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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ CERES DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DEDUC LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA CAMPUS DE CAICÓ MARILI ARAÚJO SILVA BATISTA O JORNAL DAS MOÇAS EM CAICÓ NO ANO DE 1926: o conteúdo das cartas e o culto à intelectualidade CAICÓ, RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDUC

LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

CAMPUS DE CAICÓ

MARILI ARAÚJO SILVA BATISTA

O JORNAL DAS MOÇAS EM CAICÓ NO ANO DE 1926: o conteúdo das cartas e o culto

à intelectualidade

CAICÓ, RN

2015

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MARILI ARAÚJO SILVA BATISTA

O JORNAL DAS MOÇAS EM CAICÓ NO ANO DE 1926: o conteúdo das cartas e o culto

à intelectualidade.

Monografia apresentada ao Curso de

Licenciatura Plena em Pedagogia como

requisito indispensável do trabalho de

conclusão de curso da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – UFRN.

Orientadora: Grinaura Medeiros de Morais

CAICÓ, RN

2015

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MARILI ARAÚJO SILVA BATISTA

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Aos meus pais, Jandira e Alcides.

Ao meu filho Marco Geovane.

Ao meu esposo Gilvanildo, com amor e carinho.

Marili Silva!

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por me permitir finalizar este trabalho com

tranquilidade e sem nunca perder a fé.

À minha família por sempre ter partilhado de meus sonhos e caminhado comigo em

toda essa trajetória, tornando o caminho menos árduo. Sem o incentivo de vocês, com certeza,

o esforço por esta conquista não teria o mesmo sentido.

Aos professores Especialistas, Mestres e Doutores: Antônio Lisboa, Célia Medeiros,

Grinaura Medeiros, Fernando Bomfim, Fabiana de Brito, Adailson Tavares, Nazineide de

Brito, Talitha Orestes, Ana Aires, Geny Lustosa, Katia Macedo, Tânia Cristina, Adriana

Pereira, Mônica Belotto, Gisonaldo de Sousa, Jean Carlos, Éllen Loiola, Suenyra da Nóbrega,

Mardineuson Sena e Fátima Garcia pelo conhecimento compartilhado e pela grande

contribuição que cada um teve em minha formação, meus sinceros agradecimentos.

Aos que compõem a banca, Tânia Cristina Meira Garcia, Rosenilson da Silva Santos,

como examinadores, e professora Grinaura Medeiros de Morais como minha orientadora.

De forma carinhosa, a cada membro do Curso de Pedagogia 2011.1, companheiros de

tantas e tantas lutas e que trilharam comigo, e com a mesma intensidade, os caminhos de

encantos e desencantos da Pedagogia em busca de um mesmo objetivo.

Ao grupo de estudo: Cleane Andrade, Eliete Barros, Luzania Martins e Roseanne

Keylle, pelas muitas reuniões e pela construção de conhecimentos que se solidificaram

enriquecendo nossa formação.

Aos amigos e às amigas mais próximas: Daniel Medeiros, Anailson, Isabela Cristina,

Welma Maria, Ilda Márcia, Alcimária Melo, Elany Viana, Ana Paula, Ana Carla, Ana

Santana, Laedja Moura, Raiana Neysa, Cleane Andrade, Roseanne Keylle e, especialmente, à

Luzania Martins e à Eliete Barros pelo carinho, companheirismo, cumplicidade e ajuda

mútua.

Aos que fazem o Laboratório de História e Documentação Histórica – LABORDOC

do Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/UFRN de Caicó, bolsistas e o professor

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Helder Macedo pela presteza, possibilitando-me o acesso às documentações, base de minha

pesquisa.

Aos que contribuíram grandemente para que eu pudesse ter êxito neste trabalho: Pedro

Militão Neto, Adauto Guerra Filho, Nanael Simão, Eudy e Euza Monteiro, Maria do Rosário

Vale, Inácio Josué Batista e Adelvina Gurgel da Silva, que, além de me darem suporte quanto

aos materiais de pesquisa, também se transformaram em boas amizades.

Enfim, meus sinceros agradecimentos à minha mãe Jandira, meu filho Marco Geovane

e meu grande companheiro Gilvanildo Batista, pelo carinho e pela caminhada compartilhada.

Meu muito obrigada!

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“A victoria do feminismo está em preparar a

mulher, educando-a, fazendo seu caracter forte e

tornando-a amante da família e do lar”.

(BIRIMBAU, Jornal das Moças, 1926).

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RESUMO

O presente trabalho enseja uma discussão acerca do Jornal das Moças, que circulou na cidade

de Caicó em 1926. Para tanto, analisamos os exemplares do jornal que integram o acervo do

Laboratório de Documentação Histórica (LABORDOC), da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, Campus de Caicó. Nesses exemplares, procuramos localizar e identificar

informações referentes a aspectos relacionados à educação voltada para as mulheres, bem

como sua posição frente à sociedade da época. Por se tratar de um jornal destinado às

mulheres e tendo as professoras no seu corpo redacional, possibilitou-nos uma análise da

propagação das práticas educativas e das ideias femininas. Verificamos que as informações

veiculadas no Jornal das Moças, além de tratarem do cotidiano regional e nacional, traziam,

em suas manchetes, ainda que de forma sutil, o incentivo às mulheres na busca de seu

crescimento intelectual e profissional. A veiculação das vivências sociais se fazia presente

constantemente no jornal, tornando necessária uma interação entre jornal e leitores, abrindo

espaço de diálogo para que os leitores e as leitoras pudessem expor suas opiniões,

discordando ou concordando dos assuntos divulgados nesse periódico, de forma que,

percebemos aí, através dos escritos das cartas, uma grande ênfase ao culto à intelectualidade.

Palavras-chave: Culto à intelectualidade, Educação da mulher, Jornal das Moças.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Praça José Augusto e o Grupo Escolar Senador Guerra............................................18

Figura 2: Júlia Medeiros votando na eleição de 05 de abril de 1928........................................20

Figura 3: Máquina linotipo utilizada por jornais nas primeiras décadas do século 20.............26

Figura 4: Exemplar do Jornal das Moças do dia 7 de fevereiro de 1926..................................29

Figura 5: Exemplar do Jornal das Moças do dia 26 de dezembro de 1926...............................30

Figura 6: Exemplar do Jornal das Moças 1926........................................................................ 35

Figura 7: Leonor Cavalcanti.....................................................................................................38

Figura 8: Dolores Diniz.............................................................................................................40

Figura 9: Júlia Medeiros (1925)................................................................................................42

Figura 10: Julinda Gurgel (1910)..............................................................................................43

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

CAPÍTULO I .......................................................................................................................... 12

CAICÓ - JORNAL DAS MOÇAS (1926)............................................................................. 12

1.1 – Um olhar sobre Caicó nos anos 20 do século passado.....................................................13

1.2 - Os bastidores da imprensa caicoense................................................................................20

1.3 – O advento da tipografia/imprensa no Brasil e a participação das mulheres nesse espaço

informativo................................................................................................................................22

CAPÍTULO II ......................................................................................................................... 27

PERFORMACE DO JORNAL DAS MOÇAS, UM PERFIL DO SEU CORPO

REDACIONAL ....................................................................................................................... 27

2.1 - O perfil do Jornal das Moças (1926)................................................................................27

2.1.1 – O que continha em suas seções e manchetes ................................................................ 30

2.1.2 – O que continha em seus anúncios ................................................................................. 33

2.2 – Reconstituindo o perfil das jornalistas.............................................................................36

2.2.1 - Georgina Pires – Diretora do Jornal das Moças ............................................................ 36

2.2.2 - Dolores Diniz – Gerente do Jornal das Moças .............................................................. 37

2.2.3 - Júlia Augusta de Medeiros – Editora do Jornal das Moças........................................... 38

2.2.4 – Maria Leonor Cavalcanti – Redatora do Jornal das Moças .......................................... 40

2.2.5 – Julinda e José Gurgel – Redatora e colaborador do Jornal ........................................... 41

CAPÍTULO III ....................................................................................................................... 44

AS CARTAS CONTIDAS NO JORNAL DAS MOÇAS E O VALOR DA

INTELECTUALIDADE ........................................................................................................ 44

3.1 – A intelectualidade da mulher se firmando através dos escritos das cartas.......................44

3.2 - Uma retratação das cartas direcionadas ao corpo redacional do jornal............................48

3.3 – Cartas ao jornal, discutindo acerca de diversos assuntos.................................................50

3.4 – Cartas de amizade (pessoal).............................................................................................52

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 55

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 57

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INTRODUÇÃO

Nos dias hodiernos, escrever sobre as práticas educativas no que diz respeito à

educação voltada para mulher seridoense, nas primeiras décadas do século XX, significa

retornar no tempo para recontar uma história de luta e de conquista de seu espaço social.

Durante muitas gerações, a mulher esteve numa posição de desvantagem, pois, além de sofrer

as imposições intempestivas de uma de sociedade dominada pelo homem, e submissa a um

espaço privado, esteve também afastada de uma educação formal.

Essas gerações de mulheres foram educadas através dos costumes da vida cotidiana,

em que suas mães eram responsáveis por instruir as filhas e prepará-las para o bem casar.

Dessa forma, elas deveriam aprender as prendas domésticas, cozer e bordar para, dessa forma,

ser boa mãe e boa esposa.

Embora as famílias investissem mais na educação de seus filhos homens, enviando-os

para a Faculdade de Direito de Recife ou o Seminário de Olinda, algumas mulheres tiveram

acesso às primeiras letras através dos mestres-escolas, que eram contratados pelos fazendeiros

para ensinar seus filhos em suas casas. Mais tarde, nos primeiros anos da década de 20, as

mudanças começavam a ocorrer no campo educacional, com a criação de instituições de

ensino em Caicó.

Visando contribuir com a discussão acerca dos avanços educacionais no Seridó, e

tentando dar continuidade às investigações já existentes sobre a educação da mulher, a

pesquisa busca analisar aspectos inquietadores quanto ao papel da imprensa no que diz

respeito à divulgação da educação pública no Seridó nos anos 20 do século passado, com

destaque para o Jornal das Moças, respondendo a indagações próprias de como esse jornal

intervinha na sociedade e sua importância no desenvolvimento de Caicó e Seridó no que diz

respeito aos aspectos comportamentais, educacionais e à diferença de gêneros, na tentativa de

mapear e materializar essas informações, que possam colaborar com os avanços e com o

enriquecimento da história local, destacando o avanço da mulher seridoense e a conquista de

seu espaço pessoal e profissional na sociedade seridoense.

No presente estudo, pretendemos refletir sobre o valor atribuído ao saber intelectual

manifestado pelas redatoras e pelos colaboradores do Jornal das Moças, com suas leitoras e

assinantes do jornal que se utilizavam de cartas para a interação e a socialização de suas

opiniões acerca dos assuntos abordados nesse periódico.

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Para a realização deste trabalho, utilizamos a pesquisa documental, bem como a

pesquisa bibliográfica. Como fonte primária de pesquisa, utilizamos os exemplares do Jornal

das Moças sob os cuidados do Laboratório de Documentação Histórica do Centro de Ensino

Superior do Seridó (LABORDOC/CERES/CAICÓ), da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, e, posteriormente, desenvolvemos conversas informais com algumas pessoas que

conviveram e fizeram parte do cenário em estudo. Além dessas fontes, utilizamos, como

fonte secundária, leituras bibliográficas que promoveram o confronto com os dados

encontrados na pesquisa documental. Tudo isso para caracterizar o enaltecimento do culto ao

saber intelectualizado nas práticas de leitura e de escrita do Jornal das Moças – 1926.

Dentre as diversas fontes bibliográficas consultadas, estão Rocha Neto (2002),

Monteiro (1999), Andrade (2007), Macedo (2013), Falci (2009), Del Priore (2000), Cirne

(2004), Pinto (1998), Morais (2002), entre outros. A sistematização das informações coletadas

encontra-se organizada em 3 (três) capítulos.

O primeiro capítulo intitulado “Caicó - jornal das moças (1926)” traz um breve

panorama da cidade de Caicó nas primeiras décadas do século XX, mostrando o desenrolar da

mulher na conquista de seu espaço na sociedade, buscando o crescimento intelectual, bem

como sua participação no meio político e jornalístico.

No segundo capítulo, denominado “Performance do Jornal das Moças, um perfil do

seu corpo redacional”, vem discutir o formato do jornal com suas manchetes e anúncios,

destacando, posteriormente, o perfil das moças e dos rapazes que fizeram desse jornal um

dispositivo de reivindicações, de utilidade pública, mas, principalmente, uma extensão de suas

atividades pedagógicas e porta-voz da mulher caicoense.

No terceiro capítulo, titulado “As cartas ao Jornal das Moças e o valor da

intelectualidade”, tratamos propriamente das cartas das leitoras ao jornal, nas quais discutiam

diversos assuntos abordados no periódico, fazendo dessas cartas um dispositivo direto de

socialização e participação de seus leitores e leitoras nos assuntos publicados no jornal.

Encerrando este estudo, são feitas as considerações finais, onde procuramos refletir

sobre as possíveis contribuições que este estudo espera oferecer aos que se interessam pela

problemática do culto à intelectualidade existente em periódicos da época.

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CAPÍTULO I

CAICÓ - JORNAL DAS MOÇAS (1926)

Será este, um semanário de caracter independente,

noticioso e contará com a assídua collaboração das

nossas conterrâneas. Como se trata de um orgam

fundado por moças de nossa melhor sociedade, certo

elle trará ensejo para o desenvolvimento da mulher

caicoense, que já se há affirmado propendente as

lides jornalísticas. O Caicó está portanto de parabéns

com a creação do Jornal das Moças1.

(RENATO DANTAS/Jornal das Moças, 1926, p. 1)

O Jornal das Moças2 foi um semanário que surgiu na cidade de Caicó, no estado do

Rio Grande do Norte, no ano de 1926. Tratava-se essencialmente da história feminina e da

cultura potiguar, tendo, à frente do periódico, as professoras Georgina Pires na direção,

Dolores Diniz na gerência, Julia Medeiros na redação, além de Julinda Gurgel, Santinha

Araújo e Leonor Cavalcante que também compunham a redação desse exemplar, que era

publicado aos domingos, sendo suas manchetes divididas em três colunas: literatura,

humorismo e críticas dedicadas ao interesse da mulher, bem como de assuntos diversos de

interesse social.

Além das redatoras protagonistas do jornal e responsáveis pela sua existência, o jornal

também contava com a cooperação de várias moças da sociedade caicoense, bem como de

alguns senhores como Renato Dantas, Janúncio Bezerra da Nóbrega e José Gurgel de Araújo.

Por ser um semanário, cujo corpo redacional era formado por mulheres, ele figurava na

imprensa do estado como sendo um dos pioneiros na história da imprensa feminina norte-rio-

grandense.

1 Nota de Renato Dantas publicado no dia 7 de fevereiro de 1926, na primeira edição do Jornal das Moças.

Grafia mantida conforme a fonte documental. 2 Ressaltando que, apesar de o Jornal das Moças ter circulado em Caicó no período de 1926-1932, segundo

Monteiro (1999), a pesquisa apresentada vem trabalhar somente com os periódicos do ano de 1926, que se

encontram no LABORDOC/CERES – Caicó.

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1.1 – Um olhar sobre Caicó nos anos 20 do século passado

A história da cidade de Caicó estava marcada pela presença das ricas famílias3 de

coronéis fazendeiros, pela vida pacata sertaneja, bem como pela ascensão da economia e da

pecuária. O mundo seridoense pertencia aos homens no sentido de serem estes os mentores da

vida pública e privada. Dessa forma, cabia à mulher daquele contexto social o papel de ser

mãe, esposa e dona-de-casa, ficando, assim, à sombra de seu esposo e neutralizando-se toda e

qualquer hipótese de essa mulher exercer qualquer função importante e cívica perante a

sociedade, principalmente, em se tratando de avanços intelectuais e de independência

financeira.

Acompanhando o ritmo da evolução e o crescimento das cidades brasileiras no sentido

da modernização, Caicó4 vivenciava, nas primeiras décadas do século XX, os sintomas das

grandes mudanças no setor político, cultural e educacional, principalmente pela elite da

cidade, que almejava por desenvolvimentos que trouxessem novas práticas de consumo,

especialmente carros, vestuário, remédios, lazer e avanço intelectual. Esse desejo de

modernidade5 partia também do círculo político, que buscava apoio para a efetivação dessas

mudanças do lugar e do cotidiano caicoense. Mudanças como a fundação do Grupo Escolar

Senador Guerra em 1909, a chegada da luz elétrica6 em 1925 substituindo os antigos lampiões

a querosene, o surgimento da Fundação Hospitalar Doutor Carlindo Dantas - Hospital do

Seridó, em 1926, e o surgimento do Educandário Santa Teresinha do Menino Jesus em 1925,

fortaleceram os surtos de modernidades da cidade.

Acompanhando o processo do surto de mudança, a elite de Caicó buscava por

crescimento no que diz respeito à educação, optando pela Faculdade de Direito de Recife,

pelo Seminário de Olinda, a Escola Normal da Paraíba ou a de Natal, para seus filhos e netos

estudarem, pois a educação escolar, além de ser um privilégio masculino, era também

considerada o caminho para a formação de bacharéis e letrados para que, no futuro, pudessem

exercer as funções de políticos, advogados, doutores, bem como o sacerdócio.

3 O padrão de riqueza por esta época baseava-se na posse de terra e nos produtos e resultados oriundos dela,

bem como a criação de gado e o comércio. De acordo com Rocha Neto (2002, p. 51), o quadro promissor da

economia da cotonicultura foi o responsável pela consolidação de Caicó e da Região do Seridó, na economia do

Rio Grande do Norte. 4 Situa-se na microrregião Ocidental no Estado do Rio Grande do Norte, está sobreposta à lenda do vaqueiro que

originou a história de Caicó e a casa Forte do Cuó, primeira edificação que iniciou o povoamento da cidade. 5 Seriam representantes de modernismo a chegada da luz elétrica, o trem de ferro e o telefone, segundo

(ARANHA, apud ANDRADE, 2007, p. 29). 6 A luz elétrica chega a Caicó em 1925, gerada por um motor apenas e não era insuficiente. As luzes tinham

hora certa de ligar e desligar. Somente mais tarde, em 1937, Caicó pode inaugurar a segunda etapa da luz

elétrica.

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Para a sociedade, as mulheres estavam destinadas ao ofício de boa esposa, boa mãe, e,

portanto, as prendas domésticas eram suficientes para o bem casar. De acordo com Del Priore

(2000, p. 9), “sua quase invisibilidade as identificava „aos de baixo‟. Isso porque a maioria

das mulheres era analfabeta, subordinada juridicamente aos homens e politicamente

inexistente”.

Durante muitos séculos, as mulheres estiveram em posição de inferioridade, pois

sofriam as determinações firmadas de uma sociedade dominada pelo gênero masculino. Além

de submissas a um espaço privado, estiveram também afastadas de uma educação formal.

Quando solteiras, eram subordinadas ao pai ou ao seu irmão mais velho; quando casadas, o

que geralmente acontece por volta dos quinze ou dezesseis anos de idade, essa

responsabilidade era transferida ao esposo, responsável direto por zelar pela sua conduta e

moral. Os espaços públicos destinados a elas eram poucos e outros lugares eram

extremamente proibidos, sendo, em alguns casos, permitida a sua presença apenas se

acompanhada de seu tutor ou responsável, sendo a igreja, o único local reservado ao público

feminino, mesmo que ainda com algumas restrições.

De acordo com (LOURO apud DEL PRIORE, 2009, p. 445),

De um modo geral, as meninas das camadas populares estavam, desde muito

cedo, envolvidas nas tarefas domésticas, no trabalho da roça, no cuidado dos

irmãos menores, e que essas atribuições tinham prioridades sobre qualquer

forma de educação escolarizada para elas. Para as filhas de grupos sociais

privilegiados, o ensino da leitura, da escrita e noções básicas da matemática,

mas era complementado pelo aprendizado do piano e as habilidades com a

agulha, os bordados, as rendas e habilidades culinárias.

Desse modo, o domínio da casa e das prendas domésticas mostra claramente o destino

que teriam as jovens independentemente de sua posição social. Elas estariam sendo

preparadas para dar continuidade ao legado de suas mães, avós, bisavós.

A educação feminina seguia meramente os padrões da sociedade, deixando a deduzir

que, para ser bem vista e aceita pela sociedade, precisava ser boa esposa e mãe devendo

exercer muito bem esses papéis tão fundamentais e naturais a todos, tal como afirmava o

pensamento da época. A mulher deveria receber uma instrução e uma educação adequada para

que a mesma se encaixasse perfeitamente nesse perfil, aprendendo o ofício do lar e o cuidado

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com a higiene corporal7. Corroborando com este pensamento, recorremos a (ARIES, 1981, p.

190) ao afirmar que “além da aprendizagem doméstica, as meninas não recebiam, por assim

dizer, nenhuma educação. Nas famílias onde os meninos iam ao colégio, elas não aprendiam

nada”.

Desde os primórdios de uma educação brasileira professada pelos jesuítas, sabe-se que

a posição da mulher estava reservada às atividades que se consideram inferiores às atividades

dos homens. Considerando este aspecto, supunha-se que a educação voltada para a mulher, na

época dos jesuítas, era aquela que tinha relação com a reprodução, já que os casamentos eram,

segundo Ribeiro (1997, p. 82), “contratos econômicos acertados pelos pais e, na falta desse,

pelo irmão mais velho”. Com isso, fica clara a superioridade do homem em relação à mulher,

o que já víamos afirmando com (FALCI, apud DEL PRIORI, 2009, p. 251),

Não estudaram as primeiras letras nas escolas particulares dirigidas por

padres e não foram enviadas a São Luís para o curso médio, nem a Recife ou

Bahia, como ocorria com os rapazes de sua categoria social. Enquanto seus

irmãos e primos do sexo masculino liam Cícero, em latim, ou Virgílio,

recebiam noções de grego e do pensamento de Platão e Aristóteles,

aprendiam ciências naturais, filosofia, geografia e francês, elas aprendiam a

arte de bordar em branco, o crochê, o matiz, a costura e a música.

Algumas mulheres se fizeram notar no século XIX, deixando-se perpetuar até os dias

atuais através de seus escritos. De acordo com (FALCI, apud DEL PRIORI, 2009, p. 252),

foram elas “Dionísia Gonçalves Pinto e Firmina do Reis. Naturais do Nordeste, a primeira, de

alcunha Nísia Floresta Brasileira, nascida no interior do Rio Grande do Norte, é apontada

como percussora das ideias de igualdade e independência da mulher. A segunda, Maria

Firmina dos Reis, foi uma escritora mulata maranhense, professora pública e autora de contos

e romances”.

Em outros casos, algumas filhas de fazendeiros conseguiram aprender a ler e a

escrever, pois tiveram contato com os mestres-escolas que eram contratados para ensinar tanto

nas fazendas quanto nas próprias casas desses mestres. É o que afirma Rocha Neto (2005, p.

41) “algumas mulheres se constituíram mulheres letradas. Júlia Medeiros, desde criança,

assim como suas irmãs, já se diferenciava das meninas da sua comunidade. Elas tiveram a

oportunidade de conhecer as primeiras letras, graças à visão pedagógica do seu pai”.

7 Para um melhor entendimento sobre a higienização do corpo feminino, ler a Dissertação de Silva (2009), Dos

atos confessos aos afetos não-ditos: Um olhar sob as múltiplas experiências femininas a partir da análise dos

discursos jurídicos, jornalísticos e orais. Caicó-RN (1900-1945).

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Nos primeiros anos do século XX, as mudanças já começavam a ocorrer no âmbito

educacional. De acordo com a professora Maria das Dores Medeiros8, “no governo de Alberto

Frederico de Albuquerque Maranhão, quando Caicó viu surgir, através do Decreto no 189 de

16 de fevereiro de 1909, a primeira instituição de educação pública a pedido do então prefeito,

Cel. Joaquim Martiniano Pereira, o Grupo Escolar Senador Guerra”9.

A instituição de ensino passou a funcionar nas dependências da Intendência Municipal

(antiga prefeitura), até que, em 1925, o grupo escolar passou a ter sua sede própria, sendo

inaugurado pelo Diretor Geral da Instrução Pública do Estado e, logo mais tarde, governador

do Rio Grande do Norte, o então Doutor José Augusto Bezerra de Medeiros10

que, no decorrer

de sua trajetória política, destacou-se por sua ativa participação em projetos ligados à

alfabetização e inovações pedagógicas na educação.

Falar das conquistas das mulheres no decorrer do tempo é quebrar as amarras, nas

quais elas estavam presas e submissas sem o direito ao crescimento intelectual, ao trabalho

realizado fora de casa e a sua inserção nas funções sociais para além dos afazeres domésticos,

uma vez que este era o seu grande desejo diante do crescimento da cotonicultura (caso

específico da realidade econômica do RN e particularmente da Região do Seridó) e da

expansão do comércio e das cidades, bem como o florescimento da abertura das escolas

públicas, ensejando o acolhimento de novos professores e professoras para a realização desse

ofício. De acordo com Morais (1999, p. 52), “Caicó foi uma das primeiras a entrar na

campanha de ampliação da oferta do ensino primário. A cidade foi contemplada com a

8 MEDEIROS, M. D. Uma viagem pela memória seridoense: O Grupo Escolar Senador Guerra e a Praça Dr.

José Augusto de Medeiros. Fonte: http://www.cerescaico.ufrn.br/historiadecaico/grupo_escolar1.htm 9 De acordo com Eunice Ariston, no livro “Rastos Caicoenses V”, organizado por Lidiane Araújo, o

estabelecimento de ensino recebeu seu nome em homenagem ao Senador Padre Francisco de Brito Guerra que,

durante o império, muito lutou pela educação, chegando a fundar uma escola focada no estudo das letras

clássicas no Sertão do Seridó – Caicó.

10 Caicoense, estudou o ensino secundário no Atheneu Norte-Rio-Grandense e Direito na Faculdade de Direito

do Recife, foi advogado, professor e magistrado, exerceu os cargos de Procurador da República, Fiscal de

Governo Federal junto ao Colégio Abílio, Secretário de Estado no Governo Ferreira Chaves, Juiz de Direito da

Comarca de Caicó, Chefe de Polícia Interino e Diretor do Atheneu Norte-Rio-Grandense. Exercendo também os

mandatos de Deputado Estadual de 1913 a 1915; Deputado Federal nos anos 1915 a 1918, 1918 a 1921, 1921 a

1923; Governador do Estado de 1924 a 1927; Senador de 1923 a 1930 e Deputado Federal nos anos 1935 a 1937,

1946 a 1947, 1947 a 1950 e de 1950 a 1955. Publicou vários livros como: O Anteprojeto da Constituição em

face da Democracia, Rio De Janeiro, Schmidt, 1933. Editora Nacional, 1918, Eduquemo-Nos, 1922; A

Representação Profissional nas Democracias, 1933; Porque sou Parlamentarista, RJ, Jornal do Commercio.

1936; Famílias Seridoenses, 1940; O Sal e Algodão na Economia Potiguá, RJ, Imprensa Nacional, 1948; Aos

Homens de Bem, 1926. Seridó, Rj, Borsoi, 1954; A Federação Mundial, RJ. Borsoi, 1954. Amaro Cavalcante,

1954; Do Conselho Nacional de Economia, RJ, Liv. S. José; A Região do Seridó 1961; Presidencialismo Versus

Parlamentarismo, RJ. Borsoi, 1962; O Rio Grande do Norte no Senado da República, 1968. Fonte:

http://www.senado.gov.br/senadores/senadores_biografia.asp?codparl=1885&li=34&lcab=1927-1929&lf=34.

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17

construção do Grupo Escolar Senador Guerra, que foi viabilizada por meio de auxílio estado,

constituindo-se a primeira unidade escolar oficial de Caicó”.

José Augusto Bezerra de Medeiros (1924-1927) intencionava ampliar a educação do

RN (o governador inaugurou vários estabelecimentos de ensino denominados de grupos

escolares por toda a região do Seridó), modernizando o pensamento educacional a partir do

modelo escolanovista. Alguns estados brasileiros estavam sob o reflexo de uma reforma

educacional, inspirada no princípio da Pedagogia da Escola Nova defendida por vários jovens

intelectuais como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho11

, entre outros.

Segundo Mariz (1979, p. 8-9), “no governo de José Augusto o RN chegou a ocupar a

invejável posição de segundo lugar no país em crescimento educacional e desempenho na

faixa de escolarização, conforme estatística divulgada na época, atrás apenas de São Paulo

(...). Caicó foi uma das primeiras a entrar na campanha de ampliação da oferta de ensino

primário”.

Figura 1: Antiga Praça José Augusto e o Grupo Escolar Senador Guerra - Caicó/RN.

Fonte: google.com.br

Na fotografia acima, o Grupo Escolar Senador Guerra e, à sua frente, a Praça José

Augusto. Hoje, tanto o grupo quanto a praça passaram por modificações.

11

Autores reformistas do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) por uma renovação educacional.

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18

De acordo com Rocha Neto (2002, p. 95-6), oficialmente, o ensino para meninas em

Caicó se deu através do surgimento do Colégio Santa Teresinha do Menino Jesus, sendo

implantado em 1926, o qual tinha uma orientação voltada para a instrução da mulher. Esse

fato foi noticiado pelo Centro de Imprensa Católica, denominado Diário de Natal, que

circulou na capital entre 1924-1942, a saber, “as dificuldades trazidas pela reforma do ensino

fizeram com que D. José desistisse de fundar o colégio para meninos, como era seu desejo,

para convertê-lo em educandário de menina” (Diário de Natal, 28/10/1925).

Apesar de a educação focar mais nos aspectos domésticos, as mulheres podiam

também desenvolver o dote musical, teatral e poético. É neste cenário que as mulheres vão,

paulatinamente, quebrando as barreiras e se confrontando com as convenções sociais,

passando a não aceitar as imposições e as normas da sociedade vigente, conseguindo se

destacar na sociedade caicoense. Assim, Cirne (2004, p. 67) destaca que “todas elas bravas

guerreiras nordestinas, como aquelas que faziam o Jornal das Moças, no final dos anos 20:

Dolores Diniz, Santinha Araújo, Leonor Cavalcanti, Julinda Gurgel, além de Júlia Medeiros

(...). Todas elas fortes como o saudoso vento azul da memória”.

O espaço político caicoense destacou-se com a “alta-roda” assumindo o controle do

Estado, com José Augusto e Juvenal Lamartine à frente do cenário público e a cidade de

Caicó viu passar 3 (três) prefeitos nesse período, foram eles, José Inácio Camboim (1920-

1923), Joel Damasceno12

(1924 – 1928) e fechando com Eduardo Gurgel de Araújo (1928-

1930). Um dos pontos altos da história política do Rio Grande do Norte foi a lei nº 660,

sancionada pelo Governador José Augusto Bezerra de Medeiros, que estabelecia em 25 de

outubro de 1927, o exercício eleitoral “sem distinção de sexo”, uma iniciativa de Juvenal

Lamartine que sempre defendeu o voto feminino no Brasil.

12

De acordo com Adauto Guerra Filho, em 1907, no governo de Afonso Pena, juntamente com Cel. Gorgônio,

Joel recebeu a patente de Tenente Coronel, Capitão da Guarda Nacional. Além de militar, era agricultor,

pecuarista e político. Foi prefeito de Caicó de 1924 a 1926. Foi na sua gestão que Caicó teve importantes

avanços: Foi instalada a energia elétrica, construído o grupo escolar Senador Guerra, fundado o Educandário

Santa Teresinha, construído e inaugurado o Hospital do Seridó e, pela 1ª vez, recebeu a visita de um Presidente

da República, o senhor Washington Luís em 1926.

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19

Figura 2: Júlia Medeiros votando na eleição de 05 de abril de 1928. Da esquerda para a direita: Pe.

Floro Dantas, Eulâmpio Monteiro, Eduardo Gurgel, Renato Dantas e Olegário Vale.

Fonte: Foto retirada da Tese de Manoel Pereira da Rocha Neto.

A foto acima expõe o exercício do voto, apresentando Júlia Medeiros exercendo um

direito cívico, uma grande conquista, resultado de intensa campanha nacional por parte de

mulheres que foram influenciadas e influenciáveis, indo contra as convenções sociais

existentes da época e passando a conquistar cada vez mais o seu espaço no cenário político

brasileiro.

Júlia Medeiros, segundo Rocha Neto (2005) foi a primeira mulher caicoense a se alistar como

eleitora. Na ocasião sua amiga Bertha Lutz envia um telegrama a felicitando “Rio 04 de

Março de 1928. Nome Federação Brasileira Progresso Feminino e pessoalmente, felicito

vossa excelência pelo seu alistamento eleitoral, convidando consorcia desta federação. Bertha

Lutz. Presidente”.

Quanto aos avanços culturais, Caicó viu acontecer a inserção das mulheres no meio

artístico com a formação do grupo teatral “Alliança Feminina Theatral”, pois, até esse

momento, os grupos teatrais eram formados apenas por homens. As praças de Caicó se

caracterizavam como espaços de cultura, onde as famílias se encontravam e socializavam

acontecimentos como a Festa de Santana, a Festa do Rosário, apresentações de bandas. Além

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20

desses entretenimentos, tinha o Cinema Avenida, que foi criado em 1925 e o Teatro Avenida.

Estas foram instituições culturais que tiveram um papel fundamental na vida da sociedade

caicoense. Assim, a cidade ia se adaptando e interagindo com o processo de modernidade que

nascia moldando o pensar e o agir dos cidadãos, que seguiam construindo historicamente suas

relações com o espaço, criando laços de reconhecimento e de pertencimento. Dessa forma, a

divulgação dos fatos se fazia necessária nos veículos de informação.

No período em estudo, Caicó se destacava na Região do Seridó pela eclosão de novos

acontecimentos projetados e veiculados nos periódicos em circulação daquela época, que,

além do Jornal das Moças (1926), também circulou O Jornal do Seridó (1927 – 1929), O

Binóculo (1928) e o Código de Postura (1928), os quais registravam as últimas atualidades

dos grandes centros em avanço como São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, entre outros.

1.2 - Os bastidores da imprensa caicoense

A imprensa caicoense teve início no século XIX, impulsionando o surgimento de

vários outros folhetins e periódicos que se destacaram e ocuparam o espaço jornalístico em

Caicó, entre um período que vai de 1889 a 1939. Esses jornais tiveram vidas curtas, porém,

todos contribuíram para a formação da identidade jornalística do município.

De acordo com Monteiro (1999), em sua obra “Caicó: subsídios para a história

completa do município”, destacaram-se vários jornais existentes na cidade nesse período,

como: O POVO que nasceu no dia 4 de Março de 1889, sendo ainda numa época da

monarquia e tendo como proprietário José Renaut, dirigido por Dr. Diógenes Santiago da

Nóbrega e Olegário Vale. No dia seguinte, começou a fazer parte desse jornal o acadêmico

Manoel Dantas, que ficou por conta da parte redacional do periódico. Esse jornal teve um

intervalo de 2 (dois) meses sem circular e voltou a suas atividades em 1º de junho do mesmo

ano. Dizimou-se no dia 17 (dezessete) de setembro de 1892.

Em 18 de setembro de 1900, surgiu o segundo semanário que se chamava O SERIDÓ,

e pertenceu a João Vitoriano de Fontes. Sua existência durou apenas 1 (um) ano e custava 4

(quatro) mil réis. Surge em Caicó, no ano de 1907, o jornal O ECO SERTANEJO que

pertenceu ao mesmo proprietário do jornal O SERIDÓ, sendo que este também teve duração

de 1 (um) ano. Na sequência, em 6 de novembro de 1909, apareceu o jornal CORREIO DO

SERIDÓ, que teve, em sua direção, o Dr. Augusto Monteiro, quem nessa mesma época, era o

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juiz desta comarca e tinha como colaboradores do jornal, Celso Afonso Dantas, Doutor Pedro

Odilon, Professor Pedro Gurgel, Manuel Etelvino de Medeiros, Doutor Hilariano Amâncio

Pereira, entre outros. O jornal teve uma duração de 6 (seis) anos, extinguindo-se em 1915. Em

decorrência do insucesso dos jornais impressos surgidos em Caicó, nasceram os manuscritos,

dos quais, em 1909, eclodiu A SENTINELA, O COMBATE e, logo mais, A INFÂNCIA e A

DISTRAÇÃO.

Esses manuscritos se dissiparam muito rapidamente. O jornal O CINEMA surgiu em

15 de fevereiro de 1914 e viveu até 25 de fevereiro de 1915, sob a direção de José Gurgel,

Luiz Alves e Plácido Aristóteles. Ainda em 1909, foi fundado o jornal que teve sua vida mais

longa que os demais jornais da época em Caicó, O SERIDOENSE. O mesmo foi criado pelo

Doutor Janúncio Nóbrega e Pedro Militão, e sua circulação foi até junho de 1921. O

JUVENIL foi considerado um dos melhores jornais semanais da época, sendo de cunho

humorístico e literário. Nasceu em 13 de dezembro de 1917 e tinha como tipógrafos os irmãos

Elísio, Florizel e Djalma Medeiros. Seu corpo redacional era composto por seu pai Esperidião

Medeiros, que era auxiliado por Plácido Aristóteles, Doutor Francisco Gurgel, Joaquim

Vicente Filho, Floriano Medeiros, José Dias de Medeiros e José Gurgel de Araújo. O jornal

durou 1 (um) ano. Em 14 de maio de 1916, surge mais um periódico, este intitulado O

BINÓCULO, que viveu até 2 de julho de 1918. Esse mesmo jornal reapareceu em 17 de maio

de 1936 sob a direção de José Gurgel e foi suspenso no mesmo ano, em 13 de dezembro.

Dirigido por Georgina Pires, gerenciado por Dolores Diniz, sendo o corpo redacional

formado por Santinha Araújo, Maria Leonor Cavalcante, Julia Medeiros e Julinda Gurgel,

surgiu, em 7 de fevereiro de 1926, o JORNAL DAS MOÇAS. O jornal foi o primeiro em

Caicó de cunho totalmente feminino e recebia a colaboração de outras “moças da sociedade

caicoense”, além de alguns rapazes como o acadêmico Renato Dantas, Janúncio Bezerra da

Nóbrega e José Gurgel de Araújo. O jornal extinguiu-se em 1932.

Idealizado por José Augusto da Câmara Torres, Adauto Rocha e Valdemar Nóbrega,

o jornal JUVENTUDE surgiu amparado pelos professores e, principalmente, pelo Professor

Joaquim Coutinho e era dirigido por José Augusto da Câmara Torres, e gerenciado por

Adauto Rocha. Esse jornal viveu de 3 de maio de 1931 a 10 de fevereiro de 1932. Sob a

direção de José Gurgel e gerenciado por Odilon Lebarre, o JORNAL DE CAICÓ surge em 6

de dezembro de 1930, circulando até dia 9 de abril de 1932. Este obteve a colaboração de

Renato Dantas, Garibaldi Dantas e Cristovão Dantas. O periódico voltou a circular na cidade

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22

em 7 de julho de 1934 a 24 de novembro do mesmo ano, e tinha como diretor Renato Dantas.

Esse jornal ainda voltou a surgir pela terceira vez em 22 de setembro de 1936 e extinguindo-

se definitivamente em 6 de dezembro de 1937.

E, por último, fechando a década de 30, surge, em Caicó, o jornal intitulado JORNAL

DA FESTA, o qual era publicado todos os anos no período das festividades de Sant‟Ana e seu

objetivo era promover um concurso de beleza para, assim, eleger uma Rainha da Festa. Em

comemoração ao Natal, surgiu, em 24 de dezembro de 1939, um periódico único que se

chamou de O NATAL em comemoração às festividades desse mês.

Esse é um balanço do surgimento de uma vivência literária em Caicó através do

jornalismo e seus escritos em circulação naquela época, que assentiram a formação de um

panorama de representações históricas de Caicó e Região do Seridó.

1.3 – O advento da tipografia/imprensa no Brasil e a participação das mulheres nesse

espaço informativo.

A máquina tipógrafa sempre foi o principal elemento das páginas impressas e, no

decorrer das décadas, passou por modificações quanto ao modelo e às formas de uso. Para

Moura (2006, p. 26), “A mais sutil e devastadora das revoluções ligadas à máquina talvez

tenha sido aquela deflagrada por Gutenberg, que, no começo do século XV, revolucionou a

tecnologia da tipografia e especialmente da impressão”.

Ainda de acordo com Moura (2006, p. 27), “Acredita-se que a imprensa tenha sido

uma das maiores invenções da humanidade na medida em que estimulou a liberdade de

informação e a formação de opinião. (...) O primeiro livro impresso por Gutenberg foi a

Bíblia, processo que ele iniciou em 23 de fevereiro de 1455 e concluiu uns cinco anos

depois”.

Gutenberg foi o mentor da tipografia prensa móvel em 1440. Os caracteres avulsos

eram gravados em blocos de madeira ou chumbo, em seguida, eram arruados em uma tábua,

formando palavras e frases. As primeiras tipografias que chegaram ao Brasil foram as prensas

tipógrafas manuais utilizadas na Europa, nas quais todo o processo era feito manualmente,

inclusive o entinte. A impressão das folhas dos jornais era feito individualmente, uma a uma.

Conforme as tipografias iam surgindo e fazendo suas publicações, as mesmas têm suas

atividades interrompidas por ordem da coroa, como foi o caso de Antônio Izidoro, que teve

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suas publicações cessadas, uma vez que, no país, só era permitida a circulação dos impressos

vindos da Europa, refletindo o poder e a soberania da coroa portuguesa. Assim,

Em 1706, a tentativa de fazer funcionar um prelo em Pernambuco sofre

bloqueio da autoridade colonial. No Rio, a tipografia de Antônio Isidoro da

Fonseca, aberta em 1746, é fechada em 1947 pela Carta Régia, de 10 de

Maio, que proíbe a impressão de livros ou papéis avulsos (BAHIA, 2009, p.

18).

O atraso da implantação da tipografia no Brasil se deu pelo fato de a coroa não

consentir a liberdade de expressão e, assim, utilizou a Carta Régia como um dispositivo que

ordenava o fechamento dessas tipografias, punindo os envolvidos com a prisão e o exilo

(exílio), sendo que essa inflexibilidade só veio mudar a partir de 1808.

Com a chegada da família Real Portuguesa ao Brasil, houve uma espécie de revolução

cultural e daí surgiu a imprensa em 13 de maio de 1808, com o nome de Impressão Régia,

através do decreto do então príncipe Regente, D. João VI. A primeira tipografia chegou ao

Brasil em 5 de Janeiro do mesmo ano e logo surge o primeiro jornal intitulado “A Gazeta do

Rio de Janeiro” que, a priori, as informações circulavam apenas no âmbito da corte real.

O jornal tinha, como principal função, publicar os atos oficiais do governo que se

instalou no Rio de Janeiro em 7 de Março de 1808 e, assim, mantendo o monopólio da

impressão no Rio. A maioria desse material impresso era formada por folhetos, sermões,

documentos e cartazes do governo e, somente a partir de 1820, com o fim da censura,

concentrou-se um maior número de tipografias no Rio de Janeiro. Segundo Bahia (2009, p.

17), “é sob o signo do oficialismo e com atraso de três séculos que inaugura a imprensa no

Brasil, em 1808. A administração colonial portuguesa impede a tipografia e o jornalismo até a

chegada de D. João VI. Em maio, instala as oficinas da Impressão Régia e, em setembro, faz

circular a Gazeta do Rio de Janeiro”.

Após 1808, a instalação da imprensa e da coroa portuguesa do Brasil possibilitou o

desenvolvimento cultural e social do país como a abertura dos portos e a implantação de

escolas superiores de arte e ciências.

As turbulências que permeavam o desenvolvimento da liberdade de expressão da

imprensa brasileira são incontáveis. Em outubro de 1923, foi promulgada a Lei de Imprensa,

que limitava as perspectivas de expressão, a lei estabelecia prisão e multas aos autores como:

editor, dono da oficina, proprietário do órgão ou estabelecimento gráfico responsável pela

impressão, bem como distribuidores e vendedores. Assim, era proibida a publicação de

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segredos de estado, ofensas ao Presidente da República, chefes de estado e nações

estrangeiras.

Seja como for, a despeito do grande atraso em seu surgimento e do

analfabetismo quase crônico entre a população brasileira, a imprensa

demonstrou ser uma arma valiosa para as elites letradas que, durante a maior

parte do século XIX dela, se valeram para marcar suas posições, defender

suas ideias, atacar os governantes (ou sua oposição...), elogiar reis e rainhas,

questionar hábitos, consolidar tradições e instituições, importar novidades,

difamar e desmoralizar inovações que consideravam inadequadas, denunciar

abusos, encobrir negociatas, trazer para mais perto dos seus leitores o

universo dos poderosos, chocá-los com a miséria que não viam e não

sentiam e também para ajudar a trazer à tona talentos da literatura nacional e

das artes gráficas. Nomes como Machado de Assis, José de Alencar,

Joaquim Nabuco, Castro Alves, Ângelo Agostini, Cândido Faria e Bordallo

Pinheiro marcaram presença nas páginas dos jornais - os três primeiros na

literatura, os outros, na caricatura13

.

O texto mostra que, mesmo com tantos altos e baixos pelos quais passou a impressa no

processo de consolidação no Brasil, esta conseguiu sobreviver e se fortalecer com o passar das

décadas, expandindo-se e tornando-se, dessa forma, uma importante aliada da democracia,

fiscalizando e informando o cidadão, cobrando e denunciando, debatendo temas polêmicos e

comuns à sociedade brasileira.

13

Texto de Viviane Gouvea “A história em preto e branco: periódicos no Brasil do século XIX”. Fonte:

http://www.exposicoesvirtuais.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=3.

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Figura 3: Máquina linotipo utilizada por jornais nas primeiras décadas do século 20, provavelmente de 1930.

Fonte: http://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/museu-imprensa.html

Os impressos voltados para as mulheres ganhavam espaço na imprensa brasileira,

principalmente na imprensa carioca, onde circularam O Jornal das Senhoras (1852), Belo

Sexo (1862), Biblioteca das Senhoras (1874), O bisbilhoteiro (1889), Eco das Damas (1879 –

1882), O Direito das Damas (1882), entre outros que circularam no Rio de Janeiro (MORAIS

apud ROCHA NETO, 2002, p. 18).

Assim, a atuação dessas pioneiras em periódicos femininos de nomes tão sugestivos

mostra a vontade de se fazer ouvir e passa a motivar o desejo de outras mulheres à

participação cívica na sociedade. Segundo (BUITONI apud ROCHA NETO, 2002, p. 18),

O primeiro jornal de caráter feminino no Brasil nasceu no Rio de Janeiro e

chamava-se O Espelho Diamantino (1827). Este periódico continha política,

literatura, belas-artes e modas. Em Recife, surgiu o possível segundo

periódico feminino brasileiro, denominado O Espelho das Brazileiras

(1831). Outros se seguiram: Jornal de Variedades (1835), Relator de

Novellas (1838). No Rio de Janeiro surge, em 1839, o jornal semestral

Correio das Modas (1839-1841) da casa Laemmert, com bastante Literatura,

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crônica de bailes e teatros e figurinos pintados à mão, oriundos da França.

Eram os primeiros passos da participação da mulher na imprensa brasileira.

Em Caicó, não foi diferente, o principal objetivo do Jornal das Moças era abrir espaço

para a mulher para que, dessa maneira, ela tivesse vez e voz, participando ativamente da vida

social e cultural presente na sociedade, mas que ainda era restrita ao gênero masculino.

Essas mulheres que se destacaram na cidade de Caicó ocuparam o cenário local

através das práticas jornalísticas, educacionais e literárias de forma cotidiana e, assim,

fundando um jornal de cunho feminino, passaram a utilizar esse periódico como extensão de

suas atividades pedagógicas e sociais.

As mulheres que até então viviam à margem do mundo e do mando dos homens

passaram, dessa forma, a ter vez e voz ao utilizar o jornal como veículo condutor de suas

opiniões, ideias, pensamentos e práticas educativas, burlando, portanto, as convenções sociais,

quebrando tabus e, consequentemente, passando a conquistar seu próprio espaço naquela

sociedade.

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CAPÍTULO II

PERFORMACE DO JORNAL DAS MOÇAS, UM PERFIL DO SEU CORPO

REDACIONAL

Enquanto pelo velho e novo mundo vai ressaltando o

brado – emancipação da mulher -, nossa débil voz se

levanta na capital do império de Santa Cruz, clamando:

Educai as mulheres! Povos do Brasil, que vos dizeis

liberal! onde está a doação mais importante dessa

civilização, desse liberalismo?

(Nísia Floresta, em 1852)14

2.1 - O perfil do Jornal das Moças (1926)

O jornal feminino, no qual essas mulheres e rapazes da elite se fizeram presentes,

apesar de tratar de diversos assuntos, tornou-se instrumento propagador das inquietações

femininas na busca de seu espaço social. Embora o jornal não incentivasse movimentos

feministas, eram veiculadas, em suas manchetes, de forma sutil, contestações e críticas à

sociedade que, naquela época, oprimia os direitos cívicos das mulheres, tirando delas o direito

à vez e à voz.

O jornal objetivava incentivar a mulher na busca e na conquista de seu espaço social,

profissional e intelectual, mostrando-lhe possibilidades que iam que além de uma educação

exclusivamente limitada ao espaço doméstico.

Com a cidade em ascensão, desenvolvendo-se no âmbito político, cultural e

educacional, vários jornais veiculavam manchetes e notícias de uma Caicó próspera e

acontecimentos do cotidiano local, regional e nacional. Esses debates veiculados nos

periódicos da época tratavam do aspecto do “moderno” que tomava conta do cenário da

época.

14

Mulheres na sala de aula, em (LOURO, apud DEL PRIORE, 2009, p. 443), Histórias das mulheres no Brasil.

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Figura 4 – Exemplar do Jornal das Moças, edição do dia 7 de Fevereiro de 1926.

Fonte: http://www.bczm.ufrn.br/jornal-das-mocas/

O Jornal das Moças nasceu em Caicó no dia 07 de fevereiro de 1926, tornando-se um

veículo de informações muito bem aceito pela sociedade local e região, refletindo-se como

um instrumento inovador e de grande influência para o progresso da cidade seridoense, cujo

jornal as mulheres puderam utilizar para expor suas opiniões acerca de vários assuntos de

caráter cultural, comportamental, político e educacional, quebrando, assim, as barreiras para

além de seu espaço feminino, atuando na imprensa que até então seria território unicamente

masculino. E, consequentemente, destacando-se no campo político, educacional e

comunicacional, constituindo-se, desse modo, um grupo de mulheres que movia esse

importante instrumento de comunicação que era publicado semanalmente, mais

especificamente aos domingos, sendo suas manchetes divididas em três colunas: literatura,

humorismo e críticas, nas quais eram direcionados manchetes e debates relacionados à

posição da mulher frente à sociedade norte-rio-grandense.

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Além dos esforços femininos que fizeram do jornal uma extensão de suas atividades

pedagógicas, as redatoras contavam também com a colaboração de várias outras moças da

elite caicoense, bem como de alguns rapazes como os senhores Renato Dantas15

, Janúncio

Bezerra da Nóbrega16

e José Gurgel de Araújo17

.

Figura 5 – Exemplar do dia 26 de dezembro de 1926.

Fonte: http://www.bczm.ufrn.br/jornal-das-mocas/

Esse exemplar apresenta a suspensão da circulação do Jornal no dia 26 de dezembro

de 1926, o que nos faz acreditar que, diferentemente do que está citado no livro de Monteiro

(1999), Caicó: Subsídios para a história completa do município, onde traz que o jornal

15

De acordo com Adauto Guerra Filho, Renato Dantas Cursou o ensino médio e superior em Recife. Foi orador

de sua turma. Formou-se advogado e ingressou na política em 1934. Em 1940 foi nomeado Juiz de Santana de

Matos. Foi orador na recepção de Washington Luís em 1926 em sua passagem por Caicó, bem como a posse de

Dom Delgado em 1941. 16

Juiz da Comarca, formado pela Faculdade de Direito do Recife. 17

Farmacêutico formado pela Faculdade de Direito do Recife e no Jornal das Moças usava o pseudônimo “Flor

de Liz”. Segundo Adelvina Gurgel da Silva, seu pai José Gurgel de Araújo fundou a Loja Maçônica “Trabalho e

Fraternidade”, fundou o Centro Operário de Caicó, a Escola do Rotary e o Lions Clube.

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circulou de 1926-1932, o que teria um espaço de tempo de 6 anos de duração, pode ter

sobrevivido apenas alguns meses.

O jornal media 28 cm de largura com 38 cm de comprimento, nas primeiras

publicações, o jornal mantinha uma divisão de duas colunas e logo mais passou a ser 03 (três)

colunas em todas as páginas, nas quais veiculavam a parte literária, uma parte humorística e a

parte crítica, sua venda se dava de forma avulsa em bancas e por meio de assinaturas. O

jornal, além de divulgar as formas de vendagem, fazia questão de frisar que o pagamento seria

adiantado. Na primeira edição, o Jornal das Moças publica a distribuição/venda desse

periódico, e seguia a seguinte tabela de vendas:

Um ano ............................10$ 000

Um semestre ....................8$ 000

Um trimestre ....................4$ 000

Número avulso .................$ 200

Assim, o jornal trazia, em seu perfil, as divisões das colunas de informações, mantinha

um formato padronizado continuamente, bem como a divulgação das vendas e a distribuição

do material impresso.

2.1.1 – O que continha em suas seções e manchetes

O Jornal das Moças extrapolou os limites caicoenses, sendo manchete em jornais da

região e para além das fronteiras estaduais. No dia 4 de abril de 1926, o jornal publica em

suas páginas uma nota veiculada no “JORNAL DO SERTÃO”, jornal de circulação em Patos

na Paraíba:

Recebemos a gentil visita do “Jornal das Moças”, mimoso porta-voz das

intelligentes filhas de Caicó, no vizinho estado do norte. O “Jornal das

Moças”, cujo corpo redaccional é composto por melles. Georgina Pires,

diretora; Dolores Diniz, Santinha Araújo e Leonor Cavalcanti entre, traz

selecta collaboração que auto-proclama o amor das moças caicoenses pelas

cousas do espírito. Impresso em officina própria, o interessante semanário

apresenta feição material muito attrahente. Somos gratos à visita do “Jornal

das Moças” (JORNAL DAS MOÇAS, 04/04/1926, p.5).

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O jornal “A IMPRENSA”, de Natal, dirigido por Luiz da Câmara Cascudo, também

registrou o Jornal caicoense em suas páginas. O Jornal das Moças registra essa nota em sua

edição do dia 18 de abril de 1926:

“A Imprensa”, de Natal, importante diário dirigido pelo brilhante intellectual

patrício Dr. Luís da Câmara Cascudo [...], publicou após receber a edição de

número quatro do nosso jornalzinho: “Jornal das Moças – visitou-nos o nº 4

do Jornal das Moças, órgão litterário, humorístico e crítico que se publica em

Caicó, sob a direcção e gerência de nossas illustres confreiras Georgina

Pires, Dolores Diniz, Santinha Araújo e Leonor Cavalcanti. O Jornal das

Moças é bem feito, e apezar de pequenino traz leitura variada, abordando

assunptos de valor. (JORNAL DAS MOÇAS, 18/04/1926, p.4).

De acordo com Monteiro (1999, p. 82), o jornal extingue-se em 1932 e ao, suspender

sua circulação naquele ano, suas dirigentes fizeram um balanço do caixa, encontrando um

saldo de 120 mil réis, dos quais, foi distribuído um total de 100 mil réis para os pobres de São

Vicente e os 20 mil réis restantes para o tipógrafo do Jornal, Manuel Rodrigues Filho.

O prédio onde funcionava a tipografia do Jornal das Moças era um sobrado de linhas

arquitetônicas arrojada do século XIX e era localizado à Praça de Liberdade. Esse sobrado

seria tombado como patrimônio arquitetônico da cidade e seu proprietário, por medo de ficar

no prejuízo, mandou demolir e, em seguida, negociando o terreno onde foi construído um

edifício de quatro andares, hoje, por nome de Edifício Dona Sinhá, 141, pertencente à Vital

Gorgônio. Neste mesmo edifício, foi fundado, posteriormente, o Externato Santo Antônio,

fundado em 1959 e permaneceu até 1963, tendo como fundadora e, ainda hoje, a proprietária,

Dona Ana Galvão de Araújo Gorgônio.

O Jornal das Moças trazia em suas páginas publicações de artigos e crônicas de

interesse feminino, anúncios diversos, poesias, curiosidades, notas sociais, pensamentos,

cartas, questionamentos à posição da mulher na sociedade da época, bem como notícias e

novidades de utilidade pública. Segundo Rocha Neto (2002, p. 10), “A folha enquadrava-se

nos padrões dos grandes jornais da época no estado, no que se refere às técnicas gráficas,

como por exemplo, os periódicos A República, de Natal, e o Jornal do Seridó (1927-1929) de

Caicó, entre outros”.

Em sua 1ª edição, do dia 7 de fevereiro de 1926, o Jornal das Moças traz em sua nota a

colaboração do acadêmico Renato Dantas, que trata da importância do jornal para o

desenvolvimento intelectual da mulher:

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[...] Será este um semanário de carácter independente, noticioso, e contará

com assídua collaboração das nossas conterrâneas. Como se trata de um

órgão fundado por moças de nossa melhor sociedade, certo elle trará ensejo

para o desenvolvimento da mulher caicoense, que já se há affirmando

propendente às lides jornalísticas. O Caicó está, portanto, de parabéns com a

creação do “JORNAL DAS MOÇAS” que se destina a realisar muito mais

do que pensam os que o mediram pelo tamanho do seu formato, e não pela

grandeza do ideal que o creou (JORNAL DAS MOÇAS, 7/02/1926, p. 2).

Percebe-se, por meio desse fragmento, a importância do periódico para o

desenvolvimento das ideias e opiniões das mulheres da cidade, e na mesma edição segue a

nota do exemplar, reafirmando a grandeza, credibilidade e compromisso do jornal para com a

sociedade de Caicó:

A nota: Caicó precisa também de um jornalzinho que traduzisse o

pensamento da mulher sertaneja que jamais deixou de simpathizar todas as

causas pelo nosso progresso, pelo nosso adiantamento, pela nossa liberdade.

Este semanário filho do nosso esforço, bem comprehendemos, encontrará

muitas barreiras, muitas difficuldades muitos dissabores, comtudo esperamos

vencê-los sem paixão, sem ódio e sem magua de ninguém que nos falte com

o seu coração. Dentro da feição litero-humoristico-crítica levaremos o nosso

modesto periódico, sem nunca decermos do nível que ella nos proporciona

pensar e escrever. Flor de Liz (JORNAL DAS MOÇAS, 7/02/1926, p. 1).

As editoras do jornal usavam técnicas jornalísticas como, por exemplo, o folheto

dividido em três colunas como bem diz o fragmento: litero-humoristico-crítico, assim sendo,

traduzindo o tripé18

que alicerçava o segmento de sua linha editorial. O jornal trazia também

pequenas notas e pensamento de caráter crítico, no qual trazia a relação entre os gêneros

masculino e feminino, falando da relação do homem com a natureza, com o amor entre

outros. Segue alguns desses pensamentos:

Um pensamento forma-se na tranquilidade; um caracter na ternura do mundo

(JORNAL DAS MOÇAS, 16/05/1926, p. 2).

A mulher é o symbolo da alegria e da paz; a formosura de todas as

formosuras. O homem é uma creança traquina e volúvel que se deixa arrastar

ao impulso de um pequeno capricho (JORNAL DAS MOÇAS, 23/05/1926,

p. 4).

18

Termo utilizado por Manoel Pereira da Rocha Neto e Maria Arisnete Câmara de Morais no artigo intitulado

“Jornal das Moças (1926-1932): imprensa feminina no Sertão Potiguar”, para definir os três pilares que

sustentavam a estrutura do Jornal das Moças: Literatura, humorismo e crítica. Esse Artigo foi apresentado no

DT 1 – Jornalismo do IX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste realizado de 10 a 12 de

junho de 2010.

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O homem sensato jamais ousara lançar mão da penna para agravar os

sentimentos da mulher, limitando-se apenas a apontar os seus erros. O

despeito é o motivo mais justificado dos ante feministas (JORNAL DAS

MOÇAS, 28/11/1926, p.2).

Num Postal - Esse amor que vive em mim, essa amizade que me prende, é

tão grande que tem a immensidão do sol com os mesmos raios e fulguram no

espaço da minha existência, penetrando até o recondido de minh‟alma.

Borboleta Azul (JORNAL DAS MOÇAS, 4/7/1926).

Bilhete postal - A quem me compreende, longe bem longe de tua imagem

que venero, para consolar-me procuro os logares que as azas de minha alma

possam voar livremente. Saudades! Dor que dilacera o coração de dois entes

que se acham ausentes pela cruel separação. Caicó, 30/11/926. Alma

Sensível (JORNAL DAS MOÇAS, 1926).

Os fragmentos trazem alguns dos pensamentos e pequenas poesias publicadas no

Jornal das Moças, onde alguns dos autores usavam pseudônimos e, assim, mantinham-se no

anonimato.

2.1.2 – O que continha em seus anúncios

Conforme o jornal ia expandido de forma positiva diante da sociedade caicoense e

extrapolando para além das fronteiras da cidade seridoense, acolhendo um número maior de

leitores que, ao circular seus exemplares nos grandes círculos sociais, ganhavam adeptos e

encantamento de todos. Dessa forma, o comércio passa a utilizar esse meio de comunicação e

informação para fazer anúncios de seus produtos de modo a atrair a atenção do consumidor,

principalmente o público feminino, alvo direto desse periódico.

Assim, o jornal passa a anunciar as propagandas do comércio de Caicó, como as lojas

de fazenda finas, de chapéus, adornos, guarda-sol, além de publicar endereços de lojas da

cidade como Casa da Torre, Casa Dias & Araújo, Casa Soares Araújo e Loja Avenida, nas

quais as moças e rapazes poderiam comprar produtos da moda para manterem a elegância. De

acordo com as irmãs Eudy e Euza Monteiro, o caminho da moda seguia esse percurso: Paris/

Rio de Janeiro/Caicó.

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Figura 6: Página de anúncios do Exemplar do Jornal das Moças – 1926

Fonte: http://www.bczm.ufrn.br/jornal-das-mocas/

Além das lojas de produtos, o jornal anunciava ainda serviços odontológicos do

cirurgião Dentista J. Freire, bem como o anúncio do produto Dentefácil, vendido na farmácia

Gurgel. Esses anúncios do comércio de Caicó passaram a ser veiculados na edição do dia 23

de maio de 1926.

Instalada ultimamente em prédio confortável, chama a atenção da distincta

família caicoense para o variadíssimo sortimento de fazendas finas, artigos da

última moda: charmeuse, crepes da China, voiles bordados, organdys

bordados [...] lindo sortimento de chapéus, última novidade para senhoras,

senhoritas e homens. Uma visita à loja Avenida é economisar dinheiro e

comprar com satisfação, porque é bem servido e sabe que o comprando tudo

que é bom e barato. Preços sem competidores! (JORNAL DAS MOÇAS,

23/05/926, p.4).

O dentista J. Freire, cirurgião dentista pela Faculdade de Medicina do Rio de

Janeiro, possuindo completo instrumental de gabinete e prótese, pratica com

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absoluta segurança: dentaduras duplas, coroas de porcelana sintética, ouro e

platina, blocos e incrustações a ouro e porcelana. Extrações sem dor, etc.

(JORNAL DAS MOÇAS, 23/05/926, p.4).

Dentefácil, preparado exclusivamente do Dr. Sabino Pinho, premiado em

várias exposições do estrangeiro e também com medalha de ouro, no

centenário da Independência do Brasil. Facilita a dentição e torna as crianças

alegres, sadias, fortes, robustas e bem dormidas. Não sendo do Dr. Sabino é

falso. Vende-se na Farmácia Gurgel. (JORNAL DAS MOÇAS, 23/05/1926,

p.4).

Os anúncios estendiam-se a eventos sociais como aniversários, visitas, viagens,

falecimentos, casamentos e noivados, sendo assim, o jornal das moças foi desenvolvendo o

seu perfil para poder atender a todos os tipos de público daquela época.

CINEMA AVENIDA – da empreza cinemantographica E. Monteiro. Hoje,

domingo, 7-3-1926. Um drama que sensibiliza, pelo enredo tocante e pelo

desempenho magistral, tornando-se assim, digno de nossa selecta platéa.

AMOR DE MÃE, 5 maravilhosas partes de uma produção especial da

renomada fabrica NORDISK. O AMOR DE MÃE é um drama onde

predomina o sentimento, pelo que tem sido constantemente applaudida essa

pellicula em todos os cinemas onde se há exibido (JORNAL DAS MOÇAS,

7/03/1926, p. 3).

No dia 10, snrtª. Izaura Medeiros, filha do Major Honório O. de Medeiros.

Neste mesmo dia completará annos o illustre Te. Pedro Militão, nosso

distincto assignante (JORNAL DAS MOÇAS, 7/03/1926, p. 3).

Em consequência de um forte ataque de memória, falleceu no dia 30 passado,

em sua fazenda Sabugy, deste município, a Exma. Sra. D. Clotilde Teixeira de

Araújo, estremecida consorte do Sr. Joaquim Teixeira. Muito moça ainda a

extinta deixa quatro filhinhos. Ao desolado esposo e filhinhos lavamos os

nossos pêsames (JORNAL DAS MOÇAS, 3/10/1926).

Contratou casamento com a senhorita Dolores Diniz, o Sr. Aderson Soares,

commerciante desta praça. A distincta noiva foi sempre do nosso elemento

feminino, uma das “demoiselles” mais esforçada pelo desenvolvimento

intellectual da terra (JORNAL DAS MOÇAS, 1926).

Com o grande sucesso do jornal, as editoras encontraram na boa aceitação dos

exemplares a flexibilidade para abordar e escrever sobre assuntos de seu interesse, fazendo

desse periódico o porta-voz feminino, onde o jornal interagia diretamente com seus leitores e

leitoras assíduas. Como forma de uma melhor participação das mulheres privilegiadas por ter

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acesso a esse meio de informação, o jornal abre espaço em suas páginas, para publicar cartas

dessas assinantes ao Jornal das Moças.

2.2 – Reconstituindo o perfil das jornalistas

Os participantes desse jornal eram filhos e filhas de fazendeiros e comerciantes locais,

que puderam oferecer uma estrutura educacional, formando seus herdeiros para que, no

futuro, exercessem funções e cargos importantes em órgãos públicos e privados da cidade.

O Jornal das Moças, em sua primeira edição do dia 7 de fevereiro de 1926, fazia essa

distinção quanto à posição social das moças que faziam parte do corpo jornalístico desse

periódico, “Como se trata de um órgão fundado por moças de nossa melhor sociedade, certo

elle trará ensejo para o desenvolvimento da mulher caicoense, que já se há afirmando

propendente às lides jornalísticas”.

2.2.1 - Georgina Pires – Diretora do Jornal das Moças

Georgina Pires, fundadora do Jornal das Moças, nasceu em Caicó no dia 13 de julho

de 1902, sendo filha do médico José da Silva Pires Ferreira e Serafina de Araújo Pires

Ferreira, foi outra mulher desafiadora das regras impostas pela sociedade da época, era órfã de

mãe, mas incentivada pelo pai, estudou na Escola Normal da Paraíba, retornando à Caicó após

receber o título de professora e passando a ensinar no Colégio Santa Teresinha do Menino

Jesus, da Congregação Filhas do Amor Divino.

Sua atuação nessa instituição durou cinco anos apenas, pois a mesma tinha ideias

escolanovistas e, ao se deparar com a educação tradicional das freiras, geraram-se vários

conflitos e, por este motivo, não concordando com métodos tradicionalistas das irmãs da

congregação, preferiu abandonar a referida instituição. De acordo com Rocha Neto (2002,

p.83), Georgina Pires afastou-se do Jornal das Moças para se casar com Janúncio Bezerra da

Nóbrega, que também colaborou para as páginas do jornal. Janúncio Bezerra da Nóbrega foi

um dos fundadores do Jornal o POVO, juntamente com Doutor Manoel Dantas, Olegário Vale

e seu parente Diógenes Nóbrega.

Mais um fato que nos leva a perceber os limites que o casamento impunha às moças.

Nessa perspectiva, (RAGO apud DEL PRIORE, 2009, p. 603) assinala que, “O espaço

público moderno foi definido como esfera essencialmente masculina, do qual as mulheres

participavam apenas como coadjuvantes, na condição de auxiliares, assistentes, enfermeiras,

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secretárias, ou seja, desempenhando as funções consideradas menos importantes nos campos

produtivos que lhes eram abertos”.

2.2.2 - Dolores Diniz – Gerente do Jornal das Moças

Figura 6 – Dolores Diniz em 1921.

Fonte: Acervo Particular de Nanael Simão.

De acordo com o professor Adauto Guerra Filho, a gerente do jornalzinho, Dolores

Diniz, era filha de Sabino Policarpo Diniz e Mariana Benigna Vale, nasceu em Caicó no dia

05 de outubro de 1901 e, apesar de não ser professora diplomada, foi alfabetizada em casa e

tornou-se professora particular lecionando em sua própria residência, alfabetizando seus

próprios filhos e destacando-se como uma dos principais membros do jornal feminino.

Complementando, Rocha Neto (2002, p. 75) afirma que “Aos 15 anos, já redigia para um

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jornalzinho manuscrito denominado A Escola (1916- 1917), juntamente com Julinda Gurgel,

órgão comprometido com a educação das crianças da cidade”.

Dolores Diniz se afastou do Jornal das Moças em virtude de seu casamento com o

comerciante e proprietário do Hotel Avenida em Caicó, o Sr. Aderson Soares, que aconteceu

no dia 10 de agosto de 1926, sendo seu antigo cargo ocupado pela colaboradora Santinha

Araújo19

.

Segundo Rocha Neto (2002, ps. 79-80), apesar de Dolores Diniz ser defensora dos

direitos da mulher, após o casamento, a gerente se afasta do trabalho, deixando o espaço

público conquistado através de suas práticas escritas para dedicar-se ao casamento.

Afirma Louro (apud DEL PRIORE, 2009, p. 453) que “O trabalho fora seria aceitável

para as moças solteiras até o momento do casamento. Afinal, o sustento da família cabia ao

homem; o trabalho externo para ele era visto não apenas como sinal de sua capacidade

provedora, mas também como um sinal de sua masculinidade”.

O fato de ela ter se afastado do espaço público retrata a situação da mulher frente à

sociedade, distinguindo a relação entre homem e mulher e a que cada espaço ambos

pertencem. Concordando, Falci (apud DEL PRIORI, 2009, p. 251), “A mulher de elite,

mesmo com um certo grau de instrução, estava restrita à esfera do espaço privado, pois a ela

não se destinava a esfera pública do mundo econômico, político, social e cultural. A mulher

não era considerada cidadã política”. Dessa forma, a mulher apresentava-se aprisionada à

figura masculina e à missão das prendas domésticas, educando seus filhos e sendo boa esposa.

2.2.3 - Júlia Augusta de Medeiros – Editora do Jornal das Moças

Júlia Augusta Medeiros era filha de Antônio Cesino de Medeiros e Ana Amélia de

Medeiros, nasceu no seio de uma família abastada no dia 28 de agosto de 1896, no Sítio

Umari, município de Caicó. Seu pai que, com uma visão pedagógica avançada para seu

tempo, incentivou Júlia no seu processo, uma vez percebendo sua desenvoltura para o

magistério.

19

Sabe-se apenas que trabalhou no Jornal das Moças. As irmãs Eldy e Euza Monteiro afirmam que a chamavam

de Santinha de Eloy, por ter sido a primeira esposa de Eloy Cesino de Medeiros, irmão de Júlia Medeiros.

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Figura 5 – Júlia Medeiros (1925)

Fonte: Artigo de Manoel Pereira da Rocha Neto.

Aos 13 anos, Júlia Medeiros viaja para estudar em Natal, formando-se professora em

1925, quando retorna a Caicó e passa a lecionar no Grupo Escolar Senador Guerra. Em julho

do ano seguinte, passa a integrar o corpo redacional do Jornal das Moças. O jornal registra a

presença da professora na edição de 28 de julho de 1926:

Temos hoje o prazer de contar com mais uma distincta e intelligente

companheira, a nossa brilhante collaboradora proffessora Júlia Medeiros que

entra para o corpo redaccional. Aos nossos bons leitores e às nossas gentis

leitoras, levamos os nossos parabéns pelo bello ornamento que vem realçar o

nosso modesto jornalzinho (JORNAL DAS MOÇAS, 1926).

A professora Julia Medeiros, pelo que consta nas matérias do jornal, era sempre

atuante nas causas femininas e tinha como principal objetivo ser porta voz das moças de sua

terra, participando das lutas pela conquista dos direitos da mulher caicoense.

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Nesse desejo de aflorar mudanças no perfil do papel da mulher perante a sociedade,

Júlia pôde contar com grandes amizades influentes e coniventes do mesmo desejo, como

Juvenal Lamartine, José Augusto Bezerra de Medeiros e Bertha Lutz, com a qual teve contato,

fortalecendo ainda mais seus ideais avançados e feministas.

Numa entrevista concedida pelo ex-aluno de Júlia, Inácio Josué Batista, de 90 anos,

mais conhecido como (Pajá), ele conta que a professora Júlia era muito bonita, determinada e

inteligente. Empolgado em falar de suas travessuras, ele relata “Fui aluno de Júlia Medeiros,

eu costumava fugir da aula, mas ela sempre esperta, gritava na porta da escola para que

alguém me pegasse e me levasse de volta para a sala de aula”.

De acordo com Rocha Neto (2002), Júlia foi uma mulher muito à frente de seu tempo,

professora, feminista, política, jornalista, excelente oradora, discursando em vários eventos

importantes em Caicó. Ela desafiou as convenções e quebrou tabu, foi pioneira no exercício

do sufrágio, foi a primeira mulher caicoense a dirigir um automóvel, fazendo o trajeto

Natal/Caicó, vivendo em Caicó até 1960, quando a família decide levá-la para morar em Natal

depois de apresentar lapsos de memória, tendo sua saúde comprometida. Júlia Medeiros

faleceu em 29 de agosto de 1972, um dia após seu aniversário de 76 anos.

2.2.4 – Maria Leonor Cavalcanti – Redatora do Jornal das Moças

Conforme a biografia criada por Maria da Conceição Araújo S. de Andrade, atual

diretora da escola, e Patrícia Medeiros de Araújo, com a colaboração de Monsenhor Antenor

Salvino de Araújo, Maria Euza Monteiro de Araújo e Eldy Monteiro de Araújo (sobrinhas),

Leonor Cavalcanti é natural de Goianinha- RN, onde nasceu em 23/03/1897. Leonor vem para

Caicó ainda pequena, deslocavam-se em lombos de burros por mais ou menos 15 (quinze)

dias de viagem, acompanhando a senhorita Anica L‟eraistre, que veio para tratar de uma

anemia, pois o clima do Seridó seria propício para tal.

Chegando a Caicó, e instalada numa fazenda da região, Anica casa-se com o Sr.

Eulâmpio Vidigal Monteiro20

, rapaz encarregado de trazê-las à Caicó. Após o casamento,

decidem se responsabilizar pela pequena Leonor, que era tida como filha. Foi levada a estudar

na Escola Normal, em Natal, tendo saído de Caicó para Lajes, numa comitiva, montados em

lombos de burros, na companhia de Júlia Medeiros e Olívia Pereira, prosseguindo de trem, até

20

Ambos, pais do Monsenhor Eymard L‟eraistre Monteiro, o então escritor do livro “Caicó: subsídios para a

história completa do município”.

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a capital.

Figura 6 – Maria Leonor Cavalcanti

Fonte: Arquivos da Escola Municipal Maria Leonor Cavalcanti – Caicó/RN.

Formada, voltou para Caicó, onde exerceu a função de professora e diretora do Grupo

Escolar Senador Guerra; seu salário de professora era entregue ao seu pai adotivo e, para

manter-se, fundou o Externato São Luís, onde ensinava Letras e Artes, promovendo ali

grandes exposições artísticas. Posteriormente, esse Externato deu origem ao Colégio São

Luís, em Natal. Foi nesse educandário que, após retornar à capital, trabalhou até se aposentar.

É sabido que Maria Leonor Cavalcanti foi uma das quatorze (14) moças candidatas a

casar com o pai de Monsenhor Antenor, entretanto, a mesma permaneceu solteirona por toda

a sua vida. Leonor foi uma mulher digna, sábia, capaz; o que aprendeu fazia bem, mesmo

tendo um temperamento forte, era amada pelos alunos. Essa professora, que tinha muito

orgulho do seu trabalho e fazia da educação a arte do seu viver, morreu no dia 20/10/1982, na

capital potiguar.

2.2.5 – Julinda e José Gurgel – Redatora e colaborador do Jornal

No dia 21 de abril de 2015, em uma conversa informal com a sobrinha de Julinda

Gurgel e filha do colaborador do Jornal das Moças, José Gurgel de Araújo, Dona Adelvina

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Gurgel da Silva, relatou que sua tia Julinda Gurgel de Azevedo atuou como professora,

lecionando em sua própria residência, mas não era formada; diferente de seu pai, José Gurgel,

que se formou em Farmácia pela Faculdade do Recife em 1924 e casou-se com Beatriz

Medeiros, em 16 de julho de 1926.

Figura 7 – Julinda Gurgel – 1910

FONTE: Arquivo pessoal de Nanael Simão

Dona Adelvina diz que não sabe ao certo a data de nascimento de sua tia Julinda, sabe

apenas que era mais velha que seu pai José Gurgel, o qual nasceu no dia 10 de janeiro de

1892.

Na entrevista, Dona Adelvina diz que José Gurgel foi proprietário da Farmácia Gurgel

e costumava viajar a Recife para comprar medicamentos e, assim, abastecer a farmácia, e que

chegou a viajar com ele algumas vezes. Dona Adelvina acrescenta “Meu pai era muito

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participativo, não admitia ver pessoas analfabetas e, por isso, ele percorria todos os sítios

visitando escolas e pedindo aos governantes para instalarem escolas onde não tivesse”.

Afirma o professor Adauto Guerra Filho que José Gurgel fundou, juntamente com

Odilon Lebarre, Cícero Romão, José Ezelino e outros, a Associação Educadora Caicoense,

cuja finalidade era dar apoio financeiro à Biblioteca “Olegário Vale” e Escolas Primárias.

Julinda Gurgel foi casada com o comerciante jucurutuense Yoyo Azevedo e criaram

um filho adotivo por nome Delmiro Saldanha de Azevedo.

Dona Adelvina, além do estreito laço com Julinda Gurgel e José Gurgel, ambos, filhos

de José Tomaz de Araújo e Maria Gurgel de Araújo Viana, também conheceu muito de perto

a professora Júlia Medeiros e foi aluna de Maria Leonor Cavalcanti. Ela conta que Leonor era

uma mulher muito culta e valente e acrescenta “Ai de quem não desse a lição certa”. Diz

ainda que estudou no Externato São Luiz, de propriedade de Leonor, e depois passou a

estudar no Grupo Escolar Senador Guerra, onde Leonor era, na época, diretora e professora.

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CAPÍTULO III

AS CARTAS CONTIDAS NO JORNAL DAS MOÇAS E O VALOR DA

INTELECTUALIDADE

Sobre a caligrafia;

Sou filho da Ipueira

Prefiro caligrafia

Uso de qualquer maneira

Hoje não se praticam mais

Uma carta não se faz

Nem se for de brincadeira

(Eurly Morais da Nóbrega)

3.1 – A intelectualidade da mulher se firmando através dos escritos das cartas

A carta representou, na história da sociedade brasileira, e por que não dizer na história

universal, um objeto de comunicação muito importante utilizado por várias gerações, talvez, a

única forma de se fazer comunicar e alcançar as distâncias geográficas que separavam as

famílias, parentes e amigos. Sendo ela um corpo redacional mais completo do que um bilhete,

a pessoa que escrevia já dispunha de um grau de instrução mais elevado alcançado na

conquista do saber. Constituía, porém, numa tarefa mais completa, somente possível a

algumas pessoas ditas “cultas”, estudadas, a quem, muitas vezes, assumia o papel de

escrevente para as demais que não possuíam o saber de instrução pública, o saber das letras.

Um exemplo claro de importância dos escreventes pode ser visto na obra

cinematográfica do filme “Central do Brasil”, dirigido por Walter Salles, lançado em 1998. O

filme conta a história de Dora, personagem interpretada pela atriz (Fernanda Montenegro),

uma mulher que sobrevive escrevendo cartas para analfabetos na Estação Central do Brasil.

Dora exercia a função de escrevente para seus clientes, direcionando correspondências aos

familiares ou amigos e, após as cartas escritas, esses textos passavam pelo crivo de censura de

Irene (Marília Pêra) e da própria Dora, as quais julgavam quais cartas eram enviadas ou não.

As pessoas que encomendavam as cartas queriam falar sobre os mais diversos assuntos.

Neste capítulo, propomo-nos a uma discussão das cartas como instrumento

privilegiado do Jornal das Moças em uma das suas seções de destaque. Nessa discussão,

trazemos a relevância da história, da memória, da escrita e do papel das escritoras e suas

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cartas por meio do jornal, a fim de que possamos dar significados ao valor da carta, dos seus

escreventes e leitores no contexto espaciotemporal.

O livro “Uma memória do mundo: ficção, memória e história”, em Jorge Luis Borges

de Júlio Pimentel Pinto (1998), apresenta-nos as conceituações mais apropriadas para a

discussão no contexto da escrita monográfica. A história para Borges significa registro,

temporalidade, uma operação historiográfica e está ligada ao marco histórico datado, ao

tempo em que se desenrolam acontecimentos contados e a um tempo da redação da narrativa.

Constitui a concretização e mesmo a imobilização da memória do passado, como se ela

passasse por um processo de congelamento e preocupa-se com a verdade. Assim, “Na

operação histórica, o passado é tornado exclusivamente racional, destituído da aura de culto,

metamorfoseado em conhecimento, em representação, em reflexão” (BORGES apud PINTO,

1998, p. 296). A história tem uma vocação universal, prende-se às continuidades temporais, às

evoluções e às relações entre as coisas. Ela é, por assim dizer, a deslegitimação do passado

vivido.

Já a memória é o substrato das experiências vividas, espontâneas, faladas, um

fenômeno sempre atual, pertencente aos grupos vivos. Uma representação do passado que não

se preocupa com a cronologia, mas com as lembranças coletivas e individuais, enraizadas no

concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto. Portanto, “A memória é a vida, sempre

trazida por grupos vivos e, por isso está em permanente evolução, aberta à dialética da

lembrança e da amnésia, inconsciente das suas deformações sucessivas, vulnerável, a todas as

utilizações e manipulações” (BORGES apud PINTO, 1998, p. 297 – 8).

Ainda sobre a história e a memória, conclui Morais (2004, p. 39) que,

A memória é um fenômeno vivido nos trâmites da existência, tomando o

presente como o tempo próprio da narrativa, retirando do passado os

elementos que possam reavivar os acontecimentos vividos e cimentados no

seio pessoal ou coletivo, uma vez que depura, recorta, seleciona, dá ênfase às

significações dos eventos humanos à luz dos significados da cultura,

enquanto que as narrativas estão afeitas às referências desdobradas do

discurso, à expressão. A memória faz morada na palavra.

Apoderar-se da escrita e tornar-se escritor ou escritora representou uma luta longa e

difícil, principalmente para as mulheres no Brasil, no contexto das primeiras décadas da

república, onde está presente o Jornal das Moças. Num passado muito recente desse contexto

temporal, a participação da mulher na sociedade era um sonho ainda muito distante de

realização, uma vez que estavam impedidas do acesso à escola, ficando reservadas ao papel

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de donas de casa, sob a tutela dos pais, dos maridos, dos senhores. Nesse cenário, restava-lhes

adequar-se ao modelo de mulheres submissas e preparadas para o bem casar. O processo de

criação cultural de ingresso na escola e de posse dos bens culturais seria uma luta contra as

barreiras de um mundo conservador e masculinizado.

A exemplo de várias mulheres que tiveram a coragem de romper com este modelo de

relação, citamos Nísia Floresta.

Nísia Floresta Brasileira Augusta era pseudônimo adotado por Dionísia de

Faria Rocha, nascida num pequeno sítio de propriedade dos pais em Papari,

Rio Grade do Norte, localidade que hoje recebeu seu nome. Era filha de

Antônia Clara Freire, uma moça analfabeta, de família muito rica, e de um

advogado e escultor português, Dionísio Gonçalves. Casou-se aos 13 anos,

em 1823, e deixou o marido no ano seguinte, quando o pai fugiu para o

Recife devido às perseguições políticas. Por ter largado o marido, foi

repudiada por toda sua família com exceção da mãe que, enquanto viveu,

sempre lhe deu apoio. Em Recife, o pai é assassinado em 1928, e a moça

passa a ter de sustentar a mãe e os três irmãos. Estava com 20 anos quando

foi ensinar em um colégio. Passou por muitas dificuldades financeiras. Em

1832, no ano em que publica Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens,

casa-se novamente, agora com Augusto de Faria Rocha, advogado e

acadêmico. O casal, com a filha Lívia Augusta e o filho Augusto Américo,

muda-se, em 1832, para Porto Alegre em busca de melhores oportunidades.

Nesse mesmo ano, o marido morre e ela, viúva, parte com os filhos para o

Rio de Janeiro, onde funda o Colégio Augusto (TELLES apud DEL

PRIORE, 2009, p. 405).

Dionísia, mulher republicana e abolicionista, escreve em jornais no Rio de Janeiro,

mas por ter ideias avançadas e feministas, passa a provocar polêmicas, o que faz com que

adote o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta. Percebemos, a partir daí, ao

estudarmos o Jornal das Moças, a importância dos autores envolvidos com o periódico de

assumir um pseudônimo e manter-se no anonimato.

Nísia, em seus escritos publicados na Europa, bem como no livro intitulado

“Conselhos à minha filha” do ano de 1842,

Preocupava-se com a educação das mulheres, pensava que o ensino poderia

ser capaz de mudar as consciências e a vida material. Assim, Nísia vem

tratar da ausência da mulher no mundo, de seus limites impostos pelos

homens e apesar das limitações da distribuição e repercussão de opiniões na

época, suas ideias postas em seus escritos e suas obras tiveram grandes

repercussões (TELLES apud DEL PRIORE, 2009, p. 406).

Podemos deduzir que Nísia Floresta foi uma mulher influenciável e que seus escritos

contribuíram para a formação e o fortalecimento da mente feminina, que passara a reivindicar

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por igualdade de direitos, à educação, bem como enfrentar os preconceitos existentes na

sociedade patriarcal.

A luta da mulher por se fazer ouvir e se fazer perceber através da escrita de seus

anseios foi uma longa batalha no decorrer dos tempos. Telles (apud DEL PRIORE, 2009, p.

410) diz que “Essa conquista, essa luta, como se observa, tem mais de século e foi travada

desde Nísia Floresta por algumas mulheres que tentaram se livrar da tirania do alfabeto,

tentando aprendê-lo para depois desvendar os mecanismos de dominação contidos nele”.

Por esta época, a carta já é presente no contexto como forma de linguagem escrita,

principalmente por essas mulheres que lutavam para estabilizar um espaço de reconhecimento

de sua capacidade intelectual que até então era ignorada e criticada pelo homem. É o que nos

mostra Telles (apud DEL PRIORE, 2009, p. 423) quando destaca que o escritor Guimarães

Júnior em carta a um amigo no ano de 1873, que, apesar de elogiar a beleza da poetisa

Narcisa Amália, considera-a incapaz para as lutas políticas e diz que “em suas composições

políticas parece que deixa de lado a alma, para tomar a baioneta, cousa bem pouco feminina”.

Não se deixando abater pela falta de fé de seus críticos, Narcisa utiliza-se das cartas

aos jornais e escreve “A pena obedece ao cérebro, mas o cérebro submete-se antes ao

poderoso influxo do coração; como há de a mulher revelar-se artista se os preconceitos sociais

exigem que o seu coração cedo perca a probidade, habituando-se ao balbucio de

insignificantes frases convencionais?” (TELLES apud DEL PRIORE, 2009, p. 423).

Assim, a carta é um tipo de correspondência sob a forma de comunicação visual

escrita de natureza social, comercial, pessoal ou pública e, por conter uma identificação,

incluindo data, lugar e remetente, ela passa a ser oficializada como um documento, pois

congela determinada época transformando uma memória em história, pois “A memória é um

ponto de ligação imprescindível na construção da história de um povo e de uma cultura”

(AZEVEDO; QUEIROZ apud MORAIS, 2006, p. 102).

Desse modo, há uma caracterização para cada tipo de carta, seja ela social, comercial,

pessoal ou pública. As cartas, segundo Silva (2002, p. 51), constituíam-se em práticas

comunicativas de um gênero textual de expressão do modo como as pessoas agiam,

linguística, discursiva, cognitiva, social e interativamente nos eventos comunicativos de que

participavam, sejam como produtores ou leitores/ouvintes, como também refletiam as

demandas do contexto social, histórico e cultural em que elas são modeladas.

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Nesse contexto, no qual a carta era utilizada como um dispositivo de práticas

comunicativas das vivências sociais, presumimos que há um fortalecimento da identidade de

um conjunto de pessoas em um processo de construção concreta do cotidiano, orientado por

uma concepção de cidadania intelectualizada.

3.2 - Uma retratação das cartas direcionadas ao corpo redacional do jornal

O Jornal das Moças mostra, através desse gênero textual, uma maneira de interagir

diretamente com suas assinantes, moças da sociedade seridoense que tinham um grau de

instrução elevado, de modo que estas eram leitoras assíduas desse veículo de informação e

comunicação.

As redatoras do jornal abriram um espaço onde eram registradas as correspondências

das leitoras, comprovando, desse modo, o sucesso e a aceitação desse periódico. Várias cartas

foram recebidas e publicadas pelo Jornal das Moças, comprovando a propagação das

assinaturas. Muitas das cartas divulgadas no jornal eram de felicitações ao corpo jornalístico

pela disposição em criar um órgão que divulgasse o pensamento da mulher caicoense. A

seguir, algumas dessas cartas direcionadas ao jornal:

Natal, 20 de Abril de 1926. Caras amiguinhas do “Jornal das Moças” Caicó

Saudações cordiaes! É com grande regosijo que tenho lido o vosso

interessante jornalzinho. Lamento ser já tão tarde para apresentar os meus

effusivos parabéns à jovem e distincta Phalange que tão nobremente vem

combatendo por um ideal tão sublime que é o amor e a cultura das letras. É

tarde, caras amigas, mas perdoe a minha falta e acceitai os meus parabéns

que são sinceros. Aproveito a opportunidade para pedir uma assignatura do

vosso jornalzinho para cujo fim envio a respectiva importância. A‟svossas

presadas ordens a amiga admiradora. Berthilde Guerra (JORNAL DAS

MOÇAS, 1926).

“Boas amigas do Jornal das Moças”. Tendo recebido os números do novo

orgam que circula na prospera Caicó, (meu berço adoptivo) ser-me-ia

impossível deixar de dizer algo as amiguinhas que tanto prazer me

proporcionam com a leitura do muito apreciado jornalzinho. É bem de

elogios o empenho que tão digna plêiade de senhoritas caicoense levou a

effeito. Levo pois, as dirigentes do bem acolhido órgão, o meu voto de

prosperidade, e o sincero parabem pela sua victoria alcançada. Da muita

amiga Ilnah Pereira. Lages, 25 – 4 – 926 (JORNAL DAS MOÇAS, 1926).

Carta da Roça. Caras redactoras Saudações. Peço-lhes um cantinho no seu

querido jornalzinho para as minhas despretenciosas cartas. Vivo distante

dessa cidade, habitando as “verdes selvas” onde a passarada faz as delicias

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ao romper do dia com seus gorgeios admiráveis e encantadores. Leio e releio

esse sympathico jornal, que felizmente veio preencher uma grande falta

nesse recanto de terra de illustres filhos. Vivemos numa época em que a

mulher sertaneja pode expandir as suas ideas, o que há poucos annos era

uma falta o fazer! Mas com as evoluções dos tempos quando a mulher pode

usar a cabeleira mascolina, andar sosinha, trabalhar pelo bem comum, é justo

que Ellas defenda os seus direitos e proclame bem alto as suas aptidões e

deseje engrandecer-se também pela comunhão do espírito fundando ellas

mesmas este hebdomadário da imprensa feminina no Seridó. Avante, pois,

nesta tarefa que tomaram aos hombros exultando de Caicó, berço de tantos

heroes; possuir este vehiculo do pensamento e que a mulher seridoense saiba

sempre se impor pelo seu talento e pelo seu patriotismo. Termino esta,

pedindo também aos leitores muita indulgencia para com a primeira missiva

da amiga. Roceira, Terra da saudade 1º/6/926 (JORNAL DAS MOÇAS,

1926).

Bethel, 15 – 2 – 1926”. Presadas amigas do “Jornal das Moças” abraços!

Lendo o vosso querido jornalzinho applaudi com fervor o vosso ideal pelas

letras, porque escrevendo cousas serias e boas, fazemos um pouco pelo bem

e pelo progresso de nossa terra. Devemos cultivar a nossa intelligência como

disse um escriptor; “cresçamos intellectualmente; cultivemos com esmero o

glorioso jardim da mente para offerecer ao nosso mundo inteiro as

bellíssimas flores da arte e os substanciosos fructos da razão humana”. O

Caicó tem possuído sempre um punhado de jovens que não descuram a sua

educação e proclamam o seu amor pelas lettras e pelas sciencias. Mesmo

longe, envio às distinctas redactoras deste sympathico orgamzinho o meu

sincero applauso e a minha inteira solidariedade. Julinda (JORNAL DAS

MOÇAS, 28/2/1926).

Nas cartas acima, é perceptível a aceitação do jornal como veículo propagador de

ideias femininas, reconhecendo os avanços à intelectualidade e parabenizando as moças do

jornal pela criação de um órgão tão importante para o desenvolvimento de Caicó. As cartas

publicadas pelo jornal abriam um ambiente no qual a mulher expunha suas ideias acerca de

vários assuntos relacionados à sociedade da época.

O que podemos inferir ou depreender das leituras destas cartas, mesmo não elegendo

uma metodologia de análise do discurso que nelas está contida, é que há uma grande

manifestação de culto ao saber, bem como uma grande euforia em ingressar no mundo da

cultura e das artes. O que é bem próprio da década de 20 quando havia uma grande

valorização da escolaridade e um grande respeito e orgulho pela coisa pública.

As redatoras encontravam o respaldo e as manifestações de elogios que lhes

ensejavam. Todas as cartas à redação são datadas constituindo, assim, um marco histórico, um

registro que é fiel aos costumes e às formas de escrita da época. Podemos perceber que havia

uma forte tendência ainda persistente da Língua Latina na escrita das palavras, o que era

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comum nesse período, dado o legado recebido das gerações anteriores, quando o Latim fazia

parte das cadeiras mais importantes na formação do ensino secundário.

Um ponto comum entre as cartas diz respeito à atenção que está voltada para o

progresso e o desenvolvimento da cidade, o que faz corroborar com todo o discurso já

presente sobre a modernidade da época.

De acordo com (BAKHTIN apud SILVA, 2002, p. 100) é que a interação como um

espaço fundamental, social e dialógico afigura-se tanto constitutiva como mediadora dos

processos de socialização e dos processos de identificação dos sujeitos, onde se instaura as

relações na construção e recepção dos textos, passando, portanto, a socializar os saberes

construídos nas experiências vivenciadas.

3.3 – Cartas ao jornal, discutindo acerca de diversos assuntos

Minhas caras filhas. Fiquei deveras surprehendida ao receber o ultimo

numero do vosso jornalzinho. É de ler um trabalho de Matutinha do Sertão,

com palavras de conselhos às moças de nossa terra. Se bem que seja uma

velha roceira, sem nenhuma cultura resolvi vos dirigir algumas palavras. Já

sou avó de netos e os cabellos me estão a pratear a fronte. Não quero fazer

critica ao que vos disse a Matutinha, mas, com franqueza, achei uma

exaltação ou exagero em suas ideias. Diz ella que o casamento é a maior

felicidade da mulher, mas na minha grande experiência posso affirmar que

muitas são mais felizes, preferindo o seu “caritó” triste e sem caricia.

Affirma mais Matutinha que o único amor é o conjugal. Como assim? Onde

fica a sublimidade do amor de mãe? Sim, minhas caras filhas se vos dou a

minha opinião é porque muito me interessa a vossa felicidade. A moça podi

ser feliz não pensando demasiadamente em possuir um esposo, mas

confiando em Deus a quem deve entregar o seu destino. Na donzella christã

a escolha de um esposo é de grande importância e ella não se deve levar por

estas cegas paixões que, muitas vezes, lhe trazem uma longa cruz de

soffrimentos. Muito cuidado na escolha do vosso futuro esposo, que deve ser

um moço onde se encontrem boas qualidades aliadas à virtude e à piedade.

Feliz é o lar onde há união e harmina, existindo duas almas verdadeiramente

christãs, que sabem offerecer ao bom Deus as suas alegrias e as suas

tribulações. Todo o affecto da Velha Roceira (JORNAL DAS MOÇAS,

25/7/1926).

Nessa carta, a assinante do jornal, que adota o pseudônimo de Velha Roceira, escreve

seu discurso discordando de uma publicação do jornal escrita por Matutinha do Sertão, no

qual, afirmava que o amor maior, mais sublime, seria o amor conjugal e que as moças

buscassem a realização dessa felicidade dentro na união conjugal “Casai minhas patrícias que

é a maior felicidade do mundo!... O esposo é o único amigo que compartilha do nosso

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sofrimento, que nos ampara, e nos conforta na lucta da vida. Minhas amigas, podereis

esquecer qualquer coisa no mundo e não o casamento” (JORNAL DAS MOÇAS, 1926).

O que mais nos chama a atenção é a coragem da correspondente de desmistificar o

casamento como a maior fonte de felicidade. Porém, apesar de haver um misto de entusiasmo

aos ensinamentos em relação a essa desmistificação, há também um acentuado cuidado de

preservação dos costumes tais como eles eram. Essa preservação dos costumes remete-se ao

amor a terra, à devoção religiosa, o cuidado com o sagrado contido dentro do formato que até

então seria o correto, o ideal de sociedade.

Missiva feminina. Minha boa amiga, a esta hora, talvez, preocupada estejas

indagando de ti mesma o motivo do silencio que me tem dominado. A

gentileza da ultima missiva que accuso, foi uma affirmativa sincera da justa

estima que votas ao torrão amado, que nos deu o berço. É que mesmo de

longe te vem despertando interesse pelo educandário feminino do nosso

Caicó confiado ao zelo e a dedicação das virtuosas Irmãs do “Amor Divino”.

Pediste que te desse notícias detalhadas dos triunphos obtidos, pelo Collegio,

com seu primeiro encerramento do anno lectivo. O que te posso assegurar é

que assisti uma festa encantadora em que as alumnas se salientaram, tocando

trechos de musicas e fazendo lindas declamações quer em nossa bella língua,

quer em idiomas estrangeiros. Mas com franqueza experimentei maior

enthusiasmo, visitando, um dia antes do encerramento, a grandiosa e bella

exposição de trabalhos de agulha e pintura, que é verdadeiramente um

primor de ate. Acredito que estas ligeiras notas que te envio, hão de

satisfazer a tua curiosidade, podendo mais ainda firmar o teu valioso

conceito a respeito da obra que vem sendo realizando o “Collegio de Santa

Therezinha” que é incontestavelmente um santuário de luz, um estuário

manso onde devem ancorar os barquinhos intellectuaes da moça siridoense.

A medida que te escrevi esta faço preces ao nosso Deus para que abençoe

cada vez mais, aquelle viveiro santo onde estão sendo formadas as futuras

sacerdotizas dos destinos da nossa Amada terra. Tua Carmen Dora. Caicó,

14/12/26 (JORNAL DAS MOÇAS, 1926).

Nessa carta, a assinante Carmen Dora responde uma carta possivelmente de uma

amiga, na qual se mostrava interessada pelas atividades desenvolvidas no interior do

Educandário Santa Teresinha que, no momento, era alvo das grandes realizações da época,

inclusive figurando com sua própria criação. O Educandário Santa Teresinha é visualizado

pela correspondente como um santuário de formação das moças caicoenses.

Missiva Feminina. Minha boa nordestina: desejaria patentear toda admiração

que experimentei lendo a última missiva, que publicaste em nosso modesto

jornalzinho. Senti-me attrahida pela variedade das notícias que trouxeste da

nossa querida capital, essa bella faixa de terra em cujo seio passa

suavemente a prata das águas do Potengy, para lançar-se no tumulto do

Atlântico. Gostei mais ainda de tua forma de pensar relativamente ao

movimento que se levanta, em torno da introducção do divórcio em nosso

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paíz. Soubeste bem externar as tuas ideias de moça finamente educada

deixando bem deffinido as consequências funestas da entrada do divórcio no

coração brasileiro. Commungando com as tuas razões, levo-te o meu

amplexo de solidariedade. O divórcio minha boa amiga, me afigura um

abutre a abrir as azas sobre a nossa pátria, profanando as mais bellas e altas

tradições da família nacional. Acredito que a mulher brasileira fiel a sua

crença e a sua tradicção, há de levantar o seu brado de revolta, como um

testemunho de zelo a nossa honra e a nossa dignidade. Sacerdotisas que

somos do dever e da honra dos nossos lares, seremos fortes em levantar o

nosso grito de repulsa contra certas ideias libertárias que procuram roubar o

nosso bom nome e a nossa moral. O divórcio minha cara amiga, segundo a

minha forma de pensar, é a completa negação da belleza moral que o

sacrifícil do matrimônio representa. A sua grande significação social e

moral, reside justamente em seu caracter de coisa sagrada, de ventura que

não possa fugir, ou mesmo... de cruz que tenha de ser carregada. Tua

Carmen Dora. Caicó, 26/8/1926. (JORNAL DAS MOÇAS, 1926).

Nas correspondências, há sempre um misto de religiosidade, laicidade e patriotismo.

É quase unânime a presença dessa exaltação de patriotismo nas cartas, onde eram propagados

aos leitores palavras de devoção e honra a Pátria.

Na carta acima, Carmen Dora escreve ao jornal para apoiar a nota escrita e publicada

por José Gurgel de Araújo, que trata do divórcio como sendo algo monstruoso e, portanto,

inaceitável perante a lei, a igreja e a sociedade. Repare que a autora da carta refere-se à Flor

de Liz como sendo „boa amiga‟, ou seja, é possível que a mesma não tenha ainda

conhecimento do autor da nota que está por trás desse pseudônimo.

Observemos a palavra “Missiva feminina”. Assim era chamada a carta, que, para Silva

(2002, p. 32), em sua tese intitulada “Um estudo sobre o gênero carta pessoal: das práticas

comunicativas aos indícios de interatividade na escrita dos textos”, a palavra missiva foi

“adotada numa determinada época, expressa um valor social, estético, de caráter, pode-se

dizer que idílico, que foi disseminado pelas práticas comunicativas de escrita das cartas”.

3.4 – Cartas de amizade (pessoal)

De acordo com (DIERKS apud SILVA, 2002, p. 58), cartas pessoais caracterizam-se

por ter um caráter íntimo, pois são essencialmente desenvolvidas no âmbito das atividades

privadas da vida cotidiana, cujos textos são escritos na intimidade, sem a intenção do

pronunciamento público ou doutrinário. Esse gênero fazia parte de práticas de escrita do

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cotidiano de uma sociedade aristocrática, intelectual e empresarial da época, que, pela troca

de cartas, alimentava cordialmente as relações (pessoais/profissional).

Hermengarda, minha boa amiga. Estava eu, num desses instantes de

desanimo moral, em que tudo se nos afigura negro, quando recebi tua carta,

a primeira carta que me veio de tua mão, a qual conservarei sempre, minha

boa amiga, com o máximo carinho, com religioso zelo. Ella trouxe o

antidoto poderoso ao entoxicamento de minh‟alma. Hoje sinto-me renascida

e seguirei comtigo, resoluta e forte, o caminho que traçaste. Nada impedirá o

nosso desejo de seguir essa trajectoria honrosa; nada desvanecerá, estou

certa, o fulgor das nossas aspirações. E, se por ventura, alguma espessa

barreira, alguns desses empecilhos amedrontadores, apparecerem à nossa

frente, luctaremos heroicamente e havemos de vencer. Portanto, minha boa

Hermengarda, ficarei ansiosa aguardando outra cartinha tua que, certamente

trará consolo e alegria, ao coração da tua amiga certa. Hellenita (JORNAL

DAS MOÇAS, 1926).

Minha cara Hellenita, nada se me pareceu mais difficil do que traduzir tuas

expressões. Todo o teu esforço, minha cara amiga, era embargado pela

pobreza de ideias. Não é de admirar, cara Hellenita, porque, aos desprovidos

de intelligência deparam-se constantes obstáculos, que os impedem de

atingir ao alvo de sua missão. Felizmente, porém, como tudo é relativo, e,

revestindo-me o destemor daquelles que desassombradamente se ensaiam

pelos jornaes, é que ouso abordar uma questão, que pouco se coadunará com

o meu temperamento. Refiro-me ao caso dos questionários que num dos

últimos números deste sympathico orgamsinho, aludira Flor de Liz. O

illustre auctor da “A nota” com a lhaneza de suas expressões, ao enaltecer os

méritos da “querida poetisa”, espera que os pensadores de sua terra jamais

procurem decepcionar as filhas de Apollo. Eu, me parece, minha boa amiga,

que algo de crítico passará pelo espírito aureolada poetisa. Oxalá que

acquiescendo ao appello que se lhes faz, livrem-se das vistas da supposta

tolerância social. Hypothecando-te o meu sincero agradecimento, sou tua,

Hermengarda (JORNAL DAS MOÇAS, 14/5/1926).

Minha boa amiga Dionne, li o teu pensamento no “Jornal das Moças” do

número passado. E com que dor reli-o! Num só pensamento disseste toda a

delicadesa de tua alma, todos os teus soffrimentos curvados já pelo peso de

uma distância de oito annos! Todavia, crueldade. Mas, minha boa amiga,

como me surprehendeu o teu pensamento! Como és differente de outras

mulheres! Como comprehendeste que o homem só se deixa vencer pela

ternura d‟alma, pela suavidade de maneiras e pela distincção de trato. E

depois quando me lembro que todas as mulheres deviam ser assim...

captivantes, immesamente meigas. Nunca uma tristeza, porque essa tristeza é

mesmo que nos negar o melhor de nossa vida. Concede-me dizer que o teu

soffrimento não me é indiferentte, porque o soffrimento alheio foi-me

sempre um outro soffrimento. Eu também como tú, minha Dionne, tenho a

minha história de amor colorida de páginas e páginas de agudo

sentimentalismo. E sabes qual a minha maior ventura? _ Era ter um coração

fiel de mulher, que me acompanhasse em todos os passos de minha vida.

Sem mais, recebe por hoje fortes saudades do teu íntimo amigo, Príncipe das

Serras (JORNAL DAS MOÇAS, 1926).

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O autor com pseudônimo Príncipe das Serras vem discutir acerca de uma manchete

divulgada no jornal, intitulada “reflexão de um pezar”, no qual, Dionne fala de uma ”palavra”

pronunciada por alguém e que a feriu profundamente. Em resposta ao Príncipe das Serras,

Dionne escreve a seguinte carta:

Caríssimo Príncipe das Serras: longe de imaginar que o meu pobre

“pensamento” viesse despertar tua atenção. Surprehendeu-me deveras a tua

missiva a agradeço-te, as manifestações da tua bondade. Como todas as

mulheres, sou apenas resoluta e forte na crença de uma felicidade futura,

deixando notar porém, que algumas não sabem esperar com a devida

reflexão, deixando-se levar por pensamentos frívolos, que se esvaem ao mais

leve sopro! Perseverando é que se vence: e... vencer sem perigos _ é triunfar

sem glória! No sorrir constante, deixo transparecer a alegria do meu viver e

muitas vezes escondo n‟elle, a dor aguda do meu coração! E é por isso que

todos me julgam feliz! ...No fim de tua cartinha, confiaste-me o segredo de

sua maior ventura _ “ter um coração fiel de mulher, que te acompanhasse

todos os passos de tua vida”. E... quem sabe se já não existe um coração,

decidido ao teu desejo?! É que talvez não o comprehendeste ainda; affirmo-

te que conheço um coração amigo, que muito te quer e que ser-te-á fiel!

Correspondendo-o. Verás como docemente, venturosamente, elle te

acompanhará na alegria e na dor. Termino deixando-te minhas saudações de

amiguinha sincera, Dionne (JORNAL DAS MOÇAS, 1926).

A carta à redação, segundo (SILVA, 2002, p. 75), surgiu com a consolidação da

imprensa e tem como papel principal fazer com que o leitor interaja com o editor e, assim,

expor sua opinião acerca de matérias publicadas em jornais ou revistas, entre outros.

Ressaltamos que o pressuposto aqui defendido é de que entendemos a interação

existente nas cartas do Jornal como práticas sociais no contexto das relações de uma

sociedade em que vai se firmando a ascensão das mulheres ao espaço do jornal, uma vez que,

ao discutirem diversos assuntos, as cartas nos revelam uma socialização direta com o que o

jornal veiculava. Dessa forma, havia uma troca de conhecimento entre essas pessoas que,

provavelmente, tinham a posse das letras e, por isso, expressavam suas opiniões acerca dos

assuntos debatidos no periódico, o qual trazia suas manchetes em forma de crônicas, notas,

poesias, entre outros.

Assim, sabendo que a carta pessoal remete-se a um grau de intimidade, por se tratar de

uma produção desenvolvida no âmbito das atividades privadas da vida cotidiana e, portanto,

íntima, não chegamos a um entendimento quanto à exposição dessas 4 (quatro) últimas cartas,

as quais classificamos como carta pessoal por se tratar de trocas de correspondência entre

amigos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Escrever sobre o jornal e o valor da intelectualidade, contido nas trocas de cartas

veiculadas no Jornal das Moças foi um grande desafio. Primeiro porque disponibilizamos de

poucas cartas, uma vez que muitas delas estavam ilegíveis, e segundo porque poucos autores

investigam e escrevem sobre essa tipologia de fonte documental. Contudo, foi possível

concluir nossa pesquisa de forma bastante simples e clara.

No estudo, utilizamos 11 (onze) cartas apenas, pois muitas estão ilegíveis e a

utilização delas poderia ser interpretada de forma errada, devido seu estado de ilegibilidade,

incorrendo, pois, na ausência de fidelidade à fonte. Procuramos neste estudo descobrir

vestígios de culto ao saber através das cartas existentes no jornal, o que inferimos tê-los

encontrado em predominância, há, na verdade, uma obstinação pelo saber letrado.

Apesar da submissão pela qual as mulheres estiveram afastadas durante séculos de

uma formação escolar, bem como a participação cívica e política na sociedade, algumas

mulheres derrubaram barreiras e quebraram tabus, destacando-se tanto no campo educacional,

como jornalístico e político.

Foram essas mulheres com ideias avançadas que se desprenderam das amarras que as

prendiam às convenções sociais impostas pela religiosidade, pela sociedade e pelas tradições

patriarcais que as mantinham reféns do homem. Seja como filhas ou como esposas, seu único

destino certo seria o de serem esposas e mães e estariam sempre confinadas ao ambiente

doméstico no interior de suas casas.

Essas mulheres conseguiram se destacar através de suas lutas por uma formação, como

foi o caso de Júlia Medeiros, Leonor Cavalcanti, entre outras que foram estudar na Escola

Normal em Natal; e Georgina Pires que se formou também professora na Escola Normal da

Paraíba, quando ainda era muito difícil a locomoção para longas distâncias naquela época.

Em 1926, as instituições de ensino como o Grupo Escolar Senador Guerra e o

Educandário Santa Teresinha foram cenários das práticas pedagógicas dessas professoras

recém-formadas, assim se deu também a criação do Jornal das Moças, no qual puderam

reforçar suas práticas e propagar seus anseios de modernidade, equiparando Caicó aos grandes

centros do país. O jornal, além das professoras, também contava com colaboradores que

escreviam e corroboravam com as mesmas ideias das jornalistas quanto ao desenvolvimento

da cidade em vários aspectos. A presença da intelectualidade fazia do periódico um

dispositivo de divulgação das práticas sociais, deixando os leitores e as leitoras a par de tudo

que acontecia de novo na Região do Seridó.

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Acreditamos que, estrategicamente, o jornal vai se definindo para adaptar-se a todo

tipo de público e não somente ao público feminino, como era o projeto inicial. Dessa forma, o

corpo do jornal foi ganhando seções, como a seção de anúncios voltados para as propagandas

de lojas, farmácias, remédios, serviços odontológicos e a seção de cartas do leitor à redação,

na qual os leitores e leitoras escreviam ao jornal, interagindo e socializando sobre diversos

assuntos divulgados no periódico.

Assim, práticas educativas iam se construindo no contexto socialmente situado e

permanentemente atualizado, de forma que os indivíduos engajados em suas atividades

interacionais construíam as relações e socializavam os saberes através da prática da leitura e

escrita desse gênero textual tão presente no cotidiano dos caicoenses.

Desse modo, quando o Jornal das Moças veiculava suas manchetes voltadas, seja para

as vivências sociais do cotidiano, seja para suas práticas pedagógicas, ou até mesmo dos

anseios de mudanças quanto à situação na qual a mulher estava sujeita frente à sociedade,

certamente, havia aí uma prática educativa, a qual era o objetivo principal das moças

redatoras, conscientizar a população feminina de que seu espaço poderia ir para além de seus

afazeres domésticos.

Isso, porém, implicava um projeto no qual as leitoras estivessem mais presentes no

apoio às suas ideias, e, portanto, nada melhor do que a socialização das cartas nas quais as

mulheres poderiam publicamente expor suas opiniões e, assim, partilharem dos mesmos

ideais e lutas.

Muito se tem ainda a investigar e a se discutir sobre a educação da mulher, bem como

a conquista de seu espaço social, e é por isso que o presente trabalho dever ser mais um passo

instigante de pesquisa a colaborar para os futuros pesquisadores interessados na educação da

mulher através das práticas jornalísticas do Seridó.

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