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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS GRADUÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO ASSEMBLEIA DE DEUS MINISTÉRIO BELÉM EM ITAPECERICA DA SERRA: TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS DOS USOS E COSTUMES Por ANDRÉ APARECIDO DE OLIVEIRA SÃO BERNARDO DO CAMPO 2016

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS GRADUÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

ASSEMBLEIA DE DEUS MINISTÉRIO BELÉM EM ITAPECERICA

DA SERRA: TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS

DOS USOS E COSTUMES

Por

ANDRÉ APARECIDO DE OLIVEIRA

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2016

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ANDRÉ APARECIDO DE OLIVEIRA

ASSEMBLEIA DE DEUS MINISTÉRIO BELÉM EM ITAPECERICA

DA SERRA: TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS

DOS USOS E COSTUMES

Dissertação apresentada em

cumprimento parcial às exigências do

Programa de Pós-Graduação em

Ciências da Religião, para obtenção do

título de Mestre em Ciências da

Religião. Área de concentração:

Religião, Sociedade e Cultura.

Orientação: Prof. Dr. Dario Paulo

Barrera Rivera

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

OL4a

Oliveira, André Aparecido de

Assembleia de Deus Ministério Belém em Itapecerica da Serra:

transformações socioculturais dos usos e costumes / André Aparecido de

Oliveira -- São Bernardo do Campo, 2016.

158fl.

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) - Escola de

Comunicação, Educação e Humanidades, Programa de Pós-Graduação

Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo

do Campo.

Bibliografia

Orientação de: Dario Paulo Barrera Rivera

1. Igreja Assembleia de Deus - Ministério 2. Igreja Assembleia de

Deus – Itapecerica da Serra (SP) – Vida e costumes 3. Igreja

Assembleia de Deus – Aspectos sociais 4. Igreja Assembleia de

Deus – Aspectos culturais I. Título

CDD 289.9

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação de mestrado sob o título: “ASSEMBLEIA DE DEUS MINISTÉRIO

BELÉM EM ITAPECERICA DA SERRA: TRANSFORMAÇÕES

SOCIOCULTURAIS DOS USOS E COSTUMES”, elaborada por André

Aparecido de Oliveira foi apresentada e aprovada em 07 de abril de 2016,

perante banca examinadora composta por Dr. Paulo Barrera Rivera (Presidente

- UMESP), Dr. Helmut Renders (Titular – UMESP), Dr. Haller Elinar Stach

Schunemann (Titular – UNASP).

__________________________________________

Prof. Dr. Paulo Barrera Rivera

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________

Prof. Dr. Helmut Renders

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Mestrado em Ciências da Religião

Área de Concentração: Religião, Sociedade e Cultura

Linha de Pesquisa: Religião e Dinâmicas Socioculturais

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AGRADECIMENTOS

A Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) a qual me proporcionou

todos os recursos para o desenvolvimento e finalização desta dissertação. Ao

ilustre prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera meu orientador pelas orientações e

sugestões valiosas que muito me ajudaram para a finalização deste trabalho.

Aos professores Dr. Nicanor Lopes e Dr. Helmut Renders pelos ricos

apontamentos feitos na banca de qualificação para o mestrado que contribuíram

grandemente para o desenvolvimento desta dissertação. Aos professores que

fizeram parte da minha banca de defesa: Dr. Haller Elinar Stach Schunemann e

Dr. Helmut Renders. A minha esposa Goretti, meu filho Davi e meus pais José

Teodoro de Oliveira, e Ivone das Graças Correa Oliveira que me ensinara a

caminhar sem nunca desistir dos meus ideais. Aos meu amigo Thiago Lima, João

Augusto e Walter Barros companheiros para todos os momentos. Aos meus

entrevistados, que, de tão bom grado contribuíram com suas lembranças e

experiências referente aos usos e costumes da Assembleia de Deus em

Itapecerica da Serra. Em especial agradeço com muito carinho a senhora Lélia

que nos deu uma grande contribuição nesta pesquisa. A Deus por ter me ajudado

em todos os momentos e me dado força para chegar aqui.

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Como reagem os homens de sensibilidade religiosa quando o maquinário da fé começa a desgastar-se? O que fazem quando as tradições vacilam?” Fazem, obviamente, todo tipo de coisas. Perdem sua sensibilidade. Ou canalizam-na para o fervor ideológico. Ou adotam um credo importado. Ou se voltam, preocupados, para si mesmos. Ou se agarram ainda mais fortemente às tradições em decadência. Ou tentam recompor essas tradições em formas mais efetivas. Ou se dividem ao meio, vivendo espiritualmente no passado e fisicamente no presente. Ou tentam expressar sua religiosidade em atividades seculares. Alguns poucos simplesmente não percebem que seu mundo está mudando e, quando percebem, simplesmente entram em colapso. (Clifford Geertz)

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RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo estudar as transformações socioculturais dos usos e costumes da igreja Assembleia de Deus Ministério Belém em Itapecerica da Serra no bairro Crispim. Dentro desta perspectiva procuramos entender as razões que permeiam ainda hoje o discurso ideológico e conservador da igreja em estudo diante da flexibilização e dos novos paradigmas assembleianos referente aos usos e costumes. Atualmente a igreja Assembleia de Deus em Itapecerica da Serra passa por um processo de mudança e ressignificação em seus usos e costumes. Pretendemos discutir a possibilidade de que tais mudanças sejam oriundas do contato com diferentes pentecostalismos existentes em Itapecerica da Serra, e também do próprio desenvolvimento sociocultural da sociedade. Tenta-se nesta pesquisa estudar as mudanças dos usos e costumes como parte da teia de significados produzida pela Igreja Assembleia de Deus. Como processo metodológico utilizamos fontes históricas, dados publicados em livros, artigos, jornais da própria igreja que auxiliarão na confrontação dos dados encontrados em entrevistas realizadas com assembleianos de Itapecerica da Serra. Os resultados desta pesquisa estão apresentados em três capítulos cujo eixo central é a discussão das transformações socioculturais dos usos e costumes.

Palavra-chave: Assembleia de Deus, transformações socioculturais, usos e

costumes, cultura, Itapecerica da Serra.

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ABSTRACT

This thesis aims to analyze the sociocultural changes relating to the uses and customs of God Ministry Bethlehem Assembly church in Itapecerica da Serra in Crispim neighborhood. From this perspective we try to understand the reasons that underlie today the ideological discourse and conservative church study on the flexibility and new paradigms concerning the uses and customs. Currently the Assembly of God church in Itapecerica da Serra goes through a process of change and reinterpretation on their uses and customs. We intend to discuss the possibility that such changes are derived from contact with different existing Pentecostalism in Itapecerica da Serra, and also of their own socio-cultural development of society. As a methodological process used historical items, data published through books, articles, newspapers, the church itself that assist in comparison of the data found in interviews with Assemblies of Itapecerica da Serra. The results of this research are presented in three chapters whose central axis is the discussion of sociocultural transformations of the uses and customs.

Keyword: Assembly of God, sociocultural changes, customs, culture, Itapecerica da Serra.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Vista aérea do Largo da Matriz em Itapecerica da

Serra..................................................................................................................39

Figura 2. Fotografia da casa onde se realizaram os primeiros cultos na

Assembleia de Deus Ministério Belém no Crispim .......................................... 42

Figura 3. Fotografia do templo já construído da Assembleia de Deus Ministério

Belém no Crispim...............................................................................................42

Figura 4. Fotografias internas do templo da Assembleia de Deus Ministério

Belém no Crispim ............................................................................................. 45

Figura 5. Fotografia interna do templo da Assembleia de Deus Ministério

Belém no Crispim ............................................................................................. 46

Figura 6. Jornal Mensageiro da Paz de 16/01/1947 ........................................ 65

Figura 7. Certificado de Ordenação ................................................................. 66

Figura 8. Traje masculino e feminino ............................................................... 74

Figura 9. Roupas e cosméticos das mulheres romanas ................................. 77

Figura 10. Estilo de cabelo no mundo Greco-Romano nos dias de Paulo ...... 78

Figura 11. O canal 23, recorte do Jornal Mensageiro da Paz de 1967 ............ 83

Figura 12. Recortes do Jornal Mensageiro da Paz de 1994 referente a

televisão.............................................................................................................80

Figura 13 – Recortes do Jornal Mensageiro da Paz de 1995...........................83

Figura 14 - Imagens de divulgação da operadora telefônica das Assembleias de Deus...................................................................................................................85

Figura 15 – Recorte do Jornal Mensageiro da Paz de 1995.............................89

Figura 16 – Recorte Jornal Mensageiro da Paz 1965.......................................97

Figura 17 – Imagem de capa do livro Interpretação das Culturas de

Geertz..............................................................................................................107

Figura 18 – Cremos das Assembleias de Deus nos Estados Unidos............ 110

Figura 19 – Recorte do Mensageiro da Paz de 1938.....................................111

Figura 20 – Recorte do Mensageiro da Paz de

1939................................................................................................................113

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Figura 21 – Cremos das Assembleia de Deus no

Brasil................................................................................................................115

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LISTA DE ABREVIATURAS

AD - Assembleia de Deus

AGO - Assembleia Geral Ordinária

AGE - Assembleia Geral Extraordinária

CGADB - Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil

CONAMAD - Convenção Nacional das Assembleias de Deus Ministério de

Madureira

CONFRADESP - Convenção Fraternal e Interestadual das Assembleias de

Deus no Ministério do Belém – São Paulo

CPAD - Casa Publicadora das Assembleias de Deus

CEMP - Centro de Estudos do Movimento Pentecostal da CPAD

ELAD - Encontro de Líderes das Assembleias de Deus

ELADS - Encontro de Líderes das Assembleias de Deus dos Estados do Sul

EBD - Escola Bíblica Dominical

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MP – Mensageiro da Paz

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13

1. O PENTECOSTALISMO EM ITAPECERICA DA SERRA...............................................................................................................17

1.1 ORIGEM DO PENTECOSTALISMO HISTÓRICO: ENFASE NAS PRIMEIRAS DÉCADAS NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL. .............. 17

1.2 AS RAIZES DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL A PARTIR DAS BIOGRAFIA DE GUNNAR VINGREN E DANIEL BERG .............................. 20

1.3.PENTECOSTALISMO: CONCEITOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS .................................................................................... 25

1.4 ASSEMBLEIA DE DEUS EM SÃO PAULO: USOS E COSTUMES E MODERMIZAÇÃO ........................................................................................ 27

1.5 A CHEGADA DO PENTECOSTALISMO EM ITAPECERICA DA SERRA...........................................................................................................34

1.6 TRAMSFORMAÇÃOSOCIOCULTURAL DOS USOS E COSTUMES DA ASSEMBLEIA DE DEUS MINISTÉRIO BELÉM BAIRRO CRISPIM..............41

2.USOS E COSTUMES NAS ASSEMBLEIAS DE DEUS ................................ 58

2.1 A CONSTITUIÇÃO DOS USOS E COSTUMES NAS ASSEMBLEIAS DE DEUS NO BRASIL..........................................................................................58

2.2 ANÁLISE DOS FUNDAMENTOS TEOLOGICOS DOS USOS E COSTUMES FORMULADOS PELA CGADB ................................................ 70

2.3 USOS E COSTUMES E OS NOVOS PARADIGMAS ASSEMBLEIANOS CONTEMPORÂNEOS....................................................................................88

3. USOS E COSTUMES: AS MUDANÇAS NO ESTEREÓTIPO PENTECOSTAL ASSEMBLEIANO...................................................................93

3.1 TENDÊNCIAS SOCIOCULTURAIS PÓS-MODERNAS NOS USOS E COSTUMES DOS ASSEMBLEIANOS...........................................................93

3.2 USOS E COSTUMES: PADRÕES IDUMENTARIOS DA ESTÉTICA PENTECOSTAL .......................................................................................... 100

3.3 USOS E COSTUMES: TEIAS DE SIGNIFICADO SIMBÓLICO ASSEMBLEIANO ........................................................................................ 104

3.4 O “CREMOS” ASSEMBLEIANO E A PUREZA DA DOUTRINA CRISTÃ.........................................................................................................109

3.5 CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA: ATUALIZAÇÃO CONTEPORÂNEA DA NORMATIVIDADE ASSEMBLEIANA .................................................... 116

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 119

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................................... 122

ANEXO A - ESTATUTO DA CGADB ............................................................. 127

ANEXO B - CÓGIDO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA

CGADB............................................................................................................151

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INTRODUÇÃO

A Assembleia de Deus no Brasil é única, mas diversificada em uma

pluralidade de ministérios (Belém, Madureira, Missões etc.). Grande, mas

fracionada em Convenções, (CONFRADESP, CONAMAD e outras) presentes

em todos os centros urbanos, e periferias, sua amplitude se estendendo pelos

becos e comunidades mais humildes, Igreja moderna, mas conservadora,

carismática, barulhenta, mas calada, tradicional, por ser única, rígida em seus

usos e costumes, mas que ao longo de sua história se flexibilizou mudando tão

sigilosamente acomodando-se ás transformações na sociedade.

A distinção, diversidade e pluralidade da Assembleia de Deus no Brasil

nos impulsionou a adentrar na história da igreja tendo por finalidade estudar os

usos e costumes, percebendo a complexidade e profundidade do assunto foi

necessário uma delimitação. Como recorte pretendemos estudar as

transformações socioculturais dos usos e costumes na Assembleia de Deus em

Itapecerica da Serra bairro Crispim, setor 46, Ministério Belém.

Este trabalho pretende ser especificamente um estudo das

transformações socioculturais registradas pela história assembleiana e

provocadas pelas transformações de ordem social que ocorreram no Brasil

especialmente na segunda metade do século XX.

Para condução do processo investigativo de nossa pesquisa, situado nos

parâmetros de uma metodologia qualitativa, a entrevista de tipo semiestruturada

foi considerada a mais adequada. Os dados coletados através das entrevistas

visaram compreender a tendência a conservar os usos e costumes na igreja

Assembleia de Deus em Itapecerica da Serra e as causas que permeiam suas

transformações e ressignificações recentes.

Nas entrevistas indagamos duas questões básicas: 1) A importância dos

usos e costumes para a igreja Assembleia de Deus nos dias de hoje, 2) Opinião

dos fieis sobre os aspectos da Assembleia de Deus que mudaram desde a data

em que as pessoas se converteram.

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As entrevistas duraram em média 30 minutos e foram transcritas

literalmente pelo próprio pesquisador e registradas em nosso caderno de campo.

Foram entrevistados obreiros da Assembleia de Deus (pastor, Evangelista,

diácono, cooperador), líderes de departamento, dirigente do círculo de oração,

professores, advogados, entre outros. O total de entrevistados foi de 19 pessoas

de diferentes idades; todos maiores de idade. As entrevistas, portanto, foram

realizadas com “testemunhas privilegiadas”. Testemunhas essas que, segundo

Quivy & Campenhoudt (1998, p.71) são “pessoas que pela sua posição, ação ou

responsabilidades, têm um bom conhecimento do problema”.

A pergunta principal deste estudo respondida ao longo de nossa

argumentação é: Quais transformações oriundas das normas tradicionais dos

usos e costumes tem criado tensões internas entre os assembleianos? A partir

dela elencamos três problemas específicos a serem investigados com base nas

seguintes perguntas:1) não seria o resultado de tais mudanças derivado do

contato dos assembleianos em Itapecerica da Serra com outros pentecostalismo

mais liberais localizado na região? 2) não seria tais mudanças resultantes da

transformações sociais-culturais da própria sociedade? 3) qual a razão de uma

igreja em mudanças em seus costumes ser tão conservadora quanto a sua

teologia e se tal teologia ainda tem sentido para o mundo contemporâneo no que

diz respeito aos usos e costumes?

O objetivo geral dessa pesquisa é analisar as implicações das

transformações socioculturais dos usos e costumes dos assembleianos em

Itapecerica da Serra. Como objetivos específicos elencamos nesta pesquisa

três: a) Estudar como surgiram as normas, regras, usos e costumes das

Assembleias de Deus brasileiras; b) Identificar as tensões oriundas entre as

normas tradicionais e as novas normas emergentes nas Assembleias de Deus

em Itapecerica da Serra c) Avaliar as relações legalista, tradicionalista e

liberalista na manutenção dos usos e costumes nas AD em Itapecerica da Serra.

A dissertação está estruturada em três capítulos: No primeiro procuramos

estabelecer uma breve visão da história do pentecostalismo no Brasil, cujas

raízes históricas estão intrinsecamente ligadas ao movimento metodista fundado

por John Wesley no século XVIII na Inglaterra, e ao Movimento de Santificação

(holiness) no século XIX. Delimitamos o assunto à chegada do movimento

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pentecostal ao Brasil em 1910 com a vinda dos missionários Louis Francescon,

e Daniel Berg e Gunnar Vingren no ano de 1911.

Analisamos também neste capítulo as raízes do pentecostalismo nas

biografias de Berg e Vingren onde procuramos mostrar como eram os cultos

pentecostais assembleianos no Brasil, alguns costumes pentecostais como a

realização de cultos de oração, busca pelo batismo com Espirito Santo, oração

por enfermo etc. Procuramos principalmente mostrar a classe social que

contribuiu para implantação, solidificação e crescimento do pentecostalismo no

Brasil. Abordamos também o que é pentecostalismo e suas principais

características.

Ainda neste capítulo também estudamos a chegada das Assembleias de

Deus em são Paulo, sua expansão, avanço, modernização. Procuramos

entender como são mantido os usos e costumes da igreja Assembleia de Deus

diante da complexidade presente em sua liderança.

Incluímos também neste capítulo uma síntese da história de Itapecerica

da Serra, suas principais atividades econômicas, seus imigrantes e migrantes.

Abordamos também a força do poder religioso católico e o poder legislativo no

centro da cidade. Nesse marco histórico abordamos, a origem do

pentecostalismo na cidade, mostramos a sua influência em Itapecerica da Serra.

Esta parte da dissertação é de grande relevância para entendermos o

pentecostalismo assembleiano, seu desenvolvimento e modificação em

Itapecerica da Serra compreendendo as razões que permeiam as

transformações socioculturais de seus usos e costumes.

Concluímos o primeiro capítulo tratando sobre as transformações

socioculturais dos usos e costumes Assembleia de Deus ministério Belém em

Itapecerica da Serra bairro Crispim. Comparamos aqui o entendimento dos mais

antigos e dos mais jovens referente a tais usos, sua liturgia e suas práticas

religiosas.

Exploramos nesta parte do trabalho os dados das entrevistas feita aos

membros desta igreja. Procuramos mostrar nesta parte do trabalho as

transformações socioculturais da igreja em estudo ao longo de sua história.

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16

Os dois capítulos seguintes foram elaborados afim de conceder um

entendimento aprofundado para a compreensão não somente das

transformações socioculturais da igreja Assembleia de Deus em Itapecerica da

Serra, mas também as transformações ocorridas nas Assembleia de Deus no

Brasil.

No segundo capítulo “Usos e Costumes nas Assembleias de Deus”

abordamos a questão desde sua origem até sua flexibilização. Discorremos

também a constituição dos usos e costumes nas Assembleias de Deus no Brasil.

Ainda neste capítulo estudamos o conteúdo das resoluções dos Usos e

Costumes da CGADB, mostrando o contexto social e as mudanças que

circundava cada uma delas.

No segundo tópico analisamos teologicamente a Resolução de 1975

mostrando o contexto social que circunda cada item desta resolução. No terceiro

e último tópico deste capítulo discutimos os usos e costumes e os novos

paradigmas assembleianos.

Este capítulo tem como objetivo a compreensão do futuro dos usos e

costumes assembleiano diante das transformações socioculturais. Um estudo de

grande relevância para compreendermos as mudanças dos usos e costumes da

Assembleia de Deus em Itapecerica da Serra no bairro Crispim.

No capítulo terceiro “Usos e costumes: Estudo das mudanças no

estereótipo pentecostal assembleiano”, abordamos as mudanças no estereótipo

pentecostal assembleianos diante das tendências pós modernas enfrentadas

pela igreja nos dias atuais, refletiremos a preservação dos usos e costumes,

suas inovações no contexto assembleiano, sua liberação. Concluímos revisando

falando sobre o Código de Ética e Disciplina da CGADB que traz diretrizes

importantes para a normatividade assembleiana e a conservação de sua

tradição.

Esperamos que os resultados obtidos dessa investigação sirvam de

referências para futuras pesquisas que empreendam investigar e compreender

melhor a temática dos usos e costumes entre os assembleianos.

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1. PENTECOSTALISMO EM ITAPECERICA DA SERRA

Para entendermos o pentecostalismo em Itapecerica da Serra precisamos

relembrar as origem do pentecostalismo nas primeiras décadas do século XX

nos Estados Unidos e no Brasil. Se faz também necessário relembrar suas

raízes, suas características, seus costumes, sua teologia para entendermos

suas mudanças e flexibilização ao longo de sua história.

Neste capítulo abordaremos de forma breve o surgimento do

Pentecostalismo nos Estados Unidos no início do século XX, para melhor

entender sua chegada em Itapecerica da Serra na região pertencente ao bairro

do Crispim onde escolhemos estudar uma igreja da Assembleia de Deus do

Ministério Belém.

1.1 ORIGEM DO PENTECOSTALISMO HISTÓRICO: ENFASE

NAS PRIMEIRAS DÉCADAS NOS ESTADOS UNIDOS E NO

BRASIL

As raízes históricas do pentecostalismo estão intrinsecamente ligadas ao

movimento metodista fundado por John Wesley no século XVIII na Inglaterra, e

ao Movimento de Santificação (Holiness) no século XIX (MARIANO, 2012, p.10).

O pentecostalismo eclodiu nos Estados Unidos no início do século XX a partir de

1 de janeiro de 1901com Charles Fox Pahram na Bethel Bible School em

Topeka, Kansas onde se solidificaram os princípios teológicos do

pentecostalismo clássico.

Parham formulou a teologia pentecostal acoplando os princípios básicos

que mais tarde definiriam o movimento: conversão pessoal, santificação, cura

divina, pré-milenismo e o retorno escatológico do poder do Espírito santo

evidenciado pela glossolalia. (BURGESS e MCGEE, 1996, p.660) O impacto

imediato do movimento pentecostal foi limitado, os ensinamentos de Parham

ganharam maior aceitação vários anos mais tarde, em um reavivamento

realizado fora de Houston, Texas.

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De lá Elder William J. Seymour, um pregador negro de santidade que

havia se convencido da verdade dos ensinamentos de Parham sobre o batismo

com Espirito Santo1, viajou para Los Angeles, Califórnia, para pregar a nova

mensagem. As pregações de Seymour conduziram a nova mensagem a um

número crescente de convertidos pentecostais. Em 1906 Seymour pregava onde

funcionava um armazém de cereais, que depois recebeu o nome de Church of

God in Christ. Esse espaço ficou famoso e reconhecido como base de formação

e divulgação mundial do moderno movimento pentecostal, seu endereço se

localizava a Azuza Street, 312.

Segundo Conde (2008) o pastor W. J. Seymour, que servia nessa igreja,

não era pregador eloquente; porém, em seu coração ardia o zelo pela pureza da

obra do Senhor, e sua mensagem era vivificada pelo Espírito Santo, Seymour

pregava a Palavra de Deus, anunciava a promessa divina, o batismo com o

Espírito santo, e em seguida, voltando a sentar-se em sua cadeira no púlpito,

colocava o rosto entre as mãos, e no decorrer do trabalho ele não parava de

interceder, de pedir que Deus operasse de maneira extraordinária nos corações

dos ouvintes.

O que acontecia, era inexplicável: o poder de Deus caia sobre a

congregação; a convicção das verdades divinas inundava os corações; o desejo

de santidade envolvia as almas; e repetidamente, brotavam louvores dos

corações; muitos eram batizados com o Espírito Santo, falavam em novas

línguas; outros profetizavam; outros cantavam hinos espirituais. (CONDE,2008,

p.22)

O reavivamento que se seguiu da Azuza Street (1906-1909) representou

uma anomalia no cenário religioso americano. Negros, brancos e hispânicos

adoraram juntos. Homens e mulheres compartilhavam responsabilidades de

lideranças. A barreira entre clérigos e leigos desapareceu uma vez que os

participantes acreditavam que a capacitação espiritual para o ministério havia

sido dada a todos.

1 No pentecostalismo, o batismo no Espirito Santo é considerado a posse da alma do fiel pelo Espírito Santo, que revela sua presença através de sinais, um deles falar línguas estranhas. (ROLIM, 1987, p.21)

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Os dons do Espírito Santo de (I Co.12:8-10), compreendido pela maioria

das denominações protestantes como tendo cessado no I século, havia sido

restaurada. (BURGESS e MCGEE, 1996, p.3) A partir de Los Angeles, a notícia

do derreamento do Espirito santo, se espalha pelos Estado Unidos e arredores.

Em pouco tempo, reavivamentos pentecostais surgem no Canadá, Inglaterra,

Escandinávia, Alemanha, Índia, China, África do Sul, e América do Sul.

Segundo a tradição pentecostal em 2 de março do ano 1907 Willian H.

Durham visitou a Church of God in Christ na Azuza Street, 312, em Los Angeles,

onde ele recebeu o batismo com Espírito Santo e falou em línguas. Seymour

profetizou para Durham que onde quer que ele pregasse, o Espírito Santo cairia

sobre as pessoas.

Quando Durham voltou para sua igreja em Chicago, o avivamento

pentecostal se espalhou rapidamente. As reuniões realizadas por Durham em

sua igreja eram superlotadas, pessoas falavam em línguas e cantavam no

Espírito, Durham relatando seu testemunho pentecostal diz que frequentemente

repousava “uma fumaça azul” sobre a Missão e muitos que entravam no prédio

caiam pelos corredores. (BURGESS e MCGEE, 1996, p. 255-256)

Muitas pessoas vinham de longe ver o prodigioso pregador Durham e

participar de suas reuniões, pessoas que mais tarde se tornaram pioneiros

proeminentes do movimento pentecostal conforme Hollenweger (1976, p.10-12)

e Burgess e McGee (1996, p. 255). Do círculo de seguidores de William Durham,

que em 1907 organizou a North Avenue Mission, saíram Louis Francescon,

Daniel Berg e Gunnar Vingren que iniciaram a propagação do pentecostalismo

no Brasil.

O movimento pentecostal chega ao Brasil em 1910 com a vinda do

missionário Louis Francescon, que atuou em colônias italianas no sul e sudeste

do Brasil, originando a Congregação Cristã no Brasil. Em 1911, Daniel Berg e

Gunnar Vingren iniciaram suas missões no Pará e nordeste do país, dando

origem as Assembleias de Deus.

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1.2 AS RAIZES DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL A PARTIR

DAS BIOGRAFIA DE GUNNAR VINGREN E DANIEL BERG

Adolf Gunnar Vingren nasceu em Ostra Husby, Ostergötland, Suécia, em

8 de agosto de 1879. Por serem crentes, seus pais procuraram desde sua

infância lhe ensinar os caminhos e os preceitos do Senhor. Em 1897 aos 18 anos

de idade Vingren é batizado nas águas na Igreja Batista em Wraka, Smaland,

Suécia. Em 30 de outubro de 1903 Vingren embarcou rumo aos Estados Unidos.

Lá, se formaria em Teologia no Seminário Teológico Batista Sueco de Chicago

e seria consagrado pastor pela Igreja Batista.

Em Novembro de 1909 Tocado pelo Movimento Pentecostal, foi a uma

conferência da Igreja Batista sueca em Chicago com o firme propósito de buscar

o batismo com Espirito Santo e com fogo, depois de cinco dias de espera Vingren

diz: O Senhor Jesus me batizou com o Espirito santo e com fogo. (VINGREN,

1982, p.24-25).

Gustaf Daniel Högberg nasceu em 19 de abril de 1884, na pequena cidade

de Vargön (Ilha do lobo), na Suécia, às margens do lago de Vernern. Quando o

evangelho começou a entrar nos lares de Vargön, seus pais, Gustav Verner

Högberg e Fredrika Högberg, o receberam e ingressaram na Igreja Batista. Logo

procuraram educar o filho segundo os princípios cristãos. Em 1899, quando

contava 15 anos de idade, Daniel converteu-se e foi batizado nas águas na Igreja

Batista de Ranum.

Em 1909, em meio à viagem de retorno aos Estados Unidos, Daniel orou

com insistência a Deus, pedindo o batismo com Espírito Santo. Ao aproximar-se

das placas norte-americanas, sua oração foi respondida. A partir de então, sua

vida mudou, Daniel passou a pregar mais a Palavra de Deus e a contar seu

testemunho a todos. Berg diz:

Ao aproximar-me da América do Norte, Jesus respondeu as minhas orações; as bênçãos divinas vieram sobre a minha cabeça e tudo se modificou. O mundo parecia diferente depois que recebi a resposta à oração. Parecia que o vento havia levado para longe todos os problemas. Meu caminho agora estava claro e não sentia dúvidas. Estava resolvido, a partir desse momento, a dar minha vida ao Senhor e contar aos que desejassem ouvir, o que eu recebera e o que a salvação é para todos aqueles que creem. (BERG, 1982, p.27)

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Ainda na América, encontrou-se com outro sueco batista, Vingren, e

juntos, seguindo a uma revelação divina dada a eles pelo irmão Olof Adolf Uldin,

vieram ao Brasil fazer missões e aqui fundaram a Assembleia de Deus.

Souza (2007) descreve por meio das palavras de Gideon Ulldin, filho de

Ulldin como se deu à revelação de Deus aos missionários Vingren e Berg:

Foi na casa de meus pais, na cidade de South Bend, estado de Indiana (EUA), no ano de 1910, que os irmãos Gunnar Vingren e Daniel Berg receberam a sua chamada para o Brasil. Esses irmãos durante várias semanas hospedaram-se em nossa casa, e oravam constantemente ao Senhor para Ele os guiar quanto ao lugar onde deveriam dedicar suas vidas. Certo dia, meu pai, Olof Ulldin, que era um simples pintor de casas, contudo um homem de oração, fazia um trabalho na cozinha de nossa casa, quando repentinamente veio sobre ele o Espírito do Senhor. Ele ajoelhou-se e logo a família fez o mesmo, como também os hóspedes Gunnar Vingren e Daniel Berg. Eu, um menino de onze anos nesse tempo, ouvi meu pai falar em profecia a esses jovens pastores: “Ireis ao Pará. O seguinte é um hino que ouvireis quando ali chegardes”. Meu pai então cantou um hino em língua estranha, em português, um hino que mais tarde os missionários puderam identificar. Tudo isso foi debaixo da unção e da inspiração do Espírito Santo. (SOUZA, 2007, p.21)

Após a revelação divina dada ao irmão Olof Adolf Uldin de que o lugar

para onde deveriam ir era o Pará, no Brasil, partiram de Nova Iorque em direção

ao Pará no dia 5 de novembro de 1910 e chegaram em terras brasileira, no dia

19 de novembro de 1910.

A capital do Pará (Belém), em 1900 era uma das metrópoles mais

moderna do país. (SARGES,2000, p.94) Belém era uma capital cosmopolita

devido a exploração da borracha mas, com um cenário social de profunda

dificuldade entre as classes mais pobres. Berg diz:

Era comum, àquela época, os leprosos andarem pelas ruas da cidade, com grande perigo de contaminarem as pessoas. Vimos doentes sem mãos ou sem pés, ou então com as orelhas e o nariz estragado pela doença. A quantidade de enfermos nas ruas era um espetáculo deprimente. A esse mal juntou-se outro: a febre amarela. Essa epidemia viera do interior; começou com alguns casos; mas, pouco tempo depois alastrou-se por toda cidade. As filas de enfermo nos hospitais eram cada dia mais longas, e os cortejos para o cemitério aumentavam a curtos intervalos. Era constrangedor ver as classes pobres, tão duramente provada na vida, assoberbadas com mais o fardo da doença sobre os ombros. Algumas pessoas que haviam

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perdido seus parentes vinham visitar-nos em nosso quarto-corredor para achar conforto na Palavra de Deus. [...] desejavam orações por suas vidas. (BERG, 1982, p.43-44)

A biografia de Vingren e Berg é um legado pentecostal deixado aos

assembleianos, um relato repleto de detalhes que nos permitem fazer uma leitura

das raízes iniciais do pentecostalismo assembleiano brasileiro, o qual se inicia

entre as classes mais pobres de Belém do Pará, e se desenvolve entre os

imigrantes nordestinos. O relato dos missionários suecos em suas biografias

também nos permite identificar alguns costumes do pentecostalismo, como por

exemplo os cultos de oração onde se buscava o batismo com Espirito Santo, os

dons espirituais e se orava por enfermos. (VINGREN, 1982, p.36).

Vingren diz que “naquele tempo havia profecias em todos os cultos. Os

dons do Espírito Santo estavam derramados sobre a igreja”. (VINGREN, 1982,

p.68). Nestes cultos pentecostais as manifestações do Espirito Santo se

misturavam com as emoções. Vingren diz: “Tivemos um culto hoje cheio do

poder de Deus e de muita alegria. Eu ria tanto debaixo do poder de Deus, que

quase perdi todas as forças. O mesmo aconteceu com os outros”. (VINGREN,

1982, p.67).

Um caso interessante é a alegria de Vingren em atribuir a um movimento

do corpo de um crente como sendo a manifestação do poder de Deus. Vingren

diz: “Enquanto eu estava orando, um homem sentiu o poder de Deus de maneira

tão forte, que foi levantado do chão por duas vezes. Eu tive de louvar muito ao

Senhor e senti grande gozo no meu Deus”. (VINGREN, 1982, p.69).

Analisando as biografia de Berg e Vingren pude perceber que a de

Vingren possui detalhes sobre os cultos pentecostais no Brasil, Vingren diz que

“os cultos eram como um campo de batalha. Vários foram lançados no chão pelo

poder de Deus”. (VINGREN, 1982, p.87). Ao longo de sua biografia Vingren

menciona a manifestação de vários dons do Espirito Santo: Línguas estranhas,

cânticos espirituais, profecias etc. Esses detalhes me fizeram analisar a vida dos

missionários suecos, onde encontrei diferenças significantes.

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Berg teve uma vida diferente de Vingren desde a infância. Berg foi guiado

por princípios bíblicos que seus pais lhe ensinaram, nunca se afastou da igreja,

o que não foi o caso de Vingren. (VINGREN, 1982, p.17). A vida de Berg sempre

foi de fidelidade a Deus. O curioso é que como pentecostal não foi guiado por

profecias como Vingren, cuja trajetória é repleta de manifestações proféticas que

norteiam sua vida e fidelidade (VINGREN, 1982, p.17).

Encontramos na biografia de Vingren sete profecias:

1. “Não temas! Eu sou o teu ajudador no deserto. Prega a minha mensagem, até

que eu venha” (VINGREN, 1982, p.76).

2. “Coisas maravilhosas acontecerá na terra, mas também haverá muito aperto, e

muito sangue correrá ainda” (VINGREN, 1982, p.79).

3. Tú tens guardado o teu vestido branco. Eu tenho me alegrado ouvido a tua voz.

E porque tenho te chamado para ser minha testemunha, Eu te tenho guardado

e salvado da morte” (VINGREN, 1982, p.86).

4. “Haverá vitórias maravilhosas no Brasil, mas também grande aflição” (VINGREN,

1982, p.89).

5. “Chega mais perto de mim! Eu conheço as tuas lutas. Passará por grandes

tribulações e farão muitas ciladas para tirar a tua vida, mas eu farei com que

sejam todos envergonhados e cairão nas suas próprias ciladas. Toma conta do

meu rebanho, porque muitos são fracos”. (VINGREN, 1982, p.95).

6. “A seara está madura. Eu estou contigo. Sou eu que te envio!” (VINGREN, 1982,

p.104).

7. “Eu estou contigo, meu servo. Muitos perigos te esperam, mas Eu te guardarei

sempre” (VINGREN, 1982, p.118).

A vida de Berg é alicerçada desde sua infância não em profecias como

Vingren mas em princípios cristãos que nortearam toda a sua vida. Em suas

memórias ele diz:

Nós, as crianças, durante o verão e outono, passávamos todas as horas de férias nessas montanhas (Hunneberg e Halleberg) contemplando as fontes abundantes e os rios cristalinos. Quando subia essas montanhas por veredas estreitas, íngremes e juncadas de pedras pontiagudas, comparava esses caminhos ao caminho coberto de espinho do cristão. O pequeno templo da congregação, para cuja construção todos contribuíram, lá estava no meu lugar. A minha contribuição para a construção foi trazer pedras das matas para os alicerces. (BERG, 1982, p.9-10).

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Interessante é observar que na mentalidade infantil de Berg os alicerces

da igreja devem ser feitos com pedras do caminho estreito e espinhoso da vida

cristã. A profecia de Berg é sua bíblia assinalada com traços vermelhos em

alguns trechos que podiam dar mais luz, paz e consolação a quem os lesse.

(BERG, 1982, p.58). As dificuldades que surgiram na vida de Berg ele as

transformou em obras estruturadas e bem alicerçadas de um verdadeiro

evangelista. Temos vários relatos no diário de Vingren de igreja edificadas por

Berg. (VINGREN, 1982, p.48-49, 61)

No Jubileu de Ouro das Assembleias de Deus no Brasil, comemorado em

Belém, Berg estava lá inalterado enquanto os irmãos faziam referência a sua

atuação no início da obra. Para ele, a glória era única e exclusivamente para

Jesus. Berg considerava-se apenas um instrumento de Deus. Nas

comemorações do Jubileu no Rio de Janeiro, no Maracanãzinho, quando pastor

Paulo Leivas Macalão colocou em sua lapela uma medalha de ouro, Berg

externou visivelmente em seu rosto a ideia de que não merecia tal honraria.

Até 1960, afirma Berg ter recebido, diretamente de Deus, a cura de suas

enfermidades mediante a oração da fé. Mas, a respeito de suas condições de

vida nos seus anos finais, pode-se inferir que não tinha o amparo que merecia.

A esse respeito, o pioneiro Adriano Nobre protestou dizendo:

“O irmão Berg reside em São Paulo (cidade de Santo André). Não sei como ele vive ultimamente; tive, contudo, notícias desagradáveis com relação à sua condição de vida – não tem, segundo soube, o descanso que merece, nem o conforto que lhe devemos proporcionar. Irmãos, não sejamos injustos, lembremo-nos de auxiliar o tão amado pioneiro da obra pentecostal no Brasil”. (NOBRE, 1957, 32)

Em 1963, Berg foi hospitalizado na Suécia. Mesmo assim, ainda

trabalhava. Ele saía da enfermaria para distribuir folhetos e orar pelos que se

decidiam. A disciplina interna do hospital não lhe permitia fazer esse trabalho,

por isso uma enfermeira foi designada para impor-lhe a proibição. Porém, ao

deparar-se com o homem de Deus alquebrado pelo peso dos anos, mas vigoroso

em sua tarefa espiritual, não teve coragem e desistiu da tarefa. Berg, então,

continuou a oferecer literaturas.

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Em 27 de maio de 1963, aos 79 anos, Daniel Berg morreu. No epílogo da

biografia de Berg há um comentário bem pentecostal sobre o legado deixado por

Berg.

Os que aprenderam com Daniel Berg beberam de uma fonte cristalina e insuspeita. Ele nunca se queixava das provações que experimentava, ele nunca discutia assuntos de ordem política, ele nunca perdia tempo ou oportunidade, ele jamais negligenciou seus deveres de pai e de “pastor”. (BERG, 1982, p.167).

A breve análise das raízes do pentecostalismo nas biografias de Berg e

Vingren tem como objetivo nesta dissertação entender o pentecostalismo

assembleiano em seu início no Brasil, como eram seus cultos e como os crentes

se comportavam diante das manifestações dos Dons do Espírito Santo.

1.3 PENTECOSTALISMO: CONCEITOS E PRINCIPAIS

CARACTERÍSTICAS

O pentecostalismo é um despontamento do protestantismo que acredita

na contemporaneidade dos dons do Espírito Santo. O nome do movimento

deriva-se de Pentecostes, festa religiosa dos judeus realizada cinquenta dias

após a páscoa.

Segundo Burgess e Mcgee (1996, p.688) A igreja celebra a Festa de

Pentecostes como o dia em que o Espírito Santo desceu em cumprimento da

promessa de Jesus (Jo 16:7, 13, At 1:4, 14) o Pentecostes é tradicionalmente

reconhecido como o nascimento da Igreja como uma instituição.

Rolim (1987) diz que o pentecostes é um momento todo particular, onde

a coragem se revela, onde o tímido Pedro fala de peito aberto a milhares de

pessoas, onde o entendimento das Escrituras, dos profetas, isto é, do passado,

vem pela iluminação do Espírito Santo, onde a história do povo judaico é

chamada a unir-se ao presente - começo de uma nova era.

Pentecostes é de modo especial, Deus na história em continuidade e não

apenas a estrondosa manifestação do poder divino, pentecostes é a história de

um povo onde Deus se manifesta de diversas maneiras. O que há no

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pentecostes é um povo fazendo sua história e sua religião e Deus se

manifestando nela. (ROLIM, 1987, p.17)

Dentro desta história construída pelos pentecostais Rolim acentua alguns

traços peculiares entre eles: as orações coletivas onde cada um ora como

deseja, dizendo em voz alta o que sente, eles fazem suas orações com muita

seriedade, uns falando em tom mais elevado, outros em tom mais baixo,

levantam os braços, as mãos tremulando, outros ficam de cabeça abaixada.

A emoções aparecem em suas exclamações: “Aleluia, Glória a Deus,

glória ao poder de Deus, Jesus Maravilhoso, Jesus é poderoso e é ele quem

muda a vida das pessoas”. Quando entram no templo se ajoelham em qualquer

lugar, oram uns minutos e depois cumprimentam os outros, dando impressão de

que se conhecem. Quando começam a cantar há muita participação entre eles.

Quanto as pregações, pregam a bíblia, repetem muito o texto e caem no

moralismo.

Segundo Rolim (1987) os pentecostais são formados por camadas

empobrecidas: pedreiros, sapateiros, chapeleiros, alfaiates, motoristas,

trabalhadores rurais, empregadas domésticas, gente de pouca qualificação

profissional e de reduzida instrução. É destas camadas sociais que procedem

pessoas para os cargos de pastores e auxiliares (pastor é o cargo mais elevado).

Diferente dos pentecostais, as igrejas protestantes preocupavam-se com a

formação de seus pastores segundo o mesmo autor tais igrejas tinham suas

escolas de formação para pastores, um ensino equivalente ao curso superior,

onde se aprendia teologia, história do cristianismo e a Bíblia.

A formação dos pentecostais ocorreriam pela prática dos cultos, da

aprendizagem simples da leitura da Bíblia aos domingos e da própria pregação.

A sua grande maioria não possuía curso médio para receber ensinamento mais

elevado. Mas possuíam uma cultura adquirida na vida cotidiana. (ROLIM, 1987,

p.24-25)

Segundo Passo (2005) acentua, as características principais dos

pentecostais são: a) o adepto pentecostal se considera diferente do mundo

profano que para ele é comandado pelo mal (demônios); b) em vários grupos

existe uma grande rigorosidade em relação à forma de se vestir, de se comportar

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no meio social; c) as pregações focalizam a necessidade do indivíduo

caracterizada pelo abandono dos pecados, das dores, problemas e sofrimentos

de todos os tipos para uma nova vida repleta de dádivas espirituais e materiais.

(PASSOS, 2005, p.35-40)

A teologia pentecostal possui um alto rigor disciplinar, isso porque na

interpretação de seus teólogos, a salvação está diretamente ligada a

santificação. No pentecostalismo não é permitido fumar, tomar bebida alcoólica,

participar de festas mundanas, shows, cinema, danças, futebol, aos homens não

é permitido usas bermudas e andar sem camisa, as mulheres não é

recomendado usar calça comprida ou até mesmo o uso de maquiagem, nem

cortar o cabelo.

1.4 A ASSEMBLEIA DE DEUS EM SÃO PAULO: USOS E

COSTUMES E MODERNIZAÇÃO

Em 15 de novembro de 1927 a Assembleia de Deus chega a São Paulo

através do casal de missionários suecos Daniel Berg e sua esposa Sara. No ano

de 1929 a igreja foi oficializada com o nome Igreja Evangélica Assembleia de

Deus Ministério Belém.

Os primeiros cultos em São Paulo foram assistidos somente por duas ou

três pessoas. O pequeno grupo se reunia na pequena sala da casa alugada

pelos casal de missionário na Vila Carrão. Em sua liturgia costumavam cantar

hinos, tocavam alguns instrumentos e oravam. Os cultos eram realizados as

portas fechadas. Muitas pessoas se converteram ali, o avanço da igreja

Assembleia de Deus era constante na direção de todos os bairros da cidade.

Conde (2008) relata o crescimento e expansão do trabalho iniciado por

Berg e sua esposa em são Paulo. Pela citação de Conde podemos identificar

alguns costumes específicos entre os primeiros assembleianos (jovens, anciãos,

irmã e obreiros) em São Paulo.

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A expansão da igreja em são Paulo acentuava-se cada vez mais. O entusiasmo do povo de Deus não tinha limites. Os jovens organizavam coros e bandas de músicas. Os anciãos ocupavam-se com a pregação da Palavra de Deus. As irmãs promoviam trabalhos de oração. Os obreiros realizavam inúmeras atividades de evangelização. (CONDE, 2008, p.237)

A igreja Assembleia de Deus Ministério Belém em São Paulo teve como

seus pastores: Daniel Berg, Samuel Nystron, Samuel Hedlund, Simon Lundgren,

Francisco Gonzaga da Silva, Bruno Skolimovski, Cícero Canuto. Atualmente a

igreja em são Paulo tem como pastor José Wellington Bezerra que desde 6 de

janeiro de 1980 preside o Ministério do Belém2. A igreja se localiza hoje à rua

Conselheiro Cotegipe, 273 - Belenzinho, São Paulo.

A partir do ano de 1980, a Assembleia em são Paulo é marcada por um

novo tempo que poderíamos nomear como: “era Wellington” onde a proposta

consistia no aprofundamento intelectual dos líderes assembleianos nos

ensinamentos bíblicos, o objetivo da “era Wellington” seria elevar o nível

intelectual de seus pastores para com isso combater os abusos causados pelo

fanatismo.

O Jornal Folha de São Paulo de 1982 no caderno Religião traz uma

matéria sobre o crescimento pentecostal no Brasil, as mudanças e

transformações iniciadas na Assembleia de Deus a partir da presidência do

pastor José Wellington Bezerra O texto é escrito pelo jornalista Paulo Sergio

Escarpa que diz:

[...] a Assembleia de Deus, no entanto, não pode ser considerada, hoje, como a mais tradicional do ramo. Ela já passa por transformações, como a implantação de curso teológicos, para pastores, presbíteros e diáconos, uma inovação feita após José Wellington assumir a presidência da igreja. “É necessário orientarmos os nossos pastores, para evitarmos os abusos que fatalmente desaguaram no fanatismo de massa”, comenta ele. Mais a iniciativa ainda não foi assimilada e “contemporanizada” pelo velho patriarca Cícero Canuto de Lima. “Os tempos são outros - justifica Wellington. Temos a necessidade de nos aprofundar nos ensinamentos bíblicos e elevarmos o nível intelectual de nossos irmãos, que são pessoas simples, dedicadas ao ministério[...] diz o pastor, que acaba de se formar em Direito pela

Faculdade de Pouso Alegre - MG (ESCARPA, 1992, p.15).

2 http://ad.org.br/index.php/ministerio.

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Segundo Escarpa o pastor Cícero Canuto de Lima que antecedeu ao

pastor José Wellington Bezerra da Costa na liderança da igreja Assembleia de

Deus em são Paulo não aceitava mudanças na orientação evangélica da igreja,

nem mesmo a atualização de seus pastores, dizia ele:

Não entendo porque os novos pastores devem fazer cursos de teologia. O Espírito de Deus se encarrega de nos iluminar, de nos orientar. Não há necessidade disso. Comenta o velho patriarca, dizendo que o dinheiro que está sendo gasto nestes cursos deveria ser empregado para a maior difusão da palavra de Deus por todo o Brasil [...]. O que me dói é estar abandonado pelos irmãos da minha igreja, que se esqueceram de mim e colocaram em meu lugar um pastor que está modificando a nossa tradição e a nossa força. Ele está se referindo ao pastor José Wellington que teria assumido a presidência da igreja em seu lugar (ESCARPA, 1992, p.15).

Diz ainda o jornalista Escarpa que os pentecostais da época

interpretavam a Bíblia ao pé da letra e entendiam que o Espírito Santo era

responsável por todas as obras.

Quantos aos seus usos e costumes o jornalista Escarpa (1992, p.15) diz

que na década de 80 estes pentecostais não fumavam, não ingeriam bebidas

alcoólicas, não dançavam, não frequentavam teatro e cinema, eram muito

severos na educação dos filhos, não se interessavam por política, não tinham

amizade com pessoas que que não seguissem seus mesmo princípios

religiosos.

Atualmente a igreja Assembleia de Deus Ministério do Belém está

organizada em 120 setores na Grande São Paulo.

Setor 1 Sede Belém; Setor 2 São Miguel Paulista; Setor 3 Lapa; Setor 4 Santana; Setor 5 Osasco; Setor 6 Indianópolis; Setor 7 Guaianazes; Setor 8 Cidade Ademar; Setor 9 Itaquera; Setor 10 Barueri; Setor 11 São Mateus; Setor 12 Cotia; Setor 13 Suzano; Setor 14 Jardim Ângela; Setor 15 vila Nhocuné; Setor 16 Artur Alvin; Setor 17 Parque são Lucas; Setor 18 vila Espanhola; Setor 19 Guarulhos; Setor 20 Arujá; Setor 21 Mairiporã; Setor 22 Itaquaquecetuba; Setor - 23 Vila Ré; Setor 24 Parque Santa Madalena; Setor 25 Caieiras; Setor 26 Carapicuíba; Setor 27 Ferraz de Vasconcelos; Setor 28 Diadema ; Setor 29 São Bernardo do Campo; Setor - 30 - Campo Limpo Paulista; Setor 31 Ermelino Matarazzo; Setor 32 Aricanduva; Setor 33 Jardim Itapema; Setor 34 Pinheiros; Setor 35 Cajamar; Setor - 36 - Vila Rio Branco; Setor - 37 – Itapevi; Setor 38 Atibaia; Setor 39 Parada XV de Novembro; Setor 40 Embu das Artes; Setor 41 Mogi das Cruzes;

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Setor 42 Poá; Setor 43 Franco da Rocha; Setor 44 Francisco Morato; Setor 45 Taboão da Serra; Setor 46 Embu Guaçu; Setor 47 Santa Emília; Setor 48 Itapecerica da Serra; Setor 49 Jardim dos Pimentas; Setor 50 Parelheiros; Setor 51 Parada de Taipas; Setor 52 Parque Cocaia; Setor 53 Itaim Paulista; Setor 54 Vargem Grande Paulista – SP; Setor 55 Jarinú; Setor 56 Perus; Setor 57 Cocaia do Alto; Setor 58 Santana de Parnaíba; Setor 59 Santa Isabel; Setor 60 Santo André; Setor 61 vila Rodrigues; Setor 62 Pirituba; Setor - 102 Brás; Setor 103 Cambuci; Setor 104 Campo Limpo (Zona Sul); Setor 105 Jabaquara; Setor 106 Praça da Sé; Setor 107 São Caetano do Sul; Setor 108 Tatuapé; Setor 109 Interlagos; Setor 110 Vila Bertioga; Setor 111 Vila Carrão; Setor 112 Vila Diva; Setor 113 Vila Fátima; Setor 114 Vila Formosa; Setor 115 Vila Guarani; Setor 116 Vila Gumercindo; Setor 117 Vila Talarico; Setor 119 Nelson Cruz; Setor 120 Costa valente3.

Estes setores formam uma rede de comunicação e transmissão das

doutrinas pentecostais e dos usos e costumes assembleianos com a sede

Belém.

Cada setor é presidido por um pastor, entre estes líderes setoriais existem

os conservadores e o mais liberais. Os setores são formados por várias igrejas

ligadas a ele. Dentro de cada uma dessas igrejas possuem obreiros (pastores,

evangelistas, presbíteros, diáconos e cooperadores) e líderes locais de jovens,

adolescentes, círculo de oração, crianças, coral, orquestra.

A complexidade desse sistema nos permite analisar o quanto é difícil a

visão de unidade quanto as doutrinas pentecostais e os usos e costumes

assembleianos.

Segundo o pastor José Wellington Bezerra da Costa a Assembleia de

Deus está adornada de enfeites: movimentos humanos, firulas4, retetés5, fruto

de mentes férteis. Na 12º ELADES6 (Encontro de Líderes das Assembleia de

Deus dos Estados do Sul) realizada em 5 de maio de 2008 na igreja Assembleia

de Deus em Florianópolis (SC) o pastor José Wellington Bezerra da Costa diz:

3 Fonte: http://tvadbelem.com.br/tv/encontre-uma-igreja/ 4 Firula: Ato de florear, enfeitar, enrolar, rodear, confundir, dar voltas, ações ou palavras desnecessárias e dispensáveis, perda de tempo, conjunto de ações excessivas e desnecessárias que gerem desperdício e falta de eficiência, movimento de argumentações com a finalidade de enganar, confundir, complicar ou ludibriar, desviar a atenção do objeto principal por meio do uso de artifícios escusos, persuadir desviando a atenção do que é mais importante. 5Reteté: são movimentos dentro do pentecostalismo assembleiano, em que há dança, rodopios, aviãozinho, gritos, onde as pessoas marcham, pulão, gritam. Estes movimentos são um ambiente de profunda emocionalidade. 6 Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=W1Q1a21TJ_s

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Em quase cem anos de assembleia de Deus no Brasil nós estamos experimentando um período que existe muita coisa diferente entre nós, há um pequeno grupo voltado para a igreja de movimentos humanos, não é essa nossa assembleia de Deus que nossos pais nos confiaram Estamos orientando os nossos obreiros mais novos, que eles possam ver em nós o exemplo, estamos colocados como coluna que não se move, fomos colocados como sustentação. É bem verdade que a engenharia coloca colunas como adorno, isso faz parte do nosso ministério. A nós compete manter o ensino da sã doutrina, não importa que alguém com mente fértil possa trazer inovações, isso são enfeites. Se estamos ocupados com essas firulas, esses retetés, hinos de forró que tem por aí em muitos lugares, isso está acontecendo porque está faltando ensino, quando isso ocorre o mundo entra na igreja e ela gela e os cultos são como reuniões sociais, ali o pastor e seus companheiros por não ter unção, poder, por não ter lugar para que o Espirito Santo opere, colocam a mente para funcionar, começam a inventar movimentos ai o povo se espalha. Nós para determinada facção estamos nos tornando antipáticos. Eu recebi o telefone de um rapaz pedindo a substituição de seu pastor que segundo ele estava ultrapassado, só cantava hinos da harpa, o rapaz me disse: pastor nós queríamos um culto alegre, nós queremos corinho, queremos aquela vibração de bater palmas, se o pastor que o senhor enviar rebolar um pouquinho não faz mal, e se houver algum movimento ele pode dar uns passinhos, dança santa. Eu disse a ele quanto tempo você tem de assembleia de Deus ele me disse que desde a infância, perguntei para se seus pais eram crentes e ele disse que sim, então disse a ele pergunte a seus pais se a igreja deles é a mesma que você quer, e ele me disse que seus pais eram contra as inovações, então disse a ele, abandone as inovações e volte a bíblia7.

Na 12º ELADES mencionada acima o pastor José Wellington Bezerra

iniciou sua palavra enfatizado as razões dos pastores terem sido colocados

como líderes setoriais, Wellington diz: 1) “Pôr em boa ordem as coisas que ainda

restam, 2) estabelecer presbíteros, homens maridos de uma só mulher com

filhos fieis que não possam ser acusados de dissolução e desobediência,

homens justos, santos, temperantes, amigos do bem, não cobiçosos de torpe

ganancia.

7 Fonte: Serie de Mensagem da Revista Manual do Obreiro Edição especial – mensagem pregada no culto de abertura do 12º ELADES no dia 5 de maio de 2008 na igreja Assembleia de Deus em Florianópolis, SC. – CPAD.

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Segundos o pastor Wellington muitas são as dificuldades nos setores,

portanto se deve convencer os contradizentes porque há muitos desordenados,

faladores, homens que transformam casa inteiras ensinando o que não convém,

homens mentirosos.

O Pastor Wellington termina sua palavra de orientação aos pastores

setoriais conscientizando-os quanto as responsabilidades que lhes foi

outorgada, ele conclui dizendo: “temos irmãos (pastores) cuja a mente é tão fértil,

eles tem o dom de mandar, tão precioso, ele manda, manda e manda mas não

faz nada, companheiros em tudo te dá por exemplo, amém”.

Diante de tanta complexidade existente nesta rede de comunicação e

transmissão das doutrinas pentecostais e dos usos e costumes assembleianos

nitidamente percebemos a dificuldade de se manter inalterados as doutrinas e

principalmente os usos e costumes.

Toda essa complexidade nos motivou a entender principalmente como os

usos e costumes se mantem vivos no contexto assembleiano. Analisando o

Estatuto da CGADB, o juramento da Assembleia de Deus para presbíteros e

diáconos e o depoimentos dos membros da igreja referente aos usos e

costumes, entrei três níveis da normatividade assembleiana: Normativo,

juramentar e espiritual.

No primeiro nível que chamo aqui de normativo, os conveniados a CGADB

(Evangelistas e pastores) conservam sua postura e comportamento em

obediência a normatividade da CGAB.

O artigo 8º do Estatuto da Convenção Geral das Assembleia de Deus no

Brasil corrobora com nossa percepção quando diz:

Art. 8º. São deveres dos membros da CGADB: I - cumprir o disposto neste Estatuto, bem como as Resoluções das Assembleias Gerais e da Mesa Diretora da Convenção Geral; II - obedecer ao credo doutrinário das Assembleias de Deus no Brasil, publicado no órgão oficial da CGADB – Mensageiro da Paz8;

8 Fonte: https://www.cgadb.org.br/index.php/estatuto

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No segundo nível que denominamos nesta pesquisa de juramentar, toda

normatividade é mantida por juramento efetivado pelos obreiros do Ministério

Belém (diáconos e presbíteros) no dia de sua separação. Este juramento só é

necessário aos obreiros ainda não conveniados a CGADB.

O juramento diz:

JURAMENTO PARA O DIACONATO E PRESBITERIO

Os irmãos prometem diante de Deus e de sua Igreja, aqui reunida, ter sempre a Bíblia Sagrada como a infalível e inerrante palavra inspirada de Deus? Sim, eu prometo. Os irmãos prometem diante de Deus e de sua Igreja, aqui reunida, serem fiéis a sua Igreja e ao seu Pastor, zelando pela boa condução do povo de Deus? Sim, eu prometo. Os irmãos prometem diante de Deus e de sua Igreja, aqui reunida, exercer fielmente o diaconato, presbitério, tendo-o sempre em duplicada honra conforme preceitua a palavra de Deus? Sim, eu prometo. Os irmãos prometem diante de Deus e de sua Igreja, aqui reunida, serem fieis à palavra de Deus, observando e cumprindo a doutrina e costumes inerentes a essa Igreja? Sim, eu prometo9.

O terceiro nível da normatividade assembleiana conceituamos aqui como

espiritual, neste nível ela é interpretada como sendo a vontade de Deus, dela

nasce toda a simbologia dos usos e costumes, salto alto é cavalo do diabo, terno

com corte lateral ou traseiro é o rabo do diabo, cigarro é chupeta do diabo etc.

A impressão que temos é que essa normatividade é tecida de cima para

baixo, e se resinifica até ser “espiritualizada”, quando isso ocorre, a

normatividade adentra a uma pluralidade de interpretações imaginárias onde

Deus passa a ser um ser confuso no que quer e não quer.

É no meio dessa diversidade e complexidade que permeia a

normatividade assembleiana que optamos por estudar os usos e costumes, um

assunto fascinante cheio de questionamentos. Adentraremos no próximo tópico

ao pentecostalismo em Itapecerica da Serra onde estudaremos mais

profundamente os usos e costumes da Assembleia de Deus Ministério Belém

nesta localidade.

9 Fonte: Cedido pela Secretaria da Igreja Assembleia de Deus Belém em São Paulo em 04\01\2016

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1.5 A CHEGADA DO PENTECOSTALISMO EM ITAPECERICA DA

SERRA

A cidade de Itapecerica da Serra, localizada a 33 km da cidade de

São Paulo na região sul, possui atualmente cerca de 152.614habitantes

distribuídos em diversos bairros. (SÁ,2012, p.58).

Os principais são bairros são: Centro, Parque Paraíso, Valo Velho,

Jardim Hitóshi, Jardim Branca Flor, Lagoa, Jardim Anâlandia, Jardim Paraíso,

Jardim Itapecerica, Jardim Montesano, Jardim Jacira, Jardim Sampaio, Recreio

Campestre, Jardim São Marcos, Jardim Embu-Mirim, Jardim Mombaça, Jardim

Imperatriz, Jardim das Palmeiras, Jardim Cinira, Jardim Marilu, Itaquaciara,

Crispim, Jardim São Pedro, Jardim Renato, Jardim das Oliveiras, Olaria,

Potuverá, Recanto da Floresta, Ressaca, Aldeinha, Recreio Primavera, Yara

Ceci, Jardim Idemori, Jardim Santa Julia, Chácara Santa Maria, dentre outros.

Dentro do que tem sido encarado como memória itapecericana, consta

que a cidade tem como origem histórica em um aldeamento indígena fundado

pelos Jesuítas em 1562, sob a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres, com

o propósito de ser um posto avançado de colonização, catequização (SÁ,2012,

p.27).

Os jesuítas responsáveis pela catequização gentílica tinham múltiplos

objetivos em sua tarefa: religioso, social, político e econômico, o que faziam

deles educadores polivalentes. Além dos ensinamentos religiosos, os padres

transmitiam as primeiras letras e os cálculos básicos para os meninos e artes

domesticas para as meninas. Os jesuítas criaram em Itapecerica da Serra

verdadeiras escolas de qualificação profissional, onde os índios eram

transformados em pedreiros, carpinteiros, músicos e um sem-número de outras

especializações.

A ação dos padres jesuítas foi decisiva para a formação do lugarejo,

desde a construção da primeira capela até a eleição de um novo lugar para onde

seriam transferidos a igreja e o povoado. Eles também foram responsáveis pela

construção da segunda capela feita de taipa10, ao pé da colina, onde se

10 Taipa: parede feita de barro, ou cal e areia, calçados entre paus cruzado por ripas.

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encontrava a imagem de Nossa Senhora dos Prazeres, posteriormente

considerada padroeira de Itapecerica (SÁ,2012, p.28).

A função dos jesuítas era o avanço sobre o sertão expandindo o território

para a colônia portuguesa. O aldeamento passava a ter grandes fazendas

agrícolas produzindo mandioca, legumes e trigo. Estes produtos serviam ás

necessidades do aldeamento e abastecia também aldeamentos maiores como

são Paulo.

Seu desenvolvimento econômico despontou devido à expansão da

lavoura local, à construção do Mairinque-Santos da Estrada de Ferro

Sorocabana, que cortava todo o município e ao grande impulso da imigração

alemã, custeada pelo governo brasileiro, de tal importância que, segundo Sá

(2012, p.29) em 1827, o aldeamento indígena foi transformado em colônia alemã,

por meio de um aviso imperial. Em 20 de fevereiro de 1841, o povoado foi

elevado à “Freguesia11”.

Em 1877, através da Lei Provincial nº 33, de 08 de maio, foi Itapecerica

elevada à categoria de vila. Itapecerica, de acordo com o Decreto-Lei Estadual

nº 14.335, de 30 de novembro de 1944, passou a denominar-se Itapecerica da

Serra, para diferenciar-se do Município homônimo situado no Estado de Minas

Gerais12.

Verifica-se na história itapecericana uma população cosmopolita,

composta por imigrantes alemães, italianos, espanhóis, japoneses, libaneses,

nordestinos, negros e indígena os quais influenciaram culturalmente e

socialmente a formação da identidade do povo itapecericano.

Suas principais atividades econômicas se encontram nos setores

primário, secundário e terciário. No setor primário destaca-se a agropecuária

como atividade responsável pela produção de bens de consumo, mediante ao

cultivo de plantas e da criação de animais como gado, suíno, aves, entre outros.

A agropecuária é praticada em geral por pequenos produtores que utilizam

11 Freguesia: subdivisão de uma administração colonial vinculada ao governo de Portugal. 12 Ibid, p.29.

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práticas tradicionais, cujo conhecimento das técnicas é repassado através de

gerações.

No setor secundário sobressai a indústria como atividade econômica

surgida na Primeira Revolução Industrial, no final do século XVIII e início do

século XIX, na Inglaterra, e que tem por finalidade transformar matéria-prima em

produtos comercializáveis, utilizando para isso força humana, máquina e

energia. No terciário sobreleva-se as atividades de oferecimento de serviços,

comerciais, pessoais ou comunitário a terceiros. (SÁ,2012, p.61)

Itapecerica da Serra se desenvolveu sobre uma matriz13 social

eminentemente católica, tanto devido à colonização quanto à imigração — e

ainda hoje a maioria dos itapecericanos declara-se católica. —, é possível

encontrar atualmente na cidade dezenas de denominações protestantes

diferentes, como a Igreja Presbiteriana, a Igreja Metodista, a igrejas batista, a

Igreja Assembleia de Deus, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a Igreja Mundial

do Poder de Deus, a Igreja Universal do Reino de Deus, a Congregação Cristã

no Brasil, entre outras.

De acordo com dados do Censo de 201014 realizado pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Itapecerica da Serra

(152.614hab.) está composta por: 59,39% de católicos, 25,30% de protestantes,

sendo que 15,98% são de origem pentecostal, 10,84% são pessoas sem religião.

Entre as denominações de origem pentecostais em Itapecerica da Serra

destacam-se as Assembleias de Deus com 6,15%, a Congregação Cristã do

Brasil com 1,94% e a Deus é Amor com 1,02%%. Pelos dados do Censo de

2010 que serão expostos no quadro abaixo constatamos que Itapecerica da

serra é um município de fortes influências neopentecostais com

aproximadamente 6,78%.

13 Matriz: Este termo é usado aqui para descrever o contexto social e conservador em que se desenvolveu o protestantismo e pentecostalismo em Itapecerica da Serra. 14Fonte:http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=352220&idtema=91&search=sao-paulo%7Citapecerica-da-serra%7Ccenso-demografico-2010:-resultados-da amostra-religião-

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Tabela 1

POPULAÇÃO RESIDENTE EM ITAPECERICA DA SERRA 152.614hab

PESSOAS PERCENTUAL

Católica Apostólica Romana 90.635 59,39% Católica Apostólica Brasileira 318 0,21% Católica Ortodoxa 224 0,15% RELIGIÃO DE ORIGEM EVANGÉLICA 38.616 25,30% Religião evangélicas de missão 4.304 2,82% Igreja Evangélica Luterana 227 0,15% Igreja Evangélica Presbiteriana 73 0,05% Igreja Evangélica Metodista 302 0,20% Igreja Evangélica Batista 1.718 1,13% Igreja Evangélica Congregacional - 0,00% Igreja Evangélica Adventista 1.973 1,29% Religião evangélicas de missão - outras 12 0,01% RELIGIÕES DE ORIGEM PENTECOSTAL 24.391 15,98% Igreja Assembleia de Deus 9.391 6,14% Igreja Congregação Cristã do Brasil 2.957 1,94% Igreja o Brasil para cristo 135 0,09% Igreja Evangelho Quadrangular 309 0,20% Igreja universal do reino de deus 2.293 1,50% Igreja Casa Da Benção 118 0,08% Igreja Deus é Amor 1.553 1,02% Igreja Maranata - 0,00% Igreja Nova Vida - 0,00% Evangélicas de origem pentecostal - comunidade Evangélica 192 0,13% Evangélicas de origem pentecostal - outras 7.442 4,88%

Fonte15

Podemos também observar que na região de Itapecerica da Serra a maior

procura pelas igrejas protestante (evangélica) e de origem pentecostal são de

mulheres.

Tabela 2

GENERO E RELIGIÃO

Residente -masculina -religião total 76.270 49,98%

Católica apostólica romana 45.541 29,84%

Evangélicas 17.213 11,28%

Evangélicas de Missão 1.785 1,17%

Pentecostal 11.065 1,17%

Evangélica não determinada 4.363 2,86%

GENERO E RELIGIÃO

Residente - feminina - religião total 76.344 50,02%

Católica apostólica romana 45.094 29,55%

Evangélicas 21.404 14,02%

Evangélicas de Missão 2.519 1,65%

Pentecostal 13.326 8,73%

Evangélica não determinada 5.559 3,64%

15 Os dados contido nas tabelas de 1 a 4 são do Censo de 2010 disponível em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=352220&idtema=91&search=sao-paulo%7Citapecerica-da-serra%7Ccenso-demografico-2010:-resultados-da-amostra-religiao-

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Constatamos também por meio dos dados colhidos do Censo, residentes

com múltiplos pertencimento religioso cujo maior fluxo se localiza entre os

homens.

Tabela 3

Tabela 4

RESIDENTE SEM RELIGIÃO - MASCULINO E FEMININO

Masculina sem religião 10.476 6,86%

Feminina sem religião 6.066 3,97%

A chegada do pentecostalismo em Itapecerica da Serra pode ter se dado

no período de 1930 a 1933. O único documento que encontramos que corrobora

com nossa suspeita foi um assinado no ano de 1943, pela Comissão pertencente

à igreja Metodista de Itapecerica da Serra. O documento foi doado ao Museu

Histórico e da Memória localizado na mesma cidade no dia 17 de setembro de

2007 e nos foi cedido um arquivo com o conteúdo do referido documento em

dezembro de 2015. Transcreveremos apenas um trecho que jugamos importante

o qual diz:

Prezados amigos irmãos, em nosso Senhor Salvador e Jesus Cristo a graça misericórdia e paz da parte de nosso Senhor, estejam com todos vós. A comissão nomeada a fim de organizar o histórico da fundação da Igreja Metodista nesta cidade de Itapecerica, cuja fundação da Igreja comemora hoje os 50° aniversario, ou seja cinquentenário, depois de bastante lutar, isto já por faltar no seu arquivo o primeiro livro de rol permanente, ausência de outros livros, que bem poderia dar bem mais esclarecimentos a comissão sobre o assunto e, também por já estarem pertencendo a Igreja triunfante de nosso Senhor Jesus Cristo no céu, os mais antigos membros nos auxiliara nesse trabalho. Prezados irmãos que hoje estão aqui reunidos nesta casa consagrada ao culto do Deus vivo nos céus, erigida cinquenta anos no alto desse píncaro, que mede altitude de 920m nível do mar, onde o som alegre do evangelho salvador de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, já se

RESIDENTES SEM RELIGIÃO

Residente - Sem religião 16.385 10,74%

Ateu 144 0,09%

Agnóstico 13 0,01%

Religião não determinada e múltiplo pertencimento 987 0,65% Religião não determinada e múltiplo pertencimento - religiosidade não determinada ou mal definida 987 0,65%

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fez ouvir a cinquenta anos, a fim de comemorar esta data de grande e alto valor. A comissão humildemente deseja apresentar um simples e resumido histórico, isto, como já se ouviu pelas razões, exposta a princípio. Rev. Manoel Martins de Moraes – período de 1930 a 1933, a comissão encontrou algumas atas registradas, mas não continha relatórios do pastor e nem de oficiais. Contudo, foram encontrados relatórios do pastor em atas de algumas conferencias trimensais bastante desanimado, relatando debandada de muitos crentes para o pentecostismo e finanças muito mal. A Comissão Samuel Cremm José Hengles, Zenaide Cremm de Moraes. Itapecerica ,07 de fevereiro de 1943.

Itapecerica da Serra foi uma cidade que atraiu milhares de migrantes do

norte e nordeste do Brasil, nordestinos que acabaram vindo para a cidade

preferiram residir nas periferias, nos bairros como o Parque Paraíso, Jardim

Jacira, Santa Júlia, São Pedro, Branca Flor, e Valo Velho.

Nossa hipóteses é que estes migrantes nordestinos foram os principais

responsáveis pelo desenvolvimento e crescimento do pentecostalismo nas

regiões mais afastada do Centro da cidade cuja maior influência religiosa é o

catolicismo.

No centro da cidade temos a Praça da Matriz como extensão da igreja,

este local é o centro de atração para a fé católica, ao lado da câmara municipal,

prédio do Poder Legislativo, é um conjunto que se apresenta como símbolo da

hierarquia social.

Figura 1 - Vista aérea do Largo da Matriz em Itapecerica da Serra em novembro de 2000. (Acervo Fotográfica da Câmera Municipal de Itapecerica da Serra)

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A praça transforma-se em escrituras dos poderes locais. A Igreja, por

intermédio do pároco local, demarca seu espaço com a presença do centenário

prédio da igreja da Matriz; os políticos elegeram o Largo da Matriz para demarcar

suas administrações e sua interferência na vida da cidade. Teoricamente as duas

construções representamos os laços entre poder político e religioso a parceria

entre igreja e estado, que transparece nas relações de poder da cidade de

Itapecerica.

Embora a praça da Matriz seja compartilhada entre os dois poderes

itapecericanos, a utilização deste espaço continuou seguindo as determinações

das autoridades religiosas, calendário católico e a agenda do Santuário Mariano

(Corpus Christi, casamentos, louvores, missas, gravação de programa de rádio

e tv, reza do terço, grupos de orações). A postura dos representantes da igreja

católica na cidade era de que as normas deviam ser “obedecidas”, nenhum

evento acontecia na praça sem a autorização da igreja católica.

Considerando a praça da Matriz como o centro do poder religioso e

legislativo, cuja maior influência se destaca o poder do religioso em múltiplas

atividade tanto religiosas quanto políticas no centro da cidade, nossa suspeita é

que devido essa concentração de poder religioso católico, o pentecostalismo que

é um movimento não elitizado e considerado sociologicamente como “religião de

pobre” tenha se desenvolvido nas regiões mais afastadas do centro da cidade

por meio dos migrantes nordestinos.

Como já mencionamos anteriormente os pentecostais são formados por

camadas empobrecidas: pedreiros, sapateiros, chapeleiros, alfaiates,

trabalhadores rurais etc. Estas camadas empobrecidas de pentecostais não

possuem o costume de terem livros, e mesmo que os tivessem não disporiam de

tempo por motivo de sua dura jornada de trabalho, e nem de preparação para

estudá-los devido sua baixa escolaridade. Estes e outros fatores levam a ser o

pentecostalismo um movimento que dá pouca importância ao fator intelectual e

muita ao emocional, aos sentimentos.

O fato dos pentecostais terem tais tendências leva Galindo (1995) a

afirmar que:

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O pentecostalismo globalmente representa esse tipo de cristianismo desinteressado da doutrina e centrado no emocional, na vivência do sobrenatural. Por isso são tão importantes, nele, os milagres, os sinais como o falar em línguas (glossolalia), as curas, os exorcismos. (GALINDO 1995, p.190-91).

O estudo do pentecostalismo em Itapecerica da Serra é um campo de

pesquisa fértil, rico em possibilidade de variadas análises. Dentro deste campo

tão amplo tivemos que nos delimitar ao estudo e análise das transformações

socioculturais dos usos e costumes presente no pentecostalismo assembleiano

na região Crispim.

A seguir estudaremos a história da igreja Assembleia de Deus Ministério

Belém no Crispim, seus usos e costumes e sua modificação e ressignificação ao

longo de sua história e desenvolvimento. Nossa hipótese é que tais mudanças

que analisaremos a seguir, tenha ocorrido devido à forte influência

neopentecostal em Itapecerica da serra como mencionamos anteriormente.

Também suspeitamos que tais mudanças se devam ao próprio desenvolvimento

sociocultural e urbano de Itapecerica da Serra.

1.6 TRAMSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAL DOS USOS E

COSTUMES DA ASSEMBLEIA DE DEUS MINISTÉRIO BELÉM

BAIRRO CRISPIM.

A confecção deste tópico foi desafiador devido à falta de documentos e

registros da igreja nessa localidade em seus primórdios dias. Para a obtenção

de informações e produção de dados, usamos o processo investigatório de uma

metodologia qualitativa onde a entrevista semiestruturada foi a mais adequada.

Entrevistamos 19 assembleianos de diferentes idades e funções

eclesiásticas justamente por serem modelos de comportamento e formadores de

opinião, uns mais conservadores e rígidos concernente aos usos e costumes e

outros mais liberais. No decorrer da pesquisa fui informado sobre a origem da

igreja Assembleia de Deus Ministério Belém no Crispim, sua liturgia, seus

líderes, usos e costumes e as transformações ocorridas ao longo de sua história.

Em depoimento sobre a origem da igreja Assembleia de Deus Belém no

Crispim, a senhora Guilhermina (Lélia) de 64 anos, uma das pioneira do

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assembleianismo na região, profunda conhecedora da liturgia e dos usos e

costumes diz:

A Igreja Evangélica Assembleia de Deus Ministério do Belém no Crispim começou em uma casinha na rua Jurupua sobre a direção de um pastor pernambucano chamado Arlindo que foi enviado pelo setor 14 Jardim Ângela para, essa região a qual era uma grande mata. Quando eu aceitei a Jesus em 24 de setembro 1980 a igreja já tinha se mudado para um pequeno salão alugado na Rua Apa. O endereço onde a igreja se localiza hoje, estrada do Crispim nº221 foi comprado na época devido a um conflito entre dois pastores da igreja Deus é Amor que queriam dividir o Ministério, um dos pastores chamado João Lopes pretendia fundar sua própria denominação chamada Pronto Socorro de Jesus. Ambos os pastores resolveram vender a propriedade ao pastor Arlindo mesmo depois de terem lançado a pedra fundamental da igreja Deus é Amor no Local. A igreja se reunia nesta propriedade em uma casinha no terreno ao lado, onde hoje é o estacionamento da igreja, congregamos lá até que o templo fosse levantado, (CADERNO DE CAMPO 07/05/2015)

Figura 2 - Fotografia da casa onde se realizaram os primeiros cultos da Assembleia de Deus Ministério Belém no bairro Crispim.16

Figura 3 - Fotografia do templo da assembleia de Deus

Ministério Belém no Crispim já construído.

16 Fonte: todas as fotos foram cedidas pela senhora Nadir de Paula regente do Coral da Igreja em estudo. A Senhora Nadir é também uma das pioneiras da Assembleia de Deus ministério Belém no Crispim é regente do coral a 37 anos.

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Falando sobre os usos e costumes a senhora Lélia descreve a rigidez

destes hábitos com status de doutrinas bíblicas que permeavam a igreja em sua

época. Ela ressalta algumas práticas e comportamentos que nos permitem

compreender a mentalidade dos assembleianos nesta localidade quanto ao seu

entendimento concernente aos usos e costumes.

Nos usos e costumes nós éramos escravos, não podia alisar o cabelo, não podia se depilar, mais ninguém sabia a razão, não podia tirar cutícula de unha, o pastor Arlindo dizia se tirasse a cutícula ia sangrar e se sangrava era pecado, não podíamos usar a calça comprida porque era roupa de homem e sim saia que era roupa de mulher. Os saltos altos não podíamos usar porque tem um texto da bíblia que mostram que não é coisa para mulheres sérias (Is3:16). Os homens não podiam usar calça Jeans, e nem tênis, camisa polo nem pensar. Meus filhos enquanto crianças nunca jogaram bola, pois tinha pessoas da igreja que vigiavam as crianças, e se elas jogassem bola não podia cantar no grupo infantil da igreja. Existia na época uma fitinha de seda, sempre tive vontade de colocar em minhas meninas, mas me disseram se eu fizesse isso minhas crianças ficariam fora do grupo sem cantar. As coisas eram tão rígidas que em crianças recém-nascidas jamais poderia ser colocado nelas um macacão, manguinha se fossem mulher, não havia como fazer diferente, a igreja ensinava e nós obedecíamos. Uma experiência pessoal: uma vez eu estava pintando as unhas e escutei uma voz perto de mim que dizia: para que te serve isso? Deus nessa época falava, hoje não fala mais. As moças quando se casavam e demorassem dois ou três meses para engravida, as irmãs mais velhas e ousada iam na casa dessas moças para saber se estavam tomando comprimido para evitar a gravidez, eu tive sete filhos queria apenas dois, eu operei em 1983 por causa dessa operação o pastor gritou no púlpito que eu era do diabo, quando eu andava pelas ruas as irmãs gritavam na rua que eu ia para o inferno, passado algum tempo eu fiquei ruim da coluna diziam que era castigo porque operei.

Sobre a televisão, era proibido usavam Ez 8:12 para dizer que diante dessa câmara de imagens as pessoas fazem coisas erradas. As coisas eram tão serias em minha época que houve um caso em nossa região

de uma das moças que foi estuprada na frente de seu noivo que foi amarrado pelos que fizeram este mal, depois do caso ocorrido o casal de noivo tiveram relações sexuais e não disseram nada a igreja, depois se casaram tiveram dois filhos, um dia resolveram confessar aquele caso do passado, por causa disso ficaram ambos um ano disciplinado e fora da comunhão da igreja. Mesmo com toda rigidez posso dizer que o povo pecava mesmo, havia muitos casos de traição, uma coisa que tinha mais do que hoje era fofoca nos grupos de oração. As coisas eram tão diferentes dos dias de hoje que quando eu fui para ser batizada fui julgada pela igreja, sentávamos num banco em frente da igreja e os irmãos diziam com sinceridade se estávamos prontos ou não, caso a respostas fosse negativa não éramos levados ao batismo. Ficávamos para a próxima vez onde só alcançariam resposta positiva quando déssemos testemunho cristão. (CADERNO DE CAMPO 07/05/2015)

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Quanto a liturgia, a senhora Lélia ressalta não somente os cultos e seus

horários, mas algumas particularidades de cada um destes cultos, como sua

organização e costumes inseridos nos mesmos. Ela diz:

O horário dos cultos era das 19:30h as 21:00h sendo que as 20:55 se fazia a oração para o termino. As oportunidades aos irmãos eram distribuídas nos cultos de quinta-feira e domingo, quem tinha oportunidade num desses dias não tinha no outro, o pastor acompanhava isso de perto e detalhe os irmãos sempre estavam preparados para terem sua oportunidade no culto. Não havia andança nos cultos, tomação de água, até as crianças respeitavam o ambiente da igreja. No culto infantil as crianças não brincavam nos cultos, não tinha esses fantoches essas brincadeiras todas, elas tinham oportunidade, liam a bíblia, oravam, cantavam. Os cultos de ensinamento eram de portas fechadas e só entravam membros. Os cultos de Ceia eram realizados aos domingos pela manhã, sentava de um lado os crentes que ceavam e do outro os que ainda não participavam da ceia, segundo nos foi ensinado o diácono que iria servir a ceia poderia não conhecer a pessoa, por isso era organizado desta forma, era também para se evitar que pessoas que não fossem batizadas pegasse da ceia. Essa organização era feita pela secretaria que organizava as pessoas que chegavam. A escola dominical era as 15:00h, depois voltávamos para casa e a noite íamos ao culto. O trabalho de círculo de oração não era como é hoje, que se prega, trata de questões doutrinarias, não era assim, nós orávamos depois a dirigente dava uma palavra e íamos embora. O círculo de oração começava com oração onde cada uma era designada a orar por uma causa: pela pátria, pelos enfermos, pelos desempregados. Cada uma tinha uma causa para orar. O círculo de oração era de testemunho, contar as bênçãos, o círculo de oração não era para ensinar era para orar. Nosso uniforme era saia preta e blusa branca. Todas as ofertas eram registradas em um caderno e no final do mês se prestava contas, uma coisa, as ofertas eram guardadas em uma caderneta de popança no banco Bradesco e quando viam as festas do grupo custeavam a festa com o valor que guardaram. Não existia cantina, bazar. E Detalhe só cantava nas festas quem participava do Círculo de oração. Quando a igreja precisava de dinheiro se reunia os obreiros e dividia o valor entre eles, não era esse “pede, pede” de hoje. Havia muita visita nessa época, se ficássemos três cultos sem vir a igreja o pastor vinha atrás de nós saber a causa de nossa falta. (CADERNO DE CAMPO 07/05/2015)

Na pesquisa de campo nos foi cedido algumas fotografias pela senhora

Nadir, pioneiras da Assembleia de Deus ministério Belém no Crispim e regente

do coral a 37 anos. As fotografias mostram alguns usos e costumes dos

assembleianos no Crispim na época referida pela senhora Lélia em seu

depoimento mencionado anteriormente.

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Boris Kossoy, historiador que tem lidado com a fotografia como

documento visual no Brasil, considera que:

É a fotografia um intrigante documento visual cujo conteúdo é a um só tempo revelador de informação e detentor de emoções. (...) Conteúdos que despertam sentimentos profundos de afeto, ódio ou nostalgia para uns, ou exclusivamente meios de conhecimento e informação para outros que os observam livres de paixões, estejam eles próximos ou afastados do lugar e da época em que aquelas imagens tiveram origem. (KOSSOY, 2001, p.28)

Figura 4 – Fotografias internas do templo da Assembleia de Deus

Ministério Belém no Crispim.

Analisando as fotos percebemos três estilos para os cabelos femininos:

solto preso e em coque, percebemos um padrão no comprimento das saias das

mulheres que segundo algumas assembleianas mais antigas, tais saias

deveriam cobrir os joelhos, se fossem na metade da perna era vaidade, moda,

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pecado. Podemos também observar um padrão no corte de cabelo dos

masculinos.

Na fotografia abaixo podemos ver o costume das mulheres em usar

sapatos fechados e saias sem cortes.

Figura 5 – Fotografia interna do templo da Assembleia de Deus

Ministério Belém no Crispim.

Segundo várias pessoas antigas da igreja as quais não quiseram ser

identificadas, elas em seu depoimento enunciaram-me muitas informações das

quais poderíamos denominar aqui como simbologia dos usos e costumes. Me

falaram que os televisores eram considerados em sua época como caixa do

diabo, câmaras pintadas de imagens (ideia tirada de Ez8:12), caixa de abelha,

caixão do diabo, segundo elas a casa que tinha tal aparelho era considerada

como uma sepultura devido as antenas de transmissão em cima da casa

parecerem uma cruz. Acreditava-se também que a “TV” tirava a visão, a

espiritualidade.

O rádio era cognominado pelos mais antigo como o caixote do diabo, a

voz do diabo. O cigarro era intitulado chupeta do diabo. Salto alto era

denominado o cavalo do diabo, alguns mais entendidos diziam que os saltos

altos foram inventados pelos egípcios, portanto são coisas do mundo, outros

diziam que as plataformas nos saltos conduziam a pessoas ao mal da

sexualidade.

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O prendedor de cabelo conhecido pelo nome de bico de pato era chamado

de unha do diabo. A tiara de cabelo “arquinho” era chamada por alguns crentes

como diadema, associavam tal ideologia a Ap13:1 aos diademas da cabeça da

besta diziam que tal usos representava opressão maligna.

Ternos com cortes eram para estes assembleianos mais antigo o rabo do

diabo. O uso de roupa jeans era sinônimo de estar desviado. Usar roupas

vermelhas era profanação do sangue de Cristo, o circo era ninho do diabo.

O instrumento musical bateria era o trono do diabo, muitos pastores

diziam que a bateria era o trono do diabo, nela o baterista “pintava e bordava”

balançando o corpo freneticamente e batendo em todas as direções. Diziam os

pastores que os bateristas estavam endemoninhados.

Uma membra da igreja lembrando-se de sua juventude na igreja me

relatou um testemunho que ouviu sobre os usos e costumes de uma irmã que

segundo ela, foi arrebatada ao inferno. Ela disse:

A irmã me disse que no inferno tem uma sala com várias gavetas, dizia ela que quando foi até esse lugar toda a vaidade que pertence ao diabo lhe foi revelada, ela disse que um demônio a mando de Lúcifer foi ordenado a mostrar toda a vaidade pertencente a ele. Dizia ela: ele me abriu a primeira gaveta e começou a tirar dali de dentro calça comprida, bermudas, saias rachadas de todos os jeitos e lados, saias finas que dá pra ver o corpo, saias curtas, saias de bico. O demônio perguntou: tá com vergonha “crentinha”? Eu disse sim, não sabia que era pecado. Irmãos Deus me permitiu ser exortada pelo diabo lá no inferno. Ele me disse vou te mostrar mais então ele abriu outra gaveta e ali eu vi toda a pintura de cabelo, e ele mostrava como fica o nosso cabelo aqui, meio avermelhado, meio amarelado, preto, eu disse nossa é pecado pintar o cabelo e o demônio me disse sim e a tua igreja está cheia os irmãos e irmãs estão com medo de ficar velhos, e o demônio disse vou te mostrar mais e então abriu outra gaveta ele me mostrou todo tipo de pintura, de batom inclusive aquele bem clarinho que as moças usam pra enganar o pastor, ruge, lápis de olho, todo o tipo de esmalte. Vem crentinha vou te mostrar mais ai ele abriu outra gaveta ai ele me mostrou todo o tipo de depilação, nossa eu disse é pecado? O demônio disse é pecado sim, o demônio me perguntou você sabe como surgiu a depilação de perna? Das prostitutas e a sua igreja está cheia. (CADERNO DE CAMPO 14/05/2015)

No decorrer da pesquisa de campo entrevistei uma senhora por nome

Edjane membra da igreja e jovem nos anos 1991-1992 período em que a igreja

era dirigida pelo Pastor Joaquim que segundo a entrevistada era este um homem

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muito conservador no que se refere aos usos e costumes da igreja. A fala da

senhora Edjane corrobora com os depoimentos mencionados anteriormente e

nos permite identificar um período de conservação dos usos e costumes na

história da igreja em estudo.

A senhora Edjane diz que:

Nessa época as irmãs conservadoras tanto nos cultos de domingo quanto nos cultos de libertação arrancavam as meias calças das irmãs que traziam tal vaidade para a igreja e jogavam tais meias na foça da igreja, só se podia usar a meias três quartos, pois as meias calças eram proibidas porque eram calças. A medida que o culto ia andando e as manifestações do Espirito Santo iam ocorrendo estas coisas que mencionei iam aconteciam. As irmãs diziam que quem insistisse de usar estas meias calça iria dar uma coceira, que ia causar alergia que não ia ter cura. Detalhes as meias três quartos só podiam ser usadas aquelas que fossem cor da pele, outras cores não eram permitidas. Certa vez estava em um culto, nesse dia fui com uma presilha no cabelo ela foi arrancada por uma irmã que veio em minha direção marchando e falando em línguas estranhas. Depois do culto falei com ela sobre o fato ocorrido, ela simplesmente me disse que aquilo era vaidade e desagradava a Deus. Teve uma época que teve a moda de uma sandália de salto que era amarada nas pernas, meu Deus do céu...os que viam diziam que a pomba-gira entrou em você, diziam: olha lá, fulano está com a pomba-gira, olha o estilo da sandália dela. Aqui as coisas eram rigorosas, minha avó cortou ela mesmo uma ponta do cabelo e foi disciplinada três meses. Os crentes disciplinados tinham que obrigatoriamente participar da escola dominical sem faltar, pois, isso aumentaria seu tempo de punição, detalhe nesse período de prova a igreja não se comunicava com os punidos, pois seria tido como sendo da mesma índole. (CADERNO DE CAMPO 01/05/2015)

Nas palavras da Senhora Edjane é possível notarmos que mesmo tendo

passado dez anos, a igreja Assembleia de Deus Belém no Crispim ainda

conserva sua dura rigidez principalmente entre as mulheres quanto aos seus

usos e costumes.

Analisando mais detalhadamente as palavras da senhora Edjane,

notamos um certo tipo de “espiritualização” quanto a não usar determinados

objetos. Tal espiritualização nos traz a suspeita de uma tentativa de legitimar

estes usos e costumes como sendo a vontade de Deus. Notamos também a

presença de linguagem típica das religiões afro-brasileiras misturada nas

manifestações pentecostais da igreja.

Ao longo da entrevista a senhora Edjane relata alguns fatos interessantes

ocorridos na gestão de outro pastor o qual ela acompanhou. Interessante que

este pastor por nome Raul não é o pastor da igreja, segundo o depoimento da

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senhora entrevistada, ele era apenas responsável pelos cultos de libertação, ela

diz que o pastor Raul havia sido designado para atender os cultos pelo pastor

Valmir responsável pelo setor 46 naquela época. Quanto aos pastores que

cuidavam da igreja, eram trocados de dois em dois meses mas, a liderança dos

cultos de libertação continuavam em responsabilidade do pastor Raul.

Um dos trecho da entrevista da senhora Edjane que transcreveremos a

seguir mostra que a Assembleias de Deus já próximo dos anos 90 apresentava

certa flexibilidade e diferença em seus usos e costumes de estado para estado,

fato este que aparenta ser desconhecido pela igreja em estudo. O interessante

é observar no depoimento, como tais mudança eram vista pelos assembleianos

de Itapecerica da Serra no Crispim, eles consideravam a não prática dos usos e

costumes como possessão demoníaca.

No trechos da entrevista já referida acima a senhora Edjane diz:

A esposa do pastor Raul que passaram por nossa igreja tinha o costume de usar regata, pois ela veio do Rio de Janeiro e lá a igreja usava tudo, blusa sem manga, bermudas, saias mais curtas e a igreja era também Ministério do Belém. A irmã Simone esposa do pastor Raul sofreu muito aqui, com as críticas das irmãs, num dia no culto tarde de libertação que era as quartas-feiras ela estava com uma blusa sem manga, e as irmã diziam: nem pra cair endemoninhada... a esposa do pastor se entristeceu de tal forma que só chorava e dizia: eu não

aguento mais esse lugar. (CADERNO DE CAMPO 01/05/2015)

A senhora Edjane conclui seu depoimento com alguns apontamentos

importantes referente ao contato da igreja em estudo com novos movimentos

pentecostais.

Teve um grupo de irmão que vieram de São Bernardo para a vigília, quando pararam em frente à igreja vimos que o povo já estava rodando dentro do ônibus, desceram e rodavam falando em línguas estranhas na rua da igreja que era de terra o poeirão subia, entraram na igreja dessa forma a poeira era tão grande dentro da igreja que agente tossia. Aí teve um irmão que começou a pular dentro da igreja, aí o pastor Raul mandou alguém dizer para este irmão parar, o irmão disse: deixa eu brincar um pouco e continuou em seus rodopios até que o pastor pessoalmente mandou o tal irmão sentar em nome de Jesus. (CADERNO DE CAMPO 01/05/2015)

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Analisando as palavras da senhora Edjane quanto a rotatividade de

líderes (pastores) de dois e dois meses na igreja Assembleia de Deus Belém no

Crispim se percebe nitidamente a influência dos cultos de libertação nos

assembleianos desta igreja. Segundo a Senhora Edjane estes cultos eram

cheios, frequentado por crentes de vários lugares, segundo ela os pulos e

rodopios eram comuns.

Nossa suspeita ao ouvir a senhora Edjane é que estes cultos de

libertação foram de grande relevância para a introdução de outras práticas

pentecostais na igreja Assembleia de Deus Belém Crispim, segundo ela muitas

coisas diferentes acontecia nestes cultos. Sua ultimas palavra na entrevista foi

relatando sobre um grupo de irmãs da igreja que andava pelas ruas falando em

línguas estranhas (glossolalia) e profetizando para várias pessoas nos pontos de

ônibus, segundo a entrevista estas mulheres foram apelidadas de “beatas”.

Durante as pesquisas de campo e a organização dos dados colhidos, um

dos depoimento me intrigou devido ao fato de mostrar a diminuição das

manifestações pentecostais (batismo com Espirito Santo, milagres, curas

divinas) até elas se tornarem raras na igreja em estudo. O depoimento nos foi

concedido pela senhora Eleni 43 anos dirigente do Círculo de Oração. Ela diz:

Acho que é sempre importante valorizar os bons costumes e descartar os maus hábitos. Acredito que da mesma forma que o cristão deve glorificar a Deus com as suas ações também Deus deve e merece ser glorificado através do cuidado com os usos e costumes. Me converti no ano 2000 e comecei a conhecer a história desta igreja e percebi que a 16 anos atrás, ou seja, no tempo da minha conversão, já estava difícil de presenciarmos milagres, cura divina, batismo com o Espirito Santo. De lá para cá só piorou a situação da igreja, esses acontecimentos se tornaram raros em nosso meio. Ouvimos alguns que se dizem homens de Deus brigando pelo poder ao invés de estarem orando buscando de Deus estratégias para ganharem almas para o reino dos céus. (CADERNO DE CAMPO 13\01\2016)

Analisando as palavras da Senhora Eleni resolvi organizar os demais

depoimentos por idade em ordem decrescente afim de estudar e compreender

de forma mais aprofundada as mudanças sofridas pela igreja Assembleia de

Deus Belém no Crispim.

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Organizamos os dados de forma que se possa compreender o que os

mais antigos assembleianos desta igreja pensam sobre os usos e costumes em

contraponto com o pensamento dos mais novos. Os dados também nos

permitem a observação de mudanças nas práticas pentecostais da igreja em

estudo ao longo de seu desenvolvimento e de sua história. Pelos dados se

observa igualmente que não somente a igreja em estudo sofreu mudança, mas

que o Ministério Belém das Assembleias de Deus vem se modificando quanto a

seus usos e costumes em várias regiões. Os depoimentos são claros.

Juvenal 71 anos – aposentado

Os usos e costumes na igreja hoje podemos dizer que acabou, a igreja

e o mundo estão quase iguais, muitas mulheres que não são crentes

andam mais bem trajadas que muitas crentes, tenho 24 anos na igreja

do crispim, quando cheguei nesta igreja não tinha a multidão que tem

hoje não, a mocidade quase dava para se contar nos dedos, cantavam

louvores do céu parecia que a igreja subia e o céu descia, me lembro

dos hinos que o coral cantava eram hinos cheios de unção, este coral

de hoje nem parece o mesmo, não tem mais aquela unção do céu, eu

muitas vezes me alegrei tive vontade até de pular coisa que nunca fiz,

mais teve vezes que bati palmas, essas coisas todas se acabaram. Me

recordo tempos depois na gestão do pastor Moisés onde está igreja

era cheia, havia pessoas aceitando a Jesus 7 a 8 almas por domingo,

as mulheres se trajam adequadamente não havia essa bagunça que

tem hoje, os cultos eram lindos mais as coisas mudam, a iniquidade

vai esfriando a pessoa. Hoje as pessoas que não são da igreja têm

mais noção do que é pecado do que os que estão na igreja, erra perto

deles para você ver, eles dirão você não é crente? A igreja precisa

mudar em tudo, pois não está em sua normalidade, falta amor nos dias

de hoje, antes se faltássemos da igreja oito ou até quinze dias o pastor

vinha ver o que estava acontecendo (CADERNO DE CAMPO

18\01\2016)

Calmo 63 anos cooperador - Superintendente da escola dominical –

Ferramenteiro

A igreja Assembleia de Deus é uma igreja que mantem a tradição

desde sua fundação, porém existe uma tendência a uma atualização

para os novos padrões para acompanhar a sociedade, novos

pensamentos, novas ideias, uma nova ética, um novo sistema, mas ela

procura se manter porque temos uma regência, um pastor presidente

conservador. A igreja mantendo os usos e costumes desde sua

fundação, ela vai divergir com certeza com os padrões atuais, vamos

ser taxados como radicais eu acredito que assim pode acontecer,

porém, nos faz bem porque se cumprem os princípios de Deus que

foram estabelecidos pela palavra de Deus, princípios de submissão,

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sinto que nossos costumes ainda não têm mudando, porém

percebemos uma influência para isso, uma tendência a molda-los em

um outro costume. Em relação a melhora eu tenho uma coisa a falar

iniciando pelo sistema de ensino, as Assembleia de Deus tratam de

assunto nas reuniões de obreiros, onde é um grupo seleto de pessoas

que já tem um conhecimento, irmãos formados em teologia e outras

formações, enfim, pastores, obreiros, ali não aparece uma irmã, é

frequentado por poucos jovens, muitas pessoas ficam desinformadas

dos ensinamentos dados pela igreja. (CADERNO DE CAMPO

15\01\2016)

Moisés 52 anos co-pastor da Igreja Assembleia de Deus Ministério do

Belém setor 46 em Embú Guaçú. Em sua trajetória ministerial o senhor Moisés

atuou 15 anos como pastor da igreja na Assembleia de Deus Ministério Belém

congregação Crispim, ele diz:

os usos e costumes fazem parte de nossa história, são características da identidade assembleiana, não foram simplesmente instituídos do nada, tinham suas razões, suas justificativas, foram instituído visando a santidade do povo diante os excessos da época, ainda que hoje pareçam exageros, militarismo, na época não eram vistos assim, os mais antigos nunca tiveram a intenção de oprimir ninguém pois todos sabiam as razões do porquê deveriam seguir tais costumes, passaram-se os anos e líderes mais modernos se posicionam contra o ensino das características da nossa identidade, muita coisa tem se perdido porque muitos conhecem os usos e costumes e desconhecem as suas verdadeiras razões e intenções. Conclui o pastor dizendo: “Vale ressaltar que foram tais usos que conservaram a igreja ao longo dos mais de cem anos. Diante de tanta mudança qual será a identidade da igreja daqui a algum tempo? Como a assembleia de Deus será conhecida?” (CADERNO DE CAMPO 27/12/2015)

Antônio 47 anos Evangelista - Pedreiro

A importância para os usos e costumes para a igreja hoje, em primeiro lugar precisamos nos manter naquilo que fomos ensinados, a direção de nossa igreja todos bem sabem que defenderam os usos e costumes, então em minha opinião não necessidade de haver mudanças com relação a isso, segundo ajuda a conservamos aquilo que nós aprendemos pelos nossos pais no passado, então qualquer inovação que surja dentro deste assunto eu acho que acaba abrindo mãos daquilo que aprendemos. Tenho percebido mudanças na igreja há quem diga que na nossa igreja não há mais milagres como haviam antes, eu acredito que há sim pois o nosso Deus é o mesmo, forma as pessoas que mudaram e isso tem atrapalhado o agir de Deus no meio da igreja, hoje percebemos que Assembleia de Deus não é a mesma como de dez anos atrás, justamente pelas inovações que foram aparecendo no decorrer do tempo e pelo fato de alguns líderes procurarem acompanhar a estas mudanças. A Assembleia de Deus precisa mudar principalmente na intimidade dela com Deus, hoje pouco se prega arrebatamento da igreja, hoje pouco se ensina que o povo precisa continuar aos pés de Jesus em oração em consagração, em jejum, sem estas coisas a espiritualidade das pessoas ficam duvidosas. (CADERNO DE CAMPO 15\01\2016)

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Rosa 43 anos pedagoga, esposa do pastor Elias um dos pastores que

lidou a igreja em estudo.

Meus pais já eram cristãos quando nasci, acho que devemos evitar os exageros e nas vestimentas se vestir com pudor e modéstia, Bom as pessoas mudaram não tem mais temo, a igreja acompanhou as mudanças do mundo. Mas que pena que as pessoas usam a liberação entre aspas pelos líderes e não se vestem com decência mas para atrair os olhares. (CADERNO DE CAMPO 07\01\2016)

Admilson 42 anos (cooperador) motorista de ônibus diz:” Não acho que a

igreja deveria mudar, e sim que deveria era preservar o que nossos pais na fé

tanto defendiam”. (CADERNO DE CAMPO 04\01\2016)

Miliana 35 anos Formação técnica em farmácia pelo CEFACS Escola

Técnica Fundação Zerbini/Incor/HC (professora da escola dominical classe dos

adolescentes) diz:

Na teoria, usos e costumes, bom testemunho e comportamento exemplar e decência no portar e se vestir respectivamente, seriam parâmetros de comportamento e conduta morais, se não tivessem sido resumidos a proibições. E é esse aspecto que penso que a igreja precisa rever. Educar, ensinar ao invés de proibir. Não colocar esses" usos e costumes", como tem feito, acima do evangelho gerando com isso, como tem ocorrido, questionamentos da igreja atual e, tendo de forma não declarada e oficial, que se adaptar a comportamentos e práticas antes abomináveis. (Caderno de Campo 06\01\2016)

Luciano 35 anos advogado - pós-graduado em direito do trabalho, auxilia

atualmente em 2016 na liderança do grupo dos adolescentes da igreja em

estudo.

A meu ver, em razão da institucionalização das “igrejas” – aqui, por óbvio refiro-me à Assembleia de Deus do Belém não têm valores enraizados. Viver num sistema legalista (cheio de regras e normas de conduta) onde é inserto nas mentes um modelo de comportamento de acordo com os preceitos da instituição ou, caso contrário, o indivíduo estará desobedecendo ao próprio Deus Jeová. Isso é de fácil percepção haja vista a baixa escolaridade que está associada a grande massa evangélica segundo o último censo do IBGE. Diante o exposto, fica claro que a importância dos usos e costumes para a igreja nos dias de hoje é de manter seus membros alienados num legalismo infundado maquiado como palavra de Deus. (CADERNO DE CAMPO 06\01\2016)

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Rafael (diácono) 33 anos eletricista diz:

Bom os usos e costumes para mim exclusivamente é para se diferenciar do mundo, sei que na verdade hoje em dia isso para alguns não está valendo de nada, infelizmente, mas, a minha opinião sobre o assunto é que não saberia viver de outra maneira. A igreja de um tempo para cá tem mudado muito e infelizmente para pior, muita facilidade em muitos aspectos, muita falsidade, muita mentira, muita arrogância, a tendência é piorar e não podemos fazer nada. Eu aceitei Jesus em 1988, na verdade meu pai nos levou para a igreja e nunca mais saímos, a igreja naquela época era bem simples lembro me com muita saudade da igrejinha do interior onde presenciávamos muitos milagres, curas, libertações, e o povo era muito simples, fiel a Deus. Com o avanço da tecnologia tudo começou a ir por água abaixo lembro de uma história que meu pai sempre nos contava que se ficássemos em casa em dias de culto vendo TV saia um bicho de dentro da televisão e nos engolia então era muito bom a Igreja naquela época. (CADERNO DE CAMPO 29\12\2015)

Alcione, 30 anos, pedagoga (recepcionista e regente dos adolescentes)

Na Assembleia de Deus, comunidade religiosa da qual faço parte, os usos e costumes ainda pode ser visto quase como um "tabu17", os fiéis mais antigos tendem a crer que a salvação é baseada se guardado os usos e costumes instituídos há tempos, já os fiéis mais jovens são mais maleáveis quanto a usar ou não determinados itens de beleza ou vestimenta, creio que seja uma questão mais cultural do que propriamente salvífica. Acredito que diante de tantas mudanças culturais, naturais no nosso país, cabe as autoridades religiosas repensar esse molde que a meu ver se mostra arcaico e ditador, as mudanças ocorrem na sociedade como uma forma de crescimento em vários âmbitos, sociais, financeiros, culturais e a igreja não pode ficar à mercê dessas mudanças, como se não fizesse parte dessa sociedade, vivemos em um país de clima tropical onde se pede em cada ambiente um tipo de vestimenta, é desnecessário homens usarem calças compridas quando o clima lhe pede uma bermuda em um ambiente mais despojado, o mesmo às mulheres, além de vivermos em uma sociedade onde homens e mulheres trabalham fora, é constrangedor ver mulheres que dependem de transporte público e precisam usar saias subindo nos ônibus e acabam mostrando as roupas íntimas para outrem ( os degraus dos ônibus são um ultraje de tão alto para uma mulher subir usando saia), logo, minha compreensão sobre esses usos e costumes são de que eles precisam passar por uma reforma, embora já tenha mudado bastante, sou assembleiana desde que nasci e pude acompanhar algumas modificações, quando era criança me lembro que muitas coisas não eram permitidas, como usar tiara ou presilhas no cabelo (mulheres), ter televisão em casa,

17 O tabu é uma proibição mágica: “Isto é impuro, não toque; isto é proibido, não faça”. Tabus são proibições carregadas de angústia ameaçadora. O moralismo procede disso, é a criação de um código rigoroso de proibições, de um código moral. Já mencionamos o comentário de um jovem, que o Dr. Bovet nos relatou: “Religião é o que não se deve fazer!” (TOURNIER, 1985, p. 136)

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jogar bola, cortar o cabelo, fazer as sobrancelhas, usar maquiagem ou qualquer que fosse considerado item de vaidade e hoje, embora não seja liberado oficialmente, fazemos todas essas coisas, algumas mulheres usam calça comprida, pintam as unhas com cores escuras e usam roupas sem mangas, itens que segundo meu conhecimento, não foram liberados para uso dos membros. (CADERNO DE CAMPO 06\01\2016)

Simone, 29 anos, regente do grupo de adolescentes.

Acredito que usos e costumes na igreja são ideia do homem talvez para diferenciar o evangélico do ímpio porque não existe base bíblica. A igreja somos nós. O homem nos dias de hoje deveria se preocupar mais com as almas, fazer trabalhos que busquem almas que estão perecendo no mundo. Me converti com 12 anos de idade e lembro que naquele tempo existiam grupos de irmãs que visitavam enfermos faziam orações nas casas, existiam cultos públicos, antigamente as pessoas pecavam e eram disciplinada. Hoje em dia não tem mais isso as pessoas pecam e tomam ceia normalmente continuam em seus cargos e é normal os cultos públicos não existem hoje em dia o que

funciona bem na igreja é o sistema. (CADERNO DE CAMPO

06\01\2016)

Thalitta 25 anos maestrina do coral e regente do grupo de adolescente

diz:

A importância dos usos e costumes para igreja nos dias de hoje é tentar ser diferente em uma sociedade tão vulgar e baixa. A igreja é conhecida lá fora pelo que veste, fala e se porta. Então é bom permanecer os usos e costumes saudáveis, não aqueles que eram um absurdo alguns anos atrás. Quando eu me converti não tinha esse negócio de fotos dentro da igreja, nem selfis, não tinha essa bagunça que tem hoje na hora do culto. O culto era espiritual, todos choravam, os louvores tinham letras e conteúdo, havia batismo com Espírito Santo, línguas estranhas, o amor ao próximo era visto através de obras e não de palavras, tinha cruzadas evangelísticas, vigílias, a igreja era fervorosa e não barulhenta. Tinha palavra, falava-se sobre o arrebatamento, sobre a morte de Jesus, era muito bom...só de escrever me dá saudade. (CADERNO DE CAMPO 06\01\2016)

Wellington 25 anos (Cooperador) estudante de Ciências da Computação

diz:

Bem, acredito que os usos e costumes servem para nos diferenciar, nos “destacar” do “mundo”, mostrar que somos diferentes, não só no falar, como nos vestir e no comportamento, ou seja, sal da terra e luz do mundo. Antigamente a presença de Deus era constante nos cultos, Deus falava, hoje em dia as coisas são diferentes, a igreja parece que se esfriou, os cultos não são iguais, mas a culpa não é de Deus, não é que Deus não fala mais, é que a igreja não quer ouvir Deus fala. Hoje se dá preferência a outras coisas, antigamente tinha coisas que “eram

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pecado” hoje em dia “não é mais pecado”. Fico me perguntando. Se antes era pecado, e hoje em dia não é. Realmente era pecado? (CADERNO DE CAMPO 05\01\2016)

Noemi 22 anos recepcionista da AD crispim, formação em gestão de

recursos humanos.

Os usos e costumes nas igrejas nos nossos dias não são tão relevantes como outrora…concordo que temos que preservar a nossa identidade cristã, mas não acredito que todos os costumes e usos que nos foram deixados são relevantes para nossa geração. Alguns costumes e usos deixados pelos nossos irmãos está muito ligado com a época e a cultura que predominava no Brasil, era uma outra geração, uma outra percepção. Muito dos nossos costumes tem influência até mesmo católica, onde as mulheres e freiras deveriam se portar de maneira simples e sem muitos enfeites...isso foi sendo passado e mantido por muito tempo …algumas pessoas relacionavam com o texto bíblico que diz que as mulheres devem ser simples, que o seu adorno não seja no exterior etc. Eu acredito que a igreja deve ensinar seus membros sobre o que a bíblia fala sobre a modéstia e decência. ...fazendo tudo para glorificar o Senhor...buscando o bom senso e equilíbrio...pois quando temos o Espírito Santo o mesmo nos guiará de maneira sábia, para que não venhamos escandalizar o nome de Cristo. O foco da igreja é ganhar almas e mantê-las ....a igreja deve mudar sua postura ,pois por diversas vezes nos achamos superior aqueles que ainda não conhecem a Cristo e isso só atrapalha o crescimento do Reino...precisamos mudar nossa maneira de ser, amar o nosso próximo, nos preocupar menos com cargos e status e saímos em busca das almas que estão perdidas ...temos que nos posicionar e nos manter firmes em relação a diversos assuntos, mesmo que isso venha causar um certo desconforto no meio em que vivemos ....Cristo nos chamou para fazermos a diferença e temos sidos omissos. Cresci na igreja, mas mesmo assim percebi que tiveram algumas mudanças, principalmente com relação a usos e costumes...na infância ouvia muito mais sobre o arrebatamento, hoje esse tema se tornou escasso…havia cultos de libertação, visitas nos lares e evangelismo nas ruas…havia também respeito quando era lida a palavra de Deus, muitas pessoas que não eram crentes admiravam os cristãos por sua maneira de se portar, pelo testemunho de vida. Nos cultos existia mais reverência e a Santa Ceia era o culto mais importante, pois era o dia que era lembrado a morte do nosso Salvado. (CADERNO DE CAMPO 29\12\2015)

Segundo Kelvin 20 anos aux. Tec. de enfermagem (jovem da igreja) “A

importância dos usos e costumes para a igreja hoje é para nos diferenciar do

mundo. Não devemos andar da forma como queremos devemos ter reverência

a Deus e usar vestes adequadas”. (CADERNO DE CAMPO 04\01\2016)

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Rafaela, 18 anos. Secretaria da escola dominical:

Os usos e costumes ajudam a manter a identidade de uma igreja, visto que se tem muitas denominações liberais, a igreja que ainda prega sobre usos e costumes, passa a mensagem de não trazer os modismos do mundo para a igreja. A igreja está faltando na parte de solidariedade, existem alguns bons trabalhos que são realizados, mas para cumprir o mandamento de Deus que nos ensina a amar, com excelência, seria necessário ter mais trabalhos na igreja para ajudar o próximo. Cresci em berço evangélico, desde então, mesmo com pouca idade, venho acompanhando as mudanças que a igreja tem sofrido, algumas pequenas coisas, como por exemplo, pedir perdão na Santa Ceia, foram deixados de lado, e essas pequenas coisas podem dar uma abertura para que as pessoas de dentro da igreja, façam as coisas do jeito que elas querem, e isso pode corroer os bons costumes que são trazidos de gerações. (CADERNO DE CAMPO 04\01\2016)

Os dados da pesquisa de campo mostraram uma consciência coletiva

entre os vários entrevistados da igreja Assembleia de Deus Ministério Belém em

Itapecerica da Serra na região Crispim concernentes a importância dos usos e

costumes para a igreja nos dias atuais, porém, analisando cada depoimento dos

entrevistados se revelou uma infinidade de mudanças e alterações quantos aos

usos e costumes.

No decorrer das pesquisa sobre o pentecostalismo em Itapecerica da

Serra e os usos e costumes das Assembleias de Deus Ministério Belém pude

observar que quando o pentecostalismo assembleiano chega a região do

Crispim com seu rigor doutrinário no ano de 1980, em outros estados ele já se

encontrava em mudança e flexibilidade.

Tal fato nos motivou a escrever o segundo capítulo desta dissertação

onde abordamos os usos e costumes na assembleia de Deus no Brasil desde

sua origem até sua flexibilização. Nossa pretensão é mostrar que as

transformações socioculturais dos usos e costumes é assunto antigo entre os

assembleianos porém, desconhecido por muitos que consideram a igreja

Assembleia de Deus uma igreja conservadora e imutável.

O estudo que faremos no segundo capítulo se faz necessário para

entendermos as razões que permeiam as transformações socioculturais dos

usos e costumes assembleiano em Itapecerica da Serra, que em nossa suspeita

é também fruto das transformação sofridas pelas Assembleia de Deus no Brasil

ao longo de sua história.

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2. USOS E COSTUMES NAS ASSEMBLEIAS DE DEUS

Este capítulo tem como objetivo a compreensão do futuro dos usos e

costumes assembleiano diante das transformações socioculturais. O estudo

destas transformações é de relevância para entendermos o destinos dos

usos e costumes da Assembleia de Deus em Itapecerica da Serra no bairro

Crispim que como já constatamos anteriormente já se encontra em mudança.

2.1 A CONSTITUIÇÃO DOS USOS E COSTUMES NAS

ASSEMBLEIAS DE DEUS NO BRASIL

A vida é insegura; os cálculos humanos às vezes são errados, e muitas vezes os homens têm que aprender pela experiência que as consequências de seus atos são muito diferentes do que eles previam ou consideravam razoável. (GEERTZ, 2008, p.79)

As igrejas Assembleias de Deus no Brasil mantinham regras muito

rigorosas nas primeiras décadas do século XX. Porém com o passar dos

tempos foram sofrendo um processo de flexibilização devido ao

desenvolvimento industrial, tecnológico e, às transformações sociais

ocorridas no Brasil nas últimas décadas.

Os anos se passaram e foram surgindo novas formas de ver a vida

comunitária no ambiente assembleiano, as mudanças foram radicais para

aqueles que se converteram em um sistema de tantas recomendações e

proibições.

A primeira vez que se tratou sobre a temática de estabelecer normas

comportamentais para os fiéis assembleianos foi em 1946, numa Convenção

Geral realizada em Recife, quando José Teixeira Rego, um dos pastores que

participavam do evento leu um artigo publicado no Jornal Mensageiro da paz. O

artigo em questão tratava das resoluções tomadas pelo ministério da Assembleia

de Deus de São Cristóvão, Rio de Janeiro 1940, que impunha regras de

vestimentas as mulheres. O texto foi publicado na página 3 da 1ª quinzena de

julho de 1946.

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As assembleias de Deus, tanto neste país como em todo o mundo, estão hoje em grande perigo de serem invadidas pelo espírito de mundanismo, como tem acontecido às igrejas das denominações; e, quando isso acontece, o Espírito Santo fica triste e sem liberdade de ação e, por fim, tem que retirar-se, tanto do crente em particular como de uma igreja, onde esse espírito terrível tem liberdade de entrar. Deus sabia desde o princípio que a mulher é a parte mais fraca e mais facilmente tentada pela vaidade, por isso nas Sagradas Escrituras como as mulheres que professam o nome de Jesus devem vestir-se e pentear-se (1ª Pe 3.1-5 e I Tm 2.9-10). O ministério desta igreja sente uma grande responsabilidade, especialmente entendendo que é a igreja-mãe de todas as igrejas do Distrito Federal e do Estado do Rio de Janeiro. Por isso, este ministério, como os irmãos membros da mesma, sente que esta igreja deve ser um exemplo de modéstia e santidade para todas as igrejas consideradas filhas. Ainda mais, a igreja está situada na capital federal e, portanto, deve ser um exemplo para todas as igrejas do Brasil. Em vista do exposto, a igreja unanimemente, na sua sessão ordinária de 4 de junho de 1946, resolveu o seguinte:

1. Não será permitida a nenhuma irmã membro desta igreja raspar sobrancelhas, cabelo solto, cortado ou tingido, permanente ou outras extravagâncias de penteado, conforme usa o mundo, mas que se penteiam simplesmente como convém às que professam a Cristo como salvador e rei.

2. Os vestidos devem ser suficientes compridos para cobrir o corpo com todo o pudor e modéstia, sem decotes exagerados e as mangas devem ser compridas.

3. Se recomenda às irmãs que usem meias, especialmente as esposas dos pastores, anciãos, diáconos professoras de Escola Dominical, e dos que cantam no coro ou tocam.

4. Esta resolução regerá também as congregações desta igreja. As irmãs que não obedecem ao que acima foi exposto serão desligadas da comunhão por um período de três meses. Terminando este prazo, e não havendo obedecido à resolução da igreja, serão cortadas definitivamente por pecado de rebelião. Nenhuma irmã será aceita em comunhão se não obedecer a estas regras de boa moral, separação do mundo e uma vida santa com Jesus. Estamos certos de que todas as irmãs que amam ao senhor Jesus cumpriram, com gozo, o que foi resolvido pela igreja.

Defronte de um contexto social pós Segunda Guerra Mundial os líderes

da Igreja de São Cristóvão (RJ) estavam preocupados com as grandes

alterações sociais que o país estava enfrentando, segundo eles a Assembleia de

Deus estava em perigo de ser invadida pelo “espírito do mundanismo”18 como

tem acontecido segundo eles com as demais denominações como diz a

resolução citada anteriormente. Diante de tal preocupação a Igreja Assembleia

18 Mundanismo refere-se a uma série de aspectos da cultura urbana vistos como prejudiciais à fé cristã.

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de Deus em São Cristóvão elaborou uma resolução a fim de se proteger das

mudanças socioculturais sofridas pelo pais no ano de 1940.

Em 1975 o país vive uma ditadura militar e as Assembleias de Deus se

posicionam novamente e reafirmam sua disciplina em um período de transição

no qual a população se encontrava cada vez mais urbana e em contato com o

mundo moderno.

Hobsbawm (1995) nos traz um rápido panorama de um contexto moderno

impactado pela revolução cultural. Essas mudanças, acreditamos, não deixaram

de ter influência nas deliberações assembleianas no ano de 1975 concernente à

necessidade de reafirmar suas normas para o grupo.

Isso porque Hobsbawm mesmo falando de uma revolução cultural a nível

europeu e americano, tais transformações influenciaram, mesmo que de forma

não homogênea, no irrompimento dos movimentos feministas em todo o globo,

marcando um Brasil da década de setenta e se estendendo com força até os

anos oitenta.

Segundo Hobsbawm (1995) “Oficialmente essa foi uma era de

extraordinária libertação tanto para os heterossexuais (isto é, sobretudo para as

mulheres, que gozavam de muito menos liberdade que os homens) quanto para

os homossexuais, além de outras formas de dissidência cultural-sexual. [...]

Essas tendências, claro, não afetaram igualmente todas as partes do mundo”

(HOBSBAWM, 1995, p.316-317).

Portanto o mundo passava por uma intensa “revolução cultural”,

assinalado pelas mudanças no ideal de estrutura familiar. A sociedade passou a

ter uma maior liberação no âmbito das condutas, homens e mulheres

procuravam conquistar sua independência financeira, sexual, religiosa. Houve

no período um grande aumento de pessoas solteiras morando sozinhas, estas

buscavam encontrar a liberdade longe dos casamentos.

Concernente as mulheres, o grande marco deste período foram as

mudanças nas relações consigo mesma, com seu corpo, com sua maneira de

vestir, valorizando a exibição de suas formas com o uso das minissaias. As

mulheres passaram a optar ou não pela maternidade a partir da propagação no

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uso das pílulas anticoncepcionais tendo, portanto, a liberdade de praticar o sexo

como um desejo pessoal, não ficando como antes limitadas exclusivamente ao

casamento e ao objetivo da procriação.

Diante das características inovadoras das igrejas neopentecostais e as

mudanças socioculturais sofridas pelo país, a Assembleia de Deus preocupada

com a identidade assembleiana centrada nos “usos e costumes” de santidade a

Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) reafirma sua

“doutrina” normatizando mais uma vez suas práticas por ato convencional em

1975 em Santo André, Estado de São Paulo. A resolução emitida é a seguinte:

E ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo, e separai-vos dos povos, para serdes meus (Lv 20.26). A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, reunida na cidade de Santo André, Estado de São Paulo, reafirma o seu ponto de vista no tocante aos sadios princípios estabelecidos como doutrinas na Palavra de Deus - a Bíblia Sagrada - e conservados como costumes desde o início desta obra no Brasil. Imbuída sempre dos mais altos propósitos, ela, a Convenção Geral, deliberou pela votação unânime dos delegados das igrejas da mesma fé e ordem em nosso país, que as mesmas igrejas se abstenham do seguinte: 1. Uso de cabelos crescidos, pelos membros do sexo masculino; 2. Uso de traje masculino, por parte dos membros ou congregados, do sexo feminino; 3. Uso de pinturas nos olhos, unhas e outros órgãos da face; 4. Corte de cabelos, por parte das irmãs (membros ou congregados); 5. Sobrancelhas alteradas; 6. Uso de minissaias e outras roupas contrárias ao bom testemunho da vida cristã; 7. Uso de aparelho de televisão – convindo abster-se, tendo em vista a má qualidade da maioria dos seus programas; abstenção essa que se justifica, inclusive, por conduzir a eventuais problemas de saúde; 8. Uso de bebidas alcoólicas. Esta Convenção resolve manter relações com outros movimentos pentecostais, dede que não sejam oriundos de trabalhos iniciados ou dirigidos por pessoas excluídas das Assembleias de Deus, bem como manter comunhão espiritual com os movimentos de renovação espiritual, que mantenham os mesmos princípios estabelecidos nesta resolução. Relações essas que devem ser mantidas com prudência e sabedoria, a fim de que não ocorram possíveis desvios das normas doutrinarias esposadas e defendidas pelas Assembleias de Deus no Brasil. (DANIEL, 2004, p. 438)

Aproximadamente quase duas décadas depois a igreja Assembleia de

Deus se posiciona novamente referente aos seus usos e costumes. No dia 22 e

26 de agosto de 1999, foi apresentada pela Convenção Geral das Assembleias

de Deus uma reformulação da resolução de Santo André, mais especificamente

falando uma atualização que foi aprovada nos seguintes termos:

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Convém, portanto, atualizar a redação da resolução de Santo André, omitindo a expressão ‘como doutrina’, ficando assim: ‘sadios princípios estabelecidos na Palavra de Deus – a Bíblia Sagrada – e conservados como costumes desde o início desta Obra no Brasil. Quanto aos 8 princípios da Resolução [de Santo André], uma maneira de colocar numa linguagem atualizada é: 1. Ter os homens cabelos crescidos, bem como fazer cortes extravagantes; 2. As mulheres usarem roupas que são peculiares aos homens e vestimentas indecentes e indecorosas, ou sem modéstias; 3. Uso exagerado de pintura e maquiagem - unhas, tatuagens e cabelos; 4. Uso de cabelos curtos em detrimento da recomendação bíblica; 5. Mau uso dos meios de comunicação: televisão, Internet, rádio, telefone; 6. Uso de bebidas alcoólicas e embriagantes. (DANIEL, 2004, p. 579)

Vale salientar que o contexto sócio religioso desta Resolução é a década

de 1990, período este marcado por uma intensa diversificação e transito religioso

no Brasil composto por uma enorme pluralidade de formas e práticas religiosas

com maiores liberdades litúrgicas. 1990 representa para a história da

Assembleia de Deus um período de desprendimento dos tradicionais usos e

costumes pentecostais.

Uma trivial leitura da Resolução de 1999 mostra uma flexibilização

(“liberação moderada, sem exageros”) da Convenção Geral das assembleias de

Deus no Brasil quanto aos usos e costumes. Ao analisarmos os documentos

referidos (Resoluções de 1946, 1974, 1999) percebemos algumas mudanças

abruptas referente a conservação dos usos e costumes.

No item 1 da Resolução de 1999 manteve-se a proibição do cabelo curto

para os homens, com um adendo para os cortes ditos “cortes extravagantes”.

Observe que a expressão “extravagante” no item 1 da Resolução de 1946 denota

os modelos de penteados usados pelo “mundo”, enquanto na resolução de 1999

extravagante refere-se aquilo que é excessivo, que sai da sua normalidade. Note

a mudança na mentalidade assembleiana, “novos estilos” estão sendo aceitos

desde que não sejam extravagantes. É intrigante como as coisas que os

assembleianos diziam ser do mundo estão sendo aceita pela igreja desde que

sejam de forma moderada.

A proibição do corte de cabelo feminino é flexibilizada (item 3 e 4 da

Resolução de 1999), ficando subtendido que o corte, não sendo excessivo

poderia ser feito. A mudança da mentalidade assembleiana é tão evidente que a

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proibição do uso do cabelo solto das irmãs foi esquecida (item 1 Resolução de

1946).

O item 3 da Resolução de 1975 sofre abrupta mudança, não há mais a

proibição do uso de maquiagens. A nova Resolução de 1999 fala do uso

exagerado de pinturas no cabelo e nas unhas e não mais menciona os cuidados

com as sobrancelhas (item 3) dando a entender que se não houvesse exagero,

nada impediria que as mulheres se maquiassem.

O item 5 da Resolução de 1999 (tão polêmico nas igrejas Assembleias de

Deus), aparece liberando o “bom uso” da televisão. A visão assembleiana

descobriu que a televisão não era tão demoníaca quanto pensavam, não era a

“imagem da besta”, nem a caixa do diabo, entenderam que se tratava de um

meio de comunicação. Para finalizarmos, no item 6 da Resolução de 1999

Continua proibido o uso de bebidas alcoólicas.

Diante de mudanças tão complexas na tradições dos usos e costumes

assembleianos uma pergunta nos surge: Qual a reação dos assembleianos

quando suas tradições vacilam? Trazendo esse questionamento para o campo

da antropologia podemos compreender como o homem se comporta em relação

ao questionamento referido acima. O pensamento de Geertz (2004) corrobora

com nossa pergunta e responde nosso questionamento. Geertz diz:

Como reagem os homens de sensibilidade religiosa quando o maquinário da fé começa a desgastar-se? O que fazem quando as tradições vacilam?” Fazem, obviamente, todo tipo de coisas. Perdem sua sensibilidade. Ou canalizam-na para o fervor ideológico. Ou adotam um credo importado. Ou se voltam, preocupados, para si mesmos. Ou se agarram ainda mais fortemente às tradições em decadência. Ou tentam recompor essas tradições em formas mais efetivas. Ou se dividem ao meio, vivendo espiritualmente no passado e fisicamente no presente. Ou tentam expressar sua religiosidade em atividades seculares. Alguns poucos simplesmente não percebem que seu mundo está mudando e, quando percebem, simplesmente entram em colapso. (GEERTZ, 2004, p. 17-18)

A citação de Geertz nos permite compreender o quanto é conflitante para

o homem o vacilar de suas tradições, eles reagem fazendo todo o tipo de coisa

como diz Geertz, quando percebem que tais atitudes não tem resultado a coesão

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do grupo simplesmente entram em “colapso”. Muitos assembleianos se

encontram nesse dilema, lutam contra as mudanças como se fosse possível

impedir que aconteçam.

Se retornamos na história da Instituição das Resoluções referente aos

usos e costumes das Assembleias de Deus no Brasil encontraremos uma

notificação extremamente relevante para o entendimento da flexibilização de tais

usos e costumes. Trata-se de um aviso publicado no canto da página 2, no Jornal

Mensageiro da Paz de 16/01/1947 o qual retirava as regras publicadas pelo

Ministério da Assembleia de Deus de São Cristóvão em 01\07\1946 que impunha

regras de vestimentas as mulheres, o aviso diz:

Aviso. O Ministério da Assembleia de Deus, Rio de Janeiro, deseja fazer público que, de acordo com a igreja, retira as regras publicadas no Mensageiro da Paz, publicado na 1ª quinzena de junho, estabelecida para as irmãs membros da igreja, pois sem elas as irmãs

obedecem a Palavra de Deus. (MENSAGEIRO, 1947, p.2)

Um detalhe que circunda este aviso é que ele precisava ser dado, só que,

a forma como foi publicado deixa transparecer o interesse de esconder o novo

posicionamento da igreja. Como diz Geertz (2004) “Quando as tradições vacilam

o homem é capaz de tudo”.

Observe a seguir a imagem do Jornal Mensageiro da Paz, note que, o

aviso se encontra inserido depois da parte final de uma artigo referente a um

milagre da oração. A percepção que temos é que a intenção dos líderes

assembleianos consistia em afastar a percepção assembleiana de tal

retratamento. Tal posicionamento da igreja ainda nos dias de hoje é

desconhecido por muitos assembleianos.

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Figura 6 - MENSAGEIRO DA PAZ. 2ª quinzena de janeiro 1947. p.2

Analisando cuidadosamente o aviso citado acima percebemos a

existência de um período na história assembleiana que antecede as regras onde

as mulheres principalmente já tinham costume de seguir os princípios da Palavra

de Deus.

Nas pesquisas encontrei um certificado de ordenação de ministro (figura

7) datado de 9 de fevereiro de 1928 assinado pelo pastor Samuel Nystrom, que

corrobora com a leitura que fizemos do aviso concernente aos usos e costumes.

O certificado de ordenação mostra a existência de doutrinas e costumes cristãos

que a Palavra de Deus recomenda.

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Figura 7 - Certificado de ordenação. Documento cedido pelo professor de História Mario Sergio Santana da cidade de Joinville – Santa Catarina, o presente documento faz parte de um conjunto de documentos referente a memória das Assembleias de Deus no Brasil que o professor Mario conseguiu ao longo de suas pesquisas.

Pelas análises que fizemos até o presente momento referente as

Resoluções da (CGADB) constatamos que os usos e costumes assembleianos

foram se transformando, modificando, flexibilizando de uma forma sigilosa.

Quem lê as resoluções separadamente não tem essa percepção de mudanças.

Se considerarmos que as mudanças são inevitáveis em qualquer período da

história concluiremos que estes costumes se modificarão até deixarem de existir.

Uma pergunta se faz necessária aqui: O que restará dos usos e costumes

impostos pela CGADB? Nossa suspeita é que sobrará apenas as doutrinas e

costumes cristãos que a Palavra de Deus recomenda.

Nas pesquisas que fiz sobre a existência de ensinamentos doutrinários e

usos e costumes puramente bíblicos que influenciaram o comportamento dos

assembleianos, encontrei vários artigos de Jornal escritos por Frida Vingren e

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Gunnar Vingren desconhecidos por muitos assembleianos, pela extensão destes

artigos faremos menção de alguns trechos que julgamos importante para nossa

análise.

Entre os ensinamentos que marcaram a vida dos primeiros crentes

destaco aqui o ensinamento de Gunnar Vingren referente a sinceridade diante

de Deus e dos homens sem as mas mascaras da hipocrisia, ele diz:

É necessário saber como formamos as nossas palavras, quando as dirigimos a Deus, pois Deus está nos céus e nós estamos na terra, para que não digamos palavras que não sejam exatas; que não expliquem o nosso estado verdadeiro. Portanto a nossa oração seja conforme o nosso verdadeiro estado perante Deus. Da mesma maneira o nosso testemunho perante os homens, que não procuremos mostrar outro que verdadeiramente não somos; mas confessarmos o nosso verdadeiro estado perante Deus e perante os homens, isto se chama

sinceridade. (BOA SEMENTE, 1928, p.2)

Em 1927 Frida Vingren publica no Jornal Boa Semente um artigo com o

tema “Na véspera da vinda de Cristo”, uma mensagem com forte teor de reflexão

quando a volta de Cristo o estado atual e futuro da igreja.

Há presentemente quase uma universal inclinação para o “higher critics” alta crítica ou criticismo, e que verdadeiramente é infidelidade “baixa”, e negação da obra sobrenatural da regeneração, da revelação das coisas divinas para a alma em virtude do Espírito Santo, e da definitiva resposta da oração. A fé, que uma vez foi entregue aos santos, não vai diminuir somente pelo mundanismo e pela negação das escrituras, como também pelas importantes iniciativas da fé, obrando em poder enganoso. Os nossos corpos hão de ser molestados, a nossa mente impressionada, e a nossa alma oprimida. Ainda mais: grandes necessidades e provações peculiares virão ao nosso encontro. Sem dúvida, Satanás com um poder misterioso oprimirá a nossa mente e vontade, tornando muito difícil andar-se perto do Senhor e muito fácil andar-se na carne. Ele nos ameaçará com o poder que pode usar contra nós. Será difícil servir a Deus com fidelidade e orar com fervor. Mundanismo, em várias formas, com o seu expansível poder está entrando em muitas igrejas. Coisas, que para outra geração seriam impossíveis, agora estão, não somente permitidas, mas organizadas. Existe uma verdadeira loucura para teatros, cinemas e danças. Em muitos lugares a grande agitação pelos divertimentos está ligada ao culto divino, e que resulta em destruição da verdadeira espiritualidade dando fim as revivificações, favorecendo assim compromissos entre a igreja e certas coisas, e também associações duvidosas. Existe uma terrível decadência da fé e da verdadeira religião em todo mundo neste presente momento. Não há negar que existem algumas exceções, mas, olhando em geral, o presente estado das igrejas é um triste quadro. (BOA SEMENTE, 1927, p.5).

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No artigo “Nos campos de além” publicado no Jornal O Som Alegre do

ano 1930, Frida corrobora com o que havia escrito no jornal referido acima. A

autora menciona a utilização de métodos para atrair o povo e segurar os jovens

nas igrejas.

Erguei os vossos olhos e contemplai esses campos, que estão brancos para a ceifa”, João 4.35. É bem interessante passarmos uma vista fora dos nossos limites, para contemplar as obras do Senhor, nos outros países, entre outros povos. Verdadeiramente o Senhor é o mesmo e ali está fazendo as mesmas obras como em nosso meio, e talvez ainda mais poderosas. Em diferentes países da Europa, há trabalhos animados, desta mesma fé, como na Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda e também alguma cousa na Bulgária e Romênia. A Inglaterra, que tem sido o lugar dos grandes avivamentos espirituais, ainda continua a ser abençoada da mesma maneira. Ultimamente, tem havido grandes despertamentos pela instrumentalidade de Georg Jeffreys. Conversões, contam-se em centenas, e em cada lugar, aonde chega esta onda vivificadora, curas maravilhosas, têm sido feitas – paralíticos andam, e, doentes de diversas enfermidades, têm sido curados. Verdadeiramente os campos estão brancos para a ceifa, e notável é, que, em quase todos os países, nos trabalhos das igrejas “pentecostais”, se fala de despertamentos, igrejas repletas e muitas conversões, enquanto aqueles que fecham as suas portas ao Espírito Santo, precisam estudar meios e métodos para trair o povo. Especialmente, para segurar a mocidade dentro das igrejas, organizam “clubes”, cinemas e divertimentos mundanos. (SOM ALEGRE, 1930, 7-8)

Frida fala sobre o posicionamento dos líderes modernistas, e o público de

gosto refinado de sua época que já apresentava uma aversão aos tradicionais

usos e costumes.

O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é vida eterna por Nosso Senhor Jesus Cristo. Quero falar sobre a primeira parte deste verso, e especialmente sobre o pecado. Alguém dirá; “não haverá outro assunto, mais delicado e atraente do que este?” Realmente são bem poucas as pessoas que gostam quando se fala acerca do pecado. Também os pregadores “modernistas” e o “público de gosto fino” mostram certa aversão a este tema. É por isso, que ás vezes, ouvimos dizer: “isto não faz mal - ir ao cinema, teatro e passeios - não é pecado. Ler livros mundanos, - brincar um pouco - não faz mal. Mentir “por necessidade” também não é tão perigoso. Ser tão diferente do mundo, nos seus costumes, vestuários, conversas, etc. não é bom amigo. A vossa salvação consiste em deixardes hoje, o Espírito Santo vos convencer dos vossos pecados. Permiti a luz divina penetrar em vosso coração, para que compreendais o que até então não sabeis - que sois um pecador. (MENSAGEIRO, 1931, p. 4)

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Em 1931 Frida escreve um artigo intitulado “A igreja do Deus vivo” no

Jornal Mensageiro da Paz mostrando os novos rumos das igrejas pentecostais

as quais estão se afastando do modelo bíblicos eclesiológicos.

Há muitas ideias e interpretações acerca da igreja. Cada denominação existente defende os seus direitos como igreja, dizendo que está seguindo o modelo dado nas Escrituras. Para termos a verdadeira compreensão de que é a igreja, é necessário vermos o que ela não é. A igreja não é fundada sobre algum homem ou alguma doutrina, mas, sim, sobre Jesus Cristo. Este é a cabeça da igreja. Portanto, esta não é uma organização ou uma instituição humana – sua natureza é inteiramente sobrenatural. Não opera também pela vontade do homem, mas nela, agem, segundo a vontade de Deus e conforme os dons que tenham recebido pessoas controladas e dirigidas pelo Espírito Santo. Ela não é um corpo legal, criando leis para o povo. Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, tem dado a Palavra de Deus como regra de fé e também tem dado a igreja, apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e ensinadores, para obra do ministério e para perfeição do corpo de Cristo. Algumas igrejas pentecostais, assim como outras das denominações, estão hoje, organizando-se segundo certas regras bíblicas, porém, afastando-se do limite; pois, possuem em grande extensão ordenanças e governos humanos. E o pior, é que com isto, estão satisfeitas e nem sequer procuram saber qual é o modelo bíblico para segui-lo. Que Deus levante homens com autoridade igual à dos apóstolos, e que Sua igreja possa ser restaurada ao seu antigo poder. (MENSAGEIRO, 1931, p. 6).

Analisando as palavras de Frida compreendemos que diante desta

complexidade eclesiológica mencionada por Frida é que nasceram as várias

interpretações existentes que defendiam seu direito como igreja. Interessante

nos é observar nas palavras de Frida, que muitas defendiam ardentemente estar

seguindo os padrões dados nas Escrituras, mas qual realmente estaria nos

padrões bíblicos? Qual seria a igreja certa? Difícil de saber.

Ao longo da pesquisa me deparei com inúmeras informações concernente

a vida cotidiana dos assembleianos mais antigos, um senhor muito antigo na

Assembleia de Deus me disse que a ideologia de uma igreja santa em sua época

era tão forte que segundo este senhor os assembleianos de sua época

entregaram sua razão as criações de sua imaginação como por exemplo,

ensinavam as mulheres assembleianas a irem nos cultos de santa ceia vestidas

de branco como símbolo de ultra santidade, sem mencionar a abstinência de

sexo na semana da ceia, caso alguém desobedecesse precisava pedir perdão

diante da congregação.

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A rigidez era tanta que muitas mulheres se dedicaram a costuras, pois as

roupas do “mundo” eram proibidas, muitas assembleianas costuravam os

modelos de santidade para seus filhos, em fim a igreja se distanciou de sua

doutrina e seus usos e costumes cristão e mergulharam na imaginação de usos

e costumes humanos sem embasamento bíblico coerente.

A seguir analisaremos a teologia dos usos e costumes formulados pela

CGADB, averiguaremos os textos bíblicos utilizados para legitimar os usos e

costumes verificando seus respectivos contextos sociais. Nossa intenção é

mostrar o quanto a aplicação destes textos bíblicos estão distante de

fundamentar o que os assembleianos dizem que é a vontade de Deus.

Seguiremos a seguinte metodologia:1) Será colocado com seus

respectivos textos cada recomendação da CGADB da resolução de 1999, 2)

Abaixo de cada recomendação colocaremos comentários referentes ao próprio

texto bíblico a fim de elucidar seus reais contextos.

2.2 ANÁLISE DOS FUNDAMENTOS TEOLOGICOS DOS USOS E

COSTUMES FORMULADOS PELA CGADB

A análise dos fundamentos teológicos dos usos e costumes se faz

necessária para se entender qual o posicionamento das doutrinas e costumes

cristãos que a bíblia recomenda diante de regras e proibições criadas pela

CGADB. Em nossa análise tentamos mostrar que os textos bíblicos usados para

legitimar tais proibições são na verdade recomendações culturais dos tempos

bíblicos inserida em contexto contemporâneo como sendo a vontade de Deus.

Utilizaremos em nossa investigação comentários teológicos de teólogos

conhecidos no âmbito assembleiano contemporâneo. Vale salientar que o que

nos interessa nestes comentários teológicos, são unicamente os apontamentos

referente a cultura e aos usos e costumes. Tais apontamentos se fazem

necessário para entendermos os fundamentos culturais existentes nos contextos

sociais dos textos bíblicos.

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Escolhemos analisar a Resolução de 1999 e seu fundamento teológico

devido a mesma conter um conteúdo de considerável flexibilização quanto aos

usos e costumes assembleiano. A exortação da Resolução de 1999 recomenda

os seguintes termos:

1. Ter os homens cabelos crescidos (I Co 11.14), bem como fazer cortes

extravagantes.

Arrington & Stronstad comentando o texto bíblico de ICo 11:14 diz:

[...] devemos interpretar esta passagem levando em conta as expectativas culturais de sua cultura, desde que tais costumes não sejam incompatíveis com o cristianismo. Outra é que as distinções entre o sexo masculino e feminino devem ser sempre mantidas. Estes princípios gerais devem ser observados, não importando o contexto específico em que os cristãos se encontrem. Paulo apela para o que é comum, aos costumes cotidianos da época; era considerado culturalmente “natural” que o cabelo da mulher fosse longo, e o do homem curto. (ARRINGTON & STRONSTAD, 2003, p. 1003-1004).

Os apontamentos socioculturais de Arrington & Stronstad (2003) são

importantes para compreendermos que o tamanho do cabelo masculino e

feminino é uma questão cultural que distinguia homem e mulher. Analisando

palavras de Arrington & Stronstad fica evidente que o texto bíblico utilizado pela

CGADB na verdade não proíbe mas, se recomenda manter a distinção entre o

sexo masculino e feminino não importando o contexto específico em que o

cristão se encontra.

Segundo Champlin (1995)

[...] de maneira geral, os homens gregos usavam cabelos curtos, embora isso nem sempre ocorresse entre os hebreus (como no caso dos nazireus, que não passavam navalha na cabeça). Contudo, muitos gregos usavam cabelos compridos, incluindo os heróis gregos, e também, os filósofos, os mestres e os sábios. (CHAMPLIN, 1995, p.175)

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A Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã diz:

Os antigos geralmente usavam cabelos compridos, embora os sacerdotes, os guerreiros e os garotos eram frequentemente barbeados. Os sacerdotes conservavam seus cabelos em um comprimento moderado (Ez 44.20), mas eram proibidos de fazer tonsuras Lv 21.5. (2008, p.835)

Segundo Wiersber:

De modo geral, é natural às mulheres terem cabelos mais longos e os homens, cabelos mais curtos. Romanos, gregos e judeus (com exceção dos nazireus), em sua maioria, seguiam esse costume. A Bíblia não diz em parte alguma qual deve ser o comprimento dos cabelos. Diz apenas que deve haver uma diferença clara entre o comprimento dos cabelos dos homens e o das mulheres a fim de não haver confusão entre os sexos. (Esse princípio elimina os chamados "penteados unissex".) É vergonhoso um homem parecer uma mulher e

vice-versa (WIERSBER, 2006, p.791).

O Novo Testamento King James, Edição de estudo (2007, p. 4004), em

nota de rodapé informa que “No primeiro século, era costume no oriente os

homens usarem os cabelos mais curtos do que o das mulheres”. Segundo a

Bíblia de Jerusalém (1998, p. 2006) em nota de rodapé letra “c” diz que: Os

cabelos longos denotavam a homossexualidade masculina.

O Comentário Bíblico NVI Antigo e Novo Testamento diz:

Paulo argumenta dentro dos limites de sua localização e tempo. Culturas diferentes tem conceitos diferente acerca do que é conveniente, a maioria dos homens orientais e ocidentais, usam o cabelo curto em contraste com o das mulheres. (2008, p.1903).

Analisando as citações teológicas referidas anteriormente

compreendemos que o comprimento do cabelo é uma questão cultural. Se

adentramos a história referente ao usos do cabelo entenderemos isso

claramente. No Antigo Egito os estilos mais populares de cabelo eram os cortes

retos, cujo comprimento variava desde a altura do queixo até abaixo dos ombros,

sendo usado geralmente com franja. Entre os gregos os cabelos eram

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principalmente espessos e escuros, e eram longos e ondulados. É entre os

gregos que surgi o rabo-de-cavalo usado pelas mulheres. (VITA, 2008;

MARQUES, 2009)

Em Roma os cabelos e barbas eram ondulados com ferro quente, o estilo

de cabelos mais populares entre os homens era curto, escovado para frente e

com ondas. As mulheres usavam o cabelo ondulado, repartido no centro e caindo

sobre as orelhas, os assírios ao contrário dos egípcios, deixavam os cabelos

crescerem até caírem sobre os ombros, os israelitas cortavam os cabelos para

impedir demasiado crescimento (Nm 6:5; IISm14;26). Havia barbeiro para esse

serviço (Ez 5:1), entre os cristãos os homens não usavam cabelo comprido. O

que precisa ficar claro aqui é que o uso de cabelo curto entre os cristãos de

Corinto era uma questão cultural.

2. As mulheres usarem roupas que são peculiares aos homens e

vestimentas indecentes e indecorosas, ou sem modéstias (ITm 2.9, 10)

Segundo Gower:

As roupas masculinas e femininas (Dt. 22.5) eram bem parecidas. “Em vista de ser tão básica, ela era idêntica para homens e mulheres, exceto que a do homem era geralmente mais curta (na altura do joelho) e a da mulher mais longa (na altura do tornozelo) e azul. A proibição de trocar as roupas teve sua origem no estímulo sexual que fazia parte da religião canaanita.” (GOWER, 2002, p. 20).

Analisando as palavras de Gower (2002) compreendemos que as vestes

masculinas e femininas eram idênticas diferenciando-se apenas no tamanho e

na cor. Comparando com o item da Resolução que estamos analisando se

percebe que há um distinção entre a roupa masculina e feminina, ou seja, elas

são diferentes. Compreendemos que o posicionamento da CGADB na verdade

é uma convenção social diante de um costume cultural.

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Figura 8 - Traje masculino e feminino extraído do livro Usos e costumes dos tempos bíblicos.19

No Novo Testamento Interpretado versículo por versículo volume V

Champlin diz:

Traje decente (katastole) possui dois significados: o primeiro pode significar “vestes” que encobrem o corpo e o segundo diz respeito a “comportamento”. O autor dá sua versão de como o texto poderia ser compreendido: Também desejo que as mulheres que fizerem parte das orações públicas se vestissem com modéstia (CHAMPLIN, 1995, p.303).

19 Trajes de um casal rico. Note o manto dele como um vestido e as mangas largas; a mulher usa braceletes, pingente, brincos e tira na cabeça (GOWER, 2002, p. 20).

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O Novo Testamento King James, Edição de Estudo em nota de rodapé

informa que:

Os apóstolos usavam a expressão grega Katastole, que significa “traje”, para referir-se ao comportamento geral do cristão, e não apenas a um estilo de se vestir. Paulo e Pedro, por exemplo, recomendam as mulheres, especialmente, que usem a moda e não sejam usadas por ela, pois a maneira como nos vestimos revela muito sobre o que pensamos de nós e como gostaríamos de ser tratados. Portanto, as mulheres cristãs devem, de certa forma, criar a própria “moda”, testemunhando seu” bom senso cristão”, no original grego Kosmios, decência. Paulo exorta a uma atitude marcadamente feminina, de bom gosto, sensibilidade simplicidade; em contraste com o conceito de moda propagado pelo sistema mundial, e que sempre envolve luxo, exibicionismo, sensualidade apelativa e falsidade I Pe 4 3-4. (2007, p. 511),

Bíblia de Estudo Pentecostal diz:

A mulher cristã deve vestir-se de modo modesto e cuidadoso, honroso e digno, para sua segurança e seu devido respeito aonde quer que for. A mulher, ao vestir-se de modo modesto e apropriado para a glória de Deus, ressalta sua própria dignidade, valor e honra que Deus lhe deu. (1995, p. 1752)

Uma das coisas importantes a mencionar aqui é que as roupas

masculinas e femininas podem doravante perder suas repercussões culturais

iniciais com o passar do tempo e, consequentemente, deixar de ser um veículo

de identidade da masculinidade ou da feminilidade de alguém.

Os assembleianos recomendam as mulheres a não usarem calça

comprida, na conjectura de tais pentecostais é roupa peculiar aos homens.

Ocorre que existem atualmente calças femininas inerente as mulheres que se

diferenciam em formato e modelo das usadas pelos homens. Culturalmente

falando, a calça perdeu exclusividade de ser roupa masculina, logo a

recomendação do seu uso precisa ser repensada, visto ser a calça usada pelo

homem uma convenção social diante do contexto cultural do texto bíblico.

O assembleianismo no Brasil adotou muitos padrões culturais e

comportamentais do catolicismo português. Há pouco mais de um século, as

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mulheres não podiam mostrar seus tornozelos devido ser considerado muito

sensual, atraente, sedutor, envolvente, elas cobriam-se completamente com

saias longas, anáguas, meias grossas, vestidos sem decotes com mangas

longas, roupas as quais identificavam sua feminilidade.

Os homens trajavam-se de calças compridas, com casacos, fraques e

coletes, mesmo num clima tórrido, quente em demasia eles continuam vestindo-

se com paletós. Os portugueses eram recatados e conservadores quanto aos

seus costumes e tradições.

3. Uso exagerado de pintura e maquiagem — unhas, tatuagens e cabelos -

(Lv 19.28; 2 Rs 9.30)

Segundo Coleman (1991) praticamente todos os tipos de cosméticos que

temos hoje já existiam na antiguidade. É verdade que os gentios eram mais

apreciadores de cosméticos do que os israelitas, mas estes também faziam

muito uso deles. Algumas mulheres usavam batom e pintavam as unhas das

mãos e dos pés.

Os pós faciais também já eram conhecidos, e algumas aplicavam rouge

vermelho ou preto, utilizando um bastão. Havia até as que usavam maquilagem

para os olhos. A rainha Jezabel, por exemplo, se pintava segundo o estilo das

mulheres fenícias. Por causa dela essa prática talvez tenha sido um pouco

rejeitada (2 Rs 9.30). Os profetas Jeremias (4.30) e Ezequiel (23.40) falam de

cosméticos de forma um tanto depreciativa, e talvez fosse por isso que algumas

mulheres judias não se sentissem muito à vontade para usá-los. (Coleman, 1991,

p. 58-74)

Rops (2008) comenta que:

Nos dias de Jezabel as mulheres costumavam reparar os estragos dos anos, tingindo os cabelos com tinta vermelha de Antioquia ou hena de Alexandria, além disso, elas se pintavam e se perfumavam. Entre os objetos encontrados nas escavações arqueológicas existem muitos potinhos e apetrechos para pintar o rosto feitos de osso, marfim ou metal, assim como espátulas para espalhar cosméticos. Esta era uma prática antiga: mesmo antes de Abraão ter chegado à Palestina, as mulheres de Creta e do Egito já estavam tão familiarizadas com a

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maquilagem para os olhos, rosto e lábios quanto as parisienses de hoje. Este exemplo deveria ter sido seguido muito rapidamente; Ló não chamou sua terceira filha pelo nome pitoresco de Pote de Antimônio? O antimônio ou pouch era usado para escurecer as pestanas e sobrancelhas: os romanos o chamavam de stibium, sendo conhecido pelas mulheres árabes de hoje como kohl. Para o rosto e os lábios elas usam a sikra que já foi mencionada como a substância para colorir a tinta de vermelho. As folhas de uma espécie de alfeneiro, chamada al khanna (com frequência mencionado nos Cantares de Salomão, esse catecismo de amor), quando reduzidas a cinza fornecem uma tinta vermelho-amarelada que as mulheres árabes usam para colorir as unhas e as palmas das mãos, e até o cabelo na ausência de outras tintas. As judias da época de Cristo faziam o mesmo? Algumas, mas nem todas. Podemos, porém, imaginar Maria Madalena com as sobrancelhas escurecidas, cílios azuis, face pintada e palmas das mãos tingidas. (ROPS, 2008, p. 341-349)

Figura 9 - Roupas e cosméticos das mulheres romanas.20

A maquiagem, os enfeites e tratamento de cabelo eram tão importante

para as mulheres da época do Novo Testamento que as cristãs foram advertidas

a se enfeitarem com um espírito manso e tranquilo (1 Pe 3.3,4).

Um detalhe que precisa ficar claro é que os ornamentos e a maquiagem

são usos e costumes culturais antigos, que pelo estilo denotavam etnias

diferentes nunca tais usos foram compreendidos como mundanismo. É preciso

compreender que está configuração de “mundanismo” é uma convenção social,

é um pensamento novo diante de usos e costumes antigos.

Se analisarmos a flexibilização deste item baseando-se no conceito

utilizado por Giddens (1991) referente a modernidade, descobriremos que tal

flexibilização assembleiana é uma liberação que esconde mudanças

significativas.

20 (GOWER, 2002, p. 19).

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Segundo Giddens (1991, p.12-13) os modos de vida moderno liberaram o

ser humano da ordem social tradicional, neste sentido, as instituições religiosas

apesar de possuírem um forte vínculo com a tradição, precisam-se reorganizar

assumindo um formato moderno. Segundo o mesmo autor a modernidade

promove a abertura de “múltiplas possibilidades de mudança liberando as

restrições dos hábitos e das práticas locais”. (GIDDENS, 1991, p.28)

Analisando cada item desta resolução tive a impressão de que o fato da

CGADB reafirmar suas normas doutrinárias por intermédio desta Resolução

tinha implícito, e de uma forma sigilosa, preparar a mente assembleiana para

uma Assembleia de Deus mais liberal e flexível quanto aos usos e costumes,

sem despertar hostilidade dos mais conservadores.

4.Uso de cabelo curto em detrimento da recomendação bíblica (ICo 16.6,15)

Quanto ao cabelo a Bíblia de Estudo Dake diz:

A respeito do cabelo, ele era penteado para traz em tranças. Em cada trança podia ser adicionado cordões de seda com moedas de ouro a distâncias irregulares e alcançando até os joelhos, que brilhariam a cada movimento de quem as estivesse usando. Algumas vezes o penteado era feito dentro do templo, outras vezes, coroas, completamente coberta com moedas, ou tiaras ornamentadas com diamantes, eram usadas. As mulheres orientais ornavam-se em excesso com joias, não somente em suas cabeças, mas em outras partes do corpo também. Brincos, piercieng, anéis, braceletes, correntes, colares de pérolas, dinheiro e muitos outros ornamentos (2009, p. 1930).

No Novo Testamento Interpretado versículo por versículo volume IV

Champlin apresenta um desenho (figura 9) que nos permite visualizar os estilos

de cabelo na época de Paulo (CHAMPLIN, 1995, p.169)

Figura 10 - Estilos de cabelo no mundo Greco-romano do dia de Paulo.

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Averiguando o item terceiro da Resolução de 1999 a partir dos

comentários teológicos referente aos textos bíblicos analisados fica evidente que

a hermenêutica do assunto abordado neste item da Resolução a luz da Bíblia

não denota proibição, mas sim a recomendação do uso moderado, porém,

considerando os textos bíblicos usados para legitimar este item se tem a

impressão de que na realidade, não é só o costume exagerado que se proíbe,

mas também o comum.

Segundo Morris:

Temos que lembrar que quando Paulo falou acerca das mulheres nos termos em que o fez nas cartas aos coríntios, ele estava escrevendo à cidade mais licenciosa do mundo antigo, e que num lugar assim a modéstia tinha que ser observada e mais que observada; e que é de todo injusto arrancar um regulamento local das circunstâncias em que ele foi dado, e fazer dele um princípio universal. (MORRIS, 1981, p. 125)

A recomendação bíblica de ICo 11:6, 15 referente ao uso de cabelo curto

é cultural e temporal, não funcionam em qualquer cultura, o que nos resta a saber

é a razão da recomendação paulina. O Novo Testamento King James diz:

No primeiro século, era costume no Oriente os homens usarem os cabelos mais curtos do que o das mulheres. Paulo não acha importante discutir costumes locais e temporários ou culturas, desde que estes procedimentos não transgridam os princípios bíblicos do Evangelho de Cristo. (2007, p. 404)

Pelos apontamentos de Morris (1981) compreenderemos que transformar

costumes locais e temporários em um princípio universal é injusto pois as

circunstancias se alteram quanto os contexto sociais são diferentes.

5.Mau uso dos meios de comunicação: televisão, internet, rádio, telefone.

(I Co 6:12; Fp 4:8)

O Jornal Mensageiro da Paz nº3 de1967 publica uma parodia do Salmo

23 onde a força das metáforas escolhidas descreve a visão dos assembleianos

desta década sobre a televisão.

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Figura 11 – O canal 23 recorte do Jornal Mensageiro da Paz de 1967.

Transcrevemos a seguir o conteúdo do recorte de Jornal referido acima

para uma maior visualização de seu conteúdo.

Se você gosta de televisão, tendo ou não televisor, aqui está a nova versão do Salmo 23 dos telespectadores. O SALMO 23 passa a ser o CANAL 23, sendo seus versículos assim: 1 O televisor é meu pastor; meu crescimento espiritual faltará. 2 Ele me faz sentar nos pastos mundanos para levantar-me vazio das coisas de Deus. Ele toma o tempo que eu devia dar a Deus. Faz-me abandonar meus deveres de cristão porque tenho que assistir meus programas prediletos que ele apresenta. 3 Ele renova meu conhecimento das coisas do mundo, e não me deixa estudar a Palavra de Deus. Ele faz com que eu falte aos cultos ou os assista pela metade. 4. Mesmo eu estando para morrer, continuarei assistindo meu televisor enquanto ele funcionar, porque ele é o meu companheiro mais chegado. Suas músicas e sua imagem me comportam. 5 Ele me oferece muita distração, trazendo o mundo para dentro de casa para orientar minha família. Ele enche minha cabeça de suas coisas, de modo que o meu cálice transborda, e eu estou sempre a falar dos seus programas. Falo tanto, que a Palavra de Deus não tem mais lugar na minha vida, na minha família e na minha casa. 6 Assim sendo, certamente o mal e a miséria me seguirão todos os dias da minha vida porque meu televisor me faz contrariar a vontade de Deus, assim habitarei no lugar preparado para o diabo e seus anjos para todo o sempre. (MENSAGEIRO, 1967, p.7)

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Dentro do cotidiano assembleianismo fui notificado quando fazia minhas

pesquisas de campo que a televisão era conhecida como a caixa do diabo,

imagem da besta, aquela que tira a visão “tv”. Quem tinha o aparelho o escondia

no guarda-roupa por causa dos mais conservadores, outros colocavam um pano

para a cobrir.

O Jornal Mensageiro da Paz nº 5 de 1969 traz artigo escrito por Silva com

o título “Televisão versus embaraço”, o artigo retrata o testemunho de um jovem

de quase 12 anos que insistia para seu pai comprar um televisor, com muita

insistência relata o testemunho que o televisor foi comprado porém, o tal

aparelho era usado de forma desajustada, pois quando os pais do garoto iam

dormir eles e os irmão ficavam até uma hora da madrugada.

Devido ao tamanho do artigo transcreveremos apenas um trecho onde a

televisão é mencionada como sendo o lugar do trono de uma horrível criatura de

testa e nariz grande com um objeto como que um garfo de três dentes na sua

mão direita.

[...] No momento em que olhei para o televisor, estava como que ligado, e vi uma horrível criatura assentada como que num trono. Fiquei em dúvida, pensei que estava sonhando, virei para outro lado e constatei que realmente eu estava acordado. Pensei que talvez fosse a claridade dos relâmpagos, mas olhando novamente eis que lá estava a mesma criatura. Depois de ter passado alguns momentos de meditação, pensando que tudo já havia acabado, virei-me novamente para o televisor e eis que ainda estava na mesma posição como antes. Tentei pela terceira vez para ver se realmente era verdade, e presenciei novamente como das demais vezes, e da mesma forma, na mesma posição, o horrível personagem. Tudo isto com a televisão desligada, inclusive a tomada geral. Levantei-me e procurando controlar os meus artelhos, fui ao quarto de meus pais, e quando cheguei à porta para chama-los, aquele personagem desapareceu, e eles nada viram. Então comecei a contar-lhes tudo quanto havia se passado comigo naquela hora, e, nem mesmo o meu irmão que estava ao meu lado, nada viu. Disse ainda mais: Eu tinha feito um pedido para que Deus me revelasse acerca da televisão, e estou bem certo de que, tudo é verdadeiramente a resposta de Deus para mim. Um pouco trêmulo ainda, consegui descrever para eles a horrível criatura que vi. Esse personagem, repito, era horrível; tinha enorme testa, e enorme nariz; e para mostrar quem era verdadeiramente a tal criatura, tinha na sua mão direita um objeto como que um garfo de três dentes, justamente como os desenhos que se veem em diversos quadros, livros, e porque não dizer, ainda muito mais horrível. Enfim, não posso descrevê-lo com mais precisão porque não

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tive coragem de contemplá-lo a ponto de descrever todas as suas características. (MENSAGEIRO, p.5, 1969)

A conclusão do artigo mencionado acima intitulado no Jornal Mensageiro

da Paz “Televisão versus embaraço” nos diz algo relevante concernente ao usos

de televisão. O texto diz:

Conclusão: a televisão em si não é pecado, mas serve de embaraço para os cristãos, que desejam dar todo o seu tempo a fim de servir melhor ao Senhor. O embaraço foi a causa primordial da derrota de todos os homens de Deus no passado. Portanto, deixemos todo o embaraço...que tenazmente nos assedia, e corramos com perseverança para a carreira que nos está proposta. Heb 12:1. (MENSAGEIRO, p.5, 1969)

A Resolução em analise apresenta uma nova conotação referente ao uso

da televisão onde ela não é vista mais como um instrumento do mal e quanto

menos de embaraço como era considerada no início da década de 60, mas como

um meio de comunicação da qual se é possível fazer bom uso.

Referente ao texto bíblico usado para legitimar tal recomendação (I Co

6:12; Fp 4:8) O Novo Testamento King James, Edição de Estudo em nota de

rodapé diz:

[...] era comum entre os gregos dizerem: “tudo é licito”, numa demonstração de certa arrogância. Paulo, entretanto, completa o pensamento com uma frase de grande sabedoria, bem ao estilo grego: “mas nem tudo é realmente proveitoso ou útil”. Um direito transforma-se num erro (pecado) se prejudica – de alguma forma – outra pessoa ou a nós mesmo. (2007, p. 394)

O segundo texto bíblico (Fp 4:8) diz:

“Concluindo, caros irmãos, absolutamente tudo o que for verdadeiro, tudo o que for honesto, tudo o que for justo, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvo, nisso pensai”. (JAMES, 2007, p.478)

Uma simples leitura do texto bíblico de (Fp 4:8) se observa que apesar da

flexibilização quanto ao uso da televisão, a junção do texto bíblico a este quinto

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item da Resolução de 1999 denota um diferente posicionamento da CGADB, se

percebe claramente um posicionamento sigiloso para não despertar hostilidade

dos mais conservadores.

Em 1994 a questão quanto ao usos da televisão reaparece nas

discussões assembleiana. O Jornal Mensageiro da Paz de 1995 publica um

artigo intitulado: “Televisão: uma questão de sinceridade” escrito pelo pastor

Fernando de Menezes presidente da Convenção no Estado de Roraima. Devido

a extensão do artigo fizemos alguns recortes que julgamos ser relevante em

nossa pesquisa.

Figura 12 – Recortes do Jornal Mensageiro da Paz de 1994 referente a televisão.21

No ano de 1995 o artigo escrito pelo Fernando de Menezes “Televisão:

uma questão de sinceridade” é refutado por alguns leitores do Mensageiro da

Paz. Interessante é o espaço concedido ao leitor para dialogar com um questão

tão complexa nas Assembleias de Deus. Nossa suspeita é que se inicia a partir

da década de 90 um tempo onde os novos assembleianos estão mais informados

e críticos concernente aos usos e costumes da igreja.

21 MENEZES, Fernando Grangeiro. Televisão: uma questão de sinceridade. Mensageiro da Paz, Rio de Janeiro, nº 1292, p. 18, 1994.

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Figura 13 – Recortes do Jornal Mensageiro da Paz de 1995.22

As mudanças da mentalidade assembleiana quanto ao meios de

comunicação sofreram mudanças significativas ao longo dos anos.

Recentemente a Assembleia de Deus de 2015 para 2016 é inserida em uma

“revolução tecnologia” devido a parceria da CGADB com a operadora de

telefonia Vivo. A parceria resultou na criação de uma operadora de telefonia

móvel para os assembleianos com o nome “MAIS AD” a primeira operadora

evangélica lançada no Brasil, a única operadora de celular destinada a um

público exclusivo, os assembleianos.

A ideia da Mais AD, sintetizada no slogan “Deixe a fé falar mais alto. A

visão da operadora é ser reconhecida como um instrumento essencial de

comunicação evangélica para a vida de todos os Cristãos, ser também a

operadora preferida no atendimento ao público evangélico, tornando-se a maior

operadora de telefonia móvel virtual do mundo até 202523.

22 MENSAGEIRO DA PAZ. Rio de Janeiro, nº 1298, p.3, 1995. 23 http://www.maisad.com.br/mais.html#1a

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Analisando esta revolução tecnológica algumas coisas são interessantes,

vejamos primeiro as fotos do material de divulgação da MAIS AD.

Figura 14 - Fotografias de divulgação da operadora telefônica das Assembleias de Deus.24

A primeira coisa interessante é a comercialização de um bem (chip

telefônico) para uso dos fiéis. A segunda foto da esquerda para a direita usa uma

frase encontrada em Hb 11:1 na Bíblia.

Analisando a visão da operadora em contraponto com seu slogan “Deixe

a fé falar mais alto” fica perceptível que tal fé não passa de ostentação. Todas

as propagandas da operadora deixam transparecer a comercialização da

imagem e identidade cristã assembleiana.

A revolução tecnologia nas Assembleias de Deus inserem a igreja em um

contexto cultural veiculado pela mídia. O conceito de Kellner (2001) concernente

a Cultura da Mídia nos permite compreender a complexidade do envolvimento

das Assembleias de Deus neste contexto midiático.

Segundo Kellner (2001)

A cultura contemporânea da mídia molda a vida diária, e influenciam como as pessoas pensam e se comportam, como se veem e veem os outros e como constroem sua própria identidade. A cultura contemporânea cria formas de dominação tecnologias que ajudam a reiterar as relações vigentes de poder, ao mesmo tempo que fornece instrumental para a construção de identidades e fortalecimento, resistência e luta. Afirmamos que a cultura da mídia é um terreno de disputa no qual grupos sociais importantes e ideologias políticas rivais lutam pelo domínio. Numa cultura contemporânea dominada pela mídia, os meios dominantes de informação e entretenimento são uma fonte profunda e muitas vezes não percebida de pedagogia cultural: contribuem para nos ensinar como nos comportar e o que pensar e sentir, em que acreditar, o que temer e desejar. A cultura da mídia é industrial, é portanto, uma forma de cultura comercial, e seus produtos

24 http://www.maisad.com.br

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são mercadorias que tentam atrair o lucro privado produzido por empresas gigantescas que estão interessadas na acumulação de capital. A cultura da mídia almeja grande audiência, por isso deve ser ecos de assuntos e preocupações da vida social contemporânea. (KELLNER, 2001, p. 9-11)

Segundo o mesmo autor há uma cultura veiculada pela mídia cujas

imagens, sons e espetáculos ajudam a urdir, maquinar; premeditar; enredar;

fantasiar a vida cotidiana, dominando o tempo de lazer, modelando opiniões

políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o material com que as pessoas

forjam sua identidade.

Kellner (2001) diz que o rádio, a televisão, o cinema e outros produtos da

indústria cultural fornecem os modelos daquilo que significa ser homem ou

mulher, bem-sucedido ou fracassado, poderoso ou impotente.

A cultura da mídia ajuda a modelar a visão prevalecente de mundo e os

valores mais profundos: define o que é considerado bom ou mal, positivo ou

negativo, moral ou imoral. Tal cultura veiculada pela mídia fornece o material que

cria as identidades pelas quais os indivíduos se inserem nas sociedades

tecnocapitalista contemporâneas, produzindo uma nova forma de cultura global.

(KELLNER, 2001, p.9)

6.Uso de bebidas alcoólicas e embriagantes (Pv. 20.1; I Co 6.10; Ef. 5.18).

O Jornal Mensageiro da Paz nº 18 de 1942 publica um artigo escrito por

Maciel com o tema “O Vicio”. O artigo retrata em um dos trechos a obra de

Catutte Méndes intitulada “O Reinado do Álcool” a qual nos permite compreender

os efeitos do álcool em diversos contextos sociais. O artigo diz:

[...] Catutte Mendés (poeta francês), descreve o reinado do álcool: Conhenceis-me? – Eu sou o princípio que aparece nas alegrias, o companheiro de todos os gozos modernos, o mensageiro da morte, o príncipe que governa o mundo. Estou presente a todas as diversões e nenhuma delas se efetua sem a minha presença. Fabrico os crimes, faço nascer nos corações os pensamentos maus, mancho os lares, sou pai dos filhos sem pai, enveneno a razão, trago a desonra, a depravação, os suicídios, a loucura, o crime em todas as suas formas imaginárias, acabo com as famílias, persigo os avós nos netos, faço perder a vergonha, a dignidade, a honra, a boa educação. Ponho um véu sobre os olhos, sobre a consciência e faço aparecer o crime com a vingança, abjeção como dignidade, a depravação como conquista

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galante. Hei ganho mais vitórias que Alexandre; hei jungido mais povos ao meu carro do que Roma, hei dominado mais povos do que Attila. Faço com que os maridos se riam dos esposos alheios, trabalhando viciosamente para a sua ruina. Por minha causa, velhos e moços se divertem fazendo epigramas contra a moral e a religião. Faço deputados, obtendo votos para se fazerem vis, que aumentam o meu reino que é de todo mundo. Aspiro converter o mundo em hospital, em manicômio, em circo onde estejam encerrados tigres, asnos, porcos, abutres e hienas, quero sangue, dissolução, ruina, desespero e blasfêmia. Estou em todas as partes; conheço as frias regiões da Laponia e da Sibéria, as ardentes regiões do Egito e da Líbia, da América do sul e da África, tenho origem no trigo, no arroz, na uva, na cana de açúcar. Minha pátria é a terra, meus escravos os homens que enviam o princípio do mal. Sei que me conheceis, porém não quero declarar o meu nome, porque todavia vos resta o pudor dos homens, já que haveis perdido os fatos. Eu sou o rei do vício. Eu sou D. Álcool. (MENSAGEIRO, 1942, p.5)

Segundo Milan & Ketchen:

Uma coisa é certa sobre o álcool: ele funciona. Pode destruir a carreira de um homem, arruinar seu casamento, torna-lo um fantasma caído inconsciente em um corredor – mas funciona. Em curto prazo, funciona mais depressa que um psiquiatra ou um padre ou o amor de um marido ou o amor de uma esposa. (MILAN & KETCHEN, 1986, p.66.)

Quantos aos textos bíblicos usados para legitimar este item da Resolução,

nenhum deles proíbe o usos de bebidas embriagantes mas se recomenda o

afastamento delas. O Novo Testamento King James, Edição de estudo (2007, p.

839) diz que o livro de Provérbios associa embriagues a pobreza (Pv23:20-21),

a desavenças e crimes (Pv23:29-30), e a injustiça. (Pv31:4-5)

O pensamento de Alves (2005) nos permite compreender as razões cristã

concernente a abstinência as bebidas embriagantes, segundo Alves no vício

revela-se um corpo incapaz de disciplinar-se, impotente para submeter os seus

impulsos ao controle da racionalidade divina. E isso significa que, na pessoa

viciada, a graça não está em operação plena porque, se a função da graça é

curar e restaurar a natureza, e se a natureza criada se define pela submissão da

vitalidade à racionalidade, é evidente que um corpo que é prisioneiro de impulsos

irracionais ainda não se submeteu totalmente ao poder de Deus (ALVES, 2005,

p. 229).

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Vale salientar aqui que o usos das bebidas alcoólicas é uma questão

social que pode variar de cultura para cultura. O posicionamento da CGADB é

referente a Igreja Assembleia de Deus no Brasil a qual não possui o hábito e

nem o costumes de usar bebidas alcoólicas, não se trata de uma questão divina,

mas sim uma convenção social entre os assembleianos brasileiros.

2.3 USOS E COSTUMES E OS NOVOS PARADIGMAS

ASSEMBLEIANOS CONTEMPORÂNEOS.

No final da década de 90, as Assembleia de Deus no Brasil se adequam

a um novo panorama histórico-social, as novas realidades deste contexto

contemporâneo indicam que os usos e costume, sadios princípios estabelecidos

como doutrina na Palavra de Deus, não mais se sustenta.

Durante o 5º ELAD (Encontro Nacional de Líderes da AD) a CGADB

elabora a Resolução de 1999 referente aos usos e costumes a qual analisamos

anteriormente, trata-se de um imenso texto composto por uma típica

argumentação de racionalidade teológica.

Daniel (2004) nos relata o parecer do Conselho da CGADB encaminhado

ao 5º ELAD, em 25 de agosto de 1999, onde a comissão analisou a Resolução

da Convenção Geral de 1975 e propôs uma linguagem atualizada. Daniel diz:

Convém, portanto, atualizar a redação da resolução de Santo André, omitindo a expressão ‘como doutrina’, ficando assim: ‘sadios princípios estabelecidos na Palavra de Deus – a Bíblia Sagrada – e conservados como costumes desde o início desta Obra no Brasil. Quanto aos 8 princípios da Resolução [de Santo André], uma maneira de colocar numa linguagem atualizada é: 1. Ter os homens cabelos crescidos, bem como fazer cortes extravagantes; 2. As mulheres usarem roupas que são peculiares aos homens e vestimentas indecentes e indecorosas, ou sem modéstias; 3. Uso exagerado de pintura e maquiagem - unhas, tatuagens e cabelos; 4. Uso de cabelos curtos em detrimento da recomendação bíblica; 5. Mau uso dos meios de comunicação: televisão, Internet, rádio, telefone; 6. Uso de bebidas

alcoólicas e embriagantes. (DANIEL, 2004, p. 579-580)

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Daniel (2004, p.578) interpreta esse momento como uma luta entre

“conservadores” e “liberais” e Andrade em artigo no Mensageiro da Paz 1995

relatando a 32º Assembleia Geral Ordinária da CGADB, com o título “Nem

conservadores nem Liberais – apenas homem de Deus”, faz um apelo em prol

da unicidade. Segue o artigo:

Figura 15 – recorte do Jornal Mensageiro da Paz de 1995.25

A resolução de 1999 possui alguns apontamento interessantes, ela

comenta que quando a tradição é posta acima da Bíblia ela assume uma

conotação negativa.

A Resolução diz:

Quando se coloca a tradição acima da Bíblia ou em pé de igualdade com ela, a tradição assume uma conotação negativa. Muitas vezes é usada simplesmente para camuflar nossos pecados. O problema dos fariseus e da atual Igreja Católica é justamente receberem a tradição

25 ANDRADE, Claudionor Correa de. Nem conservador, nem liberal – apenas homem de Deus. Mensageiro da Paz, Rio de Janeiro, nº 1296, p. 2, 1995.

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como Palavra de Deus. Disse alguém: “Tradição é a fé viva dos que agora estão mortos, tradicionalismo é a fé morta dos que agora estão vivos”. (DANIEL, 2004, p. 579-580).

Ainda observando a Resolução de 1999 percebemos que diante dos

novos paradigmas assembleianos os usos e costumes não são mais entendidos

como doutrina, passaram a denotar “sadios princípios estabelecidos (firmados,

fixados, organizados) na Palavra de Deus – Bíblia Sagrada”.

Convém, portanto, atualizar a redação da resolução de Santo André, omitindo a expressão ‘como doutrina’, ficando assim: ‘sadios princípios estabelecidos na Palavra de Deus – a Bíblia Sagrada – e conservados como costumes desde o início desta Obra no Brasil. Quanto aos 8 princípios da Resolução [de Santo André], uma maneira de colocar numa linguagem atualizada é: 1. Ter os homens cabelos crescidos, bem como fazer cortes extravagantes; 2. As mulheres usarem roupas que são peculiares aos homens e vestimentas indecentes e indecorosas, ou sem modéstias; 3. Uso exagerado de pintura e maquiagem - unhas, tatuagens e cabelos; 4. Uso de cabelos curtos em detrimento da recomendação bíblica; 5. Mau uso dos meios de comunicação: televisão, Internet, rádio, telefone; 6. Uso de bebidas

alcoólicas e embriagantes. (DANIEL,2004, p. 579)

Na Resolução de 1999 ainda se verifica uma autentica argumentação

teológica protestante apelando aos textos originais do grego bíblico, a fim de

elucidar a compreensão assembleiana concernente a doutrina e ao costumes.

Quanto a doutrina a Resolução diz:

À luz da Bíblia, doutrina é o ensino bíblico normativo terminante, final, derivado das Sagradas Escrituras, como regra de fé e prática de vida, para a Igreja, para seus membros, vista na Bíblia como expressão prática na vida do crente, e isso inclui as práticas, usos e costumes. Elas são santas, divinas, universais e imutáveis. Nos próprios dicionários seculares encontramos esse mesmo conceito sobre doutrina: “É o complexo de ensinamentos de uma escola filosófica, científica ou religiosa. Disciplina ou matéria do ensino. Opinião em matéria científica” (Dicionário Álvaro de Magalhães). “Conjunto de princípios de um sistema religioso, políticos ou filosóficos. Rudimentos da fé cristã. Método, disciplina, instrução, ensino” (Dicionário Ilustrado Novo Brasil, ed. 1979). A palavra grega usada para “doutrina” no NT é didache, que segundo o Diccionario Conciso Griego – Español del Nuevo Testamento, significa: “o que se ensina, ensino, ação de ensinar, instrução”. (Jo 7.16, 17; At 5.28; 17.19; e didaskalia, que segundo o já citado dicionário é: “o que se ensina, ensino, ação de ensinar, instrução”. O Léxico do N.T. Grego/Português, de F. Wilbur Gingrich e Frederick W. Danker, Vida Nova, São Paulo, 1991, p. 56, diz que didasskalia é: “Ato de ensino, instrução Rm 12.7; 15.4; 2 Tm 3.16. Num sentido passivo - aquilo que é ensinado, instrução, doutrina

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Mc 7.7; Cl 2.22; 1 Tm 1.10; 4.6; 2 Tm 3.10; Tt 1.9)”; e didache: “Ensino como atividade, instrução Mc 4.2; 1 Co 14.6; 2 Tm 4.2. Em um sentido passivo - o que é ensinado, ensino, instrução (Mt 16.12; Mc 1.27; Jo 7.16s; Rm 16.17; Ap 2.14s, 24). Segundo a Pequena Enciclopédia Bíblica, Orlando Boyer, doutrina é “tudo o que é objeto de ensino; disciplina”. (DANIEL, 2004, p. 579-580)

A mesma Resolução alusivo ao costumes diz:

Os costumes em si são sociais, humanos, regionais e temporais, porque ocorrem na esfera humana, sendo inúmeros deles gerados e influenciados pelas etnias, etariedade, tradições, crendices, individualismo, humanismo, estrangeirismo e ignorância. A Pequena Enciclopédia Bíblica, Orlando Boyer, define costume como “Uso, prática geralmente observada”. (p. 169). As palavras gregas usadas para “costume são ethos (Lc 2.42; Hb 10.25) e synetheia (Jo 18.19; 1 Co 8.7; 11.16). A primeira, de onde vem a palavra “ética”, significa costume com sentido de “lei, uso” (Lc 1.9). Não é biblicamente correto usar doutrina e costume como se fosse a mesma coisa. O costume é “Prática habitual. Modo de proceder. Jurisprudência baseada em uso; modo vulgar; particularidade; moda; trajo característico, procedimento; modo de viver”. Os costumes vistos pela ótica cristã, são linhas recomendáveis de comportamento. Estão ligados ao bom testemunho do crente perante o mundo. Estão colocados no contexto temporal, não estão comprometidos diretamente com a salvação (DANIEL, 2004, p. 579-580)

Quanto as diferenças básicas entre doutrina bíblica e costumes a

Resolução de 1999 traz a seguinte distinção:

O Manual do CAPED, edição de 1999, CPAD, Rio, p. 92, diz: "Há pelo menos três diferenças básicas entre doutrina bíblica e costume puramente humano. Há costumes bons e maus. A doutrina bíblica conduz a bons costumes." A) quanto à origem a doutrina é divina o costume é humano. B) quanto ao alcance a doutrina é geral o costume é local. C) quanto ao tempo a doutrina é imutável o costume é temporário. (DANIEL, 2004, p. 579-580)

Observando a Resolução de 1999 nos chamou a atenção os novos

paradigmas assembleianos quanto ao posicionamento sobre os

neopentecostais. Na Resolução de 1975 a CGADB recomenda aos

assembleianos que tenham apenas relações fraternas com movimentos

pentecostais que mantenham os mesmos princípios doutrinário das Assembleia

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de Deus, a fim de não ocorram desvios nas normas doutrinarias das Assembleias

de Deus no Brasil. Na resolução de 1999 esse conceito muda.

Diz a resolução de 1999:

Nem tudo que é extra bíblico é anti-bíblico. Nem tudo que nos interessa é condenado e pecado. Não podemos julgar ou condenar outros grupos porque adotaram liturgias estranhas e costumes diferentes dos nossos, e nem alcunhar nossos companheiros de ministério de liberais, pois “liberal” é uma palavra ofensiva. Os liberais sãos os que não acreditam na inspiração e autoridade das Escrituras, os que negam o nascimento virginal de Jesus, não reconhecem a existências de verdades absolutas. Discordar deles é uma coisa, mas agredir é outra muito diferente, e fere o espírito cristão do amor fraternal. Devemos, sim, preservar os nossos costumes. Os nossos costumes não são condição para a salvação, eles devem ser mantidos para a preservação de nossa identidade como denominação. Não devemos criticar os outros e nem forçar ninguém a crer contra suas próprias convicções religiosas. Há pastores que agridem o rebanho e desrespeitam seus companheiros porque querem demolir nosso patrimônio histórico-espiritual a todo custo. Deus quer a Assembleia de Deus como ela é, na sua maioria. As outras denominações foram chamadas como elas são, é assim que Deus quis, Ele é soberano. (Daniel, 2004, p. 579-580).

Os neopentecostais eram considerada pelos assembleianos como

denominações invadidas pelo mundanismo como vimos na Resolução dos

usos e costumes de 1945, muitas foram as formas de retaliação, com o

passar do tempo surgiram novas conjecturas sobre os neopentecostais e a

mais atual diz que eles foram chamados por Deus são, é assim que Deus

quis, Ele é soberano. Tal pensamento é uma evolução no pensamento

assembleiano.

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3. USOS E COSTUMES: AS MUDANÇAS NO ESTEREÓTIPO

PENTECOSTAL ASSEMBLEIANO

Neste capítulo abordaremos as mudanças no estereótipo pentecostal

assembleianos diante das tendências pós modernas enfrentas pela igreja nos

dias atuais, refletiremos a preservação dos usos e costumes, suas inovações no

contexto assembleiano, sua liberação. Concluiremos falando sobre o Código de

Ética e Disciplina da CGADB que traz diretrizes importantes para a

normatividade assembleiana e a conservação de sua tradição.

A abordagem deste capítulo se faz necessária para elucidar as

transformações socioculturais dos usos e costumes na Assembleia de Deus

Ministério Belém, no bairro Crispim, mas, levando em consideração o contexto

do Brasil.

Através desse capítulo entendemos que os usos e costumes

assembleiano se refere a um estereótipo pentecostal que foi sendo transmitido

de geração para geração, de lugar para lugar, logo para entende sua mudanças

se faz necessário voltarmos na gênese de sua história a fim de entender onde

se iniciaram as mudanças e quais as causas que circundam este fato.

3.1 TENDÊNCIAS SOCIOCULTURAS PÓS-MODERNAS NOS

USOS E COSTUMES DOS ASSEMBLEIANOS

Os assembleianos, por muitas décadas, mantiveram um estereótipo

caracterizado por profunda rigidez, seus usos costumes pareciam imutáveis,

as mulheres trajavam suas melhores roupas, andavam de vestidos longos

semelhantes aos usados pelas mulheres da alta sociedade, os homens

andavam com Bíblia sobre o braço, terno e gravata, chapéu.

Esses costumes eram mantidos porque entendiam que tais indumentárias

eram as vestes que agradavam a Deus, quando na verdade, nada mais eram

que uniforme respeitado de graduados funcionário de escritório, executivo,

empresários e políticos, todos eles agentes bem sucedido das sociedades

capitalistas.

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Segundo Mariz (1995, p.175-176) tal comportamento distintivo, antes de

simbolizar desejo de ascensão social, visa a construir uma imagem de

dignidade e respeitabilidade, algo de difícil acesso aos de extratos mais

pobres.

Camargo (apud MARIANO, 2012, p. 195-196) diz que “a adoção do novo

estilo de comportamento, pautado em padrões estereotipados de

respeitabilidade burguesa, consistiria, consequentemente, modalidade

simbólica de exteriorizar de ascensão social”.

O rigor dos assembleianos quanto aos seus usos e costume faziam com que

muitos pastores preocupados com o mundanismo, contaminação e corrupção

procurassem imprimir na conduta dos fieis o “culturalismo assembleiano”26,

tabus comportamentais, de modo a distancia-los das coisas atraentes e

sedutoras do mundo circundante dominado segundo eles pelo diabo.

Segundo Souza (1969) “As prescrições de conduta estendiam-se a várias

formas de diversão, como cinema, televisão, rádio, pratica de esportes ou

assistência a jogos de futebol, surfistas, box, baralho etc.” (SOUZA, 1969, p.148)

as prescrições destas proibições muitas vezes eram levadas a exageros de

formalismo como violência familiar, conflitos entre pais e filhos sobre as formas

de entretinimento.

Mariano (2012) reproduz parcialmente uma carta recebida por ele de uma

evangélica Creuza Maciel funcionaria da Abrapia (Associação Brasileira

Multiprofissional de proteção à Infância e Adolescência) no dia 23 de abril de

1992. A carta diz:

O tema em questão – Violência contra criança por motivos e com justificativas bíblico-religiosas – é sumamente complexo. (...) na maioria das vezes, a violência começa com a privação da criança e sobretudo do adolescente á vida social. a privação de participar em festinhas, ir ao cinema, ver TV, sair com os amigos, acaba numa relação pais-filhos/filhas muito conflitiva. A justificativa dos pais, nesse caso, é proteger a criança das perversidades do mundo e preserva-las para Deus. Para isso, vale até surrá-las, tranca-las, tira-las da escola etc. Quando se trata de uma criança normal, todas estas regras rígidas são desobedecidas, o que provoca a ira santa dos pais ou

26 Conceituamos culturalismo assembleiano como: usos e costumes conjecturados aqui como teia de padrões de comportamento transmitidos coletivamente.

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responsáveis. A partir daí, para tirar o demônio do corpo da criança vale tudo. Muitas vezes a criança foge e vai somar-se aos muitos meninos de rua. Outras vezes, o controle permanente dos pais mantém os filhos em regime de escravidão e tortura. As explicações religiosas são repetidas como argumento para tais atitudes. O mais grave ao nosso entender é que a religião tem reforçado o poder sobre os filhos, construindo uma relação desigual, de dominação do mais forte sobre o mais fraco. Nesta relação, a mãe, por ser mulher, está também sob obediência da cabeça da família o homem” (MARIANO, 2012, p.200-2001).

Mariano (2012, p. 2001). Cita uma reportagem do Jornal O Globo de 2 de

abril de 1992 a qual relata que 33% dos casos de agressão física contra menores

registrados pela Abrapia nos dois primeiros meses daquele ano, tinham como

razão o “fanatismo religioso”. Aramis Lopes, subchefe de pediatria do Hospital

Souza Aguirar e membro da Abrapia, dizia: “Muitos casos chegam aqui como

pequenos acidentes domésticos, mas as marcas e fraturas no corpo destas

crianças denunciam logo a violência. Levantamos muitos casos em que o

agressor é pastor ou muito religioso”.

A rigidez dos usos e costumes assembleianos conduziu muitos crente da

denominação ao fanatismo na obediências as proibições legalistas, as quais os

conduziram a muitas práticas anti-bíblicas interpretadas pelo imaginário

assembleiano como sendo a vontade de Deus.

Por muito tempo a Assembleia de Deus se manteve inflexível sem aceitar

nenhum costumes que implicasse enfaticamente com sua doutrina (pentecostal)

usada e adotada pela igreja desde o seu início no Brasil. O Jornal Mensageiro

da Paz nº1 publica em 1946 um artigo escrito por Campos intitulado “Jezabel

Ressuscitou?” o artigo nos permite visualizar o teor dessa inflexibilidade

assembleina.

[...] Mocidade meditai nos perigos que representa o espírito de Jezabel em ação, como se tivesse ressuscitado para semear o mal. O assunto que estamos comentando, aplica a todas as classes de pessoas, a homens e mulheres. [...] Cuidado, irmãos, não deixemos que alguém que possui o espírito de Jezabel, traga o mundanismo para dentro das Assembleias de Deus; não permitamos que ela coloque a cabeça dentro da porta a fim de que ela não contamine a terra e engane a mocidade, oferecendo-lhes suas vaidades. Não permitamos que Jezabel ressuscite na igreja, seja sob qual forma for. (MENSAGEIRO, 1946, p.6)

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Em 1964 um outro artigo escrito por Nascimento é publicado no Mensageiro

da Paz nº7 “Costumes de outras igrejas” dizendo:

Durante muito tempo, a “Assembleia de Deus”, se manteve inflexível, sem aceitar nenhum dos costumes de outras igrejas. Não obstante esteja rodeada delas. Assim sendo, é a razão pela qual, sempre tem sido vitoriosa. Há diversidade de igrejas, todavia uma difere da outra em costumes, mormente em se tratando da santificação do corpo. Destarte “a Assembleia de Deus” tanto crê como pratica a santificação do corpo, além disso crê nos dons espirituais. Outrossim, existem igrejas, que julgam, entretanto, ser menos insignificantes diversos costumes do mundo, e bem assim tudo que diz respeito a vaidade. (I Tes. 5:23). Portanto usam joias, cortam os cabelos, fazem encrespaduras nos cabelos, pintam as unhas e o rosto, frequentam cinemas e teatros, casam-se com descrentes, trajam conforme o rigor da moda e frequentam toda e qualquer diversão de vez que seja social, etc.... Pergunto ao meu caro leitor, porventura a “Assembleia de Deus”, usava os referidos costumes, até certa altura posteriormente a seu nascimento e evolução? Além disso é possível contemplarmos a abstinência total no seio desta igreja nos dias atuais, dos costumes mencionados? Mais uma vez pergunto: por um acaso são recomendados pela Bíblia tais costumes? Não, mais uma vez não; antes são condenados. (MENSAGEIRO, 1964, p.3,7)

No ano de 1965 o mesmo Jornal referido acima publica uma matéria

intitulada “Mundanismo na igreja”, o interessante deste artigo é porque diferente

dos dois artigos citados anteriormente os quais que combatem os costumes de

outras igreja e mundanismo, as vaidades, este descreve o mundanismo dentro

da igreja Assembleia de Deus. Segue um recorte na integra do artigo.

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Figura 16 – Recorte Jornal Mensageiro da Paz 1965.27

Inúmeros foram os artigos do Jornal Mensageiro da Paz que combatiam

veementemente o “mundanismo”, podemos citar para corrobora com nossa

afirmação um artigo do Jornal Mensageiro da Paz nº8 de 1969 “Perigos que

ameaçam a igreja”, que diz:

Igreja e Mundo sempre foram antagônicos. E este sempre perseguiu aquela. Os momentos áureos da Igreja Primitiva foram assinalados com o sangue dos mártires. As perseguições – todas elas, foram a alavanca que induziu o Movimento Pentecostal as sucessivas e retumbantes vitórias no Brasil. No Piauí ou na Bahia, em Minas ou no Paraná. Cada história de perseguição tem como corolário um revigoramento no Despertamento. Não somos meramente uma denominação. Somos um Movimento de Deus. Não nos deixemos embalar na ilusão de uma simpatia do mundo para conosco. É vocação da Igreja ser odiada pelo Mundo. [...] Que existe no Mundo que mereça ser imitado pela Igreja? Os crentes espirituais, sinceros, fiéis, piedosos dizem: NADA! Absolutamente nada. Deus proibiu a Israel de imitar as gentes! Para que carruagens novas? Se fomos tirados do Mundo? Isto é maravilhoso! Mas não é maravilhoso que agora tiremos do mundo as suas ideias, os seus costumes, as suas práticas. Isto afetaria a continuidade do Despertamento! (MENSAGEIRO, 1969, p.4)

27 SANTOS, Amaral F. dos. Mundanismo na igreja. Mensageiro da Paz, Rio de Janeiro, nº 6, p. 247,1965.

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Ainda em 1969 um outro artigo é publicado referente ao cuidado com o

“mundanismo”, o Jornal Mensageiro da Paz nº15 de 1969 adverte os

assembleiano quanto as suas doutrinas. O artigo em questão foi escrito por

Nascimento e tematizado com a seguinte expressão: “Devemos cumprir a sã

doutrina”. A publicação diz:

Começando pelos obreiros, muitos de nós temos deixado a sã doutrina pelo formalismo que está levando a descrença aos lares e às igrejas. Já estamos permitindo em nossa Igreja a vaidade, os enfeites, as vestes escandalosas (vestido apertado, curto, minissaias), o feminismo (moços com cabelos cumpridos, vestes femininas)! Já existem Igrejas Evangélicas nas quais as mulheres estão usando roupas masculinas! [...] Que faremos dos televisores, banhos de praia, maillots, cabelos cortados, pernas e braços raspados, cabelos espichados, namoros escandalosos, etc.? ... Alguns moços crentes já são playboys, usam cabelos cumpridos, vestes femininas, não honram mais o lugar de destaque que Deus nos deu, criando o homem à sua imagem! Quando alguém fala que estamos saindo do plano de Deus, a resposta é: “Estamos no século XX, estamos em evolução”. Mas nós encontramos uma advertência do apóstolo Paulo. “Não vos conformeis com este mundo”, Romanos 12:2. (MENSAGEIRO, 1969, p.5)

Publicações como estas referidas acima aprofundaram as significações

dos usos e costumes, fortaleceram as teias de significado que sustentam tais

usos até os dias atuais, porém, vale observar que mesmo com todo esse

conservadorismo as mudanças na mentalidade assembleina se diversificaram e

se pluralizaram.

Bacedônio escreve no Mensageiro da Paz nº 1.567 de 2015 que para os

pentecostais, o sistema mundano, isto é, o mundo, já não é mais um inimigo

mal compreendido. (MENSAGEIRO, 2015, p.4)

O pensamento pós-modernos invoca a ruptura do rigor e das práticas do

Modernismo, sem, contudo, abandonar totalmente os seus princípios. Ele se

utiliza de elementos e estilos do passado, vestido, porém, com uma roupagem

de liberdade formal, eclética e imaginativa, tal pensamento se fundamenta na

extravagância e vai além das normas usuais do bom senso, do equilíbrio

emocional, do bom gosto.

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Numa sociedade de cultura pós-moderna, o sagrado tende a perder

avassaladoramente seus significado e importância. A tendência é o

afastamento dos bons conceitos morais. Portanto, em fundamentos morais, o

que se apresenta é o conhecimento contextualizado e relativista. Não existem

absolutos, nada é hierático, ou sacrossanto.

O Jornal Mensageiro da Paz nº 1.567 de 2015 ainda nos diz que:

O pós-modernismo dita as tendências culturais, estéticas e sociais da vida hodierna, inclusive aqueles que mais defendiam os fundamentos estabelecidos por nossos pioneiros, estão diminuindo a altura dos muros que lhes protegiam da influência mortal deste pensamento, dando espaço àquelas coisas que antes não permitiam. “Para os pentecostais, o sistema mundano, isto é, o mundo, já não é mais um inimigo mal compreendido”, asseverou o Rev. B.H. Clendennen em análise aos nocivos ataques pós-modernismo. Em face disso, a sã doutrina se vê ameaçada com as mudanças que incidem sobre ela e sobre a igreja, por conta disso, vemos um esfriamento espiritual com proporções idênticas nas Sagradas Escrituras para o fim dos tempos. O pós-modernismo tem causado uma deformação sem precedentes à maneira cristã de viver cada vez mais evidente a flagrante tentativa de subversão das denominações evangélicas mais antigas, numerosas e poderosas; se é que isso já não ocorreu. Fica claro que a preocupação é pela forma, pela estética das coisas e não com o estado delas. (MENSAGEIRO, 2015, p.4)

Giddens (1994) diz:

O mundo em que vivemos hoje não está sujeito ao firme controle humano - o estofo das ambições da Esquerda e, poder-se-ia dizer, os pesadelos da Direita. Quase pelo contrário, ele é um mundo de deslocamentos e incertezas, um "mundo fugitivo". E, o que é perturbador, aquilo que se supunha criar cada vez maior certeza - o progresso do conhecimento e da intervenção humanos - se encontra na realidade profundamente envolvido com esta imprevisibilidade. (GIDDENS, 1994, p. 37).

O rigor dos usos e costumes a cada dia se flexibiliza, pois, liberações

entre aspas tem sido dada por muitos líderes assembleianos, aos poucos as

igrejas por si só estão se liberando de seu tradicionalismo conservador. As

Assembleias de Deus tem adquirido devido ao contato com os neopentecostais,

liturgias, usos e costumes que nunca foram seus. Devido também o contato

com o pós-modernismo muitos valores que ainda lhes restavam estão

desaparecendo, entre eles a modéstia e o pudor.

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3.2 USOS E COSTUMES: PADRÕES IDUMENTARIO DA

ESTÉTICA PENTECOSTAL

Por muito tempo as assembleias de Deus determinavam como deveriam ser

a estética pentecostal de seus membros, ditavam padrões indumentários,

“vestes santas”, roupas para falar com Deus, era uma espécie de moda

pentecostal.

O Pastor Antônio Gilberto, Consultor doutrinário da Casa Publicadora das

Assembleias de Deus (CPAD) diz algo relevante sobre essa normatividade das

Assembleias de Deus. Ele diz:

É sabido por todos nós que em muitas igrejas nossas têm havido distorções, exageros e extravagâncias, principalmente na área dos costumes, com abuso, intolerância e inversão de valores, por parte de quem, por não ter o devido embasamento bíblico e ministerial, criou por si mesmo um sistema de costumes, chamando-os de “doutrina”, quando na realidade, pelo modo como esses obreiros os aplicam, é uma transformação de costume em “lei” (GILBERTO, S.d., p. 27-28).

Concernente a moda Gilberto diz que:

A Bíblia não fixa moda alguma para a Igreja. A Bíblia deixa isso a critério do crente como servo de Deus, obediente à sua Palavra, e desejoso de fazer a sua vontade. Mas a Bíblia trata, sim, dos princípios e limites do traje e porte de quem quer agradar a Deus nesse assunto (Cl 1.10; 1 Jo 3.22). Tais limites são vistos, por exemplo, em 1 Tm 2.9,10, onde, “Honesto” (em referência a traje) é literalmente decoroso, sóbrio, equilibrado. “Pudor” é literalmente decência, recato, reserva. "Modéstia” é literalmente simplicidade, bom gosto, sem exagero, sem extravagância, sem escândalo (GILBERTO, S.d., p. 45-46).

Entre os assembleiano segundo Gilberto há um saudoso desejo de

ser como os primeiros assembleianos no Brasil, constantemente em seus

discursos mencionam as mudanças da igreja e exortam que devemos

mantes a doutrina da igreja, ocorre que, estes líderes desconhecem o real

estado de seus primeiros líderes, alguns eram bem preparados outros

possuíam grandes dificuldades, ao ponto de ter dificuldade em se

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compreender a diferença entre pecado e coisas inconvenientes, para tais

líderes eram as mesmas coisas, na dúvida tudo era pecado.

Concernente ao pecado e as coisas inconvenientes Gilberto

explica:

Há coisas que em si mesmas não são pecado, mas são inconvenientes. 1 Co 6.12 — “Nem todas as coisas me convêm.” Há coisas que em si mesmas não são pecado, mas são moldadoras, dominadoras, controladoras. I Co 6.12 — “Não me deixarei dominar por nenhuma.” Há coisas que em si mesmas não são pecado, mas são embaraçosas. Hb 12.2 — “Deixemos todo o embaraço, e o pecado que...” Há coisas que em si mesmas não são pecado, mas dão a aparência de pecado. 1 Ts 5.22 — “Abstende-vos de toda a aparência do mal” (GILBERTO, S.d., p. 16-17).

A natureza controversa e polemica dos usos e costumes requer

segundo Gilberto uma definição, mesmo sumária, da diferença básica

entre doutrina bíblica, e costumes. Gilberto inicia em tom pedagógico

definindo e separando o que tanto causava conflito:

Doutrina, estritamente falando, é o ensino bíblico normativo, terminante, final, derivado das Sagradas Escrituras, como regra de fé e prática de vida, para a Igreja através de seus membros. A doutrina cristã como a temos na Bíblia, uma vez ensinada e vivida na prática, pela congregação, origina nela santos e bons costumes, que por sua vez confirmam a doutrina bíblica (Tt 2.10). Costume é uma forma de expressão do porte, postura e comportamento social da pessoa ou congregação, confirmando ou comprometendo a doutrina bíblica, a moral e a ética cristãs (GILBERTO, S.d., p. 8-9).

Quanto a preservação dos bons costumes na igreja o mesmo autor

orienta os pastores assembleianos a procederem da seguinte maneira:

Com sabedoria e amor divinos, e base nos princípios bíblicos, e evitando a todo custo o próprio individualismo, estabeleçam os limites dos costumes, de modo a não resultar isso em escárnio, escândalo, tropeço, escravidão, legalismo, falsa santidade, individualismo, etc. (GILBERTO, S.d., p. 41).

Gilberto ainda diz: “O cristão deve evitar usos, costumes e práticas

escandalosas, ridículas, chocantes, provocantes, sensuais, imorais, absurdas,

extravagantes e tipicamente mundanas” (GILBERTO, S.d., p. 32).

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No decorrer das pesquisa de campo para a confecção desta dissertação

me deparei com muitos assembleianos que se posicionaram a favor da

liberação dos usos e costumes nas assembleias de Deus, segundo eles, tais

proibições não fazem sentido nos dias atuais, me disseram também que muitas

proibições não eram bíblicas mas, eram consideradas pecado, segundo eles o

que mais revolta é ver o que a igreja proibia sendo permitido por ela mesma

nos dias atuais.

A liberação dos usos e costumes é um sonho principalmente das mulheres

assembleianas, Gilberto comenta que em sua época em muitos lugares as

práticas de tais usos já estavam sendo liberadas, isso nos dá a entender que as

mudanças nos usos e costumes não se darão como resultado de liberação

institucional, mais como mudança cultural, cada lugar liberará seus usos e por

fim teremos uma igreja liberal, quando me refiro a igreja me reporto as

Assembleias de Deus no Brasil conveniadas a CGADB.

Segundo Gilberto:

A liberação dos bons costumes, usos e práticas já vem ocorrendo em muitos lugares; isto é, cada crente procede como quiser, quanto a usos, costumes e práticas, e continua como membro da igreja, sem a devida disciplina bíblica cristã. Se os dirigentes deixarem, hoje, os costumes e práticas à vontade de cada um, logo a seguir, quando acontecerem os excessos, extravagância, mundanismo, provocações, desafios, licenciosidade e anarquia espiritual e ministerial, e outros males sem conta que surgirão, será tarde demais para os pastores tentarem reverter a situação (GILBERTO, S.d., p. 44).

A igreja que permitir seus membros procederem como quiserem, e

continuarem como membros segundo Gilberto poderá crescer muito, da noite

para o dia, de acordo com o mesmo autor tal igreja crescerá em quantidade, mas

não em qualidade, ela perderá espiritualidade e poder diz o respeitado consultor

doutrinário da CPAD.

Gilberto ainda diz que uma liberação geral dos costumes na igreja será

uma oportunidade que estaremos oferecendo para caírem de vez os crentes

mais fracos, carnais, mornos, modernistas, humanistas, liberais e racionalistas,

segundo ele estes sucumbirão de vez, na avalanche de maus costumes que

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inundarão a igreja, contrariando a Palavra do Senhor, a ética cristã e a boa

tradição conservadora da Assembleia de Deus no Brasil. (Gilberto, S.d., p. 45)

Se voltarmos um pouco na história do pentecostalismo veremos que a

tradição conservadora das Assembleias de Deus no Brasil é típica do

pentecostalismo o qual herdou sua postura de rejeição e afastamento do mundo

diretamente do metodismo e do movimento Holiness, dos quais se originou.

Segundo Mariano (2012) provém daí as raízes puritanas e petista do

movimento pentecostal. Tal como no puritanismo, para o crente pentecostal

mostrar-se santificado, ele precisava exteriorizar sinais, por meio de

comportamento ensinado e exigidos pelas comunidades religiosas, que os

diferenciem da sociedade inclusiva. Assim procedendo ele denotava sua

condição de salvo em Cristo (MARIANO, 2012, p. 190).

A luta para não se desviar do caminho estreito que conduz a salvação

deveria ser travada a todo o instante. O mundo segundo Mariano (2012) é

tentador, viver nele tendo que negar seus prazeres exige do fiel grande força e

resistência moral.

Para agravar a situação, o pentecostal crê que o diabo está presente nos

mais ínfimos espaços da vida, sempre à espreita, rondando, tentando suas

fraquezas, armando ciladas e armadilhas, o inimigo permanece de prontidão

para explorar qualquer deslize ou oportunidade que se lhe apresente afim de

escravizar suas vítimas.

Os assembleinos possuíam regras rigorosas quanto ao comportamento,

como já vimos anteriormente a preservação destas regras eram mantidas a

todo o custo, inclusive pelos excessos no fanatismo. Atualmente toda essa

rigidez tem se flexibilizado variando em seu rigor de região para região como

nos permite conjecturar Gilberto (S.d., p. 44).

Quanto as inovações entre os assembleianos Gilberto lista dez itens nos

quais diz:

1) Palmas nos cânticos, isto é, palmas indiscriminadas, mecânicas, artificiais, inconscientes, como vem acontecendo em muitos lugares. Não é doutrina bíblica; é costume que a Assembleia de Deus nunca

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teve. Suposta base bíblica: SI 47.1; mas um exame da expressão no original descarta a pretensão. A autêntica adoração ao Senhor tem o sentido primeiramente interior/exterior, e não ao contrário. Ver João

4.24b. 2) Árvore de Natal e ovos de páscoa. A sua origem histórica

nada tem com o Cristianismo. 3) Pregar falando em línguas. Há pregadores pentecostais que costumeiramente pregam uma mensagem até certo ponto, e daí começam a falar em línguas, de olhos fechados, e dificilmente voltam ao texto bíblico anunciado. É inovação dos tais. Emocionalismo. 4) “Dança no Espírito”. E fanatismo emocional religioso, ou carnalidade. Alegada base bíblica: Êx 15.20,21; Lc 15.25; SI 150.3. (E que a Bíblia sofre mais nas mãos dos seus amigos do que nas de seus inimigos. Um paradoxo!) 5) Pão asmo na Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor não é a Páscoa do AT a qual olhava para a frente, como um tipo de Cristo. A Ceia do Senhor é um memorial que ce lebra o sacrifício de Cristo, já realizado (I Co 5.7). O N T não contém ordenação expressa para isso. 6) O batismo com o Espírito Santo, sem a evidência inicial das línguas estranhas. 7) Dons espirituais (segundo a Bíblia ensina) sem o batismo com o Espírito Santo. 8) A Ceia do Senhor ministrada a todos os presentes, sejam crentes ou não. 9) “Arrebatamento” de crentes, em grupo. 10)

A inspiração divina, não plenária, da Bíblia. (GILBERTO, S.d., p. 57-

59)

Para concluirmos este tópico mostraremos algumas gírias do

pentecostais assembleiano pós-moderno as quais recolhi nos cultos que assisti

em algumas igrejas da Assembleia de Deus, trata-se de uma breve lista com

linguagens peculiares aos grupos neoassembleianos.

A paz do Senhor Precioso; Tá amarrado; Miseriqueima; Receba!; Incendeia, Senhor; Pega ele; Espírito Santo; Eita, irmão canelinha-de-fogo; Prá, Prá, Prá, Prá, Prá; Qualquer dia a gente dá uns glórias junto na sua igreja; Alguém de vocês já ficou... no óleo?; Está no azeite hoje, irmão?; Rajada de glória; Vai ariando as panelas Jeová; Eu quero é Deus; Vai ser forte; Passa a espada, meu general; Ô chicote gostoso; Vou ministrar sobre a sua vida; Vou profetizar sobre sua vida financeira; Irmão vigia o Senhor está ti olhando; Deus vai pesar a mão sobre você; Deus vai ter pôr no leito; Deus vai passar você na moenda; Desenrola o manto, mistério (GRIFO NOSSO)

3.3 USOS E COSTUMES: TEIAS DE SIGNIFICADO SIMBÓLICO

ASSEMBLEIANO

Conceituamos como teia de significado simbólico os usos e costumes

assembleianos enraizados no mais profundo da psique humana dominada pelas

emoções. Utilizaremos para esta análise o conceito de Geertz que diz: “[...] o

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homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu [...]”

(GEERTZ, 2008, p.4).

Geertz (2008) nos dá diretrizes de como observar o “homem” referido por ele

na citação mencionada anteriormente, segundo ele: “[...] o Homem, com letra

maiúscula, deve ser visto "por trás", "debaixo", ou "além" dos seus costumes, e

se a substituímos pela noção de que o homem, sem maiúscula, deve ser visto

"dentro" deles [...]” (GEERTZ, 2008, p.27).

Segundo o mesmo autor à medida que se analisa o “homem”, retira-se

camada após camada, sendo cada uma dessas camadas completa e

irredutível em si mesma, e revelando uma outra espécie de camada muito

diferente embaixo dela. Retiram-se as variegadas formas de cultura e se

encontram as regularidades estruturais e funcionais da organização social.

Descascam-se estas, por sua vez, e se encontram debaixo os fatore

psicológicos — "as necessidades básicas" ou o-que-tem-você — que as

suportam e as tornam possíveis: Retiram-se os fatores psicológicos e surgem

então os fundamentos biológicos — anatómicos, fisiológico! Neurológicos —

de todo o edifício da vida humana. (GEERTZ, 2008, p.28).

Dentro desta análise mostraremos as teias que compõe essa estrutura.

Antes de prosseguirmos é importante explicar que quando nos referimos a “teias”

estamos nos referindo ao conceito utilizado por Geertz para se referir a cultura.

Geertz (2008) diz:

O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; (GEERTZ, 2008, p.4)

Nomeamos as teias referidas por Geertz (2008) usando o conceito de cultura

de Clyde Kluckhohn do qual Geertz diz:

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Kluckhohn conseguiu definir a cultura como: (1) "o modo de vida global de um povo"; (2) "o legado social que o indivíduo adquire do seu grupo"; (3) "uma forma de pensar, sentir e acreditar"; (4) "uma abstração do comportamento"; (5) "uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual um grupo de pessoas se comporta realmente"; (6) "um celeiro de aprendizagem em comum"; (7) "um conjunto de orientações padronizadas para os problemas recorrentes"; (8) "comportamento aprendido"; (9) "um mecanismo para a regulamentação normativa do comportamento"; (10) "um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo como em relação aos outros homens"; (11) "um precipitado da história", e voltando-se, talvez em desespero, para as comparações, como um mapa, como uma peneira e como uma matriz. (GEERTZ, 2008, p.4)

A cada uma da teias de Geertz que nomeamos com o conceito Clyde

Kluckhohn atribuímos uma ligação com os mecanismos mantenedores das

tradições assembleianas.

A “teia o modo de vida global” conjecturamos aqui como uma teia que amarra

os assembleianos em um único modo de vida diante de uma pluralidade de

opções, a “teia do legado social que adquirem de seu grupo” como a teia das

tradições adquiridas dos pioneiros assembleianos, a “teia de pensar, sentir e

acreditar” como a prisão da racionalização assembleiana em usos e costumes

como padrões divinos e não sociais, a “teia da abstração do comportamento”

como as ideias assembleina isolada de seus comportamentos,

A “teia da teoria do comportamento real” como sendo as resoluções dos

usos e costumes, o código de ética os quais regem o comportamento dos

assembleianos, a “teia do celeiro de aprendizagem” a escola dominical, as

reuniões de obreiros, os cultos de ensino, a “teia do conjunto de orientações

padronizadas para os problemas recorrentes” o Estatuto e o Regimento Interno

da CGADB (Convenção Geral Das Assembleias de Deus no Brasil),

A “teia de mecanismo para a regulamentação normativa do

comportamento”, e a “teia das técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo

como em relação aos outros homens” como sendo o uso do legalismo

tradicionalista, ou a espiritualização por meio de conceitos bíblicos os usos e

costumes, a “teia precipitado da história”, como o declínio cultural diante do

desenvolvimento e mudanças sofridas pela sociedade.

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Todas estas teias formam um conjunto de significado que se relacionam,

se unem, se fortalecem formando bases, estruturas com camadas, espessuras

ideais para se manter firme diante das mudanças ocorridas no tempo e no

espaço.

Analisando mais profundamente estas teias de significado simbólico

descobrimos algumas coisas interessantes. Utilizaremos como recurso para esta

análise a imagem da capa do livro de Geertz (2008), “A interpretação das

culturas”.

Figura 17 – Imagem de capa do livro Interpretação das Culturas de Geertz.

Analisando a imagem do “homem” podemos percebemos que seus

sentidos, percepções, emoções, raciocínio e movimentos corporais estão

amarrados a teias de significações as quais ele não pretende se desamarrar

mesmo que existam muitas rupturas e espaços cujas informações faltam.

Um outro detalhe que nos chama a atenção na imagem é a escuridão

que esconde as características físicas do homem na foto. Geertz (2008, p.26)

nos explica o que obscurece o que é verdadeiramente humano, segundo ele

isso ocorre devido existir uma enorme e ampla variedade de diferenças nos

costumes os quais consistem em meros acréscimos, até mesmo distorções.

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Dentro desta escuridão o homem não tem como se mover e também não

há desejo para isso, ele está preso ao lugar e ao tempo. As teias que Geertz

denomina cultura está localizada na mente e no coração do homem (GEERTZ,

2008, p.8).

Adentrando as estas camadas do edifício humano percebemos o quanto

são complexas as teias de significado que estamos estudando, elas estão

inseridas no interior no mais profundo da psique humana e são dominadas pelas

emoções, segundo Morgan a emoção é uma força poderosa dos problemas

humanos. Está na raiz de guerras, assassinatos, conflito social e outros conflitos

entre pessoas. A emoção é o sal da vida. (MORGAN, 1977, p. 73-74).

Os conceitos de Geertz (2008) estudados até agora nos conduzem a

repensar os usos e costumes assembleiano, nos permitindo visualizar as teias

de significado que circundam e protegem estes usos. Geertz (2008) nos conduz

ao entendimento que os significados destas teias estão presos a mente e o

coração do homem.

Observando a imagem podemos dizer que o “homem” está preso em um

tempo e em um lugar. Analisando mais profundamente poderíamos dizer que o

homem está preso ao passado no presente e no futuro. Trazendo este conceito

para a compreensão dos usos e costumes das Assembleias de Deus, podemos

supor que cada assembleiano carrega consigo seus usos e costumes presos a

sua época e seu tempo.

Continuando nossa análise encontramos outros detalhes interessantes na

imagem do “homem preso as redes de significado” de Geertz. As teias são

formadas por “triângulos culturais de força”28. O triangulo por ser formado por

três segmento faz alusão as tríades: início, meio e fim.

A conjectura que faço aqui é que estas teias não se quebram, o homem

está preso a elas no começo, no meio e no fim.

28 Conceito construído nesta pesquisa com base no título “Um Triângulo Cultural de Forças” localizado na p. 168 do livro Interpretação das culturas de Geertz.

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Concluímos a analise deste tópico dizendo que há uma complexidade

profunda na construção de sentido para os usos e costumes, uma coisa são os

mecanismos de normatização usados para legitima-los, outra coisa é a

construção simbólica ocorrida na psique humana, enquanto uma pode ser

flexível e mutável a outra permanece intacta e imutável.

A análise feita neste tópico jugamos ser importante pelo fato de nos

conduzir a pensar que muitos assembleianos jamais deixaram de seguir os

tradicionais usos e costumes assembleiano, ainda que tudo mude e a cultura se

transforme profundamente e os paradigmas assembleiano tomem conta de tudo,

mesmo assim estas pessoas continuaram sendo e pensando o que acreditam

ser certo e a verdadeiro.

3.4 O “CREMOS” ASSEMBLEIANO E A PUREZA DA DOUTRINA

CRISTÃ

O primeiro “Cremos” na história das Assembleias de Deus foi As

Declarações das “Verdades Fundamentais” aprovada pelo Conselho Geral das

Assembleias de Deus Reunido na cidade de Saint Louis nos Estados Unidos em

outubro de 1916.

A Declaração de Verdades Fundamentais é uma descrição de 16

doutrinas essenciais aderida pelo Concelho Geral das Assembleia de Deus nos

Estados Unidos em resposta a várias controvérsias doutrinarias. A primeira

controvérsia surgiu a partir do desacordo sobre a segunda benção29 e o

significado prático de santificação, a segunda controvérsia questionava a formula

batismal, a doutrina da trindade e a compreensão do processo da salvação, e a

terceira era sobre se falar em línguas a qual era a evidência física inicial do

batismo no Espírito Santo.

29 William Seymour, discípulo de Pahram, afirmava que Deus tem uma terceira benção além da

santificação, isto é, o batismo no Espírito Santo. Naturalmente Seymour encaminhava o processo assim: regeneração, santificação, batismo no Espírito Santo. O pastor da igreja Batista de Chicago, W. H. Durham, que posteriormente retificou a proposta de Seymour dizendo que justificação/regeneração já era o início da santificação, sendo, portanto, o batismo no Espírito a “segunda benção”. Está é a concepção do pentecostalismo moderno. (Mendonça, 2008, p.134).

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As 16 “Declarações de Verdades fundamentais30” que foram aprovadas

pelo Conselho geral das Assembleias de Deus nos Estados Unidos serão

expostas no quadro abaixo, alguns itens serão apenas mencionados devido

sua extensão. Está declaração é a delimitação das verdades fundamentais

inegociáveis da fé assembleiana. Vale salientar aqui que, se são verdades

doutrinarias não-negociais em hipótese alguma podem ser substituídas.

Figura 18 – Cremos das Assembleias de Deus nos Estados Unidos.31

O “Cremos” assembleiano brasileiro foi construído com base nas

Declarações das “Verdades Fundamentais” aprovada pelo Conselho Geral das

Assembleias de Deus Reunido na cidade de Saint Louis nos Estados Unidos.

30<http://ifphc.org/DigitalPublications/USA/Assemblies%20of%20God%20USA/Minutes%20Gen

eral%20Council/Unregistered/1916/FPHC/1916.pdf>. Acesso em 16/12/15. 31http://ifphc.org/DigitalPublications/USA/Assemblies%20of%20God%20USA/Minutes%20General%20Council/Unregistered/1916/FPHC/1916.pdf

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Sua origem nas Assembleias de Deus no Brasil remota ao ano de 1938.

No Jornal Mensageiro da Paz nº 20 de 1938 foi publicado um artigo traduzido

pelo missionário norte-americano Theodoro Stohr sob o título: “Em que creem os

pentecostais”. As razões para a publicação do artigo segundo o Jornal

Mensageiro da Paz foram as constantes difamações e as concepções errôneas

acerca do movimento pentecostal. Segue o artigo na integra.

Figura 19 – Recorte do jornal Mensageiro da Paz de 1938.32

O artigo “Em que creem os pentecostais (no evangelho integral)” traduzido

pelo missionário norte-americano Theodoro Stohr mostra em um dos trechos o

qual transcreveremos abaixo que há uma normatividade interna que orientam

como devem ser os que tomam parte do corpo de Cristo no movimento

pentecostal assembleiano, e qual o posicionamento do movimento em relação

aos que se encontram desajustados com sua normatividade.

32 STOHR, Theodoro. Em que creem os pentecostais (no evangelho integral). Mensageiro da Paz, Rio de Janeiro, nº 20, p. 2, 1938.

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O Mensageiro da Paz nº 20 de 1938 diz:

Cremos na vida santa dos discípulos, (mesmo contemporâneos nossos). Não permitimos que tomem partes em nossos coros, orquestras, etc. aqueles que não tenham passado pela experiência viva do novo nascimento. Excluímos da comunhão (em absoluto) aqueles que sejam fumantes ou seja bebedor ou que frequente teatros, cinemas, bailes, jogos, e tantas misérias do mundo. (MENSAGEIRO, 1938, p.2)

O “Cremos” foi introduzido pela primeira vez no Jornal Mensageiro da Paz

de junho de 1969 e prossegue até os dias atuais como podemos constatar no

Mensageiro da Paz nº1.545 de 2014. A declaração de fé das Assembleias de

Deus no Brasil consta de 14 pontos doutrinários.

1. Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29). 2. Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão (2 Tm 3.14-17). 3. Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34 e At 1.9). 4. Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode restaurá-lo a Deus (Rm 3.23 e At 3.19). 5. Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus (Jo 3.3-8). 6. No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26 e Hb 7.25; 5.9). 7. No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6 e Cl 2.12). 8. Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através do poder regenerador, inspirador e santificador do Espírito Santo, que nos capacita a viver como fiéis testemunhas do poder de Cristo (Hb 9.14 e 1Pd 1.15). 9. No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7). 10. Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade (1 Co 12.1-12). 11. Na Segunda Vinda premilenial de Cristo, em duas fases distintas. Primeira - invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; segunda - visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (1Ts 4.16. 17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5 e Jd 14).12. Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo, para receber recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo na terra (2Co 5.10). 13. No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis (Ap 20.11-15). 14. E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tristeza e tormento para os infiéis Mt 25.46. (MENSAGEIRO, 2014, p.2)

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Nas pesquisa que fiz sobre o Cremos assembleiano e sua ligação com a

pureza da doutrina cristã pude perceber que o documento vai muito além de um

posicionamento doutrinário da igreja. Comparando com um Cremos

assembleiano francês publicado no Jornal Mensageiro da Paz de 1939 que

possui a mesma estrutura do Cremos assembleiano brasileiro se percebe que o

referido documento tem por finalidade combater o Modernismo, o Alto Criticismo,

a Teologia Nova e tudo que tenha a subverter a fé baseada em Jesus Cristo.

Nossa suspeita é que tal documento norteia a doutrina da qual os usos e

costumes faz parte. A pureza da doutrina cristã está em conservar as verdades

fundamentais estabelecidas no Cremos.

Segue o recorte do Jornal Mensageiro da Paz nº 7, p.5 de 1939 d referente

ao Cremos assembleiano francês.

Figura 20 – Recorte do Mensageiro da Paz de 1939.

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Se analisamos o conteúdo que estudamos até aqui referente aos usos e

costumes e consideramos que as Assembleias de Deus ficaram por um período

de tempo mergulhada no fanatismo compreenderemos claramente que os

assembleianos distanciaram de sua proposta doutrinária.

Muitos assembleianos por desconhecerem o conteúdo doutrinário de seu

“Cremos” vivem ao sabor de experiências místicas e supersticiosas estão cheios

de crendices e pontos de vista construídos em cima de “profecias”, “revelações”

e outros ensinamentos.

Segundo explica o pastor Soares, presidente da Comissão Especial que

trabalha o texto da Declaração de fé das Assembleias de Deus: “Este tipo de

documento (Cremos) são interpretações precisas e autorizadas das

Escrituras”33.

Curiosamente 46 anos depois da primeira publicação do Cremos no

Jornal Mensageiro da Paz em junho de 1969 ele em dezembro de 2015 passa

por uma revisão rigorosa para ser mais preciso em suas declarações de fé,

Segundo Soares o texto revisado será mantido como Verdades Centrais34.

As alterações e acréscimo do novo Cremos poderão ser observadas no

recorte que fizemos do Jornal Mensageiro da Paz de 2015 (figura 21). As

alterações do Cremos estão em itálicos na nova versão.

Comentando sobre as alterações no Cremos assembleiano Soares diz

que o tema “igreja” ficou como artigo 7, seguindo assim a lógica dos temas.

As declarações 13 e 14 do antigo texto do Cremos foram unificadas em um

só artigo de fé, de modo que foram mantidos os 14 artigos de fé. Vejamos

como ficou no novo Cremos das assembleias de Deus no Brasil.

33 SOARES, Ezequias. Revisão o Cremos: comentário e comparativo. Mensageiro da Paz, Rio de Janeiro, nº 1.567, p. 6, 2015. 34 Ibid, p. 6

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Figura 21 –Cremos das Assembleias de Deus.

A percepção que temos da mudança no Cremos é que os assembleianos

de 1969 possuíam grandes dificuldades em ordenar suas doutrinas, pois havia

muita confusão em distinguir o que era doutrina e usos e costumes.

O que me intrigou no teor destas mudança foi a retirada da

normatividade da fé (artigo 2) ficando apenas a Bíblia como única regra

infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão. Tal mudança é

significativa, pois liberta a fé das práticas da normatividade criadas por eles

mesmo a fim de balizar o caráter cristão dos assembleianos.

Muitas mudanças estão ocorrendo no meio assembleiano em uma

velocidade muito rápida, os desenvolvimentos das igrejas dos centros

urbanos estão adentrando as igrejas das periferias onde ainda existe um

discurso conservador, os usos e costumes assembleiano está se flexibilizando

a cada momento, muito breve o que se entende por conservadorismo só ficará

nos discursos saudoso de quem um dia passou por eles e que não pretende

mais voltar a tal prática.

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3.5 CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA: ATUALIZAÇÃO

CONTEPORANEA DA NORMATIVIDADE ASSEMBLEIANA

Nos dias 21 a 24 de abril de 2015, no centro de eventos do Estado do

Ceará, localizado na cidade de Fortaleza - CE, na avenida Washington Soares

nº 999 – Bairro Edson Queiroz reúne-se a CGADB em Assembleia Geral

Ordinária (42º AGO) para apreciar e delibera a proposta de Criação do Código

de Ética dos membros da CGADB.

O Código de Ética e Disciplina é algo novo no meio assembleiano, sua

aprovação se deu em um contexto de conflito e discursões. Entrevistando um

pastor do Ministério Belém que pediu me para não ser identificado, disse me

ele: “as convenções são verdadeiros cenários de guerra, briga por poder”.

Segundo este mesmo pastor, nos bastidores das convenções, alguns pastores

revelam-se em verdadeiros crentes “desconvertidos” sem nenhum princípio

cristão. Diante de tal contexto conflitante, um código de ética é de extrema

relevância.

Segundo o Relatório da 42ª Assembleia Geral Ordinária diz:

A Convenção Geral Das Assembleias de Deus no Brasil – CGADB, ao construir esse Código de Ética e Disciplina, baseou-se nos santos princípios esculpidos na Bíblia Sagrada, nas leis vigentes em nosso país e na moral especifica estabelecida e consagrada ao longo dos cem anos de existências das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus sediada em todo Brasil, Também serviram de inspiração os exemplos indeléveis legados pelos fundadores da Igreja, e de muitos homens de Deus que deram e dão suas vidas e renunciaram o bastante a fim de que o Evangelho de Jesus Cristo não sofresse escândalo ou danos. Por outro lado, não pode ser olvidado o ensino de Jesus Cristo que disse aos seus discípulos: “ Pois vos sois o sal da terra (...) Vós sois a luz do mundo”, Mt5:13-14 e “Pois, vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”, Mt5:20, o qual claramente indica a existências de um padrão ético especifico a ser praticado por seus “discípulos”, mormente por aqueles que foram por ele denominados de “apóstolos”, de modo a tornar-se um instrumento de Deus na terra, e merecedor da confiança e do respeito do povo de Deus e da sociedade como um todo, pelos atributos divinos indispensáveis ao exercício do ministério outorgado por Deus ao Ministro, com a dignidade pessoal referida pelo apóstolo Paulo na 1Tm3:2: “É necessário que o bispo seja irrepreensível”, o que resultará e, glorificação do sacrossanto Nome de Jesus Cristo. Inspirada nas razões acima exposta, é que a Assembleia Geral da CGADB, reunida em Fortaleza - CE, aprova e edita este Código, sendo obrigação de

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todos os seus associados, a estrita observância a seguir compiladas35.

Analisando as primeiras expressões do preambulo do “Código de Ética e

Disciplina” da CGADB percebemos em sua construção uma certa

complexidade, onde os princípios bíblicos são somados a uma moral

especifica estabelecida e consagrada ao longo dos cem anos de existência

da Igreja, esta moral consagrada também se soma com as diretrizes das leis

vigentes do nosso país.

Olhando este Código de Ética por um viés histórico assembleiano

entendemos pelo conteúdo estudado até aqui que todos os princípios

comportamentais dos assembleianos no início da igreja, eram regidos por

princípios doutrinários que a Palavra de Deus recomenda. Passando-se os

tempos surgem as Resoluções legitimando como sagrado o padrão

comportamental de vida e conduta assembleiana. Diante de tanta

complexidade, flexibilidade e mudança nas Resoluções, a moral consagrada

perde seu teor de sagrado.

Averiguando ainda o preambulo deste Código se tem a impressão de que

a igreja está sendo invadida por escândalos causados por suas lideranças,

cujos resultado tem causado muitos danos a igreja. Suspeitamos ser esta a

causa de a CGADB se posicionar formulando o Código de Ética e Disciplina

cuja observância tem um caráter obrigatório.

Transcreveremos doravante alguns trechos do Código de Ética e

Disciplina da CGADB que entendemos contribuir aqui para nossa análise.

No capitulo primeiro do Código de Ética e Disciplina da CGADB que

aborda os princípios éticos e essências do Ministro do Evangelho podemos

compreender quais os mecanismo normativos que ajudam a manter a

moralidade assembleiana. O artigo primeiro diz:

35 Relatório da 42ª ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA (AGO) UNIDOS EM CRISTO EDIFICANDO UMA FAMÍLIA MELHOR, abril 2015 Fortaleza – CE, p.46-56.

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Art. 1°. O desempenho das atividades inerentes aos santos ministérios outorgados por Deus aos obreiros exige conduta santa e irrepreensível compatível com os preceitos da Bíblia Sagrada a Santa Palavra de Deus, deste Código, do Credo, do Estatuto e do Regimento Interno da CGADB, bem como pelos demais princípios legais e morais em vigor em nosso país. Art. 2°. O Ministro do Evangelho, como instrumento instituído por Deus para cumprir os seus santos propósitos na terra, é defensor intransigente da Bíblia Sagrada como a santa Palavra de Deus, um propagador incansável dos princípios nela contidos, desempenhando as atividades ministeriais com desvelo, dignidade e respeito às normas bíblicas, legais e morais, com vista a glorificar ao Senhor Jesus Cristo.36

Dentro dessa amarração normativa composta pelo Credo, o Estatuto e o

Regimento Interno da CGADB, o Código de Ética e Disciplina, é que os usos e

costumes se mantem. Este desempenho ministerial segundo o artigo 8º do

Estatuto da CGADB tem por obrigação alguns deveres, entre eles de cumprir

as Resoluções diz o artigo 8º:

Art. 8º. São deveres dos membros da CGADB: I - cumprir o disposto neste Estatuto, bem como as Resoluções das Assembleias Gerais e da Mesa Diretora da Convenção Geral; II - obedecer ao credo doutrinário das Assembleias de Deus no Brasil, publicado no órgão oficial da CGADB – Mensageiro da Paz;37

Para evitar que aconteça nos dias atuais os abusos e fanatismo ocorridos

no passado da história assembleiana quanto a observação e cumprimento de

toda sua normatividade o Código de Ética e Disciplina fecha todas as rupturas

abertas e torna a amarrar a normatividade assembleiana. No segundo capítulo,

no artigo terceiro, diz o código que é dever dos Ministros do Evangelho

“esforçar-se permanentemente para adquirir conhecimentos bíblicos e

seculares, com a visão de um melhor desempenho ministerial”.

Os novos tempos assembleianos exigem que seus pastores se

atualizem. A compreensão e aplicação da normatividade assembleiana

depende dessa atualização ética e disciplinada pois, a igreja Assembleia de

36 Fonte: https://www.cgadb.org.br/index.php/estatuto 37 Fonte: https://www.cgadb.org.br/index.php/estatuto

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Deus já se encontra inserida no pós modernismo, um período desafiador para

se manter antigas tradições se utilizando de modelos e métodos de liderança

deixado pelos pioneiros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho refletiu e analisou as transformações socioculturais

dos usos e costumes na igreja Assembleia de Deus Ministério Belém em

Itapecerica da Serra. Procuramos localizar tais mudanças dentro de uma

conjuntura histórica assembleiana assinalada pelas transformações de ordem

social que ocorreram no Brasil do século XX.

As mudanças da igreja Assembleia de Deus, mais especificamente

falando do Ministério Belém, estão consideravelmente ligadas ao

antropocentrismo. As inovações indicam que se deseja uma nova igreja dentro

da igreja, “enfeites pentecostais” como, os retetés com seus múltiplos movimento

corporais ligados ao emocionalismo, corinhos de “fogo” com estilo musical de

forro, firulas repletas de ações excessivas e desnecessárias que desviam a

atenção do objeto principal do culto (o Evangelho) desviando a atenção do que

é mais importante, a conversão e salvação de alma para Cristo.

A igreja em estudo devido ao contato com outros “pentecostalismos” foi

se alterando e aderindo a rodopios, sapateados, palmas. Os movimentos do

corpo tomaram lugar do fervor espiritual assembleiano e passaram a caracterizar

o que atualmente eles entendem por avivamento.

Identificamos nesta igreja uma tendência a atualização de seus usos e

costumes devido a “liberação” de alguns líderes mais flexíveis, embora tais usos

e costumes não tenham sido liberados oficialmente, atualmente já podem ser

vistos entre os congregados desta igreja, algumas mulheres já usam calça

comprida, maquiagem, pintam as unhas com cores escuras e usam roupas sem

mangas, os homens já usam barbas, cavanhaques, cortes e estilos de cabelos

variados.

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Percebemos pelas pesquisas de campo feita na igreja Assembleia de

Deus Ministério Belém em Itapecerica da Serra no bairro Crispim um período de

ressignificação em seus usos e costumes que cresce a cada dia sigilosamente

diante do conservadorismo da igreja em estudo, são mudanças e alterações que

estão acontecendo gradativamente nos bastidores de uma igreja com discurso

conservador.

Esta pesquisa procurou tentar esclarecer e elucidar os usos e costumes

assembleianos, tirando a sua ilusória espiritualidade e mostrando o seu lado

social e puramente humano.

Procuramos mostra ao longo da pesquisa que tais costumes são

influência do culturalismo e catolicismo português, e que tais indumentárias

adotadas pelos assembleianos são figura simbólica de ascensão social.

Trabalhamos em muitas outras questões pertinentes e relevantes ao tema

usos e costumes. Nossa pretensão foi mostrar ao longo deste trabalho as razões

que permeiam as transformações socioculturais dos usos e costumes na igreja

Assembleia de Deus Ministério Belém em Itapecerica da Serra na região

conhecida como Crispim.

Como conclusão sintetizamos aqui algumas suspeitas que surgiram ao

longo deste trabalho, a primeira é que o conservadorismo da igreja em estudo

se deve a transmissão das antigas tradições feita pelos líderes mais antigo para

os mais jovens. Quanto as mudanças suspeitamos que elas ocorrem devido o

contato destes assembleianos com outros “pentecotismos”, mais também pela

transformação cultural e a urbanização qual é inevitável mesmo nas periferias.

Por se tratar de um assunto polêmico, gerador de várias discussões, esta

pesquisa procurou nortear um caminho para uma unidade que tem estado em

conflito. Nossa proposta consistiu na necessidade de em entender os usos e

costumes em seus contextos, compreendendo que eles estão presos por

significações profundas ao seu tempo e lugar, portanto, é de extrema relevância

aceitar as mudanças nos usos e costumes, viver com tais pluralidades sem

conflito, visto que, tais costumes como foi referido ao longo desta pesquisa são

sociais, regionais e temporais.

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Ao sincronizar nossas considerações articulando vários recortes de

análise feitas ao longo do trabalho, certamente que muitos pontos ficarão em

aberto, devido à impossibilidade de esgotar todos os assuntos nos limites de um

único trabalho.

Nas análises feitas sobre os usos e costumes pudemos avaliar que a

Assembleia de Deus Ministério Belém está mudando a cada dia seus usos e

costumes. Aos poucos as formas tradicionais de se apresentar como grupo de

padrões rígidos nos usos e costumes parece que pouco a pouco está dando ao

novos estereótipos pentecostais pós-modernos.

Ao olhar a igreja assembleia de Deus de hoje inserida em uma revolução

tecnológica com todo aparato de tecnologia moderna sendo usado livremente

não só por seus membros, mas também pela própria igrejas em seus cultos,

perguntamos: “Onde está aquele modelo de ortodoxia que combatia toda

espécie de mundanismo dentro e fora da igreja?”.

Apesar das resistências da Assembleia de Deus em conservar seus usos

e costumes, as mudanças estão ocorrendo e são inevitáveis, as tendências

culturais, estéticas e sociais da vida hodierna estão se inserindo na igreja a cada

dia.

Diante das mudanças sofridas pela Assembleia de Deus concernente aos

usos e costumes cabe os assembleianos cantarem o hino 453 da Harpa Cristã

de Emílio Conde com uma atualização: “Todos dizem: Mudado tudo hoje está”.

Perguntamos: “Onde está aquele modelo de ortodoxia que combatia toda

espécie de mundanismo dentro e fora da igreja?” resposta: Presos ao seu lugar

e ao seu tempo, amarrados com teias de significados simbólicos construídos na

psique do homem.

Nosso ensejo é que os resultados obtidos dessa investigação sirvam de

paradigmas para futuras pesquisas, e que nossa contribuição possa lançar luzes

para o surgimento de outros resultados que por sua vez, incitem cientificamente

o desenvolvimento de outras investigações com o intuito de entender e

compreender melhor e de forma mais clara a temática dos usos e costumes entre

os assembleianos.

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ANEXO A - ESTATUTO DA CGADB

ESTATUTO DA CONVENÇÃO GERAL DAS ASSEMBLÉIAS DE

DEUS NO BRASIL38

Aprovado na quarta Assembleia Geral Extraordinária da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, Registrado no Cartório Civil de Pessoas Jurídicas da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, sob nº 197.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, nós, legítimos representantes das Assembleias de Deus no Brasil, reunidos em Assembleia Geral Extraordinária na cidade de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, com poderes para reforma do Estatuto da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil e tendo em vista a paz, harmonia, disciplina, unidade e a edificação do povo de Deus, elaboramos, decretamos e promulgamos o seguinte Estatuto:

CAPÍTULO I

Do Nome, Natureza, Sede, Foro e Fins

Art. 1º. A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, neste Estatuto denominada por sua sigla CGADB, fundada em 1930 e registrada em 1946, pelos pastores Samuel Nystron, Cícero Canuto de Lima, Paulo Leivas Macalão, José Menezes, Nels Julius Nelson, Francisco Pereira do Nascimento, José Teixeira Rego, Orlando Spencer Boyer, Bruno Skolimowski, José Bezerra da Silva e outros, é uma entidade civil de natureza religiosa, com fins não econômicos, tendo por sigla CGADB, com duração por tempo indeterminado.

Art. 2º. A CGADB tem sua sede na Avenida Vicente de Carvalho, 1083, Rio de Janeiro - RJ. Onde tem o seu foro.

Art. 3º. São finalidades da CGADB:

I - manter e zelar pelo seu patrimônio;

II - promover a união e o intercâmbio das Assembleias de Deus no Brasil;

III - atuar no sentido da manutenção dos princípios morais e espirituais das Assembleias de Deus no Brasil;

IV - zelar pela observância da doutrina bíblica, incrementando estudos bíblicos e outros eventos;

38 Fonte: https://www.cgadb.org.br/index.php/estatuto

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V - manter o controle de seus órgãos, da Casa Publicadora das Assembleias de Deus – CPAD e das demais pessoas jurídicas existentes ou que venham a existir, quando necessário, propugnando pelo desenvolvimento dos mesmos;

VI - promover e incentivar a proclamação do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, através da obra missionária;

VII – promover o desenvolvimento espiritual e cultural das Assembleias de Deus, mantendo a unidade doutrinária;

VIII - promover a educação em todos os seus níveis e a assistência filantrópica;

IX - inscrever e credenciar como membros, os ministros das Assembleias de Deus no Brasil, exercendo ação disciplinar sobre os mesmos, conforme normas estabelecidas neste Estatuto e Regimento Interno;

X - orientar a prática da cidadania dos seus membros;

XI - reconhecer e inscrever as Convenções Estaduais ou Regionais da mesma fé e ordem.

CAPÍTULO II

Da Competência

Art. 4º. Compete à CGADB:

I - Cadastrar e registrar as Convenções Estaduais ou Regionais das Assembleias de Deus no Brasil;

II - Tratar de todos os assuntos que direta ou indiretamente digam respeito às Assembleias de Deus no Brasil, quando solicitada;

III - assegurar a liberdade de ação inerente a cada Igreja Assembleia de Deus no Brasil, na forma de sua constituição estatutária, sem limitar as suas atividades bíblicas acorde com este Estatuto, com absoluta imparcialidade;

IV - Julgar e decidir sobre quaisquer pendências existentes ou que venham a existir entre ministros ou Convenções Estaduais ou Regionais.

Parágrafo único. Consideram-se ações inerentes a cada Assembleia de Deus no Brasil:

a) a constituição e fins da Igreja;

b) a administração geral dos bens;

c) o disciplinamento dos membros;

d) a separação de presbíteros e diáconos;

e) a apresentação de candidatos a pastores e a evangelistas na respectiva Convenção Estadual ou Regional;

f) a movimentação de missionários;

g) a abertura e emancipação de congregações ou igrejas filiadas.

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CAPÍTULO III

Dos Membros, Direitos, Deveres e Penalidades

Art. 5º. São membros da CGADB, os ministros (pastores e evangelistas), devidamente ordenados, integrados e registrados na CGADB, como também os ministros jubilados, todos credenciados pela respectiva Convenção Estadual ou Regional.

§ 1º. A CGADB não reconhece a figura do evangelista ou pastor autorizado por qualquer Igreja ou Convenção Estadual ou Regional.

§ 2º. Os ministros das Assembleias de Deus, oriundos do exterior e domiciliado no Brasil, serão credenciados pela CGADB através de uma Convenção Estadual ou Regional.

§ 3º. Os convencionais da CGADB em dia com suas anuidades e Convenções Estaduais ou Regionais receberão a cada dois (2) anos novas credenciais.

§ 4º. Os Convencionais que não atenderem as condições do parágrafo acima, não terão suas credenciais renovadas.

Art. 6º. Nenhum membro responderá solidária ou subsidiariamente pelas obrigações da CGADB, porém a própria Convenção responderá com seus bens.

Art. 7º. São direitos dos membros da CGADB:

I - ter acesso às Assembleias Gerais Ordinárias ou Extraordinárias, atendido o disposto nos incisos III e IV do art. 8.º deste Estatuto;

II - indicar candidatos, votar e ser votado em Assembleia Geral, nas condições previstas neste Estatuto;

III - mudar de sua Convenção Estadual ou Regional para uma congênere, na forma do estabelecido na de origem, a qual comunicará a Convenção Geral;

IV - pedir o seu desligamento, com a anuência da Convenção Estadual ou Regional de origem, com a obrigatória devolução da credencial e a quitação de eventuais débitos na tesouraria da Convenção Geral.

Art. 8º. São deveres dos membros da CGADB:

I - cumprir o disposto neste Estatuto, bem como as Resoluções das Assembleias Gerais e da Mesa Diretora da Convenção Geral;

II - obedecer ao credo doutrinário das Assembleias de Deus no Brasil, publicado no órgão oficial da CGADB – Mensageiro da Paz;

III - contribuir pontual e regularmente com suas anuidades;

IV - pagar a taxa integral de inscrição, para participar de uma Assembleia Geral, ou no montante de 40%, quando abdicar da hospedagem e alimentação fornecidas pela CGADB, mesmo com participação parcial;

V - devolver a igreja que preside, com o respectivo patrimônio, à Convenção Estadual ou Regional, quando desejar mudar-se para outra congênere, desde que o referido patrimônio seja legalmente escriturado em nome da Convenção a

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que esteja filiado, devendo apresentar ata da Igreja e seu ministério autorizando sua transferência;

VI - entregar a congregação que esteja dirigindo, com o respectivo patrimônio, quando solicitado pela administração da igreja sede à qual esteja filiado, assumindo o ônus de débitos indevidamente contraídos na sua gestão;

VII - participar das Assembleias Gerais da CGADB.

Art. 9º. É vedado aos membros da CGADB:

I - abrir trabalhos em outra região eclesiástica e receber ministros ou membros de uma Assembleia de Deus no Brasil atingidos por medida disciplinar;

II - apoiar, em qualquer hipótese, trabalhos dissidentes por acaso existentes ou que venham a existir em qualquer região eclesiástica da mesma fé e ordem;

III - vincular-se a qualquer tipo de sociedade secreta;

IV - Vincular-se a movimento ecumênico;

V - vincular-se a mais de uma Convenção Estadual ou Regional;

VI - vincular-se a outra convenção nacional ou de caráter geral, com abrangência e prerrogativas da CGADB;

VII - exercer seu ministério isoladamente, sem vínculo a uma Convenção Estadual ou Regional;

VIII - exercer funções ministeriais, isoladas ou não, onde a Igreja ou Convenção Estadual ou Regional da qual se transferiu, mantenha atividades;

Descumprir as normas estatutárias, regimentais e demais resoluções da CGADB.

Art. 10. Perderão a condição de membros da CGADB os infratores do disposto no artigo 9.º deste Estatuto.

Art. 11. Fica impedido de ocupar cargo na CGADB, o membro que:

I - esteja cumprindo medida disciplinar aplicada pela Convenção Geral;

II - inadimplente com a CGADB e a Casa Publicadora das Assembleias de Deus;

III - ausente da Assembleia Geral, ressalvado motivo de força maior.

Parágrafo único. Diretores da CPAD são impedidos de ocupar cargos nos órgãos da CGADB.

Art. 12. É da competência da Mesa Diretora da CGADB, apreciar, julgar e aplicar, em primeira instância, as penalidades previstas no Regimento Interno da CGADB, ao infrator do disposto no art. 9º deste Estatuto, assegurando-lhe amplo direito de defesa e recurso à Assembleia Geral.

Art. 13. O recurso previsto no art. 12 deste Estatuto será exercido no prazo de quinze dias, contados da data do recebimento da notificação da decisão.

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CAPÍTULO IV

Das Convenções Estaduais ou Regionais

Art. 14. Convenção Estadual ou Regional é a primeira instância denominacional, reconhecida e registrada na CGADB, de acordo com os critérios seguintes:

I - consulta, por escrito, aprovada pelas Convenções existentes na respectiva região;

II - o mínimo de trezentos membros filiados;

III - a comprovação da necessidade de sua existência;

IV - parecer do Conselho Regional.

§ 1º. É dever de cada Convenção Estadual ou Regional:

I - Encaminhar via ofício, para arquivo na CGADB, cópia autenticada de seu Estatuto e Regimento Interno, atualizados;

II - cadastrar e registrar, obrigatoriamente, na CGADB os ministros devidamente ordenados;

III - não inscrever em seus quadros ministros inscritos em outra congênere;

IV - não acolher ou apoiar ministros excluídos;

V - encaminhar à Mesa Diretora da CGADB ofício e cópia autenticada da ata da Assembleia respectiva, contendo penalidades aplicadas ao seu membro, quando ocorrer, para homologação do ato, que será publicado na forma do inciso IV do artigo 39 deste Estatuto;

VI - atender as normas estatutárias e outras decisões da CGADB.

§ 2º. A Mesa Diretora da CGADB poderá solicitar cópia do processo de que trata o inciso V do parágrafo anterior, quando necessitar.

§ 3º. A não observância do presente artigo por uma Convenção Estadual ou Regional, ocasionará a suspensão do seu registro na CGADB até que atenda, comprovadamente, as normas previstas neste Estatuto.

CAPITULO V

Das Eleições

Art. 15. Ressalvados os impedimentos previstos no artigo 11 e outros constantes neste Estatuto e Regimento, qualquer membro poderá inscrever-se como candidato, a qualquer cargo da Mesa Diretora ou do Conselho Fiscal, mediante requerimento protocolado na Secretaria Geral da CGADB, até o último dia útil do mês de outubro do ano antecedente a data das eleições, observado o disposto neste artigo e o artigo 59 e seus parágrafos.

§ 1º. Será considerado eleito o candidato a Presidente que obtiver a maioria absoluta dos votos válidos, isto é, metade mais um, sendo que os demais cargos da Mesa serão preenchidos por maioria simples de votos.

§ 2º. Na hipótese de um segundo escrutínio, concorrerão apenas os dois candidatos a presidente que obtiverem mais votos.

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§ 3º. Havendo candidato único a eleição far-se-á por aclamação.

§ 4º. As cinco regiões geográficas serão representadas na Mesa Diretora, por um Vice-Presidente e um Secretário, com rodízio a cada mandato.

§ 5º. Para efeito do rodízio citado no parágrafo anterior, fica estabelecida a seguinte ordem regional:

I - Região Norte;

II - Região Nordeste;

III - região sudeste;

IV - Região Sul;

V - Região centro-oeste.

§ 6º. Os 1º e 2º Tesoureiros serão eleitos dentre os membros residentes na região onde estiver instalada a sede permanente da CGADB.

§ 7º. Os eleitos serão empossados pela Comissão Eleitoral, após a proclamação dos resultados, na última sessão da Assembleia Geral Ordinária.

Seção I

Da Votação

Art. 16. A votação e a totalização dos votos serão feitas por sistema eletrônico oficial, podendo o presidente da Comissão Eleitoral autorizar, em caráter excepcional, o uso da votação manual consoante regras fixadas neste Estatuto e Regimento.

Art. 17. Poderão votar pelo sistema eletrônico oficial ou manual, somente os convencionais registrados na CGADB até o último dia útil de setembro do ano que antecede as eleições e cujos nomes estiverem nas seções e respectivas folhas de votação previamente apresentadas pela Secretaria Geral.

Art. 18. Os convencionais portadores de necessidades especiais bem como os idosos têm preferência no exercício do voto.

Seção II

Das Nulidades

Art. 19. Na aplicação das regras eleitorais e estatutárias o presidente da Comissão Eleitoral atenderá sempre aos fins e resultados a que elas se dirigem, abstendo-se de pronunciar nulidades sem demonstração de prejuízo.

Parágrafo único. A declaração de nulidade não poderá ser requerida pela parte que lhe deu causa nem a ela aproveitar.

Art. 20. É nulo o voto:

I – Do convencional que utilizar falsa identidade;

II – Havendo coação ou uso de meios ilícitos.

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Seção III

Das Condutas Vedadas

Art. 21. São proibidas aos ministros, candidatos à eleição da Mesa Diretora e do Conselho Fiscal, após a aprovação e publicação do nome do candidato, as seguintes condutas:

I – Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita.

II – O pagamento de despesas com publicidade, transporte, alimentação, hospedagem, pagamento de taxa de inscrição e anuidade de convencionais subvencionados por qualquer candidato;

III – usar, direta ou indiretamente, bens, materiais, serviços ou pessoal da CGADB, dos seus órgãos e demais pessoas jurídicas vinculadas, com o objetivo de obter votos, ressalvadas as atribuições inerentes ao exercício do cargo.

Parágrafo único. É vedado pertencer à comissão eleitoral, os convencionais candidatos a cargos eletivos.

Seção IV

Da Propaganda Eleitoral

Art. 22. A propagação da candidatura aos cargos eletivos da Mesa Diretora e Conselho Fiscal da CGADB, somente é permitida após a aprovação e publicação do nome do candidato.

Art. 23. Não será tolerada propaganda ou divulgação de mensagem de candidato:

I - Que atribua a outro candidato falsamente fato definido como crime, fato ofensivo à sua reputação e ofensa a dignidade ou decoro;

II – Com a realização de programas pela mídia, cultos de ação de graças, congressos, convenções e inaugurações, divulgar, contratar cantores, bandas ou pregadores com o objetivo de, ao ensejo do evento, propagar o nome de candidato.

Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos artigos 21, 22 e 23, e seus incisos acarretará as seguintes sanções:

I – advertência escrita;

II – a invalidação do registro do candidato infrator;

III – a perda dos votos.

Art. 24. A representação deve relatar fatos, indicando provas, indícios e circunstâncias, sendo a convencional parte legítima para denunciar o infrator.

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CAPÍTULO VI

DOS ÓRGÃOS

Art. 25 - São órgãos da CGADB:

I - A Assembleia Geral;

II - A Mesa Diretora;

III - A Secretaria Geral;

IV - Os Conselhos;

V - As Comissões.

Art. 26. As deliberações dos órgãos da CGADB são tomadas pela maioria absoluta de votos dos membros presentes, à exceção da Assembleia Geral, conforme o previsto na Seção I deste Capítulo.

Art. 27. Nenhuma remuneração será concedida a qualquer membro de órgãos da CGADB pelo exercício de suas funções, ressalvado o disposto no art. 47, deste Estatuto.

Seção I

Da Assembleia Geral

Art. 28. A Assembleia Geral da CGADB, constituída de todos os membros no gozo de seus direitos na forma prevista neste Estatuto, é o órgão máximo e soberano de decisões, com poderes para resolver quaisquer negócios, decidir, aprovar, reprovar, ratificar ou retificar os atos de interesse da CGADB realizados por qualquer órgão da mesma ou de pessoa jurídica vinculada.

Parágrafo único. A Assembleia Geral pode ser Ordinária (AGO) ou Extraordinária (AGE).

Art. 29. A Assembleia Geral Ordinária reunir-se-á bienalmente, no mês de abril, na sede da CGADB ou em outro local adequado, a critério da Mesa Diretora.

Art. 30. A Assembleia Geral será convocada através de Edital publicado no órgão oficial da CGADB – Mensageiro da Paz, firmado pelo Presidente e afixado na sede social da mesma.

§ 1º. Sob pena de nulidade o edital de convocação conterá a data, horário, período e local de sua realização, bem como a pauta das matérias que serão objeto de apreciação da Assembleia Geral.

§ 2º. A convocação de que trata este artigo se fará até o último dia útil do mês de agosto que antecede a Assembleia Geral Ordinária e no prazo mínimo de 30 (trinta) dias para a Assembleia Geral Extraordinária.

Art. 31. A convocação de uma Assembleia Geral será feita na forma deste Estatuto ou por solicitação de um quinto dos membros da CGADB, através de memorial encaminhado à Mesa Diretora da CGADB com devido protocolo, contendo os nomes, as assinaturas, os números de identidade e de registro nesta Convenção, bem como o motivo da realização da mesma, sendo obrigatória a sua realização sob pena de responsabilidade do presidente.

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Art. 32. Compete à Assembleia Geral Ordinária:

I - Apreciar e deliberar sobre as contas e demonstrativos dos órgãos da CGADB e de suas pessoas jurídicas vinculadas, com pareceres prévios do Conselho Fiscal;

II - Eleger os membros da Mesa Diretora e do Conselho Fiscal;

III - Referendar os membros dos Conselhos Regionais e Administrativo da CPAD, indicados na forma deste Estatuto;

IV - Referendar os membros dos demais órgãos, indicados pelo Presidente da CGADB;

V - Homologar o cadastramento na CGADB de uma Convenção Estadual ou Regional reconhecida na forma deste Estatuto;

VI - Deliberar sobre recursos interpostos por qualquer membro da CGADB quanto à aplicação ou homologação de medida disciplinar pela Mesa Diretora ou Assembleia Extraordinária da Convenção Geral;

VII - Deliberar sobre assuntos doutrinários pertinentes à denominação Assembleias de Deus;

VIII - Deliberar quanto à manutenção e administração da CPAD e das demais pessoas jurídicas vinculadas e referendar a reforma de seus Estatutos, quando ocorrerem;

IX - Deliberar sobre proposições.

X – Julgar em segunda instância os recursos oriundos da Comissão Eleitoral.

Art. 33. Compete à Assembleia Geral Extraordinária:

I - Destituir e substituir qualquer membro da Mesa Diretora e do Conselho Fiscal da Convenção Geral;

II - Reformar este Estatuto;

III – apreciar e aprovar o Regimento Interno da CGADB;

IV - Permutar, alienar, autorizar gravame de ônus reais, dar em pagamento bens de propriedade da CGADB, bem como aceitar doação ou legado oneroso, mediante prévia manifestação da Mesa Diretora;

V - Anular o cadastramento e registro de uma Convenção Estadual ou Regional, quando necessário;

VI - Deliberar sobre assunto de interesse da CGADB omisso neste Estatuto;

VII - deliberar sobre a extinção da CGADB e a destinação dos bens remanescentes;

Art. 34. A Assembleia Geral Extraordinária para deliberar sobre matérias elencadas no artigo anterior, será instalada com maioria absoluta dos membros da CGADB, em primeira convocação ou, após quinze (15) minutos, em segunda chamada com qualquer número, sendo as propostas aprovadas por voto de dois terços (2/3) dos membros presentes.

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Art. 35. As matérias constantes no artigo 32 serão aprovadas por voto concorde da maioria simples dos membros presentes em uma Assembleia Geral, ressalvado o disposto no § 1º do artigo 15 deste Estatuto.

Art. 36. É vedado o acesso ao plenário da Assembleia Geral ao ministro, sob disciplina, aplicada por qualquer Igreja, Convenção Estadual ou Regional, homologada pela Mesa Diretora da CGADB, ou incurso no artigo 9º e incisos I e II, e do artigo 11 deste Estatuto.

Seção II

Da Mesa Diretora

Art. 37. A Mesa Diretora da Convenção Geral, a partir da próxima Assembleia Geral Ordinária, será eleita para um mandato de quatro anos, na penúltima sessão da Assembleia Geral Ordinária, nos termos do artigo 15 e seus parágrafos e compõe-se de:

I - Um Presidente;

II - cinco Vice-Presidentes;

III - cinco Secretários;

IV - dois Tesoureiros.

Parágrafo único. O Presidente e os Tesoureiros poderão ser reeleitos para um único período subsequente.

Art. 38. A Mesa Diretora reunir-se-á tantas vezes quantas forem necessárias, quando convocada pelo Presidente.

Art. 39. Compete à Mesa Diretora, em maioria absoluta dos membros:

I - Escolher o local, estabelecer a data, planejar a programação de uma Assembleia Geral e fixar a taxa de inscrição destinada a cobrir as despesas advindas com o evento;

II - Publicar o Edital de Convocação da Assembleia Geral na forma do artigo 30 e seus parágrafos;

III - proceder ao cadastramento e registro de Convenção Estadual ou Regional, quando for criada, desde que seu pedido de inscrição tenha parecer favorável do Conselho Regional, até seis meses antes da data da Assembleia Geral que homologará o ato, na forma deste Estatuto;

IV - Proceder, através de Resolução publicada no Boletim Reservado, a homologação de exclusão, desligamento ou reintegração de ministro feita por Convenção Estadual ou Regional;

V - Proceder a aplicação de medida disciplinar prevista neste Estatuto;

VI - Baixar Resoluções;

VII - encaminhar aos respectivos Conselhos Regionais os processos relacionados com a região, para exame e deliberação conforme preceitua o inciso II do art. 53 deste Estatuto;

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VIII - encaminhar à Comissão Jurídica os processos que necessitarem do respectivo parecer;

IX - divulgar os relatórios dos Conselhos Regionais, quando necessário;

X - nomear comissão para reforma do Estatuto da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, composta por sete membros, dentre os quais três integrantes do Conselho Administrativo da CPAD;

XI - nomear comissão para reforma do estatuto das pessoas jurídicas vinculadas;

XII - aprovar o orçamento programa anual e zelar pela aplicação dos recursos financeiros da Convenção Geral e das pessoas jurídicas vinculadas;

XIII - deliberar sobre a criação e ato constitutivo de pessoa jurídica vinculada à Convenção Geral;

XIV - prestar relatório de suas atividades à Assembleia Geral;

XV - contratar, quando solicitada pelo Conselho Fiscal, auditoria na CGADB ou nas pessoas jurídicas vinculadas, através de empresa especializada.

XVI – aprovar os regimentos internos dos órgãos da CGADB e das pessoas jurídicas vinculadas;

Art. 40. Compete ao Presidente:

I - representar a Convenção Geral, nos seus interesses, ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, podendo constituir procurador;

II - convocar e presidir as Assembleias Gerais e as reuniões da Mesa Diretora;

III - cumprir e fazer cumprir o Estatuto, o Regimento Interno e as Resoluções da Assembleia Geral e da Mesa Diretora;

IV - elaborar a Ordem do Dia com base no temário e nas propostas enviadas à Mesa Diretora, durante uma Assembleia Geral;

V - designar comissões temporárias ou especiais em Assembleia Geral e fora dela, para assuntos pertinentes, bem como destituí-las, total ou parcialmente, indicando os respectivos Presidentes;

VI - administrar com os demais membros da Mesa Diretora o fundo convencional, movimentando as contas bancárias com o 1º Tesoureiro, emitindo e assinando cheques com o mesmo;

VII - assinar o expediente da Convenção Geral;

VIII - participar, ex-officio, das reuniões dos órgãos da Convenção Geral e das pessoas jurídicas vinculadas;

IX - convocar o Conselho Consultivo, quando necessário.

X - indicar, quando for o caso, nome para preenchimento de cargo em vacância nos demais órgãos da Convenção Geral;

XI - contratar e demitir funcionários da Convenção Geral, dando ciência aos demais membros da Mesa Diretora.

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Art. 41. Compete aos Vice-Presidentes substituírem, pela ordem, o Presidente em suas ausências ou impedimentos ocasionais, sucedendo-o em caso de vacância.

Art. 42. Compete ao 1.º Secretário:

I - elaborar as atas das Assembleias Gerais e das reuniões da Mesa Diretora;

II - redigir os documentos oficiais da Convenção Geral;

III - assinar com o Presidente, nos casos que assim o exigir, correspondências e documentos da Convenção Geral e despachar com o mesmo os respectivos processos;

IV - encaminhar ordenadamente à Mesa Diretora, numa Assembleia Geral, os processos protocolados pelo Secretário Adjunto.

Art. 43. Compete aos demais Secretários substituírem, pela ordem, o 1.º Secretário, em seus impedimentos ou vacância, e cooperar nas atividades da Secretaria.

Art. 44. Compete ao 1º Tesoureiro:

I - receber e depositar, em conta bancária da CGADB, as contribuições a que se referem o artigo 85 e seus incisos, deste Estatuto;

II - elaborar o orçamento da Convenção Geral e movimentar com o Presidente o fundo convencional, inclusive contas bancárias, emitindo e assinando cheques com o mesmo;

III - elaborar o relatório financeiro e apresentá-lo trimestralmente ao Conselho Fiscal e bienalmente à Assembleia Geral Ordinária;

IV - recepcionar junto ao Secretário Adjunto, mensalmente, relatórios das receitas e despesas efetuadas com recursos da Convenção Geral;

V - informar à Mesa Diretora os inadimplentes com a Convenção Geral.

Art. 45. Compete aos 2.º Tesoureiro substituir o 1.º Tesoureiro em seus impedimentos ou vacância, e cooperar nas atividades da Tesouraria.

Seção III

Da Secretaria Geral

Art. 46. A Secretaria Geral é ocupada por um Secretário Adjunto, de livre escolha da Mesa Diretora e a ela subordinado, o qual dará expediente diário na sede da Convenção Geral.

Art. 47. O Secretário Adjunto, membro da Convenção Geral, será remunerado pelo fundo convencional.

Art. 48. São atribuições do Secretário Adjunto:

I - receber toda a matéria destinada à Convenção Geral, protocolar e encaminhá-la ao Presidente;

II - elaborar lista dos membros ativos e dos que se acharem sob penalidade prevista neste Estatuto;

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III - assessorar os órgãos da Convenção Geral, quando solicitado;

IV - cumprir determinações dos membros da Mesa Diretora, prestando respectivos relatórios e contas mensais.

Seção IV

Dos Conselhos

Art. 49. São Conselhos da Convenção Geral:

I - Conselho Consultivo;

II - Conselhos Regionais;

III - Conselho Administrativo da CPAD;

IV - Conselho Fiscal;

V - Conselho de Ética e Disciplina;

VI - Conselho de Educação e Cultura;

VII - Conselho de Doutrina;

VIII - Conselho de Ação Social;

IX - Conselho de Capelania;

X - Conselho de Comunicação e Imprensa;

XI - Conselho Político;

XII - Conselho de Missões.

§ 1º. O mandato dos membros dos Conselhos da CGADB coincide com o da Mesa Diretora, ressalvado o disposto no artigo 64, inciso I deste Estatuto.

§ 2º. As atribuições do Conselho de Ética e Disciplina estão inseridas no Capítulo VII do Regimento Interno da CGADB.

§ 3º. Ressalvados os citados nos incisos I, II, III e IV, constarão no Regimento Interno da CGADB as atribuições dos demais Conselhos constantes deste artigo.

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Subseção I

Do Conselho Consultivo

Art. 50. O Conselho Consultivo é composto de dez ministros, sendo dois de cada região, indicados ao Presidente da CGADB por concordância das respectivas Convenções Estaduais ou Regionais existentes nas regiões, durante o período da AGO e por esta referendados.

§ 1º. Os nomes serão escolhidos dentre os ministros de notória reputação, vivência exemplar e experiência capaz para o desempenho do cargo.

§ 2º. O Conselho Consultivo se reunirá por convocação e presença do Presidente da Convenção Geral, para tratar de assuntos complexos e de alta relevância, bem como da necessidade da realização de Assembleia Geral Extraordinária.

Subseção II

Dos Conselhos Regionais

Art. 51. Os Conselhos Regionais são compostos de um membro de cada Convenção Estadual ou Regional, respectivamente indicados ao Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

Parágrafo único. Os membros de cada Conselho Regional reunir-se-ão para escolher o Presidente, o Vice-Presidente, o Relator e os 1º e 2º Secretários.

Art. 52. Os Conselhos Regionais são assim denominados:

I - Região Norte: Conselho Regional Norte;

II - Região Nordeste: Conselho Regional Nordeste;

III - Região Sul: Conselho Regional Sul;

IV - Região Sudeste: Conselho Regional Sudeste;

V - Região Centro-Oeste: Conselho Regional Centro-Oeste.

Art. 53. Compete aos respectivos Conselhos Regionais:

I - promover a paz e a harmonia entre as Igrejas e ministros da região;

II - reunir-se sempre que necessário para apreciar os casos enviados pela Mesa Diretora, emitindo parecer;

III - encaminhar à Mesa Diretora relatório anual de suas atividades;

IV - acionar, através da Mesa Diretora, outro Conselho Regional e/ou a Comissão Jurídica, nos processos litigiosos, quando necessário;

V - quando solicitado pela Mesa Diretora, emitir parecer acompanhado de criteriosa análise, ocorrendo o pedido de cadastramento e registro de uma Convenção Estadual ou Regional;

VI - apresentar relatório à AGO.

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Parágrafo único. O parecer do Conselho Regional será encaminhado à Mesa Diretora para decisão.

Subseção III

Do Conselho Administrativo da CPAD

Art. 54. O Conselho Administrativo da CPAD é composto de onze membros e cinco suplentes indicados ao Presidente da CGADB pelo representante legal de cada Convenção Estadual ou Regional, em reunião especialmente convocada pelo Presidente da Convenção Geral durante o período da AGO e por esta referendados, sendo dois membros e um suplente de cada região, cabendo à região onde se encontra a sede da CPAD, três membros e um suplente.

§ 1º. O Conselho Administrativo elegerá dentre os seus membros a sua diretoria, composta do Presidente, 1.º e 2.º Vice-Presidentes, 1.º e 2.º Secretários, empossados imediatamente.

§ 2º. O Conselho Administrativo reunir-se-á uma vez por ano ou extraordinariamente quando necessário, na sede da CPAD, por convocação do seu Presidente.

Art. 55. São conselheiros vitalícios, não excedendo de cinco membros e com as mesmas prerrogativas dos demais conselheiros, os ministros indicados pelo Presidente da CGADB durante o período de uma AGO e por esta referendados.

Art. 56. Compete ao Conselho Administrativo:

I - zelar pelo patrimônio moral e material da CPAD e intervir em juízo e fora dele, quando necessário, nos casos que transcendem a competência do Diretor Executivo;

II - examinar o relatório do Diretor Executivo da CPAD;

III - assegurar ao Diretor Executivo da CPAD plenas condições para o exercício de suas atribuições, nos termos do Estatuto, do Regimento Interno e das normas administrativas da CPAD;

IV - constituir comissão para apurar denúncias devidamente fundamentadas sobre os membros do Conselho Administrativo ou do Diretor Executivo da CPAD;

V - elaborar o Regimento Interno da CPAD e submetê-lo à aprovação pela Mesa Diretora da Convenção Geral;

VI - responder, perante Assembleia Geral da CGADB, por seus atos administrativos;

apresentar relatório à AGO.

VII – apresentar relatório à AGO.

Art. 57. A Diretoria do Conselho Administrativo, eleita conforme o §1° do artigo 54 deste Estatuto, reunir-se-á ordinariamente duas vezes por ano ou extraordinariamente tantas vezes quanto necessárias, mediante convocação do seu Presidente.

Art. 58. Compete à Diretoria do Conselho Administrativo:

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I - proceder à análise e o prévio exame dos relatórios do Diretor Executivo da CPAD, submetendo-os ao Conselho Administrativo;

II - analisar a previsão orçamentária da CPAD, submetendo-a ao Conselho Administrativo;

III - elaborar, supervisionar e encaminhar para a execução, planos administrativos;

IV - nomear o Diretor Executivo da CPAD, com prévia análise de currículo, bem como demiti-lo.

Parágrafo único. As decisões do Conselho Administrativo e do Diretor Executivo da CPAD serão submetidas à apreciação da Mesa Diretora da Convenção Geral.

Subseção IV

Do Conselho Fiscal

Art. 59. O Conselho Fiscal, eleito conforme inciso II do artigo 32, e o Capitulo VI deste Estatuto, é composto de cinco membros efetivos e cinco suplentes, sendo um membro efetivo e um suplente de cada região geográfica, capacitados para fiscalizar as finanças da Convenção Geral, dos seus órgãos e das pessoas jurídicas vinculadas.

§ 1°. Pelo menos três dos candidatos eleitos ao Conselho Fiscal, deverão ter comprovada qualificação técnica para a função a ser exercida, cuja aferição fica a cargo da secretaria da Convenção Geral.

§ 2°. Serão eleitos titulares e suplentes, o primeiro e segundo candidatos mais votados por respectiva região geográfica.

Art. 60. Compete ao Conselho Fiscal:

I - eleger dentre seus membros o Presidente, o Vice-Presidente, o Secretário e o Relator;

II - reunir-se trimestralmente, ou quantas vezes forem necessárias, para exercer suas funções, apresentando relatórios à Mesa Diretora da Convenção Geral;

III - examinar e emitir pareceres ou relatórios circunstanciados a Assembleia Geral de toda a movimentação financeira da Convenção Geral, dos seus órgãos, e das pessoas jurídicas vinculadas, opinando pela aprovação ou rejeição das suas respectivas contas;

IV - assessorar-se de comissão técnica, em casos específicos, quando necessários;

V - solicitar auditoria à Mesa Diretora, quando julgar necessário;

VI - comparecer, quando solicitado, às reuniões da Mesa Diretora da Convenção Geral, para esclarecimentos.

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Subseção V

Do Conselho de Ética e Disciplina

Art. 61. O Conselho de Ética e Disciplina é o órgão da Convenção Geral responsável pela análise, processamento e emissão de pareceres nas representações que contenham acusações contra membro da Convenção Geral, na forma deste Estatuto.

Art. 62. O Conselho de Ética e Disciplina é composto de onze membros, sendo dois de cada região e três da Região Sudeste, indicados pelo Presidente da CGADB durante uma AGO e por esta referendados.

§1º. Os componentes do Conselho de Ética e Disciplina serão ministros de notória reputação e experiência tendo pelo menos um, formação jurídica adequada.

§ 2º. O Conselho de Ética e Disciplina elegerá dentre os seus membros o Presidente, 1º e 2º Vice-Presidentes, 1º e 2º Secretários, com posse imediatamente.

§ 3º. A atuação do Conselho de Ética e Disciplina está inserida no Capítulo XI e artigos 122 ao 135 do RI.

Subseção VI

Do Conselho de Educação e Cultura

Art. 63. O Conselho de Educação e Cultura, tendo por sigla CEC, é órgão normativo e organizacional da educação em todos os níveis, com a função de reconhecer e registrar Escola, Seminário, Instituto, Faculdade Integrada e Universidade Teológica e Secular, baseando na educação teológica um programa educativo com observância da doutrina professada pelas Assembleias de Deus no Brasil, devendo os cursos seculares obedecerem as normas estabelecidas pela LDB - Lei de Diretrizes e Bases do Ministério da Educação e Cultura – MEC.

Art. 64. O CEC é composto de onze membros, sendo dois de cada região e três da região sudeste, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados, dentre os nomes com qualificação, capacitação, experiência, reconhecido valor e com títulos de notório saber.

I - a cada biênio poderão ser substituídos até 50% dos membros;

II - o conselheiro quando convocado deixar de comparecer consecutivamente a duas reuniões, sem a devida justificativa por escrito, perderá seu mandato, sendo substituído por indicação da Mesa Diretora da CGADB.

Parágrafo único. O CEC indicará uma secretaria nacional de assessoramento pedagógico, composta de sete membros, sendo um de cada região, e três da região sudeste, referendados pela Mesa Diretora.

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Subseção VII

Do Conselho de Doutrina

Art. 65. O Conselho de Doutrina é composto de onze membros, sendo dois de cada região e três da região onde estiver a sede da CPAD, escolhidos dentre ministros de notório conhecimento doutrinário e conteúdo bíblico que representem o pensamento das Assembleias de Deus no Brasil, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

§ 1º. O Conselho de Doutrina poderá ser distribuído em três turmas, a critério do seu Presidente, cabendo a cada conselheiro emitir parecer, por escrito, nos assuntos pertinentes, remetendo-os ao Presidente deste Conselho.

§ 2º. Os membros do Conselho de Doutrina examinarão os textos de obras encaminhadas pelo gerente de publicação da CPAD, devolvendo-as no prazo entre quinze e sessenta dias, prorrogáveis por igual período, se necessário.

Subseção VIII

Do Conselho de Ação Social

Art. 66. O Conselho de Ação Social é órgão normativo da CGADB, com a responsabilidade de estabelecer as diretrizes mestras da ação social em seus diferentes níveis, inspirados nos princípios fundamentais da bíblia sagrada e de conformidade com as exigências legais.

Art. 67. O Conselho de Ação Social é composto de onze membros, sendo dois de cada região e três da região Sudeste, dentre ministros de notável experiência em matéria de ação social, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

Subseção IX

Do Conselho de Capelania

Art. 68. O Conselho de Capelania é o órgão normativo da Convenção Geral para estabelecer as diretrizes mestras da capelania em seus diferentes níveis, inspirados nos princípios fundamentais da bíblia sagrada e de conformidade com as exigências legais.

Art. 69. O Conselho de Capelania será composto de vinte e sete membros, sendo um de cada Estado e um do Distrito Federal, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

Subseção X

Do Conselho de Comunicação e Imprensa

Art. 70. O Conselho de Comunicação e Imprensa é composto de quinze membros com reconhecido saber na área de comunicação, sendo três titulares e um suplente de cada região, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

Parágrafo único. O Conselho de Comunicação e Imprensa terá um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário e um Relator, escolhidos dentre os seus membros.

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Subseção XI

Do Conselho Político

Art. 71. O Conselho Político, órgão da Convenção Geral para assuntos de natureza política é composto de quatro membros, sendo um Presidente, um Vice-Presidente, um Relator e um Secretário, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

§ 1º. O Conselho Político reunir-se-á uma vez por ano, ou sempre que houver necessidade, para discutir assuntos de alta relevância política, convocado pelo seu Presidente.

§ 2º. É vedada a nomeação de parlamentar ou funcionário público comissionado nesta comissão.

§ 3º. Cada Convenção Estadual ou Regional indicará um representante para atuar junto ao Conselho Político.

Subseção XII

Do Conselho de Missões

Art. 72. O Conselho de Missões é o órgão normativo da Convenção Geral, com finalidade de estabelecer normas e filosofia de missões, inspirado no “ide” imperativo de Cristo e de acordo com a visão missionária das Assembleias de Deus no Brasil.

Art. 73. O Conselho de Missões será composto de vinte e sete membros, sendo um de cada Estado e um do Distrito Federal, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

Seção V

Das Comissões

Art. 74. As Comissões da Convenção Geral são:

I - permanentes, conforme inciso V, do artigo 25, deste Estatuto;

II - temporárias extintas quando preencherem o fim a que se destinam;

III - especiais constituídas para uma missão específica.

Art. 75. São Comissões Permanentes:

I - a Comissão de Temário;

II - a Comissão Jurídica;

III - a Comissão de Relações Públicas;

IV - a Comissão de Apologética;

V - a Comissão de Plano Estratégico de Evangelismo e Discipulado.

VI – a Comissão Eleitoral.

§ 1º. O mandato dos membros das Comissões permanentes da Convenção Geral coincide com a da Mesa Diretora.

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§ 2º. Ressalvada a Comissão citada no inciso III, constarão no Regimento Interno da Convenção Geral, as atribuições das demais constantes deste artigo.

Subseção I

Da Comissão de Temário

Art. 76. A Comissão de Temário é composta de onze membros, sendo dois de cada região e três da região Sudeste, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

Parágrafo único. A Comissão de Temário terá um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário e um Relator escolhidos dentre os seus membros.

Subseção II

Da Comissão Jurídica

Art. 77. A Comissão Jurídica, órgão de consultoria da Convenção Geral, é composta de cinco membros, bacharéis habilitados em direito, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

Parágrafo único. A Comissão Jurídica terá um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário e um Relator escolhidos dentre os seus membros.

Subseção III

Da Comissão de Relações Públicas

Art. 78. A Comissão de Relações Públicas é composta de vinte e um membros e cinco suplentes, sendo cinco titulares e um suplente da região Sudeste e quatro titulares e um suplente de cada uma das demais regiões, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período de uma AGO e por esta referendados.

Art. 79. A Comissão de Relações Públicas terá um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário e um Relator, escolhidos dentre os seus membros, cabendo-lhe atuar nos assuntos pertinentes, determinados pelo Presidente da Convenção Geral.

Subseção IV

Da Comissão de Apologética

Art. 80. A Comissão de Apologética é composta de onze membros, sendo três da região sudeste, e dois das demais regiões, escolhidos dentre os ministros de notável conhecimento bíblico e apologético que representem o pensamento das Assembleias de Deus no Brasil, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

Parágrafo único. A Comissão de Apologética terá um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário e um Relator, escolhidos dentre os seus membros.

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Subseção V

Da Comissão de Plano Estratégico de Evangelismo e Discipulado

Art. 81. A Comissão de Plano Estratégico de Evangelismo e Discipulado é composta de 27 membros, ministros envolvidos com evangelismo e discipulado, sendo um de cada Estado e um do Distrito Federal, indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados.

Parágrafo único. A Comissão de Plano Estratégico de Evangelismo e Discipulado terá um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário e um Relator, escolhidos dentre os seus membros.

Subseção VI

Da Comissão Eleitoral e Suas Atribuições

Art. 82. A Comissão Eleitoral será composta por cinco membros efetivos e cinco suplentes com reconhecida aptidão para a função.

§ 1º Cada Convenção encaminhará à Mesa Diretora um candidato indicado a qual examinará se o mesmo reúne as condições para a função, procedendo à escolha através de sorteio de um titular e um suplente de cada região geográfica.

§ 2º. A Comissão Eleitoral terá um Presidente, um vice-presidente, um secretário e um relator, escolhidos dentre os seus membros.

Art. 83. Compete à Comissão Eleitoral:

I - organizar, fiscalizar, presidir todo o processo eletivo, apurar, totalizar os votos, proclamar o resultado da eleição e dar posse aos eleitos;

II - verificar a regularidade, o cumprimento dos prazos, dos documentos exigidos para inscrição dos candidatos;

III - receber até 20 (vinte) dias do encerramento do prazo do artigo 17, a lista de convencionais credenciados e aptos a votar, encaminhada pela Secretaria Geral da CGADB.

IV – receber até 15 (quinze) dias após o encerramento das inscrições para a Assembleia Geral, a lista dos inscritos;

V – afixar na sede da CGADB e disponibilizar até 5(cinco) dias do recebimento, por via eletrônica para consulta, as listas de que tratam os incisos III e IV;

VI- analisar e julgar os pedidos de registro e impugnação de candidaturas de que tratam os artigos 15, 21, 22, 23 e 59, no prazo de 5 (cinco) dias do recebimento da Comissão Jurídica.

Parágrafo único - Das decisões da comissão eleitoral caberá pedido de reconsideração em 5 dias à mesma e desta ao plenário da Assembleia Geral no mesmo prazo da manutenção da decisão, a qual decidirá na primeira sessão.

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Seção VI

Da Secretaria Nacional de Missões

Art. 84. A Secretaria Nacional de Missões, tendo como sigla SENAMI, é composta de três membros indicados pelo Presidente da CGADB durante o período da AGO e por esta referendados, cuja atividade é a orientação da obra missionária das Assembleias de Deus no Brasil, em todos os níveis, conforme princípios da bíblia sagrada, para a evangelização dos povos.

§ 1º. Os cargos que integram a SENAMI são:

I - o Secretário Executivo;

II - o Secretário de Planejamento;

III - o Secretário de Administração.

§ 2º. O mandato dos membros da SENAMI coincide com o da Mesa Diretora.

§ 3º. A SENAMI será apoiada pelo Conselho de Missões da Convenção Geral.

§ 4º. A Escola de Missões da Assembleia de Deus – EMAD, é pessoa jurídica vinculada, sob a direção da SENAMI.

§ 5º. As atribuições da Secretaria Nacional de Missões constarão do Regimento Interno da Convenção Geral.

CAPÍTULO VI

Do Patrimônio

Art. 85. A Convenção Geral tem por patrimônio seus edifícios, a sede da Casa Publicadora das Assembleias de Deus – CPAD, suas publicações e quaisquer outros bens havidos e por haver.

§ 1º. Nenhum bem móvel ou imóvel da Convenção Geral poderá ser vendido, alienado ou envolvido em qualquer negociação, sem a prévia autorização da Assembleia Geral, ressalvado o parágrafo seguinte.

§ 2º. Qualquer bem móvel da Convenção Geral que não exceder o valor de mil salários mínimos vigentes no país poderá ser alienado pela Mesa Diretora da Convenção Geral, que dará ciência à Assembleia Geral.

Art. 86. O fundo convencional, destinado a prover as despesas dos órgãos da Convenção Geral, a critério da Mesa Diretora, constitui-se de:

I - contribuições das Convenções Estaduais ou Regionais, Igrejas, anuidades dos ministros e outras;

II - 25% da taxa de inscrição para ingresso em Assembleias Gerais, quando realizadas sob a organização de uma igreja hospedeira;

III - taxas de expediente cobradas pela Secretaria Geral e outras que forem criadas;

IV - repasse mensal de 3% (três por cento) do faturamento bruto da CPAD, para manutenção da Mesa Diretora e demais órgãos da Convenção Geral;

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V - outras receitas, quando ocorrerem.

Parágrafo único. Os componentes dos órgãos da Convenção Geral, ressalvados os do Conselho Administrativo da CPAD e do Conselho Fiscal, terão o pagamento ou o ressarcimento das despesas, previamente autorizadas pela Mesa Diretora da CGADB, quando em função.

CAPITULO VII

Disposições Gerais e Transitórias

Art. 87. Ficam assegurados os direitos deste Estatuto às Convenções Estaduais ou Regionais já reconhecidas e cadastradas por Resolução da Mesa Diretora da CGADB.

Art. 88. O Mensageiro da Paz é o órgão oficial de divulgação da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil.

Art. 89. A Convenção Geral será representada pela bandeira oficial das Assembleias de Deus no Brasil que é um símbolo da denominação com as seguintes características:

I - fundo branco em forma de círculo simbolizando a pureza;

II - ao centro a letra “A” em forma de peixe;

III - a letra “D” em forma de chama, simbolizando o fogo pentecostal.

Parágrafo único. As letras formam um ramo, indicando crescimento, sendo entrelaçadas, representando a Assembleia dos santos.

Art. 90. O hino de nº 144 da Harpa Cristã - Vem a Assembleia dos Santos – símbolo da denominação, fica estabelecido como Hino Oficial da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, tocado e entoado sempre que for hasteada a bandeira oficial da Convenção Geral.

Art. 91. O uso da bandeira e do hino oficial da Convenção Geral será regulado no Regimento Interno da CGADB.

Art. 92. A Convenção Geral reconhece a União Nacional das Esposas dos Ministros, com a sigla UNEMAD, como departamento funcional de senhoras, no período dos Encontros de Líderes das Assembleias de Deus – ELAD e das Assembleias Gerais.

Art. 93. A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, somente poderá ser dissolvida pelo voto de dois terços de seus membros presentes a duas Assembleias Gerais, especificamente convocadas para esse fim.

Art. 94. A Assembleia Geral que resolver sobre a dissolução da Convenção Geral, destinará o remanescente do seu patrimônio líquido, em partes iguais, às Convenções Estaduais ou Regionais, existentes, cadastradas e registradas na CGADB.

Art. 95. Este Estatuto poderá ser reformado pela Assembleia Geral Extraordinária nos termos do inciso II, do artigo 33, e do artigo 34.

Art. 96. Os casos omissos neste Estatuto serão resolvidos em Assembleia Geral.

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Art. 97. O presente Estatuto entrará em vigor imediatamente após sua aprovação em Assembleia Geral e Registro em Cartório, revogando-se as disposições em contrário.

Porto Alegre, 28 de fevereiro de 2007.

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ANEXO B - CÓGIDO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA CGADB

CÓGIDO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA CGADB39

PREAMBULO

A Convenção Geral Das Assembleias de Deus no Brasil – CGADB, ao construir esse Código de Ética e Disciplina, baseou-se nos santos princípios esculpidos na Bíblia Sagrada, nas leis vigentes em nosso país e na moral especifica estabelecida e consagrada ao longo dos cem anos de existências das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus sediada em todo Brasil, Também serviram de inspiração os exemplos indeléveis legados pelos fundadores da Igreja, e de muitos homens de Deus que deram e dão suas vidas e renunciaram o bastante a fim de que o Evangelho de Jesus Cristo não sofresse escândalo ou danos.

Por outro lado, não pode ser olvidado o ensino de Jesus Cristo que disse aos seus discípulos: “ Pois vos sois o sal da terra (...) Vós sois a luz do mundo”, Mt5:13-14 e “Pois, vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”, Mt5:20, o qual claramente indica a existências de um padrão ético especifico a ser praticado por seus “discípulos”, mormente por aqueles que foram por ele denominados de “apóstolos”, de modo a tornar-se um instrumento de Deus na terra, e merecedor da confiança e do respeito do povo de Deus e da sociedade como um todo, pelos atributos divinos indispensáveis ao exercício do ministério outorgado por Deus ao Ministro, com a dignidade pessoal referida pelo apóstolo Paulo na 1Tm3:2: “É necessário que o bispo seja irrepreensível”, o que resultará e, glorificação do sacrossanto Nome de Jesus Cristo.

Inspirada nas razões acima exposta, é que a Assembleia Geral da CGADB, reunida em Fortaleza - CE, aprova e edita este Código, sendo obrigação de todos os seus associados, a estrita observância a seguir compiladas.

39 Fonte: Relatório da 42ª ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA (AGO) UNIDOS EM CRISTO EDIFICANDO UMA FAMÍLIA MELHOR, abril 2015 Fortaleza – CE p.46-56.

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CAPÍTULO 1

DA ÉTICA DO MINISTRO DO EVANGELHO

DOS PRINCIPIOS ESSENCIAIS

Art. 1°. O desempenho das atividades inerentes aos santos ministérios outorgados por Deus aos obreiros exige conduta santa e irrepreensível compatível com os preceitos da Bíblia Sagrada a Santa Palavra de Deus, deste Código, do Credo, do Estatuto e do Regimento Interno da CGADB, bem como pelos demais princípios legais e morais em vigor em nosso país.

Art. 2°. O Ministro do Evangelho, como instrumento instituído por Deus para cumprir os seus santos propósitos na terra, é defensor intransigente da Bíblia Sagrada como a santa Palavra de Deus, um propagador incansável dos princípios nela contidos, desempenhando as atividades ministeriais com desvelo, dignidade e respeito às normas bíblicas, legais e morais, com vista a glorificar ao Senhor Jesus Cristo.

CAPÍTULO II

DOS DEVERES FUNDAMENTAIS

Art. 3°. São deveres do Ministro do Evangelho:

— lutar incansavelmente para ter uma conduta santa e irrepreensível, livre de escândalos, tendo em vista a sua condição de paradigma para as ovelhas de Deus que estão sob seus cuidados ministeriais, conforme prescrito na carta do apóstolo Paulo a Tito, 2.7;

II - ser destemido, exercendo seu ministério sem submissão a interesses humanos e materiais, com honestidade, decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-fé;

III - velar por sua reputação pessoal, mantendo uma vida pessoal e familiar organizada, tratando esposa e filhos com a dignidade e respeito devido, à luz do disposto em 1 Timóteo 3, servindo sempre de exemplo dos fiéis;

IV - esforçar-se permanentemente para adquirir conhecimentos bíblicos e seculares, com a visão de um melhor desempenho ministerial;

V - contribuir para o crescimento do reino de Deus, esforçando-se para que haja plena difusão da mensagem do evangelho e dos ensinos de Cristo;

VI - estimular a unidade espiritual da igreja, em nada contribuindo para a discórdia, divisão e separação na igreja;

VII - abster-se de:

a) utilizar de seu prestígio pessoal em benefício próprio, inclusive da prática da usura;

b) exercer atividades seculares que obstaculem o exercício do ministério;

c) apropriar-se dos bens da igreja ou de terceiros, em razão do exercício do ministério;

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d) cooperar ou ajudar qualquer pessoa ou grupo de pessoas em empreendimentos, atitudes ou condutas que firam princípios bíblicos, morais, legais e que maculem a ética, a moral, a honestidade e a dignidade da pessoa humana;

e) envolver-se pessoalmente nos problemas dos assistidos, agindo como parte interessada em litígios entre membros da igreja, evitando estar a sós com pessoas do sexo contrário, para que não surja no seio da comunidade alguma dúvida quanto a honra e conduta.

VIII — prestar contas da sua administração à igreja ou de qualquer outra entidade da qual faça parte e exerça função de guarda de bens e valores;

IX - respeitar e cumprir as decisões do órgão convencional e da igreja dos quais faça parte como membro, quando conformes com a lei, a moral e a Bíblia Sagrada.

X - Guardar segredo ministerial, resguardando a privacidade das pessoas que sejam ou não membros da igreja que pastoreia;

Xl - Velar pela harmonia entre os colegas de ministério;

XII — Evitar situações que envolvam membros de sua família, especialmente se tiver algum cargo ou função decisória;

XIII - Não Faltar com o decoro, durante suas atividades convencionais, sempre agindo de modo equilibrado, seja na igreja, seja na sua vida privada;

XIV - Não dar publicidade a terceiros dos casos em que tenha conhecimento em razão de suas atividades ministeriais, inclusive de aconselhamento, mesmo omitindo os nomes;

XV - Não utilizar palavras torpes e inadequadas durante a pregação, em palestras ou no trato com o público;

XVI - Atuar com imparcialidade em todos os aspectos de suas atividades ministeriais, no âmbito da denominação, não ultrapassando os limites de suas atribuições e competência, quando no exercício dos cargos eclesiásticos;

XVII- Evitar e se abster de participar em demandas judiciais contra irmãos na fé, colegas de ministério, igrejas, entidades eclesiásticas ou qualquer órgão convencional, na forma prescrita em 1 Cor. 6.1-11;

XVIII - Envolver-se nos negócios particulares dos membros da igreja, não devendo receber qualquer valor como recompensa ou presentes que possam ser tidos como suborno.

XIX - Servir-se de sua posição hierárquica para obrigar subordinados a efetuar atos em desacordo com a ei, com este código e com princípios éticos bíblicos.

Art. 4°. O Ministro deve exercer o ministério com a consciência de que o exerce como vocação divina e nunca como profissão, mediante o voto de servir a Deus e a sua causa na terra, com a visão de que não é empregado e que o sustento a si destinado pela igreja é sagrado mantendo a sua liberdade e independência espirituais.

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Art. 5°. O Ministro quando vinculado a uma igreja e Ministério e exerça atividades vinculadas da igreja como organização, deve fazê-lo com liberalidade.

CAPÍTULO III

DO RELACIONAMENTO MINISTERIAL

Art. 6°. Deve o Ministro, ao se relacionar com os demais companheiros de ministério e obreiros em geral tratá-los com dignidade respeito, e amor cristão, não fazendo acepção de pessoas.

Art. 7°. Não deve produzir ou reproduzir comentários desairosos contra qualquer companheiro de ministério, principalmente aqueles que atentem contra a dignidade, a honra e a imagem pessoal.

Art. 8°. Em reunião de órgãos colegiados deve o Ministro observar as normas de funcionamento destes, notadamente as regras parlamentares aplicáveis, tais como aguardar a autorização para se manifestar e ou apartear algum orador, tempo do uso da palavra, replicar, etc.

Art. 9°. Nunca deve utilizar a oportunidade concedida em reunião de órgãos colegiados ou espaços em programas de rádio e televisão, ou através de qualquer meio de comunicação, para acusar quem quer que seja de práticas pecaminosas ou qualquer outra atentatória contra a dignidade, a honra e a imagem pessoal de companheiro, principalmente na ausência do ofendido, especialmente se não for concedido ao ofendido o direito de defender-se.

CAPÍTULO IV

DAS PENALIDADES DO PROCESSO DISCIPLINAR

Art. 10. O membro da CGADB está sujeito as seguintes penas disciplinares, previstas nos artigos 128 a 132 do Regimento Interno da CGADB:

— Advertência;

II - Suspensão;

III — Desligamento.

Parágrafo único. As penas disciplinares previstas neste artigo serão aplicadas de acordo com o princípio da proporcionalidade, de acordo com a gravidade da falta cometida.

Art. II. Será aplicada a pena de advertência ao membro que:

— Estiver inadimplente com suas contribuições estatutárias;

II - Quando convocado não comparecer sem prévia justificação a três reuniões sucessivas da Assembleia Geral;

III - Quando convocado, não comparecer sem motivo justo, para outras reuniões ou audiências no âmbito da CGADB;

IV - Alterar a bandeira e o hino oficial da CGADB.

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Art. 12. Será punido com suspensão o membro que:

- For reincidente nas faltas referidas no artigo anterior;

II- Faltar com o decoro e o devido respeito aos membros numa Assembleia Geral ou reunião dos órgãos da CGADB;

III - Desrespeitar a boa ordem e a disciplina da Assembleia Geral ou fazer uso da palavra sem a devida autorização.

Art. 13. Será aplicada a pena de desligamento ao membro que:

- Infringir o disposto no artigo 9º do Estatuto da CGADB;

II - For condenado em juízo pela prática de crimes incompatíveis como o exercício do ministério, após parecer do Conselho de Ética e Disciplina;

III - Desobedecer ao credo doutrinário da CGADB;

IV - Não cumprir o Estatuto, Regimento Interno e as Resoluções do Assembleia Geral e da Mesa Diretora.

Art. 14. Perderá o mandato, observado o disposto nos artigos 133, 134 e 135 e seus incisos do Regimento Interno da CGADB, o membro da Mesa Diretora que:

- Cometer improbidade administrativa:

II - For atingido pelo disposto nos artigos 133, 134 e 135 e seus incisos do Regimento Interno da CGADB.

CAPÍTULO V

DO PROCESSO ÉTICO DISCIPLINAR

TÍTULO 1

DA COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE ÉTICA E DISCIPLINA

Art. 15. O Conselho de Ética e Disciplina é Órgão da Convenção Geral responsável pela análise, processamento e emissão de pareceres nas representações que contenham acusações contra seus membros, na forma do Estatuto.

1° O Conselho reunir-se-á sempre que necessário, por convocação de seu presidente, ou por, pelo menos, a maioria absoluta de seus componentes.

§ 2° O Conselho de Ética e Disciplina elegerá dentre seus membros o presidente, primeiro e segundo vice-presidentes, primeiro e segundo secretários, com posse imediata, logo após a posse da mesa diretora.

Art. 16. Compete também:

- Processar os membros da CGADB e integrantes de qualquer dos órgãos administrativos, garantindo o amplo direito de defesa;

II - Emitir parecer pela suspensão temporária das atividades do membro acusado até a conclusão do processo disciplinar;

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III - Remeter a Mesa Diretora para fins de julgamento, o processo disciplinar, devidamente instruído e concluído e com parecer conclusivo sobre a matéria apreciada.

TÍTULO II

DA INSTRUÇÃO DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR

Art. 17. O procedimento disciplinar será instaurado de ofício pela Mesa Diretora da CGADB, mediante representação de convenções afiliadas, ou por qualquer membro que será endereçada ao presidente da Mesa Diretora.

§ 1° Quando a representação se referir ao presidente da CGADB a mesma será endereçado ao primeiro vice-presidente ou ao seu substituto le3al;

§ 2° A representação de que trata o presente artigo, deverá conter:

- O relato dos fatos;

II - A indicação da falta praticada pelo representado;

III - A indicação das provas;

IV - A assinatura do representante.

Art. 18. Instaurado o processo disciplinar pela Mesa Diretora, o mesmo será encaminhado ao Conselho de Ética e Disciplina, de acordo com o artigo 62 do estatuto da CGADB, o qual fará processar a acusação notificando desde lodo o representado do inteiro teor da representação, concedendo-lhe o prazo de 15 dias, a contar do recebimento da mesma para apresentar defesa.

§ 1° Recebida a representação, o presidente do Conselho desi9na relator um de seus inte3rantes, para presidir a instrução processual.

§ 2° O relator pode propor ao presidente do conselho o arquivamento da representação, quando estiverem desconstituídos os pressupostos de admissibilidade.

Art. 19. Recebida a defesa, ou silente o acusado, o Conselho fixará os pontos controvertidos, para a colheita de provas, garantindo—se ao acusado participar deste ato, pessoalmente ou através de procurador devidamente habilitado nos autos.

Art. 20. Após o recebimento do processo disciplinar, com ou sem o parecer conclusivo do conselho, a Mesa Diretora designará sessão para julgamento nos termos previstos no artigo 12 do Estatuto social.

Art. 21. Quando a representação e o processo disciplinar forem contra membros da Mesa Diretora, encerrada a instrução, o mesmo será concluso ao presidente da Convenção Geral ou seu substituto legal que convocará a Assembleia Geral Extraordinária, para proceder o julgamento, nos termos dos arti3os 33, 1 e, 34 do estatuto social.

Art. 22. Na sessão de julgamento, após a leitura do parecer do Conselho de Ética e Disciplina será facultada a palavra a defesa pelo prazo de 30

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minutos, para proceder a sustentação oral, em seguida, proceder-se-á o julgamento com aplicação da pena, se for o caso, ou absolvição do acusado.

Art. 23. A defesa do representado poderá ser subscrita pelo próprio acusado ou por procurador por ele constituído, preferencialmente, membro da CGADB.

Art. 24. Compete ao relator do processo disciplinar, se necessário, determinar a notificação do representante ou denunciante, para esclarecimentos prévios e, do representado, para apresentar defesa, em qualquer caso, no prazo de 15 (quinze) dias, sendo indispensável à comprovação inequívoca do ato.

§ 1º Se o representado não for encontrado ou for revel, o Presidente do Conselho deve designar-lhe defensor dativo.

§ 2° Oferecida a defesa, que deve estar acompanhada de todos os documentos e o rol de testemunhas, até o máximo de cinco, é proferido o despacho saneador e desi3nada, se reputada necessária, a audiência para oitiva do representante, do representado e das testemunhas. O representante e o representado deverão incumbir-se do comparecimento de suas testemunhas, a não ser que prefiram suas intimações pessoais, o que deverá ser requerido na representação e na defesa.

Parágrafo 3°. - As intimações pessoais não serão renovadas em caso de não comparecimento, facultada a substituição de testemunhas até a data desi9nada para audiência.

4° O relator pode determinar a realização de diligências que julgar convenientes.

§ 5º Concluída a instrução, será aberto o prazo sucessivo de 15 (quinze) dias para a apresentação de razões finais pelo representante e pelo representado, após ajuntada da última intimação.

§ 6°- Qualquer dos membros do conselho poderá pedir vista dos autos em mesa, caso em que o exame deve ser procedido durante a mesma sessão.

§ 7°. Extinto o prazo das razões finais, o relator proferirá seu voto, que será submetido ao plenário do Conselho, o qual elaborará seu parecer, e o encaminhará, através de seu Presidente, à Mesa Diretora.

Art. 25. O Presidente da Mesa, após o recebimento do processo devidamente instruído, desi9nará a data do julgamento.

§1° O processo é inserido automaticamente na pauta da sessão de julgamento, cuja data obrigatoriamente será noticiada às partes.

§ 2° O representado será intimado pela Secretaria Geral da CGADB para a defesa oral na sessão de julgamento, com 15 (quinze) dias de antecedência.

§ 3° A defesa oral será produzida na sessão de julgamento, após a leitura do relatório, no prazo de trinta minutos pelo representado ou por seu advogado.

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Art. 26. O expediente submetido à apreciação do Conselho é autuado pela Secretaria da CGADB, registrado em livro próprio e encaminhado até 15 (quinze) dias de sua recepção.

Art. 27. Considerada a natureza da infração ética cometida, a Mesa Diretora poderá suspender temporariamente a aplicação da pena de advertência, desde que o infrator primário se comprometa a pedir perdão ao ofendido.

CAPÍTULO VI

DOS RECURSOS

Art. 28. Da decisão que resultar penalidade, caberá recurso interposto no prazo de 15 dias perante a Mesa Diretora, o qual será apreciado pela Assembleia Geral Ordinária subsequente, nos termos do artigo 32, inciso VI do Estatuto.

Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo, contar-se-á a partir da data do recebimento da notificação da decisão, considerando notificado o apenado presente na sessão de julgamento.

Art. 29. Cabe revisão do processo disciplinar desde que o interessado apresente novas provas ou documentos, que não dispunha ou desconhecia à época da sua tramitação, suficientes para modificar a decisão, cujo pedido deve ser formulado a Mesa Diretora até 02 (dois) anos da ciência da decisão condenatório, perante a Mesa Diretora.

CAPÍTULO VII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 30. A Mesa Diretora deve proporcionar todos os meios e suporte imprescindíveis para o desenvolvimento das atividades do Conselho.

Art. 31. A pauta de julgamentos do Conselho será publicada no quadro de avisos gerais, na sede da CGADB, com antecedência de 30 (trinta) dias, devendo ser dada prioridade nos julgamentos para os interessados que estiverem presentes.

Art. 32. A falta ou inexistência, neste Código, de definição ou orientação sobre questão de ética ministerial, não isentará o Ministro da responsabilidade sobre conduta que cause escândalo à i9reja e à sociedade em geral.

Art. 33. Este Código entra em vigor na data de sua aprovação pela Assembleia Geral Ordinária.