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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM E LICENCIATURA JULIANA DE OLIVEIRA PINTO O ANIMAL DE ESTIMAÇÃO NA VIDA DE IDOSOS DE UM GRUPO DE CONVIVÊNCIA: contribuições para o cuidado de enfermagem gerontológica Niterói, RJ 2016

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM E LICENCIATURA

JULIANA DE OLIVEIRA PINTO

O ANIMAL DE ESTIMAÇÃO NA VIDA DE IDOSOS DE UM GRUPO DE

CONVIVÊNCIA: contribuições para o cuidado de enfermagem gerontológica

Niterói, RJ

2016

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2

JULIANA DE OLIVEIRA PINTO

O ANIMAL DE ESTIMAÇÃO NA VIDA DE IDOSOS DE UM GRUPO DE

CONVIVÊNCIA: contribuições para o cuidado de enfermagem gerontológica

Orientadora:

Professora Doutora Fátima Helena do Espírito Santo

Niterói, RJ

2016

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao

Curso de Graduação em Enfermagem e Licenciatura

da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

da Universidade Federal Fluminense.

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3

P 659 Pinto, Juliana de Oliveira.

O animal de estimação na vida de idosos em um grupo de

convivência: contribuições para o cuidado de enfermagem

gerontológica. / Juliana de Oliveira Pinto. – Niterói: [s.n.],

2016.

76 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Enfermagem) - Universidade Federal Fluminense, 2016.

Orientador: Profª. Fátima Helena do Espírito Santo.

1. Idoso. 2. Animais de Estimação. 3. Enfermagem

Geriátrica. I. Título.

CDD 610.7365

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JULIANA DE OLIVEIRA PINTO

O ANIMAL DE ESTIMAÇÃO NA VIDA DE IDOSOS DE UM GRUPO DE

CONVIVÊNCIA: contribuições para o cuidado na enfermagem gerontológica

Aprovada em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Fátima Helena do Espírito Santo - UFF

Orientadora

Profº. Msc. Luiz dos Santos - UFF

1º. Examinador

Enfª. Msc. Carla Lube de Pinho Chibante - UFF

2ª. Examinadora

Niterói

2016

Trabalho de Conclusão de curso

apresentado ao Curso de

Graduação em Enfermagem e

Licenciatura da Escola de

Enfermagem Aurora de Afonso

Costa da Universidade Federal

Fluminense, como requisito para

obtenção do título de Enfermeira.

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5

AGRADECIMENTOS

Á Deus que me direcionou para Universidade Federal Fluminense e que fortaleceu em todos

os momentos da minha caminhada. Sempre me protegendo e abençoando em todos os

projetos da minha vida acadêmica.

Á minha mãe Priscila, sem a qual eu não seria ninguém. Obrigada por ser um exemplo de

força e persistência. Obrigada por me dizer que eu era capaz todas as vezes que eu pensei em

desistir.

À minha família. Ao meu pai, ao meu padrasto, ao meu irmão, ás minhas avós, ao meu avô, às

minhas tias e tios que sempre me apoiaram em todas as minhas escolhas.

Ás minhas amigas da UFF, Suzana, Isamara, Ingrid, Cássia, Mariana, Bruna, Isabelle que

levarei para vida inteira. Muito obrigada por me acompanharem nessa jornada incrível que foi

a graduação. Rir sozinha não teria tanta graça e chorar de desespero não seria a mesma coisa,

se eu não tivesse vocês ali comigo.

Aos meus amigos de fora da faculdade que ouviam com muita paciência todas as minhas

reclamações e aventuras a respeito da faculdade.

Aos pacientes, que foram pacientes comigo quando eu estava aprendendo.

Aos professores da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa.

À professora Andreia Escudeiro e aos meus colegas do NEPUr pela grande aprendizagem.

Aos meus professores do Colégio Estadual Horacio Macedo e da Nelson Rodrigues.

Á minha orientadora Fátima Helena do Espirito Santo que sempre me encantou com seus

conhecimentos científicos. Obrigada pela paciência, dedicação e pelas horas de orientação.

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RESUMO

Atualmente, o aumento da expectativa de vida da população vem associado a uma

série de mudanças no mundo com a necessidade de se repensar estratégias que possibilitem

atender as demandas da clientela idosa nos serviços de saúde, bem como de qualificação

crescente dos profissionais de saúde no que se refere ao processo de envelhecimento, suas

repercussões na autonomia, independência e capacidade funcional do idoso tendo como metas

a promoção e manutenção da saúde e melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas.

Sendo assim é de grande importância a ampliação das formas de atenção à saúde do idoso,

incluindo os procedimentos não farmacológicos, como por exemplo a terapia assistida por

animais (TAA), para a manutenção da qualidade de vida. Pois é comprovado que na velhice,

mesmo tratando-se de idosos saudáveis, há uma perda de relações: aposentadoria, perda do

cônjuge, perda de amigos, filhos que se mudam para locais distantes, doenças que se tornam

impeditivas e limitam a livre convivência, bem como a diminuição nos trabalhos voluntários.

Faz-se necessário, assim, que os profissionais da equipe de saúde, busquem novas formas de

cuidar, como a TAA, por exemplo, possibilitando maior interação com o idoso e propiciando

melhora na sua qualidade de vida. Logo foi definido como objeto de estudo: O animal de

estimação na vida do idoso de um grupo de convivência, como o objetivo de descrever como

o idoso de um grupo de convivência percebe o animal de estimação na sua vida e analisar as

contribuições da presença do animal de estimação na vida dos idosos. Trata-se de uma

pesquisa qualitativa, utilizando o método historia de vida. A coleta de dados foi desenvolvida

no Espaço Avançado para idosos da Escola de Serviço Social da Universidade Federal

Fluminense, de julho a outubro de 2015. Os sujeitos da pesquisa são idosos do grupo de

convivência do Gragoatá – UFF. Através dos relatos dos idosos do grupo de convivência é

possível observar que eles veem a presença do animal de estimação em suas vidas de forma

carinhosa e amorosa, sempre atribuindo a presença deles a amizade e companhia. Pude

constatar também que as contribuições da presença desses animais dizem respeito à

segurança, a companhia, a amizade, ao carinho, a compreensão, a felicidade, a distração, a

superação de momentos difíceis, a proteção, a compaixão, a generosidade. E que além das

contribuições ainda existem os momentos de tristeza e saudades, em caso de falecimento ou

afastamento do animal.

Palavras chave: enfermagem geriátrica, idoso, animais de estimação.

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ABSTRACT

Currently, the increase in life expectancy of the population is associated with a number of

changes in the world on the need to rethink strategies that allow meet the demands of the

elderly client in the health services as well as increased training of health professionals in

refers to the aging process, its impact on autonomy, independence and functional capacity of

the elderly with the goals the promotion and maintenance of health and improving the quality

of life of older people. Therefore it is of great importance to expansion of the forms of health

care for the elderly, including non-pharmacological procedures, such as animal assisted

therapy (AAT), to maintain quality of life. It is proven that in old age, even in the case of

healthy elderly, there is a loss of relationships: retirement, spouse's loss, loss of friends,

children who move to distant sites, diseases that become hinder and limit the free coexistence,

as well as the decrease in volunteer work. It is necessary, therefore, that the health team

professionals, seek new forms of care, such as AAT, for example, enabling greater interaction

with the elderly and providing improvement in their quality of life. Logo was defined as an

object of study: Pet in their daily routines of a support group as the goal of describing how the

elderly of a support group realizes the pet in your life and analyze the contributions of the

presence of pet in the lives of seniors. It is a qualitative research, using the method of life

history. Data collection was developed in the Espaço avançado para idosos da Escola de

Serviço Social, Universidade Federal Fluminense july-octuber. The research subjects are

elderly of the Gragoatá living group - UFF. Through the accounts of elderly living group it

can see that they see the pet's presence in their lives to caring and loving way, always

attributing their presence friendship and company. I could also see that the contributions of

the presence of these animals relate to security, company, friendship, affection,

understanding, happiness, distraction, overcoming difficult times, protection, compassion,

generosity. And that in addition to contributions there are still moments of sadness and

longing, in the event of death or departure from the animal.

Keywords: Geriatric nursing, elderly, pets.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 1: Caracterização dos participantes

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LISTA DE SIGLAS

ESAI I - Enfermagem na Saúde do Adulto e do Idoso I

IBGE - Índice Brasileiro de Geografia e Estatística

PNAD - Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio

TAA - Terapia Assistida por Animais

OMS - Organização Mundial de Saúde

PNI - Política Nacional do Idoso

PNSPI - Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa

SESC - Serviço Social do Comércio

HV- História de Vida

UFF – Universidade Federal Fluminense

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS, p. 12

Motivação para o tema, p. 12

Objeto de estudo, p. 14

Questão norteadora, p. 14

Objetivos específicos, p. 14

Justificativa relevância, p. 15

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, p. 17

Envelhecimento populacional, p. 17

Alterações do envelhecimento, p. 20

Envelhecimento biológico, p. 20

Envelhecimento psicológico, p.21

Envelhecimento social, p.22

Grupo de convivência de idosos, p. 23

Terapia assistida por animais, p. 25

Animais de estimação e idosos, p. 27

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA, p.28

Tipo de estudo, p. 28

Cenário do estudo, p. 29

Sujeitos do estudo, p. 29

Aspectos éticos, p. 30

Coleta de dados, p. 30

RESULTADOS E DISCUSSÃO, p. 32

Conhecendo os participantes da pesquisa, p. 32

Idosos contam suas histórias com animais, p. 33

Entrada do animal de estimação na vida do idoso, p. 52

(Con)vivendo com o animal, p. 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS, p. 63

REFERÊNCIAS, p. 65

Obras citadas, p. 65

Obras consultadas, p. 71

APÊNDICES, p.72

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11

Formulário de caracterização sócio demográfica e roteiro para a entrevista individual, p. 72

ANEXOS, p. 73

Termo de consentimento livre e esclarecido, p.73

Parecer do comitê de ética, p. 74

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Motivação para o Tema

A motivação para a temática desse estudo surgiu de experiências pessoais e

acadêmicas. Sempre fui apaixonada por animais e, desde muito nova, percebi que o convívio

com os mesmos parece trazer benéficos sobre os seres humanos, principalmente sobre os

idosos. Notava isso quando minha avó esquecia-se do mundo enquanto limpava a gaiola dos

passarinhos, cantando e conversando com eles. Também observava que meu avô sentia-se útil

ao levar a cadela da família para caminhar. Mais tarde, durante o curso de graduação ao cursar

a disciplina de Enfermagem na Saúde do Adulto e do Idoso I (ESAI I) e ver os pacientes na

enfermaria, em sua maioria idosos, lembrei-me da minha experiência familiar e passei a

pensar na possibilidade de uso de outras formas de cuidar dessas pessoas e decidi que queria

conhecer mais sobre os efeitos que os animais causam nos idosos pois, como referem Godoy e

Denzin (2007, p. 213):

A interação entre cães e idosos resulta em benefícios nos aspectos físicos

(incremento da mobilidade e estabilização da pressão arterial), mental (estímulo da

memória), social (maior comunicação e convivência, troca de informações,

sentimento de segurança e motivação) e emocional (melhora da atenção, aumento da

espontaneidade, alegria, troca de afeto e diminuição da solidão e da ansiedade).

Atualmente, o aumento da expectativa de vida da população vem associado a uma

série de mudanças no mundo com a necessidade de se repensar estratégias que possibilitem

atender as demandas da clientela idosa nos serviços de saúde, bem como de qualificação

crescente dos profissionais de saúde no que se refere ao processo de envelhecimento, suas

repercussões na autonomia, independência e capacidade funcional do idoso tendo como metas

a promoção e manutenção da saúde e melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas.

Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (2011) o número de idosos

(indivíduos mais de 60 anos de idade) soma 23,5 milhões dos brasileiros, mais que o dobro

registrado no ano de 1991, quando a faixa etária contabilizava 10,7 milhões de pessoas.

Esse “envelhecimento” populacional está relacionado à diminuição das taxas de

fertilidade, fecundidade e mortalidade. Assim como o crescimento econômico e o avanço da

medicina (IBGE, 2010).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que políticas de saúde na área de

envelhecimento levem em consideração os determinantes de saúde ao longo de todo o curso

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de vida (sociais, econômicos, comportamentais, pessoais, culturais, além do ambiente físico e

acesso a serviços), com particular ênfase sobre as questões de gênero e as desigualdades

sociais (VERAS, 2009).

O prolongamento da vida é uma aspiração de qualquer sociedade. No entanto, só pode

ser considerado como uma real conquista na medida em que se agregue qualidade aos anos

adicionais de vida. Assim, qualquer política destinada aos idosos deve levar em conta a

capacidade funcional, a necessidade de autonomia, de participação, de cuidado, de

autossatisfação. Também deve abrir campo para a possibilidade de atuação em variados

contextos sociais e de elaboração de novos significados para a vida na idade avançada. E

incentivar, fundamentalmente, a prevenção, o cuidado e a atenção integral à saúde (VERAS,

2009, p.549).

O envelhecimento populacional vem aumentando a demanda de profissionais de saúde

qualificados, que sejam capazes de perceber as necessidades e particularidades da população

idosa. Sendo assim é de grande importância a ampliação das formas de atenção à saúde do

idoso, incluindo os procedimentos não farmacológicos, como por exemplo a terapia assistida

por animais, para a manutenção da qualidade de vida. Pois é comprovado que na velhice,

mesmo tratando-se de idosos saudáveis, há uma perda de relações: aposentadoria, perda do

cônjuge, perda de amigos, filhos que se mudam para locais distantes, doenças que se tornam

impeditivas e limitam a livre convivência, bem como a diminuição nos trabalhos voluntários

(BEE, 19971

apud LIMA, 2007; YUASO, 2000). E no animal, o idoso encontra um

companheiro que lhe oferece segurança e afeto.

O estudo dos efeitos que os animais domésticos causam na vida dos idosos contribui

para ampliar os conhecimentos sobre práticas não farmacológicas no cuidado a idosos,

voltada para a redução dos “índices de depressão; estabilização da pressão arterial,

afastamento do estado de dor, encorajamento das funções da fala e das funções físicas,

sentimento de amor incondicional” (DOTTI, 2005), entre outras, bem como para o aumento

de estudos relacionados a esse tipo de assistência.

A terapia assistida por animais envolve serviços profissionais da área médica e outras,

que utilizam o animal como parte do trabalho e do tratamento. Essa terapia é dirigida e

desenhada para promover a saúde física, social, emocional e/ou funções cognitivas. Há dois

enfoques muito importantes a serem tratados na TAA: efeitos que os animais têm sobre os

pacientes nos aspectos físico e mental e os efeitos sobre os aspectos emocionais e sociais. É

1BEE, H. O ciclo vital. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1997.

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14

um processo terapêutico formal com procedimentos e metodologia, amplamente

documentado, planejado, tabulado, medido e seus resultados avaliados. Todos os progressos

são verificados e reavaliados com a finalidade de se atingir objetivos do programa (DOTTI,

2005).

Em 1792, William Tuke utilizou animais de fazenda no tratamento de pessoas doentes,

no centro chamado York Retreat. Já no Brasil, o interesse pela TAA teve início ainda na

década de 60 do século passado, mas somente a partir de 1990 foram implementados os

primeiros estudos científicos, iniciados com a Dra. Nise da Silveira, que relatou sua

experiência no livro Gatos, a emoção de lidar, publicado em 1998 (AGUIAR, 2011; DOTTI,

2005).

Tais atividades são atualmente reconhecidas no mundo e, em países como Canadá,

Estados Unidos e outras sociedades europeias, e vem sendo amplamente utilizadas nos

últimos 40 anos, sendo comprovadamente, uma técnica útil na socialização de pessoas, na

psicoterapia, em tratamentos de pacientes com necessidades especiais e na diminuição da

ansiedade de várias causas.

Para Cangelosy e Embrey2 apud Oliva et al (2010, p.19):

Os animais levam uma impressão de intimidade a pessoas hospitalizadas ou os que

vivem em instituições. A doença, a separação da família, o medo, a solidão e a

depressão podem ser minimizados naquelas pessoas que recebem a visita terapêutica

dos cães, promovendo alteração positiva na rotina. Os indivíduos tornam-se mais

ativos e responsivos durante e após as visitas. O contato estimula a mobilidade e a

utilização de braços, mãos e pernas, o que pode ser bastante interessante para estas

pessoas.

Assim, foi definido como objeto de estudo: O animal de estimação na vida do idoso

de um grupo de convivência.

Questão norteadora

Como os idosos percebem a presença do animal de estimação em suas vidas?

Objetivos específicos

Descrever como o idoso de um grupo de convivência percebe o animal de

estimação na sua vida.

Analisar as contribuições da presença do animal de estimação na vida dos idosos

de um grupo de convivência.

2

CANGELOSI, P. R.; EMBREY, C. N. The healing power of dogs: Cocoa's Story. J. Psychosoc.

Nurs.Ment.Health Serv., v. 44, n. 1, p. 17-20, 2006.

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15

Justificativa e relevância

O fenômeno do envelhecimento no Brasil e no mundo vem despertando a sociedade

para pesquisas acerca das especificidades da pessoa idosa visando favorecer a melhoria da

qualidade de vida dessa clientela.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2025 o Brasil será o sexto país

do mundo em número de idosos. Perante esse fato inquestionável confirma-se a importância

de garantir aos idosos não somente uma vida longa, mas também felicidade e satisfação

pessoal (RODRIGUES, 2011, p.396).

Nesse contexto, é função das políticas de saúde contribuir para que mais pessoas

alcancem as idades avançadas com o melhor estado de saúde possível. O envelhecimento

ativo e saudável é o grande objetivo nesse processo. Se considerarmos saúde de forma

ampliada torna-se necessária alguma mudança no contexto atual em direção à produção de um

ambiente social e cultural mais favorável para população idosa (BRASIL, 2006).

O envelhecimento, embora seja um fenômeno natural, geralmente é associado a

diversos fatores negativos. Para que seja possível promover um envelhecimento saudável, um

dos aspectos importantes é a manutenção da autonomia e da qualidade de vida

(CASAGRANDE, 2013, p.63).

Nas pessoas idosas, a depressão é uma das mais frequentes circunstâncias de

sofrimento e angústias emocionais e da diminuição significativa na qualidade de vida. A

ocorrência de depressão grave no idoso está associada a respostas como incapacidades, uso de

algumas medicações, estresses, menos apoio social e mais mortalidade (GUARIENTO;

NERI; 2010).

A utilização de cães na cura e tratamento da depressão visa dar uma melhor qualidade

de vida com a criação de uma rotina e convívio social, no qual os cães são parte essencial

neste desprendimento da solidão, ajudando a tratar e prevenir a depressão, com uma simples

fórmula: “o amor incondicional” (VAGNER, 2011, p.3).

Numa sociedade que envelhece, nota-se, cada vez mais, a presença de animais de

estimação nos lares e o papel desempenhado por eles no suporte psicossocial às pessoas. Os

animais de companhia proporcionam uma significativa melhoria na qualidade de vida das

pessoas, aumentando os estados de felicidade, reduzindo os sentimentos de solidão e

melhorando as funções físicas e a saúde emocional (COSTA, 2009).

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16

Os animais de companhia proporcionam uma significativa melhoria na qualidade de

vida das pessoas, aumentando o estado de felicidade, reduzindo os sentimentos de solidão e

melhorando as funções físicas e a saúde emocional (COSTA, 2009).

A socialização promovida pela participação no grupo de convivência pode ser uma

explicação para a menor frequência de indivíduos com depressão encontrada neste grupo

(ALMEIDA, 2010, p.441).

Para Pongelupe et al. (2009, p.216), “apesar da Terapia Assistida por Animais vir

sendo mais utilizada no Brasil, em comparação a outros países, ainda carece de divulgação

sobre o tema e necessita de pesquisas que comprovem sua eficiência, consequentemente, não

sendo aceita como um recurso médico válido”.

Portanto, mesmo com o crescimento das tecnologias diagnósticas, das melhorias nos

serviços de saúde e das evoluções nos tratamentos das doenças transmissíveis e não

transmissíveis, ainda observa-se a necessidade de implementação de práticas não

farmacológicas, neste caso o uso de animais de estimação do próprio idoso, para a promoção e

manutenção da saúde. Nesse sentido esta pesquisa para a ampliação do conhecimento a

respeito dos benefícios que a interação com animais de estimação pode trazer para os idosos

de um grupo de convivência.

Um idoso que cuida de um animal de estimação apresenta maior grau de satisfação

pessoal, pois tal atividade preenche o tempo e estimula o estabelecimento de vínculos de

afetividade. Não importa a raça ou a espécie, o que vale é o contato, amor, carinho e o vínculo

que se estabelece (PEREIRA, 2011).

Faz-se necessário, assim, que os profissionais da equipe de saúde, busquem novas

formas de cuidar, como a TAA, por exemplo, possibilitando maior interação com o idoso e

propiciando melhora na sua qualidade de vida (STUMM, 2012, p.210).

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O envelhecimento populacional

O processo de envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que vem

suscitando mudanças nos aspectos sociais, políticos e econômicos em todos os países,

principalmente naqueles em desenvolvimento como é o caso do Brasil.

O envelhecimento, antes considerado um fenômeno, hoje, faz parte da realidade da

maioria das sociedades. O mundo está envelhecendo. Tanto isso é verdade que estima-se para

o ano de 2050 que existam cerca de dois bilhões de pessoas com sessenta anos e mais no

mundo, a maioria delas vivendo em países em desenvolvimento (BRASIL,2007, p.8).

Segundo o censo demográfico de 2010 (IBGE, 2011), a população brasileira de hoje é

de 190.755.199 milhões de pessoas, sendo que 51%, o equivalente a 97 milhões, são mulheres

e 49%, o equivalente a 93 milhões são homens. O contingente de pessoas idosas, que,

segundo a Política Nacional do Idoso (PNI) e o estatuto do idoso, tem 60 a mais, é de

20.590.599 milhões, ou seja, aproximadamente 10,8% da população total. Desses, 55,5%

(11.434.487) são mulheres e 44,5% (9.156.112) são homens (KÜCHEMANN, 2012, p.165).

O envelhecimento populacional é uma resposta à mudança de alguns indicadores de

saúde, especialmente a queda da fecundidade e da mortalidade e o aumento da esperança de

vida. Não é homogêneo para todos os seres humanos, sofrendo influência dos processos de

discriminação e exclusão associados ao gênero, à etnia, ao racismo, às condições sociais e

econômicas, à região geográfica de origem e à localização de moradia (BRASIL, 2007, p.8).

O Brasil hoje é um “jovem país de cabelos brancos”. A cada ano, 650 mil novos

idosos são incorporados à população brasileira, a maior parte com doenças crônicas

e alguns com limitações funcionais. Em menos de 40 anos, o Brasil passou de um

cenário de mortalidade próprio de uma população jovem para um quadro de

enfermidades complexas e onerosas, típica dos países longevos, caracterizado por

doenças crônicas e múltiplas que perduram por anos, com exigência de cuidados

constantes, medicação contínua e exames periódicos (VERAS, 2009, p.549).

O processo de envelhecimento, mesmo sem doenças crônicas, envolve alguma perda

funcional compatível com a fisiologia, expressa por diminuição de vigor, força,

prontidão ou velocidade de reação sistêmica. Populações envelhecidas têm elevadas

prevalências de doenças crônicas, que acompanham a perda funcional de órgãos e

tecidos ao longo dos anos – menos de 10% das pessoas de 65 anos ou mais estão

livres de algum tipo de agravo crônico à saúde e mais de 10% referem pelo menos

cinco doenças crônicas concomitantes. Essa alta prevalência de doenças crônicas

exacerba a perda da capacidade funcional dos sujeitos que envelhecem (VERAS,

2012, p.932). O número de idosos no Brasil passou de 3 milhões, em 1960, para 7

milhões, em 1975, e 20 milhões em 2008 – um aumento de quase 700% em menos

de 50 anos. Consequentemente, doenças próprias do envelhecimento passaram a

ganhar maior expressão no conjunto da sociedade (VERAS, 2009, p.549).

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Um dos resultados dessa dinâmica é a maior procura dos idosos por serviços de saúde.

As internações hospitalares são mais frequentes e o tempo de ocupação do leito é maior

quando comparado a outras faixas etárias. Desta forma, o envelhecimento populacional se

traduz em maior carga de doenças na população, mais incapacidades e aumento do uso dos

serviços de saúde (VERAS, 2008).

O maior desafio na atenção à pessoa idosa é conseguir contribuir para que, apesar das

progressivas limitações que possam ocorrer, elas possam redescobrir possibilidades de viver

sua própria vida com a máxima qualidade possível. Essa possibilidade aumenta na medida em

que a sociedade considera o contexto familiar e social e consegue reconhecer as

potencialidades e o valor das pessoas idosas. Portanto, parte das dificuldades das pessoas

idosas está mais relacionada a uma cultura que as desvaloriza e limita (BRASIL, 2007, p.8).

Para se ter um envelhecimento com qualidade, é necessário que se tenha uma vida

ativa, participativa, produtiva e afetiva, com sua família e na sociedade. É imprescindível que

o idoso desperte a “curiosidade” de buscar novos conhecimentos para aperfeiçoá-los,

proporcionando o prolongamento do seu autocuidado (SILVA, 2007).

A Política Nacional do Idoso (PNI), promulgada em 1994 e regulamentada em 1996,

assegura direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para promover sua autonomia,

integração e participação efetiva na sociedade e reafirmando o direito à saúde nos diversos

níveis de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 1994).

Embora a legislação brasileira relativa aos cuidados da população idosa seja bastante

avançada, a prática ainda é insatisfatória. A vigência do Estatuto do Idoso e seu uso como

instrumento para a conquista de direitos dos idosos, a ampliação da Estratégia Saúde da

Família que revela a presença de idosos e famílias frágeis e em situação de grande

vulnerabilidade social e a inserção ainda incipiente das Redes Estaduais de Assistência à

Saúde do Idoso tornaram imperiosa a readequação da Política Nacional de Saúde da Pessoa

Idosa (PNSPI) (BRASIL, 2006).

A Política Nacional de Atenção Básica, regulamentada pela Portaria GM nº 648 de 28

de março de 2006, caracteriza-se por desenvolver um conjunto de ações de saúde, no âmbito

individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção à saúde, a prevenção de agravos,

o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio

do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob a forma de

trabalho em equipe, dirigidas às populações de territórios bem delimitados, pelas quais

assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em

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que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade (conhecimento) e

baixa densidade (equipamentos), que devem resolver os problemas de saúde de maior

frequência e relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os

sistemas de saúde (BRASIL, 2007, p.12).

A garantia de acesso a direitos fundamentais se apoiam no direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à

dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. O estatuto oferece

ainda proteção a esse segmento populacional contra a negligência, discriminação,

violência, crueldade e opressão (CORREA, 2009, p.58).

Sendo assim, em outubro de 2006, o ministro da saúde, aprova a Política Nacional da

Pessoa Idoso, que tem como finalidade: “recuperar, manter e promover a autonomia e a

independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde

para esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. É

alvo dessa política todo cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos ou mais de idade”

(BRASIL, 2006).

Esta realidade demográfica e epidemiológica brasileira aponta para a urgência de

mudanças e inovação nos modelos de atenção à saúde da população idosa e reclama

estruturas criativas, com propostas de ações diferenciadas afim de que o sistema

ganhe efetividade e o idoso possa usufruir integralmente os anos proporcionados

pelo avanço da ciência. Autonomia, participação, cuidado, autossatisfação,

possibilidade de atuar em variados contextos sociais e elaboração de novos

significados para a vida na idade avançada são, hoje, conceitos-chave para qualquer

política destinada aos idosos (CAMACHO, 2010, p.283).

Nesse contexto, é importante conhecer o processo de envelhecimento e suas

alterações, para identificar e avaliar as necessidades e demandas da pessoa idosa visando uma

assistência integral e efetiva.

Alterações do envelhecimento

O envelhecimento é um processo complexo e multifatorial. A variabilidade de cada

pessoa (genética e ambiental) acaba impedindo o estabelecimento de parâmetros. Por isso, o

uso somente do tempo (idade cronológica) como medida esconde um amplo conjunto de

variáveis. A idade em si não determina o envelhecimento, ela é apenas um dos elementos

presentes no processo de desenvolvimento, servindo como uma referência da passagem do

tempo (SCHENEIDER, 2008, p.592).

Essas variações são dependentes de fatores como estilo de vida, condições

socioeconômicas e doenças crônicas. Já o conceito “biológico” relaciona-se com aspectos nos

planos molecular, celular, tecidual e orgânico do indivíduo, enquanto o conceito psíquico é a

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relação das dimensões cognitivas e psicoafetivas, interferindo na personalidade e afeto. Desta

maneira, falar de envelhecimento é abrir o leque de interpretações que se entrelaçam ao

cotidiano e a perspectivas culturais diferentes (FECHINE, 2012, p.107).

Envelhecimento Biológico

O envelhecimento biológico é implacável, ativo e irreversível, causando mais

vulnerabilidade do organismo às agressões externas e internas. Existem evidências de que o

processo de envelhecimento é de natureza multifatorial e dependente da programação genética

e das alterações que ocorrem em nível celular-molecular. Pode haver, consequentemente,

diminuição da capacidade funcional das áreas afetadas e sobrecarga dos mecanismos de

controle homeostático, que passam a servir como substrato fisiológico para influência da

idade na apresentação da doença, da resposta ao tratamento proposto e das complicações que

se seguem (MORAES, 2010, p.68).

Os sinais de deficiências funcionais vão aparecendo de maneira discreta no decorrer da

vida, sendo chamados de senescência, sem comprometer as relações e a gerência de decisões.

Esse processo não pode ser considerado doença. Em condições basais, o idoso não apresenta

alterações no funcionamento ao ser comparado com o jovem. A diferença manifesta-se nas

situações nas quais se torna necessária a utilização das reservas homeostáticas, que, no idoso,

são mais fracas. Além disso, todos os órgãos ou sistemas envelhecem de forma diferenciada,

tornando a variabilidade cada vez maior (MORAES, 2010, p.68).

Com o envelhecimento, ocorrem alterações de vários aspectos perceptíveis do

organismo. Destacam-se: diminuição do fluxo sanguíneo para os rins, fígado e cérebro;

diminuição da capacidade dos rins para eliminar toxinas e medicamentos; diminuição da

capacidade do fígado para eliminar toxinas e metabolizar a maioria dos medicamentos;

diminuição da frequência cardíaca máxima, mas sem alteração da frequência cardíaca em

repouso; diminuição do débito cardíaco; diminuição da tolerância à glicose; diminuição da

mobilização pulmonar do ar; aumento da quantidade de ar retido depois de uma expiração;

diminuição da função celular de combate às infecções (CANCELA,2008).

Observam-se, clinicamente, lentificação no processamento cognitivo, redução da

atenção (déficit atentivo), mais dificuldade no resgate das informações aprendidas (memória

de trabalho) e redução da memória prospectiva (“lembrar-se de lembrar”) e da memória

contextual (dificuldades com detalhes). As informações estocadas (memória de longo prazo

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intermediária e remota) não são afetadas, e sim a análise e comparação (memória de trabalho)

das informações que chegam constantemente ao cérebro, com as memórias explícitas e

implícitas estocadas no neocórtex posterior. Essas alterações não trazem prejuízo significativo

na execução das tarefas do cotidiano, não promovem limitação das atividades, nem restrição

da participação social. A influência do tempo sobre a cognição também amplifica as

diferenças entre os sexos, isto é, os homens mais velhos mostram mais facilidades nos

cálculos matemáticos, enquanto as mulheres nas habilidades executivas (MORAES,2010,

p.69).

Envelhecimento Psicológico

O envelhecimento psicológico é traduzido pelos comportamentos (abertos e

encobertos) das pessoas em relação a si próprias ou aos outros, ligados a mudanças de atitude

e limitações das capacidades em geral. Esses comportamentos trazem como consequência a

ocorrência de inadaptações, readaptações e reajustamentos dos repertórios comportamentais,

face às exigências da vida (PAIVA, 2013).

O envelhecimento psicológico é determinado, por um lado, pelas mudanças concretas

do envelhecimento biológico e, por outro, pelas normas e estereótipos sociais que

correspondem no envelhecimento social (PAIVA, 2013).

A velhice não representa uma realidade única para todos os idosos. Observou-se que

os idosos reconhecem as possibilidades de ganho na velhice, como o sentimento de

integridade, a satisfação com a vida e a possibilidade de ser feliz (SILVA, 2012, p.133).

Com o envelhecimento psíquico há redução da vulnerabilidade. A pessoa idosa torna-

se suficientemente sábia para aceitar a realidade, tolerar a dor ou a perda da independência

biológica, pois seus dispositivos de segurança são cada vez mais eficazes na relação com o

mundo. É a liberdade plena ou independência psíquica, pois compreende o sentido da vida

(para quê). Os valores que regem a sua vida (filosofia de vida) são cada vez mais elevados,

racionais, inteligentes, enfim, conscientes (MORAES, 2010).

As atitudes dos idosos apresentaram uma correlação com o bem-estar psicológico dos

mesmos, demonstrando que, enquanto perspectiva de envelhecimento pessoal, as atitudes

podem agir como mecanismo de enfrentamento diante das perdas da velhice, funcionando

como recursos adaptativos, o que propicia um ajustamento psicológico. Sendo assim,

indivíduos bem ajustados apresentam uma maior habilidade de adaptação perante as

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demandas sociais e afetivas do cotidiano. Situações difíceis podem ser minimizadas de acordo

com os recursos pessoais e sociais, especialmente na velhice, fase marcada por ideias

desprivilegiadas, e que podem ser manifestadas como barreiras à funcionalidade, à qualidade

de vida dos idosos e, consequentemente, a seu bem-estar (SILVA, 2012, p.136).

Envelhecimento Social

O envelhecimento social está relacionado às normas ou eventos sociais que controlam,

por um critério de idade, o desempenho de determinadas atividades ou tarefas do grupo etário,

e que dão sentido à vida de cada um. A aposentadoria ocorre, compulsoriamente aos setenta

anos, ou com 30 ou 35 anos de trabalho comprovado (PAIVA, 2013).

O indivíduo, com a diminuição da força de trabalho característica da velhice, torna-se

um ser incapaz de produzir, perdendo seu papel na sociedade onde predominam os valores

relacionados à capacidade para o trabalho e independência, tendo sua condição desvalorizada.

Passa então a depender do auxílio do estado, objetivada através da aposentadoria, da

assistência gratuita à saúde, de benefícios como passe-idoso (CRUZ, 2011, p.147).

A viuvez é um grande desafio emocional, significando não apenas a perda do

companheiro, mas a ruptura de todos os aspectos da vida do sobrevivente (GALICIOLI,

2012).

Em casamentos longos e estáveis, a morte de um dos cônjuges pode deixar um enorme

vazio – é a perda de um amor, um confidente, um bom amigo e um companheiro de longa

data. Essa perda também é sentida quando o casamento não foi bom, pois o sobrevivente

perde o papel de cônjuge. Para a mulher idosa, que usualmente estruturou sua vida e sua

identidade em torno dos afazeres domésticos e dos cuidados do marido, o enfrentamento da

perda pode ser particularmente, muito difícil (RUBIO; WANDERLEY; VENTURA, 2011).

O enfrentamento dessas crises dar-se-á de uma forma positiva ou negativa, de acordo

com o posicionamento que o indivíduo assumiu durante toda sua vida, sua inclusão em seu

meio social e as experiências vividas. Poderá enfrentar essas perdas e superá-las, ou sentir-se

incapacitado para tal (CRUZ, 2011, p.148).

Na Política Nacional de Atenção à Pessoa Idosa (PNSPI), é preconizada a promoção

de um envelhecimento saudável com iniciativas que proporcionem a manutenção da

autonomia, independência e capacidade funcional da pessoa idosa tais como o incentivo ao

autocuidado, participação em grupos de convivência que favorecem a inserção social e troca

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de experiências com outros idosos bem como acesso a informações sobre prevenção de

doenças, direitos sociais e atividades culturais.

Grupo de convivência de idosos

Os grupos de idosos surgem ainda na década de 1970 em São Paulo, por meio do

Serviço Social do Comercio (SESC) como uma forma alternativa de participação

social e, com o tempo, difundem-se a experiência para todo o país. Diante desses

aspectos, os municípios têm sido desafiados a proporcionar a esses segmentos

populacionais uma assistência de maior qualidade, que ultrapasse o âmbito da

caridade e da segregação. Essas questões demandam novas formas de pensar e

operar o trato com idosos, exigindo uma ação articulada entre os governos em todos

os níveis, os profissionais do campo da saúde e da assistência social e da sociedade

como um todo. Especificamente em relação aos idosos, a atividade de natureza

grupal assume importância relevante neste contexto propiciando um espaço de

escuta e o exercício de socialização entre este contingente populacional (DALMOLIN, 2011, p.596).

O convívio em grupos de convivência ou de idosos é um espaço importante para

desencadear, tanto na pessoa idosa quanto na comunidade, uma mudança comportamental

diante da situação de preconceito que existe nesta relação. Os grupos de convivência

procuram fortalecer o papel social do idoso (RIZZOLLI, 2010, p.226-227).

Resultados mostraram predomínio de mulheres que participam de grupos de

convivência. Isto se dá, de um lado, em função da maior prevalência de mulheres em

comparação ao número de homens idosos. De outro lado, as mulheres tendem a frequentar

mais espaços sociais como grupos, até porque o homem, comumente, é o provedor financeiro

do lar e pouco participa desses locais (LEITE, 2012, p.68).

As mulheres de idade avançada (e não os homens) estão mais expostas à pobreza e à

solidão. Além disso, detêm maiores taxas de institucionalização, possuem um maior risco de

morbidade, consultam mais médicos e têm menos oportunidades de contar com um

companheiro em seus últimos anos de vida. Portanto, a mulher idosa constitui um grupo

social que merece intervenções sociais que levem em conta as suas condições específicas

(SILVA, 2005).

Assim, segundo Rizzolli (2010, p.229), “Ter um grupo de referência, no qual se possa

compartilhar alegrias, tristezas, conhecimentos, entre outros, propicia ao idoso um suporte

emocional e motivação para que este indivíduo tenha objetivos em sua vida”.

Reforça-se que ações direcionadas a promoção da saúde e prevenção de doenças em

pessoas idosas contribuem para a manutenção de sua capacidade funcional e autonomia, com

possibilidade de um envelhecimento mais saudável. O estudo sobre as condições de saúde de

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idosos que frequentam grupo de terceira idade evidenciou a importância da existência de

espaços sociais, nos quais as pessoas idosas possam interagir, dialogar, formar novas

amizades e vínculos, manter e desenvolver suas potencialidades, com o objetivo de melhorar

sua qualidade de vida (LEITE, 2012, p.70).

Para Rizzolli (2010, p. 231), “Além de procurar ocupar seu tempo livre, a grande

maioria dos idosos busca, com a participação nesses grupos, realizar atividades que

possibilitem obter melhorias principalmente na questão da saúde”.

Idosos que participam de grupos de convivência apresentam melhor qualidade de vida

e menor ocorrência de depressão (ALMEIDA, 2010).

Os idosos que participavam de grupos de convivência parecem não apresentar apenas

melhor qualidade de vida em relação aos domínios do componente mental. Eles apresentaram

também melhor qualidade de vida em relação ao seu componente físico, uma vez que

relataram melhor estado geral de saúde e capacidade funcional comparados aos idosos que

não participavam de grupos de convivência (ALMEIDA, 2010, p.440).

Portanto, como afirma Rizzolli (2010, p.232), “ao frequentar os grupos, os idosos

adquirem conhecimentos, encontram uma variedade de práticas sociais e exercitam uma gama

de sentimentos e sensações que ainda desejam viver”.

A criação de grupos de convivência para a terceira idade deve ser difundida e

implantada, a fim de contribuir para uma vida com mais autonomia e independência funcional

refletindo na melhoria na qualidade de vida e melhor condição emocional durante o

envelhecimento (ALMEIDA, 2010, p.441).

Dentre as atividades para favorecer a saúde da pessoa idosa destaca-se nesse estudo a

terapia assistida por animais pois, o contato e a aproximação pessoal com o animal criam a

possibilidade de estreitar o vínculo com a equipe de saúde, estabelecendo uma melhor

comunicação (STUMM, 2012, p.206).

Terapia assistida por animais

Terapia Assistida por Animais (TAA), nome aparentemente apropriado dado a esse

subcampo de atuação profissional, também é conhecido por outros nomes como pet terapia,

zooterapia ou terapia facilitada por animais. Esse subcampo de atuação profissional constitui

um processo no qual um profissional (um psicólogo, um fisioterapeuta, um enfermeiro etc.),

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por meio de animais, provoca mudanças comportamentais ou orgânicas em pessoas com

diferentes tipos de necessidades (GARCIA, 2008, p.165).

Os animais são figuras presentes na cultura atual e no cotidiano dos cidadãos, fazem

parte da sua história. Estão situados no folclore, nos contos infantis, nas artes, nos desenhos,

nas estampas de roupas, em simbologias religiosas, nos mais diversos motivos, inclusive da

indústria. Além disso, são companheiros de milhões de pessoas, nas casas, nos apartamentos,

como componentes de trabalho, como cães de guarda, ou ainda, como artistas de diversão, nos

circos, no cinema, no teatro, no sistema policial, auxiliando, por exemplo, no combate ao

tráfico de drogas, e ainda na ciência, como no caso das cobaias, ou na experiência com

primatas (CHAGAS et. al, 2009).

Para Reed (2012, p. 5), “O valor da terapia assistida por animais tem sido demonstrado

em diferentes contextos e para vários perfis de pacientes, tais como crianças, adultos e

idosos”.

Em contato com o animal, o paciente sente-se desinibido, mais sociável, e estimulado

a conversar sobre este, permitindo que o toque por meio da carícia ao animal, e deste sobre o

paciente, reduza a sensação de solidão e faça com que ele se sinta amado e amparado.

O animal incentiva as pessoas a participarem das atividades propostas, com isso

deixam de lado a preguiça, desânimo, acomodação e isolamento para realizar exercícios

físicos que oportunizam a movimentação e traz consequentemente uma melhora na qualidade

de vida. O cão dá o suporte necessário e com isso reduz o sofrimento emocional por sentirem-

se sozinhas e abandonadas por seus familiares (RODRIGUES, 2012, p.4),

O contato constante dos idosos com os animais estimula o uso da memória recente,

além de possibilitar uma boa interação com os funcionários que lidam com os internos todos

os dias, alterando positivamente a rotina. Idosos muito agressivos e que não aceitavam

nenhum tipo de abordagem e nem se interessavam por nenhuma atividade tornaram-se mais

sociáveis, além de se apresentarem mais bem dispostos para as atividades rotineiras do local

(ABREU, 2008).

Dotti (2005) aponta que a TAA traz benefícios físicos como: exercícios e estímulos

variados relativos à mobilidade, estabilização da pressão arterial e reações químicas positivas

afastamento do estado da dor, encorajamento das funções da fala e das funções físicas, bem-

estar; benefícios mentais: estímulo à memória da pessoa levando em conta as diversas

observações relativas à sua própria vida e dos animais que ela tem contato. Exercícios de

cognição por meio de material usual do animal, da alimentação e higiene; benefícios sociais

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como: oportunidade de comunicação e sentido de convivência, sentimento de segurança,

socialização e motivação, possibilidade de troca de informação e de ser ouvido, e benefícios

emocionais, vínculo e aumento de confiança com o ser humano, com o foco nos participantes

da terapia.

Entretanto para que os animais entrem em contato com os idosos, é importante cuidar

da saúde deles. A vacinação deve estar em dia e a desverminação também, principalmente a

dos cães por terem maior contato físico com os idosos. Antes das visitas, os animais devem

estar limpos, para isso os cães são previamente banhados. É importante a avaliação física do

animal, principalmente de sua pele, verificando se não há áreas sem pelos ou com alguma

lesão; deve ser feita a pesquisa de ectoparasitos como pulgas e carrapatos e, se necessário, ser

feito o seu controle. O cuidado com a saúde dos animais é imprescindível, pois é importante

lembrar que os idosos são pessoas com a imunidade debilitada, sendo necessário zelar por sua

saúde (ABREU, 2008).

Animais de estimação e idosos

Na terceira idade, inicia-se a perda da intimidade com companhias humanas, a

exemplo de cônjuges e amigos, além da separação dos filhos e dos colegas de trabalho e da

alteração dos papéis sociais. Todos esses fatores tendem a reduzir a rede de suporte social ao

idoso, desencadeando uma solidão constante, que passa a ser fonte de estresse e que pode ser

traumática. No contexto contemporâneo, a tendência de viver sem um companhia humana faz

aumentar as interações sociais alternativas, visando a manutenção da saúde e do sentimento

de bem estar (COSTA, 2011).

Muitos são os casos de parceria feliz entre idosos e animais de estimação. A

companhia de animais domésticos pode melhorar a qualidade de vida do idoso, além de suprir

a carência afetiva dessa etapa da vida. As pessoas sentem-se úteis, necessárias e se mantêm

ativas, preservando a saúde física e mental (2008).

Essas interações sociais alternativas podem funcionar como um “lubrificante social”,

na medida em que a presença dos animais acaba servindo de estímulo para a conversa com

outras pessoas. Assim, a ligação com os animais de estimação influencia positivamente a

saúde das pessoas idosas (COSTA, 2011).

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Muitos idosos afirmam que ter o animal de estimação lhes proporciona segurança,

proteção. E que a presença de um animal faz com que as pessoas não se sintam sozinhas e

sintam-se vivas, amadas e necessárias (HEIDEN, 2009).

As intervenções realizadas com animais (cães) proporcionaram aos idosos um

aumento da capacidade de comunicação, seja pela fala ou não, da interação e da socialização

dos pacientes com os cães, com a equipe e com outras pessoas (CARVALHO, 2011).

Algumas raças são mais indicadas para a convivência com as pessoas da terceira

idade. O labrador, por exemplo, é um cão dócil, tranquilo. O gato persa é uma excelente

opção dentre os felinos. Muito caseiro tranquilo e dócil, adora seguir o dono pelos cômodos

da casa e adora carinho. Necessita de escovação, o que pode ser uma atividade prazerosa e de

interação agradável (2008).

As mulheres que convivem com animais de estimação ancoram fortemente sua

representação do animal em funções dos bens atribuídos a eles: por sua vez, os benefícios são

ricos em representações sobre companheirismo, amizade, alegria e conversas (COSTA, 2006).

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TRAJETÓRIA METODOLÒGICA

Tipo de Estudo

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, utilizando o método historia de vida. A

abordagem qualitativa de um objeto de investigação concretiza a possibilidade de construção

de conhecimento e possui todos os requisitos e instrumentos para ser considerada e valorizada

como um construto científico (MINAYO, 2012).

Becker (1994) acrescenta que a história de vida aproxima se mais do terra a terra, a

história valorizada é a história própria da pessoa, nela são os narradores que dão forma e

conteúdo às narrativas à medida que interpretam suas próprias experiências e o mundo no

qual são elas vividas.

A história de vida (HV) é um método que tem como principal característica a

preocupação com o vínculo entre pesquisador e sujeito (SILVA, 2007).

A história de vida permite obter informações na essência subjetiva da vida de uma

pessoa. Se quisermos saber a experiência e perspectiva de um indivíduo, não há melhor

caminho do que obter estas informações através da própria voz da pessoa (SANTOS, 2008,

p.715).

O método utiliza-se das trajetórias pessoais no âmbito das relações humanas. Busca

conhecer as informações contidas na vida pessoal de um ou de vários informantes, fornecendo

uma riqueza de detalhes sobre o tema. Dá-se ao sujeito liberdade para dissertar livremente

sobre uma experiência pessoal em relação ao que está sendo indagado pelo entrevistador

(SANTOS, 2008).

A HV tem como ponto principal permitir que o informante retome sua vivência de

forma retrospectiva. Muitas vezes durante a entrevista acontece a liberação de pensamentos

reprimidos que chegam ao entrevistador em tom de confidência. Esses relatos fornecem um

material extremamente rico para análise. Neles se encontram o reflexo da dimensão coletiva a

partir da visão individual (BONI, 2005).

As investigações na enfermagem têm buscado maior aproximação com os sujeitos do

estudo, procurando escutá-los, e não apenas tratá-los como simples objetos de pesquisa, numa

relação impessoal e fria. Neste sentido, o método história de vida oportuniza aos

pesquisadores aprender a ouvir o sujeito que vivenciou a situação que se quer estudar, o que

implica em tê-lo como um parceiro, como alguém que é ativo no estudo e que reflete sobre

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sua própria vida. Essa reflexão dos depoentes, que deixam vir à tona aspectos tão particulares,

é a diferença primordial que aparece nas categorias de análise (SANTOS, 2008).

Cenário de estudo

O estudo foi desenvolvido no Espaço Avançado para idosos da Escola de Serviço

Social da Universidade Federal Fluminense. É um programa desenvolvido por docentes dos

cursos de serviço social, educação física e enfermagem, onde ocorrem várias atividades como

o projeto previ quedas, atividades culturais e de cidadania, bem como oficina de avaliação

cognitiva e ambulatório de práticas alternativas, sob supervisão de docentes da escola de

enfermagem Aurora de Afonso Costa com a participação de alunos dos cursos de graduação e

pós graduação.

O UFF Espaço Avançado é um Programa de Extensão que desenvolve a participação,

a cidadania e o protagonismo social com idosos de Niterói e adjacências. Tem por objetivos

analisar as políticas sociais e as questões relacionadas ao envelhecimento da população

brasileira; possibilitar processos participativos de reflexão sobre as questões sociais e do

cotidiano que se relacionam com os idosos ou que envolvam o envelhecimento humano nas

diferentes situações sociais e, também, facilitar aprendizados e trocas de experiências entre a

equipe e participantes, na perspectiva da organização social e política dos idosos frente aos

direitos sociais. Aberto a aposentados ou idosos moradores de Niterói e adjacências, organiza

suas atividades em oficinas, visitas culturais, intercambio com outros grupos, cursos e

conferências em vários campos da prática social, educacional, artística, cultural e de lazer.

Participantes do estudo

Os participantes do estudo foram 09 idosos do referido grupo cujos critérios de seleção

foram: idosos a partir de 60 anos, de ambos os sexos que tinham/tem animais de estimação e

como critérios de exclusão: idosos com limitações mentais que inviabilizassem responder ao

questionário e aqueles que estivessem ausentes no período da coleta de dados.

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Aspectos éticos

Conforme preconizado na Resolução 466/12 de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS),

o projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição sob

o número 125.294 (Anexo 1) . Os participantes da pesquisa foram informados quanto ao

caráter voluntário de participação na pesquisa, a garantia do anonimato e sobre os objetivos da

mesma e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 1).

Coleta de dados

Os dados foram coletados no período de julho a outubro de 2015, através da entrevista

aberta que, segundo Boni (2005), é uma técnica atende principalmente finalidades

exploratórias, é bastante utilizada para o detalhamento de questões e formulação mais precisas

dos conceitos relacionados. Em relação a sua estruturação o entrevistador introduz o tema e o

entrevistado tem liberdade para discorrer sobre o tema sugerido. É uma forma de poder

explorar mais amplamente uma questão. As perguntas são respondidas dentro de uma

conversação informal. A interferência do entrevistador deve ser a mínima possível, este deve

assumir uma postura de ouvinte e apenas em caso de extrema necessidade, ou para evitar o

término precoce da entrevista, pode interromper a fala do informante.

A entrevista aberta foi intermediada pelas questões “fale-me sobre a presença de um

animal de estimação em sua vida; quais atividades faz/fazia com ele? Como é/era a

convivência com ele?”. Todas as entrevistas foram gravadas em um aparelho celular, com o

consentimento prévio dos entrevistados. A duração total das entrevistas foi de 91 minutos e

51 segundos e foram realizadas no espaço avançado do Gragoatá – UFF, as terças, no período

das 14:00 as 15:00, respeitando a disponibilidade dos idosos, pois nesse período de tempo,

eles também realizavam as oficinas que o grupo de convivência oferecia.

Todos os idosos mostraram-se confortáveis com a entrevista, porém alguns falavam

com maiores facilidades sobre seus sentimentos. Entretanto, pude perceber que todos os

idosos entrevistados mostravam sentimentos de tristeza, felicidade e saudade no decorrer da

entrevista. Esses expressavam estes sentimentos através da fala e/ou através da expressão

facial/corporal.

As entrevistas foram transcritas na íntegra pela própria pesquisadora, identificadas

com nomes fictícios e, em seguida submetidas à análise temática. Os nomes escolhidos para

preservar a identidade dos entrevistados foram nomes de animais famosos no mundo

cinematográfico, como: Lassie (Lassie - 1994), Marley (Marley e Eu - 2008), Babe (O

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Porquinho Atrapalhado - 1995), Hachiko (Sempre ao seu lado - 2009), Winter (Winter - O

golfinho - 2011), Free Willy (Free Willy - 1993), Pongo (101 Dálmatas - 1961), Perdy (101

Dálmatas - 1961) e Benji (Benji – 1974).

Para análise dos dados foi utilizada análise temática que “consiste em reportar em

cada relato de vida as passagens concernentes a tal ou qual tema, com o objetivo de

comparar depois os conteúdos dessas passagens de um relato a outro” (SANTOS;

SANTOS, 2008, p.716).

Assim, inicialmente foi realizada uma leitura de cada entrevista, para familiarização

com seus conteúdos, depois identificou-se os temas emergentes comuns entre as entrevistas

para posterior discussão, sendo preservada a integralidade dos discursos dos participantes e,

em um segundo momento destacados os temas comuns dos mesmos relacionados a temática

do estudo.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conhecendo os participantes da pesquisa

Nome Sexo/Idade Profissão Estado civil Reside

com

Tipo de

residência

Animal de

estimação

Lassie F/70 anos Aposentada Casada Filho e

marido

Apartamento 2 gatas

Marley F/72 anos Aposentada Solteira Sozinha Casa 3 cadelas e

1 cachorro

Babe F/65 anos Aposentada Solteira Sozinha Casa 1 gato, 3

cachorros

e 1 cadela

Hachiko F/82 anos Aposentada Viúva Sozinha Apartamento 3

cachorros

Winter F/71 anos Aposentada Divorciada Sozinha Apartamento 2 pássaros

e 2

tartarugas

Free

Willy

F/80 anos Aposentada Viúva Sozinha Casa 1 gato

Pongo F/65 anos Aposentada Viúva Filha Apartamento 1 cadela

Perdy F/70 anos Aposentada Solteira Sozinha Casa 5 gatos

Benji M/68 anos Aposentado Solteiro Sozinho Casa 1 cachorro

Tabela 1: Caracterização dos participantes

Dentre os 09 idosos entrevistados, observa-se a predominância de mulheres, na faixa

etária entre 70 a 80 anos, sendo 01 casada, 03 solteiras, 01 divorciada e 03 viúvas; O único

homem do estudo tem 68 anos e é solteiro. Dentre os participantes do estudo, 08 são mulheres

e 01 homem; 07 idosos moram sozinhos, 02 idosas moram acompanhadas de suas famílias; 05

idosos moram em casa e 04 moram em apartamento. Todos os idosos entrevistados são

aposentados.

Ouvir os idosos nesse estudo proporcionou reviver com eles suas histórias, percebendo

suas emoções aflorando a cada palavra, como estivessem retornando aos fatos contados,

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remetendo as suas perdas, suas decisões, a possibilidade de conhecer um pouco da trajetória

de cada relacionado a presença do animal de estimação.

Para Santos e Santos (2008, p.718):

A história de vida não é uma progressão ao longo de um continuam, mas um vai-e-

vem sobre a experiência anterior de um indivíduo ou de um grupo, se revela

estranha a um modelo de sucessão cronológica linear. Em relação ao entrevistado, a

história de vida constitui um conjunto significativo para sua seleção, seus

procedimentos, sua ordem narrativa. Organiza-se apenas com dificuldade a partir de

uma reconstrução temporal definida. Corresponde muito raramente a um critério pré

estabelecido que reparte o passado e o futuro em relação a um presente bastante

flutuantes que derrota a precisão e o final do tempo cronológico

Portanto, para atender aos objetivos desse estudo, faz-se necessário conhecer as

histórias dos idosos e assim reviver o que significou e significa para eles a presença dos

animais de estimação em suas vidas.

Idosos contam suas historias com animais

Lassie: têm 70 anos, aposentada, casada, mora com o marido e o filho em um apartamento em

Icaraí. Mostrou-se entusiasmada com a entrevista, no momento em que soube que se tratava

de uma pesquisa sobre os idosos e seus animais de estimação. E logo se pôs a falar sobre a

falta que sentia das suas gatas, mimi e fefe.

Lassie conta sua história:

Uma vez, eu tinha um vizinho que morava no apartamento da frente do meu prédio ali na

Mariz e Barros, aí o que que acontece? Acontece que ele mudou, foi embora e deixou uma

gata ali, que era a mimi. Aí eu escutava o gato todos os dias miando, miando, miando,

miando e foi numa época que minha mãe tava doente, tava muito mal, e o gato miando, então

assim quando eu descobri que o vizinho tinha ido embora e largou dois cachorros e largou

essa gata, aí falaram com os parentes dele, aí foram lá pegaram os cachorros, mas não

quiseram a gata.

A gata ficou lá dentro, veio outro morador, aí começou a dar na gata, eu escutei o cara

dando na gata, brigando com a gata, aí falei você não pode fazer isso não, o que é isso? Aí

eu fui tentar pegar a gata, mas a gata sumiu. Eu não sabia que ela tinha pulado pra dentro

no meu apartamento e escondeu se embaixo da minha cama. E depois de uns dias minha mãe

faleceu e eu fiquei muito triste na cama, não queria comer, aquelas coisas toda e eu não

sabia que quando saia de tarde e levava as meninas no colégio, a gata ia lá dentro e ela

comia alguma coisa assim na cozinha sem eu saber, eu deixava pão, essas coisas assim, eu

achava aquilo estranho, mas eu nem pensava, eu estava tão preocupada com o negócio da

minha mãe que tinha falecido. Aí um belo dia eu tô deitada na minha cama mal, tristonha,

muito depressiva, chorando, aí de repente eu olho assim quem do meu lado na minha cama?

A gata.

Quando eu saia ela deitava na minha cama sem eu saber. Aí eu agarrei aquela gata, abracei

aquela gata, a gente ficou com um vínculo tão forte uma com a outra que aí eu me levantei

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daquela cama e esqueci de tudo que eu estava passando com a perda da minha mãe, aí fui lá

comecei a dar leite para ela, comecei a agradar ela.

Falei com os meus filhos quando eles chegaram, (...) e (...) olha aí, vou chama-la de mimi, eu

não sei o nome dela, porque eu não sabia o nome da gata, eu vou chamar ela de mimi. Eu

vou fazer o seguinte, a gente vai cuidar dela direitinho e ficar com ela. Aí ficamos ela, aí

ficamos cuidando dela.

Aí um dia uma colega de (...) falou assim: Ah dona (...), a senhora gosta tanto de gato, a

senhora tem aquela gata que é tão agarrada com a senhora - só dorme na cama comigo,

entre eu e o meu marido, meu marido também é, ele se apegou demais a ela - eu falei é, aí ela

falou: nós temos dois gatinhos, nós vamos embora para São Paulo e não vamos levar, uma é

vira-lata e a outra é siamesa. Aí eu falei assim: olha, eu prefiro a vira lata, mas ela disse: a

siamesa é linda e a vira lata é feinha, toda malhadinha. Aí eu falei: não faz mal, eu prefiro a

vira lata porque a siamesa todo mundo vai querer porque é bonita e a vira lata ninguém vai

querer, então eu prefiro a vira lata, aí levou para mim. Logo logo a mimi se afeiçoou, aí

colocamos o nome dela de fefe.Aí que que acontece? Acontece que ficaram as duas amigas.

Um belo dia, tinha um rapaz, o (...), marido da (...), uma moça do prédio, ele tinha mania de

negócio de tóxico, ele botava ácido nos tóxicos, aquelas coisas que ele vendia pros garotos e

um dia jogaram um algodão lá para casa e comeu o céu da boca dela todo, e ela

ficou...quando eu olho ela tá com a boca espumando, aí levei no médico. Dr (...) ali na Ari

Parreiras, aí eu falei: dr. (...), dr. (...) olha a minha gatinha, aí ele disse: ihh minha filha é

melhor você não ficar com ela não, a língua dela destruiu e ela tem um buraco no céu da

boca, ela não vai conseguir comer nada. Eu disse: não tem problema, eu venho todos os dias

aqui ajudar, eu faço uma sopinha, alguma coisa pra ela comer, eu quero que salve ela

porque a dona dela já não quis ela, pelo o amor de Deus.

Aí eu me apeguei demais até hoje não sei porque, era assim uma coisa forte eu e ela, aí eu

falei ainda vou ficar com ela e fiquei com ela. Aí eu comprava rolos e rolos de papel toalha,

porque eu banhava ela, secava ela, mas boquinha dela sempre ficava suja quando ela ia

beber leite, ela chupava o leite, ela sugava, comida ela não podia comer, eu tinha que pegar

carne moída, fazer uns bolinhos de carne moída, colar no céu da boca e peixe eu comprava

aqueles pacotinhos de coisa de gato, né, whiskas, aquelas coisas, bem molhadinho, aí

esmigalhava na minha mão e empurrava na boquinha nos horários certos. Ela ia no pipi cat,

fazia tudo direitinho.

E sempre quando tinha festa lá em casa, eu pedia assim pros meus filhos: o gente, vocês

cuidado com a mimi e com a fefe, que gato se assusta, pelo o amor de Deus, aí sempre

colocava elas no meu quarto, elas ficavam na minha cama quietinhas. Eu trancava meu

quarto e sempre ficava ali todo mundo. Icaraí inteiro conhecia a fefe e a mimi.

Aí um dia, a mimi foi, ela pulou assim de cima da televisão pro chão e ela bateu na pontinha

da mesa com a boquinha e eu achei que tinha machucado o dentinho, aí levei numa moça e

ela disse assim: não, passa essa pomadinha aqui, oncilon na boquinha, mas aquilo foi

crescendo, não adiantou nada. Aí eu falei assim, vou trocar de veterinário.

Fui no veterinário e ele disse assim: olha, você vai bater uma ultra da bochecha dela, é muito

dificultoso, você vai segurar ela, pois eu acho que isso é uma coisa mais perigosa. E era um

câncer, ainda bem que ela já estava bem velhinha, 17 anos. Aí ele falou assim: olha o

negócio é o seguinte, ela tá com câncer, o melhor é sacrificar mas se você quiser ficar com

ela, você vai lutar muito. Aí eu disse: eu fico. Levei para casa. Aí como ela já podia, ela

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comia tudo, né? Porque era a fefe que não tinha a língua, eu falei eu vou fazer o seguinte, eu

vou dar tudo a ela assim, coisas que ela nunca comeu na vida. Ela quando via a gente comer

atum, ela adorava atum, comecei a esfarelar atum para pôr para ela, aí comecei a cuidar

dela e o carocinho foi crescendo, aí começou a botar sangue, eu comecei a rasgar vários

lençóis, fiz uma caminha para ela e botava os lençóis e ela ali deitadinha e ela sangrava e o

médico disse: não adianta nada, é só você esperar o dia, porque ela não vai durar muito. Eu

falei tudo bem, mas ela ainda durou 2 meses.

Depois eu a enrolei toda, levei para enterrar direitinho, aquelas coisas todas e a fefe ainda

durou mais um pouco. Depois fefe um dia fefe foi, fefe parecia um ratinho entendeu?! Eu

banhava ela, ela acostumou a banhar, eu comprei uma banheira, botava água quente, eu já

levava ela e passava aquele sabonetinho tudo nela, banhava ela limpinha, entendeu?! Eu

botava, ela já acostumou com o secado, aí fui banhando ela, só que fefe também o dia que

morreu, eu também embrulhei e abracei. Eu sofri muito com a morte deles. Isso faz 5 anos...

Agora, eu falei: olha gente, sabe de uma coisa, eu tenho loucura por bicho - uma menina foi

morar no meu prédio e ela tinha um gato, o príncipe, ela emprestava quando eu descobri que

ela tinha gato, aí eu ficava com o gato dela brincando. Eu brincava, beijava, tirava milhões

de fotos do gato e tinha foto dele em cima da minha cama deitado comigo e ele subia na

minha cama e ele subia no meu armário. Ele pintava comigo e eu com ele, aí ela falou depois

veio outra menina com um outro gato escondido lá no prédio, um siamês, você sabe que o

gato percebe que você gosta dele. Aí o gato começou a gostar de mim, esse gato dessa

menina.

Se você vier aqui dia 21 terça feira, eu vou trazer a historia de um gato que acharam esse

gato na rua e o cara da loja ficou com esse gato, o gato estava todo machucado, ele cuidou,

tratou e ficou com o gato. Aí ele escreveu uma historia, ele contou a historia do gato no

jornal, aí saiu a historia do gato no jornal, aí ele me deu uma xerox, aí eu vou trazer para

você que é linda, é ali detrás da prefeitura, numa loja de ferragem, não tem uma loja de

ferragem ali? No centro de Niterói, atrás da prefeitura velha tem uma loja de ferragem, é a

única loja de ferragem e quando você chegar lá, pergunta cadê o gato? Aí tem esse gato lá,

ele é branco, ele é lindo, tem os olhos azuis. Toda vez que eu vou no mercado, eu passo lá e

agrado ele e ele gosta a beça de mim e do meu marido a mesma coisa. Meu marido disse

assim: hoje eu vou dar uma volta lá no mercado e vou passar lá para ver aquele gato. A

gente pega no pescocinho dele e ele deixa.

Eu tenho paixão por bicho, por gato, por tudo. Olha, era assim, eu saia, vim aqui para

terceira idade e voltava correndo para casa, aí quando eu chega lá, elas já estavam lá me

esperando, eu tinha uma paixão louca por eles, aí beijava.

E quando meu filho foi trabalhar no Clube Med na Bahia de Itaperica e (...) também foi para

Bahia trabalhar lá, eu fiquei muito sozinha e como eu já não tinha mais parente, morreu

minha mãe, morreu todo mundo, eu me sentia muito solitária, então sentava ali na área,

botava elas assim no meu colo, e elas percebiam que eu estava sofrendo, mas elas não

deixavam e elas ficavam assim me olhando e aqueles olhos delas era como se fosse assim um

ser humano me olhando, me confortando, então eu abraçava elas de noite quando eu ia

dormir, eu agradava elas, porque meu marido não era muito carinhoso, meu marido é uma

pessoa assim, muito fria, aí eu deitava, colocava todas duas do meu lado abraçada e aquilo

para mim era o mundo, era assim e as vezes eu tenho vontade mas eu tenho medo de me

apegar demais e se eu morrer e eles ficarem, porque eu já tô com 70 anos, entendeu? Minha

filha sempre diz: mãe, pelo amor de Deus arranja, você gosta, você fica feliz com eles.

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Mas aí menina, eu fiquei apaixonada por aqueles bichos, fizeram tanta parte da minha vida.

Eu dormia com eles, aí teve uma vez que eu fui ao lambre aqui com o grupo e liguei pro meu

marido e falei: oi (...), como tá fefe e mimi? E ele falou assim: olha, você não sabe da

novidade, entraram debaixo da casa na sexta feira quando você viajou e agora domingo, não

querem sair debaixo da cama, não querem comer, não querem nada. Aí eu falei: pelo o amor

de Deus, eu tenho que voltar hoje correndo no domingo. Aí voltei correndo e quando eu

cheguei era uma alegria, mas era uma coisa assimde noite, meu marido dorme 7 horas,

sempre dormiu 7 horas, aí ele dormiu mas eu fiquei acordada até 2 horas lendo, aí eu

sentava assim, pegava um livro e vinha todas duas correndo sentar no meu colo e ficavam no

colo, entendeu?

Olha, eu vou te dizer uma coisa, eu encontrei nelas o que eu não encontrei em muitas

pessoas, parecia que elas entendiam minha alma, aquelas coisas quando eu estava triste,

quando eu estava alegre, as vezes meus filhos ligam lá da Bahia e diziam: mãe, como tá elas?

Eu dizia tão aqui no meu colo, eu falava assim: (...) tem uma coisa em comum, olha pro céu e

vê a lua como ela tá linda, a lua tá em todos os lugares, ela tá aí aparecendo também? Ele

dizia: mamãe tá. Então eu dizia: olha para aí porque eu e fefe estamos aí. Eu ficava assim e

elas ficavam também olhando para lua, parecia que elas adivinhavam.

Eu achava que a gente tinha um vínculo assim muito forte e até hoje eu tenho o retrato delas

no meu altar, eu tenho uma nossa senhora, aí eu botei o retrato da minha mãe, do meu pai,

da minha irmã, eu botei o retrato da fefe e da mimi e botei dos meus filhos também, meus

filhos são vivos mas sempre rezo por eles, mas sempre que eu vou rezar, eu beijo todo mundo,

meu pai, minha mãe, fefe e mimi, eu sei que vocês existem em alguma lugar. Eu acredito,

sabe por quê? Uma vez, eu sonhei com a minha mãe, aí eu falei assim: mãe eu queria tanto

que você me dissesse se a fefe e a mimi tá em algum lugar assim. Aí eu sonhei assim com uma

pedraria enorme, aí tava lá em cima, a fefe e a mimi e a água escorrendo assim feito uma

cachoeira, aí eu fiquei olhando e falei: vocês estão aí, né?! Elas tudo assim me olhando,

correram e vieram para cima de mim, então eu achei que aquilo ali era tipo um aviso da

minha mãe.

Elas estão em algum lugar, a alma delas existe sim, eu acho que os bichos, eles convivem

com a gente por algum motivo, eles tem assim alguma coisa que as pessoas não entendem, eu

sei que eles não tem raciocínio, mas eles se apegam a gente, a gente se apega a eles e eles

sentem que a gente tem um vinculo e parece que o espirito da gente se comunica com o deles.

É uma coisa assim tão forte, tão maravilhosa, você entendeu?

E eu não posso ver bicho na rua, eu tenho paixão por bicho, tenho mesmo. Uma vez, eu tentei

com uma freira no canal que aparecia um gato com a perna toda feridinha, aí eu fui pegar

com a freira, aí eu falei: vou leva-lo ao veterinário para cuidar da perna dele. Ela disse:

minha filha, ele está esses dias todo aí, alguém largou porque ele tá com a perna ferida. Aí

quando a gente chegou lá, ele foi, o cara tratou o curativo todo, deu comida a ele, ele foi, eu

botei ele no colo, eu tratei dele bem. Aí ele disse: daqui alguns dias você pode levar - só que

ele morreu. Aí eu falei com a freira e ela disse assim: você sabe o que que foi, ele tava há

dias e dias sofrendo, esperando que uma alma caridosa pegasse ele e como ele viu que você

tratou dele e tava melhorando ele, ele morreu descansado. Ele tava só esperando a hora.

Porque tava todos aqueles bichinhos comendo o osso.

Eu amo esse negocio de bicho, entendeu? Eu me adapto demais a bicho. Não tenho medo, às

vezes eu noto que as pessoas me olham de lado, porque às vezes eu passo na rua e vejo um

gato preto andando na rua, mas as pessoas são tão ignorantes, o gato preto e o gato branco

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são lindos. Só diferencia o pelo como um ser preto e um ser branco. É a mesma coisa,

entendeu? Tem o mesmo sentimento. Tem a mesma dor. Mas as pessoas passam de longe por

ignorância, entendeu? Eu não tô nem aí! Eu nem ligo, para você ver, meu aniversário foi

ontem, dia 13, eu nasci 13 de julho, sexta feira 13 de 45, eu vou ser supersticiosa, por quê?

Não tem como, entendeu? Eu sou feliz, todo mundo gosta de mim, eu gosto de todo mundo, eu

ajudo todo mundo, eu sou feliz com todo mundo e é isso que me importa.

Agora eu tenho uma mágoa, eu juro por Deus e pela minha santinha Imaculada Conceição

por não ter um bicho junto comigo. Eu sinto muito falta de bicho, principalmente um gato

bem vira lata. Eu tenho vontade, mas já estou com 70 anos. E a minha família morreu tudo

cedo, minha irmã com 39, papai com 53, todo mundo. Eu tenho medo de deixar aí e deixar

eles.

A minha filha adora, mas sabe qual é o problema da minha filha? Ela mora na Froes e a

cunhada dela tem um casarão enorme, aí tem a casa da cunhada da minha filha, a da minha

filha e da sogra dela, só que a sogra faleceu no ano passado, e só que a cunhada dela tem

6 rottweiler, aqueles bichos com cara de mau, agora eles são pequenos. (...) agrada muito,

mas quando eles vão crescendo, eles não querem carinho. E ficam meio agressivos, esses

rottweiler quando crescem. A cachorra rottweiler gosta muito de (..). A (...) chama ela vem cá

e ela começa a roer as pulseiras de (...), o anel. (...) brinca, conversa com ela. Ela disse

assim; mãe quando ela chega perto de mim, ela sobe assim, começa a roer meu cabelo - ela

disse que adora ela.

(...) disse assim: mamãe eu tenho loucura e o marido de (...) disse assim: (...), eu tenho pena

de você. Porque ela queria tanto ter um gato mas não pode ter gato, porque senão os

cachorros estraçalham e tem mansões do lado que tem um montão de gatos, tem cachorros

mas (...) não pode ter, a gente tem essa frustração, eu e ela temos, entendeu? Ela por causa

da casa lá da cunhada dela, aí ela disse que um dia vai comprar um apartamento para poder

ter um gato, ela falou: mãe que seja o mais rápido possível. E ela disse: mãe eu quero que

você fique lá em casa o dia inteiro. Porque ela trabalha no CTI lá no Azevedo lima, faz a

alimentação dos doentes.

Sempre que a gente vê gato na rua, a gente agrada, ela filma muito esses gatos de rua, então

todos já conhecem ela. Onde ela vai, ela agrada os gatos. A gente ama esses bichos,

sinceramente existe um vínculo. É uma coisa assim, muito espiritual da gente, a gente não

sabe o que é. Que é uma coisa que você tem vontade assim, que você pegou no gato, você se

sente bem. Alisou o pelo do gato, você se sente assim uma mulher realizada, uma coisa assim

feliz, como se você abraçasse um filho. Uma coisa assim que a gente não entende. Eu não

entendo. A primeira vez que eu coloquei meus filhos, no colo, tive 2 partos péssimos, eu entrei

em coma e tudo. Quando minha filha amamentou, foi a sensação que eu nunca tinha dito na

vida, assim aquele bichinho perto de mim, parecia um animal, esses gatos também, quando

eu ficava com eles no colo era como se fosse uma parte minha, um filho meu, assim nesse

sentido. Uma coisa gostosa.

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Marley: têm 72 anos, aposentada, solteira, mora sozinha em uma casa. Contou-me sua

vivência com os seus animais de estimação de forma tranquila.

Marley conta sua história:

Uma vez, eu fui na padaria e encontrei uma cachorrinha pequeninha, Cocker Spaniel, ela

não tinha rabo nenhum, no lugar do rabo era um buraquinho, aí eu achei uma gracinha, tava

abandonada, aí levei para casa. Cheguei em casa e o meu marido gostou muito dela, aí

chamava rabudinha para lá, rabudinha para cá, porque não tinha rabo, o nome dela ficou

rabuda. Ela teve vários filhotes, várias vezes, né? Depois ela pegou uma doença, uma tal de

cancro venéreo. Levamos no hospital vital Brasil, meu marido levou ela, porque eu

trabalhava, aí o médico falou que ela tinha que ficar internada. Aí quando ele viu que ela

tava chorando a saída dele, ele foi e não deixou. Apanhou ela, botou no colo e levou para

casa. Aí morreu, foi indo, foi indo e morreu.

Depois eu tive outra cachorra, cor de vinagre, também na rua abandonada, uma cachorra

fortezinha, linda, linda, aí levei ela para casa. Aí não tinha portão direito e ela fugia. Aí um

dia eu saí e quando eu voltei, ela estava longe de casa. Aí eu falei quem mandou você fugir lá

de casa, pode vir de novo para casa. Mas ela não ficava, só depois que eu botei portão

mesmo, é que ela ficou presa no quintal. É, aí eu tratei dela, e ela teve uma vez 12 filhotes,

mas ela era linda, ela cresceu muito. Parecia de raça, o nome dela era Camila, aí depois ela

um dia, deu um problema assim na vagina dela. Fui no médico e ele falou “a senhora tem

que dar essa injeção aqui na veia”, mas tava na hora dele ir embora, entendeu, o médico? Lá

no moro do Céu tinha veterinário gratuito, né? Aí eu não levei a cachorra. Aí o meu vizinho

trabalhava lá e disse atende essa senhora que ela é minha vizinha. Ele falou “olha a senhora

tem que dar essa injeção aqui na veia, aí aquilo tudo recolheu. Aí o remédio que ele passou

era difícil, só tem no rio, aí o veterinário falou “não senhora, eu tenho”. Aí ele ia em casa

aplicar, pagava um dinheirão da aplicação, aquilo tudo recolheu. Aí ela ficou em umas 5

aplicações...ela melhorou bem, aí eu disse não tenho condições de dar mais, é muito caro a

ida dele em casa para aplicar na veia. Mas ela já estava praticamente boa. Depois minha

filha, apareceu na mama, um tumor, aí eu operei e tudo, lutei, gastei quase 3 mil reais com a

cachorra mas a cachorra morreu.

Depois tive um outro cachorro, meu cunhado trabalhava na casa de doutor, médico. Ele

tinha cachorras, cachorros, entendeu. Os aleijados, ele colocava fora. Cachorro aleijado. Aí

eu apanhei um cachorro branco, todo cachorro que nascia com defeito, ele botava para fora.

Aí levei para casa também, cuidei dele, ele era branquinho igual um coelho, o nome dele era

Leão, sabe? Aí também tratei bonitinho, depois um dia, minha filha, apareceu também

doente. Morreu. Ah eu tratava, tava banho, comida, dormia dentro de casa. Meus cachorros

não moram no quintal não, dormiam dentro de casa. Essa rabudinha, ela dormia na beira da

minha cama, não na cama comigo, o leão, o branquinho, igual um coelhinho. Já a outra

dormia lá no quarto mesmo comigo. Todos dentro de casa, só Camila que ficava do lado de

fora, mas tinha um quarto, um quarto bom para eles dormir.

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E teve uma do vizinho que pulou lá para casa e o nome dela era Sirigaita, era Cocker

spaniel, ela pulava um muro de dois metros para ir lá para casa. Aí a vizinha falou fica para

senhora, aí eu disse não quero mais. Ela ficou com Camila, tinha dia que as duas se pegava.

Quase se matava uma a outra. Depois Camila morreu, e logo depois a outrisinha também

ficou doente, a Sirigaita e morreu também, né? Mas eu tratava dela, entendeu? Dava comida,

água e veterinário, né? É muita despesa e a gente se apega muito, né? É igual um filho, o

cachorro é feito uma criança. É uma criança. Eles são muito amigos, é uma amizade que às

vezes um ser humano, um parente não tem.

Babe: têm 65 anos, aposentada, solteira, mora sozinha em uma casa. Logo que a convidei

para participar da pesquisa, ela disse que poderia participar, mas que os animais de estimação

não eram dela, eram da irmã e do sobrinho.

Babe conta sua história:

Tem um gatinho, mas ele é da minha irmã, eu não tenho nada, mas só vivem na minha casa,

mas não moram comigo. Tem um gato e tem um cachorrinho. Mas só vivem lá, dona Xuxa.

Ela pegou da rua e tá cuidando da Xuxa e cuida do gatinho, que é o sem teto. Colocaram na

porta da minha irmã esse gato. Colocou um gato e uma gata, aí colocou os dois. O gato eu

chamo de sem teto. Colocaram ele na porta pequenininho, mas agora ele já tá maiorzinho

ele. Mas é da rua que colocaram na porta da minha irmã. Minha irmã e meu sobrinho que

gostam muito, cuidaram.

Eu brinco, eu brinco. Eu digo: você veio aqui atrás de comida, né seu safado? Veio atrás de

comida. Aí ele fica olhando assim. aí eu digo: tá bom, deixa eu agradar você, vem cá. Aí eu

passo a mão tudinho. Digo: venha cá (som inteligível), porque tem horas que eu gosto de

lenhar (espremer) rsrsrsrs. Aí eu bato na bunda deles, bilu-bilu, aí eles vão embora. “Agora

você vai embora, né?” Tá ficando gordinho, o danado.

É legal, é amigável, a Xuxa vem toda desconfiada, ela fica assim toda desconfiada, mas

depois vai se chegando, vai se chegando, aí eu dou comidinha, digo: já sei, tu quer meu

pãozinho, meu café da manhã, tu quer que eu dê um pãozinho a tu, né? Mas agora tem uma

coisa, fui dar um pão a ela, ela colocou para fora, sabe? Porque eu me esqueci de colocar o

requeijão. “Ah já sei tem que colocar o requeijão”. É menina, aí eu digo: tu é fina hein,

cachorra da rua e é fina. Só quer coisa boa. Aí eu coloco o requeijão e num instante ela

come. Ela é tão bonitinha, ela é begezinha, sabe? Uma gracinha ela.

Aí minha irmã fez essa grande caridade, porque ela era da vizinha, vou dizer a você. E a

vizinha amarrava ela e um dia minha irmã subiu, porque a casa do meu sobrinho é alta, e

minha irmã subiu e viu a cachorrinha chorando. E ela tinha 5 cachorrinhos que morreram

porque não estava dando comida. E ela coitadinha, qual leitinho que ela tinha? Aí

coitadinha, maltratada. Aí minha irmã chegou, deu um banho nela. Aí a mulher “você dá

banho, eu não vou dar não”. Minha irmã disse: você vai dar sim, fica aqui, senão eu vou dar

um murro na sua cara. Minha irmã é toda braba. Porque minha irmã gosta muito de animal.

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Eu gosto. Eu aprendi a gostar, porque lá em casa, lá em Recife não tinha não, nunca tive

animal nenhum. Mas por causa da minha irmã e por causa do meu sobrinho, eu aprendi

gostar.

Aí vão os cachorros tudinho. Eu chamo: sem teto. Oh sem teto, o que que você quer na minha

casa, sem teto? Aí ele vem todo desconfiado e eu digo: já sei, vai lá. Não pode deitar na

minha cama não hein. Aí ele deita no chão. Aí eu digo: aí pode ficar. Daqui a pouco vem

batata, mas batata não é meu não, é de meu irmão, do meu sobrinho, lá de cima. Batata tá

bonito, menina. Que gato bonito, o danado. Parece um gato angorá, ele é bonito. Aí ele fica

lá. “O que que é que você quer, seu batata? Não pode subir na arvore não hein, senão seu

pai vai te dar uma bronca”.

É, eu brinco, dou comida e eles voltam para casa. Eles são uma gracinha. Eu sinto vontade

de apertar o batata, apertar e apertar. Ele é muito fofo, mas não é nada meu. Nada meu. É

tudo de lá da minha irmã, mas eu gosto, eu gosto.

Não gosto de ver ninguém maltratando não, não gosto de nada de mal tratos. Se eu vejo um

animalzinho no meio da rua, eu vou lá, falo com ele. Eu gosto dos cachorrinhos do meio da

rua de lá. Eu digo: olha meu filho, por favor, eu gosto muito de você, mas não chegue perto

de mim não, eu dou até comidinha, mas não chegue perto de mim. Porque eu morro de medo

de cair, porque eles me derrubam. Eu fico com medo, oras. Já me derrubaram uma vez. Não

posso cair mas, eu não. “Mas fora disso, eu gosto muito de você” e ele olha pra mim assim e

eu digo: olha, você tá me olhando mas não faça nada não, viu? Eu vou dar comidinha para

você, posso até dar comidinha mas não chegue perto de mim. Aí ele não chega não. Minha

irmã diz que ele não vai entender, eu digo: vai entender sim, eles entendem de tudo.

E quando eu chego da rua e vou abrir a porta? Aí vem a Xuxa. Ah também tem o Luck que

não é meu e tem a outra gordinha, que eu chamo de gordinha, a lua. É cachorro, é cachorro.

É outro cachorro e outro cachorro, são quatro. Aí ela vem, a gordinha, ela é bem gordinha.

Ela fica olhando assim para mim e eu sinto vontade de apertar e apertar, ela é bem gordinha.

Mas é safada toda. Aí fica olhando, eu digo: é fica na tua, fica bem longe de mim, não quero

que faça festa para mim, festa para cair, eu não. Vai me derrubar, eu não quero. E o Luck

também, “Luck, meu amor” tututu. Eu pego no portão e fico encostada no portão segurando,

agradando, mas segurando no portão. “Mas não pode subir em mim, não pode ficar assim

não”. Porque nina a cachorra que morreu, tinha uma cachorra que parecia Rotweller, essa

cachorra era braba que só, viu? Mas ela se dava bem comigo. Mas toda vez que eu chegava

no portão, eu “nina, nina não faça festa para mim, porque você é muito grande, pode me

derrubar, por favor nina”. Ela tinha uma compreensão. Você saber que ela não fazia? Agora,

ela ia cima da (...), ia cima da (...) e (...) também, mas comigo não. Comigo ela não fazia. Ela

tinha medo, sabe por quê? Porque uma vez ela foi para cima de mim, assim não foi ela, fui

eu, para pegar meu casaco na casa da (...), tropecei e cai em cima dela. Ela sumiu, ficou

escondida embaixo da mesa. Ela pensou “essa daí é doida, eu não quero chegar perto dela

não”. Acho que ela disse isso, ficou bem longe de mim. Aí não quis mais negócio comigo, aí

toda vez que eu chegava, que ela me via entrar, ela ficava longe, ficava olhando assim para

mim, aí eu digo: oi nina, tudo bom? Tudo bom, não queria assunto. Não queria saber de mim,

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ela bem longe ficava. Ela fazia festa assim, longe de mim. Depois eu dizia: nina, me dá tua

patinha. Cadê tua patinha? Aí ela dava. Mas depois nunca mais ela...só com as meninas que

ela fazia isso. Mas comigo não.

Ah mas eu gosto dos animaizinhos, gosto muito de cachorrinho e de gatinho, mas cada um no

seu lugar. É, mas eu não crio ninguém não. Mas eles entram, tem um lá que quando eu tô

vendo televisão e olho pela janela, tá lá um gatinho, naquela varandinha bonitinha, tá lá o

gatinho. Eu digo: muito bonito, né? Você é outro sem teto. É sem teto você, já tá aqui de

novo. É da rua, mas só vive lá. Mas os meninos botam comida. Aí eu chamo eles, mas são

dois sem teto, é um pequenininho que tá crescendo e outro sem teto também que já tá grande,

gordona. Mas são tão bonitinhos, são bonitinhos lá longe de mim. Mas eu gosto muito, muito.

Mas fica lá. Eu aperto. Aí o gordinho quando vai para lá, o sem teto. Mas o nome dele, que a

(...) disse é pescoço. Tem hora que ele é pescoço e tem hora que ele é brincalhão, depois tem

outro nome lá que eu não sei, mas não. Mas a sinhá chama pescoço, brincalhão e eu chamo

sem teto. Tá sem teto, mas tá atrás de um teto. É uma graça ele.

Hachiko: tem 82 anos, aposentada, viúva, mora sozinha em uma casa. Convivia com os

cachorros do irmão que morava embaixo de sua casa.

Hachiko conta sua história:

Há mais de 5 anos através do meu irmão que era o dono e eu passei a conviver igualmente,

nós participamos da vida deles. Como meu irmão não tinha grana, eu acho que ele ganhou

ou apanhou, não tinha condições de comprar não. Eu morava em cima e ele embaixo, então

ele cuidava normal, mas quando ficava doente, eu que pagava o veterinário para eles. Essa

parte de dar comida, banho era toda com o meu irmão, mas era raro, porque ele não tinha

condições. Era mesmo comida na época, era comida.

Era tal caso, eles me estranhavam muito, quando eu ia na casa do meu irmão, eles queriam

avançar em mim, queriam me morder. Eram ferozes, com o meu irmão não. Com o meu

irmão tinham carinho, liberdade, com a família tudo bem, mas eu eles me estranhavam. Um

era pior, um era pior. Os outros eram mais ou menos, mas um não podia me ver que me... Eu

não tinha contato físico, porque eu tinha medo deles. Mas eles ficavam presos. Não eles

ficavam soltos dentro de casa, quando eu ia no portão que eles desciam correndo.

Eles morreram, mas foi um de cada vez. Eu senti a falta deles, porque eu via todo dia, eu

morava em cima e eles embaixo. Eu tinha afeto por eles. É assim, a gente se apega, né? Não

é um ser humano, mas depois que eles passam a conviver, entendem tudo, né? A gente fala as

coisas, eles entendem. Eu vi como meu irmão tratava, e eu achava bacana a convivência

deles, né? Comigo não teve, mas eu achava bonito o que eles tinham, muito bonito. Como se

fosse uma pessoa. Então é isso. Eu tinha vontade de ter um animal, mas eu não tenho

condições. Para você ter um animal, você tem que cuidar. Não pode deixar em casa, eu viajo.

Tem que ter cuidado. Se for ter animal para maltratar, é melhor não ter.

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Winter: tem 71 anos, aposentada, divorciada, mora sozinha em um apartamento. Às vezes

recebe visita do filho e sua netinha.

Winter conta sua história:

Foi uma vizinha que trouxe pro meu filho lá do sítio dela, a minha vizinha do andar debaixo,

eu morava no 804 e a (...) morava no 704, aí (...) trouxe pra (...), só que quem ficou cuidando

delezinho fui eu, porque (...) não cuidava, ele ia para colégio, para coisa, né? (...) devia ter

uns 12 anos. Tem 30 anos, (...) tem 42, 30 anos.

Olha, eu ia lá para botar, trocar a aguinha deles, para brincar com eles, levava bananinha

para eles. Aí eles se arrepiavam todinhos. E ficavam assim, pareciam que estavam me

agradecendo. É, zulzinho, ele ainda soltava uns sonsinhos. Lelinho nunca soltou som

nenhum. Zulzinho fazia assim, mas Lelinho não, lelinho era muito palhaço. Aí eu ficava

muito tempo brincando com eles. (interação)

Aí eu fui, comecei com um problema sério que ficou a minha garganta com a impressão de

que ela ia tampar, que ela ia fechar e toda tarde eu tinha febre, mas não tinha tosse. Eu fui

ao doutor (...), fui a vários médicos de pulmão. Ninguém achava nada, aí eu parti para o

otorrinolaringologista. Foi quando eu fui a (...), aí (...) começou fazendo muito exame, mas aí

eu fui só piorando, só piorando, aquilo parecia que ia fechar a minha garganta. Aí piorando

muito, (...) mandou fazer um exame bem rigoroso no Santa Cruz. Foi colheram material aqui

assim de mim (indicou a parte de dentro da boca). Foi muito ruim, teve que dois homens ficar

me segurando para poder fazer, né? Aí colheram e quando coisa, ele falou: olha Leni, isso é

fuligem de algum bichinho que você tem em casa. O que você tem em casa Leni? Eu tenho

são dois periquitos. Aí ele falou: é justamente isso, quando eles fazem assim e se balançam ,

aquilo vai, você não tem mais amigdalas, ele vai para sua garganta mesmo. Tive, eu tomei

muito antibiótico. Teve uma vez que eu fui ao Rio com (...) e quando eu voltei, voltei com 39

de febre. Mesmo com um calor do caramba, (...) teve que me emprestar o capote dela. Eu

batia queixo. Aí fui direto pro (...), aí foi nesse dia que ele falou: Leni, eu vou ter que tomar

uma medida drástica com você, eu vou botar você internada. Eu fiquei internada no Santa

Cruz, fiquei dois dias internadas. Me internou no Santa Cruz e me pediu o exame todo que ele

precisava dentro do Santa Cruz. Um eu tive que tomar anestesia local. Mas foi aí descobriu

que era da pelugem do bicho que pegava em mim.

Ah eu adorava eles, eu senti muito, eu chorei quando tive que dar. (...) apesar de não tratar

deles, (...) também ficou muito triste. Só que nós não demos eles para muito longe, nós demos

para nossa vizinha do lado, porque (...) era pequeno, o menino dela, da (...), vizinha de porta

comigo, aí ela falou assim: ah Leni, para você não ficar tão longe de zulzinho e de lelinho,

você me dá eles que eu cuido deles. Aí eu ia lá, ficava olhando de longe. A gente visitava eles

e (...) levava eles lá em casa, mas não deixava eles muitos perto de mim. Aí eu não cuidei

mais deles. E eles viveram tanto e você não sabe da maior, Lelinha era uma periquita, ele

botou ovinho, deu cria na casa. Eles morreram, não tem muito tempo que eles morreram.

Eles ainda ficaram bastantes tempos vivos na casa de (...). Eles viveram bastante.

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Mas eles eram tão bonitinhos. Zulzinho era lindo, ele era tão engraçado, quando ele me vi

para fazer graça, ele levantava um topete e ficava todo saliente. Lelinha era mais quietinha,

mas também porque era uma garota, né? Era uma periquita. A gente não sabia até ali. Mas

não zulzinho não, zulzinho era tipo um metidão, tipo lindão. Então minha filha é só isso?

Ah eu gostava muito deles, eu senti muito a falta deles, muito mesmo. Como eu senti também

das minhas duas tartaruguinhas. Umazinha morreu foi de fome, Juliana, que a gente viajou,

aí meu filho queria levar, eu arranjei uma caixinha e enchi de buraquinhos, comprei alface

para levar. Meu marido não deixou levar de jeito maneira, aí meu filho saiu quase chorando,

falando para ele “papai, ela vai morrer”, ele disse: não vai, vamos deixar. Quando a gente

chegou e ele viu a bichinha morta, ele chorou muito, chamou o pai de monstro, ele chorou

muito. Eu fiquei muito chateada com ele de não ter deixado levar a bichinha.

E tata já era uma tartaruguinha desse tamanhozinho, ele ganhou também. Todas duas ele

ganhou. Aí tata, eu morava em São Gonçalo, ali na Jaime de Moura, aí eu morava no sexto

andar e lá em casa tinha assim um canteiro para gente plantar as coisinhas da própria janela

da gente, né? Aí pegava a parte da sala toda, a sala era grande e o canteiro era grande e ele

era largo, aí eu pensava que ela não fosse tentar pular ali, eu peguei uma caixa, fiz uma

casinha para ela. Botei (...) no canteiro, ele foi lá, botou a caixa no cantinho. Aí moral da

história, ela vinha de manhã, (...) levantava, aí lá, nós abríamos a janela, as pessoas até

deviam achar “com quem esses dois doidos estão falando?”. Era só ela ouvir o barulho da

janela abrindo e ela colocava a cabecinha assim para fora, para dentro da casa. Eu falava: É

tata, vem cá com mamãe, menina parecia que ela era uma criança, ela dava um pulinho,

porque eu deixei um pedacinho assim na coisa da caixa, eu cortei e deixei um tantinho assim

para ela pular. Comia alface na mão da gente, tomate.

Aí quando foi um dia, eu não tava muito legal, eu acho que eu ia até fazer uma cirurgia, aí

(...) virou e falou assim “mamãe, é vamos botar um pouco mais de comida para tata para

poder dar tempo da gente ir e voltar, e ela não sentir muita falta da gente. Aí ele foi lá

brincou com ela, eu fui lá, brinquei com ela e passou assim umas duas horas mais ou menos.

Quando a gente tá se arrumando para sair, seu (...), o senhor que era o zelador da gente, que

varria lá embaixo, veio e apertou a campainha, mas ele estava com um negócio assim na mão

para trás. E eu notei que quando ele fez assim, caiu uma gota de sangue lá no chão. Porque

eu tinha, o meu apartamento, onde eu morava era dois apartamento por andar. Era um para

lá e outro para cá, então a gente teve que gradear o da gente e puxou uma varandinha do

pedaço nosso. Ele estava do lado de lá da varandinha, mas eu fiquei “caiu um pingo de

sangue”, aí eu fiquei intrigada. Aí ele falou assim “dona (...), (...) tá aí?”. Eu falei tá, seu

(...). Aí ele falou assim ”aconteceu uma coisa triste”, eu falei o que, o que que tá saindo

sangue aí, seu (...)? Aí ele colocou ela assim morta na mão dele. Ai menina, mas eu chorei

tanto e (...) chorou tanto menina. Acabou o dia.

Você sabe que eu acho que nem fui ao médico nesse dia. (...) queria que a gente arranjasse

um lugar para sepultar a tata e a gente pudesse ir lá vê-la. Seu (...) teve que arrumar um

lugarzinho lá trás do terreno do prédio, para poder a gente sepultar ela. Aí fizemos um

coisinha assim bonitinho para ela com uma cruz. Aí enquanto a gente, porque a gente só

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ficou lá em São Gonçalo um ano e oito meses. Aí toda semana, a gente ia lá na sepultura de

tata.

Aí depois disso um colega da gente, ficou sabendo, porque (...) teve bronquite. Moral da

história, a gente ganhava tartaruga pro (...), porque quem tem uma tartaruga em casa a crise

de bronquite da criança vai embora, tanto que graças a Deus ele nunca mais teve. Era mais

ou menos uma simpatia. Juliana foi e a gente não podia comprar, tinha que ganhar. Quando

os amigos já sabiam, pegam e davam de presente para ele. Mas aí um amigo quis dar um

presente para ele, já ia dar uma maior, né? Ele falou que não queria, nunca mais ele quis

bicho. Ai poxa, ele já tinha perdido Juliana, os bichinhos já tinham ido embora porque

estavam me fazendo mal. Poxa tudo que aparecia de bichinho acontecia um drama. A outra,

coitada foi a pior morte foi a de tata. Não, a gente ficou que não podia abrir a janela. A gente

abria a janela e tinha a impressão que ela ia botar a cabecinha. Ela parecia uma pessoa,

menina. Ela era muito bonitinha. Quando a gente trata bem o bichinho aprende as coisas

mais fácil, é quando o domador tem paciência porque se você bater nele, ele vai ficar...é

igual uma criança. É para ser educada. Eu ainda acho que o bichinho é mais sensível que a

criança, porque se Deus quiser ele vai crescer mais um pouco e vai falar, mas o bichinho não

fala para você. O bichinho não fala o que ele tá sentindo. Você trata ele bem, ele te agradece,

mas ele não sabe falar nada. Eu acho o bichinho mais sensível do que a criança. E é para

vida toda assim, para toda vida, ele não vai crescer, ele não vai falar uma hora que ele

crescer vai? Não vai.

Eu tinha minhas galinhas quando eu era pequena, eu devia ter bem umas 70 galinhas. Eu

botava nome em todas elas e todas elas eu chamava e elas vinham direitinho (cococo).

Umazinha colocava a cabeça no meu colo para eu afagar. Eu sempre tive muito bicho, mas

meu garoto, ele não deu sorte com bichinho não. Eu tive cavalo, eu tive boi, eu tinha muito

porquinho. Tudo que meu padrinho me dava. Não era bem na fazendo, meu padrinho que

tinha uma fazendo, ele era bem de situação, então padrinho (...) como tinha loucura por mim,

toda vez que podia ele trazia um boi para mim.

Eu cheguei a ter 5 bois, tive um cavalo, o canela que era lindo, que ele me deu pequenininho.

Porco todo ano ele me dava um ou dois porco. E ele mandava a comida pro porco, então ele

que mandava. Porque meu primo ia lá levar o pessoal para usina Barcelos que cortava cana,

que era pertinho do sítio dele. Aí ele esperava meu primo levar as comidas dos meus bichos.

Aí padrinho mandava, além dele me dar os bichinhos, ele ainda mandava a ração pros meus

bichinhos. Mandava, antigamente não era muito assim de vacinar, mas eu me lembro que

para febre aftosa, padrinho vacinava meus bois. Ele vacinava da fazenda dele, o homem

levava a era tipo de uma...não era bem uma pistola, era até um sistema antigo, né? Parecia

aquela coisa de dentista. Não tem, o dentista não tem a agulha para tomar injeção, anestesia.

Era um pouco parecido com aquilo que vacinava os bois. Aí padrinho mandava vacinar meus

boizinhos por causa da aftosa. E canela uma vez amanheceu muito doente, ele apareceu

assim com os quartos caídos, sem poder levantar, sem poder brincar. Porque eu e meu irmão

brincávamos de pique debaixo da barriga do meu cavalo, entrando na pata da frente, saindo

na pata de trás, balançando o rabo dele. Canela era uma criança para nós. Quando foi um

dia, meu irmão chateou ele demais e ele deu uma patada, cortou o supercílio. Ah eu fiquei

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muito triste, porque papai pegou e vendeu. Padrinho ficou apaixonado, padrinho (...) porque

ele teve lá em casa e eu ainda tava chorando muito, sem querer comer, porque papai tinha

vendido canela. Aí ele virou e falou assim: (...), a égua está para dar filhote, padrinho traz

para você, aí eu falei assim: muito obrigada padrinho, mas eu não quero não. Eu não quis

outro cavalo. Aí eu pedi a padrinho para não mandar mais galinha para mim, boi, mais nada.

Eu passei a não querer, porque tudo morria. E coitado dos bichos, ah eu fiquei muito triste

quando papai vendeu canela, muito mesmo. Porque poxa, ele não teve culpa, (...) perturbou

ele demais, caramba. Eu fazia trança no rabo dele, eu tinha uma escova , eu escovava ele, eu

adorava escovar ele. Ele era um brinquedo. Papai dizia que ele não era um cavalo, que ele

era um brinquedo pequeno da gente.

Olha ele nunca, padrinho me deu canela, eu acho que não devia ter nem 5 anos ainda, eu era

pequenininha, eu brincava nas patas dele. Eu pegava um pedacinho do rabo dele, onde dava

e eu ficava brincando. Ele adorava, ele baixava a cabeça para eu passar a mão na orelhinha

dele e ficar cheirando a cara dele. Ele nunca me maltratou, mas meu irmão era malvado, ele

puxava o rabo do bicho. Não só o rabo, o (...) tinha mania de às vezes puxar o lulu do bicho.

O bicho ficava enraivecido com aquilo, quem é que vai gostar?! Foi a defesa. Eu falei para

papai não vende meu cavalo, porque ele não fez isso com ele na intenção de machucar, ele só

estava se defendendo. (...) só fica perturbando ele, coitado. Aí papai ficou, porque a gente

pensou que ia perder meu irmão, ele tinha terminado de jantar e porque ele ficou muito

tempo desacordado. Foi forte, foi tão forte que abriu isso aqui dele e ficou uma boca para lá

e outra para cá. Aí papai ficou muito aborrecido, porque assim como ele fez com meu irmão,

ele poderia fazer comigo. Ele podia me machucar.

Mas interessante, na hora que ele fez isso com o (...), eu tinha passado na perna traseira dele

e ele não fez nada comigo, podia ter levado os dois. Aí papai ficou preocupado dessas

brincadeiras da gente com o bicho. Para gente, o bicho não era um bicho. A gente tinha o

canela como um bichinho de estimação que a gente brincava. E ele foi para gente muito

pequeno, então nós não tinha noção que um coice. Eu só fui avaliar o coice de canela no dia

que ele atacou (...) em mim que era menorzinha, ele podia ter matado, né? Porque ele ia

pegar mais, ou ele ia me deixar sem visão, porque (...) era maior que eu. Aí bater mais

embaixo em mim. Papai ficou muito apavorado e vendeu ele. Ai padrinho queria me dar um

pequenininho que ainda foi lá para casa menorzinho. Ah ele deu uma sela tão bonitinha, a

primeira sela de canela era uma gracinha. Me vestiam de gauchinha e me botavam em cima

de canela, ficava tão bonitinha. Pena que a gente não tirava retrato. Ah não tenho.

Antigamente era muito difícil, né filhinha? Ainda mais para quem morava em roça. Lá alias

eu acho que ninguém tinha assim coisa para tirar retrato.

Free Willy: têm 80 anos, aposentada, viúva, mora sozinha em uma casa em São Gonçalo.

Free Willy conta sua história:

Esse gatinho eu tenho já faz dois anos. Eu encontrei na rua, pequenininho. Ah ele dorme na

cama, dorme no pé da cama e eu dou ração, dou peixinho, mas não come peixe cru não. É

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frito. Uns cubinhos pequenininhos, sabe? Eu corto a carninha. Eu vareio, né? Porque não

pode dar só ração. Ração, é igual a gente, enjoa de uma coisa só. Eu aí faço tudo.

Ele agora não tem parado dentro de casa, porque sai para namorar. Ele chegou agora, não

tem ficado dentro de casa não. Teve um dia que ele sumiu, minha filha. Uma semana, sabe? E

eu fiquei triste, porque a gente se acostuma com os bichinhos. Eles me fazem companhia. Aí

eu “Meu Deus cadê gatinho?”. Ele apareceu todo sujo, mas com um mau cheiro. Todo

machucado assim por trás, sabe? Aqui nas polpinha. Todo escangalhado, mas eu levei ele no

médico. Comprei uma maletinha, daquelas de transportar. Aí eu levei no médico. O médico

passou remédio, rifocina, passou uns comprimidos, sabe? Eu “ele vai ficar bom?”, “vai”. O

médico fez um curativo. Como o médico mandou, aí eu fiz tudinho. E eu fiquei triste, mas

agora está bom. Foi fechando, fechando o couro. Eu fiquei tão...porque eu queria saber como

é que ele aí, né? Todo escangalhado ali atrás. Aí conforme o tratamento, eu fui vendo

que...foi fechando, fechando, agora tem uma coisa assim, pouquinha. Mas tá bom, aí ontem

mesmo eu coloquei um pouco de rifocina. Para evitar infectar.

Ele chega para comer e vai correndo ver a namorada, sabe? Mas ele graças a Deus, tá

reagindobem. Mas ele só entra para comer, dormir ele dorme pouquinho ou na cadeira ou

nos pés da cama, aí daqui a pouco ele acorda, sai correndo e vai embora. Hoje ele, quando

eu estava me arrumando, ele chegou para comer 11:00, levou a noite inteira na rua. Eu não

ia poder prende-lo, só se ele fosse castrado. Ele assim não pode, ele tem que sair. Mas eu não

podia, eu não tive essa ideia. Eu só queria ter um gatinho, sabe?! Como companhia. Mas

agora eu estou eu para pegar outro, mas por enquanto não. Porque tem elezinho, então deixa

só ele. Mas eu gosto muito do meu gato, gosto de tudo quanto é bicho. Gatinho, risos.

Gatinho.

E o passarinho que eu encontrei na rua, há muitos anos. Eu trabalhava numa firma lá em

Ramos. Então deu um temporal que quebrou árvore, encheu a rua, choveu de quinta a sexta.

Aí quando foi sexta à tarde, que passou tudo, eu ia para casa da minha irmã. Eu estava indo

trabalhar, aí todo mundo passando, eu vi um passarinho caído na poça d’água. Eu cheguei

pertinho e vi que ele se mexeu, eu “acho que ele se mexeu, acho que ele está vivo”. Eu peguei

elezinho e enrolei na minha blusa assim. Aí fui para casa, minha irmã “que isso, você está

louca?! Jogue isso fora que ele está morto. Eu “ele não está morto não”. Eu peguei, sequei

elezinho, botei numa caixinha com algodão, aí deixei ele lá, fiz uns buraquinhos e tampei. Aí

eu brincando com a minha sobrinha, que era assim, que hoje já é casada. O gato espantado,

menina. E o gato corria para lá e o gato para cá. E a gente com medo do gato. Mas quando

eu olho assim para parede, uma sombra de um passarinho, e aí já estava a noite, né? Aí eu

digo “ah ele está vivo, eu não disse que ele estava vivo”. Aí a gente corre dali, corre daqui,

eu peguei o gato, para não pegar o passarinho, o colocamos para fora. Fechamos a janela e

corre dali, corre daqui, peguei o passarinho. Aí peguei, botei dentro da caixinha e fechei,

deixei o...para ele respirar. Aí de manhã você vai embora, não tem como você ir agora

porque tá de noite, mas agora você não pode, porque para onde você essa noite, eu falando

com ele. Aí eu fui pela manhã, eu peguei, levei no mesmo lugar que eu encontrei, aí abri a

mão e falei assim “vai, vai por onde você andar, você vai voar, pede a Deus para me dar

saúde, tá? E felicidades e ele ficou na minha mão, eu digo “vai logo”. Voou, num instante ele

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voou, foi embora. Daquele mesmo. Ah eu achei aquilo tão lindo. Eu tenho escrito lá no papel

esse negócio, aí eu escrevi, sabe? Aí eu “ah meu Deus, que felicidade que eu salvei o

bichinho”. Ele ia morrer ali no frio, né? De frio. Ele estava vivo, eu tive a impressão e ele

mesmo se mexeu. Aí eu escrevi assim no título do escrito, da história, eu escrevi “pássaro

feliz” e eu fiquei contente por isso e o bichinho foi embora. Ah isso já tem uns 12 anos já. Eu

trabalhava. Eu trabalhei numa firma, eu era ajudante da cozinha e era copeira, eu

trabalhava muito, sabe? E ficava lá, porque eu não podia fazer todos os dias a viagem. Eu

dormia lá no emprego, só saia sexta à tarde. Eu moro no paraíso, em São Gonçalo. Eu fiquei

muito feliz, eu gosto, me sinto bem.

Lá em casa não vai ninguém não, sabe? Mas eu me sinto feliz pelo bem que eu faço pelos os

cachorros lá da rua. Eu chego eles vão me buscar, eles vai se encontrar comigo, sabe?

Também querem ir para lá, choram no portão para entrar. Mas eu não posso, porque o

pessoal da minha família não gosta. Às vezes eu deixo eles lá do meu lado um pouquinho, dou

comida para agradar, depois eu chamo eles “agora vocês vão embora, tá?”. Eles vão

embora, mas é porque eles gostam de mim. Eu não maltrato bicho nenhum, se eu fosse mais

nova, eu queria trabalhar num lugar que cuidasse de bicho, sabe? De gato, de cachorro, de

todo mundo. Eu gosto, eu gosto. Lá em casa tem beija flor e aquele outrozinho que canta, e

eu não gosto de passarinho preso na gaiola. Eles vão lá bebem água, passam por uma porta,

saem na janela, vão embora. Entram dentro de casa por um lado, sai no outro. É muito bom,

muito bom e eu sempre cantando, né? Cantando o dia inteiro, o rádio ligado, eu arreio

panela, lavo roupa na mão, lavo roupa, varro o quintal, tiro o lixo, arrumo casa, fica

bonitinho o meu barraquinho, muito bonitinho. Eu faço com prazer.

Cada bichinho que chega lá em casa, eu agrado, sabe? Dou um pedacinho de alguma coisa,

um pedacinho de bolo, um pedacinho de carne, o que tiver, um pedacinho de pão e ainda

boto uma claybonzinha. Eu gosto muito dos bichos, eles são muito bons. Eu conheci um

médico que cuidou do meu filho, então na casa dele estava escrito assim “estre amigos,

encontrei cachorros e entre cachorros encontrei amigos”, aí eu perguntei a ele, ele disse

assim, que ele se admirou muito, porque muita gente ia na casa dele, hoje ele é nefrologista,

ele não era nefrologista, ele era parteiro, obstetra. Ele foi embora e a família dele ficou lá e

tal, aí fizeram esse consultório de nefrologista. Até hoje eu me lembro dele, porque cuidou do

meu filho, muita gente ia lá se tratar. No caso, no tempo dele, mas ninguém nunca notou bem

escondidinho no canto da porta e eu olhei assim, bem assim quase atrás da porta, e ele ficou

muito admirador, eu a única pessoa que notei aquele quadro ali. E ele ficou muito alegre e eu

gosto de cachorro. Na verdade, os bichos são muito bons. Eu vejo as pessoas maltratam,

depois eles não ligam, chamo eles vão contentinho, né? Balançando a cauda. Eu digo, pois é

o amor puro do bichinho, amigo verdadeiro e eu não maltrato não.

E eu fui salva por um cão, já sofri muito com meu marido, ele não me dava nada, muito mau

mesmo. Aquele homem que não tinha responsabilidade, então eu criei o veludo, grandão, aí

ele tomava conta da gente, sabe? Um dia eu respondi né? Nunca tinha respondido, eu sempre

sofri sem dizer nada. Aí ele ô (colocou a mão no pescoço e simulou um enforcamento), aí o

cachorro tomava conta das crianças e tomava conta de mim, nessa hora o cachorro entrou, o

cachorro pulou em cima dele, jogou ele longe e sentou assim na minha frente, ele não veio

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me bater, ele ia me matar, sabe? E pronto, aí meu amor pelos animais cresceu mais ainda.

Uma benção. Eu fui embora, porque me mandava ir embora, me maltratava.

Mas eu sempre gostei dos animais, lá no rio mesmo eu tratei de uma porção, quando vinha

assim doente. Um dia eu ensinei um remédio. E um dia eu voltei nessa tal casa e eu vi aquele

cachorro lindo, parecia um tapete, aí eu “mas que cachorro lindo”. Aí ela virou para mim e

disse assim “foi você que botou ele assim”. Eu? Aí ela “foi, se lembra o remédio que você me

ensinou quando ele era todo machucado”. Ah mas que coisa linda, eu fiquei encantada,

sabe? Eu gosto muito dos bichos. Curei uma porção de bicho, uma porção, sabe? Agora eu

não posso me meter muito nessas coisas, sozinha como eu vou segurar para dar banho e

tudo? Tem que ter outra pessoa, mas ninguém cuida não, minha filha. Nem eu me oferecendo

para ajudar, não querem cuidar do bicho. É muito triste de ver, né? Lá mesmo tem um, eu

quero, mas sozinha como é que eu vou segurar, dar banho e tudo? Tem que ter outra pessoa,

além de amarrar também. O outro segura para ajudar, mas eles não querem não.

Hoje mesmo eu chamei, “esse cachorro é seu”, “é”, “vamos cuidar dele, ele tá tão

machucado”. Ah mas a gente faz, né? Eu sou como o beija flor, tinha um incêndio na

floresta, ele vinha com um pouquinho de água e todo mundo ria. Eu digo “mas não interessa,

que quero ajudar”. Eu cumpro a minha parte, né? É por aí. E eu sou uma pessoa feliz, eu

vivo cantando, e não tenho ninguém. Eu sinto Deus no coração e lá na minha casa tem Ele,

tem Ele. Eu não me desligo do meu Deus, eu oro, sabe?

Pongo: têm 65 anos, aposentada, viúva, mora com a filha em um apartamento.

Pongo conta sua história:

Eu tive a vozinha dela, Catucha. Aí quando eu tava trabalhando na TRS aqui em Niterói, a

minha colega tinha muito cachorro, aí ela virou para mim e disse assim “Júlia, toma um

cachorro”, aí eu disse assim “mas eu não posso”, eu morava em apartamento, eu não, uma

pessoa morando em apartamento, meu apartamento era grande e ter um bichinho. Ela disse

“não Júlia, eu deixo ela um pouquinho com você e se ela não se adaptar...”. Eu disse “e o

trabalho?”. Aí eu adorei, ela me deu com dois meses, mas a catuchinha morreu com 3 anos.

Infartou. Morreu novíssima, porque ela morreu...mas já tinha dito filhote, né? Cria. Morreu

com 3 anos, pressão alta, né?

Porque era festa de aniversário de 14 anos da minha filha e foi muita gente lá para

Araruama, na minha casa. E de repente, tinha uma menina fazendo minha unha e todo mundo

já tinha ido embora, e ela deu aquele grito pavoroso perto de mim. Aí eu digo, “ah o que foi

isso?”. A menina levantou. Um garotinho disse “morreu tia, morreu”. Ela foi até pro

hospital, passou o dia todo lá, mas...Aí falei que não queria mais bichinho não. Aí falei “ah

não quero porque, a gente sofre muito, fica um trauma, principalmente morrer assim, né?” Aí

minha filha, quando um dos filhotes que eu dei para as pessoas que gostam, né? Três. A

sarinha teve cachorrinho, a Judi.

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Chegou com a Judinha, que é minha, a Judi. Aí a (...) “é mamãe, é cachorrinha que a

senhora gosta, faz falta, a senhora adorava. E eu tava numa situação ruim, porque tinha seis

meses que meu pai tinha falecido. Aí a (...)até colocou... meu pai era Jurandir, aí ficou Judi,

aí ela tá conosco há 18 anos e ela tá bem. Apesar de tudo, foi até um veterinário na semana

passada que falou que ela tá bem, mas ela tá com um problema de visão sério, sabe? Fica

dando cabeçada, não enxerga. Muito velhinha. Ele é muito companheiro da gente, o bicho

parece que sente tudo. Eu fico impressionada, impressionada. O carinho e a alegria que a

gente tem de te los, é uma coisa muito...

Eu andava com ela e tudo, mas agora fica difícil porque nem ela quer mais ir andando.

Porque não tá..., entendeu? Mas ela roda o apartamento tudo. O apartamento é dela, sabe? E

ela já não faz como ela fazia no jornalzinho, né? O não dá tempo, e as vezes ela acaba

fazendo xixi. Tem incontinência. Faz cocô, mas porque não dá tempo. Eu limpo direitinho.

Eu tô botando um colírio que é caro a beça, que substitui a lágrima, porque resseca muito.

Mas ela é maravilhosa. Muito bom. Eu gosto. Quem tem e gosta. Eu fico boba com as pessoas

que dizem que não gostam. Pode até não gostar, mas aí.

Quando o meu marido morreu, parecia até que ela sabia. Deitou do lado da minha cama,

ficava perto de mim. Foi assim de muita dedicação, porque ela só queria ficar pulando,

deitada no meu colo. Aí eu já tinha mais coisa para fazer com ela, para poder, né? Porque

meu casamento foi 37 anos, né? Meu marido era muito legal, foi um bom casamento, é uma

dor, né? A gente sente uma falta. Então foi muito, muito legal. Bicho parece que sente as

coisas. Antes de eu chegar, ela já estava na porta e quando eu abria, ela já estava na porta. É

muito legal, era bom todo mundo ter, mas tem gente que não gosta. Não gostando, não dá,

né? Aí você nem vê a parte legal, porque é legal.

O meu problema era espaço, porque eu tinha cachorro na infância, né? Mas eu não

participava muito, porque eu estudava. Era cachorro de quintal, dois grandões. Eram uns

cachorros lindos. Eu gostava muito de cachorro. Eu sempre tive contato com cachorros,

esses animais... Quando eu era pequena, né? Até grande e sempre foi muito legal. Uma

maravilha.

Perdy: têm 70 anos, aposentada, solteira, mora sozinha em uma casa. Disse de forma amorosa

que seus gatos são seus companheiros.

Perdy conta sua história:

Olha, eu tenho uma que já tem catorze anos, a mãe de todos. Isso, de todos. Bem, essa turma

que eu tenho já é praticamente quase a última cria dela, porque depois disso eu castrei. Tive

que castrar todos. Era de três em três meses, ela tinha muito filhote. Aí eu dava pras pessoas

e as pessoas ficavam judiando, e eu não gosto que faça isso com os animais.

Era de uma vizinha, então ela se mudou e deixou a gatinha. E ela se mudou pra minha casa,

ela ficava andando de casa em casa. Só que o pessoal jogava pedra nela, jogava água. Aí

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eu...Então o pessoal ficava jogando pedra nela, jogando água nela. Aí eu peguei e levei ela

para minha casa. Aí comecei a tratar dela, coloquei ela na varanda da minha casa, aí ela foi

ficando assim, mais mansinha, porque ela estava muito assustada. Aí depois ela já foi se

acostumando, já foi entrando para casa, hoje ela até dorme dentro de casa. Ela não fica nem

dormindo na varanda mais, ela é um amor de gatinha. A gente chama ela de neném.

O veterinário não deixa dar banho, o gato toma banho. Eles são muito limpinhos. Mas eu

cuido, levo no veterinário, sabe? Vacina também, a antirrábica, né? Então eu cuido bem do

bichinho.

Ihhh, é maravilhosa, só gostam de ficar em volta de mim. É de carinho, até pouco tempo

agora, ela teve uma alergia, ela levei ela no veterinário, ela só queria ficar bebendo leite, era

um litro de leite por dia. Aí eu ri porque ela ficava muito gorda, sabe? Ela é muito gordinha,

nem parece que é mãe. É muito lindo meus gatinhos.

Olha a gente ter um animal, é uma terapia que a gente tem. Porque eu converso com eles

como se estivesse conversando com uma pessoa. Não deixo faltar nada para eles, eu tô vendo

televisão, eles estão perto de mim. Eu tô limpando casa, eles estão perto de mim. Tem vezes

que eu saio e deixo até a porta aberta, encostada, porque eu tenho um muro muito alto, para

eles poderiam ficar dentro de casa quando tá chovendo ou ventando. Mas eles tem cama na

varanda, sabe? Eles tudo pertinho, com cortina e tudo, para não ventar e não chover nele.

Mas eles praticamente dormem mais dentro de casa. Todos os cinco.

Benji: têm 68 anos, aposentado, solteiro, mora sozinho em uma casa. Relatou com alegria e

saudade suas experiências com o seu animal de estimação.

Benji conta sua história:

Há 14 anos, eu peguei ele com 45 dias, agora eu não lembro. Ah 1996, foi justamente nessa

época, eu voltei dos EUA muito deprimido, né? Ah aquele cachorro para mim... Foi, sei lá,

me ajudou tanto, sinceramente. Foi muito engraçado, e eu não queria, porque eu já tinha ido

uma vez para lá e tinha dado o que eu tinha e fiquei lembrando dele lá, entendeu? Aí quando

eu voltei “tô voltando para lá, eu não quero pegar cachorro”, mas aí eu fui ficando e eu não

melhorava e a minha médica ia me dando medicação e aquilo não melhorava. Aí o cachorro

foi ficando e aquilo foi ajudando... sei lá. Eu não sei como é que foi aquilo, aí pronto. Aí

depois que passou, que eu melhorei. Eu não volto mais, vou ficar aqui mesmo.

Não, eu sempre morei aqui em Niterói, quer dizer eu sou de Pernambuco, mas eu moro aqui

há 38 anos já, né? Aí teve uma época que eu fiquei desempregado, fui para os EUA para

poder me aventurar lá, aí eu me dei bem, mas depois com o passar do tempo, a gente se

desgasta, né? Aí eu voltei por causa de problema de saúde, comecei meus tratamentos e

aquilo não melhorava, com 6 meses depois que teve uma solução. Mas aí o cachorro já tava,

eu digo “agora não volto mais, deixa eu viver por aqui mesmo”.

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Aí pronto, fiquei com ele durante 14 anos e ele só morreu porque sentiu a falta do meu irmão.

Porque era assim, o meu irmão, a gente morava os dois, e ele era quem levava o cachorro

para todo lugar, né? E onde a gente viajava, o cachorro ia, olha o cachorro conheceu Recife,

Goiânia, São Paulo, onde a gente ia levava o cachorro... a gente tinha medo dele morrer,

porque a gente não deixava com ninguém, tinha muito apego. Aí ele saia com ele todos os

dias, ele era muito apegado ao meu irmão. Quando foi depois, meu irmão adoeceu e faleceu,

olha ele sentiu tanta falta. Olha eu soltava ele assim, na calçada e ele olhava pro portão lá

da frente, como quem perguntava se ele não vinha mais. Aquilo me tocava de um jeito, me

tocava que era uma coisa séria. Aí ele ainda durou 7 meses, e ele foi amolecendo, foi

adoecendo, eu levei ele no veterinário, aí os vizinhos falavam assim “não adianta rapaz, você

está gastando dinheiro a toa”, eu digo “não, mas eu quero dar uma velhice sossegada para

ele porque ele já está com 14 anos”, “esse cachorro tá apaixonado rapaz, o pai dele morreu,

não tem outro remédio”. Como de fato, com 7 meses depois que meu irmão faleceu, ele

faleceu. Ele ainda chegou até o Natal, quando foi antes do Ano Novo, ele faleceu. Aí foi outro

baque, aí entreguei para Deus. Mas é assim mesmo, são coisas da vida, né?

Olha ele era assim,ele era um cachorro muito sabido, muito esperto, tudo que a gente ensina

para ele, ele aprendia, e ele ia até participar de uma peça aqui na UFF. Eu escrevi a

historiazinha dele, mas foi justamente quando meu irmão adoeceu, aí não pude mais ensinar

junto...E eu sei que até depois que ele se foi, uma menina daqui fez o papel dele na peça, o

pessoal ria para caramba, porque ela levantava a perna para fazer aquelas posturas dos

animais, foi até divertida. Aí eu fiquei com essa lembrança, né? Fiquei pensando assim

“caramba, o cachorro ele é um animal que só falta falar, porque as atitudes do cachorro

quando a gente tem muito zelo por ele, muito trato, ele fica muito amigo, entendeu? É como

se a gente, sei lá. Não sei como é aquilo não. É muito...se torna uma coisa muito humana até,

é uma amizade assim como se fossem duas pessoas, é isso que eu senti, né? Eu digo

“caramba, eu preciso de ter”. Mas não dar para eu ficar levando na rua, porque para ter e

deixar dentro de casa, é melhor não ter, né? Eu não posso assim dar aquela assistência a ele

como antes. Porque era assim, quando meu irmão saía, aí eu saía com ele para passear, né?

Mas ele era muito assim, ele me rebocava. É puxar a pessoa com força. Aí eu fico pensando

“não, não dá para ter não, porque eu não vou poder dar aquele cuidado”. Porque eu agora

me trato muito, né? Na medicina, quero ficar sempre com o bem-estar para poder vir para cá

fazer minhas atividades bem tranquilo, porque eu faço ginástica de manhã e de tarde, eu

participo das outras atividades, não é? Aí eu tô nessa situação agora, graças a Deus,

melhorou muito.

Mas a convivência com ele foi fantástica, tanto é que às vezes eu sonho com eles dois, sonho

mais com o cachorro (rsrsrs), muito bom, mas foi muito legal, foi uma convivência

maravilhosa. Eu tenho vontade de ter outro, mas assim eu não tenho como cuidar, aí por isso

que eu ainda não tenho um. Olha, é....faz muito assim....olha como é que eu digo, é uma

companhia que você tem cara. Às vezes você tá triste, o cachorro chega perto e fica te

olhando como quem sabe, eles percebem, é muito engraçado. Eu gostei muito de ter tido

aquele cachorrinho, foi muito bom, maravilhoso. O nome dele era Rogé. Porque quando eu

era criança sempre tive vontade de ter cachorro, mas minha mãe não queria, porque ela

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tinha trauma, ela não gostava. Mas depois minha vó paterna, ela criava cachorro, aí nasceu

um cachorro, ela nunca dava as cachorros bonitos, nasceu um que tinha 5 patinhas, aí ela foi

e me deu aquele, eu aceitei, levei para casa. Aí minha mãe não quis, foi aquela, não deixava

o cachorro entrar em casa, ficava só no quintal, aí foi também no tempo que eu tive que sair

para estudar fora, porque já tava adolescente, né? Aí quando eu voltei meus cachorros já

tinham morrido tudo, aí eu perdi o contato. Aí ficou aquela coisa de querer ter outro, né? Aí

quando foi depois apareceu esse, Rogé.

A Entrada do animal de estimação na vida do idoso

Os primeiros registros de resultados positivos obtidos da interação de animais com

pacientes datam do século XVIII. A partir disso, a atenção de alguns profissionais da saúde se

voltou para essa prática buscando uma melhor compreensão sobre os seus efeitos, bem como

sobre suas implicações. Além dos cachorros, diversos outros animais passaram a integrar esse

trabalho, gatos, pássaros, peixes, surgindo assim, a denominação de Terapia Assistida por

Animais (TAA) (BUSOTTI, 2005).

A terapia assistida por animais (TAA) consiste na utilização de animais como

instrumentos facilitadores de abordagem e de estabelecimento de terapias de pacientes, tais

como aqueles com necessidades especiais, crianças com distúrbios cognitivos ou emocionais

e idosos (SILVEIRA, 2011).

Pode-se observar no decorrer das entrevistas que a maioria dos idosos tinha ganhado

seus animais de estimação e outros que tinham resgatado seus animais das ruas. Para Lassie e

Perdy o encontro com os animais ocorreu após os mesmos terem sido abandonados pelo

vizinho:

Uma vez, eu tinha um vizinho que morava no apartamento da frente do meu prédio

ali na Mariz e Barros, aí o que que acontece? Acontece que ele mudou, foi embora e

deixou uma gata ali, que era a mimi.(...)aí ficamos cuidando dela. (...) nós temos

dois gatinhos, nós vamos embora para São Paulo e não vamos levar, uma é vira-

lata e a outra é siamesa. Aí eu falei: não faz mal, eu prefiro a vira lata porque a

siamesa todo mundo vai querer. (Lassie)

Era de uma vizinha, então ela se mudou e deixou a gatinha. E ela se mudou pra

minha casa. (Perdy)

Já para Marley e Free Willy esse encontro ocorreu quando elas estavam na rua:

Uma vez, eu fui na padaria e encontrei uma cachorrinha pequeninha, Cocker

Spaniel, ela não tinha rabo nenhum, no lugar do rabo era um buraquinho, aí eu

achei uma gracinha, tava abandonada, aí levei para casa. (...) Depois eu tive outra

cachorra, cor de vinagre, também na rua abandonada, uma cachorra fortezinha,

linda, linda, aí levei ela para casa.Os aleijados, ele colocava fora. Cachorro

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aleijado. Aí eu apanhei um cachorro branco, todo cachorro que nascia com defeito,

ele botava para fora. Aí levei para casa também, cuidei dele, ele era branquinho

igual um coelho, o nome dele era Leão, sabe?(Marley)

Eu encontrei na rua, pequenininho. (Free Willy)

Mas para Winter e Pongo o encontro foi um presente de amigos:

Foi uma vizinha que trouxe pro meu filho lá do sítio dela, a minha vizinha do andar

debaixo, eu morava no 804 (...)só que quem ficou cuidando delezinho fui eu. E tata

já era uma tartaruguinha desse tamanhozinho, ele ganhou também. Todas duas ele

ganhou. (Winter)

Aí eu adorei, ela me deu com dois meses. Aí minha filha, quando um dos filhotes que

eu dei para as pessoas que gostam, né? Três. A sarinha teve cachorrinho, a Judi.

(...). Chegou com a Judinha, que é minha, a Judi. (Pongo)

Para Babe e Hachiko, os animais eram “emprestados”. Estas conviviam com os animais de

seus familiares:

Tem um gatinho, mas ele é da minha irmã, eu não tenho nada, mas só vivem na

minha casa, mas não moram comigo. Tem um gato e tem um cachorrinho. Mas só

vivem lá. (Babe)

Há mais de 5 anos. Foi através do meu irmão, meu irmão era o dono e eu passei a

conviver igualmente, nós participamos da vida deles. (Hachiko)

Pode-se observar que 4 dos 6 recortes das histórias de vida, mostram idosas que

moram sozinhas, o que pode tê-las levado a ter um animal de estimação. Idosos muitas vezes

moram sozinhos, pois são divorciados de seus cônjuges, ou são viúvos ou seus filhos já

cresceram e saíram de casa, muitos já se aposentaram, logo perderam um vínculo social o que

traz um sentimento de solidão e uma necessidade de companhia.

Portanto não é apenas ter o animal, mas oportunizar a convivência com ele, tendo em

vista que com a terceira idade inicia-se a perda da intimidade com companhias humanas, a

exemplo de cônjuges e amigos, além da separação dos filhos e dos colegas de trabalho e da

alteração dos papéis sociais. Todos esses fatores tendem a reduzir a rede de suporte social ao

idoso, desencadeando uma solidão constante, que passa a ser fonte de estresse e que pode ser

traumática (COSTA, 2009).

No contexto contemporâneo, a tendência de viver sem uma companhia humana faz

aumentar as interações sociais alternativas, neste caso a convivência com animais de

estimação, visando à manutenção da saúde e do sentimento de bem-estar (COSTA, 2009).

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Estudos mostram que o índice de brasileiros que não dividem um teto com alguém

aumentou de 8,4% para 11,6%, em 2008. E que entre esses moradores solitários, cabe

destacar a alta proporção de pessoas acima de 60 anos, sobretudo mulheres (KÜCHEMANN,

2012).

Elizeire (2013) afirma que enquanto cresce o número de pessoas que residem sozinhas

nos grandes centros urbanos, aumenta também a companhia de um animal de estimação para

evitar sentimento de isolamento e solidão. Assume-se comumente que a posse do animal de

estimação "protege" pessoas mais velhas contra a solidão. A nossa análise demonstrou que,

para as mulheres, isso é possível, pois está associada com a recuperação a partir de solidão.

(Con)vivendo com o animal

No Brasil, essa convivência pode ser avaliada através estimativas populacionais que

indicam a existência de 27 milhões de cães e 11 milhões de gatos como animais de estimação.

Esses dados oferecem sustentação à ideia de que a vida humana, compartilhada com os

animais, está instituída como uma nova forma de existência a, que atende as necessidades

atuais de determinados grupos de pessoas (FARACO, 2004).

Os animais sempre estiveram próximos do homem participando de atividades de caça,

tração, locomoção, pastoreio, guarda, companhia e tantas outras (CARVALHO, 2011).

Para Lassie e Pongo, os animais ajudaram num processo de superação da perda.

Um belo dia eu tô deitada na minha cama mal, tristonha, muito depressiva,

chorando, aí de repente eu olho assim quem do meu lado na minha cama? A gata.

(...). Aí eu agarrei aquela gata, abracei aquela gata, a gente ficou com um vínculo

tão forte uma com a outra que aí eu me levantei daquela cama e esqueci de tudo que

eu estava passando com a perda da minha mãe. (Lassie)

Foi assim de muita dedicação, porque ela só queria ficar pulando, deitada no meu

colo. Aí eu já tinha mais coisa para fazer com ela, para poder, né? Porque meu

casamento foi 37 anos, né? Meu marido era muito legal, foi um bom casamento, é

uma dor, né? A gente sente uma falta. Então foi muito, muito legal. Bicho parece

que sente as coisas. (Pongo)

Os animais de estimação de Lassie e Pongo as ajudaram num momento de superação

da perda de um ente querido. Nesse contexto, os animais atuaram como cuidadores, ao mesmo

tempo em que também recebiam os cuidados diários. Eles as ajudaram a preencher o tempo e

o vazio, através da dedicação e da sensibilidade que eles tem de perceber o que está

“acontecendo”.

Diante do distanciamento familiar e da solidão características da condição de idoso, o

apego aos animais de estimação se destaca como uma retomada de sua capacidade funcional –

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cuidar e não somente ser cuidado –, da sensação de ser útil, querido e amado. Além de lhe

trazer de volta sentimentos de pertença e afeição, os animais ajudam-nos a preencher o tempo.

(FIGUEIREDO et al, 2015, p.1716).

Idosos relatam sobre a interação com os seus animais de estimação:

Ah eu tratava, tava banho, comida, dormia dentro de casa. Meus cachorros não

moram no quintal não, dormiam dentro de casa. Essa rabudinha, ela dormia na

beira da minha cama, não na cama comigo, o leão, o branquinho, igual um

coelhinho. Já a outra dormia lá no quarto mesmo comigo. Todos dentro de casa, só

Camila que ficava do lado de fora, mas tinha um quarto, um quarto bom para eles

dormir. (Marley)

É, eu brinco, dou comida e eles voltam para casa. Eles são uma gracinha. Eu sinto

vontade de apertar o batata, apertar e apertar. Ele é muito fofo, mas não é nada

meu. Nada meu. É tudo de lá da minha irmã, mas eu gosto, eu gosto. (Babe)

Ah mas eu gosto dos animaizinhos, gosto muito de cachorrinho e de gatinho, mas

cada um no seu lugar. É, mas eu não crio ninguém não. Mas eles entram, tem um lá

que quando eu tô vendo televisão e olho pela janela, tá lá um gatinho, naquela

varandinha bonitinha, tá lá o gatinho. Eu digo: muito bonito, né? Você é outro sem

teto. É sem teto você, já tá aqui de novo. É da rua, mas só vive lá. Mas os meninos

botam comida (...). Mas são tão bonitinhos, são bonitinhos lá longe de mim. Mas eu

gosto muito, muito. Mas fica lá. Eu aperto.(Babe)

Olha, eu ia lá para botar, trocar a aguinha deles, para brincar com eles, levava

bananinha para eles. Aí eles se arrepiavam todinhos. E ficavam assim, pareciam

que estavam me agradecendo. É, zulzinho, ele ainda soltava uns sonsinhos. Lelinho

nunca soltou som nenhum. Zulzinho fazia assim, mas Lelinho não, lelinho era muito

palhaço. Aí eu ficava muito tempo brincando com eles. (Winter)

Mas eles eram tão bonitinhos. Zulzinho era lindo, ele era tão engraçado, quando ele

me via para fazer graça, ele levantava um topete e ficava todo saliente. Lelinha era

mais quietinha, mas também porque era uma garota, né? Era uma periquita. A

gente não sabia até ali. Mas zulzinho não, zulzinho era tipo um metidão, tipo lindão.

(Winter)

Eu andava com ela e tudo, mas agora fica difícil porque nem ela quer mais ir

andando. Porque não tá..., entendeu? Mas ela roda o apartamento tudo. O

apartamento é dela, sabe? E ela já não faz como ela fazia no jornalzinho, né? O não

dá tempo, e às vezes ela acaba fazendo xixi. Tem incontinência. Faz cocô, mas

porque não dá tempo. Eu limpo direitinho. Eu tô botando um colírio que é caro a

beça, que substitui a lágrima, porque resseca muito. Mas ela é maravilhosa. Muito

bom. Eu gosto. Quem tem e gosta. Eu fico boba com as pessoas que dizem que não

gostam. Pode até não gostar, mas aí... (Pongo)

Aí eu me apeguei demais até hoje não sei porque, era assim uma coisa forte eu e

ela, aí eu falei ainda vou ficar com ela e fiquei com ela. Aí eu comprava rolos e

rolos de papel toalha, porque eu banhava ela, secava ela, mas boquinha dela

sempre ficava suja quando ela ia beber leite, ela chupava o leite, ela sugava,

comida ela não podia comer, eu tinha que pegar carne moída, fazer uns bolinhos de

carne moída, colar no céu da boca e peixe eu comprava aqueles pacotinhos de coisa

de gato, né, whiskas, aquelas coisas, bem molhadinho, aí esmigalhava na minha

mão e empurrava na boquinha nos horários certos. Ela ia no pipi cat, fazia tudo

direitinho. (Lassie)

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Nestes relatos os idosos descrevem as atividades que exerciam com seus amigos de

estimação, atividades como dar comida, limpar excrementos, tomar remédios, levar ao

veterinário, brincar, conversar. Diante disso, podemos afirmar que o fato de ter um animal de

estimação os mantem ativos, o acaba contribuindo para a manutenção da qualidade de vida,

no aspecto físico e psicológico.

Um estudo realizado em Minas Gerais numa instituição de longa permanência mostra

que após o contato dos idosos com os animais foi possível observar diminuição da ansiedade

e irritabilidade, aumento das manifestações de afeto, interesse no animal e melhora na

memória dos pacientes (CARVALHO, 2011).

Pois como afirma Santos (2012), o envelhecimento é um processo fisiológico

acumulativo, sequencial e irreversível, que provoca redução das capacidades físicas,

psicológicas e comportamentais. Logo, o indivíduo que envelhece com qualidade de vida é

aquele que cultiva um sentido para viver, se mantém autônomo e independente. Realiza suas

necessidades diárias, busca seus objetivos e deseja concretizar seus sonhos pessoais e

familiares.

A capacidade dos cães para desenvolver um sistema de comunicação complexa os com

seres humanos torna estes animais particularmente apropriados para facilitar a interação social

e comunicação. Os cães são altamente interativos e fornecem oportunidades para atividades

físicas, recreativas e sociais (CURULLI, 2011).

Um estudo realizado em São Paulo, afirma que os animais causaram uma melhora

significativa com relação à interação social e socialização, aumento da autoestima e até

mesmo na comunicação verbal, pois se soltam e conseguem interagir com as demais pessoas,

nos pacientes de uma clínica odontológica (AGUIAR, 2011).

Além das evidentes melhoras físicas, o maior ganho da terapia assistida com animais é

o psicológico, pois o corpo libera endorfina, que é o hormônio responsável pelo bem estar e

relaxamento, a pressão arterial diminui, há diminuição do nível de cortisol, hormônio liberado

quando o corpo se encontra em situações de estresse físico e mental. Em grande quantidade

no corpo, o cortisol compromete a imunidade. Percebe-se uma melhora no sistema

imunológico, na autoestima, e na interação social (CLERICI, 2009).

Duas idosas destacaram que são apaixonadas por bicho e que muitas vezes ajudam os

animais de rua por prazer, elas os levam ao veterinário, tratam de suas feridas, dão banho, dão

comida. E isso nos mostra que a interação com os animais não está restrita ao ambiente

doméstico.

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E eu não posso ver bicho na rua, eu tenho paixão por bicho, tenho mesmo. Uma vez,

eu tentei com uma freira no canal que aparecia um gato com a perna todaferidinha,

aí eu fui pegar com a freira, aí eu falei: vou leva-lo ao veterinário para cuidar da

perna dele. Ela disse: minha filha, ele está esses dias todo aí, alguém largou porque

ele tá com a perna ferida. Aí quando a gente chegou lá, ele foi, o cara tratou o

curativo todo, deu comida a ele, ele foi, eu botei ele no colo, eu tratei dele bem. Aí

ele disse: daqui alguns dias você pode levar - só que ele morreu. Aí eu falei com a

freira e ela disse assim: você sabe o que que foi, ele tava há dias e dias sofrendo,

esperando que uma alma caridosa pegasse ele e como ele viu que você tratou dele e

tava melhorando ele, ele morreu descansado. Ele tava só esperando a hora.

(Lassie)

Mas eu sempre gostei dos animais, lá no rio mesmo eu tratei de uma porção,

quando vinha assim doente. Um dia eu ensinei um remédio. E um dia eu voltei nessa

tal casa e eu vi aquele cachorro lindo, parecia um tapete, aí eu “mas que cachorro

lindo”. Aí ela virou para mim e disse assim “foi você que botou ele assim”. Eu? Aí

ela “foi, se lembra o remédio que você me ensinou quando ele era todo

machucado”. Ah mas que coisa linda, eu fiquei encantada, sabe? Eu gosto muito

dos bichos. Curei uma porção de bicho, uma porção, sabe? Agora eu não posso me

meter muito nessas coisas, sozinha como eu vou segurar para dar banho e tudo?

Tem que ter outra pessoa, mas ninguém cuida não, minha filha. Nem eu me

oferecendo para ajudar, não querem cuidar do bicho. É muito triste de ver, né? Lá

mesmo tem um, eu quero, mas sozinha como é que eu vou segurar, dar banho e

tudo? Tem que ter outra pessoa, além de amarrar também. O outro segura para

ajudar, mas eles não querem não. (Free Willy)

Para Free Willy, Pongo, Perdy, Lassie e Benjiter um animal de estimação representa

ter companhia:

Eu só queria ter um gatinho, sabe?! Como companhia. Mas agora eu estou eu para

pegar outro, mas por enquanto não. Porque tem elezinho, então deixa só ele. Mas

eu gosto muito do meu gato, gosto de tudo quanto é bicho. Gatinho, risos. Gatinho.

(Free Willy)

Ele é muito companheiro da gente, o bicho parece que sente tudo. Eu fico

impressionada, impressionada. O carinho e a alegria que a gente tem de te los, é

uma coisa muito... (Pongo)

É muito lindo meus gatinhos. Olha a gente ter um animal, é uma terapia que a gente

tem. Porque eu converso com eles como se estivesse conversando com uma pessoa.

Não deixo faltar nada para eles, eu tô vendo televisão, eles estão perto de mim. Eu

tô limpando casa, eles estão perto de mim. (Perdy)

Eu fiquei muito sozinha e como eu já não tinha mais parente, morreu minha mãe,

morreu todo mundo, eu me sentia muito solitária, então sentava ali na área, botava

elas assim no meu colo, e elas percebiam que eu estava sofrendo, mas elas não

deixavam e elas ficavam assim me olhando e aqueles olhos delas era como se fosse

assim um ser humano me olhando, me confortando, então eu abraçava elas de noite

quando eu ia dormir, eu agradava elas, porque meu marido não era muito

carinhoso, meu marido é uma pessoa assim, muito fria, aí eu deitava, colocava

todas duas do meu lado abraçada e aquilo para mim era o mundo. (Lassie)

Olha, é....faz muito assim....olha como é que eu digo, é uma companhia que você

tem cara. Às vezes você tá triste, o cachorro chega perto e fica te olhando como

quem sabe, eles percebem, é muito engraçado. Eu gostei muito de ter tido aquele

cachorrinho, foi muito bom, maravilhoso.(Benji)

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Um dos benefícios da presença de animais na vida das pessoas é a sua companhia.

Cavalos, cães e gatos, na sociedade moderna, são referidos como “animais de companhia” por

estabelecerem fortes vínculos emocionais recíprocos com os humanos (FARACO, 2008).

Estudos mostram que animais de companhia domésticos podem dar uma valiosa

assistência à saúde física e mental de seus proprietários. Os 267 idosos residentes em

Jacarepaguá que participaram da Campanha Nacional de vacinação contra a gripe em 2011

possuíam pelo menos um animal doméstico. A amostra estudada foi predominantemente na

população feminina que preferiam cães como companhia animal. (FERREIRA, 2012, P. 64)

Um estudo realizado na Inglaterra mostra que as idosas estão mais propensas a

adquirirem um animal de estimação por conta da solidão. Pikhartova et al. (2014) diz que as

chances de possuir um animal de estimação foram 25% maior para aqueles que foram

solitários, em comparação com aqueles que não eram. Esse resultado se deve principalmente

às das mulheres que estavam solitárias para quem as chances de possuir um animal de

estimação eram quase 50% maior do que suas contrapartes não solitárias.

Guardadas as devidas proporções, a interação com outras espécies surge para dar conta

de uma demanda de apoio social que o homem não consegue controlar. Significa dar vazão à

necessidade do homem, como ser social, de coexistir em meio a outras vidas e fazer parte

ativa delas, mesmo que sejam vidas não humanas. É uma busca pelo equilíbrio mental, uma

luta silenciosa para sobreviver à angústia da solidão (COSTA, 2009, p.13).

Lassie mostra através de seu relato que sua vida sem um gato é solitária, o que reforça

o discurso de que os animais fazem companhia aos idosos.

Agora eu tenho uma mágoa, eu juro por Deus e pela minha santinha Imaculada

Conceição por não ter um bicho junto comigo. Eu sinto muito falta de bicho,

principalmente um gato bem vira lata. Eu tenho vontade, mas já estou com 70 anos.

(Lassie)

Benji disse que o cachorro o ajudou na superação da depressão:

(...) foi justamente nessa época, eu voltei dos Estados Unidos muito deprimido, né?

Ah aquele cachorro para mim... Foi, sei lá, me ajudou tanto, sinceramente. Foi

muito engraçado, e eu não queria (...) Aí quando eu voltei “tô voltando para lá, eu

não quero pegar cachorro”, mas aí eu fui ficando e eu não melhorava e a minha

médica ia me dando medicação e aquilo não melhorava. Aí o cachorro foi ficando e

aquilo foi ajudando... sei lá. Eu não sei como é que foi aquilo, aí pronto. Aí depois

que passou, que eu melhorei. (Benji)

A lista de doenças que podem ter os efeitos amenizados pela TAA é extensa. Vai de

depressão, estresse e deficiência visual, auditiva e mental, síndrome de Down, mal de

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Parkinson, passando por vítimas de traumatismo crânio-encefálico, paralisia cerebral, mal de

Alzheimer, autistas, vítimas de abuso sexual, problemas psicológicos, de relacionamento e

interação social (CHAGAS, 2009).

Entre os efeitos que os animais causam nos idosos, destacam-se “diminuição dos

índices de depressão; estabilização da pressão arterial, afastamento do estado de dor,

encorajamento das funções da fala e das funções físicas e sentimento de amor incondicional”

(DOTTI, 2005).

Alguns dos idosos que perderam seus animais de estimação por motivos como: a

morte do animal, o afastamento deste por motivo de saúde, relatam imensas saudades e

sofrimento diante dessa situação:

(...) Também o dia que morreu, eu também embrulhei e abracei. Eusofri muito com

a morte deles. Isso faz 5 anos (...)Mas aí menina, eu fiquei apaixonada por aqueles

bichos, fizeram tanta parte da minha vida. (Lassie)

Eles morreram, mas foi um de cada vez. Eu senti a falta deles, porque eu via todo

dia, eu morava em cima e eles embaixo. Eu tinha afeto por eles. É assim, a gente se

apega, né? Não é um ser humano, mas depois que eles passam a conviver, entendem

tudo, né? A gente fala as coisas, eles entendem. (Hachiko)

Ah eu adorava eles, eu senti muito, eu chorei quando tive que dar. (...) apesar de

não tratar deles, (...) também ficou muito triste. Só que nós não demos eles para

muito longe, nós demos para nossa vizinha do lado, porque (...) era pequeno, o

menino dela, da (...), vizinha de porta comigo, aí ela falou assim: ah Leni, para você

não ficar tão longe de zulzinho e de lelinho, você me dá eles que eu cuido deles. Aí

eu ia lá, ficava olhando de longe. A gente visitava eles e (...) levava eles lá em casa,

mas não deixava eles muitos perto de mim. Aí eu não cuidei mais deles. E eles

viveram tanto e você não sabe da maior, Lelinha era uma periquita, ele botou

ovinho, deu cria na casa. Eles morreram, não tem muito tempo que eles morreram.

Eles ainda ficaram bastantes tempos vivos na casa de (...). Eles viveram bastante.

(...) Ah eu gostava muito deles, eu senti muito a falta deles, muito mesmo. Como eu

senti também das minhas duas tartaruguinhas. (Winter)

Os relatos dos entrevistados diante da morte ou afastamento do animal de estimação

mostra a importância que esses exerciam na vida dos idosos. Todos sem exceção expressaram

sentimentos como saudades, tristeza, mágoa e apego. Isso pode ser explicado pelo vínculo de

amizade e afeto que os animais são capazes de criar, como eles mesmos afirmam.

Dotti afirma que por meio dos animais aprendemos a encontrar em algumas imagens a

representação da paz, do respeito, da fidelidade, da amizade, da companhia, da

responsabilidade, da sabedoria, do amor etc.

Segundo os idosos entrevistados, os animais de estimação são capazes de estabelecer

vínculos tão fortes quanto os humanos. Assim como são capazes de entender os sentimentos

de seus donos. São amigos, são como filhos.

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A convivência com tais animais está entre as interações alternativas consideradas

relevantes, principalmente quando os idosos convivem com eles como se fossem membros da

família (COSTA, 2009, p. 3).

Elas estão em algum lugar, a alma delas existe sim, eu acho que os bichos, eles

convivem com a gente por algum motivo, eles tem assim alguma coisa que as

pessoas não entendem, eu sei que eles não tem raciocínio, mas eles se apegam a

gente, a gente se apega a eles e eles sentem que a gente tem um vinculo e parece

que o espirito da gente se comunica com o deles. É uma coisa assim tão forte, tão

maravilhosa, você entendeu?(Lassie)

Olha, eu vou te dizer uma coisa, eu encontrei nelas o que eu não encontrei em

muitas pessoas, parecia que elas entendiam minha alma, aquelas coisas quando eu

estava triste, quando eu estava alegre. (Lassie)

Quando a gente trata bem o bichinho aprende as coisas mais fácil, é quando o

domador tem paciência porque se você bater nele, ele vai ficar...é igual uma

criança. É para ser educada. Eu ainda acho que o bichinho é mais sensível que a

criança, porque se Deus quiser ele vai crescer mais um pouco e vai falar, mas o

bichinho não fala para você. O bichinho não fala o que ele tá sentindo. Você trata

ele bem, ele te agradece, mas ele não sabe falar nada. Eu acho o bichinho mais

sensível do que a criança. E é para vida toda assim, para toda vida, ele não vai

crescer, ele não vai falar uma hora que ele crescer vai? Não vai. (Winter)

É igual um filho, o cachorro é feito uma criança. É uma criança. Eles são muito

amigos, é uma amizade que às vezes um ser humano, um parente não tem. (Marley)

Fiquei pensando assim “caramba, o cachorro ele é um animal que só falta falar,

porque as atitudes do cachorro quando a gente tem muito zelo por ele, muito trato,

ele fica muito amigo, entendeu? É como se a gente, sei lá. Não sei como é aquilo

não. É muito...se torna uma coisa muito humana até, é uma amizade assim como se

fosse duas pessoas, é isso que eu senti, né? Eu digo “caramba, eu preciso de ter”.

(Benji)

As entrevistas trouxeram a tona algumas lembranças boas, outras dolorosas, outras de

superação:

É uma coisa assim, muito espiritual da gente, a gente não sabe o que é. Que é uma

coisa que você tem vontade assim, que você pegou no gato, você se sente bem.

Alisou o pelo do gato, você se sente assim uma mulher realizada, uma coisa assim

feliz, como se você abraçasse um filho. Uma coisa assim que a gente não entende.

Eu não entendo. A primeira vez que eu coloquei meus filhos, no colo, tive 2 partos

péssimos, eu entrei em coma e tudo. Quando minha filha amamentou, foi a sensação

que eu nunca tinha dito na vida, assim aquele bichinho perto de mim, parecia um

animal, esses gatos também, quando eu ficava com eles no colo era como se fosse

uma parte minha, um filho meu, assim nesse sentido. Uma coisa gostosa. (Lassie)

Umazinha morreu foi de fome, Juliana, a gente viajou, aí meu filho queria levar, eu

arranjei uma caixinha e enchi de buraquinhos, comprei alface para levar. Meu

marido não deixou levar de jeito maneira, aí meu filho saiu quase chorando,

falando para ele “papai, ela vai morrer”, ele disse: não vai, vamos deixar. Quando

a gente chegou e ele viu a bichinha morta, ele chorou muito, chamou o pai de

monstro, ele chorou muito. Eu fiquei muito chateada com ele de não ter deixado

levar a bichinha. (Winter)

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E eu fui salva por um cão, já sofri muito com meu marido, ele não me dava nada,

muito mau mesmo. Aquele homem que não tinha responsabilidade, então eu criei o

veludo, grandão, aí ele tomava conta da gente, sabe? Um dia eu respondi né?

Nunca tinha respondido, eu sempre sofri sem dizer nada. Aí ele ô (colocou a mão no

pescoço e simulou um enforcamento), aí o cachorro tomava conta das crianças e

tomava conta de mim, nessa hora o cachorro entrou, o cachorro pulou em cima

dele, jogou ele longe e sentou assim na minha frente, ele não veio me bater, ele ia

me matar, sabe? E pronto, aí meu amor pelos animais cresceu mais ainda. Uma

benção. Eu fui embora, porque me mandava ir embora, me maltratava. (Winter)

O meu problema era espaço, porque eu tinha cachorro na infância, né? Mas eu não

participava muito, porque eu estudava. Era cachorro de quintal, dois grandões.

Eram uns cachorros lindos. Eu gostava muito de cachorro. Eu sempre tive contato

com cachorros, esses animais... Quando eu era pequena, né? Até grande e sempre

foi muito legal. Uma maravilha.(Pongo)

Olha ele era assim, ele era um cachorro muito sabido, muito esperto, tudo que a

gente ensina para ele, ele aprendia, e ele ia até participar de uma peça aqui na

UFF. Eu escrevi a historiazinha dele, mas foi justamente quando meu irmão

adoeceu, aí não pude mais ensinar junto...E eu sei que até depois que ele se foi, uma

menina daqui fez o papel dele na peça (...) Aí eu fiquei com essa lembrança, né?

Fiquei pensando assim “caramba, o cachorro ele é um animal que só falta falar,

porque as atitudes do cachorro quando a gente tem muito zelo por ele, muito trato,

ele fica muito amigo, entendeu? É como se a gente, sei lá. Não sei como é aquilo

não. É muito...se torna uma coisa muito humana até, é uma amizade assim como se

fosse duas pessoas, é isso que eu senti, né? Eu digo “caramba, eu preciso de ter”.

Mas não dar para eu ficar levando na rua, porque para ter e deixar dentro de casa,

é melhor não ter, né? Eu não posso assim dar aquela assistência a ele como antes.

Porque era assim, quando meu irmão saía, aí eu saía com ele para passear, né?

Mas ele era muito assim, ele me rebocava .(Benji)

Idosos retrataram suas lembranças de forma muito semelhante, todos expressaram

saudade e reconheceram seus animais como animais sensíveis, amigos verdadeiros e que

faziam diferença em suas vidas. Porém no decorrer dos discursos foi possível observar certa

tristeza mediante a ausência do animal, mas isso não afastava os sentimentos positivos que

aquelas lembranças traziam.

A presença e convivência com um animal de estimação na vida dos idosos traz

benefícios no que se refere à relação de afeto e troca, cuidado com ele e consigo mesmo,

considerando a manutenção das necessidades básicas de manutenção da vida, proporciona

ainda a presença de um ser em momentos de perda de entes queridos e da própria saúde, a

amenização de estados de tristeza, depressão e isolamento mediante a presença do afeto

incondicional que a presença do animal traz para suas vidas. Tais fatos podem ser ilustrados

nas histórias de superação, generosidade com gestos de adoção e cuidado com animais

abandonados que passaram a ser foco de atenção e cuidado desses idosos em suas vidas.

Nesse sentido, talvez esse seja um dos motivos do avanço da terapia assistida por

animais, tendo em vista que além das evidentes melhoras físicas, o maior ganho da terapia

assistida com animais é o psicológico, pois o corpo libera endorfina, que é o hormônio

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responsável pelo bem estar e relaxamento, a pressão arterial diminui, há diminuição do nível

de cortisol, hormônio liberado quando o corpo se encontra em situações de estresse físico e

mental. Em grande quantidade no corpo, o cortisol compromete a imunidade. Percebe-se uma

melhora no sistema imunológico, na autoestima, e na interação social (CLERICI, 2009).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desse estudo me permitiu conhecer um pouco mais sobre as contribuições

que a presença dos animais de estimação traz para vida dos idosos, uma vez que esse assunto

não é muito abordado.

Durante a pesquisa constatei que os idosos do grupo de convivência veem a presença

do animal de estimação em suas vidas de forma carinhosa e amorosa, sempre atribuindo a

presença deles a amizade e companhia. Pude constatar também que as contribuições da

presença desses animais dizem respeito à segurança, a companhia, a amizade, ao carinho, a

compreensão, a felicidade, a distração, a superação de momentos difíceis, a proteção, a

compaixão, a generosidade. E que além das contribuições ainda existem os momentos de

tristeza e saudades, em caso de falecimento ou afastamento do animal. Além disso, existem as

despensas que foram citadas indiretamente no decorrer das entrevistas, pois os animais

precisam comer e auxílios veterinários.

Os idosos do grupo de convivência percebem seus animais de estimação como seus

amigos, como membros da família. Segundo eles, a relação com os animais muitas vezes

superam as relações humanas, pois eles são doam completamente.

A partir dos resultados desse estudo é possível observar a importância que o animal

exerce na vida dos idosos, uma vez que muitas vezes, ele é o único companheiro na vida dessa

pessoa. Sendo assim ele atua como amigo que interrompe a solidão, trazendo sentimentos de

utilidade e felicidade a esses idosos.

O animal também favorece uma rotina de atividades diárias na vida desses idosos, pois

é preciso alimentá-los, escová-los, passear com eles, limpar os excrementos do animal etc., e

isso os mantêm ativos física e mentalmente.

O número de participantes (9) foi uma das limitações do estudo, porém o método

história de vida permitiu conhecer a partir das falas dos idosos suas experiências com seus

animais de estimação além de proporcionar momentos de troca de experiências e acesso a

memórias que embora possam ter causado nostalgia remeteram também a emoções

relacionadas á convivência com esses seres e lembrança de tempos vividos de forma natural

como pode ser observado durante seus relatos em suas expressões e entonações de voz.

Como contribuições para o cuidado em enfermagem gerontológica esse estudo aponta

possibilidades de articular práticas não farmacológicas como a terapia assistida com animais

para desenvolvimento de ações educativas em saúde a partir da convivência com animais de

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estimação bem como de suporte emocional a pessoa idosa tanto em grupos de convivência

quanto em instituições de saúde. Mas para isso é necessário que mais estudos sejam feitos

abordando os efeitos da presença do animal na vida de idosos hospitalizados,

institucionalizados, em situação de fragilidade física, mental e emocional, pois há

pouquíssimos estudos discutindo essa temática no Brasil.

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72

APÊNDICES

Formulário de caracterização sócio demográfica e roteiro para a entrevista individual

Universidade Federal Fluminense

Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

Curso de graduação em enfermagem e licenciatura

Orientadora: Professora Doutora Fátima Helena do Espírito Santo

Discente: Juliana de Oliveira Pinto

Título da pesquisa: O animal de estimação na vida de idosos de um grupo de convivência:

contribuições para o cuidado na enfermagem gerontológica

Instrumento de pesquisa

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

Nome: Idade: Sexo ( ) F ( ) M

Estado civil: ( ) casado ( ) solteiro ( ) união estável ( ) separado ( ) viúvo

Mora: ( ) sozinho ( ) com filho(a) ( ) com amigos ( ) outros ____________

Tipo de residência: ( ) Apartamento ( ) casa ( ) outros _________________

Animal de estimação: ( ) cachorro ( ) gato ( ) tartaruga ( ) passarinho ( ) calopsita ( )

outros ____________

Quantos animais de estimação possui ? _____________________________________

Desde quando o senhor (a) tem esse animal de estimação? Como ele entrou na sua vida?

1. Fale sobre a presença de um animal de estimação na sua vida. (Quais atividades

faz com ele? Como é a convivência com ele?

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73

ANEXOS

Termo de consentimento livre e esclarecido

O (a) senhor (a) está sendo convidada a participar do projeto de pesquisa “o animal de

estimação na vida de idosos de um grupo de convivência: contribuições para o cuidado na

enfermagem gerontológica” de responsabilidade da pesquisadora Prof ª Drª Fátima Helena do

Espírito Santo, pertencente à instituição Universidade Federal Fluminense.

Os objetivos desse projeto são descrever como o idoso de um grupo de convivência percebe o

animal de estimação na sua vida e analisar as contribuições da presença do animal de

estimação na vida dos idosos de um grupo de convivência.

Se depois de consentir em sua participação o Sr (a) desistir de continuar participando, tem o

direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes ou

depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. O

(a) Sr (a) não terá nenhuma despesa e também não receberá nenhuma remuneração. Os

resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada,

sendo guardada em sigilo.

Em caso de dúvidas do participante, ele poderá perguntar diretamente no momento da

entrevista. Em caso de dúvidas posteriores ao encontro com o entrevistador, ela poderá entrar

em contado com um dos telefones do pesquisador abaixo citados ou com o Comitê de Ética

em Pesquisa (CEP), cujo endereço eletrônico e telefone encontram-se no final deste termo.

________________________________________________________________

Fátima Helena do Espirito Santo Juliana de Oliveira Pinto

E-mail: [email protected] E-mail: [email protected]

Telefone: (21) 99807-7109 Telefone: (21) 99437-5700

Os participantes de pesquisa, e comunidade em geral, poderão entrar em contato

com o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina/Hospital Universitário

Antônio Pedro, para obter informações específicas sobre a aprovação deste projeto ou

demais informações:E-mail: [email protected] Tel./fax: (21) 2629-9189

Eu, __________________________________________, RG nº _____________________

declaro ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de pesquisa

acima descrito.

__________________________ _____________________________

Assinatura do participante Testemunha

Niterói, _____ de ____________ de _______.

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Parecer do comitê de ética

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