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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
VANESSA PASVENSKAS MARCOS
SAÚDE MENTAL DE INTERNAUTAS UNIVERSITÁRIOS
São Bernardo do Campo
2011
1
VANESSA PASVENSKAS MARCOS
SAÚDE MENTAL DE INTERNAUTAS UNIVERSITÁRIOS
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
em Psicologia da Saúde, da Universidade
Metodista de São Paulo, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre.
Orientadora: Profa. Dra. Marília Martins Vizzotto
São Bernardo do Campo
2011
2
A dissertação de mestrado sob o título “SAÚDE MENTAL DE INTERNAUTAS
UNIVERSITÁRIOS”, elaborada por Vanessa Pasvenskas Marcos foi apresentada e
aprovada em 21 de fevereiro de 2011, perante banca examinadora composta por Profa. Dra.
Marília Martins Vizzotto (Presidente/UMESP), Profa. Dra. Marisa Lúcia Fabrício Mauro
(Titular/UNICAMP) e Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno (Titular/UMESP).
__________________________________________
Prof/a. Dr/a. Marília Martins Vizzotto
Orientador/a e Presidente da Banca Examinadora
__________________________________________
Prof/a. Dr/a. Maria Geralda Viana Heleno
Coordenador/a do Programa de Pós-Graduação
Programa: Pós-Graduação em Psicologia da Saúde
Área de Concentração: Psicologia da Saúde
Linha de Pesquisa: Prevenção e Tratamento
3
AGRADECIMENTOS
A Deus pela realização desse objetivo e de tantos outros já alcançados.
A amizade e orientação da Profª. Drª. Marília Martins Vizzotto que acreditou em
minha capacidade para realização desse trabalho e muito me incentivou sempre
carinhosamente.
A Profª. Drª. Marisa Lúcia Fabrício Mauro e a Profª. Drª. Maria Geralda Viana Heleno
que trouxeram sugestões e contribuições importantes e significativas para esse trabalho.
A todos estudantes que voluntariamente disponibilizaram seu tempo para participar da
pesquisa, sem os quais esta não teria acontecido.
A Profª. Drª. Mirlene M. M. Siqueira e a Profª. Cecília V. Farath pela orientação
estatística.
A minha avó por todo amor, carinho, ternura e atenção dispensadas durante muitos
anos (em memória).
A paciência e amor incondicional de minha mãe, tão importante em diversos
momentos da minha vida.
A tranquilidade de meu namorado, Jonathan, que muito me ajudou nos momentos
difíceis.
Aos professores e colegas de mestrado em Psicologia da Saúde da Universidade
Metodista que muito me ensinaram nesse início de carreira acadêmica.
A Universidade do Algarve e seus professores, especialmente o Prof. Dr. Saul Neves
de Jesus, pela gentil acolhida em Portugal no período de intercâmbio.
E a todos meu amigos e amigas que ajudaram direta ou indiretamente na realização
desse trabalho.
Ofereço a todos meu carinho e gratidão!
5
RESUMO
MARCOS, V. P. Saúde mental de internautas universitários. 2011. 71f. Dissertação
(Mestrado em Psicologia da Saúde). Faculdade da Saúde, Universidade Metodista de São
Paulo, 2011.
O presente estudo teve como objetivo avaliar a saúde mental de internautas
universitários. Trata-se de uma pesquisa com delineamento transversal e quantitativa.
Participaram deste estudo 150 usuários de internet, dos gêneros, masculino e feminino, com
idade entre 17 e 53 anos, estudantes universitários de diversos cursos de graduação da
faculdade de saúde, de um único campus, de uma universidade privada, localizada na cidade
de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. A amostra foi selecionada
por critério de conveniência, porém considerou-se a amostragem por cotas para melhor
representatividade da população estudada. Os instrumentos utilizados foram o Questionário de
Morbidade Psiquiátrica para Adultos (QMPA) e um questionário complementar desenvolvido
para caracterização da amostra. Após coleta, os dados foram lançados e tratados
estatisticamente. Os resultados mostraram prevalência de saúde mental em 58% dos
internautas universitários. Entre os participantes que apresentaram sintomas de morbidade
psiquiátrica (42%) prevaleceram os sintomas de exaltação do humor, ansiedade, somatização,
irritabilidade e depressão, sintomas comumente referidos como transtornos psiquiátricos
menores. Dos internautas estudados 55% foram considerados usuários pesados por utilizarem
a internet acima de 60 horas mensais. A média de horas de acesso à internet apresentou
correlação com os sintomas de morbidade psiquiátrica avaliados. Contudo estes sintomas de
morbidade psiquiátrica não apresentaram diferenciação entre tipo de usuário (pesado e leve),
em ambos os casos prevaleceram a avaliação de saúde mental. As horas de acesso à internet
foram consideradas um dos indícios do uso patológico da internet, porém insuficiente para
estabelecer qualquer diagnóstico. O uso patológico da internet mostrou-se presente em 57%
dos internautas, por utilizarem a internet em detrimento de outros aspectos de suas vidas. Os
sintomas de morbidade psiquiátrica apresentaram correlações positivas e significativas com as
questões sobre o uso patológico da internet. Os resultados desta pesquisa sugerem que o uso
patológico da internet revela-se como um novo campo de expressão de morbidades
psiquiátricas já conhecidas. Deste modo, a internet não se mostra como um fator de risco para
saúde mental de seus usuários. Ela seria um amplificador, uma ferramenta que facilitaria a
expressão de tais comportamentos patológicos, que são provenientes de transtornos já
existentes, assim como a utilização de diversas outras práticas sociais, que podem se tornar
patológicas pela manifestação de diferentes transtornos do indivíduo.
Palavras chave: saúde mental; internautas; universitários; Internet; morbidade psiquiátrica.
6
ABSTRACT
MARCOS, V. P. Mental health of college Internet users. 2011. 71f. Dissertation (Masters in
Health Psychology). Health´s University, Metodista University of São Paulo, 2011.
This study aimed to assess the mental health of college internet users. This is a cross-sectional
research and quantitative. The study included 150 internet users, genders, male and female,
aged between 17 and 53 years old, students from several graduate courses at the college
health, a single campus of a private university, located in São Bernardo do Campo on the São
Paulo metropolitan area. The sample was selected by criteria of convenience, but it was
considered by quota sampling to better represent the population. The instruments used were
the Psychiatric Morbidity Questionnaire for Adults (QMPA) and an additional questionnaire
designed to characterize the sample. After collection, the data were statistically treated and
released. The results showed the prevalence of mental health in 58% of college Internet users.
Among participants who had symptoms of psychiatric morbidity (42%) were the most
prevalent symptoms of mood disorder, anxiety, somatization, depression and irritability,
symptoms, commonly referred to as minor psychiatric disorders. Were considered heavy users
by use the Internet for over 60 hours per month, 55% of Internet users studied. However these
symptoms of psychiatric morbidity showed no differentiation between types of users (heavy
and light), prevailed in both cases the mental health evaluation. The hours of Internet access
were considered one of the signs of pathological Internet use, but insufficient to diagnose the
pathological use. The pathological Internet use was present in 57% of Internet users, by using
the Internet to the detriment of other aspects of their lives. The symptoms of psychiatric
morbidity showed significant positive correlations with the issues on the pathological use of
the Internet. These results suggest that the pathological use of the internet reveals itself as a
new field of expression of psychiatric morbities known. Thus, the Internet does not appear as
a risk factor for mental health of its users. It would be an amplifier, a tool that would facilitate
the expression of such pathological behaviors, that come from existing disorders as well as the
use of various other social practices, which can become pathological manifestations of
different disorders by the individual.
Keywords: mental health, internet users, university students, Internet, psychiatric morbidity.
7
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 9
1.1 – Sobre a Internet............................................................................................................ 9
1.2 – Internet no Brasil......................................................................................................... 10
1.3 – Internet e Subjetividade............................................................................................... 11
1.4 – Internet e Saúde........................................................................................................... 13
1.5 – Saúde Mental............................................................................................................... 18
2 – MÉTODO....................................................................................................................... 22
2.1 – Amostra........................................................................................................................ 22
2.2 – Ambiente...................................................................................................................... 24
2.3 – Instrumentos ................................................................................................................ 24
2.4 – Procedimento............................................................................................................... 25
Aspectos Éticos / Riscos e Benefícios.................................................................................. 26
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 27
3.1 – Caracterização da Amostra.......................................................................................... 27
3.2 – Padrão de uso da Internet da Amostra......................................................................... 29
3.3 – Uso Patológico da Internet .......................................................................................... 31
3.4 – Sintomas de Morbidade Psiquiátrica........................................................................... 35
3.5 – Classificação de tipo de usuário da Internet ............................................................... 42
3.6 – Correlações.................................................................................................................. 47
3.7 – Teste T......................................................................................................................... 54
4 – CONCLUSÃO ............................................................................................................... 57
5 – REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 61
ANEXOS
ANEXO A – QUESTIONÁRIO COMPLEMENTAR......................................................... 67
ANEXO B – QUESTIONÁRIO QMPA.............................................................................. 68
ANEXO C – AUTORIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO........................................................... 69
ANEXO D – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA............................................................ 70
ANEXO E – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO..................... 71
8
LISTA DE TABELAS
Tabela1 - Cálculo da amostragem por cota....................................................................................... 23
Tabela 2 - Dados demográficos da amostra....................................................................................... 27
Tabela 3 - Dados de escolaridade da amostra.................................................................................... 28
Tabela 4 - Média de acesso à internet da amostra............................................................................. 29
Tabela 5 - Frequência e tipo de utilização da internet da amostra..................................................... 30
Tabela 6 - Frequência de respostas para as questões do uso patológico da internet.......................... 32
Tabela 7- Frequência de respostas positivas sobre o uso patológico da internet............................... 32
Tabela 8 - Dados demográficos e escolares por tipo de uso da internet patológico /
não patológico.................................................................................................................................... 34
Tabela 9 - Padrão de acesso à internet por tipo de uso da internet patológico/não patológico......... 35
Tabela 10- Scores do QMPA............................................................................................................. 35
Tabela 11 - Média e desvio padrão por fatores do QMPA................................................................ 37
Tabela 12 - Frequência de QMPA por uso de medicamento controlado........................................... 38
Tabela 13 - Score de QMPA conforme dados demográficos e escolares.......................................... 39
Tabela 14 - Média de acesso à internet por score de QMPA............................................................ 41
Tabela 15 - Score de QMPA conforme tipo de acesso à internet...................................................... 42
Tabela 16 - Frequência de tipo de usuário da internet....................................................................... 43
Tabela 17 - Dados demográficos e escolares por tipo de usuário da internet.................................... 44
Tabela 18 - Frequência de QMPA por tipo de usuário da internet.................................................... 45
Tabela 19 - Frequência de respostas sobre o uso patológico da internet por tipo de usuário............ 46
Tabela 20 - Total de respostas sobre o uso patológico da internet por usuário................................. 47
Tabela 21 - Correlação (r de Pearson) entre horas de acesso à internet e QMPA............................. 47
Tabela 22- Correlação (r de Pearson) entre acesso à internet e números de respostas positivas
sobre o uso patológico da internet..................................................................................................... 48
Tabela 23 - Correlação (r de Pearson entre QMPA e números de respostas positivas sobre o uso
patológico da internet......................................................................................................................... 49
Tabela 24 - Correlação (r de Pearson) entre QMPA e tipo de uso da internet.................................. 50
Tabela 25 - Correlação (r de Pearson) entre uso patológico e tipo de uso da internet....................... 52
Tabela 26 - Teste t das médias de QMPA e tipo de usuário da internet............................................ 54
Tabela 27 - Teste t das médias de horas mensais de acesso à internet e das questões sobre o uso
patológico da internet......................................................................................................................... 55
Tabela 28 - Teste t das médias de QMPA e questões sobre o uso patológico da internet................. 56
9
1. INTRODUÇÃO
A presente pesquisa estudou a saúde mental de usuários de internet. Justifica-se uma
investigação sobre esse tema por se entender que o advento do fenômeno da internet
proporcionou modificações no modus vivendi das pessoas em todo o mundo. Houve,
inclusive, alterações nos aspectos sócio-culturais, nas relações afetivas, psicológicas e
educacionais. Tanto que essas modificações têm levado os próprios meios de comunicação
popular a discutir os benefícios e os malefícios provenientes desse novo meio de comunicação
e informação. Assim, entende-se que cabe estudar tal fenômeno do ponto de vista psicológico.
O Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática (NPPI, 2009) elucida a
importância das pesquisas em psicologia sobre o uso da internet ao declarar que:
“a Psicologia deve acompanhar as mudanças do homem, que se transforma em sua
relação com o mundo e com as novas formas de tecnologia disponíveis. Deste modo,
é preciso que o psicólogo acompanhe e esteja atento a estas transformações, bem
como aos impactos que esse processo acarreta sobre a subjetividade humana e
sobre a cultura atual.”
Pesquisas científicas vêem estudando o uso patológico da internet, mas ainda não há
consenso sobre o conceito de dependência da internet. Abreu; Karam; Góes; Spritzer (2008)
relatam que são necessárias novas investigações para determinar se o uso abusivo da internet
pode ser compreendido como uma nova classificação psiquiátrica ou apenas um novo campo
de expressão de transtornos já conhecidos.
Para compreender melhor tal fenômeno e suas implicações no campo psicológico,
cabe expor o que já se tem investigado e descrito sobre o tema.
1.1 Sobre a Internet
O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e seu desenvolvimento propiciou
no século XX a Revolução Tecnológica. Dentre todo o desenvolvimento tecnológico gerado
surge o computador, no início visto como uma calculadora gigante, que após o advento da
internet, em meados de 1970, passa a ser uma ferramenta de informação, conhecimento,
entretenimento e trabalho, transformando-se num meio para criação, simulação e,
principalmente, comunicação (FORTIM, 2004). Assim sendo a internet fomentou uma nova
revolução, no início do século XXI, ora denominada como Sociedade da Informação,
(HONORATO, 2006) outrora como Era do Conhecimento (CASTELLS, 1999).
Desse modo, há de se entender que a internet é uma rede mundial de computadores
10
que propicia a divulgação de informações e a interação entre pessoas de diversas localizações
geográficas. Essa nova forma de comunicação desenvolvida, recebe o nome de Comunicação
Mediada por Computador (CMC) e muitas são as ferramentas que propiciam essa
comunicação: e-mails, programas de mensagens instantâneas, redes de relacionamentos, salas
de bate-papo, blogs, comunidades, grupos, fóruns de discussão, entre outros.
1.2 Internet no Brasil
Em 1995 iniciou o uso da internet comercial no Brasil. Dez anos depois uma pesquisa
divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) caracterizava o perfil dos
usuários da internet no Brasil (IBGE, 2005). Dos brasileiros a partir dos 10 anos, 20,9%
acessavam a internet, sendo a idade média dos usuários de 28 anos. Considerando a população
por faixa etária, verificou-se na época que a utilização da internet estava concentrada nos
grupos mais jovens, sendo 33,9% entre os jovens de 15 a 17 anos.
Após três anos, o IBGE realizou a segunda pesquisa sobre o acesso à internet no Brasil
(IBGE, 2008) e os resultados mostraram que o acesso à internet aumentou 75,3%. Assim
sendo, 56 milhões de pessoas de 10 anos ou mais acessavam a internet em 2008, ou seja,
34,8% dos brasileiros a partir dos 10 anos acessavam a internet. E o grupo de 15 a 17 anos
continuou sendo a faixa etária que mais acessou a internet, atingindo o percentual de 62,9%.
Porém a idade média das pessoas que acessaram a internet reduziu de 28,1 para 27,6 anos.
Ambas as pesquisas mostraram que quanto maior o grau de escolaridade, maior o
tempo de acesso à internet, e o mesmo ocorre conforme a renda per capita. Entre 2005 e 2008
a proporção de estudante que utilizaram a internet cresceu de 35,7% para 60,7%. O local de
acesso à internet mais utilizado nas pesquisas de 2005 e 2008 foi o domicilio, 57,1% pessoas
acessavam a internet de suas residências em 2008, seguidos de 35,2% que acessavam de
centros públicos de acesso pago (lan house), 31% acessavam do local de trabalho, 19,7% de
outros locais e 17,5% acessavam através de estabelecimento de ensino. Identificou-se também
que o local de acesso à internet está associado à faixa etária. Na pesquisa de 2008 a maior
finalidade do acesso à internet foi a comunicação com outras pessoas 83,2%, seguidos pelas
atividades de lazer 68,6% e posteriormente para educação e aprendizagem 65,9%. A
utilização da internet para finalidade de educação e aprendizagem teve uma redução bastante
significativa, decresceu de 71,7% em 2005, quando ocupava a primeira posição nas
finalidades de acesso, para 65,9% em 2008.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
11
divulgada em janeiro de 2009 (IBOPE NET RATINGS, 2009) revelava um novo perfil dos
internautas, composto por adultos e idosos que estavam aprendendo a navegar na internet,
mas que ainda passavam pouco tempo on-line.
O número de pessoas que acessam a internet continuou crescendo e em julho de 2009,
o Instituto IBOPE Nielsen Online (2009) notificou que 36,4 milhões de pessoas usaram a
internet no trabalho ou na residência e que o tempo médio de acesso atingiu 48 horas e 26
minutos mensais, considerando somente navegação em páginas. O tempo de navegação em
residências cresceu 21% em um ano e atingiu a marca inédita de 30 horas e 13 minutos por
pessoa em julho de 2009. Entre os dez países que foi realizada a pesquisa, o Brasil obteve o
maior tempo de acesso mensal à internet por usuário, tanto na navegação em páginas quanto
no tempo total incluindo programas online. Ainda segundo esse mesmo instituto, (IBOPE
NIELSEN ONLINE, 2010) a quantidade de brasileiros com acesso à internet chegou a 67,5
milhões no final de 2009, considerando o acesso no trabalho, residências, escolas, lan houses
e outros pontos públicos.
Levantamento feito pelo IBGE (2008) já havia mostrado que a grande finalidade do
acesso à internet no Brasil era para comunicação. E, no que tange a esse aspecto da
comunicação, o IBOPE Inteligência em parceria com a Worldwide Independent Network of
Market Research (WIN) divulgou em julho de 2010 (IBOPE INTELIGÊNCIA, 2010) que o
Brasil é um dos dez países que mais acessam as redes sociais, e que 87% dos internautas
brasileiros haviam acessado as redes sociais no período em que haviam realizado a pesquisa.
Assim, é possível entender que, nestes últimos quinze anos de uso da internet no Brasil
houve um crescimento bastante significativo no número de usuários, bem como no tempo de
acesso, fatos que posicionaram o Brasil entre os países com maior tempo de acesso à internet.
Outros fatores significativos têm sido a mudança de perfil destes usuários, expandindo o uso
da internet as diversas classes sociais e faixas etárias, além da predominância do uso da
internet para a comunicação com outras pessoas e manutenção das redes sociais.
1.3 Internet e Subjetividade
Diversos autores (CASTELLS, 1999; LEVY, 1993; NICOLACI-DA-COSTA, 2002,
2005b) têm relatado analogias entre as mudanças psíquicas e sociais que foram geradas na
Revolução Industrial com o momento contemporâneo das Revoluções Tecnológicas.
Nicolaci-da-Costa (2002) fazendo uma analogia entre as alterações subjetivas que a
Revolução Industrial propiciou aos indivíduos dos séculos XIX e XX e as atuais
12
transformações subjetivas geradas pelas tecnologias aos indivíduos do século XXI, relata ser
fundamental para a psicologia a compreensão dessas alterações, por acarretar transformações
importantes na maneira de pensar, se relacionar e sentir. Menciona que profundas alterações
na organização subjetiva contemporânea já são constatadas em suas pesquisas (NICOLACI-
DA-COSTA 2002, 2005a e 2005b), porém descreve a dificuldade dos profissionais em
admitir a mudança radical pela qual passa a subjetividade contemporânea, devido às
mudanças internas ocorrerem lentamente.
As novas possibilidades de interação e conhecimento que surgem com o advento da
internet geram mudanças sociais, marcadas pelas transformações nas maneiras de
comunicação e relacionamento:
“A Internet passa agora a ter uma diferente definição. Deixa de ser um termo
técnico que resumia uma rede de computadores conectados via tecnologia e passa a
ser um plano socializador de grande potencial, onde pessoas no mundo todo podem
trocar conhecimento e satisfazerem suas necessidades de afiliação. Há aqui uma
nova definição de alguns termos tradicionais para as ciências sociais. Talvez
tenhamos que rever, a partir de agora, definições de termos como
“relacionamentos” e “relações”, pois a realidade social está mudando e é
composta por pessoas e comportamentos.” (HONORATO, 2006, p. 40).
Assim, pode-se dizer que esse novo meio de comunicação proveniente da internet,
Comunicação Mediada por Computador (CMC) tem gerado novas formas de relações sociais
caracterizadas pela transformação da concepção de tempo e espaço mencionada por diversos
pesquisadores e estudiosos desses fenômenos contemporâneos (CASTELLS, 1999;
HONORATO, 2006; LEMOS, 2003; LEVY, 1993, 1996, 1999; NICOLACI-DA-COSTA,
2006).
Essa nova concepção de tempo e espaço é descrita por Honorato (2006) como a
ausência do corpo presente, ou segundo Nicolaci-da-Costa (2006) pela presença ausente, ou
ainda pela abolição do espaço físico-geográfico conforme Lemos (2003) e desterritorialização
para Levy (1996). Para Castells (1999) o novo sistema de comunicação transformou as
dimensões de espaço e tempo, ocasionando um espaço de fluxos que substitui o espaço de
lugares.
O fator presencial parece não se tornar mais necessário, até um determinado momento
da relação, apontando para mudanças psicossociais (LEVY, 1999; HONORATO, 2006). E
essa nova forma de relações sociais é chamada de Cibercultura (LEMOS, 2003; LEVY,
1999). Lemos (2003, p.11) define cibercultura como “a cultura contemporânea marcada pelas
tecnologias digitais” e para Levy (1999, p.247) a cibercultura “expressa uma mutação
fundamental da própria essência da cultura”. Assim a cibercultura gera novas maneiras de
13
relacionamento com o outro e com o mundo (LEMOS, 2003).
As investigações feitas por Nicolaci-da-Costa (2005a, 2005b) sobre usuários de
internet indicam algumas características do sujeito contemporâneo, tais como: Sente prazer
nas atividades on-line; Tem disposição para experimentar novas formas de ser; Faz diversas
coisas ao mesmo tempo; É ágil e está em constante movimento; Por meio da escrita habita
vários espaços, acessando realidades diferentes; Pode construir diversas narrativas a respeito
de si mesmo (verídicas ou não, sinceras ou não, anônimas ou não); Ganha conhecimento de si
quando escreve sobre ele mesmo e tem retorno sobre essa escrita; Está em constante processo
de revisão de si, através da decorrência de retornos de sua escrita sobre si; Se expõe a diversos
espaços, realidades, experiências e retorno, mas tem em si mesmo a única fonte de integração
possível; Está em constante processo de redefinição das fronteiras entre as esferas do público
e privado, criando novas defesas e recursos; Procura formas de proteger-se contra os excessos
gerados pela mobilidade e exposição à diversidade; É singular e auto-referido, por efetuar ele
próprio recortes nas realidades às quais está exposto; É flexível, adaptável, inquieto e ávido a
novas experiências; E conhece poucos limites para seus desejos.
Assim, com o advento da internet ocorreram grandes transformações subjetivas nos
indivíduos contemporâneos, caracterizadas por mudanças sociais e psíquicas, como alterações
na maneira de pensar, se comunicar, se relacionar e sentir, configuradas por uma nova
concepção de tempo e espaço, onde o fator presencial não se faz mais necessário.
1.4 Internet e Saúde
De acordo com Maiorino (2005) essa nova subjetividade acarreta novos modos de ser
e sentir, e assim, novos modos de sofrimento e de adoecimento. Para Levy (1993) o debate a
respeito da natureza opressiva, anti-social, ou ao contrário benéfica e amigável da informática
depende da questão do bom ou do mau uso da mesma. Para ele “A virtualização não é nem
boa, nem má, nem neutra” (LEVY, 1996, p.11).
Muitas são as especulações sobre os benefícios e os malefícios dessa nova maneira de
interação. A seguir serão relacionadas pesquisas, estudos e outras considerações de
pesquisadores e escritores que demonstram está ambiguidade sobre a questão da saúde dos
usuários da internet.
A ambiguidade entre os atrativos da internet e os problemas por ela causados é
mencionada por Zacarias (2008), que entende que entre os principais atrativos da internet
estão a possibilidade de anonimato, o acesso irrestrito a diversos conteúdos, a democratização
14
da informação, a auto-exposição, além de um lugar de expressão e satisfação para diversas
fantasias humanas. Já no que se refere aos problemas, o autor entende que o principal deles é
o aprisionamento às sensações obtidas por essas vias. Considera ainda, que para avaliar se o
efeito está sendo benéfico ou maléfico é necessário compreender o sentido que cada pessoa dá
ao seu computador, ao uso que faz da internet, e como isso está se integrando na
personalidade e na vivência de cada usuário.
Segundo Nicolaci-da-Costa (2005c) os resultados de inúmeras pesquisas mostram que
os ambientes virtuais da internet tornaram-se análogos aos espaços reais, com
relacionamentos pessoais de maneira parecida com a sociabilidade tradicional. Assim os
relacionamentos virtuais são um complemento para os reais e não um substituto para estes,
pois não substitui os reais, mas, sim, os complementa. Compartilhando da idéia de Levy
(1999) que considera um erro pensar que o virtual substitui o real, mas, sim, que pode alterá-
lo: “O virtual não substitui o real, ele multiplica as oportunidades para atualizá-lo” (LEVY,
1999, p. 88).
Castells (1999) considerou diferentes opiniões e argumentações e dentre elas pode-se
observar com maior intensidade a menção ao aumento da solidão e depressão, fuga da
realidade, criação de identidades, declínio da comunicação com familiares e expansão da rede
social.
Resumindo as considerações da literatura norte-americana sobre o uso patológico da
internet, Nicolaci-da-Costa (2002a) menciona que essa via de comunicação pode gerar
compulsão, dependência, problemas pessoais e sociais característicos do vício. E que o uso
intensivo da rede pode ter como consequência o isolamento social, a solidão e a depressão,
quando há substituição de relacionamentos e atividades reais por relacionamentos e atividades
virtuais.
Após realizarem uma pesquisa bibliográfica sobre a literatura da dependência de
internet, Abreu et al. (2008) constataram que há falta de consenso sobre o assunto entre os
pesquisadores do tema. E concluem que são necessárias novas investigações para determinar
se esse uso abusivo de internet pode ser compreendido como uma das mais novas
classificações psiquiátricas do século XXI ou apenas um novo campo de expressão de
transtornos já conhecidos.
A primeira tentativa de definição da dependência da internet ocorreu em 1995, quando
o psiquiatra Goldberg (1995) através de uma paródia propôs o uso dos critérios diagnósticos
do DSM-IV para Dependência de Substâncias como critério diagnóstico da dependência da
internet.
15
Atualmente os pesquisadores utilizam adaptações dos critérios diagnósticos do DSM-
IV para Jogos Patológicos, a fim de mensurar a dependência do uso da internet. Baseando-se
nos estudos de Young (1998a) que foi a precursora no diagnóstico da dependência da internet
utilizando como parâmetro os critérios diagnósticos do DSM-IV para Jogos Patológicos em
1996. Pois a pesquisadora considera que o uso patológico da internet pode apresentar relação
com a dificuldade do controle dos impulsos, assim como acontece no jogo patológico. Assim
afim de investigar a dependência do uso da internet, a autora realizou uma pesquisa
(YOUNG, 1998a) utilizando como parâmetro os critérios diagnósticos do DSM-IV para Jogos
Patológicos e modificando-os para caracterizar a dependência do uso da internet. E os
critérios propostos mensuravam: 1) preocupação excessiva com a internet; 2) necessidade de
aumentar o tempo de conexão a internet para ter a mesma satisfação; 3) esforço para diminuir
o tempo de uso da internet; 4) presença de irritabilidade ou depressão; 5) permanece
conectado mais tempo do que havia previsto; 6) compromete as relações sociais, trabalho ou
estudo pelo uso da internet; 7) mentir para outros sobre os acessos a internet; 8) utilizar a
internet como maneira de escapar dos problemas ou para aliviar sentimentos de impotência,
culpa, ansiedade e depressão. A pontuação de corte proposta é de cinco respostas positivas
para os critérios acima especificados, para caracterizar a dependência do uso da internet.
E possível notar grande relação entre os critérios diagnósticos propostos por Young
(1998a) e as observações clinicas do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da
PUC-SP (FARAH; FORTIM, 2005).
A equipe do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC-SP (FARAH;
FORTIM, 2005), com base nos atendimentos realizados à comunidade com queixas de
dependência da internet, relacionou os sintomas geralmente apresentados nos quadros de
dependência da internet: 1) Preocupação constante com a internet quando não está conectado;
2) Necessidade contínua e crescente de utilizar a internet como forma de obter a satisfação ou
excitação; 3) Irritabilidade e dificuldade quando tenta reduzir o tempo de uso da internet; 4)
Utilização da internet como maneira de fuga dos problemas, ou de aliviar sentimentos de
impotência, culpa, ansiedade, solidão ou depressão; 5) Mentir para familiares e pessoas
próximas, com o intuito de encobrir a extensão do envolvimento com as atividades realizadas
via internet; 6) Comprometimento social e profissional, redução de contatos e/ou
produtividade escolar ou profissional; 7) Comprometimento nas articulações ocasionadas pela
digitação (LER – lesões por esforços repetitivos); 8) Falta de interesse em atividades fora da
internet; 9) Sensação de estar vivendo um sonho, durante um período prolongado na internet;
10) Os outros percebem e explicitam que a pessoa permanece muito tempo conectada; 11)
16
Conversam, preferencialmente, sobre assuntos relacionados com a internet; 12)
Comprometimento na qualidade dos acessos realizados na internet, como: uso repetitivo e
pouco criativo.
Leitão (2003) realizou um estudo sobre as considerações clínicas de usuários de
internet, através de entrevistas com diversos psicoterapeutas, e identificou que as experiências
via internet despertaram encantamento e sentimentos profundos de liberdade e onipotência. E
que esses sentimentos geraram excessos, pois tudo parecia acontecer livremente sem os
limites do mundo real. E os excessos davam-se tanto em relação às horas dispensadas na
internet, quanto à auto-exposição.
Young (1998a) também sugere que o uso excessivo da internet pode ser uma
característica da dependência, pois nos resultados de sua pesquisa as horas semanais de acesso
do grupo com diagnóstico de dependência da internet foi oito vezes maior do que o grupo dos
não dependentes. Já Nicolaci-da-Costa (2003) apresenta uma visão positiva sobre o uso
acentuado da internet, após entrevistar vinte usuários pesados em sua pesquisa sobre o vício
na internet e não constatar nenhum quadro patológico nos entrevistados. Nesta pesquisa a
autora, após um breve levantamento sobre o tema, considerou usuário pesado como aquele
que passa no mínimo duas horas diárias conectado à internet.
Uma investigação realizada com estudantes universitários usuários da internet (CHEN;
PENG, 2008) apresentou diferença significativa entre os usuários considerados pesados e os
usuários considerados leves. Nesta pesquisa os usuários pesados foram classificados como
aqueles que utilizam a internet acima de 33,97 horas por semana. As diferenças de maior
relevância foram que os usuários leves mostraram-se com melhor relacionamento pessoal,
desempenho acadêmico e de aprendizagem do que os usuários pesados. E em contra partida
os usuários pesados apresentaram maior probabilidade de ficar fisicamente doentes,
deprimido, solitário e introvertido do que os usuários leves.
Faz-se importante mencionar, que apenas a quantidade de horas de conexão não seria
critério suficiente para determinar a dependência da internet. De acordo com Zacarias (2008)
para caracterizar o uso compulsivo da internet é fundamental considerar várias características,
pois o tempo de conexão é importante, mas seria muito simplista reduzir o diagnóstico de
vício ao fator de tempo de conexão. Outras características, que segundo o autor, auxiliam a
diagnosticar o uso compulsivo da internet são: o tipo de uso, o uso repetitivo e pouco criativo,
como a pessoa se sente quando não está conectada a internet (ansiosa, triste, irritada e
apreensiva para acessar novamente a internet) e como está a vida presencial dessa pessoa (se
mantém encontros sociais e amorosos, trabalho, escola, lazer, também fora na internet).
17
Dados do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC-SP (NPPI, 2009)
indicam que os pesquisadores consideram existir relação entre o uso da internet e as
psicopatologias de seus usuários, alertando para suas consequências:
“o uso patológico do computador e da Internet pode produzir consequências graves
para o indivíduo, trazendo comprometimentos tanto no campo pessoal, quanto
profissional e social, tais como perda de emprego, mau desempenho escolar,
divórcios ou rupturas de relacionamentos afetivos e familiares, isolamento social,
gastos excessivos de dinheiro, descuido com a própria aparência e saúde física.”
DiNicola e Michael (2004) realizaram um estudo sobre o uso patológico da internet
entre estudantes universitários, e verificaram que 7% relataram quatro ou mais sintomas de
transtorno do controle dos impulsos relacionados ao uso da internet, e assim foram
categorizados como usuários patológicos da internet. O estudo aponta que estudantes do
primeiro ano relataram sintomas significativamente mais patológicos do uso da internet do
que veteranos. E que os pesquisados mencionaram o impacto negativo da internet sobre seus
relacionamentos (1,2%), estudos (7,9%) e sono (20,7%).
Essa relação entre o uso da internet e psicopatologias é notória em diversas
investigações internacionais que relacionam o uso patológico ou a dependência da internet às
morbidades psiquiátricas, como:
· Transtornos do Controle dos Impulsos (SHAPIRA; LESSIG; GOLDSMITH; SZABO;
LAZORITZ; GOLD; STEIN, 2003; YOUNG, 1998b; BEARDE; WOLF, 2003; DAVIS,
2001)
· Transtornos Depressivos (YOUNG; RODGERS, 1998; HA; YOO; CHO; CHIN; SHIN;
KIM, 2006; YEN; KO; YEN; WU; YANG, 2007; CEYHAN; CEYHAN, 2008; CHEN;
PENG, 2008)
· Transtornos Obsessivo-Compulsivo (HA et al., 2006)
· Transtornos de Ansiedade (SHAPIRA et al., 2003; HA et al., 2006; YOUNG, 1998b;
· Transtornos Sociais (ENGELBERG; SJÖBERG, 2004; ERIC, 2001; CAPLAN, 2005;
MORAHAN-MARTIN; SCHUMACHER, 2000)
Frente à relação entre o uso patológico da internet e morbidades psiquiátricas
mencionadas por diversos estudiosos e pesquisadores, e as diversas transformações de
interação vivenciadas e relatadas por diversos autores, emerge um grande campo de pesquisa
e atuação para os profissionais da saúde, principalmente os psicólogos, para melhor
compreensão do estado de saúde mental dos internautas.
18
1.5 Saúde Mental
A Organização Mundial de Saúde (OMS) na Constituição da Assembléia Mundial da
Saúde realizada em 1946 (WHO, 2009), definiu saúde como um “estado de completo bem
estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença”. Essa definição é muitas vezes
considerada utópica, tendo em vista que o estado de saúde não é uma situação estável, que
quando atingido será mantido, mas sim uma constante variável do binômio saúde/doença.
Para Segre e Ferraz (1997) essa definição é inadequada, porque o conceito de bem estar,
felicidade ou perfeição é especifico para a subjetividade de cada individuo, pois entre outros
seria necessário considerar os sistemas de crenças e valores de cada pessoa. Assim, abolindo a
definição de “estado de completo bem estar”, é possível entender a definição de saúde como
um caminho a ser percorrido, em busca de um bem estar que integre o ser humano nas
vertentes biopsicosocial, e essa interação complexa entre os níveis biológico, psicológico e
social torna indissociável a saúde física da saúde mental e vice versa.
Assim sendo, considerando a definição de saúde e transpondo essas considerações
para a saúde mental, esta não seria apenas a ausência de doenças mentais. Para a Organização
Mundial de Saúde a saúde mental:
“não é meramente a ausência de transtornos mentais, mas sim um estado de bem-
estar no qual o indivíduo está consciente de suas próprias habilidades, pode lidar
com o stress normal da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e é
capaz de fazer uma contribuição para sua comunidade.” (OMS, 2007)
Os pesquisadores Lopez e Murray (1998) indicam que os transtornos mentais e do
comportamento representam cinco das dez principais causas de morbidade em todo o mundo,
sendo esse aumento ainda mais acentuado nos países em desenvolvimento, devido ao
envelhecimento da população, a rápida urbanização, a violência e a globalização. Segundo os
mesmos autores, embora os transtornos mentais causem pouco mais de 1% da mortalidade,
são responsáveis por mais de 12% da incapacitação decorrente de doenças. Em 1990, os
transtornos mentais e de comportamento correspondiam a 11% das morbidades no mundo
todo, e conforme previsões dos autores acima citados esse valor atingirá 15% em 2020. Sendo
a depressão responsável por 13% das incapacitações, alcoolismo por 7,1%, esquizofrenia por
4%, transtorno bipolar por 3,3% e transtorno obsessivo-compulsivo por 2,8%. A depressão foi
a quarta principal causa de doença em 1990 e é estimado que será a principal causa isolada em
2020.
Diversos são os transtornos mentais, alguns se mostram comuns e de difícil
caracterização, pois não preenchem os critérios formais para os diagnósticos de ansiedade,
19
depressão ou somatoformes, e por isso são chamados de transtornos mentais comuns.
Goldberg e Huxley (1992) cunharam a expressão transtorno mentais comuns (TMC) para
caracterizar sintomas não-psicóticos, como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento,
dificuldade de concentração e queixas somáticas. Observa-se nos estudos sobre saúde mental
a utilização de categorias mais amplas como: transtornos mentais comuns (MARAGNO;
GOLDBAUM; GIANINI; NOVAES; CÉSAR, 2006; FACUNDES; LUDEMIR, 2005),
transtornos psiquiátricos menores (LIMA; SOARES; MARI, 1999; CERCHIARI;
CAETANO; FACCENDA, 2005) ou morbidades psiquiátricas menores (COUTINHO;
ALMEIDA-FILHO; MARI , 1999).
Estudos apontam uma prevalência entre 20% e 58,7% de transtornos mentais na
população, notando-se um aumento significativo dessas prevalências conforme o gênero,
idade, estado civil e escolaridade da população. A seguir serão relacionadas pesquisas sobre
as prevalências desses transtornos.
Coutinho et al. (1999) realizaram um estudo sobre os fatores de risco para morbidade
psiquiátrica menor e encontraram uma elevada prevalência na população adulta em geral,
destacando maior prevalência no gênero feminino, intensificado a partir dos 30 anos de idade.
Pessoas de baixa escolaridade e casadas apresentaram maior ocorrência desses sintomas, em
comparação aos solteiros, e ao contrário, no grupo de pessoas com escolaridade mais elevada,
as pessoas casadas apresentaram menor risco desses transtornos mentais.
Estudo sobre a prevalência de transtornos mentais comuns em populações atendidas
pelo Programa Saúde da Família no Município de São Paulo (MARAGNO et al., 2006)
identificou a prevalência de 24,95%. Esta prevalência foi significantemente maior nas
mulheres, idosos, categorias de menor renda e menor escolaridade.
Um estudo sobre a epidemiologia dos transtornos mentais em uma área da cidade de
São Paulo (ANDRADE; LÓLIO; GENTIL; LAURENTI, 1999) mensurou a prevalência de
transtornos mentais de 45,6% ao longo da vida e 22,2% no último mês. O transtorno mais
comum foi dependência de tabaco (25% ao longo da vida e 9,3% no mês anterior), seguido
por transtorno depressivo (18,5%; 5,0%), transtorno ansioso (16,8%; 4,5%), transtorno
somatoforme (6%; 3,2%) e uso nocivo/dependência de álcool (5,5 %; 4%). Notou-se que o
risco em mulheres foi maior na maioria dos quadros psiquiátricos, exceto uso danoso ou
dependência de álcool, drogas e nicotina. E que pessoas entre 25 e 59 anos mostraram-se mais
vulneráveis aos transtornos mentais.
Estudo populacional sobre saúde e doença mental na cidade de Pelotas, no Rio Grande
20
do Sul (LIMA et al., 1999), identificou 22,7% de prevalência de transtornos psiquiátricos.
Sendo essa ocorrência 50% maior em mulheres e aumentada com a idade, as pessoas a partir
dos 45 anos apresentaram cerca de 30% mais transtornos psiquiátricos menores que os jovens
(15 a 34 anos). E os solteiros apresentaram menor prevalência e os viúvos a maior
prevalência. Verificou-se também que quanto menor a escolaridade e a renda familiar per
capita, maior a prevalência de TPM.
Santana (1982) avaliou a prevalência anual de doenças psíquicas, em um bairro de
Salvador, e mensurou 20% de doenças psíquicas em seu estudo.
E Mauro (1996) em sua pesquisa com estudantes trabalhadores identificou a
prevalência 58,7% de morbidade psiquiátrica em sua amostra de estudantes do ensino
fundamental e médio.
Pesquisas realizadas sobre os transtornos psiquiátricos em estudantes universitários
seguiram a prevalência das demais pesquisas citadas anteriormente, entre 25% e 58%.
Cerchiari et al. (2005) identificaram a prevalência de 25% de transtornos mentais
menores em estudantes universitários, de diversos cursos da Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul. Neves e Dalgalarrondo (2007) verificaram a prevalência de 58% de
transtornos mentais entre estudantes de graduação, da Universidade Estadual de Campinas. E
Facundes e Ludemir (2005) realizaram estudo sobre transtornos mentais comuns em
estudantes da área de saúde em uma Universidade de Pernambuco e mensuraram a
prevalência de 34,1% transtornos mentais comuns.
Prevalências estas que evidenciam a importância e a necessidade de se adotar
estratégias de proteção, prevenção e promoção de saúde para a população, como apregoa os
conceitos da Psicologia da Saúde (SIQUEIRA; JESUS; OLIVEIRA, 2007).
Considerando as inúmeras discussões sobre os malefícios e benefícios da internet, a
presente pesquisa pretende:
Avaliar a saúde mental dos internautas universitários, considerando os sintomas de
morbidades psiquiátricas.
Avaliar o uso patológico da internet realizada pelos internautas universitários.
Identificar correlações entre o tempo e tipo de acesso à internet e as morbidades
psiquiátricas.
Identificar correlações entre o tempo e tipo de acesso à internet e o uso patológico
da internet.
21
Identificar correlações entre as morbidades psiquiátricas e o uso patológico da
internet.
A presente pesquisa também possibilitará o levantamento de hipóteses que poderão ser
testadas por outras pesquisas, visando maiores e mais profundos estudos sobre o quadro de
saúde mental dos usuários de internet.
22
2. MÉTODO
O presente estudo trata-se de uma pesquisa quantitativa com delineamento transversal.
O estudo transversal é um estudo epidemiológico onde todas as medições são feitas
em um único momento, sem período de acompanhamento. (HULLEY; CUMMINGS;
BROWNER; GRANDY; HEARST; NEWMAN, 2003; ROUQUAYROL, 1994;
ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 1999). Utilizado para investigações da medição de
saúde de uma determinada população ou comunidade, com base na avaliação individual dos
integrantes do grupo, que então produzem indicadores para a saúde do grupo. Suas vantagens
são a facilidade e rapidez para obtenção dos resultados da avaliação da saúde de uma
determinada população e a possibilidade de avaliação de diferentes doenças dentro de um
mesmo estudo. Baixo custo, alto potencial descritivo possibilitando a descrição do estado de
saúde da população pesquisada. E suas desvantagens são que os casos de doenças
progressivas ou crônicas são os mas detectados, pois a relação temporal é indefinida nesse
tipo de estudo. (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 1999).
Os estudos transversais podem, também, ser utilizados para descrever associações
entre variáveis, frequentemente utilizado por pesquisadores em saúde pública para a descrição
da prevalência de uma determinada doença ou condição. Conforme Hulley et. al. (2003) o
estudo transversal permite identificar a prevalência de doenças ou fatores de risco da amostra.
Forattini (1996) entende a prevalência de uma doença como o número de casos existentes,
está pode ser medida num período de tempo (prevalência no período) ou calculada num
determinado momento (prevalência momentânea ou instantânea). Segundo Rouquayrol e
Almeida Filho (1999) a medida mais simples para a prevalência é a frequencia absoluta dos
casos de doença, mas também é possível calcular seu coeficiente através do seguinte calculo:
Coeficiente de
Prevalência .=
nº de casos conhecidos de uma
dada doença x 1.000
População
2.1 Amostra
Participaram desse estudo 150 usuários de internet, dos gêneros, masculino e
feminino, numa faixa etária de 17 até 53 anos, estudantes universitários de diversos cursos de
graduação da faculdade de saúde, de um único campus, de uma universidade privada,
localizada na cidade de São Bernardo do Campo na região metropolitana de São Paulo.
De acordo com Rea e Parker (2002) a pesquisa com estudantes em sala de aula
23
possibilita ao pesquisador o contato com grande número de entrevistados em curto período de
tempo e custo mínimo. Segundo Hulley et. al. (2003) na amostra por conveniência minimiza-
se o voluntarismo e outros tipos de viés de seleção, assim arrolando todas as pessoas
acessíveis que atendam aos critérios de participação.
Essa amostra foi selecionada por critério de conveniência, porém considerou-se a
amostragem por cotas para melhor representatividade da população estudada.
Para Gil (1999) a amostragem por cotas, de todos os tipos de amostragem não
probabilística, é a que apresenta maior rigor por classificar a população em função de
propriedades tidas como relevantes para o estudo e determinar as cotas ou proporções da
população a ser estudada com base na constituição conhecida ou presumida da população, de
modo que a amostra total seja composta em observância à proporção das classes consideradas.
Para estabelecer a amostragem por cotas, considerou-se o número total de alunos em
cada um dos cursos ministrados na faculdade de saúde, de um único campus, seccionados
conforme o ano e o período em que estudavam, e tomou-se como base para este estudo 10%
da população descrita para a realização da pesquisa, conforme ilustra a Tabela1.
Tabela1 – Calculo da amostragem por cota
CURSO PERÍODO ANO Nº de Alunos 10% amostra
1º 37 4
2º 37 4
1º 47 5
2º 43 4
3º 79 8
4º 44 4
MATUTINO 4º 42 4
1º 41 4
2º 39 4
3º 38 4
FARMÁCIA* NOTURNO 4º 69 7
FONOAUDIOLOGIA* NOTURNO 3º 27 3
1º 74 7
2º 51 5
3º 61 6
4º 80 8
5º 90 **
1º 53 5
2º
3º 41 4
4º 36 4
5º 26 3
1º 67 7
2º
3º
4º
5º
1594 150
* Os cursos de Farmácia e Fonoaudiologia só possuem uma turma no Campus pesquisado.
** O 5º ano do curso de Medicina Veterinária não tem aula presencial, o que impossibilitou a participação
destes alunos na pesquisa.
MATUTINO
NOTURNO
BIOMEDICINA
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
86
TOTAL
91 9
84 8
90 9
MATUTINO
NOTURNO
121 12
PSICOLOGIA
9
NOTURNO
MEDICINA VETERINÁRIA MATUTINO
24
Os participantes que responderam a pesquisa foram selecionados por critério de
conveniência, ou seja, participaram apenas aqueles que se disponibilizaram. O único critério
para exclusão foi o participante não ser usuário da internet. Faz-se importante lembrar que na
amostragem não probabilística de conveniência, os participantes são selecionados pela sua
disponibilidade imediata, não se pode realizar generalizações para além da amostra. (REA;
PARKER, 2002; SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006)
2.2 Ambiente
O estudo foi realizado nas dependências de um dos campus da faculdade de saúde de
uma universidade privada, na cidade de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de
São Paulo. Os questionários foram aplicados nas próprias salas de aula onde esses
participantes estudavam.
2.3 Instrumentos
Foram utilizados dois instrumentos para pesquisa:
A) O Questionário Complementar visa à caracterização da amostra, através de dados
demográficos, detalhamento sobre o curso, semestre e período de estudo dos universitários
pesquisados, dados sobre tempo e tipo de acesso à internet, indicadores de possível uso
patológico da internet retirados da literatura arrolada na introdução deste estudo, e uso de
medicamentos controlados que dariam indícios de controle e tratamento de algumas
patologias (Anexo A). Esses dados são importantes para maior conhecimento do perfil dos
participantes da pesquisa e compreensão de possível correlação entre estes dados com o
QMPA.
B) O Questionário de Morbidade Psiquiátrica de Adultos (QMPA), desenvolvido por
Santana (1982) foi construído baseado na experiência clínica de psiquiatras, no Cuestionario
de Enfermedad Mental de Groot e Arevalo e no Questionário de Morbidade do Departamento
de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, sendo posteriormente desenvolvido e
adaptado às especificidades regionais da linguagem (Anexo B). O QMPA é um instrumento
originalmente composto por 45 questões, elaboradas com termos populares que abrangem os
mais frequentes sintomas característicos de transtornos psiquiátricos, além de questões sobre
tratamento psiquiátrico e uso de drogas psicofarmacológicas. O questionário pode ser auto-
aplicado. As respostas são dicotômicas do tipo sim ou não. As primeiras 43 questões referem-
25
se ao pesquisado. As duas últimas questões (44 e 45) referem-se a sintomatologia apresentada
por qualquer um dos membros da família do indivíduo do qual se quer saber o estado de saúde
mental. Andreoli; Mari; Blay; Almeida-Filho; Coutinho; França; Fernandes; Busnello (1994)
ao realizarem a análise fatorial do QMPA mencionam que as questões 44 e 45 apesar de
mostrar relação direta com o quadro psicopatológico apresentam problemas ao serem
respondidas, por serem referidas a um membro da família. Portanto as duas questões foram
excluídas do questionário utilizado nesta pesquisa. As respostas dadas ao questionário são
somadas (sim = 1, não = 0) e os escores finais podem indicar a presença de sintomas
psiquiátricos atuais, proporcionando um inventário de sintomas. A validação do QMPA com
dados populacionais foi testada para o ponto de corte 7, mostrou sensibilidade entre 75% e
93%, especificidade entre 53% e 94% e índice Kappa de 0,88 (SANTANA, 1982).
Andreoli et al. (1994) realizou a análise fatorial do QMPA e encontrou 7 fatores de
morbidades psiquiátricas:
1. Ansiedade/Somatização (composto pelas questões 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 21, 22,
23 e 35)
2. Irritabilidade/Depressão (composto pelas questões 6, 7, 10, 13, 14, 15, 18 e 22)
3. Deficiência Mental (composto pelas questões 16, 37, 38 e 44)
4. Alcoolismo (composto pelas questões 19, 20 e 43)
5. Exaltação do Humor (composto pelas questões 28, 29, 33 e 34)
6. Transtorno de Percepção (composto pelas questões 27, 30 e 31)
7. Tratamento (composto pelas questões 24, 35 e 40)
2.4 Procedimento
Inicialmente foi solicitada autorização da instituição (Anexo C) para coleta de dados
com os alunos da universidade. Posteriormente o projeto foi submetido ao Comitê de Ética da
Universidade Metodista de São Paulo para autorização da realização desta pesquisa (Anexo
D). A aplicação dos questionários foi realizada coletivamente em sala de aula, com prévia
autorização dos professores que ministravam suas aulas naquele período.
O critério de escolha dos participantes, como mencionado anteriormente foi por
conveniência, deste modo, o pesquisador divulgou em cada sala de aula o número de
estudantes daquela determinada turma que poderia participar da pesquisa, conforme a cota de
10% da turma calculada anteriormente, e os alunos que se dispunham recebiam as
informações necessárias para prosseguir a pesquisa. O único critério de exclusão utilizado foi
26
o estudante não ser usuário de internet.
Antes da aplicação dos questionários o pesquisador explicou aos participantes o
objetivo da pesquisa, falou sobre o sigilo da participação, sobre o fato da pesquisa não
oferecer riscos para saúde física ou psíquica e informou sobre a liberdade do participante,
mesmo depois de coletados os dados, desistir de sua participação ou ainda sanar quaisquer
dúvidas sobre o estudo com o pesquisador. Após concordância na participação da pesquisa foi
entregue para assinatura dos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –
TCLE (Anexo E), de acordo com os princípios éticos nas determinações constantes do
Decreto 196 da Resolução n.196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil para pesquisas
envolvendo seres humanos.
Antes da aplicação dos instrumentos, os participantes receberam os devidos
esclarecimentos sobre o preenchimento do Questionário Complementar e do QMPA.
Após coleta, os dados foram lançados e tratados estatisticamente através do software
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Para análise dos resultados foram
utilizados a correlação bivariada de Pearson, Teste t, cálculo de médias, desvio padrão e
frequência das variáveis apresentadas.
ASPECTOS ÉTICOS / RISCOS E BENEFÍCIOS
A presente pesquisa atende as resoluções CNS 196/96 e CFP 16/2000 seguindo as
diretrizes e normas de pesquisas com seres humanos e pesquisas em psicologia com seres
humanos. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A pesquisa não proporcionou nenhum risco físico ou psicológico aos seus
participantes, por tratar-se de diagnóstico e não de intervenção. Foi garantido o respeito aos
participantes mantendo o sigilo e confidencialidade das informações coletadas. Deste modo,
entende-se que não há riscos ou danos de nenhuma espécie aos participantes desta pesquisa.
27
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir são apresentados e discutidos os resultados do presente estudo, iniciando-se
pela caracterização da amostra, seguindo pela apresentação da prevalência dos sintomas de
morbidade psiquiátrica, médias dos fatores de morbidade psiquiátrica, frequências do uso
patológico da internet, e posteriormente a apresentação das correlações entre morbidade
psiquiátrica, uso patológico da internet, tempo e tipo de acesso à internet, além do Teste t das
médias das principais variáveis do estudo.
3.1 Caracterização da Amostra
Participaram desta pesquisa 150 usuários de internet, dos gêneros, feminino e
masculino, entre 17 e 53 anos, estudantes de diferentes cursos universitários da área da saúde.
Os dados demográficos dos participantes foram compilados e apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 - Dados demográficos da amostra (n=150)
Variáveis Níveis n % Média
Gênero Feminino 110 73%
Masculino 40 27%
Idade 23 anos
Faixa
Etária
17 a 19 anos 36 24%
20 a 25 anos 89 59%
26 a 30 anos 13 9%
31 a 40 anos 9 6%
41 a 53 anos 3 2%
Estado
Civil
Solteiro 133 89%
Casado 11 7%
Divorciado 3 2%
União Consensual 3 2%
Atividade
Laboral
Estágio 47 31%
Somente Estuda 45 30%
Trabalho formal 38 25%
Trabalho informal 20 13%
Renda Familiar R$ 4.495,00
A Tabela 2 mostra que os internautas universitários estudados eram na maioria
mulheres (73%), e 27% de homens. Com faixa etária entre 17 e 53 anos e idade média de 23
anos, sendo que 59% tinham entre 20 e 25 anos. Em relação ao estado civil houve o
predomínio de pessoas solteiras (89%), seguido por 7% casadas, 2% divorciadas e 2% viviam
28
em união consensual. Quanto a atividade laboral que exerciam 31% estagiavam, 30% somente
estudavam, 25% realizavam trabalhos formais e 13% trabalhos informais. Os participantes
apresentaram renda familiar média de R$ 4.495,00 (média de 8,8 salários mínimos), o que
poderia ser classificado como classe econômica B1, conforme a média de renda familiar dos
estudos da ABEP em 2010.
Os usuários de internet pesquisados eram estudantes de diferentes anos e períodos de
diversos cursos de graduação da área da saúde, conforme ilustra a Tabela 3.
Tabela 3 - Dados de escolaridade da amostra (n=150)
Variáveis Níveis n %
Curso
Biomedicina 28 19%
Ciências Biológicas 16 11%
Farmácia 7 5%
Fonoaudiologia 3 2%
Medicina Veterinária 26 17%
Psicologia 70 47%
Ano
1º 31 21%
2º 34 23%
3º 34 23%
4º 36 24%
5º 15 10%
Período Matutino 62 41%
Noturno 88 59%
A Tabela 3 mostra que a maioria dos internautas eram alunos do curso de Psicologia
(47%), seguidos por Biomedicina 19%, Medicina Veterinária 17%, Ciências Biológicas 11%,
Farmácia 5% e Fonoaudiologia 2% . Os anos de estudo cursados na graduação foram mais
homogêneos, 24% dos alunos cursavam o 4º ano, 23% cursavam igualmente o 2º e 3º ano,
21% o 1º ano e 10% o 5º ano. Quanto ao período em que realizavam seus estudos,
predominou o período noturno em 59%, ante o período matutino com 41%. O percentual de
alunos por curso, ano e período foi definido pela amostragem por cotas, representando em
10% a população de estudantes dos cursos da faculdade de saúde de um único campus, da
universidade pesquisada, conforme detalhado anteriormente no método desta pesquisa.
29
3.2 Padrão de uso da Internet da Amostra
Quanto ao padrão de acesso à internet dos usuários pesquisados foi possível traçar um
perfil da média de acessos e o tipo de uso dessa ferramenta, considerando o local de acesso, a
razão para o acesso e os sites frequentemente acessados.
A Tabela 4 apresenta a média de acesso à internet dos internautas pesquisados.
Tabela 4 - Média de acesso à internet da amostra (n=150)
Variáveis Média
Desvio
Padrão Mínimo Máximo
Quantidade de dias de acesso na semana 6 1,7 1 7
Horas de acesso por dia 4 2,8 1 19
Horas de acesso por semana 25 20,4 1 133
Horas de acesso por mês 100 81,5 4 532
A média de dias de acesso semanal à internet da amostra estudada foi de 6 dias por
semana (DP = 1,7). Sendo o tempo médio de navegação diária de 4 horas (DP = 2,8),
variando entre 1 e 19 horas conforme o usuário. Assim foi possível identificar a média de 25
horas de acesso semanal à internet (DP = 20,4), esse tempo de acesso variou entre 1 e 133
horas conforme o internauta. Considerando essa média de acesso obtivemos a média de 100
horas de navegação por mês (DP = 81,5), com grande tempo de variação entre os usuários, de
4 a 532 horas de acesso.
Média mensal essa (100 horas) maior que o dobro da média mensurada pelo IBOPE
Nielsen Online (2009) para horas de acesso mensais no Brasil (48 horas e 26 minutos). Sendo
assim, os participantes dessa pesquisa podem ser considerados usuários de internet bastante
ativos, fato que assegura uma amostragem significativa em termos de acesso à internet. Esta
alta média para tempo de acesso à internet, tratando-se de estudantes universitários, pode ser
compreendida pelas considerações das pesquisas do IBGE (2005, 2008) que mostraram que
quanto maior o grau de escolaridade, maior o tempo de acesso à internet.
A Tabela 5 elucida o tipo de uso da internet que os internautas estudados
frequentemente realizavam.
30
Tabela 5 - Frequência e tipo de utilização da internet da amostra (n=150)
Variáveis Níveis n % "Nunca
acesso"
"Raramente
Acesso"
"Às vezes
acesso"
"Frequentemente
acesso"
Local de
Acesso
Residência 148 99% 1% 2% 12% 85%
Trabalho 72 48% 52% 12% 11% 25%
Instituição de Ensino 140 93% 7% 31% 45% 18%
Lan House 32 21% 79% 17% 4% 1%
Outros 7 5% 23% 3% 1% 1%
Razão de
Acesso
Lazer 146 97% 3% 9% 34% 54%
Trabalho 111 74% 26% 13% 16% 45%
Estudos 150 100% 0% 1% 20% 79%
Outros 13 9% 24% 3% 1% 5%
O que
acessa
Relacionamento 109 73% 27% 11% 21% 4%
Bate Papo 69 46% 54% 11% 11% 24%
Pesquisa 149 99% 1% 1% 18% 80%
Jogos 51 34% 66% 17% 13% 4%
Email 146 97% 2% 1% 6% 91%
Outros 21 14% 9% 1% 5% 8%
Através dos dados apresentados na Tabela 5 é possível verificar que 99% dos
internautas acessavam a internet de suas residências frequentemente (85%), sendo que 93%
dos participantes também acessavam a internet da instituição de ensino com uma frequência
menos regular (45% acessavam às vezes e 18% acessavam frequentemente). O acesso à
internet no local de trabalho era realizado por 48% dos pesquisados com uma frequência
menor (25% acessavam às vezes e 11% acessavam frequentemente). A Lan House era
utilizada por 21% dos internautas com uma frequência bastante baixa. Outros locais de acesso
representaram 5%, esses acessos eram realizados em casa de amigos, parentes e por celular.
Acessar a internet por motivo de estudo foi mencionado por 100% dos alunos, com
frequente utilização (79%). Utilizar a internet para o lazer foi citado por 97% dos
pesquisados, e a frequente utilização por esse motivo apareceu em 54% dos casos e outros
34% com menor frequência porque acessavam “às vezes”. Para a realização de trabalhos, o
uso da internet foi apontado também por grande parte (74%) dos participantes. Os outros
motivos relatados em 9% da amostra eram para compras, busca de emprego, escutar música e
obter informações gerais sobre esporte, curiosidades e fofocas.
Referente aos sites acessados, aparece em 99% dos casos o acesso a sites de pesquisa,
com grande frequência de utilização (80%), os sites de pesquisas mencionados foram:
Google, Scielo, Bvspsi, Capes e Pubmed. Outra grande prevalência de acessos foram os
emails, 97% dos internautas costumavam acessar seus emails com grande frequência (91%).
Os sites de relacionamento também eram bastante acessados, 73% dos participantes
acessavam sites de relacionamento como: Orkut, Facebook e Twitter. Com menor frequência
31
de acesso (46%) foram mencionados os sites de bate papo, como: Messenger e Skipe, 34%
citaram acesso a sites de jogos e os outros 14% referiam-se a acessos de blogs, sites de
notícias, sites de compra e venda de produtos, sites de emprego, sites de cursos de ensino a
distância, sites de download, de vídeos e de músicas.
Assim como nas pesquisas do IBGE (2005, 2008) o local de acesso à internet mais
utilizado pelos internautas universitários pesquisados foi a residência. Porém seguido pelo
acesso à internet da instituição de ensino, que aparece nas pesquisas do IBGE (2005, 2008)
como menor percentual de acesso, possivelmente essa diferença se deu por a amostra ser
composta de estudantes universitários que possuem fácil acesso de conexão em sua instituição
de ensino. Também por esse motivo, a maior finalidade de acesso à internet foi para o estudo
(100%), diferentemente das informações do IBGE (2008), onde essa era a finalidade com
menor percentual de acessos.
Os tipos de sites acessados pelos internautas pesquisados indicam que a segunda
finalidade de acesso é a comunicação, pois 97% da amostra acessavam emails, 73% sites de
relacionamento e 46% sites de bate papo. O IBGE (2008) aponta que a maior finalidade de
acesso à internet no Brasil é a comunicação e o IBOPE Inteligência (2010) divulgou que o
Brasil é um dos dez países que mais acessam as redes sociais. Considerando que a amostra é
de estudantes, os dados mensurados corroboram com os altos índices de acesso para fins de
comunicação e acesso a sites de relacionamento.
3.3 Uso Patológico da Internet
O uso patológico da internet foi avaliado pelo presente estudo através de quatro
questões elaboradas a partir da revisão literária desta pesquisa, com o objetivo de mensurar se
os internautas pesquisados realizavam o uso excessivo da internet, em detrimento de outros
aspectos de suas vidas. A Tabela 6 apresenta a frequência de respostas afirmativas para cada
uma das questões.
32
Tabela 6 - Frequência de respostas para as questões do uso patológico da Internet (n=85)
Uso patológico da Internet n % Você costuma negligenciar tarefas escolares, domésticas ou trabalho
para permanecer mais tempo conectado a Internet? 44 29%
Você já se privou de necessidades fisiológicas (como sono, alimentação,
urinar ou defecar) para se manter mais tempo conectado a Internet? 57 38%
Você prefere passar mais tempo on-line do que estar com seus amigos e
familiares? 11 7%
Outras pessoas (amigos/familiares) se queixam sobre a quantidade de
tempo que você se mantém conectado a Internet? 30 20%
É possível notar a existência do uso patológico da internet em uma grande proporção
dos internautas estudados, sendo que 38% se privaram de necessidades fisiológicas, como o
sono, a alimentação, urinar ou defecar para se manter mais tempo conectados à internet, 29%
citaram costumar negligenciar tarefas escolares, domésticas ou trabalho para permanecer mais
tempo conectados a internet, 20% relataram que outras pessoas, como amigos e familiares, se
queixam sobre a quantidade de tempo que estes permanecem conectados a internet. E destaca-
se, apesar do baixo índice, uma questão bastante relevante, onde 7% dos participantes
mencionaram preferir passar mais tempo on-line do que estar com seus amigos e familiares.
A Tabela 7 mostra a frequência de respostas afirmativas para o uso patológico da
internet.
Tabela 7 - Frequência de respostas positivas sobre o uso patológico da internet (n=85)
Total de respostas N %
1 resposta 47 31%
2 respostas 23 15%
3 respostas 11 7%
4 respostas 4 3%
A Tabela 7 demonstra que 57% (N=85) dos internautas pesquisados mencionaram
realizar algum dos comportamentos avaliados como indício do uso patológico da internet, e
destes, 31% mencionou realizar um dos quatro comportamentos patológicos sobre o uso da
internet adotados nessa pesquisa. Seguidos por 15% que realizou dois dos quatros
comportamento patológicos pesquisados, 7% que realizou três dos quatros comportamento
patológicos e 3% mencionou realizar os quatro comportamento patológicos sobre o uso da
internet pesquisados.
Corroborando com o pensamento de Levy (1993) de que a natureza opressiva, anti-
social, ou ao contrário, benéfica e amigável da informática depende da questão do bom ou do
33
mau uso da mesma, a presente pesquisa através das questões apresentadas acima, pretendeu
avaliar se os internautas pesquisados realizavam um mau uso da internet. E com base nos
resultados apresentados mensurou que 57% dos internautas pesquisados realizam
comportamentos avaliados como uso patológico da internet, por utilizá-la em detrimento de
outros aspectos de suas vidas, conforme sugere diversos autores para avaliação dos malefícios
do uso da internet (YOUNG, 1998a; FARAH; FORTIM, 2005; ZACARIAS, 2008;
CASTELLS, 1999).
Dos questionamentos sobre o uso da internet avaliados nesta pesquisa, o
comportamento mais patológico mostra ser o detrimento das relações sociais presenciais em
função do uso da internet, mencionado por vários autores de maneira diferenciada: declínio da
comunicação com familiares (CASTELLS, 1999), comprometimento das relações sociais
(YOUNG, 1998a), substituição de relacionamentos reais por relacionamentos virtuais
(NICOLACI-DA-COSTA, 2002a), comprometimento social e redução de contatos (FARAH;
FORTIM, 2005 e ruptura de relacionamentos afetivos e isolamento social (NPPI, 2009). E
presente em apenas 7% da amostra, elucidando que o nível de comprometimento do uso
patológico da internet da amostra não é tão severo.
Para compreensão do perfil dos internautas que fazem o uso patológico da internet a
Tabela 8 apresenta os dados demográficos e escolares dos internautas pesquisados
discriminando conforme o tipo de uso da internet (patológico ou não patológico).
34
Tabela 8 - Dados demográficos e escolares por tipo de uso da internet patológico/não patológico (n=150)
Variáveis Níveis n Uso Patológico Uso Não Patológico
Gênero Feminino 110 69% 79%
Masculino 40 31% 21%
Faixa
Etária
17 à 19 anos 36 27% 20%
20 à 25 anos 89 58% 61%
26 à 30 anos 13 9% 8%
31 à 40 anos 9 4% 9%
41 à 53 anos 3 2% 2%
Estado
Civil
Solteiro 133 88% 89%
Casado 11 8% 9%
Divorciado 3 2% 1%
União Consensual 3 2% 1%
Atividade
Laboral
Estágio 47 33% 29%
Somente Estuda 45 32% 28%
Trabalho formal 38 20% 32%
Trabalho informal 20 15% 11%
Curso
Biomedicina 28 25% 11%
Ciências Biológicas 16 8% 14%
Farmácia 7 1% 9%
Fonoaudiologia 3 1% 3%
Medicina Veterinária 26 13% 23%
Psicologia 70 52% 40%
Ano
1º 31 23% 17%
2º 34 25% 20%
3º 34 22% 23%
4º 36 18% 32%
5º 15 12% 8%
Período Matutino 62 43% 38%
Noturno 88 57% 62%
Os dados apresentados na Tabela 8 não demonstram grandes diferenças entre o perfil
sócio demográfico dos internautas que realizam o uso patológico da internet e os que não
realizam o uso patológico. Apenas a atividade laboral realizada pelos internautas mostra-se
relevante, pois a maioria dos internautas que realizava comportamentos classificados com uso
patológico da internet realizavam estágio ou somente estudavam, enquanto os internautas que
não relataram comportamentos patológicos quanto ao uso da internet eram na maioria
trabalhadores formais.
E a Tabela 9 ilustra o padrão de acesso à internet conforme o tipo de uso da mesma
(patológico ou não patológico).
35
Tabela 9 - Padrão de acesso à internet por tipo de uso da internet patológico/não patológico (n=150)
Variáveis Níveis N Uso Patológico Uso Não Patológico
Local de Acesso
Residência 148 99% 98%
Trabalho 72 46% 51%
Instituição de Ensino 140 94% 92%
Lan House 32 22% 20%
Outros 7 27% 5%
Razão de Acesso
Lazer 146 98% 97%
Trabalho 111 68% 82%
Estudos 150 100% 100%
Outros 13 29% 24%
O que acessa
Relacionamento 109 79% 65%
Bate Papo 69 52% 38%
Pesquisa 149 100% 99%
Jogos 51 41% 23%
Email 146 97% 98%
Outros 21 15% 3%
A Tabela 9 apresenta certa homogeneidade entre o padrão de acesso dos internautas
que realizam o uso patológico da internet e os que não realizam o uso patológico, salvo
algumas diferenças no padrão de acesso que podem ajudar a traçar o perfil de acesso dos
internautas que apresentaram comportamentos patológicos no uso da internet. Estes acessam
mais a internet da casa de amigos, parente e por celular, acessam mais sites de
relacionamento, bate papo, jogos e sites de compra, música, esporte, curiosidade e fofocas e
utilizam menos a internet para realizar trabalhos do que os internautas que não relataram uso
patológico da internet.
3.4 Sintomas de Morbidade Psiquiátrica
Sobre a saúde mental dos internautas universitários pesquisados, a mesma foi avaliada
pelos sintomas de morbidade psiquiátrica através do QMPA. Considerando o score de corte 7,
conforme estudo de Santana (1982), temos a divisão da amostra em dois grupos, os que
apresentaram e os que não apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica, conforme
apresenta a Tabela 10.
Tabela 10- Scores do QMPA
(n=150)
QMPA N %
Até 7 87 58%
Acima 7 63 42%
36
Deste modo, é possível observar que 58% dos usuários de internet pesquisados não
apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica e podem ser considerados psiquicamente
saudáveis, enquanto que 42% dos usuários de internet apresentaram sintomas de morbidade
psiquiátrica. O que propiciou o cálculo da prevalência de sintomas de morbidade psiquiátrica
na amostra estuda. A prevalência calculada foi momentânea, sem período de
acompanhamento (referiu-se aos meses de agosto e setembro de 2010).
Assim sendo, considerando a frequência absoluta, encontramos a prevalência de 42%
de sintomas de morbidade psiquiátrica na amostra estudada; de modo que, calculando o
coeficiente de prevalência, obtem-se o número de casos de morbidade psiquiátrica numa
população de 1.000 pessoas:
Coeficiente de
Prevalência .=
nº de casos conhecidos de
uma dada doença x 1.000
População
Coeficiente de
Prevalência .=
63 x 1.000 .= 420
150
Do cálculo acima mencionado, ou seja, considerando o coeficiente de prevalência,
foram obtidos 420 casos de morbidade psiquiátrica em cada 1.000 internautas universitários.
Este resultado demonstrou conformidade com outros estudos sobre morbidade
psiquiátrica, cuja prevalência tramita entre 25% (CERCHIARI et al., 2005) e 58% (NEVES;
DALGALARRONDO, 2007) em pesquisas com estudantes universitários.
Os altos índices de prevalência de morbidade psiquiátrica encontrado nas pesquisas,
evidenciam os dados que indicam que os transtornos mentais e do comportamento
representam cinco das dez principais causas de morbidade do mundo, e 12% da incapacitação
decorrente de doenças, sendo ainda mais acentuada nos países em desenvolvimento, como o
Brasil, devido ao envelhecimento da população, a rápida urbanização, a violência e a
globalização. (LOPEZ; MURRAY, 1998)
Discriminando os sintomas de morbidades psiquiátricas por fatores (ANDREOLI et al,
1994) podemos verificar aqueles mais evidenciados na amostra, conforme apresenta a
Tabela 11.
37
Tabela 11 - Média e desvio padrão por fatores do QMPA
(n=150)
Questões Média Desvio Padrão
1- Ansiedade e Somatização 0,23 0,20
2 - Irritabilidade e Depressão 0,26 0,23
3 - Deficiência Mental 0,02 0,08
4 - Alcoolismo 0,04 0,12
5 - Exaltação do Humor 0,35 0,32
6 - Transtorno de Percepção 0,06 0,14
7 - Tratamento 0,08 0,18
Dentre os 7 fatores de sintomas de morbidades psiquiátricas, o fator mais prevalente
foi a Exaltação do Humor (média 0,35; DP = 0,32). Os participantes citaram falar coisas sem
sentido ou bobagens, falar ou rir sozinhos, ficar períodos exageradamente alegres sem saber
por que, e andar, cantar ou falar sem parar.
Outro fator elevado foi a Irritação e Depressão (média 0,26; DP = 0,23). Os
participantes relataram ficar agressivo com facilidade, períodos triste e com desanimo, ter
com frequência crises de irritação, às vezes ficar parado chorando muito, sentir-se
descontrolado, fechar-se em um quarto sem querer ver ninguém e sofrer de nervosismo ou
sempre estar intranquilo.
Outro fator de sintomas de morbidades psiquiátricas notório entre os participantes foi
o fator de Ansiedade e Somatização (média 0,23; DP = 0,20). Os participantes relataram
sofrer de falta de apetite, ter dificuldade para dormir, queixar-se de zumbidos no ouvido,
sentirem dores ou pontadas frequentes na cabeça, sentir fraqueza nas pernas ou dores nos
nervos, sentir queimação ou empachamento no estomago, sentir tremor ou frieza nas mãos, ter
dificuldade para aprender, lembrar ou entender as coisas, queixar-se de palpitações ou
pontadas no coração, sofrer de nervosismo ou estar sempre intranquilo, preocupar-se muito
com doenças e já ter utilizado algum remédio para dormir ou acalmar os nervos.
Dois dos fatores mencionados com alta prevalência neste estudo (fator 1 e 2) são
compostos por sintomas de ansiedade, somatização, irritabilidade e depressão, sintomas estes
comumente referidos como transtornos mentais comuns (GOLDBERG; HUXLEY, 1992) ou
transtornos psiquiátricos menores (LIMA; SOARES; MARI, 1999; CERCHIARI;
CAETANO; FACCENDA, 2005). Estes transtornos apresentam uma elevada prevalência na
população adulta em geral (COUTINHO et al., 1999), assim como no presente estudo.
Um estudo sobre a epidemiologia dos transtornos mentais (ANDRADE; LÓLIO;
38
GENTIL; LAURENTI, 1999) mensurou a prevalência destes em uma área da cidade de São
Paulo e apontou como os transtornos mais comuns, com exceção da dependência de tabaco,
os transtornos depressivos, ansiosos e somatoformes. Que evidencia os altos índices de
transtornos psiquiátricos menores, mencionados anteriormente, e condiz com os resultados
apresentados nesta pesquisa.
Apenas 7% da amostra pesquisada (n = 10) mencionou fazer uso de medicação
controlada, dentre estes 50% (n = 5) poderia representar indícios de diagnóstico e tratamento
de alguma morbidade psiquiátrica pelo uso dos medicamentos citados (sertralina, fluoxetina e
sibutramina), percentual esse não relevante, os demais pesquisados mencionaram o uso de
medicamento controlado para pressão, lúpus, entre outro medicamentos que não se
relacionam com tratamentos de morbidades psiquiátricas. A Tabela 12 apresenta a freqüência
de sintomas de morbidade psiquiátrica conforme o uso de medicamentos controlados.
Tabela 12 - Frequência de QMPA por uso de medicamento controlado (n=150)
Horas de Acesso n QMPA até 7 QMPA acima de 7
Não toma medicamento controlado 140 58% 42%
Toma medicamento controlado 10 60% 40%
A Tabela 12 mostra que dos 10 participantes que tomam medicação controlada 60%
(N = 6) não apresentam sintomas de morbidade psiquiátrica, enquanto 40% (N = 4)
apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica. Deste modo, esses dados não se mostram
como relevantes na pesquisa.
Em busca de maior compreensão dos resultados do QMPA, a Tabela 13 apresenta os
scores do QMPA discriminados conforme os dados demográficos e escolares.
39
Tabela 13 - Score de QMPA conforme dados demográficos e escolares (n=150)
Variáveis Níveis n QMPA
até 7
QMPA
acima de 7
QMPA > 7 (N=63)
n %
Gênero Feminino 110 53% 47% 52 83%
Masculino 40 73% 27% 11 17%
Faixa
Etária
17 a 19 anos 36 53% 47% 17 27%
20 a 25 anos 89 58% 42% 37 59%
26 a 30 anos 13 69% 31% 4 6%
31 a 40 anos 9 67% 33% 3 5%
41 a 53 anos 3 33% 67% 2 3%
Estado
Civil
Solteiro 133 57% 43% 57 90%
Casado 11 64% 36% 4 7%
Divorciado 3 33% 67% 2 3%
União Consensual 3 100% 0% 0 0%
Atividade
Laboral
Estágio 47 55% 45% 21 33%
Somente Estuda 45 67% 33% 15 24%
Trabalho formal 38 50% 50% 19 30%
Trabalho informal 20 60% 40% 8 13%
Curso
Biomedicina 28 50% 50% 14 22%
Ciências Biológicas 16 81% 19% 3 5%
Farmácia 7 57% 43% 3 5%
Fonoaudiologia 3 67% 33% 1 1%
Medicina veterinária 26 77% 23% 6 10%
Psicologia 70 49% 51% 36 57%
Ano
1º 31 58% 42% 13 21%
2º 34 59% 41% 14 22%
3º 34 47% 53% 18 29%
4º 36 67% 33% 12 19%
5º 15 60% 40% 6 24%
Período Matutino 62 66% 34% 21 33%
Noturno 88 52% 48% 42 67%
A Tabela 13 demonstra diferença pouco significativa dos scores de QMPA para o sexo
feminino, sendo que 53% das mulheres foram consideradas psiquicamente saudáveis e 47%
apresentaram sintomas de morbidades psiquiátricas. Os homens em sua maioria (73%)
apresentaram-se saudáveis mentalmente, contra 27% que apresentaram sintomas de
morbidades psiquiátricas. Comparando os gêneros, 83% dos pesquisados que apresentaram
sintomas de morbidades psiquiátricas são mulheres ante 17% homens, deste modo, mesmo
considerando que o gênero feminino representa 73% da amostra, é possível notar que os
40
homens apresentaram mais saúde mental que as mulheres nesta pesquisa. Dados esses
compatíveis com os demais estudos sobre morbidades psiquiátricas que indicam maior
prevalência no gênero feminino (COUTINHO et al.,1999; MARAGNO et al., 2006; LIMA et
al., 1999).
Verificando a estratificação por faixa etária foi possível identificar que houve
predomínio de saúde mental (QMPA até 7) na maioria, com exceção dos pesquisados entre 41
e 53 anos, pois 67% apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica. A maior parte da
amostra (59%) concentra-se na faixa etária de 20 a 25 anos e esta faixa foi a que obteve o
segundo maior percentual de sintomas de morbidade psiquiátrica (59%). Seguida pela faixa de
17 a 19 anos que representa 27% dos participantes que apresentaram sintomas de morbidade
psiquiátrica, mas que também representa 24% da amostra. Muitos estudos sobre morbidade
psiquiátrica, assim como Coutinho et al. (1999) e Lima et al. (1999) indicam que a
prevalência dessas morbidades aumenta com a idade. Nos resultados desta pesquisa a
prevalência de morbidade psiquiátrica não aumentou com a idade, porém a maior prevalência
foi em pessoas acima de 40 anos.
Quanto ao estado civil houve prevalência de saúde mental, exceto para os divorciados
que apresentaram 67% de sintomas de morbidade psiquiátrica. Entre os demais estados civis
se destacou a união consensual com 100% de saúde mental. Considerando apenas as pessoas
que apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica, os solteiros apresentaram o maior
índice de sintomas (90%). Estes resultados condizem com a pesquisa de Coutinho et al.
(1999) quando menciona que entre pessoas com escolaridade mais elevada, as pessoas
casadas apresentaram menor risco de transtornos mentais.
Quando discriminado pelo tipo de atividade laboral, também houve predomínio de
saúde mental (QMPA até 7) em todas as atividades. E quando comparada as atividades
laborais, o maior índice de sintomas de morbidades psiquiátricas (33%) foi dos estágios,
porém o estágio também representa o maior índice de atividade laboral da amostra (31%). Já a
atividade de somente estudar que representa o segundo percentual de atividades exercidas
pela amostra (30%), obteve o terceiro índice (24%) de morbidade psiquiátrica entre as demais
atividades laborais, e dentre os pesquisados que somente estudam 67% apresentam saúde
mental, maior índice entre as atividades laborais, assim os pesquisados que somente estudam
apresentam uma pequena diferença favorável em termos de saúde mental, dos demais
participantes que realizam outras atividades laborais.
Referente ao curso realizado, houve predomínio de saúde mental na maioria dos
cursos, destacando-se os cursos de Ciências Biológicas (81%) e Medicina Veterinária (77%)
41
que apresentaram os maiores índices de saúde mental. O curso de Psicologia apresentou o
maior índice de sintomas de morbidade psiquiátrica, 51% dos estudantes deste curso
obtiveram score de QMPA maior que 7.
Em relação ao ano do curso que os estudantes estavam também houve prevalência de
saúde mental na maioria dos anos, com exceção do 3º ano, onde 53% dos alunos apresentaram
sintomas de morbidades psiquiátricas.
Sobre o período em que estudavam houve prevalência de saúde mental em ambos os
períodos, destacando-se o período matutino onde 66% dos alunos apresentaram score do
QMPA até 7.
Contudo os resultados evidenciam que houve prevalência de saúde mental na maioria
das estratificações.
A fim de continuar discriminando a amostra conforme os resultados do QMPA, a
Tabela 14 apresenta as médias de acesso à internet conforme o score obtido no QMPA.
Tabela 14 - Média de acesso à internet por score de QMPA (n=150)
Score Horas por Semana Horas por Mês
Média DP Média DP
QMPA até 7 23 hs 20,5 94 hs 82,1
QMPA acima 7 27 hs 20,1 108 hs 80,4
Mediante os resultados da Tabela 14 é possível notar que o tempo médio que os
internautas acessavam a internet foi maior entre os que apresentaram sintomas de morbidade
psiquiátrica.
Para melhor compreensão do acesso à internet conforme a saúde mental de seus
usuários, a Tabela 15 discrimina o tipo de acesso que os pesquisados realizavam conforme o
score de QMPA que obtiveram.
42
Tabela 15 - Score de QMPA conforme tipo de acesso à internet (n=150)
Variáveis Níveis n QMPA até 7 QMPA acima de 7
Local de Acesso
Residência 148 59% 41%
Trabalho 72 62% 38%
Instituição de Ensino 140 57% 43%
Lan House 32 62% 38%
Outros 7 57% 43%
Razão de Acesso
Lazer 146 57% 43%
Trabalho 111 61% 39%
Estudos 150 58% 42%
Outros 13 46% 54%
O que acessa
Relacionamento 109 56% 44%
Bate Papo 69 51% 49%
Pesquisa 149 58% 42%
Jogos 51 55% 45%
Email 146 58% 42%
Outros 21 52% 48%
A Tabela 15 mostra que houve predomínio de saúde mental (QMPA até 7) em todos
os tipos de acesso à internet descritos, seja pelo local de acesso, razão de acesso ou o tipo de
site de acesso. Com exceção da razão de acesso definida como outros, que refere-se a
utilização da internet para compras, busca de emprego, escutar música e obter informações
gerais sobre esporte, curiosidades e fofocas, 54% dos internautas que utilizavam a internet por
essas razões apresentaram sintomas de morbidades psiquiátricas.
De maneira geral, não houve grande diferenciação nas estratificações acima descritas,
entre o local de acesso, razão de acesso ou o tipo de site acessado, se comparado com os
sintomas de morbidades psiquiátricas. Dados que remetem as considerações de Levy (1993,
1996) quando o autor menciona que a virtualização não é nem boa, nem má, mas lembra que
também não é neutra, e que a questão dos benefícios ou malefícios da mesma dependeria do
uso que as pessoas realizam.
3.5 Classificação de tipo de usuário da Internet
A média de horas de acesso à internet apresentou relação com os sintomas de
morbidade psiquiátrica avaliados. Assim para melhor compreensão dessa relação, os
internautas serão identificados como usuários pesados ou leves, conforme a quantidade de
horas que permanecem conectados a internet.
43
Considerando a média de 48 horas e 26 minutos de acesso mensal à internet no Brasil
(IBOPE Nielsen Online, 2009) e a definição utilizada por Nicolaci-da-Costa (2003) em sua
pesquisa de que usuário pesado seria aquele que passa no mínimo duas horas diárias
conectados à internet, foi adotado para essa pesquisa a definição de usuário pesado como
aquele que acessa a internet acima de 60 horas mensais, deste modo esses usuários acessam a
internet mais de duas horas diárias, conforme estabelecido por Nicolaci-da-Costa (2003) e
acessam mensalmente mais horas do que a média brasileira de navegação em páginas da
internet (IBOPE Nielsen Online, 2009).
Deste modo, é possível diferenciar dois grupos na amostra estudada. Um grupo que
acessa a internet até 60 horas mensais, que pode ser considerado como usuário leve, e um
grupo que acessa a internet acima de 60 horas mensais que pode ser considerado como
usuário pesado. A Tabela 16 ilustra essa divisão.
Tabela 16 - Frequência de tipo de usuário da internet (n=150)
Horas de Acesso N %
Usuário Leve 68 45%
Usuário Pesado 82 55%
Conforme os resultados apresentados na Tabela 16, dos internautas pesquisados 55%
pode ser considerado usuário pesado e 45% usuário leve, sendo assim, conforme a definição
adotada neste estudo os usuários pesados representam mais da metade da amostra.
Para compreensão do perfil destes usuários, a Tabela 17 mostra os dados demográficos
e escolares dos internautas pesquisados discriminando o usuário leve do usuário pesado.
44
N %
Feminino 110 46% 54% 59 72%
Masculino 40 42% 58% 23 28%
17 à 19 anos 36 39% 61% 22 27%
20 à 25 anos 89 45% 55% 49 60%
26 à 30 anos 13 62% 38% 5 6%
31 à 40 anos 9 56% 44% 4 5%
41 à 53 anos 3 33% 67% 2 2%
Solteiro 133 45% 55% 73 89%
Casado 11 45% 55% 6 7%
Divorciado 3 33% 67% 2 2%
União Consensual 3 67% 33% 1 1%
Estágio 47 49% 51% 24 29%
Somente Estuda 45 36% 64% 29 35%
Trabalho formal 38 61% 39% 15 18%
Trabalho informal 20 30% 70% 14 17%
Biomedicina 28 32% 68% 19 23%
Ciências Biológicas 16 19% 81% 13 16%
Farmácia 7 43% 57% 4 5%
Fonoaudiologia 3 0% 100% 3 4%
Medicina Veterinária 26 73% 27% 7 9%
Psicologia 70 49% 51% 36 44%
1º 31 32% 68% 21 26%
2º 34 47% 53% 18 22%
3º 34 44% 56% 19 23%
4º 36 53% 47% 17 21%
5º 15 53% 47% 7 9%
Matutino 62 56% 44% 27 33%
Noturno 88 38% 62% 55 67%
Ano
Período
Usuário Pesado (N=82)Usuário PesadoUsuário Leven
Gênero
Faixa
Etária
Estado
Civil
Atividade
Laboral
Curso
NíveisVariáveis
Tabela 17 - Dados demográficos e escolares por tipo de usuário da internet (n=150)
Através dos dados apresentados na Tabela 17 é possível traçar o perfil dos dois tipos
de usuários pesquisados neste estudo.
Os usuários leves prevalecem na faixa etária de 26 a 40 anos, no estado civil de união
consensual, na categoria de atividade laboral dos que possuem trabalho formal, no curso de
Medicina Veterinária, nos 4º e 5º anos dos cursos de graduação pesquisados. E são a minoria
em ambos os gêneros se comparados com os usuários pesados.
Os usuários pesados prevalecem na maioria das estratificações. Com relação ao
gênero, 72% dos usuários pesados são mulheres e 28% homens, sendo que 58% dos homens
pesquisados são usuários pesados. Quanto à faixa etária a maioria dos usuários pesados (87%)
tem entre 17 e 25 anos. Referente ao estado civil, 89% são solteiros, mas entre os casados e
divorciados, o usuário pesado também representa a maioria. Sobre a atividade laboral
exercida, o maior percentual está entre os que somente estudam, porém os usuários pesados
também predominam entre os que realizam estágio e possuem trabalho informal.
45
Considerando a escolaridade, há prevalência em quase todos os cursos, principalmente na
Fonoaudiologia (100%), seguidos pelas Ciências Biológicas (81%), Biomedicina (68%),
Farmácia (57%) e Psicologia (51%). Estes predominam também no 1º, 2º e 3º anos dos cursos
de graduação pesquisados e a maioria no período noturno (62%).
Considerando que os internautas que apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica
obtiveram médias de horas de acesso, semanais e mensais, maiores do que os internautas que
não apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica, a Tabela 18 apresenta a frequência do
QMPA diferenciando usuários leves de usuários pesados.
Tabela 18 - Frequência de QMPA por tipo de usuário da internet (n=150)
Horas de Acesso n QMPA até 7 QMPA acima de 7
Usuário Leve 68 29% 17%
Usuário Pesado 82 29% 15%
É possível notar através da Tabela 18 que em ambos os usuários, leve e pesado,
prevaleceram a saúde mental (scores do QMPA até 7). E apenas 15% dos internautas
estudados faziam uso pesado da internet e apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica,
ante um percentual de 17% de internautas considerados usuários leves que apresentaram
sintomas de morbidade psiquiátrica.
Os sintomas de morbidade psiquiátrica avaliados na amostra não apresentaram
diferenciação entre tipo de usuário (pesado e leve), apesar da média de horas de acesso ter
apontado que, os internautas que apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica tinham
uma média de horas de acesso à internet maior dos que os internautas com saúde mental.
Estes resultados corroboram com as considerações Nicolaci-da-Costa (2003) que
apresenta uma visão positiva sobre o uso acentuado da internet por não constatar nenhum
quadro patológico nos usuários pesados participantes de sua pesquisa.
A Tabela 19 auxilia na busca de entendimento sobre a saúde mental dos internautas
pesquisados, apresentando a frequência de respostas afirmativas para as questões sobre o uso
patológico da internet, possibilitando a diferenciação entre os usuários leves e pesados.
46
Tabela 19 - Frequência de respostas sobre o uso patológico da internet por tipo de
usuário (n=150)
Uso patológico da Internet n % Usuário
Leve
Usuário
Pesado
Você costuma negligenciar tarefas escolares, domésticas
ou trabalho para permanecer mais tempo conectado a
internet? 44 29% 32% 68%
Você já se privou de necessidades fisiológicas (como
sono, alimentação, urinar ou defecar) para se manter mais
tempo conectado a internet? 57 38% 46% 54%
Você prefere passar mais tempo on-line do que estar com
seus amigos e familiares? 11 7% 18% 82%
Outras pessoas (amigos/familiares) se queixam sobre a
quantidade de tempo que você se mantém conectado a
internet? 30 20% 10% 90%
Os dados da Tabela 19 revelam que a maioria dos internautas que apresentaram
comportamentos patológicos quanto ao uso da internet são usuários pesados. Entre os
internautas pesquisados 29% relataram que para permanecer mais tempo conectados a internet
negligenciavam tarefas, destes o usuário pesado representa o maior percentual 68%. Muitos
internautas, 38% da amostra, citaram privar-se de necessidades fisiológicas para manterem-se
conectados a internet, destes a maioria (54%) são usuários pesados. Os usuários que preferem
passar mais tempos conectados a internet do que estar com seus amigos e familiares
representam 7% dos participantes, sendo que destes 82% são usuários pesados. E entre os
internautas (20%) que citam que outras pessoas queixam-se sobre a quantidade de tempo de
conexão do mesmo, 90% são usuários pesados, constatação evidenciada pelo grande
quantidade de horas (acima de 60 horas mensais) que estes passam acessando a internet.
Estes resultados condizem com outra pesquisa realizada com estudantes universitários
usuários da internet (CHEN; PENG, 2008) que apresentou diferença significativa entre os
usuários pesados e leves. As diferenças de maior relevância foram que os usuários leves
mostram-se com melhor relacionamento pessoal, desempenho acadêmico e de aprendizagem
do que os usuários pesados. E em contra partida os usuários pesados apresentaram maior
probabilidade de ficar fisicamente doentes, deprimidos, solitários e introvertidos do que os
usuários leves.
A Tabela 20 auxiliar essa reflexão, apresentando o total de respostas afirmativas sobre
o uso patológico da internet por usuário.
47
Tabela 20 - Total de respostas sobre o uso patológico da internet por usuário (n=150)
Total de respostas n % Usuário Leve Usuário Pesado
1 resposta 47 31% 40% 60%
2 respostas 23 15% 30% 70%
3 respostas 11 7% 36% 64%
4 respostas 4 3% 0% 100%
Considerando os dados da Tabela 20, observa-se que dos internautas que
mencionaram realizar um dos quatro comportamentos patológicos sobre o uso da internet
adotados nessa pesquisa 60% são usuários pesados. É possível notar também que quanto
maior o número de respostas afirmativas sobre o uso patológico da internet, maior o
percentual de usuários pesados.
Assim os usuários que permanecem mais tempo conectados a internet apresentaram
maior uso patológico da mesma. Mesmo não prevalecendo os sintomas de morbidade
psiquiátrica, conforme ilustrado na Tabela 18.
Estes resultados corroboram com as considerações de Young (1998a) e Zacarias
(2008) que consideram o tempo de conexão importante, porém insuficiente para caracterizar o
uso patológico da internet, se utilizado como único critério diagnóstico. E reforçam o
detrimento de outros aspectos da vida para garantir maior tempo de conexão a internet,
conforme considerações de diversos autores sobre o uso patológico da internet (YOUNG,
1998a; FARAH; FORTIM, 2005; ZACARIAS, 2008; CASTELLS, 1999).
3.6 Correlações
Após verificar a associação entre horas de acesso à internet, sintomas de morbidade
psiquiátrica e comportamentos referente ao uso patológico da internet, a fim de maior
entendimento sobre a saúde mental dos internautas universitários pesquisados, calculou-se a
correlação bivariada de Person (r de Pearson), buscando a correlação entre essas variáveis.
A Tabela 21 ilustra a correlação entre os sintomas de morbidade psiquiátrica, horas de
acesso à internet e tipo de usuário (leve ou pesado).
Tabela 21 - Correlação (r de Pearson) entre horas de acesso e QMPA (n = 150)
Variáveis QMPA Horas Mensais
QMPA -
Horas Mensais 0,17* - * correlação significativa de 0,05
48
Apesar de existir correlação positiva e significativa entre QMPA e horas de acesso
mensais a internet (r = 0,17; p < 0,05), o nível de correlação é muito baixo para afirmar que
exista correlação entre os sintomas de morbidade psiquiátrica e a quantidades de horas que o
usuário passa conectado a internet.
Dando continuidade a avaliação do uso patológico da internet, a Tabela 22 ilustra a
correlação entre horas de acesso à internet e as questões sobre o uso patológico da mesma.
Tabela 22 - Correlação (r de Pearson) entre acesso a internet e número de
respostas positivas sobre o uso patológico da internet (n=150)
Variáveis Horas Mensais Nº Respostas
Patológicas Positivas
Horas Mensais -
Nº Respostas Patológicas Positivas 0,18* -
* correlação significativa de 0,05
Através da Tabela 22 é possível notar que existe correlação positiva e significativa
entre as horas de acesso à internet e a quantidade de comportamentos patológicos no uso da
internet (r = 0,18; p < 0,05). Porém o nível de correlação é muito baixo para afirmar que
quanto maior a quantidade de horas de acesso à internet, maior a frequência de
comportamentos patológicos neste uso, ou seja, a correlação aferida não permite dizer que as
horas de acesso a internet influenciem no uso patológico da internet.
Os resultados das correlações apresentadas nas Tabelas 21 e 22, reforçando as
considerações da literatura que dizem que as horas de acesso à internet por si só não
possibilitam nenhum diagnóstico (ZACARIAS, 2008), apesar de esta ser, algumas vezes, um
dos indícios do uso patológico da internet.
A fim de verificar as correlações entre sintomas de morbidade psiquiátrica e o uso
patológico da internet, a Tabela 23 apresenta as correlações entre os scores e fatores do
QMPA e as respostas positivas sobre as questões do uso patológico da internet utilizadas
neste estudo.
49
Tabela 23 - Correlação (r de Pearson) entre QMPA e número de respostas positivas sobre
o uso patológico da internet (n = 150)
Variáveis QMPA F. 1 F. 2 F. 3 F. 4 F. 5 F. 6 F. 7
Nº
Respostas
Patológicas
Positivas
QMPA -
Fator 1 0,83** -
Fator 2 0,86** 0,69** -
Fator 3 0,23** 0,11 027** -
Fator 4 0,09 -0,13 0,09 -0,06 -
Fator 5 0,57** 0,19* 0,34** 0,09 0,07 -
Fator 6 0,54** 0,38** 0,41** 0,18* -0,13 0,34** -
Fator 7 0,39** 0,42** 0,30** -0,04 -0,06 0,13 0,15 -
Nº Respostas
Patológicas Positivas 0,37** 0,25** 0,38** 0,06 0,05 0,22** 0,17* 0,12 -
* correlação significativa de 0,05
** correlação significativa de 0,01
O total de respostas afirmativas que os internautas deram as questões sobre o uso
patológico da internet apresentou correlação positiva e significativa com os scores do QMPA
(r = 0,37; p < 0,01). Sendo assim, quanto mais sintomas de morbidade psiquiátrica apresentou
o internauta, maior a frequência de comportamentos patológicos no uso da internet.
Os fatores do QMPA também apresentaram correlações positivas e significativas com
o total de respostas afirmativas que os internautas deram as questões sobre o uso patológico
da internet: fator 1 - sintomas de ansiedade e somatização (r = 0,25; p < 0,01), fator 2 -
irritabilidade e depressão (r = 0,38; p < 0,01), fator 5 - exaltação do humor (r = 0,22; p < 0,01)
e fator 6 - transtorno de percepção (r = 0,17; p < 0,05). Assim quanto maior a ansiedade,
irritabilidade, depressão e exaltação do humor do internauta, maior a frequência de
comportamentos patológicos no uso da internet.
As demais correlações entre, os scores e fatores do QMPA, e entre as questões sobre o
uso patológico da internet e o total de respostas afirmativas destas questões, já eram previstas
em ambos os casos, pois uma variável foi extraída da outra.
Os resultados das correlações acima apresentadas indicam que os internautas que
costumam negligenciar tarefas, privam-se de necessidades fisiológicas, preterem amigos e
familiares para permanecer mais tempo conectados a internet e cujos amigos e familiares
50
reclamam do tempo que estes permanecem conectados também são aqueles que apresentam
sintomas de ansiedade, somatização, irritabilidade, depressão e exaltação do humor.
Estes resultados corroboram com outro estudo sobre o uso patológico da internet entre
estudantes universitários (DINICOLA; MICHAEL, 2004) em que os pesquisados
mencionaram o impacto negativo da internet sobre seus relacionamentos, estudos e sono.
Os sintomas que apresentaram correlação com o uso patológico da internet também
foram aqueles com a maior média entre os internautas pesquisados, comumente chamados de
transtornos psiquiátricos menores e de alta prevalência na população adulta, conforme
apresentado anteriormente.
E estes resultados corroboram com diversas pesquisas que relacionam as morbidades
psiquiátricas com o uso patológico da internet (CAPLAN, 2005; HA et al., 2006; SHAPIRA
et al., 2003; YOUNG, 1998b).
Também se faz necessário a correlação dos sintomas de morbidade psiquiátrica e das
questões do uso patológico da internet com o tipo de uso da internet que os usuários realizam,
conforme ilustram as Tabela 24 e 25.
Tabela 24 - Correlação (r de Pearson) entre QMPA e tipo de uso da internet (n = 150)
Variáveis QMPA Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4 Fator 5 Fator 6 Fator 7
Onde acessa
Residência -0,09 -0,14 -0,12 -0,08 -0,03 0,08 0,14 0,07
Trabalho -0,02 0,04 -0,05 0,16* -0,05 -0,09 -0,03 0,06
Instituição Ensino -0,07 -0,05 -0,12 0,03 -0,06 -0,07 0,01 -0,04
Lan House -0,11 -0,04 -0,02 -0,04 -0,07 .-0,18* -0,04 -0,12
Outros -0,01 -0,04 0,06 -0,06 0,31* -0,23 -0,20 0,33*
Para que acessa
Lazer 0,11 0,03 0,06 -0,10 0,06 0,14 0,08 0,14
Trabalho .-0,17* -0,10 .-0,24** 0,03 -0,15 -0,08 0,00 0,03
Estudo -0,10 -0,09 .-0,19* -0,09 0,03 0,02 .-0,16* 0,00
Outros 0,16 0,02 0,17 0,06 -0,02 0,14 0,24 -0,05
O que acessa
Relacionamento 0,16 0,08 0,16* -0,03 0,08 0,16 0,06 0,09
Bate Papo 0,09 0,14 0,07 0,06 0,08 -0,02 0,00 -0,02
Pesquisa 0,03 0,03 -0,04 -0,08 0,10 0,02 -0,09 0,05
Jogos 0,12 0,12 0,14 -0,06 -0,10 0,01 0,18* 0,12
Email -0,07 0,00 0,03 0,05 0,01 -0,15 .-0,20* 0,04
Outros 0,03 -0,06 -0,01 0,19 -0,20 -0,02 0,22 0,03
* correlação significativa de 0,05 ** correlação significativa de 0,01
A Tabela 24 mostra a existência de correlações entre os sintomas de morbidade
psiquiátrica com o tipo de uso que os internautas realizavam na internet.
51
Os scores do QMPA apresentaram correlação negativa e significativa (r = -0,17; p <
0,05) com a utilização da internet para realizar trabalhos (sejam eles profissionais ou
estudantis), ou seja, quanto menos sintomas de morbidade psiquiátrica, maior a utilização da
internet para realizar trabalhos, ou quanto maiores os sintomas de morbidade psiquiátrica,
menor a utilização da internet para realizar trabalhos.
Quando se considera os fatores do QMPA, também estes apresentam correlações com
o tipo de uso da internet, com exceção do fator 1 – ansiedade e somatização.
O fator 2, irritabilidade e depressão, apresenta correlação negativa e significativa com
o acesso à internet para a realização de trabalhos (r = -0,24; p < 0,01) e estudos (r = -0,19; p<
0,05) e correlação positiva e significativa com o acesso a sites de relacionamento (r = 0,16; p
< 0,05). Assim quanto mais sintomas de irritabilidade e depressão os internautas apresentam,
menos acessam a internet para realizar trabalhos e estudar, porém maior é o acesso a sites de
relacionamento.
O fator 3, deficiência mental, apresenta correlação positiva e significativa (r = 0,16; p
< 0,05) com o acesso à internet no local de trabalho, deste modo, quanto maior os sintomas de
déficit mental maior o acesso da internet do local de trabalho.
O fator 4, alcoolismo, apresenta correlação positiva e significativa (r = 0,31; p < 0,05)
com o acesso à internet de outros locais, como casa de amigos e parentes ou celulares. Desta
maneira, os internautas que apresentam mais sintomas de alcoolismo são os que mais acessam
a internet de outros locais, como casa de amigos e parentes ou celulares.
O fator 5, exaltação do humor, apresenta correlação negativa e significativa (r = -0,18;
p < 0,05) com o acesso à internet em lan house, assim quanto maior os sintomas de exaltação
de humor menor o acesso à internet em lan house.
O fator 6, transtorno de percepção, apresenta correlação negativa e significativa com o
acesso à internet para estudos (r = -0,16; p < 0,05) e o acesso a emails (r = -0,20; p < 0,05),
porém uma correlação positiva e significativa com o acesso a jogos (r = 0,18; p< 0,05). Deste
modo, quanto maior os sintomas de transtorno de percepção menor a utilização da internet
para estudos e acesso a emails e maior o acesso a jogos.
E o fator 7, tratamento, apresenta correlação positiva e significativa (r = 0,33; p <
0,05) com o acesso à internet de outros locais, como casa de amigos e parentes ou celulares.
As correlações apresentadas revelam duas características entre as morbidades
psiquiátricas avaliadas e o tipo de uso da internet que os usuários realizam. Os internautas que
costumam usar a internet para realização de estudos e trabalhos e acessar emails,
apresentaram menos sintomas de morbidade psiquiátrica. Enquanto os internautas que usam a
52
internet para jogar e acessam a internet de locais como casa de amigos, familiares e celulares
apresentam mais sintomas de morbidade psiquiátrica.
A Tabela 25 apresenta as correlações entre o tipo de uso da internet e os
comportamentos do uso patológico da mesma.
Tabela 25 - Correlação (r de Pearson) entre uso patológico e tipo de uso da internet
(n=150)
Variáveis Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Total Questões
Uso Patológico
Onde
acessa
Residência 0,22** -0,04 0,11 0,19* 0,17*
Trabalho -0,16 0,11 -0,16 .-0,17* -0,12
Instituição
Ensino -0,06 0,00 -0,13 -0,06 -0,08
Lan House 0,03 -0,05 -0,04 0,00 -0,02
Outros 0,00 0,07 0,42** 0,23 0,21
Para
que
acessa
Lazer 0,22** -0,06 0,12 0,20* 0,17*
Trabalho .-0,20* -0,02 .-0,18* -0,14 .-0,19*
Estudo -0,13 -0,12 .-0,31** -0,16 .-0,25**
Outros 0,17 0,12 -0,09 -0,01 0,09
O que
acessa
Relacionamento 0,11 -0,01 -0,01 0,18* 0,11
Bate Papo 0,11 0,09 0,03 0,15 0,16
Pesquisa 0,00 0,05 .-0,23** .-0,21** -0,11
Jogos 0,27** 0,03 0,09 0,13 0,20*
Email -0,06 0,10 -0,08 0,07 0,03
Outros 0,09 0,19 0,00 -0,14 0,07
* correlação significativa de 0,05 ** correlação significativa de 0,01
A Tabela 25 mostra a existência de diversas correlações entre o uso patológico da
internet e o tipo de uso que o internauta realiza.
A negligencia de tarefas (questão 1) apresenta correlação positiva e significativa com
o acesso à internet na residência (r = 0,22; p < 0,01), a utilização da internet para lazer (r =
0,22; p < 0,01) e o acesso de sites de jogos (r = 0,27; p < 0,01). E uma correlação negativa e
significativa (r = -0,20; p < 0,05) com a utilização da internet para realizar trabalhos. Assim
os internautas que costumam acessar a internet da residência para o lazer em sites de jogos e
pouco acessam a internet para realizar trabalhos são aqueles que mais negligenciam tarefas
para permanecer mais tempo conectados a internet.
Privar-se de necessidades fisiológicas para permanecer mais tempo conectado a
internet (questão 2) não apresentou correlações significativas com o tipo de uso da internet
que o internauta realiza.
Preterir estar com amigos e familiares para permanecer mais tempo conectado a
53
internet (questão 3) apresentou correlação positiva e significativa (r = 0,42; p < 0,01) com a
conexão a internet da casa de amigos, familiares e por celular, e correlação negativa e
significativa com a utilização da internet para realizar trabalhos (r = -0,18; p < 0,05), estudar
(r = -0,30; p < 0,01) e acessar sites de pesquisa (r = 0,23; p < 0,01). Deste modo, os
internautas que acessam a internet da casa de amigos, familiares e por celular e não costumam
utilizar a internet para realizar trabalhos, estudar ou acessar sites de pesquisa são os
internautas que mais preferem permanecer conectados a internet do que estar com seus
amigos e familiares.
As queixas sobre a quantidade de tempo que o internauta permanece conectado a
internet (questão 4) apresenta correlação positiva e significativa com o uso da internet da
residência (r = 0,19; p < 0,05), para o lazer (r = 0,20; p < 0,05) e em sites de relacionamento (r
= 0,18; p < 0,05). E correlação negativa e significativa com o acesso à internet do trabalho (r
= -0,17; p < 0,05) e para acessar sites de pesquisa (r = -0,21; p < 0,01). De maneira que, os
internautas que costumam acessar a internet de suas residências para o lazer em sites de
relacionamento e não costumam acessar a internet do trabalho ou sites de pesquisa são
aqueles cujos amigos e familiares se queixam sobre a quantidade de tempo que estes
permanecem conectados a internet.
O total de respostas afirmativas que os internautas deram sobre as questões do uso
patológico da internet apresenta correlação positiva e significativa com o acesso da internet da
residência (r = 0,17; p < 0,05), para lazer (r = 0,17; p < 0,05), em sites de jogos (r = 0,20; p <
0,05). E correlação negativa e significativa com o uso da internet para realizar trabalhos (r = -
0,19; p < 0,05) e estudos (r = -0,25; p < 0,01). Assim os internautas que mais citaram
comportamentos patológicos quanto ao uso da internet são aqueles que costumam acessar a
internet de suas residências para o lazer em sites de jogos e pouco utilizam a internet para
realizar trabalhos e estudos.
As correlações entre o uso patológico da internet e o tipo de uso que os internautas
realizam na internet revelaram a predominância de um perfil dos internautas que fazem uso
patológico da internet. Os internautas que costumam acessar a internet da residência para o
lazer e pouco acessam a internet para realizar trabalhos ou pesquisas são aqueles que mais
negligenciam tarefas para permanecer mais tempo conectados a internet, cujos amigos e
familiares se queixam sobre a quantidade de tempo que estes permanecem conectados a
internet e aqueles que mais citaram comportamentos patológicos no uso da internet. E os
internautas que acessam a internet da casa de amigos, familiares e por celular e não costumam
utilizar a internet para realizar trabalhos, estudar ou acessar sites de pesquisa são os
54
internautas que mais preferem permanecer conectados a internet do que estar com seus
amigos e familiares. Ao contrário os internautas que utilizam a internet para realizar trabalhos
e estudos são aqueles com menor índice de comportamento patológicos no uso da internet.
Essas correlações corroboram com os autores (LEVY, 1993; ZACARIAS, 2008) que
defendem que o uso patológico da internet está associado ao mau uso que os internautas
realizam da mesma.
Os resultados das correlações entre tipo de uso da internet e os comportamentos
patológicos no uso da mesma condizem com as correlações entre o tipo de uso da internet e os
sintomas de morbidade psiquiátrica apresentadas na Tabela 24, e consequentemente reforçam
a correlação entre o uso patológico da internet e os sintomas de morbidade psiquiátrica
apresentadas na Tabela 23.
3.3 Teste T
Buscando maior compreensão das relações das principais variáveis do estudo, aplicou-
se o Teste t para verificar a significância estatística das diferenças entre as médias de horas de
acesso à internet, sintomas de morbidade psiquiátrica e uso patológico da internet.
A Tabela 26 apresenta o Teste t das médias de sintomas de morbidade psiquiátrica e o
tipo de usuário da internet (leve e pesado).
Tabela 26 - Teste t das médias de QMPA e tipo de usuário da internet (n = 150)
Variável Grupo n Média Desvio Padrão Teste t
QMPA Usuário Leve 68 5,93 4,88 .-2,41*
Usuário Pesado 82 7,85 4,83 .-2,41* * correlação significativa de 0,05 ** correlação significativa de 0,01
A Tabela 26 indica que há diferença significativa de 0,05 entre as médias do QMPA e
o tempo de uso mensal da internet que o internauta realiza. Os usuários leves (que acessam a
internet até 60 horas por mês) apresentaram menor média no QMPA e podem ser
considerados psiquicamente saudáveis, pois apresentaram QMPA menor que 7. Enquanto os
usuários pesados (que acessam a internet mais de 60 horas por mês) apresentaram maior
média no QMPA, levemente acima de 7, o que caracteriza sintomas de morbidade
psiquiátrica. Validando assim os dados apresentados anteriormente na Tabela 14, onde era
possível notar que o tempo médio que os internautas acessavam a internet era maior entre os
55
que apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica.
Na amostra pesquisada a relação entre sintomas de morbidade psiquiátrica e horas de
acesso à internet são baixas e não permitem o questionamento dos resultados de Nicolaci-da-
Costa (2003) que apresenta uma visão positiva sobre o uso acentuado da internet por não
constatar nenhum quadro patológico nos usuários pesados da internet que entrevistou em sua
pesquisa.
A Tabela 27 mostra o Teste t das médias das questões sobre o uso patológico da
internet e das horas mensais de acesso à internet.
Tabela 27 - Teste t das médias de horas mensais de acesso à internet e das questões sobre o
uso patológico da internet (n=150)
Questão Respostas n Média
Horas Mês Desvio Padrão Teste t
Questão 1 Não 106 97,85 89,51 -0,58
Sim 44 106,27 58,29 -0,68
Questão 2 Não 93 100,60 86,26 0,05
Sim 57 99,86 73,81 0,06
Questão 3 Não 139 97,29 81,28 -1,62
Sim 11 138,55 77,77 -1,69
Questão 4 Não 120 86,07 78,86 .-4,56**
Sim 30 157,33 66,37 .-5,06** * correlação significativa de 0,05 ** correlação significativa de 0,01
Na Tabela 27 nota-se que quando comparadas as questões sobre o uso patológico da
internet com a quantidade de horas que o internauta permanece conectado mensalmente, só há
diferença significativa nas médias da questão 4. Afinal esta pergunta questiona se outras
pessoas, como amigos e familiares queixam-se sobre a quantidade de tempo que o usuário
permanece conectado a internet, e estes usuários apresentam um média de 157,33 horas
mensais de acesso à internet.
Resultados estes que reforçam ainda mais a idéia de que as horas de acesso à internet
não devem ser utilizadas como único critério diagnóstico para o uso patológico da internet,
corroborando com Young (1998a) e Zacarias (2008) que consideram o tempo de conexão
importante, porém insuficiente para caracterizar o uso patológico da internet.
Concluindo as análises a Tabela 28 ilustra o Teste t das médias das questões sobre o
56
uso patológico da internet e sintomas de morbidade psiquiátrica.
Tabela 28 - Teste t das médias de QMPA e questões sobre o uso patológico da internet
(n=150)
Questão Respostas n Média
QMPA Desvio Padrão Teste t
Questão 1 Não 106 6,35 4,41 .-2,47**
Sim 44 8,50 5,79 .-2,21*
Questão 2 Não 93 5,85 4,67 .-3,74**
Sim 57 8,82 4,83 .-3,71**
Questão 3 Não 139 6,60 4,63 .-3,43**
Sim 11 11,73 6,34 .-2,62*
Questão 4 Não 120 6,45 4,61 .-2,69**
Sim 30 9,10 5,66 .-2,38* * correlação significativa de 0,05 ** correlação significativa de 0,01
Observa-se através da Tabela 28 que há diferença significativa nas médias de QMPA
em todas as questões sobre o uso patológico da internet. Nota-se que a média do QMPA foi
superior a 7 para os internautas que mencionaram realizar qualquer um dos comportamentos
patológicos no uso da internet, referidos nas quatro questões apresentadas. Deste modo, os
internautas que negligenciam tarefas, privam-se de necessidades fisiológicas e preterem a
companhia de amigos e familiares, para passar mais tempo conectado a internet, aumentando
as queixa de amigos e familiares pela alta carga horária que passam conectados a internet,
também apresentam sintomas de morbidade psiquiátrica. Reafirmando a correlação positiva e
significativa entre QMPA e as questões sobre o uso patológico da internet apresentadas na
Tabela 23.
Confirmando, na amostra estudada, a existência de relação entre morbidade
psiquiátrica e o uso patológico da internet. Resultados estes condizentes com inúmeras
pesquisas internacionais que relacionam o uso da internet com diversas psicopatologias (HA
et al., 2006; SHAPIRA et al., 2003; YOUNG, 1998b; YOUNG; RODGERS, 1998).
Assim os resultados desta pesquisa sugerem que o uso patológico da internet mostra-
se como um novo campo de expressão de morbidades psiquiátricas já conhecidas,
corroborando com uma das hipóteses levantadas no trabalho de Abreu et al., 2008.
57
4. CONCLUSÕES
O objetivo geral deste trabalho foi avaliar a saúde mental de internautas universitários.
Além de avaliar o uso patológico da internet realizada pelos mesmos e verificar a relação
entre as variáveis sóciodemográficas, sintomas de morbidade psiquiátrica, uso patológico da
internet, tempo e tipo de acesso à internet. Com base nos resultados produzidos pode-se dizer
que os objetivos propostos foram alcançados e que este estudo traz contribuições para as
discussões científicas sobre os benefícios e malefícios do uso da internet.
Faz-se importante lembrar que apesar da amostra ser representativa da população
estudada, não proporciona generalizações. E que este estudo não teve como objetivo mensurar
a dependência do uso da internet dos internautas pesquisados, até mesmo porque os
instrumentos utilizados não compreenderiam tal diagnóstico.
Através desse estudo foi possível verificar a prevalência de saúde mental em 58% dos
internautas universitários. Consequentemente, 42% apresentou sintomas de morbidade
psiquiátrica. Entre os sintomas apresentados prevaleceu a exaltação do humor, seguido por
sintomas de ansiedade, somatização, irritabilidade e depressão, sintomas comumente referidos
como transtornos mentais comuns ou transtornos psiquiátricos menores, com alta prevalência
na população adulta em geral.
Houve prevalência de saúde mental na maioria das estratificações, destacando-se a
união consensual, a atividade laboral de somente estudar e o período de estudos matutino.
Sugere-se que estas características possam estar associadas a fatores de saúde, o que requer
pesquisas sobre o assunto.
A maior prevalência de morbidade psiquiátrica se deu entre as pessoas acima de 40
anos, os divorciados, estudantes do curso de Psicologia e alunos do 3º ano de graduação.
Os internautas estudados foram considerados usuários de internet bastante ativos, pois
apresentaram média de acesso mensal a internet de 100 horas, mais que o dobro da média
mensal brasileira, fato que assegura uma amostragem significativa em termos de acesso à
internet.
O local de acesso à internet mais utilizado pelos internautas universitários foi a
residência, seguido pelo acesso da instituição de ensino. A maior finalidade de acesso à
internet foi para o estudo, seguida pela comunicação, mensurada através dos sites acessados.
Nesta pesquisa foi adotada a definição de usuário pesado como o internauta que acessa
a internet acima de 60 horas mensais, 55% dos internautas pesquisados foram considerados
58
usuários pesados. Os usuários pesados prevaleceram na maioria das estratificações, com
exceção da faixa etária de 26 a 40 anos, nas pessoas que viviam em união consensual, que
possuíam trabalho formal, estudantes do curso de Medicina Veterinária, alunos dos 4º e 5º
anos dos cursos de graduação e que estudavam no período matutino.
Os sintomas de morbidade psiquiátrica avaliados não apresentaram diferenciação entre
tipo de usuário (pesado e leve), em ambos os casos prevaleceram a avaliação de saúde mental.
Apenas 15% dos usuários pesados apresentaram sintomas de morbidade psiquiátrica, ante
17% dos usuários leves.
A média de horas de acesso à internet apresentou baixa correlação com os sintomas de
morbidade psiquiátrica e o uso patológico da internet avaliados nesta pesquisa. Deste modo,
seria imprudente a utilização das horas de acesso a internet para diagnóstico do uso patológico
da internet e ou associá-lo aos sintomas de morbidade psiquiátrica encontrados na amostra.
Deste modo, apesar das horas de acesso à internet serem um dos indícios do uso patológico da
internet, por si só não possibilitam um diagnóstico.
O uso patológico da internet foi avaliado pelo presente estudo através de quatro
questões elaboradas a partir da revisão literária desta pesquisa. E os resultados mostraram que
57% dos internautas pesquisados fazem um uso patológico da internet, por utilizá-la em
detrimento de outros aspectos de suas vidas. E quanto maior o número de respostas
afirmativas sobre as questões do uso patológico da internet, maior o percentual de usuários
pesados. Assim os usuários que permanecem mais tempo conectados a internet apresentaram
maior uso patológico da mesma.
As correlações entre os sintomas de morbidade psiquiátrica e o tipo de uso da internet
apresentadas revelaram que os internautas que costumavam usar a internet para estudo,
trabalho e acessar emails, apresentaram menos sinais de morbidade psiquiátrica. Enquanto os
internautas que usavam a internet para jogar e acessavam a internet de locais como casa de
amigos, familiares e celulares apresentaram mais sintomas de morbidade psiquiátrica.
As correlações entre o uso patológico da internet e o tipo de uso da internet revelaram
a predominância de um perfil dos internautas que fazem uso patológico da mesma. Os
internautas que costumavam acessar a internet da residência para o lazer e pouco acessavam a
internet para realizar trabalhos ou pesquisas são aqueles que mais negligenciavam tarefas para
permanecer mais tempo conectados a internet, cujos amigos e familiares se queixavam sobre a
quantidade de tempo que estes permaneciam conectados a internet e aqueles que mais citaram
comportamentos patológicos no uso da internet. E os internautas que acessavam a internet da
casa de amigos, familiares e por celular e não costumavam utilizar a internet para realizar
59
trabalhos, estudar ou acessar sites de pesquisa são os internautas que mais preferiam
permanecer conectados a internet do que estar com seus amigos e familiares. Ao contrário os
internautas que utilizavam a internet para realizar trabalhos e estudos são aqueles com menor
índice de comportamentos patológicos no uso da internet.
Os sintomas de morbidade psiquiátrica apresentaram correlações positivas e
significativas com o uso patológico da internet, demostrando que quanto mais sintomas de
morbidade psiquiátrica apresentou o internauta, maior a frequência de comportamentos
patológicos no uso da internet. E quanto maior a ansiedade, irritabilidade, depressão e
exaltação do humor do internauta, maior a frequência de comportamentos patológicos no uso
da internet. Confirmando a existência de relação entre morbidade psiquiátrica e o uso
patológico da internet.
Assim os resultados desta pesquisa sugerem que o uso patológico da internet revela-se
como um novo campo de expressão das morbidades psiquiátricas já conhecidas. Deste modo,
a internet não se mostra como um fator de risco para saúde mental de seus usuários. A internet
seria um amplificador, uma ferramenta que facilita a expressão de tais comportamentos
patológicos, que são provenientes de transtornos já existentes. Assim como a utilização de
diversas outras práticas sociais, que podem se tornar patológicas pela manifestação de
diferentes transtornos do indivíduo, e não ao contrário. Também se faz importante lembrar
que, a internet se apresenta como uma importante ferramenta para o estudo, pesquisa,
trabalho, comunicação e interação. A patologia se instala quando o individuo restringe seu
mundo ao virtual, não transpondo para o mundo real.
Para expandir a compreensão dos resultados quantitativos apresentados neste estudo
sobre os sintomas de morbidade psiquiátrica e o uso patológico da internet, sugerem-se
pesquisas qualitativas para uma avaliação mais profunda da saúde mental dos usuários de
internet. E considerando que a internet seja apenas um novo meio de expressar patologias já
existentes, e também a aproximação do diagnóstico de dependência da internet com o
diagnóstico dos jogos patológicos, sugere-se novos estudos que pesquisem a relação da
dependência da internet com outros tipos de dependências.
Face aos resultados apresentados, outro fator se faz relevante, o fato de 42% dos
estudantes universitários apresentarem sintomas de morbidade psiquiátrica. Um fato por si só
preocupante, porém mais agravado por se tratar de alunos de cursos de graduação da área da
saúde. Ou seja, são futuros profissionais que ajudarão cuidar da saúde de outras pessoas,
enquanto sua própria saúde mental encontra prejuízos.
Deste modo, faz-se necessário sugerir propostas de prevenções primárias e promoção
60
de saúde mental para os estudantes da área da saúde da universidade pesquisada, quiçá para
todos os alunos dos demais cursos da universidade. Propõe-se a implantação de um trabalho
de psicologia clínica preventiva, com atendimento psicológico aos alunos, assim como
palestras orientativas para divulgação da rede de apoio existente e conscientização da
importância de se procurar ajuda especializada quando se percebe sinais e sintomas de
transtornos ou dificuldades psicológicas.
61
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__________________ Tempo on-line não é o fator mais importante para caracterizar uso
compulsivo de internet. Coluna eletrônica de Maio/2008. Disponível em:
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ANEXO A - QUESTIONÁRIO COMPLEMENTAR
1. Curso: ____________________________ Semestre: ______________ ( ) Matutino ( ) Noturno
2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Idade: _______
4. Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( )União consensual ( ) Viúvo
5. Exerce qual atividade:
( ) trabalho formal (registrado) ( ) trabalho informal (sem registro) ( ) estágio ( ) somente estuda
6. Renda Familiar Mensal: ___________________
7. Quantas horas por dia você costuma acessar a Internet (em média)? __________________________________
8. Assinale os dias da semana que você costuma acessar a Internet?
( ) Segunda-feira ( ) Terça-feira ( ) Quarta-feira ( ) Quinta-feira ( ) Sexta-feira ( ) Sábado ( ) Domingo
9. De onde você costuma acessar a Internet?
Enumere cada uma das opções abaixo conforme o grau de frequência de acesso:
1 = Nunca acesso / 2 = Raramente acesso / 3 = As vezes acesso / 4 = Frequentemente acesso
( ) residência ( ) trabalho ( )instituição de ensino ( ) lan house ( ) outros – Quais? ____________________
10. Por quais motivos você costuma acessar a Internet?
Enumere cada uma das opções abaixo conforme o grau de frequência de acesso:
1 = Nunca acesso / 2 = Raramente acesso / 3 = As vezes acesso / 4 = Frequentemente acesso
( ) lazer ( ) trabalho ( ) estudo ( ) outros – Quais? _____________________________________________
11. Quais os tipos de sites você costuma acessar?
Enumere cada uma das opções abaixo conforme o grau de frequência de acesso:
1 = Nunca acesso / 2 = Raramente acesso / 3 = As vezes acesso / 4 = Frequentemente acesso
( ) relacionamentos – Quais? ____________________________________________________________________
( ) bate-papo – Quais? ________________________________________________________________________
( ) pesquisa – Quais? _________________________________________________________________________
( ) jogos – Quais ? ____________________________________________________________________________
( ) outros - Especificar: ________________________________________________________________________
12. Você costuma negligenciar tarefas escolares, domésticas ou trabalho para permanecer mais tempo conectado a
Internet? ( ) Sim ( ) Não
13. Você já se privou de necessidades fisiológicas (como sono, alimentação, urinar ou defecar) para se manter mais
tempo conectado a Internet? ( ) Sim ( ) Não
14. Você prefere passar mais tempo on-line do que estar com seus amigos e familiares? ( ) Sim ( ) Não
15. Outras pessoas (amigos/familiares) se queixam sobre a quantidade de tempo que você se mantém conectado a
Internet? ( ) Sim ( ) Não
16. Faz uso de medicação controlada? Qual: _________________________________________________________
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ANEXO B - QUESTIONÁRIO QMPA
1) Sofre de falta de apetite? ( ) SIM ( ) NÃO
2) Tem dificuldades para dormir? ( ) SIM ( ) NÃO
3) Queixa-se de zumbidos no ouvido, agonia na cabeça? ( ) SIM ( ) NÃO
4) Sente dores ou pontadas frequentes na cabeça? ( ) SIM ( ) NÃO
5) Sente fraqueza nas pernas, dores nos nervos? ( ) SIM ( ) NÃO
6) Fica agressivo, explode com facilidade? ( ) SIM ( ) NÃO
7) Fica períodos triste, com desânimo? ( ) SIM ( ) NÃO
8) Sente bolo na garganta, queimação, empachamento no estomago? ( ) SIM ( ) NÃO
9) Sente tremores ou frieza nas mãos? ( ) SIM ( ) NÃO
10) Tem, com frequência, crises de irritação? ( ) SIM ( ) NÃO
11) Tem dificuldade de aprender, lembrar ou entender as coisas? ( ) SIM ( ) NÃO
12) Consome bebidas alcoólicas? ( ) SIM ( ) NÃO
13) Às vezes fica parado, chorando muito? ( ) SIM ( ) NÃO
14) Já pensou em dar fim a vida? ( ) SIM ( ) NÃO
15) Já esteve descontrolado, fora de si, como se fosse doente da
cabeça?
( ) SIM ( ) NÃO
16) Não consegue trabalhar, por nervosismo ou por doença mental? ( ) SIM ( ) NÃO
17) Já ficou sem falar ou enxergar? ( ) SIM ( ) NÃO
18) Fica fechado no quarto sem querer ver ninguém? ( ) SIM ( ) NÃO
19) Embriaga-se pelo menos uma vez por semana? ( ) SIM ( ) NÃO
20) Bebe diariamente? ( ) SIM ( ) NÃO
21) Queixa-se de palpitação ou pontadas no coração? ( ) SIM ( ) NÃO
22) Sofre de nervosismo ou sempre está intranquilo? ( ) SIM ( ) NÃO
23) Preocupa-se muito com doença, queixa-se sempre? ( ) SIM ( ) NÃO
24) Já sofreu um ataque depois de um susto ou contrariedade? ( ) SIM ( ) NÃO
25) Tem medo excessivo de certas coisas, ou de alguns bichos, ou de
lugares fechados ou de escuro?
( ) SIM ( ) NÃO
26) Após fechar as portas verifica várias vezes se estão bem fechadas? ( ) SIM ( ) NÃO
27) Queixa-se de ouvir coisas ou ver coisas que os outros não vêem? ( ) SIM ( ) NÃO
28) Fala coisas sem sentido, bobagens? ( ) SIM ( ) NÃO
29) Fala ou ri sozinho? ( ) SIM ( ) NÃO
30) Acha-se perseguido ou que os outros desejam fazer-lhe mal? ( ) SIM ( ) NÃO
31) Sente que está sendo controlado por telepatia, rádio ou espírito? ( ) SIM ( ) NÃO
32) Às vezes fica muito tempo numa posição estranha? ( ) SIM ( ) NÃO
33) Fica períodos exageradamente alegre sem saber por quê? ( ) SIM ( ) NÃO
34) Fica andando muito, cantando ou falando sem parar? ( ) SIM ( ) NÃO
35) Já utilizou ou utiliza algum remédio para dormir ou acalmar os
nervos?
( ) SIM ( ) NÃO
36) Não consegue frequentar a escola? ( ) SIM ( ) NÃO
37) Sofre de acesso de loucura? ( ) SIM ( ) NÃO
38) Sofre de retardamento mental? ( ) SIM ( ) NÃO
39) Tem mania de limpeza ou arrumação? Exageradamente? ( ) SIM ( ) NÃO
40) Recebe tratamento para nervosismo ou doença mental? ( ) SIM ( ) NÃO
41) Sofre de ataques, caindo no chão e se batendo? ( ) SIM ( ) NÃO
42) É dado ao uso de drogas? ( ) SIM ( ) NÃO
43) Bebe exageradamente? ( ) SIM ( ) NÃO
44) Não sabe vestir-se, urina ou defeca nas roupas? ( ) SIM ( ) NÃO
45) Não fala, não caminha, não reconhece as pessoas? ( ) SIM ( ) NÃO
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ANEXO E - TCLE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, ________________________________________________________________
consinto, de minha livre e espontânea vontade, em participar da pesquisa
Saúde mental de usuários de Internet a ser elaborada por Vanessa Pasvenskas
Marcos, aluna do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da
Universidade Metodista de São Paulo.
O objetivo desse estudo é avaliar a saúde mental dos usuários da Internet. A pesquisa
se justifica pela necessidade de compreensão da saúde mental dos usuários de Internet,
considerando as inúmeras discussões sobre os malefícios e benefícios da utilização
dessa tecnologia e a crescente expansão de população que a utiliza.
O procedimento adotado é a aplicação do questionário sobre morbidades psiquiátricas
e um questionário complementar sobre a utilização da Internet e alguns dados
demográficos dos participantes da pesquisa.
A sua participação na pesquisa, respondendo ao questionário não acarretará nenhum
desconforto ou riscos para a sua saúde. Portanto, não estão previstos retornos para
você em forma de benefícios. Asseguro-lhe total sigilo sobre suas respostas contidas
no questionário, visto que os dados da pesquisa serão analisados coletivamente de
forma a reunir todos os participantes que responderem ao questionário.
Como sua participação na pesquisa não implica em custos, despesas, danos ou
represálias para você, não estão previstas formas de ressarcimento nem de
indenização. Como o estudo não inclui em seus procedimentos nenhum tipo de
tratamento, não estão previstos acompanhamentos e assistência.
A pesquisadora se coloca à disposição para maiores esclarecimentos sobre sua
participação. Você tem total liberdade para se recusar a participar da pesquisa,
bastando que não responda ao questionário.
Eu, Vanessa Pasvenskas Marcos, telefone: 9677-2097, pesquisadora responsável pelo
estudo, me comprometo a zelar pelo cumprimento de todos os esclarecimentos
prestados nesse documento.
São Bernardo do Campo, ____ de _________________ de 2009.
Assinatura do participante da pesquisa: _______________________________________
Documento de identificação: _______________________________________________