universidade federal do rio de janeiro coppead · requisitos necessÁrios para obtenÇÃo do grau...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COPPEAD INSTITUTO DE PESQUISA E P Ó S-GRADUAÇ Ã O EM ADMINISTRAÇ Ã O GEST Ã O ESTRAT É GICA DE QUALIDADE PARA EXPORTAÇ Ã O: UM ESTUDO DE CASOS Flávio Macedo de Arruda Orientador: Kleber Fossati Figueiredo Rio de Janeiro Novembro/1994

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

COPPEAD

INSTITUTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

GESTÃO ESTRATÉGICA DE QUALIDADE PARA EXPORTAÇÃO: UM ESTUDO DE CASOS

Flávio Macedo de Arruda

Orientador: Kleber Fossati Figueiredo

Rio de Janeiro

Novembro/1994

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GESTÃO ESTRATÉGICA DE QUALIDADE PARA EXPORTAÇÃO:

UM ESTUDO DE CASOS

FLÁVIO MACEDO DE ARRUDA

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO COPPEAD - INSTITUTO DE PÓS-

GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO - DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO

GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS (M.Sc.).

APROVADA POR:

Presidente COPPEAD/UFRJ

PAULO FERNANDO FLEURY DA SILVA E SOUZA COPPEAD/UFRJ

Rio de Janeiro, RJ - Brasil Novembro de 1994

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Arruda, Flavio Macedo de

Gestão Estratégica da Qualidade para Exportação: Um estudo de Casos. Rio de Janeiro: COPPEAD/UFRJ, 1994

XII, 225 p.

Tese: Mestre em Ciências

(Administração de Empresas)

1. Qualidade 2. Exportação 3. Gestão Estratégica 4. Mercado Internacional 5. Tese (Mestrado - COPPEAD/UFRJ)

I - Titulo

üi

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IV

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pelo apoio que me dedicaram ao longo do mestrado e da realização deste trabalho.

À Myrian Lyra Campos pelo paciente trabalho de transcrição das entrevistas

À Maria Cristina Araújo Coelho pelo apoio oferecido na COPPEAD

Aos professores David Gertner e Paulo Fleury por suas valiosas contribuições

À minha irmã e ao meu cunhado pelo auxílio na preparação do material de apresentação

À Cristina Ritti pelo apoio na impressão final do trabalho

Aos meus colegas de mestrado que partilharam comigo as discussões sobre o tema deste trabalho

Ao meu orientador, Prof. Kleber, por ter, como eu, acreditado neste trabalho

Rio de Janeiro, novembro de 1994.

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ParaUz

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RESUMO DA TESE APRESENTADA À COPPEAD/UFRJ COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM

CIÊNCIAS (M. Se.)

GESTÃO ESTRATÉGICA DE QUALIDADE PARA EXPORTAÇÃO: UM

ESTUDO DE CASOS

Flávio Macedo de Arruda

Novembro de 1994

VI

Este estudo tem por objetivo, partindo-se de uma conceituação ampla de

qualidade, identificar os requisitos necessários para o seu gerenciamento estratégico.

Em um segundo momento, busca-se avaliar as condições específicas para a gestão

estratégica da qualidade voltada para a exportação.

Na revisão de literatura procura-se, inicialmente, mostrar a diversidade de

definições atribuídas à qualidade e a consequente dificuldade em se formalizar um

conceito abrangente e completo. Na sequência, são apresentadas as eras da qualidade,

desde a inspeção até o gerenciamento estratégico. A partir daí, são examinadas as

questões referentes ao controle e aperfeiçoamento de processos produtivos, à

identificação de dimensões competitivas da qualidade e à sua correta transmissão.

Identificados os insumos relevantes para que a qualidade possa ser vista como

uma variável estratégica, procede-se então à consideração dos aspectos fundamentais

para a qualidade na exportação. A revisão de literatura é concluída com um sumário

dos principais pontos abordados, a fim de que seja proposto, no capítulo de metodologia

de pesquisa, um modelo de gestão estratégica de qualidade para exportação.

Foram realizados quatro estudos de caso, baseados em depoimentos obtidos

junto à empresas dos setores de autopeças, eletro-eletrõnico e de tintas para

impressão.

A análise dos resultados apresentados procura relacionar os casos com as

proposições do modelo, verificando a adequação do mesmo à realidade das empresas

pesquisadas.

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Vil

ABSTRACT OF THE DISSERTATION PRESENTED TO COPPEAD/UFRJ AS PART OF

THE NECESSARY REQUIREMENTS FOR THE MASTER OF SCIENCE

DEGREE (M. Se.)

STRATEGICAL MANAGEMENT OF QUALlTY FOR EXPORTATION:

A CASE STUDY

Flávio Macedo de Arruda

November, 1994

The main purpose of this work is to identify the requirements to the strategical

management of quality. Starting frem a wide definition of quality, this study evaluates

the specific conditions of the quality management for the export markets.

The literature review begins with some of the various quality concepts and the

difficulty in developing a complete and wide concept. The historical Quality Stages are

then presented, frem Inspection to Strategical Management. Furthermore, it examines

the relevant questions conceming to: 1 - control and imprevement of production

processes; 2 - identification of competitive dimensions of quality and 3 - proper

transmission of the concept of quality.

It proceeds considering important aspects related to the externai markets and the

identification of the relevant inputs expected from a strategical quality management point

of view.

A model of Quality management for exportation is then presented, in order to

verify its adequacy to the reality of brazilian enterprises.

Four case studies were developed, based on interviews obtained from companies

of printing ink, auto-parts and electrical sectors.

The results reveal that these companies belong to mature and price oriented

markets and their product's differentiations are rapidly copied by their competitors. The

market dynamic's context must be incorporated to their quality strategical management,

in order to seek altemative differentials for their exoortations.

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VIU

LISTA DE QUADROS

Pág.

1 Número de Empresas com Certificação ISO 9000 por País 4

2 Exportações Brasileiras por Fator Agregado 5

3 Visão de Qualidade segundo Slack 15

4 A Reação em Cadeia de Deming 21

5 As Quatro Principais Eras da Qualidade 33

6 O Ciclo PDCA (Plan, 00, Check, Act) 39

7 Procedimento de Controle quando ocorre Anomalia 41

8 O Canal de Exportação 55

9 Famílias de Padrões relacionados ao Controle do Processo 65

10 Decisões de Compra/Fabricação de Matérias-Primas 73

11 Fluxo de Implantação e Manutenção de Especificações de Matérias-Primas 75

12 Modelo de Gestão Estratégica de Qualidade para Exportação 87

13 Características Gerais das Empresas Pesquisadas 94

14 Objetivos Qualificadores e Ganhadores de Pedidos comuns às Empresas pesquisadas para o Mercado Internacional 202

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LISTA DE ANEXOS

I - Cartas de Apresentação e Roteiro para o entrevistado

1 1 - Roteiro do Entrevistador

Pág.

217

220

IX

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SUMÁRIO

Pág.

I - Introdução 1 . 1 O Assunto e sua Importância 1 1 .2 O Estudo e seus Objetivos 6 1 .3 Organização do Estudo 7

11 - Revisão de Literatura 1 1 . 1 Definições de Qualidade 9 1 1. 1 . 1 Os Muitos Conceitos de Qualidade 9 1 1 . 1 .2 Os Correlatos da Qualidade 1 6 1 1. 1 .3 Preço, Valor e Qualidade: relação de Difícil

Mensuração 20 1 1 .2 O Novo Paradigma Gerencial de Qualidade 25 1 1 .2 .1 A Evolução Histórica da Importância da Qualidade 25 1 1.2.2 A Gestâo Estratégica da Qualidade 30 1 1 .3 A Qualidade para Exportação 48 1 1 .3. 1 O Cenário Econômico Internacional 48 1 1 .3.2 As Distinções do Mercado Externo 50 1 1.3.3 As Considerações de Produto 56 1 1.3.4 A Qualidade na Produção para Exportação 61 1 1.3.5 A Embalagem e as Garantias de Produto 77 1 1 .4 Síntese dos Conceitos Apresentados 81 1 1 .4. 1 Qualidade 81 1 1.4.2 Gestão Estratégica da Qualidade 81 1 1 .4.3 Gestão Estratégica da Qualidade para Exportação 82

111 - Metodologia de Pesquisa 1 1 1 . 1 Introdução 85 1 1 1.2 Proposta de Modelo para Gestâo Estratégica da

Qualidade para Exportação 86 1 1 1 .3 Definição do Universo e Determinação da Amostra 88 1 1 1 .4 O Trabalho de Campo 90 1 1 1 .5 Limitações 92

IV - Descrição dos Casos IV.1 Introdução 93 IV.2 Empresa "A" 95 IV.2.1 A Empresa 95 IV.2.2 O Mercado 97 IV.2.3 A Concepção de Qualidade na Empresa 98

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Pág.

IV.2.4 Os Atributos da Qual idade 1 00 IV.2.5 O Controle no Processo Produtivo 101 IV.2.6 A Transmissão da Qualidade 1 04 IV.2.7 Qualidade para o Mercado Externo 1 05 IV.2.8 Perspectivas 1 1 0 IV.3 Empresa "B" 1 1 2 IV.3.1 A Empresa 1 1 2 IV.3.2 O Mercado 1 1 3 IV.3.3 A Concepção de Qualidade na Empresa 1 1 5 IV.3.4 Os Atributos da Qualidade 1 18 IV.3.5 O Controle no Processo Produtivo 1 19 IV.3.6 A Transmissão da Qualidade 1 23 IV.3.7 Qualidade para o Mercado Externo 125 IV.3.8 Perspectivas 1 33 IV.4 Empresa "C" 1 35 IV.4. 1 A Empresa 1 35 IV.4.2 O Mercado 1 36 IV.4.3 A Concepção de Qualidade na Empresa 1 37 IV.4.4 Os Atributos da Qualidade 1 39 IV.4.5 O Controle no Processo Produtivo 1 39 IV.4.6 A Transmissão da Qualidade 141 IV.4.7 Qualidade para o Mercado Externo 1 42 IV.4.8 Perspectivas 1 47 IV.5 Empresa "O" 1 48 IV.5. 1 A Empresa 1 48 IV.5.2 O Mercado 1 49 IV.5.3 A Concepção de Qualidade na Empresa 1 50 IV. 5.4 Os Atributos da Qualidade 1 54 IV.5.5 O Controle no Processo Produtivo 1 55 IV.5.6 A Transmissão da Qualidade 157 IV.5.7 Qualidade para o Mercado Externo 1 58 IV.5.8 Perspectivas 1 65

v - Análise dos Resultados V.1 Introdução 1 67 V.2 O Conceito de Qualidade 1 68 V.3 O Mapeamento das Empresas nas Etapas da Qualidade 1 69 V.4 As Dimensões Competitivas da Qualidade 1 72 V.5 O Controle dos Processos 1 76

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V.6 A Transmissão da Qual idade V.7 O Mercado Externo V.8 O Produto Exportado V.9 A Qualidade na Produção V. 1 0 A Embalagem e as Garantias Oferecidas

VI • Resumo, Conclusões e Sugestões para Futuras Pesquisas

VI. 1 Resumo VI. 2 Conclusões VI.3 Temas para Pesquisas Futuras

Bibliografia

Anexos

Pág.

1 78 1 82 1 86 1 88 1 89

1 92 1 94 206

208

2 1 6

xii

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1

CAPiTULO I INTRODUÇÃO

1.1 - O ASSUNTO E SUA IMPORTÂNCIA

Nas últimas décadas, a economia mundial presenciou uma cada vez

mais rápida revolução tecnológica e comercial. A crescente globalização e o

maior influxo de informações permitiu uma intensa troca de produtos e serviços

das mais diversas áreas e setores econômicos.

Assim, os países viram-se expostos a uma multiplicidade de novas

técnicas e instrumentos visando uma maior prOdutividade e competitividade de

seus setores produtivos, cujo passo inicial verificou-se no Japão. A fantástica

ascensão da economia japonesa proporcionou ao mundo uma nova postura em

termos de qualidade e atendimento às necessidades do cliente.

A velocidade das informações em um mundo cada vez mais integrado

impôs a retormulação de conceitos lais como vantagens competitivas e

mercados cativos. Apresentar diferenciais que assegurem a manutenção ou

conquista de novos mercados tornou-se um desafio constante e palavra de

ordem para garantir a sobrevivência das empresas. Diante deste cenário, uma

palavra ganhou força em todos os mercados, representando a porta para o

sucesso: Qualidade

As primeiras sementes sobre este tema surgiram formalmente em um

Japão destruído no pós-guerra, que buscava incessantemente conquistar seu

lugar na economia mundial. Os resultados deste processo são hoje por todos

bastante conhecidos: nomes e conceitos como ciclo P.D.C.A de Deming, just

in time, kanban, kaizen, manufatura flexível e tantos outros deixaram de ser

exclusivos das empresas japonesas, tomando-se condição básica para a

conscientização da importância da qualidade. A maior eficácia veio, a reboque

destas inovações, do abandono de paradigmas arcaicos e obsoletos.

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Diante deste contexto profundamente dinâmico, era inevitável uma

maior abertura da economia brasileira. A "era Col1or", abstendo-se de

qualquer juízo de valor, deixou-nos o legado de uma economia mais exposta aos

produtos e serviços internacionais, após um longo período de hibernação.

Alguns setores pioneiros entenderam que o leque de competidores havia

aumentado e que os seus diferenciais deveriam então atender às exigências de

um mercado comum e global.

A consequência direta da abertura comercial foi uma proliferação de

programas, cursos e seminários com o intuito de melhor absorver o amplo

conceito de qualidade. No entanto, as empresas passaram a se deparar com

um dilema entre a rápida e a correta introjeção da qualidade nas suas

atividades. Os custos de aprendizagem são altos e o "deslumbramento" pode

ofuscar o filtro necessário para transpôr conceitos e metodologias

internacionais para a realidade da empresa.

Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria em

1992 com 1624 empresas dos mais diversos setores revelou que havia uma

falta de sintonia entre a elevada demonstração de utilização de modernos

métodos para a obtenção de qualidade e os resultados apontados no

relacionamento das indústrias com seus fornecedores, clientes e recursos

humanos. Naquela época, o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade

era desconhecido por 32% das empresas pesquisadas e sua influência na

tomada de decisões atingia somente 33% dos informantes. (Confederação

Nacional da Indústria, 1992)

Uma reportagem mais recente da revista Exame Melhores e Maiores

indica, no entanto, que esta desinformação está se tornando algo do passado e

que as empresas vêm intensificando as suas preocupações com a qualidade

dos produtos oferecidos ao mercado externo. Apesar de terem enfrentado nos

últimos anos uma conjuntura extremamente turbulenta, muitas empresas

aproveitaram para se reestruturar e buscar fortalecimento através de

programas de qualidade. A maior atenção às necessidades do mercado externo

se verifica com o crescente número de certificações conferidas pela ISO 9000:

segundo a Associação Brasileira de Nonnas Técnicas (ABNT), em 1990 havia

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cerca de 17 empresas certificadas; ao final de 1992, já eram contabilizadas 131

empresas e até agosto de 1994, existem 355 certificadas. A previsão é de que

até o final do ano, este número aumente para 600. (Revista EXAME, 1994)

o quadro 1 demonstra que o número de empresas certificadas no Brasil é

expressivo se comparado a outros países latino-americanos, como a Argentina e

o México. O Japão, segunda economia mundial, possui apenas 400 empresas

certificadas.

Adicionalmente, pode-se observar pelos dados apresentados no quadro 2

que os produtos manufaturados têm ganhado cada vez mais importância na

pauta de exportação brasileira. Isto sinaliza claramente a transformação que

vem ocorrendo no país: enquanto que até algumas décadas atrás as

exportações concentravam-se em café e outras commodities, percebe-se

atualmente a maior participação de produtos mais elaborados e com

processos de fabricação mais refinados. A indisponibilidade de dados mais

recentes sobre quais mercados têm aumentado suas demandas por

manufaturados brasileiros (os últimos dados oficiais são de 1985) inviabiliza

maiores conclusões sobre esta questão. No entanto, como o volume total

exportado também apresentou crescimento, pode-se auferir que há uma maior

aceitação internacional pelos manufaturados do Brasil.

Todos estes dados indicam que a capacidade de resposta das empresas

brasileiras tem se mostrado bastante rápida, embora ainda haja um longo

caminho para ser percorrido.

Entender qualidade como uma variável estratégica que deve ser

trabalhada para obter ganhos de competitividade no mercado externo é algo

ainda embrionário em muitas empresas brasileiras. As transformações mundiais,

no entanto, sinalizam para um irreversível caminho no qual qualidade será,

efetivamente, "a alma do negócio".

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QUADRO 1

NÚMERO DE EMPRESAS COM CERTIFICACÃO ISO 9000 POR PAis

(AGOSTO DE 1994)

PAIS NUMERO DE CERTIFICAÇÕES

Alemanha 2600 Argentina 15

Brasil 355 Canadá 1500

Cingapura 500 Coréia do Sul 120

Estados Unidos 1600 Inglaterra 30500

Itália 1500 Japão 400

México 150 Malásia 400

Fonte: Revista Exame Maiores e Melhores, agosto de 1994

4

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1.2 - O ESTUDO E SEUS OBJETIVOS

A contribuição que este trabalho pretende dar está em, através da

observação de empresas brasileiras que busquem cada vez mais agregar

valores aos produtos que direcionam para o mercado intemacional, formular

um modelo de qualidade voltada para exportação adequado à realidade

brasileira.

Para tal, os objetivos deste estudo são: definir uma conceituação

ampla de qualidade capaz de abarcar todas as dimensões de uma empresa,

identificar os fatores relevantes para o gerenciamento estratégico da

qualidade e identificar as particularidades que devem ser consideradas neste

gerenciamento no que se refere ao mercado extemo.

A inexistência de uma literatura específica sobre o tema pesquisado vis a

vis a sua crescente relevância toma o assunto passível de futuros estudos,

não sendo objeto da presente pesquisa a generalização dos seus resultados.

Busca-se, altemativamente, plantar uma semente para discutir um tema que

está se tomando a "ordem do dia" em todos os setores da economia brasileira.

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1.3 - ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Tendo sido definidos os objetivos do estudo neste capítulo introdutório,

será apresentada agora a estruturação utilizada ao longo do trabalho.

O capítulo " apresenta a revisão de literatura do tema. Esta revisão

subdivide-se em quatro partes: na primeira, é levantada a pluralidade de atributos

e dimensões inerentes ao conceito de qualidade; na segunda, procura-se

apresentar a evolução das distintas eras da qualidade até que este conceito

passasse a ser observado sob um prisma estratégico; a terceira parte identifica

os principais pontos a se considerar para qualidade de produtos exportados;

por fim, a última parte sumariza os principais pontos abordados no capítulo.

O capítulo 111 trata da metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho.

Neste capítulo, são apresentados um modelo para qualidade em exportação, as

razões que nortearam a escolha da amostra pesquisada, o processo de

realização do trabalho de campo e as principais limitações que o estudo oferece.

No capítulo IV, são descritos os quatro casos pesquisados: Empresa A ,

Empresa B , Empresa C e Empresa D . Tomam parte destes casos as

entrevistas realizadas entre julho e agosto de 1994. O capítulo apresenta um

quadro que sumariza as principais características das empresas pesquisadas.

O capítulo V apresenta as análises comparativas entre o que foi proposto

no modelo e os casos trabalhados, procurando apontar particularidades e

pontos em comum entre ambos.

Por fim, o capítulo VI expõe as principais conclusões obtidas neste

trabalho, bem como sugere futuras pesquisas que possam ser realizadas sobre o

tema em questão.

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CAPiTULO 11- REVlsAo DE UTERATURA

Este capítulo está dividido em quatro partes. A primeira parte procura

apresentar as diversas orientações existentes na literatura para se conceituar

qualidade. Diante de uma gama de definições e enfoques, busca-se

estabelecer um conceito amplo que possa ser utilizado para a proposição de

um modelo de qualidade. Adicionalmente, esta parte estará abordando os

correlatos da qualidade, isto é, indicadores tradicionais de desempenho

empresarial tais como custos e produtividade, e a forma pela qual se relacionam

com aquela variável.

Na segunda parte é traçada a evolução histórica dos conceitos da

qualidade, sendo observados quatro momentos (ou eras) bastante

característicos. Destaque especial é conferido à gestão estratégica da qualidade,

pois é a partir da identificação de seus pré-requisitos que será trabalhado o

modelo acima citado.

A terceira parte procura explorar as particularidades de uma gestão

estratégica de qualidade voltada para exportação, identificando fatores

relevantes para o produto exportado, os mercados/clientes externos, a

produção adaptada às normas internacionais e para os elementos periféricos

que agreguem maior competitividade ao produto.

Todos estes fatores são sintetizados na quarta e última parte a fim de

que no capítulo seguinte seja proposto um modelo para gestão estratégica de

qualidade para exportação.

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11.1 - DEFINIÇOES DE QUALIDADE

11.1.1 - Os Muitos Conceitos de Qualidade

Ao se falar em gerência estratégica de qualidade, é natural que o primeiro passo a ser estabelecido seja tentar definir claramente o que é qualidade. Esta definição, no entanto, apresenta dificuldades substanciais, tendo

em vista as distintas percepções de qualidade, tanto por parte de quem produz

quanto de quem consome.

Adicionalmente, a credibilidade em pressupostos errôneos, cultivados e

mantidos por alguns membros dentro das empresas, pode inviabilizar qualquer discussão sobre o tema, além de comprometer a implementação de programas de qualidade.

Assim, como afirma Crosby (1986) , o problema não é o que as pessoas

ignoram, mas o que elas pensam que sabem sobre qualidade. Dentro deste

raciocínio, sugere que alguns"dogmas" sejam derrubados, tais como:

(i) utilizar a palavra qualidade sem saber exatamente como defini­la: "qualidade de vida", "boa" qualidade, "má" qualidade, etc ...

(ii) achar que qualidade é um atributo intangível do produto, e por isso impossível de se mensurar;

(iii) atribuir, inevitável e exclusivamente, os problemas com qualidade ao setor de fabricação;

(iv) afirmar que controlar a qualidade é tarefa que compete unicamente a um departamento de qualidade.

Um primeiro ponto de consenso na literatura atual é que qualidade necessariamente está ligada à satisfação das necessidades do cliente.

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Feigenbaun (1983) explicita esta idéia, afinnando que qualidade pode ser

definida como o mix de características de mar1<eting, engenharia, fabricação e

manutenção envolvidos em um produto durante o seu uso, que atendam às

expectativas do consumidor.

Desta fonna, a qualidade poderia ser vista como a capacidade de

saber "como" e "a quem" atender as necessidades. Ao tentar definir

qualidade, Garvin (1992) procurou mostrar a pluralidade de abordagens

existentes na atual literatura sobre este tema, agrupando-as segundo

detenninados enfoques (produção, consumidor, valor, etc.) como se verá a

seguir.

A Visão Fabril

A adequação entre o que é produzido nas empresas e a satisfação do

cliente passa necessariamente pelo estabelecimento de alguns atributos, por

parte da empresa, que classifiquem a qualidade de seus produtos. Partindo desta

idéia, Chase e Aquilano (1977) consideram três conceitos básicos para

viabilizar a comparação entre a qualidade no desígn de um produto e de seus

concorrentes:

(i) a graduação, que significa classificar características tais como

textura, gosto, odor, suavidade e cor em grupos (A, a, c ou D, por

exemplo). Este critério, no entanto, exige uma padronização

universal, pois um produto cuja cotação máxima para o seu

produtor é "3 estrelas", pode ser ilusoriamente superado por um

competidor que atribua "5 estrelas" ao produto-concorrente.

(i i) a adequação para o uso, isto é, o quanto o produto satisfaz o

consumidor. Aqui, antes de se referir à satisfação de

necessidades, está se considerando a funcionalidade,

confiabilidade e manutenção do produto.

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(iii) a consistência, que se refere à capacidade do produto

sempre manter a sua qualidade de confonnação, ou seja, de

serem produzidas constantemente unidades que estejam de

acordo com as especificações do projeto.

11

Esta visão, assim como outras definições formuladas na maior parte por

engenheiros e técnicos industriais, enfatizam o produto e a produção.

As definições orientadas para o produto tomam qualidade como uma

variável precisa e mensurável. As diferenças de qualidade correspondem a

diferenças de quantidade de algum ingrediente ou atributo desejado

(Abbot,1955). Esta abordagem confere uma dimensão vertical ou hierárquica à

qualidade, pois os produtos são classificados de acordo com a quantidade de

atributos desejáveis que possuem. Garvin (1992) alerta que nem sempre há uma

correspondência unívoca entre os atributos do produto e qualidade; muitas

vezes produtos ditos de alta qualidade são diferentes, não devidO ao número

de seus atributos, mas por possuirem conceitos diferentes.

A orientação para a produção concentra-se mais em aspectos

relacionados à engenharia e à concepção do produto. Qualidade aqui é vista

como o grau em que um detenninado produto está de acordo com um projeto

ou especificação (Gilmore, 1974). Daí se falar em consistência e confonnidade.

A qualidade de confonnidade é definida por Teboul (1991) como aquela que

mede a eficiência da realização e visa uma economia de meios para atingir um

resultado sem defeitos ou erros . Este autor diz que a conformidade é a

primeira tomada de consciência empresarial com relação à qualidade.

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ANO

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993

QUADRO 2

EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS POR FATOR AGREGADO

(US$ MILHÕES - F.O.B. e % do TOTAL)

TOTAL Básicos Industrializados Semi- Manufaturados

(US$ manufaturados Milhões)

20132 42,16% 56,51% 11,67% 44,84% 23293 38,29% 60,10% 9,08% 51,02% 20175 40,83% 57,92% 7,10% 50,82% 21899 38,97% 59,63% 8,14% 51,49% 27005 32,24% 66,67% 10,64% 56,03% 25639 33,30% 65,61% 10,76% 54,85% 22349 32,57% 66,65% 11,15% 55,50% 26224 30,59% 68,69% 12,11% 56,59% 33789 27,85% 71,26% 14,48% 56,78% 34383 27,77% 71,08% 16,89% 54,20% 31414 27,84% 70,41% 16,26% 54,15% 31620 27,63% 70,99% 14,84% 56,16% 35862 24,65% 74,07% 14,41% 59.66% 38783 24,26% 74,95% 14,06% 60,88%

FONTE: Balança Comercial Brasileira, Dezembro 1993.

5

Operações Especiais

1,33% 1,61% 1,24% 1,40% 1,09% 1,09% 0,78% 0,72% 0,88% 1,14% 1,75% 1,38% 1,28% 0,79%

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12

A Orientação para o Consumidor

Com a compreensão de que a qualidade não poderia mais ser encarada

como variável exclusiva do processo produtivo, dissociada do consumidor, alguns

autores passaram a relacioná-Ia com a capacidade do produto satisfazer os

desejos de seu público-alvo. Desta forma, considera-se que os produtos que

melhor atendam a estes desejos sejam os de melhor qualidade.

Partindo da premissa que qualidade para o cliente é uma comparação

entre aquilo que ele percebe do produto e o que tinha por expectativas,

Townsend (1986) distingue a qualidade "de percepção" do consumidor (fazer

aquilo que deveria ser feito - eficácia) da qualidade "de fato" da oferta (fazer

conforme deve ser feito - eficiência). O ideal obviamente é que as duas se

igualem.

Em algumas situações, o julgamento do consumidor pode levar algum

tempo para se formar. O comprador de um veículo, por exemplo, estará, após

algum tempo de uso, mais apto a avaliá-Io em termos de expectativas realizadas

Deming reforça a importância de satisfazer o consumidor afirmando que

ninguém pode adivinhar o prejuízo futuro de um negócio gerado por um cliente

insatisfeito:

" Embora o custo de um item defeituoso na linha de produ�o

seja relativamente fácil de se estimar, o custo de um item

defeituoso que é entregue a um cliente desafia qualquer medida.

As mercadorias voltam, os clientes naD." (Deming, 1990, pg.130)

Assim sendo, o conceito de qualidade para Deming (op. cit.) é dado por

um triângulo cujos vértices são : (i) o produto, (ii) o cliente e como usa o produto

e (iii) os serviços pós-venda e as instruções de uso.

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13

Apesar de ser fundamental considerar o cliente ao se conceitualizar a

qualidade, uma abordagem orientada para o mesmo pode, segundo Garvin

(op. cit.), incorrer num problema: partindo-se da consideração de que, neste

caso, qualidade está ligada à maximização de satisfação, um produto que

atenda a esta consideração será preferível a qualquer outro que satisfaça a

menos necessidades; isto não significa, no entanto, que um seja melhor que o

outro.

Outras Abordagens e a Qualidade Total

Além das já mencionadas visões orientadas para o produto, a produção e

para o consumidor, Garvin (op. cit.) apresenta mais duas categorizaçães: a

visão transcendente e a visão orientada para o valor.

A visão transcendente caracteriza qualidade como excelência inata,

existindo algo perene e duradouro nos trabalhos de alta qualidade, uma essência

acima de gostos e estilos.

As definições orientadas para valor representam uma resposta à

afirmação de que qualidade não pode ser mensurada. Neste caso, um produto de

qualidade é um produto que oferece um desempenho ou conformidade a um

custo aceitável.

Com esta demonstração de possíveis categorizações da qualidade,

toma-se claro que sua conceituação é profundamente subjetiva. Segundo

Deming (op. cit.), a qualidade s6 pode ser definida em termos de quem a

avalia. A multiplicidade de definições, porém, apresenta aspectos

extremamente positivos, se estas orientações forem se modificando à medida

que os produtos forem passando do projeto para o mercado:

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" Inicialmente podem querer seguir uma orientação baseada no

usuário, identificando características que conferem qualidade via

pesquisa de mercado; depois, pode-se seguir uma orientação

baseada no produto, para traduzir as caracterlsticas desejadas

em peças e especificações. Finalmente, uma abordagem

baseada na produção de forma a assegurar que os equipamentos

forneçam produtos que atendam ás especificaçãesu (Garvin, op.

cit., pg.57)

14

Esta é a idéia de qualidade total dentro de uma organização. Para

concluir, resta apenas acrescentar-lhe o "algo mais" da sedução da qualidade,

definido por Petars (1982).

o autor afirma que apenas satisfazer às necessidades do usuário na

questão dos defeitos ou erros é o mesmo que adotar uma atitude neutra ou

passiva e sem emoção. Assim, é necessário que a empresa descubra um "algo

mais", vantagens diferenciais que podem surgir de dimensões secundárias e

representem ganhos significativos de competitividade. Teboul (op. cit.),

entendendo que a estes ganhos de competitividade se criam respostas

dinâmicas da concorrência, afirma que a empresa deve sempre recriar a

diferença, procurando não ficar "sentada sobre os louros do passado". Desta

forma, é introduzido aqui o último e um dos mais importantes pontos na

concepção de qualidade: o seu caráter dinâmico.

Uma forma alternativa de se olhar para a qualidade total é procurar definir

claramente a sua abrangência. Slack (1993) apresenta uma matriz na qual

procura partir de uma visão mais restrita (conformidade com as especificaçOes

de aspectos técnicos) e mais útil para setores de produção direta de uma

fábrica até uma definição mais ampla, na qual qualidade significa a estratégia

global de operações de uma organização (Quadro 3).

Assim , dentro do que foi observado, o modelo proposto para gestão

estratégica de qualidade estará incorporando a visão plural que este tema

apresenta. Associando-se esta idéia à matriz de Slack (op. cit.), o enfoque

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QUADRO 3

VlsAo DE QUALIDADE SEGUNDO SLACK

ESPECIFICAçAO SIGNIFICA ...

ESPECIFICAÇAO TÉCNICA DO

PRODUTO

TODOS OS ASPECTOS DOS SERViÇOS DAS

OPERAçõES

DEFINlçAO

CONFORMIDADE ÀS

ESPECIFICAÇÕES

a ver com desempenho de

• Relativamente não ambígua

• Operacionalmente prática

• Uso de maneira regular pelos departamentos de

tem a ver com desempenho das

ADEQUAçAO AO PROPÓSITO

a ver de

na de qualidade do consumidor

• Orientação para mais longo prazo

• Uso como meio de Checagem periódica da das

a ver com estratégia de

• :===�:N::!5���u�m:a� acordar as expectativas dos serviços com consumidores

• Alguns aspectos subjetivos dos serviços

• Uso de maneira regular pelos departamentos que proporcionam

avaliação completa dos objetivos e desempenho das operações

• Tratada como qualidade somente com propósitos motivacionais

Fonte: Slack. N. "Vantagem Competitiva em Manufatura" pág. 44

15

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16

adotado é o correspondente ao quadrante que combina adequação ao propósito

com todos os aspectos dos seviços e operações.

Neste trabalho, qualidade será vista como um conjunto de dimensões

relacionadas ao produto, à produção e ao cliente, assumindo que este

conjunto precisa ser flexível e estar constantemente recriando diferenciais da

empresa que se traduzam por ganhos de competitividade.

11.1.2 - Os Correlatos da Qualidade

A importância do gerenciamento estratégico da qualidade está nos seus

impactos na base das atividades de uma empresa. Em outras palavras, a

qualidade está diretamente associada à medidas-chave do desempenho

empresarial, tais como custos e produtividade. A seguir, serão feitas algumas

considerações sobre estes tópicos e o desdobramento de suas definições,

quando relacionados à qualidade. Adicionalmente, será observado nesta seção

que não existem evidências que pennitam estabelecer uma correlação direta

entre preços e qualidade.

Custos

No passado, um dos maiores obstáculos ao estabelecimento de fortes

programas de qualidade era a visão de que melhor qualidade se traduziria por

custos mais elevados no dia-a-dia empresarial (Deming, op. cit.). A premissa

para este pensamento era a de que diferenciais na qualidade somente seriam

obtidos através de certos atributos do produto, que exigissem fatores de

produção mais caros (materiais mais sofisticados, mais horas de trabalho, etc.).

Autores como Deming (op. cit.), que tiveram forte influência sobre a

transformação dos conceitos de qualidade na indústria japonesa, passaram a ver

uma relação inversa entre custos e qualidade de conformação: dado um

projeto, os custos da melhoria em qualidade seriam menores do que a

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1 7

economia resultante da redução de retrabalhos, sucatas e despesas com

garantia.

Desta forma, a qualidade passou a ser entendida como "ausência de

defeitos", e os custos de "não-qualidade" seriam definidos como o excedente

dispendido pelo fato de um produto ou serviço não ter sido realizado com

perfeição pela primeira vez (Campanella, 1983).

Devido à incapacidade de mensurarem a "não-qualidade" em termos de

custos, tomou-se impossível, para muitas empresas, compreender que

qualidade insatisfatória significa má utilização de recursos. (Feigenbaun, 1983)

Esta má utilização traduz-se por (i) desperdícios de material; (ii) vendas

perdidas; (iii) estoques exagerados de matéria-prima; (iv) operações com

excesso de capacidade, visando compensar uma eventual parada das

máquinas e (v) custos "ocultos", que dificilmente são associados à qualidade.

Teboul (op. cit.) entende que estes "não valores" fazem parte da

produção da "usina-fantasma", isto é, uma "usina" que produz tudo aquilo que é

inútil e literalmente faz parte da oferta da empresa, sendo contabilizado nos

custos de produção.

Partindo então de uma comprovada relação entre custos e qualidade,

Feigenbaun (op. cil.) dicotomiza estes custos em:

(i) custos de controle => associados à definição, criação e controle

de qualidade, ao desempenho e ao feedback de conformidade

com as prescrições de qualidade, segurança e confiabilidade.

(ii) custos de falhas de controle => referentes principalmente ao

não atendimento das necessidades dos consumidores.

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18

Os custos de controle podem ainda ser divididos em custos de prevenção

e custos de avaliação. Crosby (op. cit.) define os custos de prevenção como

aqueles que se originam de todas as atividades que buscam prevenir defeitos

nos aspectos referentes ao início e criação de um produto ou serviço. Por outro

lado, os custos de avaliação são custos incorridos durante o processo de

produção, através de testes, avaliações e inspeções em geraL

Juran (1974) entende que um progresso significativo no controle dos

custos de qualidade implicaria em enfatizar a prevenção, considerando-se

que um aumento nestes custos corresponderia a uma redução nos custos de

avaliação e de falhas.

Por fim, um outro ponto importante é o dilema entre os custos de

avaliação (inspeção e controle de qualidade) e os custos de falhas (devoluções,

consertos e garantia). A busca do "Zero Defeito", isto é, a excelência em

termos de qualidade de conformação, implica em custos de avaliação

extremamente elevados, devido ao rigor e sofisticação instrumental necessários

para tanto. Alternativamente, quanto menor o nível de controle "interno" à

empresa, maiores serão os gastos em substituições, assistência técnica e

devoluções.

Entende-se que, neste caso, há um meio-termo a ser encontrado que

minimiza o custo total, isto é, o preço que o cliente estaria disposto a pagar para

ter um nível de qualidade aceitável.

Produtividade

O pensamento empresarial, no que se refere à produtividade, não é

uniforme. Devido às diversas conotações com que tem sido tratado este conceito,

"melhorar a produtividade" pode até mesmo significar, dependendo da forma na

qual este termo é definido, queda na qualidade e exploração de mão-de-obra.

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19

A ciência econômica comumente atribui à produtividade "o resultado

da divisáo da produçlo flsica, obtida numa unidade de tempo (horas, dia, ano)

por um dos fatores empregados na produçlo (tena, capital, trabalho). 11

(Sandroni, 1989, pg. 254). Em linhas gerais, é uma mensuração da eficiência da

utilização dos recursos produtivos, visando maximizar a produção na menor

unidade de tempo e ao menor custo.

Esta visão entende que fatores como (i) o desenvolvimento tecnológico;

(ii) o grau de especialização e instrução da mão-de-obra e (iii) a qualidade

das matérias-primas, podem contribuir para elevar a produtividade do trabalho,

isto é, o quociente da produção pelo tempo de trabalho em que foi obtida.

Um conceito mais amplo de produtividade como taxa de valor agregado ao

produto, estabelece que esta é uma relação entre faturamento e custos. Desta

forma, segundo Falconi (1989) , são levados em conta tanto os fatores internos

da empresa, como os interesses dos clientes, pois se este não comprar o

produto, a produtividade cairá.

Este autor afirma que a melhoria da taxa de valor agregado pode ser

conseguida através do gerenciamento de redução de custos e do aumento do

faturamento (através de maior qualidade). Para muitos dirigentes ele empresa,

será difícil entender que qualidade e produtividade não são incompativeis,

enquanto persistir a idéia de que maior controle de qualidade significa inspeção

mais rígida e, consequentemente, maior segregação de produtos defeituosos (o

que caracteriza redução na produtividade).

Como é insistentemente exposto por Deming (op. cit.), melhoria de

qualidade significa menos retrabalho e também redução de desperdício.

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"(. . .) A melhora da qualidade transfere o desperdício de homens­

hora e máquina-tempo para a fabricaçáo de um bom produto e

uma melhor prestaçáo de serviços. O resultado é uma reação em

cadeia: custos mais baixos, melhor posíçno competitiva, pessoas

mais felizes no trabalho, empregos e mais empregos. "

Esta "Reação em Cadeia" é mostrada no Quadro 4:

11.1.3 - Preço, Valor e Qualidade: relação de difícil mensuração

20

A dificuldade de se determinar o nível ótimo de preços para um certo

produto ou serviço e a sua relação com a qualidade podem ser abordadas

tanto sob um enfoque econômico como de marketing.

Sob o ponto de vista econômico, preço é a expressão monetária de um

bem ou serviço (Sandroni, op. cit. , pg. 249). As decisões dos agentes

econômicos consideram que os empresários têm em mente que os consumidores

pagam mais por bens que lhes tragam grande satisfação e menos por bens

pouco satisfatórios.

No entanto, para um nível elevado de preços, pode ocorrer o efeito de

substituição, quando o consumidor troca o produto caro por um sucedâneo

mais barato. Esta reação varia de produto a produto, e é mensurada pela

elasticidade-preço da demanda. Analogamente, a capacidade de atender

adequadamente a esta demanda é avaliada pela elasticidade-preço da oferta.

Estes mecanismos, em um regime de concorrência perfeita, tendem a convergir

para um ponto de equilíbrio entre oferta e demanda.

Várias são as teorias sobre a natureza e origem dos preços e do valor,

assim como as leis que regulam os preços das mercadorias e explicam sues

variações.

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QUADRO 4

,.,

A REAÇAO EM CADEIA DE DEMING

llEUlJII

QUALIDADE DE

ClllFOIIIAÇil

CUlD�Il"r.ua IIIna. R.i!1Ia 1110

",no. 1'1'01 !rOR A ra.,. 11.1 OI' 1110 do ""O

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FONTE. DE"IN8, W.E. "QUALIDADE. A REVOLUÇÃO "� AD"INISTRAÇÃO·

21

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Dean (1981), com uma visão mais voltada para marketing, entende que o preço sofre ajustes ao longo do ciclo de vida de um produto. Assim, o apreçamento adequado depende do desenvolvimento de três aspectos de maturidade do produto:

=> maturidade técnica, indicada (i) pela taxa declinante do

desenvolvimento do produto; (ii) pela crescente uniformização da . concorrência e (iii) pela crescente estabilidade dos processos de

fabricação e dos conhecimentos a seu respeito.

=>maturidade de mercado, indicada (i) pela aceitação, por parte

do consumidor, da idéia básica do serviço e (ii) pela crença

generalizada de que os produtos da maioria dos fabricantes terão

desempenho satisfatório.

=>maturidade competitiva, indicada pela crescente estabilidade de msrket share e da estrutura de preços.

Para este autor, o ponto de viste dos consumidores é o fator mais importante a se considerar no apreçamento. O preço ótimo de um produto é

aquele suficiente para torná-lo um investimento irresistível em comparação com suas alternativas. Se existe um "adicional de superioridade" que

possibilite a um produto ser apreçado acima de seus concorrentes ou substitutos, este irá diferir segundo usos, produtos alternativos e entre categorias de produtos.

Morris afirma que um princípio fundamental na determinação de preços

baseada no mercado é reconhecer que preço é uma declaraçAo de valor e

não uma declaração de custos (Morris, 1994, pg.2). A ineficiente determinação de preços que existe atualmente deve-se ao fato da cobertura de custos (cost plus) e não o valor para o cliente ser o fator mais relevante na política de preços

na maioria das empresas.

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Segundo Zeithaml (1987) os clientes têm pelo menos quatro definições

de valor:

"Preço baixo", quando valor está associado a situações em que o

que vale é pagar um preço reduzido para determinado bem.

"Obter o que se espera de um produto", quando os consumidores

concentram-se nas suas estimativas subjetivas da utilidade ou

quantidade de satisfação de necessidades resultantes de uma

compra.

"Qualidade que se obtem pelo preço pago", quando a qualidade

é dividida pelo preço de cada altemativa disponível e a que

produzir o maior quociente representará o melhor valor.

"Aquilo que se obtem pelo que se paga", quando o melhor valor é

visto como o que oferece o maior benefício pelo menor preço.

Jain (1990) analisa a questão de possíveis diferenciações de preços

para mercados distintos. Dependendo do produto, um pequeno decréscimo no

preço pode ser o meio mais eficaz de aumentar a penetração em alguns

mercados, especialmente naqueles onde existe alta sensibilidade a preços e os

produtos não são altamente diferenciados. A adaptação é justificada

considerando-se que custos de manufatura, preços da concorrência e alíquotas

e taxas variam de país para país. Um preço de exportação, por exemplo, é

afetado por três fatores básicos: (i) o destino, ou quem vai comprar a

mercadoria (se é o cliente final, um distribuidor ou uma subsidiária); (ií) a

natureza do produto (matéria-prima, bens de consumo, bens manufaturados ou

serviços) e (iii) a moeda utilizada para pagamento.

Garvin (op. cit.) entende que, embora muitos estudos tenham sido

realizados na tentativa de se estabelecer uma correlação entre preços e

qualidade, os resultados foram inconclusivos. Adicionalmente, Morris (op. cit.)

ressalta que muitas vezes o preço é manipulado pelas empresas como uma

indicação de qualidade, na ausência de qualquer outro conhecimento ou

informação sobre o produto ou serviço. Além disso, quando os compradores

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sentem-se confusos e desinformados em relação aos atributos e à capacidade

de performance de um produto, é possível que eles tendam a perceber o preço

como um indicador de qualidade.

Este autor conclui que a relação preço-qualidade toma-se muito menos

clara quando outras pistas e informações estão disponíveis. Fatores como

imagem de marca estabelecida, propaganda e experiência de compra por parte

dos clientes tendem a modificar e,em certos casos, minimizar esta relação.

Em resumo, diante do que foi exposto ao longo desta seção, observa-se a

pluralidade de definições e a subjetividade em conceituar-se qualidade. As

múltiplas visões (produto, produção, usuário) e os correlatos entrelaçam-se

ao longo do processo produtivo, desde o projeto até satisfazer efetivamente

as necessidades do consumidor final.

o grande diferencial que representa o novo paradigma gerencial da

qualidade é a capacidade da empresa manter uma atitude proativa, antecipando­

se na descoberta de diferenciais que acarretem em aumentos de competitividade.

O dinamismo desta postura traduz-se pela busca constante de aprimoramento e,

ao mesmo tempo, serve para deslocar a questão da qualidade - antes vista como

variável a ser controlada e assegurada - em direção ao planejamento

estratégico das organizações, como será visto a seguir.

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11.2 - O NOVO PARADIGMA GERENCIAL DE QUALIDADE

O foco desta seção está em identificar as características básicas de

distintas etapas do papel da Qualidade nas empresas e apresentar a nova

concepção estratégica de qualidade, para que seja possível posteriormente

mapear as empresas estudadas.

11.2.1 - A Evolução Histórica da Importância da Qualidade

As diferentes facetas do conceito de qualidade não são somente fruto de

uma subjetividade na sua definição, mas também refletem as transformações

que o papel da qualidade sofreu dentro das organizações. Assim, desde o

aparecimento da inspeção até o novo paradigma da gestão estratégica da

qualidade um longo caminho foi criado, caminho este ainda não totalmente

percorrido por muitas empresas supostamente modemizadas.

Boa parte das recentes abordagens da qualidade foram surgindo

através de uma evolução regular e não de inovações marcantes. Garvin (op.

cit.) distingue quatro "eras da qualidade" a saber: (i) a inspeção; (ii) o controle

estatístico ; (iii) a garantia e (iv) a gestão estratégica. O que se apresenta a

seguir tem como fonte de referência básica a obra de Garvin.

A Inspeção

No passado, quando o sistema produtivo era basicamente artesanal, a

obtenção de qualidade era uma questão de entendimento direto entre clientes e

artesão.

Com o advento da Revolução Industrial e da produção em massa, a

indústria passou a se orientar segundo uma lógica de divisão do trabalho e de

aumento contínuo de produtividade. A necessidade de peças intercambiáveis,

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devido ao aumento no volume de produção, levou à aparição de uma inspeção

fonnal, além da criação de um sistema racional de medidas, gabaritos e

acessórios.

o amadurecimento do processo produtivo, sobretudo nos Estados

Unidos, trouxe a separação formal entre engenheiros projetistas e operários.

A importância da inspeção levou alguns autores do início do século vinte,

como Taylor, a legitimizar esta atividade, cabendo aos operários e mestres

atender às necessidades do inspetor de forma rápida e eficiente.

Assim, as definições de qualidade desta época estavam associadas

exclusivamente ao controle de qualidade na produção e ao uso da inspeção de

produtos acabados (através de intrumentos denominados calibradores) para

separar a parte que deveria ir para o mercado da parte que deveria ser rejeitada

(Figueiredo, 1979) .

A ênfase na conformidade era ratificada pela idéia de que o principal

interesse do consumidor na qualidade era a igualdade ou uniformidade nos

produtos, sendo esta obtida devido ao fato do fabricante atender às

especificações estabelecidas (Radford, Apud Garvin, op. cit.).

o Controle Estatistico da Qualidade

A publicação, em 1931, dos trabalhos desenvolvidos por W. A. Shewhart

nos laboratórios da 8eU Telephones representou uma verdadeira inovação para

o desenvolvimento do controle de qualidade. Separando causas anormais de

variação daquelas inerentes ao processo de produção, tomou-se possível

diferenciar problemas reais de problemas atribuídos ao acaso.

o reconhecimento da variabilidade no processo de produção levou à

adoção de métodos estatíticos, cuja finalidade era estabelecer, através da

observação de experiências passadas, limites nos quais a variação de um

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determinado fenômeno (produto) fosse aceitável. As amostras para

observações passaram a ser retiradas durante a produção, ao invés de se

esperar a finalização da montagem dos produtos.

Durante a " Guerra Mundial, estas idéias, até então restritas ao

conhecimento de especialistas, foram mais amplamente definidas, sobretudo

com o estabelecimento do Nível de Oualidade Aceitável (A.O.L.). Este se

traduzia pela percentagem máxima tolerável de elementos defeituosos num

determinado lote de produção. A inspeção passava a assumir comportamentos

mais rigorosos ou não, conforme os produtos estivessem ou não acima do

A.O.L. Desta maneira, além das especificações de fabricação, tomou-se

também necessário conhecer as especificações de aceitação.

Paralelamente, verificou-se um grande desenvolvimento dos aparelhos de

medir precisão e de técnicas para estabelecer padrões e níveis de aceitabilidade

por amostras, cujo maior destaque foi o Military Standard 1050'

Por estar intimamente associado a métodos estatísticos, o controle de

qualidade apresentava nesta época um impacto quase que exclusivamente

fabril. Esta situação perdurou ainda ao longo das décadas de 40 e 50, até que

autores como Juran, Deming e Feigenbaun apresentassem uma nova

abordagem sobre o papel da qualidade na empresa.

1

o Military Standard 105D foi o mais difundido e u tilizado plano de

aceitação por amostragem no mundo. Ver Garvin, op. cito notas bibliográficas, pg. 229, número 19.

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A Garantia de Qualidade

o conceito de controle foi evoluindo para o de garantia de qualidade a

medida que se entendia que era fundamental obter qualidade desde a fase de

projeto do produto. Em lugar de controlar apenas a saída de produção, era

importante controlar a qualidade dos fomecedores, da matéria-prima, dos

empregados e do fluxo de produção (Milet, 1990). Consequentemente, a

qualidade passou de uma disciplina restrita e baseada na produção fabril para

uma disciplina com implicações mais amplas para o gerenciamento, expandindo

seus instrumentos para muito além da estatística.

A primeira consequência desta nova abordagem foi perceber que a

qualidade poderia ser mensurada via custos da sua "não-obtenção". Em

1951, Juran (op. cit.) formula a Economia da Qualidade e, através de uma

analogia com o "ouro nas minas", afirma que cada falha descoberta

representa uma oportunidade de reduzir custos, via melhoria de qualidade. Os

resultados seriam um aumento de produtividade e ganhos expressivos de

compeüüvidade.

Um passo adiante foi dado por Feigenbaun; para este autor, nenhum

produto teria altos níveis de qualidade se o departamento de fabricação

trabalhasse isoladamente. Surge o Controle Total da Qualidade (TQC):

• O TQC é um sistema eficaz para a integraçDo dos esforços dos

diferentes grupos da organizaçDo em desenvolver, manter e

aperfeiçoar a qualidade, começando o controle pelo projeto do

produto e só terminando quando o produto tiver chegado às mIJos

de um cliente que fique satisfeito· . (Feigenbaun, op. cit., pg. 6)

A qualidade, então, passava a ser um trabalho de todos e a existência de

equipes interfuncionais tomou-se essencial para assegurar a representação

de pontos de vista variados e que departamentos, a princípio autônomos,

trabalhassem juntos.

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Embora não difundidas na mesma época no Ocidente, as proposições

de Deming tiveram enorme aceitação na indústria japonesa. Através do

controle estatístico dos processos e do ciclo denominado PDCA (planejar,

fazer, verificar, agir), Deming salientava a importância que cada funcionário

deveria ter como responsável pela qualidade de seu trabalho.

A maior penetração dos ideais de qualidade nas empresas fez com que

surgissem duas novas disciplinas: a engenharia de controle de qualidade e a

engenharia de confiabilidade.

A primeira resultou do maior escopo do sistema de qualidade, que

agora incluiria, além do controle de produção, o desenvolvimento de novos

produtos, a seleção de fornecedores e o atendimento a clientes. Esta nova

função estaria relacionada com o planejamento da qualidade em alto nível, a

coordenação das atividades de outros departamentos e o estabelecimento de

padrões e medidas.

A segunda buscava, através de uma forte crença em métodos estatísticos,

garantir um desempenho aceitável do produto ao longo do tempo. A

confiabilidade era definida como a probabilidade de um produto desempenhar

uma função especificada sem falhas, durante um certo tempo e sob condições

pré-estabelecidas. (Budne, Apud Garvin, op. cit.)

A fabricação de um míssel em perfeitas condições, nos Estados Unidos,

representou mais um passo além na garantia da qualidade: a busca do

defeito zero.

A filosofia implícita neste novo desafio era procurar motivar e

conscientizar os funcionários de uma empresa, de forma a promover uma

vontade constante de fazer o trabalho (qualquer trabalho) da maneira certa da

primeira vez. (Teboul, op. cit.)

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Zero defeito foi o último movimento de destaque na era da garantia da

qualidade. Estas transformações, no entanto, haviam sempre assumido um

caráter preventivo e interno à organização. A qualidade ainda era vista

negativamente - como algo que poderia prejudicar a empresa se deixada de

lado - e não como uma possível base de concorrência. A qualidade, que

inicialmente tinha sido controlada e posteriormente assegurada, deveria agora

ser inserida dentro de uma dinâmica ofensiva (Teboul, op. cit.). Para isto, nada

mais natural do que passar a incluir no planejamento estratégico da organização

uma nova dimensão, visando a satisfação das necessidades do cliente.

11.2.2 - A Gestão Estratégica de Qualidade

Embora não seja possível precisar o aparecimento deste novo

paradigma, pode-se dizer que representou uma resposta estratégica

da empresa diante de uma série de transformações externas. Dentre

estas, merecem destaque o acirramento da concorrência internacional

e a maior conscientização do c/iente.

Este notável desvio de perspectiva é resultado de um maior interesse,

por parte da alta gerênCia administrativa, pela qualidade. Esta passou a

ser associada à lucratividade, buscando-se incluí-la no planejamento estratégico.

Acima de tudo, a qualidade toma-se instrumento para se buscar ganhos de

competitividade.

Adicionalmente, segundo Teboul (op. cit.), busca-se alinhar

permanentemente a empresa com a satisfação do cliente e as vantagens

diferenciais que este percebe. Entende-se que os competidores estarão

sempre preenchendo estas diferenças e criando novas vantagens

comparativas que precisarão ser ultrapassadas. Assim sendo, a qualidade

é tomada comparativamente e percebida como um processo dinâmico, no

qual a satisfação (relacionada com aquilo que é oferecido pela concorrência) é

obtida durante a vida útil do produto, e não apenas no ato da compra .

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Para Garvin (op. cit.), quanto mais claro se torna o link entre

qualidade e rentabilidade, mais a alta gerência sente-se disposta a superar os

níveis de qualidade dos concorrentes. As metas tornam-se "alvos móveis",

reformulados em níveis cada vez mais altos; o objetivo é a melhoria

continua e não mais o alcance do Nível de Qualidade aceitável (A.a.L.).

Esta nova filosofia demanda uma dedicação intensa ao processo

de melhoria, bem como o comprometimento de toda a empresa. Em outras

palavras, a especialização técnica continua existindo, mas passa a ser

enfatizada uma melhor compreensão dos objetivos estratégicos da empresa.

A qualidade deixa de representar policiamento, sendo encarada sob um prisma

mais gerencial.

Falconi (op. cit.), em concordância com Juran, chama o processo de

melhoria contínua de "rompimento" ( breakthrough ) ressaltando que a

qualidade, a produtividade e a posição competitiva da empresa

dependem diretamente do resultado de cada pequeno procedimento, como se

fosse o elo de uma corrente.

Esta abordagem holístíca é reforçada por Teboul (op. cit.) quando diz

que a dinâmica da qualidade deve desenvolver-se em cada processo,

estender-se dentro do sistema da empresa e ampliar-se, englobando ou se

aliando a outras missões tais como prazos, custos e flexibilidade. Desta forma,

uma política administrativa que conduza à satisfação social das pessoas

envolvidas na empresa (empregados, acionistas, fornecedores, clientes ou

vizinhos) é uma necessidade e não uma posição paternalista ou uma política

de concessões.

A preocupação com o elemento humano é um dos pontos

cruciais desta abordagem. A conformidade, enquanto associada ao

conhecimento dos processos produtivos, torna-se apenas uma das

múltiplas dimensões competitivas da qualidade e um primeiro passo

estratégico. Embora necessária, esta não é suficiente para oferecer aquilO que

diferencia e toma o produto competitivo. Este "algo mais" vai depender

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essencialmente de uma transformação na mentalidade das lideranças

empresariais (Jameson, 1 991 ) , de forma a permitir que o novo paradigma seja

devidamente interiorizado em todos os ambientes organizacionais. Estaria então

caracterizada o que Roth (1990) chama de fase 111 no continuum de

qualidade, o Nirvana:

"(. . . )Partíndo da liderança, a cultura da qualidade sustenta um

compromisso da organização como um todo para a melhoria

continua de produtos, processos e serviços através do

fortalecimento de empregados, fornecedores e clientes; a

aplicação de técnicas qualitativas formais; e um ambiente

operacional favorável . • (Roth, op. cit. , pg. 26)

Assim, como conclui Garvin, (op. cit.) a gestão estratégica de

qualidade é mais uma extensão das fases antecessoras do que uma

negação às mesmas. O quadro 5 resume as principais características de cada

fase.

Se a qualidade for vista apenas como um sistema de controle nunca será

substancialmante melhorada; na verdade a qualidade toma-se "gerenciável", pois

requer, como qualquer outra área da empresa, (i) a formulação de estratégias, (ii)

o estabelecimento de metas e objetivos, (iii) a elaboração, e posterior

implementação, de planos de ação e (iv) a utilização de sistemas de controle

para o acompanhamento do feeciback e a adoção de medidas corretivas.

A Definiçio de Estratégias Competitivas e as DlrnensOes da Qualidade

A constatação de que a qualidade não se limita à conformidade viabiliza a

compreensão de que aquela perrneia todas as atividades da empresa.

Adicionalmente, toma-se possível compreender qualidade como um conjunto de

dimensões nas quais pode ser desmembrada para fins de gerenciamento. Estas

dimensões, segundo Garvin (op. cit.) refletem as diferentes percepções com que

os consumidores avaliam os produtos.

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33

QUADRO S

AS OUATRO PRINCIPAIS ERAS DA OUALIDADE

INSPXÇÁO CONTROLE GARANTIA DA GXRÍtNCIA

ESTATtSTICO QUALIDADE XSTRA TÉGICA DA

QUALIDADE

Preocupação Verificaçio Control. Coordenaçto Impacto Estratégico

Básica

Visão de Um Problema a ser Um Problema a ser Um Problema a ser resolvido. mas Uma Oportunidade de

Qualidade resolvido resolvido que sei. enfr.utado proalivam_ Concorrincia , Enfase Uniformidade do Uniformidade do Toda. C .... i. de Produçao. desde As Necessidades de

Produto Produto com menos o Projeto até o �, e a Mef'Cado e do Consumidor

Insp.ç" Contribuição de todos os Grupos

Flm-cionais, especialmente os

Projetistas, para impedir Falhas

na Qualidade

Métodos lnsInm:leotos de lnstrumentos e Programas e Sistemas Planejamento Estratégico,

Medição Técnicas Estatisticas Eslabelecimento de

Objetivos e a Mobili.zaçilo

da ..

Papel dos Inspeção, Soluç" de M.....-.çAo • PI .... jumento da Estabelecimento de

Profissionais Classificaçêo, Problemas e Qualidade e Projeto de Programas Objetivos, EducaçAo e

da Contagem . Aplicação d. Treinamento. Trabalho

Qualidade AvaliaçAo Métodos Estatisticos Consultivo com Outros

Departamentos e

Delineamento de

Pro .......

Responsável Departamento de Departamento de Todos os Departamentos. embora Todos na Empresa,. com a

pela Inspeç" Produç .. . de a Alta Gcrincia se envolva Alta Gerência exercendo

Qualidade Engenhari. perifericamente com o Projeto. forte Lidmmç.

Planejamento e ExecuçAo das

Politicas da Qualidade

Orientação e "inspeciona" a "comrola" a "coosirói" a Qualidade "gerencia" a Qualidade

Abordll!!em Dualidade Qualidade

Fonte: Garvin, D. "Gerenciando a Qualidade" , 1992, pg. 44.

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Este autor caracteriza então oito dimensões nas quais o conceito de

qualidade poderia ser desagregado; conhecê-Ias significa poder determinar em

quais nichos competir: (i) o desempenho; (ii) as características; (iii) a

conflabilidade; (iv) a conformidade; (v) a durabilidade; (vi) o atendimento; (vii)

a estética e (viii) a qualidade percebida.

A multiplicidade de faces da qualidade implica em muitas maneiras de

se diferenciar os produtos, seja por atributos mensuráveis, preferências

pessoais, características intrísecas ou atribuídas. Gigch ( 1 977), por exemplo,

afirma que a qualidade é uma composição de (i) fatores intrínsecos ao produto,

isto é , que lhe são agregados via projeto, insumos e métodos de inspeção e (ii)

fatores extrínsecos, que não se originam no processo de produção e estão

mais relacionados às dimensões de estética e qualidade percebida.

Crosby (op. cit.), por outro lado, destaca a segurança, não só como uma

dimensão de qualidade, mas como um compromisso ético da empresa.

Assim, uma empresa que opte por competir em qualidade pode fazê-lo de

diversas formas, isto não significando um dever de se obter excelência em

todas as dimensões acima citadas. Para certos produtos, podem existir

restrições tecnológicas e de custo, além de incompatibilidade entre algumas

dimensões.

Na verdade, afirma Garvin (op. cit.), raramente a excelência em todos os

aspectos é uma necessidade para enfrentar a concorrência; a abordagem

direcionada pode levar a ótimos resultados, contanto que as dimensões

selecionadas estejam bem ajustadas às necessidades de mercado.

Uma outra estratégia, para uma empresa que tenta penetrar em um

mercado cuja excelência das l íderes é reconhecidamente comprovada,

reside em procurar concentrar-se numa dimensão defensável ainda não

explorada da qualidade.

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3S

Cabe ressaltar que um erro comum é buscar dimensões da qualidade de

um produto que não tenham importância significativa para o público-alvo. Daí a

relevância, no planejamento estratégico, de se considerar uma pesquisa de

mercado que identifique as dimensões de qualidade significativas para os

consumidores de um determinado produto. Adicionalmente, a compreensão do

peso de cada dimensão na formação das preferências dos consumidores

possibilita saber quais as suas taxas de substituição de dimensões.

Rocha e Christensen (1990) sugerem ainda estudos comparativos entre

clientes e nã<H:Iientes. Além disso, reforçam a argumentação acima, com o

exemplo de um fabricante de lingerie que declarou ser qualidade em seu

produto a durabilidade, mostrando seguramente uma total inadequação entre o

seu pensamento e as expectativas dos consumidores. O resultado, neste

caso, foi a perda de market share para empresas mais envolvidas com outros

apelos de qualidade.

Em linhas gerais, a relação entre os atributos do produto e as dimensões

desejadas quase nunca é perceptível de imediato. Traços como durabilidade

e confiabilidade raramente podem ser observados antes da compra. O

importante para fins estratégicos é ter claras as dimensões críticas de

qualidade no mercado em que se compete, tomando possível à empresa

relacioná-Ias a atributos especificos de seu produto. Desta forma, consegue­

se estabelecer objetivos precisos e mensuráveis para os projetistas e designers

do produto.

Slack (op. cit.) apresenta uma solução para que seja estabelecido

corretamente o link essencial entre as propostas do marketing corporativo e

o processo manufatureiro, através da classificação dOS atributos acima citados

em ganhadores de pedidos e qualificadores .

Os atributos ganhadores de pedidos são aqueles que diretamente

contribuem para a geração de negócios e que mais influenciam o

cliente nas suas decisões de negociação com a empresa. Trabalhar

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36

intensivamente estes atributos significa aumento e/ou melhoria nos

negócios da empresa.

Os atributos qualificadores, embora não determinantes do sucesso e do

diferencial competitivo, representam aspectos que precisam estar acima de um

nível crítico para que a empresa possa ser considerada pelo cliente.

Desta forma, a empresa é prioritariamente avaliada pelo cliente

através de seu desempenho nos atributos ganhadores de pedido. Apesar

de qualquer melhoria nos atributos qualificadores não se traduzir por benefícios

significativos de competitividade, estar abaixo do n ível de qualificação implicará

na inexistência de um negócio. Os atributos ganhadores de pedido possibilitam

aumentar o market share enquanto os qualificadores permitem a

manutenção do mesmo.

Hil l ( 1 989) evidencia a dificuldade em se classificar os atributos

segundo o critério acima, ao se observar o dinamismo das respostas dos

consumidores e da concorrência. Alguns atributos vistos como ganhadores de

pedido (como o preço, em alguns mercados) podem tornar-se qualificadores a

medida em que a concorrência como um todo passa a oferecer estes

atributos. Analogamente, certos atributos qualificadores podem apresentar

um maior risco de serem "perdedores de pedido" do que outros.

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Controle e Aperfeiçoamento de Processos: A Abordagem Técnica

Um passo primordial para que a melhoria contínua esteja devidamente

incorporada na estrutura empresarial é a reformulação e o posterior controle,

através do conhecimento dos processos de fabricação do produto.

Um processo pode ser definido, coma uma série de atividades de

transformação nas quais se recebe um insumo ( input ), agregando-Ihe valor e

tendo como resultado ( output ) um produto final (Harrington, 1988, pg. 161). A

esta definição, adiciona-se a idéia de Teboul de processo como uma

combinação de trabalho, equipamentos, informação, matéria-prima e métodos

visando um resultado.(Teboul. op. cit. )

Por sua vez, o conceito de controle passa a ser entendido na gestao

de programas de qualidade, segundo Falconi (op. cit.), como significando

administração, gerência.

Para Teboul (op. cit.), a melhoria de um processo é caracterizada por uma

transformação: deixa-se de enfatizar (i) a mensuração das características finais

do produto e (ii) a triagem (inspeção), baseada nos limites de aceitação do

resultado. Ao invés disso, busca-se (i) conhecer e distinguir os parâmetros

importantes que influenciam no processo e (ii) reduzir a dispersão.

o objetivo neste caso é passar do controle dos resultados ao domínio

do processo. Esta aprendizagem deve servir de referência e ser transmitida sob

forma de padrão operacional. Um outro ponto essencial, destaca este autor,

é prevenir os problemas e controlar os processos físicos precedentes:

"(. . .)Se a responsabilidade do controle de qualidade for entregue a

um especialista de inspeção, o problema estará sendo jogado

para o final da linha, privando o operador de um retomo de

informaç6es essenciais e o levando a tomar atalhos, fazer

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simplificações, uma atitude descompromissada que ele se crê no

direito de tomar, já que existem pessoas para filtrar, triar e corrigir"

(Teboul, op. cito pg. 92)

38

A responsabilidade sobre a qualidade é importante demais para ser

confiada unicamente aos especialistas. Embora lhes seja dado o

compromisso de garantir a qualidade, quem organiza e melhora o processo são

os operadores, "criadores" de qualidade. Feigenbaum (op. cit. ), porém, faz a

seguinte ressalva: "Por ser a qualidade um trabalho de todos no negócio, esta

corre o risco de se tornar um trabalho de ninguém." (Feigenbaum, op. cito PQ. 158)

Muitos autores propõem que a forma mais adequada de se controlar e

aperfeiçoar processos está em seguir os passos do Ciclo de Shewhart, depois

conhecido como Ciclo Deming ou PDCA ( plan, do, check, act )

(Deming,op. cit, pg. 66) O quadro 6 i lustra este Ciclo.

Falconi (op. cit.) dicotomiza o controle de processos em Rotinas e

Melhorias, representando respectivamente prevenção (em processos

repetitivos) e criação (em processos não-repetitivos) de mudanças. Para cada

um corresponderia um Ciclo PDCA, considerando-se no entanto que um

processo não-repetitivo possa conter muitos processos repetitvos e vice-versa.

O primeiro estágio do ciclo, o Planejamento, refere-se à necessidade

de definir claramente . objetivos e especificações, segundo procedimentos

operacionais que possam ser reproduzidos e comunicados. Pode ser, por

exemplo, o estabelecimento de padrões e metas.

No segundo estágio, Execução, devem ser observados alguns pontos

referentes à preparação, planejamento e prevenção (Teboul, op. cit.): (i)

procurar simplificar o produto e o processo; (ii) enfocar e integrar o processo,

passando aos responsáveis pelas operações um conjunto integrado de

atividades, retomando uma lógica de produto e não de função; (iii) capacitar o

processo, tornandCHl passível de dar o resultado esperado dentro dos

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QUADRO 6 CICLO P D C A

PLANEJAR

FAZER

[ Fonte: Deming, W.E. "Qualidade: a Revolu9ão na Administração"

W \O

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limites aceitáveis; (iv) antecipar problemas e tornar processos confiáveis; (v)

reduzir as fontes de confusão, decorrentes de modificações súbitas ou má

informação e (vi) delegar mais responsabilidade aos operadores, através de

uma melhor formação.

A terceira fase, Controle, engloba a utilização dos tradicionais

métodos como o Controle Estatístico de Processos, visando comparar o

produto com os padrões e metas estabelecidas e verificar se está de acordo

com as normas de fabricação. Um outro ponto é procurar reduzir a

dispersão, entendendo que normas e padrões não são referências estáticas

ou definitivas. Um exemplo de procedimento de controle, ao se constatar uma

anomalia, é ilustrado no Quadro 7.

Finalmente a última fase, Ação Corretiva, é caracterizada por Falconi

(op. cit. ) como composta por dois estágios: (i) a remoção do sintoma, para

que o processo volte a funcionar e (ii) a procura obstinada pela causa

fundamental (análise de processo) até que esta seja eliminada para sempre

(bloqueio). Esta fase é , para Deming (op. cit. ), o momento de reflexão em tomo

dos resultados obtidos, procurando verificar seus ensinamentos e o que se

pode prever com os mesmos.

Tendo observado que em um processo, se os resultados e objetivos

são identificados e compreendidos e se os operadores conseguem medir

diretamente suas ações, através de domínio e conhecimento dos processos

nos quais atuam, a idéia do aperfeiçoamento é mais facilmente assimilada e

possível de ser ampliada para o sistema como um todo. A questão então

passa a ser menos técnica e mais voltada para canais de comunicação.

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Q U A D R O 7

Há UJIIi\ anORa I i a

Há espec i f i cação ,-----1 referente a

esta anotlal ia?

S M

UIIIa função que não a tende

as espec i f i cações

Hão está de acordo COlll o prev i sto

Nova regulagen e revi são

do processo

Agora, a peça

está de acordo

A pe� fOI MI fabr i cada.

+ Erro de •

fabr i caça0.

A peça cont i nua

1110 estando

de acordo

o �rocesso � I ftal conceb i do. Nao é poss lvel fabr i car a

peça con este processo.

+ -Erro de concepçao do

processo.

FONTE: HARR I N6TON, H . J . "O PROCESSO 00 APERFE IÇOAMENTO"

4 1

rever as..l espec i f i caçoes

Está confol'llle ao

p lano

A peça fOI lia I conceb i da.

+ Erro de •

concepçao.

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Transmitindo a Mensagem: a Arte de Comunicar Qualidade

A Qualidade Total representa um maior comprometimento da empresa

com as necessidades do cliente, diante de um cenário profundamente

competitivo. Isto implica necessariamente em reestruturações, sendo

comprovadamente uma tarefa árdua e de longo prazo. A transmissão

deste novo pensamento é o grande desafio imposto ao gerenciamento

estratégico; muitas organizações fracassam porque não entendem como se

transmite Qualidade.

Varian ( 199 1 ) afirma que a estratégia de comunicação é o aspecto

menos compreendido e de gerenciamento mais simplório das implementações

de um programa de Qualidade Total. No passado, assim como a qualidade era

uma barreira para evitar que os produtos ruins chegassem às mãos dos

consumidores, também a comunicação servia para evitar que as más notícias

saíssem dos domínios da corporação em direção ao público ou aos

empregados. Hoje em dia, porém, Quimby, Parker e Weimerskirch ( 1 991 )

salientam que, ao encarar a qualidade com mais seriedade, a empresa

precisa também refinar a comunicação interna.

Informar, simplesmente, às pessoas da organização sobre a qualidade

total não é suficiente; é necessário que elas sejam motivadas a buscar

um papel mais ativo. Qualidade representa mudança (seja esta cultural e/ou

comportamental ) e diante deste contexto, comunicação deve ser entendida

como qualquer interação que aumenta a probabilidade desta mudança de

comportamento, tanto individualmente como da organização como um todo

(Quimby, op. cit.).

Para McLaurin e Betl ( 199 1 ) , cabe à gerência reconhecer as relações

entre ( i ) a implementação da Qualidade Total, ( i i ) as mudanças culturais e

comportamentais necessárias e ( i i i) a comunicação que deve ser

assimilada pelos indivíduos na organização. Assim, para estes autores, a

gerência é vista como o vértice de um triângulo, cuja função é dar suporte às

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outras pontas representadas pelos consumidores e as pessoas que trabalham

dentro da empresa.

Jameson e Soule (op. cit. ) preferem enfatizar que a responsabilidade

sobre este papel, em face a um ambiente de constantes transformações e

cada vez mais complexo, cabe à liderança. Entendem assim, que l iderança e

gerência são sistemas de atuações distintas e complementares, estando a

primeira mais ligada à mudança, enquanto a segunda está mais

relacionada com planejamento:

"(. . .) Gerentes desenvolvem seus projetos organizando e

controlando.(. . . ) Eles planejam, orçam e se organizam utilizando

as técnicas aprendidas nas escolas de negócios. Líderes, por

outro lado, procuram atingir suas metas através da motivação e

da inspiração. " (Jameson e Soule, op. cit. , pg.84)

Os autores procuram, com esta proposlçaO, deixar claro que a

implementação da Qual idade Total em uma empresa não se resume à aplicação

de técnicas. Apesar de existirem princípios e tecnologias universais de

qualidade, não há uma receita padrão de suas implementações.

Desta maneira, o que Quimby, Parker e Weimerskirch (op. Clt. ) propõem é

a existência de lideranças conscientizadas da forma pela qual a qualidade

influencia no sucesso organizacional, pois somente assim estarão aptas a

selecionar a abordagem mais adequada de um programa de qualidade em suas

empresas. Além disso, os líderes devem entender que a sua forma de comunicar

qualidade através das decisões cotidianas deve suplantar o seu desejo de chefiar

projetos de melhoria qualitativa.

Estes autores alertam ainda para a dificuldade de se estabelecer uma

modéstia cognitiva por parte da chefia, que os permita serem menos sensíveis á

estrutura hierárquica da empresa e mais atentos ao que os especialistas têm a

dizer. Embora os executivos não necessitem, obrigatoriamente, de ter um

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conhecimento muito específico, é necessário equipá-los para que possam liderar

através da qualidade. Isto significa compreender como a qualidade se liga a

outras dimensões da empresa tais como a performance financeira e a

competitividade.

Garantido o envolvimento e a conscientização da alta gerência, o

passo seguinte é estabelecer um plano de ação top-down , que esteja

alinhado horizontalmente com os processos de produção e serviços, e ao

mesmo tempo verticalmente com os objetivos da companhia. Teboul (op.

cit. ) entende que a noção de sistema e de organização deve implicar em

solidariedade das partes visando um objetivo comum. Assim, a l iderança deve

motivar os departamentos a saírem de seus "'esconderijos" através (i) do

maior diálogo entre cliente e fomecedor (extemos e intemos); (i i) de grupos

de aperfeiçoamento interfuncionais; (i i i) trabalho em equipe para

desenvolver novos projetos e (iv) formação de parcerias.

Busca-se assim, quebrar as barreiras decorrentes de culturas e

objetivos individualizados em cada departamento, que levam ao

desinteresse e à alienação de qualquer disfunção gerada em outros pontos da

organização.

Juran ( 1 991 ) enfatiza que fazer melhoras coletivas implica na existência de

uma infraestrutura organizacional favorável e de muito trabalho:

"(. . .) Um conselho de qualidade de alto nível é necessário para

dirigir e coordenar a mudança; também o é um processo para

escolher quais projetos devem ser resolvidos. Equipes devem ser

organizadas e (. . .) pessoas devem ser ensinadas a operar em

equipe, bem como diagnosticar problemas e propor soluções.

Cada projeto de melhoria requer múltiplas reuniões de

equipe e muito trabalh�xtra. " (Juran, op. cit. , pg. 82)

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Quimby (op. cit. ) complementa esta observação afirmando que, além da

infraestrutura, um plano deve permitir à organização (i) assinalar papéis e

responsabilidade pelo planejamento e implementação e (i i) criar medidas de

reconhecimento do sucesso. E importante que este reconhecimento seja feito

respondendo perguntas tais como:

a - Para onde se deseja ir?

b - O que é mais importante para cada indivíduo no seu trabalho?

c - Como isto (b) se relaciona com o trabalho dos outros?

d - Como as ações de cada indivíduo ''fazem a diferença"?

O trabalho em equipes implica em treinamento. Este mesmo autor

destaca que as pessoas aprendem algo porque desejam e não porque seus

superiores decidiram enviar-lhes às aulas de qualidade ou porque a qualidade

é o objetivo da organização. Além disso, quanto menos o treinamento

(vídeos, leituras, conferências) estiver relacionado ao cotidiano dos treinados,

menos eficaz será . A fim de que as pessoas aprendam, é necessário que se

relacione aquilO que estão aprendendo a algo que compreendem ou já

experimentaram. Varian (op. cit. ) sugere que, independente da qualidade ser

implementada na organização como um todo ou em cada processo, se

busque permanentemente, como alvos de treinamento, grupos que sejam

reconhecidamente de influência. Este exemplo permitirá aos outros grupos na

organização entender melhor como a qualidade total afeta seus próprios

trabalhos e metas.

Com relação a este ponto, Juran (op. cit.) acredita que a motivação dos

empregados só ocorre quando a idéia de melhoria é incorporada ao trabalho

regular. A melhoria, para este autor, sempre foi algo "incidental" ao

trabalho de rotina, nunca tomando parte da descrição do trabalho de cada

operador. Além disso, Lobos ( 1 991 ) aponta para o risco de muitos no ambiente

produtivo da organização sentirem-se discriminados pelos indivíduos da

área administrativa, o que inviabiliza qualquer tentativa de motivação.

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46

A solução para o relacionamento com os empregados vêm sendo

apontada por muitos autores como estando contida em algo conhecido

como empowerment . Este é definido por Shannon como:

"o potencial pessoal e o clima cultural que permita aos

empregados a co-criação de um ambiente de trabalho no qual eles

individualmente acreditem e prosperem. " (Shannon, 1 991 , pg. 62)

Estimula-se um comportamento mais proativo e participativo de cada

funcionário. A comunicação se torna uma "via de mão dupla": da mesma forma

com que se encoraja as relações entre cliente e fornecedor (sejam

estes internos, externos, dois processos de produção vizinhos) também é

importante, para a liderança, escutar e estimular os empregados a se

envolverem com a qualidade.

A capacitação dos empregados abre caminho para que outro instrumento

importante de comunicação seja trabalhado: o feedback interpessoal, isto é a

divisão de informações referentes à atuação de pessoas em determinada

situação.

Connellan ( 1 99 1 ) adverte que o não-fornecimento de feedback

interpessoal (que se distingue do informacional) pode implicar num efeito mais

negativo do que uma punição: estará representando indiferença ou descrédito.

Este autor analisa brevemente cinco princípios de "reforço" como armas

para garantir o sucesso da implementação de um programa de qualidade.

Entende-se que o reforço é um processo multidirecional, que anda horizontal

e verticalmente pela organização:

( i ) o reforço imediato => a "prontidão" é mais importante do que a intensidade,

pois o reconhecimento tardio nunca valerá o mesmo do que o imediato. Além

disso, o imediatismo tangibiliza mais rapidamente possíveis resultados de

mudanças comportamentais e acelera a formação de novos hábitos.

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( i i ) a especificidade � procura mostrar às pessoas exatamente aquilo que

fazem bem e como as suas ações contribuem para melhorar a qualidade.

Isto deve estar presente em todas as fonnas de comunicação da empresa.

(i i i) o reforço do progresso � tanto quanto a excelência. É o conceito de

melhoria contínua.

(iv) a personalização � de fonna que quem receba o reforço entenda que este

não é um instrumento padronizado de conhecimento.

(v) não confundir reforços e expectativas � há uma diferença temporal entre

ambos, pois as expectativas ocorrem antes das ações.

Por fim, é importante falar dos tradicionais canais de comunicação e

propaganda. Varian (op. cit. ) acredita que a melhor forma de se transmitir a nova

estratégia é através dos canais já consagrados na empresa. A utilização de

um novo canal poderia significar que o programa a ser implementado é

algo estranho e diferente, tanto quanto o seu meio transmissor. Quimby, Parker e

Weimerskirch (op. cit.) não condenam a utilização de propaganda, embora

advirtam que o estilo tradicional (sempre mensagens positivas) não

corresponda às necessidades iniciais de um programa de qualidade, preocupado

também em localizar as falhas e os erros.

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48

1 1 .3 - A QUALIDADE PARA EXPORTAÇÃO

Tendo sido observadas na seção anterior as distintas "eras da qualidade"

e considerados os pré-requisitos necessários para a implementação de uma

gestão estratégica de qualidade em uma empresa, esta seção se propõe a

apresentar as considerações relevantes para decisões que envolvam a questão

da qualidade no mercado externo.

Após uma breve análise da situação mundial, serão abordadas as

diferenças do mercado externo, no que diz respeito à avaliação da qualidade

de produtos exportados. As idéias expostas nesta seção estarão calcadas na

conceituação de qualidade assumida neste trabalho para a proposição de um

modelo, isto é, considerando-se uma orientação que envolva (i) o mercado/cliente

internacional; ( i i ) o produto; ( i i i ) a produção e (iv) os periféricos, inseridos em um

contexto dinâmico e competitivo.

1 1 .3.1 - O Cenário Econômico Internacional

As mudanças que vêm ocorrendo atualmente no ambiente mundial

de negócios apontam para grandes alterações nas relações econômicas entre

os países. A questão básica gira em torno da promoção do multilateralismo por

organismos comandados pelo GATT , vis-a-vis a regionalização de mercados e

formação de blocos econômicos. Adicionalmente, observa-se uma fragmentação

de países cujos regimes políticos provaram-se inviáveis ao longo das últimas

décadas e um forte sentimento nacionalista sobretudo nos países

"desenvolvidos" europeus.

Este cenário conturbado parece indicar, segundo Baptista e Mello ( 1992) a

cristalização de um processo de globalização das relações industriais, comerciais

e financeiras, em torno de três pólOS de atração mundial: ( i ) os Estados Unidos;

( i i ) o Japão ( i i i ) a Comunidade Européia.

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Os E.UA têm demonstrado, em anos recentes, uma maior aproximação

com o Canadá e com o México, caracterizando a adoção de estratégias paralelas

à atuação do GATI. A grosso modo, a união destes países significa para Schott

( 1989) uma melhor alocação do capital e tecnologia dos E.UA, dos recursos

naturais canadenses e da mão-de-obra mexicana. Qualquer acordo bilateral dos

E.UA com o México não deve ser visto, no entanto, como uma possível

tendência à criação de uma ''fortaleza'' norte-americana. Embora próximos

geograficamente, estes países possuem elevados diferenciais de renda per

capita, além de regimes comerciais e n íveis de desenvolvimento distintos.

Analogamente, a recente motivação norte-americana de integrar as

Américas não apresenta significativos desenvolvimentos, tendo em vista os

pesados custos de ajustamento atribuídos aos demais países americanos

economicamente inferiores. A América Latina, de uma maneira geral, tornar-se-ia

satélite de uma economia com características profundamente peculiares em

relação ao setor externo.

A estrutura comercial e industrial do Japão é caracterizada, por uma

simbiose entre governo e iniciativa privada (comércio administrado) e o seu

processo de integração com outros países (sobretudo com os Tigres Asiáticos)

tem se processado via influxo de investimentos e tecnologia.

A Comunidade Européia, apesar das dificuldades que vem

encontrando, é o único destes grupos que pode ser considerado um Bloco

segundo a visão tradicional. Cabe aqui destacar a presente época, cuja

questão fundamental, no que diz respeito a integração, é a transição de uma

soberania "nacional" para uma soberania "compartilhada".

Compreender os diferentes tipos de acordos que podem existir

entre países possibilita refletir melhor sobre a realidade do Mercosul, em

termos de metas alcançadas e a serem atingidas.

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De uma maneira geral, Baptista e Mello (op. cit. ) atestam que os momentos

iniciais de euforia gerados pela perspectiva de unificação global do padrão de

desenvolvimento estão sendo substituídos por um sentimento de dúvida quanto

aos seus desdobramentos. A instabilidade dos cenários futuros se refletirá

sobretudo nos países que precisam de um reposicionamento na economia

mundial, que lhes assegure um ciclo de desenvolvimento sustentado. Este

será o grande desafio para muitos países latino-americanos.

11.3.2 - As Distinções do Mercado Externo

A partir do momento em que uma empresa decide exportar seus

produtos, duas importantes decisões devem ser levadas em consideração: (i)

quais os mercados a serem escolhidos e (i i) qual a melhor forma de penetrar

nestes mercados. (Jain,op. cit. )

Responder a estas questões significa abordá-Ias de acordo com as

possíveis variáveis relevantes para uma estratégia de exportação. Mais

ainda, é compreender, através da análise de fatores culturais, econômicos e

políticos, bem como de questões interrelacionadas tais como (i) a padronização

versus especialização, (ii) a percepção de marca, (iH) o desenvolvimento de

linhas internacionais, (iv) as pol íticas de preço, distribuição, embalagens e

garantias, que a qualidade percebida na exportação envolve múltiplas

dimensões além da conformidade do produto.

No que diz respeito ao mercado/clientes externos, estarão sendo

considerados a seguir os fatores ambientais e a importância do canal

intermediário. Posteriormente, serão analisados os pontos referentes ao produto

exportado, à linha de produção e às embalagens e garantias.

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5 1

Os Fatores Ambientais

A análise do ambiente macroeconômico tem como objetivo principal

mostrar à empresa o seu poder de competitividade diante das empresas já

instaladas no mercado importador potencial.

Examinando o ambiente de competição, a empresa estará mais apta a

definir qual a combinação produto/mercado a ser considerada. Jain (op. cit. )

estabelece que uma empresa pode ter como concorrentes no mercado

internacional três categorias distintas de empresas: ( i ) a local; ( i i ) a de mesma

nacionalidade da empresa em questão e (i i i) outra empresa de nacionalidade

diversa. Distintos competidores podem encontrar também distintos tipos de

demanda neste mercado (demanda já existente, latente ou incipiente), podendo

satisfazê-Ias com caracterizações inovadoras, competitivas ou aperfeiçoadas

de seus produtos.

Para esse autor, a melhor forma de se analisar a competição externa

é através do esboço do perfil demográfico da empresa, pois mercados

dominados por pequenas empresas ou pequenos competidores nacionais são

significativamente diferentes daqueles dominados por empresas multi industriais,

que por seu turno também são diferentes dos mercados dominados por empresas

estrangeiras ou multinacionais.

Partindo agora para a compreensão do papel da cultura dentro do contexto

da escolha de mercados, entende-se que não existe uma única ou mais correta

definição para a mesma, mas diversas conceituações segundo as dimensões

que lhe são atribuídas. Rocha (1 990) afirma que muitos antropólogos procuram

juntar o conceito de cultura com a idéia de um código, uma espécie de l inguagem

compartilhada na qual cada indivíduo, enquanto ator social, existe e troca

mensagens:

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(. . .)A cultura, nesta linha, pode ser vista como um texto de teatro

que aprendemos e representamos e os outros nos entendem e

conosco contracenam, porque também conhecem o texto. Pode

ser vista também como uma teia, metáfora utilizada por Clifford

Geerlz, onde o homem tece seus significados e está a eles preso

e dentro deles vive. " (Rocha, 1 990, pg. 88)

52

Leite, Rocha e Figueiredo ( 1 988) desenvolveram um estudo no Brasil

sobre a associação da percepção cultural, por parte dos executivos de topo das

empresas, às decisões de mercado exportador. Para estes autores, a variável

cultura influi na preparação, aprendizagem, motivação e atitudes de quem

decide. Além disso, está presente na formulação da estratégia da empresa,

orientando o processo de identificação de oportunidades elou determinando

as restrições do macroambiente à implementação desta estratégia.

Adicionalmente, sua importância cresce com a percepção de que não

existem dois indivíduos (decisores) com o mesmo universo cognitivo, nem duas

sociedades (mercados) com culturas iguais.

Gale, Borden e Jeannet ( 1 986) alertam para o risco do decisor cair em

uma das duas dimensões daquilo que denominam "Armadilha de Elefante":

A primeira diz respeito ao fato dos decisores ignorarem fatores culturais

locais, tomando decisões baseadas nas suas intuições pessoais sobre quais

são as necessidades dos consumidores intemacionais e como a empresa pode

satisfazê-Ias. O viés, neste caso, decorre do fato destas intuições estarem

baseadas em experiências vivenciadas dentro do próprio ambiente cultural do

decisor. Quanto mais parecido for o paíS do mercado em potencial com o país do

exportador, maior é este risco. Além disso, as diferenças muitas vezes não

estão tão claras nem mesmo para aqueles que fazem parte do outro mercado.

A outra dimensão refere-se ao risco de superestimar diferenças culturais.

Podem existir desejos universais, que sejam satisfeitos por uma oferta de

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produtos relativamente unifonne. Este é o caso de produtos de qualidade

"tradicionalmente" reconhecida, tais como relógios suíços, algumas marcas de

carro, Coca-Cola,etc . . .

Estas duas possibilidades estão diretamente relacionadas com a questão

da padronização universal de produtos, como será colocado adiante.

Por fim, um último fator a ser considerado é a condição política do país

para o qual se quer exportar. Para Jain (op. cit. ) , problemas políticos afetando

negócios internacionais podem ser associados à questão de soberania de um

país ou à um conflito, seja este interno ou com outros países. Quando isto

acontece, o risco de uma intervenção política nos negócios privados é grande,

sobretudo no que tange às empresas estrangeiras.

A avaliação do risco político deve ser feita segundo (i) o tipo de governo

do mercado para o qual se exporta, a sua estabilidade e o seu gerenciamento

da economia; (ii) as mudanças na política governamental; (iii) a postura do

governo diante do investimento estrangeiro, de outros países e de empresas

privadas e (iv) a proximidade entre governo e cidadãos.

A análise destes fatores ambientais pennite ao exportador obter um maior

conhecimento de seus mercados potenciais e, consequentemente, exportar

produtos mais aptos a atender os desejos dos clientes externos.

Os Canais de ExportaÇão: Intermediários que se tomam Clientes

A importância dos canais de exportação é muitas vezes subestimada

pelas empresas exportadoras, devido à falta de compreensão do papel

exercido pelos mesmos. Azevedo, Rocha e Christensen ( 1988) afinnam que a

capacidade de uma empresa estabelecer um canal de exportação eficaz pode se

constituir no diferencial entre o sucesso e o fracasso em mercados externos.

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54

Estes autores definem canal de exportação como um conjunto de

instituições interagentes, através das quais ocorre o fluxo de bens e serviços

desde o produtor, no país exportador, até os consumidores finais ou usuários

nos mercados importadores. O Quadro 8 mostra uma estrutura simplificada de um

canal de exportação.

O uso de intermediários implica em renúncia, por parte do exportador, de

parte do controle do canal. Para Jain (op. cit. ) , o intermediário pode desempenhar

papel crucial, devido ao seu maior conhecimento do mercado importador

e de suas práticas e regulamentos. Desta forma, é fundamental para o

exportador o desenvolvimento de uma política de motivação dos mesmos, para

que busquem sempre a melhoria de seus desempenhos.

Gale, Borden e Jeannet (op. cit. ) referem-se ainda à importância dada, em

muitos países, ao relacionamento pessoal existente entre varejista e consumidor

final. Ao considerar este fato, o exportador deve se conscientizar que, da

mesma forma que o varejista pode atrair e garantir a lealdade do cliente, o

mesmo pode também "vender negativamente" o produto. Sobre este ponto,

Azevedo, Rocha e Christensen (op. cit.) esclarecem que, no decorrer do

processo que leva o produto do fabricante ao consumidor final, ocorre uma

significativa transformação do input original para o output final. Esta

transformação é fruto de tudo que é incorporado ao produto em sua

passagem pelo canal : imagem, marca, promoção.

Alternativas para que o exportador busque maior controle sobre o canal

são avaliadas por Meira, Figueiredo e Leite (1 988) em estudo cujo foco são

empresas brasileiras de calçados: a nomeação de agentes exclusivos e a

abertura de escritórios no exterior.

Para estes autores, ambas representam uma tentativa de se buscar um

relacionamento mais estreito entre mercado e empresa. Além da minimização de

dificuldades proporcionadas pela distância, os exportadores estariam em

melhores condições de observar as estruturas e os métodos de distribuição,

as características de compra do consumidor, as diferenças culturais, mantendo

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Q U A D R O 8

O CANAL DE EXPORTAÇÃO

I P A I S

D O

E X P O R T A D O R

M E R C A D O

I N T E R N A C I O N A L

PRODUTOR

EXPORTADOR

TRADING CDMPAHY REPRESENTAHTES

IMPORTADOR CDHSÓRCID..oE EXPORTAÇAD

AGENTE/DISTRIBUIDOR NO EXTERIOR

OU I

SUBSIDIARIA NO EXTERIOR

ATACADISTAS

UAREJISTAS

E X P

� A

� O

FONTE : AZEVEDO C . M . · ROCHA A ' CHRI STENSEN K • • "LIDERANÇA NOS CANAI S DE EX�ORTAÇ�O· i n �ER��CIA DE EXPO�TAÇAO NO BRAS IL

55

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56

enfim um contato assíduo com o mercado, fazendo com que o tempo das

negociações se torne mais adequado às partes interessadas.

Por fim, Azevedo, Rocha e Christensen (op. cit. ) entendem que gerenciar o

canal de exportação é atividade extremamente complexa, devido à necessidade

de se coordenar, de maneira harmônica, as atividades de todos os membros,

em face ao grande número de conexões necessárias e o complicador das

diferenças culturais.

1 1 .3.3 - As Considerações de Produto

o Dilema entre a Padronização e a Adaptação

As decisões concernentes à política e planejamento do produto a

ser comercializado externamente são fundamentais para assegurar a qualidade

na exportação. Assim, a elaboração de uma estratégia de produto exportável

deve procurar englobar temas como:

(i) o quanto o produto deve ser adaptado ao mercado externo;

( i i ) quais são os produtos e/ou linha de produtos que devem ser exportados e

(iii) quais são os serviços e garantias que devem ser oferecidos ao consumidor.

Estes pontos serão abordados nesta e nas próximas subseções.

Gale, Borden e Jeannet (op. cit.) estimam que, embora esta não seja uma

regra geral, uma empresa sempre tende a exportar aqueles produtos que já

são bem sucedidos no mercado doméstico:

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"(. . .) O instinto lógico para uma companhia bem sucedida

domesticamente é ampliar a sua experiência - e assim obter cada

vez maiores economias de escala - mundialmente. Muito se tem

escrito sobre a padronização de uma estratégia internacional de

marketing, evidenciando termos como marketing global,

alavancagem internacional e transferência de estratégias"

(Gale,op. cit. , pg. 48)

57

Um artigo escrito por Levilt (1 985) argumenta que distintas preferências

culturais, gostos e padrões são um vestígio do passado, pois os mercados estão

se tomando cada vez mais homogêneos. Para este autor, a uniformização

global de preferências levará, inevitavelmente, à padronização global dos

produtos, das manufaturas e das instituições comerciais.

Alternativamente, Gale, Borden e Jeannet (op. cit. ) mostram que, ao expor

um produto ao mercado externo, é importante reexaminar tanto as especificações

"de prancheta" (referentes à dimensões que podem ser tecnicamente descritas e

mensuradas) como o posicionamento (que engloba elementos que não fazem

parte das características físicas do produto).

Desta forma, certos autores entendem que alguns critérios devem ser

observados, a fim de que seja possível determinar se a adaptação é ou não

desejável e, em caso afirmativo, qual a sua extensão.

A natureza do produto, por exemplo, é um fator relevante. Jain (op. cit. )

acredita que se pode obter uma maior padronização em produtos industriais do

que em bens de consumo. Destes últimos, os não-duráveis são os que

requerem maior adaptação, pois estão fortemente relacionados aos gostos e

hábitos do consumidor.

Um outro ponto abordado por Gale, Borden e Jeannet (op. cit. ) é o grau de

desenvolvimento e similaridade do mercado comprador com relação ao mercado

exportador. Partindo da análise do ciclo de vida do produto, os autores afirmam

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que, muitas vezes, a categoria do produto exportado pode se encontrar em fases

distintas de desenvolvimento nestes mercados.

A existência de um ambiente competitivo também pode servir como

pretexto para a adaptação. Se a empresa não domina o mercado internacional e

existem substitutos próximos para o seu produto, o redesenho pode tornar-se o

diferencial que falta para garantir a atratividade do produto aos olhos do

consumidor.

As condições físicas e climáticas também são fundamentais. Azevedo,

Rocha e Christensen (op. cit. ) revelaram que um dos problemas enfrentados

pelas exportadoras de móveis de madeira no Brasil era descobrir um processo

de secagem adequada para evitar que estes móveis empenassem, quando

submetidos a climas secos e diferentes do clima brasileiro, mais úmido.

Estes argumentos indicam que estar preso à produtos padronizados e

pouco flexíveis pode representar em alguns casos, para o exportador, perdas

irreparáveis nos seus mercados competitivos.

Zaichkowsky e Sood ( 1 989) porém ressaltam que as implicações da

padronização no mercado internacional podem se traduzir em vantagens

potenciais para a empresa, pois as economias de escala levariam a reduções

nos custos unitários. Além disso, o desenvolvimento de um produto universal

eliminaria custos "duplos" em pesquisa e desenvolvimento, design e embalagens.

Assim, padronizar ou não passa a ser uma questão cuja resposta está

em se conhecer as características do produto a ser exportado, bem como as do

seu mercado. Estes mesmos autores salientam que não é possível saber de

antemão, exatamente quais são os produtos candidatos aos mercados globais e

quais são as culturas em processo de homogenização.

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Walters e Toyne (1 989) estimam que, no futuro, devido ao rápido

desenvolvimento da tecnologia, ganharão importância aquelas empresas

projetadas para permitir uma rápida modificação de produtos. Para estes autores,

as barreiras à padronização sempre irão existir, mas ao mesmo tempo,

estratégias de localização e flexibilidade na produção tomarão viável o

atendimento à mercados intemacionais diferentes ou não do mercado exportador.

o Desenvolvimento de Linhas Internacionais de Produtos

o reconhecimento extemo da qualidade de seus produtos pode levar o

exportador a desenvolver l inhas de produtos específicas para cada país

comprador (caso haja mais de um). Jain (op. cit.) apresenta três altemativas para

o desenvolvimento de uma linha de produto:

a - como extensão da linha doméstica, com produtos já existentes;

b - adicionando novos produtos;

c - adicionando, à linha intemacional, produtos não negociados na linha

doméstica.

Para este autor, mudanças (i) na preferência dos consumidores; ( i i ) nas

táticas dos competidores; (i i i) nas restrições legais do país "cliente" e (iv) nos

objetivos da empresa podem justificar uma revisão na composição das linhas de

produção.

Walters e Toyne (op. cit.) citam possíveis estratégias para o

desenvovimento de novos produtos no mercado extemo:

(i) a extensão do produto, que significa projetar o produto no

exterior conservando as características desenvolvidas em um

único mercado, normalmente o doméstico. Esta visão, apontada

pelos autores como um tanto etnocêntrica, produz resultados

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positivos quanto mais o mercado comprador se assemelhar ao

mercado doméstico.

(ii) o desenvolvimento de um "protótipo prêmio", fruto de um

estudo profundo de identificação dos possíveis consumidores e

das condições de uso do produto. Neste caso, os excessos no

desempenho e na qualidade podem ter um efeito "reverso" de

desestimulo à compra do produto, tendo em vista que alguns

atributos podem ser imperceptiveis, ou percebidos apenas

marginalmente pelo consumidor.

(1Ii) o denominador global comum, cujo maior cuidado está em

identificar um relativamente homogêneo e significativo segmento

de demanda que possa ser penetrado por um produtc>-padrão.

60

Modificações constantes na linha de produção podem acarretar a

retirada do produto de determinado mercado ou a modificação do seu perfil.

Esta modificação de produto varia segundo os impactos operacionais na

empresa.

Takeuchi e Porter (1986) entendem como produto "modificado" aquele cujo

impacto das alterações feitas nas suas características físicas tem relativamente

pouca influência nos custos da empresa.

Walters e Toyne (op. cit.) sugerem duas alternativas para serem aplicadas

quando as condiçoes de mercado demandam modificações mais radiceis: (i) a

modularização, que é o desenvolvimento de uma série de componentes

padronizados do produto, aceitos mundialmente e com diversas pOSSibilidades

de combinação e (i i) o desenvolvimento do core-product , que aceite uma

variedade de peças, partes e componentes.

No primeiro caso, observado sobretudo na exportação de móveis, as

partes individuais são desenhadas de forma a permitir o seu intercâmbio e

uma variedade de combinações. A vantagem deste enfoque está em aumentar

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6 1

a flexibilidade da empresa para atender às necessidades específicas dos

clientes, sem incorrer em gastos elevados de adaptação.

Analogamente, o desenvolvimento de um "produto-básico" tem como

finalidade permitir que este produto opere sob as mais variadas circunstâncias.

Este procedimento é muito utilizado para equipamentos agrícolas. Os acessórios

garantem a alteração significativa do produto, propiciando uma combinação

de flexibilidade com um certo grau de uniformidade na apresentação do produto.

1 1.3.4 - A Qualidade na Produção para Exportação

o Controle de Qualidade para Exportação e a Padronização

Todos os produtos que são exportados e, consequentemente, submetidos

à concorrência internacional, necessitam de um respaldo técnico que enfatize a

preocupação do fabricante/exportador em atender às especificações exigidas

pelo cliente/importador. Assim, o estabelecimento de padrões para fins de

controle de qualidade representa um primeiro passo para assegurar que a

empresa, exposta aos mercados mundiais, ofereça produtos de qualidade

confiável, controlada e de maior valia.

Figueiredo (op. cít. )considera que a palavra "controle" em "controle de

qualidade" compreende quatro funções relacionadas aos padrões: (i) o

estabelecimento dos padrões; ( i i ) a comparação do que é produzido com os

padrões estabelecidos; (ii i) a aplicação de ações corretivas quando os padrões

não estiverem sendo obedecidos e (iv) a elaboração de projetos para o

aperfeiçoamento dos padrões.

Estes padrões de qualidade são definidos por Hashim e Khan (1990) como

regulamentos que estabelecem os requisitos contratuais, funcionais e técnicos

para todas as atividades de controle de qualidade, visando assegurar que um

produto, processo, serviço ou sistema resulte adequado a sua finalidade.

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Adicionalmente, o sistema de padrões pode ser visto como sistema de

informações de uma empresa, através do qual o conhecimento técnico e

administrativo é comunicado até as pessoas que efetivamente conduzem as

tarefas. (Falconi, op. cit. )

o link entre uma implantação perfeita da padronização e o sucesso do

controle de qualidade é confirmado por Ishikawa (1 984), quando afirma que este

foi um fator essencial para o sucesso japonês na área de qualidade.

Com o desenvolvimento e maior complexidade dos produtos e processos

produtivos, tomou-se imperativo estabelecer especificações que atingissem um

número cada vez maior de setores de produção interrelacionados. A fim de

garantir a intercambialidade dos produtos, reduzir custos de produção e

estoques e fundamentalmente propiciar um maior entendimento entre os

setores, surgiram associações com a finalidade de garantir o estabelecimento

de normas a nível nacional. No Brasil existe a Associação Brasileira de Normas

Técnicas, que congrega um número expressivo de empresas dos mais variados

setores.

A tendência globalizante dos mercados atuais ampliou o campo da

padronização para nível mundial, compreendendo quaisquer produtos que tomem

parte no comércio internacional.

Feitas estas considerações, procurar-se- á agora registrar as medidas de

controle de qualidade adotadas internamente na empresa exportadora, para que

em seguida sejam observadas as principais normas internacionais dentro da

série ISO 9000.

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Os Procedimentos Internos da Empresa Exportadora

A padronização é um procedimento básico para se garantir o controle dos

processos. A criação de padrões não é uma atividade trivial; deve-se ter em

mente sobretudo que a sua concepção envolve a busca de excelência e

simplificação, visando uma fácil compreensão por parte dos possíveis usuários.

Para Falconi (op. cit. ) , os padrões devem ser simples e de fácil acesso;

além disso, cada pessoa da empresa deve ter o(s) seu(s) próprio(s) padrão(ões)

de forma que não haja dúvida quanto ao que deve ser feito. Logo, ao se

estabelecer um padrão, deve-se considerar sempre o usuário ao qual este se

destina.

Hashin e Kahn (op. cit. ) complementam que a criação e a implementação

de padrões devem ser tomadas como um processo e não como eventos

independentes. Esta atividade requer a participação de profissionais de distintas

áreas e níveis hierárquicos da empresa, pois sem esta participação ativa um

padrão não pode evoluir dentro da empresa. Falconi (op. cit. ) reforça este

argumento:

"(. . .) As pessoas precisam ser preparadas para trabalhar com

padrões. É necessário redigir uma primeira versão (que reflita a

tecnologia em uso) e discutir com todas as pessoas envolvidas,

ouvir sua opinião (. . .) e estabelecer um padrlio sobre o qual

haja perfeito conhecimento e consenso por parte de todos (. . .)

Este procedimento é mais demorado, mas também é um

excelente processo de treinamento. É preciso compreender que

obedecer a um padrlio só é um problema disciplinar quando

este é imposto. Quando brota de uma discussão com todos, é

uma questlio de bom-senso" (Falconi, op. cit. , pg. 1 62)

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Uma vez determinados e escolhidos os padrões adequados à empresa

(sejam estes específicos ou intemacionais) o passo seguinte é a implementação

dos mesmos. A melhor forma de fazê-lo é através da elaboração de manuais. O

objetivo é conduzir, de forma simples e de fácil entendimento ao executor

das tarefas, as necessidades dos clientes e o conhecimento da empresa

sobre a atual tecnologia utilizada. Desta forma, os manuais de treinamento

devem descrever detalhadamente o conteúdo dos procedimentos operacionais,

isto é, a sequência de atividades a ser executada.

Entende-se assim, que os padrões permeiam as principais atividades da

empresa. O Quadro 9 exemplifica possíveis famílias de padrões relacionadas à

operação de fabricação de um produto.

Hashim e Kahn (op. cit.) salientam que todos os padrões devem ser

revisados periodicamente. Sem esta constante atualização, os padrões deixam

de ter valor prático, pois mantê-los pode representar perda de market share

para outros concorrentes que apresentem produtos de nível tecnológico mais

avançado:

"(. . .) A maior parte dos padrões existentes é burocrática, não

sendo flexíveis o suficiente para acomodar mudanças em

tecnologia, atitudes, progresso em outras partes do mundo e

demandas de mercado. No futuro, a flexibilidade deve ser

incorporada aos processos de padronização, através de revisões

ou realocações de padrães".(Hashim e Kahn, op. cit. , pg. 58)

Por fim, após a criação e implementação dos padrões, resta ao controle de

qualidade, a comparação do que é produzido com estes padrões. A esta

atividade dá-se o nome de inspeção dentro da empresa.

A inspeção é um custo indireto do negócio, e é não-produtiva, já

que nada adiciona diretamente ao valor do produto. Murta ( 1 982) complementa

que sempre que é eliminada ou reduzida a amplitude de uma operação de

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inspeção, sem que haja interferência no controle de qualidade, o custo do bem

é reduzido tão seguramente como se fosse consumada uma melhoria nos

métodos de fabricação. Então, deve-se entender que a inspeção deve ser feita

à menor quantidade de vezes possível, para garantir o controle requerido.

Este mesmo autor afirma que não basta oferecer padrões de qualidade

ao importador somente até que o mercado desejado seja conquistado. É fundamental que o controle de qualidade seja processado permanentemente,

garantindo a manutenção do mercado destinatário ao exportador. É comum

nos meios industriais menos experientes (ou que estejam se iniciando em

comércio exterior) a idéia de que basta oferecer produtos de qualidade

controlada nas primeiras exportações,. ou mesmo transitoriamente, até que o

nome do exportador se tome conhecido ou tradicional.

A negligência ou não utilização do controle de qualidade pode trazer

sérios riscos, considerando que o importador estará sempre pronto a exigir

de forma absoluta, produtos com qualidade controlada e garantida. A não

satisfação do cliente pode implicar na sua desistência imediata, recorrendo

a outro fabricante de produto similar.

Assim, são considerados por Murta (op. cit. , pg. 29) 1 0 principais riscos do

exportador, dos quais podem ser destacados:

a - A perda de confiança nos produtos por parte dos compradores internacionais,

deixando de adquiri-los.

b - O "boca-a-boca" negativo, por parte de clientes decepcionados, quando

inquiridos por outros possíveis compradores internacionais.

c - A dificuldade de penetrar em novos mercados ou, no caso de já os ter

conquistado, a possível perda, tomando-se difícil recobrar a lealdade dos

clientes.

d - O descrédito por parte de funcionários da empresa e do governo.

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e - A sujeição às sanções eventualmente previstas no contrato de venda pelo

inadimplemento perante o importador, de cláusulas que determinem a qualidade

controlada da mercadoria objeto de contrato, e que figurem também na

certificação do controle de qualidade da empresa.

f - A rejeição (parcial ou total) e/ou devolução de mercadorias que já se

encontrem no destino, acarretando vultosas despesas aos exportadores.

Hashim e Kahn (op. cit. ) sintetizam que o principal objetivo dos padrões

é facilitar a relação clientelvendedor. Os padrões de qualidade precisam sempre

de monitoramento no que se refere ao design , produção, comunicação e

implementação. Como estes padrões guiarão os passos da qualidade no futuro,

deve-se buscar a sua compatibilidade e aplicação nos diversos tipos de

indústria existentes no mundo, procurando ainda garantir o dinamismo e a

flexibilidade necessários aos mesmos para adaptações futuras. O assunto

tratado a seguir é um exemplo da busca de padrões com estas características.

A ISO 9000 e a Revolução nos Padrões Internacionais

Ao mesmo tempo em que se percebe um irreversível processo de

internacionalização da economia, entende-se que muitos padrões, devido à

causas como (i) a lentidão de seus procedimentos; (i i) l inguagem complexa e

(i i i) demora na divulgação, têm se mostrado ineficazes e obsoletos diante do

rápido avanço da tecnologia. Além disso, Hashim e Kahn (op. cit. ) afirmam que,

para permanecer no jogo competitivo mudial, os países em desenvolvimento

deverão repensar suas atitudes, esforços e desempenhos, no que tange aos

padrões e à sua implementação.

Todos estes fatores contribuíram para a criação de uma padronização

que pudesse ser estabelecida universalmente. Na verdade, segundo os

autores acima, quanto mais se adiasse este acontecimento, mais se estaria

retardando o progresso industrial, algo que não é desejado por nenhum país,

industrializado ou não.

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Assim, o impacto futuro dos padrões nesta sociedade em transformação

deve ser quantificado através de uma visão mundial e unificada, incentivada

por organizações mundiais tais como a Organização Internacional para

Padronização (ISO).

A ISO, cuja sede é em Genebra, congrega padrões nacionais de 9 países.

Os Estados Unidos, por exemplo, são representados na ISO pelo Instituto

Americano de Padrões Nacionais (ANSI), que por sua vez representa 250

instituições norte-americanas. A ISO merece destaque por ter desenvolvido uma

das mais importantes séries do vigente universo de padrões: a série 9000.

Baseada em Burr ( 1989) ,segue-se uma descrição geral das principais

características dos padrões desta série:

A série ISO 9000 é constituída por cinco padrões. O padrão ISO 9000

apresenta algumas definições e conceitos básicos e resume como devem ser

selecionados e utilizados os outros padrões.

Os padrões ISO 9001 , ISO 9002 e ISO 9003 aplicam-se em situações

contratuais, com a finalidade de garantia de qualidade externa. O ISO 9001 é

utilizado para assegurar conformidade do produto à atributos específicos,

durante o seu design , desenvolvimento, produção e instalação. O ISO 9002 é

utilizado quando se deseja assegurar a conformidade somente na produção e

instalação. O ISO 9003 é o padrão menos detalhado e l imita a garantia de

conformidade aos testes e inspeções finais.

Finalmente, o ISO 9004 apresenta orientações quanto aos aspectos

técnicos, administrativos e humanos que afetam a qualidade de produtos e

serviços. Este padrão, diferentemente dos demais, é destinado exclusivamente

ao uso interno da empresa, não devendo ser aplicado em situações contratuais.

Além disso, enumera os elementos essenciais para a implantação de um sistema

de qualidade, a começar pelas responsabilidades do gerenciamento. Seções

inteiras deste padrão são dedicadas a cada aspecto do sistema de

qualidade: marketing, projetos, produção e pós-produção, controle de materiais,

segurança, documentação e uso de métodos estatisticos. Desta forma, o ISO

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9004 deve ser utilizado para o desenvolvimento do processo de implementação

de um sistema de qualidade em uma empresa.

A série ISO 9000 foi adotada inicialmente por empresas britânicas, como

forma de avaliar se os seus fornecedores faziam uso de um sistema de qualidade

que atendesse aos seus requisitos para produtos e serviços. Na prática,

passaram a exigir que, após submetidos a um processo de auditoria, os seus

fornecedores fossem registrados sob esta série.

A repercussão mundial da ISO 9000 levou outros países à adoção de

normas tecnicamente equivalentes.

Para Van Nuland ( 1989), a Comunidade percebeu a possibilidade desta

série trazer resultados positivos em muitos pontos nos quais esforços anteriores

de padronização foram infrutíferos. Além disso, as próprias transformações

ocorridas no continente europeu (dentro do projeto Europa 1 992) tais como o

livre trânsito de pessoas, bens e capital, demandaram o desenvolvimento de

versões harmonizadas da ISO 9000. Estas se chamaram EN 29000 e foram

criadas pelo Comitê Europeu de Padronização (CEN). ,

Esta harmonização, segundo Boehling ( 1 989) , foi um passo importante

para assegurar a adoção da ISO 9000 pelos países da C.E.E. e da A.E.L.C.

Em contrapartida, os exportadores que têm a Europa como mercado viram­

se desobrigados de lidar com cerca de 1 2 padrões distintos, em 9 idiomas

diferentes.

Da mesma forma com que adotam a ISO 9000, as empresas européias

vêm requerendo de seus fornecedores ou parceiros comerciais o registro sob

a série equivalente da Comunidade. Para Burr (op. cit. ) , o registro implica na

satisfação de determinados pré-requisitos por parte da empresa tais como (i) o

completo conhecimento de sistemas de qualidade; ( i i) o conhecimento prático do

padrão ISO 9000; ( i i i ) a compreensão do processo de avaliação e (iv)

experiência neste processo.

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o pressuposto fundamental é que haja um sistema de qualidade

plenamente desenvolvido dentro da empresa e que todos tenham perfeito

conhecimento das atividades que desenvolvem. Cabe a auditores de capacidade

reconhecida avaliar se a empresa apresenta deficiências, a fim de que estas

sejam corrigidas e que os empregados sejam devidamente treinados para

trabalhar com o sistema corrigido.

As vantagens, para o exportador, em obter um registro sob o padrão

comunitário, ao invés de se submeter a normas específicas de um determinado

país europeu com o qual se negocia são apontadas por Boehling (op. cit. ) . Para

este autor, as consequências desta nova abordagem são de longo alcance, tanto

para produtores internos como externos à Comunidade. Na maior parte dos

casos, o princípio do reconhecimento mútuo atesta que um produto que esteja em

conformidade com padrões locais de um país-membro equivalentes aos padrões

comunitários, terá l ivre acesso ao mercado comum.

Embora muitos países não pertencentes à Comunidade estejam aderindo

aos padrões da série 9000 (incluíndo os Estados Unidos,com a série adaptada

090) comprovando a sua aceitabilidade, alguns autores apresentam certas

ressalvas à implementação da mesma.

Para Burr (op. cit. ), padrões ISO 900 , 9002 e 9003 são genéricos,

representando o mínimo exigível de um sistema de qualidade para a satisfação

do cliente. Cita comparativamente outros padrões e regulamentos de prêmios

de qualidade que requerem um maior gerenciamento e planejamento. Além

disso, afirma que os padrões desta série foram formulados sem que fossem

levados em consideração a diversidade de setores industriais e os diferentes

tamanhos das empresas.

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Este autor prossegue afirmando que a série em questão não apresenta

cláusulas referentes à melhoria contínua. Dzus (1991 ) contra-argumenta,

afirmando que sistemas de auditoria podem compensar esta falha através da

aplicação rigorosa de normas corretivas.

Van Nuland (op. cit.), por sua vez, alerta que a introdução da ISO 9000

requer muito trabalho e cooperação dentro da empresa. Além disso, percebe

que muitos segmentos industriais (automóveis, por exemplo) continuam

mantendo seus próprios sistemas de qualidade, o que pode significar um entrave

à universalidade do sistema da ISO 9000.

Em contrapartida, DeAngelis ( 1 991 ) e Dzus (op. cit.) descrevem duas

experiências bem sucedidas de obtenção de registro e implementação da ISO

9000 em empresas de grande porte. Alguns ensinamentos podem ser

destacados:

=> considera.se perda de tempo introduzir aspectos técnicos de garantia

de qualidade sem que ocorra uma mudança na cultura organizacional.

=> como a ISO 9000 requer contínuas reformulações nas formas de executar

um trabalho, as pessoas passam a compreender que os procedimentos

mudam. Assim, busca-se com a auditoria, não somente a conformidade com os

procedimentos escritos, mas também a oportunidade de melhorar o processo.

=> a ISO 9000 deixa claro que as mudanças não atingem somente aqueles que

estão envolvidos na produção.

=> a ISO 9000 provê a base para um sistema efetivo de qualidade.

As vantagens comparativas da ISO 9000, bem como o processo de

unificação européia estarão levando, nos próximos anos, a um número cada

vez maior de associados a esta série. No curto prazo, estratégias de qualidade

para fazer negócios internacionais irão requerer o desenvolvimento de sistemas

baseados nos padrões da ISO 9000. No tongo prazo, o uso desta série

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se tomará comprovadamente imprescindível para o desenvolvimento da

qualidade total.

As Relações do Exportador com os Fornecedores

A fixaçiio e posterior adoção de padrões de qualidade para o produto

exportável devem ser ações simultâneas ao estabelecimento de especificações

referentes à matéria-prima e insumos adquiridos de outras empresas. Segundo

Falconi (op. cit.), estas especificações, assim como as normas e padrões

nacionais e internacionais, nunca serão perfeitas, devendo ser continuamente

revistas.

o desenvolvimento das relações dos exportadores com seus fornecedores

é determinado pela decisão entre comprar ou fabricar, segundo parâmetros como

os custos envolvidos, quantidade e acúmulo de tecnologia. Este processo é

representado no Quadro 1 0.

Falconi (op. cit.) afirma que à escolha dos fornecedores, devem se seguir

negociações preliminares, com encomendas experimentais testadas para

verificar o funcionamento do suprimento. Caso a qualidade, métodos de prazo

e entrega, custos e gerenciamento do fornecedor não mais satisfaçam o

exportador, pode-se esperar a suspensão das negociações.

A transmissão e conscientização de qualidade por toda a empresa inclui

necessariamente o departamento de compras. O relacionamento

compradorlfornecedor, uma vez estabelecido, deve ser baseado em uma

cooperação e determinação de mútua sobrevivência, segundo as

responsabilidades de ambos para com os consumidores.

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, "

C O M P R A R

QUADRO 1 0

SIM

HÃo

HÃo

DESENVOlUER

FORIIECEDOR

oJ NAO

NAO

F A B R I C A R

FONTEI CA"POS, V . F . "SERENCIA DA QUALIDADE TOTAL", PA6. 1 49

73

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No que diz respeito aos padrões, Juran (op. cit.) alerta para o risco do

responsável pelas compras não levar em consideração as especificações

estabelecidas na sua empresa, devido ( i ) à dificuldade de encontrar no

mercado produtos que satisfaçam tais condições e ( i i ) à melhores condições

de negociação oferecidas pelo vendedor. Falconi (op. cit. ) mostra que, no caso

brasileiro, o fator de maior atratividade para muitas empresas ainda é o preço

reduzido. Este mesmo autor, no entanto, defende a idéia de que deve-se

procurar o menor preço somente se este for fruto ( i ) de um método racional de

redução de custos do fornecedor; (i i) da melhoria de qualidade do produto e

(iii) da confiabilidade nos prazos de entrega.

Neste novo paradigma de alta qualidade, Harrington (1 988) acredita que

as empresas não serão capazes de confiar, por mais tempo, em inspeções de

recebimento, como meio principal de assegurar a aceitabilidade das partes

compradas. As condições de alta eficiência do futuro requerem que os processos

de fornecedores, uma vez provados como capazes de produzir partes

aceitáveis, sejam continuamente controlados e ajustados. A necessidade de

intensa troca de informações técnicas entre fornecedores e compradores, bem

como o refinamento deste controle são fatores que justificariam, para este autor,

a redução do número de fornecedores.

Assim sendo, as especificações deveriam ser preparadas em conjunto,

baseadas em dados, fatos, análise de processo e de qualidade. A postura

do fornecedor neste caso seria, para Falconi (op. cit. ) buscar a satisfação

total do consumidor, e a do comprador a de encarar o fornecedor como parte de

sua linha de produção.

Este relacionamento não deve ser antagônico, mas cooperativo. Uma

ilustração de um fluxo de implantação e manutenção de especificações de

matérias-primas pode ser observado no Quadro 1 1 . O mesmo autor enumera

alguns princípios a serem praticados no relacionamento entre exportadores e

seus fornecedores, dos quais podem ser citados os seguintes:

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fazer as

especi f i cações

prat icar

cOllpras

QUADRO 1 1

N Ã O

5 I M

5

I

M

anal i sar as • espec i f i caçoes

N Ã O

prati car anál i se de qua l i dade e de processo.

L--------------------+I Estudar produtos defei tuosos, retraba l hos e rec lanações •

.. eue,. ,.. espec i f i caçoes conti nuanente, detel'll inando-as

estatist icanente

FONTE: FALCON I , V . C . "GERÊNCIA OA QUALIDADE TOTAL " , PAG. 1 47

75

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a) A responsabilidade pela aplicação do controle de qualidade é de ambas as

partes, com perfeito entendimento e cooperação entre seus sistemas de controle

de qualidade.

b) O comprador é responsável pela entrega de informações e exigências claras

e adequadas, de forma que o fornecedor saiba exatamente o que fabricar.

c) Deve existir um contrato racional com relação à qualidade, quantidade,

preços, termos de entrega e condições de pagamento.

d) O fornecedor é responsável pela garantia de qualidade que dará satisfação

ao comprador/exportador, sendo também responsável pela apresentação de

dados, quando solicitados pelo comprador.

e) Ambos devem decidir com antecedência sobre o método de avaliação de

varios ítens, que seja admitido como satisfatório para as partes.

f) Ambos, quando estiverem tratando de seus negócios, devem sempre levar em

conta os interesses do consumidor.

Uma última palavra deve ser dita sobre o controle de estoque de matérias­

primas. Não são apenas fatores qualitativos da empresa exportadora e de seus

fornecedores que determinam o nível ideal de estoques, pois devem ser

consideradas ainda as greves, a confiabilidade depositada nos meios de

transporte e a distância física entre fornecedores e compradores, por exemplo.

O desenvolvimento de fornecedores e a garantia de qualidade das matérias­

primas são um passo importante para buscar a redução dos estoques. Além

disso, Ishikawa (op. cit.) considera algumas práticas a serem adotadas, tais

como:

(i) um bom programa de controle de quantidade (programação e controle da

produção) conduzido por ambas as partes.

( i i ) após o recebimento de uma encomenda, o fornecedor deve realizá-Ia de

imediato, pois quanto menor o /ead-time (tempo entre o recebimento da

encomenda e sua entrega) melhor.

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(i i i) o fornecedor deve ter um sistema de controle de produção para eventuais

mudanças na programação. O comprador/exportador deve procurar não alterar

o seu programa com muita frequência.

Os pontos acima observados são importantes para a empresa exportadora,

a medida em que venha a desempenhar o duplo papel de cliente de seus

fornecedores e fornecedora de seus importadores. Em ambos os casos, as

considerações aqui abordadas são válidas.

11.3.5 - A Embalagem e as Garantias do Produto

Os consumidores procuram comprar não somente o produto físico, mas

também uma série de benefícios que o mesmo oferece. O tipo de embalagem

e as garantias oferecidas são diferenciais extremamente relevantes dos produtos

em exportação.

Segundo Rocha e Christensen (op. cit.) , a embalagem surgiu com o

propósito de proteger o produto em sua passagem pelos canais de distribuição

ou das mãos do vendedor para o cliente final. Com o advento do auto-serviço,

o papel da embalagem passou a ser o de funcionar como um

atratividade do consumidor para o produto, assumindo

significativamente maior da responsabilidade pela venda.

elemento de

uma parte

Esta nova conotação da embalagem ganhou importância tal que em muitos

produtos, os custos de embalagens tornaram-se maiores do que os próprios

custos de fabricação do produto.

Jain (op. cit.) observa que as decisões internacionais de embalagem

devem ser tomadas considerando-se as necessidades de quatro grupos distintos:

( i) os clientes/importadores; (i i) os expedidores; (ii i) os distribuidores e (iv) o

governo do país importador.

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As necessidades dos clientes, no que tange à embalagem, variam de

país para país, segundo fatores socio-econômicos e culturais. O ponto mais

importante a ser considerado neste caso é a estética da embalagem, pois o

formato e o logotipo, os símbolos e as figuras utilizadas, as palavras que

descrevem o produto e a composição de cores devem estar sintonizados

apropriadamente com a cultura do país importador.

Sobre o aspecto das cores e desenhos, afirma Martineau:

"(. . .) Na cabeça dos consumidores, combinações de cores e

desenhos têm um significado intrínseco, comunicando alguma

coisa sobre a empresa tão certamente quanto a arquitetura,

instalações e outros fatores visuais. A associação pode não ser

lógica, mas é real. " (Martineau, 1 992, pg. 1 1 )

Um outro fator relacionado com a estética é o tamanho da embalagem.

Além da estética, devem ser consideradas as condiçôes climáticas (embalagens

que não permitam que o produto se estrague, como por exemplo no caso de

alimentos) e a segurança (enquanto a embalagem abriga o produto e a posterion)

de forma que a embalagem não seja prejudicial aos indivíduos e ao meio­

ambiente. Uma ilustração deste último ponto é o abandono do uso de produtos

em spray , devido ao seu efeito prejudicial à Camada de Ozônio.

Para que os expedidores desempenhem um serviço de alta qualidade

é necessário que os métodos de embalagem e empacotamento sejam eficientes,

permitindo que os bens cheguem ao destino sem que ocorram perdas e danos e

ao menor custo possível. Desta forma, deve-se observar:

:=) o destino da mercadoria.

:=) se esta será empilhada e, neste caso, por quanto tempo e em qual lugar

(em espaço aberto ou em depósito).

:=) quais são as condiçôes de manuseio (peso l íquido, tipo de carga)

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� se existem outras condições especiais.

79

Jain (op. cit.) cita como preocupações básicas do distribuidor quanto à

embalagem (i) o fácil manuseio; (ii) o não desperdício de espaço e (iii) a

facilidade de etiquetar e colocar preços na mercadoria. Além disso, a embalagem

deve proteger o conteúdo e deve ser esteticamente atraente para promover a

mercadoria no ponto de venda.

Por fim, as prescrrçoes governamentais estão, na maior parte,

relacionadas com os rótulos e marcações. Os regulamentos referentes aos

rótulos exigem que a embalagem ofereça aos consumidores informações

essenciais sobre o seu conteúdo (composição, peso), garantindo que, tanto

embalagem quanto produto, estão de acordo com especificações de mercado.

Já os regulamentos de marcação referem-se unicamente ao transporte em

confainers, exercendo pouca ou nenhuma influência sobre os primeiros. Em

países com mais de um idioma oficial (Suíça, por exemplo) o governo pode

determinar que os rótulos contenham as especificações em mais de uma língua

falada no país.

Sintetizando, Rocha e Christensen (op. cit.) enumeram algumas possíveis

perguntas a serem formuladas quando da tomada de decisões referentes à

embalagem :

� Qual a função da embalagem no produto?

� Como a embalagem afeta o produto?

� A embalagem traz a informação desejada?

� Os consumidores estarão dispostos a pagar mais por uma embalagem

melhor?

� É desejável ter embalagens diferentes para diferentes segmentos do

mercado?

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=> A embalagem é suficientemente atraente, comparativamente com outras

. embalagens no mercado?

=> A embalagem é suficientemente forte para resistir às condições de transporte

e armazenagem?

=> Que tipos de inovações podem ocorrer na embalagem e que efeito essas

inovações podem ter sobre a concorrência do setor?

A garantia é uma confirmação, por parte do exportador, de que o produto

terá uma performance conforme o estipulado. Jain (op. cit. ) cita duas importantes

vantagens de uma boa política de garantias: (i) como diferencial do produto

no mercado, estimulando a credibilidade do cliente/ importador e (i i) como

instrumento de auxílio para se fazer novos negócios.

As decisões de garantia estão relacionadas ao desenvolvimento ou não

de uma política padronizada para todos os clientes/importadores. O autor

acima citado adverte que a garantia deve ser diferenciada caso as condições

de uso do produto variem nos diferentes mercados. Exemplificando, nos países

de temperaturas mais baixas, os aparelhos de ar-condicionado devem

apresentar condições mais flexíveis de garantia (em termos de prazo) do que

nos países cujo clima é mais quente, e o uso é mais frequente.

Um outro ponto relevante é a própria natureza do produto: em alguns

casos, a garantia pode se limitar à performance básica, pois qualquer incremento

será imperceptível ao consumidor.

Por fim, optar pela garantia diferenciada implica em que o portador tenha

habilidade para cumprir todas as distintas exigências de seus parceiros

comerciais. Não se pode prometer ao cliente algo que não se é capaz

efetivamente de oferecer.

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liA - SíNTESE DOS CONCEITOS APRESENTADOS

A seguir são expostos os pnnclpais pontos contidos na revisão de

literatura que permitiram a formalização de um modelo para gestão da qualidade

para exportação.

1 1 04.1 - Qualidade

=> é um conjunto de múltiplas dimensões, cujo conhecimento é fundamental para

que a empresa saiba como competir em seus segmentos de mercado e

consequentemente atender da melhor forma às necessidades de seus clientes.

=> é uma composição de fatores intrínsecos ao produto, agregados por projetos,

insumos e métodos de inspeção, e fatores extrínsecos, referentes às dimensões

de estética e qual idade percebida.

=> Permeia todas as atividades da empresa, envolvendo a identificação de

mercados/clientes, o processo produtivo, o produto em si e demais atributos que

lhe confiram maior valor agregado.

1104.2 - Gestão Estratégica da Qualidade

=> A preocupação básica é o impacto estratégico : (i) estabelecimento de metas

e objetivos; (ii) elaboração e posterior implementação de planos de ação; (i i i)

utilização de sistemas de controle e adoção de medidas corretivas e (iv) a

melhoria contínua de produtos, processos e serviços.

=> As metas são alvos móveis. A busca de melhoria contínua pressupõe que

qualidade, produtiVidade e posição competitiva da empresa dependem

diretamente do resultado de cada pequeno procedimento, como se estes fossem

elos de uma corrente.

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CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS EMPRESAS

Empresa! nAu ttBtt "C" "Dtt

Caracteristicas

Setor Tintas de Autopeças Eletro-eletrônico Autopeças hn�essão

Localização da Rio de Janeiro (RJ) São Paulo (SP) Belo Horizonte Jundiai (SP) Unidade (MG)

Controle do familiar familiar Americano empresa e familiar Capital Brasil Brasil Brasil

Número de 380 4000 450 2500 fi.mcionários

Principais tintas liquidas e pistões e pinos de disjuntores eixos dianteiros, Produlos pastosas para pistões residenciais e virabrequins,

im�ressão industriais bielas Capacidade 14.400 13 milhões de 600 mil pólos/mês 72.000

Produtiva toneladas/ano pistões/ano (linha resid.) e 120 toneladas/ano mil unidades/mês

(linha indust.) Marlcet Share

(Brasil) 35% 75% 37% 32% Faturamento Anual (1993) n.d. 174 n.d. I I I US$ milhões

Volume exportado insignificante 30% da produção 35% da linha 40% do total, residencial principahnente

eixos dianteiros e seus componentes

Principais Estados Unidos e Estados Unidos e Estados Unidos Mercados para Europa (*) Europa Arábia Saudita (30%), França,

exportação Alemanha e Suécia Principais Clientes grandes gráficas Caterpillar, F ord, Renault,

importadores multinacionais que Cummins, Mack n.d. Mack Truck, possuam fi1ia1 no Truck, Mercedes Lycoming

Brasil. Benz, Volkswagen Certificação e data ISO 9001 ISO 9001 ISO 9002 (**) ISO 9002

de obtenção (fevereiro de 1994) (1993) (1993)

(*) Mercado Potencial a ser explorado. (*.) Em fase de auditoria, provável certificação em dezembro de 1994.

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EMPRESA "A"

A Empresa A é uma empresa que fabrica tintas líquidas e pastosas que

em sua maioria são utilizadas para impressão. A sede da empresa localiza-se

no Rio de Janeiro. No ano de 1 994, completa cinquenta anos de atividades,

atravessando um forte processo de reestruturação e sendo a primeira de seu

ramo a obter a certificação ISO 9001 .

A EMPRESA

A empresa surgiu informalmente em 1 944, quando dois ex-funcionários

de uma fábrica alemã de tintas iniciaram suas atividades no subsolo de uma

casa no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Naquela época, a maior

parte das empresas de impressão e tintas era de origem alemã e, devido à

Segunda Guerra Mundial, muitas haviam encerrado suas atividades no Brasil.

Consequentemente, o mercado se deparou com uma oferta incapaz de suprir

as necessidades de demanda.

Baseados quase que exclusivamente na confiança e no conhecimento

pessoal, os clientes começaram a colocar pedidos para a empresa, que

dispunha, então, de apenas uma máquina e dos dois funcionários, um vendedor

e o outro técnico.

A crescente demanda viabilizou a expansão e a transferência da

empresa para um prédio antigo no bairro de Jacaré, também no Rio de Janeiro,

no qual ficavam três máquinas nos fundos e a área comercial na frente. A

aquisição dos terrenos vizinhos consolidou a ampliação, tornando possível

trabalhar com um estoque mais adequado de matérias-primas.

A etapa seguinte foi a abertura de filiais nos pontos mais representativos

do país, incluíndo São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Curitiba. A

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filial de São Paulo cresceu de tal forma que uma fábrica foi instalada naquele

local.

Atualmente, a empresa dispõe de 3 fábricas, duas no Rio de Janeiro e

uma em São Paulo. As três produzem tanto tintas líquidas como pastosas,

sendo que a metade da estrutura comercial e a totalidade dos laboratórios

encontram-se em São Paulo, onde o mercado se mostra mais atuante.

Nestes cinquenta anos de existência, a Empresa A teve seu crescimento

sempre atrelado a reinvestimentos de capital próprio, o que não a impediu de se

tornar uma das três maiores do Brasil dentro de sua área de atuação.

A Empresa A é uma empresa essencialmente familiar. No período

anterior á reestruturação, o organograma da empresa constitui a-se de um

nível de diretoria, três superintendentes e inúmeros gerentes. Esta estrutura

mostrou-se bastante centralizadora, na medida em que a superintendência tinha

poder para filtrar informações que iriam para a diretoria e autonomia para a

tomada de decisões.

Em novembro de 1 993, visando uma redistribuição de tarefas e

responsabilidades, a empresa eliminou o nível gerencial, transformando

gerentes em superintendentes, o que possibilitou não somente um maior

contato com a diretoria, como também mais autonomia aos níveis anteriormente

abaixo da superintendência.

A Empresa A possuía, antes da reestruturação, cerca de 445 funcionários

em todo o Brasil . Atualmente, o headcount é de 382 pessoas, incluíndo as nove

atuais superintendências. Até o final de 1 994, este número deve passar para

350.

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o MERCADO

A Empresa A, juntamente com outras duas companhias, detém, em

partes iguais, cerca de 70% do mercado de tintas de impressão no Brasil. Isto,

no entanto, não caracteriza uma estrutura formal de oligopólio porque existe,

dentro deste mercado, uma gama de segmentos bastante especializados e a

competição se dá segmento a segmento.

Tomando como exemplo o setor de tintas pastosas (que é o de maior

mercado no Brasil), existem nove processos distintos de fabricação e embora a

Empresa A atue em todos estes segmentos, cada um possui um forte

concorrente específico (tintas para jornal, off-set plano, silkscreen, metalgrafia,

etc . . . )

Esta fragmentação de mercado faz com que a Empresa A tenha um bom

market share nacional, mas ao mesmo tempo, dispute esta participação

acirradamente com cada pequeno concorrente.

o mercado é ainda fortemente orientado para preços, fruto, na maior

parte das vezes, da "guerra" estabelecida entre as pequenas empresas. A visão

de longo prazo da Empresa A, na qual incorporou-se a idéia de que existem

diferenciais a serem explorados, foi um fator fundamental para preparar o

terreno para um programa formal de Qualidade.

O Mercado Externo

Atualmente, a empresa trabalha com pequenos volumes para exportação.

Uma das suas metas é encontrar um parceiro adequado no exterior.

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A princípio, o caminho natural parecia ser buscar este parceiro no

Mercosul. A maior dificuldade neste ponto, segundo o Superintendente de apoio

Logístico da empresa, deve-se ao fato de "estarmos anos-luz à frente de outros

países latino-americanos em termos de preocupação com qualidade, respeito

ao cliente, atendimento, etc . . "

Alternativamente, e procurando adquirir um maior know-how tecnológico,

a Empresa A fechou um contrato com um grande e tradicional

fabricante de tintas alemão. A empresa se mostra bastante consciente

das dificuldades inerentes ao desenvolvimento de novas tintas no mercado

doméstico, em boa parte explicadas pelo diferencial entre as matérias

primas importadas e nacionais. Com isto, a empresa procura evidenciar que a

sua preocupação não é mais com os seus já bastante conhecidos concorrentes

domésticos, mas sim com um poderoso grupo de atuação internacional.

A vontade de trabalhar com o mercado externo também é justificada

pelo fato do mercado brasileiro ser extremamente price oriented. O fato de

existir capacidade ociosa no setor estimula uma guerra de preços para atingir

objetivos de volume. Assim, a orientação para o mercado externo é vista como

uma forma de gerar volume sem danificar o mercado via preços e construir

vantagens competitivas que a concorrência não apresente.

A CONCEPÇÃO DE QUALIDADE NA EMPRESA

A idéia do que é qualidade na Empresa A pode ser observada em

inúmeros cartazes que se encontram pregados em diversos locais da empresa e

que dizem:

" Qualidade na Empresa A é fornecer tintas e pigmentos

auxiliares para indústrias gráficas que atendam aos requisitos

acordados com os clientes"

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Por detrás deste conceito está, nas palavras do Superintendente, "a

preocupação em encantar o cliente" , oferecendo algo mais do que este

considera normal para uma empresa de tintas, que é basicamente:

- pegar o pedido do cliente.

- desenvolver a tinta.

- entregar o produto dentro das especificações.

- oferecer assistência técnica quando necessário.

Oferecer o "algo mais" ao cliente seria conseguir estabelecer com o

mesmo uma relação de confiança e estar capacitado a oferecer um produto

diferenciado.

Para tanto, um primeiro ponto considerado é a realização de uma

pesquisa com os clientes que identifique ( i) a importância que os mesmos dão

a uma série de itens e (ii) como a empresa é percebida em cada um

destes itens. O objetivo desta pesquisa é analisar quais caminhos deverão

ser seguidOS a fim de atingir a real satisfação do cliente.

Embora exista na empresa uma assessoria da qualidade que funciona

como uma consultoria interna, entende-se que a qualidade é responsabilidade

de todos:

"Um operário de máquinas que perceba algum problema

durante o processo produtivo, tem autonomia e obrigação de

parar o processo e levar o trabalho para os laboratórios ou

para o seu superior. Se todos não se envolverem, nada

funciona. "

O comprometimento de todos é visto como condição básica para a

plena aceitação dos conceitos de qualidade na empresa. Pensar em qualidade

significou para a Empresa A, em um primeiro momento, expor claramente

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os problemas e admitir a necessidade de solucioná-los e não simplesmente

"apagar incendios":

" Não se pode ter em uma empresa a noção de que o erro

está somente em um lado e não no outro. Se a canoa furar, todos

afundam . . . Todos podem ser culpados e se não se tem para

onde ir, qualquer vento serve. Porém ao estabelecer objetivos,

autoridades e responsabilidades, começa-se a ter um melhor

entendimento do processo, identifica-se os defeitos e os pontos

que precisam ser melhorados"

OS ATRIBUTOS DA QUALIDADE

Para a empresa, a preocupação primeira ao se pensar em qualidade é

gerar ganhos de competitividade. Assim, o comprometimento torna-se um

instrumento imprescindível a medida em que quanto mais rápido este é obtido,

mais perto pode-se chegar aos objetivos do cl iente.

A partir do comprometimento, torna-se possível atingir níveis adequados

de conformidade e confiabilidade no produto que se oferece ao cliente. Estes

atributos e a qual idade percebida podem ser avaliados no momento em que

a tinta é util izada em máquina.

tintas.

O atributo da durabilidade é visto como padronizado no mercado de

No que tange à questão estética, embora existam diferenciais na

embalagem das tintas Empresa A (lata branca, com logomarca colorida em

destaque) estes não são vistos como elementos que se traduzem por ganhos

em competitividade.

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o atendimento, visto como algo que não se limita ao pós-venda,

estaria acima de todos os demais atributos, não significando que tenha

maior importância, mas possibil itando obter informações sobre os demais. É através do atendimento que se vive o "momento da verdade" com o cliente.

o CONTROLE NO PROCESSO PRODUTIVO

No segmento de tintas pastosas, cerca de 70% do que é vendido faz

parte das linhas de produção normais da empresa, enquanto que os 30%

restantes são tintas especiais, feitas sob encomenda. Em termos de ítens,

80% são especiais e 20% são de linha.

Em tintas líquidas, quase a totalidade é desenvolvida segundo as

necessidades do cliente. Partindo-se de padrões pré-estabelecidos existentes

na empresa, são feitos ajustes nas características físico-químicas ou de

viscosidade no produto, segundo especificações do cliente.

Quando o cliente faz uma sol icitação de produto, esta é encaminhada

para o laboratório. Após o desenvolvimento do produto, são realizados testes

e retiradas amostras impressas para serem encaminhadas ao cliente.

Somente depois da sua aprovação pelo cliente o produto é considerado

comercializável. Daí em diante, são realizados testes em máquina, pois, devido

às distinções entre os equipamentos do laboratório e os de linha de

produção, podem ocorrer algumas divergências entre produção e protótipo. A

"sintonia fina" é de responsabilidade do grupo de desenvolvimento.

Feitas as correções em produção, é gerado um padrão. Este padrão

apresenta validade e características de armazenamento próprios que são

documentadas pelo controle de qual idade.

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Assim, quando o cliente gera uma ordem de fabricação (na qual são

apresentadas todas as características desejadas no produto: viscosidade,

rigidez, etc . . . ) procura-se adequar a produção ao que foi estabelecido no

padrão e somente quando isto ocorre o produto é aprovado e liberado. Para

tanto, são realizadas inspeções em todos os volumes produzidos e se houver

necessidade de retrabalho, este será feito até que sejam atingidas as

especificações.

A empresa realiza acompanhamentos do n ível de retrabalho e perdas

que ocorrem em cada linha, analisando temporalmente as suas evoluções. No

ano de 1 993, o nível médio de retrabalho estava em 6% . Os dados mais

recentes, no entanto, apontam para um número em torno de 2, 1 %, embora a

empresa entenda que este ainda náo é o nível ideal que pode ser atingido.

Para tentar reduzir o percentual de perdas, a empresa vêm analisando

todos os processos, de forma a identificar quais são as perdas inerentes aos

mesmos e quais são as que ocorrem por descontrole. Após esta etapa,

serão estabelecidos objetivos de melhoria específicos para cada linha.

Com relação às possíveis unidades devolvidas, também é feito um

acompanhamento mensal. Antes de aceitar a devolução, a área técnica emite

um parecer, pois em muitos casos, os problemas que ocorrem no cliente são

causados por má regulagem de suas máquinas. Caso a falha seja efetivamente

da tinta fornecida, é feito um rastreamento para tentar identificar em qual

ponto do processo isto correu. Nem sempre é possível solucionar o problema

interno, mas busca-se assegurar que o problema do cliente foi sanado, a fim

de evitar uma repetição.

No que tange às matérias-primas, trabalha-se basicamente com

pigmentos e resinas. Atualmente, a pesagem é real izada na linha de

produção. Uma futura reestruturação no layout da fábrica estará visando

tranferir esta função para o almoxarifado, permitindo ao pessoal de produção

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receber as matérias-primas já devidamente pesadas para cada ordem de

produção. Com isto, busca-se reduzir ainda mais o nível de retrabalho,

procurando adequar este percentual ao grau de aceitação do parceiro

intemacional.

Os fomecedores de pigmentos são empresas de grande porte,

multinacionais. Não há interesse em se trabalhar com muitas empresas para

este insumo, pois os pigmentos são extremamente sensíveis a variações.

A empresa sabe que optar pela compra de fomecedores que ofereçam

preços mais atraentes (caso específico de fomecedor da China, que vende

40% abaixo do mercado) pode se traduzir pelo risco de receber um produto

"impuro" (com limalhas de ferro, por exemplo).

A procura de pigmentos capazes de gerar melhorias no processo

produtivo l imita o universo de fomecedores capacitados. Um exemplo é a

crescente utilização dos pigmentos pré-dispersos. Estes se caracterizam por

uniformidade no tamanho das partículas e facilidade na dispersão final

no misturador. Tais propriedades permitem um aumento na capacidade

tintorial do produto final.

No caso das resinas, o posicionamento é o oposto: atualmente

possuem 4 fomecedores, além do que já é produzido na própria empresa.

Por não ser vista como "especiaria", não existem restrições quanto ao número

de fomecedores para este produto. No entanto, para qualquer fabricante de

tintas, a obtenção de um verniz de alta qualidade (a partir da utilização da

resina) é um ponto crucial dentro do processo produtivo.

Desta maneira, ocorrem duas situações distintas no que diz respeito às

matérias-primas:

-+ para pigmentos, as especificações são dadas na maior

parte pelos fomecedores (apenas 1 0% são pigmentos tayfor

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made) , procurando-se trabalhar com aqueles que já forneçam

pigmentos pré-dispersos.

+ no caso das resinas, a matéria-prima em si é uma commodity,

mas a sua exata adequação na fabricação do vemiz é a

"alma do negócio". Assim sendo, procura-se trabalhar as

especificações com o fornecedor (nivel de heptana, ponto de

fusão, etc.) de forma que este possa cada vez mais estar

ajustado às necessidades da Empresa A.

A TRANSMISSÃO DA QUALIDADE

104

Diversos procedimentos foram adotados visando um maior envolvimento

e participação de todos na busca da qualidade. Somente no ano de 1 993, foram

dispendidas 7000 horas de treinamentos em todos os níveis, abrangendo temas

como C.E.P., atendimento de vendas e qualidade operacional. Além disso, foi

estabelecido um financiamento do ensino de primeiro grau para os

funcionários das fábricas, tendo ainda como meta financiar o 2- grau.

A divulgação adequada das informações também é vista como fator­

chave para o compromisso com a qualidade. Anteriormente, as informações

não fluiam adequadamente, seja por falta de preparo da base ou por restrições

nos níveis gerenciais. A forte resistência da média gerência pela reestruturação

implicou um fumover no quadro gerencial e serviu para provar a seriedade do

programa de Qualidade.

Acredita-se que, quanto menor o tempo utilizado para divulgar as

informações, menor a probabilidade de se gerar distorções na comunicação.

Procura-se com isto motivar o "chão" da empresa a querer a mudança e o

topo da empresa a fazer a mudança.

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Esta mudança foi feita simultaneamente em todas as unidades da

Empresa A, visando evitar possíveis descompassos entre fábricas ou níveis

hierárquicos distintos. Trabalhar qualidade em "partes" da empresa significaria

criar atritos desnecessários entre áreas.

A l iderança entende que os resultados de um programa deste porte não

podem ser todos vislumbrados no curto-prazo. Na verdade, os benefícios só

são verdadeiramente percebidos quando se olha para a situação da empresa

no passado.

Um outro ponto importante foi procurar evitar impor normas e

procedimentos para cada área. Ao invés disso, considerou-se a opinião de

quem estava mais diretamente envolvido com cada procedimento:

"Ninguém faz programa de qualidade sentado em uma mesa no

andar mais alto de uma empresa. IE necessário estar dentro de

cada operação, junto com quem faz, senão há o risco de se

incorrer em distorções perigosas"

A auditoria interna é vista como o grande trunfo para que a empresa

possa avaliar o nível de comprometimento e de implementação dos sistemas

de qualidade. Adicionalmente, busca-se intensificar o trabalho com comitês

operacionais.

QUALIDADE PARA O MERCADO EXTERNO

Entendendo que antes de se pensar em buscar o mercado internacional

é necessário haver um processo forte de reestruturação interna, a Empresa A

não vê como atraente no curto-prazo a possibilidade de investir em países

próximos, tais como os parceiros do Mercosul.

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Um forte argumento é o tamanho deste mercado. A empresa estima

que o mercado argentino, por exemplo, represente no máximo 1 7 % do que é

atualmente comercializado internamente. Assim sendo, é questionável a

relevância de entrar em uma briga comercial que não se traduza em maior

diluição de custos fixos, aumento significativo de volume vendido e vantagens

competitivas para a empresa.

Desta forma, optou-se por priorizar a conquista de clientes domésticos

que sejam filiais de grandes grupos internacionais, para que, uma vez

atendendo aos requisitos destes clientes aqui no Brasil, tome-se viável

trabalhar com outras filiais e com a matriz no mercado externo.

Um exemplo que ilustra a forma de atuação acima descrita foi o trabalho

desenvolvido junto a um grande cliente do setor de embalagens, cuja sede está

na França e possui filiais no mundo inteiro. Este cliente trabalhava com

tintas em base solvente e passou a trabalhar com tintas em base água. A

Empresa A foi a única empresa fornecedora que conseguiu fazer esta

transformação mantendo padrões idênticos, em base água, aos anteriores em

base solvente.

A busca pelo aprimoramento tecnológico através da já citada parceria

com o grupo alemão sinaliza uma preocupação em obter no produto uma

qualidade reconhecida por padrões internacionais. As primeiras amostras

enviadas para este grupo foram bem recebidas. Quando o produto estiver

perfeitamente ajustado às condições deste grupo, a empresa acredita que

estará com vantagens competitivas que viabilizarão uma entrada adequada

no mercado internacional.

Esta parceria não é a única feita pela Empresa A: também existe uma

associação com um grande grupo espanhol, que fabrica vernizes e

revestimentos para embalagens metálicas.

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Assim, os primeiros passos percebidos pela empresa como fundamentais

para oferecer "qualidade" no mercado extemo são (i) a reestruturação intema, o

controle adequado de seus processos e informações e (i i ) tomar o produto comprovadamente competitivo.

As Caracteristicas de Mercado/Clientes

Considerando-se o mercado mundial, a concorrência intemacional é

formada por grandes grupos multinacionais, que investem maciçamente em

pesquisa e desenvolvimento.

Para a empresa, as expectativas do cliente quanto ao produto oferecido

são a manutenção de um padrão pré-estabelecido e a garantia dos prazos de

fomecimento. Para o mercado intemacional, é fundamental a constância no

fomecimento, através de muitas entregas ao longo de cada ano.

A empresa entende que a escolha de um canal intermediário adequado é

fundamental. No mercado doméstico, a Empresa A procurou se utilizar de canais que já estivessem no mesmo mercado, mas atuando em outro segmento

(papel, por exemplo). A função básica do canal, para a Empresa A, está em

repassar as necessidades do cliente, as especificações desejadas e

oferecer assistência técnica. Daí a necessidade do canal estar perfeitamente

integrado na filosofia de trabalho da empresa.

o Produto

Embora a Empresa A apresente linhas de produtos variadas, entende-se

que, para atingir o mercado extemo, deve-se buscar uma especialização

naqueles produtos que apresentem custos competitivos e reduzida ocorrência

de problemas. Assim, a idéia seria trabalhar prioritariamente com tintas para off

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sei plano, e em um segundo momento, em of( sei rotativo (formulários

contínuos), pois geralmente os clientes trabalham com ambos os processos.

Tintas para jornal não são consideradas muito atraentes, tendo em vista que a

concorrência apresenta capacidade de produção bastante superior.

A Empresa A acredita possuir duas ou três linhas que sejam competitivas

internacionalmente, ressaltando que o conceito de competitividade está bem

mais voltado para atender às necessidades de processo e não de produto.

Existe flexibilidade nos processos de fabricação tendo em vista que os

equipamentos de cada uma das duas linhas de produção (l íquida ou pastosa)

estão aptos a fazer qualquer produto destas linhas.

A Produção

No que tange ao processo produtivo, a empresa acredita que seriam

pequenas as modificações necessárias para o mercado internacional. Estas

modificações se referem basicamente à adequação para condições distintas de

temperatura, umidade e velocidade das máqUinas do cliente.

A obtenção da certificação da ISO 9001 em fevereiro de 1 994 foi vista

como um passo essencial para a reestruturação da empresa, embora se

tenha claro que ainda há um longo e duro caminho a ser percorrido. Busca-se

agora uma estabilidade em termos de processo que possibilite prever

ocorrências e identificar falhas. Adicionalmente, enfatiza-se um maior

investimento na melhoria dos sistemas de informação, no processo produtivo e

administrativo e nas áreas-chave.

A análise de cada processo permitiu identificar quais eram mais sensíveis

à falhas. A partir daí, estes processos foram sendo reestruturados ou foram

reajustados os pontos específicos de cada processo que poderiam apresentar

erros. Uma vez feitas correções ou ajustes em determinado processo, a grande

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preocupação passou a ser o sistema de informações. A meta é torná-lo capaz

de identificar o impacto destes ajustes na produção como um todo e

consequentemente no resultado final.

A longo prazo e, uma vez estando totalmente sedimentados os conceitos

da ISO 9001 , a empresa estará partindo para a adoção da ISO 9004.

A reestruturação também implicou unificar os laboratórios de controle de

qualidade. Anteriormente, havia dois, um para tintas líquidas e o outro para

pastosas, o que, em situações nas quais existia um produto "comum",

resultava na geração de dois padrões distintos. Uma vez resolvido este

problema, tornou-se possível expandir para os fornecedores a filosofia de

qualidade que começava a ser implantada na empresa.

A escolha dos fornecedores é feita a partir de um parecer positivo da

área técnica. Procura-se trabalhar com um intervalo de aceitação para

pigmentos e resinas que esteja de acordo com padrões internacionais

(principalmente para pigmentos).

As Embalagens e as Garantias Oferecidas

As embalagens, conforme mencionado anteriormente, procuram destacar

a logomarca da empresa, embora não sejam vistas como um diferencial

competitivo.

As tintas pastosas apresentam garantias entre 6 meses a um ano .

conforme a linha. Já a tinta líquida possui garantia máxima de seis meses. O

rastreamento, no entanto, pode ser feito por um prazo de dois anos,

independente do produto. A pol ítica de garantia util izada é a de mercado. O

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diferencial que se procura agregar está na assitência técnica oferecida ao

cliente.

PERSPECTIVAS

Atualmente, a participação de mercado da Empresa A está em torno de

20% O mercado como um todo apresentou uma forte contração nos últimos 4

anos e a queda no volume vendido pela Empresa A chegou a 25%. A empresa

busca crescer 20% para retomar os volumes que vendia em 1 989.

Com a redução da demanda, a empresa aproveitou para se reestruturar:

"Quando as pessoas reduzem o seu trabalho, começam a

buscar outras atividades que justifiquem seus empregos, o que

na verdade acaba por se traduzir em mais custos. Ao identificar

em cada processo a sua verdadeira relevância, cada pessoa

pode entender melhor o seu papel na empresa. Isto poderá

trazer uma atmosfera tal que nos permitirá nos concentrarmos

em pontos que anteriormente não abordávamos"

Apesar do cenário profundamente recessivo no mercado interno, a

empresa não achou que este seria o timing adequado para se lançar

efetivamente no exterior. Ao invés disto, procurou realizar a reestruturação,

da qual ainda percebe muito para ser feito: reduzir a estrutura, reorientar

investimentos, etc.

A parceria com os fornecedores é vista como fundamental, pois, embora

boa parte dos clientes ainda tenham suas decisões de compra baseadas em

preço, os grandes clientes estão cada vez mais se voltando para busca de

qualidade, produtividade, confiança e regularidade. Ao invés de se

utilizar da parceria com os fornecedores para fornecer um produto

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competitivo em termos de preço, a Empresa A busca agregar estes

diferenciais ao seu produto de forma a conquistar definitivamente o cliente:

" O nosso forte não é fazer uma tinta 40% mais barata; o nosso

forte é fazer uma tinta boa que o cliente receba para o resto

da vida"

Na outra ponta, a associação com o grupo alemão é encarada como uma

oportunidade de se obter ganhos tecnológicos e adequações a parâmetros

mundiais que, juntamente com a utilização das normas estabelecidas pela ISO

9001 , possibilitarão à empresa entrar no mercado extemo com qualidade

intemacional.

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EMPRESA "B"

A Empresa B é uma empresa líder no setor em que atua. Seus

produtos são basicamente pistões e pinos de pistões, bronzinas, buchas e

arruelas, sinterizados em geral e engrenagens.

A empresa conta com duas grandes unidades em São Paulo, uma

para pistões e a outra para bronzinas. Além disso, existe uma unidade em

Indaiatuba para a produção de sinterizados, outra no Rio de Janeiro (de

bronzinas) e outras duas nos Estados Unidos.

A capacidade instalada da unidade de pistões, foco deste estudo, é de 1 3 milhões de unidades/ano.

A EMPRESA

A Empresa B surgiu em 1 950, basicamente procurando atuar no

mercado doméstico de reposição de pistões. Nesta década, a indústria

automobilística encontrava-se em plena fase de desenvolvimento, o que

viabilizou uma série de acordos entre empresas domésticas e grandes

grupos internacionais do setor de autopeças no sentido de promover

transferências diretas de tecnologia. Para a Empresa B, isto se traduziu em

valioso know how fornecido por uma empresa alemã que é hoje uma de suas

concorrentes no mercado externo.

Em 1 960, a empresa absorveu uma fábrica de bronzinas pertencente

aos seus acionistas . A partir desta década, a empresa passou a ter uma

postura mais agressiva no mercado procurando buscar clientes fora do

país. Com isso, conseguiu viabilizar um contrato com a United Aircraft

Corporation, iniciando, em 1 966, o fornecimento de pistões para motores de

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aviões Pratt and Whitney. A conquista deste cliente também representou

"formalmente" o marco inicial para que fosse estabelecido um sistema de

Qualidade na Empresa B.

Nos anos 70, a empresa começou a exportar para outro grande

cliente nos E.UA, a Caterpil lar. Da mesma forma, o nível de exigência deste cliente era bastante alto no que tange à qualidade dos fornecedores. A

adequação às especificações da Caterpillar possibilitou a Empresa B

estabelecer uma parceria que teria enorme importância no seu

desenvolvimento.

Em 1 978 foi criado o centro de tecnologia da empresa, fruto de um

esforço contínuo em reverter um percentual do faturamento para aplicar

em pesquisas de tecnologia. Este centro dispõe atualmente de instrumental

de ponta (microscopia eletrônica, difração de raio x, holografia) e equipe

altamente qualificada.

Atualmente a empresa conta com cerca de 4000 funcionários,

distribuídos entre suas unidades de São Paulo (pistões e bronzinas) no bairro

de Santo Amaro e a unidade do Rio de Janeiro (bronzinas). Existem ainda

duas fábricas nos Estados Unidos, localizadas na Carolina do Sul, que se

destinam a produção de pistões articulados e convencionais.

o MERCADO

O mercado no qual a empresa atua pode ser dividido em 3 segmentos: originais, reposlçao e exportação. As peças originais

destinam-se basicamente às montadoras enquanto que os produtos de

reposição constituem o mercado de atacado.

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Os principais clientes domésticos são as grandes montadoras, tanto de

veículos "diesel" como de veículos "leves", tais como a Autolatina, Fiat e

General Motors,

O mercado doméstico caracteriza-se por uma concorrência forte e

atuante, situação bastante distinta daquela que existia no passado, quando

havia uma reserva de mercado, Os concorrentes atualmente são indústrias

nacionais e também grandes grupos estrangeiros, A competição muitas vezes

acaba sendo baseada no fator preço, o que é visto como algo bastante

prejudicial ao mercado,

O Mercado Externo

A Empresa B destina atualmente algo em tomo de 30% da sua produção

ao mercado externo, Os principais clientes estão nos Estados Unidos e na

Europa.

O fortalecimento das relações com o mercado norte-americano se deu na

medida em que a empresa foi percebendo a necessidade de estar mais próxima

de seus grandes clientes. Por muito tempo, a Empresa 8 manteve uma

representação técnica nos Estados Unidos, o que começou a se tomar

incompatível com a idéia de oferecer ao cliente uma resposta cada vez mais

rápida.

Assim, em 1 988, surgiu em Michigan um centro de tecnologia nos moldes

do que existe em São Paulo, composto por engenheiros e técnicos prontos

para oferecer suporte a clientes "de peso" tais como a Caterpillar e a Cummins

Engine. Em 1 989, surgiu a fábrica de pistões articulados, com uma concepção

de produto pioneira no mercado. No ano seguinte, foi criada a segunda fábrica

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(ambas na Carolina do Sul), desta vez para produção de pistões convencionais

e paralelamente foi acordada uma joint venture para a produção de bronzinas,

no estado de Indiana.

Os clientes dos Estados Unidos são, na sua maioria grandes fabricantes

de motores, dos quais, além das já citadas Caterpillar e Cummins, destaca-se a

Mack Truck. A penetração neste mercado não é fácil, pois nele atuam grandes

fornecedores do mundo inteiro.

Na Europa existe um escritório de representação em Stuttgart, que

atende a clientes como a Audi, a Mercedes Benz (que também é um cliente

doméstico) e a Volkswagen na Alemanha, a Scania e a Volvo na Suécia e a

Renault na França. Existem ainda clientes em desenvolvimento, como é o caso

da peugeot. A empresa busca ampliar cada vez mais o leque de clientes na

Europa.

A CONCEPÇÃO DE QUALIDADE NA EMPRESA

As idéias básicas que permeiam o Programa de Qualidade Total da

empresa estão resumidas em quadros que se encontram distribuídos por

todas as suas áreas:

"A Empresa B S.A. Indústria e Comércio e suas subsidiárias

adotam como política para a qualidade corporativa o

compromisso de fornecer produtos e serviços excelentes que

atendam ou excedam a expectativa dos clientes, com custo

competitivo e no prazo adequado. "

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Entende-se na empresa, pelas palavras de seu presidente, que

competitividade é condição de sobrevivência e qualidade total, por sua vez, é

condição básica de competitividade.

Em todos os lugares nos quais o símbolo da empresa está presente,

pode- se ler imediatamente abaixo "qualidade e tecnologia". Isto faz parte há

muito tempo da política da empresa e é fruto da visão arrojada dos

fundadores em perceber o diferencial que estas duas palavras poderiam

representar para conquistar clientes:

"Qualidade é a locomotiva da Empresa B; sempre se falou e

sempre se estará falando em qualidade na empresa, não como

um modismo, mas como uma preocupação efetiva. "

A responsabilidade sobre a qualidade era, inicialmente, delegada aos

funcionários responsáveis pela inspeção final. Esta inspeção era na época, inclusive, um ponto forte da empresa, com muitos funcionários e equipamentos

específicos preparados para brecar qualquer falha que ocorresse na linha de

produção. Posteriormente, caminhou se para um controle de qualidade,

para o qual foi estabelecida uma gerência, à qual os inspetores passaram

a se reportar.

Em 1 987, a responsabilidade sobre a qualidade na empresa passou a ser da Gerência de Garantia da Qualidade, o que significou uma mudança de

filosofia na empresa e preparou o terreno para as reestruturações que se

seguiram.

No ano de 1 993, a gerência de Garantia da Qualidade deixou de existir e

foi criada a Diretoria de Qualidade Corporativa. Esta diretoria passou a

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determinar as diretrizes do Sistema de Qualidade para todas as unidades da

empresa. Foi nesta época que a empresa obteve a certificação da ISO 9001 .

Com a última reestruturação, ocorrida em janeiro de 1 994, esta diretoria

foi extinta, passando cada unidade a ter a sua área de Qualidade. Cada

uma destas áreas reporta-se diretamente à superintendência. Os instrumentos

corporativos permaneceram, mas foi delegada a cada unidade uma autonomia

para lidar com as questões da Qualidade.

Com certa regularidade, todas as unidades se reunem com o Conselho

Administrativo da empresa e apresentam um documento conhecido

como Management Review , cuja principal finalidade é acompanhar a

eficiência do sistema de qualidade. O conselho diretor delega a uma comissão

formada por membros das diversas unidades a responsabilidade de revisar os

instrumentos corporativos, caso isto se torne necessário.

A atual pol ítica da Qualidade da empresa foi iniciada em 1 989, com a

instituição do Programa de Qualidade Total da Empresa B. Os conceitos

inerentes a este programa (entender o significado de clientelfornecedor interno,

por exemplo) foram considerados pela empresa, na época, bastante inovadores.

Nas palavras do Engenheiro Executivo da Qualidade da unidade de

pistões:

• A Empresa B tem uma tradição de usar todos os conceitos

modernos de Qualidade com bastante precocidade.

Exemplificando, usamos Círculos de Controle de Qualidade há

treze anos; hoje não usamos mais, pois passamos a fazer uso

de outras ferramentas. "

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Além disso, a manufatura celular existe na empresa há cinco anos e o

just in time há sete. Todo este instrumental está diretamente l igado a concepção

de qualidade da Empresa B, que por sua vez tem como princípio chave atender

as necessidades do cliente:

" Satisfação do Cliente em todos os aspectos: logística,

qualidade, preço, atendimento, relação comercial. Isto é a visão

de Qualidade Total, pois esta não se limita à qualidade de

produto. "

OS ATRIBUTOS DA QUALIDADE

Dentro da visão de Qualidade Total acima apresentada, são muitos os

desdobramentos que a "qualidade Empresa B" apresenta:

Um primeiro foco está na qualidade percebida. Isto se verifica pelo

empenho da empresa em, através das palavras "qualidade" e "tecnologia"

(que aparecem sempre abaixo de sua marca), fortalecer na mente do cliente a

associação da marca à algo de qualidade. Isto é tão importante para a

Empresa B que, assim como a preocupação com o atendimento, faz parte

da sua pol ítica de Qualidade. No que se refere a este último atributo,

ressalta o Engenheiro da Qualidade, "não adianta ter um produto maravilhoso

se não for possível entregá-lo no prazo desejado pelo cliente" .

A conformidade às especificações é outro ponto absolutamente

fundamental. A empresa dispõe de engenheiros extremamente especializados

em projetos de pistões e pinos; caso o cl iente apresente um projeto que não

seja considerado (por esta equipe) perfeitamente adequado às suas

necessidades, procura-se evidenciar o porquê desta não adequação. Se, ainda

assim, o cliente insistir em manter o projeto conforme a sua idealização, este

será executado mesmo que não esteja de acordo com aquilo que a equipe da

empresa consideraria correto.

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A qualidade no desempenho é vista como consequência direta da

garantia de confiabilidade. Ao se estabelecer uma preocupação com o trabalho

que é feito desde o desenvolvimento do produto até o seu output final, tem se

como meta oferecer ao cliente um resultado com alto grau de confiabil idade.

Assegurada esta percepção por parte do cliente, não há como questionar o

seu desempenho.

No que tange à questão estética, sua relevância ou não irá depender

diretamente de qual mercado está sendo analisado:

No mercado de montadoras, o aspecto visual não é um dos

elementos diferenciadores do produto, uma vez que cada alteração no mesmo é

feita em conjunto com o cliente. Consequentemente, o cliente já conhece por

antecipação o resultado desta modificação.

Alternativamente, no mercado de reposição, do qual tomam parte

atacadistas e distribuidores, quando é feita alguma alteração no produto (por

exemplo, troca de componentes utilizados, resultando em uma peça mais

brilhante) "visualmente" positiva, esta pode ser encarada como um estímulo

para aumentar as vendas. Ainda assim, pode valer mais neste

momento o atendimento que a Empresa B oferece, explicando o porquê

daquela alteração, do que o visual atraente.

o CONTROLE NO PROCESSO PRODUTIVO

Até cerca de cinco anos atrás, a Empresa B tinha a sua linha de

produção disposta de forma tradicional, isto é, havia uma área reservada à

fundição, uma outra área destinada à usinagem e assim sucessivamente.

Quando ocorria algum problema na produção, a peça ou o lote eram

enviados para o laboratório, onde se procurava fazer um rastreamento a fim

de que fosse identificada em qual etapa do processo havia ocorrido este o

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problema. Nenhuma das áreas no entanto queria assumir a responsabilidade pela falha ocorrida, o que resultava em um ambiente bastante difícil no "chão"

da fábrica.

A grande mudança na empresa veio com a introdução da manufatura

celular. Este conceito significava a adoção de pequenas linhas de produção

totalmente independentes. Os inputs são os componentes forjados, que sofrem

a usinagem e a montagem durante a sua passagem por estas "mini fábricas"

gerando um output já devidamente embalado.

No início estas mini-fábricas eram em número de oito. Para cada

manufatura, havia um executivo responsável perante a administração.

Posteriormente, reduziu-se o total de manufaturas celulares para quatro

unidades.

Recentemente, uma nova alteração foi feita, criando-se duas áreas de produção distintas: "diesel" e "leves". A estrutura operacional continuou a

mesma: o pistão entrando em estado "bruto" em uma célula com formato de

"U" e saindo desta célula já pronto. Para supervisionar este trabalho, foram

estabelecidos dois cargos executivos, um responsável por "diesel" e o outro

por "leves". Acima destes cargos, está o gerente geral da fábrica,

responsável em última instância por tudo que acontece nas duas áreas.

Esta mudança na filosofia da

reestruturação no layout da fábrica.

redistribuida pelas células, que

empresa, implicou uma profunda

Toda a parte de usinagem foi

foram devidamente numeradas.

Teoricamente, a fundição deveria estar próxima a cada célula, mas os

custos de remoção seriam brutais (a fundição localiza-se fisicamente no

mesmo lugar desde o inicio das atividades da empresa). A solução alternativa

foi "dividir" a área de fundição, associando cada "parte" da fundição a uma

célula "leve" ou "diesel" correspondente.

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A primeira etapa de um processo produtivo é o desenvolvimento

de projetos. Atualmente, a maior parte dos desenhos de projetos são feitos

na própria empresa, diferentemente do procedimento adotado na década

de 60, no qual todos os projetos eram concebidos pelo cliente e

repassados para a Empresa B. Este é o caso de alguns pistões desenvolvidos

naquela época e utilizados ainda hoje.

Hoje em dia, quando ocorre a situação em que o cliente apresenta o

desenho para a Empresa B, este é convertido para um "desenho Empresa

B". As especificações originais são mantidas, mas é feita a conversão a fim de

que o desenho possa ser utilizado na linha de produção.

Nos desenhos são definidas as características críticas da peça em

questão. Geralmente, um pistão apresenta 2 ou 3 destas características,

tais como o diâmetro principal e a altura de compressão desejada. Se o

diâmetro estiver errado, todas as outras medidas que são dadas em função

desta estarão erradas também. Já quando ocorre um erro na compressão, há o risco de estourar o motor no qual a peça estará sendo utilizada.

o desenvolvimento de um pistão leva aproximadamente uns dois

anos, o que faz com que os engenheiros de produto estejam

constantemente pesquisando novos processos de fabricação ou

tecnologias que possam ser trabalhadas em produtos que entrem no

mercado futuramente.

Após a definição do projeto são estabelecidos os planos de trabalho

(PTs) e as folhas de operação (FO's). Cada máquina apresenta as PTS e

as FO's correspondentes.

Nas PTs está descrito todo o ferramental que deve ser utilizado

em determinada etapa do processo. Aí se incluem os instrumentos de

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medição necessários, que o funcionário vai buscar no almoxarifado referente /

àquela célula de produção em que está trabalhando.

Atualmente, ao invés de um grande almoxarifado central existem

pequenos almoxarifados que atendem a um grupo de células. O mesmo

ocorre com os laboratórios metrológicos. Isto, na visão da empresa, aumentou

consideravelmente a produtividade.

As FO's descrevem a operação que deve ser realizada naquela

etapa do processo.

Sendo o pistão uma peça extremamente complexa, no que tange

às suas especificações em termos de dilatação térmica e deformação

elástica, são util izadas também folhas de inspeção, as FI's, que têm por

objetivo identificar o quê deve ser inspecionado e como deve ser feita esta

inspeção (C.E.P. , amostragem, lote total).

Com o advento das mini fábricas, foi eliminada a figura do inspetor

volante, aquele que percorria diversas etapas da linha de produção

verificando as falhas em cada etapa. O layout em "U" das células de

produção permitiu a cada operador tornar-se multifuncional e, mediante

treinamento, deixá-lo capacitado para entender das diversas etapas do

processo de fabricação.

O nível de tolêrancia de erros aceitável varia de projeto a projeto,

embora esteja se procurando alcançar os padrões internacionais do

setor.

Mensalmente, são realizadas reuniões de resultados operacionais

com a presidência, onde são discutidos os macro indicadores de cada

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unidade. Neste momento, são avaliados os níveis de refugo e retrabalho

(controlados mensalmente). Os indicadores de refugo descrevem a

quantidade de peças defeituosas, o tipo de defeito e a área de maior

incidência, a fim de serem identificadas quais as medidas que devem ser

adotadas para tentar reduzir estes indicadores. Todos estes dados irão

compor um indicador ainda mais amplo, que é o custo da Qualidade.

Para avaliar mais detalhadamente as causas de ocorrência de erros, a

empresa trabalha com designs of experiments , uma técnica moderna que

permite observar como diversas variáveis do seu processo se interrelacionam.

Atualmente, a Empresa B está com 4 d.o.e.'s para baixar o índice de

refugos em tipos específicos de pistões que apresentam problemas de

porosidade.

A TRANSMISSÃO DA QUALIDADE

O ponto básico que se considera para uma transmissão adequada

da filosofia da qualidade na Empresa B é a consistência da mensagem que a

alta administração procura passar:

"O chão da fábrica só começa a acreditar neste projeto se

o mesmo for encarado com seriedade por aqueles que estão

no topo da empresa. As maiores dificuldades no entanto,

ocorrem na média gerência e não por parte dos funcionários

diretamente envolvidos no processo produtivo. "

Com um cenário de constantes transformações, a empresa buscou

oferecer aos funcionários um treinamento adequado para

mudanças e conscientizá-los cada vez mais da importância

suas funções.

lidar com estas

da qualidade em

'-

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Assim, um programa de destaque foi o Programa de Educação para a

Qual idade, que consistia de cursos dados fora da empresa reunindo

funcionários de distintos níveis hierárquicos. Durante a realização do PEQ,

discutia-se sobre a filosofia, a pol ítica e os objetivos da qualidade dentro da

Empresa B. As dúvidas que surgiam eram expostas em um mural para

que cada diretor ou executivo responsável pudesse respondê-Ias ao final.

Os resultados deste programa foram considerados bastante satisfatórios e

mais recentemente foi realizado um novo programa, de reciclagem e

atualização, com o nome de Equipes de Participação para a Qualidade (EPa),

organizado pela área de treinamento.

Além disso, existem

"madureza", cujo objetivo

elementares de matemática

aplicadas aos seus trabalhos:

há muito tempo na empresa os cursos de

básico é oferecer aos funcionários noções

desenhos de máquinas e demais ciências

"Não se pode oferecer a um funcionário um curso operacional

se ele não sabe ler um desenho ou, por exemplo, medir um

relógio comparador. Quando foi iniciado o trabalho com mini­

fábricas, mais importante se tornou este treinamento. Todos

os funcionários da fábrica passaram por isto, pois eles estavam

sendo habilitados a entender não somente daquilO que já

faziam, mas de todas as etapas envolvidas numa mini­

fábrica. "

Paralelamente, foram executados treinamentos no Centro de

Treinamentos da empresa, localizado próximo à unidade de pistões.

Isto possibilitou aos funcionários entenderem as noções de

cliente/fornecedor interno, bem como fazer um serviço direito da primeira

vez, evitar o retrabalho e só enviar ao cliente aquilo que estiver atendendo ..

às suas necessidades:

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"Isto é uma cOisa que as pessoas têm bastante claro: não

adianta produzir a qualquer custo e entregar lixo ao cliente. A

própria estabilidade da empresa, a sua permanência no

mercado e consequentemente o emprego de todos na

empresa depende da nossa conciência em buscar sempre

satisfazer o cliente. "

125

o primeiro canal básico para este envolvimento é a mensagem

transmitida por cada chefia aos seus subordinados. Além disso existem os

canais formais:

-+ a política de Qualidade da empresa está afixada em todos os

lugares da fábrica. Não se espera que todos os funcionários saibam a

pol ítica "de cor", mas que consigam expressá-Ia em poucas palavras

ou na tarefa que desempenham.

-+ o jornal interno da empresa, de circulação mensal, divulga todos

os prêmios que a empresa vem obtendo com o seu Programa

de Qualidade, reforçando o peso desta pol ítica internamente e

mostrando como o cliente está vendo os resultados. Foram obtidos

dois prêmios em 1 994, um deles conferido pela Audi alemã para 20 dos

seus 1 200 fornecedores.

-+ videos são elaborados e exibidos nos refeitórios, mostrando os

resultados em cada uma das áreas de trabalho, programas de saúde e

educação implementados, etc.

A QUALIDADE PARA O MERCADO EXTERNO

Uma avaliação do mercado externo passaria, na opinião do

Engenheiro de Qualidade da empresa, por três estágios: o primeiro se refere

ao "projeto" e às condições do mercado em si, à sua atratividade em

termos de rentabilidade e facil idade de penetração; o segundo, a tudo que se

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relaciona ao produto e

produtos; por fim o

à vocação da empresa para produzir determinados

terceiro estágio envolve a capacidade da

sua marca às qualidades do produto. empresa em associar a

As Caracteristicas de Mercado/Clientes

A conquista de clientes no mercado

deu graças à capacidade da Empresa B em

grandes montadoras internacionais.

externo,

atender

como foi visto, se

às exigências das

Um exemplo de como a empresa se util izou da análise do mercado

para avaliar a possibilidade de implementar uma nova fábrica fora do país

ocorreu há alguns anos atrás, quando se pensou em abrir uma unidade em

Portugal. Após diversas anál ises, optou-se por construir uma segunda

fábrica nos Estados Unidos, mantendo a estrutura de atendimento ao

mercado europeu através de um escritório de representação.

o escritório de Stuttgart é responsável por todos os contatos que

são feitos na Europa, atendendo a grandes clientes como a Fiat, a Audi, a

Volks, a Renault, além de procurar quaisquer empresas que tenham

potencial para se tornarem novos clientes.

Nos Estados Unidos, embora existam as duas fábricas na Carolina

do Sul, percebe-se que, para alguns clientes, é fundamental a existência de um

canal intermediário. Para conseguir vender para a Ford, por exemplo, a

Empresa B precisou de (além de responder um enorme questionário de

exigências) se utilizar de uma determinada representação da empresa

como intermediário. Esta representação pertencia ao filho de um dos vice­

presidentes da Ford, razão pela qual era amplamente fácil para a mesma

obter qualquer contato na empresa.

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A concorrência internacional é bastante acirrada e formada, na

sua maior parte, por multi nacionais americanas e alemãs. Algumas das

grandes montadoras (como é o caso da GM) apresentam uma demanda tão

grande por pistões que chegam a ter uma fábrica própria. Há alguns anos

atrás, a Empresa B recebeu uma proposta de fornecimento de pistões

para a Pontiac americana (GM) que, se fosse concretizada, tomaria

praticamente toda a capacidade produtiva da empresa.

Embora a Empresa B se considere uma empresa de tecnologia bastante

avançada dentro do setor, existem concorrentes que fazem investimentos

brutais em automatização, o que lhes garante custos bastante competitivos.

o monitoramento da concorrência é mais fácil de ser feito no mercado

de peças originais, pois é possível estimar o número de motores que foram

produzidos a cada ano. Além disso, alguns clientes fornecem relatórios anuais

para a empresa, avaliando o seu desempenho e indicando a sua participação

no total produzido. No mercado de reposição, é praticamente impossível

avaliar a participação da empresa.

o mercado é muito dinâmico, sempre existem novos participantes

que, em alguns casos, podem ser até as próprias montadoras. A empresa

procura estabelecer acordos de redução de custos com os clientes,

mas sempre há o risco de um outro concorrente propor um nível mais

baixo do que o previsto pela Empresa B. Apesar deste cenário, a empresa

acredita que foi montada, estruturada e dirigida para competir

internacionalmente e como tal está apta a brigar com seus concorrentes no

mercado externo.

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o Produto

No histórico da empresa, um dos pontos fundamentais foi a troca de

tecnologia com empresas estrangeiras e a posterior entrada de profissionais

oriundos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Este know how

permitiu à empresa desenvolver alguns produtos que atualmente chegaram a

tal nível de aprimoramento (como é o caso de algumas ligas) que não existe

nada comparável no mercado internacional. O diferencial é pequeno, mas a

empresa sabe que ele existe.

Quando ocorre de um produto da Empresa B ser similar ao da

concorrência, isto é, de ambos atingirem o mínimo exigido pelo cliente, a

vantagem comparativa da empresa fica entre a qualidade "Empresa B" ou, em

alguns casos, um preço inferior que a empresa acredite poder praticar.

Segundo o engenheiro de Qualidade da empresa, o mais importante

hoje em dia para se avaliar um portfolio de produtos a serem exportados

é a margem de contribuição líquida que cada produto oferece.

No que se refere às linhas de produtos trabalhadas no mercado

externo, o maior destaque são os pistões articulados e, com um volume

bastante inferior, os pistões conhecidos como squeeze casting.

A produção de pistões articulados era inicialmente feita no Brasil , mas

o aumento de demanda por este produto nos Estados Unidos levou à

criação de uma unidade nos E.UA própria para este mercado. No mercado

interno, existe somente um grande cliente em Curitiba.

Quando a tecnologia de fabricação de pistões squeeze casting

começou a ser util izada, esta se mostrou bastante atraente, pois tornava

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possível eliminar a porosidade da peça no momento de fundição. No entanto,

com a introdução do pistão articulado houve uma substituição imediata.

Atualmente, existe uma certa flexibilidade de produção de pistões squeeze

casting , embora limitada a pequenos lotes, tendo em vista que o seu

mercado é bastante inferior ao de pistões articulados. Recentemente, a

empresa iniciou um projeto de desenvolvimento com um cliente italiano.

Ainda considerando características pertinentes ao produto, as condições

de transporte são um ponto de extrema relevência, pois a pontualidade na

entrega é um fator chave para os clientes no mercado externo.

Para o mercado europeu, no qual a constância da entrega é sempre

levada em consideração, procura-se trabalhar com um estoque de segurança

no local. O fornecimento para cl ientes como a Audi e Renault é just in time

e devido a imprevisibilidade nos portos brasileiros (greves, atrasos, etc. ),

a empresa optou por manter este estoque de segurança.

Para o mercado americano, o risco acima também é considerado,

pois, apesar de lá existirem duas unidades, alguns volumes são enviados

da unidade de São Paulo.

A Produção

A Empresa B possui a certificação da ISO 9001 desde agosto de

1 993 para as suas três unidades produtoras de pistões e bronzinas (São

Paulo, São Bernardo e Rio de Janeiro). Entende-se que com a certificação a

empresa passa a contar com uma vantagem competitiva para poder ampliar

os seus mercados, principalmente na Europa.

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Como foi observado, a empresa já apresentava um sistema de qualidade

próprio desde 1 966, o que significa dizer que quase a totalidade das atribuições

da ISO já existiam na empresa (registros de inspeções, documentações

diversas, auditorias internas em sistemas, processos e producão, etc.). As

maiores adaptações e implementações se referiram aos procedimentos de

análise de contratos.

"Quem lê a ISO tem a impressão de estar lendo o óbvio, mas

nem todos praticam o óbvio. A ISO é um mínimo para se dizer

que a empresa é administrada com qualidade. Isto não quer dizer

que a empresa deva parar neste mínino. "

Desta forma, a empresa procurou sempre deixar claro que qualquer

esforço de melhoria da qualidade, antes de ser visto como meio para se obter a

certificação, deveria significar uma forma de aprimorar cada vez mais o sistema

de qualidade da Empresa 8. A certificação viria como uma decorrência natural

deste processo.

Adicionalmente, buscou-se uma otimização do sistema que tivesse como

consequência a redução de custos em não conformidades:

"Com esta prática, que já existia na Empresa 8, de estabelecer

os procedimentos através das FO's e PT's a tendência é

minimizar as não conformidades. Assim, estamos diminuindo

custos, refugos, índices de retrabalho. Consequentemente,

aumenta a quantidade de peças boas, a eficiência geral da

fábrica e os ganhos em competitividade. "

Ao invés de se utilizar do custo da Qual idade (ou custo da não obtenção

da qualidade) que mensura o custo médio de cada peça rejeitada nas diversas

etapas da produção, a empresa se util iza de um indicador conhecido como

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"dispêndio com não conformidade". Neste caso, cada refugo é avaliado em

termos de unidades de venda perdida e mensurado em função do preço de

venda praticado para as peças boas.

Assegurar um bom desempenho dos fomecedores também é um

ponto muito importante para a Empresa B. Muitos dos fomecedores da empresa

já estão certificados.

Atualmente, o preço tem sido um forte critério de decisão na escolha dos

fomecedores, embora um padrão de qualidade seja exigido de todos:

"Caso seja necessário, faremos uma inspeção 100% no

fornecedor. Se o nível de qualidade do fornecedor for abaixo do

nosso mínimo e este fornecedor for interessante para a empresa,

o que se pode fazer é ajudá-lo a desenvolver processos que

o liberem destas inspeções brutais. "

A localização é um quesito considerado na escolha de fomecedores,

embora para muitas matérias primas, não existam fornecedores próximos

da empresa.

A Empresa B dispõe de um manual de Qualidade para fomecedores,

do qual constam informações referentes ao processo de credenciamento do

mesmo, bem como os critérios de avaliação de desempenho utilizados.

Para um fomecedor que esteja iniciando o seu trabalho com a empresa,

são realizadas inspeções de recebimento em todos os lotes. Nestas

inspeções, são feitas análises amostrais de propriedades químicas,

metalúrgicas e mecânicas.

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Se o fornecedor atende a determinadas exigências especificadas no

manual, ele poderá se tornar um fornecedor de Qualidade Assegurada.

Neste caso, são suspensas as inspeções de recebimento nos ítens para os

quais este fornecedor apresenta a qualidade assegurada. Ao invés disto,

são realizadas auditorias esporádicas nestes ítens, nas quais se verificam a

embalagem e o pedido de compra correspondente.

Quando ocorrem rejeições frequentes no recebimento de peças de

um determinado fornecedor, é realizada uma avaliação do produto na

unidade do fornecedor.

Alguns fornecedores podem ser, ao iniciar o trabalho com a Empresa B,

imediatamente classificados como de qualidade assegurada, se apresentarem

um histórico favorável ou se a empresa assim o desejar. Exemplificando,

para um fornecedor que possua certificação de uma entidade conhecida, não há sentido em realizar uma avaliação detalhada do seu sistema de

qualidade.

o status de fornecedor de qualidade assegurada não é permanente.

De tempos em tempos, são realizadas auditorias com o intuito de verificar se

o fornecedor continua apresentando produtos dentro das especificações

desejadas.

A Embalagem e as Garantias Oferecidas

A embalagem utilizada para os produtos que são exportados é avaliada

de duas formas: pelo aspecto estético e pela segurança.

A estética, como já foi mencionado, só é relevante para o mercado de

reposição. No caso das montadoras, a embalagem quando chega ao cliente

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é imediatamente inutilizada. A Empresa B está começando a trabalhar neste

mercado com embalagens retornáveis que, apesar de terem um custo inicial

significativamente mais elevado, garantem uma maior util ização da mesma.

Quanto ao aspecto da segurança, existem normas definidas para

palletização, limpeza do produto antes de embalar, empi lhamento máximo,

util ização em containers e demais aspectos relevantes durante o transporte

dos lotes exportados. Estas normas são definidas por cada cliente ou,

quando o cliente não possui

estabelecidas na Empresa B.

normas próprias, util izam-se as normas

Analogamente ao que ocorre com os projetos,

se existe uma norma do cliente, esta é "traduzida" em normas "Empresa B"

para que os funcionários possam utilizá-Ia.

Um ponto fundamental para viabilizar a associação da marca "Empresa

B" com a qualidade do produto está nas garantias que são oferecidas aos

clientes. Acredita-se que a confiança do cliente só é obtida na prática através

das garantias que lhe são oferecidas em termos de aspectos de qualidade

do produto, atendimento, prazo adequado e pontualidade na entrega.

Normalmente, o cliente estabelece quais os tipos de garantias que

ele deseja. Isto se traduz por uma série de questionários e auditorias

que o cliente realiza na empresa para poder certificá-Ia. Desta forma, a

utilização de padrões e normas aceitos internacionalmente se mostra

como um faci litador para atender às exigências dos clientes, pois o mesmo

já sabe o que vai encontrar na empresa, bastando verificar se estes

procedimentos estão sendo devidamente seguidos.

PERSPECTIVAS

A denominação "Programa de Qualidade Total Empresa B" é, na

verdade uma formalização de algo que a empresa sempre perseguiu desde o

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seu início, quando as exigências dos clientes externos foram se mostrando

cada vez mais rigorosas.

No entanto, nas palavras do Engenheiro de Qualidade da unidade de

pistões, o termo "programa" não pode ser visto como algo que tem um fim

previamente estabelecido. Na verdade, deve existir uma conciência por parte

de todos na empresa, de que qualidade significa melhoria contínua. Assim,

o que se procura neste momento na Empresa B é consolidar todos os passos

que até então foram efetivamente percorridos para a busca de qualidade,

para que a partir daí, seja possível fazer uso de instrumentos cada vez mais

sofisticados no seu processo de aprimoramento.

A busca de novos clientes no mercado externo também é uma meta,

sobretudo no mercado europeu.

Todo este processo está voltado para poder oferecer continuamente aos clientes a certeza de que qualidade é uma preocupação constante na

empresa. Além disso, possibilita à empresa estar sempre apresentando

vantagens competitivas no mercado internacional, fazendo com que a marca

"Empresa B" seja para o cliente cada vez mais um sinônimo de qualidade e

tecnologia.

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EMPRESA "C"

A Empresa C é uma empresa que fabrica disjuntores de baixa tensão,

peças e caixas moldadas para os mesmos. A maior parte de sua produção é

destinada ao uso residencial. Atualmente, a empresa tem procurado trabalhar

com uma nova linha de produtos, os contatores, que, acredita, deverão ter uma

demanda cada vez maior nos próximos anos.

A exportação é um ponto mandatório na empresa, pois sempre se mostrou

atraente em termos de benefícios e retornos financeiros.

A empresa está em vias de obter a certificação da ISO 9002, tendo

atravessado recentemente, um período de pré-auditoria para obtenção deste

certificado.

A EMPRESA

A Empresa C, está há vinte anos com sua unidade de disjuntores

instalada em Contagem, Minas Gerais. Nesta unidade, trabalham atualmente

cerca de 450 funcionários, a maior parte alocada em atividades de produção.

A estrutura administrativa é bastante enxuta, sendo composta de somente 40

funcionários. Além da fábrica, existem escritórios de vendas por todo o país.

O grupo "C" no Brasil conta ainda com a unidade de lâmpadas localizada

no Rio de Janeiro (com cerca de 1 500 funcionários) e com a CKV, associação da

Empresa C com a KV Aços , que se situa em um prédiO vizinho ao da unidade

de disjuntores.

O organograma da empresa é composto por uma gerência geral e 6 gerências de área (financeira, vendas Cone Sul, vendas locais, industrial ,

materiais e recursos humanos). Dentro da gerência industrial, existem

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responsáveis (conhecidos na empresa como owners) pela fabricação e pela

qualidade. Estas pessoas são o link entre o "chão" da fábrica e as gerências

setoriais.

Os produtos da Empresa C dividem-se em duas l inhas: a residencial e a

industrial. A produção estimada por mês para a linha residencial é de 600 mil

polos. A linha industrial é contada em termos de produtos e o número produzido

por mês é de 1 20 mil unidades.

O MERCADO

O maior mercado para a Empresa C é o dito residencial, ou seja, de

disjuntores que são util izados em instalações de prédios. As vendas para este

mercado respondem por cerca de 70% do faturamento da empresa. O restante é

coberto pela linha industrial , que são peças de maior porte util izadas em grandes

empresas ou navios.

A Empresa C fabrica disjuntores de diversas características e modelos,

procurando atender a uma gama variada de apl icações.

No mercado doméstico, a Empresa C possui 37% de market share , e é a

segunda no segmento de disjuntores. A líder possui 45% do mercado. A

empresa, no entanto, acredita que o mercado esteja em uma fase de

transformações e que os produtos nele existentes já não estão mais

conseguindo atender a determinadas características solicitadas pelos clientes.

Isto significa dizer que o cenário atual poderá sofrer alterações, com a entrada

de novos produtos ou substitutos.

Os demais concorrentes optam por uma competição via guerra de

preços, o que não lhes permite manter uma posição duradoura no mercado.

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Existe uma expressiva correlação entre a demanda pelos produtos da

linha residencial e o comportamento do setor de construção civil. Os meses de

dezembro e janeiro são os mais fracos em termos de vendas e a Empresa C

procura compensar esta redução de volume no mercado doméstico através das

exportações.

O Mercado Externo

Cerca de 35% da linha residencial é destinada ao mercado externo. Deste

percentual, uma parte é encaminhada para a matriz norte-americana, que

realiza a distribuição e o restante é · vendido diretamente. O maior mercado

para os produtos da empresa, descontando-se os Estados Unidos, é a Arabia

Saudita.

A Arábia Saudita tem realizado uma série de transformações no seu

sistema de proteção e de distribuição de energia, o que vem estimulando

consideravelmente as exportações da Empresa C para aquele mercado.

Somente em janeiro de 1 994, cerca de 20% da produção foi exportada para a

Arábia. Um dos carros-chefes desta exportação é uma peça de encaixe,

conhecida como plug in .

Existem ainda clientes esporádicos na Europa (Itália e Espanha) e na

América Latina (México e Venezuela).

A CONCEPÇÃO DE QUALIDADE NA EMPRESA

A visão de qualidade na Empresa C, segundo o seu Gerente de

Qualidade, " é a visão de um todo"

"A qualidade na Empresa C não pode focar somente o produto ou

o cliente. Se existe um problema em alguma atividade, ele precisa

ser corrigido. Se a comunicação interna é falha, ela precisa ser

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melhorada. Tudo é qualidade e obviamente isto repercute no

atendimento final do cliente. Não adianta programar um bom

produto se não é aquilo que o cliente deseja. "

138

Assim, todos os inputs recebidos de fornecedores, funcionários e clientes

são a base para se trabalhar a qualidade na empresa.

Embora exista um Departamento de Qualidade, a responsabilidade sobre

a qualidade é vista como um compromisso de todos na empresa.

A Empresa C realiza reuniões comunitárias, conhecidas como Workouts,

cujo objetivo é procurar debater e solucionar quaisquer questões pertinentes às

atividades da empresa. Nas palavras do gerente de Qualidade, "nos Workouts

não existem vacas sagradas" , isto é , diversos níveis hierárquicos se reunem

para debater problemas comuns.

Estes grupos são compostos por 10 pessoas sendo uma delas um

facilitador. Os facilitadores são muitas vezes selecionados em outras unidades

(lâmpadas, por exemplo) pois isto garante que estes não tenham nenhum

envolvimento direto sobre os problemas debatidos.

A idéia dos Workouts partiu da Presidência da Empresa C, nos Estados

Unidos, com o intuito de espalhar a filosofia de qualidade da Empresa C por

todas as suas unidades. Os Wor1<outs se baseiam em três pontos: (i)

simplicidade; (i i) rapidez e (ii i) auto-confiança, para lidar com as situações que

são apresentadas.

Além disto, o Gerente Geral procura promover almoços com grupos de

funcionários, com o intuito de quebrar uma barreira que existiu durante muitos

anos e de transmitir aos funcionários um panorama da situação da empresa.

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OS ATRIBUTOS DA QUALIDADE

Analisando-se especificamente o produto, a empresa possui uma forte

preocupação com a proteção do usuário final. Desta forma, a avaliação do

desempenho do produto é um ponto-chave para a Empresa C. Para se obter um

bom desempenho, dentro do que se observa nas características do produto, é

essencial trabalhar com as ferramentas adequadas.

Os outros atributos fundamentais da qualidade para a Empresa C são a

confiabilidade e o atendimento.

A confiabilidade é o resultado final oferecido ao cliente de tudo aquilo que

se refere ao produto: conformidade, durabilidade e características.

o atendimento é a resposta rápida que a Empresa C pode oferecer ao

cliente e envolve a qual idade percebida pelo mesmo, pois agrega ao produto

dimensões que "fisicamente" ele não possui.

O CONTROLE NO PROCESSO PRODUTIVO

Desde o recebimento da matéria-prima até o produto final, todos os

processos possuem um plano de qualidade. Neste plano, está especificado

aquilo que deve ser feito, como deve ser feito e quais os instrumentos a serem

utilizados para que aquilo seja feito.

Um requisito essencial para garantir o perfeito funcionamento deste

sistema é a qualificação dos funcionários. Eles são os responsáveis pelos ajustes

necessários nas máquinas e pela utilização das ferramentas corretas. Se algum

procedimento não está documentado, realiza-se um treinamento on lhe job com

os mesmos, ou, se necessário, um treinamento formal.

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Para a empresa, o estabelecimento de padrões se faz necessário para

evitar que a subjetividade inerente ao conceito de qualidade não crie conflitos

durante a produção. Desta forma, são utilizados padrões de aceitabilidade, visual

aids , tolerâncias e controles estatísticos. Os critérios de revisão destes padrões

variam de produto a produto, conforme os processos de fabricação sofrem

alterações.

O controle de qualidade envolve todas as etapas do processo de

fabricação, desde o fornecedor até o cliente final.

Para um fornecedor iniciar um trabalho com a Empresa C, é preciso

responder um questionário de avaliação e enviar algumas amostras para análise

nos laboratórios da empresa. Neste questionário, o fornecedor apresenta dados

pertinentes de sua empresa, quais os instrumentos e máquinas que possui e qual

a sua filosofia de trabalho. Caso seja aprovado, o fornecedor é cadastrado. O

tempo de avaliação varia de caso a caso.

Quanto ao cliente final, procura-se documentar todas as suas consultas

técnicas, a fim de poder convertê-Ias em benefícios para a empresa.

As inspeções nos produtos acabados são feitas em amostras randômicas.

Excetuando-se as inspeções visuais, todas as demais são registradas,

objetivando-se verificar o desempenho de cada etapa de trabalho ou de cada

produto em determinadas etapas. Da mesma forma, são realizados registros de

unidades defeituosas, refugos e unidades retrabalhadas.

O Gerente de Qualidade da Empresa C, embora consciente de que "todos

querem chegar a zero defeito" admite que o nível de tolerância de erros aceitável

na empresa é de 2%.

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Como a implementação das nornas ISO é ainda algo recente na empresa,

torna-se difícil mensurar os resultados em termos de redução de unidades

retrabalhadas e refugos.

A TRANSMISSÃO DA QUALIDADE

O veículo mais forte de comunicação da Qualidade na empresa é o seu

Gerente Geral. A Empresa C entende que se não houver comprometimento de

quem está no topo e se esta pessoa não mostrar que está envolvida, um

programa de Qualidade não poderá dar resultados positivos.

Um segundo passo para transmitir a qualidade é oferecer aos funcionários

a oportunidade de desenvolverem o seu trabalho de acordo com suas

habilidades.

Os canais trabalhados para a divulgação da política da Qualidade, além

dos já citados Workouts , são o jornal interno e os quadros espalhados pelas

diversas áreas da empresa. Além disso, a Empresa C procura cada vez mais

realizar treinamentos, de forma a aumentar a qual ificação de seus funcionários.

Para situações mais específicas, são realizadas reuniões informais, às

vezes na própria linha de produção.

Conforme admite o Gerente de Qualidade, ainda se verifica uma

resistência para assimilar determinados conceitos tais como "clientelfornecedor

interno"; em muitas ocasiões, os funcionários usam de uma "auto-defesa" para

atribuir às máquinas a responsabilidade sobre os erros na produção. Procura-se

então, identificar os gargalos na produção e, se as falhas são humanas, realizar

um trabalho de job rotation , para que estes funcionários ainda não muito

amadurecidos com aqueles conceitos, tenham a oportunidade de trabalhar em

outras etapas que estejam em perfeito funcionamento.

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QUALIDADE PARA O MERCADO EXTERNO

As Carac!eristicas de Mercado/Clientes

A concorrência no mercado intemacional é bastante forte: nos Estados

Unidos, por exemplo, a empresa Square O detém praticamente 50% do mercado.

A Empresa C, no entanto, acredita que o aval e a tradição de sua marca, o

suporte que dá ao seu produto e o seu atendimento são alguns dos diferenciais

que a tomam competitiva mundialmente.

A existência de um canal intermediário é encarada com certas ressalvas,

pois alguns canais acabam por impor determinadas restrições de mercado.

Exemplificando, a empresa espanhola com a qual a Empresa C está

desenvolvendo a tecnologia para fabricação dos contatares, ao invés de

funcionar como facilitador no mercado europeu, estabeleceu limites para sua

atuação no Cone Sul. Adicionalmente, nos países europeus, as demais filiais da

Empresa C são concorrentes tanto quanto o são as outras empresas do setor.

o Produto

Embora exista uma linha específica de produtos para o mercado extemo,

esta especialização para exportação não se originou de um estudo detalhado

sobre quais produtos deveriam ser exportados. Nas palavras do Gerente de

Qualidade "criamos esta linha específica porque existe demanda no exterior, o

que não ocorre no Brasil. "

Atender as necessidades específicas do cliente extemo é um ponto

bastante delicado para a empresa. Analisar particularidades do país importador

pode influir até mesmo no design do produto:

"Nós conseguimos fazer um trabalho direcionado para a Arábia

Saudita com a exportaçáo dos plug in. Precisavamos contornar um

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problema específico de altas temperaturas o que nos levou a

realizar a calibragem deste produto a uma temperatura especial

(402c). É um fator cultural? Sim. "

143

No entanto, para uma empresa como a Empresa C que trabalha com

produtos seriados, existem certos limites para a especialização de produtos ou

linhas de produtos, pois é difícil mensurar o impacto que uma alteração na linha

de produção pode causar.

Um exemplo que ilustra o ponto acima se deu quando a empresa entrou

em uma concorrência para atender a um cliente no Uruguai. Este cliente desejava

um produto que atendesse às especificações da norma IEC. Esta norma não é

utilizada pela Empresa C e contém determinadas características de proteção,

espessura e temperatura bastante particulares, o que resultou em grande

investimento em tempo de pesquisas e análises. Dispositivos especiais foram

construídos e ensaios experimentais foram realizados a fim de que fosse possível

atender as garantias estabelecidas contratualmente. Apesar de ter ganho esta

concorrência, os custos de adaptação se mostraram muito elevados para a

Empresa C. Além disso, a empresa não considerou o seu atendimento

satisfatório, pois estava fora do padrão que costuma oferecer.

A l ição que a empresa vê neste episódio é que, em certos casos, os custos

de adaptação são diretamente proporcionais ao risco do cliente optar por um

produto substituto, de preço mais atraente.

Em linhas gerais, os produtos destinados ao mercado externo apresentam

finalidades mais específicas do que os de consumo doméstico: enquanto nos

Estados Unidos existe uma peça para cada função (ar condicionado, painéis,

proteção de retaguarda de edifícios), no Brasil um mesmo disjuntor tem

aplicações diversas.

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o produto que é enviado como amostra para clientes externos em

potencial é retirado diretamente do estoque. A Empresa C não trabalha com

protótipos ou amostras especiais.

A Produção

A empresa prepara-se para uma decisiva auditoria que ocorrerá

no final do ano de 1 994, pois este é o último passo para formalizar a certificação

ISO 9002. Todavia, para os funcionários da Empresa C, a ISO 9002 já e uma

realidade.

Para o Gerente de Qualidade da Empresa C, " não é a ISO que vai trazer

novos mercados ou abrir novas portas. A ISO é um diferencial somente para

quem já está e pretende se manter no mercado intemacional. n

Acredita-se que a condição básica para assegurar o envolvimento dos

funcionários com os procedimentos da ISO está em um adequado start up por

parte do Gerente Geral. Também aqui, sem o comprometimento do "topo",

nenhuma política deste porte poderá gerar bons resultados.

O fornecedor é uma das peças que tomam parte deste envolvimento.

As condições básicas que a Empresa C espera de um fornecedor são

"qualidade", "prazo adequado" e "preços justos".

Existe na Empresa C um sistema de cadastramento de fornecedores que os classifica em "qualificados" ou "aprovados". Todo e qualquer novo fornecedor

da Empresa C é submetido a uma bateria de inspeções iniciais. Caso o

nível de falhas apresentado durante este período seja "zero", o fornecedor

é considerado qualificado. O tempo estipulado para a realização destas

inspeções varia segundo a atividade que está sendo inspecionada. Os

relatórios destas inspeções são mantidos em arquivos.

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o índice de nacionalização dos produtos da Empresa C é elevado,

embora alguns componentes utilizados na etapa de injeção da linha residencial

sejam exclusivos de fornecedor estrangeiro.

A Empresa C possui diversos contratos fechados de parceria com seus

fornecedores, nos quais são trabalhadas as três condições acima citadas:

qualidade satisfatória, cumprimento de prazos e condições financeiras

vantajosas.

o controle de estoques de matérias-primas é feito por ítens: para o

poliéster, por exemplo, o procedimento é first in first out , pois o shelf fife deste

produto é curto.

Para demonstrar a importância do elo com os fornecedores na busca de

qualidade internacional, um dos compromissos atuais da empresa é procurar

reduzir o seu ciclo de fabricação (período de tempo compreendido desde o pedido do cliente até a emissão da nota) de 8 para 4 dias. A Empresa C brasileira

chegou a perder uma concorrência para a filial de Porto Rico devido ao menor

ciclo de fabricação que esta apresenta. Para que esta redução se torne

possível, a empresa espera contar com a parceria de seus fornecedores.

A Embalagem e as Garantias Oferecidas

Um dos maiores focos de atenção na Empresa C ao se falar em

qualidade voltada para o mercado internacional recai sobre um tripé composto

por embalagem, condições de transporte e garantias oferecidas ao cliente.

Na empresa existe uma task force criada com o objetivo de avaliar a

percepção dos revendedores no que diz respeito à exposição do produto no

ponto de venda. Adicionalmente, existem estudos comparativos das embalagens

da Empresa C com as da concorrência que identificam possíveis diferenciais a

serem explorados.

Page 146: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COPPEAD · REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS ... eletro-eletrõnico e de tintas ... qualquer juízo de

"Nossas embalagens minimizam quaisquer riscos de deterioração,

dentro de um critério de análise muito rigoroso. A nossa

preocupação atinge também o aspecto visual, a etiqueta bem

feita. Qualquer falha neste sentido não pode de forma alguma

sair da fábrica e para isto existe a inspeção na expedição. "

146

Existem procedimentos específicos para os produtos exportados: as

embalagens são especialmente projetadas para transporte em containers e,

quando os volumes palletizados são grandes, utiliza-se porta-pal/ets para

facilitar a manipulação.

o cuidado no transporte é uma preocupação constante. Em certa ocasião,

houve uma reclamação por parte de um cliente árabe, alegando que os pal/ets

estavam desembarcando quebrados. Após uma avaliação do problema, a

Empresa C substituiu a madeira que estava sendo util izada por outra de

maior resistência e melhor qualidade, reforçou os pontos críticos e aumentou

a espessura dos pal/ets.

o transporte é feito por via aérea ou marítima (em se tratando de

quantidades maiores). A Empresa C possui acordos com muitas companhias

aéreas, pois entende que a chegada das mercadorias no prazo combinado é

prioridade para assegurar a lealdade do cliente. Como o mesmo não ocorre com

as companhias de navegação, procura-se sempre acompanhar os embarques

das mercadorias.

Para o gerente de Qualidade da Empresa C, a garantia dos produtos da

empresa tem de ser encarada como vitalícia:

"Se eu recebo um produto defeituoso do meu cliente,

independente do tempo de uso, este produto será analisado. Caso

esta análise implique em alguma ação corretiva, está

caracterizada a existência de um problema e graças a este cliente

pudemos identificá-lo. Então, o c/iente merece um produto novo. "

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A única eXlgencia que é feita ao cliente no momento em que este

apresenta um produto defeituoso, é de fornecer informações sobre as condições

de utilização do produto (umidade, temperatura, etc. ) a fim de se ter alguns

parâmetros para a sua análise:

"O papel da assistência técnica da Empresa C é procurar cobrir

uma falha no produto ou, se ocorre uma aplicação indevida,

orientar o cliente. "

PERSPECTIVAS

Até o final do ano de 1 994, todos os esforços e atenções estarão

direcionados para que a empresa obtenha formalmente a sua certificação da ISO.

O trabalho de divulgação é , no entanto, uma tarefa árdua e initerrupta,

que implica treinamentos, palestras, esclarecimentos de conceitos fundamentais

(quem é o cliente e como atender as suas necessidades, etc.)

A Política de Qualidade da empresa deverá, em breve, passar por uma

revisão a fim de que se torne um instrumento ainda mais eficaz para a

transmissão dos conceitos de Qual idade Empresa C.

"Todos precisam acreditar'"

No que diz respeito ao mercado externo, a empresa continuará

trabalhando no desenvolvimento de novos produtos que sejam competitivos internacionalmente, como é o caso dos contatores.

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EMPRESA "O"

A Empresa D é uma empresa que atua no ramo de componentes

forjados e usinados para a indústria automotiva. Seu parque industrial

compreende 4 unidades no Brasil e duas nos Estados Unidos. A unidade-mãe,

localizada em Jundiaí, ocupa uma área de cerca de 1 35 mil metros quadrados

A empresa apresenta equipamentos de forjaria pesada, média, leve

e de precisão. Além disso, possui áreas dedicadas a usinagem e gravação

de matrizes. Os seus principais produtos são eixos-dianteiros, virabrequins,

semi-eixos flangeados, pinhões, bielas e capas.

A EMPRESA

A Empresa D surgiu em 1 958, com o advento da indústria

automobilística no país. No local onde hoje está a sua principal unidade, em

Jundiaí (S.P.), havia uma empresa que fabricava implementos agrícolas. Esta

empresa, genuinamente brasileira, associou-se a duas empresas norte­

americanas, formando a Empresa D do Brasil SA

Em 1 971 , a companhia abriu seu capital, passando a ter ações negociadas

nas principais bolsas do país. Em novembro de 1 978, iniciaram-se as atividades

da unidade de Campinas, basicamente voltada para forjaria pesada, fabricando

componentes maiores tais como eixos dianteiros e virabrequins. Dois anos mais

tarde, em 1 980, a empresa assumiu o controle de uma companhia de

transmissões e engrenagens, localizada em Sorocaba.

Em junho de 1 982 foi criada uma frading company com a finalidade de

promover exportações. Atualmente, existem ainda uma unidade em Diadema

e duas outras em Cleveland (E.UA ) sendo uma para usinagem de

virabrequins e a outra para usinagem de eixos dianteiros.

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Ao longo destes anos, a Empresa D deixou de ser parcialmente controlada pelas empresas americanas, tomando-se uma empresa de capital totalmente

nacional (Empresa D S.A) que passou a "avançar" no mercado norte­

americano, com as unidades de Cleveland.

Em 1993, o controle acionário da empresa foi adquirido por duas aciarias.

O restante das ações pertence à uma família .

O número total de funcionários atualmente é de cerca de 4000, sendo

que a unidade de Jundiaí, sozinha, possui 2500 funcionários.

O MERCADO

A maior parte da produção da empresa destina-se a veículos pesados

como caminhões e tratores. Os principais clientes no Brasil são a Autolatina, Fiat, Mercedes-Benz, Volvo, Scania, Maxion e GM.

O produto líder nas vendas é o eix(Hjianteiro, um conjunto formado por

viga, mangas de eixo, braço de direção e braço de ligação. Adicionalmente,

destacam-se os virabrequins fo�ados e usinados para indústrias de motores

diesel de pequeno, médio ou grande porte, tais como a Agrale, Caterpillar,

Cummins, Ford Tratores, MWM e Perkins.

O setor apresenta-se em crescimento, o que leva a empresa a estar

vivendo um processo de avaliação de seu portfolio de produtos, verificando

quais são mais rentáveis e quais são os novos mercados ou clientes potenciais nos quais se pretende investir.

Os principais concorrentes são a Krupp Metalúrgica e a Braseixo. A

participação da Empresa D no mercado doméstico é estimada em 32%.

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o Mercado Externo

A Empresa D exporta aproximadamente 40% da sua produção. Deste

percentual, 30% são para clientes norte-americanos e do restante, a maior parte

vai para a França, Alemanha e para a Suécia.

Nos Estados Unidos, as maiores importadoras diretas dos produtos da

empresa são a Mack Truck, a Lycoming e a Ford. Nesta última, a Empresa D

detém exclusividade no fornecimento de eixos dianteiros para caminhões,

com contratos de longo prazo.

Na Europa, o maior c/ente é a Renault francesa, na qual está se

buscando também obter exclusividade no fornecimento. Além desta empresa,

são também importantes a Volvo e a Scania na Suécia e a Mercedes­

Benz e a MWM na Alemanha.

A CONCEPÇÃO DE QUALIDADE NA EMPRESA

A empresa percebe a qualidade como instrumento vital para o seu

crescimento e consequentemente para garantir a sua sobrevivência. Como

afirma o gerente de Engenharia de Produto e Qualidade, pensar em qualidade

significa abordá-Ia em todas as suas dimensões, de tal forma a atingir os anseios

do cliente. Assim , considera-se o valor intrínseco a este conceito, que

compreende, entre outros pontos:

* qualidade centrada no cliente

* administração pela prevenção: fazer certo pela primeira vez

* trabalho em equipe

* treinamento

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* melhoria contínua

* "entregas", "preços", "moral dos funcionários" e "segurança".

A empresa está implantando um Plano de Qual idade Total que abrange

todas as suas unidades. Neste plano busca-se definir a missão da empresa,

quais as suas políticas e quais as diretrizes a serem estabelecidas.

Na verdade, existe na Empresa O um sistema de garantia da Qualidade

desde 1 985, sistema este que foi auditado por organismos internacionais e que

possibilitou a obtenção da certificação da ISO 9002 em 1 993. Este sistema

surgiu com a maior atenção que a empresa passou a dispensar ao mercado

externo, principalmente o norte-americano.

Na medida em que foram sendo conquistados grandes e importantes

clientes externos, o nível de exigência quanto ao processo de fabricação

e produto final foi se tornando cada vez mais alto. Os clientes passaram a

realizar auditorias frequentes e isto fez com que a empresa estabelecesse

programas para a implementação de técnicas estatísticas e outras ferramentas

úteis para garantir a qualidade.

Adicionalmente, foi criado na empresa um centro de pesquisa na

área de engenharia de produto, permitindo atingir as necessidades de

dimensionamento dos clientes. Isto ocorreu para que fosse possível atender

às exigências da Ford americana, de forma que a empresa pudesse estar

tecnologicamente capacitada para fornecer um produto projetado internamente

de acordo com as especificações desejadas. As palavras do gerente de

Engenharia de Produto e Qualidade reforçam a importância da exportação na

busca da qualidade:

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"Não tenho a menor dúvida de que a exportação foi um fator

fundamental para buscar a qualidade. Talvez, se não tivessemos

este input internacional, as exigências do mercado doméstico não

seriam tão fortes e não conduziriam a este tipo de atitude,

pricipalmente porque são poucas ou quase nenhuma empresa que

competem conosco neste nível de tecnologia"

1 52

Desta forma, a Empresa D antes de possuir a certificação da ISO já

apresentava aval de diversos clientes externos. Em um caso específico, ela

chegou a apresentar este aval antes mesmo da filial brasileira do cl iente em

questão.

Com o governo Col lor e a maior exposição à concorrência internacional,

também os clientes domésticos precisaram se reestruturar. As montadoras,

que anteriormente seguiam a tendência de vertical ização, passaram a buscar o

seu core business, que é basicamente o de ser uma montadora. Para

não perder as suas metas estabelecidas de qualidade, as montadoras

precisaram contar com fornecedores que apresentassem comprovadamente

uma tecnologia de ponta e que tivessem uma visão de melhoria contínua.

Dentro do organograma da empresa existe uma superintendência de

apoio industrial, que é responsável pelo sistema de qualidade da empresa.

Toma parte desta superintendência, o departamento de engenharia da qualidade,

cuja atribuição é gerenciar este sistema de qualidade.

A empresa dispõe de um Manual da Qualidade, no qual está descrito

todo o "Sistema de Qualidade Empresa D". Ele é uma referência permanente

para a implementação e manutenção do sistema. No manual constam as

responsabilidades da administração, a pol ítica da qualidade, as diretrizes

estabelecidas pelo presidente e os seus princípios básicos. O superintendente

de apoio industrial tem autoridade e responsabilidade de assegurar que os

requisitos da qualidade sejam mantidos e implementados.

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Anualmente, são feitas análises críticas do sistema e , caso necessário,

são introduzidas alterações. O Manual apresenta correspondências de todos

os seus procedimentos para a norma ISO 9002.

Existem basicamente três níveis de documentos na empresa:

=> o de primeira linha, que é o Manual da Qualidade;

=> os de segunda linha, que são documentos que se referem a normas e

procedimentos interfuncionais e documentos pertinentes a qualidade do produto

e do processo de fabricação e

=> os de terceira linha, que são documentos operacionais específicos para cada

setor ou atividade. Por exemplo, um torneiro mecánico que esteja na

ferramentaria e outro que esteja na produção, apesar de estarem lidando com

atividades quase idênticas, possuem procedimentos de trabalho (P.T. ) distintos.

A empresa acredita que a qualidade e melhoria na produtividade são

eventos que estão fortemente relacionados:

"Se você está atendendo perfeitamente os anseios do seu cliente

em termos de preço, prazo, qualidade do produto e segurança,

você automaticamente está melhorando a produtividade e

consequentemente a rentabilidade, o que ao final significa dizer

que a empresa está crescendo"

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OS ATRIBUTOS DA QUALIDADE

A empresa entende que a Qualidade não pode ser subdividida; ela

tem que ser considerada como um todo:

"Não se pode esquecer nenhuma dimensão da qualidade.

Preocupar-se, por exemplo, somente com qualidade intrínseca

mas ser um mau fornecedor, não ter um preço competitivo ou

não ter um produto seguro trará insatisfação para o cliente. Isto

significa que não se está atingindo pontos básicos da Qualidade. "

A confiabilidade e a durabilidade são atributos bastante valorizados pela

empresa e são percebidos como diretamente relacionados com a questão da

segurança, tendo em vista que a finalidade dos produtos fabricados é

tomar parte de veículos automotivos.

A conformidade e as características (especificações) do produto estariam

mais relacionadas com o que a empresa considera qual idade intrínseca do

produto.

O atendimento é também um atributo fortemente valorizado, sendo

avaliado em termos de entrega e assistência técnica prestada pela empresa.

A questão da estética é vista como algo cuja relevância caso exista,

interessaria mais para o consumidor final. Os eixos dianteiros, virabrequins e

demais peças produzidas na Empresa D são componentes que ficam na

parte interna dos veículos e, desta forma, entende-se que não devem ser

elementos diferenciadores pelo seu aspecto "estético".

Ainda vistas como dimensões da qualidade estariam o preço que é

oferecido ao cliente e a moral. Esta última é de difícil mensuração, mas se

traduz basicamente pela satisfação de se estar usando (no caso do cliente

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externo) ou produzindo (cliente interno) peças que possuam todos os demais

atributos da qualidade acima considerados.

o CONTROLE NO PROCESSO PRODUTIVO

No momento em que um produto é desenvolvido, uma área conhecida

como Engenharia de Processos identifica todas as etapas do ciclo de fabricação

até o momento de expedição. Para cada uma destas etapas, existe um plano que

especifica quais e como serão feitos os seus controles.

Quando o produto chega à Expedição, são retiradas amostras que são

submetidas a uma auditoria interna, na qual procura-se verificar principalmente

aspectos dimensionais, visuais e metalúrgicos.

Paralelamente, são realizadas auditorias em cada etapa do processo de

fabricação, com a finalidade de verificar se os controles estabelecidos

estão sendo seguidos. A partir daí, trabalha-se com indicadores de controle,

que são medidos diariamente e que permitem, ao final de cada mês, observar

se cada processo se manteve dentro de suas especificações.

A maior parte dos projetos de produto é fornecida pelos clientes. Após

o seu recebimento, são identificadas as características críticas em termos de

segurança para o usuário ou para a fase de utilização na montadora.

Daí em diante, procede-se a análise FMEA (Failure Mode and

Effect Anafysis), na qual verifica-se a taxa de risco que cada componente deste

produto possui de apresentar falhas, qual o grau de tolerância para cada uma

destas partes e o que se pode fazer para minimizar estas falhas Oá que

algumas são inerentes ao processo). Desta análise participam a área

de produção, de engenharia e do processo de fabricação. Feita a avaliação

para um projeto específico, os seus dados são comparados com dados

históricos que a empresa possui, que compreendem reclamações

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anteriores de clientes, índices de recuo e de falhas no campo e a própria

experiência de quem já participou do desenvolvimento de um mesmo produto.

Caso as características críticas sejam controláveis, utiliza-se C.E.P . .

Caso não sejam, como pode ser o caso da temperatura de um fomo,

trabalha-se com gráficos de registro contínuo, cartas de variáveis do tipo

XlE e cartas de atributo.

Todos os registros são mantidos por um período de tempo estabelecido

pelos clientes ou, quando isto não ocorre, segue-se a norma interna que

estipula o tempo de manutenção de cada tipo de registro. Quando o tempo de

registro que consta na norma é maior do que o solicitado por algum cliente, isto

é transmitido ao mesmo e utiliza-se, por uma questão de segurança, o tempo

definido na norma interna.

Toda vez em que ocorre uma mudança na faixa de instabilidade

do processo, devido , por exemplo, a novas especificações de projeto,

cria-se a necessidade de revisar os padrões anteriormente utilizados. Não

há uma frequência pré-estabelecida para estas revisões, devido ao próprio

contexto que gera as mesmas.

A Empresa D faz uso dos diagramas "espinha de peixe", nos quais

são trabalhados os "6 M's" a saber: matéria-prima, medidas, máquinas,

métodos, mão-de-obra e meio-ambiente. Destes, a mão-de-obra somente é

analisada para determinados processos de inspeção visual e o meio­

ambiente ainda encontra-se em fase de projeto.

o tipo de produto fabricado determina se as verificações são feitas

somente em amostras selecionadas ou no lote inteiro produzido. No

caso de uma manga de eixo, por exemplo, as consequências de uma

falha "no campo" são imensuráveis, demandando uma inspeção em todas as

peças produzidas. Em outros casos, o controle se dá de acordo com a

produção horária de cada peça, o grau de dificuldade em medir determinadas

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características (algumas levam até quatro horas para serem avaliadas) e

a disponibilidade de pessoal. Estes fatores também determinam o tamanho da

amostragem que deve ser trabalhada, bem como a frequência de sua coleta.

o n ível de erros aceitável varia de produto a produto. Embora a

empresa esteja bastante familiarizada com os princípios de "zero defeito",

entende que a redução no nível de erros tem de ser gradual, pois de outra

forma, não se consegue nem mesmo o apoio dos funcionários que estão

diretamente ligados ao processo de fabricação.

A TRANSMISSÃO DA QUALIDADE

No que tange à conscientização dos funcionários, a empresa entende que

é imprescindível a existência de um sistema no qual cada funcionário sinta-se na

obrigação de cobrar do seu "fornecedor interno" qualidade no produto semi­

elaborado que está recebendo.

Estabelecer um plano para tal significa olhar para um horizonte de

longo-prazo, que possibilite ao funcionário compreender que " se a empresa

sucumbe por não ser competitiva ou não apresentar produtos de qualidade, ele

também fatalmente irá sucumbir. " Além disso, este plano deve partir da alta

administração, cabendo às superintendências elou gerências acompanhá-lo,

mensurar os seus resultados e corrigir possíveis desvios.

Busca-se com isso fazer com que o funcionário sinta-se efetivamente mais

participante, seja através de uma grande abertura para que apresente sugestões

ou oferecendo condições adequadas de treinamento e educação.

Além dos tradicionais canais de comunicação (cursos, i lustrações em

painéis, vídeos, boletins) existem orientações específicas para o "chão" da

fábrica. Apesar da linha de produção não permitir longas paradas, diariamente,

antes do ínicio da jornada de trabalho, supervisores se reúnem por 1 0 minutos

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com os funcionários para discutir questões específicas daquela linha de

produção.

Também são realizados cafés-da-manhã com a presidência uma vez a

cada mês, com a finalidade de reunir funcionários de várias áreas da empresa e

discutir os problemas de cada uma destas áreas. Os funcionários são

normalmente convidados na véspera, de forma que suas opiniões sejam

espontâneas, evitando possíveis contaminações por interesses de seus

sindicatos como um todo.

A QUALIDADE PARA O MERCADO EXTERNO

Os pontos relevantes para se avaliar a qualidade para o mercado externo

variam segundo a percepção de cada setor diretamente envolvido com esta

questão na empresa. A área de Qualidade propriamente dita apresenta uma

maior preocupação com questões relacionadas diretamente ao produto e ao

processo produtivo, enquanto a área Comercial enfatiza uma análise mais

detalhada de mercados e clientes.

Desta forma, é considerado de extrema relevância para a área de

Qualidade tudo aquilo que se refere (i) ao cumprimento de normas aceitas

internacionalmente; (i i) à escolha de produtos a serem exportados bem como a

sua adequação ao mercado internacional; ( i i i) ao desenvolvimento de trabalhos

com fornecedores e (iv) às condições de embalagem e transporte.

Para a área Comercial, o interesse maior gira em torno da avaliação de

mercado e das necessidades dos clientes, bem como do atendimento a ser

oferecido e sob quais condições.

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As Caracteristicas de Mercado/Clientes

Com a tendência de globalização de mercados, as montadoras passaram

a ter um sistema de infonmações cada vez mais sofisticado permitindo obter

dados sobre as características de insumos de diversos países em um

horizonte de tempo bastante curto.

Assim, a competição nos grandes mercados internacionais tornou-se

muito acirrada para o setor de autopeças. Segundo o Assistente de Comércio

Internacional da Empresa D, ao se iniciar um contato com um cliente

potencial, "a primeira coisa que os clientes levam em conta em uma proposta é

o preço e em seguida o prazo de entrega. "

No entanto, quando a empresa já é um fornecedor tradicional para

as montadoras, a confiabilidade e a qualidade assegurada se sobrepõem a um

diferencial de preço que um novo concorrente possa apresentar:

"Se a Empresa O fornece para um determinado cliente e uma nova

empresa quer entrar com um preço mais competitivo, ela terá que

oferecer algo mais, porque a Empresa O já garantiu a sua

qualidade junto ao cliente. As montadoras não quebram um

contrato de uma hora para outra; se a diferença de preços

persistir, ao final do contrato elas dão a oportunidade de

renegociarmos os preços. "

o mercado mundial de montadoras é imenso. A Empresa D

considera como competidoras todas as empresas que apresentam

capacidade produtiva para fornecer para os grandes mercados como

Estados Unidos. A diluição de custos e economias de escala decorrentes

de grandes linhas de produção faz com que as empresas de grande porte tenham

preços mais competitivos.

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Os principais concorrentes em termos de forjaria estão localizados na

India, Espanha, Itália e Hungria. O setor é visto como uma dirty industry, o

que explica o fato dos maiores produtores serem países em desenvolvimento.

Ao se tentar estabelecer um contato com um novo cl iente, são

consideradas nas garantias contratuais as particularidades do país importador.

Embora o mercado tradicional seja formado por Estados Unidos e Europa,

para qualquer novo cliente/país são avaliados os riscos de mercado. Em

algumas situações, a opção é trabalhar com uma trading company .

A Empresa D possui escritórios nos Estados Unidos e entende que este

é um ponto fundamental para uma melhor relação com os clientes:

"Ter um posto avançado elimina a dependência de telefones ou

aparelhos de fax. As vezes, é muito melhor fazer uma visita de

cordialidade e conversar com o cliente. É preciso estar próximo do

cliente, para dar uma assistência técnica adequada e eficiente. "

O Produto

Para todos os produtos fabricados na Empresa D, é feita inicialmente

uma análise crítica que envolve as áreas de engenharia e comercial. Nesta

análise, avalia-se (i) a viabil idade de produzir dentro dos padrões de qualidade

estabelecidos na empresa e ( i i ) o preço adequado para o produto de acordo

com as condições de mercado.

As l inhas comercializadas no mercado externo são as mesmas que

existem no mercado doméstico, não havendo distinção no processo de

fabricação, pois toda a prOdução procura atender níveis de especificações

internacionais.

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Existem, porém, produtos que são quase que totalmente direcionados

para o mercado externo, como é o caso do eixo dianteiro. Este produto é

visto pela empresa como extremamente competitivo no mercado externo pois

além de atender aos requisitos internacionais, é o único util izado por

importantes montadoras:

"Todos os caminhões da Ford fabricados nos Estados Unidos se

utilizam do eixo "Empresa O". Além disso, somos quase que

exclusivos na Renault, Volvo e Scania. "

Invariavelmente, quando se inicia um trabalho com um cliente

protótipo resultante das especificações

lote amostrai são enviados para o cliente e

internacional, é elaborado um

recebidas. Este protótipo ou um

somente após a sua aprovação é iniciada a produção.

Cada produto (ou desenho de cliente) possui uma matriz própria, e para

que isto não se traduza por dificuldades na linha de produção, existe um

planejamento de produção no qual é calculada a melhor forma de produzir a

programação mensal com um

produção varia de produto a produto.

Os fornecedores são na sua

no Brasil. Os principais pontos

mínimo de paradas. O lote mínimo para

maioria as grandes aciarias existentes

considerados para a avaliação de um

fornecedor são a qualidade intrínseca do produto oferecido, o prazo de

entrega e o preço praticado. O preço, que por muitos anos foi controlado pelo

governo, não tem apresentado grandes diferenças entre os fornecedores.

A maior parte dos fornecedores apresenta a certificação da ISO, o que

facilita o atendimento das necessidades dos clientes da Empresa D, pois muitos

intervém também na avaliação da matéria-prima utilizada. Adicionalmente,

trabalhar com fornecedores certificados pode significar uma redução futura nas

inspeções e auditorias que são feitas pela Empresa D nos mesmos.

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As especificações de matérias-primas são definidas pela Empresa O

em função das determinações dos clientes. Todos os fornecedores (atuantes

ou não) possuem as normas Empresa O e através de uma análise crítica, avaliam

a sua viabilidade de produzir dentro destas especificações.

A Empresa O procura trabalhar com just in time no que se refere ao

estoque de matérias-primas. No entanto, a empresa percebe que a forte

correlação entre as vendas do setor automobil ístico (que é o seu cliente final) e

as flutuações econômicas de seus países é um fator de risco que precisa ser

incorporado ao planejamento de estoques de matérias-primas.

Quando o cliente anuncia a possibil idade de uma venda imediata acima

do previsto, é feito um trabalho em conjunto da Empresa O com os seus

fornecedores, procurando-se destacar a importância deste negócio para todos os

envolvidos e avaliando a capacidade em atender esta demanda dentro do prazo

adequado.

A Produção

Um primeiro ponto a se destacar é a utilização de normas e padrões ditos

universais. Os clientes da Empresa O são essencialmente montadoras e estas

cada vez mais têm procurado fabricar produtos "globais", isto é, carros que

são comercializados ou que contenham peças produzidas em diferentes

países.

Assim, tornou-se imperativo para a empresa estar adaptada a um conjunto

de normas (que no caso são as normas ISO) que fossem reconhecidas por

todos os clientes internacionais. Isto, consequentemente, possibilitou à Empresa O atestar a qualidade internacional de seu produto através de um

sistema de qualidade concebido para tal. Adicionalmente, eliminou os padrões

específicos que existiam para cada grande cliente:

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"Os objetivos principais para se buscar a utilização da ISO foram

garantir a qualidade de nossos produtos para clientes e

acionistas e trabalhar com uma linguagem comum. Antigamente, a

empresa possuia um manual de qualidade para cada cliente e

agora o que nós temos é um sistema seguindo os padrões

da ISO 9002, baseado nas diretrizes da ISO 9004, de completa

aceitação por parte dos clientes. "

163

O impacto interno da utilização da ISO foi assegurar a "memória" da

empresa, eliminando situações nas quais somente determinados funcionários

detinham o conhecimento da melhor utilização de alguns processos.

O processo produtivo é padronizado para qualquer empresa do setor.

Os diferenciais estão na sua adequação a normas aceitas pelos clientes. O

grau de flexibilidade na produção é pequeno; mudanças nas linhas de

produção só são consideradas caso venham de um cliente importante que

esteja interessado em uma quantidade expressiva de produtos em um

horizonte de longo prazo. Ainda assim, existem limites para possíveiS

adaptações.

A Embalagem e as Garantias Oferecidas

No que se refere às condições de embalagem para os produtos

exportados, existe uma preocupação muito mais voltada para a segurança no

transporte e no armazenamento do que com aspectos estéticos . Os principais

pontos considerados são:

:::> o tipo de transporte a ser utilizado

:::> o local de entrega

:::> as dimensões do produto

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Para cada tipo de produto existe um plano de embalagem estabelecido

por uma área específica para embalagens. Neste plano, são consideradas todas

as particularidades do produto.

"A empresa não mede esforços para garantir uma boa

embalagem para o cliente. Deve-se garantir a segurança no

manuseio para todos os envolvidos, pois um acidente com um

produto nosso, feito de aço, pode ter consequências muito

graves para a empresa. "

Os produtos prontos para serem embarcados são dispostos em

containers. Estes containers são travados e colocados em caminhões ainda

na empresa. Daí, seguem para o porto de onde serão exportados.

As garantias oferecidas procuram englobar dois tipos de problemas: os

que se referem à oxidação do produto e ao transporte.

Além disso, qualquer falha que ocorra no cliente devido a problemas do

produto da Empresa D conta com assistência técnica (local, em se tratando de

Estados Unidos) imediata. Nos Estados Unidos, para que uma peça defeituosa

seja reposta o mais rápido possível, conta-se com um estoque local de

segurança.

As condições de garantia variam de produto para produto e são na maior

parte dos casos estabelecidas em conjunto com os clientes. Os funcionários

da Empresa D realizam visitas periódicas aos principais clientes com o

intuito de oferecer a assitência técnica necessária.

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PERSPECTIVAS

Atualmente, os mercados para os quais a empresa fomece cobrem a

sua capacidade produtiva. Uma das metas é procurar central izar esforços

nos mercados onde a Empresa D possui poder de venda, isto é, em clientes

europeus e americanos.

A empresa não pretende entrar no mercado de reposição. Na verdade,

quer fortalecer ainda mais a sua posição nas grandes montadoras.

No que se refere à busca de novos mercados, a empresa percebe

países asiáticos como mercados cujas barreiras de entrada são bastante

elevadas. O Japão, por exemplo, é um país que se beneficia de preços

competitivos, mesmo com uma estrutura de produção fragmentada: uma

empresa "típica" japonesa, por exemplo, compra o aço brasileiro, forja

domesticamente, usina na França e exporta para os Estados Unidos.

A empresa já trabalha com os países do Mercosul e não vê uma

concorrência preocupante no mercado argentino (o principal cliente deste

grupo de países, fora o Brasil).

Analogamente, a possível formação de grandes blocos não Ira se

traduzir por uma maior dificuldade de acesso a estes mercados. As

próprias características do setor (dirly industry) conforme já foi mencionado,

favorecem a Empresa D, pois a percepção da empresa é de que as

maiores restrições européias e americanas incidirão sobre produtos de

tecnologia mais desenvolvida.

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No entanto, a empresa observa que, no mercado norte-americano, a

tendência será de cada vez mais "comprar no mercado externo somente aquilo

que se encontra mais barato ". Logo, para existir uma negociação neste mercado,

o preço do produto exportado pela Empresa O deverá estar sempre abaixo do

preço praticado por forjarias existentes nos países pertencentes ao NAFTA.

Assim, o desenvolvimento de possíveis concorrentes no México (país de mão de

obra mais barata que os Estados Unidos) precisa ser visto com máxima atenção

pela empresa, de forma a avaliar o quanto isto poderá resultar em preços menos

competitivos nos Estados Unidos.

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CAPíTULO V - ANÁLISE DOS RESULTADOS

V.1 - INTRODUÇÃO

O objetivo deste capítulo é estabelecer uma análise comparativa

entre os casos apresentados no capítulo anterior e o modelo proposto na

metodologia de pesquisa.

Em um primeiro momento, serão abordadas as concepções de

qualidade apresentadas por cada empresa, comparando-as com o conceito

que serviu como premissa para a formalização do modelo. Em seguida, serão

observadas as características gerais apresentadas por estas empresas, com a

finalidade de mapeá-Ias segundo as quatro eras da qualidade apresentadas no

capítulo 11.

O passo seguinte será a avaliação dos inputs necessários para o

estabelecimento de uma gestão estratégica da qualidade, destacando-se

semelhanças e distinções entre as empresas e aquilo que foi proposto pelo

modelo.

Finalmente, serão identificadas as particularidades referentes ao

mercado externo, a partir da relevância que as empresas atribuiram aos ítens

do modelo.

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V.2 - O CONCEITO DE QUALIDADE

Um inquestionável ponto de unanimidade entre as empresas foi

estabelecer um link imediato entre qualidade e atendimento das necessidades

dos clientes. No entanto, esta relação qualidade/cliente foi abordada de formas

distintas pelas empresas:

A Empresa D e a Empresa C partiram de uma visão holística de

qualidade, na qual o cliente, apesar de ser a meta final, é tomado

como uma das dimensões deste conceito. No entanto, para a primeira, a

preocupação maior é ter todas as demais dimensões de qualidade

ajustadas para atender aos anseios do cliente, enquanto que a segunda

procura enfatizar que não se pode relegar os inputs de fornecedores e

funcionários, focando só o produto ou o cliente.

As duas outras empresas incluiram em suas concepções o "algo

mais" definido por Peters (1 982) : A Empresa A fala em encantar o

cliente, estabelecendo uma relação de confiança através de um produto

diferenciado que gere vantagens competitivas. A Empresa 8, analogamente,

apregoa em cartazes espalhados pelas suas dependências a necessidade de

oferecer produtos que atendam ou excedam às expectativas dos clientes.

A primeira, pelo que se observa, parece mais "convicta" em trabalhar os seus

diferenciais, pois explicita o retorno que os mesmos podem trazer diante dos

competidores.

Independentemente da maior ênfase dada ao cliente,

empresas procuraram apresentar claros sinais de tomarem

todas as

a qualidade como um conceito que necessariamente envolve também seus produtos, as

suas linhas de produção e os elementos ditos "periféricos", conforme a

conceituação utilizada neste trabalho.

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No entanto, a própria subjetividade em caracterizar estas conceituações

apresenta-se como grande fator l imitante para sua análise, pois aquilo que

foi dito por um entrevistado poderia não corresponder ao cotidiano de sua

empresa.

Esta subjetividade em definir qualidade é um retrato da verdadeira

"babei" que existe nos dias de hoje quando se fala neste tema. A ânsia de

muitas empresas readaptarem suas estruturas aos novos modelos de gestão"

(os quais enfatizam uma "maior qualidade") adicionada a uma proliferação de

cursos e literatura especializada sobre o tema em questão teve como

consequência uma grande confusão conceitual. O "holismo" da qualidade,

quando não parte de parâmetros claramente estabelecidos, leva a uma

multiplicidade de interpretações que termina por confundir os responsáveis pelo

gerenciamento desta variável.

Assim, para verificar se a realidade das empresas espelha

efetivamente aquilo que os entrevistados lhe atribuem, toma-se necessário

posicioná-Ias nas distintas eras da qualidade apresentadas por Garvin (1992)

V.3 - O MAPEAMENTO DAS EMPRESAS NAS ETAPAS DA QUALIDADE

Inicialmente, toma-se necessário relembrar algumas características das

empresas pesquisadas: excetuando-se a Empresa C, todas as empresas

apresentam certificação da ISO. Além disso, todas demonstraram que

trabalham com Programas de Qualidade que não se limitam à utilização de

métodos visando atender especificações de produto.

Desta forma, pode-se concluir que nenhuma das empresas

pesquisadas estaria nas fases de inspeção ou de controle estatístico. A

maior dificuldade, porém, surgiu no momento de tentar identificar em qual das

demais fases cada uma das empresas se posicionaria. Conforme estabelece

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Garvin (1 992) , a gestão estratégica da qualidade é antes uma extensão das

fases precedentes do que uma negação às mesmas. A comprovação

prática desta observação surgiu durante a entrevista realizada na Empresa

a, na qual, não somente o entrevistado citou de forma espontãnea a existência

de "etapas" da qualidade, como admitiu que a empresa poderia estar

posicionada em um ponto intermediário entre a garantia e a gestão estratégica.

A interpretação para a existência deste ponto intermediário refere-se

ao fato de não ser possível "uniformizar" o estágio de desenvolvimento de todos

os departamentos das empresas quanto à qualidade. Apesar de existir uma

política, um gerenciamento e um grande trabalho de comunicação, o feedback

que cada unidade ou funcionário apresenta não obedece a um padrão

previsível ou controlável.

De modo geral, o que se observou nas empresas corresponde

exatamente a um momento de transição, no qual se procura solidificar todos os

pontos que caracterizam a fase de Garantia da Qualidade, a fim de poder

efetivamente tratar desta questão sob um enfoque estratégico. Vejamos a

seguir como as empresas se apresentam diante de três das características

que o quadro de Garvin apresenta: preocupação básica, ênfase e

responsabilidade pela qualidade

A preocupação básica, conforme foi visto no momento em que cada

empresa conceituou qualidade, é a perfeita interseção e sincronia

entre todas as dimensões da Qualidade. Entretanto, a Empresa A

mostrou uma preocupação em termos de retorno para a empresa,

enquanto a Empresa D falou em ganhos de produtividade decorrentes da

melhor qualidade de seus produtos, exatamente como ocorre na reação em

cadeia que Deming ( 1 990) apresenta. Estes são indícios de que os dirigentes

destas empresas começam a entender que os impactos da melhor

qualidade estão diretamente relacionados aos tradicionais indicadores de

desempenho empresarial.

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Também a Empresa B apresenta uma preocupação em mensurar aquilo

que chama de "custos da qualidade", que nada mais são do que os custos

definidos por Feigenbaun ( 1 983) como custos de controle e de falhas de

controle. Adicionalmente, esta empresa estabelece uma mensuração

destes custos baseada no preço de cada unidade que se deixa de vender

e não baseada nos custos de produção.

No que diz respeito à enfâse que cada etapa atribui à qualidade,

Garvin (op. cit. ) demonstra que, enquanto a garantia de qualidade se atém ao

envolvimento de toda a cadeia de produção e à contribuição de todos

os grupos funcionais para impedir falhas, a gerência estratégica volta-se

para o atendimento das necessidades de mercado e dos clientes. Isto posto,

percebe-se que, para todas as empresas, se a meta final é o cliente

e os ganhos de competitividade, o instrumento que possibilita atingir esta meta é a certeza do comprometimento de todas as partes envolvidas. Este é um

dos pontos da fase da Garantia mais enfocados por todas as empresas.

Em termos de atribuição de responsabilidades sobre a qualidade,

foi exaustivamente colocado por todos os entrevistados a importância do

compromisso da alta liderança como condição básica para o sucesso de um

Programa de Qualidade. Mais do que isto, todos mostraram na prática como se

dá este envolvimento da l iderança, seja através de reuniões periódicas ou de

discussões com funcionários de distintos níveis hierárquicos. Um ponto que

merece destaque é o fato da maior resistência vir da média gerência e

não dos cargos operacionais.

Excetuando-se a Empresa A, as outras empresas demonstraram a

existência de departamentos de Qualidade, cujo foco é o gerenciamento

desta variável no contexto organizacional.

Diante do acima exposto, entende-se que todas as empresas

pesquisadas possuem pontos característicos tanto da fase de Garantia como da

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fase de Gerenciamento Estratégico, vivendo um movimento constante de

"fluxo e refluxo" entre estas fases. Exemplificando, para assegurar a maior

produtividade e a melhor rentabilidade (variáveis estratégicas), deve-se

trabalhar a qualidade desde o projeto até o atendimento das

necessidades do cliente (variáveis de "garantia"). Analogamente, para

que seja sempre possível focar nas necessidades de mercado e dos

consumidores (visão estratégica) é necessário garantir o comprometimento de

todos para se evitar falhas na qualidade (visão de garantia de qualidade).

Tendo constatado o estágio avançado em que as empresas

estudadas se apresentam no que tange às suas percepções de qualidade

passa-se agora para a identificação das dimensões relevantes de qualidade

segundo a disposição apresentada por cada empresa.

V.4 - AS DIMENSÕES COMPETITIVAS DA QUALIDADE

Para que fossem identificadas as dimensões relevantes da qual idade

em cada uma das empresas, o pesquisador procurou seguir o critério

"espontâneo/estimulado", descrito no capítulo de metodologia de pesquisa.

Cada uma das empresas dispôs as dimensões em uma ordenação bastante

particular, o que não impediu, no entanto, a identificação de pontos

semelhantes entre as mesmas.

Das oito dimensões apresentadas pelo pesquisador, houve um consenso

quanto a irrelevância da dimensão estética. Isto pode ser perfeitamente

compreendido ao se observar os setores dos quais estas empresas tomam

parte: a Empresa B e a Empresa D são fornecedoras de autopeças, a

Empresa C produz componentes eletrônicos e a Empresa A fabrica tintas

para impressão. O ponto em comum destas empresas é ter como cliente

não o consumidor final, mas outros setores ou indústrias. A relevância da

estética é de maior interesse para quem vai vender o produto para o

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consumidor final, isto é, para as montadoras (Empresa O e Empresa B),

construtoras (Empresa C) ou gráficas (Empresa A).

Em contrapartida, dimensões associadas mais diretamente ao produto,

ou intrínsecas, conforme define Gigch (1 977) , são consideradas de alta

relevância para todas as empresas, tais como a confiabil idade e a

conformidade.

Para as empresas A e 8, se há confiabilidade no que produzem, isto irá

gerar necessariamente uma maior qualidade no desempenho.

Este resultado poderia facilmente induzir à uma contradição, a

partir do momento em que todas as empresas enfatizaram a

necessidade de se pensar em qualidade como um todo, do qual o produto é

apenas uma das partes. No entanto, um outro consenso entre as

empresas foi considerar o atendimento como uma dimensão absolutamente

fundamental. Para a Empresa C, esta dimensão engloba a qualidade

percebida, enquanto que a Empresa O tangibiliza este conceito através dos

serviços de assistência técnica e do cumprimento de prazos estabelecidos. A

Empresa 8 dispõe este conceito lado a lado com a qualidade percebida, ambos

fundamentais. A Empresa A mostra uma interpretação bem mais refinada,

quando afirma que este é o grande momento da verdade com o cliente.

Algumas dimensões foram "agrupadas" pelas empresas, ou por serem

entendidas como de mesmo significado ou por estarem l igadas. Exemplificando,

para a Empresa C, a confiabilidade que o cliente percebe é um sinal de que

as características, a conformidade e a durabilidade estão dentro do que se

espera de seus produtos. Ao mesmo tempo, o atendimento diferenciado é a

resposta que a Empresa C oferece à confiança por parte de seus clientes.

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Esta "resposta", no entanto não deve ser interpretada como uma

vantagem competitiva. Oferecer um atendimento de qualidade não pode ser

visto como um retomo à confiança depositada nos produtos de uma empresa,

mas uma condição obrigatória para quem deseja assegurar a lealdade

de seus clientes. A resposta correta é a busca por excelência, um "algo mais"

que verdadeiramente agregue valor ao produto, recriando a diferença, conforme

exposto por Peters (op. cit.) .

Assim, para se evitar uma possível confusão na interpretação entre

o que as empresas têm como relevante e tudo aquilo que efetivamente se

reverte em ganhos de competitividade, a classificação apresentada por

Slack ( 1 993) mostra-se perfeitamente adequada.

Embora as respostas dadas pelos entrevistados tenham dificultado

uma classificação preCisa entre atributos ganhadores de pedidos e

qualificadores, alguns pontos podem ser claramente constatados:

=> a conformidade para a Empresa A provou-se claramente ganhadora de

pedidos, devido a sua capacidade em ser a única fornecedora a apresentar

para um grande cliente um produto "em bases distintas do habitual" que

estivesse perfeitamente de acordo com os padrões desejados.

=> o prazo adequado na entrega (associado ao atributo de atendimento) é um

qualificador, pois se mostra quase que como uma exigência dos clientes e uma

preocupação constante das empresas.

=> a estética, identificada como irrelevante, é um ganhador de pedidos

somente no segmento de reposição da Empresa a, mostrando que podem

existir distintas classificações para diferentes clientes.

Por fim, é importante destacar as dimensões que foram citadas

espontaneamente: a Empresa A entende que a base para se competir em

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cada uma das dimensões apresentadas é o comprometimento por parte de

todos. Mesmo sendo este um diferencial intangível que a empresa venha a

apresentar, precisa ser gerenciado como todas as demais dimensões

tangíveis da qualidade. No modelo proposto neste estudo, considera-se o

comprometimento como algo relacionado à transmissão adequada da

qualidade, que é um insumo fundamental para o gerenciamento estratégico da

qualidade.

Já a ordenação fornecida pela Empresa O utilizou-se de três

dimensões distintas das oito que foram apresentadas pelo pesquisador:

( i) a segurança, que envolveria a confiabilidade e a durabilidade, confirmando a

relevância deste aspecto vista em Crosby ( 1 986) no capítulo de revisão de

literatura;

(i i) a moral, retratada pela satisfação dos funcionários, por fabricarem algo

de qualidade comprovada através da boa aceitação pelos clientes;

( i i i ) o preço, entendendo que faz parte da qualidade oferecer ao cliente um

preço "justo" pelo produto que este adquire. A relação preço/qualidade será

mais aprofundada quando forem trabalhados os diferenciais para o mercado

externo.

Apesar de, em muitos pontos, estas ordenações refletirem a realidade

dos setores das empresas estudadas, como é o caso da dimensão estética,

nenhum dos entrevistados afirmou que a disposição final apresentada estava

calcada em coleta de opiniões junto aos clientes. Apesar da relevância de

algumas dimensões parecer bastante óbvia, não se pode assegurar que as

empresas estejam procurando identificar alguma dimensão competitiva que

lhes traga diferenciais perante a concorrência.

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V.S - O CONTROLE DE PROCESSOS

O modelo proposto neste trabalho considera que a forma básica para

se controlar e aperfeiçoar processos está em seguir os passos do Ciclo de

Shewart, ou Ciclo PDCA (plan, do, check, act). Assim, a análise que se segue

estará avaliando o quanto as empresas adotam as quatro etapas deste

ciclo para os seus processos produtivos.

A primeira etapa se refere ao planejamento e à definição de

procedimentos operacionais. Todas as empresas pesquisadas,por estarem

sob certificação da ISO, precisam ter padrões operacionais devidamente

documentados. A Empresa B e a Empresa A possuem a ISO 9001 , o que

significa qualidade assegurada desde o projeto. Nestas empresas, no

momento de desenvolvimento de um projeto, são destacadas as suas

características críticas e posteriormente são estabelecidos planos de trabalho

e folhas de operação. As duas outras empresas seguem o mesmo caminho,

diferenciando-se apenas pelo fato dos projetos serem recebidos dos clientes

(Empresa D) ou da matriz intemacional (Empresa C).

A Empresa D especificamente demonstrou que procura estabelecer neste

momento qual o grau de tolerância aceitável para as características críticas

e quais os procedimentos necessários para minimizar possíveis falhas.

Em nenhuma das empresas há uma periodicidade pré-estabelecida

para a mudança dos padrões. Isto varia de produto a produto.

A segunda fase, de execução, envolve, entre outras coisas, a

capacitação dos processos e a maior responsabilidade por parte dos

operadores. Aqui cabe destacar o trabalho da Empresa B, quando comparada

às outras empresas, devido à sua estrutura de mini-células de trabalho e

operários multifuncionais.

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Todas as empresas apresentam uma descrição pormenorizada de cada

atividade e do funcionamento de cada máquina. Procura-se com isto eliminar

as variabilidades decorrentes do "jeitinho" que determinados operadores

se utilizam para obter um "melhor" desempenho das máquinas. A normalização

do trabalho tem, no entanto, como principal obstáculo a quebra dos

tradicionais paradigmas que foram sedimentados durante anos dentro do

universo cognitivo de cada funcionário. Eliminar o "jeitinho" pode significar um

rompimento no relacionamento estabelecido entre "operador" e "máquina" e a

total rejeição pelo procedimento "novo e bem melhor".

A terceira etapa, controle, trata basicamente da comparação entre

a produção e os padrões estabelecidos. A Empresa B foi a única empresa que

declarou possuir folhas de inspeção para orientação dos responsáveis

pela inspeção. No entanto, a Empresa D realiza auditorias diárias em cada

etapa dos processos, registrando este procedimento em indicadores de

controle, que, ao final de cada mês, são comparados às especificações.

o critério de inspeção nos produtos finais varia dentre as empresas

estudadas. A Empresa C trabalha com amostras aleatórias, enquanto que a

Empresa B e a Empresa D trabalham tanto com inspeção amostrai como do

lote total, dependendo do tipo de produto. A Empresa A realiza inspeção

em todos os volumes produzidos e, caso seja necessário, realiza

retrabalho até que sejam atingidas as especificações.

Para todas as empresas, "zero defeito" é uma meta a ser perseguida,

mas não um objetivo de curto-prazo. As grandes transformações pelas

quais todas atravessam impõem aos seus funcionários a assimilação de

muitos conceitos radicalmente diversos daqueles aos quais estavam

habituados. Desta forma, falar agora em "zero defeito" parece ser algo muito

forte que poderia comprometer o alcance de outras metas mais realistas.

Em geral, as empresas afirmam que estão tentando alcançar os níveis de

erros aceitos internacionalmente por seus clientes.

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Por fim, a última etapa é a ação corretiva, que consiste da análise dos

processos, permitindo identificar a causa das falhas e a partir daí, a sua

remoção. Mais uma vez, a Empresa B se destaca devido à utilização de

D.O.E.'s, técnica ainda desconhecida de muitas empresas no Brasil. Além

disso, esta empresa realiza reuniões mensais, das quais a própria presidência

participa, sobre os resultados operacionais (indicadores de refugo, retrabalho,

etc). Da avaliação destes resultados são obtidos os parâmetros para mensurar

os seus "custos de qualidade".

A Empresa A e a Empresa C, que acompanham mensalmente as

unidades devolvidas, procuram identificar inicialmente se o problema é

causado por falhas em seus produtos ou pela utilização incorreta por parte dos

clientes. Caso a primeira opção seja

os inputs dos clientes em registros a fim

ocorrência.

verdadeira, procura-se transformar

de evitar uma repetição futura da

A Empresa A confirma a idéia de continuidade do Ciclo PDCA, pois

através das análises que está fazendo de seus refugos, unidades devolvidas e

retrabalhadas, estabelecerá objetivos específicos para cada linha, o que

significa um reinício do ciclo.

Sintetizando o que foi visto nos parágrafOS acima, todas as empresas

mostram evidências de estarem perfeitamente adequadas às diretrizes do

modelo no que se refere ao aperfeiçoamento de seus processos. Isto, na

verdade, não surpreende, pois é o mlnlmo que pode ser esperado de

empresas que apresentam a certificação da ISO.

V.6 - A TRANSMISSÃO DA QUALIDADE

Por estarem todas as empresas pesquisadas atravessando um período

profundamente dinâmico, no que se refere às suas mudanças estruturais,

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espera-se de cada uma

comunicação da qualidade,

pelos entrevistados.

179

delas um forte e consistente trabalho de

coerente com as demais inovações colocadas

Comunicar qualidade, como foi observado na revisão de literatura,

não é uma tarefa simples. O primeiro pré-requisito para esta tarefa é a

existência de uma liderança concientizada dos reais benefícios que a qualidade

pode trazer. Este ponto foi claramente destacado pela Empresa 8 e pela

Empresa C, quando afirmam que o principal canal ou veículo de comunicação é

a chefia e a sua mensagem.

O depoimento fornecido pela Empresa D demonstra que a empresa

entende a distinção entre "gerência" e "liderança": ao líder cabe conscientizar

e motivar os funcionários da importância da qualidade para garantir a

sobrevivência da empresa e dos "empregos", bem como elaborar um plano de

longo prazo para a qualidade. Em contrapartida, o papel da gerência é

administrar os resultados deste plano, corrigindo os possíveis "desvios de rota".

A segunda condição necessana para assegurar a transmissão da

qualidade é a certeza do envolvimento de todos. Embora todas as empresas

tenham afirmado que "qualidade é responsabilidade de todos", esta

responsabilidade só pode existir se cada funcionário da empresa estiver

ciente do que significa qualidade no seu "dia-a-dia". A Empresa A, que

havia citado o comprometimento orno sendo a base para se competir com

qualidade, procura realizar um trabalho de satisfação das necessidades mais

elementares dos seus funcionários, oferecendo suporte educacional.

A Empresa 8 e a Empresa D relatam que periodicamente realizam almoços ou cafés-da-manhã de suas diretorias com funcionários de distintos níveis hierárquicos. A eficácia destes encontros é de difícil mensuração

no curto-prazo; pode-se imaginar o constrangimento de funcionários do chão

da fábrica ao se depararem repentinamente com uma mudança na postura

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de seus l ideres, antes tão distantes e agora ansiosos por ouvir críticas

e sugestões. O benefício destes encontros somente poderá ser verificado

quando se tornarem algo rotineiro para os funcionários. Convocá-los

"de surpresa" ou mostrar-lhes um lado "cor de rosa" que não conhecem da

empresa irá trazer como única consequência um maior tempo de

adaptação à estas reuniões.

Analogamente, os workouts realizados pela Empresa C demonstram

que a empresa está buscando uma maior aproximação entre todos os

níveis. Apesar de este trabalho ter sido largamente enaltecido durante a

entrevista, considerou-se muito mais válido o reconhecimento por parte do

entrevistado, de que a assimi lação de certos conceitos é ainda problemática.

Identificar os pontos fracos é o mesmo que descobrir o "ouro das minas" pois

permite estabelecer aquilo que deve ser trabalhado mais intensamente.

É com certo alívio que se constata que as inovações não são os únicos

instrumentos utilizados pelas empresas para comunicar qualidade. Os

canais tradicionais são plenamente trabalhados em todas: jornais, painéis,

vídeos, sempre exaltando aspectos positivos (recebimento de prêmios, por

exemplo). Aqui cabe a advertência de Quimby, Parker e Weimerskirch

( 1 991 l, ressaltando a necessidade de apontar também as falhas que existiam

e o que foi feito para resolvê-Ias. Em concordância com o que foi exposto pelo

entrevistado da Empresa A, a melhor forma de se avaliar os resultados de um

Programa de Qualidade é olhar para trás e observar o que mudou desde então.

A essência de uma adequada transmissão da qualidade reside na

combinação dos fatores mais gerais acima avaliados com um forte trabalho

direcionado. é exatamente neste trabalho que a Empresa A, a Empresa C

e a Empresa O apresentaram um forte diferencial:

=> As gerências da Empresa C e da Empresa O procuram realizar reunloes

nos próprios locais da produção, junto aos funcionários de cada área. Ali, o

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funcionário está no seu "território" e sente-se mais próximo dos administradores

porque estes vieram até o chão da fábrica para conversar, ouvir e sugerir. Ao

invés do operacional ir até o administrativo (normalmente para ser criticado

ou responsabilizado por alguma falha de produção) o que ocorre é o inverso.

=:> O ponto de vista do entrevistado na Empresa A reforça os benefícios deste

trabalho localizado; não se deve impor normas para cada área, mas sim

procurar discutir com os especialistas ou com os diretamente envolvidos.

Muito foi falado sobre intensificação de treinamentos, mas pouco foi dito

sobre o processo de delegar uma maior responsabilidade a quem está

diretamente l igado à linha de produção (empowerment). A Empresa a, por

exemplo, implementou a multifuncionalidade de seus funcionários, o que na

prática, se traduz por operários responsáveis por todas as etapas que se

processam em uma célula. No entanto, o entrevistado não explorou como

foi transmitida esta modificação e qual foi o feedback dos funcionários.

Da mesma forma, fala-se na Empresa A em "autonomia e obrigação" dos

funcionários para parar as máquinas se alguma falha for detectada durante

o processo. Não há como comprovar a interpretação que cada funcionário

pode dar a este procedimento, variando desde o estabelecimento de uma

relação clara entre a sua atuação e a melhoria de qualidade (sua e da

empresa) até um sentimento de obrigação para garantir o seu emprego.

Por fim, um ponto consensual, conforme já foi observado, é a

resistência apresentada pela média gerência. No depoimento registrado na

Empresa A fala-se em minimizar o tempo de transmissão da mensagem da

qualidade. A média gerência, quando não se sente devidamente motivada,

deixa de ser um canal transmissor passando a atuar como uma barreira que

impede ou distorce esta mensagem. Isto se deve ao receio de alguns indivíduos

se acharem dispensáveis, devido à perda de exclusividade de conhecimento

sobre o assunto no qual trabalham. A Empresa C parece lidar de uma forma

bastante exemplar com esta questão, ao utilizar o termo gerência para

denominar desde o responsável pela empresa como um todo até os

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responsáveis por cada área-chave. Adicionalmente, tratar os gerentes de área

como owners lhes confere maior autonomia para decidir sobre suas áreas de

atuação.

V.7 - O MERCADO EXTERNO

Embora não seja o foco principal da análise dos fatores do mercado

externo, um primeiro ponto a se considerar é a identificação das causas que

levaram as empresas pesquisadas a buscar o mercado internacional e como

isto influenciou na sua melhoria de qualidade.

O motivo básico, pelo que foi observado, está relacionado ao

trade off entre qualidade e preços. Todas as empresas relataram que o

mercado doméstico é ainda profundamente orientado para preços, o que

permite a entrada de fabricantes que oferecem produtos de menor

qualidade e preços mais competitivos. Cabe ressaltar aqui que, segunda o

que foi exposto pelas empresas, a dimensão preço é caracterizada de

maneiras diversas para o mercado doméstico e para o mercado internacional:

enquanto no primeiro ocorre o acima exposto, no segundo a interferência

dos preços é fruto de uma maior capacidade de obtenção de informações

por parte dos clientes importadores. Assim, procurar fugir da dependência

de um mercado doméstico extremamente sensível a preços, foi uma das

causas principais que motivaram a busca de outros mercados.

Esta primeira análise, no entanto, não reflete inteiramente a realidade

com que as empresas se deparam no mercado externo atualmente. Aqui,

mais uma vez fazendo uso dos critérios observados por Slack (op. cit. ) foi

possível constatar que o preço é ainda um atributo ganhador de pedidos

para estas empresas no mercado internacional. Ao entrevistar uma pessoa

diretamente ligada à area comercial na Empresa D, foi com enorme surpresa

que o entrevistador verificou que o preço é o primeiro e único ponto de

partida para se iniciar uma negociação.

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As exigências apresentadas pelos clientes internacionais serviram de

"molas propulsoras" para que empresas como a Empresa D e a Empresa B

iniciassem seus Programas de Qualidade. Estas empresas passaram a se

conscientizar que a porta para o mercado externo estava em atender as

necessidades de seus clientes agregando valores aos seus produtos. Este é o

mesmo caminho que está sendo percorrido pela Empresa A, que enxerga a

entrada no mercado externo como uma busca para se construir novos

diferenciais.

A concorrência internacional foi caracterizada para os setores

pesquisados como formada por empresas multinacionais de grande porte.

Algumas particularidades, no entanto, merecem atenção:

� Empresa A e Empresa B observam a concorrência como extremamente

capital-intensiva. Enquanto que para a primeira, os investimentos concentram­

se em pesquisa e desenvolvimento, para a segunda os investimentos

direcionados para automação de processos acabam diluíndo custos fixos

e aumentando a competitividade dos concorrentes.

� Boa parte da concorrência da Empresa D é formada por empresas

de países em desenvolvimento. As dirty industries não são uma prioridade

nos países desenvolvidos, o que gera vantagens comparativas para o

Brasil. Ao mesmo tempo, significa dizer que empresas como a Empresa

D serão menos afetadas pelas possíveis restrições da Comunidade

Européia e dos E.UA do que outras pertencentes à setores de

tecnologias de ponta.

� A Empresa C também enfrenta a concorrência de empresas locais no

mercado americano. Adicionalmente, se esta empresa deseja buscar um

cliente na Europa, estará sujeita à concorrência por parte de outras filiais do

Grupo C, que supostamente deveriam servir como um canal intermediário.

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A Empresa B foi a única empresa que disse fazer um monitoramento

constante de sua concorrência internacional, por meio de indicadores que são

enviados pelos clientes. Adicionalmente, foi através de um profundo estudo de

mercados que a empresa optou por não abrir uma fábrica em Portugal,

mantendo na Europa apenas um escritório de representação. As oportunidades

no mercado norte-americano pareceram mais atraentes.

Em que pese a subjetividade dos entrevistados, os fatores culturais só

foram diretamente considerados no depoimento da Empresa C. Esta

empresa, por exportar para a Arábia Saudita, país de caracteristicas

nitidamente diversas do Brasil, não se limita a avaliar as diferenças no

produto exportado, mas também um conjunto de fatores relevantes ao

processo de exportação, tais como temperaturas e condições oferecidas

ao cliente. Neste caso, a empresa parece não subestimar a citada

"Armadilha do Elefante", pois além de procurar avaliar as peculiaridades da

Arábia, entende que as modificações necessárias no produto não visam

transformá-lo em algo inteiramente diferente do que fabricam, mas sim

atender às necessidades do consumidor local.

Quanto às demais empresas, uma possível explicação para a pequena

relevância da dimensão cultural seria decorrente da crença em já estarem

incorporadas nas especificações fornecidas pelos seus clientes ou parceiros

"cativos" prováveis diferenças culturais.

Analogamente, o risco político-econômico foi abordado explicitamente

só por uma empresa, a Empresa D. Normalmente, se existem riscos deste

tipo, esta empresa tranfere a reponsabilidade de atuação no mercado para uma tradíng company . No entanto, se esta solução minimiza o risco

financeiro, por outro lado, o risco "de produto" continua existindo, pois a

marca e a peça "Empresa D" estarão efetivamente presentes naquele

mercado. Se ocorre uma falha na peça "Empresa D" naquele mercado, quem

será responsabilizado pelo cliente/consumidor?

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A pequena relevância que as outras empresas deram a este atributo

poderia ser entendida pelo fato de exportarem ou terem estabelecido

parceiros de mercados relativamente estáveis. Isto no entanto, não se aplica

à Empresa C, pois o percentual exportado para a Arábia (país situado em

uma "área de tiroteios", cuja economia é bastante concentrada em alguns

produtos como o petróleo) é bastante significativo.

Os canais intermediários são de extrema relevância para todas as

empresas estudadas. Os canais considerados variaram desde as trading

companies até os "postos avançados" no exterior.

A importância do relacionamento pessoal entre canal e cliente citada

por Gale, Borden e Jeannet ( 1986) é nitidamente comprovada pela Empresa B

quando relata a forma com que iniciou o contato com a Ford americana.

Os escritórios no exterior são utilizados pela Empresa D e pela

Empresa B como forma de estarem mais próximas do cliente, podendo

atendê-lo mais rapidamente, bem como manter uma política mais estreita

de bom relacionamento, conforme foi colocado por Meira, Figueiredo e

Leite (1 988). Este "braço" da empresa junto aos mercados internacionais

tem duplo significado: representa um maior controle da empresa no processo

de intermediação ao mesmo tempo em que esta oferece uma maior autonomia

como forma de motivá-lo para identificar e conquistar novos clientes.

A Empresa A, embora não tenha um canal no exterior (e sim um parceiro

tecnológico e comercial) entende que o canal para ser eficaz precisa estar

perfeitamente integrado à filosofia da empresa.

Finalmente, é digno de nota o relato da Empresa C no qual o peso do

"canal" é visto sob uma condição inteiramente diferente das demais

empresas. Aqui, os canais foram interpretados como os parceiros que a

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empresa possui no exterior e que poderiam abrir portas intemacionais. No

entanto, o grande porte destes parceiros faz com que ocorra o efeito inverso,

isto é, estes impõem restrições sobre as áreas de atuação da Empresa C na

América Latina. Adicionalmente, a Empresa C brasileira acaba servindo de

canal para a sua matriz neste mercado.

V.S - O PRODUTO EXPORTADO

O primeiro ponto considerado para a avaliação dos fatores referentes ao

produto exportado é a questão da sua padronização ou adaptação para o

mercado intemacional.

O critério de escolha por parte das empresas do produto a ser

exportado considerou fatores como a existência de demanda, reduzida

ocorrência de falhas e retomo financeiro. Conforme apontado por Jain ( 1 990.),

05 produtos industrializados tendem a manter uma padronização no que se

refere à sua comercialização, o que realmente foi observado nas empresas

pesquisadas. Excetuando-se a Empresa C, que fabrica uma peça especial

para a Arábia devido à inexistência de demanda para este produto no

mercado doméstico, todas as empresas exportam produtos que fazem parte

normalmente de suas linhas de produção.

A capacidade de realizar adaptações é limitada e o redesenho,

ao invés de tomar-se um diferencial competitivo, pode implicar em custos

mais elevados. Neste caso, como foi observado na Empresa C, há o risco do

cliente procurar um produto substituto que ofereça preços mais atraentes.

O que se pode observar para as empresas e 05 produtos em questão

são as vantagens destacadas por Zaichkowsky e Sood ( 1 989) decorrentes

da especialização: economias de escala, que representam diluição de custos.

Considerando-se, adicionalmente, que todas as empresas estão se baseando

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nas normas estabelecidas pela ISO, a uniformização da produção dentro

de níveis internacionais é um diferencial de qualidade que apresentam para

o mercado externo.

A Empresa C foi a umca empresa cujo depoimento revelou uma

preocupação com o estágio do ciclo de vida de seus produtos. A constatação

de uma tendência no mercado internacional em fazer uso de novos produtos

para substituir aquilo que fabrica atualmente levou ao desenvolvimento

de parcerias para se tornar apta tecnologicamente a fabricar estes novos

produtos. O mercado doméstico ainda não sinaliza esta tendência.

No que tange ao desenvolvimento de linhas internacionais de produtos,

os fatores limitantes, conforme foi dito acima, são a existência de demanda e

a capacidade de adaptação. As empresas se posicionam em distintos estágios

sob este aspecto: Empresa B e Empresa D, por exemplo, possuem unidades

de produção no exterior.

Dois passos estratégicos merecem destaque no que tange às

características de produto:

=> A Empresa D procura exportar o eixo dianteiro em peças decompostas,

permitindo ao cliente se utilizar do conjunto todo ou trabalhar com as

modificações que deseje fazer.

=> A Empresa A procura avaliar a sinergia entre seus produtos de forma a

iniciar a sua venda para o cliente externo através de um produto essencial e

posteriormente poder oferecer-lhe outros produtos que façam parte do seu mix .

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V.9 - A QUALIDADE NA PRODUÇÃO

Sem sombra de dúvidas, este é o aspecto no qual as empresas

atendem mais fielmente os requisitos apresentados no modelo proposto. O

ponto básico que norteia esta dedução é a importância que todas atribuem à

utilização das normas da ISO e os benefícios gerados pelas mesmas.

Tais benefícios podem ser exemplificados pela eliminação de normas

específicas para cada cliente, pela maior facilidade de rastreamento dos

processos e pela garantia da documentação dos procedimentos.

Todos os entrevistados encaram a obtenção da certificação da ISO

como um passo inicial para a melhoria contínua da qualidade. No entanto, não

se pode atestar que cada funcionário efetivamente veja a ISO como um

início; dependendo da intensidade de reformulações necessárias para a

obtenção da certificação, há o risco dos funcionários perceberem a ISO

como um ponto final na conquista da qualidade.

Uma visão que se destaca foi dada pelo entrevistado da Empresa C,

quando acredita que a ISO somente é um diferencial para as empresas que já

estão com o seu lugar garantido nos mercados internacionais, e não um

"ariete" para abrir os portões deste mercado. Certamente a percepção de

empresas como a Empresa A é diferente, embora neste caso, a estratégia

da Empresa A não esteja limitada a utilizar-se da ISO para exportar para a

Europa.

No que se refere aos fornecedores, os pontos levantados pelas

empresas são bastante semelhantes:

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=> Conforme havia sido destacado por Falconi ( 1 989), os critérios de escolha

de um fornecedor para as quatro empresas são prazo, preço e qual idade das

matérias-primas.

=> A avaliação da qualidade da matéria-prima é feita através de análises dos

departamentos técnicos, visitas aos fornecdores e inspeções no recebimento.

=> Excetuando-se a Empresa A, todas as demais empresas declararam

possuir Manuais de Qualidade para os seus fornecedores, de onde tiram

os requisitos necessários para classificar cada fornecedor.

=> As classificações atribuídas para cada fornecedor são revistas

periodicamente.

=> As parcerias são fortemente estimuladas, visando não somente a

redução de inspeções desnecessárias como poder atender de uma forma cada

vez melhor às exigências dos clientes.

Todas as empresas fizeram adaptações no que se refere ao estoque de

matérias-primas. A Empresa A e a Empresa B, por exemplo, reestruturaram os

seus layouts visando uma melhor operacionalização para as linhas de

produção. A Empresa D adotou o just in time , embora saiba que o seu setor

apresenta riscos de flutuações repentinas de demanda.

V. 1 0 - A EMBALAGEM E AS GARANTIAS OFERECIDAS

Conforme foi observado no mapeamento dos atributos da qualidade,

o aspecto estético apresentou relevância quase nula para as empresas

estudadas. Assim, a embalagem foi enfocada fundamentalmente pela

segurança que pode oferecer no transporte e no armazenamento.

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A Empresa B apresenta nonnas específicas para os procedimentos de

embalagem, que são ditadas pelos clientes ou internas, caso os clientes

não as possuam. A Empresa D e a Empresa C possuem áreas voltadas

inteiramente para o desenvolvimento e avaliação de suas embalagens junto às

das concorrentes. A Empresa D, no entanto, enfatiza que o projeto de uma

embalagem deve considerar todos os estágios pelos quais esta atravessa até

chegar ao cliente, em confonnidade com aquilo que foi exposto por Jain (op. cit)

Adicionalmente, faz uma avaliação ( i) do tipo de transporte utilizado, ( i i ) do local

de entrega e (ii i) das dimensões do produto.

Nenhuma das empresas falou sobre a existência de procedimentos

que obedecessem às legislações locais no que se refere à marcações de

containers ou informações e especificações na língua falada no país

importador.

A Empresa B apresenta um projeto de utilização de embalagens

retornáveis, mas não expõe qual é a percepção de seus clientes quanto a

esta modificação.

A principal preocupação ao se falar em transporte é a viabilidade da

entrega ser efetuada no prazo esperado pelo cliente. A Empresa C mostrou um

diferencial neste sentido, ao estabelecer acordos com companhias aéreas ou

procurar acompanhar o embarque dos seus produtos nos navios.

A constância das entregas é um ponto enfatizado pela Empresa B e pela

Empresa A, entendendo que quaisquer problemas que ocorram nos

transportadores (o que é comum diante da realidade portuária brasileira)

implicarão em riscos de se perder os clientes.

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Por fim, a importância da garantia é confirmada pela Empresa B

quando afirma ser este um instrumento para assegurar a confiança do cliente.

Cada uma das empresas levantou pontos relevantes ao abordar este tema:

� Empresa B e Empresa D enfatizaram a necessidade de se manter estoques

de segurança de seus produtos no exterior, a fim de sempre poderem cumprir

os prazos de entrega. Isto, porém, só é possível caso a empresa possua

uma unidade fora do país. Além disso, quando se trabalha com muitos

países, deve haver um perfeito planejamento de distribuição, pois, de outra

forma, os riscos na entrega continuarão a existir.

� A Empresa C procura documentar todas as falhas ou dúvidas apresentadas

pelos clientes de forma a transformá-Ias em fontes de consulta para minimizar

a repetição futura de erros. Embora isto não se caracterize como uma atitude

proativa da empresa, pode levar a um melhor atendimento no futuro.

� A Empresa A entende que a garantia oferecida para o seu produto é

padronizada no mercado. Dado este fato, procura-se trabalhar com um

atendimento diferenciado, pois neste caso, conforme exposto em Jain (op. cit. ),

qualquer incremento na garantia poderá ser imperceptível para o consumidor.

� A Empresa D não somente estabelece as garantias junto aos clientes como

realiza visitas periódicas aos mesmos, no intuito de oferecer assitência técnica

e verificar se o cliente está satisfeito com o desempenho de seus produtos.

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CAPíTULO VI - RESUMO, CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS

PESQUISAS

VI. 1 - RESUMO

O objetivo deste trabalho foi, partindo-se da definição de um conceito

amplo de qualidade, identificar os requisitos necessários para o seu

gerenciamento estratégico e, em um segundo momento, avaliar as condições

específicas para a gerência estratégica da qualidade voltada para a exportação.

O primeiro passo foi a realização de uma revisão de l iteratura,

onde se procurou, inicialmente, mostrar as diversas definições atribuídas

à qualidade e a consequente dificuldade em formalizar um conceito

abrangente e completo. Em um momento seguinte, foram apresentadas

as eras da qualidade, desde a inspeção até o gerenciamento estratégico,

entendendo-se que nesta trajetória evolutiva, cada era veio complementar a

anterior e não renegá-Ia. A partir daí, foram examinadas as questões referentes

ao controle e aperfeiçoamento de processos produtivos, à identificação das

dimensões competitivas da qualidade e à sua correta transmissão.

Identificados os ínputs relevantes para que qualidade pudesse ser

vista como uma variável estratégica, procedeu-se então à consideração dos

aspectos fundamentais para a qualidade na exportação. Partindo-se da

concepção de qualidade como algo que envolve ( i ) o produto; ( i i ) os

mercados/clientes; ( i i i) a produção e (iv) os elementos ditos "periféricos",

procurou-se visualizar, emcada um destes pontos, as particularidades para

a qualidade no contexto internacional.

A revisão de l iteratura foi concluída com um sumário dos principais

pontos abordados no capítulo.

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Este sumário serviu como base para que, no capítulo de metodologia de

pesquisa, fosse proposto um modelo de gestão estratégica da qualidade para a

exportação. Com a finalidade de verificar a abrangência deste modelo, foram

realizados quatro estudos de caso, cuja metodologia foi explicitada no

mesmo capítulo.

Os casos foram descritos no capítulo seguinte ao da metodologia e

baseiam-se nos depoimentos obtidos junto às seguintes empresas: Empresa A,

do setor de tintas para impressão; Empresa B, unidade fabricadora de pistões

para veículos; Empresa C, fabricante de disjuntores e Empresa D, de peças

forjadas e usinadas para veículos pesados.

A estruturação dos casos procurou obedecer à seguinte disposição:

após um breve histórico e caracterizações gerais, foi abordada a visão de

qualidade da empresa. Em uma segunda parte, foram mapeados os

atributos relevantes da qualidade, bem como descritos os insumos abordados

na revisão de l iteratura para a gestão estratégica da qualidade. Na parte

final, foram apresentados os pontos mais relevantes para cada empresa no

que se refere ao gerenciamento da qualidade no mercado externo.

Finalmente, partiu-se para a análise dos resultados apresentados em

cada caso, procurando relacioná-los com as proposições do modelo. Resta

então, sumarizar a seguir as principais conclusões obtidas nesta pesquisa.

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VI.2 - CONCLUSÕES

O presente trabalho procurou abordar uma temática que vem cada vez

mais ganhando espaço na real idade brasileira. O cenário atual mostra-se

extremamente rico para a realização de uma pesquisa como esta, por ser

este um momento de descobrimento e transição.

As empresas estudadas mostram que estão vi venci ando uma passagem,

de um velho e exaurido modelo de gestão para um novo paradigma

gerencial que incorpora conceitos mais condizentes com as recentes

transformações ocorridas no nosso país.

As condições de mercado e da concorrência podem revelar indícios

de que os produtos das empresas estudadas estejam atingindo o que Dean

(1 994) chama de maturidade de produto no mercado internacional. A maior

capacidade de obter informações em um mercado global certamente

contribui para que os clientes possam estabelecer melhor os seus julgamentos

quanto ao grau de similaridade de processos e de serviços oferecidos pelos

seus fornecedores.

Desta forma, se no passado existiu uma preocupação (sobretudo

nas duas empresas do setor de autopeças) em trabalhar aspectos maís

voltados ao atendimento, garantias e embalagens, verifica-se atualmente

que estes aspectos foram devidamente assimilados pela concorrência, não

podendo mais ser considerados como ganhadores de pedidos.

Um outro ponto que ilustra a possível maturidade de produto foi

colocado na entrevista da Empresa C, ao se tomar clara a preocupação em

desenvolver novos produtos, com a ameaça de substitutos para suprir o

mercado.

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É interessante também constatar os esforços da Empresa B em buscar

uma associação de sua marca com a qualidade de seus produtos em

um mercado no qual o preço ainda é um forte fator diferenciador.

Estes pontos, porém, não descaracterizaram a perfeita assimilação

da visão ampla de qualidade que é o ponto de partida para o modelo

proposto. Nas quatro empresas pode-se constatar que a tradicional concepção

de qualidade orientada somente para o produto ou para a produção tomou-se

uma lembrança do passado. O receio inicial do pesquisador de que as

empresas teriam somente transferido o seu foco da qualidade para o cliente foi

se dissipando, na medida em que tomou-se possível avaliar a qualidade nos

demais aspectos considerados no modelo (produto, produção e periféricos).

Porém, foi possível perceber que, tomando-se como base a matriz de

Slack ( 1 993) , as empresas enfatizaram em seus depoimentos, aspectos

muito mais voltados aos dois primeiros quadrantes (respectivamente

desempenho e estratégia de processos e produtos). Isto pode ter como

justificativa os próprios setores em que atuam, cuja preocupação inicial

está mais direcionada para atributos intrínsecos do produto.

Identificada a coerência (ainda que sujeita a algumas ressalvas) entre

a visão de qualidade proposta no estudo e a apresentada pelas empresas,

o passo seguinte foi verificar se a qualidade poderia ser efetivamente

vista como uma variável estratégica e, como tal, passível de gerenciamento.

Seguindo a abordagem de Garvin (1 992) , um primeiro input

considerado pelo modelo foi a identificação das dimensões competitivas

da qualidade para cada empresa avaliada. Embora as empresas pesquisadas

sejam de setores distintos, todas têm em comum o fato de produzirem bens

para uso industrial. Assim, a disposição apresentada pelos entrevistados

segundo a relevância de cada atributo, descontada a subjetividade

inerente a este tipo de critério de análise, mostrou-se bastante homogênea.

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Adicionalmente, a ordenação das dimensões mais relevantes mesclou

características intrínsecas de produto (confiabilidade, conformidade) com

características extrínsecas (atendimento), confirmando a visão holística de

qualidade que havia sido apresentada pelos entrevistados.

Um dos pontos mais significativos neste mapeamento foi o fato de

terem sido identificadas, dentre as dimensões apresentadas pelo pesquisador,

aquelas nas quais as empresas procuram oferecer diferenciais competitivos.

Nenhuma das empresas considerou que todas as dimensões poderiam ser

relevantes, tampouco verificou-se o oposto (nenhuma ser relevante). Somando­

se a estes fatos, foi possível concluir que esta classificação pode ter

distintas apresentações, conforme observado no capítulo de análise dos

resultados, dependendo de quem seja o cliente, se uma outra empresa ou o

consumidor final.

Porém, ao se observar efetivamente as características dos mercados,

percebe-se que os objetivos externos podem se distinguir dos objetivos

internos das empresas. Se atributos como prazo são fortemente valorizados (e

são consequentemente ganhadores de pedidos) pelos clientes, a conformidade

torna-se fundamental . Dai a extrema relevância das empresas saberem

identificar quais são os objetivos internos necessários para se destacarem

em aspectos ganhadores de pedido. De outro modo, a confusão conceitual em

torno das dimensões relevantes da qualidade pode levar a uma incapacidade

de distinguirem entre objetivos qualificadores e ganhadores de pedido.

o insumo seguinte, segundo as proposições do modelo, é o controle e o

aperfeiçoamento dos processos produtivos. Como todas as empresas estão

praticamente certificadas pela ISO, não foi de todo surpreendente verificar o

estado avançado no qual se encontram, no que tange às documentações de

procedimentos, análise de processos, registros de falhas e refugos e

todos os demais instrumentos inerentes ao Ciclo PDCA. O centro da análise

deste ponto desloca-se então para verificar a sua relevância ou não como um

input para a gestão estratégica da qualidade. Isto pode ser confirmado quando

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são relembrados os quatro tópicos considerados na seção em que é

proposto o modelo, no que se refere ao impacto estratégico da qualidade:

=> estabelecimento de metas e objetivos

=> elaboração e implementação de planos de ação

=> utilização de sistemas de controle e medidas corretivas

=> melhoria contínua de produtos, processos e seviços

o último, e nem por isso menos importante, insumo para a gestão da

qualidade, é o gerenciamento adequado da transmissão deste conceito. Isto,

dentre outras coisas, serve para que o Ciclo Plan, Do, Check, Act não seja

interpretado como "Please Don't Change Again ". Pode-se perceber que

nenhuma das empresas questiona a relevância de um forte trabalho de

comunicação intema, pois, o comprometimento é a base para o sucesso

de um programa de qualidade.

No entanto, gerenciar a comunicação da qualidade parece ser um

ponto ainda problemático para as empresas. O uso de instrumentos

inovadores, tais como os almoços e cafés-da-manhã dos quais participam

todos os níveis hierárquicos, "sem vacas sagradas" (conforme foi dito pelo

entrevistado da Empresa C), deve ser visto com certas ressalvas. A

"metamorfose" sofrida por uma empresa que realiza programas de qualidade é

radical, e apresentar novidades fazendo uso principalmente de instrumentos

"estranhos" ao cotidiano dos funcionários pode gerar temores ou rejeições.

Adicionalmente, utilizar-se dos tradicionais canais somente para

comunicar as "vitórias" extemas da empresa, pode ter um efeito bastante

reduzido, caso os funcionários não sejam capazes de traduzir as implicações

daquelas informações para os seus universos cogn itivos.

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A correta comunicação deve procurar relativizar conceitos, adaptando-os

às características de quem se pretende atingir. Os instrumentos a serem

utilizados devem compreender um conjunto formado tanto por informações

gerais como pelas mais específicas de cada setor.

Um ponto de consenso entre as proposições do modelo e as empresas

quanto a esta questão foi atribuir à liderança a responsabilidade de motivar os

funcionários a entenderem a importância da qualidade para todos na empresa.

Da mesma forma, qualquer programa de qualidade precisa ter como ponto de

partida a vontade e determinação da liderança (planos top-down) .

Desta forma, o que se observou nas empresas pesquisadas pode ser

comparado a um jogo de bilhar: em um primeiro instante, a bola branca (alta

administração) foi impulsionada e transmitiu este impulso às demais bolas do

jogo. Estas bolas interagiram entre si até pararem em novos pontos da mesa,

diferentes dos que estavam antes. Para que estes pontos representassem uma

melhoria no jogo, a bola branca precisou movimentar-se de forma precisa e

planejada.

Partindo então para a segunda etapa do modelo, que se refere

efetivamente à identificação de particularidades do mercado externo e às

formas de se aplicar o gerenciamento estratégico da qualidade neste contexto,

torna-se relevante fazer uma distinção entre as três empresas que já exportam

e a Empresa A:

Para as três primeiras, os clientes importadores já existem e o

mercado internacional é conhecido, enquanto que esta não é a realidade da

empresa de tintas. Alguns dos fatores expostos no modelo proposto referem­

se a uma análise ex ante a penetração nos mercados externos, tais como

caracterização de mercado e decisões sobre as l inhas a serem exportadas.

Desta forma, enquanto o depoimento das três empresas exportadoras

considerou tais pontos como devidamente "resolvidos", a Empresa A enfatizou

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mais claramente a significância dos mesmos por se tratar de uma empresa que

busca, através da qualidade, enfrentar o mercado externo.

No que diz respeito às peculiaridades de mercado, chamou atenção o

fato de somente uma das empresas (Empresa C) ter abordado mais

detalhadamente a questão cultural. Possivelmente, a segurança em fabricar

produtos já aceitos no mercado internacional (Empresa D e Empresa B)

tenha contribuido para este resultado, bem como o fato de boa parte dos

entrevistados, embora falando da empresa como um todo, não tomar como

uma de suas principais atribuições a avaliação de novos mercados.

Adicionalmente, a relevância dos preços no mercado internacional

mostra-se bastante coerente com os setores dos quais as empresas

pesquisadas tomam parte. Cada vez mais rapidamente, os diferenciais

apresentados nestes mercados transformam-se em critérios qualificadores.

Assim, o valor atribuído aos produtos nestes mercados torna-se uma

combinação das definições de valor apresentadas na revisão de literatura,

pois os clientes desejam um preço atraente (ou baixo, se os produtos não

mais conseguem se diferenciar) mas também exigem um "nível de qualidade".

Conforme apresentado por Jain (op. cit. ) um pequeno decréscimo no preço pode

ser a melhor forma de aumentar o share em mercados nos quais os

produtos não são tidos como altamente diferenciados. Esta parece ser a

realidade nos mercados pesquisados, adicionada ao fato dos clientes obterem

informações de diversas fontes no mundo, o que lhes permite estabelecer

seus próprios conceitos de "vantagens comparativas das nações". Desta forma,

para estes mercados, o preço é um ganhador de pedidos.

A importância de se desenvolver um política própria para o canal

intermediário foi comprovada em todas as entrevistas, justificando assim, a

sua inclusão no modelo proposto. Mais uma vez, é interessante relembrar a

importância do intermediário nas negociações da Empresa B com a Ford

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americana. O canal, entendido como sendo uma representação própria ou não,

é para esta amostra também um ganhador de pedidos.

Quanto à utilização de normas internacionais, observou-se que as

mesmas estão deixando de representar um diferencial competitivo no

mercado externo, tomando-se um passo básico para garantir a sobrevivência

das empresas neste mercado. As entrevistas permitiram constatar que, um

grande dilema que paira sobre esta questão reside em conseguir dar

continuidade ao processo iniciado pela busca da certificação. Conforme foi

visto na introdução, o crescente número de empresas que se certificam em

nosso país serve como indicativo de que muitas destas não desejam

somente assegurar o seu lugar no mercado internacional, mas poder

usufruir ao máximo do fato da ISO ser ainda um grande diferencial no mercado

doméstico. Obter a ISO, conforme foi exposto, não é um final, mas a primeira

vitória no infindável caminho da qualidade.

A comparação entre os dois "extremos" da empresa, isto é, o que ela

�am como expectativas do seu cliente e o que ela efetivamente exige

de seus fornecedores, permitiu atestar que a ISO, hoje ainda vista por muitos

como diferencial, estará cada vez mais presente na real idade brasileira, na

medida em que empresas de destaque (como é o caso das selecionadas

neste estudo) procuram cada vez mais trabalhar com fornecedores que já

estejam certificados.

Por fim, os fatores caracterizados como periféricos mostraram-se

fundamentais para as empresas estudadas trabalharem os seus diferenciais

de qualidade no mercado internacional. A embalagem, na amostra

pesquisada, não foi avaliada sob o prisma da estética, mas sim considerando­

se a segurança que deve oferecer em todo o caminho percorrido até o cliente.

Atrelado a este ponto está o trabalho que deve ser realizado com os

responsáveis pelo transporte da mercadoria (que também assumem o papel

de canais intermediários), pois a pontualidade na entrega é um ponto-chave

para satisfazer o cliente. Adicionalmente, as empresas mostraram como

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procuram trabalhar a garantia para que esta represente um algo mais para os

clientes. Exemplificando, quando a garantia é padronizada no mercado,

procura-se oferecer ao cl iente uma assitência técnica diferenciada.

o conceito de assistência diferenciada, muito trabalhado pelos

entrevistados, é também profundamente subjetivo e ,em certos casos, o que

se chama de diferenciada é na verdade um mínimo esperado pelo cliente.

Aqui cabe uma avaliação mais geral sobre as empresas estudadas.

Todas souberam enfatizar a relevância de atributos da qualidade mais

voltados para o processo produtivo e o produto per se , tais como

confiabilidade, durabilidade e conformidade. Adicionalmente, puderam provar

que existe uma enorme preocupação em estarem aperfeiçoando-se cada vez

mais na qualidade relacionada a esses pontos. Fazendo uma citação à

matriz de Slack, estaria-se dizendo que as empresas percebem a abrangência

da qualidade como algo profundamente relacionado à estratégia e desempenho

de produto e processo (quadrantes superiores). Ao falarem em atendimento

e garantias revelam uma inconsistência sobre o quanto estes pontos são

trabalhados de forma a gerarem ganhos de competitividade.

Ao se observar o mercado no qual estão inseridas percebe-se a

existência de uma significativa sensibilidade a preços e baixa diferenciação

dos produtos.

De que forma então essas empresas podem trasformar qualidade no

mercado internacional em arma competitiva?

o quadro 1 4 apresenta os atributos relevantes no mercado externo cuja

classificação pareceu ser bastante similar em todas as empresas. Não se

procurou aqui fazer uma profunda análise atribuindo pesos aos atributos, mas

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QUADRO 14

OBJETIVOS OUALIFICADORES E GANHADORES DE PEDIDO

COMUNS ÀS EMPRESAS PESOmSADAS

PARA O MERCADO INTERNACIONAL

I GANHADORES DE PEDIDO 11 QUALIFICADORES I Preço Utilhac.ão de Nonnas Internacionais

Utilização de Canais Intennediários Fornecedores com Qualidade Assegurada

Embal�em (Se a no TransJlOrtet

Cumprimento de Prazos

Constância no Fornecimento

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simplesmente retratar algo que foi constantemente enfatizado em todas as

empresas, sintetizando os comentários já apresentados.

Esta situação porém, é uma fotografia tirada do mercado nos dias atuais. Ao

considerar o contexto dinâmico dos mercados, deve-se buscar adicionar

esse dinamismo à qualidade. Aquelas empresas que descobrirem antes

dos concorrentes novas dimensões "ganhadoras de pedido" ou

dimensões qualificadoras que sejam potenciais ganhadoras de pedido estarão

"saindo na frente". Esta é a verdadeira visão estratégica de qual idade.

Exempl ificando, se o prazo é uma "exigência", porque não entregar o produto ao

cliente antes do prazo prometido, se isso lhe foi motivo de encantamento?

Desta forma, o emprego da palavra "periféricos" para denominar

aspectos tão relevantes para o melhor gerenciamento da qualidade para a

exportação poderia ser mal interpretado, se visto com uma conotação de algo

"secundário" ou "complementar". Sugere-se então que uma denominação

alternativa seja utilizada - Serviços Essenciais - como forma de clarificar o

que verdadeiramente foi proposto pelo modelo.

Pelo que foi relatado nos parágrafos anteriores, considera-se que os

resultados obtidos foram bastante satisfatórios em termos de aplicação do

modelo à realidade empresarial.

No entanto, ao procurar sumarizar as conclusões deste trabalho

respondendo às perguntas apresentadas no capítulo de metodologia, percebe-se

que:

� a concepção de qualidade das empresas revela uma visão

ampla, porém ainda confusa no que se refere aos atributos

periféricos. Foram enfatizadas essencialmente as dimensões

intrínsecas ao produto, fato que pode ser justificado pela

realidade, no Brasil, dos setores nos quais estas empresas atuam.

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=:> no que se refere aos insumos necessanos para uma visão

estratégica da qualidade, existe uma dificuldade em se distinguir

objetivos "ganhadores de pedido" e "qualificadores". Toma-se

fundamental identificar quais os objetivos internos necessários

para que as empresas possam se destacar em aspectos

"ganhadores de pedido".

=:> a visão estratégica de qualidade transforma-se em instrumento

gerador de diferenciais no mercado externo na medida em que são

incorporados ao "produto" exportado diferenciais alternativos, tais

como os "serviços essenciais" acima citados. A caracterização de

mercado serviu para mostrar um contexto maduro e

profundamente orientado para preços, no qual os d iferenciais "de

produto" tornaram-se imperceptíveis ou rapidamente assimilados

pela concorrência.

204

Há ainda que se alertar para o risco das empresas "dormirem sobre os

louros do passado". O gerenciamento da qualidade pressupõe que as metas são

sempre alvos móveis e o comprometimento com esta questão significa buscar

initerruptamente as melhorias contínuas. Um dos pontos observados nos

relatos das empresas foi o fato de parecerem estar "contando uma estória

de sucesso" que se iniciou no passado.

Por fim, cabe aqui mencionar mais uma vez a inexistência de uma

literatura específica sobre o tema abordado, bem como de relatos sobre

empresas de outros países que se utilizem da totalidade de características

propostas no presente estudo para um melhor gerenciamento da qualidade.

Assim sendo, foge ao escopo deste trabalho estabelecer comparações com

outros países, tendo em vista as particularidades do nosso país no que

se refere ao seu processo de desenvolvimento e, mais especificamente, à

abordagem dispensada à qualidade.

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Procurou-se neste trabalho, fazendo uso de uma modéstia cognitiva

necessária diante de tema tão vasto e recente, oferecer uma contribuição para

que sejam estimulados cada vez mais os debates e as ações em torno de

temas como este. Como foi possível verificar, a cada dia que se passa em

nossa história, a qualidade vai deixando de ser vista apenas como "algo bom",

tornando-se uma das premissas mais elementares para se buscar a modernidade

e a retomada do crescimento econômico do Brasil .

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VI.3 - TEMAS PARA PESQUISAS FUTURAS

Dada a abrangência do tema e o curto período de contato do pesquisador

com as empresas estudadas, um primeiro ponto que poderia ser explorado é a

realização de um trabalho que envolvesse outras pessoas destas empresas. A

subjetividade inerente às respostas dos entrevistados poderia ser contraposta à

opiniões de funcionários mais diretamente envolvidos com os procedimentos

operacionais.

Um trabalho deste tipo envolveria uma metodologia intermediária entre

o estudo de casos e pesquisas amostrais. Poderia-se trabalhar com as

mesmas empresas que constam neste estudo, porém segmentando

determinados níveis hierárquicos e comparando as suas percepções sobre o

significado da qualidade.

Uma outra sugestão para novas pesquisas seria a aplicação deste

modelo em outros setores, especificamente no setor de bens de consumo. Neste

caso, o cliente externo passa a ser o consumidor final, o que poderia levar a

uma ordenação distinta das dimensões de qualidade. Atributos tais como a

estética, pouco considerada pelas empresas analisadas, poderiam tomar-se

mais relevantes. Analogamente, no que se refere à embalagem, o foco principal

poderia deixar de ser a segurança no transporte e manuseio, passando a

considerar aspectos mais voltados à atratividade visual no ponto de venda. Por

fim, poderia ser feito um estudo comparativo entre bens de consumo

duráveis e não-duráveis, que avaliasse, dentre outros pontos, semelhanças

e/ou diferenças no trabalho com os canais intermediários.

Um outro fato que poderia dar origem à novas pesquisa é o dinamismo

que vem caracterizando as recentes transformações ocorridas no setor

produtivo brasileiro. Com isto, um número crescente de empresas inicia a

sua corrida para a qualidade. Atrelando-se esta constatação à uma maior

inserção do país em uma economia global, poderia-se ampliar o campo de estudo

para empresas que estivessem buscando o seu "lugar ao sol" no mercado

internacional, confOli"me foi colocado na seção anterior.

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Finalmente, sugere-se um estudo capaz de mensurar o quanto empresas

voltadas para o mercado internacional estão

"envolvidas"com a utilização da qualidade como arma

"comprometidas" ou

competitiva. Cada vez

mais, novas empresas começam a descobrir o "elixir" da qualidade, o que

nem sempre caracteriza o comprometimento de todos. Enquanto o envolvimento

pode ser avaliado por atributos tangíveis (obtenção de um certificado,

recebimento de prêmios) o comprometimento remete a aspectos motivacionais

muito mais complexos e abrangentes. Acima de tudo, significa a conscientização,

por parte de todos, do inesgotável processo de melhoria contínua, do

qual participam tanto como profissionais quanto como seres humanos.

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ANEXOS

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ANEXO 1

Rio de Janeiro, X de XXX de 1 9XX

Prezado Senhor;

Apresentamos a V. S- o Sr. Flávio Arruda, aluno do nosso curso de

mestrado, que está desenvolvendo tese sobre o tema de gestão estratégica de

qualidade para exportação.

Para a real ização deste trabalho, foram selecionadas algumas empresas

que vêm se destacando por sua forte preocupação com este tema, das quais

acreditamos que vossa empresa se inclua.

A fim de que tal estudo possa ser efetuado, pedimos a vossa colaboração

no sentido de conceder-nos uma entrevista pessoal, cujo roteiro poderá ser

enviado antecipadamente.

Oportunamente, teremos prazer em enviar-lhe os resultados deste estudo,

assim como ficarão à vossa disposição demais trabalhos que estejam sendo

desenvolvidos em nossa instituição e sejam de vosso interesse.

Agradecendo desde já a colaboração

Atenciosamente

Prof. Kleber F . Figueiredo

Coordenador de Pesquisa

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Rio de Janeiro, X de XXX de 1 9XX

Prezado Senhor;

Conforme havia lhe informado em contato realizado por telefone, estou

desenvolvendo tese de mestrado na COPPEAD - UFRJ, sobre o tema

Qualidade. O foco central deste trabalho está no gerenciamento de qualidade

para mercados internacionais.

A fim de facilitar o seu planejamento, segue um roteiro com os principais

tópicos que gostaria de cobrir em entrevista pessoal.

Caso sejam necessárias informações adicionais, estou à disposição nos

telefones (XXX) XXX-XXXXlXXXX.

Mais uma vez, agradeço sua atenção

Flavio Macedo de Arruda

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Roteiro Para Entrevistas da Tese

I - Dados Gerais:

• Histórico da Empresa no Brasil.

• Estrutura da Empresa: organograma (simplificado), dados disponíveis e

relevantes para o tema.

• Características do Setor da Empresa Pesquisada.

• Atuação no Mercado Externo.

11 - Concepção de Qual idade na Empresa

1 1 1 - O Gerenciamento da Qualidade

1 1 1 . 1 - Identificação dos Atributos relevantes de Qualidade para a

Empresa.

1 1 1 .2 - Controle e Aperfeiçoamento de Processos:

• Implementação de Padrões, Registros de Refugos e Unidades

retrabalhadas.

• Nível de tolerância de Erros aceitável .

1 1 1 .3 - Transmissão da Qualidade:

• Os Clientes da Qual idade.

• Principais Pontos/Objetivos transmitidos.

• Canais utilizados

IV - Gestão da Qualidade para o Mercado Externo

IV. 1 - Visão do Cenário Econômico Mundial.

IV.2 - Identificação de fatores relevantes para se definir uma estratégia

de Qualidade para o Mercado Internacional.

IV.3 - Análise do Cliente/Mercado Externo.

IV.4 - Análise do Produto para Exportação

IV.5 - Análise do Processo de Produção

• A ISO 9000

IV.6 - Análise dos Elementos Periféricos

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ANEXO 2

Roteiro para as Entrevistas

Este roteiro destina-se unicamente a uma melhor orientação, por parte do

entrevistador. Desta forma, não é objetivo do pesquisador apresentar o mesmo

aos entrevistados ou seguir literalmente a disposição abaixo. A função deste roteiro

é permitir ao entrevistador obter o gerenciamento adequado do tempo de

entrevista.

Dados Gerais

1 - Introdução e histórico da empresa no Brasil.

2 - Caracterlsticas do setor da empresa pesquisada.

3 - Estrutura da empresa: organograma, dados disponlveis e relevantes para o

tema.

4 - A atuação no mercado externo: fatores que influenciaram na decisão de

exportar e importancia das exportações no faturamento total.

5 - Dados numéricos sobre o % exportado; número de palses: quais os principais e

quais os potenciais.

A Concepção de Qualidade na Empresa

Objetivo: introduzir o tema e mapear a empresa dentro das distintas eras da

qualidade.

1 - O que é qualidade na empresa?

2 - Quais os responsáveis pela qualidade na empresa?

3 - Como se situa a qualidade diante de medidas de desempenho da empresa,

tais como custos, produtividade e rentabilidade?

4 - Qual a preocupação básica ao se falar em qualidade?

5 - Quais os métodos utilizados para a obtenção da qualidade?

6 - Qual o papel dos profissionais da qualidade na empresa?

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o Gerenciamento Estratégico da Qualidade

Objetivo: levantar quais os insumos necessárioslrelevantes para uma visão

estratégica de qualidade dentro da empresa, a fim de comparar com aqueles

sugeridos no modelo.

A - Identificação das Dimensões Competitivas

1 - Como é vista a qualidade em termos da relação produto/necessidades do

cliente?

2 - Como a qualidade pode gerar competitividade?

3 - Dos fatores abaixo (apresentar cartões), quais parecem estar mais próximos

da visão de qualidade da empresa? (se houver mais de um, ordenar de

acordo com a importância de cada um, podendo mais de um atributo ter a

mesma importância):

( ) desempenho

( ) conformidade

( ) estética

( ) caracteristicas

( ) durabilidade

( ) qualidade percebida

( ) conformidade

( ) atendimento

( ) nenhuma destas. Se existem outras quais são e qual o grau de

importância atribuldo?

B - Controle e Aperfeiçoamento dos Processos

1 - Como são trabalhados os distintos processos operacionais da empresa com

relação à qualidade?

2 - Quais os requisitos necessários para se criar ou estabelecer padrões na

empresa?

3 - A empresa:

( ) utiliza normas e padrões criados e desenvolvidos internamente

( ) baseia-se em normas ditadas pelos compradores

( ) baseia-se em normas de âmbito nacional

( ) baseia-se em normas de âmbito internacional

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4 - Quais os cargos/niveis envolvidos no processo de implementação de padrões

na empresa? Como isto é feito? (manuais?)

5 - Existem revisões e/ou alterações nos padrões utilizados? Com que

frequência?

6 - O sistema atual de controle de qualidade analisa:

( ) matérias-primas e componentes recebidos

( ) produtos em processo na linha de produção

( ) produtos acabados

7 - Nos produtos acabados, a inspeção é feita:

( ) em todos

( ) em amostras aleatórias

( ) em amostras de intervalos regulares de tempo

8 - Existem registros das inspeções? Se afirmativo, qual a finalidade?

9 - Existem registros da quantidade de unidades defeituosas?

Refugos/unidades retrabalhadas? Unidades devolvidas pelo comprador?

1 0 - Qual o nivel de tolerância de erros aceitável pela empresa?

1 1 - Com que frequência são realizadas mudanças no controle de qualidade?

Qual foi a última mudança significativa? Por que foi feita?

C - A Transmissão da Qualidade

1 - Quais os fatores necessários para uma adequada transmissão da qualidade

total na empresa?

2 - Quais os canais transmissores? E os receptores? (quem a empresa

considera "cliente"?)

3 - Qual o papel e o grau de envolvimento da alta administração neste

processo?

4 - Quais os principais pontos/objetivos a serem enfatizados?

5 - Como é feita na prática a transmissão da qualidade (canais/feedback)?

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Gestão Estratégica de Qualidade para Exportacão

Objetivo: apurar quais os fatores a serem considerados, no que tange a qualidade,

para o planejamento estratégico da empresa nas decisões de exportação.

1 - Como a empresa vê o atual cenário econômico mundial?

2 - Quais os fatores relevantes para se definir uma estratégia de qualidade para

exportação?

3 - Classifique os seguintes Itens (mostrar os cartões) segundo sua relevância

para a qualidade no mercado externo:

( ) fatores polltico-econômicos

( ) padronização versus especialização de produtos

( ) decisões de linhas de produtos a serem exportados

( ) embalagens

( ) condições de transporte

( ) utilização de padrões e sistemas de controle de qualidade internacionais

( ) desenvolvimento de canais intermediários

( ) desenvolvimento de trabalho com fornecedores

( ) fatores culturais

( ) outros (quais e qual a importancia)

A - Clientes/Mercado

1 - Quais, segundo a empresa, são as expectativas do cliente internacional com

relação ao produto oferecido?

2 - Se a dimensão cultural é relevante, como esta é considerada nas tomadas

de decisão no mercado externo?

3 - Idem para a avaliação polltico-econômica:

4 - Como se caracteriza(m) o(s) segmento(s) atingido(s) pelo seu produto?

(demanda incipiente/latente/já existente)

5 - Como é composta a concorrência no mercado internacional? (empresas

locais!da mesma nacionalidade da empresa em estudo/nacionalidades

diversas) E qual é o porte dos competidores? (pequenos e dispersos!

multinacionais!multiindustriais)

6 - A avaliação acima é considerada em uma estratégia para exportação? Se

afirmativo, como contribui?

7 - A empresa acredita possuir algum diferencial perante a concorrência? Como

este é trabalhado?

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8 - Caso o canal de exportação seja relevante, de que modo ele pode (ou poderia,

se é desejo da empresa utilizá-lo) contribuir para o melhor atendimento das

necessidades do cliente final?

9 - Qual a polltica adotada para o relacionamento com este canal?

1 0 - Como é visto atualmente o relacionamento canal/cliente final? Pode ser

melhorado? De que forma?

B - Produto

1 - Existe um critério de escolha do produto a ser exportado? A boa aceitação

no mercado doméstico influencia nesta decisão?

2 - Como a empresa vê o posicionamento do seu produto no mercado externo?

(inovador/competitivo/aperfeiçoado) São avaliadas as semelhanças e

diferenças do mercado doméstico?

3 - Como é desenvolvido o produto para o mercado externo? (extensão do

mercado doméstico/criação de um protótipo premiufTllbusca de um mercado

homogêneo para um produto visto como global)

4 - A adaptação é necessária? Se afirmativo, qual a sua extensão e como isto é

feito?

5 - A natureza do produto é relevante para a decisão de adaptar?

6 - Em que grau, em termos de tecnologia, a empresa está projetada para permitir

rápidas modificações nos seus produtos?

7 - São desenvolvidas linhas internacionais de produtos? Como isto é feito?

Quais os fatores que motivaram a adoção desta estratégia?

C - Produção

1 - Como a empresa percebe a tendência à universalização de normas?

2 - Se a ISO já é adotada na empresa, descreva qual a sua extensão e quais os

objetivos a serem alcançados com a sua adoção:

3 - Quais os pontos fortes e fracos deste conjunto de normas?

4 - Quais foram os pré-requisitos para sua adoção?

5 - Quais os pontos mais valorizados na relação com o fornecedor?

6 - O que mais atrai na escolha dos fornecedores?

7 - Como se assegura a qualidade na matéria-prima? Qual o grau de interação

entre empresa e fornecedor neste processo?

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8 - Trabalha-se com muitos ou poucos fornecedores? Por que? Quais as

vantagens?

9 - Como as necessidades do cliente final influenciam no relacionamento

clienteJfornecedor?

1 0 - Como são definidas as especificações para a matéria-prima? (unicamente

pelo fornecedor/em conjunto/pela empresa/pelo mercado)

1 1 - Como é feito o controle de estoques da matéria-prima?

o - Periféricos (garantias, transporte e embalagens)

225

1 - Como é vista a embalagem para o seu produto? Qual o nivel de investimento

na mesma?

2 - A quê/quem se destina a embalagem? Quais as facilidades oferecidas?

3 - Existem procedimentos especificos adotados para os produtos exportados,

no que se refere à embalagem, transporte e armazenamento? Quais?

4 - Como a garantia pode influenciar nas relações com o cliente? Existe uma

politica padronizada? Qual a sua abrangência e quais as variáveis

consideradas?