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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - CB DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA DMP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PPGCB RAÍZA NARA CUNHA MOIZÉIS AVALIAÇÃO DO PERFIL DA RESPOSTA IMUNE INATA EM PACIENTES INFECTADOS PELO VÍRUS CHIKUNGUNYA NATAL/RN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - CB

DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA – DMP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – PPGCB

RAÍZA NARA CUNHA MOIZÉIS

AVALIAÇÃO DO PERFIL DA RESPOSTA IMUNE INATA EM PACIENTES

INFECTADOS PELO VÍRUS CHIKUNGUNYA

NATAL/RN

2018

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RAÍZA NARA CUNHA MOIZÉIS

AVALIAÇÃO DO PERFIL DA RESPOSTA IMUNE INATA EM PACIENTES

INFECTADOS PELO VÍRUS CHIKUNGUNYA

Dissertação apresentada à Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como

parte das exigências do Programa de Pós-

Graduação em Ciências Biológicas (PPGCB),

para obtenção do título de mestre em Ciências

Biológicas, sob orientação do Prof. Dr. José

Veríssimo Fernandes.

Linha de pesquisa: Diversidade biológica.

NATAL – RN

201

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson

Centro de Biociências - CB

Moizéis, Raíza Nara Cunha.

Avaliação do perfil da resposta imune inata em pacientes

infectados pelo vírus Chikungunya / Raíza Nara Cunha Moizéis. -

Natal, 2018.

66 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande

do Norte. Centro de Biociências. Pós-graduação em Ciências

Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. José Veríssimo Fernandes.

1. Chikungunya - Dissertação. 2. Imunidade inata -

Dissertação. 3. Receptores - Dissertação. 4. Citocinas -

Dissertação. 5. Infecção aguda - Dissertação. I. Fernandes, José

Veríssimo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 578.89

Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351

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RAÍZA NARA CUNHA MOIZÉIS

AVALIAÇÃO DO PERFIL DA RESPOSTA IMUNE INATA EM PACIENTES

INFECTADOS PELO VÍRUS CHIKUNGUNYA

Dissertação apresentada à Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como

parte das exigências do Programa de Pós-

Graduação em Ciências Biológicas (PPGCB),

para obtenção do título de mestre em Ciências

Biológicas, sob orientação do Prof. Dr. José

Veríssimo Fernandes.

Linha de pesquisa: Diversidade biológica.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Prof. Dr. José Veríssimo Fernandes – UFRN (Orientador)

______________________________________________________________ Prof. Dr. Josélio Maria Galvão de Araújo – UFRN

(Membro interno)

_____________________________________________________________ Prof. Dra. Manuela Sales Lima Nascimento

Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra – IIN-ELS (Membro externo)

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À minha família, Meus Pais (Moizéis e Lúcia), Meus

Irmãos (Charles e Bárbara) e à Minha Sobrinha

(Dáfiny Maria) que são o alicerce da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Á Deus pela proteção e força nos momentos de dificuldade.

Ao meu orientador José Veríssimo Fernandes que vem me guiando ao longo de todo

o meu percurso acadêmico.

Aos professores Josélio e Paulo que me auxiliaram de todas as formas possíveis

para a conclusão deste trabalho. E a professora Manuela Sales pela disponibilidade.

Aos meus pais que são tudo. Todo o amor, carinho e compreensão, a vocês eu nem

tenho como agradecer.

Ao meu irmão Charles e minha cunhada Érika pela parceria. À minha irmã Barbara a

quem eu dedico toda uma admiração pela pessoa que se tornou.

À minha sobrinha Dáfiny Maria que me rega de amor com cada palavra nova que

aprende.

Aos colegas do LADIC e agregados (Hannaly, Brenda, Anne, Joelma, Marília,

Nathalie, Denis, Camila) que trouxeram alegria e momentos de lazer durante esta

etapa.

Aos colegas do mestrado tanto do programa de Ciências Biológicas como da

Biologia Parasitária por todo o companheirismo durante essa jornada da pós-

graduação.

Aos meus amigos de infância Jonathan e Tibério por todos os anos de amizade e

torcida. E aos amigos que ganhamos na jornada da vida, especialmente, Elenildo,

Rodolfo (com quem dividi os mesmos aposentos ao longo de quase três anos),

Bruno, Joãozinho, Carlos e a Mariana, por toda a cumplicidade e paciência em

escutar meus lamentos.

Aos colegas da Biomedicina por todo o apoio e amizade.

E a aqueles que estiveram na torcida e contribuíram indiretamente ao longo de mais

essa etapa da vida.

À todos, meus agradecimentos mais sinceros.

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RESUMO

A infecção pelo vírus Chikungunya causa alta morbidade devido principalmente a

artralgia e artrite geradas. A inflamação induzida nas articulações pela infecção viral

envolve a imunidade inata e adaptativa. Entretanto, os mecanismos imunológicos

envolvidos na proteção ou patogênese não estão ainda, totalmente, elucidados.

Dessa forma o objetivo do presente estudo foi avaliar as expressões de receptores

da imunidade inata e citocinas induzidas por sua ativação em pacientes infectados

pelo vírus Chikungunya. Neste estudo, foi avaliado a expressão de RNAm por PCR

em tempo real dos receptores tipo Toll (TLR3, TLR7, TLR8, TLR9), RLR (MDA5 e

RIG-1), Moléculas adaptadoras (TRIF e MyD88) e citocinas (IFNα, IFNβ, IFNγ, IL-6,

IL-12 e TNFα) em sangue total de pacientes na fase aguda da infecção por

Chikungunya (N=28) e em indivíduos saudáveis, não infectados (N=9) utilizados

como grupo controle. Os pacientes infectados pelo CHIKV apresentaram aumento

da expressão de RNAm de TLR3, em relação aos indivíduos saudáveis. Não foi

observada diferença significativa da expressão de TLR7, TLR9, MDA5 e RIG-1 nos

pacientes infectados pelo CHIKV, sendo observada, no entanto, uma redução da

expressão de RNAm de TLR8, quando comparado aos indivíduos saudáveis.

Nossos resultados indicam que a infecção pelo CHIKV em pacientes na fase aguda

induz elevada produção de IFN-α, IFN-γ e IL-6, moléculas da imunidade inata, com

ação antiviral provavelmente, devido ao reconhecimento do vírus por TLR3 e em

menor proporção por MDA5 e RIG-1, além de mecanismos que, possivelmente,

envolvam a colaboração de TLR9. Ainda, foram constatadas correlações positivas

entre as expressões de RNAm de TLR3, TLR7, TLR9, MDA5 e RIG-1 com

expressão IFN-α. De maneira interessante, também foram observadas correlações

positivas entre as expressões de RNAm de TLR3 com IFN-α, IFN-γ e IL-12, e entre a

expressão de RNAm de MDA5 com IFN-α, IFN-β, IFN-γ e IL-6, IL-12 e TNF-α.

Palavras-chave: Chikungunya, imunidade inata, receptores, citocinas, infecção

aguda.

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ABSTRACT

Chikungunya virus infection cause high morbidity mainly due to arthalgia and arthritis

generated. An inflammation induced in the joints by viral infection involve innate and

adaptive immunity. However, the immunological mechanisms involved in protection

or pathogenesis have not yet been completely elucidated. Thus the aim of the

present study was to evaluate the expression of innate immunity receptors and

cytokines induced by their activation in patients infected with the Chikungunya virus.

In this study the expression of mRNA by real-time PCR of Toll receptors (TLR3,

TLR7, TLR8, TLR9), RLR (MDA5 and RIG-1), adaptive molecules (TRIF and MyD88)

and cytokines (IFN-α, IFN-β, IFN-γ, IL-6, IL-12 and TNF-α) in whole blood of patients

in the acute phase of the Chikungunya infection (N=28). Uninfected cases (N=9)

were used as negative controls. Pacients infected with CHIKV are older than TLR3

mRNA expression in relation to healthy languages. Influences of the expression of

TLR7, TLR9, MDA5 and RIG-1 in CHIKV infected patients in the past have not been

confirmed but have been shown to decrease TLR8 mRNA expression when they

were found in the healthy populations. Factors related to CHIKV infection in pacients

in the suck phase, infection with IFN-α, IFN-γ and IL-6, infections of innate immunity

with antiviral action, recognition of the virus by TLR3 and to a lesser extent by MDA5

and RIG-1, in addition to mechanisms that possibly involve TLR9 collaboration.

Furthermore, positive correlations were found between the mRNA expression of

TLR3, TLR7, TLR9, MDA5 and RIG-1 with IFN-α expression. Interestingly, positive

correlations between TLR3 mRNA expression with IFN-α, IFN-γ and IL-12 were also

observed, and between MDA5 mRNA expression with IFN-α, IFN-γ and IL-12 were

also observed, and between MDA5 mRNA expression with IFN-α, IFN-β, IFN-γ and

IL-6, IL-12 and TNF-α.

Keywords: Chikungunya, innate immunity, receptors, cytokines, acute infection.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Sequência dos iniciadores específicos utilizados nas reações de qPCR em tempo

real. ....................................................................................................................................................... 40

Tabela 2. Sintomas relatados pelos pacientes com diagnostico confirmado laboratorialmente

por febre Chikungunya. ..................................................................................................................... 42

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Replicação do CHIKV em células infectadas ............................................................... 21

Figura 2. Cascatas de sinalização dos TLRs e RLRs. ................................................................ 25

Figura 3 - Delineamento experimental do estudo. ....................................................................... 34

Figura 4. Expressão de RNAm de TLR3 (A), TLR7 (B) e TLR8 (C), TLR9 (D), TRIF (E),

MyD88 (F), MDA5 (G) e RIG-1 (H) .................................................................................................. 44

Figura 5. Expressão de RNAm das citocinas IFN-α (A), IFN-β (B) IFN-γ (C), IL-6 (D), IL-12

(E), TNF-α (F) ...................................................................................................................................... 46

Figura 6. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real,

entre TLR3 x IFN-α (A), TLR3 x IFN-β (B), TLR3 x IFN-γ (C), TLR3 x IL-6 (D), TLR3 x IL-12

(E), TLR3 x TNF-α (F) ........................................................................................................................ 47

Figura 7. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real,

entre TLR7 x IFN-α (A), TLR7 x IFN-β (B), TLR7 x IFN-γ (C), TLR7 x IL-6 (D), TLR7 x IL-12

(E), TLR7 x TNF-α (F) ........................................................................................................................ 48

Figura 8. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real,

entre TLR8 x IFN-α (A), TLR8 x IFN-β (B), TLR8 x IFN-γ (C), TLR8 x IL-6 (D), TLR8 x IL-12

(E), TLR8 x TNF-α (F) ........................................................................................................................ 49

Figura 9. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real,

entre TLR9 x IFN-α (A), TLR9 x IFN-β (B), TLR9 x IFN-γ (C), TLR9 x IL-6 (D), TLR9 x IL-12

(E), TLR9 x TNF-α (F) ........................................................................................................................ 50

Figura 10. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo

real, entre MDA5 x IFN-α (A), MDA5 x IFN-β (B), MDA5 x IFN-γ (C), MDA5 x IL-6 (D), MDA5

x IL-12 (E), MDA5 x TNF-α (F) ......................................................................................................... 51

Figura 11. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo

real, entre RIG-1 x IFN-α (A), RIG-1 x IFN-β (B), RIG-1 x IFN-γ (C), RIG-1 x IL-6 (D), RIG-1 x

IL-12 (E), RIG-1 x TNF-α (F)............................................................................................................. 52

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Ae.: Aedes

ATP: Adenosine Triphosphate

Buffer AW: Wash Buffer/Tampões

C: Proteína do Capsídeo

CAAE: Certificado de Apresentação para a Apreciação Ética

CD + : Cluster of Differentiation, (ex.: CD14+)

cDNA: DNA complementar

CHIKF: febre Chikungunya

CHIKV: Chikungunya vírus

CNS: Conselho Nacional de Saúde

CpG: Desoxicitidilato fosfato desoxiguanilato

CT: Thresohld Cycle

DC: Dendritic Cells

DNA: Ácido desoxirribonucleico

dNTPs: Deoxynucleotide

dsRNA: Dupla fita de ácido ribonucleico

E: Glicoproteína do envelope, (ex.: E1)

E1-A226V: Alanina por uma Valina na posição 226, da glicoproteína E1

ECSA: Leste-Central-Sul Africano

EDTA: Ethylenediamine tetraacetic acid

Eotaxina (CCL11): Quimiocina Quimiotática Para Eosinófilos

GM-CSF: Granulocyte macrophage colony stimulating factor

IFN tipo I: interferon do tipo I

IFN: Interferon (Ex.: IFN-α)

IL: Interleucina (Ex.: IL-6)

IL12p40: Subunidade do heterodímero da interleucina 12 composta de 40kD

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IP-10 (CXCL10): proteína de 10 kDa

IRF: Interferon Regulatory Fator (Ex.: IRF7)

ISG: Interferon-Stimulated Genes

JAK: Janus tyrosine Kinase

kb: Kilobases

kDa: Kilodaltons

LADIC: Laboratório de Doenças Infecciosas e do Câncer

LAVIR-IMT: Laboratório de Virologia do Instituto de Medicina Tropical

LIO: Linhagem do Oceano Índico

MCP-1 (CCL2): Monocyte chemoattractant protein-1

MDA5: Melanoma Differentiation-Associated protein 5

MS: Ministério da Saúde

MyD88: Myeloid Differentiation Primary Response Gene 88

NF-κB: Factor nuclear kappa B

NIAID: National Institute of Allergy and Infectious Diseases

NK: Natural Killers

nsPs: Precursores de proteínas não estruturais

OMS: Organização Mundial de Saúde

ORF: Open Reading Frame

PAMP: Padrões Moleculares Associados a Patógenos

PBMC: Peripheral Blood Mononuclear Cells

PCR: Polymerase Chain Reaction

PKR: (dsRNA) Activated Protein Kinase

PRR: Receptores de Reconhecimento Padrão

qPCR: Quatitative Polymerase Chain Reaction

q-RTPCR: Quantitative Transcriptase Reversa Polymerase Chain Reaction

RANKL: Receptor activator of nuclear factor kappa-Β ligand

RANTES (CCL5): Regulated on Activation, Normal T Cell Expressed And Secreted

RE: Retículo Endoplasmático

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RIG/RLRs: RIG Like receptor family

RNAm: Ácido ribonucleico mensageiro

RpB1: Subunidade da RNA polimerase II

RT-PCR: Transcriptase reversa

RRV: Vírus Ross River

ssRNA: Ácido ribonucleico de fita simples

STAT: Signal Transducer and Activator of Transcription

SUS: Unidades de Saúde do Sistema Único de Saúde

Th1: Célula T helper 1

Th2: Célula T helper 2

TNFα: Tumor Necrosis Factor-alpha

Toll/TLRs: Receptores do tipo Toll

TRIF–Toll: Domain Toll/IL-1 Receptor Domain-Containing Adaptor-Inducing IFNβ

ΔCT: Delta Thresohld Cycle

ΔΔCT: Delta Delta Thresohld Cycle

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15

1.1.BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA INTRODUÇÃO E ESTABELECIMENTO

DO CHIKV .............................................................................................................. 15

1.2.MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ......................................................................... 18

1.3. ASPECTOS GERAIS DA BIOLOGIA DO CHIKV ............................................ 19

1.4.RESPOSTA IMUNE INATA FRENTE A INFECÇÃO POR CHIKV ................... 22

1.5.RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA FRENTE A INFECÇÃO POR CHIKV ....... 26

1.6. PATOGÊNESE DA INFECÇÃO E ESTRATÉGIAS DE EVASÃO DA

RESPOSTA IMUNE POR CHIKV .......................................................................... 28

2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 32

3. OBJETIVOS ....................................................................................................... 33

3.1.OBJETIVOS GERAIS ...................................................................................... 33

3.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 33

4. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL .................................................................. 34

5. METODOLOGIA ................................................................................................. 35

5.1.LOCAL DO ESTUDO E OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS ................................. 35

5.2.COLETA DE SANGUE ..................................................................................... 36

5.3.EXTRAÇÃO DE RNA E SÍNTESE DE cDNA ................................................... 36

5.4.ANÁLISES DAS EXPRESSÕES DE MARCADORES DE IMUNIDADE INATA

POR PCR EM TEMPO REAL (qPCR) ................................................................... 38

5.5.ANÁLISES ESTATÍSTICAS ............................................................................. 41

6. RESULTADOS ................................................................................................... 42

7. DISCUSSÃO ...................................................................................................... 53

8. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 60

9. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 61

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1. INTRODUÇÃO

1.1.BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA INTRODUÇÃO E ESTABELECIMENTO

DO CHIKV

O vírus Chikungunya (CHIKV) agente etiológico da febre Chikungunya

(CHIKF) foi isolado pela primeira vez por Ross (1952-1953) em Newala, Tânzania

(Região do planalto Makonde). O termo Chikungunya na língua local Bantu significa:

“O que se contorce, se curva” (THIBERVILLE et al., 2013), empregado pela

população local em referência ao sintoma clássico e distintivo da doença, a artralgia

severa, que afeta inclusive a coluna vertebral, levando o paciente a apresentar

postura encurvada (BURT et al., 2012).

A infecção pelo CHIKV é transmitida por artrópodes hematófagos, o que a

caracteriza como arbovirose (POWERS; LOGUE, 2007), tendo como vetores

principais, os mosquitos do gênero Aedes, sendo as espécies Ae. aegypti e Ae.

albopictus os transmissores mais importantes (LOURENÇO-DE-OLIVEIRA;

FAILLOUX, 2017). Análises filogenéticas das sequências virais permitiram identificar

quatro linhagens distintas separadas pela geografia, com alterações genéticas sutis

e particulares entre as linhagens. Estas incluem os genótipos: Leste-Central-Sul

Africano (ECSA), Africano Ocidental, Asiático e a linhagem do Oceano Índico (LIO)

(NUNES et al., 2015). Evidências filogenéticas indicam que CHIKV surgiu na África

e, posteriormente, foi introduzido na Ásia (POWERS; LOGUE, 2007).

A febre Chikungunya se manteve silenciosa por quase meio século, até que

em meados dos anos 2000, grandes surtos epidêmicos da infecção ressurgiram,

com explosões de casos entre 2005-2007, iniciando no Quênia em 2004, e seguindo

para a região do Comores com 5.000 casos confirmados, atingindo outras áreas do

Continente Africano, e em seguida se espalhou para Oceania, ocasião em que um

grande surto de consequências catastróficas foi documentado, nas Ilhas Reunião,

onde pelo menos um terço da população foi infectada, assim como na Índia, e

demais regiões do continente Asiático (WEAVER; FORRESTER, 2015). Estima-se

que cerca de 1,5 milhões de pessoas foram infectadas nestas regiões durante os

surtos. No mesmo período foram notificados casos autóctones em áreas da Europa

(inicialmente no Nordeste da Itália com não menos que 200 casos confirmados) e,

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posteriormente nas Américas a começar pela região do Caribe (BURT et al., 2012;

WAHID et al., 2017).

No Brasil o primeiro caso de CHIKF ocorreu no ano de 2010 no Rio de

Janeiro, sendo notificado como caso importado da região de Sumatra, Indonésia. No

entanto, não foram realizados exames confirmatórios como o isolamento do vírus ou

detecção por Reação em Cadeia Polimerase (PCR), sendo o diagnóstico baseado

apenas na anamnese do paciente, relatando como principal manifestação clínica a

poliartralgia (NUNES et al., 2015). Quanto aos primeiros casos autóctones da

infecção por CHIKV foram relatados quase que simultaneamente, em setembro de

2014, nas regiões Norte e Nordeste, com registros de casos da doença em

Oiapoque, Amapá e em Feira de Santana, Bahia, respectivamente (NUNES et al.,

2015; PYBUS, 2016). Em consequência das condições favoráveis de clima,

manutenção do agente etiológico e abundância de vetores, CHIKV tornou-se

endêmico em muitas regiões, especialmente na região Nordeste do país.

No ano de 2016 foram notificados 271.824 casos suspeitos da doença no

Brasil, distribuídos em 2.829 municípios abrangendo quase todos os estados. Com

uma taxa de incidência equivalente a 133.0 casos/100 mil habitantes, com o registro

de 196 óbitos, sendo 91.0% dos casos na região Nordeste. No Estado do Rio Grande

do Norte, foram notificados 21.638 casos suspeitos da doença, com registro de 37

óbitos, representando o segundo maior registro de casos de morte no país. Os óbitos

foram notificados em todas as idades (0 a 98) anos, contudo a maioria deles ocorreu

em idosos, com mediana de idade de 62 anos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

O momento das explosões de grandes surtos da febre Chikungunya coincidiu

com a observação de uma mutação no gene que codifica a glicoproteína E1 do

envelope viral, na cepa ECSA, onde ocorre a troca de uma Alanina por uma Valina,

na posição 226 (E1-A226V). Essa substituição de aminoácidos está relacionada a

uma menor dependência de colesterol pelos mosquitos infectados, obtido durante o

repasto sanguíneo para a replicação do vírus. Desta forma, a baixa concentração de

colesterol passa a não interferir na infectividade do vírus para as células dos

artrópodes, melhorando a eficiência do Ae. albopictus como vetor de transmissão.

Esta mutação fez com que o Ae. albopictus, um mosquito amplamente distribuído

pelo mundo, em virtude de sua alta capacidade de adaptação, inclusive em zonas

temperadas, tornar-se um vetor extremamente importante para a disseminação da

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doença (ASIA; AFRICAN, 2008; LO PRESTI et al., 2014). Assim, os casos de CHIKV

fora de países tropicais, como o surto na Itália em 2007 e em outras regiões da

Europa, foram associados ao retorno de viajantes da Índia e áreas afins, igualmente

afetadas. Sendo os principais determinantes desses surtos, a alta densidade de

vetores competentes, no momento da chegada de casos importados e a população

imunologicamente naive para a infecção pelo CHIKV (TENG et al., 2011).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano de 2016, ao

menos 101 países relataram casos locais de CHIKF, excluindo-se da contagem

países onde apenas casos importados foram documentados (CENTERS, 2016).

Situação que torna o quadro da infecção por CHIKV um sério problema global para a

saúde pública, fato que também levou o CHIKV a ser tratada como patógeno de

prioritário, desde o ano de 2008, pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças

Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID) (SCHWARTZ; ALBERT, 2010b).

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1.2.MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Os achados clínicos da febre Chikungunya são muito semelhantes aos de

outras arboviroses, o que dificulta o diagnóstico clínico baseado nas manifestações

sintomáticas. Na CHIKF, a maioria dos infectados apresentam sintomatologia, raros

são os pacientes assintomáticos (3-25%). A apresentação clínica clássica da

infecção, consiste em uma tríade que inclui febre, artralgia e erupções cutâneas

(GOUPIL; MORES, 2016; TENG et al., 2011). O período de incubação varia de 1-12

dias, com média de 2-4 dias. O quadro clínico é marcado por febre repentina,

inchaços, fotofobia, dor retro orbital, cefaleia, erupções maculopapulares e

petequiais com ou sem prurido, poliartralgia simétrica das extremidades, como: pés,

joelhos, punhos, cotovelos, dedos das mãos e pés, são os mais afetados. Para a

maioria dos acometidos a infecção é autolimitante, com resolução espontânea

dentro de 1-2 semanas, para outros a artralgia pode durar de meses a anos (BURT

et al., 2012).

Quadros de recorrência são frequentes entre os infectados 30-40% devido a

reativação viral. Além disso, são relatados casos mais raros, onde alguns pacientes

evoluem com manifestações clínicas atípicas, a exemplo de problemas cardíacos, a

síndrome de Guillain-Barré e alterações neurológicas diversas associadas a infecção

por CHIKV. Estudos em camundongos mostraram que CHIKV infecta neurônios e

células gliais podendo causar necrose neuronal, achados esses que poderiam

explicar, pelo menos em partes, as alterações neurológicas desenvolvidas por

alguns pacientes (POWERS; LOGUE, 2007; SCHWARTZ; ALBERT, 2010b).

Também foi relatado, a via de transmissão vertical, como essencial para a

infecção fetal, além dos quadros de danos neurológicos e encefalites, frequentes em

neonatos de mães infectadas durante a gestação (JOOB et al., 2017), assim como

manifestações oculares e lesões vesículo-bolhosas cutâneas que se assemelham à

síndrome da pele escaldada estafilocócica, são observadas principalmente, em

recém-nascidos. A taxa de mortalidade da CHIKF é cerca de 1 para cada 1.000

infectados (MAVALANKAR et al., 2008), e os grupos mais vulneráveis são,

sobretudo, neonatos e idosos, assim como adultos com complicações secundárias

tais como diabetes e alterações cardíacas (BURT et al., 2012; CARDONA-CORREA;

CASTAÑO-JARAMILLO; QUEVEDO-VÉLEZ, 2017).

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1.3. ASPECTOS GERAIS DA BIOLOGIA DO CHIKV

Chikungunya é um vírus do gênero Alphavirus pertencente à família

Torgaviridae (POWERS; LOGUE, 2007). Possui genoma de RNA fita simples com

cerca de 12 kb de comprimento, sentido positivo, linear, protegido por um capsídeo

de simetria icosaédrica e circundado por um envelope lipídico contendo

glicoproteínas associadas, tendo aproximadamente 70 nm de diâmetro (CHEN et al.,

2013; LUM; NG, 2015). O genoma apresenta em sua extremidade, mais curta 5’,

uma metilguanosina, enquanto que a região mais longa 3’ contém uma cauda poli

(A), além de repetições diretas que se pensa estar associada à adaptação do vírus

aos mosquitos, que servem como vetores de sua transmissão aos vertebrados

(CHEN et al., 2013). O genoma contém duas fases de leitura abertas (ORFs) e

codificam duas poliproteínas, sendo uma estrutural, codificada por uma sequência

que representa um terço do genoma, e após a clivagem dá origem às proteínas (C,

E1, E2, E3, E4 e 6K) a outra não estrutural codificada por uma sequência

correspondente aos outros dois terços do genoma, após a clivagem dá origem as

proteínas (nsP1, nsP2, nsP3 e nsP4) (THIBERVILLE et al., 2013).

As proteínas não estruturais além de darem suporte para a síntese da

poliproteína estrutural possuem funções diversas, tais como: nsP1 tem um papel

importante na replicação viral, uma vez que possui múltiplas atividades enzimáticas

incluindo: atividade ATPase e RNA trifosfatase (KARPE; AHER; LOLE, 2011), RNA

helicase (DAS et al., 2015) e de protease (UTT et al., 2015) nsP2 atua para

neutralizar as respostas antivirais da célula hospedeira através de múltiplos

mecanismos, incluindo o desligamento transcricional geral da célula hospedeira, por

induzir a degradação da subunidade Rpb1 da RNA polimerase II, (AKHRYMUK;

KULEMZIN; FROLOVA, 2012), inibição da produção de interferons (IFNs) do tipo I,

por interferir com a via de sinalização JAK / STAT (FROS et al., 2010, 2013), além

de induzir autofagia (JUDITH et al., 2013). A proteína nsP3 faz parte da unidade

replicase, e é capaz de se ligar à polímeros carregados negativamente, incluindo

RNA, além de promover interações com inúmeras proteínas celulares. Embora não

exista comprovação a nsP4 do CHIKV parece ser uma RNA polimerase, RNA

dependente (MALET et al., 2009).

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O conjunto de proteínas não estruturais recém-sintetizadas se associam

para formar o complexo de replicação viral (LUM; NG, 2015), que por sua vez,

sintetiza um intermediário de RNA de cadeia negativa que serve como modelo para

a síntese de RNA subgenômico (26S) e genômico (49S) para a síntese de

precursores da poliproteína estrutural. (BURT et al., 2017; THIBOUTOT et al., 2010).

Os produtos dos genes estruturais são sintetizados a partir da tradução do

RNAm subgenômico em uma poliproteína precursora (C-pE2-6K-E1), como

podemos observar na (FIGURA 1). No Retículo Endoplasmático essa poliproteína é

processada por uma serina protease autoproteolítica para produzir a proteína do

capsídeo (C) e as duas maiores glicoproteínas de superfície do envoltório (E1 e E2),

bem como dois pequenos peptídeos (E3 e 6K). As glicoprotínas E1 e E2, são

geradas por processamento posterior, e se associam no Golgi, onde são

transportadas para a membrana plasmática. E2 é clivado em duas unidades: E2 que

funciona como estrutura de adsorção do vírus aos receptores da célula e E3 que

promove a dobragem de E2 e sua subsequente associação com E1. Também E1

possui a função de coordenar a orientação das proteínas do capsídeo para a

montagem dos vírions. O papel da proteína 6k permanece ambíguo, mas parece

estar envolvido com as etapas de montagem e brotamento dos vírions na superfície

das células infectadas.

A montagem das partículas virais é iniciada pela incorporação das cópias do

RNA genômico viral recém-sintetizadas pela proteína do capsídeo, formando os

nucleocapsídeos. Em seguida os nucleocapsídeos são ancorados na parte interna

da membrana plasmática onde se encontram inseridas as glicoproteínas virais E1 e

E2, por onde brotam as partículas virais, incorporando a membrana da célula

hospedeira a sua estrutura e formando assim o envelope viral, com posterior

liberação dos vírions (GOUPIL; MORES, 2016; SCHWARTZ; ALBERT, 2010b;

VERSTEEG; FEBRES; BEAUMIER, 2016).

Portanto, a replicação viral ocorre no citoplasma associada a vacúolos,

formados a partir do rearranjo das membranas de organelas celulares, enquanto a

síntese das proteínas virais ocorre no Retículo Endoplasmático. A montagem dos

vírus também ocorre no citoplasma, seguido da aquisição do envelope, na ocasião

do brotamento das partículas virais, através da membrana plasmática da célula

hospedeira (DAS et al., 2016).

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Figura 1. Replicação do CHIKV na célula hospedeira. O RNA genômico (sentido positivo) atua como RNAm, sendo parcialmente traduzido para sintetizar uma cadeia complementar negativa, afim de produzir proteínas não estruturais (nsPs). A colaboração dessas proteínas com o molde negativo, ajudam a formar mais cadeias de RNA positivo. A replicação de RNAm subgenômico ocorre através da síntese de intermediários de RNA negativo, sendo regulada por precursores nsp4 e p123. A tradução do RNA subgenômico, resulta na produção de proteínas estruturais, como (C-E1-E2-E3-6k). A montagem ocorre na superfície da célula e o envelope é adquirido pelo recrutamento das glicoproteínas virais associadas a membrana do hospedeiro. A liberação e a maturação ocorrem quase simultaneamente.

Fonte: Adaptado de THIBOUTH et al., 2011)

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1.4.RESPOSTA IMUNE INATA FRENTE A INFECÇÃO POR CHIKV

É muito bem estabelecido que o interferon tipo I é crucial para uma resposta

imune protetora eficiente contra a infecção pelo CHIKV e que sua síntese se dá a

partir do reconhecimento do vírus por receptores intracelulares denominados,

receptores de reconhecimento de padrões (PRRs) os quais reconhecem motivos

moleculares conservados no vírus, denominados padrões moleculares associados a

patógenos (PAMPs). Os dois principais tipos de PRRs que reconhecem vírus são os

Receptores do tipo Toll (TLRs) encontrados na membrana plasmática da célula e em

vesículas endossomais e os Receptores induzíveis por ácido retinóico (RLRs)

encontrados no citoplasma (TENG et al., 2011).

Os receptores do tipo Toll (TLR2, TLR3, TLR4, TLR7, TLR8 e TLR9) são

conhecidos por estarem envolvidos na imunidade antiviral, sendo que TLR2 e TLR4

reconhecem glicoproteínas da superfície viral; TLR3 reconhece RNA de fita dupla

(dsRNA); TLR7 e TLR8 são ativados por RNA de fita simples (ssRNA) e TLR9 por

DNA não metilado contendo CpG. Quanto aos receptores RLRs temos, RIG-1

(Receptores induzíveis por ácido retinóico semelhantes a genes I), MDA5 (Proteína

primária de diferenciação de melanoma associado a Proteína 5, também conhecido

por IFIH1) e PKR (proteínas quinases dependentes de dsRNA) que detectam

preferencialmente vírus de RNA no citoplasma. Considerando o fato de CHIKV ser

um vírus RNA de fita simples que replica com um intermediário RNA de dupla fita,

sensores potenciais, incluem: TLR3, TLR7, TLR8 e RLRs (KAWAI; AKIRA, 2010;

SCHWARTZ; ALBERT, 2010b).

Para a ativação de várias vias de sinalização dos receptores tipo Toll (TLR2,

TLR3, TLR4) é necessário a presença da proteína adaptadora TRIF (adaptador

contendo domínio TIR induzindo Interferon-β) para induzir a expressão de genes que

codificam interferons (ISGs), principalmente IFN tipo I e outras citocinas pró-

inflamatórias (YAMAMOTO et al., 2003). Para TLR3, o reconhecimento se dá a partir

de dsRNA intracelular derivado de vírus ou de células infectadas por vírus e ativa a

via dependente de TRIF para induzir IFN do tipo I e citocinas inflamatórias. Enquanto

em TLR7 e TLR8, o reconhecimento se dá por vírus ssRNA nos endossomas,

ativando NF-κB e IRF7 via MyD88 para induzir citocinas pró-inflamatórias e IFN tipo

I, respectivamente. Além disso, a autofagia está envolvida na entrega de ssRNA

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para vesículas endossomais que expressam TLR7 e TLR8. No caso de TLR9, o

reconhecimento ocorre pelo DNA não metilado contendo desoxicitidilato fosfato

desoxiguanilato (CpG) derivado de vírus de DNA e bactérias. A clivagem proteolítica

de TLR9 por proteases celulares é necessária para a transdução de sinal e

recrutamento de MyD88 para ativar NF-kB e IRF7, também no sentido de induzir

citocinas pró-inflamatórias e IFN tipo I (BOEHME et al., 2004; KAWAI; AKIRA, 2010).

Outro possível mecanismo para envolver MyD88 pode estar relacionado ao seu

papel como um adaptador para os receptores de IL-1β e IL-18. Pela secreção de IL-

1β a partir de células infectadas, induzindo a síntese do receptor de IL-1β inclusive

em células não infectadas, assim como a síntese de IFN tipo I em células não

infectadas, potencializando a resposta protetora (SCHWARTZ; ALBERT, 2010b). Da

mesma forma funciona para IL-18, como citocina indutora de interferon, podendo ser

induzida para aumentar a resposta pró-inflamatória nos indivíduos infectados

(CHIRATHAWORN et al., 2013) tal como se verifica na (FIGURA 2).

Para as vias estimuladas por meio de RIG-I/ MDA-5, esses receptores

medeiam o recrutamento de um adaptador estimulador do promotor de IFN I (IPS-1;

também conhecido como MAVS, CARD, CARDIF e VISA, para induzir a produção de

IFN de tipo I, (IFN-α/β) através dos fatores reguladores de interferon 3 e 7 (IRF3 e

IRF7). Consequentemente, a ação antiviral de IFN do tipo I depende dos receptores

IFN para ativar a via de sinalização JAK/STAT, a qual é essencial para sua

regulação por um loop de feedback positivo amplificando a produção de IFN tipo I

(KATO et al., 2006; TENG et al., 2011), também foi observado que existe uma

diferença na funcionalidade entre os receptores RIG-I e MDA5. Enquanto o RIG-I é

essencial para a produção de interferon em resposta a vírus de RNA, o MDA5 atua

na prevenção da infecção viral (KATO et al., 2006; TENG et al., 2011). O IFN Tipo I

é produzido pela maioria dos tipos de células e constituem a primeira linha de defesa

contra infecções virais (WAUQUIER et al., 2011).

No que diz respeito as fases da doença causada pelo CHIKV e as citocinas

mais expressas, observou-se que, nos estágios agudos precoces da infecção (4-7

dias) várias citocinas estão elevadas, dentre elas: IFN-α, IFN-γ, IL-12, assim como

as citocinas do perfil de resposta Th1. Para as fases mais tardias da infecção aguda

entre (10-15 dias), alguns autores observaram uma evolução da resposta para o

perfil Th2, com aumentos na expressão de IL-4 e eotaxina (também CCL11)

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(quimiocina quimiotática para eosinófilos) (GOUPIL; MORES, 2016) possivelmente,

esses perfis se correlacionam com o desenvolvimento ou controle da infecção. Em

adição, também ocorre o aumento exacerbado de citocinas como: IFN-α, IFN-γ,

TNF-α, IL-6, IL-12, IL-18, IL-18R, são correlacionados, especificamente, a uma maior

carga viral, persistência do vírus em tecidos e manifestações clínicas mais severas

(GOUPIL; MORES, 2016; THANGAMANI et al., 2010).

A maioria dos estudos não correlacionam os perfis de citocinas com

manifestações articulares, embora Rulli et al. (2011) relataram que pacientes com

poliartralgia apresentaram níveis mais elevados de mediadores imunes derivados de

macrófagos, como: MCP-1/CCL2 (proteína quimioatrativa de monócitos tipo I), TNF-

α (fator de necrose tumoral alfa) e IFN-γ (interferon gama) (GOUPIL; MORES, 2016;

RULLI et al., 2011). Assim os sintomas de longo prazo em pacientes com CHIKF

podem ocorrer por persistência de macrófagos e fibroblastos sinoviais infectados, do

mesmo modo que o desenvolvimento de mialgias podem estar associadas a

persistência viral no músculo esquelético (BURT et al., 2017; SINGH; UNNI, 2011).

Desta forma, a resposta imune inata desempenha um papel crucial na proteção

contra a infecção por CHIKV, limitando a replicação viral, de forma semelhante ao

observado nas infecções por outros Alfavirus, sugerindo que, somente, uma

resposta imune inata robusta é capaz de controlar a infecção (SCHWARTZ;

ALBERT, 2010a; TENG et al., 2011).

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Figura 2. Cascatas de sinalização dos TLRs e RLRs. Após os receptores do tipo Toll e RIG-1/MDA5 reconhecerem PAMPs, passam por alterações conformacionais, permitindo o recrutamento de moléculas adaptadoras que ativam a transcrição ISGs para produção de IFN tipo I e citocinas pró-inflamatórias.

Fonte: Adaptado TRINCHIERI et al., 2007.

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1.5.RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA FRENTE A INFECÇÃO POR CHIKV

As informações disponíveis na literatura acerca da resposta imune adaptativa

para o controle da infecção por CHIKV, ainda são muito escassas, no entanto,

alguns estudos em modelos murinos sugerem que esta seja crítica para o controle e

depuração viral (LONG; HEISE, 2015). Apesar de aparecer precocemente na

infecção por CHIKV a resposta imune adaptativa, leva um tempo para se

estabelecer, visto que os antígenos virais precisam ser absorvidos pelas células

apresentadoras de antígenos (APCs), principalmente células dendríticas, antes de

serem apresentadas para células naives T e B, até passarem por estágios de

desenvolvimento e diferenciação, e se tornarem células efetoras, com funções

antivirais e de eliminação do vírus, também foi descrito que o estabelecimento de

uma resposta imune anti-CHIKV, após uma infecção primária, é capaz de conferir

proteção completa contra uma reinfecção (TENG et al., 2011).

Por conseguinte, foi demonstrado que a resposta imune adaptativa tem um

potencial efeito protetor e patogênico para a infecção por CHIKV. Estudos em

camundongos com depleção tanto de células T quanto de células B, mostraram que

as ausências destas células estavam associadas a uma maior carga viral e

persistência do vírus nas articulações e outros tecidos alvos, levando a

predisposição à doença crônica. Entretanto, a depleção estava relacionada a um

menor inchaço na pata do camundongo, assim como um menor grau de sinovite e

miosite (FOX; DIAMOND, 2017). O estabelecimento da resposta imune adaptativa

ocorre já nos estágios iniciais da infecção com ativação e proliferação de células

TCD8+ precocemente, envolvendo citocinas antivirais e uma forte resposta

inflamatória. Posteriormente, foi observada apoptose mediada por expressão de

CD95 induzida por CHIKV em células T CD4+ nos primeiros dois dias de sintomas,

sugerindo apoptose precoce deste tipo celular, compatível com o quadro de

linfopenia desenvolvido por pacientes com a infecção por CHIKV. Em estágios mais

tardios da fase aguda foram caracterizadas respostas acentuadas de células T

CD4+ e produção de proteínas anti-inflamatórias, com aumento de IFN-γ, IL-7 e IL-

12p40. A infecção pelo vírus Ross River (RRV) que também é um Alphavirus

apresenta um padrão de níveis aumentados de células T CD8+ associadas a

recuperação rápida, enquanto níveis mais elevados de T CD4+ são relacionados a

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evolução de formas crônicas da infecção, o que poderia também se repetir com o

CHIKV (WAUQUIER et al., 2011).

A produção precoce de resposta imune específica também pode ser explicada

pela regulação positiva de citocinas como IL-4 e IL-10 que ativam as células B. Os

anticorpos produzidos atuam prioritariamente nas proteínas expostas do envelope

viral E1 e E2. Os anticorpos IgM anti-CHIKV são detectados poucos dias após o

início da infecção, até a segunda semana da doença, coincidindo com o aumento de

IgG anti-CHIKV que permanece na fase tardia da infecção aguda, e ainda na fase

crônica (FOX; DIAMOND, 2017). Contudo, já foi observada a presença de anticorpos

IgM anti-CHIKV em pacientes após meses de infecção, sugerindo uma exposição

constante ao vírus (BURT et al., 2012). Foi observado também, que os receptores

TLR3 são essenciais para a indução da produção de anticorpos IgG específicos,

potencialmente neutralizantes e eficazes para a depuração viral, enquanto que a

ausência ou deficiência do reconhecimento do vírus pelo receptor TLR3 está

associado a um reconhecimento reduzido dos epítopos virais pelos anticorpos

neutralizantes. Desta forma, TLR3 atua de modo a favorecer as células B a

refinarem sua especificidade na interação entre os antígenos do CHIKV e os

anticorpos específicos (HER et al., 2015). De todo modo, o papel da resposta imune

adaptativa frente a infecção por CHIKV carece de maiores informações, inclusive no

que compreende as citocinas expressas e ao perfil de resposta de células T de

proteção e/ou patogênese nas fases mais avançadas da doença.

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1.6. PATOGÊNESE DA INFECÇÃO E ESTRATÉGIAS DE EVASÃO DA

RESPOSTA IMUNE POR CHIKV

A transmissão do CHIKV ocorre através da picada do mosquito vetor,

previamente infectado. O sítio inicial de replicação viral parece ser fibroblastos

cutâneos e macrófagos dérmicos, ao mesmo tempo em que partículas virais são

capturadas por células dendríticas (DCs), incluindo células de Langerhans da pele, e

conduzidas aos linfonodos mais próximos, onde são transferidos para monócitos e

macrófagos que entram na corrente sanguínea e disseminam os vírus para outros

órgãos (HER et al., 2010; KAM et al., 2009; LUM; NG, 2015). Na fase virêmica

ocorre também um certo tropismo para os tecidos da pele, cérebro, fígado, baço,

músculos, linfonodos, tecidos articulares e conjuntivos. A infecção persistente foi

detectada nas articulações, músculos e macrófagos esplênicos, bem como em

células endoteliais dos sinusóides hepáticos (LUM; NG, 2015). Entretanto, a fase

aguda da infecção é caracterizada por altas concentrações de citocinas pró-

inflamatórias, principalmente, interferon tipo I (IFN tipo I) e uma elevada carga viral

no sangue (HOARAU et al., 2010). Experimentos em modelos animais mostraram

que a ausência de receptores de IFN do tipo I era crucial para letalidade da doença

(COUDERC et al., 2008).

Acredita-se a hipossensibilidade aos receptores de IFN tipo I que tornariam as

células hospedeiras, e por conseguinte, os tecidos mais susceptíveis a infecção pelo

CHIKV, como é o caso dos tecidos conjuntivos ósseos, articulares e

musculoesqueléticos (SINGH; UNNI, 2011; TENG et al., 2011). Sabe-se que CHIKV

entra na célula hospedeira por endocitose mediada por receptores revestidos por

clatrinas, dentro de uma vesícula formada a partir da invaginação da membrana

plasmática na célula hospedeira, endossoma. O pH ácido é essencial para a fusão

entre as membranas vesiculares virais e da célula hospedeira. O meio se acidifica a

medida que a vesícula se aproxima do núcleo, desencadeando alterações

conformacionais no envelope viral, que por sua vez, expõem a proteína E1,

responsável pela mediação da fusão do endossoma com a partícula viral, e então,

ocorre a liberação do genoma viral no citoplasma, onde toda a maquinaria celular vai

servir de aporte para a síntese das proteínas do vírus e montagem de novos vírions.

(BURT et al., 2017; THIBERVILLE et al., 2013). Todavia, existem evidências que

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sugerem outras possíveis vias de entrada desses vírus que pode ser específica para

cada tipo de célula (VAN DUIJL-RICHTER et al., 2015). Algumas células infectadas,

sofrem apoptose, tal que, podem auxiliar na disseminação do vírus, dada a liberação

da progênie ocorrida em formas de vesículas de membrana apoptóticas, as quais

posteriormente, são tomadas por macrófagos e monócitos, onde irão replicar e,

consequentemente, ajudar na difusão viral, levados por estas células para outros

tecidos (SCHWARTZ; ALBERT, 2010a; SINGH; UNNI, 2011). Deste modo, a

apoptose pode servir como um mecanismo para permitir a infecção por CHIKV em

células que não são boas permissoras da entrada viral direta, bem como auxiliar o

vírus a evadir os mecanismos imunes do hospedeiro (LONG; HEISE, 2015).

No que tange ao tropismo pelas células mononucleares de sangue periférico

(PBMC) foi observado que estes tipos celulares não são tão eficientes para a

replicação pelo CHIKV (SOURISSEAU et al., 2007), exceto quando são inoculadas

altas cargas virais (HER et al., 2010). Os monócitos são os alvos iniciais da infecção

por CHIKV, assim como macrófagos residentes de fígado, baço e tecidos sinoviais

infectados, também a depender da carga viral de inoculação. Entretanto, tanto os

monócitos como os macrófagos possuem baixas cargas virais e geram partículas,

normalmente não infecciosas. Isso provavelmente, deve-se ao fato de estas células

produzirem altos níveis de Interferon alfa (IFN-α), portanto, não sendo capazes de

sustentar a síntese viral por muito tempo, considerando que IFNs tipo I (IFN-α e IFN-

β), são os principais reguladores do tropismo e da virulência viral (FRAGKOUDIS et

al., 2007). Por outro lado, tanto os macrófagos como os monócitos são ótimos

albergadores da infecção, visto que permanecem na circulação, disseminando o

CHIKV para vários órgãos, especialmente, aqueles de maior tropismo do vírus

(SINGH; UNNI, 2011). Estudos em modelos animais mostraram que a depleção de

macrófagos diminuiu consideravelmente o inchaço/edema, causado pela infecção

por CHIKV, neste sentido uma abordagem razoável seria a de que a exacerbação da

resposta imune poderia contribuir para indução da infecção por CHIKV (BURT et al.,

2012).

É conhecido na literatura o efeito protetor de IFN tipo I, sendo estes

mediadores importantes para respostas imediatas às infecções virais, especialmente

as Alfavirais. Os IFN do Tipo I compreendem os subtipos IFN-α e IFN-β (Interferon

beta) produzidos principalmente, por leucócitos e fibroblastos, respectivamente.

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Estes IFNs desencadeiam vias de sinalização induzindo a expressão de centenas de

genes estimulados por interferon (ISGs) que resultam na síntese de múltiplas

proteínas antivirais e no estabelecimento de um estado antiviral geral. No que diz

respeito ao IFN do tipo II, ou Interferon gama (IFN-γ), é produzido principalmente por

células NK (natural killers) e linfócitos T ativados. Via de regra, pacientes que

conseguem controlar bem a infecção por CHIKV, normalmente expressam altos

níveis dessas citocinas (WAUQUIER et al., 2011). Contudo, assim como outros

vírus, é possível que CHIKV tenha desenvolvido mecanismos para modular a

resposta imune do hospedeiro, e um dos principais candidatos é a proteína

estrutural (nsP2) que atua desligando o sinal de IFN tipo I, portanto, inibindo a

síntese de receptores de IFN tipo I, e ocasionando uma diminuição da resposta

imune frente ao patógeno (SCHWARTZ; ALBERT, 2010b; TENG et al., 2011).

Outro fator existente é a infecção crônica, muitos estudos mostraram a

presença de infiltrados de células inflamatórias e replicação viral em tecidos como os

músculos, sugerindo que ocorre a persistência do vírus pela continuidade de

replicação em tecidos-alvo, especialmente, tecidos articulares, onde a replicação

leva ao recrutamento de células inflamatórias com capacidade migratória, como

monócitos, macrófagos e células NK, o que a longo prazo desencadeia a patologia

do tecido musculoesquelético (GOUPIL; MORES, 2016).

A resposta inflamatória coincide com níveis elevados de mediadores e

infiltração de células imunes em articulações infectadas e tecidos circundantes

(BURT et al., 2017). Níveis séricos mais elevados de IL-1β, RANTES/CCL5 e outros

fatores pró-inflamatórios, como IFN-α, IL-6 e a proteína de 10 kDa (IP-10, também

CXCL10) foram encontrados em pacientes com doença grave por CHIKV, com

poliartrite severa, em comparação aqueles com doença mais leve, apontando o

envolvimento deste mediadores imunes como causa das dores crônicas nas

articulações e nos músculos (HOARAU et al., 2010; NG et al., 2009). Indicando

ainda, que níveis elevados desses mediadores podem ser utilizados como marcador

de mau prognóstico da doença (NG et al., 2009).

Diferenças entre o perfil de citocinas da doença aguda e crônica têm sido

observadas, com níveis elevados de receptor de IL-1α, IL-6, IL-7, IL-8, IL-12 e IL-15

na fase aguda, e níveis séricos elevados de IL-6, GM-CSF e IL-17 na artrite crônica

severa (CHEN et al., 2015; GASQUE et al., 2015). A ação da IL-17 pode gerar

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inflamação crônica da matriz extracelular e destruição óssea através da estimulação

de IL-6, TNFα, IL-1, metaloproteinases de matriz e RANKL (ligante do fator protetor

ósseo) (CHEN et al., 2015). A IL-6 parece ser ser fundamental para a persistência

da artrite causada por CHIKV pela regulação de RANKL e osteoclastogênese (NG et

al., 2009). Alguns pacientes, com artrite por CHIKV apresentam erosão óssea

subcondral, derrame articular e espessamento das articulações que podem persistir

por anos (CHAAITHANYA et al., 2014). Foi constatado que os fibroblastos sinoviais

humanos infectado por CHIKV secretam mediadores imunes, incluindo IL-6 que

induz ostoclastogênese, uma vez que, recrutam e induzem a diferenciação de

monócitos CD14+ em osteoclastos. Os osteoclastos infectados por CHIKV secretam

altos níveis de IL-6 promovendo um feedback positivo que além favorecer a

progressão na artralgia/artrite, também medeiam a dor em múltiplas articulações

devido às suas propriedades migratórias (PHUKLIA et al., 2013).

Evidências apontam que os casos mais graves da febre Chikungunya

dependem diretamente da ação de múltiplos fatores dentre eles, a persistência viral,

mecanismos e fatores associados a reativação do vírus nas articulações, evasão da

resposta imune, resposta imune descontrolada de citocinas pró-inflamatórias e

reatividade cruzada com autoantígenos. (DAS et al., 2010; GOUPIL; MORES, 2016;

VERSTEEG; FEBRES; BEAUMIER, 2016).

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2. JUSTIFICATIVA

Os conhecimentos disponíveis atualmente sobre o papel da resposta imune

tanto na proteção como na patogênese da CHIKF ainda são escassos e algumas

vezes contraditórios, o que reforça a necessidade de novos estudos que visem um

melhor entendimento do perfil da resposta imune inata, sendo ela a primeira barreira

de defesa contra o vírus, e dos mecanismos de controle da infecção pelo CHIKV. O

presente estudo visa oferecer uma contribuição na obtenção de mais informações

sobre os mecanismos de ativação da resposta imune inata em pacientes portadores

da infecção aguda pelo CHIKV. Contudo, ainda existe um longo caminho a percorrer

sobre os conhecimentos da biologia e imunopatogênese da infecção, sendo esta

uma ferramenta muito importante para a produção de novos antivirais, vacinas ou

novas formas de controle da infecção, tendo em vista que atualmente o único

método eficaz de controle, ainda é o combate ao mosquito vetor.

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3. OBJETIVOS

3.1.OBJETIVOS GERAIS

Avaliar o perfil da resposta imune inata em pacientes com infecção aguda

pelo vírus Chikungunya.

3.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar a expressão de RNAm de receptores do tipo Toll (TLR3, TLR7, TLR8

e TLR9) e RLR (MDA5 e RIG-1), das moléculas adaptadoras MyD88 e TRIF e

citocinas (IFNα, IFNβ, IFNγ, IL-6, IL-12 e TNFα) em sangue total de pacientes

com infecção aguda por CHIKV;

Correlacionar a expressão de RNAm entre os receptores e citocinas da

resposta imune inata;

Comparar o perfil de resposta imune inata apresentada por pacientes

infectados por CHIKV em fase aguda da doença com aquela apresentada

pelo grupo controle, formado por indivíduos saudáveis;

Correlacionar o aumento na expressão de citocinas com as manifestações

clínicas narradas;

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4. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

Figura 3 - Delineamento experimental do estudo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

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5. METODOLOGIA

5.1.LOCAL DO ESTUDO E OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS

As amostras foram obtidas entre os anos de 2015 e 2016, coincidindo com o

período de expansão endêmica da CHIKF no Estado do Rio Grande do Norte. A

população selecionada para o estudo foi formada por indivíduos que deram entrada

nas Unidades de Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Munícipio de

Natal/RN com suspeita clínica e indicativos pós anamnese que referissem

manifestações comuns causadas por arboviroses. O presente estudo foi aprovado

pelo comitê de ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) de

acordo com o protocolo CAAE: 51057015.5.0000.5537.

Amostras de sangue foram coletadas de pacientes com suspeita clínica de

infecções por arboviroses, e passaram pelos procedimentos de extração de RNA,

seguido de amplificação do material genético por PCR para o CHIKV pelo protocolo

de (LANCIOTTI et al., 2007). Dentre as amostras, randomicamente, selecionamos

um total de 30 indivíduos com q-RTPCR positivo para CHIKV e um grupo de 9

indivíduos saudáveis que seriam nosso controle negativo. Os pacientes

selecionados tinham faixas etárias entre 0 e 77 anos de idade, deram entrada em

Unidades de Saúde do SUS em Natal/RN, com suspeita clínica e sintomatologia

referida comum de arboviroses, o tempo de coleta da amostra de sangue até o

aparecimento dos sintomas não poderia transcorrer os 5 dias, sugerindo o período

de fase aguda da infecção. Para o grupo controle de não infectados foram

selecionados antes dos surtos epidêmicos na região do Rio Grande do Norte,

randomicamente, nove indivíduos saudáveis que se disponibilizaram a participar do

trabalho e assinaram os termos de livre consentimento e esclarecimento. As

amostras coletadas foram encaminhadas para o LADIC (Laboratório de Doenças

Infecciosas e do Câncer) e LAVIR-IMT (Laboratório de Virologia do Instituto de

Medicina Tropical), ambos na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),

onde foram realizados todos os procedimentos laboratoriais até a obtenção dos

resultados das análises de quantificação do RNAm de receptores da imunidade

inata, moléculas adaptadoras e citocinas.

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5.2.COLETA DE SANGUE

As amostras foram obtidas de sangue periférico 15mL usando o sistema de

coleta em tubos a vácuo contendo o anticoagulante EDTA (Vacutainer®, BD

Biosciences, USA) em seguida essas amostras foram acondicionadas em freezer a

temperatura de (-20ºC) até que se fossem realizados os procedimentos de extração

de RNA e síntese de cDNA para análises posteriores das expressões de

marcadores da imunidade inata por qPCR em tempo real.

5.3.EXTRAÇÃO DE RNA E SÍNTESE DE cDNA

As amostras obtidas acima foram submetidas ao processo de extração de

RNA, utilizando Kit QIAGEN (Viral RNA Mini Kit Qiagen RNA Extraction) específico

para extração de RNA total, seguindo as recomendações do fabricante. Inicialmente

foram pipetados 560 µL de tampão AVL (tampão de lise) preparado com RNA

(carrier/transportador) em tubos de microcentrífuga com capacidade de 1,5 mL;

foram adicionados 140 µL das amostras e o produto homogeneizado por pulso-

vortex (Vortex Model QL-901, Biomixer) 15 segundos. Posteriormente, incubados a

temperatura ambiente por 10 min, seguido de breve centrifugação (6000 x g/ 15 seg)

e adicionados mais 560µL de etanol (96-100%), novamente o produto foi

homogeneizado por meio de pulso vórtex 15 seg, seguido de breve centrifugação

(6000 x g/ 15 seg). Do total 630µL do produto obtido foram passados para uma

coluna QIAamp Mini (Kit QIAGEN) centrifugados a 6000 x g/1min (esse passo foi

repetido), foram adicionados 500µL de tampão (Buffer AW1) a coluna, e centrifugado

a 6000 x g/1min. O tubo coletor foi descartado, substituído por novo tubo coletor de

microcentrífuga com capacidade de 1,5 mL e acoplado a coluna, adicionados mais

500µL de tampão (Buffer AW2) centrifugado a 20 000 x g/3min, novamente o tubo

coletor foi descartado e a coluna acoplada a um microtubo de polipropileno com

capacidade de 1,5mL (Sigma), por fim, foram adicionados 60µL tampão (Buffer

AVE), a amostra foi incubada por 1 min a temperatura ambiente e então centrifugada

a 6000 x g/1min, a coluna descartada. Dado todo o procedimento e as amostras

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extraídas foram acondicionadas em freezer -80°C até o momento de serem

utilizadas para obtenção do cDNA.

Em um segundo momento as amostras de RNA foram submetidas ao

procedimento de síntese de cDNA, utilizando o kit HIGT CAPACITY cDNA

REVERSE TRANSCRIPTION (Applied Biosystems, USA) e termociclador

convencional (MJ Research PTC-150 MiniCycler), seguindo o protocolo

recomendado pelo fabricante para a síntese do cDNA a partir da fita de RNA total.

Os ciclos da reação foram de 10min a 25° C, 120min a 37°C, 5min a 85°C e ∞ a 4°C.

A preparação do mix foi realizada em microtubos de polipropileno com capacidade

para 0,5mL (Sigma), adicionando 2µL da solução tampão, 0,8µL de dNTPs na

concentração de 100µM (Bio Basic Inc., USA), 1µL da enzima (MultiScribe™

Reverse Transcriptase), 2µL dos iniciadores (PRIMERS / INICIADORES,

TABELA1), 1µL do inibidor de RNAse, 3µL de água Mili-Q (Nuclease free) e 2µL da

amostra de RNA. Os cDNA obtidos a partir de cada amostra foram acondicionados a

uma temperatura de (–20°C) até a realização das análises para quantificação da

expressão do RNAm dos receptores, moléculas adaptadoras e suas citocinas por

Reação em cadeia polimerase quantitativa em tempo real.

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5.4.ANÁLISES DAS EXPRESSÕES DE MARCADORES DE IMUNIDADE INATA

POR PCR EM TEMPO REAL (qPCR)

Para as análises das expressões quantitativas de RNAm por RT-PCR, os

procedimentos foram realizados usando para cada gene alvo um Mix exclusivo,

composto pelos iniciadores (PRIMERS) direto e reverso, FAST SYBR® Green

(Applied Biosystems, USA), Master Mix e água Mili-Q nucleasse free para PCR, em

aparelho Applied Biosystems 7500 Fast Real-time PCR System (Applied Biosystems,

Warrington, Reino Unido). As reações foram realizadas em placas de 96 poços

(MicroAmp®, Applied Biosystems, USA). Para apuração e validade das análises de

expressão de RNAm foi necessário o uso de um controle positivo interno, no caso a

β-actina (gene constitutivo).

O cDNA (2,5ng/reação) sintetizados a partir do RNA mensageiro e

oligonucleotídeos específicos (2ng/reação), foram utilizados juntamente com os

tampões da reação contendo 5µL de Sybr® green, 0,7µL de cada iniciador (direto e

reverso) e 1,6 µL de água. As condições das reações foram 2min a 50ºC, 10min a

95ºC, e 40 ciclos de 15s a 95ºC e 1min a X da temperatura de Melting (TM)

específica para cada reação, anelamento (Tabela 1), dependente do conteúdo de

Citosina e Guanina (C+G) e do tamanho do fragmento produzido. Finalizando com

um ciclo de 20min a temperatura crescente de 60 a 95ºC, empregado para a

obtenção de uma curva de dissociação dos produtos da reação, utilizada para a

análise da especificidade de amplificação. As condições apropriadas da PCR para

cada iniciador utilizado foram padronizadas de acordo com a concentração,

temperatura de anelamento, ausência de formação de dímeros (determinada pela

curva de dissociação do produto gerado pela qPCR), eficiência de amplificação dos

genes alvos e gene constitutivo. A determinação dos níveis de expressão dos genes

alvo é realizada por meio da normalização das amostras quanto à expressão

constitutiva de β-actina que consiste na aplicação do método Delta-DeltaCT (ΔΔCT)

(LIVAK; SCHMITTGEN, 2001).

Para avaliação da expressão gênica calculamos o delta CT de cada amostra,

subtraindo os valores de CT do gene controle (β-actina) dos valores de CT do gene

alvo (receptores, moléculas adaptadoras e citocinas). Depois de obtido o valor do

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ΔCT da amostra, para a normalização dos dados, foi incluído o grupo controle (9

indivíduos saudáveis) que também tiveram seu ΔCT calculado para que

posteriormente, fossem aplicados na fórmula final. Sendo o cálculo de ΔΔCT o

seguinte: [ΔCT (amostra) -ΔCT (grupo controle) ]. Determinado o valor de ΔΔCT, foi

aplicado a fórmula 2-ΔΔCT, que resultou no valor da expressão gênica relativa. Os

resultados foram obtidos utilizando o programa Microsoft Excel (2013). E o

equipamento para execução das reações e fornecimento dos resultados foi o 7500

Software V 2.0.5, 7500 Fast Real time (Applied Biosystems, USA).

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Tabela 1. Sequência dos iniciadores específicos utilizados nas reações de qPCR em tempo real.

Fonte: Laboratório de Imunoparasitologia e LADIC - UFRN (2018).

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5.5.ANÁLISES ESTATÍSTICAS

As análises estatísticas foram realizadas através do software PRISM® 7.0

(GraphPad, San Diego, CA, USA) versão para Windows. Inicialmente foram feitos os

testes de Agostino-Pearson, ShapiroWilk e Kolmogorov-Smirnov para verificação da

distribuição normal dos dados. Posteriormente, para as análises dos níveis de

expressão das citocinas, receptores e moléculas adaptadoras envolvidos, para os

grupos infectados e controle, foi utilizado o teste de Mann-Whitney. Para realizar as

correlações entre as expressões de todos os parâmetros analisados foi utilizada a

regressão linear e o teste não paramétrico de Spearman. Em todos os casos, as

diferenças foram consideradas estatisticamente significantes quando o valor de p foi

menor ou igual a 0,05 (p ≤0,05).

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6. RESULTADOS

A análise das fichas individuais dos 28 pacientes com suspeita clínica de

febre Chikungunya e que posteriormente, tiveram a confirmação laboratorial do

diagnóstico da infecção pelo CHIKV, tinham idade variando de 0 a 77 anos, média

de 32 anos, sendo 11 (39,3%) homens e 14 (50%) mulheres, incluindo 3 recém-

nascidos (10,7%). Na anamnese dos pacientes incluídos no estudo, todos com

histórico de manifestações clínicas iniciadas dentro dos primeiros cinco dias. Foram

relatados diversos sintomas, dentre eles os mais frequentes foram: febre (92.6%),

artralgia (87.5%), fotofobia (85.2%), cefaleia (66.63%) e mialgia (58,3%), vide

(Tabela 2). Na tabela abaixo foi apurado a narração das manifestações clínicas

relatadas daqueles pacientes que estavam aptos a responderem as fichas, em

outros casos, a apuração foi feita por procedimentos simples realizados na

anamnese e inseridas no questionário.

Tabela 2. Sintomas relatados pelos pacientes com diagnostico confirmado laboratorialmente por

febre Chikungunya.

Fonte: Elaborada pela autora, 2018

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Ainda no que se refere as análises de dados deste estudo, avaliamos as

expressões de RNAm dos receptores da imunidade inata (TLRs e RLR), moléculas

adaptadoras (TRIF e MyD88) e das citocinas (IFN-α, IFN-β, IFN-γ, IL-6, IL-12 e

TFN-α), por meio de qPCR em tempo real. Dos resultados verificados, foi mostrado

um perfil muito diversificado entre os diferentes receptores do tipo Toll analisados

(FIGURAS 4A, 4B, 4C E 4D). Os pacientes com infecção aguda pelo CHIKV

apresentaram níveis de expressão significativamente maiores do receptor TLR3,

quando comparado ao grupo de indivíduos saudáveis (FIGURA 4A). Com relação

aos receptores TLR9 e TLR7 observou-se níveis de expressão um pouco acima

dos apresentados pelo grupo controle, porém não houve diferença estatisticamente

significante, para ambas as moléculas (FIGURAS 4D e 4B). Resultado inverso foi

observado em relação ao receptor TLR8 para o qual houve uma redução na

expressão de RNAm no grupo dos infectados em relação ao grupo de indivíduos

saudáveis (FIGURA 4C).

Para os receptores da família RLR, foi quantificada a expressão dos

receptores MDA5 e RIG-1. Constatou-se que os pacientes com infecção aguda

pelo CHIKV apresentaram níveis de expressão relevantes, porém não significativos

de ambos os receptores, em relação aos níveis de expressão para as mesmas

moléculas apresentadas pelo grupo de indivíduos saudáveis (FIGURA 4G e

FIGURA 4H).

Para a análise dos níveis de expressão da molécula adaptadora TRIF que

participa da cascata de sinalização via receptor TLR3, mostrou-se que os pacientes

infectados pelo CHIKV apresentaram níveis de expressão da referida molécula,

acima dos apresentados pelos indivíduos do grupo controle, embora a diferença

não tenha sido significativa (FIGURA 4E). Por outro lado, os níveis de expressão

de Myd88, molécula adaptadora importante na ativação da cascata de sinalização

dos receptores Toll; TLR7, TLR8 e TLR9, revelou que os pacientes infectados pelo

CHIKV apresentaram níveis de expressão dessa molécula, pouco abaixo dos

obtidos para indivíduos do grupo controle (FIGURA 4F).

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Figura 4. Expressão de RNAm de TLR3 (A), TLR7 (B) e TLR8 (C), TLR9 (D), TRIF (E), MyD88 (F), MDA5 (G) e RIG-1 (H), determinadas por qPCR em tempo real a partir de células mononucleares do sangue periférico de pacientes infectados por CHIKV em fase aguda da doença (n=28) e CN: Controle Negativo (indivíduos saudáveis) (n=9) *p≤0,05; ****p≤0,001. A expressão de RNAm está normalizada para β-actina em todas as variáveis e gráficos. Os dados são representativos de experimentos independentes e expressos em média ± DP.

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Para os níveis de expressão dos Interferons do tipo I, que são importantes na

ativação da resposta imune inata antiviral, verificou-se que os pacientes infectados

pelo CHIKV apresentaram níveis de expressão significativamente mais elevados de

IFN-α quando comparados ao grupo controle, não infectado (FIGURA 5A). Contudo

os níveis da expressão de IFN-β para o grupo infectado foram baixos e muito

semelhantes aqueles apresentados pelos indivíduos saudáveis (Figura 5B).

Para as demais citocinas analisadas no presente estudo, observou-se que os

pacientes infectados pelo CHIKV apresentaram níveis de expressão relevantes para

IFN-γ (Figura 5C), IL-6 (Figura 5D), IL-12 (Figura 5E), porém não foi observada

diferença significativa em relação aos níveis de expressão apresentados pelos

indivíduos do grupo controle. No entanto, em relação ao TNF-α, foi verificado que os

pacientes infectados pelo CHIKV apresentaram níveis de expressão

significativamente mais baixos, quando comparados aos do grupo controle. (Figura

5F).

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Figura 5. Expressão de RNAm das citocinas IFN-α (A), IFN-β (B) IFN-γ (C), IL-6 (D), IL-12 (E), TNF-α (F), determinadas por qPCR em tempo real a partir de células mononucleares do sangue periférico de pacientes infectados por CHIKV em fase aguda da doença (n=28) e CN: Controle Negativo (indivíduos saudáveis) (n=9) *p≤0,05; ****p≤0,001. A expressão de RNAm está normalizada para β-actina em todas as variáveis e gráficos. Os dados são representativos de experimentos independentes e expressos em média ± DP.

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A análise das correlações entre a expressão dos receptores do tipo Toll, TLR3

e das citocinas analisadas neste estudo, mostrou que houve associações

estatisticamente significativas entre a expressão do RNAm do receptor TLR3 com as

citocinas IFN-α (FIGURA 6A), IFN-γ (FIGURA 6C) e IL-12 (FIGURA 6E). Também

foi observada associações positivas, mas, não estatisticamente significativas entre a

expressão do receptor TLR3 e das citocinas IFN-β (FIGURA 6B), IL-6 (FIGURA 6D)

e TNF-α (FIGURA 6F).

Figura 6. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real, entre TLR3 x IFN-α (A), TLR3 x IFN-β (B), TLR3 x IFN-γ (C), TLR3 x IL-6 (D), TLR3 x IL-12 (E), TLR3 x TNF-α (F), Pacientes infectados por CHIKV em fase aguda da doença (n=28) *p≤0,05; ****p≤0,0001. A expressão de RNAm está normalizada para β-actina em todas as variáveis e gráficos.

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A avaliação das correlações entre a expressão do receptor do tipo Toll, TLR7

e das citocinas analisadas mostrou uma associação significativa entre a expressão

deste receptor e a expressão das citocinas IFN-α (FIGURA 7A), IL-12 (FIGURA 7E)

e TNF-α (FIGURA 7F). Associações positivas, mas não significativas, foram

observadas entre a expressão de TLR7 e das citocinas IFN-γ (FIGURA 7C) e IL-6

(FIGURA 7D). Por outro lado, não foi observada qualquer correlação entre a

expressão de TLR7 e de IFN-β (FIGURA 7B).

Figura 7. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real, entre TLR7 x IFN-α (A), TLR7 x IFN-β (B), TLR7 x IFN-γ (C), TLR7 x IL-6 (D), TLR7 x IL-12 (E), TLR7 x TNF-α (F), Pacientes infectados por CHIKV em fase aguda da doença (n=28) *p≤0,05; ****p≤0,0001. A expressão de RNAm está normalizada para β-actina em todas as variáveis e gráficos.

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Com relação a expressão do receptor TLR8 constatou-se a existência de

associação estatisticamente significativa apenas com a citocina IL-12 (FIGURA 8E).

Associações positivas, mas não significativas, entre a expressão de TLR8 e das

citocinas IFN-α (FIGURA 8A) e IL-6 (FIGURA 8D) também foram observadas.

Figura 8. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real, entre TLR8 x IFN-α (A), TLR8 x IFN-β (B), TLR8 x IFN-γ (C), TLR8 x IL-6 (D), TLR8 x IL-12 (E), TLR8 x TNF-α (F), Pacientes infectados por CHIKV em fase aguda da doença (n=28) *p≤0,05; ****p≤0,0001. A expressão de RNAm está normalizada para β-actina em todas as variáveis e gráficos.

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Com relação ao receptor TLR9 constatou-se a existência de correlações

positivas significativas entre os níveis de expressão deste receptor com o das

citocinas IFN-α (FIGURA 9A), IFN-γ (FIGURA 9C), IL-6 (FIGURA 9D), IL-12

(FIGURA 9E) e TNF-α (FIGURA 9F). Por outro lado, constatou-se uma correlação

negativa entre os níveis de expressão TLR9 e de IFN-β (FIGURA 9B).

Figura 9. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real, entre TLR9 x IFN-α (A), TLR9 x IFN-β (B), TLR9 x IFN-γ (C), TLR9 x IL-6 (D), TLR9 x IL-12 (E), TLR9 x TNF-α (F), Pacientes infectados por CHIKV em fase aguda da doença (n=28) *p≤0,05; ****p≤0,0001. A expressão de RNAm está normalizada para β-actina em todas as variáveis e gráficos.

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No que concerne aos receptores da família RLR, observou-se que a

expressão do receptor MDA5 apresentou associações positivas significativas com os

níveis de expressão de todas as citocinas analisadas, apresentando associações

fortíssimas entre as correlações, com valores de p ≤ 0,001 (FIGURAS 10A-10E).

Figura 10. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real, entre MDA5 x IFN-α (A), MDA5 x IFN-β (B), MDA5 x IFN-γ (C), MDA5 x IL-6 (D), MDA5 x IL-12 (E), MDA5 x TNF-α (F), Pacientes infectados por CHIKV em fase aguda da doença (n=28) *p≤0,05; ****p≤0,0001. A expressão de RNAm está normalizada para β-actina em todas as variáveis e gráficos.

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Por outro lado, a expressão do receptor RIG-1 também da família RLR,

apresentou correlações positivas significativas com os níveis de expressão de todas

as citocinas analisadas, exceto para IFN-β (FIGURA 11B).

Figura 11. Correlações entre as expressões de RNAm, determinada por PCR em tempo real, entre RIG-1 x IFN-α (A), RIG-1 x IFN-β (B), RIG-1 x IFN-γ (C), RIG-1 x IL-6 (D), RIG-1 x IL-12 (E), RIG-1 x TNF-α (F), Pacientes infectados por CHIKV em fase aguda da doença (n=28) *p≤0,05; ****p≤0,0001. A expressão de RNAm está normalizada para β-actina em todas as variáveis e gráficos.

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7. DISCUSSÃO

Dos 28 pacientes incluídos neste estudo, apenas um não teve a sua ficha

individual preenchida e, portanto, não foi possível avaliar as manifestações clínicas.

Dos 27 pacientes que tiveram o quadro clínico analisado, a maioria deles

apresentaram queixas de febre, artralgia, fotofobia, cefaleia e mialgias, sendo a

tríade, febre, artralgia e fotofobia, as manifestações mais frequentes relatadas por

pelo menos 85.2% dos pacientes.

Neste estudo, foi avaliado o perfil de resposta imune inata apresentada pelos

pacientes infectados pelo vírus Chikungunya na fase aguda com aquela exibida por

indivíduos saudáveis através da quantificação dos níveis expressão de RNAm dos

receptores da imunidade inata (TLRs e RLRs), das moléculas adaptadoras (TRIF e

MyD88) e das citocinas (IFN-α, IFN-β, IFNγ, IL-6, IL-12 e TFN-α). Constatou-se que

pacientes com a infecção aguda pelo CHIKV apresentaram um aumento significativo

dos níveis de expressão de TLR3 e um aumento ainda que discreto dos níveis de

expressão de sua molécula adaptadora TRIF, quando comparados aos indivíduos

saudáveis. Adicionalmente, observou-se uma correlação positiva significativa entre

os níveis de expressão TLR3 e os níveis de expressão de IFN-α, embora essa

mesma correlação não tenha sido observada para IFN-β.

Portanto, esses resultados sugerem um papel importante dessa via de

sinalização para produção especialmente de IFN-α durante a infecção aguda pelo

CHIKV. Tal hipótese é reforçada pelos achados de HER et al. (2015) que

demonstraram que o TLR3 tem um papel crucial no controle da infecção pelo

CHIKV, uma vez que está envolvido na ativação de vias de sinalização para a

produção de IFN tipo I, os quais atuam inibindo a replicação e disseminação viral.

Além disso, TLR3 possui papel importante na ativação da resposta imune humoral,

induzindo a produção de anticorpos neutralizantes contra o vírus, demonstrando que

a perda da função de TLR3 ou de sua molécula adaptadora TRIF, resulta em

aumento pronunciado da replicação e disseminação do CHIKV, bem como da

patologia induzida por esse patógeno (HER et al., 2010, 2015).

Enquanto que para os níveis de expressão dos demais receptores do tipo Toll

e da sua molécula adaptadora MyD88 investigados neste estudo, foi observado que

pacientes infectados pelo CHIKV, não apresentaram diferenças significativas,

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quando comparados aos níveis de expressões dessas mesmas moléculas em

indivíduos saudáveis. Sugerindo que o reconhecimento do CHIKV pelo sistema

imunológico em hospedeiros humanos com a produção de IFN do tipo I, conforme

observado durante a fase aguda da infecção, se faz pela presença de RNA de fita

dupla gerado durante a produção do intermediário replicativo necessário para a

replicação viral, com ativação de uma via de sinalização independente de MyD88.

Esse achado é sustentado pela baixa expressão de MyD88 por pacientes com

CHIKF em comparação ao grupo controle, e ainda pela ausência de correlações

significativas entre os níveis de expressão dos receptores TRL7, TRL8 e TRL9 com

sua molécula adaptadora MyD88, e desta com os níveis de expressão dos IFN do

tipo I, IFN-α e IFN-β.

Nossos resultados também mostram que, a produção de IFN-α foi maior nos

pacientes infectados pelo CHIKV, apresentando uma expressão relativa de quase

900 vezes acima dos níveis de expressão encontrados no grupo controle. Por outro

lado, os níveis de expressão do IFN-β, não apresentaram diferença significativa em

relação ao controle. Este resultado é concordante com o descrito por

VENUGOPALAN et al., (2014) no que diz respeito ao IFN-α, mas divergente em

relação ao IFN-β. No entanto, SCHILTE et al., (2010), obteve um resultado

semelhante ao obtido no presente estudo para IFN-β, assim como demonstrou ser a

infecção pelo CHIKV capaz de induz a produção de IFN do tipo I, por mecanismos

que envolvem a cooperação de múltiplos sensores do hospedeiro atuando

diretamente sobre células não hematopoiéticas controlando a infecção.

Provavelmente, os níveis de expressão de IFN-β tenham sido mascarados, haja

visto que as células que mais expressam essa citocina são os fibroblastos, que

possivelmente, exercem um efeito protetor muito importante contra a infecção por

CHIKV (SCHILTE et al., 2013; VENUGOPALAN; GHORPADE; CHOPRA, 2014).

Outro fator capaz de explicar os baixos níveis de expressão de IFN-β,

apresentado pelos pacientes infectados na fase aguda por CHIKV poderia ser

devido a um mecanismo de evasão imune desenvolvido pelo vírus, durante a

infecção. Segundo WHITE et al., (2011) a tradução de muitos genes celulares, mas

não virais é bloqueada durante a infecção pelo CHIKV, embora ele seja detectado

por sensores de RNA de dupla fita na célula hospedeira. A resposta desencadeada

não é suficiente para a síntese das proteínas do complexo de ativação transcricional

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dos genes estimulados por proteínas antivirais. Além disso, uma diminuição geral da

síntese de RNAm celular também é observada na presença do CHIKV e a

transcrição de genes antivirais dependentes de IRF3 parece ser bloqueada na fase

final da replicação viral. Indicando que os baixos níveis de IFN-β e outros antivirais

observados durante a infecção pelo CHIKV, são resultantes de um mecanismo de

evasão exibido por esse vírus, que resulta no desligamento generalizado da síntese

de proteínas celulares e no bloqueio da tradução de RNAm direcionado para síntese

tardia de transcritos antivirais (WHITE et al., 2011).

Analisou-se ainda a expressão do receptor MDA5 pertencente à família RLR,

um sensor de vírus que reconhece tipicamente RNA de dupla fita, e inicia uma

cascata de sinalização que resulta na ativação da transcrição de genes da resposta

imune inata, dentre eles aqueles que codificam IFN-α e IFN-β. Observou-se níveis

de expressão relevantes do receptor MDA5 nos pacientes infectados por CHIKV em

fase aguda, quando comparados aos indivíduos saudáveis, embora as diferenças

não tenham sido significativas. Ainda assim, sugerindo que a via de sinalização que

envolve a participação desse receptor parece ser importante no controle da infecção

pelo CHIKV. Um forte indício disso, é a correlação positiva e significativa encontrada

nos pacientes deste estudo com valor de (p ≤ 0,001) para todas as variáveis

analisadas, principalmente, entre a expressão do MDA5 com a expressão das

citocinas IFN-α e IFN-β. Esse resultado sugere que os níveis elevados de expressão

de IFN tipo I, decorrentes do reconhecimento feito pelos receptores RLR, podem ser

capazes de eliminar o CHIKV da circulação, sendo as vias de sinalização ativadas

por TLR3/TRIF e por MDA5/RIG-1/IPS-1, potencialmente as mais importantes para a

produção do IFN tipo I, e em menor grau, a sinalização dependente de MyD88. Essa

hipótese é defendida por BURT, et al., (2017) acerca das expressões e importância

das vias de sinalizações para produção de IFN tipo I na infecção pelo CHIKV.

Contudo, não observamos estudos envolvendo a expressão dos receptores

MDA5 e RIG-1 e a expressão de citocinas na infecção pelo CHIKV. Embora, em

estudo de revisão realizado por KELL et al., (2015) tenha sido proposto que o

reconhecimento de vírus da família Togaviridae é feito por meio do RIG-1 através de

PAMP que inclui a região Cap (ppp) da extremidade 5´do genoma viral, bem como

pelo MDA5 por meio do reconhecimento de RNA de dupla fita. Além disso,

OLAGNIER et al., (2014) relatam que um agonista de RIG-1 levava a um aumento

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no estado antiviral geral por mecanismos que envolvem a sinalização pela via RIG-

1/MAVS/IRF3, ativando os genes estimulados por interferon, corroborando com os

nossos achados da importância dessa via para a síntese de citocinas antivirais, e,

portanto, para a depleção viral.

Quanto as correlações positivas encontradas neste estudo entre as

expressões de TLR3 associadas aos IFN tipo I, obtivemos resultados semelhantes

aos achados de TENG et al., (2012) e HER et al., (2015), que observaram um

aumento significativo da expressão IFN-α correlacionado positivamente com as

expressões de TLR3. Além disso, já está bem estabelecido que a sinalização de

TLR3 via TRIF é muito importante para a produção de IFN tipo I (HER et al., 2015;

TENG et al., 2011). Ainda das análises de correlações entre os receptores da

imunidade inata analisadas e a expressão de citocinas, foi mostrado que o receptor

que mais se correlacionou com a expressão das citocinas foi o MDA5, apesar de sua

expressão em relação ao grupo controle não ter sido significante. Enquanto os

receptores tipo Toll, o que apresentou melhor correlação com a expressão de

citocinas em valores relativos foi o TLR3, seguidos TLR9 e TLR7. Não foi observado

correlações relevantes pelo receptor TLR8. Interessantemente, o receptor TLR9 que

reconhece bactérias e vírus de DNA contendo CpG mostrou correlação significativa

e positivas para quase todas as citocinas analisadas. Uma possível explicação para

este fenômeno poderia ser uma ativação decorrente da fagocitose de vesículas

apoptóticas geradas a partir de células infectadas pelo CHIKV. Tal que poderiam

estar contribuindo para ativação indireta deste receptor, ou mesmo por modificações

ocorridas no CpG do intermediário replicativo de dupla fita de RNA do vírus que

poderiam estar sendo reconhecidos pelo TLR9 e assim ativando esta via.

Da mesma forma foram observados níveis relevantes das expressões,

embora não significativos de IFN-γ, IL-6, IL-12 e níveis de expressões muito baixos

de TNF-α, foram encontrados no grupo de pacientes com infecção aguda,

analisados neste estudo. Isso sugere que IFN-γ, IL-6 e IL-12, podem ter um papel

importante na proteção ou na patogenia da infecção pelo CHIKV. Um forte indício

para esta suposição, são as correlações altamente significativas entre os níveis de

expressão do receptor MDA5 e os níveis de expressões dessas citocinas,

encontrados nos pacientes com infecção aguda pelo CHIKV. Tais resultados são

concordantes como os de NG et al. (2009); e com os achados por WAUQUIER et al.,

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(2011) em relação as expressões de IFN-α, IL-6, IFN-γ e IL-12, mas discordantes em

relação por TNF-α que, neste estudo apresentou níveis de expressão maiores para o

grupo controle do que nos pacientes infectados pelo CHIKV.

Além disso, níveis expressivos do mRNA do gene da citocina IL-12 e sua alta

correlação positiva com expressão de receptores da imunidade inata analisados,

sugerem que esta citocina pode ter um papel importante tanto na resposta imune

inata, quanto na resposta imune adaptativa mediada por células, na infecção por

CHIKV. Uma indicação disso, é o fato de IL-12 ser uma citocina pró-inflamatória, que

apesar de não ter um papel antiviral específico, é conhecido por ativar células NK

aumentando assim sua atividade antiviral (HER et al., 2010; NG et al., 2009;

WAUQUIER et al., 2011). Segundo o relato de HER et al. (2010), cerca de 2h após a

interação entre os monócitos e o CHIKV, a citocina IL-12 passou a ser produzida,

razão pela qual podemos explicar os altos níveis encontrados desta citocina no

grupo de pacientes com a infecção aguda.

Neste estudo, também encontramos correlações entre a expressão de

citocinas, com a sintomatologia apresentada pelos pacientes, em que 92.6%

relataram quadro de febre, 87.5% apresentou artralgia e em 85.2% a infecção

cursou com fotofobia. A presença de febre pode estar relacionada com a ação da

citocina IL-6, já que se trata de uma interleucina pirogênica, que também está

associada aos quadros de artralgias na fase aguda e artrite com osteoclastogênese

na fase crônica (HOARAU et al., 2010). As manifestações de artralgia durante a

infecção por CHIKV, são fenotipicamente semelhantes aos quadros de artrite

reumatóide, sendo observado pela maioria dos autores uma desregulação de

citocinas pró-inflamatórias, tais como IL-1β, TNF-α e IL-6 para ambos os casos

(GOUPIL; MORES, 2016; TENG et al., 2011). Embora TNF-α tenha sido associada

com processo inflamatório, pelos autores acima citados, no presente estudo essa

citocina apresentou menores níveis de expressão nos pacientes infectados quando

comparado ao grupo controle.

Outros estudos também relatam níveis séricos um pouco elevados, mas não

significativos das citocinas IL-1β e IL-6 e TNF-α, em relação ao grupo controle

(saudáveis) durante a fase aguda da infecção pelo CHIKV, os quais retornam aos

níveis basais após a fase de viremia nos indivíduos que controlam bem a infecção

(CHOW et al., 2011; KELVIN et al., 2011; WAUQUIER et al., 2011). Na fase crônica,

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tem sido relatada a elevação dos níveis dessas mesmas citocinas, especialmente IL-

6, além do IFN-β produzido por fibroblastos infectados, o que resulta em aumento

da produção de prostagladina que, por sua vez, favorece a inflamação, resultando

nas manifestações clínicas de artrite, devido a destruição tecidual nas articulações.

(CHOW et al., 2011; HOARAU et al., 2010; MALFAIT; SCHNITZER, 2013; NG et al.,

2009).

Evidências ainda indicam que IL-6 parece ter um papel crítico na persistência

da artrite causada pelo CHIKV, uma vez que ela atrai monócitos CD14+ para o sítio

de infecção e induz a diferenciação dessas células em osteoblastos (PHUKLIA et al.,

2013). Além disso, IL-6 atua estimulando a liberação de RANKL e inibindo a

expressão de um de seus receptores, a osteoprotegerina (OPG) por osteoblastos, o

que resulta em osteoclastogênese, pela diferenciação de osteoblastos em

osteoclastos (CHOW et al., 2011; NG et al., 2009). O desequilíbrio na relação

RANKL/OPG mediado por IL-6 durante a infecção pelo CHIKV, gera

osteoclastogênese e promovem reabsorção óssea (NORET et al., 2012). Alguns

pacientes, com infecção crônica pelo CHIKV, desenvolvem artrite porque os

osteoclastos infectados secretam altos níveis de IL-6 promovendo um feedback

positivo que resulta em progressão na artralgia/artrite, além de causar dor em

múltiplas articulações devido às suas propriedades migratórias (PHUKLIA et al.,

2013).

Nossos resultados em relação ao TNF-α, foram inesperados, uma vez que

sua expressão nos pacientes infectados CHIKV, se mostrou inferior a expressão do

controle de indivíduos saudáveis. É possível que esse achado se deva ao fato de

que, o estudo foi realizado apenas em células de linhagem hematopoiéticas,

excluindo-se células não hematopoiéticas, que possivelmente, estejam mais

capacitadas a melhor expressarem essa citocina, a exemplo dos tecidos articulares.

Por outro lado, é possível que os níveis de expressão de TNF-α estejam realmente

baixos durante a fase aguda da infecção pelo CHIKV, elevando-se durante o

processo de cronificação da doença. Caso seja confirmado que os níveis de

expressão de TNF-α, são de fato mais baixos, independentemente da fase da

infecção, essa citocina poderia se tornar uma forte candidata a marcador de

diferenciação entre a artrite causada pelo CHIKV e a artrite reumatoide, conforme

sugerido por GOUPIL et al, (2016). Nossos achados estão de acordo com aqueles

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obtidos por WAUQUIER et al., (2011), onde não foi observada diferença significativa

entre a expressão de TNF-α pelos pacientes infectados em relação ao grupo

controle saudável.

Igualmente, os achados anteriormente descritos, encontramos níveis

elevados de expressão IFN-γ apresentados pelos pacientes infectados por CHIKV,

em comparação aos indivíduos saudáveis, assim como de IL-12, sugerindo,

portanto, que esta última, pode ter um papel importante na transição da resposta

imune inata para a adaptativa, através da estimulação da produção de IFN-γ. De

acordo com VERTEEG et al., (2014), o IFN-γ é uma das principais citocinas

produzidas durante a infecção inicial pelo CHIKV, a partir de células T CD4+

específicas. Por outro lado, é possível que o aumento nos níveis de expressão do

IFN-γ possam estar envolvidos na transição precoce da classe de imunoglobulina

IgM para IgG específicos, observada na infecção pelo CHIKV. Do mesmo modo, é

possível que o aumento nos níveis de IFN-γ poderiam estar contribuindo para a

ativação de uma resposta imune mais específica precocemente (VENUGOPALAN;

GHORPADE; CHOPRA, 2014). Além dos níveis elevados da expressão de IFN-γ,

nos pacientes infectados pelo CHIKV, analisados neste estudo, simultaneamente

níveis elevados da expressão de IL-6 também foram verificados, o que poderia

explicar o fato de a maioria desses pacientes ter relatado a presença de artalgias.

Em um estudo conduzido por RULLI et al. (2011), foi constatado que os pacientes

com poliartralgia tinham níveis mais elevados de IFN-γ, corroborando com os nossos

achados.

Este estudo apresenta algumas limitações, uma delas é o tipo de amostra

utilizada. O fato de as análises terem sido realizadas em células da linhagem

hematopoiética torna possível a chance de que algumas citocinas como TNF-α

tenham sido reduzidas, por não serem significativamente expressas em células

mononucleares de sangue periférico, e sim no sítio da infecção, como nas

articulações, dado que a persistência viral continua em células não hematopoiéticas.

Além disso, a coleta de informações que foram baseadas na narração dos

pacientes, podendo haver imprecisões em relação ao tempo de início dos sintomas

e o período de coleta.

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8. CONCLUSÃO

Os resultados obtidos sugerem que a infecção aguda pelo CHIKV em

pacientes, com 5 dias de doença, induz uma elevada produção de IFN-α, IFN-γ, IL-6

e IL-12, todas moléculas mediadores da imunidade inata, provavelmente, devido ao

reconhecimento de RNA de fita dupla do vírus, gerado durante a síntese do

intermediário replicativo, principalmente por TLR3 e em menor proporção por MDA5

e RIG-1, sendo desta forma as vias mais importantes para o reconhecimento e

ativação de uma resposta imune inata robusta independente de MyD88. Contudo,

TLR9, parece estar envolvido no reconhecimento de CHIKV e atua como

coadjuvante na depleção viral, por mecanismos ainda desconhecidos.

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