a atividade do ecoturismo como instrumento de preservação e conservação do meio ambiente

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WENDELL LIMA LOPES MEDEIROS A ATIVIDADE DO ECOTURISMO COMO INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE DIREITO PUC/SP SÃO PAULO - SP 2006

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  • 5/20/2018 A Atividade Do Ecoturismo Como Instrumento de Preservao e Conservao Do Meio Ambiente

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    WENDELL LIMA LOPES MEDEIROS

    A ATIVIDADE DO ECOTURISMO COMO INSTRUMENTO DEPRESERVAO E CONSERVAO DO MEIO AMBIENTE

    DIREITOPUC/SP

    SO PAULO - SP2006

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    WENDELL LIMA LOPES MEDEIROS

    A ATIVIDADE DO ECOTURISMO COMO INSTRUMENTO DEPRESERVAO E CONSERVAO DO MEIO AMBIENTE

    Dissertao apresentada BancaExaminadora da Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo, como exignciaparcial para obteno do ttulo deMESTRE em Direitos Sociais, soborientao da Prof Doutora ConsueloYatsuda Moromizato Yoshida.

    DIREITOPUC/SPSO PAULO - SP

    2006

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    A ATIVIDADE DO ECOTURISMO COMO INSTRUMENTO DEPRESERVAO E CONSERVAO DO MEIO AMBIENTE

    WENDELL LIMA LOPES MEDEIROS

    BANCA EXAMINADORA

    _______________________________________

    _______________________________________

    _______________________________________

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    DEDICATRIA

    Dedico a oportunidade desta realizao primeiramente a Deus, por ter me

    permitido chegar at o presente momento com condies e capacidade para

    desenvolver e concluir meus estudos, mesmo ante as dificuldades encontradas nocaminho, e por sempre me iluminar nos momentos difceis.

    Dedico ainda, aos meus queridos pais, Neide e Eleonor, os quais, cada um

    ao seu modo, foram amigos pacientes e principais incentivadores para que eu

    pudesse seguir meu caminho em busca de minhas realizaes, bem como, por todo

    o sacrifcio que fizeram em suas vidas para que eu pudesse me tornar uma pessoa

    melhor e mais digna.

    Tambm dedico este trabalho minha doce Caroline, luz da minha

    existncia, companheira de todas as horas e essncia da minha vida, que segue

    comigo por todos os meus dias compartilhando os bons e maus momentos que o

    caminho nos revela.

    Por fim, dedico este trabalho a toda minha famlia e amigos, bem como s

    minhas grandes mestras que por extrema sabedoria e pacincia guiaram-me em

    meus caminhos acadmicos: Rosana Siqueira Bertucci por ter despertado em mim ointeresse pelos Direitos Difusos e Coletivos, mas principalmente pela paixo pelo

    estudo do Direito Ambiental, Regina Vera Vilas Boas cuja singeleza nos seus

    ensinamentos nos induz a buscar cada vez mais o conhecimento necessrio, e

    Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida cuja simplicidade e simpatia, no

    compartilhamento de seus vastos conhecimentos, foram fundamentais para meu

    engrandecimento por se tornar exemplo para mim enquanto operadora do direito.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo Prof Dr Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida, por sua

    sabedoria e humildade no desempenho de suas funes de mestre, a qual encarna

    uma amante das cincias jurdicas, qualidade que a torna mais do que umaprofessora no exato sentido em que visa compartilhar conhecimentos, tendo em

    vista que no se limita apenas a ensinar, mas sim, estabelece uma relao de troca

    mtua de conhecimento em seus ensinamentos sempre revestidos de entusiasmo e

    dedicao, fazendo transparecer a satisfao em partilhar um pouco de sua vasta

    sabedoria com aqueles que buscam o engrandecimento intelectual. Tambm, faz-se

    necessrio agradecer pelo tempo e pacincia dispensados a este trabalho, tendo a

    mesma exercido sua funo com total e indiscutvel competncia cuja caracterstica

    ressaltada como uma de suas grandes qualidades.

    Por fim, agradeo a todos os professores responsveis por minha formao

    intelectual e profissional, que transmitiram os conhecimentos necessrios para

    minha qualificao, e ainda, aqueles que mais do que professores foram mestres e

    amigos, os quais engrandeceram no apenas meus conhecimentos tcnicos, mas

    minhas qualidades humanas na formao de meu carter e na construo de uma

    pessoa melhor no contexto social.

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    RESUMO

    O presente trabalho monogrfico traz um estudo sobre a atividade doEcoturismo, cuja realizao alicerada em critrios de sustentabilidade, resulta emum importante instrumento de desenvolvimento econmico e social, aliado a

    manuteno da qualidade ambiental em prol da dignidade da pessoa humana porviabilizar e garantir a todos uma vida mais sadia e com qualidade, premissasfundamentais numa sociedade moderna e no Estado Democrtico de Direito. Assim,sabendo que o mundo despertou para a questo ambiental, toda e qualqueratividade a ser realizada, deve levar em considerao o meio ambiente, buscandoefetivar-se de forma sustentvel. Procuramos evidenciar com esse trabalho, aimportncia do Direito Ambiental numa sociedade moderna, destacando osprincipais pontos referentes ao contexto ambiental, como seu surgimento eevoluo, os aspectos concernentes ao bem ambiental e sua ordem protetiva naseara jurisdicional interna e internacional. A Fauna, a Flora e os Recursos Hdricos,por serem instrumentos de viabilizao da atividade do Ecoturismo e importantes

    bens que compe o Meio Ambiente, tambm mereceram abordagem em seusprincipais aspectos, assim como a questo do dano ambiental e de sua conseqenteresponsabilizao na esfera civil, penal e administrativa. Aps estas abordagensiniciais, remetemos nosso trabalho a nuance especfica da Atividade do Ecoturismo,enfocando a viso sobre a atividade e seu desenvolvimento no mundo e no contextonacional, destacando tambm os principais princpios constitucionais que norteiam aatividade, bem como, sobre os aspectos infraconstitucionais que viabilizam suarealizao, principalmente no que diz respeito s Unidades de Conservao, sendoabordado ainda a questo sobre o licenciamento ambiental. Por fim, evidenciamos aAtividade do Ecoturismo como um importante instrumento viabilizador da proteoambiental, por buscar o desenvolvimento econmico de forma harmnica com a

    preservao e conservao do meio ambiente, efetivando o desenvolvimentosustentvel, sendo ainda destacado, que alm da questo ambiental, tambm age aatividade como potencializador do desenvolvimento e progresso humano,viabilizando uma vida mais digna, sadia e com qualidade para a populaoenvolvida.

    Palavras-chave: ecoturismo, meio ambiente, desenvolvimento sustentvel, direitoambiental, consumidor.

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    ABSTRACT

    This monograph studies the Ecotourism activity which realization based onsustainability criterion, results in an important instrument of economic and socialdevelopment, joined to the environment quality in benefit of the human dignity as it

    works to guarantee to all a healthy life with quality, fundamental premises in amodern society and in the Democratic State of Law. Now that we know, world hasbecome awake to the environment issue, each and all activity carried on should beconcerned about the environment , trying to be developed in a sustainable way.Through this work we intended to arise the Environment law importance in a modernsociety, showing the main points related to the environment context, as itsappearance and evolution, its aspects concerned to the environment wealth and itsprotective order in our own and international jurisdictional field. As fauna, flora andhydric sources are instruments which make the Ecotourism activity possible andimportant goods which compound the Environment , we also talked about its mainaspects as the environment damage and its consequent responsabilization in the

    civil, penal and administrative sphere. Besides these initial approaches , we talkedabout the specific area of Ecotourism Activity, focusing the activity and itsdevelopment in the world and in the national context, we show the main constitutionalprinciples that steer the activity, as well as, the infraconstitutional aspects that makeits realization possible mainly in relation to the Units Conservation and theenvironmental license. At the end, we present the Ecotourism Activity, as animportant instrument to make the environment protection possible as it looks foreconomic development in an harmonic way preserving and keeping the environmentconversation, carrying on sustainable development, we also show that besides theenvironment issue, the activity helps human progress development too, turning thepopulation involved life worthy, healthy and with quality.

    Keywords: ecotourism, environment, sustainable development, environment law,consumer.

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    SUMRIO

    INTRODUO ..................................................................................................... 10

    1O DIREITO AMBIENTAL .................................................................................. 13

    1.1 O ORDENAMENTO JURDICO BRASILEIRO............................................... 17

    1.1.1 Panorama histrico constitucional.......................................................... 18

    1.1.2 Aspectos infra-constitucionais ................................................................ 21

    2 O BEM AMBIENTAL ......................................................................................... 23

    2.1 ASPECTOS DO BEM AMBIENTAL............................................................... 24

    2.1.1 Meio ambiente cultural ............................................................................ 24

    2.1.2 Meio ambiente artificial............................................................................ 25

    2.1.3 Meio ambiente do trabalho...................................................................... 27

    2.1.4 Meio ambiente natural ou fsico.............................................................. 28

    2.2 NATUREZA JURDICA DO BEM AMBIENTAL.............................................. 29

    3 A FAUNA........................................................................................................... 34

    3.1 ASPECTOS GERAIS..................................................................................... 35

    3.2 FUNO ECOLGICA.................................................................................. 37

    3.3 MULTIFINALIDADE DA FAUNA .................................................................... 373.4 TRFICO DE ANIMAIS SILVESTRES........................................................... 39

    3.4.1 No Brasil ................................................................................................... 40

    3.4.2 No mundo ................................................................................................. 40

    4 FLORA .............................................................................................................. 44

    4.1 ASPECTOS GERAIS..................................................................................... 44

    4.2 AS FLORESTAS EM NOSSO ORDENAMENTO JURDICO......................... 46

    4.2.1 Classificaes das florestas ................................................................... 47

    5 RECURSOS HDRICOS .................................................................................... 49

    5.1 ASPECTOS GERAIS..................................................................................... 49

    5.2 CLASSIFICAO .......................................................................................... 50

    5.3 OS RECURSOS HDRICOS EM NOSSO ORDENAMENTO JURDICO....... 50

    6 DANO AMBIENTAL .......................................................................................... 53

    6.1 CONCEITO DE DANO................................................................................... 54

    6.2 HISTRICO SOBRE A REPARAO DO DANO......................................... 55

    6.3 CARACTERSTICAS DO DANO AMBIENTAL .............................................. 586.4 CONCEITO DE POLUIO........................................................................... 60

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    7 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NA ATIVIDADE DO ECOTURISMO...... 63

    7.1 NOES DE RESPONSABILIDADE ............................................................ 64

    7.2 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL.................................................... 65

    7.2.1 Responsabilidade civil subjetiva ............................................................ 667.2.2 Responsabilidade civil objetiva .............................................................. 67

    7.2.3 Responsabilidade civil na CF.................................................................. 74

    7.2.4 Responsabilidade civil no CDC .............................................................. 75

    7.2.5 Responsabilidade civil ambiental na atividade do ecoturismo............ 76

    7.3 RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA.................................................... 84

    7.4 RESPONSABILIDADE PENAL...................................................................... 85

    7.5 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DO ESTADO ....................................... 88

    8 A ATIVIDADE DO ECOTURISMO .................................................................... 918.1 ASPECTOS GERAIS..................................................................................... 92

    8.1.1 Fundamentos do ecoturismo .................................................................. 93

    8.2 ECOTURISMO NO MUNDO.......................................................................... 95

    8.2.1 A avaliao do Setor Turstico pelo Parlamento Europeu.................... 96

    8.2.1.1 Questes prioritrias............................................................................... 97

    8.2.1.2 Mecanismos gestores ............................................................................. 100

    8.3 ECOTURISMO NO BRASIL........................................................................... 101

    9 A ATIVIDADE DO ECOTURISMO EM NOSSO ORDENAMENTO JURDICO. 107

    9.1 A ATIVIDADE DO ECOTURISMO E OS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS 109

    9.1.1 Princpio da funo scio-ambiental da propriedade ........................ 112

    9.1.2 Princpio da educao ambiental ......................................................... 113

    9.1.3 Princpio da cooperao entre os povos............................................. 114

    9.1.4 Princpio do acesso eqitativo dos recursos naturais....................... 115

    9.1.5 Princpio do poluidor pagador.............................................................. 116

    9.1.6 Princpio da reparao .......................................................................... 118

    9.1.7 Princpio do equilbrio........................................................................... 1199.1.8 Princpio da considerao da varivel ambiental no processo

    decisrio de poltica de desenvolvimento .......................................... 119

    9.1.9 Princpio da eficincia........................................................................... 120

    9.1.10 Princpio da publicidade ....................................................................... 121

    9.1.11 Princpio da garantia a honra, imagem e vida privada ....................... 122

    9.1.12 Princpio do desenvolvimento sustentvel ......................................... 123

    9.1.13 Princpio da dignidade da pessoa humana e do direito humano

    126fundamental ..................................................................................... 1279.1.14 Princpio da participao (democrtico) ............................................. 128

    9.1.15 Princpio da precauo ......................................................................... 129

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    9.1.16 Princpio da preveno ......................................................................... 131

    9.1.17 Princpio da informao........................................................................ 132

    9.1.18 Princpio da ubiqidade ........................................................................ 133

    9.1.19 Princpio da soberania .......................................................................... 1349.1.20 Princpio da isonomia ........................................................................... 135

    9.1.21 Princpio da liberdade e justia ............................................................ 136

    9.1.22 Princpio da pobreza e solidariedade .................................................. 137

    9.1.23 Princpio da harmonizao da atividade econmica.......................... 139

    9.1.24 Principio da tolerabilidade ambiental .................................................. 140

    9.2 A ATIVIDADE DO ECOTURISMO NA CONSTITUIO FEDERAL

    DE 1988 ........................................................................................................ 143

    9.3 ASPECTOS INFRACONSTITUCIONAIS APLICADOS DA ATIVIDADE DO

    ECOTURISMO............................................................................................... 145

    9.4 AS UNIDADES DE CONSERVAO COMO INSTRUMENTOS VIABILIZADORES

    DA ATIVIDADE DO ECOTURISMO E DA PROTEO DO MEIO

    AMBIENTE..................................................................................................... 153

    10 LICENCIAMENTO AMBIENTAL NA ATIVIDADE DO ECOTURISMO ......... 161

    10.1 O ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL. 164

    11 A ATIVIDADE DO ECOTURISMO COMO INSTRUMENTO DE PRESERVAO

    E CONSERVAO DO MEIO AMBIENTE ................................................... 168

    11.1 A ATIVIDADE DO ECOTURISMO COMO INSTRUMENTO VIABILIZADOR

    DO DIREITO AO LAZER.............................................................................. 172

    11.2 CARACTERIZAO DO ECOTURISMO COMO ATIVIDADE ECONMICA

    DE CONSUMO............................................................................................. 179

    CONCLUSO ...................................................................................................... 180

    REFERNCIAS.................................................................................................... 184

    ANEXO ................................................................................................................ 188

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    INTRODUO

    Este trabalho tem por finalidade demonstrar a importncia da atividade do

    ecoturismo para o desenvolvimento econmico e social de forma sustentvel, que

    sendo realizada de forma planejada e corretamente adequada, ainda que no possaimpedir a degradao ambiental e conseqentemente a devastao do meio

    ambiente amplamente considerado, possa ao menos somar-se aos instrumentos de

    defesa ambiental, atuando em favor da populao no sentido de se fazer necessrio

    a preservao do meio ambiente para atingimento do desenvolvimento local, visando

    diminuir ao mximo o impacto causado ao meio ambiente atravs de um turismo

    ecolgico, alcanando o objetivo do denominado desenvolvimento sustentvel.

    Muitos so os fatores que envolvem a questo do ecoturismo em relao preservao do Meio Ambiente, sendo que neste trabalho sero abordados aspectos

    da importncia de se desenvolver atividades econmicas voltadas a preocupao

    ambiental, visando difundir uma conscientizao ecolgica e atuando como

    impulsionador do desenvolvimento local, garantindo e propiciando as populaes

    envolvidas, uma sadia e melhor qualidade de vida.

    As perdas ambientais que podem ser evitadas com o desenvolvimento da

    atividade do ecoturismo, em razo da degradao que comumente se evidencia a

    cada dia no globo terrestre, como por exemplo, o trfico de animais silvestres, que

    resulta no terceiro maior comrcio ilegal do mundo movimentando bilhes de dlares

    todos os anos, e que causa uma enorme perda para o meio ambiente e,

    conseqentemente, para toda a humanidade, podendo ser evitado ou ao menos

    diminudo, se a atividade em questo que se desenvolve com o despertar de uma

    conscientizao ecolgica com base em critrios de sustentabilidade, possa ser

    desenvolvida e incentivada.

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    Antes de adentrarmos na seara mais especfica do aspecto jurdico que

    cerca a atividade do ecoturismo, mencionaremos, ainda que de forma geral, os

    aspetos fundamentais da referida atividade, e ainda, sob o enfoque das questes

    sociais e estruturais que resultam em vrios aspectos formais cuja complexidade nos

    remete a uma discusso de suma importncia para evidenciar que o turismo

    ecolgico deve ser realizado, alicerado no desenvolvimento sustentvel e na

    adoo de polticas que visem permitir seu desenvolvimento de forma racional e de

    forma a preservar o meio ambiente para as presentes e futuras geraes.

    Abordando estes aspectos primordiais para os nossos estudos, trataremos

    de alguns pontos cruciais e de extrema relevncia consecuo da atividade do

    ecoturismo e que merecem destaque para que possamos demonstrar a necessidade

    de pensarmos a estruturao desta atividade com a finalidade de obter meios de

    atingir sua funo principal: que so a preservao e conservao do meio ambiente

    aliada ao desenvolvimento scio-econmico, visando auferir para as comunidades a

    garantia de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial sadia

    qualidade de vida proporcionando assim, uma vida digna a todos os seres humanos,

    em especial a comunidade envolvida e onde se desenvolve a atividade ecoturstica.

    Contudo, para demonstrar que a preocupao com a atividade do turismo

    sustentvel a qual pertence o ecoturismo ou turismo ecolgico redunda numa

    preocupao a nvel global, ser trazido baila a mobilizao gerada pela Unio

    Europia, cuja preocupao com o turismo sustentvel resultou numa srie de metas

    e estudos com vistas criao de um setor que agrupe estas caractersticas, de

    forma a culminar no desenvolvimento de polticas que resultem na sustentabilidade

    desta promissora atividade na Europa.

    Aps serem feitas estas consideraes, abordaremos os aspectos legais de

    nosso ordenamento jurdico, inicialmente trazendo o enfoque dos princpios

    norteadores do direito ambiental e do direito do consumidor que incidem com mais

    destaque sobre a regulamentao da atividade ecoturstica, bem como os

    prembulos constitucionais e infraconstitucionais que envolvem o ecoturismo, de

    forma a evidenciar como o aparato legislativo que regula a atividade do chamado

    turismo ecolgico.

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    Dentre os instrumentos legais para a preservao e conservao do meio

    ambiente, destacamos as unidades de conservao regulamentada em nosso

    ordenamento jurdico pela Lei n 9.985 de 18 de julho de 2000, em que

    demonstraremos sua importncia para o desenvolvimento sustentvel ao ser aliada

    atividade do Ecoturismo.

    Por fim, evidenciaremos os motivos pelos quais a realizao da atividade do

    Ecoturismo de forma racional e planejada, com a adoo de medidas que possam

    alicerar seu desenvolvimento, e, somadas a realizao e implementao de

    polticas corretas que levem em considerao no apenas os aspectos econmicos,

    mas tambm scio-ambientais, resultem no atingimento do denominado

    desenvolvimento sustentado.

    Deste modo, ser demonstrado que sem sombras de dvidas, a atividade do

    Ecoturismo redunda por suas caractersticas em razo primordial do

    desenvolvimento sustentvel, num dos instrumentos mais eficazes para a

    preservao e conservao do meio ambiente, pautado na utilizao racional dos

    recursos ambientais para o turismo, haja vista que provoca, antes de tudo, um

    sentimento de que utilizar correto, mas preservar essencial.

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    1 O DIREITO AMBIENTAL

    O Direito uma cincia social, e como tal, est intimamente relacionada

    mobilidade social, sendo que o direito no existe seno em face da sociedade e por

    tal motivo a sua evoluo comanda e estimula a evoluo dessa cincia onde cadapoca guarda seus acontecimentos relevantes, e, Por essa razo o desenvolvimento

    do direito ambiental deve necessariamente passar pela Histria, acompanhando as

    mudanas sociais e culturais dos povos.

    Com o aumento da poluio nos pases industrializados e nos pases de

    economia agrria o gravame da devastao ambiental, sem medir fronteiras fsicas,

    polticas e econmicas e o esgotamento dos recursos naturais, dentre outros fatores

    ocorridos nas ltimas dcadas, principalmente nos anos 70 e 80, desencadeou umprocesso de preocupao com o meio ambiente, cujo resultado ultrapassou as

    fronteiras das Cincias Naturais para integrar o dia a dia de polticos, economistas,

    socilogos, dentre muitos outros, e, como no poderia deixar de ser, dos

    profissionais do Direito.

    Embora a maior reflexo dos estudiosos para a questo ambiental, num

    primeiro momento ainda no se remetia idia de ecologia, ou mesmo de proteo

    ambiental, explica-se tal fato porque a cincia denominada ecologia somente surgiria

    em 1895, desenvolvida pelo professor Eugen Warming que ensinava Botnica na

    Universidade de Copenhague.

    Com o desenvolvimento do Direito, fato que nos levou a uma adaptao da

    regra social e a proteo em escala de importncia de cada bem jurdico, tutelou

    assim o bem ambiental, resultando na considerao de sua incontestvel

    importncia para a qualidade da vida humana.

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    O Direito Ambiental foi definido no Brasil, em carter pioneiro no ano de

    1975, por Coelho (1975, p. 5 apud Freitas, 2001, p. 19), como sendo:

    [...] um sistema de normas jurdicas que, estabelecendo limitaes aodireito de propriedade e ao direito de propriedade e ao direito deexplorao econmica dos recursos da natureza, objetivam apreservao do meio ambiente com vistas melhor qualidade davida humana.

    Consagrada, atualmente expresso Direito Ambiental, pode-se afirmar que

    ela se caracteriza por ser multidisciplinar e pela complexidade que se reveste, no

    podendo ser estudada de maneira solitria, e tendo que orientar suas pesquisas por

    este ou aquele ramo do Direito e de outras cincias.

    Do ponto de vista jurdico, ser imprescindvel o estudo do Direito

    Internacional Pblico, onde Tratados e Convenes Internacionais assumem

    especial relevncia face a notria e preocupante realidade mundial diante da

    necessidade de inadiveis relaes internacionais, bem como, imprescindvel o

    estudo do Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Civil,

    Direito Processual Civil, dentre outros ramos do Direito Positivo.

    Com a repercusso da questo ambiental, os Estados passaram a aceitar

    uma responsabilidade jurdico-ambiental no plano internacional, buscando

    estabelecer princpios e regras capazes de prevenir, mitigar ou reverter impactos

    causados no meio ambiente, tanto por polticas pblicas quanto por aes privadas.

    O avano da matria ambiental apoiou-se em princpios gerais que, a partir

    da Conferncia de Estocolmo, realizada em 1972 e em especial durante o processo

    preparatrio da Conferncia do Rio, em 1992, serviram para a formulao de regrasobrigatrias e no obrigatrias orientadas promoo do desenvolvimento

    sustentvel.

    Ademais, a Conferncia de Estocolmo representou um marco para o

    tratamento dos temas ambientais e sua regulao jurdica, estabelecendo em seu

    princpio 21, que:

    [...] os Estados tm, de acordo como a Carta das Naes Unidas eos princpios de direito internacional, o direito soberano de explorarseus prprios recursos de conformidade com suas prprias polticasambientais, e a responsabilidade de assegurar que as atividades

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    dentro de sua jurisdio ou controle no causem dano ao meioambiente de outros Estados ou reas alm dos limites de jurisdio.1

    Considerando a Conveno sobre Poluio Atmosfrica Transfronteiria longa distncia, o Princpio 21 da Declarao de Estocolmo exprime uma convico

    comum conforme a Carta das Naes Unidas e os princpios de direito ambiental,

    expressando claramente que os Estados tm uma liberdade relativa ou uma

    liberdade controlada para a explorao de seus recursos naturais.

    Da mesma forma, a Declarao do Rio/92 teve como objetivo a proclamao

    das matrias ambientais, orientando as polticas econmicas e sociais em todo o

    mundo, bem como, dez anos depois, na Rio + 10, ocorrida em Joanesburgo em2002, houve a reafirmao com a questo ambiental e desenvolvimento sustentvel.

    Assim, a Declarao do Rio/92 teve como meta reafirmar a Declarao de

    Estocolmo e, com base nela estabelecer uma nova e justa associao global

    mediante a criao de novos nveis de cooperao entre os Estados, os setores

    importantes da sociedade e o povo; trabalhando com vistas a acordos internacionais

    que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do meio ambiente o

    sistema de desenvolvimento, reconhecendo a natureza integral e interdependente do

    globo terrestre.

    Aps as duas primeiras iniciativas, ou seja, Estocolmo/72 e a Rio/92, que

    foram muito importantes no sentido da preocupao com meio ambiente no mundo e

    alavancou o direito como um todo no globo terrestre para a proteo e conservao

    do meio ambiente, a terceira conferncia foi a de Joanesburgo 2002, tambm

    denominada Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente e DesenvolvimentoSustentvel.

    Tal conferncia mundial foi realizada com o intuito de avaliar o progresso

    ambiental observado entre uma e outra conferncia realizada na dcada anterior,

    visando tambm efetivar mecanismos para implementao da Agenda-21 que havia

    sido proposta em 1992, haja vista que, em uma sesso especial da Assemblia Geral

    da ONU denominada Rio+5, verificou-se lacunas nos resultados da Agenda 21.

    1Revista Cincia & Ambiente. Campo Grande: UFMS, vol. 17, julho/dezembro, 1998, p. 29.

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    Temos em destaque ainda, o protocolo de Kioto, proposto em 1997, na

    cidade com o mesmo nome, mas que somente no ano de 2005 recebeu as

    assinaturas necessrias de no mnimo 55 pases para que fosse efetivada, uma vez

    que esbarrou em grandes problemas e impasses entre os pases mais ricos.

    O Objetivo do referido instrumento a implementao de uma poltica

    mundial sobre mudanas climticas para que seja acordada a reduo das emisses

    de gases que provocam o efeito estufa no globo, em aproximadamente 5% abaixo

    dos nveis registrados em 1990, amenizando assim suas conseqncias. Porm,

    certo que a maior potncia do mundo, os EUA, no assinara o referido protocolo.

    Podemos assim considerar que o Direito Ambiental surge como uma novacincia, uma vez que, observamos que esta possui suas prprias fontes formadoras,

    e ainda, por tratar o Direito Ambiental de tutelar direito difuso, cabe aqui a assertiva

    de que o Direito Ambiental no surge apenas como um ramo do Direito Pblico e,

    contudo, no podendo ser englobado como ramo de Direito Privado, vindo a eclodir

    como um novo ramo do direito, chancelando direitos que configuram os interesses

    difusos e coletivos.

    Tratando-se das fontes formais, h as Leis, como as dispostas em nossa

    Carta Magna de 1988 (art. 225 da CF/88), bem como as leis esparsas e as normas

    administrativas que tratam da matria ambiental, como a Lei 9.605 de 1998, que

    dispe sobre os crimes ambientais, a Lei do Sistema Nacional de Unidades de

    Conservao (SNUC) n 9.985 de 2000, casos concretos; havendo ainda, o costume

    e os princpios do direito, sendo observado que o Brasil recepciona todos os

    princpios fundamentais existentes, como o Princpio do Desenvolvimento

    Sustentvel, o Princpio do Poluidor-pagador, dentre outros que sero amplamente

    comentados adiante.

    Como fontes informais, citamos a doutrina que expressa os pensamentos e

    entendimentos dos cientistas do direito em relao aos interesses sociais e sobre as

    matrias de direito ambiental e, a jurisprudncia que configura os entendimentos de

    nossos tribunais superiores em relao aplicao do Direito como fruto do

    interesse da coletividade.

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    As fontes do Direito Ambiental podem ser consideradas mltiplas, sendo

    observadas relaes bastante complexas entre si, haja vista que, materialmente, as

    fontes consideradas so bastante variadas, como exemplo, o movimento do cidado

    por uma melhor qualidade de vida, contra os riscos quem possam advir da utilizao

    de determinados produtos e a realizao de prticas que podem ser consideradas

    prejudiciais sade e a qualidade de vida, dentre as infinitas possibilidades

    existentes.

    1.1 O ORDENAMENTO JURDICO BRASILEIRO

    Feita estas explanaes iniciais, podemos afirmar que estes fatores

    alavancam o direito num processo inserido no prprio contexto histrico e, por tais

    motivos, o estudo da evoluo do Direito Ambiental no Brasil deve necessariamente

    passar pela Histria, de forma a acompanhar a evoluo social e cultural de nossa

    sociedade, remetendo-nos s diversas fases evolutivas que transcorreram at a

    maturao do panorama jurdico atual.

    As primeiras leis que encontramos no Brasil no liame de sua histria,

    evidentemente so originrias de Portugal, que j vinha protegendo seus recursos

    naturais da depredao, e quando descobriu o Brasil j possua uma considervel

    legislao de proteo ambiental, podendo ser considerada como bastante evoluda.

    Dentre elas, destaca-se algumas disposies relevantes, como por exemplo, a

    proibio do corte deliberado de rvores frutferas em 12 de maro de 1393, bem

    como, a Ordenao de 09 de novembro de 1326, que visava proteo das aves e

    equiparava seu furto a qualquer outra espcie de crime para seus efeitos delituosos.

    Essas medidas foram copiladas nas Ordenaes Afonsinas e introduzidas

    no Brasil quando de seu descobrimento, sendo que, desde ento, podemos observar

    que a legislao ambiental teve grandes progressos em nossas terras,

    desenvolvendo-se de tal forma na fase colonial, que esse perodo pode ser

    considerado como a fase embrionria de nosso Direito Ambiental, no parando de

    crescer, e chegando a fase atual como um direito especializado, destacando-se na

    era contempornea como um dos mais importantes.

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    1.1.1 Panorama histrico constitucional

    Podemos remeter nossa anlise sobre o aspecto da constitucionalidade do

    Direito Ambiental ao contexto evolutivo da histria de nossa sociedade, inicialmente

    considerando que a Constituio Federal de 1988 em posio as constituies

    anteriores e no que diz respeito matria de meio ambiente e sua tutela jurdica,

    trouxe uma imensa novidade em relao s demais, pelo fato de que estas no

    trataram a matria referente ao meio ambiente de forma mais ampla e completa,

    como observado na CF/88, mas, fizeram referncias de forma no sistemtica,

    tendo sido os recursos ambientais considerados, essencialmente, como recursos

    econmicos.

    Feitas estas consideraes, abordaremos o aspecto constitucional da tutela

    ao meio ambiente durante vrias fases de nossa histria, iniciando assim, com o

    Perodo Imperial, no qual observamos a Constituio Imperial de 1924, que no

    trazia em seu conjunto normativo qualquer referncia matria ambiental, sendo

    considerada irrelevante, portanto, para qualquer abordagem, a no ser para

    constatar de que era, no mnimo, curiosa tal situao, uma vez que o Brasil era um

    pas essencialmente exportador de produtos agrcolas e minerais, porm, onde

    predominava a concepo de que o Estado no deveria interferir nas atividades

    econmicas, melhor dizendo, fazia-se isto por absteno, e assim no restava

    Constituio perfilar uma ordem econmica constitucional.

    Observa-se, entretanto, que as regulamentaes referentes ao meio

    ambiente, somente foram institudas com as atribuies outorgadas s Cmaras

    Municipais com o advento da Lei de 1 de outubro de 1928, conforme exemplodescrito no art. 66, 1, que explcita:

    Art. 66. Tero a seu cargo tudo quanto diz respeito polcia, aeconomia das povoaes e seus termos, pelo que tomarodeliberaes e provero por suas posturas sobre os objetosseguintes:

    1. Alinhamento, limpeza, iluminao e despachamento das ruas,cais e praas, conservao e reparos das muralhas feitas paraseguranas dos edifcios, prises pblicas, caladas, pontes, fontes,

    aquedutos, chafarizes, poos, tanques, e quaisquer outrasconstrues em benefcio comum dos habitantes, ou para decoro eornamento das povoaes (ANTUNES, 2002, p. 40).

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    Ressalta-se que havia um conjunto de outras atribuies que poderiam ter

    em relao tutela jurisdicional do meio ambiente, tendo em vista a competncia

    para argir em relao a feiras, abatedouros de gado, dentre outras.

    Em se tratando do Perodo Republicano, explicitamos que nesta poca de

    nossa histria surge uma maior preocupao em relao s matrias ambientais,

    tendo na Constituio Federal de 1891, constante em seu artigo 34, n 29 a outorga

    constitucional que atribua Unio, competncia legislativa para legislar sobre suas

    minas e terras, e a Constituio Federal de 1934, atribua competncia legislativa a

    Unio para legislar sobre bens de domnio federal, riquezas de subsolo, minerao,

    metalurgia, gua, energia hidreltrica, florestas, caa, pesca e sua explorao

    (ANTUNES, 2002, p. 41).

    Na Constituio Federal de 1937, o inciso XIV do artigo 16, dispunha sobre a

    competncia privativa da Unio em legislar sobre os bens de domnio federal,

    minas, metalurgia, energia hidrulica, guas, florestas, caa e pesca e sua

    explorao (Idem, p. 41).

    A Constituio de 1946, em seu artigo 5, inciso XV, alnea l, dispunha sobre

    a competncia da Unio para legislar sobre riquezas do subsolo, minerao,

    metalurgia, gua, energia eltrica, florestas, caa e pesca (Idem, p. 41).

    A Constituio Federal de 1967 estabelece em seu artigo 8, inciso XII,

    competncia Unio para organizar a defesa permanente contra calamidades

    pblicas, especialmente a seca e as inundaes e, temos ainda a ressaltar em

    relao a este conjunto normativo, que outorgava competncia Unio para que

    esta explorasse diretamente ou mediante autorizao ou concesso, os servios einstalaes de energia eltrica de qualquer origem ou natureza, tendo ainda, esta

    Carta Magna, estipulado competncia legislativa Unio para legislar sobre: direito

    agrrio; normas gerais de segurana e proteo da sade; guas e energia eltrica

    (Idem p. 41-42).

    Por fim, para terminarmos as explanaes acerca das constituies

    anteriores a nossa atual Carta Constitucional de 1988, concebemos que a Emenda

    Constitucional n 1, de 17 de outubro de 1969, manteve consolidado os termosdescritos na CF/67, ressalvando-se uma pequena mudana no tocante

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    competncia legislativa concernente Unio em relao energia, tendo sido esta

    subdividida em eltrica, trmica, nuclear ou de qualquer outra natureza.

    Enfim remetemos nossa anlise ao contedo da CF/88, que possui umdiferencial em relao s constituies anteriores, pois, alm de possuir um captulo

    especfico para as questes do meio ambiente, tambm possui outros dispositivos

    que tutelam as obrigaes do Estado e da sociedade em relao ao meio ambiente.

    Enquanto consideradas como fontes fundamentais da sociedade, a tutela

    jurisdicional dos dispositivos consagrados em nossa Carta Magna, tem por objeto

    tutelar valores e funes sociais que por certo, na atual conjuntura global, envolvem

    o desenvolvimento econmico com a proteo do meio ambiente, que em seusdiversos aspectos constitui um dos componentes da estrutura basilar de toda a

    sociedade, como observa Antunes (2002, p. 41) , ao afirmar que:

    A Lei Fundamental reconhece que as questes pertinentes ao meioambiente so de vital importncia para o conjunto de nossasociedade, seja porque so necessrias para a preservao devalores que no podem ser mensurados economicamente, sejaporque a defesa do meio ambiente um princpio constitucional quefundamenta a atividade econmica (Constituio Federal artigo 170,

    VI).

    Em nossa Constituio Federal encontramos dispositivos que tratam do

    meio ambiente, ou, a ele vinculam-se direta ou indiretamente, sendo: artigo 1, artigo

    5, incisos XXIII, LXXI, LXXIII; artigo 20, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, IX, X, XI e 1

    e 2; artigo 21, incisos XIX, XX, XXIII, alneas a, b e c, XXV; artigo 22, incisos IV, XII,

    XVI; artigo 23, incisos I, III, IV, VI, VII, IX, XI; artigo 24, incisos VI, VII, VIII; artigo 43,

    2, IV, e 3; artigo 49, incisos XIV, XVI; artigo 91, 1, inciso 3; artigo 129, incisoIII; artigo 170, inciso VI; artigo 174, 3 e 4; artigo 176 e ; artigo 182 e ; artigo

    186; artigo 200, incisos VII, VIII; artigo 216, inciso V e 1, 3 e 4; artigo 225;

    artigo 231; artigo 232; e, artigos 43, 44 e do Ato das Disposies Constitucionais

    Transitrias.

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    1.1.2 Aspectos infraconstitucionais

    Apresenta-se o Direito Ambiental em relao aos aspectos

    infraconstitucionais, dispondo sobre as formas de tutela dos considerados Bens

    Ambientais, visando proteo ambiental do meio ambiente, seja ele cultural,

    artificial, do trabalho ou natural (fsico).

    Podemos considerar que o exerccio da tutela jurisdicional do meio

    ambiente, levando-se em conta seus aspectos infraconstitucionais, so realizados de

    forma a utilizar-se de uma poltica de proteo ambiental que utiliza-se de critrios

    objetivos e subjetivos, visando proteger o meio ambiente da poluio e degradao,e, quando no for possvel tal realizao, incentivar a sua recuperao com o

    objetivo de sua reparao.

    Para que os objetivos de uma poltica de proteo ambiental sejam

    efetivamente alcanados, devemos nos valer dos chamados instrumentos de tutela

    ambiental, que constituem:

    [...] todo instituto destinado e utilizado tanto pelo Poder Pblico,quanto pela coletividade na preservao ou na proteo dos bensambientais, constituindo-se como instrumento de tutela ambiental.(FIORILLO; RODRIGUES, 1997, p. 162).

    Podemos considerar como um marco preponderante para a proteo do

    meio ambiente a edio da Lei 6938/81 que dispe sobre a Poltica Nacional do

    Meio Ambiente, pois, com esse diploma tornou-se mais efetiva a chancela jurdica

    em relao ao meio ambiente.

    Existem, porm, vrias outras disposies acerca da matria ambiental, sob

    o aspecto infraconstitucional, que visam tutela dos recursos naturais, como a

    proteo da qualidade da gua, da qualidade do ar, da fauna e flora, contra a

    poluio por resduos slidos, contra a poluio sonora, contra a poluio advinda de

    atividades nucleares, e a proteo ao patrimnio gentico, tendo sido tais recursos

    chancelados por diversos documentos legais em nosso ordenamento jurdico, os

    quais no iremos abordar haja vista sua extenso, porm, podemos destacar como

    exemplos o Decreto 26.643/34, que cria o Cdigo de guas; a Lei 4.771/65, que cria

    o Cdigo Florestal; o Decreto-Lei 1.473/75, que dispe sobre medidas necessrias

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    preveno, adequao e correo das perturbaes e prejuzos causados por

    atividades industriais no meio ambiente; a Lei 5.197/67 que a Lei de Proteo

    Fauna; a Lei 9.985/2000 que a Lei do Sistema Nacional de Unidades de

    Conservao (SNUC), a Lei 10.257/2001 que institui o Estatuto da Cidade, dentre

    muitas outras.

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    2 O BEM AMBIENTAL

    O Direito Ambiental visa tutelar o bem ambiental, sendo este de carter

    fundamental e amplamente tutelado em nosso ordenamento jurdico, cuja tutela se

    d, primordialmente, por institutos normativos constantes em nossa CartaConstitucional.

    Por bem ambiental podemos considerar todos aqueles bens que compem o

    meio ambiente como um todo e que possui natureza difusa e coletiva, ou seja,

    aqueles que se encontram inseridos nos aspectos cultural, artificial, laboral (do

    trabalho), ou ainda sob o bice do ambiente natural ou fsico.

    Essa diviso referente aos bens componentes do meio ambiente ocorre

    unicamente para fins metodolgicos, em que so apresentadas as diversas facetas

    do bem ambiental para que no fiquemos ligados idia de que o Direito Ambiental

    ao tutelar o ambiente, o faz apenas em relao ao bem ambiental natural, pois,

    atualmente consideramos como objeto do Direito Ambiental o bem ambiental

    amplamente considerado, objetivando uma vida digna, sadia, e ainda, com

    qualidade.

    O bem ambiental de suma importncia para o tema proposto, tendo emvista que a atividade do Ecoturismo se desenvolve ao utilizar-se de tais recursos

    ambientais de forma mais sustentvel possvel, aliando explorao de atividade

    econmica e preservao do meio ambiente, dando-se tal atividade em razo

    principalmente no meio ambiente natural ou fsico, e, face ao meio ambiente cultural.

    Observaremos com maior clareza os aspectos do bem ambiental dado a sua

    finalidade fundamental enquanto constituinte do direito a um meio ambiente

    saudvel e equilibrado, atendendo os fins sociais, bem como explicitar cada uma das

    divises conceituais do meio ambiente, existentes, inclusive, demonstrando sua

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    insero em nosso ordenamento jurdico enquanto fundamentado legalmente sob a

    rbita constitucional e infraconstitucional.

    2.1 ASPECTOS DO BEM AMBIENTAL

    Os bens ambientais so os bens que compem o meio ambiente em que

    vivemos, sendo os mesmos devidamente tutelados em nosso ordenamento jurdico,

    e, para fins metodolgicos, tem se apresentado sob quatro aspectos que a doutrina

    achou por bem adotar para efetivar a tutela do objeto do direito ambiental, que so

    aqueles que constituem o meio ambiente cultural, o meio ambiente artificial, meio

    ambiente do trabalho e meio ambiente natural ou fsico, sendo certo que

    discorreremos sobre cada um mais detalhadamente.

    Veremos que o fato do bem ambiental apresentar-se sob estes quatros

    aspectos, objetiva-se demonstrar que as agresses ao meio ambiente podem

    ocorrer de vrias formas, destacando ser o objetivo mais importante, tutelar a vida

    saudvel, digna e com qualidade, identificando assim sob o aspecto do meio

    ambiente, aqueles valores que restaram aviltados, tanto no aspecto constitucional

    quanto no aspecto infraconstitucional.

    2.1.1 Meio ambiente cultural

    O meio ambiente cultural aquele constitudo pelo patrimnio histrico,

    artstico, arqueolgico, paisagstico, turstico, embora que, via de regra seja dotado

    de caracterstica artificial por ser originado pela ao do homem, tem sua diferena

    pautada na sua valorao, sendo que tido como dotado de especialidade, e

    portanto, de suma importncia para o desenvolvimento da atividade do Ecoturismo,

    tendo em vista que o mesmo se desenvolve, justamente, em razo dos bens que

    compem esta categoria.

    Os bens que compem o chamado patrimnio cultural so aqueles que

    podemos considerar como constituintes da histria de um povo, sua formao,

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    cultura e, portanto, os prprios elementos identificadores de sua cidadania, sendo

    este um dos princpios fundamentais da Repblica e do Estado Social de Direito.

    O patrimnio cultural no corresponde somente queles em que umprocesso institucional j o tenha reconhecido, mas aos que sejam realmente

    significativos, ainda que passveis a controvrsias por sua importncia atribuda pela

    coletividade: numa perspectiva em que esta referncia no sendo mais ao,

    consiga de certa forma determina-la pelo trao de identidade (ANTUNES, 2002, p.

    57).

    O patrimnio cultural brasileiro vem regido pelo artigo 216 da CF/88,

    podendo-se dizer que h uma delimitao legal do que seja tal patrimnio, referindo-se queles bens materiais e imateriais previstos no preceito legal:

    Art. 216: Constituem patrimnio cultural brasileiro os bens denatureza material e imaterial, tomados individualmente ou emconjunto, portadores de referncia identidade, ao, memriados diferentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quaisse incluem:I - as formas de expresso;II - os modos de criar, fazer e viver;III - as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas;IV - as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaosdestinados s manifestaes artstico-culturais;V - os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico,artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico. 1. O Poder Pblico, com a colaborao da comunidade,promover e proteger o patrimnio cultural brasileiro, por meio deinventrios, registros, vigilncia, tombamento e desapropriao, e deoutras formas de acautelamento e preservao. 2 Cabem Administrao Pblica, na forma da lei, a gesto dadocumentao governamental e as providncias para franquear suaconsulta a quantos dela necessitem.

    3 A lei estabelecer incentivos para a produo e o conhecimentode bens e valores culturais. 4 Os danos e ameaas ao patrimnio cultural sero punidos naforma da lei. 5 Ficam tombados todos os documentos e os stios detentores dereminiscncias histricas dos antigos quilombos.

    2.1.2 Meio ambiente artificial

    O conceito de meio ambiente artificial definido por Fiorillo e Rodrigues

    (1997), como sendo aquele constitudo pelo espao urbano construdo,

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    consubstanciado no conjunto de edificaes (espao urbano fechado) e dos

    equipamentos pblicos (espao urbano aberto). Salienta-se que o termo urbano

    utilizado para a conceituao do meio ambiente artificial no utilizado no sentido

    contraposto de rural ou campo, pelo fato de que qualifica algo referente a todos

    os espaos habitveis, contendo uma natureza que se remete noo de

    territorialidade (ANTUNES, 2002, p. 59).

    Em relao proteo do meio ambiente artificial em nosso ordenamento

    jurdico, atravs de normas constitucionais, destacamos, no s o artigo 182 e

    seguintes da CF/88 sem desvincular sua interpretao do artigo 225 do mesmo

    diploma, como tambm, em referncia ao artigo 21, XX e artigo 5, XXIII, dentre

    outros, em que se conclui que no podemos desvincular o meio ambiente artificial do

    conceito de direito sadia qualidade de vida, bem como aos valores da dignidade

    humana e da prpria vida, podendo-se dizer, contudo, que o meio ambiente artificial

    est mediato e imediatamente tutelado pela CF/88.

    Podemos considerar mediatamente tutelado o meio ambiente artificial, pelo

    fato de que, sua tutela expressa-se na proteo geral do meio ambiente quando se

    refere ao direito vida no art. 5, caput, bem como explcita no art. 225 que nobasta apenas o direito de viver, mas remete-se ao direito de viver com qualidade,

    sendo ainda percebido em razo do artigo 1, quando se refere dignidade humana

    como um dos fundamentos da Repblica e no artigo 6, quando alude aos direitos

    sociais; e, por fim, no artigo 24, ao estabelecer competncia concorrente para

    legislar sobre o meio ambiente, visando proteger mais amplamente estes valores,

    dentre outros.

    Contudo, a proteo constitucional imediata do meio ambiente artificial pode

    ser observada com o disposto nos artigos 182, 21, inciso XX e 5, inciso XXIII da

    Carta Constitucional vigente.

    A CF/88 ao dar ensejo poltica urbana, impreterivelmente, tutelou o meio

    ambiente artificial, realizando-a no apenas voltado para um quadro nacional, mas

    de forma ainda mais especifica e abrangente ao destacar sua incidncia na rbita

    municipal, partindo do maior para o menor, nos termos do art. 21, inciso XX, seno

    vejamos:

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    Compete a Unio: [...]XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusivehabitao, saneamento bsico e transportes urbanos.

    Utilizando-se da aluso por parte do prprio texto constitucional, podemos

    afirmar que o principal objetivo da poltica de desenvolvimento urbano, viabilizado

    atravs da existncia de uma lei que tem por escopo fixar diretrizes gerais para sua

    viabilizao, conforme explcita o artigo 182 da CF/88, resulta no desenvolvimento

    das funes sociais da cidade e o bem estar dos seus habitantes, estabelecido

    atravs de uma poltica de desenvolvimento, cujas primcias vo ao encontro dos

    mesmos objetivos perseguidos para a realizao da atividade do Ecoturismo, por

    apregoarem a necessidade de uma infra-estrutura mnima para que seu objeto seja

    atingido e concretizado.

    2.1.3 Meio ambiente do trabalho

    Podemos afirmar que o meio ambiente do trabalho tutelado pela CF/88 de

    forma imediata, sendo inclusive de modo expresso, conforme disposto no artigo 200,VII, que trata da tutela da sade (art. 196 da CF), e ainda em vrios outros

    dispositivos, como por exemplo, no artigo 7,XXXIII:

    Art. 200: Ao sistema nico de sade compete, alm de outrasatribuies, nos termos da lei [...]VIII - colaborar com a proteo do meio ambiente, nelecompreendido o do trabalho.

    Observa-se ainda que o meio ambiente do trabalho tutelado de formamediata, concentrando-se no caput do artigo 225 da CF/88, porm, vale ressaltar

    que a proteo do meio ambiente do trabalho coisa diversa da proteo do direito

    do trabalho.

    Explicita Fiorillo e Rodrigues (1997, p. 65), em relao ao nico trabalho que

    deve ser valorizado, no caso, o do homem, aduzem que:

    Trazendo a questo para o direito constitucional positivado, apenas o

    trabalho humano que deve ser valorizado, como direito socialfundamentador da ordem econmica e financeira (base docapitalismo) e fundamento da Repblica Federativa do Brasil,

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    conforme consta no art. 1 da CF. Mas o trabalho tutelado na CF,alm de ser o trabalho humano, ter que estar individualmente ligadoa um aspecto econmico, na medida em que ele, trabalho, passvelde valorao social. Poderamos at dizer que, em verdade, no o

    trabalho, de per si, que tutelado, mas sim os efeitos jurgenosdecorrentes da situao de se trabalhar, no sentido mpar, de que eleestaria ligado a uma necessidade de valorao social (qual seja,proteo da sade, segurana, lazer, etc.).

    Conclui-se que o fato do Texto Constitucional adquirir inmeras variveis,

    embora diferentes, esto ligadas entre si e so complementares em relao aos

    objetivos e fundamentos da Repblica, em que visam assegurar a todos uma

    existncia dentro de um sistema onde possa ser observada a justia social

    coexistindo com dignidade.

    Finalizamos ao considerar que o direito a uma situao de trabalho (direito

    ao trabalho - art. 6 - direito social) possui seu objeto jurdico tutelado de forma

    diferente do objeto jurdico tutelado do meio ambiente do trabalho, pois este tem seu

    objeto jurdico como sendo a sade e segurana do trabalhador, que, enquanto

    integrante da sociedade e titular do direito ao meio ambiente, possui direito sadia

    qualidade de vida, e com isso, procura salvaguardar o indivduo enquanto ser vivo

    das formas de degradao e poluio do meio ambiente onde labora, o que

    representa quesito essencial para sua qualidade de vida.

    2.1.4 Meio ambiente natural ou fsico

    Constitui o meio ambiente natural ou fsico, o solo, a gua, o ar atmosfrico,

    a flora e a fauna, ou ainda, podemos defini-lo pelo fenmeno de homeostase, ou

    seja, so todos os elementos responsveis pelo equilbrio dinmico entre os seres

    vivos e o meio em vivem, que por esta razo tambm se inserem como fundamental

    para o desenvolvimento da atividade do Ecoturismo, tendo em vista que so fortes

    atrativos para realizao de tal atividade, motivo pelo qual vo ao encontro da

    necessidade de proteo do meio ambiente, coadunado no despertar para uma

    conscientizao ecolgica.

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    Podemos afirmar que o meio ambiente natural mediatamente tutelado

    pelo artigo 225, caput,da CF/88 e imediatamente,v.g. pelo artigo 225, 1, I e VII,

    quando diz:

    Ar. 225 [...] 1 Para assegurar a efetividade deste direito incumbe ao PoderPblico:I - preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais e provero manejo ecolgico das espcies e ecossistemas;VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prticasque coloquem em risco sua funo ecolgica, provoquem, a extinode espcies ou submetam animais crueldade.

    2.2 NATUREZA JURDICA DO BEM AMBIENTAL

    Em relao natureza jurdica do bem ambiental, devemos observar que ao

    determinarmos o mesmo como um direito expressamente consagrado em nosso

    ordenamento jurdico na CF/88 em seu artigo 225, consideramos o fato de estar o

    mesmo enraizado em valores prprios, que, no obstante, encontraremos tais

    valores na prpria Constituio Federal e, assim, ao descobrirmos a natureza do

    bem ambiental, estaremos descobrindo a prpria amplitude da conceituao de meio

    ambiente.

    Em nosso artigo 225 da CF/88 temos que o meio ambiente ecologicamente

    equilibrado bem de uso comum do povo e essencial qualidade de vida , e por

    considerar como essencial qualidade de vida, o referido artigo recepciona o

    conceito de meio ambiente devidamente estabelecida na Lei n 6.938/91 quando a

    mesma define em seu artigo 3, I, como o conjunto de condies, leis, influncias einteraes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em

    todas as suas formas, estabelecendo assim uma correta ligao entre tutela do

    meio ambiente e a defesa da pessoa humana.

    Podemos afirmar que a expresso sadia qualidade de vida remete-nos a

    idia de direito a vida e vida com sade, sem prejuzo da garantia dos demais

    direitos inerentes ao denominado piso vital mnimo que vem insculpido no artigo 6

    da CF/88, considerando-se a tutela imediata do meio ambiente em que se buscaalgo mais que apenas um meio ambiente para simples sobrevivncia, tendo em vista

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    que estabelecido um parmetro entre o direito a vida e desta com sade e

    qualidade.

    Conforme descreve Fiorillo e Rodrigues (1997, p. 88):

    A diviso do meio ambiente em cultural, artificial, do trabalho enatural, no possui outra funo seno a de delimitar o espectro domeio ambiente a que est se referindo. Todavia, deve ficar claro quetal dissociao meramente expletiva, vez que o conceito de meioambiente, por tudo visto, indissocia-se da inexorvel lio de direito vida.

    Dizemos ento que o meio ambiente configura-se pelas relaes e

    alteraes observadas entre todos os seres vivos, incluindo-se neste contexto oprprio homem, e destes com o seu meio, motivo pelo qual conclumos que o direito

    do ambiente seja deste modo, um direito interativo com tendncia a incidir em todos

    os flancos do direito para assim introduzir a idia de ambiente.

    Com estas consideraes em relao ao meio ambiente, podemos agora

    definir a conceituao sobre a natureza jurdica do meio ambiente, onde

    principalmente a partir da segunda metade do sculo XX com o surgimento dos

    fenmenos de massa, em razo ao movimento social que d origem a chamada

    sociedade de massa, os bens de natureza difusa passam a ser objeto de uma maior

    preocupao do cientista, legislador e aplicador do direito, conforme conclui Fiorillo e

    Rodrigues (1997, p. 89) ao afirmarem que:

    Emergiram os denominados bens de natureza difusa, de modoinversamente proporcional quebra da dicotomia pblico/privado, namedida em que, acentuou Mauro Capelletti, entre o pblico e oprivado criou-se um abismo preenchido pelos direitos metaindividuais.

    Ainda podemos afirmar, em concordncia com Capelletti (1977, p.131), que:

    [...] as situaes de vida que o Direito deve regular, so tornadassempre mais complexas, enquanto que por sua vez, a tutelajurisdicional - a Justia - ser invocada no mais somente contraviolaes de carter individual, mas sempre mais freqente contraviolaes de carter essencialmente coletivo, enquanto envolvemgrupos, classes e coletividades. Trata-se, em outras palavras, deviolao de massa.

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    Vale dizer que a titularidade do bem difuso difere da titularidade do bem

    pblico, pois so inconfundveis, uma vez que o bem de natureza difusa pertence a

    toda coletividade cuja tutela de responsabilidade tanto do Poder Pblico quanto da

    coletividade, e o bem de natureza pblico tem como titular o Estado.

    Com relao proteo a estes conjuntos de bens de carter difuso, no

    podemos mais valer-nos da tutela simplesmente individualista liberal, tendo vista a

    natureza dos bens jurdicos, inerentes coletividade, em que devemos utilizar um

    sistema processual coletivo que nos permita tutelar um direito coletivo latu sensu,

    conforme observa Fiorillo e Rodrigues quando afirmam que:

    [...] face da existncia de trs diferentes categorias de bens no nossoordenamento jurdico: pblico, privado e difuso, j no maispossvel usar do aparato de processo individual-liberal para tutelar osbens difusos, principalmente, pelo fato de que j existe no nossoordenamento processual civil uma regra determinante que obriga autilizao de um sistema processual coletivo, quando se tratar de umdireito coletivo latu sensu.

    Com a evoluo industrial e o desenvolvimento econmico em larga escala,

    surge na sociedade moderna problemas que acarretaram vrios prejuzos de ordem

    coletiva, sendo at ento desconhecidos na sociedade quando analisados sob um

    prisma meramente individual, como bem observado por Capelletti, 1977, p. 131) ao

    afirmar que:

    Na realidade, a complexidade da sociedade moderna, com intrincadodesenvolvimento das relaes econmicas, d lugar a situaes dasquais determinadas atividades podem trazer prejuzos aos interessesde um grande nmero de pessoas, trazendo problemas desconhecidoss lides meramente individuais.

    Consideramos assim que o Direito no se apresenta mais com conotao

    individual, mas de cunho individual, meta-individual e coletivo, podemos destacar

    que:

    Os direitos e os deveres no se apresentam mais, como nos Cdigostradicionais, de inspirao individualista liberal, como direitos edeveres essencialmente individuais, mas meta-individuais e coletivos(CAPELLETTI, 1977, p. 131).

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    O bem jurdico meio ambiente deve ser considerado como um todo, mesmo

    que formado por vrios bens jurdicos. Por esta razo, o bem ambiental encontra

    tutela tanto por instrumentos de Direito pblico, quanto por instrumentos de Direito

    privado e que, se for encarado de forma a considerar um conglomerado de bens

    individualizados entre si, perde sua identidade na ordem jurdica.

    Podemos assim considerar o bem ambiental, enquanto analisado sob sua

    natureza jurdica, tratar-se de um bem difuso lato sensu, por ser um bem de

    interesse transindividual e meta-individual de titularidade de toda a coletividade,

    como bem define Piva (2000, p. 114): trata-se de um bem difuso, um bem protegido por

    um direito que visa assegurar um interesse transindividual, de natureza indivisvel, de que

    sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por uma circunstncia de fato.

    Assim, em nosso ordenamento jurdico a tutela jurdica do bem ambiental

    teve como primeiro instrumento a Lei 4.734/65, que a Lei da Ao Popular, apesar

    de que naquele momento evolutivo da chancela jurdica dos bens de natureza

    difusa, ainda se dava de forma pouco clara, em razo de que no havia ainda uma

    noo clara e definio legal sobre os direitos difusos e coletivos, como tambm,

    ainda no se percebia uma aceitao efetiva dos mesmos.

    Contudo, o referido instrumento, perfez um importe marco normativo para o

    deslinde do entendimento atual sobre os direitos difusos e coletivos e sobre o

    surgimento dos denominados bens ambientais.

    Nesta linha, mais importante ainda se fez no campo jurdico para

    institucionalizar o denominado bem ambiental, cuja natureza jurdica difusa lato

    sensu, a edio da Lei 6.938/81, que trata da Poltica Nacional do Meio Ambiente,

    instrumento normativo de ordem material, que serviu, como de fato ainda serve, para

    evidenciar que o meio ambiente necessita de diretrizes protetivas especficas, tendo

    em vista sua esgotabilidade e importncia para todos os seres do globo.

    Por fim, destacamos a edio da Lei 7.347/85, que a Lei da Ao Civil

    Pblica, que apesar de tambm ser uma legislao procedimental, trouxe, enquanto

    projeto de lei, em seu artigo 1, inciso IV, a possibilidade da sua utilizao para

    tutelar direitos ou interesses difusos e coletivos, em que, num primeiro plano, ouseja, no momento de sua edio, recebeu o veto presidencial pela justificativa de

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    que no existia positivado em nosso ordenamento jurdico a definio daquilo que

    caracteriza e define os direitos difusos e coletivos.

    Contudo, com a instituio da Constituio Federal de 1988, e, logo aps,com o advento da Lei 8.078/90, a Lei que introduz o Cdigo de Defesa do

    Consumidor, trouxe em seu artigo 81, pargrafo nico, incisos I, II e III a definio

    dos direitos difusos stricto sensu, coletivosstricto sensue individuais homogneos,

    dando assim escopo aos direitos difusos e coletivos, possibilitando com isto a

    recepo, por determinao da prpria Lei em comento, do dispositivo outrora

    rechaado de nossa ordem legal em razo da Lei da Ao Civil Pblica.

    Portanto, podemos concluir que nosso ordenamento jurdico atualmentecomporta trs categorias de bens, sendo o pblico, o privado e o difuso, inserindo-se

    o bem ambiental no contexto deste ltimo pelo fato de ser um bem que pertence a

    toda a coletividade, considerado bem de uso comum de todos e essencial a sadia

    qualidade de vida, e, devido a sua importncia, e por ser fator preponderante para o

    desenvolvimento da atividade do Ecoturismo, que percebemos a necessidade de

    se preservar os bens ambientais enquanto objeto do direito ambiental, visando

    assim, atingir o objetivo proposto de desenvolvimento sustentvel.

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    3 FAUNA

    Conforme descrito pelos doutrinadores ptrios, o estudo da fauna redunda

    um tanto complexo, haja vista que possuem uma atvica concepo privatstica,

    influenciada, principalmente, pelo pensamento civilista do comeo do sculo XX, que

    por tal prisma, considerava a fauna como objeto que poderia ser passivo de

    apropriao, sendo considerada como res nullius ou res derelictae. (FIORILLO,

    2005, p. 86).

    Entretanto, como a evoluo em nosso ordenamento jurdico, esta

    concepo ultrapassada foi revista e modificada, uma vez que inegvel a

    importncia da fauna ao equilbrio ecolgico, sendo imprescindvel para a

    sobrevivncia de todo o conjunto de espcies, incluindo-se dentre elas o prpriohomem.

    Deste modo, decai a concepo de que a fauna seria considerada res nullius

    ou res derelictae, passando a integrar o conceito de res communes omnium, haja

    vista que a mesma possui natureza difusa por ser um bem ambiental, detendo

    atravs de sua funo ecolgica o papel de resguardar as espcies de forma a velar

    pelo equilbrio dos ecossistemas, sendo esta funo indispensvel sadia qualidade

    de vida.

    Neste captulo abordaremos os aspectos gerais sobre a fauna, considerando

    sua importncia para o meio ambiente enquanto possuidora de imprescindvel

    funo ecolgica, a qual tambm ser abordada. E, como no poderamos deixar de

    comentar, remeteremos nosso interesse sobre a fauna para suas finalidades que,

    dentre as existentes, destacaremos aquelas que guardam estrita relao com

    atividade do Ecoturismo, principalmente porque tal atividade pode coibir uma prtica

    das mais perversas e que ser objeto de comento, tratando-se do trfico de animais

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    silvestres, ressaltando, porm, que deixaremos de abordar a questo da caa por

    considerarmos ser de pouca relevncia ao tema proposto.

    3.1 ASPECTOS GERAIS

    Inicialmente destacamos que o legislador constitucional ao elencar a

    proteo fauna, em seu artigo 225, 1, inciso VII, o fez em sentido lato, no

    conceituando o que seria fauna, ficando esta tarefa com o legislador

    infraconstitucional, fato que possibilitou a recepo da Lei 5.197/67 que a Lei de

    Proteo Fauna.

    A referida Lei em seu artigo 1 restringiu o contedo da fauna, reportando-se

    apenas fauna silvestre ao dispor que

    os animais de quaisquer espcies em qualquer fase de seudesenvolvimento que vivem naturalmente fora do cativeiro,constituindo da fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos ecriadouros naturais so propriedades do Estado, sendo proibida suautilizao, perseguio, destruio, caa ou apanha.

    Vale ainda mencionar o disposto no artigo 29, 3 da Lei 9.605/98, que

    complementa a idia de fauna silvestre, a qual prescreve que

    so espcimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes sespcies nativas, migratrias e quaisquer outras, aquticas outerrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendodentro dos limites do territrio brasileiro, ou em guas jurisdicionaisbrasileiras.

    Entretanto, a concepo ideolgica de que se teria repudiado a proteo da

    fauna como um todo, merecendo garantia protetiva somente a fauna silvestre, no

    deve prosperar, levando-se em conta que tal possibilidade reverteria contra o

    preceito constitucional, que determina a proteo fauna sem quaisquer restries,

    inserindo-se a, tambm, a fauna domstica.

    Ademais, o que se levou em considerao na Lei de Proteo a Fauna, foi o

    fato de que a fauna silvestre possui funo ecolgica para o meio ambiente e,

    tambm a necessidade de se preservar estes animais do risco de extino em razo

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    da ao predatria do ser humano, fato que colocaria em risco o equilbrio ecolgico,

    o que no quer dizer que os animais domsticos possam sofrer com a prtica de

    crueldade.

    Assim, podemos evidenciar o conceito da fauna como sendo o conjunto de

    animais pertencentes a uma dada localidade ou regio, sendo definidos como

    silvestres os que vivem naturalmente em liberdade ou fora do cativeiro, conforme

    preceitua o artigo 1 da lei 5.197/67, e como domstico os animais que no vivem

    em liberdade, sofrendo alterao de seu habitat, convivendo, via de regra, em

    harmonia com o ser humano e deste depende para sua subsistncia.

    Em nossa abordagem diante do tema proposto, vale apenas destacar que considerado como caracterstico dos animais domsticos a ausncia de funo

    ecolgica e de risco de extino, trazendo sua existncia em benefcio do homem,

    simplesmente uma relao de bem-estar ao mesmo na seara psquica.

    Sobretudo, vislumbramos em relao natureza jurdica da fauna, a viso

    antropocntrica, em que os animais da fauna no so sujeitos de direitos, o que no

    significa que no merea total proteo, tendo em vista que o elemento protetivo do

    meio ambiente visa favorecer a humanidade, incidindo assim, por via reflexa, na

    proteo das demais espcies pertencentes ao conjunto ambiental.

    A fauna como bem ambiental possui caracterstica natureza difusa, o que foi

    modificado com a evoluo do direito positivo, principalmente ao observarmos nosso

    ordenamento jurdico ptrio, em que, pelos revogados Cdigo de Caa (Decreto-Lei

    n 5.894/43) e Cdigo de Pesca (Decreto-Lei n 794/38), as espcies que

    compunham a fauna eram tidas como res nullius, e com o advento da Lei n5.197/67, que revogou os diplomas anteriores, a fauna passou a pertencer

    categoria de bem pblico, por refletir a preocupao do legislador com a

    possibilidade de se esgotar o bem descrito, levando-se em considerao a

    importncia no equilbrio ecolgico.

    Com o advento da atual Constituio Federal, aliado ao diploma do Cdigo

    de Defesa do Consumidor, mudou-se a concepo de que a fauna pertencia

    categoria de bens pblicos, sendo assim considerado bens de natureza difusa, porserem bens ambientais e possurem funo ecolgica.

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    3.2 FUNO ECOLGICA

    A referida funo vem disposta em nossa Carta Magna, necessariamente no

    artigo 225, 1, inciso VII, quando veda as atividades contra fauna e flora que

    coloquem em risco a sua funo ecolgica e, ao relacionar-se diretamente com a

    manuteno do equilbrio ecolgico mencionado no caput do artigo descrito,

    importando na garantia da sadia qualidade de vida.

    Deste modo, podemos considerar que a funo ecolgica exercida no

    momento em que a fauna age na manuteno e equilbrio do ecossistema a que

    pertence, tendo como resultado, um ambiente sadio e indispensvel sadia

    qualidade de vida, sendo que esta funo fator determinante para que a fauna se

    caracterize como bem ambiental de natureza difusa.

    Tal assertiva nos leva a considerar que, ao ser observado que a fauna

    domstica caracterizada por no possuir funo ecolgica, por certo, tambm no

    possuem natureza difusa, e, portanto, ainda que merea ser protegida contra

    prticas de crueldade, so passiveis de apropriao, e sendo assim, possuem

    natureza privatstica.

    3.3 MULTIFINALIDADE DA FAUNA

    A fauna possui vrias finalidades voltadas para o ser humano e para o meio

    ambiente, sendo determinadas ao considerarmos o benefcio que sua utilizao

    reverter em prol do ser humano, tendo como principais finalidades, a cientfica,recreativa, econmica, cultural e ecolgica, sendo que esta ltima j est

    evidenciada neste trabalho pelo que j foi abordado, e, dentre todas, as que mais

    despertam nosso interesse a recreativa, econmica e cultural.

    Entretanto, e para fins elucidativos, merece ser mencionado o conceito de

    finalidade cientfica, em que podemos evidenciar que a fauna pode ser utilizada para

    fins de experimentos, testes em laboratrios, dentre outros fins de cunho cientfico,

    desde que seja resguardada e preservada a sua destinao cientfica ou tecnolgicade forma bem definida e em benefcio da prpria humanidade.

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    Outra finalidade que merece ser destacada refere-se a cultural, que para o

    Ecoturismo de suma importncia, pois a fauna deve ser utilizada com vistas

    preservao, deve ser observado tambm o exerccio dos prembulos culturais

    enraizados nas diversas vertentes da sociedade brasileira, visando, contudo, atingir

    a finalidade precpua da proteo ambiental.

    A principal polmica sobre a funo cultural est relacionada a prticas

    denominadas cruis, como a farra do boi em terras sulistas, onde, sob a viso

    antropocntrica, estaria ligada diretamente sade psquica do prprio homem, no

    sendo considerado o aspecto do bem-estar do animal, o que reflete assunto muito

    polmico, pois que devemos sopesar vrios valores de suma importncia que levam

    em considerao muitos aspectos peculiares que possuem variabilidade mltiplas e

    que no merecem maior aprofundamento.

    Entretanto, para a atividade do Ecoturismo, que alia preservao e

    conservao do meio ambiente com explorao de atividade econmica com vistas

    ao desenvolvimento econmico como ser abordada mais adiante, a prtica de

    atividade que resulte em agresso ao meio ambiente, resulta na fuga de suas

    primcias, e, portanto, merecem ser rechaadas.

    Por fim, abordaremos a finalidade recreativa que somada a finalidade

    ecolgica redunda como a principal finalidade para o desenvolvimento da atividade

    do Ecoturismo, sendo definida como o direito ao lazer com o desfrute de uma sadia

    qualidade de vida.

    O que se assevera que muitas vezes o direito ao lazer poder chocar-se

    com o dever de se preservar o meio ambiente, e neste caso em especfico, ao tratar-se da fauna, deve ser levado em considerao manuteno da funo ecolgica.

    Frente a esta situao conflitante, em que se pode evidenciar que ambos os

    direitos possuem uma mesma origem, ou seja, natureza difusa, ao versar sobre

    direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e para o alcance de uma sadia

    qualidade de vida, devemos analisar a situao com vistas ao princpio do

    desenvolvimento sustentvel, de forma que certas atividades de cunho recreativo

    possam ser realizadas de forma compatvel conservao do meio ambiente, eneste sentido temos que:

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    [...] o que vai determinar a soluo do conflito a casustica, em quedevero ser sopesadas a relao custo-benefcio da agresso fauna (com implicaes na funo ecolgica) e a relao entre anecessidade daquela prtica de lazer e a formao do bem-estar

    psquico. Realizada essa operao, ser ento possvel determinarse se trata da prevalncia de um exerccio do direito ambientalvinculado ao laser ou preservao da funo ecolgica da fauna(FIORILLO, 2005, p. 92).

    Vale ser ressaltado que a atividade de recreao em que se perceba a

    presena da fauna silvestre, imprescinde de prvia autorizao do Poder Pblico e

    no de licena ambiental conforme determina a Lei de Proteo Fauna, devendo

    ser observado ainda que, mesmo se tratando de propriedade particular o local onde

    se desenvolva a atividade dever ser requerido mencionada autorizao, pois a

    fauna silvestre possui natureza de bem ambiental e, deste modo, um bem difuso,

    no podendo ser utilizado de forma particular e ao livre alvitre pelo proprietrio do

    local em que se situe o espao da atividade.

    3.4 TRFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL

    O Trfico de animais silvestres configura uma das maiores agresses ao

    meio ambiente como um todo, ou seja, sob o bice interno e internacional, j que a

    prtica de tal ilcito realizada no mundo inteiro, deixando um rastro de morte e

    destruio, e ainda, deflagrando a situao vexatria das mazelas sociais onde esta

    prtica representativamente maior, como o caso dos pases de terceiro mundo.

    A prtica do trfico de animais silvestres reveste-se de grande rentabilidade

    em razo da quase certeza de impunidade. Por isso, em um ano torna-se possvel

    movimentar bilhes de dlares com o desenvolvimento da atividade ilegal, que

    representa uma grande degradao ambiental, responsvel pelo risco de extino

    para muitas espcies.

    Nos tpicos a seguir sero abordadas questes de suma importncia para

    delinear a situao do trfico de animais silvestres no Brasil e no mundo e que

    servir para demonstrar que atividades como a realizao do Ecoturismo, que aliaminteresse econmico, desenvolvimento social e preservao do meio ambiente,

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    representam instrumentos necessrios e eficazes para se alcanar o

    desenvolvimento sustentvel.

    3.4.1 No mundo

    O trfico de animais silvestres representa o terceiro maior negcio ilcito no

    mundo, sendo apenas superado pelo trfico de drogas e de armas, movimentando

    com a prtica ilcita, em torno de U$ 15 bilhes de dlares por ano e comercializado

    cerca de 120 milhes de animais todos os anos.

    Podemos observar o agravamento do caso, pelo fato de que atualmente os

    traficantes de drogas descobriram que o comrcio de animais muito mais vivel do

    que o comrcio de drogas, cuja razo deve-se a maior rentabilidade com a venda de

    animais e a quase impunidade da prtica.

    A situao to polmica e sria que a Polcia Federal em conjunto com a

    Interpol j se mobilizou no sentido de criar equipes especializadas para o combate

    acirrado contra a prtica de tal ilcito, em que, a ttulo de exemplo, uma espcie queest em extino, como a ararinha-azul, no comrcio ilegal equivale a 24 quilos de

    cocana.

    O fato que a prtica deste comrcio ilcito possui ramificaes em todo o

    mundo, e, como ser observado, no Brasil ainda mais preocupante, haja vista que

    uma boa fatia do mercado global abastecida por nossos espcimes nativos.

    3.4.2 No Brasil

    Como j mencionado, o trfico de animais silvestres representa a terceira

    maior atividade ilcita do mundo, e, como no poderia deixar de ser, no Brasil tal

    atividade configura a mesma proporo, sendo que o Brasil responsvel por 15%

    do mercado mundial, movimentando cerca de U$ 1,5 bilho de dlares ao ano em

    mdia.

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    A necessidade de medidas que possam evitar que tal prtica ocorra sem que

    nada seja feito de efetivo, envolve toda a sociedade brasileira num contexto global,

    j que os danos fauna brasileira, pertencente a todos os cidados brasileiros,

    referem-se a interesses difusos, merece toda a ateno, tanto do Poder Pbico

    quanto de toda a coletividade.

    A ateno mais efetiva de polticas pblicas se faz necessrio, sendo que

    esta mobilizao foi bem observada pela ONG SOS FAUNA dizendo que:

    importante que ocorra um processo de integrao, de articulaopoltica, culminando numa ao harmnica entre os rgosgovernamentais (tanto a nvel federal, como estadual e municipal),

    ns das Organizaes No Governamentais, operadores do Direito,que fazem valer os instrumentos normativos e, por fim, a sociedade,participando ativamente para reverter este triste quadro que s temcrescido2.

    fato que o Brasil possui maior e mais rica biodiversidade do planeta, mas,

    ao que tudo indica, no h uma preocupao muito latente com o comrcio ilegal de

    animais silvestres, considerando que muitas das crticas feitas ao nosso conjunto

    normativo especfico sobre a matria so profundamente consistentes e verdadeiras,

    pois, como evidencia matria veiculada pela revista poca de 21 de julho de 2003,

    em relao ao Brasil

    a pena para o comrcio de substncias ilcitas varia de trs a 15anos de priso. No caso dos animais, a punio mxima de um anode deteno. A maioria das ocorrncias, porm, resolvida commultas que no chegam a R$ 1.000,00 ou a simples prestao deservios comunidade. O Cdigo Penal punitivo. J a legislaosobre os crimes ambientais foi criada para educar3.

    Entretanto, merece destaque a estimativa de que apenas 30% dos animais

    comercializados deixam o Brasil e os outros 70% so comercializados dentro do

    prprio territrio brasileiro, sendo que o principal fluxo concentra-se na regio

    Sudeste, principalmente no eixo Rio-So Paulo, advindo principalmente da Regio

    Nordeste, seguido do fluxo advindo da regio Centro-Oeste, passando pelo Estado

    de Minas Gerais. Em terceiro lugar est o fluxo advindo da regio Norte, sendo que

    todos tm como certo o destino da regio Sudeste.

    2http://www.sosfauna.org/a_realidade_dolorosa_e_vergonhos.htm, capturado em 15/07/2003 .3Revista poca.A arara e a cacana. So Paulo: Globo, n 270, de 21 de julho de 2003.

  • 5/20/2018 A Atividade Do Ecoturismo Como Instrumento de Preservao e Conservao Do Meio Ambiente

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    A maior parte do trfico da fauna silvestre brasileira contrabandeada para

    pases vizinhos, sendo o transporte realizado atravs dos meios fluviais ou pelas

    denominadas fronteiras secas, e, aps, seguem para os pases de primeiro mundo,

    onde viram animais de estimao ou cobaias para experimentos em biotecnologia.

    O fato mais marcante, alm do expressivo montante de espcimes da fauna

    que correm o risco de extino pela atividade ilcita do trfico de animais, redunda

    nos meios em que se d a captura e o transporte destes animais, cuja brutalidade e

    crueldade a que so submetidos, fazem com que nove entre dez animais

    capturados, sejam mortos antes de chegar ao seu destino.

    A cadeia estrutural que envolve o trfico de animais complexa e aoanalisarmos suas razes, observaremos que a prtica favorecida, e muito, pela

    questo social, onde, as populaes locais, muitas vezes vivendo em situaes de

    precariedade, trocam exemplares capturados por produtos bsicos de subsistncia,

    surgindo a os primeiros intermedirios do trfico, com pouca expresso comercial,

    sendo estes:

    [...] os mascates, regates (barqueiros que transitam pelos rios das

    regies Norte e Centro-Oeste realizando escambo de produtosbsicos por animais silvestres), d