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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RAFAELA DAYSE MEDEIROS DE QUEIROZ O TRABALHO INFANTIL NO RIO GRANDE DO NORTE: UM PANORAMA DA SITUAÇÃO OCUPACIONAL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL NO ANO DE 2010 Natal/RN 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

RAFAELA DAYSE MEDEIROS DE QUEIROZ

O TRABALHO INFANTIL NO RIO GRANDE DO NORTE: UM PANORAMA DA

SITUAÇÃO OCUPACIONAL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL NO ANO DE 2010

Natal/RN

2014

Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Queiroz, Rafaela Dayse Medeiros de.

O trabalho infantil no Rio Grande do Norte: um panorama da situação

ocupacional das crianças e adolescentes na região metropolitana de natal no ano de

2010 / Rafaela Dayse Medeiros de Queiroz. - Natal, RN, 2014.

84 f.

Orientadora: Profa. Ma. Rosangela dos Santos Alves Pequeno.

Monografia (Graduação em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande

do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Economia. Curso

de Graduação em Ciências Econômicas.

1. Economia - Monografia. 2. Trabalho infantil - Monografia. 3. Criança e

adolescente – Monografia. 4. Rio Grande do Norte – Monografia. I. Pequeno,

Rosangela dos Santos Alves. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.

Título.

RN/BS/CCSA CDU 331.1-053.2

RAFAELA DAYSE MEDEIROS DE QUEIROZ

O TRABALHO INFANTIL NO RIO GRANDE DO NORTE: UM PANORAMA DA

SITUAÇÃO OCUPACIONAL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL NO ANO DE 2010

Monografia de Graduação apresentada ao

Departamento de Economia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, para

obtenção do título de Bacharel em Ciências

Econômicas.

Orientadora: Professora Ma. Rosangela dos

Santos Alves Pequeno

Natal/RN

2014

RAFAELA DAYSE MEDEIROS DE QUEIROZ

O TRABALHO INFANTIL NO RIO GRANDE DO NORTE: UM PANORAMA DA

SITUAÇÃO OCUPACIONAL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL NO ANO DE 2010

Monografia de Graduação apresentada ao

Departamento de Economia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, para

obtenção do título de Bacharel em Ciências

Econômicas.

Aprovada em: ______/______/________.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Orientadora: Professora Ma. Rosangela dos Santos Alves Pequeno

DEPEC/UFRN

___________________________________________

Examinador: Professor Dr. João Matos Filho

DEPEC/UFRN

DEDICATÓRIA

Dedico àqueles que sempre torceram verdadeiramente

pelo meu sucesso e felicidade.

AGRADECIMENTOS

A Deus, principalmente, pelo amor inexplicável, por todo cuidado, pela presença

constante em minha vida e por ter permitido chegar até aqui.

A toda a minha família, especialmente, meus pais Rose e Letício e meu irmão Rafael,

meu alicerce e porto seguro, pelo amor incondicional e apoio irrestrito. A eles, minha gratidão

por sempre me encorajarem e pelas preciosas palavras de fé, as quais me faziam acreditar que

a concretização deste trabalho seria possível.

A minha orientadora Rosangela Pequeno, que soube tão bem conduzir a orientação,

com suas valiosas contribuições, sempre paciente, disponível, generosa, sábia e incentivadora.

Serei eternamente grata.

Ao meu namorado Angelo, por todo apoio em momentos de muito nervosismo, além

do incentivo diário para que eu não desistisse e conseguisse, enfim, vencer mais essa etapa em

minha vida.

Aos amigos queridos por todo estímulo e até mesmo cobrança, principalmente Aretha

Fernandes e Katyene Antônia, que torceram por esta conquista e aguardaram pelo tão

esperado dia da finalização do trabalho.

E, finalmente, à minha grande família do curso de Ciências Econômicas, em especial:

Denise Fernandes, Diogo Mendonça, Elivânia Bezerra, Gabriela Raposo, Isabelly Diniz,

Julyana Louise, Mônica Soares, Sara Raquel e Tatiana Guilherme. Agradeço-lhes pelo

carinho, apoio e, sobretudo, amizade. Vocês tornaram essa jornada mais leve e alegre.

"Suba o primeiro degrau com fé.

Não é necessário que você veja toda a escada.

Apenas dê o primeiro passo."

Martin Luther King

RESUMO

Em âmbito mundial e nacional, o trabalho infantil é um fato persistente com uma longa

trajetória histórica, que apesar de, nas duas últimas décadas, ter apresentado uma significativa

redução, ainda, continua como um desafio presente. Neste sentido, o Rio Grande do Norte

também acompanhou essa tendência, com significativos avanços na redução da mão de obra

infantil. Porém, ainda, se trata de um problema ativo, sobretudo, na Região Metropolitana de

Natal (RMN), onde basta olhar ao redor dela e encontrar crianças e adolescentes exercendo

inúmeras atividades laborais. Deste modo, o objetivo deste trabalho é apresentar um

panorama da situação ocupacional das crianças e adolescentes e tratar de sua conceituação,

causas e efeitos, bem como sua dimensão e comportamento no estado do Rio Grande do

Norte, evidenciando os municípios que compõem a Região Metropolitana de Natal, a partir

dos dados do Censo Demográfico realizado em 2010. Para isso, a metodologia utilizada

consistiu, inicialmente, de uma revisão bibliográfica com leitura de textos, abrangendo

algumas interpretações teóricas relacionadas à questão do trabalho infantil. Em seguida foi

realizada a coleta de dados secundários, onde uma visão geral foi traçada sobre o trabalho

precoce no estado e na RMN, retratando suas especificidades, separadamente, em cada

espacialidade, com destaque na apresentação de dados sobre os aspectos relacionados à idade,

ao gênero, cor/raça, situação de domicílio, situação socioeconômica das famílias, atividades e

ocupações e à escolaridade. Os resultados encontrados revelaram que as principais

características das crianças e dos adolescentes que estavam em situação de trabalho eram

basicamente as mesmas para o Rio Grande do Norte e para os que residiam na Região

Metropolitana de Natal. Assim, o trabalho infantil era exercido, em sua maioria, por meninos

que estavam na faixa etária entre 16 e 17 anos de idade, eram declarados como negros ou

pardos, residentes na zona urbana, exerciam atividades não-agrícolas na posição de

empregados, em geral, com uma jornada de trabalho entre 15 a 39 horas semanais e não

frequentavam a escola. Portanto, conclui-se que, apesar de a incidência do trabalho infantil

estar diminuindo, ainda, um grande número de crianças e adolescentes continuam

trabalhando. Deste modo, o processo de erradicação do trabalho infantil pode ser mais eficaz

quanto maiores forem as oportunidades criadas às famílias que estão em situação de

vulnerabilidade e tal iniciativa exige a realização de políticas públicas focalizadas, mas

também faz-se necessário mudanças culturais de cunho estrutural na sociedade.

Palavras-chave: Trabalho Infantil. Rio Grande do Norte. Região Metropolitana de Natal.

PETI.

ABSTRACT

At the global and national levels, child labor is a persistent fact with a long historical

trajectory, which although in the last two decades have shown a significant reduction also

continues as a current challenge. In this sense in Rio Grande do Norte also followed this trend

with significant progress in reducing child labor. Still it is an active problem, especially on

Metropolitan Region of Natal (RMN), where just look around and find her children and

adolescents exercising numerous professional activities. Thus, the aim of this paper is to

present an overview of the occupational status of children and adolescents and address its

concept, causes and effects as well as their size and behavior in the state of Rio Grande do

Norte, showing the districts within the metropolitan area of Natal, from the Population Census

conducted in 2010. For this, the methodology consisted initially of a literature review with

reading texts, including some theoretical interpretations related to the issue of child labor. We

then carried the collection of secondary data, where an overview was drawn on early work in

state and RMN, portraying their specific separately in each spatiality, especially in the

presentation of data on aspects related to age, gender, color and race, household situation,

socioeconomic status of families, activities and occupations and education. The results

showed that the main characteristics of children and adolescents who were in work situations

were basically the same for the Rio Grande do Norte and for living in the Metropolitan

Region of Natal. Thus, child labor was exercised mostly by boys who were aged between 16

and 17 years old, were declared as black or brown, lived in the city, exercised non-agricultural

activities in the position of employees in Overall, with a working day between 15-39 hours

per week and not attending school. Therefore, it is concluded that, although the incidence of

child labor to be decreasing, still, a large number of children and adolescents continue to

work. Thus, the child labor eradication process can be more effective the higher the

opportunities created for families who are in vulnerable situations and such an initiative

requires the completion of targeted, but also it is necessary cultural changes of a structural

nature in society.

Keywords: Child Labor. Rio Grande do Norte. Metropolitan Region of Natal. PETI.

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 NE: percentual de crianças e adolescentes em situação de trabalho –

2010 .............................................................................................................. 39

GRÁFICO 2 RN: percentual de crianças e adolescentes em situação de trabalho por

faixa etária – 2010 ........................................................................................ 40

GRÁFICO 3 RN: percentual do trabalho infantil segundo gênero, por faixa etária –

2010 .............................................................................................................. 41

GRÁFICO 4 RN: rendimento per capita das famílias com ocupados na faixa etária

de 10 a 17 anos – 2010 ................................................................................. 42

GRÁFICO 5 RN: percentual de ocupados entre 10 a 17 anos por posição na

ocupação e faixa etária – 2010 ..................................................................... 44

GRÁFICO 6 RMN: percentual de crianças e adolescentes em situação de trabalho –

2010 .............................................................................................................. 48

GRÁFICO 7 RMN: percentual de crianças e adolescentes em situação de trabalho

por faixa etária – 2010 .................................................................................. 49

GRÁFICO 8 RMN: média percentual de ocupados entre 10 a 17 anos segundo sexo,

por grupos etários – 2010 ............................................................................. 50

GRÁFICO 9 RMN: média percentual de ocupados entre 10 a 17 anos segundo a

cor/raça – 2010 ............................................................................................. 51

GRÁFICO 10 RMN: rendimento familiar per capita das famílias com ocupados de

10 a 17 anos – 2010 ...................................................................................... 53

GRÁFICO 11 RMN: média percentual de ocupados entre 10 a 17 anos por posição

na ocupação e faixa etária ............................................................................ 57

GRÁFICO 12 RMN: percentual de ocupados na faixa etária de 10 a 17 anos que

frequentavam ou não à escola – 2010 .......................................................... 59

GRÁFICO 13 RMN: percentual de ocupados por faixa etária que frequentavam ou

não à escola – 2010 ...................................................................................... 60

GRÁFICO 14 RMN: percentual de analfabetos ocupados e sem ocupação – 2010 ........... 61

GRÁFICO 15 RMN: percentual da incidência de crianças e adolescentes em situação

de trabalho – 2006-2014 ............................................................................... 74

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 RN: total de crianças e adolescentes, quantidade e percentual das que

se encontram em situação de trabalho, por grupos etários – 2010 ............... 40

TABELA 2 RN: ocupados por faixa etária segundo a jornada de trabalho – 2010 ......... 45

TABELA 3 RMN: dados da legislação, população, área, PIB e PIB per capita –

2010 .............................................................................................................. 46

TABELA 4 RMN: população total, quantidade total de crianças e adolescentes e

quantidade das que se encontravam em situação de trabalho – 2010 .......... 48

TABELA 5 RMN: percentual de ocupados entre 10 a 17 anos segundo a cor/raça –

2010 .............................................................................................................. 51

TABELA 6 RMN: crianças e adolescentes de 10 a 17 anos de idade, total e

ocupados, por situação do domicílio – 2010 ................................................ 52

TABELA 7 RMN: quantidade de ocupados de 10 a 17 anos de idade por atividade

– 2010 ........................................................................................................... 54

TABELA 8 RMN: quantidade de crianças e adolescentes de 10 a 17 anos por

posição na ocupação – 2010 ......................................................................... 56

TABELA 9 RMN: ocupados de 10 a 17 anos segundo a jornada de trabalho – 2010 ..... 58

TABELA 10 RMN: quantidade de crianças e adolescentes atendidas pelo PETI e

valores dos recursos transferidos pelo Governo Federal – 2013 .................. 72

TABELA 11 RMN: principais atividades onde foram detectados trabalho de

crianças e adolescentes – 2006-2014 ........................................................... 73

LISTA DE SIGLAS

ANDI Agência de Notícias dos Direitos da Infância

CF Constituição Federal

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CONAETI Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

FNPETI Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil

IBAM Instituto Brasileiro de Administração Municipal

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INESC Instituto de Estudos Socioeconômicos

MDS Ministério de Desenvolvimento e Combate à Fome

MNMMR Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua

MOC Missão Criança e Movimento de Organização Comunitária

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONU Organização das Nações Unidas

PBF Programa Bolsa Família

PEA População Economicamente Ativa

PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

RMN Região Metropolitana de Natal

SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

SGD Sistema de Garantia de Direitos

SITI Sistema de Informações sobre Focos de Trabalho Infantil

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13

CAPÍTULO 1 ASPECTOS DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA SOBRE O

TRABALHO INFANTIL ...................................................................... 19

1.1 A Incidência do Trabalho Infantil em Âmbito Mundial ...................................... 19

1.2 O Surgimento do Trabalho Infantil no Brasil ........................................................ 24

CAPÍTULO 2 UMA VISÃO NORMATIVA, CONCEITUAL E TEÓRICA SOBRE

A EXECUÇÃO DO TRABALHO INFANTIL ................................... 28

2.1 Os Aspectos Legais Implementados para o Enfrentamento ao Trabalho de

Crianças e Adolescentes ........................................................................................... 28

2.2 A Complexidade de Definir a Dimensão e a Natureza do Trabalho Infantil com

suas Causas e Efeitos ................................................................................................ 30

2.2.1 Conceituando o Trabalho Infantil ............................................................................... 30

2.2.2 As Múltiplas Causas do Trabalho Infantil .................................................................. 33

2.2.3 Os Principais Efeitos do Trabalho Infantil ................................................................. 36

CAPÍTULO 3 UM PANORAMA DO TRABALHO DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES NO RIO GRANDE DO NORTE E NA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL ........................................................ 38

3.1 A Realidade do Trabalho Infanto-Juvenil no Rio Grande do Norte ................... 39

3.2 Análise Descritiva do Trabalho Infanto-Juvenil na Região Metropolitana de

Natal ........................................................................................................................... 46

3.2.1 A Caracterização do Trabalho Infanto-Juvenil na RMN ............................................ 47

3.2.2 Caracterização do Rendimento das Famílias com Crianças e Adolescentes em

Situação de Trabalho .................................................................................................. 53

3.2.3 Caracterização do Trabalho Infantil da RMN segundo os principais Setores de

Atividade Econômica e Posição na Ocupação ............................................................ 54

3.2.4 Caracterização do Trabalho Infantil segundo o Nível Educacional ........................... 58

CAPÍTULO 4 UMA VISÃO GERAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS

PARA O COMBATE AO TRABALHO DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES ................................................................................. 62

4.1 Políticas Públicas relacionadas ao Enfrentamento do Trabalho Infantil ............ 62

4.2 Atuação do PETI para Combater o Trabalho Infantil ......................................... 66

4.3 Atuação do PETI no Rio Grande do Norte e na Região Metropolitana de Natal71

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 82

13

INTRODUÇÃO

Enquanto fenômeno social complexo, a utilização da mão de obra de crianças e

adolescentes encontra-se subordinada a múltiplos condicionantes de natureza econômica,

social e cultural. Em uma breve retrospectiva da trajetória histórica verifica-se que o trabalho

infantil é um fato antigo e recorrente que, ainda, participa ativamente nos processos de

desenvolvimento e de crescimento dos países.

Deste modo, no tocante ao período da Antiguidade, o trabalho infantil não era visto

pela sociedade como algo de caráter exploratório e nocivo. Naquele período, a utilização da

mão de obra precoce tinha cunho de aprendizagem e o modo laboral era artesanal.

Na Idade Média, não havia diferenciações entre adultos, adolescentes ou crianças, que

trabalhavam no cultivo das terras do senhor feudal. Nas cidades, a maioria das crianças eram

inseridas como aprendizes nas chamadas Corporações de Ofício, para que aprendessem uma

profissão através dos ensinamentos dos mestres. Tal serviço não lhes rendiam qualquer

remuneração, apenas a alimentação.

Com o advento da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, houve uma

simplificação da mão de obra do operário, tendo em vista que as máquinas inseridas no

processo produtivo podiam ser operadas por qualquer pessoa, não exigindo o domínio de

técnicas. Com isto, verificou-se a substituição da mão de obra adulta pela infantil, preferida

pelos industriais diante da obediência e, principalmente, pelo baixo custo, chegando a receber

um sexto do que ganhavam os operários adultos ou até mesmo auferindo como pagamento

apenas alimentação e moradia.

Somente a partir do século XIX que surgiram as primeiras legislações protecionistas

da mão de obra infanto-juvenil. Na Inglaterra, em 1802, foi proibido a execução do trabalho

noturno por menores e reduziu para dez horas a jornada laboral diária. Em 1819, aprovou-se a

lei que regulava o trabalho de crianças e adolescentes nas atividades algodoeiras, proibindo o

emprego de menores de nove anos e fixando em doze horas diárias o trabalho dos menores de

dezesseis. No ano de 1833, outra lei inglesa foi aprovada, desta vez, restringia a jornada de

trabalho dos menores de treze anos para nove horas, além de vedar o trabalho noturno.

Como se vê, historicamente, a utilização da mão de obra infantil foi considerada uma

prática natural e até mesmo relevante para o processo de socialização das crianças e

adolescentes, além de ser vista como uma alternativa à pobreza e à criminalidade.

14

No decorrer do processo histórico brasileiro também verificou-se que a utilização da

mão de obra de crianças e adolescentes acompanhou a formação econômica do país, pois ela

surgiu muito antes de seu descobrimento. Com o início da colonização portuguesa, ela sofreu

uma mudança qualitativa e quantitativa, a qual atravessou pelos quase quatro séculos de

escravidão dos negros. Os escravos foram libertados, mas os trabalhadores infantis tornaram-

se atrativos aos empresários, principalmente, da área agrícola.

Já no século XX, com o início do processo de industrialização da economia brasileira,

a crescente expansão e urbanização dos municípios contribuiu para intensificar a utilização da

mão de obra de menores também em outras atividades laborais voltadas à área urbana, além

de criar novas formas, ainda, mais deploráveis de exploração infanto-juvenil, como a

prostituição e o tráfico de drogas (KASSOUF E SANTOS, 2009).

A década de 1990 foi marcada por uma maior ação de combate ao trabalho infantil por

parte das agências internacionais e dos Governos, dada a necessidade de se adotarem novos

instrumentos para a sua proibição e para a eliminação das suas piores formas. Desde então,

intensificou-se os estudos no campo da economia, sociologia e do direito a fim de

desmistificar a visão mundial, sendo propagada a ideia de que o lugar da criança é na escola e

que a garantia de seus direitos são condições essenciais para um maior desenvolvimento

socioeconômico.

A partir de então, o trabalho realizado por crianças e adolescentes passou a ser

crescentemente reprovado no meio social, além de ser visto como um impedimento ao

progresso econômico, principalmente, devido ao impacto negativo sobre o estoque de capital

humano das crianças. Com isso, foram estimuladas diversas campanhas e programas que

visavam a sua erradicação e começaram a ser alvo de críticas quaisquer atividades que

privassem as crianças e os adolescentes de seu direito de brincar e estudar nas suas adequadas

faixas etárias, e não somente as atividades insalubres e diretamente prejudiciais.

Além disso, ficou cada vez mais evidente a ideia de que deve ser de responsabilidade

social, e não apenas familiar, dar as condições necessárias às crianças e adolescentes

provenientes de famílias mais pobres o acesso ao desenvolvimento psicológico e intelectual.

Assim, tornou-se incontestável que o combate ao trabalho infantil deva ser fato

presente na agenda política dos diversos níveis de Governo (Federal, Estadual e Municipal).

Para tal, se faz necessário o apoio de organismos, como organizações internacionais tais

como: as Organizações Não-Governamentais (ONG), entre outros.

15

Atualmente, em âmbito internacional, a Organização Internacional do Trabalho (OIT)

se destaca como a principal instituição de combate ao trabalho infantil. No que diz respeito a

sua atuação, a OIT é responsável pela elaboração, supervisão e aplicação das normas de

trabalho. Para tanto, ela aborda questões e procura soluções que permitam melhorias nas

condições de trabalho, visando sempre à proteção dos trabalhadores. No que se refere ao

trabalho infantil, ela assumiu como sendo uma de suas prioridades a elaboração da legislação

e regulamentação de tal atividade, tendo em vista que esse tipo de labor, além de não ser

digno e não contribuir para a redução da pobreza, tira das crianças os seus direitos à saúde, à

educação e à própria vida enquanto crianças.

Diante disso, são inúmeras as pesquisas acadêmicas já realizadas com a finalidade de

compreender as razões que levam crianças e adolescentes a se inserirem no mercado de

trabalho. Na literatura, em geral, os estudos sobre essa temática têm indicado diversos

motivos que podem explicar a entrada na População Economicamente Ativa (PEA) antes da

idade permitida por lei, tais como: a inserção precoce dos pais no mercado de trabalho, a

deficiência da educação ou até mesmo a visão naturalizada do trabalho infantil. Contudo,

praticamente unanimemente, existe um consenso entre os estudiosos que a pobreza tem sido

apontada como a principal razão da oferta de trabalho infantil.

Quanto às consequências dessa inserção precoce de crianças e adolescentes no

mercado de trabalho, os estudos mostram que são prejudiciais tanto para o indivíduo quanto

para as sociedades nas quais ocorrem sua execução, tendo em vista que se tratam de pessoas

em situação especial de crescimento, onde os possíveis resultados podem ser desfavoráveis ao

desenvolvimento físico, psíquico, moral, social e intelectual.

Atualmente, no Brasil, a legislação proíbe o trabalho noturno, perigoso ou insalubre

aos menores de 18 anos, e de qualquer tipo de trabalho aos menores de 16 anos, exceto na

condição de aprendiz a partir dos 14 anos de idade. Entretanto, as estatísticas mostram que

milhões de crianças e adolescentes ainda são explorados no mercado de trabalho brasileiro.

Segundo os dados do Censo Demográfico de 2010 divulgados pelo Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE), o país apresentou, naquele ano, uma redução de 13,4% do

trabalho infantil em relação ao ano de 2000. Assim, considerando a faixa etária entre 10 a 17

anos de idade, em 2010, havia 3,4 milhões de crianças e adolescentes ocupados no país, o que

representava 12,4% das 27,5 milhões de pessoas nessa faixa etária. Enquanto em 2000, eram

3,9 milhões de menores exercendo atividades laborais e representavam 14,0% do total de

crianças e adolescentes residentes no país, que em valores absolutos correspondiam a 28,0

milhões.

16

Entre os anos de 2000 a 2010, a redução no número de crianças e adolescentes

trabalhadores no país foi bastante significativa, tanto na área rural quanto na área urbana. Na

área rural, os dados revelaram que houve uma diminuição de cerca de 454 mil pessoas, ou

seja, passou de 1,6 milhão em 2000 para 1,1 milhão em 2010, o que representou uma queda

de 31,3%. Já na área urbana a redução foi de 1,2 milhões caindo de 4,4 milhões em 2000 para

3,2 milhões no ano de 2010, o equivalente a uma queda de 27,3%.

Acompanhando essa tendência nacional, o Rio Grande do Norte (RN) também

conseguiu reduzir o trabalho infantil, entre os anos de 2000 e 2010, apresentando uma queda

de 20,9%, maior que a redução nacional. Segundo o último Censo Demográfico (IBGE,

2010), considerando a mesma faixa etária (10 a 17 anos de idade), em 2010 no estado havia

cerca de 43.304 crianças e adolescentes ocupados, o que representava 9,1% das 478.146

pessoas residentes. Enquanto, em 2000, o somatório de menores exercendo atividades laborais

era de 54.747 menores e representava 11,0 % do total de crianças e adolescentes que viviam

no estado, o correspondente a 499.141 pessoas.

Diante da exposição dos dados acima, as motivações que levaram a escolha deste tema

se originaram, em especial, no fato de ser um tema presente na realidade do estado. Para isso,

basta olhar em volta para encontrar crianças ou adolescentes exercendo trabalho em inúmeras

atividades, principalmente, naquelas que desgastam sua capacidade física. Este fato, na

maioria das vezes, acaba afastando-os da escola, possibilitando-lhes condições mínimas de

qualificação profissional e, consequentemente, dificultando a ascensão econômica.

Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar um panorama da situação ocupacional

das crianças e adolescentes, aqui denominado simplificadamente de “trabalho infantil” e tratar

de sua conceituação, causas e efeitos, bem como sua dimensão e comportamento no estado do

Rio Grande do Norte, evidenciando os municípios que compõem a Região Metropolitana de

Natal (RMN), a partir dos dados do Censo Demográfico realizado em 2010.

A fim de alcançar o objetivo acima, as análises descritivas espaciais foram

desenvolvidas, separadamente, para as duas espacialidades (Rio Grande do Norte a RMN)

objetivando identificar suas especificidades com destaque para apresentação dos aspectos

relacionados à idade (grupos etários), ao gênero, cor/raça, situação de domicílio (rural e

urbano), situação socioeconômica de suas famílias (rendimento), atividades e ocupações

(jornada de trabalho) e a escolaridade (frequência escolar e taxa de analfabetismo).

17

A abordagem metodológica aplicada a este trabalho se caracteriza por uma pesquisa de

avaliação de caráter exploratória, combinada com três delineamentos: a bibliográfica, uma vez

que partiu da consulta a referências bibliográficas, como livros, monografias, dissertações,

textos de discussão e artigos científicos; a pesquisa documental, cujo objetivo foi coletar e

reorganizar os dados secundários; e o estudo de caso múltiplo, que serviu para identificar,

descrever e analisar o trabalho infantil no estado e nos dez municípios que formam a Região

Metropolitana de Natal.

Desse modo, para a concretização desse trabalho monográfico se fez necessário o

cumprimento de duas etapas: a primeira consistiu em uma revisão da literatura especializada

no trabalho infantil com o objetivo de construir o referencial teórico que embasou este

trabalho. Nesta etapa, buscou-se livros e artigos que contribuíssem com o debate acerca da

pobreza, do trabalho precoce, em consonância com o contexto histórico que envolveu as

discussões e dentro deste campo, o tema central aqui tratado: a existência do trabalho infantil.

Para este último, buscou-se artigos e informações em sites do governo federal, com opiniões

convergentes e divergentes.

A segunda etapa foi destinada para a coleta dos dados secundários. A base de dados

utilizada foi a do Censo Demográfico de 2010 disponibilizado pelo IBGE e que é composto

por informações indicadas para a realização de uma pesquisa de caráter exploratório como a

que se propõe este trabalho. No entanto, vale ressaltar que os dados do Censo não apresentam

o número de crianças que desempenham alguma atividade laboral antes dos 10 anos de idade,

uma vez que sua referência é a População em Idade Ativa (PIA) que, de acordo com a

metodologia usada pelo IBGE, corresponde a população com 10 anos ou mais. Deste modo,

os dados coletados foram organizados em formas de Tabelas e Gráficos.

Ainda, dentro dos procedimentos metodológicos, vale esclarecer que a temática deste

trabalho tomou como espacialidade o estado do Rio Grande do Norte e os dez municípios que

formam a Região Metropolitana de Natal: Ceará-Mirim, Extremoz, Macaíba, Monte Alegre,

Natal, Nísia Floresta, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, São José de Mipibu e Vera

Cruz. A escolha se deu, em primeiro lugar, por contemplar o estado do Rio Grande do Norte,

e em segundo devido essa pesquisa permitir verificar a incidência do trabalho infantil na área

metropolitana onde concentra-se mais da metade da produção do estado (52,6%).

Quanto a temporalidade do trabalho essa se encontra compreendida no ano de 2010,

data da realização do último Censo Demográfico, uma vez que o objetivo deste trabalho é

traçar um panorama da situação ocupacional de crianças e adolescentes que se encontram na

faixa etária entre 10 a 17 anos de idade.

18

A estrutura deste trabalho encontra-se dividida em quatro capítulos e mais duas

seções, incluindo esta introdução e as considerações finais.

No primeiro capítulo, este trabalho busca contextualizar historicamente a questão do

trabalho infantil, tomando-se como ponto de partida a sua evidência, em âmbito mundial,

desde a antiguidade até à implantação do Sistema Capitalista quando marca a transição do

regime de trabalho escravo e servil para o regime de trabalho assalariado. A atuação do

Estado e de Organizações internacionais no combate ao trabalho infantil intensifica-se a partir

do século XX na tentativa de responder as divergências na relação capital-trabalho precoce.

No Brasil, verifica-se que o combate ao trabalho infantil é intensificado a partir da

Constituição Federal de 1988 (CF/1988), que redesenhou um conjunto de intervenções por

parte do Estado.

No segundo capítulo, a temática sobre o trabalho de crianças e adolescentes toma

como ponto de partida as diferentes posições disponibilizadas pela literatura acadêmica,

evidenciando as discussões que abrangem a normatização, o conceito de trabalho infantil,

suas múltiplas causas e consequências. Deste modo, uma análise do conteúdo elaborado por

diversos autores é apresentada com o objetivo de tecer os fundamentos teóricos mostrando as

diversas concepções contemporâneas adotadas como forma de enfrentamento ao trabalho

infantil.

No terceiro capítulo, a temática do trabalho infantil passa a ser o foco principal deste

trabalho. Através dos dados coletados do Censo Demográfico de 2010, busca-se apresentar

um panorama da situação ocupacional do trabalho infanto-juvenil, tomando a espacialidade

do estado do Rio Grande do Norte e a Região Metropolitana de Natal para análise, com

destaque para apresentação dos aspectos relacionados à idade, ao gênero, a situação

socioeconômica de suas famílias, às atividades e ocupações e a escolaridade.

O quarto capítulo apresenta uma sucinta discussão sobre a importância da elaboração

de políticas públicas que combatem o trabalho infantil e destaca a principal delas: o Programa

de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), evidenciando sua atuação no Rio Grande do

Norte, bem como as principais atividades onde foram detectados focos de trabalho infantil

pela fiscalização do Ministério do Trabalho.

Por fim, são feitas importantes considerações, a título de finalização, onde os

principais resultados encontrados, ao longo deste trabalho, a respeito da situação ocupacional

das crianças e adolescentes no estado e na RMN são evidenciados, além de uma breve

descrição da atuação do PETI como política pública para erradicar o trabalho precoce. As

referências bibliográficas terminam a exposição deste trabalho.

19

CAPÍTULO 1 – ASPECTOS DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA SOBRE O TRABALHO

INFANTIL

A exploração da mão de obra infantil não é um fenômeno mundial recente, pelo

contrário, é um mal de profundas raízes históricas, sempre presente e difícil de eliminar.

KASSOUF (2005), em seus estudos, aponta que a inserção de crianças e adolescentes no

mercado de trabalho foi agravado a partir do advento da primeira Revolução Industrial, ainda,

no século XVIII. Este mesmo pensamento está presente na obra de vários historiadores e

teóricos do pensamento econômico, tais como: Hobsbawm, Leo Huberman, Marx, Marshall e

Pigou. Em tom de denúncia esses autores também afirmaram a presença de crianças e de

jovens, com menos de 14 anos de idade, trabalhando nas fábricas e indústrias inglesas e

chamou atenção para os danos que lhes eram causados devido às longas jornadas de trabalho e

aos inúmeros acidentes de trabalho.

Assim, tomando como ponto de partida as raízes históricas do trabalho infantil, cujos

fatores condicionantes estão inseridos no contexto social, econômico e cultural, é que este

trabalho inicia este primeiro capítulo.

1.1 A Incidência do Trabalho Infantil em Âmbito Mundial

Historicamente, verifica-se que na Antiguidade, a mão de obra infantil teve uma

participação assídua durante todo o processo de desenvolvimento das antigas civilizações. No

Egito, Mesopotâmia, Grécia, Roma, Império do Meio (hoje China) e Japão, era notável a

presença de crianças que semeavam e colhiam, realizavam trabalhos artesanais, de carpintaria,

marcenaria e guarda de rebanhos, além de executarem trabalhos em minas, olarias e

embarcações marítimas. (FERREIRA, 2001)

Em todo o período Medieval, também houve relatos de exploração de mão-de-obra

infantil. O trabalho artesanal era realizado pelo mestre artesão e seus aprendizes, geralmente

adolescentes. Enquanto aqueles recebiam salários, estes trabalhavam em troca de comida e

casa. Em meados do século XIV, o sistema feudal que até então era caracterizado pela

produção artesanal doméstica, entra em declínio e passa a ser fabril, onde toda fabricação de

manufaturas começa a ser realizada fora de casa em estabelecimentos do empregador sob uma

rigorosa supervisão.

20

HEYWOOD (2004) menciona que apesar dos exemplos cruéis de exploração do

trabalho infantil, grande parte do trabalho feito pelas crianças no passado era casual e de

pouco esforço, relacionado a tarefas de ajudar os adultos nos seus afazeres. Todavia, o autor

ressalta que há exemplos de ambas as formas de tratamento, das suaves às extenuantes, no

campo e na cidade, antes e após a industrialização.

Como se vê, a utilização da mão de obra infantil não era novidade até a primeira

Revolução Industrial, e, antes ela era realizada como complemento do trabalho dos pais, onde

as crianças trabalhavam em casa, com horários e condições determinadas pelos próprios pais.

Porém após o processo de industrialização, o trabalho infantil passou a fazer parte da base

produtiva do sistema capitalista. Com a chegada das máquinas, elas começaram a trabalhar

nas fábricas, sob a direção de um supervisor cujo emprego dependia da produção que pudesse

arrancar de seus pequenos corpos, com horários e condições estabelecidos pelo dono da

fábrica, ansioso por lucros. (HUBERMAN, 1986)

A literatura acadêmica indica que o ápice do trabalho infantil ganhou força e

proporção no século XVIII, com a primeira Revolução Industrial e a estruturação do regime

econômico capitalista, como citado por KASSOUF (2005):

Apesar de não ter se iniciado na revolução industrial, muitos historiadores apontam

para um agravamento da utilização de mão-de-obra infantil nesta época. Já em 1861

o censo da Inglaterra mostrava que quase 37% dos meninos e 21% das meninas de

10 a 14 anos trabalhavam. (KASSOUF, 2005, p.1)

HUBERMAN (1986) também menciona que já no início da primeira Revolução

Industrial era possível verificar a utilização da mão de obra de mulheres e crianças. Os

capitalistas pagavam os menores salários possíveis e buscavam o máximo de força de trabalho

pelo mínimo necessário para pagá-las. Como mulheres e crianças podiam cuidar das máquinas

e receber menos que os homens, deram-lhes trabalho. A princípio, os donos de fábricas

compravam o trabalho das crianças pobres, nos orfanatos; mais tarde, como os salários dos

pais não eram suficientes para manter a família, também as crianças que tinham casa foram

obrigadas a trabalhar nas fábricas e minas.

Na verdade, os trabalhadores relutavam em trabalhar nas fábricas, apesar dos salários

fabris tendessem a ser mais altos que os da “indústria doméstica”, pois ao fazê-lo as pessoas

perdiam sua independência, o direito com que haviam nascido. Essa era uma das razões pelas

quais se contratavam, de preferência, mulheres e crianças, pois elas eram mais dóceis e mais

baratas.

21

Assim, de acordo com os relatos históricos, em 1838 apenas 23% dos trabalhadores de

fábricas de tecidos eram homens adultos. Esse fato era evidenciado também nos engenhos de

algodão ingleses (1834-1847), onde mais da metade de todos os trabalhadores era composta

por mulheres e meninas, 25% por homens adultos e o restante, rapazes abaixo dos 18 anos.

(HOBSBAWM, 1986)

HEYWOOD (2004) também ressalta que a utilização do trabalho infantil, ao longo da

primeira Revolução Industrial, levou à discussão e formulação de algumas leis. No entanto, a

legislação elaborada para combater a utilização da mão de obra infantil não chegou a proibir

tal tipo de trabalho, mas apenas regulamentá-lo.

A partir do século XIX, o mundo sofreu alterações nas suas relações socioeconômicas

causadas pela atividade industrial crescente, abandonando de vez o sistema feudal, e

tornando-se adepto do capitalismo industrial. A Revolução Industrial causou mudanças em

toda a estrutura familiar, tendo em vista que o artesanato deixou de ser uma atividade

econômica de referência, e as fábricas se expandiram pelas cidades. A mão de obra infanto-

juvenil que já existia no setor agrícola, grande parte migrou para os centros industriais

(LIBERATI; DIAS, 2006).

De acordo com a análise de MARX (1984), teórico do pensamento econômico,

durante a primeira Revolução Industrial a produção inglesa era crescente e por isso era

preciso mão de obra de qualquer espécie para sustentar tal crescimento. Caso fossem

empregados apenas trabalhadores aceitos por lei, o número de pessoas no mercado de trabalho

seria insuficiente para o fervor de indústrias que surgiam na época.

Assim, MARX (1867) relata que com a introdução das máquinas, a necessidade da

força muscular é reduzida, permitindo assim o emprego de trabalhadores mais fracos, porém

com membros mais flexíveis. Dessa forma, enxerga-se a possibilidade do trabalho das

mulheres e crianças. Ele também observa que a redução do tempo necessário de trabalho,

ocasionada pela inserção da máquina, faz com que o empregador, acabe reduzindo o salário

dos trabalhadores, ou seja, o meio de sobrevivência das famílias. Com isso, o trabalhador

(chefe da família) é obrigado a inserir toda a família no mercado de trabalho para compensar a

perda de renda.

O autor ainda destaca:

[...] milhares de braços tornaram-se de súbito necessários. [...] Procuravam-se

principalmente pelos pequenos e ágeis. [...] Muitos, milhares desses pequenos seres

infelizes, de sete a treze ou quatorze anos foram despachados para o norte. O

costume era o mestre (o ladrão de crianças) vesti-los, alimentá-los e alojá-los na casa

de aprendizes junto à fábrica. Foram designados supervisores para lhes vigiar o

trabalho. Era interesse destes feitores de escravos fazerem as crianças trabalhar o

22

máximo possível, pois sua remuneração era proporcional à quantidade de trabalho

que deles podiam extrair. (...) Os lucros dos fabricantes eram enormes, mais isso

apenas aguçava-lhes a voracidade lupina. Começaram então a prática do trabalho

noturno, revezando, sem solução de continuidade, a turma do dia pelo da noite o

grupo diurno ia se estender nas camas ainda quentes que o grupo noturno ainda

acabara de deixar, e vice e versa. Todo mundo diz em Lancashire, que as camas

nunca esfriam. (MARX, 1988, p. 875-876)

Como visto na citação acima, as condições apresentadas nas fábricas durante a

primeira Revolução Industrial eram precárias. Os trabalhadores exerciam suas funções dia e

noite, sem ter nenhum tipo de recompensa a altura. Para os capitalistas, a captação da mão de

obra, principalmente, de crianças e mulheres nas indústrias era necessária, pois o

desenvolvimento do sistema produtivo capitalista dependia disso. MARX (1980) aborda essa

ideia no trecho apresentado, a seguir:

Fica desde logo claro que o trabalhador durante toda a sua existência nada mais é do

que força de trabalho, com todo seu tempo disponível é por natureza e por lei tempo

de trabalho, a ser empregado no próprio aumento do capital. Não tem qualquer

sentido o tempo para educação, para o desenvolvimento intelectual, para preencher

funções sociais, (...). (MARX, 1980, p.300)

Dessa forma, o autor entende que nada era mais importante para os capitalistas que a

força de trabalho empregada para o crescimento da indústria. O fato de crianças e

adolescentes necessitarem de educação para formarem-se cidadãos adultos era ignorado,

tendo em vista que se acreditava que o tempo por inteiro deveria ser utilizado para trabalho.

Ele também descreve as diferentes indústrias existentes na Inglaterra e a maneira como

a exploração do trabalho das crianças era exercida. No trecho a seguir, o autor transcreve o

depoimento de uma criança que exercia atividades em uma indústria de fios:

Lido com fôrmas e faço girar a roda. Chego ao trabalho às 6 da manhã, às vezes às

4. Trabalhei toda a noite passada, indo até às 6 horas da manhã. Não durmo desde a

noite passada. Havia ainda 8 ou 9 garotos que trabalharam durante toda a noite

passada. Todos menos um voltaram essa manhã. Recebo por semana 3 xelins e 6

pence. Nada recebo a mais por trabalhar toda a noite. Na semana passada trabalhei 2

noites (MARX, 1980, p.277).

Além das atividades de fiações, as crianças e adolescentes da Grã Bretanha, durante a

primeira Revolução Industrial, também trabalhavam em tecelagens, confecções, assim como

em atividades de mineração, metalurgia e cerâmica.

Apesar de serem exploradas nas fábricas, as crianças e adolescentes eram vistos pelas

ruas em condições de “desonra para a sociedade”. Como apresentado por LIBERATI e DIAS

(2006) ao citar:

Crianças eram obrigadas a assimilar valores tidos como corretos, com o intuito de se

eliminar males, como a preguiça e a ociosidade, com a finalidade de que jovens de

famílias pobres fossem obrigados a trabalhar, precocemente, em atividades

remuneradas ou não, o que facilitou, em muito, o aumento da exploração desse tipo

de trabalho. (LIBERATI E DIAS, 2006, p.15)

23

Observa-se que, além da necessidade econômica, existia ainda naquela época a

concepção de que as crianças pobres deveriam trabalhar, porque o trabalho as protegia do

crime e da marginalidade, uma vez que o espaço fabril era concebido em oposição ao espaço

de rua, considerado desorganizado e desregulado (ALVIM, 1994).

Na verdade, essa ideia errônea de que o trabalho de crianças as impede da

marginalidade formou-se da necessidade de uma justificativa para a exploração da mão-de-

obra infantil e ganhou solidez sobre bases instituídas pelo interesse dos industriais e a partir

da pobreza da população.

A falta de iniciativas com intuito de proibir a exploração exagerada do trabalho de

crianças e adolescentes unidas com a busca desenfreada pelo lucro durante a primeira e a

segunda Revolução Industrial ocasionou numa degradação física e mental nas crianças da

época. Os trabalhos que elas realizavam eram, geralmente, em ambientes perigosos e

insalubres, acarretando assim, em acidentes de trabalho e problemas de saúde.

Como consequência dessa exploração descontrolada, houve uma alta taxa de

mortalidade infantil no período. De acordo com MARX (1982), na Inglaterra em 1861,

existiam 16 distritos que, de 100.000 crianças, faleciam 9.000 por ano.

A busca por produção e lucro era tão intensa na Inglaterra, que a situação das crianças

e adolescentes era desumana, chegando ao ponto de serem trocados por comida, além dos

castigos aplicados, sem precedentes, extremamente cruéis e carga horária de trabalho

excessivamente elevada em troca de salários baixíssimos, o que acarretava numa menor

quantidade de trabalhadores homens adultos contratados. (NASCIMENTO, 2001)

Foi nesse clima de brutalidade, opressão e desatenção em relação ao trabalho infanto-

juvenil que várias revoltas operárias aconteceram. As primeiras normas trabalhistas não

nasceram da indignação social pela exploração da mão-de-obra infantil. Seu fator mais

importante, na verdade, foi econômico, decorrente do fato de que a exploração das crianças

implicava mão-de-obra mais barata e interessante que a dos trabalhadores adultos, o que

culminou no desemprego destes últimos.

MINHARRO (2003) relata que as primeiras Leis voltadas à proteção do trabalho de

crianças e de adolescente surgiram da necessidade de limitar as vantagens econômicas que a

exploração causava. A autora explica que tais leis surgiram mais das reações de homens

desempregados que se viam impossibilitados de suprir a própria subsistência, do que como

resultado da indignação popular diante da crueldade do trabalho pesado de crianças.

A Igreja Católica também contribuiu para o surgimento das leis de proteção desses

trabalhadores a partir do momento que começou a se interessar pelos abusos cometidos contra

24

as crianças e adolescentes. De acordo com FARIAS (2003, p.56), “a partir da segunda metade

do século XIX, organizações sindicais e associações cristãs reivindicaram condições de

trabalho mais justas e universais. Para tanto, buscaram construir uma legislação trabalhista

uniforme”.

Assim, as regulamentações em relação ao trabalho infantil ocorreram gradativamente,

sendo adotadas medidas por todo o século XIX. Apenas no período de 1819 a 1867 foram

adotadas as Leis de Fábrica (Factory Acts) provendo uma diminuição na jornada de trabalho,

proibição do trabalho noturno e restrição à idade permitida para se trabalhar em alguns tipos

de indústria. A partir desse momento, ações para minimizar a exploração do trabalho infantil

começaram a ser criadas. (LIBERATI, 2006)

1.2 O Surgimento do Trabalho Infantil no Brasil

No Brasil a exploração do trabalho de crianças e adolescentes é um aspecto inerente a

sua formação econômica. Dentro da literatura encontram-se registros desde a época da

colonização, passando por todos os ciclos econômicos. De acordo com PRIORE (2000), o

país tem uma longa história de exploração da mão de obra infantil. As crianças pobres sempre

trabalharam. Neste sentido, no período da Colônia e do Império, elas trabalhavam como

escravas para seus donos. No final do século XIX, a mão de obra infantil era utilizada pelos

grandes proprietários de terras como boias-frias, também eram vistas crianças nas unidades

domésticas de produção artesanal ou agrícola, nas casas de família, e, por fim, nas ruas, para

manterem a si e as suas famílias.

Os primeiros a sofrerem os rigores do trabalho infantil no Brasil foram as crianças

indígenas e negras que, de início, estabeleceu uma estrutura de produção e distribuição de

riqueza fundamentada na desigualdade social. Durante o período em que predominou o

modelo primário-exportador, o trabalho infantil ocorreu sob a forma de trabalho escravo, com

a exploração do trabalho dos filhos dos negros e também dos índios, os quais eram

introduzidos nas atividades produtivas ou domésticas, sendo realizadas junto com seus pais, e,

posteriormente, sob as relações de morada, colonato, etc.

Nesse período, da mão de obra escravocrata, crianças e adolescentes faziam parte da

demanda por escravos no Brasil. O trabalho delas era ainda mais lucrativo que o dos adultos,

pois, como menciona a OIT (2003, p.36), “ocupavam menos espaço nos navios negreiros,

25

demandavam menos comida e água e teriam alguns anos a mais de vida útil antes de sucumbir

à desnutrição, à doença e aos maus tratos”.

Em torno de 1888, com a abolição do regime escravocrata no Brasil, FARIAS (2003,

p.59) afirma que esse acontecimento “desencadeou-se a procura pelo trabalho infantil, em

larga escala. Para substituir o trabalho escravo, fazendeiros recrutavam crianças pobres e órfãs

para a lida no campo”.

Ao longo do processo de industrialização, assim como ocorreu nos países europeus, no

Brasil também verifica-se uma busca desenfreada por mão de obra livre para as recentes

indústrias. Nesse contexto, foi fortalecida e defendida a ideia de que o trabalho durante a

infância moldava o caráter das crianças, tornando-as adultas dignas e trabalhadoras. Isso

acarretou na expansão e desenvolvimento do trabalho infantil, principalmente, nos centros

urbanos. LIBERATI (2006, p.22) destaca:

Assim, o trabalho infantil se expandiu rapidamente no Brasil com o processo de

industrialização do país [...]. E, a exemplo da Europa, os empregadores das

indústrias do Brasil constataram, com a escravidão, que as crianças representavam

mão de obra mais barata, facilmente adaptável e manipulada com extrema destreza,

dada a sua ingenuidade.

É durante esse período que empresários começaram a demandar crianças nas

instituições de caridade para o trabalho nas oficinas e fábricas, com a intenção de “preparar o

trabalhador nacional” (GRUSPUN, 2000:52 apud FARIAS, 2003).

Deste modo, o Brasil recém-industrializado proporcionou uma vida penosa aos

menores da época. Crianças e adolescentes que deveriam se encontrar nas escolas eram vistos

nas fábricas em longas jornadas de trabalho. PRIORE (2000), em sua obra, relata que pelas

pequenas mãos das crianças trabalhadoras em São Paulo eram fabricados alimentos e bebidas,

tecidos e chapéus, cigarros e charutos, vidros e metais, tijolos e móveis, entre uma série de

outros produtos. Porém, junto com essas atividades que elas exerciam, estavam a indiferença

às particularidades e às necessidades da infância e adolescência.

A autora também atenta para o fato de que não só de fábricas vivia a sociedade do

Brasil recém-industrializado. Muitas vezes o emprego informal era a única forma de

subsistência que a família encontrava, como transcrito a seguir:

Além disso, as atividades informais abrigavam muitas crianças e adolescentes, caso,

entre outros, dos menores de ambos os sexos que, sem licença da municipalidade,

vendiam bilhetes de loteria pelas ruas da cidade, dos pequenos engraxates que se

postavam junto às praças e às portas das igrejas, bem como dos pequenos

vendedores de jornais que percorriam as ruas em passo rápido ou pendurados nos

estribos dos bondes. (PRIORE, 2000, p.274)

26

A ampla concentração de crianças nas atividades fabris, fez com que, aos poucos, o

Brasil fosse criando regulamentos com o objetivo de proteger as crianças e adolescentes da

exploração de mão de obra. Somente após as revoltas realizadas pela classe trabalhadora, com

o intuito de reivindicar mudanças devido às péssimas condições as quais eram submetidas,

que, de fato, o Estado iniciou um processo de enfretamento ao exercício laboral do menor

com a finalidade de regulamentar o trabalho infantil.

Em 1912, o IV Congresso Operário Brasileiro decidiu pela criação da Confederação

Brasileira do Trabalho, tendo como um de seus objetivos a diminuição da jornada de trabalho

para mulheres e menores de 14 anos de idade. Porém, somente em 1927 foi promulgado o

Código de Menores, que determinava a idade mínima para o trabalho a de 14 anos, além de

jornada de seis horas diárias e proibição do trabalho noturno.

Em 1937, no período ditatorial do governo de Getúlio Vargas, houve modificação

dessa lei. Foi eliminada a proibição do trabalho para menores de 14 anos em estabelecimentos

onde se empregavam pessoas de uma só família, além do aumento na jornada de trabalho para

oito horas diárias. Entretanto, em 1943, no período seguinte do governo de Vargas, retomou-

se o estabelecido anteriormente, devido à vigência da Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT).

No entanto, acredita-se que somente a partir de 1950, com o início do período de

industrialização conhecido como Plano de Metas e desenvolvido pelo então presidente

Juscelino Kubitscheck, que o número de crianças e adolescentes em situação de trabalho

começaram a reduzir.

Os autores especializados nessa temática discorrem que tiveram dificuldades para

analisar a questão do trabalho infantil, entre as décadas de 1950 e 1990, pois os dados

divulgados pelo IBGE não discriminavam o trabalho infanto-juvenil por faixa etária, renda

familiar, escolaridade, entre outras variáveis.

Assim, somente a partir dos anos de 1990, que os dados relacionados ao tema voltaram

a ser divulgados pelo IBGE. Nessa mesma década, a partir da “Constituição Cidadã”

promulgada em 1988, a temática retorna a agenda do Governo com prioridade absoluta de um

melhor atendimento a criança e ao adolescente, através do lançamento dos alicerces que

foram abordados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em substituição ao antigo

Código de Menores.

A partir desse fato, o trabalho infantil começou, então, a ser questionado e encarado

como um problema público a ser superado. Para tanto, tornou-se necessário elaborar um

arcabouço de Leis e Regulamentos onde não somente o Brasil passou a combater tal prática,

27

mas também as Instituições internacionais como a OIT que implantou uma série de

Resoluções e Recomendações através de Convenções que foram apresentadas aos demais

países, a fim de enfrentar a mão de obra exploratória de crianças e adolescentes.

Sabendo que, ainda hoje, tal atividade continua existindo, incomodando e não fazendo

parte de um contexto natural para o universo das crianças e adolescentes é que esse trabalho

monográfico toma essa problemática como objeto de estudo, a fim de contribuir para sua

erradicação, tendo como base teórica vários estudos, análises e pesquisas já realizadas e que

serão abordadas, a seguir, no próximo capítulo.

28

CAPÍTULO 2 – UMA VISÃO NORMATIVA, CONCEITUAL E TEÓRICA SOBRE A

EXECUÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

2.1 Os Aspectos Legais Implementados para o Enfrentamento ao Trabalho de Crianças

e Adolescentes

Sob o ponto de vista normativo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma

agência multilateral da Organização das Nações Unidas (ONU), nascida em 1919 no Tratado

de Versalhes, é a instituição responsável pela elaboração, supervisão e aplicação das normas

de trabalho que por meio de Convenções, Resoluções e Recomendações torna-se a principal

referência para a regulamentação do trabalho, em âmbito mundial, as quais podem ou não ser

ratificadas pelos países-membros.

Desde sua existência que a OIT empenha-se em abordar questões e buscar soluções

que permitam melhorias nas condições de trabalho mundial, visando à proteção dos

trabalhadores. Contrapondo-se ao trabalho infantil, a OIT assumiu como sendo uma de suas

prioridades ao legislar e regulamentar o trabalho infantil, haja vista compreender que esse tipo

de labor, além de não ser digno e não contribuir para a redução da pobreza, tira das crianças

os seus direitos à saúde, à educação e à própria vida enquanto crianças.

No Brasil a atuação da OIT data da década de 1950 e tem se caracterizado pelo apoio

ao esforço nacional de promoção do trabalho decente em áreas tão importantes como o

combate ao trabalho forçado, ao trabalho infantil e ao tráfico de pessoas para fins de

exploração sexual e comercial, à promoção da igualdade de oportunidades e tratamento de

gênero e raça no trabalho e à promoção de trabalho decente para os jovens, entre outras.

Com relação ao enfretamento ao trabalho infantil as Convenções de números 138 e

182 podem ser destacadas como sendo os principais instrumentos regulatórios do trabalho

infantil. De forma geral, a Convenção nº 138 da OIT (1973) determina a idade mínima para o

trabalho, a qual não deve ser inferior à idade de conclusão da escolaridade de cada país-

membro ou, em qualquer hipótese, não inferior a 15 anos. Estabelece ainda que a idade

mínima para contratação em qualquer tipo de trabalho que possa prejudicar a saúde, a

segurança e a moral do jovem não deve ser inferior a 18 anos.

Já a Convenção de nº 182 da OIT (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.597

de 12/09/2000, determinou quais eram as piores formas de trabalho infantil. De acordo com a

29

Organização Internacional do Trabalho, a expressão “piores formas de trabalho infantil”

compreende:

(a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e

tráfico de crianças, sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado ou compulsório,

inclusive recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em

conflitos armados;

(b) utilização, demanda e oferta de criança para fins de prostituição, produção de

material pornográfico ou espetáculos pornográficos;

(c) utilização, demanda e oferta de criança para atividades ilícitas, particularmente

para a produção e tráfico de drogas conforme definidos nos tratados internacionais

pertinentes;

(d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que são executados,

são susceptíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança (OIT, 1999).

Já a Convenção de nº 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)

estabeleceu, ainda, que cada Estado membro deveria elaborar a descrição dos trabalhos que

por sua natureza ou pelas condições em que são realizados, podem ser prejudiciais à saúde, à

segurança ou à moral das crianças e, portanto, proibi-los.

No Brasil, o aparato legal sobre o trabalho infantil, como país-membro da OIT, segue

em harmonia com as orientações internacionais. Os principais dispositivos nacionais que

regulamentam o trabalho infantil são a Constituição Federal de 1988 (CF/1988) e o Estatuto

da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei Nº 8.069 no dia 13 de julho de 1990.

Em termos de legislação, o art. 227 da Constituição Federal de 1988 determina quais

são os deveres da família, da sociedade e do Estado com relação à criança e ao adolescente ao

dizer que se deve:

Assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à

saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de

colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão. (CF/1988)

Já o art. 7 da CF/1988, no seu inciso XXXIII (alterado pela Emenda nº 20, de 15 de

dezembro de 1998) estabelece como idade mínima de 16 anos para o ingresso no mercado de

trabalho, exceto na condição de aprendiz a partir dos 14 anos de idade.

Por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), resultado de uma ampla

reivindicação por parte dos movimentos populares, advindos da Constituição Federal de 1988,

que buscavam de todas as formas garantir os direitos a todos que pertencem à sociedade, em

especial às crianças, legitima a regulamentação e proteção social para o trabalho infantil.

Os artigos 60 a 69 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tratam da proteção

ao adolescente trabalhador. Assim, o ECA prevê a implementação de um Sistema de Garantia

de Direitos (SGD). Os Conselhos de Direitos, de âmbito nacional, estadual e municipal são os

30

responsáveis pela elaboração das políticas de combate ao trabalho infantil, proteção ao

adolescente trabalhador e pelo controle social. Os Conselhos Tutelares atuam na ação de

combate ao trabalho infantil, cabendo a eles zelar pelos direitos das crianças e adolescentes

em geral, em parceria com o Ministério Público e o Juizado da Infância e da Adolescência.

Vale destacar que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), no seu Título III,

Capítulo IV, “Da Proteção do Trabalho do Menor”, alterada pela Lei da Aprendizagem (Lei nº

10.097 de 19 de dezembro de 2000), também trata do assunto.

Toda essa legislação já mencionada está em sintonia com as atuais disposições da

Convenção dos Direitos da Criança, da Organização das Nações Unidas (ONU), e das

Convenções nº 138 e nº 182, da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Assim, como

todas as demais, são tratados internacionais. Ao serem ratificadas por um Estado membro,

acarretam a adaptação de leis e práticas nacionais sujeitas a um processo de acompanhamento

determinado por procedimentos definidos pela Constituição da OIT. No entanto, a OIT não

tem poderes jurídicos no âmbito nacional. Assim, para que as normas internacionais, as leis e

compromissos nacionais sejam eficazes, é necessário que sejam incorporados na consciência e

comportamento da população.

2.2 A complexidade de definir a dimensão e a natureza do Trabalho Infantil com suas

causas e efeitos

2.2.1 Conceituando o Trabalho Infantil

No âmbito internacional, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera

criança o indivíduo com até 15 anos de idade. O seu sistema normativo estabelece, ainda, que

criança trabalhadora é aquela que faz parte da População Economicamente Ativa (PEA),

trabalhando ou procurando emprego (OIT, 1999).

No Brasil, considera-se como trabalho infantil toda e qualquer atividade realizada por

crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos. Essa é a regra geral no ordenamento

jurídico brasileiro, prevista no artigo 7º, inciso XXXIII da Constituição da República de 1988.

A exceção prevista é o trabalho na condição de aprendiz a partir dos 14 anos de idade. Por se

tratar de uma excepcionalidade, o contrato de aprendizagem requer algumas condições que

asseguram a formação educacional pelo e com o trabalho, evitando que, por meio de um

artifício legal, o trabalho de quem ainda tem menos de 16 anos seja explorado.

31

Embora haja diversos outros dispositivos legais que proíbam o trabalho infantil, como

as Convenções da OIT e a regulamentação do ECA, o combate a este tipo de trabalho é

dificultado devido às inúmeras barreiras conceituais, teóricas e metodológicas existentes.

Segundo SOUZA (2010), tais barreiras ocorrem em:

(...) face à existência de múltiplas situações em que a visibilidade do trabalho

infantil é obscurecida pelos limites imprecisos, e histórica e socialmente

determinados, entre o que é trabalhar e o que significa ‘ajudar’ a família nas

atividades domésticas e em outras atividades econômicas que incorporam o trabalho

de crianças e adolescentes. (SOUZA, 2010, p.274)

Deste modo, o trabalho infantil realizado dentro do domicílio é denominado e aceito

como atividades domésticas. E, portanto, ele não está incluso na análise da categoria de

trabalho, tornando-se assim um aspecto controverso para a conceituação deste tipo de

atividade laboral.

KASSOUF (2005) destaca que no universo familiar, este tipo de labor nem sempre é

visto como algo negativo. Pelo contrário, de forma geral, muitas famílias defendem que a

participação dos filhos nas tarefas domésticas pode ser educativa. A questão é que entre um

nível de participação considerado razoável e educativo e o trabalho excessivo que impede a

frequência escolar ou o rendimento escolar satisfatório da criança, há um limite não muito

claro e difícil de mensurar, já que este tipo de labor acontece no universo privado,

dificultando assim, o acesso as informações e a sua própria identificação.

Com esse mesmo entendimento, SABÓIA (2000) também aborda as dificuldades de

mensuração do trabalho doméstico onde se encontram grande parte das tarefas realizadas, em

geral, por meninas. Em muitos casos, esses afazeres domésticos realizados

predominantemente por meninas são tão árduos que as impedem de estudar. Desta forma, a

execução do trabalho torna-se invisível para o pesquisador que procurar medir o fenômeno,

isso porque ocorrem dentro de suas próprias casas. Além do mais, estando excluído da

legislação, é muito difícil fiscalizar o trabalho infantil realizado dentro da família.

Ainda, de acordo com SABÓIA caracterizam-se as atividades domésticas como:

(...) pessoas ocupadas com afazeres domésticos, àquelas que, independentemente de

estarem ocupadas ou não, costumam cuidar integralmente ou parcialmente dos

afazeres domésticos no seu domicílio de residência de tarefas não econômicas (ou

seja, que não atendam às condições estabelecidas no conceito de trabalho) como, por

exemplo:

a) Arrumar toda ou parte da moradia;

b) Cozinhar ou preparar alimentos, lavar roupa ou louça, passar roupa, utilizando, ou

não, aparelhos eletrodomésticos para executar estas tarefas para si próprias ou para

outro morador;

c) Orientar ou dirigir empregados domésticos na execução das tarefas domésticas;

ou

d) Cuidar de filhos ou menores moradores. (SABÓIA, 2000, p.5)

32

A própria Convenção n°138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que

estabelece a idade mínima para admissão a emprego ou trabalho, especifica em seu art. 5°,

que as disposições deste instrumento normativo não se aplicam a “propriedades familiares e

de pequeno porte que produzam para o consumo local e não empreguem regularmente mão-

de-obra remunerada”. Cabe salientar que a grande maioria das crianças trabalhadoras está no

trabalho agrícola, geralmente em fazendas familiares.

Outro aspecto controverso para conceituar o termo “trabalho infantil” é a definição da

carga horária de trabalho. A OIT recomenda cuidado para que não seja conduzido à

superestimação do fenômeno. Diferenciar o quantitativo de crianças que trabalham um

número reduzido de horas por semana do quantitativo de crianças envolvidas em jornadas

intensas e longas é essencial para a definição do trabalho infantil. Assim:

A OIT diferencia o trabalho de menores e denomina de “child laborer” todas as

crianças com menos de 12 anos exercendo qualquer trabalho e todas as de 12 a 14

anos que trabalham em atividades que não são de risco por 14 horas ou mais na

semana ou uma hora ou mais na semana quando a atividade é de risco (KASSOUF,

2005, p.5).

Nesse sentido, a Convenção n° 182 da OIT assinala algumas atividades que pela

intensidade de degradação física, moral ou psicológica tendem a provocar sérias

consequências nas crianças e adolescentes trabalhadores. Estas atividades são definidas como

as piores formas de trabalho infantil. Sem dúvida, o combate a essas formas de trabalho

devem ter maior destaque nas elaborações de ações de Políticas Públicas e no conjunto das

agendas de enfrentamento às violações de direitos de crianças e adolescentes o que não

implica a aceitação das demais formas.

A definição da idade mínima para admissão a emprego ou trabalho é outro ponto que

causa divergência na análise conceitual do “trabalho infantil”. A Convenção n° 138 da OIT

estabelece que a idade mínima recomendada não deva ser inferior à idade de conclusão da

escolaridade compulsória de cada país-membro ou, em qualquer hipótese, não inferior a 15

anos. Admite também que o Estado-membro cuja economia e condições do ensino não

estiverem suficientemente desenvolvidas, poderá definir, inicialmente, a idade mínima de 14

anos. A Convenção determina, ainda, que a idade mínima para admissão a qualquer tipo de

emprego ou trabalho prejudicial à saúde, segurança e à moral do jovem não deve ser inferior a

18 anos de idade.

Assim sendo, tomando como parâmetros essas Convenções que ditam as orientações

internacionais, o Brasil através do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho

Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente define “trabalho infantil” como sendo

33

qualquer atividade econômica ou de sobrevivência realizada por menores de 16 anos,

excetuando-se a condição de aprendiz a partir dos 14 anos. De acordo com o Plano Nacional

de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil este termo refere-se:

[...] às atividades econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com ou sem

finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por crianças ou adolescentes em

idade inferior a 16 (dezesseis) anos, ressalvada a condição de aprendiz a partir dos

14 (quatorze) anos, independentemente da sua condição ocupacional. Para efeitos de

proteção ao adolescente trabalhador, será considerado todo trabalho desempenhado

por pessoa com idade entre 16 e 18 anos e, na condição de aprendiz, de 14 a 18

anos, conforme definido pela Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de

1998 (BRASIL, 2004, p.9).

A despeito das controvérsias mencionadas, anteriormente, a noção de trabalho infantil

adotada por esse trabalho se refere a todo trabalho realizado por crianças e adolescentes que

estão abaixo da idade mínima (18 anos) legalmente definida para admissão em qualquer setor

do mercado de trabalho.

Deste modo, a análise realizada por esse trabalho tem como objeto de estudo a

situação de crianças na faixa etária entre 10 a 17 anos de idade, incluindo, dessa forma, a

faixa etária correspondente à condição de aprendiz, que, possivelmente, pode compreender

adolescentes em situação de trabalho irregular. Para tanto, toma como base de análise, os

dados divulgados pelo Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatísticas (IBGE).

2.2.2 As múltiplas causas do Trabalho Infantil

Vale salientar que são inúmeras as pesquisas já realizadas dentro da Academia com a

finalidade de entender os motivos que levam crianças e adolescentes a se inserirem no

mercado de trabalho. Tais pesquisas têm indicado diversas razões que levam esse segmento

adentrarem na população economicamente ativa antes da idade permitida por lei. Mas, quase

que unanimemente, a pobreza tem sido apontada como o principal determinante da oferta de

trabalho infantil.

De acordo com GONÇALVES (1997), a pobreza é a base do processo de exploração

da criança, principalmente em trabalhos perigosos e debilitantes. O baixo nível de

rendimentos de muitas famílias, insuficientes para sua própria sobrevivência, pode ser

considerado um fator indutor à alocação do tempo da criança no trabalho, que poderia ser,

alternativamente, distribuído entre o lazer, a escola e o repouso.

Apesar da pobreza ser a variável mais apontada pelos pesquisadores, KASSOUF

(2005) afirma que dentro da literatura acadêmica é o determinante mais controverso. Em um

34

contexto macroeconômico, observa-se que as nações que se tornaram mais ricas apresentaram

uma redução no trabalho infantil. Os autores BASU e TZANNATOS (2003b) ressaltam que

filhos de advogados, médicos, professores e, em geral, da população de classe média alta não

trabalham na infância. Vários estudos mostram que o aumento da renda familiar reduz a

probabilidade de a criança trabalhar e aumenta a de ela estudar (NAGARAJ, 2002;

EDMONDS, 2001; KASSOUF, 2002).

Em contrapartida, há estudos que não conseguiram encontrar uma relação direta entre

renda e trabalho infantil (RAY, 2000; BARROS et al., 1994). Um deles é o de BHALOTRA e

HEADY (2003), o qual mostrou que famílias proprietárias de maiores áreas de terra, tendem a

fazer seus filhos trabalharem mais. Como a posse de áreas maiores de terras tipicamente é

associada a uma maior riqueza, os autores sugerem que maior nível de pobreza não está

relacionado ao aumento do trabalho infantil. A principal razão para esse resultado é que

indivíduos com posse maior de terra têm oportunidade de usar de forma mais produtiva a mão

de obra familiar. Portanto, considerando essa ótica de análise, não significa que pobreza não é

o único determinante do trabalho infantil, mas, sim, que o trabalho infantil responde a

incentivos e oportunidades que surgem com as imperfeições no mercado de trabalho.

Desse modo, outro importante determinante do trabalho infantil, apontado por

KASSOUF (2007) e que está associado ao ciclo da pobreza, é a entrada precoce dos pais no

mercado de trabalho. De acordo com a autora, há estudos que mostram que crianças de pais

que foram trabalhadores na infância têm maior probabilidade de trabalhar. Em um estudo de

EMERSON e SOUZA (2003) eles chegaram à conclusão de que pais que trabalharam quando

crianças tratam com mais naturalidade o trabalho infantil e têm mais propensão a colocarem

os filhos para trabalhar.

Em alguns estudos, a deficiência da educação é apontada também como um dos

fatores determinantes que levam crianças e adolescentes a se inserirem precocemente no

mercado de trabalho. Os autores FERNANDES E MENDONÇA (1999) ressaltaram que a

acessibilidade, qualidade e custos da educação apareceram como fatores relevantes na decisão

familiar ou individual entre escola e trabalho. As autoras também destacaram que os elevados

índices de repetência, como consequência de um ensino de má qualidade acabaram por

expulsar o adolescente da escola, restando-lhe então, apenas, a alternativa do trabalho.

A respeito desse tipo de condicionante, CERVINE e BURGUER (1991) admitem que:

A exclusão da escola consegue, simultaneamente, negar a distribuição mais

igualitária dos valores e legitimar a permanência da desigualdade social, transferindo

para o expulso a responsabilidade por sua situação – incapacidade de cumprir os

requisitos ‘objetivos’ da escola – constituindo-se, desta forma, em um mecanismo de

reprodução social. (CERVINE; BURGUER, 1991, p.18)

35

De acordo com SOUZA (2010), outra causa importante da ocorrência do trabalho

infantil é a que resulta de valores e padrões culturais fortemente impregnados em amplos

segmentos da sociedade brasileira, que aceitam, justificam e ressaltam os benefícios do

trabalho infantil. De acordo com tais interpretações, o autor relata que o trabalho de crianças e

adolescentes:

[...] é visto como um espaço de socialização, valorizado como contraponto aos riscos

que poderiam decorrer da convivência com a rua, com as drogas, com a

marginalidade, e enfatizado como um princípio educativo, responsável pela

disciplina, responsabilidade e experiência necessárias à construção de uma trajetória

profissional. (SOUZA, 2010, p.281)

SOUZA (2010), ainda, afirma que apesar dos avanços ocorridos nas últimas décadas,

ainda prevalecem em alguns segmentos da população opiniões como “o trabalho prepara para

a vida”, “é melhor estar trabalhando do que estar na rua, na droga ou roubando”, dentre outras

frases similares. Tais segmentos defendem concepções como a de que ao trabalho infantil é

atribuída uma possibilidade de controle social, capaz de diminuir os riscos advindos das

“classes perigosas”; e a crença de que o trabalho precoce possa viabilizar, além dos ganhos

imediatos, alternativas de ascensão social que dispensem o necessário investimento na

escolaridade.

Assim, SOUZA (2010) acrescenta a essa visão naturalizada do trabalho infantil, o fato

desse ser visto por muitos, sobretudo no universo dos adolescentes, como possibilidade de

independência em relação à família e de acesso a bens de consumo de massa. Todas essas

questões, portanto, reforçam uma cultura de que “é normal à criança trabalhar”.

Já KASSOUF (2007) cita outros determinantes do trabalho infantil, também

considerados importantes, mas que não são tão utilizados e explorados na literatura acadêmica

existente, tais como: salário, idade e ocupação dos pais, tamanho da propriedade agrícola

onde as crianças trabalham, custos relacionados à escola, medidas de qualidade do

estabelecimento de ensino onde a criança está inserida, além de medidas que reflitam a

infraestrutura da comunidade, como disponibilidade de transporte público, rodovias,

eletrificação, etc.

36

2.2.3 Os principais efeitos do Trabalho Infantil

As consequências que o trabalho infantil traz são nocivas tanto para o indivíduo

quanto para as sociedades nas quais ocorrem sua execução, uma vez que, crianças e

adolescentes são pessoas em situação peculiar de desenvolvimento, cujos resultados são

complexos e provocam no indivíduo danos de caráter físico, psíquico, moral, social e

intelectual.

SOUZA (2010) assinala que o trabalho infantil interdita os direitos básicos da criança,

como educação e lazer, seja por submeter um ser em formação a atividades perigosas, penosas

ou degradantes, seja por interferir na possibilidade destas vivenciarem plenamente a infância,

a fantasia, o ato de brincar, além de afetar sua relação com a escola, o aprendizado e seu

desenvolvimento educacional.

Além dos malefícios que o trabalho precoce gera no desenvolvimento individual da

criança e do adolescente, existe o prejuízo socioeconômico que esta atividade provoca na

sociedade. A maioria dos estudos que analisam as consequências do trabalho infantil,

concordam com a visão de que o trabalho exercido durante a infância impede a aquisição de

uma melhor educação e, consequentemente, de capital humano.

No estudo realizado por KASSOUF (1999), a autora evidencia que, quanto mais

jovem o indivíduo se insere no mercado de trabalho, menor é o seu salário na fase adulta da

vida e essa redução é, em grande parte, devido à perda dos anos de escolaridade em virtude do

trabalho desenvolvido na infância.

Em geral, a literatura acadêmica ressalta que o trabalho infantil traz consequências

negativas à escolarização do indivíduo, porque este dificulta ou até mesmo impede, a

frequência escolar e acarreta a defasagem entre idade e série da criança ou adolescente. A

criança trabalhadora tem maior probabilidade de não frequentar a escola, de apresentar um

baixo rendimento escolar e atingir um nível de escolaridade final menor do que o alcançado

por aquelas que não trabalham. Como resultado, quando se tornam adultos, têm salários mais

baixos do que os indivíduos que começaram a trabalhar mais tarde (FERRO; KASSOUF,

2004).

Ainda, de acordo com KASSOUF (2007), a baixa escolaridade e o pior desempenho

escolar, atribuídos ao trabalho infantil, têm como consequência a limitação das oportunidades

de emprego a postos que não necessitam de qualificação e que são mal remunerados,

mantendo o jovem, assim, dentro de um ciclo de pobreza repetitivo já experimentado pelos

seus pais.

37

Seguindo essa mesma posição, SOUZA (2010) afirma que dificuldades de conjugar o

trabalho com a escola, sobretudo, entre aqueles que estão envolvidos em atividades rurais, o

cansaço e os efeitos negativos de uma longa jornada de trabalho, bem como o desalento

promovido por um sistema de ensino pouco atrativo, desconectado da sua realidade e de baixa

qualidade, concorrem para um desempenho insatisfatório dessas crianças e adolescentes,

evidenciado nas reprovações, na evasão e nas distorções série-idade.

Outra consequência do trabalho realizado na infância é a de piorar o estado de saúde

da pessoa, tanto na fase inicial da vida, quanto na fase adulta. KASSOUF et al. (2001),

mostram que quanto mais cedo o indivíduo começa a trabalhar pior é o seu estado de saúde

em uma fase adulta da vida, mesmo controlando a renda, escolaridade e outros fatores.

O’DONNELL et al. (2003), também concluem que as atividades realizadas durante a infância

aumentam o risco de doenças em uma fase posterior da vida.

Ainda, além dos riscos de saúde, existem os acidentes que frequentemente ocorrem em

locais de trabalho que utilizam equipamentos, móveis, utensílios e métodos que não são

projetados para utilização por crianças, mas, sim, por adultos. Portanto, há a possibilidade de

maior risco de acidentes. Por causa das diferenças físicas, biológicas e anatômicas das

crianças, quando comparadas aos adultos, elas são menos tolerantes a calor, barulho, produtos

químicos, radiações, etc., isto é, menos tolerantes a ocupações de risco, que podem trazer

problemas de saúde e danos irreversíveis.

Diante dos danos apontados, pode-se afirmar que o trabalho infantil não é apenas um

problema para a criança ou adolescente, mas sim um problema social. A criança trabalhadora

não se prepara para o futuro, do ponto de vista físico, intelectual, psicológico. Sua inserção

precoce no mercado de trabalho lhe tira melhores oportunidades de trabalho na fase adulta

devido à falta de qualificação, reproduzindo e aprofundando dessa forma a desigualdade

social existente.

Assim, apesar do Brasil dispor de uma legislação moderna, abrangente e sintonizada

com as normas internacionais, em relação ao trabalho infantil, sabe-se que a existência dessa

legislação não tem sido suficiente para impedir a prática generalizada do trabalho infantil em

todas as regiões e estados do país. Neste sentido, este trabalho em seu próximo capítulo se

volta para elaborar um panorama da situação ocupacional das crianças e adolescentes que

residem no Rio Grande do Norte, evidenciando os municípios que compõem a Região

Metropolitana de Natal.

38

CAPÍTULO 3 UM PANORAMA DO TRABALHO DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES NO RIO GRANDE DO NORTE E NA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL

Nos capítulos anteriores, verificou-se que o trabalho infanto-juvenil aparece desde os

primórdios da História e possui um caráter amplo o que o torna uma questão social bem

complexa. Assim, como já visto no referencial teórico, a utilização da mão de obra precoce

muitas vezes está associada à pobreza, à desigualdade e à exclusão social, embora não esteja

restrito apenas a esses aspectos. Vale salientar que outros fatores de natureza cultural,

econômica e de organização social da produção também respondem pelo seu agravamento.

Ao admitir esse problema, também verificou-se que instituições de âmbito

internacional e nacional têm buscado, em parceria com a sociedade, instrumentos que possam

combater o trabalho precoce em todas as suas formas, principalmente, aquelas consideradas

inaceitáveis por não respeitarem os direitos fundamentais da pessoa humana. Deste modo,

importam nessa abordagem não apenas os números que mostram a inserção precoce das

crianças na força de trabalho, mas também a natureza desse trabalho, em particular pelas

condições em que se realizam e pelos riscos a que os menores estão submetidos ao exercê-lo.

No Brasil há, de forma regionalmente diferenciada, uma cultura de valorização do

trabalho que insere crianças e adolescentes no mercado de trabalho com o objetivo de retirá-

las do ócio e da possível delinquência. Por outro lado, existem fatores vinculados a formas

tradicionais e familiares de organização econômica, em especial na pequena produção

agrícola, que mobilizam o trabalho precoce. Ademais, as oportunidades oferecidas pelo

mercado de trabalho urbano influenciam, sobremodo, a participação das crianças e dos

adolescentes na força de trabalho que, a despeito dos direitos que lhes asseguram o

ordenamento jurídico, elas continuam à margem da rede de proteção, quer na esfera dos

direitos humanos, quer na esfera social e trabalhista.

Partindo deste reconhecimento e sabendo que o trabalho precoce ainda é uma

realidade no Rio Grande do Norte e que a Região Metropolitana de Natal (RMN) responde

por 32,0% do total de crianças que estão em situação de trabalho, é que este capítulo se volta

para traçar um panorama da situação ocupacional, tomando como parâmetro os dados do

Censo Demográfico de 2010 (IBGE), com destaque para apresentação dos aspectos

relacionados à idade, ao gênero, a situação socioeconômica de suas famílias, às atividades e

ocupações e a escolaridade. Entendendo que cada espacialidade possui as suas

especificidades, os mesmos serão analisados, separadamente, a seguir.

39

3.1 A Realidade do Trabalho Infanto-Juvenil no Rio Grande do Norte

Os dados mais recentes do último Censo Demográfico realizado em 2010 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontavam a existência de 478.146

pessoas na faixa etária entre 10 a 17 anos de idade residentes no Rio Grande do Norte. Em

contra posição à legislação trabalhista do Brasil dessa totalidade cerca de 43.304 pessoas

nessa mesma faixa etária encontravam-se em situação de trabalho, ou seja, o equivalente a

9,1% do total de crianças e adolescentes do estado.

Quando comparado o Rio Grande do Norte com os demais estados que compõem a

Região Nordeste, verifica-se que em termos relativos, em 2010, o estado foi o que apresentou

o menor percentual de crianças e adolescentes exercendo algum tipo de ocupação, conforme

apresenta os dados ilustrados pelo Gráfico 1, a seguir.

GRÁFICO 1 – NE: percentual de crianças e adolescentes em situação de trabalho – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

A partir dos dados levantados sobre a incidência do trabalho infanto-juvenil, tomando

a idade como a variável de investigação verificou-se que a relação percentual de crianças e

adolescentes em situação de trabalho amplia conforme a idade aumenta. Assim, a fim de fazer

uma descrição mais ampla das características do trabalho infantil, dividiu-se por faixa etária,

onde passou-se a utilizar os seguintes grupos etários: o primeiro que compreende as idades

entre 10 a 13 anos; o segundo que reúne os que estão na faixa etária de 14 a 15 anos de idade;

e um terceiro que engloba os que se encontram com 16 e 17 anos de idade, conforme expõe os

dados descritos pela Tabela 1, a seguir.

40

TABELA 1 – RN: total de crianças e adolescentes, quantidade e percentual das que se

encontram em situação de trabalho, por grupos etários – 2010

Grupos Etários Quantidade Total

(A)

Quantidade em

Situação de Trabalho

(B)

Relação Percentual

(B/A)

10 a 13 anos 233.300 9.398 4,0%

14 a 15 anos 125.243 11.712 9,4%

16 a 17 anos 119.603 22.194 18,6%

TOTAL 478.146 43.304 9,1%

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Segundo os dados do Censo de 2010, somente no estado do Rio Grande do Norte,

9.398 crianças de 10 a 13 anos, o equivalente a 4,0% do total dos que se encontravam nessa

faixa etária tinham algum tipo de ocupação naquele ano, o mesmo ocorrendo com 11.712

jovens de 14 a 15 anos e 22.194 jovens de 16 a 17 anos, o que correspondiam a 9,4% e a

18,6%, respectivamente. Vale salientar que a faixa etária que compreende as idades de 10 a

13 anos, a Legislação Nacional regida pela CLT não permite a inserção dessa mão de obra no

mercado de trabalho. Já com relação às outras duas faixas etárias, a partir dos 14 anos a Lei

permite o menor, na condição de aprendiz, desenvolver atividades laborais e a partir dos 16

anos a Emenda Nº 20/1998 que alterou o art. 7 no seu inciso XXXIII da CF/1988 estabeleceu

como sendo a idade mínima para ingresso no mercado de trabalho.

Assim, no Rio Grande do Norte é possível observar pelos dados apresentados no

Gráfico 2 que a taxa de participação das crianças e dos adolescentes no mundo do trabalho

por faixa etária, mais da metade se concentravam entre os que tinham 16 e 17 anos, onde

totalizavam 22.194, o equivalente a 51,3% do total. As demais faixas etárias compreendiam,

em termos relativos, a 27,0% (os que se encontravam na idade entre 14 e 15 anos) e a 21,7%

(os que tinham entre 10 a 13 anos de idade).

GRÁFICO 2 – RN: percentual de crianças e adolescentes em situação de trabalho por faixa

etária – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

41

Com relação a caracterização dos ocupados, tomando para análise a variável gênero,

em 2010, conforme apontam os dados do Gráfico 3, verificou-se que a predominância no

trabalho era de crianças e adolescentes do sexo masculino com percentual de 61,9%, sobre o

feminino, que apresentou um percentual de 38,1%, considerando a faixa etária entre 10 a 17

anos de idade. Ao desagregar os dados pelos três grupos etários verificou-se também que em

todos eles existiam uma maior participação de meninos do que de meninas no mercado de

trabalho.

GRÁFICO 3 – RN: percentual do trabalho infantil segundo gênero, por faixa etária – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Ainda, considerando como parte da caracterização do perfil das crianças e dos

adolescentes que se encontravam em situação de trabalho, com relação a cor/raça dos jovens

trabalhadores, constatou-se que no momento da realização do Censo de 2010, no Rio Grande

do Norte, considerando a faixa etária de 10 a 17 anos, o contingente de crianças e

adolescentes ocupados que tinham informado serem pretas ou pardas totalizava naquele ano

26.769, que em termos relativos representava 61,8% do total dos ocupados. Os 38,2%

restantes (16.030 pessoas) tinham se autodeclarados da raça branca.

Verificando a localidade de moradia observou-se que mais da metade das crianças e

adolescentes de 10 a 17 anos que trabalhavam, em 2010, no Rio Grande do Norte residia na

área urbana (64,5%), enquanto que os demais residiam na área rural (35,5%). Quando os

dados foram desagregados pelos grupos etários, verificou-se que os que se encontravam na

faixa etária entre 10 a 13 anos de idade, a distribuição dos que moravam na área urbana e rural

era mais equilibrado, uma vez que o percentual dos que residiam na área urbana era igual a

52,8% e de 47,2% os que tinham domicílios na área rural. Nas outras duas faixas etárias a

predominância das residências era na área urbana, cerca de 62,5% e 70,5%, respectivamente.

42

Tomando como referência a situação socioeconômica das famílias cujas crianças e

adolescentes se encontravam em situação de trabalho, os dados ilustrados pelo Gráfico 4

revelaram uma forte relação entre trabalho e renda. No Rio Grande do Norte a tendência

observada foi quanto maior a renda menor o percentual de menores ocupados. Assim, as

famílias que tinham um rendimento per capita acima de um salário mínimo, o percentual de

crianças e adolescentes que se encontravam em situação de trabalho era o correspondente a

14,8%. Já as famílias com renda per capita declarada no Censo de 2010 menor que um salário

mínimo reunia cerca de 85,2% do total das crianças e dos adolescentes que se encontravam

desempenhando algum tipo de ocupação.

Ao desagregar mais os dados, verificou-se que nas famílias de menor rendimento per

capita onde se concentravam as crianças e adolescentes que exerciam algum tipo de atividade

laboral, observou-se uma distribuição mais equilibrada, uma vez que as famílias que

auferiram como renda até ¼ do salário mínimo respondiam por 26,8% do total do trabalho

infantil, enquanto as famílias que recebiam entre ¼ a ½ salário mínimo reuniam cerca de

29,9% do total de crianças e adolescentes ocupados, e por fim, as famílias que tinham

rendimento per capita entre ½ salário mínimo até o correspondente a um salário mínimo

foram responsáveis por 28,5% do total do trabalho infanto-juvenil no estado.

GRÁFICO 4 – RN: rendimento per capita das famílias com ocupados na faixa etária de 10 a

17 anos – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Como visto, a quantidade total de crianças e adolescentes no Rio Grande do Norte que

em 2010 desempenhava alguma atividade laboral totalizava 43.304 e mais da metade (51,3%)

se encontravam na faixa etária entre 16 e 17 anos de idade. As principais atividades

econômicas desempenhadas por esses menores trabalhadores observados no estado

encontravam-se nos setores agrícola, de comércio e serviços.

43

Assim, no setor agrícola, as atividades que se destacaram foram as de agricultura,

pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, correspondendo a um total de 14.266

pessoas entre 10 e 17 anos, o equivalente a 32,9% das pessoas ocupadas no estado com essa

faixa etária na semana de referência da pesquisa.

Já no setor de comércio e serviços, as atividades que tiveram maior relevância foram

as de reparação de veículos automotores e motocicletas Nesse segmento, a quantidade de

trabalhadores caiu para 10.110, representando 23,3%. Os demais trabalhadores mirins, cerca

de 18.928 englobaram diversas outras atividades que envolveram a indústria, construção,

transporte, serviços domésticos e atividades classificadas pelo IBGE como mal definidas.

Quanto às ocupações, o IBGE considerou a posição que a pessoa ocupava com relação

ao trabalho existente e o empreendimento em que trabalhava. Deste modo, os pequenos

trabalhadores foram distribuídos entre as cinco categorias de posição que ocupavam no

trabalho principal, como: empregados, conta própria e empregadores, não remunerados e

como trabalhadores na produção para o próprio consumo.

Assim, os dados do Gráfico 5 apresentam o percentual por posição na ocupação no

trabalho principal. Os empregados eram os que abrangiam a maior parte dos ocupados,

correspondendo a 50,7% (21.947) das crianças e adolescentes que trabalharam na semana de

referência da coleta dos dados. Entre esses, os que tinham entre 16 e 17 anos de idade

correspondiam a maioria, representando 64,8%.

Os trabalhadores mirins que ocuparam a posição de conta própria ou empregador

corresponderam a 12,6% (5.473) do total dos ocupados. Nesse segmento, predominaram

também os adolescentes com idade mais avançada, ou seja, os que se encontravam com 16 ou

17 anos, correspondendo a 54,4%. Geralmente, as ocupações desses adolescentes se limitaram

ao trabalho próprio como flanelinhas nas ruas e vendedores ambulantes, especialmente, em

festas e transportes públicos.

Já as crianças e os adolescentes ocupados que não foram remunerados, mas que

exerceram algum tipo de trabalho equivaleram a 18,5% (8.006). Entre os não remunerados,

predominaram os trabalhadores infantis de menor faixa etária, ou seja, entre 10 e 13 anos de

idade, correspondendo a 39,6%.

Por fim, a posição de consumo próprio correspondeu a pessoa que trabalhou durante a

semana de referência, pelo menos uma hora completa, em alguma atividade em troca somente

de alimentação. O percentual de crianças e adolescentes que trabalharam para o próprio

consumo foi de 18,2% (7.878) e nessa posição, os trabalhadores mais jovens (10 a 13 anos)

também representaram a maioria (36,1%).

44

GRÁFICO 5 – RN: percentual de ocupados entre 10 a 17 anos por posição na ocupação e

faixa etária – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

A fim de evidenciar ainda mais a exploração da mão de obra, principalmente, dos que

se encontravam na faixa etária de 16 e 17 anos de idade, os dados do Censo de 2010

mostraram que, dentre o total de 22.194 adolescentes cerca de 64,1% (14.219) eram

empregados no trabalho principal. No entanto, os que não tinham carteira de trabalho assinada

correspondiam a 82,2% (11.695) e somente 2.524 (17,8%) tinham carteira de trabalho

assinada. Nas demais ocupações, 2.979 (13,4%) trabalhavam por conta própria, 2.655 (12,0%)

trabalhavam na produção para o próprio consumo e 2.341 (10,5%) não eram remunerados.

Assim, esses adolescentes trabalhavam como adultos, mas não recebiam como tais, colocando

em risco a sua saúde e segurança, a sua educação e o seu futuro.

Além do mais, quando analisada a jornada de trabalho, vide os dados da Tabela 2,

nota-se que a maior parcela dos ocupados trabalhavam em torno de 15 a 39 horas semanais, o

equivalente a 40,9% do total. Percebe-se, ainda, que a maior carga horária de trabalho, que

correspondia a uma jornada de mais de 45 horas semanais, era exercida pelos trabalhadores de

maior faixa etária (16 e 17 anos). De um total de 6.284 mil trabalhando essa quantidade de

horas, 4.261 tinham entre 16 e 17 anos.

Entre os ocupados na faixa etária de 10 a 13 anos de idade para os quais o trabalho é

proibido, a maioria, que correspondia a 40,8%, exerciam jornadas semanais de trabalho que

totalizavam 15 a 39 horas. Os que estavam com 14 ou 15 anos de idade, em geral, também

trabalhavam cerca de 15 a 39 horas e equivaliam a 45,2%. Essa quantidade de horas

trabalhadas também se repete para os trabalhadores entre 16 e 17 anos, porém representando

38,6% dos ocupados.

45

TABELA 2 – RN: ocupados por faixa etária segundo a jornada de trabalho – 2010

Jornada

Semanal de

Trabalho

Faixa Etária

Total 10 a 13 anos 14 a 15 anos 16 a 17 anos

Ocupados % Ocupados % Ocupados % Ocupados %

Até 14 horas 10.759 24,8 3.806 40,5 3.128 26,7 3.825 17,2

15 a 39 horas 17.704 40,9 3.839 40,8 5.288 45,2 8.577 38,6

40 a 44 horas 8.557 19,8 1.067 11,4 1.959 16,7 5.531 24,9

45 horas ou

mais 6.284 14,5 686 7,3 1.337 11,4 4.261 19,2

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Em geral, o trabalho tem um efeito perverso no desenvolvimento educacional da

criança e do adolescente. Este efeito, no entanto, depende da idade, tipo e duração do

trabalho, e pode afetar tanto a presença ou não da criança à escola, como seu aproveitamento.

No Rio Grande do Norte, verificou-se que a proporção de crianças e adolescentes,

entre 10 a 17 anos, que não frequentavam a escola em 2010, foi bem maior entre os ocupados

(20,7%) que entre aqueles que não tinham ocupação (7,5%). Os trabalhadores mirins entre 10

a 13 anos de idade que estavam sem frequentar a escolar correspondiam a 6,5% e os que não

tinham ocupação, apenas 2,4% não frequentavam escola. Para os adolescentes entre 14 e 15

anos de idade, esse percentual era de 13,6% os que não frequentavam escola e trabalhavam

contra 7,3%. Por fim, dentre os que tinham entre 16 e 17 anos e não frequentavam a escola,

30,5% trabalhavam e 19,3% não tinham qualquer tipo de ocupação.

A taxa de analfabetismo é outro indicador na relação de trabalho e escolaridade. No

estado os dados mostraram que entre os menores (10 a 17 anos) ocupados e não ocupados

houve uma variação pequena. Para os ocupados analfabetos, esse índice era de 4,0%. Já entre

os sem ocupação, a taxa aumentou para 5,7%. Entre os trabalhadores de 10 a 13 anos com

alguma ocupação, a taxa de analfabetos foi de 7,3%, entre os sem ocupação, esse índice teve

uma pequena alteração, representando 7,8%. Na faixa etária de 14 e 15 anos de idade, o

percentual de menores trabalhadores sem alfabetização foi de 3,6% contra 3,4% entre os que

não trabalhavam. Já os que possuíam entre 16 e 17 anos, o analfabetismo representava 2,9%

desses jovens trabalhadores e 3,6% dos que não estavam em situação de trabalho.

Assim, uma política eficaz de combate ao trabalho de crianças e adolescentes não pode

colocar seu foco, unicamente, na repressão desta atividade, e sim em criar condições para que

ela seja descontinuada. A principal destas condições é, sem dúvida, a melhoria do sistema

educacional, e a criação de programas de geração de emprego e renda para as famílias.

46

3.2 Análise Descritiva do Trabalho Infanto-Juvenil na Região Metropolitana de Natal

A Região Metropolitana de Natal (RMN), conhecida também como Grande Natal,

apresenta-se como uma das regiões de maior dinamismo econômico do estado do Rio Grande

do Norte. Integrada pelo chamado Núcleo Urbano é composta por dez municípios, a saber: a

capital potiguar, a cidade do Natal, seus dois municípios limítrofes, Parnamirim e São

Gonçalo do Amarante, além dos demais municípios: Ceará Mirim, Extremoz, Macaíba, Monte

Alegre, Nísia Floresta, São José de Mipibu e Vera Cruz.

Criada por meio da Lei Complementar Estadual nº 152 em 1997, a formação da RMN

se deu de forma gradativa. Inicialmente, a RMN compreendia os municípios de Natal,

Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Ceará Mirim, Extremoz e Macaíba. Em 2002, através

da Lei Complementar Estadual nº 221, passaram a integrar a Região os municípios de Nísia

Floresta e São José de Mipibu. Três anos depois, a partir da Lei Complementar Estadual nº

315 foi adicionado o município de Monte Alegre. E, finalmente, em 2009 foi a vez do

município de Vera Cruz juntar-se aos demais municípios potiguares, através da Lei nº

391/2009.

De acordo com os dados do último Censo Demográfico realizado pelo IBGE (2010), a

população da RMN somava 1.351.004 habitantes, o correspondente a 42,6% do total da

população potiguar. Essa forte concentração populacional ocupava uma área territorial de

2.807,563 km2, o equivalente a 5,3% do território estadual e, em 2010 era responsável por

mais da metade da produção do estado, conforme apresenta os dados da Tabela 3, a seguir.

TABELA 3 – RMN: dados da legislação, população, área, PIB e PIB per capita – 2010

Municípios Legislação População Área

Km2

PIB

R$ MIL

PIB Per

Capita

R$ 1,00

Ceará-Mirim LCE 152/97 68.141 724,381 390.635 5.732,75

Extremoz LCE 152/97 24.569 139,575 151.035 6.147,38

Macaíba LCE 152/97 69.467 510,771 843.144 12.137,33

Monte Alegre LCE 315/05 20.685 210,916 106.517 5.149,48

Natal LCE 152/97 803.739 167,263 11.532.080 14.348,04

Nísia Floresta LCE 221/02 23.784 307,841 136.198 5.726,45

Parnamirim LCE 152/97 202.456 123,471 2.376.619 11.738,94

São Gonçalo do Amarante LCE 152/97 87.668 249,124 1.183.243 13.496,86

São José de Mipibu LCE 221/02 39.776 290,331 261.048 6.562,95

Vera Cruz LCE 391/09 10.719 83,890 50.629 4.723,30

TOTAL DA RMN - 1.351.004 2.807,563 17.031.148 12.606,29

RIO GRANDE DO NORTE - 3.168.027 52.811,047 32.338.895 10.207,90

Fonte: IBGE (2010). www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao (Elaboração Própria)

47

Assim, apesar da legislação em vigor procurar proteger o trabalho realizado de forma

ilegal, em todas as regiões metropolitanas do país existem dados que comprovam a existência

do trabalho de crianças e adolescentes. Na RMN esse fato não é diferente, mas também

apresenta um processo social que muitas das vezes obrigam as famílias pobres a utilizar o

trabalho de todos os seus membros como estratégia de sobrevivência. É com esse

reconhecimento que esse trabalho passa a analisar os dados do trabalho infantil publicados

pelo Censo Demográfico de 2010 tomando como referência a espacialidade da RMN.

3.2.1 A Caracterização do Trabalho Infanto-Juvenil na RMN

Analisando a existência do trabalho infanto-juvenil na RMN a partir dos dados do

Censo Demográfico do IBGE realizado em 2010, verifica-se que, naquele ano, existiam na

Região Metropolitana de Natal (RMN) o total de 195.758 crianças e adolescentes que se

encontravam na faixa etária de 10 a 17 anos de idade, o que representava cerca de 40,9% do

total de crianças e adolescentes residentes no estado. Em situação de trabalho, os dados

revelavam que 13.852 dessas crianças e adolescentes desempenhavam algum tipo de atividade

ocupacional, o que representava 7,1%. Quando comparado com a quantidade total de crianças

e adolescentes em situação de trabalho no estado, a RMN é responsável por 32,0% do total da

utilização da mão de obra infanto-juvenil do estado.

Verificando as especificidades de cada município que compõe a RMN observou-se

através dos dados apresentados pela Tabela 4 que o município de Vera Cruz detinha a maior

quantidade relativa de crianças e adolescentes na faixa etária de 10 a 17 anos de idade com

um percentual de 18,3%, o correspondente a 1.966. Dessas, em 2010, a cidade registrava um

percentual que correspondia a 10,5% de crianças e adolescentes desenvolvendo algum tipo de

atividade laboral, equivalente a 207 pessoas. Enquanto, o município de Natal, que por ser a

capital do estado, registrava para essa mesma faixa etária, uma população de 108.696, das

quais 7.823 mil estavam ocupadas, ou seja, um percentual igual a 7,2%.

Outro destaque a ser mencionado, é com relação ao município de Extremoz, que

apesar de registrar uma população aproximada de 4.106 crianças e adolescentes, o que

representava 16,7% do total da sua população residente, apenas cerca de 155 estavam

ocupadas, ou seja, 3,8% representando o menor percentual quando comparado com os demais

municípios que integram a Região Metropolitana de Natal (RMN).

48

TABELA 4 – RMN: população total, quantidade total de crianças e adolescentes e quantidade

das que se encontravam em situação de trabalho – 2010

Municípios

População

Total (hab.)

A

Quantidade

de Crianças e

Adolescentes

B

Quantidade de

Crianças e

Adolescentes em

Situação de

Trabalho

C

Relação

Percentual

B/A

Relação

Percentual

C/B

Ceará-Mirim 68.141 11.661 973 17,1 8,3

Extremoz 24.569 4.106 155 16,7 3,8

Macaíba 69.467 11.514 1.026 16,6 8,9

Monte Alegre 20.685 3.600 345 17,4 9,6

Natal 803.739 108.696 7.823 13,5 7,2

Nísia Floresta 23.784 4.113 244 17,3 5,9

Parnamirim 202.456 28.737 1.757 14,2 6,1

São Gonçalo do

Amarante 87.668 14.327 866 16,3 6,0

São José de

Mipibu 39.776 7.038 456 17,7 6,5

Vera Cruz 10.719 1.966 207 18,3 10,5

TOTAL DA

RMN 1.351.004 195.758 13.852 14,5 7,1

RIO GRANDE

DO NORTE 3.168.027 478.146 43.304 15,1 9,1

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Obs.: Total de Crianças e Adolescentes na faixa etária de 10 anos a 17 anos de idade.

O Gráfico 6, a seguir, ilustra melhor o comportamento da utilização da mão de obra de

crianças e adolescentes nos municípios que compõem a RMN indicando que o menor

percentual apresentado foi em Extremoz com 3,8%, Natal ficou com a sexta colocação com

um percentual de 7,2% e o município que tinha o maior valor relativo era Vera Cruz com um

percentual de 10,5%.

GRÁFICO 6 – RMN: percentual de crianças e adolescentes em situação de trabalho – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Obs.: Total de Crianças e Adolescentes na faixa etária de 10 anos a 17 anos de idade.

49

Partindo da observação dos dados apresentados por faixa etária, pelo Gráfico 7,

verificou-se que, de forma geral, quanto mais elevada a idade, maior a quantidade de crianças

e adolescentes que estavam em situação de trabalho. A exceção a esse comportamento ficou

com o município de Extremoz que não seguiu essa tendência. Em Extremoz, a distribuição

dos trabalhadores infantis entre as três faixas etárias não teve muita discrepância nos dados. A

faixa etária entre 14 e 15 anos apresentou o maior percentual (35,5%) de crianças em situação

de trabalho que quando comparado com os que tinham entre 16 e 17 anos de idade (33,5%).

Por outro lado, Extremoz foi o município que apresentou o maior percentual de crianças entre

10 a 13 anos de idade que se encontravam em situação de trabalho, cerca de 31,0%. Vale

destacar, que em Nísia Floresta, o percentual de ocupados na faixa etária entre 10 a 13 anos, o

correspondente a 21,3%, foi superior aos trabalhadores que se encontravam na faixa etária de

14 e 15 anos de idade, os quais corresponderam a 13,1% dos trabalhadores mirins.

GRÁFICO 7 – RMN: percentual de crianças e adolescentes em situação de trabalho por faixa

etária – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Verificando esses dados, constata-se que mais da metade do trabalho infantil exercido

nos municípios da RMN no ano de 2010 era exercido por pessoas na faixa etária em que o

ECA admite a inserção no mercado de trabalho na condição de aprendiz. Esse fato pode, por

um lado, indicar uma menor gravidade quanto aos impactos causados no indivíduo, porém,

não se pode ter certeza em quais condições esse trabalho era exercido, sobretudo, até que

ponto ele não prejudicava o desempenho escolar do adolescente em situação de trabalho e,

consequentemente, seu futuro e de sua família.

50

Em relação às características de gênero, o Gráfico 8 mostra que a predominância das

crianças e adolescentes ocupados na RMN era do sexo masculino com percentual de 62,8%,

sobre o feminino, com 37,2%. A única exceção a esse comportamento foi verificada no

município de Monte Alegre, onde as crianças e adolescentes que estavam na faixa etária de 10

a 17 anos de idade que trabalhavam, mais da metade era composta por mulheres, ou seja, o

correspondente a 52,2% do total de pessoas ocupadas na semana de referência da pesquisa.

A partir da divisão segundo o sexo, é possível constatar que, de forma geral, a faixa

etária de 16 e 17 anos de idade é a que possui mais jovens ocupados tanto do sexo masculino

como do sexo feminino, porém apresenta comportamento diferente do observado no geral,

onde a maioria dos ocupados nessa faixa etária é composta por meninas. No município de

Extremoz, a maior parte dos trabalhadores infantis do sexo masculino está concentrada na

faixa etária de 14 a 15 anos, representando 39,9% desses. Entre as meninas que trabalhavam,

o município de Macaíba apresentava, em sua maioria, crianças com idade entre 10 e 13 anos,

correspondendo a 36,5%. Já no município de São José de Mipibu, as meninas que tinham

entre 14 e 15 anos de idade constituíam o maior percentual (43,6%) dentre aquelas que

exerciam alguma atividade laboral.

GRÁFICO 8 – RMN: média percentual de ocupados entre 10 a 17 anos segundo sexo, por

grupos etários – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

No Gráfico 9, a seguir, considerou-se duas principais categorias de cor/raça onde as

pessoas se autodeclararam ou informaram no momento da realização da pesquisa do Censo de

2010. Para evitar margem de erro grande e a perda da representatividade no detalhamento das

informações desagregadas, os dados apresentados seguiram a mesma metodologia utilizada

pelo IBGE para os que foram declarados ou se declararam pretos e pardos, sendo classificados

como afrodescendentes e os amarelos e índios foram contabilizados como outros.

51

Diante disso, verificou-se que mais da metade das crianças e adolescentes que

trabalhavam, com idade de 10 a 17 anos, eram negros ou pardos, o correspondente a 67,3%.

As crianças e adolescentes que se declararam da raça branca tiveram um percentual de 32,5%

e apenas 0,3% se enquadraram em “outros”.

GRÁFICO 9 – RMN: média percentual de ocupados entre 10 a 17 anos segundo a cor/raça –

2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Analisando os municípios da RMN, separadamente, conforme os dados da Tabela 5,

observou-se que o contingente de ocupados infantis negros ou pardos são a maioria em todos

eles. No município de Extremoz a taxa de participação das crianças e adolescentes que se

declararam negras ou pardas chegou a 78,4%, revelando assim o maior percentual entre todos

os municípios da RMN. Já em Parnamirim, esse índice cai para 56,8%, representando o

município com o menor índice de mão de obra infantil negra ou parda.

TABELA 5 – RMN: percentual de ocupados entre 10 a 17 anos segundo a cor/raça – 2010

Municípios Brancos (%) Negros ou

Pardos (%) Outros (%)

Ceará-Mirim 28,3 71,2 0,5

Extremoz 21,6 78,4 0,0

Macaíba 29,2 69,9 0,9

Monte Alegre 26,1 73,9 0,0

Natal 38,0 61,5 0,7

Nísia Floresta 30,7 69,3 0,0

Parnamirim 42,6 56,8 1,0

São Gonçalo do

Amarante 32,0 68,0 0,0

São José de Mipibu 41,5 58,5 0,0

Vera Cruz 34,8 65,2 0,0

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

52

Através dos dados do Censo Demográfico também verificou-se que no ano de 2010, a

maioria das crianças e adolescentes ocupados da RMN, entre 10 e 17 anos de idade, residiam

na zona urbana. No entanto, vale salientar que por se tratar de uma análise que toma a RMN

como foco, nesse espaço o trabalho rural tem presença incipiente, se comparado com os

demais municípios do estado.

Os dados da Tabela 6, a seguir, mostram que eram 171.838 crianças e adolescentes na

faixa etária entre 10 a 17 anos de idade morando nos centros urbanos da RMN, onde 11.698

estavam ocupados, ou seja, aproximadamente 6,8% dos menores que viviam na zona urbana

da RMN estavam inseridos no mercado de trabalho.

Analisando as faixas etárias, nota-se que entre os ocupados residentes na área rural, os

trabalhadores mais jovens representavam a maior parte, sobretudo, os que tinham entre 10 a

13 anos de idade, os quais correspondiam a 22,7% dos ocupados nessa faixa etária. Já os com

residência nos centros urbanos, esses, em sua maioria, possuíam entre 16 a 17 anos,

totalizando 7.007 jovens ocupados, o que representava 87,2% dos que estavam ocupados

nessa faixa etária.

TABELA 6 – RMN: crianças e adolescentes de 10 a 17 anos de idade, total e ocupados, por

situação do domicílio – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Grupos de Idade

Quantidade de Crianças e

Adolescentes Residentes

Crianças e Adolescentes

ocupadas na semana de

referência

% Ocupados na

semana de referência

Total Rural Urbana Total Rural Urbana Total Rural Urbana

10 a 13 anos 94.823 11.910 82.913 2.347 532 1.815 2,5 22,7 77,3

14 a 15 anos 51.387 6.059 45.328 3.472 596 2.876 6,8 17,2 82,8

16 a 17 anos 49.548 5.951 43.597 8.033 1.026 7.007 16,2 12,8 87,2

Total 195.758 23.920 171.838 13.852 2.154 11.698 7,1 15,6 84,4

53

3.2.2 Caracterização do Rendimento das Famílias com Crianças e Adolescentes em Situação

de Trabalho

Apesar de não ser a única causa determinante, a pobreza e consequentemente a falta de

acesso a bens e serviços essenciais torna fundamental a participação das crianças e

adolescentes no mercado de trabalho, a fim de contribuir para elevar a renda familiar que na

maior parte das vezes os pais possuem remuneração insuficiente.

Deste modo, a renda produzida pelo trabalho infantil, apesar de baixa, muitas vezes

representa um importante componente no orçamento familiar, tornando uma condição

contundente a inclusão dos menores no mercado de trabalho. Em 2010, na RMN, os dados

apresentados pelo Gráfico 10 revelaram que 76,4% das famílias com ocupados infantis viviam

com rendimento mensal per capita de até 1 salário mínimo. Enquanto as famílias que

recebiam entre 1 a 2 salários mínimos e que tinham crianças e adolescentes em situação de

trabalho, essas representavam 16,2%. Por fim, apenas 7,5% delas tinham rendimentos maiores

que 2 salários mínimos por pessoa.

GRÁFICO 10 – RMN: rendimento familiar per capita das famílias com ocupados de 10 a 17

anos – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Observa-se também uma variação relacionada à faixa de renda domiciliar per capita,

indicando que as famílias com rendas de até 1 salário mínimo por pessoa, possuíam maiores

taxas de ocupação infantil que aquelas com rendas maiores. Observando o Gráfico 10

verifica-se que no grupo das famílias que obtinham entre ½ a 1 salário mínimo per capita, o

percentual das famílias com ocupados entre 10 a 17 anos chegava a 34%.

54

A partir desses dados, pode-se deduzir que a taxa de ocupação infantil é uma escolha

na tentativa de sobrevivência das famílias, dado que, apenas com os baixos salários dos

adultos, não há capacidade de garantir o sustento de todos os seus membros. Esse é um

indício de que as políticas públicas de erradicação do trabalho infantil precisam estar

articuladas com políticas macroeconômicas voltadas para a educação, a qualificação

profissional e, principalmente, para a geração de emprego e valorização da renda para essas

famílias.

3.2.3 Caracterização do Trabalho-Infantil da RMN segundo os principais Setores de Atividade

Econômica e Posição na Ocupação

Em geral, as atividades econômicas exercidas pelas crianças e adolescentes são

predominantemente situadas nos mesmos setores. De acordo com os dados do Censo

Demográfico (2010) e apresentados pela Tabela 7, as principais ocupações dos menores

trabalhadores da RMN localizavam-se no setor não agrícola (88,3%), enquanto o setor

agrícola representava somente 11,7% da mão de obra infantil na região.

Observando a taxa de trabalho infantil por faixa etária no setor agrícola, percebe-se

que tal ocupação ocorria com mais frequência entre os trabalhadores mais jovens (10 a 13

anos). A partir dessa constatação, nota-se que quanto menor a faixa etária, maior era o nível

de ocupação em atividades agrícolas. São 23,2% de ocupados nessa atividade econômica na

RMN para a faixa etária entre 10 a 13 anos, 13,6% para os ocupados entre 14 a 15 anos e

7,5% para a faixa etária entre 16 e 17 anos.

TABELA 7 – RMN: quantidade de ocupados de 10 a 17 anos de idade por atividade – 2010

Grupos de Idade

Ocupados na Semana de Referência

Total

Atividade no Trabalho Principal

Agrícola Não agrícola

Nº Ocupado % Nº Ocupado %

10 a 13 anos 2.348 544 23,2 1.804 76,8

14 a 15 anos 3.472 473 13,6 2.999 86,4

16 a 17 anos 8.032 602 7,5 7.430 92,5

Total 13.852 1.619 11,7 12.233 88,3

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

55

Para analisar a posição que os trabalhadores mirins ocupavam seguiu-se as cinco

categorias que o IBGE classifica para o trabalho principal: empregados, conta própria e

empregadores, não remunerados e como trabalhadores na produção para o próprio consumo.

Na RMN, os dados apresentados pela Tabela 8 mostram que em 2010, as crianças e

adolescentes que trabalhavam ocupavam-se, principalmente, como empregados, o que

constituía mais da metade do trabalho infantil na região, cerca de 65%.

Vale ressaltar que essa situação é a mais comum no país, a maioria das crianças e

adolescentes que trabalham, o faz como assalariados, mas sempre de maneira precária, uma

vez que a atividade quase sempre é irregular. O município de São Gonçalo do Amarante com

o maior percentual (73,6%) de ocupados mirins se destaca na RMN.

Os que exerciam trabalho por conta própria ou eram empregadores correspondiam a

13,9% dos trabalhadores infantis da RMN. Entre os dez municípios, Macaíba expressava o

maior percentual (26,3%) onde a posição ocupada por seus mirins estava em tal condição. Já

no município de Vera Cruz esse percentual foi de apenas 6,8%.

Os trabalhadores infantis não remunerados correspondiam a 15,3% dos ocupados na

RMN. O município de Monte Alegre era o que apresentava a maior taxa percentual nessa

situação, aproximadamente 22,3% e São Gonçalo do Amarante a menor com um percentual

de 3,1%.

Por fim, existiam aqueles que trabalhavam para o próprio consumo, esses equivaliam a

5,8% do total de trabalhadores infantis da RMN. Nessa posição Ceará-Mirim se sobressaía

como o município a exibir o maior percentual, em torno de 21,5% de seus ocupados.

Enquanto, Natal somente 0,7% das crianças e adolescentes que estavam em situação de

trabalho tinham exercido algum tipo de atividade laboral durante a semana de referência, pelo

menos uma hora completa, em troca somente de alimentação.

56

TABELA 8 – RMN: quantidade de crianças e adolescentes de 10 a 17 anos por posição na

ocupação – 2010

10 anos a 17 anos de Idade

Municípios Total Empregados

Conta

própria ou

Empregador

Não

remunerados

Próprio

consumo

Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %

Ceará-Mirim 973 455 46,8 222 22,8 87 8,9 209 21,5

Extremoz 155 72 46,5 38 24,5 33 21,3 12 7,7

Macaíba 1.026 372 36,3 270 26,3 168 16,4 216 21,1

Monte Alegre 345 174 50,4 61 17,7 77 22,3 33 9,6

Natal 7.823 5.464 69,8 927 11,8 1.380 17,6 52 0,7

Nísia Floresta 244 154 63,1 19 7,8 39 16,0 32 13,1

Parnamirim 1.757 1.270 72,3 167 9,5 255 14,5 65 3,7

São Gonçalo do

Amarante 866 637 73,6 111 12,8 27 3,1 91 10,5

São José de

Mipibu 456 257 56,4 98 21,5 36 7,9 65 14,3

Vera Cruz 207 143 69,1 14 6,8 22 10,6 28 13,5

TOTAL 13.852 8.998 65,0 1.927 13,9 2.124 15,3 803 5,8

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Examinando o Gráfico 11 que mostra a média das posições de ocupação, de acordo

com as faixas etárias, verifica-se que entre os trabalhadores infantis classificados como

empregados, predominavam aqueles de maior idade, sobretudo os que tinham entre 16 e 17

anos (60,2%), uma vez que nessa faixa etária o assalariamento é majoritário.

Na posição conta própria também trabalhavam, especialmente, os adolescentes entre

16 e 17 anos, correspondendo a mais da metade do trabalho infantil nessa condição (51,1%).

Esse fato, provavelmente, pode ser explicado pela maior parcela desta faixa etária estar

ocupada no comércio, exercendo atividades autônomas voltadas para o público. Já entre os

não remunerados, a situação se inverte, predominavam os que estavam na menor faixa etária

(10 a 13 anos) com um percentual de 37,3%. Em geral, o trabalho dessas crianças se resumem

ao auxílio na atividade econômica de algum membro da família ou de outro trabalhador.

Os menores ocupados em atividades para o próprio consumo eram também, em sua

maioria, os de menor idade, entre 10 a 13 anos, correspondendo a 49,5% dos trabalhadores

nessa posição. Esses exerciam trabalho na produção de bens destinados somente à

alimentação de, pelo menos, um morador do domicílio.

57

GRÁFICO 11 – RMN: média percentual de ocupados entre 10 a 17 anos por posição na

ocupação e faixa etária

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

A realidade da RMN, em 2010, no que diz respeito à posição de ocupação dos

trabalhadores mirins, evidencia uma situação genérica, onde o trabalhador infantil, com o

aumento da idade, deixa de ajudar seus pais ou responsáveis na contribuição da renda familiar

e passa a ocupar-se em atividades insatisfatórias que lhes possibilitam uma independência

financeira momentânea. Esses adolescentes se sujeitam a baixos salários e se tornam, no

futuro, profissionais sem qualificação e impossibilitados de exigir seus direitos como

trabalhadores. Esse processo é caracterizado como a troca da mão de obra adulta pela mão de

obra infantil, sendo esse irregular e barata.

Outra situação preocupante é a quantidade de horas trabalhadas por crianças e

adolescentes. A partir dos dados da Tabela 9 que apresenta a quantidade de horas trabalhadas

semanalmente, verifica-se que a jornada de trabalho exercida pelos menores entre 10 a 17

anos em ocupação na RMN era, em média, de 15 a 39 horas semanais, chegando a representar

37,6% dos jovens que exerciam algum tipo de trabalho nessa faixa etária. Os que trabalhavam

até 14 horas semanalmente somavam 3.541, o equivalente a 25,6% dos ocupados.

Em 2010, na RMN, mais de um terço das crianças e adolescentes que trabalhavam

tinham uma jornada semanal de trabalho superior a 40 horas, ou seja, um percentual bem

expressivo de ocupados infantis cumprindo uma carga horária semanal de trabalho semelhante

à dos adultos. Dentre esses jovens trabalhadores, mais da metade, que correspondia 19,5% do

total de ocupados infantis, exerciam jornadas entre 40 a 44 horas. E os que tinham uma

jornada de trabalho de mais de 45 horas totalizavam 2.407 mil, o que correspondia a 17,4% do

total dos ocupados.

58

TABELA 9 – RMN: ocupados de 10 a 17 anos segundo a jornada de trabalho – 2010

Municípios 10 a 17 anos

Total

Jornada Semanal de Trabalho

Até 14 horas 15 a 39 horas 40 a 44 horas 45 horas ou

mais

Nº % Nº % Nº % Nº %

Ceará-Mirim 973 158 16,2 377 38,7 187 19,2 251 25,8

Extremoz 155 32 20,6 56 36,1 34 21,9 33 21,3

Macaíba 1.026 327 31,9 429 41,8 121 11,8 149 14,5

Monte Alegre 345 145 42,0 103 29,9 58 16,8 39 11,3

Natal 7.823 1.985 25,4 2.997 38,3 1.476 18,9 1.365 17,4

Nísia Floresta 244 60 24,6 99 40,6 52 21,3 33 13,5

Parnamirim 1.757 415 23,6 685 39,0 368 20,9 289 16,4

São Gonçalo do

Amarante 866 253 29,2 199 23,0 272 31,4 142 16,4

São José de Mipibu 456 135 29,6 133 29,2 95 20,8 93 20,4

Vera Cruz 207 31 15,0 129 62,3 34 16,4 13 6,3

TOTAL 13.852 3.541 25,6 5.207 37,6 2.697 19,5 2.407 17,4

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Como se vê, essas excessivas jornadas de trabalho, combinadas à precariedade das

atividades, contribuem consideravelmente para a ocupação de boa parte do tempo, o que

acaba prejudicando a evolução dessas crianças e adolescentes na escola, contribuindo para

haver maiores taxas de evasão escolar e de analfabetismo, tema do próximo subitem.

3.2.4 Caracterização do Trabalho-Infantil segundo o Nível Educacional

O trabalho infantil traz consequências negativas à escolarização do indivíduo porque

este dificulta, quando não impossibilita, a frequência escolar. A criança ou adolescente que

trabalha tem maior probabilidade de não frequentar a escola devido a ocupação do seu tempo

com a atividade que exerce.

Por isso, existe grande preocupação com relação ao trabalho precoce e seus efeitos

desfavoráveis à escolaridade, pois certas atividades podem impedir completamente a

frequência escolar, gerando, assim, um contexto incerto em relação ao futuro dessas crianças

e adolescentes, visto que sem a escolaridade devida, elas continuarão analfabetas ou lhes

faltarão qualificações para obter melhor trabalho no futuro e, dessa forma, aumento de renda.

Examinando as particularidades de cada município através dos dados que os Gráficos

12 e 13 apresentam, observa-se que entre os ocupados com idade entre 10 a 17 anos residentes

na RMN e que não frequentavam a escola, mais da metade residiam em Natal, representando

57,5% deles. A capital liderava tal tendência de evasão escolar entre os trabalhadores infantis

59

da RMN em todas as faixas etárias, chegando a quase 60% dos que não iam à escola na faixa

de idade entre 14 e 15 anos, vide Gráfico 13.

GRÁFICO 12 – RMN: percentual de ocupados na faixa etária de 10 a 17 anos que

frequentavam ou não à escola – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Dentre os que tinham entre 10 a 13 anos, os municípios de Macaíba, Monte Alegre,

São José de Mipibu e Vera Cruz não apresentavam qualquer trabalhador nessa faixa etária em

situação de evasão escolar. Já Extremoz estava entre os municípios com maiores taxas de

trabalhadores infantis sem frequência escolar, correspondendo a um percentual de 8,5%.

A partir da observação do Gráfico 13, é possível também constatar que, nessa faixa

etária, dos dez municípios que compõem a RMN, em cinco deles, ou seja, metade, o

percentual de ocupados com evasão escolar tinha maior representatividade do que entre

aqueles que trabalhavam e frequentavam a escola, são eles: Extremoz, Natal, Nísia Floresta,

Parnamirim e São Gonçalo do Amarante.

No município de Extremoz, os que tinham entre 10 a 13 anos abrangiam 8,5% dos

ocupados da RMN que não iam à escola. Já na faixa etária de 14 a 15 anos não foi

contabilizado qualquer ocupado sem frequentar a escola, ou seja, todos que trabalhavam,

também estudavam. Tal fato se repete no município de Vera Cruz, onde também 100% dos

que estavam nessa faixa etária trabalhavam e frequentavam a escola.

60

Na maior faixa etária entre 16 e 17 anos, verifica-se que em Nísia Floresta a

quantidade de ocupados com frequência escolar era um pouco maior (1,9%) que os que não

frequentavam a escola (1,7%). Tal fato não ocorreu entre os mais jovens, onde a maioria dos

ocupados nas faixas etárias entre 10 a 13 anos e 14 a 15 anos não frequentavam a escola.

GRÁFICO 13 – RMN: percentual de ocupados por faixa etária que frequentavam ou não à

escola – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

No que diz respeito à quantidade de analfabetos infantis na RMN, de acordo com os

dados do Gráfico 14, observa-se que em todos os dez municípios, aqueles que não

trabalhavam e eram analfabetos representavam maior percentual em relação aos que estavam

ocupados. O município de Monte Alegre foi o que manifestou maior taxa de crianças e

adolescentes analfabetos em situação de trabalho se comparado ao restante dos municípios da

RMN, expressando uma porcentagem de 8,2%. Já São Gonçalo do Amarante, esse tinha o

menor percentual dentre todos (3,0%), e, consequentemente, maior quantidade de analfabetos

infantis desocupados, equivalendo a 97% dos sem alfabetização no município.

61

Os municípios de Nísia Floresta e Parnamirim situavam-se no mesmo nível percentual,

ambos exibiam uma taxa de 4,5% de analfabetos que exerciam atividade e 95,5% dos que não

trabalhavam.

GRÁFICO 14 – RMN: percentual de analfabetos ocupados e sem ocupação – 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. (Elaboração Própria)

Portanto, os resultados encontrados, aqui neste capítulo, revelaram que as principais

características das crianças e dos adolescentes que estavam em situação de trabalho eram

basicamente as mesmas para o estado do Rio Grande do Norte, bem como para os que

residiam na Região Metropolitana de Natal. Sintetizando, pode-se afirmar que o trabalho

infantil era exercido, em sua maioria, por meninos que estavam na faixa etária entre 16 e 17

anos de idade, tinham ser declarados da raça negra ou pardos, residiam na zona urbana,

exerciam atividades classificadas como não-agrícolas na posição de empregados, em geral,

com uma jornada de trabalho entre 15 a 39 horas semanais e não frequentavam a escola.

Assim, os esforços voltados para o enfretamento do trabalho infantil devem ser

focalizados e voltados para as famílias que se encontram inseridas nas características descritas

acima, podendo as ações serem aplicadas nas duas espacialidades. Dentre as diversas

iniciativas do Governo destinadas a enfrentar essa questão, este trabalho destaca no próximo

capítulo a atuação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).

62

CAPÍTULO 4 UMA VISÃO GERAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS

PARA O COMBATE AO TRABALHO DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

4.1 Políticas Públicas relacionadas ao Enfrentamento do Trabalho Infantil

No Brasil, um conjunto de programas e atividades que norteiam as ações voltadas para

a erradicação do trabalho de crianças e adolescentes têm avançado, principalmente, a partir da

década de 1990. As principais ações implementadas de prevenção e erradicação do trabalho

infantil vão desde a proibição legal, até aos programas de transferência de renda e incentivo à

educação, tendo a cooperação de vários agentes partícipes que realizam inúmeras ações. Vale

destacar que não se tem a pretensão de abarcar todos, porém, somente alguns deles serão

abordados, uma vez que não é o objetivo deste trabalho.

Em virtude da magnitude do trabalho infantil, ainda, existente no Brasil, SOUZA

(2010) ressalta que tal problema exige a estruturação de uma política pública projetada pela

União, mas com participação efetiva dos estados e municípios, de modo a garantir a

implementação efetiva de uma Política Nacional de Combate ao Trabalho Infantil.

Dessa forma, em âmbito nacional, cabe mencionar a criação do Fórum Nacional de

Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), em 1994, com o apoio do UNICEF e

da OIT, constituído, atualmente, por 73 entidades, dentre elas: representantes do governo, dos

trabalhadores, dos empresários, ONGs, Fóruns Estaduais de Erradicação do Trabalho Infantil,

Procuradoria Geral da República e Ministério Público do Trabalho. A criação do FNPETI

teve a finalidade de viabilizar um espaço de articulação e mobilização dos atores sociais

institucionais relacionados com políticas e programas destinados a prevenir e erradicar o

trabalho infantil no país.

Desde então, o governo federal vem se comprometendo com a prevenção e

erradicação do trabalho infantil, por meio do desenvolvimento e aplicação da legislação e por

ações desenvolvidas pelo poder executivo. Para tanto, por intermédio de programas como

Sentinela e PETI ações de prevenção e erradicação vem sendo executadas em todo o país.

Em 2000, o PETI estabeleceu parceria junto ao Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE), por meio de um Termo de Cooperação Técnica. Essa ação teve como finalidade

implementar ações voltadas à erradicação do trabalho infantil. Assim. esse Termo prevê que,

uma vez identificada, nas fiscalizações realizadas pelo MTE, a existência de crianças e

adolescentes em situação de trabalho precoce, estas terão prioridade de ingresso no PETI.

63

Assim, coube ao MTE a competência de mapear os focos de trabalho infantil no

Brasil. Como forma de aprimorar as ações de políticas públicas, nessa área, o MTE instituiu a

Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (CONAETI) que, em 2003, sua

primeira atribuição foi a elaboração de uma proposta de Plano Nacional de Prevenção e

Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente. Nessa proposta

buscou-se priorizar dez dimensões estratégicas, foram elas:

• Promoção de estudos e pesquisas, integração, sistematização e análise de dados

sobre todas as formas de trabalho infantil;

• Análise do arcabouço jurídico relativo a todas as formas de trabalho infanto-

juvenil;

• Monitoramento, avaliação, controle social e fiscalização para a prevenção e

erradicação do trabalho infantil;

• Garantia de uma escola pública e de qualidade para todas as crianças e

adolescentes;

• Implementação de ações integradas de saúde;

• Promoção de ações integradas de comunicação;

• Promoção e fortalecimento da família, na perspectiva da sua emancipação e

inclusão social;

• Garantia da consideração da equidade e da diversidade;

• Enfrentamento das formas específicas de trabalho infantil (crianças envolvidas em

atividades ilícitas, no trabalho infantil doméstico e nas atividades informais das

zonas urbanas);

• Promoção de uma articulação institucional quadripartite.

No âmbito da sociedade civil organizada podem ser mencionadas inúmeras

organizações não governamentais que desenvolvem importantes ações, tais como: a Agência

de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), Cáritas Diocesana, Fórum Nacional dos Direitos

da Criança – Fórum DCA, Fórum Nacional Lixo e Cidadania, Instituto Ayrton Senna,

Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), Instituto de Estudos

Socioeconômicos (INESC), Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR),

Missão Criança e Movimento de Organização Comunitária (MOC), entre outras.

Na literatura sobre a temática, vale destacar o pensamento de KASSOUF (2007) ao

afirmar que qualquer política pública que desenvolva o funcionamento do mercado, de tal

maneira que a renda dos trabalhadores adultos aumente, diminuindo consequentemente o

desemprego, é sempre favorável à redução do trabalho infantil, pois espera-se que os pais

tendo renda suficiente para o sustento da família retirarão os filhos do trabalho, colocando-os

na escola.

64

Tal posicionamento de KASSOUF (2007) reflete a visão defendida pela maior parte

das políticas públicas brasileiras que têm como objetivo o combate ao trabalho infantil, onde

as ações são embasadas no pressuposto de que as crianças que trabalham são de famílias

pobres, por isso, necessitam complementar a renda dos pais. Assim sendo, a criação de tais

políticas busca minimizar as diferenças entre pobres e não pobres.

Neste sentido, KASSOUF (2002) também defende que o cumprimento da legislação

do salário mínimo já colaboraria no combate ao trabalho infantil, posto que a demanda por

esse tipo de mão de obra (considerada menos produtiva que a de adultos) seria reduzida, e a

demanda por trabalho adulto aumentada, elevando a renda da família. Porém, essa política

poderia ter o efeito impiedoso de diminuir o bem-estar de crianças de famílias com número

pequeno de adultos ou que têm o chefe ausente.

Já os autores MEDICI E BRAGA (1993, p.33) argumentam que quando a questão

social atinge elevadas proporções, as políticas públicas sociais compensatórias não devem ser

a única forma de enfrentamento do problema, pois o “caráter imediatista ou emergencial não

promove o advento de soluções de mudança estrutural na condição social de seus

beneficiários imediatos”.

Sem dúvida, o combate ao trabalho infantil não pode limitar-se ao emergencial. É

necessário o enfrentamento, de fato, das motivações de ordem econômica, política e cultural

que estão subordinadas ao problema e à sua persistência. Contudo, não se podem ignorar

investimentos, projetos e sonhos de trabalhadores/as adultos/as e infantis para superar a

brutalização imposta pela pobreza. (MARIN, 2012)

Já BASU (1999) atenta para o fato da importância da escola na vida das meninas e

meninos trabalhadores defendendo que a melhor maneira de banir o trabalho infantil é

monitorar a frequência escolar que é obrigatória, pois a presença na escola é facilmente

controlada, já a ausência no trabalho não. Mesmo que escola e trabalho não sejam

mutuamente excludentes, o autor argumenta que pelo menos o trabalho em tempo integral

será extinto e o nível escolar obtido será maior, o que é obviamente desejável.

A partir desse argumento, depreende-se que políticas públicas capazes de combinar

educação e renda parecem ser as mais sugeridas e aceitas pelos estudiosos da área para

erradicação do trabalho infantil e combate à pobreza, tendo em vista que adultos com maior

escolarização tendem a dar mais relevância à educação, enxergando nela a oportunidade de

um futuro melhor para suas crianças, incentivando-as a frequentar a escola. Dessa forma, o

empenho escolar das crianças, geraria, no futuro, adultos com maior nível de escolarização, e

65

estes por sua vez, incentivariam seus filhos, contribuindo assim, para uma mudança de caráter

estrutural nessa parcela da população.

Ao contrário das análises favoráveis em relação à eficácia das políticas públicas de

incentivo à frequência escolar como forma de eliminação do trabalho de crianças e

adolescentes, as políticas públicas que penalizam o empregador que produz mercadorias

utilizando mão de obra infantil têm sua efetividade questionada. De acordo com KASSOUF

(2007), estudos mostram que tal fato mais prejudica a criança do que a ajuda, tendo em vista

que pode exacerbar a pobreza nas famílias ao proibir o trabalho de crianças que buscam obter

renda para sobreviver.

Entende-se que não existe uma única política pública para eliminar o trabalho infantil

e a persistência desse problema é uma forte evidência de que ele não pode ser facilmente

solucionado. Contudo, o maior conhecimento adquirido sobre as causas e efeitos do trabalho

precoce possibilita com maior segurança a avaliação e sugestão de políticas públicas para

reduzi-lo ou erradica-lo. Indubitavelmente, o trabalho que oferece risco às crianças ou

adolescentes deve ser extinto, assim como devem ser incentivados os investimentos na

qualidade do ensino escolar.

Vale lembrar que o Brasil firmou compromisso, diante de toda a comunidade

internacional, em reduzir as piores formas de trabalho infantil até 2015, próximo ano, e

extinguir por completo todo o trabalho infantil até 2020. (OIT, 2006) Dessa forma, a

implementação de inúmeras ações dirigidas à prevenção e erradicação do trabalho infantil

vem alcançando relativo sucesso, conforme já visto no capítulo anterior, quando foi feito um

panorama com os dados do Censo Demográfico de 2010, e verificada que houve uma

diminuição do trabalho infantil.

É bem verdade que este decréscimo pode ser explicado por diversos fatores causadores

como: o crescimento econômico, a estabilização monetária e a elevação real do salário

mínimo. No entanto, a redução do trabalho infantil estabelece uma conexão que merece

destaque: o PETI teve papel fundamental para a diminuição dos índices de trabalho precoce

no Brasil. Assim, no próximo subitem este trabalho se volta a examinar o programa,

relacionando os dados do PETI com as informações sobre as variações quantitativas de

crianças e adolescentes inseridos no trabalho infantil, no estado do Rio Grande do Norte e na

Região Metropolitana de Natal, a fim de aferir sua atuação.

66

4.2 Atuação do PETI para Combater o Trabalho Infantil

Dentre as diversas iniciativas e políticas públicas no Brasil destinadas a enfrentar a

questão do trabalho infantil, destaca-se o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

(PETI). Criado pelo governo federal em 1996, em articulação com estados e municípios, ele é

destinado a atender crianças e adolescentes em situação de trabalho.

Deste modo, o PETI engloba um conjunto de ações para:

Retirar crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos da prática do trabalho

precoce, exceto quando na condição de aprendiz, a partir de 14 anos. O programa

compreende transferência de renda, prioritariamente por meio do PBF, -

acompanhamento familiar e oferta de serviços socioassistenciais, atuando de forma

articulada com estados e municípios e com a participação da sociedade civil

(BRASIL/MDS, 2013).

Inicialmente, o Programa foi implantado em maio de 1996, em Mato Grosso do Sul,

onde denúncias encaminhadas ao FNPETI apontavam a existência de 2.500 crianças

trabalhando na produção de carvão vegetal e vivendo em condições inaceitáveis.

Posteriormente, o programa se estendeu aos estados de Pernambuco e da Bahia, privilegiando,

respectivamente, a zona canavieira e a região do sisal.

A partir de então, o PETI se expandiu significativamente, priorizando as áreas que

utilizam o trabalho infantil em larga escala e em condições especialmente intoleráveis. De

acordo com CARVALHO (2004) no final de 1999 o programa já atendia mais de 145 mil

crianças e adolescentes, chegando em 2000 a atender aproximadamente cerca de 395 mil

menores em todo o país. Em 2001, o número de crianças e adolescentes atendidos cresceu

89,7% totalizando mais de 749 mil e, em 2002, esse número chegou a 809.228, beneficiando

2.590 municípios em todos os estados da Federação.

Ainda, sobre o PETI pode-se afirmar:

Apesar do programa visar à retirada das crianças e dos adolescentes do trabalho

perigoso, penoso, insalubre e degradante, o alvo de atenção é a família, que deve ser

trabalhada por meio de ações socioeducativas e de geração de trabalho e renda que

contribuam para o seu processo de emancipação, para a sua promoção e inclusão

social, tornando-as protagonistas de seu próprio desenvolvimento social

(BRASIL/MDS, 2004, p.4).

Neste sentido, o PETI tem como foco a família mais acometida pela pobreza e

exclusão social e destina-se a crianças e adolescentes com idade entre 6 a 15 anos, submetidas

às mais variadas formas degradantes de trabalho. O programa compreende transferência de

renda, ou seja, atende famílias cadastradas no Programa Bolsa Família (PBF), ao qual foi

integrado desde 2005 quando foi publicada no Diário Oficial da União a Portaria n.º 666 de

28 de dezembro de 2005.

67

A integração do PETI com o PBF trouxe modificações significativas que

racionalizaram e aprimoraram a gestão de ambos os programas, incrementando a

intersetorialidade e o potencial das ações, ao se evitar a fragmentação e a sobreposição de

esforços e de recursos. Houve um aperfeiçoamento dos processos de gestão dos programas,

melhora dos instrumentos de financiamento, monitoramento e avaliação, viabilização à

melhor aplicação dos recursos do PETI e ampliação da cobertura quanto ao número de

famílias beneficiadas com a transferência de renda.

Essa integração possibilitou ainda a ampliação da faixa etária para crianças e

adolescentes com até 16 anos; ampliou o foco de atendimento para todas as formas de

trabalho infantil registrados no Cadúnico1, a extensão da oferta do Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos (SCFV) para todas as crianças e adolescentes de famílias

inseridas no PBF com marcação de trabalho infantil e o acompanhamento dessas famílias pelo

PAIF/CRAS2. (BRASIL/MDS, 2014.)

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), o qual também é

conhecido como Jornada Ampliada, tem como objetivo a constituição de espaço de

convivência, formação para a participação e cidadania, desenvolvimento do protagonismo e

da autonomia das crianças e adolescentes, a partir dos interesses, das demandas e das

potencialidades dessa faixa etária.

Ele estabelece que as intervenções devam ser pautadas em experiências lúdicas,

culturais e esportivas como formas de expressão, interação, aprendizagem, sociabilidade e

proteção social. O Serviço deve incluir crianças e adolescentes com deficiência, retirados do

trabalho infantil ou submetidos a outras violações de direitos. Aos usuários, deve oferecer

atividades que contribuam para ressignificar vivências de isolamento e de violação dos

direitos, propiciando experiências favorecedoras do desenvolvimento de sociabilidades e

atuando no sentido preventivo de situações de risco social (BRASIL/MDS, 2014.)

Quanto às exigências da permanência das famílias no programa, são estabelecidas as

seguintes condições: todos os filhos com menos de 16 anos devem estar preservados de

qualquer forma de trabalho infantil; a criança e/ou adolescente participante do PETI deve ter

frequência escolar mínima de 85% e o mesmo percentual de frequência nas atividades

desenvolvidas na Jornada Ampliada; as famílias beneficiadas devem participar das atividades

socioeducativas e dos programas e projetos de geração de emprego e renda ofertados; e

garantir o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil, da vacinação, bem

1 Instrumento que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda. 2 Equipamento social público capaz de garantir a atenção integral às famílias em determinado território.

68

como da vigilância alimentar e nutricional de seus filhos menores de sete anos. O tempo de

permanência no programa é determinado pela idade da criança e do adolescente, sendo

também critério para desligamento a conquista da emancipação financeira da família.

(BRASIL/MPAS, 2002)

Em 2010, as crianças e adolescentes que participavam do programa, obrigatoriamente,

precisavam estar frequentando a Jornada Ampliada. Hoje, conforme disposto na Portaria

MDS nº134 de 28/11/2013, a frequência no SCFV não é mais condicionalidade para o

recebimento dos benefícios de transferência de renda do Programa Bolsa Família e da Bolsa

PETI, pois o termo “frequência” foi substituído por “participação”, tendo em vista que cada

usuário tem uma necessidade específica de participação no Serviço, e a mesma deve ser

voluntária.

Mesmo assim, é importante destacar as ações de trabalho que são realizadas na

Jornada Ampliada. Elas se desenvolvem em dois núcleos: o básico e o específico. O núcleo

básico busca o enriquecimento do conhecimento, além do universo lúdico e cultural de

crianças e adolescentes através das atividades complementares, destacando aquelas voltadas à

comunicação, à sociabilidade, às trocas culturais, ao apoio à criança e ao adolescente,

fortalecendo a autoestima, em estreita relação com a comunidade, escola e família.

Já o núcleo específico é voltado para o desenvolvimento de atividades artísticas, de

aprendizagem e desportivas, tais como: atividades artísticas nas suas mais diversas

linguagens, favorecendo a socialização e preenchendo as necessidades de expressão. Além

das práticas desportivas que favorecem o autoconhecimento corporal, o acesso ao lúdico e à

convivência grupal. Também entram nesse núcleo as atividades de apoio à aprendizagem por

meio de reforço escolar, aulas de informática e línguas estrangeiras, assim como a educação

para a cidadania e os direitos humanos, a educação ambiental e outros, de acordo com as

demandas e interesses, as especificidades locais e as capacidades técnico-profissionais de

cada município, ademais ações de educação para a saúde, priorizando o acesso às informações

sobre o risco do trabalho precoce.

O PETI é financiado com a participação das três esferas de governo: união, estados e

municípios. Os valores da Bolsa Criança Cidadã são diferenciados segundo as áreas rural ou

urbana. Em 2010, para a área rural, o valor da Bolsa era de R$ 25,00, já na área urbana, esse

valor era de R$ 40,00, porém, para os municípios com população abaixo de 250.000

habitantes, independentemente da localização geográfica, o valor era de R$ 25,00. Esses

valores equivalem ao benefício pago às famílias em situação de trabalho infantil com renda

mensal per capita superior a R$ 140,00 (as famílias com renda inferior a esse valor recebiam

69

o benefício com base nos critérios do PBF). O co-financiamento para a realização das

atividades socioeducativas incorporadas ao Serviço de Convivência e Fortalecimento do

Vínculo (SCFV) é repassado do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) para os

Fundos Municipais de Assistência Social (FMAS), no valor de R$ 500,00 para grupo de 20

pessoas. (BRASIL/MDS, 2009.)

Embora não exista uma avaliação ampla e sistemática das condições de funcionamento

e dos impactos do PETI nos municípios da RMN beneficiados pelo programa, alguns estudos

referentes ao tema mencionam os efeitos positivos, bem como os principais problemas,

comuns ao Programa em todo o Brasil.

Na visão de SILVA (2006) o PETI significa para as famílias de seus usuários uma

“tábua de salvação” para seus problemas, sendo esses tanto na ordem econômica quanto na

formação e orientação dos seus filhos.

Segundo uma pesquisa realizada por PADILHA (2005), as principais mudanças no

cotidiano das famílias beneficiadas dizem respeito ao aumento significativo da renda familiar

advinda do recebimento da bolsa, ocasionando assim um aumento também do consumo,

sendo esses referentes a gastos com gêneros alimentícios, vestuário e material escolar. Em sua

pesquisa também foi verificada melhoria nas condições nutricionais da família. Esse avanço

refere-se ao fato dos filhos passarem a se alimentar diariamente, e com alimentos melhores,

tanto na escola como na jornada ampliada, com os nutrientes necessários ao crescimento

saudável da criança.

O autor também cita mudanças na organização do trabalho familiar, devido a

reorganização da família para se adaptar à nova situação, que foi a obrigatoriedade dos filhos

frequentarem a escola e a jornada ampliada, impossibilitando, assim, a participação deles com

a mesma assiduidade de antes no trabalho doméstico.

Em relação aos pontos negativos do programa, CARVALHO (2004) relata que alguns

obstáculos se referem à fragilidade e ao despreparo das equipes técnicas locais nas regiões

mais pobres e atrasadas, que prejudicam o seu papel de protagonistas nos programas sociais;

os constantes atrasos na disponibilização dos recursos da União; a dissociação entre o ensino

regular e a Jornada Ampliada e, principalmente, a extrema precariedade da escola pública a

que tinham acesso os filhos das classes populares.

A autora menciona, ainda, que o PETI deixa de lado uma grande parcela da sua

clientela potencial e não transforma efetivamente as condições de vida e perspectivas futuras

dos seus próprios beneficiários. Os ganhos obtidos quanto a nutrição, estímulos socioculturais

e a própria escolarização tendem a ser relativamente restritos e temporários. Além disso, a

70

frequência em uma escola pública de péssima qualidade (que não estimula a permanência e a

dedicação) e o trabalho no turno complementar acabam acarretando nas crianças e

adolescentes que ingressam no programa um atraso escolar que poucas vezes pode ser

revertido. Assim, ao atingir a idade limite para a permanência no programa a maioria não

chega a concluir o ensino fundamental e após o desligamento, sem maiores perspectivas e

tendo que contribuir para a subsistência da família, poucos continuam a estudar, persistindo

com baixos níveis de escolaridade, restritas oportunidades ocupacionais e reproduzindo o

ciclo de pobreza dos pais.

Uma pesquisa coordenada pelo Ministério de Desenvolvimento e Combate à Fome

(MDS), em 2009, elencou alguns pontos necessários à melhoria da qualidade dos serviços

socioeducativos executados com as crianças e adolescentes integrantes do programa, que

refletem alguns dos seus principais entraves:

Problemas de transporte e infraestrutura;

A necessidade de materiais pedagógicos adequados às especificidades de cada

uma das fases de desenvolvimento de crianças e adolescentes;

O desenvolvimento de estratégias que reforcem a articulação entre o PETI e o

sistema educacional;

A criação de mecanismos de atração e manutenção dos adolescentes nas

atividades socioeducativas;

A melhoria dos processos de formação e capacitação do pessoal envolvido na

realização das ações socioeducativas.

Sob o ponto de vista teórico, é fácil constatar que o PETI mostra-se como uma

proposta eficiente no combate ao trabalho infantil, tendo em vista que leva em consideração

não somente a necessidade de transferir renda para as famílias carentes que têm crianças ou

adolescentes exercendo atividade laborativa, mas, sobretudo, a necessidade de proporcionar a

ascensão social destas pessoas com o intuito de elevar o padrão de vida delas e, dessa forma,

suspender o ciclo vicioso da pobreza.

Entretanto, o maior problema manifesta-se na realização das ações do programa, as

quais tendem a ocorrer sem levar em consideração as características dos municípios

contemplados e sem um planejamento apropriado por parte dos envolvidos no programa no

que no que diz respeito à participação social. Ademais, as parcerias necessárias à boa

execução do programa, sobretudo, a parceria entre família, poder público e sociedade civil,

dificilmente acontece.

71

Dessa forma, o PETI acaba tornando-se mais um programa básico de transferência de

renda, pois perde sua eficácia na erradicação do trabalho infantil justamente por não conseguir

pôr em prática boa parte das ações por ele asseguradas, as quais deveriam ir além do auxílio

monetário, essencial para o combate ao trabalho precoce, e representar concretamente uma

oportunidade de acesso à escola, à saúde e a melhores condições de vida por parte das

crianças beneficiadas, para que essas não se tornassem dependentes de tal ajuda de modo

permanente. Assim, no entendimento de o programa não consegue, de fato, propiciar a

educação básica integral e de qualidade para as crianças e adolescentes, e também não

consegue conceber mudanças significativas no padrão de vida das famílias nem conscientizá-

las da importância de manter seus filhos na escola.

4.3 Atuação do PETI no Rio Grande do Norte e na Região Metropolitana de Natal

O PETI foi implantado no Rio Grande do Norte em maio de 1999, primeiramente, nos

municípios de Lagoa Nova, Tenente Laurentino Cruz e Carnaúbas dos Dantas.

Os dados mais recentes revelam que, em 2013, havia no estado um total de 39.088

crianças e adolescentes sendo contemplados pelo PETI. Os recursos destinados ao programa

eram transferidos pelo Governo Federal, e somavam, naquele ano, o valor de R$ 8,8 milhões.

Entre os municípios da RMN, Parnamirim era o que possuía maior quantidade de

beneficiários do PETI, ficando à frente da capital, contemplando, assim, 1.836 crianças e

adolescentes. Consequentemente, também era o que recebia o maior valor dos recursos, o

equivalente a R$ 414.000,00. Por outro lado, o município de Vera Cruz era o que detinha a

menor quantidade de pessoas atendidas pelo programa, bem como o menor valor de repasse

do Governo Federal, pois eram 150 crianças e adolescentes beneficiados e o valor repassado

de R$ 36.000,00, conforme Tabela 10, a seguir.

72

TABELA 10 – RMN: quantidade de crianças e adolescentes atendidas pelo PETI e valores

dos recursos transferidos pelo Governo Federal – 2013

Municípios

Quantidade de

crianças e adolescentes

atendidas pelo PETI

Transferência de

Recursos (R$)

Ceará-Mirim 753 171.000,00

Extremoz 339 76.500,00

Macaíba 247 54.000,00

Monte Alegre 364 81.000,00

Natal 1.313 297.000,00

Nísia Floresta 188 40.500,00

Parnamirim 1.836 414.000,00

São Gonçalo do

Amarante 474 108.000,00

São José de Mipibu 506 112.500,00

Vera Cruz 150 36.000,00

TOTAL 6.170 1.390.500,00

Fonte: MDS, Matriz de Informação Social, 2014.

Conforme os dados da fiscalização do trabalho realizada pelo MTE, entre os anos de

2006 a 2014, nos municípios que compõem a RMN, foram mais de 576 crianças e

adolescentes afastadas do trabalho ilegal, a maioria estava empregada no setor informal da

economia e algumas trabalhando nas piores formas de trabalho infantil, constantes da lista

TIP, aprovada pelo Decreto n° 6.481, de 12 de junho de 2008.

De acordo com o Sistema de Informações sobre Focos de Trabalho Infantil (SITI)

disponibilizado no site do MTE, a Tabela 11 apresenta as principais atividades onde foram

detectados a presença de crianças e adolescentes que estavam trabalhando de forma ilegal.

Como se vê, nos municípios da RMN, a maior incidência de trabalho infantil foi detectada ao

ar livre sem proteção adequada contra exposição à radiação solar, chuva e frio, onde em

termos relativos representou quase 81,0%, ou seja, correspondeu a 465 crianças e

adolescentes.

Neste caso, os principais trabalhos eram executados nas feiras livres e consistiam em

vender mercadorias, conquistar o cliente, o acompanhar, receber as mercadorias, arrumar,

transportar em carro-de-mão, entregar nos domicílios. Deste modo, os principais riscos

ocupacionais incidiam sobre o levantamento e transporte manual de peso excessivo,

manutenção de posturas inadequadas, movimentos repetitivos, jornadas excessivas,

atropelamentos e exposição à violência.

73

TABELA 11 – RMN: principais atividades onde foram detectados trabalho de crianças e

adolescentes – 2006-2014

Atividade Setor Número de

Crianças (%)

Trabalho ao ar livre, sem proteção adequada contra exposição à radiação

solar, chuva e frio. Informal 465 80,70

Indústria de Transformação – Trabalhos na Fabricação de Farinha de

Mandioca. Informal 23 3,99

Trabalho de manutenção, limpeza, lavagem ou lubrificação de veículos,

tratores, motores, componentes, máquinas ou equipamentos, em que se

utilizem solventes orgânicos ou inorgânicos, óleo diesel, desengraxantes

ácidos ou básicos ou outros produtos derivados de óleos minerais.

Informal 15 2,60

Eventos como a Festa do Boi Informal 13 2,26

Serviços Coletivos, Sociais, Pessoais e Outros – Em ruas e outros

logradouros públicos (comércio ambulante, guardador de carros, guardas

mirins, guias turísticos, transporte de pessoas ou animais, entre outros).

Informal 13 2,26

Comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de

produtos alimentícios – supermercados. Formal 7 1,22

Indústria de Transformação – Em matadouros ou abatedouros em geral. Informal 4 0,69

Serviços de lavagem, lubrificação e polimento de veículos automotores. Formal 4 0,69

Trabalho com levantamento, transporte, carga ou descarga manual de pesos,

quando realizados raramente, superiores a 20 quilos, para o gênero

masculino e superiores a 15 quilos para o gênero feminino; e superiores a 11

quilos para o gênero masculino e superiores a 7 quilos para o gênero

feminino, quando realizados frequentemente.

Informal 4 0,69

Comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de

produtos alimentícios – minimercados, mercearias e armazéns. Formal 3 0,52

Indústria de Transformação – Em Indústrias de Cerâmicas. Formal 3 0,52

Trabalhos Prejudiciais à Moralidade – Aqueles prestados de qualquer modo

em prostíbulos, boates, bares, cabarés, danceterias, casas de massagem,

saunas, motéis, salas ou lugares de espetáculos obscenos, salas de jogos de

azar e estabelecimentos análogos.

Informal 3 0,52

Transporte e Armazenagem – Em transporte de pessoas ou animais de

pequeno porte. Informal 3 0,52

Indústria de Transformação – No beneficiamento de mármores, granitos,

pedras preciosas, semipreciosas e outros bens minerais. Formal 2 0,35

Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares. Informal 2 0,35

Restaurantes e similares. Formal 2 0,35

Serviço Doméstico – Domésticos. Informal 2 0,35

Trabalhos na Coleta, Seleção ou Beneficiamento de Lixo. Informal 2 0,35

Aluguel de outras máquinas e equipamentos comerciais e industriais não

especificados anteriormente, sem operador. Formal 1 0,17

Clínica de Reabilitação de Usuários de Droga. Formal 1 0,17

Comércio (Reparação de Veículos Automotores Objetos Pessoais e

Domésticos) – Em borracharias ou locais onde sejam feitos recapeamento

ou recauchutagem de pneus.

Formal 1 0,17

Fabricação de águas envasadas. Formal 1 0,17

Fabricação de frutas cristalizadas, balas e semelhantes. Informal 1 0,17

Transporte marítimo de cabotagem – Carga. Formal 1 0,17

TOTAL - 576 100

Fonte: MTE, SITI – Sistema de Informações sobre Focos de Trabalho Infantil, 2014. (Elaboração Própria)

Vale lembrar que o fato mais preocupante do panorama do trabalho infantil é o

trabalho de crianças e jovens nas piores formas de trabalho, que em geral abrange atividades

insalubres, perigosas e que causam danos morais, físicos e psicológicos, entre outros.

74

Das demais atividades desenvolvidas (vide Tabela 11, p.72) pelas crianças e

adolescentes que trabalhavam na área da RMN, pode-se, ainda, mencionar as seguintes:

fabricação de farinha de mandioca (3,99%), lava-jatos (2,60%), ambulantes de rua (2,26%),

vendedores em eventos (2,26%) e em supermercados (1,22%). As outras atividades

relacionadas ficaram responsáveis por utilizar 6,94% da mão de obra infantil.

Quando verificado os dados dos municípios da RMN, ilustrados pelo Gráfico 15,

constata-se que a capital do estado, Natal, concentrou mais da metade (56%) dos focos de

trabalho infantil autuados pela fiscalização do Ministério do Trabalho. No município, a

principal atividade desenvolvida encontrava-se no setor informal e realizado nas feiras livres,

praias e semáforos, onde as crianças e os adolescentes ficavam ao ar livre, sem proteção

adequada contra exposição à radiação solar, chuva e frio. Nessas condições, os dados

mostraram que 291 menores foram detectados trabalhando o que correspondeu a 90,9% do

total de crianças e adolescentes que foram registrados e autuados pela fiscalização.

GRÁFICO 15 – RMN: percentual da incidência de crianças e adolescentes em situação de

trabalho – 2006-2014

Fonte: MTE, SITI – Sistema de Informações sobre Focos de Trabalho Infantil, 2014. (Elaboração Própria)

As menores incidências de trabalho infantil apresentadas pela fiscalização ocorreram

nos municípios de Vera Cruz (3,8%) e São Gonçalo do Amarante (0,9%), tendo como

principais atividades desempenhadas por crianças e adolescentes, a fabricação de farinha de

mandioca; indústrias de cerâmicas; trabalhos realizados na coleta, seleção e beneficiamento

de lixo. Em Extremoz, a fiscalização detectou um adolescente que se encontrava em uma

Clínica de Reabilitação de Usuários de Drogas, onde não foi possível identificar se o mesmo

estava trabalhando. Vale mencionar, ainda, que nos municípios de Nísia Floresta e São José

de Mipibu não foi realizado nenhum registro de trabalho infantil pela fiscalização.

75

Deste modo, pode-se afirmar que os resultados encontrados neste estudo encerram um

duplo significado: por um lado, eles reafirmam a importância e a eficácia, ainda que parcial,

das ações voltadas para a erradicação do trabalho infantil e, por outro, eles apontam para o

surgimento de um novo cenário, no tocante à distribuição setorial e espacial do trabalho

infantil concentrado em áreas urbanas, que demandarão o desenvolvimento de novas

estratégias e até novos instrumentos de combate a esse problema social, bem presente na

Região Metropolitana de Natal.

Portanto, apesar dos avanços verificados ao longo deste trabalho, muitos desafios

ainda precisam ser superados é o que mostram os dados e as informações obtidas pelo

presente estudo. Vale ressaltar que embora a natureza deste panorama não permita extrair

conclusões definitivas acerca da aplicabilidade de Políticas Públicas ao cenário urbano do

estado do Rio Grande do Norte e da RMN, a presença de trabalho infantil em atividades

econômicas urbanas constitui um motivo suficiente para haja uma revisão crítica do atual

modelo de intervenção.

76

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho monográfico, inicialmente, relatou-se uma breve trajetória histórica da

incidência do trabalho infantil, desde a antiguidade quando esse fato, ainda, não era

reconhecido pela sociedade como um fenômeno negativo até o seu agravamento observado

durante a primeira e a segunda Revolução Industrial. Neste período, o trabalho precoce

ganhou força e proporção, se tornando parte essencial da base produtiva do sistema

capitalista, cujo único objetivo era obter o maior lucro possível, o qual se buscava reduzir

custos com a utilização da mão de obra infantil sem, no entanto, levar em consideração se isso

poderia ser prejudicial ou não às crianças.

Em relação ao Brasil, verificou-se que a mão de obra infanto-juvenil esteve enraizada

desde a época da colonização. Inicialmente, com a exploração das crianças indígenas no

período do modelo primário-exportador e, em seguida, das meninas e meninos negros no

período da mão de obra escravocrata. Entretanto, foi após o modo de produção escravista que

desencadeou-se uma maior demanda pela mão de obra precoce, tendo em vista que havia

necessidade de substituir o trabalho escravo.

Assim, semelhante ao que ocorreu com os países europeus, no Brasil, o processo de

industrialização foi marcado pela busca descontrolada de mão de obra infantil, a qual

proporcionou aos menores uma vida penosa, visto que esses enfrentaram longas e extenuantes

jornadas de trabalho. Foi a partir dessa realidade que, aos poucos, o Brasil começou a

despertar para a necessidade da criação de regulamentos com o intuito de proteger as crianças

e adolescentes da exploração de sua mão de obra.

Sob o ponto de vista normativo do trabalho precoce, como visto, a OIT vem se

destacando como a principal instituição de âmbito mundial com prioridades voltadas para a

legislação e regulamentação de tal atividade, pois, de acordo com sua visão, esse tipo de

trabalho além de não contribuir para a redução da pobreza, tira das crianças os seus direitos à

saúde, à educação e à própria vida enquanto crianças.

O Brasil como integrante dos países membros da OIT, intensificou sua atuação ao

enfretamento do trabalho infantil a partir da década de 1990 e vem até os dias de hoje se

esforçando em promover e expandir o trabalho decente. Para tanto, entre os dispositivos

nacionais que foram criados para regulamentar o combate ao trabalho infantil, é possível

destacar a Constituição Federal de 1988 (CF/1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA), ambos harmonizados com as orientações da OIT.

77

Entre as principais causas apontadas pela literatura consultada, verificou-se que a

oferta de mão de obra infantil se dá em termos gerais pela entrada precoce dos pais no

mercado de trabalho, baixos salários insuficientes para manter toda a família, deficiência da

educação, os custos em manter as crianças na escola, além dos valores e padrões culturais da

própria sociedade que aceita e justifica tal prática. Contudo, quase que unanimemente entre os

autores, a pobreza é apontada como o principal determinante da oferta de trabalho infantil.

Já com relação às consequências que o trabalho infantil pode trazer para os pequenos

ocupados, essas são maléficas tanto para o indivíduo quanto para as sociedades nas quais

ocorrem sua execução. Entre os principais malefícios que foram apontados pode-se citar: os

danos no desenvolvimento individual das crianças, os prejuízos na escolarização, limitação

das oportunidades de emprego no futuro, além dos riscos de saúde.

Como visto, nas duas últimas décadas, houve uma maior mobilização e interesse dos

mais diversos setores da sociedade civil que se mostraram preocupados com o cumprimento

dos direitos da criança, evidenciado pelo aumento significativo de investigações e pesquisas

acadêmicas que culminaram na elaboração de monografias, dissertações de mestrado, teses de

doutorado, publicação de livros, relatórios e artigos científicos. Esse arcabouço literário

comprova que o crescimento da proteção legal às crianças foi avançando de forma gradual,

pelo menos em termos estatutários e normativos, mas infelizmente, ainda, não se pode afirmar

haver tal efetividade na prática.

Não obstante, o trabalho infantil em suas mais diversas formas, ainda, encontra

espaços para sua continuidade. Deste modo, apesar do progresso na redução do trabalho

infantil observado no Brasil, os desafios para que a sua erradicação seja alcançada continuam

presentes. Os dados do Censo Demográfico de 2010 publicados pelo IBGE comprovam que

ainda precisa de mais investigações sobre essa temática, uma vez que embora uma redução de

13,4% do trabalho infantil em relação ao ano de 2000 tenha ocorrido, considerando a faixa

etária entre 10 a 17 anos de idade, em 2010, ainda, existia 3,4 milhões de crianças e

adolescentes ocupados, o que representava 12,4% dos 27,5 milhões que se encontravam nessa

faixa etária.

Foi com esse entendimento, que esse trabalho se propôs a apresentar um panorama da

situação ocupacional das crianças e adolescentes do estado do Rio Grande do Norte e tratar de

sua conceituação, causas e efeitos, bem como sua dimensão e comportamento nos municípios

que compõem a Região Metropolitana de Natal (RMN), a partir dos dados do Censo

Demográfico realizado em 2010.

78

Os resultados encontrados mostraram que no Rio Grande do Norte, em 2010, existiam

43.304 crianças e adolescentes, na faixa etária entre 10 a 17 anos de idade, que se

encontravam em situação de trabalho, o equivalente a 9,1% do total de 478.146 residentes no

estado. Quando analisado a incidência do trabalho infantil, por faixa etária, observou-se que a

mesma se elevou conforme o aumento da idade. Assim, entre 10 a 13 anos, do total dos

residentes do estado que se encontravam nessa faixa cerca de 4,0% estavam exercendo

alguma atividade laboral. Vale salientar que nessa faixa etária, a Legislação Nacional regida

pela CLT não permite a inserção dessa mão de obra no mercado de trabalho. Entre os

adolescentes com 14 e 15 anos de idade esse percentual foi igual a 9,4% e os jovens com 16 e

17 anos de idade essa taxa chegou a 18,6%.

Como se vê, existe no estado uma predominância pelo uso de jovens entre 16 e 17

anos, onde da totalidade de crianças e adolescentes que estavam exercendo algum tipo de

atividade, mais da metade (51,3%) se concentravam nessa faixa etária.

Sintetizando, de forma geral, os resultados com relação aos aspectos de gênero,

raça/cor, local do domicílio, situação socioeconômica de suas famílias, as atividades e

ocupações e a escolaridade, os dados revelaram que no Rio Grande do Norte o trabalho

infantil era desempenhado, predominantemente, pelas crianças e adolescentes do sexo

masculino (61,9%), onde cerca de 61,8% se declararam negros ou pardos e mais da metade

(64,5%) tinham como domicílio a área urbana.

Os dados também indicaram uma forte correlação entre trabalho infantil e baixo

rendimento das famílias. A tendência observada foi quanto maior a renda per capita auferida

pela família menor o percentual de menores ocupados. Assim, as famílias que tinham um

rendimento per capita acima de um salário mínimo, o percentual correspondeu a 14,8%. Já as

famílias com renda per capita menor que um salário mínimo reuniu cerca de 85,2% do total

dos que se encontravam desempenhando algum tipo de ocupação.

Quanto as principais atividades econômicas desempenhadas pelos menores

trabalhadores no estado os dados revelaram que a maioria (43,8%) encontravam-se nos

setores da indústria, construção, transporte e serviços domésticos. Enquanto, no setor agrícola

o percentual detectado foi de 32,9% e no comércio e serviços o mesmo foi 23,3%. Com

relação a posição na ocupação no trabalho principal, os que eram empregados abrangiam a

maior parte dos ocupados (50,7%), os de conta própria ou empregador corresponderam a

12,6% do total, já os ocupados que não foram remunerados o percentual foi de 18,5%, e por

fim, os que trabalharam para o consumo próprio correspondeu a 18,2% e nessa posição, os

trabalhadores mais jovens (10 a 13 anos) representaram a maioria (36,1%).

79

No que diz respeito à escolaridade foi observado a frequência escolar e a taxa de

analfabetismo. Deste modo, observou-se que a proporção de crianças e adolescentes, entre 10

a 17 anos, que não frequentaram a escola foi bem maior entre os que estavam ocupados

(20,7%) do que entre aqueles que não tinham nenhuma ocupação laboral (7,5%). Já em

relação a taxa de analfabetismo, o percentual apresentado foi de 4,0% para os ocupados.

Diante do exposto para o Rio Grande do Norte, pode-se afirmar que a ocupação

precoce é muito mais que um problema somente para a criança ou adolescente, pois seus

danos são refletidos em toda a sociedade, reproduzindo e aprofundando cada vez mais a

desigualdade social existente.

Visando atender todo o objetivo deste trabalho, a Região Metropolitana de Natal,

responsável por mais da metade da produção (52,7%) total do estado, concentrou em 2010

mais de um terço de todo o trabalho infantil realizado no estado. Desta forma, os dados

revelaram que existiam 13.852 crianças e adolescentes, na faixa etária entre 10 a 17 anos de

idade, que se encontravam em situação de trabalho, o equivalente a 7,1% do total de 195.758

residentes na Região Metropolitana de Natal. Quanto a faixa etária dos menores ocupados,

percebeu-se que a RMN segue a mesma tendência estadual, ou seja, quanto mais elevada a

idade, maior foi a quantidade de crianças e adolescentes que exerciam algum tipo de

atividade.

Já os resultados com relação aos aspectos de gênero, raça/cor e local do domicílio

foram semelhantes aos encontrados para o estado. Assim, o trabalho infantil na RMN,

também era exercido, predominantemente, pelas crianças e adolescentes do sexo masculino

(62,8%), onde cerca de 67,3% se declararam negros ou pardos e mais da metade (84,4%)

tinham como domicílio a área urbana.

Assim como já observado em nível estadual, para os rendimentos familiares, os dados

mostraram para a RMN que 76,4% das famílias com ocupados infantis viviam com um

rendimento mensal per capita de até 1 salário mínimo. Enquanto as famílias que recebiam

entre 1 a 2 salários mínimos e que tinham crianças e adolescentes em situação de trabalho,

essas representavam 16,2%. Por fim, apenas 7,5% delas tinham rendimentos maiores que 2

salários mínimos por pessoa.

Quanto as atividades econômicas exercidas pelas crianças e adolescentes são também

predominantemente situadas nos mesmos setores. De acordo com os dados, as principais

ocupações dos menores trabalhadores da RMN localizavam-se no setor não agrícola (88,3%),

enquanto o setor agrícola representava somente 11,7% da mão de obra infantil na região.

80

Com relação a posição na ocupação exercida pelas crianças e adolescentes no trabalho

principal, os que eram empregados abrangeram a maior parte dos ocupados (65,0%), os de

conta própria ou empregador corresponderam a 13,9% do total, já os ocupados que não foram

remunerados o percentual apresentado foi de 15,3%, e por fim, os que trabalharam para o

consumo próprio correspondeu somente a 5,8%.

A escolaridade dos trabalhadores infantis na RMN foi também examinada e constatou-

se que a proporção de crianças e adolescentes que não frequentavam a escola era bem maior

entre os ocupados do que entre aqueles que não tinham nenhuma ocupação laboral. Uma

particularidade observada foi que residiam em Natal mais da metade (57,5%) entre os

ocupados residentes que não frequentavam a escola. Com relação à quantidade de analfabetos

infantis foi possível observar que as crianças e os adolescentes que não trabalhavam

representavam maior percentual em relação aos que estavam ocupados.

De fato, o trabalho infantil reduz, pelo cansaço, a capacidade de concentração das

crianças e, ao submeter a sua saúde a riscos e abusos, as conduz ao absenteísmo eventual, que,

por sua vez, provoca baixos índices de frequência escolar e repetência. Em última instância,

especialmente se a qualidade da educação for precária, conduz a criança ao desalento e à

evasão.

Assim, o panorama da situação ocupacional de crianças e adolescentes apresentado

por este trabalho mostrou que as características encontradas são, basicamente, as mesmas para

o estado e para a RMN. E, portanto, os esforços voltados para o enfretamento do trabalho

infantil podem simultaneamente melhorar as duas espacialidades.

Dentre as diversas iniciativas do Governo destinadas a enfrentar essa questão, este

trabalho destacou a atuação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Neste

sentido, para o Rio Grande do Norte, os dados mais recentes revelaram que, em 2013, o

estado tinha um total de 39.088 crianças e adolescentes inseridos no PETI. A RMN, por sua

vez, respondia apenas por 15,8% do total de crianças e adolescentes que participavam do

programa em todo o estado. Entre os municípios da RMN, Parnamirim e Natal eram

responsáveis por mais da metade (51,0%) da quantidade de beneficiários do PETI, ao

contemplarem 1.836 e 1.313 crianças e adolescentes, respectivamente.

Contudo, a efetividade do PETI ainda é bastante limitada, tendo em vista que em Natal

em 2010 foi detectado a existência de 7.823 crianças e adolescentes que se encontravam em

situação de trabalho. E os dados do PETI para o ano de 2013 apresentaram que apenas 16,8%

eram inseridas no programa, ficando boa parte dos menores trabalhadores (83,2%) fora das

ações asseguradas pelo programa.

81

Outro fato que chamou atenção foram as fiscalizações realizadas pelo Ministério do

Trabalho que detectaram focos de trabalho infantil através de denúncias. Assim, na RMN

verificou-se que a maioria desses focos estavam em Natal, onde a maior incidência de

trabalho infantil era executada ao ar livre sem proteção adequada contra exposição à radiação

solar, chuva e frio, que em termos relativos representou quase 81,0% do total registrado que

correspondeu a 576 crianças e adolescentes.

Neste caso, os principais trabalhos eram executados nas feiras livres e consistiam em

vender mercadorias, conquistar o cliente, o acompanhar, receber as mercadorias, arrumar,

transportar em carro-de-mão, entregar nos domicílios. Deste modo, os principais riscos

ocupacionais incidiam sobre o levantamento e transporte manual de peso excessivo,

manutenção de posturas inadequadas, movimentos repetitivos, jornadas excessivas,

atropelamentos e exposição à violência.

Portanto, apesar dos avanços verificados, ao longo deste trabalho, muitos desafios

ainda precisam ser superados é o que mostraram os dados obtidos pelo presente estudo. Vale

ressaltar que embora a natureza deste panorama não permita extrair conclusões definitivas

acerca da efetiva aplicabilidade das ações ao cenário urbano da RMN, a presença real de

trabalho infantil em atividades econômicas urbanas constitui um motivo suficiente para uma

revisão crítica do atual modelo de intervenção.

Finalmente, é possível afirmar que, mesmo a pobreza não sendo o único fator

condicionante do trabalho precoce no Rio Grande do Norte, sobretudo na RMN, os resultados

encontrados sinalizam que o enfrentamento ao trabalho infantil poderá ser mais eficaz quanto

maiores forem as oportunidades criadas às famílias de baixa renda, principalmente, aquelas

que possuem adolescentes entre 16 e 17 anos, que sejam do sexo masculino e tenham se

declarados negros ou pardos. Para tal, exige-se aplicação de políticas públicas focalizadas,

mas também mudanças culturais de cunho estrutural na sociedade para que as privações

básicas dos cidadãos sejam eliminadas, e, com isso, a erradicação do trabalho infantil se torne

uma realidade concreta nessas áreas.

É importante esclarecer que, pela amplitude do tema e pelo seu propósito, a

finalização deste trabalho, possivelmente, provocará críticas e reflexões para basear outros

novos trabalhos que poderão ser construídos. Dessa maneira, conclui-se que este estudo não

se encontra acabado, haja vista a necessidade de aprofundamento dessa abordagem em outros

locais, que vivenciam realidades distintas, onde novos estudos poderão trazer novas

contribuições.

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