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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Jhoni Luis Busato
MEIOS DE PROVAS NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO COM ÊNFASE A
PROVA TESTEMUNHAL RURAL
CURITIBA
2010
Jhoni Luis Busato
MEIOS DE PROVAS NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO COM ÊNFASE A
PROVA TESTEMUNHAL RURAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Oswaldo Pacheco Lacerda Neto.
CURITIBA 2010
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha esposa e companheira Valeria, por sua
dedicação, compreensão e alicerce nas horas de dificuldades, e as minhas filhas
Nicole e Natany, que sempre permaneceram na minha torcida e tanto sofreram com
minha ausência durante estes cinco anos de curso.
E finalmente agradeço Àquele que se convencionou chamar de Deus.
AGRADECIMENTOS
A todos os colegas e professores que durante estes cinco anos transmitiram
confiança, conhecimentos, incentivos e experiências contraídas no decorrer de suas
vidas profissionais, com exemplos e estímulos para aumentar minha capacidade de
produzir, almejando cada vez mais objetivos maiores, desenvolvendo meu potencial
e a possibilidade de poder aplicá-los em prol da sociedade.
TERMO DE APROVAÇÃO
Jhoni Luis Busato
MEIOS DE PROVAS NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO COM ÊNFASE A
PROVA TESTEMUNHAL RURAL
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Grau de Bacharelado em Direito no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, ______ de __________________________ de 2010.
_______________________________________________
Prof. Eduardo de Oliveira Leite
Coordenador do Núcleo de Monografia
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador: _______________________________________________
Prof. Oswaldo Pacheco de Lacerda Neto
Universidade Tuiuti do Paraná
________________________________________________
Prof.
________________________________________________
Prof.
RESUMO
O objeto deste trabalho é demonstrar os meios de provas utilizados e a prova testemunhal no Direito Previdenciário, bem como entender e interpretar ensinamentos doutrinários e jurisprudenciais em consonância ao texto constitucional com a finalidade de assegurar a garantia dos direitos individuais observadas à licitude dos meios probatórios apresentados na visão de um Direito Positivo. Discute questões relacionadas à quantidade ou forma de provas, de modo exclusivo ou concomitante a outras provas materiais, mais precisamente em relação à prova testemunhal, sua validade e licitude e a possibilidade do juiz decidir a seu livre convencimento para avaliar a valoração e a apreciação das provas apresentadas. Palavras-chave: prova testemunhal; supremacia da Constituição Federal; Princípio do livre convencimento do juiz.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10
1 DAS PROVAS ............................................................ ..........................................12
1.1 DA PROVA TESTEMUNHAL .............................................................................13
1.2 DA PROVA MATERIAL ..................................... ................................................13
2 FONTES DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO ..........................................................17
2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL...............................................................................17
2.2 NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS...............................................................18
2.3 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO ..................................................................18
2.4 DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA.....................................................................19
3 TEMPO DE SERVIÇO E CONTAGEM RRECÍPROCA .......................................21
3.1 PERÍODOS DE PROVA NA ATITVIDADE URBANA ........................................ 22
3.2 PERÍODOS DE PROVA NA ATIVIDADE RURAL ..............................................23
3.3 JUSTIFICAÇÃO ADMINISTRATIVA .................................................................. 25
3.4 JUSTIFICAÇÃO JUDICIAL ................................................................................ 26
4 CARACTERÍSTICAS DA PROVA TESTEMUNHAL NO DIREITO
PREVIDENCIÁRIO ..................................................................................................28
4.1 ÓTICA DA PROVA TESTEMUNHAL NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO NAS
NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS .............................................................. 28
4.2 ÓTICA INTERPRETATIVA DA PROVA TESTEMUNHAL NO DIREITO
NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ............................................... 30
4.3 ÓTICA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL DA PROVA TESTEMUNHAL
NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO ...................................................................... 32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 36
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 38
ANEXOS .................................................................................................................. 39
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INTRODUÇÃO
Este projeto de estudo pretende demonstrar e comentar como tem sido
abordado a prova testemunhal bem como os demais meios de obtenção da prova no
direito previdenciário tanto no processo administrativo quanto no processo judicial
previdenciário, principalmente relacionado à comprovação do tempo de serviço.
Salienta-se que no ordenamento jurídico brasileiro, o artigo 332 da Lei
Processual Civil estabelece que “todos os meios legais, bem como os moralmente
legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a
verdade dos fatos, em que se funda a ação ou defesa”.
Nesta mesma seara contemplamos perante a supremacia da Constituição
Federal Brasileira, inúmeros dispositivos e princípios direcionados a possibilidade da
utilização da prova testemunhal, sendo esta comprovadamente lícita perante os
procedimentos administrativos junto à autarquia estatal, ou seja, o INSS, assim
como o próprio poder judiciário, quando da solicitação de um cidadão a um beneficio
previdenciário, sendo seu direito, entretanto, apresentando-se inerte em razão da
impossibilidade do segurado em conseguir provas materiais além da prova
testemunhal.
Neste sentido, objetiva-se demonstrar principalmente os entendimentos
doutrinários e jurisprudenciais, em que aceitam a prova exclusivamente testemunhal,
depois de esgotado todo e qualquer outro meio capaz de comprovar o fato ou
pedidos alegado pelo solicitante.
Deste modo vivifica a regra de que se torna válido todo e qualquer meio lícito
empregado pela parte interessada para comprovar fatos alegados no curso de uma
demanda, observadas as limitações impostas pela legislação processual, cabendo
11
assim ao juiz a valoração e apreciação da prova apresentada, evidenciando o
princípio do livre convencimento do juiz, bem como o princípio da liberdade objetiva
na comprovação dos fatos demonstrados.
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1 DAS PROVAS
Entende-se que prova é o meio pelo qual visa comprovar a existência de um
determinado fato social, bem como de forma contrária objetiva-se demonstrar a
inexistência deste, quer pela falsidade ou pela verdade da informação, cabendo ao
magistrado a valoração e apreciação desta prova apresentada, ratificando assim o
princípio do livre convencimento do juiz, para somente então tomar sua decisão de
forma fundamentada.
Verificando o entendimento a esse conceito, o professor Moacyr Amaral
Santos destaca que “a prova é o conjunto de meios pelos quais se fornece ao juiz o
conhecimento da verdade dos fatos deduzidos em juízo, sendo que sua finalidade é
justamente a formação da convicção, no espírito do julgador, quanto à existência
dos fatos da causa”. (1986, p. 3-4)
Nesta linha de raciocínio, tem-se na prova como o principal fundamento na
busca do direito em voga, apenas perdendo sua eficácia quando comprovado do
decorrer de um processo seja administrativo ou judicial sua falsidade ou que a
mesma fora produzida.
Tal importância e relevância têm a prova no mundo do Direito, que é comum
dizer ou utilizar da frase extremamente conhecida e pronunciada no meio jurídico,
“Prova é tudo, desde que seja lícita”, embora não haja menção quanto a sua
materialidade, entende as normas infraconstitucionais ser indispensável ao menos
um indício de prova material em qualquer meio processual.
13
1.1 DA PROVA TESTEMUNHAL
A prova testemunhal é vista com ressalvas no ordenamento jurídico
brasileiro, embora seja um dos meios probatórios mais antigos existentes, apesar de
que em várias áreas do direito a atividade probatória dependa essencialmente de
depoimento testemunhal, pois se demonstra como o meio mais direto quando não o
único capaz de evidenciar ao julgador acesso aos fatos em questão. É conhecida
também como a “prostituta das provas”, pelo fato de ser um meio de obtenção de
prova sujeito a imprecisões uma vez que dependerá de uma reprodução oral de um
terceiro que não seja parte e tenha presenciado efetivamente um respectivo fato ou
teve conhecimento deste, em um determinado período de tempo.
Em regra a prova testemunhal vem a complementar outras provas já
existentes, tituladas como prova documental, sendo estas entendidas como “inicio
de prova escrita”, por outro lado sendo a prova testemunhal a única apresentada
tem-se como uma prova inócua para comprovar adequadamente uma determinada
alegação ou pedido em um trâmite processual.
1.2 DA PROVA MATERIAL
Entende-se por prova material a representação física, palpável do objeto a
ser analisado pelo juiz de acordo com o caso específico, objetivando a veracidade
desejável do fato suscitado.
Nesta vertente, torna-se necessário a interpretação do ditado conhecido no
meio jurídico: “Dai-me os fatos que lhe dou o direito”, que leva à reflexão e a análise
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da relação e da interdependência que há entre os fatos e a prova, como se
concentrassem em um único componente.
Diante da informação do Regulamento da Previdência Social, através do
Decreto n.º 3.048/99, em seu artigo 60, presente nos Anexos, são várias as
possibilidades de períodos existentes previstos em que se consideram determinados
fatos que desempenhou-se certas atividades contadas como tempo de contribuição.
Dentre elas conta-se o período de contribuição realizada pelo segurado após
o mesmo ter deixado de exercer atividade remunerada em que o enquadrava como
segurado então obrigatório da previdência social.
O tempo de serviço militar igualmente faz parte deste período contado como
tempo de contribuição, desde que este determinado período já não esteja contado
para inatividade remunerada nas respectivas Forças Armadas ou auxiliares, assim
como para aposentadoria nos serviços públicos federal, estadual, do Distrito Federal
ou ainda municipal nas condições de segurado tanto obrigatório ou voluntário quanto
o segurado alternativo, compreendido o decorrente de crença religiosa e de
convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter militar.
Entende-se da mesma forma como período contributivo, aquele em que o
segurado estava recebendo o benefício por incapacidade por acidente de trabalho,
intercalado ou não, e no mesmo sentido o período de serviço do segurado
trabalhador rural anterior à competência novembro de 1991.
O tempo de serviço prestado à administração pública direta de modo geral,
inclusive as autarquias, dependerá de legislação que autorize a contagem recíproca
do tempo contributivo. Já os períodos de serviços prestados à Justiça dos Estados
em regra, além de alguns órgãos vinculados a este, estará sujeito à verificação da
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não remuneração pelos cofres públicos, além da atividade em voga não estiver na
ocasião vinculada a um regime próprio da previdência social.
Conta-se ainda como tempo de contribuição o tempo exercido na condição
de aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado profissional, devendo ter
sido realizado em escola técnica e dependerá da comprovação da remuneração,
mesmo que se realize de forma indireta, aos cofres públicos, além da caracterização
do vinculo empregatício.
E de forma especial computa-se o período de exercício de atividade
remunerada estando abrangida pela previdência social, tanto a urbana quanto a
rural, mesmo anterior à instituição desta atividade, entretanto, o período de atividade
compreendida como empregador rural deve comprovar-se o recolhimento das
contribuições com uma indenização do período anterior corrigidos com juros e multa,
respectivo ao período em que o exercício de atividade remunerada não exigia
filiação obrigatória à previdência social.
Enfim, são computados como tempo contributivo, em regra todos aqueles
períodos em que houve o desconto de contribuição a previdência social,
independente se o segurado ter efetivamente trabalhado no período em questão, se
o período refere-se à licença remunerada ou mesmo se o segurado tenha sido
colocado em disponibilidade remunerada pela empresa, sempre em que todas as
situações tenham ocorrido o devido desconto de contribuições.
Em relação à prova de modo geral, Pontes de Miranda (1979, p. 312)
observa que prova é “o ato judicial, ou processual, pelo qual o juiz se faz certo a
respeito do fato controverso ou do assento duvidoso que os litigantes trazem o juízo”.
Porém, no Direito Previdenciário, tanto no processo administrativo quanto no
judicial previdenciário, será devida a prova pelo segurado apenas quando não
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houver informações do segurado no Cadastro Nacional de Informações Sociais
(CNIS), ou no caso do mesmo entender que as informações apresentadas neste
cadastro não se enquadram com a realidade. Assim tem-se como necessário, ao
menos, um início de prova material, uma vez que não se admite a prova
exclusivamente testemunhal, exceto por motivos de força maior ou caso fortuito,
devidamente comprovado por meio de certidão do corpo de bombeiro, Defesa Civil,
Boletim de Ocorrência Policial, conforme o caso, segundo exemplos informados
pelos mestres Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari (2009).
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2 FONTES DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Tem-se na fonte do direito de modo geral, como o meio para o qual relata o
fato social desejado, assim no Direito Previdenciário englobam as leis, os princípios
e regras, bem como os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, além dos usos
e costumes aplicáveis a este ramo do Direito.
2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Consolida-se na Constituição Federal como a lei maior no ordenamento
jurídico brasileiro, ocupando o ápice da “pirâmide de Kelsen” tornando-se a principal
fonte do direito, sendo esta referencial para as demais legislações de nossa nação
que devem submeter-se a ela, a Constituição Federal Brasileira.
Estando a Constituição no topo das demais normas, serve de parâmetro, de
interpretação e integração destas em conformidade aos preceitos constitucionais,
resolvendo, sobrepesando e afastando quaisquer conflitos entre normas e princípios,
principalmente quando voltados à dignidade da pessoa humana e de outras
garantias e direitos fundamentais dos cidadãos.
Neste sentido, têm-se principalmente nos vários princípios constitucionais o
suporte e segurança jurídica a serem interpretados e aplicados aos casos fáticos,
sempre em consonância ao texto constitucional. Em especial mostram-se presentes
em questões oriundas do tema em questão, geralmente insculpidos no artigo 5º da
Carta Magna, dentre eles a observância ao princípio do direito adquirido, ao princípio
do livre acesso ao judiciário, ao devido processo legal, ao princípio do contraditório e
ampla defesa, ora ensejando a aplicação de um ora de outro, e em algumas
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situações configurando-se a aplicação em consonância entre eles, sempre
objetivando a busca pela dignidade da pessoa humana, pela justiça em
concordância aos preceitos verdadeiramente constitucionais.
2.2 NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS
Conforme previsão do artigo 59, da Constituição Federal, compreende no
processo legislativo tanto as leis ordinárias quanto as leis complementares, dentre
outras normas constantes no dispositivo, configurando tais espécies normativas
também como fontes formais de Direito Previdenciário.
Entretanto, desde que não violem o texto constitucional, conforme lecionam
Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari (2009, p. 86):
“Há que se dizer, por relevante, que tais atos são fontes formais na medida em que não contrariem dispositivos constitucionais ou legais, ou seja, desde que se limitem a efetivamente regulamentar, em forma mais minudente, os preceito preexistentes.”
Assim, deve-se observar que a aplicabilidade de qualquer norma
infraconstitucional esta condicionada a observância da Constituição Federal,
podendo ser considerada norma inconstitucional por infringir ou estar em desacordo
ao texto da Lei Maior.
2.3 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO
Considera-se nos princípios gerais do direito como verdadeira fonte
primária do Direito Previdenciário, sendo que estes encontram-se espalhados e
consolidados no ordenamento jurídico brasileiro, em alguns casos não escritos e
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ainda não positivados como o princípio da proporcionalidade e o da razoabilidade,
como observam os mestres Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari
(2009, p. 705).
Há de se frisar que são os princípios que norteiam as normas e regras a
fim de evitar colisões entre elas, tendo especialmente no texto constitucional e
principalmente relacionados aos direitos e garantias fundamentais os princípios
essenciais à defesa e garantia destes direitos, sempre em consonância ao
respectivo caso em questão, integrando-se assim ao ordenamento jurídico e
interpretando normas em um juízo de ponderação, tanto entre normas quanto entre
os próprios princípios aplicáveis.
Desse modo, vêem-se nos princípios como fontes basilares as condutas
sociais e morais, demonstrando e indicando de forma interpretativa os atos de
aceitação, bem como os atos de reprovação da sociedade de forma geral, assim
como da própria administração pública.
Neste sentido, observamos principalmente a aplicabilidade e entendimento
destas interpretações na doutrina, mas, sobretudo nos juízos do Poder Judiciário,
inseridas nas sentenças e jurisprudências voltadas aos casos concretos.
2.4 DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA
Ambas são entendidas como fontes secundárias do direito para alguns
doutrinadores, e outros não as consideram como fontes deste ramo do direito em
razão não criar o direito propriamente dito e sim interpretarem uma norma já
existente integrando-a no ordenamento jurídico. Contudo, entendem-se como
fundamentais para o mundo jurídico servindo com balizamento para a aplicação das
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leis, corroborando também nesta visão o professor Augusto Massayuki Tsutiya.
(2008)
Funda-se neste entendimento pelo fato de que a jurisprudência apenas
consolida-se após a edição de vários julgados no mesmo sentido, da mesma forma
que na doutrina além de sofrer tais limitações, ocorre constantemente divergências
entre os doutrinadores em determinados assuntos.
Todavia, tem-se tanto na doutrina quanto na jurisprudência, como fontes
aplicáveis no Direito Previdenciário, muitas vezes em razão de entendimento das
normas específicas sobre o assunto desejado contrariarem o texto constitucional,
outras vezes são utilizadas analogicamente a casos fáticos semelhantes.
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3 TEMPO DE SERVIÇO E CONTAGEM RECÍPROCA
O tempo de serviço e a contagem recíproca tem sua fundamentação no
artigo 201, § 9º, da Constituição Federal em que declara “assegurada à contagem
recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada,
rural e urbana”, onde o cálculo do período a ser pleiteado na contagem recíproca é
realizado em relação às contribuições efetuadas e não em relação à filiação.
De tal modo, a contagem recíproca é observada visando fins de
aposentadoria e é aplicável tanto no serviço público, quanto na iniciativa privada,
bem como para os trabalhadores urbanos e rurais, contudo no caso do serviço rural,
é exigível uma indenização ao segurado, em relação ao período de tempo em que
não houve o devido recolhimento das contribuições previdenciárias, não sendo
possível a contagem recíproca de tempo de serviço em caso da negativa de
recolhimento da indenização aos períodos pleiteados não contributivos a época.
Neste entendimento dispõe o art. 94 da Lei nº 8.213/91 que, para efeito dos
benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social ou no serviço público, é
assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na atividade privada,
rural e urbana, e do tempo de contribuição ou de serviço na administração pública,
hipótese em que os diferentes sistemas de Previdência Social se compensarão
financeiramente.
Assim o tempo de serviço prestado à administração pública direta de modo
geral, incluindo também as autarquias, dependerá de legislação que autorize a
contagem recíproca do tempo contributivo, sendo este também o entendimento do
professor Sérgio Pinto Martins (2010).
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3.1 PERÍODOS DE PROVA NA ATIVIDADE URBANA
Até a chegada da Emenda Constitucional nº. 20/98 que modificou o sistema
da Previdência Social, estabelecendo normas de transição, além de outras
providências, havia no sistema previdenciário a conhecida “aposentadoria por tempo
de serviço”, hoje chamada de aposentadoria por tempo de contribuição, logo o
tempo de serviço passou a ser entendido como tempo de contribuição.
Assim, os requisitos exigíveis para obtenção desta aposentadoria integral
inicialmente são 35 anos de contribuição para o homem e 30 anos de contribuição
para a mulher ou para terem garantido o direito a aposentadoria proporcional devem
cumprir os 30 anos de contribuição se homem e 25 anos de contribuição se mulher.
Porém independente da situação acima do segurado faz-se necessário
concomitantemente também o cumprimento do período de carência exigida pela
autarquia previdenciária conforme tabelas presentes nos Anexos, respectivas aos
artigos 142 da Lei 8.213/91 e 182 do Decreto n.º 3.048/99, que tratam em regra da
carência das aposentadorias por idade, bem como do tempo de contribuição e
especial para os segurados inscritos na previdência social urbana até a data de 24
de julho de 1991.
Note-se que a referida tabela servem de parâmetros para os trabalhadores
e empregadores rurais amparados pela previdência social rural, observando sempre
o ano em que o segurado implementou todas as condições necessárias à obtenção
do benefício a ser pleiteado.
Entretanto, a prova do período contributivo torna-se devida pelo segurado na
hipótese da informação da contribuição deste não existir ou não restar demonstrada
no CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais) ou a critério do próprio
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segurado se entender que tais informações constantes no respectivo cadastro são
inverídicas ou não condizem com a realidade dos fatos, de acordo com o que prevê
o artigo 19, §3º do Decreto nº. 3.048/99.
Assim sendo, de forma geral, toda e qualquer prova é aceita mediante
documentos que comprovem o exercício de atividade nos períodos reivindicados,
devendo para tanto serem da mesma época dos fatos alegados indicando o inicio e
término do respectivo período, bem como a duração do trabalho e a condição em
que foi prestado caso seja trabalhador avulso, é o que preceitua o artigo 62 do
Decreto n.º 3.048/99.
3.2 PERÍODOS DE PROVA NA ATIVIDADE RURAL
Os períodos de prova na atividade rural submetem-se igualmente ao mesmo
período de carência citados acima no artigo 182 do Decreto 3.048/99, obedecendo
também a mesma tabela informada.
No mesmo sentido da atividade urbana, a prova material apresentada na
atividade rural, também deverá ser contemporânea à época dos fatos. Entretanto,
em razão da existência de uma vulnerabilidade quanto ao trabalhador rural em face
de possíveis intempéries como secas, enchentes, etc. há na legislação vigente,
precisamente no artigo 143 desta, a possibilidade para o trabalhador rural que
comprovar sua atividade rural pelo mesmo período da carência exigida, podendo
inclusive e exclusivamente para este, sendo de forma descontínua, no período
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, requerer aposentadoria pro
idade, no valor de um salário-mínimo durante quinze anos, até 24 de julho de 2006,
tendo em vista a aplicação apartir da data da vigência desta lei (Lei nº. 8.213/91).
24
No artigo 106, deste mesmo texto legal, prevê os vários meios de prova da
atividade rural, podendo serem utilizados alternativamente:
Art. 106. A comprovação do exercício de atividade rural será feita, alternativamente, por meio de: I – contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdência Social; II – contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural; III – declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de sindicato ou colônia de pescadores, desde que homologada pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS; IV – comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, no caso de produtores em regime de economia familiar; V – bloco de notas do produtor rural; VI – notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 7o do art. 30 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, emitidas pela empresa adquirente da produção, com indicação do nome do segurado como vendedor; VII – documentos fiscais relativos a entrega de produção rural à cooperativa agrícola, entreposto de pescado ou outros, com indicação do segurado como vendedor ou consignante; VIII – comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização da produção; IX – cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de produção rural; X – licença de ocupação ou permissão outorgada pelo INCRA.
Embora haja a previsão do cito artigo como sendo um rol alternativo e não
de forma concomitante, tem-se entendido pela autarquia na maior parte das vezes de
forma taxativa, quando da tentativa do trabalhador a obtenção do benefício no âmbito
administrativo, sendo na maioria das vezes revertido no âmbito judicial, observada a
licitude e valoração da prova pelo magistrado ao analisar o caso em concreto.
É aceito também outros meios como prova do exercício de atividade rural,
dentre eles a certidão de casamento do segurado em que o qualifique na profissão de
agricultor, as certidões de nascimento ou de óbitos dos pais ou filhos em que figure o
segurado como agricultor, declarações de exercício de atividade rural subscritas por
pessoas envolvidas no trabalho rural, como veterinários, técnico em agropecuária, etc.,
que informem de alguma forma a vinculação do segurado ao trabalho rural,
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declarações de exercício de atividade rural obtidas pelos responsáveis dos sindicatos
dos trabalhadores rurais, indicando a localização da propriedade assim como os
produtos plantados e colhidos, animais utilizados no cultivo da terra bem como para o
sustento do segurado e de sua família, a fim de evidenciar a vinculação ao trabalho
rural.
Diante deste contexto, tem-se nos documentos pessoais da época do
segurado também como prova do exercício da atividade rural quando demonstrem a
profissão como lavrador, agricultor ou similar a este, tendo como exemplo o certificado
de reservista militar ou titulo eleitoral.
3.3 JUSTIFICAÇÃO ADMINISTRATIVA
É o meio utilizado no procedimento administrativo perante a Previdência Social
pelos segurados em caso de negativa de prova material, onde objetiva suprir a falta ou
insuficiência de documentos, bem como a produção de prova de um fato, relação
jurídica ou quaisquer circunstâncias do interessado, que visem atender sua intenção.
Ressalta-se que se torna desnecessário o meio da justificação administrativa
quando o documento arguido tratar-se de documento público, tendo em vista a fé
publica deste, tendo sua positivação no artigo 108, da lei 8.213/91 e também no
artigo 142, parágrafo 1º do Decreto 3.048/99.
A justificação administrativa somente pode ser utilizada quando tem como
base um início de prova material, contemporâneo dos fatos, que evidencie o
exercício da atividade laboral, não se admitido prova exclusivamente testemunhal,
salvo por ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, comprovado através
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de boletim de ocorrência policial, bem como certidão do corpo de bombeiro ou
defesa civil, de acordo como o caso em análise.
Neste entendimento, destaca-se na lição dos professores Carlos Alberto
Pereira de Castro e João Batista Lazzari (2009, p. 704.) também que a justificação
administrativa é “um meio de prova de natureza administrativa, processada perante a
própria Previdência Social. Esta vai avaliar a prova produzida para verificar sua
autenticidade.”.
A justificação administrativa processar-se-á sem ônus para o interessado,
nos termos das instruções do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), observada
inicialmente a impossibilidade da comprovação por outro meio que demonstre a
verdade os fatos declarados.
Neste entendimento, o professor Sérgio Pinto Martins (2010, p. 456)
completa que:
“somente será admitido o processamento da justificação administrativa na hipótese de ficar evidenciada a inexistência de outro meio capaz de configurar a verdade do fato alegado e o início de prova material apresentado levar à convicção do que se pretende comprovar”
Por fim, não é cabível recurso da decisão da autoridade administrativa em
que venha a considerar eficaz ou ineficaz a justificação administrativa.
3.4 JUSTIFICAÇÃO JUDICIAL
Tendo em vista que a legislação previdenciária visa proteger os cofres
públicos, não aceita a homologação judicial baseada exclusivamente em prova
testemunhal, em razão de gerar benefícios previdenciários, caso haja a presença da
prova material, poderá então o benefício ser concedido.
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Desta forma, o período de trabalho não recolhido a previdência social, bem
como o trabalho realizado sem registro em CTPS (carteira de trabalho e previdência
social), e não havendo outras provas materiais, mesmo que reconhecidas perante a
Justiça do Trabalho embasado somente em provas testemunhais para comprovação
do vinculo empregatício, não são consideradas pela legislação previdenciária para o
computo do tempo de serviço, tendo em vista que o processo não tenha sido
instituído com prova material, sendo a única solução pleitear o respectivo período
para fins previdenciários junto a Justiça Federal.
Assim em se tratando da justificação judicial, evidenciado nos artigos 861 a
866 do Código de Processo Civil, quanto da não admissão da prova exclusivamente
testemunhal, tem sua efetividade apenas na decisão da sentença, não
embrenhando-se o mérito de sua validade, desta forma, não existe condenação ao
INSS para reconhecer o tempo de serviço.
Contrariando tal entendimento, o professor Ivan Kertzman (2009, p. 295)
retrata a desconsideração de uma decisão judicial tendo como base a prova
exclusivamente testemunhal por parte da administração pública, mencionando: “Por
outro lado, parece-nos descabido que a administração pública tente desconsiderar o
conteúdo de uma decisão judicial, não a reconhecendo para fins de concessão de
benefícios previdenciários”.
De tal modo, este posicionamento vem aumentando no seio da
jurisprudência brasileira, compreendendo que os benefícios previdenciários são
direitos social, previstos na Constituição Federal, tendo sua aplicabilidade de forma
imediata no intuito da busca dos direitos fundamentais assim como o bem comum.
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4 CARACTERÍSTICAS DA PROVA TESTEMUNHAL NO DIREITO
PREVIDENCIÁRIO
De forma geral, as provas assim como os meios para obtenção destas no
direito previdenciário encontram-se exemplificadas e espalhadas nas normas
infraconstitucionais. Na maioria das vezes, em razão da comprovação da prova estar
ligada a um pagamento de um benefício previdenciário e consequentemente aos
cofres públicos, há uma rígida análise as provas apresentadas quando de um pedido
de benefício, exigindo na maioria das vezes outras provas para o mesmo fato ou
período pleiteado, talvez com o intuito de evitar-se fraude a previdência social, uma
vez que há esta possibilidade, visando resguardar os cofres públicos.
Entretanto, tal prática da autarquia estatal apresenta-se como rotina,
indeferindo os pedidos quando não cumpridos as exigências taxativas, sem avaliar
de uma maneira flexível e interpretativa o referido pedido, gerando
consequentemente os mesmos pedidos posteriormente nas vias judiciais.
4.1 ÓTICA DA PROVA TESTEMUNHAL NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO NAS
NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS
No Direito Previdenciário as regras que tratam da prova apresentam
características muito próprias, contrariando a regra geral, pois há uma valoração da
prova onde apenas a prova testemunhal não é suficiente para comprovação de um
determinado fato, sendo convencionado pela própria doutrina brasileira como prova
legal, possuindo assim um valor puramente subsidiário em relação á prova
documental, ou seja, faz-se necessário a apresentação conjuntamente de algum
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elemento de prova material para efetivar o desejo e a comprovação de um
determinado fato ou tempo de serviço.
Assim há a exigência na norma previdenciária como meio de prova para
comprovação do tempo de serviço não admitindo prova única e exclusivamente
testemunhal, conforme previsão no artigo 55, §3º da Lei n.º 8.213/91:
Art. 55... § 3º A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o disposto no art. 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no Regulamento.
Neste mesmo sentido o artigo 63, do Decreto 3.048/91 dispõe: “Não será
admitida prova exclusivamente testemunhal para efeito de comprovação de tempo
de serviço ou de contribuição, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso
fortuito, observado o disposto no § 2º do art. 143”.
Alude também o conteúdo da Súmula 27 do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região que “não é admissível prova exclusivamente testemunhal para
reconhecimento de tempo de exercício de atividade urbana e rural.”, e seguindo no
mesmo entendimento o STJ criou a Súmula 149 em 1995 em que traz que “A prova
exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícola, para
efeito da obtenção de benefício previdenciário”.
Assim torná-se imprescindível a apresentação, ao menos, um início razoável
de prova material ou prova legal, com exceção da força maior ou do caso fortuito,
sendo este aquele imprevisível e sobre o qual também o homem não tem
capacidade e domínio de controlar caracteriza-se exemplificando como incêndio,
inundação, naufrágio, furacão, terremoto, dentre outros.
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Registra-se que o início de prova material, de acordo com a interpretação
sistemática da lei, realizar-se-á mediante documentos que comprovem o exercício
da atividade rural, devendo para tanto ser comprovadamente da época ao período
de carência, ainda que parcialmente.
4.2 ÓTICA INTERPRETATIVA DA PROVA TESTEMUNHAL NO DIREITO
PREVIDENCIÁRIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Em uma visão oposta as normas previdenciárias, observam-se vários
princípios constitucionais, inclusive consolidados como direitos e garantias
fundamentais que versam favoravelmente a possibilidade da produção única da
prova desde que lícita, sem fazer menção à forma desta, bem como evidenciam a
incoerência da não absorção da prova lícita na busca de um direito pleiteado.
Assim, verificando o artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal, positivado
como direito fundamental, o qual versa sobre o princípio do livre acesso ao judiciário
dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”. Neste sentido ao restringir a prova testemunhal rural, embora única, sendo
lícita, caracteriza-se a violação do princípio exposto e em decorrência atinge também
outros princípios constitucionais caracterizado no devido processo legal firmado no
artigo 5º, LIV, da Carta Magna, além do inciso LV, do mesmo artigo, que funda-se no
princípio do contraditório e ampla defesa: “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
Verifica-se no mesmo texto e dispositivo constitucional, no inciso LVI que
“são inadmissíveis, no processo as provas obtidas por meios ilícitos”,
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consequentemente entende-se ser admissível qualquer outra prova obtida por meios
lícitos, não impondo a obrigatoriedade de concomitâncias de provas, apenas sua
licitude, podendo enquadrar-se nesta situação a prova testemunhal.
Demonstrada tal afronta aos princípios constitucionais ora mencionados,
pressupõe um juiz imparcial, deduzindo do magistrado a autoridade de analisar as
provas e proferir sua decisão livremente de acordo com seu convencimento, vindo
consequentemente em caso contrário a ferir o princípio do livre convencimento do
juiz ou da persuasão racional ratificado no ordenamento jurídico no Código de
Processo Civil em seu artigo 131, sendo que o magistrado é soberano e possui
condições de percepção para analisar uma prova testemunhal verdadeira, podendo
desconsiderá-la se entendê-la de forma diversa, ou seja, no caso de entender ser
um prova falsa ou fabricada, indicando na sentença os motivos que lhe formaram o
convencimento.
No mesmo texto legal, Código de Processo Civil, em seu artigo 332, retrata
que “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se
funda a ação ou a defesa”, assim pressupõe que se a prova for testemunhal, sendo
esta comprovadamente lícita e não havendo outra possibilidade de comprovar-se tal
afirmativa deveria ter sua validade e eficácia aceita, desde que esgotados todos
outros meios possíveis para confirmar tal fato.
Ademais, quando se trata de segurado do sexo feminino, no que tange a
prova, torna-se ainda mais difícil, pois sabe-se que antigamente quando existiam
documentos, estes eram nominados em nome do chefe da família onde, em épocas
passadas, este acabava sendo o único membro da família que possuía direito à
aposentadoria, assim as mulheres que exerceram atividade rurícolas em tempos
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atrás, em razão da inexistência de documento em nome próprio, padece muitas
vezes, ao pleitear um benefício ao qual tem direito, configurando assim a injustiça
com tantas outras mulheres ativas neste tipo de trabalho duro em que trabalham
tanto quanto ou muitas vezes ainda mais que os homens, assim entende o Des.
Federal JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA, da 4ª Região, do Tribunal Regional
Federal. (TRF 4, AC 004328 – 48.2010.404.999)
4.3 ÓTICA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL DA PROVA TESTEMUNHAL NO
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Hodiernamente, há entendimento tanto na doutrina quanto na própria
jurisprudência que alcançam uma visão moderna buscando a verdade real, conforme
o caso concreto, principalmente quando se trata de provas rurais, cujas atividades
peculiares muitas vezes não possuem outro meio de prova material, senão
exclusivamente a testemunhal, sendo esta a única oportunidade do segurado atingir
seu desejo demonstrando a verdade real, visando alcançar sua Paz Social advinda
como o benefício pleiteado.
Neste sentido, Renato Saraiva (2005, p. 349) entende que “não se pode
negar que, no âmbito laboral, a prova testemunhal ainda é o meio de prova mais
utilizado, constituindo-se, muitas vezes, no único meio de prova da parte”.
Comungando desta visão, Maria Izabel Barros Cantalice, nos ensina em seu
artigo que:
“O fim último a ser perseguido na solução de uma demanda previdenciária seria a adequação e preservação dos interesses dos beneficiários e do sistema previdenciário como um todo.”
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Neste mesmo artigo, menciona os pensamentos pronunciados nas decisões
da Eminente Desembargadora Federal Drª. Maria Lúcia Luz Leiria.
“É que interpretar é dar vida, é desvelar o oculto, é demonstrar o óbvio. E o óbvio, neste caso, leva a se indagar como se exige de um trabalhador sazonal ou safrista que passa de campo em campo, ora colhendo, ora plantando, apresentar documentos que comprovem esta atividade.” “Por isso, o primeiro impacto foi o de buscar, a partir das ferramentas da nova hermenêutica, o que efetivamente requerem o segurado e a autarquia previdenciária.”
E corroborando-se nos ensinamentos dos professores Carlos Alberto de
Castro e João Batista Lazzari, (2009, p. 689) tem-se o entendimento nesta mesma
seara, contrapondo-se as exigências das leis previdenciárias e em especial a
Súmula 149 editada pelo STJ citada anteriormente:
“Entretanto tal exigência, no caso dos trabalhadores rurais, deve ser relativizada, tendo-se em vista as peculiaridades que envolvem essa classe de trabalhadores, especialmente a categoria dos "bóias-frias" ou "safristas". Esse entendimento, aliás, já tem sido proclamado pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (REsp n.79.962/SP).”
Assim, observa-se:
“Constitucional. Previdenciário. Prova. Lei n. 8.213/91 (art. 55, § 3.º). Decreto n. 611/92 (arts. 60 e 61). Inconstitucionalidade. O Poder Judiciário só se justifica se visar à verdade real. Corolário do princípio moderno de acesso ao Judiciário, qualquer meio de prova é útil, salvo se receber o repúdio do Direito. A prova testemunhal é admitida. Não pode, por isso, ainda que a lei o faça, ser excluída, notadamente quando for a única hábil a evidenciar o fato. Os negócios de vulto, de regra, são reduzidos a escrito. Outra, porém, a regra geral quando os contratantes são pessoas simples, não afeitas às formalidades do Direito. Tal acontece com os chamados ´´bóias-frias”, muitas vezes, impossibilitados, dada a situação econômica, de impor o registro em carteira. Impor outro meio de prova, quando a única for a testemunhal, restringir-se-á a busca da verdade real, o que não é inerente do Direito Justo. Evidente a inconstitucionalidade da Lei n. 8.213/91 (art. 55, § 3.º) e do Decreto n. 611/92 (arts. 60 e 61)" (REsp n. 79.962-SP, STJ, 6a Turma, rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro).”
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Em observância aos entendimentos do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, ressaltamos que para a comprovação do exercício da atividade rural,
mesmo que o segurado não possua todos os documentos em seu nome, não supre
o direito postulado, visto que como é comum acontecer na atividade rural, os
documentos da propriedade, bem como os blocos de notas, talonários fiscais são
expedidos em nome do responsável aos negócios da família, na maioria das vezes o
genitor ou o cônjuge masculino.
Nesta situação, os documentos referentes à atividade agrícola,
emitidos em nome de terceiros, confirmados pelos depoimentos das testemunhas
ouvidas em juízo, constituindo assim em prova material indireta, hábil para a
comprovação do tempo de serviço rural prestado em regime de economia familiar.
Neste entendimento, demonstra-se pacificado por este Tribunal,
conforme Enunciado nº 73 da sua Súmula:
“Admitem-se como início de prova material do efetivo exercício de
atividade rural, em regime de economia familiar, documentos de terceiros,
membros do grupo parental.”
Atendo-se nesta mesma linha de entendimento do próprio TRF da 4ª
Região, o Des. Federal RICARDO TEIXEIRA DO VALE PEREIRA (TRF 4, AC
003458 - 03.2010.404.999), proferiu decisão consoante aos preceitos constitucionais
da seguinte forma:
“Tratando-se de trabalhador rural "bóia-fria", a exigência de apresentação
de início de prova material para comprovação de tempo de serviço tem sido
interpretada com temperamento face à dificuldade de comprovação da
atividade, exercida sem qualquer formalidade, pelo próprio
desconhecimento dos trabalhadores, sempre pessoas carentes e sem
qualquer instrução, permitindo-se, em situações extremas, até mesmo a
prova exclusivamente testemunhal”.
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Diante de uma análise geral tem-se como regime de economia familiar
aquele em que todos os membros da família exercem igual e mutuamente os
deveres quanto aos trabalhos realizados, de forma colaborativa, embora apenas
aquele que esta a frente dos negócios da família, geralmente constituído pelo
homem que é quem representa o grupo familiar perante terceiros possui a
formalização aos documentos pertinentes e necessários para pleitear futuramente
um beneficio desta natureza.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Objetiva-se a busca dos direitos sociais dos cidadãos garantidos no texto
constitucional fazendo-se urgente sua materialização visando alcançar o bem
comum e a paz social, e consequentemente o respeito e a dignidade da pessoa
humana, princípio basilar e fundamental do Direito, integrado a tantos outros
mencionados neste trabalho que visam e apontam ao resguardo daqueles que
necessitam da proteção social do Estado.
Assim, procurou-se demonstrar em casos específicos a atividade rural, à
necessidade da admissibilidade da prova testemunhal quando é de forma lícita e
comprovadamente o único meio de prova possível para comprovação da atividade
exercida no período reivindicado pelo segurado.
Tem-se como objetivo maior da Carta Magna alcançar a verdade real por meio
de uma decisão justa e verdadeira, proferida por um juiz imparcial e independente,
analisando ao seu livre convencimento sem limitar qualquer que seja a produção da
prova administrativa ou judicialmente, exclusivamente testemunhal ou não.
Demonstrou-se a contrariedade aos preceitos constitucionais e a
aplicabilidade de normas infraconstitucionais, onde seria prudente exigir-se provas
de fácil obtenção pelo requerente de um benefício, porém que convença com
elementos substanciais para tal comprovação, entretanto ocorre que se verifica é a
imposição de formalismos rígidos e burocracia desnecessária impedindo ao cidadão
necessitado exercitar os direitos que o mesmo muitas vezes ignora embora os tenha
por questão de informalismo, pois desconhece a importância e a relevância que terá
futuramente, quando não da sujeição deste face aos ditames patronais
aproveitadores.
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Neste sentido, a Previdência Social estaria garantindo e respeitando o desejo
da Constituição, aplicando a justiça em conformidade à realidade social de nosso país e
consequentemente favorecendo os segurados que na maioria das vezes pleiteiam um
benefício mínimo, porém o único para sua subsistência e de seus familiares.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. promulgada em 05.10.1988.
BRASIL. Lei nº. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL).
BRASIL. Lei nº. 8.213 de 24 de julho de 1991.
BRASIL. Decreto nº. 3.048 de 06 de maio de 1999.
BACHUR, Tiago Faggioni; VIEIRA, Fabrício Barcelos. Meios de prova no processo previdenciário. Disponível em http://www.lfg.com.br. – acesso: 13 de julho de 2010.
CANTALICE, Maria Izabel Barros. Algumas considerações sobre a sistemática da prova na legislação de Previdência Social Geral no Brasil. Disponível em http://www.femargs.com.br – acesso: 13 de julho de 2010.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário / Carlos Alberto Pereira de Castro; João Batista Lazzari. 11. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009.
KERTZMAN, Ivan. Curso prático de direito previdenciário – 6ª ed. Salvador: JusPodivm, 2009.
LAURINDO, Ailton A. Tipo. Da prova exclusivamente testemunhal no Direito Previdenciário e a inconstitucionalidade do Artigo 55, § 3º da Lei nº 8.213/91. Disponível em http://www.iape.com.br/ - acesso: 15 de julho de 2010.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 29ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MUSSI, Cristiane Miziara. Provas no processo de benefício previdenciário. Disponível em http://jus2.uol.com.br – acesso: 15 de julho de 2010.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo Civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979, t. IV, p. 312.
SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: Método, 2005. p. 349
SANTOS, Moacyr Amaral. Comentários ao Código de Processo Civil . 4. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1986, vol. IV, p. 3-4.
39
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.
TRF4, AC 0004328-48.2010.404.9999, Sexta Turma, Relator João Batista Pinto
Silveira, D.E. 08/06/2010.
TRF4, AC 0003458-03.2010.404.9999, Quinta Turma, Relator Ricardo Teixeira do
Valle Pereira, D.E. 14/06/2010.
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ANEXOS
Lei nº. 8.213/1991 – Parte DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS,
referente à tabela do ano de implementação e nº. de meses de contribuição
exigidos.
Decreto Lei nº. 3.048/1999 – Parte DA APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO, referente aos períodos contados como tempo de
contribuição.
Decreto Lei nº. 3.048/1999 – Parte DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
RELATIVAS ÀS PRESTAÇÕES DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL,
referente à tabela do ano de implementação e nº. de meses de contribuição
exigidos.
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Lei nº. 8.213/1991 – Parte DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS,
referente à tabela do ano de implementação e nº. de meses de contribuição
exigidos, artigo 60.
Art. 60. Até que lei específica discipline a matéria, são contados como tempo de contribuição, entre outros: I - o período de exercício de atividade remunerada abrangida pela previdência social urbana e rural, ainda que anterior à sua instituição, respeitado o disposto no inciso XVII; II - o período de contribuição efetuada por segurado depois de ter deixado de exercer atividade remunerada que o enquadrava como segurado obrigatório da previdência social; III - o período em que o segurado esteve recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, entre períodos de atividade; IV - o tempo de serviço militar, salvo se já contado para inatividade remunerada nas Forças Armadas ou auxiliares, ou para aposentadoria no serviço público federal, estadual, do Distrito Federal ou municipal, ainda que anterior à filiação ao Regime Geral de Previdência Social, nas seguintes condições: a) obrigatório ou voluntário; e b) alternativo, assim considerado o atribuído pelas Forças Armadas àqueles que, após alistamento, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter militar; V - o período em que a segurada esteve recebendo salário-maternidade; VI - o período de contribuição efetuada como segurado facultativo; VII - o período de afastamento da atividade do segurado anistiado que, em virtude de motivação exclusivamente política, foi atingido por atos de exceção, institucional ou complementar, ou abrangido pelo Decreto Legislativo nº 18, de 15 de dezembro de 1961, pelo Decreto-Lei nº 864, de 12 de setembro de 1969, ou que, em virtude de pressões ostensivas ou expedientes oficiais sigilosos, tenha sido demitido ou compelido ao afastamento de atividade remunerada no período de 18 de setembro de 1946 a 5 de outubro de 1988; VIII - o tempo de serviço público federal, estadual, do Distrito Federal ou municipal, inclusive o prestado a autarquia ou a sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público, regularmente certificado na forma da Lei nº 3.841, de 15 de dezembro de 1960, desde que a respectiva certidão tenha sido requerida na entidade para a qual o serviço foi prestado até 30 de setembro de 1975, véspera do início da vigência da Lei nº 6.226, de 14 de junho de 1975; IX - o período em que o segurado esteve recebendo benefício por incapacidade por acidente do trabalho, intercalado ou não; X - o tempo de serviço do segurado trabalhador rural anterior à competência novembro de 1991;
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XI - o tempo de exercício de mandato classista junto a órgão de deliberação coletiva em que, nessa qualidade, tenha havido contribuição para a previdência social; XII - o tempo de serviço público prestado à administração federal direta e autarquias federais, bem como às estaduais, do Distrito Federal e municipais, quando aplicada a legislação que autorizou a contagem recíproca de tempo de contribuição; XIII - o período de licença remunerada, desde que tenha havido desconto de contribuições; XIV - o período em que o segurado tenha sido colocado pela empresa em disponibilidade remunerada, desde que tenha havido desconto de contribuições; XV - o tempo de serviço prestado à Justiça dos Estados, às serventias extrajudiciais e às escrivanias judiciais, desde que não tenha havido remuneração pelos cofres públicos e que a atividade não estivesse à época vinculada a regime próprio de previdência social; XVI - o tempo de atividade patronal ou autônoma, exercida anteriormente à vigência da Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960, desde que indenizado conforme o disposto no art. 122; XVII - o período de atividade na condição de empregador rural, desde que comprovado o recolhimento de contribuições na forma da Lei nº 6.260, de 6 de novembro de 1975, com indenização do período anterior, conforme o disposto no art. 122; XVIII - o período de atividade dos auxiliares locais de nacionalidade brasileira no exterior, amparados pela Lei nº 8.745, de 1993, anteriormente a 1º de janeiro de 1994, desde que sua situação previdenciária esteja regularizada junto ao Instituto Nacional do Seguro Social; XIX - o tempo de exercício de mandato eletivo federal, estadual, distrital ou municipal, desde que tenha havido contribuição em época própria e não tenha sido contado para efeito de aposentadoria por outro regime de previdência social; XX - o tempo de trabalho em que o segurado esteve exposto a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, observado o disposto nos arts. 64 a 70; e XXI - o tempo de contribuição efetuado pelo servidor público de que tratam as alíneas "i", "j" e "l" do inciso I do caput do art. 9º e o § 2º do art. 26, com base nos arts. 8º e 9º da Lei nº 8.162, de 8 de janeiro de 1991, e no art. 2º da Lei nº 8.688, de 21 de julho de 1993. XXII - o tempo exercido na condição de aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado profissional realizado em escola técnica, desde que comprovada a remuneração, mesmo que indireta, à conta do orçamento público e o vínculo empregatício. (Incluído pelo Decreto nº 6.722, de 2008). (...)
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Decreto Lei nº. 3.048/1999 – Parte DA APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO, referente aos períodos contados como tempo de
contribuição, artigo 142.
Art. 142. Para o segurado inscrito na Previdência Social Urbana até 24 de julho de 1991, bem como para o trabalhador e o empregador rural cobertos pela Previdência Social Rural, a carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial obedecerá à seguinte tabela, levando-se em conta o ano em que o segurado implementou todas as condições necessárias à obtenção do benefício: (Artigo e tabela com nova redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)”
ANO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS CONDIÇÕES
MESES DE CONTRIBUIÇÃO EXIGIDOS
1991 60 meses 1992 60 meses 1993 66 meses 1994 72 meses 1995 78 meses 1996 90 meses 1997 96 meses 1998 102 meses 1999 108 meses 2000 114 meses 2001 120 meses 2002 126 meses 2003 132 meses 2004 138 meses 2005 144 meses 2006 150 meses 2007 156 meses 2008 162 meses 2009 168 meses 2010 174 meses 2011 180 meses
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Decreto Lei nº. 3.048/1999 – Parte DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
RELATIVAS ÀS PRESTAÇÕES DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL,
referente à tabela do ano de implementação e nº. de meses de contribuição
exigidos, artigo 182.
Art. 182. A carência das aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial para os segurados inscritos na previdência social urbana até 24 de julho de 1991, bem como para os trabalhadores e empregadores rurais amparados pela previdência social rural, obedecerá à seguinte tabela, levando-se em conta o ano em que o segurado implementou todas as condições necessárias à obtenção do benefício:
ANO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS CONDIÇÕES
MESES DE CONTRIBUIÇÃO EXIGIDOS
1998 102 meses 1999 108 meses 2000 114 meses 2001 120 meses 2002 126 meses 2003 132 meses 2004 138 meses 2005 144 meses 2006 150 meses 2007 156 meses 2008 162 meses 2009 168 meses 2010 174 meses 2011 180 meses