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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA ROBERTA KARLINE LINS DA SILVA AVALIAÇÃO DA ADESÃO AO TRATAMENTO E CONTROLE DO DIABETES MELLITUS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE. NATAL/ RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

ROBERTA KARLINE LINS DA SILVA

AVALIAÇÃO DA ADESÃO AO TRATAMENTO E CONTROLE DO DIABETES

MELLITUS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE.

NATAL/ RN

2016

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ROBERTA KARLINE LINS DA SILVA

AVALIAÇÃO DA ADESÃO AO TRATAMENTO E CONTROLE DO DIABETES

MELLITUS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.

Orientador: Antônio Medeiros Junior

NATAL/RN

2016

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Departamento de Odontologia

Silva, Roberta Karline Lins da.

Avaliação da adesão ao tratamento e controle do diabetes

mellitus na atenção primária à saúde / Roberta Karline Lins da

Silva. - 2016.

96f.: il.

Dissertação (mestrado em saúde coletiva) -Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Centro de Ciência da Saúde, Departamento

de odontologia, Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva,

Natal, 2016, CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE, PÓS-GRADUAÇÃO EM

SAÚDE COLETIVA

1. Diabetes mellitus - Dissertação. 2. Cooperação do paciente

- Dissertação. 3. Atenção primária à saúde - Dissertação_. 4.

Estrategia da saúde da familia - Dissertação. I. Medeiros Junior,

Antonio. II. Título.

RN/UF/BSO BLACK D585

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DEDICATÓRIA

Dedico a todos os familiares e amigos que

torceram e ajudaram na construção desse

trabalho e na realização deste sonho.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida e pela oportunidade dada de realização da Pós-

graduação em Saúde Coletiva.

Aos meus pais e minha família, pela dedicação e exemplo de que a

educação é indispensável para o sucesso. Pela dedicação dada a mim durante

toda a vida.

Ao meu irmão pelo exemplo de força e dedicação nos estudos e de que tudo

é possível com muita dedicação e fé.

Ao meu esposo pelo companheirismo do dia-a-dia, ajuda e pelo amor dado a

mim durante essa etapa da minha vida.

Ao meu orientador pelo exemplo de docente que é, e por me ajudar a buscar

o meu próprio aprendizado, mostrando que sempre é possível aprender mais

diante das dificuldades da vida acadêmica e por despertar em mim o amor pelo

ensino e pesquisa.

Aos meus amigos da Secretaria Municipal de Saúde de São Gonçalo, pela

ajuda dada nesses anos da construção do meu trabalho, carinho e compreensão.

Aos profissionais de saúde da Unidade de Saúde de Nazaré pela ajuda dada

nessa jornada, por ter me ensinado a cuidar na atenção básica e pelo exemplo de

amor a saúde publica.

Aos docentes na Pós Graduação em Saúde coletiva da UFRN, pelos

ensinamentos, exemplo de docência, e pelo encorajamento para sermos docentes

na área de saúde com compromisso da mudança para construção de uma

sociedade mais digna e mais saudável.

A todas as minhas amigas (Camila, Olga, Carol, Geiza, Joelma, Monique,

Ana Karla), que me apoiaram e torceram por meu êxito na conclusão dessa etapa.

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Oração do poder de Deus

Deus, Senhor de toda a força e poder, dá-me hoje a segurança do teu amor e a

certeza de que estás comigo. Peço ajuda e proteção nesta hora tão difícil de minha

vida. Preciso de tua assistência, do teu amor e de tua misericórdia.

Tira de mim o medo, tira de mim esta dúvida, esclarecendo o meu espírito abatido,

com a luz que iluminou o teu divino filho Jesus Cristo, aqui na Terra.

Que eu possa perceber toda a grandeza e tua presença em mim, soprando o teu

espírito dentro de mim, para que eu me sinta fortalecido com a tua presença em

minha vida, hora por hora, minuto por minuto. Que eu sinta o teu espírito e tua voz

dentro de mim e ao meu redor, em minhas decisões e no decorrer deste dia. Que

eu sinta o teu maravilhoso poder pela oração e com este poder, espero pelos

milagres que podes realizar em favor dos meus problemas. Não me deixe cair,

levanta meu espírito, quando me encontrar abatido.

Entrego-te neste dia a minha vida e de minha família. Livra-me de minhas

moléstias ainda que seja por milagre. Obrigado meu mestre, meu Senhor, meu

irmão e meu amigo. Sei que vás me dar à solução de que tanto preciso e desejo.

Amém!

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RESUMO

O presente estudo objetivou avaliar a adesão ao tratamento em diabéticos,

residentes na área de abrangência de uma Unidade de Saúde da Família, bem

como avaliar as medidas de controle metabólico e de peso, utilizadas no

acompanhamento da doença e a verificar associações entre essas variáveis.

Foram avaliados 98 indivíduos com diabetes, maiores de 18 anos, acompanhados

e cadastrados na unidade de saúde e que participam dos grupos de autocuidado

da unidade. Trata-se de um estudo transversal, onde foram coletadas informações

clinicas nos prontuários individuais e realizada entrevista direta aos diabéticos a

respeito das medidas de autocuidado, segundo o instrumento Questionário de

Atividades de Autocuidado com o diabetes, adaptado e validado no Brasil. Os

resultados indicaram que a amostra era predominantemente do sexo feminino,

casadas, recebiam menor ou igual a dois salários mínimos. Apresentaram menos

de quatro anos de estudo e diagnostico de diabetes há mais de dez anos. Quanto

aos dados metabólicos e de peso grande parcela estava acima do peso,

hemoglobina glicada alterada, glicemia de jejum normal e aproximadamente

metade da amostra apresentaram valores de triglicerídeos normais. Para avaliação

das atividades do autocuidado aquelas que apresentaram melhor adesão foram:

uso medicação, cuidado com os pés, e consumo de doces e os que apresentaram

baixa adesão foram: monitorização da glicemia e atividade física. Nas associações

dos parâmetros bioquímicos e as atividades do autocuidado observou-se

associação moderadas entre medicação e colesterol, IMC e triglicerídeos, glicemia

jejum e colesterol, colesterol e triglicerídeos. Conclui-se que a amostra estudada

apresentou adesão ruim para atividade física e monitoramento da glicemia, ao

passo que apresentou excelente adesão aos cuidados com os pés e uso da

medicação. Não foram encontradas associações entre o autocuidado e

características sociodemográficas, exceto atividade física e sexo, sendo

necessárias abordagens educativas mais eficazes para melhor adesão.

Descritores: Diabetes mellitus. Cooperação do paciente. Atenção Primária à

Saúde.

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ABSTRACT

This study aimed to assess adherence to treatment in diabetics living in the

coverage area of a Family Health Unit, as well as evaluate the metabolic control

measures and weight, used in monitoring the disease and to examine associations

between these variables. We evaluated 98 patients with diabetes, 18 years,

monitored and registered at the health facility and participating in the self-care

group of the unit. This is a cross-sectional study, which were collected clinical

information on individual records and carried out direct interview with diabetes about

self-care measures, according to the Self-Care Activities Questionnaire instrument

with diabetes, adapted and validated in Brazil. The results indicated that the sample

was predominantly female, married, received less than or equal to two minimum

wages. Had less than four years of study and diagnosis of diabetes for over ten

years. As for metabolic data and large portion weight I was overweight, changed

glycated hemoglobin, normal fasting glucose and about half of the sample had

normal triglyceride levels. For evaluation of self-care activities those that showed

better adherence were: use medication, foot care, and consumption of sweets and

those with poor adherence were: blood glucose monitoring and physical activity. In

the associations of biochemical parameters and self-care activities was observed

moderate association between medication and cholesterol, BMI and triglycerides,

fasting glucose and cholesterol, and triglycerides. It was concluded that the sample

presented poor adherence to physical activity and blood glucose monitoring, while

showed excellent adherence to foot care and medication use. No associations were

found between self-care and sociodemographic characteristics, except physical

activity and sex, requiring more effective educational approaches to better

adhesion.

Keywords: Diabetes mellitus. Patient cooperation. Primary Health Care.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Características sociodemograficas e relativas ao diagnóstico da doença.

Tabela 2 – Características metabólicas e de distribuição de peso.

Tabela 3- Avaliação dos itens do Questionário de Atividades de Autocuidado com

Diabetes na amostra estudada.

Tabela 4 - Associação entre a dimensão Alimentação Geral do QAD e as variáveis:

sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de insulina e

tempo de diagnóstico.

Tabela 5- Associação entre a dimensão Alimentação Específica do QAD e as

variáveis: sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de

insulina e tempo de diagnóstico.

Tabela 6 – Associação entre a dimensão Atividade Física do QAD e as variáveis:

sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de insulina e

tempo de diagnóstico.

Tabela 7 - Associação entre a dimensão Cuidado com os pés do QAD e as

variáveis: sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de

insulina e tempo de diagnóstico.

Tabela 8- Associação entre a dimensão Uso de Medicação do QAD e as variáveis:

sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de insulina e

tempo de diagnóstico.

Tabela 9- Características descritivas relativas ao tabagismo.

Tabela 10 - Associação entre as variáveis metabólicas e os domínios do QAD.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1- Rotina complementar mínima para pessoa com DM, segundo Caderno

de Atenção Básica nº 36 do Ministério da Saúde.

Quadro 2- Metas controle no Diabetes Mellitus, segundo Sociedade

Brasileira de Diabetes (2014-2015).

Quadro 3- Dimensões da adesão ao tratamento e variáveis de influencia.

Quadro 4- Padrões necessários à educação para o autocuidado.

Quadro 5 - Descrição das equipes de saúde da Estratégia de Saúde da Família do

bairro de Nazaré do Distrito Leste de Natal RN, 2015.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AADE - American Association of Diabetes Educator

ADA – Associação Americana de Diabetes

APS – Atenção Primária à Saúde

CT – Colesterol Total

DCCT – Diabetes Control and Complication Trial

DCNT – Doenças Crônicas não transmissíveis

DM – Diabetes Mellitus

DM1 – Diabetes Tipo 1

DM2 – Diabetes Tipo 2

ESF – Estratégia de Saúde da Família

HAS – Hipertensão

HbA1C – Hemoglobina Glicada

HDL – High Density Lipoprotein

IAM – Infarto Agudo do Miocárdio

IMC – Índice de Massa Corporal

MEV – Mudança do Estilo de Vida

MS – Ministério da Saúde

OMS – Organização Mundial de Saúde

PA – Pressão Arterial

PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde

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PNAB – Politica Nacional de Atenção Básica

PSF – Programa de Saúde da Família

QAD – Questionário de Atividades de Autocuidado com o diabetes

RAS – Rede de Atenção à Saúde

RN – Rio Grande do Norte

SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes

SDSCA - Summary of Diabetes Self-Care Activities Questionnaire

SPSS – Statistical Package for the Social Science

SUS – Sistema Único de Saúde

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

USF – Unidade de Saúde da Família

WHO – World Heathly Organization

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 11 2 JUSTIFICATIVA.................................................................................... 15 3 REVISÃO DE LITERATURA................................................................ 17

3.1 DIABETES MELLITUS: CONCEITO E EPIDEMIOLOGIA.................... 17 3.2 CONTROLE METABÓLICO NO DIABETES MELLITUS...................... 22 3.3 ESTRATÉGIAS DE SAÚDE E DIABETES MELLITOS......................... 26 3.3.1 Estratégia de Saúde da família e diabetes........................................ 28 3.4 ADESÃO AO TRATAMENTO E AUTOCUIDADO NO DIABETES

MELLITUS............................................................................................. 33

3.4.1 Medida de adesão ao tratamento....................................................... 37 3.4.2 Autocuidado em DM........................................................................... 39 4 METODOLOGIA................................................................................... 44

4.1 QUESTÕES ÉTICAS............................................................................ 44 4.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO ........................................................... 44 4.3 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO .................................... 44 4.4 POPULAÇÃO DO ESTUDO ................................................................. 45 4.5 PLANO AMOSTRAL............................................................................. 46 4.6 INSTRUMENTO E COLETA DE DADOS.............................................. 47 4.6.1 Primeira etapa de coleta de dados .................................................... 48 4.6.2 Segunda etapa da coleta de dados ................................................... 48

4.7 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................ 49 4.7.1 Análise estatística ............................................................................... 49 5 RESULTADOS...................................................................................... 51 6 DISCUSSÃO.......................................................................................... 62 6.1 CARACTERISTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS................................... 62 6.2 AUTOCUIDADO.................................................................................... 63 6.3 CONTROLE METABOLICO................................................................. 71 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 74 REFERÊNCIAS.................................................................................... 77 APÊNDICES.......................................................................................... 87 ANEXOS................................................................................................ 92

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1 INTRODUÇÃO

As transições demográfica, nutricional e epidemiológica ocorridas no século

passado determinaram um perfil de morbimortalidade em que doenças crônicas

assumiram ônus crescente e preocupante por serem fatores de risco para doenças

cerebrovasculares e cardiopatias isquêmicas, que são as principais causas de

mortalidade na população (BRASIL, 2014a).

As condições crônicas correspondem a 60% das morbidades presentes no

mundo, sendo que as previsões para o ano de 2020 apontam para um aumento de

20% dessas cifras nos países em desenvolvimento (SCHIMDT et al., 2011b), em

especial do DM.

Dentre as doenças crônicas mais frequentes, destaca-se o diabetes mellitus

(DM), que consiste em uma disfunção metabólica crônica, grave, de evolução lenta

e progressiva, caracterizada pela falta ou produção diminuída de insulina e/ou da

incapacidade desta em exercer adequadamente seus efeitos metabólicos, levando

à hiperglicemia e glicosúria (MAIA; ARAUJO, 2002).

O DM constitui-se como um problema de saúde pública devido ao grande

número de pessoas acometidas e às consequências trazidas pela doença. Além de

ser causa de internações, acarreta complicações irreversíveis, responsáveis pela

diminuição da expectativa de vida. Essas complicações, além de limitarem as

atividades diárias e produtivas, comprometem a qualidade de vida dos usuários

com DM. Ela é responsável pelo desenvolvimento de arteriopatias, nefropatias e

cardiopatias importantes (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2011). Além

disso, o DM está entre uma das cinco primeiras causas de internações no Brasil,

ocupando lugar entre as dez primeiras causas de mortalidade (BRASIL, 2010b).

No Brasil, dados do Inquérito Telefônico (Vigitel) realizado em 27 capitais

brasileiras e Distrito Federal em 2014, mostram que a frequência de adultos que

referiram diagnostica medico prévio de diabetes variou entre 4,1% em Palmas e

9,5% em São Paulo. No sexo masculino, as maiores frequências foram observadas

em Porto Alegre (9,0%), Curitiba (8,7%) e São Paulo (8,5%) e as menores em

Palmas (3,0%), São Luís (3,1%) e Porto Velho (3,7%). Entre mulheres, o

diagnostico de diabetes foi mais frequente no Rio de Janeiro (10,7%) e São Paulo

(10,3%). Segundo a mesma pesquisa na capital do Rio Grande do Norte, Natal, a

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prevalência ficou de 7,8%, sendo 6,5% do sexo masculino e 9,0% do sexo feminino

(BRASIL, 2014b).

O tratamento dessa doença de caráter endócrino metabólico é desafiante

pelo requerido grau de envolvimento do paciente e família na adoção de hábitos

salutares, ao longo de toda a vida (OIGMAN, 2006). Tal tratamento compreende,

basicamente, as terapias não medicamentosa e medicamentosa, sendo a primeira

relacionada às mudanças de comportamento associadas à alimentação saudável e

à atividade física (BROADBENT; DOKIN; STROH, 2011) fatores esses que visam

alcançar o equilíbrio metabólico, procurando tornar os níveis de glicemia, de

pressão arterial e o peso o mais próximos dos parâmetros estabelecidos

(AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2004).

O controle do diabetes mellitus e a prevenção de complicações envolvem o

conhecimento e a execução de tarefas de autocuidado por parte do paciente.

Monitoramento do índice glicêmico, adequação da alimentação, cuidado com os

pés e prática de atividades físicas englobam tais tarefas. Isso ocorre quando o

paciente é bem instruído pela equipe de saúde e quando é desenvolvido um bom

relacionamento profissional-paciente (MICHELS et al., 2010).

No controle do diabetes mellitus (DM), a falta de adesão ao tratamento é um

desafio frequentemente enfrentado na prática clínica pelos profissionais das

instituições de saúde (ARAUJO et al., 2011). Assim, impõe-se buscar estratégias

de intervenções que visem minimizar essa situação na atenção ao diabetes.

O convívio longo com a doença torna a adesão ao tratamento um elemento

essencial para que se mantenha a qualidade de vida e evite ou adie as

complicações da doença.

A adesão corresponde à concordância entre a prescrição do profissional da

saúde e a conduta do paciente e compreende valores e crenças, além de aspectos

relacionados à doença e ao seu tratamento (LEITE; VASCONSCELOS, 2003).

O impacto da falta de adesão aos tratamentos de doentes crônicos, além de

afetar a saúde do indivíduo, tem reflexos econômicos para o sistema de saúde,

pois em muitos casos pode resultar em maiores custos com hospitalizações, que

incluem o manejo das complicações de longo prazo. A falta de controle de uma

doença não deve ser inteiramente atribuída a não adesão à terapia

medicamentosa, mas também às fragilidades das relações profissional-paciente,

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assistência ineficiente, mudanças nos hábitos de vida, na alimentação e realização

irregular de atividade física (TORRES; PACES; STRADIOTO, 2010).

Embora seja necessária, a adesão ao tratamento não é um comportamento

fácil de adquirir. Muitos são os elementos que tornam a questão da adesão ao

tratamento motivo de estudo entre os pesquisadores, desde sua definição até as

formas de lidar com ela (REINNERS et al., 2008).

Avaliar o processo de adesão não significa então apenas avaliar o

cumprimento de determinações de profissionais de saúde, mas nos permite,

embora numa perspectiva limitada, verificar fatores que tornam a incorporação de

determinadas atitudes necessárias ao tratamento de saúde tão difíceis e distantes

da realidade de parte dos pacientes (PONTIERI; BACHION, 2010).

O manejo do diabetes deve ser feito dentro de um sistema hierarquizado de

saúde, sendo sua base o nível primário. Na prestação de serviços apropriados para

os diabéticos, é preciso levar em consideração os principais componentes do

sistema de saúde, especialmente a determinação das necessidades e dos recursos

locais; o consenso sobre as normas de atenção; os mecanismos para aplicar os

últimos avanços das investigações; a educação e a utilização de todos os

profissionais de saúde; e a contínua avaliação da efetividade e da qualidade do

tratamento dos pacientes (ASSUNÇÃO; SANTOS; GIGANTE, 2001).

A Atenção Primária à Saúde (APS), base orientadora do modelo de atenção

à saúde, busca responder às necessidades da população através do entendimento

de que a saúde é um direito social e se faz através do enfrentamento dos

determinantes sociais para promovê-la. A boa organização dos serviços de APS

contribui para a melhora da atenção, com impactos positivos na saúde da

população, e para a eficiência do sistema (MACINKO; STARFIELD, 2003).

As ações de saúde implantadas pelas equipes da Saúde da Família têm

possibilitado incrementar novas relações entre profissionais de saúde, famílias e

comunidades, pautadas no estabelecimento de vínculo e na criação de laços de

compromisso e de corresponsabilidade entre os profissionais de saúde e a

população, o que facilita a identificação e o atendimento dos problemas de saúde

da comunidade, como a falta de adesão ao tratamento em DM (SILVA et al., 2011).

Nesse contexto, a adoção da Estratégia Saúde da Família (ESF) como

política prioritária na atenção básica compreende condições mais favoráveis de

acesso às medidas multissetoriais e integrais para a abordagem do diabetes. As

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equipes de saúde da família devem atuar, de forma integrada, na abordagem da

avaliação de risco, na adoção de medidas preventivas primárias e no atendimento

a esses diabéticos (ARAUJO; GUIMARAES, 2007).

Dessa forma, uma vez que esses usuários têm a atenção básica como

principal acesso ao sistema público de saúde, a Estratégia Saúde da Família é um

importante mecanismo para viabilizar o diagnóstico, tratamento e acompanhamento

destes pacientes, tornando-se cenário adequado para avaliar fatores que podem

estar associados à adesão ao tratamento das doenças crônicas nos indivíduos

acometidos (ARAUJO; GUIMARAES, 2007).

A equipe de Saúde da Família possui um papel fundamental neste processo,

fazendo o levantamento epidemiológico e propondo medidas preventivas, de

controle e tratamento (BRASIL, 2000a).

Para poderem atuar de maneira eficaz, propondo e implantando ações que

atendam às reais necessidades desta população, os profissionais precisam

conhecer os pacientes e identificar os que aderem e os que não aderem ao

tratamento, bem como levantar os motivos pelos quais os usuários não estão

seguindo o tratamento (REINNERS et al., 2008).

Nesse contexto o presente estudo objetivou avaliar a adesão ao tratamento

em usuários com diabetes mellitus e possíveis associações com características

clínicas de controle e características demográficas, no contexto da Atenção

Primária em Saúde.

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2 JUSTIFICATIVA

Segundo Lessa (2004), o reconhecimento do Diabetes como uma

enfermidade crônica que afeta milhões de pessoas no mundo tem motivado as

organizações de saúde a buscarem metodologias que favoreçam um delineamento

real do problema, assim como das melhores estratégias a serem adotadas para

favorecer a adesão dos pacientes ao tratamento, buscando conhecer fatores até

então considerados sem importância.

Neste sentido, destaca-se um item de suma importância no tratamento

dessas doenças, que é a adesão ao tratamento. A compreensão das variáveis que

influenciam a adesão é um dos pilares que fundamenta o planejamento e a

execução de intervenções educativas, pela sua relevância na promoção do

autocuidado (TORRES; PACES; STRADIOTO, 2010).

Identificar se o diabético segue as recomendações do tratamento é ponto

fundamental para garantir se realmente este paciente está compreendendo a

gravidade da doença e se ele está tendo acesso às informações (ANTUNES,

2006).

Além disso, são necessárias estratégias que auxiliem os indivíduos na

mudança de atitudes, exigindo ações de promoção e proteção da saúde. Diante

disso, o Ministério da Saúde tem promovido e recomendado ações

multiprofissionais na atenção básica, em conformidade com as atuais políticas de

promoção e proteção à saúde (TORRES; PACES; STRADIOTO, 2010).

No entanto, ainda há carência de estudos de avaliação que permitam

conhecer os resultados auferidos pelo modelo de atenção à saúde em relação às

porcentagens de adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso em

Unidades de Saúde da Família (USF) (SILVA et al., 2011), e ausência de

protocolos de aferição e de manejo da adesão ao tratamento nas doenças crônicas

para que esse problema da não adesão possa ser enfrentado pelas equipes de

forma mais eficaz, diminuindo assim as complicações decorrentes dessas

enfermidades.

Há evidências na literatura que quanto maiores os níveis de adesão,

menores são as complicações geradas, fato este que modifica o perfil da

morbimortalidade da doença e justifica os esforços para obtenção da melhor

adesão ao tratamento proposto (NOBRE, 2013).

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Nesse contexto, o presente trabalho propõe-se avaliar a adesão ao

tratamento em usuários com diabetes mellitus em uma população assistida pela

Estratégia de Saúde da Família, com vistas ao conhecimento e discussão de

fatores que possam influenciar nas medidas de controle e dimensões do

autocuidado (TOOBERT; GLASGOW, 1994) orientar o planejamento das

intervenções educativas, bem como servir como base para estabelecimento de

protocolos locais de enfrentamento da não adesão às dimensões do autocuidado

em diabetes.

Objetiva também, caracterizar a adesão às atividades do autocuidado para o

diabetes; avaliar controle de peso e indicadores bioquímicos de controle

metabólico; verificar associações entre as variáveis de autocuidado para Diabetes

com as variáveis sociodemográficas e de controle metabólico.

Além disso, os resultados desse estudo podem auxiliar os profissionais das

equipes, que são agentes importantes para a melhoria da atenção nos cenários da

pesquisa, avaliarem o cuidado ofertado aos diabéticos, planejarem ações mais

focadas nos pontos de menor adesão, bem como aprimorarem protocolos para

reduzir complicações, fortalecendo assim o vinculo com esses usuários no trabalho

interprofissional.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 DIABETES MELLITUS: CONCEITOS E EPIDEMIOLOGIA

Diabetes mellitus não é uma única doença, mas um grupo heterogêneo de

distúrbios metabólicos que apresenta em comum a hiperglicemia. A classificação

atual do DM baseia-se na etiologia e não no tipo de tratamento (OLIVEIRA;

VENCIO, 2015).

Atualmente, a doença pode ser definida como uma síndrome de etiologia

múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou incapacidade da insulina exercer

adequadamente seus efeitos. Caracteriza-se por hiperglicemia crônica com

distúrbios do metabolismo de lipídios e de proteínas. Dentre seus vários tipos,

destaca-se o DM tipo 2, que corresponde a cerca de 90 a 95% dos casos e

associa-se a uma forte predisposição genética aliada a fatores ambientais e ao

estilo de vida do indivíduo, aparecendo geralmente na idade adulta (TOSCANO,

2004).

A classificação proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002) e pela Associação Americana de

Diabetes (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2013) e aqui recomendada

inclui quatro classes clinicas: DM tipo 1 (DM1), DM tipo 2 (DM2), outros tipos

específicos de DM e DM gestacional. Ainda há duas categorias, referidas como

pré-diabetes, que são a glicemia de jejum alterada e a tolerância à glicose

diminuída. Essas categorias não são entidades clinicas, mas fatores de risco para o

desenvolvimento de DM e doenças cardiovasculares (OLIVEIRA; VENCIO, 2015).

O DM1, forma presente em 5% a 10% dos casos, e o resultado da

destruição de células beta pancreáticas com consequente deficiência de insulina.

Na maioria dos casos, essa destruição de células beta e mediada por

autoimunidade, porem existem casos em que não há evidencias de processo

autoimune, sendo, portanto, referidos como forma idiopática de DM1.

O DM2 e a forma presente em 90% a 95% dos casos e caracteriza-se por

defeitos na ação e secreção da insulina. Em geral, ambos os defeitos estão

presentes quando a hiperglicemia se manifesta porem pode haver predomínio de

um deles. A maioria dos pacientes com essa forma de DM apresenta sobrepeso ou

obesidade, e cetoacidose raramente se desenvolve de modo espontâneo,

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ocorrendo apenas quando se associa a outras condições, como infecções

(OLIVEIRA; VENCIO, 2015). Além disso, o DM2 pode ocorrer em qualquer idade,

mas e geralmente diagnosticado após os 40 anos. Os pacientes não dependem de

insulina exógena para sobreviver, porem podem necessitar de tratamento com

insulina para obter controle metabólico adequado.

O critério de diagnostico foi modificado, em 1997, pela American Diabetes

Association (ADA), posteriormente aceito pela Organização Mundial da Saúde

(OMS) e pela Sociedade Brasileira de Diabetes (OLIVEIRA; VENCIO, 2015).

Atualmente são três os critérios aceitos para o diagnostico de DM com

utilização da glicemia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002;

INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2013):

Sintomas de poliúria, polidipsia e perda ponderal acrescidos de glicemia casual

> 200 mg/dl. Compreende-se por glicemia casual aquela realizada a qualquer

hora do dia, independentemente do horário das refeições.

Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl (7 mmol/l). Em caso de pequenas elevações da

glicemia, o diagnostico deve ser confirmado pela repetição do teste em outro

dia.

Glicemia de 2 horas pós-sobrecarga de 75 g de glicose > 200 mg/dl (A). O teste

de tolerância à glicose deve ser efetuado com os cuidados preconizados pela

OMS, com coleta para diferenciação de glicemia em jejum e 120 minutos apos a

ingestão de glicose.

Existe, ainda, um grupo intermediário de indivíduos em que os níveis de

glicemia não preenchem estes critérios para o diagnóstico de DM, sendo

consideradas as categorias de glicemia de jejum alterada e tolerância à glicose

diminuída, em são apresentados a seguir (OLIVEIRA; VENCIO, 2015):

Glicemia de jejum alterada – glicose de jejum acima de 100 mg/dl e abaixo

de 126 mg/dl;

Tolerância à glicose diminuída – quando, após uma sobrecarga de 75 mg/dl

de glicose, o valor de glicemia de 2 horas se situa entre 140 e 199 mg/dl.

Atualmente, estima-se que a população mundial com diabetes e da ordem

de 382 milhões de pessoas e que devera atingir 471 milhões em 2035. Cerca de

80% desses indivíduos com DM vivem em países em desenvolvimento, onde a

epidemia tem maior intensidade, com crescente proporção de pessoas afetadas em

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grupos etários mais jovens, coexistindo com o problema que as doenças

infecciosas ainda representam (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION,

2013).

O Brasil assiste, desde a década de 1960, sua transição demográfica e

epidemiológica caracterizada pelo envelhecimento populacional e pelo aumento

das doenças crônico degenerativas. Entre as doenças crônicas, o Diabetes

Mellitus (DM) destaca-se como uma das mais frequentes, configurando-se hoje

como epidemia mundial, representando grande desafio para os sistemas de saúde

de todo o mundo (LOPES; OLIVEIRA, 2004).

No Brasil, no final da década de 1980, estimou-se a prevalência de DM na

população adulta em 7,6%; dados mais recentes apontam para taxas mais

elevadas, como 13,5% em São Carlos-SP 4 e de 15% em Ribeirão Preto-SP

(MORAES et al, 2010). Em 2013, estimou-se que existiriam 11.933.580 pessoas,

na faixa etária de 20 a 79 anos, com diabetes no Brasil. O Estudo Multicêntrico

sobre a Prevalência do Diabetes no Brasil evidenciou a influencia da idade na

prevalência de DM e observou incremento de 2,7% na faixa etária de 30 a 59 anos

para 17,4% na de 60 a 69 anos, ou seja, um aumento de 6,4 vezes (MALERBI;

FRANCO, 1992; OLIVEIRA; VENCIO, 2015).

Outra informação importante oferecida pelo Estudo Multicêntrico foi a de que

a metade dos diabéticos com diagnóstico confirmado desconhecia previamente a

enfermidade. Entre os que já tinham conhecimento do diabetes, cerca de 20% não

faziam qualquer tratamento. Assim, com base nesses dados, podemos concluir que

mais da metade dos diabéticos em nosso meio convive com hiperglicemia, que,

reconhecidamente, aumenta o risco de complicações vasculares, renais, cardíacas,

neurológicas, oftalmológicas e infecciosas, com redução acentuada em suas

sobrevidas (OLIVEIRA, 2006).

Dados brasileiros de 2011 mostram que as taxas de mortalidade por DM (por

100 mil habitantes) são de 30,1 para a população geral, 27,2 nos homens e 32,9

nas mulheres, com acentuado aumento com o progredir da idade, que varia de

0,50 para a faixa etária de 0 a 29 anos a 223,8 para a faixa de 60 anos ou mais, ou

seja, um gradiente de 448 vezes (BRASIL, 2015b). Na maioria dos países

desenvolvidos, quando se analisa apenas a causa básica do óbito, verifica-se que

o DM, entre as principais, figura entre a quarta e a oitava posição. Estudos

brasileiros sobre mortalidade por DM, analisando as causas múltiplas de morte, ou

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seja, quando se menciona DM na declaração de óbito, mostram que a taxa de

mortalidade por essa enfermidade aumenta ate 6,4 vezes (OLIVEIRA; VENCIO,

2015).

As estatísticas de óbito no Brasil não refletem o risco real de mortalidade

relacionada ao diabetes em virtude de a análise levar em conta principalmente a

causa básica de morte, sem considerar as causas associadas (BRASIL, 2015b). O

DM e a hipertensão arterial sistêmica (HAS) são responsáveis pela primeira causa

de mortalidade e de hospitalizações no Sistema Único de Saúde (SUS) e

representam, ainda, mais da metade do diagnóstico primário em pessoas com

insuficiência renal crônica submetida à diálise (SCHMIDT et al., 2011a).

Sua natureza crônica, a gravidade das complicações e os meios necessários

para controla-las tornam o DM uma doença muito onerosa não apenas para os

indivíduos afetados e suas famílias, mas também para o sistema de saúde

(GIMENEZ; ZANETTI; HAAS, 2009). Nos Estados Unidos, estimou-se que o custo

dos cuidados de saúde para um individuo com diabetes eram duas ou três vezes

maiores do que para um sem a doença (BELESTRE et al., 2007). Os custos do DM

afetam o individuo, a família e a sociedade, porem não são apenas econômicos. Os

custos intangíveis (p. ex., dor, ansiedade, inconveniência e perda de qualidade de

vida) também apresentam grande impacto na vida das pessoas com diabetes e

seus familiares, o que e difícil de quantificar (SANTO et al., 2012).

As complicações agudas e crônicas do diabetes causam alta

morbimortalidade, acarretando altos custos para os sistemas de saúde. Gastos

relacionados ao diabetes mundialmente, em 2010, foram estimados em 11,6% do

total dos gastos com atenção em saúde (INTERNATIONAL DIABETES

FEDERATION, 2012). Dados brasileiros sugerem valores semelhantes

(INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2012; PALMER et al., 1983). Estudo

realizado pela OMS mostrou que os custos governamentais de atenção ao DM

variam de 2,5% a 15% dos orçamentos anuais de Saúde, e os custos de produção

perdidos podem exceder, em até cinco vezes, os custos diretos de atenção à

saúde (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2003).

Assim, muitos indivíduos com diabetes são incapazes de continuar a

trabalhar em decorrência de complicações crônicas ou permanecem com alguma

limitação no seu desempenho profissional. Estimar o custo social dessa perda de

produtividade não e fácil. Entretanto, em algumas situações nas quais se tem feito

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essa estimativa, tais custos representam uma importante parcela do total dos

custos (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2013).

Ainda segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes a prevenção efetiva

também significa mais atenção à saúde de forma eficaz. Isso pode ocorrer

mediante prevenção do inicio do DM (prevenção primaria) ou de suas

complicações agudas ou crônicas (prevenção secundaria). A prevenção primaria

protege indivíduos suscetíveis de desenvolver DM, tendo impacto por reduzir ou

retardar tanto a necessidade de atenção à saúde como a de tratar as complicações

da doença (OLIVEIRA; VENCIO, 2015).

Há evidencias de que alterações no estilo de vida, com ênfase na

alimentação e na redução da atividade física, associam-se a acentuado incremento

na prevalência de DM2. Os programas de prevenção primaria do DM2 baseiam-se

em intervenções na dieta e na pratica de atividades físicas, visando a combater o

excesso de peso em indivíduos com maior risco de desenvolver diabetes,

particularmente naqueles com tolerância à glicose diminuída (OLIVEIRA; VENCIO,

2015).

Quanto à prevenção secundaria, há evidencias de que o controle metabólico

estrito tem papel importante na prevenção do surgimento ou da progressão de suas

complicações crônicas, conforme evidenciou o Diabetes Control and Complications

Trial (THE EFFECT..., 1993) para o DM1 e o United Kingdom Prospective Diabetes

Study (UKPDS, 1999) para o DM2.

Outra medida importante na prevenção secundaria são (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2002):

Tratamento da hipertensão arterial e dislipidemia, o que reduz substancialmente

o risco de complicações do DM.

A prevenção de ulcerações nos pés e de amputações de membros inferiores

por meio de cuidados específicos que podem reduzir tanto a frequência e a

duração de hospitalizações quanto à incidência de amputações em 50%.

Rastreamento para diagnostico e tratamento precoce da retinopatia, que

apresenta grande vantagem do ponto de vista de custo-efetividade dado a

importante repercussão nos custos diretos, indiretos e intangíveis da cegueira.

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Rastreamento para microalbuminúrica e um procedimento recomendável para

prevenir ou retardar a progressão da insuficiência renal, permitindo intervir mais

precocemente no curso natural da doença renal.

E medidas para reduzir o consumo de cigarro auxiliam no controle do DM, visto

que o tabagismo se associa ao mau controle do diabetes e causalmente a

hipertensão e a doença cardiovascular em pessoas com ou sem DM.

Apesar de todo o avanço ocorrido durante esses anos, de novos métodos

diagnósticos, com os novos conhecimentos na fisiopatologia das doenças, novas

drogas, etc., a mortalidade por essas moléstias crônicas, principalmente as

cardiovasculares, permanece em frequências muito elevadas e está hoje, nas cinco

macrorregiões brasileiras, em primeiro lugar. Particularmente no caso do diabetes

mellitus, considerado atualmente um dos mais importantes, se não o mais

importante fator de risco para a doença cardiovascular, o diagnóstico precoce,

associado ao tratamento adequado, pode evitar ou postergar o aparecimento das

complicações e reduzir o impacto dessa síndrome em nossa sociedade (FRANCO,

2006).

3.2 CONTROLE METABÓLICO NO DIABETES MELLITUS

No tratamento do paciente diabético, a primeira questão a ser definida é o

objetivo a ser atingido no controle glicêmico. Mas, para tanto, é fundamental a

análise global do paciente, com o diagnóstico do tipo de diabetes na classificação

da síndrome, o nível educacional, as condições sociais, econômicas e emocionais,

a idade, o tempo de evolução da moléstia, o nível da glicemia, a presença de

complicações, entre outras, que deverão ser analisadas e consideradas de maneira

criteriosa (BRASIL, 2015a).

O elenco de exames a seguir é necessário para o atendimento inicial e

acompanhamento da pessoa com DM. A periodicidade destes exames dependerá

do acompanhamento individual de cada paciente, considerando o alto risco

cardiovascular para a pessoa com DM, o controle metabólico, as metas de cuidado

e as complicações existentes. O Quadro 1 mostra os exames de rotina mínima

para a pessoa com DM (BRASIL, 2015a).

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Quadro 1- Rotina complementar mínima para pessoa com DM, segundo Caderno de Atenção Básica nº 36 do Ministério da Saúde.

Glicemia de jejum e HbA1C.

Colesterol total (CT), HDL e triglicerídeos (TG).

Creatinina sérica

Exame de urina tipo 1 e, se necessário, microalbuminúria ou relação

albumina/creatinina.

Fundoscopia

Fonte: Caderno de Atenção Básica n.36.

As metas da Sociedade Brasileira de Diabetes — SBD a serem atingidas no

tratamento estão apresentadas no Quadro 2. Quanto ao controle glicêmico, deve-

se procurar chegar aos valores normais. Acima desses valores, é sempre

necessário realizar uma avaliação profunda da situação e muitas vezes promover

mudanças na terapia. Essa nova intervenção é sempre voltada para melhorar o

controle metabólico do diabetes (FRANCO, 2006).

Quadro 2 – Metas controle no Diabetes Mellitus, segundo Sociedade Brasileira de Diabetes (2014-2015).

Marcador Parâmetro

Glicemia Jejum 110 até 130mg/dL Pós-prandial 160 até 180mg/dl

Hemoglobina Glicada (A1c) <7 % adultos 7,5% e 8,5% em idosos, dependendo do

estado de saúde.

Colesterol total <200 mg/Dl

Triglicerídeos totais <150 mg/Dl

Índice de Massa Corporal Eutrofia (18,5-24,9Kg/m²)

Fonte: Caderno de Atenção Básica n.36.

Na pratica clinica, a avaliação do controle glicêmico é feita mediante a

utilização de dois recursos laboratoriais: os testes de glicemia e os de hemoglobina

glicada (Hba1c), cada um com seu significado clínico específico e ambos

considerados recursos complementares para a correta avaliação do estado de

controle glicêmico em pacientes diabéticos (AMERICAN DIABETES

ASSOCIATION, 2014).

A hemoglobina glicada hemoglobina, glicosilada ou glico-hemoglobina,

também conhecidas pelas siglas A1C e Hba1c, indica o percentual de hemoglobina

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que se encontra ligada à glicose. Como ele reflete os níveis médios de glicemia

ocorridos nos últimos dois a três meses, é recomendado que seja utilizado como

um exame de acompanhamento e de estratificação do controle metabólico. Tem a

vantagem de não necessitar de períodos em jejum para sua realização

(AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2014).

Os testes de glicemia refletem o nível glicêmico atual no momento exato em

que foram realizados, enquanto os testes de Hba1c revelam a glicemia media

pregressa dos últimos dois a quatro meses. Para considerar um paciente com DM

do tipo 2 controlado, é necessário que ele tenha o perfil de lipídios, a pressão

arterial e o peso também controlados, juntamente com a glicemia. Hoje temos

evidências, através dos estudos clínicos, dos benefícios do emprego de

medicamentos específicos no controle dessas condições, quando as medidas

dietéticas falham nesse propósito (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2014).

Sugere-se que os exames de glicemia de jejum e Hba1c sejam realizados

duas vezes ao ano, nas situações em que a pessoa encontra-se dentro da meta

glicêmica estabelecida e, a cada três meses, se acima da meta pactuada. Os

demais exames poderão ser solicitados uma vez ao ano, considerando sempre as

necessidades da pessoa e os protocolos locais (BRASIL, 2015a).

Além dos exames laboratoriais o exame físico da pessoa com DM é muito

importante, visto que pode detectar complicações da doença e identificar outras

condições que, associadas, aumentam a morbimortalidade e influenciam no

tratamento (BRASIL, 2015a).

Além disso, hoje em dia está claro que apenas o controle da glicemia não é

suficiente para a prevenção de doença coronariana aterosclerótica nesses

indivíduos, principalmente nos diabéticos do tipo 2 que em geral apresentam as co-

morbidades da síndrome plurimetabólica. Estudos recentes revelaram importante

correlação entre a presença de outros fatores de risco, além da hiperglicemia, com

a evolução de complicações tanto macro como microvasculares (BERTOLUCI,

2014). Os consensos atuais reforçam a importância de um tratamento global do

diabético objetivando também o controle dos níveis da pressão arterial e dos

lipídios plasmáticos e o combate à obesidade (OLIVEIRA; VENCIO, 2015).

Dois ensaios clínicos randomizados clássicos (HOLMAN et al., 2008)

mostraram que o controle glicêmico mais estrito pode prevenir complicações

crônicas e mortalidade. Redução dessas complicações pode ser obtida pelo

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controle glicêmico intensivo (A1c ≤ 7,0%) e pelo manejo dos demais fatores de

risco cardiovasculares (GAED; LUND-ANDERSEN; PARVING, 2008).

Em pessoas com DM tipo 1, o controle glicêmico intensivo previne o

desenvolvimento e a progressão de complicações micro e macrovasculares em

comparação com o tratamento convencional. Em pessoas com DM tipo 2, o

controle glicêmico intensivo pode prevenir o desenvolvimento e a progressão de

complicações microvasculares (UKPDS, 1999) especialmente se associado ao

controle pressórico intensivo. Além disso, o controle glicêmico intensivo pode

também reduzir a ocorrência de infarto agudo do miocárdio (IAM) não fatal

(HOLMASN et al., 2008).

O alcance desses objetivos não é tarefa fácil; deve-se ter em mente que,

além de evitar as complicações tanto agudas quanto crônicas do diabetes,

preservar a qualidade de vida do indivíduo é também uma prioridade (BRASIL,

2015a).

Todas as pessoas com DM, independente dos níveis glicêmicos, deverão

ser orientados sobre a importância da adoção de medidas para Mudanças no Estilo

de Vida - MEV (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2011) para a efetividade

do tratamento. Hábitos de vida saudáveis são à base do tratamento do diabetes,

sobre a qual pode ser acrescido – ou não – o tratamento farmacológico. Seus

elementos fundamentais são manter uma alimentação adequada e atividade física

regular, evitar o fumo e o excesso de álcool e estabelecer metas de controle de

peso (BRASIL, 2015a).

Pessoas com DM precisam ser apoiadas para realizar mudanças em seu

estilo de vida e esclarecidas de como fazê-lo. Uma revisão recente mostra que

diversos ensaios clínicos sobre programas intensivos para MEV em pessoas com

DM tipo 2 que obtiveram melhora em desfechos como glicemia, Hba1c e peso

corporal, foram apoiados com estratégias cognitivo-comportamentais (SPAHN et

al., 2010).

Estratégias cognitivo-comportamentais que promovam mudança de

comportamento e às recomendações, bem como programas de educação em

saúde que visam à promoção e ao apoio ao autocuidado fazem parte do tratamento

do DM e, como tal, a equipe precisa ser instrumentalizada para aplicá-los no seu

dia a dia (BRASIL, 2015a).

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3.3 ESTRATÉGIAS DE SAÚDE E DIABETES MELLITUS.

O Brasil passou a focalizar mais as DCNT, as politicas implantadas

ampliaram o escopo da ação da preocupação tradicional com o cuidado medico

para a prevenção, promoção da saúde e ação intersetorial (SCHMIDT et al., 2010).

Em função da gravidade do tema DCNT e seu impacto sobre os sistemas de

saúde e a sociedade, em setembro de 2011, a Organização das Nações Unidas

(ONU) realizou a Reunião de Alto Nível sobre DCNT, da qual participaram os

Chefes de Estado para debater compromissos globais com o tema (MALTA; SILVA

JR, 2013).

A reunião resultou em uma declaração política, na qual os países-membros

comprometeram-se a trabalhar para deter o crescimento das DCNT com ações de

prevenção dos seus principais fatores de risco e garantia de atenção adequada à

saúde dos pacientes.

Visando ampliar o comprometimento do Brasil com o tema, o Ministério da

Saúde lançou, em 2011, um plano de ação nacional, o “Plano de Ações

Estratégicas para o enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis

(DCNT) no Brasil, 2011-2022”. O Plano brasileiro define e prioriza as ações e os

investimentos necessários, estabelece metas e compromissos a serem assumidos

pelo Brasil, preparando o país para os desafios das DCNT e seus fatores de risco

(BRASIL, 2011).

Tal Plano aborda os quatro principais grupos dessas doenças – doenças do

aparelho circulatório, câncer, respiratórias crônicas e diabetes e os fatores de risco

em comum que são modificáveis, incluindo tabagismo, álcool, inatividade física,

alimentação não saudável e obesidade. Dentre as metas estabelecidas

relacionadas com alimentação e nutrição, foi incluída a redução da obesidade em

crianças e adolescentes, a manutenção da taxa de obesidade em adultos, o

aumento do consumo de frutas e hortaliças e a redução do consumo de sal. O

Plano brasileiro apresenta três diretrizes, ou eixos: (I) vigilância, informação,

avaliação e monitoramento; (II) promoção da saúde; e (III) cuidado integral

(BRASIL, 2011).

O monitoramento das metas deverá contribuir à reorientação dos serviços de

saúde, da atenção primária e do processo de trabalho, priorizando ações como o

apoio a cessação de fumar, o controle glicêmico, o acesso a medicamentos para

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prevenção de doenças cardiovasculares, diabetes e AVC, além de incentivar

medidas de promoção da saúde e de hábitos saudáveis. Destaca-se a importância

do equilíbrio das metas, abrangendo metas de promoção a saúde cujos benefícios

se estendem a toda a população, e metas referidas ao grupo populacional já

acometido pelas doenças (MALTA e SILVA JUNIOR 2013).

Nessa perspectiva de Promoção à Saúde o Ministério da Saúde instituiu a

Politica de Promoção à Saúde (PNPS) pela Portaria nº 687 de Março de 2006 e

revisada pelo Ministério da Saúde em 2014. No sentido de garantir a integralidade

do cuidado à saúde, a PNPS dispõe diretriz e recomenda estratégias de

organização das ações de promoção da saúde nas três esferas de gestão do SUS

(SANTOS, 2005).

A Promoção da Alimentação Saudável (PAS) é um eixo estratégico da PNPS

(BRASIL, 2006b) que ratifica o compromisso do Ministério da Saúde na ampliação

e qualificação das ações de promoção da saúde nos três níveis de complexidade,

desafiando a proposição de uma ação transversal, integrada e intersetorial, que

faça dialogar as diversas áreas do setor sanitário e outros setores de governo, os

setores privado e não governamental, compondo redes de compromisso com a

qualidade de vida da população, incluindo como eixo estratégico a promoção da

alimentação saudável.

Entre suas ações prioritárias, a PNPS busca reforçar a implantação da

Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e da Estratégia Global (EG)

para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde (WORLD

HEALTH ORGANIZATION, 2004). A EG tem como meta geral a promoção e

proteção à saúde mediante ações sustentáveis em nível comunitário, nacional e

mundial, com apoio a modos de vida saudáveis e com a participação dos

profissionais de saúde e de outros setores pertinentes.

Vale destacar que todos os objetivos da EG têm relações diretas com a

promoção da alimentação saudável. Nesse sentido, a Promoção da Saúde, com

ênfase na atividade física e na alimentação saudável, também está colocada entre

as seis prioridades do Pacto pela Vida, em defesa do SUS e de Gestão (BRASIL,

2006a) e na Politica Nacional de Atenção Básica (PNAB), onde a atenção é

caracterizada por ações que se voltam à promoção e à proteção da saúde, além da

prevenção de agravos, do diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da

saúde (BRASIL, 2006c).

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Nesse contexto na alimentação saudável o Guia Alimentar para a população

Brasileira, publicado em 2005 e reimpresso em 2014, é o primeiro documento

oficial que define as diretrizes alimentares para orientar escolhas mais saudáveis

de alimento pela população brasileira a partir de 2 anos de idade. A abordagem

multifocal trabalhada no Guia favorece a definição de prioridades e a construção de

uma agenda local que potencialize estas atividades, incentivando a integração

entre as diversas áreas de atuação da saúde, o compromisso dos gestores e a

mobilização da sociedade em torno do mesmo objetivo, o de promover saúde e

práticas alimentares saudáveis (BRASIL, 2014c).

Por fim, para garantir que todas as estratégias de produção de saúde

componham uma linha de cuidado integral e efetivo, é necessário estruturar um

sistema de saúde capaz de combinar, adequadamente, um conjunto de estratégias

e medidas de alcance individual e coletivo, de responsabilidade tanto de setores

específicos da Saúde quanto de outros setores (MALTA; SILVA JUNIOR, 2003).

3.3.1 Estratégia de Saúde da Família e Diabetes

Desde 1999 o PSF passou a ser considerado pelo Ministério da Saúde (MS)

como uma estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde passando ser

reconhecido como Estratégia de Saúde da Família (ESF), com vistas a reorientar o

modelo assistencial e imprimir uma nova dinâmica na organização dos serviços e

ações de saúde (ESCOREL et al., 2007). A denominação enquanto Estratégia de

Saúde da Família (ESF) reconhece as outras conformações de Atenção Primária

no Brasil, bem como o termo Atenção Básica como equivalente ao termo Atenção

Primária (BRASIL, 2015a).

Para o Ministério da Saúde, a Atenção Primária (AP) compreende um

conjunto de ações, de caráter individual e coletivo, situadas no primeiro nível de

atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, prevenção de

agravos, tratamento e reabilitação. A grande ampliação da AP e sua instituição

como estratégia para a reformulação do primeiro nível de atenção iniciou-se com o

Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), criado em 1991, e o

Programa da Saúde da Família (PSF), criado em 1994 (ESCOREL et al., 2007).

O PSF e o PACS vieram para modificar o modelo assistencial baseado

prioritariamente em atendimento hospitalar – herança da medicina previdenciária –

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em que a alocação de recursos federais em estados e municípios se dava com

base principalmente na produção de serviços e na capacidade instalada

(ESCOREL et al., 2007). Além disso, o PSF foi concebido para ser o primeiro nível

de atenção do sistema local de saúde e desenvolver a atenção básica de forma

integral e resolutiva, proporcionando além de extensão de cobertura e ampliação

do acesso, a substituição das práticas tradicionais, contribuindo para a

reestruturação do sistema de saúde (BACKES, 2012).

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2000) a Equipe de Saúde da

Família deve ser composta por profissionais capazes de resolver os problemas de

saúde mais comuns e de manejar novo saberes, que promovam a saúde e

previnam doenças em geral. Além disso, o Ministério da Saúde entende que o

fortalecimento da atenção básica se dá com a ampliação do acesso e a

qualificação e reorientação das práticas de saúde embasadas na promoção da

Saúde e nas necessidades de população das comunidades adstritas.

Um grande desafio atual para as equipes de Atenção Básica é a Atenção em

saúde para as doenças crônicas. Estas condições são muito prevalentes,

multifatoriais com coexistência de determinantes biológicos e socioculturais, e sua

abordagem, para ser efetiva, necessariamente envolve as diversas categorias

profissionais das equipes de Saúde e exige o protagonismo dos indivíduos, suas

famílias e comunidade (BRASIL, 2014a).

Dentre as iniciativas brasileiras elaboradas para responder ao desafio das

doenças crônicas, podemos destacar abaixo:

No ano de 2000 o Ministério da Saúde implantou o Plano de Reorganização

da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus Com o propósito de

reduzir a morbimortalidade associada à HA e ao DM, estabelecendo diretrizes e

metas para a reorganização da atenção a estas doenças no Sistema Único de

Saúde (SUS) (BRASIL, 2004). Algumas ações priorizadas por este plano foram:

confirmação de casos suspeitos, elaboração de protocolos clínicos, treinamento

dos profissionais de saúde, garantia de distribuição gratuita de medicamentos anti-

hipertensivos, hipoglicemiantes orais e insulina 35 NPH e criação de um sistema

informatizado de cadastramento e acompanhamento de hipertensos e diabéticos

denominado Sis-HIPERDIA (BRASIL, 2004).

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30

Como resultado desse programa, o diagnostico e o tratamento do diabetes

foi aperfeiçoado no nível da atenção básica. Normas baseadas em evidencias,

orientando o cuidado com o diabetes, foram implantadas (SCHMDTI et al., 2011b).

E no intuito de garantir o acesso integral à assistência saúde, uma das

estratégias mais discutidas, atualmente, é a organização de redes assistenciais.

Tomando a regionalização como princípio, foram desenvolvidos no Brasil conceitos

como níveis de complexidade da atenção, referência e contra referência, população

referenciada, dentre outros, que servem para orientar a discussão dos processos

integrados de gestão na construção do atendimento em saúde com resolubilidade

em unidades de diferentes perfis assistenciais e organizadas hierarquicamente

(JESUS; ASSIS, 2010).

Já em 2010 a estruturação da Rede de Atenção a Saúde (RAS), cujas diretrizes

foram estabelecidas na portaria GM/MS nº 4.279 de 2010. A RAS é definida como:

Arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado (BRASIL, 2010a).

O objetivo da RAS é promover a integração sistêmica, de ações e serviços

de saúde com provisão de atenção contínua, integral, de qualidade, responsável e

humanizada. Dentre seus atributos principais estão a existência de mecanismos de

coordenação, continuidade do cuidado e integração assistencial (CUNHA;

GIOVANELLA, 2011).

A relevância das condições crônicas como “necessidades em saúde” levou à

publicação da Portaria nº 252, de 19 de fevereiro de 2013, que institui a Rede de

Atenção às Pessoas com doenças Crônicas no âmbito do SUS. O objetivo é

promover a reorganização do cuidado, sua qualificação, ampliando as estratégias

de cuidado e também para promoção da saúde e prevenção do desenvolvimento

das doenças crônicas e suas complicações (BRASIL, 2014a).

Os serviços de saúde são constituídos por pontos de Atenção à Saúde

(locais de prestação de serviços) de igual hierarquia. Como exemplos de pontos de

Atenção à Saúde, citam-se Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Cuidados

Intensivos, Hospitais-Dia, Ambulatórios de Cirurgia, ambulatórios de Atenção

Especializada e Serviços de Atenção Domiciliar. Os serviços de Atenção Primária

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31

são a porta de entrada do sistema e coordenam o conjunto de respostas às

necessidades de saúde da população (BRASIL, 2014a).

Além dos pontos de Atenção à Saúde, a estrutura operacional de uma Rede

de Atenção a Saúde é constituída por sistemas de apoio diagnóstico e terapêutico,

assistencial-farmacêutico e de informação em Saúde; sistemas logísticos de

identificação dos usuários, de prontuário clínico, de acesso regulado à atenção e

de transporte em Saúde; e sistemas de governança da rede (MENDES, 2011).

A organização de sistemas de serviços de saúde mais integrados e com

uma melhor coordenação objetivam proporcionar atenção menos onerosa, de

melhor qualidade e mais direcionada a responder a agravos crônicos, de

prevalência crescente e pouco responsiva à atenção médica contemporânea.

Também se propõem a superar a atenção fragmentada pela especialização

progressiva e ainda organizada de modo a responder a problemas agudos, não

garantindo atenção integral ao paciente crônico (GIOVANELLA, 2011).

Para Malta e Merhy (2010), o uso de Linha de Cuidado (LC) para DCNT é

útil porque sua análise possibilita: mapear os recursos disponíveis nos diversos

segmentos da saúde, avaliar as tecnologias utilizadas para assistir ao usuário,

identificar fluxos, que podem agir como mecanismos de regulação, onde se permite

ver tentativas de negação de acesso, monitorar ações de vigilância à saúde e de

promoção, bem como a utilização dos recursos das clínicas especializadas. Ao

analisar o caminho do usuário na LC, pode-se verificar se este fluxo está centrado

no campo de necessidades dos usuários, determinado pelo suposto projeto

terapêutico que lhe é indicado, como se deu a sua acessibilidade aos serviços,

comodidade, segurança no atendimento, acompanhamento, tratamento, orientação

e promoção, ou, ao contrário, se ocorre à fragmentação ou interrupção da

assistência.

Nessa perspectiva a Linha de Cuidado do DM tem como finalidade fortalecer

e qualificar a atenção à pessoa com esta doença por meio da integralidade e da

longitudinalidade do cuidado, em todos os pontos de atenção (BRASIL, 2015).

Esta rede visa qualificar o cuidado integral, unindo e ampliando as

estratégias de promoção da saúde, de prevenção do seu desenvolvimento, suas

complicações, e de tratamento e recuperação, destacando-se além de outros

aspectos (BRASIL, 2015a).

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Desenhar o itinerário terapêutico dos usuários na rede e relacionar as

necessidades logísticas e de apoio necessárias. Definir os fluxos assistenciais

que são necessários para atender às suas necessidades de saúde e as

diretrizes ou protocolos assistenciais.

Identificar a população estimada de pessoas com DM e os diferentes estratos

de risco e realizar a programação de cuidado de acordo com os parâmetros

baseados em evidências que podem ser definidos localmente ou pelo estado ou

pelo governo federal.

O primeiro nível do sistema deve ser o principal local de acompanhamento

para os usuários diabéticos. Em alguns estudos, recomenda-se que de 60 a 80%

dos casos de DM e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) sejam tratados na ABS,

porém é necessário que o atendimento seja resolutivo e de qualidade. Para

melhorar a qualidade desse tratamento, é imprescindível a vinculação do paciente

às unidades de atendimento, a garantia do diagnóstico e o atendimento por

profissionais atualizados, uma vez que seu diagnóstico e controle evitam

complicações ou, ao menos, retardam a progressão das já existentes. Além disso,

o maior contato com o serviço de saúde promove maior adesão ao tratamento

(MEL, 2013).

O atendimento da APS deve constar de um acompanhamento completo

desses usuários, devendo a equipe de saúde viabilizar frequentemente a medida

da glicemia capilar, pressão arterial (PA), peso, altura, índice de massa corpórea

(IMC) e cintura abdominal. Esses índices podem trazer alguns alertas importantes,

como o que é observado com o aumento da circunferência abdominal, que pode

evidenciar complicações metabólicas principalmente em diabéticos (FERREIRA;

FERREIRA, 2009).

Ressalta-se, aqui, a importância do Programa Nacional de Melhoria do

Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) criado em 2011, por

iniciativa do governo federal, com o objetivo de induzir a ampliação do acesso e a

melhoria da qualidade dos serviços de Atenção Básica através de incentivo finan-

ceiro destinado às gestões municipais de saúde, condicionado à pactuação de

compromissos e avaliação de indicadores firmados entre as equipes de Atenção

Básica, os gestores municipais e o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012b).

O PMAQ tem como diretriz o envolvimento, mobilização e responsabilização

do gestor federal, gestores estaduais, municipais e locais, equipes e usuários em

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um processo de mudança de cultura de gestão e qualificação da atenção básica.

No que concerne à atenção às doenças crônicas, as dimensões avaliadas pelo

PMAQ são: equipamentos; materiais e insumos; medicações; exames laboratoriais;

cadastro de grupos prioritários; estratificação de risco; acompanhamento dos

grupos prioritários; fluxos e referências para as doenças crônicas; modelo de

cuidado às pessoas com doenças crônicas e processo de trabalho das equipes de

atenção básica (MALTA et al., 2013).

Portanto, para acompanhamento e melhor resolutividade no controle dos

usuários diabéticos, a APS deve ser a porta de entrada não somente para os

cuidados primários, mas também para um sistema integrado, composto por

serviços especializados, de urgência e de internação, que garanta todos os

recursos tecnológicos de que necessitam as pessoas para problemas crônicos

(MELO, 2013).

3.4 ADESÃO AO TRATAMENTO E AUTOCUIDADO NO DIABETES MELLITUS

A adesão ao tratamento em pacientes crônicos representa a extensão no

qual o comportamento da pessoa coincide com o aconselhamento dado pelo

profissional de saúde, contemplando três estágios: 1) concordância, no qual o

indivíduo, inicialmente, concorda com o tratamento, seguindo as recomendações

dadas pelos profissionais da saúde; 2) adesão, fase de transição entre os cuidados

prestados pelos profissionais de saúde e o autocuidado, no qual, com uma

vigilância limitada, o doente continua com o seu tratamento, o que implica uma

grande participação e controle da sua parte; 3) manutenção, quando, já sem

vigilância (ou vigilância limitada), o doente incorpora o tratamento no seu estilo de

vida, possuindo um determinado nível de autocontrole sobre os novos

comportamentos (ASSUNÇÃO; URSINE, 2008).

O impacto negativo da falta de adesão, para além da saúde dos indivíduos,

tem reflexos no sistema de saúde com todo. Do ponto de vista econômico, tem-se

como exemplo desse impacto o possível aumento no número de internações

elevando os gastos em saúde (WHO, 2003). Não existe um consenso estabelecido

pela literatura científica sobre uso do conceito “adesão ao tratamento”. Diferentes

termos vêm sendo utilizados levando-se em conta a postura, ativa ou passiva,

assumida pelo indivíduo no seu tratamento (MALTA; MERHY, 2010).

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Existem evidências de que pessoas com diabetes mal controlado, ou não

tratado, desenvolvem mais complicações do que aquelas com diabetes bem-

controlado. Entretanto, em algumas circunstâncias, as complicações do diabetes

são encontradas mesmo antes de se observara hiperglicemia (ZAJDENVERG,

2006).

Nesse sentido, o tratamento do diabético é de suma relevância para evitar

manifestações de complicações e deve incluir tanto medidas medicamentosas

quanto não medicamentosas que visem alcançar o equilíbrio metabólico,

procurando tornar os níveis de glicemia, de pressão arterial e o peso o mais

próximos dos parâmetros estabelecidos (SANTOS et al., 2012).

Entretanto, o maior desafio para o controle da síndrome é manter a glicemia

dentro de parâmetros adequados. O controle glicêmico almejado é a glicemia de

jejum menor que 126 mg/dl e a hemoglobina glicosilada menor que 7% (SANTOS

et al., 2012; AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2014).

A falta de controle de uma doença não deve ser inteiramente atribuída a não

adesão à terapia medicamentosa. No entanto, é possível supor que esta

contribuição seja expressiva e que leve ao aumento dos custos diretos para

tratamento das complicações da doença, especialmente no Brasil, onde o acesso

da população aos serviços de saúde é gratuito e universal, sendo garantido

constitucionalmente (MATTA, 2010).

No controle do diabetes, a falta de adesão ao tratamento é um desafio

frequentemente enfrentado na prática clínica pelos profissionais das instituições de

saúde. Assim, impõe-se buscar estratégias de intervenções que visem minimizar

essa situação na atenção em diabetes (ARAUJO et al., 2011).

Devido a essa gama de alterações do estilo de vida que são impostas aos

diabéticos, a adesão delas ao tratamento tem sido um grande desafio para serviços

de saúde e para os profissionais dessa área (ARAUJO et al., 2011).

Baseado nisso, a adesão ao tratamento implica uma atitude ativa, com

envolvimento voluntário e colaborativo do paciente e do profissional de saúde, em

um processo conjunto, que visa à mudança de comportamento do primeiro. Desse

modo, o paciente cumpre o tratamento ou o protocolo terapêutico tendo por base

um acordo conjunto que tem sua participação e que o conduz ao reconhecimento

da importância de determinadas ações prescritas (SANTOS et al., 2012).

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A adesão é definida como à medida que o comportamento de uma pessoa –

tomar medicamentos, seguir o plano alimentar ou adotar mudanças no estilo de

vida, corresponde às recomendações preconizadas por um profissional de saúde

(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003).

O termo “adherence” ou adesão em português apresenta significado mais

abrangente, denotando colaboração entre paciente e médico, bem como demais

profissionais da saúde, na tomada das decisões sobre o tratamento. Expressa,

portanto, compreensão e cooperação, requerendo um comportamento ativo por

parte do doente. Por esses motivos é o termo preferido entre os especialistas

sendo utilizado inclusive pela OMS (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003).

Para debater o tema a OMS promoveu um encontro de especialistas - “WHO

Adherence”. Deste, resultou um relatório segundo o qual a adesão ao tratamento é

entendida como um constructo de cinco dimensões, a saber: fatores relacionados

ao paciente, fatores relacionados ao tratamento, fatores sociais e econômicos,

fatores relacionados ao sistema de saúde e fatores relacionados à doença. Esta

organização serviu como base para a revisão da literatura realizada por Jin et al.

(2008). Utilizando-se de evidências identificadas em diferentes estudos o autor

elencou variáveis associadas à adesão (Quadro 3).

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Quadro 3 – Dimensões da adesão ao tratamento e variáveis de influencia, segundo Jin. et

al.2008.

Dimensões da adesão Variáveis identificadas

Fatores relacionados ao Paciente

Demográficas: idade, sexo, escolaridade, etnia, estado civil. Psicossociais: Crenças, motivação, atitude negativa. Relação paciente-prescritor Conhecimento do paciente sobre a doença e tratamento Conhecimento em saúde Esquecimento Dificuldades físicas

Fatores relacionados ao Tratamento

Via de administração Complexidade do tratamento Duração do tratamento Grau de mudança comportamental requerido Efeitos adversos

Fatores socioeconômicos Tempo comprometido com o tratamento Custo do tratamento e do transporte Renda Suporte social

Fatores relacionados ao sistema de saúde

Acessibilidade Tempo de espera para as consultas Obtenção de todos os medicamentos prescritos Insatisfação com consultas clínicas

Fatores relacionados à Doença

Sintomas Gravidade

Fonte: Jin et al. (2008).

O documento publicado pela Organização Mundial da Saúde, citado acima,

descreve cinco fatores principais que poderão influenciar a adesão ao autocuidado:

características pessoais; condição socioeconômica e cultura; e aspectos

relacionados ao tratamento, à doença, ao sistema de saúde e à equipe profissional.

Os resultados no controle do DM advêm da soma de diversos fatores e

condições que propiciam o acompanhamento desses pacientes, para os quais o

resultado esperado além do controle da glicemia é o desenvolvimento do

autocuidado, o que contribuirá na melhoria da qualidade de vida e na diminuição da

morbimortalidade. Os objetivos mais importantes das ações de saúde em DM são

controlar a glicemia e, com isso, em longo prazo, reduzir morbimortalidade causada

por essa patologia. Portanto, fazer uma intervenção educativa sistematizada e

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37

permanente com os profissionais de Saúde é um aspecto fundamental para mudar

as práticas atuais em relação a esses problemas de saúde (BRASIL, 2015a).

3.4.1 Medida da adesão ao tratamento

De acordo com o documento Adherence to long-term therapies: evidence for

action, organizado pela W.H. O (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003), não há

um padrão-ouro para medir a adesão e o uso de uma variedade de estratégias tem

sido relatado na literatura. Uma abordagem de medição é pedir aos pacientes

classificações subjetivas da adesão (auto referida) utilizando questionários

padronizados que avaliam comportamentos específicos relacionados com as

prescrições da equipe que o acompanha, como por exemplo, questionários de

frequência alimentar para medir o comportamento alimentar.

Porém o auto relato por si só continua a ser apenas uma estimativa do

comportamento real de um paciente. Assim, com o objetivo de avaliar a

“veracidade” do auto relato dos pacientes algumas estratégias podem ser

desenvolvidas como a avaliação pelo multi-método que combina auto relato e

medidas objetivas razoáveis, como análises das medidas bioquímicas e medidas

antropométricas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003).

Medir a adesão no DM é difícil devido à complexidade do regime terapêutico,

que envolve as diferentes atividades de autocuidado. Além disso, para avaliar a

adesão ao tratamento em pesquisas, e necessário ter instrumentos confiáveis e

validos. Diversas medidas têm sido utilizadas para essa avaliação, como a

hemoglobina glicada (Hba1c), a contagem da medicação e o relato dos pacientes

(ADA, 2009). O auto relato a partir de perguntas específicas em entrevistas ou

questionários tem se mostrado uma das abordagens mais práticas e efetivas para

avaliar a aderência aos cuidados com o diabetes (MELO, 2013).

A entrevista estruturada feita por meio da aplicação de questionários é um

dos métodos indiretos mais utilizados por ser acessível e de menor custo. É o

procedimento mais viável e talvez de maior utilidade em saúde pública. No entanto,

o resultado pode ser superestimado por depender do relato do próprio paciente,

que desejando agradar o entrevistador, engana-o sobre a observância do

tratamento. Essa é uma das limitações existentes no emprego desta técnica e,

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deste modo, permite que apenas uma parte dos pacientes não-aderentes seja

identificada (MILSTEIN-MOSCATI; PERSANO; CASTRO, 2001).

Dos questionários utilizados para avaliar a adesão ao autocuidado nos

diabéticos, o Summary of Diabetes Self-Care Activities Questionnaire (SDSCA) tem

sido um dos instrumentos mais usados em pesquisa. Foi desenvolvido para avaliar,

de maneira sistematizada, a aderência as atividades de autocuidado no paciente

diabético. Pode também ser útil para guiar os clínicos na avaliação e no

seguimento dos pacientes. O SDSCA questiona a realização de atividades pelos

pacientes e sua concordância com a prescrição medica ou de outro profissional de

saúde. Sua validade e confiabilidade já foram avaliadas e estabelecidas em

populações norte-americanas de língua inglesa (MICHELS et al., 2010) e

espanhola (VINCENTE; McEWEN; PASVOGES, 2008) e também na língua

portuguesa (MICHELS et al., 2010).

O SDSCA avalia cinco aspectos do regime de tratamento do diabetes,

agrupados em seis dimensões do autocuidado: alimentação (geral e especifica),

atividade física, uso da medicação, monitorização da glicemia e o cuidado com os

pés, avaliando também o tabagismo. As dimensões representam atividades

distintas do tratamento do diabetes, realizadas de maneira independente pelos

pacientes (TOOBERT; GLASGOW, 1994). O questionário original foi revisado e

modificado a partir da avaliação de sete estudos que o utilizaram na avaliação dos

pacientes. O SDSCA revisado possui 12 itens para medir os componentes do

autocuidado no DM (TOOBERT; HAMPSON; GLASGOW, 2000).

O QAD possui seis dimensões e 15 itens de avaliação do autocuidado com o

diabetes: “alimentação geral” (com dois itens), “alimentação especifica” (três itens),

“atividade física” (dois itens), “monitorização da glicemia” (dois itens), “cuidado com

os pés” (três itens) e “uso da medicação” (três itens, utilizados de acordo com o

esquema medicamentoso). Além disso, possuem outros três itens para a avaliação

do tabagismo (Anexo 1). Quando avaliados com o questionário, os pacientes

relatam com que frequência eles realizaram as atividades ou os comportamentos

nos sete dias anteriores. As respostas variam de 0 a 7, com os escores indicando

as performances das atividades de autocuidado (MICHELS et al., 2010).

Para a análise da adesão aos itens do questionário, estes são

parametrizados em dias por semana, de 0 a 7, sendo zero a situação menos

desejável e sete a mais favorável. Nos itens da dimensão alimentação especifica

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que questionam sobre o consumo de alimentos ricos em gordura e doces, os

valores foram invertidos, como sugerido no SDSCA revisado. A avaliação do

tabagismo foi codificada considerando-se a proporção de fumantes, a média de

cigarros consumidos e a ultima vez em que fumou (MICHELS et al., 2010).

Para a utilização do QAD na avaliação da aderência ao autocuidado cada

item é questionado ao paciente, que responde em quantos dos últimos sete dias

realizou determinada atividade ou comportamento. Avalia-se, então, a realização

da atividade de autocuidado descrita em cada item, ou, em algumas dimensões,

pode-se obter um valor médio de aderência dos itens e, assim, um escore dessas

dimensões (MICHELS et al., 2010).

3.4.2 Autocuidado em DM

Os usuários com DM apresentam necessidades psicossociais, de

autocuidado, de conhecimentos e habilidades (GOMES-VILLAS BOAS et al.,

2009). Dentre os conhecimentos necessários, podem-se citar o reconhecimento de

sinais e sintomas clássicos de hiper e hipoglicemia; os parâmetros normais para os

níveis glicêmicos; manejo adequado do plano alimentar; os cuidados necessários

na realização de exercícios físicos e sobre a importância de seguir o esquema

terapêutico proposto, como uso regular de medicamentos (OLIVEIRA; VENCIO,

2015).

Ao considerar a relação entre conhecimento, práticas de autocuidado e

controle metabólico, as atividades educativas devem contemplar e trabalhar

questões que envolvam a aprendizagem acerca do DM. Na pesquisa anteriormente

citada, os conhecimentos apresentados pelos usuários com DM refletiram

diretamente em seus comportamentos de adesão, sendo que apenas 17,2% dos

usuários demonstraram aderir às práticas de autocuidado (BELESTRE et al., 2007).

Nesse contexto, torna-se importante levantar os conhecimentos dos usuários

em relação ao DM e trabalhá-los por meio de ações educativas. No entanto, as

atividades educativas não devem ter como único objetivo a melhoria dos

conhecimentos. Apesar de o conhecimento ser pré-requisito para o autocuidado, há

diversos fatores que influenciam as atitudes e comportamentos em relação às

ações de cuidado em DM. Dentre os diversos aspectos, devem-se considerar as

crenças e valores, a presença de apoio social, grau de autonomia e

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empoderamento para o autocuidado, bem como aspectos psicológicos (FUNNELL,

et al., 2007).

O autocuidado é definido como um processo por meio do qual uma pessoa

seja capaz de atuar em direção à prevenção, detecção e tratamento de sua doença

para manutenção ou recuperação de seu estado de saúde. As capacidades de

autocuidado são habilidades especializadas que se desenvolvem ao longo da vida

e são Indispensáveis para a manutenção do bem estar, em especial quando

existem problemas de saúde (VIEIRA, 2011; PEREIRA et al., 2009).

O conceito de autocuidado deriva do conceito de cuidado (LANGE, et al.,

2006). Historicamente falando, o cuidado da saúde fazia parte do cuidado que as

pessoas tinham do cuidar de si, da sua família e da sua comunidade. Cuidar da

saúde e principalmente do corpo doente impossibilitado de trabalhar era

responsabilidade das mulheres da família da qual o doente fazia parte (BRASIL,

2004).

A partir da profissionalização do cuidado, ocorre o uso crescente de

tecnologias duras no cuidado da saúde, a privação progressiva dos direitos de

informação, a decisão unilateral por parte dos profissionais de Saúde sobre quais

cuidados o paciente necessita e a quase total ausência de participação deles nas

decisões que afetam diretamente a sua saúde (LANGE et al., 2006).

Este contexto fez com que, em 1978, na Declaração de Alma-Ata, fosse

destacada a necessidade de participação dos indivíduos, famílias e comunidades

nas decisões que dizem respeito ao seu cuidado. A partir desta data, o direito à

informação, ao conhecimento, aos recursos necessários para o autocuidado, ao

apoio das instituições sanitárias, à participação decisiva dos usuários nos serviços

nas questões referentes ao seu cuidado de saúde é visto como direito humano

básico (LANGE et al., 2006).

É nesse contexto que nasce o conceito de autocuidado onde se incluem as

[...] observações sobre o que as pessoas fazem em benefício da sua saúde, o que a família ou os amigos oferecem para cuidar de um doente e o que os grupos sociais e/ou comunidades desenvolvem em benefício da saúde coletiva, assim como a parte que cabe às diferentes instituições sanitárias e profissionais de saúde (LANGE et al., 2006, p. 32).

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É a pessoa que lida diariamente com sua condição crônica. Logo, o

autocuidado será uma tarefa para toda a vida, para ela e para sua família. Portanto,

a sua visão de futuro e de projetos sofrerão mudanças substanciais a partir do

diagnóstico de uma condição crônica. Todos esses aspectos devem ser

trabalhados e apoiados pelo profissional de saúde (AYRES, 2004).

Ou seja, o autocuidado vai muito além de mudanças necessárias de

comportamentos ou de decisões unilaterais, sejam estas do próprio usuário, pela

sua impossibilidade ou vulnerabilidade momentânea ou permanente, ou do

profissional e do sistema de Saúde, por meio do conhecimento, poder de coerção e

de recursos tecnológicos (BRASIL, 2014a).

Existem muitas evidências sobre o autocuidado e o DM, e ações nacionais

com bons resultados no controle e na qualidade de vida da pessoa com DM

(BRASIL, 2014a).

Em 2007, a Associação Americana de Educadores em Diabetes (American

Association of Diabetes Educator – AADE) implantou um programa de educação na

linha de empowerment approach (empoderamento) no qual o principal objetivo é

desenvolver habilidades, mudanças, autonomia e responsabilidade compartilhada

entre a pessoa, a sua família e a equipe de Saúde em relação ao DM. Os

resultados finais desse programa são a melhora do controle, a mudança de

comportamentos e a melhora da qualidade de vida com menos riscos e menor

morbimortalidade (PEEPLES et al., 2007).

Após anos de avaliação e de estudos baseados em evidências, a AADE

estabeleceu, em 2007, sete padrões necessários ou metas de educação para o

autocuidado que levam a um melhor controle e qualidade de vida da pessoa com

diabetes, listados no Quadro 4 (PEEPLES et al., 2007).

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Quadro 4 – Padrões necessários à educação para o autocuidado.

Self-care Behavior (Comportamento do autocuidado)

Ação

Atividade física (Being active) Incorporação de atividade física no estilo de vida

Alimentação Saúdavel (Healthy eating) Incorporação do manejo nutricional no estilo de vida.

Medicação (Taking medication) Usar a medicação com segurança e para a máxima efetividade terapêutica.

Monitorização (Monitoring) Monitorar e interpretar a glicemia e outros parâmetros e usar os resultados na tomada de decisões.

Resolução de problemas (Problem solving)

Prevenir, detectar e tratar complicações agudas e outros problemas.

Enfrentamento saudável (Healthy coping)

Desenvolver estratégias personalizadas para acessar problemas psicossociais.

Redução de riscos (Reducing risks) Prevenir, detectar e tratar complicações crônicas.

Fonte: Peeples, 2007.

Os usuários com DM precisam ter capacidade de cuidarem de si e, para

isso, carecem de ter os recursos disponíveis, sejam eles pessoais, sociais ou

financeiros. Nesse contexto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a

educação para o autocuidado com vistas a prevenir e tratar as enfermidades

crônicas (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 2006).

As práticas educativas visam a atuar diretamente sobre as ações de

autocuidado para influenciar a mudança no estilo de vida, melhorar a autoestima e

oferecer suporte a esses usuários (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE,

2006).

A educação em diabetes maximiza a efetividade do tratamento convencional

e facilita o manejo de novas tecnologias (incluindo auto monitoramento de glicemia,

análogos de insulina e sistema de infusão continua com insulina e monitorização

continua com glicose). Seus resultados se tornam mais efetivos se houver

disponível uma estrutura de educação, e que os diferentes processos de educação

ocorram por intermédio de equipe multiprofissional preparada e trabalhando de

forma interdisciplinar com interação, atenção e envolvimento das pessoas com

diabetes e seus cuidadores em todas as etapas (OLIVEIRA; VENCIO, 2015).

Nessa perspectiva, no Brasil a Lei 11.347 de 2006 representa marco

importante na garantia dos meios necessários para adesão ao tratamento e

autocuidado no diabetes, onde pela instituição da Portaria do MS nº 2.583 de 10 de

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outubro de 2007, ficam definidos elenco de medicamentos hipoglicemiantes e

insumos para monitorização da glicemia capilar disponibilizados pelo Sistema

Único de Saúde aos usuários diabéticos.

Tal Portaria reforça ainda que os usuários diabéticos que usam insulina

devem estar inscritos nos Programas de Educação para Diabéticos, promovidos

pelas unidades de saúde do SUS, executados conforme descrito:

I - a participação de diabético pressupõe vínculo com a unidade de saúde do SUS

responsável pela oferta do Programa de Educação, que deve estar inserido no

processo terapêutico individual e coletivo, incluindo acompanhamento clínico e

seguimento terapêutico, formalizados por meio dos devidos registros em

prontuário;

II - as ações programáticas abordarão componentes do cuidado clínico, incluindo a

promoção da saúde, o gerenciamento do cuidado e as atualizações técnicas

relativas a diabetes mellitus;

III - as ações devem ter como objetivos o desenvolvimento da autonomia para o

autocuidado, a construção de habilidades e o desenvolvimento de atitudes que

conduzam à contínua melhoria do controle sobre a doença, objetivando o

progressivo aumento da qualidade de vida e a redução das complicações do

diabetes mellitus.

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44

4 METODOLOGIA

4.1 QUESTÕES ÉTICAS

O projeto desta dissertação “Avaliação da adesão ao tratamento e controle

do diabetes mellitus na atenção primária à saúde” foi aprovado pelo Comitê de

Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, conforme

determina o Conselho Nacional de Saúde através da Resolução nº 466 de 2012

por meio dos pareceres n° CAAE 52347315.0.0000.5292 (Anexo A), bem como foi

submetida e aceita pela Unidade de Saúde para a execução nas suas

dependências.

Ao longo da pesquisa, foram considerados os pressupostos da bioética,

configurados em sua resolução: autonomia, não maleficência, beneficência e

justiça.

Os participantes do estudo foram orientados sobre o anonimato, natureza,

objetivos e benefícios da pesquisa. Além disso, assinaram um termo de

consentimento livre e esclarecido para o estudo, podendo retirar sua anuência no

momento que o desejar. Para as pessoas que não sabem ler e escrever, foi

realizada a leitura do consentimento livre e esclarecido para o entrevistado e para

uma testemunha, sendo aposta a digital do participante no termo.

5.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo do tipo transversal, descritivo e analítico, individuado

e observacional (MEDRONHO et al., 2008) para caracterizar a adesão ao

tratamento dos indivíduos estudados.

5.3 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO

A pesquisa foi realizada no município de Natal – RN, na região

administrativa oeste, no bairro de Nossa Senhora de Nazaré e em uma Unidade de

Saúde da Família. Tal bairro faz limite ao norte com Dix-Sept Rosado, ao sul com

Cidade da Esperança, ao leste com Lagoa Nova e ao oeste com Bom Pastor

(IBGE, 2011).

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45

O bairro surgiu na década de 1950 e possui uma população de 42.795

habitantes distribuídos territorialmente em 864,341 Km². A população residente por

sexo é de 53,43% de mulheres e 46,57% de homens. O saneamento residencial

alcança 92,33% o acesso à água tratada é 90,89%. O bairro possui 90% de

drenagem e 95% de ruas pavimentadas. Existem duas praças, oito escolas, sendo

quatro públicas e quatro privadas. Uma creche particular e uma pública. Tem um

conselho comunitário e nenhum serviço de segurança pública, uma unidade de

saúde da família, com três equipes de Estratégia de Saúde da Família (OLIVEIRA;

BORGES, 2008).

A unidade do bairro Nossa Senhora de Nazaré está sob a gerência do

Distrito Sanitário Oeste, trabalha com a clientela de área de abrangência da

Estratégia Saúde da Família, porém com porta aberta para os usuários do bairro

acima descrito, nas seguintes situações: pré-natal, imunização, tuberculose e

hanseníase, tratamento de feridas, coleta de citologia oncótica e entrega de

medicamentos que constam na lista da farmácia básica.

A Unidade de Saúde da Família cenário da pesquisa possui 15 micro-áreas

de saúde e 3 áreas (108, 109 e 110), compondo três equipes de Saúde da Família

com duas Equipes de Saúde Bucal, a ESF não cobre toda a extensão do bairro,

ficando assim grande parte sem cobertura de ESF.

Quadro 5 – Descrição das equipes de saúde da Estratégia de Saúde da Família do bairro de Nazaré do Distrito Leste de Natal RN, 2015.

Fonte: Autor.

4.4 POPULAÇÃO DO ESTUDO

A população de estudo foi composta pelos usuários diabéticos cadastrados

na Unidade de Saúde da Família (USF) de Nossa Senhora de Nazaré,

acompanhados e cadastrados no Sistema de Cadastramento e Acompanhamento

de Hipertensos e Diabéticos (Hiperdia) e que participam dos grupos de autocuidado

realizados periodicamente pelas três equipes de saúde da ESF do referente bairro.

Equipe Micro áreas Quantitativo de Diabéticos cadastrados

Área vermelha – 108 5 micro áreas 89

Área Verde – 109 5 micro áreas 100

Área azul – 110 4 micro áreas 105

TOTAL 294

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46

Segundo levantamento prévio realizado pelas três equipes de saúde da

família e expostos no quadro 5 acima, as equipes acompanham em média 294

diabéticos.

As três equipes realizaram desde 2011, um projeto de trabalho desenvolvido

pelos profissionais da unidade e por estudantes da UFRN, com encontros mensais

e/ou quinzenais, com os usuários hipertensos, diabéticos e/ou com obesidade, para

tratar de temas relacionados à educação, prevenção e acompanhamento desses

publico buscando o aprimoramento do autocuidado dos pacientes e a sua

educação, objetivando assim evitar comorbidades e complicações associadas a

esta patologia.

As reuniões, bem como os temas abordados, são planejadas previamente,

levando-se em consideração a opinião dos participantes dos grupos. Além das

palestras, oficinas e rodas de conversa, são feitas aferições de medidas

antropométricas como peso e altura para avaliação do IMC (Índice de Massa

Corporal) e clinicas como medição da pressão arterial e Hgt. Além disso, o médico

responsável por cada equipe solicita a esses usuários exames bioquímicos de

controle da doença e a frequência de aferição das mesmas dependerá do quadro

clínico de cada paciente.

Dentre as medidas que são solicitadas no acompanhamento e usadas neste

trabalho se destacam: colesterol total, triglicerídeos, glicemia em jejum e

hemoglobina glicada.

Tais medidas são registradas em prontuário nas consultas individuais dos

pacientes na unidade, que ocorrem mensalmente, e/ou nos cartões individuais de

acompanhamento dos grupos de autocuidado, para que os profissionais analisem

as intervenções relacionadas ao tratamento, realizem ajustes, monitorem o

tratamento farmacológico e orientem o tratamento não-farmacológico.

4.5 PLANO AMOSTRAL

No presente estudo a seleção da amostra se deu de forma probabilística do

tipo aleatória simples, onde qualquer subconjunto da população, com o mesmo

numero de elementos tem a mesma probabilidade de fazer parte da amostra (LUIZ;

COSTA; NADANOVSKY, 2008). Foram incluídos na amostra aqueles usuários com

idade a cima de 18 anos, diabéticos, residentes na área urbana de Nazaré,

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cadastrados e acompanhados pela Estratégia de Saúde da Família, e excluídos

aqueles classificados pela equipe de saúde como diabéticos descompensado,

segundo critérios da Sociedade Brasileira de Diabetes (OLIVEIRA; VENCIO, 2015),

aqueles que não apresentaram condições físicas e/ou mental para a coleta dos

dados e aqueles acometidos por varias comorbidades, identificados por avaliação

prévia da equipe de saúde, impossibilitando assim a participação na pesquisa.

Dessa forma, a seleção da amostra se deu em duas etapas. Na primeira foi

realizado o cálculo do tamanho da amostra, utilizando-se para tal aplicação o que

recomenda Arango (2009) com amostragem para estimativa de proporção com

margem de erro absoluto em população finita.

Para o planejamento da pesquisa, pode-se calcular o tamanho amostral

tendo como base uma prevalência populacional já tida na literatura cientifica (de

50% em alguns estudos com hipertensos e diabéticos) (GIROTTO, 2008).

Sendo assim, no calculo amostral foram considerados os seguintes

parâmetros: erro de 0,01, nível de confiança de 95,0%, e uma estimativa de

prevalência de 0,5, que é a que determina o maior tamanho de amostra. A partir

destes parâmetros, o número calculado de diabéticos para compor a amostra foi de

72,6 e considerando uma possibilidade de perda e exclusão de 20,0%, foram

selecionados 90 diabéticos.

Com o tamanho da amostra selecionado a segunda etapa foi à busca ativa

dos usuários acompanhados pelas equipes. Primeiramente foi solicitada às

equipes a lista dos números dos prontuários (294 prontuários) dos pacientes

diabéticos cadastrados, dessa lista foram sorteados aleatoriamente os 90

prontuários da amostra, caso o prontuário selecionado estivesse dentro dos

critérios de exclusão outro prontuário era sorteado.

4.6 COLETA DE DADOS

A coleta de dados da presente pesquisa se deu em dois momentos. O

primeiro foi realizada coleta dos dados de medidas bioquímicas registradas em

prontuário individual, e a segunda foi à aplicação do instrumento para avaliar a

adesão ao autocuidado em DM, o Questionário de Atividades de Autocuidado no

Diabetes (QAD) validado por Michels e colaboradores (2010), inserido em

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48

formulário elaborado pela pesquisadora onde foram também coletadas informações

sociodemográficas.

4.6.1 Primeira etapa da coleta de dados

Depois da identificação dos indivíduos participantes dos grupos e do sorteio

dos integrantes da amostra, foi realizada a primeira etapa do estudo (retrospectivo)

que consistiu na coleta de informações dos marcadores bioquímicos e avaliação de

peso, transcritos dos prontuários individuais para uma planilha de excel.

Desses registros foram coletadas dados antropométricos (IMC) realizados

nas consultas de acompanhamento, valores de glicemia em jejum, hemoglobina

glicada, colesterol total e triglicerídeos totais, todos foram coletadas as ultimas

medidas registradas em prontuário das consultas de rotina dos paciente ou dos

grupos, registrando-se também a data de leitura dos exames. Além dessas

informações foram coletadas a frequência de consultas pelo enfermeiro e pelo

médico contando 12 meses anteriores a data da coleta. Além disso, foram

registrados se o paciente em questão foi sorteado do grupo ou dos atendimentos

individuais e se usam insulina no seu tratamento medicamentoso.

Com essas medidas foi possível avaliar se houve controle de peso

(classificando-se o IMC), controle das dislipidemias (colesterol e triglicérides) e

controle glicêmico (glicemia jejum e HbC1). Os parâmetros para classificação das

medidas seguiu a recomendada pelas Diretrizes da Sociedade Brasileiras de

Diabetes (2015), que são as adotadas nas politicas nacionais de controle dessas

doenças.

4.6.2 Segunda etapa da coleta de dados

Na segunda parte da coleta de dados foi avaliada a adesão ao tratamento

dos diabéticos por entrevista direta dos indivíduos estudados, entrevistados nos

grupos de autocuidado ou nas consultas com a equipe de saúde previamente

agendada (geralmente mensal). Foi utilizado o instrumento adaptado do Summary

of Diabetes Self-Care Activities Questionnaire (SDSCA) e validado no Brasil como

Questionário de Atividades de Autocuidado em diabetes – QAD (MICHELS et al.,

2010).

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49

No momento da entrevista também foram coletadas informações

demográficas e socioeconômicas como informações: idade, sexo, renda familiar em

numero de salários mínimos, escolaridade (até que série estudou), tempo de

diagnostico do diabetes e quantidade de pessoas que residem no domicilio, bem

como ocupação. Tais informações foram registradas em um formulário e em

seguida transcritas para planilha digital do excel.

A coleta dos dados de adesão foi realizada pela pesquisadora principal e por

dois entrevistadores previamente treinados na elaboração das perguntas, registro

no instrumento e quanto ao tempo da entrevista. Para a etapa de entrevista os

indivíduos foram abordados tanto nos dias agendados pelas equipes para os

grupos de autocuidado, na sala de espera das consultas individuais e no domicilio,

onde o agente comunitário de saúde acompanhou o entrevistador ate a residência

do usuário.

No dia da entrevista foram abordadas, no máximo, quatro pessoas por vez,

as quais foram conduzidas à sala destinada à coleta dos dados, quando realizada

na Unidade. Após apresentação dos objetivos do estudo e esclarecimento sobre o

anonimato da participação, foi solicitado às pessoas que manifestassem sua

vontade ou não de participar do mesmo. Aos que concordaram, foi lido em voz alta

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice B) e solicitada a

assinatura ao final da leitura.

4.7 ANÁLISES DOS DADOS

Para análise dos dados foi criado um banco de dados com todas as

informações individuais dos indivíduos estudados, a partir da aplicação dos

formulários e dos registros. Essas informações foram separadas de acordo com as

partes que compõe o questionário, e organizadas nas variáveis para subsequente

análise estatística.

4.7.1 Análise estatística

Os dados foram apresentados como medidas de frequência absoluta,

relativa e de tendência central e dispersão (média e desvio padrão). A normalidade

dos dados e ajustamento da distribuição à curva gaussiana foi realizado com o

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50

teste de Kolmogorov Smirnov, medidas de Assimetria (skewness) e achatamento

(kurtosis). As medidas de associação entre varáveis categóricas foram obtidas com

o teste Exato de Fisher e entre as variáveis racionais com o teste r de Spearman.

Foi utilizado um intervalo de confiança de 95% para um erro do tipo I (p < 0,05) do

analista e todas as análises foram realizadas com o pacote estatística SPSS 20.0

for Windows.

Foi feita uma análise descritiva dos dados referentes às variáveis

independentes socioeconômicas e demográficas, características metabólicas de

controle da DM, e também da variável dependente adesão ao tratamento das

dimensões do autocuidado de acordo com o QAD.

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51

5. RESULTADOS

A população de estudo foi constituída por 98 diabéticos cadastrados e

assistidos pela Estratégia de Saúde da Família de Nazaré e que possuíam

prontuário na Unidade.

A tabela 1 abaixo mostra que a média de idade dos diabéticos foi de 64 anos

(DP=9,8), 84,7% não usam insulina e 15,3% usam insulina.

Destacam-se, na caracterização sociodemográfica, predominância do

gênero feminino (68,4%). Quanto ao estado civil 57% eram casados, 16% solteiros,

6% divorciados e 19% viúvos. Observou-se que o maior percentual (58%) recebiam

salario menor ou igual a 2 salários mínimos, enquanto 33,7% recebem menos ou

igual a um salario mínimo, sendo na sua maioria oriundo de aposentadorias e

benefícios do governo, já que a maioria 76% estavam inativos no mercado de

trabalho em detrimento de 24,5% que estavam ativos.

Concernente à escolaridade 45,9% tinham menos de 4 anos de estudo,

enquanto 36,7% de 4 a 8 anos de estudo, 17% maior que oito anos e 45%

possuíam o primeiro grau incompleto ou mais. Em relação ao tempo de diagnostico

médico de Diabetes Mellitus, 54% informaram apresentar mais ou 10 anos de

diagnostico enquanto 45,9% tinham menos de 10 anos de diagnostico.

Para a frequência de consultas ao enfermeiro e ao médico nos últimos 12

meses a contar do dia da coleta observou-se uma maior frequência de consultas ao

médico (2,8 DP=1,8), em detrimento do profissional enfermeiro. E quanto a

presença de outras morbidades metade (50%) da amostra tinham além do diabetes

outros agravos (Tabela 1).

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Tabela 1 - Características sociodemograficas e relativas ao diagnóstico da doença, Natal, 2016.

Variáveis Dependentes n (%) Média (dp) IC (95%)

Idade (anos) 64,2 (9,8) 62,3 – 66,2

Sexo

Masculino 31 (31,6%)

Feminino 67 (68,4%)

Estado Civil

Solteiro 16 (16,3%)

Casado 57 (58,2%)

Viúvo ou Divorciado 25 (25,5%)

Renda

<= 1 Salário 33 (33,7%)

2 ou mais Salários 65 (66,4%)

Moradores por Domicílio 3,2 (1,3) 2,9 – 3,4

Tem Trabalho 24 (24,5%)

Inativo 76 (75,5%)

Anos de Estudo

< 4 anos 45 (45,9%)

4 a 8 anos 36 (36,7%)

> 8 anos 17 (17,3%)

Uso de Insulina

Sim 15 (15,3%)

Não 83 (84,7%)

Tempo de Diagnóstico 10,0 (6,2) 8,7 – 11,2

< 10 anos 45 (45,9%)

> = 10 anos 53 (54,1%)

Consultas ao Enfermeiro 1,8 (1,8) 1,1 – 1,7

Consultas ao Médico 2,8 (1,8) 2,4 – 3,1

Agravos

Diabetes 49 (50,0%)

Mais de um agravo 49 (50,0%)

Fonte: Autor.

A tabela 2 refere-se aos dados metabólicos e de peso, onde se observou

que para o IMC 78,6% estavam acima do peso (incluindo sobrepeso e obesidade)

e 21,4% classificados como IMC normal, nenhum participante apresentou IMC

baixo peso. A classificação obedeceu ao disposto pela OMS (ORGANIZAÇÃO

MUNDIAL DA SAÚDE, 2003), porém foi agrupado em baixo peso, normal e acima

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53

do peso para facilitar a analise estatística. Para a medida da Hemoglobina glicada

67% apresentaram valores alterados, glicemia em jejum 51% apresentaram valores

dentro da normalidade, colesterol total 61% apresentaram valores normais e para

medidas de triglicerídeos 50% apresentaram valores dentro da normalidade.

Tabela 2- Características metabólicas e de distribuição de peso, Natal, 2016.

Variáveis Dependentes n % média (dp) IC (95%)

Índice de Massa Corporal (kg/m2) 30,5 (8,8) 28,8 – 32,5

Baixo Peso 0 (0,0%)

Normal 21 (21,4%)

Acima do Peso 77 (78,6%)

Hemoglobina Glicada 8,1 (2,5) 22,6 – 39,0

Normal 31 (33,0%)

Alterado 63 (67,0%)

Glicemia em Jejum 154,6 (74,0) 140,0 – 171,2

Normal 49 (51,0%)

Alterado 47 (49,0%)

Colesterol 195,9 (44,0) 187,0 – 205,6

Normal 61 (63,5%)

Alterado 35 (36,5%)

Triglicerídeos 168,3 (92,0) 148,8 – 187,6

Normal 49 (50,5%)

Alterado 48 (49,5%)

Fonte: Autor.

Os resultados obtidos no questionário QAD incluem dados sobre:

alimentação geral, alimentação específica, atividade física, monitorização da

glicemia, cuidado com os pés, medicação e tabagismo. Para facilitar a análise dos

resultados, as atividades do QAD foram categorizada em ruim (escores de 0 - 3) ou

boa (escores de 4 a 7).

A tabela 3 apresenta a descrição do autocuidado pelo QAD. Destacam os

valores que obteve maior e menor média respectivamente, o que apresentou maior

média foi “uso de insulina como recomendado” (8,7 DP=0,7) e uso da “medicação

como recomendado” (6,7 DP=1,7). As atividades que apresentaram menores

valores foi “avaliação recomendada da glicemia” (0,1 DP=0,4) e “prática de

atividade física específica” (0,7 DP=0,8).

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Tabela 03 - Avaliação dos itens do Questionário de Atividades de Autocuidado com Diabetes na amostra estudada. Natal, 2016.

Variáveis Dependentes média (dp) IC (95%) p25 p50 p75

Dados relativos à última semana

Dieta Saudável (dias) 3,1 (3,1) 2,5 – 3,7 0,0 3,0 7,0

Orientação de Dieta (dias) 3,4 (3,1) 2,8 – 4,1 0,0 3,0 7,0

Ingestão de Frutas e Verduras (dias) 4,5 (2,8) 3,9 – 5,1 2,0 7,0 7,0

Ingestão de Gordura (dias) 4,2 (2,6) 3,6 – 4,7 2,0 5,0 6,0

Ingestão de Doces (dias) 0,6 (1,3) 6,2 – 7,7 6,0 7,0 7,0

Prática de Atividade Física até 30min (dias) 1,3 (1,2) 0,8 – 1,7 0,0 0,0 2,0

Prática de Atividade Física Específica (dias) 0,7 (0,8) 0,3 – 1,1 0,0 0,0 0,0

Avaliação da Glicemia (dias) 0,2 (0,6) 0,1 – 0,4 0,0 0,0 0,0

Avaliação Recomendada da Glicemia (dias) 0,1 (0,4) 0,1 – 0,2 0,0 0,0 0,0

Exame dos Pés (dias) 5,5 (2,8) 4,0 – 6,0 6,0 7,0 7,0

Exame dos Calçados (dias) 5,0 (3,1) 4,4 – 5,7 0,0 7,0 7,0

Secagem dos Dedos (dias) 5,0 (3,1) 4,4 – 5,7 0,0 7,0 7,0

Uso Recomendado da Medicação (dias) 6,7 (1,4) 6,4 – 7,0 7,0 7,0 7,0

Uso Recomendado de Insulina (dias) 8,7 (0,7) 8,5 – 8,8 9,0 9,0 9,0

Uso Recomendado de Comprimidos (dias) 6,5 (1,6) 6,2 – 6,9 7,0 7,0 7,0

Fonte: Autor.

A tabela 4 mostra avaliação das associações entre as variáveis

sociodemográficas (sexo, idade, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo) e

ainda uso de insulina e diagnostico e a variável alimentação geral, utilizando-se do

teste exato de Fisher, constatou-se o p>0,05, o que representa não haver

associações entre elas.

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Tabela 4 - Associação entre a dimensão Alimentação Geral do QAD e as variáveis: sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de insulina e tempo de diagnóstico, Natal, 2016.

Características Alimentação Geral

P valor#

Ruim n(%) Boa n(%)

Sexo Masculino 18 (18,4) 13 (13,3)

0,390 Feminino 32 (32,7) 35 (35,7)

Estado Civil

Solteiro 6 (6,1) 10 (10,2)

0,514 Casado 29 (29,6) 28 (28,6)

Viúvo 12 (12,2) 7 (7,1)

Divorciado 3 (3,1) 3 (3,1)

Renda

<= 1 Salário 18 (18,4) 15 (15,3)

0,263 Entre 1 e 2 Salários 26 (26,5) 31 (31,6)

> 3 Salários 6 (6,1) 2 (2,0)

Ocupação Tem Trabalho 11 (11,2) 16 (16,4)

0,148 Inativo 39 (39,8) 32 (32,7)

Anos de Estudo

< 4 anos 28 (28,6) 17 (17,3)

0,106 4 a 8 anos 14 (14,3) 22 (22,4)

> 8 anos 8 (8,2) 9 (9,2)

Uso de Insulina Sim 7 (7,1) 8 (8,2)

0,784 Não 43 (43,9) 40 (40,8)

Tempo de

diagnóstico

< 10 anos 23 (23,5) 22 (22,4) 1,000

> = 10 anos 27 (27,6) 26 (26,5)

# = Teste Exato de Fisher Fonte: Autor.

A Tabela 5 mostra avaliação das associações entre as variáveis

sociodemográficas , uso de insulina e diagnostico e a variável alimentação

especifica, utilizando-se o teste e exato de Fisher. Nestas associações, constatou-

se que o valor p >0,05, o que representa não haver associações entre elas.

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Tabela 5 - Associação entre a dimensão Alimentação Específica do QAD e as variáveis: sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de insulina e tempo de diagnóstico. Natal, 2016.

Características Alimentação Específica

P valor#

Ruim n(%) Boa n(%)

Sexo Masculino 2 (2,0) 29 (29,6)

0,497 Feminino 8 (8,2) 59 (60,2)

Estado Civil

Solteiro 2 (2,0) 14 (14,3)

0,238 Casado 5 (5,1) 52 (53,1)

Viúvo 1 (1,0) 18 (18,4)

Divorciado 2 (2,0) 4 (4,1)

Renda

<= 1 Salário 4 (4,1) 29 (29,6)

0,592 Entre 1 e 2 Salários 6 (6,1) 51 (52,0)

> 3 Salários 0 (,0) 8 (8,2)

Ocupação Tem Trabalho 1 (1,0) 26 (26,6)

0,413 Inativo 9 (9,2) 62 (63,3)

Anos de Estudo

< 4 anos 6 (6,1) 39 (39,8)

0,503 4 a 8 anos 2 (2,0) 34 (34,7)

> 8 anos 2 (2,0) 15 (15,3)

Uso de Insulina Sim 2 (2,0) 13 (13,3)

0,648 Não 8 (8,2) 75 (76,5)

Tempo de

diagnóstico

< 10 anos 6 (6,1) 39 (39,8) 0,505

> = 10 anos 4 (4,1) 49 (50,0)

# = Teste Exato de Fisher Fonte: Autor.

A Tabela 6 apresenta associações entre as variáveis sociodemográficas, uso

de insulina e diagnostico e a variável Atividade Física, utilizando-se o teste e exato

de Fisher. Foram encontradas associações significativas para o variável sexo

(p<0,001), em contrapartida as demais apresentaram valor de p>0,05, não havendo

assim associações.

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Tabela 6 - Associação entre a dimensão Atividade Física do QAD e as variáveis: sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de insulina e tempo de diagnóstico, Natal, 2016.

Características Atividade Física

P valor#

Ruim n(%) Boa n(%)

Sexo Masculino 21 (21,4) 10 (10,2)

0,000* Feminino 64 (65,3) 3 (3,1)

Estado Civil

Solteiro 16 (16,3) 0 (0,0)

0,403 Casado 48 (49,0) 9 (9,2)

Viúvo 16 (16,3) 3 (3,1)

Divorciado 5 (5,1) 1 (1,0)

Renda

<= 1 Salário 28 (28,6) 5 (5,1)

0,508 Entre 1 e 2 Salários 49 (50,0) 8 (8,2)

> 3 Salários 8 (8,2) 0 (0,0)

Ocupação Tem Trabalho 23 (23,5) 4 (4,1)

0,697 Inativo 62 (63,3) 9 (9,2)

Anos de Estudo

< 4 anos 40 (40,8) 5 (5,1)

0,749 4 a 8 anos 30 (30,6) 6 (6,1)

> 8 anos 15 (15,3) 2 (2,0)

Uso de Insulina Sim 15 (15,3) 0 (0,0)

0,098 Não 70 (71,4) 13 (13,3)

Tempo de

diagnóstico

< 10 anos 38 (38,8) 7 (7,1) 0,565

> = 10 anos 47 (48,0) 6 (6,1)

# = Teste Exato de Fisher; * = Diferença significativa para p < 0,001 Fonte: Autor.

Quanto às associações entre as variáveis sociodemográficas, uso de

insulina e tempo de diagnostico e a variável controle da glicemia não foi possível a

realização do teste, pois todos foram classificados como “baixa adesão”.

Já a Tabela 8 e 9 a seguir apresentam associações das mesmas variáveis

(sociodemográficas, uso de insulina e tempo de diagnostico) e a variável Cuidado

com os pés e Uso de Medicação respectivamente. Onde pelo teste de Fisher

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observou-se o valor p >0,05, para ambas as associações, o que representa não

haver associações entre elas.

Tabela 7- Associação entre a dimensão Cuidado com os pés do QAD e as variáveis: sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de insulina e tempo de diagnóstico, Natal, 2016.

Características Cuidado com os Pés

P valor#

Ruim n(%) Boa n(%)

Sexo Masculino 6 (6,1) 24 (24,5)

0,328 Feminino

21 (21,4) 44 (44,9)

Estado Civil

Solteiro 6 (6,1) 10 (10,2)

0,450 Casado

13 (13,3) 42 (42,9)

Viúvo 5 (5,1) 13 (13,3)

Divorciado 3 (3,1) 3 (3,1)

Renda

<= 1 Salário 13 (13,3) 19 (19,4)

0,138 Entre 1 e 2 Salários 13 (13,3) 42 (42,9)

> 3 Salários 1 (1,0) 7 (7,1)

Ocupação Tem Trabalho 6 (6,1) 21 (21,5)

0,465 Inativo

21 (21,4) 47 (48,0)

Anos de Estudo

< 4 anos 15 (15,3) 29 (29,6)

0,220 4 a 8 anos 6 (6,1) 28 (28,6)

> 8 anos 6 (6,1) 11 (11,2)

Uso de Insulina Sim 6 (6,1) 9 (9,2)

0,351 Não

21 (21,4) 59 (60,2)

Tempo de

diagnóstico

< 10 anos 15 (15,3) 30 (30,6) 0,366

> = 10 anos 12 (12,2) 38 (38,8)

# = Teste Exato de Fisher Fonte: Autor.

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Tabela 8 - Associação entre a dimensão Uso de Medicação do QAD e as variáveis: sexo, estado civil, renda, ocupação, anos de estudo, uso de insulina e tempo de diagnóstico, Natal, 2016.

Características Uso de Medicação

P valor#

Ruim n(%) Boa n(%)

Sexo Masculino 0 (0,0) 31 (31,6)

1,000 Feminino

2 (2,0) 65 (66,3)

Estado Civil

Solteiro 0 (0,0) 16 (16,3)

0,690 Casado

1 (1,0) 56 (57,1) Viúvo

1 (1,0) 18 (18,4) Divorciado

0 (0,0) 6 (6,1)

Renda

<= 1 Salário 1 (1,0) 32 (32,7)

0,057 Entre 1 e 2 Salários 0 (0,0) 57 (58,2)

> 3 Salários 1 (1,0) 7 (7,1)

Ocupação Tem Trabalho 0 (0,0) 27 (27,6)

0,678 Inativo

2 (2,0) 69 (70,4)

Anos de Estudo

< 4 anos 1 (1,0) 44 (44,9)

0,795 4 a 8 anos 1 (1,0) 35 (35,7)

> 8 anos 0 (0,0) 17 (17,3)

Uso de Insulina Sim 0 (0,0) 15 (15,3)

0,544 Não

2 (2,0) 81 (82,7)

Tempo de

diagnóstico

< 10 anos 1 (1,0) 44 (44,9) 0,710

> = 10 anos 1 (1,0) 52 (53,1)

# = Teste Exato de Fisher Fonte: Autor.

Com relação ao tabagismo 87 diabéticos (88,8%) referiram não ter fumado

um cigarro, mesmo que uma tragada, durante os últimos sete dias, já 11% dos

diabéticos participantes afirmaram ter fumado pelo menos um cigarro na última

semana, uma média de 9,7 cigarros, como descrito na Tabela 10 abaixo.

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Tabela 9 - Características descritivas relativas ao tabagismo, Natal, 2016.

Variáveis Dependentes n (%) média (desvio padrão)

Dados relativos à última semana

Fumo

Não 87 (88,8%) Sim 11 (11,2%)

Se sim: Quantos Cigarros? 9,7 (5,3)

Tempo desde o Último Cigarro

Nunca fumou 43 (43,9%) > 2 anos 46 (46,9%)

1 a 2 anos 0 (0,0%) 4 a 12 meses 0 (0,0%) 1 a 3 meses 1 (1,0%) Último mês 0 (0,0%)

No mesmo dia 8 (8,2%)

Fonte: Autor.

Para as variáveis quantitativas de controle metabólico e peso (hemoglobina

glicosilada, glicemia de jejum, colesterol, triglicerídeo e o IMC), foi realizado teste

correlação de Sperman dado à característica não paramétrica dos dados.

Observou-se que houve associação inversa entre as dimensões do QAD com

parâmetros bioquímicos para uso de medicação e colesterol (p<0,001), associação

positiva para IMC e Triglicerídeos, glicemia jejum e colesterol, colesterol e

triglicerídeos, atividade física e cuidado com os pés. Além disso, houve associação

entre o cuidado com pés e uso de medicação.

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Tabela 10 - Associação entre as variáveis metabólicas e os domínios do QAD, Natal, 2016.

HbA1c

(%)

Glic.

Jejum

(mg/dL)

Colest.

(mg/dl)

Triglicérides

(mg/dl) AG AE AF GL CP ME

IMC (kg/m

2)

0,10 0,17 0,20 0,41** -0,06 -0,09 -0,03 -0,05 0,08 -0,04

HbA1c (%)

0,012 0,25* 0,14 0,09 -0,17 0,10 -0,09 -0,05 -0,22

*

Glic. Jejum (mg/dl)

0,30* 0,22

* -0,09 0,14 0,06 0,02 -0,10 -0,06

Colest. (mg/dl)

0,38** -0,15 -0,09 -0,13 -0,08 -0,25

* 0,30

**

Triglicérides (mg/dl)

-0,25* 0,02 0,09 0,02 0,11 -0,11

AG 0,23* -0,06 0,05 0,21

* 0,15

AE -0,04 0,18 0,30* 0,04

AF -0,09 0,18 0,05

GL -0,09 0,01

CP 0,35**

IMC (kg/m2) = Índice de Massa Corporal; HbA1c (%) = Hemoglobina Glicada; Glic. Jejum (mg/dl) = Glicemia de Jejum; Colest. (mg/dl) = Colesterol total; AG= Alimentação Geral; AE = Alimentação Específica; AF = Atividade Física; GL = Monitoramento da Glicemia; CP = Cuidado com os Pés; ME = Uso de Medicação; ** = Correlação significante para p < 0,001; * = Correlação significante para p < 0,05;

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6 DISCUSSÃO

O desenho transversal do presente estudo apresenta-se como limitação por

não estabelecer relação de causa e efeito, mas por outro lado revelou associações

importantes para o objeto do estudo.

6.1 CONDIÇÕES SOCIODEMOGRÁFICAS

No presente estudo foi encontrada maior proporção de mulheres diabéticas.

Valores semelhantes repetiram-se também em dois estudos transversais com

diabéticos atendidos na atenção primária, com proporção de 71,9% e 76,1%

(ASSUNÇÃO; URSINE, 2008; ASSUNÇÃO; SANTOS; COSTA, 2002), contrario

aos resultados do estudo de Ross, Baptista e Miranda (2015), onde maioria da

população diabética da amostra foi do sexo masculino.

A faixa etária média encontrada foi de 64 anos, indicando que grande

parcela da população estudada foi constituída por idosos. Segundo Banquedano et

al. (2010), pessoas que se encontram nessa etapa do desenvolvimento têm

exigências de autocuidado relacionadas à própria fase do ciclo vital, bem como a

presença de comorbidades e complicações crônicas advindas do não controle

metabólico.

Quanto à escolaridade foi observado que grande parcela (45,9%) estudou

menos de quatro anos, resultado semelhante ao encontrado no estudo de Barros

(2014) com diabéticos idosos em instituições de longa permanência no Recife-PE,

onde foi aplicado o mesmo instrumento do presente estudo na avaliação do

autocuidado, encontrando 55% da amostra com menos de 4 anos de estudo.

A baixa escolaridade pode está relacionada às dificuldades de acesso à

escola no passado, esta condição representa um fator que influencia nas

complicações crônicas, pela limitação do acesso às informações, em função do

comprometimento das capacidades de leitura e escrita, afetando a compreensão

das atividades de educação para a prevenção (BARROS, 2014). A escolaridade

esta diretamente relacionada ao autocuidado, ou seja, quanto mais baixa a

escolaridade, menor o autocuidado (BARBUI; COCO, 2002).

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A renda apresentada foi de dois salários mínimos ou mais, a maior parte da

renda recebida pelos usuários do estudo advém de aposentadorias e benefícios e

muitas vezes são oriundas da aposentadoria também do conjugue.

Estudo transversal brasileiro, realizado em uma instituição especializada em

diabetes no Ceará, avaliou a adesão ao tratamento do usuário com pé diabético. O

déficit cognitivo, a baixa escolaridade, o nível socioeconômico, o déficit de

conhecimento acerca da doença e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde

foram os fatores identificados como contribuintes para a baixa adesão ao

tratamento (MELO et al., 2011).

Quanto ao tempo de diagnostico da doença observou-se que 53% da

amostra apresentaram 10 anos ou mais anos de diagnóstico. Em estudo realizado

por Santos (2013) para avaliar a influência do tempo de diagnostico do diabetes e o

autocuidado no contexto da estratégia de saúde da família o tempo de diagnostico

não influenciou a adesão ao autocuidado, porém sabe-se que quanto maior o

tempo de diagnóstico menor será a prevalência de adesão ao tratamento dos

usuários e maior o risco de complicações advindas de um insatisfatório controle

metabólico (RODRIGUES et al., 2012), bem como maior é possibilidade de

aparecimento de complicações (CORTEZ et al., 2015).

Nessa direção, Arrelia et al. (2015) argumentam que o profissional de saúde

precisa redobrar a atenção aos recém-diagnosticados, a fim de esclarecê-los sobre

o caráter crônico da doença e a importância do seguimento regular do tratamento.

Além disso, pode investigar possíveis percepções e crenças que possam vir a

comprometer o seguimento do tratamento e a adesão às recomendações ofertadas

pela equipe de saúde.

6.2 AUTOCUIDADO

Para a avaliação das atividades de autocuidado, destacam os itens que

obtiveram o maior e o menor valor na escala total. Em relação aos itens de

Alimentação Geral a amostra apresentou média de 3,1 dias (DP=3,1) quanto a

seguir dieta; seguir dieta o numero de dias recomendado a média foi de 3,4 dias

(DP=3,1), na categoria alimentação especifica observou-se a média maior para

consumo de frutas, legumes e verduras, 4,5 dias (DP=2,8), o que indicou atividade

protetora no manejo do diabetes, por contribuir na maior ingestão de fibras. Para

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ingestão de doces a média de dias foi de 0,6 dias (DP=1,3), resultado também

satisfatório.

Alguns estudos que utilizaram o mesmo instrumento para avaliar a adesão

às atividades de autocuidado em diabetes na atenção primária à saúde

apresentaram alguns resultados semelhantes e outros discrepantes.

Daniele, Vasconscelos e Coutinho (2014) avaliaram em estudo transversal o

autocuidado em relação ao sexo em diabéticos na atenção básica, na cidade de

Fortaleza CE, e obtiveram valores maiores no que se refere ao consumo de dieta

saudável e a seguir orientações o numero de dias recomendado (5,3 e 4,8

respectivamente), valores maiores aos encontrados no presente estudo. Para a

ingestão de legumes e frutas e alimentos ricos em gorduras os valores foram 4,2 e

4,2 semelhantes aos encontrados no presente estudo que foram 4,5 (DP=2,8) e 4,3

(DP=2,6) respectivamente.

Um estudo transversal com pacientes diabéticos atendidos em nível

ambulatorial buscou avaliar a adesão ao autocuidado em Ribeirão Preto- SP

(COELHO et al., 2015) e utilizou para isso o mesmo instrumento aplicado no

presente estudo. Os autores encontraram para a dimensão dieta uma média de 5,0

dias, valor superior ao presente estudo; “seguir orientações o numero de dias

recomendado” o valor da média (3,7) próximo ao valor deste estudo que foi de 3,4.

É interessante destacar também que em relação ao consumo de doces a média

(6,1) foi bem maior ao encontrado no presente estudo (0,6 dias).

Como a média de dias para os itens “ingestão de dieta saudável” e

“orientações alimentares por profissionais de saúde capacitados” obtiveram valores

menores que 4,0 dias, foram considerados como “adesão ruim”, o que foi

semelhante ao encontrado em estudos que avaliaram a adesão a dieta utilizando

outros instrumentos que não o QAD, como exemplo questionários de frequência

alimentar.

A respeito de leites e derivados, vale ressaltar a importância da substituição

de tais produtos da forma integral para a forma mais pobre em gorduras. Leite

desnatado e seus derivados devem estar presentes na alimentação de indivíduos

com DM tipo 2, por serem considerados componentes importantes de uma dieta

saudável, fonte de proteínas de alto valor biológico e ainda por apresentarem baixo

índice glicêmico. Limitar a ingestão de colesterol, ácidos graxos saturados e trans

representa uma importante meta no consumo alimentar de diabéticos, pois tal

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conduta tem como propósito reduzir o risco cardiovascular desses pacientes. No

presente estudo, pôde-se observar que a média de consumo de carnes vermelhas,

leite e derivados integrais apresentaram-se ligeiramente acima do proposto

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2005).

Para as associações da dimensão alimentação com características

sociodemográficas não foram encontradas associações, o que corrobora com os

resultados encontrados por Arrellias et al. (2015) avaliando a adesão à dieta,

atividade física e uso de medicação em diabéticos no sudeste do Brasil, e por

Benevida (2015) em estudo onde avaliou a adesão ao autocuidado em idosos em

Recife-PE.

Estudos apontam a dificuldade em seguir as orientações dos profissionais,

sendo a alimentação um desafio relevante para as pessoas que convivem com o

DM (BARROS, 2014).

A literatura tem mostrado que comportamento relacionado aos hábitos

alimentares é um dos desafios para o cuidado à saúde, principalmente pelos

aspectos culturais, econômicos, emocionais, ambientais que os envolvem

(BANQUEADO et al., 2010).

Em particular, as pessoas com DM devem, diariamente, tomar decisões para

controlar sua doença, e estas decisões têm um maior impacto sobre seu bem-estar

do que aquelas tomadas pelos profissionais de saúde. No entanto, os tratamentos

que requerem decisões ou julgamentos por parte da pessoa estão mais fortemente

associados à não adesão. Além disso, as crenças pessoais sobre a alimentação,

especialmente em relação à existência de alimentos nocivos ou proibidos, são

difíceis de serem mudadas, constituindo-se tabus que podem interferir na adesão

ao autocuidado (XAVIER; BITTAR; ATAIDE, 2009).

Para que a adesão do diabético ao programa alimentar proposto seja

satisfatório, é importante considerar seu estilo de vida, rotina de trabalho, nível

socioeconômico, tipo de diabetes, medicação prescrita e hábitos alimentares

anteriores ao DM. A adaptação da dieta aos hábitos alimentares preexistentes,

sempre que possível, é a melhor conduta, pois, além do indivíduo, a família ficará

mais integrada ao tratamento. Do ponto de vista econômico, o uso de alimentos já

rotineiros e que sejam adequados promove maior flexibilidade na escolha e impede

a substituição por outros, às vezes impróprios e mais caros (ASSUNÇÃO; URSINE,

2008).

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Os resultados em relação à atividade física foram diferentes do item

“alimentação”. No presente estudo o item “atividade física” apresentou baixa

adesão, com média de 1,3 dias (DP=1,2) para adesão a “atividade física de 30 min”

e mais baixa ainda para “atividade física especifica” que foi de 0,7 dias (DP=0,8).

Valores semelhantes ao item “prática de atividade física” foi encontrado por

Gomides et al. (2013) em estudo onde avaliou as atividades de autocuidado de

pessoas com DM que possuem úlceras e/ou amputações em membros inferiores

na região sudeste do Brasil, utilizando o mesmo instrumento usado no presente

estudo. Os pesquisadores encontraram adesão a pratica de “atividade física de 30

min” de 1,0 dia e “atividade física especifica” foi de 0,4 dias. Além desse, Villas-

Boas et al. (2011) também encontrou baixa adesão a prática de atividade física ao

avaliar a adesão a dieta e ao exercício físico utilizando para isso mesmo

instrumento do presente estudo.

Resultados diferentes foram encontrados por Santos et al. (2014) em estudo

transversal onde avaliou a adesão ao tratamento no diabetes e associações com

parâmetros bioquímicos. Foram encontrados no item “atividade física de 30 min”

um média 3,9 dias e para “atividade física especifica” média de 1,7 dias.

Quando se analisou a presença de associações das dimensões do

autocuidado com características socioeconômicas observou-se que houve

associação significativa para “atividade física” e a variável sexo, onde a adesão foi

classificada como boa mais nos homens do que nas mulheres. Resultado

semelhante corrobora com alguns estudos na literatura. No estudo de Daniele,

Vasconscelos e Coutinho (2014), realizado na atenção básica no Ceará, os

homens tinham uma prática de atividade física diária maior em detrimento das

mulheres. Diferente do encontrado no estudo de Arrelias et al. (2015), onde as

mulheres apresentaram maior prática de atividade física que os homens.

Diante dos resultados encontrados para adesão a dieta e atividade física do

presente estudo, observou-se que as mudanças de estilo de vida representam uma

grande dificuldade para as pessoas, especialmente quando se trata de seguir uma

dieta e praticar exercícios físicos (BARROS, 2014).

Quanto a pratica do exercício físico, estudo sobre os motivos apontados

pelos diabéticos para não realiza-lo foram: desanimo, desconforto, falta de tempo,

desconhecimento, não gostar, restrição medica, hipoglicemia e outros (DUARTE et

al., 2012).

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Como evidenciado pela literatura, a prática regular de exercícios físicos por

diabéticos do tipo 2 é capaz de aumentar a captação de glicose, com consecutiva

melhora no controle glicêmico; reduzir a hemoglobina glicada, mesmo quando não

há redução de peso corporal significativo; e reduzir o risco cardiovascular. A

associação entre mudanças alimentares e atividades físicas auxilia na melhora do

perfil metabólico, com redução nos níveis de LDL-c e triglicerídeo e aumento de

HDL-c (OLIVEIRA; VENCIO, 2015).

Almer et al. (2012) ao investigar a associação entre intensidade da atividade

física e controle do diabetes, observaram o aumento da sobrevida e a diminuição

dos níveis glicêmicos em idosos que realizam atividades físicas por mais de 30

minutos. Os programas de atividade física estão inseridos no contexto do

envelhecimento ativo, pois podem reduzir os efeitos deletérios do processo de

envelhecimento. Além de contribuir para a perda de peso, reduzir a resistência

insulínica e melhorar o bem estar.

Para Teixeira et al. (2009) a automonitorização sanguínea é uma medida

fundamental no controle do diabetes mellitus. Quanto a esse item do

monitoramento da glicemia observou-se que foi o item com menor média do

questionário. Para a “avaliação da glicemia” a média apresentada foi de 0,2 dias

(DP=0,6), quando foi questionada a “avaliação da glicemia o numero de dias como

recomendado” a média caiu para 0,1 (DP=0,4), indicando que nessa atividade a

amostra estudada apresentou “adesão ruim”.

Estudos apontaram para resultados maiores. Coelho et al. (2015) em seu

estudo utilizando mesmo instrumento de avaliação observaram que para a

atividade de autocuidado referente a “avaliar o açúcar no sangue o número de

vezes recomendado” a adesão foi baixa (3,3 dias), valor ainda maior do que o

encontrado no presente estudo. Outro estudo utilizando o QAD como instrumento

de avaliação encontrou valores próximos ao desejável. Gomides et al. (2015)

encontraram média de 5,8 dias para o item “avaliar glicemia”, indicando que a

população estudada apresentou maior adesão nesse item do autocuidado.

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (OLIVEIRA;VENCIO, 2015) a

monitorização da glicemia capilar é primordial para direcionar as ações que

envolvem o tratamento do diabetes, pois através dos resultados obtidos permite-se

reavaliar a terapêutica instituída mediante os ajustes no medicamento, na dieta e

nos exercícios físicos, podendo proporcionar melhora da qualidade de vida e

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redução das complicações decorrentes do mau controle metabólico. Além disso, a

construção de um perfil glicêmico favorece conhecer as atitudes das pessoas com

DM diante de complicações agudas e crônicas.

A literatura tem apontado algumas dificuldades para a realização da

monitorização glicêmica domiciliar, tais como fatores psicológicos, econômicos e

sociais, porém tais fatores não foram avaliados pelo presente estudo. Estudo de

revisão integrativa da literatura sobre a automonitorização da glicemia capilar no

domicílio destaca que os principais motivos para a não realização dessa atividade,

conforme recomendado foram: dificuldades financeiras, medo de agulhas/lancetas

e da dor, e inabilidade para manusear o glicosímetro, mesmo com a obtenção de

instruções adequadas (TEIXEIRA et al., 2009).

Na população estudada não foram avaliados a presença de insumos para a

medida da glicemia capilar. Fator este que pode contribuir para a baixa adesão

nesse item do autocuidado, bem como a disponibilidade destes insumos na

Unidade de Saúde. Relato da equipe de saúde da unidade estudada afirma que os

insumos para a realização da glicemia capilar não faltam na unidade e que os

usuários tem fácil acesso a essa medida. Porém, aqueles que necessitam realizar

em domicilio tem a dificuldade de comprar as fitas para realizar o teste. Além disso,

a Secretaria Estadual de Saúde disponibiliza um cadastro para usuários diabéticos

que necessitam do aparelho e fazem assim a distribuição dos mesmos, mas a

distribuição não é feita periodicamente e em quantidades suficientes.

Entre os cuidados com os pés, destacam-se o exame diário dos mesmos, a

inspeção dos calçados antes de calçá-los e a higienização dos pés com secagem

cuidadosa, especialmente nos espaços interdigitais (OLIVEIRA; VENCIO, 2015).

Nessa perspectiva tais itens também foram avaliados no QAD onde apresentaram

boa adesão na amostra estudada, com médias de 5,5 dias (DP=2,8) para “exames

dos pés”, “exame dos calçados” e “secagem dos dedos” média de 5,0 dias

(DP=3,1).

Os cuidados com os pés constituem-se uma das vertentes do autocuidado

dos pacientes com DM, uma vez que o pé diabético é uma das principais

complicações advindas da doença e causa constante de hospitalizações e

amputações entre esses pacientes (RESENDE NETA; SILVA; SILVA, 2015).

Estudos encontrados na literatura mostraram valores semelhantes ao presente

estudo, alguns com valores maiores de adesão nesse item cuidado com os pés.

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Valores semelhantes foram encontrados por Ross, Baptista e Miranda (2015), onde

para a “avaliação dos pés” a média foi semelhante ao encontrado no presente

estudo, com média de 5,2 dias, “avaliação dos sapatos” média de 4,6 dias e

“secagem dos dedos” média de 6,3 dias. Valores semelhantes ao estudo de

Gomides et. al. (2013), avaliando autocuidado em pacientes que já apresentaram

lesões em membros inferiores, para “avaliação dos pés” a média foi de 6,2 dias,

“avaliação dos sapatos” média de 5,2 dias e “secagem dos dedos” a média foi de

5,1 dias. Esses valores mais elevados do que o presente estudo se deve

possivelmente pela necessidade presente e contato mais próximo com os

profissionais para a realização do tratamento das lesões.

Já no estudo de Coelho et al. (2015) os valores para os itens relativos ao

cuidado com os pés apresentaram menores médias do que os estudos citados

anteriormente e o presente estudo.

Essa dimensão não apresentou associações com as caraterísticas

sociodemográficas. O que diferiu com outros estudos que também avaliaram

associações do autocuidado com essas variáveis sociodemográficas. No estudo de

Coelho et al (2015) foi possível observar associação fraca e direta do cuidado com

os pés com escolaridade, sugerindo que quanto maior a escolaridade maior seria a

adesão no item de cuidado com os pés. Embora a adesão ao tratamento dependa

da absorção da informação, o conhecimento ou informação sobre a doença não

funciona por si só como um preditor da adesão e o conhecimento não é garantia

única para a mudança de comportamentos nos diabéticos (ASSUNÇÃO; URSINI,

2013).

No presente estudo a adesão ao cuidado com os pés foi um dos itens de

maior adesão. Tal ocorrência pode ser justificada pelo fato de que a maioria dos

participantes do estudo são integrantes dos grupos de autocuidado na unidade, e

nesses grupos o cuidado com os pés é um tema bastante difundido e praticado

pelas equipes de saúde, que a partir de um Projeto em parceria com a

Universidade Federal do Rio Grande de Norte passaram a dar maior prioridade na

identificação precoce das lesões do pé diabético, bem como instituir protocolos

específicos e locais no manejo dessa complicação, no sentido de tratamento e

prevenção. Assim, os diabéticos assistidos por essa equipe apresentam maior

conhecimento nessa dimensão do autocuidado.

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O item “medicação” avaliado pelo presente estudo apresentou maiores

médias, em relação aos demais itens do questionário. Resultado semelhante foi

encontrado por outros estudos que utilizaram esse instrumento e mostraram uma

alta pontuação para as atividades de autocuidado que envolvem a terapia

medicamentosa.

Ross, Baptista e Miranda (2015) no seu estudo mostrou que a medicação foi

o item de maior adesão, semelhante ao encontrado no presente estudo.

Encontrando média de 6,6 dias para “medicação como recomendado” e 6,7 para

“uso de comprimidos como recomendado”. Valores semelhantes encontrado por

Santos et al. (2014), onde o item medicação também apresentou maior adesão ao

tratamento, com média de 6,8 dias, e Gomides et al. (2013) Com média de 7,0

dias.

Boa adesão em relação à tomada de medicação também é encontrado

quando se utiliza outros instrumentos de avaliação, como o encontrado por Faria et

al. (2014), em estudo transversal com o objetivo de analisar a adesão ao

tratamento medicamentoso e não medicamentoso em 17 unidades da Estratégia

Saúde da Família encontrou que 60% dos usuários estudados apresentaram boa

adesão para a terapia medicamentosa.

Publicações sugerem que o seguimento do tratamento medicamentoso,

muitas vezes, apresenta maior adesão por ser mais simples de ser cumprido. A

mudança nos comportamentos de risco, como sedentarismo e práticas alimentares

inadequadas, por exemplo, é considerada mais complexa, por envolver

incorporação de novos hábitos e, portanto, frequentemente apresenta menor

adesão (VILLAS-BOAS, 2009).

Esse dado pode estar condicionado a diversos fatores, como a política de

distribuição de medicamentos gratuitos pela rede de saúde, assegurando a

acessibilidade a esses insumos, bem como a facilidade para a tomada do

medicamento. Valores elevados estão relacionados à aceitabilidade do tratamento

medicamentoso e à crença no efeito do medicamento para o controle da doença.

Por outro lado, a adesão à atividade física regular e ao plano alimentar depende de

fatores complexos, tais como valores socioculturais, motivação para a mudança de

atitude, conhecimento sobre a doença, acesso ao local adequado para

desenvolvimento da atividade física, e acompanhamento dos pacientes por

nutricionista e educador físico na rede básica de saúde (FARIA et al., 2014).

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Dados relativos ao fumo mostraram que 88,8% da amostra no presente

estudo alegaram não ter fumado nos últimos sete dias e apenas 11,2% fumou nos

últimos sete dias. Sendo que da amostra 46,9% dos diabéticos deixou de fumar há

mais de dois anos. Resultado semelhante foi encontrado no estudo de Coelho et al.

(2005), onde 89% referiram não ter fumado nos últimos sete dias e 11%

responderam que havia fumado. Valores superiores foram encontrados em um

estudo que objetivou verificar as práticas de autocuidado das pessoas com DM tipo

2, em unidade de atenção primária da saúde, encontrou que 19,2% das pessoas

estudadas eram tabagistas (CARDOSO; MORAES; PEREIRA, 2011).

O tabagismo é um fator avaliado de grande importância, pois está

diretamente vinculado com o mau controle do DM. É conhecido como um fator de

risco cardiometabólico, e fator para surgimento e progressão da doença arterial

obstrutiva periférica, em que a gravidade da doença é diretamente proporcional à

quantidade e ao tempo de consumo do cigarro. Também se associa ao risco de

acidente vascular cerebral, ao surgimento e às complicações da hipertensão

arterial e da progressão nefropática. Medidas como a interrupção do hábito de

fumar auxiliam no controle do DM, visto que o abandono do cigarro pode melhorar

o perfil lipídico, reduzir a pressão arterial, reduzir as chances de surgimento de

problemas micro e macrovasculares e ter papel importante na prevenção de outras

complicações (OLIVEIRA; VENCIO, 2015).

6.3 CONTROLE METABÓLICO

Na avaliação do controle metabólico, foi possível perceber que grande parte

dos pacientes com diabetes não estava com os valores de glicemia, hemoglobina

glicada, colesterol e triglicerídeos e IMC dentro dos parâmetros recomendados.

Essas variáveis influenciam de modo significativo o controle dos valores

metabólicos, sendo importante para a análise de riscos e agravos relacionados ao

diabetes (LIRA NETO, 2016).

Em relação aos parâmetros de peso e controle metabólico observou-se que

a maioria da amostra encontrava-se acima do peso, como encontrado em outros

estudos na literatura, como o de Ross, Baptista e Miranda (2015), onde 57% da

amostra estavam com sobrepeso e/ou obesidade, já estudo de Faria et al. (2014)

valores superiores foram encontrados com 78% da amostra com excesso de peso

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e nos achados de Lira Neto (2016), com 71,3% da amostra com hemoglobina

glicada alterada.

Segundo Sociedade Brasileira de Diabetes (OLIVEIRA; VENCIO, 2015) para

o diabético, preconiza-se um bom controle do peso corporal, visando à redução dos

riscos relacionados ao DM. O excesso de peso pode intensificar a resistência

insulínica, favorecer o aparecimento de complicações agudas e crônicas e

aumentar o risco de comorbidades associadas ao excesso de tecido adiposo.

Portanto, a redução ponderal é uma meta terapêutica fundamental para diabéticos.

O controle de peso está associado ao melhor controle da doença, redução dos

fatores de risco e atenuação do uso de fármacos.

Nessa perspectiva a equipe de saúde responsável pelo cuidado dos

diabéticos deve atentar para incentivo a perda de peso e manutenção do peso

corporal saudável, com vistas ao controle metabólico e manutenção da qualidade

de vida do diabético.

No presente estudo os diabéticos não apresentaram bom controle glicêmico,

tendo-se em vista valores da média de hemoglobina glicada de 8,1% com

alterações em 67% da amostra, e glicemia de jejum alterada em 49% da amostra.

Valores superiores foram encontrados por Coelho et al. (2015), com média de

9,1%, alterada em 90% da amostra estudada, e glicemia de jejum alterada em 61%

da amostra, semelhantes aos dados encontrados por Faria et al. (2014), com 72%

da amostra com hemoglobina glicada alterada (maior que 7%).

Não houve associações significativas entre a hemoglobina glicada e as

dimensões do autocuidado na amostra estudada. Diferente do encontrado por

Santos et al. (2014), onde o IMC se associou diretamente com valores de

Hemoglobina glicada, indicando que quanto maior o IMC maior os valores de

hemoglobina glicada.

Destaca-se também se as taxas referentes às análises do perfil lipídico dos

pacientes, aqui representado pelos valores de TG e CT. Quanto a esses

parâmetros a amostra estudada apresentou moderado controle, pois 63,5%

apresentaram colesterol total normal, e 50% apresentaram taxas de triglicerídeos

normais. Tais achados se assemelharam com os dados encontrados por Lira Neto

(2016), estudando a relação existente entre a adesão aos antidiabéticos orais e o

controle metabólico de pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2, observou valores de

53% da amostra com TG alterado.

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Níveis alterados de triglicerídeos seriam prejudiciais aos diabéticos, pois

desencadearia um quadro chamado hipertrigliceridemia, constantemente

acompanhada por baixos valores de HDL e um aumento nas partículas pequenas e

densas de LDL, a hipertrigliceridemia acelera o aparecimento de complicações

referentes à DCV, bem como o surgimento de HAS e dislipidemia, contribuindo

para o desarranjo do sistema metabólico (LYRA; CAVALCANTI; SANTOS, 2014).

Para o colesterol total mais da metade apresentou valores normais. Esses

resultados corroboram com alguns estudos na literatura. Lira Neto (2016)

encontrou valores de 52,4% normais e Arrelias et al. (2015) com achados de 50,4%

normais.

A manutenção do perfil lipídico dentro dos valores de normalidade e

importante para a prevenção do risco cardiovascular. A não adesão ao tratamento

não representa necessariamente pior controle metabólico. A dislipidemia e

resultado de um conjunto complexo de fatores que interagem entre si e variam a

depender do tipo de estudo, das características da população, entre outros

(LANDIM et al., 2011).

No presente estudo onde foram avaliadas as associações entre os

parâmetros bioquímicos e atividades do QAD foram encontradas associações

moderadas apenas para uso de medicação e colesterol (inversa), IMC e níveis de

triglicerídeos (direta), colesterol e triglicerídeos (direta).

Tais achados de associações não corroboraram com resultados encontrados

por Santos et al. (2014), onde encontram associações fortes e moderadas para:

monitorização da glicemia e medicação; glicemia de jejum e hemoglobina glicada;

IMC e circunferência da cintura.

Resultados semelhantes ao presente estudo foram encontrados no estudo

de Faria et al. (2014) onde achados relativos ao colesterol total e HbA1c,

apresentaram associação estatisticamente significativa com a adesão ao plano

alimentar e exercício físico.

Pode-se inferir que a relação de não adesão ao plano alimentar e a atividade

física e as demais variáveis lipídicas, precisam ser avaliadas com cautela, e

considerar a interferência de outros fatores tais como período e seguimento,

estágio da doença, complicações e morbidades, outros medicamentos e terapias

utilizadas em associação, veracidade do autor relato, entre outros (LANDIM et al.,

2011).

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Tal comportamento pode se inferir ao fato do instrumento utilizado para

avaliar a adesão ao autocuidado fazer alusão aos últimos sete dias, e sendo os

comportamentos de adesão não estáveis, podem se modificar ao longo do tempo,

portanto, necessitam de aferições regulares como forma de avaliar a eficácia da

terapêutica (COELHO et al., 2015).

Assim, corroborando com Coelho et al. (2015), para as relações entre as

atividades de autocuidado e controle metabólico apresenta-se como fragilidade,

pois não foram consideradas nessas associações outras variáveis que poderiam

influenciar, exemplo, regime terapêutico e morbidades associadas.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, a partir da metodologia utilizada e dos resultados obtidos

é possível concluir que a amostra estudada apresentou níveis baixos de adesão ao

autocuidado no Diabetes, no que concerne às dimensões de alimentação geral,

atividade física e monitorização da glicemia, para as dimensões de cuidado com os

pés, alimentação especifica e tomada de medicação a amostra apresentou boa

adesão, resultados semelhantes ao encontrado na literatura.

O controle metabólico apresentou inadequado controle glicêmico, adequado

controle lipídico e controle de peso insatisfatório, com grande parcela acima do

peso. Não se observaram associações das variáveis sociodemográficas com as

atividades de autocuidado, sendo para este estudo fraco preditor para adesão ao

tratamento. Apenas a variável sexo se associou significativamente com a prática de

atividade física.

As atividades de autocuidado que se associaram com as variáveis de

controle metabólico foram tomada de medicação com níveis de colesterol, IMC e

níveis de triglicerídeos, colesterol e triglicerídeos, as associações foram de fracas a

moderadas.

Diante do que foi discutido fica claro que uma das maiores dificuldades na

adesão ao tratamento do diabetes no contexto da Estratégia de Saúde da Família

esta na mudança do estilo de vida, principalmente no que concerne a alimentação

e a pratica de atividade física, bem como a atitudes que requeiram total motivação

por parte do próprio paciente, como a monitorização da glicemia.

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O controle glicêmico inadequado mostra que apesar dos esforços das

equipes em trabalhar o controle da doença, por meio de atividades de educação

em saúde realizadas mensalmente, com os grupos de autocuidado e na conversa

diária com os diabéticos, observa-se que a multiplicidade de fatores que envolvem

a adesão, como escolaridade, apoio familiar, a apropriação do autocuidado, a

motivação, situação econômica, entre outros condizem para uma adesão ruim a

alguns aspectos do tratamento. Além disso, a metodologia empregada pelas

equipes ao motivar o autocuidado pode ter sido insatisfatória em promover uma

maior adesão, mas tal variável não foi avaliada pelo presente estudo, indicando a

necessidade de estudos mais completos na identificação das abordagens

educativas.

Obstante a isso, a forma como estão organizados e disponibilizados os

serviços de saúde e os equipamentos sociais que contribuem para a promoção a

saúde do usuário com doença crônica são fatores cruciais na adesão à terapêutica.

A baixa adesão à atividade física pode ser explicada pela inexistência na oferta de

serviços de atividades físicas gratuitas e suficientes para essa demanda, como

academias de saúde próxima ao bairro e dificuldades de acesso logístico a outros

bairros que disponham de tal serviço. A disponibilização gratuita da medicação

para controle do diabetes, garantida pelo Ministério da Saúde, contribui para que a

adesão à terapêutica medicamentosa seja satisfatória.

A educação em saúde é fundamental para o autocuidado e mudança no

estilo de vida dos usuários com doenças crônicas. As estratégias educativas

devem ser desenvolvidas com o objetivo de estimular os diabéticos a aderir ao

tratamento, com a utilização de uma dieta adequada, práticas de exercício,

tratamento medicamentoso, bem como a importância do retorno às consultas para

o controle das taxas glicêmicas (BARROS, 2014).

Tais estratégias devem ser desenvolvidas partindo das necessidades dos

diabéticos, com participação ativa dos mesmos, indicando quais atividades

apresentam maiores dificuldades/facilidades de adesão no nível individual e

coletivo, e quais as soluções a curto e longo prazo são possíveis serem aplicadas

no contexto que eles vivem.

Nessa perspectiva os profissionais podem fazer usos de algumas

metodologias e abordagem compreensivas que partem do princípio que os

usuários com condições crônicas precisam fazer modificações na sua vida para

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aceitar a doença e as mudanças que ela traz no cotidiano do sujeito. Que a

aceitação da doença não é resultado de informação e de aquisição de novos

hábitos, mas sim está relacionada como o paciente entende o seu problema, ao

que ele acredita sobre o seu problema (modelo explicativo da doença) e à carga de

experiência e de aprendizagem relacionadas ao adoecimento e de como foram

sendo tecidas ao longo da vida (BRASIL, 2015a).

Nesse ponto a equipe de saúde necessita esta preparada para trabalhar

estratégias mais resolutivas de mudança de estilo de vida. Como já foi elencado

pela própria equipe como sendo um dos maiores desafios: como trabalhar

alimentação adequada e combate ao sedentarismo no dia-a-dia da unidade? São

angustias destacadas pela equipe que cuida dos diabéticos deste estudo e

colocada como necessidade de aprofundamento e capacitação.

Portanto é fundamental a abordagem multidisciplinar para o manejo do

diabetes. Tais manejos devem ser estimulados na atenção básica, durante as

consultas de diabetes nas UBS, auxiliando os pacientes a conhecer o seu

problema de saúde e os fatores de risco correlacionados, identificando

vulnerabilidades, prevenindo complicações e, assim, conquistando um bom

controle metabólico que, em geral, depende de uma boa relação entre os pontos já

citados.

Por fim, conclui-se que a presente pesquisa contribuiu para que as equipes

de saúde que estão envolvidas no cuidado desses diabéticos compreendam melhor

os fatores que podem influenciar na adesão ao tratamento e assim planejar

programas educativos adequados às características sociodemográficas do

individuo, famílias, grupos e comunidade, com vistas a favorecer a adesão ao

tratamento, controle metabólico e o desenvolvimento de atitudes pessoais que se

associam à mudança no estilo de vida.

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APENDICES

APENDICE A – Instrumento coleta de dados

Questionário para coleta de dados

Data:__________ Numero questionário: _____ Área: ______ Microárea: ________INSULINA? ___

PARTE I – SOCIECONOMICO E DEMOGRÁFICO*

Variável

1. Idade _______ anos

2. Sexo (1) Feminino (2) Masculino

3. Estado Civil (1) Solteiro, sem companheiro (2) Casado, vivendo com conjugue (3) Viúvo (4) Desquitado ou divorciado

4. Renda familiar ________Reais

________Salários mínimos

5. Nº pessoas que moram no domicilio

________

6. Ocupação ________________

7. Escolaridade (ate que serie estudo)

8. Tempo de diagnostico

PARTEII - Questionário de atividades de autocuidado com o diabetes − QAD

1. ALIMENTAÇÃO GERAL 1.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS seguiu uma dieta saudável? 0 1 2 3 4 5 6 7

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA LINHA DE PESQUISA: DETERMINANTES E AGRAVOS A SAÚDE

Pesquisadores: Roberta Lins

Orientador: Dr. Antônio Medeiros Junior

Adesão ao tratamento e controle do Diabetes mellitus na atenção primária.

Orientações no preenchimento:

- Após colher assinatura do TCLE, ler pausadamente em voz alta cada questão e suas alternativas, sem dar

exemplos, nem comentários;

- Preencher a data e o numero do questionário em ordem crescente;

- Marcar com um ◌ (circulo) a alternativa correspondente à resposta do entrevistado de caneta esferográfica

azul ou preta;

- Não identificar o questionário com nomes ou iniciais.

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1.2 Durante o último mês, QUANTOS DIAS POR SEMANA, em média, seguiu a orientação alimentar, dada por um profissional de saúde (médico, enfermeiro, nutricionista)? 0 1 2 3 4 5 6 7 2. ALIMENTAÇÃO ESPECÍFICA 2.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS comeu cinco ou mais porções de frutas e/ou vegetais? 0 1 2 3 4 5 6 7 2.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS comeu alimentos ricos em gordura, como carnes vermelhas ou alimentos com leite integral ou derivados? 0 1 2 3 4 5 6 7 2.3 Em quantos dos últimos sete dias comeu doces? 0 1 2 3 4 5 6 7 3. ATIVIDADE FÍSICA 3.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS realizou atividade física durante pelo menos 30 minutos (minutos totais de atividade contínua, inclusive andar)? 0 1 2 3 4 5 6 7 3.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS praticou algum tipo de exercício físico específico (nadar, caminhar, andar de bicicleta), sem incluir suas atividades em casa ou em seu trabalho? 0 1 2 3 4 5 6 7 4. MONITORIZAÇÃO DA GLICEMIA 4.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS avaliou o açúcar no sangue? 0 1 2 3 4 5 6 7 4.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS avaliou o açúcar no sangue o número de vezes recomendado pelo médico ou enfermeiro? 0 1 2 3 4 5 6 7 5. CUIDADOS COM OS PÉS 5.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS examinou os seus pés? 0 1 2 3 4 5 6 7 5.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS examinou dentro dos sapatos antes de calçá-los? 0 1 2 3 4 5 6 7 5.3 Em quantos dos últimos SETE DIAS secou os espaços entre os dedos dos pés depois de lavá-los? 0 1 2 3 4 5 6 7 6. MEDICAÇÃO 6.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS tomou seus medicamentos do diabetes, conforme foi recomendado? OU (se insulina e comprimidos): 0 1 2 3 4 5 6 7 6.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS tomou suas injeções de insulina, conforme foi recomendado? 0 1 2 3 4 5 6 7 6.3 Em quantos dos últimos SETE DIAS tomou o número indicado de comprimidos do diabetes? 0 1 2 3 4 5 6 7 7. TABAGISMO 7.1 Você fumou um cigarro − ainda que só uma tragada − durante os últimos sete dias? 7.2 Se sim, quantos cigarros fuma, habitualmente, num dia? Número de cigarros? _______ 7.3 Quando fumou o seu último cigarro?

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dois anos atrás

(**) Summary of Diabetes Self-Care Activities Questionnair (SDSCA) traduzido e adaptado para

língua portuguesa por Michaels et al.(2010)27

.

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APENDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

LINHA DE PESQUISA: DETERMINANTES E AGRAVOS A SAÚDE

Pesquisadores: Roberta Lins

Orientador: Dr. Antônio Medeiros Junior

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa: Adesão ao tratamento e controle do

Diabetes mellitus na atenção primária, que tem como pesquisador responsável Roberta Karline Lins

da Silva.

Esta pesquisa pretende avaliar a adesão ao tratamento não farmacológico e características

de controle em portadores de Diabetes Mellitus residente na área de abrangência da Unidade de

Saúde da Família de Nazaré, do município de Natal-RN.

O motivo que nos leva a fazer este estudo se dá pela crescente necessidade de avaliar

como se dá a adesão ao tratamento de doenças crônicas que necessitem de cuidado ao longo da

vida e dependem para seu adequado controle de mudanças no estilo de vida. Entender como se dá

essa adesão na população assistida pelas equipes de saúde na atenção primária é indispensável

para o planejamento de ações educativas e o efetivo acompanhamento e controle dos usuários

acometidos.

Caso você decida participar, você deverá primeiramente assinar o presente Termo

comprovando a sua decisão em participar da pesquisa, e logo após, responder perguntas

relacionadas aos seus hábitos de vida como: alimentação e prática de atividade físicas, e para

essas perguntas as respostas serão sim ou não. Além de permitir que o pesquisador tenha acesso a

informações como renda, numero de pessoas no domicilio, ocupação e idade, além de medidas

como peso, altura, frequência das consultas e medidas laboratoriais que você faz frequentemente

por solicitação do seu médico na unidade e que são registradas em seu prontuário, como peso e

altura, medidas de Hemoglobina glicada, triglicerídeos e colesterol. Para isso o senhor (a) será

direcionado a sentar-se em uma sala e responder esses questionamentos durante no máximo 15

minutos.

Durante a realização da entrevista a previsão de riscos é mínima, ou seja, o risco que você

corre é semelhante àquele sentido num exame físico ou psicológico de rotina, quase nenhum risco,

pois será realizada dentro da unidade, em sala especifica, não necessitará que o senhor mude sua

rotina, que você apenas responda as perguntas que o pesquisador fizer.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para Roberta

Karline Lins da Silva Fone: 84 8826-2820 e 84 9704-4226.

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Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase

da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em

congressos ou publicações científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe

identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa pesquisa em local

seguro e por um período de 5 anos. Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa

pesquisa, ele será assumido pelo pesquisador e reembolsado para você. Se você sofrer algum dano

comprovadamente decorrente desta pesquisa, você será indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de

Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, localizado na Av. Nilo

Peçanha, 620, Petrópolis CEP: 59.012-300, Natal RN. Fone: 3342-5003, endereço eletrônico

[email protected].

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o

pesquisador responsável Roberta Karline Lins da Silva.

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados serão

coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela trará para

mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da pesquisa Adesão ao

tratamento e controle do Diabetes mellitus na atenção primária, e autorizo a divulgação das

informações por mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde que nenhum

dado possa me identificar.

Natal, _____de _____ de 2016.

Assinatura do participante da pesquisa

____________________________________

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo Adesão ao tratamento e controle do Diabetes

mellitus na atenção primária declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir fielmente os

procedimentos metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e assegurados ao participante

desse estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei

infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde

– CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal, _____de _____ de 2016.

Assinatura do pesquisador responsável

Impressão

datiloscópica do

participante

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ANEEXOS

ANEXO A – Parecer ético do Comitê de Ética em Pesquisa

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ANEXO B – Questionário Autocuidado em Diabetes Mellitus

Questionário de atividades de autocuidado com o diabetes – QAD 1. ALIMENTAÇÃO GERAL 1.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS seguiu uma dieta saudável? 0 1 2 3 4 5 6 7 1.2 Durante o último mês, QUANTOS DIAS POR SEMANA, em média, seguiu a orientação alimentar, dada por um profissional de saúde (médico, enfermeiro, nutricionista)? 0 1 2 3 4 5 6 7 2. ALIMENTAÇÃO ESPECÍFICA 2.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS comeu cinco ou mais porções de frutas e/ou vegetais? 0 1 2 3 4 5 6 7 2.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS comeu alimentos ricos em gordura, como carnes vermelhas ou alimentos com leite integral ou derivados? 0 1 2 3 4 5 6 7 2.3 Em quantos dos últimos sete dias comeu doces? 0 1 2 3 4 5 6 7 3. ATIVIDADE FÍSICA 3.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS realizou atividade física durante pelo menos 30 minutos (minutos totais de atividade contínua, inclusive andar)? 0 1 2 3 4 5 6 7 3.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS praticou algum tipo de exercício físico específico (nadar, caminhar, andar de bicicleta), sem incluir suas atividades em casa ou em seu trabalho? 0 1 2 3 4 5 6 7 4. MONITORIZAÇÃO DA GLICEMIA 4.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS avaliou o açúcar no sangue? 0 1 2 3 4 5 6 7 4.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS avaliou o açúcar no sangue o número de vezes recomendado pelo médico ou enfermeiro? 0 1 2 3 4 5 6 7 5. CUIDADOS COM OS PÉS 5.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS examinou os seus pés? 0 1 2 3 4 5 6 7 5.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS examinou dentro dos sapatos antes de calçá-los? 0 1 2 3 4 5 6 7 5.3 Em quantos dos últimos SETE DIAS secou os espaços entre os dedos dos pés depois de lavá-los? 0 1 2 3 4 5 6 7 6. MEDICAÇÃO 6.1 Em quantos dos últimos SETE DIAS tomou seus medicamentos do diabetes, conforme foi recomendado? OU (se insulina e comprimidos): 0 1 2 3 4 5 6 7 6.2 Em quantos dos últimos SETE DIAS tomou suas injeções de insulina, conforme foi recomendado? 0 1 2 3 4 5 6 7 6.3 Em quantos dos últimos SETE DIAS tomou o número indicado de comprimidos do diabetes? 0 1 2 3 4 5 6 7 7. TABAGISMO

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7.1 Você fumou um cigarro − ainda que só uma tragada − durante os últimos sete dias? Não Sim 7.2 Se sim, quantos cigarros fuma, habitualmente, num dia? Número de cigarros: _______________ 7.3 Quando fumou o seu último cigarro?

Nunca fumou Há mais de dois anos atrás Um a dois anos atrás Quatro a doze meses atrás Um a três meses atrás No último mês Hoje

Fonte: Michels ML et al. Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes: tradução, adaptação e avaliação das Propriedades psicométricas. Arq Bras Endocrinol Metab.