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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO CENTRO DE TECNOLOGIA LADIJANE SARMENTO DA SILVEIRA ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE TRABALHO DO MOTORISTA EM UMA EMPRESA DE ÔNIBUS URBANO DA CIDADE DE NATAL/RN. NATAL 2011

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE ... · Recursos humanos – Administração – Dissertação. 2. Motorista de ônibus – Dissertação. 3. Trabalho – Dissertação

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

CENTRO DE TECNOLOGIA

LADIJANE SARMENTO DA SILVEIRA

ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE TRABALHO DO MOTORISTA EM UMA EMPRESA DE

ÔNIBUS URBANO DA CIDADE DE NATAL/RN.

NATAL

2011

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LADIJANE SARMENTO DA SILVEIRA

ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE TRABALHO DO MOTORISTA EM UMA EMPRESA DE

ÔNIBUS URBANO DA CIDADE DE NATAL/RN.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção. Orientador: Prof. Dr. Enilson Medeiros dos Santos.

NATAL

2011

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Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Silveira, Ladijane Sarmento da Análise da situação de trabalho do motorista em uma empresa de ônibus urbano da idade de Natal (RN) / Ladijane Sarmento da Silveira. – Natal, RN, 2011. 117 f.

Orientador: Enilson Santos de Medeiros.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção.

1. Recursos humanos – Administração – Dissertação. 2. Motorista de ônibus – Dissertação. 3. Trabalho – Dissertação. 4. I. Medeiros, Enilson Santos de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 658.3(043.3)

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LADIJANE SARMENTO DA SILVEIRA

ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE TRABALHO DO MOTORISTA EM UMA EMPRESA DE

ÔNIBUS URBANO DA CIDADE DE NATAL/RN.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção

Aprovada em

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Enilson Medeiros dos Santos – Orientador

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

______________________________________________________________________

Profª. Dr. Cynara Carvalho de Abreu

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Eric Amaral Ferreira

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

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AGRADECIMENTOS

A Deus, presença constante em minha vida.

Ao Professor Dr. Enilson Medeiros dos Santos, meu orientador, a quem gostaria de expressar

minha admiração como pessoa e profissional, muito obrigada.

A Professora Drª Cynara Carvalho de Abreu pela grande contribuição para este trabalho e,

também, pela amizade.

Ao Professor Dr. Eric Amaral Ferreira pela participação na banca examinadora.

Aos Professores Dr. Ricardo Lins e Dr. Ricardo Guerra pela importante colaboração neste

trabalho.

A Eudo Laranjeiras Costa, presidente do CRNEII do SEST/SENAT, que me apoiou para

realizar este trabalho.

A Fernando Tavares Neto, meu Diretor, minha gratidão. Obrigada por me ajudar, por

acreditar em mim e pelo estímulo constante.

A empresa Via Sul por ter aceitado participar deste trabalho. Agradecimento especial a

Norberto Faria, Ana Luiza Flor, Assis Belarmino, Dalvanira e Eilton. Aos motoristas que

colaboraram para este trabalho, obrigada.

Aos colegas de turma pela cooperação e amizade no decorrer do curso.

Ao meu esposo Ricardo e aos meus filhos Lucas e Pedro, pelo que representam para mim.

Aos entes queridos que se foram, mas, que continuam a me influenciar na valorização a

educação. A minha mãe, irmãos e cunhados por dividir comigo esta alegria.

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RESUMO

O problema tratado neste estudo está relacionado à análise da situação de trabalho do

motorista de ônibus. Teve origem na necessidade de identificar as dificuldades do motorista

em cumprir as tarefas para alcançar os resultados determinados pela empresa. Foi feito um

estudo de caso em uma empresa de transporte coletivo urbano da cidade de Natal. Registros e

observações feitas no ambiente de trabalho e indicadores de desempenho do serviço como

índices de absenteísmo, rotatividade de pessoal e acidentes de trânsito foram estimados e

apontaram para problemas na atividade. Ficou caracterizado que o absenteísmo na empresa

pesquisada está ligado a problemas de saúde com predomínio de doenças psiquiátricas e

patologias músculo-esqueléticas, que o número de acidentes de trânsito e o índice de

rotatividade, embora venham caindo em relação aos anos anteriores, são elevados. As

entrevistas realizadas com 50 dos 124 motoristas que trabalham diretamente na operação do

serviço contendo perguntas sobre 11 fatores relacionados ao trabalho do motorista mostraram

que os fatores trânsito, o tempo de viagem, condições da via, a manutenção do veículo,

ambiente físico (terminal de linha), posto de trabalho e supervisão exercida constituem-se em

constrangimentos para a atividade do motorista diferenciando o trabalho prescrito do trabalho

real. Por outro lado, fatores como gostar de dirigir, o trabalho em si e os colegas de trabalho

influenciam positivamente na situação de trabalho do motorista. Nas proposições dos

subsistemas de administração de recursos humanos foram encontradas alternativas para o

redimensionamento desta atividade.

Palavras-chave: Motorista de ônibus. Situação de trabalho. Administração de recursos

humanos.

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ABSTRACT

The problem dealt with in this study concerns the analysis of bus drivers' working situation. It

stemmed from the need to identify the difficulties faced by these professionals in

accomplishing the results expected by the company. A case study was carried out in a public

transportation company in the city of Natal. Records and observations made in the workplace,

alongside perfomance indicators, such as absenteeism tax, staff turnover and traffic accidents,

revealed problems in their activity. It was made clear that, in the company being studied,

absenteeism was related to health problems, particularly psychiatric and musculoskeletal

disorders, and that although the indicators of traffic accidents and staff turnover have declined

over the years, they are still elevated. The interviews involved 50 of the 124 drivers who

worked directly in the service, and contained questions covering eleven factors related to the

drivers' work. They indicated a gap between the prescribed work and the work actually done,

in that there were a series of embarassing or stressful situations involving traffic, itinerary

length, road conditions, vehicle maintenance, physical environment (bus terminus), job post

and supervision policies. On the other hand, factors such as enjoying driving, the work itself

and being with workmates positively influenced the drivers' working conditions. In the

propositions of the administration and human resources subsystems, some alternatives were

found in order to remodel this activity.

*Keywords*: Bus driver. Work situation. Human Resource Management.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 12

1.1 O TRANSPORTE PÚBLICO .............................................................................. 13

1.2 INDICADORES DE DESEMPENHO E DE QUALIDADE DO SERVIÇO DE

TRANSPORTE PÚBLICO E A RELEVÂNCIA DO MOTORISTA NESTE

CONTEXTO..........................................................................................................

15

1.3 O PROBLEMA DE PESQUISA .......................................................................... 17

1.3.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 19

1.3.2 Objetivos específicos ........................................................................................... 19

2 REVISÃO TEÓRICA ......................................................................................... 20

2.1 PROCESSOS RELACIONADOS A ENTRADA E SAÍDA DAS PESSOAS

NA ORGANIZAÇÃO...........................................................................................

26

2.1.1 O recrutamento ................................................................................................... 26

2.1.2 Seleção de pessoal ............................................................................................... 29

2.1.3 Rotatividade ........................................................................................................ 31

2.2 PROCESSOS RELACIONADOS AO DESEMPENHO DAS PESSOAS.......... 32

2.2.1 Modelagem do trabalho....................................................................................... 33

2.2.2 Avaliação de desempenho.................................................................................... 38

2.3 PROCESSOS RELACIONADOS A RECOMPENSAR PESSOAS................. 40

2.3.1 Remuneração e benefícios................................................................................... 41

2.4 PROCESSO RELACIONADO AO APERFEIÇOAMENTO DAS PESSOAS 44

2.4.1 Treinamento.......................................................................................................... 45

2.5 PROCESSOS RELATIVOS A PERMANÊNCIA DAS PESSOAS.................... 47

2.5.1 Absenteísmo e demissão....................................................................................... 47

2.5.2 Higiene e qualidade de vida................................................................................. 50

2.6 PROCESSO RELACIONADO AO MONITORAMENTO DAS PESSOAS NO

TRABALHO..........................................................................................................

58

2.6.1 Relações de trabalho e disciplina........................................................................ 59

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................................... 61

3.1 SOBRE O ÓRGÃO EXECUTIVO MUNICIPAL DE TRÂNSITO ................... 61

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3.2 HISTÓRICO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DA EMPRESA .

PESQUISADA.......................................................................................................

64

3.2.1 População de trabalhadores................................................................................ 66

3.2.2 A atividade prescrita do motorista..................................................................... 69

4 METODOLOGIA................................................................................................ 72

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 77

5.1 ÍNDICES E CUSTO DA ROTATIVIDADE DE PESSOAL,

ABSENTEÍSMO E ACIDENTE DE TRÂNSITO................................................

77

5.2 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA COM OS MOTORISTAS 83

6 CONCLUSÕES.................................................................................................... 101

REFERÊNCIAS................................................................................................... 108

APÊNDICE........................................................................................................... 112

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 Número de passageiros transportados por ônibus nas principais capitais brasileiras de 1994 a 2008.....................................................

14

Quadro 1 Processos de ARH .............................................................................. 25

Figura 1 O que é uma tarefa............................................................................... 33

Figura 2 O trabalho real..................................................................................... 34

Organograma 1 Organograma da empresa pesquisada.................................................. 64

Quadro 2 Número das linhas, destino, quantidade de veículo, nº de motoristas

e tempo de viagem...............................................................................

65

Quadro 3 Ficha de funções do motorista de ônibus urbano................................ 70

Quadro 4 Número de motoristas entrevistados por linha.................................... 74

Gráfico 2 Quadro diagnóstico epidemiológico em 2009 da empresa pesquisada...........................................................................................

79

Foto 1 Posto de trabalho do motorista............................................................ 80

Gráfico 3 Número de acidentes de trânsito envolvendo ônibus da empresa pesquisada.............................................................................................

82

Quadro 5 Salário do motorista em Natal/RN nos últimos 10 anos...................... 91

Foto 2 Terminal de Serrambi.......................................................................... 94

Foto 3 Terminal de Cidade Verde................................................................... 95

Foto 4 Terminal das Rocas.............................................................................. 96

Foto 5 Terminal de Soledade.......................................................................... 97

Quadro 6 Diferenças entre o trabalho formalmente prescrito e o trabalho real 104

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Índice de rotatividade da empresa em 2009 e 2010 ........................... 77

TABELA 2 Índice de rotatividade do cargo de motorista em 2009 e 2010........... 77

TABELA 3 Quantidade de dias não trabalhados por atestado médico em 2009... 78

TABELA 4 Motivo para ser motorista................................................................... 83

TABELA 5 O que pensa em fazer quando se aposentar........................................ 83

TABELA 6 Fatores pessoais.................................................................................. 83

TABELA 7 Tempo de viagem, o passageiro, manutenção do veículo, trânsito e

via.

86

TABELA 8 O que traz satisfação no trabalho ....................................................... 89

TABELA 9 O que traz insatisfação no trabalho..................................................... 89

TABELA 10 Deslocamento, posto de trabalho e como se alimentam..................... 92

TABELA 11 Ambiente Físico – Terminal............................................................... 93

TABELA 12 Supervisão dos fiscais do setor de tráfego e do terminal.................... 99

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APO Administração da Produção e Operações

ANTT Agência Nacional de Transporte

ANTP Associação Nacional de Transportes Públicos

ARH Administração de Recursos Humanos

CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CID Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas

Relacionados a Saúde

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CONTRAN Conselho Nacional de Trânsito

CTB Código de Trânsito Brasileiro

IEA Associação Internacional de Ergonomia

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPK Índice de Passageiro por Kilômetro

NTU Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano

OS Ordem de Serviço

OSO Ordem de Serviço Operacional

STM Secretaria dos Transportes Metropolitanos de São Paulo

SEMOB Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana

SETURN Sindicato das Empresas de Transporte Urbano do Rio Grande do

Norte

SETURN

Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do

Município de Natal

SINTRO Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado

do Rio Grande do Norte

SRTE Superintendência Regional do Trabalho e Emprego

STTU Secretaria de Transporte e Trânsito Urbano

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1 INTRODUÇÃO

Os resultados determinados pelas empresas nem sempre são alcançados por seus

funcionários. As disfunções da produção de um produto ou de um serviço, bem como, os

resultados do negócio insatisfatórios podem ter causas diversas, entre elas as derivadas de

variabilidades do mercado, de problemas de equipamentos e instrumentais, das condições

físico-ambientais onde as atividades são realizadas, da gestão do negócio, da gestão das

pessoas e de aspectos individuais das pessoas que executam as atividades. No que se refere às

pessoas, muitos fatores podem causar sua inadequação no exercício de uma atividade, como o

desconhecimento do trabalho, a falta de formação ou experiência profissional e os aspectos

subjetivos da pessoa.

No caso do transporte coletivo urbano da cidade de Natal as empresas costumam

encaminhar seus motoristas ao Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte para realizar

treinamento de direção defensiva e condução segura e econômica como tentativa de, através

de ações educativas, obter a redução dos acidentes de trânsito e o desenvolvimento de práticas

que melhorem o desempenho dos veículos. Em contrapartida, o relato dos motoristas durante

os cursos e também através dos seus registros nas avaliações de reação aplicadas ao término

dos treinamentos revelam que as dificuldades em cumprir as tarefas para alcançar os

resultados determinados pela empresa não se devem a falta de informação ou de treinamento e

sim as condições de execução encontradas.

Houve ainda o fato de duas empresas que procuraram o Serviço Nacional de

Aprendizagem do Transporte, no ano de 2008, preocupadas com seus altos índices de

acidentes de trânsito e de falta ao trabalho por atestado médico, no intuito de buscar ações de

qualificação profissional para reduzi-los.

Tais situações nos levam a questionar: A que se devem os problemas de desempenho

dos motoristas? Como é a realidade do trabalho do motorista? Que aspectos do trabalho

precisam ser ajustados? Estas questões são objeto de estudo nesta pesquisa.

Para estudar a situação de trabalho do motorista de ônibus urbano se faz necessário

contextualizar o transporte público por ônibus quanto a sua importância para a cidade, os

indicadores que podem servir para avaliar o desempenho e a qualidade dos serviços de

transporte público por ônibus e a relevância do trabalho do motorista para a empresa.

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1.1 O TRANSPORTE PÚBLICO

O transporte público é um setor importantíssimo para as cidades e sociedade, pois,

possibilita a mobilidade da maioria dos cidadãos, tornando a cidade socialmente includente.

Dentre tantas funções do transporte público destaca-se o deslocamento de tantos funcionários

de casa para o trabalho, funcionando como insumo para o setor produtivo industrial e de

serviço, condição esta fundamental para a cidade ser economicamente eficiente. É um

importante setor gerador de empregos, na cidade de Natal, por exemplo, o transporte coletivo

urbano gera aproximadamente 3.900 empregos diretos (SECRETARIA REGIONAL DO

TRABALHO DO RIO GRANDE DO NORTE, 2011). Por fim, mas, não menos importante, o

transporte coletivo por ônibus contribui para que a cidade seja ambientalmente saudável ao

reduzir o número de veículos em circulação.

O transporte público tem uma participação importante para a mobilidade urbana, aqui

considerada como a habilidade de atender a demanda de movimento de pessoas dentro da

cidade. As pessoas se movimentam para atender a algum objetivo como trabalhar, estudar,

fazer compras, viajar, sendo a relação viagens por habitante, a aferição da quantidade de

viagens de pessoas por todos os modos ou por um modo de transporte em um município a

forma mais utilizada para medir a mobilidade (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE

TRANSPORTES PÚBLICOS, 2010).

De acordo com a publicação elaborada pela Jaime Lerner Arquitetos Associados, o

ônibus é, e continuará sendo por muito tempo ainda, o principal – senão o único viável – meio

de transporte público para a maioria da população de nossas cidades. Os índices de qualidade

de vida nas grandes cidades, hoje insatisfatórios, podem começar a mudar a partir da melhoria

do transporte. Havendo decisão política, é possível iniciar um rápido processo de

reorganização do transporte público, visando a uma acentuada economia de tempo de viagem

para as pessoas e de custo operacional (a tarifa) para o sistema. (ASSOCIAÇÃO NACIONAL

DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES URBANOS, 2009b).

Para as empresas de ônibus estudos acadêmicos e científicos são importantes porque

possibilitam melhorar o serviço. É melhorando a eficiência operacional que as empresas

podem recuperar a demanda de passageiros transportados, pois, o setor tem observado queda

nos níveis de demanda de passageiros a partir de 1998 até 2006, quando iniciou um processo

de recuperação, conforme mostra o Gráfico 1, publicado pela NTU em 2009.

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Gráfico 1- Número de passageiros transportados por ônibus nas principais capitais brasileiras de

1994 a 2008.

Fonte: (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES URBANOS,

2009a).

O transporte público de passageiros ineficiente além de dificultar a mobilidade

de grande parte da população das cidades provoca a migração de outra parcela de

cidadãos para o transporte individual (outros modais como automóvel, moto, bicicleta,

andar a pé) e abre espaço para o transporte clandestino (ou ilegal). Esta situação

contribui para o aumento do congestionamento das vias que trazem como consequência

velocidades de circulação cada vez mais baixas, que por sua vez elevam os custos

monetários e de tempo ao transporte privado; aumenta a poluição ambiental causada

pelo grande volume de veículos em circulação e propicia o aumento da violência no

trânsito, já que o trânsito é a convivência em velocidade (ASSOCIAÇÃO NACIONAL

DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES URBANOS, 2008).

Ao mesmo tempo, o aumento da competição no mercado do transporte urbano

torna o desempenho dos serviços cada dia mais importante para a participação do

transporte público no atendimento à mobilidade urbana. De modo inverso, a ineficiência

e/ou a baixa qualidade dos serviços vão reduzir a participação do transporte público no

atendimento à mobilidade urbana, trazendo custo elevado para as empresas operadoras,

órgãos governamentais vinculados ao transporte público e a sociedade como um todo

(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS TRANSPORTES PÚBLICOS, 2010).

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15

1.2 INDICADORES DE DESEMPENHO E DE QUALIDADE DO SERVIÇO DE

TRANSPORTE PÚBLICO E A RELEVÂNCIA DO MOTORISTA NESTE

CONTEXTO

As políticas de transporte de uma cidade são definidas por ela através de seus

governantes. Estas políticas têm como objetivo definir o papel e as responsabilidades do

setor responsável pelo transporte na construção da cidade desejada no presente e no

futuro. A Secretaria dos Transportes Metropolitanos de São Paulo - STM, por exemplo,

definiu entre suas políticas o aumento da acessibilidade geral, a redução dos

congestionamentos, o aumento da acessibilidade aos grupos de baixa renda, a redução

do número de acidentes, a redução da poluição atmosférica, a redução do nível de ruído,

o aumento da acessibilidade aos sub-centros comerciais de serviços e pólos de emprego,

a concepção e operação integrada do sistema de transporte, a reversão da tendência de

predomínio do transporte individual e a melhoria da qualidade do serviço de transporte

(STM, 2011)1.

A partir das políticas são traçadas as metas que o plano de transporte deve seguir

e estas dão origem a um elenco de indicadores numéricos que aferem o desempenho do

sistema de transporte como: alcance médio do total das viagens, velocidade média do

total das viagens, velocidade do trânsito, emissão de particulados, poluição sonora,

acessibilidade, retorno econômico do investimento, percentual do coletivo na divisão

modal.

Baseados no plano de transporte da cidade, as empresas de transporte também

definem suas metas e avaliam seu desempenho e a qualidade do serviço prestado.

Desempenho ou performance é qualquer fator, quantitativo ou qualitativo, usado

para avaliar um aspecto particular do serviço de transporte público. Já a qualidade do

serviço reflete a percepção que o passageiro tem do desempenho do sistema de

transporte público (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS DE

TRANSPORTES URBANOS, 2008).

A percepção do passageiro depende, ainda de acordo com a NTU

(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES URBANOS,

2008), de como ele avalia a disponibilidade do transporte quanto a distância das paradas

1 Informação retirada da internet, através do site: www.stm.sp.gov.br.

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16

da origem e destino da viagem, ao tempo de espera pelo veículo, a pontualidade quanto

ao horário programado para a chegada do veículo a parada, ao tempo total de

deslocamento entre a origem e o destino da viagem, ao conforto nos pontos de parada e

dentro do veículo, as facilidades associadas às viagens como informação, por exemplo,

a segurança nas dependências da linha e dentro do veículo e ao custo da passagem e

outros custos associados com a viagem. Já como indicador de desempenho pode ser

utilizado o índice de passageiro por kilômetro (IPK), número de passageiros por

veículo/dia, quilometragem média percorrida pelos veículos da frota durante um dia útil

e a tarifa como fator de cobertura de custos e de rentabilidade para as empresas

operadoras.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – (IPEA)2 publicou um estudo em

Janeiro/2011 realizado através do Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips),

sobre a percepção da sociedade brasileira a respeito da mobilidade urbana, como

eficácia do transporte público, dificuldades encontradas em sua utilização, motivos de

utilização, entre outros temas. De acordo com este estudo o meio de transporte mais

utilizado pelos brasileiros para locomoção dentro da cidade com 44,3% é o transporte

público (em geral ônibus), seguido pelo transporte por carro com 23,8%, moto e a pé

com 12,6% similarmente. Observa-se através destes dados que embora o transporte

público seja o meio de transporte mais utilizado é a opção de locomoção de menos da

metade da população brasileira.

A respeito das características escolhidas pela população para que o transporte

(todos os meios) seja considerado bom, em ordem de frequência, são: ter disponível

mais de uma forma de se deslocar, ser rápido, sair em horário adequado à sua

necessidade, chegar no horário desejado a seu destino, ser saudável, poluir pouco, ser

barato, confortável, ter menor risco de assalto, ser fácil de usar, ter menor risco de

acidente, cobrir uma área maior e ser cômodo. Observa-se pelas respostas de maior

frequência que a avaliação de um transporte de boa qualidade está relacionado ao tempo

de deslocamento, a rapidez, que este proporciona a quem o utiliza. De modo

contraditório, o que se vê na operação do transporte por ônibus é o aumento do

congestionamento das vias que trazem como consequência velocidades de circulação

cada vez mais baixas. Essa contradição entre a expectativa de rapidez pela população e

as condições de baixa velocidade nas vias recai sobre o motorista.

2 Informação retirada da internet através do site: www.ipea.gov.br/portal

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17

Ainda segundo a pesquisa realizada pelo IPEA, quanto ao motivo pelo qual o

entrevistado escolheu o meio de transporte que mais utiliza foi também a rapidez, com

32,7% e em segundo o preço com 14,8%. Este dado demonstra que na hora da escolha

do transporte o fato de ser mais barato é de grande importância para a decisão.

Em nível nacional o que os usuários percebem acerca da qualidade do transporte

público na sua cidade foi avaliado como regular, com média de 31,3%, numa escala de

muito ruim, ruim, regular, bom, muito bom. Essa avaliação que classifica a qualidade

do transporte como regular demonstra que o transporte público tem muito a melhorar

em todo o Brasil.

Sobre os desafios da mobilidade urbana para 2011, são citados como requisitos

para a melhoria dos transportes públicos: organização das redes integradas,

aperfeiçoamento da gestão e da operação dos serviços, desenvolvimento de fontes de

energia renovável e de veículos menos poluentes, prioridade ao transporte coletivo e

restrição ao transporte individual no uso do sistema viário e uso intensivo de tecnologia

para controle operacional e informação aos usuários (ASSOCIAÇÃO NACIONAL

DOS TRANSPORTES PÚBLICOS, 2010).

O motorista tem um papel preponderante na percepção da qualidade do serviço

de transporte público. De acordo com a NTU (CADAVAL, 2001), Guia de Marketing

para o Transporte Coletivo, a qualidade do serviço de transporte prestado recai sobre o

motorista, pois, é ele quem está em contato direto com os clientes, e por isso lhe é

atribuída a responsabilidade para que proceda de acordo com os princípios éticos,

técnicos e de relacionamento interpessoal desejável. Assim, além das condições do

ônibus como conservação, limpeza e conforto, é através do motorista que a empresa

pode interferir na percepção do serviço prestado que por sua vez refletem nos

indicadores de desempenho do serviço.

1.3 O PROBLEMA DE PESQUISA

Uma organização está inserida em um ambiente que a influencia e que é

influenciado por ela: o macroambiente e o microambiente. O macroambiente envolve

todas as demais organizações e, portanto, a influência nos aspectos demográficos,

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científicos, tecnológicos, ecológicos, físicos, políticos, econômicos, sociais e culturais.

Já o microambiente ou ambiente operacional são os sistemas próximos a organização:

os acionistas/investidores, empregados, fornecedores e clientes/consumidores que

interagem com ela de maneira permanente (LACOMBI, 2005). Dentre todos os sistemas

do microambiente Chiavenato (2008) considera ser o empregado, chamado de

colaborador, o parceiro mais íntimo da organização, pois, está dentro dela lhe dando

vida e dinamismo e fazendo as coisas acontecerem.

Sendo as organizações constituídas de pessoas, nela o trabalho é dividido e as

pessoas o executam e se especializam no que fazem. A organização exige a vida em

grupo nos quais estão presentes os interesses, objetivos, necessidades e prioridades da

organização e do próprio grupo, que podem ser convergentes ou divergentes com os

objetivos e interesses das pessoas. Esse processo retrata que cada uma das partes,

empresa e pessoas, depende da outra e requer organização, administração dos recursos

humanos.

A Administração de Recursos Humanos (ARH) consiste de várias atividades

integradas que atuam desde a inclusão de novas pessoas na empresa, no desenho das

atividades que elas irão realizar na empresa e de como seu desempenho será avaliado,

define ações para incentivar as pessoas e satisfazer suas necessidades individuais mais

elevadas, como será a capacitação e o desenvolvimento profissional e pessoal das

mesmas, criam condições ambientais satisfatórias para que as elas realizem suas

atividades e definem como controlar as atividades das pessoas e verificar resultados

(CHIAVENATO, 2008). A forma como estes processos são definidos e controlados

influenciam no sucesso ou fracasso organizacional.

O problema tratado nesta dissertação está relacionado ao trabalho do motorista

em uma empresa de transporte coletivo urbano onde através da análise de dados, fatos e

indicadores e da descrição pelo motorista da realidade de seu trabalho se possa

identificar: Em que medida há diferença entre o trabalho prescrito do motorista e o

trabalho real? Há aspectos deletérios nesta atividade? Que processos construtivos

podem ser desenvolvidos para transformar o real do seu trabalho?

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1.3.1 Objetivo Geral:

Caracterizar a situação de trabalho do motorista de ônibus de uma empresa da

cidade de Natal/RN visando identificar a distância entre o trabalho formalmente

prescrito e o trabalho real.

1.3.2 Objetivos Específicos:

a) Identificar a existência de variabilidades relativas à carga de trabalho, riscos,

condições físico-ambientais, instrumentais e aspectos individuais e coletivos do

motorista que constituam na diferença entre o trabalho formalmente prescrito e o

trabalho real, implicando no desempenho e qualidade do serviço da empresa;

b) Fazer uma relação entre a realidade encontrada e percebida pelos motoristas e as

proposições feitas pelos subsistemas de Administração de Recursos Humanos, visando

o redimensionamento da gestão da atividade do motorista.

Estudar o transporte público por ônibus, de modo inédito ou cumulativo, pode

contribuir para a melhoria do trabalho de uma classe de trabalhadores e para a

diminuição das consequências de ineficiência do transporte público.

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20

2 REVISÃO TEÓRICA

Nas organizações, produção é a transformação de insumos em saídas. Os

insumos referem-se às despesas e investimentos como as matérias-primas, pessoal,

máquinas, prédios, tecnologia, dinheiro e informação, dentre outros recursos e as saídas

são produtos e serviços. A Administração da Produção e Operações (APO) é a

administração do sistema da produção de uma organização, que transforma os insumos

nos produtos e serviços da organização. (GAITHER; FRAZIER, 2002).

A APO utiliza uma variedade de ferramentas e abordagens de resolução de

problemas visando melhorar suas tomadas de decisão no sistema organizacional para a

permanência competitiva da organização num mercado globalizado. Os problemas

organizacionais podem ter origens diversas: no sistema de produção, no estoque, na

logística, no maquinário, nas relações de trabalho, entre outros, e para solucioná-los a

APO recorre a técnicas de várias ciências e aplica ao sistema estudado.

As pessoas são parte integrante da organização, pois, são as pessoas com suas

habilidades que a impulsionam, conduzem para o alcance dos objetivos organizacionais,

obtendo como retorno salário e incentivos. As pessoas podem também ser fonte de

problemas, dependendo da forma como elas vivenciam o trabalho e como são

gerenciadas. A ARH refere-se às políticas e práticas necessárias para administrar o

trabalho das pessoas nas organizações (CHIAVENATO, 2008).

Para Milkovich e Boudreau (2000) as pessoas, recursos humanos da empresa,

têm particular importância em relação aos demais recursos organizacionais porque são

elas que trazem o brilho da criatividade para a empresa. Assim, para ele, a ARH envolve

decisões integradas que formam as relações de trabalho e influenciam a empresa e seus

empregados a atingir seus objetivos. A introdução de sistemas integrados de gestão é

também considerada por Ribeiro (2006) como um fator crítico de sucesso para a

organização.

Sendo as pessoas consideradas o principal agente no desempenho organizacional

e levando em conta que nos encontramos na chamada era da informação e num mundo

globalizado onde o real do trabalho proporciona ao sujeito vivências de sofrimento e de

oportunidade para o seu desenvolvimento, as questões engendradas pelo trabalho têm

sido estudadas e difundidas por vários autores, de diferentes correntes teóricas, a

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exemplo da ergonomia da atividade com Wisner e Guerin, a clínica da atividade com

Yves Clot e a psicologia social no Brasil com Limongi-França.

A ergonomia, segundo o IEA (apud VIDAL, 2008), é a disciplina científica que

trata da compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos de um

sistema, e a profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos a projetos que

visam otimizar o bem estar humano e a performance global dos sistemas. Na

perspectiva ergonômica destaca-se Wisner (1987), que propõe estudos aprofundados

sobre as atividades de trabalho em situações concretas e enfatiza os efeitos do trabalho –

principalmente o trabalho moderno – sobre os pensamentos e as emoções dos

trabalhadores.

Há um conjunto de teorias com foco de estudo no comportamento

organizacional e na relação entre trabalho e subjetividade. Nestas teorias há diversidade

epistemológica, teórica e metodológica, porém, têm como objeto comum a situação de

trabalho.

A Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) tem fundamento na psicologia

cognitivo-comportamental. De acordo com Bendassolli e Soboll (2011) a psicologia

organizacional está ligada a psicologia aplicada com vocação interventiva, que surgiu

com a proposta de oferta de soluções cientificamente embasadas, via quantificação,

destinadas a previsão e ao controle do comportamento, importando a mesma o

comportamento enquanto categoria-chave para a explicação e o manejo das questões

relacionadas ao desempenho para que ofereça instrumentos de controle à gestão. Desta

forma, ao instrumentalizar o gerenciamento dos fatores humanos no trabalho e

promover a adaptação do sujeito aos chamados imperativos do desempenho e da

eficiência, as teorias cognitivo-comportamentais são criticadas e surge na psicologia

organizacional com Le Guillant (1984 apud BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011), uma

contribuição para a fundação de uma abordagem clínica do trabalho, ao insistir na

indivisível união entre o indivíduo e seu meio e ao sugerir que diversas manifestações

patológicas são encontradas nas situações concretas vivenciadas pelo trabalhador.

A abordagem clínica do trabalho compreende um conjunto de teorias com foco

de estudo na relação entre trabalho e subjetividade. As abordagens clínicas buscam

evidenciar relação entre o trabalho e os processos de subjetivação, de forma que os

conhecimentos produzidos nesta perspectiva oportunizam conscientização relativa às

vivências nas relações de trabalho, visando à transformação da realidade.

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Para Lima (2011) as clínicas do trabalho referem-se ao conjunto de disciplinas

que abordam questões relativas a subjetividade nos contextos laborais, ou seja, as

tentativas de compreender a relação entre fatores subjetivos e atividade.

A associação entre clínica e trabalho, de acordo com Bendassolli e Soboll

(2011), está relacionada a uma articulação do mundo psíquico com o mundo social. A

clínica do trabalho tem como foco de pesquisa e intervenção a realidade vivenciada

pelos sujeitos, o que a aproxima de uma clínica social, como também contempla as

vivências de sofrimento ancoradas nas experiências objetivas e subjetivas de trabalho,

daí a terminologia clínica. É importante ressaltar que mesmo atenta ao sofrimento e aos

aspectos deletérios do trabalho, a clínica do trabalho também enfatiza os processos

criativos e construtivos do sujeito, como também sua capacidade de mobilização, de

agir e de resistência face ao real do trabalho.

Ainda de acordo com esses autores, as clínicas do trabalho utilizam-se da

pesquisa-ação como metodologia de intervenção de modo que o pesquisador atue no

papel de clínico social, interessado na transformação efetiva do trabalho, voltado para a

redução dos fatores de sofrimento e adoecimento dos trabalhadores, assim como dos

elementos que bloqueiam ou reduzem o poder de agir dos sujeitos; e de pesquisador

clínico ao permitir que o psicólogo do trabalho, além do desenvolvimento do

conhecimento, cumpra com os propósitos de conscientização e o empoderamento dos

sujeitos nas situações de trabalho. Outra premissa assumida pelas clínicas do trabalho é

a necessidade de lutar contra a vulnerabilização social, contra a ocultação do real

trabalho e as formas de alienação e invisibilidade social.

As pesquisas e intervenções das clínicas do trabalho estão, pois, relacionadas as

diversas formas de mal-estar relacionadas ao trabalho, que têm em sua gênese o

crescente nível de exigências e demandas colocadas pelas organizações de trabalho aos

indivíduos e a redução dos recursos pessoais e coletivos para seu enfrentamento. Diante

disso, os sujeitos são expostos a situações que enfraquecem seu poder de agir, sua

capacidade de enfrentamento e de significação de sua própria experiência.

Bendassolli e Soboll (2011) citam e discutem quatro clínicas do trabalho: a

psicodinâmica do trabalho, a clínica da atividade, a psicossociologia e a ergologia. De

acordo com eles a psicodinâmica do trabalho encontra seus principais fundamentos na

psicanálise, na ergonomia e na sociologia do trabalho. Concebe que o sujeito é dividido

por conflitos intrapsíquicos, mas que também não pode se constituir fora da relação com

o outro. Pressupõe que o trabalho é constituinte do sujeito e, por isso, central nos

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processos de subjetivação. Entende o trabalho na sua dimensão real e prescrita e faz

uma análise sócio-psíquica do trabalho para compreender as vivências subjetivas como

o prazer, o sofrimento, os processos saúde-adoecimento e os mecanismos de defesa e de

mediação do sofrimento.

A clínica da atividade que teve sua origem a partir de 1990 fundamenta-se na

teoria de Vigotsky, Leontiev e Bakhtin. Enfatiza a busca de instrumentos que viabilizem

a compreensão da situação de trabalho real para aumentar no sujeito, de acordo com

CLOT (apud BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011, p.10), “o poder de agir sobre o mundo

e sobre si mesmo, coletivamente e individualmente”. Essa abordagem busca

instrumentos para compreender uma situação de trabalho real a partir da articulação

entre atividade e subjetividade. O objetivo da clínica da atividade não é a atividade

como tal, e sim o desenvolvimento das atividades do sujeito e seus impedimentos.

A psicossociologia busca investigar as reciprocidades entre o individual e o

coletivo, o psíquico e o social. Contribui também para a compreensão dos processos

grupais para a análise da mudança social. Considera que os grupos, as organizações e as

instituições são mediadores da vida pessoal dos indivíduos e são criados, regidos e

transformados por eles. É voltada para pesquisar a transformação dos grupos,

organizações e instituições.

A ergologia tem como fundamento conhecer o trabalho para intervir e

transformá-lo. A transformação visa contemplar a atividade humana em todas as suas

dimensões. Fundamenta-se na filosofia de vida (Ganguilhem) e na ergonomia da

atividade (Wisner). (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011).

As clínicas do trabalho embora distintas têm pontos em comum. Bendassolli e

Soboll (2011) citam como primeiro ponto o interesse pela extensão do poder de agir

dos sujeitos no trabalho. Todas buscam criar condições psicossociais para que os

sujeitos se apropriem de sua atividade, de formas distintas, para que busquem enfrentar

as questões ou dificuldades nela encontradas.

O segundo ponto é o entendimento sobre o trabalho. Não restrito a sua

institucionalização econômica, ao emprego, mas, como atividade com significados.

O outro ponto é a defesa de uma teoria do sujeito. Um sujeito que não pode ser

equiparado a uma máquina que processa as informações de seu ambiente e as devolve

em forma de ações comportamentais, como, ainda segundo eles é concebido pelas

abordagens experimentais. Trata-se de um sujeito com conflitos intrapsíquicos, que não

se constitui fora da relação com o outro, como é concebido pela abordagem

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psicodinâmica do trabalho, ou o que se desenvolve e se afirma, por meio da atividade,

no seu confronto com o real, como preconiza (CLOT, 1998 apud BENDASSOLLI;

SOBOLL, 2011).

Quanto ao propósito das clínicas do trabalho, elas têm como primeiro foco de

preocupação a vulnerabilização do sujeito e dos coletivos profissionais. A

vulnerabilização que leva a individualização e conseqüente perda de referenciais

compartilhados e mal-estar no trabalho, incluindo doenças físicas, transtornos e

alterações mentais e psicossociais.

As teorias clínicas do trabalho não se restringem aos aspectos nocivos do

trabalho, a psicopatologia, as origens e manifestações do sofrimento no trabalho. Elas

também se interessam pela relação sujeito-trabalho, pela capacidade do sujeito de

criação, reinvenção, superação das dificuldades colocadas pelo trabalho real, por

compreender os processos de resistência e de superação por parte dos coletivos de

trabalho.

Limongi-França (2009) trata da ARH com foco na psicologia social. Para ela a

pedra fundamental da gestão de pessoas está na contribuição conceitual e prática para

uma vida humana mais saudável e com resultados legítimos de produtividade, qualidade

e desenvolvimento e compatibilidade sustentável. A autora define a gestão de pessoas

como um conjunto de forças humanas (potencial, criatividade, interação, força de

trabalho, compromisso e inovação), voltadas para as atividades produtivas, gerenciais e

estratégicas (contratação, manutenção, preparação, reconhecimento, uniformização,

proteção) dentro de um ambiente organizacional. Trata-se de um enfoque aos processos

comportamentais integrados aos aspectos administrativos da empresa.

Com a diversidade teórica metodológica as novas tendências da ARH passaram

a ter diferentes terminologias, sendo chamada ou denominada de administração de

pessoas, administração com as pessoas ou gestão de pessoas. Já as pessoas, os

funcionários da empresa, chegam a ser chamados de colaboradores e capital humano.

Mesmo o trabalhador sendo designado com diferentes nomes por diferentes autores ele

será aqui tratado tradicionalmente como funcionário.

As políticas, estratégias e ações da administração de recursos humanos são

descritas pelos autores Limongi-França (2009), Milkovich e Boudreau (2000),

Muchinsky (2004), Chiavenato (2008), Araújo (2006), Spector (2002), Ribeiro (2006) e

Lacombe (2005) com sequências e agrupamentos distintos, assim como com abordagens

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também distintas: abordagem diagnóstica, abordagem cognitiva, administrativa e

psicológica.

Neste trabalho, com fins didáticos, as políticas e ações da ARH são classificadas

em processos, apresentados no quadro 1, baseado nos processos de gestão de pessoas

descritos por Chiavenato (2008). Os processos relacionados à provisão de pessoal

referem-se a quem deve trabalhar na organização, onde localizá-las no mercado de RH e

como avaliar as entradas e saídas das pessoas na organização; os relativos ao

desempenho das pessoas tratam sobre o que a organização prevê para as pessoas

fazerem e como aferir o que de fato acontece; os de recompensar as pessoas referem-se

aos critérios de remuneração direta e indireta e como esses critérios são divulgados aos

trabalhadores; o de aperfeiçoamento das pessoas trata das razões pelas quais as pessoas

devem ser treinadas; os de permanência das pessoas, aos programas que influenciam as

pessoas a se manter no trabalho; e o de monitorar pessoas, a obtenção e registro de

informações sobre as pessoas durante sua permanência na empresa, com foco no

alinhamento aos objetivos organizacionais.

Quadro 1 - Processos de ARH

Processo Políticas e Ações Relacionadas ao Processo

1. Processos de entrada e saída das pessoas na organização

1. Recrutamento, seleção e rotatividade

2. Processos relacionados ao desempenho das pessoas

2. Modelagem do trabalho e avaliação de desempenho

3. Processos de recompensar pessoas 3. Remuneração e benefícios

4. Processo relacionado ao aperfeiçoamento das pessoas

4. Treinamento

5. Processos relacionados a permanência das pessoas no trabalho

5. Absenteísmo, higiene e qualidade de vida

6. Processo relacionado ao monitoramento das pessoas no trabalho

6. Relações de trabalho e disciplina

Fonte - Adaptado de Chiavenato, 2008

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2.1 PROCESSOS RELACIONADOS À ENTRADA E SAÍDA DAS PESSOAS NA ORGANIZAÇÃO

Os processos de agregar pessoas constituem dos processos que visem atrair as

pessoas para trabalhar na empresa, identificar as características e competências dessas

pessoas e comparar com as características da organização, na busca de ajustar o que a

empresa pretende e o que a pessoa oferece. Analisar a retenção das pessoas na empresa

é imprescindível para avaliar a eficácia desses processos.

2.1.1 O Recrutamento

A ARH tem as atividades de recrutamento e seleção como base para as demais

atividades. Após definir as características, experiências e habilidades que as pessoas

devem ter para ocuparem os cargos, a organização recruta e seleciona as pessoas.

Para Limongi-França (2009) o recrutamento é a procura de candidatos com o

perfil adequado. É mediante o processo de recrutamento que a empresa expõe o grau de

profissionalismo com que trata os seus colaboradores. A qualidade do atendimento aos

candidatos e o retorno aos não escolhidos são fatores que elevam os resultados do

recrutamento e seleção da empresa. Um processo de recrutamento mal conduzido

projeta uma imagem negativa da empresa. Acrescenta que o recrutamento dá subsídios

para o processo de seleção e necessita de criatividade para atrair as pessoas com perfil

desejado.

Milkovich e Boudreau (2000) defendem que o recrutamento vai além de dar

subsídio para o processo de seleção, ele está relacionado com outras políticas/ações da

organização. De acordo com eles, as principais fontes de persuasão para candidatos a

emprego são as recompensas, as exigências do cargo e as condições de trabalho que irão

encontrar na empresa. Como se pode ver, as políticas e ações da ARH se relacionam e

se influenciam.

O recrutamento pode ser feito dentro da organização, recrutamento interno, ou

no mercado de trabalho, recrutamento externo. Ambos têm aspectos positivos e

negativos quanto a sua adoção.

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Quanto aos tipos de recrutamento, Limongi-França (2009) afirma que o

recrutamento interno estimula os funcionários a se aperfeiçoarem, devido a

possibilidade de mudança e de relacionamento com outros setores e pessoas, cria um

sentimento de justiça ao oferecer oportunidades aos funcionários já integrados a

empresa e tem custo menor que o externo. Porém, este processo mesmo com normas

definidas e transparentes pode gerar competição interna, descontentamento e até

frustração para os que não foram aproveitados. Segundo ela, não faz sentido realizar um

recrutamento interno sem ter informação prévia, por um banco de dados ou pesquisa

interna, de que há candidatos reais e/ou potenciais para o cargo a ser preenchido.

Já o recrutamento externo ela define como a busca do candidato no mercado de

trabalho em fontes específicas para o preenchimento do cargo. Este tipo de

recrutamento pode possibilitar a inclusão de pessoas com novos talentos, idéias e

atitudes. Ainda segundo a mesma, os principais locais fontes de recrutamento são as

escolas e universidades, entidades de classe, outras empresas do mesmo setor de

atividade, agências de emprego, anúncios em jornais, sites e outros meios de

comunicação.

O recrutamento determina a composição dos recursos humanos em uma

organização: Quantas pessoas a organização deve empregar? Que habilidades,

capacidades e experiências elas devem possuir para desempenhar suas atividades caso

ingressem na empresa? Onde as pessoas com este perfil são localizadas no mercado de

trabalho e que meios deve ser utilizado para que elas tomem conhecimento da vaga e se

candidatem ao cargo?

Milkovich e Boudreau (2000) acrescentam novas considerações ao

recrutamento. Eles dizem que a situação financeira e a posição da organização no

mercado afetam diretamente as atividades de recrutamento quanto a quantidade e os

tipos de empregados necessários: a oferta e demanda do serviço ou produto da

organização implicam nas contratações; a reputação da empresa pode ajudar nas

contratações; os valores organizacionais influenciam as políticas de recrutamento de

externo, pois, acabam por escolher pessoas semelhantes a eles para trabalharem juntos;

e que os clientes e as coalizões na administração podem determinar as políticas de

recrutamento. Dizem ainda que a natureza do trabalho também afeta o recrutamento

externo, pois, é pela natureza do trabalho que se estabelece as qualificações necessárias

para seu desempenho. Para Milkovich e Boudreau (2000, p. 162) definem recrutamento

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como “O processo de identificação e atração de um grupo de candidatos, entre os quais

serão escolhidos alguns para posteriormente serem contratados para o emprego”.

O recrutamento, porém, apresenta um desafio: conseguir recrutar candidatos

qualificados entre uma infinidade de gente que procura emprego. O recrutamento age

como um filtro na determinação de quem entra para a organização.

Ainda de acordo com Milkovich e Boudreau (2000) o entendimento do processo

de procura de trabalho por parte do candidato pode proporcionar as organizações um

guia para o planejamento do seu recrutamento. As decisões que envolvem o processo de

recrutamento são: escolher as qualificações desejadas nos candidatos, escolher as fontes

de recrutamento e os canais de comunicação, escolher as formas de persuasão, escolher

a mensagem e escolher e preparar os recrutadores. A escolha dos tipos de candidatos a

serem informados e do canal de comunicação a ser utilizado vai determinar quem ficará

sabendo das oportunidades de emprego. Assim, a fonte de recrutamento vai gerar um

número suficiente ou não de candidatos, bem como, vai influenciar de modo

determinante no custo com o recrutamento.

Muchinsky (2004) acrescenta que um recrutamento insatisfatório limita muito a

qualidade das pessoas disponíveis para contratação. De acordo com ele, os candidatos a

emprego não são meramente receptores passivos de procedimentos de seleção, eles

reagem ao que lhe é solicitado fazer ou dizer para conseguir um emprego.

Quanto a utilização dos tipos de fontes de recrutamento, segundo o Bureal of

National Affairs (apud MILKOVICH e BOURDEAU, 2000), as fontes de recrutamento

mais utilizadas por serem mais eficazes para diferentes funções são os jornais,

promoção interna, indicações, procura em outras empresas e agências privadas de

emprego. Atualmente há uma crescente influência da internet sobre as atividades de

recrutamento com sites de recrutamento e serviços de colocação de pessoal.

Sobre os custos do recrutamento, Milkovich e Boudreau (2000) considera que o

recrutamento é uma atividade que pode ser onerosa e potencialmente valiosa. Os custos

do recrutamento variam conforme o nível da vaga a ser oferecida, a intensidade das

atividades de recrutamento e do tipo, e o número e fonte utilizada no processo. Os

componentes dos custos do recrutamento incluem despesas com transporte e alojamento

(caso estes se desloquem) e treinamento para os recrutadores; tempo do recrutador e de

seus colaboradores e custos com a fonte de recrutamento utilizada no processo.

Após todo o planejamento do processo de recrutamento a próxima atividade da

ARH é a seleção.

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2.1.2 Seleção de Pessoal

Feito o recrutamento, a organização provavelmente deverá dispor de mais

candidatos do que o número disponível de vagas. Deverá então realizar o processo de

seleção, que de acordo com Milkovich e Boudreau (2000, p. 208) “A seleção externa é

o processo de coletar e utilizar informações sobre os candidatos recrutados

externamente para escolher quais deles receberão propostas de emprego.”

Limongi-França (2009) preconiza que a escolha dos candidatos deve ser

adequada às expectativas e necessidades do cargo vago a fim de evitar desinteresse e

sentimento de desvalorização profissional por parte do empregado ou admitir um

funcionário sem a qualificação necessária. Quando não se consegue um candidato com a

qualificação ou experiência necessária, mas, com potencial, deve-se selecioná-lo e

investir no treinamento dele.

Milkovich e Boudreau (2000) dizem que o processo de seleção envolve a

escolha de técnicas específicas para a seleção adequada à aferição dos requisitos do

cargo, a condução do processo de acordo com a legislação e a interpretação e

comunicação dos resultados.

De acordo com Limongi-França (2009) o primeiro passo para a realização de um

processo seletivo é consulta ou criação do perfil profissiográfico do cargo que é a

descrição das atividades a serem desenvolvidas e as habilidades necessárias para a sua

execução. Nesta etapa é importante consultar o requisitante da vaga para conhecer suas

necessidades e expectativas e confirmar as informações constantes no perfil. O

requisitante deve também ser envolvido na avaliação, comparação e escolha final do

candidato, a fim de que se tenha maior possibilidade de acertar na escolha.

Quanto às técnicas de seleção de pessoal, Chiavenato (2008) diz que são várias,

especialmente quando se quer conhecer aspectos relacionados com a personalidade do

candidato. Através de técnicas como entrevista, provas de conhecimento ou capacidade,

testes psicológicos, testes de personalidade e técnicas de simulação, ela procura medir o

nível de conhecimentos gerais e específicos, o grau de capacidade ou habilidade dos

candidatos e compara com os requisitos que o cargo a ser preenchido exige do ocupante.

Os métodos psicométricos têm uma margem de acerto e erro e por isso eles não

expressam, mas, predizem o futuro. Para diminuir a possibilidade de erro na escolha do

candidato deve-se utilizar diferentes técnicas que se complementem. Dentre as técnicas

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utilizadas no processo seletivo Limongi-França (2009) destaca a entrevista, provas de

conhecimentos, testes psicológicos (psicométricos, de personalidade), técnicas

vivenciais (provas situacionais, dinâmica de grupo e psicodrama) e avaliação de saúde.

A legalidade, validade e confiabilidade do processo seletivo são classificadas por

Milkovich e Boudreau (2000) como princípios norteadores da estratégia de seleção. A

legalidade refere-se ao respeito à legislação e as regulamentações, evitando situações

jurídicas, como exigências de características pessoais discriminatórias relativas à cor e

gênero. A validade ao sucesso da estratégia em prever o futuro do desempenho do

candidato, ou seja, se o índice ou pontuação dos candidatos nos previsores vai antecipar

com precisão o comportamento futuro do candidato. A confiabilidade é a consistência

com que as informações ou técnicas do processo de seleção refletem as características

do indivíduo.

A ética é destacada por Limongi-França (2009) ao dizer que a mesma deve estar

presente em todo processo seletivo, pois, na seleção se obtém dados intrínsecos e

confidenciais do candidato além de, ao não ser aprovado, o candidato pode ter ferida a

sua auto-estima. Neste caso, o responsável pela seleção pode fazer recomendações de

melhoria e/ou de investimentos pessoais/profissionais. Para se ter um processo seletivo

ético deve-se ter transparência nos critérios, evitar personalização durante o processo

seletivo, confidenciar os resultados ao próprio candidato e manter as informações

restritas ao setor de seleção.

Os custos do processo de seleção variam de acordo com a situação. Ele pode ser

estimado pelos gastos com o desenvolvimento e condução dos procedimentos de

seleção e com o trabalho das pessoas envolvidas na avaliação e decisão sobre quem

serão admitidos. O índice de sucesso de uma seleção, de acordo com Milkovich e

Boudreau (2000) é medido pela porcentagem de candidatos contratados que realmente

foi bem-sucedida. Ele faz ainda uma consideração importante quando lembra que ao

livrar-se do erro de seleção a organização estará administrando as demissões.

De acordo com Chiavenato (2008), para medir a eficácia do processo de seleção

de pessoas, muitas organizações utilizam o quociente de seleção (QS) que é composto

pela divisão do número de candidatos admitidos pelo número de candidatos examinados

multiplicado por cem. Na medida em que o QS diminui, mais aumenta a sua eficiência e

seletividade.

No caso da empresa pesquisada, o perfil dos motoristas que estão sendo

selecionados é voltado para a atividade prescrita ou para a atividade real? Ou ainda, a

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estratégia de seleção adotada pela empresa interfere positivamente ou negativamente na

situação de trabalho do motorista?

2.1.3 Rotatividade

A entrada de pessoas (admissão) em uma organização se dá para suprimir a

demanda de produção do produto ou serviço, como também para compensar as saídas

por desligamentos, por iniciativa do funcionário ou por iniciativa da organização,

demissões e aposentadorias. A rotatividade de pessoal, de acordo com Chiavenato

(2008), refere-se ao fluxo de entradas e saídas de pessoas em uma organização e reflete

o efeito de algumas variáveis externas e internas à organização. Dentre as variáveis

externas estão à situação de oferta e procura do mercado de recursos humanos e a

conjuntura econômica e, dentre as variáveis internas estão à política salarial e de

benefícios que a organização oferece, o estilo gerencial, as oportunidades de

crescimento interno, o desenho dos cargos, as relações humanas, as condições físicas e

psicológicas de trabalho.

A fórmula mais utilizada pelo órgão oficial do governo norte americano o

Bureau of National Affairs (apud CHIAVENATO, 2008) e de Milkovich e Boudreau

(2000), para calcular o índice de rotatividade (IR) é a obtenção do quociente entre o

número de funcionários desligados em um determinado período de tempo (um mês ou

um ano) e o efetivo médio da organização multiplicado por cem, conforme descrita

abaixo:

Índice Nº de funcionários desligados de = _________________________ x 100 rotatividade Efetivo médio da organização

Quanto à análise do percentual obtido da rotatividade, Milkovich e Boudreau

(2000) diz que muitas organizações tentam manter esses números em zero, ou ficar em

uma média semelhante a da concorrência.

Para analisar os índices de rotatividade, as empresas podem considerar as

demissões genericamente, como também podem medir separadamente as demissões por

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decisão da empresa, dispensa; voluntária, as decididas pelo empregado e as demissões

por aposentadorias. Ainda segundo Milkovich e Boudreau (2000), para calcular a

rotatividade, algumas empresas distinguem as demissões em inevitáveis, as demissões

causadas por fatores fora do controle da organização e as evitáveis, causadas pelas

políticas organizacionais; outras empresas diferenciam as demissões disfuncionais,

quando envolve perda de funcionários valiosos, das demissões funcionais, que

envolvem perdas de fácil reposição ou relativa a remoção de funcionários pouco

valiosos.

Os dados da rotatividade são muito úteis para a melhoria do processo decisório

na organização, pois, uma rotatividade alta pode trazer consequências danosas para a

produção do produto ou do serviço prestado, além, das despesas que envolve. Os

valores gastos com a rotatividade estão relacionados aos custos com o recrutamento,

seleção, treinamento e desligamento das pessoas demitidas e com a adaptação das

pessoas contratadas para substituir os demitidos.

Há outra questão importante quanto ao gerenciamento do processo de demissão:

colocar o foco em quem deve ficar na empresa e não quem deve sair. A produtividade,

as atitudes e outras características dos empregados remanescentes continuarão afetando

a organização, além de considerar que a forma como os empregados deixam uma

empresa é interpretada pelos demais funcionários e organizações como uma sinalização

de seu valor.

Observa-se pelas proposições descritas que o recrutamento, a seleção e a

rotatividade de pessoal quando bem ou mal utilizados irão favorecer ou prejudicar a

execução do trabalho pelo seu ocupante, de modo que irá influenciar na diferença entre

o trabalho prescrito e o trabalho real.

2.2 PROCESSOS RELACIONADOS AO DESEMPENHO DAS PESSOAS

Para funcionar, as empresas desenham sua estrutura, definem os órgãos, os

cargos, papeis e atribuições de seus membros para o alcance dos objetivos

organizacionais. Os processos relacionados ao desempenho das pessoas referem-se a

como a empresa se organiza para produzir seu produto ou serviço e como ela pode

identificar se as pessoas estão cumprindo seu papel com eficácia.

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33

2.2.1 Modelagem do Trabalho

Depois de recrutadas e selecionadas, as pessoas ingressam na organização. A

maneira como as pessoas trabalham na organização depende de como seu trabalho foi

orientado, planejado, modelado e organizado. Em outras palavras, depende de

posicionar as pessoas na organização esclarecendo-as sobre seu papel e objetivos, de

como foi feita a distribuição das tarefas, como as tarefas foram estruturadas nos cargos e

como os cargos estão contidos no desenho organizacional. O desenho organizacional é

importante porque as relações de comunicação, poder e participação são por ele

estabelecidos.

É importante considerar que a organização só poderá orientar as pessoas se

souber para onde pretende ir, ou seja, se tiver claro a sua missão e visão. A missão e

visão de uma organização refletem suas idéias, costumes, crenças, regras, ou seja, sua

cultura. A cultura de uma empresa é demonstrada, entre outras formas, na maneira como

ela trata seus funcionários e reflete no clima organizacional.

De acordo com Guérin et al. (2001), para a empresa sua atividade consiste nos

resultados que obteve, através da atividade coletiva de trabalho, e nos objetivos a que se

propôs. Para o trabalhador, sua atividade refere-se às tarefas que cumprem para alcançar

os resultados determinados pela empresa, utilizando de meios fornecidos pela mesma.

Tanto a empresa quanto o empregado referem-se às tarefas que cumprem.

Figura 1- O que é uma tarefa.

Fonte: (GUÉRIN et al. 2001).

A tarefa, como mostra a Fig. 1, é um resultado antecipado, fixado dentro de

condições determinadas. Porém, estas condições não são as reais e o resultado

Condições determinadas

Resultados antecipados

Tarefa

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antecipado não é o efetivo. Assim, a tarefa prescrita consiste naquela imposta pela

empresa ao operador, é o que determina e ao fazê-lo autoriza, constrange sua atividade,

não devendo ser confundida com o trabalho.

A tarefa corresponde, pois, a um conjunto de objetivos destinados aos

operadores e a um conjunto de prescrições definidas externamente para atingir esses

objetivos particulares das empresas. Ela especifica as características do dispositivo

técnico, do produto a transformar ou do serviço a prestar, do conjunto dos elementos a

levar em conta para atingir os objetivos fixados. É um princípio que impõe um modo de

definição do trabalho em relação ao tempo.

Ferreira (2000) traz seu ponto de vista acerca da distância existente entre o

trabalho formalmente prescrito e o trabalho real, constituindo uma descontinuidade

fundamental, com base em duas normas: do modelo da realidade em geral e da atividade

em particular. A tarefa freqüentemente não leva em conta as particularidades dos

operadores e muito menos o que eles pensam sobre as escolhas feitas e impostas. Ela é

exterior ao operador e é imposta.

No enfoque da psicologia cognitiva o trabalhador não pode ser concebido como

um simples sistema de execução da tarefa prescrita. A tarefa se inscreve na história do

trabalhador, que visa também, por meio dessa realização, objetivos pessoais que podem

contribuir para a eficácia do trabalho. Quando o trabalhador realiza uma tarefa ele a

transforma (CLOT, 2006 apud SILVA; BARROS; LOUZADA, 2011, p.23).

A atividade de trabalho para Guérin et al. (2001), conforme Fig. 2, é a maneira

como os resultados são obtidos e os meios utilizados. É uma estratégia de adaptação à

situação real de trabalho, objeto da prescrição.

Figura 2 - O trabalho real.

Fonte: (GUÉRIN et al., 2001)

Resultados antecipados

Tarefa Atividade

de trabalho

Resultados efetivos

Condições reaisCondições determinadas

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A atividade se efetiva como elaboração, por parte do sujeito, de sua tarefa e essa

redefinição de tarefa é individual e coletiva, pois, os grupos de trabalho vivem segundo

regras não escritas, não prescritas pela organização, mas concebidas pelos

trabalhadores, negociadas entre eles e, por vezes, com as hierarquias. Considera-se

também atividade aquilo que não se pode fazer, aquilo que gostaríamos de ter feito, a

atividade impossível, suspensa ou impedida (SILVA, BARROS E LOUZADA, 2011).

Um aspecto importante da atividade de trabalho revelado por Clot (2008 apud

LIMA, 2011), é que a atividade afeta as emoções e a cognição do sujeito. As emoções, a

sua maneira, contribuem para a realização da atividade e a cognição também não

independe da atividade uma vez que, de acordo com o modo pelo qual a atividade é

organizada, o sujeito pode perder a capacidade de dispor de seus recursos cognitivos.

Nesta perspectiva, entende-se que a subjetividade é constituída pela e na atividade.

Situação de trabalho para a clínica da atividade, segundo Clot e Leplat (2005

apud BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011), compreende a relação entre o sujeito, de um

lado, e o trabalho e o meio de outro.

Guerin et al. (2001), ao tratar da abordagem ergonômica no trabalho, considera

a dimensão pessoal e sócio-econômica que todo trabalho tem, chamando situação de

trabalho o lugar onde se dá a articulação entre o caráter pessoal e o caráter sócio-

econômico do trabalho.

Abrahão (2000) reitera que as situações de trabalho variam, sendo cada uma

singular e caracterizada pelas diferenças individuais, confrontadas aos mesmos

objetivos e meios de trabalho. Deste modo, se configuram como situações

diferenciadas, dependendo do indivíduo, que possui experiência, história e formação

também distintas.

Então, pode-se dizer que as exigências, os meios de execução da tarefa, o sujeito

que a executa e sua relação com os outros afetam diretamente na situação de trabalho.

A discussão sobre a diferença entre o trabalho prescrito e o real, ainda é tratada

por Azevedo et al. (2007), o qual preconiza: as diferenças existentes numa situação de

trabalho, seja em maior ou menor grau, entre a tarefa prescrita e a tarefa real, são

decorrentes de variabilidades e imprevistos. Essas diferenças são minimizadas através

de estratégias operatórias elaboradas pelos trabalhadores que os ajudarão a lidar com

tais variabilidades. No controle da discrepância entre o prescrito e o real, os

trabalhadores serão mais ou menos eficazes conforme suas experiências, margem de

autonomia e competências. Porém, ainda que as empresas se organizem para limitar os

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fatores aleatórios na produção ou no fornecimento de serviços, sempre subsiste uma

variabilidade.

A variabilidade é normal quando decorre do próprio tipo de trabalho efetuado e

incidental quando ela não é prevista. Uma parte da variabilidade normal é previsível e,

pelo menos parcialmente controlada como as variações sazonais no volume da

produção. No caso do transporte coletivo, durante o período das férias escolares é

esperado uma queda no número de passageiros transportado.

Uma outra parte da variabilidade da produção é aleatória, como as variações

instantâneas da demanda de passageiros em volume, a quebra de um veículo em

operação, o envolvimento de um ônibus em um acidente de trânsito, a interdição de uma

via para a realização de uma obra de emergência, entre outras. Mesmo essas variações

sendo imprevisíveis, certos elementos dessa variabilidade são do conhecimento do

operador, que espera uma frequência mais elevada de certos incidentes em momentos

determinados.

De acordo com Pande et al (2001), olhar a variação ajuda a empresa a entender

melhor seu desempenho real e cuidar da variação pode beneficiar a empresa e os

clientes porque não se tem que compensar esforços imprevisíveis.

Conforme Azevedo et al. (2007) existe uma gama de variáveis que influenciam a

ocorrência entre o que é prescrito e o que é realizado. Dentre elas, pode-se mencionar a

variabilidade dos trabalhadores, tanto em termos intra-individual como inter-individual;

a variabilidade dos sistemas de trabalho em relação às condições físico-ambientais (luz,

ruído e calor) e instrumentais (materiais, tecnologia, equipamento), às contraditórias

lógicas de produção e dos trabalhadores e às informações acessíveis para planejamento

e execução do trabalho.

Abrahão (2000) discute que a ausência do reconhecimento da interação, entre os

planos do trabalho prescrito e do trabalho real, é um fator negativo para a produtividade,

pois, além de não favorecer um espaço adequado ao processo de aprendizagem

necessária, nega todos os processos de regulação executados pelos operadores quando

estes são os meios que permitem os trabalhadores estabelecerem relações privilegiadas

entre as informações presentes no ambiente, suas próprias ações e seus resultados.

Muitas disfunções constatadas na produção têm sua origem no desconhecimento

do trabalho, a maneira como o operador trata as informações em função de sua

formação e experiência profissional, os raciocínios que fazem para decidir ações, os

gestos que inventam, as posturas que adotam, etc. Nesta perspectiva, considera-se

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constrangimentos como sendo as exigências estabelecidas por uma determinada

atividade de trabalho, que poderá gerar intensificação no seu ritmo, questões

relacionadas à sua organização, repetitividade de movimento em uma mesma tarefa,

permanência em posturas fixas, estresse, desconforto, lesões e ou riscos de acidentes

(GUERIN et al., 2001).

Ainda segundo Guérin et al. (2001), de certa forma, os trabalhadores são

implicitamente considerados adaptáveis aos constrangimentos, presume-se que eles

possam ler uma informação manuscrita e pouco legível, ter o mesmo ritmo de trabalho,

tanto de dia quanto a noite, aprender novas tarefas rapidamente sem ajuda, dentre

outras. Então, para atingir os objetivos pré-estabelecidos, o operador, com os meios que

dispõe, levando em conta seu estado interno e seus conhecimentos, elabora estratégias

que são objeto de constantes ajustes e novas orientações.

Azevedo et al. (2007) acrescenta que as estratégias operatórias são regulatórias

quando elaboradas individual ou coletivamente para administrar a distância entre a

atividade real e a prescrita na tarefa, de modo a equilibrar as variabilidades e

imprevisibilidades da situação de trabalho, minimizando o custo de inadequação no

desempenho da atividade. O próprio fato de atingir ou não os resultados estabelecidos

influi no trabalho dos operadores, em seus estados de saúde, emocional, condições

físicas e mentais.

Nas condições reais de trabalho, onde a capacidade de autonomia dos

trabalhadores não é reconhecida quando surge alguma variabilidade no processo para

regular seu modo operatório, resta ao trabalhador muitas vezes alterar sua postura e/ou

seu comportamento, não lhe sendo permitida a interferência nos objetivos e metas já

traçadas. Nesse momento, típico de sobrecarga, o operador não consegue mais atingir os

objetivos exigidos, quaisquer que sejam os modos operatórios adotados. , a

impossibilidade de modificações dos objetivos e dos meios oferecidos para cumprir a

tarefa, tendem a provocar uma situação na qual a produção acaba acontecendo à custa

do adoecimento do trabalhador. Ou seja, num primeiro momento, os resultados exigidos

são atingidos ao custo de modificações do estado interno, suscetíveis de se traduzirem,

com o tempo, em agressões à saúde.

Já em situações não restritivas, o processo de regulação utilizado na construção

dos modos operatórios permite modificar os objetivos propostos e/ou os meios

oferecidos. Nestas situações, a construção do modo operatório dá-se em condições

ideais, para evitar agressões à sua saúde.

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No caso do motorista de ônibus, sua tarefa é transportar passageiros com os

meios que lhe são disponíveis, sendo o ônibus o meio de condução, dentro das

condições estabelecidas pela empresa, do seu posto de trabalho, da via e do trânsito.

Acontece que quando se considera apenas a tarefa do motorista de transportar

passageiros, não se está ressaltando ou considerando os vários constrangimentos que

ocorrem para a realização do trabalho no dia a dia e os procedimentos de regulação que

ele faz para o cumprimento da tarefa que podem trazer consequências custosas para o

motorista e para a empresa. Para o motorista, o risco de doenças ocupacionais de ordem

física e mental e para a empresa os custos com o absenteísmo e a perda na produtividade

(KOMPIER, 1996).

Os possíveis constrangimentos físicos podem ser observados no tipo de postura

adotada, esforços físicos e mentais que o motorista faz para realizar sua atividade; os

constrangimentos ambientais presentes no espaço físico (terminal de linha e via) e em

torno do posto de trabalho como os níveis de temperatura, ruídos, vibrações, emissão de

gases; os constrangimentos organizacionais na organização do trabalho como turno,

horas trabalhadas, supervisão exercida e relação com o passageiro e as condições sociais

consequente de sua vida pessoal, da alimentação e do descanso.

Um dos recursos utilizados pelas organizações para identificar as discrepâncias

entre a tarefa e a atividade é a avaliação de desempenho.

2.2.2 Avaliação de Desempenho

A avaliação de desempenho, dentro das empresas, está relacionada ao

diagnóstico e análise do desempenho individual e grupal dos funcionários, com

diferentes finalidades e formas.

Limongi-França (2009) considera que o desempenho pode ser medido por meio

de dados recolhidos da produção, de dados relativos ao próprio funcionário tais como as

taxas de rotatividade, absenteísmo, número de queixas registradas; da administração por

objetivos que mede se o funcionário atingiu ou não as metas e objetivos traçados para

ele e por medições subjetivas que avaliam dimensões referentes ao comportamento do

funcionário.

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Outra maneira de aferir o desempenho é adoção de um instrumento de avaliação

de desempenho que envolve pessoas e gestores e tem o foco no negócio. Certo (1994

apud ARAÚJO, 2006, p.144) conceitua avaliação de desempenho como “O processo de

rever atividades produtivas para avaliar a contribuição que os indivíduos fizeram para o

alcance dos objetivos do sistema administrativo.”

Mas, para quem a avaliação de desempenho tem valor e como pode ser feita? A

avaliação de desempenho de acordo com Ribeiro (2006) tem valor para a empresa e

para o funcionário. Para a empresa é acompanhar como o funcionário tem se saído em

suas tarefas e para o funcionário é receber informações sobre sua atuação para poder

efetuar as correções em seu desempenho e assim poder crescer no ambiente da

organização.

O valor da avaliação de desempenho para a empresa e para o empregado

também é defendida por Spector (2002). Para ele, os dados sobre o desempenho podem

ser utilizados para efeito de decisões administrativas pela empresa como penalidades,

perda de gratificação até demissão; recompensas, promoção e aumento de salário; e na

pesquisa interna para determinar a eficiência das práticas e procedimentos

organizacionais, como a avaliação do desempenho de um funcionário antes e depois de

participar de um programa de aperfeiçoamento profissional. Para o funcionário, pode

ser utilizada para efeito de desenvolvimento e feedback sobre seu desempenho no

trabalho, a fim de manter quando for bem avaliado ou melhorar quando não mostrar

desempenho satisfatório.

Para que a avaliação de desempenho ocorra com valor para a empresa e para o

funcionário ela precisa ser elaborada em função de critérios ou padrões de desempenho

esperado e que seja possível fazer um julgamento sobre eles. Spector (2002) classifica o

critério de desempenho em critério teórico e critério real: o critério teórico é a definição

do que é um bom desempenho e o critério real é a definição de como este critério

teórico é avaliado, medido ou operacionalizado. Algumas atividades de trabalho

envolvem muitas tarefas, o que muitas vezes necessita de vários critérios, como

qualidade e quantidade, para avaliá-lo adequadamente. Assim, a definição do critério de

desempenho se configura em um fator crítico na avaliação de desempenho.

Outra questão a ser considerada na avaliação de desempenho é o avaliador.

Sobre ele Ribeiro (2006) assinala aspectos do comportamento do avaliador que podem

interferir no resultado da avaliação do desempenho: a atitude do gerente de pré-

julgamento ou pré-conceito em relação ao avaliado, o efeito de halo estabelecido entre o

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avaliador e o avaliado levando o avaliador a ser mais generoso, a tendência central no

julgamento atribuindo sempre o valor central ou do meio ao avaliado, o avaliador não

gostar de exercer o papel de julgar os demais não ficando confortável para realizar a

avaliação, focar-se no ultimo incidente ou basear seu julgamento em estilos pessoais

preferidos, focalizar apenas uma parte do trabalho, julgar fatos.

Quanto a forma de avaliar o desempenho, Limongi-França (2009) descreve

vários sistemas de avaliação, cada um com suas peculiaridades, pontos fortes e fracos:

avaliação da experiência, escala gráfica, escolha forçada, revisão da avaliação de

atividades, pesquisa de campo, incidentes críticos, comparação aos pares, frases

descritivas, auto-avaliação, avaliação por resultados, avaliação por objetivos, padrões de

desempenho, sistemas de graduação, avaliação de potencial e avaliação 360º. Cabe a

organização avaliar e definir o sistema de avaliação que melhor se adéque a sua

realidade e objetivos.

Observa-se diante do exposto que uma das limitações dos métodos de avaliação

de desempenho está relacionada com a articulação entre as questões subjetivas que

envolvem os sujeitos que dela participam e a atividade que desenvolvem.

Até que ponto a avaliação de desempenho viabiliza a compreensão da situação

de trabalho real?

Se o método de avaliação de desempenho adotado for capaz de identificar a

capacidade do sujeito de criação, reinvenção e superação das dificuldades colocadas

pelo trabalho real, de evidenciar a existência de impedimentos para o desenvolvimento

da atividade e/ou de sinalizar aquilo que o sujeito pode fazer ou gostaria de ter feito na

atividade ela torna-se um instrumento útil para a análise da situação de trabalho, neste

caso, o trabalho do motorista de ônibus.

2.3 PROCESSOS RELACIONADOS A RECOMPENSAR PESSOAS

Estes processos tratam de como a empresa pode incentivar, motivar as pessoas

através de uma política salarial e de benefícios para que tanto os objetivos da empresa

como os do empregado sejam alcançados.

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41

2.3.1 Remuneração e Benefícios

De acordo com Chiavenato (2008), as organizações utilizam sistemas de

recompensa, de incentivos, para estimular nos funcionários comportamentos desejados

por ela e de punições, penalidades, para inibir comportamentos indesejáveis, evitar sua

repetição, castigar sua reincidência ou afastar a pessoa do convívio com os demais

funcionários desligando-o da empresa. As recompensas são os salários e os benefícios

que a empresa coloca a disposição dos funcionários como férias, gratificações,

remuneração variável, adicionais (noturno, de tempo de serviço, etc.), horas extras, vale

alimentação e transporte, segurança no emprego e promoções, entre outras formas.

As recompensas, para ele, devem ser atraentes e relacionadas a padrões de

desempenho eficazes, possíveis, pois, como se vê as recompensas devem servir como

fator motivador, incentivador, para as pessoas que trabalham na organização.

O ponto de vista de Limongi-França (2009) está fundamentado na importância

do funcionário para a empresa. Para ela, se o empregado é fonte de vantagem

competitiva é justo que ele seja valorizado e recompensado. De acordo com ela, os

componentes de recompensa mais utilizados pelas organizações são os elogios,

promoções, participação em congressos e eventos, acesso a programas de capacitação e

a remuneração que considera ser o mais importante componente do sistema de

recompensas. A remuneração inclui o salário (parte fixa da remuneração), a

remuneração variável (participação nos resultados, participação nos lucros, participação

acionária) e os benefícios (assistência médica, vale transporte, vale alimentação, seguro

de vida, etc.).

De acordo com Milkovich e Boudreau (2000) a remuneração inclui o retorno

financeiro e os benefícios tangíveis que os empregados recebem como parte do

pagamento em uma relação de trabalho. Porém, para Limongi-França (2009) a

remuneração vai além do aspecto financeiro, ela envolve aspectos sociais, psíquicos,

organizacionais, econômicos, institucionais, políticos e éticos que, por sua vez, estão

relacionados ao status social do indivíduo que o recebe, ao estímulo pessoal a produção,

a estrutura hierárquica da organização, a influencia no consumo global do país, depende

da legislação trabalhista, é influenciado pelas organizações sindicais e sua determinação

deve ser justa para o empregador e para o empregado. Assim, a gestão da remuneração

constitui-se numa das tarefas mais importantes e complexas da ARH.

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Reiterando os múltiplos aspectos da remuneração, Lacombe (2005) considera

que a remuneração não substitui os incentivos proporcionados pelo ambiente de

trabalho, pelo significado do trabalho para o empregado e pelo prazer que proporciona,

porém, a política de remuneração sinaliza o valor que a empresa atribui a seus

funcionários.

Para Milkovich e Boudreau (2000) os sistemas de pagamento têm múltiplos

objetivos, entre eles: melhorar a produtividade e a satisfação do cliente, controlar os

custos, tratar os empregados com justiça, atender as exigências legais e aperfeiçoar o

desempenho individual ou de equipe. Ao elaborar um sistema de pagamento é preciso

atentar para os objetivos que este pretende atender, pois, os objetivos múltiplos de um

sistema de pagamento muitas vezes é responsável por tornar complexo e complicado

muitos planos de pagamento que nem os empregados nem patrões conseguem entender

seu funcionamento e por isso em lugar de direcionar o comportamento dos empregados

para os propósitos da organização ele pode gerar sentimentos de injustiça entre os

funcionários e prejudicar a produtividade.

Quanto às políticas básicas de pagamento o referido autor inclui a

competitividade externa, comparação entre organizações; alinhamento interno,

comparação entre funções ou habilidades dentro de uma única organização; a

contribuição dos empregados, comparação entre os empregados; e a implementação,

que refere-se a determinação dos custos do sistema, a avaliação do atingimento dos

objetivos, a pesquisa de reação dos empregados ao plano e sua comunicação. Assim, as

opções de políticas explicam em parte a variedade dos sistemas de remuneração, pois,

os sistemas de remuneração traduzem as políticas de remuneração em decisões.

Ele ainda reforça que o patamar de remuneração conseqüente da política salarial

adotada por uma organização influencia na capacidade de atração e retenção de seus

empregados, como também, afeta os custos trabalhistas. Assim, quanto mais alto o

patamar de remuneração, maiores os custos trabalhistas, como também será maior o

custo relativo da produção em relação ao da concorrência, se praticar salários superiores

ao concorrente.

De acordo com Limongi-França (2009) os dois principais conjuntos de critérios

que funcionam como referência para se criar um sistema de recompensas adequado são

o mercado de trabalho e os padrões internos de equidade. Segundo ela, os padrões

internos de equidade é mais relevante uma vez que a sensação de injustiça é mais

danosa do que inadequação da recompensa em relação ao mercado. De um modo geral,

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uma remuneração adequada deve permitir as pessoas uma boa alimentação, vestimenta,

moradia, educação, cultura, lazer, enfim, uma vida digna. Ainda sobre o critério de

equidade a administração remuneratória deve garantir que pessoas que mais agregam

valor recebam maior remuneração. Quanto ao mercado, Milkovich e Boudreau (2000)

assinala que para saber sobre os valores de remuneração que empresas concorrentes

estão praticando recorre-se a pesquisas salariais e toma-se a decisão se paga na média,

acima ou abaixo da concorrência.

Segundo Hipólito (2002 apud LIMONGI-FRANÇA, 2009) o cargo até então

vinha sendo utilizado pelas organizações como elemento decodificador do valor

agregado pelos profissionais, porém, com o dinamismo da atual realidade das

organizações o cargo deixou de servir como bom indicador do grau de agregação de

valor passando a ter o indivíduo e não seu cargo como foco de observação. Mas, como

determinar o grau de agregação de valor de uma pessoa em uma organização? Uma das

formas de medição mais utilizadas pelas empresas na atualidade é a remuneração por

competência. A partir de uma análise da organização, de seu conjunto de valores, visão

de futuro e orientação estratégicas define-se as competências necessárias aos

profissionais para que mantenham a empresa competitiva a longo prazo e cada umas das

competências, como comunicação eficaz, atuação em equipe, orientação estratégica,

gestão de recursos, por exemplo, é descrita em níveis de complexidade e de

responsabilidade encontradas no seu exercício. Para cada nível de

complexidade/responsabilidade do conjunto de competências utilizadas pelos

profissionais são associadas faixas salariais e estabelecidos critérios de evolução ao

longo delas.

Assim como a remuneração pode ser variável o plano de benefícios pode ser

flexível. No plano de benefícios flexível o profissional pode escolher a totalidade ou

parte do conjunto de benefícios oferecido pela organização de modo que suas

necessidades ou situação é atendida de forma personalizada. Milkovich e Boudreau

(2000) destacam a importância da comunicação sobre os benefícios a que tem direito os

empregados, pois, a comunicação pode melhorar a satisfação dos empregados com os

benefícios porque estes geralmente subestimam seu valor.

Na realidade, a importância das relações com os empregados, de acordo com

Milkovich e Boudreau (2000), é muito mais ampla. As relações com os empregados têm

sido utilizada para evitar a sindicalização, para criar um clima organizacional propício

ao desempenho das funções dos empregados, para identificar as razões potenciais de

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problemas de desempenho e oferecer ajuda para removê-lo ou para buscar soluções

construtivas no comportamento do empregado e, quando o problema for organizacional,

empregados e administradores juntos possam identificar as mudanças necessárias para

eliminar as dificuldades.

Assim, para Milkovich e Boudreau (2000), ao traçar suas políticas, os

empregadores precisam comunicá-las aos empregados e esta mensagem precisa ser

compreendida. Portanto, não basta escrever um manual com as políticas da empresa,

pois, eles são um meio de comunicação de apenas uma via. A chefia precisa estar

totalmente familiarizado com ele para poder traduzir as políticas em ação de modo que

os empregados tenham confiança nos chefes. No relacionamento com os empregados é

preciso definir qual a melhor maneira de transmitir a filosofia da empresa e de pedir

opinião/sugestão sobre assuntos de trabalho aos empregados, escolher que decisões

devem ser compartilhadas com os empregados, identificar em que aspectos do ambiente

de trabalho os empregados precisam ser protegidos, definir como a empresa deve

responder às necessidades especiais de determinados empregados e como a empresa

deve lidar com a disciplina e o conflito.

A eficácia dos sistemas de remuneração e de benefícios envolvem, também,

como em outras atividades da ARH, um aspecto subjetivo neste caso relacionado aos

diferentes níveis de necessidade de renda dos empregados e de compreensão das

políticas adotadas pela empresa. Assim, o comportamento do empregado no sentido de

elaborar estratégias para o enfrentamento dos constrangimentos surgidos no

desenvolvimento de sua atividade tem relação com sua compreensão e aceitação das

políticas de remuneração e benefícios. Identificar como estas políticas são percebidas

pelos motoristas de ônibus e a partir desses resultados estabelecer seu reforço ou

reorientação como uma das políticas da ARH deverá ter um reflexo positivo na situação

de trabalho dos mesmos.

2.4 PROCESSO RELACIONADO AO APERFEIÇOAMENTO DAS PESSOAS

Este processo consiste em como a empresa pode formar, aperfeiçoar, seus

empregados em função de suas atividades, de modo que possam cumprir seu papel com

máxima eficácia.

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2.4.1 Treinamento

De acordo com Milkovich e Boudreau (2000), treinamento é um processo

sistemático para promover a aquisição de habilidades, regras, conceitos ou atitudes que

resultem em uma melhoria da adequação entre as características dos empregados e as

exigências dos papéis funcionais. As organizações podem, pois, usar o treinamento

como uma ferramenta estratégica para atingir os objetivos da empresa e de seus

empregados.

Araujo (2006) lista os principais motivos ou razões que levam as empresas a

treinar ou desenvolver seu pessoal: identificação de metas, ao admitir pessoas ou alterar

os meios ou modos de efetuar determinadas tarefas; identificação de gargalos, realizar

treinamento ou desenvolvimento para minimizar ou liquidar gargalos como

produtividade abaixo do esperado, retrabalho ou refugo; falhas na comunicação, para

solucionar problemas de desempenho na operacionalização das atividades causados pela

utilização de linguagem fora do padrão ou que gere problemas de interpretação;

remanejamento de pessoas, em caso de substituições motivadas por ausência, o novo

ocupante precisa ser treinado para assumir as novas tarefas; modernização da

organização, quando a empresa atualiza maquinário e equipamentos; recém-formados

com conhecimento aquém do desejado; natureza das atividades desenvolvidas pela

organização, quando as atividades desenvolvidas pela empresa demandem qualificação

específica ou diferenciada; comprometimento da alta direção, quando a alta direção

considera que o treinamento e desenvolvimento é fundamental para o sucesso da

organização

O treinamento não pode ser visto pela empresa como uma série de cursos e

eventos. Limongi-França (2009) diz que ele deve ser identificado com os objetivos

organizacionais contribuindo para melhor capacitação dos empregados, visando a um

aumento de moral, de eficiência, de eficácia, de produtividade e melhoria do ambiente

de trabalho e da própria empresa. O treinamento deve ser planejado, levando em

consideração os conhecimentos, habilidades e atitudes para cada cargo e depois

levantadas às necessidades de conhecimento de cada ocupante do cargo em referência,

por meio de instrumentos de mensuração, para que o ocupante atinja um bom

desempenho. As habilidades a serem desenvolvidas com o treinamento devem ser então

ordenadas segundo sua importância para que se defina o plano do planejamento.

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Acrescenta que para o sucesso de um treinamento deverão ser definidas quais as

carências de desempenho que serão resolvidas ou amenizadas com o programa de

treinamento, especificar o investimento financeiro e a expectativa de retorno desse

investimento e definir o patrocinador ou a pessoa responsável por ele.

Quanto aos objetivos do treinamento Milkovich e Boudreau (2000) alerta que

eles precisam ser suficientemente específicos e mensuráveis para que sirvam de

medição do sucesso. Os bons objetivos são os mensuráveis, específicos, que

estabelecem datas-limite e refletem resultados relevantes para aspectos essenciais da

organização. Do mesmo modo, a escolha do conteúdo do treinamento precisa estar

voltada para o atendimento das necessidades levantadas.

Em relação a eficácia da avaliação do treinamento, Limongi-França (2009) diz

que o treinamento deve sofrer uma avaliação em relação ao aprendizado obtido,

quantificado por testes pré e pós-treinamento, assim como uma análise pelo responsável

em relação aos impactos causados pelo treinamento como a mudança de comportamento

dos participantes. Milkovich e Boudreau (2000) diz que a transferência dos resultados

conseguidos no treinamento para o comportamento no trabalho é mais fácil quando as

atividades, ambiente e resposta do treinamento são bem semelhantes à situação real de

trabalho. Como o ambiente real de trabalho pode apresentar obstáculos, pode ser

realizado o treinamento reincidente para que os treinandos consigam lidar com as

barreiras encontradas na situação real de trabalho.

Para a estimativa do custo de treinamento Milkovich e Boudreau (2000) diz que

se deve incluir todos os recursos necessários para implementar o programa, incluindo a

perda de oportunidade de usar seus recursos. Para combater a perda de oportunidade, a

empresa pode exigir que os treinandos assinem contratos de reembolso, pelos quais se

comprometem a trabalhar durante um determinado período na empresa depois de

concluído o treinamento, ou pagar o custo dele. Os custos com treinamento são mais

facilmente mensuráveis quantitativamente em dinheiro do que suas consequências. Para

ele, a medição dos efeitos do treinamento vai depender da possibilidade de medir a

eficácia do treinamento. Assim, devemos nos concentrar no nível mínimo de benefícios

necessários para cobrir seus custos.

No caso do motorista de ônibus, a política de treinamento estabelece um

paradoxo entre a intenção da empresa em utilizar-se do treinamento para reduzir os

índices de acidente de trânsito e os conseqüentes custos com o reparo dos veículos

envolvidos e a opinião do motorista muitas vezes expressa nas avaliações de

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treinamento de que os acidentes de trânsito não se devem a falta de capacidade ou

informação do operador, mas, as exigências, cargas e riscos a que são submetidos na

execução do seu trabalho. De qualquer modo, o conhecimento teórico e prático das

tarefas que um motorista deve cumprir são imprescindíveis na sua admissão na empresa.

Com isso, saber onde se dá a formação do motorista, onde ele aprende a dirigir e de que

maneira essa aprendizagem é realizada torna-se essencial a empresa para que defina

sua política de treinamento.

2.5 PROCESSOS RELATIVOS A PERMANÊNCIA DAS PESSOAS

Estes processos referem-se a ações da empresa para evitar que o empregado

fique em situação vulnerável de modo que ele permaneça na empresa com sua

capacidade laboral íntegra, tendo as condições de alcançar seus objetivos e os da

empresa.

2.5.1 Absenteísmo e Demissão

Outro fator que intervém no planejamento da ARH e nos custos da empresa é o

absenteísmo e por essa razão o absenteísmo é utilizado como um indicador na avaliação

do desempenho do transporte coletivo. O absenteísmo refere-se às ausências dos

empregados ao trabalho provocando distorções no volume/quantidade e disponibilidade

da força de trabalho. Ausências são faltas ou atrasos ao trabalho. O absenteísmo

constitui a soma dos períodos em que os funcionários se encontram ausentes do

trabalho, seja por falta, atraso ou algum motivo interveniente. Segundo Chiavenato

(2008), o Bureau of National Affairs adota a seguinte fórmula para calcular o índice de

absenteísmo refletindo o numero de dias de ausências dos empregados, sem considerar

os atrasos:

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Nº de pessoas/dias de trabalho Índice perdidos por ausência no mês de = _________________________________ absenteísmo Nº médio de empregados X Nº de dias de trabalho no mês

Os resultados de várias pesquisas realizadas para estudar as causas e

consequências das ausências mostram segundo Susan (apud Chiavenato, 2008), que o

absenteísmo é afetado pela capacidade profissional das pessoas, pela motivação para o

trabalho e por fatores internos e externos ao trabalho. Doenças, acidentes,

responsabilidades familiares e particulares e problemas de transporte para o local de

trabalho são barreiras a presença ao trabalho. A satisfação no trabalho, um fator interno,

está relacionado com o volume e duração das ausências. As práticas organizacionais, a

cultura de ausência e atitudes, valores e objetivos dos empregados afetam a motivação

para a assiduidade. A gestão do problema de ausência deve focalizar as causas do

absenteísmo e procurar influenciar na motivação para as ausências. Para incentivar a

presença e desestimular as ausências ao trabalho, empresas bem sucedidas adotam

práticas gerenciais e culturas que privilegiam a participação e desenvolvam nos

funcionários valores, atitudes e objetivos favoráveis à participação. Cada pequena

redução nos índices de absenteísmo pode trazer razoável economia para a organização.

A ausência do empregado ao trabalho tem vários motivos, o que decorre em

dificuldade em diagnosticar a origem e em utilizar medidas alternativas e estabelecer

critérios relacionados à política de pessoal. Limongi-França (2009) diz que o

absenteísmo pode estar ligado a problemas de saúde que podem ter origem nas

condições de trabalho desfavoráveis (exigências, cargas e riscos), como também, muitas

pessoas acabam sendo demitidas pelo índice de faltas ao trabalho. Os motivos mais

frequentes da ausência do empregado ao trabalho são: doença, dificuldades de

relacionamento com a chefia e/ou com os colegas, desmotivação por falta de

oportunidade de ascensão profissional ou por falta de reconhecimento do valor do

trabalho. Em relação a esses dois últimos fatores, quando o trabalhador não consegue

superar, enfrentar ou conviver com essas dificuldades, eles faltam ao trabalho por

motivos aparentemente banais como: problemas familiares relacionados a

desentendimento familiar, a situação financeira, necessidade de assistência a filhos

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menores e a pessoas idosas e outras situações de ordem pessoal difíceis de serem

resolvidas no horário normal de trabalho.

Para Wisner (1987) o absenteísmo trata-se sempre de um sinal de rejeição das

condições de trabalho (exigências, cargas e riscos), por isso, é preciso tratá-lo para cada

categoria de pessoal ou para cada local de trabalho. Diante desta realidade muitos

pesquisadores têm escrito sobre a relação entre a forma e os meios de como é trabalho é

realizado com a saúde e o bem estar dos funcionários.

Para combater ou diminuir o absenteísmo, Limongi-França (2009) lista algumas

ações que as empresas têm adotado: identificação dos motivos reais da ausência,

entrevistas de aconselhamento, compensações, horários variáveis, incentivos visando o

desenvolvimento da autodisciplina, melhoria dos meios de execução do trabalho,

programas de aperfeiçoamento, desenvolvimento de política de promoção interna e

criação/adoção de políticas sociais como, por exemplo, instalação de creches. A

implementação dessas alternativas evita o absenteísmo ou possibilita ao trabalhador

ausências que permitam uma análise do motivo da falta, assim como aplicação de

medidas disciplinares cabíveis, pois, são baseadas em fatos concretos e imparciais.

A questão da retenção dos empregados na empresa também é tratado por

Milkovich e Boudreau (2000). Se a organização não consegue reter seus empregados, o

processo de recrutamento e seleção fica comprometido. O gerenciamento do processo

de demissão complementa o padrão de recrutamento e seleção. Quando as demissões

são feitas de maneira correta, voluntária ou por mau desempenho, a redução do gasto

com pessoal pode tornar a organização mais competitiva, porém, se a redução implica

em reposição ou em perda da qualidade dos empregados que permanecem na

organização a rotatividade passa a ser onerosa para a organização.

Para Milkovich e Boudreau (2000), a dispensa, que é a demissão decidida pelo

empregador é uma ação extrema. De acordo com ele, a dispensa, seja por questões

pessoais do empregado ou por necessidade de corte do empregador, deve ser evitada.

Para evitar a dispensa do empregado as organizações usam políticas disciplinares que

impõem punições cada vez mais severas para o comportamento progressivamente mais

inadequado dos empregados. A recomendação é de que a gerência siga alguns

procedimentos antes de demitir como: registrar cuidadosamente as avaliações de

desempenho, seguir os procedimentos disciplinares e documentar cada um de seus

passos, oferecer oportunidade para que os empregados contem seu lado da história (eles

podem ter razão), não inventar uma razão para a dispensa que não esteja relacionada

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com o desempenho fraco. Já as demissões voluntárias, para ele são o resultado da baixa

satisfação dos funcionários

O ponto de vista de Lacombe (2005) reforça o de Milkovich e Boudreau (2000)

ao afirmar que a melhor maneira de lidar com a demissão é procurar evitá-la e por isso a

demissão de um funcionário não deve ficar ao arbítrio de uma só pessoa, outras pessoas

devem ser ouvidas e até mesmo participar da decisão além do chefe imediato. Ao

mesmo tempo ele afirma que demitir as pessoas no momento em que se torna

necessário, como as pessoas que produzem pouco ou que funcionem como elemento

negativo que cria problemas para a empresa, é uma prática que deve ser adotada.

No caso inverso, quando os motivos de uma demissão estão fora do controle de

quem é demitido, os reflexos da demissão podem ser danosos tanto para quem é

demitido como para os demais empregados que continuarão na empresa que poderão ter

a moral e a motivação abaladas. Independente dos motivos, Milkovich e Boudreau

(2000) chama a atenção para a forma como as demissões são feitas. Se as dispensas não

forem administradas com justiça e transparência, poderá haver consequências para os

empregados remanescentes que poderão ter sua eficiência afetada e/ou perder a

confiança na organização e vir a sair também.

Outro aspecto da demissão foi descrito por Dessler (2003 apud LACOMBE,

2005) que diz que muitas demissões começam com más contratações ou com

promoções indevidas.

2.5.2 Higiene e Qualidade de Vida

De acordo com Wisner (1987) todas as atividades, inclusive o trabalho, têm pelo

menos 3 aspectos: físico, cognitivo e psíquico. Os três aspectos físico, cognitivo e

psíquico estão sempre presentes nas atividades. Cada um deles pode determinar uma

sobrecarga ou sofrimento. Eles se interelacionam e a sobrecarga de um dos aspectos é

acompanhada de uma carga também elevada nos outros dois campos.

Ele explica que a dimensão psíquica pode ser definida como o conflito,

consciente ou inconsciente, das relações entre a pessoa e a situação, neste caso a

organização do trabalho. Essa dimensão psíquica leva a um certo grau de sofrimento

mental, podendo às vezes explicar a rotatividade de pessoal e fases de agressividade. No

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caso dos trabalhadores que trabalham com o público eles apresentam em geral uma

carga cognitiva elevada devido às dificuldades de compreensão das questões do público.

As situações de trabalho psiquicamente mais perigosas são as que combinam uma

grande carga de trabalho, a resultante das exigências sobre o indivíduo no decorrer de

sua atividade de trabalho que pesam sobre o desempenho, e uma atitude de aflição,

pressão, por parte do publico interessado. Os contatos inter-humanos difíceis

determinam um risco real para a saúde mental, entretanto, muitos problemas mentais

graves se desenvolvem sem relação com o trabalho.

Na relação entre sujeito e trabalho para Clot e Leplat (2005 apud

BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011) dentre as diversas situações de trabalho há as que

predominam a vulnerabilidade e a segmentação dos coletivos, sejam elas manifestadas

na forma de sofrimento, adoecimento ou submissão, como também na forma de provas

do real do trabalho contra as quais o sujeito é chamado a se afirmar.

Sobre o ambiente onde o trabalho é realizado, Chiavenato (2008) diz que ele é

caracterizado por condições físicas e materiais como iluminação, ventilação,

temperatura e ruídos e por condições psicológicas e sociais como os relacionamentos, o

tipo de atividade e o estilo gerencial. De acordo com ele, estas condições desajustadas

podem afetar a saúde física e mental das pessoas. A saúde física pode ser afetada por

doenças profissionais e acidentes de trabalho que tem como consequência custos

humanos, sociais e financeiros. Quanto à saúde mental, quando ambiente onde o

trabalho é realizado não favorece condições psicológicas e sociológicas saudáveis ele

pode atuar negativamente no comportamento das pessoas causando impactos

emocionais como o estresse. Como consequência, um ambiente de trabalho com

inadequações pode influenciar para a elevação do absenteísmo e da rotatividade de

pessoal.

As clínicas do trabalho realizam pesquisas e intervenção sobre as diversas

formas de mal-estar relacionadas ao trabalho os quais, têm em sua gênese, o crescente

nível de exigências e demandas colocadas pelas organizações de trabalho aos indivíduos

e a redução (ou manutenção em níveis baixos) dos recursos pessoais e coletivos para seu

enfrentamento (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011). Dentre as formas de mal-estar

relacionadas ao trabalho são identificados grupos de patologias. O primeiro grupo,

classificado em patologias da sobrecarga por DEJOURS (2007 apud BENDASSOLLI;

SOBOLL, 2011), são as patologias das famílias de transtornos músculo-esqueléticos, o

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stress, o burnout, o karoshi, a fadiga e as formas brandas ou graves de dissociações

psicológicas.

O segundo grupo reúne as patologias da solidão e da indeterminação no

trabalho. A solidão pela fragilização dos ofícios enquanto coletividades articuladas em

torno de regras, normas, atividades e identidades comuns. Isso se vê, ainda segundo

Bendassolli e Soboll (2011), em algumas modalidades da gestão de recursos humanos

que centram na segmentação do coletivo na individualização, como a remuneração

variável por desempenho individual, coaching e a gestão personalizada das carreiras. A

indeterminação no trabalho está relacionada com uma dificuldade dos trabalhadores em

compreender os meios e os fins de suas atividades, dificultando o processo de

apropriação subjetiva da atividade.

O terceiro grupo de patologias associam-se aos maus tratos e a violência no

trabalho: assédio moral, exposição dos indivíduos a forma de poder contra as quais nem

sempre eles têm uma resposta coletiva articulada. A falta de mediação coletiva faz com

que os indivíduos lutem em situação de grande assimetria de poder com a organização.

Há ainda focos de sofrimento nos processos de rupturas das trajetórias profissionais

como em situações de desemprego e transições organizacionais indiferente ao impacto

das mudanças sobre as biografias profissionais.

A quarta categoria de patologias que se destaca como tema dos clínicos do

trabalho são as depressões, suicídios e tentativas de suicídio, como também

descompensações mentais originárias em situações pós-traumáticas ou não.

O estresse, patologia do primeiro grupo, é referido por Iida (1995, p. 21 apud

GONÇALVES, 2003) quando diz que as discrepâncias entre o grau de exigência do

trabalho e os recursos disponíveis para gerenciá-lo definem o estresse do trabalho.

Ainda de acordo com Gonçalves (2003), o estresse é um acontecimento emocional

negativo, que está conectado com sensações de medo, tensão, derrota, raiva, cansaço e

falta de iniciativa e que tem como principais causas o conteúdo do trabalho: ritmo de

produção, prazo, as responsabilidades, os conflitos e fontes de insatisfação no trabalho;

sentimentos de incapacidade: percepção pessoal da incapacidade em atender as

demandas do trabalho ou terminá-lo dentro do prazo estabelecido; e condições de

trabalho que refere-se a condições físicas desfavoráveis e projeto inadequado do posto

de trabalho.

Sobre as causas do estresse Falzon e Sauvagnac (2007) dizem que deve-se

combater a propensão de buscar as causas do estresse em fatores ligados ás pessoas,

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julgadas estressáveis ou estressantes, e sim investigar as causas reais, organizacionais,

do estresse que é que vão explicar o caráter maciço do sintoma de estresse. Selye (apud

FALZON; SAUVAGNAC, 2007) considera o estresse como um mecanismo de

adaptação do organismo, permitindo-lhe enfrentar as agressões do meio ambiente. A

chamada síndrome geral de adaptação permite aumentar a vigilância e a agressividade,

focalizar a atenção, inibir certas funções para enfrentar melhor os agentes e estressantes.

Esse mecanismo pode resultar em reação positiva ou em distúrbios. O estresse é uma

reação positiva quando permite melhor mobilizar os recursos do organismo, físicos e

mentais para responder a situações exigentes. Pode também resultar em distúrbios como

hipervigilância e ansiedade, obsessão, anorexia, insônia e baixa libido.

Johnson et al. (apud ROSSI; QUICK; PERREWE, 2009) ao tratar da vivência

do estresse relacionado ao trabalho em diferentes ocupações diz que uma série de

estressores relacionados ao trabalho tem sido associada a uma maior probabilidade de

um indivíduo vivenciar as consequências negativas do stress e cita cinco fontes de

estresse: extrínsecas ao trabalho, incluindo fatores como condições físicas ruins no local

de trabalho, sobrecarga de trabalho ou pressão de tempo; papel na organização,

incluindo ambigüidade e conflito do papel; desenvolvimento da carreira, incluindo falta

de segurança no emprego e sub ;ou super promoção; relacionamento no trabalho

incluindo relações ruins com o chefe ou colegas, sendo que um componente extremo é o

bullying (assédio moral) no local de trabalho e; estrutura e clima organizacional,

incluindo pouco envolvimento na tomada de decisão e na política administrativa.

O nível de stress vivenciado pelos indivíduos no trabalho, para ele,

provavelmente é o resultado da interação entre vários fatores, como o tipo de trabalho, o

grau de apoio que recebe em casa e os mecanismos que utilizam para lidar com o stress.

Além desses fatores, muitos outros fatores como o tipo de personalidade e os

mecanismos de apoio que cada pessoa tem justificam porque nem todas as pessoas que

trabalham na mesma ocupação vivenciam o mesmo nível de stress.

Ainda segundo o referido autor uma forma extrema ou avançada do stress é o

burnout. É composto de três elementos: exaustão emocional, despersonalização e

realização pessoal. A exaustão emocional é caracterizada por uma falta de energia e

uma sensação de que os recursos emocionais estão exauridos; a despersonalização é

marcada pelo tratamento dos clientes como se fossem objetos e não pessoas; e a

realização pessoal é caracterizada por uma tendência de avaliar a si mesmo de forma

negativa.

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Ao falar sobre como reduzir o stress no local de trabalho Gatchel e Baum (apud

ROSSI; QUICK; PERREWE, 2009) apresentou um resumo feito por Taylor (2006) com

métodos para reduzir substancialmente os estressores no local de trabalho: reduzir tanto

quanto possível os estressores físicos no trabalho, como barulho, aglomeração, extremos

de temperatura etc.; minimizar a imprevisibilidade e a ambiguidade nas tarefas e nos

níveis de desempenho esperados; envolver tanto quanto possível os trabalhadores em

decisões importantes que possam afetar o stress no local de trabalho; tornar as tarefas do

emprego tão interessantes e gratificantes quanto possível; oferecer dependências sociais

e recreacionais aos trabalhadores, para desenvolver e promover apoio social

significativo, durante períodos de intervalo, hora do almoço e tempo livre depois do

expediente; oferecer recompensas tangíveis (bônus, folgas) para os trabalhadores por

bom desempenho; treinar os supervisores para monitorar sinais potenciais de stress

(como apatia, raiva, absenteísmo, negligência) e então intervir antes que o stress se

torne problemático.

Quanto ao estresse entre os motoristas de ônibus urbano Gobel et al. (1998, p. 22

apud GONÇALVES, 2003) considera que os possíveis causadores do estresse são os

passageiros, o próprio motorista e o veículo. A área física reservada para o motorista

não possui isolamento e assim ele fica sujeito as perguntas, conversas e demandas de

ações solicitadas pelos passageiros, além da função primária de dirigir, o que acabam

por provocar perturbações. Ao se comparar os motoristas de ônibus com trabalhadores

de outras profissões diversas, constatou-se que os motoristas apresentam elevado índice

de absenteísmo, além de grandes riscos de problemas de ordem psicossomática,

cardiovascular, músculo esquelética e gastrointestinal.

Por outro lado, Kompier (1996) ressalta que a falta de atividade física e de uma

alimentação balanceada, os hábitos de vida prejudiciais do próprio motorista como o

consumo exagerado de fumo e bebidas alcoólicas e a possibilidade de assalto, fator

inerente a realidade do motorista, completam a lista dos responsáveis pelo estresse entre

os motoristas. O autor sugere que para a prevenção do mesmo é preciso trabalhar o

motorista enquanto indivíduo e em grupo e o meio ambiente físico, psíquico e social de

trabalho.

Ainda segundo Kompier (1996) os estudos têm mostrado que há uma série de

fontes de estresse e de doença no local de trabalho para motoristas de ônibus, e um

número de soluções bastante óbvio. As áreas-chave para a mudança são o layout e

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design do ônibus (ergonomia), tempo de trabalho e de repouso, e as boas relações no

trabalho, incluindo a gestão de ouvir a voz dos trabalhadores.

Em estudo realizado por Battiston, Cruz e Hoffmann (2006) ao caracterizar as

condições em que trabalham e a saúde de motoristas de transporte coletivo urbano na

cidade de Florianópolis, Santa Catarina, concluiu que as condições de trabalho e a saúde

dos motoristas de transporte coletivo urbano podem ser consideradas fontes dos

distúrbios orgânicos ou psíquicos que acometem esses profissionais, que aspectos como

as instalações de apoio (terminais, sanitários, etc.) e o trânsito (engarrafamentos, clima,

condições da via, etc.), são fontes constantes de estresse.

Ainda sobre fontes de estresse e de doença no local de trabalho dos motoristas

de ônibus, Santos Júnior (2003) observou, em uma revisão de literatura produzida em

15 anos (1987-2001), que motoristas de ônibus estão expostos a uma enorme gama de

fatores nocivos (físicos, químicos, biológicos e ergonômicos), os quais podem produzir

todas as categorias de doenças relacionadas ao trabalho. Conclui que o exercício da

profissão de motorista de ônibus, nas atuais condições de trabalho a que estão

submetidos estes profissionais, em praticamente todo o mundo, danifica a saúde destes

trabalhadores, causando formas variadas de sofrimento físico e/ou mental, adoecimento

mais frequente e mortes prematuras, com prejuízos para os trabalhadores, seus

familiares e para a sociedade como um todo. A implementação de mudanças no

processo de trabalho (condições e ambiente de trabalho) de motoristas de ônibus é

necessária, visando minimizar as repercussões do trabalho sobre a saúde destes

trabalhadores.

É preciso considerar também que as atividades fora do trabalho às vezes

participam estreitamente das duras exigências da vida de trabalho mesmo sendo essas

exigências fora do trabalho muitas vezes de natureza sociológica (família, trabalhos

secundários, atividade doméstica). Wisner (1987) traz uma contribuição importante ao

fazer considerações sobre as relações entre as condições de trabalho e as condições de

vida. Ele considera que os transportes desempenham um papel bastante considerável na

carga global de trabalho, pois, o longo período gasto com transporte continua sendo um

componente importante na vida do trabalhador. Muitos deles gastam de uma a três horas

com o deslocamento. Essa duração elevada corresponde a distância de casa para o

trabalho, grande trajeto; a multiplicidade de meios de transporte utilizada para ir e voltar

do trabalho: caminhada, ônibus, dois ônibus; a escassez de transportes públicos que

obriga a longas esperas antes e depois do trabalho. Ele ainda chama a atenção para as

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condições nas quais a espera e o próprio transporte são feitos: intempéries, ruído, tranco,

ficar em pé por longo período, etc. Assim, segundo o mesmo, o transporte do

trabalhador para o trabalho e vice-versa, no que se refere ao tempo e qualidade da

espera e do deslocamento, pode aumentar a carga de trabalho.

As condições de habitação também podem desempenhar um papel importante no

conjunto das condições de trabalho: a distância entre o local de trabalho e a residência e

a qualidade da habitação para o sono. Para os que têm atividades em casa, a carga de

trabalho em casa constitui um complemento às vezes considerável da carga de trabalho

profissional, especialmente para os que têm salários baixos que não permitem adquirir

equipamentos domésticos (máquinas e eletrodomésticos), contratar ajudantes

(empregadas domésticas) ou serviços prontos (alimentos preparados, lavanderias).

Para compreender como o trabalho afeta a saúde mental Warr (1987 apud

MUCHINSKY, 2004) identificou nove determinantes, que havendo interesse em mudar

os ambientes para melhorar a saúde mental, seriam os geradores das mudanças: 1)

oportunidade de controle - pressupõe-se que o primeiro determinante da saúde mental

esteja nas oportunidades que o ambiente oferece a uma pessoa de controlar atividades e

eventos, ou seja, oportunidade de decidir e agir da maneira escolhida; 2) oportunidade

de usar a habilidade – até onde o ambiente inibe ou encoraja a utilização e o

desenvolvimento de habilidades pessoais; 3) metas geradas externamente – um

ambiente que nada exige da pessoa não oferece desafios nem incentiva atividades ou

realizações, inversamente, o que encoraja comportamentos de determinação e busca de

metas gera um impacto positivo na saúde mental; 4) variedade ambiental – atividades

que introduzem novidade e quebram a atividade e o local rotineiros influenciam

favoravelmente a saúde mental; 5) transparência organizacional – inclui o feedback

sobre as consequências das próprias ações e a transparência dos requisitos do papel e

das expectativas normativas sobre o comportamento e até onde até onde os padrões são

explícitos e aceitos no ambiente; 6) disponibilidade de dinheiro – o acesso severamente

restrito a dinheiro pode suscitar processos que podem prejudicar a saúde mental ao

reduzir a oportunidade de controle pessoal; 7) segurança física – os ambientes precisam

proteger a pessoa contra perigos físicos e oferecer adequada segurança com relação a

alimentação, ao sono e a moradia; 8) oportunidade de contato interpessoal – esse

contato atende a necessidade de amizade, reduz sentimento de solidão, proporciona

apoio social e esforços interdependentes para o alcance de metas; 9) posição social

valorizada – refere-se a posição dentro de uma estrutura social que recebe algum apreço

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dos outros estando este apreço atrelado a contribuição que eles dão, ao reconhecimento

de certas habilidades e ao cumprimento de certas obrigações sociais

Para Limongi-França (2009), o combate às condições desajustadas do ambiente

de trabalho podem ser trabalhadas pela gestão da qualidade de vida no trabalho.

Limongi-França (2009, p.167) define a gestão da qualidade de vida no trabalho como:

A capacidade de administrar o conjunto de ações, incluindo diagnóstico, implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho alinhada e construída na cultura organizacional, com prioridade absoluta para o bem estar das pessoas da organização.

De acordo com Limongi-França (2009), a gestão da qualidade de vida é uma

resposta a pressões da vida moderna diante da vida com a globalização, acrescentando a

isso a consciência do direito a saúde, os apelos a novos hábitos e a consolidação de

compromisso de desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista das pessoas, qualidade

de vida é a percepção de bem estar, a partir das necessidades individuais, ambiente

social e econômico e expectativas de vida. No trabalho, qualidade de vida representa a

necessidade de valorização das condições de trabalho (exigências, cargas e riscos), da

definição de procedimentos da tarefa em si, do cuidado com o ambiente físico e dos

bons padrões de relacionamento. Nos programas de qualidade de vida das empresas

estão previstos as abordagens sistêmicas, a administração participativa, os diagnósticos

de clima organizacional, a educação nutricional, a promoção a saúde, o aprofundamento

de propostas prevencionistas, ações ergonômicas, cuidados com a saúde mental do

trabalho, valorização das atividades de lazer, esporte e cultura, questões de cidadania e

responsabilidade social.

Para Fernandes (1996 apud LIMONGI-FRANÇA, 2009), qualidade de vida no

trabalho está associada à melhoria das condições físicas, programas de lazer, estilo de

vida, instalações, atendimento a reivindicações dos trabalhadores e ampliação do

conjunto de benefícios. No caso do motorista de ônibus, a melhoria das condições

físicas pode ser determinante para sua qualidade de vida, pois, ao estudar a

complexidade das condições de instalações no posto de trabalho dos motoristas de

ônibus urbano de uma empresa em Florianópolis, Santa Catarina, Nascimento (2003)

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concluiu que o posto de trabalho estudado pode gerar inúmeras disfunções fisiológicas,

mesmo já tendo havido uma evolução ergonômica no seu posto de trabalho.

2.6 PROCESSO RELATIVO AO MONITORAMENTO DAS PESSOAS

Este processo refere-se a como a empresa pode acompanhar, orientar e manter o

comportamento dos empregados dentro dos limites de variação por ela determinado.

2.6.1 Relações de Trabalho e Disciplina

O comportamento das pessoas dentro da organização deve manter-se dentro de

determinados limites de variação, limites estes determinados pelas características da

atividade que é desenvolvida pela pessoa e pelas metas organizacionais. Assim, o

comportamento das pessoas precisa ser orientado e acompanhado.

O procedimento de orientação e acompanhamento das pessoas é denominado de

monitoração por Chiavenato (2008). Segundo ele, a monitoração de pessoas deve ser

realizada dentro de um estilo democratizado e participativo em detrimento da

abordagem tradicional que privilegia um sistema de controle externo rígido de

fiscalização e vigilância, de castigos e penalidades. Justifica que o estilo democrático e

participativo aumenta o comprometimento, responsabilidade, das pessoas possibilitando

a gerência monitorar, orientar, em lugar de controlar o comportamento das pessoas na

empresa. Os dados e informações que a gerência tem a respeito dos subordinados devem

servir para formação de juízo ou solução de problemas, ao mesmo tempo em que

precisa servir de informação para o próprio funcionário manter ou mudar seu

comportamento.

A prevenção da necessidade de ações disciplinares em relação ao

comportamento das pessoas na organização também é defendida por Milkovich e

Boudreau (2000). Quando a situação de comportamento inadequado aparece, ele sugere

a aplicação de um sistema disciplinar que seja baseado, primeiro, no estabelecimento de

regras de trabalho ou de comportamento relacionadas direta ou indiretamente com a

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produtividade; segundo, a regras precisam ser comunicadas a todos os empregados,

sendo sugerida a participação dos mesmos na redação dessas regras para facilitar sua

aceitação, obrigatoriedade e equidade, como também sua atualização periódica para que

se mantenham relevantes; terceiro, o comportamento inadequado deve ser avaliado pela

observação e investigação evitando ainda a aplicação das medidas disciplinares; e,

quarto, a aplicação do processo disciplinar visando a mudança do comportamento,

incluindo a punição e a assistência para a mudança do comportamento.

O terceiro item, o comportamento inadequado deve ser avaliado pela observação

e investigação é imprescindível para identificar se o problema está na atividade ou no

empregado, evitando a aplicação de uma punição que não resolverá o problema.

Quanto as características do processo disciplinar, Milkovich e Boudreau (2000)

assinalam que ele geralmente é progressivo, da segunda infração em diante, quando vai

se tornando cada vez mais severa. Sugere uma política disciplinar que tem como

primeira linha de ação o aconselhamento, onde o chefe explica ao empregado que isso

afeta a produtividade e sugere que não volte a ocorrer o problema; se uma segunda ou

mais séria violação ocorrer emitir uma notificação por escrito; se uma terceira

notificação ocorrer um aviso final deverá ser emitido, podendo haver uma suspensão,

devendo ser assinado pelo empregado e informado que a reincidência será punida com a

exoneração; e por fim o resultado poderá ser a demissão.

Outras medidas por ele citadas que podem ser tomadas num processo disciplinar

a depender das condições e gravidade são: nos casos de ineficiência na função pode-se

transferir o empregado para outra área, rebaixamento de função, desconto do valor do

prejuízo do pagamento do funcionário e a indução do empregado a se demitir.

A documentação do comportamento e das ações do funcionário é necessária em

todas as etapas do processo disciplinar visando proteger o empregador no caso de uma

ação judicial movida pelo empregado. Limongi-França (2009) alerta para a

responsabilização do empregador ao imputar ao empregado o acometimento de falta

funcional que não são posteriormente comprovadas por ele quando levadas ao judiciário

pelo empregado e quando na observação e investigação de um comportamento

inadequado impliquem em atos de discriminação, desrespeito a vida privada do

empregado, práticas de atos que atinjam a dignidade e a honra do trabalhador como:

revistas consideradas abusivas, práticas discriminatórias, transferências punitivas e em

abuso de direito, assédio moral e sexual, constrangimento moral no trabalho, violação

da privacidade por escutas telefônicas, uso injustificado dos sistemas de vigilância por

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câmeras de vídeo e gravação de imagens, fiscalização de uso da Internet injustificada ou

excessiva, bem como, violação de e-mails.

O que leva o funcionário da empresa a ter um comportamento inadequado ou

cometer uma falta disciplinar mesmo tendo o conhecimento das normas e regras? Neste

sentido Limongi-França (2009) considera que o comportamento do empregado também

está associado ao atendimento de suas necessidades sociais através do trabalho. Neste

sentido, Mcgreggor (1970 apud LIMONGI-FRANÇA, 2009, p. 49) diz:

[...]quando as necessidades sociais do homem são assim contrariadas, ele comporta-se de maneira a impedir que sejam alcançados os objetivos da organização. Torna-se resistente, antagônico, não cooperativo. Mas este comportamento é uma conseqüência, não uma causa.

Diante do exposto, ao melhorar o processo disciplinar a empresa estará

influenciando positivamente a situação de trabalho do motorista.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Buscamos apresentar aqui as informações sobre o órgão executivo municipal de

trânsito, gestor do transporte público da cidade de Natal e sobre a empresa pesquisada.

Sobre o órgão executivo municipal de trânsito descreveremos suas competências e

sobre a empresa pesquisada sobre o tipo de serviço que presta a sociedade, sua história

e como a empresa é administrativamente organizada, informações sobre os

trabalhadores, sobre a organização do trabalho, sua produtividade, enfim, conhecer um

pouco mais a empresa para tornar possível a análise dos dados a serem trabalhados.

3.1 SOBRE O ÓRGÃO EXECUTIVO MUNICIPAL DE TRÂNSITO

O órgão executivo municipal de trânsito tem suas competências gerais definidas

pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), instituído pela Lei nº 9.503 de 23 de

setembro de 1997 (CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO, 1997).

De acordo com o Art. 24 do CTB entre as competências do órgão executivo

municipal de trânsito estão: planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de

veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da

segurança de ciclistas; implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os

dispositivos e os equipamentos de controle viário; executar a fiscalização de trânsito

(CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO, 1997).

A partir do que determina o CTB a órgão executivo municipal de trânsito tem

entre suas atribuições: formular, acompanhar e executar políticas públicas municipais

que privilegiem o transporte público de passageiros, com o escopo de desenvolver a

mobilidade urbana sustentável; definir e gerenciar, no âmbito do Município, os locais

de paradas de ônibus municipais e intermunicipais; promover a fiscalização do trânsito,

autuando e aplicando as penalidades infracionais legalmente previstas; estabelecer as

diretrizes de trânsito, em conjunto com os demais órgãos de trânsito; implantar, manter

e operar o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário;

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O transporte de passageiros por ônibus da Cidade do Natal é gerido pela

SEMOB - Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, anteriormente denominada

STTU – Secretaria de Transporte e Trânsito Urbano.

O Sistema de Transporte Público de Passageiros de Natal/RN é operado em

regime de permissão. Para licitar a permissão de operação das linhas, a cidade do Natal

foi dividida em áreas (conjunto de bairros) de onde as linhas são planejadas no sentido

bairro/centro. Cada conjunto de bairros foi licitado para ser explorado por uma ou mais

empresas. Hoje, sete empresas privadas exploram o serviço. São elas: Guanabara,

Santa Maria, Nossa Senhora da Conceição, Cidade das Dunas, Reunidas, Riograndense

e Transflor.

Cada linha é planejada quanto ao itinerário de ida e de volta, frota de veículos

que deve operar com base no número de usuários da linha, o número de viagem por dia

que deve ser realizada na linha, extensão da linha em kilômetros, tempo gasto para

percorrer o percurso estabelecido (tempo de viagem), a velocidade média do percurso,

o número de paradas, o percentual do tipo de pavimentação (asfalto, calçamento, terra)

que compõe a linha e o quadro de horários da linha que estabelece todos os horários de

saída dos veículos. Essas informações são processadas e passam a compor a ordem de

serviço operacional – OSO de cada linha. É pelas informações contidas neste

documento que as empresas devem executar o serviço e por onde os fiscais da SEMOB

acompanham seu cumprimento. O descumprimento pelas empresas do que prevê as

OSO é passível de multa.

As informações da OSO podem ser atualizadas ou alteradas periodicamente

baseadas em dados pesquisados pela SEMOB e fornecidos pelo Sindicato das

Empresas de Transporte Urbano do Rio Grande do Norte – SETURN.

A tarifa cobrada atualmente é R$ 2,20 (dois reais e vinte centavos), tem 86

linhas em operação, uma frota de 712 ônibus com idade média de 7,51 anos, sendo 646

ônibus a frota efetiva; IPK (índice de passageiro por quilômetro) bruto de 2,02

passageiro/km, o que equivale a 530.000 passageiros transportados por dia e

10.605.433 passageiros transportado por mês; número de viagens por dia de 7.903 e

158.068,5 viagens por mês e o número de quilômetro percorrido por toda a frota

durante um mês é de 5.240.103,4 km (SECRETARIA DE MOBILIDADE URBANA,

2010).

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O transporte é um serviço que tem como características a intangibilidade (não

pode ser visto antes de ser comprado), inseparabilidade (apresenta produção e consumo

simultâneo) e variabilidade (não são padronizáveis). As linhas, deslocamento de um

ponto A a B, são planejadas quanto ao seu percurso e tempo para execução, sendo o

número de veículos por linha determinado, através de pesquisa, pelo volume de pessoas

que circulam na área. A cada percurso o motorista sai de um ponto de apoio, chamado

terminal de linha, para outro ponto de apoio ou retornando para o ponto inicial,

obedecendo ao quadro de horários de saída e de chegada.

Os motoristas de ônibus devem, de acordo com a Lei nº 9.503/97 (CÓDIGO DE

TRÂNSITO BRASILEIRO, 2008), ser maior de 21 anos, carteira de habilitação D ou E

e ter o curso especializado de Condutores de Veículos de Transporte Coletivo de

Passageiros, que é regulamentado pela Resolução n º 168/04 (CONTRAN –

CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO)3. Para conduzir um ônibus não há

restrição de gênero, porém, poucas mulheres trabalham nesta atividade. Os

trabalhadores das empresas de ônibus têm como entidade de classe o Sindicato dos

Motoristas Rodoviários do Rio Grande do Norte - SINTRO/RN.

A convenção coletiva de trabalho 2010/2011 (MINISTÉRIO DO TRABALHO

E EMPREGO - MTE) celebrada entre o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes

Rodoviários do Estado do Rio Grande do Norte - SINTRO e o Sindicato das Empresas

de Transportes Urbanos de Passageiros do Município de Natal - SETURN, registrada no

Ministério do Trabalho e Emprego - MTE sob o número RN000271/2010, prevê o piso

salarial para o motorista no valor de R$ 1.192,08. Regulamenta a jornada de trabalho

normal em 7:20 h e na eventualidade de horas extras a empresa se obriga a efetuar o

pagamento com adicional de 65% sobre a hora trabalhada. Como adicional prevê 30%

sobre o valor da hora normal o adicional noturno, caso haja; adicional de antiguidade de

5% por quinquênio de efetivo trabalho na mesma empresa.

Proíbe o desconto na remuneração dos empregados de qualquer objeto, peça ou

acessório desaparecido, roubado ou danificado, bem como de danos por acidentes de

veículos, ressalvada a ocorrência de dolo ou culpa grave do empregado.

Como benefício social determina o vale alimentação no valor de R$ 140,40 por

mês, auxílio funeral em caso de falecimento do empregado e o passe livre nos ônibus

das empresas urbanas no município de Natal.

3 Informação retirada da internet através do site: www.contran.gov.br/resoluções.

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3.2 HISTÓRICO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DA EMPRESA

PESQUISADA

As informações sobre a empresa foram obtidas através de entrevistas

estruturadas aplicadas ao gerente administrativo, chefe de setor pessoal, assistente

social e chefe do departamento de tráfego. Foram utilizados também documentos,

registros e feitas observação in loco.

A empresa onde foi realizada a pesquisa é uma das 7 (sete) empresas que tem

concessão para operar na cidade de Natal/RN. Fundada em 14/09/1984, portanto, com

26 anos de atuação no mercado e uma frota de 79 (setenta e nove) ônibus. A estrutura

organizacional da empresa está representada no organograma onde se pode visualizar

as unidades funcionais, níveis hierárquicos e as relações de comunicação existentes

entre as unidades:

Organograma 1: Organograma da empresa pesquisada

Fonte: Setor administrativo da empresa

Os cargos de diretor presidente e o de diretoria financeira são ocupados por

parentes proprietários da empresa. Os demais cargos são ocupados por pessoas

selecionadas para o cargo. Os motoristas estão lotados no departamento de tráfego, que

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é subordinado diretamente à diretoria de operações. O setor de recursos humanos se

reporta a gerência administrativa que se encontra no mesmo nível hierárquico do

departamento de tráfego, porém, se reporta a diretoria financeira, enquanto que, o

departamento de tráfego se reporta a diretoria de operações.

A empresa possui um efetivo médio de 388 (trezentos e oitenta oito)

funcionários, destes 297 (duzentos e noventa e sete) lotados no setor de operações sendo

159 (cento e cinqüenta e nove) motoristas, 115 (cento e quinze) cobradores e 23 (vinte e

três) fiscais e despachantes; 25 (vinte e cinco) funcionários na administração e 66

(sessenta e seis) na manutenção. Da totalidade de motoristas em escala apenas 124

(cento e vinte e quatro) trabalham diretamente na operação do serviço de transporte

coletivo já que 35 (trinta e cinco) deles realizam outros serviços internos da empresa,

cobrem férias, estão afastados pelo INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social, à

disposição do sindicato dos motoristas, da junta de conciliação prévia na

Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – SRTE/RN e no carro de socorro

aos ônibus que quebram em operação.

Ela opera em 11(onze) linhas, cada linha tem uma numeração que identifica seu

destino, tem tempo de viagem estabelecido para cada percurso completo, número de

veículos operante na linha e número de motorista escalado em cada uma delas,

conforme quadro 2:

Quadro 2 - Linhas, destino, veículos por linha, nº de motoristas e duração da viagem

Nº da Linha

Destino Nº de veículos

Nº de motorista

Tempo de viagem (min)

50 Serrambi/Santa Catarina 12 24 118 51 Rocas/Pirangi (via Praça) 10 20 95 a 100 52 Rocas/Pirangi (via Alecrim) 10 16 95 a 100

7461/7462 Circular Ponta Negra/N. Parnamirim

2 4 40

65 Serrambi/Quintas (via praça) 7 14 90 a 105 85 Soledade/Petrópolis

(via ponte de todos) 2 4 80

104/105 Eucaliptos/Ribeira (via praça) 11 21 95 a 110 739 N. Parnamirim/Ribeira

(via M. Lacerda) 8 15 95 a 110

106/107 N. Parnamirim/Ribeira (via Abel Cabral)

3 6 95 a 110

Fonte - Setor de tráfego da empresa

As linhas 50 e 65 têm como ponto de apoio o terminal de Serrambi, as linhas 51

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e 52 o terminal das Rocas, a linha 85 o terminal de Soledade e as linhas 7461/7462,

104/105, 739 e 106/ 107 o terminal de Cidade Verde.

No período de 2003 a 2007 a empresa diz ter passado por um período

conturbado quando vivenciou uma crise financeira que a impediu de renovar a frota,

tendo esta chegado a atingir uma idade média superior a 8 anos. Ainda neste período, a

empresa teve seu tamanho reduzido, pois, vendeu a concessão das linhas que operava no

bairro de Ponta Negra.

A partir de setembro de 2007, através de reajustes tarifários, da implantação da

bilhetagem eletrônica e de um termo de ajustamento de conduta – TAC celebrado entre

Ministério Público, STTU – Secretaria de Transporte e Trânsito Urbano (atual

SEMOB), SETURN – Sindicato das Empresas de Transporte Urbano do Rio Grande do

Norte e as empresas operadoras do transporte urbano de Natal a referida empresa

renovou sua frota em aproximadamente 45% ao adquirir 36 (trinta e seis) ônibus novos

em 2009.

A empresa pesquisada transporta em torno de 1.100.000 (um milhão e cem mil)

passageiros/mês e roda uma quilometragem na ordem de 530.000 km/mês. A queda no

número de passageiros transportado ocorre em períodos chuvosos e de férias escolares.

Em alguns horários, chamados horários de pico, há uma grande demanda de passageiros

por viagem enquanto que em outros horários, no mesmo dia, chega a haver escassez de

passageiros. Quanto ao dia da semana, há queda na demanda de passageiros nos finais

de semana e feriados.

A eficiência da operação do serviço é verificada pela SEMOB através da análise

do número de viagens previstas que foram cumpridas. Ainda com a finalidade de aferir

a eficiência operacional, a SEMOB disponibiliza um telefone 0800 para que os usuários

do serviço de transporte possam fazer suas reclamações ou elogios. A empresa, embora

não disponha de uma linha exclusiva para o cliente, também recebe ligações com

reclamações ou sugestões dos clientes.

3.2.1 População de trabalhadores

Na empresa pesquisada o recrutamento de pessoal ocorre de modo diferenciado

entre os cargos: o recrutamento para o cargo de motorista ocorre de forma contínua e os

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demais cargos apenas quando há vacância. No caso dos motoristas, os candidatos tanto

podem enviar currículo via internet como ir até a empresa e entregar seu currículo em

mãos, nas terças e quintas-feiras.

Para participar do processo seletivo de motorista são considerados como

requisitos básicos: possuir mais de 2 (dois) anos de experiência comprovada na

condução de veículo de grande porte (caminhão ou ônibus), idade mínima de 25 (vinte e

cinco) e máxima de 45 (quarenta e cinco) anos, ser alfabetizado e ter o curso de

Condutor de Veículo de Transporte Coletivo de Passageiros. Atendendo a estes

requisitos, o processo segue algumas etapas. A primeira é a um cadastro de solicitação

de emprego que é feito todas as terças e quintas às 10:00 horas na empresa. O candidato

apresenta a sua carteira profissional e após a análise lhe é fornecida uma ficha de

solicitação de emprego que deverá ser entregue novamente na empresa na próxima terça

ou quinta-feira. A ficha é analisada pelo Gerente Administrativo que observa se o

candidato atende aos requisitos acima descritos. É marcado uma entrevista com os

candidatos que tiveram as fichas aprovadas.

A segunda etapa é a entrevista, já eliminatória, na qual é observado onde mora

(análise do tempo de deslocamento de casa para o trabalho), a estrutura familiar

(ajustamento), os hábitos sociais (bebida, lazer), a vida profissional anterior (se for

possível, busca informações na empresa anterior) e a aparência.

A terceira etapa é o teste de volante, também eliminatório, que verifica a

habilidade do motorista ao dirigir o ônibus. Os itens avaliados na prática são: a forma

como dar a saída com o veículo, trocas de marchas e reduções, marcha ré e baliza, a

utilização dos instrumentos de comando localizados no painel do veículo, inclusive a

rotação do motor; a adequação da velocidade para a via, o grau de domínio do veículo

na via, como realiza ultrapassagem, como faz a mudança de direção, o uso do espelho

retrovisor, como dar a preferência aos outros veículos, o respeito a sinalização

horizontal e vertical da via. Estes itens são avaliados como bom, regular ou

insatisfatório, sendo indicado o resultado como habilitado, habilitado com restrições e

inabilitado a depender do número de itens que apresentou resultado regular ou

insatisfatório.

Sendo considerado habilitado no teste de volante o candidato segue para um

teste escrito de sinalização de trânsito, este não eliminatório, porém, os que obtiverem

um índice de acertos inferior a 70% deverão estudar e retornar para fazer um reteste.

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A fase seguinte é uma reunião informativa. Os candidatos aptos até o momento

do processo seletivo se reúnem com o gerente administrativo que lhes informará sobre a

atividade do motorista: responsabilidades, consequências das ações, acidentes, justiça

do trabalho, relacionamento profissional.

Estando cientes das informações prestadas os candidatos são encaminhados para

realizar exame médico com o médico do trabalho contratado pela empresa que pode

fornecer parecer desfavorável a admissão de algum candidato. Se julgar necessário, o

médico solicita exames complementares. Aptos no exame médico são orientados a

providenciar toda a documentação necessária.

Ainda sem estar registrado como funcionário, recebe orientação operacional com

o setor de Trafego sobre o regulamento interno da empresa, sobre as exigências e

fiscalização da SEMOB e sobre multas de trânsito.

A próxima etapa é “correr linhas”. Eles devem percorrer todas as linhas operadas

pela empresa, acompanhando um motorista de cada linha, para conhecer os itinerários e

pontos de parada.

Por último, permanece por um dia no setor de manutenção para receber

orientação sobre como pedir socorro, como ler o painel do veículo, aprender noções de

mecânica do veículo e de borracharia.

Cumpridas todas as etapas anteriores o candidato é admitido com um contrato de

experiência de 45 mais 45 dias. Nestes 90 dias é acompanhado quanto à falta ao

trabalho, atraso, colisão, reclamação de passageiros, entre outros itens de desempenho

não formal, sendo tudo anotado na ficha funcional. Ao término dos 90 dias a ficha

funcional é avaliada pelo responsável do setor de tráfego e sendo seu desempenho

considerado adequado o contrato de trabalho passa a vigorar por tempo indeterminado.

A carga horária de trabalho é de 44 h semanal, carga horária diária de 07h20min

com intervalo variando de 1:00 a 2:00h, folga de um dia na semana para a grande

maioria dos motoristas, sendo que pelo menos uma folga mensal é no domingo. Alguns

motoristas que trabalham nos chamados carros direto, têm carga horária diária de

08h40min, com intervalo de 2:00 h e folga no sábado e domingo. A concessão de férias

anual é planejada para ser gozada no prazo máximo permitido pela CLT – Consolidação

das Leis do Trabalho, observando as necessidades do departamento de operações.

Os fatos que motivam os desligamentos dependem da reincidência e gravidade

das falhas: falta, reclamação de passageiros, excesso de atestado médico, acidente de

trânsito, multas de trânsito e operação inadequada do veículo. O chefe de tráfego vai

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chamando o motorista infrator e punindo com advertência verbal, advertência por

escrito, anotação na ficha, suspensão de acordo com art. 482 da CLT e inquérito se a

pessoa for portadora de estabilidade (membro da CIPA ou do sindicato, está em retorno

de acidente de trabalho, por exemplo).

A qualificação profissional é ofertada sem regularidade estabelecida, sendo as

palestras e orientações com participação voluntária. Esporadicamente alguns cursos são

ofertados a um grupo com perfil julgado inadequado como reincidência de

envolvimento em pequenas colisões, reincidência em reclamações de passageiros.

Quando há cursos eles ocorrem após a jornada de trabalho, sem hora remunerada.

Quanto à remuneração, o salário pago ao motorista é o regulamentado pela

convenção coletiva de trabalho 2010/2011 celebrada entre o SINTRO - Sindicato dos

Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Rio Grande do Norte e o

SETURN - Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do

Município de Natal, no valor de R$ 1.192,08 (mil cento e noventa e dois reais e oito

centavos). Os benefícios são os determinados pela convenção coletiva de trabalho. É

opcional a adesão a convênios, através do SINTRO, a serem descontados diretamente de

seu contracheque como plano de saúde, vale supermercado, farmácia, ótica e

empréstimos a empresas de crédito consignado.

3.2.2 A atividade prescrita do motorista

A tarefa do motorista, ou seja, o trabalho prescrito para o motorista pela empresa

para atingir seus objetivos está no quadro 3. Na ficha de funções estão descritas as

atribuições e responsabilidades do motorista e como ele deve agir em determinadas

situações, a sequência em que as tarefas devem ser realizadas durante uma jornada de

trabalho e o perfil desejado do seu ocupante.

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Quadro 3 - Ficha de funções do motorista de ônibus urbano

FICHA DE FUNÇÕES Função do Cargo de Motorista

Transportar os clientes da Empresa em seus veículos, através dos itinerários determinados pelo órgão gestor, obedecendo às normas definidas através do regulamento da SEMOB (Decreto 2.812/83) e do DER/RN.

Descrição das Tarefas 1. Vistoriar o veículo na garagem ou no terminal da linha, antes do início da utilização do mesmo,

informando ao pessoal do plantão ou despachante, as avarias nele existentes; 2. Conferir toda a documentação do veículo antes do início da sua jornada de trabalho, informando ao

plantonista/despachante a ausência das mesmas; 3. Conferir toda a estrutura de segurança do veículo como, triângulo, extintor, etc. informando ao

plantonista/despachante a ausência de qualquer um desses equipamentos; 4. Verificar os níveis de óleo e água do veículo antes do início da operação com o mesmo; 5. No turno da manhã, antes do início de sua operação, conduzir o veículo ao terminal de origem de

suas viagens; 6. Realizar todas as viagens definidas no Quadro de Horário de sua linha, transportando todos os

clientes da Empresa, através dos itinerários determinados pelo órgão gestor, atendendo aos sinais de embarque e desembarque de todos os usuários que se encontrarem fora e dentro do ônibus, nas paradas já pré-determinadas (apresentar-se corretamente uniformizado e identificado; prestar as informações necessárias aos usuários; colaborar com a fiscalização do órgão gerencial e dos demais órgãos incumbidos de fiscalizar o transporte; dirigir o veículo de modo a não prejudicar a segurança e o conforto dos usuários; manter velocidade compatível com o estado das vias, respeitados os limites legais; evitar freadas bruscas e outras situações propícias a acidentes; não movimentar o veículo, sem que estejam fechadas as portas; não fumar, quando na direção; não ingerir bebidas alcoólicas em serviço, nos intervalos da jornada ou antes de assumir a direção; comunicar à garagem quando ocorrerem indícios de defeito mecânico que possa pôr em risco a segurança dos usuários recolhendo o veículo quando autorizado; diligenciar a obtenção de transporte para os usuários, em caso de avaria e interrupção da viagem; prestar socorro aos usuários feridos em caso de sinistro; respeitar os horários programados para a linha; dirigir com cautela especial à noite e em dias de chuva ou de pouca visibilidade; atender aos sinais de parada nos pontos estabelecidos; não embarcar ou desembarcar passageiros fora dos pontos estabelecidos; recusar o transporte de animais, plantas de médio e grande porte, material inflamável ou corrosivo e outros materiais que possam comprometer a segurança ou o conforto dos usuários; respeitar as normas disciplinares da empresa e as determinações da fiscalização; quando necessário, poderá solicitar a intervenção da autoridade policial para retirar do veículo o usuário faltoso);

7. Após sua jornada de trabalho, entregar o veículo ao plantonista/despachante nas mesmas condições do seu recebimento;

8. No turno da tarde, após sua jornada de trabalho, recolher o veículo a garagem; 9. Obedecer às normas da Empresa; 10.Assinar a guia de serviço no início de sua jornada de trabalho. Perfil Indispensável ao Cargo - Carteira de Habilitação Tipo “D”; - Ter no mínimo 2 (dois) anos de experiência comprovada nas atividades de transporte coletivo ou

caminhão. Perfil Desejável ao Cargo - Idade entre 25 a 45 anos; - Morar nas proximidades da Garagem; - 2. º grau completo; Formação Necessária

- Curso de Condutores de Veículos de Transporte Coletivo de Passageiros (resolução n° 168 do CONTRAN) - Curso de Atualização para Condutores de Veículos de Transporte Coletivo de Passageiros a cada 5

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71

anos, na renovação da CNH Fonte - Elaborada pelo autor, a partir da cartilha regulamento interno da empresa.

Estabelecidas as atribuições e responsabilidades do motorista de ônibus pela

empresa a questão é: existem fatores como cargas e riscos de trabalho, aspectos físico-

ambientais, individuais e coletivos que influenciam para que o motorista não cumpra o

que foi prescrito pela empresa? Na opinião dos motoristas, que fatores são esses?

Através do motorista que executa as tarefas pode-se obter a descrição do

trabalho tal como acontece realmente e se conhecer se há interferências.

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72

4 METODOLOGIA

Neste capítulo faremos o detalhamento da pesquisa. Descreveremos os caminhos

que foram percorridos para chegar aos objetivos propostos, como foi selecionada a

amostra e o percentual em relação à população estudada, o instrumento de pesquisa

utilizado e como os dados foram tratados e analisados.

Acreditando numa provável relação entre os índices de absenteísmo e de

acidentes de trânsito com a situação de trabalho do motorista e considerando que

poderia se tratar de uma realidade comum às empresas de transporte urbano da cidade

de Natal, já que todas operam em ambiente semelhante ou comum, decidimos procurar

uma empresa e propor a realização desta pesquisa. Nosso pedido foi aceito pela empresa

e o projeto da pesquisa foi submetido e aceito com parecer favorável pelo Comitê de

Ética em Pesquisa da UFRN número 313/2008.

O presente estudo compreende uma abordagem descritiva e exploratória, que

buscou correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los, através de um estudo de

caso. Para tanto, estudamos de forma amostral em uma das sete empresas de ônibus

urbano da cidade de Natal/RN a situação de trabalho do motorista para identificarmos

junto a eles quais os problemas em sua atividade durante sua execução.

O estudo de caso é um estudo de natureza empírica que investiga um

determinado fenômeno, geralmente contemporâneo, dentro de um contexto real de vida,

quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto em que ele se insere não são

claramente definidas. Trata-se de uma análise aprofundada de um ou mais objetos

(casos), para que permita seu amplo e detalhado conhecimento (GIL, 1996).

O modelo de pesquisa foi pesquisa-ação, que de acordo com Bendassolli e

Soboll (2011, p. 5) “visa a produção de conhecimento–ação vinculados às situações

reais de trabalho e as vivências do sujeito pesquisado”. Segundo Barbier (1985, p. 136

apud OLIVEIRA, M., 2007, p. 74), a pesquisa ação “é uma atividade de compreensão e

de explicação da práxis dos grupos sociais por eles mesmos, com ou sem especialistas

em ciências humanas e sociais práticas, com fim de melhorar essa práxis”.

A pesquisa ação para LHUILIER (2006 apud BENDASSOLLI; SOBOLL,

2011), permite o desenvolvimento do conhecimento e possibilita a conscientização e o

“empoderamento” dos sujeitos, objeto da pesquisa, na situação de trabalho.

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73

Para Wisner (1987) todas as atividades que não se desenvolvem de maneira

satisfatória devem ser objeto de uma verdadeira análise do trabalho. A análise do

trabalho é entendida como a descrição do trabalho tal como acontece realmente e é feita

com a finalidade de se conhecerem as razões da diferença entre as tarefas prescritas e as

tarefas reais e aplicar as melhorias. A análise do trabalho é realizada através da análise

da atividade que pode ser feita pelo dispositivo técnico e pelas instruções escritas e orais

destinadas ao trabalhador, pela observação cuidadosa da atividade e pela descrição do

seu trabalho pelo operador, de preferência no posto de trabalho.

Quanto a forma de obter as informações sobre o trabalho o referido autor diz que

não se pode analisar o trabalho sem ir para o campo e analisar in loco o que os

trabalhadores fazem. Que devemos dar importância ás condições de trabalho, tudo que

influencia o próprio trabalho, e a participação dos trabalhadores no estudo das

condições de trabalho.

Também de acordo com Wisner (1987), ao longo da história do trabalho os

trabalhadores não são solicitados a contribuir para a própria observação, se não de

maneira passiva, eles são objeto e não sujeito de seu próprio estudo. Cabe aos outros,

médicos, gerentes, psicólogos, etc., dizer o que é que vai mal. Na verdade, o autor

enfatiza que o que o operador diz sobre seu trabalho é de importância considerável na

análise da atividade e que ele, o trabalhador, ao descrever seu trabalho pode contribuir

na descrição dos efeitos negativos do trabalho.

A definição e escolha da amostra foi não-probalística, intencional e por

acessibilidade. A quantidade da amostra foi de 40% da população de motoristas da

empresa pesquisada que correspondeu a 50 dos 124 motoristas em atividade. Iniciamos

a coleta de informações e dados em janeiro de 2010 através de entrevistas com gerentes

e funcionários administrativos no escritório da empresa. Estas entrevistas foram

realizadas com base em roteiros de perguntas pré-estabelecidas pelo pesquisador as

quais os entrevistados respondiam, o pesquisador anotava as respostas e solicitava aos

mesmos documentos que continham as informações em referência, quando era

pertinente.

Para calcular o índice de absenteísmo e identificar os tipos de doença que

causaram os afastamentos dos motoristas do trabalho foram analisados os relatórios com

a quantidade de atestados apresentado pelos motoristas durante os anos de 2009 e 2010,

o número de dias de afastamento e o CID – Classificação Estatística Internacional de

Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, informado pelo médico que deu o

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diagnóstico e emitiu o atestado. A análise dos acidentes de trânsito foi feita pelos dados

dos laudos periciais emitidos quando ocorreram os acidentes. A rotatividade foi

calculada a partir das guias da CAGED – Cadastro Geral de Empregados e

Desempregados do ano em referência na qual são informadas pela empresa ao

Ministério do Trabalho e Emprego as entradas e saídas de funcionários.

Após haver tomado conhecimento do quadro de linhas e horários da empresa e

com uma autorização por escrito da direção de empresa para a realização da pesquisa

fomos aos quatro terminais de linha onde a empresa opera e fizemos as observações,

registros e a aplicação de uma entrevista com os motoristas. Os motoristas responderam

as entrevistas em seu horário de descanso que tinha a duração aproximada de 1:00 h. A

preferência por realizar a entrevista durante o intervalo de trabalho e não antes ou

depois da jornada se deu em função da imprecisão do tempo de duração da entrevista

interferir no horário de início da jornada ou dificultar a volta do motorista para casa.

Todas as entrevistas foram realizadas no período de dezembro de 2010 a fevereiro de

2011

Optamos por entrevistar motoristas de todas as linhas que a empresa opera,

conforme demonstrado no Quadro 4. Para compor a amostra foi feita uma estratificação

proporcional onde seriam entrevistados pelo menos 20% dos motoristas das linhas

maiores e 50% dos motoristas das linhas menores, de modo que no total obtivéssemos

uma amostra de 40% dos motoristas.

Quadro 4 - Número de motoristas entrevistados por linha

Nº da Linha

Terminal Nº de motorista Nº de motorista entrevistado

50 Serrambi 24 7 51 Rocas 20 9 52 Rocas 16 8

7461/7462 Cidade Verde 4 2 65 Serrambi 14 3 85 Soledade 4 2

104/105 Cidade Verde 21 11 739 Cidade Verde 15 6

106/107 Cidade Verde 6 2 TOTAL 124 50

Fonte - Elaborado pelo autor.

Os motoristas que responderam a entrevista foram escolhidos pela ordem de

chegada ao terminal no seu horário de intervalo e que ao ser abordado e esclarecido pelo

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termo de consentimento livre esclarecido - Apêndice A, da finalidade da entrevista

concordasse em responder as perguntas. Houve os que disseram que gostariam de

participar da entrevista, porém, ficaram impossibilitados por ter se atrasado durante a

última viagem e tiveram seu tempo de intervalo reduzido. Outros se recusaram a

responder alegando receio das consequências de suas respostas, mesmo lhe tendo sido

apresentado a autorização da empresa e a finalidade da entrevista.

As entrevistas foram realizadas nos quatro terminais de ônibus onde a empresa

opera com suas linhas, em lugar reservado, porém aberto, de modo que algumas vezes

havia outros motoristas ou despachantes que passavam e podiam escutar parte da

conversa.

Quanto a aplicação da entrevista, as perguntas eram feitas pelo pesquisador que

anotava as respostas ao mesmo tempo em que eram gravadas, considerando que se

tratava de um ambiente com ruído causado pelo barulho dos ônibus que chegavam e

saíam. Diariamente, as entrevistas realizadas eram transcritas e impressas.

Para elaborar o instrumento de coleta de dados, a entrevista, primeiro tomamos

conhecimento das tarefas do cargo do motorista de acordo com a empresa,

posteriormente observamos o seu ambiente de trabalho e levantamos os itens que estão

presentes na atividade do motorista. O instrumento inicia com perguntas relacionadas a

questões pessoais do motorista como: estado civil, forma de moradia, quantidade de

filhos, uso de bebida alcoólica, tempo de permanência no emprego atual e tempo de

deslocamento de casa para o trabalho. As demais perguntas foram elaboradas em

relação a cada item avaliado por nós como presente na atividade do motorista: o tempo

de viagem planejado pela empresa, a interferência do passageiro, a supervisão direta, a

manutenção do veículo, o trânsito, as condições da via, o posto de trabalho, as

condições do ambiente de trabalho (terminal) para descanso, alimentação e necessidades

fisiológicas. A fim de cobrirmos outros itens não previstos por nós na elaboração das

perguntas do questionário, finalizamos o mesmo com duas perguntas abertas sobre

fatores considerados satisfatórios ou insatisfatórios para o motorista.

Na realização das entrevistas o pesquisador se embasou nas orientações

fornecidas por Bauer e Gaskell (2002), que sugere: testar o gravador antes do início de

cada entrevista, garantir a confidencialidade das informações, realizar um comentário

sobre a pesquisa, fazer o pedido para gravar justificando uma ajuda a memória e o

agradecer por ter concordado falar, manter o foco da atenção na escuta e entendimento

do que está sendo dito e não na escrita ou no roteiro da entrevista, dar ao entrevistado

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tempo para pensar e por isso as pausas das respostas não devem ser preenchidas com

outras perguntas, procurar terminar a entrevista com uma nota positiva e agradecer ao

entrevistado.

O roteiro da entrevista – Apêndice B foi elaborado com uma sequência de

perguntas com uma finalidade, neste caso a de ouvir o motorista sobre a sua atividade

de trabalho, de modo que as respostas, mesmo as subjetivas, pudessem ter um

tratamento de classificação quantitativa.

De posse das entrevistas transcritas e impressas, foi montada uma tabela no

Excel onde as linhas, numeradas de 1 a 50, referiam-se aos 50 motoristas entrevistados e

nas colunas estavam os itens avaliados pelos mesmos, agrupados em fatores. As

respostas foram tabuladas em percentuais e apresentadas em tabelas, com exceção de

duas perguntas abertas que foram tabuladas pela frequência da resposta. A discussão

dos resultados foi fundamentada pela revisão de literatura dos processos da ARH.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apresentamos neste capítulo os índices e custos de absenteísmo, rotatividade de

pessoal e acidente de trânsito da empresa pesquisada; os resultados da pesquisa

realizada com os motoristas e os dados e registros relativos ao trabalho do motorista

coletados pelo pesquisador. Todos os resultados foram analisados com base na revisão

de literatura da ARH.

5.1 ÍNDICES E CUSTOS DA ROTATIVIDADE DE PESSOAL, ABSENTEÍSMO E

ACIDENTE DE TRÂNSITO DA EMPRESA PESQUISADA.

O índice de rotatividade da empresa pesquisada foi calculado com base nos

dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED informados pela

empresa ao Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, relativas ao ano de 2009 e 2010.

O índice de rotatividade global da empresa em 2009 foi de 23,17% e em 2010 de

15,74%, conforme tabela 1.

Tabela 1- Índice de rotatividade da empresa em 2009 e 2010

Ano Admissão Demissão Efetivo médio Rotatividade(%)2009 100 80 388,5 23,17% 2010 48 75 390,7 15,74%

Considerando apenas o cargo de motorista, a rotatividade de motorista no ano de

2009 foi de 28,93 % e em 2010 de 17,94%, conforme demonstrado na tabela 2.

Tabela 2 - Índice de rotatividade do cargo de motorista em 2009 e 2010

Ano Admissão Demissão Efetivo médio Rotatividade(%) 2009 47 45 159 28,93% 2010 23 33 156 17,94%

Observa-se uma queda na rotatividade de pessoal da empresa na ordem de

7,43% do ano de 2009 para o ano de 2010, o que se repete também com o cargo de

motorista cuja rotatividade caiu em 10,99% do ano de 2009 para o ano de 2010. Mesmo

tendo sido observado uma queda no índice de rotatividade do motorista ela ainda

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apresentou-se alta, 17,94% e foi superior a rotatividade global da empresa, ou seja, o

cargo de motorista teve maior rotatividade que os demais cargos da empresa.

Os custos consequentes da rotatividade são os valores gastos com a rescisão de

contrato de trabalho como multa de FGTS e aviso prévio, como também com a seleção

de pessoal, tanto dos que foram demitidos como dos que foram selecionados para

substituir os demitidos. Para Chiavenato (2008), as causas internas da rotatividade

podem estar relacionadas com o estilo gerencial, o desenho do cargo e/ou inadequações

do ambiente de trabalho. Wisner (1987) diz que o absenteísmo e a rotatividade, seja

qual for a causa, trata-se sempre de um sinal de rejeição das condições de trabalho. O

resultado da pesquisa realizada junto aos motoristas dirá como estes fatores são por eles

avaliados.

A quantidade de dias não trabalhados por afastamento médico no ano de 2009,

conforme tabela 3, totalizaram em 1.908 dias e custou a empresa aproximadamente R$

70.596,00 (setenta mil quinhentos e noventa e seis reais) se considerarmos o valor de

R$ 37,00 (trinta e sete reais) por um dia de trabalho. Quanto às faltas com atestado

médico apenas dos motoristas, estas totalizaram em 219 atestados, equivalente a 909

dias não trabalhados, representando 43% do número total de atestados médico. O custo

da empresa neste período apenas com o pagamento aos motoristas pelos dias não

trabalhados foi de R$ 33.633,00 (trinta três mil seiscentos e trinta três reais). Deve ser

ainda considerado como custo os valores pagos, no período em referência, pela

duplicação da jornada de trabalho (dobras) e horas extras realizadas pelos motoristas

que cobriram os que faltaram.

Tabela 3 - Quantidade de dias não trabalhados por atestado médico em 2009

CARGO/ SETOR

NÚMERO DE ATESTADO

QUANTIDADE DIAS

MOTORISTA 219 909 COBRADOR 152 559

DESPACHANTE 18 56 MANUTENÇÃO 100 315

ADMINISTRAÇÃO 16 69 TOTAL 505 1908

Se de acordo com a empresa, uma média de 23 motoristas permaneceu afastada

com auxílio doença no ano em referência, a empresa contou com apenas 76% de seus

motoristas como força de trabalho durante o ano em referência.

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A predominância do tipo de doença apresentado, conforme gráfico 2, foram os

problemas psiquiátricos e as patologias músculo-esqueléticas. Estas doenças juntas

corresponderam a 64% dos atestados médicos.

Gráfico 2 - Quadro diagnóstico epidemiológico em 2009 da empresa pesquisada

Diagnóstico clínico epidemiológico % de ocorrências em 2009

43%

21%

4%

6%

6%

2%2%

15% Problemas  Psiquiátricos

Patologias  Músculo‐esqueléticasApêndice

Vascular

Cardíaco

Diabetes

Cirurgia

Não identificado

Fonte - Elaborado pelo autor a partir dos atestados médico

Estando caracterizado que o absenteísmo na empresa pesquisada esta ligado a

problemas de saúde com predomínio de 43% problemas psiquiátricos e 21% de

patologias músculo-esqueléticas verificou-se que estas doenças ou parte delas têm

origem no local de trabalho desfavorável, de acordo com Limongi-França (2009), o que

é reiterado por Wisner (1987) para quem o absenteísmo trata-se sempre de um sinal de

rejeição das condições de trabalho e por isso sugere que é preciso tratá-lo para cada

categoria de pessoal ou para cada local de trabalho

O elevado índice de problemas psiquiátricos constatado na empresa pode estar

relacionado com a carga cognitiva resultante do contato com o público associado a uma

carga de trabalho elevada, pois, de acordo com Wisner (1987) os trabalhadores que

trabalham com o público apresentam em geral uma carga cognitiva elevada devido as

dificuldades de compreensão das questões do público (atitude de aflição, pressão) que

levam ao sofrimento mental e que esta realidade adicionada a uma grande carga de

trabalho tornam a situação de trabalho psiquicamente mais perigosa. Azevedo et al.

(2007) diz que a carga de trabalho é a resultante das exigências sobre o indivíduo, no

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decorrer de sua atividade de trabalho, que pesam sobre o desempenho: a sobrecarga

resultando em estresse e a subcarga em monotonia.

Os problemas psiquiátricos e as patologias músculo-esqueléticas são

classificadas por Dejours (2007 apud BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011) como

patologias de sobrecarga de trabalho.

É importante considerar também que o adoecimento por problemas psiquiátricos

de algumas dessas pessoas pode não ter relação com o trabalho, pois, ainda de acordo

com Wisner (1987), muitos problemas mentais graves se desenvolvem sem relação com

o trabalho, já que resulta da interação entre vários fatores: físico, cognitivo e psíquico.

Como muitas pessoas acabam sendo demitidas pelo índice de falta ao trabalho

esta situação implica ainda nos índices de rotatividade e nos custos de demissão.

Quanto às patologias músculo-esqueléticas, suas causas podem estar no posto de

trabalho do motorista. Como pode ser visto na foto 1, o motorista trabalha sentado,

passando por intensos movimentos da coluna, membros superiores, região escapular e

pescoço que podem levar a desordem músculo-esquelética (BRANDÃO; HORTA;

TOMASI, 2005). De acordo com Kompier (1996) estudos têm mostrado que há uma

série de fontes de doença no local de trabalho do motorista e que uma das áreas-chave

para a mudança são o layout e design do ônibus incluindo a gestão de ouvir a voz dos

trabalhadores.

Foto 1 – Posto de trabalho do motorista

Fonte: produção própria

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Com relação aos acidentes de trânsito, inicialmente caracterizamos o que se

pode considerar como acidente de trânsito. De acordo com a NBR 10697 da ABNT

acidentes de trânsito é:

Todo evento não premeditado de que resulte dano em veículo ou na sua carga e/ou lesões em pessoas e/ou animais, em que pelo menos uma das partes está em movimento nas vias terrestres ou áreas abertas ao público. Pode originar-se, terminar ou envolver veículo parcialmente na via pública. (DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRANSITO DO DISTRITO FEDERAL, 2011).

O acidente de trânsito pode ser resultado de uma combinação de fatores, entre

eles, falhas humanas e falhas materiais, que pode trazer dano para o condutor do ônibus

e/ou do outro veículo envolvido; para os passageiros, fazer vítima fatal e neste caso

trazer dano para a família da vítima e a imagem da empresa, despesa com o conserto do

ônibus e/ou do outro veículo envolvido e prejuízo pelo tempo em que o ônibus fica

parado para conserto. O acidente deve, portanto, ser prevenido ou evitado.

Na empresa pesquisada o número de acidentes de trânsito vem caindo de 134 em

2008 para 101 em 2009 e para 71 em 2010, conforme gráfico 3. Esta redução pode estar

relacionada à renovação da frota que a empresa tem feito a cada ano, o que influencia na

melhoria do posto de trabalho e nas condições mecânicas do veículo e a diminuição da

velocidade média conseqüente do aumento do trânsito.

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Gráfico 3 - Número de acidentes de trânsito envolvendo ônibus da empresa pesquisada

Acidente de Trânsito

13

109

7

12

56

119

15

1819

11

6

10

6

9

4

911

810

14

3

8

5

8

5

8

43

57

3

6

9

02468

101214161820

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2008

2009

2010

Fonte - Elaborado pelo autor

Ao compararmos a frota da empresa, 79 ônibus, com o número de acidentes de

trânsito ocorridos em cada ano verificamos que no ano de 2008 o índice de acidentes de

trânsito foi de 178%, como se 59% da frota tivesse sido avariada por duas vezes durante

o referido ano; em 2009 o índice de acidentes de trânsito foi de 128%, como se cada

ônibus tivesse sido avariado 1,3 vezes durante o ano e em 2010 o índice de acidentes de

trânsito foi de 90%, como se 71 dos 79 ônibus tivesse sido avariado durante o ano de

2010.

Pelos relatórios apresentados pelo setor de tráfego da empresa, dos 101 acidentes

ocorridos em 2009, o laudo pericial apontou que em 44% das vezes o motorista do

ônibus foi considerado culpado pela ocorrência do acidente e dos 71 acidentes ocorridos

em 2010 o índice foi de 35%. Embora o índice de acidente de trânsito venha diminuindo

nos últimos dois anos, ele ainda é alto.

Assim sendo, observa-se que os índices de absenteísmo e de acidentes de

trânsito são elevados e suas causas podem ter origem no trabalho, com prejuízos para os

motoristas e para a empresa.

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5.2 RESULTADOS DA PESQUISA REALIZADA COM OS MOTORISTAS

Os resultados das entrevistas realizadas com os 50 motoristas da amostra são

apresentados por blocos de fatores e relacionados aos processos da administração de

recursos humanos, conforme quadro 1. Estes resultados foram classificados em fatores:

1) Os fatores motivacionais e pessoais estão relacionados aos processos de entrada e

saída das pessoas na organização e de aperfeiçoamento; 2) os fatores da carga de

trabalho aos processos relativos ao desempenho das pessoas; 3) os fatores ligados a

satisfação e insatisfação no trabalho aos processos de recompensar pessoas; 4) os fatores

relacionados às condições físico-ambientais aos processos de permanência das pessoas

no trabalho; 5) os fatores relacionados a gestão do trabalho ao processo de monitorar

pessoas no trabalho.

1-Fatores Motivacionais e Pessoais

Tabela 4 - Motivo para ser motorista

Influência de parente que o

iniciou em caminhão

Sempre gostou de dirigir

Aprendeu a dirigir no trabalho

quando exercia outra atividade

Aprendeu a dirigir no Exército

Não teve outra opção na vida

Achava que era uma boa atividade

25 7 7 5 4 2 50% 14% 14% 10% 8% 4%

Tabela 5 - O que pensa em fazer quando se aposentar

Não sabe Descansar Continuar trabalhando

na empresa

Continuar trabalhando, porém, em outra

atividade Ter negócio próprio 26 12 5 5 2

52% 24% 10% 10% 4%

Tabela 6 - Fatores pessoais

Estado civil Moradia Filhos Bebida Alcoolica Tempo de

Empresa

Casado

Outro (divorciado,

companheira) Solteiro Própria Alugada

Outro (parente, cedida)

Nº médio

de filhos Bebe Não bebe

Tempo em anos

29 17 4 34 10 6 2 36 15 4,6 58% 34% 8% 68% 20% 12% 72% 30%

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Quanto ao motivo para ser motorista observa-se nas respostas da maioria dos

entrevistados que eles se tornaram motorista por influência familiar ou por “tendência”

pessoal, sendo esta formação adquirida no caminhão, na empresa onde trabalhou na

época de sua formação e no exército. Chama-nos a atenção para o fato de que não houve

nenhuma resposta que apontasse uma escola de qualificação, curso formal ou processo

sistemático que promovesse a aquisição da habilidade de dirigir. Ainda quanto a

formação de mão de obra, observou-se que nem a identificação de gargalos como os

índices e as consequências dos acidentes de trânsito são considerados motivos ou

razões para levar a empresa a treinar seu pessoal, como preconiza Araújo (2006).

Havendo decisão por treinar a mão de obra que contrata, este treinamento precisa ter

seus objetivos especificados, como alerta Milkovich e Boudreau (2000), para que

sirvam de medição do sucesso.

Em relação ao futuro, 52% dos entrevistados não planejaram seu futuro e 34%

demonstram cansaço com a atividade atual planejando descansar ou trabalhar em outra

atividade na época da aposentadoria.

O perfil predominante dos motoristas entrevistados é de pessoas casadas

oficialmente, 80% deles não têm gastos com aluguel porque moram em casa própria ou

cedida, têm em média 2 filhos, 72% deles fazem uso de bebida alcoólica com alguma

frequência e têm uma permanência média na empresa de 4,6 anos.

Todos estes indicadores são de grande valia para o planejamento das políticas de

recursos humanos da empresa, especialmente para as políticas de recrutamento, seleção

e treinamento.

O recrutamento externo para captar motoristas caminhoneiros, motoristas

egressos de outras empresas do mesmo setor de atividade e do exército são as melhores

fontes, de acordo com esses resultados. A adoção do recrutamento interno, que tem

entre as vantagens, de acordo com Limongi-França (2009), oferecer oportunidades aos

funcionários já integrados e menor custo, irá depender de uma avaliação da necessidade

ou urgência de haver uma capacitação ou aperfeiçoamento prático formal para a

formação desta mão de obra.

Dentre as informações coletadas sobre a empresa verificou-se que a empresa

mantém um canal de recrutamento permanente: o recebimento de currículos todas as

quintas-feiras. É importante avaliar a qualidade do atendimento aos candidatos no que

se refere a forma como estas pessoas são recebidas e o tempo de espera para serem

atendidos na empresa e como é dado o retorno aos não escolhidos para participar do

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processo seletivo, pois, como sugere Limongi-França (2009), é mediante o processo de

recrutamento que a empresa expõe o grau de profissionalismo com que trata os seus

colaboradores e projeta uma imagem positiva ou negativa da empresa.

Embora o tempo médio de permanência na empresa dos motoristas entrevistados

seja de quatro anos e meio a rotatividade anual dos motoristas foi alta, em torno de 30%

em 2009 e 18% em 2010, o que sugere que um grupo com perfil específico não está se

adequando ao cargo, que a dispensa não tem seguido os procedimentos recomendados

ou não tem sido evitada como sugerem Milkovick e Boudreal (2000) e Lacombe (2005)

respectivamente. Estudar o perfil dos motoristas desligados auxiliará na avaliação do

processo de seleção quanto a confiabilidade e validade, como descreve Milkovick e

Boudreau (2000) e medir o quociente de seleção irá conferir a eficácia do processo de

seleção, como sugere Chiavenato (2008).

Considerando que a grande maioria não gasta dinheiro com moradia, pois, não

paga aluguel e têm poucos filhos, média de dois, a empresa deve fornecer orientação

sobre orçamento familiar para que administrem melhor seu dinheiro e assim tenham

melhor aceitação da política salarial da empresa.

Hábitos de vida como o consumo exagerado de bebidas alcoólicas, segundo

Kompier (1996), é um dos componentes do estresse. Considerando que o índice de

motoristas que fazem uso de bebida alcoólica é elevado, 72% dos entrevistados, deve-se

avaliar a influência do uso do álcool para o absenteísmo, para os acidentes de trânsito ou

se é a própria atividade que os leva ao uso do álcool.

Como mais da metade dos motoristas não sabem o que fazer quando se

aposentar, verifica-se a necessidade de fornecer orientação para que façam o

planejamento de seu futuro profissional.

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2- Fatores relacionados à carga de trabalho

Tabela 7 - Tempo de viagem, o passageiro, manutenção do veículo, trânsito e via

Tempo de viagem

planejado

Passageiro x Desempenho

do motorista Manutenção do

veículo Trânsito Condições da via

Suficiente

Insuficiente (alguns ou todos os horários)

Interfere positivamente

Não interfere

Interfere negativamente Atende

Não Atende Dificulta

Não interfere Boa Ruim

2 48 5 27 18 20 30 49 1 12 38

4% 96% 10% 54% 36% 40% 60% 98% 2% 24% 76%

O tempo de viagem é o tempo total de deslocamento da origem ao destino da

viagem. É uma condição estabelecida pela empresa para que o motorista cumpra a tarefa

de número 6 (seis) prescrita na ficha de funções – quadro 3 “Realizar todas as viagens

definidas no quadro de horário de sua linha, transportando todos os clientes da empresa,

através dos itinerários determinados pelo órgão gestor, atendendo aos sinais de

embarque e desembarque de todos os usuários que se encontrarem fora e dentro dos

nossos coletivos, nas paradas já pré-determinadas”.

Este item foi considerado por 96% dos motoristas entrevistados como

insuficiente em pelo menos uma das viagens que compõe sua jornada diária de trabalho.

Assim, o tempo de viagem insuficiente constitui-se em uma variabilidade que

influenciam a ocorrência entre o que é prescrito e o que é realizado, de acordo com

Azevedo et al. (2007).

Sendo o tempo de viagem insuficiente uma variável constante na atividade do

motorista, ele passa a constituir em um constrangimento da atividade por tornar-se uma

exigência estabelecida pela própria atividade “impossível” de ser cumprida, segundo

Guerin et al. (2001) e para atingir os objetivos estabelecidos pela empresa, o motorista,

com os meios que dispõe e levando em conta seu estado interno e seus conhecimentos,

elabora estratégias, chamadas por Vidal (2008) de regulação, que são utilizadas para se

adaptar a essa exigência, que para Guerin et al. (2001) poderá gerar intensificação no

seu ritmo, estresse, desconforto, lesões e ou riscos de acidentes.

Algumas estratégias de regulação utilizadas pelos motoristas visando cumprir o

tempo de viagem prescrito pela empresa são: andar acima da velocidade adequada ou

permitida, queimar paradas, operar no horário do intervalo para descanso ou largar

mais tarde. Essas estratégias podem resultar em conflito na relação com o fiscal que

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controla o cumprimento da tabela de horários, em acidentes de trânsito, reclamação de

passageiros e desgaste prematuro do veículo.

Estudos já realizados como o de Oliveira, A. (2003) que investigou indicadores

do envolvimento de motoristas de ônibus urbano em acidentes de trânsito, verificou,

dentre os indicadores pesquisados, que os melhores preditores ao acidente de trânsito

eram: preocupar-se com dirigir atrasado, com problemas familiares e com o próprio

sono; fazer horas extras; reclamação de passageiros, trabalhar durante as férias e

colocar atestado médico. Assim, ainda de acordo com a autora, sendo essas variáveis

preditoras associadas a fatores situacionais, elas podem ser evitados através de

melhorias das condições de trabalho e das políticas organizacionais e públicas.

A interferência do passageiro na atividade do motorista foi avaliada como

negativa, ou seja, como um fator que dificulta o desenvolvimento de sua atividade, para

36% dos entrevistados. Para um pouco mais da maioria, 54% dos entrevistados, o

passageiro não interfere no desenvolvimento de sua atividade e um pequeno grupo de

10% de motoristas vê o passageiro como fonte positiva no desenvolvimento do seu

trabalho.

A manutenção do veículo, que se refere às condições mecânicas do veículo e ao

atendimento a ordem de serviço solicitada pelo motorista é considerada insatisfatória

para 60% dos entrevistados.

As condições da via são consideradas ruins para 76% dos entrevistados. Os

buracos, ondulações e a falta de sinalização das vias foram às características citados

pelos motoristas ao classificá-las como ruim.

O trânsito foi considerado por 98% dos motoristas entrevistados como fator que

interfere negativamente para o desenvolvimento de sua atividade. Assim, pela

freqüência das respostas, o trânsito e o tempo de viagem foram considerados os dois

fatores mais negativos para o desenvolvimento da atividade do motorista.

Verificou-se que o trânsito, o tempo de viagem, as condições da via e a

manutenção do veículo são considerados inadequados para o desenvolvimento de sua

atividade por pelo menos 60% dos motoristas entrevistados e a relação com o

passageiro por 36% dos entrevistados. Deste modo, estes fatores constituem-se em

constrangimentos para a atividade do motorista que diferenciam o trabalho prescrito do

trabalho real.

Segundo Kompier (1996) os vários constrangimentos que ocorrem para a

realização do trabalho real do motorista e os procedimentos de regulação que ele faz

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para cumprir a tarefa podem trazer consequências custosas para o motorista e para a

empresa. As consequências para o motorista são o estresse e consequente risco de

doenças ocupacionais de ordem física e mental e para a empresa os custos com

absenteísmo e rotatividade.

A implementação de um sistema de avaliação de desempenho pela empresa pode

favorecer para um melhor entendimento da situação do trabalho do motorista já que a

ausência do reconhecimento da interação entre os planos do trabalho prescrito e do

trabalho real, segundo Abraão (2000) é um fator negativo para a produtividade.

Ao possibilitar a empresa acompanhar, conforme sugere Ribeiro (2006), como o

funcionário tem se saído em suas tarefas e ao funcionário receber informações sobre sua

atuação, a avaliação de desempenho pode emergir as situações e fatores que se

constituem em variabilidades e constrangimentos. A partir de então, será possível a

empresa eliminar variabilidades, conhecer estratégias operatórias elaboradas pelos

trabalhadores para lidar com as variabilidades impossíveis de ser tradas ou eliminadas,

de modo que estas sejam reconhecidas quando forem avaliadas como competências ou

como processo criativo e construtivo do sujeito, enfatizado pelas clínicas do trabalho

segundo Bendassolli e Soboll (2011), ou corrigidas quando forem consideradas

inadequadas.

A avaliação de desempenho poderá ainda identificar aspectos ocultos, mas, que

compõem a atividade, que segundo Clot (apud SILVA; BARROS; LOUZADA, 2011)

se refere ao que não se pode fazer, ao que o operador gostaria de ter feito, a atividade

suspensa e impedida.

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3 - Fatores ligados a satisfação e insatisfação no trabalho

Tabela 8 - O que traz satisfação no trabalho

Item Fator Frequência 1 Gosta de Dirigir 18 2 O trabalho em si 11 3 Os colegas de trabalho 5 4 Sustentar os filhos através do trabalho 2 5 Trabalhar com o público 2 6 Gosta de empresa 2 7 Reconhecimento do trabalho pelo passageiro 1 8 Terminar a jornada em paz 1 9 Trabalhar com carro, linha e horário certos 1

10 Ajudar a levar as pessoas 1 11 Dirigir um carro novo 1 12 NULO 5

Tabela 9 - O que traz insatisfação no trabalho

Ítem Fator Frequência 1 Salário defasado 14 2 O Trânsito 11 3 * Tratamento do setor de tráfego 10 4 ** O passageiro 7 5 Dobrar ou dar a viagem a mais e não receber em dinheiro 6 6 Pagar por avarias ou quebra de peças do veículo 4 7 Dobrar e/ou dar viagem a mais 3 8 Tempo de viagem curto 3 9 Trocar o motorista de carro, linha ou horário sem consulta 2

10 As condições mecânicas do carro em que trabalha 2 11 Falta de reconhecimento do trabalho 2 12 A anotação no cartão de ponto não corresponder ao tempo real trabalhado. 1 13 Semáforos dessincronizados 1 14 Receber o salário na empresa. Deveria ser cartão de banco 1 15 Calor 1 16 *** Instabilidade do emprego 1 17 A OS - Ordem de Serviço não ser atendida pela manutenção 1 18 A empresa não dar chance para empregar um familiar do motorista 1 19 Jornada de trabalho 1 20 NULO 5

* "Falta de reconhecimento do nosso trabalho", "A forma como os chefes tratam os motoristas", "Não ter uma pessoa para escutar, orientar, o motorista", "Ser mal compreendido pelos superiores", "Esperar muito tempo para ser atendido no setor de tráfego", "Ser punido porque se recusa a dar uma viagem a mais", "Somos tratados como cachorro". ** Reclama, não reconhece o trabalho do motorista, não sabe usar o transporte coletivo *** "A pessoa não pode fazer um financiamento porque não sabe se vai estar empregado amanhã"

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Quanto aos fatores que traziam satisfação e insatisfação no trabalho, alguns

motoristas listaram mais de um fator de satisfação ou de insatisfação, expressaram

apenas fatores que traziam satisfação, expressaram apenas fatores que traziam

insatisfação e outros não opinaram. Assim, montamos uma planilha onde foram listados

todos os fatores citados como satisfatórios e como insatisfatórios, cruzamos com os

cinquenta motoristas entrevistados, assinalamos as respectivas respostas e tabulamos a

frequência de cada fator assinalado.

Os fatores considerados como mais satisfatórios e, portanto, assinalado com

maior frequência pelos entrevistados são: gostar de dirigir, o trabalho em si e os colegas

de trabalho. Estes fatores estão intrinsecamente ligados ao próprio motorista

independendo, portanto, das tarefas prescritas pela empresa. Neste sentido, observa-se

conforme Lima (2011) a presença de questões relativas à subjetividade nos contextos

laborais, ou seja, a relação entre fatores subjetivos e atividade, e também segundo Clot;

Leplat, (2005 apud BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011), para quem a situação de

trabalho compreende a relação entre o sujeito, de um lado, e o trabalho e o meio de

outro.

Este resultado pode ser utilizado nas políticas de recursos humanos, no

desenvolvimento de atividades ou programas que os reforce ou estimule já que são

compensatórios conforme preconiza Limongi-França (2009).

Em relação a satisfação proporcionada pelo trabalho, Lacombe (2005) considera

que a remuneração não substitui os incentivos proporcionados pelo ambiente de

trabalho, pelo significado do trabalho para o empregado e pelo prazer que proporciona.

Quanto aos fatores considerados insatisfatórios no trabalho, o salário defasado

foi o fator citado com maior frequência. A fim de avaliar a existência de perda de

salário real dos motoristas apresentamos o salário dos motoristas da cidade de Natal nos

últimos 10 anos e sua correspondência ao salário mínimo e a correção pelo INPC –

Índice Nacional de Preços ao Consumidor, conforme tabela 2. O INPC é o índice que

mede a inflação mensal para famílias com rendimentos mensais de um a seis salários

mínimo, utilizado para negociação de reajustes salariais.

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Quadro 5 – Salário do motorista em Natal/RN nos últimos 10 anos, em salário mínimo e corrigido pelo

INPC

ANO VALOR EM SALÁRIO

MÍNIMO

CORRIGIDO PELO

INPC

Maio/2001 R$ 630,71 3,5 686,52 Maio/2002 R$ 700,00 3,5 690,24 Maio/2003 R$ 815,99 3,39 791,99 Maio/2004 R$ 864,95 3,32 874,20 Maio/2005 R$ 922,12 3,07 927,78 Maio/2006 R$ 964,81 2,75 974,64 Maio/2007 R$ 1.000,99 2,63 1.002,02 Maio/2008 R$ 1.061,05 2,55 1.053,73 Maio/2009 R$ 1.135,32 2,44 1.122,01 Maio/2010 R$ 1.192,09 2,33 1.168,21

Fonte – (FGV, 2011)

Constata-se pelos dados apresentados no quadro 4 que embora o salário do

motorista tenha sido reajustado um pouco inferior aos índices do INPC durante os anos

de 2001 a 2006, nos anos de 2008 a 2010 ele foi corrigido com um percentual um pouco

acima do INPC. Em relação ao salário mínimo, de fato verifica-se há 10 anos o

motorista ganhava o equivalente a 3,5 salários mínimos e hoje, o equivalente a 2,33

salários mínimos, constituindo uma diferença negativa de 1,17 salários mínimos.

Se de acordo com Milkovich e Boudreau (2000) um dos objetivos dos sistemas

de pagamento é melhorar a produtividade e se os motoristas mostram-se insatisfeitos

com sua remuneração mesmo estando esta corrigida pelo índice oficial de reajuste é

preciso que a empresa utilize de sua relação com os empregados para comunicar melhor

sua política salarial de modo a tornar este item um fator incentivador, como sugere

Chiavenato (2008). Comunicar melhor implica em traduzir para cada funcionário a

política salarial adotada. Informar qual é o índice adotado para a correção e como este

índice é estabelecido, o peso percentual do salário na tarifa cobrada pelo serviço,

comparar o salário local com o de outras capitais equivalentes e orientar sobre

orçamento familiar, são exemplos de ações neste sentido.

Embora a remuneração seja considerada o mais importante componente do

sistema de recompensa a empresa pode ainda utilizar-se de outros componentes de

recompensa, conforme sugere Limongi-França (2009), como elogios, participação em

congresso e eventos, acesso a programas de capacitação.

Ainda visando melhorar a satisfação do motorista em relação a sua remuneração

a empresa precisaria reavaliar seus benefícios quanto a sua eficácia, já que ele compõe o

sistema de recompensa, seja para medir seu valor ou para flexibilizá-lo, como também

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sugerem Milkovich e Boudreau (2000) ao tratar da importância dos benefícios para que

funcionem como fator motivador.

Além do salário defasado, ainda foram citados como insatisfatórios os seguintes

fatores: o tratamento do setor de tráfego, dobrar ou dar uma viagem a mais e não

receber em dinheiro, pagar por avarias ou quebra de peças do veículo, trocar o motorista

de carro, linha ou horário sem consulta; a falta de reconhecimento do trabalho, anotação

no cartão de ponto não corresponder ao tempo real trabalhado, semáforos

dessincronizados, receber o salário na empresa, calor, instabilidade no emprego, a OS

não ser atendida pela manutenção, a empresa não dar chance para empregar um familiar

do motorista, jornada de trabalho. Se de acordo com Limongi-França (2009) a

remuneração vai além do aspecto financeiro, atentar para estes outros aspectos vai

refletir positivamente na situação de trabalho do motorista.

4 - Fatores relacionados às condições físico-ambientais

Tabela 10 - Deslocamento, posto de trabalho e como se alimentam

Deslocamento p/ o trabalho Posto de trabalho Como se alimentam

Tempo médio de

deslocamento Ônibus Moto Carro Inadequado Adequado

Compra o alimento

no terminal (lanche

ou refeição)

Traz lanche de casa

Traz refeição de casa

00:56 39 6 5 36 14 23 8 19 78% 12% 10% 72% 28% 46% 16% 38%

O tempo gasto com o deslocamento de casa para o trabalho compõe a jornada de

trabalho e interfere na carga de trabalho. O tempo médio de deslocamento dos

entrevistados de casa para o trabalho é de cinquenta e seis minutos, perfazendo uma

jornada de trabalho diária média de nove horas e quatorze minutos, tendo ainda que se

considerar, de acordo com Wisner (1987), que o horário e as condições nas quais a

espera e o próprio transporte são feitos implicam para o aumento da carga global de

trabalho.

Quanto ao posto de trabalho 72% consideram que é inadequado, dado a presença

de ruído, calor e das condições do assento. Este fator pode estar relacionado ao

adoecimento do trabalhador, em especial as patologias músculo-esqueléticas. Estudos já

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realizados, como o de Nascimento (2003), mostram que o posto de trabalho do

motorista pode gerar inúmeras disfunções fisiológicas.

Quase metade, ou seja, 46% dos entrevistados compram seu alimento no

terminal de ônibus e 54% trazem lanche ou refeição de casa, permanecendo com ele no

ônibus, sem acondicionamento adequado, até a hora do consumo. Kompier (1996)

ressalta que a falta de uma alimentação balanceada, os hábitos de vida prejudiciais do

próprio motorista como o consumo exagerado bebidas alcoólicas, e 72% dos

entrevistados dizem que bebem, fazem parte da lista dos responsáveis pelo estresse

entre os motoristas. É importante considerar ainda que a forma como estes alimentos

são preparados, manipulados e acondicionados podem gerar desconforto e

adoecimento, contribuindo de modo determinante para a precarização da saúde dos

motoristas.

Como a empresa opera em quatro terminais de linha distintos, cada motorista

avaliou o ambiente físico de seu trabalho de acordo com o terminal de linha que ele

estava lotado.

Tabela 11 - Ambiente físico (terminal de ônibus)

Serrambi Cidade Verde Rocas Soledade

Bom Ruim Bom Ruim Bom Ruim Bom Ruim

3 8 8 12 2 15 1 1 27% 73% 40% 60% 12% 88% 50% 50%

Todas as atividades, de acordo com Wisner (1987), têm pelo menos 3 aspectos:

físico, cognitivo e psíquico e cada um deles pode determinar uma sobrecarga ou

sofrimento.

Condições de iluminação, ventilação, temperatura e ruídos e condições

psicológicas e sociais como os relacionamentos, o tipo de atividade e o estilo gerencial

desajustadas podem afetar a saúde física e mental das pessoas. A saúde física pode ser

afetada por doenças profissionais e acidentes de trabalho que tem como consequência

custos humanos, sociais e financeiros. Quanto à saúde mental, o ambiente de trabalho

que não favorece condições psicológicas e sociológicas saudáveis podem atuar

negativamente no comportamento das pessoas causando impactos emocionais como o

estresse. Um ambiente com condições inadequadas para o trabalho pode influenciar para

a elevação do absenteísmo e da rotatividade de pessoal, segundo Chiavenato (2008).

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As condições do espaço físico de onde o motorista exerce suas atividades,

repousa nos intervalos da atividade, se alimenta, atende suas necessidades fisiológicas,

encontra-se com os colegas de trabalho e com seu superior imediato reflete na carga de

trabalho e contribui de modo determinante para a situação de trabalho. Perguntados

sobre as condições do terminal de linha para o desenvolvimento de sua atividade, pelo

menos metade dos entrevistados avaliaram as condições do ambiente como ruins. Para

demonstrar em que condições físicas encontram-se estes terminais fizemos observações

e registramos os mesmos através de fotografia.

Foto 2 - Terminal de serrambi

Fonte: produção própria

O terminal de serrambi, foto 2, tem uso exclusivo dos funcionários da empresa

pesquisada, foi construído pelo órgão gestor do trânsito urbano e é mantido pela

empresa pesquisada. Foi avaliado por 73% dos motoristas entrevistados como ruim.

Pelo que foi observado e descrito pelos motoristas as inadequações do terminal referem-

se ao calor, especialmente entre às 10:00 e 16:00 hs, o que dificulta o descanso no

intervalo; dispõe apenas de 1(um) banheiro que tem o vaso e o chuveiro no mesmo

ambiente, de modo que quando alguém está tomando banho o vaso não pode ser usado

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por outra pessoa e vice-versa, o que o torna insuficiente para o número de pessoas que o

utiliza; e a água de beber é paga sob forma de rateio por todos. Os ônibus são

estacionados no pátio que está com o calçamento danificado e rodeado de lixo.

Foto 3 - Terminal de cidade verde

Fonte: produção própria

O terminal de cidade verde, foto 3, é alugado e mantido pela empresa

pesquisada, é também de uso exclusivo dos funcionários da empresa pesquisada. Suas

condições foi avaliada como insatisfatória por 60% dos entrevistados. Pelo que se pode

observar as instalações físicas são precárias: banheiros sem azulejos, não dispõe de

lanchonete, uma mesma pia é utilizada para higiene pessoal e lavagem dos utensílios;

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não há local para acondicionar e aquecer os alimentos; e a água é comprada e rateada

pelos funcionários. O que é avaliado como positivo no mesmo é a ventilação e a

existência de um espaço para alimentação.

Foto 4 - Terminal das rocas

Fonte: produção própria

O terminal das Rocas, foto 4, é utilizado por funcionários de diferentes

empresas, foi construído e é mantido pelo órgão gestor do trânsito urbano. É

considerado ruim por 88% dos entrevistados. Pelo volume de pessoas que utilizam o

terminal e por não dispor de uma pessoa permanente na manutenção da limpeza, sua

higiene é bastante precária. Como é aberto suas instalações, inclusive banheiros, são

utilizadas também por passageiros, passantes, agiotas e ambulantes que vendem

produtos e alimentos sem qualquer controle de qualidade. A manutenção predial é

precária, encontrando-se o escoamento da pia a céu aberto.

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Foto 5 - Terminal de soledade

Fonte: produção própria

O terminal de soledade, foto 5, foi construído como modelo de terminal de

integração onde operam várias empresas. O entrevistado que o avaliou como ruim

justificou a falta de policiamento do local pela guarda municipal, o que propicia a

presença de pessoas utilizando drogas; e a falta de manutenção do banheiro destinado

exclusivamente aos motoristas, obrigando aos motoristas utilizarem o mesmo banheiro

dos passageiros. Embora não exista de um local destinado para o acondicionamento de

alimento, ele dispõe de uma lanchonete e está próximo de vários outros pontos

comerciais como padarias, mercearias e até supermercado. É limpo, bastante ventilado,

porém, já mostra a necessidade de manutenção em alguns locais.

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Pela avaliação dos motoristas entrevistados, observações e registros feitos nos

terminais de linha, pode-se concluir que o local de trabalho destes motoristas é precário

e inadequado e pode estar contribuindo para seu adoecimento.

Fatores como condições físicas ruins no local de trabalho, sobrecarga de trabalho

ou pressão de tempo é citado como uma das cinco fontes de estresse por Johnson et al.

(apud ROSSI; QUICK; PERREWE, 2009). No caso do motorista, ficou evidenciada a

presença destes três aspectos em sua atividade.

Para reduzir o estesse no local de trabalho Gatchel e Baum (apud ROSSI;

QUICK; PERREWE, 2009) apresentaram um resumo feito por Taylor (2006) com

métodos para reduzir substancialmente os estressores no local de trabalho: reduzir tanto

quanto possível os estressores físicos no trabalho, como barulho, aglomeração, extremos

de temperatura etc; minimizar a imprevisibilidade e a ambigüidade nas tarefas e nos

níveis de desempenho esperados; envolver tanto quanto possível os trabalhadores em

decisões importantes que possam afetar o stress no local de trabalho; tornar as tarefas do

emprego tão interessantes e gratificantes quanto possível; oferecer dependências sociais

e recreacionais aos trabalhadores, para desenvolver e promover apoio social

significativo, durante períodos de intervalo, hora do almoço e tempo livre depois do

expediente; oferecer recompensas tangíveis (bônus, folgas) para os trabalhadores por

bom desempenho; treinar os supervisores para monitorar sinais potenciais de stress

(como apatia, raiva, absenteísmo, negligência) e então intervir antes que o stress se

torne problemático.

Já Kompier (1996) acrescenta que a falta de atividade física e de uma

alimentação balanceada, os hábitos de vida prejudiciais do próprio motorista como o

consumo exagerado de fumo e bebidas alcoólicas e a possibilidade de assalto, fator

inerente a realidade do motorista, completam a lista dos responsáveis pelo estresse entre

os motoristas. O autor sugere que para a prevenção do mesmo é preciso trabalhar o

motorista enquanto indivíduo e em grupo e o meio ambiente físico, psíquico e social de

trabalho.

Um estudo realizado por Battiston, Cruz e Hoffmann (2006) concluiu que

aspectos como instalações de apoio (terminais, sanitários, etc.) e o trânsito

(engarrafamentos, clima, condições da via, etc.), são fontes de estresse, o que é

corroborado pelo estudo realizado por Santos Junior (2003) que conclui que as atuais

condições de trabalho a que estão submetidos os motoristas em praticamente todo o

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mundo danifica a saúde destes trabalhadores, causando formas variadas de sofrimento

físico e/ou mental e adoecimento mais frequente.

5 - Fatores relacionados à gestão do trabalho

Tabela 12 - Supervisão dos fiscais do setor de tráfego e do terminal

Setor de tráfego Fiscal de terminal

Facilita Dificulta Indiferente Facilita Dificulta Indiferente

16 23 11 31 10 9

32% 46% 23% 62% 20% 18%

Quase metade dos motoristas entrevistados - 46% avaliaram que a forma como o

pessoal do setor de tráfego exerce a supervisão sobre eles dificulta seu desempenho,

como também o item “tratamento do setor de tráfego” foi avaliado como fator com

terceira maior frequência de insatisfação quando foram perguntados que fatores causam

insatisfação no trabalho. Eles justificaram: "Falta de reconhecimento do nosso

trabalho", "A forma como os chefes tratam os motoristas", "Não ter uma pessoa para

escutar, orientar, o motorista", "Ser mal compreendido pelos superiores", "Esperar

muito tempo para ser atendido no setor de tráfego", "Ser punido porque se recusa a dar

uma viagem a mais", "Somos tratados como cachorro". Já sobre a supervisão exercida

pelos fiscais de terminal apenas 20% avaliaram que suas ações dificultam seu trabalho.

De acordo com Chiavenato (2008) o processo de monitoração de pessoas deve

ser realizado dentro de um estilo democratizado e participativo em detrimento da

abordagem tradicional que privilegia um sistema de controle externo rígido de

fiscalização e vigilância, de castigos e penalidades. Ainda segundo ele, o estilo

democrático e participativo aumenta o comprometimento e responsabilidade das

pessoas possibilitando a gerência monitorar em lugar de controlar o comportamento das

pessoas na empresa.

Quando a situação de comportamento inadequado aparece, Milkovich e

Boudreau (2000) sugerem a aplicação de um sistema disciplinar que seja baseado,

primeiro, no estabelecimento de regras de trabalho ou de comportamento relacionadas

direta ou indiretamente com a produtividade; segundo, a regras precisam ser

comunicadas a todos os empregados, sendo sugerida a participação dos mesmos na

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redação dessas regras para facilitar sua aceitação, obrigatoriedade e equidade, como

também sua atualização periódica para que se mantenham relevantes; terceiro, o

comportamento inadequado deve ser avaliado pela observação e investigação evitando

ainda a aplicação das medidas disciplinares; e, quarto, a aplicação do processo

disciplinar visando a mudança do comportamento, incluindo a punição e a assistência

para a mudança do comportamento.

Certificar-se se o comportamento inadequado do motorista tem sua origem em

uma condição desajustada do trabalho, como uma condição física ou material, é

imprescindível antes de ser aplicada uma medida disciplinar. Tendo sido avaliado como

adequada a utilização do processo disciplinar, Milkovich e Boudreau (2000) assinalam

que ele geralmente é progressivo, tendo como primeira linha de ação o aconselhamento,

se uma segunda ou mais séria violação ocorrer emitir uma notificação por escrito e se

uma terceira notificação ocorrer um aviso final deverá ser emitido, podendo haver uma

suspensão, que deverá ser assinada pelo empregado e informado que a reincidência será

punida com a exoneração; e por fim o resultado poderá ser a demissão.

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101

6 CONCLUSÕES

Este estudo, que teve como objetivo caracterizar a atividade do motorista de

ônibus em uma empresa de transporte coletivo, buscou verificar se há distância entre a

atividade prescrita pela empresa e a atividade real do motorista, descreveu o perfil

predominante desta clientela, identificou características da atividade referente a carga de

trabalho, descreveu as condições do ambiente físico onde a atividade se desenvolve,

apresentou aspectos operacionais e gerenciais da atividade e aspectos subjetivos do

motorista em relação ao seu trabalho. A partir desta realidade, apresenta algumas

proposições da administração de recursos humanos como alternativa para a

transformação positiva deste trabalho.

O perfil predominante dos motoristas entrevistados é de pessoas casadas

oficialmente, 80% deles não têm gastos com aluguel porque moram em casa própria ou

cedida, têm em média 2 filhos, 72% deles fazem uso de bebida alcoólica com alguma

frequência e têm uma permanência média na empresa de 4,6 anos. Se o uso do álcool

influencia para o absenteísmo, para os acidentes de trânsito ou se é a própria atividade

que os leva ao hábito de beber, não foi possível avaliar neste estudo.

O tempo médio de deslocamento dos entrevistados de casa para o trabalho é de

cinquenta e seis minutos, perfazendo uma jornada de trabalho diária média de nove

horas e quatorze minutos, tendo ainda que se considerar, de acordo com Wisner (1987),

que o horário e as condições nas quais a espera e o próprio transporte são feitos

implicam para o aumento da carga global de trabalho.

Para compreender como se dá a formação dos motoristas, observou-se que eles

se tornaram motorista por influência familiar ou por tendência pessoal, sendo esta

formação adquirida no caminhão, informalmente em uma empresa em que trabalhou em

outra função e no exército. Nenhuma resposta apontou para uma escola de qualificação,

curso formal ou processo sistemático que promovesse a aquisição da habilidade de

dirigir.

Quanto ao futuro destes profissionais, 52% dos entrevistados não planejaram seu

futuro e 34% demonstram cansaço com a atividade atual pretendendo descansar ou

trabalhar em outra atividade na época da aposentadoria.

A rotatividade dos motoristas apresentou uma queda nos últimos dois anos,

porém, ela ainda é elevada, com o desligamento de 17,94% dos motoristas no ano de

2010.

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Às faltas do motorista ao trabalho, com atestado médico, totalizaram em 219

atestados, equivalendo a 909 dias não trabalhados no ano de 2010. O custo da empresa

neste período apenas com o pagamento aos motoristas pelos dias não trabalhados foi de

R$ 33.633,00 (trinta e três mil seiscentos e trinta e três reais) devendo ainda ser

computados os valores pagos pela duplicação da jornada de trabalho (dobras) e horas

extras realizadas pelos motoristas que cobriram os que faltaram. A empresa contou com

apenas 76% de seus motoristas como força de trabalho durante o ano em referência.

Os acidentes de trânsito envolvendo ônibus da empresa pesquisada vem caindo

desde 2008, porém ainda é elevado, pois, no ano de 2010 ocorreram 71 (setenta e um)

acidentes numa frota de 79 (setenta e nove) ônibus. É como se 90% da frota tivesse sido

avariada. Pelos laudos periciais, em 35% dos acidentes o motorista do ônibus foi

considerado culpado pela sua ocorrência.

Os tipos de doença que causaram o afastamento dos motoristas no trabalho

estavam relacionados a problemas psiquiátricos e a patologias músculo-esqueléticas.

Estas doenças juntas corresponderam a 64% dos atestados médicos. Os problemas

psiquiátricos e as patologias músculo-esqueléticas são classificados por Dejours (2007

apud BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011) como patologias de sobrecarga de trabalho,

porém, é necessário considerar de acordo com Wisner (1987) que muitos problemas

mentais graves se desenvolvem sem relação com o trabalho, já que resulta da interação

entre vários fatores: físico, cognitivo e psíquico.

Pela avaliação dos motoristas, o trânsito, o tempo de viagem, as condições da via

e a manutenção do veículo são considerados inadequados para o desenvolvimento de

sua atividade por pelo menos 60% dos entrevistados e a relação com o passageiro por

36% dos entrevistados.

Os fatores considerados como mais satisfatórios pelos motoristas entrevistados

foram gostar de dirigir, o trabalho em si e os colegas de trabalho.

Quanto aos fatores considerados insatisfatórios no trabalho, o salário defasado

foi o fator citado com maior frequência. Além do salário defasado, ainda foram citados

como insatisfatórios: o tratamento do setor de tráfego, dobrar ou dar uma viagem a mais

e não receber em dinheiro, pagar por avarias ou quebra de peças do veículo, trocar o

motorista de carro, linha ou horário sem consulta, a falta de reconhecimento do trabalho,

anotação no cartão de ponto não corresponder ao tempo real trabalhado, semáforos

dessincronizados, receber o salário na empresa e não em conta bancária, o calor no

ônibus, instabilidade no emprego, a OS – Ordem de Serviço não ser atendida pela

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manutenção, a empresa não dar chance para empregar um familiar do motorista e a

jornada de trabalho.

Em relação ao posto de trabalho 72% dos motoristas entrevistados considerou

que ele é inadequado dado a presença de ruído, calor e das condições do assento.

Quase metade, ou seja, 46% dos entrevistados compram seu alimento no

terminal de ônibus e 54% trazem lanche ou refeição de casa, permanecendo com ele no

ônibus, sem acondicionamento adequado, até a hora do consumo. Kompier (1996)

ressalta que a falta de uma alimentação balanceada, os hábitos de vida prejudiciais do

próprio motorista como o consumo exagerado bebidas alcoólicas, 72% dos

entrevistados dizem que bebem, fazem parte da lista dos responsáveis pelo estresse

entre os motoristas. É importante considerar ainda que a forma como estes alimentos

são preparados, manipulados e acondicionados podem gerar desconforto e

adoecimento, contribuindo para a vulnerabilidade da saúde dos motoristas.

Pela avaliação dos motoristas entrevistados, observações e registros feitos nos

terminais de linha pode-se concluir que o ambiente físico onde os motoristas

desenvolvem suas atividades é precário e inadequado, dificultando o descanso nos

intervalos, o uso do banheiro e as condições para uma alimentação adequada.

Quase metade dos motoristas entrevistados avaliaram que a forma como o

pessoal do setor de tráfego exerce a supervisão sobre eles dificulta seu desempenho,

como também o item tratamento do setor de tráfego foi avaliado como fator com

terceira maior frequência de insatisfação quando foram perguntados sobre os fatores que

causam insatisfação no trabalho. A supervisão inadequada constitui-se assim em uma

variabilidade para o motorista.

Os índices de acidente de trânsito, rotatividade de pessoal e de afastamento por

doença apontam para problemas na atividade do motorista da empresa pesquisada. Os

fatores trânsito, o tempo de viagem, condições da via, a manutenção do veículo,

ambiente físico (terminal de linha), posto de trabalho e supervisão exercida, apresentam

variabilidades que constituem-se em constrangimentos para a atividade do motorista.

Por outro lado, fatores como gostar de dirigir, o trabalho em si e os colegas de trabalho

influenciam positivamente na situação de trabalho do motorista.

Pelos resultados obtidos, foi identificado a existência de variabilidades que

constituem-se em diferenças entre diversas tarefas do trabalho prescrito na quadro 3 -

Ficha de funções do motorista de ônibus urbano e o trabalho real, conforme quadro 6:

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Quadro 6 – Diferenças entre o trabalho formalmente prescrito e o trabalho real

Tarefa Prescrita Variabilidade Tarefa Real

-Dirigir o veículo de modo a não prejudicar a segurança e o conforto dos usuários; -Evitar freadas bruscas; -Evitar outras situações propícias a acidentes.

-Más condições das vias -Conduzir o veículo sem poder evitar a trepidação e as freadas em consequência dos buracos, proporcionando aos passageiros algum descon-forto. Há ainda o risco de envolver-se em acidentes ao desviar ou cair nos buracos.

-Manter velocidade compatível com o estado das vias respeitados os limites legais; -Não movimentar o veículo sem que estejam fechadas as portas; -Respeitar os horários programados para a linha; -Dirigir com cautela especial à noite e em dias de chuva ou de pouca visibilidade; -Atender aos sinais de parada nos pontos estabelecidos.

-Tempo de viagem insuficiente em pelo menos uma das viagens previstas; -Trânsito intenso.

-Dirigir com velocidade acima do limite, em alguns trechos, na tentativa de cumprir o tempo de viagem; -Dar partida no veículo com as portas ainda abertas na tentativa de cumprir ou compensar o tempo da viagem; -Realizar a viagem sem cumprir com os horários programados, em virtude da intensidade do trânsito, tendo como conseqüência a perda do intervalo entre as viagens, do horário de descanso ou ainda o aumento da jornada de trabalho. -Realizar a viagem sem parar nas primeiras ou nas ultimas paradas da linha (queima de parada) na tentativa de compensar o tempo da viagem.

-Comunicar a garagem quando ocorrerem indícios de defeito mecânico que possa por em risco a segurança dos usuários recolhendo o veículo quando autorizado.

-A OS nem sempre é atendida pelo setor de manutenção da empresa.

-Dirigir o veículo apresentando algum defeito mecânico, exigindo do motorista maior atenção esforço e podendo colocar em risco a segurança dos usuários.

-Respeitar as normas da empresa e as determinações da fiscalização.

-Posto de trabalho inadequado (calor, ruído, assento inadequado); -Ambiente físico (terminal) precário, sem condições adequadas para a alimentação, higiene pessoal e repouso.

-Interrupção de viagem por mal estar ou adoecimento; -Jornada de trabalho não realizada por falta ao trabalho.

Fonte: Elaborado pelo autor

Diante destes resultados que caracterizam a situação de trabalho do motorista,

este estudo alcança seu objetivo geral ao apontar para a existência de uma considerável

distância entre o trabalho formalmente prescrito pela empresa e o trabalho real realizado

pelos motoristas. Este distanciamento traz implicações no resultado do trabalho dos

motoristas que comprometem o desempenho e a qualidade do serviço prestado pela

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empresa. Deve-se considerar, porém, que as ações para a redução ou eliminação de

algumas das variabilidades encontradas como as más condições das vias e o trânsito

intenso não dependem da vontade da empresa, mas, da decisão e interferência do órgão

gestor do transporte público.

Ao mesmo tempo em que se aponta para os problemas da atividade do motorista,

este estudo possibilitou relacionar a realidade encontrada e percebida pelos motoristas

com as proposições dos subsistemas da administração de recursos humanos relativas às

políticas de recrutamento e seleção, avaliação de desempenho, atividades e programas

compensatórios, política salarial e de benefícios, monitoração participativa e

democrática e redução de fatores estressores no local de trabalho. As proposições foram

sugeridas a partir da análise dos indicadores de rotatividade, absenteísmo e acidentes de

trânsito, pelas observações e registros realizados e pela realidade percebida pelos

motoristas, visando o alcance do segundo objetivo específico de redimensionar a gestão

da atividade do motorista.

Como não foi identificado nenhuma instituição ou órgão que forme o motorista

de ônibus, a fonte de recrutamento dos motoristas sugerida foi o recrutamento

predominantemente externo e contínuo, porém, foi recomendado que seja avaliado a

qualidade do atendimento aos candidatos, já que é pelo processo de recrutamento que a

empresa expõe seu grau de profissionalismo, projetando uma imagem positiva ou

negativa. Foi sugerido ainda estudar o perfil dos motoristas desligados a fim de que seja

revisto o perfil divulgado no recrutamento. O perfil dos desligados deverá subsidiar

também o processo de seleção dos motoristas quanto a sua confiabilidade e

variabilidade enquanto que a medição do quociente de seleção foi sugerido para conferir

sua eficácia.

A implementação de um modelo ou sistema de avaliação de desempenho, entre

os vários disponibilizados na literatura, foi sugerido para favorecer a empresa um

melhor entendimento da situação de trabalho real do motorista, para que o motorista

tome conhecimento sobre sua atuação e possa corrigir comportamentos e atitudes

avaliados como inadequados, para que a empresa identifique situações e fatores que se

constituam em variabilidades e constrangimentos e possa atuar sobre elas, para que

sejam identificados aspectos ocultos e reconhecidas as competências e os processos

criativos dos motoristas ao lidar com as imprevisibilidades de sua atividade.

Considerando que os fatores subjetivos do trabalhador interferem em sua

atividade, foi sugerido que sejam desenvolvidos programas e atividades que reforcem os

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fatores avaliados como satisfatório pelos motoristas como gostar de dirigir, o trabalho

em si e os colegas de trabalho. Melhorias no ambiente de trabalho que proporcione bem

estar e que melhore a interação entre os colegas de trabalho, bem como ações que

atribuam maior significado ao trabalho deverão ter função compensatória, contribuindo

para evitar a insatisfação no trabalho.

Tendo sido o salário avaliado com insatisfatório pelos motoristas, ao mesmo

tempo em que se verificou que este tem sido corrigido anualmente pelo índice oficial de

reajuste, foi sugerido que a empresa utilize de sua relação com os motoristas para

comunicar melhor, esclarecer sua política salarial. A empresa poderá ainda utilizar-se de

outros componentes de recompensa como elogios e acesso a programas de capacitação,

bem como reavaliar os benefícios sociais que oferece seja para medir seu valor ou para

flexibilizá-los.

Como a supervisão exercida sobre os motoristas foi avaliada predominantemente

como insatisfatória, a empresa deverá preparar seus supervisores para exercer um

processo de monitoração sobre os motoristas dentro de um estilo democrático e

participativo, em detrimento de um sistema de controle rígido de fiscalização e de

vigilância, de castigos e penalidades, como tem sido feito. O sistema disciplinar

sugerido deve ser baseado em regras construídas com a participação dos motoristas,

após definidas elas devem ser comunicadas a todos, atualizadas periodicamente,

havendo comportamento inadequado este deve ser avaliado pela observação e

investigação, e, por fim, quando houver necessidade de aplicação do processo

disciplinar este deve ser realizado visando a mudança do comportamento, incluindo a

assistência para a mudança do comportamento.

A empresa deverá ainda reduzir substancialmente os estressores no local de

trabalho como o barulho e o calor, a imprevisibilidade nas tarefas como indefinição de

linha e horário em que o motorista irá trabalhar, oferecer um ambiente físico que

propicie o desenvolvimento de atividades recreacionais e sociais durante as horas livres,

oferecer recompensas tangíveis como bônus e folga, monitorar sinais de potenciais

estresse para prevenir o estresse antes que se instale, cuidar para que as instalações de

apoio sejam adequadas ao atendimento das necessidades fisiológicas e fornecer

orientação sobre a importância da atividade física, alimentação balanceada e hábitos de

vida prejudiciais a saúde como o consumo exagerado da bebida e do cigarro.

Sendo estas proposições aplicadas pela empresa pesquisada, elas deverão

aproximar o trabalho prescrito do trabalho real. Desta forma, este trabalho traz uma

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contribuição prática para a empresa pesquisada, para o setor de transporte coletivo

urbano e para o trabalhador, o motorista de ônibus.

As questões elucidadas neste estudo possibilitaram a interdisciplinaridade entre a

psicologia, a administração na área da administração de recursos humanos e a

engenharia de produção. Sem a intenção de encerrar esse assunto, pelo contrário, essas

questões ainda possibilitam o desenvolvimento de novas pesquisas sobre a gestão da

produção do serviço de transporte coletivo, o estado nutricional dos motoristas, a

capacitação profissional formal dos motoristas e aspectos psicodinâmicos desta

atividade.

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APÊNDICE A - Termo de consentimento livre e desimpedido

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE

PRODUÇÃO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa “Análise da situação de trabalho do motorista em uma empresa de ônibus urbano da cidade de Natal” que é realizada por Ladijane Sarmento da Silveira sob orientação do professor Dr Enilson Santos de Medeiros. Sua participação é voluntária o que significa que você poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.

Essa pesquisa procura caracterizar a situação de trabalho do motorista visando identificar a distância entre o trabalho formalmente prescrito pela empresa e o trabalho real. Caso decida aceitar o convite, você será submetido(a) aos seguintes procedimentos: responder a entrevista com gravação de voz durante a conversa com a pesquisadora e poderá ser fotografado. Não haverá desconforto durante a coleta dos dados.

Este estudo oferece risco mínimo ao sujeito da pesquisa. Os riscos psicológicos, físicos e morais envolvidos com sua participação são mínimos e para minimizá-los você estará livre para responder apenas o que quiser e as entrevistas serão realizadas em ambiente seguro. Participando desta pesquisa você terá o benefício de contribuir para possíveis alterações no seu ambiente de trabalho que levarão a melhoria dos meios de trabalho e de saúde do motorista. Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em nenhum momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os voluntários. Se você tiver algum gasto que seja devido à sua participação na pesquisa, você será ressarcido, caso solicite. Em qualquer momento, se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você terá direito a indenização. Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para Ladijane Sarmento da Silveira, no seguinte endereço: Universidade Federal do Rio Grande do Norte / Campos Universitário – Centro de Tecnologia, Lagoa Nova , CEP 59072-970 , Natal, RN. ou pelo telefone (084) 3215-1808 ou (84) 9112-9367. Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN no endereço Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UFRN), Praça do Campus, Campus Universitário, 1666, Natal, 59.078-970, Brasil ou pelo telefone (084) 3215-3135.

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Consentimento Livre e Esclarecido Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e

benefícios envolvidos e concordo em participar voluntariamente da pesquisa “Análise

da situação de trabalho do motorista em uma empresa de ônibus urbano da cidade

de Natal”

Participante da pesquisa:

Nome: _______________________________________________________

Assinatura: ___________________________________________________

Pesquisador Responsável: _______________________________________

Assinatura: ___________________________________________________

Natal, ____de________________de____

Ladijane Sarmento da Silveira. Endereço: Universidade Federal do Rio Grande do

Norte / Campos Universitário – Centro de Tecnologia, Lagoa Nova , CEP 59072-970 ,

Natal, RN. Telefone (084) 3215-1808 ou (84) 9112-9367.

Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN. Endereço Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-

UFRN), Praça do Campus, Campus Universitário, CP 1666, Natal, 59.078-970, Brasil.

Telefone (084) 3215-3135.

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APÊNDICE B - Instrumento de pesquisa

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MOTORISTA – ROTEIRO DE ENTREVISTA Dados pessoais: -Estado civil: solteiro, casado, outro -Moradia: própria, alugada, outro -Nº de filhos -Uso de bebida: sim ou não -Tempo de empresa -Tempo de deslocamento e como se desloca para o trabalho 1. Como você se tornou motorista de ônibus? 2. Qual a relação entre o tempo de viagem planejado e o executado? É suficiente ou insuficiente? 3. Como a relação com o passageiro interfere no seu desempenho? Interfere positivamente, negativamente ou não interfere? 4.O setor de tráfego da empresa ajuda, dificulta ou não interfere no seu desempenho? -Quais as ações do setor de tráfego que ajudam para o desenvolvimento do trabalho do motorista? - Quais as ações do setor de tráfego que dificultam o desenvolvimento do trabalho do motorista? 5. A fiscalização do terminal ajuda, dificulta ou não interfere no seu desempenho? – Quais as ações da fiscalização que ajudam para o desenvolvimento do trabalho do motorista? -Quais as ações da fiscalização de dificultam o desenvolvimento do trabalho do motorista? 6. O setor de manutenção da empresa atende ou não atende a manutenção do ônibus? -Como a manutenção do veículo interfere no desempenho do motorista? 7. O trânsito não interfere ou dificulta o trabalho do motorista de ônibus? -De que maneira o trânsito interfere na atividade do motorista? 8. As condições da via da linha em que você trabalha são boas ou ruins? -Como as condições da via interferem na atividade do motorista? 9.Como você vê a adequação do seu posto de trabalho (ônibus) para o desenvolvimento das atividades do motorista prescritas pela empresa? É adequado ou inadequado? 10. Como você vê a adequação do terminal para o seu trabalho, para o atendimento de suas necessidades fisiológicas e repouso? 11. Como você avalia as condições que lhe são fornecidas para sua alimentação? -De que se alimenta? 12. O que lhe traz satisfação no trabalho 13. O que lhe traz insatisfação no trabalho