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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO HIDROQUÍMICA E VULNERABILIDADE DO SISTEMA AQUÍFERO BARREIRAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRANGI/RN. JANAÍNA MEDEIROS DA SILVA ORIENTADOR: PROF. DR. JOSÉ GERALDO DE MELO DISSERTAÇÃO N° 246/PPGG NATAL/RN FEVEREIRO 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA

E GEOFÍSICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

HIDROQUÍMICA E VULNERABILIDADE DO SISTEMA AQUÍFERO

BARREIRAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRANGI/RN.

JANAÍNA MEDEIROS DA SILVA

ORIENTADOR: PROF. DR. JOSÉ GERALDO DE MELO

DISSERTAÇÃO N° 246/PPGG

NATAL/RN

FEVEREIRO 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA

E GEOFÍSICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

JANAÍNA MEDEIROS DA SILVA

HIDROQUÍMICA E VULNERABILIDADE DO SISTEMA AQUÍFERO

BARREIRAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PIRANGI/RN.

Dissertação apresentada em 07 de

Fevereiro de 2020 ao Programa de Pós-

Graduação em Geodinâmica e Geofísica

da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte (PPGG/UFRN) como requisito à

obtenção ao Título de Mestre em

Geodinâmica e Geofísica, com área de

concentração em Geodinâmica.

Dissertação N° 246/PPGG

Banca Examinadora:

Prof. Dr. José Geraldo de Melo (Membro Interno – PPGG/UFRN)

Prof. Dr. Mickaelon Belchior Vasconcelos (Membro Externo - CPRM)

Prof. Dr. José Braz Diniz Filho (Membro Interno - UFRN)

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“O conhecimento emerge apenas através

da invenção e da reinvenção, através da

inquietante, impaciente, contínua e

esperançosa investigação que os seres

humanos buscam no mundo, com o mundo e

uns com os outros.”

Paulo Freire

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AGRADECIMENTOS

Assim como para muitos, o curso de mestrado foi, para mim, um período

desafiador e de enorme crescimento acadêmico, profissional e pessoal.

Contudo, apesar do meu esforço e dedicação, não cheguei aqui sozinha. Esse

trabalho é resultado da ação de muitos que direta ou indiretamente me

ajudaram a obter essa conquista.

Agradeço inicialmente à minha mãe Ozeneide e à minha avó Celina por

todo apoio, carinho e paciência que me concederam ao longo da vida. Os

ensinamentos dessas mulheres fortes me condicionaram/condicionam a me

tornar a melhor pessoa que posso ser hoje para mim e para o próximo. Sou

grata ao meu companheiro de vida João, por todo amor e por trilhar junto

comigo dias cada vez melhores, felizes. Apesar da nossa vida em aeroportos e

rodovias, estamos juntos e você sempre pode contar comigo. Ao meu irmão e

colega geocientista, sou grata pelo apoio e carinho não só durante este

período, mas ao longo da vida.

Agradeço imensamente ao meu orientador Geraldo, não apenas pelos

ensinamentos, coleguismo e confiança, mas por toda compreensão que

necessitei durante o curso do mestrado. Ao professor Braz que me ajudou na

melhoria deste trabalho com suas contribuições sempre pertinentes. Aos

professores Raquel e Mickaelon pelas importantes colaborações durante o

exame de qualificação e defesa, respectivamente. Agradeço à CAERN e ao

técnico Ronaldo pela ajuda e dedicação nas atividades de campo.

Agradeço aos meus amigos, Cris, Matheus, Hanna, Caio, Fernando, Paula,

Cleide, Alinne, Macau, Mateus, Cleidejane, Tarsila, Débora, Paulo, e outros

tantos que a geologia me proporcionou conhecer e carregar para meu

cotidiano, mesmo a longa distância. Estar com vocês é a dose que preciso para

seguir em frente. Obrigada pela força!

Agradeço o apoio dos meus colegas de trabalho da Secretaria Executiva

de Meio Ambiente de Paulista/PE, com enorme carinho ao Núcleo de

Licenciamento Ambiental, ao qual honrosamente me integro. Sou sortuda por

encontrar vocês como colegas e amigos de trabalho.

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Agradeço aos meus colegas de trabalho do DACT/URFN, aos quais tive a

chance de partilhar o cotidiano e aprendizado durante seis anos como

servidora desta instituição. Imensa gratidão a vocês.

Por fim, mas essencial, agradeço à UFRN e às políticas governamentais de

incentivo e fortalecimento do ensino universitário público, gratuito e de

qualidade que finalmente o Brasil pode apreciar e aplicar como instrumento de

ascensão social e modificador da realidade de muitas pessoas.

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vii

RESUMO

A área de estudo está inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi, Região

Metropolitana de Natal, abrangendo 370 km². O Sistema Aquífero Barreiras

(SAB) na área de estudo apresenta elevado potencial hidrogeológico e a

captação de suas águas tem sido imprescindível para o abastecimento hídrico

das populações urbanas e rurais e desenvolvimento industrial e agrícola da

região. Contudo, o crescimento urbano desordenado e a adoção de práticas

agrícolas inapropriadas tem ameaçado a qualidade desse manancial

subterrâneo. Face ao exposto, esse estudo avalia o comportamento

hidroquímico e qualidade das águas do SAB na região da Bacia Hidrográfica do

Rio Pirangi, além de realizar o mapeamento da vulnerabilidade natural e

antrópica à contaminação do aquífero. As análises consideram mapeamento de

uso e ocupação do solo. Para o estudo hidroquímico, foi definida uma rede de

monitoramento com 30 poços seguido de uma campanha de coletas e análises

físico-químicas de amostras de água. A interpretação dos resultados foi

efetuada mediante mapas de isovalores e diagramas hidroquímicos. No tocante

à qualidade hídrica, as águas subterrâneas foram avaliadas para consumo

humano, fins agrícolas e uso industrial. O mapeamento da vulnerabilidade do

SAB à contaminação foi realizado aplicando os métodos GOD, DRASTIC e IS

com base na análise e interpretação de 38 perfis litológicos de poços

distribuídos na área de estudo e de dados cartográficos de trabalhos

anteriores. Apesar das variações hidroquímicas observadas nos diferentes

setores, de modo geral, as águas subterrâneas do SAB na área de estudo se

caracterizam como levemente ácidas e de baixa salinidade, abrangendo

predominantemente as fácies cloretadas sódicas magnesianas (Na+-Mg2+-Cl-) e

cloretadas sódicas (Na+-Cl-). O aspecto climático é o principal fator controlador

da química dessas águas, com a influência de fatores antrópicos do

desenvolvimento urbano e de atividades agrícolas (contaminação por nitrato).

Quanto à qualidade, 70% das amostras avaliadas podem ser destinadas ao

consumo humano; para fins agrícolas, não há restrição ao uso; e para

aplicação industrial constatou-se principalmente restrições às indústrias de

papel, têxtil, cerveja, laticínios e conserva. O mapeamento da vulnerabilidade à

contaminação do SAB resultou para zona urbana índice de vulnerabilidade

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viii

predominantemente baixo e intermediário através dos métodos GOD e

DRASTIC e índice intermediário através do método IS. Nas zonas de

desenvolvimento agrícola e no domínio de lagoas e dunas com pouca

intervenção humana, determinou-se, através dos métodos DRASTIC e IS,

índices de vulnerabilidade baixo e intermediário, enquanto pelo método GOD

há predominância de alta vulnerabilidade.

Palavras-chave: Sistema Aquífero Barreiras; Bacia Hidrográfica do Rio

Pirangi; Avaliação hidrogeoquímica; Qualidade das águas subterrâneas;

vulnerabilidade de aquífero à contaminação.

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ix

ABSTRACT

The study area is located in the Pirangi River Basin, Metropolitan Region of

Natal, covering 370 km². The Barreiras Aquifer System (SAB) in the study area

has high hydrogeological potential and the capture of its waters has been

essential for the water supply of urban and rural populations and the industrial

and agricultural development of the region. However, disordered urban growth

and the adoption of inappropriate agricultural practices have threatened the

quality of this underground spring. Based on the above, this study evaluates the

hydrochemical behavior and water quality of SAB in the Pirangi River Basin

region, as well as mapping the natural and anthropic vulnerability to aquifer

contamination. The analyzes consider mapping of land use and occupation. For

the hydrochemical study, a 30-well monitoring network was defined, followed by

a collection campaign and physicochemical analysis of water samples. The

interpretation of the results was made through isovalor maps and

hydrochemical diagrams. Regarding water quality, groundwater was evaluated

for human consumption, agricultural purposes and industrial use. The mapping

of SAB vulnerability to contamination was performed by applying GOD,

DRASTIC and IS methods based on the analysis and interpretation of 38

lithological profiles of wells distributed in the study area and cartographic data

from previous works. Despite the hydrochemical variations observed in the

different sectors, SAB groundwater in the study area is generally characterized

as slightly acidic and of low salinity, predominantly encompassing magnesian

sodium chloride (Na + - Mg2 + - Cl-) and chlorinated sodium facies. (Na + - Cl-).

The climatic aspect is the main controlling factor of the chemistry of these

waters, with the influence of anthropogenic factors of urban development and

agricultural activities (nitrate contamination). As for quality, 70% of the samples

evaluated can be destined for human consumption; for agricultural purposes

there is no restriction on use; and for industrial application there were mainly

restrictions on the paper, textile, beer, dairy and canning industries. The

mapping of vulnerability to SAB contamination resulted in a predominantly low

and intermediate vulnerability index for the urban zone through the GOD and

DRASTIC methods and an intermediate index through the IS method. In the

areas of agricultural development and in the area of lagoons and dunes with

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x

little human intervention, low and intermediate vulnerability indices were

determined using the DRASTIC and IS methods, while the GOD method has a

predominance of high vulnerability.

Keywords: Barrier Aquifer System; Pirangi River Basin; Hydrochemical

Evaluation; Groundwater Quality; aquifer vulnerability to contamination.

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xi

SUMÁRIO

RESUMO .........................................................................................................vii

ABSTRACT ......................................................................................................ix

LISTA DE FIGURAS ....................................................................................... xiv

LISTA DE TABELAS ...................................................................................... xix

1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................20

1.1 Justificativa .........................................................................................20

1.2 Objetivos .............................................................................................21

1.2.1 Objetivo Geral ...............................................................................21

1.2.2 Objetivos Específicos ...................................................................21

1.3 Localização da área de estudo............................................................21

1.4 Atividades Metodológicas ....................................................................22

1.4.1 Pesquisa Bibliográfica ..................................................................22

1.4.2 Atividade de Pré-campo ...............................................................23

1.4.3 Balanço hídrico e avaliação climatológica.....................................23

1.4.4 Atividade de Campo .....................................................................23

1.4.5 Tratamento dos dados, elaboração e interpretação de mapas

temáticos e diagramas hidroquímicos ........................................................25

1.4.6 Qualidade das águas subterrâneas quanto aos usos ...................26

1.4.7 Aplicação dos métodos de avaliação de vulnerabilidades de

aquífero .....................................................................................................27

2. CONDICIONANTES AMBIENTAIS ...........................................................28

2.1 Clima ...................................................................................................28

2.2 Balanço Hídrico e Avaliação Climatológica .........................................31

2.3 Hidrografia ..........................................................................................34

2.4 Geologia .............................................................................................35

2.5 Contexto tectonoestrutural ..................................................................38

2.6 O Sistema Aquífero Barreiras .............................................................40

2.7 Uso e ocupação do solo ......................................................................41

3. REVISÃO DA LITERATURA .....................................................................45

3.1 Importância das águas subterrâneas e impactos ambientais potenciais

na Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi ............................................................45

3.2 Parâmetros de qualidade de água ......................................................48

3.2.1 Condutividade Elétrica (CE) ..........................................................48

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xii

3.2.2 Sólidos Totais Dissolvidos (STD) ..................................................49

3.2.3 pH .................................................................................................49

3.2.4 Constituintes iônicos principais .....................................................49

3.3 Vulnerabilidade à contaminação das águas subterrâneas...................52

3.4 Trabalhos anteriores desenvolvidos na área de estudo ......................54

3.4.1 CAERN (2001 - 2013) ...................................................................55

3.4.2 LUCENA et al. (2004) ...................................................................56

3.4.3 FERNANDES (2010) ....................................................................58

3.4.4 ANA (2012) ...................................................................................60

3.4.5 ASSUNÇÃO (2016) ......................................................................64

3.4.6 MELO et al. (2017) .......................................................................66

4. ARTIGO 01 - HIDROQUÍMICA E CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS

SUBTERRÂNEAS DO SISTEMA AQUIFERO BARREIRAS NA BACIA DO

RIO PIRANGI ...................................................................................................69

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................71

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ÁREA DE ESTUDO .........................72

3. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................74

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...........................................................75

5. CONCLUSÃO ........................................................................................84

AGRADECIMENTOS ....................................................................................85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................85

5. QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO SISTEMA AQUÍFERO

BARREIRAS NA BACIA DO RIO PIRANGI QUANTO AOS USOS

PREPONDERANTES ......................................................................................89

5.1 Consumo Humano ..............................................................................89

5.2 Irrigação ..............................................................................................92

5.3 Uso Industrial ......................................................................................95

6. ARTIGO 02 - MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE À

CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO SISTEMA AQUÍFERO

BARREIRAS NA BACIA DO RIO PIRANGI/RN UTILIZANDO OS MÉTODOS

GOD, DRASTIC E IS. ......................................................................................98

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 100

2. ÁREA DE ESTUDO .............................................................................. 101

3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................... 103

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................... 111

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xiii

5. CONCLUSÕES .................................................................................... 122

AGRADECIMENTOS .................................................................................. 123

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 124

7. CONCLUSÕES ....................................................................................... 127

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 130

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xiv

LISTA DE FIGURAS

Fig. Descrição Pág.

1.1 Localização da área de estudo 22

1.2

Representação de procedimentos de campo - análise de

parâmetros físicos das águas subterrâneas in loco e coleta de

amostras.

25

2.1

Média das precipitações anuais dos municípios que compõem a

Bacia do Rio Pirangi (RMN). Fonte: Monitoramento

Pluviométrico EMPARN, disponível em

<http://189.124.130.5:8181/monitoramento/monitoramento.php>.

30

2.2

Representação gráfica do balanço hídrico para a área de estudo

para o período de 1987 a 2017. P – Precipitação; ETP –

Evapotranspiração Potencial; ETR – Evapotranspiração Real.

32

2.3 Malha hidrográfica da Bacia do Rio Pirangi (RMN). 35

2.4 Unidades litoestratigráficas e perfil geomorfológico da Bacia do

Rio Pirangi - RMN. Adaptado de ARAÚJO et al. (2006). 36

2.5 Coluna estratigráfica da RMN. 36

2.6 Mapa Geológico da área de estudo. Adaptado de ANA (2012) e

ALVES (2015). 38

2.7 Seções hidrogeológicas do Sistema Aquífero Barreiras na Bacia

do Rio Pirangi. MELO et al., 2014. 41

2.8 Zoneamento de uso e ocupação do solo na Bacia Hidrográfica

do Rio Pirangi/RN. MELO et al., 2017. 43

2.9

Zoneamento de uso de ocupação do solo da Bacia do Rio

Pirangi com fotos representando os diferentes contextos

ambientais. Adaptado de MELO et al., 2017. Fotos: Street View

Google.

44

3.1 Usos das águas subterrâneas captadas no SAB na Bacia do Rio

Pirangi. Adaptado de ALVES, 2016. 46

3.2 Rede de monitoramento para coleta de amostras realizadas de

2001 até 2013 pela CAERN. 55

3.3 Distribuição espacial da condutividade elétrica (µS/cm) no setor 57

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xv

leste da Bacia do Rio Pirangi. LUCENA et al., 2004.

3.4 Diagrama de Piper caracterizando as águas do SAB no setor

leste da Bacia do Rio Pirangi. LUCENA et al., 2004. 58

3.5

Distribuição espacial da condutividade elétrica (µS/cm) no setor

norte da Bacia do Rio Pirangi. Adaptado de FERNANDES

(2010).

59

3.6

Distribuição espacial da concentração de nitrato (mg/L de N-

NO3-) no setor norte da Bacia do Rio Pirangi. Adaptado de

FERNANDES (2010).

59

3.7

Zoneamento hidroquímico das águas subterrâneas do SAB na

Região Metropolitana de Natal. Destaque para a Bacia do Rio

Pirangi. Adaptado de ANA, 2012.

62

3.8

Mapeamento da Vulnerabilidade natural do SAB à

contaminação utilizando o método GOD na Região

Metropolitana de Natal. Destaque para a Bacia do Rio Pirangi.

Adaptado de ANA, 2012.

63

3.9

Diagramas de Piper caracterizando as águas do SAB na Bacia

do Rio Pirangi conforme as zonas de uso e ocupação do solo: A

(zona urbana consolidada), B (ecossistema de dunas e lagoas)

e C (domínio de atividades agrícolas). ASSUNÇÃO, 2016.

65

3.10 Distribuição espacial da concentração de nitrato (mg/L de N-

NO3-) na Bacia do Rio Pirangi. ASSUNÇÃO, 2016.

65

3.11

Mapeamento da vulnerabilidade natural e antrópica do SAB à

contaminação no município de Parnamirim/RN – Setor norte da

Bacia do Rio Pirangi através do método VAN com identificação

de fontes de contaminação. MELO et al., 2017.

67

3.12

Mapeamento da vulnerabilidade natural do SAB à contaminação

na Bacia do Rio Pirangi através do método GOD com

identificação de fontes de contaminação. MELO et al., 2017.

68

3.13

Mapeamento da vulnerabilidade natural do SAB à contaminação

na Bacia do Rio Pirangi através do método DRASTIC. MELO et

al., 2017.

68

Art.1 Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi com delimitação das zonas de 72

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xvi

Fig.1 Uso de ocupação do solo e pontos de coleta de amostras de

água.

Art.1

Fig.2

Mapa Geológico da Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi. Adaptado

de ANA (2012). 74

Art.1

Fig.3

Distribuição espacial de Condutividade Elétrica (µS/cm) na

Bacia do Rio Pirangi considerando as zonas de uso e ocupação

do solo.

79

Art.1

Fig.4

Distribuição espacial da concentração do íon nitrato (mg/L de N)

na Bacia do Rio Pirangi considerando as zonas de uso e

ocupação do solo.

79

Art.1

Fig.5

Diagrama de Piper classificando as águas subterrâneas da área

de estudo. 82

Art.1

Fig.6

Diagrama de Durov Expandido classificando as águas

subterrâneas da área de estudo. 83

Art.1

Fig.7

Diagrama de Gibbs representando os fatores controladores das

águas subterrâneas da área de estudo. 84

5.1

Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo

humano quanto à concentração de sólidos totais dissolvidos

(mg/L).

90

5.2 Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo

humano quanto à concentração de nitrato (mg/L de N-NO3-).

90

5.3 Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo

humano quanto à concentração de cloreto (mg/L). 91

5.4 Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo

humano quanto à concentração de sódio (mg/L). 91

5.5 Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo

humano quanto à concentração de Ferro (mg/L). 91

5.6

Classificação das águas do SAB na Bacia do Rio Pirangi quanto

à salinidade e sadicidade. Representação por subárea conforme

as zonas de uso e ocupação do solo estabelecidas.

95

5.7

Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para uso

industrial quanto à concentração de sólidos totais dissolvidos

(mg/L).

96

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xvii

5.8 Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para uso

industrial quanto à concentração de nitrato (mg/L de N-NO3-).

97

5.9 Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para uso

industrial quanto à concentração de cloreto (mg/L). 97

5.10 Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para uso

industrial quanto à concentração de ferro (mg/L). 97

Art.2

Fig.1

Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi - Região

Metropolitana de Natal. 102

Art.2

Fig.2

Unidades litoestratigráficas e perfil geomorfológico da Bacia do

Rio Pirangi - Região Metropolitana de Natal. Adaptado de

ARAÚJO et al. (2006).

103

Art.2

Fig.3

Base de dados cartográficos utilizados na avaliação da

vulnerabilidade natural do SAB na Bacia do Rio Pirangi a partir

do método GOD. A - Grau de confinamento do aquífero

(Parâmetro G). B – Material da zona não saturada (Parâmetro

O). C - Profundidade ao lençol freático (Parâmetro D).

114

Art.2

Fig.4

Base de dados cartográficos utilizados na avaliação da

vulnerabilidade natural do SAB na Bacia do Rio Pirangi a partir

do método DRASTIC. A - Profundidade ao lençol freático

(Parâmetro D); B – Recarga pluviométrica (Parâmetro R), ANA

(2012); C – Material do aquífero (Parâmetro A); D – Tipos de

solo (Parâmetro S), IBGE; E – Declividade do terreno

(Parâmetro T), (UGSS); F – Material da zona não saturada

(Parâmetro I); G – Condutividade Hidráulica (Parâmetro C),

MELO et al. (2017).

115

116

Art.2

Fig.5

Base de dados cartográficos utilizados na avaliação da

vulnerabilidade natural do SAB na Bacia do Rio Pirangi a partir

do método IS. A - Profundidade ao lençol freático (Parâmetro

D); B – Recarga pluviométrica (Parâmetro R), ANA (2012); C –

Material do aquífero (Parâmetro A); D – Declividade do terreno

(Parâmetro T); E – Uso e ocupação do solo (Parâmetro US),

MELO et al. (2017).

117

118

Art.2 Avaliação de vulnerabilidade natural à contaminação do SAB na 119

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xviii

Fig.6 Bacia do Rio Pirangi pelo método GOD.

Art.2

Fig.7

Avaliação de vulnerabilidade natural à contaminação do SAB na

Bacia do Rio Pirangi pelo método DRASTIC. 121

Art.2

Fig.8

Figura 8 - Avaliação de vulnerabilidade natural à contaminação

do SAB na Bacia do Rio Pirangi pelo método IS. 122

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xix

LISTA DE TABELAS

Tab. Descrição Pág.

2.1

Variáveis climáticas da RMN. T – Temperatura; P –

Precipitação; V – Velocidade dos ventos; U – umidade relativa

do ar; I – Insolação. Fonte: Estação Climatológica da UFRN

(1996 - 2017).

28

2.2

Valores de precipitação anuais dos municípios que compõem a

Bacia do Rio Pirangi (RMN). Fonte: Monitoramento

Pluviométrico EMPARN, disponível em

<http://189.124.130.5:8181/monitoramento/monitoramento.php

>.

29

2.3

Balanço hídrico para a área de estudo envolvendo o período de

1987 – 2017. Valores de T e P obtidos através da estação

climatológica da UFRN. T – temperatura; P – precipitação; ETP

–Evapotranspiração potencial; ETR – Evapotranspiração real;

VRS – Variação Reserva útil no Solo; RU – Reserva Útil; D –

Déficit Hídrico; Exc – Excedente Hídrico; Esc – Escoamento

superficial.

32

2.4 Caracterização climática de acordo com o valor do índice

Global – Ig. Fonte: OMETTO, 1981. 34

2.5 Caracterização climática quanto a eficiência térmica ou

segundo a ETP. Fonte: OMETTO, 1981. 34

3.1

Exemplos de métodos de avaliação da vulnerabilidade do

aquífero e parâmetros de análise. Adaptado de CRISPIM,

2016.

54

Art.1

Tab.1

Avaliação estatística dos resultados das análises físico

químicas proveniente de 30 amostras, considerando as zonas

de uso e ocupação do solo.

76

Art.1

Tab.2 Matriz de correlação entre os parâmetros químicos. 78

5.1 Classificação das águas subterrâneas para uso agrícola

conforme a salinidade e a sadicidade. Adaptado de United 92

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xx

States Salinity Laboratory.

5.2

Classes de restrição ao uso das águas para fins agrícolas

conforme os níveis de sódio e cloreto. Adaptado de AYERS &

WETOCT, 1994.

94

5.3

Avaliação da qualidade das águas para fins industriais

diversos. Adaptado de MATHESS (1982), DRISCOLL (1986) e

SZIKSZAY (1993).

95

Art.2

Tab.1

Parâmetros e valores inerentes à avaliação da vulnerabilidade

de aquífero à contaminação pelo método GOD. Adaptado de

FOSTER et al. (2006).

106

Art.2

Tab.2

Classes de vulnerabilidade à contaminação de aquífero pelo

método GOD. Adaptado de FOSTER et al. (2006). 106

Art.2

Tab.3

Parâmetros e valores inerentes à avaliação da vulnerabilidade

de aquífero à contaminação pelo método DRASTIC. Adaptado

de ALLER et al. (1987).

107

Art.2

Tab.4

Classes de vulnerabilidade à contaminação de aquífero pelo

método DRASTIC. Adaptado de ALLER et al. (1987). 107

Art.2

Tab.5

Parâmetros e valores inerentes à avaliação da vulnerabilidade

de aquífero à contaminação pelo método IS. Adaptado de

FRANCÊS et al. (2001).

108

Art.2

Tab.6

Parâmetro US e valor inerentes à avaliação da vulnerabilidade

de aquífero à contaminação pelo método IS. Adaptado de

FRANCÊS et al. (2001).

109

Art.2

Tab.7

Classes de vulnerabilidade à contaminação de aquífero pelo

método IS. Adaptado de FRANCÊS et al. (2001). 110

Art.2

Tab. 8 Determinação do risco à contaminação de aquífero. 111

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20

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho, intitulado “Hidroquímica e vulnerabilidade do Sistema

Aquífero Barreiras na Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi/RN”, apresenta e discute os

fundamentos teóricos e resultados obtidos durante o desenvolvimento do curso de

mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica (PPGG)

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Esse estudo é vinculado

ao projeto da Rede FINEP/CNPq – CT – Hidro sob o título “Potencialidades e

definição de estratégias de manejo das águas subterrâneas da região de

Parnamirim/RN”.

1.1 Justificativa

O Sistema Aquífero Barreiras (SAB) na Região Metropolitana de Natal (RMN) é

notoriamente reconhecido pelo alto potencial hidrogeológico. DINIZ FILHO et al.

(2010) ressalta a importância desse aquífero como a principal fonte hídrica segura e

permanente para atendimento das demandas urbanas da RMN, com destaque para

a zona sul de Natal e a cidade de Parnamirim, cujas reservas tem garantido

extrações contínuas através de poços, ao longo dos últimos cinquenta anos, sem

que tenham ocorrido ameaças de exaustão das reservas. Na Bacia Hidrográfica do

Rio Pirangi (área de estudo), as águas do SAB são imprescindíveis para o

abastecimento das populações urbanas e rurais e desenvolvimento econômico da

região.

A cidade de Parnamirim, localizada no setor norte da Bacia Hidrográfica do Rio

Pirangi, contém população atual estimada em 261.469 habitantes (IBGE, 2019) e a

maior taxa de crescimento dentre os municípios da RMN: 7 mil pessoas para

moradia por ano (IBGE, 2015). Esse ‘boom’ populacional decorre de momento

econômico impulsionado pelo crescimento na indústria, comércio e serviços,

demandando ao poder público não só melhores e maiores serviços urbanos, como

também medidas de proteção para os recursos naturais com base nos preceitos do

desenvolvimento sustentável. A urbanização rápida e sem planejamento adequado

ocorreu e ocorre em várias regiões do planeta e afeta consideravelmente o meio

ambiente, sobretudo a qualidade dos recursos hídricos subterrâneos.

Além disso, a agropecuária desenvolvida no domínio oeste da Bacia Hidrográfica

do Rio Pirangi constitui outra ameaça aos recursos hídricos subterrâneos. Apesar de

ser de significativa importância para o abastecimento alimentício local, tal atividade

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21

vem ocorrendo a partir de sistemas de irrigação sem controle do uso de

agroquímicos. Essa prática pode comprometer a disponibilidade e a qualidade

hídrica dos mananciais subterrâneos.

Face ao exposto e da carência de estudos na região, que aborde tanto os

aspectos hidroquímicos e de qualidade das águas quanto os de vulnerabilidade do

aquífero à contaminação, é fundamental melhor investigação e avaliação das águas

subterrâneas do SAB. Esse estudo compõe ferramenta importante para definição de

estratégias de manejo sustentável na Bacia Hidrográfica do Rio Pirang por parte dos

órgãos ambientais competentes e/ou entidades não governamentais.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Este estudo tem como objetivo central avaliar hidroquimicamente as águas do

SAB na área da Bacia do Rio Pirangi, permitindo classificá-las de acordo com as

fácies hidroquímicas, avaliar o grau de contaminação das mesmas e orientar o uso

de acordo com a qualidade das águas. Além disso, pretende-se discutir aspectos da

vulnerabilidade natural e antrópica do SAB à contaminação.

1.2.2 Objetivos Específicos

I. Desenvolver o Balanço Hídrico e Avaliação climátológica da área de estudo;

II. Definir rede de monitoramento de poços;

III. Executar estudos hidroquímicos e de qualidade das águas;

IV. Relacionar a qualidade das águas quanto aos usos destinados;

V. Avaliar a contaminação das águas subterrâneas por nitrato na região;

VI. Avaliar a vulnerabilidade natural e antrópica do Sistema Aquífero Barreiras na

área de estudo a partir dos métodos GOD, DRASTIC e IS.

VII. Avaliar o perigo e risco à poluição do SAB com base nos setores de uso e

ocupação do solo e aspectos da vulnerabilidade natural.

1.3 Localização da área de estudo

A área de estudo está inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi, litoral

oriental do estado do Rio Grande no Norte, abrangendo os municípios de Natal,

Parnamirim, Macaíba, Nísia Floresta, São José de Mipibú e Vera Cruz, os quais,

com exceção do último, fazem parte da RMN (Figura 1.1).

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22

A Bacia hidrográfica do Rio Pirangi compreende superfície total de 436 km2,

contudo a área objeto deste trabalho abrange especificamente a região principal do

município de Parnamirim e arredores, com superfície total de 370 km2. Esta bacia é

constituída pelas sub-bacias dos rios Pitimbu, Taborda e Pium. As principais vias de

acesso à área de estudo são a BR-101, que a corta a área de norte a sul, e a BR-

304 que permite o acesso na direção leste-oeste.

1.4 Atividades Metodológicas

A pesquisa em questão se desenvolveu conforme as atividades metodológicas

relacionadas a seguir:

1.4.1 Pesquisa Bibliográfica

Foi realizada ampla pesquisa e análise de dados bibliográficos em âmbito local e

regional (artigos científicos, relatórios de pesquisa, dissertações, teses, normativas e

bases cartográficas) principalmente sobre dados climáticos, estudos geológicos,

Figura 1.1 – Localização da área de estudo.

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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23

higrogeológicos e hidroquímicos, uso e ocupação do solo e expansão urbana, usos e

qualidade das águas subterrâneas, contaminação das águas subterrâneas e

métodos de avaliação de vulnerabilidade de aquíferos.

1.4.2 Atividade de Pré-campo

A partir das informações obtidas na etapa anterior, foram elaborados mapas

iniciais para melhor orientação do trabalho de campo. No tocante à avaliação

hidroquímica, foram feitos mapas preliminares de localização com as vias de acesso,

isovalores de condutividade elétrica (CE), sólidos totais dissolvidos (STD) e do íon

nitrato (NO3-), considerando as diferentes zonas de uso e ocupação do solo

adotadas. Essa etapa permitiu a predefinição da rede de poços para as coletas de

água, considerando além dos parâmetros mencionados, a melhor distribuição

geográfica dos poços na área de estudo. Na presente etapa foram utilizados os

softwares ArcGis 10.5®, Corel Draw X7® e Google Earth Pro®.

1.4.3 Balanço hídrico e avaliação climatológica

O Balanço Hídrico foi realizado segundo o Método de THORNTHWAITE &

MATTER (1955). Os valores de temperatura e precipitação são médias do período

de 1987 a 2017 (série histórica), os quais foram obtidos através da Estação

Climatológica da UFRN/Departamento de Geografia. Os valores de

evapotranspiração potencial (ETP) foram calculados mês a mês pela Fórmula de

Turc, a qual é aplicada para regiões onde a umidade relativa do ar é superior a 50%.

A avaliação climática foi realizada com base no índice global e no índice de aridez

ou quanto a eficiência térmica (OMETTO, 1981).

1.4.4 Atividade de Campo

O trabalho de campo foi realizado com a finalidade de reconhecimento da área

de estudo, estabelecimento da rede de monitoramento dos poços, medição em

campo de parâmetros hidroquímicos (pH, CE, STD e temperatura) e coleta de

amostras para análise em laboratório (Figura 1.2). Esta etapa ocorreu nos dias 24,

25 e 30 de novembro de 2017, sendo cadastrados 30 poços tubulares. Em cada

poço, os parâmetros hidroquímicos listados anteriormente foram coletados utilizando

o condutivímetro TLC Solinst®. Antes da ida a campo, o equipamento foi

devidamente calibrado para tais parâmetros, proporcionando a confiabilidade dos

dados. De cada poço cadastrado foi coletado uma amostra de água para

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24

caracterização hidroquímica em laboratório dos parâmetros: pH, CE, STD e dos íons

sódio (Na+), potássio (K+), cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+), ferro (Fe2+), cloreto (Cl-),

bicarbonato (HCO3-), sulfato (SO4

2-) e nitrato (NO3-). Tanto para obtenção dos dados

in situ como para a coleta das amostras enviadas ao laboratório, deixou-se a torneira

(destinada à coleta) completamente aberta por, no mínimo, cinco minutos,

objetivando esgotar a água estagnada nas tubulações. Para obtenção dos dados em

campo, um copo descartável foi lavado duas a três vezes com a água proveniente

do poço e por fim, preenchido com a água. Antes de introduzir o eletrodo do

equipamento no copo, aquele foi lavado com água destilada. O eletrodo foi inserido

na amostra, ambientando-o. A água foi desprezada e finalmente, encheu-se mais

uma vez o copo com água e introduziu o eletrodo. Quando os valores exibidos pelo

equipamento se estabilizaram, os dados foram anotados. Esse procedimento foi

repetido em todos os poços. Para a coleta das amostras destinadas ao laboratório

foram utilizadas garrafas plásticas (com tampa rosqueável) limpas e secas com

capacidade aproximada de 1,5 L, fornecidas pelo laboratório. As garrafas foram

lavadas com a própria água a ser amostrada três vezes e preenchidas com o volume

desejável. Tomou-se o cuidado para não encostar a boca da garrafa na torneira

evitando contaminações. As garrafas foram devidamente fechadas e etiquetadas

(identificação). Após coletadas, as amostras foram adequadamente refrigeradas em

caixa térmica com gelo (temperatura aproximada de 10 °C) em curto prazo e em

seguida entregues ao laboratório. O laboratório responsável pelas análises químicas

foi o Aquanalous Laboratório.

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25

1.4.5 Tratamento dos dados, elaboração e interpretação de mapas

temáticos e diagramas hidroquímicos

Os dados obtidos durante a atividade de campo e os resultados laboratoriais

foram organizados em tabelas para melhor visualização das informações. Antes da

utilização dos dados para posterior interpretação foram realizados o balanço iônico e

o cálculo do erro cometido em análises químicas, garantindo a confiabilidade dos

dados. Trata-se da diferença percentual entre o somatório dos cátions e dos ânions,

Figura 1.2 – Representação de procedimentos de campo - análise de parâmetros físicos das

águas subterrâneas in loco e coleta de amostras.

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26

como tendo como base a equação proposta por LOGAN (1965) (Equação 1.1) a

seguir:

(𝐄%) = (𝐫 ∑ 𝐧 − 𝐫 ∑ 𝐩

𝐫 ∑ 𝐩 + 𝐫 ∑ 𝐧) ∗ 𝟏𝟎𝟎 (𝐄𝐪𝐮𝐚çã𝐨 𝟏. 𝟏)

Sendo,

rΣp = Concentração total dos cátions em miliequivalente por litro (meq/L)

rΣn = Concentração total dos ânions em miliequivalente por litro (meq/L)

Os valores inseridos são em mEq/L. SCHOELLER (1962) admite que o erro do

balanço iônico não pode ser superior a 5% para que a análise seja aceita como

correta. Feito o balanço iônico, foi efetuada a análise estatística simples (média,

mediana, mínimo, máximo e desvio padrão) dos resultados utilizando o software

Excel 10®. A matriz de correlação entre os parâmetros CE, STD, os cátions sódio

(Na+), potássio (K+), magnésio (Mg2+) e cálcio (Ca2+), e os ânions cloreto (Cl-),

sulfato (SO42-) e bicarbonato (HCO3

-) foi gerada a partir do software Aquachem

3.7®.Utilizando os softwares ArcGis 10.5® e Corel Draw X7®, foram elaborados os

mapas de isovalores de CE, STD, e do íon NO3-, empregando a técnica vizinho

natural como método de interpolação. A análise hidroquímica e a plotagem dos

resultados nos diagramas de Piper, Durov Expandido, Stiff foram feitas através dos

softwares Aquachem 3.7®, Qualigraf 1.17® e Corel Draw X7®.

1.4.6 Qualidade das águas subterrâneas quanto aos usos

A qualidade das águas subterrâneas do SAB foi avaliada para consumo

humano, fins agrícolas e uso industrial. Para consumo humano, foi observado se as

características químicas das águas analisadas atendiam ao estabelecido no Anexo

XX da Portaria de Consolidação N°05 do Ministério da Saúde (2017), o qual dispõe

sobre o controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu

padrão de potabilidade. Para fins agrícolas, utilizou-se a classificação United States

Salinity Laboratory (USSL) (FEITOSA & MANOEL FILHO, 2000), a qual se baseia

nos riscos potenciais relativos à salinização e sodificação de solos. Ainda para uso

agrícola, as águas foram avaliadas quanto à toxicidade aos íons sódio e cloreto.

Para uso industrial, a química das águas do SAB foi confrontada, a partir da análise

da concentração de sólidos totais dissolvidos e dos íons nitrato, cálcio, ferro, cloreto

e sulfato, aos parâmetros propostos por MATHESS (1982), DRISCOLL (1986) e

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27

SZIKSZAY (1993), os quais catalogaram valores máximos permitidos da

concentração de alguns íons para avaliar a qualidade das águas considerando

finalidades industriais diversas.

1.4.7 Aplicação dos métodos de avaliação de vulnerabilidades de

aquífero

A avaliação da vulnerabilidade proporciona a identificação e zoneamento das

áreas suspetíveis à contaminação com o objetivo de proteger tanto áreas onde a

atividade antrópica ainda é pouco expressiva e o potencial para exploração das

águas subterrâneas é elevado, como em áreas densamente povoadas e com

intensas atividades de risco (JUNIOR, 2008).

Desse modo, a análise de vulnerabilidade é uma importante ferramenta para a

gestão dos recursos hídricos subterrâneos. Os métodos de avaliação da

vulnerabilidade de aquíferos eleitos para execução na área de estudo são GOD

(FOSTER et al., 1988), DRASTIC (ALLER et al., 1987) e IS (FRANCÉS et al., 2001).

Nesses métodos, o índice de vulnerabilidade é obtido a partir da sobreposição de

parâmetros litológicos, hidrogeológicos e geoambientais, em que se atribui um valor

a cada parâmetro. A partir da análise e interpretação de 38 perfis litológicos de

poços tubulares distribuídos na área de estudo e de dados cartográficos de estudos

anteriores, foi realizado o mapeamento da profundidade ao lençol freático, grau de

confinamento do aquífero, litologia da zona não saturada, recarga pluviométrica,

material litológico do aquífero, tipo de solo, declividade, condutividade hidráulica e

uso e ocupação do solo. O cruzamento das informações em sistema SIG foi feita

através da ferramenta ‘álgebra de mapa’ do software ArcGis 10.1®.

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28

2. CONDICIONANTES AMBIENTAIS

2.1 Clima

Segundo a classificação de Köppen (KÖPPEN & GEIGER, 1928), o clima da

área de estudo é caracterizado como do tipo As’ – quente e úmido, tendo como

característica principal uma estação chuvosa e uma estação seca.

A Tabela 2.1, a seguir, mostra os valores físicos médios de temperatura do ar,

precipitação, velocidade do vento, umidade relativa do ar e insolação para a Região

Metropolitana de Natal (RMN), monitorados no período 1996 a 2017 pela estação

climatológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

A partir dos dados apresentados, é constatado que as maiores temperaturas são

registradas de janeiro a março enquanto as menores de junho a agosto.

Caracterizou-se ocorrência de período chuvoso de março a julho e de estiagem mais

rigorosa entre outubro e dezembro. A umidade relativa do ar é concordante aos

períodos chuvosos/secos, sendo maiores taxas registradas nos períodos chuvosos.

O grau de insolação é maior nos meses de novembro e dezembro e menores nos

T (°C) P (mm) V (m/s) U (%) I (W/m2)

JAN 27,33 86,86 4,21 79,80 257,74

FEV 27,59 96,24 4,18 80,40 232,54

MAR 27,53 195,94 3,71 80,70 246,29

ABR 27,05 211,60 3,58 82,55 226,12

MAI 26,58 225,14 3,77 83,05 237,71

JUN 25,48 375,26 3,85 84,75 199,80

JUL 24,91 259,39 4,15 84,20 221,95

AGO 25,16 139,99 4,68 81,85 249,24

SET 25,81 57,45 5,01 80,25 268,66

OUT 26,53 16,87 4,92 78,60 292,43

NOV 27,00 22,40 4,58 78,35 292,76

DEZ 27,31 29,63 4,42 78,85 288,40

Tabela 2.1 – Variáveis climáticas da RMN. T – Temperatura; P – Precipitação; V – Velocidade dos

ventos; U – umidade relativa do ar; I – Insolação. Fonte: Estação Climatológica da UFRN (1996 -

2017).

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29

meses de junho e julho. Os ventos mais fortes são característicos de agosto a

outubro, sendo abril a época dos mais fracos.

A partir de dados provenientes do monitoramento pluviométrico EMPARN (1992-

2018) (Tabela 2.2), foram avaliadas as precipitações anuais dos municípios que

compõem a Bacia do Rio Pirangi. É constatado aumento da precipitação

pluviométrica no sentido oeste-leste (Figura 2.1). No município de Vera Cruz (2002-

2018), localizado no extremo oeste da área de estudo, foram registrados os menores

valores de pluviometria, resultando em média anual de 844,8 mm. Nos municípios de

Macaíba (1992-2018) e São José de Mipibú (2000-2018), foram registrados,

comparativamente, valores intermediários do volume de chuvas, resultando em

médias pluviométricas anuais de 1187,1 mm e 1008,5 mm, respectivamente.

Enquanto isso, nos municípios localizados mais próximos à costa, nota-se regime

pluviométrico mais intenso. Em Natal (1992-2018), Nísia Floresta (1992-2018) e

Parnamirim (1994-2018), as médias pluviométricas anuais resultam em 1698,1 mm,

1480,8 mm e 1570,3 mm, respectivamente.

Macaíba Natal Nísia

Floresta

Parna-

mirim

São

José de

Mipibu

Vera

Cruz

Ano P (mm) P (mm) P (mm) P (mm) P (mm) P (mm)

1992 1412,6 1621,8 1392,6 - - -

1993 600,4 859,0 935,3 - - -

1994 1782,1 2184,3 2461,9 2291,6 - -

1995 1133,9 1757,9 1400,8 1610,8 - -

1996 1094,4 1587 1433,1 1717,3 - -

1997 1093,0 1187,3 1381,5 1194,3 - -

1998 1101,9 1641,2 1417,6 1455,1 - -

1999 685,7 1111,2 840,0 907,8 - -

2000 1739,5 2239,4 2034,0 2028,7 832,0 -

Tabela 2.2 – Valores de precipitação anuais dos municípios que compõem a Bacia do Rio Pirangi

(RMN). Fonte: Monitoramento Pluviométrico EMPARN, disponível em

<http://189.124.130.5:8181/monitoramento/monitoramento.php>.

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30

2001 766,2 1276,5 1070,0 1073,4 - -

2002 1433,0 2026,7 1733,0 1681,7 1413,3 1021,4

2003 1079,2 1523,6 1662,0 1397,4 1261,3 583,5

2004 1758,9 2446,1 2009,6 2028,5 1747,7 -

2005 1279,4 2026,7 1780,3 1964,5 1105,3 944,0

2006 788,1 1582,5 1444,6 1309,9 788,9 533,6

2007 1240,3 1754,4 1612,6 1697,4 1215,1 1022,1

2008 1649,5 2475,6 2087,7 2191,7 1458,2 1290,9

2009 1893,7 2340,5 2013,7 2077,7 1414,8 1249,3

2010 863,7 1192,4 910,6 937,8 740,0 492,4

2011 1289,2 2162,5 1978,5 1806,9 1356,2 1372,3

2012 790,8 1242,0 919,0 1009,5 557,5 465,3

2013 1455,6 1846,7 1814,0 1613,9 1088,1 1067,6

2014 1004,7 1753,8 1371,2 1379,4 843,2 972,5

2015 1127,9 1408,3 1138,6 1463,8 698,6 814,6

2016 903,8 1171,8 1039,0 1197,6 490,8 341,8

2017 901,3 1625,9 990,1 1509,7 274,6 696,2

2018 1183,1 1802,6 1111,3 1711,5 867,7 649,1

Média 1187,1 1698,1 1480,8 1570,3 1008,5 844,8

Figura 2.1 – Média das precipitações anuais dos municípios que compõem a Bacia do Rio Pirangi

(RMN). Fonte: Monitoramento Pluviométrico EMPARN, disponível em

<http://189.124.130.5:8181/monitoramento/monitoramento.php>.

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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31

2.2 Balanço Hídrico e Avaliação Climatológica

O balanço hídrico é uma ferramenta amplamente utilizada na classificação

climática de uma região e na avaliação preliminar da recarga de aquíferos. Para

elaboração do balanço hídrico e avaliação climatológica, foi aplicado o método de

THORNTHWAITE & MATHER (1955). Na prática, os cálculos realizados no

processo de elaboração do balanço hídrico consistem em avaliar as quantidades de

entrada (precipitação) e saída (evapotranspiração, infiltração e escoamento) de água

no solo, respeitando a sua capacidade de armazenamento. Admite-se que a

capacidade de armazenamento de água no solo é de 100 mm.

Os valores de temperatura (T) e precipitação (P) são médias do período de 1987

a 2017, os quais foram obtidos pela estação climatológica da UFRN. Os valores de

evapotranspiração potencial (ETP) foram obtidos mês a mês pela Fórmula de Turc, a

qual é aplicada para regiões onde a umidade relativa do ar é superior a 50%. A

Equação 2.1 é aplicada para todos os meses do ano com exceção de fevereiro, em

que é utilizada a Equação 2.2. A Tabela 2.3 mostra o balanço hídrico realizado para

a região em estudo e a Figura 2.2 o ilustra graficamente.

ETP = 0,4 ∗ (Ig + 50) ∗T

(T + 15) (Equação 2.1)

ETP = 0,37 ∗ (Ig + 50) ∗T

(T + 15) (Equação 2.2)

Em que:

ETP – Evapotranspiração Potencial (mm);

Ig – Indice Global de Radiação (cal/cm2/dia);

T – Temperatura do ar (°C).

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Mês T

(°C)

P

(mm)

ETP

(mm)

P-ETP

(mm)

VRS

(mm)

RU

(mm)

ETR

(mm)

D

(mm)

Exc

(mm)

Esc

(mm)

Jan 27,4 70,7 142,17 -71,49 0,00 0,00 70,70 71,47 0,00 2,34

Fev 27,6 91,8 137,35 -45,60 0,00 0,00 91,80 45,55 0,00 1,17

Mar 27,5 193,3 134,59 58,68 58,68 58,68 134,59 0,00 0,00 0,00

Abr 27,1 235,2 115,87 119,30 41,32 100,00 115,87 0,00 77,98 38,99

Mai 26,7 216,9 107,57 109,28 0,00 100,00 107,57 0,00 109,28 73,10

Jun 25,5 345,2 105,78 239,39 0,00 100,00 105,78 0,00 239,39 156,25

Jul 25,0 250,9 112,50 138,44 0,00 100,00 112,50 0,00 138,44 147,34

Ago 25,2 123,0 120,36 2,61 0,00 100,00 120,36 0,00 2,61 74,98

Set 25,9 63,3 139,32 -76,02 23,98 18,28 139,32 0,00 0,00 37,49

Out 26,6 21,9 153,46 -131,55 -18,28 0,00 40,19 113,27 0,00 18,74

Nov 27,2 24,7 154,69 -129,98 0,00 0,00 24,70 129,99 0,00 9,37

Dez 26,5 29,7 143,04 -113,32 0,00 0,00 29,60 113,44 0,00 4,69

Anual

1666,4 1566,69 99,75

1092,97 473,71 567,7

Tabela 2.3 - Balanço hídrico para a área de estudo envolvendo o período de 1987 – 2017. Valores de T e P

obtidos através da estação climatológica da UFRN. T – temperatura; P – precipitação; ETP –Evapotranspiração potencial; ETR – Evapotranspiração real; VRS – Variação Reserva útil no Solo; RU –

Reserva Útil; D – Déficit Hídrico; Exc – Excedente Hídrico; Esc – Escoamento superficial.

Figura 2.2 – Representação gráfica do balanço hídrico para a área de estudo para o período de 1987 a

2017. P – Precipitação; ETP – Evapotranspiração Potencial; ETR – Evapotranspiração Real.

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33

Nos dois primeiros meses do ano, o volume de precipitação é menor do que a

evapotranspitação potencial, acarretando em déficit hídrico. A partir de março a

diferença P-ETP passa a ser positiva e o solo armazena volume de 58,68 mm, ainda

não gerando excedente hídrico. De abril a agosto, o solo recebe água suficiente para

a saturação (100 mm) e o volume extra é tratado como excedente hídrico, gerando

ainda escoamento superficial. Contudo, a partir de setembro, os volumes de

evapotranspiração potencial voltam a superar o de precipitação, consumindo a

quantidade de água no solo e gerando décifit hídrico. Essa ultima situação perdura

até o final do ano hidrológico.

Os resultados obtidos, representativos para a área de estudo, revelam os

valores anuais de precipitação pluviométrica anual igual a 1666,43 mm, de

evapotranspiração real igual a 1092,97 mm, de excedente hídrico igual a 567,70 mm

e déficit hídrico igual a 473,71 m. O valor percentual do volume infiltrado pode ser

obtido através da razão entre o excedente hídrico anual e precipitação pluviométrica

anual, constatado percentual de 34,07% de água infiltrada (recarga natural).

Após realização do balanço hídrico, é possível avaliar o tipo climático com base

no índice de aridez e quanto à eficiência térmica (OMETTO, 1981). Considerando o

índice de aridez (Equação 2.3; Tabela 2.4), o clima foi caracterizado como úmido.

Tendo em vista a eficiência térmica, o clima foi categorizado como megatérmico

(Tabela 2.5).

Ig =S − 0,6 ∗ D

ETP∗ 100 (Equação 2.3)

Em que:

Ig – Índice Global;

S – Excedente hídrico (mm);

D – Déficit hídrico (mm);

ETP – Evapotransporação potencial.

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2.3 Hidrografia

A Bacia hidrográfica do Rio Pirangi é drenada pelos rios Pitimbu, Taborda e

Pium (Figura 2.3) e está localizada na região nos vales úmidos. A denominação

“vales úmidos” refere-se à característica perene dos rios e lagoas que ocorrem na

área e ao elevado regime pluviométrico local.

Além dos rios principais, a bacia hidrográfica é composta pelos riachos Mendes,

Água Vermelha e Lamarão, afluentes do Rio Pirangi e pelas lagoas do Jiquí e do

Pium. O padrão de drenagem tem formato grosseiramente dendrítico, com trechos

que indicam angularidade dos canais em vários segmentos, denotando controle

estrutural. LUCENA et al. (2004) afirmam ampla relação entre os mananciais

superficiais e subterrâneos, sendo o SAB nitidamente de regime influente nos canais

fluviais e lagoas.

Ig Tipo de Clima

>100 Muito úmido

20 a 100 Úmido

0 a 20 Sub-umido/úmido

-20 a 0 Sub-umido/seco

-40 a -20 Semi-árido

-60 a -40 Árido

< -60 Hiper árido

ETP Tipo de Clima

>1140 Megatérmico

570 a 1140 Mesotérmico

142 a 570 Microtérmico

<142 Gelo

Tabela 2.4 – Caracterização climática de acordo com o valor do índice Global – Ig. Fonte:

OMETTO, 1981.

Tabela 2.5 – Caracterização climática quanto a eficiência térmica ou segundo a ETP. Fonte:

OMETTO, 1981.

1.

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2.4 Geologia

A RMN é constituída geologicamente da base para o topo pelo embasamento

cristalino pré-cambriano seguido de rochas sedimentares cretáceas da Bacia

PE/PB/RN e por depósitos terrígenos miocênicos a pliocênicos da Formação

Barreiras (BARRETO et al., 2004; ANGELIM et al., 2006) (Figuras 2.4 e 2.5). Essas

unidades estão recobertas pelos depósitos marinhos, praiais, eólicos e aluviais que

foram sedimentados durante o Quaternário.

O embasamento cristalino é constituído pelas rochas pré-cambrianas

metamórficas e intrusivas, como granitos, granodioritos, migmatitos e gnaisses,

representativas do Complexo Caicó. A sequência sedimentar Cretácea repousa em

não-conformidade sobre o embasamento Pré-Cambriano (VITAL et al., 2006).

A sequência Sedimentar Cretácea é representada simplificadamente por duas

unidades: na base, ocorrem rochas carbonáticas constituídas de arenitos calcíferos,

finos a médios, claros, com intercalações de argilas e no topo, calcários com

intercalações areníticas (LUCENA et al., 2006).

Figura 2.3 – Malha hidrográfica da Bacia do Rio Pirangi (RMN).

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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A Formação Barreiras constitui a unidade geológica de ocorrência mais

expressiva do litoral brasileiro, aflorando desde o Estado do Rio de Janeiro até o

Amapá. De idade Tercio-Quaternária, constitui-se na cobertura cenozoica da Bacia

costeira PE/PB/RN (BIZZI et al., 2003; CÓRDOBA et al., 2007). A Formação

Barreiras caracteriza-se pela presença de arenitos de granulometria fina a grossa,

Figura 2.4 - Unidades litoestratigráficas e perfil geomorfológico da Bacia do Rio Pirangi - RMN.

Adaptado de ARAÚJO et al (2006).

Figura 2.5 – Coluna estratigráfica da RMN.

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com intercalações de siltitos e argilitos, em estratos praticamente horizontais, com

espessuras variadas. São geralmente pouco consolidados com coloração

predominantemente creme amarelada a avermelhada. Durante sua formação, as

condições deposicionais devem ter variado amplamente, o que é demonstrado pela

variação faciológica lateral e vertical no conjunto litológico (ANGELIM et al., 2006).

Os depósitos da Formação Barreiras apresentam, de forma geral, um aumento de

espessura de oeste para leste, em direção à linha de costa, refletindo a estruturação

da bacia em que se encontram depositados (SERHID, 1998). Na Bacia do Rio

Pirangi, a Formação Barreiras é a unidade geológica aflorante de maior

expressividade, ocorrendo predominantemente nos setores oeste e central da bacia

(Figura 2.6).

Os depósitos Quaternários, também nomeados genericamente de sedimentos

recentes, afloram ao longo do litoral do Rio Grande do Norte, repousando

discordantemente sobre os litótipos da Formação Barreiras. Na Bacia do Rio Pirangi,

a sedimentação quaternária é representada pelos depósitos aluvionares, eólicos e

colúvio-eluviais (Figura 2.6).

Os depósitos eólicos litorâneos de paleodunas são caracterizados por areias

bem selecionadas, geralmente quartzosas com granulometria variando de fina a

média, que se acumulam ao longo da faixa costeira pela ação dos ventos. Os grãos

de areia são subangulosos a arredondados, podendo apresentar-se foscos ou

polidos. Ocorrem mais frequentemente com coloração esbranquiçada, com

tonalidades acinzentadas, amareladas e avermelhadas. As areias das dunas provêm

das praias, das planícies costeiras ou aluviais expostas e das formações

continentais da Formação Barreiras e a seleção do material é observada mais nas

dunas recentes que nas dunas mais antigas (paleodunas) (ANGELIM et al., 2006).

Na área de estudo, os sedimentos eólicos de paleodunas tem ocorrência pouco

expressivos, predominando no domínio sudeste. Os depósitos aluvionares

apresentam granulometria e composição variada, com pobre selecionamento. Na

área de estudo, esses depósitos são encontrados margeando os rios que drenam a

região, principalmente nos cursos dos rios Pitimbu e Taborda. Os sedimentos

colúvio-eluviais, também denominados de coberturas arenosas, caracterizam-se

pela granulometria arenosa a areno-argilosa, de cor esbranquiçada a avermelhada,

por vezes constituindo depósitos conglomeráticos com seixos de quartzo, localmente

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de natureza polimítica, proveniente do retrabalhamento de sedimentos da Formação

Barreiras (ANGELIM et al., 2006).

2.5 Contexto tectonoestrutural

A compartimentação estrutural da RMN está fortemente condicionada à

evolução das bacias de margem passiva da costa leste do litoral brasileiro, a partir

do Mesozóico, responsável pela formação de estruturas rúpteis no embasamento e

sequências sedimentares contemporâneas aos distintos episódios tectônicos,

estando os principais condicionantes tectonoestruturais associados à evolução das

bacias de PE/PB/RN e Potiguar (ANA, 2012).

CÓRDOBA et al. (2007) identifica três eventos deformacionais diferentes. O

primeiro evento, no estágio rifte, consistiu em uma deformação distensional na

direção NW-SE, gerando falhas normais de direção NE, as quais afetam o

Figura 2.6 - Mapa Geológico da área de estudo. Adaptado de ANA (2012) e ALVES (2015).

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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embasamento cristalino e sedimentos mais antigos. O segundo evento ocorreu no

estágio pós-rifte, apresentando também caráter distensional e distinguindo as

unidades mais novas com falhas de direção NE-ENE na sub-bacia Paraíba. Entre

Recife e Natal, ocorrem estruturas de grabens com distensão NE-ENE, cujas falhas

afetam tanto as unidades do Cretáceo Superior, como o próprio embasamento

cristalino. Reativações deste regime chegam a afetar inclusive a Formação

Barreiras, no Terciário. O terceiro e último evento deformacional envolveu distensão

longitudinal às bacias, na direção N-S a NNE, resultando em falhas normais E-W a

ENE ou oblíquas NE a NW, o que pode ser relacionado ao campo de tensões em

escala continental que afeta a Placa Sul-Americana desde o Cretáceo Superior.

Dois outros eventos posteriores na sub-bacia Paraíba indicam ainda que na

costa leste do Rio Grande do Norte ocorreram dois eventos tectônicos distintos

durante o Cenozóico, com reativações de falhas, através de movimentos

transcorrentes, resultando na compartimentação tectônica controlada

predominantemente por falhas com direções NW-SE e NE-SW exercendo controle

fundamental na deposição dos sedimentos, através da geração de espaço para sua

acomodação (BEZERRA et al. 2001; NOGUEIRA et al. 2006).

As falhas de direção NW-SE predominam na RMN e são

responsáveis pela estruturação em grabens e horsts dos blocos falhados, com

abatimento geral dos blocos de oeste para leste. As principais estruturas

associadas aos falhamentos NW-SE são os grabens do rio Trairi, de Natal e de

Parnamirim, os altos de Ceará-Mirim, e os falhamentos que afetam o complexo

lagunar do Bonfim, evidenciado principalmente pela geometria das lagoas que o

compõe. A Lagoa do Pium está disposta na direção preferencial SW- NE. Já a

Lagoa do Jiqui segue na direção NW-SE (assim como o Rio Pitimbu). Logo, a

compartimentação estrutural se reflete na morfologia da RMN, com a presença de

terrenos aplainados dos tabuleiros costeiros e seus vales fluviais encaixados, o

aspecto poligonal dos campos dunares e a disposição das principais drenagens

segundo direções preferenciais, representando algumas das assinaturas da

tectônica da área (LUCENA, 2005).

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2.6 O Sistema Aquífero Barreiras

O SAB é a unidade aquífera que se destaca na RMN devido a elevada

potencialidade hídrica, facilidade de captação de suas águas e excelente qualidade

das mesmas em sua condição natural (MELO et al., 2009; ANA, 2012).

Constituído pelos estratos areno-argilosos da Formação Barreiras, o SAB

apresenta geometria tabular e camadas praticamente horizontalizadas de

espessuras variadas. Na porção inferior é constituído predominantemente por

arenitos de textura variada, apresentando níveis finos a grossos, algumas vezes com

cascalhos e seixos. As intercalações argilosas ocorrem com frequência, reduzindo

as potencialidades hidrogeológicas e aumentando a complexidade do sistema. A

parte superior é marcada por níveis mais argilosos e heterogêneos que podem

produzir semiconfinamentos localizados, embora se admita atualmente que o caráter

de aquífero livre seja dominante, principalmente em escala regional (SERHID, 1998)

(Figura 2.7).

Os sedimentos eólicos, os quais capeiam as rochas da Formação Barreiras,

contribuem fortemente para a recarga do SAB devido a elevada porosidade efetiva e

elevada condutividade hidráulica, configurando o padrão regional de ocorrência de

um sistema hidráulico único (MELO, 1995).

Na Bacia do Rio Pirangi, a espessura do SAB varia de 29 m a 95 m de

profundidade, com média de 57,7 m, e a espessura saturada (desconsiderando os

níveis argilosos) varia de 15,47 a 56,5 m, com média de 32,45 m (ALVES, 2015). A

compartimentação estrutural do terreno exerce marcante influência sobre as

espessuras saturadas do SAB e suas potencialidades, o que se reflete na

produtividade dos poços, visto que as maiores vazões explotáveis correspondem às

maiores espessuras saturadas (BEZERRA et al., 1993; LUCENA et al., 2006).

Em relação aos parâmetros hidrodinâmicos de transmissividade e condutividade

hidráulica, constata-se respectivamente valores de 5,9 x 10-3

m2/s e 2,82 x 10

-4 m/s,

além de porosidade específica de 15% (ALVES, 2015). Quanto ao fluxo

subterrâneo, regionalmente as águas do SAB seguem o padrão geral de aquíferos

livres e costeiros, com linhas de fluxo em direção as principais drenagens e em

direção ao mar, que se constitui no seu principal exutório natural.

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Estima-se que por ano seja captado do SAB na área da Bacia do Rio Pirangi,

dentre poços públicos e particulares, 33,5 x 106 m3/ano. Em relação ao uso, as

águas do SAB, captadas na Bacia do Rio Pirangi, são destinadas

predominantemente para consumo humano, embora uma parcela seja para uso

doméstico, animal, irrigação e industrial. Essas águas são caracterizadas, de modo

geral, como naturalmente de boa qualidade, com sólidos totais dissolvidos

geralmente inferiores a 150 mg/L (MELO et al., 2009).

2.7 Uso e ocupação do solo

O estudo de uso e ocupação do solo é uma ferramenta de planejamento urbano

que dentre outras finalidades visa organizar o território conforme as atividades e

preservar o meio ambiente e a qualidade de vida urbana e rural. Esse estudo é

importante na preservação dos recursos hídricos especialmente por identificar fontes

Figura 2.7 - Seções hidrogeológicas do Sistema Aquífero Barreiras na Bacia do Rio Pirangi.

MELO et al, 2014.

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42

ou potenciais fontes de alterações do ambiente, permitindo o crescimento das

cidades com fundamento no desenvolvimento sustentável.

A análise de uso e ocupação do solo da Bacia do Rio Pirangi, realizada por

MELO et al. (2017), identificou cinco zonas com diferentes características ambientais

(Figura 2.8). A zona de ecossistema de lagos e dunas, localizada no setor leste da

bacia, se caracteriza pelos recursos naturais bem preservados e pouca intervenção

antrópica. O domínio norte da bacia, onde se localiza o centro urbano do município

de Parnamirim, se caracteriza pela urbanização consolidada. O processo de

urbanização vem se estendendo para o setor central da bacia, bordejando o limite

oeste da zona urbana consolidada e compondo a zona de expansão urbana. A zona

de expansão urbana é caracterizada por loteamentos e conjuntos habitacionais. No

setor sudoeste, predominam o desenvolvimento de atividades agropecuárias, com

destaque para o cultivo de lavouras anuais como feijão, batata, macaxeira, cana-de-

açúcar, dentre outras. Nessa área, constatou-se o uso de fertilizantes e pesticidas.

Por fim, identificou-se uma zona de vegetação antropizada no domínio noroeste da

bacia, que possivelmente se tornará, com o passar dos anos, também uma potencial

área de cultivo de lavoura.

O presente trabalho se norteia pelo estudo de uso e ocupação desenvolvido por

MELO et al. (2017) e descrito anteriormente. Entretanto, para análise hidroquímica e

qualidade das águas subterrâneas do SAB, foi preferível aplicar o zoneamento da

Bacia do Rio Pirangi de modo simplificado, compartimentando a área da bacia em

três setores principais (Figura 2.9): subárea A (29,72%), localizada no setor norte e

central da bacia e caracterizada pela urbanização da cidade de Parnamirim e por

áreas de expansão urbana (loteamentos habitacionais) que bordejam o limite oeste;

subárea B (19,75%), situada a sudeste da área de estudo, caracterizada pelo

ecossistema de lagos e dunas, com características naturais bem preservadas;

subárea C (50,53%), situada no setor oeste, caracterizada pela atividade

agropecuária.

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Figura 2.8 – Zoneamento de uso e ocupação do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi/RN. MELO et al,

2017.

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Figura 2.9 – Zoneamento de uso de ocupação do solo da Bacia do Rio Pirangi com fotos representando os diferentes contextos ambientais. Adaptado

de MELO et al, 2017. Fotos: Street View Google.

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3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Importância das águas subterrâneas e impactos ambientais

potenciais na Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi

A água é um recurso natural imprescindível à vida. Estima-se que um

bilhão de pessoas carece de acesso a um abastecimento de água suficiente e

que dois terços da população mundial atualmente vive em áreas que passam

pela escassez de água por, pelo menos, um mês ao ano (ONU, 2017). Nesse

contexto, o uso de água subterrânea se revela como um recurso estratégico e

vital para o abastecimento econômico e seguro de água potável nos meios

urbano e rural. A captação anual estimada de água subterrânea no mundo, a

partir de 2010, supera os 1.000.000 Mm3, o que a coloca na posição de

substância com maior nível de extração no subsolo, tendo papel fundamental

no abastecimento doméstico, irrigação e indústria de diversos países

(INSTITUTO TRATA BRASIL, 2018).

ANA (2010) elenca as principais vantagens do uso de águas subterrâneas:

Possuem excelente qualidade natural, sendo geralmente potável,

permitindo seu uso direto com pouco ou nenhum tratamento na maioria das

captações;

O aquífero tem uma grande capacidade de armazenamento de água,

tornando as vazões dos poços estáveis, mesmo após longos períodos de

estiagem;

Desde que respeitados os cuidados e a legislação sobre o tema, os

poços podem ser perfurados em quase toda parte, propiciando o

abastecimento sem a necessidade de longas linhas de adução;

A construção de captações pode ser escalonada no tempo, visto que à

medida que a demanda por água aumenta, é possível perfurar mais poços,

evitando-se grandes investimentos iniciais;

O poço é uma obra simples e rápida e há várias empresas perfuradoras

detentoras de tecnologias modernas e adequadas;

Os poços apresentam baixo custo de operação e manutenção, podendo

funcionar de forma autônoma, sem a necessidade de atenção contínua de um

técnico.

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Logo, a demanda pela perfuração de poços tubulares é crescente em todo

o país, tornando viável a operação inclusive de negócios e empreendimentos

distantes de rios ou da rede pública de água. Somente entre os anos de 2010 e

2015, houve um aumento de 900% nas concessões de outorgas no país.

Neste contexto, a Região Metropolitana de Natal (RMN), que compreende

catorze municípios e população residente de 1.587.055 habitantes (IBGE,

2018), conta com o abastecimento hídrico a partir de águas superficiais e

subterrâneas. De acordo com ANA (2010), o abastecimento da capital é feito

pelas Lagoas de Extremoz e Jiquí, complementado por uma bateria de poços.

Já os demais municípios da Região Metropolitana são abastecidos

exclusivamente por sistemas isolados, cujas captações são em mananciais

subterrâneos.

Na Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi, o uso de águas subterrâneas tem

sido, nas ultimas décadas, fundamental para o abastecimento hídrico,

possibilitando o desenvolvimento urbano, com destaque para a cidade de

Parnamirim, além de crescimento das atividades agrícolas e industriais. As

águas subterrâneas captadas na Bacia do Rio Pirangi são destinadas

principalmente para o uso doméstico (58%), embora sejam também utilizadas

nas atividades agrícolas (10%) e industriais (10%) (Figura 3.1) (ALVES, 2015).

Uso Doméstico 58%

Irrigação 10%

Uso Indústrial 10%

Uso Misto 20%

Dessedentação de animais

2%

Figura 3.1 – Usos das águas subterrâneas captadas no SAB na Bacia do Rio Pirangi.

Adaptado de ALVES, 2015.

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Apesar da importância dos mananciais subterrâneos, o desenvolvimento

urbano e rural sem o planejamento ambiental adequado tem afetando a

qualidade das águas subterrâneas na RMN, principalmente devido à

contaminação das mesmas por nitrato, conforme já discutido por diversos

autores como MELO (1995), CARVALHO JUNIOR (2001), STEIN et al. (2012),

ANA (2012), dentre outros. Nesses estudos, sugere-se que a disposição

irregular dos efluentes domésticos seja a principal causa de contaminação,

embora também sejam mencionadas práticas agrícolas inapropriadas.

Na cidade de Parnamirim, localizada no setor norte da Bacia do Rio Pirangi

e caracterizada como o principal núcleo urbano desta, é frequente o uso de

sistemas de esgotamento sanitário individuais e majoritariamente baseado na

infiltração de efluentes no solo (fossas negras escavadas até o nível freático,

fossas sépticas e sumidouros), pois menos de 10% da população conta com

saneamento básico (FIGUEREDO & FERREIRA, 2017). Tais efluentes são

quimicamente ricos em substâncias orgânicas nitrogenadas, as quais, a partir

da degradação microbiana, são convertidas em nitrato.

Além disso, a agropecuária desenvolvida na porção oeste da área de

estudo, constitui outra ameaça aos mananciais subterrâneos. Apesar da

importância para o abastecimento alimentício local, essa atividade vem

ocorrendo a partir de sistemas de irrigação sem controle do uso de fertilizantes

e/ou pesticidas, podendo comprometer a disponibilidade e qualidade hídrica

subterrânea. O uso de fertilizantes agrícolas, criação de animais e os sistemas

de saneamento in situ, quer por tanques sépticos ou fossas rudimentares,

constituem importante fonte de nitrato nas águas subterrâneas (VARNIER &

HIRATA, 2002).

Devido à sua alta solubilidade em água, o íon nitrato é, possivelmente, o

contaminante mais difundido na água subterrânea do mundo resultando numa

séria ameaça para o abastecimento de água potável. Segundo BAIRD & CANN

(2011), o nitrato é o contaminante inorgânico de maior preocupação em águas

subterrâneas, sendo sua origem atribuída a quatro principais fontes: aplicação

de fertilizantes com nitrogênio, bem como inorgânicos e de esterco animal, em

plantações; cultivo do solo; esgoto humano depositado em sistemas sépticos e

deposição atmosférica. Esses autores ainda ressaltam que o excesso do íon

nitrato em água potável é preocupante por causar em recém-nascidos a

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síndrome do bebê azul e em adultos, pode ser responsável por causar câncer

de estômago, e aumentar a probabilidade de câncer de mama em mulheres.

3.2 Parâmetros de qualidade de água

O conhecimento das propriedades físicas e químicas de átomos e

moléculas, e de suas interações, permite responder a questões como quais

espécies químicas e em que níveis elas podem ser adversos aos ecossistemas

e à saúde humana (PARRON et al, 2011).

A capacidade solvente da água, sendo essa definida constantemente como

solvente universal, confere a esse fluido a capacidade de incorporar diversas

substâncias orgânicas e inorgânicas e transportá-las ao longo do ciclo

hidrológico, obtendo contato com diversos ambientes e modificando suas

propriedades físicas, químicas e biológicas. No caso das águas subterrâneas, a

baixa velocidade do fluxo, maiores pressões e temperaturas favorecem a

dissolução de substâncias, aumentando a concentração de sais. Os processos

e fatores que influem na evolução da qualidade das águas subterrâneas podem

ser intrínsecos e extrínsecos ao aquífero (FEITOSA & MANOEL FILHO, 2000).

A princípio, a água subterrânea tende a aumentar concentrações de

substâncias dissolvidas à medida que percola os diferentes aquíferos. No

entanto, muitos outros fatores interferem, tais como: clima, composição da

água de recarga, tempo de contato água/meio físico, etc., além da

contaminação causada pelo homem (uso e ocupação do solo) ou ainda de

fenômenos como a intrusão salina. Identificar as características físicas,

químicas e biológicas das águas é fundamental para o estudo de determinação

da qualidade das águas e da sua adequabilidade em função dos seus

possíveis usos.

A seguir, serão discutidos os principais parâmetros físico-químicos de

avaliação das águas subterrâneas baseado fundamentalmente em CUSTODIO

E LLAMAS (1983), FEITOSA & MANOEL FILHO (2000) e PARRON et al

(2011).

3.2.1 Condutividade Elétrica (CE)

Representa a facilidade da água em conduzir a corrente elétrica, estando

diretamente ligada com o teor de sais dissolvidos sob a forma de íons. A CE é

um parâmetro que pode mostrar as modificações na composição dos corpos

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d’água, mas não especifica quantidades e componentes (BOESCH, 2002).

Entretanto, devido o alto grau de correlação com a quantidade de sólidos totais

dissolvidos (STD) e a facilidade de medição, a CE é muito utilizada em estudos

preliminares, sendo um parâmetro fundamental no controle da qualidade da

água. A condutividade elétrica da água pode ser medida tanto em in loco como

em laboratório. A unidade de medida da CE é µS/cm e a temperatura da água

amostrada deve ser sempre considerada, pois a CE aumenta com a elevação

da temperatura.

3.2.2 Sólidos Totais Dissolvidos (STD)

Representa o peso total dos constituintes minerais presentes na água, por

unidade de volume, ou seja, a concentração de todo material dissolvido na

água (volátil ou não), sendo em conjunto com a condutividade elétrica,

parâmetros de referência na salinização das águas subterrâneas. Nas águas

subterrâneas pode-se correlacionar o valor de sólidos totais dissolvidos com a

condutividade elétrica a partir de um fator que varia entre 0,55 e 0,75.

3.2.3 pH

Trata-se da medida da concentração hidrogeniônica da água ou solução,

sendo importante no controle de reações químicas e equilíbrio dos íons

presentes. O valor do pH varia de 1 a 14, sendo essencialmente função do gás

carbônico dissolvidos e da alcalinidade da água. Deve ser medido no local de

coleta com phgametro portátil. De modo geral, o pH das águas subterrâneas

variam entre 5,5 e 8,5.

3.2.4 Constituintes iônicos principais

Sódio – O sódio possui solubilidade elevada em água e

dificuldade precipitação, sendo sua origem, de modo geral, atribuída à

interação da água com minerais fontes (feldspatos plagioclásios, feldspatóides,

anfibólios e piroxênios) durante a recarga ou ao longo do fluxo subterrâneo.

Devido à ampla distribuição dos minerais fontes e a baixa estabilidade química

dos mesmos, o sódio é um dos metais de maior ocorrência nas águas

subterrâneas. A concentração elevada de sódio na água concede sabor

salgado. Quanto aos usos, teores elevados de sódio na água destinada à

consumo humano pode aumentar a pressão sanguínea gerando doenças

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cardiovasculares e na agricultura pode reduzir a permeabilidade do solo,

alterando a produtividade das culturas. As mais altas concentrações de sódio

ocorrem em associação com íons Cl-.

Potássio – O potássio ocorre, nas águas subterrâneas,

associado ao sódio, contudo, devido intensa participação em processos de

troca iônica e facilidade de ser adsorvido pelos minerais de argila, a

concentração de potássio nas águas subterrâneas é pequena ou inexistente.

Sua origem, de modo geral, é atribuída à interação da água com minerais

fontes (feldspatos potássicos, micas, leucitas, carnalita e silvinita), durante a

recarga ou ao longo do fluxo subterrâneo, além da percolação de fertilizantes

usados na agricultura. O potássio regula os batimentos cardíacos, controla os

impulsos nervosos e as contrações musculares. A carência desse íon pode

causar fadiga, baixa de açúcar no sangue e insônia, enquanto que o excesso

pode causar câimbra, fadiga, paralisia muscular e diarreia. Na agricultura, o

potássio é importante no desenvolvimento vegetal, sendo comum o uso de

fertilizantes ricos em potássio.

Cálcio – De modo geral, o cálcio é um dos elementos mais

abundantes nas águas subterrâneas, ocorrendo como bicarbonato e raramente

como carbonato. Sua origem, de modo geral, é atribuída à interação da água

com minerais fontes (calcita, aragonita, dolomita, plagioclásio e apatita) durante

a recarga ou ao longo do fluxo subterrâneo. Possui solubilidade moderada a

alta, conforme o teor de gás carbônico dissolvido na água. Apresenta

importância na nutrição vegetal e é imprescindível para os seres vivos, visto

que é componente essencial de ossos, conchas e da estrutura de plantas. A

carência de cálcio pode resultar em raquitismo e osteoporose, enquanto que

seu excesso, dores musculares, fraqueza, desidratação, enjoo e pedras nos

rins.

Magnésio – O magnésio apresenta propriedades similares ao

cálcio, embora seja mais solúvel em água. Sua origem, de modo geral, é

atribuída à interação da água com minerais fontes (magnesita, biotita,

hornblenda, clorita, granada, alanita e olivina) durante a recarga ou ao longo

do fluxo subterrâneo. O magnésio e o cálcio são os elementos responsáveis

pela dureza da água e por fornecer gosto salobro às águas. A deficiência de

magnésio causa nervosismo e tremores, enquanto que seu excesso atribui

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sabor amargo e promove efeito laxante. Sua presença é importante na

agricultura, pois é um dos principais constituintes da clorofila.

Ferro – Nas águas, o ferro ocorre sob diversas formas

químicas, sendo geralmente analisado em termos de ferro total. No estado

ferroso (Fe2+) forma compostos solúveis, principalmente hidróxidos. Contudo

em ambientes oxidantes, o Fe2+ é convertido em Fe3+, formando o hidróxido

férrico, que é insolúvel e se precipita, tingindo fortemente a água. Além da

coloração amarelada, a presença de ferro na água acarreta sabor amargo e

adstringente. Sua origem, de modo geral, é atribuída à interação da água com

minerais fontes (piroxênios, anfibólios e biotitas) durante a recarga ou ao longo

do fluxo subterrâneo. O alto teor de ferro na água subterrânea pode estar

ligado à ocorrência de ferrobactérias ou mesmo a corrosão de revestimentos

ou filtros de poços. A carência desse elemento pode causar anemia e seu

excesso pode aumentar a incidência de problemas cardíacos e diabetes.

Cloreto – De modo geral, o cloreto é muito solúvel e estável

em solução, não oxidando ou reduzindo e ocorrendo frequentemente associado

ao íon sódio. A origem do cloreto nas águas pode refletir a dissolução de

minerais, intrusão de água do mar ou a mistura, recente ou remota, com águas

residuárias de origem doméstica, industrial e/ou de irrigação (BRAGA et al.,

2005), visto que é um bom indicador de poluição para aterros sanitários e

lixões. Altas concentrações de cloreto são tóxicas para a maioria dos vegetais,

alterando seu desenvolvimento. Para consumo humano, seu excesso altera o

sabor e confere efeito laxante.

Sulfato – Geralmente, o sulfato é solúvel a muito solúvel em

água. A presença de sulfato nas águas está relacionada à oxidação de sulfetos

nas rochas e à lixiviação de compostos sulfatados, como gipsita e anidrita.

Pode provir também das substâncias orgânicas do solo. As águas com excesso

de sulfato podem causar efeitos laxantes e na presença de íons de magnésio e

sódio podem provocar distúrbios gastrointestinais. O sulfato ferroso é de alta

periculosidade se consumido na forma pura. Na atividade agrícola, o sulfato

aumenta a salinidade dos solos.

Bicarbonato – O bicarbonato não oxida e nem reduz em

águas naturais, porém precipita facilmente como bicarbonato de cálcio. É

originado a partir da dissolução de calcários e dolomitas e da hidrólise de

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silicatos, em presença de CO2. É benéfico aos vegetais, principalmente na

forma de bicarbonato de cálcio.

Nitrato – O nitrato apresenta alta solubilidade em água e

representa o estágio final da oxidação da matéria orgânica, sendo indicador de

contaminação das águas subterrâneas por atividades antrópicas como esgotos,

fossas sépticas, depósitos de lixo, cemitérios, adubos nitrogenados e resíduos

de animais, etc. Os resíduos provenientes do esgotamento sanitário são ricos

em nitrogênio e se decompõem a nitrato com a participação de bactérias

especializadas, considerando o ciclo no nitrogênio (nitrogênio orgânico,

amônia, nitrito e nitrato). O excesso de nitrato em água é considerado um risco

para a saúde humana, visto que pode provocar intoxicações,

metahemoglobinemia e câncer gástrico. Na agricultura, o nitrato se mostra

como um composto favorável ao desenvolvimento das plantas.

3.3 Vulnerabilidade à contaminação das águas subterrâneas

Tendo em vista que as águas subterrâneas constituem fonte importante de

água potável e que sua proteção é imprescindível para o abastecimento hídrico

seguro, o estudo da vulnerabilidade das águas subterrâneas à contaminação

tem se destacado na atualidade, pois representa um instrumento norteador na

gestão governamental e não-governamental dos recursos hídricos

subterrâneos (NOBRE, 2006; PATRIKAKI et al., 2012; FOSTER et al., 2013).

A vulnerabilidade de aquíferos tem sido discutida na comunidade científica

desde 1960, quando Jean Margat introduziu esse termo e propôs que o

sistema “solo e rocha” que envolve o aquífero fornece determinado grau de

proteção contra a contaminação das águas subterrâneas (ZAPOROZEC,

2002). Desde então, o conceito de vulnerabilidade tem sido debatido e

aprimorado.

FOSTER e HIRATA (1988) define vulnerabilidade como a expressão das

características intrínsecas naturais que determinam a sensibilidade de um

aquífero ser adversamente afetado por determinada carga poluente antrópica.

VRBA e ZAPOREZEC (1994) definem a vulnerabilidade de um sistema

hidrogeológico como sendo uma propriedade intrínseca do sistema e depende

da sensibilidade desse mesmo aos impactos humanos e/ou naturais. AUGE

(2004) define dois tipos de vulnerabilidade: a intrínseca e a específica. No

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primeiro, a vulnerabilidade do aquífero à contaminação envolve somente as

características do meio sem considerar as características da potencial carga de

contaminantes; no segundo, são consideradas tanto as características do meio

como da potencial carga de contaminantes. BRAGA (2008) define

vulnerabilidade como um conjunto de características que determina o quanto

ele poderá ser afetado pela carga do contaminante.

O conceito de vulnerabilidade não se confunde com o de risco: o risco de

poluição depende não só das características intrínsecas do aquífero, mas

também, da presença de cargas poluentes significantes que possa ingressar no

meio ambiente subterrâneo. Dessa forma, um aquífero pode ser altamente

vulnerável devido às suas características naturais, mas apresentar baixo risco

à contaminação, caso inexistam fontes poluidoras expressivas (perigo à

poluição). O contrário também é possível: o aquífero pode ser pouco

vulnerável, mas apresentar alto risco de contaminação.

É importante esclarecer que a vulnerabilidade à contaminação do aquífero

não é uma propriedade absoluta, mas uma indicação relativa de onde a

contaminação tem maior probabilidade de ocorrer. Desse modo, a

vulnerabilidade de um aquífero sempre existirá, por menor que seja, sendo

necessário determina-la tendo em vista a gestão adequada dos recursos

hídricos.

Diversos métodos de avaliação da vulnerabilidade de aquíferos à

contaminação vêm sendo desenvolvidos e aplicados em diversos locais do

mundo. A grande maioria dos métodos de avaliação da vulnerabilidade

possuem uma natureza empírica, o que é veículo para o surgimento de um

vasto leque de diferentes interpretações por diferentes técnicos. Essa

subjetividade vai repercutir forçosamente na atribuição de valores numéricos a

entidades de natureza descritiva (RIBEIRO, 2005). De modo geral, a avaliação

da vulnerabilidade do aquífero é realizada a partir da sobreposição de

parâmetros litológicos, hidrogeológicos e geoambientais, em que se atribui um

valor a cada parâmetro considerado. A Tabela 3.1 apresenta alguns métodos

de vulnerabilidade e os parâmetros considerados.

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54

3.4 Trabalhos anteriores desenvolvidos na área de estudo

A seguir, é apresentada uma síntese dos principais estudos

hidrogeológicos que tratam dos aspectos hidroquímicos, qualidade das águas e

vulnerabilidade à contaminação das águas do SAB na Bacia do Rio Pirangi.

Método Avaliação Parâmetros

DRASTIC

(ALLER et al., 1987)

Vulnerabilidade

Geral

Profundidade água subterrânea;

Recarga;

Meio aquífero;

Solo;

Topografia;

Impacto no aquífero;

Condutividade hidráulica.

Groundwater

Vulnerability Map

For Nitrate

(CARTER et

al.,1987)

Potencial de

lixiviação de

nitrato

Tipo de solo;

Característica hidráulica;

Características litológicas do aquífero.

GOD

(FOSTER &

HIRATA, 1988)

Vulnerabilidade

Geral

Tipo de aquífero;

Litologia zona vadosa;

Profundidade da água.

SINTACX

(CIVITA et al., 1990)

Vulnerabilidade

Geral

Igual ao DRASTIC, com pesos

diferentes.

AVI

(STEMPVOORT et

al., 1993)

Vulnerabilidade

Geral

Espessura da camada litológica acima

do aquífero superior;

Condutividade hidráulica estimada em

cada uma das camadas.

EKv

AUGE (1995)

Vulnerabilidade

Geral

Profundidade da superfície freática;

Condutividade vertical da zona não

saturada.

EPPNA

(Plano Nacional

da Água, 1998)

Vulnerabilidade

Geral

Características litológicas e

hidrogeológica do aquífero.

IS

(FRANCÉS et al.,

2001)

Vulnerabilidade

Específica

Profundidade água subterrânea;

Recarga;

Tipo de aquífero;

Topografia;

Ocupação do solo.

VAN

(CUTRIM & LUZ,

2010)

Vulnerabilidade

Específica

Profundidade da água do aquífero;

Condutividade hidráulica da zona não

saturada;

Topografia;

Profundidade de usos da zona não

saturada.

Tabela 3.1 – Exemplos de métodos de avaliação da vulnerabilidade do aquífero e parâmetros

de análise. Adaptado de CRISPIM, 2016.

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55

3.4.1 CAERN (2001 - 2013)

Dados da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte

(CAERN) proveniente de análises químicas de 33 poços selecionados na

porção norte da Bacia do Rio Pirangi (Figura 3.2), realizadas de 2001 até 2013

caraterizaram águas de baixa salinidade e de boa qualidade para diversos fins,

inclusive para consumo humano. Os valores médios constatados de

condutividade elétrica e sólidos totais dissolvidos foi de 147,67 μS/cm e 91,98

mg/L, respectivamente. Quanto à dureza, as águas foram classificadas como

brandas. Em relação à ocorrência de íons, de modo geral, as águas se

caracterizam como cloretadas sódicas. Não foi constata contaminação das

águas subterrâneas por nitrato, contudo, observou-se aumento do teor de

nitrato ao longo do tempo. Segundo a Portaria de Consolidação N°05 do

Ministério da Saúde (2017) e a Resolução N° 357/05 do Conselho Nacional do

Meio Ambiente/CONAMA, é constatada contaminação das águas por nitrato

quando essas atingem concentração superior a 10 mg/L de N-NO3-.

Figura 3.2 – Rede de monitoramento para coleta de amostras realizadas de 2001 até 2013 pela

CAERN.

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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3.4.2 LUCENA et al. (2004)

LUCENA et al. (2004) realizaram estudos sobre as características

hidroquímicas e qualidade das águas do SAB no setor leste da Bacia do Rio

Pirangi. A partir da coleta e análise de 16 amostras, as águas subterrâneas

foram classificadas como de baixa salinidade (Figura 3.3), cloretadas sódicas

(Figura 3.4) e, de modo geral, de boa qualidade para consumo humano e

irrigação agrícola em suas condições naturais. O estudo aponta que a

classificação iônica das águas evidencia, dentre outros aspectos, a influência

da proximidade do aquífero à linha de costa. Além disso, é ressaltada a

necessidade de monitoramento das águas do aquífero quanto aos níveis de

nitrato, visto que foram constatadas amostras com valores de nitrato iguais a

4,31 e 6,19 mg/L de N-NO3-, o que apesar de ser abaixo do limite permitido

pela OMS, pode ser considerado preocupante, segundo os autores. O estudo

associa diretamente o teor de nitrato à influência de águas residuais urbanas.

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57

Figura 3.3 – Distribuição espacial da condutividade elétrica (µS/cm) no setor leste da Bacia do Rio

Pirangi. LUCENA et al, 2004.

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58

3.4.3 FERNANDES (2010)

FERNANDES (2010) avaliou pH, condutividade elétrica e teor de nitrato

das águas subterrâneas do SAB no domínio norte da Bacia do Rio Pirangi

(zona urbana – Parnamirim). As águas foram classificadas como levemente

ácidas e de baixa salinidade, sendo constatada contaminação das águas

subterrâneas por nitrato em alguns poços. A condutividade elétrica variou de 53

µS/cm a 376 µS/cm, como média de 157,46 µS/cm. A concentração de nitrato

variou de 0,3 mg/L de N-NO3- a 21,9 mg/L de N-NO3

-, com média de 6,65 mg/L

de N-NO3-. Constatou-se que os teores de condutividade elétrica e nitrato

alcançaram seus picos nas regiões de maior ocupação urbana (Figuras 3.5 e

3.6). O estudo sugere que a contaminação das águas subterrâneas por nitrato

está associada ao sistema de esgotamento sanitário adotado (fossas sépticas).

Figura 3.4 – Diagrama de Piper caracterizando as águas do SAB no setor leste da Bacia do

Rio Pirangi. LUCENA et al, 2004.

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Figura 3.6 – Distribuição espacial da concentração de nitrato (mg/L de N-NO3-) no setor

norte da Bacia do Rio Pirangi. Adaptado de FERNANDES (2010).

Figura 3.5 – Distribuição espacial da condutividade elétrica (µS/cm) no setor norte da

Bacia do Rio Pirangi. Adaptado de FERNANDES (2010).

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3.4.4 ANA (2012)

ANA (2012) realizou estudo hidrogeológico na RMN, contemplando a

região da Bacia do Rio Pirangi. De modo geral, o estudo investiga e avalia as

características hidrodinâmicas, hidroquímicas e aspectos da vulnerabilidade

natural do aquífero à contaminação com destaque para o SAB. A avaliação

hidroquímica foi feita a partir das análises físico-químicas com determinação

dos seguintes parâmetros: temperatura, pH, condutividade elétrica (CE),

sólidos totais dissolvidos (STD), turbidez, cor, dureza, alcalinidade, principais

cátions (sódio, potássio, cálcio e magnésio), principais ânions (cloreto, sulfato,

bicarbonato e carbonato), componentes químicos secundários (ferro, alumínio e

manganês) e a série nitrogenada (nitrato, nitrito e amônio). Das 80 amostras

coletadas ao longo da RMN e aceitas após avaliação do erro cometido, 22

amostras estão locados na Bacia do Rio Pirangi com maior distribuição no

setor norte da bacia. O estudo caracterizou as águas subterrâneas do SAB na

Bacia do Rio Pirangi como ácidas com tendência à neutralidade. No extremo

oeste da bacia, as águas subterrâneas foram classificadas como cloretadas

sódicas com STD igual ou superior a 200 mg/L (Figura 3.7). No setor norte da

bacia, as águas foram classificadas como cloretada nitratada sódicas com teor

de nitrato entre 3 e 10 mg/L de N-NO3. Ainda no domínio norte da bacia, foi

mapeada uma área em que as águas foram classificadas como cloretada

nitratada sódicas com teor de nitrato superior a 10 mg/L de N-NO3. Nesse caso,

revela-se contaminação por nitrato, comprometendo fortemente a qualidade

natural das águas do SAB, visto que neste caso, as águas são consideradas

impróprias para o consumo humano. Nos demais setores, as águas foram

classificadas como cloretadas sódicas com STD inferior a 200 mg/L. A

alteração da qualidade natural das águas por nitrato é influenciada pela

infiltração de esgotos, devido ao modelo de disposição de efluentes sanitários

em fossas. No entanto, o estudo ressalta que as concentrações de nitrato

acima de 2 mg/L de N-NO3 são indicativos do processo de contaminação e, se

continuado, podem evoluir para águas restritas ao consumo humano.

No tocante à análise de vulnerabilidade do SAB à contaminação, o estudo

aplicou o método GOD (Figura 3.8). A borda leste da Bacia do Rio Pirangi,

margeando os cursos d’água, caracterizou-se alta vulnerabilidade natural à

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contaminação do aquífero enquanto que nos demais setores da área de

estudo, identificou-se média vulnerabilidade.

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62

Legenda

Rios

Águas cloretada sódicas com STD<200 mg/L

Águas cloretadas sódicas com STD>200 mg/L

Águas cloretadas nitratadas sódicas com 3 > N-NO3 > 10 mg/L

Águas cloretadas nitratadas sódicas com N-NO3 > 10 mg/L

Ausência de dados

Bacia_Pirangi

Figura 3.7 – Zoneamento hidroquímico das águas subterrâneas do SAB na Região Metropolitana de Natal. Destaque para a Bacia do Rio Pirangi.

Adaptado de ANA, 2012.

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63

Legenda

Rios

Ausência de dados

Alta

Média

Figura 3.8 – Mapeamento da Vulnerabilidade natural do SAB à contaminação utilizando o método GOD na Região Metropolitana de Natal. Destaque para

a Bacia do Rio Pirangi. Adaptado de ANA, 2012.

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64

3.4.5 ASSUNÇÃO (2016)

ASSUNÇÃO (2016) realizou avaliação hidrogeoquímica e qualidade das

águas do SAB na Bacia do Rio Pirangi a partir da coleta e análise química da

água proveniente de 24 poços. Diferente dos estudos anteriores, ASSUNÇÃO

(2016) distribuiu os pontos de coleta d’agua em ambientes heterogêneos da

bacia hidrográfica quanto ao uso e ocupação de solo, contemplando assim,

zona urbana consolidada, área de desenvolvimento de atividades

agropecuárias e região de pouca interferência antrópica com presença de

dunas e lagoas. Para esse estudo, foram obtidos dados de condutividade

elétrica, STD, cátions principais (sódio, cálcio, magnésio e potássio), ânions

principais (cloreto, sulfato e bicarbonato), ferro, potássio, carbonato, nitrato,

amônia, boro, pH, e dureza total. De modo geral, as águas subterrâneas foram

caracterizadas como de baixa salinidade, levemente ácidas, brandas e fácie

hidroquímica predominante cloretadas sódicas (Figura 3.9). As amostras

provenientes da zona urbana e da zona agrícola apresentam valores elevados

de salinidade em relação à zona de lagoas. Constata-se diminuição da

condutividade elétrica no sentido do fluxo subterrâneo embora que nas regiões

mais antropizadas ocorra aumento da concentração de sais. Não foi constatada

contaminação dos mananciais subterrâneos por nitrato (valores superiores a 10

mg/L de N-NO3-), contudo admitiu-se uma tendência à contaminação por

nitrato com destaque para a zona urbana (Figura 3.10). Em relação aos usos

das águas subterrâneas, essas foram consideradas de boa qualidade, podendo

ser destinadas para consumo humano, animal, irrigação e industrial.

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65

C

A B

Figura 3.9 – Diagramas de Piper caracterizando as águas do SAB na Bacia do Rio Pirangi conforme

as zonas de uso e ocupação do solo: A (zona urbana consolidada), B (ecossistema de dunas e lagoas)

e C (domínio de atividades agrícolas). ASSUNÇÃO, 2016.

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66

3.4.6 MELO et al. (2017)

Além de promover estudo hidrodinâmico e hidroquímico do SAB na Bacia do Rio

Pirangi, MELO et al. (2017) discutem os aspectos de vulnerabilidade natural e

antrópica à contaminação do aquífero. Nesse estudo, são aplicados os métodos

GOD e DRASTIC na área da Bacia do Rio Pirangi e o método VAN no município de

Parnamirim.

Conforme resultados obtidos através da aplicação do método VAN, foram

mapeadas cinco áreas distintas: muito baixa vulnerabilidade no setor central; baixa

vulnerabilidade no setor oeste/ocidental; vulnerabilidade moderada nos setores

noroeste e extremo leste; alta vulnerabilidade ao longo dos rios e riachos; e, muito

alta vulnerabilidade em um núcleo isolado no setor sudoeste da área (Figura 3.11).

Segundo o método GOD, MELO et al. (2017) determinaram vulnerabilidade

moderada predominante na área de estudo, embora ocorra uma zona de baixa

vulnerabilidade no setor nordeste da área e alta vulnerabilidade nos vales dos rios

(Figura 3.12). Já pelo método DRASTIC, o estudo identificou três classes de

Figura 3.10 - Distribuição espacial da concentração de nitrato (mg/L de N-NO3-) na Bacia do

Rio Pirangi. ASSUNÇÃO, 2016.

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vulnerabilidade, sendo a vulnerabilidade média predominante. Identificou-se

vulnerabilidade baixa no setor noroeste da bacia; vulnerabilidade média nos setores

central, sul e oeste da área; e alta vulnerabilidade no setor oriental algumas

ocorrências nos setores central e sul da área (Figura 3.13).

Figura 3.11 – Mapeamento da vulnerabilidade natural e antrópica do SAB à contaminação no

município de Parnamirim/RN – Setor norte da Bacia do Rio Pirangi através do método VAN com

identificação de fontes de contaminação. MELO et al, 2017.

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68

Figura 3.12 – Mapeamento da vulnerabilidade natural do SAB à contaminação na Bacia do Rio

Pirangi através do método GOD com identificação de fontes de contaminação. MELO et al, 2017.

Figura 3.13 – Mapeamento da vulnerabilidade natural do SAB à contaminação na Bacia do Rio Pirangi através

do método DRASTIC. MELO et al, 2017.

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4. ARTIGO 01 - HIDROQUÍMICA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO

SISTEMA AQUIFERO BARREIRAS NA BACIA DO RIO PIRANGI/RN

Este artigo foi produzido por Janaína Medeiros da Silva, autora dessa

dissertação, sob a orientação, supervisão e auxílio do Professor Dr. José Geraldo de

Melo, além da assistência, principalmente nas atividades de coleta das amostras,

dos colegas geólogos Hélio Fernando Maziviero e Cleidejane Teles Xavier Lopes da

Silva. Este trabalho foi submetido para a Revista científica “Águas Subterrâneas” no

dia 19 de novembro de 2019.

HIDROQUÍMICA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO SISTEMA AQUIFERO

BARREIRAS NA BACIA DO RIO PIRANGI/RN

HYDROCHEMISTRY OF BARREIRAS AQUIFER SYSTEM GROUNDWATER IN

THE PIRANGI RIVER BASIN/RN

Janaína Medeiros da Silva1

José Geraldo de Melo1,2

Hélio Fernando Maziviero1

Cleidejane Teles Xavier Lopes da Silva2

1 Programa de Pós-graduação em Geodinâmica e Geofísica, UFRN, Avenida

Senador Salgado Filho, 3000, Caixa Postal 1596, Bairro Lagoa Nova, CEP 59078-

970, Natal, RN; 2 Departamento de Geologia, UFRN, Natal, RN.

RESUMO

Este trabalho objetiva avaliar o comportamento hidroquímico das águas do Sistema

Aquífero Barreiras (SAB) na área da Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi - Região

Metropolitana de Natal, segundo os diferentes aspectos ambientais do uso e

ocupação do solo, com destaque para a avaliação dos efeitos do desenvolvimento

urbano na qualidade das águas subterrâneas. Inicialmente, foi definida uma rede de

monitoramento com 30 poços seguido de uma campanha de coletas e análises

físico-químicas de amostras de água. A interpretação dos resultados foi efetuada

com base em mapas de isovalores e diagramas hidroquímicos (Piper, Durov

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70

Expandido e Gibbs), sendo possível classificar as águas de acordo com fácies

hidroquímicas e avaliar as modificaçoes hidrogeoquímicas nos diferentes contextos

ambientais da área de estudo. Apesar das variações hidroquímicas observadas nos

diferentes setores, de modo geral, as águas subterrâneas do SAB na área de estudo

se caracterizam como levemente ácidas e de baixa salinidade, abrangendo

predominantemente as fácies cloretadas sódicas magnesianas (Na+ - Mg2+ - Cl-) e

cloretadas sódicas (Na+ - Cl-). Foi identificada contaminação das águas subterrâneas

por nitrato em 30% das amostras, com destaque para as regiões mais urbanizadas.

O aspecto climático é o principal fator controlador da química dessas águas, com a

influência de fatores antrópicos do desenvolvimento urbano e de atividades

agrícolas.

Palavras-chave: Sistema Aquífero Barreiras, Bacia do Rio do Pirangi, Avaliação

hidrogeoquímica, Contaminação de águas subterrâneas, Nitrato.

ABSTRACT

This study aims to evaluate the hydrochemical behavior of the Barreiras Aquifer

System (SAB) waters in the Pirangi River Basin Area - Natal Metropolitan Area,

according to the different environmental aspects of land use and occupation,

highlighting the evaluation of the effects of the urban development in groundwater

quality. Initially, a 30-well monitoring network was defined, followed by a campaign

for collecting and analyzing physicochemical water samples. The interpretation of the

results was based on isovalve maps and hydrochemical diagrams (Piper, Durov

Expanded and Gibbs), and it is possible to classify the waters according to

hydrochemical facies and to evaluate the hydrochemical changes in the different

environmental contexts of the study area. Despite the hydrochemical variations

observed in the different sectors, in general the SAB groundwater in the study area is

characterized as slightly acidic and of low salinity, predominantly covering the

magnesian sodium chloride (Na+ - Mg2+ - Cl-) and chlorinated sodium facies. (Na+ -

Cl-). Groundwater contamination by nitrate was identified in 30% of the samples, with

emphasis on the most urbanized regions. The climatic aspect is the main controlling

factor of the chemistry of these waters, with the influence of anthropogenic factors of

urban development and agricultural activities.

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Keywords: Barrier Aquifer System, Pirangi River Basin, hydrochemical evaluation,

groundwater contamination, nitrate.

1. INTRODUÇÃO

A Bacia hidrográfica do Rio Pirangi está localizada no litoral oriental do estado

do Rio Grande no Norte, compondo área de 436 km2 e abrangendo os municípios de

Natal, Parnamirim, Macaíba, Nísia Floresta, São José de Mipibu e Vera Cruz, que

com exceção do último, estão inclusos na Região Metropolitana do Natal. A área de

estudo está inserida na Bacia hidrográfica do Rio Pirangi compreendendo superfície

total de 370 km2 (Figura 1).

O abastecimento hídrico da área é feito, quase em sua totalidade, por captações

no Sistema Aquífero Barreiras (SAB), o qual se caracteriza por elevadas

potencialidades hidrogeológicas, com destaque para o município de Parnamirim,

cujas transmissividades atingem valores superiores a 1000 m²/dia e poços com

capacidade de produção de até 100 m³/h, fornecendo águas, em geral, de boa

qualidade para diversos fins, em suas condições naturais (MELO et al., 2017). Esse

caráter hidrogeológico permitiu, nas ultimas décadas, condições favoráveis para a

expansão urbana, agrícola e industrial da região.

Apesar disso, o desenvolvimento urbano e rural, sem o planejamento ambiental

adequado, tem afetado a qualidade das águas subterrâneas, principalmente devido

à contaminação por nitrato. O nitrato é o poluente de ocorrência mais frequente nas

águas subterrâneas e sua origem pode está associada a diversos fatores como uso

de fertilizantes agrícolas, criação de animais, má disposição de efluentes

domésticos, dentre outros (VARNIER & HIRATA, 2002). O nitrato é utilizado

mundialmente como indicador da contaminação das águas subterrâneas devido à

sua alta mobilidade (REYNOLDS-VARGAS et al., 2006). O excesso do íon nitrato

em água destinada ao consumo humano é preocupante por causar em recém-

nascidos a síndrome do bebê azul e em adultos, pode ser responsável por causar

câncer de estômago, e aumentar a probabilidade de câncer de mama em mulheres

(BAIRD & CANN, 2011).

Este trabalho objetiva avaliar o comportamento hidroquímico das águas do SAB

na área da Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi, permitindo classificá-las conforme

fácies hidroquímicas, investigar seus fatores controladores e avaliar os efeitos do

desenvolvimento urbano e rural na qualidade das águas subterrâneas.

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2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ÁREA DE ESTUDO

A Bacia hidrográfica do Rio Pirangi é composta pelas sub-bacias dos rios

Pitimbu, Taborda e Pium e está localizada na região nos vales úmidos, com

transição climática para o semiárido no setor oeste da bacia. A denominação vales

úmidos faz referência à característica perene dos rios e lagoas que ocorrem na área

e ao elevado regime pluviométrico local, atingindo precipitações superiores a 1600

mm/ano (EMPARN, média 1992-2018) nos setores centro e leste da área. Na região

oeste, as precipitações diminuem para valores próximos de 800 mm/ano (EMPARN,

média 1992-2018). Além dos rios principais, a bacia hidrográfica é composta pelos

riachos Mendes, Água Vermelha e Lamarão, afluentes do Rio Pirangi e pelas lagoas

do Jiquí e do Pium.

Figura 1 - Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi com delimitação das zonas de Uso de ocupação do

solo e pontos de coleta de amostras de água.

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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A geologia da área é constituída estratigraficamente, da base para o topo, pelo

embasamento cristalino Pré-cambriano, constituído por rochas ígneas e

metamórficas, pela sequência sedimentar Cretácea, constituída por rochas

carbonáticas e areníticas, e pelas unidades cenozoicas, constituída pelos arenitos

do Grupo Barreiras, de idade Tércio – Quaternária (CORDOBA et al., 2007),

capeados por sedimentos recentes do Quaternário (depósitos aluvionares, depósitos

colúvio–eluviais e depósitos eólicos de paleodunas), na qual apenas esses últimos

são aflorantes na área de estudo (Figura 2).

O Aquífero Barreiras se destaca na área de estudo e é caracterizando pelo seu

caráter livre, geometria tabular, com estratos praticamente horizontais arenosos e

argilosos de espessuras variadas (ANA, 2012). Intercalações argilosas ocorrem com

frequência, produzindo semiconfinamentos localizados e reduzindo as

potencialidades hidrogeológicas, embora o caráter de aquífero livre seja dominante

(SERHID, 1998). As dunas, as quais cobrem parte das rochas da Formação

Barreiras, contribuem fortemente para a recarga do Aquífero Barreiras devido a sua

elevada porosidade efetiva e elevada condutividade hidráulica, configurando o

padrão regional de ocorrência de um sistema hidráulico único, denominado de

Sistema Aquífero Barreiras (MELO, 1995).

A compartimentação estrutural do terreno exerce marcante influência sobre as

espessuras saturadas do Sistema Aquífero Barreiras e suas potencialidades, o que

se reflete na produtividade dos poços, visto que as maiores vazões explotáveis

correspondem às maiores espessuras saturadas (BEZERRA et al., 1993; LUCENA

et al., 2006).

Quanto ao uso e ocupação do solo, a Bacia hidrográfica do Rio Pirangi, pode ser

subdividida em três domínios principais (MELO et al., 2017): subárea A, localizada

no setor norte e central da bacia e caracterizada pela urbanização da cidade de

Parnamirim e por áreas de expansão urbana (loteamentos habitacionais) que

bordejam o limite oeste; subárea B, situada a sudeste da área de estudo,

caracterizada pelo ecossistema de lagos e dunas, com características naturais bem

preservadas; E por fim, a subárea C, situada no setor oeste, caracterizada pela

atividade agropecuária, com destaque para o cultivo de feijão, batata e macaxeira,

deste outras lavouras.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

Após definição da rede de monitoramento com 30 poços tubulares (Figura 1), foi

realizada uma campanha de amostragem em novembro de 2017. Os pontos de

coleta foram prioritariamente definidos considerando a distribuição espacial na área

de estudo e as zonas de uso e ocupação do solo. Dos 30 poços tubulares

submetidos à amostragem, 7 são de uso particular, destinados ao abastecimento de

pequenos produtores rurais (4), para envaze de água mineral (1), para atividade

agroindustrial (1) e para conjunto habitacional multifamiliar (1). Os demais poços

tubulares pertencem à empresa concessionária de serviços públicos responsável

pela captação e distribuição de água na área de estudo (CAERN).

Figura 2 - Mapa Geológico da Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi. Adaptado de ANA (2012).

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Os procedimentos de coleta, preservação e transporte de amostras foram

realizados conforme CETESB (2011), e encaminhadas para laboratório de análises

físico-químicas para determinação dos parâmetros pH, CE, STD e dos íons sódio

(Na+), potássio (K+), cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+), ferro (Fe2+), cloreto (Cl-),

bicarbonato (HCO3-), sulfato (SO4

2-) e nitrato (NO3-). Os resultados, em mEq/L, foram

submetidos ao balanço iônico, garantindo a confiabilidade dos dados (LOGAN,

1965). SCHOELLER (1962) admite que o erro do balanço iônico não deve ser

superior a 5% para que a análise seja considerada aceitável. Este percentual

relaciona a concentração total dos cátions e dos ânions, visto que em uma análise

hidroquímica completa a concentração total dos cátions deve ser aproximadamente

igual à concentração total dos ânions. Posteriormente, os resultados foram

submetidos à análise estatística descritiva (média, mediana, mínimo, máximo e

desvio padrão) e identificada contaminação por nitrato, conforme Anexo XX da

Portaria de consolidação Nº 5 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017). A matriz de

correlação entre os parâmetros hidroquímicos foi elaborada utilizando o software

Aquachem 3.7. A distribuição espacial de parâmetros químicos empregou a técnica

vizinho natural como método de interpolação. A classificação das águas em fácies

hidroquímicas ocorreu mediante plotagem dos resultados nos diagramas de Piper

(PIPER, 1944) e Durov Expandido utilizando os softwares Aquachem 3.7 e Qualigraf

1.17. O diagrama de Gibbs (GIBBS, 1970) foi utilizado para avaliar fatores

controladores da química das águas subterrâneas.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O resultado do balanço iônico revelou que as análises realizadas são confiáveis

(erros inferiores a 5%). O valor do erro calculado nas 30 amostras varia de 0,018% a

0,399%, com média de 0,235%. Dessa forma, todos os resultados provenientes das

análises químicas foram utilizados na avaliação hidrogeoquímica. De modo geral, as

águas do SAB na Bacia do Rio Pirangi são caracterizadas pelo pH levemente ácido,

pouco mineralizadas e com predominância dos íons sódio e cloreto (Tabela 1). As

águas subterrâneas cloretadas sódicas estão relacionadas ao processo de

evaporação da água do mar e a provável presença desses elementos nas águas da

precipitação pluviométrica, somado ao fato do SAB possuir caráter local

predominantemente livre com capeamento superficial de corpos dunares. Em

relação aos níveis de nitrato, foi verificado que 30% das amostras analisadas

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ultrapassam a concentração de 10 mg/L de N-NO3, caracterizando águas

contaminadas, conforme Anexo XX da Portaria de consolidação Nº 5 do Ministério

da Saúde.

Considerando as zonas de uso e ocupação do solo estabelecidas, as águas

provenientes da subárea A (setor norte da bacia) apresentam, salinidade mais

elevada, com valores de condutividade elétrica e sólidos totais dissolvidos, atingindo

Zonas

de Uso e

Ocupação

do Solo

Parâ-

metros pH CE STD Na

+ K

+ Mg

2+ Ca

2+ Fe

2+ Cl

- SO4

2- HCO3

- NO3

-

Unidade - µS/cm

a 25C mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L

mg/L

de N

Subárea

A

(Zona

Urbana)

Média 5,68 226,58 131,50 13,12 2,39 5,92 5,67 0,04 35,54 2,15 10,23 11,70

Mediana 5,84 209,00 117,50 10,39 2,81 5,30 4,49 0,01 31,99 0,00 8,71 9,08

Mínimo 4,11 62,50 37,00 2,24 0,49 2,89 1,63 0,00 11,00 0,00 0,00 0,00

Máximo 7,11 600,00 356,00 46,52 5,11 9,16 13,87 0,43 97,96 36,88 32,35 23,95

Desvio

Padrão 0,79 130,49 77,33 10,85 1,28 1,71 3,65 0,10 21,06 8,43 8,49 7,70

Subárea

B

(Zona

Lagoas)

Média 6,61 120,26 73,82 6,07 0,75 2,31 4,08 0,03 14,20 0,39 16,42 0,08

Mediana 6,30 146,30 85,00 4,07 0,34 1,45 2,45 0,01 16,00 0,00 17,42 0,10

Mínimo 6,00 60,00 38,40 3,82 0,17 0,96 0,82 0,01 10,00 0,00 0,00 0,00

Máximo 7,33 151,70 97,08 10,35 1,71 5,78 8,16 0,09 16,99 0,98 37,33 0,16

Desvio

Padrão 0,55 36,49 23,09 2,67 0,60 1,81 3,38 0,03 3,06 0,48 14,81 0,06

Subárea

C

(Zona

Agrícola)

Média 5,12 157,57 93,00 17,55 2,94 3,44 1,28 0,01 37,13 0,23 4,44 3,79

Mediana 4,70 124,50 73,00 13,70 1,87 3,85 1,63 0,01 29,99 0,00 4,97 1,86

Mínimo 4,39 71,40 43,00 6,73 1,70 0,48 0,00 0,00 18,99 0,00 1,24 0,10

Máximo 6,32 398,00 235,00 48,17 6,80 4,82 2,45 0,01 85,97 1,17 9,95 13,50

Desvio

Padrão 0,75 102,89 60,62 12,87 1,73 1,30 0,74 0,00 20,71 0,40 2,65 4,34

Todas as

amostras

Média 5,70 192,76 112,90 12,98 2,25 4,74 4,38 0,03 32,36 1,41 9,91 7,91

Mediana 5,86 149,30 89,50 10,39 1,72 4,58 2,86 0,01 27,99 0,00 6,22 6,85

Mínimo 4,11 60,00 37,00 2,24 0,17 0,48 0,00 0,00 10,00 0,00 0,00 0,00

Máximo 7,33 600,00 356,00 48,17 6,80 9,16 13,87 0,43 97,96 36,88 37,33 23,95

Desvio

Padrão 0,88 121,49 71,33 11,10 1,50 2,22 3,65 0,08 20,84 6,60 9,77 7,92

Tabela 1 - Avaliação estatística dos resultados das análises físico químicas proveniente de 30

amostras, considerando as zonas de uso e ocupação do solo.

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77

médias de 226,58 µS/cm e 131,50 mg/L, respectivamente, as quais são maiores que

as médias obtidas nas subáreas B e C. As concentrações dos íons sódio, magnésio

e cloreto nessas águas merecem destaque, atingindo médias de 13,12 mg/L; 5,92

mg/L e 35,54 mg/L, respectivamente.

A ocorrência de magnésio nas águas subterrâneas, de modo geral, pode ser

influência da dissolução de rochas carbonáticas, o que não pode ser aplicado nesse

estudo devido à ausência dessa litologia na área. SANTOS et al. (2004) atribuíram o

aumento do íon magnésio em águas subterrâneas de regiões urbanizadas à

lixiviação de compostos provenientes da má disposição de resíduos sólidos

domésticos. Ainda na subárea A, constatou-se que 44% das amostras estão

contaminadas por nitrato, conforme a normativa citada. A subárea A compreende a

zona urbana de Parnamirim/RN, a qual conta com sistemas de esgotamento

sanitário individuais e majoritariamente baseado na infiltração de efluentes no solo

(fossas negras escavadas até o nível freático, fossas sépticas e sumidouros), pois

menos de 10% da população conta com saneamento básico (FIGUEREDO &

FERREIRA, 2017). Tais efluentes são quimicamente ricos em substâncias orgânicas

nitrogenadas, as quais, a partir da degradação microbiana, são convertidas em

nitrato. Dessa maneira, é sugestivo afirmar que a má disposição de efluentes

domésticos está modificando a química das águas subterrâneas.

As águas oriundas da subárea B (setor leste da bacia) se caracterizam pela

baixa salinidade (tendendo à neutralidade). Os valores médios de condutividade

elétrica e sólidos totais dissolvidos constatados nesta subárea são, respectivamente,

146,30 µS/cm e 85,00 mg/L, sendo inferiores aos resultados obtidos nas subáreas A

e C. Tratam-se de águas compostas predominantemente, pelos íons sódio, cloreto e

bicarbonato. A concentração dos íons sódio e cloreto são consideravelmente

menores do que as encontradas nas demais subáreas e não foi constatado

contaminação das águas por nitrato. Os valores médios de condutividade elétrica e

sólidos totais dissolvidos na subárea C são de 157,57 µS/cm e 93,00 mg/L,

respectivamente, constatando salinidade inferior em relação à subárea A, no entanto

elevada em comparação à subárea B. Nesta subárea, as águas são concentradas

nos íons sódio e cloro, sendo pouco expressivo o teor dos demais íons. Além disso,

constatou-se contaminação por nitrato apenas em uma amostra, a qual atingiu

concentração de nitrato de 13,50 mg/L de N-NO3.

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78

A Tabela 2 mostra a matriz de correlação entre os parâmetros químicos

analisadas. Os coeficientes de correlação entre a condutividade elétrica e os íons

sódio (0,860) e cloreto (0,924) são elevados em relação aos demais íons,

demonstrando que esses íons exercem forte controle hidroquímico. Em relação ao

íon nitrato, o fator de correlação deste com a condutividade elétrica também merece

destaque (0,552), inferindo que tal íon exerce influência na salinidade das águas

subterrâneas.

Entre os íons, constata-se correlação elevada entre o sódio e o cloreto (0,964),

corroborando que esses íons provêm da mesma fonte. As correlações entre o

magnésio e os íons cloreto e nitrato são fortes, atingindo quase 60%. O íon

magnésio é muito raro nas águas subterrâneas devido a sua escassez geoquímica e

sua mobilidade na zona vadosa depende da existência de outros ânions,

particularmente do NO3- e do Cl-, oriundos da mineralização da matéria orgânica,

tendo como fonte principal o lançamento de esgoto não tratado na área (PEARSON

et al., 1962; GONZALEZ-ERICO et al., 1979).

As variações espaciais na química das águas subterrâneas na área de estudo

foram avaliadas a partir dos valores de condutividade elétrica (Figura 3) e do íon

nitrato (Figura 4).

CE STD Na+ K

+ Mg

2+ Ca

2+ Cl

- SO4

2- HCO3

- NO3

-

CE 1,00 0,992 0,860 0,731 0,675 0,610 0,924 0,615 -0,126 0,552

STD 1,00 0,716 0,992 0,629 0,232 0,922 0,626 -0,135 0,516

Na+ 1,000 0,794 0,399 0,291 0,964 0,568 -0,275 0,298

K+ 1,000 0,506 0,224 0,805 0,139 -0,090 0,608

Mg2+

1,000 0,492 0,595 0,353 0,073 0,582

Ca2+

1,000 0,403 0,474 0,495 0,315

Cl- 1,000 0,584 -0,269 0,420

SO42-

1,000 -0,163 -0,192

HCO3- 1,000 -0,101

NO3- 1,000

Tabela 2 - Matriz de correlação entre os parâmetros químicos.

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79

Figura 3 – Distribuição espacial de Condutividade Elétrica (µS/cm) na Bacia do Rio Pirangi

considerando as zonas de uso e ocupação do solo.

Figura 4 – Distribuição espacial da concentração do íon nitrato (mg/L de N-NO3-) na Bacia do Rio

Pirangi considerando as zonas de uso e ocupação do solo.

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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80

O comportamento hidroquímico desses dois parâmetros é similar, haja vista grau

de correlação entre eles: ao norte da área (subárea A) são constatados valores

relativamente elevados, atingindo 600 µS/cm de condutividade elétrica e 23,95 mg/L

de N-NO3 de concentração de nitrato; ao leste e ao sul (subárea B), esses

parâmetros resultam índices relativamente baixos, com condutividade elétrica

geralmente inferior a 100 µS/cm e níveis de nitrato predominantemente nulos; a

oeste (subárea C), são verificados valores intermediários com um ponto de coleta

apresentando índices de condutividade elétrica e nitrato elevados em relação aos

demais da mesma subárea.

As variações hidroquímicas ao longo do fluxo subterrâneo podem derivar de

vários fatores. Inicialmente, as concentrações e os tipos de sais presentes nos

mananciais subterrâneos dependem da recarga e, em seguida, da interação água-

rocha ao longo de fluxo subterrâneo. Entretanto, além de elementos naturais, a

química das águas pode ser condicionada a causas antrópicas (contaminação). No

caso do SAB, o caráter predominantemente livre e a composição mineralógica

pouco reativa (arenitos quartzosos) coloca a precipitação pluviométrica como um

fator controlador importante na química das águas.

Na área de estudo, o fluxo subterrâneo ocorre, de modo geral, de oeste para

leste, sendo o Oceano Atlântico a principal frente de descarga. Embora a tendência

seja salinização ao longo do fluxo subterrâneo, esse comportamento não é

totalmente expressado. Os índices de condutividade elétrica e nitrato aumentam no

sentido W–NE (subárea C para subárea A), mas diminuem no sentido W–SE

(subárea C para subárea B). Essa constatação infere que outros fatores devem

influenciar nas características químicas das águas subterrâneas.

Na subárea A, como já retratado anteriormente, é sugestivo que o referido

aumento de salinidade e do teor de nitrato venha a ser causado pela má disposição

de efluentes domésticos. VARNIER et al. (2010) apontam estudos que demonstram

a relação direta entre os padrões de concentração de nitrato nas águas

subterrâneas e os de ocupação urbana (LOWE et al. 2000, CAGNON & HIRATA

2004, GODOY et al. 2004, DRAKE & BAUDER 2005, SANAIOTTI 2005,

REYNOLDS-VARGAS et al. 2006, XU et al. 2007, PROCEL 2011), mediante o uso

de diferentes ferramentas (análises químicas, isotópicas, métodos estatísticos, uso

de sistema de informação geográfica, dentre outros). Os estudos indicam que a

expansão da ocupação urbana sem sistema adequado de esgotamento sanitário

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81

gera uma carga contaminante de nitrato significativa, que atinge os aquíferos e

ameaça a qualidade das águas subterrâneas.

Na subárea B, é esperado que as águas apresentem as maiores concentrações

de íons, visto que se trata de uma área a jusante (fluxo subterrâneo W-E), no

entanto, oposto é observado. Esse comportamento pode ser justificado pela forte

recarga subterrânea na região combinado com interferência antrópica inexpressiva,

compondo águas mais diluídas e sem contaminantes. Nesse domínio, o regime

pluviométrico intenso combinado com a presença de campos dunares que

propriciam a infiltração, a recarga é favorecida.

Na subárea C, a salinização das águas pode está vinculada à transição climática

para o semiárido, concentrando os sais em virtude das baixas precipitações

pluviométricas e o efeito da evaporação (capilaridade). Ou seja, na subárea C

ocorrem as menores taxas de precipitação da bacia, o que implica uma baixa taxa

de recarga e, portanto, menor diluição das águas. Esse processo resulta em aguas

naturalmente mais salinizadas. Embora o efeito climático seja a principal

condicionante sobre a salinidade das águas subterrâneas na subárea C, é

importante considerar a influência da compartimentação estrutural do SAB na

salinidade das águas. Nessa subárea constatou-se contaminação por nitrato apenas

em uma amostra, o que pode ser ocasionado por práticas agrícolas inadequadas

com o uso excessivo de fertilizantes.

O termo ‘fácies hidroquímicas’ é utilizado para classificar as águas subterrâneas

com base em seus íons dominantes. Dessa forma, a fim de identificar as fácies

hidroquímicas das águas subterrâneas na área de estudo, respeitando as zonas de

uso e ocupação do solo, utilizou-se o Diagrama de Piper (Figura 5). Diagramas

trilineares, como o Diagrama de Piper, apresentam graficamente as concentrações

em porcentagem para cada íon analisado, em diagramas triangulares, constituindo-

se numa das mais utilizadas representações gráficas para a classificação de um

conjunto de dados hidroquímicos (CUSTÓDIO & LLAMAS, 1983).

Os tipos predominantes de águas subterrâneas na área de estudo são

cloretadas sódicas mistas (43,33%) e cloretadas sódicas (36,67%). Observa-se

predominância de águas cloretadas sódicas magnesianas na subárea A e águas

cloretadas sódicas nas subáreas B e C. A seta cinza no diagrama indica o sentido

do fluxo subterrâneo, marcando transição hidroquímica de cloretadas sódicas para

cloretadas mistas devido ao aumento da concentração do íon magnésio.

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82

Os resultados obtidos também foram plotados no Diagrama de Durov Expandido

(Figura 6). Esse diagrama tem uma distinta vantagem sobre o diagrama de Piper

porque ele fornece mais informações sobre os tipos hidroquímicos e sobre a

evolução da qualidade das águas (HUSSEIN, 2004), sendo uma combinação dos

diagramas de Piper e Durov. O Diagrama de Durov Expandido revela que as águas

subterrâneas do SAB na área de estudo se classificam como cloretadas sódicas

magnesianas (campo 8) e cloretadas sódicas (campo 9), corroborando com os

resultados obtidos a partir do Diagrama de Piper. É possível constatar ainda, que há

modificação hidroquímica das águas do campo 9 em direção ao campo 8, sugerindo

troca de íon reversa.

O Diagrama de Gibbs avalia os fatores controladores da hidrogeoquímica das

águas subterrâneas a partir da correlação das razões catiônicas e aniônicas com o

valor de sólidos totais dissolvidos. A hidrogeoquímica das águas subterrâneas do

SAB na Bacia do Rio Pirangi é controlada predominantemente pelo fator

precipitação (Figura 7). A maior parte das amostras foram plotadas fora dos limites

do bumerangue, o que pode representar influência de fatores antrópicos na química

das águas analisadas (SELVAKUMAR et al., 2017).

Figura 5 - Diagrama de Piper classificando as águas subterrâneas da área de estudo.

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83

Figura 6 - Diagrama de Durov Expandido classificando as águas subterrâneas da área de estudo.

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84

5. CONCLUSÃO

As águas do SAB na Região da Bacia do Rio Pirangi foram caracterizadas, de

modo geral, como levemente ácidas, de baixa salinidade e predominantemente dos

tipos cloretadas-sódicas-magnesianas e cloretadas-sódicas. A precipitação se

mostra como o principal fator condicionante da química das águas subterrâneas do

SAB na área de estudo. Entretanto, considerando as zonas de uso e ocupação do

solo aplicadas neste trabalho, foi possível avaliar e sugerir outros fatores que

controlam as características dessas águas.

As águas provenientes das áreas urbana consolidada e de expansão urbana são

predominantes do tipo cloretadas-sódicas-magnesianas. Constatou-se presença

significativa do íon nitrato, caracterizando em alguns casos, águas impróprias para o

consumo humano. Sugere-se que a disposição inadequada de efluentes sanitários,

produto da urbanização sem o satisfatório planejamento ambiental, está modificando

as características naturais das águas.

As águas provenientes da área de ecossistema de dunas e lagoas são

predominantemente do tipo cloretadas sódicas, embora ocorram águas

bicarbonatadas cálcicas e mistas. Trata-se de uma área não urbanizada, com

Figura 7 - Diagrama de Gibbs representando os fatores controladores das águas subterrâneas da área de estudo.

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85

características naturais preservadas, e sugere que a baixa mineralização das águas

ocorre devido à recarga subterrânea relativamente expressiva nessa porção da área.

Na zona agrícola, as águas são do tipo cloretadas sódicas. Nesta subárea

aponta-se o efeito climático como principal condicionante da salinização natural das

águas. Sugere-se também influência da compartimentação estrutural do aquífero.

Considerando uso e ocupação do solo, é indicado ainda alteração da composição

química das águas devido ao uso inadequado de fertilizantes e atividades

agroindustriais desenvolvidas nessa subárea.

Indubitavelmente, o uso das águas do SAB é essencial para o contínuo

desenvolvimento urbano, agrícola e industrial na área da Bacia do Rio Pirangi, com

destaque para o município de Parnamirim. Contudo, é exposto que o manejo desse

manancial subterrâneo não está sendo realizado de modo adequado conforme os

preceitos do desenvolvimento sustentável. Diante disso, é recomendado

planejamento e execução de atividades de gestão sustentável para a garantia do

suprimento hídrico das populações atuais e futuras, como a avaliação periódica da

qualidade das águas, o controle na perfuração e cadastro dos poços, o tratamento

adequado das águas já contaminadas, o controle do uso de fertilizantes e pesticidas,

a ampliação da rede de saneamento básico e a gestão apropriada dos resíduos

sólidos, dentre outras medidas possíveis.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq – pelo apoio no desenvolvimento do projeto da

Rede FINEP/CNPq – CT – Hidro sob o título “Potencialidades e definição de

estratégias de manejo das águas subterrâneas da região de Parnamirim/RN”.

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89

5. QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO SISTEMA AQUÍFERO

BARREIRAS NA BACIA DO RIO PIRANGI QUANTO AOS USOS

PREPONDERANTES

Considerando o uso múltiplo dos recursos hídricos, o estudo da qualidade das

águas é imprescindível para orientar a gestão sustentável dos mananciais

subterrâneos. O termo “qualidade das águas” refere-se à concentração dos

constituintes particulados e dissolvidos na água e que podem ter uma influência

direta ou indireta nos seus usos (BECKER, 2010). A qualidade das águas

subterrâneas é produto dos processos físicos, químicos e biológicos, além de

interferências antropogênicas, capazes de determinar as substâncias presentes nas

águas. A adoção de padrões de qualidade é necessária para avaliar a adequação

dos recursos hídricos quanto aos seus diferentes usos, como consumo humano,

dessedentação animal, irrigação, industrial, piscicultura, aquicultura, recreação,

dentro outros. Neste trabalho, a qualidade das águas subterrâneas do SAB na Bacia

Hidrográfica do Rio Pirangi foram avaliadas quanto aos fins consumo humano,

irrigação e industrial.

5.1 Consumo Humano

Conforme o Anexo XX da Portaria de Consolidação N°05 do Ministério da Saúde

(2017), o qual dispõe sobre o controle e vigilância da qualidade da água para

consumo humano e seu padrão de potabilidade, as águas destinadas ao consumo

humano são definidas como água potável destinada à ingestão, preparação e

produção de alimentos e à higiene pessoal, independentemente da sua origem.

Tendo em vista a normativa citada, a qualidade das águas do SAB na Bacia do Rio

Pirangi foi investigada quanto ao consumo humano, mediante análise da

concentração de sólidos totais dissolvidos (Figura 5.1) e dos íons nitrato (Figura 5.2),

cloreto (Figura 5.3), sódio (Figura 5.4) e ferro (Figura 5.5).

Considerando os parâmetros analisados, 70% das amostras avaliadas atendem

ao padrão de potabilidade, podendo ser destinadas ao consumo humano. O principal

fator de não atendimento aos padrões estabelecidos é o elevado teor de nitrato nas

águas (acima de 10 mg/L de N). Em uma das amostras (PT03), além de constatar

irregularidade quanto ao teor de nitrato, observou restrição para consumo humano

devido ao elevado teor de ferro (0,43 mg/L).

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90

Tendo em vista as diferentes zonas de uso e ocupação do solo estabelecidas na

Bacia do Rio Pirangi, observa-se que 44% das amostras provenientes da subárea A

(zona urbana) e 14% da subárea C (zona agrícola) são impróprias para o consumo

humano devido principalmente aos elevados teores de nitrato. Na subárea B, não há

restrição do uso das águas subterrâneas para consumo humano.

0

200

400

600

800

1000

1200

STD

(m

g/L)

VMP

Subárea A

Subárea B

Subárea C

Figura 5.1 – Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo humano quanto à

concentração de sólidos totais dissolvidos (mg/L).

0

5

10

15

20

25

30

Nit

rato

(m

g/L

de

N)

VMP

Subárea A

Subárea B

Subárea C

Figura 5.2 – Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo humano quanto à

concentração de nitrato (mg/L de N-NO3-).

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91

0

50

100

150

200

250

300

Clo

reto

(m

g/L)

Subárea A

Subárea B

Subárea C

VMP

Figura 5.3 – Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo humano quanto à

concentração de cloreto (mg/L).

0

50

100

150

200

250

Sód

io (

mg/

L) Subárea A

Subárea B

Subárea C

VMP

Figura 5.4 – Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo humano quanto à

concentração de sódio (mg/L).

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0,45

0,5

Ferr

o (

mg/

L) Subárea A

Subárea B

Subárea C

VMP

Figura 5.5 – Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para consumo humano quanto à

concentração de Ferro (mg/L).

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92

5.2 Irrigação

A avaliação da qualidade das águas para fins agrícolas pode ser realizada com

base na classificação United States Salinity Laboratory (USSL), a qual se baseia nos

riscos potenciais relativos à salinização e sodificação de solos. Enquanto que a

presença de sais na água reduzem a disponibilidade de água para a lavoura, visto

que o rendimento é afetado, um teor relativamente alto de sódio ou baixo teor de

cálcio na água reduz a taxa de infiltração de água no solo, afetando as culturas

(AYERS & WETOCT, 1994).

A salinidade é classificada conforme a condutividade elétrica da água e a

sadicidade ou razão de adsorção de sódio (RAS) é calculada conforme a equação

5.1.

RAS = Na

√Ca + Mg2

(𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 5.1)

A Tabela 5.1 apresenta os valores de referência para a classificação de

sodacidade e salinidade de acordo com o método citado.

Além desses parâmetros, as águas destinadas à irrigação podem ser avaliadas

conforme a toxicidade específica à algum íon. Certos íons (sódio, cloreto ou boro)

presentes na água de irrigação se acumulam em uma cultura sensível a

Salinidade Sadicidade

Classe da água Condutividade elétrica

(uS/cm)

Classe da

água

Valor RAS

C0 < 100 S1 < 10

C1 100 – 250 S2 10 – 18

C2 250 – 750 S3 18 – 26

C3 750 – 2250 S4 >26

C4 2250 – 5000

C5 5000 – 20000

Tabela 5.1 – Classificação das águas subterrâneas para uso agrícola conforme a salinidade

e a sadicidade. Adaptado de United States Salinity Laboratory.

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93

concentrações elevadas do mesmo podendo causar danos e acarretar redução no

rendimento das colhetas. O grau de dano depende da absorção e da sensibilidade

da colheita.

O sódio e o cloreto são os íons primários absorvidos pelas folhas, e a toxicidade

para um ou ambos pode ser um problema em certas culturas sensíveis, pois à

medida que as concentrações aumentam na água aplicada, os danos se

desenvolvem mais rapidamente e se tornam progressivamente mais graves (AYERS

& WETOCT, 1994). A Tabela 5.2 apresenta as classes de restrição ao uso da água

para irrigação, conforme os riscos de toxicidade dos íons sódio e cloreto.

Nesse estudo, as águas do SAB na Bacia do Rio Pirangi foram avaliadas quanto

à salinidade, sadicidade e toxicidade aos íons sódio e cloreto. A Figura 5.6 ilustra a

classificação das águas destinadas á irrigação conforme método USSL. Quanto ao

risco de salinidade, 73,3% das amostras são classificadas como do tipo C1 e 26,7%

como do tipo C2. No método aplicado, águas do tipo C1 se caracterizam pela baixa

salinidade, podendo ser utilizadas para irrigar a maioria das culturas, na maioria dos

solos, com pequeno risco de incidentes quanto à salinização do solo, salvo se a

permeabilidade deste for extremamente baixa. Enquanto isso, as águas do tipo C2

se caracterizam pela média salinidade, devendo ser utilizadas com precaução e de

preferência em solos silto-arenosos, siltosos ou areno-argilosos quando houver uma

lixiviação moderada do solo. As águas tipo C2 podem ser utilizadas para irrigação de

vegetais de fraca tolerância salina, na maioria dos casos, sem perigo.

No tocante ao risco de sadicidade, as águas analisadas são classificadas como

do tipo S1, ou seja, águas fracamente sódicas, podendo ser utilizadas para quase

Classes de restrição

Íon

específico

Sistema de

irrigação

Nenhuma Leve a Moderada Severa

Na+

(mmol/L)

Aspersão < 3,0 >3,0

Cl- (mmol/L) Superficie < 4,0 4,0 – 10,0 >10,0

Cl- (mmol/L) Aspersão < 3,0 >3,0

Tabela 5.2 - Classes de restrição ao uso das águas para fins agrícolas conforme os níveis

de sódio e cloreto. Adaptado de AYERS & WETOCT, 1994.

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94

todos os tipos de solos com fraco risco de formação de teores nocivos de sódio

susceptível de troca, com uso adequado para o cultivo de quase todos os vegetais.

Quanto à toxicidade ao sódio e ao cloro, constatou-se que não há restrições ao

uso, visto que ambos os íons, em todas as amostras, apresentam concentração

inferior a 3 mmol/L.

Figura 5.6 – Classificação das águas do SAB na Bacia do Rio Pirangi quanto à salinidade e

sadicidade. Representação por subárea conforme as zonas de uso e ocupação do solo

estabelecidas.

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95

5.3 Uso Industrial

Tendo em vista a diversidade de produtos industriais que usam água em seu

processo produtivo, é certo que os padrões de qualidade das águas são variados

conforme cada processo industrial. Diante disso, MATHESS (1982), DRISCOLL

(1986) e SZIKSZAY (1993) catalogaram valores máximos permitidos da

concentração de alguns íons e pH para avaliar a qualidade das águas considerando

finalidades industriais diversas (Tabela 5.3).

Considerando os valores máximos estabelecidos para cada tipo de indústria, as

águas subterrâneas do SAB na Bacia do Rio Pirangi foram avaliadas a partir da

análise da concentração de sólidos totais dissolvidos e dos íons nitrato, cálcio, ferro,

cloreto e sulfato.

Quanto à concentração de sólidos totais dissolvidos, foi constatado que as

águas provenientes de três poços (10%) apresentam restrição de uso na indústria de

papel, embora possam ser utilizadas sem ressalvas nas indústrias de sucos,

refrigerantes, cervejas, conservas e laticínios (Figura 5.7).

Tipo de

Indústria

Dureza Alcalinidade STD NO3- Ca

2+ Fe

2+ Mn

2- Cl

- SO4

2-

pH

(mg/L CaCO3) (mg/L)

Curtume 50 135 - - - 0,2 0,2 - 100 8

Textil 50 - - - 10 0,25 0,25 100 - -

Cervejaria 50 75 1000 10 200 0,1 0,1 100 - 7

Sucos e

Refrigerantes 25 128 850 - - 0,2 0,2 250 250 -

Laticínios 180 - <500 30 - 0,3 0,1 30 60 -

Açucareira 30-100 - - - 20 0,1 - - - -

Água de

refrigeração 50 - - - - 0,5 0,5 - - -

Conservas 50-80 80-150 850 15 500 0,2 0,2 - - 7,5

Papel 100 200 200 - - 0,1 0,05 75 - -

Tabela 5.3 – Avaliação da qualidade das águas para fins industriais diversos. Adaptado de

MATHESS (1982), DRISCOLL (1986) e SZIKSZAY (1993).

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96

Em relação à concentração de nitrato, foi identificado que as águas oriundas de

nove poços (30%) são inviáveis para aplicação nas indústrias de cerveja e de

conserva (Figura 5.8). É importante ressaltar que dessas nove amostras, oito foram

coletadas na zona urbana da área de estudo (subárea A). Para a indústria de

laticínios, a concentração de nitrato das águas analisadas não limita o seu uso.

Considerando a concentração de cloreto nas águas estudadas, foi observado

restrição de uso principalmente nas indústrias de laticínios (Figura 5.9), totalizando

40% das amostras. Embora menos expressivo, também foi constatado, pelo teor de

cloreto, limitação das águas nas indústrias de papel (10%).

No tocante ao teor de ferro, de modo geral, as aguas analisadas não

apresentam restrição ao uso industrial: apenas as águas provenientes de um poço é

considerada inviável para uso nas indústrias de cerveja, açucar, papel, curtume,

sucos e refrigerantes, conservas, textil e laticínios (Figura 5.10).

A análise das concentrações de cálcio e de sulfato resultou em águas próprias

para uso industrial, conforme os parâmetros aplicados.

0

200

400

600

800

1000

1200

STD

(m

g/L)

Subárea A

Subárea B

Subárea C

Cervejaria

Sucos, Refigerantes eConservasLaticínios

Figura 5.7 – Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para uso industrial quanto à

concentração de sólidos totais dissolvidos (mg/L).

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97

0

5

10

15

20

25

30

35

Nit

rato

(m

g/L

de

N) Subárea A

Subárea B

Subárea C

Cervejaria e Conservas

Laticínios

Figura 5.8 – Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para uso industrial quanto à

concentração de nitrato (mg/L de N-NO3-).

Figura 5.9 – Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para uso industrial quanto à

concentração de cloreto (mg/L).

0

50

100

150

200

250

300

Clo

reto

(m

g/L)

Subárea A

Subárea B

Subárea C

Sucos e Refrigerantes

Textil e Cervejaria

Papel

Laticínios

Figura 5.10 – Avaliação da qualidade das águas subterrâneas para uso industrial quanto à

concentração de ferro (mg/L).

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

Ferr

o (

mg/

L)

Subárea A

Subárea B

Subárea C

Água de Refrigeração

Laticínios

Textil

Curtume, Sucos eRefrigerantes, ConservasCervejaria, Açucareira, Papel

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98

6. ARTIGO 02 - MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE À CONTAMINAÇÃO

DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO SISTEMA AQUÍFERO BARREIRAS NA

BACIA DO RIO PIRANGI/RN UTILIZANDO OS MÉTODOS GOD, DRASTIC E IS.

Este artigo foi produzido por Janaína Medeiros da Silva, autora dessa

dissertação, sob a orientação, supervisão e auxílio dos Professores Dr. José

Geraldo de Melo e Dr. José Braz Diniz Filho. Este trabalho foi submetido para a

Revista científica “Águas Subterrâneas” no dia 21 de janeiro de 2020.

MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE À CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS

SUBTERRÂNEAS DO SISTEMA AQUÍFERO BARREIRAS NA BACIA DO RIO

PIRANGI/RN UTILIZANDO OS MÉTODOS GOD, DRASTIC E IS.

MAPPING THE VULNERABILITY OF WATER CONTAMINATION OF BARREIRAS

AQUIFER SISTEM IN THE PIRANGI RIVER BASIN USING GOD, DRASTIC AND IS

METHODS.

Janaína Medeiros da Silva1

José Geraldo de Melo1,2

José Braz Diniz Filho2

1 Programa de Pós-graduação em Geodinâmica e Geofísica, UFRN, Avenida

Senador Salgado Filho, 3000, Caixa Postal 1596, Bairro Lagoa Nova, CEP 59078-

970, Natal, RN; 2 Departamento de Geologia, UFRN, Natal, RN.

RESUMO

Este estudo objetiva realizar o mapeamento da vulnerabilidade natural e antrópica à

contaminação do Sistema Aquífero Barreiras (SAB) na Bacia do Rio Pirangi

aplicando os métodos GOD, DRASTIC e IS. A partir da análise e interpretação de 38

perfis litológicos de poços distribuídos na área de estudo e de dados cartográficos

de trabalhos anteriores, foi realizado o mapeamento da profundidade ao lençol

freático, grau de confinamento do aquífero, litologia da zona não saturada, recarga

pluviométrica, material litológico do aquífero, tipo de solo, declividade, condutividade

hidráulica e uso e ocupação do solo. O cruzamento das informações em sistema

SIG foi feita através da ferramenta ‘álgebra de mapa’ do software ArcGis 10.1. De

modo geral, o zoneamento da vulnerabilidade a partir do método GOD revelou maior

restrição quanto ao uso e ocupação do solo frente aos métodos DRASTIC e IS, visto

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99

que foram identificados predominantemente setores de alta vulnerabilidade.

Considerando as zonas de uso e ocupação do solo, identificou-se para a zona

urbana índice de vulnerabilidade predominantemente baixo e intermediário através

dos métodos GOD e DRASTIC e índice intermediário através do método IS. Nas

zonas de desenvolvimento agrícola e no domínio de lagoas e dunas com pouca

intervenção humana, determinou-se, através dos métodos DRASTIC e IS, índices de

vulnerabilidade baixo e intermediário, enquanto pelo método GOD há predominância

de alta vulnerabilidade. Diante do mapeamento de áreas mais sensíveis à

contaminação do aquífero, recomenda-se adoção de medidas de controle ambiental

mais efetivas, além da elaboração de bases cartográficas mais detalhadas e

aquisição de dados mais aprofundados quanto ao uso e ocupação do solo e as

fontes de contaminação.

Palavras chave: vulnerabilidade natural e antrópica, Sistema Aquífero Barreiras,

Bacia do Rio Pirangi, contaminação de aquíferos.

ABSTRACT

This study aims to map the natural and anthropogenic vulnerability to contamination

of the Barreiras Aquifer System (SAB) in the Pirangi River Basin by applying GOD,

DRASTIC and IS methods. From the analysis and interpretation of 38 lithological

profiles of wells distributed in the study area and cartographic data from previous

works, the mapping of the depth to the water table, aquifer confinement degree,

unsaturated zone lithology, rainfall recharge, lithological aquifer material, soil type,

slope, hydraulic conductivity and land use and occupation. The information crossing

in GIS system was done through the map algebra tool of ArcGis 10.1 software. In

general, the vulnerability zoning from the GOD method revealed greater restriction

regarding land use and occupation compared to the DRASTIC and IS methods, since

predominantly high vulnerability sectors were identified. Considering the areas of

land use and occupation, a predominantly low and intermediate vulnerability index

was identified for the urban zone through the GOD and DRASTIC methods and an

intermediate index through the IS method. In the areas of agricultural development

and in the area of lagoons and dunes with little human intervention, low and

intermediate vulnerability indices were determined using the DRASTIC and IS

methods, while the GOD method has a high vulnerability predominance. Given the

mapping of areas more sensitive to aquifer contamination, it is recommended to

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100

adopt more effective environmental control measures, as well as the elaboration of

more detailed cartographic bases and the acquisition of more detailed data on land

use and occupation and sources of contamination.

Keywords: natural and anthropic vulnerability, Barreiras Aquifer System, Pirangi

River Basin, aquifer contamination.

1. INTRODUÇÃO

As águas subterrâneas constituem recurso estratégico e vital para o

abastecimento econômico e seguro com água potável nos meios urbano e rural em

diversas regiões do planeta. Contudo, o desenvolvimento econômico sem o

planejamento ambiental adequado tem sido causa de diversos impactos ambientais

que influenciam diretamente os processos hidrológicos e ameaçam a qualidade das

águas subterrâneas (TUCCI, 2003), sendo imprescindível o desenvolvimento de

políticas de controle e preservação ambiental baseadas no desenvolvimento

sustentável.

Nesse contexto, a identificação do grau de suscetibilidade de aquíferos à

contaminação representa um instrumento norteador na gestão governamental e não-

governamental dos recursos hídricos subterrâneos (NOBRE, 2006; PATRIKAKI et

al., 2012; FOSTER et al., 2013). O termo “vulnerabilidade” pode ser compreendido

como um conjunto de características inerentes ao aquífero, naturais ou antrópicas, e

que determinam o quanto esse poderá ser afetado por determinada carga

contaminante (BRAGA, 2008). A interação entre a vulnerabilidade natural do

aquífero e o perigo à contaminação (avaliação da potencial carga contaminante)

determina o risco à contaminação do aquífero (GOERL et al., 2012).

Na Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi, Região Metropolitana de Natal (RMN), as

águas do Sistema Aquífero Barreiras (SAB) constituem principal fonte de

abastecimento para as populações urbana e rural, sendo essa unidade

hidrogeológica caracterizada por elevadas potencialidades hídricas, facilidade de

captação e águas com excelente qualidade em suas condições naturais (MELO et

al., 2017).

Entretanto, nas ultimas décadas, a região tem passado por expressivo

crescimento urbano e agrícola. A cidade de Parnamirim, localizada na porção norte

da bacia, contém população atual estimada em 261.469 habitantes e taxa de

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101

crescimento de 7 mil pessoas para moradia por ano (IBGE), sendo a maior dentre os

municípios da RMN. A ausência de saneamento básico na cidade condiciona o uso

de sistemas de esgotamento sanitário rudimentares (sumidouros e fossas negras),

constituindo ameaça aos mananciais subterrâneos principalmente no tocante à

contaminação por compostos nitrogenados. Além disso, no domínio oeste da bacia,

onde são desenvolvidas predominantemente atividades agropecuárias, constata-se

adoção de práticas agrícolas sem controle do uso de fertilizantes e/ou pesticidas,

afetando a qualidade hídrica subterrânea.

O uso de fertilizantes agrícolas, criação de animais e os sistemas de

saneamento in situ constituem importantes fontes de nitrato nas águas subterrâneas

(VARNIER & HIRATA, 2002). O íon nitrato é um contaminante de elevada

preocupação ambiental devido à sua grande mobilidade na água e persistência em

condições aeróbias.

Face ao exposto e considerando a escassez de estudos na área que abordam

tal temática (ANA, 2012; MELO et al., 2017), esse trabalho objetiva realizar uma

análise comparativa do mapeamento da vulnerabilidade à contaminação do SAB na

Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi a partir da aplicação dos métodos GOD, DRASTIC

e IS.

2. ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo (370 Km2) está inserida na Bacia hidrográfica do Rio Pirangi

(Figura 1), localizada no litoral oriental do estado do Rio Grande no Norte,

abrangendo os municípios de Natal, Parnamirim, Macaíba, Nísia Floresta, São José

de Mipibú e Vera Cruz, os quais, com exceção do último, fazem parte da RMN. A

bacia é composta pelas sub-bacias dos rios Pitimbu, Taborda e Pium, todos

perenes, além dos riachos Mendes, Água Vermelha e Lamarão, afluentes do Rio

Pirangi e pelas lagoas do Jiquí e do Pium. LUCENA et al. (2004) afirmam ampla

relação entre os mananciais superficiais e subterrâneos, sendo o SAB nitidamente

de regime influente nos canais fluviais e lagoas.

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102

O clima da área de estudo é do tipo As’ – quente e úmido (KOPPEN e GEIGER,

1928) e elevado regime pluviométrico com destaque para os setores centro e leste

da bacia, onde as precipitações são superiores a 1600 mm/ano (EMPARN, média

1992-2018). No setor oeste, as precipitações pluviométricas diminuem para 800

mm/ano.

A geologia da área de estudo é constituída, da base para o topo, pelas seguintes

unidades litoestratigráficas: sequência do embasamento cristalino Pré-cambriano,

representado pelas rochas ígneas e metamórficas; sequência sedimentar Cretácea,

formada por rochas carbonáticas e areníticas; sequência Cenozoica Tércio-

Quaternária constituída pelos arenitos argilosos com níveis de argilitos e

conglomerados da Formação Barreiras; e sequência Quaternária, formados por

sedimentos aluvionares, colúvio-eluviais e eólicos (Figura 2) (BARRETO et al., 2004;

ANGELIM et al., 2006), sendo apenas as duas últimas sequências aflorantes na

bacia. Quanto à geomorfologia, predominam os tabuleiros costeiros e as planícies

fluviais.

Figura 1 - Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Pirangi - Região Metropolitana de Natal.

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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103

Figura 2 - Unidades litoestratigráficas e perfil geomorfológico da Bacia do Rio Pirangi - Região

Metropolitana de Natal. Adaptado de ARAÚJO et al. (2006).

O SAB é a principal unidade hidrogeológica da área de estudo, sendo suas

águas destinadas para consumo humano, irrigação de culturas e uso industrial. O

SAB é litologicamente constituído pelas rochas de formação homônima, compondo

estratos areníticos horizontalizados de espessuras variadas, ocorrendo arenitos

finos associado com intercalações argilosas na parte superior e arenitos médios a

grossos na parte inferior. As camadas argilosas promovem semiconfinamentos

localizados (aquitard), embora que o caráter livre do aquífero seja dominante

(SERHID, 1998). A compartimentação estrutural do terreno exerce marcante

influência sobre as espessuras saturadas do SAB e suas potencialidades, o que se

reflete na produtividade dos poços, visto que as maiores vazões explotáveis

correspondem às maiores espessuras saturadas (BEZERRA et al., 1993; LUCENA

et al., 2006).

Quanto ao uso e ocupação do solo, a área de estudo pode ser subdividida em

três domínios principais: zona urbana consolidada e áreas de expansão urbana no

setor norte; ecossistema de lagos e dunas com pouca interferência antrópica e

características naturais preservadas no setor leste; atividade agropecuária com

cultivo predominante de feijão, batata e macaxeira no setor oeste.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

A avaliação da vulnerabilidade à contaminação do SAB na Bacia do Rio Pirangi

consistiu na aplicação dos métodos GOD, DRASTIC e IS, a partir da sobreposição

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104

de parâmetros litológicos, hidrogeológicos e geoambientais conforme estabelecidos

nos métodos adotados.

O método GOD (FOSTER, 1987; FOSTER et al., 2006) avalia a vulnerabilidade

natural de um aquífero a partir da análise e atribuição de um valor numérico a cada

ponto de investigação (poço), considerando cada parâmetro apreciado no método.

No método GOD, os seguintes indicadores são observados: grau de confinamento

do aquífero (G), litologia e seu grau de consolidação na zona vadosa ou camadas

confinantes (O) e profundidade do nível freático do aquífero (D) (Tabela 1).

Conforme Equação 1, o resultado, definido como índice de vulnerabilidade GOD, é

determinado em cada ponto, compondo um conjunto de valores de vulnerabilidade

espacialmente distribuídos, permitindo, mediante interpolação (vizinho natural),

promover o zoneamento da vulnerabilidade à contaminação de um aquífero.

Í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝐺𝑂𝐷 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐺 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑂 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐷 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 1)

Segundo o método, as variáveis G, O e D são igualmente significantes na

determinação do índice de vulnerabilidade GOD, o qual permite classificar a

vulnerabilidade do aquífero à contaminação desde insignificante (< 0,1) até extrema

(> 0,7) (Tabela 2) e o seu uso elimina ou minimiza a subjetividade inerente aos

processos de avaliação (LEITÃO et al., 2003). Devido à simplicidade de operação e

baixo custo de aplicação, o método GOD é amplamente utilizado em estudos

preliminares, podendo compor estratégia de gestão e planejamento ambiental para

definição técnica de zonas de uso e ocupação do solo, permitindo controle efetivo de

lançamento de cargas contaminantes em regiões onde o aquífero está mais

ameaçado.

Assim como no GOD, a aplicação dos métodos DRASTIC e IS consistiu em

avaliar e quantificar cada parâmetro de análise em cada ponto de investigação. O

método DRASTIC (ALLER et al., 1987) avalia a vulnerabilidade natural do aquífero

considerando sete parâmetros: profundidade do nível freático do aquífero (D),

recarga (R), litologia do aquífero (A), tipo do solo (S), topografia (T), impacto da zona

não saturada (I) e condutividade hidráulica (C) (Tabela 3). A cada variável é

atribuído um valor entre 1 a 10, o qual, posteriormente, é multiplicado por um peso,

que pode variar de 1 a 5. Logo, no método DRASTIC, os parâmetros analisados

possuem distintas significâncias na determinação do índice de vulnerabilidade, o

qual é obtido a partir soma ponderada dos sete parâmetros (Equação 2). O resultado

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105

obtido permite classificar a vulnerabilidade do aquífero desde baixa (< 120) até muito

alta (> 199) (Tabela 4).

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐷𝑅𝐴𝑆𝑇𝐼𝐶 = 5 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐷 + 4 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑅 + 3 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐴 + 2 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑆 + 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑇 +

5 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐼 + 3 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐶 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2)

O método IS (índice de susceptibilidade) (FRANCÉS et al., 2001) originou-se a

partir da modificação do método DRASTIC e avalia a vulnerabilidade natural e

antrópica à contaminação do aquífero a partir de cinco parâmetros: profundidade do

nível freático do aquífero (D), recarga (R), litologia do aquífero (A), topografia (T) e

uso e ocupação do solo (US) (Tabelas 5 e 6). Assim como no método DRASTIC, um

valor é atribuído a cada parâmetro e multiplicado por um peso (Equação 3). O índice

de vulnerabilidade é obtido a partir da soma ponderada dos parâmetros, que pode

variar de 0 a 100, e a vulnerabilidade do aquífero à contaminação é classificada

desde baixa (<45) até muito alta (>85) (Tabela 7).

Í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝐼𝑆 = 0,186 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐷 + 0,212 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑅 + 0,259 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐴 + 0,121 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑇

+ 0,222 ∗ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑈𝑆 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 3)

Nos métodos GOD, DRASTIC e IS, admite-se que todos os contaminantes

possuam as mesmas características de mobilidade na água. Além disso, atribui-se

que a carga contaminante migra verticalmente até o aquífero por infiltração de águas

meteóricas (recarga), não se aplicando a situações em que o poluente está

introduzido à profundidade no aquífero.

O método IS se diferencia dos métodos GOD e DRASTIC por considerar a

interferência antrópica na avaliação de vulnerabilidade do aquífero. O conceito de

vulnerabilidade pode ser dividido em vulnerabilidade intrínseca e vulnerabilidade

específica (AUGE, 2004). No primeiro, a vulnerabilidade do aquífero à contaminação

envolve somente as características do meio sem considerar as características da

potencial carga de contaminantes; no segundo, são consideradas tanto as

características do meio como da potencial carga de contaminantes.

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106

Parâmetro G

Parâmetro O

Parâmetro D Não consolidados

(Sedimentos) Consolidados

(Rochas porosas) Consolidados

(Rochas densas)

Tipologia Valor

G Tipologia

Valor O

Tipologia Valor

O Tipologia

Valor O

Limite (m)

Valor O

Nenhum 0 Argilas lacustres/

estuarinas 0,4 Lamito 0,5

Formações ígneas e metamórficas

0,6-0,7

>50 0,6

Fluxo ascendente jorrante

0 Siltes residuais 0,4 Xisto 0,5-0,6

Lavas vulcânicas recentes 0,8 20-50 0,7

Confinado 0,2 Siltes, loess, till glacial 0,5 Siltito 0,6 Calcretes / calcários

cársticos 0,9-1,0

5-20 0,8

Semiconfinado 0,4 Areia eólica 0,6 Turfo vulcânico 0,6-0,7

< 5 0,9

Não confinado (coberto)

0,6 Areia aluvial fluvioglacial

0,7 Arenitos 0,7-0,8

Não confinado 1,0

Cascalho de leques aluviais

0,8 Calcário /

calcarenito 0,8-0,9

Valor GOD < 0,1 0,1 – 0,3 0,3 – 0,5 0,5 – 0,7 >0,7

Vulnerabilidade Insignificante Baixa Média Alta Extrema

Tabela 1 – Parâmetros e valores inerentes à avaliação da vulnerabilidade de aquífero à contaminação pelo método GOD. Adaptado de FOSTER et al.

(2006).

Tabela 2 – Classes de vulnerabilidade à contaminação de aquífero pelo método GOD. Adaptado de FOSTER et al. (2006).

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107

Parâmetro D Parâmetro R Parâmetro A Parâmetro S Parâmetro T Parâmetro I Parâmetro C

Limite (m)

Valor D

Limite (mm)

Valor R

Tipologia Valor

A Tipologia

Valor S

Limite (%)

Valor T

Tipologia Valor

I Limite (m/dia)

Valor C

<1,5 10 < 50 1 Xisto argiloso,

argilito 1-3 (2)

Fino ou ausente 10 < 2 10 Camada

confinante 1 <4,1 1

1,5-4,5

9 50-100 3 Rocha

metamórfica ou ígnea

2-5 (3)

Areia 9 2-6 9 Argila/Silte 2-6 (3)

4,1-12,2 2

4,5- 9,0

7 100-180

6 Rocha

metamórfica ou ígnea alterada

3-5 (4)

Turfa 8 6-12 5 Folhelho argiloso,

argilito 3-5 (3)

12,2-28,5

4

9,0- 15,0

5 180- 255

8 Arenito, calcário

e argilito estratificado

5-9 (6)

Argila expansiva e/ou agregada

7 12-18 3 Calcário 2-7 (6)

28,5-40,7

6

15,0-23,0

3 >255 9 Arenito, calcário

ou areia e cascalho

4-9 (6)

Franco arenoso 6 >18 1 Arenito ou

arenito, calcário e/ou argilito

4-8 (6)

40,7-81,5

8

23,0-30,0

2

Basalto 2-10 (9)

Franco siltoso 4

Rocha metamórfica

2-8 (4)

>81,5 10

>30,0 1 Calcário cárstico 9-10 (10)

Franco argiloso 3 Basalto 2-10 (9)

Calcário 2 Calcário

carstificado 2-10 (10)

Argila não expansível e não

agregada 1

Valor DRASTIC <120 120 -159 159 – 199 >199

Vulnerabilidade Baixa Intermediária Alta Muito Alta

Tabela 3 – Parâmetros e valores inerentes à avaliação da vulnerabilidade de aquífero à contaminação pelo método DRASTIC. Adaptado de ALLER et al

(1987).

Tabela 4 – Classes de vulnerabilidade à contaminação de aquífero pelo método DRASTIC. Adaptado de ALLER et al (1987).

. Adaptado de FOSTER et al. (2006).

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108

Parâmetro D Parâmetro R Parâmetro A Parâmetro T

Limite (m) Valor D Limite (mm) Valor R Tipologia Valor A Limite (%) Valor T

<1,5 100 <51 10 Xisto argiloso, argilito 10 - 30 (20) < 2 100

1,5 - 4,6 90 51 – 102 30 Rocha metamórfica ou ígnea 20 - 50 (30) 2-6 90

4,6 - 9,1 70 102 – 178 60 Rocha metamórfica ou ígnea alterada 30 - 50 (40) 6-12 50

9,1 - 15,2 50 178 – 254 80 “Till” Glacial 40-60 (50) 12-18 30

15,2 - 22,9 30 >254 90 Arenito, calcário e argilito estratificado 50 - 90 (60) >18 10

22,9 - 30,5 20

Arenito maciço 40 - 90 (60)

>30,5 10 Calcário maciço/areia e balastro 40 - 90 (80)

Basalto 20 -100 (90)

Calcário Carsificado 90 - 100 (100)

Tabela 5 – Parâmetros e valores inerentes à avaliação da vulnerabilidade de aquífero à contaminação pelo método IS. Adaptado de FRANCÊS et al (2001).

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109

Parâmetro US

Tipologia Valor US

Descargas industriais, zonas de espalhamento de lixos 100

Perímetros regados, arrozais 90

Aeroportos, zonas potuárias, infraestrutura de rede de autoestradas e da rede ferroviária

75

Espaços de atividades industriais, comerciais e de equipamentos em geral

Espaços verdes urbanos

Zonas com equipamentos desportivos e de ocupação de tempos livres

Tecido urbano contínuo

Tecido urbano descontínuo 70

Culturas permanentes (vinhas, pomares, oliveiras, etc)

Culturas anuais associadas às culturas permanentes

50

Pastagens

Sistemas culturas e parcelares complexos

Terras ocupadas principalmente por agricultura com espaços naturais importantes

Territórios agroflorestais

Meios aquáticos (sapais, salinas, ect)

Florestas e meios seminaturais, superfícies com água 0

Tabela 6 – Parâmetro US e valor inerentes à avaliação da vulnerabilidade de aquífero à contaminação pelo método IS. Adaptado de FRANCÊS et al (2001).

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110

A elaboração do zoneamento da vulnerabilidade do aquífero à contaminação

utilizando os métodos GOD, DRASTIC e IS iniciou com produção de mapas

temáticos. Os mapas que retratam o grau de confinamento do aquífero, as

características litológicas do aquífero e da zona não saturada e a profundidade ao

lençol freático foram elaborados a partir da análise e interpretação de perfis

litológicos e construtivos de 38 poços distribuídos na área de estudo seguida de

interpolação através da técnica de vizinho natural.

Os demais parâmetros foram obtidos a partir de estudos anteriores e bases

cartográficas já conhecidas. Os dados sobre recarga do aquífero foram obtidos a

partir de ANA (2012), que desenvolveram estudos hidrogeológicos na RMN. As

características pedológicas são oriundas do Projeto RADAM, as quais foram

atualizadas com imagens de satélite e levantamentos de campo, e

disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na

escala 1:250.000. Os dados topográficos foram obtidos a partir do modelo digital

de elevação do Projeto Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), que são

imagens de radar com resolução espacial de 30 metros, disponibilizados pelo

serviço Earth Explorer do USGS (Serviço Geológico Americano). Devido à

carência de dados de recarga pluvial e de tipos de solos a nível local para a área

de estudo, foram utilizados bases cartográficas regionais, o que pode acarretar em

perda de acurácia devido a generalizações. No Brasil, apenas 1% do território

nacional foi mapeado em escala 1:100.000, demonstrando a incipiência dos dados

e a dificuldade de obtenção de bases cartográficas que permitam estudos de

vulnerabilidade de aquíferos mais detalhados (CONCAR, 2013).

Os valores de condutividade hidráulica e informações sobre o uso e ocupação

do solo foram obtidos a partir de MELO et al. (2017) que desenvolveram estudo

hidrogeológico na Bacia do Rio Pirangi.

Valor IS 0 – 45 45 – 65 65 – 85 85 – 100

Vulnerabilidade Baixa Intermediária Alta Muito Alta

Tabela 7 - Classes de vulnerabilidade à contaminação de aquífero pelo método IS. Adaptado de

FRANCÊS et al (2001).

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111

Considerando os setores de uso e ocupação do solo, o perigo à poluição do

aquífero foi classificado conforme o método POSH (FOSTER et al., 2002), que

considera o tipo de atividade antrópica desenvolvida e sua capacidade geradora

de contaminante (perigo). Esse método determina perigo elevado às cargas

poluidoras oriundas do perímetro urbano e das atividades agrícolas e insignificante

às áreas de vegetação remanescente. Os resultados da vulnerabilidade natural à

contaminação do aquífero (métodos GOD e DRASTIC) foram confrontados perigo

à poluição, gerando discussões, embora preliminares, sobre o risco de

contaminação do SAB na área de estudo (Tabela 8).

Índice de vulnerabilidade do aquífero

Baixa Intermediária Alta

Perigo à

contaminação

Insignificante Muito baixo Baixo Baixo

Moderado Baixo Moderado Alto

Elevado Moderado Alto Extremo

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As características dos parâmetros utilizados, representados a partir de mapas

temáticos, são descritas a seguir.

A análise do nível do lençol freático do SAB na área de estudo revela

profundidades entre 1,57 m a 38,60 m, sendo verificado, de modo geral, aumento

da profundidade do nível freático de montante para jusante com relação ao fluxo

subterrâneo, ou seja, no sentido oeste-leste. Considerando mesmo tempo de

infiltração de contaminantes, quanto mais profundo for o lençol freático, maior

tempo o contaminante necessita para atingir o aquífero, e consequentemente,

menos vulnerável este estará. No método GOD, a avaliação do nível freático

permitiu subdividir a área de estudo em três classes, enquanto nos métodos

DRASTIC e IS foram identificadas seis classes.

A recarga pluviométrica elevada proporciona maior transporte de determinada

carga contaminante, aumentando a vulnerabilidade do aquífero. Os dados sobre

recarga pluviométrica (ANA, 2012) permitiram subdividir a área de estudo em três

classes, conforme intervalos estabelecidos nos métodos DRASTIC e IS. O

domínio oeste apresenta valores de recarga de 48 mm/ano; ao centro e ao leste a

Tabela 8 – Determinação do risco à contaminação de aquífero.

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112

estimativa de recarga é de 148 mm/ano; a sudeste, foi delimitada uma pequena

área com recarga de 370 mm/ano. Nessa ultima, a recarga é acentuada devido à

presença de campos dunares, favorecendo a infiltração das águas pluviométricas.

O material constituinte do aquífero influencia a capacidade de percolação de

um contaminante ao longo do manancial subterrâneo, relacionando intimamente a

porosidade específica com a velocidade do fluxo. Na área de estudo, a análise do

material da camada aquífera mapeou duas classes, conforme características

estabelecidas nos métodos DRASTIC e IS. Em 81,15% da área, o material do

aquífero foi caracterizado como arenítico. No restante, o aquífero é composto

litologicamente por arenitos com intercalações argilosas.

O tipo de solo subordina a susceptibilidade à contaminação do aquífero por

influenciar diretamente na infiltração. A Bacia do Rio Pirangi é constituída

pedologicamente por neossolos, latossolo, argissolo e coberturas dunares. Os

neossolos, caracterizados pelo pequeno desenvolvimento pedogenético, de pouca

profundidade e com predomínio de areias quartzosas, ocorrem em faixas pouco

expressivas no sudeste da área, abrangendo 5,07% da área de estudo. Os

latossolos, solos minerais com pouca diferenciação entre horizontes e camadas,

são predominantes na área de estudo, perfazendo 68,35%. Os argissolos, que

ocorrem margeando os cursos d’água e caracterizados por níveis argilosos,

cobrem 23,73% da área de estudo. Por fim, os campos dunares ocorrem no

extremo sudeste da área, abrangem apenas 2,85%.

A análise da topografia do terreno na avaliação da vulnerabilidade do aquífero

é importante tendo em vista a relação entre o escoamento superficial e infiltração.

Em locais de maior declividade, o escoamento superficial é favorecido, diminuindo

a infiltração e consequentemente o transporte do contaminante até o aquífero. A

análise da declividade do terreno permitiu definir cinco intervalos conforme os

métodos DRASTIC e IS, os quais variam desde valores abaixo de 2% até

declividades acima de 18%. A presença dos tabuleiros costeiros resulta no

predomínio de baixas declividades, embora ocorram trechos de declividade mais

acentuada nas encostas dos principais vales e nos campos dunares.

O mapeamento litológico da zona não saturada dividiu a área de estudo em

seis domínios aflorantes: campos dunares, que ocorrem no setor sudeste da área

de estudo (3,79%); sedimentos arenosos finos a médios no setor sudeste e

pequena ocorrência no setor oeste (14,16%); arenitos com coberturas arenosas

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113

nos domínios sul e oeste da bacia (36,06%); arenito com coberturas

arenoargilosas no setor noroeste da área (6,43%); arenito na porção central e

extremo norte (19,64%); arenito com intercalações argilosas no setor norte

(19,92%). A análise dos estratos na zona não saturada também permitiu avaliar o

grau de confinamento do aquífero, parâmetro utilizado no método GOD.

Identificou-se ocorrência de semiconfinamento do aquífero na porção norte da

área de estudo (23,94%). Nos demais setores, admitiu-se aquífero de caráter livre

(76,06%).

A condutividade hidráulica é uma propriedade do aquífero que reflete a

facilidade com que a água nele se movimenta. Os valores de condutividade

hidráulica na área de estudo variam de 0,28 a 176,25 m/dia, sendo constatado, de

modo geral, aumento da condutividade hidráulica no sentido oeste-leste.

Conforme intervalos estabelecidos pelo método DRASTIC, cinco classes de

condutividade hidráulica foram mapeadas.

As Figuras 3, 4 e 5 representam a base de dados cartográficos necessárias a

analise de vulnerabilidade do SAB na área de estudo a partir dos métodos GOD,

DRASTIC e IS, respectivamente.

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114

Figura 3 – Base de dados cartográficos utilizados na avaliação

da vulnerabilidade natural do SAB na Bacia do Rio Pirangi a

partir do método GOD. A - Grau de confinamento do aquífero

(Parâmetro G). B – Material da zona não saturada (Parâmetro O).

C - Profundidade ao lençol freático (Parâmetro D). Datum WGS

84, Projeção UTM 25 M.

A B

C

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115

D C

A B

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116

E

G

F

Figura 4 – Base de dados cartográficos utilizados na avaliação

da vulnerabilidade natural do SAB na Bacia do Rio Pirangi a

partir do método DRASTIC. A - Profundidade ao lençol freático

(Parâmetro D); B – Recarga pluviométrica (Parâmetro R), ANA

(2012); C – Material do aquífero (Parâmetro A); D – Tipos de solo

(Parâmetro S), IBGE; E – Declividade do terreno (Parâmetro T),

(UGSS); F – Material da zona não saturada (Parâmetro I); G –

Condutividade Hidráulica (Parâmetro C), MELO et al (2017).

Datum WGS 84,Projeção UTM 25 M.

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117

A

D C

B

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118

A avaliação da vulnerabilidade do SAB na Bacia do Rio Pirangi pelo

método GOD identificou quatro categorias de vulnerabilidade distintas (Figura

6): os valores de baixa vulnerabilidade se concentram na região centro norte da

bacia (22,76%), abrangendo predominantemente a zona urbana; no setor

centro sul e extremo norte (19,52%), também caracterizado como perímetro

urbano, predominam valores de vulnerabilidade média; nas regiões oeste, onde

são desenvolvidas atividades agrícolas, e sudeste, a qual preserva

características naturais relevantes, prevalece índice de vulnerabilidade alto

(51,66%); atribuiu-se índice de vulnerabilidade extrema para os leitos dos rios

(6,06%).

No domínio centro norte da bacia, a ocorrência de camadas argilosas na

zona não saturada confere ao aquífero a característica de semiconfinamento,

tornando essa região menos suceptível à contaminação. Por outro lado, o

caráter livre do aquífero no restante na área de estudo concede às águas

subterrâneas maior exposição à contaminação, constituindo zonas de média e

alta vulnerabilidade. A zona de média vulnerabilidade ocorre

predominantemente onde a profundidade ao lençol freático é inferior a 20 m e a

zona não saturada é composta por arenitos, arenitos com coberturas arenosas

e arenitos argilosos com coberturas arenosas. Conforme método apresentado,

Figura 5 – Base de dados cartográficos utilizados na avaliação da vulnerabilidade natural do

SAB na Bacia do Rio Pirangi a partir do método IS. A - Profundidade ao lençol freático

(Parâmetro D); B – Recarga pluviométrica (Parâmetro R), ANA (2012); C – Material do

aquífero (Parâmetro A); D – Declividade do terreno (Parâmetro T); E – Uso e ocupação do

solo (Parâmetro US), MELO et al (2017). Datum WGS 84, Projeção UTM 25M.

E

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119

o “valor O” atribuído a essas litologias pouco distoam entre si, sendo nesse

caso, a profundidade ao lençol freático fator de maior controle no índice de

vulnerabilidade. As zonas de alta vulnerabilidade predominam onde o lençol

freático está mais próximo da superfície (setor oeste) e onde a zona não

saturada é constituída por sedimentos (inconsolidados), permitindo maior

infiltração de um possível contaminante (setor sudeste). Considerando a ampla

relação entre os mananciais superficiais e subterrâneos na área de estudo,

constatou-se índice de extrema vulnerabilidade à contaminação aos cursos

d’água.

Confrontando o índice de vulnerabilidade GOD e o potencial contaminante

das cargas poluidoras, é sugerido que o risco à contaminação do aquífero na

zona urbana varia entre moderado (domínio de baixa vulnerabilidade) e alto

(domínio de média vulnerabilidade). No setor oeste, é revelado risco à

contaminação extrema. Já na zona de ecossistema de lagoas e dunas, a qual

se caracteriza pela baixa intervenção antrópica, apesar do alto índice de

vulnerabilidade natural, o potencial contaminante insignificante concede à

região baixo risco à contaminação.

Figura 6 - Avaliação de vulnerabilidade natural à contaminação do SAB na Bacia do Rio

Pirangi pelo método GOD.

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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120

A partir do método DRASTIC foram identificadas três categorias de

vulnerabilidades distintas (Figura 7): baixa vulnerabilidade com predomínio no

setor oeste da área (zona agrícola), além de ocorrência nos setores central e

sul (70,39%); vulnerabilidade intermediária no setor norte, abrangendo parte da

zona urbana consolidada, e no leste, abrangendo o setor com pouca

interferência antrópica (23,55%); assim como no método GOD, atribuiu-se

máxima vulnerabilidade para o leito dos rios (6,06%).

Tendo em vista a quantidade de parâmetros analisados, o método

DRASTIC permite avaliação mais detalhada dos mecanismos envolvidos no

transporte dos contaminantes através dos mananciais subterrâneos. No

método GOD, a profundidade do nível do lençol freático foi determinante para

definir uma zona de alta vulnerabilidade no setor oeste da área, contudo, ao

considerar a recarga pluviométrica e a condutividade hidráulica, o método

DRASTIC apresenta resultado distinto, visto que o setor oeste apresenta

baixos valores de recarga e de condutividade hidráulica implicando em menor

fragilidade do aquífero à contaminação. Diferente dos resultados obtidos pelo

método GOD, a aplicação do método DRASTIC revela que a maior parte da

área de estudo apresenta baixo índice de vulnerabilidade à contaminação.

No domínio norte da área, os elevados valores de condutividade hidráulica,

atingindo 176,25 m/dia, contribuem para aumento da susceptibilidade do

aquífero, definindo zona de vulnerabilidade intermediária. No domínio sudeste,

a recarga elevada e à presença de sedimentos (inconsolidados) na zona não

saturada implicam índice de vulnerabilidade intermediário.

Tendo em vista o perigo à poluição do aquífero, é interpretado que o risco à

contaminação do aquífero na zona urbana varia entre moderado (zona de baixa

vulnerabilidade) e alto (zona de média vulnerabilidade). No domínio oeste da

área de estudo, as características de vulnerabilidade natural baixa e o elevado

potencial poluidor oriundo das atividades agrícolas atribui risco à poluição

moderado. No setor sudeste, apesar da vulnerabilidade média do aquífero, a

inexpressividade de fontes poluidoras, confere baixo risco à poluição do

aquífero.

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121

A aplicação do método IS resultou no zoneamento de três classes de

vulnerabilidade (Figura 8): nos domínio “tecido urbano contínuo”, localizados no

norte e centro da bacia e caracterizado por zona urbana consolidada e áreas

de expansão urbana, são determinadas zonas de vulnerabilidade intermediária.

No setor sudeste, caracterizado como “florestas e meios seminaturais,

superfícies com água” resultaram em baixa vulnerabilidade do SAB à

contaminação, com exceção das áreas com campos dunares, onde a recarga

pluviométrica é acentuada. No setor oeste da bacia, apesar da baixa recarga

pluviométrica, a baixa profundidade ao lençol subterrâneo e o desenvolvimento

de atividades agrícolas define zona de vulnerabilidade intermediária. A zona de

baixa vulnerabilidade perfaz 37,31% da área, enquanto a intermediária e alta,

55,35% e 7,34%, respectivamente.

Figura 7 - Avaliação de vulnerabilidade natural à contaminação do SAB na Bacia do Rio

Pirangi pelo método DRASTIC.

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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122

5. CONCLUSÕES

Considerando a necessidade de conciliar o desenvolvimento econômico

com a proteção dos recursos naturais, o mapeamento da vulnerabilidade do

aquífero à contaminação constitui ferramenta importante na gestão dos

recursos hídricos subterrâneos. O mapeamento da vulnerabilidade do SAB na

Bacia do Rio Pirangi aplicando os métodos GOD, DRASTIC e IS tem caráter

inovador diante de carência de estudos com esse enfoque na área.

De modo geral, o zoneamento da vulnerabilidade a partir do método GOD

revelou maior restrição quanto ao uso e ocupação do solo, visto que foram

identificadas predominantemente setores de alta vulnerabilidade, enquanto que

nos métodos IS e DRASTIC há predominância de vulnerabilidade intermediária

e baixa, respectivamente. Considerando as zonas de uso e ocupação do solo,

identificou-se para a zona urbana índice de vulnerabilidade predominantemente

baixo e intermediário através dos métodos GOD e DRASTIC e índice

intermediário através do método IS. Nas zonas de desenvolvimento agrícola e

no domínio de lagoas e dunas com pouca intervenção humana, determinou-se,

Figura 8 - Avaliação de vulnerabilidade natural e antrópica à contaminação do SAB na

Bacia do Rio Pirangi pelo método IS.

Datum WGS 84

Projeção UTM - 25 M

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123

através dos métodos DRASTIC e IS, índices de vulnerabilidade baixo e

intermediário, enquanto pelo método GOD há predominância de alta

vulnerabilidade. A aplicação dos métodos GOD, DRASTIC e IS gerou

resultados predominantemente distintos entre si, o que decorre dos diferentes

parâmetros considerados em cada método e da relevância de cada na análise.

Enquanto o método DRASTIC coloca a profundidade ao lençol freático e o

impacto da zona não saturada como principais fatores controladores, o método

IS enfatiza a litologia do aquífero e o impacto antrópico. No método GOD,

apesar de não atribuir pesos para os parâmetros analisados, tendo em vista

sua simplicidade, desconsidera características importantes da zona saturada

como o material do aquífero e a condutividade hidráulica.

Tendo em vista o mapeamento de vulnerabilidade realizado através dos

métodos GOD e DRASTIC e o potencial contaminante das atividades

antrópicas desenvolvidas na área de estudo, o SAB na zona urbana apresenta

risco à contaminação moderado a alto. Para a zona agrícola, foi obtido

interpretações distintas em função da vulnerabilidade do aquífero, sendo risco

à contaminação extremo quando aplicado o método GOD e moderado quando

aplicado o DRASTIC. Para zona de ecossistema de lagoas e dunas, apesar

dos resultados de vulnerabilidade, atribuiu-se baixo risco à contaminação em

virtude do perigo insignificante das atividades desenvolvidas nessa área.

O uso das águas do SAB é imprescindível para o contínuo

desenvolvimento urbano, agrícola e industrial na área da Bacia do Rio Pirangi,

com destaque para o município de Parnamirim. Entretanto, o mapeamento de

vulnerabilidade à contaminação do aquífero identificou áreas sensíveis à

poluição subterrânea, sendo necessária adoção de medidas restritivas quanto

ao uso e ocupação do solo. Além da aplicação de práticas de controle

ambiental mais efetivas, recomenda-se elaboração de bases cartográficas mais

detalhadas para a área de estudo principalmente em relação ao tipo de solo e a

recarga pluvial assim como aquisição de dados mais aprofundados quanto ao

uso e ocupação de solo e as fontes de contaminação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq – pelo apoio no desenvolvimento do

projeto da Rede FINEP/CNPq – CT – Hidro sob o título “Potencialidades e

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127

7. CONCLUSÕES

O Sistema Aquífero Barreiras é a unidade aquífera de maior expressividade

na região da Bacia do Rio Pirangi (RMN) e seu elevado potencial

hidrogeológico, caracterizado por valores de transmissividade e vazões

diferenciados, viabilizou, ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento

urbano e rural local com destaque para o município de Parnamirim.

Tendo em vista o crescimento urbano acelerado e a notificação de práticas

agrícolas inapropriadas, representando sérias ameaças à qualidade hídrica

subterrânea, o desenvolvimento desse estudo permitiu avaliar as

características fisicoquímicas das águas do SAB através de coleta e análise

química de amostras de água. Seguido de aplicações em diagramas

hidroquímicos e distribuição espacial de alguns parâmetros analisados, foi

possível avaliar o comportamento hidrogeoquímico das águas ao longo do fluxo

subterrâneo identificando os principais fatores controladores. As interpretações

feitas consideram as zonas de uso e ocupação do solo, subdividindo a região

estudada em três subáreas com características geoambientais particulares.

Além disso, o resultado e interpretação das análises químicas permitiu avaliar a

qualidade das águas quanto ao consumo humano, fins agrícolas e uso

industrial. A partir desse estudo também foi possível realizar o zoneamento da

vulnerabilidade à contaminação do SAB utilizando três métodos distintos,

identificando possíveis setores de maior fragilidade ambiental.

De modo geral, as águas do SAB na região da Bacia do Rio Pirangi foram

caracterizadas como levemente ácidas, de baixa salinidade e

predominantemente dos tipos cloretadas-sódicas-magnesianas e cloretadas-

sódicas. A precipitação é o principal fator controlador das características

fisicoquímicas das águas subterrâneas do SAB na área de estudo. Entretanto,

considerando as zonas de uso e ocupação do solo aplicadas neste trabalho, foi

possível avaliar e sugerir outros fatores que condicionam o caráter químico

dessas águas. Na zona urbana (subárea A), a presença significativa do íon

nitrato, implicando, em alguns casos, limitações de uso, sugere que a

qualidade natural das águas está sendo modificadas pela disposição

inadequada de efluentes sanitários, produto da urbanização sem o satisfatório

planejamento ambiental. Para o setor leste da área de estudo (subárea B), é

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128

sugerido que a recarga subterrânea elevada, função do alto regime

pluviométrico e da presença de campos dunares, e a inexpressiva intervenção

antrópica favoreçam a preservação das águas em sua condição natural,

caracterizadas pela baixa mineralização e neutralidade. Na subárea B não foi

constatado contaminação das águas por nitrato. No setor agrícola (subárea C),

o regime climático proporciona a salinização natural das águas. Entretanto, é

apontado ainda que o uso inadequado de fertilizantes e defensivos agrícolas e

o desenvolvimento de atividades agroindustriais altere a química das águas

subterrâneas, promovendo aumento da salinização e teores relativamente

elevados de nitrato, representando entraves ao uso.

A avaliação da qualidade das águas quanto aos usos preponderantes

constatou que para consumo humano 70% das amostras atendem ao padrão

de potabilidade estabelecido no Anexo XX da Portaria de Consolidação N°05

do Ministério da Saúde (2017), sendo o principal fator de inadequação o

elevado teor de nitrato nas águas principalmente provenientes da subárea A.

Para fins agrícolas, considerando os parâmetros de salinidade, sadicidade e

toxicidade, não foi constatado restrição ao uso. Pra aplicação industrial,

considerando finalidades industriais diversas, foi notificado restrição de uso

principalmente nas indústrias de papel (13,3%), têxtil (13,3%), cerveja (30,0%),

laticínios (43,3%) e conserva (46,7%).

No tocante ao zoneamento da vulnerabilidade de contaminação das águas

do SAB, foi revelado que a aplicação do método GOD indica maior restrição

quanto ao uso e ocupação do solo, visto que foram identificadas

predominantemente setores de alta vulnerabilidade, enquanto que nos métodos

IS e DRASTIC há predominância de vulnerabilidade intermediária e baixa,

respectivamente. É imprescindível esclarecer que os diferentes zoneamentos

de vulnerabilidade obtidos provêm dos múltiplos parâmetros de análise

considerados em cada método aplicado. Dessa forma, tendo em vista as bases

cartográficas disponíveis na gestão do planejamento urbano e rural da região, o

uso e análise de diferentes métodos de vulnerabilidade permitem maior

compreensão e identificação de setores sensíveis à contaminação do aquífero.

Para a zona urbana, foi constatado índice de vulnerabilidade

predominantemente baixo e intermediário através dos métodos GOD e

DRASTIC e índice intermediário através do método IS. Nas zonas de

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desenvolvimento agrícola e no domínio de lagoas e dunas com pouca

intervenção humana, determinou-se, através dos métodos DRASTIC e IS,

índices de vulnerabilidade baixo e intermediário, enquanto pelo método GOD

há predominância de alta vulnerabilidade. A interação entre a vulnerabilidade

natural do aquífero e o perigo à poluição constatou risco de contaminação do

SAB moderado a alto na zona urbana, apontando a necessidade de adotar um

planejamento urbano com maiores controles ambientais mais rígidos,

sobretudo no tocante aos recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Para a

zona agrícola, verificou risco elevado quando aplicado o método GOD e

moderado quando aplicado o DRASTIC. Para zona de ecossistema de lagoas e

dunas, apesar dos resultados de vulnerabilidade, atribuiu-se baixo risco à

contaminação em virtude do perigo insignificante das atividades desenvolvidas

nessa área.

O uso das águas do SAB é imprescindível para o contínuo

desenvolvimento urbano, agrícola e industrial da região da Bacia Hidrográfica

do Rio Pirangi. Contudo, a partir dos resultados obtidos, é exposto que o

manejo desse manancial subterrâneo não está sendo realizado de modo

adequado conforme os preceitos do desenvolvimento sustentável, sendo

necessário aplicação de medidas mais efetivas de controle e preservação

ambiental. É recomendado planejamento e execução de atividades de gestão

sustentável, como a avaliação periódica da qualidade das águas, o controle na

perfuração e cadastro dos poços, o tratamento adequado das águas já

contaminadas, o controle do uso de fertilizantes e pesticidas, a ampliação da

rede de saneamento básico e a gestão apropriada dos resíduos sólidos, dentre

outras medidas possíveis, considerando as zonas mais sensíveis à poluição

subterrânea.

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