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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ESCOLA DE ENGENHARIA MESTRADO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS DIONISIO MATEO CARDILLE UMA ABORDAGEM A RESPEITO DO DESGASTE EM MATERIAIS DE CAMISAS DE CILINDRO DE MOTORES CICLO DIESEL ATENDENDO AS MODERNAS LEIS DE EMISSES Sªo Paulo 2009

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ESCOLA DE ENGENHARIA

MESTRADO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

DIONISIO MATEO CARDILLE

UMA ABORDAGEM A RESPEITO DO DESGASTE EM MATERIAIS DE

CAMISAS DE CILINDRO DE MOTORES CICLO DIESEL ATENDENDO

AS MODERNAS LEIS DE EMISSÕES

São Paulo

2009

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DIONISIO MATEO CARDILLE

UMA ABORDAGEM A RESPEITO DO DESGASTE EM MATERIAIS DE

CAMISAS DE CILINDRO DE MOTORES CICLO DIESEL ATENDENDO

AS MODERNAS LEIS DE EMISSÕES

Profissional de Engenharia de

Materiais.

Tese apresentada ao Programa de Mestrado

Profissional de Engenharia de Materiais da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, como

requisito para a obtenção do título de Mestre

Profissional em Engenharia de Materiais.

ORIENTADOR: PROF. DR. JAN VATAVUK

São Paulo

2009

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DIONISIO MATEO CARDILLE

UMA ABORDAGEM A RESPEITO DO DESGASTE EM MATERIAIS DE

CAMISAS DE CILINDRO DE MOTORES CICLO DIESEL ATENDENDO

AS MODERNAS LEIS DE EMISSÕES

Tese apresentada ao Programa de Mestrado

Profissional de Engenharia de Materiais da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, como

requisito para a obtenção do título de Mestre

Profissional em Engenharia de Materiais.

Aprovada em 18 de agosto de 2009.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. Antonio Augusto Couto

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. Arnaldo Homobono Paes de Andrade

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Dr. Jan Vatavuk, pela experiência, conhecimento e constante orientação no

decorrer dos estudos e realização deste trabalho.

Aos Engenheiros Eduardo Sala Polati e Arnaldo Braga, pela ajuda e apoio no levantamento de

dados.

Aos meus pais Anézia e Tarciso, e a minha noiva Patrícia pela paciência e incentivo

constante.

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RESUMO

Este estudo aborda os conceitos de desgaste em camisas de cilindro para motores diesel,

caracterizando desgaste abrasivo, tribo-químico e �scuffing�, juntamente com fatores externos

ao componente como a questão dos combustíveis adulterados ou com alto teor de enxofre,

freqüentemente encontrados no Brasil. Apresenta o enquadramento dos motores nas modernas

leis de emissões, e suas causas diretas na exigência de materiais para camisas de cilindro,

juntamente com a evolução tribológica do conjunto pistão, anéis e camisa. Definem-se

também alguns conceitos de rugosidade e acabamento superficial dos cilindros e suas

implicações diretas no amaciamento neste componente, além do tema passagem de gases da

câmara de combustão para o cárter (�blow by�) e consumo de óleo lubrificante. As camisas de

cilindro são em sua maioria confeccionadas em liga de ferro fundido cinzento com matriz

perlítica, a qual foi objeto de comparação com uma liga proposta de matriz bainítica, como

material alternativo, visando satisfazer as condições impostas pela moderna legislação

ambiental. A técnica experimental empregada baseou-se em um ensaio dinamométrico em um

motor diesel de 146kw, porém submetido a plena carga durante 500hs, com 27,4% de

acréscimo de potência. As camisas foram montadas no motor de forma a estarem intercaladas

e evitando favorecimentos em cilindros mais quentes do bloco. Após o teste, as camisas de

cilindro foram dimensionadas, juntamente com os respectivos anéis de pistão. Como

resultado, observou-se que o material proposto em liga com matriz bainítica teve uma melhor

resposta ao desgaste em comparação com o material de matriz perlítica, inclusive com uma

melhor estabilidade dimensional. Os anéis de pistão tiveram desgaste similar em ambos os

materiais, respeitando o par tribológico original de projeto.

Palavras-chave: Desgaste em motores diesel pesados. Tribologia. Camisas de cilindro. Ferro

fundido bainítico.

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ABSTRACT

This study broaches the diesel engines cylinder liners waste concepts, characterizing abrasive

waste, tribo-chemical waste and scuffing, with component external factors, like adultered fuel

or with high sulfur level frequently found in Brazil. It presents the modern emissioned

engines and the direct causes in the cylinder liners material requirement, with the tribologic

evolution of piston, piston rings and cylinder. Some concepts of cylinders internal diameter

surface finish and the direct involvement in the cylinder smooth, and the blow by flux besides

oil consumption. The cylinder liners are manufactured in perlitic gray casting iron, and it was

compared to a bainitic gray casting iron as alternative material, in order to satisfy the modern

environment laws for emissions. The experiment technical was based on a dynamometric test

in a 146kw diesel engine, during 500hs, with 27,4% overpower. The liners were assembled in

the engine block in an intercalated way, avoiding benefits in the cylinders closer to the water

pump. After the test, the liners were dimensioned with the respective piston rings. As result,

was observed that the proposal bainitic material got a better waste resistance in comparison

with the perlitic material, with a better dimensional stability. The piston rings presented

similar waste when applied in both materials, respecting the project original tribological pair.

Keywords: Heavy duty engines waste. Tribology. Cylinder liners. Bainitic casting iron.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Um motor ciclo diesel em corte.........................................................................15

Figura 2 Representação do conjunto pistão e camisa......................................................16

Figura 3 Esquema em corte do funcionamento do conjunto Pistão, anéis e

camisas......................................................................................................................................16

Figura 4 Alguns componentes fixos do motor, como bloco, camisa e junta...................22

Figura 5 Alguns componentes fixos do motor como cabeçote e tampa..........................22

Figura 6 Algumas partes móveis de um motor, como virabrequim, pistões, bielas e

volante.......................................................................................................................................22

Figura 7 Localização do PMS e PMI...............................................................................23

Figura 8 Desenhos esquemáticos do PMS e PMI e deslocamento volumétrico..............24

Figura 9 1° Tempo (a) e 2° Tempo (b) de um motor ciclo diesel....................................25

Figura 10 3° Tempo (a) e 4° Tempo (b) de um motor ciclo diesel....................................26

Figura 11 Bloco de motor de quatro cilindros dispostos em linha....................................27

Figura 12 Grafitização típica de um bloco de motor.........................................................28

Figura 13 Exemplos de camisas de cilindro �molhada� para motores ciclo Diesel..........29

Figura 14 Exemplos de cilindros aletados de motores refrigerados a ar...........................29

Figura 15 Grafitização representativa de uma camisa de cilindro de motor de ciclo diesel

obtida por fundição centrifuga..................................................................................................30

Figura 16 Evolução dos pistões.........................................................................................32

Figura 17 Os anéis de pistão de um motor ciclo diesel. ....................................................33

Figura 18 Tipos de anéis de pistão.....................................................................................33

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Figura 19 Micrografia de um anel de pistão em ferro fundido nodular

cromado.....................................................................................................................................34

Figura 20 Esquema de passagem dos gases (blow-by)......................................................35

Figura 21 Anéis com gap alinhados...................................................................................35

Figura 22 Aparelho de medição de rugosidade..................................................................37

Figura 23 Diferenças entre a topografia real e a topografia medida..................................38

Figura 24 Brunimento padrão de uma camisa de cilindro.................................................41

Figura 25 Operação de brunimento....................................................................................41

Figura 26 Curva de Abbot básica referenciando picos e vales de brunimento de uma

camisa. .....................................................................................................................................42

Figura 27 Medição da rugosidade do cilindro...................................................................43

Figura 28 Representação da área real de contato em relação à área de projeto no início do

amaciamento.............................................................................................................................44

Figura 29 Diagrama de Stribeck com sobreposição junto aos diversos sistemas de um

motor, representado o carregamento tribológico. ....................................................................48

Figura 30 Evolução do teor de enxofre no óleo diesel entre 2000 e 2010.........................50

Figura 31 Alguns dos novos sistemas anti poluição em motores ciclo diesel modernos..53

Figura 32 Representação esquemática do desgaste abrasivo de dois corpos e de três

corpos. ......................................................................................................................................56

Figura 33 Desgaste por microsulcamento e microlascamento...........................................57

Figura 34 Risco passando por carboneto de nióbio sem ruptura.......................................57

Figura 35 Risco parando em carboneto de nióbio sem ruptura.........................................58

Figura 36 Superfície de trabalho 30mm abaixo do PMS para diesel com alto teor de

enxofre e óleo lubrificante com baixo......................................................................................59

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Figura 37 Esquematização do desgaste localizado próximo ao PMS dos anéis de primeiro

canalete nas superfícies do cilindro..........................................................................................60

Figura 38 Desgaste no PMS de uma camisa de um motor com 1x106

Km rodados..........61

Figura 39 Representação esquemática da formação de partícula durante o desgaste

adesivo......................................................................................................................................61

Figura 40 �Scuffing� em camisa ocorrido durante o amaciamento....................................62

Figura 41 �Scuffing� severo em anel de pistão..................................................................62

Figura 42 Máquina centrifuga............................................................................................64

Figura 43 Tubo centrifugado de ferro fundido cinzento....................................................65

Figura 44 Diagrama Fe-C..................................................................................................66

Figura 45 Exemplo de diagrama TTT................................................................................67

Figura 46 Microestrutura de uma camisa de cilindro em ferro fundido cinzento..............68

Figura 47 Ciclo de tratamento térmico em forno à indução..............................................70

Figura 48 Desenho esquemático de montagem das camisas no bloco...............................73

Figura 49 Esquema da localização da espessura radial em um anel de pistão...................76

Figura 50 Visão geral das dimensões principais do anel de pistão....................................76

Figura. 51 Microestrutra constituída por bainita superior..................................................78

Figura 52 Carbonetos do tipo MC.....................................................................................79

Figura 53 Material revenido a 680 oC ..............................................................................80

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Evolução dos limites de emissões.....................................................................53

Tabela 2 Composição química média do material proposto P.........................................69

Tabela 3 Composição química média..............................................................................71

Tabela 4 Resultados de Ensaio de tração, para a liga proposta e convencional..............81

Tabela 5 Resultados de circularidade e cilindricidade.....................................................82

Tabela 6 Valores médios de rugosidade..........................................................................83

Tabela 7 Área polida em porcentagem............................................................................83

Tabela 8 Dimensional dos anéis......................................................................................84

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................15

1.1 OBJETIVOS.....................................................................................................19

1.2 JUSTIFICATIVA.............................................................................................20

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E REVISÃO DA LITERATURA............21

2.1 DEFINIÇÃO DOS TEMPOS DE UM MOTOR..............................................21

2.2 DEFINIÇÃO DE CAMISAS DE CILINDRO, PISTÕES E ANÉIS DE

PISTÃO.....................................................................................................................................27

2.2.1 Camisas de cilindro.........................................................................................27

2.2.2 Pistões e anéis de pistão..................................................................................30

2.2.3 Blow by.............................................................................................................34

2.3 DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE RUGOSIDADE...............................37

2.4 RELAÇÃO DO ACABAMENTO SUPERFICIAL COM CONSUMO DE

ÓLEO E AMACIAMENTO.....................................................................................................40

2.4.1 Brunimento......................................................................................................40

2.4.2 Consumo de óleo lubrificante........................................................................43

2.4.3 Fase de amaciamento do motor.....................................................................43

2.4.4 Novas características de trabalho dos motores............................................45

2.5 LUBRIFICAÇÃO E COMBUSTÍVEIS...........................................................47

2.5.1 Regimes de lubrificação em um motor..........................................................47

2.5.2 Combustíveis na atualidade...........................................................................50

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2.6 SISTEMAS ANTI POLUIÇÃO.......................................................................52

2.7 MECANISMOS DE DESGASTE....................................................................55

2.7.1 Desgaste abrasivo............................................................................................55

2.7.2 Desgaste tribo químico...................................................................................58

2.7.3 Scuffing............................................................................................................61

2.8 ESTRUTURAS METALOGRÁFICAS DAS CAMISAS DE CILINDRO.....64

2.8.1 Centrifugação..................................................................................................64

2.8.2 Propriedades metalográficas..........................................................................65

3 MATERIAIS E MÉTODOS..........................................................................69

3.1 MATERIAL......................................................................................................69

3.2 CONDIÇÕES IMPOSTAS NO ENSAIO DINAMOMÉTRICO.....................73

3.3 METODOLOGIA PARA DETERMINAÇÃO DO DESGASTE EM

CAMISAS E ANÉIS.................................................................................................................75

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................78

5 CONCLUSÃO.................................................................................................86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................87

LITERATURA ADICIONAL..........................................................................88

ANEXO A FOTOGRAFIAS DAS CAMISAS DE CILINDRO TESTADAS..................91

ANEXO B FOTOGRAFIAS DO MOTOR TESTADO.....................................................93

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1 INTRODUÇÃO

Os motores a combustão interna são sistemas cujas características de

funcionamento levam a ocorrência de desgaste, principalmente quando se pensa nos

componentes da câmara de combustão, como os anéis, pistões e cilindros ou camisas de

cilindro.

A figura 1 mostra o desenho esquemático de um motor de ciclo diesel em corte.

Figura 1 � Um motor ciclo diesel em corte (Cofap, 1997)

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A análise aprofundada de falhas em materiais que podem causar excessivo

desgaste em camisas de cilindro é mais do que nunca algo de extrema importância para a

indústria automobilística.

Desta forma, as camisas de cilindro de motores do ciclo Diesel, apesar de sua

antiga concepção básica de funcionamento, demandam extremo cuidado em seu projeto e

processo de fundição e usinagem. A figura 2 é uma representação do conjunto pistão / camisa

de cilindro.

Figura 2 � Representação do conjunto pistão e camisa (Mahle 1997)

A figura 3 corresponde a uma representação das condições de carregamento do

conjunto por ocasião da expansão dos gases durante o processo de combustão.

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Figura 3 � Esquema em corte do funcionamento do conjunto Pistão, Anéis e Camisas

(Vatavuk 1994)

Assim, o presente trabalho está diretamente relacionado ao comportamento

tribológico das camisas de cilindro dos motores a combustão interna, com especial atenção

para os motores de ciclo diesel pesados e de grande capacidade cúbica (Acima de 9.000 cm³

de cilindrada (deslocamento volumétrico)).

Durante a combustão, a pressão dos gases pode em algumas circunstâncias atingir

valores da ordem de 200 bar nos motores diesel modernos. Grande parte desta carga mecânica

é transferida para os anéis de pistão de primeiro canalete, causando em regiões próximas à

inversão de movimento desses anéis uma elevada solicitação tribológica.

Em alguns casos, a aprovação ou validação de um motor ciclo diesel impõe a

realização de ensaios cíclicos e durabilidade, de um mínimo de 10x108 de ciclos. Em cada

ciclo, os elevados níveis de pressão e solicitação são transferidos para a estrutura do motor,

em particular as paredes resistentes do bloco, junto ao alojamento dos cilindros, o que torna

necessário conhecer bem a resposta do ferro fundido à solicitação mecânica, possibilitando

assim otimizar este material a cada aplicação a qual serão submetidos.

Tem-se hoje em dia a imposição de condições de funcionamento por parte dos

motores à combustão interna com baixo consumo de óleo associado à elevada potência

especifica. Os usuários têm exigido uma fase de amaciamento cada vez mais curta e

durabilidade medida por baixo nível de emissões, cada vez maior, o que de certa maneira

parece contraditório, visto que um rápido amaciamento requer desgaste, e durabilidade

mantendo as condições de funcionamento requer resistência ao desgaste. A temperatura da

superfície dos cilindros pode atingir valores da ordem de 150ºC em regiões próximas ao ponto

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morto superior dos anéis de primeiro canalete, com um nível de lubrificação muito baixo

imposta pela atual legislação de emissão de poluentes.

Na realidade estas imposições estão sendo cumpridas através de técnicas especiais

de acabamento superficial de cilindros, porém exigindo que este acabamento se mantenha por

maiores períodos de funcionamento, o que requer o desenvolvimento de ligas de ferro fundido

mais resistentes ao desgaste, que no caso dos motores ciclo diesel estão enquadradas

geralmente no ferro fundido cinzento. Este material constitui-se de uma matriz ferrosa

envolvendo uma elevada fração volumétrica de grafita lamelar, além da presença freqüente de

um eutético rico em fósforo (esteadita). A matriz mais comum em ferros cinzentos é a

perlítica, constituída de lamelas de ferrita e cementita.

Uma mudança de paradigma em termos de matriz de ferro fundido cinzento é a

utilização da estrutura bainítica, que se bem tratada termicamente pode se constituir em

interessante elemento para as camisas de cilindro de motores a combustão interna de ciclo

diesel. Em passado recente, a utilização da estrutura bainítica sem a realização de tratamento

térmico após sua fusão resultou em uma instabilidade dimensional, com apreciável mudança

de forma destes cilindros, gerando elevado consumo de óleo lubrificante e alto fluxo de gases

residuais da combustão �blow-by�, para o cárter do motor (de acordo com comunicação

verbal Prof. Dr. Jan Vatavuk).

O presente estudo está focado na medida de desgaste comparativo dos cilindros

confeccionados em liga convencional em relação ao ferro fundido cinzento bainitico, bem

como a resposta em termos de desgaste dos anéis de pistão (mantidos constantes) que

trabalharam neste conjunto. Como base a este trabalho, foram consultados vários estudos

efetuados pela indústria automobilística, fabricantes de camisas de cilindros e anéis de

pistões, além de montadoras de motores, com problemas distintos. Incluem-se também nesta

metodologia referências relacionadas a motores a combustão interna, materiais empregados

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na fabricação de camisas de cilindro, as leis de meio ambiente e emissões, normas de projeto

e de produção de camisas de cilindro.

1.1 OBJETIVOS

O estudo do comportamento das camisas de cilindro em motores do ciclo Diesel,

que são componentes vitais presentes em motores de combustão interna, em situações

normais de trabalho e funcionamento, porém sujeitos aos desgastes normais de uso ou

anormais devido a fatores indevidos, aliado a comparação de resultados destas camisas em

ferro fundido cinzento, com ligas consagradas de matriz perlítica versus o exemplo de uma

liga de matriz bainítica.

Este estudo visa também conhecer melhor as condições de desgaste em Camisas

de Cilindro, de motores de combustão interna ciclo Diesel, atendendo as modernas legislações

vigentes em termos de emissões de poluentes, submetidos a fatores externos como por

exemplo combustíveis com altos teores de enxofre.

Corroborando com a teoria de utilização de materiais com maior resistência ao

desgaste, foi realizado um estudo de caso comparativo entre dois materiais em ferro fundido

cinzento, sendo um material de linha de produção com matriz perlítica e um material proposto

em matriz bainítica.

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1.2 JUSTIFICATIVA

Este trabalho tem fundamental importância no estudo da tribologia das camisas de

cilindro, o que inclui também seus componentes correlatos, tais como anéis de pistão e

pistões, uma vez que devem ser avaliados em conjunto.

Segundo Callister (2002) �Em primeiro lugar, as condições de serviço devem ser

caracterizadas, uma vez que estas irão ditar as propriedades exigidas pelo material�.

Estas condições de serviço, aliás, são à base do projeto de uma camisa de cilindro,

onde o fabricante do motor tem como premissa básica o tipo de uso ao qual o conjunto será

submetido e seu grau de severidade, bem como fatores externos ligados a este, como por

exemplo, a qualidade do combustível que será utilizado.

Observa-se que desde pequenas variações na estrutura metalúrgica de um ferro

fundido até componentes correlatos fora de especificação, passando por defeitos de fundição e

materiais podem alterar de forma significativa o comportamento dinâmico da peça em

questão, e principalmente na atualidade, onde as questões ambientais e o chamado

emissionamento dos motores, a fim de enquadrá-los cada vez mais dentro das modernas leis

antipoluentes, são cada vez mais importantes e decisivas na escolha do material apropriado.

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2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E REVISÃO DA LITERATURA

A seguir serão abordados alguns temas que caracterizam o funcionamento básico

de um motor a combustão interna, tais como os ciclos de tempos e a caracterização de alguns

componentes principais de um motor.

2.1 DEFINIÇÃO DOS TEMPOS DE UM MOTOR

Antes de iniciar a caracterização das camisas, anéis de pistão e pistões faz-se

necessário primeiramente explanar sobre o princípio básico de funcionamento dos motores a

combustão interna de ciclo diesel, para entender melhor a inserção destes subconjuntos no

sistema como um todo. Esta nomenclatura foi adotada a partir do seu inventor, Rudolf Diesel,

que desenvolveu o primeiro motor, em Augsburgh - Alemanha, no período de 1893 a 1898.

Define-se o motor a combustão interna como sendo uma máquina que transforma

a energia de uma reação química em energia mecânica através de ciclos de expansão e de

compressão de gases. Trata-se de uma máquina térmica, que produz trabalho através de uma

combustão (explosão controlada).

Todo motor a explosão possui uma câmara de combustão, que no caso específico

dos motores que utilizam os componentes que serão estudados, se localiza acima da parte

superior do cilindro ou camisa.

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Pode-se também dizer que o motor é dividido em duas partes básicas, sendo elas

fixas e móveis.

Partes Fixas são as partes que não entram em movimento, quando o motor entra

em funcionamento. Exemplos incluem bloco, camisas, juntas, tampas, cárter e cabeçote, como

pode ser visto nas figuras 4 e 5.

Figura 4 � Alguns componentes fixos do motor, como bloco, camisa e junta (CBT

1990)

Figura 5 � Alguns componentes fixos do motor como cabeçote e tampa (CBT

1990)

Quando o motor entra em funcionamento as partes móveis apresentam

movimentos característicos, como pode ser inferido mediante observação da figura 6, para o

caso de virabrequins, pistões, bielas e comandos de válvulas.

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Figura 6 � Algumas partes móveis de um motor, como virabrequim, pistões,

bielas e volante (CBT 1990)

Nos motores diesel de quatro tempos, que serão o objeto deste estudo, cada ciclo

completo necessita de duas voltas no virabrequim para ser completado. Com grande número

de peças móveis e relativa vibração, tais motores vem recebendo continuamente otimizações

em projetos de ângulos de trabalho e balanceamento de partes móveis, além de um ganho

substancial em termos de ligas de materiais. Incluem-se nestes esforços de projeto a redução

da potência de atrito advinda de forças de inércia das partes móveis, além do atrito entre

superfícies de contato.

Antes de se apresentar os quatro tempos de um motor ciclo diesel, serão definidas

as posições extremas do sistema oscilante dentro dos cilindros. As figuras 7 e 8 correspondem

ao detalhe do movimento dos pistões dentro dos cilindros, indicando as regiões de reversão de

movimento, com os chamados PMI ou ponto morto inferior e PMS ou ponto morto superior

dos elementos que constituem as massas oscilantes do sistema.

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Figura 7 � Localização do PMS e PMI (Vatavuk, 2003)

Figura 8 � Desenhos esquemáticos. A esquerda vista em corte de uma Camisa de

cilindro, com a localização do PMS e PMI dos anéis de primeiro canalete. A direita volume

considerado na avaliação do deslocamento volumétrico do motor por cilindro.

Pode-se resumir os quatro tempos de um motor ciclo diesel da seguinte forma:

1° Tempo - Admissão (pistão desce do PMS ao PMI).

PMI

PMS

PMI

PMS

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O pistão inicia o movimento descendente a partir do PMS. A válvula de admissão

abre e o pistão desce para o PMI, sugando a mistura ar/combustível devido ao aumento do

volume do cilindro e consequentemente queda de pressão em seu interior.

2° Tempo � Compressão (pistão sobe do PMI ao PMS).

A válvula de admissão fecha, e o pistão inicia movimento ascendente a partir do

PMI de volta ao PMS, comprimindo a mistura e aumentando a sua eficiência para a

combustão. As válvulas de admissão e escape estão fechadas.

O primeiro e segundo tempos estão definidos na figura 9.

Figura 9 - 1° Tempo (a) e 2° Tempo (b) de um motor ciclo diesel (CBT 1990).

3° Tempo � Combustão ou expansão (pistão novamente desce do PMS ao PMI).

Quando o pistão está em sua posição máxima (PMS), o óleo diesel é pulverizado

diretamente na câmara de combustão, que, combinado com o ar altamente pressurizado em

seu interior a uma temperatura em torno de 700ºC, produz uma combustão, impulsionando o

pistão para o PMI.

O óleo diesel pulverizado deve-se ao fato de, em função da incompreensibilidade

do líquido combustível, não possibilitar o chamado calço hidráulico no caso de gotejamento,

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que poderia causar danos irreversíveis ao conjunto pistão e biela. Este tipo de ocorrência pode

também ser produzido pela ingestão de água na câmara de combustão.

A combustão no motor de ciclo diesel dá-se de forma espontânea, devido a sua

alta taxa de compressão, que pode ser exemplificada com valores atuais em torno de 18:1,

diferentemente de um motor de ciclo Otto (gasolina, álcool ou gás natural), que possui valores

de taxa de compressão em torno de 12:1 e necessitam, para que haja uma combustão

semelhante, de uma descarga elétrica proveniente de uma vela (eletrodo envolto em material

cerâmico).

O trabalho mecânico ocorre no terceiro tempo, em ambos os tipos de motores.

4° Tempo - Escape (pistão novamente sobe do PMI ao PMS, completando o

ciclo).

Quando o pistão passa pelo PMI, a válvula de escape abre e o pistão sobe,

empurrando os gases queimados para fora do ciclo. A válvula de admissão está fechada.

Depois desta "limpeza", o cilindro pode então ser novamente preenchido com mistura nova,

recomeçando o ciclo.

O terceiro e quarto tempos estão definidos na figura 10.

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Figura 10 - 3° Tempo (a) e 4° Tempo (b) de um motor ciclo diesel (CBT 1990)

Todo o gerenciamento de entrada e saída dos gases e do ar é dado pelas válvulas

do motor e seu(s) comando(s) de válvula(s), localizados todos no bloco ou cabeçote do motor

(em motores diesel modernos). Pelo fato dos pistões estarem conectados às bielas, e estas

ligadas ao virabrequim (árvore de manivelas), que é o eixo principal do motor, dá-se o

movimento do motor para o restante do conjunto.

2.2 DEFINIÇÃO DE CAMISAS DE CILINDRO, PISTÕES E ANÉIS DE PISTÃO

Serão definidos a seguir as camisas de cilindro e os seus componentes correlatos,

além do mecanismo do �blow by�.

2.2.1 Camisas de cilindro

Camisas de cilindro (ou cilindros, no caso de serem usinados diretamente no

bloco do motor) são o local por onde se desloca um pistão com seus anéis. A figura 11

apresenta a vista superior dos cilindros do bloco, com o motor instalado em um veículo.

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100µm

Figura 11 - Bloco de motor de quatro cilindros dispostos em linha, mostrando a

vista superior após a retirada do cabeçote.

A figura 12 apresenta a microestrutura típica em termos de grafitização, de um

bloco de motor em ferro fundido cinzento.

Figura 12 � Grafitização típica de um bloco de motor - 100 x (Microestrutura observada sem

ataque) (Vatavuk, 2003)

O trabalho gerado pelo cilindro de um motor depende da quantidade de mistura

reativa no interior de sua câmara de combustão, de tal modo que cilindros de maior volume

permitem que os motores atinjam maiores potências para um mesmo nível de revoluções e

numero de cilindros. No caso de sistemas que incluam a instalação

de turbocompressores, a quantidade de mistura no cilindro aumenta, permitindo maior

potência e torque por cilindrada. A potência final guarda relação direta com o número de

cilindros, trabalho realizado por cilindro e rotação de funcionamento.

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Por gerarem energia térmica, todos os motores a combustão interna necessitam de

um sistema de arrefecimento, que mantenha a temperatura de trabalho dentro dos padrões de

projeto de cada motor.

Este sistema de arrefecimento externo pode utilizar água ou ar.

Nos motores arrefecidos a água, este líquido de refrigeração pode ou não entrar

em contato com a superfície externa da camisa, sendo denominada �camisa molhada� aquela

que possui contato direto com a água (Figura 13) e �camisa seca� aquela que não entra em

contato com a água, ou seja, são alojadas diretamente nos furos cilíndricos do bloco pré

usinados, encaixadas ou prensadas em seu lugar definitivo no bloco.

A escolha de uma ou outra depende dos parâmetros de projeto e utilização

prevista para cada motor.

Figura 13 � Exemplos de camisas de cilindro �molhada� para motores ciclo Diesel

Em motores que utilizam o ar como refrigeração, cada cilindro encontra-se

normalmente separado dos restantes e possuem aletas de refrigeração, para melhor troca

térmica, como pode ser inferido na figura 14.

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100µm

Figura 14 � Exemplos de cilindros aletados de motores refrigerados a ar

A figura 15 mostra a micrografia típica sem ataque para a observação da

grafitização, de uma camisa de cilindro para um motor de ciclo diesel, em ferro fundido

cinzento obtida pelo processo de fundição centrifuga.

Figura 15 � Grafitização representativa de uma camisa de cilindro de motor de

ciclo diesel obtida por fundição centrifuga � 100x (Microestrutura observada sem ataque)

(Vatavuk, 2003)

Uma comparação rápida entre as figuras 12 e 15 mostra que a fundição centrifuga

de camisas produz uma grafitização mais fina em relação a fundição estática de blocos de

motor, fato este relacionado a maior taxa de resfriamento da primeira. Este fato corresponde a

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uma das vantagens no emprego de camisas de cilindro ao invés da utilização direta dos furos

de blocos de motor.

2.2.2 Pistões e anéis de pistão

Os pistões são elementos cilíndricos, produzidos em ligas de alumínio ou aço,

fundido ou forjado. Eles deslizam por dentro dos cilindros ou camisas, sendo conectados a

biela por meio de um pino, e articulam-se, dando movimento ao virabrequim conforme seu

movimento alternativo (do PMS ao PMI e vice-versa). Em seu topo pode haver vários tipos de

desenhos e formas, conforme o fluxo de ar da combustão, jato de injeção ou então seguindo a

tendência de projeto do fabricante. Conforme o movimento dos quatro tempos do motor

segue-se os atritos do pistão com os cilindros nos chamados movimentos de �pressão� e

�contrapressão�.

O pistão possui uma complexa geometria, e deve se comportar com

funcionalidade idêntica com o motor em temperatura de trabalho ou quando frio, quando

dilatado ou contraído, suportando extremas pressões e podendo chegar a trabalhar bilhões de

ciclos. Para se atingir esta característica, um cuidadoso projeto e criterioso processo de

produção e controle devem ser executados.

Os pistões possuem ranhuras ou canaletes em sua parte superior, onde são

alojados os anéis de pistão. O anel de compressão, de primeiro canalete ou primeiro anel é o

que está localizado na região adjacente ao topo do pistão, trabalhando especificamente para

vedar os gases vindos da combustão, impedindo-os, quase na sua totalidade, de chegar às

partes inferiores do motor. Este anel pode ser submetido a valores da ordem de 200 bar de

pressão específica durante a combustão.

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O último anel que está localizado na parte inferior do pistão é o chamado anel de

óleo, e têm uma função mais ligada ao controle do filme e fluxo de óleo lubrificante nas

paredes do cilindro. O anel intermediário ou de segundo canalete possui um pouco destas

duas funções, além de contribuir no equilíbrio de pressões na região entre o anel de primeiro

canalete e o anel de óleo.

Analogamente, a figura 16 apresentada mais a frente, mostra a evolução de um

pistão, destinado a um motor de ciclo otto Volkswagen AP 1600cm3 , sendo que o pistão mais

atual fabricado em 2007 está a direita da fotografia e o pistão na época de lançamento deste

motor no mercado brasileiro, em 1983, encontra-se a esquerda da imagem. Nota-se que dados

como dimensões gerais, distância entre canaletes e distância do ponto morto superior do

primeiro canalete até o topo do pistão diminuíram muito a cada nova atualização do motor.

Observa-se também que a espessura de canaletes (e portanto espessura de anéis)

também vêm sendo reduzida, já que, de acordo com Lyman (1961), por volta de 2/3 do atrito

do motor provém do conjunto pistões e anéis, e deste atrito, 2/3 é proveniente dos anéis de

pistão.

Com dimensões menores, o pistão tem sua força de atrito reduzida na mesma

proporção.

A massa também teve substancial redução, enquanto a versão de 1983 tinha 450g,

o pistão fabricado em 2007 possui 225g. Esta menor massa oscilante e conseqüente menor

força de inércia dos pistões traduz-se também em uma redução da força de atrito. De acordo

com Vatavuk (2003), um motor compacto de 1600 cm3 produz a 6000rpm uma aceleração das

massas oscilantes da ordem de 1000 g, o que no caso do pistão de 450 g, desenvolve forças de

inércia próximas a 450 Kgf.

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Observa-se ainda um maior cuidado com relação a partida a frio nos pistões de

2007 e de 2002, por possuírem um revestimento de grafite em sua lateral, que revela-se um

excelente lubrificante no caso de atrito seco.

Figura 16 � Evolução dos pistões

Outra característica dos anéis é permitir a troca de calor deles próprios e dos

pistões com os cilindros. A figura 17 mostra a disposição dos anéis em um pistão do ciclo

diesel, com a indicação da sua respectiva abertura livre ou folga livre, enquanto na figura 18

têm-se exemplos variados de tipos de anéis de pistão, incluindo a demonstração do �gap� do

anel.

Figura 17 � Os anéis de pistão de um motor ciclo diesel.

1983 1996 2002 2007

Anel de compressão

Anel intermediário

Anel de óleo

Abertura livre

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50µm

Figura 18 � Tipos de anéis de pistão (RIKEN 2006)

Na figura 19 vê-se uma micrografia de um anel de pistão de primeiro canalete

para um motor do ciclo diesel, com revestimento em cromo.

Figura 19 � Micrografia de um anel de pistão em ferro fundido nodular cromado �

200x (Vatavuk, 2003)

2.2.3 Blow by

�Blow by� é um termo mundialmente utilizado em motores de combustão interna,

que não possui tradução apropriada na língua portuguesa. Todavia, pode ser definido como a

passagem dos gases que advém da combustão, em forma de subprodutos desta ou ar e

combustível não queimados, que passam através dos canaletes dos anéis de pistão, por trás

Gap do anel,

quando confinado

no cilindro.

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destes (sendo de certa forma empurrados contra a superfície dos cilindros) e pelos respectivos

gaps, tendendo a dirigirem-se para o cárter do motor, aumentando assim a pressão na região

baixa do motor e, se em excesso, aumentando a tendência a contaminação do óleo lubrificante

do carter

A esquematização do �blow-by� está apresentada na figura 20.

Figura 20 � Esquema de passagem dos gases (blow-by)

No caso do �blow-by�, é de fundamental importância o controle da pressão

intercanaletes, ou seja, a pressão existente entre o primeiro anel e o anel de óleo. Conforme

informação verbal, este foi o problema encontrado em uma vertente do projeto pacote de

anéis �low friction� ou baixo atrito, onde a indústria automotiva tentou a utilização de apenas

dois anéis de pistão, sendo um de compressão e um de óleo. A principal limitação foi um

acentuado aumento do �blow-by�. Esta característica teve como causa o aumento da flutuação

do primeiro anel, devido ao descontrole da pressão intercanaletes.

Para o controle desta pressão e a manutenção dos valores de �blow by� e de

consumo de óleo de projeto ao longo da vida do motor, a folga entre pontas do anel confinado

no cilindro (gap) desenvolve um papel decisivo. Estes não podem estar alinhados como

visualizado na figura 21, e nem desgastados ou fora do dimensional estabelecido em projeto.

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Figura 21 � Anéis com gap alinhados

O alinhamento apresentado na figura anterior não ocorre com facilidade, visto que

os anéis giram durante o funcionamento do motor, sendo a probabilidade deste encontro

remota.

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2.3 DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE RUGOSIDADE

De acordo com Hutchings (1992), quando se estuda as superfícies sólidas dos

materiais, até mesmo a mais polida das superfícies de componentes mecânicos mostra

irregularidades apreciáveis, maiores que as dimensões atômicas. No caso dos materiais

metálicos utilizados em motores, e especificamente nas camisas de cilindro, os parâmetros de

rugosidade em sua superfície de trabalho determina como será grande parte da solicitação

tribológica entre pistão/cilindro e anel/cilindro.

Existem métodos variados de medição da topografia de um cilindro, sendo um dos

mais comuns o perfilômetro ou rugosímetro, como exemplificado na figura 22.

Figura 22 � Aparelho de medição de rugosidade (Mitutoyo, 2009)

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Para acompanhar o perfil da superfície a ser medida e fornecer os dados para

serem convertidos em gráficos, são utilizados componentes em diamante, em forma piramidal

ou cônica. Tais componentes possuem dimensões em sua ponta de contato na peça em torno

de 1µm a 2,5µm, e ângulos de 60º. Ainda de acordo Hutchings, com esta combinação

dimensional podem haver interpretações errôneas, uma vez que imperfeições podem não ser

penetradas ou não ser reproduzidas fielmente. Na figura 23 pode-se observar a diferença de

topografia entre a superfície real e as medidas graficamente por um perfilômetro, sendo uma

com a relação entre a topografia vertical e o plano horizontal de cinco vezes e outra com uma

relação de cinqüenta vezes, ou seja, uma amplitude gráfica medida diferente da real.

Figura 23 � Diferenças entre a topografia real e a topografia medida (Hutchings,

1992)

O exame da figura 23 permite se inferir que de uma maneira geral as superfícies

topográficas apresentadas em gráficos de rugosímetros (perfil c � 50x), exacerbam a

topografia, sendo no entanto utilizadas com freqüência nas digressões realizadas a respeito de

Real

5x

50x

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lubricidade, bem como interação entre superfícies atritantes, como será visto mais a frente

(Figura 26). De acordo com Vatavuk (1994), deve-se buscar nas interpretações feitas a

respeito de retenção de filme de óleo bem como a interação entre superfícies, pensar na

topografia real dos sistemas.

Hutchings ressalta ainda que existe uma diferença entre rugosidade, que significa

uma escala de pequenas irregularidades de uma superfície, e erro de forma, ao qual é a

medida de desvio do perfil encontrado em uma superfície versus o que se pretende como ideal

no projeto da mesma (Micro geométrico e macro geométrico). Esta distinção é arbitrária,

embora claramente esta relação envolva a escala horizontal de irregularidades. Aparelhos

eletrônicos podem filtrar sinais de rugosidade e de erro de forma, auxiliando na interpretação

dos dados.

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2.4 RELAÇÃO DO ACABAMENTO SUPERFICIAL COM CONSUMO DE ÓLEO E

AMACIAMENTO.

Será caracterizada a seguir a relação entre o acabamento superficial do diâmetro

interno de uma camisa de cilindro ou cilindro, com o consumo de óleo lubrificante e a fase de

amaciamento de um motor.

2.4.1 Brunimento

Todo e qualquer motor a combustão interna possui um acabamento superficial na

parede interna de seus cilindros ou camisas, de forma a facilitar a retenção de óleo lubrificante

durante o movimento do pistão, reduzindo o atrito e visando uma melhor lubrificação junto à

superfície de contato anel e cilindro. Este acabamento superficial, chamado brunimento é feito

na última operação de usinagem de uma camisa de cilindro ou cilindro, usando-se bastões

abrasivos ou as chamadas pedras de brunimento de diamante.

De acordo com Tomanik (1992), o brunimento deve garantir a mínima retenção

de óleo, porém não perdendo as características de selo mecânico ao longo de sua vida, o que

exige o desenvolvimento de materiais cada vez mais resistentes ao desgaste, com particular

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100µm

atenção a região do PMS dos anéis de primeiro canalete (onde ocorre a reversão de

movimento do pistão).

A figura 24 apresenta uma superfície de acabamento típica para motores do ciclo

diesel.

Figura 24 - Brunimento padrão de uma camisa de cilindro. 100 x

A figura 25, por seu turno, apresenta uma fotografia de uma operação padrão de

brunimento.

Figura 25 � Operação de brunimento (Cofap, 1997)

Os parâmetros que definem as condições de rugosidade no brunimento dos

cilindros, como por exemplo, a curva de Abbot padrão (área de mancal) e os picos e vales ao

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longo de toda a superfície interna das camisas de cilindro, depois de efetuado o acabamento

interno final (brunimento) estão em parte ilustrados na figura 26.

Figura 26 � Curva de Abbot básica referenciando picos e vales de brunimento de uma camisa.

Podem-se exemplificar valores dimensionais típicos de rugosidade em torno de

Ra 0,5 a 1,2µm e um ângulo de cruzamento de 120o.

Um fato de grande importância que deve ser salientado é a relação de rugosidade

medida através de equipamentos metrológicos como os rugosímetros e a forma verdadeira da

topografia dos cilindros, como já citado anteriormente. De uma maneira geral os raciocínios

utilizados no modelamento de lubrificação e desgaste estão diretamente relacionados aos

gráficos obtidos através de rugosímetros.

A medição do brunimento de um cilindro é feita de forma amostral, sendo que nas

fábricas de camisas de cilindro, utiliza-se auditorias normais de processo com freqüências pré

estabelecidas, tanto nas máquinas de brunir (brunidoras) como na linha final de produção,

como ilustrado na figura 27. Nas montadoras de motores, a mesma pode ser feita na inspeção

do recebimento da peça ou na linha de montagem.

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Figura 27 � Medição da rugosidade do cilindro (KS, 2002)

2.4.2 Consumo de óleo lubrificante

O consumo de óleo lubrificante é algo normal em qualquer motor à combustão

interna. Enquanto o motor trabalha nos mais variados regimes, o óleo lubrificante deve

cumprir o seu papel de lubrificar e proteger todas as partes do motor, inclusive as mais

próximas a câmara de combustão onde esse óleo é parcialmente queimado, sendo consumido.

Segundo a Cofap (1989), cada fabricante especifica um consumo normal para seu

motor, de acordo com o projeto. Motores com camisas, anéis, pistões e válvulas desgastadas

possuem elevado consumo de óleo, que cresce exponencialmente com a utilização. Observa-

se que nos motores em fase de amaciamento, o consumo de óleo é elevado, porém esta

tendência vem diminuindo com os novos materiais de cilindros aliados a tolerâncias de

brunimento menores conseguidos com a evolução dos controles de processo de fabricação.

2.4.3 Fase de amaciamento do motor

Na fase de amaciamento, ou seja, durante o assentamento natural entre anéis de

pistão e a superfície do cilindro nas primeiras horas de funcionamento de um motor, existe um

aumento na tendência ao desgaste adesivo, que está muito relacionado à transferência de

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material de forma macroscópica, entre todos os anéis de pistão e os cilindros. Trata-se de um

desgaste muito acentuado, que pode em algumas circunstâncias evoluir para uma situação

ainda mais severa denominada �scuffing�, acontecendo em intervalos muito curtos dentro do

funcionamento do motor e sendo caracterizado por um fenômeno de falha. Este termo não

possui tradução específica na língua portuguesa. Em geral este fenômeno ocorre em intervalos

de tempo muito curtos e se constitui em um fenômeno de falha.

O amaciamento se constitui, portanto, na fase mais crítica e a que determina

grande parte da vida útil do motor. Por outro lado, o usuário final exige atualmente uma fase

de amaciamento extremamente curta.

Como o brunimento acaba sendo caracterizado como distâncias entre picos e vales

formados pelo processo de usinagem, neste período, o movimento relativo entre anéis e

cilindros ocorre apenas entre os picos e a área externa dos anéis, que ainda estão em fase de

assentamento. Com isso, a pressão específica entre estes dois elementos torna-se muito

elevada (carga dos anéis de projeto mantida para uma menor área de contato junto ao

cilindro), e quando o limite de escoamento do material é excedido, ocorre a deformação

plástica. A figura 28 apresenta de forma esquemática a diferença entre área de contato

projetada e área real no inicio do amaciamento.

Figura 28 � Representação da área real de contato em relação à área de projeto no

inicio do amaciamento (Vatavuk, 2003)

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2.4.4 Novas características de trabalho dos motores

A evolução dos lubrificantes e combustíveis, em conjunto com o rigor das leis de

emissões, vêm transformando a forma de trabalho dos motores, modificando assim o tipo de

desgaste de cilindros com especial atenção aos de ciclo Diesel, pelo menos nas regiões e

países nos quais o controle ambiental é eficaz.

Conforme informação verbal (Eng. Eduardo Polati), enquanto tinha-se há algumas

décadas para motores do ciclo Diesel área polida associada a desgaste localizado no PMS

(esquematizado mais a frente), principalmente quando os motores eram submetidos aos

lubrificantes monoviscosos e diesel com alto teor de enxofre, hoje em dia tem-se notadamente

uma maior incidência de área polida ao redor da área dos cilindros sem um desgaste

localizado no ponto morto superior bem definido.

Ishizuki (1992), estudando motores diesel pesados, conclui que esta área polida

criada em qualquer região entre o PMS e o PMI, uma vez com tamanho considerável e de

acordo com normas de cada fabricante, proporciona uma passagem facilitada do gás �blow

by� e do aumento do consumo de óleo lubrificante, pela ausência de rugosidade ou

brunimento. Para Mc Geehan (1992), o polimento dos cilindros torna-se ainda mais crítico

para o consumo de óleo lubrificante, quando atinge todo o curso dos anéis.

De acordo com o teorema de Bernoulli, quanto maior a velocidade relativa entre

dois corpos, menor a pressão em um fluido. Analogamente, entre anéis e cilindros quanto

maior a sua velocidade relativa, menor a carga e consequentemente o atrito.

O pistão ao chegar no PMS, permanece por um curto momento em velocidade

zero, até inverter seu sentido de movimento. Seguindo novamente esta lei, como a velocidade

relativa neste instante é zero, a carga será muito alta, com conseqüente atrito por falta de

lubrificação e agravamento por temperatura e pressões de combustão nesta região.

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Com baixas rotações do motor, a velocidade relativa entre pistão e cilindro

também é baixa, dificultando a formação de um filme de óleo hidrodinâmico, o que pode

ocasionar desgaste nos cilindros devido à insuficiência de lubrificação.

Conforme comunicação verbal (Prof. Dr. Jan Vatavuk), em 1990, a então

fabricante de anéis de pistão e camisas Cofap testou um motor MWM X10, com camisas

molhadas, anéis e pistões normais de produção instalados. Este teste teve duração de 100

horas, em um único ciclo, e teve como características a isenção de carga aplicada no motor

aliado à rotação sempre constante próxima a marcha lenta deste motor, em torno de 800 rpm.

Como resultado, após o desmonte, observou-se uma generalizada área polida ao

longo da superfície dos cilindros. Ainda corroborando com a teoria exposta acima, em casos

mais isolados, este tipo de desgaste também pode ocorrer devido ao funcionamento do motor

nos dias de hoje ser predominantemente em revoluções abaixo de 1000rpm (limítrofe a

rotação de marcha lenta com isenção de carga de trabalho), a baixas velocidades médias

impostas pelo trafego das grandes metrópoles.

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2.5 LUBRIFICAÇÃO E COMBUSTÍVEIS

2.5.1 Regimes de lubrificação em um motor

De acordo com Hutchings (1992), os conceitos de lubrificação estão ligados

intimamente a tribologia de um motor. Tribologia é um termo derivado do Grego Tribo que

significa �esfrego�. Assim, tribologia é a ciência que estuda os fenômenos relativos à fricção

e atrito de superfícies, e no caso, o contato pistão, anéis e camisa.

Ainda segundo Hutchings, a principal função de um lubrificante é manter

separadas duas superfícies em movimento relativo, reduzindo assim as forças contrárias ao

sentido de movimento, consequentemente o atrito e o desgaste. A perda de energia por atrito

dentro do motor resulta no cisalhamento do filme de óleo entre as superfícies em movimento

relativo.

Para ilustrar o conceito de lubrificação a que todos os componentes principais de

um motor são submetidos, faz-se necessário visualizar o Diagrama de Stribeck de regimes de

lubrificação na Figura 29.

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48

Figura 29 � Diagrama de Stribeck com sobreposição junto aos diversos sistemas

móveis do motor, representado o carregamento tribológico (Polati, 2008)

Acima se têm os três tipos de regimes de lubrificação, a saber:

- Hidrodinâmica

- Mista

- Limite

Conforme Hutchings, a lubrificação hidrodinâmica constitui-se quando ocorre a

separação total das superfícies por uma película de lubrificante. O filme é suficientemente

espesso para evitar qualquer tipo de contato metal-metal, sendo que o fluxo de óleo é regido

pelas leis da mecânica dos fluídos.

A lubrificação mista ocorre quando existe o início de contato entre os picos de

superfície (no caso, anel de pistão com os picos de brunimento). Este fenômeno ocorre

quando a pressão exercida aumenta a viscosidade do lubrificante ou velocidade de

deslizamento diminui.

µv/p

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A lubrificação limite acontece onde há o contato entre as superfícies e a evolução

do desgaste. Este fenômeno ocorre quando, por exemplo, ocorre a partida a frio no motor,

onde a viscosidade do óleo ou a velocidade relativa for muito baixa.

Segundo Dunaevsky (2004), ressalta-se o fato do anel (principalmente o de

primeiro canalete) possuir a condição limite, pois além do fato de parar duas vezes a cada

ciclo (velocidade relativa igual à zero), sofre uma extrema carga térmica incidente. Busca-se a

diminuição do desgaste no PMS, melhorando a tribologia dos anéis e camisa e utilizando-se

ligas de ferro fundido mais resistentes ao desgaste.

Os fatores que causam a diminuição de espessura do filme lubrificante são:

- Aumento de carga aplicada;

- Elevação de temperatura com redução da viscosidade;

- Uso de óleo lubrificante de menor viscosidade;

- Menor velocidade de movimento (relativa).

Os óleos lubrificantes encontrados até a década de 1980 eram limitados a

monoviscosidade, que é a incapacidade de alteração da viscosidade conforme ocorrem as

variações de temperatura e solicitação dos motores.

Os lubrificantes ainda possuíam baixíssima reserva alcalina (Baixo TBN � Total

Basicity Number ou Índice de Neutralização), contribuindo de forma significativa para o

desgaste, quando submetidos ao óleo diesel de alto teor de enxofre.

Assim como os motores, sistemas e o próprio mundo automotivo têm evoluído

muito, os óleos lubrificantes também evoluíram, a ponto de independente de sua base mineral

ou sintética, ser capazes de protegerem as mais rígidas exigências em termos de desgaste de

motores.

Existe ainda um notável aumento no desgaste de motores em campo, em função

da enorme oferta de lubrificantes e aditivos de motores para as mais variadas finalidades no

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mercado, onde o usuário acaba por alterar as especificações de lubrificação definidas em

projeto, seja em viscosidade ou em aditivos.

Trocas de óleo lubrificante dentro dos períodos estipulados pelo fabricante são de

extrema importância para amenizar o desgaste de cilindros, mas freqüentemente são

negligenciadas pelo usuário final.

2.5.2 Combustíveis na atualidade

No caso dos combustíveis para motores veiculares, os que são derivados de

petróleo têm mudado mundialmente, com destaque para o óleo diesel. A figura 30 mostra

graficamente a evolução do teor de enxofre no óleo diesel, em comparação entre diferentes

continentes.

Figura 30 � Evolução do teor de enxofre no óleo diesel entre 2000 e 2010

(Szwarc, 2004)

A avaliação da figura acima mostra que as teores mais altas de enxofre contidas

no óleo diesel estão na América Latina, Oriente Médio e África.

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De acordo com Szwarc (2004), no Brasil, o alto teor de enxofre e a adulteração do

combustível de forma a baratear o custo de venda alteram para pior o resultado da combustão

de diesel se comparado a concepção inicial de projeto. Este fenômeno é mais constatado em

localidades mais distantes das grandes metrópoles, afetando diretamente a grande frota de

caminhões e ônibus pesados a circularem por tais estradas. Tem-se aí uma dicotomia:

enquanto avançam as pesquisas químicas para obtenção do melhor tipo de composto como

fonte de combustível, por outro lado ocorre uma deterioração maciça do tipo de combustível

vendido em países em desenvolvimento, com objetivo claro de aumentar a rentabilidade por

litro vendido nos postos de combustível.

Com isso, a tendência ao desgaste das camisas de cilindro faz-se muito presente,

em função da ação corrosiva causada pelo combustível e o alto teor de enxofre, ocorrendo

principalmente na região acima do anel de primeiro canalete, nas regiões do cilindro próximas

ao ponto morto superior destes anéis, podendo aí haver uma combinação entre o desgaste em

si e a cobertura do anel de primeiro canalete.

Conforme Vatavuk (1994) observa-se também para este mesmo material que

existe uma relação direta entre área polida e desgaste corrosivo

Esta condição corrosiva dá-se em função da condensação do SO2 e SO

3 formado

durante a combustão. Quando a presença de substancias corrosiva fica acima de um

determinado nível crítico, mesmo um óleo com alto TBN não poderá neutralizar tal acidez

corrosiva.

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52

2.6 SISTEMAS ANTI POLUIÇÃO

Nas ultimas décadas, a indústria automotiva e especialmente as áreas de projetos

de motores tem sido forçada a preocupar-se cada vez mais com as emissões nocivas que um

motor pode causar ao meio ambiente.

De acordo com Polati (2008), observa-se que até os anos sessenta este tipo de

regulamentação inexistia, o que tornava o conceito de materiais para camisas e componentes

correlatos apenas função direta do custo, potência e conveniência do próprio fabricante.

Ainda conforme Polati, a partir dos anos setenta, após a primeira grande crise do

petróleo, os fabricantes viram-se obrigados a focar na redução de tamanho do motor, com

conseqüente aumento de rendimento de seus motores, além dos veículos estarem acessíveis a

um número cada vez maior de usuários. Os efeitos dos poluentes nas grandes metrópoles

mundiais começaram a ser muito sentidos. Comissões européias e americanas, em direções

paralelas, criaram e regulamentaram junto aos respectivos órgãos governamentais as

chamadas limitações de emissões de poluentes (respectivamente Euro e Tier ou EPA-

Environment Protection Agency), tanto para motores do ciclo diesel como motores do ciclo

otto.

Por se tratarem de projetos extremamente caros, as restrições criadas foram

gradativas, com um período de alguns anos entre as escalas de valores máximos permitidos,

além do que existe uma defasagem de pelo menos cinco anos entre primeiro e terceiro mundo.

A Tabela 1 mostra a evolução do limite de emissões de poluentes exigidos nos

Estados Unidos e na Europa para motores com potência a partir de 130Kw.

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Tabela 1 � Evolução dos limites de emissões (Cummins, 2008)

NOx / HC / CO / PM (g/kW-hr) (NOx+NMHC) / CO / PM (g/kW-hr)

Na figura 31 estão ilustrados alguns dos principais sistemas de controles de

poluentes em um motor de ciclo diesel moderno, na direção do atendimento das modernas leis

de emissões.

Figura 31 � Alguns dos novos sistemas anti poluição em motores ciclo diesel

modernos (Cummins, 2008)

Nota-se na figura anterior que a cada etapa na direção da redução de emissões,

novos sistemas devem ser agregados ao motor, tais como válvulas de recirculação de gases

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

130 a 224

130 a 560

9,2 / 1,3 / 11,4 / 0,54 (6,6) / 3,5 / 0,2 (4,0) / 3,5 / 0,2 2,0/0,19/3,5/ 0,02

Europa - Euro

Estados Unidos - EPA

Ano

0,4/0,19/3,5/0,02

9,2/1,3/5,0/0,54 6,0/1,0/3,5/0,2 (4,0)/3,5/0,2 2,0/0,19/3,5/0,025 0,4/0,19/3,5/0,025

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(EGR), turbinas com volumes variáveis (VGT), catalisadores e filtros mais eficientes. A

otimização de combustão é conseguida através de mudanças na alimentação do motor, como

por exemplo a adoção da injeção eletrônica de óleo diesel.

Dentre estes sistemas, o EGR (Exhaust Gas Recirculation) é um dos que está

bastante em evidência.

Este faz com que parte dos gases de escape, produzidos pela combustão

(subprodutos desta, por dissociação, como NOx, CO, H2O, H, N e óxidos), sejam novamente

introduzidos na admissão do motor. Ao reduzir-se o teor de oxigênio na combustão, será

liberado um menor teor de NOx. Ao reintroduzir-se os gases de escape (pobres em oxigênio)

no motor, reduzem-se os teores de oxigênio do ar introduzido nos cilindros.

Uma desvantagem deste sistema reside no fato de que ao entrar na admissão

grande quantidade de gases de escape, todo o coletor de admissão com o tempo ficará sujo,

levando o motor a perder eficácia prematuramente, além do alto desgaste e grau de severidade

imposta aos componentes, em função da ação corrosiva causada pelos subprodutos da

combustão, ocorrendo principalmente na região acima do anel de primeiro canalete ou ponto

morto superior, podendo aí haver uma combinação entre o desgaste em si e a cobertura do

anel de primeiro canalete.

Desta forma este sistema exige camisas de cilindro com materiais mais resistentes

ao desgaste.

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2.7 MECANISMOS DE DESGASTE

Quando se fala em desgaste de componentes veiculares, seja qual for o tipo de

peça ou conjunto, sempre se remete a idéia de riscos à segurança dos condutores e

passageiros, bem como perdas econômicas e gastos extras.

Com isso, tem-se como premissa básica durante a fase de projeto de um

componente, além da funcionabilidade e custo compatível, a durabilidade de acordo com o

previsto pelo fabricante do motor ou cliente, no caso das Camisas de Cilindro.

Porém, o primeiro passo para o conhecimento do comportamento destes

componentes nestas condições de operação é caracterizar quais os tipos de desgaste que são

impostos as Camisas de Cilindro, a saber:

- Desgaste Abrasivo;

- Desgaste Tribo-químico;

- Scuffing;

2.7.1 Desgaste abrasivo

Existem situações propícias para a ocorrência do desgaste abrasivo, e que são

facilmente compreendidas quando se visualiza, por exemplo, partículas em suspensão no óleo

lubrificante advindas da admissão do motor (trabalho em regiões arenosas, com muito

particulado em suspensão no ar que será admitido para o motor), filtro de ar ineficiente ou

inexistente e até mesmo ciclos de operação específicos, como o trafego em canaviais. Outra

hipótese pode ser atribuída aos picos de brunimento quebrados logo após o amaciamento, que

continuam em suspensão no óleo lubrificante e que podem ocasionar desgaste abrasivo.

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De acordo com Lyman, o desgaste abrasivo ocorre pela ação de partículas duras e

protuberantes, pressionadas e deslizando sobre as superfícies, podendo ocorrer entre dois

corpos ou três corpos.

No caso do desgaste abrasivo entre dois corpos, uma das superfícies de um dos

corpos possui partículas duras e protuberantes, ocasionando, com o trabalho e regime do

motor, o desgaste por �retirada de material�.

Ainda conforme o Metals Handbook, no caso do desgaste abrasivo entre três

corpos, as partículas duras estão livres para rolar e deslizar livremente por entre as duas

superfícies. A taxa de desgaste teoricamente é menor neste cenário, porém é necessária neste

caso além da dureza das partículas, uma considerável rugosidade por parte do material de

maior resistência.

Na figura 32 vê-se a representação esquemática do desgaste abrasivo de dois

corpos (a) e de três corpos (b), com as partículas abrasivas no centro dos dois corpos em

movimentos contrários.

Figura 32 - Representação esquemática do desgaste abrasivo de dois corpos e de

três corpos.

O desgaste abrasivo no cilindro ou camisa pode ser provocado por um processo

de microcorte, por fadiga ocasionada pelo microsulcamento ou então por microlascamentos,

no caso da superfície ser frágil, como descrito na figura 33.

a) b)

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Figura 33 � Desgaste por microsulcamento e microlascamento (Vatavuk, 1994)

As figuras a seguir mostram um risco, provocado por material abrasivo. No caso

da figura 34, o risco passa por um carboneto de nióbio sem ruptura. Já na figura 35, o risco

para no carboneto de nióbio.

Figura 34 � Risco passando por carboneto de nióbio sem ruptura (Vatavuk, 2003).

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58

:

Figura 35 � Risco parando em carboneto de nióbio sem ruptura (Vatavuk, 2003)

Dentro do tema desgaste abrasivo, tem-se a abrasão primária, caracterizada por

possuir maior responsabilidade pelo desgaste dos motores de combustão interna, e a abrasão

secundaria. No primeiro caso pode-se exemplificar com as partículas de metal duro, vindas

ou do desgaste adesivo ou de uma superfície de maior dureza. No segundo caso, têm-se as

partículas oriundas da atmosfera e aspiradas pelo motor.

2.7.2 Desgaste tribo químico

O desgaste tribo químico tem um fator adicional contribuindo para a ocorrência

do desgaste: uma reação química.

Como citado anteriormente, este tipo de desgaste pode ser exemplificado como o

que pode ocorrer com motores ciclo diesel, principalmente os submetidos a óleo diesel de alto

enxofre e óleo lubrificante de baixo TBN. A figura 36 mostra um típico desgaste tribo-

químico na superfície de uma camisa de cilindro.

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100µm

Figura 36 � Superfície de trabalho 30mm abaixo do PMS para diesel com alto teor

de enxofre e óleo lubrificante com baixo TBN - 100X. (Vatavuk, 2003)

De acordo com Vatavuk (2004), a abrasão secundária pelo processo corrosivo

pode ocorrer devido à geração de partículas (arrancamento da esteadita � Fosfeto de Fe), pelo

anel no cilindro e vice versa.

A umidade presente no ar atmosférico (H2O) pode condensar e reagir com o

enxofre, formando ácido sulfúrico (H2SO4), existindo então a condição corrosiva no sistema.

Outra possibilidade de ocorrência deste tipo de desgaste dá-se quando a

temperatura de trabalho de um motor permanece abaixo da prevista em projeto, como por

exemplo, em percursos diários muito curtos de utilização, onde a temperatura média do óleo

lubrificante permanece abaixo de 70ºC, ou então pela retirada da válvula termostática do

motor, que faz o controle dos estágios de aquecimento do líquido de arrefecimento e que é

freqüentemente retirada por usuários finais visando uma temperatura de trabalho mais baixa,

pode haver a ocorrência de desgaste químico, resultante dos produtos condensados resultantes

da combustão. Nota-se, porém, que a própria evolução dos motores a combustão interna

elevou a temperatura média de trabalho, diminuindo muito a condição para a ocorrência deste

fenômeno.

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Como já comentado, nestes casos, o desgaste está na maioria das vezes confinado

no PMS, onde há a inversão de velocidade do pistão, o que pode levar a uma depressão ou

�calo�, com polimento acentuado, conforme descrito na figura 37.

Figura 37 � Esquematização do desgaste localizado próximo ao PMS dos anéis de

primeiro canalete nas superfícies do cilindro.

Quando a formação de substâncias corrosivas (resíduos ácidos da combustão)

ultrapassa determinado volume, a alcalinidade do óleo não é mais capaz de neutralizá-la.

Nestas condições, os valores médios de desgaste podem chegar de duas a cinco vezes acima

do desgaste normal, com picos a 10% do curso do pistão partindo do PMS até os anéis de

primeiro canalete. A figura 38 mostra um desgaste no PMS de uma camisa de um motor de

ciclo diesel com cerca de 1x106 Km rodados.

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Figura 38 � Desgaste no PMS de uma camisa de um motor com 1x106 Km

rodados 50x o calo possui quase 1mm de profundidade (Vatavuk, 2003)

2.7.3 Scuffing

No caso do desgaste adesivo em camisas de cilindro, este está muito relacionado à

transferência de material de forma macroscópica, entre o anel e o cilindro, principalmente.

Quando este mecanismo de desgaste atinge proporções catastróficas pode ocorrer o

travamento do motor, o que normalmente é denominado como �scuffing�.

A figura 39 a seguir mostra a representação esquemática da formação de partícula

durante o desgaste adesivo.

Figura 39 - Representação esquemática da formação de partícula durante o

desgaste adesivo (Vatavuk, 1994)

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Como já mencionado anteriormente, os mecanismos de desgaste são de forma

freqüente baseados em gráficos obtidos por técnicas metrológicas, não sendo a fiel

representação da topografia real das superfícies atritantes.

O desgaste adesivo é mais freqüente no caso de atrito seco, com superfícies de

contato metálicas. As figuras 40 e 41 mostram um �scuffing� severo em uma camisa e um

anel, respectivamente.

Figura 40 � �Scuffing� em camisa ocorrido durante o amaciamento

Figura 41 � �Scuffing� severo em anel de pistão (Vatavuk, 1994)

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Segundo Hitosugi (2001), o �scuffing� costuma ocorrer na região alta dos

cilindros, em função também da lubrificação mais crítica nesta área, e quando iniciado, tende

a propagar-se para as partes mais baixas do cilindro também. Em motores com este tipo de

desgaste, sente-se aumento substancial de consumo de óleo e blow-by, contaminando o óleo

do cárter, piorando exponencialmente a anomalia.

O desgaste em uma camisa de cilindro decorrente de outros componentes

correlatos ao sistema tribológico ao qual pertence, tais como pistões, anéis, bielas e até

mesmo bronzinas, seja com especificações de material, dimensional, de projeto ou produção

que estejam fora dos padrões estabelecidos para um bom funcionamento do conjunto, e que

venham a afetar negativamente a integridade das camisas de cilindro não serão objetos deste

estudo, uma vez que tais componentes deveriam ser estudados separadamente neste caso.

Conforme Vatavuk, em geral, nos motores a combustão interna, as taxas de

desgaste normais possuem valores da ordem de 0,01 a 0,1ìm por hora de funcionamento a

plena carga.

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2.8 ESTRUTURAS METALOGRÁFICAS DAS CAMISAS DE CILINDRO

A fundição é o processo de fabricação onde, no caso de um metal ou liga metálica

em estado líquido, este é vazado em um molde com o formato e as medidas correspondentes

aos da peça final a ser produzida.

No caso das camisas de cilindro, existem alguns processos de fundição que podem

ser utilizados em sua manufatura, tais como shell molding, cold box, centrifugação, entre

outros. Este estudo está concentrado apenas em componentes produzidos por fundição

centrifuga.

2.8.1 Centrifugação

O processo mais comum para obtenção de camisas de cilindro em ferro fundido é

a centrifugação, onde uma coquilha tubular em aço gira sobre mancais cilíndricos

(centrifuga), como pode ser visualizado na figura 42 Após o vazamento do metal líquido na

coquilha, há um ciclo de centrifugação (1500rpm) que pode levar de dois a três minutos,

incluso aí o resfriamento das coquilhas através de água. Como a força centrifuga obriga o

metal a ir para a parede interna da coquilha, o resultado é um tubo de ferro fundido de textura

compacta, como pode ser visto na figura 43, que depois de usinado, dará origem as camisas

de cilindro.

Figura 42 � Máquina centrifuga

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Figura 43 � Tubo centrifugado de ferro fundido cinzento.

2.8.2 Propriedades metalográficas

No caso das camisas de cilindro para motores ciclo Diesel pesados, a utilização de

ferro fundido cinzento com matrizes perlíticas revela-se muito usual.

Segundo Lyman, os ferros cinzentos são classificados em função das suas

propriedades de resistência a tração, e a priori, não devem ser selecionados com base na sua

composição química, pois algumas variáveis de processo podem afetar os valores de

propriedades finais.

Colpaert cita que o carbono é o elemento mais importante neste tipo de ferro

fundido, responsável pela maior parte das propriedades mecânicas e de fundição. Exceto o

carbono na forma de perlita na matriz, o mesmo está presente como grafita em forma de

veios.

O elemento silício atua como forte grafitizante tanto na solidificação como nas

transformações no estado sólido, e por isso favorece a formação da grafita na solidificação, e

de ferrita nas transformações no estado sólido.

Já o manganês tem como função neutralizar o enxofre, evitando a formação de

sulfeto de ferro. Em excesso, age como promovedor de carbonetos na solidificação e de

perlita na reação eutetóide.

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O enxofre é uma impureza que deve ser contrabalanceada pelo manganês, para

que não ocorram sulfetos de ferro de forma a segregar-se nos contornos das células euteticas.

O fósforo costuma formar a esteadita, mesmo em teores baixos, o que pode

prejudicar as propriedades desejadas para o ferro.

De acordo com Santos, a adição de molibdênio ou vanádio tende a aumentar a

resistência a tração, a dureza e o módulo de elasticidade.

Já o titânio, ao ser adicionado ou de forma residual, atua como grafitizante em

baixos teores e como estabilizados de carbonetos em teores mais elevados.

Na interpretação das estruturas que se deseja obter com os ferros fundidos, deve-

se recorrer ao diagrama Fe-C descrito na figura 44.

Figura 44 � Diagrama Fe-C

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O diagrama de equilíbrio acima corresponde a uma liga binaria Fe-C apenas.

Porém os ferros fundidos comercialmente aplicados não são de fato ligas binárias, pois neles

estão sempre presentes elementos residuais devido aos diferentes processos de fabricação, tais

como fósforo, enxofre, silício e manganês. A presença destes elementos em teores normais

pouco afeta o diagrama.

No diagrama de equilíbrio, as várias transformações ocorrem a temperaturas

determinadas, dependentes da composição e ocorrem no equilíbrio. Portanto, são

transformações que ocorrem com resfriamento muito lento e em temperaturas determinadas.

Para resfriamentos muito rápidos e portanto fora do equilíbrio, deve-se utilizar

diagramas TTT � tempo, transformação e temperatura, para determinar o comportamento de

determinada liga no resfriamento. Para cada composição de liga haverá um diagrama TTT

específico, como exemplificado na figura 45.

Figura 45 � Exemplo de diagrama TTT

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20 µm

O molibdênio adicionado no ferro fundido cinzento, além das propriedades já

citadas, tem ainda o efeito de deslocar a curva de perlita para o lado direito do gráfico

exemplificado acima, promovendo a estrutura bainítica..

Para fins práticos, a estrutura de um ferro fundido pode ser interpretada com base

no Carbono Equivalente ou CE, ou seja, como o silício atua de forma semelhante ao carbono,

mas com um poder cerca de três vezes menor, pode-se numa primeira aproximação afirmar

que o carbono equivalente é igual ao teor de carbono mais um terço do teor de silício, isto é;

Ce = (%C) + 1/3 (%Si)

Na figura 46 a seguir tem-se uma típica microestrutura de uma camisa de cilindro,

sendo constituída por perlita (seta 1), esteadita (seta 2) e grafita (seta 3)

Figura 46 � Microestrutura de uma camisa de cilindro em ferro fundido cinzento �

500x.

3

2

1

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 MATERIAL

O material proposto doravante denominado material B, foi produzido a partir de

uma liga de composição química apresentada na tabela 2.

Tabela 2 � Composição química média do material proposto B (% em peso)

.Ceq 3,52 P 0,037 Ni 1,46 C 2,9 S 0,017 Mo 1,32 Si 1,82 Cu 0,063 V 0,155 Mn 0,18 Cr 0,031 Nb 0,17

O exame da tabela anterior indica a presença, além dos elementos químicos

comuns aos ferros fundidos cinzentos como carbono e silício, a presença de molibdênio e

níquel. A adição destes dois elementos é proposital e busca a obtenção de uma estrutura

bainítica de fundição. O material proposto leva também em sua composição química

elementos de liga formadores de carbonetos do tipo MC (Nb, V e Ti), com a finalidade de se

aumentar a resistência ao desgaste, como já conseguido anteriormente através desta adição em

outros materiais para camisas baseados em estrutura perlítica (Vatavuk, 1995). No passado,

um conceito similar foi também utilizado em anéis de pistão em ferro fundido nodular, porém

neste caso através da adição de um único elemento formador de carbonetos do tipo MC, o

nióbio.

A grafitização deste componente na superfície de trabalho com os anéis de pistão

se enquadra como predominantemente do tipo D e E, tamanho 5.

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70

A estrutura bainitica é em geral constituída por plaquetas de ferrita, que pode

conter em seu interior carbonetos precipitados, mas cuja reação não se completa, restando

uma apreciável quantidade de austenita que não se transformou denominada de austenita

estabilizada. Esta fase quando presente em componentes submetidos a temperaturas

relativamente baixas (da ordem de 100°C a 200°C), pode continuar a se transformar impondo

deformações inaceitáveis ao componente.

Esta estrutura deve ser estabilizada através da decomposição total da austenita,

com de tratamentos térmicos conduzidos em temperaturas típicas de alivio de tensões para

camisas, ou em alguns casos, um pouco mais acima para se reduzir a dureza final, com o

objetivo de facilitar as operações de usinagem.

Neste estudo foram realizados tratamentos isotérmicos com determinação da

dureza, para se ter a melhor temperatura para condições de fabricação do componente. As

temperaturas escolhidas e o ciclo de tempo de tratamento podem ser visualizados no gráfico

da figura 47 a seguir. A temperatura de tratamento utilizada neste estudo foi de 680oC, e a

variação máxima ficou dentro de 10oC.

Figura 47 � Ciclo de tratamento térmico em forno à indução.

300

350

400

450

500

550

600

650

700

750

0 20 40 60 80 100

120

140

160

180

200

220

240

260

280

300

320

340

Tem

pe

ratu

ra (

oC

)

Tempo (min.)

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71

O ciclo observado na figura anterior mostra inicialmente um resfriamento, o que

ocorre por ocasião do carregamento do forno com a massa relativamente elevada de camisas

(cinqüenta peças), pesando cada uma por volta de três quilos.

O material com o qual se estabeleceu a comparação da liga proposta se constitui

em um ferro fundido cinzento de matriz perlítica, considerado de elevado desempenho

quando se pensa na resistência ao desgaste. Para este estudo foi denominado material P.

A composição química desta liga está apresentada na tabela 3.

Tabela 3 - Composição química media (% em peso)

.Ceq 4,2 P 1,52 C 3,45 S 1,12 Si 2,25 Cu 1,0 Mn 1,65 Cr 0,8

O exame da tabela anterior indica composição química típica de ferros fundidos

cinzentos.

A estrutura da matriz ferrosa deste material é a perlitica, que se constitui de

lamelas de ferrita e cementita justapostas. A grafitização deste componente se enquadra como

predominantemente do tipo A e tamanho 4 a 6, conforme ASTM A 247

Tanto o material proposto quanto o convencional foram submetidos a testes de

dureza utilizando a escala Brinell (carga de 187,5 kgf e esfera de 2,5mm de diâmetro), sendo

que para o material B, a dureza foi da ordem de 290HB e no caso do material perlítico (P), a

dureza ficou por volta de 250HB.Para as duas ligas as medidas de dureza apresentaram desvio

padrão inferior a 5 % da média.

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72

Foram também extraídos corpos de prova para ensaio de tração obedecendo à

norma ASTM A370, com a finalidade de se determinar a resistência à tração do material

convencional e da liga proposta estabelecendo assim uma comparação entre as duas.

O processo de fundição utilizado foi o centrifugo para as duas ligas, mantendo-se

as mesmas condições de ciclo e rotação de maquina.

Os pistões e anéis de pistões com os quais trabalharam os cilindros correspondem

a materiais de linha e foram mantidos constantes em todas as montagens. Os pistões eram em

liga de alumínio silício (Al-Si) eutética e os anéis em ferro fundido, sendo o anel de primeiro

canalete nodular e o de segundo canalete e de óleo em ferro fundido cinzento. O revestimento

utilizado nos três anéis foi o cromo eletrolítico, com dureza típica da ordem de 1000 HV.

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73

3. 2 CONDIÇÕES IMPOSTAS NO ENSAIO DINAMOMÉTRICO

As camisas de cilindro com o material proposto e o convencional foram ensaiadas

utilizando-se um motor de ciclo diesel de seis cilindros em linha, com potência de 146kw,

obedecendo a uma montagem a partir da bomba de água, que reduzisse diferenças em termos

de solicitação, valendo, no entanto salientar que uma das peças com material proposto foi

instalada em posição mais distante da bomba de água, exacerbando as condições tribológicas

de solicitação no motor, uma vez que quanto maior a distância da bomba de água,

teoricamente maior a temperatura do líquido de arrefecimento e consequentemente, a da

camisa de cilindro. A figura 48 apresenta o esquema de montagem das camisas no bloco,

sendo que os cilindros com numeração na cor azul e precedidos pela letra B são os que

receberam camisas com o material proposto.

Figura 48 � Desenho esquemático de montagem das camisas no bloco.

O ensaio dinamométrico realizado foi a plena carga, já que este motor

originalmente é destinado a aplicação estacionária, com acréscimo de potência de 27,4%

(186Kw), conseguido através de um maior torque, para a mesma rotação no ensaio

dinamômétrico, durante 500 horas.

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74

Com a finalidade de se conseguir determinações de desgaste em cilindros, que de

uma maneira geral precisam de testes muito longos para apresentar desgaste apreciáveis,

buscou-se aumentar a solicitação tribológica através do uso de óleo lubrificante de baixa

eficiência (Especificado pelo fabricante segundo a denominação SAE 15W40 API CH4 e

utilizado conforme SAE 40 API CF), além de combustível de baixa qualidade, com diesel

com o maior teor de enxofre disponível no mercado (0,5% máximo), enquanto o normalmente

encontrado em regiões metropolitanas consiste em 0,1% máximo.

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75

3.3 METODOLOGIA PARA DETERMINAÇÃO DO DESGASTE EM CAMISAS E ANÉIS

Para as camisas de cilindro, utilizou-se apenas o critério de área polida e uma

determinação não padronizada, obtida pela superfície com aparência de polida, denominada

de área polida aparente. O desgaste localizado na região do cilindro próxima ao ponto morto

superior dos anéis de primeiro canalete não foi utilizada, visto que este desgaste não ocorreu.

A determinação do percentual de área polida padronizada pelo critério interno da

fabricante das camisas de cilindro (Cofap 1989) segue a seguinte metodologia:

- Visualizar a região polida, que se diferencia da não polida pela isenção total ou parcial dos

riscos de brunimento;

- Demarcar ponto a ponto na superfície de trabalho da região polida em relação a região não

polida, sendo que o ponto de separação entre as duas situações é o primeiro risco sem

cruzamento com outro risco (na região de brunimento);

- O percentual de área polida é obtido conforme expressão abaixo:

AP% = Área med.

(Ë x Ø) x L

Onde:

AP% = Percentual da área polida medida.

Área med. = Área medida pela metodologia exposta acima.

Ø = Diâmetro interno da camisa de cilindro

L = Distância entre o PMI do anel de óleo e o PMS do anel de compressão.

Os critérios de determinação desta área podem sofrer outras padronizações dependendo do

fabricante da camisa de cilindro ou do motor.

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O desgaste dos anéis de pistão foi obtido primeiramente medindo-se as dimensões

iniciais como espessura radial antes e após a realização do teste, com a utilização de um

paquímetro. A diferença corresponde ao desgaste na espessura radial, visualizada na figura

49.

Figura 49 � Esquema da localização da espessura radial em um anel de pistão.

Outra medida de desgaste utilizada foi a folga entre pontas, também com a

utilização de um paquímetro, conforme dimensões visualizadas na figura 50 a seguir. Para

tanto se determinou a folga entre pontas inicial, e após a realização do teste dinamométrico.

Figura 50 � Visão geral das dimensões principais do anel de pistão.

Teoricamente a medida de variação de folga entre pontas após o teste deve

guardar relação com a variação da espessura radial segundo a seguinte expressão:

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∆GAP = 2Ë x ∆RAD

Onde:

∆gap = variação da folga entre pontas

∆rad = variação da espessura radial

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78

10 µm

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A microestrutura bruta de fusão da liga proposta pode ser vista na

fotomicrografia apresentada na figura 51.

Figura. 51 - Microestrutra constituída por bainita superior. As setas indicam a austenita

estabilizada � 1000x - Ataque nital.

O exame da figura anterior mostra que a estrutura bruta de fusão da liga proposta

é predominantemente bainítica, o que está de acordo com o exposto anteriormente sobre o

efeito da adição de elementos de liga, principalmente o molibdênio, aumentando a

temperabilidade em termos de perlita.

A adição de elementos de liga formadores de carbonetos do tipo MC, a saber,

nióbio, titanio e vanádio, promoveu a precipitação de carbonetos observada na figura 52.

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79

10 µm

Figura 52 �. Setas indicam os carbonetos tipo MC. 1000X � Sem ataque

De acordo com Vatavuk, apesar de não identificadas neste estudo através de

técnicas metalográficas mais sofisticadas, como a microscopia eletrônica de varredura,

resultados apresentados na literatura, permitem inferir que as partículas apontadas na figura

anterior possam ser classificadas como carbonetos do tipo MC. A morfologia destes

carbonetos é mista entre compacta e escrita chinesa, indicando um efeito parcial da adição de

titânio, cuja principal finalidade é a de evitar a morfologia tipo escrita chinesa.

Com a finalidade de estabilizar a estrutura para aplicações de camisas de cilindro,

foram realizados tratamentos isotérmicos nas temperaturas apontadas na técnica experimental

(página 70), produzindo microestruturas típicas como a observada na figura 53.

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80

10 µm

Figura 53 � Material revenido a 680 oC 3h � 1000X � Ataque nital � Matriz Bainítica

O exame da figura anterior indica ao nível de inspeção empregado neste estudo, o

total desaparecimento da austenita estabilizada apontada pelas setas da figura 51.

Uma propriedade de extrema relevância quando se pensa no desenvolvimento de

novas ligas para a fabricação de camisas, além do comportamento tribológico e a estabilidade

térmica, é a resistência mecânica. Esta deve ser pelo menos mantida, ou até mesmo

aumentada. A tabela 4 apresenta os valores de resistência obtidos em corpos de prova do

material proposto e convencional, com matrizes bainítica e perlítica

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81

Tabela 4 � Resultados de Ensaio de tração, para a liga proposta e convencional.

Amostra Material Resistência à tração

(psi) MPa 20 46406 21 42514 22 44211 23 41808 24 44716 26

Perlítico

44715

Média 44062 304 32 76181 33 73808 34 69232 35 71582 36 68231 37

Bainítico

67734

Média 71128 491

Os resultados da tabela anterior indicam uma superioridade em termos de

resistência mecânica para a liga proposta, com aumento da ordem de 60 % da resistência a

tração. A melhora da resistência mecânica guarda forte relação com o melhor comportamento

da estrutura bainítica em relação à perlítica, porém outro fator que pode ter colaborado com

este resultado diz respeito à grafitização mais fina observada na liga proposta em relação ao

material convencional.

Esta característica do material proposto é positiva, principalmente lembrando-se

que de uma maneira geral as condições de funcionamento dos motores vêm aumentando a

solicitação mecânica de seus componentes, com particular atenção para as camisas de

cilindro, nas quais as pressões de trabalho podem atingir valores da ordem de 200 atm de

pressão, conforme mencionado na introdução.

Outro fator que deve ser levado em consideração diz respeito às linhas de

montagem altamente automatizadas, quando frequentemente ocorrem falhas durante a

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82

preparação das maquinas. Neste caso um material mais resistente pode reduzir o numero de

peças falhas na produção global.

Ao final de 500 horas de teste, após as camisas terem sido extraídas, estas foram

submetidas a uma série de ensaios metrológicos, como circularidade e cilindricidade, que

correspondem a importantes medidas geométricas no funcionamento global dos sistemas

cilindro, pistão e anéis de pistão, no que se refere à consumo de óleo lubrificante e a

passagem de gases da câmara de combustão para o cárter (blow-by), que devem ser mantidos

em valores mínimos para atendimento da moderna legislação de leis de emissões.

A tabela 5 apresenta estes resultados, através dos quais se pode dizer que o

material proposto se comportou um pouco melhor do que a liga convencional.

Tabela 5 � Resultados de circularidade e cilindricidade

Cilindricidade Circularidade

Cil Camisa Material Horas Antes (µm)

Depois (µm) Dif. Antes

(µm) Depois (µm) Dif.

1 5B B 3,68 12,51 71% 2,26 9,05 75% 2 1P P 2,86 20,82 86% 1,93 14,31 87% 3 4B B 3,69 18,36 80% 1,64 15,85 90% 4 2P P 2,83 14,73 81% 1,68 11,85 86% 5 6B B 5,15 18,12 72% 1,42 9,41 85% 6 3P P

500

3,85 13,14 71% 1,27 11,49 89%

As medidas de rugosidade foram realizadas 30 mm abaixo do PMS dos anéis de

primeiro canalete, e os valores obtidos podem ser consultados na tabela 6.

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83

Tabela 6 � Valores médios de rugosidade

Ra Rz Rk

Cil Camisa Material Horas Antes (µm)

Depois (µm) Dif. Antes

(µm) Depois (µm) Dif. Antes

(µm) Depois (µm) Dif.

1 5B B 0,774 0,476 39% 3,518 2,236 36% 1,508 0,390 74% 2 1P P 0,861 0,432 50% 3,964 2,008 49% 2,002 0,368 82% 3 4B B 0,894 0,463 48% 4,268 2,097 51% 1,722 0,371 78% 4 2P P 0,966 0,407 58% 4,245 2,121 50% 1,844 0,290 84% 5 6B B 1,004 0,452 55% 4,549 2,289 50% 1,712 0,423 75% 6 3P P

500

0,936 0,537 43% 4,093 2,627 36% 1,422 0,460 68%

A análise dos resultados da tabela anterior indica um comportamento de variação

da rugosidade um pouco melhor para o material proposto

A tabela 7 a seguir, apresenta os resultados de área polida real e aparente para as

camisas com o material B bainítico e P convencional perlítico.

B P

Área Polida Real (média) 3,33 11,00

Área Polida Aparente (média) 9,33 25,33

Tabela 7 � Área polida em porcentagem

Os valores acima apresentados correspondem a média para três cilindros de cada

material.

O exame da tabela 7 indica uma apreciável diferença em termos de desgaste

medido pela área polida padronizada e a área polida aparente entre as duas ligas. O material

bainítico apresenta desgaste medido pelo método padronizado a um terço do apresentado na

liga convencional, o que atesta a sua capacidade de manter o motor em melhores condições de

funcionamento para atendimento das leis de emissões, quando se pensa nas exigências após

longa kilometragem de uso dos veículos. Vale, no entanto, salientar que o conjunto anéis de

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pistão e cilindro, se constitui no principal selo contra passagem de óleo para a câmara de

combustão e de gases de combustão para o cárter.

A tabela 8 indica os valores de desgaste do conjunto de anéis que trabalharam

contra os três cilindros convencionais e os três em material proposto.

Tabela 8 - Dimensional dos anéis (medidas em mm)

1ºCanalete 2º Canalete 3º Canalete

Cilindro ÄGAP ÄRAD ÄGAP ÄRAD ÄGAP ÄRAD

1° - Mat. B 0,04 0,012 0,05 0,014 0,05 0,010

2°- Atual P 0,04 0,014 0,02 0,008 0,05 0,006

3° - Mat. B 0,05 0,016 0,08 0,017 0,09 0,008

4°- Atual P 0,05 0,017 0,09 0,020 0,08 0,010

5° - Mat. B 0,08 0,015 0,10 0,024 0,08 0,012

6°- Atual P 0,06 0,017 0,09 0,022 0,11 0,014

O exame da tabela 8 mostra que o desgaste do conjunto de anéis que trabalharam

contra o material convencional e o proposto, é similar, o que permite se dizer que o conjunto

anéis/cilindro levou vantagem em termos de desgaste quando se utiliza a liga proposta,

podendo assim satisfazer as condições severas impostas pelas modernas leis de emissões.

Os resultados da mesma tabela indicam que a relação entre variação da folga entre

pontas e diminuição da espessura radial, não obedece de forma fiel à equação teórica que

relaciona estas duas medidas de desgaste (∆GAP = 2Ë x ∆RAD). Este comportamento guarda

forte relação com a dificuldade em se estimar o desgaste real, em função, por exemplo, do

numero de medidas de espessura, a dificuldade em se encontrar após os testes a região na qual

foi realizada a primeira medição, e ainda a imprecisão metrológica gerada pela geometria da

seção transversal do anel.

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Destas duas medidas, a mais significativa e menos sujeita a imprecisões é o

aumento da folga entre pontas (∆gap), importante no impedimento do �blow by� e fluxo

ascendente do óleo lubrificante vindo do cárter para o cabeçote do motor.

Quando se desenvolve uma nova tecnologia, ou mesmo como no presente estudo,

quando se propõe a utilização de um novo material como única mudança no projeto, deve-se

sempre considerar o comportamento conjunto dos componentes atritantes, de nada valendo se

melhorar a resistência ao desgaste de uma peça as expensas de um aumento em termos de

desgaste do elemento contra atritante. Assim deve-se buscar a redução do desgaste do

conjunto, ou seja, reduzir o desgaste combinado, condição esta perfeitamente satisfeita pela

troca das camisas em material convencional pela liga proposta de estrutura bainítica contendo

adições de elementos de liga formadores de carbonetos do tipo MC, nióbio, vanádio e titânio.

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5 CONCLUSÃO

O conjunto de resultados reunidos no presente estudo permite se chegar as

seguintes conclusões:

A estrutura bruta de fusão da liga proposta é bainitica atendendo aos

requisitos propostos no trabalho, indicando o efeito da adição do níquel e principalmente do

molibdênio no aumento da temperabilidade em termos de perlita.

O tratamento isotérmico a 680oC produziu mudanças na estrutura bainitica,

com completa decomposição da austenita estabilizada, pelo menos ao nível de inspeção

empregado neste estudo.

O desgaste dos cilindros estimado pela área polida padronizada foi de 3,33 %

para o material proposto e 11 % para a liga convencional.

O desgaste dos cilindros estimado pela técnica não padronizada de área polida

aparente foi de 9,33 % para o material proposto e 25.33 % para a liga convencional.

A variação da rugosidade dos cilindros a 30 mm do ponto morto superior dos

anéis de primeiro canalete, não apresentou diferenças sensíveis entre os dois materiais.

O desgaste dos anéis que trabalharam contra o material convencional e

proposto foi similar.

O desgaste combinado de anéis e cilindros foi menor no conjunto que

trabalhou com o material proposto, mesmo posicionado mais distante da bomba de água.

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LITERATURA ADICIONAL

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ANEXO A � FOTOGRAFIAS DAS CAMISAS DE CILINDRO TESTADAS

Camisa de cilindro 1 após teste

Camisa de cilindro 2 após teste

Camisa de cilindro 3 após teste

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Camisa de cilindro 4 após teste

Camisa de cilindro 5 após teste

Camisa de cilindro 6 após teste

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ANEXO B � FOTOGRAFIA DO MOTOR TESTADO

Bloco do motor testado

Cabeçote do motor testado

.