universidade federal do rio grande do … de descrever quão grande é o meu amor por você....

67
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE SERVIÇO SOCIAL A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE – CAMPUS NATAL - CIDADE ALTA NAS JORNADAS DE JUNHO/ 2013 HÉRVILA GABRIELA TAVARES DE MEDEIROS NATAL/RN 2014

Upload: lycong

Post on 13-Feb-2019

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE

EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE –

CAMPUS NATAL - CIDADE ALTA NAS JORNADAS DE JUNHO/ 2013

HÉRVILA GABRIELA TAVARES DE MEDEIROS

NATAL/RN

2014

HÉRVILA GABRIELA TAVARES DE MEDEIROS

A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DO IFRN – CAMPUS NATAL -

CIDADE ALTA NAS JORNADAS DE JUNHO/ 2013

Monografia apresentada ao curso de

Serviço Social da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte - UFRN como

requisito para a obtenção do título de

Bacharel em Serviço Social.

Or ientadora: Profª. Dr ª Mar ia

Regina de Ávila Moreira

NATAL/RN

2014

FICHA DE APROVAÇÃO

HÉRVILA GABRIELA TAVARES DE MEDEIROS

A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE

EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE –

CAMPUS NATAL - CIDADE ALTA NAS JORNADAS DE JUNHO/ 2013

Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte para Comissão Examinadora formada

pelos pro fessores:

Aprovado em: ____/____/______.

Banca Examinadora

__________________________________________________

Profª. MARIA REGINA DE ÁVILA MOREIRA (Orientadora)

__________________________________________________

Profª. JOSIVÂNIA ESTELITA GOMES DE SOUSA (Membro)

__________________________________________________

Profª. ANA PAULA DE MOURA CORDEIRO (Membro)

Dedico esta conquista aos meus amados

pais, Maria José e Júlio Marcelino, e a

minha irmã Julianne Gabrielle, por

acreditarem em mim.

As tantas rosas que os poderosos matem

nunca conseguirão deter a primavera.

Che Guevara

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem Ele, eu não teria conseguido chegar até

aqui, em muitos momentos foi a minha fé que me sustentou e me fez acreditar que esse

sonho seria possível, e que eu não deveria desistir, mesmo em meio às adversidades.

Agradeço às pessoas mais importantes da minha vida: minha família. Mãe, seu

cuidado e suas doces palavras foi que me deram, еm alguns momentos, а esperança pаrа

seguir. Obrigada por me dar a vida e ser uma mãe tão dedicada, palavras não são

capazes de descrever quão grande é o meu amor por você. Agradeço por ter me guiado

pelos melhores caminhos, e não ter medido esforços para isso, trabalhou

incansavelmente para nos manter, espero ainda te dar muito orgulho. Obrigada por nos

educar pelo exemplo. Essa conquista não é sua minha, é sua também. Pai, suа presença

significou segurança е certeza dе quе não estou sozinha nessa caminhada. Obrigada pai,

por ser presente na minha vida, ajudar na minha educação, e por me amar, mesmo com

seu jeito fechado, que eu herdei, mas mesmo assim sabemos do sentimento um pelo

outro. Desejo que Deus te dê muita saúde.

Obrigada minha irmã Julianne, por me alegrar com seu jeito extrovertida de ser.

Obrigada por me proteger me fazendo sentir que nunca estou sozinha. Obrigada por

acompanhar de perto toda a minha trajetória e torcer por mim, assim como torço muito

pelo seu sucesso na vida pessoal, profissional, amorosa e tudo mais. Enfim, você é o

meu oposto, todos dizem, mas assim você me completa, te amo tanto!

Agradeço aos meus avós maternos: Minha Vó Tereza (in memoriam), que me

acompanhou desde os primeiros passos, me ensinou as primeiras letras, que cuidou de

mim como filha, e que tantas boas lembranças deixou. Sinto muitas saudades, e onde

quer que você esteja, sei que está orgulhosa de mim. Ao meu avô Manoel Tavares, pelo

grande homem que é, dedicado a família, sua maior virtude é sua eterna juventude e

alegria de viver, apesar da idade avançada, te admiro muito e peço que Deus te conserve

assim por muitos anos.

Agradeço aos meus avós paternos: Vó Marilene, obrigada pelo carinho e afeto

de sempre, és muito querida por mim. Ao meu vô Júlio (in memoriam), mesmo sendo

tão pequena quando o senhor partiu, por toda a minha vida não faltaram relatos de como

o senhor me amava.

Obrigada aos meus tios maternos: Tia Sônia, por estar sempre do nosso lado

desde a minha infância, Tia Socorro, por ser tão divertida e cuidar de mim como mãe

também, Tia Danda, por mesmo na distância se fazer presente na minha vida, Tia Nica,

pelos cuidados na infância também, a Tia Chica, Tia Luzia, Tio Neto, Tio Joca e Tio

Zeca (in memoriam). por dividir o sonho da formação junto comigo. Obrigada também

aos meus primos maternos, são tantos, mas todos são como irmãos pra mim. Agradeço a

vocês por todos os momentos em família, sempre tão alegres.

Obrigada aos meus tios paternos, principalmente a Tio Erivan, por me acolher

em sua casa no início da caminhada e até hoje se fazer presente quando eu preciso.

Obrigada Tio Ivan, Tia Branca, Tia Luzia, Tia Marileide, por torcerem por mim.

Obrigada também aos primos paternos.

Agradeço também à minha madrinha Branca, que por toda a sua vida me deu

atenção como uma verdadeira afilhada, e hoje está nos braços do Pai.

Obrigada a todos os meus amigos, aqueles que me acompanham desde a infância

e aos que chegaram a pouco tempo na minha vida, cada um sabe a importância que tem,

que possamos no futuro brindar a felicidade de todos! Paulo e Soraya, o destino nos fez

irmãos, obrigada por manter viva nossa amizade, mesmo que a vida tenha nos levado

para caminhos diferentes. Simone, obrigada por estar sempre do meu lado durante essa

trajetória, nunca me esquecerei de você.

Obrigada ao meu namorado, Herbert, por estar sempre do meu lado nos

momentos de alegrias e nas angústias também. Obrigada pelo amor e companhia!

Agradeço a todos os profissionais e colegas do Projeto Casulo e da Escola

Estadual Cel. Silvino Bezerra, que fizeram parte da minha trajetória nessas instituições

na minha querida cidade Florânia. Obrigada ao IFRN – Campus Currais Novos por ter

sido a minha base para eu chegar à graduação, lembro sempre com carinho dessa

instituição e a todos que a compõem. Estendo o agradecimento a todos que fazem o

IFRN - Campus Cidade Alta por permitir os meus primeiros passos profissionais no

meu estágio curricular.

Obrigada aos mestres, de todas as salas de aula que já passei na vida. Obrigada a

Assistente Social Ana Paula, minha supervisora de campo, por todo o compromisso e

dedicação. Obrigada professora Josivânia, pela paciência e ensinamentos durante toda a

trajetória acadêmica. Obrigada minha orientadora Regina Ávila, você é minha

referência profissional, obrigada por acompanhar minha jornada acadêmica e enriquecer

tanto a minha formação pessoal e profissional.

Enfim, agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para que essa

conquista fosse possível, pois sozinha eu jamais teria conseguido.

LISTA DE SIGLAS

AI-5 Ato Institucional número cinco

AP Ação Popular

APES Associação Potiguar dos Estudantes Secundaristas

BPM Batalhão de Polícia Militar

CEFET-RN Centro Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do

Norte

CEP HUOL Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes

CPC’s Centros Populares de Cultura

CUT Central Única dos Trabalhadores

ENET Encontro Nacional de Escolas Técnicas

EUA Estados Unidos da América

FIFA Federação Internacional de Futebol Associado

FIMVJ-MG Frente Independente pela Memória, Verdade, e Justiça de Minas Gerais

GEDM Grêmio Estudantil Djalma Maranhão

IFRN Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do

Norte

MPL Movimento Passe Livre

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

PCdoB Partido Comunista do Brasil

Polop Política Operária

PM Polícia Militar

PT Partido dos Trabalhadores

SUAP Sistema Único de Administração Pública

TV Televisão

UBES União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UJS União da Juventude Socialista

UMES União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas

UNE União Nacional dos Estudantes

UPP Unidade de Polícia Pacificadora

RESUMO

Este trabalho apresenta o resultado de estudo sobre as Jornadas de Junho/2013,

manifestações ocorridas no Brasil no ano de 2013, considerando a participação dos

estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do

Norte - Campus Cidade Alta – Natal/RN. Os principais objetivos da pesquisa são:

conhecer o nível de formação política dos estudantes do IFRN Campus Natal - Cidade

Alta e analisar a repercussão da participação dos estudantes nas Jornadas de Junho/13.

Para tanto, a metodologia da investigação foi qualitativa, a partir de roteiro semi-

estruturado e entrevista com cinco estudantes da Instituição. A partir da análise de

conteúdo, delimitou-se a exposição em três capítulos. Veremos inicialmente os

antecedentes históricos dos movimentos sociais no Brasil e no mundo com ênfase nas

mobilizações de junho/13. Em seguida será apresentada uma caracterização do

movimento sob a perspectiva dos jovens estudantes do IFRN entrevistados nessa

pesquisa. Por fim, será discutida a relação entre a atuação da mídia no movimento e a

veiculação das informações sobre a violência. De acordo com essa análise, pudemos

denotar a forte influência de cunho neoconservador da mídia sobre a população, de

modo a desmobilizar os manifestantes das Jornadas de Junho/13. Além disso, pudemos

perceber que essas lutas sociais denunciam problemas concretos na sociedade brasileira,

e exigem respostas concretas, apesar da falta de organização do movimento. O Serviço

Social poderá valer-se desse estudo para traçar estratégias de intervenção que venham a

melhorar o nível de participação política dos seus usuários.

Palavras-chave: Jornadas de Junho/2013. Movimentos Sociais. Mídia. Violência.

Juventude.

ABSTRACT

This paper presents the results of study on the Days of June / 2013 demonstrations

occurred in Brazil in 2013, considering the participation of students from the Federal

Institute of Education, Science and Technology of Rio Grande do Norte - City Campus

High - Christmas / RN. To this end, the research methodology was qualitative, from

semi-structured interviews with five students and the institution. From the content

analysis was delimited exposure in three chapters. Initially we will see the historical

background of social movements in Brazil and around the world with emphasis on

mobilization of June / 13. Then a characterization of the movement from the perspective

of young students IFRN respondents in this research will be presented. Finally, we

discuss the relationship between the role of the media in the movement and placement

of data on violence.

Keywords: Journeys June / 2013. Social Movements. Media. Violence. Youth.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS JORNADAS DE JUNHO/13: ANTECEDENTES

HISTÓRICOS......................................................................................................................... 15

2.1 LUTAS SOCIAIS E O CONTEXTO DO CAPITAL ................................................................... 16

2.2 PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL: AS JORNADAS DE JUNHO/13.... 21

3. A CARACTERIZAÇÃO DOS JOVENS SOBRE AS JORNADAS DE JUNHO/2013: A

PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL DO IFRN (CAMPUS NATAL – CIDADE ALTA) ............ 33

3.1 A HISTÓRIA DA ORGANIZAÇÃO ESTUDANTIL NO IFRN .................................................... 41

3.2 OS DESDOBRAMENTOS DA PARTICIPAÇÃO PARA O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO IFRN44

4. A MÍDIA E A VIOLÊNCIA NAS JORNADAS DE JUNHO/2013: UMA RELAÇÃO

IDEOLÓGICA ....................................................................................................................... 46

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 55

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 59

APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DA ENTREVISTA .......................................................... 62

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..................... 63

11

1. INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho refere-se às Jornadas de Junho/13, denominação dada às

últimas grandes manifestações sociais ocorridas em todo o Brasil no ano passado. A

centralidade do estudo está na relação das Jornadas de Junho/13 com a participação

política estudantil no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Norte (IFRN) – Campus Natal - Cidade Alta. Assim, a análise irá explicitar

de que maneira essas jornadas se expressaram na referida instituição. Para isso, será

realizado um resgate histórico das lutas sociais no contexto mundial e brasileiro, até

culminar na conjuntura atual, trazendo as principais considerações dos estudantes

pesquisados em relação ao movimento em questão.

Portanto, a investigação surgiu da perspectiva de investigar um locus que

concentra parte da juventude natalense e, a partir da inserção no estágio no Instituto

Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) – Campus

Natal - Cidade Alta.

O estágio proporcionou enxergar o quanto é necessária uma organização

estudantil dentro dessa instituição que concentra jovens de diversas faixas etárias, desde

o ensino médio e técnico até ao ensino superior. A partir do processo de observação e

análise percebeu-se que esses estudantes precisavam ter uma voz ativa dentro da

instituição, há a necessidade de organização política dos estudantes (Grêmio Estudantil,

Centro Acadêmico). Desse modo planejou-se a intervenção no sentido de fomentar a

participação política dos estudantes. O projeto de intervenção buscava despertar nos

jovens a vontade de se organizar politicamente e subsidiá-los nesse intento, mostrando

as possibilidades e vantagens disso. Metodologicamente, o projeto utilizou-se de

oficinas, distribuição de folders informativos, debate com os estudantes, de modo a

guia-los no processo de construção de uma entidade estudantil dentro da escola. Os

resultados desse projeto mostraram uma forte desmobilização dos estudantes,

decorrentes de diversos determinantes: as correlações de forças na escola, a condição de

estudante/trabalhador, a falta de acesso à informação. Contudo, com a chegada dos

primeiros estudantes de nível médio na escola, público-alvo das oficinas, o panorama

mudou um pouco e atualmente esses estudantes estão em processo de construção do

Grêmio Estudantil.

12

Os resultados do projeto de intervenção no estágio levaram a indagar o

protagonismo desses jovens nas jornadas de junho/13, que seria uma luta externa ao

ambiente escolar, mas não menos importante do ponto de vista político. Assim, nessa

pesquisa, faremos uma análise da participação dos jovens estudantes nesses movimentos

ocorridos no contexto local e também de abrangência nacional. A experiência de

intervenção no estágio proporcionou questionar se os estudantes da escola participaram

das lutas sociais de junho/2013, apesar de não construírem um movimento estudantil

interno. Além disso, esse trabalho visa responder de que forma aconteceu a participação

desses estudantes nas Jornadas de Junho/13 e a opinião destes sobre as manifestações.

Este trabalho tem como principal finalidade conhecer o nível de politização dos

estudantes do IFRN Campus Natal - Cidade Alta e analisar a repercussão da

participação dos estudantes nas Jornadas de Junho/13 no meio escolar e também fora

dele.

A importância deste trabalho está em compreender a importância desses

movimentos para a sociedade, se há perspectiva de continuidade, além disso, poderá se

conhecer em que patamar está a participação política dos estudantes do IFRN. Assim,

pretende-se que essa pesquisa contribua não só para o Serviço Social da instituição,

como também para tantos outros campos do fazer profissional que lidam com os

movimentos sociais e com a política de educação.

Metodologicamente, este trabalho adotou o tipo de pesquisa qualitativa, pois a

construção da realidade não pode ser apreendida apenas pela quantificação, visto a sua

profundidade, envolvendo concepções teóricas e políticas dos/as sujeitos/as

envolvidos/as. As técnicas utilizadas nessa pesquisa para coletar os dados foram a

entrevista semiestruturada com os/as estudantes e a observação participante no ambiente

escolar.

A pesquisa iniciou com a seleção dos líderes de turma1 como público-alvo das

entrevistas, considerando que estes já indicam um perfil político de disponibilidade de

participação importante na escola. Assim, consultou-se uma lista que contém os nomes

dos líderes e vice líderes de cada turma e seus respectivos contatos. Pesquisou-se o

perfil socioeconômico dos estudantes que constam nessa lista utilizando a ferramenta do

1 Cada turma da escola possui o líder e o vice-líder, escolhidos através de eleição pelos outros estudantes

para representá-los.

13

SUAP2 - Sistema Unificado de Administração Pública do IFRN. De aproximadamente

15 estudantes, foram selecionados 06, para serem entrevistados com base em critérios

de cor, sexo, renda e idade, garantindo a maior diversidade possível, onde se destaca: 3

homens e 3 mulheres, com idade de 21 a 33 anos, todos cursando o nível superior de

ensino, de etnias variadas.

O contato com esses estudantes foi feito via e-mail e telefone, sendo que apenas

cinco deles confirmaram a participação na pesquisa. As entrevistas gravadas foram

realizadas com os cinco participantes3, e estas ocorreram nas dependências do IFRN em

dias e horários marcados com os próprios estudantes. Após a gravação das entrevistas,

as mesmas foram transcritas, para que fossem melhor analisadas. Com as transcrições

das entrevistas, os dados foram categorizados resultando nos principais eixos, que foram

nucleados em três categorias mais importantes para o debate do tema.

O primeiro eixo que se destacou foi a violência como um elemento fortemente

citado sobre as manifestações e o poder de influência da mídia. O segundo eixo foi a

forte influência das redes sociais na participação nos protestos e o anseio por mudanças

na sociedade brasileira; e por fim, o terceiro eixo que se destacou foi a descontinuidade

e o enfraquecimento do movimento, sendo considerado por alguns como “modinha”.

Esses eixos geraram os capítulos desse trabalho.

Para fins de exposição do conteúdo o trabalho está dividido em três capítulos. O

primeiro resgata os antecedentes históricos das lutas sociais em todo o mundo, traçando

a conjuntura política que desencadeia essas lutas no Brasil e no mundo, passando pela

emergência dos novos movimentos sociais até chegar ao momento atual brasileiro em

que ocorreram as Jornadas de Junho/13 e suas peculiaridades.

O segundo capítulo traz uma caracterização do movimento de acordo com a

perspectiva dos estudantes entrevistados. Este capítulo se fundamenta nas próprias falas

dos estudantes, trazendo seus posicionamentos sobre a participação, a repressão aos

movimentos, sua continuidade, a posição da mídia. E, finaliza com a repercussão das

2 O SUAP é um sistema da web cujo objetivo é automatizar e integrar processos administrativos dos

institutos federais (em especial do IFRN). O SUAP possui os seguintes módulos: Recursos Humanos,

Protocolo, Almoxarifado, Patrimônio, Planejamento, Ponto Eletrônico, Assistência Estudantil, Ensino,

Financeiro, Orçamento, Frotas, Chaves, Contratos e Convênios, Contra-cheques, Portaria, Materiais e

Progressões.

3 Um dos estudantes selecionados não confirmou a participação na pesquisa.

14

Jornadas de Junho/13 para o IFRN, resgatando seu histórico de movimento estudantil e

mostrando o quadro atual de participação política.

O terceiro e último capítulo trata da relação ideológica entre a mídia e a

violência no movimento. Este capítulo mostra o quanto a mídia tem o poder de

influenciar as opiniões da população e os rumos do movimento com a sua posição

ideológica neoconservadora.

Por fim, é importante informar que o projeto de pesquisa foi submetido ao

Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes – CEP HUOL e

aprovado sob o parecer nº 700.557.

15

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS JORNADAS DE JUNHO/13: ANTECEDENTES

HISTÓRICOS

Debater as Jornadas de Junho/13 no Brasil exige que as contextualizemos no cenário

histórico mais amplo. Até porque, uma das principais marcas desse processo, foi seu

ineditismo enquanto um determinado formato de manifestação de rua. No mundo inteiro

vive-se um tempo de regressão dos direitos sociais com o advento do neoliberalismo na

década de 1990. O capitalismo global é quem dita as regras no âmbito econômico,

político e social em muitos países. O Brasil é um desses países que é governado para

privilegiar os interesses do capital e não da classe trabalhadora. Enquanto isso os

trabalhadores atravessam uma fase turbulenta de sucateamento das políticas públicas,

desemprego, precarização das condições de trabalho. Essa estrutura expressa a

contradição fundamental entre capital e trabalho, para um desses elementos se

sobressair, o outro precisa estar enfraquecido. No cenário atual o capital está em uma

fase próspera, o resultado inevitável disso é a exploração da camada de trabalhadores.

A partir da insatisfação da população diante de tanta precarização das condições de

vida é que surgem as manifestações. Elas surgem em um momento em que a população

chegou ao seu limite, e não suporta mais assistir passivamente os seus direitos serem

negados diariamente. É a partir disso que as pessoas veem nas manifestações coletivas

uma forma de interferir nas decisões politicas e melhorar as condições de vida. Outro

fato é que os tradicionais movimentos sociais e organizações não estão dando mais

conta de conduzir a luta organizada dos trabalhadores, daí surgem as grandes

manifestações de rua que ocorreram em junho em um novo formato, sem bandeiras de

partidos, mas também, sem perspectiva de continuidade.

Este capítulo fará uma breve contextualização histórica em relação às lutas sociais

no cenário global. No primeiro tópico serão abordadas as configurações políticas e

socioeconômicas que desencadearam as manifestações populares em diversas partes do

mundo durante a história para introduzir o contexto atual de lutas sociais. Em seguida

traz o contexto da emergência dos novos movimentos sociais, que trazem pautas

complementares às luta de classes, a exemplo das lutas feministas, ambientalistas, de

negros etc.

O segundo tópico traz uma análise de como se deu historicamente a participação do

povo brasileiro na política, até chegar no momento atual, finalizando com o principal

16

tema que se pretende discutir, as chamadas Jornadas de Junho/2013, como são

denominadas por alguns autores, as últimas maiores manifestações políticas ocorridas

no Brasil.

2.1 LUTAS SOCIAIS E O CONTEXTO DO CAPITAL

Falar nas jornadas de junho/2013 leva a refletir sobre o longo caminho

percorrido pelos movimentos sociais na história. Então, faz-se necessário contextualizar

o momento que vivemos no cenário mundial, caracterizado por uma crise global que se

reflete na vida social, política, econômica. Essa crise acarreta consequências destrutivas

na vida da classe trabalhadora. Vale salientar que as crises são inerentes ao sistema

capitalista, este necessita delas para se reproduzir. O capital em seu processo de

expansão penaliza a humanidade e cresce de forma incontrolável. Ou seja, essa

expansão se dá regida pela lógica da valorização do capital, secundarizando as

necessidades humanas vitais. Nesse sentido, Antunes na introdução de Mészáros (2011,

p. 11) afirma que “a produção e o consumo supérfluos acabam gerando a corrosão do

trabalho, com a sua consequente precarização e o desemprego estrutural, além de

impulsionar uma destruição da natureza em escala global jamais vista anteriormente”.

Em relação às consequências da expansão para o trabalho, o cenário é marcado

pela sua precarização e desemprego. O processo de reestruturação produtiva que ocorre

no final da década de 1960 quando o modelo de acumulação fordista4 entra em crise,

diminuindo as taxas de lucro e afetando a organização social, inaugura o modelo de

acumulação flexível paralelamente ao processo de precarização do trabalho. O processo

de degradação do trabalho se manifesta principalmente através do desemprego,

degradação da compra e venda da força de trabalho, o preço da força de trabalho,

qualidade dos postos de trabalho.

Além disso, a autorreprodução do capital ainda acelera o processo de destruição

da natureza, utilizando os recursos naturais em uma escala que não obedece às

demandas da humanidade, mas sim as necessidades do grande capital. O impacto

produzido pela crise atinge as dimensões vitais do ser humano, e isso se torna nítido

4 O fordismo configura-se como um verdadeiro regime de acumulação e implementa um sistema de

regulação e compromisso entre proprietários do capital, trabalhadores e o Estado, conhecido como

compromisso fordista ou welfare state.(Faria e Kremer, 2004)

17

quando observamos um sistema que “no auge do seu poder produtivo, está produzindo

uma crise alimentar global” (MÉSZÁROS 2011, p. 21).

Enquanto o sistema produz uma crise alimentar global e milhões de pessoas

sofrem no mundo, para o The Economist, (semanário de distribuição em massa com

sede em Londres dominado pelos Estados Unidos) a crise que enfrentamos é para

“salvar o sistema”. Os dados abaixo mostram como tem crescido o preço dos alimentos,

estatística que atinge diretamente a vida do trabalhador:

[...] só no decorrer de 2007 “o índice de preços dos alimentos de The

Economist saltou aproximadamente 55%” e “a alta dos preços dos alimentos

no fim de 2007 e princípio de 2008 provocou tumultos em cerca de 30

países” (MÉSZÁROS 2011, p. 21).

Enquanto isso a preocupação das nossas autoridades políticas e financeiras é a

injeção de grandes quantidades de dinheiro público para resolver as grandes crises

bancárias. A crise também se estende para os setores produtivos, a indústria

automobilística está com problemas apesar de receber subsídios do Estado americano.

“A imensa expansão especulativa do aventureirismo financeiro – sobretudo nas últimas

três ou quatro décadas – é naturalmente inseparável do aprofundamento da crise dos

ramos produtivos da indústria [...]”. (MÉSZÁROS, 2011 p. 25).

Outro elemento que merece destaque aqui é a corrupção inerente ao capital.

Segundo Mészáros (2011, p.26) “Na verdade, a cada vez mais densa selva legislativa do

Estado capitalista passa a ser o legitimador “democrático” da fraudulência

institucionalizada nas nossas sociedades”. Esse fato pode explicar a rejeição das

estruturas políticas tradicionais nas manifestações que ocorreram nas ruas em diversos

países, já que as pessoas não se sentem representadas pela classe política. Em especial

no Brasil, [...] “É preciso lembrar que a taxa de apartidarismo por parte da população

sempre foi alta no Brasil, uma vez que os partidos burgueses e as instituições

representativas nunca vicejaram entre nós” (SECCO 2013, p. 74).

Não é difícil perceber que diante desse panorama de crise estrutural, que a sua

consequência é cada vez mais o aprofundamento do desemprego e da miséria humana, e

que o Estado capitalista não está preocupado em solucionar esses problemas. E para que

essa realidade mude, Mészáros (2011, p.27) coloca que não é possível a realidade mudar

18

“sem a mudança radical do nosso modo de reprodução sóciometabólica”5. Assim, seria

necessário que nossas práticas estivessem voltadas para a necessidade humana ao invés

do alienante lucro.

Vale salientar que o contexto atual não é favorável às lutas sociais, pelo

contrário, a crise provoca a desmobilização da classe trabalhadora. O sistema capitalista

com o advento do neoliberalismo fomenta o individualismo nas pessoas, além de todo o

bombardeamento de falácias através da mídia. Assim, o sistema é dotado de todo um

aparato de estratégias para desmobilizar o conjunto de trabalhadores.

Embora o contexto atual seja desfavorável às lutas sociais, as pessoas sentem na

pele as consequências destrutivas da expansão capitalista, embora não saibam que esse é

o motivo que as leva a sofrer essas consequências, muitos culpam o governo, os

funcionários públicos e outras entidades por isso. Nessa situação a contradição entre

capital e trabalho se expressa fortemente e a população chega ao limite, as insatisfações

e descontentamentos da população fazem surgir as mobilizações sociais, embora sejam

passageiras em alguns casos. No momento em que as pessoas percebem que seus

interesses estão sendo secundarizados em detrimento da expansão capitalista, ainda que

não saibam, elas começam a se unir e se fortalecer para lutar por melhores condições de

vida que atendam as suas necessidades de trabalho, saúde, educação, etc. Vale salientar

que o sistema se utiliza de diversas estratégias para desmobilização da classe

trabalhadora, como foi dito anteriormente, por isso muitas pessoas até desconhecem as

razões para estarem na situação que estão, considerando com algo natural e comum, mal

sabem o que causa a fome, desemprego miséria e também não sabem o que fazer para

mudar isso. Entretanto, existem grupos com um conhecimento a mais que lideram as

lutas populares, tentando formar frentes contra as injustiças sociais. Esses grupos, em

sua maioria, são movimentos sociais, ONG’S, partidos políticos, etc. Enfim existem

iniciativas, embora um tanto pontuais e fragmentadas, de transformar a realidade para

melhor.

É importante falar aqui da emergência dos “Novos Movimentos Sociais”6 para

relacionar com as mobilizações ocorridas no Brasil em junho de 2013. Embora a crise

5 Segundo Mészáros (2011, p. 11) o sistema sociometabólico do capital tem seu núcleo central formado

pelo tripé capital, trabalho assalariado e Estado, três dimensões fundamentais e diretamente inter-

relacionadas, o que impossibilita a superação do capital sem a eliminação do conjunto dos três elementos

que compreendem esse sistema.

19

global não favoreça a organização das camadas populares, não deixam de existir alguns

pontos de resistência, embora sejam fragmentados como veremos adiante.

Para situar o contexto em que surgem os chamados “Novos Movimentos

Sociais” Montaño e Duriguetto (2010, p. 248), afirmam que esses movimentos surgem

principalmente em meados do século XX e tem por função ser um complemento das

lutas de classes dos movimentos clássicos e outras vezes são vistos como alternativos

aos movimentos de classes tradicionais e aos partidos políticos de esquerda.

Na América Latina esses movimentos emergem em um contexto de expansão

capitalista, que se deu de forma atrasada e dependente nos países latino-americanos, e

no período que ficou conhecido como Guerra Fria (1946-1989), mecanismo norte-

americano para conter o comunismo no continente e aprofundar a sua dominação

política e econômica. Nessa conjuntura o mundo se dividiu em dois blocos: o bloco

socialista e o bloco capitalista. A partir daí surgem processos insurrecionais em diversos

países que inspiram esses movimentos. Dentre elas a Revolução Russa (1917), a

Revolução Cultural na China (1966), a Guerra na Coreia (1950) , a Guerra do Vietnã

(1959) entre outras. Quando finda a Guerra Fria7 (meados da década de 1980) com o

fim do bloco conhecido como do “socialismo real” esses processos revolucionários

abandonam os princípios socialistas, anticapitalistas e anti-imperialistas. Nesse cenário

o imperialismo norte-americano se fortalece, em especial com apoio da estratégia

neoliberal e o processo de reestruturação produtiva.

Nesse sentido, é de suma importância relatar um acontecimento decisivo para a

emergência dos Novos Movimentos Sociais. O Maio Francês de 1968, um ano

importante de lutas políticas em diversos países. Nesse ano, o movimento estudantil

protagoniza grandes mobilizações na Europa, tendo na França a juventude estudantil se

expressado com maior radicalidade. Os estudantes se aliaram aos trabalhadores e

conseguiram promover uma greve geral no país. Assim como no Maio Francês/1968,

nas Jornadas de Junho/2013 a juventude foi protagonista, entretanto não teve um

alcance tão grande como no Maio Francês que promoveu uma greve geral. Muitos dos

movimentos que estão em pauta atualmente têm no maio francês um divisor de águas:

6 O termo está sendo colocado entre aspas e com o adjetivo “novos” porque segundo Montaño e

Duriguetto (2010, p. 248) é a denominação mais utilizada para tratar os Movimentos Sociais

Contemporâneos, entretanto, é uma questão se eles são realmente novos. 7 Conflito ideológico e belicista que marca a disputa entre o bloco socialista e comunista.

20

O maio francês ajudou a abrir caminho para que surgissem movimentos que

levantaram bandeiras político-culturais progressistas como os feministas, o

dos negros – Malcolm X, os Panteras Negras e Luther King se manifestavam

pelos direitos civis dos negros norte-americanos -, os ambientalistas, os

movimentos contra a opressão homofóbica. (MONTAÑO E DURIGUETTO,

2010 p. 258-259).

O maio francês de 1968 teve diferentes interpretações. Mandel (MONTAÑO E

DURIGUETTO, 2010 p. 260) o classifica como um movimento classista e político. Já

para o historiador marxista inglês Hobsbawn (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p.

260) essas manifestações tiveram um caráter individualista e hedonista, que ele

classificou como uma Revolução Cultural. É importante destacar que o maio de 1968 se

situa no contexto da crise global da década de 1970, da crise dos projetos societários

social-democrata na Europa Ocidental e da crise do “socialismo real”. Esse contexto

representou um distanciamento da esquerda das novas reivindicações da década de

1960. Com o regime keynesiano8 os trabalhadores tiveram ganhos no sentido de

aumento salarial, ganhos de produtividade, o que fez com que houvesse uma pacificação

do conflito de classes dirigido pelos partidos comunistas, de esquerda e sindicatos, e é

nesse momento que irrompe o levante estudantil (LEFEBVRE, 1968 apud MONTAÑO

E DURIGUETTO, 2010 p. 262). Essas manifestações também desenvolveram uma

crítica ao socialismo real devido a centralização política do aparato estatal e a crítica ao

stalinismo, o que gerou uma crise global do “bloco socialista”.

Os acontecimentos históricos anteriormente destacados – a desestalinização reivindicada pelo campo socialista; a dominação do movimento da classe

trabalhadora ocidental por organizações e ideologias ligadas à social-

democracia e a eclosão dos movimentos de Maio de 1968 – inauguram uma

nova fase no interior do movimento revolucionário mundial e nos debates da

esquerda (Ver Hobsbawn, 1983; Callinicos, 1995). Essa nova fase é marcada

pelo desenvolvimento das ações e do debate dos chamados Novos

Movimentos Sociais (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p. 263).

Os “Novos Movimentos Sociais” surgem no marco dos “movimentos

autônomos”, que se constituíram na busca de alternativas às lutas sindicais por

trabalhadores que organizaram ações que iam além das demandas por melhorias

salariais. Porém, essas lutas operárias não conseguiram se converter em um projeto

societário dos trabalhadores contrário ao do capital. Além disso, as lutas operárias não

conseguiram se articular aos novos movimentos sociais que surgiam, sobretudo porque

elas não saíram do âmbito de dentro da empresa. Os novos movimentos sociais

8 O keynesianismo foi uma saída para a crise que atingiu seu ápice entre os anos de 1929 a 1932 proposta

por John Maynard Keynes (1883-1946), em que ele defendeu uma maior intervenção do Estado na

economia. Com o sistema keynesiano o Estado tornou-se produtor e regulador. (Behring e Boschetti,

2010 p. 83-84)

21

contribuem positivamente para as lutas por trazerem à tona questões de gênero, de raça,

etnia, religião, sexualidade, ecologia, e a reivindicação de acesso a bens de consumo

coletivo: saúde, educação, transporte, moradia, a exemplo das próprias jornadas de

junho/2013 em que os manifestantes traziam principalmente reivindicações por bens de

consumo coletivo. Por outro lado, esses movimentos tangenciam as relações sociais

capitalistas, por não se aliarem a luta do proletariado, o que acaba limitando seu alcance

político. Isso acontece porque a sociedade capitalista destrói o

sentimento de pertencimento à uma classe, e mesmo lutando por bens de consumo

coletivo, o individualismo predomina.

Após essas reflexões, faz-se necessário conhecer como se dá a participação

política no Brasil, um país marcado pelas heranças deixadas desde a sua colonização,

com relações baseadas no clientelismo, é sobre isso que trata o próximo ponto.

2.2 PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL: AS JORNADAS

DE JUNHO/13

O nosso país historicamente excluiu as camadas populares dos espaços de poder

e participação. Sua estrutura econômica e social é marcada pela concentração da

propriedade e da renda e de uma enorme desigualdade social. O modelo econômico do

país após o golpe de 1964 é marcado pela subordinação ao grande capital monopolista

internacional, como sempre o desenvolvimento se deu de forma atrasada e dependente.

Nos anos em que ocorreu o “milagre econômico” (1968-1973), período de

expansão do capitalismo brasileiro, o Brasil adota uma estratégia de crescimento

baseada no endividamento externo, o que significou para a classe trabalhadora o

aprofundamento do arrocho salarial, desemprego, piores condições de vida e trabalho.

Segundo Behring e Boschetti (2010, p. 134) “Enquanto no plano internacional

desencadeava-se a reação burguesa, o Brasil, no contexto da ditadura militar pós-1964,

vivia a expansão do “fordismo à brasileira” (SABÓIA, 1988 e 1990), por meio do

chamado Milagre Brasileiro”. No contexto do golpe de 64, Mendonça e Fontes (1996, p.

21) afirmam: “Dentro desse quadro, o favorecimento da grande empresa era o seu

objetivo. O arrocho salarial, sua estratégia. O combate à inflação, sua justificativa

legitimadora. O “milagre” econômico veio a ser seu resultado”.

Como sempre o Brasil apresenta uma falta de sincronia com o tempo histórico

dos processos internacionais. Esse fato, combinado a insatisfação do sistema ditatorial

22

instaurado no país é o que faz reemergir no cenário político o proletariado urbano e os

movimentos populares, que vão gerar uma crise da autocracia burguesa. Utilizando a

estratégia do arrocho salarial para com a classe trabalhadora sob a justificativa de

combater a inflação, o país assistiu a uma recessão na economia. De acordo com

Mendonça e Fontes (1996, p. 22) “Deu-se o chamado “milagre”, o qual nada mais

significou senão a garantia de lucros mirabolantes às empresas oligopolistas, nacionais e

estrangeiras”.

A modernização capitalista no período ditatorial leva a uma alteração da

configuração do país que passa a ser urbano-industrial, o que altera a configuração da

classe trabalhadora, levando-a a se concentrar predominantemente nos centros

industriais reforçando o assalariamento econômico.

Entre 1970 e 1980, o proletariado brasileiro duplicou de aproximadamente

7,7 milhões para 14,3 milhões. Em 1950 era da ordem de 2,8 milhões e quase

70% dos operários estavam concentrados nos grandes centros industriais da

região sudeste – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. (MONTAÑO E

DURIGUETTO, 2010 p.269)

Nesse processo, ocorre uma aceleração da migração para os grandes centros

industriais devido à criação das agroindústrias. A urbanização no país foi marcada por

esse fenômeno da migração em virtude da alteração na estrutura produtiva rural. Foi na

década de 1970 que o Brasil se tornou efetivamente urbano: “a população urbana

brasileira, como percentagem da população global, passou de 31,2% em 1940, a 67,6%,

em 1980” (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p. 269 apud SANTOS, 1985 p. 237).

Nesse sentido, também se desencadeia o processo de “favelamento”, um aumento de

moradias irregulares nas zonas periféricas das grandes cidades devido aos baixos

salários decorridos do arrocho salarial e do descaso do governo em relação aos bens e

serviços coletivos. Daí surge inúmeros problemas relativos ao transporte coletivo, ao

sistema público de saúde, escolas, saneamento, iluminação etc. “É nesse contexto que

emerge no Brasil um novo sindicalismo, uma diversidade de movimentos sociais

urbanos e os movimentos do campo”. (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p. 270)

Nos anos de 1961 e 1964 as classes subalternas se expressam fortemente no

cenário das lutas no Brasil, quando se expressa uma intensa mobilização social através

do movimento sindical, movimentos do campo e movimento estudantil. Tais

movimentos se reúnem em prol das “reformas de base” (reforma agrária, tributária,

bancária, urbana, política e universitária, de cunho democrático e nacionalista). Estes

23

realizaram centenas de greves tanto pelo movimento sindical urbano quanto pelos do

campo. Nesse período, foram realizadas inúmeras atividades na área da educação e

cultura na luta por um projeto de desenvolvimento social autônomo. Sob essa direção

foram acionadas diversas organizações para atuar nessa luta, a União Nacional dos

Estudantes (UNE) criou os Centros Populares de Cultura (CPCs), os movimentos

católicos estudantis vinculados a esquerda também se destacaram, e no campo partidário

temos a criação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a Política Operária (Polop) e

a Ação Popular (AP). As classes subalternas colocam em pauta uma questão central da

nossa formação social que revelam uma das razões de uma certa tendência à “apatia”

dos cidadãos brasileiros em relação as questões políticas: “o capitalismo sem reformas e

a exclusão das massas dos níveis de decisão” (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010 p.

270).

Apesar dos esforços empenhados nas lutas pelas “reformas de base”, em 1964

ocorre o golpe militar no qual a “autocracia burguesa” se instala e imprime um

direcionamento contrário ao desenvolvimento econômico-social e político do país,

revertendo o processo democrático em curso. Nesse período são criados diversos

mecanismos políticos de repressão a qualquer forma de organização, momento

conhecido como “anos de chumbo” (a partir de 1968) em que é decretado o AI-5. Ao

mesmo tempo as condições favoráveis são direcionadas ao capital internacional e

nacional.

Na segunda metade do século XX e início do século XXI emergem uma gama de

movimentos sociais na América Latina e particularmente no Brasil, dos quais merecem

destaque os movimentos de resistência a ditadura e redemocratização do país, que

tiveram como marco momentos como a Passeata dos Cem Mil em 26 de junho de 1968,

depois desse período o Brasil passou por mais de 20 anos de Ditadura Militar, mortes e

perseguição política. Em 1979 o país teve o grande marco da greve dos metalúrgicos do

“ABC” paulista, o movimento “Diretas já” em 4 de abril de 1984 inaugurou o início de

uma nova fase da tentativa de redemocratizar o país. Foi uma longa jornada de lutas

empenhadas em derrotar o regime ditatorial no Brasil e conquistar as liberdades

democráticas.

Têm-se como tendência nas primeiras décadas do século XX, os Movimentos

por bens de consumo coletivo que surgem devido à precariedade das condições de

24

habitação, transportes, saúde, protagonizado pelos bairros da periferia com o apoio de

militantes católicos. Outro movimento de grande relevância nesse cenário é o

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que luta pela reforma agrária e

tem bastante expressão na realidade brasileira e latino-americana. Esse movimento age

principalmente através da ocupação de grandes latifúndios improdutivos. Além desses,

existem os movimentos étnicos e raciais, a exemplo dos movimentos indígenas e

camponeses e do Movimento Negro. Dentro dessa diversidade de movimentos ainda

existem o movimento feminista, estudantil e por liberdade de orientação sexual.

A participação política hoje, se apresenta através da sua manifestação mais

recente, as Jornadas de Junho/2013. No atual contexto em que o Estado intervém

minimamente no campo social assiste-se a uma regressão dos direitos sociais

conquistados historicamente através das lutas dos trabalhadores. É no cenário brasileiro

de exclusão das massas e de inúmeras peculiaridades já citadas que eclodem as lutas em

junho de 2013 no Brasil. Essas lutas surgem em um momento de descontentamento

geral, inclusive em vários países ocorreram lutas semelhantes. As lutas no panorama

mundial têm algumas características em comum com as que aconteciam no Brasil.

Segundo Žižek (2013, p.102) é interessante que esses protestos não tenham acontecido

somente nos países mais fracos do sistema, mas também nos países considerados de

economia próspera, ou que pelo menos passam por um período de rápido

desenvolvimento, por exemplo, a Turquia, a Suécia e o Brasil. O mesmo autor ainda

acrescenta que em 2011 quando explodia uma onda de manifestações pela Europa e

Oriente Médio muitos comentaristas diziam que essas lutas não tinham relação umas

com as outras, cada uma reagia a uma situação específica, o que é interessante para os

defensores da ordem mundial, afirmar que não há nenhuma ameaça ao sistema, porém

estas podem ser sinais de uma crise global. O que fica claro é que os manifestantes não

perseguem um único objetivo, mas compartilham o sentimento de insatisfação que os

identifica. Dentro dos próprios protestos há uma interrogação sobre o que eles

representam. Segundo Slajov Žižek (2013, p.103):

Devemos evitar o essencialismo aqui: não existe um único objetivo real

perseguido pelos manifestantes, algo capaz de, uma vez concretizado, reduzir

a sensação geral de mal-estar. O que a maioria dos manifestantes compartilha

é um sentimento fluido de desconforto e descontentamento que sustenta e une

demandas particulares.

25

É interessante para os defensores da ordem mundial dizer que os protestos pelo

mundo são desconexos, sendo que ambos têm a ver com o capitalismo global. Segundo

Žižek (2013 p.104), “[...] e o que unifica tantos protestos em sua multiplicidade é que

são todos reações contra as múltiplas facetas da globalização capitalista”. Para Slavoj

Žižek esses protestos lidam com uma combinação de questões de cunho econômico e

político-ideológico. É o caso do Occupy Wall Street, que sugere ideias de

descontentamento do capitalismo como sistema e a consciência de que a democracia

multipartidária representativa não é suficiente para combater os excessos capitalistas.

Por toda a Europa e Oriente Médio explodiu uma onda de manifestações em 2011. De

forma geral, essas manifestações criticam a forma de democracia que é insuficiente para

os excessos capitalistas, ou exigem a própria democracia a depender da evolução

política dos países. Assim como na Primavera Árabe e na Revolução Verde no Irã, cujas

mobilizações dirigiram-se contra o autoritarismo dos regimes. Mas, é importante

perceber que todos esses movimentos são contra o sistema capitalista nos seus países, o

que os diferencia são algumas particularidades do estágio em que se encontra o

capitalismo. Por exemplo, no Egito os manifestantes lutavam pelo que o Occupy já tinha

(a liberdade e a democracia).

No ano de 2011 houve uma grande eclosão de protestos pelo mundo, e é muita

hipocrisia dizer que são acontecimentos isolados em cada país, parece que muitos povos

se indignaram em um mesmo momento, cada um com reivindicações específicas da sua

região, porém com características muito semelhantes. Para Carneiro (2011, p. 9) “Em

todos os países houve uma mesma forma de ação: ocupações de praças, uso de redes de

comunicação alternativas e articulações políticas que recusavam o espaço institucional

tradicional”. Não há como dissociar essas ocupações, se todas partilham do mesmo

pano de fundo, o panorama mundial é de crise geral do capitalismo. E os motivos que

levam o povo a rebelar-se são questões que atingem frontalmente a classe trabalhadora

como bem coloca Carneiro (2012, p.9):

O pano de fundo objetivo é uma crise social, econômica e financeira que se

arrasta desde 2008 e tem como consequências a carestia dos gêneros

alimentares e o aumento do desemprego, mas o grande impasse que está

presente é a ausência de alternativas políticas organizadas.

A partir dessas ideias é possível analisar a repercussão desses movimentos na

realidade do IFRN – Campus Natal Cidade Alta a partir de relatos dos próprios

estudantes.

26

No Brasil as lutas no formato das Jornadas de Junho/13 se iniciaram devido ao

aumento da tarifa do transporte coletivo, mas isso foi só o começo, as massas foram às

ruas exigir melhores condições de vida. A partir daí o movimento só cresceu e se

espalhou por todo o Brasil, cada vez mais manifestantes aderiram, vieram as conquistas

e mesmo quando baixou o preço da tarifa o movimento continuou, mostrando que o

problema não era só esse, era de ordem estrutural. Segundo a entrevistada 3 da pesquisa

“nós não tivemos uma resposta efetiva”. A opinião da jovem mostra que os protestos

não eram apenas pelo não aumento da passagem, mas sim por um transporte de

qualidade, com preços mais acessíveis. Ela ainda acrescenta que os protestos atingiram

outras áreas como a educação, saúde, segurança e consequentemente demandava

respostas mais efetivas em todas essas áreas.

A grande mídia começou satanizando a imagem dos movimentos sociais,

só mostrando o vandalismo, a violência. A repressão policial foi muito grande nas

primeiras manifestações. Mas, em um segundo momento as mobilizações evoluíram e a

mídia recuou. Mais à frente veremos o papel decisivo que a mídia teve nesse

movimento como formadora de opinião para as pessoas que não participaram dos

protestos, sobretudo acerca do fenômeno da violência.

Além disso, as lutas foram marcadas pelo caráter jovem, criativo, irreverente,

sendo as redes sociais o principal aliado para marcar as manifestações. O problema é

que esses movimentos não conseguem se aliar as lutas dos trabalhadores contra o

capitalismo, na verdade não é de conhecimento da maioria das pessoas que as questões

que afligem no cotidiano têm sua raiz no sistema capitalista.

A partir da pesquisa realizada foi possível observar que essas manifestações

significaram uma ruptura com o longo período de inércia que pairava sobre a população

brasileira em termos de movimentos sociais. As manifestações populares, denominadas

pelos teóricos de “Jornadas de Junho/2013”, se espalharam por todo o país. Sem sombra

de dúvidas esses movimentos foram um avanço para a consolidação do direito da

população à cidadania e a democracia no Brasil. Sobre esses valores, importa destacar

que eles são inerentes à sociedade capitalista, e não dão conta de superá-la, apenas de

garantir direitos aos cidadãos dentro do Estado. A cidadania e a democracia fazem parte

de uma sociedade emancipada politicamente, contudo, a emancipação política não

garante que o homem seja livre e alcance a emancipação humana. Alguns autores

27

abordam essa questão, um deles é Marx (2005, p. 23), em sua obra “A Questão Judaica”

afirma:

Não há dúvida que a emancipação política representa um grande progresso.

Embora não seja a última etapa da emancipação humana em geral, ela se

caracteriza como a derradeira etapa da emancipação humana dentro do

contexto do mundo atual. É óbvio que nos referimos à emancipação real, à

emancipação prática.

Sendo assim, os homens podem desfrutar de direitos de cidadania na sociedade

atual sem que haja a emancipação humana, pois os direitos humanos ultrapassam o

conceito de cidadania. Ainda segundo Marx (2007, p. 30-31)

Os direitos humanos não são, por conseguinte, uma dádiva da natureza, um

presente da história, mas fruto da luta contra o acaso do nascimento, contra

os privilégios que a história, até então, vinha transmitindo hereditariamente

de geração em geração. São o resultado da cultura [...]

Já Coutinho (1987, p. 108) tem um pensamento diferenciado em relação a

questão da democracia, o qual considera que a democracia é um momento ineliminável

de superação da ordem capitalista e a consequente transição para o socialismo. Ele

utiliza os conceitos inspirados em Gramsci de “democracia progressiva”, de Palmiro

Togliatti, e “democracia de massas”, elaborado por Pietro Ingrao. O primeiro concretiza

a teoria gramsciana da guerra de posições, um regime democrático que orienta-se no

sentido de hegemonia das classes trabalhadoras e superação da ordem capitalista. O

segundo conceito parte da ideia de que com a socialização da política cria-se um novo

terreno para a luta pelo socialismo. Ou seja, para ele, a democracia é um requisito

essencial para a superação do sistema capitalista, enquanto Marx acredita que a

democracia não possibilita essa superação, mas sim, faz parte desse sistema.

O estopim das lutas foi o aumento de tarifa do transporte coletivo, que atingiu

diretamente a população de trabalhadores e estudantes que necessitam desse tipo de

transporte diariamente. Assim, os protestos se iniciaram nas grandes cidades do Brasil e

surgiu uma pauta extensa de reivindicações por melhores condições de vida, direitos

que historicamente foram e ainda são negados aos cidadãos, sendo as principais

reivindicações a garantia da saúde e educação.

Alguns autores afirmam que essas lutas estão relacionadas à questão urbana, e a

pauta de reivindicações está ligada ao direito à cidade. Segundo Harvey apud Lefebvre

(2013 p.28) sobre o direito à cidade, ele “pode apenas ser formulado como um renovado

e transformado direito à vida urbana”. Ou seja, não é apenas ter acesso ao que já existe,

28

mas sim poder refazer e mudar a cidade em que se vive de acordo com as necessidades

coletivas. Por conhecer a realidade das cidades brasileiras e suas más condições de vida,

Maricato (2013 p.19-20) afirma:

As cidades são o principal local onde se dá a reprodução da força de trabalho. Nem toda melhoria das condições de vida é acessível com melhores salários

ou com melhor distribuição de renda. Boas condições de vida dependem,

frequentemente, de políticas públicas urbanas – transporte, moradia,

saneamento, educação, saúde, lazer, iluminação pública, coleta de lixo,

segurança.

Nesse sentido, as pessoas passaram a perceber que a vida na cidade estava

desconfortável, faltava e ainda faltam boas condições de vida, que como a própria

autora coloca não é possível somente com melhores salários. Desse modo, a população,

na tentativa de mudar essas condições, resolve atuar através da luta social e política. As

demandas requeridas pelos manifestantes constituem um conjunto de políticas públicas

urbanas que proporcionem melhores condições de vida na cidade. Os fatores

condicionantes das lutas são agravados pela forte desigualdade social existente no país

enfatizada pela globalização e pela guinada em direção ao neoliberalismo. Para Harvey

(2013 p.29):

As chamadas cidades “globais” do capitalismo avançado são divididas

socialmente entre as elites financeiras e as grandes porções de trabalhadores

de baixa renda, que por sua vez se fundem aos marginalizados e

desempregados.

Ou seja, há uma segregação nítida entre as classes sociais nas cidades “globais”,

o que levou a camada de trabalhadores a indignar-se contra os mandos e desmandos do

sistema capitalista.

A juventude foi protagonista nas lutas sociais no Brasil no ano de 2013, esse fato

merece atenção, implica em dizer que esses jovens se indignaram com a realidade

perversa que está posta no cenário atual e não estão dispostos a aceitar essa realidade

sem se indignar e tentar fazer algo para revertê-la. De acordo com Secco (2013 p. 71)

“Alguns números revelam o óbvio: desde 1992 não havia protestos amplos e

generalizados no país, logo só poderia ser a primeira vez dos jovens manifestantes”. A

indignação desses jovens os levou às ruas para reivindicar melhores condições de vida

para a população. Esse movimento irrompeu no país quando há mais de vinte anos não

29

se via algo parecido, mobilizações que tomaram todo o país na busca por

transformações na sociedade brasileira. De acordo com a entrevistada 19:

“[...] as pessoas estão se interessando, as pessoas querem participar, as pessoas estão

querendo construir digamos que uma sociedade melhor, uma coisa correndo atrás dos

seus direitos, de igualdade, cidadania, tudo isso é sim muito positivo, até porque a

gente via isso há décadas atrás no nosso país e a muito tempo a gente não via [...]”

Nessa fala depreende-se que a jovem reconhece como positiva a questão de

buscar melhorias para a sociedade através das lutas. Nisso a juventude atual e a da

década de 1980 se assemelham, embora na década de 1980 as manifestações tivessem

um propósito muito mais definido. O movimento “Diretas Já” lutava pelo direito ao

voto nas eleições e pela democratização da sociedade brasileira. Retomando a fala de

um dos jovens entrevistados ao afirmar que participou das manifestações disse:

“[...] participei, por achar um momento importante na transformação

brasileira, uma vez que nós tivemos esse movimento há muito tempo atrás né, na época

das ‘Diretas Já’ [...]”.

Assim percebe-se que a juventude reconhece a semelhança entre os dois

movimentos e a importância deles. Já as manifestações de junho de 2013 foram

heterogêneas, com uma pauta de lutas bem diversificada, e negando a existência de

lideranças. Ainda há muito para se pensar e analisar sobre as Jornadas de Junho/2013,

visto a atualidade do movimento. Conforme Souza (2013, p 66-67):

Desde 2012 havia um aumento considerável do número de greves, que

envolviam lutas de setores importantes do funcionalismo público

contra governos municipais, estaduais e federal. Contudo, o ascenso

do movimento de massas de junho de 2013, teve a juventude no

protagonismo. Esse setor atuou em grande escala e como expressava

uma insatisfação do conjunto da população, ganhou o apoio das

massas, mesmo com a ofensiva midiática, que se postulava contra os

movimentos e reproduzia a campanha (junto com governos) contra o

vandalismo.

Um elemento presente nas mobilizações foi o anti-partidarismo, podemos

associar isso à mudança de direção assumida pelos partidos e sindicatos após o advento

9 As falas dos entrevistados com mais de três linhas virão destacadas e centralizadas para diferenciar de

citações bibliográficas.

30

do neoliberalismo, a exemplo do PT e da CUT que aderem ao sindicalismo de

negociação e passam a ser coniventes com a manutenção do projeto neoliberal.

A ofensiva das massas incluía um choque com as instituições do regime

democrático burguês. A reivindicação do horizontalismo (espécie de

princípio para os novos organismos) é uma das expressões da rejeição aos

partidos e sindicatos. Uma consequência do leste europeu e, no caso

brasileiro, do PT e da CUT (SOUZA, 2013 p. 69).

A rejeição aos partidos políticos foi uma característica peculiar ao movimento,

os jovens, a maioria de classe média, inicialmente convocados pelas redes sociais, agia

com agressão a manifestantes que estivessem levantando bandeiras de partidos mesmo

não sabendo bem os motivos para fazer isso. Isso resulta, de certo modo, pela imagem

negativa como a classe política é avaliada no Brasil, fazendo com que os jovens não se

sintam parte desse processo. As estatísticas abaixo confirmam essas informações:

Segundo a Folha de S.Paulo, 84% dos manifestantes paulistas no dia 17 de

junho não tinham preferência partidária, 71% participavam pela primeira vez de um protesto e 53% tinha menos de 25 anos. Pessoas com ensino superior

eram 77% (SECCO, 2013 p.71).

Essa rejeição aos partidos apareceu na fala de uma das entrevistadas da pesquisa.

A entrevistada 3 participou das manifestações e afirma “Eu sou apartidária, eu não

compactuo com nenhum partido político aqui em Natal”.

Apesar do avanço na participação política no Brasil, há muitas críticas a se fazer

sobre o movimento. É notório que o movimento não tinha uma pauta de lutas definida,

cada pessoa ou grupo levava sua reivindicação às ruas sem haver uma organização

anterior, se tornando uma pauta bastante heterogênea. Isso se dá também por não haver

pessoas a frente do movimento que liderassem a luta como os movimentos tradicionais.

Segundo Secco (2013 p.72) “Também ela é uma forma nova. Não tem carros de

som nem palanques com oradores. Mas aqui reside a apropriação farsante da atuação do

autêntico Movimento Passe Livre (MPL) [...]”. Não se sabia ao certo o porquê se estava

lutando, era uma série de demandas diferentes sendo reivindicadas pela população, as

pessoas simplesmente iam às ruas e davam o seu grito por mais saúde, educação,

transporte, enfim, direitos no geral. Sobre isso Secco (2013 p.72) afirma que “A

totalização de suas demandas teria de ser mais do que a simples soma das partes que se

despem de modo fragmentado nas ruas”.

31

Outra crítica diz respeito a descontinuidade do movimento, foi algo que explodiu

no país todo e depois tudo se acalmou, o movimento enfraqueceu no formato de grandes

manifestações coletivas e, hoje está mais pontual. Ao falar sobre o movimento a nível

nacional uma jovem estudante entrevistada na pesquisa afirma que “[...] Natal foi uma

faísca pra o que aconteceu, foi a faísca pra o Brasil acordar e voltar a dormir depois

[...]”. Outro jovem ao falar sobre o assunto refere que

“[...] na verdade a gente sabe que, o movimento chegou um momento que enfraqueceu,

o movimento ele perdeu força, inclusive com todas essas revoltas e confusões e brigas e

quebra-quebra, o movimento foi perdendo legitimidade”.

Nessas falas de jovens participantes do movimento é possível notar também a

participação desqualificada no movimento, de pessoas que não procuravam a Plenária10

e iam sem saber muito o que estavam fazendo. Além disso, fica clara a questão do

enfraquecimento do movimento, ele atingiu o seu ápice e logo depois se acabaram as

grandes manifestações coletivas, transformando o movimento em iniciativas pontuais.

Foi uma peculiaridade do movimento, a influência das redes sociais na

participação dos manifestantes. Na pesquisa ficou claro que as redes sociais foram

fundamentais para a organização do movimento, contudo não foi suficiente para que o

movimento tivesse continuidade. A entrevistada 3 afirma “Eu comecei a ver as

movimentações através da internet e via que a mídia era ao contrário.” Em outras falas

também é notório que as redes sociais influenciaram fortemente na participação dos

jovens. Até mesmo os estudantes entrevistados que não participaram das Jornadas de

Junho dizem que a principal forma de acompanhar o movimento era através da internet:

“Principalmente internet e redes sociais era a minha forma de acompanhar, não

tinha muito tempo pra assistir TV, ler jornal eu não leio, então o que saia muito na

internet era o que eu sabia” (Entrevistada 5).

Diante do exposto, fica claro que o contexto que vivemos é de crise do

capitalismo. Assim, em diversas partes do mundo a população se indigna com a

ausência de direitos sociais efetivos em suas vidas, em cada país os manifestantes

encontram uma forma diferente de protestar. O Brasil tem sua história marcada pela

10 A Plenária era um tipo de reunião que os participantes do movimento faziam para decidir o que seria

feito na manifestação seguinte. Nela os jovens discutiam as questões necessárias à organização do

movimento e tomavam as decisões inerentes à elas.

32

característica de exclusão das massas dos espaços de poder e decisão, desse modo a

própria população tem dificuldade hoje de se achar no direito e na obrigação de

defender seus interesses, a maioria prefere deixar que os outros tomem decisões

inerentes às suas vidas.

As Jornadas de Junho/2013 significaram um momento de quebra com a

estagnação do povo brasileiro diante dos acontecimentos no país, entretanto ainda não

foi suficiente para se criar uma perspectiva de continuidade e enraizamento do hábito de

se organizar e protestar coletivamente de forma contínua e que abranja grande parte da

população. A partir da pesquisa feita, percebeu-se que ainda há jovens e estudantes que

não se sentem à vontade para participar de protestos de rua, e que estes mesmos julgam

o movimento como um lugar de participação desqualificada, talvez a falta de

qualificação tenha levado o movimento a se diluir.

No próximo capítulo será feito um aprofundamento da caracterização dos jovens

entrevistados na pesquisa sobre o movimento ocorrido no Brasil em Junho/2013.

33

3. A CARACTERIZAÇÃO DOS JOVENS SOBRE AS JORNADAS DE

JUNHO/2013: A PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL DO IFRN (CAMPUS NATAL

– CIDADE ALTA)

Esse capítulo trata de uma caracterização do movimento denominado “Jornadas

de Junho/2013”. A abordagem tem como base as reflexões dos estudantes do IFRN -

Campus Cidade Alta, líderes de turma, que foram entrevistados nesta pesquisa. Essa

caracterização traz os elementos relevantes que os jovens colocam em relação ao

movimento trabalhando questões referentes à participação dos jovens no movimento, a

avaliação deles sobre sua participação, os motivos que os levaram ou não a integrar a

massa de manifestantes em junho/2013, o conhecimento deles sobre o movimento a

nível nacional e internacional, entre outras questões.

Iniciando a caracterização, é interessante expor um dado que foi uníssono nas

entrevistas. Diz respeito ao desconhecimento dos jovens acerca dos movimentos sociais

a nível internacional. A grande maioria dos jovens afirma que nem mesmo

acompanharam pelos meios de comunicação de massa as lutas internacionais que

estavam ocorrendo. Os movimentos sociais em outros países parecem ser uma realidade

bem distante dos jovens envolvidos nessa pesquisa. Porém, vale ressaltar que a cultura

de participação política no Brasil nunca foi algo estimulado, falta envolvimento das

pessoas até mesmo em decisões políticas no próprio país. Ainda há a prerrogativa de

que a mídia não dá enfoque às manifestações internacionais, noticiando-as apenas de

forma superficial. Sobre o assunto, uma jovem afirmou:

“Pra falar a verdade os internacionais eu dava “menas” bola. Acho que assim, meio

que no nosso país a gente já tinha tanto problema que quando vinha uma notícia ou

outra internacional (risos) a gente acaba dizendo assim “não, não aqui no Brasil a

gente já tem tanta coisa eu não vou nem dar bola pra isso”. Mas via, via, acompanhava

uma coisa ou outra, porque nem sempre os horários de jornal eu tava acompanhando,

tava assistindo, mas vi pouco”. (Entrevistada 1)

Na fala da jovem acima, ela alega que não se interessa pelas notícias de

manifestações internacionais, visto que no próprio país já tem muitas questões para se

preocupar. Mas a questão é que os países não são independentes, há algumas decisões

que interferem em âmbito mundial. Tem-se o exemplo recente da guerra entre Israel e a

Palestina, na qual representantes do mundo inteiro se posicionam politicamente, e há

34

pessoas que nem se solidarizam com a situação de milhares de pessoas inocentes

morrendo. Enquanto isso se percebe que as pessoas estão alheias a esses

acontecimentos, quando poderiam se inspirar nos propósitos dessas lutas. Muitas vezes

as pessoas nem tomam conhecimento de acontecimentos dentro do próprio país. Outra

jovem afirma sobre seu desconhecimento a respeito dos movimentos internacionais:

“Acompanhei assim, tipo de relance só, tipo eu ia passando na sala e via. Eu

não, de verdade eu não sei, não sei nem o que tava acontecendo”. (Entrevistada 4).

A partir desses depoimentos compreende-se que os movimentos internacionais

ainda são uma realidade distante para os jovens entrevistados. Tendo em vista que a

mídia, apresentando um importante papel na formação de opinião em massa, não

veicula com ênfase as lutas internacionais, e consequentemente a articulação às

nacionais não consegue ser feita por esses jovens, dando a falsa ideia, por vezes, que as

nacionais são lutas isoladas, a -históricas. A fala da jovem evidencia a imparcialidade da

mídia em relação a essa questão: “A mídia foi mais neutra”. (Entrevistada 3)

Sabe-se que a mídia não noticia nada com neutralidade, e que nela predomina a

ideologia dominante, porém o que pode ter acontecido foi a pouca divulgação dos

movimentos sociais internacionais, devido ao não interesse.

Sobre a influência política das lutas no Brasil em junho/2013 para os jovens, a

maioria dos estudantes acredita que poucos jovens ou nenhum tenham sido

influenciados politicamente. Os mesmos alegam que não sentiram um aumento da

participação política da juventude na sua realidade, nem mesmo na sua escola. Eles

afirmaram que a juventude participou do movimento de forma desqualificada, de modo

descontínuo. De maneira que não fez com que estes jovens se engajassem as entidades

estudantis de suas escolas ou a partidos políticos de uma forma efetiva. O entrevistado 5

afirma:

“[...] E que não era uma causa de partido nem de movimento, era uma causa de

pessoas, era uma causa social. E também não vejo que isso tenha influenciado

politicamente nenhum jovem”.

Já a entrevistada 3 acredita que as jornadas tiveram alguma influência na vida

dos jovens, mesmo que de forma temporária. Ela ainda afirma que teve uma parcela de

jovens que foi influenciada politicamente de forma mais profunda.

35

“[...] Então, eu acho que influenciou sim, teve aquela influência temporária,

então, mas também teve algumas pessoas que atingiu um pouco mais profundo e a

galera foi realmente pesquisar, ir mais atrás”. (entrevistada 3)

Outra vertente que se destacou na pesquisa foi a recorrência na fala dos jovens

em afirmar que o movimento foi apenas “temporário”, e em determinado momento ele

enfraqueceu. Alguns denominaram o movimento como uma “modinha”, se referindo a

algo que é passageiro. Na visão dos jovens o caráter passageiro das manifestações foi

um ponto negativo. Observe-se a fala abaixo:

“Eu acredito que não, de verdade não, eu acho que foi, como é notório, e também,

muitos já perceberam foi uma coisa de momento. Foi uma modinha na verdade. Muitas

pessoas se revoltaram, protestaram e queriam mudar o Brasil mas isso durou quinze

minutos”. (Entrevistada 4)

A grande maioria dos entrevistados afirmou que não houve uma forte influência

dos movimentos na participação dos jovens em outros espaços políticos. O entrevistado

5 que foi participante das Jornadas de Junho/2013 coloca sua frustração devido à

descontinuidade do movimento.

“Eu acho que de negativo fica a descontinuidade, porque se nós tivéssemos um

movimento social organizado que não fosse apenas momentâneo, que não fosse apenas

modinha, nós conseguiríamos muita coisa”. (Entrevistado 5)

O enfraquecimento do movimento é um fato visto como um ponto negativo para

os jovens. A questão de ser encarado como modinha tem fundamento no caráter

temporário das manifestações, revelando o perfil do movimento, sem lideranças,

organização, continuidade, o novo modelo que aconteceu em junho.

Na fala anterior percebe-se a necessidade de que houvesse uma maior

organização, uma continuidade para que a população obtivesse mais conquistas com as

mobilizações. E desse modo, que os jovens se mobilizassem não apenas de forma

momentânea como nas Jornadas de Junho/2013. A entrevistada 3 refere que “[...] natal

foi uma faísca né, pra o que aconteceu, foi a faísca pra o Brasil entre aspas acordar e

voltar a dormir depois”.

36

Mais uma vez há a menção ao enfraquecimento do movimento na configuração

de grandes manifestações em massa. Um dos jovens afirma que o movimento continua

de forma pontual, nos espaços privados:

“Assim, o movimento, as pessoas continuam reivindicando nos seus lugares,

dentro das suas casas, no seu facebook, as coisas voltam como antes e o sistema

continua como sempre foi”. (Entrevistado 5)

A partir dessas falas percebe-se a frustração dos manifestantes ao perceber que o

movimento, ora tão grandioso, enfraquece e reduz-se a iniciativas pontuais e

fragmentadas.

Embora nem todos os entrevistados tenham participado das Jornadas de Junho,

vale salientar que nas falas de todos os jovens há menção à importância do movimento

em questão para o Brasil. Todos acreditam que as jornadas de junho/2013 foram um

momento importante para a sociedade brasileira na busca por melhorias e mudanças no

campo dos direitos sociais. Veja a fala desse jovem que não participou do movimento,

ele concorda com a proposta do movimento:

“Só queria falar que eu sou a favor, que assim, é um direito da população né. Muitas

vezes antes, a pessoa, a população ficava com medo de rever seus direitos e agora eles

tão saindo nas ruas pra protestar pelos seus direitos. E eu acho, eu sou totalmente a

favor disso”. (Entrevistado 2)

Os jovens que não participaram das mobilizações justificam-se por questões que

envolvem: medo da violência, vandalismo, depredação, falta de tempo, desinteresse e

até mesmo por discordar da configuração que tomou o movimento. Nesse sentido,

percebe-se a influência da ideologia neoconservadora, pensamento dominante na

sociedade capitalista. Essa ideologia tem forte expressão na formação de opinião desses

jovens, pois propaga uma visão distorcida dos movimentos sociais.

Para entender a ideologia dominante, é interessante observar a definição de

ideologia: “Gramsci dá o conceito de ideologia como “o significado mais alto de uma

concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade

econômica, em todas as suas manifestações da vida individuais e coletivas”

(VOLANÍN, s/d, p.4 apud GRAMSCI, 1986). Ou seja, a ideologia é compreendida

37

como algo que se sobrepõe a consciência individual e atinge várias esferas da vida

social.

A criminalização dos movimentos sociais é uma característica marcante da

sociabilidade contemporânea. Para entender essa questão, cabe aqui explicar as

determinações do ethos dominante dessa sociabilidade. A ofensiva do capital na década

de 1970 agrava a desigualdade estrutural e a degradação da vida humana, assim, o

capitalismo mundial caracteriza-se por uma apreensão fragmentada de todas as esferas

da vida social e por uma desregulamentação das relações de trabalho. As relações

sociais são caracterizadas como efêmeras e instáveis.

A realidade do capitalismo contemporâneo descrita acima tem um pensamento

dominante – “a ideologia neoliberal e seu subproduto, a ideologia pós-moderna”

(Barroco, 2011, p. 206). Essa ideologia dominante tem a função de naturalizar essas

transformações na vida social para justificar a dinâmica capitalista. Assim, a

fragmentação, instabilidade são características que tendem a ser naturalizadas na

sociabilidade atual.

O cenário de implantação das políticas neoliberais e de mundialização do capital

contribuiu para o empobrecimento e desmobilização dos trabalhadores. Segundo

BARROCO (2011, p. 209) “O neoconservadorismo busca legitimação pela repressão

dos trabalhadores ou pela criminalização dos movimentos sociais, da pobreza e da

militarização da vida cotidiana.” É nesse sentido que está querendo se afirmar que a

repressão aos trabalhadores pelo pensamento dominante afeta as decisões dos jovens

por não participar dos movimentos, quando são levados a enxergar com naturalidade

que protestar é crime.

Há muito tempo no Brasil os movimentos sociais são tratados como criminosos,

a questão social é tratada como questão de polícia. Sobre isso Sanson (2008, p. 198)

afirma que

A direita brasileira demoniza os movimentos sociais. Acusa-o de violento, de

baderneiro, de fora da lei. Pretende com isso assustar a sociedade,

principalmente os setores da classe média, e ganhar o seu apoio. A direita

assusta-se quando o povo sai às ruas e utilizando os meios de comunicação

procura criminalizar os movimentos sociais e jogá-los contra a sociedade.

Notícias recentes mostram a resposta do Estado diante dos movimentos sociais,

uma delas é o saldo das Jornadas de Junho/2013 e da Copa/FIFA, foram centenas de

38

manifestantes indiciados por protestar e cerca de vinte pessoas mortas pela repressão. O

direito à liberdade de expressão e manifestação está sendo censurado.

No Rio de Janeiro, foram expedidos mandados de prisão preventiva contra a

ativista Elisa Quadros, a Sininho, e mais 22 manifestantes, acusados de associação

criminosa armada (O TEMPO, 2014). Sininho era uma das líderes dos manifestantes

contra a Copa, ela estava sendo monitorada pela Polícia Federal desde o ano passado.

Têm-se ainda outros casos de prisões arbitrárias como é o caso de Rafael Vieira, 25

anos, negro, morador de rua, foi condenado e cumpre 5 anos de prisão no Rio de Janeiro

por portar produtos de limpeza, e mais recentemente de Fábio Hideki em São Paulo,

preso sob acusação de “associação criminosa”.

O direito à manifestação é garantido constitucionalmente e conquistado com

muita luta pelos trabalhadores desse país está sendo violado, assim como ocorria no

período da Ditadura Militar no Brasil. Essas prisões se intensificaram no período da

Copa do Mundo, numa tentativa do governo de evitar a qualquer custo as manifestações

populares para preservar a imagem do país perante o exterior. Para isso o governo

investiu bilhões no esquema de segurança para a Copa.

A página da internet “Portal Popular da Copa e das Olimpíadas” em 13 de julho

de 2014, um dia após a grande final da Copa do Mundo, postou uma nota de repúdio as

prisões de militantes e ativistas populares. Em nota eles mencionaram o valor gasto com

o forte esquema de segurança para a Copa de 2014:

Neste domingo o mundo assentirá ao maior esquema de segurança que essa

cidade ou mesmo o país já viu, segundo palavras do próprio secretario de

segurança do Rio de Janeiro, José Maria Beltrame. Cerca de R$ 2 bilhões

foram gastos em armas e segurança para a Copa de 2014. Dos drones de

Israel (que hoje bombardeiam a Faixa de Gaza) à treinamento com a

Blackwater (empresa de mercenários dos EUA que atuou nas Guerras do

Iraque e Afeganistão) é indignante o legado da Copa de repressão e

intimidação contra a própria população brasileira. (Portal Popular da Copa e

das Olimpíadas, 2014)

O Estado têm se utilizado de diversas estratégias para a opressão e

criminalização dos movimentos sociais. A Frente Independente pela Memória, Verdade

e Justiça/FIMVJ-MG (2014) mostra a forma truculenta como os policiais reprimiram os

manifestantes na Copa:

A cidade foi transformada, mais uma vez, em praça de guerra e em território

de exceção – propriedade da FIFA e do capital. Repressão selvagem, revistas

truculentas indiscriminadas, espancamentos, balas de borracha a queima

roupa, gás de pimenta nos olhos de pessoas já contidas foram práticas

sistemáticas. Grande parte dos policiais, além de fortemente armados, portava

39

câmeras em seus capacetes – muitos deles não portavam identificação.

Vários jovens – pelo simples fato de serem jovens – foram revistados até

cinco vezes no mesmo dia e tiveram seus documentos fotografados pela

polícia. Em São Paulo, no dia 23/06/2014, a polícia deu início à verdadeira

caçada de manifestantes do Movimento Passe Livre, acirrando o processo de

criminalização do movimento (FIMVJ/MG, 2014).

Outro exemplo recente de repressão aos movimentos de jovens foi ao chamado

“rolêzinho”, uma reunião de jovens e adolescentes em shoppings que nasceu na

periferia de São Paulo, e se espalhou em todo o país. O objetivo dos jovens parece ser

somente diversão, eles querem se sentir incluídos e poder consumir, um valor que essa

sociedade tanto prega: o consumismo. A Justiça respondeu que os “rolêzinhos” não

poderiam mais acontecer nesses espaços de consumo. Ficando claro que o shopping é

público, mas é consenso que é reservado para jovens de alto poder aquisitivo, não para

os da periferia urbana. Beguoci (2014) explica a reação aos “rolêzinhos”:

Quando algo parece sair do escopo, a primeira reação das pessoas é apelar

para a força. No caso dos shoppings, para a Justiça e para a polícia. Sem

mediação, sem diálogo, sem acordo, sem entender minimamente o que ou

quem está acontecendo. Na dúvida, é suspeito. Os conflitos, as diferenças,

são resolvidos com base nas reações exageradas.

Foi isso que aconteceu com os “rolêzinhos”, os shoppings temendo arrastões,

furtos, entraram com um pedido na Justiça para proibir essas reuniões de jovens. Mas

entram alguns questionamentos: proibir que pessoas pobres entrem no shopping? Até

quantas pessoas podem entrar? Que aparência devem ter as pessoas que frequentam o

shopping? Houve decisões de juízes que foram favoráveis aos shoppings e também

aqueles que foram contrários, demonstrando que não havia critérios justificáveis para

proibir os “rolêzinhos”.

Vivemos um Estado democrático que reproduz os métodos da ditadura militar.

Esse Estado tem em sua essência a repressão, criminalização da juventude, dos pobres,

dos movimentos sociais. O fragmento abaixo mostra casos recentes de mortes pela

repressão:

A polícia que reprime manifestantes mata pobre todo dia. Aí estão três casos

recentes, que tiveram maior visibilidade: a auxiliar de limpeza Cláudia Silva Ferreira, 38 anos, morta por policiais do 9º BPM e arrastada por sua viatura

em Madureira-Rio de Janeiro, em 16/04/2014; o dançarino Douglas Rafael da

Silva Pereira (DG) e o menino Mateus, assassinados pela UPP do Morro

Pavão – Pavãozinho, Rio de Janeiro, em 22/04/2014 (FIMVJ/MG, 2014)

40

Alguns dos jovens entrevistados demonstram através de suas respostas um perfil

condizente com a ideologia neoconservadora, predominando valores como o

individualismo exacerbado, ao pensar que cada pessoa deve fazer sua parte sozinha em

qualquer situação. Essa postura é resultado de um país que criminaliza as manifestações

de opinião das pessoas. Por exemplo, um deles afirmou:

“Eu sabia por questão de mídia mesmo, assim, eu não, não, como eu falei

anteriormente eu não tinha muito interesse. Eu acho que minha parte eu posso fazer

começando por mim. Eu sei, eu tenho a consciência limpa do que eu faço entendeu?”

(Entrevistada 5)

Em outra fala transparece a falta de envolvimento do jovem com um

acontecimento tão importante e significativo na história do país. É evidente que o

processo de participação política no país nunca foi algo incitado na população, sendo

muito comum esse tipo de análise. Observe abaixo:

“Porque assim, eu não tava... tava muito por dentro de... dessas... eu vim ficar sabendo

depois que tinha acontecido aí por isso” (Entrevistado 2)

Nas falas acima transparece o não reconhecimento da coletividade como uma

alternativa de trazer melhorias para a população do país, a jovem acredita que pode

fazer sua parte isoladamente e contribuir para melhorar o país. Entretanto, é sabido que

as conquistas sociais só são alcançadas mediante as lutas coletivas. Essa visão é

totalmente influenciada pela ideologia dominante que procura evitar que a massa se una

e se organize para lutar contra o sistema. Sobre isso BARROCO (2011, p. 207) afirma:

O estímulo à vivência fragmentada centrada no presente (resumida ao aqui e ao agora, sem passado e sem futuro), ao individualismo exacerbado, num

contexto penetrado pela violência, dá origem a novas formas de

comportamento, que, segundo Chaui (2006, p. 324), buscam “algum controle

imaginário sobre o fluxo temporal”.

Uma das jovens que participou das jornadas de junho/2013 teve uma opinião

diferenciada em relação ao movimento. Ela afirmou que

“Então, por um bom tempo, ainda vai se dividir opiniões, que o que aconteceu,

das revoltas, dos protestos, teve o lado positivo e teve o lado negativo, mas pode ser

que muita gente ainda só analise o lado negativo, justamente por essa parte

ruim.”(Entrevistada 3).

41

A estudante coloca a violência como a “parte ruim” do movimento e justifica

que isso vai dividir opiniões, contudo não parece que ela enxerga o movimento de

forma negativa por isso. A reprodução do medo social é outra expressão da ideologia

dominante. “Quando o objeto do medo é tratado moralmente, torna-se sinônimo do

“mal”” (BARROCO, 2011, p. 211). Então aquilo que é reforçado pela moral dominante

prevalece como verdade, levando as pessoas acreditar que os manifestantes são

vândalos, criminosos e outros adjetivos pejorativos. A sociedade, desse modo, deixa de

apoiar as manifestações e passa a sentir medo delas.

Após observar a caracterização do movimento pelos jovens do IFRN – Campus

Cidade Alta, será feita uma discussão dos desdobramentos desse movimento para a

organização estudantil da referida instituição.

3.1 A HISTÓRIA DA ORGANIZAÇÃO ESTUDANTIL NO IFRN

Ao resgatar a história do movimento estudantil no IFRN, observa-se que ele tem

uma trajetória importante no movimento estudantil no Estado do Rio Grande do Norte.

A começar pelo nome dado à sua entidade maior, os estudantes do IFRN- Campus Natal

Central homenagearam Luiz Maranhão Filho colocando o seu nome no Diretório

Central dos Estudantes. Luiz Maranhão foi um deputado estadual, líder comunista,

sequestrado e assassinado pela Ditadura Militar em 1974. Já o Grêmio Estudantil do

IFRN – Campus Natal Central reverencia outro líder, Djalma Maranhão, irmão de Luiz

Maranhão, O primeiro presidente do Grêmio foi o estudante Walter Júnior (Blog Luta e

Resistência, 2013).

Fundado em Assembléia Geral um dia após a promulgação da Lei do Grêmio

Livre, em 1985, o Grêmio Estudantil Djalma Maranhão é uma homenagem

ao ex-prefeito de Natal que por sua administração em benefício da maioria

dos natalenses foi caçado e precisou refugiar-se no Uruguai, onde faleceu em

1971 (UJS Potiguar, 2010).

Nos dias 26 e 27 de novembro do ano de 1988, a APES - a Associação Potiguar

dos Estudantes Secundaristas (APES), fundada no ano de 1928 quando ocorreu a

primeira tentativa de organização dos estudantes no Rio Grande do Norte no Colégio

Atheneu, foi reorganizada na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (atual

IFRN). O slogan do Congresso era “Nossa força está na organização”.

Nesse sentido, o IFRN vem traçando sua história no movimento estudantil há

décadas, marcado por importantes conquistas. Em 2005 o Grêmio Estudantil Djalma

42

Maranhão alcança uma importante conquista para os estudantes de escolas públicas.

Através de sua reivindicação o Grêmio tornou o CEFET-RN (IFRN) uma das primeiras

instituições federais de ensino superior a adotar o sistema de reserva de vagas defendido

pelas entidades estudantis. Nessa instituição, 50% das vagas, por curso e por turno, são

destinadas aos egressos de escolas públicas. Estudantes do IFRN têm ocupado posições

importantes nas entidades estudantis:

Em agosto de 2011, em seu 15º Congresso, foi conduzido o estudante Whanderley Costa à presidência da UMES|Natal e, no mês de

novembro, o estudante Pedro Sérgio foi eleito presidente da

APES/RN. Ambos são estudantes do nível técnico do Instituto Federal

de Educação Tecnológica do RN. (Blog Luta e Resistência, 2013)

Ao pesquisar a realidade atual do movimento estudantil no IFRN, nota-se que

ele está passando por um momento de letargia, assim como o movimento estudantil de

forma geral. O movimento não conta mais com a força e o envolvimento dos estudantes,

isso resulta, em partes, das estratégias de desmobilização dos trabalhadores

protagonizada pelas estratégias neoliberais. E não é só o movimento estudantil que vive

esse momento, os movimentos sociais no contexto geral também sofrem dificuldades

para se fortalecer atualmente.

Com tudo isso, notou-se que ainda há ações que tentam reconstruir esse

movimento tão importante para os estudantes. Ao pesquisar notícias de alguns campi

específicos, foram encontradas algumas iniciativas de reconstrução desse movimento.

Por exemplo, no Vale do Assú aconteceu o I Seminário do Movimento Estudantil do

IFRN – Ipanguaçu no dia 20 de fevereiro de 2013. O evento contou com a participação

de Thiago Cavalcante, Vice-Presidente da UJS Potiguar (União da Juventude

Socialista).

Segundo Thiago Cavalcante, a avaliação do evento foi positiva, "vivemos em todo o estado um momento de renascimento do movimento estudantil, é de

forma lenta, como se acordasse de um sono profundo, mas está acontecendo.

Em breve esse movimento ganhará o vale inteiro", afirmou o líder socialista.

O evento é o primeiro de uma série de outras iniciativas a serem realizadas

para a "reconstrução e fortalecimento do movimento estudantil no instituto",

como garante o Professor Josó Roberto, um dos incentivadores dos

estudantes. (Cavalcante de Carnaubais, 2013)

O Grêmio Estudantil Djalma Maranhão está com 29 anos de história, mas,

segundo a UJS Potiguar (2010) com pouco a comemorar. A organização é lembrada por

diversas gerações por importantes ações, dentre elas, pela Revolta da Goroba, pela

resistência à invasão da PM na década de 90, pelos protestos contra o reajuste das tarifas

43

de transporte, dentre outros. Porém, hoje a UJS Potiguar afirma que a entidade vive do

mito criado em si, mas incapaz de envolver os estudantes e estimular a participação e o

protagonismo.

Leon Karlos presidiu o grêmio de 2004 a 2005 e confirma. Segundo ele “a cultura de participação histórica no IFRN perdeu força e as últimas gerações

não conhecem o potencial que possui o GEDM”. Ele acredita que existe uma

grande oportunidade para que o movimento estudantil se renove,

principalmente depois da realização do Encontro Nacional de Escolas

Técnicas da UBES (ENET). (UJS Potiguar, 2010)

O campus em que foi realizada esta pesquisa é caracterizado pela ausência de

organização estudantil, como já foi mencionado anteriormente. O campus Natal -

Cidade Alta foi inaugurado no ano de 2007 motivado pela iminência do centenário do

então CEFET-RN e pelo estado de abandono em que se encontrava o prédio, que data

do inicio do século XX.

O prédio em que funciona hoje o Campus Natal – Cidade Alta abrigou a Escola

de Aprendizes e Artífices, o Liceu Industrial e a Escola Industrial de Natal, que foram

os primórdios do que hoje é o IFRN. A direção geral do Centro Federal de Educação

Profissional e Tecnológica, com o apoio da sua comunidade acadêmica e de ex-alunos

da antiga Escola Industrial, reivindicou a reintegração de posse do edifício, que estava

nas mãos da UFRN. O Conselho Superior da UFRN aprovou a reintegração de posse do

prédio em novembro de 2007. (IFRN, 2014)

O campus oferece 05 cursos, sendo dois de nível superior: Tecnologia em

Gestão Desportiva e de Lazer e Tecnologia em Produção Cultural; e três cursos de nível

técnico: o Técnico Subsequente em Eventos, Técnico Subsequente em Guia de Turismo

e o Técnico de Nível Médio Integrado em Multimídia. Nenhum desses cursos conta

com entidade representativa estudantil dentro da instituição, mesmo os cursos ativos

desde a inauguração do campus. Os estudantes alegam que poucos têm interesse de se

reunir e se organizar em torno do movimento estudantil. Um dos jovens coloca a sua

frustração por ver que o seu curso ainda não conta com nenhuma organização estudantil,

e que as Jornadas de Junho/2013 não podem ser consideradas como uma forma de

incentivo à participação política dos jovens de uma maneira mais efetiva.

“Falando daqui do IF, muitos jovens aqui foram e a gente tem situações de cursos aqui,

como o meu curso, Gestão Desportiva e de Lazer, que já tentei por diversas vezes

mobilizar o grêmio, conversar com as pessoas, mas poucas pessoas tem interesse de

44

sentar, de conversar sobre política, de reivindicar realmente os seus direitos, então eu

não vejo isso como uma forma de, como eu poderia dizer... de politização pra

juventude, eu não vejo.” (Entrevistado 4)

3.2 OS DESDOBRAMENTOS DA PARTICIPAÇÃO PARA O MOVIMENTO

ESTUDANTIL NO IFRN

O campus do IFRN no qual foi realizada essa pesquisa é marcado pela ausência

de movimento estudantil, destacando que a inauguração do campus é recente, data do

ano de 2007. Desse modo, procurou-se investigar se a participação dos jovens nas

Jornadas de Junho/2013 teria trazido algum desdobramento para a participação no

movimento estudantil na referida escola.

Contudo, observou-se que a participação dos jovens no movimento não foi

expressiva, e que pouco contribuiu para a organização estudantil interna. Nesse sentido,

percebe-se que as Jornadas de Junho/2013 foram um movimento sem perspectiva de

continuidade e de organização, ao menos para repercussão interna no IFRN. Ele teve

grandes manifestações que depois se transformaram em iniciativas pontuais e

fragmentadas. No IFRN- Cidade Alta não houve reflexos desse movimento capazes de

dar continuidade a organização política estudantil na escola.

Nas entrevistas com os jovens, alguns afirmaram que o movimento teve pouca

ou nenhuma influência na participação política dos jovens. É tanto que até hoje ainda

não há nenhuma entidade representativa dos estudantes na escola. Outros jovens

acreditam que teve alguma influência sim, no sentido de, os jovens terem mais voz

dentro da instituição:

“Hoje você tem mais liberdade de dizer não eu concordo com isso, isso e isso. Antes

você não tinha. Antes você tinha que aceitar e pronto”. (Entrevistado 2)

Já outra estudante afirma que alguns jovens procuraram se aprofundar um pouco

mais sobre o movimento social, contudo, ela alega sobre a falta de conhecimento das

pessoas que estavam participando do movimento.

“[...]alguns se incentivaram e começaram a procurar, a entender um pouco, tinha

gente que nem sabia qual era a diferença entre um partido e outro, o que que eles se

45

embasavam, quais eram as intenções dos partidos. Então, eu acho que influenciou sim,

teve aquela influência temporária, então, mas também teve algumas pessoas que

atingiu um pouco mais profundo e a galera foi realmente pesquisar, ir mais atrás”.

(Entrevistado 3)

As opiniões foram bem diversificadas nesse ponto. Alguns dos jovens acreditam

que realmente não houve nenhuma influência do movimento para a participação política

dos jovens. Inclusive, foi recorrente nas falas de alguns deles se referir ao movimento

como “modinha”, algo temporário, passageiro.

“Tipo quem já é engajado há muito tempo você já percebe, cê sabe, agora eu acho que

influenciar de verdade não influenciou. Eu considero como uma modinha, poucas

pessoas levaram isso pra frente.”(Entrevistada 5)

Observando que a mídia tem forte influência na criminalização dos movimentos

sociais, o próximo e último capítulo trará uma análise mais apurada acerca do papel da

mídia na veiculação das Jornadas de Junho/2013. Neste capítulo será discutida a relação

entre a mídia e a violência fortemente citada pelos jovens entrevistados nessa pesquisa.

46

4. A MÍDIA E A VIOLÊNCIA NAS JORNADAS DE JUNHO/2013: UMA

RELAÇÃO IDEOLÓGICA

Este capítulo trará uma análise acerca do papel da mídia na transmissão das

informações sobre as Jornadas de Junho/2013 e a influência que ela exerce sobre a

sociedade através de sua posição ideológica. Além disso, o capítulo abordará a fala dos

estudantes sobre a violência, um elemento fortemente citado pelos entrevistados.

A mídia aqui é entendida como o conjunto dos meios de comunicação de massa

que estão concentrados sob o poder da classe dominante. Antes de qualquer coisa, é

preciso contextualizar a posição que a grande mídia brasileira ocupa na transmissão dos

movimentos sociais. O objetivo da mídia é criminalizar os movimentos sociais perante a

sociedade para que esta veja a ação dos movimentos sociais com a percepção da

ideologia oculta na transmissão das informações. Segundo Volanín (s/d, p.1):

Os meios de comunicação de massa, sob o domínio das classes dominantes,

transmitem com sua força de opressão ideológica à sociedade, que as

organizações sociais são movimentos que desagregam o sistema social,

político e econômico do país.

Desse modo, a sociedade passa a enxergar os movimentos sociais de forma

negativa, como algo que perturba a ordem social. Os manifestantes são taxados de

vândalos, desordeiros, vagabundos, quando na verdade apenas buscam mais justiça

social em diversas questões. O que acontece é que os meios de comunicação de massa

pertencem àqueles que concentram o poder político e econômico em suas mãos, sendo

assim, os interesses dos movimentos sociais não são contemplados pelos interesses dos

que detêm o poder, pois os movimentos surgem das reivindicações dos segmentos da

sociedade que de alguma forma se sentem injustiçados. Diante de interesses opostos, a

tendência é que a classe dominante busque estratégias para manter sua hegemonia.

Uma das estratégias que a classe dominante dispõe para impor sua ideologia é o

que Gramsci denominou de consenso, o qual tem o poder de convencer a sociedade

sobre determinada ideia. Nesse caso, através da mídia, a criminalização dos movimentos

sociais é incorporada pela sociedade.

Ou seja, o convencimento da ideologia, aqui através da mídia, levando-a a ser

incorporada pela própria sociedade, em que tanto as ações da criminalização

têm impacto no cotidiano do movimento e nas pessoas dele pertencentes.

(VOLANÍN, s/d, p.4)

47

A partir desses conceitos é possível compreender como se deu a relação da mídia

com as Jornadas de Junho/2013, que inicialmente foi de forte repressão ao movimento.

Inicialmente é importante ressaltar a relevância das redes sociais como ferramenta de

mobilização nas manifestações, sendo um veículo midiático mais democratizado, em

que todos têm liberdade para propagar suas ideias. As redes sociais foram a ferramenta

destacada na pesquisa como a que mais influenciou a participação dos jovens, embora a

formação política deles tenha sido um elemento fundamental. Elas foram utilizadas

como forma de mobilização das manifestações. Um dos entrevistados ao responder

sobre qual o meio que mais o influenciou a participar do movimento, afirmou: “na

verdade minha formação política” (Entrevistado 5)

Mas, apesar disso ele acrescentou que também teve a influência das redes

sociais, assim como outros jovens também as citaram como fator que estimulou a

participação ou como meio de acompanhar as manifestações.

“Eu não digo que não tenha me deixado influenciar pelo que aconteceu na rede, nas

redes sociais, primeiramente.” (Entrevistado 5)

Do mesmo modo que as redes sociais influenciaram fortemente a participação

dos jovens nos protestos, elas também foram um dos principais meios de acompanhar o

movimento. Outros tipos de mídia também foram citados como forma de acompanhar o

movimento, sobretudo a televisiva. O acompanhamento através de mídia impressa foi

citado em menor proporção. Sobre isso retomando a fala da entrevistada 4,

“O que passava principalmente internet e redes sociais, era a minha forma de

acompanhar, eu não tinha muito tempo pra assistir TV, tipo ler jornal não leio, então o

que saia muito na internet era o que eu sabia”.

Outro fato que se destacou foi a divergência entre as informações da mídia

tradicional e das redes sociais. Enquanto a mídia tradicional veiculava o vandalismo, a

violência, as redes sociais serviam para mobilizar os manifestantes e receber o apoio da

sociedade. Umas das entrevistadas mencionou essa diferença:

“[...] comecei a ver as movimentações através da internet e via que a mídia era ao

contrário. E como também eu faço jornalismo, eu não estava concordando com aquilo

que estava sendo repassado, divulgado, e foi a minha maneira realmente de participar

do processo, usando mais a internet.” (Entrevistada 3)

48

Os jovens que participaram das Jornadas de Junho/2013 demonstram ter

acompanhado o movimento a nível nacional de uma forma mais direta,

consequentemente têm uma opinião mais crítica e apurada sobre o assunto. Já os não

participantes mencionaram, em sua maioria, que acompanharam o movimento através

do que era veiculado pela mídia. Vejam a seguir a opinião do entrevistado 5 sobre sua

forma de acompanhar o movimento:

“[...] sim, acompanhei, é a mesma avaliação que eu faço né, daqui, de Brasília, de

Recife, de João Pessoa. Não é, você vê que em todos esses territórios houve uma

grande manifestação, mas hoje, assim, as pessoas pararam com esse movimento e

reiterando, dizer que mantém a manifestação, mas dentro de um ambiente fechado, né,

a grande maioria”. (Entrevistado 5)

O que transparece na fala desse jovem é que ele realmente tem conhecimento

sobre a forma como o movimento aconteceu nas outras cidades, inclusive, ele cita o

nome de algumas capitais. É nítido também, que nesse ponto ele já trata do

enfraquecimento do movimento, no momento em que cessam as grandes manifestações

em massa, e as pessoas voltam aos seus lugares para protestar isoladamente. Retomando

a fala do entrevistado 5, a nova forma das pessoas protestarem passa a ser pelo

facebook:

“Assim, o movimento, as pessoas continuam reivindicando nos seus lugares, dentro das

suas casas, no seu facebook, as coisas voltam como antes e o sistema continua como

sempre foi”.

A mídia foi o principal meio responsável por veicular uma imagem negativa dos

movimentos em junho/2013. Eles levavam as pessoas a acreditarem que os

manifestantes eram vândalos e estavam ali somente para destruir o patrimônio. É de

total interesse dos proprietários dos meios de comunicação esconder o real intuito dos

protestos, assim a sociedade voltaria a funcionar em sua normalidade sem maiores

questionamentos sobre a ordem estabelecida.

Sendo a grande mídia uma das principais ferramentas da classe dominante para

disseminar suas ideias, para Sales e Ruiz (2011, p.270 apud RONDELLI 2000, p. 154)

“A mídia, na sua condição de macrotestemunha privilegiada, passa a ser ator social

importante dos fatos, no ato de expô-los para além dos estreitos limites onde

49

efetivamente aconteceram [...]”. Essa afirmação leva a entender que a mídia passa a

informação da maneira que mais lhe convém, de acordo com os interesses de quem quer

manipular a massa e não como acontece na realidade. No caso das Jornadas de

Junho/2013, foi mais conveniente reduzir os protestos ocorridos a vandalismo e

violência que perturbavam a ordem da sociedade, numa tentativa de deturpar a imagem

do movimento e fazê-lo cessar. Para Sales e Ruiz (2011, p. 55)

[...] a verdade transparente que habitaria, de acordo com o ideal liberal

clássico, o coração das notícias não existe, porque a prática jornalística, ao

narrar acontecimentos, realiza sempre uma seleção e associação de dados e

imagens, além de propor modelos de comportamento e de entendimento da

realidade.

Na verdade o movimento era muito mais que meramente vandalismo, ele

significava o grito de um povo que já está cansado de ver cada vez mais a regressão e a

negação dos seus direitos. Desse modo, é assim que a massa passa a enxergar o

movimento, a partir do que é veiculado pela mídia, e ela não noticia os acontecimentos

de forma imparcial. Observe a fala dessa estudante:

“Sim, acompanhei por televisão, no jornal, jornal impresso, revista, saiu em todo canto

né, então a gente fica sempre curioso querendo acompanhar e até mesmo pra entender

né, o quê que tá acontecendo, porque em cada, cada tumulto acontecia, que na maioria

das vezes eram tumultos né. Aconteceram problemas (pausa) bem complicados, e aí a

gente tá sempre por dentro, atualizado (risos)”. (Entrevistada 1)

Ao falar sobre o que acompanhou na mídia a jovem se refere ao movimento

como “tumultos” e “problemas bem complicados”, levando a entender que o que ela

acompanhou sobre o movimento o reduziu a “tumultos”, esvaziando o conteúdo

político do movimento e o seu real intuito, que era de reduzir o preço das passagens e

conquistar melhores condições de vida no campo da educação e saúde por exemplo.

O que muitas vezes não percebemos é que existe uma seleção prévia dos

aspectos da realidade e que são apresentados a partir de um ponto de vista

que serve a determinados interesses. (VOLANÍN, s/d, p. 8)

A influência da mídia agiu fortemente na massificação da ideologia dominante

que disseminava que os protestos eram apenas vandalismo. Dessa forma, a maioria das

pessoas passou a acreditar que protestar é algo errado e quem o faz são baderneiros,

como infelizmente são vistos os movimentos sociais na sociedade. Assim, o que se

propaga é que cada indivíduo deve fazer sua parte sozinho, votando, por exemplo, e

50

assim a sociedade funcionará melhor. É isso que a classe dominante almeja, pessoas

conformadas que não reclamam e nem exigem seus direitos, um povo que seja massa de

manobra e não se organize coletivamente. Sales e Ruiz (2011, p. 266) referem:

Entretanto, os canais midiáticos não podem e nem devem ser considerados como imparciais e isentos de valores, posto que, ao mesmo tempo que

influenciam na consolidação de valores e padrões de comportamento,

também são influenciados pelos mesmos em suas estruturas e produções. No

Brasil, assim como em grande parte do mundo, os canais que veiculam a

comunicação e a informação encontram-se concentrados, em sua maioria, nas

mãos de uma pequena parcela da população, aqueles que compõem a classe

mais abastada da sociedade, ou seja, os detentores da maior parte da renda

produzida, de acordo com a lógica capitalista.

Assim, é importante considerar a mídia como um espaço de correlação de forças

entre as classes. A comunicação está concentrada nas mãos da classe dominante, eles a

utilizam para disseminar a ideologia dominante e consolidar os valores inerentes à

sociedade capitalista. Esse espaço de disputa tende a ser cooptado pela classe

dominante, assim:

Chauí coloca a ideologia como um meio de dar aos membros de uma

sociedade dividida em classes numa explicação racional para as diferenças

sociais, econômicas, políticas, culturais e outras, sem jamais atribuir tais

diferenças à divisão da sociedade em classes. (VOLANÍN, s/d, p. 6)

Dessa forma, as diferenças sociais passam a ser naturalizadas pelas pessoas, de

modo que ninguém questiona a ordem pré-estabelecida.

A questão da violência ficou marcada como o foco principal dessas

manifestações em junho/2013. Os estudantes entrevistados que não participaram

colocam com muita veemência os motivos pelos quais não participaram do movimento,

justificando a violência como motivo principal. O discurso da entrevistada 1 mostra

isso:

“Outra coisa, tiveram, sempre tem um motivo ou outro que faz você, né, desistir de uma

viagem, mas o principal era essa questão da violência.”

Outra justificativa pela não participação no movimento que chama bastante

atenção é a da entrevistada 4, ela afirmou

“[...] a gente aqui morador de Natal viu mesmo, que como eu disse tava fugindo do

ideal, ‘tava’ tendo vandalismo, ‘tavam’ saqueando. Então, tipo assim, eu acho que não

é certo você protestar contra algo acabando com patrimônios públicos ou privados né.

51

Então eu não, por não concordar com a maioria dos acontecimentos dos protestos eu

não, acabei não participando de nenhum.”

Na resposta dessa jovem ao ser questionada sobre sua participação no

movimento, está presente uma ideologia extremamente conservadora, ela não somente

não participou, ela explicitamente não concorda com os protestos. Isso mostra o quanto

a mídia influencia as pessoas quando mostra somente aquilo que é conveniente para a

classe dominante: a violência. Ela ainda acrescenta

Eu acho que, tipo, o maior protesto que a gente pode fazer é na hora de votar

entendeu? E outra coisa que eu não concordo é que se você fosse pegar o perfil das

pessoas que frequentavam esses manifestos, a maioria não condizia entendeu, ia

protestar mas na prática era totalmente diferente, ia protestar mas sonega imposto, ia

protestar mas rouba, ia protestar mas já matou [...] (Entrevistada 4)

Percebe-se nesse discurso uma forte influência dos valores que predominam na

sociedade capitalista atual, em que cada vez mais o individualismo faz as pessoas

pensarem que cada um pode fazer a sua parte de forma isolada, ceifando as

possibilidades de organização coletiva. Além disso, essa ideologia culpabiliza os

sujeitos como únicos responsáveis pela sua situação de vida, como se o Estado não

precisasse intervir nas questões sociais e o sucesso ou fracasso de um indivíduo só

dependesse de si mesmo. Bazzanella (2014, s/p) afirma que

Os protestos de rua, analisados sob esta perspectiva, apresentam-se como

movimentos de massas de indivíduos, e/ou de uma população que, em sua

difusa pauta de reivindicação, expressava como fio condutor de fundo a

ansiedade, o desejo de mais Estado em suas vidas.

Ou seja, a população anseia que o Estado intervenha nos problemas sociais e

melhore a vida da população. Tonet (2009, p.16) afirma que a predominância dos

valores individualistas acontece devido à crise do capital, citada no primeiro capítulo

deste trabalho. Sobre isso ele refere que

O que aguça, então, a luta de todos contra todos, o individualismo levado às

últimas consequências, é a crise do capital e a consequente guerra de todos

contra todos na disputa pela riqueza. O fracasso das tentativas de mudar o

mundo através de esforços coletivos, centrado nas revoluções que se

pretendiam socialistas, agravou enormemente essa convicção individualista.

Como já não se visualizam soluções coletivas, é levada ao paroxismo a ideia

de que a solução dos problemas é individual, de que o sucesso ou fracasso na

vida dependem dos próprios indivíduos, considerados isoladamente.

52

Já os participantes do movimento colocam a violência como um elemento

secundário à discussão do movimento, dando mais importância ao conteúdo político das

manifestações. O entrevistado 5 ao falar sobre sua participação nos protestos afirmou

“[...] participei, por achar um momento importante na transformação brasileira, uma

vez que nós tivemos esse movimento há muito tempo atrás né, na época das diretas já e

a gente viu o avanço significativo”.

Nessa fala percebe-se que o jovem destaca como principal a importância do

movimento para a sociedade brasileira, e não a discussão sobre a violência ocorrida nos

protestos. Adiante se verá que a violência foi um elemento fortemente presente no

discurso dos estudantes entrevistados.

Os estudantes entrevistados que participaram das Jornadas de Junho/2013

avaliam de forma positiva o ato de terem protestado, pois acreditam que reivindicar seus

direitos, exercer a democracia e cidadania, questionar a ordem vigente é uma atitude

correta e justa. É evidente nas falas dos jovens a crítica às pessoas apáticas ou que

participaram do movimento sem ter propósito, estavam lá apenas fazendo baderna. A

fala dessa jovem sobre sua avaliação da participação no movimento exemplifica o que

está querendo se explicar

“[...] eu acho que eu fui ativa, tem algumas pessoas que diante do que tava

acontecendo, das diferenças, do descaso do governo, ficavam a par. E quando iam

participar, participavam daquela maneira: achava que era festa, achava que era só pra

badernar, aí eu não, eu procurei a fundo, eu procurei a plenária”. (Entrevistada 3)

Em sua fala a entrevistada critica as pessoas que ficaram apáticas ao movimento

e também àquelas que participavam de forma desqualificada. O entrevistado 5 afirma

“Mas, era perceptivo também nas caminhadas, nas jornadas, muitas das pessoas que lá

estavam, de ir apenas, e não sabiam nem porque que estavam lá[...]”

Foi frequente nas falas dos jovens participantes do movimento apontar a

participação de pessoas de forma desqualificada e esvaziada politicamente. Quando os

participantes se referem ao movimento demonstram orgulho de ter participado do

movimento em que o Brasil saiu do estado de completa apatia às injustiças sociais que

vinha predominando há décadas.

53

A ideologia dominante exerce uma função ativa no enfrentamento das tensões

sociais, para manter a ordem social em momentos de explicitação das

contradições sociais e das lutas de classe. Numa sociedade de raízes culturais

conservadoras e autoritárias como a brasileira (Chaui, 2000), a violência é

naturalizada; tende a ser despolitizada, individualizada, tratada em função de

suas consequências e abstraída de suas determinações sociais. A ideologia neo-

liberal — veiculada pela mídia, em certos meios de comunicação como o rádio,

a TV, a internet e revistas de grande circulação — falseia a história, naturaliza a desigualdade, moraliza a “questão social”, incita o apoio da população a

práticas fascistas: o uso da força, a pena de morte, o armamento, os

linchamentos, a xenofobia. (BARROCO, 2011, p. 208)

A violência se sobressai como o principal fator citado para que os jovens não

tenham participado do movimento. E em todas as entrevistas ela aparece como um

ponto negativo.

“[...] o que ficou de ruim, a única coisa que ficou de ruim pra mim era o fato, foi o fato

da violência, essa questão da violência foi muito ruim, marcou bastante, com certeza

afastou um bocado de gente e eu fui uma delas, mas eu acho que teve mais coisas

positivas do que negativas”. (Entrevistada 1)

Entretanto é preciso fazer uma ponderação no que diz respeito à violência no

movimento. Eram bombardeadas diversas notícias diariamente pela mídia para tentar

omitir o seu real caráter, o que era mostrado era apenas que ali estavam milhares de

vândalos destruindo o patrimônio público e privado. A resposta do Estado foi a forte

repressão policial contra os manifestantes. Desse modo, as pessoas que viam o

movimento de fora não estavam recebendo informações imparciais, a mídia seleciona as

imagens, vídeos de modo a favorecer o seu posicionamento, que era contra as

manifestações populares.

Não se pode falar em violência nas Jornadas de Junho sem citar os black blocs,

um grupo de pessoas vestidas de preto e encapuzadas que iam aos protestos para

realmente depredar os patrimônios públicos e privados. Eles realmente protagonizaram

as cenas de violência nos protestos, para eles isso tem um significado político.

Os black blocs são um dos elementos mais polarizadores da série de protestos

que desde meados do ano acontecem no Brasil. Têm como ideologia

questionar a ordem vigente – opõem-se ao capitalismo e a globalização. Sua principal arma é promover o dano material, e seus alvos costumam ser

bancos, empresas, e sedes de instituições públicas. (CAULYT, 2013, s/p)

54

Um dos estudantes parece conhecer a ideologia dos black blocks quando fala

sobre as diferentes formas de protestar das pessoas, ele afirma que há pessoas que

quebram os patrimônios como forma de questionar a ordem vigente.

“Já outros vêem nesse momento, um momento de rebeldia, de transgressão da ordem,

de quebrar com os conceitos de quebrar com o que há em sua frente também, como

quem diz ‘se eu quebrar o patrimônio público, eu to quebrando também o que eu tenho

contra o sistema, contra o governo que tá me saqueando’”. (Entrevistado 4)

Na fala anterior o jovem reconhece que os black blocs tem essa postura violenta

como convicção. Abaixo segue uma definição melhor do que é esse grupo:

Os black blocs não agridem pessoas, mas símbolos do poder. Eles não se

consideram violentos porque entendem que um objeto não é vítima de

violência. Para eles, violenta é a polícia, que agride os manifestantes e, ao

mesmo tempo, protege o patrimônio dos bancos, afirma o cientista político

Pedro Fassoni Arruda, especialista em movimentos sociais da PUC-SP.

(CAULYT, 2013, s/p)

Os black blocs foram os principais responsáveis para que o movimento como um

todo fosse visto como baderna, o que também acarretou a rejeição de muitos segmentos

da sociedade.

Observo uma reação contra os black blocs. Isso cria uma reação muito

negativa por parte da população civil. Em vez de estimular mudanças sociais,

os black blocs podem estar estimulando o ódio e a contrariedade por parte de

alguns”, afirma o cientista político David Fleischer, da Universidade de

Brasília (UnB). “Eles estão perdendo a legitimidade e a simpatia junto à

população. (CAULYT, 2013, s/p)

Tudo isso leva a refletir sobre o quanto a sociedade é bombardeada diariamente

pela mídia, que através de suas estratégias, consegue convencer as pessoas das suas

ideias de acordo com os interesses da classe dominante. É preciso uma reflexão ao ver

essas informações, todas elas têm uma ideologia oculta. Além disso, vale refletir sobre

quem está sendo violento, se são os manifestantes ou a polícia que age com truculência

contra a população que participa dos protestos.

55

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em vista dos argumentos apresentados, puderam-se pontuar algumas conclusões

importantes, ainda que provisórias do ponto de vista do aprofundamento. Primeiro, que

as manifestações de junho/13 têm uma mensagem a deixar, elas não aconteceram de

forma aleatória. Essas mobilizações denunciam problemas concretos que a sociedade

brasileira vivencia no seu cotidiano, que envolve desde o direito a ter um transporte

coletivo de qualidade e com preço justo, que foi o “pontapé” para iniciar o movimento,

até ter o direito à saúde, educação, segurança e cultura garantidos. Foram muitas as

reivindicações apresentadas no movimento, e apesar do seu ineditismo, por não

apresentar uma pauta definida de lutas e ter um novo formato, esse movimento exige

respostas concretas para problemas concretos e históricos.

Outro aspecto que merece destaque é a questão das organizações políticas atuais:

os partidos, sindicatos, movimentos tradicionais e suas estratégias não estão dando mais

conta de responder as demandas da população, e, além disso, suas formas de

organização não atraem e nem estão sendo capazes de reunir todos os setores da

sociedade, e protagonizar ações como as mobilizações de junho/13 fizeram e mesmo

que venham a ter consequências políticas organizativas de base desde então. Talvez seja

o momento dessas entidades repensarem suas estratégias de organização para torna-las

mais efetivas.

O primeiro capítulo deste trabalho nos faz refletir sobre o que desencadeia as

mobilizações sociais por todo o mundo, a conjuntura de crise do capitalismo, que gera

consequências na vida das pessoas, ainda que as pessoas não saibam que a raiz desses

problemas se encontra no sistema capitalista. Essas consequências abrangem a

precarização do trabalho, desemprego, miséria, carestia, que atingem diretamente os

trabalhadores. A partir da insatisfação diante das condições de vida é que surgem os

movimentos populares. No entanto, o capitalismo dispõe de um aparato de estratégias

para desmobilizar a classe trabalhadora. As estratégias vão desde o enraizamento de

valores como o individualismo na sociedade, até a própria repressão aos movimentos

sociais. No Brasil, a participação política das massas sempre foi prejudicada,

principalmente durante a ditadura militar, contudo, irromperam os movimentos urbanos,

sindicais, rurais, todos na tentativa de redemocratizar o país e melhorar as condições de

vida da coletividade que eram precárias. Há também o surgimento dos novos

56

movimentos sociais que reivindicam pautas complementares às lutas de classes, por

questões de gênero, raça, sexualidade, etc. Porém, estes não conseguem se articular a

luta contra o capitalismo. As entidades tradicionais, no momento atual, não tem mais

força política de articular um movimento geral no país.

Eis que surgem as novas formas de organização, a exemplo das Jornadas de

Junho/2013 e, no mundo todo irrompem movimentos com novas características, que

rejeitam as estruturas políticas tradicionais, são protagonizados por jovens, negam a

existência de lideranças, utilizam redes sociais como ferramenta de mobilização. Essas e

outras características configuram o novo modelo de organização encontrado pelos

jovens para expor as suas demandas. Embora haja interrogações a respeito do objetivo

desses movimentos, há a certeza de que o que os une é o sentimento geral de

descontentamento com o sistema vigente, e não há apenas um único objetivo o qual

perseguem.

Já o segundo capítulo nos traz dados que apontam uma tendência à passividade

dos estudantes entrevistados do IFRN - Campus Natal- Cidade Alta em relação às

Jornadas de Junho/13, a participação destes foi pouco expressiva no movimento. Mas,

há que se considerar que a própria sociedade atual não está configurada de modo a

incentivar o protagonismo das pessoas na política, e sim o contrário, está para

desmobilizá-las através do culto ao individualismo da ideologia neoconservadora. Os

jovens apontaram que as jornadas tiveram pouca ou nenhuma influência na

continuidade da participação dos jovens em entidades políticas. Por outro lado, em sua

maioria, reconhecem a importância do movimento no sentido de trazer melhorias para o

país, porém, justificam a não participação pela violência existente no movimento. Isso

mostra o quanto a ideologia neoconservadora criminaliza os movimentos, os reduzindo

a atos de violência, quando na verdade estes apresentam reivindicações para atenção à

necessidades concretas. A forte criminalização se fez presente nos movimentos

subsequentes: contra a copa, “rolêzinho”, “black blocs”. Inclusive, muitos manifestantes

foram presos políticos.

Os jovens colocaram a descontinuidade e a participação desqualificada como

pontos negativos nas mobilizações. Apesar de o IFRN ter um histórico ativo no

movimento estudantil do Estado, os dados mostram que atualmente a instituição vive

57

um momento de pouca expressão nas lutas estudantis, com a ressalva de que o campus

pesquisado é relativamente novo e contribui para esse quadro.

A principal aprendizagem do terceiro e último capítulo refere-se a o quanto a

ideologia conservadora se manifesta através da mídia, na transmissão das informações

sobre os movimentos sociais. As informações são carregadas de um cunho

neoconservador e criminalizador. E isso tem total responsabilidade na formação da

opinião de jovens que afirmam não participar do movimento devido à violência, como

se esse fosse o principal foco das manifestações.

Esse movimento foi importante também para profissão de Serviço Social. A

categoria defende e luta cotidianamente pela emancipação da classe trabalhadora. A

própria Lei nº 8662/93, que regulamenta a profissão, coloca no Art. 4º que é

competência do Assistente Social “IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos

sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos

civis, políticos e sociais da coletividade;”. E o Código de Ética do Serviço Social,

importante pilar do Projeto Ético-Político, afirma no Art. 13 que é dever do Assistente

Social “c- respeitar a autonomia dos movimentos populares e das organizações das

classes trabalhadoras.” Os princípios fundamentais do referido Código defendem a

liberdade, democracia, cidadania, equidade, justiça social, valores que se concretizam

ao ver a classe trabalhadora reivindicando seus direitos.

Diante disso, as Jornadas de Junho representaram para o Serviço Social, a

materialização de uma tomada de consciência da classe trabalhadora de que é necessário

se mobilizar para obter conquistas no campo social, político, econômico. Essas lutas

foram muito importantes para o avanço das políticas sociais, campo de intervenção

profissional do Assistente Social no trato com as expressões da questão social nos

diversos espaços sócio ocupacionais em que este está inserido.

Desse modo, o projeto ético-político do Serviço Social se fortalece e avança

junto às massas. Entretanto, a questão de descontinuidade do movimento é um elemento

importante nessa análise, pois, realizar uma mobilização social sem que esta tenha um

mínimo de organização para garantir uma perspectiva de continuidade não viabiliza um

avanço mais concreto nas conquistas sociais. A mídia não democratizada é outro

elemento importante a se considerar, visto que manipula as informações e contribui para

a criminalização dos movimentos.

58

Portanto, pudemos compreender a importância desses movimentos para a

sociedade sob a perspectiva de parte dos estudantes inseridos no IFRN- Campus Natal –

Cidade Alta, assim como, conhecer em que patamar está a participação política destes.

Assim, essa pesquisa contribuiu não só para o Serviço Social da instituição, como

também para tantos outros campos do fazer profissional que lidam com os movimentos

sociais e com a política de educação. Foi uma forma de se aprofundar da direção

política dos seus usuários, podendo-se a partir disso elaborar intervenções que venham a

fomentar a participação política nos espaços de tomada de decisão de forma a tornar os

sujeitos agentes de sua própria transformação social no caminho da emancipação

humana.

59

REFERÊNCIAS

BARROCO, Maria Lúcia S. Barbárie e Neoconservadorismo: os desafios do projeto

ético-político. In: Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

BAZZANELLA, Sandro Luis. Os protestos de rua no Brasil. In: Subsídio para

Sociologia encartado no Jornal Mundo Jovem, ano 6, n. 26. Março de 2014

BEGUOCI, Leandro. Rolezinho e a desumanização dos pobres. Disponível em:

<http://www.oene.com.br/rolezinho-e-desumanizacao-dos-pobres/> Acesso em

15/09/2014

BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e

história. São Paulo : Cortez, 2010

CARNEIRO, Henrique Soares. Rebeliões e Ocupações de 2011. In: Occupy:

movimentos de protestos que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo: Carta Maior,

2012.

CAULYT, Fernando. Polarizadores no Brasil, black blocs surgiram na Alemanha.

Disponível em: <http://www.dw.de/polarizadores-no-brasil-black-blocs-surgiram-na-

alemanha/a-17179796> Publicado em 24/10/2013

Comitê Popular da Copa e Olimpíadas. Nota de repúdio do Comitê Popular da Copa e

Olimpíadas Rio frentes as prisões de militantes e ativistas populares. Disponível em:

<http://www.portalpopulardacopa.org.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=64

9:nota-de-rep%C3%BAdio-do-comit%C3%AA-popular-da-copa-e-

olimp%C3%ADadas-rio-frentes-as-pris%C3%B5es-de-militantes-e-ativistas-

populares> acesso em set. 2014

COUTINHO, Carlos Nelson. Dualidade de Poderes: introdução à teoria marxista de

estado e revolução. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

Estudantes querem renovar o Grêmio do IFRN. Disponível em: <www.ujspotiguar.com.br>

Publicado em 8 de agosto de 2010 - 20h36

FARIA, José Henrique de; KREMER Antonio. Reestruturação Produtiva e

Precarização do Trabalho: O Mundo Do Trabalho Em Transformação. In: REAd –

60

Edição 41 Vol. 10 No. 5, set-out 2004

Frente independente pela memória, verdade e justiça - MG. Abaixo a repressão!

Liberdade imediata para os manifestantes calu e igor! Toda solidariedade à

karinny, presa e espancada pela pm! Nota da fimvj/mg. Disponível

em:<http://frentemvj.blogspot.com.br/2014/06/abaixo-repressao-liberdade-

imediata.html> Acessado em set. 2014

HARVEY, David. A liberdade da cidade. In: Cidades Rebeldes: passe livre e

manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 1.ed.São Paulo: Boitempo: Carta Maior,

2013

Histórico do IFRN. Disponível em:

<http://portal.ifrn.edu.br/campus/natalcidadealta/institucional/historico.html> Acesso

em: ago. 2014

Justiça expede prisão preventiva de Sininho e outros 22 ativistas. Disponível em:

<http://www.otempo.com.br/capa/brasil/justi%C3%A7a-expede-pris%C3%A3o-

preventiva-de-sininho-e-outros-22-ativistas-1.885778> Acesso em 18/09/2014

MARICATO, Ermínia. É a questão urbana, estúpido!. In: Cidades Rebeldes: passe

livre e manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 1.ed.São Paulo: Boitempo: Carta

Maior, 2013.

MARX, Karl. A Questão Judaica. 6. ed. São Paulo: Centauro, 2005.

MENDONÇA, Sônia Regina de. FONTES, Virginia Maria. História do Brasil Recente

1964-1992. 4. Ed. São Paulo: Editora Ática, 1996

MÉSZÁROS, Istiván. A crise estrutural do capital. 2.ed. São Paulo: Boitempo, 2011

MONTAÑO, Carlos. DURIGUETTO, Maria Lúcia. Estado, Classe e Movimento

Social. São Paulo: Cortez, 2010

Movimento Estudantil. Disponível em:

<http://lutaeresistencia.blogspot.com.br/2013/06/movimento-estudantil.html> Acesso

em: 10/09/2014

SALES, Mione Apolinario & RUIZ, Jefferson Lee de Souza (orgs.). Mídia, questão

social e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2011, p. 33-81.

61

SANSON, Cesar. O caráter da criminalização dos movimentos sociais no Brasil. Ano

IX. N 24 outubro de 2008

SECCO, Lincoln. As Jornadas de Junho. In: Cidades Rebeldes: passe livre e

manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 1.ed.São Paulo: Boitempo: Carta Maior,

2013

SOUZA, Luana Vanessa Soares Pinto de. As Jornadas De Junho E Os Novos

Movimentos: Uma Análise Crítica Sob A Perspectiva Marxista. 2013. 86 f. TCC

(Graduação) - Curso de Serviço Social, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

Natal, 2013.

TONET. Ivo. Expressões socioculturais da crise capitalista na atualidade. In: Serviço

Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília, 2009. (Publicação do

Conselho Federal de Serviço Social – CFESS e Associação Brasileira de ensino e

Pesquisa em Serviço Social – ABEPS. V. 1)

UJS Presente no Movimento Estudantil do Vale do Açu. Disponível em:

<http://cavalcantedecarnaubais.blogspot.com.br/2013/02/ujs-presente-no-movimento-

estudantil-do.html> Publicado em fevereiro de 2013

VOLANÍN, Leopoldo. Poder e mídia: a criminalização dos movimentos sociais no

brasil nas últimas trinta décadas. s/d.

ŽIŽEK, Slavoj. Problemas no Paraíso. In: Cidades Rebeldes: passe livre e

manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 1.ed.São Paulo: Boitempo: Carta Maior,

2013.

62

APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DA ENTREVISTA

1. Você participou das manifestações ocorridas no Brasil no ano de 2013,

denominadas “Jornadas de Junho”?

( ) Sim ( ) Não. Justifique

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

2. Como você avalia essa participação?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

3. Qual foi o meio que mais te influenciou a participar? Justifique.

( )Internet ( )Bairro ( )Escola ( ) Grande mídia ( )Outro

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

4. Você acompanhou o movimento que ocorria a nível nacional?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

5. Você acompanhou as lutas que ocorriam a nível internacional?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

6. Você acha que essas jornadas influenciaram ou mudaram a participação dos

jovens nas escolas/grêmios ou mesmo em partidos políticos?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

7. O que ficou de positivo e/ou de negativo dessa experiência para você e também para

o Brasil?

63

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa “A Participação Dos Estudantes

Do Ifrn – Campus Natal -Cidade Alta Nas Jornadas De Junho/ 2013” que é

coordenada por Hérvila Gabriela Tavares de Medeiros.

Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer

momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou

penalidade.

Essa pesquisa procura conhecer o nível de politização dos estudantes do IFRN Campus

Natal - Cidade Alta e analisar a repercussão da participação dos estudantes nas jornadas

de junho na vida deles e no meio escolar. Portanto, a investigação que se pretende

concretizar surgiu a partir da minha inserção no estágio no Instituto Federal de

Educação, Ciências e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) – Campus Natal -

Cidade Alta. A partir do processo de observação e análise percebi a necessidade de

organização política dos estudantes por eles não terem nenhuma entidade interna

(Grêmio Estudantil, Centro Acadêmico). Desse modo planejei minha intervenção no

sentido de fomentar a participação política dos estudantes. Nessa pesquisa, faremos uma

análise da participação dos jovens estudantes nesses movimentos ocorridos no contexto

local e também de abrangência nacional. Caso decida aceitar o convite, você será

submetido(a) ao(s) seguinte(s) procedimentos: entrevistas semiestruturadas gravadas e

que serão transcritas. Não havendo essa possibilidade poderão ser feitas entrevistas sem

gravações ou aplicação de questionários.

Os riscos envolvidos com sua participação são: Não há riscos físicos relacionados à

participação neste estudo, uma vez que não haverá nenhuma intervenção que possa

trazer danos à saúde, nem utilização de nenhuma substância físico-química nos

participantes do mesmo.

64

Os únicos riscos que poderiam porventura acontecer se restringem a constrangimento

em relação a alguma pergunta efetuada. Nesse caso, o entrevistado deve exercer o pleno

direito de não respondê-la.

Ainda assim, se no período de ocorrência desta pesquisa, algum indivíduo pesquisado

apresentar algum transtorno de ordem psicológica, o(a) pesquisador(a) assume o

compromisso de encaminhá-lo para atendimento na Clínica de Psicologia da UFRN.

Você terá os seguintes benefícios ao participar da pesquisa: Contribuir para o Serviço

Social da instituição e de outros campos de trabalho do Assistente Social a se

aprofundar na participação política dos seus usuários em movimentos sociais, podendo

assim posteriormente receber um atendimento de profissionais mais qualificados em

relação ao tema e que possam contribuir para a organização política da população.

Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em

nenhum momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos

resultados será feita de forma a não identificar os voluntários.

Se você tiver algum gasto que seja devido à sua participação na pesquisa, você será

ressarcido, caso solicite.

Em qualquer momento, se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta

pesquisa, você terá direito a indenização.

Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta

pesquisa, poderá perguntar diretamente para Hérvila Gabriela Tavares de Medeiros,

no endereço Rua Alagoas, Neópolis, 127. Natal-RN ou pelo telefone (84) 9604-1718.

Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética

em Pesquisa da UFRN, CEP HUOL no endereço Hospital Universitário Onofre Lopes,

Av. Nilo Peçanha, 620, Petrópolis - Natal/RN CEP 59.012-300 Fone: (84) 3342-5003

Consentimento Livre e Esclarecido

Declaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e

benefícios envolvidos e concordo em participar voluntariamente da pesquisa A

Participação Dos Estudantes Do Ifrn – Campus Natal -Cidade Alta Nas Jornadas

De Junho/ 2013. ”

Participante da pesquisa:

_____________________________________________________

65

Pesquisador responsável:

_____________________________________________________

Hérvila Gabriela Tavares de Medeiros

Endereço Profissional: Caixa Postal 1524 - Campus Universitário Lagoa Nova, CEP

59078-970 Natal/RN Brasil

Fone: +55 84 3215.3883

Comitê de ética e Pesquisa Hospital Universitário Onofre Lopes, CEP HUOL

Av. Nilo Peçanha, 620, Petrópolis - Natal/RN CEP 59.012-300 Fone: (84) 3342-5003