universidade tuiuti do paranÁ claudia vanessa...

63
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA NASCIMENTO A (IN)ADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO CURITIBA 2016

Upload: dangthuy

Post on 30-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CLAUDIA VANESSA NASCIMENTO

A (IN)ADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO

PENAL BRASILEIRO

CURITIBA

2016

Page 2: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

CLAUDIA VANESSA NASCIMENTO

A (IN)ADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO

PENAL BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Direito, da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Doutor Daniel Avelar

CURITIBA

2016

Page 3: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

TERMO DE APROVAÇÃO

CLAUDIA VANESSA NASCIMENTO

A (IN)ADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO

PENAL BRASILEIRO

Essa Monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do titulo de Bacharel no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba,____ de ______________ de 2016.

___________________________________

Professor Doutor Eduardo Leite Coordenação do Núcleo de Monografias Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: __________________________________

Professor Doutor Daniel Avelar Curso de Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

Professor Doutor: ___________________________________

Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná

Professor Doutor: __________________________________

Curso de Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

Page 4: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado força e saúde para superar as dificuldades.

A minha irmã Cristiane e minha mãe Elide pelo incentivo nas horas

difíceis de desânimo e cansaço e apoio incondicional.

Ao meu orientador, professor Daniel Avelar, pela orientação, apoio,

paciência, confiança e pelo suporte nо pouco tempo qυе lhe coube, pelas suas

correções е incentivo.

Ao meu namorado Jeffherson por todo apoio e incentivo nesta fase de

aprendizado e novas experiências.

A todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte dа minha formação.

Page 5: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

“Mantenha-se simples, bom, puro, sério, livre de afetação, amigo da justiça, temente aos deuses, gentil, apaixonado, vigoroso em todas as suas atitudes. Lute para viver como a filosofia gostaria que vivesse. Reverencie os deuses e ajude os homens. A vida é curta.” Marco Aurélio

Page 6: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

RESUMO

A presente pesquisa tem o objetivo de fazer uma abordagem acerca do

tema da inadmissibilidade das provas ilícitas no processo penal apontando

suas exceções através do princípio da proporcionalidade. Há muitas

discussões no que concerne a utilização da prova ilícita no processo penal,

uma vez que o artigo 5º, inciso LVI da Constituição Federal estabelece que é

inadmissível a utilização da prova ilícita no ordenamento jurídico.

Todavia, alguns autores possuem um entendimento contrário a tal

dispositivo sob o argumento de que se deve utilizar, excepcionalmente, a prova

ilícita através do princípio da proporcionalidade, considerando ser inaceitável a

condenação de um inocente devido à ausência de provas consideradas lícitas

pelo ordenamento processual, ainda que esta prova seja utilizada em

detrimento de outros direitos.

Ainda, há um apontamento acerca de outras teorias que entendem

possível a utilização da prova ilícita não somente pro reo, mas também pro

societate, trazendo neste estudo, o ponto de vista desses autores.

Palavra Chave: Provas ilícitas; Princípio da Inadmissibilidade das provas

ilícitas; Prova Ilícita por Derivação; Princípio da Proporcionalidade.

Page 7: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO PROCESSO PENAL .............................. 11

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS .................................................................................. 11

2.2 O PROCESSO PENAL NA GRÉCIA ................................................................... 11

2.3 O PROCESSO PENAL EM ROMA ..................................................................... 12

2.4 PROCESSO PENAL ENTRE OS GERMÂNICOS ............................................... 13

2.5 PROCESSO PENAL CANÔNICO ....................................................................... 13

2.6 AS EVOLUÇÕES DO PROCESSO PENAL ........................................................ 14

3 DAS PROVAS ........................................................................................................ 16

3.1 CONCEITO ......................................................................................................... 16

3.2 FINALIDADE ....................................................................................................... 16

3.3 PROVA E ELEMENTOS INFORMATIVOS ......................................................... 17

3.4 DESTINATÁRIO .................................................................................................. 18

3.5 CLASSIFICAÇÕES DA PROVA .......................................................................... 18

3.6 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM AS PROVAS ..................................................... 19

3.6.1 Princípio Da Autorresponsabilidade Das Partes ............................................... 20

3.6.2 Princípio Da Audiência Contraditória ................................................................ 20

3.6.3 Princípio Da Aquisição Ou Da Comunhão........................................................ 20

3.6.4 Princípio Da Oralidade ..................................................................................... 21

3.6.5 Princípio Da Publicidade .................................................................................. 21

3.6.6 Princípio Do Livre Convencimento Motivado .................................................... 21

Page 8: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

3.6.7 Princípio Nemo Tenetur Se Detegere (Direito de não produzir prova contra si

mesmo). .................................................................................................................... 22

3.6.8 Princípio Da Liberdade Da Prova ..................................................................... 22

3.6.9 Princípio Da Inadmissibilidade Das Provas Ilícitas Por Meios Ilícitos ............... 23

3.7 MEIOS DE AQUISIÇÕES DE PROVAS .............................................................. 23

3.7.1. Da prova ilegal ................................................................................................ 23

3.7.2 Provas Ilícitas ................................................................................................... 24

3.7.3 Provas Ilegítimas .............................................................................................. 25

3.8 LIMITES AO DIREITO À PROVA ........................................................................ 25

3.9 MEIOS DE PROVA ............................................................................................. 27

3.10 ÔNUS DA PROVA ............................................................................................ 29

4 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE OU RAZOABILIDADE ......................... 30

4.1 TEORIAS DECORRENTES - LIMITAÇÕES À PROVA ILÍCITA POR

DERIVAÇÃO ............................................................................................................. 31

4.1.1 Teoria da Exclusão da Ilicitude da Prova ......................................................... 31

4.1.2 Teoria dos Frutos da Árvore envenenada - Prova Ilícita por Derivação ........... 31

4.1.3 Prova Absolutamente Independente ou Limitação da Fonte Independente: .... 33

4.1.4 Descoberta Inevitável ....................................................................................... 33

4.1.5 Limitação da Mancha Purgada (vícios sanados ou tinta diluída) ...................... 34

4.1.6 Exceção da Boa-Fé .......................................................................................... 34

4.1.7 Teoria do Risco ................................................................................................ 34

4.1.8 Limitação da destruição da Mentira do Imputado ............................................. 35

4.1.9 Doutrina da Visão Aberta ................................................................................. 35

4.1.10 Teoria do Encontro Fortuito das Provas (Serendipidade) ............................... 36

5 A ADMISSIBILIDADE DA PROVA ILÍCITA NO PROCESSO PENAL .................. 38

5.1 A ADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS PRO SOCITATE ......................... 44

6 A INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO PENAL

BRASILEIRO ............................................................................................................ 47

Page 9: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

6.1 A INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS ILÍCITAS NO DIREITO COMPARADO

................................................................................................................................ ..54

7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 55

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 61

Page 10: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

10

INTRODUÇÃO

As provas têm uma grande relevância no ordenamento jurídico, pois é o

meio pelo qual se torna possível a elucidação do caso concreto.

O princípio da inadmissibilidade da prova ilícita no processo penal brasileiro

está explicitamente elencado na Constituição Federal a fim de assegurar o direito

fundamental da dignidade da pessoa humana.

O referido princípio visa vedar a obtenção de uma prova através de meios

ilícitos que infrinjam direitos e garantias fundamentais para se chegar a verdade no

caso concreto, seja através da tortura, seja por violação do sigilo de

correspondências, comunicações telegráficas ou comunicações telefônicas.

Assim, o presente estudo explanará acerca do entendimento da doutrina

brasileira em relação à inadmissibilidade das provas ilícitas, fazendo uma

comparação com a possibilidade da admissão dessas provas, apontando o

fundamento dos doutrinadores que entendem possível esta metodologia, como o

Marcellus Polastri Lima, José Carlos Barbosa Moreira, Camargo Aranha, Moniz

Aragão, Vicente Greco, também algumas críticas tanto em relação a admissibilidade

quanto a questão da inadmissibilidade dessas provas.

Page 11: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

11

2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO PROCESSO PENAL

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

Para ser mais bem compreendido o sistemas das provas no processo penal,

é fundamental entender como foi a evolução desse sistema no ordenamento jurídico,

assim, sobre a visão de Fernando da Costa Tourinho, em sua obra "O Processo

Penal", mais especificamente, os meios de provas e as provas utilizadas para se

obter uma sentença no julgamento do indivíduo, por muito tempo, foi utilizado

métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos esses que foram sendo

abandonados com o passar dos anos devido ao progresso processual, bem como da

sociedade.

2.2 O PROCESSO PENAL NA GRÉCIA

Os atenienses assim como os romanos diferenciavam os crimes públicos

dos crimes privados; os primeiros prejudicavam a sociedade, por isso a sua

repressão não podia depender exclusivamente do ofendido, já os segundos, o dano

produzido era de menor importância, razão pela qual a repressão dependia tão

somente da iniciativa da parte.

Para os atenienses, conforme afirma Tourinho (2009), o Processo Penal se

caracterizava pela participação direta dos cidadãos no exercício da acusação e da

jurisdição, pela oralidade e publicidade dos debates.

Os mais importantes tribunais atenienses eram os da Assembleia do Povo,

que julgavam exclusivamente os crimes políticos graves não havendo nenhuma

garantia ao acusado.

Page 12: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

12

O Areópago, tribunal ateniense, era competente para julgar os homicídios

premeditados, traição, incêndios, enfim, crimes a que se cominava a pena de acordo

com a sentença aplicada pelo poder judiciário.

Havia também o Tribunal dos Éfetas, o qual julgava os crimes de homicídios

involuntários e não premeditados e, por fim, o Tribunal dos Heliastas, que exercia

jurisdição comum. Nestes julgamentos, costumava estarem presentes de 100 até

6.000 juízes, pois os atenienses acreditavam que quanto mais cabeças, mais

assegurada estava a justiça.

2.3 O PROCESSO PENAL EM ROMA

Conforme exposto anteriormente, os romanos distinguiam os delitos públicos

dos delitos privados, razão pela qual havia o processo penal público e processo

penal privado.

Tourinho (2009) explica que no processo penal privado romano o Estado era

simples arbitro para solucionar conflitos entre as partes e, o magistrado analisava as

provas apresentadas pelas partes e assim decidia. O processo penal privado, com o

passar dos anos, foi abandonado.

Já no processo penal público, o Estado atuava como sujeito de um poder

público de punição.

Na época da monarquia não havia limites no poder de julgar, bastava a

notitia crimines para o magistrado iniciar a investigação e após, já aplicava a pena.

Não havia acusação, nem garantia ao acusado e nem limites ao árbitro dos juízes.

Para mediar o poder dos magistrados surgiu a provocatio ad populum, atualmente

conhecida como apelação, tal medida proporcionava ao acusado a possibilidade de

recorrer da decisão para o povo, reunido em comício.

No último século da República surgiu a accusatio, isto é, qualquer cidadão

tinha o direito de acusar, exceto o magistrado, as mulheres, os menores e as

pessoas que por seus antecedentes não ofereciam garantias de lealdade. Mais tarde

Page 13: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

13

passou a se admitir a acusação postulada por vários cidadãos. Todavia, este

instrumento de justiça acabou convertendo-se em um meio autoritário e coercitivo

ante as recompensas prometidas aos delatores, o que ensejou a adoção de medidas

severas contra os delatores: o acusador era objeto das mesmas medidas cautelares

que atingiam o acusado, isto é, ambos eram detidos até a conclusão do processo.

Contudo, o magistrado passou a atuar ex officio, isto é, preliminarmente

procedia-se de uma investigação, a qual não atendia nem a acusação e nem o

acusado, tal procedimento tornou-se regra geral.

O processo cognitio extra ordinem, introduziu a tortura para a obtenção de

confissões, torturava-se no início apenas o réu, posteriormente passou a se torturar

as testemunhas, com a expectativa de se obter a verdade dos fatos.

2.4 PROCESSO PENAL ENTRE OS GERMÂNICOS

Baseado ainda no autor Fernando Tourinho, a sociedade germânica também

distinguia os crimes públicos dos crimes privados. A confissão, por exemplo, tinha

um valor extraordinário, as principais provas eram os ordálios ou juízes de Deus e o

juramento.

O juiz de Deus era um combate judicial, se o acusado vencesse, seria

absolvido, pois era considerado inocente, um exemplo de um juiz de Deus era o

denominado purgationes vulgares, como o da água fria e o da água fervente, o

primeiro consistia em arremessar o acusado à água, se submergisse, era inocente,

se permanecesse à superfície, era culpado; já o segundo método consistia em fazer

o acusado colocar o braço dentro da água fervente, se, ao retirar, não sofresse

nenhuma lesão, era inocente.

2.5 PROCESSO PENAL CANÔNICO

Page 14: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

14

A jurisdição eclesiástica surgiu para defender os interesses da igreja, até o

século XII o processo era acusatório, não havia julgamento sem acusação.

A partir do século XIII, passou a ser o sistema inquisitivo, isto é,

consideravam-se apenas as denúncias anônimas e a inquisição, a acusação foi

abolida, bem como a publicidade do processo. O interrogatório do acusado era

realizado através da tortura, não havia garantia ao réu e não se permitia defesa sob

o argumento de que poderia criar obstáculos na descoberta da verdade.

2.6 AS EVOLUÇÕES NO PROCESSO PENAL

A estrutura do processo penal variou com o passar dos séculos, conforme

Aury Lopes Júnior, (2015), o sistema acusatório predominou até meados do século

XII, sendo substituído pelo inquisitório, o qual permaneceu até o final do século

XVIII, isto porque os movimentos sociais e políticos levaram a uma mudança no

sistema processual penal.

A doutrina brasileira majoritária afirma que o sistema brasileiro atual é misto,

isto é, na fase pré-processual predomina o sistema inquisitório e na fase processual,

o sistema acusatório. Para Aury é um equívoco afirmar que o sistema brasileiro é

misto, considerando que não existem mais sistemas puros, portanto, a partir do

reconhecimento de que não existem mais sistemas puros, deve-se identificar o

princípio informador de cada sistema para só então classificá-lo como inquisitivo ou

acusatório.

No sistema inquisitório o juiz exerce todas as funções em um processo,

como julgar e investigar, portanto, não existe o juiz imparcial, Aury, em sua obra

Direito Processual Penal, cita Jacinto Coutinho, o qual aduz que "ao inquisidor cabe

o mister de acusar e julgar, transformando-se o imputado em um mero objeto de

verificação, razão pela qual a noção de parte não tem nenhum sentido". (Jacinto

Coutinho cit. p. 23, apud Aury Lopes Júnior, 2015, p 42).

Page 15: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

15

A prova nesse sistema é tarifada, como exemplo dessa tarifação, a

confissão, que era a prova que possuía o maior "peso" nas decisões e sentenças

dos magistrados.

Ainda, a sentença não produzia coisa julgada e, a prisão do acusado no

transcurso do processo era uma regra geral. Esse sistema perdeu forças com a

Revolução Francesa, pois neste período houve a valorização do homem e dos

movimentos filosóficos. A maior crítica negativa deste procedimento, conforme

explica Aury, é de que o sistema inquisitório incide em erro psicológico, isto é, "crer

que uma pessoa possa exercer funções tão antagônicas como investigar, acusar,

defender e julgar." (2015, p. 42).

Já o sistema processual acusatório se caracteriza por haver a distinção entre

as funções de acusar e julgar; a iniciativa probatória é das partes; o juiz é imparcial,

já que não participa da investigação do caso em que atuará como julgador; há o

tratamento de isonomia entre as partes, isto é, o direito da parte se manifestar sobre

qualquer ato que a outra parte praticar no processo; o procedimento é em regra

geral oral; há publicidade de todos os atos; possui o contraditório; não existe mais

prova tarifada, predominando o livre convencimento motivado do juiz; há o duplo

grau de jurisdição e, por fim, existe segurança jurídica da coisa julgada.

Esse sistema é o que vige no Brasil, não sendo absoluto, pois conforme os

ensinamentos de Aury, não existem mais sistemas puros no mundo jurídico.

Page 16: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

16

3 DAS PROVAS

3.1 CONCEITO

Prova originária do latim probatio significa demonstrar, verificar, examinar,

reconhecer, formar juízo de algo, isto é, tudo aquilo que se destina a formar a

convicção do magistrado, demonstrando os fatos ou até mesmo o próprio direito

discutido no litígio. Segundo Tourinho Filho, prova é:

(...) antes de mais nada, estabelecer a existência da verdade; e as provas são os meios pelos quais se procura estabelecê-la. É demonstrar a veracidade do que se afirma, do que se alega. Entendem-se também por prova, de ordinário, os elementos produzidos pelas partes ou pelo próprio juiz visando estabelecer, dentro do processo, a existência de certos fatos. É o instrumento de verificação do thema probandum. (2009, p. 522)

Para Mirabete "prova" é: "(...) demonstração a respeito da veracidade ou

falsidade da imputação." (2008, p. 453).

Nas palavras de Nucci, a palavra "prova" existem três definições:

(...) a) ato de provar: é o processo pelo qual se verifica a exatidão ou verdade do fato alegado pela parte no processo; b) meio: é o instrumento pelo qual se demonstra a verdade de algo; c) resultado da ação de provar: é o produto extraído da análise dos instrumentos de prova oferecidos, demonstrando uma verdade daquele fato. (2007, p. 359)

3.2 FINLIDADE

O objetivo da prova é a obtenção do convencimento do julgador que decide

pela condenação ou absolvição do réu, por meio da apreciação da prova. No

processo penal, segundo o artigo Sistemas de Valoração das Provas, extraído do

site http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/628015/sistemas-de-valoracao-da-prova,

existem três modelos de valoração da prova: o Sistema Legal, o Sistema da Íntima

Convicção e o Sistema da Persecução Racional.

O Sistema Legal, também denominado de 'Sistema Tarifado' advém do

procedimento acusatório. Távora (2009), explica que no sistema acusatório além de

Page 17: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

17

haver a separação de funções, como já mencionado no capítulo anterior, este é

conduzido pelos princípios do contraditório, da ampla defesa e da publicidade do

processo. No sistema acusatório, a apreciação das provas é o do livre

convencimento motivado.

Ainda sobre o Sistema acusatório, o autor Marcelo M. Flores explica que:

O sistema acusatório predomina naqueles países que tem maior respeito pela liberdade individual, possuindo uma sólida base democrática”. Desta forma, já se vislumbra que serão grandes as diferenças entre este sistema e o inquisitorial. (2009, p. 43).

O Sistema da Íntima Convicção não é aplicado no processo penal brasileiro,

uma vez que a nossa Carta Magna prevê em seu art. 93, inciso IX, que todos os

julgamentos serão públicos, assim como todas as decisões deverão ser

fundamentadas sob pena de nulidade. Portanto, não há que se falar em

convencimento do magistrado apenas pela íntima convicção, sem considerar o que

foi juntado aos autos para apreciação do órgão julgador.

Por fim, há o Sistema da Persuasão Racional ou do Livre Convencimento,

este sim, utilizado no ordenamento jurídico brasileiro, o qual prevê a liberdade para

juiz poder avaliar as questões de fato, devendo motivar as questões de direito, esta

liberdade está implícita no artigo 93 da Constituição Federal e explícita no artigo 155

do nosso Código de Processo Penal brasileiro:

O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvados as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008).

Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008).

3.3 PROVA E ELEMENTOS NORMATIVOS

É importante destacar que há diferenças entre prova e elementos

informativos, aquela é o elemento formador de convicção do órgão julgador

produzido em contraditório judicial, já estes não estão submetidos à exigência do

Page 18: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

18

contraditório e da ampla defesa, como consta no artigo 5º, inciso LV, da Constituição

Federal de 1988. Essa distinção tornou-se fundamental após a Lei 11.690/2008, cuja

uma das alterações foi o artigo 155 do Código de Processo Penal, o qual prevê que:

O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação”. Isto é, o juiz, para sentenciar, deve valer-se das provas colhidas na instrução, podendo utilizar de forma acessória os elementos informativos. ( STF – HC 96.356 – Rel.Min. Marco Aurélio – DJe 24-9-2010 e STJ – HC 11.829 – Rel. Min. Jorge Mussi– DJe 14-2-2011).

3.4 DESTINATÁRIO

O magistrado é o destinatário direto da prova que formará seu

convencimento através das provas trazidas nos autos, já as partes são destinatárias

indiretas, pois terão acesso às provas juntadas aos autos para ciência e

entendimento da decisão do órgão julgador.

3.5 CLASSIFICAÇÃO DA PROVA

Segundo Nestor Távora (2012), a prova pode ser classificada quanto ao

objeto, ao valor, à causa e a forma ou aparência.

Quanto ao objeto: É a incidência que a prova tem com o fato a ser provado,

que poderá ser:

Direta: Refere-se diretamente sobre o fato a ser provado, exemplo:

juntada de documentos.

Indireta: Refere-se a outro fato ou circunstância que, por meio de um

raciocínio lógico-dedutivo leva ao fato principal.

Quanto ao Valor ou Efeito: É o grau de certeza ocasionado pela apreciação

da prova pelo magistrado, podendo ser:

Page 19: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

19

Plena: Ocasiona um juízo de certeza no julgador acerca do fato.

Não Plena ou Indiciária: Gera um juízo de probabilidade, isto é, a prova

está limitada quanto à profundidade, acarretando a possibilidade da decretação das

medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal.

Quanto à Causa ou Sujeito: Consiste no material produzido em si, que pode

ser:

Real: É aquela resultante do fato, exemplo: apreensão de um

documento, uma arma, etc.

Pessoal: São aquelas emanadas da pessoa humana, exemplo:

depoimentos, confissões, testemunhos, etc.

Quanto a Forma ou Aparência: É o modo que a prova se mostra no

processo, podendo ser:

Testemunhal: É expressa pela afirmação de uma pessoa,

independente de ser testemunha ou não, exemplo: interrogatório do réu.

Documental: É o instrumento que materializa a manifestação de um

pensamento, decorre de documentos, exemplo: Contrato.

Material ou Pericial: Derivada de exames, vistorias, isto é, qualquer

meio físico, químico ou biológico, exemplo: corpo de delito, instrumentos do crime,

etc.

3.6 PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM AS PROVAS

Os princípios são as ideias fundamentais e basilares do direito com respaldo

na justiça e na moralidade. As provas possuem alguns princípios gerais que

norteiam tanto o legislador quanto o aplicador do direito diante de uma lacuna ou

omissão legal, são eles:

Page 20: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

20

3.6.1 Princípio Da Autorresponsabilidade Das Partes

Segundo Nestor Távora (2012), este princípio prevê que as partes são

responsáveis pela sua inação, erro ou negligência em relação à produção de provas,

isto é, se a parte acusadora não diligenciar na produção das provas que levam à

incriminação, esta inércia ensejará a absolvição do réu.

Nas palavras do doutrinador Aranha:

Cada parte assume e suporta as consequências de sua inatividade, negligência, erro ou atos intencionais, pois tem o encargo de apresentar em juízo os elementos comprobatórios das alegações feitas e que lhe compete demonstrar. (2006, p. 32)

Portanto, o princípio da autorresponsabilidade das partes é a

responsabilidade das partes na produção das provas nos autos.

3.6.2 Princípio Da Audiência Contraditória

Este princípio informa que toda a prova produzida deve ser submetida ao

contraditório, ocasionando desta forma, a oportunidade de manifestação da parte

contrária, é o que dispõe o artigo 5º, inc. LV da Constituição Federal Brasileira.

Para Mirabete, esse princípio assegura que: "toda prova admite uma

contraprova, não sendo admissível a produção de uma delas sem o conhecimento

da outra parte (princípio do contraditório)". (2000, p. 266)

3.6.3 Princípio Da Aquisição Ou Da Comunhão

A prova produzida no processo não pertence a nenhuma das partes, assim,

depois de produzida, todos podem usufruir da prova, pois, esta passa a integrar o

processo e, se a parte desejar desistir da prova deverá, obrigatoriamente, a parte

contrária ser ouvida.

Page 21: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

21

3.6.4 Princípio Da Oralidade

Segundo este princípio, entende-se que deve haver predominância da palavra

falada perante o juiz, um exemplo é o interrogatório e a prova testemunhal.

Távora (2012) entende que após a reforma do Código Penal, com a Lei nº.

11.719/2008, o princípio da oralidade deve ser fracionado em dois subprincípios:

• Concentração: Busca-se concentrar toda a produção de prova em

uma única audiência.

• Imediatidade ou Imediação: Significa que o magistrado deve estar

próximo ao contexto probatório, permitindo assim, uma valoração mais precisa para

o momento do julgamento. Essa é a base do princípio da identidade física do juiz, o

qual está previsto implicitamente no art. 399, § 2º, do Código de Processo Penal,

esse dispositivo prevê a necessidade do contato direto da prova com o magistrado

que preside a instrução com julgamento no processo.

3.6.5 Princípio Da Publicidade

A regra geral é a publicidade dos atos processuais, como prevê o art. 792,

caput, e § 1º, do Código de Processo Penal e art. 5º, inc. LX, da Carta Magna, no

entanto, há uma exceção quanto a esse preceito: quando o processo corre em

segredo de justiça, isto é, quando trata-se de defesa da intimidade ou do interesse

social.

Segundo os ensinamentos de Marcellus Polastri,

A regra é que a produção dos atos judiciais, e, assim, a produção de provas, seja pública, só podendo se dar o segredo de justiça excepcionalmente, em casos previamente expressos. (2004, p. 73)

3.6.6 Princípio Do Livre Convencimento Motivado

Page 22: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

22

No processo Penal brasileiro não vigora o princípio da prova tarifada, o qual

dispõe que cada prova tem um valor fixado em lei, portanto, o princípio do livre

convencimento motivado assegura que o julgador tenha liberdade de valorar as

provas de acordo com sua consciência e convencimento, através das provas

contidas no processo, desde que motivados.

Neste sentido Fernando Capez afirma:

As provas não são valoradas previamente pela legislação; logo, o julgador tem a liberdade de apreciação, limitado apenas aos fatos e circunstâncias constantes nos autos. (2008, p. 320/321).

Este é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

TRÁFICO DE DROGAS. FALTA DE PROVAS. ABSOLVIÇÃO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO PREVISTO NO ARTIGO 28 DA LEI 11.343/2006. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO MANDAMUS. LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA DO ACÓRDÃO QUE MANTEVE A SENTENÇA CONDENATÓRIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. (HC 343107 / RS HABEAS CORPUS 2015/0302537-0. T5 - QUINTA TURMA. Ministro JORGE MUSSI (1138). Data Julgamento: 15/12/2015. DJe 02/02/2016).

(...) No processo penal brasileiro vigora o princípio do livre convencimento motivado, em que o julgador, desde que de forma fundamentada, pode decidir pela condenação, não se admitindo no âmbito do habeas corpus a reanálise dos motivos pelos quais as instâncias ordinárias formaram convicção pela prolação de decisão repressiva em desfavor do acusado.

3.6.7 Princípio Nemo Tenetur Se Detegere (Direito de não produzir prova contra si

mesmo).

Este princípio também denominado de "autodefesa" pelos tribunais, afirma

que ninguém pode ser obrigado a se autoincriminar. Assim explica Távora:

Por mais relevante e fundamental que seja a prova no processo, o acusado não poderá se manter em silêncio se suas declarações implicarem em prejuízo à defesa. (2012, p. 47).

3.6.8 Princípio Da Liberdade Da Prova

Page 23: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

23

O princípio da liberdade da prova é consequência do princípio da verdade

processual, isto é, o magistrado deve sempre buscar a verdade dos fatos que lhe

são apresentados, porém, sua ação encontra limites previstos em lei.

Portanto, a liberdade da prova não é absoluta, pois muitas vezes o juiz

estará adstrito em sua pesquisa acerca da verdade dos fatos. Para Paulo Rangel

(2009), o fundamento desta limitação está em que a lei considera alguns interesses

de maior valor do que a simples prova de um fato, mesmo que seja ilícito. Como

exemplo dessa limitação está na prova do estado civil, que está sujeita a limitações

impostas pela lei civil, art. 155, § U, do Código de Processo Penal, que diz:

"Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições

estabelecidas na lei civil”.

Outro exemplo é em relação ao crime falimentar, o qual o juiz fica limitado

em sua pesquisa sobre a validade da sentença que declarou a quebra no juízo

falimentar ou concedeu a recuperação judicial.

3.6.9 Princípio Da Inadmissibilidade Das Provas Ilícitas Por Meios Ilícitos

Conforme prevê o art. 5º, inc. LVI Constituição Federal de 1988, não será

admitida no processo às provas obtidas por meios ilícitos.

O art. 157 do Código de Processo Penal também faz alusão acerca do

referido princípio, afirmando não serem admissíveis às provas obtidas por meios

ilícitos, devendo ser desentranhadas do processo, se houver.

3.7 MEIOS DE AQUISIÇÕES DE PROVAS

3.7.1. Da prova ilegal

Page 24: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

24

A Constituição Federal, em seu art. 5º, LVI, dispõe que são inadmissíveis as

provas obtidas por meios ilícitos e, segundo Renato Brasileiro de Lima (2015), para

o Estado Democrático de Direito, a descoberta da verdade não pode ser feita a

qualquer preço, ainda que haja um prejuízo da apuração da verdade, pois devem

prevalecer os direitos e garantias fundamentais da pessoa humana. Para o referido

autor, seria contraditório em um processo criminal, o qual visa à apuração da prática

de um ilícito penal, se o Estado se valesse de métodos transgressores aos direitos

assegurados pelo ordenamento jurídico, havendo assim, um comprometimento de

todo o sistema punitivo.

Todavia, a Constituição Federal é omissa em relação ao conceito de ilícito,

diante dessa lacuna, a doutrina majoritária, segundo a obra do autor supracitado, se

baseou no autor italiano Pietro Nuvolone para conceituar "prova ilegal". Portanto,

segundo Renato Brasileiro:

A prova será considerada ilegal sempre que sua obtenção se der por meio de violação de normas legais ou de princípios gerais do ordenamento, de natureza material ou processual. (2015, p. 607).

Assim, entende-se que se houver qualquer violação a normas legais ou

princípios gerais ou, qualquer violação à norma processual, considerar-se-á a prova

ilegal para fins processuais.

3.7.2 Provas Ilícitas

Segundo Uadi Lammêgo Bulos:

(...) provas obtidas por meios ilícitos são as contrárias aos requisitos de validade exigidos pelo ordenamento jurídico. Esses requisitos possuem a natureza formal e material. A ilicitude formal ocorrerá quando a prova, no seu momento introdutório, for produzida à luz de um procedimento ilegítimo, mesmo se for lícita a sua origem. Já a ilicitude material delineia-se através da emissão de um ato antagônico ao direito pelo qual se consegue um dado probatório, como nas hipóteses de violação domiciliar, constrangimento físico, psíquico ou moral a fim de obter confissão ou depoimento de testemunha, etc. (2001, p. 244)

Renato Brasileiro de Lima (2015), explica que a prova será considerada

ilícita quando for obtida através da violação de uma regra de direito material, em

suas palavras:

Page 25: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

25

Quando houver a obtenção de prova em detrimento de direitos que o ordenamento reconhece aos indivíduos, independentemente do processo, a prova será considerada ilícita. (2015, p. 607)

Fernando Capez afirma que “quando a prova for vedada, em virtude de ter

sido produzida com afronta as normas de direito material, será chamada de ilícita”.

(2008, p. 294)

Portanto, a prova não precisa ser necessariamente ilícita, basta ser

produzida de forma contrária ao ordenamento jurídico, violando alguma norma de

direito material, como a integridade física, por exemplo, que se encontra assegurada

no artigo 5º, inc. XLIX da Carta Magna, para que se torne ilícita, devendo

consequentemente ser desentranhada dos autos.

3.7.3 Provas Ilegítimas

As provas ilegítimas são as obtidas com violação à norma processual, um

exemplo é o artigo 226 do Código de Processo Penal, o qual descreve o

procedimento adotado para o reconhecimento de pessoa, se algum requisito ali

elencado foi violado, a prova será considerada ilegítima ante a violação da norma

processual.

Aduz Avolio Torquato que:

Enquanto na prova ilegítima a ilegalidade ocorre no momento de sua produção no processo, a prova ilícita pressupõe uma violação no momento da colheita de provas, anterior ou concomitantemente ao processo, mas

sempre externamente a este. (1995, p. 43/45).

Nesse sentido, deve-se observar também as normas processuais para que

não haja um comprometimento da prova juntada aos autos devido a violação da

norma processual.

3.8 LIMITES AO DIREITO À PROVA

Page 26: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

26

Antes de ser admitida a prova no processo, é necessário verificar se houve

ilicitude no ato da produção ou colheita da prova. Caso haja ilegalidade, a regra

geral é que esta prova deverá ser desentranhada dos autos a fim de evitar futuras

nulidades processuais.

Como explica Marcellus Polastri, (2004), o código italiano trata da aquisição

da prova em dois sentidos: o primeiro, em sentido próprio, referindo-se à admissão

da prova preconstituída, isto é, aquela produzida fora do debate dos autos; em

sentido amplo, trata-se de aquisição da prova preconstituída e mesmo a admissão e

assunção da prova declarativa, seja no curso do processo, seja em fases

antecedentes.

Já no processo penal brasileiro, em se tratando de aquisição de prova, há

uma limitação aos meios de aquisição da prova e para isso, deve ser feito uma

valoração no sentido de se a prova pode ser admitida sem vícios.

Aduz Frederico Marques que:

De um modo geral são inadmissíveis os meios de prova, que a lei proíba e aqueles que são incompatíveis com o sistema processual em vigor, tais são: a) os meios de provas probatórios de invocação ao sobrenatural; b) os meios de provas que sejam incompatíveis com os princípios de respeito ao direito de defesa e à dignidade da pessoa humana. (1997, p. 256).

Assim, não sendo a prova imoral, ilegal e não ferindo a dignidade da pessoa

humana, poderá ser admitida e passível de aquisição no processo penal brasileiro.

O exame de admissibilidade da prova é ato privativo do juiz, não existe no

processo penal brasileiro despacho saneador para a admissibilidade da prova,

entretanto, alguns artigos do Código de Processo Penal observam a pertinência e

relevância da produção de provas, não prevendo tal ato em casos que por si só

revelam a verdade real, como determina o art. 184 do referido instituto, acerca do

indeferimento da perícia: "Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou

autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for

necessária ao esclarecimento da verdade”.

Contudo, o direito à produção de provas encontra respaldo no nosso

ordenamento jurídico, acerca dessa importância, Ada Pellegrini afirma:

Uma vez que a atividade probatória representa o momento central do processo, estritamente ligada à alegação e à indicação dos fatos, visa ela a

Page 27: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

27

possibilitar a demonstração da verdade, revestindo-se de particular relevância para o conteúdo do provimento jurisdicional. O concreto exercício da ação e da defesa fica essencialmente subordinado à efetiva possibilidade de representar ao juiz a realidade do fato posto como fundamento das pretensões das partes, ou seja, destas poderem servir-se de provas. (2007, p. 195).

No entanto, como observa Magalhães Gomes Filho,

A conclusão sobre a existência de um direito à prova, em nosso ordenamento jurídico, obriga-nos a indagar sobre a natureza, seus titulares, seu conteúdo, e, ainda, de suas possíveis limitações. (1997, p. 83)

Ademais, o ato processual deve ser perfeito, válido, eficaz e produzido sob

as normas legais, caso contrário, será tido como inválido, sendo então, declarada a

nulidade desse ato. Cabe ressaltar, para melhor entendimento, a diferença entre

prova nula e prova inadmissível, esta consiste numa valoração prévia feita pelo

legislador, enquanto que àquela é uma consideração posterior à colheita da prova

com vícios, sendo declarada ineficaz.

De qualquer modo, tem que haver conformidade com a regra processual

para a prova ser admitida.

3.9 MEIOS DE PROVA

Segundo o artigo escrito pelos autores Antonio Magalhães Gomes Filho e

Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró – Prova e Sucedâneos de Prova no Processo

Penal Brasileiro, o nosso Código Penal não disciplina de forma sistemática os meios

de provas, pois não há uma distinção entre “meios de prova”, “meios de

investigação” e outros procedimentos probatórios. Assim, explicam os autores que,

por exemplo, o interrogatório do acusado, embora previsto no Código de Processo

Penal no título da “prova”, na verdade constitui meio de defesa.

Outro exemplo citado pelos referidos autores é referente à confissão, a qual

é considerada como meio de prova, no entanto, a confissão é resultado de uma

declaração de vontade, que pode ocorrer dentro ou fora do processo, devendo ser

devidamente documentada para que tenha algum valor. Assim, a confissão

extrajudicial deverá ser consolidada em algum documento e este documento é que

Page 28: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

28

será o meio de prova e não a confissão em si. Já a confissão judicial ocorre no

interrogatório, razão pela qual não deve ser considerado um meio de prova e sim, o

eventual resultado do interrogatório.

Ressalta-se ainda em relação aos meios de provas que muitos autores

entendem que as provas elencadas no processo penal não são taxativas, podendo

assim, serem admitidas no processo outras provas que não estão disciplinadas no

referido instituto, desde que obedecidas às restrições impostas. Estas provas são

denominadas de atípicas, como exemplo, a inspeção judicial, que apesar de constar

no Código de Processo Civil, também pode ser utilizada na esfera penal por

analogia. Deste modo, se fossem utilizados novos recursos técnicos e científicos

para a obtenção de elementos, poderiam ser aplicados os procedimentos já

existentes, por analogia.

Todavia, os autores Magalhães Filho e Badaró fazem uma crítica negativa

quanto a utilização das provas consideradas atípicas, pois, há muitas inobservâncias

quanto a qualidade e eficácia da prova utilizada no processo, um dos exemplos

mencionados é sobre o reconhecimento fotográfico. No Código de Processo Penal

está elencado o meio de prova denominado “reconhecimento pessoal”, que para sua

validade, deve ser rigorosamente observado o artigo 226 do referido Código,

todavia, tem-se aceitado o reconhecimento fotográfico como meio de prova, desde

que não seja possível a realização do reconhecimento pessoal, sob o argumento da

aceitação de meio de prova atípico. Ocorre que neste tipo de procedimento os dados

disponíveis são muito menos precisos, pois há ausência de outras informações que

são imprescindíveis como peso, altura, além do que, muitas vezes a fotografia não

condiz com a realidade, isto é, a fotografia enseja confusões e erros muito maiores

do que o reconhecimento pessoal.

Portanto, entende-se que este meio de prova não pode ser utilizado,

isoladamente, para fundamentar uma decisão condenatória.

Contudo, conclui-se que a utilização de provas ou meio de provas atípicas

deve observar as restrições impostas para que a prova ou meio de prova não perca

a sua eficácia no processo, no entanto, conforme o artigo escrito pelos autores

Magalhães Filho e Badaró, infelizmente, não é o que ocorre na praxe forense

atualmente.

Page 29: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

29

3.10 ÔNUS DA PROVA

A palavra "ônus" vem do latim onus, que significa carga, peso, fardo,

encargo. Nas palavras de Rangel, "ônus é o encargo que as partes têm de provar as

alegações que fizerem em suas postulações”. (2008, p. 455/456). Trata-se de uma

obrigação para consigo mesmo que, se não for cumprida, ninguém, a não ser o

encarregado, sairá prejudicado.

Távora leciona que "o ônus da prova é o encargo atribuído à parte de provar

aquilo que alega.” (2012, p. 37).

A demonstração probatória é uma faculdade, assumindo a parte omissa as

consequências de sua inatividade.

Para a defesa incumbirá a prova dos fatos impeditivos, isto é, as hipóteses

que excluem o dolo ou a culpabilidade; os fatos modificativos que tornam o ilícito em

lícito, como as excludentes de ilicitude, os fatos extintivos, a prescrição e causa

extintiva de punibilidade. No entanto, Vicente Greco Filho explica que:

(...) ao réu incumbe, em princípio, a prova da existência de fato impeditivo,

modificativo ou extintivo da pretensão acusatória. O descumprimento do ônus, contudo, por parte do réu, não acarreta necessariamente a precedência da imputação, porque o ônus da prova para a defesa é um ônus da prova imperfeito ou diminuído, em virtude do princípio in dubio pro reo, que leva a absolvição, no caso de dúvida da imputação. Assim, em princípio, à defesa incumbe a iniciativa da prova das excludentes, mas basta-lhe a prova que suscite uma dúvida razoável, porque a dúvida milita em seu favor. (1993, p. 36/37)

Para o autor, após oferecida a denúncia ou queixa, este deverá fazer prova

da ocorrência do fato e sua autoria e, ainda, fazer prova do dolo ou da culpa do

acusado. A doutrina majoritária entende que o dolo é presumido, desde que

comprovado a autoria e materialidade, entretanto, para Tourinho (2001), há a

necessidade de a acusação comprovar o dolo, não apenas pelo réu gozar da

presunção da inocência, mas também por entender que adotada a Teoria Finalista

da Ação, o dolo integra o tipo e, como a tipicidade deve ser provada pela acusação,

a esta incumbe provar o dolo, elemento do tipo.

Page 30: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

30

4 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE OU RAZOABILIDADE

A proporcionalidade surgiu na Alemanha tendo a sua aplicação fundada em

lei onde as provas obtidas de forma ilícita são utilizadas no processo, punindo-se os

responsáveis pela sua produção.

O referido princípio foi adaptado nos USA servindo como regra de exclusão

à inadmissibilidade de provas ilícitas, quando, no caso concreto, a exclusão da prova

ilícita levaria a absoluta injustiça.

O doutrinador Ávila explica que:

A proporcionalidade é aplicável quando há uma relação de causalidade entre dois elementos empiricamente discerníveis, um meio e um fim, impondo ao intérprete três exames essenciais: o da adequação (o meio promove o fim?), o da necessidade (dentre os meios disponíveis e igualmente adequados para promover o fim, não há outro meio menos restritivo do direito fundamental afetado?) e o da proporcionalidade em sentido estrito (as vantagens trazidas pela promoção do fim correspondem às desvantagens provocadas pela adoção do meio?). (2007, p. 161)

Alexy, por sua vez, enfatiza que:

A máxima da proporcionalidade em sentido estrito, ou seja, exigência de sopesamento decorre da relativização em face das possibilidades jurídicas. Quando uma norma de direito fundamental com caráter de princípio colide com um princípio antagônico, a possibilidade jurídica para a realização dessa norma depende do princípio antagônico. Para se chegar a uma decisão é necessário um sopesamento nos termos da lei de colisão. (2008, p. 117)

Para Pacelli (2009), para a nossa realidade esta não é a melhor maneira de

tutelar os direitos e garantias individuais, concordando com os ensinamentos de

Magalhães Gomes Filho, o qual afirma que:

Corre-se o risco de haver um verdadeiro incentivo da pratica de ilegalidades, diante da menor expectativa que se deve ter de uma efetiva punição dos produtores da prova, até porque a prova estaria servindo aos interesses da acusação. (1997, p. 102)

Portanto, o conflito entre bens jurídicos tutelados leva o julgador a dar

prioridade àquele bem de maior relevância, isto é, entre o jus puniendi e a legalidade

na produção probatória e, do outro lado, a liberdade do réu, este último bem deve

prevalecer. Neste sentido, o princípio da proporcionalidade só poderá ser aplicado

para assegurar os interesses do acusado, segundo a legislação brasileira e o

entendimento doutrinário majoritário.

Page 31: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

31

4.1 TEORIAS DECORRENTES - LIMITAÇÕES À PROVA ILÍCITA POR

DERIVAÇÃO

Com o desenvolvimento da teoria dos frutos da árvore envenenada, devido à

rigidez com que era aplicada, criou-se então as exceções da prova ilícita por

derivação, Ranato Brasileiro de Lima (2015), afirma que algumas dessas teorias já

são aplicadas no ordenamento jurídico brasileiro. Assim, é necessário trazer

algumas dessas teorias para o presente estudo.

4.1.1 Teoria da Exclusão da Ilicitude da Prova

Essa teoria afirma que a prova, aparentemente ilícita, deve ser tida como

válida quando a conduta do agente encontrar respaldo na lei, isto é, excludentes de

ilicitude, como exemplo: estado de necessidade, legítima defesa, estrito

cumprimento do dever legal e exercício regular do direito.

4.1.2 Teoria dos Frutos da Árvore envenenada - Prova Ilícita por Derivação

Provas ilícitas por derivação, segundo Renato Brasileiro (2015), são as

provas produzidas validamente, todavia, em um momento posterior, encontra-se

afetadas pelo vício da ilicitude originária, que a esta prova se transmite,

contaminando-as.

Devido a grande controvérsia doutrinária e jurisprudencial acerca da

aceitação ou não destas provas, a Suprema Corte norte-americana destacou a

teoria dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous tree), a qual entende-

se que os vícios da planta transmitem-se aos seus frutos.

O Supremo Tribunal Federal entende que ninguém pode ser condenado com

base em prova obtida por meio ilícito:

Page 32: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

32

(...) A QUESTÃO DA DOUTRINA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA ("FRUITS OF THE POISONOUS TREE"): A QUESTÃO DA ILICITUDE POR DERIVAÇÃO. - Ninguém pode ser investigado, denunciado ou condenado com base, unicamente, em provas ilícitas, quer se trate de ilicitude originária, quer se cuide de ilicitude por derivação. Qualquer novo dado probatório, ainda que produzido, de modo válido, em momento subseqüente, não pode apoiar-se, não pode ter fundamento causal nem derivar de prova comprometida pela mácula da ilicitude originária. - A exclusão da prova originariamente ilícita - ou daquela afetada pelo vício da ilicitude por derivação - representa um dos meios mais expressivos destinados a conferir efetividade à garantia do "due process of law" e a tornar mais intensa, pelo banimento da prova ilicitamente obtida, a tutela constitucional que preserva os direitos e prerrogativas que assistem a qualquer acusado em sede processual penal. Doutrina. Precedentes. - A doutrina da ilicitude por derivação (teoria dos "frutos da árvore envenenada") repudia, por constitucionalmente inadmissíveis, os meios probatórios, que, não obstante produzidos, validamente, em momento ulterior, acham-se afetados, no entanto, pelo vício (gravíssimo) da ilicitude originária, que a eles se transmite, contaminando-os, por efeito de repercussão causal. Hipótese em que os novos dados probatórios somente foram conhecidos, pelo Poder Público, em razão de anterior transgressão praticada, originariamente, pelos agentes da persecução penal, que desrespeitaram a garantia constitucional da inviolabilidade domiciliar. - Revelam-se inadmissíveis, desse modo, em decorrência da ilicitude por derivação, os elementos probatórios a que os órgãos da persecução penal somente tiveram acesso em razão da prova originariamente ilícita, obtida como resultado da transgressão, por agentes estatais, de direitos e garantias constitucionais e legais, cuja eficácia condicionante, no plano do ordenamento positivo brasileiro, traduz significativa limitação de ordem jurídica ao poder do Estado em face dos cidadãos. - Se, no entanto, o órgão da persecução penal demonstrar que obteve, legitimamente, novos elementos de informação a partir de uma fonte autônoma de prova - que não guarde qualquer relação de dependência nem decorra da prova originariamente ilícita, com esta não mantendo vinculação causal -, tais dados probatórios revelar-se-ão plenamente admissíveis, porque não contaminados pela mácula da ilicitude originária. - A QUESTÃO DA FONTE AUTÔNOMA DE PROVA ("AN INDEPENDENT SOURCE") E A SUA DESVINCULAÇÃO CAUSAL DA PROVA ILICITAMENTE OBTIDA - DOUTRINA - PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - JURISPRUDÊNCIA COMPARADA (A EXPERIÊNCIA DA SUPREMA CORTE AMERICANA): CASOS "SILVERTHORNE LUMBER CO. V. UNITED STATES (1920); SEGURA V. UNITED STATES (1984); NIX V. WILLIAMS (1984); MURRAY V. UNITED STATES (1988)", v.g..

(RHC 90376 / RJ - RIO DE JANEIRO RECURSO EM HABEAS CORPUS. RELATOR: Min. CELSO DE MELLO. JULGAMENTO: 03/04/2007, SEGUNDA TURMA).

Neste sentido, Ada Pellegrini afirma:

Na posição mais sensível às garantias da pessoa humana, e consequentemente mais intransigente com os princípios e normas constitucionais, a ilicitude da obtenção da prova transmite-se às provas

derivadas, que são assim, igualmente banidas do processo. (2007, p. 163)

Porém, a teoria dos frutos da árvore envenenada não é absoluta em sua

incidência, explica Renato Brasileiro (2015), que contém algumas limitações como: a

limitação da fonte independente ("independent source" limitation), a limitação da

Page 33: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

33

descoberta inevitável ("inevitable discovery" limitation), a limitação da mancha

purgada (vícios sanados ou tinta diluída), a exceção da boa fé, a teoria do risco, a

limitação da destruição da mentira do acusado, a doutrina da visão aberta, a teoria

do encontro fortuito de provas, limitação da renúncia do acusado, a limitação da

infração constitucional alheia , a limitação da infração constitucional por pessoas que

não fazem parte do órgão policial, entre outras teorias.

4.1.3 Prova Absolutamente Independente ou Limitação da Fonte Independente:

Conforme leciona Roberto Brasileiro:

Se o órgão da persecução penal demonstrar que obteve, legitimamente, novos elementos de informação a partir de uma fonte autônoma de prova, que não guarde qualquer relação de dependência, nem decorra da prova originariamente ilícita, com esta não mantendo vínculo causal, tais dados probatórios são admissíveis, porque não contaminados pela mácula da ilicitude originária. (2015, p. 614/615).

Portanto, se a prova obtida não tiver nenhum vínculo com a prova

originariamente ilícita, será então admitida nos autos, não havendo nenhum vício

jurídico.

4.1.4 Descoberta Inevitável

Essa teoria tem origem no direito americano e assegura que se a prova

obtida por meio ilícito seria conseguida de qualquer maneira, por meios de

investigações válidas, ela será aproveitada. Aduz Távora que: "A prova ilícita que

deu ensejo à descoberta de outra prova, que seria colhida mesmo sem a existência

de ilicitude, não terá condão de contaminá-la". (2012, p. 29/33).

Page 34: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

34

4.1.5 Limitação da Mancha Purgada (vícios sanados ou tinta diluída)

Firmada pela Suprema Corte Americana, segundo essa limitação, Roberto

Brasileiro (2015), afirma que a teoria da prova ilícita por derivação não se aplica se o

nexo causal entre a prova primária e a secundária for atenuado em virtude do

decurso do tempo, de circunstâncias supervenientes na cadeia probatória, da menor

relevância da ilegalidade ou da vontade de um dos envolvidos em colaborar com a

persecução criminal.

Portanto, para essa teoria, apesar de já ter havido a contaminação de um

meio de prova, um acontecimento futuro afasta o vício da ilicitude, permitindo-se

assim, i aproveitamento da prova.

4.1.6 Exceção da Boa-Fé

Para essa teoria que também teve origem no direito americano, ainda

conforme o autor Roberto Brasileiro, a prova obtida com violação a princípios

constitucionais deve ser considerada válida, desde que a sua obtenção não tenha

decorrido da vontade de quem procedeu a investigação, mas sim de uma situação

de erro ou ignorância, havendo dois elementos imprescindíveis para a aplicação da

referida teoria: a boa-fé e a crença razoável na conduta do agente.

4.1.7 Teoria do Risco

Teoria originária do direito americano, a qual visa dar fundamento a prova

obtida ilegalmente, Roberto Brasileiro cita o conceito de Silva Júnior, o qual afirma:

O argumento é de que a pessoa que faz, espontaneamente, revelações a respeito de sua participação em eventos ilícitos, assume o risco quanto à documentação do fato por outrem (...). (Silva Júnior, Op. cit. p. 521/522 apud Roberto Brasileiro, 2015, p. 620).

Page 35: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

35

No Brasil não há registros da aplicação dessa teoria, nem pelo Supremo

Tribunal Federal nem pelo Superior Tribunal de Justiça, no entanto, Roberto

Brasileiro (2015), destaca que no tocante às gravações clandestinas, se um dos

interlocutores gravar a conversa telefônica sem o conhecimento do outro, o Superior

Tribunal Federal tem entendido que é admissível tal prova no processo desde que

não haja causa legal de sigilo ou de reserva de conversação, esse assunto será

melhor explanado mais adiante do presente estudo.

4.1.8 Limitação da destruição da Mentira do Imputado

Essa teoria norte americana afirma que a prova ilícita, embora não seja

idônea para comprovar a culpabilidade do acusado, pode ser valorada no sentido de

demonstrar que o autor do fato delituoso está mentindo.

No Brasil não há precedentes desta teoria.

4.1.9 Doutrina da Visão Aberta

Renato Brasileiro, (2015), explica que no sistema norte americano, uma

investigação em locais assegurados pela inviolabilidade domiciliar só será valida se

houver a autorização judicial, ainda que se trate de flagrante delito. Portanto, se

durante o cumprimento do mandado judicial expedido para apreender documentos

ou objetos relacionados a um crime, a autoridade policial encontrar objetos

relacionados a outro delito, ainda que se trate de um crime permanente, tais objetos

não poderão ser apreendidos por não ser considerados válidos.

Para teoria da visão aberta, ante o princípio da razoabilidade, considera-se

legítima a apreensão de outros documentos ou objetos probatórios de outro crime

que não seja o delito investigado, todavia, o encontro desse objeto e/ou documento

deve se dar de maneira casual, caso contrário, a prova deverá ser considerada

Page 36: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

36

ilícita, Renato Brasileiro cita duas situações previstas nesta teoria: quando restar

comprovado que o agente policial já cumprira a diligência que constava no mandado

judicial, no entanto, continua realizando buscas no interior do domicílio do acusado,

obtendo assim, elementos relativos a outro delito. Portanto, ao encontrar o objeto do

mandado judicial, deve-se concluir imediatamente a busca, se optar por prosseguir,

restará evidenciado o desvio de finalidade e, consequentemente a prova ali obtida,

ser considerada ilícita e, quando restar comprovado que o agente policial cumpre o

mandado judicial em locais diversos, onde notoriamente não estaria o objeto da

autorização judicial.

No Brasil essa teoria não é utilizada, pois a Constituição Federal prevê a

possibilidade de violação domiciliar nos casos de flagrante delito,

independentemente de ordem judicial. A referida teoria se aproxima da teoria do

encontro fortuito de provas, a qual será explicada a seguir.

4.1.10 Teoria do Encontro Fortuito das Provas (Serendipidade)

Essa teoria é utilizada quando, no cumprimento de uma diligência relativa a

um delito, a autoridade policial encontra, casualmente, provas relacionadas a outro

tipo penal. Roberto Brasileiro explica:

Fala-se de encontro fortuito de provas ou serendipidade quando a prova de determinada infração penal é obtida a partir de diligência regularmente autorizada para a investigação de outro crime. Nesses casos, a validade da prova inesperadamente obtida será condicionada à forma como foi realizada a diligência: se houve desvio de finalidade, abuso de autoridade, a prova não deve ser considerada válida; se o encontro da prova foi casual, fortuito, a prova é válida. (2015, p. 622).

Cumpre ressaltar que se houver o desvio de finalidade com a diligência

determinado no mandado judicial, eventual prova encontrada deverá ser

considerada ilícita, todavia, se tratar de flagrante delito, se a autoridade policial,

munida de mandado de busca e apreensão, deparar-se com certa quantidade de

droga no interior da residência, tal prova será considerada válida por tratar de delito

de tráfico de drogas, espécie de crime permanente, isto é, aquele cujo momento da

consumação se prolonga com o tempo, por vontade do agente, neste caso, haverá o

Page 37: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

37

flagrante delito, o qual autoriza o ingresso no domicílio da autoridade policial mesmo

sem autorização judicial.

Contudo, existe um número maior de exceções da prova ilícita por

derivação, sendo a maioria dessas teorias originárias no sistema norte americano,

muitas dessas teorias não são aplicadas no ordenamento pátrio devido às

divergências das normas dos sistemas jurídico americano e brasileiro.

Page 38: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

38

5 A ADMISSIBILIDADE DA PROVA ILÍCITA NO PROCESSO PENAL

Devido ao grande desenvolvimento da tecnologia, da vida privada, da honra,

da intimidade, a prova ilícita tem se tornado uma preocupação relevante no direito

processual contemporâneo.

Busca-se um equilíbrio, pois de um lado é necessário propiciar condições

para o Estado enfrentar a criminalidade crescente e organizada, do outro lado, deve-

se manter ao cidadão a garantia da tranqüilidade, a intimidade, a sua imagem,

enfim, de todos os direitos elencados na nossa Carta Magna.

Segundo Antonio Scarance (2012), a discussão acerca da admissão das

provas ilícitas ensejou quatro correntes fundamentais:

A prova ilícita é admitida quando não houver impedimento na lei

processual, punindo-se quem a produziu, pelo crime eventualmente produzido. Essa

corrente é defendida por Cordero, Tornaghi, Mendonça.

O ordenamento jurídico é uma unidade e, sendo assim, não é possível

consentir que uma prova ilícita, vedada pela constituição, possa ser aceita no âmbito

processual. Corrente defendida por Nuvolone, Frederico Marques, Fragoso e

Pestana de Aguiar.

É inadmissível a prova obtida mediante violação de norma

constitucional porque será inconstitucional. Corrente defendida por Cappellutti,

Vigoriti, Comoglio.

Admite-se a produção de prova obtida em violação da norma

constitucional em situações excepcionais quando, no caso, objetiva-se a proteger

bem maior constitucionalmente protegido. Corrente defendida por Baur, Barbosa

Moreira, Renato Maciel, Hermano Durval, Camargo Aranha, Moniz Aragão.

Antonio Scarance, (2012), em sua obra O Processo Penal Constitucional,

menciona duas situações concretas da necessidade de se admitir o critério da

proporcionalidade: Para impedir a fuga de presos considerados perigosos do

estabelecimento prisional. Neste caso, violou-se correspondências desses presos,

descobrindo-se que, no plano de fuga, constava também o sequestro de um juiz.

Page 39: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

39

Acerca desta situação, já há jurisprudências nesse sentido:

HABEAS CORPUS - ESTRUTURA FORMAL DA SENTENÇA E DO ACÓRDÃO - OBSERVANCIA - ALEGAÇÃO DE INTERCEPTAÇÃO CRIMINOSA DE CARTA MISSIVA REMETIDA POR SENTENCIADO - UTILIZAÇÃO DE COPIAS XEROGRAFICAS NÃO AUTENTICADAS - PRETENDIDA ANALISE DA PROVA - PEDIDO INDEFERIDO

(...). - A administração penitenciaria, com fundamento em razoes de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei n. 7.210/84, proceder a interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de praticas ilícitas. (STF - HABEAS CORPUS: HC 70814 SP)

O relator, Ministro Celso de Mello, destaca em seu voto que:

Razões de segurança pública, de disciplina penitenciária, ou de preservação da ordem jurídica, poderão justificar, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei de Execução Penal, a interceptação de correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de práticas ilícitas. (STF - HABEAS CORPUS: HC 70814 SP).

Outra situação que Scarance elenca é a de que o réu obteve prova ilícita

mediante interceptação telefônica não autorizada, pois este era o único meio pelo

qual dispunha para provar a sua inocência. Como afirma o autor supracitado: "É

inaceitável condenar o acusado apenas porque a demonstração de sua inocência só

pode ser realizada por meio de prova obtida de forma ilícita." (2012, p. 92).

Ada Pellegrini, Scarance e Magalhães Filho, (2000), afirmam que a prova no

processo penal, através do princípio da proporcionalidade, pode ser utilizada se for a

favor do acusado, ainda que tenha sido colhida com infringência a direitos

fundamentais seus ou de terceiros. Eles explicam que:

Trata-se da aplicação do princípio da proporcionalidade, na ótica do direito de defesa, também constitucionalmente assegurado, e de forma prioritária no processo penal, todo informado pelo princípio do favor rei. (2000, p. 153).

No mesmo sentido, para o doutrinador Aury Lopes Júnior (2015), a prova

ilícita pode ser admitida e valorada apenas se for a favor do réu, considerando o

princípio da proporcionalidade pro reo, em que o sopesamento entre o direito de

liberdade prevalece sobre um direito sacrificado na obtenção da prova. Greco Filho

afirma que:

Page 40: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

40

Uma prova obtida por meio ilícito, mas que levaria a absolvição de um inocente (...), teria de ser considerada porque a condenação de um inocente é a mais abominável das violências e não pode ser admitida ainda que sacrifique algum outro preceito legal. (p. 112-113, apud Scarence Fernandes, Antonio. Processo Penal Constitucional, cit. p. 81).

Continuando, Aury Lopes Júnior:

(...) o réu estaria, quando da obtenção (ilícita) da prova, acobertado pelas excludentes da legítima defesa ou do estado de necessidade, conforme o caso. Também é perfeitamente sustentável a tese da inexigibilidade de conduta diversa (excluindo agora a culpabilidade). Tais excludentes afastariam a ilicitude da conduta da prova, legitimando seu uso no processo. (2015, p. 407)

Rangel (2013), também entende que a aplicação da teoria da exclusão da

ilicitude encontra respaldo no Direito, não podendo a prova ser considerada ilícita.

Um exemplo citado por Aury (2015) é a interceptação telefônica feita pelo próprio

réu, sem ordem judicial, desde que se destine a fazer prova de sua inocência em

processo criminal que busca a sua condenação, situação esta prevista também pelo

Scarance.

Portanto, conforme Ada Pellegrini, Scarence e Magalhães Filho, (2000),

além dos autores já citados, quando a prova aparentemente ilícita, for colhida pelo

próprio acusado, exclui-se a ilicitude por causas legais como a legítima defesa que

exclui a antijuricidade.

Cumpre ressaltar que a prova ilícita que fora utilizada para a absolvição do

inocente não poderá ser utilizada contra terceiro, uma vez que em relação a ele,

essa prova é ilícita. Da mesma forma, não poderá essa prova ser aproveitada em

outro processo, pois a prova seguirá com o vício da ilicitude.

Contudo, percebe-se que o acusado tem suas garantias asseguradas no

Direito brasileiro, que tem como pilar a aplicação do princípio da presunção de

inocência do acusado até o transito em julgado de um processo. Essas garantias

estão previstas na Constituição Federal de 1988, a qual estabelece o devido

processo legal em seu art. 5º, inc. LIV, bem como a garantia da apreciação do

Judiciário a qualquer lesão ou ameaça ao direito, vedando a admissão de provas

ilícitas no processo, todavia, com aplicação relativa do referido princípio, pois, como

já vimos, admite-se na doutrina brasileira a prova ilícita pro reo, garantindo assim

seus direitos de um processo justo. Está incluso neste rol de direito de defesas às

Page 41: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

41

garantias estabelecidas na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, cujo

texto foi aprovado em São José da Costa Rica em 22/11/1969.

No Brasil, a aprovação desses direitos se deu em 26/05/1992, sendo

ratificado pela Carta de Adesão de 25/09/1992, se incorporando ao direito interno

pelo Decreto 678, de 06/11/1992, que determinou seu cumprimento integral.

Conforme a Ada Pellegrini (2000) expõe, o art. 7º da Convenção trata do

direito à liberdade pessoal do acusado, o art. 8º do mesmo Instituto refere-se às

garantias judiciais, isto é, todas as garantias processuais penais da Convenção

Americana integram o sistema constitucional brasileiro, pois conforme previsto na

própria Constituição Federal Brasileira, no art. 5º, § 2º:

Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Portanto, as garantias constitucionais e as garantias da Convenção

Americana dos Direitos Humanos se completam, isto é, se alguma norma deixar

uma lacuna em relação a outra, prevalecerá a norma que melhor assegure os

direitos fundamentais.

É importante fazer uma observação diante da situação que enfrentamos

atualmente, o mundo tem sofrido, freqüentemente, com ataques terroristas, o que

ensejou a polêmica da segurança mundial, tendo em vista a vulnerabilidade em que

a sociedade se encontra diante desses ataques surpresas em diversos locais,

tornando-se praticamente impossível prevê-los com antecedência para evitá-los,

pois pode ser a qualquer momento, em qualquer lugar, praticado por qualquer

pessoa. Essa situação gerou consequências no Brasil como a Lei Antiterrorismo,

que foi criada na tentativa de evitar ataques no país, ainda mais em tempos de

olimpíadas, em que pessoas do mundo inteiro se concentram no Brasil, tornando-se

alvo perfeito para os terroristas.

Todavia, relatores especiais da Organização das Nações Unidas afirmaram

que esta Lei foi redigida em termos muito amplos e poderia limitar indevidamente

liberdades individuais da população, sendo, portanto, um retrocesso do Direito Penal

brasileiro. Segundo o artigo do site Jusbrasil, para os especialistas da ONU:

Page 42: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

42

O temor é de que a nova definição do crime determinado pelo Projeto de Lei possa ocasionar incerteza no momento de decidir o que o Estado pode encarar, potencialmente gerando prejuízos para a manutenção dos direitos humanos e, consequentemente, das liberdades fundamentais.

Com o advento da Lei Antiterrorismo, alguns direitos fundamentais como os

direitos a liberdade de associação, a possibilidade de reunião pacífica e a liberdade

de expressão, podem ser afetados devido a amplitude e definições incertas da lei, a

qual pode acabar criminalizando ações pacíficas na defesa de direitos trabalhistas,

políticos, religiosos e das minorias.

Ademais, termos muito amplos como os termos utilizados na referida lei

poderão causar prejuízos irreparáveis e grande caos na sociedade, considerando

não só que os direitos fundamentais acima citados serão atingidos, mas também

outros direitos que trarão enorme desvantagem ao indivíduo que, eventualmente,

seja enquadrado na Lei Antiterrorismo, um exemplo é o art.12, o qual estabelece

que:

O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em vinte e quatro horas, havendo indícios suficientes de crime previsto nesta Lei, poderá decretar, no curso da investigação ou da ação penal, medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou existente em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei.

Com este dispositivo nota-se que havendo simplesmente indícios, pois a Lei

refere-se sempre em indícios, não estabelecendo critérios mais precisos, mais

objetivos, o acusado já ficará vulnerável às medidas estabelecidas como

assecuratórias, como por exemplo, a apreensão de bens, deixando o cidadão a

mercê das arbitrariedades de autoridades, pois, o art. 15 da mesma lei, ainda vai

mais longe, ao mencionar que:

O juiz determinará, na hipótese de existência de tratado ou convenção internacional e por solicitação de autoridade estrangeira competente, medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores oriundos de crimes descritos nesta Lei praticados no estrangeiro.

§ 1o Aplica-se o disposto neste artigo, independentemente de tratado ou

convenção internacional, quando houver reciprocidade do governo do país

da autoridade solicitante.

Page 43: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

43

Portanto, qualquer cidadão brasileiro que seja considerado mero suspeito

por alguma autoridade estrangeira, o juiz brasileiro ‘determinará’ medidas

assecuratórias a este cidadão, isto é, o legislador estabelece que o juiz terá que

determinar e não apenas “poderá determinar” uma medida assecuratória, há uma

afirmação na norma jurídica, não oportunizando a liberdade do magistrado em

decidir, mediante investigação, a real necessidade de tal medida.

A Lei em comento ainda menciona que para as situações que são

enquadradas neste tipo penal, será aplicada subsidiariamente a lei da Organização

Criminosa, mais especificamente, Da Investigação E Dos Meios De Obtenção Da

Prova, isto é, conforme o art. 3º da Lei 12.850/2013:

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:

I - colaboração premiada; II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou

acústicos; III - ação controlada; IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a

dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;

V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica;

VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica;

VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;

VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.

§ 1o Havendo necessidade justificada de manter sigilo sobre a capacidade investigatória, poderá ser dispensada licitação para contratação de serviços técnicos especializados, aquisição ou locação de equipamentos destinados à polícia judiciária para o rastreamento e obtenção de provas previstas nos incisos II e V. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015)

Portanto, percebe-se como o cidadão ficou vulnerável com o advento da lei

Antiterrorista que possui normas muito amplas, ocasionando um enorme retrocesso

no ordenamento penal, bem como uma insegurança jurídica na sociedade, pois os

direitos fundamentais das pessoas que se enquadrarem nesta lei por mera suspeita,

não encontrarão respaldo legal, considerando que será aplicada subsidiariamente a

Lei da Organização Criminosa, a qual é mais rígida e permite medidas mais severas.

Nesse sentido, as pessoas que cometerem os delitos elencados na Lei

13.260/16 terão seus direitos fundamentais violados, pois os tipos penais ali

Page 44: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

44

elencados se fundam em meros indícios, o que contraria o nosso ordenamento

jurídico considerando que no Brasil prevalece o princípio da presunção da inocência

até o transito em julgado, isto é, até que se tenha provas suficientes da autoria e

materialidade do delito praticado.

Contudo, quando alguma lei limita liberdades fundamentais, o Estado tem o

dever de assegurar que os princípios de necessidade, proporcionalidade e não

discriminações sejam mantidos e devidamente aplicados, permanecendo protegidos

os direitos que, uma vez conquistados pela sociedade, não podem ser suprimidos

diante de situações hipotéticas e meras suspeitas.

5.1 A ADMISSIBILIDADE DE PROVAS ILÍCITAS PRO SOCITATE

Nos dias atuais, a teoria da Proporcionalidade, tema já abordado neste

estudo, tem ganhado cada vez mais espaço entre a doutrina e jurisprudência. Essa

teoria adota o princípio da proporção, admitindo a produção da prova ilícita mesmo

ante a violação de norma constitucional em casos excepcionais, esta visão do direito

é seguida pelos doutrinadores, além de Marcellus Polastri Lima, José Carlos

Barbosa Moreira, Camargo Aranha, Moniz Aragão, Vicente Greco Filho, Celso

Ribeiro Bastos, Yves Gandra Martins, Ada pellegrini Grinover, Antônio Magalhães

Gomes Filho e Sérgio Demoro Hamilton.

Alguns autores defendem que só poderá ser aceita a prova ilícita nos autos

desde que não seja vedada pelo ordenamento processual. Para esses

doutrinadores, segundo Aury Lopes Junior, (2009), o responsável pela prova ilícita

poderá utilizá-la no processo, desde que responda em outro processo pela eventual

violação da norma de direito material.

Cordero (p. 44, Vol. II, apud Aury Lopes Júnior, 2009, p. 578-579) afirma que

não interessa a violação de normas de direito material, apenas a violação de direito

processual.

Page 45: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

45

O termo ilícito, utilizado pelo legislador deriva do latim - illicitus, que possui

dois sentidos: um restrito, que informa o que é proibido por lei e, outro genérico, que

indica o que é contrário aos bons costumes e à moral.

Assim prevê no sentido restrito o art. 233 do Código de Processo Penal: "As

cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios criminosos não serão

admitidas em juízo.", da mesma forma o art. 5º, inc. LVI, da Constituição Federal

dispõe: "São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meio ilícito." Ocorre

que segundo o princípio da proporcionalidade, também chamado de princípio da

razoabilidade, poderá ser anulada esta vedação probatória se existirem outros

valores que se igualem ou devam se sobrepor à vedação legal.

Deste modo, se coexistir outro interesse como a gravidade de certos delitos

ou a maior necessidade de repressão estatal, ou mesmo, se tal prova for privilegiada

no processo, poderia sim, ser admitida a prova obtida ilicitamente.

Na jurisprudência alemã, segundo Marcellus Polastri (2004), vigora o

princípio em estudo (Verhaltnismassigkeitprinczip), sob o fundamento de que a

utilização dessas provas, em certas circunstâncias, decorre de um direito estatal,

devendo prevalecer a ordem social em detrimento de direitos individuais, pois em

delitos de maior gravidade ou em casos de criminalidade organizada se justifica tal

prática para assegurar o interesse coletivo.

A maioria dos países adota essa teoria e, alguns doutrinadores entendem

que a referida teoria é aplicada no Brasil através da Constituição Federal de 1988,

no art. 5º, inc. XII, o qual dispõe:

É inviolável o sigilo das correspondências e comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual.

Entende-se que tal dispositivo estaria consagrando a teoria em questão,

deixando uma "brecha" para que a lei autorizasse a quebra do sigilo, para casos

excepcionais.

Para a teoria da Proporcionalidade, considera-se que em eventual conflito

entre garantias individuais, impõe-se a prevalência do interesse maior a ser

protegido.

Page 46: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

46

Nas palavras do doutrinador Aranha,

Para a teoria da proporcionalidade, propomos uma nova denominação: a do interesse preponderante. Em certas situações, a sociedade, representada pelo Estado, é posta diante de dois interesses fundamentais relevantes e antagônicos e que a ela se cumpre preservar: a defesa de um princípio constitucional e a necessidade de perseguir e punir o criminoso. A solução deve consultar o interesse que prevalecer e que, como tal, deve ser preservado”.

ARANHA, Adalberto José Q.T de Camargo. Da Prova no Processo Penal, 7 edição. rev. e atual - São Paulo: Saraiva, 2006, p. 64. Citada pelo autor passagem de ementa do STJ que concluiu: "Só tem lugar sem a observância do sistema constitucional e cairia no absurdo, o de que um texto feito em defesa da sociedade, do homem do bem, deva ser utilizado para proteger um marginal. Isso não entra na cabeça de ninguém, nem do juiz, dentro do seu equilíbrio, de sua isenção, porque o juiz também é humano e percebe as coisas fora do processo." (HC nº 3.982-RJ, Rel. Min. Adhemar Maciel, DJU, 26/12/1996, p. 4.084).

Ementa

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. "HABEAS CORPUS". ESCUTA TELEFÔNICA COM ORDEM JUDICIAL. REU CONDENADO POR FORMAÇÃO DE QUADRILHA ARMADA, QUE SE ACHA CUMPRINDO PENA EM PENITENCIARIA, NÃO TEM COMO INVOCAR DIREITOS FUNDAMENTAIS PROPRIOS DO HOMEM LIVRE PARA TRANCAR AÇÃO PENAL (CORRUPÇÃO ATIVA) OU DESTRUIR GRAVAÇÃO FEITA PELA POLICIA. O INCISO LVI DO ART.

5. DA CONSTITUIÇÃO, QUE FALA QUE 'SÃO INADMISSIVEIS AS PROVAS OBTIDAS POR MEIO ILICITO', NÃO TEM CONOTAÇÃO ABSOLUTA. HA SEMPRE UM SUBSTRATO ETICO A ORIENTAR O EXEGETA NA BUSCA DE VALORES MAIORES NA CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE. A PROPRIA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA, QUE E DIRIGENTE E PROGRAMATICA, OFERECE AO JUIZ, ATRAVES DA 'ATUALIZAÇÃO CONSTITUCIONAL' (VERFASSUNGSAKTUALISIERUNG), BASE PARA O ENTENDIMENTO DE QUE A CLAUSULA CONSTITUCIONAL INVOCADA E RELATIVA. A JURISPRUDENCIA NORTE-AMERICANA, MENCIONADA EM PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, NÃO E TRANQUILA. SEMPRE E INVOCAVEL O PRINCIPIO DA 'RAZOABILIDADE' (REASONABLENESS). O 'PRINCIPIO DA EXCLUSÃO DAS PROVAS ILICITAMENTE OBTIDAS' (EXCLUSIONARY RULE) TAMBEM LA PEDE TEMPERAMENTOS. ORDEM DENEGADA.

No entanto, em acórdão de 1997, analisado na obra de Marcellus Polastri,

(2004), decidiu o Superior Tribunal Federal que somente se admite o referido

princípio no Brasil em relação à defesa, isto é, pro reo, nunca pro societate:

No confronto entre uma proibição de prova, ainda que ditada pelo interesse de proteção a um direito fundamental e o direito à prova da inocência, parece claro que deva este último prevalecer, não só porque a liberdade e a dignidade da pessoa humana constituem valores insuperáveis, na ótica da sociedade democrática, mas também porque ao próprio Estado não pode interessar a punição de um inocente, o que poderia significar a impunidade do verdadeiro culpado; é nesse sentido, aliás, que a moderna jurisprudência

Page 47: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

47

norte-americana tem afirmado que o direito à prova de defesa á superior." (Tribunal Pleno, Min. Néry da Silveira, DJU, 20/06/1997, p. 28.507)

Por sua vez, Carlos Barbosa Moreira critica a adoção do princípio da

proporcionalidade somente pro reo sob o argumento de que a admissibilidade da

prova ilícita, por aplicação ao princípio da proporcionalidade, aplica-se também à

acusação pro societate com fundamento no princípio da isonomia e considerando

também a crescente criminalidade:

Acerca do princípio da isonomia em favor da acusação, Carlos Barbosa

argumenta que:

Os órgãos de repressão penal dispõem de maiores e melhores recursos que o réu. Em tal perspectiva, ao favorecer a atuação da defesa no campo probatório, não obstante posta em xeque a igualdade formal, se estará tratando e restabelecer entre as partes a igualdade substancial. (1996, p. 128/134)

Portanto, nesse sentido, a aplicação do princípio da proporcionalidade,

fundado no princípio da isonomia, pode ocorrer em favor da acusação, como

exemplo, na hipótese da criminalidade organizada, quando esta é superior às forças

da polícia e do Ministério Público.

Assim afirma Barbosa Moreira:

O raciocínio é hábil e, em condições normais, dificilmente se contestará a premissa de superioridade das armas da acusação. Pode suceder, no entanto, que ela deixe de refletir a realidade em situações de expansão e fortalecimento da criminalidade organizada, como tantas que enfrentam as sociedades contemporâneas. É fora de dúvida que atualmente no Brasil, certos traficantes de drogas estão muito mais bem armados que a polícia e, provavelmente, não lhes será mais difícil que a ela nem lhes suscitará maiores escrúpulos, munir-se de provas ilícitas. Exemplo óbvio é o da coação de testemunhas nas zonas controladas por narcotráficos: nem passa pela cabeça de ninguém a hipótese de que algum morador da área declare à polícia ou juízo, algo diferente do que lhe houver ordenado o "poderoso chefão" local.

E Barbosa continua:

Não merecerá particular reexame a precipitação em importar de maneira passiva e acrítica, segundo não raro acontece, a doutrina dos 'frutos da árvore envenenada', ainda mais em formulação indiscriminada, nua dos matizes que a recobrem no próprio país de origem? Será ela adequada à realidade do Brasil de hoje? (1996, p. 128/134)

Ampliaram tal medida para os infratores atuais e potenciais, sobretudo, na área constantemente em expansão da criminalidade organizada, a perspectiva de escapar às sanções cominadas em lei acaso contribuirá para satisfazer o generalizado clamor contra a impunidade vista por tantos, com razões ponderáveis (e descontados alguns acessos de paranoia), qual fator

Page 48: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

48

relevante na aceleração do ritmo em que vai baixando o nível ético dos nossos costumes, políticos e outros? Devemos confessar de resto, com absoluta franqueza a enorme dificuldade que sentimos em aderir a uma escala de valores que coloca a preservação da intimidade de traficantes de droga acima do interesse de toda a comunidade nacional (ou melhor, universal) em dar combate eficiente à praga do trafico, combate que, diga-se de passagem, é também um valor constitucional, conforme ressalta a inclusão do 'tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins' entre os 'crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia. (Art. 5º, XLIII). (V. 337, p. 128/134). (1996, p. 128/134)

Ademais, em seu artigo A Constituição e as Provas Ilicitamente obtidas,

Revista de Processo | vol. 84 | p. 144 | Out / 1996, Barbosa afirma que a regra é a

admissibilidade das provas e que esse princípio fundamental se reflete na tendência

dos modernos ordenamentos processuais para abandonar na matéria a técnica de

enumeração taxativa, e permitir que além de documentos, depoimentos, perícias e

outros meios tradicionais regulados em textos legais específicos se recorram a

expedientes não previstos em termos expressos, mas eventualmente idôneos para

ministrar ao juiz informações úteis à reconstituição dos fatos.

O doutrinador Avolio (2003), explica que no condicionamento aos dogmas do

"livre convencimento" e da "verdade real", há inequivocadamente, uma tendência em

favor do princípio da verdade real, ainda que baseada em meios ilícitos.

Em sua obra "Provas Ilícitas", o autor explana acerca do entendimento dos

juristas alemães, os quais sustentam que o interesse da coletividade deve

prevalecer sobre uma formalidade antijurídica, tema já abordado em estudo;

menciona o autor Guasp, que considera a prova ilícita eficaz, porém, sem o prejuízo

da aplicação das sanções civis, penais ou disciplinares aos responsáveis. Ainda,

neste sentido da obtenção da verdade no caso concreto, o autor norte-americano

Fleming que condena a anulação da prova obtida ilicitamente afirmando que esta

não poderia ser afastada à custa de castigo à polícia pelo seu mau comportamento.

Avolio cita ainda a doutrina italiana que compartilhou este entendimento no

tocante à admissibilidade das provas ilícitas em favor da acusação, consagrando

este dogma com a teoria: male captum, bene retentum (mal colhida, mas bem

conservada), isto é, baseiam-se numa relação hipotética entre a inadmissibilidade da

prova e a ilegalidade dos meios utilizados para a sua obtenção, que deveria existir

no ordenamento jurídico. Já o autor Carneluti entende que há uma inadequação do

Page 49: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

49

conceito de ilicitude, pois a irregularidade do ato entendido como deficiência de

alguns de seus requisitos é que determinaria sua eficácia jurídica.

Todavia, os doutrinadores Gomes Filho, Celso Ribeiro Bastos e Gandra

Martins admitem a admissibilidade das provas ilícitas apenas quando favorecer o

réu.

Contudo, Denilson Feitoza (2008), conclui que a inadmissibilidade das

provas ilícitas não pode ser tratada de forma absoluta, uma vez que há exceções,

ainda que em situações extremas e excepcionais.

Entende o referido doutrinador que aplica-se a admissão de provas ilícitas

apenas nestas situações mencionadas, pois ao contrário, o Estado estaria sendo

incentivado a violar direitos fundamentais, ferindo inclusive um dos princípios

basilares do Direito - o princípio da legalidade.

Page 50: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

50

6 A INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS ILÍCITAS NO PROCESSO PENAL

BRASILEIRO

Provas ilícitas é que necessitariam da prisão constitucional, estabelecendo a sua inadmissibilidade no processo, pois do contrário, poderiam ter eficácia, em virtude de nem sempre violarem norma processual. A sua inadmissibilidade no processo significa que devem ser desentranhadas do processo, para não servirem de base a uma decisão ou sentença judicial. (2011, p. 607).

Este é o conceito de provas ilícitas de Elmir Ducler, em sua obra Direito

Processual Penal.

O preceito da inadmissibilidade das provas ilícitas está assegurado na

Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LVI, bem como o artigo 157 do Código

de Processo Penal, ambos já mencionados neste estudo.

A vedação das provas ilícitas é inerente ao Estado Democrático de Direito e

incide no controle da regularidade da persecução penal, visando inibir e

desestimular a prática de adoção de meios ilícitos para a obtenção das provas.

Ademais, tal norma assecuratória tem o objetivo de tutelar os direitos e

garantias individuais, bem como a qualidade do material probatório trazido aos

autos.

O legislador estabeleceu limites ao princípio da liberdade da prova, como já

aduzido em capítulos anteriores, portanto, o juiz é livre na investigação dos fatos

imputados, porém esta investigação encontra limites no ordenamento jurídico que é

regido por princípios políticos e sociais que visam a ordem de um Estado

Democrático.

Paulo Rangel (2013), afirma que no Estado Democrático de Direito, os fins

não justificam os meios, pois:

Não há como se garantir a dignidade da pessoa humana admitindo uma prova obtida com violação às normas legais em vigor. Do contrário, estaríamos em um Estado opressor e totalitário. (2013, p. 463).

O autor Elmir Duclerc entende que a opção entre a busca da verdade e a

defesa das garantias individuais se traduz numa questão de proporcionalidade e, em

Page 51: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

51

um crime de homicídio, deveria prevalecer o bem jurídico 'vida', podendo desta

forma, a prova ilícita ser aceita.

Todavia, Elmir afirma que por trás desse entendimento, há uma tentativa

equivocada de distorcer a ideia do princípio da proporcionalidade, o doutrinador

Gomes Filho leciona que: "para a banalização dos direitos e garantias individuais e

um atentado à presunção de inocência." (1997 p. 105/106).

O autor explica que tal entendimento decorre de que para proceder à

comparação dos interesses em conflito, por exemplo, no crime de furto, o direito a

intimidade x o direito ao patrimônio, ou no exemplo já mencionado do crime de

homicídio, o direito à vida x ao direito à intimidade, o juiz faria um prejulgamento

condenatório sobre o fato atribuído.

Ademais, essa comparação entre os bens que se deve priorizar, no caso de

um homicídio, seria uma premissa falsa, uma vez que cometido o delito, já não há

mais bem jurídico a ser tutelado, o conflito que existe é entre a intimidade do

acusado e o interesse do Estado em aplicar uma sanção.

Contudo, conforme os ensinamentos do autor supracitado, a

inadmissibilidade das provas significa que estas provas devem ser desentranhadas

dos autos. O desentranhamento da prova ilícita está prevista na Constituição

Federal, art. 5, LVI, assim como no art. 145 do Código de Processo Penal. No

entanto, afirma o doutrinador Denilson que a prova ilícita, assim como os atos

processuais, devem estar devidamente documentadas.

Ricardo Cintra, ao escrever o artigo “A Inadmissibilidade da Prova Ilícita no

Processo Penal – Um Estudo Comparativo das Posições Brasileiro e Norte-

americana, explica que:

Provas criminosas são incompatíveis com a própria noção de processo (que tende à realização do Direito, não apenas à descoberta da verdade), para concluir que o combate à criminalidade só pode ser feito de uma posição eminentemente ética. O Estado que, por seus órgãos, comete crime e se apropria processualmente de seus resultados, isto é, a proa criminosa obtida, e recepta o produto do crime, nunca levará o bom termo a diminuição da criminalidade (...). “Não há senão um remédio: a inadmissibilidade da prova criminosamente obtida”. (1995, p. 162)

Ricardo Cintra cita o posicionamento de Ada Pellegrini Grinover acerca da

inadmissibilidade das provas ilícitas no processo, a qual defende serem

Page 52: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

52

inadmissíveis em Juízo as provas proibidas ao afirmar que é inaceitável a corrente

que admite as provas ilícitas no processo, defendendo tão somente a punição do

infrator pelo ilícito material cometido.

Ricardo Cintra ainda menciona o comentário de Celso Bastos em relação ao

artigo 5º, inc. LVI da Constituição Federal ao afirmar que o referido inciso se refere

tanto aos vícios intrínsecos (provas inadmitidas no processo) como extrínsecos (que

ele denomina “ilicitude”, provas em tese admissíveis, mas cuja forma de obtenção

viola a lei); e que a norma constitucional que visa defender certos direitos

fundamentais deve “ceder naquelas hipóteses em que a sua observância

intransigente levaria à lesão de um direito fundamental ainda mais valorado”.

(Comentários à Constituição do Brasil de 1988, ed. Saraiva, São Paulo, 1989, 2º v,

p. 272 e seguintes).

Acerca dos direitos individuais, a vedação das provas ilícitas tem por

finalidade assegurar o direito à intimidade, à privacidade, à imagem, à inviolabilidade

do domicílio, que são os mais atingidos durante as diligências policiais. Já em

relação a qualidade da prova, o reconhecimento da ilicitude através do meio de

aquisição da prova impede o aproveitamento de métodos cuja idoneidade seja

questionada, um exemplo é a confissão obtida mediante tortura, hipnose ou

qualquer outro meio que seja vedado legalmente.

Ainda, a inadmissibilidade das provas ilícitas enseja igualdade processual,

pois equilibra a relação desenvolvida pela acusação e defesa.

Para entendermos melhor, Eugênio Pacelli (2014), em sua obra Curso de

Processo Penal, cita um exemplo de gravações de conversas feita por meio de

gravadores, ora, quando um dos interlocutores promove a gravação da conversa

sem o conhecimento do outro, a ilicitude não decorre da gravação em si, mas sim

em relação ao seu conteúdo, isto é, o fato de se revelar o conteúdo da gravação a

terceiros, pois tal medida afetará a intimidade do interlocutor que desconhece a

gravação. Para que esta prova produzida seja considerava válida perante nosso

ordenamento jurídico, é imprescindível que haja a justa causa, assim prevê o

dispositivo 153 do Código Penal. A Justa Causa neste contexto refere-se ao estado

de necessidade, como se vê na jurisprudência do STF:

Page 53: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

53

[...] é licita a prova consistente no teor da gravação de conversa telefônica realizada por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro, se não há causa legal específica de sigilo nem de reserva de conservação, sobretudo, quando se predestine a fazer prova, em juízo ou inquérito, a favor de quem o gravou. (STF-RE Nº 402 717-8/PA. Rel: Ministro Cézar Peluso, julgado em 02/12/2008).

Portanto, não se pode afirmar que tal prova é ilícita, neste caso específico,

tendo em vista que a defesa dos direitos do interlocutor, eventualmente em risco,

cuja proteção só se da em decorrência da referida prova.

Há situações que encontram respaldo no Direito, pois acabam por afastar a

ilicitude das provas. Essa exclusão poderá ocorrer devido a presença de fatos e/ou

circunstâncias que afastam a ilicitude da ação praticada.

O Código Penal, no seu art. 23, prevê situações em que a ilicitude é afastada,

sendo denominada pela doutrina de 'Justificação'.

Assim, quando o agente, agindo por alguma das motivações elencadas no

artigo supracitado, estará afastada a ilicitude da ação e, consequentemente, estará

afastada também a ilicitude da obtenção da prova.

No entanto, a gravação de conversa sem o consentimento de um dos

interlocutores, na qual se obtenha a confissão da prática de um crime é inadmissível,

pois há a violação do direito ao sigilo. Essa prova não tem valor probatório pois a

confissão só é admitida quando realizada perante o juiz, no curso da ação. Por outro

lado, o STF reconheceu como válida a gravação de conversa mantida entre agentes

policiais e um preso, na qual, este afirmava ser a responsabilidade da prática de um

crime a uma determinada pessoa, sob o argumento de que o preso, por ter ciência

da prática de um crime, tem o dever de depor, deste modo não poderia alegar o

direito à intimidade, como se vê no julgado do Superior Tribunal Federal:

Ementa

I - PROVA OBTIDA POR MEIOS ILICITOS: INVOCAÇÃO DO ARTIGO 5., LVI DA CONSTITUIÇÃO: IMPROCEDENCIA: PRECEDENTES INAPLICAVEIS. 1. A ESPÉCIE - GRAVAÇÃO DE CONVERSA PESSOAL ENTRE INDICIADOS PRESOS E AUTORIDADES POLICIAIS, QUE OS PRIMEIROS DESCONHECERIAM - NÃO SE PODERIA OPOR O PRINCÍPIO DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES TELEFONICAS - BASE DOS PRECEDENTES RECORDADOS - MAS, EM TESE, O DIREITO AO SILENCIO (CF, ARTIGO 5., LXIII), COROLARIO DO PRINCÍPIO "NEMO TENETUR SE DETEGERE", O QUAL ENTRETANTO, NÃO APROVEITA A TERCEIROS, OBJETO DA DELAÇÃO DE CO-REUS; ACRESCE QUE, NO CASO, A LUZ DA PROVA, A SENTENÇA CONCLUIU QUE OS

Page 54: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

54

INDICIADOS ESTAVAM CIENTES DA GRAVAÇÃO E AFASTOU A HIPÓTESE DE COAÇÃO PSICOLOGICA. II - PRISÃO PARA APELAR DE RÉU CONDENADO POR TRAFICO DE ENTORPECENTES: LEI 6.368/76, ARTIGO 35, E LEI 8.072/90, ARTIGO 2., PAR.2., INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO: EXIGÊNCIA DE NECESSIDADE CAUTELAR SATISFEITA NA ESPÉCIE. A PRISÃO PARA APELAR SÓ SE LEGITIMA QUANDO SE EVIDENCIA A SUA NECESSIDADE CAUTELAR, NÃO CABENDO INFERI-LA EXCLUSIVAMENTE DA GRAVIDADE EM ABSTRATO DO DELITO IMPUTADO; E POSSIVEL, CONTUDO, EXTRAIR DO CONTEXTO DO FATO CONCRETO - QUE REVELA A EXISTÊNCIA DE COMPLEXA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA DE DIMENSÕES INTERNACIONAIS - BASE EMPIRICA PARA A AFIRMAÇÃO DO RISCO DE FUGA DOS CONDENADOS, FUNDAMENTO IDONEO PARA A CAUTELA DA PRISÃO PROVISORIA IMPOSTA. (STF-HC Nº 69818. Rel: SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ 3.11.1992)

Todavia, não há que se falar em inadmissibilidade absoluta da admissão das

provas ilícitas, visto que o direito constitucional nega o caráter de absolutização das

regras e direitos. Atualmente as teorias absolutistas não têm espaços diante das

grandes e infinitas mudanças e evoluções na sociedade.

6.1 A INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS ILÍCITAS NO DIREITO COMPARADO

Os fundamentos utilizados para a aplicação da teoria da admissibilidade das

provas ilícitas têm como principal argumento a busca da verdade, bem como uma

ideia inicial de consciência de valores atinentes às liberdades públicas. Com a

evolução dos ordenamentos jurídicos, criou-se uma diversidade de critérios na

fixação das regras de exclusão baseadas no sistema da civil Law e da common Law,

como explica Avolio (2003), em sua obra Provas Ilícitas - Interceptações Telefônicas

e Gravações Clandestinas.

6.1.1 Itália

Segundo Avolio (2003), os valores constitucionais italianos supervalorizavam

a importância de objetivos que visavam a busca da verdade real ou a defesa da

sociedade. No entanto, a doutrina majoritária rejeitava atitudes que eram a favor da

admissibilidade das provas ilícitas.

Page 55: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

55

O Autor italiano Nuvolone defende a ideia de que a ilicitude da prova não a

torna inadmissível, salvo se for em si mesma inadmissível ou se ocorre uma violação

da norma processual. Todavia, com a vigência do Código de Processo Penal italiano

de 1988, as provas ilícitas se tornaram inutilizáveis, através do art. 191, porém não

deve ser entendida em termos absolutos.

6.1.2 Alemanha

Com as Constituições dos Lander e do Grundegesetz, houve uma nova

concepção jusnaturalista acerca dos valores humanos, priorizando a tutela do

indivíduo em face dos procedimentos processuais até então adotados. Notou-se

principalmente esta visão no âmbito do processo penal, que caminhou no sentido

oposto às velhas concepções doutrinárias sobre a predominância absoluta do

interesse público sobre a busca da verdade, reforçando assim, os novos preceitos

constitucionais cujo principal objetivo era assegurar os direitos do homem.

Conforme expõe Avolio (2003), em 1950, o legislador introduziu o §136, "a",

da Strafprozessoronung, o qual passou a excluir expressamente os maus tratos, a

aplicação de sofrimentos físicos, como substâncias aptas a alterar, reduzir ou oprimir

a capacidade de entendimento e as faculdades mnemônicas do indivíduo, bem

como toda a forma de violência moral ou pressão dolosa realizada em

procedimentos inadmissíveis ou promessas de vantagens ilícitas. Excluiu ainda,

explicitamente, a utilização em juízo das provas obtidas de forma proibida.

Em 1954 houve uma decisão do Bundesgeritchtshof, o qual definiu o

princípio geral: “O direito do homem à tutela de sua dignidade e ao livre

desenvolvimento da própria personalidade deve ser respeitado por qualquer pessoa,

mesmo pelos outros membros da sociedade”.

6.1.3 Estados Unidos

Page 56: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

56

O princípio da inadmissibilidade das provas ilícitas com violação aos direitos

constitucionais é originário dos Estados Unidos.

Conforme aduz Avolio (2003), o sistema norte-americano já possuía diversas

jurisprudências que repeliam as provas obtidas de forma ilegal, entretanto, foi na

sentença proferida pela Suprema Corte no caso "Mapp v. Ohio", de 1961 que se

firmou o entendimento pela inadmissibilidade também nos procedimentos criminais

dos Estados-Membros.

Em 1966 houve outra sentença proferida no caso "Miranda v. Arizona", a

qual aplicou a garantia constitucional contra a "self incrimination" no momento da

sua detenção, isto é, as declarações de um suspeito, enquanto detido pela polícia

não podem ser aceitas como provas, salvo se a polícia tiver comunicado aos

suspeitos todos os seus direitos, quais são: direito de permanecer calado, qualquer

coisa dita poderá ser utilizado contra si no Tribunal, direito à presença de um

advogado e, que este advogado, se necessário, possa ser fornecido gratuitamente,

conforme prevê as emendas 5ª e 14ª.

Contudo, a Suprema Corte Americana considera a prova obtida ilegal se

houver violações às Emendas IV, V, VI e XIV, que tratam respectivamente: o direito

do povo à segurança de suas pessoas, casas, papéis e pertences contra registros,

arrestos e sequestros incoerentes; da necessidade de acusação formalizada, das

garantias da coisa julgada, do "habeas corpus", do nemo tenetur se detegere (o

direito de não produzir provas contra si mesmo) e do due process of law (devido

processo legal); do direito a um julgamento rápido e público, diante de um juiz

imparcial e natural.

6.1.4 Espanha

A doutrina majoritária tem o entendimento da impossibilidade da admissão

das provas obtidas ilegalmente, por infringir a regra de que os fatos ilícitos não

devem favorecer o autor. Avolio (2003) cita alguns doutrinadores como Manresa &

Page 57: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

57

Navarro, Silva Melero e Serra Domingues, todos tem o entendimento de que a prova

ilícita não deve ser aproveitada no processo.

6.1.5 França

Ainda conforme Avolio (2003), na França há a possibilidade de aplicação da

doutrina da inadmissibilidade das provas ilícitas, através de dispositivo do estatuto

processual que regula as nulidades do processo. O art. 172 do Código processual

francês prevê a nulidade nos casos de violação dos direitos da defesa, a

abrangência da anulação é critério do Tribunal que fará o julgamento do caso

concreto, que pode estender-se do ato viciado a qualquer fase posterior do

processo.

Ademais, o art. 173 dispõe que o ato anulado dos autos é excluído,

impossibilitando os magistrados de extrair qualquer elemento, sob pena de incidirem

em prevaricação e, aos defensores, em sanções disciplinares.

Nota-se, portanto, que a aplicação do princípio da inadmissibilidade das

provas ilícitas prevalece em grande parte dos ordenamentos jurídicos, por se

entender que a admissão dessas provas sob toda e qualquer situação há forte

violação aos direitos fundamentais já conquistados.

Page 58: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

58

CONCLUSÃO

As provas têm uma grande relevância para o processo jurídico, pois é

através dela que o magistrado tem seu convencimento acerca da inocência ou

culpabilidade do agente.

O convencimento do juiz ocorre através das provas juntadas nos autos,

podendo trazer consequências gravíssimas na ausência destas, como por exemplo,

a absolvição de um criminoso por falta de provas ou, por falha no sistema probatório,

a condenação de um inocente.

A prova nada mais é do que a demonstração de um fato alegado levado ao

magistrado para que este faça o julgamento do caso concreto de acordo com as leis,

normas, princípios e costumes da sociedade em que está inserido.

No processo penal existem vários tipos de provas que podem ser utilizadas

como: provas periciais, documentais, testemunhais, entre outras. O ônus da prova é

de quem alega os fatos e, o acusado deve comprovar os fatos que pretender alegar

na sua defesa. Todavia, deve-se respeitar os limites ao direito de produzir a prova

ante o princípio da inadmissibilidade das provas ilícitas no processo penal, portanto,

se houver alguma ilicitude na produção ou na colheita da prova, segundo nosso

ordenamento jurídico brasileiro, esta prova deverá ser desentranhada dos autos.

Assim, analisando o caso concreto, devemos aplicar o princípio da

proporcionalidade quando necessário, isto é, quando duas normas de direito

fundamental colidirem, serão essas normas sopesadas para se verificar qual delas

deverá preponderar no caso concreto.

Portanto, para a aplicação o referido princípio é necessário verificar três

elementos essenciais: O elemento da adequação, necessidade e proporcionalidade

para assegurar os direitos de maior valor, no caso a liberdade de um inocente, ainda

que outros direitos seus ou de terceiros venham a ser atingidos.

No tocante a admissão das provas ilícitas existe três teorias no ordenamento

jurídico: A inadmissibilidade das provas ilícitas, a admissibilidade das provas ilícitas

Page 59: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

59

pro reo e, a admissão das provas ilícitas pelo princípio da proporcionalidade com

aplicação do princípio da isonomia.

Os autores que defendem a inadmissibilidade das provas ilícitas no processo

afirmam que este princípio é inerente ao Estado Democrático de Direito, o qual visa

tutelar os direitos e garantias individuais, ensejando a igualdade processual de forma

a equilibrar a relação entre defesa e acusação.

Já os doutrinares que defendem a admissão da prova ilícita pelo princípio da

proporcionalidade entendem que esse procedimento só é possível se utilizado a

favor do acusado sob o argumento de que o sopesamento entre o direito de

liberdade prevalece sobre um direito sacrificado na obtenção da prova, ainda que

seja um direito seu ou de um terceiro, pois conforme esses autores, a condenação

de um inocente apenas por não ter sido possível a aquisição de uma prova licita é

inaceitável, considerando que no ordenamento jurídico brasileiro, predomina o

princípio da presunção da inocência.

Por fim, a doutrina que entende possível a aplicação do princípio da

proporcionalidade com aplicação do princípio da isonomia entende que tal

procedimento aplica-se não somente pro reo, mas também pro societate, pois, para

eles, eventual conflito entre garantias individuais, impõe-se a prevalência do

interesse maior a ser protegido.

Ademais, para estes autores deve ser considerada também a crescente

criminalidade, quando esta é superior às forças da polícia e do Ministério Público.

Todavia, o princípio que se aplica no ordenamento jurídico brasileiro é a

vedação das provas ilícitas no processo penal ante a soberania dos direitos e

garantias fundamentais asseguradas pela Constituição Federal de 1988, pois ao

contrário, isto é, a admissão das provas ilícitas no processo se mostra divergente ao

Estado Democrático de Direito ao defender que a busca pela verdade deve

prevalecer em detrimento aos direitos fundamentais do acusado, visando apenas a

punição do infrator, porém, tal princípio não tem aplicação absoluta.

A possibilidade de admissão de prova ilícita no processo penal brasileiro

ocorre de forma restrita, isto é, apenas para o acusado, diante da impossibilidade de

comprovar a sua inocência, pois considera-se inaceitável a condenação de um

Page 60: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

60

inocente diante da impossibilidade de utilização de uma prova ilícita. Este

procedimento ocorre mediante a aplicação do princípio da proporcionalidade,

devendo ser analisado cautelosamente o caso concreto.

Contudo, nota-se que a busca pela verdade no caso concreto não deve ser

realizada de forma a denegrir outros direitos fundamentais, devendo sempre, em

casos em que tenha que ser realizado o sopesamento entre os direitos conflitantes,

prevalecer o direito à liberdade, bem como da dignidade da pessoa humana.

Page 61: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

61

BIBLIOGRAFIA

ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Ed; São Paulo: Malheiros, 2008.

ARANHA, Adalberto José Q.T de Camargo. Da Prova no Processo Penal. 7. ed;

rev. e atual; São Paulo: Saraiva, 2006.

ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. 7. ed; São Paulo: Malheiros, 2007.

AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas Ilícitas - Interceptações Telefônicas e

Gravações Clandestinas. 3. ed; São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

CARVALHO, Ricardo Cintra Torres. A Inadmissibilidade da Prova Ilícita no Processo

Penal - Um estudo Comparativo das Posições Brasileira e Norte-Americana. Revista

Brasileira de Ciências Criminais. Vol. 12; p. 162; Out / 1995DTR\1995\403

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 15. ed; rev. Atual; São Paulo: Saraiva,

2008.

DENILSON, Feitoza. Direito Processual Penal. Teoria, crítica e praxis. ed; Niterói/RJ:

Impetus, 2008.

EUGÊNIO, Pacelli de Oliveira. Curso de Processo Penal. ed; Rio de Janeiro: Lúmen

Juris, 2009.

FERNANDES, Antonio Scarance. O Processo Penal Constitucional. 7. ed; rev, atual

e ampliada; São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

FERNANDES, Antonio Scarance. Prova e Sucedâneos Da Prova no Processo

Penal. Revista Brasileira de Ciências Criminais. Vol. 66; p. 193; Mai. 2007. Doutrinas

Essenciais Processo Penal. Vol.3; p. 283; Jun. 2012. DRT\2007\318.

FLORES, Marcelo Marcante. Apontamentos sobre os sistemas processuais e a

incompatibilidade (lógica) da nova redação do Artigo 156 do Código de Processo

Penal com o sistema acusatório. Revista IOB Direito Penal e Processual Penal;

Porto Alegre, v. 9, n. 53, dez/jan. 2009.

FREDERICO, José Marques. Elementos de Direito Processual Penal, Vol. II. ed;

Campinas: Bookseller, 1997.

Page 62: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

62

GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Direito à Prova no Processo Penal. ed; São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 2. ed; São Paulo: Saraiva,

1993.

GRECO FILHO, Vicente. Tutela Constitucional das Liberdades, p. 112/113, apud

FERNANDES, Antonio Scarance. Processo Penal Constitucional, cit. 81.

GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. As nulidades no Processo Penal. 6. ed; São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. As nulidades no Processo Penal. 10. ed; São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

LAMMÊGO, Uadi Bulos. Constituição Federal Anotada, 2. ed; São Paulo: Saraiva,

2001.

Lei Antiterrorismo. Disponível em

http://schumackerandrade.jusbrasil.com.br/noticias/260401291/leiantiterrorismopode-

ser-aprovada-no-brasil-mas-onu-faz-ressalvas?ref=topic_feed. Acesso em 20 jul.

2016.

LIMA, Marcellus Polastri. Curso de Processo Penal. Vol. II. ed; Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2004.

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Vol Único. 3. ed; rev. amp. e

atualizada; Salvador: JusPodivm, 2015.

LOPES Jr, Aury. O direito processual penal e sua conformidade constitucional. Vol 4.

ed; revista e atualizada com leis, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

LOPES Jr, Aury. O Direito Processual Penal. 12. ed; São Paulo: Saraiva, 2015.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo penal. ed; São Paulo: Método, 2008.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal, 10. ed; Rev. e Atual; São Paulo: Atlas,

2000.

Page 63: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLAUDIA VANESSA …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-INADMISSIBILIDADE-DE-PROVAS-I... · métodos de torturas para puni-los ou absolvê-los, métodos

63

MOREIRA, José Carlos Barbosa. A Constituição e as Provas Ilicitamente Obtidas.

Revista Forense. 1996, V. 337.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 3. ed;

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 16. ed; rev. amp. Atual; Rio de Janeiro:

Lumin Juris, 2009.

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 21. ed; Atlas S.A: São Paulo, 2013.

Sistemas de Valoração de Prova. Disponível em

http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/628015/sistemas-de-valoracao-da-prova. Acesso

em 27 jul. 2016

TÁVORA, Nestor, Processo Penal II - Provas - Questões e Processos incidentes. ed;

São Paulo: Saraiva 2012.

TÁVORA, Nestor; ANTONNI, Rosmar. Curso de direito processual penal. 3. ed;

Salvador: Juspodivm, 2009.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Manual de Processo Penal. 11. ed; São

Paulo: Saraiva 2009.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Processo Penal, vol. III, 23. ed; São Paulo:

Saraiva, 2001.