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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA
LEONARDO PAIVA SILVA
O PÍFANO DE PVC COMO FERRAMENTA DE MUSICALIZAÇÃO EM UMA
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO RIO GRANDE DO NORTE
NATAL/RN
2019
LEONARDO PAIVA SILVA
O PÍFANO DE PVC COMO FERRAMENTA DE MUSICALIZAÇÃO EM UMA
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO RIO GRANDE DO NORTE
Monografia apresentada à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN,
na área de Educação Musical, como
requisito parcial à obtenção do título de
Licenciado em Música.
Orientador: Alexandre Johnson dos Anjos
NATAL/RN
2019
LEONARDO PAIVA SILVA
O PÍFANO DE PVC COMO FERRAMENTA DE MUSICALIZAÇÃO EM UMA
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO RIO GRANDE DO NORTE
Monografia apresentada à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN,
na área de Educação Musical, como
requisito parcial à obtenção do título de
Licenciado em Música.
Monografia aprovada em: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Johnson dos Anjos Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(ORIENTADOR)
__________________________________________________
Prof. Esp. Magno Altieri Chaves de Sousa Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(MEMBRO DA BANCA)
__________________________________________________
Prof. Me. Luciano Luan Gomes Paiva Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(MEMBRO DA BANCA)
Dedico este TCC a todos (as) que doam
uma parte do seu tempo à trabalhos
voluntários em projetos sociais em prol da
cultura e que, através da música,
transformam a vida de todos (as) ao seu
redor.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelo dom da vida e por permitir que minha caminhada me
trouxesse até aqui.
A Antônio Barnabé, meu querido pai, por me ensinar o valor da honestidade e
à minha mãe, Joana Darc, por me ensinar o valor do amor. Também por ambos
sempre terem me apoiado em todas as decisões por mim tomadas.
À minha esposa Gicele Lima, por nunca ter soltado minha mão nos momentos
mais difíceis e por nunca me deixar desistir de nenhum sonho.
Às minhas filhas Kamile e Lívia, por serem meu maior motivo de vida e por me
darem tanto orgulho.
A meu irmão Helder Paiva (Dudu), por todos os momentos de nossa caminhada
musical.
A toda minha família, em especial a meu tio Ary (in-memorian) por mostrar que
não existem limites para a arte.
A meu padrinho Robson Bezerra (Mestre Nordestino), por mostrar que fazer
música é possível para qualquer pessoa.
Ao Maestro Almeida, pelas oportunidades que alavancaram minha carreira
profissional.
A meus amigos Raphael Lacerda e Sara Nuño, sem vocês o “Leo do Pife”
jamais existiria.
Aos professores (as) que sempre apoiaram os projetos de cultura popular na
EMUFRN, em especial, ao professor Alexandre Johnson, que sempre apoiou as
oficinas de pífanos.
Aos amigos Magno Altieri e Luciano Paiva, por contribuírem para minha
formação acadêmica durante todo o período da Licenciatura.
“A arte existe porque a vida não basta”
Ferreira Gullar
RESUMO
Esta monografia apresenta um relato de experiência desenvolvido em uma escola da
rede básica de ensino no estado do Rio Grande do Norte, onde utilizamos a Flauta
Pífano de PVC como principal ferramenta para a musicalização dos alunos. Os
estudantes não aprenderam apenas a tocar os instrumentos e tiveram iniciação
musical, mas, também, a fabricar seus próprios instrumentos (pífanos). Este trabalho
é fruto de um projeto realizado na Escola de Música do Rio Grande do Norte
(EMUFRN) intitulado por Laboratório de Instrumentos Artesanais (LIA) no qual, alunos
do Curso de Licenciatura em Música da UFRN, ensinam a luteria de flautas pífanos de
PVC, além de desenvolverem, também, novos instrumentos musicais. As oficinas
ocorreram na escola Municipal Yayá Paiva na cidade de Nísia Floresta RN turma do
7° ano “A” Vespertino durante a disciplina de música da professora Ms. Camila Luna.
Os resultados foram bastante satisfatórios e motivadores para a continuidade desse
projeto. A aceitação dos alunos e total empenho destes, mostrou a importância em
desenvolver novas ferramentas para o ensino e a aprendizagem musical, utilizando
materiais acessíveis a todos. Graças a essa pesquisa foi possível desenvolver novas
ferramentas e dar praticidade a oficina.
Palavras-chave: Construção de pífano de PVC. Novas ferramentas pedagógicas.
Pífano na educação musical. Pífano como ferramenta pedagógica. Instrumentos de
sopro na educação básica.
ABSTRACT
This monograph presents an experience report developed in a primary school in the
state of Rio Grande do Norte, where we use the PVC Fife Flute as the main tool for
students' musicalization. The students did not learn only to play the instruments and
musical initiation, but to manufacture their own instruments. This research is the result
of a project carried out at the School of Music of Rio Grande do Norte (EMUFRN)
entitled Laboratory of Artisanal Instruments in which students of the degree course in
Music of UFRN teach the luthiership of PVCífanos flutes and are always developing
new instruments. The workshops took place at the Yayá Paiva Municipal School in the
city of Nísia Floresta RN class of the 7th grade "A" Vespertino during the music
discipline of teacher Ms. Camila Luna. The results were very satisfactory and
motivating for the continuity of this project, the acceptance of the students and total
commitment, showed the importance of developing new tools for teaching and learning
with materials accessible to all. Thanks to this research it was possible to develop new
tools and give practicality to the workshop.
Keywords:PVC fife construction. New pedagogical tools. Fife in music education.
Fife as a pedagogical tool. Wind instruments in basic education.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
IMAGEM 1 - Raphael Lacerda, Carlos Zens e Leonardo Paiva……………….
IMAGEM 2 - Localização geográfica dos principais pifeiros pelo Brasil…….
IMAGEM 3 - Componentes do LIA durante oficina nas dependências da
EMUFRN……………………………………………………………
IMAGEM 4 - Componentes do UFRPÍFANOS (Felipe, Helder e
Leonardo) …………………………………………………………….
IMAGEM 5 - Marcação e perfuração do duto de PVC………………………….
IMAGEM 6 - Alunos do 7º ano “A” fabricando o pífano de PVC em sala de
Aula……………………………………………………………………
IMAGEM 7 - Aluno da escola tocando o pífano de PVC num recital………...
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 12
2 O PÍFANO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE..............................
3 O LABORATÓRIO DE INSTRUMENTOS ARTESANAIS - LIA …………….
3.1 O GRUPO UFRPÍFANOS………………………………………………………
3.2 Experimentação e construção do pífano de PVC: a criatividade em prol
do ensino de música...............................................................................................
4 O PÍFANO COMO FERRAMENTA DE MUSICALIZAÇÃO...……………......
4.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES……………………………………………...
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………...
REFERÊNCIAS……………………………………………………………………...
BIBLIOGRAFIA…………………………………………………………………...…
APÊNDICE…………………………………………………………………………...
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1 INTRODUÇÃO
Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) baseia-se, metodologicamente,
em um relato de experiência onde busquei, através de oficinas sobre o processo de
construção de pífanos feitos a partir do PVC e de sua execução por alunos de uma
escola pública na cidade de Nísia Floresta/RN. Desse modo, pretendeu-se incluir a
utilização do pífano de PVC como ferramenta pedagógica no processo de ensino-
aprendizagem dentro de uma escola da educação básica no estado do Rio Grande do
Norte.
A pesquisa, caracteriza-se metodologicamente em um relato de experiência por
descrever a experiência adquirida durante as oficinas, contribuindo assim de forma
relevante para área de Educação Musical, trazendo metodologias e motivações para
as ações tomadas durante a vivência. (SANFELICI; FIGUEIREDO, 2015).
Esta pesquisa é fruto de um projeto realizado dentro da Escola de Música da
UFRN, que visa disseminar a arte da luteria do pífano de PVC e aperfeiçoamento da
execução do instrumento, resgatando a cultura popular do pífano que a cada dia vem
sendo esquecida no Rio Grande do Norte. O projeto tem por nome LIA (Laboratório de
Instrumentos Artesanais) formado por alunos do curso de Licenciatura em Música da
UFRN e pessoas externas à comunidade acadêmica. A pesquisa se deu através de
oficinas realizadas semanalmente em uma Escola da rede básica de ensino do Rio
Grande do Norte na cidade de Nísia Floresta, supervisionado pela Mestra Camila Luna
professora de música da Escola Municipal Yayá Paiva, escolhida para as oficinas, na
turma do 7° ano “A” e teve a duração de 6 meses. A oficina iniciou no dia 13 de junho
e finalizou dia 19 de dezembro de 2017. A realização dessa oficina possibilitou interagir
com os alunos e saber melhor sobre suas habilidades e limitações, além de projetar
novas ferramentas para a realização de novas oficinas.
Segundo Araújo (1999), a flauta é um dos instrumentos mais antigos, da época
em que os recursos eram limitados e os homens se utilizavam de ossos e outros
materiais com formato de tubos para fabricarem diversos tipos de flauta. Casca de
frutas oca, ossos de avestruz, e tubo de bambu eram os mais comuns.
Com o passar do tempo, orifícios foram sendo adicionados às flautas e suas outras formas. As civilizações Egípcias e Sumérias já entraram na história fazendo uso de instrumentos com três ou quatro orifícios. No entanto, desde a era pré-histórica já se sabia de flautas fabricadas
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com ossos e contendo vários orifícios perfurados (ARAÚJO 1999, p. 01).
Com o passar do tempo, as flautas foram tomando as formas como são
conhecidas hoje. Tocadas de maneira vertical ou horizontal. O pífano é um instrumento
musical tocado de maneira horizontal semelhante a flauta transversal, contém vários
orifícios (podem ter 7, 8 ou 9 orifícios), que para soar diferentes notas utiliza-se os
dedos. A utilização do tubo de PVC na construção do pífano é comum em diferentes
regiões do Brasil. O tubo de PVC é facilmente encontrado descartado na natureza, ou
comprado por baixo custo em lojas especializadas em material de construção. O tubo
de PVC possibilita um fácil manuseio na abertura de orifícios para a construção do
pífano, possibilitando a utilização de ferramentas artesanais, geralmente recicladas ou
também de baixo custo.
A problemática que norteia essa pesquisa é como resolver a falta de recursos
para as aulas de música nas escolas de educação básica do Rio Grande do Norte? A
pesquisa mostra que é possível utilizar o pífano de PVC para preencher essa lacuna
e contribuir para as aulas como ferramenta de musicalização.
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2 O PÍFANO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
A cultura do pífano abrange grande parte da região do nordeste brasileiro,
concentradas, principalmente, nos Estados de Alagoas, Sergipe, Bahia, Pernambuco,
Paraíba e Ceará. Estende-se, também, pelo norte de Minas Gerais, norte de Goiás,
até São Paulo, estado que abriga, desde a década de 1980, a banda de pífano de
Caruaru (MENEGATTI, 2012). Em Brasília, Zé do Pife (natural de São José do
Egito/PE e nascido no dia 24 de maio de 1943) realizou, na Universidade de Brasília,
oficinas de pífanos observadas por Silva (2010), entre os anos de 2007 a 2009, a
relação entre mestre-aprendiz, rendendo artigos sobre a arte da aprendizagem
musical na tradição oral.
Na capital do país, Zé do Pife, artista brasiliense nascido em São José do Egito/PE, participa da ação desde março de 2007. Zé do Pife, que é instrumentista, cantador, fabricante de pífano, poeta e compositor, é considerado na cidade mestre de tradição oral. Em 2008 ganhou o prêmio culturas populares do Ministério da Cultura e desde 2007 ministra oficinas de pífano na Universidade de Brasília. Conheceu e começou a tocar o pífano em sua cidade natal, onde integrava junto a seu irmão Zeca a Banda de Pife de Riacho de Cima. Chegou à Brasília em 1992 depois de ter morado algum tempo em São Paulo trabalhando na construção do metrô (SILVA, 2010, p. 1176).
O Rio grande do Norte - RN, não está entre os estados com forte tradição de
bandas de pífano, fato que não extingue a existência de pifeiros e luthiers deste
instrumento na região. O músico e compositor Carlos Zens, por exemplo, é um
potiguar que defende a arte da luteria do pífano de PVC no Rio Grande do Norte. Foi
através dos projetos encabeçados por Carlos Zens sobre a confecção de pífanos de
PVC que Raphael Lacerda1 conheceu e aprendeu a luteria dos pífanos de PVC e,
motivado pela ação voluntária, começou a divulgar esta arte na Escola de Música da
UFRN, momento onde conheci o pífano construído a partir de canos PVC e suas
possíveis possibilidades educacionais.
1 Pedagogo, Mestre, Doutor em Educação e licenciando em Música pela UFRN.
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IMAGEM 1 - Raphael Lacerda, Carlos Zens e Leonardo Paiva.
Fonte: autor.
Antes de ingressar no Curso Graduação da UFRN (Licenciatura em Música),
em 2016, trabalhei em vários segmentos musicais como, por exemplo, saxofonista e
guitarrista em bandas de forró aqui no RN e como professor de violão. Desde esse
período, já me identificava com os movimentos de cultura popular que encontrava. Ao
conhecer o pífano de PVC através de Raphael Lacerda, tive a oportunidade de
ingressar definitivamente na cultura popular, durante a disciplina de etnomusicologia,
regida pelo Prof. Dr. Agostinho Lima, tive uma maior vivência sobre o pífano no
nordeste brasileiro e o nome dos principais artistas de quase todos os estados.
Durante as aulas, por me identificar tanto com o pífano, recebi o apelido de “Leo do
Pife” do professor Agostinho e logo tornou-se muito conhecido por todos. Daí então,
tenho divulgado o pífano pelo estado do RN.
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IMAGEM 2 - Localização geográfica dos principais pifeiros pelo Brasil.
Fonte: autor.
Em Mossoró (município distante a cerca de 281 km da capital, Natal), a tradição
de bandas de pífanos e cabaçais vem se fortalecendo e, a cada ano, vários grupos se
formam na cidade e em regiões próximas, como as bandas: “Umbu Cajá”, da cidade
de Upanema e a banda “Monxorós”, de Mossoró, comandada por Marcondes
Menezes, um dos divulgadores do pífano no Rio Grande do Norte. Em uma entrevista
a um programa da TV Assembleia RN, Marcondes relata a existência de grupos de
pífano utilizando o tubo de PVC desde 1960, em Mossoró.
Os grupos existentes nessa parte do Estado se apresentavam anualmente no
festival de pífanos e cabaçais realizado em Mossoró, que acontece dentro do Mossoró
Cidade Junina (MCJ). Para grande perda da cultura, desde o ano de 2016, a Prefeitura
da cidade de Mossoró retirou, do calendário junino, o maior festival da cultura do pífano
do Estado, mas, “apesar das perdas, o pífano vem passando por um grande momento
de redescoberta e experimentalismo musical, se apresentando em grandes
movimentos da música contemporânea” (Informação verbal. Cafundó-Programa 323).
Pretendeu-se, com as oficinas de pífanos, nas escolas de educação básica,
fortalecer a cultura do pífano no RN, repassando algumas técnicas de construção e
execução do instrumento para gerações futuras. Dificilmente se valoriza o que não se
conhece, então, é preciso disseminar essa cultura, para que, futuramente, ela seja
valorizada e defendida pela sociedade como tradição, mostrando que o pífano de PVC,
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pode ser utilizado como ferramenta de musicalização em qualquer ambiente
educacional. Segundo Abreu e Soiet (2003);
Tradições são assim mesmo, frequentemente inventadas e reinventadas, como mostraram Hobsbawn e Ranger, pois visam consolidar determinadas continuidades em relação ao passado, frente às constantes transformações do mundo moderno. Cabe aos professores ficarem atentos a elas, tentando conhecer a sua história, mesmo daquelas que dão a impressão de serem mais genuínas ou mais autênticas que outras (ABREU; SOIET, 2003, p. 19).
A realização de oficinas em projetos sociais também tem sido bastante eficazes
para a divulgação do pífano, projetos como: “Pifar Para Transformar Vidas”, “Pifando
no Museu NF”, “Projeto Cultura e Cidadania Leo Do Pife”, “Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculo NF” e “Centro de Referência da Assistência Social – Litoral
Parnamirim”. Graças aos projetos, foi possível atender a um público de mais de 200
crianças, adolescentes, jovens e adultos.
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3 O LABORATÓRIO DE INSTRUMENTOS ARTESANAIS - LIA
A escolha por utilizar o pífano de PVC como ferramenta pedagógica, se deu
pela necessidade e, até mesmo, pela falta de recursos financeiros para implantação
de projetos ou a realização de oficinas criativas e atrativas para os alunos de música
na educação básica. Segundo Trindade (2013), a utilização de instrumentos
alternativos para as práticas musicais vem se mostrando cada vez mais comum no
ensino de música na educação básica, desde 1981, e defende essa prática no ensino
de música por ela;
Promover a criação e a utilização de instrumentos não convencionais, assim como a escuta sonora diversificada; ampliar as possibilidades do fazer musical; viabilizar os conhecimentos teóricos musicais de forma prática; e por desenvolver a criatividade artística dos envolvidos (TRINDADE, 2013, p. 01).
Voltado a atender essa falta de recursos pedagógicos/musicais e financeiros e,
também, pela busca de novas ferramentas para o ensino da música é que surge o LIA,
projeto desenvolvido nas dependências da Escola de Música da UFRN (EMUFRN)
com a finalidade de propiciar o ensino da fabricação de instrumentos de sopro a partir
de materiais recicláveis e de baixo custo. Um de seus maiores objetivos, é que alunos,
professores e o público externo à comunidade acadêmica, possam levar esse
aprendizado obtido nas oficinas do LIA para outras comunidades, para outros projetos
e grupos musicais interessados na fabricação e utilização de instrumentos de sopro
cujo o custo monetário para tanto, é mínimo, devido ao uso de materiais recicláveis e
de baixo custo.
Além da produção artesanal de instrumentos de sopro, o LIA realiza pesquisas
bibliográficas com o intuito de encontrar dissertações, teses e demais trabalhos sobre
história, organologia e etnomusicologia referente aos aerofones e instrumentos de
sopro de outras partes do mundo, ampliando o conhecimento sobre a ampla gama de
possibilidades dentro dessa família de instrumentos.
Os componentes do LIA são estudantes dos cursos de música da Escola de
Música da UFRN (Licenciatura, Bacharelado, Técnico), assim como alunos de outras
áreas e cursos, além de professores e pessoas externas à instituição, mas, todos,
interessadas na produção e divulgação de instrumentos de sopro mais baratos.
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O LIA surgiu em setembro de 2016, como iniciativa de um grupo de estudantes
da Escola de Música da UFRN diante da necessidade em levar instrumentos de sopro
de baixo custo aos projetos musicais e educativos nos quais os alunos da EMUFRN
trabalhavam na época. Carlos Zens foi um dos pioneiros na fabricação de pífanos de
seis furos com material de PVC. Raphael Lacerda foi aluno de flauta de Carlos Zens,
com quem aprendeu a arte da luteria desses pífanos, no Instituto de Música Waldemar
de Almeida (Natal, RN), onde eram realizadas oficinas de pífanos.
IMAGEM 3 - Componentes do LIA durante oficina nas dependências da EMUFRN.
Fonte: autor.
Como resultado, Raphael Lacerda começou a elaborar pífanos mais
aperfeiçoados e afinados, baseados no sistema de sete furos da flauta pífano Yamaha
YRF-21. A Yamaha define seu Pífano como tendo
Origem da flauta transversal ocidental, que começou a ser usada na Europa medieval e se desenvolveu até o estilo atual. Na Europa e na América, é amplamente usado em música folclórica e bandas de pífaros. Seu som telúrico também atrai muitas pessoas no Japão, onde a popularidade do pífaro faz com que ele seja o instrumento melódico usado em bandas de tambor e pífaros, e seja usado como o instrumento inicial para os que desejam tocar flauta ou flautim. Com um projeto inovador do porta lábio, o pífaro Yamaha é fácil de tocar com entonação precisa, e permite que qualquer pessoa que siga os procedimentos básicos consiga produzir lindos sons (YAMAHA, 2019).
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A partir de então, surgiu uma importante demanda por parte de músicos,
professores e do público geral, interessados na fabricação dos pífanos de PVC com
sete furos. Como consequência, foi criado o LIA na EMUFRN, onde foi ampliado o
leque de instrumentos de sopro fabricados, assim como os materiais empregados
pelos participantes. Sou membro do projeto desde seu início e um dos principais
divulgadores, onde tenho desenvolvido pífanos a partir de novos materiais, como o
metal, com bocais diversos e novas propriedades. Na atualidade, além dos pífanos,
são fabricadas flautas doces, quenas ou gaitas com formas de afinação diferentes. O
projeto continua sendo expandido a partir dos próprios participantes que, uma vez
entendido a arte de fabricar o instrumento, levam tal aprendizado para outros lugares
e projetos musicais.
O objetivo principal do LIA da EMUFRN, é ensinar a alunos, professores e
pessoas interessadas, a fabricação de instrumentos de sopro a partir de materiais
recicláveis e de baixo custo, mais especificamente, em ensinar a fabricar instrumentos
de sopro com materiais recicláveis, em criar novas metodologias e ferramentas para
otimizar a fabricação de instrumentos musicais, em criar novos instrumentos com
materiais distintos e modos de afinação diversos, em divulgar o trabalho e metodologia
para que possa ser expandido em outras comunidades e projetos educativos e a
pesquisa de teses, dissertações e trabalhos sobre história, organologia e
etnomusicologia referente a instrumentos de sopro.
3.1 O Grupo UFRPÍFANOS
O grupo musical UFRPÍFANOS é formado por três alunos do Curso de
Licenciatura em Música da EMUFRN e são eles: Felipe Erick, Helder Paiva e eu (Leo
do Pife). Sua formação instrumental é o pífano produzido no projeto LIA, acordeom e
triângulo, mas, sempre que necessário, outros instrumentos integram o grupo.
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IMAGEM 4 - Componentes do UFRPÍFANOS (Felipe, Helder e Leonardo).
Fonte: autor.
O grupo surgiu em novembro de 2016, após os encontros do LIA, onde alunos
e simpatizantes realizam oficinas para fabricar os pífanos feitos de material de PVC.
O projeto tem como padrinho o flautista Carlos Zens, um grande propagador da cultura
do pífano no Brasil.
O principal objetivo do grupo é o disseminar a cultura do pífano no Estado do
Rio Grande do Norte, através de apresentações, do incentivo a fabricação do pífano e
a adesão de novos pifeiros, para que essa tradição seja cada vez mais fortalecida,
sempre mostrando um repertório voltado para as raízes do nordeste com obras de Luiz
Gonzaga, Dominguinhos, Carlos Zens, dentre outros. O grupo também dispõe de
músicas autorais e já realizou várias apresentações tendo, como principais: uma na
Semana da Música 2016 na EMUFRN, no evento internacional GLOMUS (Global
Music Network) e em apresentações didáticas em escolas da rede pública de ensino.
Em 2017 o grupo se apresentou na CIENTEC, mostrando a arte da luteria do
pífano de PVC, com uma apresentação de músicas regionais utilizando o pífano de
PVC como principal instrumento solo. Tendo em vista que o evento possui um público
diversificado culturalmente, conseguimos dar mais um passo na valorização e
disseminação de nossa arte.
As apresentações têm alcançado resultados positivos em relação aos seus
objetivos e vem, a cada dia, assumindo seu espaço nos eventos culturais na cidade
de Natal/RN e demais regiões. O reflexo disso, são as apresentações com diversos
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grupos que encontram, no pífano, uma possibilidade de divulgação da nossa cultura.
Projetos como “O pífano em uma dança”, que tem como principal objetivo relacionar a
musicalidade por meio do pífano, associado aos movimentos da dança, dando um
novo significado ao frevo e o pastoril como fatores fenomenológicos culturais.
Idealizado por graduandos dos cursos de licenciatura em música e dança da UFRN,
com a proposta de ampliar os conceitos das danças e instrumentos culturais populares
e folclóricos. Outro fato importante para o grupo, foi a participação com a Orquestra
Mestra, que acompanha o Pastoril Dona Joaquina, bastante conceituado no Rio
Grande do Norte e no Brasil, de forte tradição cultural.
3.2 Minicurso “Experimentação e construção do pífano de PVC: a criatividade
em prol do Ensino da Música”
Fruto do Projeto LIA, o minicurso realizado dentro da XXIII edição da CIENTEC2
(2017), propiciou o ensino da construção do pífano de PVC no evento. Os
participantes, além de aprender a fabricar os pífanos, também receberam dicas de
como tocá-los. Toda a matéria prima e ferramentas de manuseio para a fabricação
dos instrumentos durante o minicurso, foi disponibilizado por mim. Cada participante,
ao final das oficinas, ganhou o pífano que fabricou. O minicurso ocorreu durante três
dias e cada encontro durou duas horas. Tivemos um público bastante satisfatório e
muitas sementes foram plantadas na oportunidade.
Visando atender a escassez de instrumentos musicais nos diversos ambientes
do ensino de música, o minicurso evidenciou, no pífano de PVC, uma possível
ferramenta para a musicalização com baixo custo. Com a facilidade de acesso aos
materiais necessários a construção do pífano e as possibilidades que ele pode
promover, tanto em sala de aula quanto em projetos afins, estamos conseguindo aos
poucos, o resgate dessa importante força cultural.
2 Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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4 O PÍFANO COMO FERRAMENTA DE MUSICALIZAÇÃO
O ensino de música vem a cada ano conquistando mais espaços nas redes de
ensino do país. Em 2008, com a aprovação da Lei 11.769/08 (BRASIL, 2008), que
inclui o ensino de música como conteúdo obrigatório na educação básica, as
instituições superiores de ensino passaram a se mobilizar providenciando formas para
capacitar profissionais para suprirem a demanda existente no mercado. Em 2009, o
Grupo de Estudos e Pesquisa em Música (GRUMUS/EMUFRN), iniciou uma pesquisa
de campo com o objetivo de identificar as escolas que atendiam a Lei em vigor e quais
as dificuldades existentes para aquelas que ainda não atendiam à referida Lei.
Na busca pelo desenvolvimento da Educação Musical no estado do RN, em
2013, a pesquisa intitulada “A prática da educação musical nas escolas do Rio Grande
do Norte” (SANTOS e CARVALHO, 2014), realizou visitas às escolas no município de
Natal/RN e, em 2016, foi ampliada para a cidade de Parnamirim/RN. Em julho de 2016,
começo a fazer parte do GRUMUS como bolsista de pesquisa e orientado pela Profa.
Dra. Valéria Carvalho. Em minha pesquisa como bolsista, dou continuidade ao
trabalho que vinha sendo realizado pelo aluno Carlos Freitas, também participante do
GRUMUS na época, onde fui a campo coletar os dados da pesquisa nas Escolas de
Parnamirim/RN.
Durante a pesquisa, constatamos a falta de estrutura de algumas escolas e a
falta de profissionais capacitados atuando como professores de música. Os diretores
das escolas visitadas demonstraram ter ciência sobre a das aulas de música e
mostram-se favoráveis ao cumprimento da Lei. A música como ferramenta
educacional, em todos os contextos e possibilidades, possivelmente mudaria a
realidade de muitas escolas na formação de cidadãos melhores e aculturamento dos
alunos.
Com o resultado da pesquisa, se fez perceber a precariedade de recursos e
estruturas das escolas, do desenvolvimento de novas maneiras para musicalizar os
alunos e de novas ferramentas para esse objetivo, que precisam ser estudadas e
aprimoradas. A maioria dos diretores escolares sabem da importância da música, não
só como elemento educacional, mas, também, como de inclusão social visando os
inúmeros problemas sociais encontrado nas escolas onde os alunos estão cada vez
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mais violentos (fato que pode ser observado durante as visitas). Talvez devido a
dualidade de ideais e pensamentos segundo Carreira 2005:
Existe, porém, um outro tipo de violência gerada no interior das escolas, fruto da heterogeneidade de opiniões e vivências, fruto das relações interpessoais que retrata a falta de preparo ao convívio com diferentes. É uma violência gerada por situações conflitantes que não foram mediadas (CARREIRA, 2005, p. 75).
Foi pensando no Pífano de PVC como uma possível ferramenta de
musicalização, que resolvi realizar oficinas em uma escola da rede básica de ensino
do Rio Grande do Norte, na tentativa de resolver a falta de estrutura enfrentada pelo
professor de música.
Utilizando um tubo de PVC de 20 milímetros de circunferência e 35 centímetros
de comprimento, fabricamos as flautas. Com este material, obtemos um custo
financeiro bastante baixo e, na maioria das vezes, quase zero, na construção do
instrumento. Neste tubo, são feitos alguns furos e obedecendo a um modelo pré-
estabelecido, desenvolvido no projeto LIA. Deve-se saber que, as medidas e
distâncias entre furos no tubo de PVC, interferem diretamente na afinação do
instrumento, para o qual tenta-se chegar o mais próximo da afinação do piano, que é
de 440Hz.
Os materiais utilizados para a construção do pífano de PVC são: tubo de PVC
de 20 mm; tesouras (de mais de um tipo, com ponta, sem ponta); caneta permanente;
facas de serra; réguas de alumínio; paquímetros; ferros de solda e; alguns tipos de
lixa em folha para acabamentos (finas, grossas).
Através da fabricação artesanal e utilização do pífano de PVC como
instrumento musical, são inseridas notações musicais, tais como: técnicas de
respiração, figuras musicais, escalas, percepção musical, prática de conjunto,
composição, vivência cultural etc. Tudo de acordo com o que havia sido planejado
previamente. Para a fabricação do pífano de PVC, se faz necessário a utilização de
ferramentas cortantes, então, para que fosse possível o manuseio das ferramentas
pelos alunos, todos tiveram que levar para casa um termo de responsabilidade
autorizando sua participação na oficina e trazer assinado por seus pais, além de,
sempre, estar observando atentamente cada passo dado pelos alunos nas oficinas de
construção.
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A escola escolhida para as oficinas de construção do pífano foi a Escola
Municipal Yayá Paiva, localizada na Rua João Batista Gondim, número 100, no Centro
do município de Nísia floresta/RN. Alunos da turma A do 7° ano vespertino com idade
entre 12 e 13 anos foram os participantes e ocorrendo das 13h30 às 14h30, todas as
terças feiras. O horário estabelecido para a duração da oficina foi o de uma hora,
ficando 50 minutos para a oficina de pífano e os 10 minutos restantes, para avisos da
professora e para a organização da sala. A direção da escola foi de grande importância
para a realização das oficinas, disponibilizando o espaço físico (laboratório de
informática) e os materiais suficientes para a participação de todos os alunos nos
encontros.
As oficinas foram ministradas em 5 etapas:
1) O que é um pífano? Através da utilização de vídeos e materiais fotográficos,
foi apresentado, aos alunos, o pífano e alguns dados históricos sobre o
instrumento, como: onde surgiu, quais os tipos de pífanos conhecidos, de quais
materiais podem ser fabricados, quais as principais referências musicais deste
instrumento, a presença do pífano no RN e um pouco de minha trajetória
musical até conhecer o pífano;
2) Como fabricar o pífano de PVC? Aqui, demonstrei aos alunos as ferramentas
utilizadas, como manuseá-las e os cuidados a serem tomados. Essa etapa foi
de total importância para que os alunos se conscientizassem do cuidado em
manusear as ferramentas para, assim, evitar qualquer tipo de acidente, já que
alguns materiais são cortantes;
3) Primeiras experiências com marcações e perfurações no cano de PVC:
Nesta etapa, os alunos aprenderam a manusear cada ferramenta na prática ao
fabricarem o bocal para o pífano em um pedaço de cano de PVC de 12
centímetros (geralmente a sobra de material), pois, erros são inevitáveis nesse
primeiro contato. Aprender como posicionar a embocadura para a emissão do
som é fundamental, nessa etapa, através da execução de notas longas
utilizando a semibreve e a mínima.
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IMAGEM 5 - Marcação e perfuração do duto de PVC.
Fonte: autor.
4) Fabricando o pífano de PVC: Depois de passar pelas etapas anteriores, os
alunos iniciaram a fabricação do seu pífano de PVC, obedecendo ao padrão e
as medidas dos pífanos que são fabricados no projeto LIA, utilizados como
modelo nas oficinas. As habilidades adquiridas na luteria dos instrumentos,
foram peça chave para o sucesso da oficina.
IMAGEM 6 - Alunos do 7º ano “A” fabricando o pífano de PVC em sala de aula.
Fonte: autor.
5) Tocando o pífano de PVC: nesse momento, os alunos iniciaram suas
primeiras notas no pífano, mas, infelizmente, essa etapa não pode ser
concluída com êxito devido ao fim do ano letivo.
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IMAGEM 7 - Aluno tocando o pífano de PVC num recital.
Fonte: autor.
4.1 Resultados e discussões
O que se pôde perceber durante as oficinas é que, os alunos, em sua maioria,
estão dispostos a novos desafios, a sair do convencional, a utilizar seu potencial com
coisas construtivas para sua educação. O ato físico de fazer algo, possivelmente os
motivarão a outras práticas em suas vidas pessoais e/ou profissionais. Deve-se
mostrar que todos são capazes e descobrirão novos caminhos a seguir, novas culturas
que possa fazer, futuramente, virar uma tradição. O importante é desviá-los de
caminhos obscuros, como a criminalidade e da cultura do terror que toma conta de
nossa sociedade.
Educação não é apenas passar conhecimento. Conhecimento se passa em todo lugar. O que precisa ser feito na escola é construir personalidades, passar conhecimentos como cultura. Cultura é conhecimento, mas também é feita de valores, crenças, filosofia, ciências, arte, utilização do corpo. Por que não aprendemos a paz na escola? (PARO, 2008).
Alguns alunos demonstraram dificuldade em concluir seus trabalhos, havendo
até desistências. Ao buscar entender o motivo de tais desistências e descobrir quais
os pontos negativos das oficinas que os levaram a desmotivação, não recebi nenhum
tipo de resposta dos alunos. Numa conversa com a professora titular da turma, a
Camila Luna, surgiu um dado preocupante: os alunos que não concluíram a oficina,
também tinham dificuldades em concluir outras atividades em sala de aula,
independente da disciplina, desistindo de seus projetos na primeira dificuldade
encontrada por eles, sem esboçar nenhum esforço e simplesmente dizendo que
28
“perderam a paciência” (informação verbal). Isso tem ocorrido em quase todas as
disciplinas, segundo relato dos professores da escola, sempre com os mesmos alunos.
Segundo Gomes e Martins (2016), a desmotivação pode acontecer devido a fatores
escolares na relação entre professor e aluno, também por conta da estrutura física do
espaço onde ocorrem as aulas ou, também, de cunho familiar. O aluno precisa estar
sempre interagindo junto ao professor durante as atividades e expondo seu ponto de
vista, devem existir debates sobre o assunto abordado.
Até o presente momento, decidi não me aprofundado sobre os possíveis fatores
que possam ter desmotivado os alunos durante o período que ministrei as oficinas,
esse ponto precisa ser bem pensado e repensado para a continuidade desse trabalho.
Planejei as oficinas para que o pífano fosse introduzido em sua totalidade no contexto
histórico-cultural, onde mostrei que não se trata apenas de um instrumento musical,
mas, sim, de uma ferramenta cultural.
Houve um balanceamento entre a teoria e a prática durante as oficinas, mas,
provavelmente, a parte teórica tenha se estendido e afetando, assim, a parte prática,
causando cansaço e, possivelmente, desmotivando alguns dos alunos, culminando
nessa “perca de paciência”. As 05 etapas que foram executadas durante as oficinas,
bem pensadas e funcionaram muito bem para a maioria dos alunos, porém, vejo a
necessidade de modificar a ordem cronológica dessas etapas e fundir algumas delas,
transformando-as, no máximo, em 03 etapas, mas, sem excluir conteúdo e
possivelmente, evitando que os alunos percam a paciência.
Para a realização das oficinas de pífanos de PVC, se faz necessário um
investimento mínimo para a compra dos materiais, onde mostramos que, a falta de
dinheiro ou a disponibilidade de poucos recursos, não pode ser um dos fatores que
impeçam a realização de uma aula de musicalização. Isso se dá pela utilização de
ferramentas simples e de fácil acesso aos professores e alunos nas escolas.
Durante a realização das oficinas, acredito que, a ausência de algumas
ferramentas, poderiam ter deixado os encontros mais funcionais em, pelo menos, 80%,
na fabricação dos instrumentos e me refiro às ferramentas industriais como: furadeira,
esmeril, morsa, torno de bancada etc. Talvez, com tais recursos, daríamos mais
praticidade a construção dos pífanos, mas sem deixar de lado, a parte artesanal, para
aqueles que não disponham dessas ferramentas para realização das oficinas. A
dessas novas ferramentas nas oficinas se dá, exclusivamente, para uma melhor
29
praticidade do ministrante, evitando que o aluno não conclua seu instrumento por falta
de paciência, já que alguns momentos do processo exigem isso dos alunos.
Ao término das oficinas, tivemos 22 pífanos fabricados, em perfeito estado e
afinados, apenas 05 não foram concluídos e 05 alunos da turma, não puderam
participaram das aulas práticas devido à falta de autorização dos seus responsáveis.
Numa cidade onde a maioria das pessoas possivelmente não sabem o que é
um pífano, iniciou-se uma nova etapa de aprendizagem e de inserção cultural onde,
quem sairá ganhando, em primeiro lugar, é a sociedade.
Por fim, durante todo o processo das oficinas, o que fica é o aprendizado por
ambas as partes (aluno-professor). Como professor e ministrante da oficina, aprendi a
valorizar as habilidades individuais de cada aluno e, durante esse período,
demonstrou-se novas possibilidades para se manusear o pífano de PVC, sobre sua
fabricação e sua execução.
Essa experiência fez com que eu me aproximasse das diversas realidades
enfrentada pelos adolescentes que participaram das oficinas e suas qualidades e
dificuldades. Ficou evidente a necessidade de um novo planejamento para antecipar
a parte prática das oficinas, mas, sem prejudicar todo o contexto cultural a ser inserido.
As oficinas contaram com total apoio dos diretores da escola e da professora Camila
Luna, cedendo seu horário e, isso, foi fundamental para o desenvolvimento da
pesquisa. Ainda existem educadores que acreditam na educação através da cultura e
reconhecem sua importância.
Essa pesquisa demonstra que o pífano de PVC pode ser mais uma ferramenta
para a educação musical em uma escola da rede básica de ensino e a educação,
aconteça através da cultura. Utilizando materiais reciclados e de baixo custo, pode-se
mudar a realidade musical de uma sala de aula, de uma escola ou até mesmo de uma
cidade. Esse trabalho poderá abrir novas possibilidades educacionais utilizando
materiais não convencionais e de fácil acesso ao professor e alunos. O professor de
música, ao assumir esse ambiente educacional, que são as Escolas da Rede Básica
de Ensino, provavelmente irá se deparar com falta de infraestrutura e material
adequado. Cabe ao professor criar novas estratégias ou, também, pesquisar sobre
projetos que utilizem, por exemplo, instrumentos musicais alternativos de baixo custo,
já que é evidente a precariedade de recursos destinados para essas aulas com a
música.
30
Evidenciou-se que os alunos estão abertos a novas formas de aprendizagem,
cabe, ao professor, criá-las e experimentá-las em sala de aula, para que, com esta
falta de recursos enfrentado, venha ter novas possibilidades para a mediação no
processo de ensino-aprendizagem.
31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante os capítulos percorridos neste trabalho, apresentou-se: uma breve
explanação sobre a presença do pífano em vários estados brasileiros, dentre eles, os
estados de Alagoas, Sergipe, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Brasília, São Paulo e
Ceará, onde destacam-se grandes nomes da cultura popular que atuam como pifeiros.
Evidenciou que, o Rio Grande do Norte, apesar de não está entre os estados
brasileiros com uma forte tradição com o pífano, pode-se encontrá-lo inserido em
algumas cidades das cidades potiguares onde, dentre estas, pode-se considerar o
município Mossoró, como principal lugar onde o pífano se faz presente. Mostrou que,
a cada dia, o pífano vem ocupando espaço como uma ferramenta para a
musicalização, principalmente, através de projetos sociais. A continuidade das oficinas
possibilitará com que o Rio Grande do Norte, futuramente e, possivelmente, fortaleça-
se com a cultura do pífano, cada vez mais divulgando este instrumento nas cidades
de Natal, Nísia Floresta e circunvizinhas.
Apresentou-se o LIA, este, formado por alunos da EMUFRN, meio fundamental
para o desenvolvimento desta pesquisa. No LIA, surgiram todas as vertentes para
esse trabalho. O Laboratório é voltado a atender a falta de recursos encontrados para
o ensino de música, desenvolvendo oficinas de construção de instrumentos musicais
a partir de materiais recicláveis ou de baixo custo, tendo, no pífano de PVC, como seu
principal instrumento desenvolvido.
Além da luteria, o LIA desenvolve pesquisas sobre dissertações, teses e
trabalhos na área de história, organologia e etnomusicologia, referente aos aerofones
e instrumentos de sopro de outras partes do mundo.Esse trabalho de revisão
bibliográfica amplia o conhecimento dos integrantes do Laboratório sobre gama de
possibilidades dentro dessa família de instrumentos. No Capítulo 3, conhecemos a
história do projeto LIA e os principais componentes que colaboraram diretamente com
o projeto, tendo o músico Carlos Zens, como um dos principais colaboradores e
influenciadores do projeto. O Prof. Dr. Raphael Lacerda, é o fundador e principal
colaborador do projeto. A partir do LIA, surge o grupo musical UFRPIFANOS, que se
apresentou em eventos culturais importantes para a comunidade acadêmica, levando,
para a sociedade, a cultura do pífano com um repertório típico do pífano,
principalmente, o nordestino. O LIA possibilitou a realização de oficinas fora da
32
EMUFRN, relatado no Capítulo 3 deste trabalho (3.1. A oficina de experimentação e
construção do pífano de PVC: a criatividade em prol do Ensino da Música), um
minicurso realizado dentro da XXIII edição da CIENTEC/UFRN.
As oficinas de construção de pífano de PVC, realizadas na Escola Municipal
Yayá Paiva, na turma “A” do 7° ano, na cidade de Nísia Floresta/RN e durante as aulas
de música da Profa. Ma. Camila Luna. Apresentou como se deu as oficinas e como os
alunos interagiram, os tipos de materiais utilizados a metodologia aplicada e as
dificuldades encontradas em relação à aplicação da oficina, comprovando que é
possível utilizar o pífano de PVC como ferramenta de musicalização. Poderá atender
a demanda encontrada na rede pública de ensino, onde os (as) professores (as) de
música, em sua maioria, não encontram uma estrutura mínima para a realização de
suas aulas. O pífano de PVC pode muito bem preencher essa lacuna, suprindo a falta
de recurso para adquirir instrumentos musicais, ao mesmo tempo, estará fazendo o
resgate da cultura popular tão comum na maioria dos estados do nordeste.
Esse trabalho mostrou a importância de novas ferramentas para o ensino de
música em escolas da rede básica de ensino do Rio Grande do Norte, tendo o pífano
de PVC como um potencial instrumento para a musicalização. Mostra que o pífano se
faz presente na cultura do Rio Grande do Norte e deve ser potencializado nas escolas,
trabalhando o ensino de música através do empoderamento cultural e resgatando essa
vertente de nossa cultura. Mediante as dificuldades encontradas ao ministrar aulas de
música na rede pública, o pífano de PVC também é uma excelente solução para
problemas orçamentários das escolas/instituições.
Destaco, aqui, a importância do grupo de alunos que formam o projeto LIA.
Essa união, possibilitou que os estudantes da EMUFRN conhecessem mais de perto
essa vertente de nossa cultura e começassem a valorizar ainda mais as riquezas
culturais do nosso Rio Grande do Norte.
Pretendo ampliar essa pesquisa, realizando novas oficinas na rede básica de
ensino, realizando cursos em projetos sociais, ampliar a valorização dos artistas da
cultura popular que tocam pífano no Rio Grande do Norte e criar métodos que facilitem
a execução do pífano e sua construção de maneira fácil e acessível a todos.
33
REFERÊNCIAS ABREU, Martha e SOIHET, Rachel, Cultura Popular: um conceito e várias histórias. Ensino de História, Conceitos, Temáticas e Metodologias. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003. Disponível em: http://www.museucasadopontal.com.br/sites/default/files/artigos/pdf/Artigo%203%20%20Martha%20Abreu.pdf. Acesso em: 26 out. 2019 ARAÚJO, Sávio. A evolução histórica da flauta até Boehm. DM/IA/UNICAMP, 1999. Disponível em: https://musicaeadoracao.com.br/recursos/arquivos/tecnicos/instrumentos/evolucao_historica_flauta.pdf. Acesso em 06 de agos. 2018 CARREIRA, Débora Bianca Xavier. Violência Nas Escolas: qual o papel da gestão? Dissertação submetida ao programa de pós-graduação Scricto Sensu na área de Política e Administração Educacional na Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Educação. Acesso em: 09/08/2017. Disponível em: https://bdtd.ucb.br:8443/jspui/bitstream/123456789/828/1/Debora%20Bianca.pdf GARCIA, Sara Nuño de La Rosa; ALENCAR, Raphael Lacerda de; SILVA, Leonardo Paiva. Laboratório de Instrumentos Artesanais - LIA. 2017. Disponível em: <https://www.facebook.com/pg/Laborat%C3%B3rio-de-Instrumentos-Artesanais-LIA-1177283462320789/photos/?ref=page_internal>. Acesso em: 25 out. 2019. MENEGATTI, Bruno Del Neri, Batista. Soprando a gaita: bandas de pífanos no sertão baiano. Dissertação de Mestrado, Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2012. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27157/tde-06032013-163356/publico/BrunoDelNeriBatistaMenegatti.pdf NAGY, Brasilena Pinto Trindade. Educação musical com construção de instrumentos: projeto realizado em uma turma de jovens de 08 a 14 anos de idade. 1997. 174 f. Dissertação (Mestrado em Música/Educação Musical). Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1997. PARO, Victor Henrique. A educação e os problemas com o atual sistema de ensino. Entrevista para o programa SPTV, no dia 11/12/2008. São Paulo. Disponível em: https://julcirocha.wordpress.com/2009/05/30/vitor-paro-falando-sobre-a-educacao-221208/ PROGRAMA Cafundó. Direção de Bruno Giovanni. Produção de Camile Correia. Roteiro: Geraldo Maia. Natal: TV Assembleia, 2014. VHS, color. Série 323. Disponível em: <https://youtu.be/b7Sn1U9ZOsw?t=2655>. Acesso em: 25 out. 2019. TRINDADE, Brasilena Gottschall Pinto. A Flauta de Êmbolo: sua construção e aplicação no ensino de música. Anais do XXI Congresso nacional da Associação Brasileira de Educação Musical Ciência, tecnologia e inovação: perspectivas
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APÊNDICES
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APÊNDICE A – Fluxograma sobre Projeto LIA
Fluxograma sobre o Projeto LIA e seus produtos
Fonte: autor.
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APÊNDICE B – Lista de materiais para as oficinas de pífano
39
40
41
42
APÊNDICE C – Declaração do responsável autorizando a participação nas
oficinas
43
APÊNDICE D - Laboratório de Instrumentos Artesanais (LIA)
Fonte: autor.
Fonte: autor.
44
Fonte: autor.
Fonte: autor.
Fonte: autor.
Fonte: página Facebook do projeto LIA.
45
APÊNDICE E - Apresentações culturais do UFRPÍFANOS
Fonte: autor.
Fonte: autor.
46
Fonte: autor.
Fonte: autor.
Fonte: autor.
47
APÊNDICE F - MODELO DESENVOLVIDO DURANTE A PESQUISA
Fonte: autor.