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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO BIOMÉDICO DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO Strictu-Sensu EM MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA APLICADAS ALEXSANDER MOREIRA SIQUEIRA PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO E MOLECULAR DA ESPOROTRICOSE HUMANA NO LESTE FLUMINENSE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NITERÓI, RJ 2017

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO ......diagnóstico de esporotricose foi estabelecido em 91,5% dos pacientes atendidos nesse estudo. A infecção acometeu indivíduos, independente

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO BIOMÉDICO

DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO Strictu-Sensu EM MICROBIOLOGIA E

PARASITOLOGIA APLICADAS

ALEXSANDER MOREIRA SIQUEIRA

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO E MOLECULAR DA ESPOROTRICOSE

HUMANA NO LESTE FLUMINENSE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

NITERÓI, RJ

2017

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ALEXSANDER MOREIRA SIQUEIRA

AVALIAÇÃO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA E MOLECULAR DA

ESPOROTRICOSE HUMANA NO LESTE FLUMINENSE DO ESTADO DO RIO

DE JANEIRO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto Biomédico como requisito para obtenção do título de mestre pelo Programa de Pós-graduação em Microbiologia e Parasitologia Aplicadas da Universidade Federal Fluminense.

Orientadora

Profª. Drª. Andrea Regina de Souza Baptista – UFF

Co-orientadora

Profª. Drª. Elisabeth Martins da Silva Rocha - UFF

NITERÓI, RJ

2017

ALEXSANDER MOREIRA SIQUEIRA

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AVALIAÇÃO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA E MOLECULAR DA

ESPOROTRICOSE HUMANA NO LESTE FLUMINENSE DO ESTADO DO RIO

DE JANEIRO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto Biomédico como requisito para obtenção do título de mestre pelo Programa de Pós-graduação em Microbiologia e Parasitologia Aplicadas da Universidade Federal Fluminense.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof. Dr. Ricardo Luiz Dantas Machado (Presidente)

Professor Titular – Instituto Biomédico/UFF

________________________________________________

Profa. Dra. Marcia Ribeiro Pinto da Silva (Titular Interno)

Professor Adjunto – Instituto Biomédico/UFF

________________________________________________

Profa. Dra. Maria Regina Reis Amendoeira (Titular Externo)

Pesquisador Titular - FIOCRUZ

NITERÓI, RJ

2017

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Dedico esta obra à minha mãe, Rosângela da Silva Moreira, por toda abnegação em prol de seus filhos, meu maior referencial de luta e resistência contra as intempéries da vida.

I

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Rosangela da Silva Moreira e Djalma Siqueira,

pelo e amor e disciplina com que modelaram minha personalidade, sem a qual

jamais teria alcançado esta e todas outras conquistas.

À Professora Doutora Andrea Regina de Souza Baptista, minha

orientadora, pelo acolhimento, paciência, orientação e apoio incondicional.

À Professora Doutora Elisabeth Martins da Silva Rocha, minha co-

orientadora pelo acolhimento, amizade, compreensão, orientação e apoio

incondicional.

À Professora Doutora Simone de Abreu Neves Salles pelo irrestrito apoio,

orientação, parceria e preciosos ensinamentos.

À Professora Doutora Leila Maria Lopes Bezerra pelos incentivos e

instrução.

Ao Dr. Jose Luiz de Oliveira Cortes, à Drª. Nagela Maria Calil, à Dra.

Marcia Kalil Aidé, à Dra. Danyelle Cristina de Souza e ao Dr. Rodrigo Guimarães

Cunha pelo inestimável auxílio e parceria junto aos pacientes.

À Drª. Isabela Mathias Netto Galván por toda contribuição com as

traduções, motivações e inspirações.

À Professora Doutora Maria Regina Reis Amendoeira por ter sido minha

grande mentora, quem lapidou todo meu amor pela ciência, a quem devo todas

minhas conquistas acadêmicas.

Aos Ilmos. Professores Doutores da banca, pela honra em ser avaliado

por vossas senhorias.

Aos corpos docente e discente do Programa de Pós-graduação em

Microbiologia e Parasitologia Aplicadas da Universidade Federal Fluminense pela

oportunidade e imponderável conhecimento.

Aos alunos de graduação, especialmente Sr. Wendel Marcel Matias

D’Angioli Costa e Sra. Larissa da Silva Mendonça pela disponibilidade e suporte

nas atividades deste projeto.

Aos queridos pacientes que, mesmo debilitados, solidarizaram-se com o

estudo e desejaram colaborar despretensiosamente para o avanço científico.

II

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À ilustre Universidade Federal Fluminense que me amparou desde o

início da minha carreira e que forneceu todos os meios para a realização desse

trabalho e pela incalculável contribuição à minha formação ética e profissional.

Ao Instituto Biomédico e sua prestigiosa equipe pelo acolhimento,

compreensão, ensinamentos e por todo recurso disponibilizado para a realização

deste estudo.

Ao eminente Hospital Universitário Antônio Pedro e sua excelente equipe

pela hospitalidade e todos os recursos disponibilizados para a realização desse

estudo.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro –

FAPERJ e ao Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq, pelo apoio financeiro no

desenvolvimento deste trabalho.

Também não poderia deixar de agradecer àqueles que foram

engrenagens essenciais de meu sucesso profissional e acadêmico pelos quais

consegui chegar a este honroso momento: Doutor Ernesto Hofer, Doutor Leon

Rabinovitch, Doutor Paulo Roberto Chaves Pavão, Doutor Paulo Lacativa, Me.

Fernando José Meira de Vasconcellos, Sra. Marilene Alonso Rodrigues,

Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Universidade do Estado do Rio de Janeiro e

Hospital Universitário Pedro Ernesto.

III

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RESUMO

INTRODUÇÃO: A esporotricose é uma infecção de implantação traumática causada por fungos do clado patogênico do gênero Sporothrix que nas últimas décadas tomou singular proporção epidêmica no estado do Rio de Janeiro. Apresenta amplo polimorfismo clínico, desde manifestações cutâneas a graves infecções sistêmicas. Os fatores que influenciam nessa versátil patogenicidade não estão totalmente esclarecidos. Apesar de extensivamente descritos na capital do Estado, não existem dados na literatura sobre o perfil clínico-epidemiológico da esporotricose, nem sobre a respectiva frequência das espécies patogênicas do Sporothrix nas populações do Leste Fluminense do Rio de Janeiro. OBJETIVO: Avaliar e descrever o perfil clínico-epidemiológico e molecular da esporotricose humana, bem como a relação entre as espécies isoladas e as respectivas formas clínicas, no Leste Fluminense do estado do Rio de Janeiro. MATERIAL E MÉTODOS: Este estudo foi divulgado através de mídias sociais, jornais de circulação local e apresentações orais na comunidade através do trabalho informativo desenvolvido em parceria com as unidades básicas de saúde dos municípios. Os pacientes foram avaliados por uma equipe médica previamente capacitada e submetidos a um questionário clínico-epidemiológico padrão. Para diagnóstico e isolamento do fungo, foi realizada cultura micológica de fragmento de pele e tecido subcutâneo coletado através de biópsia da lesão. O fungo isolado foi submetido à analise fenotípica e genotípica para identificação de espécies. Os resultados foram comparados com estudos prévios. Os dados obtidos foram organizados e processados por meio de análises estatísticas. RESULTADOS: O diagnóstico de esporotricose foi estabelecido em 91,5% dos pacientes atendidos nesse estudo. A infecção acometeu indivíduos, independente do sexo, na faixa etária entre 11 meses a 85 anos, de todos os níveis de escolaridade, residentes em diversas regiões do Leste-Fluminense, com predominância no sexo feminino, caucasoide, na faixa etária economicamente ativa e com educação formal até o ensino médio. A apresentação linfocutânea foi a forma clínica mais frequente, seguida pela cutânea-fixa. Todas as formas extra-cutâneas encontradas foram osteoarticulares e demonstraram elevado grau de morbidade em pacientes imunocompetentes. O trauma inoculatório através de arranhadura com felino portador de esporotricose foi a principal via de aquisição da doença. O Sporothrix brasiliensis foi o único agente identificado nos isolados objetos deste estudo. CONCLUSÕES: Indivíduos de ambos os sexos, de qualquer idade, etnia, nível de escolaridade, residentes no Leste Fluminense são igualmente susceptíveis à infecção pelo Sporothrix brasiliensis. Este agente é capaz de causar desde infecções cutâneas autolimitadas a graves infecções extra-cutâneas . A transmissão zoonótica é a via privilegiada da infecção no Leste Fluminense. O perfil clínico-epidemiológico desta micose no Leste Fluminense é significativamente diferente daquele observado na Capital estado do Rio de Janeiro. Palavras-chave: Sporothrix, micose subcutânea, epidemiologia.

IV

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ABSTRACT

INTRODUCTION: Sporotrichosis is a traumatic implantation infeccion due to pathogenic clade fungi of the Sporothrix genre which in the last decades has taken a unique epidemic proportion in the state of Rio de Janeiro. It presents wide clinical polymorphism from cutaneous manifestations to severe systemic infections. The factors that influence its versatile pathogenicity are not fully cleared up. Although extensively described in the state capital, there are no data in the literature about the clinical-epidemiological profile of sporotrichosis, nor about the respective frequency of the pathogenic species of Sporothrix in the populations of the Metropolitan II region of Rio de Janeiro. OBJECTIVE: To evaluate and describe the clinical-epidemiological and molecular profile of human sporotrichosis, as well as the relationship between the isolated species and their respective clinical forms, in the Metropolitan II region of the state of Rio de Janeiro. MATERIAL AND METHODS: This study was disclosed through social media, local circulation newspapers and oral presentations in the community through the informative work developed in partnership with the basic health units of the municipalities. The patients were assessed by a medical team previously trained and submitted to a standard clinical-epidemiological questionnaire. For the diagnosis and isolation of the fungus, it was realized a mycological culture of skin fragment and subcutaneous tissue collected through biopsy of the lesion. The isolated fungus was submitted to phenotypic and genotypic analysis to identify species. The results were compared with previous studies. The obtained data were organized and processed through statistical analysis. RESULTS: The sporotrichosis diagnosis was established in 91.5 % of patients treated in this study. The infection affected individuals, regardless of gender, in the age group between 11 months and 85 years, of all schooling levels, resident in several regions of the Fluminense-East, with female predominance, caucasoid, in the economically active age group and with formal education until high school. The lymphocutaneous presentation was the most frequent clinical form, followed by the cutaneous-fixed one. All extra-cutaneous forms found were osteoarticular and demonstrated a high degree of morbidity in immunocompetent patients. The inoculatory trauma through scratching with sporotrichosis carrier feline was the main acquisition via of the disease. Sporothrix brasiliensis was the only agent identified in the isolated objects of this study. CONCLUSIONS: Individuals of both gender, of any age, ethnicity, education level, residents of the Metropolitan II region are equally susceptible to infection by Sporothrix brasiliensis. This agent is able due to from self-limited cutaneous infections to severe extra-cutaneous infections. Zoonotic transmission is the prime route of infection in the Fluminense-East. The clinical-epidemiological profile of this mycosis in the Metropolitan II region is significantly different from that observed in the state capital of Rio de Janeiro. KEY-WORDS: Sporothrix, subcutaneous mycosis, epidemiology.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 20

2. ESPOROTRICOSE: A INFECÇÃO PELO Sporothrix .................................... 22

2.1. HISTÓRIA .................................................................................................. 22

2.2. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS ............................................................. 24

2.3. O AGENTE ETIOLÓGICO ......................................................................... 26

2.4. RELAÇÃO Sporothrix–HOSPEDEIRO ....................................................... 30

2.4.1 Fatores de virulência ............................................................................ 30

2.4.2. Aspectos imunológicos ........................................................................ 32

2.5. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ESPOROTRICOSE ............................. 33

2.5.1. Formas cutâneas ................................................................................ 33

2.5.1.1. Linfocutânea ..................................................................................... 33

2.5.1.2. Cutânea-fixa ..................................................................................... 35

2.5.1.3. Cutânea disseminada ....................................................................... 36

2.5.2.1. Osteoarticular ................................................................................... 37

2.5.2.2. Pulmonar .......................................................................................... 39

2.5.2.3. Ocular ............................................................................................... 41

2.5.2.4. Cardíaca ........................................................................................... 42

2.5.2.5. Neuroesporotricose .......................................................................... 43

2.6. DIAGNÓSTICO .......................................................................................... 44

2.6.1. Isolamento e identificação em cultura ................................................. 45

2.6.2. Exame histopatológico ........................................................................ 45

2.6.3. Intradermorreação ............................................................................... 46

2.6.4. Testes sorológicos .............................................................................. 47

2.6.4.1. “Enzyme-Linked Immunosorbent Assay” (ELISA) ............................ 47

2.6.4.2. Outros testes sorológicos em desuso .............................................. 48

2.6.4.2.1. Soro aglutinação do látex .............................................................. 48

2.6.4.2.2. Fixação do complemento .............................................................. 48

2.6.4.2.3. Imunodifusão radial dupla ............................................................. 49

2.6.4.2.4. Imunofluorecência indireta ............................................................ 49

2.6.5. Diagnóstico molecular ......................................................................... 49

2.7. TRATAMENTO .......................................................................................... 50

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2.7.1. Itraconazol ........................................................................................... 50

2.7.2. Terbinafina .......................................................................................... 51

2.7.3. Solução saturada de iodeto de potássio ............................................. 51

2.7.4. Anfotericina B ...................................................................................... 52

2.8. ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS NÃO FARMACOLÓGICAS ............ 53

2.8.1. Intervenção cirúrgica ........................................................................... 53

2.8.2. Termoterapia ....................................................................................... 53

3. OBJETIVOS ..................................................................................................... 54

3.1. OBJETIVO GERAL .................................................................................... 54

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 54

4. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 54

4.1. ASPECTOS ÉTICOS ................................................................................. 54

4.2. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO .............................................. 55

4.3. DESENHO DO ESTUDO ........................................................................... 55

4.4. AVALIAÇÃO CLÍNICA E EPIDEMIOLÓGICA ............................................ 56

4.5. COLETA DE AMOSTRAS ......................................................................... 57

4.6. ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DO Sporothrix .................................... 58

4.7. ANÁLISE MOLECULAR ............................................................................ 58

4.8. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS ................................................................... 61

4.9. COMPARAÇÃO ENTRE POPULAÇÕES .................................................. 62

4.10. ANÁLISE ESTATÍSTICA .......................................................................... 62

5. RESULTADOS ................................................................................................. 63

5.1. CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA ......................................... 63

5.2. CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA .................................. 70

5.2.1. Comparação Clínica Epidemiológica entre a Região Leste Fluminense e a

Capital do Rio de Janeiro .................................................................................. 72

5.3. CARACTERIZAÇÃO DE RESPOSTA TERAPÊUTICA ............................. 73

5.4. GENOTIPAGEM DO Sporothrix ................................................................ 75

5.5. RELATOS DE CASOS CLÍNICOS ............................................................. 75

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5.5.1. Osteomielite – Caso Clínico n°1 .......................................................... 76

5.5.2. Osteomielite - Caso Clínico nº2 ........................................................... 78

5.5.3. Cutânea-fixa, um caso de recidiva ...................................................... 81

5.5.4. Cutânea-fixa, um caso de evolução incomum ..................................... 83

6. DISCUSSÃO .................................................................................................... 85

7. CONCLUSÃO ................................................................................................ 105

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 106

ANEXO 1 – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ...................... 125

ANEXO 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........... 128

ANEXO 3 – QUESTIONÁRIO PADRÃO ............................................................ 129

ANEXO 4 – Resumo: Surgical ambutation as a consequence of osteomyelitis due

to Sporothrix brasiliensis in two immunocompetent nonalcoholic patients ........ 131

ANEXO 5 – Apresentação Oral: 2nd International Meeting on Sporothrix and

Sporotrichosis ISHAM Working Group on Sporothrix ......................................... 132

ANEXO 6 – Resumo: Aspectos clíninco-epidemiológico e moleculares da

esporotricose no Leste Metropolitano (Metro II) do Rio de Janeiro .................... 134

ANEXO 7 – Resumo: Esporotricose: a universidade e o poder público na

abordagem de uma endemia urbana negligenciada .......................................... 135

ANEXO 8 – Resumo: Esporotricose cutânea de evolução atípica não responsiva

ao itraconazol: relato de caso em área endêmica .............................................. 136

ANEXO 9 – Apresentação Oral: Promoção do atendimento clínico, do diagnóstico

laboratorial e da notificação compulsória da esporotricose humano no município

de Niterói, Rio de Janeiro ................................................................................... 137

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Georreferenciamento dos Casos de esporotricose por endereço de

residência no Estado do Rio de Janeiro no período de 1997 a 2007. Cada ponto

vermelho corresponde a um caso notificado. Em destaque, cor mais escura, a

região Leste Fluminense. Fonte: SILVA, 2010, p. 45, modificado. ....................... 21

Figura 2 - Fotomicrografia mostrando a) aspectos típicos da Micromorfologia

filamentosa do Sporothrix sob aumento de 400x em microscopia ótica,

evidenciando hifas septadas hialinas e conidióforos com conídios implantados em

formato semelhantes ao das margaridas; b) conídios pigmentados sob o aumento

de 1000x. Fonte: ARTHUR; LEUNG; WESTERGAARD, 2015, p. 91. ................. 27

Figura 3 – a) Macromorfologia da fase filamentosa após cultura em ágar

Mycosel® à temperatura ambiente, evidenciando colônias jovens, de tonalidade

bege claro, de Sporothrix brasiliensis. b) Macromorfologia da fase filamentosa

evidenciando colônias de 60 dias após cultivo em ágar Mycosel® de S.

brasiliensis com a típica coloração marrom-enegrecida. Fonte: LMMI-UFF. ....... 28

Figura 4 – a) esporotricose linfocutânea de aspecto típico, no membro superior

direito de um paciente do sexo masculino, 62 anos; b) esporotricose linfocutânea

na região do ombro esquerdo de um homem de 54 anos, com história de acidente

de trabalho com madeira de construção civil; c) Esporotricose linfocutânea

avançada no dorso da mão, antebraço e braço esquerdos de uma paciente do

sexo feminino, 75 anos, com história de mordedura de gato diagnosticado com

esporotricose. Fonte: acervo do LMMI/UFF. ........................................................ 35

Figura 5 - Esporotricose cutânea-fixa – lesões ulceradas de fundo sero-

sanguinolento de bordas elevadas e bem definidas. a) paciente feminino de 24

anos com dorso da mão direita; b) paciente masculino de 33 anos apresentando

lesão de bodas pálidas na face anterior do quarto quirodáctilo direito; c) paciente

feminino de 9 anos com lesão ressecada na face anterior da coxa esquerda; d)

paciente masculino de 11 meses afligido por lesão no pavilhão auditivo da orelha

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esquerda, com formação de crostas hemáticas e edema perilesional; e) paciente

feminino de 33 anos apresentando lesão com formação de crostas melicéricas no

ombro esquerdo; f) paciente femininda de 62 anos apresentando lesão na região

frontal; g) paciente masculino de 17 anos apresentando lesão com formação de

crostas melicéricas e descamação na região lombar esquerda; h) paciente

masculino de 66 anos apresentando lesão na face posterior distal do antebraço

direito; i) paciente masculino de 44 anos apresentando lesão no segundo

quirodáctilo esquerdo. Fonte: acervo do LMMI-UFF. ........................................... 36

Figura 6 - Múltiplas lesões cutâneas fixas em paciente feminino, 47 anos,

imunocompetente. Múltiplas lesões na região subescapular esquerda (a), duas

lesões na face ântero-medial do antebraço esquerdo (b), um lesão no quadrante

superior direito da mama direita (c), e uma lesão no quadrante inferior direito do

abdômen (d). Fonte: acervo do LMMI. ................................................................. 37

Figura 7 - Osteomielite provocada por infecção por Sporothrix em paciente do

sexo feminino, 78 anos, previamente hígida. Imagens (a) e (d) demonstram lesão

ulcerada no primeiro quirodáctilo da mão esquerda, com extensa destruição

tecidual e necrese; b) radiografia de mão AP evidenciando erosão óssea na

falange distal da mão esquerda. c) nódulos subcutâneos no trajeto dos linfáticos

em disposição ascendente no membro superior esquerdo. Fonte: LMMI-UFF. ... 39

Figura 8 - a) Tomografia computadorizada de tórax com janela para pulmão

evidenciando cavidade no lobo superior do pulmão esquerdo; b) radiografia de

tórax evidenciando hipodensidade de contornos bem delimitado na topografia do

lobo superior esquerdo. Fonte: AUNG et al., 2015, p. 759, 760. .......................... 40

Figura 9 - Exame de Fundo de Olho em paciente jovem, HIV sororeagente,

portador da forma cutânea bilateral de esporotricose, cursando com coroidite

multifocal, apresentando múltiplas lesões coroidais amareladas. Fonte:

BIANCARDI et al., 2017, p. 68. ............................................................................ 41

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Figura 10 - Dacriocistite causada por infecção por Sporothrix em criança de oito

anos de idade, previamente hígida. Fonte: acervo do LMMI – UFF ..................... 42

Figura 11 - Ecocardiograma em um paciente de 32 anos, HIV sororeagente,

demonstrando aumento do diâmetro do átrio esquerdo e valva mitral lesionada

com formação de aneurisma e regurgitação. IVS = septo interventricular; LA =

átrio esquerdo; LV = ventrículo esquerdo; MV = válvula mitral; RA = átrio direito;

RV = ventrículo direito.Fonte: SILVA-VERGARA et al., 2012, p. 478................... 43

Figura 12 - Ressonância Magnética do Cérebro com contraste em um paciente de

34 anos, imunocompetente, com diagnóstico de meningite crônica por infecção

pelo Sporothrix. Realce da leptomeninge, mais pronunciado nas cisternas

basilares (A) e nos quinto e sexto pares de nervos cranianos (B). Focos de

difusão reduzida é visualizada no sulco caldotalâmico esquerdo, globo pallidus

esquerdo e tálamo esquerdo (C). Hidrocefalia de comunicação moderada também

está presente (D). Fonte: HESSLER; KAUFFMAN; CHOW, 2017, p. 32. ............ 44

Figura 13 - Fotomicrografia de exame histopatológico, em aumento de 200x,

corado com ácido periódico de Schiff de lesão linfocutânea em paciente

masculino de 77 anos, demonstrando reação granulomatosa com microabscesso

neutrofílico focal. Fonte: Watanabe et al., 2016, p. 251. ...................................... 46

Figura 14 - Página do Projeto de Extensão Universitária da UFF: Ações

Integradas de Prevenção e Controle da Esporotricose, hospedada na Rede Social

“Facebook” e mantida pelo LMMI-UFF, disponível para toda a comunidade

através do endereço eletrônico: https://www.facebook.com/Projeto-Esporotricose-

UFF-581582705291102. Fonte: LMMI-UFF. ........................................................ 56

Figura 15 - Sítios de anelamento para oligonucleotídeos de inicialização espécie-

específicos com alvos para os exons 3-5 do gene da calmodulina (CAL). (A)

Sporothrix brasiliensis, oligonucleotídeos de inicialização, Sbra-F e Sbra-R; (B)

Sporothrix schenckii, oligonucleotídeos de inicialização, Ssch-F e Ssch-R; (C)

Sporothrix globosa, oligonucleotídeos de inicialização, Sglo-F e Sglo-R; (D)

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Sporothrix mexicana, oligonucleotídeos de inicialização, Smex-F e Smex-R; (E)

Sporothrix pallida, oligonucleotídeos de inicialização, Spa-F e Spa-R. Fonte:

RODRIGUES; HOOG; CAMARGO, 2015, p. 10, modificado. .............................. 60

Figura 16 - Gel de agarose mostrando amplificação com oligonucleotídeo de

inicialização espécie específico a partir de isolados padrão. O tamanho dos

fragmentos são medidos comparando-se o padrão de bandas conhecido através

do 50-bp DNA Step Ladder (Promega). S. brasiliensis: 132990; S. schenckii: CBS

132974; S. globose: CBS 132922; S.mexicana: CBS 132927; S. pallida: CBS

302.73. Fonte: RODRIGUES; HOOG; CAMARGO, 2015, p. 11, modificado. ...... 61

Figura 17 - Gel de agarose mostrando resultado do PCR espécie-específico para

identificação dos isolados obtidos das lesões dos pacientes incluídos nesse

estudo. ................................................................................................................. 75

Figura 18 - a) lesão ulcerada no primeiro quirodáctilo da mão esquerda, com

extensa destruição tecidual e necrose; b) nódulos subcutâneos no trajeto dos

linfáticos em disposição ascendente no membro superior esquerdo. Fonte: LMMI-

UFF. ..................................................................................................................... 76

Figura 19 - Radiografia simples das mãos evidenciando hipertransparência de

contorno irregular na topografia da falange distal esquerda, compatível com

erosão óssea. ....................................................................................................... 77

Figura 20 – Cintilografia óssea em três fases evidenciando, à esquerda,

comprometimento dos tecidos moles no primeiro quirodáctilo e antebraço

esquerdos; à direita, fase tardia, comprometimento ósseo do primeiro quirodáctilo

esquerdo (seta verde) e de partes moles (setas azuis). Fonte: HUAP/LMMI. ...... 78

Figura 21 – (a) e (b) extensa lesão ulcerada com intensa perda tecidual na

primeiro quirodáctilo esquerdo; (d) linfangite nodular ascendente; (c) radiografia

simples da mão evidenciando hipertransparência na topografia da falange distal

do primeiro quirodáctilo esquerdo, compatível com erosão óssea. ...................... 80

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Figura 22 – Fotografia da mão esquerda mostrando cicatriz cirúrgica no local da

amputação de parte da falange distal do primeiro quirodáctilo. Á (a) esquerda

visão da face posterior e à direita (b) visão da face anterior da cicatriz. .............. 81

Figura 23 – Esporotricose cutânea fixa em paciente masculino, 56 anos,

imunocompetente. a) lesão gomosa com eritema periférico recidivada após 150

dias de remissão. b) aspecto da cicatriz após 90 dias de iodeto de potássio

associado ao itraconazol. ..................................................................................... 83

Figura 24 – Esporotricose cutânea-fixa de evolução incomum e prolongada em

paciente jovem imunocompetente. À esquerda, visão em perfil, à direita visão

frontal da lesão em placa, descamativa, violácea e de limites bem definidos no

joelho esquerdo. ................................................................................................... 84

Figura 25 - Esporotricose cutânea-fixa de evolução incomum e prolongada em

paciente jovem imunocompetente. a) aspecto da lesão após 90 dias de

tratamento com itraconazol 400 mg/dia; b) aspecto da lesão 30 dias após adição

de iodeto de potássio no esquema terapêutico. ................................................... 85

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição dos pacientes incluídos no presente estudo segundo

ambulatórios de referência. .................................................................................. 63

Tabela 2- Distribuição do número absoluto e percentual (%) dos pacientes

portadores ou não da esporotricose, incluídos no presente estudo, quanto às

variáveis sócio-demográficas avaliadas. .............................................................. 65

Tabela 3 - Distribuição do número absoluto e percentual (%) dos pacientes

portadores ou não da esporotricose, incluídos no presente estudo, quanto às

variáveis socioculturais avaliadas. ....................................................................... 69

Tabela 4 - Distribuição dos portadores da esporotricose por forma clínica e

evolução da micose e segundo o isolamento do Sporothrix em cultura micológica.

............................................................................................................................. 70

Tabela 5 - Distribuição do número absoluto e percentual (%) dos pacientes

portadores ou não da esporotricose, incluídos no presente estudo, quanto às

variáveis clínicas avaliadas. ................................................................................. 71

Tabela 6 – Distribuição dos pacientes avaliados nesse estudo e no estudo de

Freitas, 2010, em segundo a forma clínica diagnosticada. .................................. 73

Tabela 7 - Distribuição dos pacientes com esporotricose segundo a proposta

terapêutica empregada. ....................................................................................... 74

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Mapa de Niterói-RJ mostrando as subdivisões políticas e a respectiva

origem (percentual) dos pacientes atendidos nos ambulatórios de referência no

período de fevereiro de 2015 à junho de 2017. Fonte: acervo do LMMI. ............. 66

Quadro 2 - Distribuição numérica e percentual dos pacientes assistidos no

presente estudo, procedentes de Niterói (n=62), segundo região e bairro de

procedência. ......................................................................................................... 67

Quadro 3 - Mapa de São Gonçalo-RJ mostrando as subdivisões políticas por

regiões e a respectiva origem (percentual) dos pacientes atendidos nos

ambulatórios de referência, no período de Fevereiro de 2015 à Junho de 2017. 67

Quadro 4 - Distribuição numérica e percentual dos pacientes assistidos no

presente estudo, procedentes de São Gonçalo-RJ (n=49), segundo região e bairro

de procedência. .................................................................................................... 68

Quadro 5 - Mapa de Itaboraí-RJ mostrando as subdivisões políticas por regiões e

a respectiva origem (percentual) dos pacientes atendidos nos ambulatórios de

referência, no período de Fevereiro de 2015 à Junho de 2017. ........................... 68

Quadro 6 - Distribuição numérica e percentual dos pacientes assistidos no

presente estudo, procedentes de Itaboraí-RJ (n=18), segundo região e bairro de

procedência. ......................................................................................................... 69

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LISTA DE ABREVIATURAS E UNIDADES

BHI - Infusão de cérebro e coração

CLSI - Clinical and Laboratory Standards Institute

CMI - Concentração Inibitório Mínima

Man - Manose

Ram - Ramnose

GlcA – ácido glucurônico

GlcNAc – N-acetil-D-glucosamina

Con A – Concanavalina A

ELISA – Enzyme-Linked Immunosorbent Assay

FMS – Fundação Municipal de Saúde

HUAP – Hospital Universitário Antônio Pedro

IDSA - Infectious Diseases Society of America

IgG – Imunoglobulina G

LMMI – Laboratório de Micologia Médica e Molecular

MP – Manoproteína

PBS – salina tamponada por tampão fosfato

PMN – Prefeitura Municipal de Niterói

RFLP - Restriction Fragment Length Polymorphism

SES – Secretaria Estadual de Saúde

SsCBF – Fração ligante a concanavalina A

PCR – Polymerase Chain Reaction

UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFF – Universidade Federal Fluminense

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1. INTRODUÇÃO

A esporotricose é uma infecção de implantação traumática, subaguda ou

crônica, que acomete tecidos cutâneo e subcutâneo e, extraordinariamente,

ossos, articulações, sistema nervoso central, coração e pulmões, causada por

espécies de fungos termodimórficos do recém-proposto Clado patogênico do

gênero Sporothrix (DE BEER; DUONG; WINGFIELD, 2016).

Representa a micose subcutânea mais prevalente da América Latina

(BARROS et al., 2010) e apresenta amplo polimorfismo clínico. Em indivíduos

imunossuprimidos, pode assumir formas extra-cutâneas com grande potencial de

letalidade (CARVALHO et al., 2002; MOREIRA et al., 2015; SEVERO et al.,

1999).

As espécies do gênero Sporothrix são cosmopolitas, amplamente

encontradas na natureza, com diferentes distribuição geográfica e potencial

patogênico (MARIMON et al., 2006, 2007). Podem ser isoladas a partir do solo,

espinhos, folhas secas, água, material orgânico em decomposição, frutas,

madeira, entre outros elementos de origem vegetal, unhas e cavidades oral e

nasal de felinos domésticos (BUSTAMANTE; CAMPOS, 2001; KAUFFMAN;

HAJJEH; CHAPMAN, 2000; MORRIS-JONES, 2003).

Não se conhece as razões para o polimorfismo da doença. Presume-se

que o local de implantação e fatores de patogenicidade intrínsecos ao fungo,

associados ao estado imunológico do hospedeiro, determinariam a evolução para

uma das diversas formas clínicas já descritas na literatura. Não se sabe se há

relação causal entre as diferentes espécies do clado patogênico do gênero e sua

interação com o hospedeiro humano nas variadas manifestações clínicas

(FREITAS et al., 2014).

O estado do Rio de Janeiro, desde a década de 90, protagoniza episódio

sem precedente na história da doença. Nesse Estado, o caráter zoonótico

prevalece, tomando os felinos domésticos pivores de uma epidemia de magnitude

inédita que vem instigando especialista de todo o mundo (DE LIMA BARROS et

al., 2001).

Em resposta a ameaça emergente da esporotricose e seu comportamento

incomum no Estado, a Secretaria Estadual de Saúde do Estrado do Rio de

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Janeiro a classificou entre as doenças de notificação compulsória (SES-RJ,

2013). Desde então o Estado registrou um total de 3.377 de casos suspeitos entre

os 2013 – 2016 (SES-RJ, 2016), reflexo, principalmente, de estudos sistemáticos

concentrados na Capital (Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Japeri,

Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio de Janeiro,

São João de Meriti e Seropédica), como se pode observar na Figura 1.

Figura 1 - Georreferenciamento dos Casos de esporotricose por endereço de residência no Estado do Rio de Janeiro no período de 1997 a 2007. Cada ponto vermelho corresponde a um caso notificado. Em destaque, cor mais escura, a região Leste Fluminense. Fonte: SILVA, 2010, p. 45, modificado.

Neste trabalho investigamos a dinâmica da infecção pelo Sporothrix, as

respectivas formas clínicas, seu perfil epidemiológico e a identificação molecular

das espécies em populações humanas residente nos municípios do Leste

Fluminense do estado do Rio de Janeiro: Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá,

Tanguá, Rio Bonito e Silva Jardim.

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2. ESPOROTRICOSE: A INFECÇÃO PELO Sporothrix

2.1. HISTÓRIA

A esporotricose foi identificada pela primeira vez em 1896 por Benjamin

Schenck, então estudante de medicina no Hospital John Hopkins, Baltimore,

Estados Unidos da América (E.U.A.). Schenck relatou isolamento do fungo a partir

de um paciente do sexo masculino, 36 anos, que apresentava lesões cutâneas no

membro superior direito. O fungo foi encaminhado para o micologista Erwin Smith

que o classificou como elemento do gênero Sporotrichum. Hektoen e Perkins, em

1900, E.U.A., descreveram isolamento e classificação de um fungo, a partir de

aspirado de lesão cutânea, ao qual denominaram Sporothrix schenckii

(CORGOZINHO, 2006; HEKTOEN; PERKINS, 1900; MORRIS-JONES et al.,

2003; LOPES-BEZERRA; SCHUBACH; OROFINO-COSTA, 2006;

SCHETCHMAN, 2010a).

Na Europa, o primeiro relato foi publicado por Beurmann e Ramond três

anos após o trabalho de Hektoen e Perkins. Beurmann, no início do século XX,

publicou, junto com Gougerot, o trabalho “Les Sporotrichoses”, considerado um

clássico da micologia médica (RIPPON, 1988; SHARMA et al., 2003). Ramond &

Matruchot, em 1902, França, observando diferença de pigmentação em relação

ao isolado original obtido por Schenck, nomearam o agente como Sporothichum

beurmanni acreditando tratar-se de espécie distinta. Matruchot, em 1910,

renomeou o isolado de Schenck para Sporotrichum schenckii. Davis, em 1921,

estudando os isolados de Shenck e Ramond & Matruchot, concluiu tratarem-se da

mesma espécie, a Sporotrichum schenckii (LOPES-BEZERRA; SCHUBACH;

OROFINO-COSTA et al., 2006; SCHETCHMAN, 2010a).

Barros e colaboradores (2010) apontam que Lutz e Splendore, em 1907,

registraram os primeiros isolamentos de Sporothrix no Brasil, a partir de amostras

colhidas em humanos e ratos. Os registros mais importantes no Brasil, se

considerada a via de transmissão clássica pelo solo ou matéria orgânica, foram

decorrentes dos estados de São Paulo, com 235 casos confirmados até o ano de

1953 (SAMPAIO; LACAZ; ALMEIDA, 1954) e do Rio Grande do Sul, com 646

casos no período entre 1957 e 2002 (LONDERO, RAMOS, 1989).

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Desde os relatos iniciais, a esporotricose vem sendo documentada

mundialmente, seja em casos locais, em série, ou em surtos (LACAZ, 2002). O

surto da doença mais conhecido ocorreu em Witwatersrand, África do Sul, no

período de 1941 até 1944. Nele, foram registrados aproximadamente 3000 casos

da doença entre mineiros, expostos ao agente fúngico durante o exercício

profissional numa mina de carvão, cujos corredores escoravam-se em madeira

habitada pelo fungo, nas quais se feriam (CAMPOS; ARENAS; CORONADO,

1994). Outro surto importante ocorreu em quinze estados dos E.U.A., em 1988.

Oitenta e quatro indivíduos foram infectados após manusear sementes

empacotadas com o musgo Sphagnum spp. na Pensilvânia. Nos E.U.A., entre

1992 e 1993, registrou-se outro surto pela infecção através do feno estocado em

uma casa abandonada utilizada para festas de Halloween (DOOLEY; BOSTIC;

BECKIUS, 1997).

O nordeste da China enfrenta uma epidemia até os dias atuais, com

incidência de 457 casos humanos no período de 2007 e 2009 (SONG et al.,

2013), ultrapassando 2.000 casos registrados (LIU et al., 2013).

A hipótese de transmissão zoonótica da esporotricose foi aventada pela

primeira vez por Singer e Muncie (1952) quando relataram casos de esporotricose

em Nova York, E.U.A., mas recebeu atenção a partir do relato publicado por Read

e Sperling (1982) descrevendo a micose em seis pacientes expostos a um gato

com esporotricose em Washington, E.U.A. A partir dessa década, a transmissão

zoonótica por meio de gatos domésticos foi documentada em vários locais do

mundo, inclusive nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul, Brasil

(FLEURY et al., 2001; LARSSON et al., 1989; MADRID et al., 2010; MARQUES et

al., 1993), ambos em surtos de pequena extensão e rápido controle. Em 1998 foi

descrito o primeiro relato de transmissão epizoonótica a partir da arranhadura por

felino doméstico no Rio de Janeiro (BARROS et al., 2004). Desde então, o estado

do Rio de Janeiro protagonizou episódio sem precedentes na história da doença,

com o registro de sucessivos surtos até a configuração de um quadro epidêmico

no Estado (BARROS et al., 2010). O interesse pela infecção e seu agente

etiológico aumentou intensamente, resultando em vários estudos sobre os

aspectos clínicos, epidemiológicos, imunológicos e moleculares, a maioria

concentrada nas populações humanas e animais residentes na capital do Rio de

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Janeiro (DE LIMA BARROS et al., 2001, 2008; GALHARDO et al., 2008;

SCHUBACH, 2002, 2005; SILVA et al., 2012).

2.2. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS

O Sporothrix está presente em todas as regiões do globo terrestre,

prevalecendo em regiões de clima tropical e temperado, uma vez que se beneficia

de umidade relativa ambiental elevada, entre 90 a 100%. Nos últimos anos, os

maiores registros de casos procedem do Brasil, China, Índia, Japão, México, Peru

e Uruguai (BARROS; ALMEIDA-PAES; SCHUBACH, 2011; MACKINNON, 1968).

O solo é o principal reservatório do Sporothrix, sendo, junto com as plantas,

importante fonte de contaminação, necessitando, porém, que o solo seja rico em

matéria orgânica de origem vegetal. Vive também como saprófito na superfície de

vegetais vivos ou mortos e em decomposição, em seus produtos e em

excrementos de animais (CRISEO; ROMEO, 2010; DE BEER; DUONG;

WINGFIELD, 2016; MACKINNON et al., 1968; 1969).

A esporotricose apresenta incidência anual estimada em 48 - 60 casos

por 100.000 habitantes, com taxa anual de hospitalização de 0,35 casos por

1.000.000 de habitantes e acomete ambos os sexos, de qualquer faixa etária, de

todas as etnias e com qualquer grau de escolaridade, com prevalência variável de

acordo com a região geográfica (GOLD et al., 2016; VÁSQUEZ-DEL-MERCADO;

ARENAS; PADILLA-DESGARENES, 2012). Presume-se que a diferente

distribuição no extrato social eflui de fatores socioculturais, que determinam a via

de exposição ao fungo. Apontou-se, por exemplo, que as mulheres do Rio de

Janeiro geralmente são as responsáveis pelos cuidados de gatos com

esporotricose, definindo uma via de exposição que explica o fato de constituírem

a população humana mais afetada pela doença neste estado (BARROS;

ALMEIDA-PAES; SCHUBACH, 2011; SCHUBACH; MARIA; SCHUBACH, 2005).

Contudo, no Rio Grande do Sul, homens economicamente ativos, envolvidos em

atividades de caça ao tatu, animal em cujo solo próximo às tocas isolou-se o

Sporothrix, são os mais acometidos por essa moléstia (ALVES et al., 2010;

MONTENEGRO et al., 2014; RODRIGUES; DE HOOG; DE CAMARGO, 2014).

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A doença não apresenta um único comportamento no que tange a forma

de aquisição. Na maioria dos relatos, a contaminação ocorre por meio de trauma

inoculatório com plantas e madeiras ou por arranhaduras e mordeduras de felinos

portadores ou infectados (DE ARAUJO, 2015). Thompson (1977) registrou o

primeiro caso de esporotricose adquirida por manipulação laboratorial de

Sporothrix.

Em razão de sua estreita relação com o solo e matéria orgânica de

origem vegetal, a esporotricose é observada com maior frequência entre

indivíduos que mantêm contato constante com plantas, como os agricultores,

floristas, jardineiros e demais profissionais de áreas afins, expostos à inoculação

traumática, atribuindo caráter ocupacional à doença (ORELLANA et al., 2009).

Após emergência da epidemia em felinos, com instalação de nova via de

transmissão – arranhadura e mordeduras – cuidadores de animais e a medicina

veterinária foram incluídas no rol das profissões de risco. Agentes de laboratório

que manipulam amostras clínicas e culturas de fungos do complexo Sporothrix

schenckii também possuem risco aumentado para a infecção (BARROS et al.,

2010; XAVIER et al., 2004).

A transmissão ocorre classicamente por implantação traumática de

células fúngicas nos tecidos cutâneo e subcutâneo do hospedeiro a partir de

acidentes com matéria orgânica vegetal, o que levou a infecção ser conhecida

popularmente como “doença do jardineiro” e “doença da roseira” (BHUTIA et al,

2011; OLIVEIRA et al., 2014; MATA-ESSAYAG et al., 2013; SILVA et al., 2012;

TANG et al., 2012; VERMA et al., 2012).

Formas não habitual de transmissão têm sido postuladas como a inalação

e a ingestão. Embora a inalação de fungos do gênero Sporothrix raramente dá

início à infecção pulmonar em indivíduos sem comorbidades, o mesmo não se

verifica em imunodeprimidos, podendo evoluir para a forma sistêmica, inclusive. A

infecção por ingestão foi relatada por Al-Tawfiq e Wool (1998), porém essa via de

transmissão não foi corroborada em outros estudos (CAMPOS; ARENA;

CORONADO, 1994; DA SILVA, 2001; KWONG-CHUNG et a., 1979; LEME et al.,

2007).

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26

2.3. O AGENTE ETIOLÓGICO

A esporotricose é causada por quatro espécies clado patogênico

(Sporothrix brasiliensis, Sporothrix globosa, Sporothrix luriei e Sporothrix

schenckii), eventualmente por três espécies do complexo Sporothrix pallida

(Sporothrix chilensis, Sporothrix mexicana, Sporothrix pallida) de forma

oportunista e muito raramente pelo Sporothrix stenoceras do gênero Sporothrix

(DE BEER; DUONG; WINGFIELD, 2016). Este gênero é composto por 51

espécies distribuídas por todo globo terrestre, de vida predominantemente

saprófita, em associação com organismos vegetais ou matéria orgânica em

decomposição além do solo (DE BEER; DUONG; WINGFIELD, 2016). Integra a

família Ophiostomataceae, da ordem Ophiostomatales, da classe

Sordariomycetes, da divisão Ascomycota, do reino Fungi. São microrganismos

eucariontes, heterótrofos, imóveis, dotados de parede celular constituída por

glucanas, galactomananas, ramnomananas, quitina, glicoproteínas, glicolipídeos e

melanina, em proporção variável de acordo com a forma evolutiva (AUNG et al.,

2015; BARROS et al, 2011).

As espécies do gênero Sporothrix apresentam dimorfismo térmico. A

forma miceliana, saprófita, em temperaturas próximas à 25ºC - nessas condições

desenvolvem-se como fungo filamentoso de hifas hialinas, septadas e

ramificadas, medindo entre um e dois micrômetros de largura, da qual emerge

conidióforo delgado que exibe pequenina vesícula no ápice contendo diminutos

dentículos dos quais se exteriorizam conídios ovoides, pequenos, unicelulares,

hialinos, medindo cerca de dois a quatro micrômetros, que se anexam na periferia

do conidióforo numa configuração que se parece com o formato de uma

margarida (Figura 2a; ARTHUR; LEUNG; WESTERGAARD, 2015; LACAZ et al.,

2002). Os conídios demáceos são ovoides, grandes, possuem espessa parede

celular, podendo ser encontrados em toda extensão das hifas (sésseis) e não se

organizam em cadeias (Figura 2b). A forma de levedura, parasitária, em

temperatura próximas à 37ºC – nesse meio evoluem em formato alongado,

unicelular, fusiforme, assemelhando-se a charuto, medindo cerca de 2 a 6 µm,

podendo exibir um ou mais brotamentos (SIGLER et al., 1990; LOPES-

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BEZERRA; SCHUBACH; COSTA, 2006; RAMOS-E-SILVA, 2007; DE MEYER,

2008; GALHARDO, 2008).

Figura 2 - Fotomicrografia mostrando a) aspectos típicos da Micromorfologia filamentosa do Sporothrix sob aumento de 400x em microscopia ótica, evidenciando hifas septadas hialinas e conidióforos com conídios implantados em formato semelhantes ao das margaridas; b) conídios pigmentados sob o aumento de 1000x. Fonte: ARTHUR; LEUNG; WESTERGAARD, 2015, p. 91.

O Sporothrix, em cultura à temperatura de 25ºC, organiza-se em colônias

membranosas, de superfície enrugada, de cor branca à marrom acastanhado ou

enegrecido, escurecendo com o envelhecimento, e podendo se despigmentar

após culturas consecutivas (Figura 3a e 3b) (KWONG-CHUNG, 1979; LACAZ et

al., 2002; LOPES-BEZERRA; SCHUBACH; OROFINO-COSTA, 2006).

Cultivando-se o fungo em estufa à temperatura de 37ºC, em meio B. H. I.,

observam-se colônias lisas e úmidas, de cor creme e tonalidade branca ou

castanha (LACAZ et al., 2002; MORRIS-JONES et al., 2003; CRISEO; ZUNGRI;

ROMEO, 2008; Figura 3).

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Figura 3 – a) Macromorfologia da fase filamentosa após cultura em ágar Mycosel® à

temperatura ambiente, evidenciando colônias jovens, de tonalidade bege claro, de Sporothrix brasiliensis. b) Macromorfologia da fase filamentosa evidenciando colônias de 60 dias após cultivo em ágar Mycosel® de S. brasiliensis com a típica coloração marrom-enegrecida. Fonte: LMMI-UFF.

Relativamente poucos estudos se dedicaram à descrição das

características morfofisiológicas do Sporothrix. A temperatura para crescimento

ótimo situa-se entre 30 e 37ºC, com inibição total em 40ºC. As leveduras são mais

resistentes à pressão osmótica que a forma miceliana (GOSH et al., 2002). A

apresentação filamentosa demonstra preferência por pH entre 3,0 – 11,5,

enquanto as leveduras desenvolvem-se melhor em pH entre 3,0 – 8,5.

Consomem várias fontes de carboidratos, tais como a glicose, a frutose, a

manose, a galactose, o glicerol, o adonitol, a maltose, a manose, o sorbitol, a

sacarose, a trealose, a xilose e a celobiose; entretanto, isolados de diferentes

regiões geográficas apresentam variação no padrão de assimilação da sacarose,

da arabinose, da rafinose, do ribitol e do amido (GOSH et al., 2002). Nenhuma

espécie do Sporothrix. é capaz de assimilar o inositol, a lactose e o dulcitol. A

forma miceliana é hábil em degradar a uréia após 96 horas de incubação. Ambas

as formas são capazes de assimilar o nitrato de potássio. Não hidrolisam caseína

e não possuem atividade de gelatinase (MARIMON et al., 2007).

A heterogeneidade morfomolecular dos isolados de Sporothrix schenckii a

partir de material clínico sugeriu, com base em análise filogenética, na qual se

empregou uma combinação de sequências de DNA e três loci gênicos

(calmodulina, β- tubulina e quitina sintase), que a então espécie seria um

complexo de espécies crípticas (MARIMON et al., 2006; DE MEYER et al., 2008).

Nesse contexto, desenvolveu-se uma chave de identificação combinando

características fenotípicas (aspectos macroscópico das colônias e microscópicos

a) b)

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dos conídios, assimilação de sacarose e rafinose, e capacidade de crescimento

em 37ºC) com características genotípicas (sequenciamento parcial do gene da

calmodulina) que resultou na proposição de três novas espécies: Sporothrix

brasiliensis, Sporothrix globosa e Sporothrix mexicana que foram integradas com

as demais espécies existentes Sporothrix schenckii e Sporothrix albicans, esta

atualmente renomeada como Sporothrix pallida. Posteriormente, Sporothrix

schenckii var. luriei passou ser considerada uma nova espécie, S. luriei

(MARIMON et al., 2007; 2008). Recentemente, uma abordagem polifásica,

incluindo o modelo de virulência em ratos, sugeriu a que o Sporothrix chilensis se

trata de nova espécie. (RODRIGUES et al., 2016). Atualmente a distinção entre

as espécies do complexo baseia-se em análise taxonômica polifásica composta

por: a) sequenciamento do gene da calmodulina; b) perfil de assimilação da

sacarose, rafinose e ribitol; c) diâmetro médio das colônias, após incubação nas

temperaturas de 20, 30, 35 e 37° C por 21 dias no meio ágar batata dextrose e d)

morfologia dos conídios nos cultivados em meio ágar batata dextrose (MARIMON

et al., 2007, 2008; RODRIGUES et al., 2013; DE OLIVEIRA et al., 2012; YU et al.,

2013). Mais recentemente, de Beer, Duong e Wingfield (2016) efetuaram ampla

revisão taxonômica baseada na análise filogenética, utilizando os conjuntos

sequências genéticas das regiões BT (beta-tubulin), CAL (calmodulin), ITS

(internal transcribed spacer region) e LSU (ribosomal large subunit), redefinindo o

gênero Sporothrix.

As espécies do complexo Sporothrix schenckii são cosmopolitas,

amplamente encontradas na natureza, com diferentes distribuição geográfica e

potencial patogênico (MARIMON et al., 2006, 2007; RODRIGUES; DE HOOG;

CAMARGO, 2014; ZHANG et al. 2015). Podem ser isoladas a partir do solo,

espinhos, folhas secas, água, material orgânico em decomposição, frutas,

madeira, entre outros elementos de origem vegetal, unhas e cavidades oral e

nasal de felinos domésticos (KAUFFMAN; HAJJEH; CHAPMAN, 2000;

BUSTAMANTE; CAMPOS, 2001; DE BREE et al., 2016; MORRIS-JONES et al.,

2003). O Sporothrix brasiliensis destaca-se na epidemia zoonótica do estado do

Rio de Janeiro (MARIMON et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2014). O Sporothrix

globosa é cosmopolita e pouco virulenta (CRUZ, 2013; MADRID et al., 2009; DE

OLIVEIRA et al., 2010). O Sporothrix mexicana está relacionado a casos de

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esporotricose no Brasil e na Europa, e foi isolado em amostras ambientais no

México (DIAS et al., 2011; MARIMON et al., 2007; RODRIGUES, 2013).

2.4. RELAÇÃO Sporothrix–HOSPEDEIRO

As interações de microrganismos com outros organismos presentes no

habitat natural do patógeno induzem, neste, à aquisição de estratégias de

sobrevivência que o levam a uma maior capacidade adaptativa quando

interagirem casualmente com hospedeiro animal, possibilitando a evasão de sua

resposta imune. Ao conjunto dessas estratégias foi cunhada a expressão “fatores

de virulência” (CASADEVALL; 2012; CASADEVALL; FANG; PIROFSKI, 2011). O

conhecimento sobre os fatores de virulência do Sporothrix schenckii é escasso,

sendo propostos: adesinas, atividade proteolítica, melanina, peroxido de

ergosterol, produção de urease e termotolerância (ALMEIDA-PAES et al., 2015).

2.4.1 Fatores de virulência

A adesão às células e aos componentes da matriz extracelular do

hospedeiro é fundamental para o processo de infecção dos tecidos. Leveduras e

conídios das espécies patogênicas do Sporothrix reconhecem sítios de ligação na

fibronectina, na laminina e no colágeno do tipo II do hospedeiro. As leveduras, por

sua vez, expressam uma proteína de superfície, a GP70, que se liga à matriz

extracelular, desempenhando papel fundamental para sua virulência (ALMEIDA-

PAES et al., 2015; TEIXEIRA et al., 2009).

Isolados de Sporothrix brasiliensis e Sporothrix schenckii apresentam

atividade proteolítica à 37ºC in vitro (ALMEIDA-PAES et al., 2015). Essa

habilidade pode estar relacionada com a penetração de tecidos do hospedeiro,

aumentando a capacidade de invasão e disseminação da infecção, colaborar na

evasão do sistema imune e aumentar a biodisponibilidade de nutrientes (ABI-

CHACRA et al., 2013).

O Sporothrix, tanto na fase filamentosa quanto levedurifome, é capaz de

sintetizar melanina, nomenclatura genérica de uma classe proteínas de alto peso

molecular, de cor marrom ou negra, presente em vários organismos (TÉLLEZ et

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al., 2014). Embora existam várias moléculas de melanina, a isolada em Sporothrix

é a melanina 1,8-di-hidroxi naftaleno (DHN), sintetizada por conídios e leveduras

na ausência de percursores a partir de acetil-coenzima A ou malonil-CoA,

produtos de vias metabólicas celulares essenciais (LANGFELDER et al., 2003;

MORRIS-JONES et al., 2003). Entre suas propriedades físico-químicas,

destacam-se a carga negativa, a hidrofobicidade e a insolubilidade em solventes

aquosos e orgânicos (JACOBSON, 2000). Esses são responsáveis pelo aumento

da resistência dos conídios à fagocitose por macrófagos e pela patogenicidade

em mamíferos, uma vez que cepas albinas de Sporothrix apresentam menor

capacidade invasiva em comparação com isolados selvagens (MADRID et al.,

2010; ROMERO-MARTINEZ et al., 2000).

Leveduras do Sporothrix produzem peróxido de ergosterol que pode ser

convertido em ergosterol por reação enzimática intrínseca ao fungo e também age

como um mecanismo de escape contra as espécies reativas de oxigênio do

processo de fagocitose (CASTRO et al., 2017). Alguns estudos demonstraram

grande produção de urease após o quarto dia de incubação por isolados de S.

brasiliensis (ALMEIDA-PAES et al., 2015). Muito embora o papel da urease na

patogenia da esporotricose não seja conhecido; a urease é importante fator de

virulência em Coccidioides posadasii por meio da alcalinização do pH do

microambiente externo, contribuindo para o dano tecidual e disseminação da

infecção, enquanto em Cryptococcus neoformans, desempenha papel na invasão

do parênquima cerebral (MIRBOD-DONOVAN et al., 2006; SHI et al., 2010).

O Sporothrix é capaz de suportar e crescer na temperatura corpórea dos

hospedeiros vertebrados (HOGAN; KLEIN; LEVITZ, 1996). Além disso, a

termotorância pode estar relacionada ao polimorfismo clínico observado na

esporotricose. Isolados de Sporothrix que crescem a 35ºC mas não a 37ºC

causam exclusivamente lesões cutâneas fixas enquanto aqueles provenientes de

lesões linfocutâneas, disseminadas e extra-cutâneas demonstram capacidade de

crescer a 37ºC. Desse modo, a termotolerância intrínseca da espécie, ou de

algumas cepas, pode determinar se a infecção se limitará ao tecido cutâneo ou

evoluirá para forma sistêmica (AUNG et al., 2015; TÉLLEZ et al., 2014).

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2.4.2. Aspectos imunológicos

Os mecanismos imunológicos envolvidos na infecção pelo Sporothrix

envolvem as respostas imunes celular e humoral, desencadeadas por diferentes

antígenos da superfície celular. Antígenos secretados pelo fungo induzem a

resposta humoral, mas não estão envolvidos na resposta celular. A resposta

imune inata também exerce função na defesa do organismo contra a infecção

pelo Sporothrix (ALBA-FIERRO et al., 2016; RODRIGUES et al., 2015).

O sistema complemento, principalmente a via alternativa, atua na

fagocitose e lise das leveduras através da deposição de C3b na parede celular do

fungo (SCOTT; MUCHMORE; FINE, 1986).

O receptor TLR-4 (Toll-Like 4) presentes nas células do hospedeiro

reconhece lipídios da superfície das leveduras do Sporothrix, ativando o sistema

imune que resulta na indução de uma resposta oxidativa contra o fungo (SASSÁ

et al., 2012). Nos estágios iniciais da doença, receptores TLR-2 e TLR-4

presentes na superfície de queratinócitos reconhecem conídios e leveduras

levando a resposta inflamatória local (NEGRINI et al., 2014; SASSÁ et al., 2012).

Neutrófilos secretam metabólitos oxidativos com ação fungicida e fungistática

contribuindo com a resposta inata. Na forma linfocutânea observa-se maior

concentração de óxido nítrico-sintase induzível nessas células (BARROS et al.,

2011a; CASTRO et al., 2017; GONÇALVES et al., 2015).

Na resposta imune adquirida do tipo Th1, linfócitos T CD4+ e outras

células apresentadoras de antígeno secretam interferon-gama (IFN-γ), ativando

macrófagos que então, sob ação do fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α),

produzem óxido nítrico que apresenta intensa toxicidade contra o Sporothrix.

Após fagocitar conídios e leveduras, os macrófagos também produzem espécies

reativas de oxigênio de ação fungicida e fungistática (GONÇALVES et aol., 2017;

FLORES-GARCÍA et al, 2015; LEE; LAU, 2017).

A resposta imune humoral pode ter algum papel na patogenia da

esporotricose uma vez que anticorpos monoclonais contra um antígeno

glicolipídico do fungo inibem seu crescimento in vitro (TOLEDO et al., 2010).

Anticorpos monoclonais contra uma adesina de 70 kDa também resultou em

imunidade em modelo de infecção murino (NASCIMENTO et al., 2008), e

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anticorpos extraídos de soro de pacientes com esporotricose reagem com

diversas isoformas de proteínas de 70 kDa (ALMEIDA-PAES et al., 2012). Em

humanos, observam-se a produção de IgG, IgM e IgA contra exoantígenos da

fase filamentosa e de IgG e IgM contra a peptídeo-ramnomanana da fase de

levedura de Sporothrix (ALMEIDA-PAES et al., 2007a; BERNARDES-

ENGEMANN et al., 2005).

2.5. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ESPOROTRICOSE

A esporotricose ostenta múltiplas apresentações clínicas, dividas entre as

formas cutâneas, a saber, linfocutânea, cutânea-fixa e cutânea disseminada, e

extra-cutâneas. Aventa-se que a variedade de manifestações decorre da

concorrência de fatores de patogenicidade intrínsecos ao fungo como virulência e

carga infectante; de fatores ambientais figurados pela profundidade do inoculo, e

de fatores inerentes ao hospedeiro como seu estado imunológico (DIXON et al.,

1991; FERREIRA et al., 2016; FISCHMAN et al., 2016; GOLD, 2016;

MCGUINNESS, 2016; MORGADO et al., 20).

2.5.1. Formas cutâneas

2.5.1.1. Linfocutânea

A apresentação linfocutânea é a mais prevalente manifestação da

esporotricose humana. Após a inoculação de células fúngicas no tecido cutâneo

ou subcutâneo, o ferimento evolui no aspecto de pápula eritematosa entre sete e

trinta dias (ZAITZ et al., 2010). Progride lentamente com aumento do tamanho e

ulceração de centro sero-sanguinolento, com bordas definidas e afloramento de

nódulos subcutâneos ao longo do trajeto ascendente das vias linfáticas,

configurando aspecto clássico da doença, denominado lesão esporotricóide

(Figura 4) (DE MIRANDA et al., 2009). As lesões podem ainda progredir para

abscessos, placas achatadas e desenvolver extensas áreas de necrose (ZAITZ et

al., 2010).

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Habitualmente a linfangite nodular ascendente que se forma são

dolorosas, podendo formar fístulas para a pele que drena secreção de conteúdo

pruriginoso e desenvolve úlceras (ZAITZ et al., 2010). Além da dor e desconforto

local, outros sintomas estão ausentes. Devido as lesões se aprofundarem na

derme, atingindo o tecido subcutâneo, costumam gerar cicatrizes inestéticas na

pele (DE MIRANDA et al., 2009).

Acomete, com maior frequência, os membros superiores e inferiores na

população adulta enquanto a população pediátrica tem a face como sítio

preferencialmente afetado (VÁSQUEZ-DEL-MERCADO et al, 2012). As lesões

evoluem para cura espontaneamente após várias semanas ou cronificam na

ausência de tratamento adequado. Manifestações semelhantes podem ser

encontradas na micobacteriose atípica, na nocardiose linfocutânea e na

leishmaniose cutânea (ZAITZ et al., 2010). Micobacteriose atípica é o diagnóstico

diferencial mais comum em países da Europa, Canadá e E.U.A. No Brasil, em

áreas endêmicas, o principal diagnóstico diferencial deve ser a leishmaniose

tegumentar (DE MIRANDA et al., 2009). Outros diagnósticos menos frequentes

são granuloma inguinal, histoplasmose, infecção pelo Penicillium marneffei,

lobomicose, rinoescleroma, sífilis secundária, tularemia (KAUFFMAN, 1999).

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Figura 4 – a) esporotricose linfocutânea de aspecto típico, no membro superior direito de um paciente do sexo masculino, 62 anos; b) esporotricose linfocutânea na região do ombro esquerdo de um homem de 54 anos, com história de acidente de trabalho com madeira de construção civil; c) Esporotricose linfocutânea avançada no dorso da mão, antebraço e braço esquerdos de uma paciente do sexo feminino, 75 anos, com história de mordedura de gato diagnosticado com esporotricose. Fonte: acervo do LMMI/UFF.

2.5.1.2. Cutânea-fixa

A manifestação cutânea-fixa é a segunda apresentação clínica mais

comum da esporotricose em humanos. Evidencia-se como goma ou úlcera de

fundo sero-sanguinolento, ou placa endurecida ou verrucosa que afeta

habitualmente face, pescoço, tronco e pernas, restrita ao local de inoculação do

fungo, sem envolvimento linfático (Figura 5). Pode evoluir com regressão

espontânea ou cronificar se não for tratada adequadamente. O diagnóstico

diferencial inclui leishmaniose tegumentar, sífilis, micobacteriose atípica,

tularemia, blastomicose, cromoblastomicose, paracoccidioidomicose, tuberculose

cutânea, tuberculose verrucosa e hanseníase (FULGHUM; MOLLET; NGUYEN,

2015; FICHAMAN et al., 2016; MORRIS-JONES et al., 2003).

a)

b)

c)

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36

Figura 5 - Esporotricose cutânea-fixa – lesões ulceradas de fundo sero-sanguinolento de bordas elevadas e bem definidas. a) paciente feminino de 24 anos com dorso da mão direita; b) paciente masculino de 33 anos apresentando lesão de bodas pálidas na face anterior do quarto quirodáctilo direito; c) paciente feminino de 9 anos com lesão ressecada na face anterior da coxa esquerda; d) paciente masculino de 11 meses afligido por lesão no pavilhão auditivo da orelha esquerda, com formação de crostas hemáticas e edema perilesional; e) paciente feminino de 33 anos apresentando lesão com formação de crostas melicéricas no ombro esquerdo; f) paciente femininda de 62 anos apresentando lesão na região frontal; g) paciente masculino de 17 anos apresentando lesão com formação de crostas melicéricas e descamação na região lombar esquerda; h) paciente masculino de 66 anos apresentando lesão na face posterior distal do antebraço direito; i) paciente masculino de 44 anos apresentando lesão no segundo quirodáctilo esquerdo. Fonte: acervo do LMMI-UFF.

2.5.1.3. Cutânea disseminada

A forma cutânea disseminada é raramente relatada e, geralmente, é

descrita em associação com imunodepressão e comorbidades (p. ex. infecção

pelo HIV, uso de imunossupressor, diabete mellitus, uso abusivo de bebidas

alcoólicas). Presume-se que, após inoculação traumática ou inalação de

estruturas fúngicas, o agente se dissemina por via hematogênica, distribuindo-se

pelo tecido subcutâneo ao longo de semanas ou meses. A reação inflamatória

local conduz a formação de pápulas eritematosas que podem coalescer

confluindo em placas atróficas ou vegetantes, podendo ainda ocorrer necrose

tecidual que conduz à ulceração (ZAITZ et al., 2010; HASSAN et al., 2016; SILVA

et al., 2017; Figura 6).

a) b) c)

d) e) f)

g) h) i)

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Figura 6 - Múltiplas lesões cutâneas fixas em paciente feminino, 47 anos, imunocompetente. Múltiplas lesões na região subescapular esquerda (a), duas lesões na face ântero-medial do antebraço esquerdo (b), um lesão no quadrante superior direito da mama direita (c), e uma lesão no quadrante inferior direito do abdômen (d). Fonte: acervo do LMMI.

2.5.2. Formas extra-cutâneas

Caracterizam-se por infecção, pelo Sporothrix, de outro órgão diverso do

tecido cutâneo. As formas extra-cutâneas relatas são: osteoarticular, pulmonar,

ocular, cardíaca e neurológica, conforme abordado nos itens a seguir.

2.5.2.1. Osteoarticular

Dentre as formas extra-cutâneas de esporotricose, que per se são raras,

a osteoarticular é a mais comum. No período de janeiro de 1980 até junho de

2017, apenas vinte e dois casos foram relatados no mundo. Presume-se que o

acometimento osteoarticular deriva de disseminação contígua a partir de um foco

cutâneo, através de inoculação direta no tecido ósseo ou por disseminação

hematogênica (CHANG; DESTOUET; MURPHY, 1984; DE CARVALHO-

AGUINAGA et al., 2014; LEDERER; SULLIVAN; CRUM-CIANFLONE, 2016;

RIBEIRO et al., 2015; SILVA et al., 2017).

a)

d) c)

b)

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38

O consumo abusivo de bebidas alcoólicas insinua-se como o principal

fator de risco para o surgimento das formas extra-cutâneas da micose, também

sendo apontados como riscos os quadros de imunodepressão por uso de

imunossupressores e de corticoides ou ainda a infecção pelo HIV, a diabetes

mellitus e a doença pulmonar obstrutiva crônica (FERREIRA, 2016; LEDERER;

SULLIVAN; CRUM-CIANFLONE, 2016; MACKENZIE, 1988; SILVA, 2017; WINN,

1993).

A tíbia é o osso mais comumente afetado, podendo, porém, atingir

pequenos ossos das mãos, rádio, ulna, joelho e tornozelo. Os sinais e sintomas

variam desde dor, edema, hiperemia e calor no local da infecção, até infecções

crônicas indolentes; casos mais graves podem se apresentar com fístulas,

sintomas sistêmicos e extensa destruição óssea e de estruturas adjacentes

(LEDERER; SULLIVAN; CRUM-CIANFLONE, 2016; RIBEIRO et al., 2015; Figura

7). O exame laboratorial de rotina habitualmente não apresenta alterações, com

contagem de leucócitos na faixa da normalidade. Exames de imagem como

radiografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética podem

evidenciar danos na estrutura óssea e reação perilesional de caráter inflamatório

(Figura 7b). A cultura micológica a partir de fragmentos ósseos colhidos em

biópsia é capaz de isolar Sporothrix (CHANG; DESTOUET; MURPHY, 1984;

EUSTACE et al., 2013; FERREIRA et al., 2016; PATANGE et al., 1995; WILSON,

1967).

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Figura 7 - Osteomielite provocada por infecção por Sporothrix em paciente do sexo feminino, 78 anos, previamente hígida. Imagens (a) e (d) demonstram lesão ulcerada no primeiro quirodáctilo da mão esquerda, com extensa destruição tecidual e necrese; b) radiografia de mão AP evidenciando erosão óssea na falange distal da mão esquerda. c) nódulos subcutâneos no trajeto dos linfáticos em disposição ascendente no membro superior esquerdo. Fonte: LMMI-UFF.

2.5.2.2. Pulmonar

A infecção do pulmão pelo Sporothrix é adquirida pela inalação de

conídios (infecção primária - via de transmissão mais comum) ou pela

disseminação de leveduras por via hematogênica (infecção secundária à infecção

cutânea ou de outros sítios). Corresponde à segunda mais frequente

manifestação de esporotricose extra-cutânea, acometendo geralmente indivíduos

imunodeprimidos (50%) ou adictos ao álcool (40.6%), mais prevalente em homens

entre 30 e 60 anos (AUNG et al., 2013, 2015; SILVA et al., 2013).

Habitualmente manifesta-se de forma insidiosa, com sintomas

inespecíficos como tosse (81%) produtiva (66%) com hemoptise (34%), dispneia

(34.4%), dor torácica (26.6%), mal estar (18,8%), fadiga aos pequenos esforços,

febre baixa (44%), suor noturno (10,9%), anorexia e perda ponderal (56%); mas é

capaz de se instalar de forma assintomática (AUNG et al., 2015; 2013). Em 90%

a) b)

?

c)

?

d)

?

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40

dos casos apresenta-se como infecção pulmonar focal que pode cursar com

comorbidades pulmonares como a tuberculose, a DPOC e a sarcoidose. Alguns

estudos demonstraram coinfecção com outros agentes como Streptococcus

pneumoniae, Klebsiella spp, Pseudomonas aeruginosa, Proteus spp,

Staphylococcus aureus, Actinomyces israelii, mycobacterias, Aspergillus spp.,

Pneumocystis jirovecii e Candida spp. (SILVA et al., 2013). Exames da série

vermelha e branca do sangue, bem como das funções hepática e renal e de

eletrólitos geralmente não evidenciam alterações patológicas. O exame físico do

tórax pode encontrar redução da expansibilidade, murmúrio vesicular reduzido ou

abolido. Exames de imagens encontram cavitação (74%) unilateral (91,9%) com

ou sem infiltrados nodulares na topografia do lobo superior na radiografia simples

do tórax e espaço de conteúdo aéreo (cavidade) no lobo superior, com paredes

de espessura acima de um milímetro e geralmente de contornos irregulares,

presença de traves fibrosas, bronquiectasias e numerosos nódulos centro-

lobulares na tomografia computadorizada do tórax (AUNG et al., 2013, 2015;

Figura 8). Por meio de exames de imagem, exclusivamente, é impossível

distinguir a esporotricose pulmonar da tuberculose. Casos incomuns podem

apresentar derrame pleural e adenopatia hilar de manifestação aguda e

rapidamente progressiva, ou crônica, até mesmo evoluir com remissão

espontânea. Análise do lavado broncoalveolar por meio da cultura micológica

permite o isolamento do Sporothrix (AUNG et al., 2015; 2013; OROFINO-COSTA

et al. 2013; SILVA et al., 2013).

Figura 8 - a) Tomografia computadorizada de tórax com janela para pulmão evidenciando cavidade no lobo superior do pulmão esquerdo; b) radiografia de tórax evidenciando hipodensidade de contornos bem delimitado na topografia do lobo superior esquerdo. Fonte: AUNG et al., 2015, p. 759, 760.

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2.5.2.3. Ocular

Os fungos patogênicos do gênero Sporothrix podem infectar o globo

ocular e anexos por via direta ou hematogênica, causando diversos quadros

clínicos: blefarite, dacriocistite, conjuntivite (HAMPTON; ADESINA; CHODOSH,

2002; RAMÍREZ-SOTO, 2016; SCHUBACH et al., 2005), coroidite (BIANCARDI et

al., 2017; Figura 9), episclerite (BRUNETTE; STULTING, 1992), retinite

granulomatosa (CURI et al., 2003), úlcera córnea (MORRISON et al., 2013),

uveíte granulomatosa (CARTWRIGHT; PROMERSBERGER; STEVENS, 1993),

podendo evoluir para amaurose bilateral em pacientes imunodeprimidos (SILVA-

VERGARA et al., 2012). A infecção do globo ocular pode ocorrer de forma aguda

ou insidiosa, apresentando a perda de acuidade visual como o principal sintoma.

A imunodepressão é o principal fator de risco (BIANCARDI et al., 2017;

BRUNETTE; STULTING, 1992; CARTWRIGHT; PROMERSBERGER; STEVENS,

1993; CURI et al., 2003; MORRISON et al., 2013).

Figura 9 - Exame de Fundo de Olho em paciente jovem, HIV sororeagente, portador da forma cutânea bilateral de esporotricose, cursando com coroidite multifocal, apresentando múltiplas lesões coroidais amareladas. Fonte: BIANCARDI et al., 2017, p. 68.

O Sporothrix ainda está implicado com um dos agentes etiológicos da

Síndrome Oculograndular de Parinaud, uma afecção oftalmológica rara descrita

em 1889 pelo médico Henri Parinaud, caracterizada por conjuntivite

granulomatosa unilateral, acompanhada de linfadenopatia satélite pré-auricular ou

submandibular (FERREIRA et al., 2014; GALINDO-BOCERO et al., 2017; NETO

et al., 2015;RIBEIRO; BISOL; MENEZES, 2010).

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A maioria dos casos de infeção dos anexos ocular afeta pacientes do

sexo masculino, entre um e quinze anos de idade e está associada à linfangite

ascendente. Não há relação com imunodepressão ou comorbidades e

aparentemente não depende de trauma inoculatório. A blefarite é a lesão mais

prevalente (82%), seguida por dacriocistite (7%; Figura 10), conjuntivite (6%) e

infecção na sobrancelha (5%). Geralmente os casos cursam com hiperemia,

edema quente, calor e dor no local acometido. A dacriocistite pode cronificar,

mesmo após a cura micológica devido à obstrução mecânica do ducto lacrimal. A

espécie Sporothrix schenckii foi a mais relacionada com tais quadros (HAMPTON;

ADESINA; CHODOSH, 2002; RAMÍREZ-SOTO et al., 2016; SCHUBACH et al.,

2005).

Figura 10 - Dacriocistite causada por infecção por Sporothrix em criança de oito anos de idade,

previamente hígida. Fonte: acervo do LMMI – UFF

2.5.2.4. Cardíaca

A esporotricose, associada à imunodepressão, pode apresentar uma

forma cardíaca através da infecção dos folhetos da valva mitral culminando em

quadro de endocardite fúngica. A apresentação clínica pode ser assintomática,

sendo o sopro mitral sistólico o único indicativo clínico da infecção. Os efeitos

relatados da presença do Sporothrix no tecido cardíaco são o aumento no

diâmetro do átrio esquerdo, espessamento da valva mitral com ruptura e

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perfuração dos folhetos, aneurisma e regurgitação mitral (Figura 11). Não há

evidência na literatura de insuficiência cardíaca (SILVA-VERGARA et al., 2012).

Figura 11 - Ecocardiograma em um paciente de 32 anos, HIV sororeagente, demonstrando aumento do diâmetro do átrio esquerdo e valva mitral lesionada com formação de aneurisma e regurgitação. IVS = septo interventricular; LA = átrio esquerdo; LV = ventrículo esquerdo; MV = válvula mitral; RA = átrio direito; RV = ventrículo direito.Fonte: SILVA-VERGARA et al., 2012, p. 478.

2.5.2.5. Neuroesporotricose

O Sporothrix é capaz de infectar o sistema nervoso central e raramente

causa meningite crônica e abcesso cerebral. O quadro geralmente está associado

à infecção pelo HIV e outras condições de imunodepressão, porém pode

acometer indivíduos imunocompetentes e hígidos, não adictos ao álcool

(GALHARDO et al., 2010; HESSLER; KAUFFMAN; CHOW, 2017). Os sintomas

são febre, cefaleia, confusão e desorientação (WESCOTT; NASSER; JAROLIM,

1999). O agente pode ser isolado, ou anticorpos contra antígenos do Sporothrix, a

partir do líquido cefalorraquidiano (HESSLER; KAUFFMAN; CHOW, 2017). O

período entre o aparecimento dos sintomas e o isolamento a partir do líquido

cefalorraquidiano varia de três a onze meses. A característica do líquido

cefalorraquidiano no curso da infecção inclui a presença de pleocitose com

prevalência de linfócitos, a hipoglicorraquia e a hipoproteinorraquia. Alguns casos

podem cursar com hidrocefalia hiperbárica que pode agravar o quadro devido ao

efeito de compressão. A ressonância nuclear magnética (Figura 12) pode

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demonstrar extenso realce meníngeo e focos de infartos subagudos (HESSLER;

KAUFFMAN; CHOW, 2017).

Figura 12 - Ressonância Magnética do Cérebro com contraste em um paciente de 34 anos, imunocompetente, com diagnóstico de meningite crônica por infecção pelo Sporothrix. Realce da leptomeninge, mais pronunciado nas cisternas basilares (A) e nos quinto e sexto pares de nervos cranianos (B). Focos de difusão reduzida é visualizada no sulco caldotalâmico esquerdo, globo pallidus esquerdo e tálamo esquerdo (C). Hidrocefalia de comunicação moderada também está presente (D). Fonte: HESSLER; KAUFFMAN; CHOW, 2017, p. 32.

2.6. DIAGNÓSTICO

A anamnese detalhada e o exame físico diligente são essenciais para

estabelecimento da suspeita diagnóstica. Deve-se suspeitar de esporotricose

sempre que o paciente apresentar lesão gomosa, ulcerada, principalmente

quando cursar com linfangite nodular ascendente (ANTONIO et al., 2017). O

diagnóstico presuntivo torna-se mais consistente quando tais sinais clínicos são

correlacionados com ocupação em atividades que expõem ao contato com o solo,

planta ou processados de origem vegetal, ou ainda com gatos contaminados .

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Nesse contexto, a história de lesão traumática prévia, principalmente envolvendo

gatos com lesões cutâneas e residentes no estado do Rio de Janeiro, são fortes

preditores que devem influenciar na suspeita clínica dessa zoonose (DE ARAUJO

et al., 2015; MOUSSA et al., 2017). Uma vez aventada tal hipótese diagnóstica,

exames laboratoriais complementares devem ser realizados para confirmar a

suspeita clínica. Dentre tais exames, o isolamento e identificação do fungo em

cultura é considerado o padrão ouro devido sua elevada especificidade e

sensibilidade (OLIVEIRA et al, 2014). Diversas metodologias sorológicas,

destacando-se aquelas baseadas em imunoensaio enzimático, podem

empregadas para auxiliar no diagnóstico da doença, inclusive quando o

isolamento do fungo em cultura é inviável, como nos casos das manifestações

extra-cutâneas (BERNARDES-ENGEMANN et al., 2015; BLUMER et al., 1973;

MACEDO, et al., 2015; OROFINO-COSTA et al., 2013).

2.6.1. Isolamento e identificação em cultura

O Sporothrix pode ser isolado a partir de espécimes clínicos obtidos

através de biópsia, swab, ou aspirado da lesão cutânea, punção lombar na

suspeita de meningite, biópsia de pulmão ou lavado broncoalveolar em casos de

suspeita de esporotricose pulmonar e biópsia de folheto de valva cardíaca nos

casos de endocardite, submetidos à cultura nos meios Ágar Sabouraud com

cloranfenicol ou Ágar Mycosel®, incubadas à 25ºC (CRUZ, 2013; LACAZ, 2002;

VÁSQUEZ-DEL-MERCADO; ARENAS; PADILLA-DESGARENES, 2012;

KAUFFMAN et al., 2007; ZANCOPÉ-OLIVEIRA et al., 2011).

2.6.2. Exame histopatológico

O exame histopatológico (Figura 13) não se mostra eficaz para o

diagnóstico de esporotricose uma vez que possui baixa sensibilidade e

especificidade, podendo, porém, auxiliar na avaliação do diagnóstico diferencial

(QUINTELLA et al., 2012; SATO, 2017). Geralmente observa-se dermatite difusa

e infiltrado inflamatório constituído de três regiões: a central com predomínio de

polimorfonucleares e necrose caseosa ou de liquefação; a intermediária composta

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por células gigantes e epitelioides enquanto a externa exibe intensa angiogênese

e infiltrado de linfócitos T, plasmócitos, fibroblastos e escassos eosinófilos

(QUINTELLA et al., 2011; ZHANG et al. 2011). Alguns casos (57,9%) visualiza-se

o fenômeno de Splendore-Hoeppli, que se trata de uma imagem que lembra a

forma de um asteroide, “corpo asteroide”, formada pela estrutura basofílica do

fungo permeada por extensões raiadas eosinofílicas referentes aos complexos

antígeno-anticorpos (QUINTELLA et al., 2011; HUSSEIN, 2008; MATA-ESSAYAG

et al., 2013; ZHANG et al. 2011). Contudo, Bhagavan, Ruffier e Shinn (1982)

observaram que as extensões raiadas contêm glicoproteínas, lipídeos e cálcio,

porém ausência de imunoglobulinas. O corpo asteroide é encontrado,

predominantemente, em amostras colhidas de pacientes portadores da forma

linfocutânea e frequentemente pode ser localizado na zona central de neutrófilos

(ZHANG et al. 2011).

Figura 13 - Fotomicrografia de exame histopatológico, em aumento de 200x, corado com ácido periódico de Schiff de lesão linfocutânea em paciente masculino de 77 anos, demonstrando reação granulomatosa com microabscesso neutrofílico focal. Fonte: Watanabe et al., 2016, p. 251.

2.6.3. Intradermorreação

A intradermorreação consiste no desafio cutâneo com esporotriquina,

antígeno do Sporothrix schenckii. Para a realização do teste, injeta-se 0,1 – 0,2

mL da solução antigênica no espaço intradérmico e após 48 horas procede-se a

leitura. A visualização de pápula com diâmetro igual ou superior a 10 mm

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configura o resultado positivo (DOMINGUEZ-SOTO; HOJYO-TOMOKA, 1983;

KASHIMA, 2010). O teste demonstra positividade em 90% dos casos de

esporotricose comprovado por isolamento em cultura, porém 20% dos indivíduos

não acometidos apresentam falso positivo O resultado negativo exclui o

diagnóstico de esporotricose (ALMEIDA, 2008). Por essas características, é um

teste de maior interesse para estudos epidemiológicos em que se deseja

conhecer a prevalência da esporotricose em determinada região. A rotina

diagnóstica raramente utiliza essa metodologia. Ressalta-se que o uso de

corticosteróides ou imunossupressores podem interferir no resultado e que o teste

é ineficaz para detectar formas extra-cutâneas da doença (ALCHORNE et al.,

1990; ITOH; OKAMOTO; KARIYA, 1986; KASHIMA, 2010).

2.6.4. Testes sorológicos

Existem várias metodologias de testes sorológicos disponíveis para

diagnóstico de esporotricose, mas os testes baseados no ELISA (Enzyme-Linked

Immunosorbent Assay) destacaram-se ao longo dos anos na literatura científica,

tornando-se hegemônicos no diagnóstico sorológico. Isso se deve principalmente

ao fato de que os testes baseados em ELISA são capazes de identificar os

diferentes isotipos de anticorpos, acarretando o desuso dos demais testes

(BERNARDES-ENGEMANN et al., 2005, 2009, 2014; BLUMER et al., 1973). As

vantagens dos testes sorológicos sobre o isolamento em cultura (padrão ouro)

consistem no menor tempo para disponibilização dos resultados, maior

simplicidade da técnica, menor invasibilidade e capacidade de diagnosticar

formas extra-cutâneas (BERNARDES-ENGEMANN et al., 2005, 2009, 2014).

2.6.4.1. “Enzyme-Linked Immunosorbent Assay” (ELISA)

Os testes baseados em ELISA possuem dois métodos, um baseado na

detecção de anticorpos contra SsCBF (Sporothrix schenckii Concavalina-A Bind

Fraction), fração antigênica da parede celular específica do Sporothrix, e outro

baseado na detecção de anticorpos contra exoantígenos de fase filamentosa

(BERNARDES-ENGEMANN et al., 2005, 2009, 2014; FERNANDES et al. 2011).

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A diferença entre as duas técnicas é pequena. O teste contra o antígeno SsCBF

demonstra sensibilidade 90% de e especificidade de 80%, enquanto o teste

contra exoantígenos aponta sensibilidade 88,6% de e especificidade de 85,4%

(BERNARDES-ENGEMANN et al., 2005, 2009, 2014;FERNANDES et al. 2011). O

ELISA baseado na detecção do SsCBF destaca-se pela reatividade com um único

epitopo, enquanto o ELISA baseado na detecção de exoantígenos apresenta

reatividade com vários epitopos, dificultando a reprodutividade inter-laboratorial. O

resultado do exame indica a presença e a titulação de anticorpos contra

Sporothrix presentes no soro do paciente, sugerindo que o teste pode ser usado

tanto para diagnosticar a doença, como no seguimento clínico e avaliação

terapêutica (BERNARDES-ENGEMANN et al., 2005, 2009, 2014; FERNANDES et

al, 2011; PENHA; BEZERRA, 2000).

2.6.4.2. Outros testes sorológicos em desuso

2.6.4.2.1. Soro aglutinação do látex

A Soro Aglutinação do Látex (SLA) é uma técnica sorológica que pode ser

empregada no diagnóstico laboratorial da esporotricose. O teste consiste na

adsorção de antígenos de Sporothrix na superfície de micropartículas de látex que

não interfere na reação antígeno-anticorpo. A adição de soro com presença de

anticorpos contra antígenos do fungo provoca uma reação antígeno-anticorpo que

aglutina as partículas de látex formando agregados visíveis ao olho nu

(BELKNAP, 1989; BLUMER et al., 1973).

2.6.4.2.2. Fixação do complemento

A Fixação do Complemento (FC) é um método sorológico que se

fundamenta na ativação do sistema complemento para o diagnóstico da

esporotricose. Nesse teste, antígenos de Sporothrix são adsorvidos na membrana

de hemácias que serão suspensas numa solução contendo elementos do sistema

complemento que será desafiada com o soro analisado. A presença de anticorpos

contra antígenos do Sporothrix resultará na reação antígeno-anticorpo que ativará

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o sistema complemento que provocará lise das hemácias (BLUMER et al., 1973;

ROHATGI, 1980).

2.6.4.2.3. Imunodifusão radial dupla

A imunodifusão radial dupla (ID) também é um teste sorológico que pode

ser usado para diagnóstico laboratorial da esporotricose. O método utiliza placa

ou lâmina contendo ágar perfurado formando poços em formato circular na

periferia de um poço central onde se insere solução de antígeno de Sporothrix.

Nos poços periféricos põe-se, em diluição seriada, o soro suspeito. Caso o soro

contenha anticorpos contra antígenos de Sporothrix, observar-se-á uma linha de

precipitação entre o poço central e o periférico (BLUMER et al., 1973).

2.6.4.2.4. Imunofluorecência indireta

O diagnóstico laboratorial da esporotricose também pode beneficiar-se da

Imunofluorecência indireta. Nessa técnica uma lâmina de microscopia é

sensibilizada com antígenos de Sporothrix e, então, desafiada com o soro

investigado. Após adição de anticorpo contra anticorpo humano conjugado com

fluoresceína, a lâmina é examinada ao microscópio de Imunofluorecência,

exibindo a o complexo antígeno-anticorpo fluorescente na presença de anticorpos

contra antígenos de Sporothrix (BLUMER et al., 1973).

2.6.5. Diagnóstico molecular

O diagnóstico molecular ainda não foi incorporado à rotina diagnóstica da

esporotricose. Alguns estudos evidenciaram a eficiência do nested PCR (reação

em cadeia da polimerase) para o diagnóstico da doença a partir de tecidos

humanos e animais, com capacidade de detectar até 50 fg do DNA alvo. Ainda

que tenho obtido êxito em diagnosticar a micose, o PCR aninhado não superou o

isolamento em cultura e os testes sorológicos em sensibilidade e especificidade,

uma grande desvantagem da técnica que limita seu uso clínico (KANO et al.,

2005; MENDONZA et al., 2013; LIU et al., 2013; XU et al., 2010).

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2.7. TRATAMENTO

O tratamento da esporotricose tem como objetivo a eliminação do

Sporothrix dos tecidos do hospedeiro. Possui tempo de duração prolongado, em

média quatro meses de terapia antimicótica (KAUFFMAN et al., 2007). A

estratégia terapêutica divide-se em meios farmacológicos, cirúrgicos e físicos,

empregados de acordo com a gravidade, forma clínica, experiência do médico e

perfil de tolerância psicossocial do paciente (BRUNTON, 2012; GOLAN, 2014;

OROFINO-COSTA et al., 2012; RANG; DALE, 2016).

O tratamento farmacológico é direcionado contra a membrana plasmática

do fungo. Antifúngicos das classes dos poliênicos, triazólicos e alilaminas são

empregados com sucesso no tratamento da doença. Os agentes poliênicos ligam-

se ao ergosterol da membrana fúngica alterando sua fluidez o que causa

desequilíbrio eletrolítico que resulta na morte do microrganismo (BRUNTON;

CHABNER; BJÖRN, 2012; RANG; DALE, 2016). Os agentes triazólicos e

alilaminas impedem a síntese de ergosterol através de inibição enzimática, os

primeiros inibem a enzima lanosterol 14α-demetilase e os segundos inibem a

esqualeno epoxidase, resultando na morte da célula fúngica (GOLAN, 2014;

RANG; DALE, 2016). Outra droga eficaz no tratamento da esporotricose é a

solução saturada de iodeto de potássio. O mecanismo de ação dessa droga não

foi estabelecido, mas diversos estudos apontaram sua eficácia e segurança

(MACEDO et al., 2015; OROFINO-COSTA et al., 2013).

2.7.1. Itraconazol

O itraconazol é um triazólico, primeira escolha preconizada para

tratamento das formas cutâneas. A ISDA (Infectious Diseases Society of America)

recomenda a dose única diária de 200mg até quinze a trinta dias após

cicatrização das lesões. Estudos mais recentes que o manual da ISDA

demonstraram eficácia da dose diária de 100mg, sem prolongamento do

tratamento ou aumento das recidivas para o tratamento das formas cutâneas

(KAUFFMAN et al., 2007). Geralmente as lesões levam entre três a quatro meses

para se resolverem. A dose pode ser aumentada gradualmente até 200mg duas

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vezes ao dia nos casos de resposta insatisfatória ao esquema inicial.

Alternativamente, o tratamento com itraconazol pode ser feito através de pulsos

de 400mg a cada quatro semanas (KAUFFMAN et al., 2007; SONG et al., 2011;

TANG et al., 2012). O itraconazol também é recomendado pela ISDA para o

tratamento das formas ósseas de gravidade leve a moderada. Nesse caso,

propõe a dose de 200mg duas vezes ao dia durante doze meses (KAUFFMAN et

al., 2007). O itraconazol é utilizado como droga adjuvante no tratamento de

formas graves de esporotricose osteoarticular, esporotricose pulmonar,

neuroesporotricose, cutânea disseminada e endocardite por Sporothrix, tendo

mostrado eficácia de 94,6% no tratamento das formas cutâneas e de 73% na

forma osteoarticular (LIMA-BARROS et al., 2011; LIMPER et al., 2011).

2.7.2. Terbinafina

A terbinafina é uma alilamina recomendada como segunda opção para

tratamento das formas cutâneas de esporotricose (KAUFFMAN et al. 2011).

Apresenta perfil de eficácia e segurança semelhante ao agente triazólico. A dose

inicial proposta é de 250mg diariamente, podendo aumentar gradualmente até 1g

ao dia nos casos de resposta insatisfatória ao esquema inicial. Estudos

apontaram 92,7% de cura clínica em cerca de quatro meses e 7,3% de efeitos

adversos, sem registros de recidivas (CHAPMAN et al., 2004; FRANCESCONI,

2009; HEIDRICH, 2011; KAUFFMAN et al., 2007).

2.7.3. Solução saturada de iodeto de potássio

A solução saturada de iodeto de potássio (SSKI) é a droga mais antiga

empregada para o tratamento da esporotricose, com eficácia e segurança bem

estabelecidas na literatura científica (KAUFFMAN et al., 2007; OROFINO-COSTA

et al., 2013). Após a introdução do triazol no mercado, apresentava-se como

alternativa econômica para a população sem recursos. Entretanto, nos últimos

anos, o valor comercial da droga elevou-se de modo que o custo do tratamento

igualou-se ou mostrou-se superior ao custo com a droga de primeira escolha,

tornando assim o agente menos atrativo para o tratamento da micose (BARROS

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et al., 2011a; REIS et al., 2012). A SSKI ainda é opção terapêutica interessante a

ser considerada nos casos de falha terapêutica com os agentes triazólicos e

alilaminas, em associação a estas, ou em monoterapia, no tratamento das formas

cutâneas não disseminadas. O mecanismo de ação ainda é desconhecido,

presume-se que o SSKI estimule a proteólise no centro do granuloma, ou ainda

que fomente o processo de fagocitose (BARROS et al., 2011a; KAUFFMAN et al.,

2007; OROFINO-COSTA et al., 2012).

A posologia do SSKI varia de quatro a sete gramas e meio divididos em

duas ou três administrações ao dia (MACEDO et al., 2015; OROFINO-COSTA et

al., 2012). Entre as contraindicações ao seu uso estão tireoideiopatias prévias,

alergia ao iodo, doença renal com grave disfunção na taxa de filtração glomerular,

portadores de doenças autoimunes e condições de imunodepressão, doença de

Addison, tuberculose ativa, gravidez e amamentação (OROFINO-COSTA et al.,

2012). Deve-se evitar a prescrição de SSKI nos casos em que o paciente estiver

usando carbonato de lítio, amiodarona, diuréticos poupadores de potássio,

inibidores da enzima conversora de angiotensina, história familiar positiva para

tireoideiopatias, positividade para autoanticorpos como anticorpos antiperoxidase

e anticorpos antirreceptores de TSH (OROFINO-COSTA et al., 2012; REIS et al.,

2012).

2.7.4. Anfotericina B

A anfotericina B é um agente poliênico utilizado para o tratamento de

esporotricose nos casos de maior severidade e comprometimento sistêmico. Em

função do seu potencial nefrotóxico, possui duas apresentações farmacológica:

desoxiglicolato e lipossomal (ISHIDA et al., 2017; KAUFFMAN et al., 2007;

MAHAJAN, 2014). A anfotericina B lipossomal apresenta menor nefrotoxicidade,

menor afeitos adversos e deve ser privilegiada nos tratamentos de

neuroesporotricose. A posologia recomendada varia de acordo com a

apresentação farmacológica, sendo 3 à 5mg/kg ao dia no caso da lipossomal e

0,7 à 1mg no caso da desoxiglicolato, sendo as mesmas posologias nas diversas

manifestações clínicas, diferindo apenas no tempo de tratamento (BAHR et al.,

2015; ISHIDA et al., 2017; KAUFFMAN et al., 2007). Na forma osteoarticular, a

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anfotericina B pode ser usada como esquema terapêutico inicial, sucedida pelo

itraconazol após resposta clínica significativa, que deve ser prolongado por doze

meses (KAUFFMAN et al., 2007). Na esporotricose pulmonar grave, recomenda-

se tratamento com anfotericina B até observar resposta clínica satisfatória, então

pode ser substituída pelo agente triazólico que deve ser mantido por doze meses

(KAUFFMAN et al., 2007; LIMPER et al., 2011). Na neuroesporotricose indica-se

tratamento com anfotericina B nas seis primeiras semanas de tratamento,

podendo, então, ser sobreposta, por doze meses, pelo triazol caso a resposta

clínica seja satisfatória. A anfotericina B também pode ser utilizada, após

criteriosa ponderação sobre os riscos e benefícios, em gestantes (FREITAS et al.,

2012; GOTTLIEB et al., 2003; KAUFFMAN et al., 2007).

2.8. ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS NÃO FARMACOLÓGICAS

2.8.1. Intervenção cirúrgica

Ressecção cirúrgica pode ser necessária no caso de esporotricose

pulmonar localizada e endocardite por esporotricose. Em alguns casos de

esporotricose osteoarticular, o debridamento cirúrgico e curetagem devem ser

considerados como tratamento adjuvante à terapia farmacológica (FREITAS et al.,

2012; SILVA-VERGARA et al., 2012).

2.8.2. Termoterapia

Aplicação de calor local, hipertermia, é um método físico para tratamento

adjuvante ou curativo, não farmacológico, da esporotricose cutânea não

disseminada. O método baseia-se na termossensibilidade do Sporothrix à

temperaturas superiores à 41ºC. A técnica eficaz consiste na aplicação de

compressa quente, entre 42 à 43ºC, diretamente sobre a lesão durante 15

minutos, a cada duas horas, até a resolução do quadro. O tempo de tratamento é

prolongado, estendendo-se por vários meses até a cura. A hipertermia local é o

tratamento de primeira escolha para gestantes, utilizado em monoterapia para

cura ou controle da doença. O método também pode ser utilizado em associação

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à terapia farmacológica, reduzindo o tempo de tratamento e dose eficaz

(BARROS et al., 2001, 2004; SUTHERLAND, 1980; TAKAHASHI, 1981).

3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Investigar aspectos clínico-epidemiológicos e moleculares da

esporotricose humana em populações residentes nos municípios do Leste

Fluminense do estado do Rio de Janeiro.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Determinar e comparar a frequência da esporotricose nas populações

dos municípios do Leste Fluminense do estado do Rio de Janeiro, assistidas nos

ambulatórios vinculados ao Laboratório de Micologia Médica e Molecular da

Universidade Federal Fluminense;

b) descrever características clínicas e epidemiológicas da infecção pelo

Sporothrix no Leste Fluminense;

c) pesquisar a possível relação entre as variáveis clínicas descritas com

as espécies do Sporothrix;

d) investigar a frequência das espécies do clado patogênico do Sporothrix

isoladas a partir dos portadores da esporotricose incluídos;

e) relatar casos clínicos de apresentação e/ou evolução graves e/ou

incomuns na população investigada;

f) caracterizar a resposta aos esquemas terapêuticos instituídos.

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. ASPECTOS ÉTICOS

Este estudo foi desenvolvido de acordo com as diretrizes e normas

regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, previstas na

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Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde e

com a autorização do ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFF, parecer nº

283.435 de 07 de junho de 2013 (anexo 1). Todos os pacientes, ou seus

responsáveis legais, foram esclarecidos sobre a natureza da pesquisa, seus

objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta

possa lhes acarretar, na medida de sua compreensão e respeitados em suas

singularidades e, concordando com o disposto, assinaram o termo de

consentimento livre e esclarecido (TCLE) padronizado pelo LMMI-UFF (Anexo 2).

4.2. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Foram incluídos neste estudo todos os indivíduos procedentes dos

municípios do estado do Rio de Janeiro que assentiram com o protocolo desta

investigação e cujas biópsias foram realizadas e transportadas em conformidade

com o padrão estabelecido, sem qualquer restrição no que tange à idade, sexo,

cor (definida pelo critério do IBGE, a saber, autodeterminação), presença ou

ausência de lesões típicas de esporotricose, uso prévio de antimicrobianos ou

comorbidades.

4.3. DESENHO DO ESTUDO

Esta pesquisa foi divulgada através de mídias sociais (“Ações de

Prevenção e Controle da Esporotricose” no “Facebook”; Figura 14), jornais de

circulação local e apresentações orais na comunidade e para os médicos

dermatologistas e infectologistas por meio do trabalho informativo desenvolvido

pelo projeto de extensão universitária: “Ações Integradas de Prevenção e

Controle da Esporotricose no Rio de Janeiro”, conduzido pelo LMMI-UFF,

Departamento de Microbiologia e Parasitologia do Instituto Biomédico – UFF, em

parceria com a Fundação Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Niterói

(FMS/PMN); além das unidades básicas de saúde dos demais municípios. Todos

os indivíduos interessados em participar da pesquisa foram orientados sobre os

procedimentos a adotar para o atendimento nos ambulatórios de referência do

projeto, a saber: Ambulatório de Referência em Esporotricose Humana do

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Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP-UFF) e ambulatório homônimo

situado no Ambulatório de Dermatologia Sanitária Rene Garrido Neves da

FMS/PMN.

Figura 14 - Página do Projeto de Extensão Universitária da UFF: Ações Integradas de Prevenção e Controle da Esporotricose, hospedada na Rede Social “Facebook” e mantida pelo LMMI-UFF, disponível para toda a comunidade através do endereço eletrônico: https://www.facebook.com/Projeto-Esporotricose-UFF-581582705291102. Fonte: LMMI-UFF.

4.4. AVALIAÇÃO CLÍNICA E EPIDEMIOLÓGICA

Foram incluídos na presente casuística centro e quarenta e dois pacientes

portadores de sinais e sintomas sugestivos de esporotricose. Médicos

colaboradores, previamente treinados, realizaram atendimento clínico

especializado nos ambulatórios de referência dos municípios do Leste Fluminense

no período de fevereiro de 2015 a maio de 2017. A equipe colaboradora aplicou e

preencheu, diligentemente, um Questionário Clínico-Epidemiológico padronizado

pelo LMMI/UFF (Anexo 2), colhendo a qualificação pessoal (nome, idade, sexo

biológico, cor, escolaridade, ocupação), dados clínicos (sinais, sintomas, aspecto

e localização da lesão, forma clínica, início do quadro, fatores precipitantes, uso

de antimicrobianos e imunossupressores, comorbidades) e sociais (residência,

animais domésticos, consumo de bebidas alcoólicas e cigarro, presença de

animais infectados na vizinhança, contato com atividades de risco) de cada

participante.

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Para caracterização epidemiológica, os números de casos de

esporotricose diagnosticados nos ambulatórios de referência foram agrupados de

acordo com as subdivisões políticas de cada município segundo o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010). O município de Niterói-RJ

(257.803 habitantes) é subdividido em cinco regiões: Leste, Norte, Praias da Baía,

Pendotiba e Oceânica. O município de São Gonçalo-RJ (999.728 habitantes) é

subdividido também em cinco regiões: Região Ipiíba (194.718 habitantes), Região

Monjolos (223.058 habitantes), Região Neves (161.721 habitantes), Região São

Gonçalo (337.273 habitantes) e Região Sete Pontes (82.958 habitantes). O

município de Itaboraí (218.008 habitantes) é dividido em oito regiões:

Região Cabuçu (8.353 habitantes), Região Itaboraí (107.117 habitantes),

Região Itambi (23.111 habitantes), Região Manilha (58.572 habitantes),

Região Pachecos (4.005 habitantes), Região Porto das Caixas (3.782

habitantes), Região Sambaetiba (4.867 habitantes), Região Visconde de

Itaboraí (8.201 habitantes).

4.5. COLETA DE AMOSTRAS

Após avaliação médica, os participantes foram submetidos à coleta do

espécime clínico constituído por biópsia de pele, conforme “padrão ouro”. Para

tanto, os pacientes foram conduzidos à sala asséptica e acomodados em decúbito

em maca fixa. Procedeu-se limpeza da região lesionada com solução tópica

degermante a base de clorexidina 2% e antissepsia com solução tópica alcoólica

a base de clorexidina 0,5%. Administrou-se anestesia local com cloridrato de

lidocaína 2%, sem vasoconstrictor. Um punch dermatológico descartável de 4 mm

foi utilizado para realizar incisão circular nas bordas da lesão e a excisão da pele

foi completada com bisturi com lâmina nº15. O fragmento circular de tecido

cutâneo e subcutâneo foi depositado em recipiente estéril contendo 2 mL de

cloreto de sódio 0,9%, acondicionado em recipiente identificado e refrigerado,

sendo em seguida encaminhado ao Laboratório de Micologia Médica e Molecular

– UFF para processamento. Suturou-se o ferimento com fio nylon, cujas

características foram definidas a critério médico.

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4.6. ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DO Sporothrix

As peças cirúrgicas foram processadas segundo descrito por Schubach et

al. (2002). O material foi cultivado em Agar Sabouraud-dextrose e Agar

Mycobiotic, e incubado a 25ºC por quatro semanas. As colônias de aspecto típico

- membranosas, de superfície enrugada, de cor branca à marrom acastanhado ou

enegrecido, escurecendo com o envelhecimento e sésseis - foram processadas

em lâmina de microscopia e coradas com lactofenol azul de algodão e

observadas em microscópio óptico no aumento de 400x. A visualização de hifas

septadas hialinas e conidióforos com conídios implantados em formato

semelhantes ao das margaridas caracterizou Micromorfologia compatível ao

Sporothrix.

O isolamento foi obtido a partir da cultura de colônias macro e

micromorfologicamente sugestivas de Sporothrix em placas de Petri contendo

Ágar Sabouraud-dextrose 2% à 25ºC. A identificação do Sporothrix foi realizada

observando dimorfismo térmico, demonstrado partir da conversão da fase

miceliana para leveduriforme em meio de Brain Heart Infusion (BHI), cultivado em

37ºC. A avaliação da micromorfologia do isolado foi realizada por meio da técnica

de microcultivo. O isolado foi semeado em meio Agar Batata coberto por lamínula

de microscopia e mantido por dez dias em temperatura ambiente por 10 dias.

Após o período de incubação, a lamínula foi removida delicadamente do meio de

cultura, corada com lactofenol azul de algodão e anexada à lâmina de

microscopia e observada em microscópio óptico no aumento de 400x.

4.7. ANÁLISE MOLECULAR

As análises para genotipagem das espécies do gênero Sporothrix foram

conduzidas no Laboratório de Patógenos Fúngicos Emergentes da Universidade

Federal de São Paulo (UNIFESP) com o auxílio do Prof. Dr. Anderson Messias

Rodrigues.

Os isolados foram submetidos à extração de DNA seguida por PCR

espécie-específico com base no gene da calmodulina (CAL) segundo descrito por

Rodrigues, Hoog e Camargo (2015). As amostras foram incubadas à temperatura

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ambiente em cultura em placa de ágar Sabouraud durante sete dias

(RODRIGUES; HOOG; CAMARGO, 2015). Então, foi adicionado 300 μL de água

ultra pura sobre a placa, submetendo-as à agitação suave para destacar os

conídios. Após remover intensamente os conídios, a solução foi diluída na

proporção 1:1 com água ultra pura e transferida para tubos de extração

(RODRIGUES; HOOG; CAMARGO, 2015). Os conídios foram submetidos à lise

física através do calor. Uma alíquota de 2 μL foi reservada como DNA template

para a reação em cadeia da polimerase (PCR) utilizando oligonucleotídeos de

inicialização espécie-específico (S. brasiliensis, Sbra-F e Sbra-R; S. schenckii,

Ssch-F e Ssch-R, S. globosa, Sglo-F e Sglo-R; S. pallida, Spa-F e Spa-R; S.

mexicana, Smex-F e Smex-R) descritos por Rodrigues, Hoog e Camargo (2015;

Figura 15).

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Figura 15 - Sítios de anelamento para oligonucleotídeos de inicialização espécie-específicos com alvos para os exons 3-5 do gene da calmodulina (CAL). (A) Sporothrix brasiliensis, oligonucleotídeos de inicialização, Sbra-F e Sbra-R; (B) Sporothrix schenckii, oligonucleotídeos de inicialização, Ssch-F e Ssch-R; (C) Sporothrix globosa, oligonucleotídeos de inicialização, Sglo-F e Sglo-R; (D) Sporothrix mexicana, oligonucleotídeos de inicialização, Smex-F e Smex-R; (E) Sporothrix pallida, oligonucleotídeos de inicialização, Spa-F e Spa-R. Fonte: RODRIGUES; HOOG; CAMARGO,

2015, p. 10, modificado.

O produto da PCR foi separado por eletroforese em gel de agarose 1,2%

na presença do corante de ácido nucleico, o GelRed da Biotium – E.U.A.. Um

marcador de tamanho molecular de 50 bp DNA da Promega - E.U.A. foi utilizado

como ladder. As bandas foram irradiadas por luz ultravioleta e reveladas através

do fotodocumentador L-Pix Touch da Loccus Biotecnologia – Brasil

(RODRIGUES; HOOG; CAMARGO, 2014; 2015; Figura 16).

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Figura 16 - Gel de agarose mostrando amplificação com oligonucleotídeo de inicialização espécie específico a partir de isolados padrão. O tamanho dos fragmentos são medidos comparando-se o padrão de bandas conhecido através do 50-bp DNA Step Ladder (Promega). S. brasiliensis: 132990; S. schenckii: CBS 132974; S. globose: CBS 132922; S.mexicana: CBS 132927; S. pallida: CBS 302.73. Fonte:

RODRIGUES; HOOG; CAMARGO, 2015, p. 11, modificado.

O padrão de banda revelado pelo PCR espécie-específico de cada

isolado foi comparado com os controles positivos CBS 132990 para Sporothrix

brasiliensis, uma cepa de perfil altamente virulento isolada de paciente felino no

Rio Grande do Sul – Brasil (FERNANDES et al., 2013); CBS 132974, para

Sporothrix schenckii; CBS 132922, para Sporothrix globosa; CBS 132927, para

Sporothrix mexicana; CBS 302.73, para Sporothrix pallida (RODRIGUES; HOOG;

CAMARGO, 2014; 2015).

4.8. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

O diagnóstico de esporotricose foi definido pela presença de lesão

cutânea ulceradas, com ou sem linfangite nodular ascendente, associada à

história sócio-epidemiológica de contado com animal apresentando lesões

cutâneas ou atividade ocupacional/recreativa com exposição a riscos de

ferimentos com material de origem vegetal ou solo, cuja cultura da biópsia

resultou em isolamento e identificação de fungo do gênero Sporothrix; ou, na

impossibilidade de isolamento do fungo em cultura, presença de resposta

favorável ao tratamento preconizado para esporotricose. O diagnóstico dessa

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62

micose foi afastado quando outro agente etiológico foi identificado durante a

investigação clínica.

4.9. COMPARAÇÃO ENTRE POPULAÇÕES

Para comparar os aspectos clínico-epidemiológicos da esporotricose

entre a região Leste Fluminense e da Capital do Rio de Janeiro, foram utilizados

os dados obtidos pelo estudo clínico epidemiológico conduzido por Freitas (2009),

composto por uma casuística de oitocentos e quatro casos de esporotricose

humana diagnosticados no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas

(INI/FIOCRUZ) nos períodos de 1998 a 2004 e entre janeiro de 2005 a dezembro

de 2008.

As variáveis de interesse desse estudo foram grupadas e relacionadas

com os resultados obtidos nesse estudo a fim de verificar se a frequência com

que o evento observado na amostra da população do Leste Fluminense se desvia

significativamente ou não da frequência com que ele ocorre na Capital.

4.10. ANÁLISE ESTATÍSTICA

As variáveis sócio-demográficas (idade, sexo, cor, escolaridade, ocupação,

estado civil, residência) e clínico-epidemiológicas (tempo de início dos sintomas,

consumo de bebidas alcoólicas, presença de diabetes mellitus, uso prévio de

antimicrobianos, trauma inoculatório, contato com gato doente) foram dispostas

em tabela de contingência, relacionando-as com a presença ou ausência de

diagnóstico de esporotricose.

Os valores obtidos na análise do questionário padronizado foram

submetidos ao Teste Exato de Fisher ou Qui-quadrado (X2), considerando a

natureza das variáveis e tamanho da amostragem, para determinar a significância

estatística entre os grupos estudados, com p < 0,05, com auxílio do software,

licença open source, BioEstat versão 5.3.

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5. RESULTADOS

5.1. CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA

No período de fevereiro de 2015 a março de 2017, foram atendidos

duzentos e seis pacientes, dos quais se obteve uma amostragem de centro e

quarenta e dois indivíduos (n=142) que compuseram a presente casuística, assim

distribuídos segundo local de atendimento: a) Ambulatório de Referência em

Esporotricose Humana - LMMI/HUAP-UFF (57,6%; 82/142), referência geral para

a região Leste Fluminense; b) Ambulatório de Dermatologia Sanitária René

Garrido – FMS/PMN-LMMI/UFF (28,8%; 41/142), referência do município de

Niterói – RJ; c) Ambulatório de Hanseníase, referência do município de Itaboraí –

RJ (11,9%; 17/142); e d) consultórios da rede suplementar de saúde, localizados

no município de Niterói – RJ (1,7%; 2/142), dados expressos na Tabela 1.

Tabela 1 - Distribuição dos pacientes incluídos no presente estudo

segundo ambulatórios de referência.

Ambulatório de Referência n %

LMMI/HUAP-UFF 82 57,6

FMS/PMN 41 28,8

Hanseníase-Itaboraí 17 11,9

Rede Suplementar 2 1,7

TOTAL 142 100

LMMI/HUAP: Ambulatório de Referência em Esporotricose Humana do

Laboratório de Micologia Médica e Molecular instalado no Hospital

Universitário Antônio Pedro. FMS/PMN: Ambulatório de Dermatologia

Sanitária Renê Garrido da Fundação Municipal de Saúde de Niterói – RJ.

Hanseníase-Itaboraí: ambulatório de hanseníase da Secretaria Municipal de

Itaboraí – RJ. Rede Suplementar: amostras encaminhadas por médicos da

rede de saúde suplementar.

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A amostragem compôs-se de pacientes na faixa etária entre onze meses

e oitenta e cinco anos de idade, de todas as etnias, estados civis, ambos os

sexos, níveis de escolaridade e categorias profissionais de risco ou não para

esporotricose, todos residentes nos municípios do Leste Fluminense do estado do

Rio de Janeiro.

Conforme mostra a Tabela 2, a maior parte dos participantes encontrava-

se na faixa etária entre 26 e 85 anos (82,4%; 117/142), com média de 43,2 anos

(mediana 44,5 / desvio padrão= ± 20,3 anos). A maioria dos participantes foi do

sexo feminino (62,7%; 89/142). Setenta e dois (50,7%) se declararam brancos

enquanto setenta deles, negros ou pardos (49,3%). Quanto ao estado civil,

metade deles é solteira (n= 71), 35,9% são casados, 10,6% são viúvos (10,6%;

15/142) e 3,5% divorciados. O nível de escolaridade distribuiu-se entre

analfabetos (2,8%; 4/142), com ensino fundamental (35,2%; 50/142); com ensino

médio (43,7%; 62/142) e com ensino superior (18,3%; 26/142), completos ou não.

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Tabela 2- Distribuição do número absoluto e percentual (%) dos pacientes portadores ou não da esporotricose, incluídos no presente estudo, quanto às variáveis sócio-demográficas avaliadas.

Variáveis Sócio-demográficas

Esporotricose TOTAL n (%)

p* Sim n (%)

Não n (%)

Pacientes 130 12 142

Idade (média em anos)

43,2±20,3 43,3±20,4 43,2±20,3

Faixa Etária

0-13 11 (78,5%) 03 (21,5%) 14 (9,9%)

0,1215 14-25 11 (100%) 0 (0%) 11(7,7%)

26-55 72 (94,7%) 04 (5,3%) 76 (53,5%)

56-85 36 (87,8%) 05 (12,2%) 41(28,9%)

Sexo M 48 (90,5%) 05 (9,5%) 53 (37,3%)

0,9130 F 82 (92,2%) 07 (7,8%) 89 (62,7%)

Etnia

Branco 66 (91,7%) 06 (8,3%) 72 (50,7%)

0,8475 Pardo 58 (92,1%) 05 (7,9%) 63 (44,4%)

Negro 06 (85,7%) 01 (14,3%) 07 (4,9%)

Estado Civil

Solteiro 65 (91,5%) 06 (8,5%) 71 (50%)

0,8138 Casado 47 (92,2%) 04 (7,8%) 51 (35,9%)

Divorciado 05 (100%) 0 (0%) 05 (3,5%)

Viúvo 13 (86,7%) 02 (13,3%) 15 (10,6%)

Escolaridade

Analfabeto 04 (100%) 0 (0%) 04 (2,8%)

0,7614 Fundamental 45 (90%) 05 (10%) 50 (35,2%)

Médio 58 (93,5%) 04 (6,5%) 62 (43,7%)

Superior 23 (88,5%) 03 (11,5%) 26 (18,3%)

Região do estado do RJ

Metro I 08 (100%) 0 (0%) 08 (5,6%) 0,8178

Metro II 122 (91,0%) 12 (9%) 134 (94,4%) *Valor de p no Teste Exato de Fisher. Metro I = Rio de Janeiro, Itaguaí, Magé e Nova Iguaçu; Metro II = Itaboraí, Maricá, Niterói, Rio Bonito, São Gonçalo, Silva Jardim.

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Os pacientes residiam em sua maioria no Leste Fluminense, nos

municípios de Niterói (43,7%; 62/142) e de São Gonçalo (34,5%; 49/142). Os

demais foram provenientes de Itaboraí (12,7%; 18/142), Maricá (2,8%; 4/142) e

Rio Bonito (0,7%; 1/142); tendo sido atendidos oito (5,6%) pacientes procedentes

da Capital.

No Quadro 1, encontram-se distribuídos os pacientes assistidos nos

ambulatórios de referência, procedentes de Niterói-RJ, segundo a região

(subdivisão política). Nota-se que a maioria dos pacientes foi procedente da

Região Praias da Baía (34,7%), seguida pela Região Norte (26,5%) desse

município. Os bairros onde se concentra o maior número de pacientes foram o

Fonseca (14,3%; 7/62), o Cubango (10,2%; 5/62) e Icaraí (10,2%; 5/62; Quadro

2).

Quadro 1 - Mapa de Niterói-RJ mostrando as subdivisões políticas e a respectiva origem (percentual) dos pacientes atendidos nos ambulatórios de referência no período de fevereiro de 2015 à junho de 2017. Fonte: acervo do LMMI.

Região Praias da Baía

Região Norte

Região Pendotiba

Região Leste

Região Oceânica

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Quadro 2 - Distribuição numérica e percentual dos pacientes assistidos no presente estudo, procedentes de Niterói (n=62), segundo região e bairro de procedência.

Município Região Bairros N

iteró

i

Norte Caramujo (2,0%; 1/62), Cubango (10,2%; 5/62), Fonseca (14,3%; 7/62).

Praias da Baía

Boa Viagem (2,0%; 1/62), Centro (4,1%; 2/62), Icaraí (10,2%; 5/62), Ilha da Conceição (8,2%; 4/62), Santa Rosa (8,2%; 4/62), São Domingos (2,0; 1/62%).

Pendotiba Sapê (2,0; 1/62%), Largo da Batalha (2,0; 1/62%), Ititioca (6,1%; 3/62).

Oceânica Itaipu (8,2%; 4/62), Itacoatiara (2,0; 1/62%), Engenho do Mato 4,1%; 2/62), Jardim Imbuí (2,0; 1/62%).

Os pacientes originários de São Gonçalo-RJ, assistidos nos ambulatórios

de referência deste estudo (n=49), estão distribuídos no Quadro 3, segundo a

região de residência. Nota-se que a maioria dos pacientes foi procedente da

Região São Gonçalo, seguido pelas Regiões Monjolos e Neves, concentrados

nos seguintes bairros em maior frequência: Jardim Catarina (24,5%) e Rocha

(16,3%; Quadro 4).

Quadro 3 - Mapa de São Gonçalo-RJ mostrando as subdivisões políticas por regiões e a respectiva origem (percentual) dos pacientes atendidos nos ambulatórios de referência, no período de Fevereiro de 2015 à Junho de 2017.

Região Monjolos

Região São Gonçalo

Região Neves

Região Sete Pontes

Região Ipiíba

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Quadro 4 - Distribuição numérica e percentual dos pacientes assistidos no presente estudo, procedentes de São Gonçalo-RJ (n=49), segundo região e bairro de procedência.

Município Região Bairros S

ão

Go

nçalo

São Gonçalo

Alcântara (6,1%; 3/49), Boaçu (2,0%; 1/49), Colubandê (2,0%; 1/49), Galo Branco (2,0%; 1/49), Itaúna; (2,0%; 1/49), Mutuaguaçu (2,0%; 1/49), Rocha (16,3%; 8/49), Trindade (6,1%; 3/49).

Ipiíba Engenho do Roçado (2,0%; 1/49).

Monjolos Jardim Catarina (24,5%; 12/49).

Neves Boa Vista (6,1%), Gradim (2,0%; 1/49), Paraíso (8,2%), Porto da Pedra (6,1%; 3/49), Venda das Pedras (2,0%; 1/49).

Sete Pontes Bairro Vermelho (2,0%; 1/49), Pita (6,1%; 3/49), Santa Catarina (2,0%; 1/49), Venda da Cruz (2,0%; 1/49).

A distribuição dos pacientes assistidos nos ambulatórios de referência

procedente de Itaboraí-RJ (n=18), segundo o distrito (subdivisão política) de

residência encontra-se no Quadro 5. Nota-se que a metade dos pacientes foi

procedente do distrito Itaboraí do município, com maior frequência nos bairros

Caluge (22,2%), Nova Cidade (11,1%) e Sapê (11,1%; Quadro 6)

Quadro 5 - Mapa de Itaboraí-RJ mostrando as subdivisões políticas por regiões e a respectiva origem (percentual) dos pacientes atendidos nos ambulatórios de referência, no período de Fevereiro de 2015 à Junho de 2017.

Itaboraí

Porto das Caixas

Itambi

Sambaetiba

Visconde de Itaboraí

Cabuçu

Manilha

Pachecos

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Quadro 6 - Distribuição numérica e percentual dos pacientes assistidos no presente estudo, procedentes de Itaboraí-RJ (n=18), segundo região e bairro de procedência.

Município Região Bairros

Itab

ora

í

Itaboraí Areal (5,6%; 1/18), Caluge (22,2%; 4/18), Nova cidade (11,1%; 2/18), Outeiro (5,6%; 1/18); Sapê (11,1%; 2/18).

Porto de Caixas Porto de Caixas (5,6%; 1/18).

Itambi Itambi (5,6%; 1/18).

Manilha Aldeia da Prata (5,6%; 1/18), Manilha (5,6%; 1/18), Novo Horizonte (5,6%; 1/18).

Os pacientes maricaences residiram nos bairros: Boa Vista (25,0%; 1/2),

Centro (50,0%; 2/4) e São José do Emboraí (25,0%; 1/2). O paciente de Rio

Bonito residia no Centro (100%; 1/1).

Quase dez por cento dos pacientes referiram consumo frequente de

álcool. Em relação às atividades de risco ocupacional/recreacional para a

esporotricose (jardinagem, agricultura, medicina veterinária, florista, construção

civil, marcenaria, cuidador de animais), a minoria dos pacientes atendidos as

exercia (29,6%; 42/142; Tabela 3). Dentre essas, foram informadas: agricultura,

construção civil, florista, jardinagem, marcenaria e medicina veterinária.

Tabela 3 - Distribuição do número absoluto e percentual (%) dos pacientes portadores ou não da esporotricose, incluídos no presente estudo, quanto às variáveis socioculturais avaliadas.

Variáveis socioculturais

Esporotricose TOTAL n (%)

Valor de p*

Sim n (%)

Não n (%)

Pacientes 130 12 142

Consumo de bebidas

alcoólicas

Sim 14 (100%) 0 (0,0%) 14 (9,9%) 0,4894

Não 116 (90,6%) 12 (9,4%) 128 (90,1%)

Ocupação/ Atividade de

Risco

Sim 40 (95,2%) 02 (4,8%) 42 (29,6%) 0,6043

Não 91 (91%) 09 (9%) 100 (70,4%)

*Teste Exato de Fisher

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5.2. CARACTERIZAÇÃO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA

Todos os participantes apresentaram lesão cutânea compatível com

esporotricose (n=142). O diagnóstico de esporotricose (n=130) foi confirmado por

isolamento do Sporothrix spp. em 114 deles (87,7%) e presumido, por critérios

clínico-epidemiológicos, já que as respectivas amostras foram negativas em

cultura (12,3%; 16/142). Como pode ser observado na Tabela 4, a forma de

apresentação clínica predominante foi a linfocutânea (56,2%; 73/130), seguida

pela cutânea-fixa (43,8%; 57/130) e extra-cutânea (2,3%; 3/130), como evolução

da forma linfocutânea. Todas as formas extra-cutâneas encontradas nos

pacientes deste estudo foram via acometimento ósseo e, portanto, configuraram

osteomielites documentadas através de exame por imagem radiológica. A forma

clínica desenvolvida pelo paciente não influenciou a sensibilidade da cultura

micológica (p= 0,8107; Teste do X2; Tabela 4).

Tabela 4 - Distribuição dos portadores da esporotricose por forma clínica e evolução da micose e segundo o isolamento do Sporothrix em cultura micológica.

Forma Clínica Evolução

Isolamento em

Cultura Total p*

Positivo Negativo

Linfocutânea Cutânea 61 (87,7%) 9 (12,3%) 73 (56,2%)

0,8107 Extra-cutânea 3 (100%) 0 (0%) 3 (2,3%)

Cutânea fixa Cutânea 50 (87,7%) 7 (12,3%) 57 (43,8%)

Total 114 16 100%

* Teste do X2

A maioria dos pacientes procurou assistência médica até sessenta dias

do início do quadro (83,8%; 119 /142). Destes, cento e dez foram diagnosticados

com esporotricose. Não houve diferença significativa (p>0,05) entre o tempo de

procura por atendimento médico nos casos de esporotricose e naqueles com

diagnóstico diverso (Tabela 5). Entre as comorbidades registrou-se o diabetes

mellitus (5,6%) e a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana HIV (0,8%).

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71

O uso prévio de antibacteriano foi verificado em setenta e oito pacientes

(54,9%) e, de antimicóticos, em 44 pacientes (42,3%). A Tabela 5 expressa a

frequência dos pacientes em vigência de terapia antifúngica no momento da

consulta nos ambulatórios de referência (n=44), quase todos, resultado de

automedicação (90,9%). O itraconazol foi o principal antifúngico utilizado pelos

pacientes (81,8%), seguido pelo cetoconazol tópico (13,6%) e pelo fluconazol

(6,8%; Gráfico 1). O uso de antimicóticos não interferiu na sensibilidade da cultura

micológica em isolar o agente (p=0,8899; Teste Exato de Fischer).

Acidente com trauma inoculatório foi relatado por 85 pacientes (59,9%)

sendo que, dentre esses, 77,6% foi arranhadura por felino diagnosticado com

esporotricose, 5,9% arranhadura por felino hígido e os demais não tinham origem

no gato e sim por outras vias de transmissão Cinquenta e sete pacientes (n=142)

negaram qualquer tipo de ferimento inoculatório (40,1%; Tabela 5).

Tabela 5 - Distribuição do número absoluto e percentual (%) dos pacientes portadores ou não da esporotricose, incluídos no presente estudo, quanto às variáveis clínicas avaliadas.

Variáveis Clínicas

Esporotricose TOTAL n (%)

Valor de p* Sim

n (%) Não

n (%)

Pacientes 130 12 142

Início dos Sintomas Até 60 dias 110 (92,4%) 09 (7,6%) 119 (83,8%)

0,6487 > 60 dias 20 (87,0%) 03 (13,0%) 23 (16,2%)

Diabetes Mellitus Sim 06 (75,0%) 02 (25,0%) 08 (5,6%)

0,2810 Não 124 (92,5%) 10 (7,5%) 134 (94,4%)

Uso prévio de antibacteriano

Sim 68 (87,2%) 10 (12,8%) 78 (54,9%) 0,0778

Não 62 (96,9%) 02 (3,1%) 64 (45,1%)

Uso prévio de antimicótico

Sim 43 (97,7%%) 01 (2,3%) 44 (42,3%) 0,1478

Não 87 (88,8%%) 11 (11,2%) 98 (57,7%)

Trauma inoculatório Sim 78 (91,8%) 07 (8,2%) 85 (59,9%)

0,8454 Não 52 (91,2%) 05 (8,8%) 57 (40,1%)

Contato com Gato Doente

Sim 100 (96,2%) 04 (3,8%) 104 (73,2%) 0,0035

Não 30 (78,9%) 08 (21,1%) 38 (26,8%) Teste Exato de Fisher

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Itraconazol

Cetoconazol Tópico

Fluconazol

Gráfico 1 – Distribuição dos pacientes que fizeram uso de antimicóticos segundo o fármaco utilizado anteriormente à consulta nos ambulatórios de referência.

5.2.1. Comparação Clínica Epidemiológica entre a Região Leste Fluminense

e a Capital do Rio de Janeiro

Freias (2009) estudou oitocentos e quatro pacientes portadores de

esporotricose em diversas regiões do estado do Rio de Janeiro atendidos no

Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/FIOCRUZ), antigo Instituto

de Pesquisas Evandro Chagas (IPEC/FIOCRUZ), no período de 1998 a 2004 e

entre janeiro de 2005 a dezembro de 2008. Quase metade da sua casuística

referiu à população residente na Capital (49,0%), os demais pacientes residiam

nas Zonas Norte e Oeste do Estado. Seu inquérito verificou que nessa

amostragem, a maioria dos pacientes foi acometida pela forma linfocutânea

(65,8%), sucedida pela cutânea-fixa (25,4%), cutânea disseminada (7,2%),

sistêmica (1,5%) e encontrou, entre as formas extracutânea, maior frequência de

infecção conjuntival. A Tabela 6 mostra uma comparação entre as formas clínicas

encontradas no estudo de Freitas e Freitas et al. (2009; 2010) e estabelece a

relação entre as amostragens. A comparação evidenciou diferença significativa

das apresentações clínicas encontradas em pacientes residentes no Leste

Fluminense e aquela encontrada na Metropolitana I, Zonas Norte e Oeste.

81,8%

6,8%

13,6%

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73

Tabela 6 – Distribuição dos pacientes avaliados nesse estudo e no estudo de Freitas, 2010, em segundo a forma clínica diagnosticada.

Formas Clínicas

Casuísticas

p* Metro II FREITAS, 2009 Total

n(%) n(%) n(%)

Pacientes 130 804 934

Linfocutânea Sim 64 (10,8%) 529 (89,2%) 593 (63,5%)

0,0004 Não 66 (19,4%) 275 (80,6%) 341 (36,5%)

Cutânea fixa Sim

Não

57 (21,8%) 204 (78,2%) 261 (27,9%) 0,0001

73 (10,8%) 600 (89,2%) 673 (72,1%)

Extra-cutânea Sim 03 (20,0%) 12 (80,0%) 15 (1,6%)

0,7566 Não 127 (13,8%) 792 (86,2%) 919 98,4%

Cutânea-Disseminada Sim 0 (0,0%) 58 (100,0%) 58 (6,2%)

0,0030 Não 130 (14,8%) 746 (85,2%) 876 (93,8%)

Hospitalização Sim 04 (40,0%) 06 (60,0%) 10 (1,1%)

0,0528 Não 126 (13,6%) 798 (86,4%) 924 (98,9%)

Amputação Sim 02 (100,0%) 0 (0,0%) 02 (0,2%)

0,0125 Não 128 (13,7%) 804 (86,3%) 932 (99,8%)

Óbito Sim 0 (0,0%) 02 (100,0%) 02 (0,2%)

0,6504 Não 130 (13,9%) 802 (86,1%) 932 (99,8%)

*Teste exato de Fisher

Não foi verificada diferença significativa na frequência de hospitalizações

e desfechos desfavoráveis como amputações e óbitos (Tabela 6).

5.3. CARACTERIZAÇÃO DE RESPOSTA TERAPÊUTICA

Propôs-se prescrição inicial de itraconazol 100 mg/dia para todos os

pacientes com diagnóstico de esporotricose confirmado por isolamento em

cultura, ou presumido por critérios clínicos e epidemiológicos (n=130). Verificou-se

cura clínica, sem recidiva no período do estudo, em cento e quinze (88,5%)

pacientes tratados com itraconazol 100 mg/dia. Devido a resposta insatisfatória ao

tratamento inicial, quatro casos (3,1%) exigiram ajuste de dose para itraconazol

200 mg/dia atingindo remissão em 90 dias. Desafiou-se um caso de recidiva, após

cinco meses de cura com tratamento por itraconazol 100 mg/dia, prescrevendo-se

iodeto de potássio 3,84 g/dia associado ao itraconazol 200 mg/dia, obtendo cura

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clínica em 90 dias. Devido ao uso contínuo de inibidor de bomba de hidrogênio,

que reduz a acidez do suco gástrico, prejudicando a absorção de itraconazol, um

dos pacientes foi tratado alternativamente com terbinafina 250 mg/dia, obtendo

cura clínica em 90 dias, sem recidiva. Enfrentou-se um caso de hepatopatia, que

contraindicou uso de itraconazol e terbinafina, motivando a prescrição do iodeto

de potássio 4 g/dia, com cura clínica em 30 dias. O iodeto de potássio 2,5 g/dia

em monoterapia foi instituído para um paciente de onze meses de idade por

razões econômicas, constatando-se cura clínica em sessenta dias. Diante de um

caso previamente refratário ao itraconazol 400 mg/dia, propôs-se esquema

terapêutico associando iodeto de potássio 4 g/dia ao itraconazol 200 mg/dia,

evoluindo para cura clínica em 60 dias. Duas pacientes grávidas foram tratadas

com anfotericina B 350mg/dia, ambos obtendo cura em 60 dias de tratamento. O

tratamento instituído para os pacientes portadores de osteomielite consistiu em

anfotericina B 350 mg/dia durante 30 dias, associado ao itraconazol 400 mg/dia,

até a cura clínica para os dois quadros graves com amputação. O itraconazol 400

mg/dia foi prescrito para o paciente que apresentou grau de leve

comprometimento ósseo (Tabela 7). O tempo médio de tratamento foi de noventa

dias.

Até a conclusão desse estudo, foram constatadas cento e vinte e sete

curas (97,7%; n=130), sendo que uma delas ocorreu por remissão espontânea,

restando três pacientes em acompanhamento ambulatorial regular.

Tabela 7 - Distribuição dos pacientes com esporotricose segundo a proposta terapêutica empregada.

Proposta Terapêutica n = 130 %

ITR 100 mg/dia 115 88,5%

ITR 200 mg/dia 4 3,1%

ITR 400 mg/dia 1 0,8%

SSKI 2,5 – 5,6 g/dia 2 1,5%

ITR + SSKI 2 1,5%

TER 250 mg/dia 1 0,8%

AMP 350 mg/dia 2 1,5%

AMP 350 mg/dia | ITR 400mg/dia 2 1,5%

ITR: itraconazol; SSKI: solução saturada de iodeto de potássio; TER: terbinafina; AMP: anfotericina B.

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5.4. GENOTIPAGEM DO Sporothrix

A identificação molecular através da PCR espécie-específica revelou

padrão de banda similar àquele observado para a cepa CBS 132990 (Ss54),

controle positivo para o Sporothrix brasiliensis, em noventa isolados (Figura 20).

Não se observou formação de padrão de banda em gel em sete isolados

submetidos ao protocolo de extração e PCR espécie-específica.

Figura 17 - Gel de agarose mostrando resultado do PCR espécie-específico para identificação dos isolados obtidos das lesões dos pacientes incluídos nesse estudo.

5.5. RELATOS DE CASOS CLÍNICOS

Dentro da casuística obtida, foram observados e acompanhados pacientes

cuja evolução foi incomum e/ou com morbidade grave associada. Seguem-se

relatos destes casos, destacando-se dois casos de osteomielite provocada por

infecção pelo Sporothrix que resultaram em amputação.

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5.5.1. Osteomielite – Caso Clínico n°1

Paciente do sexo feminino, 78 anos, hipertensa, dislipidêmica, branca,

aposentada, natural da cidade de Niterói-RJ e residente no bairro Fonseca do

mesmo município, compareceu ao Ambulatório de Referência em Esporotricose

Humana do LMMI-HUAP/UFF apresentando profunda lesão ulcerada,

intensamente dolorosa, no primeiro quirodáctilo da mão esquerda, com extensa

destruição tecidual e necrose, cursando com linfangite nodular ascendente no

mesmo membro (Figura 21). Relatou que há cerca de trinta dias sofreu mordida

de um felino de rua, coberto por lesões cutâneas ulceradas. Referiu uso de

cefalexina 2 g/dia durante dez dias sem remissão da lesão. Contou ainda que

havia sido submetida há duas semanas, no posto de saúde regionalizado, à

drenagem de abscesso.

Foi realizada radiografia simples da mão, acompanhada por hemograma,

bioquímica sérica para funções renal e hepática, glicemia, sorologias para HIV 1 e

2, além da biópsia da lesão para cultura micológica. Na ocasião, iniciou-se

antifungicoterapia empírica com o itraconazol 200 mg/dia. A equipe médica do

Departamento de Cirurgia Geral do HUAP foi procurada a fim de responder

parecer sobre o caso. Na oportunidade, foi solicitada internação hospitalar.

Figura 18 - a) lesão ulcerada no primeiro quirodáctilo da mão esquerda, com extensa destruição tecidual e necrose; b) nódulos subcutâneos no trajeto dos linfáticos em disposição ascendente no membro superior esquerdo. Fonte: LMMI-UFF.

O resultado dos exames complementares revelaram hemograma e

bioquímica sem alterações patológicas e sorologias para HIV 1 e 2 não reagentes.

Radiografia da mão esquerda evidenciou hipertransparência de contornos

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irregulares na topografia das regiões cortical e medular da falange distal do

primeiro quirodáctilo esquerdo (Figura 22). A cultura micológica seguida da

tipagem molecular (PCR espécie-específica) permitiram isolamento e identificação

do Sporothrix brasiliensis. Diante dos resultados obtidos nos exames

complementares, antifungicoterapia com anfotericina B lipossomal 350 mg/dia foi

associada ao triazólico como tratamento direcionado para esporotricose.

Figura 19 - Radiografia simples das mãos evidenciando hipertransparência de contorno irregular na topografia da falange distal esquerda, compatível com erosão óssea.

A equipe da cirurgia geral indicou e realizou debridamento e curetagem

do tecido necrótico da lesão no terceiro dia de internação hospitalar. Foi então

solicitada cintilografia óssea com estudo de três fases para avaliação do

comprometimento ósseo. O resultado evidenciou comprometimento dos tecidos

moles e da falange distal do primeiro quirodáctilo esquerdo (Figura 23, setas azuis

e verde). No décimo quinto dia de internação hospitalar, a paciente evoluiu com

insuficiência renal aguda que, associada à resposta insatisfatória aos

antimicrobianos, direcionou a equipe de cirurgia a considerar amputação do

primeiro quirodáctilo esquerdo.

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Figura 20 – Cintilografia óssea em três fases evidenciando, à esquerda, comprometimento dos tecidos moles no primeiro quirodáctilo e antebraço esquerdos; à direita, fase tardia, comprometimento ósseo do primeiro quirodáctilo esquerdo (seta verde) e de partes moles (setas azuis). Fonte: HUAP/LMMI.

No vigésimo dia de internação hospitalar, a equipe de cirurgia geral

decidiu pela amputação do primeiro quirodáctilo esquerdo como medida

conservadora diante do potencial de extensão ascendente da osteomielite. A

amputação foi realizada, sem intercorrências, no vigésimo quinto dia.

A paciente recebeu alta hospitalar no trigésimo terceiro dia de internação

hospitalar para acompanhamento ambulatorial, com prescrição de itraconazol 400

mg/dia. No centésimo segundo dia de evolução, foi avaliada ambulatoriamente

por equipe multidisciplinar composta por infectologistas e cirurgiões que,

avaliando nova cintilografia com resultado normal, sugeriu descontinuidade do

tratamento com itraconazol. Desde então, a paciente não retornou ao Ambulatório

de Referência em Esporotricose Humana LMMI-HUAP/UFF para

acompanhamento, como recomendado previamente.

5.5.2. Osteomielite - Caso Clínico nº2

Paciente feminino, 37 anos, parda, portadora de fibromialgia, vendedora,

natural do Rio de Janeiro, residente no bairro do Boaçu, São Gonçalo – RJ,

compareceu ao Ambulatório de Referência em Esporotricose Humana do LMMI-

HUAP/UFF apresentando extensa lesão ulcerosa, intensamente dolorosa, no

primeiro quirodáctilo esquerdo com vasta perda tecidual, necrose e exsudato

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purulento, cursando com linfangite nodular ascendente no membro ipsilateral

(Figura, 24). Relatou ferimento provocado por espinho durante atividade amadora

de jardinagem há cerca de trinta dias e contato com felino diagnosticado com

esporotricose, embora tenha negado qualquer acidente traumático envolvendo o

animal. Referiu uso de cefalexina 2 g/dia durante dez dias, seguido de

ciprofloxacino 1 g/dia durante seis dias, sem resposta aos tratamentos

antibacterianos instituídos.

Foi solicitada radiografia simples da mão esquerda, hemograma,

bioquímica para funções renal e hepática, glicemia, VDRL e sorologias para o HIV

1 e 2. A paciente foi submetida à biópsia da lesão para cultura micológica.

Prescreveu-se antifungicoterapia empírica com itraconazol 200 mg/dia,

antibacterianoterapia com amoxicilina associada ao clavulanato e indicou-se

internação hospitalar com objetivo de iniciar tratamento com anfotericina B

endovenosa. Solicitou-se parecer para a cirurgia geral em função da perda

tecidual e necrose observadas.

Resultados dos exames complementares: hemograma e bioquímica sem

alterações patológicas. VDRL e sorologia para HIV 1 e 2 não reagentes.

Radiografia da mão esquerda evidenciou hipertransparência na topografia da

falange distal do primeiro quirodáctilo esquerdo (Figura 24d). Cultura micológica

isolou e identificou fungo do gênero Sporothrix; posteriormente genotipado por

PCR espécie-específica como S. brasiliensis. Foi solicitada tomografia

computadorizada para avaliar a extensão da lesão.

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Figura 21 – (a) e (b) extensa lesão ulcerada com intensa perda tecidual na primeiro quirodáctilo esquerdo; (d) linfangite nodular ascendente; (c) radiografia simples da mão evidenciando hipertransparência na topografia da falange distal do primeiro quirodáctilo esquerdo, compatível com erosão óssea.

Uma vez confirmado diagnóstico de esporotricose pela cultura micológica,

a anfotericina B complexo lipídico 350 mg/dia via endovenosa foi associada ao

triazólico. A tomografia computadorizada revelou área de hipodensidade na

topografia da falange distal esquerda com área de hiperdensidade de partes

moles. Avaliação da equipe de cirurgia geral indicou e procedeu debridamento de

tecido necrótico e curetagem óssea.

Evoluindo sem melhora do quadro, a equipe de cirurgia decidiu pela

amputação da falange distal do primeiro quirodáctilo esquerdo como medida

conservadora para evitar a progressão da infecção para a falange proximal e

outros ossos. A amputação foi realizada sem intercorrências no vigésimo segundo

dia de internação hospitalar.

A paciente recebeu alta hospitalar no quadragésimo segundo dia de

internação hospitalar para acompanhamento ambulatorial, com prescrição de

itraconazol 400 mg/dia durante doze meses. A paciente continua assistida pelo

ambulatório de referência em esporotricose do HUAP, com lesão completamente

cicatrizada e em esquema profilático antifúngico com itraconazol 400 mg/dia

(Figura 25).

a) b)

c) d)

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81

Figura 22 – Fotografia da mão esquerda mostrando cicatriz cirúrgica no local da amputação de parte da falange distal do primeiro quirodáctilo. Á (a) esquerda visão da face posterior e à direita (b) visão da face anterior da cicatriz.

5.5.3. Cutânea-fixa, um caso de recidiva

Paciente do sexo masculino, 56 anos, pardo, previamente hígido, auxiliar

de serviços gerais em hospital, natural do Ceará, residente no bairro Engenhoca,

Niterói-RJ, compareceu ao Ambulatório de Referência em Esporotricose Humana

do LMMI-HUAP/UFF apresentando lesão gomosa de fundo sero-sanguinolento,

de bordas elevadas e bem definidas com hiperemia perilesional na face posterior

da mão esquerda. Relata ter sofrido arranhadura de felino diagnosticado com

esporotricose há cerca de quarenta e cinco dias na mesma localização da lesão.

Inicialmente, a lesão provocada pelo animal cicatrizou, porém evoluiu com

formação de pápula eritematosa que progrediu com ulceração central e aumento

gradual do diâmetro. Negou uso de medicações antimicrobianas.

Na avaliação inicial do caso, solicitou-se hemograma, bioquímica para

funções real e hepática e glicemia. O paciente foi submetido à biopsia da lesão

para cultura micológica. Instituiu-se antifungicoterapia empírica com itraconazol

100 mg/dia. Os resultados dos exames não evidenciaram alterações patológicas

no hemograma ou na bioquímica. A cultura micológica isolou e identificou fungo

a) b)

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82

do gênero Sporothrix, posteriormente genotipado como S. brasiliensis (PCR

espécie-específica).

O paciente evoluiu com cura da infecção em cinco meses de tratamento.

No entanto, após outros cinco meses compareceu ao ambulatório com recidiva da

lesão, em automedicação com itraconazol 100 mg/dia há duas semanas (Figura

26a). Foi colhida nova biópsia da lesão para cultura micológica. Manteve-se

prescrição empírica de itraconazol 100 mg/dia. Na oportunidade, também se

solicitou dosagem sérica de potássio, Hormônio Tireoestimulante (TSH) e tiroxina

livre (T4L) visando eventual substituição do triazólico por solução saturada de

iodeto de potássio.

A segunda cultura micológica confirmou o diagnóstico anterior. Na

consulta de reavaliação após trinta dias, a lesão evoluiu com aumento de

diâmetro e profundidade. Destarte, ajustou-se dose para itraconazol 200 mg/dia e

solicitou-se avaliação do perfil de susceptibilidade aos antifúngicos.

O paciente não apresentou melhora após trinta dias do ajuste da dose do

itraconazol. Consequentemente, foi prescrita solução saturada de iodeto de

potássio em substituição ao triazólico, ajustando gradativamente a dose em

função da tolerância do paciente. Contudo, o paciente não suspendeu o uso do

itraconazol conforme orientação médica, associando ambas medicações.

Os isolados foram submetidos ao teste de suscetibilidade aos antifúngicos

pela técnica da microdiluição em caldo (CLSI, 2002), aferindo os seguintes perfis

de susceptibilidade in vitro: 1ª amostra - anfotericina B (Concentração Inibitório

Mínima, CIM, 4 µg/ml), caspofungina (8 µg/ml), fluconazol (>64 µg/ml), itraconazol

(CIM 16 µg/ml), micafungina (>8 µg/ml) e terbinafina (CIM < 0,03 µg/ml); 2ª

amostra (recidiva), o mesmo perfil de susceptibilidade foi encontrado - anfotericina

B (CIM 4 µg/ml), caspofungina (8 µg/ml), fluconazol (>64 µg/ml), itraconazol (CIM

8 µg/ml), micafungina (>8 µg/ml) e terbinafina (CIM < 0,03 µg/ml).

Após três meses de tratamento com solução saturada de iodeto de

potássio 3,8 g/dia, observou-se cura clínica (Figura 26b). Por conseguinte, as

medicações foram suspensas. Preventivamente, o paciente foi mantido em

observação ambulatorial durante doze meses. Até o momento da confecção

desse relato de caso, o paciente não apresentou nenhum indício de recidiva.

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Figura 23 – Esporotricose cutânea fixa em paciente masculino, 56 anos, imunocompetente. a) lesão gomosa com eritema periférico recidivada após 150 dias de remissão. b) aspecto da cicatriz após 90 dias de iodeto de potássio associado ao itraconazol.

5.5.4. Cutânea-fixa, um caso de evolução incomum

Paciente do sexo masculino, 20 anos, estudante e auxiliar de pedreiro,

previamente hígido, natural de Niterói-RJ, residente no bairro Barreto da mesma

cidade, compareceu ao Ambulatório de Referência em Esporotricose Humana do

LMMI-HUAP/UFF apresentando placa eritematosa descamativa, firme, violácea,

indolor, de bordas bem definidas e irregulares no joelho esquerdo (Figura 27), em

uso regular de itraconazol 200 mg/dia há mais de seis meses. Refere que a lesão

iniciou há cerca de um ano após se ferir “virando laje”. A princípio, a lesão

apresentou-se como escoriação que não regenerou, evoluindo com ulceração.

Buscou atendimento médico especializado em dermatologia que solicitou biopsia

de pele para cultura micológica e exame histopatológico. Diante de resultados

confirmatórios para esporotricose, iniciou tratamento com itraconazol 200 mg/dia

com melhora parcial após seis meses de tratamento.

a) b)

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Figura 24 – Esporotricose cutânea-fixa de evolução incomum e prolongada em paciente jovem imunocompetente. À esquerda, visão em perfil, à direita visão frontal da lesão em placa, descamativa, violácea e de limites bem definidos no joelho esquerdo.

Para avaliação inicial do quadro, foram solicitados hemograma,

bioquímica para funções renal, tireoidiana e hepática, glicemia, sorologia para HIV

1 e 2 e realizada nova biópsia para cultura micológica e histopatológico. Foi

proposto ajuste de dose para itraconazol 400 mg/dia. Os resultados evidenciaram

hemograma, bioquímica e sorologia sem anormalidades patológicas. A cultura

isolou e identificou fungo do gênero Sporothrix, posteriormente genotipado como

S. brasilliensis (PCR espécie-específica) enquanto o exame histopatológico

evidenciou processo granulomatoso crônico inespecífico. O isolado foi submetido

ao teste de suscetibilidade aos antifúngicos pela técnica da microdiluição em

caldo (CLSI, 2002), aferindo os seguintes perfis de susceptibilidade in vitro:

anfotericina B (CIM 4 µg/ml), caspofungina (8 µg/ml), fluconazol ( >64 µg/ml),

itraconazol (CIM 8 µg/ml), micafungina (8 µg/ml) e terbinafina (CIM < 0,03 µg/ml).

Após três meses, a lesão apresentou discreta involução (Figura 28a).

Sendo assim, a solução saturada e iodeto de potássio 5,4 g/dia foi acrescentada

ao itraconazol, com dose reduzida do triazólico para 200 mg/dia. O paciente

apresentou surpreendente regressão da lesão em trinta dias, ainda no período de

ajuste de dose das medicações instituídas (Figura 28b). Em quarenta e cinco dias

após introdução da solução saturada de iodeto de potássio, observou-se cura

clínica. As medicações foram suspensas, mas o paciente foi orientado a

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85

permanecer sob acompanhamento periódico no Ambulatório de Referência em

Esporotricose Humana do LMMI-HUAP/UFF.

Figura 25 - Esporotricose cutânea-fixa de evolução incomum e prolongada em paciente jovem imunocompetente. a) aspecto da lesão após 90 dias de tratamento com itraconazol 400 mg/dia; b) aspecto da lesão 30 dias após adição de iodeto de potássio no esquema terapêutico.

6. DISCUSSÃO

A esporotricose impõe-se como a infecção fúngica subcutânea mais

frequente na América Latina (BRILHANTE et al., 2017; REIS et al., 2015). No

estado do Rio de Janeiro, desde os anos noventa, esta micose compôs cenário

epidêmico sui generis na sua trajetória mundial, com destaque para a transmissão

zoonótica a partir do felino doméstico (DE LIMA-BARROS et al., 2001; GREMIÃO

et al., 2017). A causa do seu comportamento incomum nesse Estado ainda não

foi esclarecida, despertando interesse de estudiosos de várias nacionalidades.

Não obstante a extensa proporção que a esporotricose alcançou no

estado do Rio de Janeiro e dos esforços de inúmeras equipes de pesquisa, a

densidade de estudo ainda é insuficiente para compreender totalmente seus

aspectos clínicos e epidemiológicos, bem como seus efeitos na população

vulnerável (GREMIÃO et al., 2017). De fato, as informações a respeito da

idiossincrasia da moléstia no Estado embasam-se em dados relativos à

população residente nos municípios da Capital (SILVA et al., 2012). Salvo melhor

juízo, não houve, até o presente momento, nenhum estudo que acolhesse,

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sistematicamente, a população dos municípios do Leste Fluminense, desnudando

as entranhas da doença no Leste Fluminense.

Sendo assim, o conhecimento da epidemia no estado do Rio de Janeiro e

sua expansão se mostra incerto por um víeis de seleção, uma vez que toda

referência sobre a doença limita-se às ações da FIOCRUZ que, apesar da

excelência técnica, é incapaz de abranger todo o Estado (BARROS et al., 2010;

GREMIÃO et al., 2017) O atual estudo contribuiu para a ampliação do

entendimento dos aspectos da esporotricose e sua extensão no estado do Rio de

Janeiro, uma vez que acrescentou informações sobre as características sócio-

demográficas da doença, bem como seu perfil clínico na população residente do

Leste Fluminense.

Os depoimentos obtidos com os pacientes e seus familiares, relatos dos

profissionais da saúde atuantes nesses municípios evidenciaram a escassez de

informação sobre a epidemia que os circula. Tal realidade se reflete na alta

frequência de pacientes previamente tratados com antibacteriano (54,9%) e

encaminhados pelas equipes de saúde da família para os serviços de atenção

terciária à saúde solicitando investigação diagnóstica e sugestões de condutas. A

maior parte desses pacientes apresentava história clínico-epidemiológica

compatível com esporotricose, autorizando, com segurança e eficácia,

antifungicoterapia empírica, inclusive (KAUFFMAN et al., 2007).

Outro indício importante da carência de informações sobre a doença no

Leste Fluminense é a ínfima notificação de casos nessa região. Segundo ofício

editado pela SINAN/COVIG/VIPACAF/FMS-Niterói em 2016, entre os anos 2012 e

2014 apenas vinte e cinco casos foram notificados, sendo vinte e um desses

casos referentes à cidade de Niterói-RJ. Apenas dois casos foram notificados em

São Gonçalo-RJ, um caso no município de Maricá e outro no município Rio

Bonito. No período de fevereiro de 2015 à Junho de 2017 notificou-se através

desse estudo centro e quarenta e dois casos suspeitos, com cento e trinta

confirmações diagnósticas e cento e vinte e sete curas clínicas, obtidas

empregando as medicações protocoladas pela Sociedade Americana de Doenças

Infecciosas, e três pacientes estão em vigência de tratamento, com melhora

significativa desde o início do tratamento (KAUFFMAN et al., 2007).

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Embora os casos assistidos pelos ambulatórios de referência vinculados a

este estudo não encerrem todos os casos de esporotricose ocorridos no Leste

Fluminense do estado do Rio de Janeiro, os dados extraídos dessa amostragem

podem ser extrapolados para o contexto local, uma vez que estes ambulatórios

compõem a única referência médica da região capacitada a fornecer o

diagnóstico clínico e laboratorial com precisão e identificação de espécie, bem

como organizar tais dados para atender às necessidades científico-

epidemiológicas. Vale ressaltar que esse estudo não abrangeu a assistência

suplementar em saúde, composta por clínicas, consultórios e laboratórios

particulares.

O Ambulatório de Referência em Esporotricose LMMI-HUAP/UFF foi o

serviço de saúde de referência na micose mais procurado no período do estudo.

Mais da metade (57,6%) dos pacientes procuraram esse ambulatório. Tal fato se

deve: 1) a localização do HUAP-UFF, 2) o mesmo ser referência da comunidade e

equipes de saúde para outros agravos à saúde, 3) sua relação direta com as

atividades de extensão, promovidas pela UFF, que agiram diretamente junto à

comunidade visando esclarecer e orientar a sociedade sobre a micose.

Os dois ambulatórios de referência instalados no município de Niterói-RJ

acolheram, em conjunto, a grande maioria das demandas (86,4%). A primazia

desses ambulatórios nos atendimentos aos pacientes suspeitos de esporotricose

pode ser justificada pela área de influência das atividades extensionistas, que

contempla principalmente a cidade de Niterói-RJ e residualmente São Gonçalo-

RJ, e a alta densidade demográfica desses municípios.

Embora o estudo contasse com o Ambulatório de Hanseníase-

Esporotricose estabelecido no município de Itaboraí-RJ, através da parceria entre

o LMMI/UFF e a Secretaria Municipal de Saúde dessa cidade, o serviço acolheu

apenas dezessete pacientes (11,9%) da casuística. Considerando a extensão

territorial do município e sua densidade demográfica, pressupõe-se que a

demanda não reflete a possível necessidade da população; esta não procura o

serviço por desconhecê-lo ou por não ter informações sobre a doença, mas não

pela ausência da micose entre ela. A atuação das atividades de extensão/UFF

nesse município sofre com as limitações econômicas da instituição, de modo que

as de informações sobre a doença e as respectivas ações de prevenção e

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controle para a comunidade são menos afluentes para a comunidade residente

nessa cidade. Salvo melhor juízo, a divulgação sobre a doença e sobre seus

centros de referência é rarefeita e de pouca penetração no extrato social desse

município, necessitando de maior publicidade para alcançar os indivíduos que

sofrem da doença, mas não procuram assistência profissional adequadamente.

A participação da rede suplementar de saúde, fixada nos municípios do

Leste Fluminense do estado do Rio de Janeiro, foi pouco expressiva neste estudo

e não contribuiu com as notificações do agravo nessa região. Os critérios de

inclusão neste ensaio exigiam aplicação de questionário padronizado e coleta de

fragmento da lesão por biópsia que deveria ser encaminhada para culta

micológica no prazo máximo de vinte e quatro horas, conforme protocolo

estabelecido, o que inviabilizou a parceria com a maioria dos consultórios

médicos da rede suplementar. No período de janeiro de 2012 à março de 2016

nenhum serviço de saúde privado notificou a infecção pelo Sporothrix

(SINAN/COVIG/VIPACAF/FMS-Niterói, 2016). A despeito da flagrante epidemia

de esporotricose no Estado, a rede suplementar mostra-se inerte em relação a

ela, visto que, em todo território, há pouquíssimos registos de notificação,

vertiginosamente incompatível com a extensão da doença. Ressalta-se que a

esporotricose é agravo de notificação compulsória no Rio de Janeiro desde 2003,

sendo dever de todo médico notificar, à vigilância epidemiológica, todos casos

suspeitos dos quais tomar conhecimento. A negligência da rede suplementar

pode refletir a baixa difusão do conhecimento da micose pelos profissionais de

saúde que atendem por ela, prejudicando a compreensão e determinação

epidemiológica da doença.

O perfil epidemiológico da esporotricose no Leste Fluminense é

semelhante àquele observado na Capital do estado do Rio de Janeiro, afeta

pessoas de ambos os sexos, em qualquer faixa estaria, etnia e nível de

escolaridade; mais frequente no sexo feminino (63,1%), discretamente mais

frequentes em caucasoide (50,5%) com nível de escolaridade até o ensino médio

(SILVA et al, 2012). Diferindo de outros Estados e como Espírito Santo e Rio

Grande do Sul, nos quais a doença prevalece sobre o sexo masculino, em

indivíduos economicamente ativos (CAUS, 2013; LONDERO; CECY, 1989).

Nesses entes, a esporotricose possui perfil de doença ocupacional, relacionada a

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acidentes com traumatismo inoculatório durante atividades agrícolas ou de caça.

Na Índia e no Japão, o sexo feminino é mais afetado pela doença. Nestes países,

as mulheres costuma estar mais envolvidas com atividades relacionadas à

agricultura que os homens (ITOH et al., 1986; GHOSH et al., 1999). No Leste

Fluminense, assim como ocorre na Metropolitana I do estado do Rio de Janeiro,

indivíduos do sexo feminino costumam ocupar-se com as atividades domésticas e

estão mais relacionados ao hábito de cuidar dos animais domésticos, expondo-se

à infecção zoonótica (BARROS et al., 2010). Tais achados corroboram com a

importância dos fatores culturais na transmissão da micose, insinuando-os como

potenciais alvos para ações de prevenção e controle da epidemia.

A casuísta desse estudo, em sua maior parte (78,2%), foi composta por

residentes no município de Niterói-RJ (43,7%;) e São Gonçalo-RJ (34,5%). Em

menor frequência, os municípios de Itaboraí (12,7%), Maricá (2,8%), e Rio Bonito

(0,7%) coadjuvaram na amostragem da população da Capital. Excepcionalmente,

oito pacientes procedentes da Capital foram atendidos nos ambulatórios de

referência do Leste Fluminense por não conseguir atendimento na Capital. A

distribuição territorial do recenseamento desta pesquisa provavelmente não está

pareada à distribuição da doença nos municípios Leste Fluminense, mas reflete o

alcance da divulgação da doença e dos serviços, preparados para diagnosticar e

tratá-la, no tecido social.

A cidade de Niterói-RJ, constituída por volta de 487.562 habitantes (IBGE,

2010), abrigou a residência de sessenta e dois pacientes atendidos nos

ambulatórios, distribuídos principalmente nos bairros Fonseca (14,3%), Cubango

(10,2%) e Icaraí (10,2%). Os bairros Fonseca e Cubango foram privilegiados

pelas atividades extensionistas e Icaraí pela localização e maior interação da

comunidade com o HUAP. De acordo com comunicações pessoais, o bairro

Fonseca apresenta demasiada população de gatos errantes com lesões cutâneas

visíveis, favorecendo a disseminação da doença nesse local. Para melhor

compreender a distribuição da esporotricose em Niterói-RJ a partir da

amostragem desse estudo, os dados dos pacientes foram agrupados nas

respectivas regiões de subdivisão política, revelando que os pacientes

procederam, sobretudo (61,2%), das regiões Norte (26,5%) e Praias da Baía

(34,7%), regiões sob maior influência das ações de extensão da UFF. Afastando-

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se da defluência da instituição, seguiram-se as Regiões Oceânica e Pendotiba,

16,3% e 10,0%, respectivamente. A região Leste, mais afastada da UFF e suas

atividades, não foi representada por nenhum paciente nesse estudo. Essas

observações corroboram com a presunção de que os resultados obtidos nesse

inquérito sofreram influência da penetração do conhecimento sobre a doença nas

camadas sociais, fornecendo suporte para estratégias de política de saúde

pública para a prevenção e controle da micose no município. Constata-se

necessidade imediata de maior treinamento das equipes de saúde de família das

regiões Pendotiba, Oceânica e, principalmente, Leste, para que estejam

adequadamente preparadas para lidar com a epidemia silenciosa que assola suas

respectivas regiões de abrangência.

O município de São Gonçalo-RJ, composto por aproximadamente

999.728 habitantes (IBGE, 2010), esteve representado por quarenta e nove

(34,5%) dos cento e quarenta e dois pacientes atendidos nos ambulatórios de

referência vinculados a esta pesquisa. A residência desses pacientes foi mais

frequente nos bairros Rocha (15,4%) e Jardim Catarina (21,3%). Ambos os

bairros são próximos ao centro comercial do município, local de maior

concentração de serviços de saúde, onde há maior probabilidade de identificação

de casos suspeitos e maior abundância de informações sobre a doença, o que

poderia explicar a dominância desses bairros. Os dados dos pacientes também

foram agrupados de acordo com a subdivisão política do município para melhor

compreensão da distribuição da doença. A Região São Gonçalo configurou a

principal expressão da doença na cidade, seguida pelas Regiões Monjolos e

Neves. Contudo observa-se apenas um único paciente originário da Região Ipiíba,

com cerca de cinto e cinquenta e nove mil habitantes (IBGE, 2010), presumindo-

se que a população dessa região não está devidamente informada a respeito da

esporotricose e que a equipe de saúde da família não está preparada para

enfrentar a epidemia que aflige o Rio de Janeiro. Nenhum paciente incluído nessa

pesquisa foi assistido pela rede suplementar do município, igualmente, salvo

disposição em contrário, nenhuma notificação foi encaminhada à vigilância

sanitária entre fevereiro de 2015 a junho de 2017, destacando, desse modo, o

papel fundamental das unidades públicas de saúde na geração de informações a

respeito da atividade da esporotricose na população.

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O município de Itaboraí-RJ possui cerca de 220 mil habitantes e foi local

de residência para dezoito pacientes atendidos nos ambulatórios de referência

vinculados ao LMMI, mais que a metade deles morava nos bairros Caluge, Nova

Cidade e Sapê, que integram a sub-região Itaboraí do município. A ausência de

pacientes residentes em quatro distritos (Sambaetiba, Visconde de Itaboraí,

Cabuçu e Pachecos) que juntos somam cerca de 25 mil habitantes (IBGE, 2010),

chama atenção. Estratégias de saúde pública devem ser orientadas no sentido de

aumentar a capacitação das equipes de saúde da família das respectivas regiões

frente à micose, bem como promover o acesso às informações sobre essa

infecção para a população residente.

O diagnóstico de esporotricose foi firmado para cento e trinta pacientes do

total de centro e quarenta e dois pacientes, dos quais 87,7% tiveram confirmação

através do isolamento do Sporothrix em cultura e outros 12,3% foram presumidos

por critérios clínico epidemiológico em razão de não ter sido isolado fungo na

cultura. Os dados da literatura apontam para uma um percentual de confirmação

diagnóstica bastante inferior (mediana de 66,3%; SES-RJ, 2016). Os demais

pacientes tiveram o diagnóstico de esporotricose descartado após identificação de

outras etiologias como câncer de pele, cromoblastomicose, dermatofitose,

piodermite e tromboangeíte obliterante. A predominância do diagnóstico de

esporotricose na amostragem desse estudo é reflexo da natureza dos

ambulatórios onde os pacientes foram atendidos. Por serem serviços

ultraespecializados, de referência para a esporotricose, a população atendida

deriva de orientações específicas para a doença, ou encaminhamento de outros

profissionais de saúde humana e veterinária. Embora os ambulatórios

acolhessem qualquer tipo de demanda, mesmo espontânea, pela lógica habitual

do sistema único de saúde prescreve que o paciente seja previamente avaliado

pelo clínico geral ou pelo médico integrante da equipe de saúde da família. Deste

modo, os ambulatórios de referência foram procurados após atendimento prévio

em outro serviço de saúde que suspeitou da micose, ou por orientações de

parentes, amigos e veterinários que assistiram o animal portador da esporotricose

de posse do respectivo paciente. Alguns deles foram orientados a buscar os

ambulatórios aqui descritos pelos médicos veterinários do Ambulatório de

Referência em Esporotricose Animal LMMI-UFF/CCZ-PMN-FMS, referência na

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assistência ao hospedeiro felino acometido por essa zoonose, criado pelo mesmo

projeto extensionista. Nesse contexto, a frequência de diagnóstico confirmados

nesse estudo, é compatível com a confirmação diagnóstica após suspeita relatada

na literatura.

A literatura científica aponta que a manifestação linfocutânea (65,8%) é a

mais prevalente forma clínica da micose, seguida pela forma cutânea fixa

(25,4%). Conquanto a casuística desse inquérito concorde com os resultados

encontrados na população da Capital do Rio de Janeiro no que tange

predominância da forma linfocutânea a frequência da forma extra-cutânea, os

resultados encontrados no Leste Fluminense desencontra àqueles em relação às

frequências isoladas formas cutâneas e a forma preponderante de manifestação

extra-cutânea. No Leste Fluminense, verificou-se maior frequência relativa de

esporotricose cutânea-fixa (p < 0,05) e menor frequência relativa da forma

linfocutânea; outrossim, não foi apurado nenhum diagnóstico da forma cutânea

disseminada (FREITAS, 2009; FREITAS et al., 2010; REIS et al., 2015). No Leste

Fluminense a frequência da forma cutânea-fixa se aproxima da frequência da

forma linfocutânea. Esse resultado surpreendente, talvez seja reflexo do aumento

do conhecimento sobre a doença, uma vez que a doença ainda era emergente no

período em que o estudo foi realizado na Capital. Indubitavelmente, a forma

linfocutânea, por seu aspecto bem caraterístico, levanta maior suspeita que as

formas cutâneas-fixa, sendo mais fácil de ser diagnosticada. Já a lesão cutânea-

fixa exibe forma que se perde entre uma infinidade de diagnósticos possíveis.

Senão por uma anamnese bastante minuciosa, aprofundando-se em fatores

socioculturais, o diagnóstico clínico da forma cutânea fixa pode passar

despercebido pela maioria dos profissionais de saúde. Dessa maneira, é possível

que a diferença entre as frequências das lesões linfocutânea e cutânea-fixa seja

reflexo do subdiagnóstico da forma linfocutânea. Contudo, fatores relacionados ao

Sporothrix devem ser estudados no sentido de identificar alguma mudança no seu

padrão de patogenicidade que explique os resultados encontrados no Leste

Fluminense.

A ausência de pacientes portadores da forma disseminada no Leste

Fluminense era esperada, uma vez que essa forma está relacionada com franca

imunossupressão (BIANCARDI et al., 2017; MOREIRA; FREITAS; LAMA, 2015;

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PAIXÃO et al., 2015). Nesse estudo, todos pacientes eram imunocompetentes,

inclusive o paciente portador de HIV, o que justifica a diferença entre as

populações.

A semelhança encontrada entre o perfil de morbidade e mortalidade

encontrada nesse estudo e àquele observado na Capital pode estar enviesada

pelo período de tempo coberto pelo estudo de Freitas (2009; 2010). Naquela

casuística, a população da Capital foi assista por um período de dez anos,

enquanto nesse estudo a respectiva população foi acompanha apenas por

dezessete meses. Novos estudos devem ser realizados no sentido de avaliar a

população do Leste Fluminense por um período maior para que a comparação da

morbidade e mortalidade nas duas regiões possa ser mais fidedigna.

A literatura assinala ainda, considerando a população mundial, que,

dentre as manifestações extra-cutâneas, a forma osteoarticular prevalece sobre

as demais, corroborando os resultados desse estudo. Essa dominância não foi

verificada na Capital, onde a infecção conjuntival foi a forma extra-cutânea mais

comum (FREITAS, 2009; FREITAS et al., 2010; LEDERER; SULLIVAN; CRUM-

CIANFLONE, 2016).

O resultado encontrado nesse estudo corrobora parcialmente com as

inferências da literatura, convergindo que a maior frequência atribui-se à forma

linfocutânea, sucedida pela cutânea-fixa no Leste Fluminense. Porém, ao se

comparar as respectivas frequências relativas entre a região Leste Fluminense e

Capital do Rio de Janeiro, conclui-se que no Leste Fluminense há

significativamente maior número de casos da forma cutânea-fixa e a infecção

osteoarticular é a forma privilegiada das manifestações extra-cutâneas (FREITAS,

2009; FREITAS et al., 2010).

A forma extra-cutânea, nos três pacientes atendidos nos ambulatórios

vinculados a essa pesquisa, foi representada pela forma osteoarticular como

evolução clínica da forma linfocutânea. A infecção do tecido ósseo pode ter se

dado por continuidade em razão da extensão e gravidade dos danos teciduais

observados. Os três pacientes portadores da forma extra-cutânea eram

imunocompetentes, negavam consumo de bebidas alcoólicas, bem como uso de

imunossupressores, fato incomum e preocupante para essa forma de

esporotricose. Salienta-se que esses pacientes foram acometidos inicialmente

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pela forma linfocutânea, mais prevalente manifestação de esporotricose, e

evoluíram rapidamente para a forma extra-cutânea. A localização dessas lesões

constituiu fator agravante, já que os dedos das mãos são partes do corpo

altamente funcionais, de movimentos finos e necessários para o exercício da

maioria das profissões e inúmeras atividades do cotidiano. Dois desses casos

evoluíram com acometimento ósseo grave que resultou em indicação cirúrgica de

amputação, morbidade jamais relatada segundo levantamento bibliográfico nas

principais bases de dados médicas (AUNG et al., 2015; FREITAS, 2009;

LEDERER; SULLIVAN; CRUM-CIANFLONE, 2016). Essa inovação da

esporotricose, associada ao fenômeno epidêmico ímpar que ocorre há três

décadas no Rio de Janeiro, alarma para os potenciais riscos ainda parcialmente

conhecidos para a micose. É amplamente sabido que a capacidade de causar

doença, bem como o grau de danos ao hospedeiro, deriva de um complexo

equilíbrio entre o agente infeccioso e o hospedeiro (CASADEVALL, 2012;

CASADEVALL; FANG; PIROFSKI, 2011). Porém as equipes envolvidas na

assistência desses pacientes não identificaram qualquer fator do hospedeiro que

pudesse justificar a gravidade dessas osteomielites. É necessário investigar os

possíveis fatores de virulência presentes nas cepas isoladas para compreender

melhor os desfechos encontrados para esses casos de infecção extra-cutânea.

Tal abordagem está sendo atualmente investigada pelo LMMI-UFF em parceria

com o Prof. Dr. André Luiz Souza do Laboratório de Investigação de Peptidases

da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A anatomia dos dedos também pode

ter favorecido o acesso do fungo ao tecido ósseo, pois nessa região, o osso é

separado da derme por uma fina camada de tecido conjuntivo e gorduroso,

revelando-se como uma frágil barreira mecânica.

A ausência de diferença significativa na sensibilidade para isolamento do

Sporothrix em cultura em função da forma clínica pode significar presença de

carga fúngica viável semelhante entre as formas cutâneas da esporotricose.

A semelhança nos tempos de procura do serviço de saúde entre os

pacientes portadores de esporotricose e os portadores de outras moléstias implica

num maior desafio diagnóstico para o profissional da atenção básica, uma vez

que aumenta amplia o espectro do diagnóstico diferencial. Torna-se necessário

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maior compreensão dos detalhes semiológicos inerentes à infecção pelo

Sporotrhrix para evitar submeter o paciente a um tratamento ineficaz.

Algumas comorbidades podem influenciar na dinâmica do equilíbrio entre

o patógeno e o hospedeiro, favorecendo a infecção e a gravidade das

manifestações clínicas. Neste estudo, a maioria dos pacientes não apresentaram

comorbidades, sendo a diabetes mellitus (5,6%) e infecção pelo HIV, um único

paciente, as únicas relatadas pelos pacientes assistidos. Surpreendentemente, o

paciente portador de HIV foi o único paciente do estudo que obteve resolução

espontânea da esporotricose. Porventura, os inibidores de proteases constituinte

da terapia anti-retroviral (TARV) possuiriam atividade antifúngica e, associados a

carga viral indetectável e contagem de CD4 acima de 500 células/mm3

apresentadas pelo paciente, levaram à cura observada.

O uso prévio de antibacterianos, observado em mais que a metade dos

pacientes (54,9%), expõe o desafio diagnóstico que se impõe para os

profissionais de saúde e a necessidade de atividades de capacitação dos

mesmos para facear à epidemia de esporotricose. O diagnóstico eficiente resulta

em menor exposição do paciente aos riscos dos efeitos adversos provocados

pelos antibacterianos utilizados sem eficácia na esporotricose e redução com

gastos em saúde com fármacos impotentes contra a micose, além de evitar

favorecer a pressão seletiva de germes resistentes aos antibacterianos.

Uma parte considerável dos pacientes relatou uso prévio de antifúngicos

(42,3%), com preferência para o itraconazol (81,8%), seguido pelo cetoconazol

tópico (13,6%) e fluconazol (6,8%). A automedicação foi responsável por quase

todos esses casos (90,9%). A facilidade para obter os antifúngicos, para os quais

não se exige apresentação de prescrição médica, associada à informações

auferidas junto a internet, parentes, amigos e veterinários justificam os resultados

encontrados. Embora a maioria dos pacientes tenha optado pela medicação de

primeira escolha para o tratamento de esporotricose, o acompanhamento pelo

profissional habilitado não pode ser desconsiderado, visto que a forma de

administração, efeitos adversos ao itraconazol, interações medicamentosas e o

tempo de tratamento dependem de conhecimentos estritamente técnicos. Entre

os efeitos adversos, sem dúvidas o mais preocupante é a hepatite tóxica, de alta

letalidade, relacionada ao uso de triazólicos. Visando prevenir tal complicação,

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avaliação diligente do paciente deve ser realizada antes da prescrição,

considerando os riscos e benefício para cada paciente individualmente. Durante o

tratamento com itraconazol, dosar regularmente os níveis séricos de

transaminase pode antecipar a detecção de disfunção hepática, evitando que o

paciente evolua com hepatite tóxica. Nesse estudo, o uso prévio ao atendimento

nos ambulatórios de referência do antifúngico não interferiu significativamente (p=

p=0,8899; Teste Exato de Fischer) na sensibilidade da cultura micológica em

isolar o agente a partir de fragmentos da lesão obtidos por biópsia. Presume-se

que o tempo de antifungicoterapia, não avaliado no presente estudo, possa

constituir fator determinante para reduzir a sensibilidade da cultura em isolar o

agente.

A esporotricose é descrita como micose de implantação traumática,

indicando o meio pelo qual classicamente alguém é infectado pelo Sporothrix.

Independente do caráter da infecção, ocupacional ou zoonótico, o trauma

inoculatório parece ser fundamental para o desenvolvimento das formas

cutâneas. No Leste Fluminense, a inoculação traumática também foi associada à

esporotricose (59,9%), sendo a maioria por arranhadura por felino que

apresentava lesões cutâneas (77,6%), alguns referiram arranhadura por gato

hígido (5,9%). A supremacia da transmissão zoonótica observada no Leste

Fluminense é resultante da epidemia de esporotricose felina que afeta o Rio de

Janeiro (SCHUBACH et al., 2005; XAVIER et al., 2008). As ocorrências de

esporotricose em humanos associada à arranhadura por gatos doentes podem

estar relacionadas ao caráter territorialista dos felinos que os expõe a lutas por

território e por fêmeas no cio, fato amplamente apresentado nos estudos sobre a

zoonose (MARQUES et al., 1993). Embora o patógeno inoculado possa ter

origem no solo ou material de origem vegetal, dado aos hábitos dos gatos

arranharem os trocos de árvores e enterrar as fezes, a fonte mais provável de

contaminação das suas unhas é outro felino portador de esporotricose, já que

uma carga fúngica elevada é frequentemente encontrada no tecido desses

animais (XAVIER et al., 2008).

A maioria dos casos de esporotricose na população estudada referiu

contato com gato doente e história de trauma inoculatório no local onde se

desenvolveu a lesão primária. Este fato corrobora com o vaticinado pela literatura

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a respeito do estado do Rio de Janeiro, que implica o gato como protagonista da

epidemia neste Estado. Dessa forma, o controle da população de animais de rua

e programas de castração configuram-se como pilares centrais para conter a

doença no Rio de Janeiro. A difusão do conceito de posse/tutoria responsável, a

educação dos proprietários/tutores de gatos no sentido de evitar permitir o acesso

dos animais às ruas e não abandoná-los em caso de doença, podem contribuir

para diminuir a expansão da doença.

A excelente resposta terapêutica ao tratamento com itraconazol 100

mg/dia (88,5%) evidencia a eficácia e segurança com esquema medicamentoso

inicial contra a infecção pelo Sporothrix. Embora a principal referência mundial

para a intervenção medicamentosa na esporotricose proponha a dose inicial de

200 mg do triazólico (KAUFFMAN et al., 2007), os resultados desse estudo

apontam que a metade dessa dose pode ser a melhor opção terapêutica (DE

LIMA-BARROS et al., 2011; FRANCESCONI et al., 2011). As vantagens da

menor dose incluem a menor exposição toxicidade da droga, redução de efeitos

colaterais e dos custos com o tratamento. A dose pode ser gradativamente

aumentada em pacientes que apresentarem evolução insatisfatória ao esquema

inicial, nesse estudo, apenas 3,9% dos pacientes necessitaram de ajuste de dose

(FRANCESCONI et al., 2011).

A solução de iodeto de potássio é utilizada há muito tempo para

tratamento das formas cutâneas de esporotricose, assim como de outras

infecções e de doenças inflamatórias (OROFINO-COSTA et al., 2013). Embora

não se conheça o mecanismo de ação da substância, seu potencial antifúngico é

inquestionável, sendo apontado como alternativa econômica ao itraconazol

(MAHAJAN, 2014; OROFINO-COSTA et al., 2013). Entretanto, os pacientes

desse estudo comunicaram que a solução está sendo comercializada por valores

superiores ao itraconazol, chegando a custar R$ 400,00 (quatrocentos reais) o

volume de 100 mL em novembro de 2016. Essa quantidade cobre apenas um

mês de tratamento, considerando a média da dosagem terapêutica, cerca de 3,5

g ao dia (OROFINO-COSTA et al., 2013). Sendo assim, uma das maiores

vantagens encontradas no iodeto de potássio para tratamento das infecções

cutâneas pelo Sporothrix não pode ser mais considerada pelo prescritor. A

excelente resposta observada nos pacientes desse estudo demonstra que a

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permanece, pois, como uma das alternativas nos casos de fracasso na terapia

com o triazólico ou quando a mesma não for recomenda, tanto em monoterapia

como associado ao triazólico (ALMEIDA-PAES et al., 2016; MAHAJAN, 2014;

OROFINO-COSTA et al., 2013).

Embora nenhuma medicação com ação antifúngica contra o Sporothrix

possa ser considerada confortavelmente segura para o uso em pacientes

grávidas, a literatura sugere, em casos de necessidade de abordagem

medicamentosa, a prescrição de anfotericina B (FERREIRA et al., 2012;

MAHAJAN, 2014; OROFINO-COSTA et al., 2011). Nesse inquérito, duas

pacientes grávidas foram tratadas com essa medicação e acompanhadas até o

parto. O tratamento demonstrou-se eficaz e não foi constatada nenhuma

intercorrência à mãe ou efeitos teratogênicos.

A opção pelo tratamento com terbinafina foi direcionada em um paciente

em uso regular de omeprazol pela possibilidade do inibidor de bomba de

hidrogênio prejudicar o tratamento antifúngico com o itraconazol. Embora haja

estudos afirmando que o omeprazol não reduz a absorção do itraconazol

(JOHNSON et al., 2003), há evidências consistentes de que a absorção do

itraconazol é prejudicada em condições que elevem o pH gástrico (KOJO et al.,

2017; MOU et al., 2011). Dessa forma, sugere-se que outras alternativas

antimicótica sejam consideradas em pacientes em condições de hipocloridria.

Os casos de esporotricose extra-cutânea apresentados pelos pacientes

dessa pesquisa foram tratados com dois esquema diferentes em função da

gravidade apresentada. Os dois casos mais graves foram tratados inicialmente

com anfotericina B, via endovenosa, e após alta hospitalar, seguido por

itraconazol 400 mg, ambulatoriamente, conforme sugerido na literatura

(KAUFFMAN, 2007). Um outro caso de osteomielite leve foi tratado com eficácia,

sem intercorrências, com itraconazol 400 mg/dia, encontrando-se ainda em

vigência de tratamento, com remissão satisfatória. A proposta para esta paciente

é manter o triazólico por dozes conforme orientação do IDSA (KAUFFMAN et al.,

2007).

O Sporothrix brasiliensis é o agente apontado com responsável pela

epidemia de esporotricose no Rio de Janeiro, além de ser a espécie do clado

patogênico mais relacionada com a transmissão zoonótica. Sendo assim, a

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identificação de S. brasiliensis em todos os isolados amplificados era resultado

previsível, corrobora com os dados da literatura e evidencia que a espécie é

capaz de provocar variadas manifestações clínicas, de diversos graus de

gravidade e apresentar perfil de resposta variado às terapias antifúngicas

(BRILHANTE et al., 2016; RODRIGUES et al., 2013; SANCHOTENE et al., 2015).

O caso clínico nº 1 apresenta uma paciente idosa, do sexo feminino,

imunocompetente afligida por lesão ulcerosa extensa, com bastante necrose e

danos teciduais severos, intensamente dolorosa, com história de mordida por gato

de rua coberto de lesões cutâneas e falha em antibacterianoterapia prévia.

Trata-se de um caso de esporotricose linfocutânea que evoluiu com

grave acometimento ósseo que resultou em amputação do primeiro quirodáctilo

esquerdo. O primeiro elemento de destaque no caso é a idade da paciente, que

levanta implica no reconhecimento do processo de imunosenescência, um

conjunto de alterações que o sistema imune sofre ao longo do envelhecimento.

É conhecido que a atividade imunológica decai com o envelhecimento

(AGOSTINHO, 2004), paradoxalmente com aumento da atividade inflamatória

(VASTO; MALAVOLTA; PAWELEC, 2006). Na população idosa observam-se

alterações quantitativas e qualitativas em elementos celulares e moleculares que

resulta gradativamente em prejuízo da atividade imunológica.

Embora a quantidade de neutrófilos não seja alterada durante o

envelhecimento, observam-se mudanças desfavoráveis na quimiotaxia, na

produção de espécies reativas de oxigênio, na apoptose e redução da sua

atividade fagocítica na população idosa (CRIGHTON; PUPPIONE, 2006;

PAWELEC, 2007). Fenômeno semelhante é encontrado nos macrófagos

(SOLANA; PAWELEC; TARAZONA, 2006).

A densidade de células Natural Killers (NK) está aumentada, porém sua

atividade está globalmente reduzida, resultando em declínio de sua ação

citotóxica e síntese de citocinas e quimosinas (KOCH et al., 2006). Vasto,

Malavolta e Pawelec (2006) observaram maior secreção de IL-6 e TNF-α em

células dendríticas de idosos, o que poderia explicar o aumento da atividade

inflamatória associada ao envelhecimento (STEINMAN; HAWIGER;

NUSSENZWEIG, 2003).

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Tanto a resposta humoral, quanto a celular estão afetadas nesse

processo, sendo unânime o entendimento que a resposta imune mediada por

células T está mais acometida do que aquela resultante das ações das células B

(SANTOS, 2003). Essa disfunção da resposta imune ao longo do envelhecimento

deixa os idosos mais susceptíveis a infecções em comparação à população mais

jovem (AW; SILVA; PALMER, 2007).

A paciente referiu ter sido mordida, há cerca de trinta dias, no primeiro

quirodáctilo esquerdo por um gato de rua coberto de lesões ulceradas. O tempo

de evolução clínica foi relativamente rápido, comparado ao observado para os

demais pacientes do estudo. É possível que a paciente, por ser idosa e com nível

de esclarecimento comprometido, tenha se equivocado em relação ao acidente

com o animal. Outra hipótese admissível seria uma resposta inflamatória local

exacerbada favorecendo a destruição tecidual extensa e rápida, bem como a

infecção pelo Sporothrix dos tecidos mais profundos. É possível que a cepa

envolvida no caso apresente fatores de virulência mais agressivos que aqueles

observados no gênero. No entanto, a avaliação dos parâmetros bioquímicos

associados aos processos inflamatórios, e a identificação de fatores de virulência

nos isolados não tenham sido objetos desse estudo. Embora o diagnóstico de

esporotricose não tenha sido estabelecido para o gato, os indícios apresentados

pela paciente, em associação ao diagnóstico conclusivo de esporotricose na

mesma presumem que o Sporothrix foi o agente responsável pelas lesões

cutâneas do animal, conforme descrito pela paciente.

A infecção de tecidos ósseos pelo Sporothrix pode ter ocorrido por

contiguidade, favorecida pela intensa inflamação local e perda tecidual. O

tratamento cirúrgico estabelecido pelo Departamento de Cirurgia geral levou em

consideração o sofrimento experimentado pela paciente, cuja dor não cessava

nem mesmo diante da administração de opiláceos, a extensão e profundidade do

acometimento ósseo, a prevenção de expansão ascendente outros ossos, a

idade da paciente e a sua capacidade de autocuidados.

O tratamento endovenoso com anfotericina B é preconizado para a

maioria dos casos de esporotricose extra-cutânea (KAUFFMAN et al., 2007). A

manutenção do tratamento com triazólico via oral por doze meses visa prevenir

reincidência e alcançar cura “esterilizante”. No caso em tela, a equipe do

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Departamento de Infectologia em conjunto com o Departamento de Cirurgia do

HUAP optou pela alta e suspensão dos antifúngicos após avaliação por critérios

internos, baseados na experiência das equipes. A equipe do Ambulatório de

Referência em Esporotricose LMMI-HUAP/UFF emitiu parecer diverso, orientando

a paciente manter a medicação por doze meses conforme o protocolo de prática

clínica para manejo da esporotricose da Infectious Diseases Society of America -

IDSA (KAUFFMAN et al., 2007). Por razões de ordem econômica, a paciente

optou pelas recomendações das equipes do Departamento de Infectologia em

conjunto com o Departamento de Cirurgia do HUAP. Embora a paciente tenha

perdido o seguimento pelo Ambulatório de Referência em Esporotricose LMMI-

HUAP/UFF negou, em junho de 2017, qualquer indício de recidiva ou

intercorrências no período. De todo modo, o tratamento de esporotricose

osteoarticular envolvendo amputação jamais foi relatado anteriormente, o que

pode significar que a aplicação do protocolo de prática clínica para manejo da

esporotricose do IDSA seja inadequado para esses casos (KAUFFMAN et al.,

2007).

O caso clínico nº 2 refere uma paciente jovem, do sexo feminino,

portadora de fibromialgia, imunocompetente afligida por lesão ulcerosa extensa,

com bastante necrose e dano tecidual severos, intensamente dolorosa, com

história de ferimento com espinho enquanto praticava jardinagem. Ela possui gato

diagnosticado como portador de esporotricose por veterinário habilitado e referiu

falha em antibacterianoterapia prévia.

Trata-se, também, de um caso de esporotricose linfocutânea que evoluiu

com grave acometimento ósseo, resultando em amputação da falange distal do

primeiro quirodáctilo esquerdo. O primeiro elemento de destaque no caso é a

idade da paciente, uma jovem imunocompetente afligida gravemente por uma

forma de esporotricose habitualmente associada com estados de

imunodepressão.

A paciente referiu ser portadora de fibromialgia de longa data, sem

assistência médica há dois anos. A fibromialgia é uma síndrome não-inflamatória

que cursa com dor musculoesquelética difusa, crônica, relacionada à

hipersensibilidade álgica à pressão superficial de determinados locais do corpo,

conhecidos como tender points e fadiga (RIBEIRO; PROIETTI; 2005). A relação

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da fibromialgia com a gravidade do quadro de esporotricose apresentado poderia

estar na maior tolerância psicogênica à dor que favoreceria a ocorrência de

lesões mecânicas no local do trauma inoculatório, permitindo a penetração do

Sporothrix em tecidos mais profundos.

A ausência de hábito de consumir bebidas alcoólicas, de infecção pelo

HIV, de uso regular de anti-inflamatórios ou outras drogas imunossupressoras,

bem como de quaisquer outras comorbidades que interferissem na capacidade de

resposta imune da paciente, sugerem que a proporção alcançada pela infecção

possa estar relacionada à virulência da cepa envolvida. Contudo, a avaliação de

fatores de virulência não foi objeto deste estudo. Para ambos os casos de

osteomielite, cabe ressaltar que o agente etiológico isolado, o S. brasiliensis, é

referido como a espécie mais virulenta do gênero (ARRILLAGA-MONCRIEFF et

al., 2009; FREITAS et al., 2015)

Embora não exista descrição na literatura para o tratamento de

manutenção nos casos de amputação do osso acometido pelo Sporothrix que, per

se, poderia ser medida terapêutica suficiente para extirpar a infecção, as equipes

do Departamento de Infectologia e de Cirurgia Geral do Hospital Universitário

Pedro Ernesto - UERJ e do Ambulatório de Referência em Esporotricose LMMI-

HUAP/UFF optaram pelo esquema terapêutico proposto pelo protocolo de prática

clínica para manejo da esporotricose do IDSA para infecções osteoarticulares

(KAUFFMAN et al., 2007). Mesmo porque, a cirurgia proposta pela equipe foi

extremamente conservadora, amputando parcialmente a falange distal sem

desarticulá-la. Até a conclusão desse estudo a paciente ainda encontrava-se em

seguimento ambulatorial conjunto entre as equipes do Ambulatório de Referência

em Esporotricose LMMI-HUAP/UFF e do Ambulatório de Infectologia do HUPE,

sem recidivas ou intercorrências.

O caso de recidiva de uma manifestação cutânea-fixa em um paciente do

sexo masculino, 56 anos, pardo, previamente hígido foi relatado por essa

pesquisa. O caso chamou atenção da equipe do Ambulatório de Referência em

Esporotricose do LMMI-HUAP/UFF em razão da reativação da lesão após cinco

meses de cura clínica, a ineficácia do tratamento com itraconazol, droga de

primeira escolha para tratamento de esporotricose cutânea e pela rápida

resolução após associação do triazólico com iodeto de potássio.

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A recidiva observada pode ter sido precipitada pela má adesão ao

esquema terapêutico proposto. Foi proposto para o paciente a prescrição de

itraconazol 100 mg/dia que deveria ser mantida até trinta dia após a cicatrização

da lesão. Embora o paciente tenha relatado uso regular do antifúngico enquanto

havia lesão ativa, assim que a lesão cicatrizou e paciente interrompeu o uso do

medicamento. Alguns estudos apontaram que a manutenção do triazólico por

trinta dias após a cura clínica reduz as taxas de recidiva.

A resposta ao itraconazol após a recidiva foi classificada como parcial,

uma vez que embora não tenha induzido involução da lesão, o medicamento foi

capaz de manter a infecção estável sem progressão. Testes de susceptibilidade

aos antifúngicos realizados nos isolados das duas biópsias sugeriram resistência,

in vitro, ao itraconazol e a outros antifúngicos (OLIVEIRA et al, 2015). Tais

resultados sugerem que a cepa isolada pode apresentar sensibilidade reduzida ao

triazólico in vivo. Outra hipótese infere que o itraconazol não foi capaz de eliminar

completamente a carga fúngica do tecido, resultando na reativação gradativa da

micose na ausência da ação fungicida do triazólico.

O iodeto de potássio poderia ser administrado em monoterapia nesse

caso (MAHAJAN, 2014; OROFINO-COSTA et al., 2013). De fato, essa foi a

recomendação da equipe do Ambulatório de Referência em Esporotricose LMMI-

HUAP/UFF. O esquema proposto foi ajustar a dose de iodeto de potássio diária

antes de retirar o itraconazol. No entanto, o paciente não compareceu

regularmente às consultas, apresentando-se ao ambulatório apenas quando a

lesão já estava cicatrizada. Dessa forma, o tratamento efetivamente realizado

nesse paciente foi a associação do triazólico com o iodeto de potássio, que se

mostrou segura e eficaz.

Uma evolução incomum da forma cutânea-fixa foi ilustrado por um

paciente de o sexo masculino, 20 anos, estudante e auxiliar de pedreiro,

previamente hígido. O caso destacou-se pela ocorrência em paciente jovem sem

comorbidades, imunocompetente, pela ineficácia do tratamento com itraconazol,

perfil de susceptibilidade aos antifúngicos do respectivo isolado sugestivo de

resistência ao itraconazol in vitro (CIM 8 µg/ml) e pela rápida e eficaz resposta

terapêutica à associação com iodeto de potássio.

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O paciente apresentou-se ao Ambulatório de Referência em

Esporotricose LMMI/UFF em uso regular de itraconazol 200 mg/dia há mais de

seis meses e história de biópsia prévia confirmando isolamento de Sporothrix em

cultura. Diante da história de infecção prévia pelo Sporothrix, nova biópsia foi

realizada uma vez que a lesão, em forma de placa, não ulcerada e sem

progressão, não se mostrava compatível com as lesões observadas nos

pacientes portadores de esporotricose (Figura 26).

Uma vez isolado novamente o Sporothrix, e diante de falha terapêutica

com itraconazol 400 mg/dia, a avaliação de seu perfil de susceptibilidade ajudou

esclarecer o quadro. Oliveira et al. (2015) descreveu que o CIM do itraconazol

para o S. brasiliensis situa-se entre 0,25 µg/ml e 0,5 µg/ml, sugerindo que o

isolado desse caso possa apresentar resistência ao itraconazol, justificando o

quadro clínico arrastado e de expressão incomum, bem como a rápida resolução

após inclusão de iodeto de potássio (Figura 28). Como o perfil de susceptibilidade

aos antifúngicos ainda não está bem definido na literatura, outras hipóteses

podem ser consideradas para explicar o inusitado caso, como baixa

biodisponibilidade do triazólico no sítio da lesão apresentada, má absorção do

fármaco, aumento do seu metabolismo, em todas essas conjecturas a ação

fungicida do itraconazol poderia estar prejudicada. Porém, a avaliação da

farmacodinâmica e farmacocinética dos antifúngicos não constituiu objeto desse

estudo.

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7. CONCLUSÃO

Indivíduos de ambos os sexos, de qualquer idade, etnia, nível de

escolaridade, residentes no Leste Fluminense são susceptíveis à infecção pelo

Sporothrix brasiliensis.

A esporotricose é mais frequente em pacientes do sexo feminino, brancas,

em idade economicamente ativa.

O município de Niterói-RJ abriga a maior população de pacientes

diagnosticados com esporotricose no Leste Fluminense.

A esporotricose, em Niterói-RJ, é mais frequente em residentes nos bairros

Fonseca, Cubango e Icaraí; já em São Gonçalo-RJ, é mais frequente nos

habitantes dos bairros Jardim Catarina e Rocha; em Itaboraí, nos bairros Caluge,

Nova Cidade e Sapê.

A transmissão zoonótica, através dos gatos, embora não exclusiva, é a via

privilegiada da infecção nos municípios do Leste Fluminense.

A forma clínica linfocutânea esporotricose é a mais frequente no Leste

Fluminense. A osteomielite é a única forma extra-cutânea diagnosticada nessa

região.

O perfil clínico-epidemiológico desta micose no Leste Fluminense é

significativamente diferente daquele observado na Capital do estado do Rio de

Janeiro;

Automedicação e uso prévio de antibacterianos é muito frequente nos

portadores de esporotricose no Leste Fluminense.

O Sporothrix brasiliensis é a única espécie isolada em pacientes humanos

no Leste Fluminense e é capaz de causar desde infecções cutâneas autolimitadas

a graves infecções extracutâneas; osteomielite grave em pacientes

imunocompetentes, inclusive.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO 1 – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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ANEXO 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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ANEXO 3 – QUESTIONÁRIO PADRÃO

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ANEXO 4 – Resumo: Surgical ambutation as a consequence of osteomyelitis due to Sporothrix brasiliensis in two immunocompetent nonalcoholic patients

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ANEXO 5 – Apresentação Oral: 2nd International Meeting on Sporothrix and Sporotrichosis ISHAM Working Group on Sporothrix

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ANEXO 6 – Resumo: Aspectos clíninco-epidemiológico e moleculares da esporotricose no Leste Metropolitano (Metro II) do Rio de Janeiro

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ANEXO 7 – Resumo: Esporotricose: a universidade e o poder público na abordagem de uma endemia urbana negligenciada

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ANEXO 8 – Resumo: Esporotricose cutânea de evolução atípica não responsiva ao itraconazol: relato de caso em área endêmica

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ANEXO 9 – Apresentação Oral: Promoção do atendimento clínico, do diagnóstico laboratorial e da notificação compulsória da esporotricose humano no município de Niterói, Rio de Janeiro