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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES CAMPUS CAICÓ/RN CURSO DE DIREITO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ISADORA ELIAS ALVES DE ARAÚJO UMA BREVE ANÁLISE DAS MUDANÇAS TRAZIDAS PELO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NO TOCANTE ÀS RESPOSTAS DO RÉU CAICÓ 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES

CAMPUS CAICÓ/RN

CURSO DE DIREITO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ISADORA ELIAS ALVES DE ARAÚJO

UMA BREVE ANÁLISE DAS MUDANÇAS TRAZIDAS PELO NOVO CÓDIGO DEPROCESSO CIVIL NO TOCANTE ÀS RESPOSTAS DO RÉU

CAICÓ

2015

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ISADORA ELIAS ALVES DE ARAÚJO

UMA BREVE ANÁLISE DAS MUDANÇAS TRAZIDAS PELO NOVO CÓDIGO DEPROCESSO CIVIL NO TOCANTE ÀS RESPOSTAS DO RÉU

Artigo apresentado à Universidade Federal do RioGrande do Norte – UFRN, como parte dos requisitospara obtenção do título de Bacharela em Direito.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Orione Dantas deMedeiros

CAICÓ

2015

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ISADORA ELIAS ALVES DE ARAÚJO

UMA BREVE ANÁLISE DAS MUDANÇAS TRAZIDAS PELO NOVO CÓDIGO DEPROCESSO CIVIL NO TOCANTE ÀS RESPOSTAS DO RÉU

Artigo apresentado à Universidade Federal do RioGrande do Norte – UFRN, como parte dos requisitospara obtenção do título de Bacharela em Direito.

Aprovado em: 03 de dezembro de 2015

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Prof. Dr. Orione Dantas de Medeiros

Orientador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________________

Prof. Esp. Luísa Medeiros Brito

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________________

Prof. Esp. Saulo de Medeiros Torres

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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UMA BREVE ANÁLISE DAS MUDANÇAS TRAZIDAS PELO NOVO CÓDIGO DEPROCESSO CIVIL NO TOCANTE ÀS RESPOSTAS DO RÉU

Autora: Isadora Elias Alves de Araújo1

Orientador: Prof. Dr. Orione Dantas de Medeiros2

RESUMO: Na medida em que se aproxima a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil –CPC (Lei n. 13.105/2015), cresce a expectativa entre a comunidade jurídica como profissionais doDireito, pelo potencial do novo Código em projetar um processo mais célere, mais justo, menoscomplexo. Neste sentido, foram muitas as alterações trazidas pelo novo diploma legal, dentre asquais, podemos citar as modalidades de respostas do réu. O que mudou nas respostas do réu emrelação ao Código anterior? Qual o sentido dessas mudanças? O artigo demonstra o que mudou nasrespostas do réu, fazendo uma comparação entre o novo CPC/2015 e o CPC/1973 em vigor.

Palavras-chave: Respostas do réu. Contestação. Preliminares. Prejudiciais de mérito. Novo Códigode Processo Civil.

ABSTRACT: Approaching the entry into force of the new Brazilian Code of Civil Procedure (LawNo.13,105/2015), grows the expectation among the legal community because of the new Codepotential in design a faster process, fairer, less complex. This way, there were a lot of changesintroduced by the new statute, among which, we can mention the defendant's answers modalities.What has changed in the defendant's replies from the previous code? What is the meaning of thesechanges? The article shows what has changed in the defendant's answers, making a comparisonbetween the new Brazilian Code of Civil Procedure/2015 and the Brazilian Code of Civil Procedurefrom 1973, which is currently in force.

Keywords: defendant's replies. Contestation. Preliminary. Harmful merit. New Brazilian Code ofCivil Procedure.

SUMÁRIO:

1. INTRODUÇÃO. 2. ANÁLISE ESTRUTURAL E COMPARATIVA ENTRE O NOVO CPC/2015E O CPC/1973. 2.1 Intenções e necessidades de mudanças do sistema processual civil, após aConstituição Federal de 1988: exposições de motivos do novo CPC. 3. DO DIREITO DE DEFESA.4. DAS RESPOSTAS DO RÉU: DA RECONVENÇÃO, DAS EXCEÇÕES E DACONTESTAÇÃO. 5. ÔNUS DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA E ALEGAÇÕES DE FATOSNOVOS. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS. REFERÊNCIAS.

1 INTRODUÇÃO

1 Graduanda do Curso de Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de EnsinoSuperior do Seridó/CERES, Campus de Caicó/RN. E-mail: [email protected] Doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre em Ciências Jurídicas pelaUniversidade Federal da Paraíba (UFPB), Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio grande do Norte (UFRN).E-mail: [email protected].

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O referente trabalho tem como objetivo principal analisar brevemente as alterações trazidas

pelo novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015 – CPC/2015), no tocante às modalidades

de respostas do réu. Em análise inicial, percebe-se que estas foram englobadas definitivamente pela

contestação, que sempre foi mais utilizada na praxe forense, uma vez que quando o novo CPC

entrar em vigor, praticamente todas as modalidades de respostas outrora elencadas no CPC/1973,

poderão ser arguidas em sede de preliminar de contestação, com exceção da reconvenção, que,

entretanto, virá no próprio corpo da contestação.

Outrossim, cumpre salientar que com o novo CPC, busca-se a simplificação do sistema,

proporcionando-lhe uma coesão mais visível, além de permitir ao juiz centrar sua atenção, de modo

mais intenso no mérito da causa.

No que diz respeito às respostas do réu, um dos traços marcantes do novo Código, na

opinião de José Rogério Cruz e Tucci, é a simplicidade, visando eliminar situações que, à luz do

diploma vigente, propiciam a instauração de inúmeros incidentes (TUCCI, 2015).

De acordo com o art. 300, do CPC/1973, ainda em vigor, uma vez recebida a inicial, após a

citação válida do réu, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para ele responder a ação, podendo

oferecer, em petição escrita, dirigida ao juiz da causa: contestação, exceção ou reconvenção.

Já com o Novo Código de Processo Civil, que seguiu a prática reiterada nos fóruns

brasileiros, tudo indica que a contestação tomou seu lugar como a grande estrela das respostas do

réu, uma vez que embora elencadas como, eram difíceis de serem vistas na prática, e também, com

exceção da reconvenção, que permanece no CPC/2015 em capítulo próprio, não adentrando, de

fato, no mérito causae. Agora, por petição, o réu poderá oferecer contestação no prazo de 15

(quinze) dias, segundo consta no art. 335. E na própria contestação, será lícito ao réu propor

reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento

da defesa (art. 343, CPC/2015).

Vale salientar que, com o CPC/1973 ainda em vigor, o oferecimento de uma das possíveis

respostas do réu não é excludente das demais, não só podendo, mas devendo o réu contestar e

reconvir ao mesmo tempo em peças simultâneas e separadas, bem como contestar e entrar com uma

exceção que será julgada em apenso.

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Por fim, há de se dizer que para elaborar esse artigo foi utilizado um método simples de

comparação3, buscando as semelhanças e diferenças4 da denominada “Respostas do Réu”, ambas

existentes entre o CPC/2015 e o CPC/1973. Realizou-se, também, a leitura do Anteprojeto do novo

CPC apresentado ao Senado Federal (casa iniciadora) pela Comissão de juristas5, com as

modificações introduzidas pela Câmara dos Deputados e o texto final que foi enviado para sanção

da Presidente da República.

2 ANÁLISE ESTRUTURAL E COMPARATIVA DO NOVO CPC/2015 E O CPC/1973

Procura-se aqui fazer, ainda que breve, uma análise estrutural dos Códigos (CPC/2015 e

CPC/1973), com objeto de demonstrar, de modo geral, as alterações trazidas pelo Novo Código de

Processo Civil. O CPC/73 é dividido em cinco livros, sendo o de processo de conhecimento, o de

processo de execução, o de processo cautelar e o dos procedimentos especiais e os das disposições

finais e transitórias, todos bem definidos quanto ao seu objeto.

Já o novo CPC promove uma mudança radical quanto a sua divisão, uma vez que ele é

dividido em 02 (duas) partes: a Parte Geral e a Parte Especial. Na Parte Geral, são elencadas regras

aplicáveis tanto ao processo de conhecimento, como ao de execução, em virtude até do sincretismo

processual em que vivemos hoje. Nela constam os seguintes livros: das normas processuais civis, da

função jurisdicional, dos sujeitos do processo, dos atos processuais, das tutelas provisórias e da

formação, suspensão e extinção do processo.

Já na Parte Especial, na qual se trata dos variados tipos de processo e recursos que

eventualmente podem ser interpostos contra decisões, sentenças e acórdãos, os livros são os

seguintes: processo de conhecimento, cumprimento de sentença, cautelar, procedimentos especiais;

processo de execução; processos nos tribunais e dos meios de impugnações judiciais (recursos) e ao

3 BEVILÁQUA, Clóvis. Aplicação do methodo comparativo ao estudo do Direito. Revista Acadêmica. Faculdadede Direito do Recife, Recife, a. 1. 1897.4 CONSTANTINESCO, Leontin-jean. Tratado de Direito comparado: introdução ao Direito comparado. Rio deJaneiro: Renovar, 1998. MEDEIROS, Orione Dantas de. Direito Constitucional Comparado. Breves aspectosepistemológicos. Revista de Informação Legislativa. Brasília, a. 47, n. 188, out./dez. 2010.5 Comissão de juristas instituída pelo Ato do Presidente do Senado Federal nº 379, de 2009, destinada a elaborarAnteprojeto de Novo Código de Processo Civil: Luiz Fux (Presidente), Tereza Arruda Alvim Wambier (Relatora-Geral),Adroaldo Furtado Fabrício, Humberto Theodoro Júnior, Paulo Cesar Pinheiro Carneiro, José Roberto dos SantosBedaque Almeida, José Miguel Garcia Medina, Bruno Dantas, Jansen Fialho de Almeida, Benedito Cerezzo PereiraFilho, Marcus Vinicius Furtado Coelho e Elpídio Donizetti Nunes. (BRASIL. Senado Federal. Comissões de JuristasResponsável pela Elaboração do Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal; Secretaria deEdições Técnicas, 2010).

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final, ainda, traz um livro intitulado de “complementar”, que trata sobre as disposições finais e

transitórias.

Contudo, o que nos importa em ambos é fazer uma análise para buscar as semelhanças e

diferenças existentes entre os artigos que tratam especificamente das “respostas do réu”.

2.1. INTENÇÕES E NECESSIDADE DE MUDANÇAS DO SISTEMA PROCESSUAL CIVIL

APÓS A CONSTITUIÇÃO DE 1988: EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DO NOVO CPC

Quando um projeto de lei é proposto, deve ser acompanhado também pela sua exposição

de motivos. Estas justificam a suposta necessidade da edição de uma lei. Assim, com a lei nº

13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil) não poderia ser diferente.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, percebeu-se a necessidade de

harmonizar um sistema processual civil com as garantias constitucionais de um Estado Democrático

de Direito, capaz de proporcionar à sociedade o reconhecimento e a realização dos direitos,

ameaçados ou violados, que têm cada um dos jurisdicionados. Pois, sendo ineficiente o sistema

processual, todo o ordenamento jurídico passa a carecer de real efetividade. É como se as normas de

direito material se transformassem em mera promessa e/ou pura ilusão, sem a garantia de sua

correlata realização no mundo da vida.

O Código vigente, de 1973, na opinião da Comissão de juristas, operou satisfatoriamente

durante duas décadas. Entretanto, com o advento da Constituição de 1988, a partir dos anos

noventa, ele não mais estava adequado à realidade. É tanto que sucessivas reformas foram

realizadas a partir das sugestões de especialistas, como os Ministros Athos Gusmão Carneiro e

Sálvio de Figueiredo Teixeira. Essas reparações introduziram no Código revogado significativas

alterações, visando adaptar as normas processuais à mudanças na sociedade e ao funcionamento das

instituições.

As sucessivas alterações, sobretudo a de 1994 que incluiu no sistema o instituto da

antecipação da tutela, e a de 1995, com a alteração do regime do agravo, além das leis que alteraram

a execução mais recentemente, foram aplaudidas pela comunidade jurídica e geraram resultados

positivos no plano da operatividade do sistema. Mas, por outro lado, trouxe um enfraquecimento da

coesão entre as normas processuais, comprometendo a forma sistemática do CPC/1973.

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Os especialistas da Comissão, preocupados em preservar a forma sistemática das normas

processuais, expressaram a necessidade de adotar um caráter pragmático do novo Código, afim de

se obter um grau mais intenso de funcionalidade e organicidade ao sistema processual brasileiro.

Basta olharmos para a exposição de motivos do Projeto de Lei n. 166/2010 e repetido no novo

Código de Processo Civil de 2015, na qual fica claro os seus objetivos e intenções:

Com evidente redução da complexidade inerente ao processo de criação de um novoCódigo de Processo Civil, poder-se-ia dizer que os trabalhos da Comissão se orientaramprecipuamente por cinco objetivos: 1) estabelecer expressa e implicitamente verdadeirasintonia fina com a Constituição Federal; 2) criar condições para que o juiz possa proferirdecisão de forma mais rente à realidade fática subjacente à causa; 3) simplificar, resolvendoproblemas e reduzindo a complexidade de subsistemas, como, por exemplo, o recursal; 4)dar todo o rendimento possível a cada processo em si mesmo considerado; e, 5) finalmente,sendo talvez este último objetivo parcialmente alcançado pela realização daquelesmencionados antes, imprimir maior grau de organicidade ao sistema, dando-lhe, assim,mais coesão.

A partir dessa abordagem, pode-se verificar a intenção dos legisladores ao editá-lo, e mais

ainda quando analisados os institutos que surgem com o seu advento, como é o caso da adoção do

“precedentalismo”, da gestão participativa e democrática do processo, da possibilidade da

distribuição dinâmica do ônus probante, entre outros.

Nas palavras de Mendes e Wambier (2015, p. 09):

Em termos de objetivos, sobressaem no novo estatuto processual o fortalecimento docontraditório, a maior exigência em termos de fundamentação para as decisões e oestabelecimento de normas e instrumentos voltados para a economia processual, para apreservação da isonomia, da segurança jurídica e da duração razoável do processo.

3 DO DIREITO DE DEFESA

Indubitavelmente, o direito de resposta do réu, assegurado constitucionalmente através do

inciso LV, art. 5º, da nossa Constituição de 1988 e nas normas de processo, decorre do primado do

“Direito de Defesa” que deve ser garantido a toda e qualquer pessoa contra o qual se tenha arguida

alguma pretensão, seja ela cível, administrativa ou punitiva.

É o que decorre, na opinião de SILVA (2015, p. 01), do princípio do devido processo legal:

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O direito de defesa é o direito assegurado ao réu de se insurgir contra uma pretensão emface dele formulada. É o contraponto do direito de ação. Da mesma forma que a todos éassegurado o exercício do direito de ação, em provocar a jurisdição e invocar uma tutelajurisdicional, garante-se àquele cuja pretensão é dirigida, o poder de opor-se à pretensão, afim de que seja rejeitada, de forma a ser-lhe assegurado, em contrapartida, o direito dedefesa.A oportunidade dada ao réu para se defender decorre do princípio do devido processo legal(due process of law), inserto no art. 5º, inc. LIV da CF/88 que prescreve que“ninguém seráprivado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Há necessidade que oEstado outorgue ao cidadão o direito de contraditório e ampla defesa, antes de empregarqualquer medida jurisdicional que possa interferir em sua órbita de direitos, muito emboratem-se admitido, em situações emergenciais e excepcionais, que o Estado promova a tutelade um direito, mesmo sem ter ouvido o réu (inaldita altera parte), como ocorre nashipóteses de concessão de antecipação de tutela e de medidas cautelares.

No CPC/1973, o direito de defesa está inserido dentro do título que trata “Da resposta do

réu”, objeto do nosso estudo, em face da ação proposta pelo autor. Já com relação ao CPC/2015,

está previsto no capítulo VI e é denominado apenas de “Da Contestação”, uma vez que agora nela

poderão ser arguidas todas as exceções que deveriam ser juntadas em apenso, bem como a

reconvenção.

4 DAS RESPOSTAS DO RÉU: DA RECONVENÇÃO, DAS EXCEÇÕES E DA

CONTESTAÇÃO

Como resposta, o réu ao ser citado, nos termos do CPC/73, pode apresentar: contestação,

reconvenção e exceções.

A reconvenção é resposta mediante a qual o réu formula pedido contra o autor, tornando-se

autor reconvindo. O pedido formulado por esse, deve ter ligação com a causa de pedir da ação

originária.

Pelo CPC/1973, a reconvenção será processada nos próprios autos da ação, de modo que os

atos processuais realizados serão comuns a ambas. Ela deverá ser realizada em forma de petição

inicial, além de conter todos os requisitos dos artigos 282 e 283, devendo o réu reconvinte, autor na

ação originária por intermédio do seu Advogado, ser intimado para, querendo, apresentar

contestação (arts. 282 e 283, CPC/1973).

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O CPC/2015, com vacatio legis de um ano, traz algumas alterações no que diz respeito à

reconvenção. A primeira é que o réu poderá propô-la independente de contestar a ação; a segunda é

que ela poderá ser formulada no próprio corpo da contestação, senão vejamos:

Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensãoprópria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.

(...)

§ 6o O réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer contestação.

(...)

É importante salientar que o CPC/2015 admite expressamente a reconvenção subjetivamente

ampliativa, ou seja, proposta contra o autor e terceiro, ou pelo réu em litisconsórcio com terceiro,

nos termos dos §§ 3.º e 4.º do art. 343. Se a reconvenção for dirigida também a um terceiro

(reconvenção ampliativa), este deverá ser citado para integrar e responder a lide.

Destaque-se também que o art. 316 do CPC/2015 prevê que o autor reconvindo será

intimado para contestar. Em razão disso, entende-se não ser cabível reconvenção de reconvenção,

ou seja, que o autor/reconvindo promova nova reconvenção.

Com a redação dada ao §1º do art. 343, que expressamente dispõe que o autor/reconvindo

será intimado para apresentar “resposta” (expressão mais ampla, que compreende não só a

contestação), a discussão parece ter sido superada, quando se admite a reconvenção sucessiva.

O juiz, porém, deverá analisar a questão à luz do caso concreto, indeferindo o pleito quando

ameaçar a razoável duração do processo. O §2º do art. 343, praticamente, reproduz a regra do

CPC/1973, art. 317, da autonomia da reconvenção em relação à ação principal. A desistência ou

extinção da ação principal, portanto, não afetam a reconvenção, da mesma forma que a desistência

ou extinção desta não afetam a marcha da demanda originária.

O mesmo ocorrerá na hipótese do julgamento antecipado da reconvenção, que não impedirá

o prosseguimento normal da ação principal e vice-versa. O julgamento antecipado do mérito da

ação principal não afetará o curso da ação reconvencional.

Essa é a razão pela qual o legislador do CPC/2015 não repetiu a regra do CPC/1973, art.

318, isto é, de que ação e reconvenção devem ser julgadas na mesma sentença. Assim, passa a haver

regra expressa de que o recurso cabível das decisões de indeferimento liminar da reconvenção (art.

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354, parágrafo único), bem como de julgamento antecipado do mérito (CPC/2015, art. 356, § 5.º),

sendo o agravo de instrumento (CONCEIÇÃO, 2015. p. 12/13).

Quanto às exceções, elas podem ser interpostas nos casos de impedimento ou suspeição do

Juiz (artigos 134 a 138 do CPC/1973 e do artigo 144 aos 148 do CPC/2015) ou nos casos de

incompetência relativa do juízo, ou seja, ou territorial ou referente ao valor da causa. Salienta-se

que estas exceções aqui citadas só poderão ser apresentadas pelo réu. Com relação à exceção de

impedimento ou suspeição, o CPC/2015 ampliou o rol das pessoas a quem pode se aplicar seus

motivos:

Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição:I - ao membro do Ministério Público;II - aos auxiliares da justiça;III - aos demais sujeitos imparciais do processo.

No tocante à exceção referente à incompetência relativa em razão do valor da causa, essa de

acordo com o CPC/2015, deverá ser realizada em sede de preliminar de contestação e não mais

como “exceção”.

Art. 293. O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atribuído à causapelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, acomplementação das custas. (grifos nosso)

Vale salientar, que o novo CPC também traz alteração em relação à matéria da

incompetência relativa já que a sua arguição passa a ser, assim como a absoluta, matéria que deverá

ser arguida em “preliminar de contestação”, não vindo mais em autos apartados:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:(...)II - incompetência absoluta e relativa;(…)

Ressalva-se que se o réu se mantiver silente diante da incompetência territorial, o Juiz se

tornará competente para processar e julgar o feito, de acordo com o que dispõe no novo CPC em

seu art. 65: “Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em

preliminar de contestação.”

Deste modo, verifica-se diferenças entre o novo Código e o Código em vigor. No CPC/1973,

as “exceções” devem ser julgadas em apenso ao processo principal e interpostas em petição própria,

enquanto que no novo CPC elas deverão ser alegadas em “preliminar de contestação” ou no

primeiro momento que caber ao réu falar nos autos, após a configuração de impedimento ou

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suspeição. Desse modo, se a incompetência territorial não for alegada na contestação, o Juiz torna-

se competente para processar e julgar o feito, como citado anteriormente.

Superadas essas considerações, passemos ao estudo da contestação, peça processual mais

utilizada entre as respostas do réu.

A contestação com o advento do CPC/2015 desponta como sendo o meio cristalino de

resposta do réu. Ao analisar o tema, Maria Lúcia Lins Conceição (2015, p. 12) manifestou que:

O CPC/2015 reforça a constatação de que a contestação é a peça de defesa por excelência,ao concentrar nela questões que, no regime atual, devem ser suscitadas pelo réu por meiode incidentes apartados, como a impugnação ao valor da causa e à concessão da justiçagratuita. O intuito do legislador é claro: simplificar o procedimento.

Nessa perspectiva, ela é instrumento pelo qual o réu se defende da pretensão autoral (pedido

e causa de pedir), sendo estruturada com: o endereçamento e identificação do número do processo,

autor e réu; breve síntese da exordial; e fundamentação jurídica, pela qual se impugna as razões do

autor através de defesa preliminar e defesa de mérito, ou só de mérito (sob pena de acarretar em

confissão pelo réu dos fatos alegados pelo autor), se encerrando com os pedidos.

Conforme assinala Simone Stabel Daudt6 (2007):

A contestação é um dos tipos de resposta a ser realizada, no prazo de 15 dias (...) cabe aoréu alegar e, oportunamente, provar o alegado. É o meio de exercício do direito de defesa,representa para o réu o que a petição inicial representa para o autor. Ela responde ao que oautor disse na petição inicial. É a modalidade de resposta do réu consistente na negação daprocedência da ação.

O art. 336 do novo CPC, assim como o art. 300 do antigo CPC, dispõe que “Incumbe ao réu

alegar, na contestação, toda a ‘matéria de defesa’, expondo as razões de fato e de direito com que

impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.”

Essa “matéria de defesa” pode ser processual ou de mérito propriamente dito. Ou seja,

podem ser as defesas preliminares, as prejudiciais de mérito e as defesas de mérito.

As defesas processuais estão adstritas às alegações de aspectos processuais, de modo que o

seu exame e solução devem preceder à apreciação do mérito conforme estabelece o art. 301 do

CPC/1973 e o art. 337 do CPC/2015.

6 DAUDT, Simone Stabel. Comentários aos arts. 300 a 303 do CPC - Da Contestação. Revista Páginas de Direito,Porto Alegre, ano 7, nº 678, 24 de novembro de 2007. Disponível em: <http://www.tex.pro. br/home/artigos/71-artigos-nov-2007/5718-comentarios-aos-arts-300-a-303do-cpc-da-contestacao>. Acesso em: 10 out. 2015.

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Antes de analisarmos minunciosamente as “defesas”, cabe salientar que essas (defesas)

processuais preliminares podem ter caráter dilatório, que mesmo quando acolhidas, não provocam a

extinção do processo, mas apenas causam ampliação ou dilatação do curso do procedimento ou

peremptórias. Uma vez acolhidas, levam o processo à extinção, como a de inépcia da inicial,

ilegitimidade de parte, litispendência, coisa julgada, perempção e outras, sem esquecer das

dilatórias potencialmente peremptórias, sendo aquelas que em primeiro momento, dilatam o curso

do processo, mas que uma vez não cumpridas/sanadas o levam a extinção.

Em explicação bastante esclarecedora que se coaduna com os tipos de “defesas processuais,

em sede preliminar, Pereira e Garcia (2015) ensina que:

Na defesa processual o réu procura atacar a relação jurídica processual. Também chamadade preliminares, está prevista do art. 301 do CPC, como por exemplo, inépcia da petiçãoinicial, incompetência absoluta do Juízo, incapacidade da parte, defeito de representação,entre outros. A defesa processual pode ser classificada em:

Defesa processual própria (ou peremptória): uma vez acolhidas, fazem com que oprocesso seja extinto sem a resolução de mérito.

Defesa processual imprópria (ou dilatória): não tem o condão de extinguir o processo,mas certamente prolonga a tramitação processual.

Defesa dilatória potencialmente peremptória: acolhidas, permitem ao autor osaneamento do vício ou irregularidade, nesse caso o processo continuará e a defesa terásido meramente dilatória. Caso contrário, de omissão do autor, a defesa toma naturezaperemptória, gerando a extinção do processo sem resolução de mérito.

Os tipos de “defesas preliminares” são aquelas encontradas em rol exemplificativo no

próprio Código de Processo Civil, seja no antigo de 1973, seja no novo, aprovado em 2015. Assim

sendo, vamos analisar cada uma delas, tomando por base o art. 337 do novo CPC, que dispõe quais

as preliminares que cabe ao réu alegar antes de discutir o mérito da questão.

Antes, vale salientar que a grande maioria das preliminares encontradas nesse artigo são

peremptórias, sendo dilatórias apenas as constantes nos incisos I, II e VIII, potencialmente dilatórias

as previstas nos incisos IX, XII e XIII. À vista disso, vejamos em seguida.

A do inciso I, artigo 337 do CPC/2015, trata da inexistência ou nulidade da citação.

Sabemos que essa é indispensável à validade do processo, pois torna perfeita a relação jurídica

processual e será inexistente quando, por exemplo, a citação se der em pessoa diversa da que figura

no polo passivo da demanda ou nula quando não obedecer às prescrições legais. Já o inciso II trata

da arguição de incompetência absoluta e relativa.

A incompetência absoluta deverá ser arguida quando o autor não observar as regras de

competência funcional, ou seja, em razão da matéria, da pessoa ou da hierarquia. Por exemplo:14

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propor, na Justiça Federal, que tem competência bem delimitada no art. 109, da nossa Constituição

Federal/1988, demanda contra órgão público que não seja federal.

Já a incompetência relativa, que deveria ser arguida em exceção no CPC/1973, passará a ser

suscitada em preliminar de contestação quando não for observada a competência territorial.

Ambas incompetências (absoluta e relativa) têm caráter dilatório, pois uma vez

reconhecidas, o processo deverá ser encaminhado ao Juízo competente. Entrementes há de se frisar,

que muitas vezes, na prática, os juízes extinguem o processo sem resolução de mérito.

Por último, seja qual for, alegada a incompetência, absoluta ou relativa, preceitua o §3° do

artigo 340, caso já designada, será suspensa a realização da audiência de conciliação ou de

mediação (TUCCI, 2015). Vale aqui invocar o experiente ponto de vista de Heitor Sica, no sentido

de que essa regra poupa o réu de comparecer a uma audiência antes de ver apreciada a arguição de

incompetência (SICA, 2015, P. 915).

Há de salientar, ainda, o que dispõe o art. 340, do novo CPC:

Havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta, a contestação poderá serprotocolada no foro de domicílio do réu, fato que será imediatamente comunicado ao juizda causa, preferencialmente por meio eletrônico.

Já a preliminar prevista no inciso VIII, do art. 337 do novo CPC, dispõe sobre a conexão, ou

seja, quando por identidade da causa de pedir ou do objeto, deva haver a reunião dos processos para

serem julgados simultaneamente. Vale assinalar que embora o instituto da continência não esteja

arrolado neste artigo, já é pacífico na doutrina e jurisprudência, pelo menos na vigência do

CPC/1973, que ela também pode ser arguida em sede de preliminar, com base nesse mesmo inciso.

Entre as preliminares previstas no CPC/2015, com caráter peremptório, o artigo 337 do

CPC/2015, prevê no inciso IV, a inépcia da petição inicial, que uma vez acolhida, o processo deverá

ser extinto. Nos termos do § 1º, do art. 330 no novo Código, a petição inicial se considera inepta

quando:

I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;

II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedidogenérico;

III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

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A perempção prevista no inciso V, que acontece quando há a perda do direito de ação pelo

abuso de direito, ou melhor, quando o autor está propondo pela quarta vez a ação, sendo que nas

três vezes anteriores a ação foi extinta pelo abandono da causa, que é motivo de resolução do

processo sem resolução do mérito. A litispendência no inciso VI e a coisa julgada no inciso VII,

tanto numa, quanto em outra, dá-se a tríplice identidade nas ações, ou seja, mesmas partes, mesma

causa de pedir, próxima e remota, e mesmo pedido, só que enquanto na primeira o processo ainda

está em trâmite, na segunda ele já transitou em julgado, senão vejamos o disposto no § 1º. do art.

337 do CPC/2015:

§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormenteajuizada.

§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir eo mesmo pedido.

§ 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.

§ 4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada emjulgado.

Já no inciso X, do artigo 337 do novo Código, está prevista a preliminar de convenção de

arbitragem, a qual deverá ser arguida quando existir entre as partes compromisso arbitral que

impeça a discussão da lide em Juízo, valendo salientar que se o réu não alegá-la, pelo que dispõe o

novo CPC, no §6º, art. 337, ocorrerá à aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral. A

alegação de existência de convenção de arbitragem deverá ser formulada, em petição autônoma, na

audiência de conciliação ou de mediação.

E por último, o CPC/2015 tratou da ausência de legitimidade ou de interesse processual

(inciso XI, artigo 337), ou seja, das condições da ação. É importante citar o artigo 339 do novo

CPC, pois ele traz disposição nova sobre os casos nos quais é arguida a ilegitimidade passiva.

Vejamos:

Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo darelação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com asdespesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta daindicação.

Quanto as preliminares dilatórias potencialmente peremptórias, o novo Código trouxe a da

incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização prevista no inciso IX, artigo

337, que não demanda muitas explicações, uma vez que é autoexplicativa. Quando arguida, deverá

o Juiz assinalar prazo para que o defeito seja sanado, sob pena de indeferimento da inicial e/ou16

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extinção do processo sem resolução do mérito. A prevista no inciso XII, que trata sobre a falta de

caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar, deverá ser arguida quando a lei as

impõe como condição da ação, por exemplo, o depósito de 5% do valor da causa para dar entrada

com a ação rescisória. E, por fim, a da indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça,

prevista no inciso XIII, artigo 337 do CPC/2015 e inexistente no CPC/1973.

Para concluir a demonstração das preliminares no novo Código, vale salientar que a

depender do caso, a nova preliminar prevista no inciso III, do art. 337, qual seja, de incorreção do

valor da causa, inexistente no CPC/1973, que deverá ser arguida quando o réu não concordar com o

valor da causa, pode ter caráter dilatório ou peremptório.

Salienta-se ainda que no CPC/1973, a impugnação ao valor da causa deveria ser arguida em

exceção e julgada em autos apartados. Quando o novo CPC entrar em vigor, será arguido em sede

preliminar.

Das Prejudiciais de Mérito, o aprofundamento das questões prejudiciais no Direito Pátrio

foi, na opinião dos especialistas, um pouco tardio, gerando muita controvérsia. Um ponto de

divergência é conceitual, ou seja, qual a diferença básica entre as questões prejudiciais de mérito

com as questões preliminares?

Pois bem, quem melhor definiu o que seria as prejudiciais de mérito foi Barbosa Moreira,

cita DIDIER7, que assim definiu:

Considera-se questão prejudicial aquela de cuja solução dependerá não a possibilidadenem a forma do pronunciamento sobre a outra questão, mas o teor mesmo dessepronunciamento. A segunda questão depende da primeira não no seu ser, mas no seu modode ser (Barbosa Moreira). A questão prejudicial funciona como uma espécie de placa detrânsito, que determina para onde o motorista (juiz) deve seguir.

As prejudiciais por excelência são a prescrição e a decadência. Mas por que elas não são

incluídas nas preliminares? Porque geralmente as preliminares geram a extinção do processo sem

resolução de mérito, diferente da prescrição e decadência, uma vez que se reconhecidas geram a

extinção do processo com resolução do mérito. Mas qual a importância disso? A importância é que

uma vez extinto, o processo com resolução do mérito a parte autora não mais poderá discutir aquela

ação em juízo por força da coisa julgada material, enquanto que se for sem resolução do mérito,

7 DIDIER JR., Fredie. Editorial 146. Salvador, 06 de junho de 2012. Disponível em:<http://www.frediedidier.com.br/editorial/editorial-146/>. Acesso em: 10 out. 2015.

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com sua coisa julgada formal a parte autora pode entrar com nova ação para que o mérito da lide

seja resolvido.

Das Defesas de Mérito, após a alegação das defesas preliminares e prejudiciais de mérito, se

forem pertinentes, deverá passar o réu, por intermédio do seu Advogado, a elaborar a defesa de

mérito. Nessa oportunidade, ele deverá impugnar os fatos narrados na exordial e a fundamentação

jurídica arguida pelo autor para motivar a sua pretensão.

Essa defesa de mérito pode ser indireta quando o autor alega fato impeditivo, modificativo

ou extintivo do direito do autor. A exemplo disso está uma ação de cobrança, na qual se o réu

alegasse o pagamento da dívida, seria fato extintivo do direito do autor que anteriormente já teve a

sua pretensão satisfeita.

Lembrando que, com exceção da possibilidade da inversão do ônus probante nas relações

consumeristas, cabe a quem alega o ônus da prova, motivo pelo qual na prática a alegação do

pagamento apenas extinguiria o direito do autor se o réu também provasse através de um recibo de

pagamento que adimpliu a dívida.

E, ainda, pode ser direta que é realizada diretamente contra o fato da demanda, negando-lhe

a existência, modificando a natureza jurídica na qual se funda o direito do autor ou, por fim, contra

a consequência jurídica pretendida.

Nas palavras de Pereira e Garcia8 (2015) a defesa de mérito:

É aquela em que o réu resiste à pretensão do autor, lutando pela improcedência do pedido.Pode, por exemplo, negar os fatos afirmados pelo autor ou demonstrar que a ordem jurídicanão prevê as consequências por este pleiteadas. Enfim, ataca o pedido do autor. Conforme aatitude do réu, a defesa de mérito pode ser:

Defesa de mérito direta: se o réu negar a ocorrência dos fatos ou, confirmando os fatos,negar as consequências jurídicas afirmadas pelo autor;

Defesa de mérito indireta: nesse caso o réu admite a veracidade dos fatos afirmados peloautor, mas alega fatos novos, impeditivos, extintivos ou modificativos do direito deste.

Do novo modo da “Contagem de Prazo”, no CPC/2015, o prazo para contestar continua

sendo de 15 dias, mas de acordo com o novo sistema, a contagem deve ser ocorrer em dias úteis

(art. 219). O termo inicial do cômputo é fixado no artigo 335 e, salvo nas hipóteses em que é

designada a audiência de conciliação e mediação, a que se refere o artigo 334. Pelo que prescreve o

8 PEREIRA, Wender; GARCIA, Laice Alves. Os meios de defesa no processo civil à luz dos princípios do contraditórioe ampla defesa.. Fev. 2015. Disponível em:< http://jus.com.br/artigos/36226/os-meios-de-defesa-no-processo-civil-a-luz-dos-principios-do-contraditorio-e-ampla-defesa#ixzz3q6oXu3pq>. Acesso em: 10 out. 2015.

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artigo 231, o prazo deve ser contado a partir da juntada aos autos do comprovante de citação. Sobre

isso, foram mantidas as mesmas regras do CPC/1973.

No caso de litisconsórcio, o prazo é comum e terá início da juntada aos autos do último

comprovante de citação. Porém, se for designada audiência de conciliação e mediação, e nela não

houver composição, o prazo para contestar começará da data da audiência ou da última sessão de

conciliação, estando ou não presentes todas as partes.

O novo CPC prevê, ainda, que o autor que não tiver interesse na realização da audiência,

deverá se manifestar, nesse sentido, já na peça ovo. Se não o fizer, a audiência ocorrerá mesmo que

o réu solicite seu cancelamento. Se a audiência nem chegar a acontecer, porque o autor já na petição

inicial demonstra seu desinteresse pelo ato e o réu pede seu cancelamento, o prazo de 15 dias

começará a contar da data desse requerimento. Nessa mesma hipótese, se houver litisconsórcio, o

prazo se iniciará, para cada um dos réus, a partir do seu respectivo pedido de cancelamento,

afastando-se, portanto, excepcionalmente, a regra do prazo comum.

O prazo para contestar será contado em dobro quando houver litisconsortes com diferentes

procuradores de escritórios de advocacia distintos (artigo 229), salvo nos processos eletrônicos, em

que será sempre contado de forma simples, ante a possibilidade de acesso simultâneo aos autos. O

Ministério Público e a Fazenda Pública deixam de gozar de prazo em quádruplo para responder.

Nos termos dos artigos 180 e 183 do novo Código, seu prazo é em dobro, assim como também o é

para a Defensoria Pública (art. 186), inclusive os escritórios de prática jurídica e entidades que

prestam assistência jurídica gratuita. (CONCEIÇÃO, 2015. p. 12 e 13).

5 ÔNUS DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA E DAS ALEGAÇÕES DE FATOS NOVOS

Em linhas gerais, no que diz respeito ao ônus da impugnação específica e às alegações de

fatos novos, verifica-se que apesar de capitulados em artigos diversos, foi mantida a mesma redação

do CPC/1973, motivo pelo qual não há muito o que se falar sobre. Entretanto, sem a menor intenção

de exaurir o tema, vale relembrar que segundo o princípio da impugnação especificada, o réu deve

impugnar um a um os fatos articulados pelo autor na peça de ingresso, sob pena de incidir os efeitos

da revelia relativamente ao fato não impugnado, salvo nos casos previstos nos incisos, do art. 341:

I - não for admissível, a seu respeito, a confissão;

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II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar dasubstância do ato;III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

Acrescentando que como dispõe o Parágrafo Único deste artigo 341, esse ônus não se aplica

ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial.

Já quanto às alegações de fatos novos, discussão que é mais acalorada quando se trata dos

meios de impugnação as decisões judiciais, verificamos que, a priori, ela é vedada e só é lícito caso

se trate de:

Art. 342. Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações quando:

I - relativas a direito ou a fato superveniente;

II - competir ao juiz conhecer delas de ofício;

III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e grau dejurisdição.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por tudo que foi exposto, verificamos que o Código de Processo Civil de 2015 trará

mudanças substanciais no que diz respeito ao instituto das respostas do réu.

Ora, diferente do CPC/1973, torna-se possível concluir que, se o CPC/2015 for bem

utilizado pelos operadores do Direito, fará com que o processo flua de forma melhor, evitando um

grande número de incidentes, outrora arguidos como exceção, que acabavam por postergar a marcha

processual. Isso, indubitavelmente, trará inúmeras vantagens para o bom andamento do processo

que correrá de forma mais simplificada e célere, uma vez que os incidentes processuais serão

trazidos e discutidos no próprio corpo da contestação, demonstrando que ele tem um grande

potencial de conseguir atingir os objetivos traçados na sua exposição de motivos. Ou seja, de tornar

o processo mais simplificado, sem causar, entretanto, nenhum prejuízo ao contraditório.

É de se observar, por fim, que ele se adéqua melhor a realidade forense, tendo em vista que

na praxe o que mais observávamos era o instituto da Contestação, que como já dito e redito no

presente artigo, desponta como a estrela principal das respostas do réu.

REFERÊNCIAS

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