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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ DAVID WILLIAN PEIXOTO PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO CURITIBA 2018

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

DAVID WILLIAN PEIXOTO

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO

BRASILEIRO

CURITIBA

2018

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

DAVID WILLIAN PEIXOTO

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO

BRASILEIRO

Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao

Curso de Direito da Faculdade de Ciências

Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como

requisito parcial para obtenção do título de

Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Jorge de Oliveira Vargas.

CURITIBA

2018

TERMO DE APROVAÇÃO

DAVID WILLIAN PEIXOTO

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO

BRASILEIRO

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso

de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de __________ de 2018.

________________________________________________

Bacharelado em Direito

Faculdade de Ciências Jurídicas Universidade

Tuiuti do Paraná

______________________________________________

Prof. Dr. PhD Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia da

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: _______________________________________________

Prof. Dr. Jorge de Oliveira Vargas

Universidade Tuiuti do Paraná

_____________________________________________________

Professor(a)

Universidade Tuiuti do Paraná

_____________________________________________________

Professor(a)

Universidade Tuiuti do Paraná

RESUMO

O decurso do tempo sempre foi uma matéria de grande interesse no direito,

materializada pelos institutos da decadência e da prescrição. Tendo em vista sua

importância optou-se por tratar do tema Prescrição e Decadência no Direito Tributário,

uma vez que tais institutos protegem o contribuinte dos abusos do Estado,

desmistificando o protecionismo que sempre existiu no direito em favor do Estado, em

relação aos prazos processuais e os rigores da lei. Como problema de pesquisa se

vislumbrou as inúmeras conceituações acerca de tais institutos, por isso se buscou dar

ênfase a sua aplicabilidade, bem como em suas formas e prazos. Para tanto, como

metodologia de pesquisa se escolheu o método indutivo, analisando casos particulares

atinentes ao tema para então se chegar a uma conclusão geral. Ademais, o principal

objetivo do presente estudo de se entender tais modalidades de extinção de créditos

tributários foi alcançado, uma vez que o trabalho de uma forma eficaz conseguiu

demonstrar como a prescrição e a decadência atuam em matéria de Direito Tributário.

Palavras-Chave: Prescrição. Decadência. Direito Tributário. Extinção. Crédito

Tributário.

ABSTRACT

The course of time has always been a matter of great interest in law, materialized by

the institutes of decadence and prescription. In view of its importance, it was decided

to treat the subject Prescription and Decay in Tax Law, since such institutes protect the

taxpayer from abuses of the State, demystifying the protectionism that always existed

in the right in favor of the State, in relation to the procedural deadlines and the rigors

of the law. As a research problem, the many conceptualizations about these institutes

were glimpsed, so it was sought to emphasize its applicability, as well as its forms and

deadlines. To do so, as a research methodology, the inductive method was chosen,

analyzing particular cases related to the topic and then reaching a general conclusion.

In addition, the main objective of the present study to understand such modalities of

extinguishment of tax credits was reached, since the work of an effective way was able

to demonstrate how the prescription and the decadence act in matters of Tax Law.

Keywords: Prescription. Decadence. Tax Law. Extinction. Tax Credit.

O Senhor é a minha força e o meu escudo;

nele o meu coração confia, e dele recebo

ajuda. Meu coração exulta de alegria, e

com o meu cântico lhe darei graças.

Salmos 28:7

Nada seria eu sem o bom Deus, pai e

protetor que até aqui me ajudou, a meu

favor lançou suas graças e na medida em

que permiti deu-me sua mansidão; por tudo

e primeiramente a Deus, dedico esse

trabalho.

Dedico ao Juliano, meu companheiro, o

qual esteve comigo nessa caminhada, foi

meu apoio e por vezes minha segurança.

Às minhas mães (Jane e Luda), por serem

excelência no quesito família, elas

abdicaram de seu tempo em prol do meu

bem-estar, me deram arrimo e minha

educação foi regada de amor.

Ao meu mentor e amigo, Dr. Jorge Vargas,

pois este me estendeu a mão e fez com que

eu crescesse dia a dia, deu-me direção e

apontou além das nuvens onde quer me ver

chegar, palavras não podem transmitir a

minha gratidão.

EBENÉZER

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 8

1.1 A SINGULARIDADE DA HISTÓRIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO, NA

PRESCRIÇÃO E NA DECADÊNCIA ........................................................................ 8

1.2 UM CONVITE À PERCEPÇÃO DO STATUS DA PRESCRIÇÃO E

DECADÊNCIA DO DIREITO TRIBUTÁRIO ........................................................... 9

2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO TRIBUTÁRIO ................. 11

2.1 PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA ....................................................... 11

2.2 PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA ..................................... 11

2.3 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ..................................................................... 12

2.4 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI TRIBUTÁRIA ...................... 12

2.5 PRINCÍPIO DA NOVENTENA...................................................................... 13

2.6 PRINCÍPIO DA IGUALDADE TRIBUTÁRIA ............................................. 13

2.7 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE ....................................................... 14

2.8 PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO ..................................................................... 14

2.9 IMUNIDADES GENÉRICAS E ESPECÍFICAS ............................................ 15

3 RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA - OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA .......... 16

3.1 ELEMENTOS COMPONENTES DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA .......... 16

3.2 CRÉDITO TRIBUTÁRIO ................................................................................... 18

4 LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO ............................................................................ 20

4.1 CONCEITO E LINHAS GERAIS .................................................................... 20

4.2 MODALIDADES DE LANÇAMENTO ......................................................... 21

4.3 LANÇAMENTO DE OFÍCIO (OU DIRETO) ................................................. 21

4.4 LANÇAMENTO POR DECLARAÇÃO (OU MISTO) ...................................... 22

4.5 LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO (OU AUTO LANÇAMENTO) . 22

5 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

....................................................................................................................................... 24

5.1 EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO ....................................................... 24

5.2 O PAGAMENTO ................................................................................................. 24

5.3 A REMISSÃO ...................................................................................................... 25

5.4 A COMPENSAÇÃO ............................................................................................ 26

5.5 A TRANSAÇÃO ................................................................................................. 27

5.6 CONCEITUAÇÃO DO INSTITUTO “DECADÊNCIA” NO DIREITO

TRIBUTÁRIO ............................................................................................................ 28

5.7 CONCEITO DO INSTITUTO “PRESCRIÇÃO” NO DIREITO TRIBUTÁRIO

.................................................................................................................................... 31

5.8 DIFERENÇAS ENTRE OS INSTITUTOS DA DECADÊNCIA E DA

PRESCRIÇÃO ........................................................................................................... 33

6 LEI COMPLEMENTAR 118/2005 ......................................................................... 35

7 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO NO LANÇAMENTO POR

HOMOLOGAÇÃO ..................................................................................................... 36

7.1 ESPECIFICIDADES DA DECADÊNCIA DO DIREITO DA FAZENDA

PÚBLICA NOS TRIBUTOS SUJEITOS AO “LANÇAMENTO POR

HOMOLOGAÇÃO” .................................................................................................. 36

7.2 A PRESCRIÇÃO DO DIREITO DA FAZENDA PÚBLICA NOS

LANÇAMENTOS POR HOMOLOGAÇÃO ............................................................ 39

8 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 45

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 48

8

1. INTRODUÇÃO

Dormientibus non succurrit jus.

1.1 A SINGULARIDADE DA HISTÓRIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO, NA

PRESCRIÇÃO E NA DECADÊNCIA

O Direito Tributário, assim como os demais ramos da ciência jurídica

formou-se lentamente. Com o advento da comunidade humana, o indivíduo, sentiu a

necessidade de um fundo financeiro, fruto da colaboração dos membros do corpo

social, a fim de poder fazer as necessidades da comunidade. Assim, começaram a

aparecer as primeiras contribuições compulsórias, que a época possuiu distintos

nomes e formas das concebidas para os dias hodiernos. Até porque as instituições

eram outras, assim como as autoridades e os processos da época.

No que toca ao conceito de perpetuidade, nota-se que era regra característica

do direito romano primitivo. No entanto, quando a segurança nas relações jurídicas

passou a ser exigência, houve a necessidade de se delimitar um tempo para a

propositura das ações.

A legislação italiana por sua vez, recepcionou a prescrição como causa

extintiva, mas com uma forma de operação diferenciada das demais, pois para que

atingisse seus efeitos seria necessário a alegação do devedor.

Considerando estas premissas, o direito brasileiro assumiu a posição do

direito romano que considera a prescrição como causa para extinção da pretensão, ou

seja, pela inércia, por um período de tempo do credor na cobrança do crédito. Ocorre

pela perda da prerrogativa de se exigir judicialmente o direito, embora não impeça

que o devedor satisfaça essa dívida.

O direito positivo não socorre a quem permanece inerte por um longo lapso

temporal, pois decorrido muito tempo, o direito pode não mais existir por

ter sido satisfeito pelo devedor, por exemplo, tendo em vista que papéis se

perdem ou destroem-se com o passar do tempo. Portanto, decorrido certo

prazo, as reações jurídicas devem estabilizar-se para que haja certeza e

segurança jurídica nas relações (AMARO, 2003, p. 69).

9

Nesse sentido, a prescrição tem grande relevância, pois sua principal

finalidade é a impressão de certeza que o decurso de tempo dá as relações jurídicas

segurança de que deverão ser extintas pelo lustro temporal. A busca da estabilidade é

fator principal para justificar a prescrição, e seria impossível suportar uma perpétua

situação de incerteza ou insegurança. De acordo com Rizzardo (2005, p. 87):

Decorrido um tempo, é importante que se prepondere a situação de fato

sobre a situação de direito. Se perpétuo ou reservado indefinidamente o

direito de reclamar, desapareceria a estabilidade de toda espécie de

relações, o direito ficaria enfraquecido e o devedor se veria em constante

ameaça de cobrança de uma dívida (RIZZARDO, 2005).

Nesta reflexão, a prescrição atende a satisfação de superior e geral interesse a

certeza e a segurança no meio social e, assim, se coloca entre os institutos de ordem

pública. Para ocorrência da prescrição dois são os requisitos. O primeiro no que

tange à inação do titular do direito, e, em segundo o transcurso de tempo.

Embora a prescrição se inspire na noção de segurança e estabilidade nas

relações sociais, ela também se justifica na ideia de que, se o titular do direito deixa

de exercer a ação, revelando desse modo seu desinteresse, não merece proteção do

ordenamento jurídico. Desse modo é imprescindível a atitude inerte do autor para a

consumação da prescrição.

Em uma ponderação concreta, é necessário compreender o status da

prescrição e decadência do Direito Tributário nacional, para tanto o trabalho irá

apresentar este cenário.

1.2 UM CONVITE À PERCEPÇÃO DO STATUS DA PRESCRIÇÃO E

DECADÊNCIA DO DIREITO TRIBUTÁRIO

É de modo genuíno que se pode perceber nos múltiplos da reflexão do Direito,

um encontro: o de dois institutos que estão intensamente relacionados à segurança

jurídica e à garantia da ordem da comunidade. Estes institutos geram efeitos extintivos,

seja sobre direitos particulares ou do corpo social, seja sobre sua pretensão. É deste

10

modo, que a reflexão acerca da decadência e da prescrição, se emerge como uma

condição necessária à compreensão dos referidos institutos.

Esta pesquisa possui a finalidade de refletir de modo fidedigno os conceitos de

prescrição e decadência e leva-los à apreciação fundamentada sobre o Direito

tributário nacional. Considerando assim, que estão sendo aplicadas na resolução de

situações concretas.

Uma premissa que merece ser considerada é a de que os atos jurídicos se

sujeitam a tempo certo, pois, se não praticados, precedem. Os direitos, se não

exercidos nos prazos estipulados pela lei através de seus titulares, caducam ou decaem.

Isto também ocorre no Direito Tributário, na medida em que se estabelece uma

limitação temporal para o fisco para que execute e/ou homologue em tempo razoável o

seu poder-dever de tributar.

A obrigação e o decorrente crédito tributário se formam com a ocorrência do

fato gerador. Ocorre que, a grande maioria dos tributos devem ser pagos sem uma real

necessidade de verificação do fato gerador pelo Fisco. É o conhecido lançamento por

homologação.

A partir desse ínterim o trabalho irá examinar e conjecturar a possibilidade de

ocorrência dos institutos da decadência e da prescrição nos tributos sujeitos a

lançamentos por homologação. Esta reflexão se estenderá a pontuar a relação jurídica

tributária, penetrando nos conceitos de obrigação tributária e crédito tributário.

Deste modo, será analisado o lançamento tributário, sua conceituação e as suas

respectivas modalidades e apresentado as especificidades do lançamento por

homologação. Uma vez reconhecidas, a prescrição e a decadência, geram a

estabilidade do direito, a isso o trabalho fará uma apreciação destes dois institutos,

com o objetivo de compreender e diferenciar as suas respectivas aplicações no Direito

Tributário.

11

2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO TRIBUTÁRIO

2.1 PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

A segurança jurídica é, por excelência, um sobre princípio, ou seja, um

conjunto de princípios que operam para realizar um entrelaçamento de

outros princípios, tais como legalidade, anterioridade, universalidade da

jurisdição, irretroatividade, entre outros. Não haverá respeito ao sobre

princípio da segurança jurídica sempre que as diretrizes que o realizem

venham a ser concretamente desrespeitadas, e tais situações infringentes se

perpetuem no tempo, consolidando-se. Seria, portanto, um conjunto de

vários princípios que operam para realizar, além dos respectivos conteúdos

axiológicos, princípios de maior hierarquia (CARVALHO, 2007, p. 128).

Em matéria tributária, é nítida a configuração da segurança jurídica em face da

fixação de inúmeros princípios constitucionais, como: irretroatividade tributária (art.

150, III, a, CF), anterioridade tributária (art. 150, III, b, CF), capacidade contributiva,

vedação ao confisco (art. 150, IV, CF), legalidade (art. 150, I, CF).

2.2 PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

O princípio da capacidade contributiva, igualmente denominado princípio da

capacidade econômica, é um desmembramento do princípio da igualdade no Direito

Tributário, representando a materialização do mesmo em prol de uma justiça social.

Tal princípio pode ser compreendido em sentido objetivo (presença de uma

riqueza passível de ser tributada) e em sentido subjetivo (determina qual parcela da

riqueza pode ser tributada em virtude das condições individuais), portanto, o Estado é

obrigado a cobrar o tributo não em razão da renda potencial das pessoas, mas sim da

que a mesma efetivamente dispõe.

O intuito do princípio da capacidade contributiva na ordem jurídica tributária é

a busca de uma sociedade mais justa onde a maior tributação recaia sobre aqueles que

possuam maior riqueza.

12

2.3 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Tomando como referência o conceito de legalidade para o direito, pode-se

dizer que no direito tributário, ninguém será obrigado a cumprir um dever instrumental

tributário que não tenha sido criado por meio de lei, pela pessoa política competente.

Ou seja, por meio de ato do legislativo, cria-se a lei (reserva formal), e tal lei descreve

o tipo tributário (reserva material), que há de ser um conceito fechado, seguro, exato,

rígido e reforçador da segurança jurídica.

Observando os elementos que permitem a identificação do fato imponível

(hipótese de incidência, sujeito ativo e passivo), fica vedado o emprego de analogia

(pelo judiciário), e da discricionariedade (pela administração pública) (CARRAZA,

2005).

Sendo assim, pode-se dizer que a legalidade para o direito tributário, é a

exigência de lei para criar ou majorar tributos, sendo ainda que a lei deve trazer o tipo

tributário, a este a doutrina chama de legalidade estrita.

2.4 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI TRIBUTÁRIA

Está associado ao princípio da "não-surpresa tributária", evitando que os

contribuintes sejam surpreendidos com as novas cobranças, sem terem tido tempo

suficiente para melhor conhecer a nova legislação, e, em função dela, poderem

programar-se, pois também o contribuinte, empresário ou não, necessita de

planejamento para dar continuidade a suas atividades, empreendimentos, assim como

para controle do orçamento familiar.

Como bem explana Hugo de Brito (2015, p. 105):

A lei fiscal há de ser anterior ao exercício financeiro em que o Estado

arrecada o tributo. Com isto se possibilita o planejamento anual das

atividades econômicas, sem o inconveniente da insegurança, pela incerteza

quanto ao ônus tributário a ser considerado.

13

2.5 PRINCÍPIO DA NOVENTENA

O princípio da noventena também é conhecido como princípio da

anterioridade mitigada ou anterioridade nonagesimal. Ele é fruto da atividade do

Constituinte Derivado, tendo sido incluído na Constituição Federal por meio da

Emenda Constitucional n.º 42/2003.

A garantia que ele traduz se agrega à garantia do princípio da anterioridade,

uma vez que eles são conjuntamente aplicáveis.

A instituição do princípio da noventena teve como objetivo driblar manobras

tendentes à publicação de leis majoradoras de tributos no findar do ano, cuja eficácia

já pudesse ser exigida no início do ano seguinte. Sem o princípio da noventena,

poderia o legislador publicar uma lei fixando o aumento de determinado tributo em 31

de dezembro, que ela surtiria efeitos já em 1º de janeiro, de maneira, na verdade, a

driblar o princípio da anterioridade, e, consequentemente, ferir a segurança jurídica

dos contribuintes.

Graças ao princípio da noventena, a lei que institui ou majora tributo não pode

surtir efeitos antes de decorridos 90 dias da sua publicação, observando conjuntamente

o princípio da anterioridade. Assim, caso haja publicação de uma lei que majora

determinado tributo em novembro, por exemplo, ela surtirá efeitos apenas em meados

de fevereiro.

2.6 PRINCÍPIO DA IGUALDADE TRIBUTÁRIA

O princípio da igualdade tributária, ou isonomia tributária, está inscrito no art.

150, II, CF/88, e objetiva a impossibilidade de haver discriminações negativas e

arbitrárias na tributação. O Princípio da Igualdade também é um sobre princípio da

Constituição, sendo a isonomia, sua equivalente tributária.

A igualdade deve ser encarada de duas maneiras: a) todos são iguais perante a

lei (vedação à discriminação negativa ou discriminação material); e b) deve-se tratar os

iguais igualmente, e os desiguais, desigualmente, na medida de sua desigualdade.

14

A Isonomia é fundamental ao fenômeno da tributação, seja para instituir suas

isenções e conferir imunidades, seja para evitar o tratamento desigual, arbitrário e

injusto.

2.7 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE

Com previsão normativa no art. 150, III, a, da CF/88, esta norma estabelece

que a lei tributária deve, em regra geral, ser prospectiva, isto é, deve a norma apenas

incidir sobre eventos posteriores à sua publicação.

A Irretroatividade pode ser entendida como subprincípio do Princípio da

Segurança Jurídica, ou ainda, como princípio próprio tributário derivado do sobre

princípio da Segurança Jurídica: a irretroatividade assegura aos contribuintes de que

novas normas não sejam aplicadas a situações passadas (fatos geradores), em se

tratando de tributos.

Objetiva-se com esse princípio a segurança de que não haverá incidência de

tributos ou de outras obrigações tributárias sobre fatos passados, ou ainda, que novas

regras não se apliquem a fatos já contornados por outras regras – o efeito da segurança

jurídica é a não quebra da expectativa gerada pela legislação atual.

2.8 PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO

É também conhecido como Princípio da Razoabilidade da Tributação, ou

ainda, da Vedação ao Tributo de Efeito Confiscatório e está presente no art. 150, IV,

CRFB/88. O conteúdo do princípio se encarrega de frear tributos cuja carga acarreta a

perda do patrimônio e da renda.

A vedação ao confisco detém duas facetas fundamentais: a) de um lado, o

princípio exige a razoabilidade do legislador e do ente fiscal no estabelecimento dos

valores devidos pelos tributos, o mesmo valendo para as multas – conforme decisão do

STF (RE 582.461), ou seja, o encargo tributário, em sua totalidade, não pode ter o

condão de inviabilizar a renda e/ou patrimônio, implicando o empobrecimento

absoluto; b) de outro lado, a vedação ao confisco e à irrazoabilidade tributária, serve

15

como ferramenta aos contribuintes para que o Estado não se valha da condição de

tributante para a aplicação de sanções sociais, políticas ou econômicas.

2.9 IMUNIDADES GENÉRICAS E ESPECÍFICAS

A imunidade é a impossibilidade de o ente federativo tributar sobre

determinada materialidade. É a retirada da competência de instituir determinado

tributo em determinado caso. Logo, a imunidade tributária corresponde a uma

incompetência tributária que tão somente o texto constitucional pode estabelecer.

Desta feita, cumpre salientar que se proibição/impossibilidade de tributar

advier de lei, não será imunidade, mas sim: isenção. Esta pode ser revogada a qualquer

momento. Faz-se importante a distinção, pois tanto a CF/88 quanto as leis pecam na

técnica quanto à nomenclatura utilizada para tratar da impossibilidade de tributar.

Há de se ter em mente que independentemente do termo utilizado: a) se está na

constituição, será imunidade; b) se está na lei, será isenção, ou qualquer outro

benefício ao contribuinte.

As imunidades gerais são aquelas que incidem sobre impostos de modo geral

(art. 150, VI, a, b, c, d, e), enquanto as específicas são aqueles incidentes sobre um

determinado imposto, como o disposto no art. 153, § 3º, III da CF/88, cuja incidência

se limita ao IPI sobre produtos industrializados destinados à exportação.

16

3 RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA - OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

3.1 ELEMENTOS COMPONENTES DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

A obrigação tributária é a relação jurídica pela qual o Estado tem o direito de

exigir do contribuinte uma prestação ou um tributo, constituindo a fonte principal da

obrigação tributária. Assim, não existe tributo que não seja criado e exigido em função

da lei, em outras palavras, é por intermédio da lei que os tributos nascem, pois

compete a ela descrever os fatos de conteúdo econômico capazes de gerar a obrigação

tributária.

De acordo com o artigo 96 do Código Tributário Nacional, a legislação

tributária compreende a Constituição, as leis, os tratados e as convenções

internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em

parte, sobre os tributos, e as relações jurídicas a elas referentes.

O fato gerador é o evento descrito pela lei que, ao ser praticado por alguém, dá

origem à obrigação de pagar determinado tributo.

Nos exemplos a seguir que mostram fatos geradores de alguns impostos, essa

reflexão ficará mais evidente:

a) Imposto sobre exportação: tem como fato gerador à saída de produtos

nacionais ou nacionalizado do território nacional.

b) Imposto sobre importação: tem como fato gerador à entrada de produtos

estrangeiros no território nacional.

c) Imposto sobre a propriedade predial: tem como fato gerador à propriedade,

o domínio útil ou a posse de bem imóvel, localizado na zona urbana do município.

d) O sujeito ativo da obrigação tributária é a pessoa jurídica de direito público

titular da competência para exigir o seu cumprimento.

São pessoas jurídicas de direito público: a União, os Estados, o Distrito

Federal e os municípios. Somente essas pessoas, portanto, podem ser sujeitos ativo da

obrigação tributária.

O sujeito passivo da obrigação é a pessoa que tem o dever de pagar o tributo

ou a penalidade pecuniária. Em regra, o sujeito passivo da obrigação tributária é o

17

contribuinte, isto é, o sujeito que tenha relação pessoal e direta com a situação que

constitua o respectivo fato gerador do tributo. Contribuinte é, portanto, a pessoa que

pratica o fato gerador, estando ligada, de modo concreto, ao fato tributado. Portanto, a

qualidade de contribuinte é uma decorrência da realização do fato gerador; em outras

palavras, a pessoa que realiza o fato previsto na lei como tributável adquire o status de

contribuinte.

Pode-se definir a obrigação tributária da seguinte forma:

Artigo 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.

§ 1º. A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por

objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se

juntamente com o crédito dela decorrente.

§ 2ª. A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto

as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da

arrecadação ou da fiscalização dos tributos.

§ 3º. A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância,

converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.

Percebe-se, a partir do disposto no artigo 113, do CTN, que a obrigação

tributária principal está vinculada à ocorrência do fato gerador e a acessória não tem

conteúdo pecuniário, mas se traduz em prestações positivas ou negativas (obrigação de

fazer ou não fazer), no interesse da fiscalização ou arrecadação de tributos.

A fiança que as obrigações acessórias (ou formais ou instrumentais) objetivam

dar meios à fiscalização tributária para que esta investigue e controle o recolhimento

dos tributos (obrigação principal), a fim de atender aos fins sociais. Amaro (2005, pag.

249).

A obrigação tributária é formada pelos seguintes elementos: lei, (estruturada

pela hipótese, o mandamento e a sanção), disposto no art. 97 do CTN; o fato gerador

previsto no art. 114 a 118 do CTN; sujeito ativo disciplinado no art. 119 e 120 do CTN

e sujeito passivo a zelo art. 121 ao 123 do CTN.

A seguir, serão analisados os elementos constitutivos da obrigação tributária,

ou seja, os elementos constitutivos são a lei, o fato, os sujeitos e a prestação ou objeto.

A prestação desdobra-se em prestação de dar (obrigação principal) e em prestação de

fazer ou não fazer alguma coisa (obrigação acessória).

18

A obrigação tributária principal emana da lei. Harada (2010, p. 477) observa

que:

É a lei que elege certos fatos econômicos, aptos a suportar a imposição

fiscal, como veículo de incidência tributária. Determinados fatos são

abstratamente descritos na lei, tornando-se assim, juridicizados, isto é, aptos

a gerar efeitos assim que concretizados no mundo fenomênico.

Na mesma acepção, observa que o nascimento da obrigação tributária se

condiciona à ocorrência de um fato jurídico (fato gerador) previsto em lei tributária.

Por isto, sua instauração independe da vontade dos sujeitos da relação jurídica,

derivando de um dever imposto por lei. Daí o seu caráter compulsório Jardim (2007, p.

253).

Por conseguinte, é com a existência da hipótese de incidência, prevista em lei

anterior à ocorrência do fato gerador, que se supre a necessidade constitucional da

estrita legalidade tributária. Por este princípio norteador, somente persiste e existe

relação jurídica tributária se previamente definida em lei.

Uma vez que a situação jurídica tributária está descrita em lei, faz-se

necessário observar o fato gerador. O artigo 114 do CTN assevera que o fato gerador é

a condição necessária e suficiente para o surgimento da obrigação tributária. Este

surge imediatamente em decorrência daquela. Corrobora com tal afirmativa o § 1º do

artigo 113 do CTN, ao dispor que, a obrigação tributária principal surge com a

ocorrência do fato gerador.

De tal modo, tratando-se de situação de fato, surge a obrigação tributária tão

logo ocorram as circunstâncias materiais (provas) necessárias, importando apenas os

elementos concretos. No tocante às situações jurídicas, o legislador tributário

determina que o fato gerador considerar-se-á ocorrido tão logo tais situações estejam

definitivamente constituídas de acordo com as normas previstas no Direito Privado

(artigos 116 e 117, do CTN).

3.2 CRÉDITO TRIBUTÁRIO

A definição jurídica de crédito tributário está ao encargo dos artigos 140, 141

e 113, CTN, que nos informa que: crédito tributário é o vínculo jurídico, oriundo do

19

lançamento tributário, de natureza obrigacional, por força do qual o Estado (sujeito

ativo) pode exigir do particular, contribuinte ou responsável (sujeito passivo), o

pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (objeto da relação jurídica),

tornando o tributo exigível por sua liquidez e certeza. (MACHADO, 2009).

O crédito tributário é a constituição, ou a materialização do tributo, e, por tal

razão, deve ser distinguido da obrigação tributária.

A obrigação tributária surge a partir da concretização do fato gerador, isto é,

realizado o ato que implica um tributo, nasce a obrigação tributária. A obrigação

tributária, pode-se afirmar, imprime a dimensão não-material do direito existente de

constituir o tributo, isto é, a obrigação não é o crédito em si, mas sim o direito de se

constituir o crédito em face do fato gerador. O crédito tributário, por sua vez, é a

materialização do tributo, realizado através do lançamento, que dá valor ao tributo a

ser cobrado (e às eventuais multas cabíveis), tornando o crédito líquido e certo (com

valor determinado e passível de ser cobrado).

A atribuição de constituir o crédito tributário é da autoridade administrativa

competente, conforme prescreve o artigo 142 do CTN:

Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito

tributário pelo lançamento, assim, entendido o procedimento administrativo

tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação

correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do

tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a

aplicação da penalidade cabível.

Parágrafo único: A atividade administrativa de lançamento é vinculada e

obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.

Deste modo, o crédito tributário nada mais é do que a própria obrigação

tributária principal formalizada pelo lançamento, ou seja, tornada líquida e certa pelo

lançamento.

20

4 LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO

4.1 CONCEITO E LINHAS GERAIS

Um dos principais temas do Direito Tributário diz respeito ao lançamento do

tributo. É por meio desse que se determina como será a cobrança e a fiscalização da

obrigação principal. É importante lembrar que o crédito tributário sempre irá decorrer

do lançamento de um tributo criado por lei, em seu sentido estrito, conforme o

princípio da legalidade.

O crédito decorre da obrigação, ambos possuem a mesma natureza (art. 139

CTN). A lei descreve as hipóteses em que o tributo é devido, que são chamadas

“hipóteses de incidência”. A ocorrência do Fato Gerador concretiza a hipótese de

incidência, surgindo, então, a obrigação tributária. A obrigação tributária é o que

vincula o contribuinte à força pela qual o sujeita a ter contra si, um lançamento

tributário.

A constituição do crédito tributário é de competência privativa da autoridade

administrativa, somente ela pode fazer o lançamento, ainda que este seja apenas por

homologação, como nos casos previstos no art. 150 do CTN. Sem a homologação do

crédito, o lançamento não terá validade jurídica e, portanto, não terá constituído o

crédito tributário.

O art. 142 do CTN define a constituição do crédito tributário pelo lançamento,

decorrente de procedimento administrativo, tendente a verificar a ocorrência do fato

gerador (elemento obrigatório para a constituição do crédito). Determinar a matéria

que é tributável, calcular o valor devido, identificar o sujeito passivo e, se for o caso,

aplicar a sanção cabível. Esse procedimento é atividade administrativa vinculada e

obrigatória.

O ato administrativo é conceituado como toda manifestação unilateral de

vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim

imediato, adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou,

impor obrigações aos administrados ou a si própria. Aí se encontra a gênese do

lançamento tributário.

21

Dito isto, percebe-se que o lançamento é um ato administrativo que tem por

finalidade apurar o an debeatur e o quantum debeatur, ou seja, se é devido e quando é

devido. Dessa forma, o lançamento não passa de ato de formalização do crédito

tributário, de determinação de seu quantum e dos sujeitos que vão integrar seus polos

(passivo e ativo), assim, o crédito que surge com a obrigação tributária quando ocorre

o fato gerador.

4.2 MODALIDADES DE LANÇAMENTO

O Código Tributário Nacional (artigos 147 a 150, CTN), pauta a existência de

três modalidades de lançamento:

a) Lançamento direto, de ofício ou ainda ex officio.

b) Lançamento por declaração ou misto; e

c) Lançamento por homologação ou auto lançamento.

4.3 LANÇAMENTO DE OFÍCIO (OU DIRETO)

O lançamento de ofício é aquele que independe da conduta do contribuinte

para a constituição do crédito tributário; ocorre de forma ordinária, nos casos onde a

lei o determina (art. 149, I do CTN), portanto, se aplica aos tributos cuja legislação não

obriga o contribuinte a declarar, ou a pagar antecipadamente. Pode-se citar como

exemplo, o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), que são

lançados de ofício. A Secretaria das Fazendas Estaduais mantém um cadastro dos

proprietários de veículos e faz os lançamentos anualmente, de acordo com esse banco

de dados.

Importante observar que o lançamento de ofício também pode ocorrer em

relação a qualquer tributo, que deveria ser objeto de lançamento por declaração ou

obrigação, quando o contribuinte obrigado a declarar se omita de prestar a obrigação.

Portanto, todos os tributos que têm sua cobrança originada na lavratura de auto de

infração, estão dentro da modalidade de lançamento de ofício.

Nesse sentido discorre Leandro Paulsen (2017):

22

Lançamento de ofício, por sua vez, é aquele realizado direta e

exclusivamente pelo Fisco quando a lei assim o determine ou quando o

tributo seja submetido por lei a uma das modalidades de lançamento

(mediante declaração ou homologação), mas o contribuinte não tenha

realizado atos que lhe cabiam, ou seja, não tenha prestado as informações ou

apurado e pago o tributo devido. Neste caso, o lançamento de ofício terá

caráter supletivo, será a única forma de o Fisco obter a formalização do seu

crédito tributário.

4.4 LANÇAMENTO POR DECLARAÇÃO (OU MISTO)

O lançamento por declaração ocorre quando a legislação tributária impõe ao

sujeito passivo da obrigação correspondente a declaração, ou seja, o sujeito passivo, ou

um terceiro, oferece à autoridade as informações necessárias apara o lançamento do

crédito tributário (art. 147 do CTN).

No parágrafo primeiro, do art. 147 do CTN, aparece uma importante

observação, que trata da RETIFICAÇÃO, ou seja, da correção das informações

contidas na declaração original, que só será admissível mediante a comprovação do

erro que se funde, e desde que antes de notificado o lançamento.

O lançamento por declaração também é conhecido como lançamento misto,

por conter atos tanto do sujeito ativo, como do sujeito passivo. Certamente é o

lançamento menos utilizado, pois envolve três etapas: declaração à autoridade,

lançamento pela autoridade e notificação do contribuinte. Ele é utilizado em tributos

de transmissão, como o ITCMD e ITBI.

Nesse sentido discorre Leandro Paulsen (2017):

No lançamento por declaração, o contribuinte fornece ao Fisco ele mentos

para que apure o crédito tributário e o notifique para pagar o tributo devido.

Note- se que não se cuida de declaração em que o contribuinte reconheça o

débito, pois, se fosse o caso, dispensaria lançamento pelo Fisco. A

declaração diz respeito a fatos necessários à apuração, pelo Fisco, do crédito

tributário. O contribuinte, nesses casos, cumpre seu dever de informar, mas

espera a notificação quanto ao montante a ser pago.

4.5 LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO (OU AUTO LANÇAMENTO)

O lançamento por homologação ocorre nos tributos cuja legislação determina

ao sujeito passivo o dever de realizar a apuração do valor a recolher e realizar o

pagamento, antes mesmo de manifestação da autoridade administrativa. A autoridade

23

administrativa tem conhecimento da atividade exercida pelo sujeito passivo da

obrigação e a homologa. Importante observar que o objeto do lançamento por

homologação não é o pagamento, mas sim, a apuração do montante devido, até mesmo

porque é possível ser realizada a homologação, mesmo que não tenha ocorrido o

pagamento.

O art. 150 do CTN determina que o pagamento ocasione a extinção do crédito

tributário. Em seu parágrafo 1°, determina que a o pagamento antecipado pelo

obrigado (condição exclusiva do lançamento por homologação) extingue o crédito sob

condição da posterior homologação ao lançamento. Além disso, em seu parágrafo 4°,

estipula o prazo máximo de cinco anos para a homologação, contado a partir do fato

gerador. Ou seja, se a autoridade administrativa não se manifestar dentro desse prazo,

o crédito considera-se homologado, estando pago ou não.

Portanto, o CTN prevê que, os tributos sujeitos ao lançamento por

homologação, devem ser pagos independente de atividade da autoridade

administrativa. Este pagamento fica pendente para análise e homologação do sujeito

ativo, que tem o prazo de cinco anos para conferir a apuração e homologar o

lançamento. Enquanto isso, o crédito não se considera extinto.

Caso a autoridade julgue incorreta a apuração, poderá intimar o contribuinte a

fazer o recolhimento, com multa e encargos pelo inadimplemento. E ainda, se a

autoridade não se manifeste dentro do prazo, o crédito será considerado extingo,

mesmo que não tenha sido pago.

No entendimento de Luciano Amaro (2004):

Os atos a que se refere o dispositivo são, obviamente, atos de pagamento (ou

equivalentes, como a compensação), que só podem mesmo ser praticados

antes da homologação, dado que o objeto da homologação necessariamente

precede o ato de homologação. O Código Tributário Nacional pretendeu

aqui contrapor a ideia de “crédito” à de “obrigação tributária” (traindo-se

mais uma vez ao falar de “crédito antes do lançamento); por isso, diz que os

atos que visem a extinção do crédito não afetam a obrigação. Ora, quando o

devedor recolhe tributo sujeito a homologação, a extinção do crédito é

sujeita a condição; portanto, nada mais natural do que a obrigação também

ficar com sua extinção sujeita àquela condição; homologado o pagamento, a

extinção do crédito e da obrigação torna-se pura e simples. Aliás, o próprio

Código, no art. 113, § 1º, in fine, proclama que a obrigação se extingue

juntamente com o crédito.

24

5 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

5.1 EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

O Código Tributário Nacional – CTN, dispõe no artigo 156, as modalidades de

extinção do crédito tributário1.

Nesse tópico, será analisado, em especial, a forma de extinção do crédito pelo

pagamento, pela compensação, transação, remissão. No capítulo seguinte falaremos

sobre a prescrição e a decadência. Tais institutos no âmbito tributário estão associados

ao comportamento da autoridade tributante (administrativa) de lançar o crédito

tributário tempestivamente (artigo 173 do CTN) ou mesmo de executá-lo

judicialmente (artigo 174 do CTN). Decadência e prescrição, segundo Santi (2008,

pag. 141):

São mecanismos de estabilização do direito, que garantem a segurança de

sua estrutura. Filtram do direito a instabilidade decorrente da inefabilidade

do direito subjetivo, i.e., do direito subjetivo ainda não formalizado, ou

reconhecido, por ente estatal.

Harada (2010, p. 511), compreende que:

Se existe um interesse público em proteger o direito do sujeito ativo,

decorrido determinado prazo, sem que o mesmo exercite esse direito, passa a

ser de interesse público que o sujeito passivo daquele direito não venha mais

a ser perturbado pelo credor a fim de preservar a estabilidade das relações

jurídicas.

5.2 O PAGAMENTO

É a forma direta de extinção da obrigação tributária e do crédito tributário, é o

cumprimento da prestação que corresponde ao seu objeto, e, consistindo a obrigação

1Art. 156. Extinguem o crédito tributário: I - O pagamento; II - A compensação; III - A transação; IV -

Remissão; V - A prescrição e a decadência; VI - A conversão de depósito em renda; VII - O

pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§

1.º e 4.º; VIII - A consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2.º do artigo 164; IX - A

decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não

mais possa ser objeto de ação anulatória; X - A decisão judicial passada em julgado. XI - A dação em

pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.

25

tributária principal em uma obrigação de dar, o seu meio normal de extinção é o

pagamento.

Em outras palavras, consiste na satisfação da prestação que o sujeito passivo

da relação jurídica tributária, ou alguém por ele (responsável ou substituto) faz ao

credor, da importância pecuniária relativa ao débito tributário.

A palavra pagamento é empregada pelo CTN, no art. 156, I, em seu sentido

restrito específico da prestação tributária principal. Como já mencionado, o que se

atinge com o pagamento é o objeto da relação jurídica obrigacional, ocorrendo a

satisfação integral da prestação e a satisfação voluntária do crédito ou do conteúdo da

obrigação pretendida.

Harada (2016, p. 690), entende que:

O pagamento é a modalidade mais corriqueira de extinção da obrigação,

consistente no ato do devedor que entrega uma soma de dinheiro

correspondente ao crédito tributário. Todavia, não se confunde o pagamento

com a mera entrega do dinheiro. É necessário que aquela entrega tenha sido

feita como escopo de extinguir o crédito tributário, isto é, pressupõe

convergência de vontades entre os sujeitos da relação tributária. E mais

ainda, é preciso que, em matéria tributária, o pagamento obedeça às

prescrições estabelecidas na legislação tributária.

5.3 A REMISSÃO

Inicialmente, é importante diferenciar remissão de remição. A primeira

significa perdão e a segunda significa pagamento. A remissão tanto como a moratória

são medidas de política fiscal (moratória é o adiamento da obrigação tributária).

Segundo o art. 172, do CTN, a lei pode autorizar a autoridade administrativa a

conceder por despacho fundamentado, remissão total ou parcial do crédito tributário,

atendendo à situação, econômica do sujeito passivo, ao erro ou ignorância escusáveis

do sujeito passivo em matéria de fato, à diminuta importância desse crédito, a razões

de equidade e em virtude de condições peculiares a determinada região.

O art. 150, § 6º, da CF/88 reza que qualquer subsídio ou isenção, redução de

base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativo a

impostos, taxas ou contribuições, só pode ser concedido mediante lei específica,

federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente a matéria ou o

correspondente tributo ou contribuição (ICMS, só por LC art. 155, § 2º, XII, g.).

26

Essa regra apenas reforçou a observância do Princípio da Legalidade Estrita

para a concessão de remissão, já previsto no art. 172 do CTN. Na realidade a lei não

concede remissão, apenas autoriza sua efetivação por ato fundamentado da autoridade

fiscal, que deve verificar se os pressupostos legais estão presentes.

A remissão e a anistia são institutos diversos porque: a-) a remissão causa de

extinção do crédito tributário, enquanto a anistia é causa de exclusão do crédito

tributário, a remissão pressupõe a existência de lançamento, e a anistia é concedida

antes da constituição do crédito tributário; a remissão compreende tanto a obrigação

tributária principal quanto a obrigação tributária acessória, mas a anistia só se refere à

infração da legislação tributária (obrigação acessória), subsistindo o débito quanto ao

valor do tributo; a remissão ocorre quando a penalidade já foi aplicada, enquanto que

na anistia o fisco ainda não tem ciência da infração.

O parágrafo único do art. 172 do CTN, ainda, que o despacho proferido, pela

autoridade administrativa, concedendo remissão total ou parcial do crédito tributário,

não gera direito adquirido a favor do beneficiado. Assim, a medida poderá ser

reconsiderada a qualquer momento, quando o beneficiado não satisfazia ou deixou de

satisfazer as condições determinantes de sua concessão, aplicando-se ao disposto no

art. 155 do CTN. Neste caso, o crédito tributário deve ser exigido com as penalidades

cabíveis e juros de mora, com os valores devidamente atualizados.

A remissão em caráter geral, tal qual a compensação, é aquela em que a norma

que a institui produz efeitos independentemente de qualquer atuação da autoridade

administrativa tributária. A norma atinge todos os sujeitos passivos que se adéquam à

hipótese, sem que o sujeito passivo precise adotar qualquer conduta para valer-se do

instituto. Seus efeitos são, portanto, gerais.

5.4 A COMPENSAÇÃO

A compensação corresponde ao encontro de contas do Fisco e do contribuinte,

sempre que forem credor e devedor um do outro. Existem duas grandes modalidades

de compensação em matéria civil: a legal e a consensual. Em matéria tributária,

entretanto, somente é admitida a compensação legal. Para que a compensação ocorra, é

necessária a presença de três requisitos:

27

1. As partes devem ser as mesmas (mesma Fazenda Pública, federal, estadual

ou municipal, e mesmo contribuinte). O contribuinte não pode utilizar um crédito

federal, por exemplo, para compensar um crédito estadual.

2. Os créditos já devem estar liquidados, ou seja, é necessário que se saiba

exatamente quanto há de ser pago.

3. A existência de uma lei autorizando a medida: cada pessoa política deve

legislar a respeito. A União obedece à Lei n. 8.383/91; o seu art. 66 permite a

compensação de tributos federais, indevidos ou recolhidos a maior, com outros da

mesma espécie.

A Fazenda Pública entende que tributo da mesma espécie significa o mesmo

tributo, um exemplo é que o IR somente poderá ser compensado por IR. A doutrina,

entretanto, entende que tributo pode ser compensado por tributo, taxa por taxa e

contribuição de melhoria por contribuição de melhoria. A jurisprudência tem decidido

em favor da doutrina.

Os Requisitos essenciais da compensação tributária são: a autorização legal, as

obrigações recíprocas e específicas entre o Fisco e o contribuinte e dívidas líquidas e

certas.

Em relação à espécie de extinção do crédito em comento, vale acrescentar que

no Estado do Paraná diz ser inaplicável a compensação por ausência de lei que o

autorize. Todavia, a Lei Complementar 107/2005 que trata do Código de Defesa do

Contribuinte no seu art. 23, desse mesmo Estado, tem expresso o texto legal fazendo

menção à tal autorização. Tendo, portanto, o Fisco Estadual se omitindo e fazendo

“vistas grossas” para o mencionado artigo.

5.5 A TRANSAÇÃO

A transação consiste no instrumento por meio do qual a Administração

Pública, mediante disposições contidas em lei específica, promove concessões

referentes à obrigação tributária, de tal sorte que o sujeito passivo da relação jurídico-

tributária também ceda no tocante aos seus direitos e às suas pretensões. Deste modo,

logrando o término do litígio proposto em face do sujeito ativo e a extinção regular da

28

obrigação tributária em condições diversas daquelas decorrentes do lançamento

tributário, o qual, como é cediço, ocorre mediante atividade administrativa vinculada.

Tal instituto jurídico possui origem no Direito Civil, consubstanciado em uma

modalidade típica de contrato. Porém, no âmbito do Direito Tributário, a transação foi

recepcionada como uma hipótese de extinção da obrigação tributária, sendo certo que

lhe foram atribuídos contornos diferenciados para o atendimento da intenção do

legislador.

Em suma, as presentes ilações tiveram a intenção de evidenciar os aspectos

relevantes da transação como modalidade de extinção do crédito tributário. Ademais

disso, pretendeu-se demonstrar a sua conformação perante o ordenamento legal

brasileiro, sendo certo que a eventual regulamentação da transação não acarretaria

qualquer prejuízo ao primado da indisponibilidade da obrigação tributária, cuja

mitigação sucede em observância ao elemento finalístico dos atos administrativos,

bem como ao princípio da eficiência, em sua vertente tributária, traduzido como o

alcance dos melhores resultados da política tributária.

Em resumo, a transação é um acordo celebrado com base em lei, entre o Fisco

e o contribuinte, pelo qual a primitiva obrigação tributária desaparece, como dispõe o

art. 156.

5.6 CONCEITUAÇÃO DO INSTITUTO “DECADÊNCIA” NO DIREITO

TRIBUTÁRIO

Os artigos 173 e 150, § 4.º, ambos do Código Tributário Nacional, dispõem

sobre a decadência do direito de efetuar o lançamento. O art. 174 do Código Tributário

Nacional dispõe sobre a prescrição da ação de cobrança do crédito tributário

devidamente constituído pelo lançamento. Antes do lançamento, pode ocorrer a

decadência; após o lançamento, pode ocorrer a prescrição, no prazo de 5 anos. Ambos

os institutos importam na extinção do crédito tributário (art. 156, inc. V, do CTN).

Do disposto acima decorre, como consequência prática, que o contribuinte que

paga o débito prescrito não tem direito à repetição, pois o direito à percepção do

tributo persiste; ao contrário, se o contribuinte paga tributo lançado após o prazo

decadencial, ele faz jus à repetição, pois o direito já não mais existia.

29

A regra do art. 173 é aplicada para tributos que são lançados de ofício ou por

declaração. A regra do § 4.º do art. 150 é aplicada para tributos que são lançados por

homologação. O art. 173 do Código Tributário Nacional estabelece que o direito do

fisco, de constituir o crédito tributário, se extingue após cinco anos, contados: a) do

primeiro dia do ano seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; b)

da data em que for anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente realizado; c)

da data em que for tomada qualquer providência administrativa conducente ao

lançamento.

O parágrafo único do art. 173 estabelece que “o direito a que se refere este

artigo extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da

data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao

sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento”. O

Fisco tem cinco anos para constituir o crédito tributário.

A lei é quem aponta a data em que o lançamento será efetuado. Exemplo: o IR

é lançado no ano seguinte ao do fato imponível. O IR ano base 1996 deveria ser

lançado em 1997. Se não foi lançado naquele ano, a Fazenda tem até o dia 31.12.2002

para efetuar o lançamento (cinco anos contados de 1.1.1998).

Anulado o primitivo lançamento por vício formal, pela Administração ou pelo

Judiciário, dessa data conta-se o prazo de 5 (cinco) anos. Exemplo de providência

administrativa conducente ao lançamento, é a notificação ao contribuinte para que

preste as declarações necessárias ao lançamento2.

Art. 150, § 4., do Código Tributário Nacional: lançamento por homologação.

O direito da Fazenda Pública de homologar ou corrigir o auto lançamento decai em 5

(cinco) anos, contados da data da ocorrência do fato imponível.

Por conseguinte, a decadência constitui-se na perda do próprio direito por seu

titular, por inércia deste em função do decurso do prazo previsto em lei para o seu

2 Observação: a contagem do prazo – da data em que for tomada qualquer providência administrativa

conducente ao lançamento – só vale se a providência for tomada no mesmo ano em que ocorrer o fato

imponível. Se for tomada no ano seguinte, incide a regra da contagem do primeiro dia do ano seguinte

àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, ou seja, o dies a quo será 01.01 do ano seguinte

(regra benéfica ao contribuinte).

30

exercício. Há entendimento do ponto de vista doutrinário e jurisprudencial de que a

decadência não se suspende e nem se interrompe.

Passo a expor a doutrina de Eduardo Sabbag (2016 p. 875):

O instituto em comento visa atacar, desse modo, o próprio direito,

promovendo seu decaimento ou seu perecimento ou seu perecimento, o que

obsta a constituição do crédito pelo Fisco (art. 156, V, CTN). Essa é a razão

por que a Fazenda não está inibida de proceder ao lançamento, prevenindo a

decadência do direito de lançar, mesmo que haja suspensão da exigibilidade

do crédito tributário. Portanto, a simples suspensão do crédito tributário (art.

151, I a IV, CTN) não impede a constituição e, desse modo, não influi no

prazo decadencial.

Assim é o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná:

I - APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA. DECADÊNCIA.

ITCMD. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE O PEDIDO

FORMULADO NA PETIÇÃO INICIAL. II - APELANTE QUE ALEGA A

DECADÊNCIA DO LANÇAMENTO DO TRIBUTO. CONFIGURAÇÃO.

FATO GERADOR OCORRIDO NO ANO DE 2000. DATA DE

LAVRATURA DA ESCRITURA PÚBLICA. FISCO QUE NÃO

REALIZOU O LANÇAMENTO DO TRIBUTO ATÉ O PRESENTE

MOMENTO. DECURSO DO PRAZO DISPOSTO NO ART. 173, INC. I,

DO CTN. III - COMPROVAÇÃO DO RECOLHIMENTO DO ITCMD

QUE DEVERIA SER EXIGIDA ANTES DA LAVRATURA DA

ESCRITURA PÚBLICA. IV - FISCO QUE NÃO PODE AFASTAR O

TERMO INICIAL DA DECADÊNCIA SOB A ALEGAÇÃO QUE

DESCONHECIA O FATO GERADOR.PRECEDENTES DO STJ. V -

RECURSO PROVIDO.

(TJPR - 1ª C.Cível - AC - 1504920-4 - Jacarezinho - Rel.: Jorge de Oliveira

Vargas - Unânime - J. 19.07.2016)

I – APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. SENTENÇA QUE

EXTINGUIU O FEITO ANTE A NULIDADE DA CITAÇÃO E O

RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO PROCESSUAL.

INCONFORMISMO. II –NULIDADE DA CITAÇÃO POR EDITAL.

CONGRUÊNCIA. III – PRESCRIÇÃO PROCESSUAL. TRANCURSO DE

MAIS DE 17 ANOS ENTRE A PROPOSITURA DA AÇÃO SEM QUE

HOUVESSE A CITAÇÃO VÁLIDA DO EXECUTADO. IV - DEMANDA

ANTERIOR À LEI COMPLEMENTAR Nº 118/05. INTERRUPÇÃO DO

PRAZO PRESCRICIONAL QUE SE DARIA SOMENTE COM A

CITAÇÃO VÁLIDA. A QUAL INOCORREU CONSUMAÇÃO DA

PRESCRIÇÃO PROCESSUAL PREVISTA NO ART. 174 DO CTN. V –

RECURSO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 1ª C.Cível - AC – 1639328-1 - Curitiba - Rel.: Jorge de Oliveira

Vargas - Unânime - J. 28/02/2018)

31

5.7 CONCEITO DO INSTITUTO “PRESCRIÇÃO” NO DIREITO TRIBUTÁRIO

A prescrição é a perda da ação inerente ao direito e de toda a sua capacidade

defensiva, por seu não exercício durante certo lapso. A fluência do lapso prescricional,

diferentemente do que ocorre com a decadência, pode ser suspensa ou interrompida.

São requisitos para ocorrência da prescrição: a) Existência de uma ação

exercitável.

b) Inércia do titular dessa ação. c) Prolongamento dessa inércia durante certo

lapso. d) Ausência de qualquer ato ou fato a que a lei atribua o efeito de impedir,

suspender ou interromper a fluência prescricional.

Segundo o art. 174 do Código Tributário Nacional, a prescrição da ação de

cobrança do crédito tributário opera-se em 5 (cinco) anos, contados da data de sua

constituição definitiva.

Artigo 174 - A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em 5

(cinco) anos, contados da data da sua constituição definitiva.

Parágrafo único.

A prescrição se interrompe:

I - Pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; (Alterado

pela LC-000.118-2005)

II - Pelo protesto judicial;

III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

IV - Por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em

reconhecimento do débito pelo devedor.

A doutrina tem entendido que o dies a quo, para o cômputo do prazo

prescricional, é o do inadimplemento do contribuinte, pois é a partir dessa data que a

Fazenda Pública passa a ter ação exercitável, ou seja, passa a poder executar o

devedor.

No art. 151 do CTN e arts. 2.º, § 3.º, e 40 da Lei 6.830/80 estão previstas as

causas suspensivas do crédito tributário aquelas hipóteses que suspendem a

exigibilidade do crédito tributário já definitivamente constituído (moratória, recurso

administrativo, liminar ou antecipação de tutela, depósito integral do montante

tributário, parcelamento).

Para a execução da dívida tributária, deve o Fisco:

32

a) inscrever, no livro próprio, a dívida do contribuinte inadimplente (Lei n.

6.830/80, art. 2.º, § 3.º);

b) extrair certidão de dívida ativa (título executivo extrajudicial);

c) ajuizar a execução fiscal, como ação judicial propriamente dita.

A partir da inscrição da dívida no livro próprio, suspende-se o prazo

prescricional por 180 dias (Lei n. 6.830/80, art. 2.º, § 3.º), concedendo-se o prazo

restante para a realização das operações “b” e “c”.

O art. 40 da Lei n. 6.830/80 estabelece que, quando a execução é iniciada, mas

o contribuinte não é encontrado para citação, ou é citado, mas não tem bens para a

execução, a prescrição fica suspensa até que se faça a citação ou encontrem-se bens

para serem penhorados.

Na verdade, esse dispositivo é inconstitucional, pois pode implicar na

imprescritibilidade da dívida tributária. Na Constituição Federal, imprescritíveis são

apenas os direitos da personalidade. Porém, esse dispositivo ainda não foi declarado

inconstitucional pela via concentrada, apenas pela via difusa (incidenter tantun).

O parágrafo único do art. 174, do Código Tributário Nacional prevê as causas

interruptivas do lapso prescricional, são elas:

I - Despacho do juiz que ordena a citação (Lei n. 6.830/80, art. 8.º, § 2.º),

anteriormente a Lei Complementar 118/2005, interrompia-se o lapso

prescricional apenas com a citação do devedor

II - Interrompe-se pelo protesto judicial: medida cautelar disciplinada no

CPC, arts. 716 a 683.

III - Qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor. Exemplo: a

notificação judicial, a intimação judicial e a interpelação judicial.

IV - Qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em

reconhecimento do débito pelo devedor. Exemplo: carta que o contribuinte

escreve à autoridade administrativa pedindo prazo maior para pagamento do

tributo ou parcelamento.

Entende Eduardo Sabbag (2016 p. 902), o seguinte:

Após a inscrição, cria-se o cenário hábil à propositura da ação judicial de

cobrança, de nome Ação de Execução Fiscal, conforme a Lei n. 6.830/80

(Lei de Execuções Fiscais – LEF). Como resposta a ação judicial, poderá o

contribuinte, após a garantia do juízo (com os bens garantidores previstos no

art. 9 da LEF), a ser prestada no prazo de 5 dias, por Embargos à Execução

Fiscal (prazo de 30 dias, após a garantia), numa tentativa de extinguir a

execução fiscal pré-existente

33

EMENTA: I – APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. SENTENÇA

QUE EXTINGUIU O FEITO PELA PRESCRIÇÃO PROCESSUAL.

CONDENAÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA AO PAGAMENTO DAS

CUSTAS PROCESSUAIS. II – CITAÇÃO POR EDITAL. NULIDADE

AFASTADA. DILIGÊNCIAS E TENTATIVA DE CITAÇÃO VIA

OFICIAL DE JUSTIÇA. ESGOTAMENTO DOS MEIOS PARA

LOCALIZAÇÃO DA EXECUTADA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA

INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. III – AÇÃO AJUIZADA

ANTES DA VIGÊNCIA DA LC Nº 118/2005. INTERRUPÇÃO DO

LAPSO PRESCRICIONAL QUE SE DARIA SOMENTE COM A

CITAÇÃO VÁLIDA. INOCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO

PROCESSUAL. CITAÇÃO POR EDITAL REALIZADA ANTES DA

CONSUMAÇÃO DO PRAZO QUINQUENAL. IV – PRESCRIÇÃO

INTERCORRENTE. CONFIGURAÇÃO. ÚLTIMA TENTATIVA DE

PENHORA REALIZADA EM PRAZO SUPERIOR A 6 ANOS.

APLICAÇÃO DO CONTIDO NA SÚMULA 314 DO STJ. V -

RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE SEM

PRÉVIA OITIVA DA FAZENDA PÚBLICA. ART. 40 §4º DA LEI 6.830.

POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO.

PRECEDENTES. VI – SÚMULA 106 DO STJ. INAPLICABILIDADE.

CONSUMAÇÃO DO LAPSO PRESCRICIONAL NÃO PODE SER

IMPUTADA, EXCLUSIVAMENTE, À DEMORA DOS MECANISMOS

DA JUSTIÇA. INEXISTÊNCIA DE BENS PASSÍVEIS DE PENHORA.

VII – CUSTAS PROCESSUAIS. ALEGAÇÃO DE CONFUSÃO ENTRE

CREDOR E DEVEDOR. INCONGRUÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE

CONFUSÃO PATRIMONIAL. FAZENDA PÚBLICA QUE TEM O

DEVER DE PAGAMENTO DA CUSTAS. JURISPRUDÊNCIA

DOMINANTE DESTE TRIBUNAL. VIII – RECUSO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 1ª C.Cível - AC – 1416660-2 - Maringá - Rel.: Jorge de Oliveira

Vargas - Unânime - J. 20/07/2016)

5.8 DIFERENÇAS ENTRE OS INSTITUTOS DA DECADÊNCIA E DA

PRESCRIÇÃO

Uma comparação simples entre decadência e prescrição, permite-nos concluir

que enquanto esta é a perda do direito de ação pelo decurso de tempo, aquela consiste

na extinção do próprio direito (a caducidade do direito), pela inércia do seu titular.

Ambos os institutos estão relacionados com o esgotamento do prazo para o

exercício de alguma ação, por inércia do interessado. No Direito tributário, é possível

esquematizar as seguintes diferenças entre prescrição e decadência:

Diferenças entre Prescrição e Decadência

34

TABELA I – Diferenças entre Decadência e Prescrição

DECADÊNCIA (artigo 173, CTN) PRESCRIÇÃO (artigo 174, CTN)

Atinge o direito em si, havendo pois a perda

do direito

Não há perda do direito em sim, mas sim o

direito de mover uma ação para exercê-lo.

Pressupõe um direito (obrigação tributária)

que, embora nascido (fato gerador), não se

tornou efetivo por falta de exercício (falta de

lançamento).

Pressupõe um direito já adquirido e efetivo

(crédito tributário constituído pelo

lançamento), mas que ficou desprotegido

por falta de ação da Fazenda Pública.

Deve ser decretada pelo juiz, mesmo que

não haja pedido para tal, já que não mais

existe o direito da Fazenda Pública.

Depende de arguição do devedor para poder

ser decretada pela autoridade judicial.

O Pagamento do tributo caduco (decaído) dá

direito à restituição uma vez que não mais

havia o direito da Fazenda Pública com

relação àquele crédito.

O pagamento do tributo cuja ação está

prescrita não dá direito à restituição do valor

uma vez que o direito da Fazenda Pública

ainda persistia, embora a mesma não tivesse

meios de acionar o sujeito passivo.

A decadência não admite nem interrupção

nem suspensão.

A prescrição admite:

- Interrupção (parágrafo único do artigo 174,

CTN) e;

- Suspensão (artigo 151, I a IV; artigo 161, ;

§2º, artigo 155, parágrafo único; artigo 172,

parágrafo único, todos do CTN; artigo 2º;

§2º da Lei 6.830- 80 e artigo 6º, Lei 11.101-

05).

FONTE: O próprio autor, 2018.

35

6 LEI COMPLEMENTAR 118/2005

Antes da edição da Lei Complementar nº 118/2005, a interrupção da

prescrição, em matéria tributária, ocorria, entre outras hipóteses, “pela citação

pessoal feita ao devedor”, em execução fiscal, nos termos do disposto no inciso I, do

parágrafo único, do artigo 174, do Código Tributário Nacional, em sua redação

original.

Ocorre, porém, que a jurisprudência pátria, mormente do Colendo Superior

Tribunal de Justiça, firmou o entendimento no sentido de que, tendo sido proposta

a execução fiscal no prazo fixado para seu exercício, a demora na citação, por motivo

imputável ao Poder Judiciário, não estaria a justificar o acolhimento da prescrição,

conforme disposição do verbete sumular nº 106 (vg REsp 686.834/RS, Rel. Ministra

Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 18.09.2007, DJ 18.10.2007).

Como se pode perceber, entendeu-se que a citação válida teria o condão de

interromper a prescrição, mas com efeito retroativo à data da propositura da demanda

executiva, à exceção da hipótese em que caracterizada a desídia do credor (morosidade

não imputável ao Poder Judiciário).

Porém, com a edição da Lei Complementar nº 118/2005, houve alteração do

disposto no artigo 174, parágrafo único, inciso I, do Código Tributário Nacional, o

qual passou a considerar o despacho do juiz que ordena a citação3 como marco

interruptivo da prescrição.

3 Art. 174: a ação de cobrança do crédito tributário prescreve em 05 (cinco) anos, constados da data de

sua constituição definitiva. I - pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;

36

7 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO NO LANÇAMENTO POR

HOMOLOGAÇÃO

7.1 ESPECIFICIDADES DA DECADÊNCIA DO DIREITO DA FAZENDA

PÚBLICA NOS TRIBUTOS SUJEITOS AO “LANÇAMENTO POR

HOMOLOGAÇÃO”

Como visto, nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação, o

contribuinte tem o dever de apurar a ocorrência do fato tributário, calcular o valor do

tributo e efetuar o seu pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa. Isto

ocorre, sem que o fisco efetive o ato administrativo: lançamento tributário.

Dalmar Pimenta (2010, p. 94) descreve que:

Os tributos que estão sujeitos ao lançamento por homologação estão

previstos no artigo 150 do Código Tributário Nacional, situação está em que

o sujeito passivo é quem realiza a apuração do tributo devido, informando ao

Fisco e efetuando o recolhimento antecipadamente a qualquer ato. Sendo

assim, a regra geral para a contagem do prazo para a homologação é de cinco

anos contados a partir do fato gerador. Tal norma é distinta daquela aplicada

aos casos da regra geral que são orientados e previstos no artigo 173 do

Código Tributário Nacional.

Ao analisar a possibilidade da decadência nos tributos sujeitos a lançamento

por homologação, Borges (1995, pag. 14/15) defende que:

Vem então a indagação: cuidando o parágrafo 4º, do artigo 150, do Código

Tributário Nacional, de um prazo decadencial, como afirmam alguns

autores, aplicável aos tributos sujeitos ao chamado lançamento por

homologação, poderia tal disposição prever como o fez a possibilidade da lei

ordinária do ente tributante estabelecer um prazo diverso do ali fixado para a

homologação? Induvidosamente sim, e por um motivo muito simples: o

prazo estabelecido para a homologação, bem como a extinção do crédito

determinada pelo seu transcurso in albis, não se caracterizam como uma

hipótese de decadência. A extinção do crédito não se opera por caducidade

do direito, e sim pela homologação ficta do pagamento antecipado pelo

contribuinte, tudo na conformidade do que dispõe o artigo 156, inciso VII do

CTN, que contém menção expressa ao parágrafo 4º do artigo 150. Se se

tratasse de decadência, a hipótese extintiva do dispositivo citado do artigo

150, não haveria necessidade de se mencioná-la em inciso apartado no artigo

156, pois a extinção ocorreria por força da aplicação do inciso V, que arrola

a decadência dentre as modalidades de extinção do crédito tributário. A

homologação do pagamento mencionada no artigo 150, parágrafo 4º, que se

opera pelo decurso do prazo in albis, é uma homologação ficta. E o fato de

não ter havido recolhimento do tributo, por ter o pagamento sido feito

mediante compensação pela utilização de crédito decorrente da regra da não

cumulatividade -- caso dos impostos não cumulativos ICMS e IPI -- ou de

37

outra origem (crédito presumido, por exemplo), não altera em nada a

situação, continuando a ser o ato administrativo ficto uma homologação de

pagamento, com todas as suas consequências legais. Vê-se, então, que o

CTN, em seu artigo 173, que trata do prazo decadencial, estabelece que o

que é atingido pela caducidade é o direito da Fazenda Pública constituir o

crédito tributário, constituição esta, segundo o artigo 142 do mesmo CTN,

que se daria através do lançamento. No entanto, o artigo 156, inciso V do

CTN arrola a decadência entre as formas extintivas do crédito tributário. Ou

seja, a decadência extinguiria um crédito que não estaria ainda constituído

pelo lançamento. Se tomados os dois dispositivos em sua literalidade existe

uma nítida contradição entre os mesmos, que tem que ser enfrentada e

resolvida, para se fixar o âmbito de aplicação dos dispositivos mencionados.

Para tanto, há que se verificar a natureza e os efeitos do lançamento.

O renomado tributarista acastela categoricamente que a decadência nestes

tributos só recai sobre as diferenças porventura não recolhidas pelo contribuinte.

Vejamos:

Agora, prevê o Código, em seu artigo 150, parágrafo 4º, uma homologação

ficta, pelo decurso do prazo de cinco anos da ocorrência do fato gerador, nas

hipóteses em que o contribuinte efetue o pagamento do ICMS, no valor por

ele apurado, sem prévio exame da autoridade fazendária. Esta homologação

ficta só seria afastada, inocorrendo, portanto, se comprovada a ocorrência de

dolo, fraude ou simulação. E tal homologação ficta, já o dissemos linhas

atrás, conquanto se constitua em uma forma de extinção do crédito tributário,

também, não se confunde com a decadência, que igualmente opera tal

extinção.

É importante, contudo, fixar-se o que estará alcançado pela homologação

ficta, pois, se até esta ocorrer poderá a administração exigir qualquer

diferença porventura não recolhida pela contribuinte, o mesmo não se poderá

dizer quando escoado o prazo de cinco anos para sua ocorrência, se outro

não tiver sido fixado pela lei estadual. Após o decurso de tal prazo, e

ocorrida a homologação ficta, só poderá a administração proceder à

formalização de créditos não alcançados pela homologação ficta, porque não

pagos, ou se comprovada a existência de dolo, fraude ou simulação no

procedimento do contribuinte de apuração do quantum recolhido”. (Borges,

1995, pag. 25).

Harada (2010, pag. 514) alude que nos tributos sujeitos a lançamento por

homologação, o prazo decadencial de cinco anos conta-se a partir da ocorrência do

fato gerador da obrigação tributária, conforme disposição contida no § 4º do artigo

150, do CTN:

Artigo 150 - O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos

cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento

sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a

referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo

obrigado, expressamente a homologa .(...)

38

§ 4º - Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de 5 (cinco) anos, a

contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem 40 que a

Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o

lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a

ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

De acordo com a maioria dos autores, o § 4º do artigo 150 do CTN, prescreve

que a Fazenda Pública dispõe do prazo de 5 (cinco) anos contados da data do “fato

gerador”, para realizar o controle da atividade exercida pelo sujeito passivo,

verificando se o pagamento foi suficiente para o cumprimento da obrigação tributária

correspondente, também já informada pelo sujeito passivo.

Há uma grande discussão entre a aplicação do §4º do artigo 150 e o inciso I do

artigo 173, quando o contribuinte não efetivou o pagamento. Para melhor demonstrar

as divergências de entendimentos jurisprudenciais veja-se esta decisão do Superior

Tribunal de Justiça, proferida no Resp 784.218:

TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR

HOMOLOGAÇÃO. DECADÊNCIA. TERMO INICIAL.

1. No lançamento por homologação, o contribuinte, ou o responsável

tributário, deve realizar o pagamento antecipado do tributo, antes de

qualquer procedimento administrativo, ficando a extinção do crédito

condicionada à futura homologação expressa ou tácita pela autoridade fiscal

competente. Havendo pagamento antecipado, o fisco dispõe do prazo

decadencial de cinco anos, a contar do fato gerador, para homologar o que

foi pago ou lançar a diferença acaso existente (artigo 150, §4º do CTN).

2. Se não houve pagamento antecipado pelo contribuinte, não há o que

homologar nem se pode falar em lançamento por homologação. Surge a

figura do lançamento direto substitutivo, previsto no artigo 149, V do CTN,

cujo prazo decadencial rege-se pela regra geral do artigo 173, I do CTN:

cinco anos a contar do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o

pagamento antecipado deveria ter sido realizado.

3. Em síntese, o prazo decadencial para a Fazenda Pública constituir o

crédito tributário será: a) de cinco anos a contar do primeiro dia do exercício

seguinte àquele em que o lançamento poderia ser efetuado, se o tributo

sujeitar-se-á lançamento direto ou por declaração (regra geral do artigo 173,

I do CTN); b) de cinco anos a contar da ocorrência do fato gerador no caso

de lançamento por homologação em que há pagamento antecipado pelo

contribuinte (aplicação do artigo 150, § 4º do CTN) e c)de cinco anos a

contar do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o pagamento

antecipado deveria ter sido realizado nos casos de tributo sujeito à

homologação sem que nenhum pagamento tenha sido realizado pelo sujeito

passivo, oportunidade em que surgirá a figura do lançamento direto

substitutivo do lançamento por homologação.

4. Na hipótese, houve pagamento antecipado e pretende o fisco cobrar

diferenças relacionadas à apuração a menor realizada pelo contribuinte.

Aplicando-se a regra do artigo150, § 4º, do CTN, deve ser reconhecida a

decadência do direito de lançar tributos cujo fato gerador tenha ocorrido em

39

momento anterior aos cinco anos que antecedem a notificação do auto de

infração ou da nota de lançamento. 5. Recurso especial provido. Acórdão

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A

Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos 42 do voto

do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Humberto Martins,Eliana Calmon

e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.

Dalmar Pimenta (2010, pag. 94) expõe que na decadência nos lançamentos

por homologação, é possível verificar as seguintes situações:

a) quando o contribuinte declara quanto deve e efetua o pagamento;

b) quando o contribuinte declara que deve e não paga;

c) quando o contribuinte declara, paga, mas é notificado de que deveria ter

pago valor maior;

d) quando o contribuinte não declara e não paga.

e) e, na última hipótese exibida no fim do § 4º, do artigo 150, do CTN:

“salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação”.

Importa dizer que nestes casos, mesmo com o decurso dos 5 (cinco) anos

contados do fato tributário, não serão consideradas homologadas as atividades

realizadas pelo sujeito passivo e, nem tampouco, extinto o crédito tributário, pois

ocorrendo o dolo, fraude ou simulação, cumprirá ao Fisco promover a competente

fiscalização e o lançamento de ofício do que entender devido.

7.2 A PRESCRIÇÃO DO DIREITO DA FAZENDA PÚBLICA NOS

LANÇAMENTOS POR HOMOLOGAÇÃO

A doutrina e a jurisprudência são muito controversas sobre a possível

possibilidade da ocorrência da prescrição nos lançamentos por homologação. Tendo

em vista que o lançamento é o divisor entre os institutos da decadência e da prescrição,

a questão é definir quando ocorre a constituição definitiva do crédito tributário.

Coelho (2012, p. 748), propõe a determinação de 3 (três) fases entre os prazos

de decadência e prescrição:

1) Do fato gerador da obrigação até o ato jurídico do lançamento ou até o dia

previsto para a homologação do pagamento, correm os prazos decadenciais.

2) Depois do lançamento e/ou durante todo o tempo de sua revisão (se

houver) já não correm os prazos de decadência, nem podem correr os prazos

de prescrição, que só há prescrição se inexistirem obstáculos ab extra. Pelo

princípio da actio nata, ou seja, para que prescreva o direito de ação, é

necessário que ou autor possa exercê-lo livremente. O direito não socorre

aos que dormem.

3) Por isto, definitivo o lançamento, começam a correr os prazos da

prescrição.

40

Tem-se que o início do prazo prescricional a partir da homologação do

lançamento, que pode ser expressa ou tácita (fictícia).

Contrário a tal posicionamento, Amaro (2005, pag. 417), é enfático sobre a

inexistência da prescrição nos lançamentos por homologação, ao mencionar que:

Não cabe falar em prescrição no caso de tributos por homologação. Se essa

forma de lançamento, quer na modalidade expressa, quer na tácita, supõe o

prévio pagamento, é intuitivo que, uma vez realizado o lançamento (por

homologação expressa ou tácita), não há o que cobrar, e, portanto, não se

pode falar em prescrição da ação de cobrança. Diversamente, se o tributo

(lançável por homologação) for lançado de ofício (porque o sujeito passivo

não “antecipou” o pagamento ou o fez menor), poderá ocorrer a prescrição,

mas aí já não se trata de prestação da ação de cobrança de tributo lançado

por homologação, e sim de tributo lançado de ofício por parte do fisco.

Participando da discussão, Melo (2014) reconhece que referente à prescrição,

não há maiores problemas quando o contribuinte declara o tributo corretamente e o

paga, haja vista que o débito se extingue. Também não há maiores suscitações quando

o contribuinte nada declara e nada paga, pois, neste caso, não houve qualquer ato por

parte do contribuinte, falando-se apenas em decadência. Para a autora, o problema

referente à prescrição surge quando não há pagamento correspondente ao valor

corretamente declarado.

Para tais situações, o STF e o STJ apresentam-nos uma interessante solução,

que alguns tributaristas apontam como uma hipótese de decadência. Vejamos.

Os tribunais superiores têm entendido que, nos casos em que o contribuinte

declara, mas não recolhe a constituição definitiva do débito, para fins de prescrição,

ocorrerá no momento da entrega da declaração. Sendo assim, o prazo de 5 anos de

prescrição, previsto no artigo 174 do CTN, inicia-se a partir da data do vencimento da

dívida, constante da referida declaração.

No julgamento do REsp 962.379/RS, o STJ confirma a tese de que uma vez

apresentada a declaração, inicia-se a contagem do prazo prescricional:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DÉBITO DECLARADO E NÃO PAGO.

NECESSIDADE DE PROVA PERICIAL E PROCESSO

ADMINISTRATIVO. CERCEAMENTO DE DEFESA. AUMENTO DE

ALÍQUOTA DE ICMS. INCONSTITUCIONALIDADE. JULGAMENTO

41

DE RECURSOESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA

(REsp 962.379/RS). AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.

SÚMULAS N.º 282, DO STF. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL

NÃO COMPROVADA.1. O ato administrativo do lançamento, efetuado

pelo ente tributante, é desnecessário quando o próprio contribuinte,

previamente, mediante GIA ou DCTF, procede à declaração do débito

tributário a ser recolhido.2. In casu, o contribuinte efetuou a declaração do

débito inscrito em dívida ativa, por isso que prestando o sujeito passivo

informação acerca da efetiva existência da dívida, porém não a adimplindo,

inicia-se para o Fisco Estadual a contagem do prazo prescricional para

ajuizar o executivo fiscal, posto constituído o crédito por autolançamento.3.

A Guia de Informação e Apuração do ICMS - GIA assemelha-se à DCTF,

razão pela qual, uma vez preenchida, constitui confissão do próprio

contribuinte, tornando prescindível a homologação formal, passando o

crédito a ser exigível independentemente de prévia notificação ou da

instauração de procedimento administrativo fiscal.4. É que a Primeira Seção,

quando do julgamento de recurso representativo de controvérsia, consolidou

o entendimento de que a entrega de Declaração de Débitos e Créditos

Tributários Federais -DCTF, de Guia de Informação e Apuração do ICMS -

GIA, ou de outra declaração dessa natureza, prevista em lei, é modo de

constituição do crédito tributário, dispensando a Fazenda Pública de

qualquer outra providência conducente à formalização do valor

declarado.(Precedente da Primeira Seção submetido ao rito do artigo 543- C,

do CPC: REsp 962.379/RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado

em 22.10.2008, DJe 28.10.2008).

Esta posição também é fundamentada na Súmula 436 do STJ: “A entrega de

declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário,

dispensada qualquer outra providência por parte do fisco”.

Assim sendo, de acordo com o STJ, para os tributos sujeitos a lançamento por

homologação, o termo inicial do prazo prescricional ocorrerá com a definitividade da

constituição do crédito tributário, entendido este, a partir da declaração do sujeito

passivo na homologação quanto ao débito, ainda que não o pague.

Ferreira e Lima (2014, p. 10) também reconhecem que havendo tributo

confessado em “em aberto” e não havendo causa de suspensão da exigibilidade do

crédito tributário, inicia-se o prazo prescricional com a entrega da declaração pelo

contribuinte, não havendo que se falar em contagem de prazo decadencial.

Todavia, a posição quanto aos prazos prescricionais adotada STJ e defendida

pelos autores apresentados, permanece com peculiaridades e controvérsias. Eduardo

Sabbag esclarece a problemática do prazo prescricional dos tributos sujeitos a

lançamentos por homologação na visão do STJ:

42

A celeuma, entretanto, começa a surgir quando não há pagamento

correspondente ao valor corretamente declarado. Com a entrega da

Declaração, caso o fisco acolha como correto tudo que foi declarado como

devido pelo próprio contribuinte, o STF e, com maior retórica

jurisprudencial, o STJ tem entendido, sob severas críticas da doutrina que a

constituição definitiva do crédito tributário, para fins de prescrição, ocorrerá

no momento da entrega da declaração.

No entanto, se o contribuinte declarou, mas não recolheu, não estaremos

diante da hipótese de decadência, conforme apontado anteriormente, ou seja, não seria

o caso de aplicarem-se as regras da decadência previstas no artigo 173, do CTN para

que a administração exercite o seu direito? O STJ, ao considerar que o crédito

tributário é exclusivamente constituído com a atividade do sujeito passivo (entrega da

declaração), não estaria transgredindo o disposto no artigo 142, do CTN? E ainda, os

tribunais não estão fazendo uma grande confusão entre os institutos da decadência e da

prescrição?

As dúvidas ainda persistem. Os que atacam a posição do STJ apreendem que a

declaração do sujeito passivo não tem o condão de formar o crédito tributário, para

fins de prescrição. Coelho (2012, p. 746) entende que “a data da constituição definitiva

do crédito tributário, devemos entendê-la como sendo aquela em que o lançamento se

tornou definitivo, insusceptível de modificação pelos órgãos incumbidos de fazê-lo”.

E complementa o autor ao asseverar que um lançamento é definitivo quando

efetivado, quando não mais possa ser objeto de recurso por parte do sujeito passivo ou

de revisão por parte da administração. Neste momento, inicia-se a contagem do prazo

prescricional, ou seja, o prazo para que a administração cobre os valores já

determinados no lançamento, e que porventura ainda não tenham sido pagos.

Dalmar Pimenta (2010, p. 123) é enfático ao mencionar que “nos casos dos

tributos sujeitos a lançamento por homologação, o termo inicial do prazo prescricional

é a data em que ocorreu a homologação de maneira expressa ou tácita”. Para este

autor, a entrega da declaração não tem o condão de dar início ao prazo prescricional.

Borges (1995, pag. 17/18) também assegura que:

Assim sucede também com os impostos sujeitos ao denominado lançamento

por homologação, como o ICMS, em que normalmente o contribuinte efetua

o pagamento do tributo antes de qualquer providência da autoridade

administrativa, ou seja, sem que haja lançamento. Nestas hipóteses, caso

haja alguma diferença a ser exigida do contribuinte, esta diferença tem que

43

ser formalizada pelo lançamento, para aí ter o sujeito ativo direito de ação

contra o devedor. Só após a formalização da diferença por meio do

lançamento se poderá falarem prescrição da ação, direito que nasce

exatamente da formalização mencionada. Até que ocorra esta, inexiste

direito de ação, inexistindo, assim, o termo inicial do prazo prescricional

(princípio da actio nata).

Nesse mesmo diapasão, Longhi (2014) compreende ser possível identificar a

verificação de várias conclusões equivocadas por parte do STJ, pois ao ratificar que na

declaração do contribuinte já se encontra constituído o crédito tributário e o

lançamento, há desprezo quanto o exposto no artigo 142 do CTN, o qual, exige que a

autoridade administrativa é a única competente para fazer o lançamento:

Artigo 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o

crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento

administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação

correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do

tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação

da penalidade cabível.

Nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, o fisco atribui ao

contribuinte a incumbência de apurar e recolher o tributo antecipadamente o tributo,

mas com a condicionante de que posteriormente, esta atividade será verificada e

ratificada por ele. Conforme Alexandre (2007, pag. 358):

Também da literalidade se extrai que o lançamento por homologação

somente é considerado completo (o CTN fala “opera-se”) quando a

autoridade administrativa homologa a atividade do sujeito passivo. O

raciocínio que mantêm nas mãos da autoridade o ato final do procedimento

(a ato mediante o qual o procedimento “se opera”) garante a convivência

pacífica do transcrito no artigo 150 (que disciplina o lançamento por

homologação) e do artigo 142 (que impõe a natureza privativa da

competência para lançar).

Vê-se que o tema é extremamente controverso, não se chegando a um

consenso, e, diante dos possíveis equívocos nas interpretações do STJ, ainda fica mais

difícil estabelecer uma regra geral para a ocorrência da prescrição nos lançamentos por

homologação.

Todavia, comungando-se do ensinamento do professor Coelho, entende-se que

a melhor solução ao caso é: do ato gerador da obrigação até o ato jurídico do

lançamento ou até o dia previsto para a homologação do lançamento, correm os prazos

decadenciais (artigo 150, do CTN). Caso não tenha ocorrido pagamento, aplicar-se-á a

44

regra decadencial do artigo 173, do CTN. Uma vez definido o lançamento

(homologação expressa ou tácita), começam a correr os prazos prescricionais, ou seja,

inicia o prazo para que a administração promova a ação da cobrança do crédito

tributário (COELHO, 2012, p. 748).

45

8 CONCLUSÃO

Por força de sua natureza excepcional de intervenção no patrimônio do

cidadão, a norma tributária deve ser objeto de grande atenção por parte do legislador

no Estado de Direito. Há de se considerar o fato de que na tributação, o princípio da

segurança jurídica como diretriz, aponta para uma direção e em seus desdobramentos

aparecem os princípios da Capacidade Contributiva, do Princípio da Legalidade, da

Igualdade Tributária, entre outros.

Neste contexto, o presente trabalho foi pautado pela análise da dinâmica

tributária, desde o estabelecimento da relação jurídica tributária, com seus diversos

contornos, até a constituição do crédito tributário, e pela consideração dos institutos da

decadência e da prescrição como regras que refletem o princípio da segurança jurídica

como comando normativo constitucional. Foram verificadas as partes relevantes e de

cotidiano da disciplina em matéria tributária, especialmente os prazos extintivos,

considerados seus termos iniciais e finais.

A vista da pesquisa realizada, são apresentadas as conclusões encontradas pelo

desenvolvimento do presente estudo:

- O Código Tributário Nacional sendo um diploma de âmbito nacional, alçado

à categoria de lei complementar pela Constituição Federal de 1988, trazendo, em seu

conteúdo, o regramento tributário que deverá ser observado não só pelos contribuintes,

como também pelo legislador e aplicador do direito;

- Instaurada a relação jurídica tributária, surge aos seus sujeitos ativo e passivo

respectivos direitos e obrigações;

- A obrigação tributária é o vínculo jurídico pelo qual o Estado, com base,

exclusivamente, na legislação tributária, pode exigir do particular uma prestação

tributária positiva ou negativa;

- O fato gerador surge como elemento fundamental para a criação da

obrigação tributária. Este se consubstancia na concretização de um pressuposto de fato

que a lei atribui, previamente, o efeito de dar nascimento à obrigação tributária;

- O crédito tributário é a obrigação principal após ser formalmente conhecida e

registrada pelo sujeito ativo, fulminando a ameaça de decadência e estabelecendo

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mecanismos para a cobrança. Ou seja, é um direito pertencente ao sujeito ativo da

obrigação tributária (União, Estados, Distrito Federal e Municípios);

- O Código Tributário Nacional estabelece a necessidade da prática do ato de

lançamento tributário por parte da administração (sob as modalidades de ofício, por

declaração e por homologação), que irá declarar a ocorrência do fato jurídico tributário

e constituirá o crédito tributário sendo aquele o único meio admitido para tanto;

- As maiores controvérsias do lançamento por homologação estão

centralizadas na questão do que é efetivamente homologado: o pagamento antecipado;

todos os procedimentos do sujeito passivo com relação à apuração e à definição do

quantum ou a atividade exercida pelo sujeito passivo;

- Os institutos da decadência e da prescrição devem ser considerados como

implementadores do princípio da segurança jurídica;

- O objeto da decadência é a extinção do direito de a administração pública

constituir o crédito tributário mediante o ato de lançamento tributário; o objeto da

prescrição é a extinção do direito de ação do sujeito ativo em exigir judicialmente o

seu crédito tributário e, de outro lado, o direito do sujeito passivo de fazer valer seu

direito de ação para ver restituído o indébito tributário. Tanto a decadência quanto a

prescrição afeita ao sujeito ativo atingem o crédito tributário, extinguindo-o;

- Ao abordar se a decadência, conforme exposto no artigo 156 do CTN, é uma

das formas de extinção do crédito tributário, há de se entender que para excluir crédito

tributário é necessário que este exista;

- Em relação às regras de decadência do direito do sujeito ativo da relação

jurídica tributária em constituir o crédito tributário, devem ser considerados os

seguintes marcos: No caso de exigência de lançamento de ofício, o lançamento deverá

ocorrer dentro do prazo de cinco anos a contar do primeiro dia do exercício posterior

àquele em que ocorreu o fato jurídico (período em que já poderia ser realizado o ato

constitutivo do crédito). No caso de notificação ao sujeito passivo de medida

preparatória indispensável ao lançamento, ocorrendo anteriormente ao primeiro dia do

exercício em que poderia ser realizado, é desta data que se considera o início do

interregno quinquenal. Ocorrendo em momento posterior ao primeiro dia do exercício

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subsequente não haverá prolongamento no prazo decadencial (é excluído desta

sistemática o lançamento por homologação).;

- Nos precisos termos do artigo 150 do Código Tributário Nacional, ocorre o

lançamento por homologação quando a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de

antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, a qual,

tomando conhecimento da atividade assim exercida, expressamente a homologa.

Inexistindo essa homologação expressa, ocorrerá ela no prazo de 05 (cinco) anos, a

contar do fato gerador do tributo. Com outras palavras, no lançamento por

homologação, o contribuinte apura o montante e efetua o recolhimento do tributo de

forma definitiva, independentemente de ajustes posteriores;

- Ao verificar a tão discutida, praticamente uma certeza para alguns

profissionais do ramo do direito tributário, concepção de que o prazo da decadência

jamais poderá ser interrompido ou suspenso, entendemos do mesmo modo, o prazo

decadencial no Direito Tributário, igualmente ao do Direito Civil, não admite ser

interrompido ou suspenso, somente admite ser extinto;

- Nos casos de lançamento de ofício, conta-se o prazo prescricional a partir da

definitividade da constituição do crédito tributário, conjugada com o descumprimento

da obrigação por parte do sujeito passivo e o escoamento do prazo para a interposição

de defesa administrativa impugnando o débito. Assim, é necessário o transcurso do

prazo para pagamento e interposição de defesa, daí devendo ser contado o prazo

prescricional de cinco anos.

Por fim, é de se dizer que em qualquer ramo do Direito Público, identifica-se

uma necessidade da defesa do patrimônio público, e o tributo é um dos maiores

patrimônios da sociedade. É através desses recursos, que o Estado deve realizar suas

atividades essenciais, objetivando, em última análise, a busca do bem-estar da

sociedade em geral.

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