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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
MARCELLA RENATA DOS SANTOS FELIPE
A VIOLÊNCIA E OS SEUS REBATIMENTOS SOBRE A SAÚDE PÚBLICA:
O impacto econômico advindo de situações de violência no Estado do Rio Grande do Norte
NATAL/RN
2012
MARCELLA RENATA DOS SANTOS FELIPE
A VIOLÊNCIA E OS SEUS REBATIMENTOS SOBRE A SAÚDE PÚBLICA:
O impacto econômico advindo de situações de violência no Estado do Rio Grande do Norte
Monografia apresentada ao Departamento do
Curso de Serviço Social da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte como requisito para
formação profissional de Serviço Social.
Orientadora: Jussara Keilla Batista do Nascimento,
Msc.
NATAL/RN
2012
MARCELLA RENATA DOS SANTOS FELIPE
A VIOLÊNCIA E OS SEUS REBATIMENTOS SOBRE A SAÚDE PÚBLICA:
O impacto econômico advindo de situações de violência no Estado do Rio Grande do Norte
Monografia apresentada à Banca Examinadora do
Departamento do Curso de Serviço Social da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito para formação profissional de
Serviço Social.
Aprovado em _____/_____/2012.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________________
Prof.ª Msc. Jussara Keilla Batista do Nascimento
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
__________________________________________________________________
Profª. Drª. Maria Dalva Horácio da Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
__________________________________________________________________
Assistente Social Raída Aparecida de Oliveira Fonseca
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
Porque D’Ele, e por Ele, para Ele são todas as coisas. A Ele a
honra, a Ele à Glória, para todo o sempre. Amém!
(Romanos 11:36)
A Ele, mas, quem é Ele? O Único Rei, Senhor e Salvador da
minha vida, o meu Deus Todo Poderoso que me amou primeiro.
O meu Amado Jesus que tem de mim cuidado durante cada
segundo de minha existência. O Maravilhoso Ser que tem me
capacitado em tudo quanto tenho feito. O Meu Pai Zeloso que
tem me preservado e livrado de todo o mal. O Melhor Amigo
que me sonda e me conhece plena e profundamente. O Deus
Forte que age em meu favor. O Consumador da minha Fé.
Dedico este trabalho a Ele.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais queridos e imprescindíveis em minha vida, Marcelo e Ivone. Grandes
incentivadores, amigos, conselheiros e admiráveis em todas as suas respectivas
expressividades de amor, carinho e zelo. Obrigada por todas as orações, lições e confiança
depositada em mim, pois, fizeram-me acreditar que sou capaz, sobretudo, de entender que
posso todas as coisas Naquele que me fortalece. Amo vocês;
Aos meus inseparáveis irmãos Israel e Sarah, meus amigos de vida, parceiros de histórias,
companheiros em todo o tempo. Torcemos um pela vitória do outro. Amamo-nos como a nós
mesmos. Muito grata sou pelo privilégio de tê-los em nosso seio familiar. Amo vocês;
Ao meu amado Guilherme Dumaresq, o presente em forma de gente que tanto almejava, eis
que constantemente está ao meu lado, como amigo presente e meu maior incentivador.
Homem sábio e valoroso. Namorado, noivo, e, em breve, meu futuro e afetuoso marido.
Glórias rendo a Deus pela sua preciosa vida, pois és mais do que pedi ou pensei. Te amo;
Aos meus avós maternos, “Carminha” e “Toinho”, meus espelhos de vida, as matrizes dessa
família tão abençoada. Quão grandiosa dádiva é desfrutar da companhia de vocês
cotidianamente. Muito me inspira a determinação e força da minha preciosa vovó, bem como
a mansidão e pureza de coração do meu vovô. Como eu amo vocês;
Aos meus inesquecíveis avós paternos, Severina (in memorian) e José Felipe (in memorian),
como gostaria que estivessem aqui para me ver concluindo esta etapa da vida! Sinto saudades.
Levo comigo doces recordações dos tempos que passávamos juntos em nossas férias. Para
sempre estarão em meu coração e memória;
A todos os meus tios, tias, primas e primos, em especial, à tia Graça, a tia-mãe de todos os
incontáveis sobrinhos; à tia Alice, a querida, amável e encorajadora acerca da importância dos
estudos desde minha tenra idade. Às primas-irmãs que tanto amo: Gabriela e Rafaela.
Obrigada a todos os familiares, pelo amor verdadeiro e companheirismo. Amo cada um de
vocês;
À sogra e amiga, Nahama Dumaresq de Oliveira, a quem tenho grande afeição. Obrigada por
seus conselhos sempre sábios e sensatos. Agradeço ainda por seu carinho, suas orações e
palavras de fé sobre minha vida;
Aos meus caríssimos cunhados, Marthus Marques e Vanessa Cristina, tão essenciais em nossa
rotina familiar, a vocês reitero meu apreço por suas amizades e presenças contínuas em meu
cotidiano;
Às amigas de turma: Adriana Elias, Ana Glauce, Erika Patrícia, Jailma de Lima, Josely de
Sena e Wanessa Eliana. Obrigada por toda a amizade sincera. Foram sempre alegres e
especiais todos os momentos que vivenciamos juntas. Aprendi muito com cada uma de vocês.
São, para mim, irmãs por afinidade;
À orientadora acadêmica, Jussara Keilla Batista do Nascimento, por suas valiosíssimas
contribuições que me auxiliaram enormemente nesse momento de indescritível densidade;
Ao Departamento de Serviço Social, por toda a rica equipe integrante, pelo aporte teórico de
todos os professores que lecionaram em minha turma 2008.2, trazendo-nos conhecimento,
reflexão e lições para a vida diária;
Ao Programa de Pós-Graduação em Administração da UFRN, onde tive a oportunidade de ser
bolsista de apoio técnico por um ano e sete meses, locus de aprendizado profissional e bom
acolhimento. Registro profunda gratidão e amizade aos Prof. Dr. Miguel Eduardo Moreno
Añez, e, ao Prof. Dr. Antônio Sérgio Araújo Fernandes, agradeço a confiança em mim
delegada quanto à execução de atividades fundamentais ao prosseguimento do curso de
especialização em Gestão Pública Municipal;
À supervisora de estágio Raída Aparecida de Oliveira Fonseca, pelo carinho e constante
disponibilidade durante o meu período de desenvolvimento de estágio supervisionado no
Pronto Socorro Clóvis Sarinho. Grata pelas contribuições;
Aos profissionais do Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, todas as assistentes
sociais que me marcaram de maneira positiva, com afetuosidade, e, expuseram o íntimo de
suas práticas profissionais. O chefe do setor de Revisão de Prontuários, Erivaldo, obrigada
pela prontidão em disponibilizar minhas solicitações. A equipe do Núcleo de Vigilância em
Saúde – NUVISA, Ângela e Glauber, pela prestação de informações;
Ao João Evangelista, técnico das estatísticas da Coordenadoria de Planejamento e Controle de
Serviços de Saúde, da Secretaria de Estado de Saúde Pública do RN, por sua presteza e
disposição no fornecimento de dados ansiados por tantos meses.
“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem”.
Bertolt Brecht
RESUMO
O presente trabalho analisa a relação entre violência e os gastos em saúde pública resultantes
dos serviços de atendimento em saúde, resgata e sistematiza dados estatísticos que revelam a
incidência da violência, a identificação do impacto orçamentário advindo de situações
violentas, e, a verificação de programas estaduais voltados à prevenção, promoção e atenção
aos eventos violentos. Aponta como procedimentos metodológicos adotados pesquisas e
análises documentais, descritas a partir de revisão de literaturas em torno da violência, política
social, saúde pública e Serviço Social, além da coleta de dados e análise documental dos
registros de notificação de violência no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, e,
informações obtidas da Secretaria de Estado de Saúde Pública, referentes aos custos da
violência aferida nos serviços de saúde, ambas com denominador comum o ano de 2011.
Resgata o histórico das primeiras atribuições de violência, bem como as sucessivas
denominações conceituais do termo, além de abordar a amplitude do significado do fenômeno
da violência. Realiza a descrição das diversas expressões violentas. Analisa a forma como a
violência perpassa o setor da saúde pública. Apresenta a discussão do embate na saúde
pública diante da perspectiva de abranger as demandas resultantes de violência. Expõe e
analisa os dados coletados no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel,
demonstradores da realidade estadual, visto que a unidade hospitalar consiste no maior
hospital de urgência e emergência do estado, referência em serviços de atendimento dessa
modalidade. Quantifica a violência no Estado Potiguar, a partir do fornecimento de
informações da Secretaria de Estado de Saúde Pública, realiza a averiguação dos custos
destinados aos serviços de atendimento aos vitimados de violência, bem como a sondagem da
existência de programas voltados para a promoção, prevenção e atenção às situações de
violência. Situa a atuação do Serviço Social no âmbito da saúde, aborda a prática da categoria
profissional no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel frente às situações de
violência. Justifica o exercício da profissão conforme os aparatos legais, a partir da
compreensão do necessário caráter do fazer profissional investigador, mediador e crítico do
Serviço Social. Por fim, constata os expressivos números de registros da violência no
Complexo Hospitalar, por conseguinte, comprova os altos custos na saúde pública resultantes
de situações violentas, verifica a inexistência de programas estaduais voltados para a
prevenção, promoção e atenção às situações de violência. De modo que reitera a necessidade
de maiores investimentos no setor da saúde pública, como um todo, em especial, no
planejamento e execução de programas que visem o enfrentamento da violência, em curto e
longo prazo.
Palavras-chave: Violências. Saúde Coletiva. Rede de atendimento. Notificação.
ABSTRACT
This paper analyzes the relationship between violence and health expenditures resulting from
public health care services, rescues and systematizes statistical data reveal that the incidence
of violence, the identification of the budgetary impact arising from violent situations, and
checking programs state in terms of prevention, promotion and attention to violent events.
Names as methodological procedures documentary research and analysis, described from a
review of literature surrounding violence, social policy, public health and social services, in
addition to data collection and analysis of documentary records of abuse notification in
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, and information obtained from the State
Department of Public Health, referring to measured costs of violence in health services, both
common denominator with the year 2011. It rescues the history of the first assignments of
violence, and the successive names of conceptual terms, and examine the extent of the
meaning of the phenomenon of violence. Performs the description of the various violent
expressions. Looks at how violence permeates the public health sector. Presents a discussion
of the clash in public health at the prospect of covering the demands resulting from violence.
Presents and analyzes the data collected in the Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo
Gurgel, demonstrating the true state, since the hospital is the largest hospital in the state
emergency care, referral care services in this modality. Quantifies the violence in Rio Grande
do Norte state, from providing information of the State Department of Public Health,
conducts the investigation costs for the services of assistance to victims of violence, as well as
probing the existence of programs for the promotion, prevention and attention to situations of
violence. Situates the work of Social Work in the field of health, discusses the practice of the
profession in Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel in the face of violence.
Justifies the profession as the legal apparatus, from understanding the nature of the need to
make professional investigator, mediator and critic of Social Service. Finally, notes the
significant numbers of records of violence in the Hospital Complex, therefore, proves the high
costs on public health resulting from violent situations, verifies the absence of state programs
aimed at prevention, promotion and attention to situations of violence. So that reiterates the
need for greater investment in public health sector as a whole, especially in planning and
implementing programs aimed at addressing violence in the short and long term.
Keywords: Violence. Public Health. Service network. Notification.
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 - Caracterização das vítimas de violência doméstica, sexual e outras violências por
sexo – Brasil 2008.....................................................................................................................42
Quadro 02 - Atendimentos Por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência
em 23 capitais e Distrito Federal – Brasil 2008, Quanto à Natureza da Violência...................43
Quadro 03 - Atendimentos por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência
em 23 Capitais e Distrito Federal – Brasil 2008, Caracterização do Provável Autor da
Agressão às Vítimas de Violência Doméstica, Sexual e Outras Violências.............................45
Quadro 04 - Atendimentos Por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência
em 23 Capitais e Distrito Federal – Brasil 2008, Evolução e Encaminhamento das Vítimas de
Violência Doméstica, Sexual e Outras Violências Por Sexo....................................................46
Quadro 05 - Atendimentos Por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência
em 23 Capitais e Distrito Federal – Brasil, setembro a novembro de 2009, Identificação por
sexo...........................................................................................................................................48
Quadro 06 - Atendimentos por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência
em 23 capitais e Distrito Federal – Brasil, setembro a novembro de 2009, Caracterização das
vítimas por sexo........................................................................................................................48
Quadro 07 - Atendimentos por violências em serviços sentinelas de urgência e emergência em
23 capitais e Distrito Federal – Brasil, setembro a novembro de 2009, Quanto à natureza da
violência....................................................................................................................................49
Quadro 08 - Números e taxas (em 100 mil mulheres) de homicídios femininos, Brasil
1980/2010..................................................................................................................................50
Quadro 09 - Números e taxas (em 100 mil mulheres) de homicídios femininos, Brasil
2000/2010..................................................................................................................................51
Quadro 10 - Total de Atendimentos do Pronto Socorro Clóvis Sarinho, por clínicas, Janeiro a
Dezembro de 2011....................................................................................................................56
Quadro 11 - Notificação de Violência doméstica, sexual e outras violências, Frequência por
faixa etária segundo sexo..........................................................................................................58
Quadro 12 - Caracterização sociodemográfica das vítimas de violência doméstica, sexual e
outras violências por sexo, notificadas no HMWG de janeiro a dezembro de 2011................59
Quadro 13 - Caracterização da ocorrência e das circunstâncias das vítimas de violência
doméstica, sexual e outras violências por sexo, notificadas no HMWG de janeiro a dezembro
de 2011......................................................................................................................................60
Quadro 14 - Quadro de Óbitos 2011.2 - Notificação Compulsória, Crianças, adolescentes,
mulheres e idosos......................................................................................................................61
Quadro 15 - Números e taxas médias de homicídios (em 100 mil habitantes)/Taxas para
municípios com mais de 10.000 habitantes - Relação dos 20 municípios com maior índice de
homicídios no RN em 2008-2010.............................................................................................64
Quadro 16 - Custos com Autorização de Internação Hospitalar no RN advindos de situações
de violência/Relação dos agravos, de janeiro a dezembro de 2011..........................................65
Quadro 17 - Custos com Autorização de Internação Hospitalar no RN advindos de situações
de violência/Relação dos principais agravos, De janeiro a dezembro de 2011........................67
Quadro 18 - Municípios com mais de 15 mil habitantes/ Maiores taxas de óbitos em acidentes
de trânsito no RN em 2008-2010..............................................................................................68
Quadro 19 - Custos com Autorização de Internação Hospitalar no RN advindos de acidentes
de trânsito/Relação das causas externas, De janeiro a dezembro de 2011................................69
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIH
CAP’s
CEDECA
CFESS
CHMWG
CID
CLAVES
CNS
CRAS
CREAS
CRO
CTQ
DATASUS
DHNET
HMWG
IAP’s
IML
INAMPS
INPS
INSS
LOPS
MS/GM
NAST
NEVUSP
NUVISA
OPAS
PLOGE/RN
PSCS
PIB
RN
SAMU
SEJUC
SESAP
SIM
SINAN
S/N
SUDS
SUS
SVS
Autorização de Internação Hospitalar
Caixas de Aposentadoria e Pensões
Casa Renascer
Conselho Federal de Serviço Social
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde
Centro Latino Americano de Estudos sobre Violência e Saúde
Conselho Nacional de Saúde
Centro de Referência de Assistência Social
Centro de Referência Especializado de Assistência Social
Centro de Recuperação dos Operados
Centro de Tratamento de Queimados
Departamento de Informática do SUS
Direitos Humanos na Internet
Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel
Institutos de Aposentadoria e Pensões
Instituto Médico Legal
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
Instituto Nacional da Previdência Social
Instituto Nacional de Seguridade Social
Lei Orgânica da Previdência Social
Ministério da Saúde / Gabinete do Ministro
Núcleo de Assistência à Saúde do Trabalhador
Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo
Núcleo de Vigilância em Saúde / Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo
Gurgel
Organização Pan-Americana de Saúde
Projeto de Lei Orçamentária Anual de Gestão Estadual do Rio Grande do Norte
Pronto Socorro Clóvis Sarinho
Produto Interno Bruto
Rio Grande do Norte
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania
Secretaria de Estado de Saúde Pública
Sistema de Informações de Mortalidade
Sistema de Informações de Agravos de Notificação
Sem número
Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
Sistema Único de Saúde
Sistema de Vigilância em Saúde
USP
UTI
VIVA
Universidade de São Paulo
Unidade de Terapia Intensiva
Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14
2. O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA E A SUA HISTORICIDADE ................................. 19
2.1. A VIOLÊNCIA E SUAS DISTINTAS EXPRESSÕES ................................................ 24
3. A VIOLÊNCIA ENQUANTO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA ........................... 35
3.1. O COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL COMO
PRINCIPAL INSTITUIÇÃO DE ATENDIMENTO ÀS SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE .................................................................. 53
3.2. A SAÚDE PÚBLICA DO RIO GRANDE DO NORTE EM MEIO À VIOLÊNCIA:
DADOS, CUSTOS E PLANEJAMENTO ........................................................................... 63
4. O ASSISTENTE SOCIAL NOS SERVIÇOS DE SAÚDE ENQUANTO
PROFISSIONAL ATUANTE NO CENÁRIO DE SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA.... ... 77
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 86
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 89
14
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo trata da violência na contemporaneidade, delimitada no cenário
norte-rio-grandense, analisando as suas reais implicações sobre a saúde pública do Estado,
com base nas informações coletadas no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel e
Secretaria de Saúde Pública do Rio Grande do Norte.
Desse modo, o objetivo central da pesquisa está relacionado à investigação da
realidade potiguar quanto à incidência da violência e a ressonância desse fenômeno no âmbito
da saúde pública.
A perspectiva norteadora das construções teóricas ao longo do estudo estará sob
fundamentação da influência marxista, partindo do pressuposto da dialética da realidade,
sobretudo, considerando a totalidade de suas determinações.
Para tanto, com vistas a possibilitar uma análise mais global da violência, requer-se
atentar para a amplitude do referido fenômeno quanto a sua abrangência conceitual, tendo em
vista que, popularmente, atribui-se como sendo violência às ações de delinquência e
criminalidade. Essa compreensão está fundamentada em uma visão superficial da
problemática e pressupõe que a segurança pública e a repressão policial seriam os únicos
meios de combate e prevenção, remete diretamente à causalidade da violência (RISTUM;
BASTOS, 2004).
Sendo assim, torna-se fundamental atentar que a violência representa ação de
complexa definição haja vista que abriga multicausalidades impulsionadoras de sua
materialização. Minayo (2009) destaca a importância de distinguirmos a agressividade e
violência, sendo a primeira um instinto natural do ser humano diante de situações de ameaça e
delimitação espacial perante o outro, decorre ainda da necessidade de adaptação, defesa e
proteção, de modo que está circunscrita no processo de constituição da subjetividade humana.
Todavia, a modificação da agressividade para a violência encontra motivações de distintas
ordens sejam elas sociais ou psicossociais associadas às “circunstâncias sociais, o ambiente
cultural, as formas de relações primárias e comunitárias e, também, as idiossincrasias dos
sujeitos” (MINAYO apud NJAINE, 2009:23).
No entanto, salienta-se que “para caracterizar um ato como ‘violento’, devem ser
pressupostas ao menos as seguintes condições: causar dano, usar a força (física ou psíquica),
ser intencional ou contra a livre e espontânea vontade de quem é objeto do dano” (VILELA,
2008:07).
15
Nesse sentido, faz-se necessário abordar a amplitude da concepção de violência:
O termo encontra sua expressão concreta no fato de que indivíduos, grupos, classes
e instituições empregam diferentes formas, métodos e meios de coerção e
aniquilamento direto ou indireto (econômico, político, jurídico, militar) contra
outros indivíduos, grupos, classes e instituições, com a finalidade de conquistar ou
reter poder, conquistar ou preservar independência, obter direitos e privilégios
(BILA, 2008:17).
Isto é, a violência conceitua-se como a ação de cunho coercitivo que constrange, coíbe
e agride o outro. Vilela (2008) aponta distintas tipificações da manifestação da violência, são
elas: violência contra criança e adolescente, contra a mulher, contra o idoso, de gênero,
intrafamiliar, física, institucional, moral, patrimonial, psicológica, sexual, negligência, assédio
moral, autoextermínio ou suicídio (VILELA, 2008).
Logo, constitui-se como fenômeno de implicações negativas visto que:
os danos, as lesões, os traumas e as mortes causados por acidentes e violências
correspondem a altos custos emocionais e sociais [...]. Causam prejuízos
econômicos por causa dos dias de ausência do trabalho, pelos danos mentais e
emocionais incalculáveis que provocam nas vítimas e em suas famílias e pelos anos
de produtividade ou de vida perdidos (BRASIL, 2005:10).
De modo que, a manifestação da violência ocasiona transtornos sociais, econômicos,
emocionais e psicológicos para a população vítima de situação violenta. Resulta ainda em
traumas, conflitos e sofrimento para àqueles submetidos às circunstâncias de caráter violento.
A partir da consideração dos impactos gerados pela violência:
Em 1996, resolução da Assembléia Mundial de Saúde declarou a violência como um
problema de Saúde Pública Global, conceituando-a como a utilização da força ou
poder físico de forma intencional, seja por meio de ameaças ou de fato, de uma
pessoa a si mesma ou de outra pessoa contra um grupo ou comunidade que tenha
como consequência uma alta possibilidade de causar danos sociológicos, disfunções,
privações ou morte (BILA, 2008:17).
Diante do espraiamento desse novo entendimento do fenômeno da violência, surge a
real necessidade de atentar para os meios de Atenção, Prevenção e Promoção às Situações de
Violência. A compreensão da violência como problema de saúde pública, individual e
coletiva, contempla os danos ocasionados pela violência a toda a sociedade.
Minayo apud Njaine (2009) discorre sobre um processo que explicita as alterações
registradas na sociedade contemporânea, quanto às mudanças nas taxas de mortalidade e
morbidade da população, denominado de transição epidemiológica. Logo, o referido fator
indica, nos últimos 20 anos, a progressiva substituição de enfermidades infecciosas por
16
doenças crônicas e degenerativas, e ainda, a prevalência de agravos provocados por violência
e acidentes (NJAINE, 2009:21).
Com base em documento do Ministério da Saúde, Minayo ressalta a estimativa de que
“3,3% do PIB brasileiro são gastos com os custos diretos da violência, cifra que sobe para
10,5% quando se incluem custos indiretos e transferência de recursos” (BRASIL, 2005:10).
A autora complementa ainda afirmando que “para se ter idéia do significado da cifra dos
custos diretos da violência no País (3,3% do PIB) ela é três vezes maior do que o País investe
em Ciência e Tecnologia” (op.cit.).
Portanto, os dados mencionados explicitam a importância do debate e discussão de tal
problemática na atualidade, destacando que a violência se configura não apenas como fato
isolado de motivação emocional, psicológica ou aleatória, mas, tem intrínseca relação com as
expressões da questão social. Logo, é imprescindível considerar a imersão na sociabilidade
capitalista que consagra o sistema difusor de profundas desigualdades sociais, que impulsiona
as práticas violentas.
Por fim, ressalta-se que dentre os fatores motivacionais que culminaram na abordagem
da temática de violência estão a experiência de estágio curricular desenvolvida no Complexo
Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, mais especificamente, no Pronto Socorro Dr. Clóvis
Sarinho, Hospital de referência no Estado do Rio Grande do Norte quanto ao atendimento das
demandas de urgência e emergência. Nesta ocasião, foram observadas frequentes demandas
encaminhadas aos serviços de saúde destinados ao atendimento às vítimas de violência,
resultantes desse fenômeno em suas mais variadas expressões. Também representou
motivação acerca do estudo da violência e seus impactos sobre a saúde pública a constatação
dos crescentes números de violência na sociedade natalense, bem como norte-rio-grandense.
Em face da intensificação da violência urbana, nos dias atuais, faz-se necessário
pesquisar a incidência das práticas violentas, os impactos sobre a saúde pública, a verificação
do planejamento e cumprimento de medidas de atenção, promoção e prevenção às situações
de violência no Estado do Rio Grande do Norte.
Por conseguinte, o referido trabalho destaca a sua relevância à medida que busca
debruçar-se sobre o tema que aflige a população, onera a máquina estatal e apresenta
assustadores números cotidianamente, de modo a promover o debate e reflexão diante do
quadro estadual.
Logo, constitui-se como finalidade central da pesquisa a análise da relação entre
violência e os gastos em saúde pública, destinados aos serviços de atendimento às vítimas de
situações violentas do estado potiguar. A fim de alcançar o objetivo traçado buscar-se-á
17
resgatar dados estatísticos referentes à incidência da violência, bem como propõe-se
identificar o impacto orçamentário ocasionado pela violência e, ainda, verificar quais os
investimentos do Estado do RN destinados às políticas de Atenção, Promoção e Prevenção às
situações de violência, durante o ano de 2011.
A fim de compreender o quadro acometido pela violência no Estado do Rio Grande do
Norte, serão executadas pesquisas e análises documentais, como ferramentas metodológicas
de execução do trabalho. De modo que o trabalho em questão apresenta-se como um estudo
quanti-qualitativo que analisa e discute ao longo de seu delineamento, dados estatísticos, de
forma a subsidiar os registros da realidade investigada. Consistem em procedimentos
metodológicos a revisão de literaturas, que contemplam as temáticas de violência, em suas
diversas tipologias, políticas públicas e saúde pública, o universo da prática profissional do
Serviço Social, sua inserção e respectiva contribuição nesta área; bem como utilizou-se da
coleta de dados, mediante análise documental dos registros das notificações de violência do
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, no ano de 2011, e dados obtidos na
Secretaria de Estado de Saúde Pública – SESAP/RN, tais como a sondagem dos programas de
Prevenção, Promoção e Atenção às Situações de Violência no RN, serão consideradas como
parâmetro as diretrizes da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e
Violências1, no âmbito estadual.
Ao final, o presente estudo traçará uma reflexão do profissional do Serviço Social
como agente atuante e competente para o exercício em distintos meios de materialização da
violência. Logo, torna-se apto para contribuir ao quadro atual e propor avanços práticos na
pesquisa, especialmente, no próprio enfrentamento e prevenção da violência no Estado do Rio
Grande do Norte.
Para tanto, o trabalho citado estará organizado da seguinte maneira, em seu primeiro
capítulo abordará O fenômeno da violência e a sua historicidade, tratando da amplitude do
significado e suas implicações, em seu subtópico seguinte discorrerá acerca da Violência e
suas distintas expressões; o segundo capítulo intitulado de A violência enquanto problema de
saúde pública analisará as formas como a violência perpassa esse setor, situando o embate
presente na saúde pública diante da perspectiva de abranger as demandas resultantes de
violência, bem como discorrerá sobre O Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
como principal instituição de atendimento às situações de violência do Estado do Rio Grande
1 A Portaria MS/GM nº 737, de 16 de maio de 2001, tem como objetivo a redução da morbimortalidade por
acidentes e violências no País, mediante o desenvolvimento de um conjunto de ações articuladas e
sistematizadas.
18
do Norte, em que este apresentará os dados coletados na unidade hospitalar, por sua vez, trará
ainda uma discussão a respeito da Saúde Pública do Rio Grande do Norte em meio à
violência: Dados, Custos e Planejamento, de modo que quantifique a violência no Estado, a
partir do fornecimento de dados pela SESAP, além de verificar os custos destinados aos
serviços de atendimento às vítimas de violência, e a existência de programas voltados para a
prevenção e atenção às situações de violência. Por fim, trataremos do Assistente Social nos
serviços de saúde enquanto profissional atuante no cenário de situações de violência,
contemplando a atuação do Serviço Social no Complexo Hospitalar já mencionado, bem
como discutiremos a inserção do assistente social e a sua intervenção profissional diante das
situações de violência. Nas Considerações finais apresentar-se-á uma exposição dos aspectos
centrais do estudo, assim como as apreensões advindas da pesquisa realizada, além de uma
análise crítica e possíveis perspectivas e contribuições para a temática abordada.
19
2. O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA E A SUA HISTORICIDADE
O capítulo que ora se apresenta delineará ao longo de suas explanações acerca da
violência, a origem e o sentido denotativo de sua nomenclatura, o resgate sociológico das
diversas e distintas concepções do fenômeno, com ênfase à compreensão contemporânea do
conceito fundamentada nos direitos humanos, civis, sociais, políticos, etc., partindo de uma
ótica mais abrangente e totalizante, bem como o presente estudo tratará dos registros de sua
trajetória histórica até a contemporaneidade. Cabe mencionar que pressupõe-se o
entendimento da violência como expressão da questão social.
A etimologia da palavra “Violência provém do latim violentia, que significa
‘veemência’, ‘impetuosidade’, e deriva da raiz latina vis, ‘força’.” (PINHEIRO; ALMEIDA,
2003:14).
Embora o fenômeno da violência se apresente sob as mais distintas expressões, nos
dias atuais, há uma prevalência no imaginário popular das práticas físicas de agressões,
homicídios, conflitos, e a associação da base econômica de manutenção mediante as redes de
tráfico de drogas e desmembramentos. Porém, não é possível desprender-se que o cenário
contemporâneo aponta para uma:
conjuntura de crescente desemprego e exclusão social, cultural e moral de grupos
populacionais inteiros, pari passu com a exacerbação do apelo ao consumo,
fenômeno relacionado à reestruturação produtiva, à exacerbação da acumulação
capitalista e à ausência de ênfase por parte dos governos, na questão social. Não é
desprezível também o embricamento dessas situações macroeconômicas e sociais
com o surgimento de novas subjetividades marcadas pela secularização, pela perda
de valor das hierarquias tradicionais e da autoridade familiar e comunitária
(BRASIL, 2005:17).
Nesse sentido, apreende-se que as precárias condições estruturais e sociais aliadas à
ausência de oportunidades reais e formais de manutenção econômica, em uma sociabilidade
capitalista, iminentemente desigual, colabora para as bases atrativas e sedutoras ao
enveredamento pela criminalidade. Ou seja, o quadro de disparidades sociais permanece
historicamente, embora os índices estatísticos demonstrem o crescimento das riquezas no
Brasil (USP, 2003). Para Krug (2002), as condições sociais nutrem a violência.
De modo que, faz-se necessário analisar as distintas e complexas atribuições
conceituais da violência, que dentre elas estão:
Por violência entende-se a intervenção física de um indivíduo ou grupo contra outro
indivíduo ou grupo (ou também contra si mesmo). [...] Além disso, a intervenção
20
física, na qual a violência consiste, tem por finalidade destruir, ofender e coagir. [...]
Exerce violência quem tortura, fere ou mata; quem, não obstante a resistência,
imobiliza ou manipula o corpo do outro; quem impede materialmente outro de
cumprir determinada ação (STOPPINO apud SUGIZAKI, 2008).
Por conseguinte, torna-se nítido que a concepção de Stoppino (2008) enfatiza apenas a
violência à prática física, desconsiderando as suas distintas manifestações no âmbito
psicológico, cultural, estrutural, institucional, racial, patrimonial, etc. Logo, Michaud (2003)
apresentará mais amplitude em sua conceituação ao incorporar e tratar de categorias mais
abrangentes.
Há violência, quando numa situação de interação, um ou vários atores agem de
forma direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas
em grau variáveis, seja em integridade física, seja em sua integridade moral, em suas
posses ou em suas participações simbólicas e culturais. (MICHAUD apud USP,
2003:03)
Isto é, passa-se a atentar para a subjetividade do impacto oriundo da prática violenta,
bem como percebe que o dano não se restringe ao campo físico, mas, ao psicológico também,
e, mesmo, perpassa pelo âmbito cultural e patrimonial.
Enquanto Zaluar (2003) disserta que a violência remete a uma força.
Essa força torna-se violência quando ultrapassa um limite ou perturba acordos
tácitos e regras que ordenam relações, adquirindo carga negativa ou maléfica. É,
portanto, a percepção do limite e da perturbação (e do sofrimento que provoca) que
vai caracterizar o ato como violento, percepção que varia cultural e historicamente
(ZALUAR apud USP, 2003:03).
A autora trata de que há um limite tolerável ou acordo social, e, em dado momento em
que este é violado infringe as regras acordadas, dotando a prática de negatividade e, portanto,
de reprovação cultural. Do mesmo modo, Takeuti (2002) atenta que “cada sociedade institui a
sua significação para a violência, passando a fornecer os ‘padrões’ de comportamentos aos
indivíduos que dela fazem parte” (TAKEUTI, 2002:166). Logo, a seguinte concepção reitera
a variabilidade dos limites impostos por cada sociedade aos cidadãos quanto ao que
denomina-se violento, mediante os valores morais, normas culturais, imposição estatal,
dogmas religiosos e mesmo a repetição midiática.
Semelhantemente a Zaluar (2003), Minayo (2009) afirma que os eventos violentos
estão profundamente relacionados aos “conflitos de autoridade, às lutas pelo poder e a
vontade de domínio, de posse e de aniquilamento do outro ou de seus bens” (MINAYO apud
NJAINE, 2009:14). Suas expressões podem ser aceitas ou rejeitadas pela sociedade, estando
21
submetidas às “normas sociais mantidas por usos e costumes naturalizados ou por aparatos
legais” (op.cit.). Isto é, perpassa a questão física e psicológica, adentrando às complexidades
dos desejos de posse e questões institucionais.
Em DHNET, Minayo é tomada por referência em uma classificação geral da violência
em: estrutural, sistêmica e doméstica. Logo, compreende-se por violência estrutural, a
“atuação das classes, grupos ou nações econômica ou politicamente dominantes, que se
utilizam de leis e instituições para manter sua situação privilegiada, como se isso fosse um
direito natural” (DHNET, 2012). Essa atribuição abrange as desigualdades sociais, a díspare
distribuição de renda, a exploração da classe trabalhadora, a ausência de condições dignas de
vida, a extrema pobreza e miséria, ou seja, a violação dos direitos humanos. Por sua vez, a
violência sistêmica, refere-se às práticas autoritárias perpetradas até os dias de hoje na
sociedade contemporânea, tais como as condições subumanas as quais são submetidos os
presos, a utilização da tortura, as atividades desempenhadas pelos grupos de extermínio, bem
como a violência policial se enquadra nessa categoria. Por fim, a violência doméstica,
pressupõe o ambiente familiar como gerador dos males à vítima, podendo ser, em potencial,
crianças e/ou adolescentes, mulheres, ou idosos. A natureza do dano varia em sua modalidade,
podendo consistir em agressão física, psicológica, sexual, ou ainda, a negligência e abandono.
Para Pinheiro e Almeida (2003) os elementos constitutivos da violência são: ação,
produção de dano/destruição e intencionalidade. Portanto, violência consiste em: ação
intencional que provoca dano (PINHEIRO; ALMEIDA, 2003).
Contudo, umas das dificuldades para conceituar a violência “vem do fato dela ser um
fenômeno da ordem do vivido e cujas manifestações provocam ou são provocadas por uma
forte carga emocional de quem a comete, de quem a sofre e de quem a presencia” (BRASIL,
2005:14). De modo que a percepção do fenômeno advinda das vítimas está imbuída das
complexidades da conversão do abstrato à concretude das suas formas de expressão.
Em contrapartida à perspectiva crítica da problemática, Da Matta (1982) afirma que a
violência faz “parte da própria condição humana e da própria vida em sociedade” (DA
MATTA, 1982:25). O autor desmembra a percepção da violência mediante a realização da
Etnografia da Violência, dividida a partir do Discurso Teórico Erudito, em que esta vertente
de pensamento pressupõe o poder, o consumo, o capitalismo, o autoritarismo e o desmando
governamental, de modo que estes fatores refletem a determinação das estruturas na condução
da sociedade, reversível somente através de uma transformação social; por sua vez, há o
Discurso do Senso Comum ou Popular, nesta corrente, a violência está associada à vivência
diária das pessoas quanto às suas experiências e relatos, logo, essa percepção vincula-se,
22
essencialmente, à prática física, ao uso da força corporal, bem como a utilização de armas
(brancas ou de fogo) (op. cit.).
Algumas das religiões milenares já ilustravam a ocorrência da violência, a exemplo, o
Cristianismo, em seu livro sagrado – a Bíblia, menciona o registro do primeiro ato violento
humano, no caso, um assassinato fraticida.
Na Antiguidade e Idade Média, as ações denominadas de violentas remetem às
práticas usuais de decepamento, purificação em fogueiras, mortes públicas, e mesmo
escravidão, o subjugamento de um povo por outro. No entanto, a notoriedade teórica em torno
da violência data do século XIX, a partir de sua caracterização como fenômeno social e
configuração como problemática a ser interferida por parte das autoridades públicas, bem
como os consequentes debates nas áreas da Psicologia, Ciências Sociais, História, Medicina,
Direito colaboram para esse fim. Todavia, é no século XX, em 1980, diante da percepção da
amplitude do fenômeno que a discussão acerca da violência ganha contornos mais enfáticos
(HAYECK, 2009).
Takeuti (2002) afirma que nas sociedades antigas e primitivas, a violência estava
circunscrita na própria lógica social, estando profundamente relacionada a uma perspectiva de
manutenção da ordem societária (TAKEUTI, 2002).
Por sua vez, no Brasil, a violência está profundamente arraigada ao passado histórico
da nação, em especial, ao período colonial e agrário. Situa-se durante a escravidão brasileira
as constantes agressões praticadas contra os escravos, internalizadas com naturalidade (Franco
apud Hayeck, 2009). Destaca-se ainda que no Brasil Colônia, a sociedade apresentava
grandes desigualdades, havia a interferência de facções, emboscadas, guerras urbanas e
constantes rivalidades que ocasionavam a tensão social, colaborando para que a população
andasse sob posse de alguma arma, a fim de garantir proteção. Buoro apud Hayeck (2009)
destaca que nesse período, registravam-se ainda quantidade significativa de infanticídios.
Quanto ao período imperial e republicano, são mencionados diversos levantes e a Guerra do
Paraguai, logo que o país adentra na República instaura-se o coronelismo e o banditismo
rural, personificados por jagunços e cangaceiros (op. cit.).
A partir da modernização do país, a incidência da violência em suas variadas
expressões transforma-se em pauta da discussão para estudiosos e ao Aparelho Estatal. (op.
cit.). De modo que, a violência na sociedade brasileira atual aderiu às tendências no sentido de
“internacionalização do crime através de redes e envolvimento de instituições”, “maior
publicização das graves violações de direitos humanos”, “ampliação e diversificação dos
grupos envolvidos com a delinquência e a violência” (USP, 2003:13).
23
É interessante perceber que mesmo após a passagem da ditadura militar no Brasil,
diversas práticas violentas, sobretudo, a policial, foram incorporadas à sociedade democrática
(PINHEIRO e ALMEIDA, 2003).
Adorno analisa a incorporação de algumas dessas ações violentas, retratando,
inclusive, que, posteriormente, passam a ganhar legitimidade por parte de instituições
públicas.
Ao longo de mais de cem anos de vida republicana, a violência em suas múltiplas
formas de manifestação permaneceu enraizada como modo costumeiro,
institucionalizado e positivamente valorizado – isto é, moralmente imperativo-, de
solução de conflitos decorrentes das diferenças étnicas, de gênero, de classe, de
propriedade e de riqueza, de poder, de privilégio, de prestígio. Permaneceu
atravessando todo o tecido social, penetrando em seus espaços mais recônditos e se
instalando resolutamente nas instituições sociais e políticas em princípio destinadas
a ofertar segurança e proteção aos cidadãos (ADORNO apud USP, 2003:05).
Na contemporaneidade, a violência “não possui um locus específico” (ODALIA apud
HAYECK, 2009:05). Está presente tanto nas regiões mais abastadas economicamente quanto
naquelas localidades de maior pobreza. Um fato notório resultante da convivência com a
violência trata-se do sentimento de insegurança que perpetra na arquitetura das cidades, visto
que altera os padrões arquitetônicos, de modo a priorizar a segurança e defesa diante da
vulnerabilidade de sua exposição onipresente. (op.cit)
Minayo apud Brasil (2005) aborda que dentre os inúmeros cenários de reprodução da
violência é necessário considerar que “a população incluída pelo crime e excluída do mercado
de trabalho legal, reproduz o que existe de mais autoritário e cruel nas estruturas de poder da
sociedade brasileira”. (BRASIL, 2005:17). Por sua vez, Wieviorka apud Brasil (2005) destaca
que a violência detém feições pós-modernas.
Suas manifestações são múltiplas, mas se tornam particularmente relevantes nas
formas criminais e delinquências. Por isso, mesmo seus tipos mais tradicionais e
seculares, como as agressões e abusos intrafamiliares e comunitários conservam
suas características, mas são subsumidas pelas expressões mais hegemônicas
(BRASIL, 2005:16).
A fim de proporcionar mais clareza às expressões da violência, destaca-se que a
natureza dos atos violentos pode ser física, sexual, psicológica ou relacionada à privação ou
negligência. Nesse sentido, a violência física compreende o ocasionamento de lesões, feridas,
dores ou incapacidade na vítima. Por sua vez, os abusos psicológicos estão relacionados às
agressões verbais, constrangimentos, ameaças, humilhações e rejeições. A violência sexual
abrange os estímulos à vítima ou a utilizá-la para excitação sexual, dentro dessa prática
24
também pode haver a violência física e psicológica. Enquanto, a negligência consiste na
omissão de atenção e cuidados àqueles necessitados de zelo. Minayo (2009) menciona ainda
outra modalidade de violência, trata-se do abuso econômico, que ocorre com mais frequência
contra os idosos, decorre da apropriação indevida e não consentida dos seus bens materiais e
financeiros, as estatísticas apontam os familiares como principais agressores (MINAYO apud
NJAINE, 2009).
Minayo apud Brasil (2005) atenta que a percepção da violência como fator negativo
implica determinada positividade à sociedade contemporânea, à medida que entende as
práticas violentas como ações de violação, inadequação e ilegítimas ao cidadão, visto que
pressupõe a consciência dos direitos humanos, bem como da liberdade. Nesse sentido, os
referidos conceitos advêm ao debate à sociedade brasileira com mais ênfase, a partir dos anos
1970 e 1980, mediante os processos de abertura democrática no país e da expansão dos
movimentos sociais (BRASIL, 2005).
Sendo assim, apreende-se, então, que a violência consiste na ação dotada de
intencionalidade que ocasiona dano, de natureza física, psicológica, sexual, patrimonial ou
institucional, à vítima. De modo que, torna-se indispensável considerar fatores
influenciadores, notadamente as condições sociais e estruturais, por vezes, determinantes, que
culminam no exercício da violência de maneira cotidiana. Nesse sentido, ressalta-se a
afinidade teórica com a concepção acerca da violência proposta por Minayo (2005), em que
desmitifica a arraigada associação do fenômeno ao necessário ato danoso ao estado físico ou
emocional e psicológico, à medida que vislumbra outros âmbitos de materialização da
violação ao cidadão, tais como nos aspectos institucional, cultural, social, econômico e
estrutural (op. cit.).
De modo a possibilitar o entendimento a respeito da problemática com maior
profundidade o texto seguinte estará a explorar quantificações da violência no Brasil,
mediante pesquisas bibliográficas e consulta de periódicos, bem como realizará a abordagem
teórica das distintas manifestações do fenômeno.
2.1. A VIOLÊNCIA E SUAS DISTINTAS EXPRESSÕES
Abordar-se-á no tópico em questão a retomada de conceitos em torno da violência, a
explicitação da violência denominada urbana, a partir da percepção do fenômeno enquanto
25
expressão da questão social, bem como serão expostos dados quantitativos que reiteram a
necessidade de discussão, problematização, ação e prevenção às situações de violência.
Tratará ainda das tipificações e manifestações contemporâneas da referida problemática.
A terminologia violência urbana implica na ocorrência de ações motivadas pela
intencionalidade de causar dano a outrem, em dado contexto da contemporaneidade,
considerando as multiplicidades de suas expressões, a velocidade da globalização e
respectivas alterações conjunturais impressas à sociedade decorrentes de seus ditames
mutáveis.
Bonamigo (2008), descreve com fidedignidade os acontecimentos denominados de
práticas urbanas, em que:
As violências urbanas dizem respeito a uma série de eventos vinculados à
contemporaneidade, com variadas motivações, contextualizadas em diferentes
espaços, o que conduz à necessidade de abranger, nas investigações sobre este tema,
a diversidade e a multiplicidade que o compõe (BONAMIGO, 2008:205).
Logo, fica explícito que a violência urbana, fenômeno característico das grandes
cidades e centros urbanos, tipificado por furtos, roubos, homicídios, agressões, conflitos no
trânsito, etc. vem acentuando as suas expressões e incidências.
Evidencia ainda a autora os efeitos inerentes da violência, tais como o desregramento
e caos, em um cenário almejado socialmente como estável e regular. Trabalha também com a
hipótese de que: “o discurso de segurança, ao atrair e mobilizar as pessoas e ao legitimar
práticas de vigilância e controle sociais, constitui uma estratégia de acesso e manutenção do
poder de governar um município, um estado, uma nação” (BONAMIGO, 2008:210). É
interessante observar a ótica abrangente e realista proposta a partir da análise supracitada,
tendo em vista que, embora a negatividade incontestável da convivência com a violência, há
quem se beneficie do discurso de seus malefícios. A esse respeito Leal trata que: “sob a lógica
capitalista, a violência tornou-se mercadoria, cuja produção, consumo e comércio gera lucros;
tanto para os que a praticam, quanto para os serviços e programas de enfrentamento adotados”
(LEAL, 2007:31).
Todavia, torna-se indispensável abordar a vinculação, intrínseca relação da agudização
da violência como expressão da questão social. Isto é, a questão social trata-se de uma:
categoria explicativa da totalidade social, da forma como os homens vivenciam a
contradição capital-trabalho. Ela resulta das desigualdades sociais, políticas,
econômicas, culturais, impostas pelo modo de produção. Embora a violência sempre
estivesse presente na história da humanidade, sugerimos que os desdobramentos
26
maléficos gerados pelo capitalismo, em sua etapa atual (desemprego estrutural,
assalariamento precário e mal pago, o desmonte dos direitos sociais, instaurando,
com suas consequências), instauram a chamada sociedade da insegurança
(SCHMIDT, 2011: 11067).
Nesse sentido, o autor explicita as causas contemporâneas de aprofundamento e
gravidade da permanência e frequência da violência cotidiana no cenário urbano, estando
diretamente relacionadas ao regimento de uma sociabilidade absolutamente desigual, nos mais
distintos aspectos da vida social. Por sua vez, Leal (2007) aborda outra categoria circunscrita
no processo estrutural da subjetividade da violência, no caso, a exclusão, pois:
Se a exclusão tem sido enfatizada como expressão atual da pobreza e da barbárie,
merecendo atenção especial e urgente, não podemos esquecer que ela não é um
estado social dado, imutável, mas o resultado do modelo de desenvolvimento, de
sequelas de um processo secular e histórico que adquire novos contornos e
expressões no processo da globalização e dos programas neoliberais (LEAL,
2007:31).
Logo, a partir do mencionado, vislumbra-se uma clarificação de categorias como
exclusão, questão social e termos estruturais à manutenção da sociabilidade violenta
contemporânea.
Quanto à representação sociológica da violência, Takeuti (2002) destaca que,
comumente, a sociedade restringe no reconhecimento da denominação do violento, cruel e vil
somente o outro/próximo, desconhecendo, portanto, as ações individuais e próprias de cunho
agressivo e dotadas de intencionalidade. A partir dessa concepção embasa-se a pressuposição
de que somente a ação policial por meio da repressão poderia restaurar a ordem social, e
minimizar os efeitos decorrentes da violência ocasionada pelos outros, alheios aos cidadãos.
Advém ainda dessa perspectiva a atribuição aos jovens como sendo suspeitos sociais,
implicando, necessariamente, em observância e vigilância ao público em questão, tendo em
vista a propensão às delinquências juvenis. Cabe ressaltar que os jovens que representam
periculosidade social são aqueles situados nos baixos níveis de renda familiar, bem como à
baixa ou nenhuma escolaridade. Com isso, a “cultura do medo2” tende a reproduzir os
sentimentos e sensações de vulnerabilidade, sobretudo, de intolerância àqueles “‘possíveis
responsáveis’ pelo caos e desordem social” (TAKEUTI, 2002:172).
A autora mencionada trata na mesma obra, das complexas subjetividades da
ambiguidade situada no medo, desconfiança e insegurança cotidiana no imaginário social, ao
2 O termo “cultura do medo” remete às vulnerabilidades subjetivas e objetivas da sociedade em meio à exposição
ao fenômeno da violência. A referida denominação é utilizada por diversos autores, Takeuti e Pinheiro
pertencem ao grupo que aborda o conceito.
27
mesmo tempo em que verifica-se notória atratividade aos documentários e filmes, que
retratam como pano de fundo os casos de violência.
Por sua vez, Pinheiro e Almeida (2003) atentam para a importância iminente de
atenção, planejamento, intervenção, de modo que a “violência urbana subverte e desvirtua a
função das cidades, drena recursos públicos já escassos, ceifa-vidas – especialmente as dos
jovens e dos mais pobres –, dilacera famílias, modificando nossas existências dramaticamente
para pior” (PINHEIRO; ALMEIDA, 2003:09).
Logo, a violência passa a ser vista como problema mundial, tanto pelo poder público
como pela população, vítima do fenômeno. Uma das consequências da exposição e
convivência à violência está relacionada ao fato que os “cidadãos passam a ser consumidores
de medo” (op. cit.).
Estatísticas ilustram o quão alarmante tem se expandido o fenômeno da violência, em
nível global.
Em 1999, quase 1,7 milhão de pessoas foram intencionalmente mortas por outras
pessoas ou se suicidaram, conforme o Relatório Mundial de Saúde de 2000. Nesse
total, estima-se ter havido 520 mil homicídios por 100 mil habitantes do planeta. Os
homens foram responsáveis por 77% de todos esses homicídios, e seu índice (13,6%
por 100 mil habitantes) representou mais de três vezes o das mulheres (quatro por
100 mil). Os maiores índices se concentraram entre os homens na faixa etária dos 30
aos 44 anos (18,7 homicídios por 100 mil habitantes) (PINHEIRO; ALMEIDA,
2003:17).
Os números apontam para a quantidade mais expressiva de pessoas do gênero
masculino responsáveis pela prática da violência. “Grande proporção dessas vítimas da
violência fatal é de jovens do sexo masculino. Em 2000, estima-se que ocorreram globalmente
199 mil homicídios de jovens; foram 9,2 por 100 mil habitantes. (E quase 10% desses
homicídios se deram no Brasil: 17.797)” (PINHEIRO; ALMEIDA, 2003:17).
No Brasil, a violência interpessoal está profundamente arraigada na enorme
desigualdade que existe entre as classes dominantes e quase todo o resto da
população. Além da concentração de renda e de riqueza, os recursos de toda ordem,
simbólicos ou de poder, estão igualmente concentrados (PINHEIRO; ALMEIDA,
2003:29).
Quanto à historicidade da violência urbana Wieviorka (2004), destaca os processos de
instauração, agudização e concentração desse fenômeno nos dias atuais.
[...] a história do século 20, aquela das guerras, dos genocídios e de outros massacres
de massa, convida-nos a resistir à imagem de um recuo generalizado da violência no
mundo contemporâneo, pois ela aparece e se estende no seio de inúmeros espaços,
28
constituída como um recurso, um meio de alcançar fins, e, ao lado das identidades
culturais e das religiões, acompanha aspirações muitas vezes sem limites
(WIEVIORKA apud BONAMIGO, 2008:207).
Conforme a Organização Mundial da Saúde, no Relatório Mundial sobre Violência e
Saúde (2002), a tipologia da violência considera as características de quem a comete, de modo
que a violência divide-se em três grandes categorias: a) Violência auto-infligida, que
compreende os pensamentos suicidas e tentativas de suicídio, a partir do comportamento
suicida. Há ainda o comportamento auto abusivo, pressupõe a prática da automutilação; b)
Violência interpessoal, dividida em dois grupos: b.1) Violência da família e dos parceiros
íntimos, frequentemente, registra-se dentro de casa, logo, adentram nessa categoria o abuso
infantil, a violência praticada contra o parceiro, mais notadamente, destinada à parceira
mulher, por fim, a violência contra o idoso; b.2) Violência comunitária, verificada fora do
âmbito familiar, entre pessoas sem laços sanguíneos, sendo assim, nesse grupo encontram-se a
violência juvenil, os atos aleatórios de violência, o estupro ou ataque sexual por estranhos e a
violência em grupos institucionais como escolas, locais de trabalho, prisões e asilos; c)
Violência coletiva, dividida em violência social, política e econômica, supõe a existência de
motivos que a levem a ser cometida por grandes grupos. A violência social materializa-se
mediante crimes de ódio cometidos por grupos organizados, atos terroristas e violência das
multidões; enquanto que, na violência política, incluem-se as guerras e conflitos armados, a
violência do Estado e os atos semelhantes praticados por grupos maiores. Por sua vez, a
violência econômica materializa-se mediante motivação por ganho, lucro ou aquisição
material (PINHEIRO; ALMEIDA, 2003).
Minayo (2009) acrescenta à tipificação da violência atribuída pela Organização
Mundial da Saúde em 2002, distintas manifestações do referido fenômeno, enquadradas como
classificações mais específicas do que àquelas discutidas posteriormente em 2012 (estrutural,
sistêmica e doméstica), quais sejam: a violência criminal, associada às agressões direcionadas
às pessoas ou aos seus bens, consiste no foco da prevenção e repressão da segurança pública;
a violência estrutural, corresponde às modalidades e expressões das desigualdades,
fundamentadas sobre a exploração do outro; a violência institucional, vincula-se à reprodução
das estruturas sociais díspares mediante as normas e regras burocráticas e políticas das
instituições; violência interpessoal, localizada nas formas de relação e comunicação, por meio
de constrangimento, preconceito, raiva, vingança , etc., situados nos conflitos; a violência
intrafamiliar, idêntica à violência doméstica, ambas tem o mesmo sentido, divergem apenas
na amplitude do último termo, em que o primeiro não se detém à atribuição dos conflitos
29
familiares resultantes das relações sociais, mas perpassa essa noção considerando as
complexidades imbuídas nessas situações de violência, enquadram-se como vítimas nessa
tipologia a mulher, as crianças e os idosos; a violência auto-infligida, compreende os
suicídios e as tentativas, bem como as automutilações; a violência cultural, materializada nas
formas de violência cotidianas, portanto, naturalizadas na cultura de um povo, grupo ou
sociedade, abrange ainda três modalidades: a violência de gênero, que ocorre por meio de
coerção, constrangimento, abuso, dominação e opressão nas relações entre homens e
mulheres; a violência racial, que tem por base a discriminação decorrente da cor da pele, no
Brasil, essa violência une-se à desigualdade social e econômica; por fim, há a violência contra
a pessoa deficiente, registra-se no isolamento, preconceito e desprezo designados às pessoas
deficientes, através da imposição da invisibilidade de suas existências à sociedade (MINAYO
apud NJAINE, 2009).
No entanto, o presente trabalho irá deter-se, mais profundamente, à violência
doméstica ou intrafamiliar direcionada às crianças e adolescentes, mulheres e idosos, tendo
em vista que, esses usuários representam o universo a ser adentrado com mais propriedade,
segundo os dados coletados no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, no Núcleo
de Vigilância em Saúde - NUVISA. Agrega-se ainda o fato que, atualmente, dispomos de
aparatos normativos e internalização nítida da necessária notificação compulsória de situações
de violência ao público mencionado. Leiam-se as seguintes legislações em que destacam a
obrigatoriedade de notificar a violência contra a mulher, advinda da Lei Maria da Penha;
quanto à violência contra a pessoa idosa, no Estatuto do Idoso abordam-se às medidas a serem
tomadas diante de situações de violência; no que se refere à violência contra a criança e o
adolescente, toma-se como amparo o Estatuto da Criança e do Adolescente3.
Logo, torna-se imprescindível atentarmos às explicitações da categoria de violência
registradas ao público infanto-juvenil, às mulheres e às pessoas idosas.
Sendo assim, tomaremos, primeiramente, as práticas violentas verificadas junto às
pessoas mais frágeis e indefesas, nos mais distintos aspectos físico, psicológico e
emocionalmente, tratam-se das crianças e adolescentes, nesse âmbito há total abuso de poder
e da suscetibilidade da vítima.
A violência cometida contra crianças e adolescentes é um fenômeno que se sustenta
na relação autoritária, no abuso de poder do adulto que deveria ser referência
3 A Lei Maria da Penha corresponde à Lei Federal nº 10.778/2003, em que prega a Notificação de Violência
contra a Mulher; o Estatuto do Idoso tem por base à Lei Federal nº 10.741/2003; e, o Estatuto da Criança e do
Adolescente, fundamenta-se na Lei Federal nº 8.069/1990.
30
positiva para a constituição identitária da criança, diante da fragilidade e da
dependência emocional infantil. A dinâmica relacional adultocêntrica implanta e
mantém o pacto de silêncio mantido pela família ou pela sociedade. Assim, a visão
autoritária e transgressora estabelece uma relação de poder que dificulta o
desenvolvimento da criança e do adolescente enquanto sujeito de direitos, além de
comprometer e impossibilitar a construção de vínculos afetivos fundamentais no
processo de socialização (CEDECA, 2010:11).
A tipificação da violência acima citada implica em profundas sequelas objetivas e
subjetivas às crianças e adolescentes no processo de sua formação, sendo necessário, pois, a
identificação prévia e reconhecimento imediato de cenários de possíveis maus-tratos ao
público infanto-juvenil, de modo que se verifique a intervenção e encerramento da ação
prejudicial ao desenvolvimento sadio e pleno das vítimas.
Todavia, a categoria violência doméstica ou intrafamiliar registrada nas vítimas de
idade inferior a 18 anos, pode ser configurada de cunho físico, isto é, aquela ação com base na
relação de abuso de poder físico e social do adulto agressor que compreende castigos físicos
cruéis e humilhantes à criança e/ou adolescente. Há, ainda, a violência sexual, no meio
intrafamiliar, relacionada aos jogos e ato sexuais, hétero ou homossexuais, que visam à
estimulação sexual da criança ou adolescente, ou do agressor ou de outra pessoa. Por sua vez,
relata-se também a violência psicológica que está vinculada às marcas deixadas no
psicológico e emocional da vítima infanto-juvenil, resultante de ameaças, xingamentos e
desmerecimentos impetrados pela figura adulta. Autores como Garbarino (1988), Ruiz (1990),
CLAVES4 (1992) em Silva (1997) explicam que a agressão psicológica apresenta forma mais
recorrente a partir da rejeição, isolamento, terror, desprezo, depósito de expectativas irreais
sobre a criança e/ou adolescente, e corrupção por meio do incitamento de atividades
prejudiciais negativas à formação dos mesmos. Registra-se, além das práticas citadas, uma
última denominação, a negligência, que concebe toda forma de abandono, omissão,
descompromisso com o provimento das necessidades reais da criança ou adolescente, exceto
os casos de carência socioeconômica familiar. Faz-se necessário atentar, além do comentado
que, invariavelmente, as vítimas de maus-tratos físicos podem sofrer, paralelamente, de outras
formas de violência, haja vista a pressuposição da violência psicológica decorrente do dano
ocasionado, bem como, possivelmente, aplica-se a situação de negligência. Outra
configuração de violência contra a criança e adolescente trata-se da exploração do trabalho
infanto-juvenil (SILVA, 1997).
4 CLAVES – Centro Latino Americano de Estudos sobre Violência e Saúde.
31
Os relatos de violência física contra a criança e o adolescente remetem às mais
antigas e distantes épocas, especificamente, mediante a prática dos castigos físicos imputados
aos mais novos. Contudo, a cultura do castigo físico na sociedade brasileira advém do período
da colonização, por meio dos jesuítas, mediante a aplicação de disciplinas físicas e
psicológicas, justificadas pela necessidade de civilizar e educar o povo indígena aqui
encontrado. Sendo assim, progressivamente, a população passou a incorporar essa
metodologia de educação nos ambientes familiares (op.cit.).
Uma das tipologias mais frequentes, violentas e constrangedoras dos danos
praticados contra o público infanto-juvenil denomina-se violência estrutural, nesta
modalidade, registram-se a sonegação, privação e omissão das condições necessárias de
desenvolvimento saudável e digno da criança e do adolescente, materializadas nos números da
pobreza do Brasil, de modo que implicam diretamente nas determinações concretas e abstratas
do crescimento daqueles mencionados, associados à precariedade das condições de habitação
e inserção disforme nas escolas (op.cit.).
Quanto à violência contra a mulher, manifestação histórica e profundamente
internalizada em distintas sociedades, atenta-se que:
A pesquisa “A Mulher Brasileira” apurou que 43% das entrevistadas já foram
vítimas de violência psicológica, física ou sexual. Em relação à escolaridade, 13%
das que sofreram agressão física tinham nível superior. Para aquelas com
escolaridade entre a primeira e a quarta série do ensino fundamental, a porcentagem
era de 26%5 (PINHEIRO; ALMEIDA, 2003:41).
Isto é, pode-se constatar a quantidade alarmante de vítimas de violência, esse número
cresce, indefinidamente, se considerarmos a subnotificação de ocorrências, tendo em vista que
muitas mulheres não expõem a sua vida privada, e nem a ação de seu parceiro. Cabe destacar
que a violência contra a mulher, também denominada de violência de gênero trata-se da ação
que visa coibir, limitar, cercear, agredir a mulher, de modo a provocar-lhe sofrimento físico,
psicológico, emocional ou sexual.
Shraiber (2002) remete ao princípio dos anos 1970 a maior notoriedade às questões
concernentes da violência contra a mulher, por meio da mobilização popular. Estudos
comprovam maior incidência de agressão às mulheres por parte de pessoas, majoritariamente,
homens, conhecidos, com algum vínculo afetivo, presente ou passado, ou mesmo, àqueles
com vínculo parental com a vítima. Nesse sentido, apenas em 1990 transparece-se a profunda
associação da problemática apresentada com a questão de gênero, bem como a percepção
5 A pesquisa “A Mulher Brasileira” consta em www.mulhergoverno.gov.br
32
dessa expressão da violência como problema de saúde pública e ligação com os necessários
direitos humanos (SHRAIBER, 2002).
Giffin apud Deslandes, Gomes, Silva (2000) destaca a profundidade da
internalização das relações de gênero imbuídas no cenário de reprodução da violência contra a
mulher, de modo que:
A família é uma instituição social que organiza as relações sexuais entre gêneros,
exercendo de forma direta um controle social sobre a identidade e sobre o corpo da
mulher. Tal controle pode legitimar direitos dos maridos sobre suas esposas, dando-
lhes prerrogativa de exercerem até mesmo a força física contra elas (DESLANDES;
GOMES; SILVA, 2000:130).
Sendo assim, é possível traçar o papel que a noção de família, nos moldes patriarcais,
apregoa implícita e ao mesmo tempo, nitidamente, às imposições espaciais da mulher na
sociedade, mais especificamente, na esfera familiar. De modo que, o marido ou o parceiro, a
figura do homem tende a absorver a ideia de uma companheira que lhe pertence e deve-lhe
devoção, portanto, tem-se sobre ela total liberdade de ação. Logo, pressupõe-se a estrita e
inquestionável submissão da mulher ao homem, mediante a lógica machista.
Outra face da violência doméstica frequente, nos dias atuais, consiste na violência
contra a pessoa idosa, que pode ser exemplificada mediante maus-tratos físicos ou verbais,
negligência ou abuso contra o idoso.
A violência contra o idoso é uma das faces mais cruéis da questão da violência que
permeia o tecido social e que ganha relevância social por ser esta população a que
mais vem crescendo, nos últimos anos, em termos demográficos e por ser um dos
segmentos populacionais que mais necessitam de cuidados físicos, materiais,
psicossociais, de saúde, de atenção e de respeito (GUIMARÃES, MIRANDA,
MACÊDO, 2007:05).
Logo, a violência contra a pessoa da terceira idade também tem um poder devastador
na pessoa vitimada, bem como alarma a sociedade para essa problemática social cada vez
mais nitidizada, tendo em vista a fragilidade e vulnerabilidade comum ao idoso, devido à
idade avançada e à necessária dependência de um cuidador efetivo.
Para Bitencourt (2007), “as instituições e os sujeitos estão despreparados para lidar
com questões próprias do envelhecimento como condições psicológicas e sociais; o que faz
crescer a violência contra os idosos” (BITENCOURT, 2007:01). A mesma autora atribui
como fatores propiciadores às práticas de cunho violento ao público idoso, “isolamento,
moradia conjunta, empobrecimento da população, dificuldades do cuidador, dependência
33
financeira dos membros da família”, isto é, questões associadas à suscetibilidade
circunstancial ou estrutural (op.cit.).
Por sua vez, Florêncio, Ferreira e Sá (2007) analisam, de forma mais abrangente, o
fenômeno da violência atentando o progressivo envelhecimento populacional, variável
conforme o estágio de desenvolvimento econômico dos países, resultantes, especialmente, da
redução da fecundidade, da natalidade e da mortalidade. Destaca também a distinção entre os
países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento quanto ao processo de preparação e
investimento social concernente ao envelhecimento populacional, visto que no primeiro grupo
de países é possível observar a adaptação de suas respectivas sociedades, que remete a longas
datas, no âmbito social, econômico, político e familiar. Por sua vez, neste último grupo, não
se identifica a necessária preparação social a longo prazo, mas, ações imediatistas, de modo
que culminam e corroboram para a prevalência e continuidade de conflitos das mais distintas
motivações no seio do público idoso (FLORÊNCIO; FERREIRA; SÁ, 2007).
Nesse sentido, os autores compreendem acerca das subjetividades implícitas no
processo de reprodução da violência voltada aos idosos:
Sob um ponto de vista mais generalista, as formas de violência contra o idoso advêm
do conflito de interesses entre as gerações jovens e idosas. O fato de o idoso ser
considerado, na sociedade, um sujeito improdutivo, dependente sob vários aspectos
(econômico, familiar, de saúde), e obsoleto, do ponto de vista cultural (aquele que
não acompanha as novas formas de atitude e de visão de mundo), torna-o um ser
marginalizado, excluído dos acontecimentos [...] (FLORÊNCIO; FERREIRA; SÁ,
2007: 02).
De modo que, reitera-se a ausência de uma solidez estrutural na sociedade quanto à
valorização em nossa cultura, da figura do idoso. As iniciativas nitidizadas, nos dias atuais,
são tardias, se consideradas as suas necessidades.
Por fim, Florêncio, Ferreira e Sá (2007), ressaltam que a notoriedade da problemática
abordada está associada à internalização/consciência dos direitos em dada sociedade,
especialmente dos próprios idosos. (FLORÊNCIO; FERREIRA; SÁ, 2007).
Destaca-se também que através da Portaria n.737 MS/GM, de 16 de maio de 2001,
isto é, a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências,
passou-se a definir os acidentes à violência, uma vez que na Classificação Internacional das
Doenças (CID)6, a violência e os acidentes aparecem juntos. Logo, atenta-se a um fator
6 A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID – consiste na
sistematização de iniciativa da Organização Mundial da Saúde a fim de “padronizar a codificação de doenças e
outros problemas relacionados à saúde”. Para tanto, dispõe de códigos referentes “à classificação de doenças e de
uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas
34
complexo quanto à ocorrência dos acidentes, a intencionalidade, tendo em vista que, embora o
acidente sugira a não premeditação do ato, fatores como negligência e imprudência
caracterizam, por vezes, a autoria da responsabilidade. Cabe mencionar que aqui estão
incluídos também os acidentes de trânsito quanto aos meios reais de seu impedimento.
Portanto, na CID reconhecem-se os acidentes e violências como causas externas, de modo
que, o termo causas externas contempla os homicídios, suicídios e acidentes, de toda a
natureza, todavia, ocorrem com mais frequência, àqueles de transporte e de trânsito
(MINAYO apud NJAINE, 2009). A violência por causas externas refere-se aos homicídios,
suicídios e acidentes de trânsito. O termo agregador da tipificação de violência, “causas
externas”, é também frequentemente denominado de causas violentas.
A partir das exposições acima tratadas, pode-se apreender que a violência manifesta-se
como parte integrante das expressões da questão social, ao passo que a sua agudização, nos
dias atuais, está intimamente vinculada aos pressupostos desiguais quanto à ausência de
efetivas e dignas oportunidades de empregabilidade aos jovens e às classes mais
desfavorecidas, contribuindo, assim, para a reprodução da exploração e violação da equidade
aos cidadãos.
Por conseguinte, depreende-se que a violência tornou-se, na atualidade, um problema
de ressonância universal, à medida que afeta o globo de norte ao sul, de leste ao oeste,
cruzando todos os extremos, logo, faz-se necessário investigar os motivos para os quais se
atribuem a problemática como caso de saúde pública mundial. Para tanto, o capítulo seguinte
abordará com mais propriedade a situação proposta.
para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um
código CID 10”. Fonte: www.medicinanet.com.br
35
3. A VIOLÊNCIA ENQUANTO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
No presente capítulo serão tematizadas as seguintes questões, tais como o resgate
histórico e configuração da saúde pública no Brasil, bem como a respectiva vinculação entre a
violência e saúde pública, também retomará o conceito de vítima no contexto de imersão no
referido fenômeno, e, ainda, delineará algumas estatísticas embasadoras da magnitude da
problemática.
A fim de relacionar a violência como questão de saúde pública torna-se necessário
abordar o conceito e historicidade da saúde pública do Brasil, de modo a explicitar as
particularidades próprias do país.
Para a compreensão da saúde pública como parte integrante e fundamental da política
social cabe realizar um breve resgate histórico da conjuntura de surgimento da concepção de
saúde pública universal e gratuita para a população brasileira.
Sendo assim, a percepção estatal da necessidade de congregar investimentos na saúde
da população está associada ao período histórico da Primeira República:
A idéia de que população constituía capital humano e a incorporação dos novos
conhecimentos clínicos e epidemiológicos às práticas de proteção da saúde coletiva
levaram os governos republicanos, pela primeira vez na história do país, a elaborar
minuciosos planos de combate às enfermidades que reduziam a vida produtiva, ou
“útil” da população (FILHO, 2002:24).
Todavia, a desigualdade perpassava a noção de investimento na saúde, à medida que
os recursos destinados para melhorias das condições sanitárias eram estrategicamente
direcionados às principais áreas da economia como as cidades e portos (FILHO, 2002).
Em 1923, resultante da Lei Elói Chaves, surgem as Caixas de Aposentadorias e
Pensões – CAP’s, a fim de assegurar aos trabalhadores assistência médica e pensões, fruto de
reivindicações da categoria dos trabalhadores ferroviários, com o passar dos anos outras
profissões foram conquistando o benefício. Cabe ressaltar que as CAP’s eram mantidas pelas
contribuições dos empregados, empregadores e reguladas pelo Estado.
Posteriormente, na década de 1930, ocorre a unificação das CAP’s em IAP’s –
Instituto de Aposentadoria e Pensões, na era Vargas. Nesse contexto, há um processo de
industrialização crescente no Brasil, a necessidade de cuidar da saúde do trabalhador torna-se
mais nítida a fim de se assegurar a capacidade produtiva do trabalhador.
36
Nos anos 1960, cria-se a Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS, com vistas à
promoção da padronização e reorganização dos serviços oferecidos aos trabalhadores. Em
1967, surge o Instituto Nacional da Previdência Social – INPS, advindo da unificação dos
órgãos previdenciários.
Em 1974, há a substituição do INPS para o INAMPS - Instituto Nacional de
Assistência Médica da Previdência Social - propõe-se congregar a Saúde e Previdência juntas.
Entretanto, a conjuntura se configura pela ausência de hospitais, ambulatórios e postos
suficientes para as demandas postas. Nesse sentido, o Estado contrata serviços particulares,
promovendo financiamentos a partir de fundos existentes para grupos privados construírem
hospitais. Os estados e municípios ofereciam os serviços básicos nos postos de saúde,
enquanto os serviços particulares e poucos hospitais do INAMPS ofereciam o atendimento
hospitalar. O acesso consistia de forma restrita às pessoas com carteira assinada. Aos demais
restava às Santas Casas de Misericórdia, Postos Municipais, Estaduais e Hospitais
Universitários.
Desse modo, é possível depreender que os fatores acima citados colaboraram para que
essa modalidade de administração estivesse intimamente ligada à distribuição inadequada dos
recursos financeiros, bem como ao respectivo desperdício e às falhas do sistema público
quanto a sua necessária e esperada eficiência. Entretanto, somente a partir dos anos 1990 que
a saúde retorna ao Ministério da Saúde dissociada da Previdência Social.
A Política de saúde pública no Brasil ganha novos contornos a partir da criação do
Sistema Único de Saúde, em 1988, por meio do advento da Constituição Federal.
O Ministério da Saúde até meados dos anos 1980 norteava as suas ações em um
âmbito restrito à promoção da saúde, à prevenção de doenças (vacinação, por exemplo) e à
assistência médico-hospitalar para poucas doenças, em uma perspectiva de caráter universal.
Por sua vez, ao INAMPS estava delegada a função de prestar atendimento médico somente
àqueles empregados contribuintes da Previdência Social, aos demais cabia apenas aguardar
atendimentos oriundos de serviços filantrópicos.
No entanto, no início da década de 1970, surge no universo acadêmico o Movimento
da Reforma Sanitária com uma perspectiva ampla e inovadora de saúde, concebe-se que o
bem-estar físico abrange melhores condições de vida e de trabalho, partia-se do pressuposto
da necessidade de um Estado democrático de direitos, de modo que as políticas sociais
fossem, de fato, universais, e os direitos sociais fossem efetivados.
Posteriormente, as propostas da Reforma Sanitária fazem ressoar e tomam concretude
nas discussões da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, momento em que surge o
37
Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), a ocasião também contribui de forma
a embasar a seção “Da Saúde” da Constituição Federal de 1988, compreendendo a saúde
como “direito de todos e dever do Estado”. Todavia, somente em 1990, mediante a criação da
Lei Orgânica da Saúde, lei nº 8.080, o Sistema Único de Saúde – SUS – foi regulamentado,
sendo norteado pelos princípios da universalidade, equidade e integralidade. Desde então, o
SUS consiste em um sistema de saúde pública expressivo em nível mundial, visto que em seu
seio propõe o acesso universal e igualitário, no limite equânime, à saúde, embora a conjuntura
ao longo dos anos 1990, período de constantes reajustes estruturais resultantes da adoção ao
regime neoliberal, incidiram na redução dos investimentos sociais, no caso a saúde, em razão
do privilégio natural desta perspectiva de sobejar o âmbito econômico (FELIPE, 2011).
Logo, tem se observado nos últimos tempos: a progressiva precarização da rede
pública de saúde por meio da escassez de financiamento, ausência de recursos materiais,
superlotação de pacientes à espera de atendimento, terceirização de funcionários da saúde,
dentre outras situações que se apresentam; nota-se também a formação de convênios do SUS
com unidades hospitalares privadas que recebem usuários do SUS para a realização de
exames, ou cirurgias de alta complexidade com o devido repasse financeiro, em detrimento do
fortalecimento e equipamento das unidades hospitalares exclusivas da rede do SUS.
Não obstante, a intrínseca relação da violência como problema de saúde pública está
associada à magnitude das proporções estatísticas que reiteram a necessidade de atenção
veemente à problemática, por parte das autoridades públicas, em âmbito federal, estadual e
municipal, e, mesmo da sociedade, por meio da busca por alternativas mais pacificadoras, na
minimização dos conflitos que culminam em desfechos trágicos.
Ainda sob a perspectiva da violência como problema de saúde pública, Shraiber
(2002) vincula a relação da violência contra a mulher e as necessárias implicações no âmbito
da saúde biológica da mesma, atentando também à interferência na sua qualidade de vida. Isto
é, a mulher, vítima de práticas violentas, pode apresentar, com maior probabilidade,
problemas crônicos e inflamatórios na região pélvica, doenças sexualmente transmissíveis e
gravidez indesejada (SHRAIBER, 2002).
A Resolução 40/34 da Assembléia Geral das Nações Unidas de 29 de novembro de
1985 descreve como vítima aquela
Pessoa que, individual ou coletivamente, tenha sofrido danos, inclusive lesões
físicas ou mentais, sofrimento emocional, perda financeira ou diminuição
substancial de seus direitos fundamentais, como consequências de ações ou
omissões que violem a legislação penal vigente, [...] incluída a que prescreve o
abuso de poder (MIRANDA; MELLO; DIRK, 2007:08).
38
Portanto, a descrição acima mencionada clarifica a terminologia “vítima” tão
recorrentemente utilizada no contexto do fenômeno da violência, dando forma às suas
distintas feições e expressões.
Nesse sentido, as vítimas de violência constituem, em potencial, parcela significativa
dos serviços de atendimento à saúde, seja nas unidades de atenção primária ou nas unidades
de urgência e emergência, em busca de atenção e cuidados de agravos decorrentes da situação
de violência, ou ainda, resultante de doenças psicossomáticas, ocasionadas pela situação de
constrangimento, humilhação e opressão as quais foram submetidas.
Em Brasil (1997), na Proposta Preliminar de Prevenção e Assistência à Violência
Doméstica, pesquisadores que tem como objeto de estudo a relação violência-saúde, afirmam
a violência como sendo um “fenômeno gerado nos processos sociais, levando as pessoas,
grupos, instituições e sociedades a se agredirem mutuamente, a se dominarem, a tomarem à
força a vida, o psiquismo, os bens e/ou o patrimônio alheio” (BRASIL, 1997:08).
Por sua vez, Silva (2002) disserta que a violência em dada sociedade está associada ao
modo como o seu povo tem internalizado as demarcações de poder e a respectiva necessidade
da constante reafirmação de sua detenção (SILVA, 2002).
Quando se fala de violência, necessariamente está se remetendo para a maneira
como a sociedade e a cultura lidam com o poder. E a marca que mais ressalta nas
relações de poder, estabelecidas, em nossa sociedade, é a “naturalização” de seu
abuso (SILVA, 2002:37).
Por conseguinte, na abordagem crítica e reflexiva da violência, em especial, naquela
verificada no âmbito doméstico e notificada obrigatoriamente pelos serviços de atendimento
em saúde, ou seja, as vítimas que compreendem o grupo constituído por crianças e
adolescentes, mulheres e idosos, que sofrem física, sexual ou psicologicamente as marcas
culturais de concepções obsoletas e cruéis, são reflexos de como a sociedade, ou parte dela,
requisitam a imposição do poder sobre o outro.
Na análise do fenômeno da violência e seus rebatimentos, torna-se necessária à
abordagem de alguns conceitos, tais como a morbimortalidade. De acordo com a Política
Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violência, a terminologia
morbimortalidade implica em “ocorrências acidentais e violentas que matam ou geram
agravos à saúde e que demandam atendimento nos serviços de saúde”, compreende também
aquelas circunstâncias que perpassam a ocorrência do referido setor (BRASIL, 2002:08).
39
Logo, está associada aos efeitos em uma sociedade decorrentes de situações de doenças e
óbitos.
Quantificando a violência, o documento que descreve a Política acima mencionada
registra que:
Na década de 80, as mortes por acidentes e violências passaram a responder pela
segunda causa de óbitos no quadro de mortalidade geral, ensejando a discussão de
que se tratava de um dos mais graves problemas de saúde pública a ser enfrentado.
A partir de então, essas mortes representam cerca de 15% dos óbitos registrados no
País, perdendo apenas para as doenças do aparelho circulatório. Em 1996 e 1997, os
acidentes e as violências foram responsáveis por, aproximadamente, 120 mil óbitos
anuais (BRASIL, 2002:10).
Cabe mencionar que a informação acima mencionada explicita o período de maior
notoriedade de óbitos, refletindo na expressividade numérica das situações apontadas,
resultantes de violência e acidentes, nos anos 1980 e 1990, no Brasil.
Por sua vez, faz-se necessário mensurar o impacto orçamentário aos cofres públicos
decorrentes das condições de violência, à medida que a Portaria nº 737, do Ministério da
Saúde, em 16 de maio de 2001 descreve que
O impacto econômico dos acidentes e das violências no Brasil pode ser medido
diretamente por meio dos gastos hospitalares com internação, inclusive em unidades
de terapia intensiva, e dias de permanência geral. Em 1997, o total desses gastos
correspondeu a R$ 232.376.612,16, valor que representou, aproximadamente, 8%
dos dispêndios com internações por todas as causas (IUNES apud BRASIL,
2002:10).
Logo, entende-se que a delimitação dos custos ocasionados por situações de
violência podem ser quantificados através da verificação dos gastos hospitalares, mediante os
registros de atendimento e internação nos serviços de saúde aos vitimados física, psicológica e
sexualmente. Para tanto, a questão orçamentária e dos custos advindos do enfrentamento da
violência, no âmbito nacional e local, serão tratados com maior propriedade posteriormente,
na temática intitulada de A Saúde Pública do Rio Grande do Norte em meio à violência:
Dados, Custos e Planejamento.
Analisando as informações relacionadas à violência, referentes ao ano de 2011,
Wailsefisz (2011) menciona, por meio da abordagem dos dados do Sistema de Informações de
Mortalidade7, as estatísticas nacionais dos últimos 30 anos (de 1980-2010), de modo que
7 O Sistema de Informações de Mortalidade – SIM – foi criado pelo DATASUS a fim de sistematizar os dados,
de forma regular, sobre mortalidade no Brasil, por meio da coleta de informações resultantes dos serviços de
40
atenta para o aumento do número de homicídios em 259%, no referido período, colaborando
para uma média de 4,4% ao ano. O mesmo autor destaca que nas últimas três décadas, o
número de vítimas superou um milhão de pessoas acometidas por homicídio (WAILSEFISZ,
2011).
Nesse sentido, diante dos índices e experiências cotidianas de violência, Adorno
(2002) ressalta a presença do sentimento de vulnerabilidade e insegurança que circunda a
sociedade contemporânea, de modo que vem se acentuando desde os anos 1970, através da
espreita do medo diante de qualquer exposição pública, a aversão ao estranho, nesse caso,
existem agravantes como a estigmatização de alguns grupos, tais como pobres. negros e
jovens (ADORNO, 2002).
Cabe mencionar que somada à sensação de instabilidade e inquietude, nos dias
atuais, no que se refere à falta de segurança cotidiana na realidade e imaginário popular
quanto à tensão da violência concreta, também se registram as ditas violências não
intencionais categorizadas como sendo “acidentes de transporte, traumatismos acidentais,
quedas, envenenamentos, explosões, queimaduras, mordidas, golpes, afogamento e exposição
à corrente elétrica em decorrência da ação de outrem ou não” (NEVUSP, 1998:74). Nesse
sentido, Iunes apud Brasil (2002), atenta que as “hospitalizações por lesões e envenenamento
representam um gasto/dia cerca de 60% superior à média geral das internações” (IUNES apud
BRASIL, 2002:10). Logo, os registros das violências não intencionais situam-nas dentro da
categoria em que estão classificadas, concebendo-as em suas distintas tipologias.
Explicita-se, portanto, que por acidente, compreende-se o “evento não intencional e
evitável, causador de lesões físicas e/ou emocionais no âmbito doméstico ou nos outros
ambientes sociais, como o do trabalho, do trânsito, da escola, de esportes e o de lazer”
(BRASIL, 2002:08). Por conseguinte, os acidentes, atualmente, são interpretados a partir da
concepção de situações previsíveis e, consequentemente, preveníveis.
A Política Nacional de Redução da Morbimortalidade (2002) disserta acerca da
centralização espacial dos acidentes e violências nos cenários urbanos, cuja concentração
estima-se em 75% das estatísticas de mortes ocasionadas por razões violentas. Embora os
índices apontem a prevalência de eventos violentos nas áreas urbanizadas, a convivência com
a violência também perpassa o cotidiano das localidades rurais. Todavia, as questões
explicativas da origem dessas ocorrências possuem incertas comprovações, devido aos
atendimento à saúde. A obtenção desses dados tem como finalidade subsidiar as diversas esferas de gestão da
saúde pública, visando o planejamento e respectiva avaliação das ações e programas do setor.
Por sua vez, o DATASUS corresponde ao sistema informatizado das atividades do Sistema Único de Saúde,
objetivando a descentralização das atividades de saúde e viabilização do Controle Social.
41
escassos estudos voltados para a referida finalidade, bem como as questões associadas às suas
manifestações são distintas e igualmente pouco aprofundadas. Contudo, sobressaem algumas
motivações nos registros de violência nas áreas rurais, relacionadas abaixo:
Nelas são geradas mortes em conflito pela terra, em áreas de garimpo, na rota do
narcotráfico, ao lado do aliciamento e da exploração de crianças e adolescentes para
a prostituição8 e o trabalho escravo. São também consideráveis as vítimas de
intoxicações por agrotóxicos e de envenenamentos por animais peçonhentos
(BRASIL, 2002:09).
Sendo assim, apreende-se que, no âmbito rural o fenômeno da violência também se
manifesta, e, paulatinamente, de maneira mais expressiva, por distintas causas, sejam elas
vinculadas à questão agrária, trabalhista ou decorrente de conflitos de outras naturezas.
Ainda à luz dos dados da Política de Redução da Morbimortalidade (2002),
menciona-se a identificação dos grupos populacionais mais afetados por situações de
violência, e situam-se também as circunstâncias de vulnerabilidade, de modo que os homens
representam o segmento mais suscetível aos eventos violentos que culminam em óbitos. Por
sua vez, a violência direcionada ao público composto por mulheres, crianças, adolescentes e
idosos, mais dificilmente resulta em óbito, no entanto, interfere, diretamente, no perfil de
morbidade do grupo supracitado, isto é, ocasiona danos físico-biológicos e sequelas
psicológico-emocionais à saúde das vítimas. Geram-se, consequentemente, demandas de
serviços ao setor da saúde (BRASIL, 2002).
Informações do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes9 (VIVA) do
Governo Federal, em Brasil (2010), reiteram e descrevem dados imprescindíveis no processo
de conversão dos números e estatísticas em pessoas, através da delimitação da identidade da
vítima, circunstância do evento, dentre outros dados relevantes (BRASIL, 2010).
8 A terminologia “prostituição” referindo-se às crianças e/ou adolescentes possui sentido denotativo inadequado,
visto que implica o poder de decisão da vítima e respectivo consentimento, de modo que não contempla as reais
condições impostas ao público infanto-juvenil. Para tanto, utiliza-se, então, a denominação exploração sexual
comercial de crianças e/ou adolescentes. Pressupondo-se o estado de vulnerabilidade inerente à faixa etária do
grupo, bem como a sua condição de ausência de consciência plena de seus atos, conforme o Estatuto da Criança
e do Adolescente trata, além do próprio Código Civil. Nesse caso, considera-se,
especialmente, a ação do adulto aliciador, emancipado e nitidamente convicto das implicações de suas atitudes
de imposição e submissão das vítimas. Logo, concorda-se com a premissa que “crianças e adolescentes são
explorados sexualmente porque são induzidos a essa prática, seja por situação de pobreza, abuso sexual familiar
ou estímulo ao consumo”. Fonte: www.redeandibrasil.org.br 9 O Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes – VIVA – consiste em uma materialização da iniciativa do
Governo Federal em busca do monitoramento, sondagem e planejamento quanto ao enfrentamento das causas
externas epidemiológicas, as violências e os acidentes, tendo como pano de fundo o Sistema Único de Saúde. O
referido sistema deu início ao processo de coleta de dados nos anos de 2006 e 2007, uma vez que visa à pesquisa
de dois anos consecutivos a fim de comprovar as constâncias e alternâncias das estatísticas apreendidas.
42
Cabe destacar que a abordagem do Sistema VIVA terá como base o período de 2008-
2009. Tendo em vista que a coleta de dados dos anos 2010 e 2011 ainda não foram concluídas
e divulgadas pelo Ministério da Saúde, o presente estudo irá utilizar-se das informações
disponíveis referentes aos anos anteriores.
O quadro abaixo apresenta a caracterização das vítimas de violência doméstica,
sexual e outras violências, em âmbito nacional, descriminando-a por sexo dos vitimados,
situada no ano de 2008. Estabelece o perfil do demandante de atendimento em saúde mediante
faixa etária, cor, escolaridade e situação conjugal.
VIVA: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009
CARACTERÍSTICAS Masculino
(n=2.530)
Feminino
(n=6.236)
Total
(n=8.766)
N % N % N %
FAIXA ETÁRIA
0 a 9 763 30,2 1312 21,0 2075 23,7
10 a 14 304 12,0 1027 16,5 1331 15,2
15 a 19 287 11,3 771 12,4 1058 12,1
20 a 29 424 16,8 1243 19,9 1667 19,0
30 a 39 281 11,1 864 13,9 1145 13,1
40 a 49 176 7,0 486 7,8 662 7,6
50 a 59 97 3,8 220 3,5 317 3,6
60 e + 182 7,2 269 4,3 451 5,1
Sem informação 16 0,6 44 0,7 60 0,7
RAÇA/COR
Branca 1098 43,4 2928 47,0 4026 45,9
Preta 182 7,2 509 8,2 691 7,9
Amarela 16 0,6 39 0,6 55 0,6
Parda 880 34,8 2252 36,1 3132 35,7
Indígena 27 1,1 22 0,4 49 0,6
Sem informação 327 12,9 486 7,8 813 9,3
ESCOLARIDADE/ANOS DE ESTUDO
0 a 4 604 23,9 1233 19,8 1837 21,0
5 a 8 520 20,6 1627 26,1 2147 24,5
9 a 11 390 15,4 1015 16,3 1405 16,0
12 e + 149 5,9 755 12,1 904 10,3
Sem informação 867 34,3 1606 25,8 2473 28,2
SITUAÇÃO CONJUGAL
Solteiro (a) 999 39,5 2415 38,7 3414 38,9
Casado/união
consensual
395 15,6 1598 25,6 1993 22,7
Viúvo (a) 46 1,8 161 2,6 207 2,4
Separado (a) 97 3,8 287 4,6 384 4,4
Não se aplica* 678 26,8 1177 18,9 1855 21,2
Sem informação 315 12,5 598 9,6 913 10,4
Quadro 01 - Caracterização das vítimas de violência doméstica, sexual e outras violências por sexo – Brasil 2008
Fonte: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009.
43
* Quando a vítima era pessoa com idade inferior a seis anos ou portadora de deficiência mental grave.
Diante da exposição dos dados acima, quanto à caracterização da vítima, obtém-se
que a faixa etária mais representativa do sexo masculino localiza-se entre os anos 0 a 9 anos
(30,2%), 20 a 29 anos (16,8%) e 10 a 14 anos (12%). As cores da pele predominantes dos
homens vitimados foram brancos (43,4) e pardos (34,8). Os anos de estudo dessas vítimas
foram mais indicativos entre 0 a 4 anos (23,9%), acompanhados de período de estudo entre 5
a 8 (20,6%). Enquanto a situação conjugal prevalente dos homens foram solteiro (39,5%) e
casado/união estável (15,6%).
Quanto à interpretação dos dados visualizados entre pessoas do sexo masculino,
atenta-se que em um primeiro momento, há violência mais nítida entre crianças, seguida da
fase transitória entre a juventude e a fase adulta, e, demonstra novamente a suscetibilidade de
envolvimento de adolescentes em situações de violência. Na questão racial, obtêm-se mais
brancos e pardos vitimados. No que se refere ao período de escolarização, apresentam poucos
anos de estudo. De modo que a situação conjugal mais expressiva foram solteiros e
casados/união estável.
Destaca-se, inicialmente, a notória distinção e notificação da violência contra a
mulher, mais nitidizada diante dos números totais, mediante 6.236 casos de vítimas do sexo
feminino, enquanto os homens registraram apenas 2.530 casos.
Nas vítimas mulheres, verificou-se também vulnerabilidade na fase infantil, entre 0 a
9 anos (21%), seguidas de 20 a 29 anos (19,9%) e daquelas entre 10 a 14 anos (16,5%). A cor
da pele mais identificada situou-se entre brancas (47%) e pardas (36,1%). Quanto aos anos de
estudo, foram mais nítidos aqueles entre 5 a 8 anos de estudo (26,1%), e entre 0 a 4 anos de
escolaridade (19,6%). Por sua vez, a situação conjugal mais representativa localizou-se em
solteiras (38,7%) e casadas/união estável (25,6%).
Sendo assim, semelhantemente às situações dos homens, as mulheres também
apresentaram vulnerabilidade aos eventos violentos na infância, juventude e fase adulta, e
adolescência. São, em sua maioria, autointituladas brancas e pardas. Apresentam mais anos de
estudo se comparado aos homens vitimados. E, também situam-se entre as mulheres solteiras
e casadas/união estável.
VIVA: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 E 2009
CARACTERÍSTICAS Masculino
(n=2.530)
Feminino
(n=6.236)
Total
(n=8.766)
N % N % N %
44
LOCAL DE OCORRÊNCIA
Residência 1127 44,5 3909 62,7 5036 57,4
Habitação Coletiva 12 0,5 28 0,4 40 0,5
Escola 507 20,0 685 11,0 1192 13,6
Local de prática
esportiva
30 1,2 60 1,0 90 1,0
Bar ou similar 47 1,9 51 0,8 98 1,1
Via pública 6 0,2 21 0,3 27 0,3
Comércio/serviços 177 7,0 162 2,6 339 3,9
Indústria/construção 07 0,3 02 0,0 09 0,1
Outro 08 0,3 09 0,1 17 0,2
Sem informação 609 24,1 1309 21,0 1918 21,9
VIOLÊNCIA DE REPETIÇÃO
Sim 666 26,3 2477 39,7 3143 35,9
LESÃO AUTOPROVOCADA
Sim 308 12,2 558 8,9 866 9,9
TIPO DE VIOLÊNCIA
Física 1648 65,1 3240 52,0 4888 55,8
Psicológica/moral 527 20,8 3087 49,5 3614 41,2
Negligência/abandono 496 19,6 694 11,1 1190 13,6
Sexual 351 13,9 2429 39,0 2780 31,7
Tráfico de seres
humanos
09 0,4 20 0,3 29 0,3
Financeira 55 2,2 135 2,2 190 2,2
Tortura 24 0,9 101 1,6 125 1,4
Trabalho infantil 10 0,4 12 0,2 22 0,3
Patrimonial 02 0,1 24 0,4 26 0,3
Quadro 02 - Atendimentos Por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência em 23 capitais e
Distrito Federal – Brasil 2008, Quanto à Natureza da Violência
Fonte: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009.
O segundo quadro descreve a natureza da violência, identificando o local de
ocorrência, a tipologia do evento violento, se a situação tem antecedentes de repetição e a
proporção de circunstâncias violentas provocadas pelas vítimas.
Desse modo, demonstra-se que os locais de ocorrência mais apontados foram a
residência e a escola, tanto para os homens quanto para as mulheres. Respectivamente em
44,5% e 20% às vítimas do sexo masculino, e, 62,7% e 11% às vítimas do sexo feminino.
Quanto à incidência de violência de repetição, os homens apresentaram 26,3% das estatísticas,
enquanto as mulheres registraram 39,7% dos índices. Os dados registram ainda a proporção
de lesões autoprovocadas, sendo maiores nos homens em 12,2% e menores nas mulheres com
8,9%. Quanto às tipologias de violência mais frequentes verificaram-se, nos homens, as
expressões físicas em 65,1%, seguidas de agressão psicológica em 20,8%, e, de
negligência/abandono com 19,6%. Nas mulheres, identificaram-se a predominância da
45
violência física, em 52%, as lesões psicológicas em 49,5%, seguidas das agressões sexuais,
em 39%.
Logo, conclui-se que as localidades de materialização da violência mais citadas,
comuns aos homens e às mulheres, foram as residências e as escolas, a menção ao lar resulta
das agressões domésticas no público infanto-juvenil e nas vítimas do sexo feminino, enquanto
a referência ao âmbito escolar está relacionada aos conflitos que culminam em agressões de
jovens por jovens. Por sua vez, o quadro de agressões revelou que, em alguns casos, não foi a
primeira violência a que foram submetidas às vítimas, de modo que as mulheres apresentaram
maiores índices de violência de repetição. Também apurou-se a proporção de violências
ocasionadas pelas próprias vítimas, sendo mais representativas nos homens. Quanto à
natureza da violência, constatou-se que a violência física foi mais presente nos dois universos
feminino e masculino, bem como a agressão psicológica foi comum aos homens e às
mulheres, a distinção registrou-se entre a negligência/abandono mais expressiva nas vítimas
homens, tipologia interpretada nessa categoria como advinda da violência dirigida à pessoa
idosa, enquanto as mulheres relataram a agressão de cunho sexual como sendo a terceira
classificação mais nitidizada.
Faz-se necessário destacar que os números acima abordados representam indicadores
de violência de gênero, à medida que se registra proporção maior de mulheres vitimadas se
comparadas aos homens, bem como atenta-se à verificação da residência como principal locus
de materialização da violência contra a mulher, assim, reiteram a premissa da cotidianidade e
respectiva naturalização desses eventos.
VIVA: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009
CARACTERÍSTICAS
Masculino
(n=2.530)
Feminino
(n=6.236)
Total
(n=8.766)
N % N N % N
SEXO DO PROVÁVEL AUTOR DA AGRESSÃO
Masculino 1431 56,6 4385 70,3 5816 66,3
Feminino 401 15,8 1040 16,7 1441 16,4
Ambos os sexos 199 7,9 256 4,1 455 5,2
Sem informação 499 19,7 555 8,9 1054 12,0
RELAÇÃO COM A VÍTIMA
Pai 249 9,8 477 7,6 726 8,3
Mãe 345 13,6 410 6,6 755 8,6
Padrasto 63 2,5 280 4,5 343 3,9
Madrasta 09 0,4 22 0,4 31 0,4
Cônjuge 75 3,0 1165 18,7 1240 14,1
Ex-cônjuge 17 0,7 375 6,0 392 4,5
Namorado (a) 12 0,5 152 2,4 164 1,9
46
Ex-namorado (a) 13 0,5 122 2,0 135 1,5
Amigos 396 15,7 829 13,3 1225 14,0
Desconhecido 404 16,0 841 13,5 1245 14,2
Cuidador (a) 32 1,3 58 0,9 90 1,0
Patrão 25 1,0 55 0,9 80 0,9
Pessoa com relação
institucional
20 0,8 44 0,7 64 0,7
Outros 576 22,8 1281 20,5 1857 21,2
Quadro 03 - Atendimentos por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência em 23 Capitais e
Distrito Federal – Brasil 2008, Caracterização do Provável Autor da Agressão às Vítimas de Violência
Doméstica, Sexual e Outras Violências
Fonte: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009.
Por sua vez, o Quadro 03, traça a identificação do provável autor da agressão, quanto
ao sexo e possível vinculação com a vítima. De modo que coincide a pessoa do agressor como
pertencente ao sexo masculino, tanto nas vítimas homens quanto nas mulheres, mais
especificamente, sendo 56,6% e 70,3%, respectivamente. Quanto à relação do agressor com a
vítima, apontam-se nas violências ocasionadas ao homem, os desconhecidos (16%) e amigos
(15,7%). As agressões dirigidas às mulheres são mais representativas quando desempenhadas
por cônjuges (18,7%) e desconhecidos (13,5%).
Logo, compreende-se o consenso que os agressores em ambos os casos, são,
geralmente, do sexo masculino. Ainda na identificação da proximidade do agressor para com
a vítima, constatou-se que os homens foram oprimidos, em sua maioria, por pessoas
desconhecidas, enquanto as mulheres registraram serem agredidas por seus
cônjuges/companheiros de forma mais expressiva.
VIVA: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009
CARACTERÍSTICAS
Masculino
(n=2.530)
Feminino
(n=6.236)
Total
(n=8.766)
N % N N % N
EVOLUÇÃO DO CASO
Alta 708 28,0 1573 25,2 2281 26,0
Encaminhamento
ambulatorial
553 21,9 2157 34,6 2710 10,9
Encaminhamento
hospitalar
562 22,2 575 9,2 1137 13,0
Evasão/fuga 133 5,3 117 1,9 250 2,9
Óbito 89 3,5 28 0,4 117 1,3
Sem informação 485 19,2 1786 28,6 2271 25,9
ENCAMINHAMENTO PARA OUTROS SETORES
Conselho Tutelar 757 29,9 1923 30,8 2680 30,6
Vara da Infância e da
Juventude
63 2,5 167 2,7 230 2,6
Casa Abrigo 30 1,2 76 1,2 106 1,2
47
Programa Sentinela 88 3,5 529 8,5 617 7,0
Delegacia Especializada
da Mulher
75 3,0 1595 25,6 1670 19,1
Delegacia de Proteção
da Criança e do
Adolescente
146 5,8 461 7,4 607 6,9
Outras Delegacias 505 20,0 535 8,6 1040 11,9
Ministério Público 36 1,4 114 1,8 150 1,7
Centro de Referência
da Mulher
11 0,4 557 8,9 568 6,5
CREAS/CRAS 37 1,5 180 2,9 217 2,5
IML 192 7,6 1170 18,8 1362 15,5
Quadro 04 - Atendimentos Por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência em 23 Capitais e
Distrito Federal – Brasil 2008, Evolução e Encaminhamento das Vítimas de Violência Doméstica, Sexual e
Outras Violências Por Sexo
Fonte: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009.
Também foram apuradas informações acerca da evolução e encaminhamento das
vítimas de violência nos serviços de atendimento em saúde. De modo que verificou-se que os
homens, em maior expressividade, na evolução de seus quadros de saúde adquirem a alta
(28%), em seguida, há aqueles que recebem encaminhamento hospitalar (22,2%). As
mulheres apresentam, sobretudo, evolução para encaminhamentos ambulatoriais (34,6%),
seguidas de alta hospitalar (25,2%).
Quanto ao encaminhamento para outros setores, a partir da interlocução da rede de
atendimento ao usuário conforme as suas demandas, as vítimas do sexo masculino destacam-
se mediante o encaminhamento ao Conselho Tutelar (29,9) e outras Delegacias (20%). Por
sua vez, as vítimas do sexo feminino também apresentam relevância nos encaminhamentos ao
Conselho Tutelar (30,8%) e às Delegacias Especializadas da Mulher (25,6%).
Nesse sentido, apreende-se que a evolução dos quadros de homens vitimados,
majoritariamente, culminam em alta hospitalar, enquanto as mulheres ainda são encaminhadas
a algum atendimento ambulatorial, o que pressupõe um cenário de maior vulnerabilidade do
quadro de saúde apresentado. No que se referem aos encaminhamentos pós-atendimento tanto
os homens quanto as mulheres, foram encaminhados com maior frequência ao Conselho
Tutelar e as Delegacias, para registro da ocorrência.
Para tanto, no ano base 2009 do Sistema VIVA, os registros quanto ao sexo mais
vulnerável às situações de violência inverteram-se, visto que os usuários do sexo masculino
prevaleceram nas estatísticas, convergem em 71,1% das violências. Enquanto as mulheres
representam 28,7% dos números expostos abaixo.
48
VIVA: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009
SEXO VIOLÊNCIAS
N %
Masculino 2915 71,1
Feminino 1097 28,7
Sem informação 06 0,2
Quadro 05 - Atendimentos Por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência em 23 Capitais e
Distrito Federal – Brasil, setembro a novembro de 2009, Identificação por sexo
Fonte: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009.
Por sua vez, acrescenta-se ainda que as faixas etárias mais representativas do sexo
masculino são de homens adultos entre 20 e 29 anos que somam 36,5%, por sua vez, aqueles
entre 30 e 39 anos situaram 20,6% dos números. Quanto às mulheres, coincidem com os
homens a mesma faixa etária mais significativa de 20 a 29 anos em 30,7% do estimado, ao
passo que aquelas entre 10 a 19 localizam-se em 20,6%, seguidas da faixa etária entre 30 e
39 anos com 20,5%. O quadro abaixo ilustra os dados mencionados.
VIVA: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009
CARACTERÍSTICAS Masculino
(n=2.915)
Feminino
(n=1.097)
Total
(n=4.012)
n % N % N %
FAIXA ETÁRIA
0 a 9 144 5,5 87 7,7 231 6,1
10 a 14 111 3,6 76 6,8 187 4,5
15 a 19 415 14,3 163 13,8 578 14,2
20 a 29 1078 36,5 345 30,7 1423 34,8
30 a 39 607 20,6 229 20,5 836 20,6
40 a 49 312 10,8 118 11,8 430 11,1
50 a 59 143 5,2 49 5,5 192 5,3
60 e + 69 2,4 26 2,9 95 2,5
Sem informação 36 1,2 4 0,3 40 1,0
Quadro 06 - Atendimentos por Violências em Serviços Sentinelas de Urgência e Emergência em 23 capitais e
Distrito Federal – Brasil, setembro a novembro de 2009, Caracterização das vítimas por sexo
Fonte: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009.
O Ministério da Saúde destaca no referido documento, em referência ao ano de 2009,
o atendimento das vítimas em serviços de saúde, nestes sobressaem às entradas no setor por
motivação de agressão/maus-tratos em 91,8%, para os homens vitimados, e, em 84% para as
mulheres vitimadas, conforme explicitado no Quadro 07. De modo que as agressões de
aspecto físico prevaleceram em 97,9% nas vítimas do sexo masculino, e, em 94,1%, nas
vítimas do sexo feminino. Faz-se necessário ressaltar que em relação à violência registrada
49
aos homens, a caracterização do agressor o indica como desconhecido à vítima, chegando a
44,3%. Por sua vez, as mulheres foram agredidas em predominância por companheiros ou ex-
companheiros em 34,3%. Importa mencionar também que tanto para os homens quanto para
as mulheres, obtiveram a semelhança no fato de o agressor pertencer ao sexo masculino, isto
é, 80,8% das estimativas nos homens vitimados, e 69,7% dos agressores das mulheres.
Distingue-se também quanto ao local de ocorrência, os homens apontaram a via pública como
espaço de materialização da agressão, em 47,9%, enquanto as mulheres coincidem com o
indicativo em 2008, quanto ao espaço mais propício de reprodução da violência como sendo a
residência, em 56%.
VIVA: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009
CARACTERÍSTICAS Masculino
(n=2.915)
Feminino
(n=1.097)
Total
(n=4.012)
N % N % N %
LOCAL DE OCORRÊNCIA
Residência 711 24,7 605 56,0 1316 33,7
Habitação Coletiva 33 1,1 5 0,6 38 1,0
Escola 71 2,4 41 3,8 112 2,8
Local de prática
esportiva
62 2,0 05 0,5 67 1,6
Bar ou similar 369 12,1 85 6,9 454 10,6
Via pública 1396 47,9 283 25,4 1679 41,4
Comércio/serviços 99 3,7 27 2,4 126 3,4
Indústria/construção 08 0,2 01 0,2 09 0,2
Outro 102 3,2 25 2,2 127 2,9
Sem informação 64 2,6 20 2,0 84 2,4
TIPO DE VIOLÊNCIA
Lesão autoprovocada 195 6,5 163 15,9 358 9,1
Agressão/maus-tratos 2668 91,8 927 84,0 3595 89,5
Intervenção por
agente legal
52 1,7 07 0,2 59 1,4
NATUREZA DA AGRESSÃO
Física 2509 97,9 837 94,1 3346 94,1
Sexual 09 0,3 48 5,7 57 1,8
Negligência/abandono 61 2,6 30 3,5 91 2,8
Psicológica 564 20,3 329 36,2 893 24,6
PROVÁVEL AUTOR DA AGRESSÃO
Pai ou mãe 55 2,1 48 5,4 103 3,0
Companheiro(a)/ ex 146 5,7 301 34,3 447 13,5
Outro familiar 208 8,5 103 11,9 311 9,4
Amigo/conhecido 796 31,1 224 26,0 1020 29,7
Agente legal público 97 3,8 18 2,4 115 3,4
Desconhecido 1116 44,3 178 18,1 1294 37,2
Sem informação 111 4,6 16 1,9 127 3,9
SEXO DO PROVÁVEL AUTOR DA AGRESSÃO
50
Masculino 2047 80,8 618 69,7 2665 77,7
Feminino 221 9,1 208 23,5 429 13,1
Ambos os sexos 65 2,8 27 3,2 92 2,9
Sem informação 187 7,3 33 3,7 220 6,3
Quadro 07 - Atendimentos por violências em serviços sentinelas de urgência e emergência em 23 capitais e
Distrito Federal – Brasil, setembro a novembro de 2009, Quanto à natureza da violência
Fonte: Vigilância de Violência e Acidentes, 2008 e 2009.
Em síntese, percebe-se que em 2008 as vítimas com maior representatividade
numérica foram as mulheres, enquanto que em 2009, os homens prevaleceram nas estatísticas.
As faixas etárias com maior notoriedade situaram-se entre 20 e 29 anos, seguidas de 30 a 39
anos, comuns às vítimas do sexo feminino e masculino. Os locais de ocorrência mais
registrados foram residência e escola, em 2008. No entanto, em 2009, a via pública foi
inserida como meio em potencial de ocorrência de violências, para os homens. Quanto às
mulheres, a residência permaneceu como localidade principal do registro de eventos
violentos. Também apresentaram ponto em comum nos dois anos referidos, às vítimas do
sexo feminino e masculino a materialização da violência mediante a sua expressão física.
Todavia, requer mencionar que os dados apresentados não apresentam a fidedignidade
da realidade, compreendendo que a mesma é dinâmica e abrangente. Sobretudo, há, ainda, os
casos de violência não identificados pela equipe multidisciplinar de saúde, bem como aquelas
situações de violência não registradas e devidamente denunciadas em suas instâncias legais,
além daqueles casos que não chegam à rede de saúde, permanecendo restrito ao ambiente
perpetrador de danos à saúde física, psicológica e biológica do ser humano.
O Mapa da Violência 2012 traz notoriedade à problemática da violência contra a
mulher, à medida que ressalta o aumento dos índices de óbito entre o sexo feminino,
decorrentes de ações violentas. Wailsefisz (2011) informa que, nos últimos 30 anos, a partir
de 1980, no Brasil, notificaram-se o assassinato de mais de 91 mil mulheres, somente nos
últimos dez anos foram 43,5 mil. Os dados citados correspondem, então, a um aumento de
217,6% nas estatísticas de mulheres vitimadas de violência que culminaram em óbito
(WAILSEFISZ, 2011).
O quadro abaixo ilustra os índices que comprovam as informações citadas.
ANO NS. TAXAS ANO NS. TAXAS
1980 1.353 2,3 1997 3.587 4,4
1981 1.487 2,4 1998 3.503 4,3
1982 1.497 2,4 1999 3.536 4,3
1983 1.700 2,7 2000 3.743 4,3
1984 1.736 2,7 2001 3.851 4,4
1985 1.766 2,7 2002 3.867 4,4
51
1986 1.799 2,7 2003 3.937 4,4
1987 1.935 2,8 2004 3.830 4,2
1988 2.025 2,9 2005 3.884 4,2
1989 2.344 3,3 2006 4.022 4,2
1990 2.585 3,5 2007 3.772 3,9
1991 2.727 3,7 2008 4.023 4,2
1992 2.399 3,2 2009 4.260 4,4
1993 2.622 3,4 2010 4.297 4,4
1994 2.838 3,6 1980/2010 91.932
1995 3.325 4,2 2000/2010 43.486
1996 3.682 4,6 Δ% 1980/2010 217,6
Quadro 08 - Números e taxas (em 100 mil mulheres) de homicídios femininos, Brasil 1980/2010
Fonte: Mapa da Violência 2012: Homicídios de Mulheres/SIM/SVS/MS
A faixa etária mais incidente de vitimização das mulheres situa-se entre os 20 aos 29
anos, com significância também na faixa vizinha dos 30 aos 39 anos, conforme quadro
abaixo. Delimitou-se, também, no estudo em questão, a figura do agressor mais comum
nessas situações, reitera-se a pessoa do cônjuge ou ex-cônjuge, respectivamente em 27,1% e
8,3%. De modo que também enquadram-se os namorados, em 4.5%, e ex-namorados, 2,6%.
As práticas violentas são efetuadas também, além daqueles autores já citados, por
amigos/conhecidos em 16,2% e por desconhecidos 13,8%. Cabe relatar ainda que 68,8% dos
atendimentos realizados às mulheres, vítimas de violência, as agressões foram instauradas em
suas próprias residências (BRASIL, 2010).
FAIXA ETÁRIA
NÚMERO TAXAS
2000 2010 2000 2010
Menor 01 ano 37 35 2,3 2,6
01 a 04 anos 40 52 0,6 1,0
05 a 09 anos 46 48 0,6 0,7
10 a 14 anos 156 131 1,8 1,6
15 a 19 anos 592 556 6,6 6,6
20 a 29 anos 1051 1331 6,9 7,7
30 a 39 anos 843 947 6,5 6,3
40 a 49 anos 506 597 5,1 4,7
50 a 59 anos 198 260 3,0 2,7
60 a 69 anos 91 130 2,1 2,1
70 a 79 anos 70 82 2,8 2,3
80 anos e mais 36 57 3,3 3,2
Ignorado 77 71 - -
TOTAL 3.743 4.297 4,3 4,4
Quadro 09 - Números e taxas (em 100 mil mulheres) de homicídios femininos, Brasil 2000/2010
Fonte: Mapa da Violência 2012: Homicídios de Mulheres/SIM/SVS/MS
52
Dados obtidos pelo SINAN10
, referentes ao ano de 2011, apontam que no país
registraram-se 73.633 atendimentos vinculados à violência doméstica, sexual e/ou outras
violências. Distribuídos da seguinte forma, 48.152 (65,4%) correspondem às vítimas
mulheres, enquanto os homens representam 25.481 (34,6%) dos atendimentos realizados por
motivações violentas (WAILSEFISZ, 2011). A seguinte informação apresenta a alarmante
problemática em torno da violência doméstica, tendo como principal vítima a mulher. Nesse
sentido,
Tem que ser considerado que os quantitativos registrados pelo SINAN representam
só a ponta do iceberg das violências cotidianas que efetivamente acontecem: as que
demandam atendimento do SUS e que, paralelamente, declaram abertamente o
agressor. Por baixo dessa ponta visível, um enorme número de violências cotidianas
nunca chega à luz pública (WAILSEFISZ, 2011:13).
Logo, a referência supracitada traz a reflexão de quão desconhecida e dramática é a
realidade efetiva da violência na sociedade brasileira, especialmente no que concerne à
materialização da violência contra mulheres, crianças, adolescentes e idosos, tendo em vista
que essa dimensão assume características domésticas e geralmente motivadas por familiares.
Considera-se ainda a dificuldade na identificação e respectiva denúncia ao agressor, em casos
de vinculação afetiva da vítima com o causador do dano.
Sendo assim, diante das exposições aqui clarificadas compreende-se que a violência,
na concepção da sociedade atual, classifica-se como sendo um fenômeno de ampla magnitude
que, por sua vez, interfere direta e indiretamente na saúde pública da população em que se
manifesta. Logo, deve ser tratada como problema de saúde pública, tendo em vista a
interferência objetiva e subjetiva na vida daqueles vitimados por suas distintas tipificações.
Para tanto, resgatar-se-á que a percepção da violência como situação de
responsabilidade da pauta da saúde pública, advém ainda do pressuposto da compreensão
abrangente e inovadora de saúde, resultante da Constituição Federal de 1988, quando concebe
que a saúde está intrinsecamente relacionada às condições de vida da população. A Lei
Orgânica da Saúde, nº 8.080, descreve mais especificamente a amplitude do conceito de
saúde, associando-a aos fatores determinantes e condicionantes, como a “alimentação,
10
O SINAN consiste no Sistema de Informações de Agravos de Notificação. Mantêm-se mediante a inserção de
dados referentes às notificações e respectivas investigações das doenças e agravos constantes na Lista Nacional
de Doenças de Notificação Compulsória, Portaria GM/MS nº 2.325, de 08 de dezembro de 2003. O sistema
mencionado permite a “identificação da realidade epidemiológica de determinada área geográfica”. Fonte: Portal
da Saúde.
53
moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer,
acesso aos bens e serviços essenciais [...]” (BRASIL, 1990:01).
Logo, remete-se ao proposto em 1988, reconhecendo a saúde como “direito de todos e
dever do Estado”, cabendo à esfera estatal a “redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação” (BRASIL, 2005:131).
Por conseguinte, considerando que a violência consiste em danos reais às vítimas, nos
aspectos emocional, psicológico e físico, consequentemente, enquadra-se como risco à saúde
coletiva. Portanto, a violência adentra no universo da saúde pública mediante a inserção como
fenômeno prejudicial e maléfico à saúde.
Após a observância das estatísticas nacionais, reiteram-se os índices alarmantes de
eventos violentos, com destaque aos homens como maiores vítimas fatais, por sua vez,
também são aqueles do sexo masculino os principais agressores tanto aos vitimados homens
quanto para as mulheres. Por conseguinte, faz-se necessário adentrar na realidade do nosso
estado, no caso, o Rio Grande do Norte, de maneira a averiguar a situação estadual quanto a
sua respectiva vivência diante do fenômeno da violência. Logo, no capítulo subsequente serão
abordadas informações de subsídio ao conhecimento do cenário potiguar frente aos eventos
violentos.
3.1. O COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL COMO
PRINCIPAL INSTITUIÇÃO DE ATENDIMENTO ÀS SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
A fim de retratar e mensurar o contexto norte-rio-grandense em meio à violência
quanto às mais diversas localidades e população vitimada no estado, o tópico em questão
pretende abordar, a princípio, o cenário institucional do Complexo Hospitalar fornecedor de
dados imprescindíveis para compreensão da realidade estadual, bem como serão tratadas as
informações/estatísticas relativas à violência, além de dissertar acerca das tipificações
violentas expostas.
A instituição locus da vivência profissional da autora do presente trabalho consistiu no
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, mais especificamente, o Pronto Socorro
Dr. Clóvis Sarinho. A experiência obtida na referida unidade hospitalar esteve relacionada ao
54
desenvolvimento do estágio supervisionado de Serviço Social, parte integrante da disciplina
de Estágio Supervisionado I e II. Logo, foram dois semestres de convivência com a rotina
institucional do Hospital, período fundamental para a apreensão dos conhecimentos da prática
profissional, e percepção das singularidades intrínsecas à realidade constantemente mutável.
Nesse sentido, as considerações expressas a seguir tem por base a sistematização das
observações e informações colhidas na ocasião do Estágio ali realizado.
Inicialmente denominado de Hospital Geral e Pronto Socorro de Natal, o Hospital
Monsenhor Walfredo Gurgel foi inaugurado em 14 de março de 1971, somente em 31 de
março de 1973 deu início às suas atividades e a partir de então recebeu a sua nomenclatura
definitiva.
Em 08 de fevereiro de 2001, o Pronto Socorro Dr. Clóvis Sarinho foi inaugurado
passando a integrar o Complexo Hospitalar do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel11
.
O Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel12
tem como especialidade o
atendimento das demandas de urgência e emergência. O HMWG/PSCS está vinculado à
Secretaria Estadual de Saúde Pública do RN - SESAP. Sendo um Hospital da rede pública é
norteado pelas diretrizes do Sistema Único de Saúde, o SUS.
O Hospital tem como missão: “Promover a dignidade da pessoa humana, preservando-
lhe e resgatando-lhe a saúde, oferecendo-lhe atendimento de boa qualidade, universal e
igualitário, nas áreas do trauma e emergência” (COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR
WALFREDO GURGEL, 2012).
Sendo assim, o Complexo Hospitalar visa à prestação de serviços de assistência
médico-hospitalar nas mais diversas especialidades em regime de emergência, ambulatório e
internação. Procura acolher, dar atendimento médico-hospitalar sem seleção, de maneira
permanente, a toda pessoa que se apresenta em situação de emergência.
O Complexo Hospitalar Walfredo Gurgel está inserido na Política de saúde pública do
país, em nível estadual, à medida que contempla os preceitos institucionalizados pelo SUS
como universalidade e integralidade. O atendimento oferecido está vinculado aos
procedimentos circunscritos na rede de alta complexidade resultante das demandas de
urgência e emergência, sobretudo, na especialização em trauma, cardiologia, ortopedia, etc.
Nesse sentido, o HMWG/PSCS é referência no atendimento de urgência e emergência no
11 O HMWG/PSCS está localizado na cidade do Natal, na Av. Senador Salgado Filho, S/N, no bairro do Tirol.
CEP: 59015-380. Rio Grande do Norte. 12
As informações disponíveis para contato com o Hospital Walfredo Gurgel efetuam-se mediante os telefones
(84) 3232.7530/3232.7532, e, ainda há o endereço eletrônico [email protected].
55
estado do Rio Grande do Norte, recebendo pacientes da capital, bem como de diversos
municípios da região.
Por sua vez, cabe mencionar que a conjuntura nacional do período de surgimento do
Hospital Walfredo Gurgel é contemporânea à gestão da saúde pelo INPS – Instituto Nacional
de Previdência Social, em transição para o INAMPS – Instituto Nacional de Assistência
Médica e Previdência Social.
No Walfredo Gurgel, a cada mês, são feitos cerca de 600 procedimentos cirúrgicos,
entre cirurgias e reduções ortopédicas. Os principais procedimentos realizados são: ortopedia,
clínica médica, pediatria, cirurgia geral, UTI, cirurgia buco-maxilo-facial, anestesia, análises
clínicas, fisioterapia, fonoaudiologia, oftalmologia e otorrinolaringologia.
O HMWG dispõe de uma equipe de 1.800 funcionários, dos quais cerca de 200 são de
empresas terceirizadas. A equipe de plantão permanente é composta por 30 médicos em cada
turno, além de enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistente social, nutricionista,
fisioterapeuta, psicólogo, dentre outros profissionais disponíveis.
O Pronto Socorro Dr. Clóvis Sarinho também é reconhecido em razão do atendimento
prestado em emergência no estado. Os procedimentos mais comumente realizados são em
clínica médica, ortopedia, cirurgia geral e neurocirurgia. A equipe do Pronto Socorro é
composta por 25 médicos em regime de plantão permanente: clínicos, pediatras, cirurgiões,
intensivistas, anestesistas, neurocirurgiões, além de cirurgião vascular e plástico. O Clóvis
Sarinho funciona ainda com assistentes sociais permanentes, em escala de plantão, recepção
informatizada para admissão de pacientes, posto da Polícia Militar, Posso Ajudar e Serviço de
Triagem.
O HMWG/PSCS tem capacidade física para 264 leitos, sendo 202 vagas destinadas
aos andares do Walfredo Gurgel, enquanto as 62 vagas restantes pertencem ao Pronto Socorro
do Clóvis Sarinho. O espaço físico do Complexo Hospitalar Walfredo Gurgel é dividido da
seguinte forma: no subsolo encontram-se a Recepção Administrativa, o NAST – Núcleo de
Assistência à Saúde do Trabalhador e Junta Médica; no térreo localizam-se a Recepção
(visitantes e funcionários), Setor Administrativo, Unidades Clínicas I e II, UTI’s, Politrauma,
CRO, Reanimação e Observação Pediátrica do PSCS; no 1º andar estão o CTQ e a UTI
Cardiológica; no 2º andar ficam os setores Neurológico, Neurocirúrgico e ocasionalmente, a
Clínica Médica; no 3º andar conta com o setor Vascular, Cardiologia, Pediatria e Clínica
Médica; enquanto o 4º andar recebe as demandas do setor Ortopédico, Cirúrgico e Clínica
Médica; por fim, no 5º andar são atendidos os pacientes das especialidades em Hematologia,
Cardiologia e Nefrologia.
56
O Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel possui uma média de
atendimento mensal bastante expressiva, situada em 7.198 atendimentos por mês, o
correspondente a 232 atendimentos diários. Reiterando, assim, a atribuição de hospital de
referência do estado.
O perfil dos usuários atendidos pelo Hospital são, em sua maioria, pessoas de baixa
renda, pouca escolaridade, homens e mulheres, crianças, adolescentes, jovens, adultos e
idosos, de distintas profissões, oriundos tanto da zona rural quanto da urbana, da capital e
interior do Estado (FELIPE, 2011). Cabe mencionar que o Complexo Hospitalar também
abarca os demandantes de serviços de saúde advindos de acidentes de trânsito, mesmo aqueles
dotados de planos de saúde, tendo em vista que as unidades hospitalares particulares de Natal
não possuem infraestrutura de pronto-atendimento às vítimas desses eventos, em
circunstâncias de quadros mais graves. Logo, são socorridas pela SAMU13
– Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência – e encaminhadas ao Clóvis Sarinho, o Pronto Socorro do
Complexo Hospitalar, e lá permanecem até a estabilização de seu diagnóstico.
O quadro abaixo ilustra quantitativamente a média mensal dos atendimentos
realizados pelo Pronto Socorro Dr. Clóvis Sarinho durante o ano de 2011, de janeiro até
dezembro.
Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
PROCEDIMENTOS MÉDIA/MÊS
Clínica Médica 23.113
Pediatria 2.813
Ortopedia 16.140
Clínica Cirúrgica 18.650
Buco maxilo facial 2.876
Cirurgia Vascular 743
Otorrino 5.581
Endoscopia 633
Neurocirurgia 3.115
Neurologia 56
Hematologia 27
Curativo de Queimados 1.522
Oftalmologia 9.143
Nefrologia 93
Urologia 335
Cirurgia pediátrica 82
13
A SAMU consiste em unidade de atendimento pré-hospitalar do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.
57
Pneumologia 10
Cardiologia 18
Cirurgia torácica 65
Queimados 327
Cirurgia Plástica 1.022
Endoscopia rígida 05
Cirurgia de Pescoço e Cabeça 03
Total 86.372
MÉDIA DE ATENDIMENTO MENSAL: 7.198
Quadro 10 - Total de Atendimentos do Pronto Socorro Clóvis Sarinho, por clínicas, Janeiro a Dezembro de
2011
Fonte: SAME – Serviços de Arquivos Médicos e Estatística – C.H.M.W.G
Os dados acima expostos demonstram a diversidade de procedimentos realizados no
Pronto Socorro Clóvis Sarinho, desvelando as distintas demandas encaminhadas ao Hospital
cotidianamente.
O Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel consiste em uma unidade
hospitalar da rede pública voltada para o atendimento universal às demandas de urgência e
emergência. Portanto, a instituição hospitalar atende, indistintamente, usuários do SUS ou
usuários de Plano de Saúde que, porventura, foram encaminhados até lá em razão do
atendimento de referência estadual em emergência e urgência, especialmente aqueles vítimas
de acidentes de trânsito.
Entretanto, é comum a todas as regiões do país, em uma ressonância nacional, e o
HMWG/PSCS não está isento das dificuldades físicas, estruturais e organizacionais
resultantes dos reduzidos investimentos públicas na política de saúde, tanto nos repasses da
esfera federal quanto no âmbito estadual, bem como no poder municipal. Essas questões são
agravadas também devido à ausência de estrutura e eficiência dos distritos municipais no
atendimento básico à saúde, implicando na expansão das demandas cotidianas ao Complexo
Hospitalar.
A hipertrofia dos grandes hospitais, mais especificamente do Complexo Hospitalar
Monsenhor Walfredo Gurgel resulta de problemas de saúde que deveriam ser atendidos pelos
Postos de Saúde, mas estes, por sua vez, apresentam funcionamento inadequado às suas
propostas legais, em razão da submissão ao sucateamento dos serviços públicos e falta de
conhecimento da população.
Ressalta-se ainda a ausência de um atendimento digno aos usuários visto a longa
espera de vagas nos corredores em macas ou cadeiras, ferindo os princípios do SUS. Os
58
pacientes são atendidos, contudo, não recebem o atendimento sequer próximo do ideal, e o
processo de hospitalização também é deficitário.
Todavia, deve-se registrar que a equipe multiprofissional que constitui o pessoal
responsável pelo atendimento dos demandantes de serviços de saúde, são profissionais
reconhecidos por experiência na área de urgência e emergência do estado, embora ainda seja
possível identificar a ausência de capacitação técnica, por parte de alguns profissionais de
determinadas categorias, para lidar com os usuários diante de suas necessidades singulares.
Cabe destacar a necessidade do respeito, primordial, aos direitos dos usuários da saúde
garantidos constitucionalmente.
Adentrando o universo das quantificações da violência no estado, considerando que o
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel atende as demandas da cidade de Natal,
bem como parte significativa dos encaminhamentos realizados pelos municípios
circunvizinhos, tendo em vista que o Hospital, integrante do nível de alta complexidade
previsto no SUS, dispõe de atendimento qualificado às situações mais graves, especificamente
de urgência e emergência, sendo estes quadros de saúde comuns ao vitimados de violência
decorrentes dos traumas os quais foram submetidos, destaca-se esse contexto de inserção nos
serviços de atendimento à saúde, como fonte em potencial de verificação da violência
notificada.
No entanto, no Hospital em questão foram repassados apenas os dados de 2011,
quanto à notificação compulsória, isto é, àquelas relacionadas ao público constituído por
criança e adolescente, idosos e mulheres, tendo em vista a obrigatoriedade da informação por
parte daqueles profissionais que realizam o atendimento às pessoas mencionadas, em face das
legislações específicas de cada segmento mencionado em que requerem, necessariamente, o
encaminhamento formal à instituição responsável pela garantia dos direitos sociais desses
grupos.
Contudo, faz-se necessário ressaltar o volume expressivo de atendimentos cotidianos
realizados no Complexo Hospitalar, considerando a quantidade mínima de profissionais
disponíveis para a finalidade específica de notificação de violência, de maneira que inviabiliza
a notificação efetiva e real de todos os casos ali encaminhados por situações violentas. Nesse
caso, trabalha-se com a hipótese da subnotificação das informações aqui expostas.
Logo, o quadro abaixo delimita as notificações obrigatórias efetuadas na unidade
hospitalar no ano de 2011, direcionadas ao público infanto-juvenil, idoso e feminino.
Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte
59
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
Sexo <1 ano 1-4 5-9 10-19 20-39 40-59 60 + Total
Masculino 02 05 04 100 03 01 16 131
Feminino 00 03 01 34 88 40 03 169
Total 02 08 05 134 91 41 19 300
Quadro 11 - Notificação de Violência doméstica, sexual e outras violências, Frequência por faixa etária segundo
sexo
Fonte: Comissão de Revisão de Óbitos/NUVISA – Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
Nesse sentido, o quadro acima explicita a expressividade da violência contra as
mulheres com idade entre 20 e 39 anos, seguidas daquelas com 40 a 59 anos, e ainda
apresenta relevância às jovens entre 10 e 19 anos, vítimas de ocasiões violentas.
Compreendendo os dados que se apresentam, apreende-se que as vítimas de sexo feminino, na
transição da fase jovem para a adulta, apresentaram maiores riscos de agressão, normalmente,
resultantes da convivência e vinculação afetiva com o vitimador.
Por sua vez, os homens sofreram mais violência na faixa etária de 10 a 19 anos, bem
como os idosos aqueles a partir de 60 anos, também apresentaram maior vulnerabilidade.
Entende-se, portanto, que os adolescentes constituem o grupo mais vulnerável, por idade, às
circunstâncias violentas, cabe mencionar o envolvimento em conflitos próprios da juventude,
e, mesmo, a contribuição das substâncias químicas como drogas e álcool para o afloramento
da impulsividade intrínseca da faixa etária. Quanto ao segundo grupo etário mais significativo
em notificação, os idosos, geralmente, dependentes física e emocionalmente de um cuidador,
em sua maioria, um familiar, que abusa de suas condições biológicas de suscetibilidades, bem
como apropria-se de seus rendimentos mensais e os negligencia no cumprimento de seus
cuidados básicos, em saúde, higiene e afeto.
Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
CARACTERÍSTICAS FEMININO MASCULINO TOTAL
Quantidade % Quantidade % Quantidade %
FAIXA ETÁRIA
<1 0 0,0 2 1,3 2 0,6
1-4 3 1,7 5 3,8 8 2,6
5-9 1 0,5 4 3,0 5 1,6
10-14 10 5,9 24 18,3 34 11,3
15-19 24 14,2 76 58,0 100 33,3
20-29 41 24,2 3 2,2 44 14,6
30 + 90 53,2 17 12,9 107 35,6
SUBTOTAL 169 100,0 131 100,0 300 100,0
PROCEDÊNCIA
Natal 115 68,4 94 71,7 209 69,9
Grande Natal* 21 21,5 16 12,2 37 12,3
60
Outros municípios 32 19,0 21 16,0 53 17,7
SUBTOTAL 168 100,0 131 100,0 299 100,0
ESCOLARIDADE
Não alfabetizado 4 2,3 3 2,2 7 2,3
1ª a 4ª série incompleta 20 11,8 9 6,8 29 9,6
4ª série completa 7 4,1 9 6,8 16 5,3
5ª a 8ª série incompleta 47 27,8 48 36,6 95 31,6
Ensino fundamental completo 6 5,3 7 5,3 13 4,3
Ensino médio incompleto 11 6,1 8 6,1 19 6,3
Ensino médio completo 25 14,7 4 3,0 29 9,6
Educação superior incompleta 3 1,7 0 0,0 3 1,0
Educação superior completa 1 0,5 0 0,0 1 0,3
Ignorado 42 24,8 33 25,1 75 25,0
Não se aplica 3 1,7 10 7,6 13 4,3
SUBTOTAL 169 100,0 131 100,0 300 100,0
Quadro 12 - Caracterização sociodemográfica das vítimas de violência doméstica, sexual e outras violências por
sexo, notificadas no HMWG de janeiro a dezembro de 2011
Fonte: Núcleo de Vigilância em Saúde – NUVISA – Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
*01 caso da Paraíba
Ainda com base em informações cedidas pelo Núcleo de Vigilância em Saúde do
Complexo Hospitalar (NUVISA), foram obtidos os seguintes dados epidemiológicos sobre
violência doméstica, sexual e outras violências: as faixas etárias predominantes das mulheres
vitimadas de violência encaminhadas ao Hospital foram a partir de 30 anos, com 53,2%, entre
20 e 29 anos, com 24,2% e entre 15 e 19 anos situando-as com 14,2%. As representantes do
sexo feminino registravam como procedência a capital, Natal, com 68,4%, seguida da Grande
Natal, com 21,5%, e àquelas oriundas de outros municípios somavam 19%. Quanto ao grau de
escolaridade foi mais expressivo o percentual daquelas entre o 5º e o 8º ano incompleto, com
27,8%, por outro lado, obtiveram significância a amostragem de 14,7% daquelas com ensino
médio completo.
Quanto aos homens, estes apresentaram maior vulnerabilidade na faixa etária de 15 a
19 anos, com 58%, seguidos daqueles entre 10 a 14 anos, com 18,3%, destacam-se ainda
aqueles maiores de 30 anos, com 12,9%. No que se refere ao local de procedência, em sua
maioria, isto é, 71,7% das pessoas do sexo masculino pertenciam a Natal, 16% residiam em
outros municípios, enquanto que 12,2% eram oriundos da Grande Natal. No quesito
escolaridade, destacaram-se os homens com 36,6%, que situavam-se entre o 5º e o 8º ano
incompleto, seguidos daqueles com o 4º ano completo, com 6,8%.
Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
CARACTERÍSTICAS
FEMININO MASCULINO TOTAL
Quantidade % Quantidade Quantidade % Quantidade
61
LOCAL DE OCORRÊNCIA
Residência 74 44,8 20 15,5 94 31,9
Habitação Coletiva 02 1,2 0 0,0 02 0,6
Escola 03 1,8 07 5,4 10 3,4
Local de prática
esportiva
0 0,0 04 3,1 04 1,3
Bar ou similar 17 10,3 03 2,3 20 6,8
Comércios/Serviços 03 1,8 03 2,3 06 2,0
Via Pública 61 36,9 89 68,9 150 51,0
Ignorado 04 2,4 02 1,5 06 2,0
Outros 05 3,0 03 2,3 08 2,7
SUBTOTAL 169 100,0 131 100,0 300 100,0
Quadro 13 - Caracterização da ocorrência e das circunstâncias das vítimas de violência doméstica, sexual e
outras violências por sexo, notificadas no HMWG de janeiro a dezembro de 2011
Fonte: Núcleo de Vigilância em Saúde – NUVISA – Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
Acerca do local de ocorrência, os índices apontaram para a residência das vítimas
mulheres o espaço mais propício de registro de eventos violentos, em 44,8%, por sua vez, a
via pública representa o palco de 36,9% das agressões cometidas. Os principais locais de
ocorrências às situações de violência, tendo o homem como vítima, concentraram-se em via
pública, com 68,9%, por fim, a residência representou 15,5% das localidades de registro de
violência.
Também apurou-se no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, um quadro
dos óbitos decorrentes de situações de violência. Entretanto, os dados restringem-se ao
público infanto-juvenil, feminino e idoso, no segundo semestre de 2011, tendo em vista que
somente a partir deste período o hospital iniciou o processo de controle dos óbitos internos
advindos da causalidade de violência, resultantes da iniciativa do Núcleo de Vigilância em
Saúde do Complexo Hospitalar, bem como das diretrizes da Secretaria Estadual de Saúde
Pública e Ministério da Saúde.
Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
Sexo Idade Diagnóstico Óbito
Masculino 07 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 18 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 26 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 74 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 35 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 64 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 17 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 96 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 70 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
62
Feminino 14 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 35 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 60 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 89 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 13 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 30 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 71 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 70 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 87 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 13 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Masculino 60 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 56 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
Feminino 56 Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 01
TOTAL
11 óbitos do sexo feminino 11 óbitos do sexo masculino
22 óbitos
Quadro 14 - Quadro de Óbitos 2011.2 - Notificação Compulsória, Crianças, adolescentes, mulheres e idosos
Fonte: Comissão de Revisão de Óbitos/NUVISA – Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
O quadro acima demonstra a equivalência entre os óbitos advindos de eventos
violentos tanto para homens quanto para mulheres, sendo 11 para cada sexo. Ressaltando-se
também 05 mortes de crianças e adolescentes resultantes de agressão física, expressão mais
concreta da violência. Enquanto que foram de número 10, os idosos vítimas fatais de situação
de violência, retratando também o auge da face mais cruel desse fenômeno.
Retoma-se, por conseguinte, a discussão acerca da posição atribuída ao setor saúde
frente aos registros de violência, cotidianos de sua rotina institucional.
A violência pelo número de vítimas e as sequelas orgânicas e emocionais que
produz, adquiriu um caráter endêmico e se converteu num problema de saúde
pública em muitos países [...] O setor saúde constitui a encruzilhada para onde
convergem todos os corolários da violência, pela pressão que exercem em suas
vítimas, sobre os serviços de urgência, atenção especializada, reabilitação física,
psicológica e de assistência social (OPAS apud MINAYO; SOUZA, 1999:11).
Isto é, remete-se à saúde como setor contributivo em potencial, no processo de
identificação, intervenção e prevenção da violência, dadas as suas condições inerentes de
convivência com o problema.
Nesse sentido, apreende-se que a violência notificada e conhecida da realidade
institucional do Complexo Hospitalar Walfredo Gurgel apresenta diversidade de ocorrências.
Apontam-se, especialmente, aquelas registradas no público infanto-juvenil, feminino e idoso,
devido à notificação compulsória do referido grupo. De modo que a faixa etária mais
representativa dos homens está circunscrita na fase da adolescência, já as mulheres
63
apresentam notoriedade na transição da juventude à fase adulta. Destacam-se a residência e a
via pública como locais mais vulneráveis de reprodução da violência.
Logo, é possível perceber que os dados analisados refletem a violência, de âmbito
nacional, contemplando às variações comuns às distintas regiões, porém, convergem enquanto
expressão da questão social, à medida que representam a materialização das desigualdades
sejam elas social ou mesmo de força física. Sendo assim, “não há como se abordar a questão
da violência fora da sociedade que lhe provê contexto e inteligibilidade, já que ela se alimenta
dos fatos sociais, econômicos, políticos e culturais que se estabelecem nas macro e
microestruturas sociais” (MINAYO apud GALHEIGO, 2008:183).
Portanto, faz-se imprescindível a sondagem da conjuntura potiguar diante dos
quadros de violência que se apresentam no cotidiano da sociedade, bem como a verificação da
estrutura disponibilizada pelo estado norte-rio-grandense na perspectiva de enfrentamento,
atenção e prevenção aos eventos violentos, danosos à saúde de seus habitantes.
O tópico seguinte abordará a Secretaria de Estado de Saúde Pública do RN a fim de
analisar os dados estaduais e respectiva quantificação, bem como delimitará os custos
advindos de situações de violência, e investigará a perspectiva e planejamento do setor no que
se refere às medidas adotadas com vistas à minimização do fenômeno.
3.2. A SAÚDE PÚBLICA DO RIO GRANDE DO NORTE EM MEIO À VIOLÊNCIA:
DADOS, CUSTOS E PLANEJAMENTO
O presente tópico contemplará informações referentes às estatísticas mais notórias de
violência do estado potiguar, bem como mencionará os índices de acidentes de trânsito no
local, uma vez que o mesmo adentra como causa externa, em agravo de cunho violento à
saúde dos habitantes do RN. Ilustrará as quantificações referidas mediante a aferição dos
custos ocasionados aos cofres públicos, mais especificamente, ao setor de saúde pública do
estado decorrentes de circunstâncias violentas. Abordará ainda a percepção do setor
mencionado quanto às iniciativas planejadas e àquelas mais iminentes diante do cenário que
ora se apresenta. Por fim, analisará o orçamento previsto de 2011, em Assembleia Legislativa
para o estado do Rio Grande do Norte.
Resgata-se, nesse sentido, mais uma vez, a inserção da saúde em meio à discussão da
violência. Minayo e Souza (1999) justificam a localização do setor da saúde pública diante do
64
debate em torno da problemática mediante a consideração de “a tradição e a credibilidade do
setor nas intervenções preventivas e promocionais no nível dos grupos populacionais e na
atenção às vítimas” (MINAYO; SOUZA, 1999:12).
Reitera-se, portanto, a consideração da violência como problema social e histórico. A
violência consiste em assunto comum à realidade da saúde pública diante de sua convivência
rotineira com a questão, Minayo e Souza (1999) apresentam mais duas motivações para
ingressar na pauta de discussões e intervenção do setor saúde, que sejam
O primeiro, porque, dentro do conceito ampliado de saúde, tudo o que significa
agravo e ameaça à vida, às condições de trabalho, às relações interpessoais, e à
qualidade da existência, faz parte do universo da saúde pública. Em segundo lugar, a
violência, num sentido mais restrito, afeta a saúde e frequentemente produz a morte
(MINAYO; SOUZA, 1999:11).
Logo, a saúde enfrenta a árdua missão de prestar assistência curativa aos demandantes
de serviços de atendimento, bem como perpetrar no eixo da discussão teórica contribuindo
mediante as suas vivências profissionais e institucionais e colaborando em uma perspectiva de
benefícios coletivos à população.
De modo que, partiremos da análise da realidade estadual, no texto em questão, por
meio do defronte ao quadro dos 20 municípios do Rio Grande do Norte com maiores índices
de homicídios.
Ministério da Saúde
Sistema de Informações de Mortalidade
Município UF População
média
Homicídios Taxa
Média
Posição
2008 2009 2010 Nacional Estadual
Caraúbas RN 19.955 15 12 14 68,5 59 1
Umarizal RN 10.799 1 9 7 52,5 138 2
Extremoz RN 23.521 13 20 3 51,0 146 3
Mossoró RN 250.730 126 118 137 50,7 153 4
Açu RN 53.026 24 24 22 44,0 226 5
Patu RN 11.799 3 6 4 36,7 376 6
São Gonçalo do
Amarante
RN 83.722 31 36 25 36,6 378 7
Lajes RN 10.559 8 2 1 34,7 429 8
Vera Cruz RN 10.686 1 7 3 34,3 441 9
Natal RN 800.902 248 307 260 33,9 453 10
Santo Antônio RN 22.061 6 6 9 31,7 500 11
Macaíba RN 67.414 26 21 17 31,6 502 12
Baraúna RN 24.021 7 9 1 23,6 807 13
Alexandria RN 13.817 2 1 6 21,7 910 14
Parnamirim RN 190.638 49 33 38 21,0 953 15
65
Santa Cruz RN 35.283 7 3 12 20,8 965 16
Pendências RN 13.163 1 3 4 20,3 997 17
Nísia Floresta RN 23.720 5 5 4 19,7 1037 18
Montanhas RN 12.088 2 2 3 19,3 1062 19
Jardim de
Piranhas
RN 13.823 3 3 2 19,3 1063 20
Quadro 15 - Números e taxas médias de homicídios (em 100 mil habitantes)/Taxas para municípios com mais de
10.000 habitantes - Relação dos 20 municípios com maior índice de homicídios no RN em 2008-2010
Fonte: Sistema de Informações de Mortalidade 2008-2010.
A partir dos dados explicitados, pelo Ministério da Saúde, por meio do Sistema de
Informações de Mortalidade, obteve-se que os municípios potiguares com mais incidência de
homicídios são Caraúbas, Umarizal, Extremoz, Mossoró e Açu, se consideradas a proporção
entre habitantes e o número de mortes registradas.
Todavia, Natal, a capital do estado do Rio Grande do Norte, apresenta maior
expressividade em números de homicídios, entretanto, ocupa somente a décima (10ª) posição
estadual, tendo em vista que deve-se, necessariamente, avaliar a média da população da
localidade em questão.
O ápice da violência, a sua expressão mais brutal, que consiste na vitimização fatal de
pessoa, dotada de subjetividades, inserida em quaisquer que sejam círculos sociais, e, ainda,
dotada constitucionalmente do direito à vida, a tem interrompida por razões fortuitas, alheias à
justificação da ausência permanente de uma vítima arrancada de seu seio de outrora
confortabilidade, conforme a especificidade de sua história singular. De modo que, a violência
que culmina em vítimas fatais ocasiona danos irreparáveis à sociedade, leiam-se familiares,
amigos e demais habitantes que cultivam o sentimento de insegurança dada a observação da
dinâmica social.
A fim de quantificar os custos públicos advindos de situações de violência no estado
do RN, aferidos mediante Autorização de Internação Hospitalar14
(AIH), propõe-se a análise
do Quadro 16.
Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte
Código na
CID10
Agravo Frequência Custos
X93A Agressão por meio de disparo de arma de fogo de mão 452 R$ 715.228,3
Y04 Agressão por meio de força corporal 411 R$ 459.208,6
X93.9
Agressão por meio de disparo de arma de fogo de mão -
local não especificado 275 R$ 458.282,00
Y04.9 Agressão por meio de força corporal - local não especificado 406 R$ 454.616,6
X99 Agressão por meio de objeto cortante ou penetrante 261 R$ 346.468,4
X99.9 Agressão por meio de objeto cortante ou penetrante - local 243 R$ 328.063,2
14
A Autorização de Internação Hospitalar, AIH, consiste em “documento obrigatório nas internações realizadas
pelo SUS” (GRUPO TÉCNICO DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES E VIOLÊNCIAS, 2006:554).
66
não especificado
X95
Agressão por meio de disparo de outra arma de fogo ou de
arma não especificada 188 R$ 310.722,2
X95.9
Agressão por meio de disparo de outra arma de fogo ou de
arma não especificada - local não especificado 183 R$ 302.638,9
X93.4
Agressão por meio de disparo de arma de fogo de mão - rua
e estrada 177 R$ 256.946,3
Y08 Agressão por outros meios especificados 247 R$ 134.582,1
Y08.9
Agressão por outros meios especificados - local não
especificado 192 R$ 102.382,4
X94
Agressão por meio de disparo de espingarda, carabina ou
arma de fogo de maior calibre 28 R$ 41.236,00
Y08.3
Agressão por outros meios especificados - área para a
prática de esportes e atletismo 46 R$ 24.701,27
X94.3
Agressão por meio de disparo de espingarda, carabina ou
arma de fogo de maior calibre - área para a prática de
esportes e atletismo 09 R$ 18.342,12
X94.9
Agressão por meio de disparo de espingarda, carabina ou
arma de fogo de maior calibre - local não especificado 15 R$ 17.018,97
Y00 Agressão por meio de um objeto contundente 16 R$ 9.964,23
Y00.0 Agressão por meio de um objeto contundente - residência 13 R$ 8.445,72
X90
Agressão por meio de produtos químicos e substâncias
nocivas não especificados 01 R$ 6.927,84
X90.8
Agressão por meio de produtos químicos e substâncias
nocivas não especificados - outros locais especificados 01 R$ 6.927,84
X99.0
Agressão por meio de objeto cortante ou penetrante -
residência 06 R$ 6.227,35
Y08.4 Agressão por outros meios especificados - rua e estrada 06 R$ 4.954,72
X95.0
Agressão por meio de disparo de outra arma de fogo ou de
arma não especificada - residência 02 R$ 4.052,77
X99.3
Agressão por meio de objeto cortante ou penetrante - área
para a prática de esportes e atletismo 02 R$ 4.025,41
X99.5
Agressão por meio de objeto cortante ou penetrante - áreas
de comércio e de serviços 02 R$ 3.597,82
X99.8
Agressão por meio de objeto cortante ou penetrante - outros
locais especificados 07 R$ 3.525,16
X94.1
Agressão por meio de disparo de espingarda, carabina ou
arma de fogo de maior calibre - habitação coletiva 02 R$ 3.473,64
X95.4
Agressão por meio de disparo de outra arma de fogo ou de
arma não especificada - rua e estrada 01 R$ 2.818,31
X94.6
Agressão por meio de disparo de espingarda, carabina ou
arma de fogo de maior calibre - áreas industriais e em
construção 02 R$ 2.401,27
Y08.8
Agressão por outros meios especificados - outros locais
especificados 02 R$ 2.389,33
Y04.4 Agressão por meio de força corporal - rua e estrada 02 R$ 2.353,93
Y04.8
Agressão por meio de força corporal - outros locais
especificados 03 R$ 2.238,02
Y09 Agressão por meios não especificados 03 R$ 2.042,98
Y09.9
Agressão por meios não especificados - local não
especificado 03 R$ 2.042,98
Y00.9
Agressão por meio de um objeto contundente - local não
especificado 03 R$ 1.518,51
X95.5
Agressão por meio de disparo de outra arma de fogo ou de
arma não especificada - áreas de comércio e de serviços 02 R$ 1.212,17
X97 Agressão por meio de fumaça, fogo e chamas 01 R$ 1.040,75
X97.9
Agressão por meio de fumaça, fogo e chamas - local não
especificado 01 R$ 1.040,75
X99.4 Agressão por meio de objeto cortante ou penetrante - rua e 01 R$ 1.029,44
67
estrada
X96 Agressão por meio de material explosivo 01 R$ 741,69
X96.9
Agressão por meio de material explosivo - local não
especificado 01 R$ 741,69
X89
Agressão por meio de outros produtos químicos e
substâncias nocivas especificados 01 R$ 641,00
X89.9
Agressão por meio de outros produtos químicos e
substâncias nocivas especificados - local não especificado 01 R$ 641,00
Y05 Agressão sexual por meio de força física 01 R$ 405,32
Y05.9
Agressão sexual por meio de força física - local não
especificado 01 R$ 405,32
Y01 Agressão por meio de projeção de um lugar elevado 01 R$ 338,03
Y01.0
Agressão por meio de projeção de um lugar elevado -
residência 01 R$ 338,03
Y08.0 Agressão por outros meios especificados - residência 01 R$ 154,44
TOTAL R$2.029.547,38
Quadro 16 - Custos com Autorização de Internação Hospitalar no RN advindos de situações de violência/
Relação dos agravos, de janeiro a dezembro de 2011
Fonte: Secretaria de Estado de Saúde Pública / Coordenadoria de Planejamento e Controle de Serviços de Saúde/
Subcoordenadoria de Desenvolvimento e Acompanhamento de Programas de Saúde.
O quadro acima detalha o cenário de frequência e custos advindos somente da
modalidade violenta denominada agressão.
Apreende-se, portanto, que os maiores gastos são resultantes de agressões por armas
de fogo, com R$ 715.228,30 (setecentos e quinze mil, duzentos e vinte e oito reais e trinta
centavos), seguidos de agressão por meio de força corporal, com R$ 459.208,60 (quatrocentos
e cinquenta e nove mil, duzentos e oito reais e sessenta centavos).
Nesse sentido, destaca-se que os gastos resultantes da violência são nitidizados
mediante a aferição dos custos com “pessoal, viatura, reposição da frota, medicamentos,
materiais e instrumentos utilizados pelas equipes de resgate, além das despesas
administrativas do sistema.” (NEVUSP, 1998:76) Ou seja, a medição do impacto
orçamentário ao setor de saúde faz-se necessária, tendo em vista que quantificar os elementos
relacionados à violência, colabora para o planejamento público no que se refere à atenção,
promoção e prevenção às situações de cunho violento.
Todavia, a análise mais aprofundada acerca desses outros elementos capazes de
identificar os custos reais da violência na saúde pública do estado do Rio Grande do Norte
requereria um espaço de tempo muito maior a fim de coletar os dados necessários.
Contudo, a partir dos dados expostos é possível dimensionar o quadro potiguar diante
da exposição à violência.
O quadro 17 ilustra o quadro geral dos gastos resultantes das principais internações
decorrentes de eventos violentos e o custo total advindo das violências supracitadas.
68
Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte
Agravo Frequência Custos
Quedas 5.821 R$ 6.979.055
Acidentes de transporte 3.205 R$ 3.538.765
Agressões 1.612 R$ 2.029.547
Demais causas externas 1.923 R$ 1.693.021
Intoxicações 33 R$ 51.225,46
Lesões autoprovocadas intencionalmente 21 R$ 19.934,96
Total 12.615 R$ 14.311.549,00
Quadro 17 - Custos com Autorização de Internação Hospitalar no RN advindos de situações de violência/
Relação dos principais agravos, De janeiro a dezembro de 2011
Fonte: Secretaria de Estado de Saúde Pública / Coordenadoria de Planejamento e Controle de Serviços de Saúde/
Subcoordenadoria de Desenvolvimento e Acompanhamento de Programas de Saúde.
Por conseguinte, observa-se o gasto total estadual, descriminado pelos principais
agravos geradores de demandas, em R$ 14.311.549,00 (quatorze milhões, trezentos e onze
mil, quinhentos e quarenta e nove reais). Notadamente, na categoria de violência classificam-
se, em especial, as agressões, somando R$ 2.029.547,00 (dois milhões, vinte e nove mil,
quinhentos e quarenta e sete reais).
Por sua vez, os agravos externos contemplam os acidentes, categoria em que adentram
os acidentes de trânsito. Para tanto, o presente estudo procurou também quantificar os índices
de acidente, bem como os seus custos a fim de compará-los, posteriormente, com aqueles
obtidos de violência.
Dessa forma, o Quadro 18 demonstra as maiores taxas de óbitos em acidentes de
trânsito no estado. Considerando que os acidentes de trânsito integram às causas externas, de
cunho violento, faz-se relevante situar o cenário norte-rio-grandense diante de tal agravo.
Ministério da Saúde
Sistema de Informações de Mortalidade
Município UF Frota População
2010
Óbitos 2010 Posto
Total Automotivos Número Taxas
Pau dos Ferros RN 11.902 3.020 27.745 16 57,7 81
Mossoró RN 91.543 34.201 259.815 140 53,9 102
Jucurutu RN 3.247 602 17.692 6 33,9 405
Macau RN 4.627 1.315 28.954 9 31,1 498
Currais Novos RN 12.217 4.263 42.652 12 28,1 605
Açu RN 11.979 3.625 53.227 14 26,3 676
Apodi RN 7.338 1.408 34.763 9 25,9 690
Baraúna RN 3.061 778 24.182 6 24,8 739
Canguaretama RN 3.840 1.373 30.916 7 22,6 863
São José de
Mipibu RN 5.689 2.509 39.776 9 22,6 867
Santo Antônio RN 3.434 1.243 22.216 5 22,5 873
Santa Cruz RN 7.991 2.264 35.797 8 22,3 879
Caraúbas RN 3.954 920 19.576 4 20,4 982
Areia Branca RN 4.669 1.580 25.315 5 19,8 1.019
69
Monte Alegre RN 2.300 881 20.685 4 19,3 1.043
Touros RN 3.234 841 31.089 6 19,3 1.045
São Miguel RN 4.367 867 22.157 4 18,1 1.117
Goianinha RN 3.114 1.333 22.481 4 17,8 1.131
Caicó RN 24.583 8.184 62.709 10 15,9 1.245
Natal RN 279.301 171.467 803.739 110 13,7 1.369
Quadro 18 - Municípios com mais de 15 mil habitantes/ Maiores taxas de óbitos em acidentes de trânsito no RN
em 2008-2010
Fonte: Sistema de Informações de Mortalidade 2010.
Nesse sentido, figuram na relação dos municípios do Rio Grande do Norte com mais
acidentes de trânsito que resultam em vítimas fatais, Pau dos Ferros, Mossoró, Jucurutu,
Macau e Currais Novos. Respeitando a já mencionada proporção entre habitantes e óbitos
decorrentes do agravo.
É interessante atentar novamente que Natal não ocupa os primeiros lugares do quadro,
mesmo sendo o segundo município com o maior número de óbitos, 110, somente atrás de
Mossoró, com 140 mortes. Todavia, deve-se ao fato do expressivo número de habitantes em
relação ao quantitativo de óbitos, o que incide na redução de sua taxa estadual.
Situando os acidentes principais provocadores de vítimas fatais, destacam-se aqueles
resultantes de motos. Tendo em vista a significativa proporção de habitantes, no interior do
estado, que se utilizam desse transporte como único e principal meio de locomoção. Aliado ao
fato da não utilização do capacete, muitas vezes, atribuem-se o acidente à “imprudência”. No
entanto, ressalta-se a ausência de efetiva e rigorosa fiscalização nas estradas e BR’s com
vistas a impossibilitar a locomoção de motoristas sem o devido equipamento de segurança.
Destacam-se ainda como fatores contributivos à reincidência dessas modalidades de
acidentes, a má iluminação, curvas sinuosas, pistas irregulares, e impossibilidade de
visualização de determinada área mediante algum empecilho incrustado nas estradas desses
principais trajetos. Além da inexistência, em muitos desses caminhos, dos espaços
delimitados ao trânsito livre dos motociclistas, há de se considerar também o desrespeito dos
motoristas de carros àqueles de motos, e mesmo o próprio comportamento dos condutores de
moto em opção por manobras perigosas e arriscadas. Por fim, ressalta-se a total insegurança e
vulnerabilidade no que se refere à integridade física dos condutores de motos e respectivos
passageiros, tendo em vista à exposição dos mesmos aos possíveis eventos como quedas e
acidentes.
Para tanto, apurou-se a relação de gastos, de AIH, Autorização de Internação
Hospitalar, oriundos de acidentes de trânsito, causas externas em 2011, no RN.
70
Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte
Código na
CID10
Agravo Frequênci
a
Custos
V29
Motociclista traumatizado em outros acidentes de transporte e
em acidentes de transporte não especificados
1172
R$ 1.244.076,82
V29.3
Motociclista traumatizado em um acidente não especificado,
não-de-trânsito
559
R$ 615.409,54
V29.9
Motociclista traumatizado em um acidente de trânsito não
especificado
531
R$ 596.318,08
V23
"Motociclista traumatizado em colisão com um automóvel ,
""pick up"" ou caminhonete"
522
R$ 566.066,75
V23.4
"Motociclista traumatizado em colisão com um automóvel ,
""pick up"" ou caminhonete - condutor traumatizado em um
acidente de trânsito"
466
R$ 505.550,92
V20
Motociclista traumatizado em colisão com um pedestre ou um
animal
392
R$ 410.289,41
V20.9
Motociclista traumatizado em colisão com um pedestre ou um
animal - motociclista não especificado traumatizado em um
acidente de trânsito
390
R$ 407.678,35
V89
Acidente com um veículo a motor ou não-motorizado, tipo(s)
de veículo(s) não especificado(s)
217
R$ 260.812,66
V99
Acidente de transporte não especificado
166
R$ 248.670,85
V89.9
Pessoa traumatizada em um acidente com um veículo não
especificado
155
R$ 201.964,39
V03
"Pedestre traumatizado em colisão com um automóvel ,
""pick up"" ou caminhonete"
98
R$ 150.460,11
V09
Pedestre traumatizado em outros acidentes de transporte e em
acidentes de transporte não especificados
166
R$ 150.417,29
V03.1
"Pedestre traumatizado em colisão com um automóvel ,
""pick up"" ou caminhonete - acidente de trânsito"
97
R$ 150.074,85
V09.9
Pedestre traumatizado em um acidente de transporte não
especificado
133
R$ 136.693,18
V49
Ocupante de um automóvel traumatizado em outro acidentes
de transporte e em acidentes de transporte não especificados
65
R$ 95.895,64
V49.9
Ocupante de um automóvel , traumatizado em um acidente de
trânsito não especificado
64
R$ 95.653,54
V01
Pedestre traumatizado em colisão com um veículo a pedal 67
R$ 88.995,52
V28
Motociclista traumatizado em um acidente de transporte sem
colisão
151
R$ 82.621,15
V23.5
"Motociclista traumatizado em colisão com um automóvel ,
""pick up"" ou caminhonete - passageiro traumatizado em um
54
R$ 59.533,65
71
acidente de trânsito"
V89.2
Pessoa traumatizada em um acidente de trânsito com um
veículo a motor não especificado
59
R$ 56.767,28
TOTAL 3205
R$ 3.538.765
Quadro 19 - Custos com Autorização de Internação Hospitalar no RN advindos de acidentes de trânsito/
Relação das causas externas, De janeiro a dezembro de 2011
Fonte: Secretaria de Estado de Saúde Pública / Coordenadoria de Planejamento e Controle de Serviços de Saúde/
Subcoordenadoria de Desenvolvimento e Acompanhamento de Programas de Saúde.
O quadro 19 consiste na explicitação da relação de agravos atribuídos aos acidentes de
trânsito.
Nesse sentido, ratifica-se a representatividade dos acidentes envolvendo motos no Rio
Grande do Norte, de modo que figuram os sete (07) primeiros acidentes mais onerosos ao
estado potiguar.
Informações constantes no Portal da Saúde (2012) reiteram o exponencial crescimento
do número de atendimentos em saúde aos motociclistas no território potiguar, decorrentes de
acidentes de trânsito. Por conseguinte, os registros federais apontam o aumento de 157% dos
números de internações, no Sistema Único de Saúde, referentes ao período de 2008 a 2011.
Isto é, implica, necessariamente, no aumento substancial dos custos em saúde pública
resultantes dos serviços de atendimento, de forma que, em 2008 atribuíram-se custos de R$
904.000,000 (novecentos e quatro mil reais), enquanto em 2011 totalizaram-se R$
2.300.000,00 (dois milhões e trezentos mil reais) em gastos dessa natureza (PORTAL DA
SAÚDE, 2012).
Desse modo, surge a necessidade de comparar os gastos de acidentes de trânsito com
aqueles de violência, uma vez que os mesmos representam custos significativos ao setor
público, sobretudo, subtraem vidas da sociedade norte-rio-grandense.
Sendo assim, constatou-se que, com base na notificação realizada nos setores de saúde
pública em 2011, registrou-se maior frequência e maiores gastos ocasionados por acidentes de
trânsito de número de 3.205, e custo de R$ 3.538.765,00. Todavia, os dados quantitativos
atribuídos à violência, de frequência de 1.612 casos e custo de R$ 2.029.547,00, revelam o
quão subnotificada e mascarada é a violência. Tendo em vista que, há toda uma subjetividade
em torno da denúncia a ser encaminhada às autoridades competentes por parte das vítimas, o
medo de retaliação, a dependência econômica e emocional, dentre outros fatores. Em
contrapartida, não há nenhum impedimento no campo subjetivo de uma vítima anunciar o
envolvimento em um acidente de trânsito no serviço de atendimento à saúde, por mais que
72
sejam consideradas circunstâncias adversas, apresenta-se o denominador comum de acidente,
flexibilizando-se, assim, as relações entre as partes envolvidas. Ao contrário, a atribuição
violenta à motivação de ingresso em unidade hospitalar pressupõe distintos fatores, tais como
opressão, submissão, constrangimento, conflitos emocionais, exposição aos questionamentos
alheios, tristeza, raiva, sentimento de impotência, temor, dentre outras razões que dificultam a
nitidização da realidade.
Por sua vez, retoma-se que o quantitativo de R$ 14.311.549,00, refere-se aos gastos
advindos de agravos externos de cunho violento em contexto estadual, contemplando as
quedas, acidentes de trânsito, agressões, demais causas externas, intoxicações e lesões
autoprovocadas intencionalmente.
Cabe mencionar que na avaliação dos custos ocasionados pela violência, além da
verificação das Autorizações de Internação Hospitalar, há também os gastos econômicos
advindos da perda de vida produtiva por morte, incapacidade ou prisão, clarificados em
benefícios previdenciários como aposentadoria e pensões.
Do ponto de vista conceitual, o custo econômico de uma doença ou agravo pode ser
classificado em diretos e os indiretos. Os primeiros dizem respeito aos gastos com a
atenção médica, propriamente dita, que incluem tratamento, exames
complementares, internações e reabilitação. A esses podem ser somados os gastos
do paciente com transporte para a realização do tratamento e dieta especial, entre
outros (se houver necessidade de acompanhante nas consultas e tratamentos, esses
gastos se tornam ainda maiores). Os custos indiretos referem-se à perda de dias de
trabalho, menor produtividade gerada por limitações físicas e/ou psicológicas e os
danos materiais que porventura, ocorram, entre outros (GRUPO TÉCNICO DE
PREVENÇÃO DE ACIDENTES E VIOLÊNCIAS, 2006:553).
Portanto, atenta-se à abrangência da percepção quanto ao ônus gerado à sociedade, em
especial, ao setor econômico, diante das ocorrências violentas.
Quanto à verificação de programas estaduais que visem, especificamente, à atenção,
prevenção e promoção à saúde diante de situações de violência no Rio Grande do Norte,
constatou-se a inexistência dessas finalidades previamente traçadas e estabelecidas no
planejamento estadual. Observou-se que, os Núcleos de Violência pertencentes à rede
institucional da Secretaria de Estado de Saúde Pública são, demasiadamente, precoces e
recentes no que se refere a um planejamento mais estruturado e alinhado às demandas
legítimas da população potiguar. Tendo em vista que, com base em visita institucional,
observaram-se objetivos restritos à implantação da Ficha de Notificação/Investigação
73
Individual de Violência de Violência Doméstica, Sexual e Outras Violências15
em todas as
unidades de saúde dos municípios do estado. Isto é, de fato, o desígnio inquirido apresenta
relevância na perspectiva de identificação dos quadros de violência apresentados, conforme
proposto na Política Nacional de Redução da Morbimortalidade. No entanto, requer-se
avançar no planejamento de programas de enfrentamento, segundo o disposto na mesma
política em que menciona “promover a elaboração e ou adequação dos planos, programas,
projetos e atividades” (BRASIL, 2002:43).
Logo, clarifica-se o quadro atual de vulnerabilidade o qual a sociedade contemporânea
norte-rio-grandense está exposta. Sobretudo, nitidiza a necessidade veemente de políticas,
programas e projetos no estado, a fim de atuar junto à população nas medidas de promoção à
saúde, prevenção e atenção às situações de violência. Em especial, também se menciona a
importância de uma gestão estadual e municipal, mais humanizada, concomitante às
demandas populacionais, aos anseios coletivos, desvinculada da sociabilidade capitalista
iminentemente desigual.
Não obstante, o presente estudo buscou abarcar a perspectiva de planejamento do
estado, com base no Projeto de Lei Orçamentária Anual da Gestão Estadual do RN – PLOGE
– direcionado ao exercício financeiro de 2011, foi possível conferir a expectativa dos recursos
financeiros para o ano base dos estudos aqui centrados. O referido projeto apresentou como
finalidade a estimativa da receita e fixação das despesas do Estado do Rio Grande do Norte
em 2011 (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE,
2010).
O documento mencionado consiste em projeto submetido à aprovação da Assembleia
Legislativa, no que concerne à delimitação das diretrizes orçamentárias do estado potiguar,
posto em discussão em 2010, visando à execução orçamentária de 2011. As propostas de
orçamento são oriundas do Plano Plurianual 2008-2011, em que este contempla a descrição da
receita dos órgãos integrantes da estrutura organizacional do Estado.
A partir da análise do respectivo projeto orçamentário, examinou-se a previsão de
fixação de despesa destinada à Secretaria de Estado de Saúde Pública em R$
1.248.227.000,00 (um bilhão, duzentos e quarenta e oito milhões, duzentos e vinte e sete mil
reais), distribuídos da seguinte maneira, R$ 745.727.000,00 (setecentos e quarenta e cinco
milhões, setecentos e vinte e sete mil reais) oriundos dos Recursos do Tesouro, enquanto R$
15
A ficha de notificação de violência consiste em documento, proposto pelo Ministério da Saúde, mais
especificamente, operacionalizado pelo SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), que visa o
monitoramento e detalhamento das ações violentas a fim de quantificá-las em âmbito nacional, de modo a
subsidiar futuras políticas de enfrentamento à violência.
74
502.500.00,00 (quinhentos e dois milhões e quinhentos mil reais) advém de Recursos de
Outras Fontes.
Destaca-se ainda que a SESAP consiste na Secretaria que apresentou mais demanda de
recursos do Estado do Rio Grande do Norte, seguida pela Secretaria de Estado de Educação e
Cultura, com R$ 1.242.903.000,00 (um bilhão, duzentos e quarenta e dois milhões,
novecentos e três mil reais).
Em face do exposto, descriminaram-se os gastos do setor da saúde do seguinte modo,
R$ 576.427.000,00 (quinhentos e setenta e seis milhões, quatrocentos e vinte e sete mil reais)
reservados aos pagamentos de pessoal e encargos sociais; enquanto R$ 606.750.000,00
(seiscentos e seis milhões, setecentos e cinquenta mil reais) destinaram-se às outras despesas
correntes. Por fim, atribuíram-se R$ 65.050.000,00 (sessenta e cinco milhões, cinquenta mil
reais) aos investimentos/despesas de capital.
Cabe situar o quantitativo concernente aos custos dos serviços de atendimento em
saúde resultantes de situações de violência, R$ 14.311.549,00, em relação ao montante
destinado ao setor da saúde pública, R$ 1.248.227.000,00, de modo que o primeiro valor
representa 1,14% do total destinado à saúde. Porém, se considerarmos que do valor global,
acima mencionado, reservado à saúde pública do RN, apenas R$ 606.750.000,00, destinam-se
às despesas dessa natureza, concebe-se que o valor advindo de eventos violentos (R$
14.311.549,00), gerados por AIH, representam 2,36% do orçamento.
Entretanto, no projeto de lei orçamentária de 2011, não contempla-se a descrição da
previsão de gastos relativos às situações de violência, apenas a referência às
Ações de promoção quanto ao atendimento de mulheres e políticas públicas voltadas
para a população feminina no enfrentamento à violência, erradicação de
preconceitos e estereótipos, além de instituir mecanismos de combate à
discriminação, desigualdade e na garantia dos direitos e preservação da dignidade
humana (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE, 2010:159).
Os objetivos supracitados, no entanto, não estão vinculados à Secretaria de Saúde,
mas, à Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania – SEJUC, no quesito compatibilização
do orçamento. Para tanto, as ações pressupostas compreendem a “realização de estudo e
pesquisa sobre a situação feminina no RN”, com orçamento de R$ 18.000,00;
“conscientização e prevenção dos direitos e da defesa da Mulher no RN”, destinam-se a esta
finalidade R$ 134.000,00; e, a “operacionalização de Casa de Abrigo e Centro de Referência
75
da Mulher”, com o menor orçamento de R$ 4.000,00 (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, 2010:159).
Nesse sentido, cabe adentrar na temática ora exposta, tendo em vista a necessidade de
avaliar o planejamento estadual quanto às medidas previstas de enfrentamento e prevenção de
situações de violência no Rio Grande do Norte diante da realidade investigada. Por
conseguinte, atenta-se que o planejamento orçamentário estadual para o ano de 2011, atende,
ao menos constitucionalmente, o previsto em lei de, no mínimo 12% da arrecadação de
impostos próprios do estado para investimento no setor saúde, fixado no ano-base em 14,16%.
Todavia, salienta-se que o estipulado ainda configura-se como aquém das necessidades
veementes do RN.
Não obstante, atenta-se aos custos sociais advindos de situações de violência, descritos
mediante a perda irreparável, mais especificamente, o óbito da vítima; a perda da capacidade
produtiva, advinda de alguma sequela física, mental ou emocional da pessoa vitimada; de
forma que, tais cenários constituem demandas de atendimento/encaminhamento para outros
setores, para além da saúde pública, sendo mais notória a participação da assistência social na
atuação frente às necessidades dos usuários, daquelas mais complexas e abstratas às
concretas, tais como a providenciação de cadeiras de rodas, fraldas, serviços de proteção
pessoal, dentre outros.
Por sua vez, considerando que a violência figura como problema de saúde pública,
interessa situar o quadro real da saúde pública do estado do Rio Grande do Norte. Atualmente,
depara-se a um cenário cruel e escasso de investimentos, bem como defronta-se ao limitado
repasse de recursos financeiros, tanto na saúde pública municipal, na capital de Natal,
sobretudo, na saúde estadual. De maneira uníssona, o setor da saúde em ambas as esferas
padece devido à má administração de gestores, assim como sofre nitidamente diante do
histórico de dívidas registrados nesse meio.
Conforme reportagem, de 03 de junho de 2012, no jornal Diário de Natal, a
representante do Ministério Público Estadual da Saúde, Iara Pinheiro, descreve o contexto da
saúde pública do Rio Grande do Norte, ilustrada por
Desabastecimento em hospitais de referência, pacientes morrendo em escala
crescente por falta de leitos em UTI, déficit nos repasses orçamentários, gestão da
saúde pública permeada por tráfico de influência, profissionais em greve e decisões
judiciais descumpridas (DIÁRIO DE NATAL, 2012).
Segundo a 47ª Promotora de Saúde, trata-se de um retrato caótico do setor, contudo,
ressalva que a denominação “crise” não parece adequada à história da saúde do RN, tendo em
76
vista que a terminologia pressupõe estado anterior de normalidade/regularidade da situação,
fato não comprovado na retrospectiva estadual. No entanto, é incontestável a conjuntura atual
da saúde potiguar repleta de ausências, limitações, impasses e tensões nos mais diversos
aspectos, sejam de infraestrutura, financeiro e carência de recursos. Iara Pinheiro menciona
um levantamento realizado pelo Ministério Público no ano vigente que verificou 201 mortes,
no período de 40 dias, no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, das quais 40
desse número foram motivadas por ausência de leitos de UTI’s (op.cit.).
Por conseguinte, reitera-se a necessidade latente de congregar investimentos na saúde
pública proporcionais às demandas específicas de cada localidade, de forma descentralizada;
constitui-se como fundamental também a definição de prioridades das gestões federal,
estadual e municipal, partindo-se do pressuposto de que a saúde requer ser um direito legítimo
e qualitativo a todos os cidadãos, e não precário, meramente fornecido como qualquer
produto; destaca-se ainda a importância da efetividade do atendimento primário de saúde por
parte dos municípios a fim de prover os imperativos de sua população, não dependendo única
e exclusivamente das cidades circunvizinhas, de modo a facilitar o desafogamento dos
grandes hospitais.
Isto é, apreende-se que o Estado investe precariamente em atenção à saúde, no que se
refere ao atendimento hospitalar, aliado à ausência de investimentos concretos em políticas
básicas de saúde ou/e prevenção à violência. Desconsiderando, sobretudo, os altos gastos
públicos com saúde e previdência social, além das perdas de saúde e vida dos cidadãos.
Em síntese, retoma-se a significância da violência, na conjuntura norte-rio-grandense,
em termos de danos populacionais e custos públicos advindos da problemática, aliada à
expressividade dos acidentes de trânsito na região. De modo que exige-se o debruçamento
sobre a necessidade do proporcionamento das condições legítimas de promoção, prevenção e
atenção à violência, visando sanar as perdas advindas da convivência com a referida
problemática. Apreende-se ainda a importância da elaboração de um orçamento em
alinhamento aos anseios mais prementes da população, e a ruptura com o modelo de gestão
atual da saúde pública do estado, desvinculando-se das mazelas históricas e individualistas.
Faz-se salutar situar a intervenção do profissional do Serviço Social diante do cenário
potiguar de vivência de agravos à saúde de sua população, logo, o próximo capítulo se
prestará a essa finalidade, a fim de explicitar a intervenção da categoria profissional.
77
4. O ASSISTENTE SOCIAL NOS SERVIÇOS DE SAÚDE ENQUANTO
PROFISSIONAL ATUANTE NO CENÁRIO DE SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA
A partir do pressuposto que o Serviço Social configura-se como profissão genérica,
capacitada a atuar nas mais distintas áreas sociocupacionais, revela-se como fundamental
apontar a inserção da categoria profissional no cenário da saúde pública, além de indicar a sua
prática interventiva na instituição referência de saúde do Rio Grande do Norte, o Complexo
Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel. Justificar-se-á ainda a atuação do Serviço Social
diante das suspeitas e constatações de situações de violência.
Ao fim da década de 1990, o Conselho Nacional de Saúde - CNS, através da resolução
nº 218/1997, reconheceu o assistente social como um dos treze profissionais de saúde de nível
superior - junto com o biólogo, profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, médicos veterinários, nutricionistas, odontólogos,
psicólogos e terapeutas ocupacionais, em seguida, o Serviço Social é regulamentado na saúde
através da resolução nº 338/1999 do Conselho Federal de Serviço Social - CFESS,
confirmando o assistente social como profissional de saúde, pautado na resolução de 1997 e
com notório respaldo sob o novo conceito de saúde inaugurado pela Constituição de 1988.
O reconhecimento do Serviço Social como profissão apta a atuar no âmbito da saúde
está amparado na própria formação do assistente social e em seu compromisso ético-político
expresso no Código de Ética da Profissão de 1993, o qual expõe como um de seus princípios
o “posicionamento em favor da eqüidade e justiça social que assegure universalidade de
acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão
democrática” (CFESS, 1993:01). Vale salientar que a política pública de saúde é o setor que
no desenvolver da história mais absorve os profissionais de Serviço Social.
Os Parâmetros de Atuação dos Assistentes Sociais na Saúde, documento produzido
pelo Conselho Federal de Serviço Social norteador da prática profissional no referido campo
sociocupacional, menciona a inserção e respaldo legal do assistente social diante de situações
violentas à medida que propõe a participação do profissional, junto à equipe multidisciplinar
na colaboração de ações socioeducativas; na identificação do quadro de violência, a
responsabilidade pela notificação cabe aos diversos profissionais, não consiste em atribuição
privativa do profissional, porém, espera-se do assistente social o desenvolvimento de “uma
abordagem socioeducativa com a família, socializar as informações em relação aos recursos e
viabilizar os encaminhamentos necessários” (CFESS, 2009:27).
78
Destaca-se que os Parâmetros subsidiam a prática profissional à medida que
contemplam e categorizam a atuação profissional do Serviço Social em: ações assistenciais;
ações em equipe; ações socioeducativas; ações de mobilização, participação e controle social;
ações de investigação, planejamento e gestão; ações de assessoria, qualificação e formação
profissional, variando conforme a demanda proposta (CFESS, 2009).
Compreendem-se por ações assistenciais:
Prestar orientações (individuais e coletivas) e/ou encaminhamentos quanto aos
direitos sociais da população usuária, no sentido de democratizar as informações;
Identificar a situação socioeconômica (habitacional, trabalhista, previdenciária) e
familiar dos usuários com vistas a construção do perfil socioeconômico para
possibilitar a formulação de estratégias de intervenção;
Realizar abordagem individual e/ou grupal, tendo como objetivo trabalhar os
determinantes sociais da saúde dos usuários, familiares e acompanhantes;
Criar mecanismos e rotinas de ação que facilitem e possibilitem o acesso dos
usuários aos serviços, bem como a garantia de direitos na esfera da seguridade
social;
Realizar visitas domiciliares quando avaliada a necessidade pelo profissional do
Serviço Social, procurando não invadir a privacidade dos usuários e esclarecendo os
objetivos das mesmas;
Realizar visitas institucionais com objetivo de conhecer e mobilizar a rede de
serviços no processo de viabilização dos direitos sociais;
Trabalhar com as famílias no sentido de fortalecer seus vínculos, na perspectiva de
torná-las sujeitos do processo de promoção, proteção, prevenção e recuperação da
saúde;
Criar protocolos e rotina de ação que possibilite a organização, normatização e
sistematização do cotidiano do trabalho profissional;
Registrar os atendimentos sociais no prontuário único com objetivo de formular
estratégias de intervenção profissional e subsidiar a equipe de saúde quanto as
informações sociais dos usuários, resguardadas as informações sigilosas que devem
ser registradas no prontuário social (CFESS, 2009:22-23).
É possível identificar diversas das atividades mencionadas na rotina institucional do
Serviço Social no CHMWG, tais como a prestação de orientação; a identificação da situação
socioeconômica; realização da abordagem individual e grupal; o encaminhamento dos
usuários no âmbito da seguridade social; a articulação com as famílias visando o
protagonismo dos mesmos no cenário de promoção, prevenção e recuperação da saúde; a
criação de protocolos que culminem na sistematização do exercício profissional; bem como o
registro dos atendimentos realizados no prontuário do usuário, com vistas ao subsídio da
atuação de equipe multidisciplinar.
Por sua vez, as ações em equipe, concebem o esclarecimento prévio das atribuições e
competências da equipe multiprofissional, com vistas à delimitação das especificidades e
propriedades de cada profissão representada; mediante a qualificação da equipe técnica-
79
administrativa hospitalar capacitá-los quanto às situações de alta e óbito; participação dos
debates em torno do modelo assistencial de saúde, de maneira propositiva, colaborando na
construção de normas e ofertas de atendimento, representando legitimamente os interesses da
população usuária; assegurar a inserção do Serviço Social no processo de admissão,
internação e alta hospitalar; participação junto aos profissionais como médicos e psicólogos
durante o anúncio de situação de óbito, visando o esclarecimento dos encaminhamentos
necessários dadas as circunstâncias; participação em programas socioeducativos voltados para
a saúde dos distintos públicos usuários, como mulher, criança e adolescente, idoso, e, ainda,
nas discussões referentes às doenças sexualmente transmissíveis, bem como às situações de
violência; planejamento e execução de finalidades que garantam a saúde enquanto direito
universal; participação de projetos ligados à humanização no setor saúde, embasados nos
preceitos da Reforma Sanitária; realização de notificação uma vez verificada a situação e/ou
suspeita de violência, além das providências cabíveis (CFESS, 2009).
Apontam-se, pois, como ações em equipe percebidas no âmbito da unidade hospitalar
Walfredo Gurgel, durante o período de desenvolvimento do estágio supervisionado em
Serviço Social, a participação da categoria no processo de admissão, internação e alta
hospitalar; participação em projetos voltados à saúde do público usuário e realização de
notificação de violências. Quanto à temática em torno do óbito destaca-se que ainda atribui-
se, institucionalmente, ao Serviço Social a designação da notícia da perda do usuário aos seus
entes familiares, questão essa, que requer mobilização profissional a fim de garantir a
efetividade da atuação multidisciplinar nessas ocasiões.
Quanto às ações socioeducativas, o CFESS elenca atividades relacionadas à: criação
de grupos socioeducativos junto aos usuários cujas temáticas versem sobre direitos sociais e
princípios do SUS; articulação/mobilização com a comunidade, haja vista a necessidade de
informações da rede de atendimento e respectivos direitos desse público; realização de
debates e oficinas nas proximidades da unidade hospitalar; participação de campanhas
preventivas; ações coletivas de cunho informativo que visem à orientação quanto às rotinas e
funcionamentos do Hospital; desenvolvimento de atividades socioinformativas com o público
das salas de espera; elaboração e/ou divulgação de materiais informativos; mobilização dos
usuários na perspectiva de controle democrático dos serviços prestados; realização de
atividades grupais com temáticas de interesse do público usuário (CFESS, 2009).
No Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel identificaram-se as seguintes
ações socioeducativas, grupos de discussão acerca de direitos sociais, princípios do SUS,
informações da rede de atendimento, esclarecimentos concernentes à rotina institucional, bem
80
como direitos e deveres dos pacientes e acompanhantes, além de outras temáticas afins;
debates e oficinas, em especial, nas ocasiões interventivas dos estágios supervisionados.
Às ações de mobilização, participação e controle social atribuem-se à: socialização de
informações e mobilização na perspectiva de luta por avanços concretos e ganhos sociais aos
usuários; mobilização usuária quanto à importância de participação em conselhos, fóruns e
conferências relacionadas aos embates da saúde pública; viabilização da impressão dos
usuários quanto ao atendimento e estruturas a eles disponibilizadas, e, posterior, divulgação
de resultados às autoridades institucionais; participação nas ouvidorias institucionais;
participação e colaboração profissional nos conselhos de saúde; participação dos usuários e
movimentos sociais no processo de construção e avaliação do orçamento da saúde pública;
participação e organização de conferências de saúde, em seus distintos âmbitos de realização;
informar aos usuários e trabalhadores da saúde os locais, datas e horários das reuniões dos
conselhos de políticas; estímulo à participação dos usuários e trabalhadores da saúde nos
movimentos sociais (CFESS, 2009).
No cenário institucional, observa-se articulação informativa com os usuários sob a
perspectiva de protagonismo dos mesmos; participação e organização em conferências e
conselhos de saúde; informação dos usuários quanto às ocorrências de eventos concernentes à
saúde, com vistas à participação e mobilização. Entretanto, verificaram-se escassa informação
enfática quanto à participação usuária em conselhos e eventos afins da saúde pública; restrita
averiguação da percepção dos usuários quanto à estrutura hospitalar; ausência de ouvidoria
institucional; sobretudo, inexistente participação na elaboração e avaliação do orçamento
público destinado à saúde. Cabe ressaltar que neste último item referente à participação e
colaboração no orçamento público provoca o ativismo do sujeito, capacita-o em
conhecimento de sua realidade municipal, estadual e/ou federal, em especial, culmina na
incidência política e respectivo protagonismo, essencial à luta por condições melhores à
população.
O documento-base de atuação do Serviço Social na saúde menciona, ainda, as ações
de investigação, planejamento e gestão, como necessárias à inserção da categoria profissional,
tendo em vista às ações de: planejamento de ações que contemplem a atuação do assistente
social; interferência no planejamento institucional, a fim de assegurar a participação de
usuários e trabalhadores da saúde; participação da gestão das unidades de saúde de forma
horizontal; arquivamento dos estudos das expressões da questão social cotidianas no exercício
profissional; registro das ações realizadas mediante relatórios sistematizadores da prática
profissional, com vistas a subsidiar os planos de ação; participação nas Comissões e Comitês
81
Temáticos; realização de estudos e pesquisas quanto aos determinantes sociais da saúde;
realização de pesquisas que contemplem os recursos institucionais necessários e aqueles
disponíveis, visando o estabelecimento, avaliação de prioridades e revisão de recursos;
realização de estudos da política social local, regional, estadual e nacional; disponibilizar
subsídios teóricos e práticos quanto à reformulação das políticas públicas; participação da
equipe de auditoria, controle e avaliação (CFESS, 2009).
As ações acima citadas configuram-se em atividades menos frequentes do cotidiano do
assistente social no CHMWG, tendo em vista que pressupõe a inserção da categoria nas
esferas de gestão e planejamento.
Por fim, situam-se as ações de assessoria, qualificação e formação profissional,
vinculadas à prestação de assessoria aos conselhos; assessoria aos assistentes sociais, visando
o aperfeiçoamento profissional; organização e coordenação de seminários voltados para o
debate e formulação de estratégias; supervisão de estagiários de serviço social; participação
de cursos, congressos e seminários, objetivando a troca de experiências e informações;
assessoria de entidades e movimentos sociais, na perspectiva de uma saúde pública de
qualidade (CFESS, 2009).
Para tanto, na maior instituição hospitalar do Rio Grande do Norte, aponta-se a
identificação de atividades de assessoria, qualificação e formação profissional, tais como a
organização e coordenação de eventos voltados para o debate da saúde do estado; supervisão
de estagiários e participação em eventos que propiciam conhecimento e permuta de saberes.
No entanto, ressalta-se que a intervenção/atuação profissional do assistente social está
estritamente vinculada à instituição empregadora, tendo em vista que a mesma fornece as
condições necessárias de materialização da prática profissional, bem como a mesma também é
a responsável pelas limitações impostas à atuação da profissão.
A inserção do Serviço Social nos diversos processos de trabalho, encontra-se
profunda e particularmente enraizado na forma como a sociedade brasileira e os
estabelecimentos empregadores do Serviço Social recortam e fragmentam as
próprias necessidades do ser social e a partir desse processo como organizam seus
objetivos institucionais que se voltam à intervenção sobre essas necessidades
(COSTA, 2007: 306).
Costa (2007) atribui e reitera o papel das instituições empregadoras na efetivação da
prática do Serviço Social, diante da intrínseca e tênue submissão aos objetivos institucionais
que refletem a percepção que esses estabelecimentos possuem acerca do usuário (op. cit.).
Dada à definição e exposição desse conceito institucional, os assistentes sociais se planejam
quanto à materialização da prática profissional em torno dos benefícios sociais aos usuários.
82
Semelhantemente, identifica-se tal dinâmica no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo
Gurgel, na atuação das assistentes sociais.
Por sua vez, no Complexo Hospitalar, instituição que serviu de subsídio teórico e
prático na coleta de dados do presente trabalho, em seu atual quadro da equipe de assistentes
sociais constam 32 assistentes sociais fixas, distribuídas entre o Walfredo Gurgel e o Pronto
Socorro, mantidas em 12 escalas de 12 horas por mês, cotidianamente das 07h às 19h. Cabe
destacar que o Hospital dispõe de assistentes sociais 24 horas, tendo em vista o regime de
plantão das profissionais.
A escala de distribuição diária das assistentes sociais do PSCS está disposta do
seguinte modo: uma profissional responsável pelas unidades das UTI’s - Unidade de
Tratamento Intensivo - e CRO – Centro de Recuperação de Operados; duas assistentes sociais
disponíveis na sala do Serviço Social para o atendimento ao público, em especial,
acompanhantes; uma profissional atendendo às demandas oriundas do Setor de Politrauma, e,
por fim, uma assistente social supervisionando as Unidades de Atendimento Clínico I e II,
totalizando cinco (05) assistentes sociais por regime de plantão, no Clóvis Sarinho.
O PSCS comumente é denominado de porta de entrada do Hospital Walfredo Gurgel,
isto é, todas as demandas que chegam até o Hospital passam, primeiramente, pelo Clóvis
Sarinho.
Por sua vez, o Serviço Social tem um papel primordial nas orientações destinadas aos
familiares/acompanhantes do usuário visto que estes são instruídos pela Recepção do Hospital
a procurar o setor, especialmente, nos casos de internamento do paciente.
Rotineiramente, no plantão, o usuário é recebido, ouvido, orientado e encaminhado. A
procura pelo setor surge por necessidade de orientações diversas (previdência, solicitação de
documentação, realização de exames, notificação de violência, óbito), encaminhamentos
externos (INSS, Defensoria Pública, unidades de saúde, recursos assistenciais),
encaminhamentos internos, esclarecimentos, informações e providências.
Em conformidade com a Lei 8.662/93, normativa nacional de Regulamentação da
Profissão do Serviço Social, em seu artigo 4º, inciso III, consiste em competência profissional
do assistente social, “encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos
e à população”, bem como no artigo 4º, inciso VI, compreende “planejar, organizar e
administrar benefícios e serviços sociais” (BRASIL, 1993:01). Nesse sentido, a atuação do
profissional do Serviço Social está no Pronto Socorro Dr. Clóvis Sarinho em alinhamento a
uma perspectiva de garantia da defesa dos direitos dos usuários.
83
Conforme a Proposta de Trabalho do Serviço Social (2010) compreende-se que “o
Serviço Social integra o processo de trabalho coletivo, prestando assistência às demandas dos
usuários, família e a rede de relações sociais” (DIVISÃO DE SERVIÇO SOCIAL, 2010:02).
Sendo assim, apreende-se que as demandas postas são reflexos das expressões da questão
social que se manifestam no cotidiano da sociedade, como um todo, e, em especial, na saúde.
De modo que, o Assistente Social como profissional de saúde, efetiva o atendimento a todas
as demandas facilitando o acesso aos serviços e contribuindo para a resolutividade das
necessidades dos usuários.
Para uma atuação diferenciada e dotada de uma perspectiva de entendimento da
totalidade da realidade Laurell apud Costa (2007) afirma que faz-se necessário compreender
“a saúde como uma política social pública que se materializa como um serviço cujo conteúdo,
finalidade e processos de trabalho, merecem conceituações de natureza teórica e histórica”
(COSTA, 2007:308). Por conseguinte, é imprescindível que a categoria dos assistentes sociais
reflitam em torno do processo de trabalho em saúde, de modo a captarmos as distintas
dimensões da prática social em questão.
Segundo Ferreira (2005), a demanda reprimida se configura pela população que
extrapola a capacidade de atendimento das instituições de saúde. Ou seja, a demanda maior
que a oferta dos serviços como consequência da escassez dos recursos e do sucateamento dos
serviços públicos de saúde. Esta demanda gera desafios para o profissional de Serviço Social
no que se refere à garantia dos direitos sociais, visto que essa parcela significativa
demandante dos serviços de saúde carrega consigo histórico de negação de direitos, e no
momento em que chegam até o Hospital não veem seus direitos respeitados, sequer encontram
espaço físico ao menos confortável que lhe resguarde a privacidade, localizam-se nos
corredores do Hospital em meio à ausência de diversos e necessários materiais (FERREIRA,
2005).
À superlotação do Walfredo Gurgel/ Clóvis Sarinho se atribui à ineficácia das redes
municipais de atendimento à saúde, postos de saúde da capital e interior do estado, bem como
se destaca a desinformação da população quanto à hierarquização das redes de saúde pública.
Sobretudo, em uma percepção mais global, identifica-se a progressiva desresponsabilização
do Estado nas questões concernentes à saúde pública, paulatinamente, implantando a
terceirização/privatização do setor, reduzindo os investimentos na saúde diante do aumento
descomunal do adoecimento da população, resultante de suas condições de vida.
Portanto, o assistente social inserido no processo de trabalho em saúde, enquanto
profissional buscará interligar os níveis do Sistema Único de Saúde - SUS - com as demais
84
políticas sociais, contudo, o principal foco de seu trabalho na saúde é garantir a integralidade
e intersetorialidade das ações, no sentido de garantia dos direitos dos cidadãos. É através da
relação de dever mantenedor do Estado, mais especificamente, a Secretaria de Saúde Pública
do Rio Grande do Norte – SESAP/RN, enquanto instância gestora da saúde pública do estado,
e do direito universal da população ao acesso à saúde que a atuação dos assistentes sociais
tem se consolidado como uma “prática” necessária para a promoção e atenção à saúde.
Retoma-se, ainda, acerca da atuação do assistente social no Complexo Hospitalar, e,
em geral, nos demais serviços de atendimento à saúde, cabe pontuar a necessidade da reflexão
profissional, quanto à avaliação de que modo tem se efetivado a prática da profissão, de que
maneira tem se atendido às demandas dos usuários, como é possível qualificar e capacitar o
exercício profissional a fim de culminar em um atendimento isento de limitações teóricas e
práticas.
É imprescindível que o trato dos profissionais da saúde destinados aos usuários ocorra
de forma humanizada, de maneira efetivamente internalizada, uma vez que àqueles que lidam
diariamente com pessoas que carregam consigo históricos de privações ao longo da vida,
precisam, necessariamente, considerar a historicidade de cada um, de modo que a
sensibilidade seja uma ferramenta constante e real nas relações do âmbito hospitalar.
O projeto ético-político norteador da profissão é constituído pelos seguintes
documentos: o Código de Ética Profissional de 1993, a Lei de Regulamentação da Profissão
nº 8.662/1993 e as novas diretrizes curriculares. Esse conjunto normativo e orientador tem
como proposta a emancipação humana, a destituição de qualquer forma de exploração, o
comprometimento com uma nova sociabilidade mais justa e equânime, defendendo
permanentemente a efetivação dos direitos sociais conquistados e previstos em lei. Destaca-se
o reconhecimento da necessidade de uma atuação crítica, propositiva e em alinhamento ao
projeto profissional, constantemente atualizada visto à dinamicidade da realidade.
Nesse sentido, compreende-se que a inserção do Serviço Social no âmbito da saúde
está relacionada ao caráter mediador e articulador da profissão, alicerçado na perspectiva de
garantia dos direitos básicos dos usuários. Mesmo diante de cenários, por vezes, limitadores,
busca-se assegurar a efetivação de direitos sociais e constitucionais, a fim de promover a
melhoria das condições de vida da população.
No que se refere ao contexto das situações de violência, faz-se imprescindível a
intervenção do assistente social nessas ocasiões, com vistas a explicitar os procedimentos
rotineiros a serem providenciados nessas circunstâncias, bem como procura-se promover a
conscientização do usuário e acompanhantes, sejam eles familiares e/ou amigos, quanto à
85
importância da desvinculação à práticas violentas, especialmente, na concepção do que é
violento, para que a partir daí possam se organizar e lutar pelos seus direitos enquanto sujeitos
ativos. Sobretudo, destaca-se a participação profissional diante da necessária articulação com
a rede de atendimento ao usuário, e respectivos encaminhamentos junto às instituições
competentes de proteção pessoal aos distintos públicos, quanto ao infanto-juvenil, cabem ao
SOS Criança e Adolescente e/ou Conselho Tutelar; ao público idoso, à Promotoria do Idoso; e
ao público feminino, às Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres - DEAM’s.
Outrossim, quanto ao desenvolvimento da prática profissional do Serviço Social diante
da convivência com situações de violência, atribui-se à categoria um desempenho de
afinidade às demandas dos usuários, principiadas pela identificação do evento violento,
mediante escuta qualificada; a interlocução com paciente e familiares no processo de
recuperação e preservação da saúde do paciente, além da articulação com a rede de
atendimento aos usuários conforme às demandas, por fim, orientando-os no que se refere à
denúncia do ato e ruptura com as reproduções violentas cotidianas.
A fim de sintetizar as discussões aqui apresentadas, o próximo capítulo prestará às
apreensões finais diante das exposições abordadas acerca da violência, saúde pública, custos
da violência e Serviço Social.
86
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com vistas à compreensão das apresentações e análises aqui realizadas, se delineará
uma descrição crítica das abordagens demonstradas em estudo.
Para tanto, há de se conceber que a violência apresentada como ato de agregação
negativa e danosa à sociedade, não advém naturalmente, ou integra o intrínseco do ser
humano, logo, não há como combatê-la. Ao contrário, suas manifestações mais frequentes
estão associadas às profundas desigualdades sociais, econômicas, políticas, habitacionais,
escolares, dentre outras. Isto é, a violência situa-se enquanto expressão da questão social,
como mazela agudizada em razão das disparidades brutais de oportunidades dignas, localiza-
se como ressonância dos históricos de privações, do obscurantismo da mente por meio da
ausência de clarificação da realidade e respectiva consciência.
À violência refere-se como problemática que desemboca no setor da saúde, entretanto,
advém de causas estruturais. Isto é, reflete-se como meio de publicização e indignação das
condições a que foram expostas quantidade significativa da população, vivendo em
circunstâncias trôpegas, de verdadeira sobrevivência. Atribui-se como fatores
impulsionadores, de forma direta ou indireta, às práticas violentas, a banalização da vida do
ser humano, à medida que as pessoas não são vistas com respeito e dignidade pelo poder
público, no que se refere à desconsideração do provimento das condições necessárias de
vivência, e demais membros da sociedade, como reflexo da individualidade, fruto
indispensável da sociedade capitalista.
Isto é, a violência contra as mulheres representa consequência da inadaptação da
sociabilidade contemporânea às novas configurações familiares, ao espaço conquistado pelas
mulheres nos dias atuais, está associada ainda ao machismo obsoleto que persiste em resistir
nos dias de hoje, à submissão incontestável e irracional da mulher ao homem.
Por sua vez, a violência contra o idoso materializa-se mediante a desvalorização da
figura da pessoa mais velha, em uma sociedade que está imbuída do consumismo desenfreado
e da intensa substituição do velho pelo novo. Assim como a precarização da vida dos usuários
é refletida pelas condições desumanas e de miserabilidade. Destaca-se também o despreparo
popular no que está relacionado aos cuidados necessários no processo de envelhecimento.
A violência contra a criança e o adolescente constitui-se como problema grave quanto
à ineficácia da preservação da figura infanto-juvenil, por parte dos responsáveis legais e
87
mesmo os agentes públicos, tendo em vista à negação de estruturas adequadas ao crescimento
saudável dos jovens, que, necessariamente, inspiram cuidados específicos.
Enquadrados na categoria de causas externas, os acidentes de trânsitos são agravos que
são representativos no cotidiano hospitalar e estadual. Aflige contingente significativo de
pessoas mediante a sua vulnerabilidade.
Para tanto, os custos decorrentes de situações de violência representam parte
considerável do orçamento destinado à saúde pública, ampliam-se descomunalmente caso
considerados os gastos com pessoal (médicos especialistas – ortopedistas, cirurgiões plásticos,
fisioterapeutas, nutricionistas), transporte, dentre outros.
A importância do trabalho ora apresentado reitera-se mediante o apontamento dos
serviços de atendimento em saúde que mais demandam recursos públicos, além de indicar a
significância estatística de dadas causas de internamentos oriundos de causas violentas, de
modo a subsidiar o planejamento quanto à definição de prioridades no processo de atenção,
promoção e prevenção às situações de violência.
A partir das discussões expostas podemos compreender que os agravos apresentados
pela população usuária são decorrentes das situações de vida. O processo saúde-doença é
determinado socialmente e reforçado pelo conceito de saúde. De modo que, a ação
profissional do Serviço Social consiste no acompanhamento social dos usuários durante o
tratamento da saúde.
Em face à falta de recursos e qualidade do serviço reduzido torna-se um desafio
profissional a garantia dos direitos dos usuários, tendo em vista a demanda reprimida
caracterizada pela demanda maior que a oferta de serviços, espaço físico e materiais. As quais
o estado mostra-se incapaz de atendê-las plenamente.
Não obstante, mesmo reconhecendo e reiterando a problemática da violência enquanto
problema de saúde pública, faz-se necessário atentar o fenômeno para além da saúde,
perpassando outros setores e outras políticas públicas, compreendendo, portanto, a
fundamentalidade da articulação com a assistência social, educação, dentre outras políticas, a
fim de promover participação e contribuição dos demais segmentos.
Por sua vez, apreende-se a ênfase na contemporaneidade à assistência médica curativa,
em detrimento da atenção à saúde em longo prazo, nos mais diversos níveis. Portanto,
consiste em preocupação a concentração dos recursos em saúde no âmbito emergencial,
restritos à atenção imediata. Sugere-se, pois, a continuidade da atenção à saúde, sobretudo, o
resgate teórico e prático dos preceitos da Reforma Sanitária.
88
Configura-se ainda como importante, o questionamento do cenário atual da saúde
pública, o status vigente de sobrevivência em meio às precárias e escassas condições.
Conclui-se a necessidade de reavaliação urgente das atuais formas de prestação de
atendimento à população potiguar, de forma a romper com a prestação de serviços
descompromissados com a qualidade imprescindível concernente aos serviços de saúde.
Cabe situar também, no que se refere ao orçamento público destinado à saúde, que a
sua previsão, planejamento e execução localizam-se às margens das necessidades
populacionais, dado o quadro atual e calamitoso do estado do Rio Grande do Norte. Propõe-
se, pois, que a gestão estadual analise a validade do repasse de recursos às instituições de
saúde privadas que, de fato, atendem quantidade ínfima de usuários do Sistema Único de
Saúde em suas respectivas unidades. Logo, considera-se o investimento da saúde pública
estadual precário, agudizado pela delimitação orçamentária às instituições de saúde
particulares que, inevitavelmente, visam o lucro, desvinculando-se da concepção da saúde
como sendo gratuita e universal.
O profissional do Serviço Social que exerce atividades na área da saúde precisa estar
atento à necessidade de qualificar suas ações no sentido de mobilizar e impulsionar novas
maneiras de realizar a prática profissional. O Serviço Social na saúde trabalha com a
referência de saúde enquanto direito universal. Nesse sentido, o assistente social da saúde
deve executar suas atividades no sentido de orientar indivíduos e grupos de diferentes
segmentos sociais, bem como atuar no atendimento e na defesa de seus direitos; planejar,
organizar e administrar benefícios e serviços sociais inerentes à saúde. Os profissionais do
serviço social que atuam na saúde, como os demais trabalhadores, estão diariamente expostos
a desafios profissionais que precisam ser encarados e trabalhados de maneira a garantir o bom
desempenho de suas competências, bem como o direito do usuário.
Assim, aos assistentes sociais que visam romper com práticas conservadoras, não cabe
reproduzir o processo de trabalho capitalista, alienante. Há que, historicamente, buscar
romper, através do trabalho e das relações sociais, com as formas capitalistas de pensar e agir
para empreender ações que, além de possibilitar acesso aos bens e serviços, resulte num
processo educativo; resulte num bem e não em um produto a ser consumido. Uma ação
consciente, que exige a capacidade de antecipar, de projetar; capacidade que não está dada,
mas é algo a construir, a alcançar.
No processo de rompimento com práticas conservadoras e alienantes no espaço da
saúde, cabe ao assistente social uma postura crítica e centrada mediante os desafios e
obstáculos existentes no ambiente de atuação profissional.
89
Por conseguinte, o Serviço Social como categoria profissional atuante na mediação das
situações de violência, caracteriza-se por intervenção qualificada amparada por orientações,
acompanhamentos e encaminhamentos. Desse modo, reitera-se a importância de uma
notificação social nas instituições de atendimento, isto é, registros que contemplem
informações subsidiadoras de intervenções profissionais, explicitando dados como o local da
ocorrência, as razões/motivações do dano, a incidência/repetição, a caracterização do perfil
das vítimas e agressores, dentre outras. A utilização do instrumento metodológico
mencionado contribui consistentemente na sistematização de informações úteis para futuras
políticas públicas e estudos. Para tanto, requer-se maiores oportunidades de participação
profissional, em especial, no que concerne à qualificação técnica de forma a incidir
diretamente em atendimento apropriado e, consequentemente abordagem vigilante/atenta.
Finalmente, aponta-se o reconhecimento da necessidade de priorização de ações de
enfrentamento às situações de violência no estado do Rio Grande do Norte, de abrangência
nas políticas de prevenção, promoção e atenção, além da fundamentalidade de estudo
aprofundado das demandas estaduais mais explícitas e urgentes, por município, a fim de que
essas possam ser permeadas por planejamento. Por sua vez, no âmbito das unidades
hospitalares, pressupõe-se a importância da ampliação da notificação de agravos ocasionados
por causas violentas, de modo que os profissionais compreendam a necessidade do estado
permanente de alerta para identificação de quadros suspeitos de violência.
Nos dias da contemporaneidade, faz-se imprescindível à atenção aos problemas
incidentes na população, no caso, a violência, caracterizada por atos carregados de denotação
repulsiva e marcante na sociedade. Requer-se, por fim, que a interpretação da questão seja
efetuada por perspectiva abrangente e totalizadora da realidade, visando o enfrentamento
eficaz em sua plenitude, a fim de sanar as inquietudes advindas da violência.
90
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