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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA: UM INSTRUMENTO FUNDAMENTAL PARA TRANSFORMAR NOSSA RELAÇÃO DE BEM ESTAR COM A NATUREZA PATTON DOMICIANO DA SILVA TORRES NATAL-RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA: UM INSTRUMENTO FUNDAMENTAL

PARA TRANSFORMAR NOSSA RELAÇÃO DE BEM ESTAR COM A NATUREZA

PATTON DOMICIANO DA SILVA TORRES

NATAL-RN

2016

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PATTON DOMICIANO DA SILVA TORRES

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA: UM INSTRUMENTO FUNDAMENTAL

PARA TRANSFORMAR NOSSA RELAÇÃO DE BEM ESTAR COM A NATUREZA

Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia, na modalidade a distância, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação do professor Esp. Hélder Pacheco de Medeiros.

NATAL-RN

2016

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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA: UM INSTRUMENTO FUNDAMENTAL

PARA TRANSFORMAR NOSSA RELAÇÃO DE BEM ESTAR COM A NATUREZA

Por

PATTON DOMICIANO DA SILVA TORRES

Artigo Científico/Relato de Experiência apresentado ao Curso de Pedagogia, na modalidade a distância, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Esp. Hélder Pacheco de Medeiros (Orientador)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________

Profª. Ms Antônia Costa de Andrade Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________

Profª. Convidada Ms. Hiltnar Silva Muniz Rochael Secretaria Municipal de Educação do RN

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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA: UM INSTRUMENTO FUNDAMENTAL

PARA TRANSFORMAR NOSSA RELAÇÃO DE BEM ESTAR COM A NATUREZA

Patton Domiciano da Silva Torres1

Helder Pacheco de Medeiros2

RESUMO: O presente estudo se propõe a discutir e refletir sobre a importância da

presença dos conhecimentos sobre o meio ambiente nos diversos níveis e

modalidades de ensino. A investigar a proposta da educação ambiental sob a

perspectiva crítica, a refletir sobre como as escolas da educação básica trabalham a

temática ambiental com os sujeitos, a analisar a importância do trabalho dos

professores na mediação de propostas educativas sobre o meio ambiente e

sustentabilidade, a examinar os documentos e publicações oficiais

regulamentadoras das políticas públicas de educação ambiental, a demonstrar a

evolução da Educação Ambiental nos últimos 40 anos explanando as principais

dificuldades e desafios a serem superados pelos profissionais da educação em geral

e pelos que nela atuam apontando os programas de educação ambiental como a

principal ferramenta na conservação e preservação de um modelo de vida

sustentável para o planeta. Refere-se à falta de consciência dos governantes com

relação ao meio ambiente, e a complexidade das questões relativas aos problemas

ambientais. O exposto trabalho teve como metodologia uma pesquisa bibliográfica

com o objetivo de explicitar e fundamentar hipóteses acerca do problema

evidenciado permitindo a construção de uma visão mais ampla do referido assunto.

Palavras chave: Educação ambiental, transformação social, sustentabilidade.

1Técnico em Controle Ambiental pelo CEFET/RN, Técnico em Segurança do Trabalho pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC/RN), aluno do Curso de Licenciatura em Pedagogia a Distância pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] 2Especialista e Professor da Escola de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professor

Orientador do Curso de Pedagogia EAD – UFRN. E-mail: [email protected]

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ABSTRACT: This study aims to discuss and reflect on the importance of the

presence of knowledge about the environment at different levels and types of

education. The investigate the proposal of environmental education in the critical

perspective, to reflect on how the schools of basic education work on environmental

issues with the subject, to analyze the importance of teachers' work in mediating

educational proposals on the environment and sustainability, examine the documents

and regulatory official publications of public policies on environmental education, to

demonstrate the evolution of environmental education in the last 40 years explaining

the main difficulties and challenges to be overcome by education professionals in

general and by that it act pointing education programs environment as the main tool

in the conservation and preservation of a sustainable life model for the planet. It

refers to the lack of awareness of governments with regard to the environment, and

the complexity of issues relating to environmental problems. The foregoing study was

to approach a literature search in order to clarify and substantiate hypotheses about

the problem evidenced allowing the construction of a broader view of that subject.

Keywords: Environmental education, social transformation, sustainability.

INTRODUÇÃO

A questão ambiental é um assunto que cada vez mais ganha destaque e

preocupa os diversos setores da sociedade que insistem em não dar a devida

atenção a essa problemática. Á décadas incertezas sobre o meio ambiente vêm

sendo discutidas em várias partes do mundo, porém, leis, atitudes e medidas

realmente efetivas e eficazes para uma mudança ainda não foram tomadas de fato.

Despertar o ser humano para a consciência de ser habitante de um planeta! O

que representa isso em termos de responsabilidade? Em termos do que eu posso e

o que eu não posso fazer? E o que eu posso fazer para melhorar essa situação?O

mundo está passando por mudanças no clima; secas, inundações, pragas e retorno

de doenças já controladas nos acometem. Há uma erosão violenta da moral

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humana, um desprezo pelos valores humanos que estão sendo substituídos pela

competição, por sentimentos de posse, consumismos, lucro e poder. De acordo

com (GUIMARÃES; 2000; p.15): “A discussão sobre a relação educação-meio

ambiente contextualiza-se em um cenário atual de crise nas diferentes dimensões,

econômica, política, cultural, social, ética e ambiental”. Dessa forma percebemos

que desde o início do século XXI vêm se perseverando conseqüências dessa

problemática que é endossada pela incompetência de setores/atores da sociedade

os quais deveriam gerir uma política educacional efetiva intrínseca aos

conhecimentos ambientais, mas que, no entanto se mostram incapazes e obsoletos

diante da triste realidade que se estabelece.

O fenômeno da globalização, o advento das novas tecnologias, o aumento da

violência, o crescimento acelerado das populações e das cidades cada vez mais

transformando os espaços verdes em pavimentações, casas e prédios. Todos esses

fatores acabam por diminuir o contato direto da criança e dos indivíduos com os

elementos da natureza. “Nesse paradigma a cada dia que passa as crianças

passam a ter espaços cada vez mais restritos para o contato com os elementos do

ambiente e então as crianças estão sendo obrigadas a ficarem trancadas em casa

tendo como fonte de lazer o uso das tecnologias” (MEDEIROS et al; 2011.p.2).

Nas escolas pouco se trata da questão ambiental e apesar de existir uma

legislação, documentos oficiais, referenciais, normas e regulamentações para

gerenciar um sistema de educação ambiental para as instituições de ensino

brasileiras, observa-se em grande parte das escolas públicas, além do desafio da

precariedade e da falta de recursos básicos, a prática de uma educação centrada

em explicar tudo, em classificar tudo, centrada nos conteúdos e no professor, que

não tem conexão nenhuma com a realidade, onde as crianças se desmotivam e não

se interessam pelas aulas. Isso implica em menos qualidade para o processo de

ensino e significa que o indivíduo não está absorvendo e não está transmitindo a

proposta das disciplinas que compõem o currículo assim como as do tema

transversal Meio Ambiente.

Tendo em vista as percepções citadas anteriormente, este artigo tem o

objetivo de entender e discutir a importância de se trabalhar a educação ambiental

de forma inovadora, sob uma perspectiva crítica com os indivíduos que estão

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freqüentando os ambientes escolares, em especial nas crianças cujo

desenvolvimento cognitivo está aflorando, já são capazes de perceber o outro, de se

socializar. Nessa fase são dados os primeiros passos para a formação de uma

personalidade, de uma consciência sobre o eu e sobre o ambiente em que se vive

com o semelhante. Dessa forma o que se pretende aqui não é pregar a formação de

cidadãos “ecos-radicais” como incita Genebaldo Freire Dias¹, mas atentar para um

formato de educação ambiental que se associe a uma visão mais humanista do

mundo. Para Genebaldo Freire:

“Educar hoje, fazer parte do processo de educação, significa pensá-lo

onde existem pessoas em um processo de percepção do mundo onde

vivem. Então educar é um processo sem começo e sem fim como é a

vida e como é o universo se desprendendo do ímpeto demasiado de

querer explicar, entender, esmiuçar tudo.” (DIAS, 2013).

O ato de educar precisa ser mediado a partir de uma didática construtivista e

investigativa que leve o sujeito a explorar, refletir criticamente sobre o conhecimento,

que deve ser estabelecido a partir de uma realidade ambiental onde o mesmo se

reconhece. Essa característica contribui para o ato educativo se tornar mais eficaz.

Uma metodologia centrada em classificações, em instruir e pormenorizar os temas

sem contextualizá-los pode representar um problema para a assimilação dos

conteúdos das diversas áreas do saber.

Corroborando com o autor, esta pesquisa contribuirá para uma reflexão

acerca do papel exercido pela escola, sendo ela um agente fundamental na

estruturação de uma nova maneira de mediar o conhecimento ecológico. Através de

um processo educativo inovador, transformador, construtivista e reflexivo, as

instituições de educação infantil podem idealizar uma nova mentalidade critica nas

crianças, fazendo com que as mesmas incorporem o espírito de respeito pela

natureza, o interesse pela terra, pelas plantas e pela biodiversidade, tendo

consciência do papel e importância de cada um desses atores na manutenção do

equilíbrio dos nossos ecossistemas, absorvendo, com efeito, as propostas dessa

temática para que se enraízem e sejam sempre transmitidas entre as gerações

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Metodologias da pesquisa

Este presente artigo teve como metodologia uma pesquisa bibliográfica

desenvolvida através de buscas na internet, em leis, parâmetros, diretrizes, livros,

publicações em periódicos e em outros artigos científicos atentando sempre para a

veracidade das informações observando possíveis incoerências e/ou contradições

entre as obras analisadas. Através do fichamento dos textos e da organização das

referências obtidas tentou se explicitar e fundamentar hipóteses acerca do problema

referenciado, permitindo a construção de uma visão mais ampla do assunto.

O que é Educação Ambiental (EA)? Como e para quê surgiu?

Nós humanos fazemos parte do meio ambiente em que vivemos, não apenas

como ocupantes do espaço físico que nele existe, mas como seres intrínsecos do

mesmo. Somos formados por átomos que se juntam em moléculas que formam os

tecidos, os órgãos e os sistemas que precisam de proteínas, sais, minerais e água

principalmente para se efetivarem em um organismo complexo que absorve tudo o

que precisa a partir da natureza e do que ela produz.

Nos últimos duzentos anos a humanidade passou por grandes mudanças que

foram impulsionadas, por exemplo, pelo processo de industrialização que aumentou

a utilização de recursos naturais e a geração de resíduos, o desenfreado

crescimento populacional, a migração das pessoas do meio rural para as zonas

urbanas das grandes metrópoles, o aumento da produção do conhecimento

proporcionando um acelerado desenvolvimento das ciências e das tecnologias.

Todos esses fatores acarretaram mudanças nos valores e no modo de vida da

sociedade originando conseqüências drásticas para o meio ambiente em todo o

planeta. Atualmente podemos perceber uma cultura de “afastamento entre homem e

ambiente”, onde o mesmo não se enxerga como parte da natureza em que vive e

não estabelece limites nem critérios apropriados para utilização de seus recursos,

além de uma constante discussão sobre a crise ambiental e o surgimento de graves

problemas ocasionados pela má utilização dos recursos naturais, pela geração de

resíduos e pelo consumismo do modo de vida capitalista.

É nesse contexto que surge a preocupação com a temática ambiental, e os

diversos setores da sociedade passaram a se mobilizar e buscar soluções,

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mudanças relativas a essa problemática. De acordo com Souza (2015), “é na

década de 60 que se inicia um movimento ambientalista nos Estados Unidos, tendo

como marco histórico o lançamento do livro “Primavera Silenciosa” da escritora

Rachel Carson, especificamente no ano de 1962” (SOUZA; 2015). Na obra a autora

denunciava de forma contundente e bem fundamentada, como os inseticidas

utilizados na agricultura, especialmente o DDT, afetava os organismos vivos nos

diversos elos da cadeia alimentar e como se acumulavam nos tecidos gordurosos

dos animais que posteriormente seriam consumidos por nós humanos. Esse fato é,

portanto, considerado o propulsor da manifestação global por uma consciência

ecológica e marco inicial do que hoje se conhece por educação ambiental (EA),

ainda que “a expressão só tenha sido utilizada pela primeira vez em Keele, Grã-

Bretanha, por ocasião de uma Conferencia em Educação realizada no ano de 1965,

onde se concluiu que a educação ambiental deveria se tornar parte essencial da

educação de todos os cidadãos” (DIAS, 1992).

No ano de 1968 foi criado o “Clube de Roma”, um grupo constituído por

empresários preocupados com a crise ecológica. Em 1972 esse grupo apresentou

um relatório denominado “Os Limites do Crescimento Econômico”, preocupados em

traçar ações para se obter um equilíbrio global no mundo, refletindo sobre a redução

do consumo e de determinadas prioridades sociais. Nesse mesmo ano em uma

conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada na cidade de

Estocolmo na Suécia que surge em âmbito mundial a preocupação com os

problemas ambientais, reconhecendo-se e recomendando-se a necessidade do

desenvolvimento e estabelecimento de programas relacionados à educação

ambiental. Em outubro de 1977 a Organização das Nações Unidas para Educação,

Ciência e Cultura (UNESCO) reuniu-se em Tbilisi na Rússia para a primeira

Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, aonde discutiram sobre

as peculiaridades dessa nova área do conhecimento dando origem a idéia de que

este tipo conteúdo deve ter enfoque multidisciplinar e integracionista.

Na década de 80 foi criada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, presidida pela norueguesa Gro Harlem Brundtland. Criada por

decisão de uma Assembléia Geral da ONU, essa comissão realizou trabalhos até o

ano de 1987, resultando em um relatório denominado “Nosso Futuro Comum” (Our

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Common Future), o qual tinha como objetivo principal a proposição de medidas a

serem tomadas pelos países para se promover o desenvolvimento sustentável que

no documento é entendido como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades

presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas

próprias necessidades” (SOUZA, 2015). No Brasil, a educação ambiental se

incorpora definitivamente como um processo fundamental e indispensável para o

desenvolvimento sustentável por meio da agenda de diretrizes para o século 21,

criada na Conferência sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de

Janeiro em junho de 1992 (Rio-92). Paralelamente a Rio-92, a Jornada Internacional

de Educação Ambiental também criou um documento contendo uma série de

princípios sobre a temática que ficou conhecida como “O Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”, gerado a

partir de uma compilação de idéias abordadas na Jornada Internacional de

Educação Ambiental, uma espécie de fórum global sobre a temática. Depois da

conferencia de 1992 alguns fatos se destacaram no Brasil como a aprovação das

diretrizes para a implantação do Programa Nacional de Educação Ambiental

(PRONEA), publicado no Diário Oficial da União (DOU. 22/12/94); em 1996 a

inclusão nos Parâmetros Curriculares Nacionais da dimensão ambiental como tema

transversal em todo o ensino básico e a promulgação da Lei n° 9.795, de 27 de abril

de 1999 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental que estabelece em

seu artigo 1°:

“Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o

indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimento,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do

meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade

e vida e a sustentabilidade.” (Lei. 9.975/99)

Essa lei também define a educação ambiental em seu artigo 2° como sendo

“um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar

presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo

educativo, em caráter formal e não-formal” (Lei. 9.975/99).

A década de 90 se destacou pelos encontros e conferências realizados para

criar propostas de uma reorientação da educação de uma maneira geral, sendo

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colocada sob uma ótica interdisciplinar, que busque atender a sustentabilidade

futura, incluindo no seu cerne não apenas o meio ambiente, mas outros aspectos

como a pobreza, a saúde, a democracia, os direitos humanos e a paz. Dessa

maneira, um dos princípios ideológicos básicos da educação ambiental é a

necessidade de se fazer perceber entre os indivíduos, a existência de uma

totalidade e uma dependência entre todas as formas de vida. É nesse contexto que

esta temática surge e vem se estruturando com o objetivo de fazer os sujeitos se

perceberem como parte do meio ambiente em que vivem; como co-integrantes das

interações ocorridas entre todos os componentes da biodiversidade existente no

universo, possibilitando a esse “ser”, um proceder no mundo de forma consciente e

responsável.

A Educação Ambiental na escola

A escola tem a responsabilidade de promover o pleno desenvolvimento

cidadão, e cabe a ela definir o tipo de sujeito que deseja formar, em conformidade

com a sua visão de sociedade. Assim, fica a critério da mesma, estabelecer as

mudanças que considera necessário fazer nessa sociedade por intermédio das

ações desse cidadão. As instituições de ensino devem ter a preocupação de

preparar o educando para atuar de forma ativa no grupo social ao qual ele está

agregado, apropriando-se de valores, crenças, conhecimentos acadêmicos e

referenciais sócio-históricos, tornando-o uma pessoa consciente e responsável pela

transformação da realidade em que está inserido. De acordo com DESCHAMPS

(2012):

“O modo "como se aprende" torna-se importante à medida que ajuda a

transcender ao aqui e agora, oportunizando a aplicação, em situações

diferentes, dos conteúdos apreendidos; estabelecendo relações com

assuntos, fatos e momentos passados ou futuros; entendendo causa e

conseqüência; posicionando-nos crítica e ativamente no grupo que se faz

parte. Transcender significa mudar a maneira de ver e viver a realidade.

”(DESCHAMPS; 2012)

Dessa forma, a instituição educacional agindo na esfera da aprendizagem,

atua como disseminadora de idéias, podendo se tornar uma sobrelevada aliada no

combate ao “analfabetismo ambiental”, aos ditames do modo de vida capitalista, a

degradante realidade dos nossos ecossistemas naturais cada vez mais explorados

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de maneira predatória. Para isso os currículos escolares trazem consigo a

representação da legislação e dos documentos oficiais publicados que demonstram

o que é educação ambiental, suas bases filosóficas e as suas recomendações. A Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) “é a lei orgânica e geral da

educação brasileira. Como o próprio nome diz, dita as diretrizes e as bases da

organização do sistema educacional” (SCUARCIALUPI, 2015). Podemos elencar o

artigo 4° desse regulamento que define a educação básica como obrigatória e

gratuita dos 04 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, delimitada em educação

infantil atendendo crianças até 05 (cinco) anos; pré-escola, ensino fundamental e

ensino médio. E o artigo 26 atentando para a conformação de um currículode base

nacional comum, podendo admitir complementações e alterações surgidas de

acordo com as características regionais, locais, da cultura e da economia onde está

inserido o educando e está localizado o sistema de ensino/estabelecimento escolar.

O inciso 1° deste mesmo artigo aponta para a obrigatoriedade do currículo em

abranger, entre outras áreas não menos importantes do saber; “o conhecimento do

mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil”. Uma

reflexão sobre essa peculiaridade da lei nos remete a educação ambiental cujo foco

da proposta de ensino visa transmitir esses conceitos. De acordo com o documento

Pensar o Ambiente: Bases Filosóficas para a Educação Ambiental emitido pelo MEC

e pela UNESCO em 2006, “para a Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade (SECAD), órgão, no âmbito do Ministério da Educação,

responsável pela Coleção, a educação não pode separar-se, nos debates, de

questões como desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente sustentável;”

(SECAD/MEC, 2006). A proposta desse documento é a de explicitar a consolidação

filosófica do pensamento ambiental a partir da contribuição teórico-conceitual de

diversos pensadores: “Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Bacon,

Descartes, Espinosa, Rousseau, Kant, Marx, Freud, Heidegger, Arendt, Gadamer,

Vygotsky e Paulo Freire” (SECAD/MEC, 2006), servindo de aporte para a produção

do conhecimento em educação ambiental bem alicerçado.

Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA)

A Lei n°9.795, de 27 de abril de 1999 dispõe sobre a educação ambiental

(EA) instituindo a Política Nacional de Educação Ambiental. Apresenta os

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entendimentos e regulamentos acerca da disciplina e em seu artigo 1°, no capítulo I

afirma que a educação ambiental pode ser entendida como “... processos por meio

dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio

ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua

sustentabilidade” (Lei 9.795/99). O documento estabelece o direito à educação

ambiental para todos e fixa os compromissos designados ao poder público de definir

políticas públicas incorporadas a dimensão ambiental promovendo-a em todos os

níveis de ensino e da sociedade que deve estar envolvida e participar ativamente de

atividades para a conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. A escola,

os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), os meios

de comunicação de massa, as empresas, entidades de classe, instituições públicas

e privadas, a sociedade como um todo devem promover a educação ambiental cada

qual na sua respectiva esfera de atuação. As escolas devem elaborar seus Projetos

Político Pedagógico (PPP) em consonância com os conhecimentos ambientais

desenvolvendo programas educacionais relacionados ao tema assim como os

órgãos integrados ao SISNAMA precisam providenciar ações de educação

ambiental ajustadas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do

meio ambiente. Os meios de comunicação de massa podem contribuir ativamente

na difusão e divulgação de informações sobre praticas educativas vinculando a

dimensão ambiental à programação, as empresas e instituições públicas e privadas

investir na capacitação de trabalhadores e a sociedade em sua totalidade precisa

“manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que

propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e

a solução de problemas ambientais.” (Lei 9.795/99).

Os princípios básicos da educação ambiental estão prescritos no artigo 4° do

capítulo I dessa lei. E recomendam que os conhecimentos acerca da temática,

necessitam respeitar, no momento da elaboração de metodologias para sua

transmissão:

I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;

II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a

interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o

enfoque da sustentabilidade;

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III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi

e transdisciplinaridade;

IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;

V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;

VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;

VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e

globais;

VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e

cultural.

Nesse sentido os fundamentos sobre o meio ambiente devem ser adquiridos

pelo sujeito a partir da relação entre suas experiências e vivências às propostas

conduzidas pelos sistemas de ensino buscando trazer a consciência do homem

como um ser situado no mundo, respeitando a participação dos educandos,

oportunizando atividades dinâmicas onde se aprende através da observação, da

manipulação, da interação com a natureza garantindo uma assimilação critica e

reflexiva dos processos e dos fenômenos naturais tendo consciência das relações

de causa e efeito entre o meio natural e as esferas social e econômica, por exemplo.

Considerar as diversas culturas para mediar propostas de desenvolvimento

sustentável através dos conhecimentos específicos de cada região do país,

articulados aos dilemas ambientais locais, nacionais e globais procurando abranger

esse tipo de objeto de estudo em sua totalidade. Entre seus objetivos principais

podemos evidenciar a intenção do desenvolvimento de uma “compreensão integrada

do meio ambiente, em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos

ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e

éticos” (ART. 5°, Inc. I). A democratização do conhecimento ambiental, a efetiva

participação individual e coletiva dos cidadãos em ações de preservação do meio

natural em níveis micro e macrorregionais. Intentando construir uma sociedade

ambientalmente equilibrada integrada a ciência e a tecnologia fortalecendo a

cidadania e a solidariedade dos povos sendo estas possíveis bases para a garantia

de um mundo adequado aos seres humanos. Logo se percebe a importância da

educação ambiental enquanto transmissora de uma consciência ética e ecológica,

transformadora da realidade por intermédio dos conceitos de sustentabilidade que

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visam à promoção de um ambiente harmônico onde a relação entre homem e

natureza ocorra de forma equilibrada e consciente.

Concepções e técnicas de EA

Na atualidade podemos verificar em nosso cotidiano, ações e atitudes que

nos levam a refletir e ansiar urgentemente por mudanças referentes ao resgate de

valores humanos, ao respeito pela vida, por meio da justiça ambiental realmente

funcional, com igualdade, imparcialidade, retidão, respeitando a diversidade e

praticando sustentabilidade. Diante disso a educação ambiental assume este desafio

e a Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade do Ministério da

Educação (SECAD/MEC), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA),

apresentam o livro “Conceitos e Práticas em Educação Ambiental na Escola”

integrante da coleção “Vamos Cuidar do Brasil”. O documento é uma compilação de

artigos de diversos autores distinguidos pela contribuição no campo temático em

questão, e se propõe a compartilhar saberes, idéias e práticas comuns ao tema. É

um norte para os educadores sobre como a educação ambiental pode contribuir

para a construção de uma sociedade sustentável, sendo esta, mediada a partir de

uma visão critica e reflexiva permitindo ao sujeito compreender efetivamente, não

somente os aspectos humanistas da questão, mas também os valores éticos e

políticos referentes aos cuidados com a diversidade da vida.

O projeto de pesquisa intitulado “O que fazem as escolas que dizem que

fazem educação ambiental?”, teve o objetivo de mapear a presença da educação

ambiental nas escolas assim como seus padrões e tendências, através da análise

dos dados obtidos pelos Censos Escolares correspondentes aos anos de 2001 a

2004, elaborados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

(INEP) e Ministério da Educação e Cultura (MEC). Os dados e as informações

obtidos nesta pesquisa permitem a formação de conclusões e considerações

referentes ao acesso das crianças brasileiras a educação ambiental. Um dos

instrumentos de coleta de dados dessa investigação consistiu, por exemplo, na

aplicação de questionários direcionados a apreciação do perfil das escolas, do

entendimento dos atores envolvidos no processo sobre as praticas de EA, sobre há

quanto tempo são executados os programas de EA, quais modalidades são

exercidas, suas características e peculiaridades, que temas e objetivos são

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priorizados, como ocorre à participação e a contribuição da comunidade na

composição de atividades temáticas, além das principais dificuldades encontradas

no processo em geral. Assim a pesquisa faz apontamentos para a realidade da

educação ambiental em parte das escolas brasileiras que passaram a desenvolver

essa modalidade de ensino a partir do inicio dos anos 90, motivadas pelo destaque

dado as problemáticas ambientais em nível nacional e global.

LOUREIRO e COSSÍO (2007) apresentam o artigo Um olhar sobre a

educação ambiental nas escolas: considerações iniciais sobre os resultados do

projeto “O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental?”,

trazendo os resultados obtidos pela pesquisa que foi pormenorizada a partir de três

temas: O primeiro refere-se ao tempo em que estas vêm exercendo a disciplina, o

segundo diz respeito às motivações iniciais que desencadearam ações de EA e o

terceiro concerne sobre o objetivo central para a realização desta no interior da

escola. Os autores observaram que:

“Uma primeira aproximação sobre as escolas diz respeito ao tempo em

que estas vêm desenvolvendo educação ambiental. Constata-se que

mais de 30% das escolas pesquisadas iniciaram as suas atividades nos

últimos três anos. Porém existe uma porcentagem significativa de

escolas (22,7%) que oferecem educação ambiental há mais de dez anos,

provavelmente motivada pela ampliação da discussão ambiental no país,

no final dos anos 80, e pela realização, em 1992, da Conferência das

Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio de

Janeiro – Rio 92 ou ECO 92 –, evento que criou uma conjuntura muito

favorável à expansão da educação ambiental naquele momento.”

(LOUREIRO e COSSÍO, 2007)

Nesse contexto percebeu-se uma crescente oferta desta modalidade de

ensino nas regiões Norte e Nordeste no período de 2001 a 2004, ainda que as

regiões Sul e Sudeste apresentassem maior número de escolas que exerciam a

educação ambiental ha mais de 10 anos. Os conhecimentos sobre o meio ambiente

continuam sedo aplicados nas escolas, nos dias atuais constatamos que o tema

cada vez mais tende a ganhar destaque perante a sociedade demonstrando uma

necessidade de se reformular, se reestruturar com o passar do tempo, adequando-

se á novas características, aspectos e problemas surgidos. Sobre a motivação para

as primeiras ações de EA nas escolas, constatou-se a iniciativa individual e coletiva

dos professores como sendo o primeiro passo e o segundo o incentivo propiciado

pela execução dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). O governo federal

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contribuiu nessa empreitada promovendo ações como o Programa Parâmetros em

Ação: Meio Ambiente, a Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente e

o Programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas.

Enquanto aos objetivos centrais para a realização desta no interior da escola

LOUREIRO e COSSÍO (2007) constataram que “conscientizar para a cidadania”

sobressaiu-se perante outros objetivos como “sensibilizar para o convívio com a

natureza” e “compreensão crítica e complexa da realidade socioambiental”. Os

autores abrem uma reflexão sobre os significados de “conscientizar” e “sensibilizar”,

para eles existe uma contradição entre os dois primeiros objetivos fortemente

destacados e o terceiro:

“conscientizar” e “sensibilizar” são conceitos que remetem, normalmente, a

uma visão unidirecional do professor para o aluno, da escola para a

comunidade desconsiderando os processos dialógicos educador - educando

e os complexos problemas envolvidos na realidade de cada grupo social e

“comunidade de aprendizagem” (LOUREIRO e COSSÍO, 2007).

Deste modo devemos pensar a educação ambiental como um instrumento de

conscientização e sensibilização sim, no entanto, a mesma deve ser transmitida a

partir de uma abordagem crítica e reflexiva fundamentada em métodos de

pensadores como Paulo Freire, Anísio Teixeira e Célestin Freinet, por exemplo,

implicando na preparação de atividades construtivistas, dialéticas, onde o sujeito

seja provocado a investigar, pesquisar, entrar em contato com os elementos que

compõem nosso ecossistema permitindo-o compreender e relacionar os diversos

nichos existentes em seu contexto e “realidade/meio ambiente” de vida, ou seja, a

educação ambiental precisa estar direcionada para a realidade ambiental de onde

ocorre o processo educativo abrangendo toda a comunidade e os atores envolvidos

no procedimento.

A perspectiva crítica é uma tendência que vem ganhando destaque no campo

educacional. A professora Paula Saretta, em seu artigo intitulado “Educação numa

perspectiva crítica: o que isso significa?”, afirma que: “Termos como consciência

crítica, espírito crítico, desenvolvimento da critícidade estão freqüentemente

associados à idéia de educação numa dimensão crítica, uma educação para a

cidadania, com vistas à democracia.” (SARETTA, 2014). O educador e teórico Paulo

Freire é um dos pioneiros nesta linha de pensamento e contribui para uma reflexão

sobre o termo “conscientização”. O mesmo compreende o processo educativo como

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um instrumento de mudança e desenvolvimento da consciência que para ele

subdividi-se em “ingênua e crítica”. Saretta (2014) afirma que:

“Paulo Freire entendia por consciência ingênua aquela em que a pessoa

interpreta o mundo geralmente chegando a atribuir como causa dos

problemas sociais, políticos, econômicos e até pessoais pensamentos e

soluções imutáveis, rígidas, superficiais e “mágicas”. Já a consciência

crítica possibilitaria ao aluno analisar profundamente sua realidade e

refletir de maneira consistente, passível de transformações e

modificações em sua maneira de entender e ver o mundo. ”(SARETTA,

2014).

Nesse sentido, o conhecimento trazido pelo professor aparece como um

objeto fundamental provocador da reflexão critica dos educandos que pode ser

impulsionada a partir do desenvolvimento de situações problema onde temas do

cotidiano do educador - educando são debatidos. Dessa forma o aluno passa a ter

uma relação mais abrangente, contextualizada do mundo em que vive

desenvolvendo uma:

“... consciência crítica, a consciência de que ele pode intervir e tem a

capacidade de participar na transformação das relações que julguem

necessárias. Mais ainda, a consciência crítica faz com que o estudante

perceba o caráter histórico, cultural, dialógico das relações sociais e de

suas relações com a sociedade, condição essencial para uma

participação mais ativa e transformadora na sociedade. Mais ainda, a

consciência crítica faz com que o estudante perceba o caráter histórico,

cultural, dialógico das relações sociais e de suas relações com a

sociedade, condição essencial para uma participação mais ativa e

transformadora na sociedade.” (SARETTA, 2014).

Assim sendo, a ótica e as técnicas de educação ambiental elaboradas em

concordância a este pensamento podem surtir efeitos realmente significativos para

uma possível transformação na nossa relação de bem estar coma natureza.

Imaginemos que na Educação Infantil onde são trabalhados os conceitos de higiene

pessoal os professores proclamam, por exemplo, a importância de se escovar os

dentes e por meio de materiais adequados e de uma aula dinâmica os alunos são

orientados sobre como fazer a escovação, os movimentos corretos, como usar o fio

dental, sobre os problemas ocasionados pela não e pela má escovação dos dentes

etc. O objetivo é que essa proposta seja absorvida pelo educando tornando-se um

hábito. Do mesmo modo devem ser tratadas as problemáticas relativas ao meio

ambiente na escola, embora que desprendida de uma visão simplista e sem muita

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significação. O professor Carlos Frederico Loureiro dedica alguns de seus estudos

para refletir sobre a relevância e a pertinência de uma educação ambiental crítica e

contribui para a reflexão sobre o significado do termo “conscientizar” e as

implicações dessa questão na composição de projetos e atividades relacionados ao

tema. De acordo com o autor a educação ambiental vem sendo classificada de

diversas maneiras, e isso se explica, pois:

“O campo foi formado por diversas visões de mundo em diálogo e

disputa, e nossa identidade se definiu mais pela negação ao estilo de

vida urbano-industrial e aos valores culturais individualistas e

consumistas do que por pontos comuns na proposição de alternativas.

Com isso, para não cairmos em uma visão homogeneizadora ou

simplificada, acabamos por sentir a necessidade de explicitar as

diferentes abordagens configuradas no modo de se fazer tal refutação e

construir outros caminhos. Bem ou mal, por vezes complicando mais do

que facilitando, falar simplesmente “educação ambiental” pode não ser

suficiente para se entender o que se pretende com a prática educativa

ambiental.” (LOUREIRO, 2007).

É importante considerar essa proposta de ensino como uma ação educativa

propulsora da formação de cidadãos responsáveis, despertos da preservação do

meio ambiente. Capazes de elaborar procedimentos coletivos relacionados aos

dilemas ambientais influenciando no desenvolvimento de uma sociedade

sustentável. Desse modo, a sua proposta ultrapassa os muros da escola embasando

ações que requeiram seu uso no dia a dia. Segundo Loureiro (2007), “... sua marca

principal está em afirmar que, por ser uma prática social como tudo aquilo que se

refere à criação humana na história, a educação ambiental necessita vincular os

processos ecológicos aos sociais na leitura de mundo...”. Isso leva a crer que nosso

relacionamento com a natureza se dá também por mediações de cunho social, ou

seja, está diretamente ligado aos aspectos da cultura, educação, classe social,

instituições, família, gênero, etnia, nacionalidade etc. (LOUREIRO, 2007). Uma

abordagem critica da educação ambiental considera a estrutura econômica ocupada

pelo educando, as regras e a dinâmica da escola e também as peculiaridades

culturais do grupo social envolvido no processo de ensino. Não existe separação

entre cultura e natureza na educação ambiental crítica, sua proposta desaprova o

modelo de sociedade vigente, a prática da educação formal, a ciência e a filosofia

dominante, ela deve ser efetivamente autocrítica, ou seja, admitir erros, incertezas,

inquietações e dificuldades são atitudes as quais estão diretamente relacionadas ao

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processo de transformação da realidade e da constituição dos sujeitos, sendo

indispensável para refletirmos sobre o que fazemos o que almejamos e quais rumos

estamos tomando.

Políticas públicas de Educação Ambiental

Atualmente vivenciamos no Brasil um grave e decepcionante descontrole

político e social. Nossos responsáveis públicos, “os gestores dos interesses da

nação”, frustram, cospem nos valores éticos e morais agindo sem nenhum escrúpulo

na corrida pelo poder. A cada dia que passa os veículos de comunicação de massa,

muitos deles também corruptos e indignos, apresentam “denuncias” e “escândalos”

onde podemos constatar a presença maciça de políticos envolvidos em crimes

contra o patrimônio público, o termo corrupção se destaca nas discussões

populares, e os órgãos competentes estão investigando e desmascarando cada vez

mais as falcatruas e indecências praticadas por estes sórdidos.

Não é a intenção de este artigo discorrer sobre política, mas é impossível não

estabelecer uma relação entre esses acontecimentos e as questões ambientais, já

que a proposta da educação ambiental aponta para a sua indissociação relativa aos

ditames da vida em sociedade. É preciso analisar e refletir sobre a implicação desse

aspecto negativo da política na realidade a qual nos encontramos. O Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) é o órgão

federal que executa as leis da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA),

estabelecida pela lei n° 6.938 de 31 de agosto de 1981. O mesmo foi criado para

desenvolver serviços de preservação e conservação do patrimônio natural brasileiro,

e também para controlar e fiscalizar o uso dos recursos naturais, cabendo a este

mesmo órgão a concessão de licenças ambientais para construções de diversas

categorias. No entanto percebemos um descaso muito grande para com estas leis;

empresários, fazendeiros do ramo da agricultura e pecuária, da indústria madeireira,

as construtoras, são exemplos de empreendedores que contribuem para a

degradação do meio ambiente cometendo crimes como o desmatamento, a poluição

do ar, da água, dos solos, comprando e destruindo cada vez mais áreas verdes para

a construção de condomínios de luxo, shoppings, despejando resíduos, dejetos e

produtos tóxicos nos rios e mares, usam venenos e pesticidas altamente

contaminantes e cancerígenos nas hortas e pomares etc., porém poucas são as

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ações elaboradas para coibir tamanhas injustiças tendo em vista que o IBAMA,

assim como outras diversas instituições representadas pelo governo, não

corresponde às expectativas de sua atuação prática, pois muitas vezes faltam

estrutura e aparato material, contingente de servidores, patrulheiros e fiscais das

florestas, as multas aplicadas aos infratores muitas vezes são burladas por

manobras de advogados representantes do capitalismo e muitas vezes os grandes

empresários dos diversos ramos, estão mancomunados com políticos e servidores

trocando favores que visam somente o beneficio próprio.

Assim como há precariedade neste órgão do governo, há também nos outros

tantos estabelecimentos criados para oferecer serviços públicos referentes aos

direitos do cidadão garantidos por lei. Uma delas é a escola, responsável por

permitir o acesso e mediar em conjunto com a família e comunidade escolar o

desenvolvimento educativo a partir do processo de ensino aprendizagem.

Realmente, encontramos nas nossas leis e documentos oficiais, diversas

representações e modelos para tudo, aqui vamos destacar a legislação ambiental e

a LDB apenas para demonstrar que as intenções governamentais são as melhores,

as propostas criadas pelos mais influentes e conceituados juristas, apresentam

parâmetros, diretrizes, regras, fundamentos, referenciais etc. existe uma

sistematização minuciosa e detalhada de como se deve ser tudo; como deve ser a

educação, como deve ser a escola, como deve ser o professor, quais são os

direitos, e os deveres, as leis ambientais defendem nossas riquezas sem sombra de

duvidas, porém na prática o ocorrido é totalmente o oposto da teoria, sabemos que

existe muita ineficiência nos serviços públicos oferecidos, há debilidade e

instabilidade em muitas instituições, as leis ambientais assim como as leis

educacionais são fraudadas, o exemplo dos nossos representantes públicos para os

cidadãos em geral, crianças, jovens, adultos e idosos, é o suborno, é o desvio da

merenda, é a construtora “loteando a beira do rio” com respaldo do governo que

reduz cada vez mais os limites da edificação urbana nas margens de reservatórios

de água passando de 300 metros para uma base de 5 a 100 metros, ou seja, os

sujeitos vão vivendo, crescendo e convivendo com atitudes de desrespeito,

presenciam a impunidade, são manipulados e tangidos para que hajam de acordo

com os interesses dos detentores do poder.

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Desse modo como vamos educar ambientalmente as pessoas? Diante dessas

verdades, este dilema se torna um grande desafio para a educação ambiental, pois

a mesma como já foi explanado não deve estar presente somente nos ambientes

escolares, é interessante que toda a sociedade esteja envolvida num processo de

reconstrução. Saretta afirma que toda política educacional é reflexo do que ocorre

na dimensão econômica, social e política de um país, num determinado momento

histórico e social (SARETTA, 2014). Então ao considerar o contexto econômico,

político e social do nosso país neste momento. Pode-se constatar que o mesmo não

possui estrutura e nem competência para gerir e manter sistemas de ensino que

exerçam de fato uma educação ambiental alicerçada sob uma perspectiva critica. De

acordo com SORRENTINO et al (2005) :

“No campo ambiental, o Estado tem crescido em termos de marcos

regulatórios sem uma capacidade operacional [...]. À educação ambiental

cumpre, portanto, contribuir com o processo dialético Estado-Sociedade

civil que possibilite uma definição das políticas públicas a partir do

diálogo.” (SORRENTINO et al; 2005).

Nesse seguimento, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e o Ministério

do Meio Ambiente (MMA), na execução de uma educação ambiental como política

pública deve considerar a implicância de:

“processos de intervenção direta, regulamentação e contratualismo que

fortalecem a articulação de diferentes atores sociais (nos âmbitos formal

e não formal da educação) e sua capacidade de desempenhar gestão

territorial sustentável e educadora, formação de educadores ambientais,

educomunicação socioambiental e outras estratégias que promovam a

educação ambiental crítica e emancipatória.”(SORRENTINO et al; 2005).

Uma política pública pode ser entendida como a organização de soluções

desenvolvidas pelo Estado para resolver problemas e atender demandas específicas

da sociedade, esta se dá por meio de modalidades como a intervenção direta,

regulamentação e contratualismo. Atualmente o órgão gestor da educação ambiental

as insere na conformação das políticas públicas sobre o tema.

Nesse sentido as políticas públicas em educação ambiental permitem uma

melhor capacidade estatal de mediar ações de apoio, ainda que mínimas no que se

refere às necessidades das instituições praticantes da educação ambiental crítica e

emancipatória. A educação ambiental se inclui nas políticas públicas do Estado

brasileiro a partir da seguinte perspectiva: “como crescimento horizontal

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(quantitativo) e vertical (qualitativo), pois enquanto no âmbito do MEC pode ser

entendida como uma estratégia de incremento da educação pública, no do MMA é

uma função de Estado totalmente nova”. (SORRENTINO et al; 2005 ).Dessa forma o

MEC e o MMA cada um na sua arcada sobre a educação ambiental estabelecem

projetos e programas concernentes ao trabalho nas escolas públicas, nas áreas de

Proteção Ambiental (APA), nas prefeituras, empresas,sindicatos, movimentos

sociais, organizações da sociedade civil, comitês de bacia hidrográfica,

assentamentos de reforma agrária, universidades entre outros. Essas ações podem

até representar algum avanço, mas não esquecendo a problemática política no

Brasil, precisamos estar concentrados para perceber segundas intenções,

influências, tendências articuladas nos processos não beneficentes para o coletivo.

Ainda acordando com Sorrentino et al (2005), é inegável que:

“[...] a educação ambiental, no âmbito do Estado, enquadra-se naquilo que

Bourdieu (1998) denomina "mão esquerda do Estado", que reúne

trabalhadores sociais, educadores, professores e cujas ações são ignoradas

pela chamada "mão direita do Estado" (áreas de finanças, de planejamento,

bancos). Ao operar na reparação dos danos sociais e ambientais da lógica

de mercado, os sujeitos da "mão esquerda" podem, muitas vezes, se sentir

iludidos e desautorizados em função dos paradoxos vividos de forma

crônica, como falta de recursos, luta pela biodiversidade convivendo com

avanço das fronteiras agrícolas por monoculturas ou transgênicos, grandes

obras com alto impacto, revisão de antigas conquistas etc. Em lugar de

imobilização lamentosa, temos a convicção de que ações educacionais

participativas pela responsabilidade ambiental resultam no envolvimento e

na organização de pessoas e grupos sociais nas lutas pela melhoria da

qualidade vida fundamentada em valores pós-materialistas, que questionam

as necessidades materiais simbólicas de consumo e desvelam outras

possibilidades de felicidade, alegria e vida.” (SORRENTINO et al; 2005 )

Por esta perspectiva compreendemos melhor essa dualidade de interesses

que dificulta a propulsão de uma transformação efetiva e significativa na realidade

cotidiana, na cultura do povo, no modo de vida consumista responsável pela

incessante destruição dos recursos naturais, nas escolas, ou seja, se a sociedade

está impregnada pelo vício cultural do capitalismo, como vamos ter forças para lutar

contra, se o próprio governo o pratica aliado à corrupção, isso se percebe na

realidade das instituições de ensino básico públicas, em suas grandes maiorias

sucateadas, precárias, não garantem nem os direitos básicos dos indivíduos de

freqüentar, aprender, praticar esportes, se alimentarem, O que dizer então sobre a

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transmissão da proposta de educação ambiental, sua qualidade pode ser medida

pela observação da realidade já citada.

O Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA)

No ano de 1996 o governo federal criou o PRONEA com o objetivo de

“promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização

pública para garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado” (MENEZES,

2001). Confeccionado pelo Ministério do Meio Ambiente, o documento contempla as

seguintes linhas de ação:

“- Capacitação do sistema de educação formal, supletivo e

profissionalizante, revisão de bibliografia e material pedagógico, visando a

abordagem da ecologia como tema transversal nos currículos, ou seja,

interdisciplinar;

- Capacitação dos profissionais de comunicação (jornalistas, escritores,

artistas, etc.), através de cursos, seminários, treinamentos e similares, a fim

de promover a democratização das informações ambientais;

- Apoio às iniciativas ambientais comunitárias, de órgãos governamentais e

não governamentais e outras instituições externas ao sistema educacional,

visando a participação cada vez maior da sociedade na construção da

consciência ambiental;

- Incentivo à criação de organismos próprios, em nível estadual, para

desenvolver estudos, pesquisas e inovações práticas para a disseminação

da Educação Ambiental;

- Promoção de encontros, seminários e conferências em níveis local,

estadual, nacional e internacional, destinados para os agentes institucionais

multiplicadores da consciência ambiental e das práticas da Educação

ambiental;

- Realização de campanhas que visem conscientizar produtores/usuários de

recursos naturais (pescadores, mineradores, criadores, etc.) a fim de

garantir a sustentabilidade e promover a qualidade de vida das populações

envolvidas. ”(MENEZES, 2001).

Às vistas dessas diretrizes do PRONEA pode-se verificar uma proposta

abrangente dos aspectos que permeiam os procedimentos cabíveis da educação

ambiental. O documento demonstra uma preocupação especial com o apoio do

governo e de instituições não escolares para a produção de atividades de

socialização ambiental, com a questão da interdisciplinaridade, tema permanente e

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progressivo dentro do campo pedagógico e com o preparo dos profissionais em

geral e da educação que cada vez mais precisam estar íntimos dos temas

ambientais para poder promover a democratização desse tipo de conhecimento.

Para Sorrentino et al (2005):

“A educação ambiental, por não estar presa a uma grade curricular rígida,

pode ampliar conhecimentos em uma diversidade de dimensões, sempre

com foco na sustentabilidade ambiental local e do planeta, aprendendo com

as culturas tradicionais, estudando a dimensão da ciência, abrindo janelas

para a participação em políticas públicas de meio ambiente e para a

produção do conhecimento no âmbito da escola.” (SORRENTINO, et al;

2005)

Diante disso podemos perceber como a educação ambiental pode se

ramificar e universalizar sua proposta de emancipação sustentável e de libertação

mental. Para isso necessita alicerçar-se nas bases de apoio governamentais e

mesclar-se principalmente aos ambientes escolares locais de propagação de cultura

e conhecimento. Existem várias regulamentações referentes ao ensino sobre meio

ambiente, voltando à realidade brasileira atual, é preciso notar a demasiada

burocracia existente nas ações do governo, a realidade ambiental que vivemos

requer ações, atitudes, iniciativas urgentes, de prontidão, que não podem esperar,

sempre ao se falar em políticas públicas de EA encontramos muitas idéias e

propostas da mais alta qualidade, embora sempre deparando-se no contraste do

paradoxo existente entre o que se defende e o que se pratica aqui neste país, isto

representa um desafio para nossas mentes, para o profissional de educação implica

na redução do rendimento de sua proposta, na limitação de suas ações, no atraso

do enraizamento da cultura ambiental.

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD),

junto à Coordenação Geral de Educação Ambiental (CGEA), órgão gestor da Política

Nacional de Educação Ambiental, em 2012 remetem ao Conselho Nacional de

Educação (CNE) o “texto sugestivo para o estabelecimento de Diretrizes

Curriculares Nacionais relacionadas à Educação Ambiental” (DCN/

CGEA/SECAD/MEC, p.01). O documento expõe propostas formuladas com o intuito

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de orientar os educadores, professores e gestores na resolução de incertezas sobre

como fazer a educação ambiental. As políticas públicas de (EA) defendem a

presença desse tipo de conhecimento em todos os níveis de ensino, na educação

infantil, no ensino fundamental, médio, superior, nos cursos de pós-graduação,

nesse sentido o texto chama a atenção por dar destaque para a educação ambiental

nos cursos de licenciatura sugerindo a participação dessa temática na formação dos

professores. As diretrizes apontam para o rompimento com a aplicação de uma

educação ambiental simplista, ingênua, justifica uma educação ambiental mais

politizada, complexa, voltada as questões econômicas, culturais e políticas, não se

restringindo somente as questões ecológicas. Então as diretrizes curriculares trazem

um avanço nos sentido da conscientização e da reação mais efetiva das pessoas

sobre os aspectos e as características peculiares desse ramo do conhecimento. O

texto incita que as diretrizes gerais para a educação ambiental devem ser

observadas:

“(i)nas propostas pedagógicas curriculares de todos os níveis e

modalidades de ensino, conforme suas particularidades; (ii) nos sistemas

de avaliação; (iii) nos processos de credenciamento das instituições

formadoras e na certificação das instituições de ensino;(iv) na produção e

avaliação de materiais pedagógicos; (v) nos sistemas de avaliação de

desempenho escolar em todos os níveis; (vi) nos concursos de provas e

títulos para provimento dos cargos dos profissionais de educação; e,

ainda, (vii) na gestão e administração educacionais.” (DCN/

CGEA/SECAD/MEC, p.15).

Isto indica uma apreciação efetiva dos aspectos ambientais na

contextualização dos processos educacionais brasileiros. Existe uma discussão

sobre a inclusão dessa temática como disciplina curricular, essa concepção abre

espaço para uma reflexão sobre a didática envolvida no processo de elaboração de

práticas e métodos referentes à transmissão desse tipo de conteúdo. De acordo com

as diretivas é:

“Importante deixar claro que, para a Educação Básica, não se pretende a

inclusão desta temática transversal como “disciplina curricular” (até

mesmo porque o artigo 10, §1º, da Lei 9.795/99 não autoriza este tipo de

inserção). Ao contrário, o que se pretende é fortalecer a sua

característica interdisciplinar, para que a Educação Ambiental possa

continuar perpassando e avançando nas modalidades educativas e

ramos científicos – mantendo um vínculo comum e verdadeiramente

conexo com elas, respeitando-se sempre a liberdade da comunidade

escolar para construir o conteúdo pedagógico a ser desenvolvido. Assim,

não se trata de aderir a modismos de especialização, mas de se

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responder às inquietações humanas frente à complexidade da crise

ambiental – que não se restringe aos problemas como a extinção de

espécies, à contaminação do ar, à escassez da água e ao efeito estufa –,

mas atinge a existência humana, degradando a qualidade de vida e os

relacionamentos sociais.” (DCN/ CGEA/SECAD/MEC, p.13).

As Diretrizes Curriculares Nacionais estão disponíveis para o acesso de

todos, por sua relevância deveria ser esmiuçada por todos que pretendem atuar na

área educacional e/ou também em qualquer outra área do conhecimento e do ramo

empregatício, visto que o tema representa os interesses do bem comum. Dessa

forma a proposta do documento faz referencias à importância e a necessidade da

Educação Ambiental ser incorporada nas Diretrizes do CNE a partir dos princípios e

objetivos fixados pela Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), à

obrigatoriedade da abordagem da Educação Ambiental em todos os níveis e

modalidades ensino instituída pela Lei de Educação Ambiental n°9.795 de 1999, à

relação e semelhança direta e indireta, por exemplo, para com as diretrizes do

Conselho Nacional de Educação percebidas no parecer 226/87, as Diretrizes

Curriculares Nacionais da Educação Infantil de 07 de abril de 1999, a Resolução nº

02 no tocante as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental de 07de

abril de 1998 e a Resolução da Câmara de Educação Básica (CEB- nº 03) de 26 de

junho de 1998 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio,

demonstrando o aspecto transdisciplinar da educação ambiental. Especificamente a

diretriz sobre educação ambiental sistematiza a educação básica mostrando

fundamentos de acordo com cada modalidade e nível de ensino. Para a Educação

Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental propõe-se:

“1. Emprego de recursos pedagógicos que promovam a percepção da

interação humana com a natureza e cultura, evidenciando aspectos

estéticos, éticos, sensoriais e cognitivos em suas múltiplas relações; 2.

Desenvolvimento de projetos multidisciplinares e interdisciplinares que

valorizem a dimensão positiva da relação dos seres humanos com a

natureza, valorizando ainda a diversidade dos seres vivos, das diferentes

culturas locais, da tradição oral, entre outras; 3. Promoção do cuidado

para com as diversas formas de vida, do respeito às pessoas e

sociedades, e do desenvolvimento da cidadania ambiental.” (DCN/

CGEA/SECAD/MEC, p.16)

Tratando- se de educação infantil estas sugestões explanam uma boa

abrangência de aspectos intrínsecos ao campo pedagógico e ecológico na mescla

pela busca de um modelo possivelmente legitimador de uma transformação da

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realidade. Uma aplicação pratica da educação ambiental condizente com as

afirmativas acima citadas pode colaborar para a formação de um sujeito capaz de

transmitir e perpetuar esse tipo de conteúdo tornando-o perdurável. Diante disso as

diretrizes para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio seguem

no mesmo rumo ideológico proporcionando ao educando a capacidade de

“compreensão da gênese e da dinâmica da natureza e das alterações provocadas

pela sociedade humana” (DCN/ CGEA/SECAD/MEC, p.17). No Ensino Médio

almeja-se do indivíduo a reflexão “sobre as injustiças sociais e ambientais que

recaem de forma desproporcional sobre os grupos e as etnias vulnerabilizados,

contribuindo para o Mapeamento do Racismo Ambiental no Brasil” (DCN/

CGEA/SECAD/MEC, p.17). De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais a

educação ambiental deve estar incluída e vinculada aos cursos de nível superior

tendo de se articular entre as seguintes áreas profissionais:

“Agrotécnica, Agropecuária e Produção Alimentícia; Indústria, Controle

de Processos Industriais e Produção Industrial; Construção Civil e Infra-

estrutura; Informação, Comunicação, Artes, Design e Produção Cultural;

Gestão, Comércio e Negócios; Turismo, Lazer, Desenvolvimento Social e

Hospitalidade, Meio Ambiente, Recursos Naturais, Saúde e Segurança;

mineração, informática, química e transporte” (DCN/

CGEA/SECAD/MEC; 2012).

Essas propostas elaboradas há quatro anos transluzem a democratização deste tipo

de ensino que deve fazer parte da prática exercida nas modalidades de educação à

distância, educação escolar indígena, educação especial, educação de jovens e

adultos, educação quilombola e do campo, contribuindo para a disseminação dos

conhecimentos relativos às questões ambientais. Evidenciam toda a complexidade

existente por traz da significação do que vem a ser educação ambiental, sobre onde,

como e para que fazê-la, apresentando diretrizes nacionais gerais e especificas

respeitando as particularidades de cada nível e modalidade de ensino a partir de

diversas recomendações, chamando a atenção pela pluralidade de idéias e

considerações envolvidas na sua formulação, mostrando mais uma vez, a iniciativa

pública elaborando políticas educacionais qualificadas e pertinentes, embora que a

sua efetivação não ocorra de fato.

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Aplicação prática

A Política Nacional de Educação Ambiental (Leinº9795/1999), em seu artigo 1º

refere sobre a educação ambiental situando-a como “os processos por meio dos

quais os indivíduos e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio

ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua

sustentabilidade” (PNEA, 1999). Interpretar a proposta da educação ambiental não é

uma tarefa fácil, ainda há muita desinformação e contradição envolvendo essa

temática possuidora de um amplo acervo regulamentador. A conceituação da PNEA

é apenas uma dentre outras tantas concepções dadas ao processo de educação

ambiental, cada uma traz proposições, recomendações, objetivos e intenções

pensados sob um contexto científico, baseado na experiência e na observação

desse campo temático. Mousinho (2003) contribui para uma reflexão sobre a

definição da educação ambiental conceituando-a como um:

"Processo em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva

para a questão ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem

adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica

e estimulando o enfrentamento das questões ambientais e sociais.

Desenvolve-se num contexto de complexidade, procurando trabalhar não

apenas a mudança cultural, mas também a transformação social,

assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política."

(MOUSINHO, 2003).

Essa concepção se faz notável, pois engloba a maioria dos aspectos

defendidos pelas políticas públicas de educação ambiental e permite argumentar

sobre uma dificuldade aparente no processo de ensino aprendizagem ambiental

concernente ao acesso da informação a partir de uma linguagem adequada.

Professores e alunos transitam em meio aos currículos cumprindo cada um suas

obrigações perante o método de ensino, mas o primeiro, por ser o mediador do

conhecimento, expõe mais destacadamente os reflexos dessa problemática quando

na conformação de suas atividades usa o paradigma simplista o qual a maioria dos

professores e sistemas de ensino está fadada a exercer. É fato que existem escolas

no Brasil praticando educação ambiental com qualidade, são exceções e muitas

vezes projetos e organizações extra-escolares estão envolvidas na orientação

desses processos através de profissionais capacitados conhecedores do tema. As

Diretrizes Curriculares Nacionais relacionadas à Educação Ambiental apontam para

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a necessidade da inserção da política educacional ambiental no cotidiano escolar e

incita que esta pode ser trabalhada de forma transversal, ou seja, mesclada ao

currículo deve se tornar freqüente a discussão e a presença de temas e conteúdos

de educação ambiental na programação escolar e na composição das cargas

teóricas das disciplinas. Dessa forma a aplicação prática de metodologias

ambientalmente educativas se torna um desafio para aquele que almeja atuar no

campo da didática, pois na sua formação acadêmica existe pouco ou nenhum

espaço para se discutir sobre educação ambiental.

O Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (DCN/EA), o PCN dentre outros

documentos são produções recentes surgidas por causa da então já estabelecida

crise ambiental, orientam profissionais da educação sobre os afazeres necessários

para se promover uma educação ambiental fundamentadamente crítica. A temática

ambiental aparece nos Parâmetros curriculares Nacionais (PCN) como um tema

transversal sendo sugerida a sua mediação a partir do enfoque nos aspectos

sociais, econômicos, políticos e ecológicos. Dessa maneira os PCN propõem uma

abordagem da educação ambiental onde haja a integração da mesma tanto com as

disciplinas do currículo, quanto com a sociedade e seus problemas específicos,

vindo a permitir uma melhor compreensão por parte dos sujeitos, das questões

socioambientais. Nesse sentido as publicações oficiais sobre educação ambiental

servem de norte para a sua aplicação prática, embora sejam necessárias:

“[...] mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar

com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de

procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação. Gestos de

solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes,

participação em pequenas negociações são exemplos de aprendizagem

que podem ocorrer na escola.” (PCN, p.187).

Assim conseguimos diante desta perspectiva imaginar um modelo didático de

educação ambiental nas instituições de ensino altamente permeado de concepções,

ideologias e sugestões direcionadas aos profissionais que nele atuam, cooperando

com o processo, mas também criando e apresentando as dificuldades de se

trabalhar este tema transversal como é proposto nos PCN, pois de acordo com Dias

(2011):

“a educação atual não valoriza esse tipo de abordagem interdisciplinar. A

integração de todo o corpo docente ao trabalhar a temática ambiental, ainda

é mal entendida e pouco utilizada em projetos e no cotidiano escolar. Isto se

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deve a maioria dos docentes não estarem capacitados para trabalhar com

esses temas e ao mesmo de trabalharem em equipe. Assim a Educação

Ambiental fica em geral restrita ao professor de ciências e biologia, e

percebemos essa tendência que é reforçada pela inclusão, na maioria das

vezes, deste tema somente nos livros de ciências” (DIAS ; 2011).

Nesse sentido precisamos compreender antes de tudo as dificuldades

atreladas aos procedimentos necessários para se realizar uma educação ambiental

realmente habilitada, e que impedem a escola de exercer a sua função

transformadora.

Existem muitas perspectivas sobre a aplicação prática da temática em

questão nas escolas, no entanto de um modo geral elas defendem a oferta da

educação ambiental crítica, analítica, argumentativa, que considera todos os

aspectos possíveis na conformação de suas metodologias de ensino. A escola, as

instruções sobre o meio ambiente devem possibilitar a compreensão coerente das

informações, estruturando reflexões, por exemplo, sobre um dos grandes temas da

atualidade, o aquecimento global; a informação chega: “o desmatamento ajuda a

esquentar o planeta!”; De onde saiu essa informação? Qual é o porquê disso? Qual

é a lógica? O que está por traz de tudo? É preciso levar os educandos a

compreender e a contextualizar os acontecimentos em geral para que assim os

mesmos não sejam manipulados, educar para conscientizar significa formar

cidadãos despertos, atentos as manobras multifacetadas praticadas pelos

poderosos e influentes.

A proposta de EA nas escolas dentre outros percalços, precisa lidar com o

seu aspecto de caráter pontual, isso significa que o seu “uso” só é feito quando

necessário, por exemplo, recentemente passamos por uma crise no abastecimento

publico de água, pudemos verificar a seca de muitos rios e reservatórios, em

especial na região sudeste, implicando no racionamento desse recurso tão precioso.

A mídia deu destaque a problemática repercutindo nos veículos de informação

nacionais e internacionais, e as escolas não ficaram de fora, durante a escassez,

incluíram o tema em sua rotina, promoveram atividades de conscientização

apresentando dicas de como se evitar o desperdício etc. passada a explosão

midiática, o “susto”, e não o problema de fato, tudo volta ao normal, encerram-se as

tarefas sobre o assunto e espera-se o próximo problema aparecer para ser

discutido. Semanas do meio ambiente, dia da água, da árvore, também são projetos

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e temas ambientais especulados nas instituições de ensino caracterizadores da

“pontualidade” das ações educativas ambientais na escola.

Seria interessante o rompimento com esse paradigma visto que além dos

conteúdos estruturados e fundamentos de educação ambiental, existem também os

“grandes temas da atualidade”, estes com o passar do tempo vão mudando: água,

energia, sustentabilidade, biodiversidade, globalização, as conseqüências da

economia globalizada para o mundo e para o meio ambiente etc. dependendo do

contexto sócio-histórico vão se conformando e sendo explanadas para toda a

sociedade. Nesse sentido vamos entender a importância da educação ambiental na

escola ser um processo ininterrupto, aliado aos conceitos de transversalidade e

transdisciplinaridade, deve estar sempre em foco, intrínseca às disciplinas do

currículo, às praticas diárias das salas de aula, ás atividades, relações e interações

ocorridas entre todos os membros da comunidade escolar. A escola precisa ser um

ambiente onde, a todo o momento, problemáticas ambientais do passado e do

presente sejam discutidas visando conscientizar remediativa e preventivamente os

indivíduos, acompanhando sempre o desencadeamento das ações humanas

destruidoras dos ecossistemas e que possivelmente poderiam gerar danos para o

futuro.

Mesmo sabendo da sua desvalorização, e que muitas vezes por causa da má

remuneração, acabam vinculando-se a mais de uma instituição de ensino para suprir

suas necessidades financeiras, implicando na pouca ou nenhuma disponibilidade de

tempo para elaboração de atividades vinculadas a este tema transversal, os

professores podem trabalhar esses conteúdos e devem valer-se dos recursos de

tecnologia, informação e comunicação atuais, da televisão, do rádio, internet, redes

sociais, para elaborar propostas educativas criativas, inovadoras e motivadoras ao

aluno, geradoras de mudanças na triste realidade que nos acomete. Pra finalizar

darei o exemplo de uma experiência própria ocorrida no extinto Centro Federal de

Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte (CEFET-RN), atualmente instituído

como Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN).

No ano de 2006 pude freqüentar o “Curso Técnico em Controle Ambiental”

através do qual me apoderei de conhecimentos específicos sobre o gerenciamento e

o manejo de resíduos na perspectiva do desenvolvimento sustentável, sobre a

racionalização e o uso dos recursos naturais, a operacionalização de estações de

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tratamento de efluentes, afluentes e de resíduos sólidos, sobre como documentar

rotinas e aplicar normas ambientais técnicas. Para isso fui incentivado a participar de

diversas aulas, atividades e tarefas direcionadas com objetivos e significados

específicos, dentre elas pode-se destacar as aulas no laboratório onde o contato

com os instrumentos e equipamentos científicos era constante, as coletas de solo e

água para análise, aulas-passeio com destino ao aterro sanitário de Ceara -

Mirim/RN; ao lixão do bairro Cidade Nova em Natal-RN, a despejos clandestinos da

indústria têxtil em rios, ao incinerador de lixo hospitalar no bairro de Felipe Camarão

também em Natal-RN, cartografia, geologia etc. muitos conhecimentos foram

abordados em dois anos de curso a partir de um tratamento, pelo menos em boa

parte, condizente com os parâmetros e diretrizes nacionais relativas a esta

modalidade de ensino. Essa reflexão contribui para entender um pouco como deve

ser a aplicação prática das atividades de educação ambiental nas escolas abrindo

espaço para a conformação de um novo pensamento racional independente da

complexidade que a acerca.

Conclusão

Tendo em vista os aspectos observados percebe-se que a educação

ambiental no Brasil não é algo novo, em 1981 com a Política Nacional do Meio

Ambiente (PNMA) esta modalidade de ensino já vem a ser recomendada para todos

os níveis de ensino, depois com a Constituição Federal de 1988 volta-se a falar da

educação ambiental e da sua necessidade em todos os níveis de ensino e em 1999

a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) regulamenta os princípios e

objetivos básicos para esta modalidade de ensino, as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Ambiental (DCN/EA), o PCN dentre outros documentos

são elaborações mais recentes, surgidas por causa da já estabelecida crise

ambiental, e para orientar profissionais da educação sobre os afazeres necessários

para se promover uma educação ambiental realmente crítica, sob a perspectiva da

sustentabilidade. Muitas são as criticas feitas aos educadores atuais no sentido de

eles não fazerem educação ambiental ou então a praticam de forma ingênua,

simples, mas não podemos culpá-los, pois os mesmos não tiveram um preparo

adequado sobre uma educação ambiental mais crítica ficando muito restrito a

apenas a questões de mudança de hábitos e relativas ao senso comum. Dessa

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forma pode-se compreender o quão complexo é a conformação de atividades que

visem promover a educação ambiental, diante da nossa realidade social, onde as

ações, os incentivos, os interesses só visam o bem particular, não é interessante

para o capitalismo, me refiro governamental e industrialmente, reforçar medidas

transformadoras nas mentes das pessoas, em especial sobre temas ambientais visto

que eles mesmos precisam destruir o meio ambiente para poderem continuar

produzindo e vendendo, multiplicando suas fortunas, os governos negando a

legislação ambiental e suas políticas educacionais públicas para favorecer

empresários neoliberalistas que os favorecem também caracterizando uma

incessante e maléfica troca de favores onde os menos favorecidos são os mais

negativamente afetados cabendo a eles somente o direito de ficarem calados, e

abaixar a cabeça diante dessas impunidades. Diante disto o presente artigo se faz

importante, pois representa mais um olhar atento, mais um brado dentre outros

tantos voltados para as questões da problemática ambiental na escola, local onde se

desenvolvem conhecimentos, princípios e valores os quais muitos deles são

transportados pelos educandos para toda a sua vida. Nesse sentido constatamos a

educação ambiental sob a perspectiva critica como um instrumento de

transformação efetivo das nossas vidas e da forma como lidamos com o meio

ambiente e os seus recursos naturais renováveis e não renováveis. Seria

interessante, antes de tudo, uma mudança no contexto político do Brasil onde os

governantes agissem com ética e moralidade, dedicando esforços para combater e

solucionar problemas ambientais assim como outros problemas sociais visando o

bem comum e não os interesses apenas de alguns; Atribuir estímulos para as

escolas através de estrutura física, equipamentos e materiais adequados; Incentivar

a formação de professores ambientalmente aptos para transmitir informações com

coerência, significância, a organização de grupos de estudo de docentes para ler,

estudar entender as diretrizes, fazer oficinas, reuniões, discussões, trazer pessoas

graduadas, especialistas na área para empreender debates visando instruir como

fazer educação ambiental, pois não é fácil. Os professores são obrigados a seguir os

currículos, existem livros e orientações pré-estabelecidas, as quais muitas vezes os

mesmos estão reservados a utilizar sem contestação tornando o ato de inovar um

desafio para a classe docente. Diante do exposto podemos perceber a

complexidade e o desafio da abordagem socioambiental no contexto educacional

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fazendo surgir à necessidade, principalmente por parte dos professores e

educadores de esmiuçar os significados de educação ambiental e reformular a ética

de sua linguagem e de suas atitudes para que assim possa exercer uma abordagem

crítica e contextualizada, histórica, política, científica, geográfica, econômica e

cultural da questão ambiental. Através das informações estudadas constatou-se que

o “fazer educação ambiental” consiste numa atividade simples e complexa ao

mesmo tempo, por uma parte existe a demasiada orientação documentada que

contribui para o processo, mas por outra, tantos detalhamentos podem confundir na

conformação de idéias didático-metodológicas ambientais, entendeu-se o paradoxo

existente entre a teoria e a pratica de educação ambiental no contexto educacional

brasileiro duramente desfalcado pelas injustiças políticas contribuindo para uma

reflexão sobre a influência desse modelo político na materialização da realidade das

escolas e conseqüentemente na realidade das práticas de educação ambiental

dando a entender que se não houver uma predisposição dos gestores públicos em

contribuir para o desenvolvimento de ações que visem subsidiar medidas

interventivas, não só nos sistemas de ensino, mas em todas as esferas da

sociedade para a problemática ambiental todos os esforços dados para a formação

de cidadãos ambientalmente desalienados e críticos e para uma real transformação

serão em vão.

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