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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA CURSO DE TURISMO DEPARTAMENTO DE TURISMO RENAN HENRIQUE CIRILO DOS SANTOS TRANSPORTE PÚBLICO E POSSIBILIDADES TURÍSTICAS: A POTENCIALIDADE DE MADUREIRA, UM BAIRRO MULTICULTURAL Niterói 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA

CURSO DE TURISMO

DEPARTAMENTO DE TURISMO

RENAN HENRIQUE CIRILO DOS SANTOS

TRANSPORTE PÚBLICO E POSSIBILIDADES TURÍSTICAS: A

POTENCIALIDADE DE MADUREIRA, UM BAIRRO MULTICULTURAL

Niterói

2016

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá

S237 Santos, Renan Henrique Cirilo dos.

Transporte público e possibilidades turísticas : a potencialidade de

Madureira, um bairro multicultural / Renan Henrique Cirilo dos Santos.

– 2016.

88 f. : il.

Orientadora: Telma Lasmar Gonçalves.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) –

Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Turismo e Hotelaria,

2016.

Bibliografia: f. 84-88.

1. Turismo. 2. Transporte coletivo. 3. Transporte público urbano. 4.

Rio de Janeiro (RJ). 5. Planejamento regional. 6. Madureira (Rio de

Janeiro, RJ). I. Gonçalves, Telma Lasmar. II. Universidade Federal

Fluminense. Faculdade de Turismo e Hotelaria. III. Título.

RENAN HENRIQUE CIRILO DOS SANTOS

TRANSPORTE PÚBLICO E POSSIBILIDADES TURÍSTICAS: A

POTENCIALIDADE DE MADUREIRA, UM BAIRRO MULTICULTURAL.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Orientadora: Prof.a Dra. Telma Lasmar Gonçalves

Niterói

2016

TRANSPORTE PÚBLICO E POSSIBILIDADES TURÍSTICAS: A POTENCIALIDADE DE MADUREIRA, UM BAIRRO MULTICULTURAL

Por

RENAN HENRIQUE CIRILO DOS SANTOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo

BANCA EXAMINADORA

Prof.a Dra. Telma Lasmar Gonçalves

Prof. M. Sc. José Carlos de Souza Dantas

Convidado - UFF

Prof.a Erly Maria de Carvalho e Silva

Departamento de Turismo - UFF

NITERÓI

2016

AGRADECIMENTOS

Lutei bastante para estudar turismo, sobretudo em uma faculdade federal. Com

muitos receios e desafios, realizei este sonho e desfrutei de momentos muito

especiais.

Gostaria de agradecer, primeiramente, a meus pais, seu Jayme e dona Ingrid

por toda luta em proporcionar a melhor educação, essa vitória também é de vocês,

sem palavras para dizer o que representam para mim.

A meus irmãos, Allan e Mudo e também meu irmão de coração Gabriel, por

aturarem minhas lamentações e estarem sempre ao meu lado, acompanhando cada

vitória em minha vida e me apoiando sempre, muito obrigado. Mudo meu grande

revisor textual, obrigado!

A minha orientadora, querida professora Telma, maravilhosa, por acreditar no

meu trabalho e no meu potencial, não conseguiria sem sua preciosa dedicação e

pacientes orientações, muito obrigado!

A professora Erly pelo seu tempo e paciência em toda revisão deste trabalho e

por ser uma profissional incrível.

Ao professor Dantas por ter me emprestado alguns de seus livros e por toda

orientação e motivação com dicas precisas.

Gostaria de agradecer e muito a minha namorada, Marianne. Minha maior

motivadora esse tempo todo. Guerreira, conseguiu e ainda consegue me aturar esse

tempo todo. Merci Beaucoup mon petit lapin!

A turma 2012.1 pelos incríveis momentos durante todo este curso, com

destaque para meus amigos Lucas Kenji, Fernanda Nascimento, Leonardo Brans,

Beatriz Soares e Gisele Cardoso pela amizade, pela companhia durante todo esse

trajeto tornando-o menos pesados, vocês foram fundamentais, amo vocês amigos.

Obrigado!

Madureiraaa, lá lá laiá, Madureiraaa, lá lá laiá, Madureiraaa

Em cada esquina um pagode num bar

Em Madureiraaa

Império e Portela também são de lá.

Em Madureiraaa.

E no Mercadão você pode comprar.

Por uma pechincha você vai levar.

Um dengo, um sonho pra quem quer sonhar.

Em Madureiraaa.

E quem se habilita até pode chegar.

Tem jogo de lona, caipira e bilhar.

Buraco, sueca pro tempo passar.

Em Madureiraaa.

(Arlindo Cruz)

Resumo

A mobilidade e acessibilidade facilitadas por um eficaz sistema de transporte coletivo público, que tem na intermodalidade sua prioridade, podem incentivar o estímulo ao turismo em diversas localidades em uma cidade. Este trabalho é resultado de uma pesquisa sobre o estímulo ao turismo no bairro de Madureira, utilizando-se da nova logística dos sistemas de transportes coletivos públicos na cidade do Rio de Janeiro, proporcionada pelo advento dos megaeventos esportivos. Por meio da revisão bibliográfica foi possível contextualizar a relação entre os transportes e o turismo e uma pesquisa de campo possibilitou o conhecimento técnico da logística de acesso ao bairro de Madureira e entendimento dos seus atrativos. A partir dos dados coletados, foi possível obter um panorama da oferta turística de Madureira e propor alguns atrativos como forma de roteiro turístico, bem como apresentar um calendário dos principais eventos que ocorrem frequentemente no bairro. Notou-se, por meio do conhecimento de sua história, uma identidade cultural peculiar no subúrbio. Sua centralidade e facilidade de acesso pelos principais polos turísticos da cidade do Rio de Janeiro, podem ser um ponto chave para manter um fluxo constante da atividade turística e contribuir para o alcance dos objetivos do Programa Nacional de Regionalização do Turismo.

Palavras-chave: Turismo. Transporte coletivo público. Rio de Janeiro. Regionalização

do Turismo. Madureira.

ABSTRACT

Mobility and accessibility provided by an effective system of collective public transport, which has in the intermodality their priority, as well as they can encourage and stimu-late tourism in various locations in a city. This work is the result of a survey on the stimulus to tourism in the neighborhood of Madureira, using the new logistics of public transportation systems in the city of Rio de Janeiro, provided by the advent of mega sportive events. To contextualize the relationship between transport and tourism, a bibliographic review was done. Field research to get the technical knowledge of the logistics to access the district of Madureira and knowledge about its attractiveness also was realized. From the data collected, it was possible to get an overview of the tourism offer in Madureira and propose some attractives for tourist itinerary, as well as present a calendar of the main events that occur regularly in the neighborhood. Knowledge about its history provides a peculiar cultural identity to the suburb. To achieve the goals of the National Program of Regionalization of Tourism, the easy access and the cen-trality in relation to the main tourist poles of Rio de Janeiro city, might be the key point to maintain a constant tourist flow through this neighborhood.

Keywords: Tourism. Collective Public Transport. Rio de Janeiro. Regionalization of

Tourism. Madureira.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Esquema de transporte público aplicado ao turismo. 17

FIGURA 2 – Gráfico de melhorias para aumentar a utilização do transporte público. 24

FIGURA 3 – Movimento “Não vai ter Copa”. 25

FIGURA 4 – Ônibus BRT. 28

FIGURA 5 – Mapa de Estações BRT Transcarioca. 29

FIGURA 6 – Mapa do BRT Transoeste. 30

FIGURA 7 – Mapa do BRT Transolímpica. 31

FIGURA 8 – Mapa do BRT Transbrasil. 32

FIGURA 9 – Mapa do VLT após serem concluídas as três fases. 33

FIGURA 10 – Orientação com padrões do sistema BRS em ponto de ônibus. 34

FIGURA 11 – Mapa que abrange a Freguesia de Irajá. 40

FIGURA 12 – Recorde do traçado das Estradas de Ferro. 44

FIGURA 13 – Feijoada na Quadra da Portela. 54

FIGURA 14 –. Feijoada na Quadra da Império Serrano. 54

FIGURA 15 – Baile Charme de Madureira 56

FIGURA 16 –. Feira das Yabás. 58

FIGURA 17 – Sambistas saindo do trem após apresentação no Trem do Samba 60

FIGURA 18 – Parque de Madureira com Aros Olímpicos ao fundo. 63

FIGURA 19 – Área total de Madureira cortada pelas linhas dos quatro ramais de trem. 66

FIGURA 20 – Itinerário turístico em Madureira. 73

FIGURA 21 –. Legenda dos pontos de interesse turístico no mapa. 74

FIGURA 22 –. Localização da Central Única de Favelas 75

FIGURA 23 –. Trajeto entre o Baile do Viaduto de Madureira e G.R.E.S Império Serrano 76

FIGURA 24 – Trajeto entre G.R.E.S Império Serrano e o Parque de Madureira 77

FIGURA 25 - Trajeto entre o Parque de Madureira e G.R.E.S Portela. 77

LISTA DE SIGLAS

BRS Bus Rapid System.

BRT Bus Rapid Transit.

CNI Confederação Nacional da Indústria.

CUFA Central Única das Favelas.

EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo.

Fetranspor Federação das Empresas de Transporte de

Passageiro do Estado do Rio de Janeiro.

FIFA Federação Internacional de Futebol.

GPS Global Positioning System.

G.R.E.S Grêmio Recreativo Escola de Samba.

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

NTU Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano

MTUR Ministério do Turismo

PNMT Programa de Regionalização Nacional no Turismo

R&B Rhythm and blues

VLT Veículo Leve sobre Trilhos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1. INTEGRAÇÃO DOS TRANSPORTES E TURISMO, SEUS ELEMENTOS E

DIMENSÕES. ............................................................................................................ 15

1.1 RELAÇÃO TRANSPORTE E TURISMO .......................................................... 15

1.2 ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DOS TRANSPORTES E DO

TRANSPORTE TURÍSTICO .................................................................................. 18

1.3 TRANSPORTES PÚBLICOS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO ................... 22

1.4 PRINCIPAIS PROJETOS EM TRANSPORTE COLETIVO PÚBLICO DE

PASSAGEIROS NO RIO DE JANEIRO. ................................................................ 26

1.4.1 Bus Rapid Transit (BRT) ......................................................................... 27

1.4.1.1 BRT Transcarioca................................................................................28

1.4.1.2 BRT Transoeste...................................................................................29

1.4.1.3 BRT Transolímpica..............................................................................30

1.4.1.4 BRT Transbrasil...................................................................................31

1.4.2 Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) ........................................................... 32

1.4.3 Sistema Bus Rapid Service (BRS) .......................................................... 33

1.4.4 Linha 4 do Metrô no Rio de Janeiro. ...................................................... 34

2. MADUREIRA ........................................................................................................ 37

2.1 FREGUESIA DE IRAJÁ ................................................................................... 37

2.2 FORMAÇÃO POPULACIONAL NO SUBÚBIO DA CIDADE DO RIO DE

JANEIRO ............................................................................................................... 42

2.3 FORMAÇÃO SÓCIOCULTURAL DO BAIRRO DE MADUREIRA .................... 46

2.4 EVENTOS COMO EXALTAÇÃO DA MEMÓRIA E CULTURA POPULAR DO

BAIRRO DE MADUREIRA. .................................................................................... 52

2.4.1 Feijoada da Portela e do Império Serrano ............................................. 53

2.4.2 Baile charme de Madureira ..................................................................... 55

2.4.3 Feira dos Yabás ....................................................................................... 57

2.4.4. Trem do Samba ....................................................................................... 58

2.4.5 Parque de Madureira ............................................................................... 61

3 POSSIBILIDADES DE ACESSO À MADUREIRA POR MEIO DO TRANSPORTE

PÚBLICO. ................................................................................................................. 65

3.1 ACESSO PELO CENTRO DA CIDADE ........................................................... 66

3.1.1 Acesso através dos trens da Supervia .................................................. 66

3.1.2 Acesso através dos ônibus municipais ................................................. 68

3.2 ACESSO PELA ZONA SUL ............................................................................. 69

3.2.1 Acesso utilizando a Estação de Botafogo ............................................. 69

3.3 ACESSO PELA BARRA DA TIJUCA ............................................................... 70

4 PROPOSTA DE ROTEIRIZAÇÃO TURÍSTICA EM MADUREIRA E CALENDÁRIO

DE EVENTOS. .......................................................................................................... 71

4.1 MADUREIRA: A SÍNTESE DA CULTURA SUBURBUNA, ONDE A

“CARIOQUICE” SE EXPRESSA. ........................................................................... 72

4.2 CALENDÁRIO DE EVENTOS .......................................................................... 78

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 81

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 84

12

INTRODUÇÃO

Para que o fenômeno turístico aconteça, muitos fatores deverão ser levados

em conta e, dentre eles, a questão do transporte merece um destaque primordial.

Diversos são os meios de transporte a serem utilizados para o deslocamento coletivo

e podemos citar o ferroviário, o metroviário e o rodoviário. Com a flexibilidade, custo

baixo e acessibilidade facilitada, entre outros fatores, os transportes coletivos públicos

têm sido o meio mais utilizado por turistas e visitantes em uma localidade anfitriã.

O município do Rio de Janeiro, recentemente, obteve avanços significativos em

melhorias na infraestrutura de transportes coletivos públicos que foi ampliada com o

advento dos megaeventos esportivos na cidade. Com o aumento da demanda de

visitantes e turistas, somado aos residentes da cidade, uma consequente

intensificação na utilização destes transportes foi gerada e, para atendê-los de forma

eficiente, o espaço urbano da cidade teve que passar por uma reestruturação urbana

e novos meios de transporte foram introduzidos.

Para facilitar a mobilidade urbana, os principais investimentos realizados foram:

a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT); a expansão da malha metroviária

da cidade com a introdução da Linha 4; a reorganização do sistema rodoviário; o

melhor planejamento de outras rotas dos ônibus com determinação de algumas faixas

exclusivas, proporcionado pelo sistema Bus Rapid System (BRS); a introdução de

novas linhas como o BRT Transolímpica e BRT Transbrasil (em fase de construção,

até o momento) e o prolongamento do BRT Transoeste com a extensão denominada

Lote Zero, entre outras mudanças estruturais.

Quando há melhorias na infraestrutura, na operação e na logística dos

transportes, muitas vezes determinada por meio do incremento tecnológico, certas

localidades terão sua mobilidade e acessibilidade urbana aprimoradas. Com isso, o

desenvolvimento de diversos setores da economia ocorre e um deles é o turismo, que

pode usufruir de incentivos para a expansão do fenômeno na localidade.

Na cidade do Rio de Janeiro, muitos locais se beneficiaram com os avanços

proporcionados pelas transformações ocasionadas pelos transportes públicos. A

facilitação do acesso permite desfrutar das vantagens trazidas por este serviço e

13

aperfeiçoar seus atrativos, incorporando-os em produtos turísticos para fomento desta

atividade.

O bairro de Madureira, objeto deste estudo, região popular e cultural no

subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, com grande potencial de atração turística, foi

favorecido com estes avanços nos transportes coletivos públicos. O turismo está se

desenvolvendo no bairro e lhe conferiu visibilidade, inclusive internacional, com o

acontecimento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, havendo até mesmo promoções

do local em órgãos públicos competentes nos âmbitos nacional e internacional.

Diversos estudos, como os de Ribeiro (2003) e Martins Júnior (2002) provaram,

por meio da contextualização histórica do bairro, a relação simbiótica entre Madureira

e suas escolas de samba - Portela e Império Serrano – o que lhe confere uma

identidade singular no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro. Não podemos deixar de

citar o Jongo, patrimônio cultural imaterial brasileiro, forma de expressão simbólica

que Fernandes (2005), Boy (2006) e Simonard (2005) mostraram que foi eternizado

no Morro da Serrinha, em Madureira e reforça e enaltece ainda mais a identidade e a

pluralidade cultural do bairro.

A expressão e pluralidade cultural demonstrada através da musicalidade são

traduzidas nos eventos que ocorrem frequentemente em Madureira, promovidos pela

força popular, mobilizando milhares de pessoas. Neste estudo, enfatizaremos como

Madureira poderá manter um fluxo turístico circulante por seus atrativos. Para isso,

será proposto um calendário de eventos a fim de selecioná-los e promovê-los, bem

como seus atrativos com potencial turístico que serão coordenados e alinhados em

forma de roteiro turístico. O acesso será incentivado, tendo como prioridade a

utilização de transporte coletivo público como indutor de desenvolvimento econômico

e de fluxos turísticos.

Essas medidas vão ao encontro do Programa de Regionalização do Turismo

(PRT), promovido pelo Ministério do Turismo e que tem como algumas de suas

propostas: interiorizar a atividade turística; envolver a comunidade para a inserção no

mercado turístico; promover e resgatar valores sociais, históricos, culturais e políticos

no âmbito municipal, regional e local (MTUR, 2013).

A metodologia utilizada se baseia em pesquisa bibliográfica em livros, teses e

artigos que tratam dos transportes públicos coletivos, do turismo, do patrimônio e da

cultura popular, com intuito de fornecer elementos para o embasamento teórico e para

a concretização das análises. Além disso, a pesquisa caracteriza-se como empírica

14

na medida que foi desenvolvido um trabalho de campo visando à análise descritiva e

qualitativa do objeto de estudo, o que facilitou o conhecimento prévio do local, a

identificação dos atrativos e as informações pertinentes a eles.

O presente estudo compõe-se como conteúdo: Introdução, quatro capítulos e

considerações finais. O primeiro aborda a relação presente entre os transportes, seus

elementos e o turismo, com foco no transporte coletivo público e seus principais

projetos na cidade do Rio de Janeiro. No segundo capítulo, contextualizamos o bairro

de Madureira, desde os primórdios, abordando a criação de sua identidade cultural no

subúrbio carioca e seus principais eventos populares, responsáveis por parte de sua

notoriedade. No terceiro capítulo, abordaremos a possibilidade que turistas dos

principais polos turísticos do município do Rio de Janeiro: Centro da Cidade, Barra da

Tijuca e Zona Sul poderão utilizar para chegar ao bairro de Madureira. Incentivaremos,

como foco, a utilização para acesso, do sistema de transportes coletivos públicos da

cidade. Por fim, o quarto capítulo, apresentaremos uma proposta de roteirização

turística no bairro de Madureira, como incentivo para inspiração de criação de um

produto turístico consistente e estimularemos, através da criação de um calendário

dos principais eventos, uma demanda turística interessada no turismo de experiência

em festas populares que ocorrem com frequência em Madureira.

15

1. INTEGRAÇÃO DOS TRANSPORTES E TURISMO, SEUS ELEMENTOS E

DIMENSÕES.

A utilização do serviço de transportes coletivos públicos para fins turísticos é o

diferencial deste capítulo, que tem como propósito apresentar a relação existente

entre este modo de transporte e o fenômeno turístico.

Com foco no sistema de transporte público do Rio de Janeiro, são detalhados

os principais projetos de infraestrutura em mobilidade urbana pela qual passou nos

últimos anos e como estes projetos interferem no desenvolvimento turístico regional e

local. Temos como foco o bairro de Madureira que foi beneficiado com os avanços

proporcionados por este sistema.

Para concretização do objetivo, foi necessário recorrer a estudiosos do assunto

como Palhares (2002), Torre (2002), Page (2001), Di Roná (2002) entre outros, que

ofereceram suporte quanto aos elementos dos transportes, orientação e planejamento

dos mesmos para fins turísticos.

1.1 RELAÇÃO TRANSPORTE E TURISMO

A interdependência entre transportes e turismo é evidente, visto que para que

o turismo aconteça, necessariamente há de se ter um deslocamento no espaço.

Motivados por diversas razões, seja a lazer ou a negócios, utiliza-se algum meio de

transporte para se chegar no destino final. (ALLIS, 2002; PALHARES, 2002; PAGE,

2001).

O processo evolutivo do turismo como é conhecido atualmente se deve ao

surgimento e ao desenvolvimento de novos meios de transporte e suas tecnologias a

partir do século XVIII, com o advento do vapor, e que viabilizaram deslocamentos mais

rápidos, seguros e flexíveis para que o turismo pudesse se desenvolver em escalas

exponenciais.

Torre (2002, p. 6) aponta que não somente o turismo, mas toda uma sociedade

foi beneficiada com o desenvolvimento dos transportes e suas tecnologias que “fazem

do transporte um elemento ativo e progressista, com aperfeiçoamento sistemático”.

Page (2001), por sua vez, resgata o termo “encolhimento do planeta” devido à

velocidade e à facilidade de acesso às localidades no mundo inteiro, diminuindo os

16

limites geográficos e temporais; integrando territórios em virtude de uma melhor

capacidade de locomoção de maneira efetiva; proporcionando conforto e

confiabilidade no deslocamento, que de certa forma estimula o desejo de viajar e

aumenta o fluxo turístico. Numa perspectiva espacial, o que antes parecia um destino

distante para o viajante, agora pode ser alcançado em pouco tempo, a preços

competitivos. Portanto, o desenvolvimento de destinos turísticos está atrelado

diretamente às inovações dos meios de transporte.

Sendo um dos principais componentes de um sistema turístico, o transporte

pode desempenhar um papel benéfico de indutor de fluxos turísticos como também

de inibidor destes fluxos e até inviabilizá-los. Hall (1991) apud Page (2001, p. 17)

exemplifica os benefícios do transporte, destacando que a evolução do turismo na

Austrália é inseparável do desenvolvimento de novas formas de transporte. Castro e

Palhares (2013) contribuem, destacando os impactos negativos do setor de transporte

para uma localidade turística ao relembrarem o caso dos dois acidentes aéreos fatais

na década de 2000 no Brasil, envolvendo separadamente as empresas GOL em 2006

e TAM em 2007. Estes acidentes impactaram o sistema de transporte aéreo tanto

quanto os vários destinos turísticos brasileiros na medida que o medo de viajar de

avião influenciou e interferiu na decisão das pessoas. Outras optaram por alterar o

tipo de transporte, estimulando a adesão e crescimento de outros modais de

transporte em paralelo.

Com relação à atividade de transporte turístico, Page (2001) assinala que o

transporte também poderá constituir o ponto focal para a atividade turística como o

caso dos cruzeiros, viagens de ônibus ou trens panorâmicos). No entanto, há de se

orientar que “nem todo passageiro é um viajante, o transporte voltado para a indústria

do turismo – o transporte turístico – constitui um subproduto da atividade de

transporte”1 (PALHARES, 2002, p. 24).

Especificamente tratando sobre a atividade de transporte voltada para o

turismo, Palhares (2002) a define, de acordo com a figura 1, como:

1Neste caso, em específico, trata-se de diplomatas que adquirem uma passagem aérea para alguma

missão no exterior, membros das forças armadas em missões, imigrantes (PALHARES, 2002).

17

Figura 1- Esquema de transporte aplicado ao turismo

Fonte: Palhares (2002, p, 28)

A atividade-meio que interliga a origem de uma viagem turística a um determinado destino (e vice-versa), que interliga vários destinos turísticos entre si (primário e secundário) ou que faz com que os visitantes se desloquem dentro de um mesmo destino primário ou secundário (PALHARES, 2002, p. 28).

Torre (2002, p. 7) entende que o transporte é um “elemento socioeconômico, e

que seu conjunto não foi criado em função do traslado turístico”. Entretanto afirma que

quando o transporte adquire este caráter, novos pontos de relevância deverão ser

enfatizados, além da eficácia do deslocamento como o acesso a lugares de atração,

a comodidade do serviço, os horários convenientes, o complemento dos serviços

fundamentais (avião, trem ou ônibus) com outros secundários que permitem

transportar turistas sem perda de tempo até seu destino final (hotel, estação,

balneário) (TORRE, 2002).

O transporte como elemento de conectividade entre ponto de origem e destinos

primários e secundários “obedece aos movimentos turísticos, que pode ser turismo

receptivo, emissor ou interno” (TORRE, 2002, p. 7).

Para ressaltar o papel dos transportes no sistema turístico, será necessário

avaliar os elementos que o compõem e como se relacionam com a experiência

turística.

18

1.2 ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DOS TRANSPORTES E DO

TRANSPORTE TURÍSTICO

Com a finalidade de proporcionar o deslocamento de pessoas entre um ponto

de origem a um destino, os meios de transportes podem ser aquáticos, aéreos e

terrestres. Torre (2002) nos oferece suporte na breve definição entre eles:

Aquático: Caracteriza-se por ser marítimo, fluvial ou lacustre, todos

sendo prestados por serviços regulares e serviços turísticos;

Aéreo: Caracteriza-se por prestar serviços regulares, fretados

(“charter”), aluguel de pequenos aviões, aviões particulares e helicóptero;

Terrestres: Consistem em Trens, Ônibus, Carros (com serviços regulares

e turísticos), Trailers2, Motos e Bicicletas (Aluguel ou particulares) e Instalações com

mecanismos especiais3;

Em adição, Gonçalves (2008) enquadra os modos de transporte

especificamente turísticos em especializados e não especializados. Os especializados

são aqueles amparados por legislação específica para realizar transporte de

passageiros relacionados a excursões, passeios locais, traslados e também

transportes especiais. Quanto aos não-especializados, os passageiros utilizam de

todos os modos de transporte que não necessariamente possuem o objetivo principal

de turismo e neste caso, o transporte poderá ser tanto regular, quanto público ou

privado. Com isso, é possível concluir que visitantes e habitantes locais podem dividir

um mesmo tipo de transporte, e esta interação é questão que deve ser tratada com

uma eficiente análise sistêmica do transporte e turismo.

Page (2001) defende que a criação de uma estrutura capaz de analisar a

complexidade das relações que coexistem entre transportes e turismo é necessária,

pois sintetizará todos os diferentes fatores e processos que afetam a organização, a

operação e o gerenciamento de atividades associadas às viagens turísticas. Define

2São “Campers” de aluguel e particulares 3Funicular, teleféricos, telecateiras

19

então o sistema de transporte turístico como sendo “uma estrutura que incorpora toda

a experiência turística de viajar em uma forma específica de transporte” (PAGE, 2001,

p. 22).

Pelizzer (1978) apud Di Roná (2002), com uma visão mais técnica, concorda

que um sistema de transporte, para ser ideal, deve reunir os requisitos básicos de

qualidade resolvendo os problemas de deslocamento, tanto para os residentes,

quanto para os visitantes.

Interessa destacar os quatro elementos básicos do transporte de acordo com

Palhares (2002) e que fazem parte da constituição de um sistema de transportes:

Via: é o meio pelo qual o transporte se desenvolve, podendo ser

totalmente natural (ar ou mar) ou artificial (rodovias e ferrovias). O tipo de via é que

irá caracterizar o veículo indicado para promover a locomoção;

Veículo: os diversos veículos de transporte são constituídos para

operarem em determinado tipo de via e influenciarão a escolha do modo de transporte

pelo viajante. Sua tecnologia poderá apresentar maior flexibilidade e privacidade,

como é o caso do automóvel, ou maior velocidade, como os aviões e trens de alta

velocidade;

Força motriz: é aquela destinada a mover o veículo e está dimensionada

de acordo com a tecnologia necessária ao tipo de veículo e da via;

Terminal: é o lugar onde se tem acesso a um ou vários meios de

transporte. O mesmo também pode funcionar como ponto de transferência de um

modo de transporte para outro ou entre veículos de um mesmo modo.

Boniface e Cooper (2001) apud Palhares (2002) apresentam as classificações

dos meios de transporte em função de seus elementos (vias, veículos e força motriz)

bem como suas vantagens e desvantagens de cada modo, a saber:

Modo Rodoviário: O modo rodoviário conduz os passageiros em carros

e ônibus. A flexibilidade porta a porta é proporcionada por oferecer uma estrutura

rodoviária extensa que permite a construção de diversas rotas. Apesar disso, a malha

rodoviária traz consigo a desvantagem da grande quantidade de carros, que

ocasionam congestionamentos nas vias, atrasando o percurso da viagem.

20

Modo ferroviário: é composto por composições formadas por

locomotivas, carros e vagões, percorre através de trilhos e tem como força motriz

motores elétricos ou a vapor. A flexibilidade e agilidade são pontos positivos e por

conta da via não ser compartilhada com outros veículos não enfrentam problemas

com trânsito, além de comportar um volume significativo de passageiros

transportados. Contudo os pontos negativos são os altos custos operacionais devido

ser um sistema complexo de integração e não oferecer ligação porta a porta.

Modo aéreo faz uso do meio natural para o deslocamento. Sua via é o

ar e é através de aeronaves que o deslocamento ocorre. A velocidade adquirida é uma

grande vantagem e, deste modo o alcance proporciona o deslocamento a qualquer

ponto do planeta, com alta capacidade de transporte. Como desvantagem, os altos

custos de manutenção e operação bem como as regulamentações de segurança

encarecem o valor final ao consumidor.

Modo aquático: é aquele que transcorre pelos rios, mares e lagos. Os

veículos são os navios, barcos e ferries que entre si, variam de acordo com o porte e

a estrutura se diferencia das mais simples às luxuosas. A baixa velocidade e altos

custos compõem os pontos negativos; enquanto a apreciação da vista panorâmica,

atratividades da embarcação e o conforto são grandes vantagens.

Palhares (2002), ainda acrescenta outras características peculiares dos

transportes que podem ser:

Público ou privado: Transporte público se caracteriza como aquele em

que o acesso é permitido a qualquer pessoa, desde que se adquira passagens ou

bilhete para acesso, como os ônibus urbanos, interestaduais, os táxis, as barcas, os

aviões comerciais, etc. Quanto aos transportes privados são aqueles restritos a uma

determinada pessoa ou organização, como o automóvel particular, ônibus

contratados, e voos charters);

Modo: Os modos de transportes são os veículos utilizados para

deslocamento associado a suas tecnologias e ao tipo de via em que são operados,

podendo ser aéreo, ferroviário, rodoviário ou aquaviário.

21

Regular e não regular: O transporte regular é aquele que cumpre o

horário programado, sendo sua partida obrigatória, independentemente do número de

passageiros. O não regular são transportes que atendem uma finalidade específica,

sem a obrigatoriedade de cumprir horários e partidas, e inclui os Charters.

Doméstico e internacional: São respectivamente, os transportes que

acorrem dentro de um mesmo país e entre países.

Ávidos por vantagens, os consumidores de transportes, turísticos ou não, se

preocupam com a qualidade que este lhe proporcionará e estão cada vez mais

exigentes quanto à sua eficácia, estimulando a competição entre eles. Alguns

determinantes nas escolhas dos modais por parte do viajante são apontados por Torre

(2002), que cita como exemplo a comodidade, agilidade de movimento, alcance,

preço, rapidez e segurança.

O conceito de intermodalidade está ligado diretamente ao de acessibilidade,

visto que esta é facilitada pela coordenação dos modais de transporte e permite ser

ampliada favorecendo destinos turísticos ao expandir os fluxos ao destino.

Palhares (2002, p. 30) ressalta a importância da intermodalidade para o desen-

volvimento integrado e complementar da atividade turística:

Quanto mais interligado for um determinado terminal, maior possibilidade de escolha seus usuários encontrarão para chegarem ou partirem de suas via-gens (aeroportos e rodoviárias interligadas a metrôs estações ferroviárias com acesso a ônibus, etc.)”

Para os destinos turísticos, a falta de terminais que interliguem modos de

transporte, prejudica o desenvolvimento da atividade turística, uma vez que a

acessibilidade se torna deficiente. Quando não há uma interligação e uma

predominância de mais de um modo de transporte, passageiros e turistas perdem no

sentido de não poderem aproveitar os benefícios que uma competitividade entre um

modo e outro pode gerar como tarifas mais baratas e melhores serviços prestados,

por exemplo. (PAGE, 2001; PALHARES, 2002).

Nas seções seguintes, veremos a trajetória do desenvolvimento da mobilidade

urbana na cidade do Rio de Janeiro e como os transportes públicos podem oportunizar

22

o avanço de fluxos turísticos no subúrbio da cidade, com destaque para o bairro da

Madureira.

1.3 TRANSPORTES PÚBLICOS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Tão importante quanto os outros direitos básicos das pessoas como saúde,

educação e segurança, o direito ao transporte, é previsto por lei, na Constituição

Federal como direito social do ser humano4. O campo dos transportes tem sido

negligenciado na pauta do Governo Brasileiro durante décadas, com ações e projetos

que não contemplam as vantagens de um eficiente sistema de transportes, tendo a

intermodalidade um fator essencial, sobretudo levando a dimensão geográfica

brasileira em consideração.

Durante décadas, políticas públicas brasileiras contemplavam como destaque

dos planos de mobilidade urbana, a construção de estradas e rodovias para

interligações origem-destino. Havia concessões fiscais à indústria automobilística

visando baratear o preço dos automóveis e estimular a compra de veículos

particulares, bem como priorizar o ônibus como transporte coletivo público de massa

em detrimento aos trens e bondes que durante muito tempo não sentiram o peso dos

investimentos governamentais. Como decorrência, os bondes se extinguiram,

restando apenas poucos veículos (ABREU, 2013; RONÁ, 2002; PAGE, 2001).

Na segunda metade do século XX, o que se podia notar era um acúmulo de

carros e ônibus pelas vias urbanas que foram multiplicadas ao longo do tempo e

transportes públicos pouco utilizados com infraestruturas precárias e ineficientes,

colaborando para um sistema de transportes saturado.

A precariedade no setor de transporte público, gerador de crises de mobilidade

urbana perdura até os dias de hoje, fruto desta herança histórica (ABREU, 2013;

RODRIGUES, 2013). Objeto deste estudo, a cidade do Rio de Janeiro não escapou

deste cenário e não é de hoje que recebe críticas quanto ao seu desempenho no setor.

4Ementa Constitucional nº 90, de 15 de setembro de 2015, inclui no Artigo 6º da Constituição Federal

o transporte como Direito Social.

23

Segundo pesquisa realizada em 2016, pela empresa Tomtom5, líder global em

navegação e mapeamento por GPS, que objetivava apresentar um relatório com base

no Índice de Nível de Congestionamento6, a cidade do Rio de Janeiro se encontra na

4a posição entre as cidades em que os motoristas perdem maior tempo com

congestionamento, atrás apenas da Cidade do México, Bangcoc e Istambul nesta

ordem (TOMTOM, 2016).

Dados como esses, reforçam o argumento anterior no que diz respeito à nociva

herança histórica deixada pelas políticas públicas dos governos anteriores, bem como

a persistência dos governos atuais com a falta de investimentos em mobilidade urbana

na cidade, corroborando os efeitos da pesquisa.

Rodrigues (2013) observa que faltam reflexões mais sistematizadas, que

procurem valorizar as raízes históricas e a complexidade dos transtornos que

envolvem este setor, dado que não é mais possível conviver com um sistema de

transporte precário com a alta densidade populacional que possui a cidade do Rio de

Janeiro.

Uma outra pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI),

no ano de 2015, complementa a pesquisa anterior quando compara números relativos

à qualidade dos transportes públicos entre 142 municípios do Brasil. Revelou-se,

dentre alguns pontos pesquisados, que os brasileiros destacam que os transportes

públicos precisam melhorar os serviços, visando o aumento de demanda.

5Link relacionado a pesquisa: Disponível em: <http://www.tomtom.com/pt_br/trafficindex/list>. Acesso em: 20 set. 2016. 6Tempo adicional (em porcentual) que o motorista levará no trânsito em comparação com uma situação em que não há congestionamento.

24

Figura 2 - Melhorias para aumentar a utilização do transporte público.

Fonte: CNI (2015)

Ao analisar a figura 2, percebemos, em primeiro lugar, que a falta de mobilidade

e circulação nas vias urbanas afetam a popularidade e qualidade dos transportes

públicos. Porém, a diminuição do preço das passagens, no caso da cidade do Rio de

Janeiro, é um fator que necessita de uma melhor análise das autoridades públicas,

visto que a cidade dispõe de tarifas altíssimas em veículos que carecem de conforto

e segurança, que também são prioridades em destaque na pesquisa.

Tal fator foi observado, quando no ano de 2013 (Figura 3), massivas

manifestações populares tomaram as ruas da cidade. Um dos principais motivos das

reclamações era o aumento nas tarifas de transporte público. Somado a isso, estava

a contrariedade das pessoas com a aceitação dos megaeventos esportivos,

respectivamente, Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos Rio 2016, enquanto

o país inteiro carecia de investimentos em setores básicos.

25

Figura 3: Movimento “Não vai ter Copa”

Fonte: Movimento Estudantil Popular Revolucionário, 2013.

A realização dos megaeventos esportivos na cidade do Rio de Janeiro foi fator

preponderante para a intensa mobilização de recursos financeiros, provenientes das

três esferas de governo (federal, estadual e municipal) e profundo processo de

reurbanização dos espaços urbanos que transformaram toda conjuntura espacial da

cidade.

É fato que todo o investimento que foi disponibilizado para melhoria da

infraestrutura urbana contribuiu para deflagrar a “crise em mobilidade urbana”

(RODRIGUES, 2013), bem como novas manifestações.

Muito se comenta, em diversos artigos, sobre legados que ficarão para a cidade

do Rio de Janeiro e a discussão é vigorosa quando se questionam quais foram os

maiores beneficiados de todo este investimento. Porém, estes pontos não serão

tratados nesta pesquisa. Procuramos somente valorizar os fatores de sucesso que

contribuíram para uma melhor mobilidade urbana na cidade e como isto poderá ser

bem aproveitado pelo turismo, sobretudo nas regiões que antes dos megaeventos,

não eram exploradas pela atividade turística e incentivadas pelo poder público e

privado, como o caso do bairro de Madureira, que terá destaque neste trabalho.

26

A seguir, apresentamos tais propostas na mobilidade urbana que foram

entregues à população e as que ainda estão em andamento. Estão envolvidas nessas

melhorias à cidade, o estimulo a intermodalidade, que antes não era valorizada pelas

autoridades numa proposta de sistemas de transportes públicos eficiente.

1.4 PRINCIPAIS PROJETOS EM TRANSPORTE COLETIVO PÚBLICO DE

PASSAGEIROS NO RIO DE JANEIRO.

Muitas garantias e retornos de investimentos públicos foram aguardados pelos

cariocas durante muitos anos. Na tentativa de minimizar os impactos sofridos ao longo

dos anos, sem ações concretas no campo da mobilidade urbana, o poder público junto

com a iniciativa privada propôs uma reviravolta no setor, com inúmeras reformas.

Como dito anteriormente, as reformas visavam atender o público participante

dos megaeventos esportivos. Modelos de integrações entre transportes públicos que

pudessem satisfazer tanto o morador do Rio de Janeiro, quanto o turista que viria

aproveitar o Jogos, foram incentivados com novos modais que se estabeleceram e

algumas melhorias nos já existentes foram efetivadas.

Os transportes públicos no Rio de Janeiro há muito tempo não experimentavam

um sistema eficaz que valorizasse a intermodalidade. Havia um enorme desequilíbrio

entre a oferta de modais, acarretando diversos prejuízos de circulação. Poucas ações

concretas existiam no âmbito da intermodalidade, com alta dependência de ônibus

para integrar modais, gerando um enorme desequilíbrio no sistema de transportes. No

entanto, esta foi experimentada pelo poder público durante os eventos e pesados

investimentos foram destinados a alcançar esta meta. Os resultados obtidos em

algumas pesquisas7 comprovaram que os transportes públicos obtiveram êxito em

7O Observatório do Turismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) em parceria com o

Observatório do Turismo da Universidade do Paraná, realizaram uma pesquisa durante os Jogos que buscava identificar o perfil e a experiência do turista nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Revelou-se, a respeito da qualidade dos transportes públicos, que a avaliação média entre turistas nacionais e internacionais para o serviço público de transportes foi de 8,7, uma média quase excelente, tendo 10 como excelente. Uma outra pesquisa que reforça a satisfação dos turistas com a qualidade dos transportes durante o evento, foi aplicada pelo Ministério do Turismo. Apurou- se que 86,6% dos turistas consultados, dentre brasileiros e estrangeiros, avaliou como bom o serviço prestado pelos transportes. Quanto ao serviço de transporte público aos locais de competições, 80,2% das pessoas avaliaram como bom.

27

suas operações e o nível de satisfação, pelo menos na interpretação dos turistas que

vieram assistir aos jogos, foi alto.

Destacaremos algumas das principais intervenções nos transportes públicos

urbano de passageiros que ficam como legados de infraestrutura para a cidade do Rio

de Janeiro.

1.4.1 Bus Rapid Transit (BRT)

O BUS RAPID TRANSIT – BRT (Figura 4) é um modal de transporte operado

por ônibus expressos articulados, de média capacidade que começou a circular em

vias de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro para atender a demanda de

passageiros para os Jogos da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Sua vantagem se

dá pela circulação em vias de corredores exclusivas, com prioridade na sinalização

semafórica, se caracterizando como uma alternativa mais rápida de locomoção,

eficiência e qualidade no serviço prestado.

Além de benefícios de circulação, o BRT inova ao trazer a perspectiva de ser

um modal que preze pela sustentabilidade, utilizando tecnologias limpas, além de

reduzir congestionamentos, sendo muito utilizado para conectar outros modais de

transporte, por sua flexibilidade de acesso.

Possuindo capacidade média para transportar 160 pessoas, é uma criação

genuinamente brasileira, oriundo da cidade de Curitiba, e seus benefícios já alcançam

diversas outras cidades no mundo. (BRTBRASIL, 2016).

Durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, o BRT foi um dos principais

meios de transporte público utilizado pelas pessoas para deslocamento entre áreas

de competição. Entre os dias 5 de agosto a 18 de setembro de 2016, transportaram

aproximadamente 20 milhões de pessoas, segundo dados da Prefeitura8. (BRTRIO,

2016).

O Rio de Janeiro atualmente possui quatro corredores exclusivos para BRT,

três efetivamente circulando, denominados Transcarioca, Transoeste e Transolímpica

e apenas um em fase de construções, a Transbrasil. Detalhamos abaixo cada uma

delas.

8Link referente aos dados: Disponível em:<http://www.brtbrasil.org.br/index.php/brt-na-midia/629-

prefeitura-destaca-transportes-em-balanco-sobre-os-jogos-rio-2016#.V_RFXPkrK00>. Acesso. 5 set. 2016.

28

Figura 4: Ônibus BRT

Fonte: BRTRIO (2016)

1.4.1.1 BRT Transcarioca

Empreendimento inaugurado em 2014, este corredor expresso conecta o

terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha

do Governador, interligando 27 bairros da Zona Norte e Zona Oeste da cidade em 39

km de extensão.

Para efetivação do projeto, muitas obras de infraestrutura tiveram de ser

criadas. Destaca-se as mais importantes e de maiores impactos como a Ponte

estaiada Pereira Passos com 800 metros de extensão e o Mergulhão Clara Nunes

com quase 800 metros de extensão. Muitas linhas de ônibus foram extintas com a

viabilização deste traçado. Para atender a demanda de passageiros que as linhas de

ônibus demandavam, foram criadas 45 estações, dentre elas 5 estações são terminais

de integração com outros modais de transporte. (BRTRIO, 2016).

As integrações são realizadas também com outras linhas de BRT, como nas

estações Madureira Manacéia e Olaria9 e com outros modais tem-se os trens da

Supervia; a Linha 2 do metrô na estação Vicente de Carvalho; A integração com a

Transoeste e com a Transolímpica é dada no Terminal Alvorada, e com a

Transolímpica a integração é feita no terminal Centro Olímpico.

9Estação que não se caracteriza como terminal, mas possui integração com os trens do ramal Japeri.

29

Figura 5: Mapa de estações BRT Transcarioca

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro (2016)

1.4.1.2 BRT Transoeste10

Este corredor expresso foi o primeiro a ser inaugurado, em junho de 2002,

parcialmente. Sua construção foi realizada em duas fases. Na primeira fase, sua

ligação se dava entre os bairros de Santa Cruz e Campo Grande ao Terminal Alvorada,

na Barra da Tijuca, com 52 km de extensão, meio a 57 estações, cruzando os bairros

Recreio dos Bandeirantes, Guaratiba, Cosmos, Inhoaíba, Sepetiba e Paciência, todos

na Zona Oeste da cidade.

Nesta primeira fase de operações, as integrações com outros modais de

transporte aconteciam na estação Alvorada com a Transcarioca, nos terminais Campo

Grande e Santa Cruz com os trens da Supervia.

Em sua segunda fase, houve prolongamento do corredor, apelidado de Lote

Zero, interligando o Terminal Alvorada ao Jardim Oceânico com o metrô da Linha 4. A

inauguração deste novo trecho foi neste ano de 2016, coincidindo com o início dos

10 As informações técnicas contidas nesta seção foram extraídas da página oficial do BRT

(BRTBRASIL, 2016).

30

Jogos Olímpicos. A partir desta extensão, outras oito estações foram criadas e agora

a extensão total é de 60 km (BRTRIO, 2016).

Figura 6: Mapa do BRT Transoeste

Fonte: Diário de Transporte Coletivo (2013)

1.4.1.3 BRT Transolímpica

Este corredor expresso (Figura 7) foi um dos principais utilizados por residentes

e turistas durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Inaugurada em 2016

paralelamente ao Lote Zero da Transoeste, esta via expressa interliga os bairros do

Recreio dos Bandeirantes ao de Deodoro. Circula entre 18 estações pelos bairros,

Recreio dos Bandeirantes, Camorim, Curicica, Taquara, Jardim Sulacap, Magalhães

Bastos e Vila Militar, em 26 km de extensão (BRTBRASIL, 2016).

Sua integração se dá com os trens da Supervia em Magalhães Bastos, Deodoro

e Vila Militar e com outras faixas exclusivas de BRT na estação da Alvorada com o

BRT Transcarioca e BRT Transoeste, que também se integra na estação Recreio dos

Bandeirantes.

Esta via tem uma particularidade, pois diferentemente da Transoeste e da

Transcarioca, que possuem conservação das pistas sob responsabilidade da

31

Prefeitura do Rio de Janeiro, sua conservação é feita pela Concessionária ViaRio S.A.,

que administra o pedágio pela via (BRTRIO, 2016).

Figura 7: Mapa do BRT Transolímpica

Fonte: Diário do transporte coletivo (2016)

1.4.1.4 BRT Transbrasil

O BRT Transbrasil (Figura 8) é o quarto corredor a ser instalado na cidade e as

obras do corredor exclusivo visam interligar o Aeroporto Santos Dumont ao bairro de

Deodoro. As obras ainda estão em fase de conclusão, e as autoridades preveem a

inauguração para o final de 2017.

De acordo com informação constante em vídeo11 publicado pelo site BRT

BRASIL, este corredor expresso poderá beneficiar 900 mil pessoas por dia, em 32 km

de vias entre 28 estações. Estão previstas integrações com as rodovias federais BR

116 e BR 040, com os BRTs da Transolímpica e Transcarioca, com os trens da

Supervia, metrô na estação Uruguaiana e aeroporto Santos Dumont. Este é

considerado um dos empreendimentos mais desafiadores das autoridades públicas,

11Vídeo disponível no Link: Disponível em:<

http://www.brtbrasil.org.br/index.php/component/allvideoshare/video/transbrasil-deodoro-santos-dumont/default>. Acesso: 7 maio 2016

32

visto que o seu corredor irá trafegar na Avenida Brasil e fará interseções com outras

vias de rolamento de alta capacidade de circulação de tráfego de veículos, como as

Avenidas Francisco Bicalho, Presidente Vargas, Primeiro de Março e Antônio Carlos

Figura 8: Mapa BRT Transbrasil

Fonte: Obras de Mobilidade Urbana no Município do Rio de Janeiro s/d

1.4.2 Veículo Leve sobre Trilhos (VLT)

Um novo conceito em transporte público foi apresentado aos cariocas no ano

de 2016. O VLT (Figura 9) surge como um modal de transporte que chama atenção

nas ruas do Rio de Janeiro, por ser um modo de transporte movimentado sobre trilhos

e que divide o espaço nas ruas com carros e ônibus, sem vias segregadas como o

BRT.

A sua capacidade de transportar cerca de 400 pessoas em um veículo com

tecnologia sustentável, leve e que não emite sons pela cidade, faz este transporte ser

atrativo e competitivo.

Na cidade do Rio de Janeiro, o sistema foi pensado para ser totalmente

integrado com a rodoviária Novo Rio, barcas, trens, metrô, teleférico da Previdência e

o aeroporto Santos Dumont, visando facilitar o deslocamento de moradores e turistas

entre o Centro e a região portuária, integrando inclusive diversos atrativos turísticos.

Com extensão de 28 km, circulando por 32 estações, o VLT, quando todas suas

linhas estiverem em operação, terá uma capacidade de deslocamento de até 300 mil

33

passageiros (VLTRIO, 2016). Foi entregue à população do Rio de Janeiro no dia 5 de

junho de 2016 (PORTO MARAVILHA, 2016). O método de implantação se dividiu em

três fases, sendo a primeira: ligação da Rodoviária Novo Rio até o aeroporto Santos

Dumont, a segunda e terceira fase estão previstas para serem entregues no ano de

2017.

Figura 09: Mapa do VLT no Rio de Janeiro após serem concluídas as três fases

Fonte: PORTO MARAVILHA (2016)

1.4.3 Sistema Bus Rapid Service (BRS)

Em função de intensos congestionamentos, a cidade do Rio de Janeiro enfrenta

problemas diários em mobilidade urbana. Com a excessiva quantidade de veículos

que circulam na malha viária competindo o espaço de circulação com os ônibus,

principal meio de transporte utilizado na cidade, este serviço fica comprometido, não

conseguindo desempenhar seu papel com qualidade.

Nesse contexto, é necessário recorrer a projetos que priorizem o transporte

público em detrimento do transporte particular e individual. O projeto de

implementação do sistema BRS, vem sendo discutido e adaptado desde o ano de

2011, tendo como principal objetivo a dedicação de um sistema de corredores

expressos com faixas preferenciais para trafego de ônibus monitorados pela Prefeitura

e racionalização de algumas linhas, priorizando a reordenação e organização

(RIOONIBUS, 2016).

34

Este sistema foi idealizado com parceria da Prefeitura Municipal do Rio de

Janeiro e a empresa Rio Ônibus e foi necessária uma adaptação da população para

utilização deste serviço, visto que influenciou a rotina e organização do modo de viajar.

Para orientar os passageiros, uma prioridade desde sistema foi sinalizar os pontos de

parada com placas e adesivos (Figura 10), transmitir informações a respeito dos

números, origem e destino das linhas de ônibus e também disponibilizar estas

informações por meio de mapas com localização dos pontos (RJBR, 2016).

As linhas são divididas em BRS1, BRS2, BRS3, BRS4 e BRS5. A frota tem um

adesivo no vidro da frente para identificação. Este sistema já foi implantado em

corredores na Zona Sul, nos bairros de Copacabana, Ipanema, Leblon e também no

Centro e na Zona Norte, expandindo para outros pontos da cidade.

Para complementar as informações deste sistema, a Fetransport disponibilizou

o aplicativo Vá de ônibus para localizar as linhas e itinerários, mostrando as melhores

opções de deslocamento.

Figura 10: Orientação com padrões do sistema BRS em ponto de ônibus.

Fonte: RIOONIBUS (2016)

1.4.4 Linha 4 do Metrô no Rio de Janeiro.

Uma das principais obras de infraestrutura que o Rio de Janeiro presenciou

durante todo período anterior aos megaeventos esportivos, a linha 4 do Metrô interliga

Ipanema à Barra da Tijuca, com aproximadamente 16 km de extensão. Pela linha 4,

35

circularam 13,9 milhões de espectadores12 dos Jogos Olímpicos (PREFEITURA DO

RIO DE JANEIRO, 2016), sendo o principal modo de transporte utilizado para

deslocamento entre polos de competição. Esta linha é uma extensão da Linha 1

(laranja), mas de forma independente, os usuários precisam realizar uma integração,

sendo seu traçado alvo de muitas críticas.

A linha 4 atende aos bairros da Zona Sul carioca: Ipanema, Leblon, São

Conrado e Gávea e o bairro da Zona Oeste, Barra da Tijuca, em 7 estações, sendo

que a estação da Gávea está prevista para ser inaugurada somente no ano de 2018,

segundo informações do METRÔ RIO (METRO RIO, 2016).

Como ajustes operacionais necessários para atender à demanda posterior ao

acontecimento dos Jogos Olímpicos, a linha só foi liberada ao público no dia 19 de

setembro de 2016, com horário especial de 6h até 21h. Mudanças estruturais ocorrem

com frequência e estão sendo realizadas para testes de operações.

Além da introdução de novos modais e novos trechos para facilitar a

acessibilidade no Rio de Janeiro, investiu-se também em obras de saneamento

básico, revitalizações de estações dos trens da Supervia, criação de viadutos e

mergulhões, bem como novos trechos de estradas, como a Duplicação do Elevado do

Joá, que facilita o acesso por meio de rodovia à Barra da Tijuca entre outras

mudanças.

A reviravolta no setor de mobilidade urbana na cidade é notória. O acesso a

diversas áreas da cidade se faz de maneira mais rápida e eficaz do que era antes.

Com uma acessibilidade urbana melhorada, proporcionada por estes projetos, o

turismo tem sido elevado a outros patamares, alcançando diversos outros bairros

onde antes se notava baixo fluxo turístico ou fluxo inexistente. Bairros como Campo

Grande, Deodoro, Engenho de Dentro, Tijuca, Maracanã e Madureira,

experimentaram a prática turística e esperam se desenvolver com avanços desta

atividade.

No caso do bairro de Madureira, sua centralidade no subúrbio do Rio de Janeiro

proporciona uma acessibilidade vantajosa em relação aos demais outros bairros do

subúrbio carioca, sendo esta multiplicada após as obras de mobilidade urbana. A

12Só se tinha acesso à Linha 4, no período dos Jogos Olímpicos, turistas e residentes da cidade que

possuíam ingressos e cartão oficial dos jogos, o Bilhete Único Olímpico, sendo restrito às demais pessoas durante este período.

36

acessibilidade que já era vantajosa, ficou também mais rápida, gerando maiores fluxos

de visitantes que contribuem para a manutenção do turismo nesta região.

Com a realização dos Jogos Olímpicos, Madureira passou a ter mais destaque

pelos órgãos oficiais do turismo no município e no Brasil. A EMBRATUR, que propaga

o potencial turístico do Brasil em níveis internacionais, tem divulgado o bairro através

da página na web “Visit Rio”, lançando como principais atrativos do bairro o Mercadão

de Madureira, Patrimônio Cultural da Cidade e o Parque de Madureira, que abrigou o

“Boulevard Olímpico” no período olímpico.

A seguir evidenciaremos a história do bairro de Madureira com destaque para

seus pontos de interesse turístico e eventos frequentes.

37

2. MADUREIRA

Para concretização deste estudo, é fundamental apresentarmos o contexto

histórico do bairro de Madureira, desde seu surgimento até os dias atuais, a fim de

entendermos como se deu seu processo de desenvolvimento populacional e

sociocultural.

Para isso, inspiramo-nos em autores como Ribeiro (2003) e Martins Júnior

(2012) que contribuíram para explanação do processo de desenvolvimento da

Freguesia de Irajá, quando ainda não havia uma demarcação concreta do território de

Madureira. Recorremos aos estudos de Abreu (2012) que nos ofereceu suporte com

a contextualização da formação populacional do subúrbio e as principais modificações

pela qual a cidade do Rio de Janeiro passou desde o século XIX e a estudos de

Fernandes (2001) para entendermos este mesmo processo em Madureira.

Em seguida, apresentamos o processo de construção da identidade cultural de

Madureira, com destaque para os eventos que fortalecem sua memória preservada

no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro.

2.1 FREGUESIA DE IRAJÁ

A origem do bairro de Madureira remonta a um longo processo de modificações

ocorridas em seu território desde o ano de 1565, com as primeiras outorgas das

sesmarias13 por Estácio de Sá, até o ano de 1909, em que se tornou bairro e a partir

da década de 20, intensificou seu processo de ocupação e consequente urbanização

(RIBEIRO, 2003).

Ribeiro (2003, p. 41) nos indica que desde o ano de 1567 “há sucessivos

registros de concessões de sesmarias para a instalação de engenhos de cana-de-

açúcar que ocuparam lentamente essas terras, sempre fazendo o movimento do litoral

para o interior”.

13A instituição Sesmaria surgiu em Portugal, em princípio para oferecer aos camponeses e pobres a

oportunidade de disporem de pequenas extensões de terra para cultivo próprio. No Brasil, as sesmarias cobriam áreas extensas, e foram criadas para permitir que senhores abastados produzissem mercadorias que deveriam ser enviadas à metrópole para serem comercializadas no Velho Mundo gerando riqueza para o erário português (RIBEIRO, 2003).

38

O território de Madureira ocupava parte do que na época era a freguesia14 de

Nossa Senhora da Apresentação de Irajá em que Martins Júnior (2012, p. 41) nos

confirma que “foi criada em 1647 e compreendia boa parte das terras situadas no

sertão carioca, na antiga sesmaria concedida inicialmente a Antônio de França, em

1568”.

A freguesia do Irajá, na época se constituía em uma área estritamente rural e

seu território ocupava uma vasta extensão de terras. “Durante algum tempo a

freguesia do Irajá permaneceu como sendo a única unidade rural de todo território do

Rio de Janeiro, constituindo-se assim o principal fornecedor de produtos agrícolas

para toda cidade” (RIBEIRO, 2003, p. 24).

A economia do grande latifúndio na freguesia do Irajá tinha como principal

característica a exploração de cana de açúcar em engenhos espalhados por sua

extensa área e produção de seus derivados, açúcar e aguardente. Esses derivados

nos conta Ribeiro (2003, p. 25) “eram escoados nas partes navegáveis da freguesia

(principalmente a que se localizava próximo ao rio Meriti), indo direto ao porto do Rio

de Janeiro para sua exportação”.

Vargens e Montes (2001), citados por Ribeiro, afirmam que:

Embora a produção de açúcar fosse o objetivo principal dos engenhos cariocas, seus proprietários procuravam aumentar suas rendas dedicando-se também a outras culturas, voltadas ora para a exportação, ora para o consumo próprio e da população da cidade.

[...]. Assim dedicavam-se às culturas de milho, arroz, feijão, mandioca, ao cultivo de frutas e hortaliças, e à criação em pequena escala de aves, suínos e gado de leite e de corte. Havias iniciativas industriais incipientes, muitas para atender às necessidades de cada propriedade. Encontravam-se serrarias, olarias, engenhos de farinha, carvoarias, fundições, fábricas de móveis, utensílios de barro e de palha (2003, p. 25).

É importante destacar que as terras da Freguesia de Irajá, antiga sesmaria,

eram separadas por fazendas e estas eram propriedades de senhores de engenho

que se serviam, de acordo com Ribeiro (2003, p. 25) “primordialmente do braço

escravo, de início indígena e, depois, africano para lavrar suas propriedades”.

Martins Júnior (2012, p. 41) afirma que “um dos principais engenhos da

Freguesia de Irajá pertencia ao português Miguel Gonçalves Portela, que produzia

14Denominava-se freguesia cada parte em que se dividia a cidade. À medida que a cidade se expandia,

novas freguesias, urbanas e rurais, foram sendo criadas a partir dos desmembramentos das existentes (RIBEIRO, 2003).

39

rapadura, aguardente e cana de açúcar”. Outra propriedade importante pertencia a

Lourenço Madureira, que daria origem ao importante bairro do subúrbio carioca,

Madureira.

A história de Lourenço Madureira é emblemática para a consolidação do nome

do bairro, visto que seu nome “passa à história, como aquele que primeiro se

preocupou com o progresso e as benfeitorias no bairro, quando o mesmo ainda não

era reconhecido como tal” (RIBEIRO, 2003, p. 29). Lourenço Madureira era um dos

principais comerciantes da região e em 1816 arrendou as terras da fazenda Campinho

dos proprietários dona Rosa Maria dos Santos que era esposa e herdeira do falecido

Capitão Francisco Ignácio do Canto.

A prática de arrendamento de propriedades por senhores de engenho naquela

época é explicada por Ribeiro que orienta que:

[...] na maior parte das vezes não dispunha de recursos suficientes para adquirir mão de obra necessária para lavrar as vastas extensões de suas propriedades, estabeleceu-se a prática de arrendar parte delas a terceiros. Em troca, os arrendatários se obrigavam a beneficiar, no engenho do proprietário arrendador, toda cana-de-açúcar por eles plantada (2003, p. 25).

Com novos arrendatários e cada vez mais terras sendo doadas, a freguesia de

Irajá se desenvolveria explorando cada vez mais as extensas áreas da propriedade e

aos poucos bairros vão se consolidando e delimitando seus territórios.

Ao longo dos anos, ainda se mantendo exclusivamente rural, a fazenda de Irajá

era, a princípio, uma região extremamente pobre, onde não havia água encanada,

saneamento básico, nem calçamento, a única benfeitoria proporcionada àquela região

foi a expansão dos trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro ll, que ligava o centro ao

subúrbio.

Porém, de acordo com Ribeiro (2003, p. 25), “a primeira modificação notável

em seu território foi a desvinculação da circunscrição de Jacarepaguá (desvinculada

em março de 1661) ”. A segunda ocorrida em 1673, foi a “desvinculação de Campo

Grande, seguida pela circunscrição de Inhaúma (em 1743) e do Engenho Velho (em

1795) ”. (RIBEIRO, 2003, p. 25).

Na figura 11 podemos observar um mapa da região que abrangia a Freguesia

de Irajá e seus limites que deram origem a inúmeros bairros.

40

Figura 11: Mapa que abrange a freguesia de Irajá

Fonte: ABREU (1997) apud MARTINS JÚNIOR (2012).

No mapa, percebemos de forma mais clara, como a Freguesia de Irajá se

desmembrou e se formaram fazendas que hoje se modificaram e constituíram os

bairros do subúrbio do Rio de Janeiro. Após a fragmentação de terras, surgiram os

atuais bairros do subúrbio carioca, como “Oswaldo Cruz, Madureira, Irajá, Cascadura,

Vaz Lobo, Turiaçu, Bento Ribeiro, Marechal Hermes, Honório Gurgel, Campinho,

Rocha Miranda, Ricardo de Albuquerque entre outros” (MARTINS JÚNIOR, 2012, p.

42).

O bairro de Madureira era formado pela “Fazenda Campinho, somada à

Fazenda Portela, que abrangiam os atuais bairros de Campinho, Oswaldo Cruz,

Madureira, Turiaçu e Vaz Lobo, todos incluídos hoje na região administrativa de

Madureira” (RIBEIRO, 2003, p. 30).

A ferrovia surgiu como meio de transporte integrador em meados do século XIX,

quando a primeira linha férrea, a Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de

Ferro de Petrópolis, batizada por Dom Pedro ll de Estrada de Ferro Mauá, foi

planejada por Irineu Evangelista de Souza, mais tarde Barão e Visconde de Mauá em

1852. Percorria o trecho entre a Praia da Estrela, no fundo da Baía de Guanabara e a

localidade de Fragoso, próxima à Raiz da Serra de Petrópolis no Estado do Rio de

41

Janeiro. No dia 5 de setembro de 1853, o primeiro teste da ferrovia foi operado

deslocando a Locomotiva Baroneza (nome batizado em homenagem a esposa do

Barão de Mauá. Sua inauguração se deu no ano seguinte, no dia 30 de abril de 1854.

Notamos com o surgimento da primeira ferrovia, um esforço público em

expandir e dinamizar esta tecnologia. O desenvolvimento e a concentração em trazer

tais esforços numa tentativa de “urbanizar” e tornar o subúrbio acessível com a

instalação da Estrada de Ferro Dom Pedro II, que visava estabelecer a integração do

território brasileiro sobre trilhos, com dois ramais tronco: Rio de Janeiro - São Paulo e

Rio de Janeiro - Minas Gerais.

É significativo antecipar que a construção da Estrada de Ferro D. Pedro II só

se concretizou porque “se fazia necessário dar escoamento à produção dos produtos

agrícolas destinados à exportação e ao abastecimento interno” (MINISTÉRIO DOS

TRANSPORTES, 1983, p. 35). Seu primeiro trecho “foi entregue em 1858, da estação

Dom Pedro ll até Belém”15 (ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS, 2016) e “possuía apenas

seis paradas além dos terminais: São Cristóvão, Engenho Novo, Cascadura,

Sapopemba, Maxambomba e Queimados” (RIBEIRO, 2003, p. 31).

Com a criação dessas estações, o movimento populacional em seus arredores

começava a se intensificar. Particularmente, o Engenho de Dentro teve um papel

especial por ser a oficina onde se realizavam a manutenção e os reparos das

locomotivas, carros de passageiros e vagões nas oficinas de reparo. Foram

compradas terras para compreender “oficinas de limadores, de torneiros e

aplainadores de ferro, de caldeireiros, de fundição de ferro-bronze, além de carpintaria

mecânica e ferraria” (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 1984 p. 53). Podemos dizer

que se desenvolveu como sendo um bairro ferroviário, pois com o aumento na

demanda por reparos, escolas práticas de aprendizes foram sendo criadas e também

casas para os numerosos operários que trabalhavam nas oficinas, dando especial

característica a esta localidade.

15Atual estação de Japeri

42

2.2 FORMAÇÃO POPULACIONAL NO SUBÚBIO DA CIDADE DO RIO DE

JANEIRO

O prolongamento da Estrada de Ferro Dom Pedro ll foi significativo para

delimitação de novas áreas de exploração territorial. A criação de novas estações

ferroviárias gerou um intenso alargamento do espaço geográfico da cidade, iniciando

um processo de ocupação populacional acelerado no subúrbio que emergia aos

poucos. Projetos que almejavam o saneamento dessas áreas, até então,

predominantemente rurais, sem um tratamento sanitário ideal, também contribuíram

para esta expansão.

O processo de ocupação dos subúrbios tornou, a princípio, uma forma tipicamente linear, localizando-se as casas ao longo da ferrovia e, com maior concentração, em torno das estações. Aos poucos, entretanto, ruas secundárias, perpendiculares à via férrea, foram sendo abertas pelos proprietários de terras, ou por pequenas companhias loteadoras, dando início assim a um processo de crescimento radial que se intensificaria cada vez mais com o passar dos anos” (ABREU, 2013, p. 50).

Os caminhos, agora mais acessíveis, ao subúrbio se tornavam uma nova opção

de moradia fora do centro tumultuado. Com uma crise habitacional que crescia expo-

nencialmente, a busca por trabalho diário impedia que a classe proletária saísse do

Centro. Foi para o subúrbio somente uma fatia da população que não dependia da

busca incessante por trabalho no centro da cidade e possuía uma remuneração está-

vel. De acordo com Ribeiro (2003, p. 32) eram formados em sua maioria por “funcio-

nários públicos, militares, pequenos comerciantes não somente expulsos do centro da

cidade pelos preços de imóveis como pela busca de melhor qualidade de vida para

sua família”. Neste período, Ribeiro (2003, p. 32) afirma que ‘emerge uma “elite militar”

moradora desses locais’. Prova disso, são os bairros militares que se formaram ao

longo da estrada de ferro homenageados com nomes de militares importantes, como

por exemplo o atuais bairros de Deodoro, Marechal Hermes e Vila Militar.

A mobilidade das classes mais abastadas para uma zona oposta ao

crescimento dos trilhos da Estrada de Ferro de Dom Pedro ll foi realizada por

Companhias de Carris que levaram os bondes puxados a burros por trilhos no Centro,

em 1868. Novas e modernas áreas surgiram na zona norte e zona sul do Rio de

Janeiro, levando consigo uma urbanização crescente por onde passavam os bondes.

43

Para Abreu (2013, p. 37), o surgimento dos bondes, juntamente com os trens,

foram os dois elementos “impulsionadores da expansão do crescimento físico da

cidade” no século XIX. A reprodução de capital nacional, proveniente da acumulação

de arrecadação da expansão da atividade cafeeira, era empregada na construção de

imóveis nos locais atendidos pelo bonde e o capital internacional contribuía com uma

reforma urbana nestas áreas, como a instalação da iluminação a gás e posteriormente

elétrica.

O surgimento da eletricidade, particularmente, foi uma inovação importante na

questão da mobilidade urbana. Este serviço foi implementado pela companhia

canadense The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Co. Ltd, que posteriormente,

viria a ser conhecida como Light que somente iniciou os serviços de eletrificação nas

linhas férreas da E.F Dom Pedro ll, em 1937. Como consequência direta desta

implementação, o tempo médio de deslocamento dos percursos diminuíram e novos

carros poderiam circular aumentando a oferta de trens circulantes.

O Rio de Janeiro passava por progressivas fases de industrialização e

urbanização sendo realizadas em áreas prioritárias na capital. Eram constantes as

preocupações das autoridades com as doenças decorrentes da proliferação dos

cortiços que se reproduziam e afetavam diretamente a produção industrial e o

desenvolvimento de suas atividades. Para reduzir este fato, o Estado apenas

mantinha uma posição de controle e incentivava, por meio da iniciativa privada, a

construção de habitações populares “mais higiênicas”, mas não intervinha

radicalmente.

As preocupações aumentaram, mas o período ainda era favorável a mudanças

e prosperidade, haja visto que havia uma acumulação de capital abundante e um

capital internacional ativo investindo, em grande maioria, nos setores públicos da

cidade. A solução apresentada para a questão da superlotação e crise de habitações

populares no Centro e suas zonas periféricas era abrir o subúrbio para a classe

proletária. Decorrência direta disso, conforme observa Abreu (2013, p. 226), foi o

“funcionamento, nas décadas de 1880 e de 1890, de três outras ferrovias (Leopoldina,

Rio D’Ouro e Melhoramentos do Brasil) e do emprego de vultuosos capitais nas

atividades de promoção fundiária”.

A abertura de três novos eixos ferroviários na estrutura física dos subúrbios

esquecidos pelas autoridades, levou companhias nacionais e internacionais, bancos,

44

imobiliárias explorarem esta área mais facilmente, comprando muitos lotes de terras,

Abreu (2003, p. 226) nos conta que “não mais abriam uma ou duas ruas; criavam

bairros inteiros e vendiam os lotes a prazo” o que para muitos significava a

possibilidade de adquirir uma casa própria longe do centro da cidade.

Na figura 12 são apresentados esses eixos ferroviários que desbravam as

áreas periféricas no Rio de Janeiro, delimitando bairros conforme progrediam os

avanços.

Figura 12: Recorte do traçado das Estradas de Ferro

Fonte: Abreu (2013, p. 52)

Com uma acessibilidade melhor proporcionada pelos caminhos ferroviários,

muitos conseguiram moradia no subúrbio, sobretudo os recém trabalhadores livres

beneficiados com o fim do sistema escravista no final da década de 1880. Grande

parte desses novos moradores do subúrbio era negra com pouca ou nenhuma

instrução que vinha para a cidade em busca de um emprego para assegurar sua

sobrevivência e se alojava em cortiços ou encostas de morros.

O esgotamento do sistema escravista com consequente declínio da atividade

cafeeira “agravou consideravelmente o problema habitacional da cidade, pois levou

ao adensamento ainda maior dos cortiços e ao recrudescimento das epidemias de

febre amarela” (ABREU, 2013, p. 57).

45

Este fator ajudou, no ano seguinte, em 1889, a derrubar o governo de Dom

Pedro ll e proclamar a República no Brasil, iniciativa pressionada principalmente pelo

capital inglês. Neste período, a cidade já enfrentava graves problemas sociais e

econômicos, acentuados pelo rápido e desordenado crescimento e agora contava

com milhares de ex-escravos e imigrantes que invadiram a região central em busca

de oportunidades de trabalho assalariado na cidade.

Esse quadro favoreceu o “discurso articulado dos higienistas sobre as

condições de vida na cidade, os quais propunham intervenções drásticas para a

restauração do equilíbrio da cidade” (PINHEIRO; FIALHO JÚNIOR, 2006, p. 4).

Iniciou-se então a demolição de cortiços e habitações populares. Uma leva

populacional de pessoas de baixa renda e imigrantes tiveram como opção de moradia

o subúrbio e agora “o celeiro agrícola transformou-se, predominantemente, em zona

residencial de populações pobres” (MARTINS JUNIOR, 2012, p. 41).

Empesteada por doenças, a posição de controle de pragas que o Estado

mantinha já não vigorava, eram necessárias ações mais radicais de combate às

epidemias que devastavam a cidade. Intervenções drásticas na estrutura física da

cidade foram realizadas, processo que se consolidou definitivamente no início do

século XX, na administração do prefeito Pereira Passos. Não havia mais espaço para

o negro e o pobre no centro da cidade que seria remodelada aos padrões europeus.

As reformas urbanas no centro tinham como pretexto “melhorar a imagem, a

sanidade e a economia da capital federal” (AZEVEDO, 2003, p. 41). Essa

reorganização urbana acabou resultando numa cisão entre a cidade e o subúrbio

(ABREU, 2013). Houve então uma desapropriação de um sem precedentes de

pessoas com a demolição de cortiços, de milhares de casas, sobrados e prédios para

dar lugar a ruas mais largas e avenidas retilíneas. Os desapropriados agora se

alojavam em encostas de morros bem próximos ao centro, pois não conseguiam

migrar para o subúrbio. E neste período que “surgiu nova modalidade de habitação

popular: a favela” (PINHEIRO; FIALHO JÚNIOR, 2006, p. 4).

O remodelamento da cidade do Rio de Janeiro por Pereira Passos implementou

uma reformulação urbana que já se pretendia nas décadas anteriores e se utilizou

particularmente de dinheiro público para este feito. “A Reforma Passos representa o

primeiro grande exemplo de intervenção direta, maciça e abrangente do Estado sobre

o espaço urbano carioca” (ABREU, 2013, p. 222).

46

A reforma teve como principal influência os padrões franceses e se

sustentaram” no tripé: saneamento, abertura de ruas e embelezamento, e objetivou a

atração de capitais estrangeiros para o país” (PINHEIRO; FIALHO JÚNIOR, 2006, p.

6). A acessibilidade proporcionada pelas melhorias portuárias (grande foco do

governo) e sobretudo com o alargamento e construção de avenidas como a Avenida

Central16, proporcionou uma desconcentração urbana particular no centro,

solucionando problemas antigos de circulação de pessoas e logística.

A cidade do Rio de Janeiro presenciou anos de muitas contradições entre o

caos urbano com as intensas demolições e as suntuosas obras de arquiteturas como

o Theatro Municipal, a Biblioteca Municipal, chafarizes e jardins que eram sinônimos

de muito status e beleza. Nos bairros Flamengo e Botafogo, o aterramento com parte

da demolição do Morro do Castelo deu lugar à arborização e jardins em sua área. O

litoral da zona sul se beneficiou com avenidas enormes, saneamento e urbanização.

Consideramos importante ressaltar que, conforme nos indica Abreu, (2003, p.

223): “os melhoramentos executados aumentaram consideravelmente o valor do solo

urbano em diversos pontos da cidade (em especial no Centro e na Zona Sul, as áreas

mais beneficiadas) ”, fator altamente responsável pela expulsão das camadas mais

populares da cidade para outras regiões, como o subúrbio.

2.3 FORMAÇÃO SÓCIOCULTURAL DO BAIRRO DE MADUREIRA

O início do século XX foi um período em que o bairro de Madureira sofreu um

processo de ocupação populacional intenso em seu território. Já havia, no entanto,

uma circulação enorme de pessoas e mercadorias com os avanços dos trilhos da

Estrada de Ferro D. Pedro II desde 1861, quando se instalou a estação de Cascadura.

Fernandes (2001, p. 59) nos conta que “apesar de estratégicos, boa parte dos

terrenos de Madureira eram embrejados, o que deve explicar a demora da ferrovia em

instalar uma estação no local, o que se deu em 1890”, já no início da República,

quando o nome da E.F. D. Pedro II mudou para Estrada de Ferro Central do Brasil.

A população de Madureira cresceu ainda mais depois de inaugurada a Estrada

de Ferro Melhoramentos do Brasil, no ano de 1873, cujo primeiro trecho “ligava

Mangueira a Sapopemba (atual Deodoro), que já integrava a rede da Central”

16Atual Avenida Rio Branco

47

(ABREU, 2013, p. 53). O bairro de Madureira se encontrava num ambiente central

estratégico no subúrbio da cidade e com um amplo acesso à população. Foi

inaugurada mais uma estação de trem em sua área, a estação Magno17 que se

“situava no encontro das estradas Marechal Rangel e do Portela, uma procedente do

celeiro de Inhaúma e outra de Irajá” (RIBEIRO, 2003, p.32).

A localização espacial da estação Magno orientava o fluxo de pessoas também

para localidades adjacentes, “é por este trecho que hoje se chega a Turiaçu e Vaz

Lobo, onde se localizam atualmente os morros de São José das Pedras, Serrinha e

Sossego” (RIBEIRO, 2003, p. 32). No período entre 1896 a 1910, o número de

passageiro quadriplicou, passando de cinco milhões de passageiros a 20 milhões

(FERNANDES, 2001).

Fernandes ainda aponta que:

A posição de ímã exercida por Madureira se completou no princípio do século XX. Primeiro com o estabelecimento de uma linha de bondes para Irajá, em 1905, e em 1914 com a construção de um mercado atacadista ao lado da estação de Magno, cuja notável acessibilidade por bondes, trens e caminhões atraiu para si uma rede de comércio formada por lavradores, feirantes e atacadistas que já não precisavam se deslocar até a praça Quinze para negociar seus produtos. Tudo isso catapultou Madureira para a posição de segundo ou terceiro subcentro comercial da cidade, ao longo do século XX, disputando tais posições com a rica e chique Copacabana, sua grande rival (2001, p. 59).

A criação do Mercado de Madureira (um entreposto de hortifrutigranjeiros), hoje

conhecido como Mercadão de Madureira, em 1914, é apontada como iniciativa

pioneira em torno da qual outras lojas e serviços se desenvolveram. Aos poucos é

consolidada sua imagem como “capital dos subúrbios”. Não apenas o comércio é

utilizado como um índice de desenvolvimento, mas também a construção de casas e

edifícios “imponentes” é apontada como importante iniciativa para o progresso da

região suburbana. (FRAGA; SANTOS, 2015).

Primordialmente Madureira foi ocupada por uma população negra que migrou

após abolição, pois os engenhos da região estavam em declínio, havendo assim

grandes extensões de terra desabitadas. Seus espaços foram ocupados por uma

grande maioria que vinha de Minas Gerais e do interior do Estado do Rio de Janeiro.

Um terceiro grupo de migrantes, em menor número, era originário da Bahia e, poucos,

17Atual estação Mercadão de Madureira

48

do Espírito Santo (SIMONARD, 2005). Vieram também habitantes dos morros de

Santo Antônio, Castelo, São Carlos e Mangueira e outros que foram expulsos de áreas

valorizadas do Centro pela reforma de Pereira Passos e buscavam aluguéis mais

baratos e proximidade de amigos e parentes que já habitavam ali (RIBEIRO, 2003).

Quanto a este processo migratório, as famílias que se estabeleceram em

Madureira já possuíam um vínculo entre elas, uma cultura que lhes era particular e

estava intrínseca em sua vivência. Suas referências culturais foram levadas para o

novo bairro que posteriormente se misturou com os remanescentes das antigas

fazendas, e a partir desta fusão, uma nova forma de expressão cultural surgiria numa

identificação e socialização peculiar que se mantém até hoje. Como consequência, o

jongo18 foi uma forma de socialização entre eles. Simonard (2005, p. 2) acrescenta

que “O jongo foi importante para a interação e coesão social dos primeiros moradores

e sua prática era semelhante àquela retratada pela literatura que trata do período da

escravidão”. Algumas dessas famílias se instalaram no Morro da Serrinha, no bairro

de Madureira, e trouxeram com elas as rodas de jongo dançadas nas grandes festas

religiosas e/ou familiares (SIMONARD, 2005).

O Morro da Serrinha se mostrou um lugar ideal para as práticas e costumes do

povo negro que ali habitava. Os negros e escravos na época eram considerados povos

inferiores, não eram símbolos do progresso que estava havendo no país, sendo

marginalizados da sociedade. Os novos habitantes que migraram para o morro se

sentiram acolhidos e pertencidos àquele lugar, pois compartilhavam do mesmo

sentimento e estabeleceram nesse encontro o que Ribeiro (2003, p. 44) chama de

“rede de solidariedade e amizade” entre pessoas diferentes, hábitos diferentes, mas

com muitos aspectos em comum, como as danças, práticas religiosas, batucadas e

jongo.

A socialização entre os moradores se dava por meio das festas organizadas,

que eram comuns acontecerem semanalmente, nos quintais de casa19 e nos terreiros.

18 O jongo é um ritmo dançado pelos escravos em rodas organizadas durante as festas que

comemoravam os dias dos santos católicos e as festas familiares, desde que permitido pelo senhor. (SIMONARD, 2005, p. 1). 19Para Vargens e Monte (2000) apud Silva (2010) os quintais naquele período, não tinham a mesma conotação dos dicionários, mas sim, um espaço de reunião social para as tarefas do dia a dia, como também para momentos lúdicos.

49

Os convidados, além de serem brindados com muita festa e animação, desfrutavam

de um banquete extenso proporcionado pelas “tias”20.

Era nos encontros nos quintais que as pessoas se reuniam para louvar e

festejar algum santo em datas das grandes festas religiosas e festas familiares. (BOY,

2006). A grande concentração de pessoas nas manifestações religiosas sempre

acabava em samba e muita festa e até hoje há uma relação direta muito presente

entre eles. “Lugares como a Serrinha geraram blocos que estão entre os primeiros

que se transformaram em escola de samba, entre 1928 e 1932” (FERNANDES, 2001,

p. 63).

“O jongo influenciou decisivamente o nascimento do samba no Rio de Janeiro”

(BOY, 2006, p. 46). A respeito deste ritmo, Fernandes (2001, p. 43) complementou

afirmando que é fruto de uma “grande variedade de influências e bagagens culturais

de imigrantes recém-chegados, que através dele buscavam algum tipo de

enraizamento num meio ambiente inédito e muitas vezes hostil”.

Os próprios moradores construíam o lazer em sua própria comunidade e tais

festejos tomaram magnitude e visibilidade. Boy nos conta que:

As ladainhas, os blocos de carnaval, os pastoris, as casas de umbanda, o samba de partido-alto, o calango e o jongo da Serrinha ficaram famosos, atraindo a visita de intelectuais, políticos e artistas do outro lado da cidade para suas rodas de samba, festejos e umbandas (2006, p 51).

É interessante notar que os negros e mestiços, habitantes do subúrbio do Rio

de Janeiro, favelas e bairros populares, conseguiram através de seus espetáculos,

manifestar sua cultura e com muita resistência conquistar a hegemonia cultural na

cidade, mesmo sendo considerados raças humanas inferiores ou degeneradas na

qual seria impossível se manter presente frente a nação moderna e civilizada

(FERNANDES, 2001).

Fernandes (2001) ainda nos mostra que além dos jongueiros, havia mães de

santo e festeiros que nos anos 1920 fundaram blocos e participaram ativamente da

afirmação das escolas de samba.

20As tias eram mulheres do samba, normalmente mães de santo que disponibilizavam em suas residências espaços para rodas de samba e jongo.

50

A importância do Jongo da Serrinha para a cultura nacional foi reconhecida pelo

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em 2005.

O Jongo, manifestação cultural registrada pelo Iphan, em dezembro de 2005, como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e também conhecido como Tambu, Tambor e Caxambu, é uma forma de expressão afro-brasileira que integra percussão de tambores, dança coletiva e práticas de magia. Por seu intermédio, os membros da comunidade atualizam suas crenças nos ancestrais e no poder da palavra. O canto, baseado em provérbios, metáforas e mensagens cifradas, permite aos praticantes relatarem os acontecimentos do cotidiano e reverenciarem os antepassados. Presente em todos os estados do sudeste brasileiro, é uma herança cultural dos grupos bantos da África Meridional que foram trazidos ao Brasil para trabalhar como escravos nas fazendas de café, entre os séculos XVI e XIX. Atualmente, ainda está presente em periferias urbanas e em algumas comunidades rurais da região (IPHAN, 2011).

De fundamental importância à tradição e ao firmamento das escolas de samba

no Rio de Janeiro foi o bloco de dona Esther21 e seu marido Euzébio Rosas, o “Quem

Fala de Nós Come Mosca” que contribuiu para a afirmação de novos blocos e ranchos

que faziam a alegria do povo. Foi um bloco do subúrbio que teve grande influência do

samba moderno22, trazido por sambistas renomados da Deixa Falar, primeira escola

de Samba do Rio de Janeiro, criada de 1928 por Ismael Silva, do Estácio. Foi na casa

de Tia Esther que o samba chegou até Oswaldo Cruz, levado pelos sambistas da

Estácio como Ismael Silva e Heitor dos Prazeres que vinham para celebrações

religiosas e depois “caíam” nos sambas de roda (MARTINS JÚNIOR, 2012;

FERNANDES, 2001).

A importância deste bloco foi significativa pois era com a autorização de dona

Esther que outros blocos conseguiam desfilar, como o bloco fundado por Paulo da

Portela, Antônio da Silva Caetano e Antônio Rufino, “As Baianinhas de Osvaldo Cruz”.

Este foi o primeiro nome do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela criado em

1923, mais conhecido como Portela, escola de samba mais tradicional de Oswaldo

Cruz e a “mais antiga escola de samba em atividade permanente” (GRESPORTELA,

2016).

21Importante liderança religiosa que recebia políticos e artistas da cidade em sua casa. Dona Esther

adquiria privilégios como Alvará para desfilar seu bloco nas ruas por conta desta influência (FERNANDES, 2001). 22“Novo estilo de samba, diferente do estilo do samba amaxixado. Era um samba que permitia aos

“componentes dos blocos dançarem, ao mesmo tempo que caminhavam no desfile processional” (FERNANDES, 2001, p. 46).

51

Fernandes (2001) qualifica Paulo da Portela, Rufino e Caetano como “o

triunvirato” da Portela, pela forma que enfrentavam suas dificuldades, pela seriedade

de seus compromissos e diversidade de suas aptidões. A Portela, para manter o

prestígio que tem hoje em dia, passou por muitos altos e baixos, inclusive para se

tornar uma verdadeira escola de samba. Influências não faltaram para manter sua

tradição e sua alegria em prosseguir. Realizavam reuniões “em suas horas de folga,

debaixo de uma mangueira, em frente à casa de seu Napoleão, na estrada do Portela

461” (FERNANDES, 2001, p. 67) e também eram frequentes “na ‘sede móvel’ da

Portela, no trem da Central das 18h04, que mesmo depois da obtenção de sede fixa,

deve ter continuado a ser um dos meios de aglutinação daqueles sambistas”

(FERNANDES, 2001, p. 67).

O bloco carnavalesco do triunvirato portelense serviu de impulso para a criação

de novos blocos que surgiram. “O modelo de organização, que seria uma das marcas

de Paulo da Portela, se estabeleceu como um padrão na organização de outras

escolas” (MARTINS JÚNIOR, 2012, p. 47). Para comprovar tal fato, nasce uma escola

de samba na Serrinha, a “Escola de Samba Prazer da Serrinha”, em 1932, após ser

inspirada pela vitória do Conjunto Carnavalesco Osvaldo Cruz23 no concurso de 1929

organizado por Zé Espinguela24, em Engenho de Dentro. Boy (2006) mencionou que

após uma dissidência do bloco, mais tarde iria formar a Escola de Samba Império

Serrano, que tantas glórias proporcionou aos moradores da Serrinha em Madureira.

De acordo com Boy (2006, p. 52), o surgimento da Escola de Samba Império

Serrano, em 1947, na Serrinha, “difundiu uma autoimagem positiva que remetia a um

local bucólico, familiar e acolhedor, ao mesmo tempo que fortalecia, internamente, a

identidade e o sentimento de pertencimento de seus moradores”.

Este sentimento podemos encontrar nos diversos eventos que acontecem

todos os meses no bairro de Madureira que ressaltam e contribuem com a valorização

23Conjunto criado por Paulo da Portela e outros a partir de uma dissidência que houve com o bloco

Baianinha de Osvaldo Cruz. O Conjunto Carnavalesco Osvaldo Cruz a partir deste campeonato muda de nome e passa a se chamar Vai como pode e posteriormente se dá o nome que leva atualmente, Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, em alusão à localização de sua sede na Estrada do Portela. (PORTELA WEB, 2012). 24De acordo com FERNANDES (2001, p. 54) era um “chefe religioso do candomblé de muito prestígio,

polígamo segundo a tradição africana, sambista e fundador da Mangueira”.

52

da cultura afro-brasileira, pois seus indivíduos reforçam e enaltecem a identidade e

pluralidade cultural do bairro.

2.4 EVENTOS COMO EXALTAÇÃO DA MEMÓRIA E CULTURA POPULAR DO

BAIRRO DE MADUREIRA.

Dentre muitos benefícios que a captação de eventos de qualquer cunho pode

gerar para uma localidade, podemos citar a valorização da autoestima e o orgulho de

um povo em fazer parte de determinada localidade. No caso do bairro de Madureira,

este aspecto é altamente marcante em cada evento que acontece no bairro.

Como vimos anteriormente, apesar do Estado pouco ter contribuído com bene-

fícios ao subúrbio da cidade, sobretudo com projetos socioculturais, Madureira conse-

guiu preservar muitos deles e que foram marcadamente sacrifícios de seus moradores

e de comerciantes que apoiavam voluntariamente diversas manifestações culturais no

bairro. A forma como seus habitantes se uniam em prol de uma integração social,

buscando formas de pertencimento e de propagação de sua cultura se mantém em

eventos que ocorrem até hoje.

Madureira se consolidou por meio da música como “capital do samba” (FRAGA;

SANTOS, 2015) e “subúrbio musical” (RIBEIRO, 2003), ressaltando a força de sua

identidade e seu vínculo com o samba, ritmo facilmente encontrado em eventos por

todo bairro.

Os eventos que foram produzidos em Madureira, já mencionados, foram capa-

zes de mobilizar os mais diversos estratos da população. Para Fraga e Santos (2015,

p. 19, 20), a realização dos eventos no bairro “permitia a produção de uma igualdade

mítica, diluindo as diferenças sociais, étnicas e de origem, tornando todos suburbanos

e, ao mesmo tempo, brasileiros”.

A seguir apresentamos alguns eventos de caráter diversos que são produzidos

no bairro e são capazes de partilhar valores, símbolos, pertencimentos e identidades

nos visitantes e que são fortalecedores da cultural local.

53

2.4.1 Feijoada da Portela e do Império Serrano

A culinária, é considerada um elemento que se constituí como símbolo de iden-

tidade de muitos países. No Brasil, existe uma variedade de símbolos da culinária

nacional, podemos citar a peixada, o acarajé e a feijoada. A respeito da feijoada, este

é o prato “mais conhecido dos chamados ‘pratos nacionais’, tem como base a comida

do cotidiano” (MACIEL, 2004, p.33), pois a combinação “feijão com arroz” está pre-

sente diariamente nos pratos da maioria dos brasileiros e no imaginário do estrangeiro

que visita o Brasil, querendo degustar esta especialidade carioca.

“A feijoada como comida tipicamente nacional e apreciado por muitos é filha da

senzala e dos negros africanos e escravos no Brasil do período colonial”, (GOMES;

SILVA, 2008, p. 4). “Os senhores reservavam para eles a parte mais nobre do porco,

como o lombo e o pernil e enviava os restos desprezáveis, como patas, peles, orelha

e rabo às senzalas” (MACIEL, 2004, p. 33), dessa forma, estes restos descartados,

misturados com o feijão, formavam o prato que hoje é símbolo nacional carioca.

O samba sendo também considerado como um dos pilares da identidade cul-

tural brasileira, símbolo de negritude, tem estreitas relações com a feijoada. Nas fes-

tas, pagodes e rodas de samba que eram realizados nos quintais e terreiros em co-

memoração a dias de exaltação a santos religiosos e em muitas outras ocasiões que

os sambistas se reuniam, se oferecia a feijoada como banquete principal de celebra-

ção.

O Dia dos Pretos Velhos, comemorado no dia 13 de maio, é também o Dia da Abolição da Escravatura e, por ser uma data importante para a população negra, os jongueiros costumavam se reunir na casa de um morador para uma roda de jongo em homenagem aos antepassados. Na ocasião, preparavam uma feijoada, a comida dos pretos velhos segundo a umbanda, e antes de abrir a roda cantavam três pontos para as almas. (BOY, 2006, p. 48,49).

Como forma de continuidade histórica com o passado, a “feijoada da família

portelense” (Figura 13) surge em 2003, a partir da parceria entre o líder comunitário

Marquinhos de Oswaldo Cruz com a Velha Guarda portelense. Remetendo-se às an-

tigas rodas de samba, os visitantes além de curtirem um bom “samba de raiz”, degus-

tam de um bom prato de feijoada (PAVÃO, 2015).

A iniciativa do grupo era inicialmente realizar um evento com uma roda de

samba tradicional e uma boa mesa de feijoada, mas alcançou uma popularidade tão

54

grande que a pequena roda de samba logo se transformou em grandes shows por

artistas renomados do samba carioca e inspirou logo nas primeiras edições do evento

outras escolas de samba a realizarem festas com feijoadas e samba, mensalmente

(PAVÃO, 2015). E então, a partir daí um calendário mensal surge para não haver con-

corrências e atritos, sendo a feijoada portelense realizada sempre todo primeiro sá-

bado de cada mês e outra feijoada com grande destaque, da Império Serrano (Figura

14), todo terceiro sábado de cada mês.

As feijoadas nas quadras de samba como eventos de forte popularidade se

firmam como espaço de sociabilidade, simbolismos e união, recebendo pessoas de

toda a cidade que participam dessa grandiosa festa suburbana.

Figura 13: Feijoada na Quadra da Portela

Fonte: Google Imagens (2016)

Figura 14: Feijoada na Quadra da Império Serrano

Fonte: Google Imagens (2016)

55

2.4.2 Baile charme de Madureira

No final da década de 1950, o bairro de Madureira recebe em seu espaço, o

Viaduto Negrão de Lima, mais conhecido como Viaduto de Madureira, construído para

interligar, as áreas no bairro que eram divididas pelas linhas férreas das estações

Magno (atualmente Mercadão de Madureira) e Madureira. Abaixo do viaduto, ocorre

“o maior baile e melhor baile charme do Rio de Janeiro a mais de 25 anos” (VIADUTO

DE MADUREIRA, 2016).

Ambiente de sociabilidade e identidade cultural do bairro, a área ociosa abaixo

do viaduto, se tornou de fato um lugar se transformando em Espaço Cultural Rio Hip–

Hop Charme, dotado de sentido e significado periodicamente todos os sábados no

bairro de Madureira.

O baile charme de Madureira (Figura 15) é um evento que foi criado a partir da

inspiração de jovens sambistas do bloco carnavalesco “Pagodão de Madureira” que

ensaiavam debaixo do viaduto. A partir desses ensaios, iniciou-se um projeto

denominado “Charme na rua” do Viaduto de Madureira. (VIADUTO DE MADUREIRA,

2016). O projeto possuía influencias da cultura afrodescendente americana, em

manifestações culturais expressas pelo movimento do Hip hop, soul music e black

music dos anos 1960 nos Estados Unidos. A partir destas referências musicais que se

difundiram rapidamente nos bairros de subúrbio do Rio de Janeiro numa identificação

particular de seus hábitos e costumes, o charme surge como um ritmo peculiar da

hibridização cultural destas manifestações.

“O termo charme foi criado nos anos 80, no Rio de Janeiro, para designar uma

vertente do R&B contemporâneo25 executado por DJ’s em bailes do subúrbio, onde

ao som do hip hop e soul, os frequentadores ensaiavam passos para as músicas”.

(CHAO; FREIRE, 2013 p. 5).

No ambiente do baile, as pessoas já são contagiadas com o ritmo animado e

com músicas convidativas a danças que podem ter coreografias ou não e chamam a

atenção do público participante. A música pode ser sentida através das batidas

“charmosas” e dançadas em conjunto com outras pessoas ou não. O consumo da

25Desde a década de 1960 este ritmo passou a se referir a estilos musicais que se desenvolveram a

partir do blues e do associado eletric blues, bem como o gospel e a soul music. Disponível em: http://obaudoedu.blogspot.com.br/2012/02/rhythm-blues-afinal-o-que-e-isso.html. Acesso em: 15 out. 2016

56

música também pode ser realizado a partir da observação, dos laços afetivos

desenvolvidos, dos movimentos e passinhos combinados, dos estilos de vida e

sociabilidades que saltam nesse território do charme, onde vestuário, cores e linguajar

são determinantes para o sentimento de pertencimento desse lugar. (CHAO; FREIRE,

2013).

Em 1995, o reconhecimento do projeto pelo Governo do Estado do Rio de

Janeiro como instrumento essencial à cultura do bairro, tais como o Jongo na Serrinha

e as escolas de samba, o evento se torna parte da rotina cultural da cidade, atraindo

pessoas de toda a cidade. A partir desde reconhecimento, o projeto passa a se chamar

“Rio Charme” e em 2003 tem seu nome alterado para Espaço Cultural Rio Hip-Hop

Charme (CHAO; FREIRE, 2013).

A apropriação do espaço público residual por ações culturais do Hip Hop que

se materializaram no Viaduto de Madureira, consolidou uma nova identidade ao bairro,

que já tinha a sua imagem associada ao Jongo na comunidade da Serrinha, e ao

samba (COELHO; TAKAKI, 2009), ressaltando e valorizando ainda mais a cultura

negra e suas formas de expressões.

O baile charme ganha vez e voz em um espaço improvisado cujo as expressões

culturais dão maior visibilidade à juventude negra (predominante no evento). O baile

charme de Madureira se torna mais um espaço de lazer, e caracteriza-se como mais

um evento ligado à música e a dança na qual se valoriza a cultura popular e se

estabelece vínculos de afetividade e relações de pertencimento entre seus

participantes.

Figura 15: Baile Charme de Madureira

Fonte: GLOBO (2015).

57

2.4.3 Feira dos Yabás

O samba e a gastronomia típica da cultura popular brasileira são bem

representados na Feira do Yabás (Figura 16), que registra presença todo segundo

domingo de cada mês na Praça Paulo da Portela, nas proximidades do bairro de

Madureira. O evento, que acontece desde 2008, foi idealizado por Marquinhos de

Oswaldo Cruz que buscou inspiração nas tradicionais festas de quintais que

aconteciam no bairro de Oswaldo Cruz e Madureira, que eram compostas por muito

samba, jongo e fartura de comida nas mesas. A feira, é conhecida por Chao e Maia

(2016) como “cozinha a céu aberto” do grande quintal de Madureira.

O nome do evento é uma referência e uma homenagem prestada às mulheres

de Oswaldo Cruz e Madureira que tanto contribuíram para perpetuar a tradição e o

respeito pela cultura desses bairros. A etimologia do termo iabá (ou Yabá) é de origem

nagô, do idioma iorubá e é uma referência à simbologia feminina, da mulher que

acolhe, cozinha para seus filhos e no Candomblé é aquela que prepara a comida dos

santos (CHAO, 2015).

Por acontecer sempre aos domingos, a Praça Paulo da Portela se torna um

lugar para o tradicional “almoço de domingo”, reunião tão marcante na casa de

familiares que se reúnem em uma demonstração de amizade, união e sociabilidade

entre amigos e parentes.

No evento, comidas e quitutes são organizados pelas matriarcas do samba,

importantes personalidades do bairro, em gesto de preservação da cultura e da

culinária negra carioca, característicos do subúrbio. As iabás se reúnem em torno da

praça, ao todo 16 mulheres que Chao (2015, p. 10) nos conta que são “descendentes

de personalidades da música, de várias escolas de samba da região e da comunidade

do bairro” e apresentam pratos típicos da culinária afro-carioca, escolhidos por elas

para os participantes. Normalmente, os pratos que são apresentados ao público foram

escolhidos pelas iabás a partir de uma tradição familiar, como por exemplo, a famosa

tripa lombeira, prato oferecido nas rodas de samba e pagodes na casa de tia Doca na

década de 80, representado por sua sobrinha Rosângela que o oferece na feira

(CHAO, 2015).

Nem só de forte gastronomia se faz a Feira das Yabás. A combinação de

comida com rodas de samba é a união perfeita para marcar as festas de quintais.

Chao e Maia descreveram o evento como aquele que:

58

(res)significa como território de diversidade e pluralidade de símbolos, costumes e tradições. Oferece muito além de pratos típicos da culinária carioca – resgata a memória de sambistas e outras personalidades da história cultural, reverencia a cultura do jongo nas apresentações habituais e favorece o espaço musical para novos e conhecidos artistas (2016, p. 156).

A feira se consolidou no bairro de Madureira e Oswaldo Cruz e sua efetivação,

podemos dizer, é um grande marco na história do samba e da culinária afro-carioca

que tem sua memória preservada, sendo motivo de orgulho para todos participantes,

pela forte adesão popular ao evento.

Figura 16: Feira das Yabás

Fonte: Acervo próprio

2.4.4. Trem do Samba

A celebração do Dia Nacional do Samba, eternizado no dia 2 de dezembro, é

realizada todo o ano e vem alegrando a volta para casa de milhares de pessoas há

duas décadas nos trilhos da Central do Brasil. O evento intitulado “Trem do Samba”

(Figura 17), também conhecido por “Pagode do Samba”, partiu da iniciativa criativa de

um grupo de sambistas de Oswaldo Cruz em se apropriar de um espaço urbano

público, no caso um transporte de massas para homenagear o ritmo musical que é

marca registrada da cultura brasileira.

Desde os anos 1990, o trem como uma opção de deslocamento nos primeiros

dias de dezembro, se torna uma forma de lazer e turismo para qualquer pessoa que

59

utilize seus serviços nesta data. A inspiração para o projeto teve origem nos ilustres

sambistas, como Paulo da Portela, que na década de 1930, utilizava os vagões para

discutir os preparativos para o carnaval, produzir e cantar músicas e ainda utilizar

aquele meio de transporte como forma de resistência a perseguição de policiais com

o ritmo, na época. (GUIMARÃES; ALMEIDA, 2001)

Como marco simbólico, em alusão ao horário que os sambistas de Oswaldo

Cruz voltavam do trabalho cantando, batucando e festejando no trem das 18h05, os

“trens do samba” saem da Central do Brasil rumo a Oswaldo Cruz, deste horário em

diante (GUIMARÃES; ALMEIDA, 2011). No caminho fazem parada nas estações

Mangueira e Madureira para homenagear as notáveis velhas guardas destes bairros

“e 'reviver' a tradição do ambiente de amizade, cortesia e reverência atribuídos aos

sambistas do passado” (GUIMARÃES; ALMEIDA, 2011, p. 217). Os trens chegam em

Oswaldo Cruz como estação final “justamente por sua tradição como bairro ligado às

raízes do samba carioca” (MEIRELLES, 2013, p. 5).

Além de prestar uma singela homenagem ao samba, o Trem do Samba é “um

dos poucos eventos de grande porte direcionado prioritariamente para o povo,

realizado no subúrbio (e não no Centro e na Zona Sul como de costume) ”.

MEIRELLES (2013, p. 8).

O propósito do evento nas palavras de Marquinhos de Oswaldo Cruz é

“valorizar e celebrar o samba, uma das maiores expressões artísticas e culturais do

país, aproximando o público de seus ídolos, bem como valorizar sua história”. (TREM

DO SAMBA, 2016).

Guimarães e Almeida (2011, p. 217) ressaltam que “a valorização da cultura

negra, reconhecimento dos artistas locais pela indústria cultural, construção de uma

identidade positiva da localidade e elevação da autoestima de seus moradores”, são

um dos objetivos que este evento visa proporcionar para seus participantes e para os

moradores de Oswaldo Cruz. A esse respeito, a festa não termina nos vagões do trem

da Central. Quando chegam em Oswaldo Cruz, os participantes são contemplados

com rodas de sambas espontâneas que ocorrem pelo bairro, encontram com

renomados sambistas de Velhas Guardas e com a talentosa geração de novos

sambistas, agraciando o povo com shows de sambas antigos e recentes espalhados

em dois palcos pelo bairro de Oswaldo Cruz. Isto prova que o evento não negligencia

o talento da nova geração e o valoriza a fim de perpetuar a tradição do projeto.

60

A capacidade de atração deste projeto gratuito,, que aproxima pessoas que de

certa forma se identificam e/ou estão ligadas ao samba, só vem crescendo e tendo a

cada edição novos adeptos e novidades. A visibilidade e a proporção que alcançou,

despertou o interesse das iniciativas pública e privada, que hoje em dia patrocinam e

apoiam o evento e são responsáveis por muitas variações que acontecem. Esta

parceria foi responsável pela confirmação do evento no calendário oficial de eventos

da cidade e serve como um “esquenta” para o carnaval carioca, visto que a data

coincide com “o início dos ensaios técnicos na Marques de Sapucaí, com o

lançamento do disco das escolas de samba, com a proximidade do verão e com a

abertura da alta temporada turística” (GUIMARÃES; ALMEIDA, 2011, p. 221).

De organização comunitária e popular a um projeto artístico empresarial, o trem

do samba cativa a todos que participam, muitos se aventurando pela primeira vez no

subúrbio e ainda ajuda a intensificar aspectos culturais ligados à identidade negra,

formadores deste gênero musical, resgatando memórias e perpetuando tradição. Por

isso, se torna uma alternativa interessante para moradores de bairros próximos

também, como Madureira, que têm sua história confundida com a história do samba

e conta com a presença de renomados artistas que colaboram para firmação desta

grandiosa festa.

Figura 17: Sambista se organizando para apresentação no “trem do samba”

Fonte: Google Imagens (2016)

61

2.4.5 Parque de Madureira

O bairro de Madureira, por si só, já apresenta uma gama de opções de

entretenimento para seus moradores e visitantes que procuram por cultura, lazer e

diversão. No ano de 2012, o bairro foi contemplado com uma área destinada ao lazer,

turismo, cultura e esportes, e hoje configura-se como o terceiro maior parque da

cidade do Rio de Janeiro que conta com ciclovias, pista de skate, quadras

poliesportivas, riachos, quiosques entre outras atrações.

O Parque de Madureira (Figura 18) foi concebido dentro de um conceito de obra

pública sustentável, recebendo o selo Aqua, certificação de sustentabilidade da

Fundação Vanzolini. De suas instalações, os visitantes se beneficiam de uma área

total de 93 mil metros quadrados, rodeado por 800 árvores nativas, 450 palmeiras e

cinco lagos com fontes iluminadas, além de 52 mil mudas e 31.500 metros quadrados

de grama sintética, visando estimular a qualidade de vida de sua população. (CIDADE

OLIMPICA, 2012).

No Parque de Madureira, o samba tem espaço dedicado na Praça do Samba

em homenagem as suas Escolas de Samba, Portela e Império Serrano na qual

sambistas da Velha Guarda e novos bambas contemplam a população com shows

periódicos. A praça do samba abrange uma área de 1520 m² que possui palco para

shows e arquibancada para abrigar mais de 400 pessoas. (CIDADE OLIMPICA, 2012).

De acordo com o Projeto de Lei Nº 2928 de 2014 (2016), o Parque de Madureira

passa a ser o mais novo Patrimônio Histórico Cultural da zona norte, no bairro de

Madureira, neste sentido fica vedada qualquer alteração, reforma ou obra que altere

as características culturais do Parque de Madureira e esta nomeação tem como

finalidade preservar a cultura, o esporte e a memória da população fluminense26.

Além de ser um parque natural, o local é sobretudo um parque cultural. A Nave

do Conhecimento Silas de Oliveira que funciona dentro do parque é um centro de

ciência e inclusão digital em que todos visitantes, de forma gratuita, podem ter acesso

26Projeto disponível em: <

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/scpro1115.nsf/d9b480027c6a3c4d83257258006de468/4130efe1493989eb83257cc5006974be?OpenDocument>. Acesso em: 22 out. 2016.

62

a computadores e atividades que valorizam a ciência, educação e tecnologia, além de

telas de exibição de filmes ao ar livre.

A Arena Carioca Fernando Torres é mais um empreendimento do parque, um

espaço de socialização e integração da comunidade que contempla a cultura no

bairro. O espaço oferece espetáculos de música, teatro, dança, cursos e oficinas, além

de palestras gratuitas e/ou a preços populares. A arena é ainda um espaço para

socialização e integração.

No âmbito do esporte, o Skate Parque Jorge Luiz Souza “tatu’’ (homenagem a

um dos pioneiros do skate carioca) é a segunda maior pista de skate do Brasil e foi

planejada por grandes nomes do Skate Nacional. Segundo o Secretário Municipal de

Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osório, em entrevista ao Jornal O

Dia (2012), a pista é um espaço referência em acabamento, versatilidade e design. Já

foi palco de competições nacionais e internacionais como o “Oi Bowl Jam 2016” na

etapa Rio da World Cup Skateboarding, etapa que aconteceu em janeiro e recebeu

talentosos nomes do skate mundial, como Pedro Barros, Chris Russel, Greyson

Flecther, Felipe Foguinho, entre outros.

Em 2009, após o Rio de Janeiro ter sido escolhido para ser a sede dos Jogos

Olímpicos de 2016, os Aros Olímpicos, que simbolizam os cinco continentes que par-

ticipam das Olimpíadas, símbolo de grande relevância e prestígio para os Jogos, se

instalaram no Parque de Madureira. Sendo ponto de encontro e, agora, também car-

tão postal da cidade, os Aros Olímpicos têm sido atração turística para turistas e visi-

tantes do parque que registram inúmeras fotos deste símbolo.

O Parque de Madureira também foi sede do Boulevard Olímpico, e contou com

uma agenda oficial de atividades e eventos destinados a cultura e educação, bem

como uma diversidade de shows, sobretudo relacionados ao samba, durante os dias

de competição, atraindo milhares de visitantes que puderam também acompanhar os

jogos que aconteciam através de um telão de transmissões oficiais.

Descobrir o bairro de Madureira pelo ângulo proporcionado pela dimensão e

amplitude de seus eventos, é encontrar em cada um deles um pedaço da memória do

que este representa para a cidade do Rio de Janeiro. No samba e no jongo, outros

ritmos musicais encontraram-se inspirados em compartilhar do mesmo local e também

se firmaram em Madureira, onde puderam contribuir para afirmação de sua identidade

como “bairro musical”.

63

Os eventos ligados ao samba e ao jongo, ritmos que delinearam a imagem e

formação do bairro, contribuíram para afirmação de outros ritmos musicais que não

poderiam ser negligenciados e encontram em Madureira um lugar para se firmar e se

apropriar, trata-se do funk, do charme e do hip hop. Estes estilos musicais também

simbolizam Madureira como sendo um bairro com uma estreita relação com a música,

afirmando sua identidade como “bairro musical”.

Figura 18: Parque de Madureira com Aros Olímpicos ao fundo

Fonte: Google Imagens (2016)

Apresentados os eventos que contribuem para a afirmação da identidade do

bairro de Madureira no subúrbio carioca, abordamos a seguir, como a produção dos

eventos e seus atrativos, que por toda história e prestígio na cidade, foram salvaguar-

dados pelo IPHAN e podem colaborar para manter o turismo, uma atividade constante

no bairro, visto que sua popularidade alcançou níveis internacionais com a realização

dos Jogos Olímpicos na cidade do Rio de Janeiro.

Um fator importante a se entender é como se dá o acesso à região para usufruto

de tais possibilidades turísticas. Para isso detalharemos a logística a partir da

utilização dos transportes públicos. Entendemos que a utilização destes meios de

transportes possui uma estreita relação com a cultura popular suburbana no Rio de

Janeiro. É possível que haja um desenvolvimento na atividade turística, tendo o

transporte coletivo como forma de acesso às atividades turísticas em Madureira.

Utilizar os transportes públicos para fins turísticos é reconhecer que estes são

64

fundamentais para a população local e que sempre foram cenários para o

reconhecimento do desenvolvimento social, cultural, econômico e popular no bairro e

podem também ser entendidos como diferencial na prática turística proposta.

Explicamos a seguir, como utilizar os transportes públicos para acesso ao bairro

de Madureira.

65

3 POSSIBILIDADES DE ACESSO À MADUREIRA POR MEIO DO

TRANSPORTE PÚBLICO.

Por meio dos serviços prestados pelos transportes públicos de uma região,

muitas localidades, que não são contempladas pelo turismo, podem passar a se

beneficiar desta atividade. Tratamos a seguir sobre os transportes públicos circulantes

pelo bairro de Madureira, a fim de facilitar seu entendimento e contribuir para que haja

maior movimentação turística nesta região.

Priorizamos como regiões de origem das viagens as localidades das Zonas Sul,

Centro da Cidade e Zona Oeste, representada pela Barra da Tijuca, por serem áreas

onde a atividade turística é priorizada pelo poder público e onde se concentram os

principais atrativos turísticos da cidade do Rio de Janeiro.

Todos os caminhos foram pensados, estabelecendo um ponto de referência

próximo às estações de trem de Madureira e à estação de BRT Madureira Manacéia,

por se encontrarem no centro da área delimitada para estudo turístico proposto por

este trabalho posteriormente (ver capítulo 4).

Antes de tudo, para se deslocar com fins turísticos, é necessário que haja uma

sinalização turística eficiente que direcione os turistas até seu local de destino de

forma eficaz. A proposta de identificar o caminho a ser percorrido pelo turista para

acesso ao bairro de Madureira, é uma maneira de estimular a implantação deste

sistema de sinalização turística que priorize também localidades afastadas dos

grandes centros. Os aplicativos e páginas na Internet auxiliam com informações a este

respeito, porém são pouco divulgados e utilizados, e não contemplam todas pessoas.

Dessa maneira, é importante o estimulo à identificação física com totens, posto de

informação turística, mapas, placas, entre outras ferramentas.

Para esta pesquisa utilizamos alguns aplicativos de informação e a própria

página na Internet de cada modal de transporte público que foram utilizados para

oferecer suporte e precisão nos deslocamentos que serão detalhados. Os aplicativos

consultados foram: Moovit, Traffi e o aplicativo criado pela Fetranspor - Vá de ônibus,

que auxilia nas informações sobre os transportes por ônibus urbanos.

Vale ressaltar que inúmeros caminhos poderiam ser percorridos pelas regiões

demarcadas para origem, porém, priorizamos detalhar somente as rotas mais rápidas,

evitando muitas conexões que acarretam maior tempo de deslocamento.

66

3.1 ACESSO PELO CENTRO DA CIDADE

As viagens com embarque na região do Centro da Cidade podem ser mais

rápidas através dos ônibus municipais e dos trens da Supervia. Em relação aos trens,

estes atendem à região metropolitana do Rio de Janeiro, ao longo de 270 km de vias

férreas que abrangem um total de 12 municípios, divididos em cinco ramais27, quatro

extensões e 102 estações. (SUPERVIA, 2016).

3.1.1 Acesso através dos trens da Supervia

Utilizando a ferrovia para ter acesso à Madureira, podem ser escolhidos quatro

trajetos possíveis a partir da Central do Brasil. Os ramais que realizam esta viagem

são: Deodoro, Santa Cruz, Japeri e Belford Roxo e circulam pelas estações Madureira

e Mercadão de Madureira. Não há integração direta entre as estações e suas

localizações são responsáveis por dividir o bairro em três áreas diferentes, como

mostra a Figura 19.

Figura 19: Área total de Madureira cortada pelas linhas de trem dos quatro ramais de trem.

Fonte: Google Maps – Modificado pelo autor

27Os ramais são: Deodoro, Santa Cruz, Japeri, Belford Roxo, Saracuruna.

67

Ramal Santa Cruz (Verde):

No terminal Central do Brasil, o turista pode embarcar no trem expresso na

plataforma 6, escolher entre as linhas E ou F (ambas seguem este itinerário) e

desembarcar na estação de Madureira. O percurso dura em torno de 25 minutos até

a estação e a frequência de viagens, de acordo com o planejador de viagens da

Supervia, é de aproximadamente 16 minutos. Durante o percurso, o trem fará paradas

nas estações São Cristóvão, Maracanã, Silva Freire28, Olímpica de Engenho de

Dentro, Cascadura até chegar à estação de Madureira.

Ramal Deodoro (Vermelho)

O Ramal de Deodoro é servido pelos trens paradores que partem da estação

Central do Brasil. É necessário embarcar na plataforma 2, linha A ou B. Durante o

trajeto, o trem parará em 13 estações até chegar ao destino e o tempo estimado de

viagem é de 30 minutos. Os trens paradores possuem uma frequência menor, e, de

acordo com o Planejador de Viagens da Supervia, partem a cada 6 minutos.

Ramal Japeri (Azul)

Os trens de Japeri seguem o mesmo itinerário dos trens expressos do ramal de

Santa Cruz, o que difere será somente o sentido que mudará a partir da estação

Deodoro, não influenciando o trajeto à Madureira. Possuem também, de acordo com

o planejador de viagens da Supervia, a mesma frequência aproximada que o ramal

de Santa Cruz.

Ramal Belford Roxo (Roxo)

No Ramal de Belford Roxo, a estação para desembarque será a estação

Mercadão de Madureira. O percurso até a estação é percorrido em aproximadamente

30 minutos e há paradas em 9 estações até o destino. A frequência não é precisa,

variando entre 20 e 30 minutos, de acordo com os aplicativos consultados.

É importante destacar que a viagem por este ramal não é recomendável por

motivos de segurança. Através da ida a campo, utilizando este ramal, notamos que os

28O horário desta estação em dias úteis é de 10h às 15h e aos sábados de 06h às 14h07, não

havendo funcionamento aos domingos e feriados (SUPERVIA, 2016).

68

trens não oferecem infraestrutura ideal para o deslocamento, com material rodante

antigo, altamente deteriorado e estado muito precário e suas vias são altamente

perigosas para circulação de turistas.

3.1.2 Acesso através dos ônibus municipais

No trajeto por ônibus, tomamos como referência no Centro da Cidade a Avenida

Presidente Vargas, próximo à estação ferroviária e metroviária, Central do Brasil. O

ponto de referência para embarque é o BRS 5 Central, onde circulam as linhas de

ônibus 383 (Realengo x Praça da República), 391 (Padre Miguel x Praça Tiradentes)

e 363 (Vila Valqueire x Sulacap) e 346 (Madureira X Candelária) que passam pelo

bairro de Madureira até chegar em seus destinos finais. Em todas as linhas

mencionadas é possível o desembarque próximo à Estação de Madureira, que por

sua vez, também se situa próxima ao BRT Transcarioca, na estação Paulo da Portela

e Madureira-Manacéia.

Cada linha de ônibus foi indicada a partir da pesquisa nos aplicativos citados.

Realizou-se uma ida a campo para averiguar o tempo de percurso de apenas uma

das linhas, visto que este tempo é semelhante entre elas. Foi utilizada a linha de

ônibus 383, em uma sexta-feira, durante o período da tarde e todo o trajeto até o

destino final durou aproximadamente 45 minutos, em concordância com a indicação

dos aplicativos, com uma pequena margem de tempo em relação as outras linhas.

Todas as linhas pesquisadas tiveram como destino final o desembarque na estação

de trem Madureira.

Para utilização das linhas 391 e 363, indicamos desembarcar próximo à Rua

Ângelo Dantas, 681, a cerca de 5 minutos caminhando até a Estação Madureira e

para as linhas 346 e 383 deve-se desembarcar na Rua Maria Lopes, 147, situada

aproximadamente a 10 minutos da estação final. Utilizando um deslocamento mais

rápido como parâmetro até o destino final, por meio dos ônibus municipais,

recomendamos as linhas 391 e 363.

69

3.2 ACESSO PELA ZONA SUL

O principal meio de transporte público que representa a região turística da Zona

Sul do município do Rio de Janeiro é o Metrô, que oferece atualmente três linhas29para

deslocamento na cidade.

Utilizando as três linhas de Metrô, o acesso a Madureira será possível de forma

rápida, porém, os caminhos a serem percorridos serão diferentes.

Estabelecemos como estação de referência para saída na Zona Sul a estação

Botafogo, pois é uma estação com intenso fluxo, turístico ou não, e é estação terminal

da linha 2 e estação congruente à linha 1. Consequentemente também com a linha 4,

visto que esta é um prolongamento da linha 1.

Vale ressaltar que qualquer estação de embarque no Metrô nas linhas 1 e 2

poderá seguir este trajeto sugerido como parâmetro. O que diferenciará será apenas

o tempo de percurso.

3.2.1 Acesso utilizando a Estação de Botafogo

Após o embarque nesta estação, poderão ser utilizadas tanto a linha 1(verde),

quanto a linha 2 (laranja) sentido Centro da Cidade, desembarcando na Central do

Brasil.

Utilizando a linha 2 como acesso, o desembarque também poderá ainda ser

realizado na estação Vicente de Carvalho para a integração com o BRT Transcarioca

e ou na estação Triagem, para se integrar com o trem do Ramal de Belford Roxo.

Estas são opções mais demoradas, e no caso da segunda opção, a mais perigosa.

Seguindo a recomendação, com desembarque na estação Central do Brasil, o

caminho a ser percorrido será o mesmo já detalhado no tópico 3.1.1 e 3.1.2. O tempo

de acesso até esta estação é de aproximadamente 20 minutos, segundo o Planejado

de Viagem do Metrô, sendo percorridas oito estações de paradas.

29Linha 1 (Laranja) Uruguai- General Osório; Linha 2 (Verde) Pavuna-Botafogo; Linha 4 (General Osório – Jardim Oceânico

70

3.3 ACESSO PELA BARRA DA TIJUCA

Estabelecemos a região do Jardim Oceânico na Barra da Tijuca como ponto de

referência para partida na Zona Oeste, visto que o acesso a esta região foi facilitado

com a expansão da Linha 4 do Metrô e com o Lote Zero do BRT Transoeste, que

transformaram esta área com uma estação congruente a ambos meios de transporte.

A estação Jardim Oceânico foi uma das principais estações de embarque e

desembarque largamente utilizada por turistas durante os Jogos Olímpicos e Parao-

límpicos de 2016 para acesso às instalações olímpicas na Barra da Tijuca e em outras

regiões da cidade. Como estação de integração entre o metrô e o BRT, toda a região

da Barra da Tijuca pode alcançar facilmente esta estação, sendo também um dos

motivos de escolha para determinação de ponto de partida para acesso ao bairro de

Madureira.

O acesso mais rápido a Madureira, saindo desta estação, é com a utilização

do BRT. O caminho através do metrô da Linha 4 no sentido estação General Osório

também é possível, porém, não recomendável para deslocamento nesta zona turís-

tica, visto o tempo de viagem.

Ao embarcar na estação Jardim Oceânico, há um serviço expresso que seguirá

através do Lote Zero da Transoeste. O desembarque será na estação terminal Paulo

da Portela, em Madureira, realizando paradas em 12 estações durante o percurso, em

aproximadamente, segundo o Planejador de Viagens no BRT, 45 minutos.

Vale destacar que nos fins de semana e nos feriados o intervalo entre as via-

gens é maior, bem como seus horários de partida e chegada.

71

4 PROPOSTA DE ROTEIRIZAÇÃO TURÍSTICA EM MADUREIRA E

CALENDÁRIO DE EVENTOS.

A cidade do Rio de Janeiro foi protagonista do turismo internacional no Brasil,

nos últimos anos, com a realização dos megaeventos esportivos, como os Jogos Mi-

litares, a Copa do Mundo de Futebol, as Olimpíadas e as Paralimpíadas. Com grande

potencial turístico ainda a ser explorado, o Rio de Janeiro pôde experimentar cami-

nhos alternativos para que esta atividade se desenvolvesse, estimulando novos pro-

dutos turísticos e expandindo sua escala de abrangência regional.

A interiorização e o desenvolvimento de roteiros regionais estão no âmbito do

Programa de Regionalização do Turismo (PRT) e os órgãos públicos, tanto estaduais

quanto federais e municipais, têm demonstrado interesse no fomento à expansão da

atividade turística nas esferas regionais e locais. Dessa forma, melhor distribuição de

atividades de lazer em todo território nacional contribuiria para a redução das desi-

gualdades regionais (SANTIAGO; NOVAIS, 2005).

Uma das diretrizes propostas pelo PRT é a busca pela gestão descentralizada

do turismo, onde cada região e município busque suas próprias alternativas de desen-

volvimento, respeitando e valorizando suas realidades e especificidades (MTUR,

2013). Uma forma de contribuir para o lazer e estimular o turismo, é por meio da cria-

ção de roteiros turísticos. Entendemos por roteiro turístico “o itinerário caracterizado

por um ou mais elementos que lhe conferem identidade, definido e estruturado para

fins de planejamento, gestão, promoção e comercialização” (MTUR, 2007 p. 28).

Neste sentido, “Os roteiros não se resumem a uma visita a determinados atra-

tivos, mas representam uma importante ferramenta para leitura da realidade existente

e da situação sociocultural vigente na localidade” (SILVA; NOVA, 2010, p. 31).

Bahl acredita que:

Um roteiro turístico resume todo um processo de ordenação de elementos intervenientes na efetivação de uma viagem, podendo estabelecer as diretrizes para desencadear a posterior circulação turística, seguindo determinados trajetos, criando fluxos e possibilitando um aproveitamento racional dos atrativos a visitar (2005, p. 3).

Seguindo essas orientações, foi proposta neste estudo a criação de um roteiro

turístico pelo bairro de Madureira, como forma de produto turístico a ser desenvolvido,

72

percorrendo os atrativos de interesse turístico, com localização estruturada e organi-

zada. O roteiro visa apresentar os aspectos da localidade relativos à cultura, à história

e suas características locais de um modo geral.

Os elementos que norteiam o roteiro proposto são os equipamentos e

infraestruturas de turismo de lazer e turismo de caráter histórico e cultural destinados

ao desfrute e ao entretenimento e usufruídos pela população de Madureira e da

própria cidade do Rio de janeiro. Eles são determinantes para afirmação de seu

processo de identidade do subúrbio carioca e de valores simbólicos de caráter

histórico-cultural nessa região.

A proposição do roteiro e de um calendário de eventos vêm ao encontro das

diretrizes do PRT ao apresentar proposta para expandir e diversificar a oferta turística

e interiorizá-la, a fim de contribuir com o desenvolvimento e valorização da cultura de

Madureira pelo turismo. Segue, abaixo, a proposta de roteiro.

4.1 MADUREIRA: A SÍNTESE DA CULTURA SUBURBUNA, ONDE A

“CARIOQUICE” SE EXPRESSA.

Elaborou-se o roteiro turístico pelo bairro de Madureira, de forma sugestiva,

para conhecimento de alguns pontos de interesse. Ao longo do trajeto, a pluralidade

cultural, sua identidade no cenário carioca, bem como sua importância histórico-

cultural, sobretudo no tocante às raízes do jongo e do samba carioca, ritmos

salvaguardados pelo IPHAN como patrimônio cultural imaterial na cidade, serão

exaltados.

O roteiro será direcionado a todo tipo de público, sem distinção de

nacionalidade, idade, gênero ou classe social. Este roteiro visa atingir pessoas que se

interessem por turismo de experiência e queiram vivenciar e compartilhar momentos

de lazer e cultura popular no subúrbio carioca, se aproximando de sua realidade.

Os atrativos que compõem o roteiro são norteados pelo Espaço Cultural Rio

Hip Hop Charme, Quadra da Escola de Samba Império Serrano, Parque de Madureira

e Quadra da Escola de Samba da Portela. Além de ruas, prédios históricos e lugares

que fazem parte do convívio dos habitantes do bairro de Madureira. Sabemos que o

Mercadão de Madureira atrai muitos visitantes pela sua dinâmica e atratividade.

Porém, por questões de logística e de segurança aos turistas, optamos por não incluí-

73

lo em nosso roteiro, como explicaremos melhor no decorrer da apresentação do

roteiro.

Na Figura 20 é possível verificar a área delimitada no bairro por algumas

marcações dos pontos de relevância turística. Consideramos que esta área em

destaque apresenta características e potencialidades que podem ser aproveitadas

para o desenvolvimento do turismo no bairro de Madureira.

Figura 20: Itinerário turístico em Madureira

Fonte: Base cartográfica do Google Maps (2016) com traçado feito pelo autor

É conveniente apresentar os pontos turísticos relevantes na Figura 21 que

julgamos importante destacar no roteiro como oferta turística e estão demarcados na

área delimitada no mapa. As imagens figurativas representam alguns atrativos

relacionados a compras, cultura, lazer e diversão e os meios de transportes.

74

Figura 21: Legenda dos pontos de interesse turístico no mapa

Fonte: Google Maps (2016) – Elaboração própria

Os pontos A e F no mapa representam a Estação de Trem de Madureira, ponto

escolhido para início e fim do City Tour no bairro. O motivo de escolha da estação para

o começo do tour se deu pelo fato desta ser a principal estação do bairro, possuindo

integrações com o BRT Transcarioca e por ter passado, recentemente, por reformas

estruturais, tornando-se capaz de atender com qualidade a demanda de visitantes e

residentes da cidade.

O ponto B no mapa, compreende o Espaço Cultural Rio Hip Hop Charme que

se localiza abaixo do Viaduto Negrão de Lima, onde todos os sábados de cada mês

às 22h acontece o “Baile Charme” de Madureira. O local se encontra

aproximadamente a 300 metros da estação ferroviária de Madureira. Pelo caminho é

possível avistar o Centro Cultural da CUFA (CENTRO ÚNICA DAS FAVELAS) (Figura

22) que é uma organização não governamental criada em 2000, reconhecida por sua

inserção política, social, esportiva e cultural (CUFA, 2016). A CUFA foi criada a partir

da união entre jovens de várias favelas do Rio de Janeiro, majoritariamente negros,

“que buscavam espaços para expressarem suas atitudes, questionamentos ou

75

simplesmente sua vontade de viver” (CUFA, 2016). Junto com o Espaço Cultural Rio

Hip Hop Charme a CUFA explora ações culturais materializadas no Hip Hop.

Figura 22: Localização da Central Única de Favela

Fonte: Coelho e Tataki (2009)

O ponto C no Mapa, refere-se à Quadra da Escola de Samba Império Serrano,

local histórico e popular no bairro de Madureira, onde acontece todo terceiro sábado

de cada mês uma tradicional feijoada com shows de samba. Neste ponto, será

possível a entrada para fotografar a quadra. A Quadra se localiza a aproximadamente

650 metros do ponto 2 (Figura 23). Merecem ainda destaque na Rua Carvalho de

Souza: o vasto comércio informal e o Gabinete da XV Região Administrativa do Rio

de Janeiro. Passando por esta rua é possível verificar o Centro de Comércio São Luiz

na rua Ministro Edgard Romero, 81, criado na década de 1960 e mais conhecido como

Shopping dos Peixinhos, por possuir uma área de lazer no térreo para crianças e um

lago de peixes.

76

Figura 23: Trajeto entre o Espaço Cultural Rio Charme e o G.R.E.S Império Serrano

Fonte: Google Maps (2016) – Elaboração própria

No ponto D, no cruzamento da Rua Soares Caldeira com a Rua Antônio de

Abreu, localiza-se o portão principal do Parque de Madureira, terceira maior área de

lazer da cidade, que pessoas de todas as regiões frequentam. Neste ponto do roteiro,

é possível entrar no parque, gratuitamente e desfrutar de suas diversas atrações, bem

como fotografar.

Optou-se pelo trajeto até o Parque de Madureira através da Avenida da Portela,

uma das principais vias de circulação do bairro e segue o fluxo do trânsito. O acesso

pela Rua Conselheiro Galvão, (destacado na Figura 24 em cinza) é possível, porém,

é necessário cruzar a passarela localizada ao lado da Quadra da Império Serrano. É

uma passarela que cruza a estação de trem Mercadão de Madureira e é obstruída

pelo comércio informal de vendedores ambulantes, que misturados com o fluxo de

pessoas que saem da estação, acabam dificultando a circulação de pedestres.30

O trajeto até o Parque de Madureira é de cerca de 750 metros (Figura 24),

percorridos em torno de 10 minutos, caminhando pela Estrada da Portela e pela Rua

Soares Caldeira e nesta pode-se avistar também o Madureira Shopping, ponto de

destaque neste caminho.

30Este comércio informal situado no viaduto que cruza a estação de trem Mercadão de Madureira é um

dos principais motivos que escolhemos para não abranger o Mercadão de Madureira no trajeto do City Tour, devido à dificuldade de circulação de pessoas.

77

Figura 24: Trajeto entre G.R.E.S Império Serrano e o Parque de Madureira

Fonte: Google Maps (2016) - Elaboração própria

Após visita ao Parque de Madureira, o último ponto de visitação no itinerário

proposto é a Quadra da Escola de Samba Portela, a mais antiga de Madureira e

relevante para a história do Carnaval do Rio de Janeiro. O caminho, do portão de

entrada principal do Parque até a Quadra da Escola de Samba Portela, possui cerca

de 450 metros pela Rua Estrada da Portela e no encontro desta com a Rua Clara

Nunes se encontra a sede da escola (Figura 25).

Figura 25: Trajeto entre o Parque de Madureira e G.R.E.S Portela

Fonte: Google Maps (2016) – Elaboração própria

78

É importante destacar que a Rua Estrada da Portela é uma das principais do

bairro e o liga a Oswaldo Cruz. Por esta rua, é possível ter acesso à praça Paulo da

Portela. O nome da estrada e da praça são inspirados no sambista e compositor Paulo

Benjamin de Oliveira, um dos grandes nomes do Carnaval e do samba brasileiro e

também fundador desta tradicional Escola de Samba, mais conhecida como

“Portelão”.

A praça é referência no bairro e todo segundo domingo de cada mês acontece

a tradicional Feira das Yabás, um evento fortalecedor da identidade cultural de

Madureira que atrai milhares de pessoas, sendo um evento com grande potencial

turístico. Vale ressaltar que a visitação à praça Paulo da Portela, não foi incluída no

itinerário. Sua visita é melhor desfrutada no dia do evento Feira das Yabás.

Por fim, o retorno, no itinerário, é aconselhável ser feito pelo mesmo local de

início, a estação de Madureira. Há, no entanto, a opção para retorno pela estação

mais próxima à Quadra, a estação de trem de Oswaldo Cruz e linhas de ônibus que

circulam pela Rua Estrada da Portela e Carolina Machado.

No roteiro sugerido, os atrativos com potenciais turísticos relevantes, Mercadão

de Madureira e a Casa do Jongo, não foram incluídos pois suas localizações fora da

área delimitada, geram um problema de logística. No entanto, incentivamos a visitação

para seu conhecimento e sugerimos que ela aconteça às segundas-feiras.

4.2 CALENDÁRIO DE EVENTOS

A cultura popular carioca sempre esteve presente e valorizada em cada evento

que ocorre no bairro de Madureira. A valorização e o esforço de sua população para

que estes aconteçam frequentemente é uma realidade mantida pela comunidade. Tal

realidade é expressa na afirmação de Mette ao esclarecer que:

O objetivo de tais festejos, é o de promover a integração, o entretenimento, a manutenção e a valorização da cultura, garantindo acesso das futuras gerações a tais patrimônios. Estes eventos não podem acontecer de forma superficial, apenas com o intuito de captar maior fluxo turístico para a destinação, pois isso contribuiria para o gradativo afastamento da comunidade (2005, p. 85).

As festas tradicionais são elementos integrantes dos bens imateriais

pertencentes ao patrimônio cultural local e são capazes de refletir o que há de mais

79

original e típico em uma comunidade (METTE, 2005). A tradição e a frequência mensal

dos eventos em Madureira contribuem para a popularização de sua cultura e cada vez

mais atraem fluxos turísticos para esta localidade.

De forma sistemática Bahl (2005) apresenta alguns benefícios acarretados pela

ocorrência de eventos em uma localidade que quer se desenvolver turisticamente:

Os eventos geram fluxo de pessoas, agregam valor à oferta turística de

localidades e podem servir como instrumento de comunicação para a atração dos

participantes;

Podem se configurar como atrativo ou motivo principal para um

deslocamento, competindo com o apelo motivacional das atrações naturais e/ou

culturais de uma localidade;

Em alguns casos, os eventos podem suprir a ausência de atrativos e se

tornarem o próprio atrativo em uma localidade;

Possibilitam que o participante extrapole a sua condição de espectador

e participe de forma mais interativa das atividades na sua execução

Podem valorizar os conteúdos locais, culturais, econômicos e sociais da

região onde se desenvolvem, inserindo-os na programação ou como pano de fundo

do próprio destino;

Figura 25 - Calendário de eventos tradicionais em Madureira.

Eventos tradicionais no bairro de Madureira

Evento Data Local Horário

Baile Charme do viaduto de Madureira Todos os sábados

Espaço Rio Hip Hop Charme A partir das 22h

Feijoada da Família Porte-lense Primeiro sábado G.R.E.S. Portela A partir das 13h

Feijoada da Império Serrano Terceiro sábado G.R.E.S. Império Ser-rano A partir das 13h

Feira das Yabás Segundo domingo Praça Paulo da Portela A partir das 13h

Parque de Madureira* Terça a Domingo Rua Soares Caldeira, 115. A partir das 06h*

Fonte: Elaboração própria

*Consideramos o Parque de Madureira como elemento integrante no calendário de eventos do bairro

pois, diariamente, em seu período de funcionamento, há eventos de diversos segmentos em suas

instalações.

80

Na figura 25, apresentamos um calendário mensal de alguns eventos que

ocorrem no bairro de Madureira e foram melhor detalhados no capítulo 3. Com este

calendário será possível visualizar de forma mais clara os eventos e assim

pretendemos contribuir com desenvolvimento regional e local do turismo à medida que

se toma conhecimento da programação mensal.

Além de ser opções de entretenimento no subúrbio carioca, o calendário de

eventos detalhado pode ser uma alternativa para ser usado por autoridades

competentes na divulgação turística pela cidade do Rio de Janeiro, provendo combate

à sazonalidade turística, ao ampliar e diversificar os eventos na cidade.

81

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi apresentar o possível desenvolvimento turístico no

bairro de Madureira a partir da circulação dos transportes coletivos públicos por sua

área. Para desenvolver o tema, foram apresentados referenciais teóricos que

estabeleciam a relação do turismo com o transporte e suas dimensões. Também foi

necessário contextualizar a sua história e sua relação com o subúrbio do Rio de

Janeiro para identificar os aspectos que o fazem peculiar por sua identidade e

pluralidade cultural verificada ao longo do trabalho.

Constatamos que o turismo pode ser uma atividade a ser desenvolvida no

bairro. Com o acontecimento dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, o Parque de

Madureira sediou o Boulevard Olímpico, ambiente personalizado que concentrava

atividades de lazer durante os Jogos, e com isso o bairro adquiriu uma exposição

nacional e internacional. Sua potencialidade, que poderá ser melhor aproveitada com

a criação e divulgação de um produto turístico consistente, foi evidenciada.

A sociabilidade do bairro por meio da música, do jongo, do samba e toda sua

história e produção cultural, lhe confere identidade e fortalece a sua visibilidade no

subúrbio do Rio de Janeiro. Somado à visibilidade trazida pelos megaeventos

esportivos, o turismo poderá se desenvolver em Madureira com um planejamento

turístico eficaz e sustentável.

Verificamos que os eventos que ocorrem em Madureira possuem forte adesão

popular e apropriação parcial pelo turismo. Sua organização também conta com o

apoio da comunidade. Portanto, acreditamos que pensar em desenvolvimento turístico

significa envolver a comunidade nas decisões a serem tomadas, pois o diálogo é

necessário para que mantenha sua identidade cultural preservada e que a inclusão

social também seja mantida.

Devido à escassez de estudos que tratam especificamente do desenvolvimento

do turismo a partir do sistema de transportes coletivos públicos de uma localidade,

este estudo tentou preencher esta lacuna. Encontramos na centralidade de Madureira

no subúrbio carioca, uma forma de estimular a utilização desses transportes como

forma de acesso em que zonas turísticas prioritárias na cidade se conectam facilmente

82

com o subúrbio, após as transformações promovidas no campo da mobilidade urbana

na cidade do Rio de Janeiro.

Em bairros como Madureira, na qual determinados espaços do meio urbano

possuem potencial de atração turística, um sistema de circulação eficiente é

fundamental para incentivar o fluxo de turistas, encontrando no meio de transporte

coletivo uma oportunidade de contato com o cotidiano da destinação visitada em um

meio de deslocamento acessível. É importante salientar, no entanto que também é

evidente a necessidade de implantação de um sistema de informação de qualidade a

respeito de rotas, itinerários, preços e horários, orientação de atrativos,

proporcionando ao visitante que utilize esse meio uma melhor experiência em sua

visitação.

Esperamos desta forma, que novos estudos sejam efetivados dentro desta

temática e que estimule ações por parte de iniciativas públicas e também privadas a

fim de promover a utilização dos transportes públicos como forma de deslocamento

turístico, minimizando impactos ao ambiente, reduzindo congestionamentos e

poluição pelos gases ao reduzir o número de carros nas ruas.

Por meio do estimulo à utilização de transporte coletivo público, também foi

proposto um roteiro turístico que englobasse os principais atrativos com potencial para

desenvolver esta atividade. Criar roteiros locais e regionais e interiorizar a atividade

turística têm sido objetivo de iniciativas públicas com a criação de programas e ações

que visam explorar a potencialidade para o turismo de outras regiões na cidade.

Tivemos alguns problemas logísticos para a elaboração do roteiro turístico que

só puderam ser notados pessoalmente, após ir a campo. O entrave para o

desenvolvimento da atividade turística está no excesso de comércio ambulante nas

ruas, que movimenta uma circulação intensa de pessoas, algumas rotas, que

poderiam ser utilizadas, tiveram que ser alteradas no roteiro sugerido por este motivo

e alguns atrativos não foram contemplados. Para estimular o deslocamento turístico

no bairro, são necessárias ações do poder público que minimizem este problema, para

também manter preservada a segurança de pedestres e turistas.

Além dos problemas de circulação a pé pelo bairro, os operadores do roteiro

deverão enfrentar problemas com a falta de regularidade dos transportes públicos, o

que também foi uma limitação neste estudo, afetando o planejamento. A utilização de

aplicativos oferecem suporte, com uma possível previsão.

83

Mesmo com alguns problemas operacionais, esperamos que a sugestão do

roteiro sirva de instrumento de estimulo à integração e à inclusão social, que possua

potencial para promover o resgate e preservação dos valores culturais e talvez possa

estimular o desenvolvimento de políticas públicas que percebam o benefício de se

despertar parcerias que fomentem o turismo de maneira sustentável em Madureira.

84

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