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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária Adriana Cristine Schwabe Linhares RELATO DE CASO: ESPOROTRICOSE EM CÃO E GATO COHABITANTES E MIASTENIA GRAVIS EM CÃO CURITIBA 2017

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Medicina Veterinária

Adriana Cristine Schwabe Linhares

RELATO DE CASO:

ESPOROTRICOSE EM CÃO E GATO COHABITANTES E

MIASTENIA GRAVIS EM CÃO

CURITIBA

2017

Adriana Cristine Schwabe Linhares

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Relatório de Estágio Curricular apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário.

Professor Orientador: Prof. Elza Maria Galvão Ciffoni

Orientador Profissional: Dra. Roberta A. Biondam

CURITIBA

2017

Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitora Promoção Humana

Prof. Ana Margarida de Leão Taborda

Pró-Reitora

Sra. Camila Rangel

Pró-Reitor Acadêmico

Prof. João Henrique Faryniuk

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Diretor de Graduação

Prof. João Henrique Faryniuk

Secretário Geral

Sr. Bruno Carneiro da Cunha Diniz

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Welington Hartmann

Supervisora de Estágio Curricular

Prof. Jesséa de Fátima França Biz

Campus Barigui

Rua Sydnei A Rangel Santos, 238

CEP: 82010-330 – Curitiba – PR

Fone: (41) 3331-7958

TERMO DE APROVAÇÃO

Adriana Cristine Schwabe Linhares

ESPOROTRICOSE EM CÃO E GATO COHABITANTES

MIASTENIA GRAVIS EM CÃO

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Médico Veterinário no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do

Paraná.

Curitiba, 27 de junho de 2017.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Prof. Elza Maria Galvão Ciffoni

Presidente

__________________________________________

Prof. Maria Aparecida de Alcântara

__________________________________________

Prof. Vinícius Ferreira Caron

AGRADECIMENTOS

É uma etapa importante da minha vida em que muitas pessoas contribuíram

para que a mesma se realizasse. Entre estas pessoas agradeço especialmente ao

meu amado esposo que me apoiou integralmente e não mediu esforços emocionais

e financeiros para me ajudar a concluir um sonho que nunca imaginei realizar.

Agradeço por ter sido meu alicerce e ter ficado ao meu lado em todos os momentos

de dificuldade e fraquezas, por ter sido paciente, educado e forte.

Agradeço também aos meus pais, Mary e Odilon que sempre me apoiaram

em meus estudos e nunca desistiram de lutar para me proporcionar tudo que tenho

hoje. Sei que mesmo meu pai não estando mais consciente ele ficaria muito feliz por

mais esta etapa da minha vida.

Agradeço a minha orientadora profissional, uma médica veterinária

excepcional, onde aprendi a aplicar os conhecimentos adquiridos na faculdade da

maneira mais talentosa possível, mas também me ensinou a superar os meus

medos e dificuldades com tamanho respeito e educação. Não sei como vou poder te

agradecer por tudo Dra. Roberta Biodam e Juliana Freitas uma enfermeira dedicada,

educada e muito preocupada com o bem estar dos animais.

Não posso esquecer-me de agradecer todos os meus mestres que me

ensinaram com tanta dedicação e carinho, em especial a professora Elza Maria

Galvão Ciffoni que teve a paciência e dedicação em me orientar no Trabalho de

Conclusão de Curso.

Agradeço ao coordenador de curso, Dr. Welligton Hartmann pelo seu apoio e

também a Universidade Tuiuti do Paraná.

E por último e não menos importante agradeço a todos os amigos que fiz

nesta caminhada de cinco anos, obrigada pelo apoio, risadas, esforço e

companheirismo.

APRESENTAÇÃO

Este trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Medicina

Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti

do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Médico Veterinário, é

composto pelo Relatório de Estágio, onde são descritas as atividades realizadas

durante o período de 13 de fevereiro a 05 de maio de 2017, na Clínica Veterinária

Casa dos Bichos localizada em Curitiba - PR, local de cumprimento do Estágio

Curricular, e relato de dois casos que versam sobre Esporotricose em Cão e Gato

Cohabitantes e Miastenia Gravis em Cão.

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo descrever as atividades

realizadas durante o estágio obrigatório supervisionado em Medicina Veterinária,

realizado na Clínica Veterinária Casa dos Bichos, no período de 13 de fevereiro de

2017 a 05 de maio de 2017. As atividades realizadas incluem atendimentos clínicos,

acompanhamentos em procedimentos cirúrgicos de pacientes e aos internados. Este

relatório descreve o local de estágio, assim como a casuística acompanhada durante

o período de estágio, mostrando um pouco de como é a rotina da Clínica Veterinária

Casa dos Bichos, assim como dois relatos de casos acompanhados durante esse

período. Sendo eles: Esporotricose em Cão e Gato Cohabitantes e Miastenia Gravis

em Cão, descrevendo a fisiopatologia, as formas de diagnóstico, assim como os

devidos tratamentos realizados em cada caso.

Palavras-chave: esporotricose, miastenia gravis, fisoiopatologia, diagnóstico e

tratamento.

ABSTRACT

This report aims to describe the activities carried out during the compulsory

supervised internship of the Veterinary Medicine course at Casa dos Bichos

Veterinary Clinic, from February 13, 2017 to May 5, 2017. The activities carried out

include clinical care and Surgical procedures of patients. This report describes the

place of the internship, as well as the casuistry followed during the internship period,

showing a little of the routine of the Casa dos Bichos Veterinary Clinic, as well as two

case reports followed during that period as it follows : Sporotrichosis in Cohabitating

Dog and Cat and Myasthenia Gravis in Dogs, describing the pathophysiology,

diagnosis and treatment of each case.

Key words: Sporotrichosis, myasthenia Gravis, pathophysiology, diagnosis and

treatment.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Recepção da Clínica Veterinária Casa dos Bichos......................... 16

FIGURA 2 Consultório da Clínica Veterinária Casa dos Bichos....................... 17

FIGURA 3 Centro Cirúrgico da Clínica Veterinária Casa dos Bichos............... 17

FIGURA 4 Internamento da Clínica Veterinária Casa dos Bichos.................... 18

FIGURA 5

Percentual de Casos Atendidos na Clínica Veterinária Casa dos

Bichos..............................................................................................

20

FIGURA 6 Percentual de Machos e Fêmeas Atendidos na Clínica

Veterinária Casa dos Bichos..........................................................

20

FIGURA 7 Percentual de Traumatologia - Atropelamento Atendidos............... 21

FIGURA 8 Percentual de Traumatologia - Brigas por Espécie Atendidas........ 21

FIGURA 9 Quantidade de Casos de Dermatologia.......................................... 22

FIGURA 10 Quantidade de Casos de Parasitologia........................................... 23

FIGURA 11 Quantidade de Casos de Cardiologia.............................................. 24

FIGURA 12 Quantidade de Casos de Endocrinologia........................................ 25

FIGURA 13

FIGURA 14

FIGURA 15

FIGURA 16

FIGURA 17

FIGURA 18

FIGURA 19

FIGURA 20

FIGURA 21

FIGURA 22

FIGURA 23

FIGURA 24

FIGURA 25

FIGURA 26

FIGURA 27

Quantidade de Casos de Nefrologia...............................................

Quantidade de Casos de Oncologia................................................

Quantidade de Casos de Oftalmologia............................................

Quantidade de Cirurgia de Ovariohisterectomia.............................

Quantidade de Cirurgia de Orquiectomia........................................

Resultado do Exame Histopatológico do Gato................................

Lesões Faciais no Gato no Primeiro Atendimento..........................

Lesões no Membro Pélvico Direito no Gato no Primeiro

Atendimento.....................................................................................

Lesão Generalizada no Gato no Primeiro Atendimento..................

Lesão em Plano Nasal no Cão no Primeiro Atendimento...............

Evolução da Lesão do Cão com Tratamento com Itraconazol.......

Evolução das Lesões do Gato com Tratamento com Itraconazol...

Evolução das Lesões do Gato com Tratamento com Itraconazol...

Distribuição da Esporotricose no Mundo.........................................

Casos de Esporotricose no Mundo de 1952 a 2016.......................

25

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27

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30

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31

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FIGURA 28

FIGURA 29

FIGURA 30

FIGURA 31

FIGURA 32

FIGURA 33

FIGURA 34

FIGURA 35

FIGURA 36

FIGURA 37

Casos Notificados de Esporotricose no RJ de 2013 a 2016...........

Casos Confirmados de Esporotricose no RJ de 2013 a 2016.........

Casos de Esporotricose em São Paulo...........................................

Casos de Esporotricose em Curitiba de 2014 a 2016.....................

Formas do Sporothrix na fase bolor e levedura..............................

Dinâmica da Transmissão da Esportoricose...................................

Musculatura Frontal e Superior do Crânio da Paciente Nega.........

Hemograma Completo da Paciente Nega.......................................

Bioquímico da Paciente Nega.........................................................

Estrutura da Junção Neuromuscular Normal e na Miastenia..........

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52

52

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11

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Distribuição da Casuística Durante o Período de Estágio Realizado na Clínica Veterinária Casa dos Bichos..........................................................................................

19

11

11

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Distribuição dos Agravos Notificados no IPEC de 2001 a 2006.............................................................................................

37

12

12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 15

2 DESCRIÇÃO LOCAL DE DO ESTÁGIO................................................. 16

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS............................................................ 18

4 CASUÍSTICA........................................................................................... 18

5 ESPOROTRICOSE EM CÃO E GATO COHABITANTES...................... 15

5.1 RELATO DE CASO ................................................................................. 29

5.1.1 Resenha................................................................................................... 29

5.1.2 Histórico e anamnese Cão e Gato........................................................... 29

5.1.3 Exame Físico Gato................................................................................... 29

5.1.4 Exame Físico Cão.................................................................................... 29

5.1.5 Exames Complementares........................................................................ 30

5.1.6

5.1.6.1

Tratamento...............................................................................................

Tratamento Cão.......................................................................................

32

32

5.1.6.2

5.1.7

5.1.7.1

5.1.7.2

Tratamento Gato.....................................................................................

Evolução..................................................................................................

Evolução Cão...........................................................................................

Evolução Gato..........................................................................................

32

33

33

34

5.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................... 35

5.2.1

5.2.2

5.2.3

5.2.4

5.2.5

5.2.6

5.3

5.4

6

6.1

6.1.1

6.1.2

Histórico e Epidemiologia.........................................................................

Fisiopatologia e Patogenia.......................................................................

Diagnóstico..............................................................................................

Diagnóstico Diferencial............................................................................

Tratamento...............................................................................................

Prognóstico..............................................................................................

DISCUSSÃO............................................................................................

CONCLUSÃO..........................................................................................

REFERÊNCIAS ESPOROTRICOSE.......................................................

MIASTENIA GRAVIS EM CÃO...............................................................

RELATO DE CASO..................................................................................

Resenha...................................................................................................

Histórico e Anamnese..............................................................................

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45

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50

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50

13

13

6.1.3

6.1.4

6.1.5

6.1.6

6.2

6.2.1

6.2.2

6.2.2.1

6.2.2.2

6.2.3

6.2.4

6.2.5

6.3

6.4

7

Exame Físico...........................................................................................

Exames Complementares......................................................................

Tratamento..............................................................................................

Evolução..................................................................................................

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.....................................................................

Anatomia..................................................................................................

Fisiopatologia e Patogênese....................................................................

Transmissão do Impulso na Placa Motora...............................................

Anatomia da Junção Neuromotora na Miastenia Gravis..........................

Tipos de Miastenia...................................................................................

Diagnóstico..............................................................................................

Prognóstico..............................................................................................

DISCUSSÃO............................................................................................

CONCLUSÃO..........................................................................................

REFERÊNCIAS MIASTENIA GRAVIS.....................................................

CONCLUSÃO GERAL............................................................................

REFERÊNCIAS GERAIS........................................................................

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14

15

1 INTRODUÇÃO

O estágio curricular supervisionado tem por objetivo desenvolver e aprimorar

os conhecimentos adquiridos durante a graduação e preparar o aluno para o

mercado de trabalho adaptando a teoria com a prática e desenvolvendo as

habilidades específicas da profissão. O presente relatório tem por objetivo relatar as

atividades acompanhadas durante o estágio curricular supervisionado em medicina

veterinária, sob orientação acadêmica da Professora Elza Maria Galvão Ciffoni,

realizada na Clínica Veterinária Casa dos Bichos, voltado à área de clínica médica e

cirúrgica de pequenos animais. O período de estágio foi de 13 de fevereiro a 05 de

maio de 2017, perfazendo um total de 420 horas, sob a orientação profissional da

médica veterinária Dra. Roberta Biondan.

A Clínica Veterinária Casa dos Bichos localiza-se na Rua Sebastião

Braganholo nº100, Bairro Santa Felicidade na cidade de Curitiba, PR. O atendimento

funciona de segunda a sexta-feira, a partir das 9h, com término às 17h30. Inclui

serviço de clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, sendo terceirizados os

serviços de laboratório clínico e diagnóstico por imagem.

O objetivo deste trabalho é apresentar: a descrição da infra-estrutura da

unidade concedente de estágio, as atividades desenvolvidas, a casuística

acompanhada e também a descrição detalhada de dois relatos de casos

acompanhados na rotina da clínica. Os assuntos abordados no relato de caso são:

“Esporotricose em Cão e Gato Cohabitantes” e “Miastenia Gravis em Cão”.

16

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

A Clínica Veterinária Casa dos Bichos atende há mais de 16 anos como

clínica de pequenos animais, com foco principalmente em cães e gatos. O

atendimento é dividido por: Clínica Médica de Pequenos Animais e Clínica Cirúrgica

de Pequenos Animais.

Na recepção da clínica (Figura 01) existe uma sala de espera dos pacientes

para que os responsáveis aguardem de maneira confortável o atendimento.

FIGURA 01 – RECEPÇÃO DA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA-

PR (março, 2017)

Possui também um consultório (Figura 02) onde são realizadas todas as

consultas com hora marcada de segunda a sexta-feira das 09h às 12h e das

13h30min às 17h30min, e as consultas de sábado que são por ordem de chegada

com uma senha individual que já é entregue na chegada do responsável pelo

paciente.

No centro cirúrgico (Figura 03) são realizadas todas as cirurgias eletivas ou

de emergência que chegam diariamente a Clínica Veterinária Casa dos Bichos.

O centro cirúrgico é equipado com todos os equipamentos necessários para

que as cirurgias ocorram da forma mais segura e profissional. É neste local que

ficam os equipamentos como: anestesia inalatória, autoclave, instrumentos

cirúrgicos, medicações diversas, oxigênio, ultrassom dentário, etc.

17

FIGURA 02 – CONSULTÓRIO DA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA - PR

(março, 2017)

FIGURA 03 – CENTRO CIRÚRGICO DA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM

CURITIBA - PR (março, 2017)

O setor de internamento (Figura 04) é o local da clínica onde ficam todos os

pacientes para a realização do pré e pós-operatórios e também pacientes que

necessitam de cuidados especiais mediante avaliação da médica veterinária

responsável. Este setor é limpo e higienizado várias vezes ao dia e monitorado 24

horas por dia por enfermeiro e câmera.

O corpo clínico é composto por uma médica veterinária (orientadora do

estágio) e uma auxiliar de enfermagem veterinária.

18

FIGURA 04 – INTERNAMENTO DA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA –

PR (março, 17)

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades desenvolvidas durante o período de estágio incluem:

acompanhamento aos atendimentos clínicos, anamnese, administração de

medicamentos, vacinas e fluidoterapia, seguindo os protocolos do médico veterinário

responsável. Auxílio na colheita de material para exames laboratoriais, em cirurgias

rotineiras e de emergência, pré e pós-cirúrgicos no internamento e em atendimentos

emergenciais.

4 CASUÍSTICA

Durante o período de 13 de fevereiro de 2017 a 05 de maio de 2017, a casuística

acompanhada na Clínica Veterinária Casa dos Bichos foi de um total de 212

atendimentos em cães e 75 gatos perfazendo um total de 287 casos. Dos casos

atendidos 26,2% foram gatos e 73,8% cães.

Analisando o Quadro 01 é possível realizar uma estratificação para cada área de

atendimento acompanhado durante o estágio tornando-se mais fácil de entender a

casuística existente na clínica e quais as principais afecções correlacionadas à área

em questão que serão apresentadas da Figura 5 a 17.

19

QUADRO 01 – DISTRIBUIÇÃO DA CASUÍSTICA DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO REALIZADO

NA CLÍNICA VETERINÁRIA - CASA DOS BICHOS NO PERÍODO DE 13 DE FEVEREIRO A 05 DE

MAIO DE 2017, EM CURITIBA – PR.

Atendimentos

relacionados a:

Cães

N(%)

Gatos

N(%)

Traumatologia

(Atropelamentos)

4 (1,39) 1 (0,35)

Traumatologia (Brigas) 4 (1,39) 1 (0,35)

Dermatologia 37 (12,89) 1 (0,35)

Cardiologia 8 (2,78) 1 (0,35)

Diagnóstico por Imagem 10 (3,48) 1 (0,35)

Exames Cardiologia 10 (3,48) 1 (0,35)

Endocrinologia 5 (1,74) 1 (0,35)

Gastroenterologia 23 (8,01) 7 (2,44)

Nefrologia 7 (2,44) 19 (6,62)

Neurologia 2 (0,70) 0 (0,00)

Odontologia 2 (0,70) 2 (0,70)

Oncologia 14 (4,87) 7 (2,44)

Oftalmologia 12 (4,18) 2 (0,70)

Ortopedia 26 (9,06) 4 (1,39)

Parasitologia 12 (4,18) 2 (0,70)

Toxicologia 4 (1,39) 0 (0,00)

Cirurgia Genito Urinário -

Ovariosalpingohisterectomia

20 (6,97) 21 (7,32)

Cirurgia Genito- Urinário

Orquiectomia

12 (4,18) 4 (1,39)

Total 212 75

A figura 05 mostra o percentual das áreas atendidas na Clínica Veterinária

Casa dos Bichos no período do estágio.

Foi possível verificar que algumas áreas tiveram um percentual maior de

atendimentos como 12,89% dos atendimentos a cães foram na área de dermatologia

e 9,06% na área de ortopedia. Já em gatos o maior percentual foi de 6,62% em

nefrologia.

FIGURA 05: PERCENTUAL

DOS BICHOS, NO PERÍODO DE FEVEREIRO A MAIO DE 2017,

Durante o período do estágio foi observado

atendidas no período foi 14% maior que o percentual de machos atendidos

06).

FIGURA 06: % DE MACHOS E FÊMEAS

CASA DOS BICHOS NO PERÍODO D

A Figura 07 mostra que o

em gatos de 20%. Segundo Lalanda (2008

animais precisam de mais estudo. O que se sabe ainda é que a maioria dos gatos e

cães atropelados são animais mais jovens e

também é a grande quantidade de animais abandonados nas ruas

grande quantidade de animais que fogem de seus domicílios

0

2

4

6

8

10

12

14

Atr

op

elam

ento

Trau

mat

olo

gia

Der

mat

olo

gia

Par

asit

olo

gia

PERCENTUAL DE CASOS ATENDIDOS NA CLÍNICA VETERINÁRIA CA

NO PERÍODO DE FEVEREIRO A MAIO DE 2017, EM CURITIBA

Durante o período do estágio foi observado que o percentual de fêmeas

atendidas no período foi 14% maior que o percentual de machos atendidos

MACHOS E FÊMEAS ATENDIDOS NA CLÍNICA VETERINÁRIA

NO PERÍODO DE FEVEREIRO A MAIO DE 2017, EM CURITIBA

mostra que o percentual de atropelamentos em cão

Segundo Lalanda (2008, p.20), as causas de atropelamentos em

animais precisam de mais estudo. O que se sabe ainda é que a maioria dos gatos e

cães atropelados são animais mais jovens e do sexo masculino

também é a grande quantidade de animais abandonados nas ruas

grande quantidade de animais que fogem de seus domicílios.

Par

asit

olo

gia

Car

dio

logi

a

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es C

ard

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gia

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colo

gia

End

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ino

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Gas

tro

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rolo

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rolo

gia

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gia

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tolo

gia

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olo

gia

Ort

op

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Ova

rio

his

tere

cto

mia

Orq

uie

cto

mia

Dia

gnó

stic

o p

or …

57%

43%

Fêmeas Machos

20

NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA

EM CURITIBA-PR

e o percentual de fêmeas

atendidas no período foi 14% maior que o percentual de machos atendidos (Figura

NA CLÍNICA VETERINÁRIA

, EM CURITIBA - PR

de atropelamentos em cão foi de 80% e

), as causas de atropelamentos em

animais precisam de mais estudo. O que se sabe ainda é que a maioria dos gatos e

do sexo masculino. E o que prevalece

também é a grande quantidade de animais abandonados nas ruas e também uma

Cães %

Gatos %

21

FIGURA 07: % DE TRAUMATOLOGIA - ATROPELAMENTO POR ESPÉCIE ATENDIDA NO

PERÍODO DE FEVEREIRO

A MAIO DE 2017, NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA – PR

Durante o período de estágio 80% dos casos de brigas atendidos era em

cães, sendo somente 20% em gatos (Figura 08). Os gatos que foram atendidos

eram animais domiciliados, mas com acesso livre a rua, o que facilita a

probabilidade de brigas.

FIGURA 08: % DE TRAUMATOLOGIA - BRIGAS POR ESPÉCIE ATENDIDA NO PERÍODO DE

FEVEREIRO A MAIO

DE 2017, NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA – PR

Os atendimentos dermatológicos do período do estágio apresentaram maior

prevalência de dermatite atópica e dermatomicose (Figura09).

80%

20%

Cão Gato

80%

20%

Cão Gato

22

A dermatite atópica é uma doença genética onde o animal se torna sensível a

autógenos ambientais.

Segundo Scott et al, (2001), “as dermatites alérgicas são seguramente os quadros mais freqüentemente relacionados ao prurido em cães, sendo a Dermatite Alérgica a Picada de Ectoparasitas, a Hipersensibilidade Alimentar e Dermatite Atópica as mais importantes e frequentes em nosso meio”.

FIGURA 09: QUANTIDADE DE CASOS DE DERMATOLOGIA ATENDIDOS NO PERÍODO DE

FEVEREIRO A MAIO DE 2017, NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA -

PR

Quanto às doenças parasitárias (Figura 10), foram acompanhados quatorze

casos, sendo doze cães e dois casos em gatos.

A maior prevalência foi o procedimento de desverminação de filhotes,

seguido de cães apresentando sinais clínicos de giardíase.

O protocolo de desverminação em cães e gatos é de extrema importância da

saúde e bem estar do animal e para prevenção de muitas afecções e sinais clínicos

que podem surgir com o tempo.

0

2

4

6

8

10

12

14

Cão (N)

Gato(N)

23

FIGURA 10: QUANTIDADE DE CASOS DE PARASITOLOGIA ATENDIDOS NO PERÍODO DE

FEVEREIRO A MAIO DE 2017, NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA -

PR

Para os casos atendidos na área de cardiologia foi possível observar que

ocorreram oito casos em cães de Insuficiência Cardíaca Congestiva Esquerda e dois

casos de cardiomiopatia hipertrófica em gatos (Figura 11).

A Insuficiência Cardíaca Congestiva é considerada hoje a principal causa

de óbitos em cães. É uma doença lenta, mas progressiva e irreversível. Desta forma

é de extrema importância o diagnóstico do médico veterinário baseado em exames

cardiológicos como ecocardiograma ou eletrocardiograma e o correto

estabelecimento do protocolo de tratamento.

Como o coração é considerado uma bomba, o mesmo pode ficar insuficiente

no momento de esvaziar as veias ou bombear o sangue para a artéria pulmonar ou

aorta (ETTINGER & FELDMAN, 2004).

2

6

3

11 1

Cão (N) Gato (N)

24

FIGURA 11: QUANTIDADE DE CASOS DE CARDIOLOGIA ATENDIDOS NO PERÍODO DE

FEVEREIRO A MAIO DE 2017, NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA –

PR

Durante o período de estágio, na Clínica Veterinária Casa dos Bichos

foram atendidos quatro casos de envenenamento por carbamato.

As intoxicações em animais de estimação infelizmente ainda são bastante

comuns. Muitas são acidentais, mas ocorrem intoxicações consideradas criminosas.

A mais freqüente delas envolve o "chumbinho", que é comercializado ilegalmente.

Os carbamatos têm toxidade alta e são decompostos entre um a quatro dias pelo

organismo, por isso um atendimento veterinário rápido e preciso é importante

(MOUNT; MOLLER; COOK, 1991).

Dentre as doenças endócrinas que foram atendidas no período do estágio,

a maior prevalência foi o hipotireoidismo. Analisando de forma mais detalhada

(Figura 12) é percebido que a prevalência de 1,74% em cães e 0,35% em gatos.

O hipotireoidismo é uma doença de grande incidência em cães, onde se tem

uma deficiência na função da glândula tireóide e maioria dos cães que sofrem da

doença, respondem prontamente ao tratamento.

1

7

10

1 1

Cardiomiopatia Dilatada

Insuficiência Cardíaca

Congestiva Esquerda

Cardiomiopatia Hipertrófica

Exames

Cao (N) Gato (N)

25

FIGURA 12: QUANTIDADE DE CASOS DE ENDOCRINOLOGIA ATENDIDOS NO PERÍODO DE

FEVEREIRO A MAIO DE 2017, NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA -

PR

Outra afecção que apresentou um número razoável de atendimentos no

período do estágio foi de Doença Renal Crônica em gatos (Figura 13). Foram doze

atendimentos relacionados a Doença Renal Crônica. A mesma ocorre em animais

de qualquer idade, mas é mais comum nos animais mais velhos. A doença não tem

cura, mas há a possibilidade de tratamento e controle. Por isso é muito importante o

diagnóstico precoce.

FIGURA 13: QUANTIDADE DE CASOS DE NEFROLOGIA ATENDIDOS NO PERÍODO DE

FEVEREIRO A MAIO DE 2017, NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA -

PR

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

5

Cão (N) Gato (N)

0

2

4

6

8

10

12

14

Doença Renal Crônica Doença Renal Aguda Urologia

Cão (N) Gato (N)

26

Na oncologia foram atendidos quatorze cães e sete gatos. Dos quatorze

casos atendidos de cão, oito eram mastocitoma e nos gatos dos sete casos

atendidos, seis foram diagnosticados como mastocitoma (Figura 14).

Segundo Natividade (2014,p.2) , o mastocitoma canino é uma neoplasia de

grande importância na clínica oncológica e representa cerca de 20% dos casos nos

atendimentos.

Já para os gatos o mastocitoma representa a segunda neoplasia cutânea

mais freqüente, sendo mais observado em animais a partir dos oito anos de idade.

FIGURA 14: QUANTIDADE DE CASOS DE ONCOLOGIA ATENDIDOS NO PERÍODO DE

FEVEREIRO A MAIO DE 2017,

NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA - PR

O caso de oftalmologia mais atendido durante o período de estágio foi úlcera

de córnea (Figura 15). Do total de quatorze casos atendidos de cães e gatos, nove

foram relacionados a doença. Úlceras de córnea ocorrem com grande freqüência em

cães e gatos, principalmente nas raças braquicefálicas (focinho “achatado”). Podem

ser causadas por diversos motivos, mas os principais são os traumas, entrópio e

ceratoconjuntivite seca. E segundo Bercht (2009, p. 1) “Úlceras de córnea são uma

das causas mais comuns de doença ocular que ocasionam a perda de visão nos

cães”.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Carcimoma de Celulas Escamosas

Hemangiossarcoma Mastocitoma Osteossarcoma

Cão (N) Gato (N)

27

FIGURA 15: QUANTIDADE DE CASOS DE OFTALMOLOGIA ATENDIDOS NO PERÍODO DE

FEVEREIRO A MAIO DE 2017, NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA -

PR

As cirurgias eletivas na área reprodutiva estão mais comuns na clínica de

pequenos animais. Durante o estágio foram realizadas quarenta e uma cirurgias de

ovariohisterectomia (Figura 16) e dezesseis orquiectomias (Figura 17).

Estes dois procedimentos estão cada vez mais freqüentes nas clínicas

veterinárias contribuindo assim para diminuir a população de animais abandonados

nas ruas.

FIGURA 16: QUANTIDADE DE CIRURGIAS DE OVARIOSALPINGOHISTERCTOMIA REALIZADAS

NO PERÍODO DE FEVEREIRO A MAIO DE 2017, NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS,

EM CURITIBA-PR

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Ceratoconjuntivite Seca

Enucleação Glaucoma Úlcera de Córnea

Cão (N) Gato (N)

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

Cão Gato

28

FIGURA 17: QUANTIDADE DE CIRURGIAS DE ORQUIECTOMIA REALIZADAS NO PERÍODO DE

FEVEREIRO A MAIO DE 2017, NA CLÍNICÁ VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA -

PR

A seguir serão apresentados os relatos de caso acompanhados na Clínica

Veterinária Casa dos Bichos no período do estágio.

0

2

4

6

8

10

12

14

Cão Gato

29

5 ESPOROTRICOSE EM CÃO E GATO COHABITANTES

5.1 RELATO DE CASO

5.1.1 Resenha

Canino, macho, raça SRD, 8 meses, 15kg.

Felino, macho, raça SRD, 1 ano.

5.1.2 Histórico e Anamnese Cão e Gato

Animal em bom estado geral, normorexia, normodipsia, normoquesia,

normoúria, não-castrado, esquema de vacinação e vermifugação não atualizados.

Convive diretamente com um contactante felino não saudável. Veio a Clínica

Veterinária Casa dos Bichos com queixa de uma lesão no focinho. O felino

contactante já havia sido atendido anteriormente e o mesmo foi diagnosticado com

esporotricose. Então após o surgimento de uma lesão no focinho do cão o mesmo

foi levado para consulta. Os pacientes convivem e brincam diariamente no mesmo

quintal. Proprietário relata que o cão somente começou a apresentar os sinais

clínicos após o felino aparecer com os sinais já avançados.

O felino havia sido levado em outro veterinário. O mesmo tratou como lesões

traumáticas provocados por uma briga, e suturou os ferimentos, e aplicou antibiótico

injetável que o proprietário não soube informar. O mesmo quando chegou para

consulta estava com lesões ulceradas por todo o corpo, principalmente em

membros, focinho e região das costas.

5.1.3 Exame físico Gato

Condição corporal com lesões ulceradas com bordas irregulares associadas

com infecção bacteriana em estado avançado, mucosas normocoradas, animal

hidratado, palpação abdominal sem alteração, auscultação cardiopulmonar sem

alterações. Frequência respiratória 41mpm, frequência cardíaca 170bpm.

Temperatura retal de 38ºC.

5.1.4 Exame físico Cão

30

Condição corporal estável, mucosas normocoradas, animal hidratado,

linfonodos sem alterações dignas de notas, palpação abdominal sem alteração,

auscultação cardiopulmonar sem alterações. Frequência respiratória 30mpm,

frequência cardíaca 110bpm. Temperatura retal de 38,1ºC.

5.1.5 Exames complementares

Foi realizada uma biopsia e um exame histopatológico no felino com resultado

positivo para dermatite piogranulomatosa severa de causa fúngica (Figura 18). A

Figura 19, 20, 21, e 22 mostram o felino no seu primeiro dia de consulta.

FIGURA 19 – LESÕES FACIAIS NO PRIMEIRO DIA DE ATENDIMENTO (março, 2017)

FIGURA 18 – RESULTADO DO EXAME HISTOPATOLÓGICO REALIZADO NO GATO ATENDIDO NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA - PR

31

FIGURA 20 – LESÕES MEMBRO PÉLVICO DIREITO NO PRIMEIRO DIA DE

ATENDIMENTO (março, 2017)

FIGURA 21 – LESÃO ULCERADA COM BORDAS IRREGULARES EM MEMBRO

TORÁCICO ESQUERDO, PAVILHÃO AURICULAR E REGIÃO DORSAL - NO PRIMEIRO DIA DE

ATENDIMENTO (março, 2017)

No cão não foram realizados exames complementares, pois o responsável

não autorizou a realização. Como o gato já havia sido atendido anteriormente e com

diagnóstico diferencial de esporotricose e baseado nos sinais clínicos (Figura 22) e

32

histórico de cohabitação optou-se por instituir um único diagnóstico e o mesmo

protocolo de tratamento.

FIGURA 22 – LESÃO ULCERADA EM PLANO NASAL - PRIMEIRO DIA DE ATENDIMENTO

(março, 2017)

5.1.6 Tratamento

5.1.6.1 - Cão

Foi dado início no tratamento com Itraconazol (dose 10mg/Kg) 170mg, Via

Oral, 1 cápsula por dia, por 30 dias. Após 15 dias de tratamento o mesmo retornou

ao consultório e manteve-se a mesma dose de Itraconazol.

Após um mês de tratamento o paciente retornou ao consultório e a dose de

Itraconazol passou de passou de 170mg para 200mg, Via Oral, 1 cápsula por dia por

mais 30 dias.

5.1.6.2 - Gato

O paciente foi tratado com Itraconazol (Dose 10mg/Kg) 60mg – pasta oral

sabor carne, Via Oral, durante a alimentação, 1grama ao dia por 30 dias. Foi

associado Enrofloxacina 2,5mg/Kg, 1/2comprimido,BID por 7 dias.

33

Após 15 dias o paciente retornou para reconsulta e aumentou-se dose do

remédio itraconazol 80mg – pasta oral sabor carne, Via Oral, durante a alimentação,

1 grama ao dia por 30 dias.

Após 15 dias retornou para acompanhamento e foi mantido o itraconazol

80mg Via Oral, durante a alimentação, 1 grama ao dia por mais 30 dias.

5.1.7 Evolução

5.1.7.1 – Evolução Cão

O cão apresentou uma evolução muito rápida (Figura 23) comparada ao

felino. O mesmo após 45 dias de tratamento teve uma diminuição considerável da

lesão ulcerada em focinho. Não apresentou nenhuma anormalidade fora a lesão.

FIGURA 23 – EVOLUÇÃO DA LESÃO NO FOCINHO DO CÃO COM ESPOROTRICOSE

COM O ITRACONAZOL COMO MEDICAÇÃO

Foto A – Lesão no primeiro dia de atendimento

Foto B – Lesão após 30 dias de tratamento;

Foto C – Lesão após 45 dias de tratamento.

A B C

34

5.1.7.2 – Evolução Gato

O gato apresentou uma evolução mais lenta que o cão, visto que suas lesões

também eram mais profundas e amplas. O maior foco de concentração das lesões

ainda não cicatrizadas está concentrado na face, muitas lesões como a membro

pélvico e região dorsal diminuíram consideravelmente. Observou-se que na face,

desde o primeiro dia de atendimento, a quantidade de lesões ulceradas aumentou

consideravelmente conforme mostra figura 24 e 25.

FIGURA 24 – EVOLUÇÃO DAS LESÕES DO GATO COM ESPOROTRICOSE

UTILIZANDO O ITRACONAZOL COMO TRATAMENTO

FIGURA 25 – EVOLUÇÃO DAS LESÕES DO GATO COM ESPOROTRICOSE

UTILIZANDO O ITRACONAZOL COMO TRATAMENTO

A – Lesão na região do pavilhão auricular, membro torácico esquerdo no primeiro dia de

atendimento;

B – Lesão após 45 dias de tratamento;

C – Lesão após 60 dias de tratamento.

A B

A – Lesão na região da face no primeiro dia de atendimento;

B – Lesão após 30 dias de tratamento;

C – Lesão após 45 dias de tratamento.

A B C

C

35

5.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.2.1 Histórico e Epidemiologia

Para se descobrir efetivamente uma doença é necessária estudar o agente e

seu comportamento. O fungo da esporotricose foi isolado pela primeira vez apenas

em 1896. Após muito estudo, o micologista Erwin Smith, concluiu que este fungo

pertencia ao gênero Sporotrichum (Schenck, 1898 – citado por PAES, 2007). Em

1900 a doença foi notificada pela segunda vez. A partir disso a doença começou a

aparecer com maior frequência e atualmente se tornou um problema endêmico em

alguns locais. Mas até então, eram casos que apareciam em humanos e não eram

estudados em animais. Segundo Paes (2007) o primeiro diagnóstico foi descrito por

Lutz e Splendore entre ratos naturalmente infectados nos esgotos da cidade de São

Paulo. Os primeiros casos felinos ocorreram nos anos 1950.

A maior incidência de doenças bacterianas ou fúngicas é nos países de clima

tropical. Por isso o estudo epidemiológico da esporotricose ocorre em grande parte

em lugares como o Brasil, México, África do Sul e Colômbia (MACIEL & VIANA,

2005). A incidência da esporotricose no mundo (Figura 26), é possível confirmar que

a doença está espalhada principalmente em países de clima tropical e subtropical.

FIGURA 26: DISTRIBUIÇÃO DA ESPOROTRICOSE NO MUNDO

Fonte: Lopes, Kallyelton. 2016 citado por Chakrabarti et al,,(2014)

36

O número de casos de esporotricose no mundo de 1952 a 2016 tem

aumentado consideravelmente (Figura 27). Os casos no Brasil estão aumentando

comparando a outros países como a Argentina, México, USA, entre outros. Segundo

Gremião et al (2016), a doença está assumindo proporções epidêmicas no Brasil,

especialmente no Rio de Janeiro e compromete muitos animais e também humanos

que contraem a doença por total desconhecimento do potencial zoonótico.

FIGURA 27: CASOS DE ESPOROTRICOSE NO MUNDO DE 1952 A 2016 (PLOS PATHOGENS)

Fonte: Gremião (2016)

37

No Brasil ao final do século XX, a esporotricose se espalhou no estado do Rio

de Janeiro, acometendo 759 humanos, 64 cães e 1503 gatos entre os anos de 1998

e 2004. E se analisarmos a estatística para a cidade do Rio de Janeiro, a

enfermidade evoluiu rapidamente desde final do século XX até os tempos atuais.

Segundo dados da Vigilância Sanitária do município do Rio de Janeiro em 2016 “o

número de animais diagnosticados com esporotricose aumentou em 400% e o órgão fez um total de

13.536 atendimentos seja em domicílio, assistência comunitária ou hospitais veterinários.

Atendimentos estes em animais, já no caso de humanos foram registrados 580 casos (Revista Exame

de março de 2017).

Na tabela 1 observa-se a evolução da doença em humanos no Rio de

Janeiro:

TABELA 1: DISTRIBUIÇÃO DOS AGRAVOS NOTIFICADOS NO IPEC 2001 A 2006

Fonte: IPEC/FIOCRUZ (2007)

Analisando ainda o boletim epidemiológico do Estado do Rio de Janeiro

(Figura 28) é possível observar os casos de esporotricose, em humanos, de 2013 a

2016 com as confirmações, e a Figura 29 faz uma separação entre sexo, onde é

possível observar que as fêmeas foram mais afetadas que os machos.

38

FIGURA 28: CASOS NOTIFICADOS DE ESPOROTRICOSE SEGUNDO ANO DE INÍCIO DE

SINTOMAS E CONFIRMAÇÃO (Nº E %), ESTADO DO RJ, PERÍODO DE 2013 A 2016

Fonte: SINANNET (2016)

FIGURA 29: CASOS CONFIRMADOS DE ESPOROTRICOSE SEGUNDO ANO DE INÍCIO DE

SINTOMAS E SEXO, ESTADO DO RJ, PERÍODO DE 2013 A 2016

Fonte: SINANNET (2016)

39

Segundo Nunes & Ecosteguy (2005), os casos de esporotricose no Brasil

estão aumentando consideravelmente e há necessidade de conter a doença para

que a mesma não se espalhe cada vez mais.

Mas não é somente na cidade do Rio de Janeiro que está aumentado os

casos de esporotricose, temos também na cidade de São Paulo (Figura 30),

Pernambuco e Curitiba.

FIGURA 30: CASOS DE ESPOROTRICOSE EM SÃO PAULO

Fonte: Montenegro et al, 2014.

O surto em Curitiba também tem aumentado significativamente. Segundo

Marconi, “a evolução histórica dos felinos avaliados positivamente para

esporotricose em Curitiba revela aumento de gatos atingidos pela doença desde

2014. Naquele ano, foram 20 animais atendidos; em 2015, cerca de 30. Em 2016, de

janeiro até o dia 23 de agosto, foram 89 diagnósticos”. (Gazeta do Povo, 2017).

Após todos os atendimentos e um estudo epidemiológico da esporotricose em

Curitiba é possível verificar que a Cidade Industrial de Curitiba é o local de maior

ocorrência da esporotricose.

Segundo Poleto (2017), desde 2014 até 2016 temos em Curitiba um aumento

e uma grande preocupação com a devida notificação da doença. A figura 31 mostra

os casos de esporotricose em animais e humanos entre 2014 e 2016 em Curitiba.

40

FIGURA 31 – CASOS DE ESPOROTRICOSE EM CURITIBA NOTIFICADOS DE 2014 A

2016 EM HUMANOS E ANIMAIS

Fonte. Poleto (2017)

E os casos estão aumentando e é papel do médico veterinário trabalhar a

importância da conscientização com os responsáveis de animais portadores da

doença no que se diz respeito ao tratamento do animal e a prevenção na

disseminação da doença.

A doença ainda é rara em cães (PAIXÃO, 2001), mas já existem cães

acometidos. Segundo Filgueira (2009), a forma mais comum de lesões em cães é a

subcutânea com áreas alopécicas e normalmente não pruriginosas.

5.2.2 Fisiopatologia e Patogenia

O Sporothrix schenckii é um fungo que pode ser encontrado em solos por

todo o mundo, mas especialmente em solos de climas de países tropicais e

subtropicais. A característica deste fungo é aeróbio dimórfico, que podem existir nas

formas bolor, hifal, filamentosa, ou como levedura (Figura 32). O Sporothrix se

desenvolve sob a forma filamentosa à temperatura ambiente de 3 a 5 dias. Também

pode se desenvolver sob a forma de levedura quando em forma parasitária ou

cultivo fúngico. Ele pertence ao Reino Fungi, Família Ophiostomataceae, Ordem

Ophiostomatales, Classe Pyrenomycetes e Divisão Ascomycota, (GUARRO et al.,

1999).

Animais; 151

Humanos; 26

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Animais Humanos

41

Nos dias de hoje relata-se 5 espécies (S. mexicana, S. albicans, S.

brasiliensis, S. globosa e S. schenckii)

É um organismo eucariótico, heterotrófico, não possui uma mobilidade própria

e também apresenta uma parede celular rígida e quitinosa.

FIGURA 32: FORMAS DE SPOROTHRIX NA FASE BOLOR E NA FASE LEVEDURA

Fase A: Bolor Fase B: Levedura

Fonte: Paula (2008)

Como é chamada de “doença do jardineiro”, a infecção se dá pelo contato

com o solo. Nos humanos, o jardineiro tem uma maior probabilidade de se infectar

por estar em contato direto com o solo, e na maior parte das vezes sem nenhum tipo

de equipamento de proteção individual. Já o gato tem como o hábito cavar buracos e

afiar suas garras em troncos de árvores, instalando o fungo em suas unhas.

Também pode ser transmitido por arranhões e mordeduras que ocorre nas brigas

entre os próprios felinos ou com outros animais e o próprio ser humano. A dinâmica

de transmissão da esporotricose de maneira bem simples (Figura 33). O fungo está

presente na natureza, nos solos. Então quando uma pessoa ou um animal entra em

contato com este solo pode se infectar. O animal infectado pode passar através do

contato, por mordidas ou arranhões para outros animais e para o ser humano.

A doença disseminada por inalação de esporos é rara. Segundo Martins,

(2003), existe alguns relatos de casos de felinos que dentro de casa com os arranjos

de flores adquiriram a doença.

Em um estudo feito por Borges (2007), 347 gatos com esporotricose,

verificou-se que na cavidade oral de 49% dos animais, o agente estava presente.

As fezes destes felinos também são capazes de conter este agente (JESUS e

MARQUES, 2006).

A B

FIGURA 33: DINÂMICA DE TRANSMISSÃO DA ESPOROTRICOSE

Fonte: Silva (2010)

Segundo SCOTT

esporotricose:

A forma cutânea, cutaneolinfática e a

- Cutânea – apresenta lesões ulceradas, nodulares ou

- Cutâneo-linfática

membro, com presença de exsudato e linfadenopatia regional;

- Disseminada – é rara.

5.2.3 Diagnóstico

O diagnóstico para a esporotricose

da doença e não confundi

A esporotricose em cães

principalmente áreas como a cabeça,

se sob a forma de lesões ulceradas

DINÂMICA DE TRANSMISSÃO DA ESPOROTRICOSE

Segundo SCOTT et al(1995) existem três tipos de manifestação clínica da

forma cutânea, cutaneolinfática e a disseminada

apresenta lesões ulceradas, nodulares ou verrucosas;

linfática – caracteriza-se por um nódulo na face distal de um

membro, com presença de exsudato e linfadenopatia regional;

é rara.

O diagnóstico para a esporotricose pode ser clínico, mas para se ter certeza

da doença e não confundi-la com outra, é necessário exames complementares

em cães na sua forma cutânea é a mais comum e atinge

áreas como a cabeça, orelhas e tronco. Esta geralmente apresenta

se sob a forma de lesões ulceradas e nódulos múltiplos. A disseminação é rara.

42

DINÂMICA DE TRANSMISSÃO DA ESPOROTRICOSE

manifestação clínica da

verrucosas;

se por um nódulo na face distal de um

membro, com presença de exsudato e linfadenopatia regional;

pode ser clínico, mas para se ter certeza

exames complementares.

na sua forma cutânea é a mais comum e atinge

geralmente apresenta-

A disseminação é rara.

43

Segundo Scott et al(1995), os cães que estão acometidos com esporotricose

não apresentam lesões dolorosas e nem pruriginosas.

Já a esporotricose em gatos, as lesões aparecem também em região distal de

membros e cauda e as lesões tendem a ser pruriginosas e a disseminação é

comum.

O diagnóstico mais utilizado é o exame citológico dos aspirados ou

esfregaços, onde é possível observar uma inflamação supurativa granulomatosa. O

S. schenchii é uma levedura em formato de charuto com 2 a 10um de comprimento.

Segundo Paes (2007), “o diagnóstico se baseia na anamnese, exame físico,

exame dermatológico e exames laboratoriais. Dentre os exames complementares,

existem o citológico, cultivo micológico, intradermorreação e histopatologia”.

As técnicas de diagnóstico a serem utilizadas (Hnilica, 2012) :

- Citologia – mais facilmente visualizado em gatos do que em cães. Aparece

inflamação supurativa e granulomatosa;

- Dermato-histopatologia – também mais facilmente visualizados em gatos do

que em cães. Aparece dermatite supurativa nodular a difusa;

- Imunofluorescência – onde é possível detectar em exsudatos ou amostras

de tecidos o antígeno de Sporothrix;

- Cultivo fúngico – facilmente cultivado de amostra de gatos;

- PCR – pode simplificar o diagnóstico.

5.2.4 Diagnóstico Diferencial

É muito importante a realização de exames complementares para que se

confirme a doença que está sendo tratada.

Segundo Paterson (2010), “os principais diagnósticos diferenciais são os

criptococose, granulomas estéreis, granulomas infecciosos, granulomas por corpo

estranho, neoplasias, abscesso por mordedura de gato e pododermatite com

plasmócitos”.

44

A associação entre criptococose, uma micose causada pela levedura

Cryptococcus neoformans, e imunodeficiência felina tem sido descrita na literatura.

Em função dessa deficiência, os gatos desenvolvem a forma sistêmica da

criptococose e pode ser confundida com a esporotricose (García & Blanco, 2000).

A esporotricose é uma doença auto-limitada e geralmente responde bem ao

tratamento (Whittemore & Webb, 2007). No hemograma de pacientes com

esporotricose geralmente aparecem sinais como: anemia, leucocitose com

neutrofilia, hipoalbuminemia e hiperglobulinemia, mas são inespecíficos. As lesões

normalmente localizam-se em geral no focinho dos animais e pode ser confundida

com leishmaniose, seja por sinais clínicos como por reações cruzadas em testes

imunológicos, sendo importante o diagnóstico diferencial entre as duas infecções

(Santos et al., 2007).

5.2.5 Tratamento

O tratamento recomendado, na maioria dos casos humanos e animais, é o

antifúngico itraconazol. Outro fármaco pode ser associado, como solução

supersaturada de iodeto de potássio ou o cetaconazol.

A solução saturada de iodeto de potássio era usada desde 1900 como o

tratamento de escolha para a esporotricose na forma cutânea e linfocutânea. Mas

com o advento do itraconazol na década de 90, o mesmo foi sendo substituído.

Segundo Costa et al (2013), os dois medicamentos podem ser utilizados como

medicamentos de escolha e tem a mesma eficácia. O único cuidado que a autora

nos passa envolve o conhecimento da formulação que está sendo utilizada e a dose

por gota, que muda dependendo da indicação terapêutica e do paciente.

A dose recomendada do iodeto varia de 10-20mg/kg, a cada 12 ou 24h, por

via oral, mas como os gatos são sensíveis a essa medicação pode ocorrer o que se

chama de iodismo, sendo que os sinais clínicos são depressão, anorexia, vômito,

espasmos musculares, hipotermia, entre outros (PEREIRA et al., 2009).

Para o cetaconazol a dose recomendada é de 5-27mg/kg, por via oral

diariamente, mas como efeitos colaterais pode-se ter o aumento das enzimas

45

hepáticas (GREENE, 2012), além disso, é teratogênico e embriotóxico (PEREIRA et

al., 2009).

Já a dose do itraconazol, que é uma das medicações mais utilizadas para a

esporotricose no Brasil tem como vantagem que seus efeitos colaterais são

menores. A dosagem recomendada é de 10mg/kg, diariamente, por via oral, durante

meses, havendo casos em que a terapia pode se prolongar por até um ano

(LARSSON, 2011).

Dependendo das lesões e do animal, o tratamento pode variar de meses a

anos. O mais importante é não abandonar o tratamento e seguir com o itraconazol

mais 30 dias após a cura (CHIESA, 2007).

Os glicocorticóides e drogas imunossupressoras não são recomendadas para

tratamento de esporotricose, pois segundo Scott et al (1995) há relatos de recidiva

da esporotricose depois de quatro a seis meses de cura aparente.

5.2.6 Prognóstico

O prognóstico da doença irá variar de paciente para paciente, pois depende

da quantidade e tamanho das lesões, local afetado, espécie do animal, imunidade

do mesmo. Geralmente em cães, a doença tem um prognóstico melhor até pela

forma cutânea ser a mais comumente encontrada. Já na forma disseminada, o

prognóstico é reservado (ETTINGER et al, 2004).

5.3 DISCUSSÃO

O gato acometido em questão é um macho, adulto, não castrado e com

acesso irrestrito à rua, estas características são compatíveis com os achados dos

autores (Martins, 2003; Gremião et al., 2011). Todas estas características ressaltam

a probabilidade do felino contrair a doença, visto que, o mesmo pode se envolver em

brigas com outros gatos e disseminar a doença.

Já a esporotricose em cães é rara, e acontece comumente na forma

subcutânea. No trabalho o cão acometido contraiu a doença devido à cohabitação

com um gato doente e o mesmo apresentou a doença na forma subcutânea.

46

Segundo Filgueira (2009), a forma mais comum de lesões em cães é a subcutânea

com áreas alopécicas e normalmente não pruriginosas.

Em gatos as lesões se localizam de forma mais acentuada na cabeça e

membros. Segundo Malik et al (2004), as lesões na região nasal geralmente tendem

a persistir mais devido a diminuição de suprimento sanguíneo nesta região. No

relato de caso do gato pode ser observadas, lesões em cabeça e membros, onde as

lesões da região nasal com maior dificuldade de cicatrização.

Os principais exames utilizados no diagnóstico da esporotricose são o

citopatológico e histopatológico (MIRANDA et al, 2013). O exame histopatológico do

gato confirmou a esporotricose.

É necessário realizar o diagnóstico diferencial para outras afecções que se

assemelham com a esporotricose como a criptococose.

A associação entre criptococose, uma micose causada pela levedura

Cryptococcus neoformans, e imunodeficiência felina tem sido descrita na literatura.

Em função dessa deficiência, os gatos desenvolvem a forma sistêmica da

criptococose (García & Blanco, 2000). Por isso a importância de averiguar se o

paciente felino não tem nenhum tipo de imunodeficiência.

O tratamento com itraconazol foi utilizado para o cão e o gato. Para ambos o

mesmo se mostrou eficiente, concordando com Larsson (2011) que demonstra em

seu trabalho que o itraconazol é atualmente a melhor opção para o tratamento.

47

5.4 CONCLUSÃO

A esporotricose é uma doença que está crescendo de maneira preocupante

em alguns locais do Brasil. Com isso é necessário que o médico veterinário realize

um diagnóstico preciso e imediatamente faça a notificação aos locais específicos de

cada cidade para que se possa realizar um estudo epidemiológico mais preciso,

juntamente com um tratamento mais eficaz.

A esporotricose em felinos é uma zoonose importante e que deve ser tratada

para que os animais não disseminem a doença.

É necessário também alertar e explicar aos responsáveis sobre a doença e a

importância em todos os cuidados na manipulação dos animais, visto que a mesma

é uma zoonose e pode ser transmitida para o ser humano, com o objetivo de

minimizar ao máximo a disseminação da doença.

É importante ressaltar a importância da continuação do tratamento após 30

dias do desaparecimento completo dos sinais clínicos para evitar recidiva e também

a conscientização dos responsáveis pelos pacientes para que evite que o mesmo

tenha acesso à rua para que a doença não dissemine.

48

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51

6 MIASTENIAS GRAVIS EM CÃO

6.1 Relato de caso

6.1.1 Resenha

Canino, fêmea, raça srd, 12 anos, 33kg.

6.1.2 Histórico e Anamnese

Paciente da clínica veterinária Casa dos Bichos desde 2012, a paciente Nega

em 2015 começou a apresentar quadro de dificuldade de mastigação e episódios

frequentes de regurgitação. Na época foi percebida uma severa diminuição na

musculatura da parte frontal e superior do crânio. Foi realizado um hemograma e

também foi recomendado um eco cardiograma para eliminar qualquer possibilidade

de uma doença cardíaca.

Em 2015 o hemograma e o ecocardiograma apresentaram normalidade. A

suspeita era na época de miosite muscular mastigatória.

O tratamento instituído foi: corticortem 20mg/Kg , Via Oral, 1 comprimido ao

dia por 7 dias.

Após sete dias foi retirado o tratamento, mas a paciente apresentou

significativa piora segundo relatos da responsável retornando o tratamento por mais

dois meses.

Como a paciente estava apresentando apatia e a responsável começou a

perceber que a regurgitação se intensificava após ingestão de alimentos a

recomendação médica foi de utilizar o manejo recomendado para megaesôfago , ou

seja, levantar os potes de água e de ração. Observou-se que houve uma melhora

significativa.

Após dois anos, a paciente voltou à clínica com crise severa de paralisia em

membros pélvicos e severa apatia. O quadro de megaesôfago continuava e o animal

apresentava intensa sialorréia. Pelos sinais clínicos e pelo histórico do

acompanhamento da veterinária com a paciente desde 2012, concluiu-se que o

quadro era compatível com Miastenia Gravis. Mas para verificar se o animal

52

responderia, foi instituído um diagnóstico medicamentoso, administrando-se drogas

específicas para o tratamento da Miastenia e observando-se a evolução do paciente.

O responsável pelo animal estava administrando corticortem 20mg/Kg, via

oral, meio comprimido ao dia há mais de três meses.

6.1.3 Exame Físico

Ao exame físico realizado no paciente no dia do atendimento as mucosas

apresentavam-se hipocoradas, animal desidratação grau 5, linfonodos sem

alterações dignas de notas, palpação abdominal sem alteração, auscultação

cardiopulmonar com alterações, apresentando quadro de pneumonia possivelmente

aspirativa. Também foi realizado exames neurológicos e o paciente não apresentou

nenhum sinal aparente.

Dificuldade de deambulação intermitente, episódios de prostação,

temperatura retal de 40,1ºC. A paciente apresentava-se apática e com sialorréia

intensa. Tremores em membros pélvicos e dificuldade para ficar em pé.

Na figura 34, é possível observar a diminuição na musculatura frontal do crânio.

FIGURA 34: MUSCULATURA FRONTAL E SUPERIOR DO CRÂNIO DA PACIENTE NEGA

53

6.1.4 Exames Complementares

Foi realizado um hemograma completo e um bioquímico.

FIGURA 35 – HEMOGRAMA COMPLETO DA PACIENTE NEGA INTERNADA NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM

CURITIBA - PR

FIGURA 36 – BIOQUÍMICO DA PACIENTE NEGA INTERNADA NA CLÍNICA VETERINÁRIA CASA DOS BICHOS, EM CURITIBA – PR

54

No hemograma realizado para a paciente Nega foi possível observar um

processo discreto de linfopenia, que é a diminuição na contagem de linfócitos.

Pode-se atribuir esta diminuição ao uso de corticosteróide, pois o animal estava

tomando a medicação há mais de três meses. Segundo Nelson & Couto (2010), a

linfopenia por corticosteróide é transitória e volta às referências normais dentro de

um a três dias. Também pode ser associada por estresse de doenças agudas.

A eosinopenia referencia a diminuição de eosinófilos circulantes. A

eosinopenia pode ser: iatrogênica, por estresse agudo, estresse crônico, síndrome

de cushing ou infecção e inflamação agudas.

a) Iatrogênica – pacientes que estão recebendo corticosteróides naturalmente

terão eosinopenia.

b) Estresse agudo: Quando o animal está com medo ou excitado ou realizou

uma atividade muscular forte ocorre a liberação de adrenalina causando uma

leve eosinofilia, seguida de um pico moderado de eosinopenia depois de

aproximadamente quatro horas (BUSH, 2004).

c) Estresse Crônico: Neste caso ocorre a liberação de glicocorticóide endógeno

(BUSH, 2004).

d) Síndrome de Cushing (hiperadrenocorticismo): Segundo Bush (2004), a

eosinopenia ocorre devido a liberação de cortisol por neoplasia adrenal

e) Infecção e Inflamação Agudas: controvérsias sobre esse assunto, mas

segundo Bush (2004) existe um mecanismo que seja independente da

liberação de adrenalina e glicocorticóides por estresse.

Então podemos associar a eosinopenia da paciente Nega pode ser devido ao

uso de corticosteróide há mais de 3 meses.

Já o aumento da fosfatase alcalina ainda não é conhecida. Na maioria dos

casos, esta anormalidade está relacionada com problemas de fígado e doenças

ósseas, como doença de cushing, hepatite infecciosa, hiperplasia nodular. Mas

também a administração de corticosteróides e de certos outros medicamentos

durante um período prolongado provoca o aumento dos níveis de fosfatase alcalina.

Neste caso podemos associar ao grande período que a paciente Nega estava

tomando corticosteróide.

55

Os sintomas mais comuns para um animal com a fosfatase alcalina

aumentada são desconforto geral, letargia, icterícia, fraqueza e dor, mas o fígado é

capaz de realizar as funções normais, a menos que seja severamente danificado.

Já a creatinina e uréia aumentada indicam uma insuficiência renal. A

insuficiência renal pode ser aguda ou crônica.

O exame de creatinina é usado para medir a taxa de filtração dos rins e é o

único órgão que excreta esta substância e fica aumentada quando o rins estão com

a função diminuída ou prejudicada.

A uréia é excretada pelo rim, se o rim não está funcionando adequadamente a

uréia vai ficar circulando no sangue.

O aumento da uréia e creatinina podem ocorrer por: idade, infecções virais,

fúngicas ou bacterianas, doenças autoimunes, traumas, reação a venenos, entre

outras.

No caso da paciente Nega a mesma apresentava pneumonia aspirativa

ocasionada pelo megaesôfago causada pela Miastenia Gravis. Podemos considerar

uma insuficiência renal aguda, pois os sinais clínicos como depressão, vômitos,

febre e perda de apetite apareceram de repente.

6.1.5 Tratamento

O tratamento foi dividido em duas etapas:

A - Pneumonia por aspiração

A pneumonia por aspiração é quando conteúdo alimentar, proveniente de

vômitos ou regurgitação vai para os pulmões causando por alguma doença que

levaria a dificuldade de engolir como problemas de esôfago, engasgos, paralisias da

laringe/faringe ou dificuldades respiratórias. Esse conteúdo estranho no pulmão leva

a uma irritação e infecção dos pulmões com crescimento de bactérias.

O tratamento para a pneumonia por aspiração que foi realizado na paciente

Nega:

56

- oxigenioterapia via máscara até normalizar a gasometria;

- hidratação com soro (NaCl) na veia, o que vai facilitar a expulsão do

catarro;

- Repouso;

- antibiótico com enrofloxacina 2,5%, 1ml ao dia por 7 dias.

B- Para a insuficiência renal aguda

É necessário reidratar o paciente normalmente durante cerca de 2-10 horas e

manter a hidratação normal depois disso. Geralmente a forma mais comum e mais

eficaz é a intravenosa. Importante também é monitorar a quantidade de urina que

está sendo eliminada, caso não esteja normal é necessário administrar furosemida

ou manitol.

Na paciente Nega foi realizado Fluidoterapia de 500ml de NaCl 1 vez ao dia

por 7 dias e oxigenioterapia sempre quando necessário;

C - Diagnóstico medicamentoso para Miastenia

Brometo de piridostigmina – Mestinon (Dosagem de 2mg/Kg) 60mg, VO, ½

comprimido de 12 em 12 horas. Paciente foi acompanhado uma vez pode semana

para verificar sua evolução.

6.1.6 Evolução

Após a instalação do protocolo, a paciente respondeu muito bem ao

tratamento com Mestinon. A melhora ocorreu, segundo a responsável pelo paciente,

pois passou a andar normalmente, não apresentou mais episódios de fraqueza

muscular e diminuição da sialorréia.

57

6.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

6.2.1 Anatomia

A Miastenia Gravis é uma doença auto-imune e neuromuscular causada pela

do número de receptores funcionais de acetilcolina diminuídos (neuro transmissor)

na membrana pós-sináptica onde ocorre por conseqüência um erro de comunicação

entre nervos e músculos (GONZÁLEZ et al., 2000). Em virtude desta falta ou

diminuição de receptores que recebem os sinais nervosos através da ação da

acetilcolina, ocorre como sinal clínico fraqueza muscular e fadiga. A fraqueza pode

ser generalizada ou localizada. Segundo Machado et al (2016) “esta fraqueza

muscular na maior parte das vezes se correlaciona com melhora após o descanso e

piora com o exercício físico”. Outros sinais também são comuns e subseqüentes

como uma perda da musculatura facial, uma dificuldade de deglutição e

megaesôfago que muitas vezes pode acarretar em pneumonia por aspiração

secundária. A falta do reflexo nervoso faz com que ocorra um megaesôfago que

podemos chamar de secundário, deixando o órgão mais dilatado e ocasionando

sialorréia na maior parte das vezes de grande intensidade. Quando o megaesôfago

se faz presente na miastenia é necessário usar de medidas de controle no momento

da alimentação que devem ser seguidas pelos proprietários. Estas medidas incluem

erguer os potes de comida e água para que o alimento passe pelo esôfago com

maior facilidade e comida mais pastosa.

Segundo Gonzales (2000) não se conhece muito a incidência da doença em

cães.

6.2.2 Fisiopatologia e Patogênese

Para entender como a Miastenia Gravis age é necessário entender o que é a

acetilcolina e como ela age no organismo. A colina é precursora da acetilcolina e ela

é obtida através da degradação da enzima acetilcolinesterase. A acetilcolina é uma

amina produzida no citoplasma das terminações nervosas e é o mais abundante

neurotransmissor nas junções neuromusculares e em muitas regiões no sistema

nervoso central. O armazenamento da acetilcolina se dá em vesículas. A

estimulação da liberação da acetilcolina das vesículas ocorre pela chegada de um

potencial de ação na terminação nervosa motora. O potencial é desencadeado

58

quando ocorre a troca de íons sódio (Na+) e potássio (K+). Quando este potencial

de ação atinge a membrana pré-sináptica os canais de Cálcio (Ca++) se abrem e

penetram na membrana pré-sináptica. Este aumento de cálcio libera a acetilcolina

das vesículas. Quando a acetilcolina é liberada ela se liga ao receptor nicotínico na

célula muscular. Após esta liberação ocorre a abertura dos canais de Na, liberando

cálcio intracelular causando a contração muscular.

Quando o animal está em repouso algumas vesículas fundem-se com a

membrana superficial da terminação nervosa e permitem a liberação de acetilcolina

para a fenda sináptica (VLEET, 2002). Quando o potencial de ação alcança a

terminação nervosa motora, há liberação de 100 ou mais vesículas de acetilcolina. E

a extrusão do conteúdo das vesículas ocorre somente com o influxo de cálcio.

6.2.2.1 Transmissão do Impulso na Placa Motora

Quando o impulso nervoso chega a uma placa motora ocorre imediatamente

a liberação de acetilcolina fazendo com que muitas vesículas armazenadas se

rompam e esvaziam o seu conteúdo entre o terminal e a fibra muscular, chamada

fenda sináptica. Quando isso ocorre há um aumento de permeabilidade dos íons

sódio, permitindo assim que o sódio vá para o interior da fibra muscular acarretando

o fluxo de cargas positivas para o citoplasma muscular ocorrendo imediata

despolarização. Essa despolarização local produz um potencial de ação que se

propaga nas duas direções, ao longo da fibra, e, o potencial ao passar ao longo da

fibra, provoca sua contração.

Quando a acetilcolina é liberada dos seus neurônios, ela pode ligar-se a um

de dois tipos principais de receptores – o nicotínico e o muscarínico.

Os receptores podem ser pré-sinápticos ou pós-sinápticos. Os pré-sinápticos

aumentam a liberação da acetilcolina durante a estimulação da terminação nervosa,

já os pós-sinápticos despolarizam a membrana e causam contração muscular

(MARTINS, 2013).

Os receptores nicotínicos são encontrados nas junções neuromusculares,

onde a acetilcolina age de forma direta, ocorrendo a abertura dos canais iônicos e

ocorre a contração muscular. Já os receptores muscarínicos são encontrados no

59

sistema nervoso central e promovem a ação indireta da acetilcolina, ocorrendo a

contração dos músculos lisos inervados.

6.2.2.2 Anatomia da Junção Neuromuscular na Miastenia Gravis

Na Miastenia Gravis são produzidos anticorpos contra os receptores da

acetilcolina. Estes receptores com anticorpos funcionam inadequadamente e o

número diminuído destes receptores reduz a probabilidade das moléculas reagirem

com os receptores musculares (KORNEGAY, 2006).

Segundo Martins, 2013, algumas são as alterações da junção neuromuscular

da Miastenia Gravis: diminuição dos receptores de acetilcolina consequentemente

diminuindo o comprimento das pregas sinápticas ocasionando eum uma estruttura

menos complexa (Figura 37).

FIGURA 37 – ESTRUTURA DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR NORMAL E NA

MIASTENIA GRAVIS

Fonte: Thanvi, 2004 – citado por Martins

60

6.2.3 Tipos de Miastenia

Há duas formas descritas da doença, a forma congênita e a adquirida.

A forma adquirida é caracterizada pelos anticorpos que se direcionam contra

os receptores de acetilcolina na junção neuromuscular ocorrendo assim uma

diminuição da sensibilidade da membrana pós-sináptica de transmissão de

acetilcolina, pois os anticorpos estão ligados a estes receptores.

Já a forma congênita é uma deficiência hereditária que ocorre nos receptores

de acetilcolina nas membranas pós-sinápticas da musculatura esquelética.

6.2.4 Diagnóstico

Além da observação criteriosa dos sinais clínicos da doença, é necessário

investigar mais profundamente com a realização de um conjunto com, análise

radiográfica para verificação da presença de megaesôfago, testes de

imunoprecipitação por radioimunoensaio para detecção de anticorpos circulantes

contra o receptor de acetilcolina (DEWWEY, 2005).

O diagnóstico também pode ser confirmado com a administração de

anticolinesterásico, como o brometo de neostigmina. Caso o paciente após a

administração do anticolinesterásico apresente uma melhora dos sinais clínicos e

fique bem por alguns minutos, pode-se realizar a confirmação da Miastenia Gravis

(ANDRADE, 2008).

Segundo Nelson (2010) “é necessário ter muito cuidado com a administração

dos fármacos anticolinesterásicos, visando evitar possível existência de uma crise

de excesso ocasionando despolarização muscular excessiva com sinais de

fraqueza, vômito e diarréia”. Para prevenir este acontecimento pode-se realizar a

administração de atropina na dose de 0,05 a 0,2mg/Kg IM antes do teste diagnóstico

(ANDRADE, 2008).

6.2.5 Prognóstico

O prognóstico tende a ser reservado nos casos em que o paciente responde

bem ao manejo dietético e ao tratamento instituído para a miastenia gravis, sem

61

apresentação de pneumonia por aspiração. No entanto ainda estão em situação de

risco. Há pacientes que respondem bem ao tratamento por vários anos e outros que

não respondem a terapia anticolinesterásica (Cunningham, 2008).

O prognóstico para a pneumonia por aspiração proveniente do megaesôfago

secundário a miastenia gravis é reservado.

Torna-se fundamental considerar a MG dentro os diagnósticos diferenciais

das neuropatias infecciosas caninas. Uma vez estabelecido um correto diagnóstico,

descartando possíveis complicações e instituindo-se um protocolo de tratamento,

haverá um reflexo positivo sobre o prognóstico.

6.3 DISCUSSÃO

A Miastenia Gravis é uma doença em que o médico veterinário precisa estar

muito atento aos sinais clínicos, pois a mesma pode ser diagnosticada tardiamente

devido às complicações que podem mascarar a doença de base.

É importante salientar também que algumas doenças neurológicas infecciosas

podem ter um quadro clínico parecido como as meningoencefalites e

poliradiculoneurites protozoárias, hemoparasitoses e botulismo (LORENZ &

KORNEGAY, 2006). Por isso o diagnóstico deve ser realizado baseado em sinais

clínicos, histórico e diagnósticos por imagem (SHELTON, 2002). Um diagnóstico

pode ser usado e confirmado é quando ocorre uma resposta positiva na

administração de anticolinesterásico, como o brometo de neostigmina, nas doses de

0,05mg.kg-1 (via intramuscular) ou 20µg.kg-1 (via endovenosa) (ANDRADE, 2008).

Se o paciente apresentar uma melhora nos sinais clínicos de 30 a 60 segundos após

a infusão do fármaco pode ser considerado Miastenia Gravis.

No Brasil pelo alto custo dos exames para o diagnóstico definitivo da doença,

muitos veterinários optam pelo diagnóstico terapêutico similar ao que foi realizado na

paciente Nega devido a idade da mesma, ao seu prognóstico, ao estado geral em

que a mesma se apresentava e ao custo elevado da medicação que o responsável

não poderia pagar. Então optou-se pela realização do diagnóstico terapêutico

utilizando a medicação apropriada para a Miastenia e observando a resposta do

paciente.

62

Em relação ao tratamento as drogas anticolinesterásicas são utilizadas para

aumentar a força muscular devido a ação da acetilcolina na junção neuromuscular e

inibição da acetilcolinesterase (LAMA,2000). Em cães tem sido utilizado o brometo

de piridostigmina (Mestinon®) na dosagem de 1 a 3 mg/kg por via oral a cada 8

horas, sua ação inicia uma hora após sua administração o que é compatível com o

tratamento instituído para a paciente Nega.

Segundo Machado (2012), a Miastenia Gravis é caracterizada por ser uma

neuropatia que provoca uma desordem neuromuscular, cuja principal consequência

é a fraqueza dos músculos esqueléticos, esôfago, faringe e ou laringe. Isto é

compatível com o que a paciente Nega apresenta, pois a mesma tem como sinal

clínico uma sialorréia intensa e excessiva regurgitação, indicando um megaesôfago

adquirido.

Segundo Willard (2006) é necessário oferecer refeições em pequenas

quantidades várias vezes ao dia auxilia na redução e passagem do alimento do

esôfago ao estômago. A maioria dos pacientes responde bem a comida pastosa e

em uma plataforma elevada. O protocolo de alimentação da paciente Nega: comida

pastosa em menores quantidades, pelo menos 3 vezes ao dia em, em uma

plataforma elevada, ocasionando uma diminuição na regurgitação após a

alimentação.

6.4 CONCLUSÃO

A Miastenia Gravis é uma doença em que o médico veterinário precisa estar

muito atento aos sinais clínicos, pois a mesma pode ser diagnosticada tardiamente

devido às complicações que podem mascarar a doença de base.

É importante salientar também que algumas doenças neurológicas infecciosas

podem ter um quadro clínico parecido como as meningoencefalites e

poliradiculoneurites protozoárias, hemoparasitoses e botulismo. LORENZ &

KORNEGAY, 2006). Então é percebido que torna-se fundamental realizar um

diagnóstico diferencial e instituir um protocolo correto.

É uma doença que não tem cura, mas dependendo do seu quadro e dos sinais

clínicos pode ser controlada e o animal pode ter uma boa qualidade de vida e um

63

aumento de sua expectativa de vida, que não teria sem o diagnóstico correto e sem

a medicação específica.

64

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7 CONCLUSÃO

A realização do estágio curricular obrigatório é de extrema importância para o

futuro do profissional de medicina veterinária. No estágio obrigatório foi possível

aplicar todos os conceitos vistos na teoria em prática. Foi possível perceber o quanto

a experiência e o estudo são essenciais para que o paciente tenha um bom

prognóstico, bem como vivenciar inúmeras doenças, tratamentos e tecnologias

diferenciadas aplicadas à clínica médica e cirúrgica de pequenos animais.

Ao realizar o estágio obrigatório o profissional aprende como realizar na

prática o manejo, a administração de medicamentos, fluidoterapia, como agir em

emergências, como lidar com animais idosos, entre outros pontos também não

menos importantes.

Foi importante para o exercício profissional o conhecimento extra de

estratégia de administração de uma clínica, a logística dos medicamentos, a parceria

com diversos fornecedores, marketing e fluxo de caixa.

E não menos importante o aprendizado de como lidar com os responsáveis

pelos animais, como interagir e se comunicar para que o objetivo principal seja o

bem estar de seu paciente.

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