universidade federal do rio grande do norte centro … · aos demais familiares e parentes,...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
PAULO GONÇALO FARIAS GONÇALVES
A ORIENTAÇÃO DA AÇÃO DE CONTROLE NA RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS MATEMÁTICOS EM PROFESSORES: UMA EXPERIÊNCIA
FORMATIVA À LUZ DA TEORIA DE P. YA. GALPERIN
NATAL – RN
2020
PAULO GONÇALO FARIAS GONÇALVES
A ORIENTAÇÃO DA AÇÃO DE CONTROLE NA RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS MATEMÁTICOS EM PROFESSORES: UMA EXPERIÊNCIA
FORMATIVA À LUZ DA TEORIA DE P. YA. GALPERIN
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Educação. Orientador: Prof. Dr. Isauro Beltrán Núñez.
NATAL – RN
2020
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE
Gonçalves, Paulo Gonçalo Farias.
A orientação da ação de controle na resolução de problemas
matemáticos em professores: uma experiência formativa à luz da
Teoria de P. Ya. Galperin / Paulo Gonçalo Farias Gonçalves. - Natal, 2020.
205 f.: il.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Centro de Educação, Programa de Pós-graduação em Educação.
Orientador: Prof. Dr. Isauro Beltrán Núñez.
1. Aprendizagem - Tese. 2. Teoria de Galperin - Tese. 3. Base
Orientadora da Ação - Tese. 4. Controle - Tese. 5. Resolução de
Problemas - Tese. I. Núñez, Isauro Beltrán. II. Título.
RN/UF/BS - Centro de Educação CDU 51:37
Elaborado por Rita de Cássia Pereira de Araújo - CRB-15/804
Dedico este trabalho aos dois Franciscos da minha vida. Um que se foi (in memoriam), mas marcou o melhor dele em mim. O outro chegou e personificou o meu amor. Aos dois, obrigado por me tornar um ser humano melhor.
AGRADECIMENTOS
Minha pesquisa foi um trabalho de muitas mãos, uma construção em
constante movimento. Uma aula, um seminário, uma orientação, um estudo em
grupo, uma ideia nova durante um café, o apoio em momentos difíceis. Essas e
outras vivências foram fundamentais para minha jornada doutoral.
Agradeço primeiramente a minha família nuclear, Família Lima
Gonçalves. À minha esposa, Carla Jéssica, pelo seu amor, paciência, dedicação
e apoio incondicional nos melhores e piores momentos. Ao meu filho Miguel
Francisco, que veio ao mundo durante esse percurso e trouxe ainda mais luz
para minha vida com toda sua doçura, carinho e simpatia.
Aos demais familiares e parentes, sobretudo minhas tias e tio do coração
Gláucia, Ângela e Haroldo, por todo acolhimento e por serem tão prestativos com
minha família durante nossa estadia em Natal-RN.
Aos grandes amigos que a pós-graduação me deu, Alessandro,
Anderson, Karine e Luanna, pela apoio mútuo que foi fundamental para superar
todos os desafios que enfrentei. Estendo aqui minha gratidão aos demais
colegas que fiz durante essa fase.
Ao Prof. Dr. Isauro Beltrán Núñez, pela confiança, disponibilidade e por
todos os ensinamentos dados, desde o primeiro contato durante o mestrado.
Estendo ainda os agradecimentos a todos os meus ex-professores do Programa
de Pós-graduação em Educação da UFRN, pelas ricas experiências de
aprendizagem que me proporcionaram.
Aos membros titulares e suplentes da banca examinadora Prof. Dr.
Francisco de Assis Bandeira, Prof.ª Dr.ª Betania Leite Ramalho, Prof. Dr.
Roberto Valdés Puentes, Prof. Dr. Héctor José García Mendoza, Prof. Drª.
Halana Garcez Borowsky e Prof.ª Dr.ª Rogéria Gaudêncio do Rêgo pela
disponibilidade e por todas as contribuições que visaram aperfeiçoar minha
formação.
À Universidade Federal do Cariri, minha casa acadêmica, e
especialmente aos colegas do Instituto de Formação de Educadores, pela
liberação para dedicação aos meus estudos.
Enfim, minha gratidão a todos aqueles que contribuíram direta ou
indiretamente para realização desse ciclo da minha formação profissional.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse
toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria (1 Coríntios 13:2).
RESUMO
A crescente facilidade e rapidez no acesso à informação propiciada pelo aprimoramento científico e tecnológico obtido ao longo da história humana, tem exigido do indivíduo atual, dentre outras coisas, saber organizar seus processos de aprendizagem de maneira independente, consciente e reflexiva, isto é, aprender a aprender segundo o Enfoque Histórico-Cultural. Dentre as condições necessárias para isso, o controle na resolução de problemas matemáticos tem sido apontando pelas investigações como um componente pouco explorado no contexto da aprendizagem em Matemática. Diante disso, a presente tese tem como objetivo estudar a influência de uma Experiência Formativa na reelaboração da orientação da ação de controle na resolução de problemas matemáticos de estudantes de licenciatura. Este estudo foi desenvolvido no Instituto de Formação de Educadores (IFE), campus da Universidade Federal do Cariri (UFCA) na cidade de Brejo Santo-CE e teve como participantes oito discentes dos cursos de licenciatura. Se constituindo como uma pesquisa do tipo Experiência Formativa, os instrumentos de coleta de dados utilizados foram: observação, prova pedagógica, diário dos alunos e o questionário. Os dados foram explorados segundo uma Análise de Conteúdo. Verificamos, por meio de um diagnóstico inicial, que os licenciandos participantes da Experiência Formativa não possuíam uma compreensão apropriada acerca da ação de controle. A partir daí, foi elaborada e desenvolvida uma Experiência Formativa, à luz da Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos, em que foi possível observar mudanças na tomada de consciência pelos discentes sobre a relevância da orientação do controle enquanto guia para um melhor entendimento e mitigação dos erros durante o processo de resolução de problemas matemáticos. Os processos de verificação e ajuste da ação humana que constituem o controle da aprendizagem tornam essa habilidade cognoscitiva um componente relevante da personalidade de um indivíduo do século XXI. Portanto, é de suma importância que mais investigações sejam desenvolvidas sobre o tema, visando a proliferação de mais práticas educativas que discutam esse componente e contribuam para a formação de aprendizes autônomos. Palavras-chave: Aprendizagem; Teoria de Galperin; Base Orientadora da Ação; Controle; Resolução de Problemas.
ABSTRACT
The increasing ease and speed of access to information provided by scientific and technological improvements obtained throughout human history, has required the current individual, among other things, to know how to organize their learning processes in an independent, conscious and reflective way, that is, to learn to learn according to the Historical-Cultural Approach. Among the necessary conditions for this, the control in solving mathematical problems has been pointed by the investigations as a little-explored component in the context of mathematics learning. Therefore, the present thesis aims to study the influence of a Formative Experience in the reworking of the control action orientation in solving mathematical problems of undergraduate students. This study was developed at the Instituto de Formação de Educadores (IFE), campus of the Universidade Federal do Cariri (UFCA) in the Brejo Santo-CE city, it was attended by eight students of undergraduate courses. If constituted as a Formative Experience research, the data collection instruments used were: observation, pedagogical test, students' diary and the questionnaire. The data were explored according to a Content Analysis. From the initial diagnosis, we found that the graduates participating in the Formative Experience did not have an appropriate understanding of the control action. From then on, a Formative Experience was elaborated and developed, in the light of the Planned Theory of Mental Actions and Concepts Formation, in which it was possible to observe changes in students' awareness of the relevance of control orientation as a guide for better understanding and mitigation of errors during the process of solving mathematical problems. The processes of verification and adjustment of human action that constitute the control of learning, become this cognitive ability a relevant component of the personality of a 21st century individual. Furthermore, is of utmost importance that more research is to carry out on the subject, aiming at the proliferation of more educational practices that discuss this component and contribute to the formation of autonomous learners.
Keywords: Learning; Galperin's Theory; Orienting Basis of Action; Control; Problem solving.
RESUMEN
La creciente facilidad y velocidad de acceso a la información proporcionada por la mejora científica y tecnológica obtenida a lo largo de la historia humana, ha requerido que el individuo actual, entre otras cosas, sepa cómo organizar sus procesos de aprendizaje de una manera independiente, consciente y reflexiva, es decir, aprender aprender de acuerdo con el enfoque histórico-cultural. Entre las condiciones necesarias para esto, el control en la resolución de problemas matemáticos ha sido señalado por las investigaciones como un componente poco explorado en el contexto del aprendizaje de las matemáticas. Ante esto, la presente tesis tiene como objetivo estudiar la influencia de una Experiencia Formativa en la reelaboración de la orientación de la acción de control en la resolución de problemas matemáticos de estudiantes de pregrado. Este estudio fue desarrollado en el Instituto de Formação de Educadores (IFE), campus de la Universidade Federal de Cariri (UFCA) en la ciudad de Brejo Santo-CE y contó con la asistencia de ocho estudiantes de cursos de pregrado. Al constituirse como una investigación de experiencia formativa, los instrumentos de recolección de datos utilizados fueron: observación, prueba pedagógica, diario de los estudiantes y cuestionario. Los datos fueron explorados de acuerdo con un análisis de contenido. De un diagnóstico inicial descubrimos que los graduados que participaron en la Experiencia Formativa no tenían una comprensión adecuada de la acción de control. A partir de entonces, se elaboró y desarrolló una Experiencia Formativa, a la luz de la Teoría Planificada de Acciones Mentales y Formación de Conceptos, en la que fue posible observar cambios en la conciencia de los estudiantes sobre la relevancia de la orientación de control como una guía para una mejor comprensión y mitigación de errores durante el proceso de resolución de problemas matemáticos. Los procesos de verificación y ajuste de la acción humana que constituyen el control del aprendizaje hacen de esta capacidad cognitiva un componente relevante de la personalidad de un individuo del siglo XXI. Por lo tanto, es de suma importancia que se realicen más investigaciones sobre el tema, con el objetivo de la proliferación de más prácticas educativas que discutan este componente y contribuyan a la formación de estudiantes autónomos.
Palabras clave: Aprendizaje; Teoría de Galperin; Base orientadora de la acción; Control; Solución de problemas.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Exemplo de árvore de raciocínio ...................................................... 68
Figura 2 - Principais momentos da pesquisa. ................................................... 76
Figura 3- Situação-problema do diagnóstico inicial. ....................................... 121
Figura 4 - Soluções incorretas da situação-problema contida na prova
pedagógica. .................................................................................................... 121
Figura 5 - Solução da Tarefa 1 pelo participante P3. ..................................... 141
Figura 6 - Solução da Tarefa 2 pelo participante P6. ..................................... 143
Figura 7 - Solução da Tarefa 2 pelo participante P1. ..................................... 144
Figura 8 - Solução da Tarefa 2 pelo participante P7. ..................................... 145
Figura 9 - Trecho da solução da Tarefa 3 pelo participante P5. ..................... 147
Figura 10 - Trecho da solução da Tarefa 3 pelo participante P2. ................... 148
Figura 11 - Solução da Tarefa 3 pelo participante P3. ................................... 149
Figura 12 - Solução da Tarefa 3 pelo participante P4. ................................... 150
Figura 13 - Descrição da ação de controle na Tarefa 2 por P1, classificada como
DG. ................................................................................................................. 152
Figura 14- Descrição da ação de controle na Tarefa 2 por P5, classificada como
DE. ................................................................................................................. 152
Figura 15 - Resposta da Tarefa T4 pelo participante P2. ............................... 154
Figura 16 - Resposta da Tarefa T4 pelo participante P6. ............................... 156
Figura 17 - Resposta da Tarefa T4 pelo participante P7. ............................... 158
Figura 18 - Resolução da Tarefa 5 pelo participante P1. ............................... 160
Figura 19 - Resposta da Tarefa 5 pelo participante P6. ................................. 162
Figura 20 - Resolução da Tarefa 6 pelo participante P2. ............................... 164
Figura 21 - Resolução da Tarefa 6 pelo participante P8. ............................... 166
Figura 22- Resolução da Tarefa 6 pelo participante P6. ................................ 167
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Tipos de Bases Orientadoras da Ação ........................................... 43 Quadro 2 - Detalhamento de características dos participantes da pesquisa. ... 73 Quadro 3 - Relação entre objetivos específicos e instrumentos de pesquisa. . 77 Quadro 4 - Plano de elaboração da prova pedagógica para o diagnóstico inicial. ......................................................................................................................... 78 Quadro 5 - Plano de observação segundo os momentos da Experiência Formativa. ........................................................................................................ 79 Quadro 6 - Plano de elaboração do diário dos alunos. .................................... 81 Quadro 7 - Plano de elaboração do questionário de avaliação final. ............... 83 Quadro 8 - Questões que nortearam a validação de cada instrumento de pesquisa. .......................................................................................................... 84 Quadro 9 - Modelo da disposição dos dados do questionário na planilha. ...... 86 Quadro 10 - Modelo de disposição dos dados da prova pedagógica na planilha. ......................................................................................................................... 86 Quadro 11 - Organização dos dados dos diários dos alunos na planilha. ........ 86 Quadro 12 - Organização dos dados de tarefas. .............................................. 87 Quadro 13 - Instrumentos de pesquisa e suas categorias de Análise de Conteúdo. ......................................................................................................... 88 Quadro 14- Definição do que é problema por diferentes autores. .................... 93 Quadro 15 - Modelo do objeto do EBOCA de resolver problemas matemáticos. ......................................................................................................................... 95 Quadro 16 - Sínteses de etapas para resolução de problemas de diferentes autores. ............................................................................................................ 95 Quadro 17 - Invariantes da habilidade de resolver problemas matemáticos. ... 97 Quadro 18 - Modelo da ação do EBOCA de resolver problemas matemáticos do professor. ......................................................................................................... 98 Quadro 19- Relação entre operações para ação e operações de controle. ..... 99 Quadro 20 - EBOCA da habilidade de resolver problemas matemáticos planejado pelo professor. ................................................................................................ 101 Quadro 21 - Momentos da Experiência Formativa. ........................................ 103 Quadro 22 - Tarefas do Sistema Didático segundo os tipos de solução. ....... 105 Quadro 23- Modelo do objeto do EBOCA do professor. ................................ 108 Quadro 24- Análise das respostas segundo modelo do objeto da orientação do professor. ....................................................................................................... 108 Quadro 25 - Respostas que evidenciam a resolução de problemas enquanto processo de busca. ........................................................................................ 110 Quadro 26 - Respostas que evidenciam a resolução de problemas como a elaboração e/ou utilização de métodos. ......................................................... 110 Quadro 27 - Modelo da ação do EBOCA de resolver problemas matemáticos do professor. ....................................................................................................... 111 Quadro 28 - Análise das respostas em função do modelo da ação da orientação do professor. .................................................................................................. 112 Quadro 29 - Modelo da ação de resolver problemas matemáticos das orientações dos alunos segundo os momentos da atividade humana. .............................. 114 Quadro 30 - Definição de controle na resolução de problemas matemáticos adotada. ......................................................................................................... 115
Quadro 31 - Análise das respostas em função da definição da ação de controle contida na orientação do professor. ............................................................... 116 Quadro 32 - O controle enquanto uma ação metódica. .................................. 117 Quadro 33 - Modelo de controle da orientação do professor. ........................ 117 Quadro 34 - Análise das respostas em função do modelo de controle da orientação do professor. ................................................................................. 118 Quadro 35 - Modelo de controle das orientações iniciais dos alunos. ............ 119 Quadro 36- Descrição dos alunos acerca das dificuldades enfrentadas durante a solução da prova pedagógica. ........................................................................ 122 Quadro 37 - Percentual de adequação das orientações iniciais dos alunos em relação a orientação referência. ..................................................................... 123 Quadro 38 - Favorecimento da motivação e no interesse após a etapa de motivação inicial. ............................................................................................ 126 Quadro 39- Resposta acerca do modelo do objeto da orientação dos alunos reelaborada em duplas. .................................................................................. 128 Quadro 40 - Percentual de correspondência da orientação dos alunos reelaboradas em duplas em relação a orientação do professor. .................... 129 Quadro 41 - Respostas relativas ao modelo da ação da orientação dos alunos reelaborada em duplas. .................................................................................. 130 Quadro 42 - Percentual de correspondência da orientação dos alunos reelaboradas em duplas em relação a orientação do professor. .................... 131 Quadro 43 - Respostas relativas ao modelo de controle da orientação dos alunos reelaboradas em duplas. ................................................................................ 132 Quadro 44 - Percentual de correspondência da orientação dos alunos reelaboradas em duplas em relação a orientação do professor. .................... 134 Quadro 45 - Percentual de adequação das orientações iniciais dos alunos em relação a orientação do professor. ................................................................. 134 Quadro 46 - Trecho do diário dos participantes P3 e P5 em que descrevem o que aprenderam durante o momento de reelaboração da orientação. .................. 138 Quadro 47 - Trechos dos diários dos alunos que evidenciaram melhorias na ação de controle na resolução de problemas matemáticos. ................................... 169 Quadro 48 - Trechos dos diários dos alunos inconclusivos acerca das melhorias na ação de controle na resolução de problemas matemáticos. ..................... 171 Quadro 49 - Trechos dos diários dos alunos que não evidenciaram melhorias na ação de controle na resolução de problemas matemáticos. .......................... 172 Quadro 50 - Contribuições do EBOCA na perspectiva dos discentes. ........... 173 Quadro 51 - Respostas que enfatizaram maior atenção ao aspecto operacional da resolução de problemas. ........................................................................... 174 Quadro 52 - Justificativas para a possibilidade de ensinar ações de controle na resolução de problemas. ................................................................................ 176 Quadro 53 - Respostas de participantes sobre a viabilidade do uso do EBOCA como meio para o controle da resolução de problemas matemáticos. ........... 177 Quadro 54 - Exemplos de respostas que destacaram a orientação como aspecto mais interessante da Experiência Formativa. ................................................. 179 Quadro 55 - Exemplos de respostas que destacaram o trabalho em dupla como aspecto mais interessante da Experiência Formativa. ................................... 179 Quadro 56 - Aspectos desinteressantes relacionados à momentos da Experiência Formativa. ................................................................................... 180 Quadro 57 - Aspectos desinteressantes relacionados à atividades específicas da Experiência Formativa. ................................................................................... 180
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Comparativo do modelo do objeto do diagnóstico inicial e o reelaborado em duplas. .................................................................................. 135 Gráfico 2 - Comparativo do modelo da ação do diagnóstico inicial e o reelaborado em duplas. ...................................................................................................... 136 Gráfico 3 - Comparativo do modelo de controle do diagnóstico inicial e o reelaborado em duplas. .................................................................................. 137
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 16
1.1 Problematização .................................................................................... 16
1.2 Justificativa ........................................................................................... 19
1.3 Antecedentes da investigação ............................................................. 21
1.4 Tese ........................................................................................................ 24
1.5 Objetivos ................................................................................................ 24
1.5.1 Objetivo geral .................................................................................... 24
1.5.2 Objetivos específicos ........................................................................ 24
1.6 Estrutura da tese ................................................................................... 25
2 A HABILIDADE DE CONTROLE SOB O APORTE DA TEORIA DE
FORMAÇÃO PLANEJADA DAS AÇÕES MENTAIS E DOS CONCEITOS .... 27
2.1 Atividade, Consciência e Personalidade ............................................ 28
2.2 A aprendizagem e o controle do estudante segundo P. Ya. Galperin
...................................................................................................................... 34
2.3 A orientação da ação de controle ........................................................ 40
2.4 Etapas de formação do controle interno ............................................ 48
2.5 Os indicadores qualitativos do controle ............................................. 54
3 A HABILIDADE DE RESOLVER PROBLEMAS MATEMÁTICOS ............... 58
3.1 Diferentes perspectivas para o conceito de problema ...................... 59
3.2 Modelos para a ação de resolver problemas matemáticos ............... 63
4 METODOLOGIA ........................................................................................... 71
4.1 O contexto e os participantes da pesquisa ........................................ 71
4.2 Caracterização da pesquisa ................................................................. 74
4.3 Os instrumentos de coleta de dados .................................................. 76
4.3.1 Prova Pedagógica............................................................................. 77
4.3.2 Observação ...................................................................................... 78
4.3.3 Diário dos alunos .............................................................................. 80
4.3.4 Questionário ..................................................................................... 82
4.4 Validação dos instrumentos de coleta de dados ............................... 83
4.5 Organização dos dados ........................................................................ 85
4.6 Análise dos dados ................................................................................ 87
5 ORGANIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA FORMATIVA ...................................... 90
5.1 A definição do objetivo ......................................................................... 90
5.2 A organização do conteúdo: A orientação da ação de resolver
problemas matemáticos ............................................................................. 91
5.3 A estrutura didática do processo de assimilação ............................ 103
5.4 Sistema de tarefas .............................................................................. 104
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES DA EXPERIÊNCIA FORMATIVA .......... 107
6.1 O diagnóstico inicial da compreensão do controle na resolução de
problemas matemáticos ........................................................................... 107
6.2 A motivação inicial da atividade de aprendizagem .......................... 124
6.3 A reelaboração da orientação dos estudantes ................................. 127
6.4 O controle na solução das tarefas ..................................................... 139
6.4.1 Análise das soluções dos discentes para as tarefas 1, 2 e 3 .......... 139
6.4.2 Análise das ações de controle dos discentes durante as tarefas 1, 2 e
3 ............................................................................................................... 151
6.4.3 Análise das soluções dos discentes para as tarefas 4, 5 e 6 .......... 153
6.4.4 Análise das ações de controle dos discentes durante as tarefas 4, 5 e
6 ............................................................................................................... 168
6.5 A avaliação da Experiência Formativa .............................................. 173
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 184
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 188
APÊNDICE 1: PROVA PEDAGÓGICA ......................................................... 197
APÊNDICE 2: ELABORAÇÃO DO EBOCA DA TURMA .............................. 199
APÊNDICE 3: TAREFAS (PARTE 1) ............................................................ 200
APÊNDICE 4: TAREFAS (PARTE 2) ............................................................ 202
APÊNDICE 5: QUESTIONÁRIO FINAL ........................................................ 204
16
1 INTRODUÇÃO
A crescente facilidade e rapidez no acesso à informação propiciada pelo
aprimoramento científico e tecnológico obtido ao longo da história humana, faz
com que um modelo de educação focado no mero acúmulo de conhecimentos
seja obsoleto para formação de um indivíduo da sociedade contemporânea.
Nesse contexto, saber organizar os processos de aprendizagem de
maneira independente, consciente e reflexiva, isto é, aprender a aprender, é uma
competência essencial para um ser humano do século XXI preocupado com seu
constante desenvolvimento.
Dentre as condições que se fazem necessárias para aprender a aprender,
destacamos a autorregulação da aprendizagem enquanto processo de
autogerenciamento dos componentes afetivos e cognoscitivos da personalidade
de um indivíduo, que lhe possibilita estabelecer e atingir os objetivos das
atividades que realiza ao longo da vida.
Dada sua amplitude e caráter multifacetado debruçamos-nos, em
particular, sobre um componente da autorregulação da aprendizagem, aplicado
ao contexto da Educação Matemática: o controle na resolução de problemas
matemáticos.
1.1 Problematização
De maneira geral, a literatura científica tem apontado diferentes
dificuldades que envolvem o processo educativo, a formação da autorregulação
da aprendizagem e, especificamente, do controle na resolução de problemas
matemáticos.
Surgindo na década de 1980, a partir das buscas por elementos que
influenciam no desempenho escolar, as pesquisas sobre autorregulação da
aprendizagem (AA) aumentaram ao longo dos últimos anos (ROSÁRIO et al.,
2014; BARRIOS; URIBE, 2017).
Apesar desse indicativo de maior interesse dos investigadores pelo
estudo da autorregulação da aprendizagem na Educação, de maneira geral, a
escola ainda não tem preparado adequadamente seu aluno para que possa
regular sua aprendizagem. Segundo Freire (2009, p. 280):
17
Acontece, que muitas escolas têm encontrado dificuldades para reformularem as suas práticas educativas. Uma prova disso, pode ser uma certa ausência do conceito da auto-regulação da aprendizagem em muitos dos ambientes educativos. Quando não se integra esse conceito, traduzindo-o em uma prática emancipadora, ou seja, favorecedora do crescimento pessoal, pode-se afirmar que os alunos não são plenamente estimulados, suas potencialidades não são amplamente incentivadas, os currículos estão defasados, não atendem às novas exigências sociais [...].
Esse fato evidencia o desafio de superar a incompatibilidade entre um
modelo educacional ainda vigente e os anseios para formação de estudantes
que sejam capazes de aprender de forma autorregulada.
Do ponto de vista dos professores, a autorregulação da aprendizagem é
pouco trabalhada em sala de aula (ZIMMERMAN, 2002). Um dos fatores que
pode influenciar na ocorrência desse fato é a crença, mesmo que implícita, de
que a regulação é uma tarefa exclusiva do professor (CORTE; VERSCHAFFEL;
EYNDE, 2000).
Outro fator relevante é o despreparo dos professores em exercício da
profissão, no que se refere à formação da autorregulação da aprendizagem
(BORUCHOVITCH, 2014). Conforme Moss e Ringdal (2012, p. 4), “[...]
professores que são incapazes de autorregular sua aprendizagem e/ou não
possuem crenças pessoais de que os alunos podem se envolver em AA são
menos propensos a apoiar o desenvolvimento dessas capacidades na sala de
aula”.
Esse quadro acaba criando um círculo vicioso para a inserção desse
construto na escola em que o professor, por não vivenciar práticas que
estimulem a autorregulação de sua aprendizagem, ao tornar-se docente, seja
por não acreditar na relevância ou por desconhecimento, não incorpora em sua
atividade educativa a formação dessa habilidade.
No contexto da Educação Matemática, em particular, considerando uma
mudança de compreensão da Matemática, que deixa de ser vista, segundo
Corte, Verschaffel e Eynde (2000, p. 687), como “[...] uma coleção de conceitos
abstratos e habilidades processuais a serem dominadas, mas principalmente
como um conjunto de atividades de criação de sentido humano e resolução de
problemas com base em modelagem matemática da realidade”, a
18
autorregulação se coloca como uma importante condição para a resolução de
problemas.
Embora a autorregulação e a resolução de problemas sejam elementos
importantes para a aprendizagem em Matemática, pesquisas apontam que os
alunos demonstram pouco conhecimento sobre como aprendem durante
atividades de resolução de problemas (GARCÍA et al., 2016). Esses autores
apontam que é comum, entre os estudantes, equívocos como: prosseguimento
na resolução de problemas sem considerar outros caminhos; omissão de
cálculos; uso de tentativa e erro; enfoque em informações irrelevantes; falta de
revisão do processo de solução, entre outros. Além disso, alguns discentes não
compreendem a regulação da aprendizagem como algo relevante ou não
conseguem realizá-la sozinhos, necessitando de apoio externo para o controle.
Rico (2003) aponta ainda que um negligenciamento da atividade
orientadora, ao ser apresentada de maneira esfacelada e incompleta ou ainda
deixando-a a cargo exclusivo do professor, acaba não oferecendo aos
estudantes as condições necessárias e suficientes para desenvolvimento, em
particular, de ações de controle.
No processo de resolução de problemas matemáticos, em especial, esse
quadro desconsidera o papel do aluno na verificação e correção, sobre uma base
de orientação adequada, da execução da solução de uma situação-problema
enquanto via para a sua própria aprendizagem.
Endossando essa problemática da ação de controle, Núñez e Barros
(2019, p. 88) discutem sobre a desvalorização:
[...] da orientação que o estudante deve elaborar sobre a ação a ser realizada quanto à execução, o que exige uma análise adequada das condições e do plano de ação ou da representação da ação responsável por dirigir e regular sua realização de forma consciente. No processo de ensino e aprendizagem, no geral, pelo fato de os estudantes não terem clareza do objetivo de uma nova atividade que realizam para aprender, consequentemente executam as ações sem um prévio planejamento e não dispõem de critérios para o controle e regulação destas, ou seja, não aprendem a aprender.
Desse modo, a ausência de critérios essenciais e claros que permitam ao
estudante empreender ações de controle sobre sua aprendizagem, faz com que
esse momento possa ser totalmente desconsiderado ou realizado de forma tenra
durante o processo formativo do discente.
19
1.2 Justificativa
Apesar do quadro descrito até aqui, a autorregulação e o controle são
mecanismos fundamentais para a aprendizagem.
Um dos aspectos que endossa a relevância do desenvolvimento de
investigações acerca da autorregulação da aprendizagem (AA) é seu papel na
formação de um indivíduo que busca melhorar sua capacidade de aprender ao
longo da vida (ZIMMERMAN, 2002; MARTÍN, 2012). Isso indica que, diante da
necessidade de “[...] propiciar ao aluno maior autonomia e responsabilidade no
seu processo de aprendizagem, faz-se importante promover essas subfunções
do processo autorregulatório no contexto educativo” (POLYDORO; AZZI, 2009,
p. 78).
Esse fato corrobora com um dos consensos dos estudos sobre a AA, que
apontam para uma correlação entre a aprendizagem autorregulada e o bom
desempenho escolar (ZIMMERMAN, 2002; PAIVA; LORENÇO, 2012; MARTÍN,
2012; ROSÁRIO et al., 2014; BARRIOS; URIBE, 2017). Logo, pressupõe-se que
o êxito acadêmico também está relacionado à tomada de consciência do aluno
sobre como aprende, à sua capacidade de refletir e monitorar esse processo,
buscar ajuda quando necessário, etc.
Segundo Silva, Simão e Sá (2004), aprender a se regular auxilia o aluno
a melhor compreender o significado do que é estudado, permitindo o surgimento
de uma nova percepção do conteúdo e do ato de aprender.
Nesse sentido, o aprendiz precisa, conforme Montero (2003, p. 2), “[...] ser
ativo, empreendedor e verdadeiro protagonista da aprendizagem, alguém capaz
de participar na elaboração dos objetivos do mesmo, na determinação dos
procedimentos e meios para alcançá-lo, assim como na avaliação do processo
e seus resultados”.
Tendo em vista que a AA não se desenvolve de forma espontânea, os
professores exercem um papel fundamental para formação dessa habilidade em
seus alunos (ZIMMERMAN, 2002). Por conta disso, é de suma importância que
esse construto seja estudado no âmbito dos cursos de licenciatura.
Segundo Peerters et al. (2014), para que a autorregulação seja inserida
na prática profissional dos professores é fundamental que esses profissionais
20
pratiquem o que pregam, isto é, que sejam indivíduos que consigam regular sua
própria aprendizagem. Assim, sendo eles próprios aprendizes autorregulados,
poderão compreender melhor como desenvolver e promover esse construto em
seus discentes.
No que se refere à matemática, a autorregulação da aprendizagem pode
exercer, entre outros, um papel importante nas atividades de resolução de
problemas (FERNÁNDEZ, 2015; SANTOS, 2015; GARCÍA et al. 2016).
Primeiramente porque, conforme García et al. (2016), a resolução de
problemas envolve, além do domínio de conceitos e habilidades especificamente
matemáticas, outros componentes como: cognitivos, metacognitivos e
motivacionais; inseridos na autorregulação da aprendizagem.
Além disso, para Santos (2015, p. 127):
A autorregulação de aprendizagem constitui uma estratégia metacognitiva que tem o potencial de auxiliar os alunos a compreender e regular o processo de resolução de problemas e, consequentemente, torná-los mais competentes no desempenho dessa tarefa. Ademais, alunos que se tornam capazes de compreender e gerenciar esse processo, provavelmente serão capazes de atribuir sentido à sua aprendizagem, a desenvolver novas habilidades e estratégias e a problematizar o mundo que o cerca.
Por isso, a autora afirma que a AA representaria uma melhoria na
qualidade do ensino da resolução de problemas, agregando a essa habilidade
elementos que contribuem para o aprender a aprender.
No que se refere à ação de controle, um dos aspectos que justificam a
escolha da referida habilidade consiste em que o controle é um dos momentos
funcionais invariantes de qualquer atividade humana, sendo o responsável pelo
acompanhamento da execução da atividade e, quando necessário, da correção
conforme a orientação estabelecida (LEONTIEV, 1983). Desse modo, direcionar
o processo de ensino para o desenvolvimento do controle tem uma grande
potencialidade de transferência dessa aprendizagem para outras situações a
serem enfrentadas pelos estudantes.
Além do mais, a atenção, enquanto resultante do controle internalizado,
tem uma relação intrínseca com o ato de pensar. Para Galperin (1989c), quando
pensamos, além do conteúdo pensável, a psique também mobiliza as ações
mentais de modo a manter o foco do processo cognoscitivo nesse conteúdo.
21
Assim, tão importante quanto ensinar os alunos a pensar sobre um objeto
é permitir ao discente desenvolver, de forma planejada, a habilidade de manter-
se atento ao objeto do pensamento, do contrário, esse processo cognoscitivo
seria difuso.
Para González et al. (2001), a psique também realiza uma função
reguladora da atividade humana que não se dá de forma isolada, mas sim “[...]
com um certo nível de integridade, o que permite que o sujeito seja identificado
psicologicamente como tal e não apenas um ou outro fenômeno de sua psique”
(GONZÁLEZ et al., 2001, p. 46). Nesse sentido, o controle também é um
componente importante para o desenvolvimento da personalidade.
Outro aspecto importante sobre o controle da aprendizagem é que ele “[...]
permite ao estudante conhecer de forma consciente suas insuficiências e
trabalhar para sua eliminação, com o qual acerta gradualmente seus resultados
às exigências requeridas para cada tipo de tarefa” (RICO, 1998, p. 9). Em vista
disso, além de uma função de verificação, o controle também visa aperfeiçoar o
ato de aprender (GALPERIN, 1989c).
1.3 Antecedentes da investigação
Tendo em vista a relevância do tema, realizamos um levantamento das
pesquisas que se debruçaram sobre a problemática da autorregulação da
aprendizagem em matemática, com intuito de compreender os principais
avanços e lacunas em relação a essa questão.
Gonzalez-Moreno (2017) estudou, sob o aporte da Teoria de P. Ya.
Galperin, a formação da autorregulação da aprendizagem de conceitos
científicos com 28 estudantes universitários matriculados na disciplina de
Teorias Cognitivas de Aprendizagem.
Por meio de indicadores relacionados a categorias como: mediatização,
orientação, execução, verificação, reflexão e regulação; a autora observou
modificações na utilização dos conceitos científicos, partindo de um uso inicial
impreciso para um emprego de modo hierárquico e generalizado desses
conceitos. Ademais, a autorregulação propiciou à docente e aos discentes
características como a reflexão acerca da reformulação do pensamento sobre as
ações dos indivíduos e a criatividade presente nas ações verbais inovadoras
22
(GONZALEZ-MORENO, 2017).
Em Rico (1998), a investigadora estudou, por meio do conteúdo de
translação de triângulos, a formação das habilidades de controle e de avaliação
adotando como participantes 36 estudantes do quarto grau. A autora revela que,
a partir da qualidade dos argumentos utilizados pela maioria dos alunos, foi
possível notar maior êxito em suas ações de controle e de avaliação durante a
tarefa, evidenciando a ocorrência de uma atividade aprendizagem mais
consciente e eficaz.
Investigando as contribuições de um modelo geral de orientação para o
processo de controle e avaliação na resolução de problemas matemáticos com
21 alunos do quinto grau, Rico (2003) verificou uma correlação entre o domínio
das ações de controle e avaliação e o desempenho dos alunos na solução dos
problemas. Conforme a pesquisadora, a ação de controle permitiu a cada
estudante “[...] centrar-se não só no resultado, e sim no processo a seguir, [o
que] favoreceu a incorporação de um procedimento de análise superior ao
observado na etapa inicial de constatação, ademais, este atuava como elemento
motivacional”.
Seja através da proposição e validação de uma escala de autorregulação
da aprendizagem em Estatística (BARIZON, 2011) ou ainda pela investigação
da relação entre o nível de letramento estatístico e o desenvolvimento da
autorregulação da aprendizagem (MENDONÇA, 2012) ou ainda de estratégias
de memória empreendidas no âmbito do processo autorregulatório (CONTINI
NETO, 2012), ambas as pesquisas compreenderam a autorregulação como uma
resultante do uso das funções psicológicas superiores, que permite o
autogerenciamento de projetos ou estratégias (e seus respectivos avanços e
percalços) por meio da apropriação de determinados instrumentos culturais.
Por meio do ensino e aprendizagem de Matemática através da Resolução
de Problemas, Leal Júnior e Onuchic (2015) empreenderam uma experiência
educativa adotando uma perspectiva de resolução de problemas que,
simultaneamente, é vista como uma metodologia de ensino e como um campo
que permite um movimento de ação/reflexão/ação à luz dos estudos de L. S.
Vygotsky.
Na investigação de Peres (2009), o enfoque foi apresentar as
potencialidades de um Objeto de Aprendizagem (OA) usado na resolução de
23
problemas de máximos e mínimos por meio de conceitos geométricos para a
autorregulação da aprendizagem. Os resultados do estudo mostraram que a
utilização do OA pelos participantes estimulou a utilização de diferentes
estratégias de autorregulação.
Zocolloti (2010) investigou as contribuições de uma intervenção realizada
no âmbito de uma disciplina de Educação Matemática com enfoque o
desenvolvimento da autorregulação e da reflexão. Segundo o autor, na maioria
dos estudantes o estímulo a reflexão nas atividades propostas na pesquisa
possibilitou a autorregulação da aprendizagem.
Nos trabalhos de Pranke (2012) e Pranke e Frison (2015) são relatadas
as análises de oficinas de matemática desenvolvidas no âmbito de um Projeto
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) para verificar a promoção
da autorregulação da aprendizagem. Os resultados apresentados mostraram
que o Projeto “[...] parece ter possibilitado e estimulado nas bolsistas o
desenvolvimento de competências autorregulatórias, enriquecidas por um
processo reflexivo e formativo, presente na realização das oficinas de
matemática” (PRANKE, 2012, p. 108).
Desenvolvendo uma intervenção com enfoque no exercício da
autorregulação da aprendizagem, Fantinel (2015) investigou os impactos dessa
experiência de ensino no conhecimento pedagógico dos participantes
relacionado ao conteúdo de equação do segundo grau. Dentre os resultados
apresentados pelo estudo, a autora aponta que o ensino da autorregulação
possibilitou uma “[...] mudança significativa no conhecimento declarativo das
estratégias de aprendizagem e do conhecimento pedagógico do conteúdo
matemático do futuro professor” (FANTINEL, 2015, p.198).
Em Oliveira (2016), foi desenvolvida uma experiência de avaliação
formativa no âmbito de um ambiente virtual de aprendizagem e investigadas as
contribuições dessa proposta para a regulação e autorregulação da
aprendizagem dos estudantes participantes. Por meio do uso de diferentes
recursos tecnológicos (fóruns, software matemático, plataforma de mensagens
e chats de vídeo), o autor encontrou evidências de favorecimento da regulação
da autorregulação da aprendizagem dos participantes e de uma maior reflexão
desses a partir de práticas de autoavaliação.
24
As pesquisas relatadas apresentam em comum o uso de estratégias de
aprendizagem diversas e de subprocessos inerentes a autorregulação da
aprendizagem (como a metacognição e a reflexão, por exemplo) como um
caminho para melhoria da formação dos estudantes.
Considerando os aspectos discutidos e o objeto de estudo desta tese,
investigaremos o seguinte problema de pesquisa: Quais as contribuições de
uma Experiência Formativa fundamentada na Teoria de P. Ya. Galperin para
influenciar na reelaboração da orientação da ação de controle na resolução
de problemas matemáticos de estudantes de licenciatura? Integrado a esse
problema de investigação, apresentamos a tese a ser defendida e os objetivos
do estudo.
1.4 Tese
Uma Experiência Formativa fundamentada na Teoria de P. Ya. Galperin favorece
a reelaboração da orientação dos licenciandos para a ação de controle na
resolução de problemas matemáticos.
1.5 Objetivos
1.5.1 Objetivo geral
Estudar a influência de uma Experiência Formativa na reelaboração da
orientação da ação de controle na resolução de problemas matemáticos de
estudantes de licenciatura.
1.5.2 Objetivos específicos
1) Construir um Sistema Didático como estratégia para favorecer na
reelaboração da orientação da ação de controle na resolução de problemas
matemáticos pelos estudantes de licenciatura;
2) Caracterizar o nível de desenvolvimento inicial da ação de controle na
resolução de problemas matemáticos pelos licenciandos;
25
3) Desenvolver uma Experiência Formativa para influenciar na reelaboração da
orientação da ação de controle na resolução de problemas matemáticos de
licenciandos;
4) Avaliar as condições que favoreceram e as que dificultaram a influência na
reelaboração da orientação da ação de controle na resolução de problemas
matemáticos dos participantes a partir da Experiência Formativa;
5) Conhecer a avaliação dos participantes da Experiência Formativa na sua
formação profissional.
1.6 Estrutura da tese
Este trabalho será dividido em sete seções, das quais: uma de introdução;
duas de fundamentação teórica, no qual a primeira discute a formação do
controle da aprendizagem segundo a Teoria de P. Ya. Galperin e a segunda a
habilidade de resolver problemas matemáticos; uma de metodologia; duas de
resultados, uma focada na organização da Experiência Formativa e outra nos
resultados e discussões; por fim, a seção de considerações finais.
A presente seção de introdução realizou uma contextualização do objeto
de estudo, através da sua problematização, justificativa e trabalhos
antecedentes, culminando a seguir na apresentação do problema, da tese, dos
objetivos (geral e específicos) e desta apresentação da estrutura do trabalho.
Na seção dois, nomeada a habilidade de controle sob o aporte da
Teoria de formação planejada das ações mentais e dos conceitos, são
situadas as categorias centrais para compreensão do psiquismo humano,
aprendizagem e o controle, segundo os subsistemas (orientação, etapa de
formação das ações mentais e dos conceitos e indicadores qualitativos) que
compõem a Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos.
Discutindo acerca da habilidade resolver problemas matemáticos, a
seção três apresenta a resolução de problemas enquanto uma habilidade geral,
bem como as premissas sobre o tema adotadas pela pesquisa a partir da análise
26
das convergências entre diferentes definições de problema e orientações sobre
como resolvê-los.
A Metodologia será a quarta seção desta tese. Nessa parte do trabalho,
estão descritos o contexto e os participantes, a caracterização da pesquisa, seus
instrumentos e ainda os métodos empregados para organização e análise dos
dados.
A seção cinco do trabalho será denominado Organização da
Experiência Formativa. Em particular, apresentará o processo de elaboração
do Esquema da Base Orientadora Completa da Ação (EBOCA) de resolver
problemas matemáticos do professor e a estrutura de cada um dos momentos
desenvolvidos durante a pesquisa.
Resultados e discussões da Experiência Formativa correponde à
sexta seção do trabalho. Nela, serão apresentados os resultados e discussões
em função dos momentos de diagnóstico inicial, etapa motivacional, elaboração
do EBOCA da turma, controle na resolução de problemas e avaliação final da
Experiência Formativa.
A seção final consiste nas Considerações finais e discute as principais
conclusões oriundas dos resultados obtidos, uma discussão com enfoque na
comprovação da tese defendida pelo trabalho; e ainda as limitações da
investigação trabalhos e as possibilidades de novas pesquisas.
27
2 A HABILIDADE DE CONTROLE SOB O APORTE DA TEORIA DE
FORMAÇÃO PLANEJADA DAS AÇÕES MENTAIS E DOS CONCEITOS
Essa seção discute o processo de internalização da ação de controle da
atividade de aprendizagem como forma da atenção sob o aporte da Teoria de
Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos. Especificamente, será
constituída por cinco subseções.
O primeiro tópico traz a discussão das três categorias consideradas
essenciais para compreensão do psiquismo humano: atividade, consciência e
personalidade. Integrada esses pressupostos, a seguir será apresentada a
perspectiva da aprendizagem enquanto atividade, segundo a Teoria P. Ya.
Galperin, contextualizando-a para o processo formação da ação de controle.
Nos tópicos seguintes, realizou-se a explicação do processo de formação
do controle, em função dos subsistemas que compõem a Teoria de Formação
Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos, a saber: orientação, etapas de
assimilação e os indicadores qualitativos.
Piotr Yakovlevich Galperin (1902- 1988) foi contemporâneo dos
pesquisadores que formaram a troika da Psicologia da antiga União Soviética,
tendo contato com L. S. Vygotsky e trabalhando junto com A. Luria e com A. N.
Leontiev (NÚÑEZ; OLIVEIRA, 2012). Exercendo, a partir de 1943, a cátedra
de Psicologia Evolutiva e Pedagógica na Faculdade de Psicologia da
Universidade Estatal de Moscou, Galperin desenvolveu pesquisas acerca da
psicologia infantil (GALPERIN, 1979). No ano de 1953, durante sua palestra “Um
estudo experimental da formação das ações mentais”1, proferida durante uma
Conferência de Questões Psicológicas realizada em Moscou, Galperin
apresentou uma primeira sistematização de sua Teoria (GALPERIN, 1957).
Discutindo sobre a Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e
dos Conceitos, Talizina (1988, p. 137) afirmou que a referida teoria:
[...] surgiu e se desenvolveu não como teoria de aprendizagem. Em princípio, é a teoria de formação ontogênica da atividade psíquica. Porém, como a ontogenia do homem é, principalmente, o processo de assimilação da experiência acumulada pela humanidade, que sempre se realiza com a ajuda, em uma outra medida, de outras pessoas – ou
1 A referida palestra foi transcrita e publicada em Galperin (1957).
28
seja, como ensino, educação–, a teoria dada é, ao mesmo tempo, a teoria da assimilação, a teoria de aprendizagem.
Corroborando com esse entendimento, Fariñas (1999 p. 118) acredita que
o principal intuito de Galperin não consistiu em elaborar etapas para formações
das ações mentais e conceitos, mas “[...] esclarecer a sua inter-funcionalidade e
a gênese destas, que é de importância fundamental para a compreensão do
processo de aprendizagem e, portanto, do ensino”.
Desse modo, a Teoria de P. Ya. Galperin se constitui como um modelo
geral de explicação do processo de internalização da atividade externa em
atividade interna, dentro de uma relação dialética entre o desenvolvimento
ontogênico e filogênico do ser humano. E, de modo particular, aplicada a
atividade de aprendizagem, torna-se também uma teoria de ensino e de
aprendizagem.
Diante da necessidade de melhor situar a perspectiva de aprendizagem
adotada na presente tese no âmbito do arcabouço teórico utilizado, iniciaremos
a discussão com alguns elementos considerados fundamentais no contexto do
enfoque histórico-cultural.
2.1 Atividade, Consciência e Personalidade
Sendo a categoria central responsável tanto pelo desenvolvimento,
quanto pela manifestação das outras duas, iniciamos a subseção discutindo o
conceito de atividade, segundo Leontiev (1983).
Leontiev (1983, p. 66), define a atividade como “[...] uma unidade
molecular [...] da vida do sujeito corporal, material. Em um sentido mais restrito,
quer dizer, a nível psicológico, é a unidade de vida mediatizada pelo reflexo
psicológico, cuja função real consiste na orientação do sujeito no mundo
objetivo”. Nesse sentido, a atividade é a forma pela qual o homem se relaciona
com o mundo, que configura a vida humana enquanto um sistema de atividades
sucessivas.
Um dos aspectos importantes da atividade, segundo a perspectiva da
Teoria da Atividade, consiste na invariância de seus elementos estruturais e
momentos funcionais.
29
Em relação a sua estrutura, a atividade humana conserva os seguintes
elementos: sujeito, objeto, motivo, objetivo, produto, condições, meios, ação e
operação. Explicaremos a seguir cada um desses componentes.
Uma característica importante da atividade na perspectiva de Leontiev
(1983) é o seu caráter objetal. Ou seja, toda atividade de um determinado sujeito
está direcionada para um objeto. Nessa relação dialética entre sujeito e objeto,
enquanto o objeto se transforma de um ente independente na qual a atividade é
dirigida para uma imagem mental, o sujeito, ao internalizar a essência desse
objeto em sua psique, também é transformado.
Além disso, a atividade sempre é dirigida à satisfação de necessidades
do organismo vivo e se manifestam por meio dos motivos, que tem o papel de
estimular o sujeito a realizar a atividade. Essa busca por satisfazer-se faz com
que o indivíduo idealize os resultados a serem alcançados ao agir, isto é, o
objetivo. O resultado da atividade, que pode ser coincidente ou não com o
objetivo é nomeado produto.
A atividade depende ainda dos meios, ou seja, de instrumentos a serem
usados pelos sujeitos como apoio para realização da atividade e ainda das
condições, que são as situações postas aos indivíduos para empreendimento
da atividade.
Outro aspecto da atividade é que ela ocorre por meio da ação. Sendo a
ação “[...] um processo que se reflete na consciência do sujeito e se dirigido a
um objetivo concreto” (TALIZINA; SOLOVIEVA; QUINTANAR, 2010, p. 6), a
atividade pode se constituir por uma ou mais ações.
Por conservarem estruturas similares, a distinção entre a atividade e a
ação se dá em função do motivo e do objetivo. Enquanto na atividade, o estopim
principal que leva o sujeito a agir (motivo) coincide com a finalidade da relação
deste sobre o objeto (objetivo), na ação esses dois elementos não coincidem.
Do mesmo modo que a atividade é constituída por ações, estas, por sua
vez, se subdividem em operações, que correspondem “[...] às formas e métodos
pelas quais a ação se realiza” (LEONTIEV, 1983, p. 87).
Segundo Talizina, Solovieva e Quintanar (2010), as operações são
resultantes do processo de internalização paulatina de ações e distinguem-se
destas por seu caráter automatizado durante a execução.
30
Ademais, as operações que constituem uma ação estão correlacionadas
as condições impostas ao sujeito para a execução da ação. Assim sendo, uma
mudança nas condições pode acarretar em uma modificação no sistema
operacional da ação (LEONTIEV, 1983).
No que se refere à sua funcionalidade, a atividade humana possui três
momentos centrais, integrados por meio de um processo cíclico. São eles: a
orientação, a execução e o controle.
A orientação se refere a representação mental que permite planejar,
antever e dirigir como a atividade de aprendizagem será executada e controlada.
Já a execução é o momento em que o processo de aprendizagem é colocado
em prática segundo a orientação, sendo ainda um objeto de regulação. Por fim,
o controle consiste na verificação da qualidade da execução durante e ao final
da atividade e, quando necessário, nos ajustes da execução da aprendizagem e
de sua orientação.
O desenvolvimento da atividade pelo ser humano traz consigo
importantes modificações em sua psique. Ao subdividir determina atividade a ser
realizada coletivamente em ações, por exemplo, cada indivíduo que irá
empreendê-las necessita de um tipo de reflexo psíquico peculiar, que o
possibilite agir voltado a um objetivo específico, sem que esse coincida com o
motivo que o levou ao movimento (LEONTIEV, 1983).
Nesse momento, a psique passa a possuir um reflexo subjetivo da
realidade objetiva denominado consciência. A consciência consiste no nível
mais avançado do desenvolvimento da psique humana, que surge por meio do
trabalho e da linguagem (LEONTIEV, 1983).
Atividade e a psique humana formam uma unidade dialética na qual,
enquanto a primeira se constitui como a substância da segunda (DAVIDOV,
1986), enquanto esta última funciona como mediatizadora e reguladora daquela
(LEONTIEV, 1983).
Discorrendo sobre algumas características da consciência, Petrovski
(1986) afirma que ela congrega todos os conhecimentos do sujeito sobre o
mundo circundante e, por meio de processos cognoscitivos inerentes a psique
(sensações, memória, percepção, pensamento, imaginação), o indivíduo pode
enriquecer e aprofundar seus conhecimentos.
31
Outra características da consciência consiste na clara diferenciação pelo
indivíduo do “eu” e “não eu”. É uma peculiaridade da espécie humana a
capacidade de direcionar a atividade mental para si, podendo assim analisar e
autoavaliar suas ações (PETROVSKI, 1986).
Além disso, por meio da consciência é que se torna possível direcionar a
atividade humana para um fim específico. Conforme Petrovski (1986), uma das
funções da consciência é a elaboração dos objetivos das ações do sujeito, que
leva em conta para sua constituição os motivos, a vontade, os meios disponíveis,
entre outros.
Por fim, a consciência possibilita que o indivíduo se relacione consigo e
com a realidade. Petrovski (1986, p. 44) afirma que a consciência inclui “[...] o
mundo dos sentimentos no qual se refletem as relações objetivas complexas e,
antes de tudo, sociais das quais estão incluído o homem”.
Dentre os componentes da estrutura interna da consciência, Leontiev
(1983) menciona: os conteúdos sensíveis, os significados e os sentidos.
Formado por sensações, imagens de percepção e representações, os conteúdos
sensíveis enriquecem o reflexo psíquico do indivíduo acerca do mundo em que
vive. Em relação aos significados e os sentidos é a relação entre eles que forma
o cerne da consciência humana.
Segundo Leontiev (1983), o significado enquanto generalização de um
elemento da realidade fixado na palavra, reflete um sistema de significações
construído ao longo da história humana e integra a “consciência social” a ser
apropriada pelo sujeito.
Como o significado de algo independe da relação que o indivíduo tem com
ele, ao ser apropriado, o significado adquire parcialidade e forma o sentido
pessoal. De caráter subjetivo, o sentido reproduz a relação entre sujeito e
fenômenos objetivos conscientes.
Dada a importância da relação significado e sentido, a consciência é
essencialmente linguística. Em outras palavras, a linguagem é uma condição
para a formação e expressão da consciência.
A consciência enquanto estágio superior da psique se coloca, dentre
outras coisas, como uma condição necessária para o desenvolvimento da
individualidade do sujeito em sua máxima expressão. Com enfoque em melhor
32
compreender esse aspecto, passamos a discutir sobre a categoria
personalidade.
Para Leontiev (1983, p. 144), a personalidade “[...] é um produto
relativamente avançado do desenvolvimento histórico-social e ontogênico do
homem”. Como tal, ela é o resultado da maturação biológica do indivíduo
influenciada pelas relações sociais que este vivencia por meio da atividade.
Por ser condicionada pelo aspecto histórico-cultural da sociedade, a
personalidade não é inata. Para González et al. (2001), somente por meio da
atividade, de forma consciente e em comunicação com outros sujeitos, que o
indivíduo desenvolve sua personalidade.
Desde o início da vida, ao se inserir em uma sociedade, o ser humano
está imerso em um sistema de relações sociais. Somente através da sua
personalidade que o sujeito adquire condições não só para se adaptar ao meio,
mas ainda de agir ativamente, transformando e sendo transformado
constantemente (PETROVSKI, 1986).
Outra característica da personalidade diz respeito a sua singularidade.
Como ela forma-se e manifesta-se no conjunto de atividades que o indivíduo
empreende durante a vida, cada sujeito, além de desempenhar um conjunto
particular de atividades, desencadeiam-nas a partir de necessidades,
motivações, desejos, etc. únicos. Decorre desse fato o desenvolvimento de uma
personalidade original, como uma “digital” que se desenvolve socialmente.
Embora o ser humano possa desempenhar diferentes funções nas
atividades em que realiza, manifestando assim ora uns, ora outros aspectos de
sua personalidade, há sempre um conjunto de elementos invariantes. Para
Petrovski (1986), este aspecto associa-se com a relativa estabilidade nas
relações sociais sobre as quais o ser humano é partícipe. Dessa característica,
sobrevêm o caráter relativamente estável da personalidade.
Vygotsky (1995) ressalta ainda a compreensão da personalidade
enquanto um sistema psíquico que integra e relaciona de forma indissolúvel
todos os componentes do psiquismo humano.
Essa integração entre as qualidades da psique possibilita que a
personalidade exerça uma função reguladora superior sobre atividade humana
(GONZÁLEZ et al., 2001). Segundo Petrovski (1986), essa característica é o que
33
permite ao ser humano, ao empreender uma avaliação de si tomando seus pares
como referência, realizar uma autorregulação de sua atividade.
A função reguladora da personalidade possui duas esferas, são elas: a
regulação indutora, que reúne todos elementos afetivos-volitivos; e a regulação
executora, que diz respeito ao rol de elementos cognoscitivos-instrumentais.
Dissertando sobre a distinção dessas duas esferas da regulação, González et
al. (2001, p. 58) explicam que:
A regulação indutora inclui predominantemente todos os fenômenos psíquicos que incitam, impulsionam, dirigem e orientam, assim como os que sustentam as ações do indivíduo, tais como as necessidades, os motivos, as emoções e os sentimentos, entre outros, que compõem a esfera afetivo da psique. À regulação executora pertencem predominantemente todos os fenômenos psíquicos que possibilitam levar em consideração as condições em que transcorrem a atuação do indivíduo, ou seja, fenômenos tais como sensações, percepções, pensamentos, habilidades e hábitos, entre outros, aqueles que constituem a esfera cognitiva da psique.
Decorre dessa inter-relação entre a dimensão indutora e a executora da
personalidade, o princípio da unidade dialética entre os aspectos afetivos e
cognoscitivos, uma das premissas fundamentais para uma Educação à luz do
Enfoque Histórico-Cultural.
Como já mencionado, consciência e personalidade adotam a atividade
como sua unidade formadora. Por outro lado, a atividade se coloca como o meio
sobre o qual a consciência e a personalidade se expressam. Isso implica em
uma interconexão entre as três categorias enquanto estruturantes para
entendimento do psiquismo humano.
Situando essas categorias no contexto educativo, à luz do Enfoque
Histórico-Cultural, temos que um dos objetivos da Educação consiste no
desenvolvimento integral dos estudantes. Dito de outro modo, o processo de
aprendizagem deve se constituir como uma atividade consciente do sujeito,
visando o desenvolvimento de sua personalidade. Tendo em vista essa
compreensão, passamos a discutir sobre a aprendizagem, relacionando-a com
a ação controle.
34
2.2 A aprendizagem e o controle do estudante segundo P. Ya. Galperin
A aprendizagem é compreendida por Galperin (2001c, p. 85) como “[...]
toda atividade cujo resultado é a formação de novos conhecimentos e
habilidades em quem a executa, a incorporação de novas qualidades aos
conhecimentos e habilidades que já se possuem”. Em outras palavras, a
internalização de novas qualidades para a psique indica que aprender consiste
num processo de reelaboração da orientação do sujeito.
Endossando essa perspectiva, Núñez e Barros (2019, p. 91) afirmam que
ao aprender, o discente “[...] apropria-se de novas ações (ou atualiza as que já
domina), as quais lhe permitem a assimilação de novos conhecimentos e, dessa
forma, elabora e reestrutura as representações mentais, como orientação, das
novas situações/tarefas a serem resolvidas”.
Essa reestruturação da orientação, constituída a partir da relação entre os
conteúdos novos e os já preexistentes nas representações mentais do indivíduo,
estabelece conexões não apenas no âmbito da dimensão cognoscitiva, mas
também na dimensão afetiva. Segundo Rico (2003, p. 10):
[...] aprendizagem implica na personalidade como um todo integrado que é, portanto, resultado de um processo complexo, cujas derivações vão além dos aspectos cognitivos e intelectuais, incidindo de forma particular no ser humano, quer dizer, na pessoa, seus sentimentos, valores, aspirações, é aqui que o professor tem velar por produzir um processo no qual seus significados e os dos alunos encontrem pontos de convergência para serem compartilhados, do contrário, poderia produzir-se um processo formal que por falta de uma comunicação sem sentido para o aluno, estaria inibindo o desenvolvimento.
Desse modo, a aprendizagem no âmbito escolar se constitui como “[...]
um processo consciente, ativo, reflexivo, regulado, de apropriação da cultura
pelo estudante, sob mediação pedagógica e interações sociais, no que se
consideram todos os componentes da personalidade integral (cognitivos e
afetivos) dos estudantes” (NÚÑEZ; RAMALHO; OLIVEIRA, 2018, p. 23).
Esses entendimentos coadunam com a discussão proposta por Vygotsky
(1995) acerca da relação entre aprendizagem e o desenvolvimento intelectual.
Para Vygotsky (1995, p. 141), o desenvolvimento é:
[...] um complexo processo dialético que se distingue por uma complicada periodicidade, a desproporcionalidade no desenvolvimento
35
das diversas funções, a metamorfose ou transformação qualitativa de umas formas em outras, um entrelaçamento complexo de processos evolutivos e involutivos, o complexo cruzamento de fatores externos e internos, um complexo processo de superação de dificuldades e de adaptação.
Esse processo social se dá por meio da apropriação de parte da cultura
humana pelo indivíduo e é impulsionado pela aprendizagem. Ainda conforme o
autor, uma condição necessária para o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores é uma organização adequada da aprendizagem.
Nesse sentido, as instituições de ensino (como escolas, universidades,
etc.) adquirem um papel relevante para o desenvolvimento dos indivíduos, visto
que são espaços formativos que possibilitam atividades de aprendizagem
sistematizadas a partir de um rol de conhecimentos e habilidades advindos das
diferentes áreas científicas.
No âmago dessa discussão sobre a relação aprendizagem-
desenvolvimento, Vygotsky (1995) elabora o conceito de Zona de
Desenvolvimento Próximo (ZDP)2. Para o autor, a ZDP é a diferença entre o
conjunto de atividades das quais o sujeito consegue empreender sozinho (que
se configuram como seu nível de desenvolvimento real) e aquelas atividades que
o indivíduo consegue realizar, mas apenas com a mediação de outra pessoa.
Em termos galperianos, o conteúdo da orientação já internalizada pelo sujeito
corresponde ao seu nível de desenvolvimento real, enquanto que a orientação
em vias de assimilação, realizada sob mediação social, está situada na Zona de
Desenvolvimento Próximo.
Essa metáfora empregada por Vygotsky (1995) faz alusão ao potencial de
desenvolvimento do ser humano, “[...] graças a ação transformadora do sujeito
sobre a realidade em conjunção com a orientação cultural que recebe dos outros
[...] (FARIÑAS, 2009, p. 5). Esse potencial, que se consolida a partir de um
movimento dialético entre aprendizagem e desenvolvimento (RICO, 2003), é
uma condição necessária para a formação da personalidade.
2 Embora, no Brasil, a ZDP seja mais conhecida como Zona de Desenvolvimento Proximal, optamos pelo uso do adjetivo “próximo” por uma questão de adequação semântica ao significado original desse conceito vygotskyano. Enquanto “proximal” qualifica o substantivo “zona”, o termo “próximo” faz alusão a um aspecto da palavra “desenvolvimento”. Em outras palavras, segundo a proposta de Vygotsky (1995), a ZDP se refere ao desenvolvimento que está próximo, iminente; não a uma zona proximal.
36
Somente a partir da identificação desses dois níveis de desenvolvimento
é que o docente terá informações para elaboração de um Sistema Didático que
atue sobre a ZDP, a fim de que a atividade idealizada e materializada por meio
desse sistema seja internalizada e o nível de desenvolvimento dos estudantes
seja elevado quantitativamente e qualitativamente.
Para Talizina (2009), o entendimento da aprendizagem como uma
atividade pressupõe uma mudança na compreensão acerca da relação entre as
ações e os conceitos.
Apresentando algumas distinções e a forma com a qual as ações e os
conceitos se relacionam no contexto da aprendizagem escolar, Galperin
(1989b, p. 66) afirma que:
[...] uma ação é um processo, e um conceito é algo estático; uma ação é direcionada a um objeto que é revelado para percepção, imaginação, concepção, etc. [...] O próprio conceito é algo que orienta o sujeito na realização de uma ação; é o componente do parte orientadora dessa ação. Assim, a pedra angular de todo o conteúdo diverso que aprendemos na escola e na vida prática é a ação; novas ideias e conceitos sobre as coisas com as quais essas ações são realizadas são formados com elas e como resultado delas, isto é, secundariamente.
Desse modo, um dos objetivos da atividade de aprendizagem deve ser a
formação de ações mentais que são, simultaneamente, uma das vias de
formação e os meios de colocar os conceitos em prática.
Um aspecto importante que envolve as ações mentais consiste em que,
ao serem internalizadas, elas se convertem em habilidades (GALPERIN;
ZAPORÓZHETS; ELKONIN, 1987).
Discutindo sobre o conceito de habilidade no âmbito do Enfoque
Histórico-Cultural, Núñez, Ramalho e Oliveira (2018, p. 28) afirmam que:
[...] as habilidades constituem elementos psicológicos estruturais da personalidade, vinculados à sua função reguladora-executora. Elas se formam, se desenvolvem e se expressam na atividade em estreita união com os elementos indutores da personalidade (motivos, valores, atitudes) e da comunicação. A habilidade é um tipo de atividade cognoscitiva, prática e valorativa, que coloca o conhecimento teórico em ação.
Assim, considerando que o saber está intrinsecamente relacionado ao
saber-fazer, Talizina (2000, p. 19), afirma que “[...] saber sempre significa saber
37
realizar uma ou outra atividade ou as ações relacionadas com elas”. Isso implica
em compreender o conhecimento e a habilidade não como entes isolados, mas
como uma unidade dialética.
Esse processo de domínio da ação mental, convertida em habilidade,
indica que o aprendiz consegue, de forma consciente “[...] explicar o que faz e
por que o faz dessa maneira e não de outra, estimar os resultados esperados e
compará-los com os objetivos para fazer as correções quando for necessário
(NÚÑEZ; RAMALHO; OLIVEIRA, 2018, p. 28).
Além disso, implica em olhar os desafios da difusão de conhecimentos e
da formação de habilidades para utilizá-los como um problema único para o
professor: organizar a atividade de aprendizagem considerando de forma
integrada os conhecimentos a serem apropriados e os modos idealizados de
colocá-los em ação (TALIZINA, 2000).
À medida que, durante o momento de execução, as habilidades vão se
automatizando, elas se tornam hábitos. Para Petrovski (1986, p. 155):
O hábito surge como ação conscientemente automatizada. Funciona como meio automatizado de execução de uma ação. Seu papel consiste em liberar a consciência do controle sobre a execução dos meios da ação e sua comutação para os objetivos e condições da ação.
No âmbito dessa compreensão relativa às habilidades e aos hábitos, a
atividade de aprendizagem é direcionada a formação de hábitos enquanto
elementos integrantes da personalidade dos estudantes.
Dentre as ações mentais que constituem o pensamento humano,
passamos a discutir a ação de controle. Conforme Galperin (1989c), o controle
interno consiste na habilidade de ser atento.
Segundo o autor, o pensamento forma-se no duo entre seu conteúdo
pensável e pela ação que direciona os processos mentais do indivíduo para agir
sobre esse conteúdo (GALPERIN, 1989a, 1989c). A partir desse entendimento,
ação mental principal e seu respectivo controle, embora independentes, se
assimilam de maneira integrada, por meio de etapas.
Para Luria (1981), a atenção se refere aos aspectos diretivo e seletivo
relacionado a atividade mental. Petrovski (1986, p. 170) define a atenção como
um processo cognoscitivo de “[...] inclinação e concentração da psique
38
(consciência) em determinados objetos que supõem uma elevação do nível da
atividade [...]”. Enquanto a inclinação se refere a seleção e a manutenção da
atenção por certo tempo, de forma voluntária ou não, de quais objetos a atividade
do sujeito será direcionada; a concentração indica o não desvio da atenção e o
impedimento que outras atividades “concorrentes” sejam postas em ação pelo
indivíduo.
Segundo Vygotsky (1995), o desenvolvimento da atenção se dá no
decorrer do desenvolvimento histórico da conduta humana organizada em
consonância com a maturação das funções biológicas do indivíduo. A partir do
contato do sujeito com seus pares e com a cultura, a atenção passa por um
desenvolvimento cultural. Conforme Vygotsky (1995, p. 149):
O desenvolvimento cultural de qualquer função, incluída a atenção, consiste em que o ser social no processo de sua vida e atividade elabora uma série de estímulos e signos artificiais. Graças a eles se orienta a conduta social da personalidade; os estímulos e signos assim formados se convertem no meio fundamental que permite o indivíduo dominar seus próprios processos de comportamento.
Nesse sentido, o desenvolvimento natural e o desenvolvimento cultural da
atenção se constituem, respectivamente, como processos primitivos (ou
naturais) e artificiais. Estes últimos, reúnem a cultura e a linguagem (em
particular) como importantes mediatizadores na formação dessa atividade
cognoscitiva.
A partir desses dois tipos de processos desenvolvimentais da atenção,
podemos diferenciá-la em função da dependência ou não do surgimento dessa
habilidade em relação ao objeto da atividade. Os tipos principais de atenção são:
a atenção involuntária e a atenção voluntária.
Notada ainda nos primeiros anos de vida do ser humano, a atenção
involuntária está relacionada a existência de estímulos sobressalentes ou de
grande significado biológico (LURIA, 1981). Nesse tipo de atenção, há uma
relação de dependência entre a ação e alguma característica do objeto que
chame a atenção do sujeito. Como não há um plano pré-definido nesse caso, os
próprios aspectos do objeto são usados para verificação da ação (GALPERIN,
1989c).
Por outro lado, na atenção voluntária, conforme Galperin (1989a, 1989c),
39
o direcionamento da atenção não depende de algum aspecto chamativo do
objeto; mas da decisão do sujeito de agir de forma atenta sobre aquele objeto.
Nesse sentido, a ação do indivíduo segue um plano previamente determinado,
que contém critérios e formas que permitem a verificação da ação.
Endossando o entendimento da atenção voluntária enquanto produto da
ação social, Luria (1981, p. 228) afirma que esse estado de desenvolvimento da
atenção pode ser entendido como resultante “[...] não da maturação biológica do
organismo, mas, sim, de formas de atividade criadas na criança durante as suas
relações com os adultos, na organização desta complexa regulação da atividade
mental seletiva”.
Convém destacar que, embora possam ser distinguidos, os tipos de
atenção supracitados não são mutualmente excludentes, pois estão em
constante inter-relação durante a atividade do sujeito.
Na atividade de aprendizagem, Talizina (1988, 2000, 2009) aponta para a
possibilidade de três tipos de controle: o controle inicial, que busca evidenciar
antes de iniciar o processo educativo o nível de desenvolvimento atual dos
discentes acerca do conteúdo; o controle corrente, que tem como função
principal apresentar um feedback contínuo ao professor sobre o processo de
assimilação de cada estudante; e o controle final, que visa aferir o nível de
desenvolvimento do aluno, após o processo educativo.
Assim como qualquer ação, o controle interno, enquanto forma de atenção
voluntária, pode ser aprendida de forma planejada, tendo a Teoria de P. Ya.
Galperin como um possível arcabouço teórico explicativo.
Essa aprendizagem ocorre, no entendimento de Galperin (1989b, p. 67),
partindo de algumas condições gerais. São elas:
(1) condições para a formação da estrutura correta de ações e conceitos; (2) condições para o desenvolvimento (‘refinando através da prática’) suas propriedades desejadas; (3) condições para a transferência de ações para o plano mental (com retenção das propriedades que já foram aprendidas e com a aquisição de propriedades novas e particulares, psicologicamente importantes).
O autor acrescenta ainda que uma quarta condição, específica do
professor, que se constitui com uma combinação ideal das três condições
anteriores.
40
Dessas condições derivam os subsistemas da Teoria de Formação
Planejada das Ações Mentais, são eles: subsistema da orientação, subsistema
das etapas de formação das ações mentais e dos conceitos e subsistema dos
indicadores qualitativos. Além disso, a combinação idealizada desses
subsistemas corresponde a quarta condição mencionada por Galperin (1989b),
que se materializa no Sistema Didático planejado pelo professor.
Destarte, passamos a discutir nas próximas subseções como se dá a
formação do controle, apresentando cada um dos subsistemas da Teoria de
Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos e aplicando-os à
formação da referida ação.
2.3 A orientação da ação de controle
Como já mencionado, a orientação consiste numa forma de
representação mental que possibilita ao sujeito planejar, antever, dirigir e
controlar suas ações. Ela se refere a compreensão que o indivíduo tem acerca
de uma determina ação (NÚÑEZ; BARROS, 2019).
Tratando da relevância da orientação, Galperin (1992, p. 78) afirma que
“[...] a função vital da mente consiste em seu comportamento orientador,
baseado na reflexão mental de uma situação problemática”. Ela é acionada
quando o indivíduo se coloca em uma situação que exige dele uma nova
representação e sente necessidade ou desejo de satisfazê-la (NÚÑEZ;
RAMALHO; OLIVEIRA, 2018).
Por conta disso e em função de sua influência sobre os demais momentos
funcionais da atividade humana (execução e controle), a orientação ocupa um
lugar de destaque como objeto da psicologia (GALPERIN, 1979; TALIZINA,
1988, 2000, 2009). Segundo Galperin (1979, p. 81):
A atividade orientadora se dá quando um sujeito realiza um exame da situação nova, confirma ou não o significado racional ou funcional dos objetos, prova e modifica a ação, traça um novo caminho e mais adiante, durante o processo de realização, leva a cabo um controle da ação de acordo com as modificações previamente estabelecidas.
Isso indica que, a orientação do sujeito norteia a execução de sua ação
em uma determinada situação e ainda coloca-se como o referencial para o
41
controle dessa ação. Além disso, a orientação está direcionada para a
construção racional e adequada da ação e para a seleção de uma das formas
possíveis (TALIZINA, 2009).
Discutindo a relevância da orientação, Lopéz (2002, p. 104) menciona
que:
O valor fundamental da etapa de orientação é que ele garante o entendimento da criança sobre o que ele fará, antes de iniciar sua execução. Como o aluno sabe, não apenas o que ele fará, o produto que obterá, mas também como proceder, quais materiais e instrumentos usar e quais ações e operações executar e a ordem de sua execução, maior será a qualidade da execução e o produto obtido.
Esse valor conferido à orientação a coloca como um momento aglutinador
dos conteúdos de aprendizagem que, ao serem internalizados, ficam disponíveis
para a atividade orientadora do indivíduo.
No que se refere a orientação para a ação de controle, a orientação
pressupõe a existência de uma imagem pela qual ela possa ser controlada. Esse
controle ocorre por meio do comparativo entre a imagem idealizada e a execução
da atividade (GALPERIN, 1989c). Assim, o controle, além de uma função de
verificação da execução segundo a orientação dada, também visa o
aperfeiçoamento da atividade de aprendizagem.
Segundo a Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e dos
Conceitos, a orientação do indivíduo se dá por meio da Base Orientadora da
Ação (BOA), que consiste na “[...] representação antecipada da tarefa, assim
como o sistema de orientadores, que são necessários para seu cumprimento,
formam o plano da futura ação, a base para sua direção” (GALPERIN, 2001a, p.
46). Esse entendimento parte da premissa de que toda a ação humana é
precedida por uma base orientadora, determinante para sua qualidade
(GALPERIN, 1989a).
Essa imagem antecipada fornece, ainda antes da execução da ação, o
conjunto de condições nas quais o indivíduo se apoiará durante sua realização
e acompanhamento (TALIZINA, 1988, 2000, 2009).
Para Núñez, Ramalho e Oliveira (2018, p. 41), a BOA se constitui como
um esquema conceitual-operativo, que contém:
42
a) o conteúdo objeto de assimilação; b) a representação do produto final da ação e sua qualidade; c) a representação da ordem das ações e das operações que devem ser realizadas; e d) os modos de controle da ação
Esse conjunto de elementos, fornece os subsídios necessários para que
o indivíduo possa executar e controlar sua ação, segundo um objetivo definido
previamente.
Além disso, uma Base Orientadora da Ação adequada se constitui,
quando internalizada, como uma ação do pensamento; e ainda permite que o
sujeito se utilize dela enquanto orientação para outras atividades que estejam
dentro dos limites da BOA (GALPERIN; TALIZINA, 1965).
O processo reelaboração e internalização da Base Orientadora da Ação,
de forma consciente corresponde, à luz da Teoria de Formação Planejada das
Ações Mentais e dos Conceitos, à aprendizagem (NÚÑEZ; RAMALHO;
OLIVEIRA, 2018).
No que diz respeito a ação de controle, este é realizado como parte
integrante BOA (modelo de controle). Inicialmente, a BOA e o seu modelo de
controle assumem uma forma materializada para a posteriori serem
internalizados pelo indivíduo.
Conforme Galperin (1989c), o uso de uma imagem antecipada da ação
(isto é, da BOA) evidencia duas importantes características da atenção: seu
caráter seletivo e benéfico sobre a atividade à qual está associada.
Ao internalizar a BOA, o indivíduo internaliza também seu controle, o que
o possibilita a ser capaz de lidar com independência com a execução do seu ato
de aprender a partir do sistema de condições pré-estabelecido; e monitorar sua
aprendizagem segundo o produto idealizado.
A Base Orientadora da Ação, possui variações em suas propriedades que
são classificadas em função: de sua generalidade, podendo ser particular
(orienta um único caso) ou geral (orienta uma classe de objetos); de sua
completude, divididas em completa (sistema de condições é completamente
explicitado) ou incompleta (sistema de condições não é completamente
explicitado); e do modo de obtenção, sendo ou preparada (quando é dada pronta
ao sujeito) ou independente (quando é elaborada pelo próprio sujeito). A partir
43
dessas propriedades, as BOA podem ser de oito tipos, sintetizadas no Quadro
1:
Quadro 1 - Tipos de Bases Orientadoras da Ação
TIPO DE BOA PROPRIEDADES
Generalidade Completude Modo de obtenção
I Particular Incompleta Independente II Particular Completa Preparada III Geral Completa Independente IV Geral Completa Preparada V Geral Incompleta Preparada VI Geral Incompleta Independente VII Particular Completa Independente VIII Particular Incompleta Preparada
Fonte: Adaptado de Talizina (2009, p. 179).
Dada essa variabilidade em suas características (generalidade, modo de
obtenção e completude), cada Base Orientadora da Ação determina um tipo de
formação e qualidade na ação. Dentre as bases descritas no Quadro 1, Galperin
(2001b) aponta os três primeiros tipos de BOA como os principais. Descrevemos
em seguida cada um deles.
Na BOA do tipo I, as condições que constituem a orientação não são
explicitadas de modo suficiente, o que ocasiona uma execução da ação por meio
de tentativa e erro. Apesar de ser obtida pelo próprio sujeito, dada a natureza
limitada da orientação da ação sobre um único objeto, torna o processo de
assimilação lento, visto que, para cada tipo de objeto de uma mesma classe,
será necessária uma nova Base de Orientadora da Ação.
Galperin (1992) apresenta algumas características para um processo de
aprendizagem subsidiado pela BOA I, tais como: ausência de uma sequência de
ações e operações corretas desde o início, ocasionando uma gradual seleção,
no decorrer do processo dos conteúdos apropriados; interconexão gradual entre
os conteúdos; generalização dos conteúdos de forma paulatina; avaliação da
ação somente a partir de seu produto, pois o aprendiz não tem consciência do
próprio processo.
Já na Base Orientadora da Ação II, o sistema de condições é mostrado
e dado pronto (na atividade de aprendizagem escolar, normalmente pelo
professor), o que contribui para uma execução correta da ação. Contudo,
44
permanece a limitação da orientação particularizada a cada tipo de objeto de
uma mesma classe, como na BOA I, dificultando a transferência de
aprendizagem para situações que não tenham sido vivenciadas pelo sujeito.
Dadas as condições completas e prontas desde o início, Galperin (1992)
diz que a aprendizagem via tentativa e erro pode se tornar mais escassa, visto
que todas as ações e operações corretas estão disponíveis ao aprendiz. Além
disso, o processo de aprendizagem passa pelas etapas de formação das ações
mentais e dos conceitos de forma mais rápida e reduzida.
Contudo, a cada novo tipo específico de situação, faz-se necessário
estruturar uma nova Base Orientadora da Ação, o que dificulta a integração entre
diferentes conteúdos e dificulta a assimilação de todas as orientações na
memória.
Além disso, o fato de ser entregue de forma pronta pelo professor pode
gerar uma incompatibilidade entre os significados apresentados na orientação e
os sentidos dos discentes em relação ao conteúdo estudado. Como
consequência, em virtude da incompreensão ou mesmo discordância podem
surgir dificuldades de aplicação da orientação nas situações.
O tipo III da BOA é obtida pelo sujeito da aprendizagem de forma
independente, podendo ter a mediação do professor. Além disso, a orientação
se norteia nas características necessárias e suficientes que definem uma classe
de objetos, permitindo que a execução de ações de diferentes objetos
particulares, que estejam dentro dos limites de generalização dessa classe, seja
realizada sobre uma única BOA. Isso permite que a orientação se dê com maior
facilidade e a execução gradativamente se torne mais rápida.
Segundo Galperin (1992), a aprendizagem resultante da utilização de uma
orientação do tipo III apresenta uma influência no desenvolvimento intelectual
dos estudantes, pois é direcionada para apropriação de um método geral do
pensamento que possibilita ao aprendiz orientar-se apropriadamente frente a
uma situação, mesmo que não disponha de todos os meios.
Comentando sobre um dos benefícios da Base de Orientadora da Ação III
em relação aos outros tipos, Galperin (2001b, p. 44) afirma que ela promove
uma:
45
[...] mudança essencial do processo e do produto da aprendizagem. Diferenciando individualmente a base orientadora da ação, o sujeito a segue ativamente e a organização externa da ação se faz desnecessária. Aqui a ação se executa desde o primeiro momento corretamente e sua assimilação posterior transcorre também sem erros.
Ter acesso a orientação completa desde o início da atividade de
aprendizagem possibilita que não seja preciso haver uma mudança no conteúdo
da orientação durante esse processo, mas apenas em sua forma, inicialmente
material/materializada, passando pela linguagem externa e culminando na forma
mental.
Ademais, por ser geral, direciona-se à essência invariante de uma
diversidade de fenômenos que comungam da mesma orientação. Assim,
conforme Talizina (1988), a BOA tipo III possibilita a formação do pensamento
teórico, entendido por Davydov (1986, p.127) como “[...] o processo de
idealização de um dos aspectos da atividade objetal-prática, a reprodução, nela,
das formas universais das coisas”.
Para Fariñas (2019, p. 290-291), a Base Orientadora da Ação do tipo III
tem duplo valor:
Primeiro: porque aprofunda o conhecimento da unidade dialética entre aprendizado-desenvolvimento; Segundo: porque, ao mesmo tempo, constitui uma alternativa eficaz para a direção do aprendizado, voltada ao desenvolvimento de pensamentos complexos e ao mesmo tempo de personalidade (parte inteira). O melhor desenvolvimento da personalidade requer uma concepção dialética globalizante do mundo relacionada a esse tipo de orientação, não uma concepção fragmentada, simplista ou maniqueísta.
Essa dupla função coloca em tela uma das finalidades centrais do
Enfoque Histórico-Cultural, que consiste no desenvolvimento da personalidade
enquanto construto integrador das dimensões cognoscitivas e afetivas do ser
humano.
Tendo em vista o papel do professor na organização do processo de
ensino, de modo a possibilitar ao estudante uma internalização adequada das
ações e dos conceitos presentes no currículo, é fundamental que esse
profissional formule e materialize o esquema de uma BOA desejável, que
corresponda ao produto da orientação idealizada para o aluno ao final da
46
aprendizagem. Diante dessa necessidade, Galperin (1989b) apresenta o
Esquema da Base Orientadora Completa da Ação (EBOCA).
O EBOCA pode ser entendido como a representação materializada da
Base de Orientadora da Ação desejável para uma determinada ação
(GALPERIN, 1989b). Segundo o autor, esse esquema:
[...] incorpora tudo o que um aluno deve ‘entender’ na tarefa à sua frente, e esse ‘entendimento’ é expresso pela ação: o aluno sistematicamente (não a esmo!) executa todas as instruções do esquema corretamente nas tarefas, que variam substancialmente. Esse ‘comportamento’ indica que o aluno está sendo guiado pelas relações essenciais nas tarefas e que suas ações são racionais (GALPERIN, 1989b, p. 70).
No contexto da presente tese, esse esquema corresponde a
materialização3 de uma BOA III (isto é, completa, generalizada e obtida de forma
independente), elaborada inicialmente pelo professor para que os discentes
possam remodelar sua orientação com um conteúdo desejável e internalizá-la
como produto da aprendizagem.
Para Núñez e Ramalho (2017, p. 13), o Esquema da Base Orientadora
Completa da Ação: “[...] fornece aos estudantes uma ferramenta cultural para a
generalização teórica, que permite a compreensão de um conjunto de situações
ou de um dado domínio”. Por meio do EBOCA, os discentes terão à sua
disposição desde o princípio da atividade de aprendizagem um guia completo
para execução e controle das tarefas.
Embora possuam similaridades e se inter-relacionem, a Base Orientadora
da Ação (BOA) e o Esquema da Base Orientadora Completa da Ação (EBOCA)
não são a mesma coisa. Galperin (1989b) afirma que, enquanto o EBOCA é um
esquema representado no plano materializado, a BOA se refere ao seu reflexo
mental, após processo de internalização. Ademais, enquanto há uma constância
no EBOCA, sua BOA correspondente pode ter variações em seu conteúdo.
Também discutindo essa distinção, Núñez, Ramalho e Oliveira (2018, p.
44) afirmam que “[...] enquanto a BOA é a orientação real do estudante,
subjetiva, o EBOCA é a base de orientação desejada e estruturada pelo
3 Autores como Núñez (2009) utilizam a denominação cartão de estudo em alusão a representação materializada da BOA desejável. No contexto da presente tese, utilizamos EBOCA e cartão de estudo como termos equivalentes.
47
professor, a qual contém as condições essências para a adequada execução da
ação e do controle”.
Outro aspecto importante discutido por Núñez, Melo e Gonçalves (2019)
diz respeito a existência de dois tipos de EBOCA: o do professor e o do aluno4.
Enquanto o primeiro é o produto de um processo de sistematização metódica e
planejada pelo professor para constituição de uma orientação ideal, o segundo
consiste num esquema construído pelos discentes, com auxílio desse
profissional e subsidiado pelo seu EBOCA, durante a etapa da base orientadora
da ação da atividade de aprendizagem.
Uma forma de Esquema da Base Orientadora Completa da Ação possível,
consiste em evidenciar três aspectos inerentes a ação mental que será objeto da
atividade de aprendizagem: a definição da ação mental a ser formada (modelo
do objeto); o sistema operacional de execução da ação (modelo da ação) e o
sistema de operações para controlar a execução da ação (modelo de controle).
A materialização da BOA III de uma determinada habilidade resulta
também no processo de assimilação de um controle correspondente, o que
implica que os modelos da ação e de controle estão intrinsecamente
relacionados.
No âmbito da organização e aplicação da atividade de aprendizagem, o
Esquema da Base Orientadora Completa da Ação elaborada pelo professor pode
ser utilizado visando:
Referenciar o processo de caracterização e análise das Bases de
Orientadoras da Ação de cada aluno, antes, durante ou depois da
atividade de aprendizagem.
Auxiliar o professor na negociação dos sentidos e significados das BOA
dos alunos, visando aproximá-las do produto da aprendizagem desejável
e materializado no EBOCA elaborado pelo docente.
No que se refere a relação entre BOA inicial dos alunos e o EBOCA
planejado pelo professor, enquanto a primeira corresponde ao nível de
4 Haja vista a existência desses dois tipos EBOCAs, em alguns momentos utilizaremos as expressões EBOCA do professor e EBOCA dos alunos ou da turma para distingui-los.
48
desenvolvimento real dos estudantes, o EBOCA do professor se refere ao nível
de desenvolvimento desejável. Explicando a relação entre BOA e EBOCA
durante o processo de formação de uma habilidade, Núñez, Ramalho e Oliveira
(2018, p. 49), afirmam que:
No processo de formação da habilidade, a BOA de cada estudante está constantemente se modificando, sendo diferenciada, abreviada e generalizada, o que permite a aproximação ao EBOCA e a formação da ação de orientação qualitativamente diferente em cada etapa. Por sua vez, vão se formando e se consolidando ações de controle e de autorregulação da atividade, típico do aprender a aprender.
Dessa forma, partindo-se da orientação inicial do aluno (BOA) e do
esquema ideal planejado pelo professor (EBOCA do professor), após a
negociação entre docente e discentes, o aluno ressignifica sua BOA de modo
que seu conteúdo se torna similar ao EBOCA do professor e, ao ser
materializada, constitui o EBOCA do aluno. A partir do EBOCA elaborado pelos
estudantes, a Experiência Formativa segue as etapas de formação das ações
mentais e dos conceitos, culminando assim na internalização do conteúdo do
EBOCA, do plano externo para o plano mental.
Considerando que a atividade de aprendizagem deve ocorrer no âmbito
da Zona de Desenvolvimento Próximo (VYGOTSKY, 1995), para que o conteúdo
passe do plano interpsicológico para o plano intrapsicológico é preciso que a
Base Orientadora da Ação do aluno seja reconfigurada de forma equivalente ao
EBOCA planejado pelo professor desde o início do processo formativo, a fim de
orientar o processo de internalização dos conhecimentos e habilidades objetos
da Experiência Formativa.
As reelaborações da orientação se dão, segundo a Teoria de P. Ya,
Galperin, por etapas. Tendo em vista que uma das finalidades da orientação
consiste em nortear a execução e o controle da atividade para que essa ocorra
de forma adequada ao plano pré-estabelecido, passamos a discutir o processo
de assimilação do controle por meio das etapas de ações mentais e dos
conceitos propostas pela Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e
dos Conceitos.
2.4 Etapas de formação do controle interno
49
O processo de internalização da ação de controle também se dá de forma
gradativa, partindo do plano material (controle externo) para o plano mental
(atenção voluntária).
De maneira geral, a internalização de uma atividade mental a partir de
uma atividade externa ocorre de maneira paulatina, segundo etapas que se
distinguem pela forma e pelas características que o indivíduo vai adquirindo
durante esse processo. Daí, decorre que um requisito importante para o êxito da
assimilação de uma nova ação mental é a passagem gradual dos sujeitos por
todas as etapas (TALIZINA, 2009).
Galperin (2001b, p. 46), apresenta quatro etapas fundamentais para
formação da ação, são elas: “1) a formação da base orientadora da nova ação;
2) a formação do aspecto material desta ação; 3) a formação do seu aspecto
linguístico; 4) a formação desta ação como um ato mental”.
Continuadora das investigações de P. Ya. Galperin, N. F. Talizina aponta
ainda para a necessidade de um momento de trabalho direcionado para a
motivação dos alunos, anterior ao desenvolvimento das etapas (TALIZINA, 1988,
2000, 2009).
Desse modo, a Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e dos
Conceitos é constituída por cinco etapas, discriminadas a seguir conforme
Núñez (2009):
0) Etapa motivacional;
1) Etapa de estabelecimento do esquema da Base Orientadora da Ação (BOA);
2) Etapa de formação da ação do plano material ou materializado;
3) Etapa de formação da ação no plano da linguagem externa;
4) Etapa mental.
Detalharemos cada uma das etapas anteriores tendo como referência a
habilidade de controle interno da aprendizagem.
A etapa motivacional consiste no momento de preparo e motivação dos
discentes para assimilação dos conhecimentos e habilidades planejadas
(NÚÑEZ, 2009).
Discutindo a relevância da motivação para a formação das ações, Núñez,
Melo e Gonçalves (2019, p. 334) afirmam que:
50
Sem motivação, não há atividade e, consequentemente, tampouco a formação das ações e dos conhecimentos que são assimilados a partir destas e que dependem também do desejo ou da necessidade que tem o estudante para aprender. Ela impulsiona o estudante para atingir as metas, os objetivos da aprendizagem. É importante destacar que essa motivação não deve estar relacionada apenas ao conteúdo da aprendizagem e ao desenvolvimento da atenção, mas também à significação dessa aprendizagem no desenvolvimento integral do estudante.
Desse modo, ao se constituir como um momento focado na integração de
aspectos afetivos (motivos, necessidades, etc.) com os cognoscitivos (ações,
operações, etc.) a serem estudados, a etapa motivacional se coloca como uma
condição necessária para um bom andamento da atividade de aprendizagem.
Outro argumento importante é apontando por Talizina (1988, p. 139), ao
dizer que “[...] cada professor sabe que se o aluno não quer estudar, então, não
é possível ensinar nada a ele. Então, cada aluno deve ter o motivo que o
impulsione a aceitar as ações e os conhecimentos planejados”.
Essa etapa é considerada a etapa zero por não haver dentro dela
nenhum tipo de ação ou formação de conhecimentos ou habilidades (NÚÑEZ,
2009). Além disso, só se faz necessária quando o docente identifica que os
discentes não estão motivados para participarem da atividade de aprendizagem
(TALIZINA, 2000).
Vale destacar que enquanto etapa zero, a motivação ocorre tanto no
início da atividade de aprendizagem, quanto durante todo esse processo.
Mesmo que a etapa motivacional não se refira a execução da ação
propriamente dita, ela se coloca durante a formação do controle interno como
um momento em que o professor se utiliza de diferentes estratégias para que os
motivos dos alunos correspondam ao objetivo planejado para a atividade que,
no caso do presente trabalho, consiste em influenciar na internalização do
controle da aprendizagem da habilidade de resolver problemas matemáticos.
Conforme Talizina (1988), um dos caminhos para a motivação dos
discentes no âmbito da atividade de aprendizagem é a apresentação de
situações-problema. Embora a mera inserção de situações-problema por si só
não garantam a motivação, a autora aponta que durante:
51
[...] o ensino de qualquer tipo de atividade nova, é recomendável iniciar com o estabelecimento do problema, o que requer a atividade dada; em grande maioria dos casos, o problema produz o desejo de encontrar a solução e conduz a que tentem fazê-lo. Desde já, neste caso, o motivo também pode não ser interno; o aluno pode tentar encontrar a solução baseada na chamada motivação da competição (verificar o próprio conhecimento, competir com os demais) (TALIZINA, 1988, p. 139- 140).
Assim, o uso de situações-problema enquanto um recurso motivacional
pode auxiliar na emergência tanto da motivação de origem interna (cognoscitiva),
quanto externa (ambiente).
Em relação a etapa de elaboração do esquema da base orientadora
da ação (BOA), esse momento se constitui em estabelecer o plano da ação, no
modelo da atividade a ser realizada, que congrega o conjunto de orientações
necessárias e suficientes para realização das tarefas voltadas para formação
das ações mentais e dos conceitos (GALPERIN, 2001b).
Durante essa etapa, são definidos os critérios de controle (modelo de
controle) tanto para a habilidade a ser formada (modelo do objeto, quanto para
o seu sistema de ações e/ou operações (modelo da ação).
Considerando a organização de uma atividade de aprendizagem
orientada pela BOA tipo III, é importante que o estabelecimento da base
orientadora da ação pelos discentes se dê de forma independente. Tendo em
vista que, no âmbito de uma atividade de aprendizagem inserida na ZDP, os
estudantes não dispõem de todos os conhecimentos necessários e suficientes
para elaboração de uma BOA III, cabe ao professor mediar e colaborar com esse
processo, induzindo o aluno a reconfigurar sua orientação inicial (BOA inicial)
segundo a BOA desejável elaborada pelo professor e materializada no EBOCA.
Ao longo dessa etapa, é fundamental que o professor, além de orientar
os discentes sobre o modo pelo qual devem resolver os problemas, também
apresente sua forma de execução e controle (TALIZINA, 2000). Isto é, faz-se
necessário que o docente proponha situações-problema para que seus alunos
experienciem a aplicação da base orientadora da ação desejável a ser
assimilada.
Durante a etapa de formação da ação no plano material ou
materializado, o aluno inicia realizando uma ação externa, seja a partir de uma
ação direta sobre o objeto (material) ou sobre sua representação (forma
52
materializada). Essa ação se dá de forma minuciosa, executando todas as
operações que compõem a BOA desejável (NÚÑEZ, 1992; NÚÑEZ;
GONZÁLEZ, 1998).
Nessa etapa, os alunos executam as tarefas em pares, alternando-se
entre quem executa e quem controla a execução da tarefa, o que potencializa a
qualidade da assimilação (TALIZINA, 2000). De modo concomitante, o professor
realiza o controle e orienta os alunos segundo níveis de ajuda diversos ou
eventuais necessidades de correções. Além disso, a BOA desejável pode ser
representada na forma escrita (EBOCA dos alunos).
Durante essa etapa, o controle também é feito em duplas e de forma
recíproca, seguindo detalhadamente as orientações contidas no EBOCA dos
alunos, a partir de uma ação consciente e reflexiva (pensar-repensar).
Sendo o EBOCA dos alunos uma ferramenta para auxiliar o aluno a
pensar, ela possibilita que haja um trabalho colaborativo entre os discentes, mas
sem amputá-los de suas individualidades (NÚÑEZ, 1998).
Na etapa de formação da ação no plano da linguagem externa, o
sujeito representa os elementos da ação de forma oral ou escrita (forma verbal).
Além disso, o indivíduo continua a desenvolver a ação de forma detalhada, mas
sem utilizar-se de apoio externo do EBOCA do aluno, convertendo a ação
externa em teórica.
Outrossim, na etapa da linguagem externa, o controle é feito com auxílio
de um colega, contudo, o modelo de controle da BOA está em vias de
internalização. Por isso, os discentes já não resolvem as tarefas com o suporte
de seus EBOCAs.
Segundo Núñez (2017, p. 318), durante essa etapa, que tem como
enfoque o desenvolvimento da linguagem, o “[...] diálogo possibilita a
apropriação de significados cada vez mais enriquecedores e aplicáveis a uma
pluralidade de tarefas diversas dentre os limites da generalização”.
Nesse processo, a palavra enquanto ferramenta de comunicação ocupa
um lugar de destaque, pois “[...] influi na conduta dos outros e na sua própria
conduta, na regulação dos próprios processos psíquicos e, dessa forma,
possibilita o surgimento da atividade consciente” (NÚÑEZ; MELO;
GONÇALVES, 2019, p. 337)
Além disso, há uma exigência para que ocorra uma “[...] argumentação e
53
expressão oral do raciocínio que estão realizando na solução das tarefas, o que
permite que a ação seja traduzida na lógica dos conceitos e, portanto, inicia o
processo de generalização” (NÚÑEZ, 1998, p. 99).
Conforme Galperin (1989a), durante a etapa da linguagem externa, o
conteúdo do objeto começa a consolidar na consciência do indivíduo, não ainda
da forma ideal, mas como um reflexo, representado de forma verbal como
conteúdo da ação.
Ademais, Galperin (1989a) ressalta a importância que a ação, na etapa
da linguagem, não se restrinja a ser um reflexo da ação externa, mas seja ainda
um meio de comunicação daquela, consonante com as exigências
comunicativas dos conhecimentos científicos. Esse aspecto demanda um olhar
cuidadoso do professor, à medida que a adequação da ação verbalizada (ou
escrita) dos estudantes terá um impacto significativo na qualidade da futura ação
mental.
Por fim, a etapa mental inicia-se quando a ação, na forma verbal
externa, abrevia-se e transforma-se numa tarefa reflexiva e de “falar para si”.
Para Galperin (2001a, p. 51), é nesse momento que “[...] se origina o ato
independente em toda sua aparente contraposição da ação concreta com
objetos e cuja última forma representa esta ação”.
É nessa etapa do processo formativo que a ação vai se automatizando
de forma acelerada, tornando-se um conteúdo da atividade orientadora e, assim,
podendo ser utilizada em diferentes situações que estejam em seus limites de
generalidade (NÚÑEZ, 1998).
No decorrer da etapa mental, a BOA do aluno já encontra-se no plano
intrapsicológico, abreviada; e a execução da ação se dá de forma automática e
individualizada. É nessa etapa ainda que o aluno consegue utilizar sua
orientação em situações de diferentes tipos que estejam dentro dos limites de
generalização da orientação da ação.
Especificamente, o controle também já se consolida no plano interno, ou
seja, se configura como ato da atenção voluntária, que se dá de forma menos
detalhada e automatizada.
É importante destacar que as etapas da Teoria de Formação Planejada
das Ações Mentais e dos Conceitos não devem ser compreendidas de modo
linear. Segundo Galperin (2001c), percorrer todo o ciclo da teoria (da etapa
54
motivacional à etapa mental) só é necessário nos casos em que a ação é nova
para o indivíduo. Do contrário, é preciso identificar o nível de formação da
habilidade nos estudantes e percorrer somente as etapas pendentes.
Além disso, apontando para as exigências necessárias para a realização
do controle no âmbito das etapas de formação das ações mentais e dos
conceitos, Talizina (2000, p. 165) sugere que:
1. Nas etapas inicial do processo de assimilação, deve-se realizar o controle das operações 2. No início da etapa material (materializada) e da linguagem externa, o controle deve ser sistemático, deve-se controlar cada tarefa que se realiza. 3. Ao final destas etapas, assim como nas etapas seguintes, o externo deve ser esporádico: de acordo com o pedido do aluno frente a presença de erros constantes.
Assim, considerando que, tanto a atividade de aprendizagem para qual se
dirige a atenção, quanto o controle vão se tornando reduzidos e automatizados,
a necessidade de realização do controle externo no decorrer das etapas de
assimilação vai se reduzindo, até não ser mais obrigatória e ocorrer somente por
meio dos elementos já internalizados.
Ao internalizar o controle segundo as etapas de formação das ações
mentais e dos conceitos, o sujeito da atividade adquire novas características,
também nomeadas de indicadores qualitativos da ação. Para melhor
pormenorizar esse subsistema da Teoria de P. Ya. Galperin, passamos a
descrever cada uma das características da ação de controle interno na subseção
seguinte.
2.5 Os indicadores qualitativos do controle
O controle interno, assim como qualquer ação internalizada pelo
indivíduo, pode ser caracterizado a partir de uma série de indicadores
qualitativos. No âmbito da Teoria de Formação por Etapas das Ações Mentais e
dos Conceitos, esses indicadores são classificados por Talizina (1988) em dois
tipos, a saber: primários e secundários.
Os indicadores qualitativos primários rementem às propriedades
fundamentais de uma ação e são formadas de modo independente uns dos
55
outros. Enquanto que os indicadores qualitativos secundárias dizem respeito as
características da ação que possuem uma relação de dependência com uma ou
mais características primárias para se constituírem.
A forma da ação consiste no plano em que a ação está desenvolvida no
sujeito. Segundo Talizina (1988), essa característica indica o processo de
modificação na configuração da ação durante sua assimilação.
Em relação a suas formas, a ação pode ser: material e materializada,
quando a ação se dá diretamente sobre os objetos materiais ou suas
representações (materializadas); linguagem externa, quando o objeto é
representado pela linguagem oral ou escrita; e mental, quando a ação se dá para
si, a partir da imagem mental do objeto.
Relativo a esse indicador, o controle parte da forma externa, que envolve
sua realização pelo professor e/ou entre pares; uma forma intermediária (em vias
de internalização), que é mediada pela linguagem externa; e da forma mental,
quando os requisitos para o controle já foram internalizados e o aluno já
consegue autocontrolar sua aprendizagem.
O grau de generalização refere-se à capacidade do indivíduo de
aplicação do conceito ou habilidade apreendida em diferentes situações dentro
dos limites de generalidade da orientação internalizada. Essa qualidade da ação
permite que o sujeito consiga separar as propriedades do objeto essenciais das
não essenciais (TALIZINA, 1988).
No âmbito do controle interno, esse indicador se refere à capacidade do
indivíduo transferir o conjunto de estratégias de controle aprendida em determina
atividade de aprendizagem para outras.
O indicador grau de detalhamento remete à capacidade de minuciar os
elementos estruturais de uma determinada ação. Durante as etapas iniciais do
processo de assimilação, o detalhamento é fundamental para garantir que todas
as operações que compõem a ação sejam executadas e controladas
corretamente.
O grau de detalhamento do controle interno se refere ao emprego correto
de todas as operações do modelo de controle, previamente estabelecidas na
base orientadora da ação (BOA), durante o processo de aprendizagem.
Relacionado a aplicação correta do conceito ou habilidade assimilada e a
respectiva fundamentação (verbal ou escrita) de todos os procedimentos durante
56
sua execução, o grau de consciência é requisitado, sobretudo, nas etapas
iniciais de assimilação, por permitir ao indivíduo a tomada de consciência dos
elementos que compõem a orientação.
Na habilidade de controle interno, esse indicador qualitativo indica a
capacidade de aplicar e explicar, de forma adequada, todas as operações
necessárias e suficientes para realização do controle da aprendizagem.
O grau de independência tem relação com a capacidade do estudante
de executar (ou não) a ação sem auxílio. Durante a formação da ação, os
discentes passam de uma execução das tarefas em pares para uma execução
individual.
Particularmente, no âmbito do controle interno, esse indicador implica na
condição do indivíduo executar a ação de controlar mentalmente sua
aprendizagem sem o auxílio de terceiros.
Acerca do grau de solidez, esse indicador expressa a capacidade do
indivíduo de executar tarefas dentro dos limites de generalização da orientação
da ação internalizada, mesmo após algum tempo em que foi formada.
Aplicado ao controle interno, o grau de solidez indica a possibilidade do
indivíduo colocar em ação os elementos que compõem essa habilidade, mesmo
após certo período em que ela foi internalizada.
Em relação ao grau de domínio, essa característica faz alusão ao
processo de automatização da ação. O domínio da ação é o resultado de não
ser mais necessário ao indivíduo agir de forma consciente em alguma situação
dentro dos limites de generalização de uma orientação já internalizada.
Durante o controle interno, o indicador grau de domínio pode ser
interpretado como a redução gradativa das operações de controle interno à
medida que o indivíduo vai progredindo nas etapas das ações mentais
propostas pela Teoria de P. Ya. Galperin.
Por fim, o caráter racional se refere a apresentação das condições
necessárias e suficientes para realização da ação pelo discente. Essas
condições são determinadas pela base orientadora da ação (BOA). Além disso,
a racionalidade enquanto característica da ação é diretamente proporcional a
generalização da ação. Em outras palavras, quanto mais geral a orientação,
maior seu caráter racional (TALIZINA, 1988).
57
Especificamente, adquirindo a característica caráter racional da ação de
controle interno, o indivíduo consegue analisar se as condições necessárias para
colocar essa habilidade em ação durante uma atividade de aprendizagem são
satisfeitas.
O conjunto de características da ação supracitadas são essenciais para a
atividade de aprendizagem, visto que funcionam como indicativos da qualidade
do processo de assimilação do objeto estudado, tanto para quem aprende,
quanto para quem ensina.
Em particular, os indicadores qualitativos possibilitam ao docente definir
previamente, junto com os objetivos do processo de ensino, quais características
quer que seu discente adquira após a internalização da ação; assim como
caracterizar e aferir qualitativamente os indicadores dos sujeitos relativos a
determinado conteúdo antes, durante ou após a Experiência Formativa.
As características da ação, juntamente com a orientação e as etapas de
assimilação, compõem o modelo de explicação do processo de assimilação das
ações mentais e dos conceitos proposto por P. Ya. Galperin. Nesse processo,
os conteúdos são internalizados tendo como referência uma base orientadora da
ação ideal que, ao passar do plano externo para o interno, é assimilada e adquire
novas qualidades.
A Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos
sugere uma via para o desenvolvimento intelectual, que se constitui como uma
parte integrante da personalidade e se dá por meio de uma atividade de
aprendizagem consciente, adequada à formação do pensamento teórico.
O processo de internalização da ação de controle enquanto forma de
atenção voluntária, em particular, se dá quando as condições propostas pelos
subsistemas da Teoria de P. Ya. Galperin (orientação, etapas de assimilação e
indicadores qualitativos) são satisfeitas. Daí, o controle interno forma-se em
conjunto com o conteúdo da habilidade objeto dessa atividade.
Dessa forma, para empreendermos um estudo sobre a influência de uma
Experiência Formativa para a ação de controle é preciso definir uma habilidade
que será objeto do Sistema Didático. Assim, como já mencionado, selecionamos
a habilidade de resolver problemas matemáticos, que passamos a discutir na
próxima seção.
58
3 A HABILIDADE DE RESOLVER PROBLEMAS MATEMÁTICOS
Um primeiro aspecto a ser discutido na presente seção, consiste em situar
a perspectiva que assumimos acerca da resolução de problemas. Tendo em
vista a pluralidade de formas de utilização desse tópico, Schoreder e Lester
Junior (1989) propõem três entendimentos: ensino sobre resolução de
problemas, ensino para resolução de problemas e ensino via resolução de
problemas.
O ensino sobre resolução de problemas é a perspectiva que tem como
enfoque ensinar aos discentes fases, estratégias e heurísticas a serem usadas
como forma de melhorar o processo de solução de problemas matemáticos.
A partir do entendimento de que a aprendizagem em matemática tem
como um de seus propósitos capacitar o estudante a utilizá-la, a perspectiva de
ensino para resolução de problemas busca aplicar os conhecimentos
matemáticos aprendidos na resolução de diferentes tipos de problemas e
capacitar o aluno a transferir esses conhecimentos para outras situações.
No ensino via resolução de problemas, os problemas são usados como
meios para a atividade de aprendizagem. Nessa perspectiva, o “[...] ensino de
um tópico matemático começa com uma situação-problema que incorpora
aspectos-chave do tópico, e técnicas matemáticas são desenvolvidas como
respostas razoáveis a problemas razoáveis” (SCHROEDER; LESTER JUNIOR,
1989, p. 33). Em outras palavras, a resolução de problemas é tratada como uma
metodologia de ensino.
Diante da possibilidade de sobreposição e combinação entre as
perspectivas supracitadas, adotamos um entendimento que integra as três ao
assumirmos a resolução de problemas como uma habilidade do
pensamento.
Na postura que assumimos na presente tese, as situações-problema
serão tomadas como um estopim da atividade de aprendizagem, permeando
todas as etapas de formação das ações mentais e dos conceitos, conforme
preconiza a Teoria de P. Ya. Galperin (ensino via resolução de problemas).
Além disso, dentro do processo formativo, o objeto de aprendizagem será
o conjunto de ações e operações invariantes para o controle da habilidade de
resolver problemas matemáticos (ensino sobre resolução de problemas).
59
Havendo uma internalização adequada (ou seja, conforme os indicadores
qualitativos determinados), a atividade de aprendizagem terá impulsionado o
desenvolvimento intelectual do indivíduo, o que permitirá ao estudante utilizar-
se dessa habilidade mental como orientação para a solução de diferentes
situações-problema que estejam dentro dos limites de generalização (ensino
para resolução de problemas).
Em suma, entendemos a resolução de problemas matemáticos como um
dos importantes mecanismos que constituem e impulsionam o pensamento, bem
como uma habilidade intelectual essencial para a melhoria do movimento espiral
crescente entre aprendizagem e desenvolvimento.
Dando continuidade à discussão sobre a habilidade de resolver problemas
matemáticos, pormenorizamos a discussão abordando a seguir algumas
definições sobre o que é um problema e modelos sobre como resolver
problemas. Embora procurando apresentar várias perspectivas, as discussões
sempre culminarão na assunção dos pressupostos adotados nesta tese, que
será finalizado na seção 5.
3.1 Diferentes perspectivas para o conceito de problema
A palavra “problema” tem origem etimológica nos termos em latim e grego
problêma, que significa “[...] o que se tem distante de si; obstáculo; questão”
(HOUASSIS, 2009, p. 1553).
No âmbito da pesquisa educacional, diferentes autores se propõem a
definir o conceito de problema. Apresentaremos a seguir algumas dessas
definições.
Onuchic e Allevato (2011, p. 81), entendem o problema como “[...] tudo
aquilo que não se sabe saber, mas que se está interessado em resolver”. Na
definição, as autoras enfatizam tanto o elemento desconhecido para o indivíduo
quanto a necessidade de interesse daquele para que a situação se torne um
problema pra ele.
Dante (2009, p. 11), conceitua problema como “[...] um obstáculo a ser
superado, algo a ser resolvido e que exige o pensar consciente do indivíduo para
solucioná-lo”. Conforme o autor, o problema depende muito do indivíduo e do
60
contexto, pois aquilo que pode ser problema para uma pessoa ou grupo pode
não ser para outros.
Ter um problema, segundo Polya (1981, p. 117), consiste em “[...] procurar
conscientemente por alguma ação apropriada para atingir um objetivo
claramente concebido, mas não imediatamente atingível”. A perspectiva do autor
sugere a necessidade de clareza do indivíduo acerca do que é procurado,
mesmo que desconheça previamente a forma de realizar essa procura. Dito isso,
resolver problemas seria o processo de busca por essa ação adequada para se
atingir o objetivo posto.
Propondo uma definição de problema em função do estado inicial (onde
está quando inicia a resolução do problema) e o estado final (onde chegará ao
resolver esse problema), Brandford e Stein (1993, p. 7) afirmam que “[...] um
problema existe quando há uma discrepância entre um estado inicial e um estado
final, e não há solução pronta para o solucionador do problema”. Nesse sentido,
a ação de resolver problemas se dá ao trilhar um caminho previamente
desconhecido, visando partir de um ponto a outro.
Para Campistrous e Rizo (2014, p. 293), um problema consiste em uma
situação “[...] em que há uma abordagem inicial e um requisito que força a
transformá-la. O caminho para sair da situação ou abordagem inicial para a nova
situação exigida tem que ser desconhecida e a pessoa deve querer fazer a
transformação”. A partir do entendimento dos autores, o planejamento de tarefas
para resolução de problemas pelo professor exige, tanto a compatibilidade entre
conteúdos exigidos e os estudantes, como também o potencial motivacional dos
problemas para esses discentes.
Outro autor que define problema a partir da transição de um estado inicial
a um final é Ramírez (2006, p. 71), ao afirmar que um problema:
[...] é aquela situação que se caracteriza pela existência de uma pessoa (ou grupo) que deseja resolvê-la, de um estado inicial e outro final, e de algum tipo de impedimento para a transição de um estado a outro. Isso permite compreender que no âmbito escolar um exercício (ou em geral qualquer tarefa docente) será um problema se a transição do estado inicial para o estado final implica que o estudante experimente um desenvolvimento cognitivo, ao trabalhar em sua ZDP.
Desse modo, um trabalho com a habilidade de resolver problemas
planejados para atuar na Zona de Desenvolvimento Próximo dos alunos precisa
61
criar os meios para emergir nesses discentes motivos adequados para solução
dos problemas e propor problemas que estimulem os discentes a ultrapassar seu
nível de desenvolvimento real, colocando-os em um movimento espiral
crescente formado pela relação entre aprendizagem e desenvolvimento.
Discutindo sobre a resolução de problemas enquanto habilidade geral,
Nápoles (2011, p. 3), estabelece o conceito de problema como toda:
[...] situação em que o aluno está envolvido, em que ele sente a necessidade de realizá-la para satisfazer suas necessidades, motivos e interesses cognitivos e, no processo para alcançá-la, usa todos os recursos, que dizer, conhecimento, habilidades, métodos; que lhe permitem atingir o objetivo que persegue.
Há, no entendimento do autor, um condicionamento da existência do
problema ao surgimento de um desejo intrínseco ao indivíduo que se depara com
determinada situação para se colocar em ação os recursos que dispõe visando
alcançar a meta pretendida.
Já Majmutov (1983, p. 58) define problema como:
[...] uma forma subjetiva de expressar a necessidade de desenvolver o conhecimento científico. Este é o reflexo de uma situação problema, ou seja, de uma contradição entre o conhecimento e falta de conhecimento que objetivamente surge do processo social.
Assim, o problema consiste naquilo que se procura resolver por meio do
conhecimento científico, que surge como o resultado da tomada de consciência
entre aquilo que se sabe e aquilo que não se sabe, no momento em que um
indivíduo lida com algo desconhecido, isto é, com uma situação-problema.
De maneira aproximada, Núñez et al. (2004, p. 152) conceituam o
problema como “[...] a contradição que caracteriza uma situação problema
assimilada/internalizada pelo aluno”. Nesse sentido, o problema se constitui
como o produto de um processo de organização da contradição apresentada na
situação-problema.
Também definindo o problema no âmbito da Ciência, Martínez (1998, p.
16) o conceitua como “[...] o conhecimento do desconhecido que propõe ao
homem a questão para o desenvolvimento”. O problema, que segue um
processo cognoscitivo de determinação, formulação de hipóteses, e culmina na
refutação ou demonstração dessas; permite a exclusão da hipótese levantada
62
para se buscar outra ou ainda a obtenção/ aprimoramento de um conhecimento
já existente.
Uma primeira discussão importante acerca do conceito de problema se
refere a sua distinção do exercício. De maneira geral, podemos diferenciá-los em
função do conhecimento prévio ou não dos caminhos necessários para solução
da situação proposta.
Segundo Pozo e Echeverría (1998, p. 16), “[...] um problema se diferencia
de um exercício na medida em que, neste último caso, dispomos e utilizamos
mecanismos que nos levam, de forma imediata, à solução”. Corroborando com
esse entendimento, Dante (2009, p. 48) afirma que o exercício, “[...] como o
próprio nome diz, serve para exercitar, para praticar determinado algoritmo ou
procedimento. O aluno lê o exercício e extrai as informações necessárias para
praticar uma ou mais habilidades algorítmicas”.
Desse modo, a diferenciação entre os termos supracitados pode ser
realizada a partir do caráter já automatizado da estratégia de solução de um
exercício para determinado indivíduo.
Outra distinção que devemos realizar é entre os termos problemas e
situação-problema. Embora existam na literatura compreensões do termo
situação-problema como um tipo particular de problema5, compactuamos com o
entendimento de Majmutov (1983, p. 114-115), que a define como:
[...] um estado psíquico de dificuldade intelectual, que surge no homem quando o problema (a tarefa) que está resolvendo, não pode explicar um fato mediante os conhecimentos que tem, ou realizar um ato conhecido através dos procedimentos que desde antes conhece, e deve, portanto, buscar um procedimento novo para atuar.
A situação-problema surge quando o homem, durante sua atividade, se
depara com o desconhecido, que o leva a empreender uma atividade
cognoscitiva a partir da contradição acerca daquilo que sabe e aquilo que não
sabe. Só a partir da internalização dessa contradição e compreensão sobre o
que é procurado é que surge o problema (NÚÑEZ et al., 2004).
5 A título de ilustração, Dante (2009) usa o termo situação-problema como sinônimo de problema-processo, que será discutido na próxima seção.
63
Finalizada a discussão acerca do conceito de problema matemático, que
será retomada na seção 5 e servirá de base para a elaboração de uma
orientação do professor, referência para a Experiência Formativa, passamos a
discutir diferentes propostas de etapas para se resolver problemas matemáticos.
3.2 Modelos para a ação de resolver problemas matemáticos
Nos parágrafos seguintes discutiremos algumas orientações que
discutem as ações necessárias para se resolver um problema matemático,
segundo autores do Enfoque Histórico-Cultural.
Debatendo sobre as habilidades intelectuais, Libâneo (2005) aponta, no
âmbito de uma listagem de habilidades gerais, a “solução e formulação de
problemas”. Conforme o autor, para se solucionar e formular problemas são
necessárias as seguintes etapas:
a) Analisar o problema: definir o problema, busca de dados ou informações, definição das partes do problema ou situação, encaixar as partes num todo mais amplo, tentar saber como outras pessoas resolveram esse problema; o que já se sabe, o que falta saber. b) Vias de solução: o que precisa ser feito para a solução do problema, tempo necessário, quem vai fazer o que precisa; c) Execução da solução escolhida; d) Controlar o processo de solução e o resultado obtido. Avaliar sua aplicação prática, sua utilidade e importância para si próprio, para os outros e para a sociedade (LIBÂNEO, 2005, p. 2).
Para o autor, essa atividade cognoscitiva consiste no desenvolvimento
tanto do pensamento reflexivo quanto do pensamento criativo.
Em Volodarskaya e Nikitiuk (2001), os autores propõem um método para
resolução de problemas de construções geométricas, formado pelos seguintes
etapas: análise, construção, demonstração e investigação.
A etapa de análise consiste na preparação para a resolução do problema
e tem o intuito de explicitar as relações de dependência entre os componentes
da figura e as condições do problema que possibilitaram construí-la. Conforme
os autores, uma das estratégias de raciocínio que pode ser usada durante esse
momento é a suposição de uma solução para o problema, elaboração de
conclusões e avaliação dessas como forma de encontrar um caminho adequado
para resolução do problema.
64
Dado o plano de construção da figura, essa passa a ser elaborada na
etapa de construção. Logo a seguir, passa-se para a etapa de demonstração da
figura construída, que ocorre em função das condições impostas pelo problema.
Por fim, chega-se ao momento de interpretação, que se refere à etapa de
verificação se o problema é ou não é solucionável e, em caso afirmativo, o
número de soluções possíveis.
Como parte de uma Experiência Formativa desenvolvida com alunos de
um curso de Licenciatura en Educación en Matemática y Computación, em Cuba,
Lavigne (1999) elabora uma orientação para resolução de problemas
matemáticos composta pelas seguintes ações: compreender o problema,
analisar o problema, solucionar o problema, avaliar a solução do problema.
A ação de compreender o problema consiste na busca por uma orientação
adequada em relação ao problema. Conforme Lavigne (1999), para que esse
momento inicie é necessário que o aluno esteja motivado para solucionar a
tarefa, requisito que se reflete no surgimento de uma contradição entre os
conhecimentos do estudante e as exigências do problema.
A seguir, o sujeito passa a analisar o problema, descrito por Lavigne
(1999) como o momento em que se contrasta e relaciona os dados com o que é
procurado, seleção dos conhecimentos prévios necessários presentes na
memória, entre outros. Após a análise, o indivíduo já tem determinado um
caminho adequado para solucionar o problema e passa a executá-lo.
Avaliar a solução obtida é a última ação dessa orientação. Essa etapa visa
avaliar a validade, a qualidade e empreender a internalização dos elementos
utilizados durante a resolução de problema.
Partindo do entendimento sobre o pensamento problemático, o Majmutov
(1983, p. 114) define-o como “[...] o processo de descobrir novos conhecimentos
mediamente abordagem de problemas e sua solução”. Como parte desse tipo
particular de pensamento, o autor aponta cinco etapas para solução de um
problema. São elas:
a) o surgimento da situação problemática e a abordagem do problema; b) a utilização dos procedimentos de solução que se conhece (etapa de solução “fechada” do problema); c) a ampliação da esfera de busca de novos procedimentos de solução (etapa de solução “aberta” do problema), encontrando uma nova relação ou princípio de ação; d)
65
realização do princípio encontrado; e) comprovação do grau de correção da solução (MAJMUTOV, 1983, p. 114).
Para Majmutov (1983), as etapas acima descritas são fundamentais para
o entendimento da forma como se assimila os conhecimentos, dentro de um
processo cognoscitivo voltado para a criação de algo novo, ou seja, do
pensamento criador.
À luz do enfoque histórico-cultural e adotando, dentre outros
fundamentos, as perspectivas de Ensino Problematizador de Majmutov (1983) e
a Teoria de P. Ya. Galperin, Mendoza e Delgado (2018) cunham o termo
Atividade de Situações Problema (ASP) em alusão a:
Atividade de Estudo que está orientada pelo objetivo de resolver problemas docentes, na zona de desenvolvimento proximal, em um contexto de ensino aprendizagem no qual exista uma interação entre o professor, o estudante e a tarefa com caráter problematizador; com o uso da tecnologia disponível e de outros recursos didáticos, para transitar pelos diferentes estados do processo de assimilação (MENDOZA; DELGADO, 2018, p. 179).
Enquanto tipo de atividade de estudo, a ASP é formada por um sistema
de ações e operações invariantes voltados para resolução de problemas.
Segundo a ASP, o processo de resolução de problemas inicia com a ação
de formular o problema docente6. Essa ação é constituída pelas seguintes
operações: determinação do que se sabe e o que não se sabe por meio da
análise da situação problema; estudo das informações e das condições impostas
pela situação problema; e definição do objetivo do problema.
Posteriormente, segue-se para a ação de construir o núcleo conceitual
que se subdivide nas operações de: ativação do nível de desenvolvimento atual
dos discentes acerca dos conhecimentos necessários para solução do problema
e, quando for preciso, atualizá-lo; relacionar o que se sabe (conhecido) e o que
não se sabe (desconhecido) por meio de estratégias diversas (tarefas menos
complexas, experimentos, intuição, analogia, hipóteses, etc.)
6 Mendoza e Delgado (2018), baseados em Majmutov (1983, p. 129), entendem o problema docente como “[...] fenômeno subjetivo e existe na consciência do estudante em forma ideal, no pensamento [...]”.
66
Solucionar o problema docente é a terceira ação da ASP e se constitui
pela aplicação de um método (analítico, heurístico ou mescla dos dois) para
relacionar o que se sabe com o que não se sabe; e pela determinação do que é
procurado pelo problema.
Por fim, a ação de interpretar a solução, que tem como operações:
verificação da solução em relação ao objetivo e as condições do problema;
análise dos resultados, visando obter eventuais novas relações com elementos
já conhecidos (MENDOZA; DELGADO, 2018).
Discutindo a formação do pensamento criativo no contexto do Ensino
Problematizador, Martínez (1998, p. 30) afirma que a solução de problemas se
dá por meio das etapas a seguir:
♦ determinar o buscado através dos dados ♦ estabelecer as dependências casuais entre o conhecido e o
buscado ♦ elaborar e determinar a possível via de solução (hipótese) ♦ levantar a solução (o encontrado) ♦ comprovar a coincidência do resultado com o objetivo.
Nesse processo, a solução de tarefas enquanto meio para a atividade
cognoscitiva é deflagrada pela contradição entre o conhecido e o desconhecido,
que, ao ser superada com a definição do que é buscado, permite a resolução do
problema e, assim, encontrar o que é procurado e atestar a validade de todos os
procedimentos.
Tendo o aporte da Teoria Histórico-Cultural e a partir de diferentes
propostas sobre como resolver problemas, Triana (2005) elabora seu modelo,
constituído por cinco ações.
Inicialmente, o indivíduo passa a analisar o problema que consiste na
decomposição dos dados do problema, a fim de que ocorra a definição do
conteúdo objetivo (análise estrutural), estudo das características ou condições
(análise qualitativa) e dos passos necessários para a resolução do problema
(análise operacional). De forma complementar aos diferentes tipos de análise,
ocorre o processo de síntese, do qual culmina na organização de forma
consciente da situação a ser resolvida.
O momento seguinte, conforme Triana (2005), é o de gerar estratégias de
trabalho. É nessa segunda ação em que se organiza o planejamento dos
67
procedimentos necessários para resolução dos problemas. Em seguida, o
indivíduo passa a avaliar as consequências da aplicação de estratégias que se
considere mais adequada, em outras palavras, antever ainda no plano mental,
quais os desencadeamentos de se colocar em prática a estratégia definida na
etapa anterior.
A quarta ação é a de executar ou desenvolver a estratégia selecionada,
na qual ocorre a aplicação da estratégia de trabalho definida e avaliada nas
etapas anteriores, tendo em vista encontrar a solução do problema.
O processo de resolução do problema finda na ação de avaliar as
conquistas e dificuldades durante a execução, que se refere a etapa de avaliar
os eventuais erros e acertos que possam ter ocorrido no processo e, quando
necessário, corrigi-los.
Segundo Triana (2005), as etapas acima descritas podem ser
sintetizadas, respectivamente, nos seguintes termos: analisar, gerar, valorar,
executar e avaliar. Todas essas ações, que constituem a habilidade de resolver
problemas, visam a obtenção de um produto (solução do problema) a partir de
uma situação previamente dada (dados do problema).
Empreendendo estudos acerca da relação entre a solução de problemas
aritméticos e os processos básicos do pensamento, Luria (1981, 1990) identifica
seis estágios deste último durante a realização do primeiro.
Originando-se de um motivo que impulsiona a busca pela solução não
evidente de uma situação, o primeiro estágio do pensamento durante a resolução
de problemas consiste na identificação das condições da situação, isto é,
identificar o que é procurado dadas as condições postas.
Em seguida, o indivíduo passa a analisar as condições do problema, que
se refere ao “[...] refreamento de respostas impulsivas, a investigação das
condições do problema, a análise de seus componentes, o reconhecimento de
seus aspectos mais essenciais e das suas correlações recíprocas” (LURIA,
1981, p. 288, grifos do autor).
Diante de diferentes caminhos possíveis, o sujeito realiza a determinação
das estratégias de solução, com intuito de elaborar o plano para execução da
solução do problema. O quarto estágio se refere à escolha dos métodos e das
operações adequadas para colocar em prática a estratégia planejada na fase
anterior.
68
O estágio 5 se refere à solução real do problema, que culmina na fase de
comparação dos resultados obtidos com as condições iniciais, que permitem à
avaliação se a atividade cognoscitiva está completa (em outras palavras, se a
situação inicial foi solucionada adequadamente), ou se o processo de resolução
do problema precisa ser revisto e retomado em algum ponto.
Outros pesquisadores com enfoque na Aritmética foram Nikita e Talizina
(2001), que desenvolveram um experimento formativo voltado para a
organização de um método geral para a modelação de problemas aritméticos
que envolviam as relações entre velocidade, tempo e espaço.
O esquema geral usado para resolução dos problemas foi nomeado pelas
autoras árvore de raciocínio e consistia em um conjunto de círculos que
representavam as magnitudes dadas no problema (círculos fechados) e as
magnitudes procuradas (círculos com partes pontilhadas), interligados com setas
direcionadas ao que era procurado, como ilustra a Figura 1:
Fonte: Nikola e Talizina (2001, p. 129)
Como os estudantes já haviam estudado previamente as relações
matemáticas entre as magnitudes (velocidade, tempo e espaço), cabia ao
esquema servir como um suporte materializado para os processos gerais que
envolviam a ordenação e a inter-relação dos dados visando à solução do
problema.
Como consequência da proposta, o processo de resolução de problemas
empreendido pelos alunos foi descrito pelas autoras como estruturado da
seguinte forma:
[...] os sujeitos identificaram as grandezas no problema, sublinharam a questão, colocaram (no texto do problema) os dados numéricos nos
Figura 1 - Exemplo de árvore de raciocínio
69
retângulos das linhas inteiras e determinaram com o símbolo correspondente, depois disso, anotaram os dados no caderno, repetiram os dados. Problema de acordo com eles e eles começaram a elaborar o esquema. No esquema eles indicavam a ordem das ações e as faziam usando fórmulas e, a escrita da ‘solução com perguntas’, conhecida do trabalho na sala (NIKITA; TALIZINA, 2001, p. 133-134).
Nesse sentido, os alunos participantes do experimento empreendiam as
seguintes etapas para solução dos problemas aritméticos: identificar as
grandezas do problema (dadas e procurada); representar as grandezas
adequadamente em função de suas respectivas unidades de medida; organizar
as grandezas segundo o esquema da árvore de raciocínio; solucionar o
problema.
Outro autor pelo qual podemos interpretar uma orientação para a
resolução de problemas matemáticos é Davydov (1981, 1986). Em seus estudos
voltados para a organização do ensino para o desenvolvimento intelectual dos
estudantes, por meio da formação do pensamento teórico, esse pesquisador
aponta que as tarefas, enquanto célula da atividade de aprendizagem, devem
ser realizadas a partir das seguintes ações de aprendizagem:
transformação dos dados da tarefa a fim de revelar a relação universal do objeto estudado;
modelação da relação diferenciada em forma objetivada, gráfica ou por meio de letras;
transformação do modelo da relação para estudar suas propriedades em “forma pura”;
construção do sistema de tarefas particulares que podem ser resolvidas por um procedimento geral;
controle da realização das ações anteriores;
avaliação da assimilação do procedimento geral como resultado da solução da tarefa de aprendizagem dada (DAVYDOV, 1986, p. 173).
Daí, um processo de resolução de problemas matemáticos derivado das
ações de aprendizagem propostas por Davydov (1986) deve considerar etapas
como: 1) transformação dos dados do problema; 2) modelação dos dados; 3)
transformação do modelo para resolução matemática; 4) execução das ações
para obtenção da solução; 5) controle das ações anteriores; 6) avaliação do
resultado.
Observamos que, embora as orientações acerca de como resolver um
problema sejam advindas de diferentes perspectivas, todas propõem etapas que
70
se enquadram, em alguma medida, nos três momentos funcionais da atividade
humana: orientação, execução e controle.
Entretanto, sobretudo nas etapas que podemos associar ao momento de
orientação da atividade, a forma de apresentação de etapas mais gerais ou mais
específicas é variável conforme o modelo.
Assim como a discussão sobre as definições para problemas
matemáticos, as diferentes propostas de etapas para se resolver problemas
serão retomadas na seção 5, a fim de embasar a construção de uma orientação
desejável para a resolução de problemas matemáticos. Na seção seguinte
passamos a discutir o percurso metodológico adotado nesta tese.
71
4 METODOLOGIA
Considerando a necessidade de detalhamento do percurso metodológico
para constituição da presente tese, organizamos a presente seção em seis
subseções.
A primeira subseção caracteriza o local, os cursos e o perfil dos discentes
que participaram da pesquisa, enquanto a segunda, detalha o tipo de pesquisa
realizada. Nas demais seções foram apresentados os instrumentos de coleta de
dados, evidenciando a perspectiva adotada e os respectivos planos para
constituição de cada instrumento e sua validação no âmbito dessa investigação;
e ainda como se deu processo de validação, organização e análise dos dados
coletados.
4.1 O contexto e os participantes da pesquisa
O ambiente tomado como lócus da presente tese foi o Instituto de
Formação de Educadores (IFE), campus da Universidade Federal do Cariri
(UFCA). Localizado no município de Brejo Santo-CE, na região sul do Estado
do Ceará, que fica a 505 km da capital Fortaleza- CE.
O Instituto de Formação de Educadores (IFE) foi criado em agosto de
2014, focado exclusivamente na qualificação de docentes e, atualmente, conta
com uma proposta de cursos de graduação integrados em dois ciclos
(interdisciplinar e específico), são eles: Licenciatura Interdisciplinar em Ciências
Naturais e Matemática, Licenciatura em Matemática, Licenciatura em Biologia,
Licenciatura em Química e Licenciatura em Física.
O ingresso de discentes do IFE ocorre pela Licenciatura Interdisciplinar
em Ciências Naturais e Matemática, sendo ofertadas 60 vagas anuais via
Sistema de Seleção Unificada (SISU). O referido curso tem duração de seis
semestres em regime integral, nos turnos vespertino e noturno.
A proposta formativa da Licenciatura Interdisciplinar em Ciências
Naturais e Matemática tem como enfoque qualificar o egresso para atuação
como docente do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano), nas disciplinas de
Ciências Naturais, Física, Química, Biologia e Matemática.
Ao finalizarem a licenciatura interdisciplinar, os egressos podem seguir
72
sua trajetória formativa e optar por uma das quatro licenciaturas específicas já
mencionadas (Licenciatura em Matemática, Licenciatura em Química,
Licenciatura em Biologia e Licenciatura em Física), que têm como enfoque
central qualificar o egresso para lecionar no Ensino Médio, em uma das
respectivas disciplinas.
Esse segundo ciclo de formação aproveita parte dos componentes
curriculares já cursados pelos discentes na licenciatura interdisciplinar e tem
duração de três semestres, a serem cursados em único turno (vespertino ou
noturno). Em relação à Licenciatura em Matemática, em particular, esse curso
tem carga horária total de 3288 horas (soma da carga horária aproveitada da
licenciatura interdisciplinar com a carga horária específica) e é oferecido no
período noturno.
A presente pesquisa foi realizada na disciplina Laboratório de Educação
Matemática do 7º semestre de Licenciatura em Matemática I e optativa para os
demais cursos oferecidos no campus. Com carga horária de 64 horas, a
disciplina aborda como conteúdos centrais: a investigação em Educação
Matemática e as pesquisas desenvolvidas no Brasil; construção de projetos de
pesquisa e de sequências didáticas; uso de materiais manipuláveis e das
tecnologias digitais na prática docente (UFCA, 2016).
A partir dessa proposta, a presente pesquisa de doutorado se integrou
ao componente curricular, tanto por apresentar uma das tendências de
investigação e prática para o ensino e aprendizagem de Matemática, quanto
permitiu aos futuros professores vivenciarem parte de uma investigação
científica.
No que se refere aos participantes da pesquisa, os sujeitos foram oito
alunos matriculados na disciplina Laboratório de Educação Matemática I, do
primeiro semestre acadêmico de 2019. Um maior detalhamento dos
participantes é apresentado no Quadro 4:
73
Quadro 2 - Detalhamento de características dos participantes da pesquisa.
Sujeito Sexo Idade Formação concluída
Formação em andamento
Tempo de Experiência
docente
P1 Feminino 25
Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e
Matemática
- Licenciatura em Biologia
- Mestrado em Desenvolvimento
Regional Sustentável
-
P2 Masculino 33
Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e
Matemática
Licenciatura em Matemática
6 anos e 6 meses
P3 Masculino 24
Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e
Matemática
Licenciatura em Matemática
9 meses
P4 Feminino 20
Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e
Matemática
Licenciatura em Matemática
2 anos e 3 meses
P5 Masculino 22
Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e
Matemática
Licenciatura em Matemática
-
P6 Masculino 19 -
Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais
e Matemática
-
P7 Feminino 27
Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e
Matemática
Licenciatura em Matemática
2 meses
P8 Masculino 22
Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e
Matemática
Licenciatura em Matemática
-
Fonte: Acervo da pesquisa.
Observamos que são cinco homens e três mulheres, com idades entre
19 e 33 anos. Quatro participantes possuem experiência média de 2 anos e 5
meses como docentes na Educação Básica, nas áreas de Ciências Naturais,
Matemática, Física e Química.
Além disso, há seis alunos cursando a Licenciatura em Matemática, um
74
a Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e Matemática e uma
estudante da Licenciatura em Biologia, que também é discente do Mestrado em
Desenvolvimento Regional Sustentável na UFCA, em Juazeiro do Norte-CE.
Situados o ambiente e os participantes da pesquisa, passamos a apresentar as
características dessa tese.
4.2 Caracterização da pesquisa
Tendo em vista a inserção do presente trabalho no âmbito do Enfoque
Histórico-Cultural, a escolha de um método de investigação deve compactuar
com as premissas fundamentais desse arcabouço teórico.
Nesse sentido, como nosso enfoque foi o estudo do processo de
reelaboração da orientação de uma ação (e não a formação da habilidade),
empreendemos uma versão do experimento formativo. Para Talizina (2000), o
experimento formativo visa investigar, a partir da organização e aplicação de
uma atividade de aprendizagem, em quais condições se dá a formação
adequada de novos conhecimentos e habilidades enquanto componentes da
psique dos estudantes.
Conforme Davydov (1986, p.188), o experimento formativo “[...] pressupõe
a projeção e modelação do conteúdo de novas formações mentais a serem
constituídas, dos meios psicológicos e pedagógicos e das vias de sua formação”.
Para Davídov e Márkova (1987, p. 326), a essência desse método:
[...] se expressa no estudo dos processos de trânsito a novas formas da psique, no estudo das condições de surgimento de um ou outro fenômeno psíquico e na criação experimental das condições necessárias para que surjam. Tal investigação transcorre como projeção e modelação do processo de desenvolvimento.
Assim, o experimento formativo é um dos caminhos para investigação do
processo de internalização, que se debruça sobre as transformações ocorridas
pelo objeto de aprendizagem na passagem do plano interpsicológico para o
plano intrapsicológico.
Tendo em vista que a presente pesquisa tem como finalidade o estudo do
processo de reelaboração das orientações dos estudantes acerca da ação de
controle na resolução de problemas matemáticos, e, para isso, foi utilizado parte
75
dos subsistemas que constituem a Teoria de P. Ya. Galperin, adotamos a
nomenclatura Experiência Formativa para essa versão do experimento
formativo.
Utilizando a Experiência Formativa no contexto da formação docente,
Núñez (2015, p. 78) afirma que:
[...] se deve estudar as relações entre os fatores diversos que influenciam o pensamento e a ação dos professores em condições da educação que potencializa o desenvolvimento profissional, na base dialética das categorias essência-fenômenos, revelando as contradições dialéticas que permitem criar hipóteses explicativas das observações realizadas.
Situados em um contexto de formação de professores, o estudo de como
se dá a reelaboração da orientação da ação de controle na resolução de
problemas matemáticos, no âmbito de uma Experiência Formativa, também se
coloca como uma via para o desenvolvimento profissional docente.
Apresentamos na Figura 2 o esquema geral adotado por esta
investigação, evidenciando seus principais momentos:
76
Fonte: Elaborado pelo autor.
Para uma melhor contextualização e detalhamento das etapas da
Experiência Formativa, discutiremos nas próximas seções os instrumentos de
coleta de dados, bem como os procedimentos para a organização e a análise
dos dados.
4.3 Os instrumentos de coleta de dados
Os instrumentos de pesquisa utilizados na presente pesquisa foram: a
prova pedagógica, a observação, o diário dos alunos e o questionário. De modo
geral, o Quadro 3 apresenta cada um dos instrumentos de coleta de dados em
função dos objetivos específicos correspondentes:
Figura 2 - Principais momentos da pesquisa.
77
Quadro 3 - Relação entre objetivos específicos e instrumentos de pesquisa.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA
Caracterizar o nível de desenvolvimento inicial da ação de controle na resolução problemas matemáticos pelos licenciandos;
Prova Pedagógica
Desenvolver uma Experiência Formativa para reelaborar a orientação da ação de controle na resolução de problemas matemáticos;
Observação Diário dos alunos
Conhecer a avaliação dos participantes da Experiência Formativa na sua formação profissional.
Questionário
Avaliar as condições que favoreceram e as que dificultaram a reelaboração da orientação da ação de controle na resolução de problemas matemáticos dos participantes a partir da Experiência Formativa.
Prova Pedagógica Observação
Diário dos alunos Questionário
Fonte: Elaborado pelo autor.
A fim de melhor especificar como cada um dos instrumentos de coleta
de dados foi utilizado na pesquisa, detalharemos cada um deles a seguir.
4.3.1 Prova Pedagógica
No que se refere a prova pedagógica, ela tem o intuito de “[...] diagnosticar
o estado dos conhecimentos, hábitos e habilidades dos sujeitos em um momento
determinado” (CEREZAL; FIALLO, 2005, p. 128). Conforme os autores, a prova
pedagógica contribui tanto para verificar e controlar a eficácia do processo de
ensino, quanto para avaliar a aprendizagem dos discentes.
De modo específico, utilizaremos o que León (2002, p. 64) classifica como
prova pedagógica de desenvolvimento que “[...] se baseia na capacidade do
estudante de elaborar e expressar as ideias com clareza e precisão, de forma
oral ou escrita”.
Seu potencial na obtenção de dados que permitam uma caracterização dos
níveis de desenvolvimento de cada estudante em relação a suas orientações,
justificam a utilização da prova pedagógica no âmbito da pesquisa.
Apresentamos no Quadro 4 o plano de elaboração da prova pedagógica:
78
Quadro 4 - Plano de elaboração da prova pedagógica para o diagnóstico inicial.
OBJETIVOS PERGUNTAS
Identificar a compreensão do modelo do objeto da BOA de resolver problemas matemáticos.
• Quando um estudante aprende a resolver problemas em Matemática deve aprender também a realizar o controle (regulação) da aprendizagem durante esse processo. Em relação a essa situação, responda: 1) O que é resolver um problema matemático?
Identificar a compreensão do modelo da ação da BOA de resolver problemas matemáticos.
2) Quais são os passos necessários para se resolver um problema matemático?
Identificar a compreensão acerca do conceito de controle na resolução de problemas matemáticos.
3) O que é controlar (regular) o processo de resolução de problemas matemáticos?
Identificar a compreensão dos estudantes acerca do modelo de controle na resolução de problemas matemáticos.
4) Supondo que durante sua atuação docente precise avaliar como seus alunos realizam o controle (regulação) do processo de resolução de problemas matemáticos. Para isso, construa uma chave de resposta contendo as etapas para se resolver problemas (transcrição das respostas da questão 2) e suas respectivas etapas de controle.
Avaliar como os discentes colocam em prática a BOA durante a resolução e controle de uma situação-problema.
Uma empresa que transporta caixas paralelepipedais calcula o valor de seus fretes em função do custo fixo de R$ 50,00 e da média entre o volume (em m3) de mercadorias transportadas e três vezes a distância total a ser percorrida. Qual a expressão algébrica que determina o valor do frete?
Fonte: Elaborado pelo autor.
A resolução da prova pedagógica foi realizada individualmente e sem
qualquer tipo de ajuda externa.
4.3.2 Observação
A observação é aqui entendida como um instrumento que utiliza-se os
sentidos do pesquisador (visão, audição, etc.), para apreensão dos
acontecimentos relevantes do fenômeno investigado.
Conforme Talizina (2000), a observação, enquanto instrumento de coleta
de dados, deve considerar: a definição do objeto da observação e da situação
em que ele ocorrerá; listagem dos elementos do objeto importantes para o
estudo; formas de apreensão dos dados obtidos.
79
De modo particular, utilizamos a observação participante, que exige do
pesquisador “[...] uma relação direta com grupos ou pessoas, acompanhando-os
em situações informais ou formais e interrogando-os sobre os atos e seus
significados por meio de um constante diálogo” (OLIVEIRA, 2012, p. 81).
Esse instrumento foi empregado na pesquisa a fim de registrar um
panorama geral da Experiência Formativa, à luz da percepção do pesquisador
sobre a participação dos sujeitos da investigação.
As anotações, provenientes das observações, tiveram um caráter
descritivo e reflexivo. Isso significa, no contexto da presente pesquisa, tanto uma
preocupação em relatar os principais fatos ocorridos durante a Experiência
Formativa, quanto em refletir sobre as prováveis causas e efeitos que os
desencadearam.
Apresentamos a seguir o plano de observação segundo os momentos
da Experiência Formativa Quadro 5:
Quadro 5 - Plano de observação segundo os momentos da Experiência Formativa.
MOMENTO OBJETIVO ROTEIRO
Diagnóstico inicial
Identificar, a partir de uma discussão em sala de aula, as dificuldades e as facilidades dos discentes na resolução da prova pedagógica.
1) Descrição do que foi observado durante a aula.
2) Aspectos positivos observado nos estudantes durante o diagnóstico inicial. 3) Dificuldades observadas nos estudantes durante o diagnóstico inicial
Comparar o desempenho dos alunos durante a solução da situação-problema contida na prova pedagógica.
1) Descrição da aula
2) Mudanças na compreensão do que é e como resolver problemas matemáticos, após utilização dos níveis de ajuda. 3) Mudanças na compreensão de como controlar a resolução de problemas matemáticos, após utilização dos níveis de ajuda.
Etapa motivacional
Identificar as mudanças relatados pelos alunos em seus respectivos motivos para a aprendizagem do controle na resolução de problemas matemáticos, após vivenciarem esse momento formativo.
1) Descrição do que foi observado durante a aula.
2) Aspectos positivos observado nos estudantes durante a etapa motivacional da Experiência Formativa
3) Dificuldades observadas nos estudantes na etapa motivacional da Experiência Formativa
80
Elaboração da BOA dos
alunos
Identificar as facilidades e dificuldades dos participantes da pesquisa durante o processo de negociação dos sentidos e significados da BOA dos alunos para construção do EBOCA da turma.
1) Descrição do que foi observado durante a aula.
2) Aspectos positivos observados nos estudantes durante a elaboração do EBOCA 3) Dificuldades observadas nos estudantes durante a elaboração da BOA.
Controle na resolução dos
problemas matemáticos
Identificar como se dá o processo de controle na resolução dos problemas, em função da utilização do EBOCA e da colaboração entre os membros das duplas.
1) Descrição do que foi observado durante a aula.
2) Aspectos positivos observados nos estudantes durante a utilização do EBOCA e da colaboração entre os discentes durante o controle na resolução de problemas matemáticos. 3) Dificuldades dos alunos observadas nos estudantes durante a utilização da BOA e da colaboração entre os discentes durante o controle na resolução de problemas matemáticos.
Avaliação da Experiência Formativa
Identificar a relevância, potencialidade e viabilidade da orientação da ação de controle na resolução de problemas matemáticos; as dificuldades enfrentadas pelos estudantes; atividades consideradas mais e menos interessantes pelos discentes; e a percepção dos estudantes acerca da importância da orientação para a aprendizagem e para o controle.
1) Descrição do que foi observado durante a aula.
2) Aspectos positivos da Experiência Formativa que favoreceram a reelaboração da orientação da ação de controle na resolução de problemas matemáticos. 3) Aspectos negativos da Experiência Formativa que favoreceram a reelaboração da orientação da ação de controle na resolução de problemas matemáticos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
A elaboração das anotações resultantes das observações foram
realizadas em cada encontro da Experiência Formativa, em momento mais
próximo possível do término de cada um deles, visando preservar a maior
riqueza de detalhes dos fatos.
4.3.3 Diário dos alunos
Em relação ao diário dos alunos, esse instrumento consiste num conjunto
de anotações que relatam acontecimentos, impressões, sentimentos, etc.;
acerca de situações vivenciadas por um indivíduo. Discutindo as contribuições
do uso do diário, Basso (2009, p. 35) aponta que, por meio dele,
81
[...] o aluno fará um exercício de distanciamento da própria aprendizagem, pois ele é levado a refletir sobre seus conhecimentos prévios, questionando-se e operando transformações em seu modo de pensar, em seus conhecimentos, podendo, então, refletir sobre estas transformações, o caminho que percorreu, os obstáculos que encontrou e como os superou, e saber conscientemente o ‘lugar’ aonde chegou com os novos conhecimentos.
Ao conter um relato feito pelos próprios participantes sobre suas vivências
durante a Experiência Formativa, os dados contidos nos diários dos alunos se
constituem como ricas fontes de detalhes sobre as contribuições e as
dificuldades que cada estudante teve durante a atividade de aprendizagem. No
Quadro 6 apresentamos o plano de elaboração dos tópicos para nortear os
estudantes na construção de seus diários:
Quadro 6 - Plano de elaboração do diário dos alunos.
MOMENTO OBJETIVO ROTEIRO
Diagnóstico inicial
Identificar as expectativas dos discentes em relação a Experiência Formativa e as dificuldades que encontraram durante a prova pedagógica.
1) Descrição da aula a) Descreva suas expectativas em relação a Experiência Formativa. b) Descreva as dificuldades que encontrou durante a aula.
Identificar os principais aspectos aprendidos e as dificuldades enfrentadas pelos estudantes.
1) Descrição da aula a) Descreva o que aprendeu durante a aula. b) Descreva as dificuldades que enfrentou durante a aula.
Etapa motivacional
Identificar mudanças nos motivos e interesses dos alunos em relação ao estudo do controle e da resolução de problemas matemáticos, bem como as dificuldades enfrentadas durante esse momento da Experiência Formativa.
1) Houve alguma mudança em relação aos seus motivos e interesses em relação ao estudo do controle na resolução de problemas matemáticos? Explique sua resposta. 2) Descreva as dificuldades que encontrou durante a aula.
Elaboração do EBOCA dos alunos
Identificar na compreensão dos discentes acerca da orientação da habilidade de controle, bem como as dificuldades enfrentadas durante esse momento da experiência.
1) Houve mudanças na sua compreensão sobre o papel da orientação para a realização do controle na resolução de problemas matemáticos? Explique sua resposta. 2) Descreva as dificuldades que encontrou durante a aula.
Identificar aspectos positivos e dificuldades relacionados ao
1) Em relação a etapa de elaboração do EBOCA, relate os aspectos que considera importante para a resolução de problemas
82
processo de elaboração do EBOCA pela turma.
matemáticos e para o controle, bem como as dificuldades que vivenciou durante esse processo.
Controle na resolução dos
problemas matemáticos
Caracterizar como se deu o processo de solução e de controle na resolução de problemas matemáticos, no que diz respeito ao uso da BOA, da colaboração entre os pares e as dificuldades vivenciadas durante esse processo.
1) Descreva como se deu a resolução das situações-problema. Relate como se deu a colaboração com seu colega, o apoio com o uso do EBOCA, suas dificuldades durante esse processo, entre outras coisas que considerar relevante. 2) Descreva como se deu o controle na resolução das situações-problema. Relate como se deu a colaboração com seu colega, o apoio com o uso do EBOCA, suas dificuldades durante esse processo, entre outras coisas que considerar relevante.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Os diários dos alunos participantes da pesquisa foram elaborados ao final
dos quatro primeiros momentos da Experiência Formativa e visaram subsidiar a
caracterização dos fatores que favoreceram e os que dificultaram o processo de
reelaboração da orientação da ação de controle da aprendizagem pelos
participantes da pesquisa.
4.3.4 Questionário
Em relação ao questionário, comungamos da conceituação de Gil (2008,
p. 121), que o define como “[...] um conjunto de questões que são submetidas a
pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças,
sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores,
comportamento presente ou passado etc.” Para Gil (2008), o processo de
construção de um questionário se refere, de modo geral, a subdividir os objetivos
do estudo em questões.
Este instrumento foi utilizado com intuito de avaliar aspectos da
Experiência Formativa, segundo a percepção dos participantes da pesquisa.
A partir desse entendimento, apresentamos no, Quadro 7, o plano de
elaboração do questionário da pesquisa:
83
Quadro 7 - Plano de elaboração do questionário de avaliação final.
OBJETIVO PERGUNTA
Avaliar como os estudantes consideram o controle relevante para sua formação, como ele pode ajudar na prática docente e a viabilidade de ensiná-lo.
1) Em relação a Experiência Formativa orientada a aprendizagem de como realizar o controle na resolução de problemas matemáticos, considerando o Esquema da Base Orientadora Completa da Ação (EBOCA), responda: a) Considerou importante para você? Justifique. b) Como essa aprendizagem pode ajudar na suas atividades futuras como professor? c) Considera ser possível ensinar os estudantes essa forma de controlar a resolução de problemas matemáticos? Por quê?
Identificar as principais dificuldades apresentadas pelos participantes em relação a aprendizagem do controle na resolução de problemas matemáticos na Experiência Formativa.
2) Quais foram as principais dificuldades que você apresentou em relação a aprender a controlar a resolução de problemas matemáticos, segundo a proposta da Experiência Formativa? Mencione três:
Identificar as atividades desenvolvidas durante a Experiência Formativa consideradas mais e menos relevantes pelos participantes.
3) Em relação as atividades desenvolvidas. a) Quais considerou mais interessantes? Por quê? b) Quais considerou menos interessantes? Por quê?
Verificar a avaliação realizada pelos participantes acerca da importância do que foi aprendido sobre o papel da orientação e do controle na resolução de problemas matemáticos.
4) Como você avalia a importância do que aprendeu sobre o papel da orientação na aprendizagem e no processo de controle na resolução de problemas matemáticos?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nesta pesquisa, foi elaborado um questionário, utilizado no final do
sistema didático, com o intuito de avaliar, segundo os sujeitos, os aspectos
relevantes e as limitações da Experiência Formativa e da participação deles.
4.4 Validação dos instrumentos de coleta de dados
A validação de um instrumento de coleta de dados consiste na verificação
se o produto, oriundo de sua aplicação, será compatível com o objetivo inicial
que embasou sua utilização na pesquisa. A validez, nesse sentido, visa garantir
que os dados coletados não extrapolem os limites estabelecidos no plano do
instrumento e que este responda aos objetivos da pesquisa.
84
Considerando a importância da qualidade dos dados obtidos a partir dos
instrumentos de pesquisa, é fundamental que esses sejam validados. Para esse
fim, foi empregado o julgamento por especialistas. Conforme Stracuzzi e
Pestana (2012), essa estratégia consiste numa análise do material do trabalho
por pesquisadores especializados no tema, que revisam os fundamentos
teóricos e metodológicos adotados, a coerência entre todos os elementos da
investigação e sua redação, propondo recomendações de ajustes, quando
acharem necessários.
Quadro 8 - Questões que nortearam a validação de cada instrumento de pesquisa.
INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
QUESTÕES NORTEADORAS DA VALIDAÇÃO
Observação
- Os tópicos são compatíveis com os objetivos apresentados no plano de observação? - Como realizar os registros dessas observações? - A partir desses tópicos, os registros das observações serão adequados aos objetivos da pesquisa?
Questionário
- As questões possuem enunciados compatíveis com os objetivos apresentados no plano de elaboração do questionário? - As questões possuem algum termo ambíguo, que possa levar o participante da pesquisa a desviar o tema a ser tratado em sua resposta? - O conjunto de perguntas permite formar um sistema de respostas que possibilite avaliar a Experiência Formativa?
Prova pedagógica
- As perguntas estão adequadas aos objetivos do plano da prova pedagógica? - O conjunto de perguntas permite a caracterização da orientação dos alunos acerca da ação de controle na resolução de problemas matemáticos e a aplicação dessa compreensão em uma situação-problema?
Diário dos alunos
- Os tópicos são compatíveis com os objetivos apresentados no plano do diário dos alunos? - Os tópicos que compõem o diário possibilita que os alunos descrevam cada momento de sua participação na Experiência Formativa?
Fonte: Elaborado pelo autor.
Esse julgamento se deu de forma contínua e em momentos pontuais, em
função dos componentes curriculares previstos na estrutura do curso de
Doutorado. Nas atividades previstas nos Seminários de Pesquisa I, II, III e IV, a
pesquisa foi validada a partir do acompanhamento periódico do orientador da
pesquisa, Prof. Dr. Isauro Beltrán Núñez.
85
No Seminário de Formação Doutoral I, os instrumentos foram validados
em consonância com o Sistema Didático, antes de sua aplicação. A validação
contou, além do orientador, com os pareceres de quatro especialistas, a saber:
Prof.ª Dr.ª Claudianny Amorim Noronha (UFRN), Prof. Dr. Francisco de Assis
Bandeira (UFRN), Prof. Dr. Héctor José García Mendoza (UFRR) e Prof.ª Dr.ª
Rogéria Gaudêncio do Rêgo (UFPB).
Nesse primeiro seminário, os principais ajustes realizados na pesquisa e,
em particular, os instrumentos de coleta de dados, tiveram como enfoque ajustar
o objetivo da tese, que passou de formação de uma habilidade geral para o
estudo da reelaboração da orientação de uma ação.
Em relação ao Seminário de Formação Doutoral II, o enfoque foi na
validação dos instrumentos em consonância com um primeiro esboço dos
resultados e discussões do texto da pesquisa. Acerca dos especialistas, houve
a continuidade de todos os pesquisadores.
4.5 Organização dos dados
O corpus da pesquisa foi formado por: anotações das observações e dos
diários dos alunos e as respostas à prova pedagógica e ao questionário.
Discutiremos a diante como ocorreu o processo de organização de cada um do
conjunto de dados obtidos pela pesquisa.
Por conter no relato uma reflexão sobre toda a Experiência Formativa, as
anotações da observação foram organizadas segundo a ordem cronológica dos
fatos, a fim de facilitar consultas para rememoração dos detalhes dos
acontecimentos ocorridos.
Os dados coletados por meio da prova pedagógica, dos diários dos alunos
e do questionário foram dispostos em uma planilha eletrônica do software
Microsoft Excel.
Os dados obtidos por meio do questionário foram dispostos na planilha
eletrônica, relacionando às respostas dos alunos aos enunciados de cada
questão, conforme modelo do Quadro 9:
86
Quadro 9 - Modelo da disposição dos dados do questionário na planilha.
ALUNOS RESPOSTAS
1a 1b 1c 2 3ª 3b 4
Fonte: Elaborado pelo autor.
A organização dos dados coletados pela prova pedagógica foi
evidenciando, por aluno, três componentes da Base Orientadora da Ação de
resolver problemas: o modelo do objeto (o que é resolver problemas
matemáticos?), modelo da ação (como resolver problemas matemáticos?),
modelo de controle (como controlar a resolução de problemas matemáticos?),
conforme modelo a frente representado no Quadro 10:
Quadro 10 - Modelo de disposição dos dados da prova pedagógica na planilha.
ALUNOS MODELO DO OBJETO
MODELO DA AÇÃO MODELO DE CONTROLE
Fonte: Elaborado pelo autor
No que se refere as anotações dos diários dos alunos, os dados foram
organizados no momento da Experiência Formativa, relacionando cada
estudante ao conteúdo do diário, conforme as questões propostas no roteiro,
segundo mostra o Quadro 11:
Quadro 11 - Organização dos dados dos diários dos alunos na planilha.
ALUNOS RESPOSTAS
1a 1b 2
Fonte: Elaborado pelo autor
Finalmente, os dados obtidos nas tarefas foram organizados evidenciando
aspectos quantitativos e qualitativos do controle na resolução dos problemas
matemáticos, em função dos indicadores correto (C), parcialmente correto (PC)
e incorreto (I).
87
Em relação a organização dos aspectos qualitativos, os quadros foram
divididos por tarefa, relacionando: alunos da dupla; classificação da resposta
dada como correta (C), parcialmente correta (PC), incorreta (I); e uma descrição
da estratégia de resolução e de controle empregada. O Quadro 12 seguinte
apresenta a estrutura da planilha:
Quadro 12 - Organização dos dados de tarefas.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Após a descrição de como procedeu a organização dos dados em função
de cada instrumento de coleta, passamos a discorrer sobre o processo de
análise e interpretação dos dados da pesquisa.
4.6 Análise dos dados
Uma das estratégias de análise empregada em todos os dados coletados
foi a Análise de Conteúdo. Bardin (1977, p. 42) define a Análise de Conteúdo
como:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Considerando a diversidade de estratégias que compõem a análise de
conteúdo, adotamos as etapas propostas por Bardin (1977), a saber: 1) pré-
análise; 2) exploração do material; 3) tratamento dos resultados, a inferência e a
interpretação.
O momento de pré-análise consistiu na fase de organização do material e
envolveu: a leitura “flutuante” (isto é, uma leitura panorâmica de todo o material
TAREFA: 3 Tipo de problema: Sem solução
Resolução do problema Controle na resolução do problema
Aluno C PC I Estratégia Aluno C PC I Estratégia
88
para construção das primeiras impressões sobre os dados); a escolha dos
documentos; a elaboração de hipóteses e objetivos; a construção de indicadores
que nortearão a interpretação dos dados; e a preparação do material, que
envolve eventuais necessidades de adequação dos dados (a norma culta da
língua, por exemplo), caso seja necessário (BARDIN, 1977).
Finalizada a primeira etapa, seguimos para a exploração do material que,
nas palavras de Bardin (1977, p. 101), é a “[...] administração sistemática das
decisões tomadas”. Em outras palavras, a partir dos pressupostos estabelecidos
durante a pré-análise, ocorreu a redução das informações coletadas em função
de categorias emergentes.
Posteriormente, a análise seguiu para a etapa de tratamento dos
resultados, a inferência e a interpretação, na qual se desenvolveu a
sistematização, de modo a transformar os dados, relacionando-os as categorias
e atribuindo-lhes significado a partir do quadro teórico da investigação.
As categorias emergentes que balizaram a Análise de Conteúdo são
apresentadas no Quadro 13, em função de cada um dos instrumentos de coleta
de dados:
Quadro 13 - Instrumentos de pesquisa e suas categorias de Análise de Conteúdo.
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
CATEGORIAS EMERGENTES DE ANÁLISE
Prova Pedagógica
- Modelo do objeto de resolver problemas matemáticos - Modelo da ação de resolver problemas matemáticos - Definição de controle da aprendizagem - Modelo de controle na resolução de problemas matemáticos
Observação - Aspectos relevantes de cada momento da Experiência Formativa. - Dificuldades enfrentadas pelos estudantes em cada momento da Experiência Formativa.
Diário dos alunos
- Aspectos relevantes de cada momento da Experiência Formativa. - Dificuldades enfrentadas pelos estudantes em cada momento da Experiência Formativa.
Questionário
- Relevância do EBOCA - Dificuldades enfrentadas durante Experiência Formativa - Atividades consideradas mais relevantes para os estudantes - Atividades consideradas menos relevantes para os estudantes - Avaliação da aprendizagem acerca da orientação da ação de controle da resolução de problemas matemáticos
Fonte: Elaborado pelo autor
De modo complementar à Análise de Conteúdo, os modelos que
89
compõem a orientação dos estudantes para a ação de controle na resolução de
problemas matemáticos foram ainda comparados com o Esquema da Base
Orientadora Completa da Ação (EBOCA) elaborado pelo professor, a partir das
categorias: Correta (C); Parcialmente correta (PC) e Incorreta (I).
No que concerne à análise das respostas das situações-problema, esse
processo consiste em verificar se as respostas dadas pelos alunos estão
adequadas ou não ao gabarito de cada tarefa. Cury (2008, p. 63):
[...] o importante não é o acerto ou o erro em si – que são pontuados em uma prova de avaliação da aprendizagem -, mas as formas de se apropriar de um determinado conhecimento, que emerge na produção escrita e que podem evidenciar dificuldades de aprendizagem (CURY, 2008, p. 63).
Assim, apesar de não desconsiderar a relevância dos erros e acertos,
esses são vistos como indicativos do nível de desenvolvimento do aluno em
relação a um determinado conhecimento ou habilidade e se constituem como as
manifestações de uma dificuldade do estudante ou ausência dela.
Nós nos debruçamos, sobretudo, sobre os erros cometidos pelos
participantes para a elaboração de hipóteses acerca das respectivas dificuldades
subjacentes, à luz da literatura específica.
Partimos do entendimento de Núñez e Ramalho (2012b) acerca do erro
enquanto uma expressão da relação entre o que estudante sabe e o que busca
saber. Além disso, da existência de uma relação dialética do tipo fenômeno-
essência entre erro e dificuldade, sendo o primeiro uma manifestação
(fenômeno) de uma causa presente no sujeito (essência).
Finalizadas as discussões sobre os aspectos metodológicos, a seção
seguinte apresentará o Sistema Didático elaborado para a Experiência
Formativa.
90
5 ORGANIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA FORMATIVA
Uma das características das experiências pedagógicas que se debruçam
sobre a problemática inerente à relação entre o ensino e o desenvolvimento,
consiste na busca pelas regularidades no processo de ensino. Para Zankov
(2017), essa busca está intrinsecamente relacionada à organização dessa
atividade e pela obtenção dos meios para se atingir certo nível de
desenvolvimento dos alunos.
Esse tipo particular de organização da atividade de aprendizagem é
nomeado por Zankov (1984) Sistema Didático. O sistema é didático devido sua
fundamentação advir da pesquisa educacional e experimental, tanto por ser
parte de estudos científicos imersos no Enfoque Histórico-Cultural, quanto por
se colocar como um contraponto a outras formas de organização do ensino.
Nesse sentido, entendemos o Sistema Didático como o conjunto de
princípios, métodos de assimilação, tarefas, indicadores qualitativos, etc.;
adotados pelo professor durante a organização da atividade de aprendizagem
que possibilitam as condições necessárias e suficientes para que seus
estudantes alcancem determinado nível de desenvolvimento.
A organização da Experiência Formativa proposta nesta tese se deu à luz
da Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos, de P. Ya.
Galperin. Essa organização requer um planejamento que considere, segundo
Núñez (1992, 2009, 2017), os seguintes elementos: definição dos objetivos;
organização do conteúdo a ser assimilado; e estrutura didática para formação da
habilidade. Desse modo, discutiremos nos próximos tópicos os referidos
elementos.
5.1 A definição do objetivo
Considerando que a organização do ensino sempre deve estar orientada
para a obtenção de um produto (resultado), Talizina (1988) aponta que a direção
da atividade de aprendizagem sempre se norteia por um objetivo. Além disso,
sendo a aprendizagem uma atividade, o professor deve definir ainda, em
consonância com o objetivo, quais serão as características da ação do sujeito
após a assimilação do conteúdo.
91
No que se refere ao objetivo do presente Sistema Didático, haja vista que
esta tese tem o intuito de estudar a influência das atividades propostas no
processo de reelaboração da orientação da ação de controle na resolução de
problemas matemáticos, definimos os seguintes conteúdos: porcentagem,
proporcionalidade, operações matemáticas básicas e expressões algébricas.
A escolha de conteúdos presentes no currículo da Educação Básica, se
deu por dois critérios relacionados ao seu grau de aplicabilidade e a potencial
familiaridade dos participantes.
Acerca do primeiro critério, como o modelo de controle da Base
Orientadora da Ação utilizada nesta pesquisa, corresponde à habilidade de
resolver problemas matemáticos, para preservar ao máximo o caráter geral da
orientação proposta, precisávamos de conteúdos que possuíssem várias
possibilidades de aplicação em diversas situações.
No que se refere ao segundo critério, tendo em vista que o foco do
Sistema Didático não foi a assimilação de um conhecimento matemático,
precisávamos desenvolver um sistema utilizando conteúdos matemáticos que os
alunos já tivessem familiaridade, para não correr o risco da Experiência
Formativa ser prejudicada por conta de dificuldades dos alunos em relação aos
conceitos.
Convém destacar que essa familiaridade não deve ser entendida como
opção por um conteúdo de baixa complexidade para os participantes da
pesquisa, e sim como escolha de um objeto matemático que permitisse uma
variação do grau de complexidade das tarefas a serem propostas, de modo a
facilitar a adequação do Sistema Didático aos diferentes perfis de participantes
da pesquisa e níveis de desenvolvimento desejáveis planejados pelo professor.
Com base no que foi exposto, o presente Sistema Didático tem como
objetivo: Influenciar na reelaboração da orientação dos estudantes para a
ação de controle na resolução de problemas de porcentagem, proporção,
operações matemáticas e expressões algébricas.
5.2 A organização do conteúdo: A orientação da ação de resolver
problemas matemáticos
Em consonância com a utilização de uma Base Orientadora da Ação
92
geral, completa e independente (BOA III), Reshetova (1988) elabora o enfoque
sistêmico funcional-estrutural como estratégia de organização do conteúdo. Para
a organização do conteúdo sob essa perspectiva, esse é dividido em partes
menores, com propriedades distintas umas das outras, segundo a relevância
desses elementos na formação do todo (papel e funções) e sua correspondência
funcional com os demais elementos do sistema (RESHETOVA, 1988).
Dessa forma, o conteúdo é representado de uma forma mais geral
possível, a partir de seus elementos essenciais. Nesse sistema, os diferentes
casos particulares que estejam dentro de seus limites de generalidade se
constituem como meios para manifestação dessa essência.
A essência, denominada invariante do sistema, é entendida por
Reshetova (1988, p. 49) como a “[...] formação estável que tem um sistema
determinado de qualidades [que] se conserva em toda a diversidade de variantes
concretas de sua existência [...]”.
Para organização do conteúdo de uma habilidade segundo o enfoque
sistêmico funcional-estrutural, os invariantes do sistema serão os seus
componentes (TALIZINA, 1988).
Um dos caminhos para organização da BOA III materializada (isto é, o
EBOCA do professor) consiste no Método Teórico de Análise da Atividade.
Conforme Núñez, Ramalho e Oliveira (2018, p. 60), essa ferramenta realiza uma
“[...] análise funcional-estrutural das diversas variantes conhecidas ou nos
modos de agir quando tarefas do mesmo tipo são resolvidas. Esse modelo,
então, possibilita explicar esses processos e fenômenos, de forma geral, e se
constitui no objeto de assimilação”.
Para construção do EBOCA do professor por meio do Método Teórico de
Análise da Atividade, seguimos os seguintes passos: i) levantamento em textos
científicos especializados nas orientações acerca da habilidade objeto de
estudo; ii) categorização das ações e operações de todas as orientações
selecionadas segundo suas similaridades; iii) síntese das ações e operações
conforme os aspectos invariantes (essência) contidos nas diferentes orientações
analisadas.
Após esse processo, o EBOCA do professor é constituído pelas
invariantes dos aspectos conceituais (modelo do objeto) e dos sistemas de ações
(modelo da ação) construídos a partir das orientações analisadas.
93
Uma vez obtidos os dois modelos, o modelo de controle é formado por um
sistema de operações reflexivas inter-relacionadas com o sistema de operações
que constitui o modelo da ação. Ou seja, para cada operação do modelo de ação
haverá uma operação do modelo de controle que permite avaliar e corrigir
(quando necessário) a execução da habilidade.
Por meio do Método Teórico de Análise da Atividade, apresentamos o
processo de elaboração do EBOCA do professor, dividido em função de suas
três partes constituintes: modelo do objeto, modelo da ação e modelo de
controle.
O modelo do objeto, que corresponde ao aspecto conceitual da definição
da habilidade, se refere, no âmbito deste estudo, à compreensão do que é
resolver problemas matemáticos. Partindo das definições levantadas e
discutidas na subseção 3.1 desta tese, elaboramos o Quadro 14 a seguir:
Quadro 14- Definição do que é problema por diferentes autores.
AUTOR DEFINIÇÃO DE PROBLEMA
Houassis (2009, p. 1553)
“[...] o que se tem distante de si; obstáculo; questão”.
Onuchic e Allevato (2011, p.
81)
“[...] tudo aquilo que não se sabe fazer, mas que se está interessado em resolver”
Dante (2009, p. 11)
“[...] um obstáculo a ser superado, algo a ser resolvido e que exige o pensar consciente do indivíduo para solucioná-lo”.
Polya (1981, p. 117)
“[...] procurar conscientemente por alguma ação apropriada para atingir um objetivo claramente concebido, mas não imediatamente atingível”.
Campistrous e Rizo (2014, p.
293),
“[...] toda situação em que há uma abordagem inicial e um requisito que força a transformá-la. O caminho para sair da situação ou abordagem inicial para a nova situação exigida tem que ser desconhecida e a pessoa deve querer fazer a transformação”.
Ramírez (2006, p. 71)
[...] é aquela situação que se caracteriza pela existência de uma pessoa (ou grupo) que deseja resolvê-la, de um estado inicial e outro final, e de algum tipo de impedimento para a transição de um estado a outro. Isso permite compreender que no âmbito escolar um exercício (ou em geral qualquer tarefa docente) será um problema se a transição do estado inicial para o estado final implica que o estudante experimente um desenvolvimento cognitivo, ao trabalhar em sua ZDP.
Nápoles (2011, p. 3)
[...] situação em que o aluno está envolvido, em que ele sente a necessidade de realizá-la para satisfazer suas necessidades, motivos e interesses cognitivos e, no processo para alcançá-la, usa todos os recursos, quer dizer, conhecimento, habilidades, métodos; que lhe permitem atingir o objetivo que persegue.
Majmutov (1983, p. 58)
[...] uma forma subjetiva de expressar a necessidade de desenvolver o conhecimento científico. Este é o reflexo de uma situação problema, ou seja, de uma contradição entre o conhecimento e falta de conhecimento que objetivamente surge do processo social.
Núñez et al. (2004, p. 152
“[...] a contradição que caracteriza uma situação problema assimilada/internalizada pelo aluno”
Martínez (1998, “[...] o conhecimento do desconhecido que propõe ao homem a questão
94
p. 16) para o desenvolvimento”
Fonte: Elaborado pelo autor.
Um primeiro aspecto que podemos evidenciar nas definições
anteriormente descritas é a explicitação, em algumas delas, de um entendimento
do problema não em função de sua estrutura, mas em relação ao indivíduo (ou
grupo) que se depara com uma determinada situação. Em outros termos, o
problema é definido não a partir do seu conteúdo ou grau de complexidade, mas
sim tanto pelo aspecto motivacional, volitivo, da pessoa; quanto pelo nível de
conscientização do(s) indivíduo(s) em relação ao objetivo a ser alcançado com
o processo de solução.
Assim, a existência do problema é condicionada ao interesse do sujeito
em resolvê-lo, a uma tomada de consciência sobre o que é procurado, a
coincidência do motivo do sujeito com o objetivo do problema. Partindo desse
entendimento, destacamos como um aspecto invariante a resolução de
problemas matemáticos enquanto atividade.
Outro aspecto que podemos considerar é a compreensão do problema
enquanto obstáculo entre um momento inicial (anterior à solução) e um momento
posterior (quando a solução é encontrada), a ser superado por meios
desconhecidos. O desconhecimento dos meios sugere que, embora os
conhecimentos e habilidades necessários para a solução possam ser
previamente conhecidos pelo sujeito, a estratégia de empregá-los no âmbito do
processo de resolução da situação não podem ser.
Esse segundo aspecto faz emergir um entendimento invariante da
resolução de problemas como um processo de busca pela solução de uma
contradição entre os conhecimentos conhecidos e os desconhecidos.
Por fim, se tratando da resolução de problemas no contexto de uma área
do conhecimento específica, outro aspecto invariante para o modelo do objeto
consiste na condição necessária que a resolução de problemas em Matemática
se dá por meio de conhecimentos matemáticos.
Reunido os elementos invariantes anteriormente discutidos, no modelo do
objeto do Esquema da Base Orientadora Completa da Ação (EBOCA) do
professor, apresentamos a compreensão da resolução de problemas
matemáticos no Quadro 15 a seguir:
95
Quadro 15 - Modelo do objeto do EBOCA de resolver problemas matemáticos.
MODELO DO OBJETO
Atividade de busca pela solução de uma contradição entre o que é conhecido e o que é desconhecido, por meio de conhecimentos matemáticos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Passando ao modelo da ação, que se refere ao aspecto operacional, isto
é, ao sistema de ações e operações necessários e suficientes para se resolver
um problema matemático, sintetizamos, no Quadro 16, as diferentes propostas
de autores discutidos na subseção 3.2. Visando facilitar a identificação das
etapas em função de seus propositores, acrescentamos as iniciais de cada autor
e o algarismo indo-arábicos correspondente a sua ordem dentro do modelo.
Quadro 16 - Sínteses de etapas para resolução de problemas de diferentes autores.
AUTOR ETAPAS PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Libâneo (2005)
LI1 Analisar o problema LI2 Vias de solução LI3 Execução da solução escolhida; LI4 Controlar o processo de solução e o resultado obtido
Volodarskaya e Nikitiuk (2001)
VK1 Análise VK2 Construção VK3 Demonstração VK4 Investigação
Lavigne (1999)
LA1 Compreender o problema LA2 Analisar o problema LA3 Solucionar o problema LA4 Avaliar a solução do problema
Majmutov (1983)
MAJ1 Surgimento da situação problemática e a abordagem do problema MAJ2 Utilização dos procedimentos de solução que se conhece (etapa de solução “fechada” do problema); MAJ3 Ampliação da esfera de busca de novos procedimentos de solução (etapa de solução “aberta” do problema), encontrando uma nova relação ou princípio de ação; MAJ4 Realização do princípio encontrado; MAJ5 Comprovação do grau de correção da solução
Mendoza e
Delgado (2018)
MD1 Formular o problema docente MD2 Construir o núcleo conceitual MD3 Solucionar o problema docente MD 4 Interpretar a solução
Martínez (1998) MAR1 Determinar o buscado através dos dados MAR2 Estabelecer as dependências casuais entre o conhecido e o buscado
96
MAR3 Elaborar e determinar a possível via de solução (hipótese) MAR4 Levantar a solução (o encontrado) MAR5 Comprovar a coincidência do resultado com o objetivo.
Triana (2005)
TR1 Analisar o problema TR2 Gerar estratégias de trabalho TR3 Avaliar as consequências da aplicação da estratégias que se considere mais adequada TR4 Executar ou desenvolver a estratégia selecionada TR5 Avaliar as conquistas e dificuldades durante a execução
Luria (1981; 1990)
LU1 Identificação das condições da situação LU2 Analisar as condições do problema LU3 Determinação das estratégias de solução LU4 Escolha dos métodos e das operações adequadas LU5 Solução real do problema LU 6 Comparação dos resultados obtidos com as condições iniciais
Nikola e Talizina (2001)
NT1 Identificar as grandezas do problema NT2 Representar as grandezas NT3 Organizar as grandezas segundo o esquema da árvore de raciocínio NT4 Solucionar o problema.
Davydov (1981, 1988)
D1 Transformação dos dados do problema D2 Modelação dos dados D3 Transformação do modelo para resolução matemática D4 Execução das ações para obtenção da solução D5 Controle das ações anteriores D6 Avaliação do resultado.
Fonte: Elaborado pelo autor
Para facilitar a busca pelos invariantes, optamos por dividir cada uma das
etapas contidas no Quadro 16 em função dos principais momentos funcionais da
atividade (orientação, execução e controle). O Quadro 17 apresenta os
momentos da atividade, as etapas para resolução de problemas dos diferentes
autores já discutidos e os respectivos invariantes identificados:
97
Quadro 17 - Invariantes da habilidade de resolver problemas matemáticos.
MOMENTOS
DA ATIVIDADE ETAPAS INVARIANTES
Orientação
LI1 Analisar o problema VK1 Análise LA1 Compreender o problema LA2 Analisar o problema MAJ1 Surgimento da situação problemática e a abordagem do problema MD1 Formular o problema docente MA1 Determinar o buscado através dos dados MA2 Estabelecer as dependências casuais entre o conhecido e o buscado TR1 Analisar o problema LU1 Identificação das condições da situação LU2 Analisar as condições do problema NT1 Identificar as grandezas do problema NT2 Representar as grandezas D1 Transformação dos dados do problema D2 Modelação dos dados
Analisar a situação- problema
LI2 Vias de solução MAJ2 Utilização dos procedimentos de solução que se conhece (etapa de solução “fechada” do problema); MAJ3 Ampliação da esfera de busca de novos procedimentos de solução (etapa de solução “aberta” do problema), encontrando uma nova relação ou princípio de ação; MD2 Construir o núcleo conceitual MA3 Elaborar e determinar a possível via de solução (hipótese) TR2 Gerar estratégias de trabalho TR3 Avaliar as consequências da aplicação da estratégias que se considere mais adequada LU3 Determinação das estratégias de solução LU4 Escolha dos métodos e das operações adequadas NT3 Organizar as grandezas segundo o esquema da árvore de raciocínio D3 Transformação do modelo para resolução matemática
Planejar uma estratégia para
resolução do problema
Execução
LI3 Execução da solução escolhida VK2 Construção VK3 Demonstração LA3 Solucionar o problema MAJ4 Realização do princípio encontrado; MD3 Solucionar o problema docente MA4 Levantar a solução (o encontrado) TR4 Executar ou desenvolver a estratégia selecionada LU5 Solução real do problema NT4 Solucionar o problema D4 Execução das ações para obtenção da solução
Executar a estratégia para resolução do
problema
98
Controle
LI4 Controlar o processo de solução e o resultado obtido VK4 Investigação LA4 Avaliar a solução do problema MAJ5 Comprovação do grau de correção da solução MD 4 Interpretar a solução MA5 Comprovar a coincidência do resultado com o objetivo TR5 Avaliar as conquistas e dificuldades durante a execução LU 6 Comparação dos resultados obtidos com as condições iniciais D5 Controle das ações anteriores D6 Avaliação do resultado.
Avaliar a resolução do problema
Fonte: Elaborado pelo autor
Como é possível observar no Quadro 17, no âmbito do momento funcional
de orientação, identificamos duas ações invariantes, são elas: A1- Analisar a
situação-problema e A2- Planejar uma estratégia para resolução do problema.
No momento de execução, a ação correspondente é A3- Executar a estratégia
para resolução do problema. Por fim, o controle da atividade tem como ação
correspondente A4- Avaliar a resolução do problema.
Haja vista que as ações se subdividem em operações, no Quadro 18
apresentamos o modelo da ação, detalhando as respectivas operações.
Quadro 18 - Modelo da ação do EBOCA de resolver problemas matemáticos do professor.
MODELO DA AÇÃO
Ação Operação
A1: Analisar a situação-problema.
O1: Ler o enunciado e determinar se corresponde a uma situação-problema. Caso corresponda, resolver utilizando o cartão de estudo. Do contrário, procurar outra orientação. O2: Reconhecer o que é conhecido e o que é desconhecido O3: Definir o problema, a partir da contradição entre o conhecido e o desconhecido O4: Representar o problema a partir do que é conhecido, desconhecido e procurado.
A2: Planejar uma estratégia para resolução do problema.
O5: Determinar as condições para a solução do problema. O6: Elaborar uma estratégia para resolução, segundo as condições do problema
99
A3: Executar a estratégia para resolução do problema.
O7: Realizar a resolução do problema de acordo com o planejado. O8: Interpretar o resultado encontrado em função do que é procurado.
A4: Avaliar a resolução do problema.
O9: Verificar se a solução do problema está de acordo com o que é procurado O10: Caso a resposta esteja correta, refletir sobre os aspectos que favoreceram a esse resultado O11: Caso a resposta seja negativa, ou não tenha chegado a uma resposta, refletir e reformular caso seja necessário, o problema e/ou a estratégia de solução. Corrigir os erros. O12: Relacionar os resultados obtidos com conhecimentos anteriores e com novos conhecimentos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Por fim, o modelo do controle corresponde ao aspecto operacional de
controle, que possibilita ao sujeito da atividade monitorar e corrigir, quando
necessário, a execução do sistema de ações que constitui a habilidade a ser
aprendida. Dada a sua inter-relação com o modelo da ação, apresentamos no
Quadro 19 que segue, o modelo de controle em função do sistema operacional
que constitui o modelo da ação do EBOCA de resolver problemas matemáticos
do professor:
Quadro 19- Relação entre operações para ação e operações de controle.
OPERAÇÕES DO MODELO DA AÇÃO OPERAÇÕES DO MODELO DE CONTROLE
O1: Ler o enunciado e determinar se corresponde a uma situação-problema. Caso corresponda, resolver utilizando o cartão de estudo. Do contrário, procurar outra orientação.
C1: O enunciado trata de uma situação-problema?
O2: Reconhecer o que é conhecido e o que é desconhecido
C2: Reconheceu-se o conhecido? Reconheceu-se o desconhecido?
O3: Definir o problema, a partir da contradição entre o conhecido e o desconhecido
C3: Definiu-se o problema, a partir do que é conhecido e desconhecido na situação-problema?
O4: Representar o problema a partir do que é conhecido, desconhecido e procurado.
C4: Foi criado um modelo do problema a ser resolvido?
O5: Determinar as condições para a solução do problema.
C5: Analisou-se e determinou-se as condições nas quais se resolverá o problema? Quais são essas condições?
100
O6: Elaborar uma estratégia para resolução, segundo as condições do problema
C6: Por que a estratégia elaborada é apropriada para solução do problema, segundo as condições estabelecidas?
O7: Realizar a resolução do problema de acordo com o planejado.
C7: A solução do problema se realiza segundo o planejado, considerando as condições e a representação do problema?
O8: Interpretar o resultado encontrado em função do que é procurado.
C8: Chegou-se a uma solução do problema? Caso positivo, Analisou-se a resposta de modo a justificá-la como resposta ao problema?
O9: Verificar se a solução do problema está de acordo com o que é procurado
C9: As operações anteriores estão adequadas ao que é procurado?
O10: Caso a resposta esteja correta, refletir sobre os aspectos que favoreceram a esse resultado
C10: Quais aspectos favoreceram ao resultado?
O11: Caso a resposta seja negativa, ou não tenha chegado a uma resposta, refletir e reformular caso seja necessário, o problema e/ou a estratégia de solução. Corrigir os erros.
C11: O que é preciso corrigir para solucionar o problema?
O12: Relacionar os resultados obtidos com conhecimentos anteriores e com novos conhecimentos.
C12: Como os resultados obtidos se relacionam com elementos já conhecidos e com novos conhecimentos?
Fonte: Elaborado pelo autor.
A partir dos modelos do objeto, modelo da ação e modelo de controle
discutidos até aqui, sintetizamos o Esquema da Base Orientadora Completa da
Ação da habilidade de resolver problemas matemáticos do professor no Quadro
20:
101
Quadro 20 - EBOCA da habilidade de resolver problemas matemáticos planejado pelo professor.
EBOCA DE RESOLVER PROBLEMAS MATEMÁTICOS PLANEJADO PELO PROFESSOR
MODELO DO OBJETO
MODELO DA AÇÃO MODELO DE CONTROLE
Ação Operação
Atividade de busca pela solução de uma contradição definida a partir do que é conhecido e desconhecido em uma situação-problema, por meio de conhecimentos matemáticos
A1: Analisar a situação-problema
O1: Ler o enunciado e determinar se corresponde a uma situação-problema. Caso corresponda, resolver utilizando o cartão de estudo. Do contrário, procurar outra orientação. O2: Reconhecer o que é conhecido e o que é desconhecido O3: Definir o problema, a partir da contradição entre o conhecido e o desconhecido O4: Representar o problema a partir do que é conhecido, desconhecido e procurado.
C1: O enunciado trata de uma situação-problema? C2: Reconheceu-se o conhecido? Reconheceu-se o desconhecido? C3: Definiu-se o problema, a partir do que é conhecido e desconhecido na situação-problema? C4: Foi criado um modelo do problema a ser resolvido?
A2: Planejar uma estratégia para
solução do problema
O5: Determinar as condições para a solução do problema. O6: Elaborar uma estratégia para resolução, segundo as condições do problema
C5: Analisou-se e determinou-se as condições nas quais se resolverá o problema? Quais são essas condições? C6: Por que a estratégia elaborada é apropriada para solução do problema, segundo as condições estabelecidas?
A3: Executar a estratégia para resolução do
problema
O7: Realizar a resolução do problema de acordo com o planejado. O8: Interpretar o resultado encontrado em função do que é procurado.
C7: A solução do problema se realiza segundo o planejado, considerando as condições e a representação do problema? C8: Chegou-se a uma solução do problema? Caso positivo, Analisou-se a resposta de modo a justificá-la como resposta ao problema?
A4: Avaliar a resolução do
problema
O9: Verificar se a solução do problema está de acordo com o que é procurado O10: Caso a resposta esteja correta, refletir sobre os aspectos que favoreceram a esse resultado
C9: As operações anteriores estão adequadas ao que é procurado? C10: Quais aspectos favoreceram ao resultado?
102
Fonte: Elaborado pelo autor
O11: Caso a resposta seja negativa, ou não tenha chegado a uma resposta, refletir e reformular caso seja necessário, o problema e/ou a estratégia de solução. Corrigir os erros. O12: Relacionar os resultados obtidos com conhecimentos anteriores e com novos conhecimentos.
C11: O que é preciso corrigir para solucionar o problema? C12: Como os resultados obtidos se relacionam com elementos já conhecidos e com novos conhecimentos?
103
Tendo em vista que o enfoque não é a criação de um método universal
para solução de todos os tipos de problemas, faz-se necessário discutir os limites
de generalização da orientação proposta.
Um dos primeiros limites de generalização da referida orientação
planejada pelo professor consiste em orientar a resolução de problemas
derivados de situações-problema em que o aprendiz não tenha uma estratégia
previamente formulada. Desse modo, um dos tipos de situações que poderiam
utilizar a presente orientação, porém de modo parcial, são os exercícios, pois
não requerem uma análise dos aspectos conhecidos, desconhecidos e
procurados, mas apenas da identificação e aplicação do algoritmo apropriado
para solucioná-los.
Outro grupo de problemas que demandaria adequações na orientação
proposta são os de demonstração, pois requerem o domínio, além do conteúdo,
de processos lógicos gerais necessários para se provar uma proposição
matemática.
Desse modo, o Sistema Didático elaborado a partir do presente EBOCA
do professor é formado por situações-problema sem solução, com única e com
múltiplas soluções, aplicadas a temas de outras áreas do conhecimento e do
cotidiano.
A orientação do professor foi construída, como já mencionado, com
enfoque em situações que versam sobre conteúdos presentes no currículo da
Educação Básica, tais como: operações matemáticas básicas,
proporcionalidade, porcentagem e expressões algébricas.
5.3 A estrutura didática do processo de assimilação
Considerando os seus objetivos e a natureza do objeto de estudo, o
Sistema Didático foi estruturado em cinco momentos no Quadro 21:
Quadro 21 - Momentos da Experiência Formativa.
MOMENTO DESCRIÇÃO CARGA
HORÁRIA
Diagnóstico inicial
Realizado por meio de uma prova pedagógica, para caracterização da Base Orientadora da Ação de resolver
2h
104
problemas matemáticos (modelo do objeto, modelo da ação e modelo de controle) e a aplicação dessa orientação em uma situação-problema.
Etapa motivacional
Retomada da situação-problema trazida na prova pedagógica. Além disso, discussão sobre a importância do controle na resolução de problemas matemáticos para formação de um aprendiz autônomo, tendo como referência a Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos.
2h
Reelaboração da orientação
dos alunos
Partindo das BOAs dos alunos caracterizadas como resultado do diagnóstico inicial e do EBOCA planejado pelo professor, houve um processo de negociação de sentidos e significados do modelo do objeto, da ação e de controle para construção colaborativa do EBOCA dos alunos como apoio materializado para resolução e controle das tarefas do Sistema Didático.
4h
Solução das tarefas
Resolução de seis tarefas em duplas e com apoio do EBOCA dos alunos. Essa atividade de aprendizagem se deu de forma colaborativa, na qual enquanto um dos discentes executava a resolução da tarefa, seu colega realizava o controle, havendo um alternância dos membros da dupla entre essas duas funções.
8h
Avaliação da Experiência Formativa
Realizado com o uso de um questionário que abordou a relevância, potencialidade e viabilidade de uso do EBOCA do aluno como ferramenta para o ensino e aprendizagem do controle na resolução de problemas matemáticos; as dificuldades enfrentadas pelos estudantes durante a Experiência Formativa; atividades consideradas mais e menos interessantes pelos discentes; e a percepção dos estudantes acerca da importância da orientação para a aprendizagem e para o controle.
2h
TOTAL 18h
Fonte: Elaborado pelo autor.
A Experiência Formativa, empreendida a partir do Sistema Didático,
ocorreu entre os dias 04 de abril de 2019 à 10 de maio de 2019, em nove
encontros de 2h cada. Para um melhor detalhamento de como as tarefas
aplicadas foram elaboradas, passamos a discutir esse assunto a seguir.
5.4 Sistema de tarefas
As tarefas consistem num conjunto situações-problema propostas pelo
pesquisador e organizadas em um sistema para favorecer na reelaboração da
orientação da ação estudada na presente tese (NÚÑEZ; RAMALHO, 2012a).
Segundo esses autores, por serem dispostas meticulosamente para constituírem
105
uma estrutura adequada para a formação da habilidade pretendida, as tarefas
são entendidas como as células de um Sistema Didático.
Tratando do sistema de tarefas, Conforme Núñez, Ramalho e Oliveira
(2018, p. 49), afirmam que este “[...] constitui o núcleo da atividade didática da
formação da habilidade, expressa uma concepção de aprendizagem e de
desenvolvimento como também define singularidades metodológicas como
hipóteses de progressão que orientam esse processo”.
Segundo Rico (2003, p. 54), um dos objetivos na proposição de
situações-problema como tarefas consiste em “[...] lograr de modo consciente e
dirigido uma orientação nas formas de solucionar problemas cognoscitivos, que
o aluno assimile, se aproprie, destes procedimentos gerais que lhe permitam,
ante a apresentação de uma nova tarefa deste tipo, solucioná-la”.
No âmbito dessa tese, foram planejadas e aplicadas seis tarefas,
diversificadas segundo o tipo de solução possível para a situação-problema
(única solução, sem solução e múltiplas soluções), como mostrado no Quadro
22.
Quadro 22 - Tarefas do Sistema Didático segundo os tipos de solução.
TIPO DE TAREFA
ENUNCIADO
Sem solução
Tarefa 2: Seguindo a orientação de um especialista, Murilo aumenta a cada dois dias 10% da distância percorrida em suas caminhadas mantendo o mesmo ritmo. Estimando que ele gasta 240 kcal/hora e que 7 mil calorias equivalem a aproximadamente 1 kg de gordura, se Murilo mantiver a alimentação regular, em quantos dias perderá 5 kg?
Tarefa 3: Em um estacionamento de 60 vagas, cada vaga pode ser ocupada por 1 carro ou por 2 motos. Considerando que o preço cobrado por carro é de R$ 10,00 e por moto R$ 5,00 e sabendo que em um dia de lotação máxima foram contabilizadas 300 rodas, qual o valor faturado pelo estacionamento?
Única solução
Tarefa 1: Um grupo de amigos pretende fazer uma viagem de férias para um local que fica a 524 km de onde moram. Contudo, eles ainda não decidiram se o percurso será realizado de carro próprio ou ônibus. A primeira opção seria um carro que transporta 5 ocupantes, com um consumo médio de 12 km/l e a gasolina custando R$ 4,59. A segunda opção seria ir de ônibus, cuja a passagem custa R$ 96,00 por trecho (ida ou volta). Considerando apenas o custo total da viagem e que este será dividido igualmente entre os todos os membros do grupo, em quais condições uma das opções é mais vantajosa que a outra.
Tarefa 5: O Imposto de Renda (IR) é tributo cobrado sobre determinados rendimentos de uma pessoa física ou jurídica. No Brasil, o valor a ser pago é cobrado dividindo o ganho anual do contribuinte após deduções em diferentes faixas, que possuem alíquotas progressivas, conforme mostra o quadro a seguir:
106
Sabendo que a base de cálculo mensal do salário (parte do salário que será cobrada o IR) de Josiane sobre a qual incide o IR é de R$ 5.200,00, qual o percentual efetivo aproximado de imposto pago?
Múltiplas soluções
Tarefa 4: O “desafio de 52 semanas” é uma estratégia para se economizar dinheiro durante 1 ano, a partir do aumento gradativo do valor poupado semanalmente. Iniciando o desafio poupando uma determinada quantia, a cada semana, o valor economizado corresponde ao mesmo valor da semana anterior acrescido em 1 real. Considerando uma pessoa que ganha R$ 2.000,00 mensais e pode economizar menos que 20% do seu salário, elabora um plano e mostre quanto essa pessoa conseguiria juntar no fim do desafio.
Tarefa 6: Um agricultor precisa determinar uma expressão algébrica que lhe permita calcular o custo necessário para cercar suas terras em função dos principais materiais utilizados. Em um de seus terrenos retangulares, que mede 120m por 90m ele poderá utilizar: estacas finas (de 2 em 2 metros) ou estacas grossas (de 6 em 6 metros) e 4 voltas de arame. Elabore uma forma de cercar o terreno com os materiais mencionados e determine uma expressão algébrica apropriada.
Fonte: Elaborado pelo autor.
As tarefas foram aplicadas com os estudantes reunidos em duplas e com
o apoio do Esquema da Base Orientadora Completo da Ação (EBOCA)
elaborado pela turma. Além disso, para cada tarefa, havia uma alternância de
papéis entre os membros das duplas. Enquanto um resolvia o outro controlava
esse processo, e vice-versa.
Finalizada a explanação do Sistema Didático elaborado no âmbito da
presente pesquisa, a seção seguinte apresentará uma descrição e análise da
Experiência Formativa.
107
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES DA EXPERIÊNCIA FORMATIVA
A execução da Experiência Formativa teve como enfoque favorecer o
processo de reelaboração da orientação da ação de controle na resolução de
problemas matemáticos de estudantes de licenciatura.
Visando melhor organizar as discussões sobre como se deu essa
intervenção, dividimos a presente seção em função dos momentos da
Experiência Formativa, são eles: diagnóstico inicial, motivação inicial,
reelaboração da orientação dos estudantes, solução e controle das tarefas e
avaliação final.
6.1 O diagnóstico inicial da compreensão do controle na resolução de
problemas matemáticos7
O momento de diagnóstico inicial teve duração de 2 horas e seu intuito
foi caracterizar a compreensão da ação de controle na resolução de problemas
matemáticos dos participantes da Experiência Formativa. A referência utilizada
para análise da orientação dos estudantes foi o Esquema da Base Orientadora
Completa da Ação (EBOCA) elaborada pelo professor (Quadro 20).
Haja vista, como já mencionado, que o controle sempre se dá sobre outra
ação (isto é, o controle sempre é o controle sobre algo) e que a ação a ser
controlada estudada nesta tese foi a de resolver problemas matemáticos, as
questões 1 e 2 da prova pedagógica estiveram focadas em relevar,
respectivamente, a compreensão dos estudantes acerca do modelo do objeto e
do modelo da ação da Base Orientadora da Ação de resolver problemas
matemáticos.
Nas questões 3 e 4, o foco foi revelar a compreensão dos estudantes
acerca do conceito de controle na resolução de problemas matemáticos e do
modelo de controle da ação de resolver problemas matemáticos.
A finalidade da questão 5 consistiu em permitir que os participantes da
pesquisa aplicassem a orientação da ação de controle da resolução de
problemas matemáticos em uma situação-problema.
7 A prova pedagógica aplicada para realização do diagnóstico inicial consta no Apêndice 1 do presente trabalho.
108
Na questão 1, foi solicitado aos licenciandos explicitar uma definição do
que é resolver problemas matemáticos. Apresentamos no Quadro 23 o modelo
do objeto planejado pelo professor:
Quadro 23- Modelo do objeto do EBOCA do professor.
MODELO DO OBJETO
Atividade de busca pela solução de uma contradição definida a partir do que é conhecido e desconhecido em uma situação-problema, por meio de conhecimentos matemáticos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
A partir da definição apresentada, buscamos, nas respostas dos
participantes, a ocorrência dos termos (em negrito) ou sinônimos, que pudessem
revelar um significado aproximado entre a compreensão dos estudantes e a
orientação do docente adotada como desejável. A partir dessa análise e
comparação, elaboramos o Quadro 24, que avalia as respostas segundo níveis
de correspondência correto (C) ou ausente (A), em função do modelo do objeto
da orientação do professor.
Quadro 24- Análise das respostas segundo modelo do objeto da orientação do professor.
PARTICIPANTE
DEFINIÇÃO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS PERCENTUAL
CORRETO POR ALUNO Atividade
Busca pela
solução Contradição
Conhecimentos matemáticos
P1 A C A A 25%
P2 A C A A 25%
P3 A C A C 50%
P4 A A A A 0%
P5 A A A A 0%
P6 A A A A 0%
P7 A C A A 25%
P8 A C A C 50%
PERCENTUAL CORRETO DA
TURMA 0% 62,5% 0% 25%
Fonte: Elaborado pelo autor.
Verificamos que a maioria das respostas dos discentes (62,5%),
apresentaram a definição do que é resolver problemas matemáticos enquanto
109
um processo de busca pela solução, enquanto que 25% mencionaram o uso de
conhecimentos matemáticos durante esse processo. Por outro lado, nenhuma
das respostas explicitou a atividade ou a contradição entre aquilo que o aluno
sabe (conhecido) e o que ele não sabe (desconhecido) como aspectos da
resolução de problemas.
No que se refere aos níveis de similaridade como o modelo do objeto
contido na orientação do professor, dois alunos atingiram 50%, três 25% e outros
três discentes apresentaram compreensões sobre o que é resolver problemas
matemáticos incompatíveis com a referência utilizada.
Esse resultado comunga com outros diagnósticos dos níveis de
desenvolvimento de diferentes habilidades gerais como: interpretar gráficos
(PEREIRA, 2013), modelar cientificamente (ANDRADE, 2017), explicar
propriedades físicas das substâncias e dos materiais (NÚÑEZ; RAMALHO,
2018), classificar (NÚÑEZ, 2018), escrever textos argumentativos em Química
(ARAÚJO, 2018), tomar decisões (NÚÑEZ; RAMALHO, 2019) e realizar uma
leitura crítica (FAÇANHA, 2019).
Em todos os casos, as BOA dos estudantes e, em particular, o modelo do
objeto dessas orientações concentraram-se nos menores níveis de
desenvolvimento dos objetos, em relação às orientações adotadas como
referência por cada uma das investigações mencionadas.
Empreendendo uma análise do conteúdo das respostas dadas pelos
estudantes, verificamos a prevalência de definições contendo redundâncias, o
que pode ser um indício de uma dificuldade dos estudantes para definir um
conceito sem recorrer a uma retórica tautológica.
Além disso, as respostas revelaram duas perspectivas distintas entre os
estudantes acerca do que é resolver problemas matemáticos, são elas: a
resolução de problemas enquanto um processo de busca e a resolução de
problemas como um processo de utilização e/ou elaboração de métodos.
Na primeira categoria, as respostas destacam o processo de busca como
algo central para solucionar problemas, assim como mostram as respostas
presentes no Quadro 25:
110
Quadro 25 - Respostas que evidenciam a resolução de problemas enquanto processo de busca.
“É tentar encontrar a resposta e/ou resolução do problema colocado”. (Participante P1, grifo nosso).
“É estabelecer uma solução para o problema apresentado. Para isso ao sermos questionados, precisamos buscar os conhecimentos que já temos sobre o tema apresentado e traçar um plano para resolver o problema. Ao tentar resolver percebermos se já temos ou não as habilidades necessárias”. (Participante P2, grifo nosso).
“É uma situação na qual o aluno busca se utilizar de ferramentas matemáticas para encontrar uma solução de determinado problema”. (Participante P3, grifo nosso).
“É buscar possíveis soluções para um problema matemático, ou seja, tentar solucioná-lo de maneira que não fujam as regras da Matemática”. (Participante P7, grifo nosso).
“É buscar soluções de situações, é satisfazer a problemática apresentada através da matemática”. (Participante P8, grifo nosso).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Ao evidenciar o processo de busca, as respostas apresentadas
convergirem em ao menos uma das condições necessárias contidas no modelo
do objeto da orientação do professor. Além disso, há respostas que
apresentaram outras condições, como a busca por meio de conhecimentos
matemáticos (participantes P3, P7 e P8) ou ainda elementos que envolvem a
contradição entre o que é conhecido e o que é desconhecido (participante P2).
Em relação à segunda categoria, as respostas nela alocadas
evidenciaram o processo de utilização e/ou elaboração de métodos com intuito
de solucionar uma situação (Quadro 26):
Quadro 26 - Respostas que evidenciam a resolução de problemas como a elaboração e/ou utilização de métodos.
“Resolução de problema matemático nada mais é do que a utilização de métodos para chegar ao resultado do problema”. (Participante P4, grifo nosso).
“É um processo que engloba etapas que levam o resolvedor da elaboração de métodos para resolver o problema até a conclusão deste. Entre as etapas é preciso levantar hipóteses, testá-las, validá-las ou reformulá-las até que se chegue a conclusão do problema”. (Participante P5, grifo nosso).
“É utilizar métodos para chegar a uma conclusão do problema proposto”. (Participante P6, grifo nosso).
111
Fonte: Elaborado pelo autor.
Verificamos que esse grupo de respostas não apresenta nenhuma
condição necessária (atividade, busca pela solução, uso de conhecimentos
matemáticos, contradição) proposta no modelo do objeto do EBOCA planejado
pelo professor.
De todo modo, a análise mostra que nenhum dos participantes evidenciou
a necessidade de motivação ou interesse do sujeito para a resolução de
problemas, em discordância com um requisito fundamental da atividade,
segundo preconiza Leontiev (1983).
A questão 2 indagou os estudantes acerca dos passos necessários para
se resolver um problema matemático. Antes de descrever e analisar os dados,
apresentamos no Quadro 27 o modelo da ação contido na orientação do
professor:
Quadro 27 - Modelo da ação do EBOCA de resolver problemas matemáticos do professor.
MODELO DA AÇÃO
Ação Operação
A1: Analisar a situação-problema
O1: Ler o enunciado e determinar se corresponde a uma situação-problema. Caso corresponda, resolver utilizando o cartão de estudo. Do contrário, procurar outra orientação. O2: Reconhecer o que é conhecido e o que é desconhecido O3: Definir o problema, a partir da contradição entre o conhecido e o desconhecido O4: Representar o problema a partir do que é conhecido, desconhecido e procurado.
A2: Planejar uma estratégia para solução
do problema
O5: Determinar as condições para a solução do problema. O6: Elaborar uma estratégia para resolução, segundo as condições do problema
A3: Executar a estratégia para
resolução do problema
O7: Realizar a resolução do problema de acordo com o planejado. O8: Interpretar o resultado encontrado em função do que é procurado.
A4: Avaliar a resolução do problema
O9: Verificar se a solução do problema está de acordo com o que é procurado
112
Fonte: Elaborado pelo autor.
Notamos que o modelo da ação é constituído por quatro ações e 12
operações. Além disso, considerando os momentos funcionais da atividade, as
ações A1 e A2 correspondem ao momento de orientação, A3 ao momento de
execução e a A4 ao momento de controle.
Tendo em vista o modelo de ação do EBOCA do professor, apresentamos,
na Quadro 28, uma avaliação do modelo de ação das orientações dos discentes,
a partir das categorias correto (C) ou ausente (A):
Quadro 28 - Análise das respostas em função do modelo da ação da orientação do professor.
ALUNOS
A1 A2 A3 A4 PERCENTUAL DE
RESPOSTAS CORRETAS POR ALUNO
O1 O2 O3 O4 O5 O6 O7 O8 O9 O10 O11 O12
P1 A A C A A C C A C A C A 33,3%
P2 A A C A A C C A C A A A 33,3%
P3 A A C A A A C A A A A A 16,7%
P4 A A A A A A C A A A A A 8,3%
P5 A A C A A C C A C A A A 33,3%
P6 C C C C A A C A A A A A 41,7%
P7 A A C A A A C A C A A A 25%
P8 A A C A A C C A A A A A 25%
PERCENTUAL DE
RESPOSTAS CORRETAS DA TURMA
12,5 12,5 87,5 12,5 0 50 100 0 50 0 12,5 0
Fonte: Elaborado pelo autor.
Verificamos que as operações de maiores recorrência foram: “O7:
Realizar a resolução do problema de acordo com o planejado” (100%) e “O3:
Definir o problema, a partir da contradição entre o conhecido e o desconhecido”
(87,5%). Esse fato sugere uma compreensão dos estudantes da necessidade de
O10: Caso a resposta esteja correta, refletir sobre os aspectos que favoreceram a esse resultado O11: Caso a resposta seja negativa, ou não tenha chegado a uma resposta, refletir e reformular caso seja necessário, o problema e/ou a estratégia de solução. Corrigir os erros. O12: Relacionar os resultados obtidos com conhecimentos anteriores e com novos conhecimentos.
113
haver previamente uma clareza sobre o que é solicitado no problema antes de
colocar em prática o processo de resolução.
Por outro lado, há quatro operações inseridas nos momentos de
orientação (O5: Determinar as condições para a solução do problema.),
execução (O8: Interpretar o resultado encontrado em função do que é
procurado.) e controle (O10: Caso a resposta esteja correta, refletir sobre os
aspectos que favoreceram a esse resultado; O12: Relacionar os resultados
obtidos com conhecimentos anteriores e com novos conhecimentos.), que não
foram citadas por nenhum dos respondentes, o que sugere que, interpretando a
compreensão dos discentes segundo a orientação do professor, em todos os
momentos da resolução de problemas matemáticos há ações constituídas por
sistemas de operações incompletos, o que torna a compreensão dessa
habilidade limitada.
Acrescentando o fato de que quatro operações só tiveram uma
recorrência (12,5%) e duas operações 50%, notamos um distanciamento na
compreensão do modelo da ação das BOAs de resolver problemas matemáticos
dos participantes da pesquisa com o EBOCA planejado pelo professor.
Outro aspecto importante foi de operações corretas, apresentado pelos
alunos. Enquanto a resposta de maior similaridade com a orientação do
professor teve 41,7% de operações corretas, três tiveram 33,3% e duas 25%.
Além disso, um participante atingiu 16,7% e um apenas 8,3%.
De modo similar outras investigações apontam, no diagnóstico da
habilidade geral estudada, um domínio incompleto do sistema de ações e
operações que constituem as bases orientadoras das ações (BOAs) desejadas.
Em Pereira (2013), o autor identifica que apenas cinco das quatorze
operações que constituem a orientação de interpretar gráficos planejada pelo
pesquisador, são explicitadas pelos participantes da pesquisa, enquanto que
seis operações estiveram presente nas BOAs dos discentes. Fato similar ocorre
nos trabalhos de Núñez e Ramalho (2018) e Façanha (2019), que mostram
ausência de respostas corretas em três e duas operações, respectivamente.
Apresentando uma análise das orientações dos discentes, segundo
dimensões da modelação científica, Andrade (2017) verifica que as respostas
mais recorrentes são inadequadas, “[...] mesmo sabendo que essas dimensões
114
fazem parte do conhecimento disciplinar do licenciando para ensinar modelagem
científica” (ANDRADE, 2017, p. 195).
Passando a analisar as respostas dos alunos adotando como referencial
os momentos funcionais da atividade, apresentamos no Quadro 29 as respostas
dos discentes em função dos momentos funcionais da atividade:
Quadro 29 - Modelo da ação de resolver problemas matemáticos das orientações dos alunos segundo os momentos da atividade humana.
ALUNOS
MOMENTOS DA ATIVIDADE HUMANA
Orientação Execução Controle
P1
- Detectar o problema central; - Identificar o que se deseja resolver; - Escolher os métodos (ou passo-a-passo) a seguir;
- Testar os métodos escolhidos; - Continuar a resolução a partir dos acertos.
- Refletir sobre eles (os métodos). - Verificar quais funcionaram ou não. - Excluir os que não funcionaram.
P2
- Reconhecer o que está sendo perguntado. - Fazer um levantamento dos conhecimentos que já temos. - Traçar uma estratégia utilizando esses conhecimentos.
- Executar a estratégia.
- Avaliar a resposta encontrada.
P3
- Interpretar o problema. - Diagnosticar o problema.
- Usar ferramentas necessárias. - Determinar a solução.
P4 - Conhecer os métodos/operações necessárias;
- Utiliza-los de forma correta.
P5
- Compreensão (entender o que o problema busca). - Escolher ferramentas e técnicas matemáticas.
- Levantar, testar e/ou reformular hipótese.
- Verificação e conclusão.
P6
- Analisar o problema.
- Usa os métodos para resolver o problema. - Trazer para a realidade.
P7 - Compreender o problema.
- Buscar soluções.
- Testar as soluções.
P8 - Entender o problema; - Buscar maneiras e métodos;
- Resolução;
Fonte: Elaborador pelo autor.
115
Convém destacar que as ações e operações apresentadas por cada
estudante em relação a sua compreensão do modelo da ação da BOA de
resolver problemas matemáticos não foram divididas de forma ordenada, mas
segundo o momento funcional da atividade que melhor se enquadravam.
De modo geral, é possível notar que 46,9% das ações das BOAs dos
alunos estão associadas ao momento de orientação, 34,4% ao momento de
execução e 18,7% ao controle. Além disso, 50% das orientações dos estudantes
se restringem aos momentos de orientação e execução da atividade, em
detrimento do controle.
Isso significa que os estudantes que externalizaram suas respectivas
orientações entendem que o processo de solução de problemas matemáticos é
concluído com o término da execução. Esse fato também foi discutido por Polya
(1995, p. 10), ao afirmar que:
Até mesmo alunos razoavelmente bons, uma vez chagados à solução do problema e escrita a demonstração, fecham os livros e passam a outro assunto. Assim fazendo, eles perdem uma fase importante e instrutiva do trabalho da resolução. Se fizerem um retrospecto da resolução completa, reconsiderando e reexaminando o resultado final e o caminho que levou até este, eles poderão consolidar o seu conhecimento e aperfeiçoar a sua capacidade de resolver problemas.
Em virtude dessa problemática, foi necessário empreender uma reflexão
a fim de que os participantes tomassem consciência da necessidade de uma
ação de controle ao final do processo de resolver problemas matemáticos.
O entendimento sobre o que é o controle na resolução de problemas
matemáticos foi o objeto da questão 3 da prova pedagógica. Mostramos no
Quadro 30 a definição adotada nesta investigação, elaborada à luz do arcabouço
teórico utilizado:
Quadro 30 - Definição de controle na resolução de problemas matemáticos adotada.
CONCEITO DE CONTROLE NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS
É a verificação da qualidade da execução da resolução de problemas matemáticos e correção, quando necessária, segundo uma orientação determinada.
Fonte: Acervo do autor.
116
Tendo em vista que a definição apresenta dois subprocessos
fundamentais do controle (a verificação e a correção), verificamos se as
respostas dos discentes contemplam esses elementos. No Quadro 31
apresentamos os resultados da avaliação dos dados coletados em função da
definição de controle na resolução de problemas matemáticos adotada no
trabalho, categorizados como corretos (C) ou ausentes (A):
Quadro 31 - Análise das respostas em função da definição da ação de controle contida
na orientação do professor.
PARTICIPANTE
DEFINIÇÃO DE CONTROLE NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS
PERCENTUAL RESPOSTAS
CORRETAS POR ALUNO
Verificação Correção
P1 A A 0
P2 A A 0
P3 A A 0
P4 A A 0
P5 A A 0
P6 A A 0
P7 A A 0
P8 A A 0
PERCENTUAL RESPOSTAS
CORRETAS DA TURMA
0 0
Fonte: Elaborado pelo autor.
Como é possível observar no Quadro 31, nenhum dos discentes
apresenta uma resposta que se aproxima da definição de controle na resolução
de problemas matemáticos adotada na presente investigação.
Passando a se debruçar sobre as respostas dos participantes para melhor
entender como eles compreendem o conceito, podemos dividir as respostas em
três tipos: ações diversas como sinônimo de controle na resolução de problemas
matemáticos (50%), o controle enquanto uma ação metódica (25%) e respostas
tautológicas (25%).
No primeiro grupo de respostas (50%), os participantes definem o controle
na resolução de problemas matemáticos como sinônimos de ações diversas
como comandar, administrar, impor rigor, regular e direcionar; todas associadas
ao processo de solução de problemas.
Entre os discentes que compreendem o controle enquanto uma ação
metódica (25%), apresentamos, no Quadro 32, as respostas apresentadas:
117
Quadro 32 - O controle enquanto uma ação metódica.
“É agir de forma metódica e reflexiva, ou seja, delimitar métodos para a resolução do problema, testá-los seguindo as etapas escolhidas. Caso o método aproxime-se da resolução, seguir os próximos. Caso contrário, identificar o erro, e buscar um outro método. Acredito que essa é uma função do professor”. (Participante P1, grifo nosso). “Saber utilizar os métodos de resolução de problemas de uma forma sequencial para se obter os resultados corretos” (Participante P4, grifo nosso).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Podemos observar que o controle seria esse elemento balizador da
utilização de métodos de solução de problemas, norteando esse processo
visando a obtenção de resultados apropriados.
Convém destacar que, em uma das respostas, o participante P1 ainda
acrescenta uma qualidade, atribuindo ao controle um aspecto reflexivo, que
permite uma tomada de decisão em função da resposta obtida. Esse aspecto
também é evidenciado por González-Moreno (2017) como um dos indicadores
de modificações nas estratégias autorregulatórias empreendidas pelos
participantes de seu experimento formativo. Para a autora, ao possibilitar que o
indivíduo repense suas ações, a reflexão se coloca como importante
subprocesso, em particular, da ação de controle.
A questão quatro solicita quais eram as operações necessárias para o
controle na resolução de problemas matemáticos, a partir de uma transcrição do
modelo da ação da BOA já descrito pelos alunos.
Inicialmente apresentamos o modelo de controle do Esquema da Base
Orientadora Completa da Ação (EBOCA) planejado pelo professor.
Quadro 33 - Modelo de controle da orientação do professor.
Operação de controle
C1: O enunciado trata de uma situação-problema? C2: Reconheceu-se o conhecido? Reconheceu-se o desconhecido? C3: Definiu-se o problema, a partir do que é conhecido e desconhecido na situação-problema? C4: Foi criado um modelo do problema a ser resolvido?
C5: Analisou-se e determinou-se as condições nas quais se resolverá o problema? Quais são essas condições? C6: Por que a estratégia elaborada é apropriada para solução do problema, segundo as condições estabelecidas?
118
Fonte: Elaborado pelo autor.
O modelo de controle é formado por 12 operações, que estão associadas
a cada uma das operações do modelo da ação do EBOCA do professor.
Considerando o modelo de controle da orientação do professor,
apresentamos, no Quadro 34, uma avaliação do modelo de controle (na qual as
operações de controle são descritas como C1, C2, C3, ..., C12) das orientações
dos discentes, a partir das categorias correto (C) ou ausente (A):
Quadro 34 - Análise das respostas em função do modelo de controle da orientação do professor.
ALUNO C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12
PERCENTUAL RESPOSTAS CORRETAS POR ALUNO
P1 A A A A A A A A A A A A 0
P2 A A A A A A A A A A A A 0
P3 A A A A A A A A A A A A 0
P4 A A A A A A A A A A A A 0
P5 A A A A A A A A A A A A 0
P6 A A A A A A A A A A A A 0
P7 A A A A A A A A A A A A 0
P8 A A A A A A A A A A A A 0
PERCENTUAL RESPOSTAS CORRETAS DA TURMA
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Fonte: Elaborado pelo autor.
Verificamos que nenhum dos participantes da pesquisa apresentou em
suas respostas à prova pedagógica uma compreensão adequada sobre as
ações e operações de controle na resolução de problemas matemáticos,
tomando como referencial o modelo de controle da orientação do professor.
Analisando as respostas dos discentes, apresentamos, no Quadro 35, o
modelo de controle presente na BOA de cada um desses participantes:
C7: A solução do problema se realiza segundo o planejado, considerando as condições e a representação do problema? C8: Chegou-se a uma solução do problema? Caso positivo, Analisou-se a resposta de modo a justificá-la como resposta ao problema?
C9: As operações anteriores estão adequadas ao que é procurado? C10: Quais aspectos favoreceram ao resultado? C11: O que é preciso corrigir para solucionar o problema? C12: Como os resultados obtidos se relacionam com elementos já conhecidos e com novos conhecimentos?
119
Quadro 35 - Modelo de controle das orientações iniciais dos alunos.
Aluno P1: 1- Ler o enunciado da questão. 2- Verificar o que se está pedindo. 3- Conhecer os métodos disponíveis para se conseguir resolver o problema. 4- De forma racional, testá-los, realizando as operações matemáticas. 5- Sempre observar os erros e acertos, para as próximas tomadas de decisões. 6- Eliminar as etapas que não permitiram o acerto. - OBS: Identificar se há algum “problema cognitivo” que impeça a resolução. Aluno P2: - Leitura atenta da situação que está sendo apresentada, identificando o que está sendo perguntado. - Mentalmente buscamos no nosso repertório cognitivo problemas semelhantes a esse e como o resolvemos. Quando não temos ou não lembramos tentamos buscar conhecimentos que estejam relacionados com o tema. - Nessa etapa se busca uma forma de se resolver o problema, o que pode ser um caminho já conhecido ou não. Aluno P3: - Ler o enunciado atentamente, dando total importância as informações apresentadas na questão. - Sabendo do que se trata o problema é importante ter ciência sobre quais as conexões entre a sentença e os saberes necessários para a solução. - Elaborar a resposta através da sua perícia com as ferramentas necessárias. - Finalizar a ação encontrando a determinação almejada.
Aluno P4: - Maturidade adquirida ao longo da vida escolar; - A partir da maturidade adquirida no ambiente escolar o aluno conseguirá resolver de forma correta. Aluno P5: 1. Leitura do problema. Identificação dos dados (ou variáveis) e condições. Reconhecer o comando. 2. Reconhecer proximidade do problema com algum conteúdo matemático. Identificar se esse conteúdo (técnica, etc.) atende ao que o problema pede. 3. Criar plano de partida com a técnica escolhida (2). Verificar se ela leva ao que o problema direciona. Se não, reformular o plano ou técnica. 4. Visualizar se o resultado obtido é pertinente ao que se procura. Se sim, conclui se. Se não, rever etapas (2) e (3). Aluno P6:
Fazer como que os alunos vejam os dados que o problema tem e com isso fazer eles raciocinarem qual é o melhor jeito de se trabalhar com o problema.
Observar como os alunos acharam as respostas dos problema.
Mostrar como esses problemas sena na vida dele. Aluno P7: 1) Realizar uma boa leitura, anotando os dados. 2) Identificar o problema e o que da Matemática que posso utilizar para solucioná-lo. 3) Compreender se realmente a solução encontrada faz parte do problema, ou se, não está se equivocando. Aluno P8: - Através da reflexão absorvendo o máximo de informações; - Perceber e associar os conteúdos estudados com o problema; - Tendo como base toda as estratégias, aplicá-las de forma prática no problema.
120
Fonte: Elaborado pelo autor.
Observamos que a compreensão dos discentes acerca do modelo de
controle reduz esse componente da BOA inicial a um detalhamento do modelo
da ação.
Esse fato, associado ao resultado apresentado pelos discentes à resposta
sobre o conceito de controle na resolução de problemas matemáticos, indica que
os participantes da pesquisa não possuem uma compreensão adequada acerca
da ação de controle na resolução de problemas.
De modo semelhante, ao diagnosticar o modelo de controle da habilidade
de escrever textos argumentativos, Araújo (2018) também encontra um alto
percentual (69%) de operações de controle ausentes entre os discentes. Esses
resultados corroboram para o fato de que os licenciandos não evidenciam, em
suas respostas, que possuem consciência sobre as operações que compõem o
controle da ação que realizam.
Esse fato sugere ainda uma orientação com deficiências relativas ao
controle. A mesma problemática foi apontada por Rico (2002) e Rico e Silvester
(2002), que identificaram, em suas pesquisas, que uma orientação inadequada
pode levar a execuções prematuras e a ausência de ações de controle.
Como já mencionado, na última questão da prova pedagógica o enfoque
foi diagnosticar como os estudantes realizam ações de controle na solução de
uma situação-problema para que os discentes possam aplicar o processo de
solução e controle. Apresentamos na Figura 3 a situação-problema contida no
diagnóstico inicial:
121
Fonte: Elaborado pelo autor.
Os resultados obtidos na resolução dessa questão: 75% dos alunos
responderam de forma incorreta ou deixaram em branco; enquanto 12,5%
obtiveram um resultado parcialmente correto e 12,5% correto.
Os erros cometidos pelos discentes foram diversos, tais como realizar a
soma ou o produto entre custo fixo e as duas variáveis (distância e volume) ou
colocar a razão entre as duas variáveis ao invés da média. O resultado do
processo de resolução considerados incorretos são apresentados na Figura 4 a
seguir:
Figura 4 - Soluções incorretas da situação-problema contida na prova pedagógica.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 3- Situação-problema do diagnóstico inicial.
122
Os erros no processo de elaboração da regra que determina o valor do
frete em função do volume de mercadoria e da distância percorrida são de
diferentes ordens, mas convergem ao sinalizarem uma dificuldade na
interpretação do enunciado pelos participantes da pesquisa.
Os dados apresentados convergem com o relato dos participantes
descrito no diário dos alunos acerca das dificuldades que cada um enfrentou
durante essa etapa da Experiência Formativa, como mostram os insertos
destacados no Quadro 36:
Quadro 36- Descrição dos alunos acerca das dificuldades enfrentadas durante a solução da prova pedagógica.
Aluno P1: [...] Apesar de entender que as ‘etapas para resolver problemas’ e as ‘etapas de controle de resolução de problemas’ serem coisas diferentes, na hora de descrevê-las elas parecem se confundir, ou seja, serem iguais. Aluno P2: - Não conhecer a Teoria do controle da aprendizagem. - Tentar organizar as ações de controlar a resolução do problema passo a passo. [...] Aluno P4: A dificuldade mais pertinente durante a aula foi definir o conceito de controlar (regular) o processo de resolução de problemas matemáticos, pois é um termo ainda não conhecido, que gerou muitas dúvidas. Aluno P5: [...] A ideia de conceituar algo é interessante como é o caso da RP [resolução de problemas], por outro lado, a ideia de controle dentro dessa tendência nunca havia escutado sobre. Assim, a dificuldade se deu mais nesse sentido: de imaginar como esse conceito funciona a partir do meu entendimento. Formular as etapas de controle depois de tentar conceituar o que é controle pode não ter se encaixado bem, ainda assim, procurei manter a direção do que defini. Descrever as etapas à medida que respondia o problema, foi um tanto inusitado, porém interessante, mesmo que não tenha certeza se estava do modo correto. Embora houvessem essas dificuldades, o fato de todas as questões se basearem no que eu defini me deixou curioso sobre o real sentido de controle (regulação). Aluno P7: [...] Outra dificuldade foi identificar o controle para este tipo de resolução de problemas, pois não imaginaria que isso era necessário para tal resolução. Aluno P8: Por ser um termo novo, a dificuldade apresentada ficou no medo de minhas palavras não condizerem com o significado real do controle do problema matemático, dessa forma mostrando o receio com o novo, pra mim, na área de controle (regulação) de problemas matemáticos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
123
A maioria dos participantes da pesquisa (75%) teve dificuldades acerca
da compreensão do controle, sejam ligadas ao conceito em si ou ao modo de
colocá-lo em ação durante o processo de resolução de problemas matemáticos.
Reunindo os resultados obtidos no diagnóstico inicial da orientação
(modelo do objeto, modelo da ação e modelo de controle) dos alunos segundo o
percentual de elementos corretos, apresentamos o Quadro 37:
Quadro 37 - Percentual de adequação das orientações iniciais dos alunos em relação a
orientação referência.
PARTICIPANTE MODELO DO
OBJETO MODELO DA AÇÃO
MODELO DE CONTROLE
P1 25% 33,3% 0%
P2 25% 33,3% 0%
P3 50% 16,7% 0%
P4 0% 8,3% 0%
P5 0% 33,3% 0%
P6 0% 41,7% 0%
P7 25% 25% 0%
P8 50% 25% 0%
Fonte: Elaborado pelo autor.
É possível notar que não há uma correlação entre a compreensão dos
estudantes sobre o que é resolver problemas matemáticos (modelo do objeto),
como resolver problemas matemáticos (modelo da ação) e sobre como controlar
o processo de resolução de problemas matemáticos (modelo de controle).
Em particular, nenhum dos alunos evidencia, no diagnóstico inicial, ter
consciência sobre a realização da ação controle na resolução de problemas
matemáticos. Esse fato endossa a afirmação de que a habilidade de controle na
resolução de problemas matemáticos dos alunos é pouco desenvolvida,
considerando o nível educacional que eles se situam.
Assim, o processo de diagnóstico inicial forneceu indícios da
compreensão dos estudantes acerca do processo de resolução de problemas
matemáticos, possibilitando que a Experiência Formativa possa ser realizada
segundo a Zona de Desenvolvimento Proximal da turma, assim como preconiza
Vygotsky (1995) e os demais autores do Enfoque Histórico-Cultural.
124
6.2 A motivação inicial da atividade de aprendizagem
Esse momento da Experiência Formativa é uma etapa preliminar à
execução do processo de aprendizagem fundamentado na Teoria de P. Ya.
Galperin e tem como objetivo estimular os discentes para que ocorra o
surgimento de motivos convergentes com os objetivos da atividade de
aprendizagem proposta.
A motivação inicial teve duração de 2h e foi subdividida em três
momentos: apresentação de uma situação-problema, explanação sobre o
controle na resolução de problemas matemáticos à luz da Teoria de P. Ya.
Galperin e uma discussão com a turma acerca da relevância dessa ação para a
atividade de aprendizagem.
A apresentação da situação-problema foi uma retomada com os discentes
da última questão da prova pedagógica, destacando a relevância desses tipos
de questões para a prática escolar.
A problematização sobre a ação de controle na resolução de problemas
matemáticos partiu das respostas dadas pelos discentes durante a prova
pedagógica, ressaltando as convergências e divergências entre os diferentes
entendimentos apresentados. Partindo do conhecimento prévio dos alunos, foi
apresentada a compreensão do conceito de controle adotado na presente tese.
Haja vista as diferentes matrizes teóricas presentes na literatura que
subsidiam a discussão do processo de formação de habilidades gerais como a
de controle e a relevância desse conhecimento profissional para os futuros
professores, passamos a expor aos participantes da pesquisa um panorama
geral da Teoria de Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos
enquanto um modelo de explicação do processo de internalização das ações
externas em ações mentais. De modo específico, foram discutidos aspectos da
Teoria de P. Ya. Galperin, bem como seus subsistemas constituintes: orientação,
etapas de formação e os indicadores qualitativos.
Todo esse primeiro momento de explanação teórica durante a etapa de
motivação inicial partiu do entendimento que a participação da Experiência
Formativa em consonância com um contato com os fundamentos teóricos
adotados, tornaria o processo de aprendizagem mais relevante para os
participantes, tanto enquanto aprendizes, quanto como futuros professores. Em
125
outras palavras, a proposta teve como enfoque fazer com que os motivos
principais dos estudantes em participarem voluntariamente da experiência de
aprendizagem fossem coincidentes com o objetivo que o Sistema Didático foi
proposto.
Ao final desse momento, os alunos foram inquiridos a descrever no diário
de campo sobre as dificuldades enfrentadas durante a aula e ainda se houve ou
não um favorecimento na motivação e interesse inicial pelo estudo do controle
na resolução de problemas matemáticos após participação nesse momento.
Em relação às dificuldades, os estudantes relataram percalços relativos
ao: entendimento inadequado de algumas partes da Teoria (44,5%), excesso de
informações (22,2%), relacionar conhecimento prévio ao novo conhecimento
apresentado (22,2%) e convencimento acerca da relevância do controle na
resolução de problemas (11,1%).
Os três primeiros elementos apresentados pelos discentes podem estar
relacionados ao tempo reduzido dedicado a exposição da Teoria e a discussão.
Considerando o desconhecimento dos discentes sobre a Teoria de P. Ya.
Galperin, uma apresentação mais apropriada do arcabouço teórico proposto pelo
autor demandaria apresentar ainda conceitos advindos de outras teorias que
compõem o enfoque histórico-cultural, sobretudo da Teoria da Atividade de A. N.
Leontiev e a Teoria Histórico-Cultural de L. S. Vygotsky.
Já a dificuldade de convencimento sobre a relevância do controle na
resolução de problemas assinalada por um dos participantes, pode ser um
indício de prevalência da compreensão que a resolução de problemas se encerra
ao encontrar a solução do problema, sendo portanto, a realização de um controle
contínuo e final desnecessário.
No que diz respeito ao modo como esse momento favoreceu na motivação
e no interesse em estudar sobre as ações de controle na resolução de problemas
matemáticos, 87,5% dos participantes relataram que houve favorecimento,
contra 12,5% que respondeu negativamente.
Dentre as respostas positivas, os relatos podem ser divididos entre os que
evidenciaram interesse em conhecer mais sobre a Teoria de Formação
Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos ou ainda sobre o controle, assim
como mostram algumas respostas do Quadro 38:
126
Quadro 38 - Favorecimento da motivação e no interesse após a etapa de motivação inicial.
Teoria de P. Ya. Galperin
“Sim, por ser uma teoria bastante interessante despertou, instigou a minha atenção por entender que é uma teoria aceita pela comunidade científica e motivou quanto a poder utilizá-la enquanto professor” (Participante P8). “Mudou do ponto de vista que estou mais curioso sobre como a teoria se aplica, na realidade, pois com a oportunidade de trabalhá-la poderei conhecer sua efetividade”. (Participante A5)
Compreensão do controle na resolução de
problemas matemáticos
“Sim, no início achava que já fazia um "controle" sobre os procedimentos que realizava quanto mim deparava com um problema a ser resolvido, mas, hoje percebi que o controle além de um simples cuidado quando se está resolvendo um problema, percebi que existe uma relação muito próxima entre controlar o que está fazendo e aprimorar o que se faz através de um repensar as ações que se realiza (Participante A2)”. “Sim. Pois foi mostrado que com ela o risco do erro é diminuído, que facilitam no entendimento (Participante A6)”.
Fonte: Elaborado pelo autor.
É possível observar que o momento de explanação parece ter contribuído,
em particular, para aguçar a curiosidade dos estudantes acerca da Teoria de
Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos, desconhecida, até
então, por todos os participantes. Esse fato pode ter contribuído para
desencadear, conforme relato dos alunos, um favorecimento nas motivações e
interesses para participação na Experiência Formativa.
Além do mais, os discentes apontam que essa etapa contribuiu para que
os alunos pudessem melhor entender o que é e algumas das contribuições da
ação de controle na resolução de problemas matemáticos.
Acerca do discente (Participante P7) que apontou que não houve
mudança em sua motivação e interesse após a etapa, afirma que: “Não mudou,
pois ao começar a disciplina tinha o intuito de compreender algo novo sobre a
resolução de problema. E com a apresentação da teoria, é possível enxergar
que resolver problemas matemáticos, vai além do que buscar soluções”.
Mesmo o participante que afirma não ter havido favorecimento em sua
motivação e interesse após a etapa de motivação inicial, afirma que esta não
ocorreu por já haver uma expectativa de estudo da resolução de problemas
matemáticos por meio de uma abordagem nova. Nesse sentido, a Teoria de P.
127
Ya. Galperin e a ação de controle na resolução de problemas matemáticos sob
essa perspectiva, ao serem apresentadas, comungaram com o que era esperado
pelo discente.
Conforme relato dos participantes, embora tenham apontado dificuldades
na compreensão de pontos da Teoria de P. Ya. Galperin, a etapa de motivação
inicial foi relevante como um primeiro contato com a Teoria, visando servir para
apresentação de um panorama geral dessa fundamentação teórica.
Além disso, mesmo tendo havido entraves em relacionar suas
compreensões iniciais acerca do controle com a perspectiva adotada nesta tese,
o momento também ajudou a reforçar a relevância da ação de controle na
resolução de problemas matemáticos, fato desconhecido ou conhecido de forma
inapropriada por alguns participantes.
6.3 A reelaboração da orientação dos estudantes
O momento de reelaboração da orientação de resolver problemas
matemáticos da turma teve duração de quatro horas e ocorreu em dois dias (12
e 25 de setembro de 2019).
Dada a discrepância entre as orientações dos alunos diagnosticadas
anteriormente e a orientação adotada como referência planejada pelo professor,
o processo de favorecimento de uma reelaboração inicial da orientação dos
alunos, materializado no Esquema da Base Orientadora Completa da Ação
(EBOCA) da turma foi dividido em duas partes: uma primeira reelaboração da
orientação em duplas, após apresentação de alguns fundamentos teóricos para
subsidiar esse processo; e uma segunda reelaboração realizada em conjunto
com toda a turma. Em ambos os casos as negociações de sentidos e significados
tiveram a mediação do professor.
A primeira parte da reelaboração da orientação dos estudantes iniciou
com a retomada de alguns elementos teóricos, tais como: os momentos
funcionais da atividade, BOA, EBOCA, situação-problema e problema. Essa
explanação teve o intuito de permitir que os discentes se familiarizassem com os
fundamentos adotados na presente pesquisa e norteá-los durante a
reelaboração da orientação inicial. Logo a seguir, foram retomadas algumas
respostas da prova pedagógica respondida pelos discentes e realizada uma
128
primeira negociação de sentidos e significados entre as duplas sob mediação do
professor.
A discussão acerca do modelo do objeto partiu da perspectiva de
situação-problema e problema explanada durante a aula e das respostas dadas
pelos alunos sobre o que é resolver problemas matemáticos (questão 1 da prova
pedagógica).
A partir daí, foram negociados com a turma os seguintes elementos
considerados invariantes para a definição da ação: busca pela solução, uso de
conhecimentos matemáticos, contradição e atividade. Convém destacar que os
dois primeiros são oriundos das respostas dos alunos, enquanto que os dois
últimos foram negociados a partir da exposição teórica empreendida.
Após identificados, os quatro elementos foram escritos no quadro e as
duplas foram convidadas a redigir o modelo do objeto de suas orientações. O
resultado dessa primeira reelaboração do modelo do objeto é apresentado no
Quadro 39:
Quadro 39- Resposta acerca do modelo do objeto da orientação dos alunos reelaborada em duplas.
Fonte: Elaborado pelo autor.
PARTICIPANTE MODELO DO OBJETO
P1 Atividade individual que tem como objetivo chegar a solução de um problema; esta atividade necessita dos conhecimentos matemáticos do indivíduo
P2 Atividade individual que tem como objetivo chegar a solução de um determinado problema. Esta atividade precisa de conhecimentos matemáticos do indivíduo para realização de tal atividade.
P3 É buscar possíveis soluções para um problema matemático onde se utilizar ferramentas matemáticas e o conhecimento sobre determinado problema de forma que o indivíduo
P4 Atividade individual que tem como objetivo chegar a solução de um problema; esta atividade necessita dos conhecimentos matemáticos do indivíduo
P5 Um processo subjetivo que tem como propósito chegar a solução de um problema; tal processo leva em consideração os conhecimentos matemáticos que o resolvedor possui.
P6 Buscar meios para resolver problemas matemáticos
P7
É buscar possíveis soluções para um problema matemático, em que é necessário a utilização de ferramentas matemáticas, como também o conhecimento prévio do resolverdor sobre tais ferramentas, na busca de solucionar o desconhecido.
P8 Um processo subjetivo que tem como propósito chegar a solução de um problema; tal processo leva em consideração os conhecimentos matemáticos que o resolvedor possui.
129
De modo complementar, apresentamos a avaliação de cada uma das
respostas dos participantes da pesquisa segundo as categorias correto (C) ou
ausente (A), tendo como referência a orientação do professor:
Quadro 40 - Percentual de correspondência da orientação dos alunos reelaboradas em
duplas em relação a orientação do professor.
PARTICIPANTE
DEFINIÇÃO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS PERCENTUAL
CORRETO POR ALUNO Atividade
Busca pela
solução Contradição
Conhecimentos matemáticos
P1 C C A C 75%
P2 C C A C 75%
P3 A C A C 50%
P4 C C A C 75%
P5 A C A C 50%
P6 A C A A 25%
P7 A C C C 75%
P8 A C A C 50%
PERCENTUAL CORRETO DA
TURMA 37,5% 100% 12,5% 87,5%
Fonte: Elaborado pelo autor.
Verificamos nas respostas, alguns dos elementos do modelo do objeto
com maior recorrência em detrimento de outros. Termos relacionados à “busca
pela solução” constou em todas as respostas (100%), o “conhecimento
matemático” foi encontrado em 87,5% das respostas, enquanto que a “atividade”
em 37,5%. Por outro lado, apenas 12,5% destacaram termos relacionados a
“contradição”. Em geral, as respostas evidenciam apenas a necessidade de
considerar aquilo que é conhecido pelo sujeito que resolve o problema, em
detrimento daquilo que ele desconhece.
Se comparado com os resultados obtidos no diagnóstico inicial, houve um
aumento (de 0% para 37,5%; de 62,5% para 100%; de 0% para 12,5% e de 25%
para 87,5%) na externalização dos elementos principais (atividade, busca pela
solução, contradição e conhecimentos matemáticos) que compõem a definição
do que é resolver problemas matemáticos, segundo a orientação adotada como
referência.
Além disso, observamos que, embora tenham realizado a atividade em
duplas e haja algumas similaridades, há diferenças na redação das respostas.
130
Isso indica que mesmo trabalhando juntos, cada um preferiu dar seu próprio
sentido ao que é resolver problemas matemáticos.
Acerca do modelo da ação, foram apresentadas as respostas dos alunos
relativa aos passos necessários para se resolver um problema matemático
(questão 2 da prova pedagógica), subdivididas em função dos momentos
funcionais da atividade (orientação, execução e controle).
A partir de uma discussão empreendida durante a aula, participantes e
docente chegaram a quatro ações gerais que compuseram a orientação da
turma: analisar, planejar, executar e avaliar. Para finalizar, cada dupla passou a
elaborar o modelo da ação de suas respectivas orientações.
Vale destacar que em virtude do encerramento da primeira aula dedicada
à reelaboração da orientação dos alunos, ficou para a aula seguinte o
detalhamento das ações e operações componentes do modelo da ação da
turma. No Quadro 41 são apresentadas as respostas dos discentes:
Quadro 41 - Respostas relativas ao modelo da ação da orientação dos alunos reelaborada em duplas.
PARTICIPANTE MODELO DA AÇÃO
P1
- Analisar - Planejar - Executar - Avaliar
P2
- Analisar - Planejar - Executar - Avaliar
P3
- Analisar - Interpretar - Buscar estratégias - Utilizar as ferramentas matemáticas necessárias - Finalizar a operação determinando a solução - O problema está resolvido corretamente?
P4
- Analisar - Planejar - Executar - Avaliar
P5
- Analisar - Planejar - Executar - Avaliar
P6
Analisar - Leu as questão; - Olhou os dados Métodos - Verifica se é válido Avaliar - Qual o resultado
131
P7
- Analisar o problema, realizando uma leitura interpretativa na busca de entender o problema. - Reconhecer e Classificar os dados, anotando-os separadamente. - Identificar a operação matemática adequada para resolução do problema. - Testar os resultados obtidos - Reformular a solução final
P8
- Analisar - Planejar - Executar - Avaliar
Fonte: Elaborado pelo autor.
Podemos ver que cinco participantes transcreveram as ações negociados
em sala de aula em seus modelos da ação (62,5%), enquanto que os outros dois
(37,5%), apresentaram outras ações e operações, que não necessariamente
incluiam todos esses verbos. Em relação a estes últimos alunos, é possível que
não tenham entendido as instruções para a tarefa dadas pelo professor ou
tenham considerado que as instruções não eram compatíveis com o que
entendiam ser adequado.
Apresentamos ainda uma análise das ações e operações descritas pelos
alunos no modelo da ação, após a primeira reelaboração realizada em duplas.
Cada uma das respostas foi classificada segundo as categorias correto (C),
parcialmente correto (PC) ou ausente (A):
Quadro 42 - Percentual de correspondência da orientação dos alunos reelaboradas em duplas em relação a orientação do professor.
ALUNOS
A1 A2 A3 A4 PERCENTUAL DE
RESPOSTAS CORRETAS POR ALUNO
O1 O2 O3 O4 O5 O6 O7 O8 O9 O10 O11 O12
P1 PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC 50
P2 PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC 50
P3 PC PC PC PC A C C A A A A A 33,3
P4 PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC 50
P5 PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC 50
P6 C PC PC PC A A A A PC PC PC PC 37,5
P7 C C PC PC A C A A C A C A 50
P8 PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC PC 50
PERCENTUAL DE
RESPOSTAS CORRETAS DA TURMA
41,7 41,7 50 50 20,8 41,7 29,2 20,8 25 25 25 25
Fonte: Elaborado pelo autor.
132
Comparando com os resultados obtidos no diagnóstico inicial, verificamos
que os modelos da ação da maioria dos discentes (62,5%), mesmo que
constituídos por ações generalizadas, agora contemplam os momentos de
orientação, execução e controle da atividade. Por outro lado, há, entre as demais
respostas, tanto a justaposição de ações similares, como a apresentação de
sistemas de ações incompletos.
Especificamente, sete participantes tiveram a primeira reelaboração do
modelo da ação de suas orientações favorecidas por esse momento da
Experiência Formativa. Apenas o participante P6 teve um retrocesso na
reelaboração da orientação, tendo seu percentual de respostas corretas
inicialmente em 41,7% reduzido a 37,5%. Esse fato retoma a possibilidade de
ter havido uma incompreensão da proposta pelo estudante.
No que diz respeito ao modelo de controle, tendo em vista que o
diagnóstico inicial verificou uma total incompatibilidade entre as respostas dos
alunos e a orientação desejada (Quadro 41 e 42), a estratégia usada para auxiliar
os estudantes foi construir, a título de ilustração, o modelo do controle de uma
Base Orientadora da Ação de uma habilidade comum e mais simples: a
habilidade de dirigir um carro.
Já levando o modelo do objeto e o modelo da ação da BOA de dirigir um
carro, o professor empreendeu uma discussão com a turma para que os
discentes construíssem coletivamente o modelo de controle da referida
habilidade. Finalizada essa discussão, os alunos foram orientados a elaborar o
modelo de controle do EBOCA da habilidade de resolver problemas
matemáticos. As respostas são apresentadas no Quadro 43:
Quadro 43 - Respostas relativas ao modelo de controle da orientação dos alunos reelaboradas em duplas.
PARTICIPANTE MODELO DE CONTROLE
P1
- Você leu o problema? - Você compreendeu o que o problema pede? - Preparou estratégias para resolver o problema? - Efetuou as estratégias planejadas anteriormente? - A resposta está correta?
P2
- Você leu o problema? - Você entendeu, compreendeu o que o problema pede que você responda? - Você preparou um plano de estratégias para resolver o problema? - Você executou o seu plano de estratégias elaborado anteriormente para a resolução do problema?
133
Fonte: Elaborado pelo autor.
Notamos que todos os modelos de controle apresentados (100%) eram
compostos por indagações, conforme orientação do professor. Há, nesse
sentido, uma mudança na forma como as ações de controle foram estruturadas
pelos discentes após esse momento formativo, que deixaram de ser, conforme
explicitado no diagnóstico inicial, um mero detalhamento do modelo da ação.
Todavia, é possível observar que, nem todas as ações/operações de
controle apresentadas possuíam ações/operações correspondentes no modelo
da ação dos EBOCAs dos alunos, o que sugere que ainda não há uma clareza
entre esses discentes acerca da relação intrínseca entre ação e controle, o que
contradiz a interdependência entre o modelo da ação e o modelo de controle no
contexto da Teoria da Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos
(GALPERIN, 1989c).
- A resposta que você encontrou é coerente com o problema perguntado? - A resposta está correta?
P3
- Esse problema pode ser resolvido apenas usando as variáveis explícitas? - Você sabe como utilizar essas variáveis - Quais são os meios que eu posso resolver esse problema? Qual o melhor para mim? - Sabe utilizar as ferramentas necessárias? O problema está resolvido corretamente? Se não Qual foi seu erro? Se sim. Teria melhorar a resolução do problema?
P4
- Você leu o problema? - Você compreendeu o que o problema pede? - Preparou estratégias para resolver o problema? - Efetuou as estratégias planejadas anteriormente? - A resposta está correta?
P5
1) Leu o problema? Identificou os dados? Entendeu o que o problema pediu? 2) Que habilidade matemática vai usar? Essa habilidade funciona? 3) Você usou a habilidade de acordo com os dados? 4) Obteve um resultado coerente?
P6
- Entendeu o que pede? - Retirou os dados da questão? - É válido? - Qual usou? - Chegou ao resultado? - É o esperado?
P7
- Você fez a leitura do problema? Entendeu o que foi dito? - Já sabe o que você deve procurar? - Anotou as informações importantes? - Já sabe que tipo de operação matemática vai utilizar? - Verificou se está correto?
P8
- Você entendeu o que a questão quis? - Você conhece maneiras ou técnicas para resolver a questão? - Usou seus conhecimentos de acordo com a questão? - Tem certeza do resultado?
134
A fim de complementar a discussão, apresentamos ainda o Quadro 44
que analisa as respostas de cada participante em função da orientação de
referência proposta pelo professor e segundo as categorias correto (C),
parcialmente correto (PC) e ausente (A).
Quadro 44 - Percentual de correspondência da orientação dos alunos reelaboradas em duplas em relação a orientação do professor.
ALUNO C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12
PERCENTUAL RESPOSTAS CORRETAS POR ALUNO
P1 PC C A A A C C A PC PC PC PC 45,8
P2 PC C A A A C C A PC PC PC PC 45,8
P3 A A PC A A C A C A C C A 37,5
P4 PC C A A A C C A PC PC PC PC 45,8
P5 PC PC PC A A C C A C C A A 45,8
P6 A PC A A A A A C A A A A 12,5
P7 PC PC C A A PC A A C A A A 29,2
P8 A PC A A A C A C C A A A 29,2
PERCENTUAL RESPOSTAS CORRETAS DA TURMA
31,2 50 25 0 0 81,2 50 37,5 56,2 43,7 31,2 18,7
Fonte: Elaborado pelo autor.
Tendo em vista que durante o diagnóstico inicial do modelo de controle
das orientações dos alunos, se avaliadas segundo a orientação de referência
elaborada pelo professor, não se apresentou nenhuma operação correta;
verificamos que houve um favorecimento desse momento da Experiência
Formativa para a reelaboração da ação de controle na resolução de problemas
matemáticos.
Em síntese, apresentamos o percentual de convergência das orientações
dos alunos com a orientação de referência elaborada pelo professor para os
modelos do objeto, modelo da ação e modelo de controle (Quadro 45):
Quadro 45 - Percentual de adequação das orientações iniciais dos alunos em relação a orientação do professor.
PARTICIPANTE MODELO DO
OBJETO MODELO DA AÇÃO
MODELO DE CONTROLE
P1 75% 50% 45,8%
P2 75% 50% 45,8%
P3 50% 33,3% 37,5%
P4 75% 50% 45,8%
135
P5 50% 50% 45,8%
P6 25% 37,5% 12,5%
P7 75% 50% 29,2%
P8 50% 50 % 29,2%
Fonte: Elaborado pelo autor.
É possível notar que o modelo do objeto é o elemento da orientação dos
alunos que mais se aproxima da orientação referência elaborada pelo professor,
seguido do modelo da ação e do modelo de controle.
Comparando a orientação dos estudantes para a ação de controle da
resolução de problemas matemáticos caracterizada no diagnóstico inicial com a
observação após a reelaboração em duplas, apresentamos o Gráfico 1 que
ilustra o desenvolvimento das respostas dos alunos acerca do modelo do objeto.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Observamos que seis dos discentes apresentaram melhorias em relação
ao entendimento do que é resolver problemas matemáticos (modelo do objeto),
enquanto dois mantiveram o mesmo percentual de correspondência com a
orientação referência demonstrado no diagnóstico inicial. Passando a apresentar
o comparativo do modelo da ação, apresentamos o Gráfico 2:
Gráfico 1- Comparativo do modelo do objeto do diagnóstico inicial e o reelaborado em duplas.
136
Fonte: Elaborado pelo autor.
No que se refere ao modelo da ação de resolver problemas matemáticos,
a maioria dos participantes da pesquisa (sete alunos) demonstraram alterações
em suas respostas, tornando-as mais convergentes com a orientação do
professor. Passando a mostrar o comparativo realizado com o modelo de
controle, apresentamos o Gráfico 3:
Gráfico 2 - Comparativo do modelo da ação do diagnóstico inicial e o reelaborado em duplas.
137
Fonte: Elaborado pelo autor.
Considerando que no diagnóstico inicial os alunos demonstraram não ter
consciência da ação de controle da resolução de problemas matemáticos
consonante com a orientação do professor, verificamos no Gráfico 3 que essa
primeira parte já conseguiu favorecer a reelaboração das orientações dos alunos
e aproximando-a da orientação desejada.
Na segunda aula reservada para o momento de reelaboração da
orientação dos alunos para construção do Esquema da Base Orientadora
Completa da Ação da turma, foram retomados os tópicos da aula anterior, mas
agora focados no trabalho conjunto entre todos os participantes com a orientação
do professor. Nesse momento, a negociação de sentidos e significados para
reelaboração da orientação dos discentes culminou na aproximação dessa com
a orientação planejada pelo professor (Quadro 20)8.
Refletindo sobre suas vivências nesse momento da Experiência
Formativa, os discentes descrevem no diário dos alunos o que aprenderam e as
dificuldades que tiveram.
8 Considerando que o processo de negociação de sentidos e significados entre a turma e o professor culminou na construção do EBOCA dos alunos, esse esquema passa a coincidir com o EBOCA do professor, contido no Quadro 20.
Gráfico 3 - Comparativo do modelo de controle do diagnóstico inicial e o reelaborado em duplas.
138
Em relação a descrição do que foi aprendido durante as aulas, os
discentes sublimam as mudanças no entendimento acerca da orientação para
resolver problemas e das ações de controle (Quadro 46).
Quadro 46 - Trecho do diário dos participantes P3 e P5 em que descrevem o que aprenderam durante o momento de reelaboração da orientação.
Fonte: Elaborado pelo autor.
É possível notar o destaque dado pelo participante P3 à sua percepção
sobre a relevância da atividade orientadora para a ação. Enquanto isso, embora
descreva o mesmo processo, o participante P5 evidencia a negociação dos
sentidos pessoais dos discentes como forma de unificação e aproximação dos
significados subjacentes a orientação desejada proposta pelo professor.
Acerca das dificuldades durante esse momento, houve uma dispersão
entre as respostas dos participantes da pesquisa, dos quais 20% focaram em
processos gerais ligados a elaboração dos modelos (generalizar atitudes ou
diferenciar processos parecidos), enquanto as demais evidenciaram dificuldades
na construção do EBOCA ou um dos modelos segundo os seguintes percentuais:
30% modelo de controle, 20% modelo da ação, 20% EBOCA e 10% modelo do
objeto.
O momento que visou favorecer na reelaboração da orientação dos
alunos para resolver problemas matemáticos esquematizada no EBOCA é
preponderante para as etapas seguintes, visto que a dinâmica pela qual as
atividades foram propostas é que vai influenciar na qualidade da ação.
Participante P3 “Aprendi a como estruturar as etapas de modelo do objeto, modelo da ação e o modelo de controle, percebendo a delicadeza que há na ação pré-resolução e durante a realização de problemas, detalhes que tornam a resolução mais completa e efetiva”. Participante P5 “Hoje começamos a elaboração do EBOCA. Revimos alguns conceitos da aula anterior para poder dar seguimento à proposta. Revisitamos a prova pedagógica para repensar as respostas que tínhamos colocado na tentativa de unificar as ideias. Dessa maneira, discutimos uma forma de conciliar as respostas encontradas dos outros participantes e confrontar com as minhas, reconhecendo o que estes pensaram em cada etapa da resolução de problemas”.
139
No que concerne à ação de controle na resolução de problemas, em
particular, os dados analisados sugeriram um favorecimento da Experiência
Formativa para a reelaboração da orientação dos alunos, o que implicou em
aproximação da orientação materializada pelos alunos com a orientação
referência construída pelo professor. Ampliamos esse cenário para compreender
como essa orientação aplicou-se no contexto da solução das situações-
problema propostas nas tarefas na próxima subseção.
6.4 O controle na solução das tarefas9
Esse momento da Experiência Formativa teve duração de 8 horas e
ocorreu em quatro encontros, de 2 horas cada, entre os dias 26 de abril de 2019
e 09 de maio de 2019. Foi composto por seis tarefas (numeradas de 1 a 6), sendo
duas contendo situações-problema de solução única, duas sem solução e duas
com múltiplas soluções. Em todos os casos, as tarefas foram realizadas com o
apoio do EBOCA dos alunos e resolvidas em duplas, de maneira alternada,
sendo que enquanto um dos membros resolvia o outro realizava o controle.
Passaremos a discutir o processo de solução das tarefas, evidenciando
os erros e acertos dos discentes e as ações de controle na resolução de
problemas matemáticos.
Para uma melhor organização do tópico, ele será subdividido em quatro
partes, sendo a primeira (6.4.1) e a terceira (6.4.3) focadas em discutir a solução
das tarefas, enquanto que a segunda (6.4.2) e quarta (6.4.4) direcionadas a
discutir como os discentes realizaram o controle na resolução das situações-
problema.
6.4.1 Análise das soluções dos discentes para as tarefas 1, 2 e 3
A primeira situação-problema (T1) tinha única solução e tratou de um
problema de análise entre duas possibilidades de transporte para um grupo de
amigos e solicitava para tomada de decisão sobre qual opção era mais vantajosa
financeiramente. A questão tinha o seguinte enunciado:
9 As tarefas utilizadas na presente Experiência Formativa estão detalhadas nos Apêndices 3 (Tarefa 1, 2 e 3) e 4 (Tarefas 4, 5 e 6).
140
Tarefa 1: Um grupo de amigos pretende fazer uma viagem de férias para um local
que fica a 524 km de onde moram. Contudo, eles ainda não decidiram se o percurso
será realizado de carro próprio ou ônibus. A primeira opção seria um carro que
transporta 5 ocupantes, com um consumo médio de 12 km/l e a gasolina custando R$
4,59. A segunda opção seria ir de ônibus, cuja a passagem custa R$ 96,00 por trecho
(ida ou volta). Considerando apenas o custo total da viagem e que este será dividido
igualmente entre os todos os membros do grupo, em quais condições uma das opções
é mais vantajosa que a outra.
O desempenho das duplas na solução da Tarefa 1 (T1) foi: uma dupla
(25%) resolveu de forma parcialmente correta, enquanto que as outras três
(75%) resolveram de forma incorreta.
O resultado parcialmente correto foi encontrado pela dupla P4 (resolveu
a T1) e P1 (controlou o colega na solução da T1). A estratégia empregada pelos
discentes foi calcular o valor total a ser gasto por passageiro no ônibus e no carro
considerando, nesse último transporte, um número de cinco ocupantes. Após
calcular o resultado, a conclusão foi que a viagem seria mais vantajosa se fosse
realizada de carro.
Embora os procedimentos de resolução tenham sido apropriados, o
resultado não levou em consideração que a situação-problema não apresenta o
número de pessoas do grupo de amigos. Nesse caso, o correto seria analisar as
diferentes possibilidades para verificar o transporte mais vantajoso em função da
quantidade de viajantes.
Sobre as demais duplas que solucionaram a Tarefa 1 de forma incorreta,
todas cometeram o mesmo equívoco, que consistiu em considerar apenas a
distância entre as cidades como o trajeto total a ser percorrido. Um exemplo
dessa estratégia de resolução é apresentada na Figura 5:
141
Figura 5 - Solução da Tarefa 1 pelo participante P3.
Fonte: Acervo do autor.
Como é possível observar, a solução desenvolve uma estratégia que
poderia ter levado a uma resposta correta, mas parte de duas premissas
equivocadas: a distância total a ser percorrida e o número de passageiros.
Levantamos como hipótese para a causa desse erro a desatenção dos alunos
com os dados do problema, que estaria ligada à operação de reconhecer o que
é conhecido e o que é desconhecido, operação 2 contida no EBOCA da turma.
142
A Tarefa 2 (T2) apresenta uma situação-problema sem solução e indaga
sobre o número de dias necessários para que um indivíduo que pratica
caminhada perca uma determinada quantia de sua massa corpórea.
Apresentamos o enunciado da Tarefa:
Tarefa 2: “Seguindo a orientação de um especialista, Murilo aumenta, a cada dois
dias 10% da distância percorrida em suas caminhadas, mantendo o mesmo ritmo.
Estimando que ele gasta 240 kcal/hora e que 7 mil calorias equivalem a
aproximadamente 1 kg de gordura, se Murilo mantiver a alimentação regular, em
quantos dias perderá 5 kg?”
É possível observar que a situação-problema não possui solução por falta
de informações que leve o respondente a encontrar o tempo de caminhada do
sujeito.
Em relação ao desempenho dos estudantes na tarefa, 25% responderam
de forma correta, 25% de forma parcialmente correta e 25% de forma incorreta.
A dupla P6 e P8 desenvolveu a resolução de problemas seguindo e
registrando as operações do EBOCA da turma, mas, ao determinar as condições
para solução do problema (operação 5 do EBOCA) e se depararem com a
incompletude no rol de condições necessárias e suficientes, justificaram que a
situação-problema não tem resposta, como mostrado na Figura 6:
143
Figura 6 - Solução da Tarefa 2 pelo participante P6.
Fonte: Acervo do autor.
É possível ver que os discentes ainda elaboraram uma representação
para a distância percorrida em função dos dias, contudo, não utilizaram dessa
informação para chegar à conclusão da impossibilidade de solução para a
situação-problema.
De maneira similar à dupla anterior, os participantes P1 e P4 chegaram
ao resultado correto ao finalizar a representação do problema, mas justificam a
resposta de forma incorreta. Para melhor compreensão, apresentamos a
resolução completa da dupla na Figura 7:
144
Figura 7 - Solução da Tarefa 2 pelo participante P1.
Fonte: Acervo do autor.
Observamos que a justificativa para a impossibilidade para a solução do
problema utilizada pela dupla foi a ausência de informações sobre a distância
percorrida. Contudo, o dado essencial é o tempo que o sujeito se exercita
diariamente.
As duplas que responderam a Tarefa 2 incorretamente foram P8/P3 e
P7/P5. Em comum, todos chegaram à mesma resposta, partindo de uma
premissa que não foi dada no enunciado da situação-problema, como mostra
uma resolução proposta por uma das duplas, apresentada na Figura 8:
145
Figura 8 - Solução da Tarefa 2 pelo participante P7.
Fonte: Acervo do autor.
Percebemos dois equívocos na resolução proposta. Primeiro, considerar
a unidade de medida de massa quilocalorias (kcal) e calorias (cal) como
equivalentes. Além disso, considerar que o tempo de exercícios diários
corresponde à duração de um dia (24h). Nesse segundo caso, o erro pode
evidenciar que os alunos tentaram, diante da contradição provocada por falta de
condições para solucionar o problema, deduzir uma delas, transcendendo o que
era enunciado na Tarefa 2.
146
A respeito da Tarefa 3 (T3), a situação-problema proposta também não
possuia solução. Ela solicitava o faturamento de um estacionamento de motos e
carros, considerando as condições dadas. Contudo, haviam duas condições no
enunciado que eram contraditórias, o que inviabilizava a resolução do problema:
O enunciado da tarefa era:
Tarefa 3: Em um estacionamento de 60 vagas, cada vaga pode ser ocupada por 1
carro ou por 3 motos. Considerando que o preço cobrado por carro é de R$ 10,00 e
por moto R$ 5,00 e sabendo que em um dia de lotação máxima foram contabilizadas
300 rodas, qual o valor faturado pelo estacionamento?
É possível visualizar, dentre as condições da situação-problema, que o
número de rodas por vaga é de até quatro, independe se são carros ou motos.
Logo, o número máximo de rodas que podem ser contabilizadas no
estacionamento são 240, o que contradiz outra condição do problema que afirma
serem possíveis 300 rodas. Na Tarefa 3, apenas uma dupla (25%) resolveu
corretamente, enquanto que as demais (75%) apresentaram respostas
incorretas.
No âmbito da dupla que respondeu corretamente, a inconsistência entre
as condições foi percebida na operação de interpretação do resultado
encontrado em função do que é procurado (operação 8 do EBOCA da turma).
Destacamos, na Figura 9, a justificativa trazida pelos discentes P5 e P7:
147
Figura 9 - Trecho da solução da Tarefa 3 pelo participante P5.
Fonte: Acervo do autor.
Embora o participante tenha encontrado a contradição presente entre as
condições da questão, ele ainda levanta dúvida se a inconsistência seria em sua
resolução ou nos dados do problema. Por conta disso, apresenta uma
possibilidade de resultado (750,00, oriundo do produto entre 75 vagas e o valor
cobrado por vaga, 10 reais) para o caso de sua interpretação estar errada e que
tenha cometido um equívoco.
No que se refere aos erros cometidos pelos demais participantes na
resolução dos problemas, de maneira geral, estão associados, ou a modificação
de uma das condições para viabilizar a solução, ou a consideração de apenas
uma das condições, em detrimento de outra.
O participante P2 conseguiu identificar a contradição entre duas
condições da situação-problema, porém, prosseguiu a solução da Tarefa 3
ajustando uma dessas condições para chegar a uma solução. Um trecho da
operação que explica o fato relatado é apresentado na Figura 10.
148
Figura 10 - Trecho da solução da Tarefa 3 pelo participante P2.
Fonte: Acervo do autor.
Examinando a Figura 10 vemos que, apesar de explicar na operação
quatro (O4), a contradição entre o número de vagas do estacionamento
apresentado no problema (60 vagas) e número obtido a partir dos cálculos com
o número máximo de rodas (75 vagas), o aluno ajusta a condição do problema
e continua a resolução até chegar a um resultado (R$ 750,00).
A consideração de apenas uma das condições do problema em
detrimento da outra, foi o erro que levou os demais alunos que resolveram o
problema (P3 e P4) a um resultado incompatível com o gabarito da Tarefa 3. Em
nenhum dos dois casos os discentes demonstraram ter identificado a
149
contradição entre as condições dispostas no enunciado. Apresentamos na
Figura 11 resolução de um dos estudantes.
Figura 11 - Solução da Tarefa 3 pelo participante P3.
Fonte: Acervo do autor.
Um primeiro aspecto a considerar é que, o discente parte do número
máximo de rodas apresentado no enunciado do problema e, por meio de uma
regra de três simples, chega ao resultado. Além disso, o discente não organizou
sua solução segundo o sistema de ações e operações proposto pelo Esquema
da Base Orientadora Completa da Ação (EBOCA) elaborado pela turma.
Em relação ao participante P4, a Figura 12 traz como se deu sua solução
da tarefa.
150
Figura 12 - Solução da Tarefa 3 pelo participante P4.
Fonte: Acervo do autor.
Diferente de P3, a resolução da situação-problema apresentada pelo
participante P4 partiu do número de vagas do estacionamento dito no enunciado
da Tarefa 3, culminando em um erro similar.
151
Seja partindo do número de vagas do estacionamento ou do número de
rodas, a resolução de T3 desenvolvida pelos participantes P3 e P4 seguiram
caminhos similares, desconsiderando que todas as condições impostas pela
situação-problema deveriam ser satisfeitas. Esse fato evidencia uma
inobservância na operação de resolução do problema de acordo com o
planejado, operação sete do EBOCA da turma.
Uma possibilidade que pode ter ocasionado esse equívoco se deve ao
fato dos alunos terem tido pouco contato com situações-problema que
apresentem contradições internas em suas condições. Nesse caso, se todas as
condições estão consonantes, há questões em que é possível solucionar
corretamente partindo somente de uma de suas premissas.
6.4.2 Análise das ações de controle dos discentes durante as tarefas 1, 2 e 3
Passamos agora a discutir como se deu as ações de controle na resolução
de problemas matemáticos pelos participantes. Haja vista algumas
convergências entre as estratégias empregadas para descrição desse processo,
verificamos respostas dos seguintes tipos: descrição genérica das operações de
controle (DG) e descrição específicas das operações de controle (DE).
A categoria DG diz respeito aos tipos de respostas que se restringiram a
transcrever versões do modelo de controle de forma ampla, de modo que seria
possível encaixá-la em qualquer outra resposta. Por outro lado, a categoria DE
reúne as descrições que apresentaram maiores detalhamentos das ações de
controle na tarefa em tela. Nas Figuras 13 e 14 apresentamos respostas que
representam cada uma dessas categorias:
152
Fonte: Acervo do autor.
Fonte: Acervo do autor.
Figura 13 - Descrição da ação de controle na Tarefa 2 por P1, classificada como DG.
Figura 14- Descrição da ação de controle na Tarefa 2 por P5, classificada como DE.
153
De modo geral, aproximadamente 66,7% das respostas foram do tipo
descrições genéricas (DG), em contrapartida, 33,3% foram descrições
específicas (DE). É possível verificar que a diferença principal entre os exemplos
apresentados nas Figuras 13 e 14 diz respeito à riqueza de informações acerca
das ações de controle na resolução de problemas matemáticos dos
participantes.
6.4.3 Análise das soluções dos discentes para as tarefas 4, 5 e 6
Acerca da segunda parte para solução e controle de situações-problema,
foram apresentadas aos discentes as Tarefas 4, 5 e 6 (T4, T5 e T6), das quais
duas eram de múltiplas soluções (T4 e T6) e uma de única solução (T5). Além
disso, esse bloco de tarefas seguiu a mesma sistemática das anteriores, por
meio da alternância entre alunos que resolvem e que controlam o problema na
dupla.
A Tarefa 4 consistiu em uma situação-problema aberta que aborda uma
estratégia de economizar dinheiro com aumentos gradativos e requereu para
que o respondente elabore um plano possível e a quantidade total economizada
segundo esse plano. A seguir apresentamos o enunciado da Tarefa:
Tarefa 4: O “desafio de 52 semanas” é uma estratégia para se economizar dinheiro
durante 1 ano, a partir do aumento gradativo do valor poupado semanalmente.
Iniciando o desafio poupando uma determinada quantia, a cada semana, o valor
economizado corresponde ao mesmo valor da semana anterior acrescido em 1 real.
Considerando uma pessoa que ganha R$ 2.000,00 mensais e pode economizar
menos que 20% do seu salário, elabora um plano e mostre quanto essa pessoa
conseguiria juntar no fim do desafio.
Os resultados obtidos pelos discentes foram: 25% responderam de forma
correta, 25% de forma parcialmente correta e 50% de forma incorreta.
As duplas P2 e P1 foram as responsáveis por apresentar a solução correta
da situação-problema. A estratégia empregada por eles consistiu em definir o
valor a ser economizado na primeira semana e, a partir desse primeiro termo da
sequência, chegar ao último (52º). Há ainda uma verificação se a condição do
154
problema é satisfeita e só depois é apresentado o resultado. A resposta completa
consta na Figura 15:
Figura 15 - Resposta da Tarefa T4 pelo participante P2.
155
Fonte: Acervo do autor.
Vimos que o número 30, que corresponde ao primeiro termo da
sequência, foi apresentado sem nenhuma justificativa. Desse modo, ao que tudo
indica, o referido valor foi obtido via tentativa e erro. Além do mais, embora a
solução seja apresentada de maneira relativamente organizada, P2 não detalha
as operações em função da orientação dos alunos.
A resposta parcialmente correta foi dada pelo discente P6 e controle de
P4. O referido participante explicita o que é conhecido, desconhecido, procurado,
algumas condições e apresenta uma estratégia de solução, mas não a executa.
A resolução de P6 é apresentada na Figura 16:
156
Figura 16 - Resposta da Tarefa T4 pelo participante P6.
Fonte: Acervo do autor.
É possível destacar na resposta, que é sugerida na operação 6, uma
estratégia semelhante à que a P2 resolveu o problema (adoção de um valor que
satisfaça as condições do problema e elaboração de uma tabela). Esse fato pode
indicar o contato do discente com outros participantes e/ou, dada a incompletude
157
da recomendação que descreveu, uma compreensão parcial da situação-
problema.
As respostas incorretas foram descritas pelas demais duplas (P8/P3 e
P5/P7). Embora tenham adotado caminhos diferentes, o erro cometido pelas
duplas foi similar: compreender o valor total economizado em cada mês como
constante e elaborar uma equação de 1º grau como a soma dos termos em
função do valor máximo mensal. Apresentamos uma das respostas na Figura 17:
158
Figura 17 - Resposta da Tarefa T4 pelo participante P7.
Fonte: Acervo do autor.
Vemos que, o participante P7, após encontrar um valor “máximo” menor
que 400, entendeu que a contribuição total em cada mês era a mesma. Contudo,
159
isso contradiz a condição da Tarefa de que os valores economizados
semanalmente aumentam gradativamente segundo um valor fixo. Em outras
palavras, a sequência numérica formada pelos valores economizados em cada
semana constituem uma Progressão Aritmética.
No que se refere à Tarefa 5, a situação apresenta os procedimentos
usados para efetuar o cálculo do Imposto de Renda e, dada uma renda mensal
tributável, solicita que os respondentes determinem o percentual efetivo do
imposto pago. O enunciado da situação-problema era:
Tarefa 5: O Imposto de Renda (IR) é tributo cobrado sobre determinados rendimentos
de uma pessoa física ou jurídica. No Brasil, o valor a ser pago é cobrado dividindo o
ganho anual do contribuinte após deduções em diferentes faixas, que possuem
alíquotas progressivas, conforme mostra o quadro a seguir:
Sabendo que a base de cálculo mensal do salário (parte do salário que será cobrada
o IR) de Josiane sobre a qual incide o IR é de R$ 5.200,00, qual o percentual efetivo
aproximado de imposto pago?
Nessa tarefa, todas as duplas (100%) responderam a situação-problema
de forma incorreta. Foram observadas entre as respostas duas estratégias que
levaram os discentes a obterem resultados equivocados.
A estratégia utilizada pelo participante P1 consistiu em verificar, por meio
das alíquotas do Imposto de Renda (IR) e dos valores que as limitam, em qual
delas o imposto a ser pago equivale a R$ 5.200,00. Na Figura 18 segue a
resolução proposta:
160
Figura 18 - Resolução da Tarefa 5 pelo participante P1.
Fonte: Acervo do autor.
161
Vemos que um dos problemas da resolução consiste na interpretação
errada de uma das condições descritas no enunciado do problema, pois R$
5.200,00 não é o valor a ser pago de imposto, e sim a parcela do salário sobre a
qual o IR irá incidir. Partindo dessa condição equivocada, o participante verifica,
por tentativa e erro, que o referido valor está dentro dos limites de uma das
alíquotas (15%) e apresenta esta como resposta.
A segunda estratégia empregada foi observada nas respostas dos
participantes P3, P5 e P6 e consistiu em multiplicar a parcela do salário mensal
da personagem da situação-problema pelo número de meses do ano (12),
observar que o montante anual enquadra-se em uma das alíquotas e concluir
que esta é o resultado. Apresentamos a resposta de um dos discentes para
melhor explicar essa estratégia:
162
Figura 19 - Resposta da Tarefa 5 pelo participante P6.
Fonte: Acervo do autor.
163
Considerando que, a partir da obtenção do montante anual tributável da
personagem (R$ 62.400,00), o participante P5 observa que esse valor está
acima da base de cálculo anual da alíquota de 27,5% (R$ 55.976,16), portanto,
considera essa alíquota como a solução. Contudo, o enunciado da situação-
problema afirma que o cálculo do IR é realizado subdividindo o montante anual
nas diferentes faixas (e não apenas numa faixa única). Também nesse caso há,
subjacente ao erro, um problema na interpretação do enunciado da situação-
problema.
Outro aspecto a considerar na resolução proposta pelo participante P5 se
refere a operação 9, que possibilitou ao aluno uma verificação da solução e, ao
perceber que havia cometido um erro, tentar consertá-lo. Embora não tenha sido
suficiente para resolver o problema corretamente (em virtude de uma nova
interpretação equivocada do enunciado), esse fato evidencia que o controle final
possibilitou ao estudante repensar suas ações, em outras palavras, pensar de
forma reflexiva.
É apresentado na Tarefa 6 uma situação-problema de múltiplas soluções,
que requisita a obtenção de uma expressão algébrica que relacione o custo para
cercar um terreno em função de alguns materiais usados. Logo em seguida,
apresentamos a situação-problema em questão:
Tarefa 6: Um agricultor precisa determinar uma expressão algébrica que lhe permita
calcular o custo necessário para cercar suas terras em função dos principais materiais
utilizados. Em um de seus terrenos retangulares, que mede 120m por 90m ele poderá
utilizar: estacas finas (de 2 em 2 metros) ou estacas grossas (de 6 em 6 metros) e 4
voltas de arame. Elabore uma forma de cercar o terreno com os materiais
mencionados e determine uma expressão algébrica apropriada.
O desempenho dos alunos na Tarefa 6 foi: 25% responderam de forma
correta, enquanto que os demais (75%) responderam de forma incorreta.
O participante P2 apresentou uma possibilidade de solução correta para
a situação-problema contida na Tarefa 6. A resolução completa consta na Figura
20:
164
Figura 20 - Resolução da Tarefa 6 pelo participante P2.
Fonte: Acervo do autor.
165
O estudante calcula, inicialmente, quantos metros equivalem a quatro
voltas no terreno. A seguir, obtém as quantidades de estacas finas ou grossas
necessárias para cercar o terreno dividindo o perímetro desse terreno pela
distância necessária para cada uma das estacas. Obtidos todos esses valores,
elabora duas expressões algébricas de duas variáveis cada, uma em função do
valor do arame (a) e das estacas finas (e) e outra em função do valor do arame
(a) e das estacas grossas (E).
Os demais participantes cometeram erros em suas soluções, sejam ao
considerar, durante a resolução, o valor da área, ao invés do perímetro, ou por
interpretar uma expressão algébrica incompatível.
O equívoco de considerar a área ao invés do perímetro foi verificado nas
resoluções dos participantes P4 e P8, sendo que o primeiro não apresenta uma
resposta para o problema (resolução foi dada até a determinação das condições
do problema, operação 6 da orientação dos alunos), enquanto que o segundo
chega a obter uma solução para a Tarefa. Apresentamos uma das tentativas de
solução dos participantes:
166
Figura 21 - Resolução da Tarefa 6 pelo participante P8.
Fonte: Acervo do autor.
Observamos que o discente apresenta três soluções possíveis para a
tarefa, considerando, apenas separadamente, somente um dos tipos de estacas
(opção I e II), ou mesclando-as (opção III). Entretanto, ao considerar a área e
não o perímetro do terreno, apresenta expressões algébricas inapropriadas com
as condições da situação-problema.
167
A proposta de solução apresentada pelo participante P6, constituiu-se em
calcular, inicialmente, o perímetro do terreno e, a seguir, apresentar expressões
algébricas separadas para cada material. A resolução consta na Figura 22:
Figura 22- Resolução da Tarefa 6 pelo participante P6.
Fonte: Acervo do autor.
Observamos que, embora obtenha o valor correto do perímetro, as
expressões que determinam o número de estacas em função do perímetro (P)
estão erradas.
De maneira geral, o desempenho na resolução das seis Tarefas
evidenciaram dois tipos de dificuldades dos participantes da pesquisa:
dificuldades operacionais e dificuldades conceituais.
168
Nomeamos de dificuldades operacionais aquelas relacionadas aos
entraves dos participantes em algumas ações ou operações da Base
Orientadora da Ação para resolver problemas matemáticos. Um exemplo de erro
que traz esse tipo de dificuldade subjacente, foi o problema na determinação e
utilização das condições do problema encontrados por discentes na Tarefa 3.
Um dos aspectos que podem ter ocasionado as dificuldades operacionais
foi que as operações na orientação dos alunos ainda não estavam totalmente
automatizadas em suas respectivas orientações. Isso significa que algumas
operações nela contidas, na verdade, ainda eram ações a serem totalmente
formadas, e só assim, se tornasse operações. Esse fato evidencia uma limitação
da presente pesquisa durante a Experiência Formativa.
Assim, as dificuldades conceituais fazem alusão ao colocar em prática os
conhecimentos matemáticos exigidos para cada situação-problema. Um
exemplo de erro que evidencia essa dificuldade foi a confusão em calcular a área
ao invés do perímetro por alguns estudantes durante a solução da Tarefa 6.
Acerca das dificuldades conceituais, elas sugerem uma situação
preocupante, visto que as situações problema versavam apenas sobre
conteúdos no Ensino Fundamental e, mesmo assim, alguns participantes
demonstraram não conseguirem aplicar apropriadamente alguns conceitos
matemáticos básicos.
6.4.4 Análise das ações de controle dos discentes durante as tarefas 4, 5 e 6
Em relação ao controle na resolução de problemas matemáticos
empreendidas pelos discentes nesse segundo bloco de tarefas (T4, T5 e T6), os
resultados obtidos foram 33,3% das respostas como descrições gerais (DG),
enquanto que as descrições específicas (DE), foram de 66,7%. Se comparados
os resultados discutidos no tópico 6.4.1, notamos que houve um aumento (de
33,3% para 66,7%) nas descrições mais detalhadas acerca de como ocorreu a
ação de controle durante a solução das tarefas.
Esse fato sugere uma melhoria no grau de detalhamento da ação de
controle na resolução de problemas matemáticos, considerado como um dos
indicadores qualitativos primários da formação de uma ação mental segundo a
Teoria de P. Ya. Galperin (TALIZINA, 1988; NÚÑEZ, 2009). Embora não tenha
169
sido nosso enfoque a formação da ação mental, o resultado evidencia que,
mesmo nas primeiras etapas de reelaboração da orientação dos alunos, já inicia-
se o desenvolvimento de algumas características da ação pelo aprendiz.
Passando a descrever e discutir se houve um favorecimento desse
momento da Experiência Formativa para a reelaboração da orientação dos
discentes acerca da ação de controle na resolução de problemas matemáticos,
consultamos o diário dos estudantes nas primeiras tarefas (Tarefas 1, 2 e 3) em
relação as últimas (Tarefas 4, 5 e 6).
De maneira geral, verificamos que 62,5% dos participantes evidenciaram
em suas anotações um favorecimento na reelaboração da orientação da ação
de controle na resolução de problemas, 25% das repostas foram inconclusivas,
enquanto que 12,5% relatam que não houve favorecimento.
Iniciamos a discussão apresentando as respostas dos discentes que
relataram que houve melhorias após a resolução das tarefas:
Quadro 47 - Trechos dos diários dos alunos que evidenciaram melhorias na ação de controle na resolução de problemas matemáticos.
PARTICIPANTE TAREFAS 1, 2 E 3 TAREFAS 4, 5 E 6
P1
Para o controle, utilizei o EBOCA, que ajudou bastante para a execução do entendimento e resolução do problema. A dificuldade que eu (e acredito que a colega) tivemos foi na hora de definir as condições, pois em algumas vezes ela se confundia com os dados/representação/planejamento de estratégias. Outra dificuldade deu-se porque em alguns momentos, pelo costume, parece que não precisávamos do EBOCA, daí errávamos e voltávamos a utilizá-lo. Acredito que o controle foi crucial para o desenvolvimento das questões, pois em uma muito simples queríamos complicar a resolução e com o controle foi verificado que não era necessário.
Na etapa do controle sempre usei o EBOCA para tentar seguir o passo a passo de forma correta e evitar possíveis erros. Sua ajuda foi bem precisa. Ao término da resolução, ainda verificávamos se realmente não esquecemos de alguma etapa. Ao fazer e ao receber o controle, a colaboração de ambos (parceiro e eu) foi bem precisa e colaborativa. Não houve nenhuma dificuldade quanto a esse processo. A utilização do EBOCA se fez importante na resolução das questões-problemas.
P3
É um pouco complicado você como controlador pois fica confuso distinguir com as ações do resolvedor, de fato a gente fica com vontade de tomar a ação do colega, o que torna difícil na ação de controlador.
Como controlador senti menos dificuldades do que a aula anterior, isso deve ao fato de está me adaptado ao EBOCA, contudo nesse processo que pra mim é novidade. De fato ajudei em algumas momentos e até clariei algumas ideias do resolvedor (em algumas etapas).
170
P5
Exercendo o controle, procurei detalhar o controle de forma escrita além de orientar a resolvedora ao longo das etapas. Ao mesmo tempo que controlava, buscar dar apoio ao raciocínio que ela estava construindo e à descrição que ela elaborava e repassava a mim.
No controle procurei colocar em evidência se o resolvedor fez determinada operação e, em alguns momentos, como procedia para realizá-la. Em relação ao bloco anterior de questões acho que não mudei a forma de realizar o controle, mas procurei auxiliar mais na resolução.
P6
Bem como já foi dito na resposta anterior as dificuldades em ajudar são bem parecidas, pois como não temos esse costume de detalhar bastante o que estamos fazendo, pois isso muitas vezes passamos sem fazer alguns passos.
Melhorou um pouco também pois já que a gente tinha feito na outra semana já tinha mais experiência, em relação a como agir nos passos do controle, diferentemente da semana passada.
P8
A resolução foi tranquila, conseguimos utilizar bem o EBOCA, em determinadas etapas não precisávamos seguir a risca como na operação de ler e depois representar, ou seja, podendo ser feitas ao mesmo tempo, eu enquanto controlador vi dificuldades em saber em qual etapa meu companheiro estava, mas vi que o processo de controle o ajudava e até o norteava para achar possíveis erros.
No controle, assim como na resolução notei que auxiliava bastante meu colega, notando que as perguntas realmente faziam com que ele refletisse na questão fincando de acordo com as primeiras tarefas, onde o meu colega refletiu e percebeu que estava indo por caminhos errados na resolução, dessa forma o EBOCA foi realmente utilizado e notei que auxiliou bastante, a escrita do EBOCA não atrapalhou em nenhum momento.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Verificamos, nas respostas contidas no Quadro 47, indícios explícitos e
implícitos acerca das melhorias observadas pelos participantes em suas ações
de controle na resolução de problemas matemáticos.
É possível notar, nas respostas dos participantes P1 e P8 das primeiras
tarefas, um conjunto de dificuldades para o controle na resolução de problemas.
Contudo, nos relatos correspondentes às últimas tarefas, não evidenciam
nenhuma dificuldade.
Na resposta dada pelo participante P5, pode ser notada uma contradição.
Embora ele afirme que não mudou a forma de controle na resolução do problema
pelo colega, afirma que passou a ajudá-lo mais. Nesse sentido, apesar de não
considerar que mudou, o participante indica que também teve uma melhoria em
sua ação de controlar.
171
Deixando explícitas as melhorias na ação de controle em suas falas, os
participantes P3 e P6 demonstraram que o trabalho em grupo com seus
companheiros de dupla possibilitou melhorias na verificação dos erros que
cometiam.
As respostas inconclusivas, foram encontradas nas falas dos participantes
P2 e P4. Apresentamos o Quadro 48 contendo os trechos dos diários dos dois
estudantes em questão:
Quadro 48 - Trechos dos diários dos alunos inconclusivos acerca das melhorias na ação de controle na resolução de problemas matemáticos.
PARTICIPANTE TAREFAS 1, 2 E 3 TAREFAS 4, 5 E 6
P2
Ao controlar as ações do meu colega ficou claro que fazer uma resolução de problemas de forma que se detalhe todo o passo-a-passo das ações, e que deixar claro que não podemos deixar informações passarem despercebidas, deixou ele com um foco maior na leitura e nas informações, que o problema tem. A dificuldade foi não atrapalhar o pensamento do colega pois, no pensamento dele poderia ainda está organizando as ideias, depois percebi que ele resolvia por etapas e que só era viável fazer o controle quando isso acontecia.
Ao controlar as ações do colega, fica perceptível como nós no momento em que estamos resolvendo os problemas deixamos algumas etapas, partes passa despercebidos, mim ajudou a melhor pensar, em quais atitudes tomar na hora de resolver os meus problemas matemáticos.
P4
O controle no ato da resolução é de grande relevância, pois exista alguns erros no desenvolver das questões, controlar a colega foi uma ótima experiência. As dificuldades encontradas foi justamente a preocupação em está atrapalhando a colega, pois a todo momento está fazendo perguntas relacionadas ao controle.
Fiz o controle de duas questões. O controle é uma atividade muito importante se realizada no momento certo, pois muitas vezes meu colega estava resolvendo o problema e eu quando fazia as perguntas o atrapalhava.
Fonte: Elaborado pelo autor.
É possível notar que, em ambos os casos, que são evidenciados nas
respostas dadas nas primeiras tarefas (Tarefa 1, 2 e 3) e nas últimas (Tarefas 4,
5 e 6), aspectos diferentes ligados as dificuldades (ou ausência delas) e às
contribuições do momento de solução das tarefas para a ação de controle. Por
172
conta disso, não é possível afirmar se houve ou não melhorias na orientação dos
alunos para a ação em tela.
Por fim, o participante P7 evidencia nas descrições contidas em seu diário
a mesma dificuldade, como mostra o Quadro 49:
Quadro 49 - Trechos dos diários dos alunos que não evidenciaram melhorias na ação de controle na resolução de problemas matemáticos.
PARTICIPANTE TAREFAS 1, 2 E 3 TAREFAS 4, 5 E 6
P7
Ao controlar a resolução do problema realizado pelo meu colega, percebi que muitas vezes atrapalhava o seu raciocínio, e muitas vezes se tornava difícil acompanhá-lo, pois muitas ações já era intuitivas.
Ao realizar o controle, percebi que muitas vezes atrapalhava o meu colega, pois, as vezes, ele estava já em outra operação e eu o interrompia, fazendo com que lhe faltasse o raciocínio.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Notamos que, em ambas as respostas dadas ao final dos dois blocos de
tarefas, o participante relata sobre sua dificuldade em atrapalhar seu colega de
dupla por meio do controle. Nesse sentido, podemos afirmar, a partir da fala do
estudante, que este não evidencia em sua resposta mudanças em sua ação de
controle na resolução de problemas matemáticos.
Vale destacar que esse receio, que a ação de controlar atrapalhasse o
colega que estava resolvendo a situação-problema, foi o aspecto mais
evidenciado pelos discentes em suas respostas (62,5% dos participantes). Esse
fato, compactua com a falta de familiaridade dos discentes com a dinâmica das
atividades propostas pela Experiência Formativa. Apesar dessa ser a
dificuldade, 50% dos estudantes apontam o trabalho colaborativo entre as duplas
como uma das contribuições de maior recorrência.
Esses aspectos evidenciam que, embora não tivessem experiência em
trabalhar resolvendo e controlando a resolução de problemas de forma
colaborativa (e isso pode ter sido um dos fatores que ocasionou a dificuldade
relatada), os discentes perceberam essa dinâmica de trabalho como um aspecto
importante de melhoria em suas ações como consequência do que foi vivenciado
durante a Experiência Formativa.
Uma segunda contribuição, também evidenciada por 50% dos discentes
em suas respostas, foi a de que a ação de controle na resolução de problemas
173
matemático possibilitou uma melhoria no acompanhamento, a fim de evitar erros.
Esse aspecto apresentado pelos alunos converge com um dos subprocessos
inerentes ao controle, que consiste em possibilitar, por meio da verificação, a
correção de eventuais equívocos cometidos na atividade.
Finalizada a discussão acerca do momento de solução das Tarefas,
apresentamos no tópico seguinte os resultados da avaliação da Experiência
Formativa pelos participantes da pesquisa.
6.5 A avaliação da Experiência Formativa10
Reiterando o que já foi aludido, o momento de fechamento da Experiência
Formativa consistiu em sua avaliação pelos participantes da pesquisa, realizada
por meio de um questionário, a fim de que estes pudessem expressar suas
opiniões sobre o que foi vivenciado para suas formações profissionais.
A primeira questão, subdividida em três itens, deu enfoque a utilização da
orientação desejada, materializada no Esquema da Base Orientadora Completa
da Ação (EBOCA) pelos discentes.
O primeiro item indagou se os discentes consideraram o EBOCA
importante, no contexto da Experiência Formativa. De maneira geral, os alunos
foram unânimes em afirmar que sim.
Especificamente, as respostas puderam ser classificadas em duas
categorias, são elas: contribuições do EBOCA para a resolução de problemas
(50%); mudanças de postura dos discentes frente aos problemas (50%).
Em relação as contribuições do EBOCA para a resolução de problemas,
as respostas dos alunos estão apresentadas no Quadro 50:
Quadro 50 - Contribuições do EBOCA na perspectiva dos discentes.
CONTRIBUIÇÕES DO EBOCA
EXEMPLOS DE RESPOSTAS DOS DISCENTES
- Evitar o esquecimento de
etapas e informações; - Selecionar dados.
Sim. O EBOCA permitiu controlar as ações na resolução de problemas matemáticos. Esse controle, geralmente fazia mentalmente porém, ao materializá-lo foi possível evitar o esquecimento de algumas etapas e informações importantes, verificando-as e anotando-as, eliminando, ou não utilizando as que não eram tão importante para as questões, evitando assim, em
10 O questionário final utilizado para a avaliação da Experiência Formativa consta no Apêndice 5.
174
algumas situações, me confundir com as informações dadas no enunciado, desde o que se pedia (o que se procura) até as que não me interessavam. A construção "personalizada" do EBOCA foi muito importante (modelo da ação e controle da ação) (Participante P1).
- Análise das condições do
problema - Verificação
- Autocorreção
Relativamente sim; Digo isso, quando estivermos tratando de problemas um pouco mais complicados, necessariamente nessa situações o controle é importante, principalmente no que diz respeito as condições do problema e a verificação, uma vez que podemos nos auto-corrigir. (Participante P3)
Mitigar erros Sim, o EBOCA foi importante para a resolução de situações-problemas, pois com o auxílio do mesmo foi possível minimizar os erros durante o processo de resolução (Participante P4).
Conhecimento profissional do
professor
Foi de bastante importância pois com ele vimos a aprender coisas que seja importantes para nossa carreira. Com ela vai andar muito na hora de resolver problemas que aparecer (Participante P6).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Percebemos que todas as respostas evidenciaram aspectos distintos
relativos ao uso da orientação reelaborada e materializada no Esquema da Base
Orientadora Completa da Ação, tanto de caráter mais geral (como suas
contribuições para o conhecimento profissional do professor, por exemplo),
quanto para outros mais específicos (minimizar erros, por exemplo).
As contribuições da aprendizagem do EBOCA para atividades futuras
como professor foi o objeto de questionamento do segundo item. Dentre as
respostas, os sujeitos da pesquisa enfatizaram: maior atenção ao aspecto
operacional da resolução de problemas (37,5%), desenvolvimento da autonomia
nos alunos (25%), um melhor acompanhamento dos discentes pelo professor
(12,5%) e outras (25%), que diz respeito a respostas mais genéricas.
Acerca da maior atenção ao aspecto operacional da resolução de
problemas, as respostas enfatizaram a importância das etapas necessárias para
solução, como descrito a seguir.
Quadro 51 - Respostas que enfatizaram maior atenção ao aspecto operacional da resolução de problemas.
Pode ajudar na forma como trabalhar diversos problemas, esquematizando etapas que tornem mais clara como se deu o processo de resolução de uma determinada questão. Essa forma de melhor detalhar a resolução pode ser interessante à medida que evita deixar "pontas soltas" ao se abordar um problema (Participante P5).
Vejo que na hora de resolver algumas questões proposta, pois ele nos fornece a base para seguir o passo a passo (Participante P6).
175
Acredito que todo o estudo vem realmente a ajudar na carreira docente, pois tal processo me fez perceber que refletir sobre cada passo em uma resolução é tão importante para alcançar seu objetivo (encontrar a solução), pois o EBOCA valoriza e reflete sobre cada passo (Participante P8).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Podemos ver nas respostas que, o emprego de um esquema contendo as
ações e operações necessárias para se resolver um problema matemático
detalha, esclarece eventuais dúvidas e possibilita a reflexão. Outro aspecto
enfatizado diz respeito a compreensão de que o aspecto operacional da
resolução de problemas (isto é, o modelo da ação da orientação) é tão
importante quanto o seu produto, visto que a adequação e a qualidade deste
está diretamente relacionado àquele.
O desenvolvimento da autonomia dos alunos foi outra contribuição
relatada por 25% dos participantes. A participante P3 afirmou que o EBOCA
“Pode desenvolver as aptidões a-didáticas11 dos alunos [...]”, enquanto que a
estudante P7 afirmar que, através da abordagem empregada na Experiência
Formativa, “[...] é possível perceber uma nova maneira de resolver problemas
matemáticos, que é uma tendência bastante recomendada para que o resolvedor
exerça sua autonomia”.
Um melhor acompanhamento dos discentes pelo professor sugere que as
ações de controle por meio do Esquema da Base Orientadora Completa da Ação
(EBOCA) melhorias na prática do professor. Como explica a participante:
Ao utilizá-la irei, possivelmente, ter um maior controle das ações dos meus futuros alunos, entendendo suas dificuldades assim como seus avanços na resolução dos problemas dados, ou seja, ao seguirem o EBOCA, caso consigam resolver a questão saberei que foi efetiva, caso contrário poderei, a partir de onde não conseguiu resolver, poderei identificar sua dificuldade e até qual habilidade e/ou conhecimento lhe faltou para desenvolver a questão, podendo assim intervir como professora. (Participante P1)
11 Enfatizamos que interpretamos o uso do termo “aptidões a-didáticas” citado pelo participante como relacionado ao conceito de situação a-didática advindo da Teoria das Situações Didáticas de Guy Brousseau. Uma situação a-didática consiste em um tipo de situação na qual o aluno consegue resolver de forma independente, sem nenhuma interferência do professor. O que endossou essa interpretação foi o fato de que a Experiência Formativa ocorreu no mesmo semestre em que a turma participou da disciplina de Didática da Matemática, que aborda, dentre outros conteúdos programáticos, a referida teoria.
176
Assim, ao assimilar a orientação para a ação de controle na resolução de
problemas matemáticos, há possibilidade de haver melhores condições ao
docente de monitorar e corrigir progressos e percalços de seus estudantes.
Houve respostas mais genéricas, que enquadramos na categorias outras,
por mencionar aspectos mais gerais, sem nenhum detalhamento. Entre as
respostas, uma referiu a mudança na forma de resolver problemas (12,5%) e a
outra a já inserção das ações de controle na prática docente de um dos
participantes da pesquisa (12,5%).
Fechando a primeira questão, os estudantes foram interpelados, no
terceiro item, da possibilidade de ensinar a proposta de ação de controle na
resolução de problemas apresentada na Experiência Formativa. Todos os
discentes consideram a viabilidade da proposta, embora dois participantes terem
apresentado ressalvas.
Dentre os seis estudantes que afirmaram, sem ressalvas, ser possível
ensinar as ações de controle na resolução de problemas, dos moldes propostos
na Experiência Formativa, os argumentos foram sintetizados no Quadro 52:
Quadro 52 - Justificativas para a possibilidade de ensinar ações de controle na resolução de problemas.
PARTICIPANTE JUSTIFICATIVA
P1 - Maior racionalidade do controle - Tomada de consciência do processo de resolução de problemas para evitar erros
P2 - Maior atenção ao processo de resolver problemas, o que aumenta as possibilidades de acerto.
P3 - Verificação da resolução e das condições do problema
P4 - Evita erros
P6 - Possibilidade de internalização gradativa das ações do EBOCA
P7 - Melhor interpretação e identificação dos dados explícitos e implícitos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
É possível observar que algumas dessas justificativas apresentadas
complementam ou melhor especificam aquelas já discutidas no item um desta
mesma pergunta. De certa forma, os respondentes acabaram endossando os
argumentos favoráveis a inserção das ações de controle na resolução de
problemas matemáticos por meio do EBOCA, mas agora para o processo de
ensino.
177
Em relação as respostas que consideraram a viabilidade, mas com
ressalvas, estes tratam da necessidade de simplificação do EBOCA para os
alunos (Participante 5), como mostra o trecho abaixo:
Quadro 53 - Respostas de participantes sobre a viabilidade do uso do EBOCA como meio para o controle da resolução de problemas matemáticos.
Sim. Mas não tão criteriosamente como nos foi apresentado e construído. Acredito que boa parte das operações que reunimos no EBOCA já são feitas implicitamente por alguns alunos, mas não de maneira formalizada e linear. Ainda assim, se o professor apresentar de forma simplificada talvez parte dos alunos internalizem (Participante P5).
Fonte: Acervo do autor.
A ressalva levantada pelo participante é de suma importância e converge
com a proposta da Teoria de P. Ya. Galperin, que sugere que a orientação
desejada seja compatível com o nível de desenvolvimento potencial dos
estudantes, para que a atividade de aprendizagem ocorra na Zona de
Desenvolvimento Próximo.
A outra resposta fez alusão ao uso restrito a certos tipos de problemas e
sugere a inserção do controle como um conteúdo complementar, alegando
carência de tempo. Nas palavras do referido estudante: “[...] a questão do
controle ao meu ver, como um extra sala (projeto, por exemplo) pela questão da
disponibilização do tempo (muitas vezes em sala de aula não temos)
acrescentaria muito na aprendizagem de matemática”.
Essa fala evidencia, tanto que o aluno entende que a orientação da ação
de controle na resolução de problemas não pode ser trabalhada de forma
integrada com outros conteúdos, quanto um provável entendimento que o
controle, embora relevante, não seja um conteúdo prioritário frente aos demais
inseridos no currículo escolar.
A segunda questão solicitou que os alunos destacassem até três
dificuldades que apresentaram durante o processo de aprendizagem da
orientação da ação de controle na resolução de problemas matemáticos.
A dificuldade de maior recorrência estava relacionada ao modelo de
controle, com 29,2%. Os entraves relatados pelos discentes eram associados a
confusão, utilização, registro e avaliação do controle.
178
Confundir, aplicar ou interpretar o modelo da ação foi o que causou
dificuldades em 20,8% dos participantes. Logo a seguir, 16,7% das respostas
mencionaram dificuldades no processo de elaboração do Esquema da Base
Orientadora Completa da Ação (EBOCA) ou ainda na adaptação do discente
para seguir essa orientação esquematizada.
O trabalho em duplas para solução das tarefas por meio da orientação
materializada foi apontado como dificuldade em 12,5% das respostas.
Especificamente, os alunos relataram dificuldades entre quem resolve e quem
controla a resolução do problema em intervir no processo um do outro sem se
atrapalharem ou ainda de compreender a explicação dada pelo colega.
Outras dificuldades de menor recorrência apontadas formam: na
compreensão das etapas (8,3%), no tempo para resolução do problema (8,3%)
e em verificar as condições do problema, sobretudo em problemas sem solução
ou de múltiplas soluções (4,2%).
Na pergunta três, os participantes da pesquisa foram questionados, a
partir de dois itens, os pontos que consideraram mais e menos interessantes em
relação as atividades desenvolvidas.
Em relação aos aspectos mais interessantes durante as atividades
desenvolvidas na Experiência Formativa as atividades relatadas como mais
interessantes durante esse processo, ou estavam relacionadas a orientação
(66,7%) ou ao trabalho em dupla (33,3%).
Dentre as respostas que destacaram a orientação, os alunos
mencionaram a relevância dos conceitos de Base Orientadora da Ação (BOA) e
do Esquema da Base Orientadora Completa da Ação (EBOCA), das etapas, o
processo de elaboração e a aplicação prática deste último durante a resolução
de problemas matemáticos. Apresentamos a seguir algumas respostas
enquadradas nessa categoria:
179
Quadro 54 - Exemplos de respostas que destacaram a orientação como aspecto mais interessante da Experiência Formativa.
“As etapas do EBOCA, pois as mesma dão uma segurança maior da certeza do resultado correto do problema” (Participante P2).
“A elaboração do EBOCA foi uma atividade muito interessante, pois construi-la foi possível ampliar o repertório de ações que conhecíamos sobre a resolução de problemas” (Participante P7). “A5: As atividades mais interessantes foram durante a resolução das tarefas, pois este foi o momento em que puder ver na prática como o EBOCA construído funcionava e como poderia ajudar nas resoluções. No fim, comparar essa metodologia com o que usualmente fazia para resolver problemas” (Participante P5).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em relação ao trabalho em dupla, os alunos destacaram os papéis de
resolver e controlar a resolução dos problemas e o envolvimento nessa atividade
com um colega. A seguir, apresentamos algumas das respostas classificadas
nessa categoria:
Quadro 55 - Exemplos de respostas que destacaram o trabalho em dupla como aspecto mais interessante da Experiência Formativa.
“Papel como resolvedor de problemas, pois gosto de tentar resolver problemas e confesso que em alguns problemas o EBOCA, ajudou, já em outros não ficou claro como verificar as condições, digo isso por negligência minha, uma vez que estava me adaptando com a novidade. O que me leva a fala que a recíproca é verdadeira se por um lado gostei de verificar as condições como resolver também gostei também de cobrar como controlador tal controle, com questionamentos fundamentais para a qualidade da resolução” (Participante P3).
“As atividades mais interessantes durante as aulas foram as resoluções de problemas em dupla, pois o envolvimento com a outra pessoa facilitava a compreensão e com a utilização do EBOCA evitava possíveis erros” (Participante 4).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Observamos a ocorrência de respostas de alunos que relataram
dificuldades na orientação ou no trabalho em dupla, mas também os destacaram
como aspectos interessantes. Esse fato pode ter ocorrido pela novidade na
proposta Experiência Formativa para os discentes. Por isso, mesmo
encontrando entraves, os estudantes não deixaram de reconhecer a relevância
desses elementos para suas aprendizagens durante as atividades propostas.
180
No que se refere aos aspectos menos interessantes das atividades
desenvolvidas, dentre os alunos que apontaram, as respostas focaram em dois
pontos principais: momentos da Experiência Formativa (42,9%) ou atividades
específicas (57,1%).
Dentre os momentos da Experiência Formativa, foram citados o
diagnóstico inicial, a etapa motivacional e a etapa de elaboração da BOA. No
Quadro 56 abaixo, descrevemos cada categoria e as respostas relacionadas.
Quadro 56 - Aspectos desinteressantes relacionados à momentos da Experiência Formativa.
CATEGORIA RESPOSTA
Criação e uso do EBOCA
O tempo que leva na execução do EBOCA, a criação do EBOCA (Participante P2).
Exposição teórica durante etapa motivacional
A exposição teórica. Compreendo que a teoria que embasa a Experiência Formativa é densa, ainda assim senti falta de ser apresentado outras aplicações da teoria, em outras áreas até. Provavelmente, esse incremento poderia ajudar na etapa de motivação (Participante P5).
Resolução de situação-problema durante diagnóstico inicial
No processo de diagnóstico foi resolvido uma questão, comparado a resolver com o EBOCA, a primeira foi menos interessante (Participante P8).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Acerca das atividades específicas, os alunos evidenciaram a
compreensão do controle ou sua realização durante o trabalho em duplas, a
elaboração do diário dos alunos e o tempo gasto na resolução dos problemas.
Apresentamos o Quadro 57 contendo cada um desses elementos apontados
pelos discentes e suas respectivas respostas.
Quadro 57 - Aspectos desinteressantes relacionados à atividades específicas da Experiência Formativa.
CATEGORIA RESPOSTA
Compreensão do modelo de controle
Alguns passos do controle inicialmente me confundiram, tais como "o que é desconhecido?" e " o que é procurado?" acho que esses dois passos são bastante parecidos e deve existir somente um dos dois, ressalto, na minha opinião que o EBOCA, como uma ferramenta pedagógica adidática é importante, porém em algumas situações que necessariamente o uso de alguns passos devam ser engolidos (mentalmente dominado), por outro lado, alguns passos devem ser usados (Participante P3).
181
Diário do aluno
A atividade que considerei menos interessante foi a construção do diário do aluno pois era apenas transcrever o que se vivenciou em sala de aula (Participante P4).
Tempo gasto na resolução de problemas
Na hora de resolver os problemas, pois perdia muito tempo (Participante P6).
Controle do colega
Não menos interessante, mas sim tediosa, foi ao realizar o controle enquanto meu colega resolvia a situação problema, pois muitas vezes sentia que mais atrapalhava do que mesmo controlava, e isso tornava o processo demorado (Participante P7).
Fonte: Elaborado pelo autor.
O desinteresse do participante P2 acerca do momento de criação do
Esquema da Base Orientadora Completa da Ação (EBOCA) levanta uma
preocupação, uma vez que a etapa em que é o processo de elaboração da
orientação desejada de forma materializada uma condição essencial que define
a qualidade da ação e do controle.
Além disso, o tempo gasto na resolução (também mencionado por P6),
bem como a compreensão (Participante P3) ou realização do controle do colega
de dupla (Participante P7), demonstra a não percepção dos discentes que
somente no início do processo de formação da ação mental, durante a etapa
materializada, que as ações e operações devem ser realizados de forma
detalhada. Isso naturalmente exigirá mais tempo dos participantes, tanto para
que haja uma adaptação a nova dinâmica proposta pela Experiência Formativa,
quanto para que o processo de internalização do conteúdo do EBOCA possa ser
iniciado.
Acerca do menor interesse pela exposição teórica durante a etapa
motivacional relatado pelo discente P5, compreendemos que, em virtude do
tempo reduzido destinado a esse momento, pode ter, de fato, havido um excesso
de informações apresentadas.
Por outro lado, o pesquisador considerou importante apresentar um
panorama dos pressupostos teóricos que adotou, já que os sujeitos da pesquisa
eram professores em formação e que, mesmo que o foco da investigação fosse
estudar as mudanças na orientação, havia uma preocupação na apresentação
dos aspectos centrais da ação de controle à luz da Teoria de P. Ya. Galperin,
visando influir no conhecimento profissional docente.
182
O desinteresse relativo a elaboração do diário descrito pelo participante
P4 e da atividade de resolução da situação-problema sem ajuda durante a
aplicação da prova pedagógica relatada pelo participante P8, sugere que a
carência de atividades como essas durante a formação dos discentes, pode ter
contribuído para que os alunos não tenham compreendido que uma escrita
reflexiva sobre sua própria experiência de aprendizagem é uma ferramenta que
pode possibilitar melhorias no processo de aprendizagem.
A última questão teve como enfoque indagar sobre a importância atribuída
pelos participantes da Experiência Formativa acerca do papel da orientação na
aprendizagem e do controle na resolução de problemas matemáticos.
Considerando a diversidade de perspectivas apresentadas nas respostas dos
discentes, passamos a sintetizar cada uma delas.
Conforme o participante P1, o processo de criação do EBOCA permitiu
entendimento de que o professor precisa ter consciência de sua orientação e
que a reflexão sobre essa atividade possibilita melhorias no ensino. Nesse
sentido, refletir e controlar permite um maior controle na resolução de problemas.
Outra perspectiva apresentada foi a de que a orientação é fundamental
para que qualquer atividade ocorra (Participante P8), sendo que o processo de
elaboração da orientação visa encontrar a melhor forma de realizar a ação e
visualizar operações que possam comprometer sua realização (Participante P5).
No contexto da resolução de problemas matemáticos, a orientação se
constitui como um guia (Participante P6) que melhora a compreensão sobre o
problema (Participante P4) e, ao fornecer um conjunto de passos, diminui os
riscos de erros durante a execução (Participantes P4 e P6).
O participante P2 reafirma os visíveis ganhos para a aprendizagem a partir
da abordagem proposta na Experiência Formativa para o estudo das ações de
controle na resolução de problemas matemáticos. Além disso, P7 avalia que
mudou sua compreensão da resolução de problemas, agora enxergando-a como
algo mais amplo e controlável. Por fim, P3 afirma que alguns passos da teoria
estudada são de suma importância, sobretudo para o desenvolvimento da
argumentação, tanto de quem controla quando de quem resolve o problema.
Findada essa discussão dos resultados da Experiência Formativa, foi
possível verificar um favorecimento no processo de reelaboração da orientação
da ação de controle na resolução de problemas matemáticos.
183
Partindo de um diagnóstico inicial que atestou uma compreensão
dissonante dos participantes da pesquisa acerca da ação de controle em relação
a orientação, referência elaborada pelo professor, é possível notar, no decorrer
dos momentos da Experiência Formativa, um favorecimento no processo de
reelaboração da orientação dos alunos, o que se coloca como condição
necessária para a formação da habilidade.
Contudo, esse favorecimento na orientação não foi suficiente para
suprimir as dificuldades dos estudantes durante as soluções das situações-
problema propostas nas tarefas, que tiveram tanto natureza conceitual quanto
procedimental.
De todo modo, a percepção dos estudantes no decorrer e no final da
Experiência Formativa indica um favorecimento para a reelaboração da
compreensão dos estudantes sobre a resolução de problemas e, em particular,
da ação de controle dessa atividade.
184
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação de um aprendiz autônomo, capaz de lidar com o amplo
conjunto de informações disponíveis para um indivíduo do mundo
contemporâneo, tem sido um dos desafios para a Educação.
Embora o controle da resolução de problemas matemáticos, enquanto
forma de atenção voluntária aplicada ao campo da Educação Matemática, seja
uma das condições necessárias para o aprender a aprender na perspectiva do
Enfoque Histórico-Cultural, as pesquisas sobre o tema têm apontado
deficiências na formação de professores, tanto na utilização dessa habilidade
durante os processos de aprendizagem dos licenciandos, quanto nas práticas
docentes desses profissionais em sala de aula.
Considerando esse quadro, esta pesquisa empreendeu um estudo acerca
da influência na reelaboração da orientação da ação de controle da resolução de
problemas matemáticos, visando provar a tese de que uma Experiência
Formativa fundamentava da Teoria de P. Ya. Galperin favorece na
reconfiguração dessa orientação dos licenciandos.
Esse estudo foi delineado a partir de uma Experiência Formativa, que teve
como momentos principais: diagnóstico inicial, etapa motivacional, etapa de
orientação, controle e solução de tarefas e avaliação final. Embasada na Teoria
de Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos, de P. Ya. Galperin,
a referida Experiência teve como participantes oito alunos de licenciaturas da
Universidade Federal do Cariri, campus Brejo Santo, Ceará.
Tendo em vista os objetivos propostos nesta tese, passamos a explanar
as conclusões da presente pesquisa doutoral em função de cada um deles.
Acerca dos objetivos específicos de construção do Sistema Didático e de
desenvolvimento da Experiência Formativa para favorecimento na reelaboração
da orientação da ação de controle da resolução de problemas matemáticos, foi
possível verificar, a partir da aplicação desta pesquisa doutoral, a viabilidade de
elaboração e aplicação de um Sistema condizente com o arcabouço teórico
advindo do Enfoque Histórico-Cultural e capaz de influenciar na reconfiguração
da orientação de uma ação que planeja-se formar.
No que se refere ao diagnóstico do nível de desenvolvimento inicial dos
participantes da pesquisa acerca da orientação da ação de controle da resolução
185
de problemas matemáticos, o fato de ter encontrado baixos níveis de
convergências com a orientação planejada pelo professor (quase 22% em
relação ao modelo do objeto, 27% no modelo da ação e 0% com o modelo de
controle), sugere que os licenciandos participantes da Experiência Formativa
não possuíam uma compreensão apropriada, sobretudo, relacionada a ação de
controle.
Desse modo, a presente investigação endossa um quadro já apontado por
outras pesquisas sobre o tema e reforça para a necessidade de um maior esforço
no campo educacional para proposição de práticas educativas focadas em
promover melhorias nas ações mentais dos discentes necessárias para o
aprender a aprender.
Quanto a avaliação das condições que favoreceram e as que dificultaram
a reelaboração da orientação da ação de controle da resolução de problemas,
passamos a discuti-las separadamente.
Dentre as condições que contribuíram, destacamos o processo de
construção e utilização de uma orientação da ação de controle apropriada para
a solução de situações-problema no princípio desse momento da Experiência
Formativa. Outra condição importante foi o trabalho colaborativo inicial entre os
alunos, além da mediação e colaboração do professor durante todo o processo.
Ambas as condições observadas na pesquisa são elementos fundamentais para
a aprendizagem, à luz da Teoria de P. Ya. Galperin.
Em relação aos percalços encontrados durante a Experiência Formativa,
evidenciamos as dificuldades que os discentes tiveram em relação a alguns tipos
de situações-problema (sem solução e com múltiplas soluções, por exemplo) e
ainda a alguns conhecimentos matemáticos pré-requisitos.
Outras condições que dificultaram o processo formativo empreendido
estavam relacionadas as recomendações pedagógicas derivadas das etapas
propostas pela Teoria de P. Ya. Galperin, como por exemplo a alternância entre
a função de controlar e de resolver as situações-problema no âmbito das duplas
de alunos.
Em ambos os casos, lacunas na formação dos discentes ou ainda a
inexperiência com ações conscientes de controle, balizadas em orientações
sistematizadas, indicam para a necessidade urgente de inserção do controle da
aprendizagem desde os primeiros níveis de ensino.
186
Sobre a avaliação dos participantes acerca da Experiência Formativa,
tendo em vista os relatos desses discentes em relação a tomada de consciência
sobre a relevância da orientação enquanto guia para um melhor entendimento e
mitigação dos erros durante o processo de resolução de problemas
matemáticos, tivemos indícios de que, na perspectiva dos alunos, a participação
na presente investigação favoreceu na reelaboração da compreensão do
controle.
Haja vista as mudanças observadas nas posturas dos alunos, no sentido
de uma melhoria na tomada de consciência acerca da ação de controle da
resolução de problemas, isso nos permite afirmar que a tese de que uma
Experiência Formativa pautada na Teoria de Formação Planejada das Ações
Mentais e dos Conceitos pode favorecer na reelaboração inicial dessa ação foi
provada.
Dentre as limitações da pesquisa, destacamos, inicialmente, o fato da
Experiência Formativa que propusemos não ter sido voltada para a formação de
uma habilidade, mas apenas para influir na reelaboração de sua orientação. Por
conta disso, as atividades que empreendemos não perpassaram todas as etapas
necessárias para formação das ações mentais propostas por P. Ya. Galperin,
chegando apenas até a etapa materializada. Esse fato acabou ainda
impossibilitando a utilização dos indicadores qualitativos da ação. A restrição
proposta na pesquisa visou se adequar, sobretudo, a disponibilidade de tempo.
Outra limitação desta tese diz respeito aos conteúdos matemáticos
abordados e aos tipos de situações-problema. Embora alguns conteúdos sejam
oriundos de níveis de ensino anteriores a Graduação, a observância de
dificuldades enfrentadas pelos participantes sinalizou para a necessidade de
uma testagem preliminar das situações-problema, com um grupo de sujeitos com
perfil semelhante aos participantes da pesquisa.
A investigação empreendida abre possibilidades para o surgimento de
novas pesquisas que se debrucem sobre a temática em tela. A realização de
estudos longitudinais que se proponham a empreender a formação da habilidade
de controle da aprendizagem, no âmbito de diferentes níveis de ensino, torna-se
promissora para um maior aprofundamento das condições sobre as quais o
controle é internalizado pelo indivíduo.
187
Outra possibilidade seria analisar como o controle se forma em
consonância com uma habilidade diferente da resolução de problemas
matemáticos. Esse caminho abre espaço tanto para estudos em outras áreas do
conhecimento, quanto para a experimentação de outras ações no campo da
Matemática.
Os processos de verificação e ajuste da ação humana que constituem o
controle da aprendizagem tornam essa habilidade cognoscitiva um componente
importante da personalidade de um indivíduo do século XXI. Portanto, é de suma
importância que mais investigações sejam desenvolvidas sobre o tema, visando
a proliferação de mais práticas educativas que discutam esse componente e
contribuam para a formação de aprendizes autônomos.
188
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. A. de. A Base Orientadora da Ação em modelagem científica de licenciandos em Química: um conhecimento disciplinar profissional para o ensino. 2017. 229f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017. ARAÚJO, M. S. de. Um estudo sobre a reconfiguração da orientação para a ação escrever textos argumentativos em química. 2018. 182f. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2018. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BARIZON, E. Validação de uma escala de autorregulação de aprendizagem estatística de estudantes da terceira série do ensino fundamental de São Paulo. 2011. 169f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática), Universidade Bandeirante, São Paulo, 2011. BARRIOS, A. H.; URIBE, A. C. Autorregulación del aprendizaje en la educación superior en Iberoamérica: una revisión sistemática. Revista Latinoamericana de Psicología, v. 49, n. 2, p.146- 160, 2017. BASSO, A. Avaliação escrita: Realidade e perspectivas. Pato Branco: Imprepel Gráfica e Editora, 2009. CAMPISTROUS, L. P.; RIZO, C. C. La resolución de problemas en la escuela. Cuadernos de Investigación y Formación en Educación Matemática, a. 9, n. 12, p. 291- 300, 2014. CEREZAL, J. M.; FIALLO, J. R. ¿Cómo investigar em Pedagogía? La Habana: Pueblo y Educación, 2005. CONTINI NETO, F. Estratégias de memória na autorregulação da aprendizagem de Estatística de alunos do Ensino Médio. 2012. 153f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática), Universidade Bandeirantes, São Paulo. CORTE; E. de; VERSCHAFFEL, L.; EYNDE, P. O. T. Self-regulation: a characteristic and a goal of mathematics education. In: BOEKAERTS, M.; PINTRICH, P. R.; ZEIDNER, M. (Org.). Handbook of Self-regulation. San Diego: Academic Press, p. 687- 727, 2000. CURY, H. N. Análise de erros: o que podemos aprender com as respostas dos alunos. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. DANTE, L. R. Formulação e resolução de problemas de matemática: teoria e prática. São Paulo: Ática, 2009.
189
DAVÍDOV, V. V. Análisis de los principios didácticos de la escuela tradicional y posibles principios de enseñanza em el futuro próximo. In: DAVIDOV, V. V.; SHUARE, M. La Psicología Evolutiva y Pedagógica en la URSS. Moscú: Editorial Progreso, p. 143- 154, 1987. DAVÍDOV, V. V.; MÁRKOVA, A. La concepción de la actividad de estudio de los escolares. In: SHUARE, M. (Org.). La psicología evolutiva y pedagógica em la URSS (Antologia). Moscú: Progreso, 1987, p. 316- 337. DAVYDOV, V. V. Tipos de generalización en la enseñanza. La Habana: Pueblo y Educación, 1981. DAVYDOV, V. V. Problemas do ensino desenvolvimental: a experiência da pesquisa teórica e experimental na psicologia. Textos publicados na Revista Soviet Education, v. 30, n. 8. Tradução de José Carlos Libâneo e Raquel A. M. da Madeira Freitas, 1986. FAÇANHA, A. A. de. B. A orientação da ação para leitura crítica a partir de uma Experiência Formativa: uma contribuição para o ensino de Química. 2019. 245f. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019. FANTINEL, P. da C. A autorregulação da apendizagem na formação de um educador matemático na modalidade a distância: uma proposta de articulação curricular. 2015. 216f. Tese (Doutorado em Informática na Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. FARIÑAS, G. L. Hacia un redescubrimiento de la teoría del aprendizaje. Revista Cubana de Psicología, v. 16, n. 3, p. 115- 127, 1999. FARIÑAS, G. L. El enfoque histórico cultural en el estudio del desarrollo humano: para una praxis humanista. Revista Electrónica Actualidades Investigativas en Educación, v. 9, nov., p. 1- 23, 2009. FARIÑAS, G. L. Galperin revisitado desde el pensamiento complejo: autoorganización del aprendizaje-desarrollo humano. Linhas Críticas, v. 24, p. 384- 301, 2019. FERNÁNDEZ, T. G. Habilidades de autorregulación y evaluación on-line del proceso de resolución de problemas matemáticos. 2015. Tesis (Doctorado en Psicología), Departamento de Psicología, Universidad de Oviedo, Oviedo, 2015. FREIRE, L. G. L. Auto-regulação da aprendizagem. Ciências & Cognição, v. 14, n. 2, p. 276- 286, 2009. GALPERIN, P. Ya. An experimental study in the formation of mental actions. In: SIMON, B. (Org.). Psychology in the soviet union. Londres: Routledge & Kegan Paul LTD, p. 213- 225, 1957.
190
GALPERIN, P. Ya. Introducción a la psicología: un enfoque dialéctico. Madrid: Pablo del Río Editor, 1979. GALPERIN, P. Ya. Mental Actions as a Basis for the Formation of Thoughts and Images. Soviet Psychology, v. 27, n. 3, p. 45- 64, 1989a. GALPERIN, P. Ya. Organization of Mental Activity and the Effectiveness of Learning. Soviet Psychology, v. 27, n. 3, p. 65- 82, 1989b. GALPERIN, P. Ya. The problem of attention. Soviet Psychology, v. 27, n. 3, p. 83- 92, 1989c. GALPERIN, P. Ya. Stage-by-Stage Formation as a Method of Psychological Investigation. Journal of Russian and East European Psychology, v. 4, n. 30, p. 60- 80, 1992. GALPERIN, P. Ya. Tipos de orientación y tipos de formación de las acciones y de los conceptos. In: QUINTANAR, L. R. (Org.). La formación de las funciones psicológicas durante el desarrollo del niño. Tlaxcala: Universidad Autónoma de Tlaxcala, p. 41- 44, 2001a. GALPERIN, P. Ya. Sobre la formación de los conceptos y de las acciones mentales. In: QUINTANAR, L. R. (Org.). La formación de las funciones psicológicas durante el desarrollo del niño. Tlaxcala: Universidad Autónoma de Tlaxcala, p. 45- 56, 2001b. GALPERIN, P. Ya. La dirección del processo de aprendizaje. In: QUINTANAR, L. R. (Org.). La formacion de las funciones psicológicas durante el desarrollo del niño. Tlaxcala: Universidad Autónoma de Tlaxcala, p. 85- 92, 2001c. GALPERIN, P. Ya.; TALIZINA, N. F. Control of the Learning Process is Basic. Russian Education and Society, v. 7, n. 12, p. 19- 24, 1965. GALPERIN, P. Ya.; ZAPOROZHETS, A.; ELKONIN, D. Los problemas de la formación de conocimientos y capacidades en los escolares y los nuevos métodos de enseñanza en la escuela. In: DAVIDOV, V. V.; SHUARE, M. La Psicología Evolutiva y Pedagógica en la URSS. Moscú: Editorial Progreso, p. 300- 315, 1987. GARCÍA, T. et al. On-line assessment of the process involved in maths problem-solving in fifth and sixth grade students: self-regulation and achievement. Revista Latinoamericana de Investigación en Matemática Educativa, v. 19, n. 2, p.165- 186, 2016. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 4 ed., 2002. GONZÁLEZ-MORENO, C. X. Efectos de la enseñanza en la autorregulación del aprendizaje de conceptos científicos en estudiantes universitários. Summa Psicológica, v. 14, n. 2, p. 1- 13, 2017.
191
GONZÁLEZ, V. M. et al. Psicología para educadores. La Habana: Editorial Pueblo y Educación, 3 reimp., 2001. HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. LAVIGNE, M. J. L. Una propuesta metodológica para contribuir al desarrollo de la capacidad para resolver problemas matemáticos. 1999. Tesis (Doctorado en Ciencias Pedagógicas), Universidad Pedagógica Enrique José Varona, La Habana, 1999. LEAL JUNIOR, L. C.; ONUCHIC, L. de la R. Ensino e Aprendizagem de Matemática Através da Resolução de Problemas Como Prática Sociointeracionista. Bolema, v. 29, n. 53, p. 955- 978, dez., 2015. LEONTIEV, A. N. Actividad, conciencia y personalidad. La Habana: Editorial Pueblo y Educación, 2 reimp., 1983. LEÓN, I. N. de.; et al. Metodología de la investigación educacional: Segunda parte. La Habana: Editorial Pueblo y Educación, 2002. LIBÂNEO, J. C. Que são habilidades intelectuais? In: ZILBERSTEIN, T. J.; SILVESTRE, O. M. Didáctica desarrolladora desde el enfoque histórico cultural. México: Ediciones CEIDE, p.1- 7, 2005. LÓPEZ, J. H. La orientación como parte de la actividad cognoscitiva de los escolares. In: GARCÍA, G. B. Compendio de pedagogia, La Habana: Editorial Pueblo y Educación, 2002, p.102- 108. LURIA, A. R. Fundamentos de Neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1981. LURIA, A. R. Desenvolvimento Cognitivo: Seus fundamentos culturais e sociais. São Paulo: Ícone, 1990. MAJMUTOV, M. I. La enseñanza problémica. La Habana: Editorial Pueblo y Educación, 1983. MENDONÇA, W. Autorregulação da aprendizagem de Estatística e sua relação com o nível de letramento estatístico de estudantes universitários de Guarulhos. 2012. 125f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática), Universidade Bandeirantes, São Paulo, 2012. MENDOZA, H. J. G.; DELGADO, O. T. A contribuição do Ensino Problematizador de Majmutov na formação por etapas das ações mentais de Galperin. Obutchénie: Revista de Didática e Psicologia Pedagógica, v. 2, n.1, p.166- 192, jan./abr., 2018.
192
MARTÍNEZ, M. L. Enseñanza problemica y Pensamiento creador. La Habana: Pueblo y Educación, 1998. MARTÍN, M. G. La autorregulación académica como variable explicativa de los procesos de aprendizaje universitario. Profesorado Revista de currículum y formación del professorado, v. 16, n. 1, p. 203- 221, 2012. MONTERO, I. G. La autorregulación del aprendizaje escolar. La Habana: Centro de Investigaciones Psicológicas y Sociológicas, 2003. MOOS, D. C.; RINGDAL, A. Self-Regulated Learning in the Classroom: A Literature Review on the Teacher’s Role. Education Research International, p. 2- 15, 2012. NÁPOLES, R. R. G. La resolución de problemas como habilidad generalizada. Cuadernos de Educación y Desarrollo, v. 6, n. 26, p. 1- 9, abr., 2011. NIKITA, G.; TALÍZINA, N. F. La formación de las habilidades generales para la solución de problemas artméticos. In: TALÍZINA, N. F. (Org.). La formación de las habilidades del pensamiento matemático. San Luis de Potosí, México: Universidad Autónoma de San Luis de Potosí, 2001, p. 87- 148. NÚÑEZ, I. B. Sistema didáctico para la enseñanza de la Química general. La Habana. 1992. 227f. Tesis (Doctorado en Ciencias Pedagógicas), Facultad de Química, Instituto Superior Politécnico José Antonio Echeverría, La Habana, 1992. NÚÑEZ, I. B. La formación de la habilidad en la construcción e interpretación de diagramas de fases según teoria de P. Ya. Galperin. Didáctica de las ciencias experimentales y sociales, n. 12, 1998, p. 91- 107. NÚÑEZ, I. B. et al. O uso de situações-problema no ensino de Ciências. In: NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L. (Orgs.). Fundamentos do ensino-aprendizagem das ciências naturais e da matemática: o novo ensino médio. Porto Alegre: Sulinas, 2004, p. 145- 171. NÚÑEZ, I. B. Vygosky, Leontiev e Galperin: formação de conceitos e princípios didáticos. Brasília: Liber Livro, 2009. NÚÑEZ, I. B. Aprender a ensinar habilidades cognitivo-linguisticas como ferramentas na Educação em Ciências: uma abordagem baseada na Teoria de Formação das Ações Mentais e dos Conceitos de P. Ya. Galperin. Natal, projeto de pesquisa aprovado junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), 2015. NÚÑEZ, I. B. A organização didática da aprendizagem que desenvolve: reflexões com base nas contribuições da teoria de assimilação de P. Ya. Galperin. In: LONGAREZI, A. M.; PUENTES, R. V. Fundamentos psicológicos e didáticos do ensino desenvolvimental. Uberlândia: EDUFU, p. 293- 324, 2017.
193
NÚÑEZ, I. B. O diagnóstico dos níveis de orientação da ação classificar: contribuição da teoria de P. Ya. Galperin. In: FEITOSA, R. A.; SILVA, S. A. da (Orgs.). Metodologias emergentes na pesquisa em ensino de ciências. Porto Alegre: Fi, p. 157-175, 2018. NÚÑEZ, I. B.; BARROS, S. C. B de. O conhecimento de professores sobre a orientação do estudante na aprendizagem. Cadernos de Pesquisa, São Luís, v. 26, n. 2, p. 87-105, abr./jun., 2019. NÚÑEZ, I. B.; GONZÁLEZ, O. P. Formação de conceitos segundo a teoria de assimilação de Galperin. Cadernos de Pesquisa, n. 105, p. 92- 109, 1998. NÚÑEZ, I. B.; MELO, M. M. P. de; GONÇALVES, P. G. F. Controle e autorregulação da aprendizagem na teoria de P. Ya. Galperin. Linhas Críticas, v. 24, p. 322- 341, 2019. NÚÑEZ, I. B.; OLIVEIRA, M. V. de F. P. Ya. Galperin: a vida e a obra do criador da Teoria da Formação por Etapas das Ações Mentais e dos Conceitos. In: LONGAREZI, A. M.; PUENTES, R. V. (Orgs.). Ensino Desenvolvimental: vida, pensamento e obras dos principais representantes russos. Uberlândia: EDUFU, v. 1, p. 295- 326, 2012. NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L. Desarrollo de una unidad didáctica para el estudio de los processos de oxidación-reducción en el pre-universitario: contribuições de la Teoría de P. Ya. Galperin. In: SILVA, M. G. L. da; MOHR, A. .; ARAÚJO, M. F. F. de (Orgs.). Temas de ensino e formação de professores de ciências. Natal: EDUFRN, p.153- 180, 2012a. NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L. Estudo de erros e dificuldades de aprendizagem: As provas de Matemática e de Física do Vestibular da UFRN. Natal: EDUFRN, 2012b. NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L. A teoria da Formação Planejada das Ações Mentais e dos Conceitos de P. Ya. Galperin: contribuições para a Didática Desenvolvimental. Obutchénie, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 1- 29, jan./jun., 2017. NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L. Diagnóstico do nível de desenvolvimento da orientação de uma ação, em Química Geral, com futuros professores: contribuições da Teoria de P. Ya. Galperin. Obutchénie: Revista de Didática e Psicologia Pedagógica, Uberlândia, v. 2, n. 2, p. 412- 439, maio./ago., 2018. NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L. Reelaboração da base orientadora da ação na formação de uma habilidade geral: uma experiência na formação de professores de Ciências. In: ALMEIDA, J. J. P. de; DANTAS FILHO, F. F. D. (Orgs.). Itinerários de pesquisas em Ensino de Ciências e Educação Matemática. Campina Grande: EDUEPB, v.1, p. 225- 252, 2019. NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L.; OLIVEIRA, M. V. de. A formação de habilidades gerais no contexto escolar: contribuições da Teoria de P. Ya. Galperin. In: NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L. (Orgs.). Galperin e a teoria da formação
194
planejada por etapas das ações mentais e dos conceitos: pesquisas e experiências para um ensino inovador. Campinas: Mercado de Letras, p. 23- 78, 2018. OLIVEIRA, M. C. de. Uma prática de avaliação formativa em ambientes virtuais: processos de regulação e autorregulação da aprendizagem em um curso de matemática a distância. 2016. 143f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2016. OLIVEIRA, M. M. de. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis: Vozes, 4 ed., 2012. ONUCHIC, L.de L. R.; ALLEVATO, N. S. G. Pesquisa em Resolução de Problemas: caminhos, avanços e novas perspectivas. Boletim de Educação Matemática, Rio Claro, v. 25, n. 41, p.73- 98, dez., 2011. PAIVA, M. O. A. de; LOURENÇO, A. A. A influência da aprendizagem autorregulada na mestria escolar. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 12, n. 2, p. 501- 520, 2012. PEETERS, J. et al. The Role of Teachers’ Self-regulatory Capacities in the Implementation of Self-regulated Learning Practices. Procedia- Social and Behavioral Sciences, v. 116, p. 1963- 1970, 2014. PERES, G. J. Um objeto de apoio à aprendizagem autorregulação em problemas de máximo e mínimo. 2009. 146f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. PETROVSKI, A. Psicologia general: Manual didáctico para los Institutos de pedagogía. Moscú: Editorial Progreso, 3 ed., 1986. PEREIRA, J. E. Formação da habilidade de interpretar gráficos cartesianos em licenciandos em Química segundo a Teoria de P. Ya. Galperin. 2013. 333f. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013. POLYA, G. Mathematical Discovery: On Understanding, Learning, and Teaching Problem Solving. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1981. POLYA, G. A arte de resolver problemas. Rio de Janeiro: Interciência, 2 reimpr., 1995. POLYDORO, S. A. J.; AZZI, R. G. Autorregulação da aprendizagem na perspectiva da teoria sociocognitiva: introduzindo modelos de investigação e intervenção. Psicologia da Educação, v. 29, n. 2, p. 75- 94, 2009. POZO, J. I.; ECHEVERRÍA; M. P. P. Aprender a resolver problemas e resolver problemas para aprender. In: POZO, J. I. (Org.). A solução de problemas:
195
aprender a resolver, resolver para aprender. Tradução de Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed, p. 13- 41, 1998. PRANKE, A.; FRISON, L. M. B. Potencialização da Aprendizagem Autorregulada de Bolsistas do PIBID / UFPel do curso de Licenciatura em Matemática através de Oficinas Pedagógicas. Bolema, v. 29, n. 51, p. 223- 240, 2015. PRANKE, A. PIBID/UFPel: Oficinas pedagógicas que contribuíram para a autorregulação da aprendizagem e formação docente das bolsistas de matemática. 2012. 136f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2012. RAMÍREZ, M. C. La enseñanza de la Matemática a través de la Resolución de Problemas. La Habana: Educación Cubana, 2006. RESHETOVA, Z. A. Realización de los principios del enfoque sistémico en las asignaturas. In: RESHETOVA, Z. A (Org.). Análisis Sistémico Aplicado a la Educación Superior. La Habana: Universidad Central de las Villas, 1988. RICO, P. M. ¿Cómo desarrollar en los alumnos las habilidades para el control y la valoración de su trabajo docente? La Habana: Editorial Pueblo y Educación, 2 ed., 1998. RICO, P. M. Algunas características de la actividad de aprendizaje y del desarrollo de los alunos. In: GARCÍA, G. B. (Org.). Compendio de Pedagogía. La Habana: Pueblo y Educación, p. 61- 67, 2002. RICO, P. M. La Zona de Desarrollo Próximo (ZDP). Procedimientos y Tareas de Aprendizaje. Habana: Pueblo y Educación, 2003. RICO, P. M; SILVESTRE, M. O. Proceso de enseñanza aprendizaje. In: GARCÍA, G. B (Org.). Compendio de Pedagogía. Habana: Pueblo y Educación, p. 68-79, 2002. ROSÁRIO, P. S. L. et al. Autorregulación del aprendizaje: Una revisión sistemática en revistas de la base SciELO. Universitas Psychologica, v. 13, n. 2, p. 781- 798, 2014. SANTOS, C. M. dos. Maria não vai mais à feira: Resolução de problemas e estratégias de autorregulação de aprendizagem nas séries iniciais do Ensino Fundamental. 2015. 306f. Dissertação (Mestrado em Práticas de Educação Básica), Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, 2015. SCHROEDER, T. L.; LESTER JR, F. K. Developing Understanding in Mathematics via Problem Solving. In: TRAFTON, P. R.; SHULTE, A. P. (Eds.). New Directions for Elementary School Mathematics. Reston: NCTM, 1989. p. 31- 42. SILVA, A. L. da; SIMÃO, A. M. V.; SÁ, I. A Auto-regulação da Aprendizagem: Estudos Teóricos e Empíricos. Intermeio: Revista do Mestrado em Educação,
196
v. 10, n. 19, p.58- 74, 2004. STRACUZZI, S. P.; PESTANA, F. M. Metodología de la Investigación Cuantitativa. Caracas: FEDUPEL, 2002. TALIZINA, N. F. Psicologia de la enseñanza. Moscú: Editorial Progreso, 1988. TALIZINA, N. F. Manual de Psicología Pedagógica. México: Universidad Autónoma de San Luís Potosí, 2000. TALIZINA, N. F. La teoría de la actividad aplicada a la enseñanza. Puebla: Benemérita Universidad Autónoma de Puebla, 2009. TALIZINA, N. F.; SOLOVIEVA, Y.; QUINTANAR, L. R. La aproximación de la actividad em psicología y su relación com el enfoque histórico-cultural de L. S. Vigotsky. Novedades educativas, n. 230, fev., p. 4- 8, 2010. TRIANA, I. M. La formación de la habilidad para resolver problemas de matemáticas: una experiencia investigativa sustentada en el enfoque histórico cultural. Tecné, Episteme y Didaxis, n. 18, p. 17- 33, 2005. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI. Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Matemática. Brejo Santo, Instituto de Formação de Educadores, 2016. VOLODARSKAYA, I.A; NIKITIUK, T. K. La formación de las habilidades generalizadas del pensamiento geométrico. In: TALÍZINA, N. F. (Org.). La formación de las habilidades del pensamiento matemático. San Luis de Potosí, México: Universidad Autónoma de San Luis de Potosí, p. 246- 280, 2001. VYGOTSKY, L. S. Obras Escogidas III (Incluye Problemas del desarrollo de la psique). Madrid: Visor, tomo III, 1995. ZANKOV, L. V. La enseñanza y el desarrollo. Moscú: Editorial Progreso, 1984. ZANKOV, L. V. Ensino e desenvolvimento. In: LONGAREZI, A. M.; PUENTES, R. V. Ensino desenvolvimental: Antologia. Uberlândia: EDUFU, p. 173- 179, 2017. ZIMMERMAN, B. J. Becoming a Self-Regulated Learner: An Overview. Theory Into Practice, v. 45, n. 3, p. 239- 248, 2002. ZOCOLOTTI, A. K. Práticas reflexivas na sala de aula: Uma experiência na formação de professores de Matemática. 2010. 251f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
197
APÊNDICE 1: PROVA PEDAGÓGICA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
PROVA PEDAGÓGICA PARA DIAGNÓSTICO INICIAL
Perfil do participante da pesquisa Nome:________________________________________________________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino Idade: _______ Ano letivo de ingresso no curso: ___________ Experiência como professor: ( ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo na questão anterior: - Por quanto tempo (em anos e meses)? ______________________________________________________________ - Em quais níveis de ensino? ______________________________________________________________ - Em quais disciplinas? ______________________________________________________________
Quando um estudante aprende a resolver problemas em Matemática deve
aprender também a realizar o controle (regulação) da aprendizagem durante
esse processo. Em relação a essa situação, responda:
1) O que é resolver um problema matemático?
2) Quais são os passos necessários para se resolver um problema matemático?
3) O que é controlar (regular) o processo de resolução de problemas
matemáticos?
198
4) Supondo que durante sua atuação docente precise avaliar como seus alunos
realizam o controle (regulação) do processo de resolução de problemas
matemáticos. Para isso, construa uma chave de resposta contendo as etapas
para se resolver problemas (transcrição das respostas da questão 2) e suas
respectivas etapas de controle.
CHAVE DE RESPOSTA
Etapas resolver problemas Etapas controle na resolução de problemas
5) Resolva a situação-problema, explicando como se dá o controle (regulação)
do processo de resolução de problemas matemáticos.
Uma empresa que transporta caixas paralelepipedais calcula o valor de seus
fretes em função do custo fixo de R$ 50,00 e da média entre o volume (em m3)
de mercadorias transportadas e três vezes a distância total a ser percorrida.
Qual a expressão algébrica que determina o valor do frete?
Descrição do controle Solução
199
APÊNDICE 2: ELABORAÇÃO DO EBOCA DA TURMA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
EBOCA DA TURMA
Atividade 1: Após a finalização das discussões realizadas em sala de aula,
reelabore a BOA para construção do Esquema da Base Orientadora Completa
da Ação (EBOCA) da habilidade de resolver problemas matemáticos.
EBOCA – RESOLVER PROBLEMAS MATEMÁTICOS
Modelo do objeto Modelo da ação Modelo de controle
200
APÊNDICE 3: TAREFAS (PARTE 1)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
ETAPA MATERIALIZADA
Discente: _______________________________________________________
Discente: _______________________________________________________
Orientações: - Reúnam-se em duplas e dividam as funções de resolução da situação-problema e de controle desse processo. Ou seja, em cada tarefa, enquanto um integrante da dupla resolve a situação-problema o outro realiza o controle. - Para cada tarefa distinta, alternem entre as funções. - Resolver a tarefa apoiado no EBOCA, de forma detalhada, seguindo cada uma das operações da orientação. Registrar o processo de resolução. Avaliar o processo de solução, segundo o indicado na ação de controle. - Quem realiza o controle do colega deve também seguir as operações destinadas para tal função, de forma detalhada e registrar esse processo. - Na dupla, refletir sobre o processo de solução, destacando os erros, dificuldades, acertos e realizar os ajustes necessários para a resolução adequada da tarefa. Registrar esse processo.
Tarefa 1: Um grupo de amigos pretende fazer uma viagem de férias para um
local que fica a 524 km de onde moram. Contudo, eles ainda não decidiram se o
percurso será realizado de carro próprio ou ônibus. A primeira opção seria um
carro que transporta 5 ocupantes, com um consumo médio de 12 km/l e a
gasolina custando R$ 4,59. A segunda opção seria ir de ônibus, cuja a passagem
custa R$ 96,00 por trecho (ida ou volta). Considerando apenas o custo total da
201
viagem e que este será dividido igualmente entre todos os membros do grupo,
em quais condições uma das opções é mais vantajosa que a outra.
Tarefa 2: Seguindo a orientação de um especialista, Murilo aumenta a cada dois
dias 10% da distância percorrida em suas caminhadas mantendo o mesmo ritmo.
Estimando que ele gasta 240 kcal/hora e que 7 mil calorias equivalem a
aproximadamente 1 kg de gordura, se Murilo mantiver a alimentação regular, em
quantos dias perderá 5 kg?
Tarefa 3: Em um estacionamento de 60 vagas, cada vaga pode ser ocupada por
1 carro ou por 3 motos. Considerando que o preço cobrado por carro é de R$
10,00 e por moto R$ 5,00 e sabendo que em um dia de lotação máxima foram
contabilizadas 300 rodas, qual o valor faturado pelo estacionamento?
202
APÊNDICE 4: TAREFAS (PARTE 2)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
ETAPA MATERIALIZADA
Discente: _______________________________________________________
Discente: _______________________________________________________
Orientações: - Reúnam-se em duplas e dividam as funções de resolução da situação-problema e de controle desse processo. Ou seja, em cada tarefa, enquanto um integrante da dupla resolve a situação-problema o outro realiza o controle. - Para cada tarefa distinta, alternem entre as funções. - Resolver a tarefa apoiado no EBOCA, de forma detalhada, seguindo cada uma das operações da orientação. Registrar o processo de resolução. Avaliar o processo de solução, segundo o indicado na ação de controle. - Quem realiza o controle do colega deve também seguir as operações destinadas para tal função, de forma detalhada e registrar esse processo. - Na dupla, refletir sobre o processo de solução, destacando os erros, dificuldades, acertos e realizar os ajustes necessários para a resolução adequada da tarefa. Registrar esse processo.
Tarefa 4: O “desafio de 52 semanas” é uma estratégia para se economizar
dinheiro durante 1 ano, a partir do aumento gradativo do valor poupado
semanalmente. Iniciando o desafio poupando uma determinada quantia, a cada
semana, o valor economizado corresponde ao mesmo valor da semana anterior
acrescido em 1 real. Considerando uma pessoa que ganha R$ 2.000,00 mensais
e pode economizar menos que 20% do seu salário, elabore um plano e mostre
quanto essa pessoa conseguiria juntar no fim do desafio.
203
Tarefa 5: O Imposto de Renda (IR) é tributo cobrado sobre determinados
rendimentos de uma pessoa física ou jurídica. No Brasil, o valor a ser pago é
cobrado dividindo o ganho anual do contribuinte após deduções em diferentes
faixas, que possuem alíquotas progressivas, conforme mostra o quadro a seguir:
Base de cálculo anual, em reais Alíquota
Até 22.847,76 Isento
De 22.847,77 até 33.919,80 7,5%
De 33.919,81 até 45.012,60 15%
De 45.012,61 até 55.976,16 22,5%
Acima de 55.976,16 27,5%
Sabendo que a base de cálculo mensal do salário (parte do salário que será
cobrada o IR) de Josiane sobre a qual incide o IR é de R$ 5.200,00, qual o
percentual efetivo aproximado de imposto pago?
Tarefa 6: Um agricultor precisa determinar uma expressão algébrica que lhe
permita calcular o custo necessário para cercar suas terras em função dos
principais materiais utilizados. Em um de seus terrenos retangulares, que mede
120m por 90m ele poderá utilizar: estacas finas (de 2 em 2 metros) ou estacas
grossas (de 6 em 6 metros) e 4 voltas de arame. Elabore uma forma de cercar o
terreno com os materiais mencionados e determine uma expressão algébrica
apropriada.
204
APÊNDICE 5: QUESTIONÁRIO FINAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
AVALIAÇÃO FINAL DA EXPERIÊNCIA FORMATIVA
Discente: _______________________________________________________
1) Em relação a Experiência Formativa orientada a aprendizagem de como
realizar o controle na resolução de problemas matemáticos, considerando o
Esquema da Base Orientadora Completa da Ação (EBOCA), responda:
a) Considerou importante para você? Justifique.
b) Como essa aprendizagem pode ajudar na suas atividades futuras como
professor?
c) Considera ser possível ensinar os estudantes essa forma de controlar a
resolução de problemas matemáticos? Por quê?
2) Quais foram as principais dificuldades que você apresentou em relação a
aprender controlar a resolução de problemas matemáticos, segundo a proposta
da Experiência Formativa? Mencione três:
1.
2.
3.
3) Em relação as atividades desenvolvidas.
205
a) Quais considerou mais interessantes? Por quê?
b) Quais considerou menos interessantes? Por quê?
4) Como você avalia a importância do que aprendeu sobre o papel da orientação
na aprendizagem e no processo de controle na resolução de problemas
matemáticos?