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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DANIEL SOLON DIAS DE FARIAS TARTARUGAS MARINHAS DA BACIA POTIGUAR/RN: DIAGNÓSTICO, BIOLOGIA ALIMENTAR E AMEAÇAS. NATAL/RN 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DANIEL SOLON DIAS DE FARIAS

TARTARUGAS MARINHAS DA BACIA POTIGUAR/RN: DIAGNÓSTICO,

BIOLOGIA ALIMENTAR E AMEAÇAS.

NATAL/RN

2014

DANIEL SOLON DIAS DE FARIAS

TARTARUGAS MARINHAS DA BACIA POTIGUAR/RN: DIAGNÓSTICO,

BIOLOGIA E AMEAÇAS.

Versão da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito à obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Flávio José de Lima Silva.

Coorientadora: Profa. Dra. Simone Almeida G. L. da Costa.

NATAL / RN

2014

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por ter me guiado e me mantido firme nos meus

objetivos;

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela formação

acadêmica e pelo incentivo a permanecer nos estudos desde a graduação até o

ingresso na Pós-graduação em Ciências Biológicas;

Ao Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB), que me proporcionou a

oportunidade de estar realizando meu mestrado. Meu muito obrigado ao

professor Dr. Flávio Lima, coordenador e orientador, pela confiança e por

acreditar que eu poderia realizar esse trabalho;

A professora Dr. Simone Almeida pela orientação, paciência e amizade

de sempre. Foi a primeira pessoa, desde o início da graduação, que acreditou

em mim e me abriu as portas para que eu pudesse chegar até aqui. Muito

obrigado;

A todos do Laboratório de Histologia (Socorro, Melyna, Sara, Lourdes)

pela colaboração e paciência durante todo o trabalho;

A painho e mainha, meus maiores exemplos de vida, que me

proporcionaram toda base e apoio para que eu seguisse em frente. Muito

obrigado pela paciência, carinho e amor tão sinceros;

A meu irmão Lucas, minha avó e madrinha Maria da Conceição e Tia

Karina, que sempre estiveram ao meu lado, me dando palavras de incentivo e

torcendo pelo meu sucesso;

Ao meu anjo da guarda, minha Vovó Chica, que mesmo não estando mais

entre nós me guia diariamente e me dá forças para que eu não desista;

Aos meus queridos amigos do Neves, da UFRN e a minha namorada

Luiza, pela paciência, força e compreensão constantes. Obrigado por me

proporcionarem tantos momentos de alegria durante essa trajetória;

A todos do Laboratório de Morfofisiologia de Vertebrados, em especial a

Line, Gabi e Iara pela paciência, força e apoio constante. Obrigado

principalmente pela amizade e companheirismo em todos os momentos;

A Petrobras, que financia o Projeto Cetáceos da Costa Branca,

viabilizando este estudo;

A todos que, de alguma forma, colaboraram para a realização deste

trabalho.

Resumo

Este trabalho objetivou estudar a diversidade e distribuição das tartarugas

marinhas encalhadas na Bacia Potiguar, RN, bem como os aspectos

relacionados ao comportamento alimentar associados aos impactos antrópicos.

O estudo foi realizado com animais encalhados, registrados por monitoramento

diário, na área delimitada a noroeste pelo município de Aquiraz, Ceará, e a leste

pelo município de Caiçara do Norte, RN. Os animais encalhados mortos foram

necropsiados e coletados esôfago, estômago e intestinos, fixados em formol a

10%, sendo posteriormente o conteúdo estomacal triado e armazenado. Destes

mesmos órgãos foram retirados fragmentos para confecção de lâminas

histológicas. Foram registradas 2.046 ocorrências de tartarugas marinhas

durante o período de 01/01/2010 a 31/12/2012. A espécie Chelonia mydas

apresentou o maior número de registros (66,81%, N = 1.367); seguido de

Eretmochelys imbricata (4,45%, N = 91) e Lepidochelys olivacea com 1,22% (N

= 25). Caretta caretta e Dermochelys coriacea apresentaram, respectivamente,

0,93% (N = 19) e 0,05% (N = 1) registros. Tanto a distribuição espacial, como a

temporal, variaram evidenciando maior ocorrência de encalhes no trecho A-

Grossos-RN/Icapuí-CE e um maior número de registros nos meses quentes do

ano. A análise da dieta das tartarugas demonstrou que Chelonia mydas

alimentou-se preferencialmente de algas; Caretta caretta de “resto calcário” e

“Moluscos” e E. imbricata de material de origem animal. Dos animais que vieram

a óbito, 57,14% (n = 76) apresentaram como causa mortis à ingestão de detritos.

A análise da histologia demonstra que o esôfago apresenta papilas esofágicas,

revestidas de epitélio pavimentoso estratificado queratinizado, igualmente a

mucosa deste órgão. Ausência de sub mucosa e camada muscular com

músculos estriados e liso em diferentes direções. Estômago e intestino

apresentam as quatro camadas: mucosa, submucosa, muscular e serosa, com

destaque para as fossetas gástricas no estômago e a presença de vilos nos

intestinos. De acordo com os dados apresentados, a Bacia Potiguar apresenta-

se como uma área de grande diversidade de espécies de tartarugas marinhas,

sendo caracterizada como área de alimentação para essas espécies.

Palavras-chave: Encalhes. Dieta. Histologia. Ações antropogênicas.

Abstract

This work aimed to study the diversity and distribution of marine sea turtles

stranded in Potiguar Basin, Rio Grande do Norte, as well as aspects related to

feeding behavior associated with human impacts. The study was conducted

through the analysis of data from stranded animals, recorded in a daily monitoring

in an area bounded on the north by the municipality of Aquiraz, in the state of

Ceará, and the east by the municipality of Caicara do Norte, in the state of Rio

Grande do Norte. Stranded dead animals were necropsied and for the analysis

of the diet of animals, esophagus, stomach and intestines were fixed in 10%

formalin and after that, the stomach contents were sorted and stored in 70%

alcohol. Representative fragments of these organs were removed for making

histological slides, with a view to histological characterization of the digestive

tract. 2.046 occurrences of turtles were recorded during the period from

01/01/2010 to 31/12/2012. The Chelonia mydas species showed the highest

number of records and it was observed in 66.81 % (N = 1,367) of cases; followed

by Eretmochelys imbricata with 4.45 % (N = 91) and by Lepidochelys olivacea

with 1.22% (N = 25). The Caretta caretta and Dermochelys coriacea species

were, respectively, 0.93 % (N = 19) and 0.05 % (N = 1) records of strandings. In

26.54 % of cases, it was not possible to identify the species. Regarding the spatial

distribution, the stretch A was the one that had the highest number of strandings

and a larger number of records were registered in the warm months of the year.

The dietary analysis showed that C. mydas fed preferentially on algae; C. caretta

had a diet with a predominance of the item "coral´s fragments" and E. imbricata

species showed preference for an animal origin material. Related to this anthropic

interaction, 57.14 % (n = 76) of animals that died at the rehabilitation’s base,

showed cause of death due to complications from ingesting debris. According to

the data presented, the Potiguar Basin presents itself as an area with important

diversity and distribution of marine sea turtle as well is characterized as a feeding

and nidification area for these species.

Key-words: Strandings. Diet. Histology. Anthropogenic activities.

SUMÁRIO Página

INTRODUÇÃO GERAL……………………………………………………………..1

OBJETIVO GERAL……………………………………………………………….....6

Objetivos específico……………………………………………………........6

METODOLOGIA GERAL .................................................................................7

ARTIGO I - Tartarugas Marinhas Da Bacia Potiguar/RN: Diagnóstico e

Ameaças......................................................................…………………............11

ARTIGO II – Biologia Alimentar e Morfohistologia do Tubo Digestório das

Principais Espécies de tartarugas marinhas da Bacia Potiguar, Rio Grande do

Norte, Brasil.………….....................................……………………………..........37

CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………………..64

REFERÊNCIAS……………………………………………………………………...69

ANEXOS...........................................................................................................76

1

INTRODUÇÃO GERAL

As tartarugas marinhas são répteis que possuem distribuição cosmopolita

(MEYLAN; MEYLAN, 1999), habitando os mares tropicais e subtropicais do

globo. Os primeiros registros datam do Jurássico, onde o fóssil mais antigo é de

pelo menos 180 milhões de anos. No entanto, foi no Cretáceo, entre 60 e 100

milhões de anos atrás, que se originaram as espécies atuais (COELHO, 2009),

pertencentes às Famílias Cheloniidae e Dermochelyidae (SANCHES, 1999), e

que atravessaram as eras geológicas com poucas mudanças em sua morfologia,

estando entre os animais mais antigos do planeta (PUPO et al., 2006).

São conhecidas atualmente 7 espécies, que se encontram distribuídas em

duas famílias. A família Dermochelydae inclui apenas uma espécie vivente, a

Dermochelys coriacea ou tartaruga de couro. As outras 6 espécies estão

incluídas na família Cheloniidae, a saber, Chelonia mydas (tartaruga-verde),

Caretta caretta (tartaruga-cabeçuda), Eretmochelys imbricata (tartaruga-de-

pente), Lepidochelys kempii (tartaruga lora), Lepidochelys olivacea (tartaruga-

oliva) e Natator depressus (tartaruga flatback).

Das sete espécies existentes de tartarugas marinhas, cinco – C. caretta,

C. mydas, D. coriacea, L. olivacea e E. imbricata utilizam a costa brasileira para

reprodução e alimentação (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999).

A distribuição das espécies, segundo Márquez (1990), ocorre da seguinte

forma: Caretta caretta, ou tartaruga cabeçuda, apresenta-se amplamente

distribuída em águas tropicais e subtropicais em todo o mundo, utilizando as

correntes quentes para realizar longas migrações; Chelonia mydas, ou tartaruga-

verde, está amplamente distribuída em águas tropicais e subtropicais, próximas

à costa continental e em torno de ilhas, sendo rara em águas temperadas;

Eretmochelys imbricata, ou tartaruga-de-pente, a mais tropical de todas as

tartarugas; Lepidochelys olivacea, ou tartaruga-oliva, com uma distribuição

limitada pelas isotermas de 20°C; adultos de Dermochelys coriacea, ou

tartaruga-de-couro, estão mais adaptados que qualquer outra tartaruga a águas

mais frias, apresentando a distribuição mais ampla entre as espécies. Existem

numerosos registros de D. coriacea em altas latitudes, onde as temperaturas da

água estão entre 10°C e 24°C, distantes de áreas de desova tropicais e

subtropicais (MÁRQUEZ, 1990).

2

A limitação desses estudos em áreas de reprodução leva a um

conhecimento relativamente bem menor sobre a biologia das tartarugas

marinhas em áreas de alimentação (BJORNDAL, 1999), devido, principalmente,

a dificuldade de identificação dessas áreas e dos seus indivíduos. O ideal é que

sejam conduzidos estudos em áreas de alimentação e de reprodução de forma

concomitante.

O conhecimento sobre a dieta de tartarugas marinhas permite identificar

recursos alimentares importantes e com isso tomar decisões de manejo

adequadas para a conservação dos hábitats utilizados por estas populações

(BJORNDAL, 1999). Nos primeiros estágios da vida, os indivíduos de C. mydas

são preferencialmente carnívoros e se alimentam em áreas de convergência no

ambiente pelágico. Quando juvenis tem uma alimentação mais variada já que

passam a se alimentar também no ambiente bentônico. Na fase adulta,

tartarugas-verdes representam a única espécie de tartaruga marinha herbívora.

Assim, são fundamentais na ciclagem de nutrientes e alteram a estrutura

da comunidade de plantas aquáticas nas áreas de alimentação (BJORNDAL,

1997). A pastagem da referida espécie exerce influência sobre pradarias,

podendo mudar a sucessão de espécies, a densidade da fauna e as relações

presa-predador do ambiente (BJORNDAL, op cit).

A tartaruga-cabeçuda é carnívora e se alimenta de itens planctônicos em

habitats oceânicos nos estágios iniciais (BJORNDAL, 1997). Quando em

estágios juvenis mais avançados, recruta para habitats neríticos e, nesta fase,

comem principalmente no fundo (BOLTEN, 2003). As tartarugas-cabeçudas

alteram completamente sua dieta quando mudam de habitat e

consequentemente, o valor energético de suas presas.

Com relação a E. imbricata o declínio na quantidade e qualidade de

habitats coralíneos (PANDOLFI et al., 2003) pode ser um fator agravante para a

sobrevivência das tartarugas-de-pente, pois esta espécie é fortemente

associada a recifes de corais devido ao seu hábito alimentar preferencialmente

espongívoro (MEYLAN, 1988).

Embora o conhecimento da biologia e ecologia das tartarugas marinhas

esteja sendo ampliado, a nível mundial, estudos morfológicos ainda são

incipientes. Estes estudos relacionados ao sistema digestório demonstram que

3

sua morfologia está intimamente relacionada aos hábitos alimentares (SILVA,

2004). A grande variedade de répteis tem exigido mais esforços para

compreender as particularidades da anatomia de cada espécie, com valor

econômico e de conservação (COSTA et al., 2009). Portanto é de grande

importância que se conheça a descrição da localização dos órgãos digestórios

na cavidade celomática, para realização correta dos diversos exames e cirurgias

sem prejuízo algum aos órgãos.

Associando os conhecimentos dos aspectos quantitativos da dieta

selecionada, aos processos digestivos, e da nutrição pode ser possível entender

qual a função das tartarugas marinhas no ecossistema marinho (BJORNDAL,

1997). Desse modo conhecendo-se aspectos, ainda que básicos, desse

processo, somam-se aos esforços para a conservação das tartarugas marinhas.

A história de vida desses animais é bem complexa e compreende diversos

estágios. Durante toda a vida habitam desde regiões mais oceânicas até as mais

costeiras (EPPERLY et al., 2007). Além disso, cada subpopulação de tartarugas

marinhas parece ter diferentes tendências de agrupamento e, aparentemente,

não se misturam aleatoriamente em razão de forrageio (BRODERICK et al.,

1994, SEARS et al., 1995, BOLTEN et al., 1998, BOWEN et al., 2004). Assim,

vários dados de forrageamento, de regiões demográficas diferentes,

contribuiriam para uma informação mais confiável sobre a biologia desses

animais. (EPPERLY et al., 2007).

A região nordeste do Brasil, especificamente na Costa Branca - RN,

apresenta registros das cinco espécies de quelônios marinhos citadas acima,

sendo encontradas frequentemente encalhadas, vivas ou não, nas praias desta

região, sendo Chelonia mydas e Eretmochelys imbricata as espécies mais

frequentes (FRAGOSO et al., 2012).

A redução das populações de tartarugas marinhas tem sido atribuída à

destruição dos habitats, a ações humanas em praias de desova, predação de

ovos, jovens e adultos, pesca predatória e poluição (WYNEKEN et al., 1988).

Alguns autores reforçam que as principais causas dos encalhes de tartarugas

estão relacionadas à atividade antrópica negativa, seja indiretamente ou

diretamente por interação com a pesca ou por ingestão de resíduos sólidos

(TOURINHO, et al., 2008; BUGONI et al., 2001).

4

Pesquisas realizadas em diversos locais do mundo indicam que a captura

incidental em arrasto, espinhel pelágico e de fundo e em redes de emalhe, são

as maiores causas da mortalidade de tartarugas marinhas na pesca (ORAVETZ,

1999). Em uma extensa revisão realizada pelo National Research Council (1990)

em águas costeiras dos Estados Unidos, o arrasto de camarão foi apontado

como a maior causa da mortalidade de juvenis, subadultos e adultos de

tartarugas marinhas associada a ações humanas, com uma estimativa de

captura anual em todo o mundo de 150 mil indivíduos (ORAVETZ, 1999).

O Rio Grande do Norte, com um litoral de aproximadamente 400 km, vem

se firmando como grande potencial pesqueiro marítimo. O Estado possui uma

atividade pesqueira marítima com bancos e ilhas oceânicas a uma distância

normalmente menor que 160 milhas náuticas, onde costumam ser capturadas

diversas espécies de peixes, crustáceos e moluscos.

Se por um lado a pesca artesanal representa uma importante fonte de

renda e de alimentação para as comunidades litorâneas, por outro lado assume

uma fonte de impacto sobre a biota local (CEPENE, 2003). Attademo (2007) em

seus estudos relatou que a porção oeste do Rio Grande do Norte, também

denominada de Costa Branca, apresenta como principais atividades econômicas

a extração de sal e petróleo, carcinicultura e pesca artesanal e ressaltou como

característica marcante da região uma alta taxa de devastação ambiental,

destruição dos mangues e má exploração da área.

Dentre as problemáticas que ameaçam as tartarugas marinhas a

contaminação do meio marinho é responsável por afetar um grande número de

indivíduos (GRAMENTZ, 1988). Por definição, os resíduos sólidos são quaisquer

materiais sólidos de origem antrópica encontrados no ambiente. A maioria é

composta por produtos manufaturados, podendo ser divididos em categorias

como plástico, papel, metal, madeira, vidro, entre outros (IOC/FAO/UNEP,

1989).

As tartarugas estão sujeitas a dois tipos de interações com os resíduos

sólidos marinhos: enredamento e ingestão. Esses animais podem se enredar

nos resíduos sólidos, impedindo sua mobilidade, e podendo causar dificuldades

na captura de presas e fuga de predadores, e até mesmo, a morte por

afogamento (TOURINHO, 2007). Segundo Carr (1987) todas as espécies de

tartarugas marinhas possuem uma tendência a se alimentarem de pedaços de

5

plástico e outros detritos flutuantes. Nesse sentido, Laist (1987) comenta que

esses animais estão sujeitos à ingestão de resíduos sólidos, e que esta ingestão

pode ser intencionalmente quando estes são confundidos com alimentos

naturais, ou acidentalmente quando resíduos são ingeridos juntamente com o

alimento.

Sabe-se que a morte diretamente causada pela presença do resíduo

sólido acontece com a obstrução do trato gastrointestinal mesmo quando

pequenas quantidades são ingeridas (BJORNDAL, 1997). Efeitos subletais

podem ser mais prejudiciais às populações de tartarugas marinhas, pois estão

relacionados à diminuição do crescimento e da reprodução destes animais

(BJORNDAL,1997).

Considera-se como efeitos subletais primeiramente danos nas paredes do

trato gastrointestinal, como necroses e ulcerações (BJORNDAL, 1997), que

podem afetar a fisiologia do animal, reduzindo o ganho nutricional (diluição

nutricional) (MCCAULEY & BJORNDAL, 1999) e interferindo no metabolismo

dos lipídios (GEORGE,1997). A presença de resíduos pode causar o aumento

do tempo dos alimentos nos compartimento do trato e acúmulo de gases no

intestino, e até a perda do controle sobre a flutuabilidade (GEORGE, 1997).

Os resíduos sólidos no trato gastrointestinal causam falsa saciedade nos

animais, resultando na diminuição pela procurar de alimento. As tartarugas

marinhas também ficam expostas aos possíveis contaminantes (i.e. PCB e

pesticidas) que podem estar adsorvidos aos resíduos sólidos (MATO et al.,

2001). Para a região da Costa branca, boa parte das tartarugas marinhas

encalhadas apresenta problemas relacionados à ingestão de resíduos sólidos e

interação com a pesca.

Desta forma, o presente trabalho investiga a diversidade, distribuição

espacial, temporal e interações antrópicas das espécies de tartarugas marinhas

encalhadas nesta região, avaliando a dieta e histologia do tubo digestório como

forma de contribuir para os avanços na conservação e preservação desses

animais.

6

OBJETIVO GERAL

Investigar aspectos relacionados à diversidade, distribuição, sazonalidade

e interações antrópicas de tartarugas marinhas que ocorrem na Costa Branca -

RN/CE, assim como determinar a dieta e estruturas histológicas do tubo

digestório desses animais, de forma a elucidar aspectos relacionados à sua

biologia.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Determinar a diversidade e distribuição das tartarugas marinhas que

ocorrem na Costa Branca do RN/CE, identificando a variação sazonal

e espacial de ocorrência das espécies;

Identificar as principais interações antrópicas nesses animais na

região;

Caracterizar a dieta e a morfoestrutura do tubo digestório das

principais espécies que ocorrem na região.

7

METODOLOGIA GERAL

Área de estudo

O desenvolvimento do estudo fez parte de um projeto intitulado

“Monitoramento de Praias do litoral potiguar e cearense e Embarcado da biota

marinha, em especial sobre mamíferos marinhos e quelônios”, financiado pela

PETROBRÁS - FUNDAÇÃO GUIMARÃES DUQUE, através do contrato de

número 2500.005657510.2.

A pesquisa foi realizada em praias da região noroeste do litoral do Rio

Grande do Norte, entre os municípios de Caiçara do Norte - RN (5° 4'1.15"S; 36°

4'36.41"O) e Icapuí, (4°38'48.28"S; 37°32'52.08"O), perfazendo uma extensão

aproximada de 200 km.

Devido à grande extensão, condição de acesso e características

ambientais, a área de monitoramento foi dividida em três setores (setor 1, 2 e 3).

Cada setor possui uma base de apoio que fornece suporte a dois trechos de

monitoramento. O primeiro trecho, denominado de Trecho A, localiza-se entre os

municípios de Areia Branca-RN até limite do município de Icapuí com Aracatí-

CE. O segundo, Trecho B, vai de Areia Branca até a praia de Porto do Mangue-

RN, incluindo estuário do rio Apodi - Mossoró.

Pertencendo ao Setor 2, inclui-se o trecho C: Guamaré até a praia Pontal

dos Anjos-RN, incluindo o sistema estuarino de Macau. E o D, Galinhos até a

praia de Caiçara do Norte-RN, incluindo o complexo estuarino de Guamaré

(FIG. 1). O setor 3, cujo monitoramento é realizado a cada 20 dias, inclui-se o

trecho E, que vai de Aracati - CE (Praia do Retiro Grande) até a margem direita

do Rio Pacoti no Município de Aquiraz – CE (Praia de Porto das Dunas).

8

Figura 1 - Localização da área de estudo, Costa Branca, RN, Brasil.

Fonte: Projeto Cetáceo da Costa Branca.

Coleta de dados

Durante o período entre 01 de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2012

foi realizado o monitoramento diário de toda extensão de praias. As tartarugas

encontradas encalhadas foram registradas, quanto a espécie. Realizou-se a

identificação dos animais, em nível de espécie e biometria dos animais

encontrados encalhados, vivos ou mortos, coletando-se dados referentes ao

comprimento curvilíneo da carapaça (CCC), medido desde o início da placa pré-

central até o fim da placa pós-central (BOLTEN,1999).

Foram registrados ainda a localização geográfica através de GPS,

determinação de classe etária e sexo (quando possível), registro fotográfico e

subsequente tentativa de reintrodução. Para animais mortos, foi realizado o

mesmo procedimento, com o adicional de que era avaliado o estado da carcaça

do animal e observado qualquer sinal externo de interação antrópica. Para

carcaças em bom estado amostras foram coletadas para posterior análise, com

o intuito de avaliar a causa mortis da tartaruga.

9

Determinação da dieta

O estudo da dieta dos animais foi realizado a partir da análise do conteúdo

presente no trato gastrointestinal (esôfago, estômago e intestinos), dos animais

encalhados mortos e daqueles necropsiados, após o óbito na base de

reabilitação. Os órgãos foram retirados, pesados e os conteúdos presentes

armazenados em formol 4% ou álcool 70%. Para a identificação dos itens

alimentares utilizou-se literatura específica, chaves de classificação e consulta a

especialistas.

Para a caracterização da preferência alimentar foi utilizada uma

combinação de métodos de identificação, utilizando-se o Método Volumétrico

(HYSLOP, 1980) e o Método de Frequência de Ocorrência (HÉRRAN, 1988), a

fim de verificar os itens predominantes na dieta. Posteriormente, esses métodos

foram conjugados no Índice Alimentar (IAi) (KAWAKAMI; VAZZOLER, 1980)

para que os erros fossem minimizados e o diagnóstico o mais completo possível

sobre a dieta (TEIXEIRA & GURGEL, 2002), empregando-se a equação:

IAi = Fi * Vi/ ∑ (Fi * Vi)

Onde:

IAi = Índice alimentar

i = 1,2,...n = determinado item alimentar

Fi = Frequência de ocorrência (%) de cada item

Vi = Volume (%) de cada item

Diante disto, para avaliar os itens preferenciais da alimentação e

determinar o hábito alimentar da espécie foi utilizada a metodologia de Rosecchi

& Nouaze (1987), cuja escala admite:

IAi >50% - item preferencial 25 < IAi < 50% - item secundário IAi < 25% - item acessório

10

Análise qualitativa resíduos sólidos

Dos animais que vieram a óbito na base de reabilitação ou tiveram seu

conteúdo estomacal coletado em campo, foi retirado o tubo digestório e seu

conteúdo acondicionado em álcool 70%. Para a caracterização dos itens

presentes, realizou-se uma análise a partir da utilização de estereoscópio,

utilizando-se o método volumétrico (HYSLOP, 1980) e o Método de Frequência

de Ocorrência (HÉRRAN, 1988). Os diferentes itens alimentares e tipos de

resíduos sólidos foram agrupados em Categorias Alimentares (Tabela 1).

Processamento e análise histológica

Com o propósito de correlacionar, morfohistologicamente, as estruturas

que compõem o tubo digestório com o hábito alimentar das espécies, fragmentos

de esôfago, estômago e intestino foram coletados no momento das necropsias.

O material foi acondicionado em formol a 10% para, posteriormente, serem

submetidas ao tratamento histológico pelas técnicas de Hematoxilina-Eosina,

segundo Tolosa (2003), com o intuito de avaliar a histologia destas estruturas.

Análises estatísticas

A fim de avaliar diferenças significativas no número de encalhes entre os

trechos de monitoramento, foi utilizado o teste de kruskal-Wallis. Para verificar a

associação das espécies registradas por trecho de ocorrência realizamos uma

análise multivariada de correspondência (ANACOR). Para comparar a

frequência de encalhes por ano de monitoramento foi utilizado o teste de 𝜒2.

Para analisar o padrão temporal no número de encalhes, uma análise de

agrupamento de cluster foi feita entre todos os meses durante os três anos de

estudo. Para isso foi utilizada a distância Euclidiana e o método de Ward como

função de ligação, o qual apresentou melhor eficiência e qualidade. As análises

estatísticas foram feitas no software Statistic 7.

11

Artigo 1

Título - Tartarugas marinhas da Bacia Potiguar/RN, Brasil: Diagnóstico e

ameaças.

Daniel Solon Dias de Farias, 1, 2, Simone Almeida Gavilan Leandro da Costa 2,3

& Flávio José de Lima Silva 1,2,4

1- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós Graduação

em Ciências Biológicas, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. Email:

[email protected]

2- Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Laboratório do

Morfofisiologia de Vertebrados. Departamento de Morfologia, CP 1511, CEP

59078-970, Natal, RN, Brasil.

4- Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB – UERN), Laboratório de

Monitoramento de Biota Marinha, Campus Central, CEP 59600-000, Mossoró,

RN, Brasil. Departamento de Turismo – Universidade do Estado do Rio Grande

do Norte, Brasil.

12

Resumo

Os registros de encalhes de tartarugas marinhas são frequentes em todo

litoral setentrional do Rio Grande do Norte. Esta área compreende a Bacia

Potiguar e possui atividades antrópicas relacionadas a extração de Sal, Petróleo

e Gás Natural e Usinas Eólicas para Geração de Energia. Nesse sentido, o

objetivo deste trabalho foi diagnosticar aspectos da diversidade e distribuição

espacial e temporal das espécies de tartarugas marinhas que ocorrem nesta

região, identificando a existência de influência de interação antrópica nesses

encalhes. O estudo foi realizado com animais encalhados, registrados por

monitoramento diário, de uma área delimitada a noroeste pelo município de

Aquiraz (03°49’20.9” S e 38°24’07.8” O), Ceará, e a leste pelo município de

Caiçara do Norte (05°05’28.6” S e 36°17’37.9” O), RN, totalizando 332,84 km de

extensão de praias. Os animais encalhados mortos foram necropsiados no

Laboratório de Monitoramento de Biota Marinha, UERN/Mossoró. Foram

registradas 2.046 ocorrências de tartarugas marinhas durante o período de

01/01/2010 a 31/12/2012, com represetação das cinco espécies que ocorrem no

Brasil. Chelonia mydas foi a mais registrada, sendo observada em 66,81% dos

casos, Eretmochelys imbricata, em seguida, com 4,45% e Lepidochelys olivacea

com 1,22%. As espécies Caretta caretta e Dermochelys coriacea foram

registradas em menor número, apresentando 0,93% e 0,05% de frequência,

respectivamente. Em 26,54% dos casos não foi possível identificar a espécie.

Quanto à distribuição espacial, o trecho A- Grossos-RN/ Aracati-CE apresentou

o maior número de encalhes de tartarugas marinhas (N = 896), sendo os

registros mais frequente nos meses quentes do ano. Quanto a interações

antrópicas, a pesca incidiu em 21,15% dos animais, enquanto que 57,14% (n =

76) dos animais que vieram a óbito, na base de reabilitação, apresentavam

causa mortis relacionada a ingestão de resíduos sólidos. Estudos como esse

reforçam a necessidade de conscientização ambiental, como forma de minimizar

impactos no ambiente marinho, que se constitui como área de refúgio para o

desenvolvimento e alimentação para esses animais.

Palavras-chave: Encalhes. Atividades antropogênicas. Conservação. Bacia

Potiguar.

13

Abstract

The stranding’s records of marine sea turtles are common in virtually all coastal

where them occurs. Some studies reported, for Potiguar Basin in the years 2010

and 2011, strandings of all species occurring in the Brazilian coast, especially C.

mydas. Based on that information the aim of this work was to conduct a study

that involves aspects of distribution and diversity of marine sea turtle species that

occur in the Potiguar Basin, as well as evaluating the anthropogenic interactions

observed from the records of animals stranded on the beaches. The work was

performed by the analysis of data from stranded animals, recorded in a daily

monitoring of an area delimited in the north by the municipality of Aquiraz (03°

49'20.9 " S and 38° 24'07.8 " W), in the state of Ceará, and the east by the

municipality of Caicara do Norte (05° 05'28.6" S and 36° 17'37 .9" W), in the state

of RN, Brazil, totaling 332,84 km of total length of fully inserted on the beaches

Potiguar. Stranded dead animals were necropsied at the Laboratory of Marine

Biota Monitoring, UERN/ Mossoró. 2046 occurrences of marine sea turtles were

recorded during the period from 01/01/2010 to 31/12/2012, with representation of

the five species occurring in Brazil. C. mydas was the most recorded and it was

observed in 66.81 % (N = 1367) of the cases; E. imbricata came after with 4.45

% (N = 91), L. olivacea with 1.22% (N = 25), C. caretta with 0.93 % (N = 19) and

D. coriacea with 0.05 % (N = 1), there were fewer in number, respectively. In

26.54 % of the cases it was not possible to identify the species. Regarding the

spatial distribution, the excerpt A was the one who had the highest number of

strandings of marine turtles (N = 896) and a larger number of records were

registered in the warm months of the year. In 17,94 % cases of stranded sea

turtles we observed obvious signs of interaction with fishing. Related to the

anthropic interaction (indirect), 57.14 % (n = 76) of the animals that died at the

rehabilitation’s base, showed cause of death due to complications from ingesting

debris. Such studies reinforce the need for environmental awareness in various

areas as a way to minimize the disposal of anthropogenic waste in the marine

environment by reducing the impact on these animals, who seek a refuge in this

region for their development and supply.

Key-words: Strandings. Anthropogenic activities. Conservation. Potiguar basin.

14

1. Introdução

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza

(IUCN, 2012), das sete espécies de tartarugas marinhas existentes atualmente

no mundo, todas se encontram ameaçadas de extinção, sendo três

(Lepidochelys kempii, Eretmochelys imbricata e Dermochelys coriacea)

classificadas como criticamente ameaçadas, duas (Caretta caretta e Chelonia

mydas) como em perigo de extinção, Lepidochelys olivacea como vulnerável e

Natator depressus não apresenta dados suficientes. Destas, cinco ocorrem no

litoral brasileiro e também constam na lista de espécies ameaçadas de extinção

do Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2003).

Assim como todos os vertebrados marinhos, esses animais se deslocam

rapidamente, o que dificulta o censo a respeito da sua distribuição. Por razões

de acessibilidade, o método mais comum utilizado para monitorar as tendências

populacionais é contando o número de fêmeas que desovam anualmente nas

praias (MEYLAN, 1982). A limitação desses estudos em áreas de reprodução

leva a um conhecimento relativamente bem menor sobre a biologia das

tartarugas marinhas em áreas de alimentação (BJORNDAL, 1999), devido,

principalmente, a dificuldade de identificação dessas áreas e dos seus

indivíduos. O ideal é que sejam conduzidos estudos em áreas de alimentação e

de reprodução de forma concomitante.

A história de vida desses animais é bem complexa e compreende diversos

estágios. Durante toda a vida habitam desde regiões mais oceânicas até as mais

costeiras (EPPERLY et al., 2007). Além disso, cada subpopulação de tartarugas

marinhas parece ter diferentes tendências de agrupamento e, aparentemente,

não se misturam aleatoriamente em razão de forrageio (BRODERICK et al.,

1994, SEARS et al., 1995, BOLTEN et al., 1998, BOWEN et al., 2004). Assim,

vários dados de forrageamento, de regiões demográficas diferentes,

contribuiriam para uma informação mais confiável sobre a biologia desses

animais. (EPPERLY et al., 2007).

Entretanto, o grande declínio que vem ocorrendo na megafauna marinha

gera graves consequências na viabilidade do ecossistema costeiro mundial

(JACKSON et al., 2001). As tartarugas marinhas, como parte importante desse

15

ecossistema, são ameaçadas por diversas ações humanas. Em locais de

reprodução, as tartarugas são impactadas por urbanização de praias que gera

iluminação artificial noturna e trânsito de veículos; coleta de ovos e destruição

de ninhos e a captura das fêmeas desovando (SANCHES, 1999). Em áreas de

alimentação alguns autores apontam que as principais causas dos encalhes de

tartarugas estão relacionadas à atividade antrópica negativa, seja indiretamente

ou diretamente, por interação negativa com a pesca ou por ingestão de resíduos

sólidos (TOURINHO et al., 2008; BUGONI et al., 2001).

Pesquisas realizadas em diversos locais do mundo indicam que a captura

incidental em arrasto, espinhel pelágico e de fundo e em redes de emalhe, são

as maiores causas da mortalidade de tartarugas marinhas na pesca (ORAVETZ,

1999). Esta situação aplica-se particularmente as pescarias multiespecíficas,

como são aquelas de pequena escala praticadas no litoral noroeste do Rio

Grande do Norte. Nesta região, há embarcações de pequeno porte que atuam

essencialmente na zona costeira, utilizando como petrecho de pesca, por

exemplo, redes de arrasto.

Segundo Carr (1987), todas as espécies de tartarugas marinhas possuem

uma tendência a se alimentarem de pedaços de plástico e outros detritos

flutuantes, podendo ocasionar a morte direta do animal, através da obstrução do

trato gastrointestinal ou rompimento das vísceras, mesmo quando pequenas

quantidades de detritos são ingeridas (DAY et al., 1985; BJORNDAL et al., 1994;

BJORNDAL,1997). Entretanto, ainda são realizados poucos estudos sobre a

morte das tartarugas relacionadas à ingestão de detritos antropogênicos

(BUGONI et al., 2001).

Os registros de encalhes de tartarugas marinhas são frequentes em

praticamente todo litoral onde as espécies ocorrem. Fragoso et al. (2012)

registraram, para a Bacia Potiguar nos anos de 2010 e 2011, encalhes de todas

as espécies ocorrentes no litoral brasileiro, com destaque para Chelonia mydas.

A literatura a respeito da biologia das tartarugas marinhas mundialmente

é extensa, porém, pouco se sabe sobre a distribuição das espécies em recortes

geográficos específicos. Nesse sentido, apresentamos resultados que envolvem

aspectos de distribuição espacial e temporal, diversidade e biologia das espécies

16

de quelônios que ocorrem na bacia potiguar, assim como aspectos relacionados

a interações antrópicas, como forma de acrescentar informações que possam

fomentar medidas de manejo e conservação desses animais.

2. Material e métodos

2.1 Área de estudo

O trabalho foi realizado a partir da análise de dados dos animais

encalhados em uma área de abrangência delimitada a noroeste pelo município

de Aquiraz (03° 49’ S e 38° 24’ O), no estado do Ceará, e a leste pelo município

de Caiçara do Norte (05° 05’ S e 36° 17’ O), no estado do Rio Grande do Norte,

Brasil, compreendendo a faixa litorânea de 14 municípios costeiros. A extensão

total de praias monitoradas corresponde a 332,84 km, inteiramente inseridas

sobre a Bacia Potiguar, limitada ao sul, leste e oeste por rochas do embasamento

cristalino, a noroeste pelo Alto de Fortaleza (limite com a Bacia do Ceará), e ao

norte pelo Oceano Atlântico (SOARES et al., 2003).

Devido à grande extensão, condição de acesso e características

ambientais, a área de monitoramento foi dividida em dois Setores (1 e 2). Cada

Setor conta com uma Base de Apoio que cobrem um total de quatro Trechos de

Monitoramento, a saber: O primeiro trecho, denominado de Trecho A, localiza-

se entre os municípios de Areia Branca-RN até limite do município de Icapuí com

Aracatí-CE. O segundo, Trecho B, vai de Areia Branca até a praia de Porto do

Mangue-RN, incluindo estuário do rio Apodi - Mossoró. Pertencendo ao Setor 2,

inclui-se o Trecho C: Guamaré até a praia Pontal dos Anjos-RN, incluindo o

sistema estuarino de Macau. E o Trecho D, Galinhos até a praia de Caiçara do

Norte-RN, incluindo o complexo estuarino de Guamaré (Figura 01).

17

Figura 01. Localização da área de estudo, Costa Branca, RN, Brasil.

Fonte: Projeto Cetáceos da Costa Branca.

2.2 Coleta de dados

Durante o período entre 01 de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2012

foi realizado o monitoramento diário de toda extensão de praias. As tartarugas

encontradas encalhadas foram registradas, quanto a espécie. Realizou-se a

identificação dos animais, em nível de espécie e biometria dos animais

encontrados encalhados, vivos ou mortos, coletando-se dados referentes ao

comprimento curvilíneo da carapaça (CCC), medido desde o início da placa pré-

central até o fim da placa pós-central (BOLTEN,1999).

Foram registrados ainda a localização geográfica através de GPS,

determinação de classe etária e sexo (quando possível), registro fotográfico e

subsequente tentativa de reintrodução. Para animais mortos, foi realizado o

mesmo procedimento, com o adicional de que era avaliado o estado da carcaça

do animal e observado qualquer sinal externo de interação antrópica. Para

carcaças em bom estado amostras foram coletadas para posterior análise, com

o intuito de avaliar a causa mortis do animal.

18

Dos animais que vieram a óbito na base de reabilitação ou tiveram seu

conteúdo estomacal coletado em campo, foram retirados o trato digestório e seu

conteúdo acondicionados em álcool 70%. Para a caracterização dos itens

presentes, realizou-se uma análise a partir da utilização de estereoscópio,

utilizando-se o método volumétrico (HYSLOP, 1980) e o Método de Frequência

de Ocorrência (HÉRRAN, 1988). Os diferentes itens alimentares e tipos de

resíduos sólidos foram agrupados em Categorias Alimentares (Tabela 1).

2.3 Análises estatísticas

A fim de avaliar diferenças significativas no número de encalhes entre os

trechos de monitoramento, foi utilizado o teste de kruskal-Wallis. Para verificar a

associação das espécies registradas por trecho de ocorrência realizamos uma

análise multivariada de correspondência (ANACOR). Para comparar a

frequência de encalhes por ano de monitoramento foi utilizado o teste de 𝜒2.

Para analisar o padrão temporal no número de encalhes, uma análise de

agrupamento de cluster foi feita entre todos os meses durante os três anos de

estudo. Para isso foi utilizada a distância Euclidiana e o método de Ward como

função de ligação, o qual apresentou melhor eficiência e qualidade. As análises

estatísticas foram feitas no software Statistic 7.

3. Resultados

3.1 Diversidade e Distribuição

Foram registradas 2.046 ocorrências de tartarugas marinhas durante o

período de 01/01/2010 a 31/12/2012, com a representação de exemplares das

cinco espécies que ocorrem no Brasil. A espécie Chelonia mydas apresentou o

maior número de registros, sendo observada em 66,81% (N = 1367) dos casos;

Eretmochelys imbricata em seguida com 4,45% (N = 91) e Lepidochelys olivacea

com 1,22% (N = 25). As espécies Caretta caretta e Dermochelys coriacea foram

registradas em 0,93% (N = 19) e em 0,05% (N = 1) dos casos, respectivamente.

Em 26,54% dos casos não foi possível identificar a espécie (Figura 02).

19

Figura 02 - Frequência percentual por espécies de tartarugas marinhas encalhadas na Bacia

Potiguar-RN entre janeiro de 2010 a dezembro de 2012.

Quanto à distribuição espacial, o trecho A- Grossos-RN/Icapui-CE foi

aquele que apresentou o maior número de encalhes de tartarugas marinhas (N

= 896), seguido pelo trecho B- Areia Branca-RN/ Porto Mangue-RN (N = 701),

trecho C - Guamaré-RN /Macau-RN (N = 276) e trecho D- Galinhos-RN /Caiçara

do Norte-RN (N = 173) (Figura 03). Não houve diferença significativa, ao nível

de significância de 5%, entre os números de encalhes dos trechos A e B. Esses

dois trechos, entretanto, apresentaram diferença significativa em relação aos

demais trechos (C, D). Não foram observadas diferenças significativas entre os

trechos C e D. (Figura 03).

67%

4%

1%

1%

27%

0%

Chelonia mydas

Eretmochelys imbricata

Lepidochelys olivacea

Caretta caretta

NID

Dermochelys coriacea

20

Figura 03 - Frequência absoluta de tartarugas marinhas encalhadas por trecho de

monitoramento na Bacia Potiguar –RN entre janeiro de 2010 a dezembro de 2012.

A associação das espécies registradas por trecho de ocorrência

evidencia que a espécie Chelonia mydas apresenta uma forte associação

com os trechos A-Grossos-RN /Icapui-CE e B- Areia Branca-RN/ Porto

Mangue-RN, e Eretmochelys imbricata com o trecho C- Guamaré-RN

/Macau-RN. Já as demais espécies não possuem associação com

nenhum trecho monitorado, sendo suas ocorrências ocasionais (Figura

04).

Figura 04- Grau de associação entre os grupos taxonômicos e trechos monitorados, na Bacia Potiguar entre janeiro de 2010 a dezembro de 2012.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

A - Grossos-Icapui B - A. Branca-P.Mangue

C - Macau-Guamaré D - Galinhos-Caiçara

21

A análise das ocorrências de encalhes por anos de monitoramento

evidencia que todas as espécies de tartarugas marinhas ocorreram nos três anos

de monitoramento, com exceção de Dermochelys coriacea que foi registrada

somente em 2011. Os valores para os números de encalhes por anos, 2010 (N

= 763), 2011 (N = 646) e 2012 (N= 637), não diferiram estatisticamente por anos

analisados (Figura 05),

Figura 05 - Número de encalhes por ano de monitoramento, de acordo com os

meses dos anos 2010, 2011 e 2012.

Com relação à distribuição temporal das espécies foi possível verificar que

o número de registros de tartarugas marinhas nos três anos analisados variou

ao longo dos meses, constituindo um padrão de ocorrência sazonal. Os valores

expressam tendência de elevação, para os três anos, entre setembro e janeiro,

reduzindo nos meses seguintes (Figura 06).

22

Figura 06 – Frequência absoluta de tartarugas marinhas, de acordo com os meses,

registradas durante o monitoramento realizado nas praias do Rio Grande do Norte

e Ceará para os anos de 2010, 2011 e 2012.

Dois principais grupos foram determinados pela análise de cluster: (1)

Formado pelos meses com menor número de encalhes; (2) Caracterizado pelos

últimos meses do ano e Janeiro, quando ocorre o maior número de encalhes

(Figura 07).

Figura 07 – Análise de cluster referente aos encalhes de tartarugas marinhas durante os meses

do ano, nos três anos de monitoramento (2010, 2011 e 2012).

(1)

te

(2)

te

23

3.2 Atividades antrópicas

3.2.1 Tipos

Para os casos de encalhes de tartarugas marinhas associados a

interações antrópicas, foram registrados 432 encalhes de tartarugas marinhas,

relacionados diretamente a atividade pesqueira durante os três anos de

monitoramento. Destes, 77,31% foram de indivíduos de C. mydas; 2,54% de E.

imbricata; 1,38% de L. olivacea; 1,15% de C. caretta e 0,23% de D. coriacea. Em

17,36 % dos casos não foi possível identificar a espécie dos indivíduos

encalhados devido ao elevado estado de decomposição da carcaça (Figura 08).

Figura 08 - Frequência absoluta dos encalhes de tartarugas marinhas associados à

pesca, registrados durante o monitoramento realizado nas praias do Rio Grande do

Norte e Ceará para os anos de 2010, 2011 e 2012.

Dos registros de interação antrópica para o grupo dos quelônios,

verifica-se que aproximadamente 67% dos casos estavam relacionados

diretamente com a pesca, relacionado a lesões decorrentes de objetos

cortantes (Figura 09).

77,31

2,541,38 1,15

0,23

C. mydas

E. imbricata;

L. olivacea

C. caretta

D. coriacea

24

Figura 09 - Frequência absoluta dos encalhes de tartarugas marinhas associados à

pesca, registrados durante o monitoramento realizado nas praias do Rio Grande do

Norte e Ceará para os anos de 2010, 2011 e 2012.

25

3.2.2 Resíduos sólidos

De janeiro de 2010 a dezembro de 2012 foram analisadas 133 amostras

de conteúdos presentes no tubo digestório de tartarugas marinhas. De todas as

amostras analisadas, 92 apresentaram algum tipo de resíduo sólido, o que

representa 69,17% do total de animais. Destes, 81 pertenciam a espécie C.

mydas, 8 E. imbricata e 3 C. caretta.

Dos 92 tratos que apresentaram resíduos sólidos 89,13% (n=82)

apresentaram o item “plástico flexível transparente”; 84,78% (n=78) continham

“plástico flexível colorido” e 79,35% (n=73) “plástico rígido”. A categoria “Outros”

foi representada por 14,13% (n=13); e “Artefatos de pesca” 78,26% (n=72).

(Tabela 1 e Figura 10)

Tabela 1. Frequência e categorias de resíduo sólidos encontradas no trato

digestório de Chelonia mydas, Eretmochelys imbricata e Caretta caretta.

Categorias Características Frequência

(%)

Plástico Flexível

transparente

Embalagens transparentes (Sem

coloração).

89,13

Plástico Flexível colorido

Plásticos de aspecto semelhante a

sacolas de supermercado e embalagens

coloridas em geral.

84,78

Plástico rígido Palito de pirulito, tampa de garrafa,

brinquedos, canaleta, etc.

79,35

Artefato de pesca Linha, corda, ráfia, pedaços de redes de

pesca.

78,26

Outros Borracha, elástico, esponjas artificiais,

isopor, objeto perfurante (Agulha de

seringa).

14,13

26

Figura 10 – Frequência percentual de resíduos sólidos encontrados no trato digestório das

espécies C. mydas, E. imbricata e C. caretta.

4. Discussão

Embora a ocorrência de tartarugas marinhas no Brasil tenha sido relatada

por alguns autores (TRIGO, 2000; BUGONI et al., 2001; REIS et al., 2011)

estudos a respeito da diversidade e distribuição desses animais, para a região

proposta, ainda são insuficientes. Durante os três anos de monitoramento foram

registrados encalhes de exemplares das 5 espécies de tartarugas marinhas que

ocorrem no país, sendo C. mydas a mais frequente (66,81 %). Resultados

semelhantes foram registrados no litoral centro-norte do estado do Rio de

Janeiro, durante os anos de 2001 a 2010, onde 74,4% dos indivíduos encalhados

pertenciam a espécie C. mydas (REIS et. al, 2011). A predominância de encalhes

de C. mydas também foi registrada por Trigo (2000) e Bugoni et al. (2001) em

estudos no Rio Grande do Sul.

Sanches (1999) destaca a importância de estudos na região

compreendida entre os Estados do Rio Grande do Norte e Amapá, afirmando ser

esta uma extensa área de ocorrência de tartarugas marinhas sobre a qual se

0 20 40 60 80 100

Plástico flexivel transparente

Plástico flexível colorido

Plástico rígido

Artefatos de pesca

Outros

Frequência (%)

Cat

ego

rias

27

tem menos conhecimento. Acrescenta ainda que levantamentos de informações

e posteriores expedições às áreas mencionadas podem ser de grande valia para

a ampliação do conhecimento sobre as tartarugas marinhas no Brasil.

Avaliando as classes de comprimento dos animais encalhados na região

da Costa Branca, Gavilan-Leandro et al. (2013) constatou que a maioria dos

indivíduos de C. mydas e E. imbricata que encalham ainda estão na fase de

juvenil, ou seja, indivíduos que foram a óbito sem iniciarem a sua vida

reprodutiva. Balazs (1995) comenta que indivíduos de C. mydas iniciam o

período de desenvolvimento costeiro com tamanhos entre 30 e 40 cm e que esta

área é de grande importância para os juvenis desta espécie, que utilizam, dentre

outras coisas, essa área para alimentação. Apesar da predominância no número

de animais juvenis de exemplares de E. imbricata (82,67%), animais adultos

utilizam a costa do Rio Grande do Norte para nidificação (GAVILAN-LEANDRO

et al., 2013). Farias et al. (2013) e Souza et al. (2014), descrevem registros

reprodutivos para a espécie, entre os municípios de Macau/RN e Guamaré/RN.

Dentre toda a extensão dos trechos monitorados, a região entre Grossos

e Porto do Mangue – RN é a que apresenta maior número de encalhes desses

indivíduos. A partir do trabalho de Tabosa, (2002) que descreve as

características hidrodinâmicas da região, como Correntes marítimas, ventos e

maré, sugere-se que estas condições direcionam os animais encalhados cada

vez mais para o Norte/oeste, refletindo no maior número de encalhes no referido

trecho.

Tais encalhes apresentam maiores valores entre os meses de setembro

e janeiro para todas as espécies e, em especial para C. mydas, a espécie mais

abundante. Segundo Musick; Limpus (1997) algumas populações de tartarugas

juvenis em zonas temperadas, realizam migrações para regiões de forrageio em

latitudes maiores no verão e menores no inverno, enquanto aquelas de

ambientes tropicais exibem movimentos mais localizados. Dessa forma os

indivíduos que ocorrem na Costa Branca estariam buscando, principalmente nos

períodos mais quentes do ano, melhores condições para o seu desenvolvimento.

Embora sejam animais ameaçados de extinção, as tartarugas marinhas

vêm sofrendo, nas últimas décadas, ameaças graves a sua sobrevivência.

28

Dentre as principais ameaças a esses animais estão as relacionadas a

atividades antrópicas.

Em 21,15% dos casos de tartarugas marinhas encalhadas foram

observados sinais de interação antrópica relacionados à pesca. Bugoni et al.,

(2001) registrou em 5,1% dos indivíduos encalhados sinais externos de interação

com atividades pesqueiras. Entretanto, estes valores estão provavelmente

subestimados, pois a determinação da morte causada por interações com

pescarias em indivíduos encalhados é difícil, porque afogamentos e emalhes em

redes, geralmente não deixam marcas visíveis nas carcaças (MONTEIRO,

2004).

Attademo (2007) observou que a região da Bacia Potiguar possui

característica de devastação ambiental, destruição dos mangues e má

exploração da área.

De acordo com Helfman et al., (2009), o problema é particularmente maior

quando trata-se de redes de arrasto de malhagem pequena que são arrastadas

ao longo do fundo do oceano em busca de camarão. O camarão está entre os

principais produtos de interesse da pesca na Costa Branca, no estado do Rio

Grande do Norte. O pescador artesanal que vê o esforço de pesca aumentando

a cada pescaria se sente obrigado a explorar espécies em perigo de extinção

durante o defeso para possibilitar o sustento da família (ATTADEMO, 2007).

Com isso, essa atividade acaba ocorrendo durante o ano todo, o que reflete no

número de encalhes de tartarugas marinhas, relacionados à pesca, em todos os

meses do ano.

Indícios de interação antrópica também podem ser investigados, de forma

indireta, através da análise do conteúdo gastrointestinal destes animais. Do total

de animais que tiveram o conteúdo gastrointestinal analisado, 69,17%

apresentaram algum tipo de resíduo sólido. Resultados semelhantes foram

observados através da análise do conteúdo presente no esôfago e estômago de

38 exemplares da tartaruga verde (C. mydas) no Sul do Brasil, das quais 23

(60,5%) continham resíduos sólidos, principalmente plásticos (BUGONI et al.,

2001). Tomas et al., (2002) constataram que 75,9% de 54 tartarugas da espécie

29

C. caretta, capturadas por pescadores, continham fragmentos de plástico em

seus aparelhos digestórios.

Das espécies já estudadas, C. mydas é a espécie que ingere resíduos

sólidos mais frequentemente, seguida de C. caretta e Dermochelys coriacea

(NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1990), fato esse que corroborado para

C.mydas. Espécies que não possuem o hábito de perseguir suas presas estão

mais sujeitas a este tipo de impacto, como no caso de C.mydas, única tartaruga

marinha herbívora (BJORNDAL et al., 1994).

Mäthger et al., (2007) acrescenta a informação de que tartarugas verdes

possuem capacidade de distinguir diferentes espectros de cor; assim a ingestão

de material colorido pode ser pelo fato de o animal confundir com seu alimento,

ou de forma acidental, dado que muitas vezes os resíduos podem se encontrar

depositados nos bancos de algas (GUERBERT-BARTHOLO et al., 2011)

Apesar disso, ainda são realizados poucos estudos sobre a morte das

tartarugas relacionadas à ingestão de detritos antropogênicos (BUGONI et al.,

2001). Alguns efeitos são considerados letais e ocasionam a morte direta do

animal, através da obstrução do trato gastrointestinal ou rompimento das

vísceras, mesmo quando pequenas quantidades de detritos são ingeridas (DAY

et al., 1985; BJORNDAL et al., 1994; BJORNDAL, 1997). Tais informações

foram comprovadas por este trabalho, uma vez que 57,14% (n = 76) dos animais

que vieram a óbito na base de reabilitação apresentavam causa mortis

decorrentes de complicações por ingestão de detritos.

5. Conclusões

A região apresenta registro das cinco espécies de tartarugas que ocorrem no

Brasil: C. mydas; E. imbricata; L. olivacea; C. caretta e D. coriácea.

C. mydas é a espécie que apresenta maiores registros de encalhes para a

Bacia Potiguar, mais especificamente de indivíduos juvenis, que utilizam a região

para o seu desenvolvimento e alimentação, principalmente nos meses quentes

30

do ano (De setembro a janeiro). Os encalhes apresentaram o mesmo padrão de

ocorrência, não havendo diferenças estatisticamente significativas entre os anos.

A interação com a pesca é uma das principais atividades de interação

antrópica com as tartarugas marinhas da região, com predomínio de lesões

resultantes de objetos cortantes, porém não é a única. A ingestão de resíduos

sólidos representa uma grave ameaça a conservação desses animais, uma vez

que mais da metade dos tubos digestórios avaliados apresentavam esse tipo de

item (69%).

A região da Bacia Potiguar se configura assim, como uma importante área de

ocorrência e alimentação de tartarugas marinhas, exigindo um aumento dos

esforços nas pesquisas e conservação dessas espécies que se encontram

ameaçadas de extinção.

31

REFERÊNCIAS

ATTADEMO, F L. N. Caracterização da pesca artesanal e interação com

mamíferos marinhos na região da Costa Branca do Rio Grande do Norte. 2007.

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37

Artigo 2

Título – Biologia Alimentar e Morfohistologia do Tubo Digestório das

espécies de tartarugas marinhas da Bacia Potiguar, Rio Grande do Norte,

Brasil.

Daniel Solon Dias de Farias, 1,2, Simone Almeida Gavilan Leandro da Costa 2,3

& Flávio José de Lima Silva 1,2,4

1- Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Brasil. Email: [email protected]

2- Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB – UERN), Laboratório de

Monitoramento de Biota Marinha, Campus Central, CEP 59600-000, Mossoró,

RN, Brasil.

3- Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Dpto de Morfologia,

CP 1511, CEP 59078-970, Natal, RN, Brasil. ([email protected]).

4- Departamento de Turismo – Universidade Estadual do Rio Grande do Norte,

Brasil.

38

Resumo

A região oeste da costa do Rio Grande do Norte e leste do Ceará

apresentam registros das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem

no Brasil, sendo uma importante área de ocorrência, principalmente de Chelonia

mydas e Erethmochelys imbricata. Apesar do conhecimento da biologia e

ecologia de tartarugas tem obtido grandes avanços, a nível mundial, estudos

morfológicos ainda são incipientes. Diante disso, o presente trabalho objetivaa

avaliar a dieta das espécies de tartarugas marinhas que encalham na região da

Bacia Potiguar, RN, Brasil, comparando com a morfohistologia do trato digestório

desses animais. O estudo foi realizado com animais encalhados, registrados por

monitoramento diário, na área delimitada a noroeste pelo município de Aquiraz,

Ceará, e a leste pelo município de Caiçara do Norte, RN. Os animais encalhados

mortos foram necropsiados e coletados esôfago, estômago e intestinos, fixados

em formol a 10%, sendo posteriormente o conteúdo estomacal triado e

armazenado. Destes mesmos órgãos foram retirados fragmentos para

confecção de lâminas histológicas. A análise da dieta das tartarugas demonstrou

que Chelonia mydas alimentou-se preferencialmente de algas; Caretta caretta

de “resto calcário” e “Moluscos” e E. imbricata de material de origem animal. Dos

animais que vieram a óbito, 57,14% (n = 76) apresentaram como causa mortis à

ingestão de detritos. A análise da histologia demonstra que o esôfago apresenta

papilas esofágicas, revestidas de epitélio pavimentoso estratificado

queratinizado, igualmente a mucosa deste órgão. Ausência de sub mucosa e

camada muscular com músculos estriados e liso em diferentes direções.

Estômago e intestino apresentam as quatro camadas: mucosa, submucosa,

muscular e serosa, com destaque para as fossetas gástricas no estômago e a

presença de vilos nos intestinos. De acordo com os dados apresentados, a Bacia

Potiguar apresenta-se como uma área de grande diversidade de espécies de

tartarugas marinhas, sendo caracterizada como área de alimentação para essas

espécies.

Palavras-chave: Encalhes. Alimentação. Histologia. Conservação.

39

Abstract

The western region of Rio Grande do Norte and east coast of Ceará have

recorded the five species of marine sea turtles that occur in Brazil, and had been

considered as an important area of occurrence cause of the high number of

strandings, mainly Chelonia mydas and Eretmochelys Erethmochelys. Although

the knowledge of the biology and ecology of sea turtles is being expanded

globally, morphological studies are still incomplete. Therefore, this study aims to

assess the diet of the main species of sea turtles on the Potiguar Basin, Rio

Grande do Norte, Brazil, as well as analyze the histology of the digestive tract of

these animals. The work was performed by the analysis of data from stranded

animals, recorded in a daily monitoring of an area delimited in the north by the

municipality of Aquiraz (03° 49'20.9 " S and 38° 24'07.8 " W), in the state of Ceará,

and the east by the municipality of Caicara do Norte (05° 05'28.6" S and 36° 17'37

.9" W), in the state of Rio Grande do Norte, comprising the coastal strip of 14

coastal municipalities, totaling 332,84 km of total length of fully inserted on the

Potiguar basin. Stranded dead animals were necropsied at the Laboratory of

Marine Biota Monitoring, UERN/Mossoró. For the characterization of the

preference for food items present in the gastrointestinal tract, a combination of

identification methods were used - volumetric method and the method of

frequency of occurrence - in order to determinate the predominant items in the

diet. Subsequently, these methods were combined in Alimentary Index (IAi).

Fragments of esophagus, stomach and intestine were collected at the moment of

necropsy. This material was placed in 10% formalin for later submission to the

treatment by histological techniques hematoxylin-eosin. The dietary analysis

showed that the turtles Chelonia mydas (n = 118) fed preferentially on algae,

when assessed index Importance food (IAi). Individuals belonging to Caretta

caretta had a diet with a predominance of the item "fragments of corals" followed

by "remnants of crustaceans" and "gastropods”. The Eretmochelys imbricata

species showed preference animal origin material. These results are encouraging

knowledge about different aspects of feeding of the sea turtles, allowing, in

addition to more specific knowledge about the aspects of diet and finally the

direction for the conservation of the species.

Key-words: Strandings. Food. Histology. Conservation.

40

1. Introdução

As tartarugas marinhas são animais de que apresentam distribuição

cosmopolita, habitando os três oceanos tropicais (PRITCHARD, 1997). No

Brasil, cinco espécies, das sete que ocorrem atualmente no mundo,

(Dermochelys coriacea, Chelonia mydas, Caretta caretta, Eretmochelys

imbricata e Lepidochelys olivacea) utilizam a costa para reprodução e

alimentação (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999).

De acordo com a Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira

Ameaçada de Extinção (MMA, 2003), as cinco espécies de tartarugas marinhas

encontradas no litoral brasileiro continuam incluídas como animais ameaçados.

Frente a essa problemática Bjorndal (1994) comenta a importância em elucidar

aspectos referentes à morfologia dessas espécies, assim como o conhecimento

dos aspectos da dieta com fins de compreender a biologia desses animais no

ecossistema marinho.

Bjordnal (1997) descreve que nos primeiros estágios da vida, C. mydas

são preferencialmente carnívoras e se alimentam em áreas de convergência no

ambiente pelágico. Quando juvenis tem uma alimentação mais variada já que

passam a se alimentar também no ambiente bentônico. Na fase adulta,

tartarugas-verdes representam a única espécie de tartaruga marinha herbívora.

Assim, são fundamentais na ciclagem de nutrientes e alteram a estrutura da

comunidade de plantas aquáticas nas áreas de alimentação. A pastagem da C.

mydas exerce influência sobre pradarias, podendo mudar a sucessão de

espécies, a densidade da fauna e as relações presa-predador do ambiente.

A tartaruga-cabeçuda é carnívora e se alimenta de itens planctônicos em

habitats oceânicos nos estágios inicial e de juvenil (BJORNDAL, 1997). Quando

em estágios juvenis mais avançados, recruta para habitats neríticos e, nesta

fase, comem principalmente no fundo (BOLTEN, 2003). As tartarugas-

cabeçudas alteram completamente sua dieta quando mudam de habitat e

consequentemente, o valor energético de suas presas. Com relação a E.

imbricata o declínio na quantidade e qualidade de habitats coralíneos

(PANDOLFI et al., 2003) pode ser um fator agravante para a sobrevivência das

tartarugas-de-pente, pois esta espécie é fortemente associada a recifes de

41

corais devido ao seu hábito alimentar preferencialmente espongívoro (MEYLAN,

1988).

Arthur (2009) acrescenta que embora a dieta de tartaruga verde tenha

sido caracterizada por vários autores, no mundo é importante que seja

caracterizada a ecologia alimentar de populações que possuam forrageamentos

distintos. Neste contexto, Luz et al. (2003) defendem que estudos de parâmetros

morfométricos do trato gastrintestinal se fazem necessários para fornecer

subsídios sobre os processos digestórios dos alimentos no organismo animal e

indicar a preferência alimentar de uma espécie.

Apesar de o conhecimento da biologia e ecologia de tartarugas está sendo

ampliado, a nível mundial, estudos morfológicos ainda são incipientes. Estes

estudos relacionados ao sistema digestório demonstram que sua morfologia está

intimamente relacionada aos hábitos alimentares (SILVA, 2004).

A grande variedade de répteis tem exigido mais esforços para

compreender as particularidades da anatomia de cada espécie, com valor

econômico e de conservação (COSTA et al., 2009). Bjorndal (1997) comenta

que, apenas pelo conhecimento dos aspectos quantitativos da dieta selecionada,

dos processos digestivos, e da nutrição pode ser possível entender qual a função

das tartarugas marinhas no ecossistema marinho.

A região nordeste do Brasil, especificamente na Costa Branca - RN,

apresenta registros das cinco espécies de tartarugas marinhas citadas acima,

sendo encontradas frequentemente encalhadas, vivas ou não, nas praias desta

região, sendo Chelonia mydas e Eretmochelys imbricata as espécies mais

frequentes (FRAGOSO et al., 2012).

Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a dieta das

principais espécies de tartarugas marinhas que encalham na região da Bacia

Potiguar, RN, Brasil, e avaliar sua relação com a morfohistologia do trato

digestório desses animais, objetivando fornecer informações sobre questões

relativas à utilização do habitat, fisiologia, ecologia trófica, dentre outros dados,

permitindo assim o direcionamento de esforços para a sua conservação.

42

2. Material e métodos

2.1 Área de estudo

O trabalho foi realizado a partir da análise de dados dos animais

encalhados em uma área de abrangência delimitada a noroeste pelo município

de Aquiraz (03°49’20.9” S e 38°24’07.8” O), no estado do Ceará, e a leste pelo

município de Caiçara do Norte (05°05’28.6” S e 36°17’37.9” O), no estado do Rio

Grande do Norte, compreendendo a faixa litorânea de 14 municípios costeiros

(Figura 01). A extensão total de praias monitoradas corresponde a 332,84 km,

inteiramente inseridas sobre a Bacia Potiguar, limitada ao sul, leste e oeste por

rochas do embasamento cristalino, a noroeste pelo Alto de Fortaleza (limite com

a Bacia do Ceará), e ao norte pelo Oceano Atlântico (SOARES et al., 2003).

Devido à grande extensão, condição de acesso e características

ambientais, a área de monitoramento foi dividida em três Setores (1, 2 e 3). Cada

Setor conta com uma Base de Apoio que cobre dois Trechos de Monitoramento,

assim distribuídos (Figura 01).

Figura 01. Localização da área de estudo, Costa Branca, RN, Brasil.

Fonte: Projeto Cetáceos da Costa Branca.

43

Cada Setor conta com uma Base de Apoio que cobrem um total de cinco

Trechos de Monitoramento, a saber: O primeiro trecho, denominado de Trecho

A, localiza-se entre os municípios de Areia Branca-RN até limite do município de

Icapuí com Aracatí-CE. O segundo, Trecho B, vai de Areia Branca até a praia de

Porto do Mangue-RN, incluindo estuário do rio Apodi - Mossoró.

Pertencendo ao Setor 2, inclui-se o Trecho C: Guamaré até a praia Pontal

dos Anjos-RN, incluindo o sistema estuarino de Macau. E o Trecho D, Galinhos

até a praia de Caiçara do Norte-RN, incluindo o complexo estuarino de Guamaré.

O setor 3, cujo monitoramento é realizado a cada 20 dias, inclui-se o trecho E,

que vai de Aracati - CE (Praia do Retiro Grande) até a margem direita do Rio

Pacoti no Município de Aquiraz – CE (Praia de Porto das Dunas).

2.2 Coleta de dados

Durante o período entre 01 de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2012

foi realizado o monitoramento diário de toda extensão de praias. As tartarugas

encontradas encalhadas foram registradas, quanto a espécie. Realizou-se a

identificação dos animais, em nível de espécie e biometria dos animais

encontrados encalhados, vivos ou mortos, coletando-se dados referentes ao

comprimento curvilíneo da carapaça (CCC), medido desde o início da placa pré-

central até o fim da placa pós-central (Bolten,1999).

Foram considerados juvenis, os indivíduos de Chelonia mydas que

apresentaram 27 a 57 cm de CCC, enquanto que os sub-adultos/ adultos mais

de 62 centímetros de CCC (Gavilan –Leandro et al, 2013).

Os indivíduos da espécie E. imbricata encontrados, estavam entre as

classes de comprimento de 26 a 35 centímetros m de CCC.

Foram registrados ainda a localização geográfica através de GPS,

determinação de classe etária e sexo (quando possível), registro fotográfico e

subsequente tentativa de reintrodução. Para animais mortos, foi realizado o

mesmo procedimento, com o adicional de que era avaliado o estado da carcaça

do animal e observado qualquer sinal externo de interação antrópica. Para

carcaças em bom estado amostras foram coletadas para posterior análise, com

o intuito de avaliar a causa mortis do animal.

44

2.3 Determinação da dieta

O estudo da dieta dos animais foi realizado a partir da análise do conteúdo

presente no trato gastrointestinal dos animais encalhados mortos e daqueles

necropsiados após o óbito na base de reabilitação. A análise do conteúdo foi

realizada a partir dos itens presentes em seu tubo digestório (Esôfago, estômago

e intestino). Os órgãos foram retirados, pesados e os conteúdos presentes

armazenados em formol 4% ou álcool 70%. Para a identificação dos itens

alimentares utilizou-se literatura específica, chaves de classificação e consulta a

especialistas.

Para a caracterização da preferência alimentar foi utilizada uma

combinação de métodos de identificação, utilizando-se o Método Volumétrico

(Hyslop 1980) e o Método de Frequência de Ocorrência (Hérran 1988), a fim de

verificar os itens predominantes na dieta. Posteriormente, esses métodos foram

conjugados no Índice Alimentar (IAi) (KAWAKAMI; VAZZOLER, 1980) para que

os erros fossem minimizados e o diagnóstico o mais completo possível sobre a

dieta (TEIXEIRA & GURGEL, 2002), empregando-se a equação:

IAi = Fi * Vi/ ∑ (Fi * Vi)

Onde:

IAi = Índice alimentar

i = 1,2,...n = determinado item alimentar

Fi = Frequência de ocorrência (%) de cada item

Vi = Volume (%) de cada item

Diante disto, para avaliar os itens preferenciais da alimentação e

determinar o hábito alimentar da espécie foi utilizada a metodologia de Rosecchi;

Nouaze (1987), cuja escala admite:

IAi >50% - item preferencial 25 < IAi < 50% - item secundário IAi < 25% - item acessório

45

2.4 Processamento e análise histológica

Com o propósito de correlacionar, morfohistologicamente, as estruturas

que compõem o tubo digestório com o hábito alimentar das espécies, fragmentos

de esôfago, estômago e intestino foram coletados no momento das necropsias.

Esse material foi acondicionado em formol a 10% para, posteriormente, serem

submetidas ao tratamento histológico pelas técnicas de Hematoxilina-Eosina,

segundo Michalany (1990), com o intuito de avaliar a histologia destas estruturas.

3. Resultados

3.1 Análise quantitativa do conteúdo

A análise foi realizada em 133 amostras de conteúdos alimentares

presentes no tubo digestório (esôfago, estômago ou intestino) pertencentes às

espécies Chelonia mydas, Eretmochelys imbricata e Caretta caretta.

As análises da dieta das tartarugas demonstram que Chelonia mydas

(n=118) se alimentou preferencialmente de algas, quando avaliado o índice de

Importância alimentar (Tabela I e II, em anexo), porém o item de material animal,

embora não possível de identificar devido ao alto grau de degradação, também

apresentou relevância. Moluscos (Gastrópodes, restos de conchas, bicos de

lula) e esponjas foram frequentes, porém com reduzido volume (Figura 2A e B).

Não foram verificadas diferenças na dieta quando avaliada por fases de

vida. Tanto os indivíduos juvenis quanto os sub-adultos/ adultos utilizaram os

mesmos itens alimentares, com importâncias alimentares semelhantes (Figura

2A e B).

Os quatro indivíduos da espécie Caretta caretta estavam entre as classes

de 65 a 105 cm de CCC e apresentaram uma dieta com predomínio do item

“Resto calcário”, seguidos de moluscos (restos de conchas e gastrópodes) e

restos de crustáceos (Figura 2C).

Todos os 11 indivíduos da espécie E. imbricata estavam entre as eram

juvenis classes de 26 a 35 cm de CCC e a análise da dieta evidenciou uma

preferência alimentar por material de origem animal devido a maior

46

predominância e frequência desse item na dieta, porém, devido ao seu estado

de degradação, não foi possível uma identificação mais especifica (Figura 2D).

47

Figura 02. Análise do Índice de Importância Alimentar para C. mydas juvenis (A), C.

mydas adultas (B), C. caretta (C) e E. imbricata (D) encalhadas na região da Bacia

Potiguar, Rio Grande do Norte.

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45

Material animal semidigerido

Fezes

Restos vegetais

Resto calcário

Resto de crustáceo decápoda

Alga

Molusco

Medusa

Esponja

Outros

Iai

0 0,2 0,4 0,6 0,8

Algas

Material vegetal semi digerido

Material animal semi digerido

Fragmento de corais

Esponjas

Outros

Resto calcário

Material semi digerido

Resto de crustáceo

Moluscos

Ascidia

Iai

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

Restos vegetais

Moluscos

Esponja

Resto calcário

Material digerido

Restos de crustáceos

Alga

Medusa

Outros

A

A

B

C

D

48

3.2 Análise qualitativa do conteúdo

Devido ao estado de degradação, muitos dos itens presentes nos tubos

digestórios analisados não puderam ser identificados. No entanto, foi possível a

determinação taxonômica de algumas macroalgas presentes nos conteúdos dos

indivíduos de Chelonia mydas (Tabela 1).

Alguns moluscos (Polvos e Lulas) também puderam ser identificados a

nível de subordem, família, gênero e espécie (Tabela 2).

Tabela 1. Determinação taxonômica das macroalgas encontradas no trato

digestório de Chelonia mydas.

Família Gênero Espécie

Caulerpaceae Caulerpa

Caulerpa cupressoides

(Vahl) C. Agardh

Caulerpa mexicana Sonder

ex kutzing

Cladophoraceae Cladophora Cladophora sp.

Codiaceae Codium Codium intertextum Collins

& Hervey

Cymodoceaceae Halodule Halodule sp.

Cystocloniaceae Hypnea Hypnea musciformis

(Wulfen) J.V. Lamouroux

Dictyotaceae Dictyopteris Dictyopteris delicatula J.V

Lamouroux

Gelidiaceae Gelidium Gelidium crinale (Hare ex

Turner) Gaillon

Gelidiella -

49

Gracilariaceae Hydropuntia Hydropuntia caudata (J.

Agardh) Gurgel & Fredericq

Gracilaria -

Halymeniaceae Cryptonemia Cryptonemia seminervis

(C. Agardh) J. Agardh

Rhodomelaceae Acanthophora -

Sargassaceae Sargassum Sargassum cymosum C.

Agardh

Ulvacea Ulva Ulva lactuta

Ulva rígida C. Agardh

Tabela 2. Determinação taxonômica dos Moluscos encontrados no trato digestório de

Chelonia mydas e Eretmochelys imbricata.

Subordem Família Gênero Espécie C.

mydas

E.

imbricata

Lula Oegopsina Lepidoteuthidae

- - X -

Onychoteuthidae - - X -

Enoploteuthidae Enoploteuthis

X X

Chiroteuthidae Chiroteuthis Chiroteuthis

sp

X -

Polvo Bolitaenidae Eledonela Eledonela

pygmaea

X -

50

3.3 Análises histológicas

Histologicamente foi analisado o tubo digestório de 47 indivíduos da

espécie Chelonia mydas, sendo 43 classificados como juvenis e 4 como adultos.

Devido o N amostral reduzido, não foram analisadas amostras das demais

espécies de tartarugas.

O Tubo digestório desses animais apresenta-se constituído por quatro

camadas: mucosa, submucosa, muscular e adventícia ou serosa. Cada região

apresenta características próprias que estão relacionadas a adaptações ao

hábito alimentar.

51

Esôfago

Morfologicamente o esôfago apresenta-se como um tubo de

aproximadamente 16 centímetros. Microscopicamente apresenta mucosa

revestida por papilas queratinizadas. Tais estruturas, em Chelonia mydas estão

dispostas na parte inicial do esôfago, em pequeno número e tamanho,

aumentando a medida que se interiorizam (Figura 3 A), apresentando a mesma

estrutura microscópica da mucosa esofágica, constituída por epitélio

estratificado pavimentoso queratinizado (Figura 3B), muscular da mucosa

ausente e lâmina própria aglandular, formada por tecido conjuntivo frouxo.

Figura X -

100 µm 10x 100 µm 10x

c

pe cm

cme

A

B C

Figura 3: Estruturas do esôfago de Chelonia mydas. (A) Mucosa interna. Esôfago com presença de

papilas esofágicas (--->). Papilas na região proximal ( ) e na região distal ( ) do órgão. (B) Mucosa

esofágica com epitélio estratificado pavimentoso hiperqueratinizado (--->) e tecido conjuntivo frouxo

(c). (C) Papila esofágica (pe). Camada muscular interna (cmi) e externa (cme), formadas por músculo

estriado e liso, respectivamente, em diferentes orientações.

52

Ainda quanto a camada mucosa, foi verificada a ausência da camada

muscular da mucosa e lâmina própria aglandular, Não apresenta camada

submucosa. Na porção mais distal do esôfago foi evidenciada uma camada

muscular interna composta por músculo estriado, entremeada por septos de

tecido conjuntivo entre os feixes e uma camada externa de músculo liso (Figura

3 C).

A

Figura 4 -A - Representação da região de transição do esôfago de Chelonia mydas para o estômago. A – seta

( ). Visão geral de ácinos mucosos na submucosa do esôfago. B – Seta ( ) Epitélio estratificado

pavimentoso queratinizado da papila esofágica. Seta ( ) região de transição do epitélio estratificado

pavimentoso queratinizado para epitélio cilíndrico simples.

100 µm 4x 100 µm 10x

B A

53

Na região de transição entre o esôfago e o estômago nota-se um epitélio

em transição, passando de estratificado pavimentoso queratinizado para epitélio

cilíndrico simples com presença de células mucosas (Figura 5).

Figura 5 -A - Representação da região de transição do esôfago para o estômago. A – Transição do

Epitélio estratificado pavimentoso da mucosa esofágica – em detalhe – para Epitélio Cilíndrico Simples

da mucosa do estômago. B –- Epitélio Cilíndrico Simples da mucosa do estômago ( Epc) e Epitélio

estratificado pavimentoso da mucosa esofágica (Epc).

A partir desta região nota-se o surgimento da submucosa formada por

conjuntivo frouxo seguido de denso e presença de ácinos mucosos ainda na porção

esofágica. Surge também a presença da camada muscular da mucosa, ausente na

porção inicial do esôfago, mesclada com submucosa. A quantidade de glândulas

aumenta a partir da porção inicial do estômago. A camada muscular apresenta-se

formada por uma camada interna de musculo estriado e uma mais externa de

musculo liso e a camada adventícia formada por tecido conjuntivo frouxo.

Estômago

As lâminas analisadas da região do estômago de Chelonia mydas

evidenciam a presença de quatro túnicas: mucosa, submucosa, muscular e

serosa. Apresenta a mucosa revestida por epitélio cilíndrico simples, formado

por células mucosas superficiais, que se aprofundam para formar as fossetas

gástricas conectadas a glândulas. Glândulas túbulo-acinosas tornaram-se mais

abundantes na porção pilórica. Observa-se a mucosa levemente pregueada em

algumas porções. Nas porções fúndicas e pilóricas as fossetas gástricas

apresentaram-se mais profundas do que na porção cárdica.

Epc Epe

A B

54

A lâmina própria formada por tecido conjuntivo frouxo, seguida da

camada muscular da mucosa contínua (Figura 6 A e B). A submucosa

apresentou-se formada por tecido conjuntivo denso, com presença de vasos

apresentando extravazamento de “hemossiderina”, substância liberada em um

processo inflamatório. A camada muscular é formada por músculo liso, com uma

camada circular interna mais espessa e uma longitudinal mais delgada. Na

porção pilórica a camada muscular torna-se mais espessa do que as demais

porções estomacais. Presença da camada serosa.

Figura 6 -A - Representação das camadas do estômago de Chelonia mydas - mg: Mucosa gástrica, mm:

Muscular da mucosa, sm: Submucosa, cm: Camada Muscular. B – Detalhe das glândulas gástricas da

camada mucosa: Seta ( --) Lúmen gástrico, * Células mucosas; Célula parietal.

Intestinos

O intestino delgado apresenta uma mucosa constituída de longos e

filiformes vilos. Presença de poucas glândulas duodenais e uma muscular da

mucosa contínua. A camada submucosa é composta por tecido conjuntivo denso

e apresenta camada muscular bastante espessa subdividida em duas camadas,

uma camada circular interna e uma longitudinal externa, ambas formadas por

músculo liso. A camada serosa é formada por tecido conjuntivo frouxo e

revestida por mesotélio (Figura 7). Diferenciando-se do duodeno as demais

porções do intestino apresentaram uma mucosa pregueada, algumas vezes

A B

mg

mm

sm

cm

*

100 µm 4x 100 µm 40x

A B

55

digitiformes, e uma lâmina própria aglandular. Não foi possível descrever o

epitélio devido ao estado de decomposição da carcaça do animal.

Figura 7- Representação das camadas do intestino de Chelonia mydas - m: mucosa , mm:

muscular da mucosa, sm: submucosa, cm: camada muscular.

Discussão

A dieta de C. mydas, tanto de indivíduos juvenis como adultos, teve como

item principal as algas. BUGONI et al., (2003) descreveram a alimentação das

tartarugas-verdes como sendo composta de moluscos, gramínea terrestre, alga

verde, crustáceos e ovos de peixe. Esses itens estiveram presentes no trato dos

indivíduos analisados, porém foram classificados como itens acessórios da

dieta. Neste sentido, Seminoff et al., (2002) sugerem que Chelonia mydas

poderia estar complementando sua dieta herbívora com o consumo de

pequenos vertebrados e invertebrados.

O item material vegetal apresentou boa representatividade,

corroborando com os dados de Bjorndal (1985) quando descreve a tartaruga-

verde como a única espécie herbívora, que se alimenta tanto de algas como de

gramíneas. O item “sedimentos” apresentou o IAi semelhante a demais outros

itens, porém sugere-se que a captura seja acidental.

m

mm

sm

mm

100 µm 4x

56

Com relação à preferência alimentar dos indivíduos da espécie C.

caretta, com base no tamanho médio desses animais encontrados na Costa

Branca, pode-se dizer que estes estão no estágio de vida nerítico, no qual se

alimentam de invertebrados bentônicos na plataforma continental (Bjorndal et

al., 2000). Essas informações também foram verificadas por outros autores

(BJORNDAL, 1985; PINEDO et al., 1996), que descreveram sua dieta como

bentônica.

Essa preferência por presas bentônicas induz um comportamento de

forrageio no fundo, o que pode ser confirmado pela prevalência no Índice de

Importância Alimentar do item “Fragmentos de corais”. Sugere-se assim, que

essa captura seja acidental, no momento do forrageio, uma vez que o segundo

item em importância é o item “moluscos”.

Os 11 exemplares de juvenis de E. imbricata tiveram como principal item

da sua dieta material animal semi digerido. Uma vez que abandonam a fase de

vida pelágica, começam a se alimentar nos fundos marinhos, consumindo

principalmente esponjas (VAN DAM et al., 1997; LEON et al., 2002). Embora

grande parte dos estudos de dieta da tartaruga-de-pente relate essa preferência

alimentar (LEON et al., 2002; BLUMENTHAL et al., 2009; BJORNDAL et al.,

2010), esse item teve sua frequência e volume restritos no presente trabalho.

Alguns itens como, resto de crustáceo e algas estiveram presentes na dieta

desta espécie, corroborando com alguns estudos anteriores (LEON et al., 2002).

Trabalhos que avaliam a histologia do tubo digestório em tartarugas

marinhas são pouco conhecidos. Sugere-se que essa ausência de estudos

nessa área seja resultado da dificuldade na conservação dos órgãos para a

confecção das lâminas, uma vez que os animais são resultado de encalhes,

impossibilitando assim a utilização de material fresco.

A histologia de tubo digestório de tartarugas marinhas segue o padrão

para vertebrados. Apresenta quatro túnicas, mucosa, submucosa, muscular e

adventícia ou serosa.

57

O esôfago apresenta-se como um tubo muscular, possuindo como

característica marcante e diferencial, a presença de papilas esofágicas. Tais

estruturas, em Chelonia mydas estão dispostas na parte inicial do esôfago, em

pequeno número e tamanho, aumentando a medida que se interiorizam.

Segundo Parsons; Cameron (1977), essas papilas encontradas nas tartarugas

marinhas são exclusivas dos répteis. O epitélio que reveste essas estruturas é

hiperqueratinizado, fato este relacionado a proteção contra atrito.

A mucosa do esôfago também apresenta epitélio estratificado

queratinizado, sendo também responsável pela proteção da mucosa. Yoshie;

Honma (1976) descreveram para Lepidochelys olivacea, a histologia do esôfago

e corroboram nosso trabalho, caracterizando as espículas córneas, que se

projetam para a luz, em direção ao estômago, revestidas por epitélio estratificado

pavimentoso queratinizado.

A região distal do esôfago de Chelonia mydas, próximo a junção

gastresofágica, caracteriza-se pelo surgimento de glândulas acinosas, cuja

função é a liberação de muco de modo a facilitar o trânsito do alimento.

Magalhães et al., (2010) estudando a morfologia de Chelonia mydas, não

descrevem a presença dessas glândulas e desta forma, caracteriza a função do

órgão como exclusivamente mecânica. Entretanto, Pereira et al., (2005)

estudando a histologia do esôfago de K. scorpioides, indicam que o esôfago é

um órgão de secreção de glicosaminoglicanas, possivelmente funcionais na

proteção da mucosa contra abrasão.

Outra modificação no trânsito entre esôfago e estômago de Chelonia

mydas é o aparecimento, na região gastresofágica da camada muscular da

mucosa, que se apresenta de forma contínua. Segundo Luppa (1977), a

muscular da mucosa é geralmente encontrada apenas na região caudal do

esôfago dos répteis, confirmando os resultados aqui encontrados para C. mydas.

58

A presença da camada muscular da mucosa, contínua, se repete para o

intestino, que apresenta uma mucosa constituída de longos e filiformes vilos e

presença de poucas glândulas duodenais. Semelhante ao nosso trabalho,

Magalhães et al. (2010) encontraram, para C. mydas, que a camada muscular

estava subdividida em duas camadas, uma camada muscular circular interna

formada por músculo liso contínuo, e uma camada muscular longitudinal externa.

59

4. Conclusões

Tanto indivíduos juvenis como adultos de Chelonia mydas apresentam uma

dieta composta principalmente por algas, caracterizando-as como herbívora

desde o seu estágio juvenil. Esses animais utilizam, em sua dieta, alguns itens

de origem animal, porém estes foram classificados como itens acessórios,

servindo apenas para complementar a dieta herbívora. Caretta caretta

caracterizou-se como carnívora, alimentando-se principalmente de

invertebrados bentônicos. Indivíduos da espécie Eretmochelys imbricata tiveram

como principal item da dieta, organismos de origem animal, caracterizando-os

como sendo animais carnívoros. A histologia do tubo digestório evidencia

especializações microscópicas que favorecem o melhor aproveitamento destes

itens alimentares.

60

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64

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo trouxe resultados anteriormente desconhecidos para o

litoral oeste do Rio Grande do Norte. A diversidade e distribuição de

tartarugas marinhas encontradas na região são de grande importância e

merecem uma atenção especial.

A grande ocorrência de C. mydas em todos os trechos monitorados e

durante todos os três anos de monitoramento, sugerem que a espécie, e

de maneira mais específica os indivíduos juvenis, utilizam a região da

Costa Branca para o seu desenvolvimento e alimentação, principalmente

nos meses quentes do ano (De setembro a janeiro).

A atividade pesqueira é apontada como a principal causa de encalhe dos

animais que ocorrem nessa região, visto que em 17,94% dos encalhes foi

registrado marcas visíveis de interação. Porém a ingestão de resíduos

sólidos afetou 92 dos 133 animais que tiveram seu conteúdo analisado e

em 57,14% desses animais tiveram como causa mortis problemas

causados pela ingestão.

Para a região proposta, a dieta dos indivíduos de C. mydas foi composta

principalmente com algas, o que nos leva a propor que para os indivíduos

de C. mydas dessa região a dieta é herbívora desde o seu estagio juvenil.

Alguns itens de origem animal estiveram presentes, porém foram

classificados como itens acessórios, servindo apenas para complementar

a dieta herbívora.

Apesar dos poucos indivíduos de C. caretta que tiveram seus conteúdos

analisados, os resultados foram bem coesos e satisfatórios, uma vez que

classificou a dieta desses animais como sendo carnívora, se alimentando

principalmente de invertebrados bentônicos. Embora muitos estudos

relatem a preferência alimentar dos indivíduos juvenis de E. imbricata por

65

“esponjas”, esse item alimentar teve sua frequência e volume restritos

para os animais dessa espécie que ocorrem na Costa Branca.

A histologia do tubo digestório evidencia especializações microscópicas

que favorecem o melhor aproveitamento destes itens alimentares.

Apesar de bastante discutida, a dieta das tartarugas marinhas merece um

enfoque para regiões específicas. Ainda não se havia feito um

levantamento das espécies que ocorrem na Costa Branca e, dessa forma,

pouco se sabia a respeito da sua biologia. Esses resultados vêm fomentar

o conhecimento sobre diferentes aspectos da distribuição, diversidade,

interações antrópicas e alimentação das tartarugas marinhas, permitindo,

além do conhecimento mais específico, o direcionamento para a

conservação das espécies.

66

REFERENCIAS

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76

ANEXOS

Tabela 1. Análise do índice de importância alimentar para os indivíduos adultos de C. mydas.

Freqüência de

Ocorrência (Fi) Volume (V) Fi.Vi

Ìndice

Alimentar

ITEM ALIMENTAR N % ml % Iai %

Algas 2 50 36,3 56,28 2813,953 0,720238

Esponjas 1 25 2,7 4,19 104,6512 0,026786

Material animal

semi - digerido 1 25 15,3 23,72 593,0233 0,151786

Bico de lula 1 25 4,4 6,82 170,5426 0,043651

Material vegetal

semi digerido 1 25 0,68 1,05 26,35659 0,006746

Outros 4 25 5,12 7,94 198,4496 0,050794

Total - 64,5 100 3906,977 1

Outros: Insetos, pena ave, sedimento, madeira.

77

Tabela 2. Análise do índice de importância alimentar para os indivíduos juvenis de C. mydas.

Freqüência de

Ocorrência (Fi) Volume (V) Fi.Vi

Ìndice

Alimentar

ITEM ALIMENTAR N % ml % Iai %

Algas 58 43,61 58,74 1548,11 2561,618 0,625336945

Material vegetal

semi digerido 58 43,61 7,24 190,77 315,6595 0,086170353

Material animal

semi-digerido 94 70,68 10,31 271,71 728,6497 0,198910555

Ascidia 2 1,50 0,09 2,36 0,134657 3,67592E-05

Moluscos 43 32,33 4,96 130,59 160,2004 0,043732341

Resto de

crustáceo 5 3,76 0,06 1,49 0,21254 5,80204E-05

Material semi-

digerido 10 7,52 1,54 40,62 11,5893 0,003163708

Fragmento de

corais 29 21,80 2,53 66,62 55,11834 0,015046487

Resto calcário 13 9,77 0,35 9,26 3,434311 0,000937516

Outros 50 37,59 5,71 312,79 214,6617 0,058599443

Total - 2646,18 4096,38 1

Outros: isca, minhoca, material resistente, material estranho, escama de peixe, asas, espinho,

madeira, resto de peixe, massa de ovos, resto de inseto, espicula, semente, material Não

identificado, pena de ave.

Molusco: Ventosa quitinosa de lula, bico de lula, gastrópode, restos de concha, concha/coral.

78

Tabela 3. Análise do índice de importância alimentar para os indivíduos juvenis de E.

imbricata.

Freqüência de

Ocorrência (Fi) Volume (V) Fi.Vi

Ìndice

Alimentar

ITEM ALIMENTAR N % ml % Iai %

Material animal

semi-digerido 7 63,64 44,87 58,82 2855,632 0,387757

Fezes 3 27,27 5,83 7,64 158,9622 0,021585

Restos vegetais 6 54,55 4,25 5,58 231,9932 0,031502

Resto calcário 2 18,18 2,04 2,68 37,10504 0,005038

Resto de

crustáceo

(decapoda)

4 36,36 6,90 9,05 250,9965 0,034082

Alga 3 27,27 10,18 13,35 277,7677 0,037717

Molusco 11 100,00 10,80 0,47 1080 0,14665

Medusa 1 9,09 0,34 0,45 3,120985 0,000424

Esponja 5 45,45 20,18 28,40 917,2727 0,124554

Outros 17 154,55 10,04 4,65 1551,636 0,210692

Total - 131,08 0 1

Outros: Osso, Material NID "Algodão", gosma amarela, sedimento, pedra, pena e resto de

inseto.

Moluscos: Fragmento de Molusco (Cephalopoda), gastrópode, bico de lula, ventosa quitinosa

de lula.

79

Tabela 4. Análise do índice de importância alimentar para os indivíduos de C. caretta.

Freqüência de

Ocorrência (Fi) Volume (V) Fi.Vi

Ìndice

Alimentar

ITEM ALIMENTAR N % ml % Iai %

Restos vegetais 3 75 32,12 4,455356 334,1517 0,122725

Moluscos 1 25 140,16 19,44155 486,0389 0,178509

Esponja 1 25 14,6 2,025162 50,62905 0,018595

Resto calcário 1 25 400,77 55,5907 1389,767 0,510424

Material digerido 1 25 14,6 2,025162 50,62905 0,018595

Restos de

crustáceos 1 25 73 10,12581 253,1452 0,092973

Alga 1 25 0,08 0,011097 0,277419 0,000102

Medusa 1 25 0,9 0,124839 3,120969 0,001146

Outros 1 25 44,7 6,200325 155,0081 0,05693

Total - 720,93 100 2722,768 1

Outros: “casulos”, estruturas queratinizadas e parasitas.

Molusco: Gastrópode, Restos de concha, Bico de polvo e bivalves.

80