos judiciários para compelir

o cumprimento do contrato avençado, ou então viabilizar eventual indenização por

perdas e danos em caso de inadimplemento (DINIZ, 1999, p.35).

A decorrência lógica da força obrigatória dos contratos é o princípio da

intangibilidade do conteúdo do contrato. Neste sentido Orlando Gomes:

“O contrato obriga os contratantes (...). Estipulado validamente seu conteúdo, vale dizer, definidos os direitos e obrigações de cada parte, as respectivas cláusulas tem, para os contratantes, força obrigatória. Diz-se que é intangível para significar-se a irretratabilidade do acordo de vontades”. (GOMES, 2008, p.38).

A ressalva ao princípio da intangibilidade é antiga idéia jurídica de

imprevisão, já constante no Código de Hamurabi ao prever a possibilidade de

aplicar-se a imprevisão nas colheitas (VENOSA, 2006, p.463 citando OTHON

SIDOU, 1984, p.3).

1 Os acordos devem ser cumpridos

22

A fim de justificar as exceções que a equidade impõe à intangibilidade a

doutrina francesa resgatou uma antiga proposição do direito canônico, a cláusula

rebus sic stantibus2, e sobre ela alicerçou a Teoria da Imprevisão. Esta cláusula era

considerada implícita nos contratos de duração como condicionante de sua força

obrigatória (GOMES, 2008, p.40).

Segundo a Teoria da Imprevisão alterações extraordinárias da situação

de fato que impliquem em onerosidade excessiva para uma das partes aliadas a

total impossibilidade de se prever esta mudança ensejam a modificação judicial do

conteúdo do contrato (GOMES, 2008, p.40-41).

A coercitibilidade de um contrato depende da sua celebração em

obediência a todos os requisitos e pressupostos que lhe conferem validade. A

vontade real livremente manifestada é um pressuposto contratual. A vontade no

universo contratual se aplica à liberdade para celebrar o contrato, liberdade para

estipular o contrato e liberdade para pactuar as cláusulas.

Quando a vontade de uma das partes é restringida num destes aspectos

o princípio da força obrigatória dos contratos deve ser aplicado com ressalvas

proporcionais às restrições que o contratante sofreu em sua livre manifestação do

elemento volitivo, para que o ordenamento jurídico não venha a ser conivente com o

vício de formação.

Quanto à Teoria da Imprevisão, cumpre consignar que este é um instituto

mais adequado aos contratos regidos pelo Código Civil. Em matéria consumerista, a

cláusula que se mostre excessivamente onerosa ao consumidor pode ser invalidada

com fulcro no art. 51, IV especificado no parágrafo primeiro, III, sem haver a

necessidade de evento extraordinário e imprevisível.

2 Enquanto as coisas estão assim

23

3. DAS LIMITAÇÕES À LIBERDADE CONTRATUAL

Apesar de muito ampla, a liberdade de contratar sempre encontrou

limitação nas normas de ordem pública e nos bons costumes (VENOSA, 2006,

p.371) (ALMEIDA, 2009, p.141) (GOMES, 2008, p.27). Pelo princípio da supremacia

da ordem pública são vedadas cláusulas contratuais contrárias à lei. Logo, as

disposições contratuais pactuadas pelas partes não possuem o condão de derrogar

norma contida em legislação (ALMEIDA, 2009, p. 141).

O dirigismo contratual, que se multiplicou de forma acentuada nas

legislações modernas, teve como escopos assegurar a lisura das partes

contratantes, garantir o quanto for possível a justiça real, o de proteger os interesses

da parte socialmente mais fraca e o de preservar a integridade dos valores

essenciais às relações jurídicas, como a moral pública, os bons costumes e a

segurança jurídica. Trata-se de tutelar os interesses coletivos em detrimento dos

individuais (LOURENÇO, 2001, p.134) (GONÇALVES, 2008, p.23). Neste sentido a

visão de Claudia Lima Marques é de que:

“em tempos pós-modernos é necessária uma visão crítica do direito tradicional, é necessária uma reação da ciência do direito impondo uma nova valorização dos princípios, dos valores de Justiça e equidade e, principalmente, no direito civil, do princípio da boa-fé objetiva, como

24

paradigma limitador da autonomia da vontade. Caso contrário, o próprio direito brasileiro ao privilegiar os mais fortes levará a opressão e exclusão dos mais fracos” (MARQUES, 2002, p.173).

O desequilíbrio das posições contratuais abriu caminho para a

abusividade. O reestabelecimento do equilíbrio intenta-se pelo antigo princípio da

supremacia da ordem pública aliado à boa-fé objetiva e à função social do contrato.

3.1 BOA-FÉ OBJETIVA

O Código Napoleônico foi o primeiro a tratar sobre a boa-fé subjetiva e

também sobre a boa-fé contratual. Porém, foi no BGB alemão que o princípio da

boa-fé passou a ser compreendido no seu viés objetivo (CHAISE, 2001, p.55).

No direito brasileiro o primeiro dispositivo legal a dispor sobre a boa-fé foi

o art.131, I, do Código Civil de 1950. A doutrina entendeu que o conceito de boa-fé

nele disciplinado referia-se à boa-fé subjetiva e não procurou desenvolver a regra

contida neste artigo. O art.4º, III, e o art. 51, IV, do CDC, são apontados como os

primeiros a consagrar a boa-fé objetiva no ordenamento jurídico brasileiro (GOMES,

2008, p.43-44).

Sobre a aplicabilidade do princípio da boa-fé, Orlando Gomes afirma que:

“O princípio da boa-fé é aplicável a toda e qualquer relação contratual, independentemente da existência de debilidade ou hipossuficiência por parte de um dos contratantes ou do desequilíbrio entre os pólos da relação” (GOMES, 2008, p.45).

A boa-fé objetiva refere-se ao padrão de conduta do homem médio,

naquele caso concreto, é um conceito ético que leva em consideração os aspectos

sociais envolvidos (RÁO, 1999, p.195). No modelo atual de contrato este princípio

representa o valor da ética, entendida como lealdade, correção e veracidade, tendo

25

amplo alcance e sentido (NEGREIROS, 2002, p. 116 e 152) (MARQUES, 2002,

p.181). Sobre isto Teresa Negreiros afirma que:

“Na promoção de uma ética de solidariedade contratual, o princípio da boa-fé opera de diversas formas e em todos os momentos da relação, desde a fase de negociação à fase posterior à sua execução, constituindo-se em fonte de deveres e de limitação de direitos de ambos os contratantes” (NEGREIROS, 2002, p.118).

Na fase pré contratual, de tratativas e negociações, a boa-fé protege o

consumidor da publicidade enganosa e das práticas abusivas, além de permitir o

arrependimento, conforme o art. 49, do CDC (ALMEIDA, 2009, p.146-147). No

período pós contratual ela estabelece a obrigação de continuar a produzir peças

para reposição, manutenção técnica dos produtos e dever de prestar informações

sobre as novas descobertas em relação à periculosidade do produto (MARQUES,

2002, p.203).

A boa-fé possui três funções: interpretativa, supletiva e corretiva. A função

interpretativa está prevista no art.113 do CC. A interpretação do contrato se

desenrola em duas fases. A primeira determina a intenção atribuída pelas partes à

declaração contratual. Já a segunda consiste em interpretar de acordo com o

entendimento de uma pessoa normal e razoável (NEGREIROS, 2002, p.44)

(GOMES, 2008, p.44). Assim, o literal da linguagem não deve prevalecer sobre a

vontade manifesta na declaração ou dela inferível, conforme disposição do art. 112,

do CC (GOMES, 2008, p.43).

A função supletiva (integradora do negócio jurídico), prevista no art. 113,

do CC, atua criando deveres anexos, cuja finalidade é assegurar o perfeito

cumprimento da avença e a plena satisfação dos interesses envolvidos no contrato

(NEGREIROS, 2002, p.119) (GOMES, 2008, p.44-45).

26

Estes deveres contratuais acessórios são, entre outros, o dever de

informação, de esclarecimento, de aconselhamento, de cooperação, de sigilo, de

prestar contas, de lealdade na redação do contrato, de evitar a ruína do parceiro

contratual oriunda do superendividamento. Desta feita, descumprir este princípio

significa inadimplir, mesmo que parcialmente o contrato (MARQUES, 2002, p.119)

(GOMES, 2008, p. 186-197). A este respeito colaciona-se o seguinte julgado do

Tribunal de Justiça do Paraná:

“APELAÇÃO CÍVEL Nº 737942-4, DE BELA VISTA DO PARAÍSO - VARA ÚNICA RELATOR : DES. GAMALIEL SEME SCAFF APELANTE : BANCO BANESTADO SA APELADO : MARIA CRISTINA WIEGMANN PINHEIRO APELAÇÃO CÍVEL MEDIDA CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO INÉPCIA DA INICIAL INOCORRÊNCIA PEDIDO DELIMITADO INTERESSE DE AGIR PRESENÇA DO BINÔMIO NECESSIDADE-UTILIDADE NATUREZA SATISFATIVA EXEGESE DO ART. 844 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DEVER DA INSTITUIÇÃO EXIBIR DOCUMENTAÇÃO DE QUE DETENHA POSSE EXIGÊNCIA DECORRENTE DE LEI INOCORRÊNCIA DE COBRANÇA DE TARIFAS PELA APRESENTAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO PLEITEADA. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento que de "(...) O dever de informação e, por conseguinte, o de exibir a documentação que a contenha é obrigação decorrente de lei, de integração contratual compulsória. Não pode ser objeto de recusa nem de condicionantes, face ao princípio da boa-fé objetiva. - Se pode o cliente a qualquer tempo requerer da instituição financeira prestação de contas, pode postular a exibição dos extratos de suas contas correntes, bem como as contas gráficas dos empréstimos efetuados, sem ter que adiantar para tanto os custos dessa operação.” (13ª.CC, decisão monocrática, autos 0737942-4, AP cível, relator Gamaliel Seme Scaff, DJ 564).

O dever de informação é um dever acessório do contrato firmado com o

correntista e decorre diretamente do princípio da transparência. Sendo assim, não é

lícito ao banco criar óbices ao exercício deste direito pelo consumidor. No julgado

supra, o Tribunal considerou o adiantamento dos custos da operação de emissão

dos extratos de conta correte e contas gráficas dos empréstimos efetuados como

um condicionante ao direito de informação, sendo, portanto ilegal.

27

Além dos deveres comissivos anexos a boa-fé abrange as proibições

venire contra factum proprium3, inciviliter agere4 e da tu quoque5, interpretados à luz

dos usos e costumes (VENOSA, 2006, p. 377).

A proibição venire contra factum proprium refere-se à proibição de

comportamento contraditório. Determinado comportamento de um contratante gera

no outro a expectativa de subsequentes comportamentos coerentes com o primeiro.

O comportamento contraditório abala a segurança e a credibilidade das tratativas

contratuais, sendo por isto passível de gerar indenização por perdas e danos. Esta

proibição é gênero da qual outra é espécie: a nemo auditur turpitudinem allegans6

(VENOSA, 2006, p. 377).

Por sua vez, a função corretiva (limitadora do exercício de um direito),

prevista no art. 422, do CC, atua no controle das clausulas abusivas (VENOSA,

2006, p.376), assim como parâmetro para o exercício das posições jurídicas

(adimplemento substancial, proibição de comportamento contraditório, abuso de

direito) (NEGREIROS, 2002, p.119) (GOMES, 2008, p.45).

Na seara contratual, a boa-fé objetiva e o abuso de direito, disciplinado

pelo art. 187 do Código Civil, complementam-se de modo que o exercício de um

direito será irregular se incorrer na quebra da confiança e na frustração das

expectativas legítimas (NEGREIROS, 2002, p.141).

A boa-fé objetiva introduz no ordenamento jurídico a proteção às legitimas

expectativas dos contratantes, levando em consideração o padrão ético do homem

médio. Seu papel é tríplice: interpretativo, criador de deveres acessórios e limitador 3 Vedação do comportamento contraditório 4 Violação à dignidade da pessoa humana 5 Invocação da regra violada pela própria parte 6 Ninguém pode alegar em seu benefício a sua própria torpeza

28

ao exercício de direitos. Ela é levada em consideração em qualquer contrato firmado

e não apenas nos contratos de consumo.

No direito das relações de consumo, a boa-fé é princípio e cláusula geral,

conferindo ampla proteção ao consumidor, vez que suas violações não estão

restritas aos arrolamentos legais, podendo ser interpretadas com a devida margem

de liberdade pelo magistrado.

3.2 FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO

A função social vem desafiar e até mesmo impedir a prevalência dos

princípios da autonomia da vontade e da força obrigatória em determinadas

situações (PEREIRA, 2007, p.14) colocando a equidade e a justiça como centro de

gravidade do novo conceito de contrato (MARQUES, 2002, p.154).

O art. 421 do Código Civil dispõe que: “A liberdade de contratar será

exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. Esta renovação

teórica é chamada por Cláudia Lima Marques de socialização da Teoria Contratual

(MARQUES, 2002, p.154-155).

Quanto à eficácia, Lucas Abreu Barroso considera que:

“Na prática, a função social do contrato é revelada através de sua eficácia interna (entre os contratantes) e de sua eficácia externa (além dos contratantes), o que permite falarmos em dupla eficácia no que concerne ao princípio em análise, respectivamente, em proteção aos direitos individuais e objetivando resguardar os direitos metaindividuais (...). Isso porque a função social do contrato só se perfaz, em sua plenitude, quando no vínculo contratual estejam convergindo os interesses das partes e os interesses coletivos”. (MORRIS, 2008, p.44-46)

A eficácia interna da função social do contrato limita a autonomia da

vontade de modo a realizar o conceito da justiça comutativa (PEREIRA, 2007, p.13).

Ilustra-se a boa-fé analisada pelo viés interno com o seguinte julgado do Tribunal de

Justiça do Paraná:

29

“DIREITO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PAGAMENTO DA DÍVIDA PENDENTE. PRESTAÇÕES VENCIDAS. ART. 3º, § 2º, DECRETO-LEI 911/69. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO. ART. 421/CC. CDC. 1. Ao devedor que sofre a busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente em garantia de mútuo é assegurada a possibilidade de recuperar a posse direta da coisa, mediante o pagamento da dívida pendente, dada a utilidade que traduz no interesse da preservação do contrato, ante a sua função social como instrumento de circulação de riquezas (art. 421/CCiv). 2. Por "integralidade da dívida pendente", referida no § 2º, do art. 3º, do Decreto-lei 911/69, com a redação da Lei 10.941/2004, deve-se entender apenas a dívida vencida até a data do pagamento, ou seja as parcelas vencidas até o ajuizamento da ação e as parcelas que se vencerem durante seu curso, não se incluindo aí as parcelas vincendas após a data do pagamento, não se admitindo o vencimento antecipado que se mostra abusivo frente ao consumidor (art. 54, § 2º).(...) Entretanto, por integralidade da dívida pendente deve-se entender apenas a dívida vencida até a data do pagamento, conforme os termos ajustados no contrato entre as partes, ou seja as parcelas vencidas até o ajuizamento da ação e as parcelas que se vencerem durante seu curso, não se incluindo aí as parcelas vincendas após a data do pagamento, que não podem para essa finalidade serem consideradas vencidas antecipadamente, em homenagem ao princípio da função social do contrato, e sua utilidade como instrumento de circulação de riquezas ante a melhor exegese do art. 421, do Código Civil. De outro lado, tem sido mesmo considerado que [...] art. 3º, § 2º, do Decreto-lei 911/1969, ao permitir que o devedor fiduciante pague a integralidade da dívida, afastando a possibilidade de purgação da mora, afronta a norma do art. 54, § 2º, do CDC, dotada de status de norma constitucional, alçada a direito fundamental (art. 5º, inciso XXXII, da Constituição da República) e erigida a princípio da ordem econômica (art. 170, inciso V)(...).” .” (17ª.CC, decisão monocrática, autos 0725589-6, Agravo de instrumento, relator Francisco Jorge, DJ 526)

Apelando para a função social do contrato, no julgado supra o Tribunal

considerou abusiva a cláusula que estabelece o vencimento antecipado da dívida do

credor fiduciário, permitindo ao devedor recuperar a posse do bem mediante o

pagamento das parcelas vencidas até o ajuizamento da ação somadas as que se

vencerem em seu curso. Assim, restou afastada por determinação judicial a cláusula

de vencimento antecipado.

O contrato pode atingir, além dos interesses estritamente particulares das

partes, os interesses coletivos, interessando à sociedade a salvaguarda dos

legítimos interesses de terceiros, estranhos ao contrato (LOURENÇO, 2001, p.134).

Desta feita, a doutrina da função social transcende o direito de propriedade

(MORRIS, 2008, p.43).

30

Trata-se de conciliar os interesses dos particulares contratantes com os

interesses coletivos (por exemplo, a livre iniciativa e a tutela do meio-ambiente) para

atingir a finalidade da justiça social. Devendo o contrato ser também adequado aos

interesses da sociedade distribuindo as riquezas sociais de forma justa

(LOURENÇO, 2001, p.135).

A igualdade formal (perante a lei) se desenvolveu em direção à busca da

igualdade material (conceito de solidariedade social). O princípio da função social do

contrato foi um dos institutos que alavancou a busca pela igualdade de fato, tanto

entre as partes contratantes quanto perante terceiros, sendo bastante ampla a sua

aplicação, protegendo inclusive o meio-ambiente e a livre concorrência.

31

4. PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

4.1 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

No direito brasileiro há um duplo regime contratual: o cível e o

consumerista. O Código Civil normatiza para sujeitos iguais. Já o CDC dispensa

tratamento desigual para os desiguais, reconhecendo a vulnerabilidade do

consumidor em face do fornecedor, tratando-se de norma específica (CAVALIERI

FILHO, 2010, p.119). O Código Civil é um macrossistema do direito privado. Já o

Código de Defesa do Consumidor é um microssistema das relações de consumo

(EFING, 2009, p.42).

É possível a aplicação simultânea e coerente do CDC e do Código Civil

(bem como da legislação especial) que a doutrina costuma chamar de diálogo das

fontes (BENJAMIN et alli, 2009, p. 89-102). Sobre o tema, afirma Nelson Nery

Junior:

“Os contratos de consumo estão sujeitos ao controle, sob os planos da existência, validade e eficácia, do próprio Código de Defesa do Consumidor. Entretanto, podem ser invalidados, como os negócios jurídicos em geral, pelo sistema do Código Civil. Assim, podem ser nulificados ou anulados os contratos de consumo em que houve dolo, erro, coação, simulação, fraude contra credores, fraude à lei, estado de perigo ou lesão. Quando houver reserva mental (art.110 do Código Civil), a declaração de vontade não chegou a ser formada, de sorte que inexiste; cabe ação declaratória negativa, de inexistência de relação jurídica, para declarar-se a inexistência do negócio jurídico celebrado com reserva mental” (GRINOVER et alli, 2007, p.586)

Contudo, o Código Civil é instrumento deficitário para disciplinar as

relações de consumo (NUNES, 2009, p.68). A proteção civil baseada no princípio

geral da boa-fé, na obrigatoriedade da proposta e na intangibilidade das

32

convenções, entre outros, foi aperfeiçoada com o surgimento de novos institutos

mais adequados à defesa do consumidor, como por exemplo, a responsabilidade

objetiva do fornecedor de produtos e serviços, a inversão do ônus da prova e a

proteção contratual.

O art. 5º, XXXII, da Constituição Federal de 1988, inaugurou o direito das

relações de consumo pela primeira vez no ordenamento jurídico brasileiro nos

seguintes termos “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”,

vinculando a esta normativa toda a legislação infra-constitucional.

A Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 inaugurou uma

nova concepção de direito fundamental, como indivisível dos outros direitos da

mesma categoria e com eles inter-relacionado, dentro da base principiológia

estabelecida pela Constituição, com fulcro no princípio comum da dignidade da

pessoa humana. Desta feita, ao inserir o princípio da proteção ao consumidor no rol

do art. 5º, o legislador conferiu a ele status de direito fundamental, tornando-o

cláusula pétrea da Constituição, protegendo-o, inclusive, de eventual revogação pelo

poder constituinte derivado (MIRAGEM, 2008,p.35) (EFING, 2005, p.28).

O CDC inaugura um subsistema autônomo dentro do sistema

constitucional brasileiro (NUNES, 2009, p.65 e 69). Subsistema este que prevalece

sobre os demais, com exceção da Constituição Federal (CAVALIERI FILHO, 2010,

p. 65 e 69). Ele adotou uma avançada técnica legislativa baseada em princípios e

cláusulas gerais, sendo, portanto, uma lei principiológica (MARTINS-COSTA, 2000,

p.296) (CAVALIERI FILHO, 2010, p.18), favorecendo assim a concretização dos

princípios e garantias fundamentais (NUNES, 2009, p.20).

33

A proteção jurídica do consumidor se opera essencialmente por meio de

conceitos gerais. O princípio da defesa do consumidor decorre da concepção

moderna do princípio da igualdade, compreendida como igualdade material (EFING,

2005, p.20) que na concepção de Aristóteles consiste em tratar igualmente os iguais

e desigualmente os desiguais, na exata medida das suas desigualdade (BANDEIRA

DE MELLO, 2002, p.35 e 39).Sendo o consumidor vulnerável (desigual) tem ele

direito a ser protegido (GAMA, 2008, p.43). Ainda na Constituição Federal, no seu

art. 170, V, a defesa do consumidor consagra-se como um princípio geral da ordem

econômica (EFING, 2005, p.24).

Assim, elaborou-se a Lei 8.078 de 11/09/1990, conhecida como Código

de Defesa do Consumidor. No entender de José Lourenço: “essa legislação é tida

como das mais modernas do mundo, sendo adotada, inclusive, nas relações dos

países integrantes do Mercosul” (LOURENÇO, 2001, p.148).

Há questionamentos acerca de ser o CDC uma codificação ou apenas

uma lei geral. Na tramitação do projeto o lobby dos empresários tentou adiar a

votação do texto argumentando que seria necessário respeitar um iter legislativo

extremamente formal que não havia sido observado. Assim votou-se um código com

forma de lei geral, mas evidentemente trata-se de um código por seu caráter

sistemático, por dar coerência e homogeneidade ao ramo em questão. Tanto o é,

que o Congresso Nacional nem ao menos se deu ao trabalho de alterar no texto a

expressão auto-referente “código” (GRINOVER et alli, 2007, p.8 e 9). Ademais, a lei

8.078/90 é código por determinação constitucional do art. 48 dos atos das

disposições constitucionais transitórias (NUNES, 2009, p.65).

34

O CDC é uma lei especial. Sendo lei especial e mais nova deve

prevalecer naquilo que inovou. Não é possível afastar a sua incidência nas relações

de consumo sob o argumento de que determinadas relações são reguladas por leis

especiais (por exemplo, contratos bancários e transportes aéreos). Isto porque, a

defesa do consumidor possui fundamento constitucional, não podendo ser

derrogada por outra norma a pretexto de especialidade (CAVALIERI FILHO, 2010,

p.17). Desta forma, o CDC será aplicado em todas as relações de consumo,

independentemente destas estarem ou não regradas por outra norma jurídica de

natureza especial (NUNES, 2009, p.66 e 70).

O CDC cria mecanismos para equilibrar as relações de consumo nos

diversos momentos da relação de consumo: na fase pré-contratual cria direitos para

o consumidores e deveres para os fornecedores e na fase pós-contratual nulifica de

pleno direito as cláusulas abusivas através do controle judicial do conteúdo do

contrato celebrado. Sobre este assunto Cláudia Lima Marques discorre no seguinte

sentido:

“Como afirmamos anteriormente, a proteção dos interesses e expectativas dos consumidores acompanhará o transcorrer das prestações contratuais, a execução do contrato e o cumprimento dos deveres principais e acessórios, instituindo inclusive uma proteção pós-contratual (...). Para proteger a confiança do consumidor, instituíram-se novas garantias legais de adequação do produto, de segurança e fala-se mesmo em garantia da durabilidade. Para proteger o equilíbrio contratual, a equidade de distribuição de direitos e deveres contratuais, serão as cláusulas abusivas afastadas por normas imperativas” (MARQUES, 2002, p.740).

O CDC é uma codificação principiológica que inaugura um sistema legal

diferenciado dentro do ramo civil do ordenamento jurídico. Esta moderna técnica

legislativa favorece uma proteção legal ampla deixando ao prudente arbítrio do juiz

boa margem de liberdade para considerar os valores de justiça e equidade na

proteção do consumidor.

35

Os próximos subcapítulos abordarão a proteção contratual na fase pré-

contratual, na formação do contrato, na execução do contrato e no período pós-

contratual. A divisão adotada neste trabalho não é rigorosa (vez que as disciplinas

misturam-se na prática) e visa unicamente à melhor organização do tema.

4.2. PROTEÇÃO CONTRATUAL NA FASE PRÉ-CONTRATUAL

A publicidade é conseqüência da sociedade industrializada e massificada,

oriunda da nova necessidade empresarial de um sistema de comunicação de massa.

O seu objetivo principal é aproximar o consumidor dos produtos e serviços

disponíveis no mercado, informando da existência dos mesmos. Dentro deste

objetivo está também incluso o propósito de induzir o consumidor à compra inserindo

novas necessidades no seu subconsciente (CAVALIERI FILHO, 2010, p.120-121).

Sobre isto, Claudia Lima Marques afirma que:

“É através da publicidade que o fornecedor oferece bens ou serviços ao consumidor, que informa o consumidor sobre determinadas qualidades ou propriedades do produto ou serviço, que desperta interesses, vontades, desejos, que propaga marcas e nomes, que usa a fantasia para ligar determinados sentimentos, status ou atitudes a determinados produtos, em verdade, o fornecedor incita o consumo, direta ou indiretamente, com sua atividade” (MARQUES,2002, p.606-607).

Em face do propósito de indução subconsciente e do potencial persuasivo

das técnicas de marketing surgiu o princípio da vinculação contratual da publicidade,

regrado pelo art. 30 do CDC que dispõe que: “toda informação ou publicidade,

suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com

relação a produto e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a

fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado”. Desta

36

forma, a publicidade é fonte de obrigações para o fornecedor que dela se utiliza

(CHAISE, 2001, p.48 e 49) (CAVALIERI FILHO, 2010, p.121-123).

Logo, por força de lei, a informação oferecida ao consumidor integra o

contrato de consumo e vincula o proponente (MARQUES, 2002, p.603), desde que

suficientemente precisa (CAVALIERI FILHO, 2010, p. 123). Na prática, quase todas

as manifestações do fornecedor, possuem força vinculativa e obrigatória para ele e

passam a integrar o contrato a ser formado no futuro (MARQUES, 2002, p.605 e

606).

A boa-fé, em sua função supletiva, cria os deveres acessórios de

correção, de informar com clareza e completude, de proteger a pessoa e o

patrimônio da contraparte, de agir com lealdade e espírito de cooperação para o

atingimento da finalidade do contrato (GOMES, 2008, p.43).

O princípio da transparência, dever anexo da boa-fé e expresso no art. 4º,

caput, do mesmo diploma legal, rege o momento pré-contratual e cria para o

estipulante o dever de informar com veracidade e lealdade. Isto significa anunciar a

oferta de forma clara e correta sobre as características do produto anunciado e as

condições para adquiri-lo, sob pena de responsabilização pela informação incorreta

(independentemente de culpa face à responsabilidade objetiva do fornecedor),

conforme o art. 20 do CDC, ou então, de cumprimento forçado, nos termos do art.

35, do CDC (MARQUES, 2002, p.594-595 e 599).

Sobre a completude da oferta, Sérgio Cavalieri Filho afirma que:

“(...) esta estrutura da oferta, que em princípio é a mesma da proposta no Código Civil, sofre sensível flexibilização no Código do Consumidor. A primeira delas diz respeito à sua completude. No direito tradicional, se a oferta não é completa normalmente é considerada mero convite à oferta,

37

sem força vinculativa. No Código do Consumidor, não. Se a informação ou publicidade (oferta) não for suficientemente precisa, ela não invalida a condição de oferta, porque, como vimos, o artigo seguinte (art.31) impõe ao fornecedor o dever de informar completamente o consumidor acerca de sua oferta. Então, a obrigação é que ela seja completa, de sorte que a eventual omissão de algum dado não transforma a oferta em mero convite a ofertar” (CAVALIERI FILHO, 2010, p.134).

Pelo princípio da veracidade da publicidade, consagrado no art. 37 do

CDC, “é proibida a publicidade enganosa ou abusiva”. O parágrafo 1º do citado

artigo define como enganosa a publicidade cuja informação ou comunicação

contenha falsidade integral ou parcial; ou mesmo contenha omissão capaz de induzir

o consumidor a erro. Logo, o conceito de abusividade é mais abrangente que o de

falsidade, incluindo qualquer ação, omissão (de dado relevante) ou esquema capaz

de induzir o consumidor a erro. Segundo a doutrina, a publicidade enganosa é

aquela portadora de enganosidade potencial para o consumidor típico (o destinatário

da publicidade), não sendo necessário que o seu efeito se verifique em concreto

(CHAISE, 2001, p.33) (CAVALIERI FILHO, 2010, p.124-128). Sobre a publicidade

enganosa, colaciona-se recente julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

Título de capitalização. Informação de resgate integral corrigido ao final do plano. Propaganda enganosa. Art. 37, §1º, CDC. Danos materiais configurados. Reparação. Danos morais não configurados. A publicidade enganosa é proibida pelo artigo 37, do CDC, sendo vedada a veiculação de informação ou comunicação inteira ou parcialmente falsa, "capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços". Demonstrada ser enganosa a informação prestada quanto ao valor a ser resgatado ao final do título de capitalização, impõe-se adequar o contrato à oferta. Entretanto, embora tal adequação importe em reparação pelos danos materiais, não dá azo, no caso, à indenização por danos morais. Apelação provida em parte. (TJPR - 15ª C.Cível - AC 0723499-9 - Londrina - Rel.: Des. Hamilton Mussi Correa - Unânime - J. 15.12.2010)

No julgado supra verificou-se enganosidade na informação prestada ao

consumidor bancário em relação ao valor a ser resgatado ao final do título de

capitalização, dando azo à reparação pelos danos materiais causados.

38

O princípio da não-abusividade da publicidade, regrando no parágrafo

segundo do art. 37, do CDC, define como abusiva a publicidade discriminatória, que

incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de

julgamento e experiência da criança, desrespeite valores ambientais, ou seja, capaz

de induzir o consumidor a se comportar de modo prejudicial ou perigoso a sua saúde

ou segurança. Este rol é meramente exemplificativo, pois trata-se de um conceito

jurídico indeterminado (CAVALIERI FILHO, 2010, p.128-129).

Ainda sobre publicidade abusiva, a publicidade na internet levada a cabo

por meio de spam na maioria das vezes configura abusividade vez que o envio de

mensagens publicitárias sem a solicitação do usuário da caixa de e-mail pode gerar

transtornos pelo recebimento excessivo, bem como, pela perda de outras

mensagens (BEHRENS, 2005, p.139-140).

O ônus de provar a veracidade e a correção da informação ou

comunicação publicitária cabe a que a patrocina, conforme art. 38 do CDC, e este

ônus independe de qualquer determinação judicial (CAVALIERI FILHO, 2010, p.123

e 124). O erro de consumo, influenciado por publicidade enganosa

(independentemente de dolo, culpa ou má-fé do fornecedor) faculta ao consumidor o

cumprimento forçado da obrigação, a aceitação de outro produto ou serviço

equivalente ou, mesmo, a rescisão do contrato com direito à restituição de quantia

eventualmente paga, monetariamente atualizada e perdas e danos, conforme o art.

35 do CDC (CHAISE, 2001, p.106).

O art. 36 do CDC veda a publicidade clandestina, subliminar ou

dissimulada. A publicidade clandestina consiste na apresentação oral ou visual de

produtos, de serviços, do nome, da marca ou de atividades de um fabricante de

39

mercadorias ou de um prestador de serviços em programas de televisão. A

publicidade subliminar refere-se àquela que objetiva persuadir o consumidor por

intermédio de estímulos ao estado de consciência ou inconsciência, de forma

imperceptível ao destinatário. Já a publicidade dissimulada, são as reportagens,

relatos científicos e informes econômicos travestidos de informação objetiva e

desinteressada (MIRAGEM, 2008, p.164-165) (CAVALIERI FILHO, 2010, p.122).

O fornecimento de produtos ou vantagens a título gratuito também deve

obedecer ao princípio da transparência, haja vista que o fornecedor remunera-se por

eles indiretamente, servindo-se deles, inclusive, como ferramenta de marketing

(MARQUES, 2002, p.606-608).

A publicidade, ferramenta de marketing de grande importância para as

empresas na atualidade, tem a capacidade de introduzir novas necessidades na vida

dos consumidores, com potencial para, inclusive, induzir inconcientemente os

comportamentos. Todo este potencial pode, como frequentemente o é, utilizado de

forma abusiva ou enganosa. Assim, busca o direito reequilibrar a relação de

consumo mesmo antes da celebração do contrato vedando a publicidade

potencialmente nociva ao consumidor.

4.3. PROTEÇÃO CONTRATUAL NA FORMAÇÃO DO CONTRATO

A função supletiva da boa-fé cria diversos deveres anexos na relação

contratual (GOMES, 2008, p.43), que, para o fornecedor, representam o dever de

redigir o contrato com clareza e transparência, cooperando lealmente para atingir a

finalidade do contrato.

40

Em atenção ao princípio da transparência, dever anexo, os contratos de

consumo não obrigam o consumidor se a ele não for dada a oportunidade de tomar

conhecimento prévio do seu conteúdo, ou se o respectivo instrumento for redigido de

modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance, conforme o art. 46 do

CDC (CAVALIERI FILHO, 2010, p.140-141).

Assim, o consumidor só se vincula às cláusulas que teve efetivamente

teve a oportunidade de conhecer antes da assinatura do contrato, cabendo ao

fornecedor o dever de informar adequadamente. Em virtude deste dispositivo e do

art. 51, XIII, nula é a alteração unilateral do contrato (CAVALIERI FILHO, 2010,

p.141).

O contrato também não obrigará o consumidor se o instrumento contratual

for redigido de modo a dificultar a compreensão do seu sentido e alcance, norma

reiterada pelo art. 54, parágrafos 3º e 4º do CDC e decorrente da boa-fé objetiva

(CAVALIERI FILHO, 2010, p.141-142). Sobre a redação do contrato, Fábio Ulhoa

Coelho, citado por Sérgio Cavalieri Filho, afirma que:

“como prepara, prévia e isoladamente, os dispositivos contratuais de regência da relação, este último (estipulante), tem plenas condições de contemplar, no instrumento contratual, os destinados à completa preservação de seus interesses, enquanto aquele (aderente) não tem meios de introduzir os seus. O estipulante pode, por outro lado, rever periodicamente o texto das condições gerais do negócio, aproveitando-se da experiência dos inúmeros contratos realizados, e aperfeiçoá-los nos dispositivos que lhe interessa; já o aderente não possui, na maioria das vezes, as informações necessárias para compreender o exato sentido do texto que lhe é apresentado. Por fim, o estipulante de má-fé pode abusar da condição privilegiada e redigir cláusulas obscuras ou ambíguas, de efeitos prejudiciais ao aderente” (CAVALIERI FILHO, 2010, p.140 citando COELHO, 2003, p.11).

Por isto em relação à interpretação do contrato de consumo, o art. 47 do

CDC dispõe que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais

favorável ao consumidor”. Logo, não apenas as cláusulas portadoras de omissão,

41

contradição ou obscuridade, mas todas as cláusulas contratuais devem ser

interpretadas em prol do consumidor. Trata-se de um critério de justa hermenêutica,

vinculando o bônus de redigir o instrumento contratual ao ônus da interpretatio

contra stipulatorem7 (NUNES, 2009, p.612-613).

A função interpretativa da boa-fé objetiva possui importante papel no

sentido de ir além do literal da linguagem para atingir a real e legítima intenção do

contratante (GOMES, 2008, p.43). Esta é a razão pela qual, nos contratos de

adesão, as cláusulas negociadas em separado derrogam as cláusulas pré-dispostas

naquilo que com elas colidirem (CAVALIERI FILHO, 2010, p.143).

O prazo de reflexão ou arrependimento, alicerçado no art. 49 do CDC,

refere-se aos sete dias, a contar da assinatura do contrato ou do recebimento do

produto ou serviço, no qual é facultado ao consumidor desistir unilateralmente do

contrato sempre que a venda se der fora do estabelecimento comercial. A norma

visa proteger o consumidor da agressividade do sistema externo de vendas que

explora a impulsividade do indivíduo (CAVALIERI FILHO, 2010, p.145).

Na formação do contrato a proteção ao consumidor se opera basicamente

pela aplicação do princípio da transparência. O contrato deve ser redigido com

caracteres ostensivos e legíveis. As cláusulas contratuais que o consumidor não

tiver a oportunidade de tomar conhecimento não o obrigam: isto inclui os contratos

depositados em cartórios e que o consumidor não tem acesso no momento da

assinatura.

7 Interpretação desfavorável à quem redigiu o contrato

42

4.4. PROTEÇÃO CONTRATUAL NA EXECUÇÃO DO CONTRATO

A boa-fé é o real fundamento da vedação das cláusulas abusivas

(CAVALIERI FILHO, 2010, p.157). Sobre as cláusulas abusivas Sergio Cavalieri

Filho afirma que:

“Em suma, em face da adoção, pelo nosso Código Civil, da teoria objetiva em relação ao abuso de direito, não é necessário, para configurá-lo, que haja dolo, culpa, má-fé, ou fim de prejudicar por parte do titular do direito. Bastará que aquele que o exerça exceda objetivamente os limites estabelecidos na lei.

Ora, é exatamente isso que ocorre com as cláusulas abusivas. o fornecedor, ainda apegado àquela visão tradicional de plena liberdade contratual, para a qual não há limites na determinação do conteúdo do contrato, estabelece cláusulas que excedem os limites da boa-fé, mas não só da boa-fé, também da finalidade social e econômica do contrato, e, muitas vezes, até dos bons costumes. Ao assim fazer, excede os limites estabelecidos pela nova visão contratual, abusa do direito na estipulação das cláusulas contratuais que colocam o consumidor em desvantagem exagerada perante o fornecedor, tornando necessária a intervenção estatal para reestabelecer os limites legais” (CAVALIERI FILHO, 2010, p.158).

Cumpre mencionar que o sentido do termo “clausula” do art. 51, do CDC é

mais abrangente que clausula contratual, incluindo todo e qualquer pacto, escrito ou

verbal, incluindo o comportamento socialmente típico (GRINOVER et al., 2007, p.576

e 635). Da interpretação do art. 48 do CDC depreende-se que escritos particulares,

recibos e pré-contratos também integram o conteúdo do contrato (NUNES, 2009,

p.659) (GRINOVER et al., 2007, p.557) (CAVALIERI FILHO, 2010, p.122-123) (CDC,

art.30) (CDC, art.48).

Diferentemente do Código Civil, que difere dois tipos de nulidades: a

nulidade absoluta e a anulabilidade, o CDC reconhece apenas as nulidades

absolutas (NUNES, 2009, p.655) (GRINOVER et al., 2007, p.571). A expressão

43

“nulidade de pleno direito” apenas reforça o seu caráter absoluto, não configurando

um novo sistema de nulidades (SCHMITT, 2008, p.139-140).

Conforme o art. 1º do CDC, as normas de proteção ao consumidor que o

diploma contém são de ordem pública e interesse social, nos termos do art. 5º,

XXXII e 170, V, da Constituição Federal (NUNES, 2009, p.655). Logo, não é possível

afastar a incidência da disciplina do CDC por convenção das partes ou inserção de

cláusula no contrato de consumo (EFING, 2005, p.34-35). Via de conseqüência, não

é possível admitir sanção que não a nulidade absoluta, tendo-se em vista que a

violação às normas consumeristas são ofensas a normas de ordem pública (NUNES,

2009, p.532 e 655).

Foi no microsistema do CDC que a boa-fé e a equidade tornaram-se

pressupostos de validade (MELLO, 2009, p.89). Com base nelas, aplica-se às

relações de consumo o princípio do protecionismo interpretatio contra stipulatorem,

segundo o qual não apenas as cláusulas ambíguas, vagas ou contraditórias, mas

todas as cláusulas do contrato de consumo serão interpretadas da maneira mais

favorável ao consumidor, com fundamento no art. 47 do CDC (NUNES, 2009, p.612-

613) (GRINOVER et al., 2007, p.447-448).

De acordo com o princípio da incontagiação um ato nulo não contamina

os demais sendo possível a sua separação (MELLO, 2009, p.74). Desta forma, a

nulidade de uma cláusula, sendo esta separável, não contamina o contrato como um

todo, subsistindo o negócio jurídico, preservando na medida do possível o princípio

da conservação do contrato de consumo (NUNES, 2009, p.680).

44

A proteção do consumidor no momento da execução do contrato se dá,

sobretudo, por meio do controle judicial das cláusulas abusivas (CAVALIERI FILHO,

2010, p.154), sancionadas com a nulidade de pleno direito, cuja conseqüência é a

invalidade (CAVALIERI FILHO, 2010, p.176-177). Tais cláusulas encontram-se

arroladas no artigo 51 do CDC, porém cumpre esclarecer que tal rol é meramente

exemplificativo.

A Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, com fulcro no

art. 56 do Decreto 2.181/1997 (anexo 1), publicou outras listas exemplificativas por

meio das portarias 4/1998 (anexo 2), 3/1999 (anexo 4), 3/2001 (anexo 5), 5/2002

(anexo 6) e 7/2003 (anexo 7) e do despacho 132, de 12/05/98, do secretário de

direito econômico do ministério da Justiça, ouvido o departamento de Proteção e

Defesa do consumidor, publicado no DOU em 18/05/98 (anexo 3) (SCHMITT, 2008,

p.137) (GRINOVER et al., 2007, p.616-622).

Quanto à constitucionalidade de tais listas, Cristiano Heineck Schmitt

afirma que o STF já decidiu serem constitucionais tais portarias, bem como o decreto

2.181/1997, face ao seu caráter regulamentar, entendendo-se por regulamentar o

poder de explicitar a lei para a sua correta aplicação, considerando-as como um

complemento do rol exemplificativo do art. 51 (SCHMITT, 2008, p.137) (GRINOVER

et al., 2007, p.569-570). Adiante transcreve-se a ementa do julgado:

“DECRETO Nº 2181 , DE 20.03.97 ( ART. 056 ) E PORTARIA Nº 003 , DE 19.03.99, DA SECRETARIA DE DIREITO ECONÔMICO DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. ALEGADA INCOMPATIBILIDADE COM OS ARTIGOS 002 º, 005 º, INC. 0II, 061 , 062 E 068 DA CONSTITUIÇÃO . Dispositivos de manifesto caráter regulamentar, havendo de ser interpretados em face da lei e não da Constituição , razão pela qual são insuscetíveis de ser impugnados perante o STF na via do controle abstrato de constitucionalidade . Ação não conhecida . (julgamento pelo Tribunal Pleno da ADIn 1990-DF, rel. Min. Ilmar Galvão, j. 05.05.1999, publicado no Diário da Justiça de 25.06.1999)”

45

Para Nelson Nery Junior, as referidas portarias não são dotadas de força

vinculante, mas servem para esclarecer hipóteses concretas de cláusulas abusivas

(GRINOVER et al., 2007, p.616).

As cláusulas abusivas diferem das cláusulas que podem ensejar a revisão

do contrato, embora ambas se manifestem na fase de execução. Sobre esta

distinção Sérgio Cavalieri Filho afirma que:

“As causas que podem ensejar a revisão do contrato (...) são supervenientes à sua formação, ou seja, o contrato nasce perfeito, tudo corre muito bem, até que surge um fato novo (superveniente) que o desequilibra (...) exigindo uma revisão.

As cláusulas abusivas, que ensejam a modificação da cláusula e, eventualmente até do contrato (...) são concomitantes à formação do contrato, ou seja, no momento em que as partes o celebraram já fica lançado o germe de algo que ,mais tarde, na fase de execução, vai gerar um problema” (CAVALIERI FILHO, 2010, p.154).

Desta forma, a lei instituiu um controle judicial do conteúdo dos contratos

de consumo e da equidade das suas prestações. Ao disciplinar as nulidades nos

contratos de consumo como absolutas estas se tornam impassíveis de validação em

juízo, passando o referido contrato a ser disciplinado pela lei (princípio da

supremacia da ordem pública) em relação a elas.

4.4.1. O Artigo 51 do CDC

O artigo 51 do CDC, inserido no capítulo “Da proteção contratual”

apresenta um rol exemplificativo de cláusulas abusivas sancionadas com a nulidade

de pleno direito. Este dispositivo foi elaborado lançando-se mão de técnica

legislativa moderna (principiológica) que contem tipos abertos, servindo de guia para

46

que o juiz possa identificar cláusulas abusivas no caso concreto (GRINOVER et al.,

2007, p.509). Consoante dispõe o referido artigo:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas so fornecimento de produtos e serviços que:

I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vício de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor- pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada em situações justificáveis;

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso de quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

III – transfiram responsabilidades a terceiros;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé e a equidade;

V – (Vetado.)

VI – estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;

VII – determinem a utilização compulsória de arbitragem;

VIII – imponham representante para concluir ou realizar outro negócio pelo consumidor;

IX – deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;

X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;

XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor;

XII – obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

XIII – autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração;

XIV – infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;

XV – estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

XVI – possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.

Parágrafo primeiro: Presume-se exagerada, entre outro casos, a vantagem que:

I – ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

II – restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;

47

III – se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

Parágrafo segundo: A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

Parágrafo terceiro: (vetado);

Parágrafo quarto: É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste Código ou de qulquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.

No direito do consumidor, a boa-fé viabiliza os ditames constitucionais da

ordem econômica, compatibilizando a proteção ao consumidor com o

desenvolvimento econômico e tecnológico (NUNES, 2009, p. 606). Ela reequilibra as

relações contratuais para o exercício das posições contratuais, desestabilizadas

pelos diferentes graus de força dos contratantes. Esta boa-fé refere-se à boa-fé

objetiva, independendo da má-fé subjetiva do estipulante (NUNES, 2009, p.605). No

microsistema do CDC a boa-fé figura tanto quanto princípio quanto como cláusula

geral (NUNES, 2009, p.603).

Do artigo 51 do CDC merece destaque o inciso IV, alusivo à cláusula

geral da boa-fé. A cláusula geral da boa-fé é norma geral proibitória de todo e

qualquer abuso contratual, inclusive os previstos exemplificativamente nos demais

incisos do art. 51 do CDC (MARQUES, 2002, p.796), por encontra-se implícita, por

força de lei, a toda relação jurídica de consumo (GRINOVER et al., 2007,p. 529, 447-

448).

Pela alusão aos conceitos indeterminados contidos no parágrafo primeiro

como, por exemplo, “obrigações iníquas” e “desvantagem exagerada” deixa o

legislador espaço ao juiz para preenchê-las de significado no caso concreto

48

(GRINOVER et al., 2007, p.581). A presunção de exagero é relativa, admitindo prova

em contrário pelo fornecedor do produto ou do serviço.

A equidade também foi elevada à condição de cláusula geral, vez que

figura ao lado da boa-fé no art. 51, IV, do CDC (NUNES, 2009, p.607). Com relação

a ela, não se trata de julgamento da lide pelo critério da equidade, mas de

apreciação das cláusulas do contrato com base na equidade (KHOURI, 2006, p.109-

110).

Neste inciso, também está inclusa a vedação de cláusula-surpresa, por

contrárias à boa-fé e ao dever de informação do fornecedor. A cláusula-surpresa

pode decorrer de má-fé ou de ausência de esclarecimento adequado na redação do

contrato, como, por exemplo, dubiedade, obscuridade ou contradição. Trata-se de

cláusulas que venham a surpreender o consumidor após a celebração do contrato

(GRINOVER et al., 2007, p.584). Sobre elas, Nelson Nery Junior afirma:

“Vários critérios podem ser utilizados na investigação da surpresa extraordinária trazida por uma cláusula do contrato de consumo. Uma regra prática de grande utilidade parece ser aquela que coloca a questão da seguinte forma. É preciso que se investigue: a) o que o consumidor esperava do contrato (expectativa); b) qual o conteeúdo das cláusulas contestadas ou duvidosas. Se a discrepância entre a expectativa do consumidor e o conteúdo das cláusulas for tão grande a ponto de justificar sua estupefação e desapontamento, a cláusula se caracteriza como surpresa” (GRINOVER et al., 2007, p.585).

Qualquer cláusula que trouxer vantagem ao estipulante e estiver em

desacordo com os princípios basilares do CDC presume-se exagerada e contrária ao

sistema de proteção ao consumidor. Dispondo o contrato sobre a matéria de direito

civil a contrariedade aos princípios gerais deste ramo presumem-se exageradas e

contrárias ao sistema. O mesmo se aplicando aos demais ramos do direito

(GRINOVER et al., 2007, p.601).

49

A onerosidade excessiva pode fomentar o enriquecimento sem causa,

motivo pelo qual ofende o princípio da equivalência contratual, regrado no art 4º, III e

no art. 6º, II, ambos do CDC. São circunstâncias extraordinárias que podem

contribuir para a onerosidade excessiva, mas não as decorrentes do normal

cumprimento da avença (GRINOVER et al., 2007, p.602).

Não sendo aplicável a teoria da imprevisão em virtude da possibilidade

das partes de preverem a circunstância extraordinária superveniente, ainda assim

nula é a cláusula que configurar onerosidade excessiva para o consumidor. No

regime do CDC a onerosidade excessiva é suficiente para nulificar a clausula que a

estipula, fundamentando-se nos princípios da boa-fé objetiva, do equilíbrio do

contrato e na hiposuficiência do consumidor. Neste ínterim, a boa-fé corresponde à

característica própria da relação de consumo, fruto da proposta do fornecedor, que

por força de lei, deve assumir integralmente os riscos da sua atividade (CAVALIERI

FILHO, 2010, p.42) (NUNES, 2009, p.601-602). Quanto à onerosidade excessiva

ilustra-se com recente julgado do Tribunal de Justiça do Paraná:

DECISÃO MONOCRÁTICA. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO C/C CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. CONEXÃO COM AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. 1. TEORIA DA IMPREVISÃO. INAPLICABILIDADE. POSSIBILIDADE DE REVISÃO DO CONTRATO, QUE NÃO SE SUJEITA À IMPREVISIBILIDADE. ART. 6º, V DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 2. TAC E TEC. COBRANÇAS ABUSIVAS. CUSTOS DA ATIVIDADE FINANCEIRA. IMPOSSIBILIDADE DE REPASSE AO CONSUMIDOR. 3. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. ABUSIVIDADE. AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO. 4. REPETIÇÃO DO INDÉBITO NA FORMA SIMPLES E COMPENSAÇÃO COM EVENTUAL SALDO DEVEDOR. POSSIBILIDADE, SOB PENA DE ENRIQUECIMENTO INDEVIDO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. ART. 42 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 5. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. (...)Não prospera a tese da apelante, no sentido de que a revisão do contrato é impossível. De fato, o Código de Defesa do Consumidor estabelece, no seu art. 6º, inciso V, que é um dos direitos básicos do consumidor "a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas", sem falar que o art. 51, da mesma lei especial, prevê a nulidade de pleno direito das cláusulas abusivas. A propósito, a função social dos contratos vem sendo

50

cada vez mais contemplada e privilegiada, o que, por outro lado, provoca a mitigação da pacta sunt servanda inerente às relações negociais. Cumpre destacar que, nas relações consumeristas, a revisão de cláusulas contratuais não se limita, apenas, às hipóteses de fato supervenientes, causadores de desequilíbrio (teoria da imprevisão), mas sempre que a previsão contratual estabeleça prestação desproporcional ou abusiva, contrariamente ao que insiste em sustentar a apelante. (...) ANTE O EXPOSTO, com fundamento no artigo 557, caput, do Código de Processo Civil, nego seguimento ao agravo retido, por ser manifestamente inadmissível, e nego seguimento ao recurso de apelação cível, por ser manifestamente improcedente e contrário à jurisprudência dominante desta Corte e do Superior Tribunal de Justiça. (17ª.CC, decisão monocrática, autos 074452-8, Apelação cível, relator Mário Helton Jorge, DJ 577)

A respeito da onerosidade excessiva o julgado supra colacionado aponta

para a desnecessidade de superveniência do fato causador da onerosidade, assim

toda e qualquer onerosidade excessiva é nula por força do art. 51, IV, explicitado

pelo seu parágrafo primeiro, inciso III.

Ainda em relação à onerosidade excessiva, não é possível que os

contratos de consumo brasileiros sejam expressos em moeda estrangeira ou adotem

índices de correção atrelados a moeda que não a nacional (GRINOVER et al., 2007,

p.631). Sobre o reajuste com base na variação do dólar, Sergio Cavalieri Filho afirma

que:

“Viola o princípio da transparência a cláusula contratual que estabelece o reajuste das prestações pela variação do dólar sem que tenham sido dados ao consumidor todos os esclarecimentos necessários sobre os riscos e conseqüências da mesma, pelo que deve ser considerada ineficaz” (CAVALIERI FILHO, 2010, p.40-42).

Do artigo 51 do CDC, a cláusula geral da boa-fé, inserida no inciso IV, é

princípio de todas as demais normas contidas no referido artigo, bem como nas

portarias editadas pela Secretaria de Direito Econômico. Disto decorre sua grande

importância. Com fundamento nela, pode o juiz nulificar cláusulas não definidas no

arrolamento do referido artigo, aproximando mais seu julgamento dos critérios de

justiça.

51

4.5 PROTEÇÃO CONTRATUAL NA FASE PÓS-CONTRATUAL

A fase de execução contratual termina com o pagamento integral das

prestações, o adimplemento (CAVALIERI FILHO, 2010, p.179). A boa-fé, em sua

função integradora, faz com que surjam deveres residuais mesmo após o

adimplemento integral do contrato (GOMES, 2008, p.43). Sobre os deveres anexos

que se estendem mesmo após a conclusão do contrato, Sergio Cavalieri Filho

afirma:

“mesmo findo o contrato, supondo que o seu adimplemento tenha sido integral e satisfatório, persiste a fase pós-contratual, durante a qual ainda estarão as partes vinculadas aos deveres decorrentes do princípio da boa-fé e ao cumprimento de obrigação contratual secundária (lealdade, diligência, informação), também chamados de deveres post pactum finitum 8” (CAVALIERI FILHO, 2010, p.180).

O dever secundário de lealdade tem como expressão a garantia legal de

adequação do produto ou serviço, disciplinada no art. 24, do CDC, que independe

de previsão contratual e da qual não pode o fornecedor exonera-se. O prazo

prescricional para reclamar por danos causados por fato do produto ou do serviço é

de cinco anos, conforme o art. 27, do CDC. Já nos vícios do produto ou serviço os

prazos são decadenciais, sendo de 30 dias para produto ou serviço não durável; e

90 dias para produto ou serviço durável, nos termos do art. 26, do CDC. O código

ainda faz distinção entre vício aparente e vício oculto: os prazos são os mesmos,

porém no vício aparente ele começa a contar da data da entrega do produto,

enquanto que no vício oculto, do momento em que se evidencia o defeito

(CAVALIERI FILHO, 2010, p.147-148).

A garantia convencional, mera faculdade do fornecedor, não possui o

condão de derrogar a garantia legal por ser mais extensa que ela. Conforme a regra

8 Após o cumprimento da avença

52

do art. 50 do CDC, a garantia contratual é complementar à legal e será conferida

mediante termo escrito. O termo inicial do prazo da garantia convencional é a

entrega do produto ou serviço, enquanto o do prazo da garantia legal é o dia

subseqüente após esgotada a garantia convencional. Não havendo garantia

convencional, a garantia legal começa a correr da data da entrega do produto ou da

prestação do serviço, exceto nos vícios ocultos cujo cujo dia a quo é o da

manifestação do vício (CAVALIERI FILHO, 2010, p.147-149).

O dever acessório de diligência e informação tem como conseqüência o

recall (CAVALIERI FILHO, 2010, p.179). A figura do recall, alude ao dever pós-

contratual disciplinado pelo parágrafo 1º, do art. 10 do CDC, pelo qual:

“o fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores mediante anúncios publicitários.”

Pelo mesmo dever de diligência tem-se outro dever pós-contratual, o qual

está inserido no art. 32, do CDC que dispõe que “os fabricantes e importadores

deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não

cessar a fabricação ou importação do produto”. Mesmo quando “cessadas a

produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo

na forma da lei”, conforme o parágrafo primeiro do supracitado artigo (CAVALIERI

FILHO, 2010, p.179).

Mesmo após o adimplemento do contrato, o princípio da boa-fé estipula

deveres residuais: a responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço permanece

intacta e a produção de peças para reposição deve ser mantida por período

razoável.

53

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O direito é um bem cultural e, como tal, transforma-se no decorrer da

história em virtude da conjunção de uma infinidade de fatores, dentre os quais ele

próprio. Assim, a própria experiência jurídica acaba contribuindo para dar a luz às

suas próprias modificações, num processo autopoiético.

Para compreender melhor como isto ocorre é necessário empreender

uma análise da produção do direito, lançando-se mão da teoria tridimensional do

direito. O direito pode ser analisado por três fatores sintetizados nas palavras fato,

valor e norma. Estes fatores transfiguram-se num critério de validade: vigência,

eficácia e fundamento. A vigência refere-se ao aspecto formal, a eficácia alude à

correspondência social, enquanto o fundamento diz respeito aos valores que lhe

conferem legitimidade.

Estes três fatores estão sempre presentes na vida jurídica e

correlacionam-se entre si, ora com preponderância de um, ora com preponderância

de outro. Do encontro do fato (ser) com o valor (dever ser) nasce a norma. Este é o

processo de formação de todas as normas, inclusive as jurídicas.

Quanto ao fator valorativo, em todas as disciplinas normativas (filosofia

política, moral, religião e também no direito) o valor central é a Justiça.

A justiça, porém, é dotada de uma extraordinária multiplicidade de

sentidos sendo as mais correntes tratar a cada qual: da mesma maneira, segundo

54

seus méritos, segundo as suas obras, segundo as suas necessidades, segundo a

sua posição, segundo o que a lei lhe atribui.

A concepção de justiça que informou o conceito do contrato paritário foi a

de tratar os contratantes da mesma forma (igualdade formal), sem levar em conta

nenhuma das particularidades que os distinguiam. Tal conceito de contrato era

perfeitamente adequado à ideologia liberal burguesa, que buscou afastar o

intervencionismo do Estado reduzindo a sua atividade ao mínimo. Ao mínimo

também, procurou-se restringir a liberdade na atividade jurisdicional, limitando o juiz

à letra da lei, ou mesmo, à letra do contrato (dotado de força de lei entre as partes).

Neste contexto histórico a alteração do substrato fático acarretou numa

profunda crise de valores que culminou na reavalição do valor justiça: o grande

desequilíbrio de forças entre fornecedores e consumidores fez do contrato paritário o

instrumento do abuso econômico e jurídico nas sociedades de massas. E o ideal de

justiça se transformou passando a ser considerado pela posição dos indivíduos

(posição contratual), levando-se em conta a circunstância de vulnerabilidade da

classe consumidora.

Este processo histórico-dialético de criação normativa acarretou em uma

profunda alteração no conceito tradicional de contrato e uma revolução no

pensamento jurídico. O princípio da igualdade passa a admitir desigualdades de

modo a atingir a igualdade material. A teoria contratual se socializa, extrapolando

aos interesses dos contratantes. Desenvolve-se o conceito de boa-fé objetiva

trazendo aos contratos o valor da ética. Passa-se a admitir a intervenção estatal

tanto para fins de dirigismo contratual quanto para o controle judicial do conteúdo

dos contratos. Enfim, inaugura-se nova técnica legislativa de natureza principiológia,

55

menos sujeita a anacronismos, mais adequada às profundas mudanças sociais que

a engendrou.

Pelo princípio da dignidade humana, a justiça é fundamento de todas as

normas jurídicas, vez que as pretenções jurídicas devem ter por base um

ordenamento justo. A mudança na forma de interpretar este valor alavancou e

justificou toda mudança no pensamento jurídico, que, hoje passa a ver o contrato

como um fator de alteração da realidade social. Este é o espírito do dirigismo

contratual e o fundamento das cláusulas gerais dos contratos.

56

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ANEXOS ANEXO 1: Artigo 56 do decreto n. 2181, de 20.03.97:

59

Art. 56. Na forma do art. 51 da Lei nº 8.078, de 1990, e com o objetivo de orientar o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, a Secretaria de Direito Econômico divulgará, anualmente, elenco complementar de cláusulas contratuais consideradas abusivas, notadamente para o fim de aplicação do disposto no inciso IV do art. 22 deste Decreto.

§ 1º Na elaboração do elenco referido no caput e posteriores inclusões, a consideração sobre a abusividade de cláusulas contratuais se dará de forma genérica e abstrata.

§ 2º O elenco de cláusulas consideradas abusivas tem natureza meramente exemplificativa, não impedindo que outras, também, possam vir a ser assim consideradas pelos órgãos da Administração Pública incumbidos da defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor e legislação correlata.

§ 3º A apreciação sobre a abusividade de cláusulas contratuais, para fins de sua inclusão no elenco a que se refere o caput deste artigo, se dará de ofício ou por provocação dos legitimados referidos no art. 82 da Lei nº 8.078, de 1990.

ANEXO 2:

Portaria nº04, de 13 de março de 1998

O Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, no uso de suas atribuições legais,

60

CONSIDERANDO o disposto no art. 56 do Decreto n.º 2.181, de 20 de março de 1997, e com o objetivo de orientar o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, notadamente para o fim de aplicação do disposto no inc. IV do art. 22 deste Decreto; CONSIDERANDO que o elenco de Cláusulas Abusivas relativas ao fornecimento de produtos e serviços constantes do art. 51 da Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990, é de tipo aberto, exemplificativo, permitindo, desta forma a sua complementação, e CONSIDERANDO, ainda, que decisões terminativas dos diversos PROCON's e Ministérios Públicos, pacificam como abusivas as cláusulas a seguir enumeradas, resolve: Divulgar, em aditamento ao elenco do art. 51 da Lei n.º 8.078, e do art. 22 do Decreto n.º 2.181/97, as seguintes cláusulas que, dentre outras, são nulas de pleno direito: 1. estabeleçam prazos de carência na prestação ou fornecimento de serviços, em caso de impontualidade das prestações ou mensalidades; 2. imponham, em caso de impontualidade, interrupção de serviço essencial, sem aviso prévio; 3. não restabeleçam integralmente os direitos do consumidor a partir da purgação da mora; 4. impeçam o consumidor de se beneficiar do evento, constante de termo de garantia contratual, que lhe seja mais favorável; 5. estabeleçam a perda total ou desproporcionada das prestações pagas pelo consumidor, em benefício do credor, que, em razão de desistência ou inadimplemento, pleitear a resilição ou resolução do contrato, ressalvada a cobrança judicial de perdas e danos comprovadamente sofridos; 6. estabeleçam sanções em caso de atraso ou descumprimento da obrigação somente em desfavor do consumidor; 7. estabeleçam cumulativamente a cobrança de comissão de permanência e correção monetária; 8. elejam foro para dirimir conflitos de correntes de relações de consumo diverso daquele onde reside o consumidor; 9. obriguem o consumidor ao pagamento de honorários advocatícios sem que haja ajuizamento de ação correspondente; 10. impeçam, restrinjam, ou afastem a aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor nos conflitos decorrentes de contratos de transporte aéreo;

61

11. atribuam ao fornecedor o poder de escolha entre múltiplos índices de reajuste, entre os admitidos legalmente; 12. permitam ao fornecedor emitir títulos de crédito em brando ou livremente circuláveis por meio de endosso na representação de toda e qualquer obrigação assumida pelo consumidor; 13. estabeleçam a devolução de prestações pagas, sem que os valores sejam corrigidos monetariamente; 14. imponham limite ao tempo de internação hospitalar, que não o prescrito pelo médico. RUY COUTINHO DO NASCIMENTO ANEXO 3: Despacho no. 132, de 12/05/98, do secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, publicado no DOU em 18/05/98: Nº 132 A Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, ouvido o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, considerando que a divulgação da Portaria Nº 04, de 13.03.98, tem gerado dúvidas por parte de segmentos sociais em relação a alguns de seus Itens, e que um dos objetivos da Política Nacional de Relações de Consumo é promover a educação e a informação de consumidores e fornecedores quanto aos seus direitos e deveres visando o aperfeiçoamento do mercado de consumo, e, finalmente, em conformidade com a decisão unânime extraída da 19ª REUNIÃO DO SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR, realizada em Brasília, DF, de 11 a 13 de maio de 1998, apresenta nota explicativa sobre os seguintes itens da citada Portaria: ITEM 2 - IMPONHAM, EM CASO DE IMPONTUALIDADE, INTERRUPÇÃO DE SERVIÇO ESSENCIAL, SEM AVISO PRÉVIO; NOTA EXPLICATIVA: A INTERRUPÇÃO DE SERVIÇO ESSENCIAL NO CASO DE IMPONTUALIDADE REQUER AVISO FORMAL (ESCRITO) PARA CONFIGURAR A INADIMPLÊNCIA, POSSIBILITANDO, POIS, AO CONSUMIDOR (USUÁRIO) CUMPRIR SUA OBRIGAÇÃO EM PRAZO RAZOÁVEL.

62

INCLUEM-SE OS SERVIÇOS DE TELEFONIA, ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTO, ENERGIA ELÉTRICA, DENTRE OUTROS PREVISTOS EM LEI. ITEM 4 - IMPEÇAM O CONSUMIDOR DE SE BENEFICIAR DO EVENTO, CONSTANTE DE TERMO DE GARANTIA CONTRATUAL, QUE LHE SEJA MAIS FAVORÁVEL; NOTA EXPLICATIVA: SOMENTE O CONSUMIDOR, ENQUANTO DESTINATÁRIO FINAL, PODE SE BENEFICIAR DO EVENTO CONSTANTE DO TERMO DE GARANTIA QUE LHE FOR MAIS FAVORÁVEL, NÃO SE APLICANDO O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AO ADQUIRENTE DO PRODUTO QUE SE DESTINE A NEGÓCIO OU PRODUÇÃO. EX: VEÍCULOS DE USO COMERCIAL. ITEM 5 - ESTABELEÇAM A PERDA TOTAL OU DESPROPORCIONADA DAS PRESTAÇÕES PAGAS PELO CONSUMIDOR, EM BENEFÍCIO DO CREDOR, QUE, EM RAZÃO DE DESISTÊNCIA OU INADIMPLEMENTO, PLEITEAR A RESILIÇÃO OU RESOLUÇÃO DO CONTRATO, RESSALVADA A COBRANÇA JUDICIAL DE PERDAS E DANOS COMPROVADAMENTE SOFRIDOS; NOTA EXPLICATIVA: TEM ASSENTO NOS PRINCÍPIOS DA BOA FÉ, DO EQUILÍBRIO CONTRATUAL E DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR. O ROMPIMENTO UNILATERAL DO CONTRATO, QUANDO O CONSUMIDOR NÃO HONRAR O PACTUADO, RESTRINGE-SE AOS CASOS PREVISTOS EM LEI. O ALCANCE DESTE ITEM SE DÁ MAIS SIGNIFICATIVAMENTE NOS CONTRATOS DE TRATO SUCESSIVO E PRESTAÇÃO CONTINUADA, COM PRAZO DETERMINADO, DE BENS E SERVIÇOS, AFASTANDO-SE, POIS, A POSSIBILIDADE DA PERDA TOTAL OU DESPROPORCIONADA DAS PRESTAÇÕES PAGAS A TÍTULO DE ADIANTAMENTO, BEM COMO A IMPOSIÇÃO DE OBRIGAÇÃO DO PAGAMENTO DA TOTALIDADE OU PARCELA DESPROPORCIONADA DAS PRESTAÇÕES VINCENDAS A TÍTULO COMPENSATÓRIO. ITEM 9 - OBRIGUEM O CONSUMIDOR AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SEM QUE HAJA AJUIZAMENTO DE AÇÃO CORRESPONDENTE; NOTA EXPLICATIVA: O CONSUMIDOR NÃO ESTÁ OBRIGADO AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS AO ADVOGADO DO FORNECEDOR. OS SERVIÇOS JURÍDICOS CONTRATADOS DIRETAMENTE ENTRE O ADVOGADO E O CONSUMIDOR NÃO SE ENQUADRAM NESTE ITEM.

63

ANEXO 4: PORTARIA Nº 3, DE 19 DE MARÇO DE 1999 O Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, no uso de suas atribuições legais, CONSIDERANDO que o elenco de Cláusulas Abusivas relativas ao fornecimento de produtos e serviços, constantes do art. 51 da Lei n. 8.078 de 11 de setembro de 1990, é de tipo aberto, exemplificativo, permitindo, desta forma a sua complementação; CONSIDERANDO o disposto no art. 56 do Decreto n. 2.181, de 20 de março de 1997, que regulamentou a Lei n. 8.078/90, e com o objetivo de orientar o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, notadamente para o fim de aplicação do disposto no inciso IV do art. 22 deste Decreto, bem assim promover a educação e a informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com a melhoria, transparência, harmonia, equilíbrio e boa-fé nas relações de consumo, e CONSIDERANDO que decisões administrativas de diversos PROCONs, entendimentos dos Ministérios Públicos ou decisões judiciais pacificam como abusivas as cláusulas a seguir numeradas, resolve: Divulgar, em aditamento ao elenco do art. 51 da Lei n. 8.078/90, e do art. 22 do Decreto n. 2.181, as seguintes cláusulas que, dentre outras, são nulas de pleno direito: 1. Determinem aumentos de prestações nos contratos de planos e seguros de saúde, firmados anteriormente à Lei 9.656/98, por mudanças de faixas etárias sem previsão expressa e definida;

2. Imponham, em contratos de planos de saúde firmados anteriormente à Lei 9.656/98, limites ou restrições a procedimentos médicos (consultas, exames médicos, laboratoriais e internações hospitalares, UTI e similares) contrariando prescrição médica;

3. Permitam ao fornecedor de serviço essencial (água, energia elétrica, telefonia) incluir na conta, sem autorização expressa do consumidor a cobrança de outros serviços. Excetuam-se os casos em que a prestadora do serviço essencial informe e disponibilize gratuitamente ao consumidor a opção de bloqueio prévio da cobrança ou utilização dos serviços de valor adicionado;

4. Estabeleçam prazos de carência para cancelamento do contrato de cartão de crédito;

5. Imponham o pagamento antecipado referente a períodos superiores a 30 dias pela prestação de serviços educacionais ou similares;

6. Estabeleçam, nos contratos de prestação de serviços educacionais, à vinculação à aquisição de outros produtos ou serviços;

64

7. Estabeleçam que o consumidor reconheça que o contrato acompanhado do extrato demonstrativo da conta corrente bancária constituem título executivo extrajudicial, para os fins do artigo 585, II, do Código de Processo Civil;

8. Estipulem o reconhecimento, pelo consumidor, de que os valores lançados no extrato da conta corrente ou na fatura do cartão de crédito constituem dívida líquida, certa e exigível;

9. Estabeleçam a cobrança de juros capitalizados mensalmente;

10. Imponham, em contratos de consórcio, o pagamento de percentual a título de taxa de administração futura, pelos consorciados desistentes ou excluídos;

11. Estabeleçam, nos contratos de prestação de serviços educacionais e similares, multa moratória superior a 2% (dois por cento);

12. Exijam a assinatura de duplicatas, letras de câmbio, notas promissórias ou quaisquer outros títulos de crédito em branco;

13. Subtraiam ao consumidor, nos contratos de seguro, o recebimento de valor inferior ao contratado na apólice;

14. Prevejam em contratos de arrendamento mercantil (leasing) a exigência, a título de indenização, do pagamento das parcelas vincendas, no caso de restituição do bem;

15. Estabeleçam, em contrato de arrendamento mercantil (leasing), a exigência do pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG), sem previsão de devolução desse montante, corrigido monetariamente, se não exercida a opção de compra do bem.

RUY COUTINHO DO NASCIMENTO

ANEXO 5:

65

PORTARIA Nº 3, DE 15 DE MARÇO DE 2001

O Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, no uso de suas atribuições legais; CONSIDERANDO que o elenco de Cláusulas Abusivas relativas ao fornecimento de produtos e serviços, constantes do art. 51 da Lei n

º 8.078, de 11

de setembro de 1990, é de tipo aberto, exemplificativo, permitindo, desta forma a sua complementação;

CONSIDERANDO o disposto no artigo 56 do Decreto nº 2.181, de 20 de março

de 1997, que regulamentou a Lei nº

8.078/90, e com o objetivo de orientar o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, notadamente para o fim de aplicação do disposto no inciso IV do art. 22 desse Decreto, bem assim promover a educação e a informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com a melhoria, transparência, harmonia, equilíbrio e boa-fé nas relações de consumo; CONSIDERANDO que decisões judiciais, decisões administrativas de diversos PROCONs, e entendimentos dos Ministérios Públicos pacificam como abusivas as cláusulas a seguir enumeradas, resolve: Divulgar o seguinte elenco de cláusulas, as quais, na forma do artigo 51 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e do artigo 56 do Decreto nº 2.181, de 20 de março de 1997, com o objetivo de orientar o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, serão consideradas como abusivas, notadamente para fim de aplicação do disposto no inciso IV, do art. 22 do Decreto nº 2.181: 1. estipule presunção de conhecimento por parte do consumidor de fatos novos não previstos em contrato; 2. estabeleça restrições ao direito do consumidor de questionar nas esferas administrativa e judicial possíveis lesões decorrentes de contrato por ele assinado; 3. imponha a perda de parte significativa das prestações já quitadas em situações de venda a crédito, em caso de desistência por justa causa ou impossibilidade de cumprimento da obrigação pelo consumidor; 4. estabeleça cumulação de multa rescisória e perda do valor das arras; 5. estipule a utilização expressa ou não, de juros capitalizados nos contratos civis;

ANEXO 6:

Portaria nº 5, de 27 de agosto de 2002.

66

Complementa o elenco de cláusulas abusivas constante do art. 51 da Lei n º 8.078, de 11 de setembro de 1990.

A Secretária de Direito Econômico do Ministério da Justiça, no uso da atribuição que lhe confere o art. 56 do Decreto nº 2.181, de 20 de março de 1997, e CONSIDERANDO que constitui dever da Secretaria de Direito Econômico orientar o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor sobre a abusividade de cláusulas insertas em contratos de fornecimento de produtos e serviços, notadamente para o fim de aplicação do disposto no inciso IV do art. 22 do Decreto nº 2.181, de 1997; CONSIDERANDO que o elenco de cláusulas abusivas constante do art. 51 da Lei nº 8.078, de 1990, é meramente exemplificativo, uma vez que outras estipulações contratuais lesivas ao consumidor defluem do próprio texto legal; CONSIDERANDO que a informação de fornecedores e de consumidores quanto aos seus direitos e deveres promove a melhoria, a transparência, a harmonia, o equilíbrio e a boa-fé nas relações de consumo; CONSIDERANDO, finalmente, as sugestões oferecidas pelo Ministério Público e pelos PROCONs, bem como decisões judiciais sobre relações de consumo; RESOLVE: Art. 1º Considerar abusiva, nos contratos de fornecimento de produtos e serviços, a cláusula que: I - autorize o envio do nome do consumidor, e/ou seus garantes, a bancos de dados e cadastros de consumidores, sem comprovada notificação prévia; II - imponha ao consumidor, nos contratos de adesão, a obrigação de manifestar-se contra a transferência, onerosa ou não, para terceiros, dos dados cadastrais confiados ao fornecedor; III - autorize o fornecedor a investigar a vida privada do consumidor; IV - imponha em contratos de seguro-saúde, firmados anteriormente à Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998, limite temporal para internação hospitalar; V - prescreva, em contrato de plano de saúde ou seguro-saúde, a não cobertura de doenças de notificação compulsória. Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. ANEXO 7: PORTARIA Nº 7, DE 3 DE SETEMBRO DE 2003

Para efeitos de fiscalização pelos órgãos públicos de defesa do consumidor, particulariza hipótese prevista no elenco de práticas abusivas constante do art. 39 da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990.

O Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, no uso da atribuição que lhe confere o art. 63 do Decreto 2.181 de 20 de março de 1997, e CONSIDERANDO que constitui dever da Secretaria de Direito Econômico orientar o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor visando à fiel observância das normas de proteção e defesa do consumidor;

67

CONSIDERANDO, que os órgãos públicos de defesa do consumidor, nas suas respectivas áreas de atuação administrativa e no interesse da preservação da vida, da saúde, da segurança, da informação e do bem estar do consumidor, devem editar as normas que se fizerem necessárias, nos termos do art. 55 da Lei 8.078/90; CONSIDERANDO que a informação de fornecedores e de consumidores quanto aos seus direitos e deveres promove a melhoria, a transparência, a harmonia, o equilíbrio e a boa-fé nas relações de consumo; CONSIDERANDO, finalmente a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, no âmbito dos serviços privados de saúde, resolve: Art. 1º Considerar abusiva, nos termos do artigo 39, inciso V, da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1.990, a interrupção da internação hospitalar em leito clínico, cirúrgico ou em centro de terapia intensiva ou similar, por motivos alheios às prescrições médicas. Art. 2º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação. DANIEL KREPEL GOLDBERG