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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO A LÍNGUA DA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA: UM ESTUDO DE VARIAÇÃO E USOS DA LÍNGUA ITALIANA FABÍOLA PEREIRA RODRIGUES FIGUEIRA 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

A LÍNGUA DA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA:

UM ESTUDO DE VARIAÇÃO E USOS DA LÍNGUA ITALIANA

FABÍOLA PEREIRA RODRIGUES FIGUEIRA

2011

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A LÍNGUA DA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA:

UM ESTUDO DE VARIAÇÃO E USOS DA LÍNGUA ITALIANA

FABÍOLA PEREIRA RODRIGUES FIGUEIRA

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).

Orientadora: Profa. Dra. Annita Gullo

Rio de Janeiro

1º Semestre de 2011

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A LÍNGUA DA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA:

UM ESTUDO DE VARIAÇÃO E USOS DA LÍNGUA ITALIANA

Fabíola Pereira Rodrigues Figueira

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).

Examinada por:

_________________________________________________

Presidente, Profa. Doutora Annita Gullo

_________________________________________________

Profa. Doutora Maria Franca Zuccarello - UERJ

_________________________________________________

Profa. Doutora Maria Lizete dos Santos - UFRJ

_________________________________________________

Profa. Doutora. – Jaci Correia Fernandes - FE/UFRJ, Suplente

_________________________________________________

Prof. Doutor – Carlos da Silva Sobral – UFRJ,Suplente

Rio de Janeiro

1º Semestre de 2011

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FICHA CATALOGRÁFICA

FIGUEIRA, Fabíola Pereira Rodrigues A língua da malavita em Certi Bambini de Diego de Silva: um estudo de variação e usos da língua italiana. / Fabíola Pereira Rodrigues Figueira – Rio de Janeiro: UFRJ / FL 2011. 137 f. :30cm Orientadora: Annita Gullo Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011. Referências Bibliográficas: f. 134-137

Palavras - Chave: 1.Língua Italiana. 2. Variação e Uso. 3. Dialeto Napolitano. 4. Diglossia. 5. Certi Bambini de Diego de Silva. I. Gullo, Annita. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas – Estudos Linguisticos. III. Título.

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RESUMO

A LÍNGUA DA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA:

UM ESTUDO DA VARIAÇÃO E USOS DA LÍNGUA ITALIANA

Fabíola Pereira Rodrigues Figueira

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguisticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).

A presente pesquisa tem como objetivo um estudo de variação e usos da língua italiana, com foco especial na língua da malavita, no romance Certi Bambini do escritor italiano contemporâneo Diego De Silva. A obra, ambientada na periferia de Nápoles tendo como protagonista principal Rosario, um menino de onze anos, envolvido com a camorra (a máfia napolitana ), propicia um estudo do mosaico linguístico e cultural da Itália atual. O autor passa do italiano culto/standard ao dialeto napolitano e à língua da malavita, refletindo assim a relação diglóssica da língua. Para tratar a questão da evolução e situação linguística italiana nos apoiamos em Tullio de Mauro; os conceitos de Língua, língua standard, variação linguística e dialeto à Gaetano Berruto e no tocante aos usos do italiano contemporâneo recorremos aos estudos de Sobrero e Coveri. PALAVRAS - CHAVE : Língua Italiana. Variação e Uso. Dialeto Napolitano. Diglossia. Certi Bambini de Diego de Silva

Rio de Janeiro 1º semestre de 2011

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RIASSUNTO

LA LINGUA DELLA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA: UNO STUDIO DI VARIAZIONI E USI DELLA LINGUA ITALIANA.

Fabíola Pereira Rodrigues Figueira

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Riassunto da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguisticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).

La presente ricerca ha come obbietivo uno studio di variazione e usi della lingua italiana, con una particolare attenzione alla lingua della malavita, nel romanzo Certi Bambini dello scrittore italiano contemporaneo Diego de Silva. L’opera, ambientata nella periferia di Napoli ha come protagonista principale Rosario, um bambino di undici anni, fa parte della camorra (la mafia napoletana), offre al lettore un mosaico linguistico e culturale dell’Italia attuale. L’autore passa dall’italiano standard al dialetto napoletano e alla lingua della malavita, riflettendo così la relazione diglossica della lingua. Per lo studio della questione dell’evoluzione della situazione linguistica italiana ci sosteniamo su Tullio de Mauro; i concetti di lingua, lingua standard, variazione linguistica e dialetto a Gaetano Berruto e per quanto riguarda le variazioni e .gli usi dell’italiano contemporaneo ci appoggiamo agli studi di Sobrero e Coveri. PAROLE CHIAVI: Lingua italiana. Variazione e uso. Dialetto napoletano. Diglossia. Certi Bambini de Diego de Silva.

Rio de Janeiro 1º semestre de 2011

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ABSTRACT

THE MALAVITA LANGUAGE IN CERTI BAMBINI OF DIEGO DE SILVA: A STUDY OF VARIATION AND USAGES OF THE ITALIAN LANGUAGE.

Fabíola Pereira Rodrigues Figueira

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguisticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).

This paper has as objective a study of variation and usage of Italian language, specially focused on the malavita language, in Certi Bambini novel of the contemporaneous Italian writer Diego da Silva. The work, placed in Napolitano outskirts has as its main character Rosario, an eleven year old boy, involved with Camorra (the Napolitan mafia), permits a study of the linguistic mosaic and cultural of the actual Italy. The author goes from the Italian formal/standard to the Napolitan dialect and to the malavita language, reflecting this way the diglossic relation of the language. To deal with the question of the evolution and the Italian linguistic situation we have based on Tullio de Mauro; Language, language standard, linguistic variation, and dialect by Gaetano Berruto and in the use of contemporaneous Italian we got the studies of Sobrero and Coveri. KEY WORDS: Italian Language, Variation and Use. Napolitano dialect. Double meaning. Certi Bambini of Diego de Silva

Rio de Janeiro 1º semestre de 2011

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Dedico esta dissertação:

Aos meus pais João Rodrigues e Valéria de Assis e

aos meus irmãos Elton Rodrigues e Felipe Rodrigues.

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Agradecimentos

A Deus, porque sem Ele nada disso.

A minha mãe, pela sua ternura e bravura.

Ao meu pai, por ter lutado e trabalhado com honestidade e dedicação para criar

a mim e meus irmãos.

Ao Elton Rodrigues, por ser irmão. E porque de interlocutor de textos

adolescentes, passou a interlocutor intelectual.

Ao Felipe Rodrigues, por ser irmão. E por ter sido meu primeiro aluno de

italiano.

A minha saudosa avó Elza Machinez, que não pôde ver meu ingresso no

mestrado, mas que sempre me apoiou nas coisas mais importantes da minha

vida, dentre as quais meus estudos.

A Cristiane Menezes, Lucia Tailine e Viviane Fernandes. As irmãs que eu

escolhi.

A Pierfausta Portella, pela amizade e pela disposição em ajudar sempre.

A Janaina Castro e Lorena Neri pelo carinho e pelo apoio.

Ao Carmine Cassino, por ter me apresentado o romance Certi Bambini, que se

tornaria o corpus da minha pesquisa. Agradeço ainda pela ajuda nas traduções

dos diálogos apresentados em napolitano na obra de De Silva.

A Norma de Assis, por ser minha tia e minha grande incentivadora. Por ter-me

mostrado o caminho.

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E ainda:

A Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A Professora Doutora Annita Gullo, por ter sido uma orientadora compreensiva

e generosa. Agradeço sua infinita paciência durante todo o trabalho que

desenvolvemos. E a sua orientação construtiva e transformadora.

A todos os professores que passaram pela minha jornada na UFRJ, mas em

especial a Professora Doutora Maria Lizete dos Santos que reencontrei nesses

últimos 36 meses de mestrado e teve uma participação muito especial neste

percurso.

Ao Diego de Silva, autor de Certi Bambini, que tive a felicidade de conhecer no

final deste percurso. Agradeço pela atenção, pela cordialidade e pela gentileza.

Agradeço ainda pela entrevista concedida.

A Profa. Doutora Maria Franca Zuccarello, a Profa. Doutora Maria Lizete dos

Santos, a Profa. Doutora Jaci Correia Fernandes e ao Prof. Doutor Carlos da

Silva Sobral que aceitaram gentilmente participar desta banca.

A colega de mestrado e amiga Daniele Soares da Silva pela parceria em

artigos publicados e, em especial, pelas críticas e sugestões sempre

pertinentes.

Aos colegas Cesar Casimiro, Daniele Biolchini, Daniele Neves, Izabel Costa,

Luciana Nascimento e Sabrina Baptista. Importantes.

Agradeço também a todos os funcionários da Faculdade de Letras que

trabalham de forma dedicada para que concluamos nossas pesquisas.

E a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a

realização deste trabalho.

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“ La nostra língua è come uma

vecchia città: un labirinto di viuzze

e di larghii, di case vecchie e

nuove, di palazzi ampliati in

epoche diverse, e , intorno , la

cintura dei nuovi quartieri periferici,

con strade rettilinee, regolari, e

case tutte eguali... osservare una

lingua significa osservare una

forma di vita”1

Ludwing Wittgenstein.

1 “A nossa língua é como uma velha cidade: um labirinto de vielas e largos, de casas velhas e novas, de prédios restaurados em épocas diversas, e, em torno, o surgimento de novos bairros periféricos, com estradas retilíneas, regulares, e casas todas iguais... Observar uma língua significa observar uma forma de vida.”

L.Wittgenstein, Phil. Untersuch, 18- 19

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO

2- CONHECENDO DIEGO DE SILVA

2.1 - Uma breve apresentação

2.2 - PRINCIPAIS OBRAS

2.2.1 Certi Bambini

2.2.2 La Donna Di Scorta

2.2.3 Voglio Guardare

2.2.4 Da um altra carne

2.2.5 Non avevo capito niente

2.2.6 Tre Terzi

2.2.7 Mia Suocera Beve

3- UM BREVE HISTÓRICO DA LINGUA ITALIANA

3.1 A situação política italiana e a língua

3.1 Os dialetos e a língua italiana

3.3. Língua e dialetos: a unificação

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4- LÍNGUA, LÍNGUA STANDARD, VARIEDADE DE LÍNGUA E DIALETO.

4.1 - Língua padrão e dialeto

4.2 - Diglossia

4.3 Classe social, grupo social, classe geracional.

4.4 Prestígio

4.5 Dimensões de variações

4.6 Grupos de adesão e gírias

4.7 As linguagens dos jovens

5- CERTI BAMBINI: um estudo de variação e uso da língua italiana

5.1 O Dialeto Napolitano

5.1.1 Traços da pronúncia napolitana

5.2 O dialeto napolitano X o italiano standard em Certi Bambini

5.2.1 Os substantivos

5.2.2 Artigos

5.2.2.1 Artigos definidos

5.2.2.2 Artigos indefinidos

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5.2.3 Preposição

5.2.4 Adjetivos

5.2.4.1 Adjetivos possessivos

5.2.5 Pronomes

5.2.5.1 Pronomes pessoais

5.2.5.2 Pronomes demonstrativos

5.2.6 Advérbios

5.2.6.1 Advérbio de lugar

5.2.6.2 Advérbio de tempo

5.2.6.3 Advérbio interrogativo de lugar

5.2.6.4 Advérbio de negação

5.2.6.5 Advérbio de afirmação

5.2.7 Verbos

5.2.7.1 Verbos auxiliares

5.2.7.2 Verbos regulares

5.2.7.2 Verbos irregulares

5.2.7.3 Formas nominais do verbo

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5.3 Conclusões preliminares

6 – CONCLUSÃO

7 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

8 – ANEXOS:

Entrevista com Diego de Silva

Algumas páginas do romance

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1- INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como objetivo um estudo de variação e usos da

língua italiana no romance Certi Bambini do autor italiano contemporâneo

Diego De Silva. O foco principal dessa difícil empreitada é a língua da malavita

no contexto napolitano, seu caráter transgressor em confronto com os

parâmetros normativos da língua italiana standard.

O desejo de estudar o panorama linguístico italiano surgiu ainda no

curso de Especialização em Língua e Literatura Italiana, oportunidade na qual

pude aprender a questão dos dialetos na Itália, até então desconhecida para

mim. No mesmo período me foi apresentado o romance Certi Bambini, um

exemplo da diversidade de língua e cultura italiana contemporânea e que se

tornaria o corpus escolhido para a pesquisa que eu tanto desejava realizar.

Publicado em 2001 e ainda pouco conhecido no Brasil, o romance é

ambientado na periferia de Nápoles. A personagem principal da estória é

Rosario, um menino de onze anos, que faz parte de um grupo da malavita

napolitana – a camorra ( a máfia napolitana ) - um mundo paralelo onde

vigoram regras diversas.

O autor usa em sua obra uma linguagem rica e fascinante, tirada

diretamente da periferia napolitana: uma mistura de línguas e gírias que, em

muitos casos, se tornam incompreendidas pelo leitor. Como teremos

oportunidade de observar neste estudo, isso acontece, principalmente, nos

diálogos entre os meninos camorristi, pois essa é a única língua falada por

aqueles meninos e por pessoas que na vida real vivem essa mesma realidade.

O autor passa do italiano standard ao napolitano, refletindo, assim, a relação

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diglóssica da língua. Segundo o linguísta GAETANO BERRUTO, a diglossia é

um tipo particular de bilinguismo descrito e estudado pela sociolinguística, onde

há a coexistência de dois registros linguísticos, sendo que o uso de um ou do

outro vai depender da situação comunicativa apresentada. Além disso, existe a

diferença de status político entre esses dois registros: um de maior prestígio,

no caso a língua padrão, e o outro de menor prestígio social.

Para entendermos essa realidade linguística apresentada por De Silva

no romance em questão e tratar a questão da evolução e situação linguística

italiana recorreremos ao linguista TULLIO DE MAURO; e no tocante à variação

e usos do italiano contemporâneo aos estudos de SOBRERO E COVERI.

A Dissertação será dividida da seguinte forma: No capítulo 2

apresentaremos o autor Diego De Silva e sua produção literária.

No capítulo 3 faremos um breve panorama histórico da língua italiana e

sua evolução até a unificação política e linguística da Itália.

O capítulo 4 trata a questão dos conceitos de língua, língua standard,

variação linguistica e dialeto. Ainda neste capítulo faremos um breve estudo

sobre diglossia ( BERRUTO ), classe social, grupo social, classe geracional,

prestígio, dimensões de variações, grupos de adesão e gírias e finalmente as

linguagens dos jovens, que segundo COVERI vêm de fato definidas como

“linguagens juvenis”.

No capítulo 5, faremos um estudo do corpus: primeiramente

apresentaremos um breve panorama da história do napolitano e a seguir uma

análise dos usos da língua italiana e do napolitano, com foco na língua da

malavita, predominante na obra. Apresentaremos, ainda, as observações finais

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em relação às escolhas linguísticas presentes no romance, tanto nos diálogos

quanto na narrativa em terceira pessoa.

O capítulo 6 contém as palavras finais, quando me despeço do leitor, e

aponto possíveis encaminhamentos para essa pesquisa.

Para que o leitor dessa Dissertação tenha a oportunidade de ser

introduzido ao texto de De Silva, e instigado à leitura de Certi Bambini, anexo

partes do romance e, também, a entrevista que me foi concedida pelo autor.

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2- CONHECENDO DIEGO DE SILVA

2.3 - Uma breve apresentação

“A me piace molto che nei miei libri si senta che io sono un uomo del sud e mi piace usare una lingua come quella che io parlo.” (Diego de Silva) 2

Diego De Silva nasceu em Nápoles, em 1964. Advogado criminalista,

publicou em 1999 o seu primeiro romance La donna di scorta, que foi vencedor

de vários prêmios. Mas foi em 2001 com o romance Certi Bambini que o seu

sucesso foi consagrado. O livro ganhou o prêmio Selezione Campiello e foi

finalista dos prêmios Viareggio, Brancati, Fiesole e Bergamo. Traduzido em

seis países, o livro inspirou um filme em 2004 dirigido pelos irmãos Andrea e

Antonio Frazzi e foi vencedor do Karlovy Vary International Film Festival e do

prêmio Fassbinder European Film Academy Discovery e, ainda , foi indicado ao

Nastro d'Argento 2005 .

É um autor brilhante e versátil e foi o romance Certi Bambini que abriu

caminho para um gênero literário que fez de Nápoles e da Camorra um dos

argumentos mais queridos da narrativa italiana dos últimos anos e a prova

disso é que as suas obras foram traduzidas na Inglaterra, Espanha, Portugal,

Holanda, Alemanha e Grécia. [ Maria Cerino]

Além disso, Diego de Silva é um autor que ao mesmo tempo em que

escreve deliciosas comédias humanas, como La Donna di Scorta e Non Avevo

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Capito Niente, sabe ser frio, implacável, doloroso e emocionante, como em

Voglio Guardare.

Diego de Silva, geralmente, ambienta os seus romances na periferia de

Nápoles.

«Cos’è la scrittura se non la sintesi delle contraddizioni? E quando riconosci i legami con una terra è perché ne riconosci le incoerenze. Napoli è in una bolla d’inchiostro. Noi scrittori non limitiamo la città. Ne fossilizziamo l’immagine, ma le istituzioni addirittura la portano indietro» (Diego de Silva, Cafebabel). 3

De Silva publicou também Voglio guardare (2002 e 2008) , Da un altra

carne (2004 e 2009), e Non avevo capito niente (2007) ,vencedor do prêmio

Napoli e finalista ao prêmio Strega, a peça Casa Chiusa (2009) publicada com

os textos teatrais de Valeria Parrella e Antonio Pascale, Mia suocera beve

(2010). Escreveu contos para a antologia Dissertori, Crimini e Crimini Italiani e

escreveu, também, para o cinema, a TV e o teatro e é colaborador do

quotidiano Il mattino e o mensal Giudizio universale.

Contos:

• Il covo di Teresa, em Crimini, (Einuadi Stile Libero, 2004)

• Meglio dell'amore, em Disertori, (Einaudi Stile Libero, 2000)

• Nascondi le macerie, em De Andreide (Rizzoli, 2006)

• L'intervista, em Bonus tracks (Mondadori, 2007)

2 Eu gosto muito que nos meus livros percebam que eu sou um homem do sul e eu gosto de usar uma língua como àquela que eu falo. 3 O que é a escrita senão a síntese das contradições? E quando você reconhece as ligações com um lugar é porque reconhece as suas incoerências. Nápoles é uma bolha de tinta. Nós escritores não limitamos a cidade. Fossilizamos sua imagem, mas as instituições mesmo as trazem de volta.

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• Non è vero, em Crimini Italiani (Einuadi Stile Libero, 2008)

• Le donne più belle si vedono negli aeroporti em Corti di carta (Corriere

della Sera, 2008)

• Il mezzo nichilismo dell'homo democraticus, em Questo terribile intricato

mondo (Einaudi, 2009)

Scripts

• Certi Bambini , direção de Andrea e Antonio Frazzi (2004)

• Ciro, epsodio de All the invisibile Children , direção de Stefano Veneruso

(2005)

• Sulla mia pelle, direção de Valerio Jalongo (2005)

• I giorni dell’abbandono , direção de Roberto Faenza (2005)

• Il covo di Teresa, direção de Stefano Sollima (2006)

• Il coraggio di Angela , direção de Luciano Manuzzi (2007)

• L’ultimo Pulcinella, direção de Maurizio Scaparro (2008)

• Gorbaciof, direção de Stefano Incerti (2010)

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2.2 - PRINCIPAIS OBRAS

2.2.1 Certi Bambini

Começamos a descrever o romance Certi Bambini, objeto do presente

estudo, publicado em 2001 e ainda pouco conhecido no Brasil, foi vencedor de

numerosos prêmios, entre eles o Prêmio Selezione Campiello 2001, o prêmio

Brancati – Zafferana, o Fiesole, o Bergamo e foi finalista do prêmio Viareggio.

O livro foi traduzido em seis países e inspirou um filme em 2004 dirigido

pelos irmãos Andrea e Antonio Frazzi e foi vencedor do Karlovy Vary

International Film Festival e do prêmio Fassbinder European Film Academy

Discovery e, ainda , foi indicado ao Nastro d'Argento 2005 . Ambientado na

periferia de Nápoles, pode-se ver através dos olhos de um menino, um mundo

paralelo onde vigoram regras diversas. Rosario, protagonista, um menino de

onze anos, inteligente, que quer crescer e aprender. Um menino que cuida da

avó doente e que faz o bem com a mesma facilidade que faz o mal, até porque

essa diferença não lhe foi ensinada. É cruel em certas reações e sabe ser uma

criança quando menos se espera. Um menino que se envergonha da pobreza

material em que vive e deseja para si um futuro diferente daquele que o

espera. Rosario, que, como muitos meninos de sua idade, por falta de opção já

está envolvido com a camorra (a máfia napolitana) e tem uma tarefa a ser

cumprida para a mesma: matar um homem. Este é o seu primeiro homicídio.

O romance não apresenta uma ordem cronológica dos fatos. Durante

um dia normal Rosário sai de casa para cumprir o seu dever e durante o

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percurso no trem, relembra os momentos e fatos que o levaram até ali. O autor

usa em sua obra uma linguagem rica e fascinante, tirada diretamente das

periferias italianas, neste caso o napolitano. Usa na maioria dos diálogos, a

língua da malavita, que é a língua falada por esses meninos e por pessoas que

na vida real vivem essa realidade que é mostrada no romance: um outro lado

de Nápoles que muitos desconhecem.

Segundo De Silva, a obra nasceu da ideia de contar e denunciar o mais

grave delito que a camorra tenha cometido: o roubo da infância, isto é, tirar das

crianças a possibilidade de serem crianças, de brincar e sonhar e não, como

acontece na obra, onde crianças estão envolvidas com diversos delitos.

“Certi Bambini è nato essenzialmente dall’idea di raccontare il

più grave dei delitti che la camorra abbia scelto di commettere,

lo scippo dell’infanzia.” (Diego de Silva) 4

2.2.2 - La Donna Di Scorta

La donna di scorta é o primeiro romance De Diego de Silva. Publicado

em 1999 pela Pequod e depois reeditado pela Einaudi em 2001. O romance

venceu o Premio Del Giovedì Marisa Rusconi e foi finalista do Prêmio

Montblanc.

A obra apresenta a estória de Lívio e Dorina, que têm um caso amoroso.

Livio é casado e tem uma filha e Dorina é solteira. Ao contrário do que seria

mais comum, Dorina é uma jovem sem questionamentos e sem pretensões,

4 Certi Bambini nasceu da ideia de contar o mais grave delito que a camorra escolheu cometer, o roubo da infância.

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não quer ser a nova esposa e quer de Lívio apenas aquilo que ele pode lhe

dar. Desta maneira Dorina acaba colocando Lívio em crise pela falta de

perguntas e de outros questionamentos.

Amor, adultério, relação, amizade, o relacionamento dos dois não tem

classificação, pois os papeis são claros desde o inicio. Dorina não quer ser

uma nova esposa e por isso Lívio entra em crise. Quer tê-lo plenamente

apenas quando ele pode estar com ela, seja por poucos dias, poucas horas ou

apenas durante um almoço. Não é ela que se sente incomodada após um

encontro sexual, mas sim Lívio que se sente pequeno.

Mas esta não é apenas uma história de relacionamento ilícito. É um

olhar impiedoso sobre os desejos de cada um de nós, sobre aquilo que

buscamos e os limites dos horizontes que criamos. Sobre mil possibilidades de

encontros, de ônibus perdidos e sobre aquilo que poderia ter acontecido se

tivéssemos chegado alguns instantes depois ou se nunca tivéssemos passado

por aquelas calçadas e sobre aquilo que nem nós sabíamos que queríamos,

até que o destino colocasse diante de nós.

A paixão de Dorina é auto-suficiente. Um amor sem teto, sem rituais

familiares. Dorina faz Lívio descobrir suas contradições, suas hipocrisias. E

Lívio a quer cada vez mais. A deseja como se pode desejar um bem, uma

propriedade. Foi impulsionado pela sua singularidade, mas no fundo ele queria

descobrir que ela era uma mulher como tantas outras. Mas Dorina não é como

as outras, e é isso que a torna especial. Teria sido mais fácil para ele diminuí-

la, negá-la, esquecê-la, como um acidente de percurso acontecido durante a

sua pacata vida de casado.

Dorina não tem ressentimentos quando ele não pode estar com ela.

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“Você não deveria ser boa comigo” disse Lívio a Dorina, em uma das tantas

ocasiões onde, escondido da mulher, liga para a amante, para pedir desculpas

mais uma vez. A jovem escuta as mil desculpas de Lívio e com um olhar frio o

deixa livre para escolher.

Com as palavras cheias de ritmo, Diego De Silva coloca em cena uma

espécie de comédia humana: fraquezas e desejos, medos e sacrifícios,

mesquinhez e mediocridade.

A estrutura narrativa clara e quase cinematográfica oferece ao leitor uma

divisão de vida quotidiana, simples e normal, como todos os sentimentos

universais, primeiro deles, o amor. La Donna di Scorta é uma história de amor

antes de ser uma história de adultério, de todos os amores possíveis, daqueles

aos quais renunciamos, daqueles que decidimos levar a diante colocando em

discussão tudo aquilo que foi nossa vida até então e decidindo não ter mais

vergonha de admitir que a escolha vai significar abandonar alguém. Dorina

sabe disso, desde o início.

2.2.3 - Voglio Guardare

Voglio Guardare narra a história de duas vidas paralelas. Celeste, uma

menina colegial aparentemente normal, alterna uma vida familiar desprovida de

carinho e cheia de sujeira e um segredo: se prostitui e procura a violência nas

ruas de modo masoquista , por razões que não são claras nem para ela.

David Heller é um jovem e brilhante advogado criminalista, que, porém,

esconde fatos de sua vida: é um pedófilo, assassino de meninas. Celeste

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conhece o terrível segredo do advogado e quer olhar de perto o mal e entra em

sua casa para ver onde ele se esconde. No final, é ela quem salva Heller, em

uma medida extrema, irremediável, quando esse desejo de olhar está para ser

afogado no sangue inocente de uma menina.

A mensagem conclusiva é aquela que talvez para sanar o mal seja

necessário outro mal? O escritor representa o mal, não o julga, nem traça o

percurso criminal de Celeste e Heller, as razões da sua crueldade e também as

disposições para sofrê-las. A atenção é focada mais sobre as personagens do

que em suas ações ou motivações. O elemento que permeia o romance é a

obsessão dos dois: a de Celeste de se prostituir aparentemente sem intenção

de lucro (talvez por vício? Ou por tédio?) e de se deixar espancar por maníacos

de uma periferia como tantas. E a de Heller de atrair meninas despreocupadas

mostrando gatinhos ou brincando de forma macabra de caça ao tesouro dos

ovinhos de chocolate, os espalhando por todos os cantos com paranóia em sua

casa. E em seguida a obsessão de se livrar de qualquer traço material e

psicológico dos seus crimes, para construir com sabedoria uma vida dominada

pela normalidade do mal.

A obra de De Silva é fria e implacável. Seu desprendimento lembra o

estilo dos autores americanos contemporâneos, mas não parece estar de fato

influenciado.

Voglio Guardare é de certo modo um pequeno romance de terror ímpar,

rico não de um verdadeiro suspense, mas sim de um singular estado de

espera. Frio, doloroso, emocionante, se lê em poucas horas e deixa sua marca.

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2.2.4 Da Un Altra Carne

É a estória de Guido, um dos filhos da Sra Traversari, que um belo dia

chega em casa com um menino nas mãos. Salvino tem 10 anos e um passado

secreto. Não se sabe nada sobre os seus pais, nem Guido fornece explicações,

mesmo que entre ele e o menino pareça existir uma relação de confiança

construída ao longo do tempo. Para todos a chegada de Salvino é um furacão

interior. Não apenas porque é difícil aceitar um estranho, um intruso que invade

nossas vidas do nada. As razões que a simples presença da criança, que é

suficiente para alterar o equilíbrio de uma família e os indivíduos que a

compõem, são em grande parte obscuras e é essa área escura , este lugar da

verdade em movimento, que o romance de De Silva atravessa, sem dar nem

exigir explicações.

2.2.5 - Non Avevo Capito Niente

Apresenta a estória de Vicenzo Malinconico, um advogado napolitano de

quarenta anos, há pouco tempo abandonado pela mulher. É uma personagem

positiva, que de maneira muito humana, com altos e baixos, com reflexões às

vezes estúpidas e superficiais, às vezes profundas (e muitas vezes

simultaneamente uma e outra), enfrenta a solidão, as contradições e o absurdo

da sua condição, da sua profissão e da sua cidade. Depois os ventos começam

a mudar. Novidades no campo profissional e no campo sentimental fazem

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emergir sua capacidade, suas qualidades, e colocam a personagem e o leitor

em paz com a vida. A partir de então, iniciam uma série de aventuras narradas

por Diego De Silva, autor até hoje classificado na rica categoria dos escritores

italianos de suspense. Em Non avevo capito niente, o autor napolitano

demonstra o quanto estreita e emblemática é esta classificação para um autor

versátil e brilhante como ele. A força do livro está na narração, com a escolha

da primeira pessoa para contar melhor os estados de humor e a filosofia do

protagonista, que se auto-define, entre outras coisas, um dos novos pobres da

era moderna, daqueles que não o admitem nunca, colocam o terno e gravata e

que não têm nenhum sindicato pronto para defender os seus interesses.

Fala-se de camorra e de relacionamentos humanos com uma leveza e

um humor irresistível, onde aspectos seríssimos da vida quotidiana (de uma

cidade como Nápoles) e dos relacionamentos humanos são ridicularizados por

seus absurdos, incoerências e aspectos ridículos.

Acabamos nos apaixonando pelo protagonista, cuja humildade justifica

os seus erros. E também a vontade de sucumbir às prepotências, algo que em

algum modo tem um efeito positivo na sua imagem. O autor dá digressões

periódicas entre um capítulo e outro, alguns pensamentos do protagonista em

voz alta, sobre os temas que a estória mostra. Às vezes divertidíssimo, às

vezes menos, mas é um detalhe de um livro delicioso, uma autentica lufada de

ar fresco e de inovações de um panorama literário italiano muitas vezes

parecido com si mesmo.

Com esta obra, Diego De Silva se impôs ao grande público com uma

irresistível ironia, divertiu e conseguiu falar de Nápoles e dos seus “problemas”

com profunda leveza.

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2.2.6 Tre Terzi

O livro nasce do roteiro teatral do espetáculo Tre Terzi encenado no

Teatro Mercadante de Nápoles e também em outros teatros, na temporada

teatral 2007/2008.

Tre Terzi são três peças em poucas páginas: Casa Chiusa de Diego De

Silva, L’incognita << Mah>> de Valéria Parrela e La soluzione de Antonio

Pascale, onde Nápoles, a sua língua, o seu micro-clima existencial, a sua

morfologia antropológica, constituem o tema e ao mesmo tempo o perímetro

dos escapes no imaginário, dos outros lugares narrativos e dramatúrgicos no

qual se movem os diferentes protagonistas.

Em Casa Chiusa a cena se desenvolve toda dentro de um quarto onde

um homem e uma mulher discutem entre eles sobre uma terceira pessoa

amada por ambos. A cena segue com um diálogo vivaz e uma eterna oscilação

entre a doçura e a crueldade.

L’incognita << Mah>> mostra uma cartomante trans-televisiva com uma

veia tipicamente cômica em um dialogo surreal com a esposa de um cliente

que morreu.

E La solizione é ambientada em uma Nápoles nobre onde o pai dilapida

o patrimônio da família e uma filha fica confinada em um limbo.

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2.2.7 Mia Suocera Beve

Em Mia suocera beve o autor volta à cena do crime para descrever as

vicissitudes e os involuntários golpes de gênio do advogado napolitano Vicenzo

Malinconico, profissional quase desempregado, feliz de forma intermitente e

agora definitivamente desempregado.

O centro do romance desta vez é o sequestro pessoalmente filmado ao

vivo por câmeras de um supermercado. Ao tê-lo estudado e executado foi um

engenheiro informático que projetou o sistema de câmeras de vigilância. O

sequestrado é um boss da camorra que o engenheiro considera responsável

pela morte acidental do seu único filho. A eficácia do plano é impressionante:

ao chegar aos noticiários o engenheiro pretende contar o seu drama e

processar o boss. A cena do sequestro se torna assim o set de um trágico

cômico reality, com a multidão e as forças da lei que assistem impotentes o

“espetáculo”. A única esperança de impedir a tragédia é confiada ao advogado

Vicenzo Malinconico, que o engenheiro encontra casualmente no

supermercado e o “nomeia” defensor público. Malinconico com a sua proverbial

indecisão, o seu natural senso de ridículo, a sua irreprimível tendência a

meditar, a sair do tema e encontrar o cômico no trágico, o seu resumir e

reescrever os últimos acontecimentos de sua vida privada, conseguira sabotar

o plano do engenheiro e talvez até mesmo a grande confusão que é a sua vida.

Diego De Silva a cada dia vem conquistando mais leitores com as suas

deliciosas comédias humanas, suas prosas frias e implacáveis e sua

capacidade de falar da camorra e de relacionamentos humanos com uma

leveza e humor inigualável.

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Como vimos, as obras de Diego de Silva apresentam ao leitor uma realidade

linguística e cultural italiana pouco conhecida fora da Itália. Para entendermos

essa situação tão bem retratada por De Silva, buscamos fundamentos teóricos

e históricos na evolução da língua italiana, que serão tratados no capítulo

seguinte.

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3- UM BREVE HISTÓRICO DA LINGUA ITALIANA

3.1 A situação política italiana e a língua.

A história da língua italiana é de uma riqueza única e sua evolução e

consolidação não foi um processo tão simples. Nesta seção faremos um breve

panorama da história linguistica italiana.

Segundo Tullio de Mauro em Storia Linguística dell’Italia Unita, a

questão da variedade da língua italiana - os dialetos - já era observada por

Dante, em sua obra De Vulgar Eloquentia. A pluralidade da língua era

verificada em varias obras literárias.

“Soltanto un ridotto grado di svilupo degli studi di linguistica italiana può spiegare come mai, considerando la situazione linguistica della peninsola dal punto di vista della lingua letteraria, più d’una volta si sia quasi dimenticata l’esistenza dei dialetti: il vigore e la molteplicità di questi erano già presenti a Dante e, si può dire, non c’è manuale di filologia romanza in cui non si sottolinei, con una sorta di compiacimento populistico la vitalità.”5

A situação linguística italiana em 1870 posta em relação ao curso dos

eventos históricos anteriores foi entendida perfeitamente por um

contemporâneo, Ascoli. No “Proemio archivio glottologico” o linguísta italiano

deu provas de que o fato que na Itália, entre a conquista romana dos séculos

IV e III a.C e a unificação política em 1861, não tinham agido forças capazes de

5 Apenas o reduzido grau de desenvolvimento dos estudos de linguística italiana pode explicar como pode, considerando a situação linguística da Península, do ponto de vista da língua literária, mais de uma vez que seja esquecida a existência dos dialetos: o vigor e a multiplicidade destes eram já bem presentes em Dante e, pode-se dizer, não existe manual de

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acrescentar ou pelo menos salvaguardar a homogeneidade linguística das

diversas regiões. Segundo Ascoli, estariam, então, faltando forças centrípetas,

reduzíveis em última análise na centralização demográfica, econômica, política

e intelectual, resultado de um estado unitário e de uma cidade capital, que

tinham, ao contrario, operado na França, Espanha e Inglaterra, induzindo a

província a orientar-se, também linguisticamente, segundo o modelo das

respectivas capitais. Por outro lado, observava Ascoli, que também faltava na

Itália um movimento que difundisse largamente a instrução elementar e a

leitura dos textos sacros, como acontecia nas cidades alemãs.

A ausência de forças centrípetas na história italiana nos séculos antes

da unificação, dá conta somente em parte da situação linguística do país na

metade do século XIV: aquela ausência não correspondia nos séculos a

simples inerte continuação do estado de homogeneidade linguística criado pela

romanização; correspondia, pelo contrario, a ação de poderosas forças

centrífugas.

Sobre o fundo de todos os acontecimentos históricos italianos está, não

necessariamente obrigatória, mas fortemente condicionante, uma realidade

geográfica descontinua, também históricas e linguísticas inclinadas a

desvalorizar geralmente a importância dos aspectos e dos confins geográficos

em relação aos confins políticos e administrativos. A paisagem criada pelo

homem, antes da descontinuidade territorial da península, leva a admitir que

essa favoreceu de maneira decisiva as caracteristicas regionais. Graças a essa

localização geográfica, na idade pré-românica pôde surgir e manter uma

filologia romana no qual não se destaque com uma espécie de complacência populista , a sua vitalidade.

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fragmentação étnico-linguística que não tem comparação, não só na Europa,

mas considerando áreas de dimensões iguais àquelas italianas, mas também

fora dela. Apenas na Índia, com um território muito maior, se verifica uma

mistura parecida de etnias e línguas.

Entre os séculos IV e III a.C liguri, celtas, venetos, picenos, umbros,

oscos e sannitos, gregos, messapos, sicanos e siculos foram unificados sob a

direção política da república romana. Mas o temor político não comportou a

alienação ou a rápida assimilação das etinias pré-românicas, que como eles,

se renunciavam às próprias autonomias políticas e administrativa, estavam

livres para o restante, podiam conservar costumes, institutos e idiomas

tradicionais. Em relação a estes últimos, sabe-se que, como a completa

assimilação política realizada através da inclusão dos povos sujeitos na civitas

romana, era uma concessão honorária, assim o uso do latim, longe de ser

imposto, estava e ficou invocado e concedido como um direito cobiçado. De tal

modo a romanização, que antes da unificação política do século XIX foi o

maior, se não o único processo capaz de tornar homogêneo a península

italiana, que alcançou em parte este resultado ainda no tempo de Augusto. As

distinções étnicas Pré-romanas, também porque se apoiavam, como foi dito,

sobre distinções criadas pelos confins naturais, resistiam ao ponto de serem

tomadas por base das regiões então estabelecidas.

Dois séculos mais tarde, a reorganização do Império envolve a

separação da Itália em duas diversas circunscrições: a setentrional, com o

centro em Milão, e a centro-meridional, com o centro em Roma. Mas ainda com

mais carga de consequências para história da Península deveria revelar-se um

outro evento, aparentemente independente: a aceitação por parte do conselho

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de Nice do principio da continuidade. Por causa de tais princípios as partições

administrativas romanas, agora em ruínas pelo enfraquecer-se do poder

central, puderam, ao contrario, sobreviver tomados como base pelas divisões

entre as várias circunscrições eclesiásticas. E não foi apenas deste modo que

as organizações da igreja de Roma intervieram para reforçar particularidades e

divisões: com a criação e reforço entre Tirreno e Adriático do Patrimonium

Sancti Petri, desde a Idade Média fenômenos de cada ordem não podiam

expandir-se pelas planícies mais ao sul da Toscana e de Roma.

Garantida pelas lutas e pelo equilíbrio conduzido pelos grandes estados

nacionais europeus entre o XVI e o XVIII, a divisão da península italiana em

unidades políticas diversas e profundamente diferenciadas pelo ponto de vista

de estrutura demográfica e social durou pouco afetada no período napoleônico,

até o século XIX. Ou melhor, nos primeiros cinquenta anos daquele século,

para aumentar as diferenciações existentes veio a revolução industrial. Esta

agiu, nos outros estados europeus, no sentido da sempre mais acentuada

unificação das organizações econômicas e sociais .Na área alemã , como foi

dito, favoreceu a formação da união alfandegária entre os diversos estados que

lá existiam. Na Itália, ao contrário, a revolução veio da refração contra as

variadas e estagnadas sociedades do tempo e operou diferenciando-a ainda

mais: a falta dos mercados, a escassez dos capitais e o atraso tecnológico

forçou cada estado da Península a iniciar as primeiras tímidas tentativas de

industrialização importando capitais e técnicas estrangeiras, mas por outro

lado, estabelecendo barreiras protecionistas bem mais rígidas que no passado,

nos confrontos dos outros estados da península.

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No plano linguístico, em consequência das vicissitudes históricas

surgiram e prosperaram uma selva de idiomas fortemente diferentes um do

outro, que são conhecidos como os dialetos italianos. Para entendermos essa

realidade, apresentaremos a seguir um estudo histórico sobre os dialetos

italianos.

3.2 Os Dialetos e a língua italiana.

Os dialetos italianos são ainda hoje separados em pelo menos três

grandes grupos: os setentrionais, o galoitalico, limitado ao sul da linha La

Spezia – Rimini ; o grupo toscano, com os assim ditos dialetos de transição; e ,

finalmente, o grupo meridional.

Fortemente isolados aos três grupos estão o sardo e o ladino, ambos

considerados como formações autônomas em relação à complexidade dos

dialetos ítalo-românicos.

A variedade e diferença dos dialetos é resultado das diferentes correntes

inovadoras que investiram o latim em diversas regiões.

Nell’area settentrionale italiana hanno potuto operare le stesse correnti innovatrici che oltre le Alpi hanno determinato Il sorgere degli idiomi galloromanzi; solo sporadicamente qualcuna delle tendenze fonetiche <<celtiche>> e qualche isolato elemento lessicale sono riusciti a infiltrarsi e a diffondersi, più a sud della linea La Spezia-Rimini, nel lessico del toscano e nel fonetismo dei dialetti marchigiani e umbri. Nel loro aspetto fonologico i dialetti meridionali sono restati in complesso immuni da tali innovazioni , e quindi vicini al tipo linguistico latino, al quale sono restati anche e specialmente fedeli nel lessico. Invece i dialetti meriodionali presentano diverse concordanze , nei loro sviluppi, con il neogreco, concordanze ignote più a nord. Un forte conservatorismo fonetico è la caratteristica dei dialetti toscani , che, nella fase

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arcaica, sono, con il sardo, la varietà romanza fonologicamente più vicina al latino. (Storia linguistica dell’italia unita, Tullio de Mauro, p. 24) 6

Uma vez constituídos, os dialetos por séculos se desenvolveram em

direções diversas e a sua variedade foi limitada apenas pelo fato que em

todas as regiões foi adotado o latim no uso jurídico até o século XV ou XVI, e

no uso eclesiástico por mais tempo ainda. Entre os séculos XIV e XVI as

classes mais cultas começavam a usar com mais freqüência, nas escrituras

públicas e privadas, o fiorentino, nas formas fixadas por Dante, Petrarca e

Bocaccio, enriquecidas depois , por elementos lexicais e estruturas sintáticas

latinas. Junto com o fiorentino se popularizaram com o tempo alguns dialetos

como o veneziano no norte, o romanesco na Itália central, o napolitano e o

siciliano no Sul.

Não surpreende o fato que, desde o século XIV, a adoção de uma

língua nacional comum não tenha atenuado mais a adversidade dos

dialetos. As mesmas razões que consentiram e favoreceram a formação e

sobrevivência de várias tradições dialetais foram obstáculos na difusão de

um idioma comum a toda península. Como foi dito, na França, na

Alemanha, na Espanha e na Inglaterra, motivos de ordem política,

econômica, social e cultural operaram ativamente já antes do século XVI

6 Na área setentrional da Itália, puderam operar as mesmas correntes inovadoras sobre os Alpes que determinaram o surgimento dos idiomas galloromanzi; apenas esporadicamente algumas das tendências fonéticas <<celtiche>> e alguns elementos lexicais isolados conseguiram infiltrar-se e difundir-se mais para cima da linha La Spezia Rimini no léxico do toscano e na fonética dos dialetos marchigiani e umbros. No aspectos fonológicos dos dialetos meridionais ficaram imunes a tais inovações , e então perto ao tipo lingüístico latino ao qual ficaram também e especialmente fiéis ao léxico. Ao contrario, os dialetos meridionais apresentam diversas concordâncias , no seu desenvolvimento, com o neo-grego , concordâncias desconhecidas mais ao norte. Um forte conservadorismo fonético é a característica dos dialetos toscanos, que, na fase arcaica, são, com o sardo, a variedade romana mais próxima ao latim.

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para que o latim medieval fosse substituído por um idioma vulgar e assim o

idioma pré-selecionado, uma vez assumido como língua nacional, se

difundisse em todas as regiões e em todas as classes sociais. Entre os

séculos XIV e XVI a Itália também tinha uma língua nacional: o toscano

(mais precisamente o fiorentino), mas este tinha apenas prestígio literário,

prestígio que foi confirmado mais tarde graças ao petrarquismo e aos

gramáticos.

Embora não seja negligenciada a influência que as necessidades do

comércio tiveram em manter vivas formas inter-regionais do italiano (o

italiano itinerário do qual falava Foscolo), a existência do italiano comum

durante três séculos foi, fora da Toscana, essencialmente garantida pelo uso

que, de geração em geração, continuaram a fazer os escritores e

estudiosos, com a única exceção de Roma. Em Roma, por vários fatores, o

italiano foi língua usada pelas classes mais altas e, então, em uma ampla

gama de relações da vida pública e privada. A crise de despovoamento da

cidade depois do saque de 1527 e o sucessivo e lento repovoamento,

graças ao afluxo de imigrantes do conselho, colocaram em crise o vernáculo

local, de origem notavelmente longe do toscano. Por outro lado, a corte

pontífica era o único centro político na Itália que era composto por indivíduos

de todas as regiões forçadas assim a usar um idioma unitário; os prelados,

forçados no interior da corte a falar italiano, transferiam este hábito nas suas

relações quotidianas com os locais, que foram realizadas sempre mais longe

do uso do vernáculo ou o usaram em formas mais sutil. Mas, tirando Roma,

e obviamente a Toscana, o sistema linguístico italiano comum era usado

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somente nos documentos escritos e nas ocasiões mais solenes. Por

séculos, a língua italiana, única entre as línguas européias de cultura, viveu

apenas ou quase somente como língua dos cultos. O patriótico afeto nutrido

por ela pelos escritores foi, e se vê agora bem o porquê, a principal razão da

sua sobrevivência através dos séculos.

Na próxima seção apresentaremos o percurso da língua italiana e dos

dialetos até a unificação.

3.3. Língua e dialetos: a unificação

Segundo Tullio de Mauro, o fato que a língua italiana tenha sido

usada por séculos somente em círculos restritos e em ocasiões de

solenidades particulares, influenciou não apenas nas atitudes estilísticas

individuais dos poetas e prosadores, mas afetou também as estruturas

fonológicas, morfológicas, lexicais e sintáticas, na forma interna da língua e

na evolução histórica.

Un carattere che, da un punto di vista diacrônico , individua l’italiano rispetto alle altre lingue nazionali europee e rispetto agli stessi dialetti italiani, ivi compreso Il Fiorentino, è la staticità che, come osservò l’Ascoli, è tale da rasentare l’immobilità: un francese o uno spagnolo , un tedesco o un ingelse del’Ottocento, anche colti, non intendono i testi antichi della loro lingua; un italiano , anche di mediocre cultura, non ha difficoltà a intendere il Novellino. I fonemi dell’italiano e quasi tutte le loro varianti di realizzazione erano, a metà, Ottocento, le stesse del fiorentino arcaico; i morfemi e le parole <<grammaticali>> (pronomi, preposizioni, articoli) del Trecento sopravvivevano altresì tutte; il lessico dei trecentisti era ancora

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in gran parte vivo ed era quasi tutto ancora perfettamente trasparente. (p.26) 7

Isto é bem claro se pensarmos que os fenômenos de transformação

fonética, ligados ao uso falado da língua, ficaram necessariamente

estranhos a uma língua de tradição principalmente escrita, e que os

processos de individualização funcional das formas gramaticais e lexicais, e

as inovações semânticas, nem mesmo podiam verificar-se em uma língua

que pela tradição, através do tempo era confiada a uma minoria de

doutrinados, que a usavam apenas em documentos.

Uma tradição linguística como essa, explica como apenas as notáveis

inovações fonológicas verificadas no italiano entre o séc. XIV e o séc. XIX

estão relacionadas diretamente com a grafia; quanto às inovações lexicais e

morfológicas, essas consistem em adições de novos elementos aos antigos,

mais que em substituições e ou transformações. E a fonte de tais inovações,

é obvio que não fossem populares, mas aprendidas; não dialetais, mas

latinas. A influência latina no léxico e na sintaxe italiana é o fenômeno

diacrônico mais importante na história linguística da Itália antes da

unificação. Isso foi levado a tal ponto que na idade da Arcádia os poetas

italianos podiam se deliciar nas composições de versos ambivalentes.

7 Um caráter que, de um ponto de vista diacrônico, individua o italiano em relação ás outras línguas nacionais européias em relação aos mesmos dialetos italianos, incluindo o Fiorentino, é a estaticidade que como observou Ascoli é de molde à beira da imobilidade: um Frances ou um espanhol , um alemão ou um inglês do século XIX, inclusive cultos , não entendem os textos antigos na própria língua; um italiano, mesmo sem cultura, não tem dificuldades para entender o Novellino. Os fonemas do italiano e quase todas as suas variedades de construção eram, na metade do séc XIX , as mesmas do Fiorentino arcaico; os morfemas e as palavras << gramaticais>> (pronomes, preposições, artigos) do século XIX sobreviveram todos; o léxico do século XIV estava em grande parte vivo e era quase todo ainda transparente.

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Nicola Capasso, Il grande giurista napoletano del primo Settecento , quando metteva da parte lo scintillante dialetto delle Alluccate contra li Petrarchiste o di altri suoi sonetti, scriveva versi come questi: << In mare irato, in subita procella / Te adoro maria, benigna stella>>. Erano versi che potevano essere letti sia come latini sia come italiani a parità di senso e di pronuncia (tenendo presente la pronuncia latina del V secolo d.C., restata canonica nella scuola italiana). Si tratta di giochi: ma il fatto che fra tutte le lingue neolatine, a parte alcune varietá dialettali sarde, soltanto l’italiano li consenta, è significativo della profonda latinizzazione. (p.27) 8

Outros reflexos estruturais do uso, principalmente escrito e pouco

frequente, do italiano são aparentes na mesma poliformia morfológica e

lexical. Quando uma mesma forma flexional se apresentava em duas

variantes, estas vinham ambas conservadas por séculos na tradição italiana,

na qual não podiam interferir as tendências seletivas, econômicas, operantes

nas línguas submetidas a um uso mais amplo: é o caso, por exemplo, de

esto e questo, gito e andato, alma e anima. Enquanto para alguns

significantes o francês e o espanhol têm uma só palavra, o italiano do

ottocento tem duas, três, quatro, perfeitamente equivalentes quanto ao

significado.

Essa angustia no âmbito de uso do italiano levava Carlo Gozzi e Ugo

Foscolo a definir o italiano como “língua morta”; Leopardi a detectar a aridez

e Manzoni a negar que os escritores italianos tinham uma “língua viva e

verdadeira”. E nisto estava a raiz antes da secular “questão da língua”: a

8 Nicola Capasso, o grande jurista napolitano da primeira metade do século XIX, quando colocava de lado o cintilante dialeto das Alluccate contra os Petrarchiste ou outros sonetos seus escrevia versos como: << No mar bravo sofreu com a tempestade / te adoro Maria estrela benigna>>. Eram versos que podiam ser lidos seja como latinos, seja como italianos, tendo em vista o mesmo significado e pronuncia (tendo em vista que a pronuncia latina do século V d.C , manteve-se canônica na escola italiana). Trata-se de jogos: mas o fato que entre todas as línguas neolatinas com exceção de algumas variedades dialetais sardas, somente o italiano permitirá isso, é significativo da profunda romanização.

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conservação de uma forma, a aceitação de alguns inevitáveis neologismos,

fenômenos ligados ao consenso espontâneo da coletividade dos falantes,

que na tradição linguística italiana podiam ser resolvidos apenas por vias

doutrinal, ajustando por razões filológicas, conforme este ou àquele modelo

ideal.

Diante deste uso restrito da língua nacional, era inevitável que o uso

dos dialetos progredisse sempre mais. Nas décadas que precederam a

unificação, em toda a península era atribuída aos dialetos uma grande

dignidade social. Os dialetos eram usados pelas classes populares e

também pelas classes cultas, pela aristocracia e por fim pelos intelectuais,

não apenas na vida privada, mas também sempre na vida pública e em

ocasiões solenes:

In Piemonte si predicava in dialetto; il dialetto era d’uso nei salotti della borghesia e dell’aristocrazia milanese; a Venezia , il dialetto si affaciava e dominava perfino nelle orazioni politiche e giudiziarie; anche a Napoli il dialetto era d’uso normale nella corte (meno, invece, nella borghesia); il primo re d’Italia , Vittorio Emanuele, usava abitualmente il dialetto anche nelle riunioni con i suoi ministri. A Venezia , a Milano, a Napoli, a Palermo, si costruirono delle koinài dialettali illustri , entro cui si inalvearono tradizioni leterarie che con Meli, Porta, Goldoni raggiunsero elevati livelli poetici. Alle soglie dell’unità , praticamente assente dall’uso parlato, l’italiano pareva dunque minacciato persino del suo dominio dell’uso scritto. (p.29) 9

9 Em Piemonte se rezava em dialeto; o dialeto era usado nos salões da burguesia e da aristocracia milanesa; em Veneza o dialeto debruçava e dominava nas orações políticas e judiciais; também em Nápoles era usado normalmente na corte (menos, ao contrario, na burguesia); o primeiro rei da Itália, Vittorio Emanuele, usava habitualmente o dialeto também nas reuniões com os seus ministros. Em Veneza, em Milão, em Nápoles, em Palermo foram construídos os Koinài dialetais ilustres, dentro do quais se canalizaram tradições literárias que com Meli, Porta, Goldoni, alcançaram elevados níveis poéticos. No limiar da unificação praticamente ausente do uso falado, o italiano parecia então ameaçado mesmo em seu domínio do uso escrito.

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No momento da unificação, quase 80% da população italiana era

privada da possibilidade de contato com o uso escrito do italiano, ou seja,

pela escassa ausência do uso oral do italiano. Só a partir de 1951 os censos

italianos distinguiram aqueles que tinham alguma familiaridade com o

alfabeto, os semi-analfabetos e os alfabetizados. A situação cultural havia

progredido em relação aos anos da unificação. Os semi-analfabetos eram

cerca de um quarto dos não analfabetos.

Nos primeiros anos após a unificação, e, em medida ainda maior, nos

anos e décadas anteriores, um real contato com a língua comum e a sua

efetiva e definitiva aquisição eram reservadas (ou, ao menos, podiam ser)

apenas àqueles que, depois da escola primária, continuavam por alguns

anos os estudos.

Em 1862-63 a instrução pós-primária era dada a 0,89% da população

com idade entre 11 e 18 anos. Pode-se então concluir que através da escola

o conhecimento do italiano era garantido a apenas este percentual da

população e, então, que os italofoni ou melhor dizendo italografi eram

pouco menos de 1 por cento. Embora seja menor, tal percentual é alto em

relação à efetiva realidade. O percentual dos 0,89% diz respeito aos inscritos

como um todo, e não efetivamente os frequentadores em número com

certeza menor, e prescinde, enfim, a cada consideração relativa ao real

aproveitamento escolar e ao efetivo aprendizado da língua. Adotando

entretanto, critérios de grande abrangência, pode-se concluir que nos anos

da unificação aqueles que fora de Roma e da Toscana tinham chegado a

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aprender o italiano era cerca de 0,8% da população, por assim dizer, em

uma massa de 20 milhões de indivíduos.

O caso de Florença (com o restante das cidades toscanas) e de

Roma, pelas razões históricas já lembradas, na Toscana e em Roma os

dialetos locais eram particularmente próximos na estrutura fonológica,

morfológica e lexical da língua comum. Além disso na miséria escolástica do

Estado Pontifico, Roma era uma ilha na qual as instituições escolásticas

populares eram mais eficientes e difusas, que em outro lugar da Itália. Por

isso pode-se concluir que, em torno aos anos da unificação, a simples

qualidade de não alfabetizados permitia a Roma e a Toscana uma real

posse da língua comum: dos 160.000 italofoni de outras regiões, são

acrescentados cerca de 400.000 toscanos e 70.000 romanos.

Concluindo, segundo De Mauro, nos anos da unificação nacional, os

italofoni eram um pouco mais de 600.000 sobre uma população de

25.000.000 de indivíduos: ou seja, 2,5% da população.

Esperar modificar as condições linguísticas italianas apenas através

da ação dos professores toscanos que difundissem a língua comum era e

deveria ser ilusório. Além disso a metade dos professores era habituada a

dar aulas em dialeto. No velho ducado parmense, por exemplo, para lecionar

nas escolas primárias era suficiente conhecer a ortografia italiana, sendo,

então, inevitável e normal que os professores não falassem a língua italiana,

entre outras dificuldades do ensino do italiano que não era diferente de uma

região para outra. Geralmente os professores, que eram pouco instruídos e

muitas vezes eram obrigados a ter outras ocupações mais lucrativas, não

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conheciam a língua italiana ou não queriam usá-la, com a desculpa que seus

alunos não a entendiam. Por causa desses problemas foram adotados os

programas manzonianos, (a teoria manzoniana, que nasceu na polemica

contra as velhas posições puristas, porque volta a defender o uso vivo da

língua de Florença contra aqueles que queriam bloquear o desenvolvimento

linguístico italiano às formas aureo trecento). Adotaram-se também manuais

anti-dialetais nas escolas, o Ministério da Educação abriu concursos para

dicionários dialetais e por um certo tempo foi seguida a prática de transferir

professores da região de origem para outra região de dialeto diferente,

desconhecidos por eles e consequentemente não utilizável no ensino.

A partir de Manzoni e da unificação política italiana (1861), a situação

linguística da península se modificou. As políticas linguísticas desse período

contribuíram para a consolidação da língua italiana. É claro que esse foi um

processo lento e verifica-se a expansão da língua italiana a toda população

da península somente a partir do advento da televisão (1954).

Atualmente a língua italiana é falada por cerca de 70 milhões de

pessoas. Como foi visto anteriormente a língua italiana baseia-se nos dialetos

da toscana (mais precisamente o fiorentino). O italiano é a língua oficial na

Itália e na Republica de São Marino e é uma das línguas oficiais da Suíça.

Também é a segunda língua oficial do Vaticano e em algumas áreas da Ístria,

da Eslovênia e Croácia, como uma minoria italiana. Também é constantemente

falado em Córsega e em Nice (antigas possessões italianas), além da Albânia.

Como vimos, a evolução e consolidação da língua italiana não foi um

processo tão simples e como afirmou Tullio de Mauro << não existe país de

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língua românica ao qual ao lado do dialeto eleito como língua nacional não

coexistam e persistam outros dialetos diversos>>.

A seguir faremos um breve estudo sobre os conceitos de língua, língua

standard, variedade e dialeto.

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4- LÍNGUA, LÍNGUA STANDARD, VARIEDADE DE LÍNGUA E

DIALETO.

Para compreender as diferenças entre os conceitos de língua, língua

standard, variedade de língua e dialeto, recorremos a importantes teóricos

no assunto.

4.1 - Língua padrão e dialeto

Segundo o linguista Gaetano Berruto em Fondamenti di

Sociolinguistica, uma língua é todo sistema linguístico (conjunto de formas,

paradigmas, regras, etc., organizado em numerosos subsistemas em

diversos níveis de análise) com uma peculiaridade em termos de

características estruturais. Enquanto uma noção variacionista afirma que a

língua é a soma de variedades que formam um diassistema, a sociologia da

linguagem afirma que a língua é todo sistema linguístico socialmente

desenvolvido:

Una nozione variazionistica: una lingua è una somma di varietà di lingua, formanti un diassistema (cfr § 3.1.3) una nozione tipicamente sociolinguística (o anche di sociologia del linguaggio): una língua è ogni sistema linguistico socialmente sviluppato , che sia lingua ufficiale o nazionale in qualche paese , che svolga un’ ampia gamma di funzioni nella società , che sia standartizzato e sia sovraordinario ad altri sistemi linguistici subordinati eventualmente presenti nell’uso della comunità (che se sono imparentati geneticamente con essa

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saranno i suoi dialetti. (Fondamenti di Sociolinguistica, Gaetano Berruto, p.181) 10

Para compreender tais diferentes perspectivas, Kloss (1978:23-60)

introduziu as noções de Abstandsprache (língua por distanciamento, segundo a

proposta terminológica de Muljacic) e de Ausbausprache (língua por

elaboração):

Una língua per distanziazione è riconosciuta automaticamente come língua a sé, diversa dalle altre lingue, sulla base delle cacatteristiche strutturali a tutti i livelli che la caratterizzano e la differenziano; una lingua per elaborazione è una lingua per così dire sviluppata, che soddisfa o è in grado di soddisfare (crf.sopra § 6.1) tutta la gamma di funzioni richieste dalla società , in particolare gli usi scritti formali e tecnologici, e può valere come mezzo di espressione di tutti gli aspetti della cultura e della vita moderna. Le lingue storico-naturali esistenti al mondo sarebbero dunque riportabili a uno dei tre casi seguenti: o si tratta di lingue sia per distanziazione che per elaborazione (per esempio, l’italiano, il francese, il tedesco, il cinese, ecc), o si tratta di lingue solo per distanziazione. (p.182) 11

10 Uma noção variacionistica diz que uma língua é uma soma de variedades de línguas, formadoras de um diassistema (cfr § 3.1.3) . E uma noção tipicamente sociolinguística (ou também de sociologia da linguagem): uma língua é cada sistema linguístico socialmente desenvolvido , que seja língua oficial ou nacional em qualquer pais, que desenvolva uma ampla gama de funções na sociedade , que seja padronizada e seja super-ordenada a outros sistemas linguísticos subordinados eventualmente presentes no uso da comunidade (que se relacionadas geneticamente com essa, serão os seus dialetos).

11 Uma língua por distanciamento é reconhecida automaticamente como língua para si mesma, diferente das outras línguas, características estruturais a todos os níveis que a caracterizam e a diferenciam; uma língua por elaboração é uma língua por assim dizer desenvolvida, satisfaz e é capaz de satisfazer toda a gama de funções da sociedade, em particular os usos escritos formais e tecnológicos, e pode valer como meio de expressão de todos os aspectos da cultura e da vida moderna. As línguas histórico-naturais existentes no mundo seriam então reportáveis a um dos três casos seguintes: ou se trata de língua seja por distanciamento ou por elaboração (por ex. italiano, o Francês, português, alemão, chinês, etc.) ou se trata de línguas só por distanciamento.

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Standard (padrão) é em sociolinguística um termo polissêmico , e pode

ser entre outras suposições ou em perspectiva social e normativa , prescritiva,

indicando então a norma codificada de referência para o bom uso correto da

língua, ou em perspectiva linguística e descritiva. Neste segundo sentido,

padrão é mais “um conjunto de traços não socialmente marcados pela língua”,

que representam o uso médio dos falantes cultos. Entretanto, sempre, os dois

sentidos tendem a sobrepor-se, também na terminologia dos linguístas. Além

disso, se sobrepõe, não raramente, àquele de língua padrão, o conceito de

língua nacional: é assim, por exemplo, em uma das caracterizações clássicas

mais amplamente citadas pela noção de Garvin- Mathiot (1956)

De fato Garvim e Mathiot definem língua padrão nos termos das

seguintes propriedades fundamentais: estabilidade flexível, intelectualização,

função de modelo de referência, função de prestígio, função unificadora, devido

ao fato de servir como elo de ligação entre falantes da variedade sócio-

geográfica diferentes da mesma língua, fazendo, no interno, participantes da

mesma comunidade; função separadora, serve como um símbolo de unidade

nacional diferente opondo-a, em direção ao externo, a outras unidades

nacionais. Agora é claro que as duas últimas propriedades se adicionam bem

mais ao status de língua nacional do que ao de língua padrão. Contudo, é fato

que as línguas nacionais tendem a ser também línguas padrão: a função

nacional implica um grau de padronização, e um certo grau de padronização

favorece a suposição de língua nacional.

Entretanto, se a variedade padrão de uma língua coincide com uma

variedade sócio-geográfica localizável, esta é sempre falada por uma élite

sócio-cultural, pela classe dominante em um centro de notável relevância

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cultural, econômica e política (no desenvolvimento diacrônico respectivamente,

é a variedade típica de uma élite cultural e da classe dominante para ser

promovida a variedade padrão). Em cada caso, em cada sociedade a

variedade padrão é sustentada implicitamente e explicitamente com força das

classes dominantes, através da escola, da administração, das mass media, e

em geral da ideologia predominante.

À noção de língua padrão se opõe a de dialeto. Como muitas vezes

acontece com noções de amplo emprego e pertencente à linguagem comum,

uma definição unívoca de dialeto é um assunto bastante espinhoso. Como já

pudemos observar en passant, o conteúdo preciso daquilo que se refere com o

termo ‘dialeto’ pode variar sensivelmente de comunidade para comunidade e

em relação à condição local. Em vias preliminares, os dialetos são as

variedades linguísticas definidas na dimensão diatópica (geográfica), típicas e

tradicionais de uma determinada região, área ou localidade. Como tais, os

dialetos, não são nunca variedade padrão (mesmo que possam gozar de um

certo grau de padronização e codificação), mas são subordinados a uma

língua padrão, composta de variedades estritamente relacionadas ou mais ou

menos distantes, que fazem dela seu teto. Para estabelecer que um

determinado sistema linguístico X é um dialeto da língua Y são, portanto,

necessárias três condições: a) que X tenha uma boa vizinhança estrutural com

Y; b) que X tenha Y como língua teto c) que X tenha parentesco genético com

Y.

Porém ocorrem imediatamente aqui detalhes: Coseriu distingue muito

oportunamente entre dialetos primários e dialetos secundários ou terciários.

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I primi sono varietà geografiche sorelle, coetanee, del dialetto da cui si à sviluppata la varietà standard di quella lingua, e che esistevano prima della promozione e costituzione di questa a standard (tali sono tipicamente i vari dialetti italo- romanzi, dotati di una storia paralllela a quella del toscano su cui si è formato l’italiano standard: piemontese, lombardo, veneto, siciliano, ecc. ; che sarebbero propriamenti dialetti italiani, ma non dialetti dell’italiano , data la distanza strutturale pur sempre relativamente rilevante e l’autonoma tradizione; dialetti secondari o terziari sono le varietà geografiche formatesi per differenziazione diatopoica, locale della lingua comune – nel primo caso – o della lingua standard dopo la sua diffusione – nel secondo caso – (esempio tipico: gli attuali italiani regionali – vale a dire le forme dell’italiano com’è parlato nelle diverse regioni – che in questo senso sono dialetti, secondari o meglio, terziari dell’italiano.(p. 188) 12

Ou seja, segundo Cosseriu, os dialetos primários são variedades

geográficas irmãs do dialeto do qual se desenvolveu a variedade padrão da

língua e que já existiam antes da constituição da língua padrão e os

secundários ou terciários, são as variedades geográficas formadas pela

diferenciação diatópica.

Destas considerações resultam já dois princípios básicos. De acordo

com Berruto:

“a) Fra lingua e dialetto non esiste alcuna differenza eminentemente linguistica, pertinente alla strutura del sistema: in base alle sole caratteristiche linguistiche , non è possibile dire se un certo sistema linguistico o varietà linguistica X è uma lingua o un dialetto (anzi, dal punto di vista linguistico interno non ha senso); b) la distinzione fra nozione di lingua

12 Os primeiros são variedades geográficas irmãs, pares, do dialeto do qual se

desenvolveu a variedade padrão daquela língua , e que existiam antes da promoção e constituição desta padrão (é o caso dos dialetos ítalo-romanos, dotados de uma historia paralela àquela do toscano sobre o qual se formou o italiano padrão: piemontês, lombardo, venêto, napolitano, siciliano, etc. ; que seriam propriamente dialetos italianos e não dialetos do italiano, por causa da distancia estrutural e da tradição autônoma); dialetos secundários ou terciários são as variedades geográficas formadas pela diferenciação diatópica , local da língua comum – no primeiro caso – (exemplo típico: os atuais italianos regionais – pode-se dizer as formas do italiano como é falado nas diversas regiões – que neste caso são dialetos , secundários ou melhor terciários, do italiano.

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(historische Sprache, nei termini di Coseriu 1980: l'italiano, il francese, il cinese,...) e quella di dialetto deve necessariamente essere fondata su criteri sociali (o sociolinguistici). Un corollario di (a) è che, nella realtà fenomenologica dei sistemi linguistici, ciò in cui si imbatte il linguista non è quindi, a rigore, definibile a prima vista come lingua o come dialetto, anche se normalmente , almeno il linguagio comune, si parla di lingua (e anche se sarebbe tecnicamente più preciso parlare di dialetti). Un altro avvio corollario é che fra lingue e dialetti non vi è alcuna differenza di natura; essi condividono in ugual misura le proprietà semiologiche costitutive e qualificanti do ogni sistema linguistico in quanto tale. Vi è invece differenza di raggio funzionale, sociale e comunicativo: un dialeto ha poca o nulla Ausbau. Con una formulazione banale ma efficace, si può infondo dire che < uma lingua è un dialetto che há fatto carriera>.” (p. 188 - 189)13

Gaetano Berruto afirma que do ponto de vista estrutural não existe

nenhuma diferença entre língua e dialeto e que apenas com base na linguística

não é possível dizer se um determinado sistema linguístico ou variação

linguística é língua ou dialeto. Além do mais, entre língua e dialeto não existe

diferença de natureza. O que existe são diferenças de raio funcional, social e

comunicativo. Como Berruto mesmo reforça << uma língua é um dialeto que

fez sucesso>>.

13 a)Entre língua e dialeto não existe alguma diferença eminentemente lingüística, pertinente à estrutura do sistema: com base apenas nas características lingüísticas , não é possível dizer se um certo sistema lingüístico ou variedade lingüística X é língua ou dialeto (ou melhor, do ponto linguistico interno não tem sentido); b) A distinção entre noções de língua (linguagens históricas, nos termos de Coseriu 1980: o italiano, o francês, o chinês,... ) e de dialeto deve ser necessariamente fundamentadas em critérios sociais (ou sociolingüísticos) . Um corolário de (a) é que , na realidade fenomenológica dos sistemas lingüísticos, nos quais se encontram o lingüista não é então, a rigor, definível à primeira vista como língua ou como dialeto, mesmo que normalmente , pelo menos a linguagem comum se fala de língua ( e mesmo se fosse tecnicamente mais preciso falar de dialetos). Um outro inicio corolário é que entre língua e dialetos não existe alguma diferença de natureza; essas compartilham em igual medida as propriedades semiológicas e constitutivas e qualificantes de cada sistema lingüístico em quanto tal. O que existe é diferença de raio funcional, social e comunicativo: um dialeto tem pouca ou nenhuma Ausbau. Com uma formulação banal mas eficaz, se pode no fundo dizer que <uma língua é um dialeto que fez sucesso>. (BERRUTO, 2006. p.188 - 189)

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Os dialetos, então, estão sempre sociolinguisticamente subordinados, no

repertorio linguístico dos quais são membros, a uma língua. Os dois conceitos,

neste sentido, são, portanto, relativos um ao outro. Isso não significa, porém,

que, como gostariam alguns (por ex. Alinei 1981), uma propriedade definidora

da noção de dialeto seja aquela de ser falado por grupos socialmente

subordinados ou por membros das classes sociais mais baixas. Se trata, de

fato, de uma das características que podem sempre ser constatados em muitas

comunidades. Pode coincidir a dialetofonia, como resultado de razões

históricas e de dinâmicas de sociolinguísticas, mas que não tem pertinência

para distinguir conceitualmente o dialeto.

Outras características do mesmo gênero são atribuídos ao dialeto como

propriedade definidora da mesma noção, mas que na realidade não

representam muito mais que concretizações exteriores vindas para identificar

com o dialeto naquelas particulares condições sócio-culturais de apenas uso

falado, a esfera predominantemente ou exclusivamente familiar, confidencial,

local, quotidiana, de emprego do dialeto. No geral, todos estes fatores não

fazem mais que confirmar a relatividade do conceito de dialeto, que pode

incorporar de maneira compensadora estas e outras caracterizações quando é

visto como << o dialeto X na comunidade linguística Y>>. Os valores que o

dialeto assume algumas vezes em repertórios linguísticos únicos, em relação

às outras variedades que coexistem, são multiformes e podem, também, variar

muito, tornando impossível uma concessão unitária neste nível de

generalização.

A presença dos dialetos atualmente é muito viva na Itália e normalmente

os italianos conhecem e usam tanto o italiano quanto o seu dialeto, porém seu

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uso vai depender da situação comunicativa em que está inserido, refletindo

assim uma relação diglóssica, sobre a qual trataremos mais profundamente na

próxima seção.

4.2 - Diglossia

Segundo Ferguson (1959) diglossia é, basicamente, a co-presença de

mais línguas ou variedades sócio-geográficas diversas de língua sócio-

funcional bem diferenciadas, isto é, usadas por comunidades falantes com

especialização para diferentes funções, versos bilinguismo que é co-presença

de mais línguas não socialmente diferenciadas.

Com o termo ‘diglossia’ Ferguson (1959) pretendia na verdade falar

sobre uma situação mais particular, caracterizada por uma detalhada série de

propriedades.

Si ha infatti diglossia in una comunità parlante , quando questa presenta le seguenti caratteristiche: a) esistenza di vari dialetti primari di una lingua (varietà low, basse); b) esistenza di una varietà sovrapposta ai dialetti (varietà high, alta); c) stabilità della coesistenza di varietà alta e varietà bassa; d) la varietà alta è sensibilmente differente dalle altre (è geneticamente imparentata, ma con una distanza strutturale relativamente alta); e) la varietà alta è veicolo di una prestigiosa tradizione letteraria ; f) la varietà alta è altamente codificata, standardizzata; g) la varietà alta è appresa a scuola attraverso istruzione formale; h) la varietà alta è impiegata per quasi tutti gli scopi (i) scritti e (ii) parlati formali; i) alta non è usata da alcun setore della comunità per la conversazione ordinaria. (p.192) 14

14 Entende-se então por diglossia uma comunidade falante, quando esta apresenta as

seguintes características: a) existência de vários dialetos primários de uma língua (variedade low, baixas); b) existência de uma variedade sobreposta aos dialetos (variedade high, alta); c) estabilidade da coexistência de variedades altas e variedades baixas; d) a variedade alta é sensivelmente diferente das outras (é geneticamente relacionada , mas com uma distância

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Como se vê, a definição de diglossia é, em Ferguson, muito específica.

Ele cita como exemplo de casos diagnósticos o Haiti, a Suíça alemã, os países

árabes e a Grécia:

Haiti , con il francese varietà alta (A) e creolo varietà bassa (B); Svizzera tedesca , con tedesco Hochsprache (Schriftsprache) A e tedesco svizzero (Schwyzertütsch) B; paese arabi, con arabo classico A e varietà arabe locali B; e Grecia moderna , con Katharévousa A e dhimotiki B. Ferguson osserva inoltre che la situazione di diglossia è diversa, nonostante le somiglianze superficiale, da da quella , ben nota in Europa, di copresenza di una lingua standard con i suoi dialetti: la differenza fondamentale (Ferguson 1959: 336-37) sta nel fatto che nella situazione di diglossia nessun segmento della comunitá parlante usa A per la normale conversazione quotidiana , e anzi l’eventuale uso di A in questa viene sentito come pedante e artificiale, e in certi casi anche come sleale nei confronti della comunità. (p.192) 15

Nesta definição fergusoniana existem alguns pontos potencialmente

problemáticos ou críticos. Berruto cita os mais relevantes .

Un primo punto è quello che riguarda l’appartenenza delle varietà A e B allo stesso sistema, che ci porta alla delicata

estrutural relativamente alta); e) a variedade alta é veículo de uma prestigiosa tradição literária; f) a variedade alta é altamente codificada , padronizada; g) a variedade alta é aprendida na escola através de instrução formal; h) a variedade alta é empregada para quase todos os fins (i) escritos e (ii) falas formais; i) a variedade alta não é usada por nenhum setor da comunidade para a conversa normal.

15 Haiti, com francês variedade alta (A) e crioulo variedade baixa (B); Suíça alemã , com o alemão Hochsprache (Schriftsprache) A e alemão suíço (Schwyzertutsch) B; países árabes , como árabe clássico A e variedades árabes locais B; e Grécia moderna , com Katharévousa A e dhimotiki B. Ferguson observa também que a diglossia é diferente , apesar das semelhanças superficiais , daquela bem conhecida na Europa, de co-presença de uma língua padrão com os seus dialetos: a diferença fundamental (Ferguson 1959:336-37) está no fato que na situação de diglossia nenhum segmento da comunidade falante usa A para o uso quotidiano , e também o eventual uso de A neste é visto como pedante e artificial , e em certos casos como desleal perante à sociedade.

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questione della delimitazione delle varietà. Partendo dalla constatazione che ciò che conta per la difinizione di diglossia sono fondamentalmente la distribuizione e i valori valori sociali connessi ai sitemi linguistici , e non gli aspetti della struttura linguistica, si è estesa facilmente la nozione anche ai casi in cui vi è compresenza socio-funzionalmente differenziata di due lingue chiaramente diverse, creando quindi una sovrapposzione parziale tra diglossia e bilinguismo. Fishman (1967; 1975) estende addiritura su questo punto la nozione in due sensi opposti, da un lato allargandola a ricoprire, appunto, anche i casi di bilinguismo sociale funzionalmente differenziato , dall’altro , con un indebito allentamento dei criteri, riferendola a ogni società che conosca l’impiego di registri diversi per gli usi formali e informali. Mentre questa seconda estensione pare chiaramente inaccettabile , la prima è stata largamente accolta in SL e appare ampiamente sostenibile , dato appunto che la mera distanza linguistica non è il discrimine più rilevante. Kloss (1976) ha teorizzato a questo proposito un’utile sotto categorizzazione , distinguendo una in-diglossia , quando i due codici A e B appartengono allo stesso (dia) sistema, e una out-diglossia , quando i due codici sono chiaramente lingue diverse. A parte il caso evidente della compresenza di lingue senza dubbio autonome e diverse (tanto per dire, italiano e francese, italiano e cinese, francese e tesdesco,ecc.) il problema della distanza linguistcia fra le varietá di lingua è lungi dall’essere difinitivamente risolto e accantonabile. (p.193) 16

Em segundo lugar, é problemática a distribuição complementar nas

funções e nos usos alegados por Ferguson:

16 Um primeiro ponto é aquele que diz respeito ao pertencer das variedade A e B ao

mesmo sistema, que nos leva à delicada questão da delimitação das variedades. Partindo da constatação que o que conta para a definição de diglossia são fundamentalmente a distribuição e os valores sociais ligados aos sistemas linguisticos, e não aos aspectos da estrutura linguística, se estende também facilmente a noção aos casos os quais se há co-presença sócio-funcionalmente de duas línguas claramente diferentes , criando então uma sobreposição parcial entre diglossia e bilinguismo. Fishman (1967;1975) estende até mesmo sobre este ponto a noção em dois sentidos opostos, de um lado alargando-a para cobrir , justamente, mesmo que os casos de bilinguismos sociais funcionalmente diferenciados , pelo outro, com um indevido afrouxamento dos critérios, referindo-se a cada sociedade que conheça o emprego de registros diversos para os usos formais e informais. Enquanto esta segunda extensão parece claramente inaceitável, a primeira foi largamente aceita pela sociolinguística e aparece amplamente sustentável, visto que a mera distância linguística não é a distinção mais relevante. Kloss (1976) teorizou com este propósito uma útil sub-caracterização distinguindo uma in-diglossia quando os dois códigos A e B pertencem ao mesmo (dia)sistema , e uma out-diglossia , quando os dois códigos são claramente línguas diferentes. A parte o caso evidente da co-presença de línguas sem dúvida autônomas e diferentes ( só para dizer , italiano e

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È difficile che vi sia una separazione sempre netta, e sociolinguisticamente obbligatoria, fra gli ambiti d’impiego delle varietà A e B; talché si acceta ora che nella situazione di diglossia la distribuzione possa essere complementare solo in alcuni ambiti particolari, per i quali A e B (o tutt’e due nei loro domini rispettivi) sono per così dire specializzate , mentre in altri ambiti è solamente preferenziale. Una griglia esemplificativa così netta come quella proposta da Ferguson (1959:329), che veda l’impiego normale di A in omelie in luoghi religiosi, discorsi politici, lezioni universitarie, notiziari radiofonici e televisivi, articoli e didascalie sui giornali, poesie, lettere personali e di B , all’opposto, in istruzioni a dipendenti, consersazioni con familiari, amici e colleghi, programmi radiofonici di intrattenimento, didascalie in caricature politiche, letteratura popolare, sembra rara da trovare, e costituirá casi tutto somato eccezionali, specie nella moderna società dominata da mass media , caratterizzata da un vero intrico di canali comunicativi e avversa alle compartimentazioni. (p.194)17

Um terceiro ponto crítico diz respeito ao grau de difusão da variedade A

e B pela comunidade falante. Essas devem ser mantidas, parcialmente ou

totalmente, pelos grupos que formam a comunidade, ou podem ser usadas por

grupos separados? E no caso de propagação das duas variedades, o que

parece mais razoável, quantos membros da comunidade, relativamente

francês, italiano e chinês, francês e alemão, etc.) o problema da distancia linguística entre variedades de língua está longe de ser definitivamente resolvido e individualizado.

17 É difícil que se tenha uma separação sempre clara, e sociolinguisticamente obrigatória, entre os âmbitos de emprego das variedades A e B; de modo que se aceita agora que na situação de diglossia a distribuição possa ser apenas em alguns âmbitos particulares , para os quais A e B (ou ambos nos seus respectivos domínios) são por assim dizer especializados , enquanto em outros é somente diferencial. Uma grade exemplificada como aquela proposta por Ferguson (1959:329), que vê o emprego normal de A em homilias em lugares religiosos, discursos políticos, aulas universitárias, noticiários radiofônicos e televisivos, artigos e legendas em jornais , poesia, cartas pessoais e de B ao contrário em instruções a dependentes, conversas com familiares, amigos e colegas, programas radiofônicos de entretenimento, legendas em caricaturas políticas , literatura popular , parece rara de encontrar, e constituirá casos excepcionais, especialmente na moderna sociedade dominada pelas mass media , caracterizada por um verdadeiro amaranhado de canais comunicativos e adversas compartimentações.

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falando, devem dominar seja A seja B, para que haja diglossia? As respostas à

estas questões são várias:

Ferguson (ivi:325) si riferisce semplicemente a comunità parlanti in cui <<or more varieties of the same language are used y some speakers under different conditions>> : la sua formulazione assai prudente è stata variamente stiracchiata in un senso o nell’altro. Alcuni l’allargano a comprendere tendenzialmente tutti i membri della comunità : per Denison (1979:27), per es., diglossia si ha quando i due codici linguistici in gioco << sono ugualmente a disposizione di tutti i (o di molti) membri di una comunità linguistica>>, e per Kloss (1976) la diglossia fergusoniana è quella in cui tutti o quasi tutti i membri adulti di un gruppo impiegano sia A che B. Altri restringono la diglossia, paradossalmente, a designare situazioni in cui gruppi diversi usano rispettivamente A e B: così, per H & R. Kahane (1979:183) la varietà A è usata da << a sector of society which excels through power, educations, manners, and / or heritage>>, e la varietá B <<is the language of the otthers>>, cosicchè la diglossia sarebbe la rappresentazione linguistica di un sistema di classe. Sembra ragionevole assumere anche qui una via di mezzo, richiedendo come criterio definitorio che ci sia almeno un segmento della societá, di estensione non minima, che padroneggia e utilizza sia A che B. (p. 195) 18

A noção de diglossia foi aplicada amplamente a diversas situações

em todas as áreas do mundo. Foi, também, empregada referindo-se à situação

atual italiana, vendo o italiano como variedade A e os dialetos como variedade

18 Ferguson (ivi:325) se refere simplesmente às comunidades falantes nas quais << duas ou mais variedades de uma mesma língua são usadas por alguns falantes em diferentes situações>>: A sua formulação tão prudente foi por diversas vezes esticada em uma direção ou em outra. Alguns amplificam a compreensão tendencial de todos os membros da comunidade: por Denison (1979:27), por ex., diglossia se tem quando os dois códigos linguísticos em questão << estão igualmente a disposição de todos os (ou de muitos) membros de uma comunidade linguística>> , e para Kloss (1976) a diglossia fergusoniana é aquela na qual todos ou quase todos os membros adultos de um grupo empregam seja A seja B. Outros restringem a diglossia, paradoxalmente, para designar situações na qual diferentes grupos usam respectivamente A e B: assim , para H.&R. Kahane (1979:183) a variedade A é usada por <<um setor da sociedade que se destaca pelo poder, educação, boas maneiras e / ou patrimônio>>, assim a diglossia seria a representação linguistica de um sistema de classe. Parece razoável assumir aqui também uma via de meio, requerendo assim como critério de definição que seja pelo menos um segmento da sociedade, de extensão não mínima, que domina e utiliza seja A seja B.

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B; e, assumiu, também, a conotação de conceito onipresente em todas as

situações de conflito linguístico, tendo em vista ideologicamente como a fonte e

emblema da desigualdade social italiana.

A língua é um símbolo importante da identidade de um grupo, por

isso consideramos importante apresentar a seguir uma noção de classe e

grupo social.

4.3 Classe social, grupo social, classe geracional.

Em relação à noção de classe, a noção de grupo social (para uma

analise mais detalhada, Berruto recorre a Fisch 1987):

Non implica gerarchia , stratificazione appunto, ma si limita a designare compartimentazione (non gradini o livelli sociali); ed è un concetto socialmente più denso, in quanto presuppone una componente geografica, la condivisione dello stanziamento in un dato territorio per lo più limitato, e quindi l’esistenza di collegamenti diretti (effettivi o almeno virtuali) tra i membri (presuppone cioè la condivisione comunicativa). Gruppo implica onoltre la comunanza di aspettative ed esperienze ed è caratterizato da solidarietà e coesione al suo interno. L’ affiliazione a un gruppo costituisce un importante punto di riferimento per gli individui nella società , ed è naturalmente un potente fattore di orientamento del comportamento linguistico. La lingua è un importante simbolo dell’identitá di gruppo, e nel comportamento linguistico dei singoli si riflette volentieri sia la ricerca di approvazione sociale da parte di altri gruppi (sottoposti eventualmente ad imitazione), sia l’eventuale accentuazione delle differenze rispetto agli ‘altri’. (p.81) 19

19 Não implica hierarquia, estratificação precisamente, mas se limita a designar

subdivisões (não degraus ou níveis sociais); e é um conceito socialmente mais denso, em quanto se pressupõe um componente geográfico, a divisão do distanciamento de um determinado território, e então a existência de ligações diretas (efetivas ou pelo menos virtuais) entre os membros (pressupõe, então, a divisão de redes comunicativas). Grupo implica também as comuns expectativas e experiências, e é caracterizado pela solidariedade e coesão

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Para Fisch classe social não se limita apenas em subdividir os níveis

sociais. É um conceito muito mais denso, de acordo com o território geográfico

e as ligações entre os membros. E grupo implica às expectativas da

comunidade e experiências, e é caracterizado pela coesão dentro dela. Afirma

ainda, que um símbolo importante da identidade de um grupo é a língua.

Classes e grupos sociais, na estrutura da sociedade, se interceptam:

a uma classe correspondem tipicamente mais grupos sociais , e em um grupo

podem ser incluídas mais classes (mesmo que geralmente contíguos: não é

frequente – dadas as características e áreas da vida que marcam os grupos –

que um mesmo grupo compreenda indivíduos pertencentes a classes sociais

muito distantes).

Um grupo é definido de maneira pertinente também pelo sentimento dos

seus membros que o constituem. É então, por assim dizer, pelo menos

parcialmente gerado pelo interno, enquanto a classe é definida

fundamentalmente pelas características externas aos indivíduos que

pertencem.

Uma comunidade linguística é formada, por camadas sociais, por mais

grupos de falantes. Os grupos podem constituir entidades estáveis mas

também transitórias, que duram por um período no qual um grupo de indivíduos

se encontram para compartilhar um determinado conjunto, também setorial, de

dentro dela. A afiliação a um grupo constitui uma importante ponte de referência para os indivíduos na sociedade, e é naturalmente um importante fator de orientação do comportamento linguístico. A língua é um importante símbolo da identidade de grupo, e no comportamento linguístico dos indivíduos se reflete de bom grado seja na pesquisa de aprovação social por parte de outros grupos , seja a eventual acentuação das diferenças em relação aos ‘outros’ .

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atividades e experiências, por exemplo: em certos domínios (como trabalho,

vida militar, escola, etc.). A extensão quantitativa da noção de grupo não é

determinada (mas é sempre relativamente, menor do que aquela de

comunidade ou coletividade). Também são sempre objetos de estudo da

sociolinguistica, muitos pequenos grupos ao invés de grandes grupos. Serão

então exemplos dos grupos sociais a família, os grupos jovens estudados por

Labov em Nova York, um circulo de amigos, os habitantes de uma pequena

aldeia, os imigrantes de uma determinada região em uma grande cidade, etc.

Segundo Berruto, entre as variações demográficas, a idade dos falantes

tem um papel evidente na diferenciação sociolinguística e afirma ainda que o

pertencimento à mesma geração é, também, um fator muito favorável à

formação de grupos sociais:

L’etá dei parlanti è riconosciuta avere un ruolo evidente nella differenziazione sociolinguistica , e questo non solo nell’importante fase di trasmissione della lingua da una generazione alla successiva e nella parziale ristrutturazione che il sistema può subire ( e che almeno singoli settori specifici minimi del sistema sempre subiscono) attraverso l’acquisizione infantile del linguaggio, ma anche nel comportamento linguistico di parlanti non più nell’età evolutiva appartenenti a generazioni o classi d’etá diverse. L’appartenenza alla medesima generazione è anche un fattore molto favorevole allo stabilirsi di gruppi sociali coesi principalmente appunto da questo tratto comune (Mattheier 1987:82), il che può ancora aumentare la rilevanza sociolinguistica della nozione. (p.81)20

20 A idade dos falantes tem um importante papel na diferenciação linguistica e não somente na importante fase de transmissão da língua de uma geração sucessiva e na parcial reestruturação que o sistema pode sofrer ( e que pelo menos setores específicos mínimos do sistema sempre sofrem) através da aquisição infantil da linguagem, mas também no comportamento linguístico dos falantes não mais na idade evolutiva pertencente à gerações ou classes de idades diferentes. O pertencimento à mesma geração é também um fator muito favorável à formação de grupos sociais coesos principalmente deste traço comum (Mattheier 1987:82), o que pode ainda aumentar a relevância sociolinguística de noção.

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A classe de idade dos falantes (sempre baseada nos blocos ou cortes de

dez anos ou vinte em vinte anos) é de fato uma variável constantemente

presente nas pesquisas empíricas de sociolinguistica. Para o reconhecimento

existencial de reais variedades geracionais da língua, definidas com base na

classe da idade dos falantes, é mais problemático. Um possível candidato a

contribuir para uma variedade geracional de língua é chamado linguagem dos

jovens, mas a caracterização correta da natureza desta possível variedade de

língua está longe de ser esclarecida, como mostrado também em recentes

trabalhos sobre um tema que entrou na moda nos últimos tempos (por exemplo

Banfi Sobrero 1992 e Radtke 1993).

Muito mais na moda na linguística internacional, e não há pouquíssimos

anos, mas há algumas décadas, são as indagações sobre correlações entre a

língua e outra variável demográfica fundamental, o sexo dos falantes. Um

argumento tão debatido que tratá-lo seriamente exigiria um estudo mais

aprofundado. Como a idade, o sexo do falante é uma das variáveis obtidas

recorrentemente nas indagações sociolinguísticas. O seu papel nas

correlações com diferenças linguísticas é, portanto, nada mais que um

equívoco, e pode variar também fortemente de comunidade para comunidade,

de modo que é difícil falar de características masculinas e características

femininas universalmente reconhecidas no comportamento linguístico, mesmo

que diferenças sejam encontradas, em maior ou menor extensão, em todos os

níveis de análise.

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Entre as generalizações que foram feitas em relação ao efeito da

variável sexo, contudo, existem duas que parecem ter mais importância do que

outras:

In primo luogo, è stata osservata in molte indagini in una maggior sensibilità delle donne alle forme di prestigio, standard e in genere conservative. Fasold (1990:92) parla a questo proposito di uno << schema sociolinguistico di genere>> (<< sociolinguistic gender pattern>>), che prevedrebbe che, ceteris paribus, gli uomini tendono ad usare le varianti linguistiche socialmente sfavorite , mentre le donne tendono ad evitarle preferendo varianti socilamente favorite. In secondo luogo, pare che, a livello di pragmatica e di strutturazione del discorso, le donne siano meno propense degli uomini a prendere l’iniziativa, mostrino maggiori esitazioni e tendano ad esprimersi con maggiore cortesia, risultando nel complesso piú pronte ad adeguarsi alle posizioni dell’interlocutore e più interessate agli aspetti relazionali dell’interazione verbale che non a quelli referenziali. (p.84) 21

Os dados empíricos resultam, todavia, não raramente contraditórios

também em relação à estas duas generalizações; e deve-se concluir , pelo

menos por enquanto, que as mulheres são efetivamente mais conservadoras,

normatizadoras e corteses de acordo com a orientação geral do grupo social

dos quais são membros e o papel que esses desenvolvem , ou que lhes é

atribuído. O sexo aparece totalmente filtrado pela posição social e a correlação

21 Em primeiro lugar, foi observada em muitas investigações uma maior sensibilidade das

mulheres às formas de prestigio, padrão e geralmente conservadoras. Fasold (1990:92) fala sobre esse assunto como um << esquema sociolinguístico de gêneros>>, que preveria que os homens tendem a usar as variantes sociolinguísticas socialmente desfavorecidas, enquanto as mulheres tendem a evitá-las preferindo variantes socialmente favorecidas. Em segundo lugar, parece que, a nível de pragmática e de estrutura do discurso, as mulheres sejam menos propensas do que os homens a tomar a iniciativa, mostrem maiores hesitações e tendem a expressar-se com maior cortesia, resultando no geral mais dispostas a se adaptar às posições do interlocutor e mais interessadas nos aspectos relacionais da interação verbal e não nos referenciais. (cfr. § 2.2)

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com a variação linguística é mediada pelo status e pelo papel dos falantes, e

então pelas mulheres, na sociedade e pelas práticas sociais conectadas.

Frequentemente atribuído a status é o prestígio, que trataremos a seguir.

4.4 Prestígio

Prestígio é um conceito muito usado em sociolinguistica. Geralmente,

como prestígio se entende uma avaliação social positiva, ou, mais amplamente

a propriedade – atribuíveis a objetos de naturezas diversas: uma pessoa, um

grupo, uma profissão, um conjunto de comportamentos, um modelo cultural,

uma variedade de língua, etc. de serem dignos de imitação, porque são

avaliados positivamente sobre base de caractereristicas favoráveis

(geralmente, porque são colocados no alto da classe social) que são

reconhecidos.

Il prestigio non è quindi una proprietà oggettiva, ma dipende dalla valutazione di certi tratti personali o sociali che i membri di una comunità ritengono particolarmente desiderabili (in termini i successo, ricchezza, immagine, stile di vita, ecc.; ( v. Strasser 1987a: 140-41). Molto frequentemente il prestigio è attribuito a uno status (cfr § 3.2.1): hanno (alto) prestigio, gli status bassi. Più o meno il contrario di prestigio èlo stigma , vale a dire il marchio sociale che può colpiere caratteristiche o proprietà sfavorevoli, non accettare socialmente e quindi sottoposte a sanzione negativa. Il termine viene impiegato in particolare a proposito di comportamenti linguistici difformi dalle norme esplicite o implicite vigenti in una comunità sociale. (p.89) 22

22 O prestígio não é então uma propriedade objetiva, mas depende da avaliação de

certas características pessoais ou sociais que os membros de uma comunidade consideram particularmente desejáveis (em termos de sucesso, riqueza, imagem, estilo de vida, etc.; v. Strasser 1987 a:140-41). Muito frequente o prestígio é atribuído a um status: tem (alto) prestigio, (os status altos ou não tem prestigio (ou tem prestigio baixo ou nenhum) os status

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Como foi visto, geralmente o prestigio é atribuído a status.

Segundo Berruto, prestígio vem entendido de maneira polissêmica,

oscilando em dois extremos: de um lado para indicar a boa avaliação social

global de uma variedade de língua e do outro serve como meio de “avanço

social” para o indivíduo.

Da un lato, si impiega il termine in senso molto generico, per indicare la buona valutazione sociale complessiva di una (varietà di) lingua, una forma, un tipo di comportamento linguistico, ecc. ; dall’altro , vi si assegna , seguendo Weinreich (1974:114), il valore specifico di importanza << per l’individuo {...} come mezzo di avanzamento sociale>>. Una (varietà di) lingua da questo punto di vista ha prestigio, o è modello di prestigio, nella misura in cui il suo possesso è condizione necessaria per l’ascesa nella scala sociale e il progresso sul mercato di lavoro. (p.89) 23

Prestigio é em sociolinguística um conceito tipicamente multifatorial. O

prestígio de uma variedade de língua é um fato complexo que compreende

pelo menos os seguintes aspectos:

a) gli attegiamenti linguistici favorevoli dei parlanti membri della comunità; b) il valore di simbolo della comunità attribuito alla (varietà di) lingua; c) l’essere veicolo di ampia e apprezzata

baixos.) Mais ou menos o contrário de prestigio é o estigma, ou seja, a marca social que pode marcar características ou propriedades desfavoráveis, não aceitar socialmente e em seguida submetidas a sansões negativas. O termo vem empregado em particular a propósito de comportamentos lingüísticos desiguais às normas explicitas ou implícitas vigentes em uma comunidade social.

23 De um lado, se emprega o termo em sentido genérico muito genérico, para indicar a boa avaliação social global de uma (variedade de ) língua , uma forma, um tipo de comportamento linguístico, etc. Do outro , é a este atribuído seguindo Weinreich (1974:114), o valor específico de importância << para o individuo [...] como meio de avanço social>>. Uma (variedade de ) língua deste ponto de vista tem prestígio, ou é modelo de prestígio , na medida em que possuí-lo é condição necessária para ascender na escala da classe social e o progresso no mercado de trabalho.

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tradizione letteraria; d) l’essere parlata dai gruppi sociali dominanti. Il punto d) che potremmo chiamare prestigio sociale (ma con l’avvertenza che prestigio è sempre, in ultima analisi, un concetto sociale), ha particolare importanza, ed è dato dal riverberarsi sul codice linguistico delle caratteristiche socialmente appertibili, reali o attribuite, del gruppo che tipicamente lo parla; la varietà del gruppo o dello strato socio-culturalmente e politicamente egemone risulta quindi modello d’imitazione per i parlanti di altri gruppi e strati. Le lingue standard e le varietà delle lingue godono di regola di (alto) prestigio. Joseph (1985:40) osserva giustamente che le varietà standard per il fatto stesso di essere o diventare standard acquisiscono prestigio di per sè. Al di là di quello che è conferito loro dal prestigio dei loro parlanti. Non bisogna tuttavia credere che le varietá di lingue proprie degli strati bassi e dei gruppi svantaggiati siano sempre del tutto prive di prestigio: anzitutto, prestigio è sempre un concetto relativo, e, in secondo luogo ma soprattutto, occorre distinguere fra ‘prestigio aperto’ , esplicitamente riconosciuto da tutti i membri della comunità , e ‘prestigio coperto’ o nascosto, vale a dire quel particolare tipo di prestigio che si discosta dai valori dominanti nella comunità e la

cui esistenza non è ammessa esplicitamente (p. 91)24

Berruto afirma, ainda, que as variedades de línguas dos grupos desfavorecidos

não são necessariamente providas de prestigio, pois este é um conceito

relativo. A seguir discutiremos a respeito das dimensões de variações.

24 a) as atualizações linguísticas favoráveis pelos falantes membros da comunidade; b)

o valor de símbolo da comunidade atribuído à (variedade de ) língua ; c) o ser veículo de ampla e apreciada tradição literária; d) o ser falada pelos grupos sociais dominantes. O ponto d), que poderíamos chamar de prestigio social. (mas com a advertência que prestígio é sempre, em ultima análise, um conceito social), tem particular importância, e é dado pela reflexão do código linguístico das características socialmente desejáveis, reais ou atribuídas, pelo grupo que tipicamente o fala; a variedade do grupo ou da classe sócio-culturalmente e politicamente hegemônico resulta então modelo de imitação padrão das línguas e gozam de regras de (alto) prestígio. Joseph (1985:40) observa justamente que as variedades padrão pelo mesmo fato de ser ou tornar-se padrão adquirem prestígio por si mesmos, fora daquilo que lhe é conferido pelo prestígio dos seus falantes. Não precisa, entretanto, acreditar que as variedades de língua próprias das classes baixas e dos grupos desfavorecidos sejam sempre totalmente privados de prestigio: antes de mais nada, prestigio é sempre um conceito relativo, e, em segundo lugar mas sobretudo, é preciso distinguir entre “prestigio aberto” , explicitamente reconhecido por todos os membros da comunidade e “prestigio coberto” ou escondido , ou seja, aquele tipo

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4.5 Dimensões de variações

Existe um amplo acordo em linguística sobre o fato que a variedade de

uma língua se reconhece na sincronia de três dimensões fundamentais ou

eixos de variações, geralmente chamadas variações diatópicas (relativas à

diferente origem e distribuição geográfica dos falantes), variações diastráticas

(relativas aos diferentes níveis sócio-culturais) e variações diafásicas (relativas

às diversas situações). Uma quarta dimensão que foi recentemente proposta, a

variação diamésica (relativa ao meio, o modo falado ou escrito de

comunicação), interessa à linguística das variedades de maneira muito mais

direta que à sociolinguistica, e, portanto, não a consideraremos aqui. Como

também a variação geográfica em quanto tal é mais objeto especifico da

dialetologia, da geografia linguística e da linguística das variedades, conclui-se

que pelas fundamentais dimensões de variações são de central importância

para a sociolinguística, a diastrática e a diafásica.

Costituiscono ovviamente varietà diastratiche di língua tutti gli insieme congruenti di tratti linguistici (crf §3.1.3) che presentano una significativa co-occorrenza con tratti della collocazione dei parlanti nella società. Sotto la variazione diastratica si raccoglie quindi non soltanto la variazzione connessa con le altre variabili relative alla colocazione e all’identitá sociale: il gruppo sociale propriamente detto, ma anche la variazione diastratica si raccoglie quindi non soltanto la variazione connessa con le altre variabili relative alla collocazione e all’identitá sociale. Il gruppo sociale, l’etnicitá, il sesso, la classe generazionale, (v. Berruto 1980:56-151) . A volte (crf. Per una sintesi Kubczzak 1987) viene utilizzato da alcuni autori come termine generale per la varietà diastratiche (o ‘sociali’) <<socioletto>>, che da altri autori viene invece inteso come termine specifico per designare le varietà

particular que se afasta dos valores dominantes na comunidade e cuja existência não é permitida explicitamente. (v. Trudgill 1974ª: 95-102)

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dipendenti dalla classe sociale in senso stretto; a altri ancora, <<socioletto>> viene usato per indicare varietá tipiche di un gruppo sociale, che abbiano un valore fortemente simbolico per il gruppo e siano sottoposte in quanto tali a nette valutazioni sociali negative (o positive). (p.124) 25

Sob a variação diastrática não se coletam apenas variáveis relativas à

colocação e identidade social, mas também ao grupo social, a etnicidade, ao

sexo e à classe geracional.

Per le varietà diafasiche (o situazionali, o funzionali-contestuali) il discorso é piÙ complesso. Occorrerebbe qui distingure due sottoclassi ben diverse di varietà , a seconda che il fattore con cui correlano siano i parlanti, i loro ruoli reciproci e il carattere relativo della situazione (cfr § 3.2.1), oppure la sfera di attivitá, l’ambito di discorso e l’argomento di cui si parla. Una possibile terminologia , impiegata fra gli altri da chi scrive (per es.Berruto 1982: 45-55 e 152- 97; 1993b: 70-84) sta nell’usare nel primo caso il termine di ‘registro’ e nel secondo caso il termine ‘sottocodice’. (p.124) 26

Para o primeiro tipo de variedade, a partir dos variacionistas anglo-

saxões (e com fundamental relação aos fatos fonéticos) é particularmente

25 Constituem obviamente variedade diastrática de língua todos os conjuntos

congruentes de características linguísticas (CRF.parágrafo 3.1.3) que apresentam uma significativa co-ocorrência com características dos falantes na sociedade. Sob as variações diastráticas se coleta então não apenas a variação ligada com as outras variáveis relativas à colocação e a identidade social: o grupo social , a etnicidade, o sexo, a classe geracional (v. Berruto 1980:56-151). Às vezes é utilizado por alguns autores o termo geral para a variedade diastrática (ou social) <<socioletto>> , que para outros autores é um termo específico para designar a variedade dependente da classe social num sentido restrito; para outros ainda << socioletto>> é usado para indicar variedades típicas de um grupo social, que tenham um valor fortemente simbólico para o grupo e sejam apresentados como tais avaliações sociais negativas (ou positivas).

26 Para as variedades diafásicas (ou situacionais ou funcionais – contextuais) o discurso é mais complexo. Ocorreria aqui distinguir duas subclasses bem diversas de variedade, dependendo do fator com o qual correlacionam sejam os falantes, os seus papeis recíprocos e o caractere relativo da situação (cfr. § 3.2.1) , ou então a esfera de atividade , o âmbito de discurso e o argumento do qual se fala. Uma possível terminologia empregada, entre outros, por quem escreve, por exemplo, está em usar no primeiro caso o termo de ‘registro’ e no segundo caso o termo de ‘sub-código’.

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difuso o termo stile, ou stile contextual. Registro é, então, empregado

tipicamente pela linguística de orientação funcionalista (Gragory – Carroll 1978;

Halliday 1983), em um sentido, porém, ao mesmo tempo mais rico e mais

amplo, como termo designante de cada variedade de natureza funcional –

contextual, governada pelas três categorias contextuais do campo, do conteúdo

e do modo, que constituem “modo de dizer coisas diferentes” (enquanto para

nós são mais “modos diferentes de dizer a mesma coisa”) determinadas “por

aquilo que se está fazendo (natureza da atividade social que se está

efetuando)” (Halliday 1983:51). Uma diferença muito importante entre as

variantes diastráticas e diafásicas é que as primeiras são ligadas univocamente

ao falante, no sentido que cada falante exibirá a variedade diastrática própria

da sua classe social, da sua geração, do seu sexo, dos grupos aos quais é

filiado, etc., enquanto as segundas não são (cada falante terá uma linha de

princípio à sua disposição mais variantes diafásicas)

As três dimensões de variações não agem isoladamente, mas interagem

e interferem em diversos modos. Primeiramente, uma concreta produção

linguística de um falante qualquer terá sempre uma colocação simultânea ao

longo dos três eixos, diatópico, diastrático e diafásico. Em segundo lugar,

características linguísticas originalmente e primariamente marcadas na

diatópica podem assumir valor marcado também na diastrática, e

características marcadas originalmente na diatópica, de modo que marcações

diatópicas, diastrática e diafásica se apresentem sempre indissociavelmente

co-presentes. Assim, a utilidade de empregar sempre uma noção super-

ordenada, que geralmente é aquela de variedade (ou traço) sub-standard, para

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designar o conjunto da variação (diatópica, diastrática e diafásica) que se

coloca abaixo do nível da língua standard, tomada como unidade de medida de

referência sobre três eixos, orientados cada um por um alto ou um baixo. Esta

última prática não precisa, entretanto fazer esquecer a importância de

distinguir, todas as vezes que é possível, quais dimensões de variação tanto na

ação nos casos dúbios ou complexos, baseando-se não apenas no eixo sob o

qual esta a correlação (mais) relevante entre os traços linguísticos e trações do

contexto extralinguístico.

Como vimos, as variantes diastráticas são ligadas ao falante que exibirá

a variedade própria da sua classe social, geração, sexo, dos grupos aos quais

são filiados, etc. Por isso, a seguir, trataremos dos grupos de adesão e gírias.

4.6 Grupos de adesão e gírias

Quando a adesão a um grupo especifico influencia diretamente a língua

usada pelos membros daquele grupo nos encontramos diante de uma gíria, isto

é, uma língua que, sem nunca substituir o dialeto ou a língua mãe, tem as

seguintes características:

a) come utenti un gruppo di persone particolarmente omogeneo e unito da un’attività (artigiani, giostrai, artisti girovaghi) , un interesse (scout) una condizione stabile o temporanea (militari, studenti, carcerati), uno stile di vita (malviventi, tossicodipendenti), a cui può essere associata anche la frequentazione di un luogo comune (scuola, caserma, carcere);

b) come scopo l’autoaffermazione e l’accentuazione del senso di coesione del gruppo rispetto agli estranei (gergo degli artigiani, degli emarginati), il divertimento (gergo degli studenti) o la segretezza (gergo della malavita), anche se questo scopo viene messo in discussione da alcuni studiosi. (Sanga, 1993);

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c) come caratteristica la convenzionalità (che si traduce soprattutto in un lessico particolare), la consapevolezza d’uso degli utenti, e in certi casi la sua rápida e continua trasformazione. (Coveri, p.100) 27

Segundo Coveri, o debate sobre o que se deve verdadeiramente definir

como gíria, todavia, está é ainda aberto e tende-se a fazer algumas

diferenciações a nível cientifico, em relação ao uso comum do termo que ponta

principalmente seu caráter de incompreensibilidade (a mesma palavra gergo -

gíria em português - deriva do antigo provençal gergons que indicava a

linguagem dos pássaros, então incompreensível)

É necessário relembrar que já na idade média, época na qual eram

amplamente difusas penúria extrema e vadiagem, começa a criar-se a

ideologia do vadio e do seu modo de comunicar-se com os seus semelhantes.

Este conceito de vagabundo era já então associado àquele da gíria. O período

de máxima difusão dos gerganti foi, provavelmente, no século XV – XVI ,

enquanto hoje desapareceram muitos grupos característicos (especialmente os

ambulantes e artesãos) e apareceram novas formas de marginalização, da qual

27

a) como usuários um grupo de pessoas particularmente homogêneo e unido por uma atividade (artesãos), um interesse (scout), uma condição estável, ou temporária (estudantes, militares, prisioneiros), um estilo de vida (bandidos, dependentes quimicos), ao qual possa ser associado também à frequentação de um lugar comum como escola, quartel, etc.

b) como finalidade a auto-afirmação e acentuação do sentido de coesão do grupo em relação aos estrangeiros ( gíria dos artesãos, dos marginalizados), a diversão (gíria dos estudantes) ou o sigilo ( gíria da malavita) , mesmo que para este fim vem colocado em discussão por alguns estudiosos. (Sanga, 1993).

c) Como característica a convencionalidade (que se traduz sobretudo para um léxico particular), a sensibilização de uso dos falantes, e em certos casos a sua rápida e continua transformação. (Coveri, p.100)

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língua sabe-se pouco ou nada pela dificuldade de recuperação dos dados,

comparáveis àqueles que encontra o estudo das línguas ciganas.

Existem, também, as gírias históricas e em relação à Itália, Sanga cita

alguns exemplos:

Fra i gerghi <<storici>> esistiti (e in certi casi ancora esistenti) ricordiamo in Francia l’argot, in Germania il Rotwelsch, in Inghilterra il cant, in Spagna la germanìa e il calò. Per l’Italia citiamo alcuni esempi riportati da Sanga (1993:174-181): - furbesco (gergo dei malviventi italiani attestato già nel Quattrocento in una lettera di Luigi Pulci a Lorenzo dei Medici , e nel Cinquecento in un’opera di Ludovico Ariosto); - lengua furbesca (gergo dei ladri milanesi); - rungin (gergo dei calderai ambulanti della zona di Como); - taròm (gergo degli spazzacamini ticinesi); - tarüsc (gergo degli ombrellai ambulanti della zona Novara); - gaì (gergo dei pastori della zona di Bergamo). (p.100) 28

Um ponto fixo, confirmado pelo estudo das gírias históricas, é

relacionado ao fato que “uma gíria pressupõe a existência de um grupo cujos

membros adotam intencionalmente um meio de comunicação que só eles

conhecem” (Marcato C. 1988:255).

Senza un gruppo bem definito e i cui membri siano coscienti di esserne parte, non può neppure esistere un gergo: per questo motivo si tratta di una varietà prettamente diastratica, legata in primo luogo alla cerchia di utenti e non tanto all’argomento affrontato. È dunque improprio parlare di << gergo della

28 Entre as gírias <<históricas>> que existiram (e em alguns casos que ainda existem)

lembramos na França o argot, na Alemanha o Rotwelsch, na Inglaterra o cant, na Espanha a germanìa e o calo. Para a Itália citamos alguns exemplos relatados por Sanga (1993:174 – 181):

• furbesco (gíria dos criminosos italianos atestado já no século V (400) em uma carta de Luigi Pulci para Lorenzo dei Médici , e no século VI em uma obra de Ludovico Ariosto);

• língua furbesca (gíria dos ladrões italianos de Milão); • rungin (gíria dos funileiros ambulantes da zona de Como); • taròn (gíria dos limpa-chaminés ticinesi ); • Tarüsc (gíria dos vendedores ambulantes da zona de Novara); • Gaì (gíria dos pastores da zona de Bergamo).

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medicina>> o <<gergo sportivo>> , dato che se certi termini possono suonare oscuri a chi non è competente della materia, si tratta però di solito di termini tecnici che servono a indicare con precisione oggetti e concetti specifici. Al contrario, <<nel gergo l’uso internazionale di voci ermetiche serve per esprimere concetti comuni>> (Marcato C., 1988:256) (p.101) 29

O grupo dos usuários de gírias pode ser identificado não apenas a nível

de classe social (como no caso das gírias de classes de artesãos, ou da

marginalidade), mas também com base em outras variáveis ( a idade no caso

das gírias dos jovens, a condição militar no caso do jargão do quartel , etc.)

Além disso o grupo dos falantes de gírias pode ser caracterizado por uma

instabilidade congênita devido à mudança continua dos membros do grupo (no

caso dos jovens ou dos soldados de influência: se fala neste último caso de “

gírias transitórias”.)

Em relação ao objetivo para o qual uma gíria é criada pelos próprios

sujeitos que a utilizam internacionalmente, necessita dizer que aqui surgem as

principais questões do debate.

Il fine primario del gergo è stato indicato spesso nella funzione criptica , legata alla necessità di segretezza , non solo linguistcia del gruppo: il caso tipico è quello dei gerghi della malavita (detti anche gerghi furbeschi). I membri delle organizzazioni criminali come fa la mafia o la camorra , ma anche i membri della microcriminalità cittadina (scassinatori, scippatori, ecc.), i tossicodipendenti e i carcerati, sostituscono parole comuni con altre imcomprensibili agli estranei , e provvedono a nuove coniazioni quando un termine gergale è ormai trapelato al di fuori della loro cerchia, perdendo la sua

29 Sem um grupo bem definido e cujos membros estejam conscientes de fazer parte,

não se pode nem existir uma gíria: por este motivo trata-se de uma variedade puramente diastrática, ligada em primeiro lugar a ao circulo de usuários e não tanto ao argumento afrontado. É então impróprio falar de << gíria da medicina>> ou <<gíria esportiva>> , visto que se certos termos podem soar obscuros a quem não os conhece trata-se porém apenas de termos técnicos que servem para indicar com precisão objetos e conceitos específicos. Pelo contrario, << na gíria de uso internacional de vozes herméticas serve para exprimir conceitos comuns>> (Marcato C., 1988:256)

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primaria funzione criptica (per il gergo della malavita si veda Ferrero, 1972). Ma studi recenti hanno notato che sono piuttosto i gerganti stessi ad avallare questo mito, affermando di parlare il gergo per non farsi capire. Sanga (1993:153) osserva che <<in realtà il gergo non è usato quasi mai in presenza di estranei>> bensì << quasi esclusivamente per la comunicazione normale, corrente, tra gerganti>>. Il che esclude i fini criptici del gergo stesso. (p.101) 30

De acordo com Coveri, a auto-afirmação é provavelmente a motivação

fundamental da inter-linguagem dos jovens e dos estudantes, sendo ligada ao

particular estado psicológico do adolescente na fase típica de pesquisa da

própria identidade. Muito mais que a necessidade de segurança, há aqui o

apoio moral fornecido pelo senso de união e de coesão do grupo, e pelo

destaque geracional, que vem demonstrado, também, no plano linguístico, em

relação ao mundo dos adultos. Esta mesma afirmação de si, além de uma gíria

juvenil panitaliana, refletida e propagada pelas mass media, se reconhece em

muitas outras microvariedades juvenis, ligadas à idade dos usuários, ao lugar

de socialização, às suas experiências culturais, à sua atitude em relação à

música, à moda, etc.

O objetivo fundamental que torna comum os diversos tipos de gírias é o

seu uso como forma de identificação pessoal e como manifestação de

pertencimento a um grupo. Isto é verdade, para os jovens, e também para os

30 A finalidade primaria do jargão foi indicada sempre na função misteriosa , ligada à

necessidade de sigilo , não apenas lingüístico do grupo: um caso típico é aquele dos jargões da criminalidade (ditos também gírias furbeschi). Os membros das organizações criminais , como a máfia ou a camorra , mas também os membros da microcriminalidade das pequenas cidades , os dependentes químicos e os presidiários, substituem palavras comuns por outras incompreensíveis a estanhos, e criam novas palavras quando um termo vaza para fora do seu círculo, perdendo a sua primeira função sigilosa ( para a gíria da marginalidade veja-se Ferrero, 1972). Mas estudos recentes notaram que são os próprios falantes que aproveitam este mito , afirmando falar o jargão para não serem entendidos. Sanga (1993:153) observa que << na realidade o jargão não é usado quase nunca na presença de estranhos>> mas <<quase exclusivamente para a comunicação normal entre falantes do grupo>> .

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soldados no período do seu serviço militar e ainda mais fortemente para os

órgãos militares especiais, como, por exemplo, os paraquedistas ou para os

alpinistas: neste caso aplicam ainda mais fatores psicológicos do que

intencionais destaques dos outros, o orgulho de ser membro do grupo, o desejo

de coesão, mesmo que não propriamente àquele de marginalidade em relação

à sociedade organizada. Assim, pode-se interpretar, também, a gíria da

marginalidade organizada (os próprios nomes mafia, camorra e ‘ndrangheta

são vocábulos de gírias), dos dependentes químicos, de certos grupos

históricos como saltimbancos, contadores de histórias, limpadores de

chaminés, artesãos, itinerantes, mendigos, vagabundos) e dos seus herdeiros

(pessoas de circo ou luna-park, propagandistas, sem teto), para não falar dos

ladrões, fraudadores, prostitutas e outros grupos de pessoas dedicadas a

atividades ilícitas.

Resumindo, se queremos encontrar um denominador comum das gírias

devemos procurá-lo na condição de “marginalidade” dos grupos que os usam

em oposição à língua das pessoas “normais”. Como observa Sanga

(1993:154), << a principal característica cultural do mundo da “praça”, o sinal

de reconhecimento e de pertencimento , é o uso da gíria, língua particular,

diferente do italiano e dos dialetos, e própria das classes marginais>>.

4.7 As linguagens dos jovens

As linguagens dos jovens (ou gírias juvenis) vêm geralmente analisadas

à margem das próprias gírias e vêm de fato sempre mais definidas <<

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variedades juvenis>>. Fortemente caracterizadas por variáveis de tipo diatópico

e diafásico além de diastrático, são características do grupo de usuários

genericamente definidos <<juvenis>>, um grupo que vem identificado seja a

nível de cultura ou de classe social, seja em relação à idade e ainda à

particular condição psicológica dos próprios membros (do adolescente ao

adulto jovem, isto é aproximadamente dos 13-14 aos 20-21 anos).

<< non esiste quindi un linguaggio giovanile, unico e identico per tutti i giovani – tra i 14 e i 21 anni – che vivono nella realtà linguistica italiana: questo è sicuro. Esistono piuttosto degli usi, generazionalmente e socialmente marcati, di frammenti, di parti del repertorio linguistico nazionale che sono utilizzati , per finalità le più diverse, da segmenti delle fasce generazionali giovanili>> (Banfi, 1991). Questa grande eterogeneità è dovuta a variabili quali: - la classe di età degli utenti (adolescenti , diciotteni, ventenni, ultraventenni); - il luogo di socializzazione (la scuola, la discoteca, il luogo di lavoro); - l’esperienza culturale (studenti di scuole diverse, giovani con la sola licenza media, giovani seminalfabeti); - l’atteggiamento verso la musica, il cinema, la TV, le mode, le letture, gli svaghi (giovani appassionati di particolari tipi di musica, sport, auto, moto, computer, ecc.) (p. 103)31

31 << Não existe então linguagem juvenil, única e igual para todos os jovens – entre 14

e 21 anos- que vivem na realidade linguística italiana: isto é certo. Existem usos, geracionalmente e socialmente marcados, por fragmentos, por parte do repertorio linguístico nacional que são utilizados, para finalidades diversas , por segmentos das bandas geracionais juvenis>> (Banfi, 1991). Esta grande heterogeneidade é devido à variáveis tais como:

• A classe da idade dos usuários (adolescentes, jovens de 18, 20 anos ou mais); • O lugar de socialização (a escola, a discoteca, o lugar, o trabalho); • Experiência cultural (estudantes de escolas diversas, jovens com apenas o

ensino fundamental, jovens semianalfabetos); • Atitudes em relação à musica, cinema, a TV, a moda, as leituras, os

entretenimentos (jovens apaixonados por particulares tipos de música, esporte, carros, motos, computadores, etc.).

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A língua dos jovens não é única e igual para todos os jovens. Isso vai

depender da idade dos usuários, lugar de socialização, experiência cultural,

atitudes em relação à música, cinema, TV, moda, entretenimentos, entre

outros.

Em Certi Bambini, corpus do presente estudo, temos meninos com idade

média de 11 anos, que vivem na periferia de Nápoles, já envolvidos com a

camorra (a máfia napolitana), que estudaram em média até a terza

elemmentare (quarto ano do primeiro segmento), vivem de pequenos furtos,

frequentam ambientes que normalmente não são frequentados por crianças (ou

não deveriam ser), como bares, casas de jogos e casas de prostituição, onde a

própria mãe prostitui a filha com a mesma faixa etária dos meninos do

romance.

De acordo com o grupo apresentado no romance, esses meninos, então,

não poderiam falar uma outra língua senão o dialeto napolitano, mais

precisamente uma variação do napolitano repleta de palavrões, gírias da

malavita e palavras de baixo calão.

No capítulo seguinte o foco é o romance escolhido para o presente

estudo: faremos um breve panorama da historia do dialeto napolitano e uma

análise da presença desse dialeto e da língua da malavita nas falas das

personagens de De Silva.

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5- CERTI BAMBINI: um estudo de variação e uso da língua italiana

Como já antecipamos no primeiro capítulo, Certi Bambini é um romance

ambientado na periferia de Nápoles e conta a história de Rosário, um menino

de onze anos que, apesar da pouca idade, se encontra envolvido com a

camorra (a máfia napolitana). Vimos, ainda, que Diego De Silva é um escritor

que geralmente apresenta em seus romances a problemática napolitana, uma

cidade repleta de contrastes sociais e culturais:

«Cos’è la scrittura se non la sintesi delle contraddizioni?

E quando riconosci i legami con una terra è perché ne riconosci le incoerenze. Napoli è in una bolla d’inchiostro. Noi scrittori non limitiamo la città. Ne fossilizziamo l’immagine, ma le istituzioni addirittura la portano indietro» (Diego de Silva, Cafebabel). 32

Apesar de não nominar a cidade onde se passa a estória de Certi

Bambini podemos reconhecê-la, principalmente, pela língua usada pelas

personagens, neste caso o dialeto napolitano. Para De Silva é importante

contar a história com a sua língua e quando, em uma entrevista recente, lhe foi

peguntado o porquê do uso do napolitano nos diálogos ele respondeu o

seguinte a respeito do uso do dialeto napolitano: Raccontare quella storia con

la sua lingua: dando una traduzione non alta, ma quasi letterale del dialetto

(Diego De Silva, intrevista) 33

32 <<O que é a escrita se não a síntese das contradições? E quando você reconhece as ligações com um lugar, é porque reconhece as suas incoerências. Nápoles é uma bolha de tinta. Nós escritores não limitamos a cidade. Fossilizamos sua imagem, mas as instituições mesmo as trazem de volta>> 33 <<Contar aquela historia com a sua língua: dando uma tradução não alta, mas quase literal do dialeto. >>

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Diante do que já foi apresentado, faremos a seguir um breve panorama

do dialeto napolitano, presente na voz das personagens de De Silva em Certi

Bambini e logo a seguir faremos uma análise do dialeto presente no romance.

5.1 - O Dialeto Napolitano

Apesar de muitos linguístas falarem do napolitano como um dialeto,

outros (entre eles a UNESCO e Gaetano Berruto, como vimos anteriormente) o

consideram uma verdadeira língua. Existe uma disputa terminológica entre

língua e dialeto, mas não por questão de valor, até porque para a linguística e

para a sociolinguística contemporânea, não existe nenhuma diferença entre

uma língua e um dialeto no ponto de vista estrutural, gramatical e lexical:

Fra lingua e dialetto non esiste alcuna differenza eminentemente linguistica, pertinente alla strutura del sistema. (...) Vi è invece differenza di raggio funzionale, sociale e comunicativo: un dialeto ha poca o nulla Ausbau. Con una formulazione banale ma efficace, si può infondo dire che < uma lingua è un dialetto che há fatto carriera>.” (Berruto, 2006 P188 - 189)34

A disputa que existe entre o termo língua e dialeto napolitano tem a ver

com aspectos externos, como reconhecimento de uma língua oficial de um

território ou como uma variação linguística em todas as funções. Neste caso o

34 a)Entre língua e dialeto não existe alguma diferença eminentemente lingüística, pertinente à estrutura do sistema. (...) O que existe é diferença de raio funcional, social e comunicativo: um dialeto tem pouca ou nenhuma Ausbau. Com uma formulação banal mas eficaz, se pode no fundo dizer que <uma língua é um dialeto que fez sucesso>. (BERRUTO, 2006. p.188 - 189)

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napolitano não se encaixa nem em língua oficial de um território nem é utilizado

para funções administrativas, burocráticas ou científico-tecnológicas.

Embora historicamente existam atos oficiais do Reino de Nápoles

escritos em Napolitano, nunca foi utilizado como língua oficial. É falado na

Campania e, então em Nápoles, mas nunca foi utilizada como língua oficial do

Reino de Nápoles ou de qualquer outra entidade estatal.

Com a emigração do século XX o napolitano é falado em diversas partes

do mundo (cerca de 7,8 milhões de pessoas) e é considerado uma língua

regional ou minoritária de acordo com a Carta Européia das línguas regionais

ou minoritárias.

O napolitano, assim como o italiano, é uma língua derivada do latim.

Apresenta também traços da língua falada na Itália centro-meridional antes da

conquista romana, o itálico (mas também sucessivamente, inscrições oscas

são encontradas em Pompéia, ainda em 70dC, por exemplo), que é língua

itálica contemporânea do latim. Portanto, aparentada ao latim, porém deste

diferente, o napolitano sofreu ao longo de sua história, como muitas outras

línguas, influências e “empréstimos” de vários povos que habitaram ou

dominaram a Região da Campania e a Itália centro-meridional. Os colonos

gregos e os mercadores bizantinos na época do ducado de Nápoles até o

século IX, e mais recentemente, os normanos, os franceses, os espanhóis e

por último os americanos, durante a segunda guerra mundial e a conseqüente

ocupação de Nápoles, contribuíram com a introdução de alguns vocábulos ao

napolitano.

Com o Reino aragonês de Nápoles, propôs-se o napolitano como lingua

da administração, sem jamais impor o aragonês ou o catalão, mas a tentativa

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morreu com a deposição de Federico II e o inicio do vice-reino. Na primeira

metade do século VIII o Reino das Duas Sicilias usava de fato como lingua

administrativa e literaria o italiano e, portanto o napolitano nunca teve a

condição de língua oficial. Por outro lado o Reino da Sardenha jamais

oficializou nem o piemontês nem o italiano, mesmo sendo o francês a língua

mais falada para os seus usos administrativos.

Do século XIV até hoje o napolitano nunca deixou de perder a sua

vitalidade nos campos da poesia, da música e da dramaturgia.

As suas numerosas variantes, frequentemente até mesmo de um

municipio para outro (condição comum a muitas línguas ainda não

normatizadas), ou ainda entre regiões diferentes, como o intensificar-se dos

transportes e do advento dos meios de comunicação, em particular da

televisão, quase perderam-se ou misturaram entre si os usos.diversos

O Napolitano (como o siciliano, o veneziano e outras variações ítalo-

romanas) possui uma riquíssima tradição literária. Existem testemunhos

escritos em napolitano já em 960 com o famoso Placito de Capua (considerado

o primeiro documento em língua italiana, mas de fato trata-se da língua

utilizada na Campania (a qual pertence o napolitano) e depois no inicio do

século VIII, com uma vulgarização (tradução) do latim da Storia della

distruzione di Troia di Guido Giudice delle Colonne.

A literatura napolitana inicia-se com Giulio de Cesare Cortese e

Giambattista Brasile, que viveram na primeira metade do século XVI. Brasile é

autor de uma obra famosa como Lo Cunto de li Cunti, ovvero lo trattenimiento

de le piccerille, traduzida em italiano por Benedetto Croce, com a qual

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presenteou ao mundo a realidade popular e fantasiosa das fábulas,

inaugurando uma tradição bem retomada por Perrault e pelos irmãos Grimm.

Nos últimos três séculos surgiu uma florescente literatura em

napolitano, em diversos setores, que em alguns casos alcança nível bastante

elevado, como, por exemplo, nas obras de Salvatore di Giacomo, Raffaele

Viviani, Ferdinando Russo e Eduardo de Filippo.

Não poderíamos deixar de mencionar no corpo literário as canções

napolitanas herdeiras de uma longa tradição musical, caracterizadas por lirismo

e melodia, cujos trechos mais famosos são conhecidos em diversas partes do

mundo, como, por exemplo, a canção 'O sole mio, considerada por muitos um

hino à Italia e principalmente à cidade de Nápoles. Nos últimos anos a música

napolitana continua obtendo grande sucesso com cantores como Pino Daniele,

Giggi D’Alessio, jovens representantes e defensores da cultura napolitana.

A documentação sobre o napolitano é ampla, mas nem sempre tratada

em um nível científico. Dois bons dicionários são aqueles de Raffaele D'Ambra

(erudito do século XVIII) e de Antonio Altamura (estudioso do século XIX).

Outra obra importante é a gramática do Capozzoli (1889).

Nos últimos anos também foram publicados dicionários e gramáticas da

língua napolitana, mas nunca se chegou a um acordo a respeito da ortografia,

da gramática e da sintaxe, embora se possa obter, através dos textos clássicos

chegados até nós, uma série de regras convencionais bastante difundidas

entre os estudiosos.

Mesmo conhecendo as divergências existentes quanto às características

do napolitano, tentaremos, a seguir, traçar as principais características orais e

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escritas desse dialeto para uma posterior diferenciação com o italiano comum

ao italianos.

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84

5.1.1 Traços da pronúncia napolitana

A pronúncia do napolitano é diferente do italiano. Pode-se observar

isso, por exemplo, nas vogais não tônicas e aquelas colocadas no final da

palavra. Essas não vêm articuladas de modo diferente entre elas, e são todas

pronunciadas com um som central indistinto que os linguístas chamam schwa e

que no alfabeto fonético internacional é transcrito com o símbolo /ə/

(como na pronuncia do e semimuda de petit, da língua francesa.)

Apesar da pronúncia (e na falta de convenção ortográfica aceita por

todos) estas vogais são sempre transcritas com base no modelo da língua

italiana, e isso mesmo melhorando a legibilidade do texto e tornando

graficamente um som fraco, porém existente, favorece o surgimento de erros

por aqueles que não conhecem a língua e são levados a ler como em italiano.

No uso escrito espontâneo dos jovens (SMS, por exemplo), como documentou

Pedro Maturi, prevalece, ao contrário, a omissão completa de tais fonemas,

com o resultado de grafias as vezes pouco reconhecíveis mas marcadamente

distantes da forma italiana. (TLEFN para “telefono”).

Outros erros comuns devido à semelhança apenas aparentes com esta

última língua, referem-se ao uso errado do reforço sintático que segue, em

relação ao italiano, regras próprias e muitos diversas, e à pronúncia de vogais

fechadas ao invés de abertas, ou vice-versa, à arbitrária interpretação de

alguns sons.

Algumas ulteriores diferenças de pronúncia com o italiano são:

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• no inicio de palavra, e sobretudo nos grupos gua e gue, sempre a g

seguida de vogal é quase omitida na pronúncia.

• a s impura é sempre pronunciada / ∫ / (como o sc do italiano scena),

mas não quando é seguido de uma dental t ou d.

• As palavras que terminam com consoantes (geralmente empréstimos

estrangeiros) levam acento sobre a última sílaba.

• Diferente do italiano a vogal i presente nos grupos cie e gie é quase

sempre sonora (por exemplo ao pronunciar 'na cruciera a i se ouve) e

a e posterior é fechada.

• É frequente o rotacismo da d, isto é, a sua passagem à consoante r,

como em Maronna.

5..2 – O dialeto napolitano X o italiano standard em Certi Bambini

Nesta seção veremos alguns aspectos da gramática napolitana, com

exemplos retirados da obra de De Silva, e paralelamente faremos uma

comparação desses mesmos aspectos da gramática italiana.

5.1,2.1 Os substantivos

No napolitano, assim como no italiano, existem três classes para os

nomes: a primeira classe compreende os nomes femininos com desinência -a-

para o singular e

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-e- para o plural; a segunda classe compreende os nomes masculinos com

desinência -o- no singular e -i- no plural e a terceira classe compreende os

nomes masculinos e neutros com desinência -e- para o singular e desinência

-i- para o plural. De clara descendência do latim, no napolitano persiste o

gênero neutro. Neutros são os termos abstratos (u mmale / Il male, u bbene / Il

bene), as matérias (u ppane / Il pane, u ccafè / Il cafè), os minerais (u ffierro / Il

ferro) os adjetivos substantivados (u bbello / Il bello), os infinitivos

substantivados ( u ddurmì’ / Il dormire). Podemos observar a duplicação da

consoante inicial quando o termo é tomado no sentido neutro. Em Certi

Bambini temos alguns exemplos desse uso:

_ Tu si’ nu strunzo ‘e

mmerda. (p.121)

_ Tu sei uno stronzo di

merda 35

_ Ma staie bbuono, sì?

(p.19)

_ Ma stai bene, sì? 36

35 _ Você é um idiota de merda. 36 _ mas você está bem, né?

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5.2.2 Artigos

5.2.2.1 Artigos definidos

O artigo definido singular masculino em napolitano é –u (u figlio), aférese

da forma antiga “lu”, do latim “illum”.

O artigo singular neutro também é –u (u ffuoco, u rrusso) aférese da

forma antiga “lu” do latim “illud”. Percebe-se o redobramento da consoante para

o neutro. Na língua falada napolitana –‘o-. Diante de vogais a forma –lu- torna-

se –l’- por elisão. (l’uommo).

O singular feminino é –a- , (a figlia) aférese da forma antiga “la”, do latim

“illa”. Diante de vogais a forma –la- , torna-se –l’- por elisão. (l’anema).

O plural masculino e neutro é - i - (i figli), do latim “illi”. Diante de vogais –

ll’- (ll’uommene).

O plural feminino também é –i-, com redobramento da consoante inicial

da palavra seguinte, (i ffemmene). Do latim “illae”. Na fala napolitana –‘e-.

Diante de vogais –ll’- (ll’aneme).

Vejamos, no quadro abaixo, como são apresentados os artigos:

• Singular

napolitano Italiano

u il

o lo

l’ l’

a la

l’ l’

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• Plural

napolitano Italiano

i I

i gli

ll’ gli

i le

ll’ le

Em Certi Bambini temos exemplos dos artigos definidos masculinos e

femininos, ambos no singular. Embora em outras obras tenhamos observado o

uso tanto do u (il) quanto do o (lo), em outros registros, no presente estudo

encontramos apenas o uso do o tanto para o que em italiano seria il quanto

para lo.

_ C’ he’ scassat’ ‘o cazzo

Giurnale’, - fa Brasile. (p.21)

_ Che hai rotto le palle ,

Giornaletto, - fa Brasile.

_ ‘A pioggia ca num vene, - le

da i soldi Rosario. (p.13)

_ La pioggia qui non viene. 37

_ So’ mamma ‘e figli muorti / ‘a

droga me li ha accisi. P. 110

_ Sono madre di figli morti /

me li ha uccisi la droga. 38

37_ A chuva que não chega, - lhe dá o dinheiro Rosario.

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5.2.2.2 Artigos indefinidos

Em napolitano o artigo indefinido masculino é –nu- (nu figlio), do latim

unus. E o artigo indefinido feminino é –na- (na figlia) do latim una.

napolitano italiano

nu un

nu uno

na una

Abaixo podemos ver dois exemplos do artigo masculino nu (un e uno) na

obra de De Silva e um exemplo com o uso do artigo indefinido feminino na (la).

_ Spiega nu poco, come

funziona mò? – disse allora

Brasile tutto pieno d’intenzione,

indicando i soldi con la faccia.

(p. 84)

_ Spiega un po’ come

funziona adesso? – disse

allora Brasile tutto pieno

d’intenzione, indicando i soldi

con la faccia. 39

_ Tu si’ nu strunzo ‘e mmerda, -

disse Dieci e Dieci fra i denti,

_ Tu sei uno stronzo di merda

– disse Dieci e Dieci fra i

38 Sou mãe de filhos mortos / as drogas os tirou de mim. 39 _ Explica um pouco como funciona agora? – disse então Brasile cheio de intenções, indicando com o dinheiro com o rosto.

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andandogli sotto l’orecchio. (p.

121)

denti, andandogli sotto

l’orecchio. 40

_ Niente, tengo ‘na notizia, si ‘a

vulite sentì. (p.101)

_ Niente, ho una notizia se

volete sentirla. 41

5.2.3 Preposição

Em napolitano existem duas formas da preposição italiana di: ‘e e ‘d. A

forma “’e” é usada diante de palavras iniciadas por consoantes e a forma ’d” é

usada diante de palavras iniciadas por vogais. E a preposição italiana con em

napolitano é c’ .

napolitano italiano

‘e ou ‘d di

c ‘ con

Existem mais preposições em napolitano, mas apresentamos apenas as

encontradas na voz das personagens de De Silva, como poderemos ver nos

exemplos abaixo:

40 Você é um idiota de merda – disse Dieci e Dieci entre os dentes, indo por debaixo da sua orelha. 41 _ Nada, tenho uma noticia, se quiserem ouvi-la.

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_ Tengo nu male ‘e capa a

caccavella oggi,- gli porge il

pacchetto. Há già un pò di

fiatone.

_ ‘A pioggia ca num vene, - le

da i soldi Rosario. (p.13)

_ Ho un mal di testa a

caccavella oggi, - gli porge il

pacchetto. Ha già un po’ di

fiatone.

_ La pioggia che non viene, - le

da i soldi Rosario. 42

_ I marrochini so’ gente ‘e

mmerda e po’ so’ tutti tal’ e

quali.

_ Eh. Tutti gemelli. (p.87)

_ I marocchini sono persone di

merda e sono tutti uguali.

_ Eh, tutti gemelli. 43

_ Ti si’ fatto ‘o shampoo c’ ‘o

ragù? (p.21)

_ Ti sei fatto lo shampoo col

ragù? 44

5.2.4 Adjetivos

5.2.4.1 Adjetivos possessivos

O adjetivo possessivo segue sempre o nome ao qual se refere, por

exemplo 'o sole mio, e em alguns casos se liga a ele por ênclise: isso acontece

42_ Estou com uma terrível dor de cabeça hoje – lhe entrega o pacote. Já está com um pouco fôlego. _ A chuva que não vem ,- Rosário lhe dá o dinheiro. 43 _ Os marroquinos são pessoas de merda e são todos iguais. 44 Você fez o champoo com o ragu?

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com alguns nomes de parentesco no singular como, por exemplo: fràtemo e

sòreta.

Abaixo temos exemplos tirados da obra: o primeiro mostrando o uso do

adjetivo seguindo o nome ao qual se refere, e o segundo com o adjetivo

possessivo ligado ao nome por ênclise.

_ Ci putevo spaccare a capa,

‘o putevo accire ‘o figlio

mio...

(p. 72)

__ Gli potevo rompere la testa, lo

potevo uccidere mio figlio... 45

_ Ma tu sai a fratemo Rino?

(p.102)

a _ Ma tu conosci mio fratello

Rino? (p. 102) 46

OBS: Observamos que nos diálogos em napolitano apresentados em

Certi Bambini, não existe o uso dos adjetivos de qualidade.

45 Eu poderia quebrar a sua cabeça, eu poderia lhe matar meu filho... 46 _ Mas você é irmão do Rino?

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5.2.5 Pronomes

5.2.5.1 Pronomes pessoais

napolitano italiano

Io, ije io

tu tu

essa ella, lei

isse egli, lui

nuje noi

vuje voi

isse, lloro loro

Em Certi Bambini encontramos exemplos do uso do pronome pessoal

nuje (noi) e vuje (voi).

_ Nuje spartimmo. Cà si fa

accussì – disse Rosario

pretendendo il rispetto delle

regole. (p.84)

_ Noi dividiamo. Qua si fa così

– disse Rosario pretendendo il

rispetto delle regole. 47

_ A chi vaie cercanno? _ Chi vai cercando?

47 _ Nós vamos dividir, aqui funciona assim, - disse Rosário querendo que as regras fossem respeitadas.

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_ A uno ‘e vuje, chi vulite?

_ Saglie.

_ Uno di voi, che volete.

_ Sali. 48

Uma característica dos dialetos meridionais italianos, entre eles o

napolitano, é o uso do pronome pessoal voi, como forma de cortesia. Na obra,

esse uso pode ser observado em um dialogo onde Rosario ameaça um

medico, que também usa o pronome de tratamento voi para dirigir-se ao

menino.

_ E mò vi dovote stare accorto.

Io appartengo a gente che tiene

poche parole.

_ Ma che cazzo volete da me?

Io non aggio fatto…

_ Non spostate con la bocca

che è meglio -. E qui fece una

pausa , alla qualle seguì

l’ordine: _ La faccia mia la

sapete? Mò non la sapete più.

_ Ma posso sapere che aggio

_ E adesso dovete fare

attenzione. Io appartengo a

della gente che parla poco.

_ Ma che cosa volete da me?

Io non ho fatto…

_ Non spostate con la bocca

che è meglio-. E qui fece una

pausa, alla qualle seguì

l’ordine: _ La mia faccia la

sapete? Adesso non la sapete

più.

48 _ Quem você está procurando? _ Um de vocês, quem quiser. _ Sobe.

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fatto? – domandò il dottore

rinunciando definitivamente alla

dignità.

_ Voi non vi preoccupate.

Basta che state a sentire. La

faccia mia la sapete? Mò non la

sapete più, - ripetè Rosario. E

lo guardò mentre quello

annuiva. (p.139)

_ Ma posso sapere che cosa

ho fatto? – domandò il dottore

rinunciando definitivamente

alla dignità.

Voi non vi preocupate. Basta

che state a sentire. La mia

faccia la sapete? Adesso non

la sapete più, - ripetè Rosario.

E lo guardò mentre quello

annuiva. 49

5.2.5.2 Pronomes demonstrativos

• Masculino

napolitano italiano

chisto questo

chillo quello

49 _ E agora preste atenção. Eu pertenço a pessoas que falam pouco. _ Mas o que você quer de mim? Eu não fiz... _ Não mexe a boca que é melhor - . E então fez uma pausa , a qual seguiu a o ordem: _ Você conhece a minha cara? Agora não conhece mais. _ Mas posso saber o que eu fiz? – perguntou o doutor renunciando definitivamente a dignidade.

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• Feminino

napolitano Italiano

chesta questa

chella quella

Abaixo podemos ver dois exemplos do uso dos pronomes

demonstrativos masculinos em Certi Bambini.

_ Ll'aggio purtato io a chill'omm'

e mmerda, no tu. M'aggio

acchiappata io 'a foca'n canna,

no tu. c' aggio fatto vede'io o

pesce ,

no tu. (p.84)

_ L’ho portato io quell’ uomo di

merda, non tu. Io che mi sono

preso quella stretta al collo,

non tu. Io che gli ho fatto

vedere il mio pene, non tu. 50

_ Scusa Toni’, - disse poi

voltandosi verso Gullit, - come si

chiama chillo chiatton ‘e

mmerda che si tocca sempre le

scarpe?

_ Scusa Toni' (Antonio), -

disse poi voltandosi verso

Gullit, - come si chiama quel

grassone di merda che si

tocca sempre le scarpe? 51

_ Não se preocupe. Basta que me escute. Você conhece a minha cara? Agora não conhece mais, - repetiu Rosario. E o olhou enquanto ele gritava. 50_ Eu é que trouxe aquele homem de merda, não você. Eu é que levei uma pancada no pescoço, não você. Eu que mostrei o pau para ele , não você. 51 _ Com licença Antonio, - disse então voltando-se para Gullit, - como se chama aquele gordão de merda que toca sempre os sapatos?

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_ Vide a chisto? (p.39) _ Vedi questo? 52

OBS: Não encontramos nenhum exemplo do uso dos pronomes

demonstrativos femininos na obra.

5.2.6 Advérbios

Apresentaremos a seguir os advérbios de lugar, de tempo, interrogativo

de lugar, de negação e de afirmação napolitanos.

5.2.6.1 Advérbio de lugar

napolitano italiano

ccà, ca qua, qui

llà là, lì

vecino, zzicco vicino

luntano lontano

coppa, ncoppa su, sopra

Em Certi Bambini temos exemplos com os advérbios de lugar ca (qua,

qui) , llà (lá) e ncoppa (su, sopra):

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_ Nuje spartimmo. Ca si fa

accussi. (p.84)

_ Noi dividiamo. Qua si fa

così. 53

_ Vuo’ vede’ come vengo là

ncoppa e ti mango l’uocchie?

(p.125)

_ Vuoi vedere come salgo

lassù e ti mangio gli occhi? 54

_ Che state facenno là

abbascio, né? (p.125)

_ Che state facendo laggiù,

eh? 55

OBS: Na obra o advérbio de lugar llà (là) se apresenta na forma escrita là,

como no italiano, o que consideramos uma variação desse advérbio.

5.2.6.2 Advérbio de tempo

napolitano italiano

mò ora, adesso

mo mo (mo

mmò)

in questo preciso

istante

doppo (adoppo,

aropo)

dopo

52 _ Viu isso? 53 _ Nós vamos dividir. Aqui funciona assim. 54 Quer ver como eu subo aí e arranco seus olhos? 55 O que você está fazendo aí embaixo?

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primma, primmo prima

po’, poje poi

ogge, oje oggi

dimane (rimane) domani

ajere (aiere) ieri

Em Certi Bambini encontramos muitos exemplos do uso do advérbio de

tempo mò (ora, adesso) , mas apresentaremos a seguir apenas dois.

_ Mò finisci tu. p. 72 _ Ora finisci tu. 56

_ Mi faccio come a un animale

quando devo ripetere. Mò mi

capisci, mò? – si spiegò in

avanti Dieci e Dieci reggendosi

sulle ginocchia con le mani. (p.

121)

_ Divento uguale ad un

animale quando devo ripetere.

Adesso mi capisci, adesso? –

si spiegò in avanti Dieci e

Dieci reggendosi sulle

ginocchia con le mani. 57

Não encontramos exemplos na obra do uso dos demais advérbios de

lugar citados acima, mas achamos pertinente apresentá-los.

56 _ Agora termina você. 57 _ Eu viro um bicho quando tenho de repetir. Agora você entendeu? Inclinou-se para frente Dieci e Dieci segurando-se nos joelhos com as mãos.

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5.2.6.3 Advérbio interrogativo de lugar

napolitano italiano

addò dove

Abaixo podemos ver o uso do advérbio interrogativo de lugar addò

(dove) em um dos diálogos apresentados no romance.

_ E mò, che fai, addò vai.

Perché te ne vai? Giulia,

Giuliaaaa. (p.16)

_ E adesso, che fai, dove vai?

Perché te ne vai? Giulia,

Giualiaaaa. 58

5.2.6.4 Advérbio de negação

napolitano italiano

num non

Na obra encontramos bastantes exemplos do uso do advérbio de

negação num (non), mas mostraremos abaixo apenas dois exemplos.

_ ‘A pioggia ca nun vene. (p.13) _ La pioggia che non viene. 59

58 _E agora, o que vai fazer? Onde vai? Por que você se vai? Giulia, Giuliaaa. 59 _ A chuva que não chega.

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_ Io a te nun t’aggio mai visto.

_ ‘O ssacio, - disse Rosario. p.

102

_ Io non ti ho mai visto.

_ Lo so, - disse Rosario. 60

Encontramos também uma variação do advérbio de negação num (non).

Em alguns diálogos são usadas as formas nonò e no. Abaixo temos um

exemplo de cada:

_ Che tieni, ti senti male? –

chiede l’uomo. (...)

Rosario si volta e quasi sorridi

nel rispondere.

_ Nonò, - dice , mentre col

mignolo fa per sollevare il

labbro, - calcio d’angolo. (p.38)

_ Che hai, ti senti male? –

chiede l’uomo. (...)

Rosario si gira e quasi sorridi

nel rispondere.

_ No, no - dice, mentre col

mignolo fa per sollevare il

labbro, - calcio d’angolo

_ No, aggio capito, - disse

finalmente Rosario. (p.120)

_ No, ho capito. – disse

finalmente Rosario. 61

60 _ Nunca te vi. _ Eu sei, - disse Rosário. 61 Não, entendi. – disse finalmente Rosario.

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102

5.2.6.5 Advérbio de afirmação

napolitano Italiano

sì sì

Abaixo temos um exemplo do uso do advérbio de afirmação sì (sì)

presente em Certi Bambini.

_ Lucia? Ramra?

_ Sì, sì, tutti , tutti vengono.

(p.106)

_ Lucia? Ramra?

_ Sì, sì, tutti , tutti vengono. 62

OBS: Observamos que nos diálogos para afirmar algo, raramente é usado o

advérbio de afirmação sì (sì). As afirmações geralmente são feitas de

interjeições como eh.

Caterina le prese subito. Le

guardò e lo guardò.

_ Me le dai?

_Eh.

_ E tu che ti fumi?

_ ‘E ttengo. (p.76)

_ Caterina le prese subito. Le

guardò e lo guardò.

_ Me le dai?

_Eh.

_ E tu che fumi?

_ Ce l’ho. 63

62 _ Sim, sim todos, todos vêm. 63 _ Caterina os pegou imediatamente. Os olhou e olhou.

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103

5.2.7 Verbos

Como na língua italiana, no napolitano existem três conjugações. A

primeira com desinência em –are (cantà / cantare, mangià / mangiare); a

segunda com desinência –ere (côse / cosere) e a terceira em –ire (durmì /

durmire).

Os verbos Essere e avere quando auxiliares são substituídos

respectivamente por stare e tenere. Por exemplo, em italiano sono a bologna

em napolitano diz-se sto a Bologna e ho sete em italiano, em napolitano torna-

se tengo sete.

Na língua napolitana existem formas verbais pouco usadas, como o

futuro, substituído pelo presente e o congiuntivo, já raro também na língua

italiana falada.

5.2.7.1 Verbos auxiliares

Em napolitano, existem dois verbos auxiliares: essere (essere) e avè

(avere).

Apresentaremos, a seguir, a conjugação desses dois verbos por

considerarmos de grande divergência com a forma do italiano.

_ Me dá? _ Sim. _ O você vai fumar o que? _ Eu tenho.

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• Verbo essere (essere)

ESSERE

Modo Indicativo

Presente Imperfetto Passato Remoto Futuro

Io sôngo / so' Io èro / èvo Io Fuji Io sarràggio

Tu si' Tu iri / ivi Tu fusti Tu sarràje

Isso è Isso èra /èva Isso fôve Isso sarrà

Nuie simmo Nuie èramo Nuie fùjemo Nuie sarrimmo

Vuie site Vuie ìravi Vuie fustevi Vuie sarrate

Loro sôngo / so' Loro èrano Loro fujeno Loro sarrànno

Congiuntivo Condizionale Imperativo

Presente Passato Presente .

Che io sai S'io fôssi Io sarrìa .

Che tu sai Si tu fussi Tu sarrìssi Sii

Che isso sia S'isso fôsse Isso sarrìa .

Che nuie simmo Si nuie fôssemo Nuie sarrìamo .

Che vuie site Si vuie fussevi Vuie sarrìssevi Site

Che loro siano Si loro fôsseno Loro sarrìano .

Participio Gerundio

Presente Passato Presente Passato

Non esiste Stato Sènno Sènno stato

http://www.torreomnia.com/testi/argenziano/dizionario/grammatica5.htm

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105

Em Certi Bambini, temos alguns exemplos do uso do verbo essere na

primeira pessoa do singular do presente do indicativo.

Cateri’, so’ io. Quanto tempo

non ti vedo. (p.41)

_ Caterina, sono io.

Quanto tempo non ti vedo.

64

_ Chi te li ha dati?

_ Nisciuno. So’ i miei. (p.95)

_ Chi te li ha datti?

_ Nessuno. Sono miei. 65

• Verbo avè (avere)

AVÈ

Modo Indicativo

Presente Imperfetto Passato Remoto Futuro

Io aggio Io avévo Io aviétti Io avarràggio

Tu aje Tu avivi Tu avisti Tu avarràji

Isso have Isso avéva Isso avètte Isso avarrà

Nuie avimmo Nuie avévamo Nuie aviéttemo Nuie avarrìmmo

Vuie avite Vuie avìvavi Vuie avistevi Vuie avarrite

Loro hanno Loro avévano Loro avètteno Loro avarranno

Congiuntivo Condizionale Imperativo

64 Caterina, sou eu. Faz tempo não lhe vejo. 65 _ Quem lhe deu? _ Ninguém, são meus.

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106

Presente Passato Presente .

Che io aggia S'io avéssi Io avarrìa .

Che tu aje Si tu avìssi Tu avarrìssi Aggi

Che isso have S'isso avésse Isso avarrìa .

Che nuie avimmo Si nuie avéssemo Nuie avarrìamo .

Che vuie avite Si vuie avìssevi Vuie avarrìssevi Avìte

Che loro hanno Si loro avésseno Loro avarrìano .

Participio Gerundio

Presente Passato Presente Passato

Non esiste Avuto Avènno Avènno avuto

http://www.torreomnia.com/testi/argenziano/dizionario/grammatica5.htm

O correspondente napolitano do verbo avere (avé) é sempre usado

como verbo auxiliar também onde em italiano se utilizaria essere, como por

exemplo com os verbos reflexivos ou com os verbos de movimento. (aggio

juto, aggio venuto. Podemos observar alguns exemplos na obra.

Che ti viene, Brasi’? – gli

domandò a tono

_ Ca mò m’aggio scassat’ ‘o

cazzo, - disse toccandosi più

forte il collo.

Rosário si guardò i soldi nelle

mani. Poi si girò verso Aniello,

Che ti è sucesso Brasile? – Gli

domandò a tono.

_ Mi sono proprio rotto le

palle - disse toccandosi più

forte il collo.

Rosário si guardò i soldi nelle

mani. Poi si girò verso Aniello,

che si fece a fatti suoi.

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107

Che si fece a fatti suoi.

_ Nuje spartimmo . Cà si fa

accussì – Disse fermo Rosário

pretendendo il

rispetto delle regole.

_ L'aggio purtato io a

chill'omm' e mmerda, no tu.

M'aggio acchiappata io 'a

foca'n canna, no tu. c' aggio

fatto vede'io o pesce , no tu.

(p.84)

_ Noi dividiamo. Qua si fa

così. Disse fermo Rosário

pretendendo il rispetto delle

regole

_ L’ho portato io quell’ uomo

schifoso, non tu. Io che mi

sono preso quella stretta al

collo, non tu. Io che gli ho fatto

vedere mio pene, non tu. 66

66 _ O que você tem Brasile? O perguntou em tom alto. _ Agora eu estou puto de verdade – disse tocando mais forte o pescoço. Rosario olhou para o dinheiro nas mãos, depois virou-se em direção a Aniello que não fez nada. - Nós vamos dividir, aqui funciona assim.- disse parado Rosario pretendendo que as regras

fossem respeitadas. - Eu é que levei aquele homem nojento, não você. Eu é que levei uma pancada no

pescoço, não você. Eu que mostrei o pau para ele , não você.

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108

5.2.7.2 Verbos regulares

• 1º conjugação –are. Verbo parlà (parlare).

PARLÀ

Modo Indicativo

Presente Imperfetto Passato Remoto Futuro

Io pàrlo Io parlàvo Io parläji Io parlarräggio

Tu pärli Tu parlävi Tu parlästi Tu parlarräji

Isso pàrla Isso parlàva Isso parlàje Isso parlarrä

Nuie parlàmmo Nuie parlàvamo Nuie parlàjemo Nuie parlarrämmo

Vuie parläte Vuie parlävavi Vuie parlästevi Vuie parlarräte

Loro pàrlano Loro parlàvano Loro parlàjeno Loro parlarränno

Congiuntivo Condizionale Imperativo

Presente Passato Presente .

Che io pàrli S'io parlàssi Io parlärrìa .

Che tu pärli Si tu parlässi Tu parlärrìsse Pärla

Che isso pàrli S'isso parlàsse Isso parlärrìa .

Che nuie parlàmmo Si nuie parlàssemo Nuie parlarrìamo .

Che vuie parläte Si vuie parlässevi Vuie parlarrìssevi Parläte

Che loro pàrlano Si loro parlàsseno Loro parlarrìano .

Participio Gerundio

Presente Passato Presente Passato

Parlànte Parlato Parlànno Avènno parlato

http://www.torreomnia.com/testi/argenziano/dizionario/grammatica5.htm

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Todos os verbos regulares de 1º conjugação em napolitano se conjugam

como o verbo parlà (parlare). Retiramos de Certi Bambini dois exemplos: o

primeiro com o verbo spiegare na segunda pessoa do singular do modo

imperativo e o segundo o verbo funzionare na terceira pessoa do singular do

presente do indicativo.

_ Spiega nu poco, come

funziona mò? (p.84)

_ Spiega un poco, come

funziona adesso?

• 2º conjugação –ere. Verbo cosere

COSERE

Modo Indicativo

Presente Imperfetto Passato Remoto Futuro

Io côso Io cusévo Io cusiétti Io cusarräggio

Tu cusi Tu cusìvi Tu cusisti Tu cusarräji

Isso côse Isso cuséva Isso cusètte Isso cusarrä

Nuie cusimmo Nuie cusévamo Nuie cusèttemo Nuie cusarrìmmo

Vuie cusite Vuie cusìvavi Vuie cusistevi Vuie cusarrìte

Loro côseno Loro cusévano Loro cusètteno Loro cusarränno

Congiuntivo Condizionale Imperativo

Presente Passato Presente .

Che io côsa S'io cuséssi Io cusarrìa .

Che tu côsa Si tu cusii Tu cusarrìsse Cusi

Che isso cosa S'isso cusésse Isso cusarrìa .

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Che nuie cusìmmo Si nuie cuséssemo Nuie cusarrìamo .

Che vuie cusìte Si vuie cusissevi Vuie cusarrìssevi Cusìte

Che loro côseno Si loro cusésseno Loro parlarrìano .

Participio Gerundio

Presente Passato Presente Passato

Cusènte Cusùto Cusènno Avènno cusuto

http://www.torreomnia.com/testi/argenziano/dizionario/grammatica5.htm

Como o verbo cosere se conjugam todos os verbos regulares de segunda

conjugação em napolitano. Abaixo temos um exemplo com o verbo vulè

(volere), na segunda pessoa do plural no presente do indicativo.

_ Niente, tengo ‘na notizia, si ‘a

vulite sentì. (p.101)

_ Niente, ho una notizia se

volete sentirla. 67

• 3º conjugação –ire. Verbo durmire (dormire)

DURMIRE

Modo Indicativo

Presente Imperfetto Passato Remoto Futuro

Io dòrmo Io durmévo Io durmiétti Io dormarräggio

Tu duôrmi Tu durmìvi Tu durmisti Tu durmarräji

Isso dòrme Isso durméva Isso durmètte Isso durmarrä

67 _ Nada, tenho uma noticia, se quiser ouvi-la.

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Nuie durmimmo Nuie durmévamo Nuie durmèttemo Nuie durmarrìmm(o)

Vuie durmìte Vuie durmìvavi Vuie durmistevi Vuie durmarrìte

Loro dôrmeno Loro durmévano Loro durmètteno Loro durmarränno

Congiuntivo Condizionale Imperativo

Presente Passato Presente .

Che io dorma S'io durméssi Io durmarrìa .

Che tu duorma Si tu durmissii Tu durmarrìsse Duormi

Che isso dorma S'isso durmésse Isso durmarrìa .

Che nuie durmìmmo

Si nuie durmésseo Nuie durmarrìamo .

Che vuie durmìte Si vuie durmissevi Vuie durmarrìssevi Durmite

Che loro dormeno Si loro durmésseno Loro durmarrìano .

Participio Gerundio

Presente Passato Presente Passato

Durmènt(e) Durmùt(o) Durmènn(o) Avènn(o) durmùt(o)

http://www.torreomnia.com/testi/argenziano/dizionario/grammatica5.htm

Todos os verbos de 3º conjugação em napolitano, são conjugados como

o verbo durmire (dormire). Podemos observar no exemplo abaixo, o verbo

spartire sendo usado na primeira pessoa do plural no presente do indicativo.

_ Nuje spartimmo. Cà si fa

accussì – disse Rosario

_ Noi dividiamo. Qua si fa così

– disse Rosario pretendendo il

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pretendendo il rispetto delle

regole. (p.84)

rispetto delle regole. 68

5.2.7.2 Verbos irregulares

Existem também os verbos irregulares que não seguem a conjugação a

que pertencem. Alguns deles também estão presentes na obra.

• Verbo Stà (stare)

Napolitano Italiano

Io stongo Io sto

Tu staie Tu stai

Isso, essa stà Lui, lei stà

Nuje stammo Noi stiamo

Vuje state Voi state

Isse stanno Lora stanno

Em Certi Bambini temos alguns usos do verbo stà (stare) na segunda pessoa

do singular no presente do indicativo.

68 _ Nós vamos dividir, aqui funciona assim, - disse Rosário querendo que as regras fossem respeitadas.

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_ Ancora staie llà? (p.33) _ Sei ancora là? 69

_ Ma staie bbuono, sí? (p.

19)

_ Ma stai bene, sì?

• Verbo tené (tenere)

Napolitano. italiano.

Io tengo Io tengo

Tu tieni Tu tieni

Isso, essa tene Lui, lei tiene

Nuje tenimmo Noi teniamo

Vuje tenite Voi tenete

Loro teneno Loro tengono

Em Certi Bambini podemos observar alguns usos do verbo tenè (tenere).

Entretanto, este verbo em napolitano é usado no lugar do verbo avere.

_ Tenevi sete, eh? (p. 71) _ Avevi sete, eh? 70

_ Quanti anni tieni? (p. 73) _ Quanti anni hai? 71

69 _ Ainda está lá? 70 _ Estava com sede, né?

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• Verbo vulé (volere).

Napolitano Italiano

Io vuoglio Io voglio

Tu vuo’ Tu vuoi

Isso , essa vô Lui, lei vuole

Nuje vulimmo Noi vogliamo

Vuje vulite Voi volete

Isse vonno Loro vogliano

Em Certi Bambini , temos alguns exemplos do verbo vulé (volere) na segunda

pessoa do singular, na segunda pessoa do plural ambos no presente do

indicativo e um exemplo no preterito imperfeito do modo indicativo.

Dopo un po’ Venturino si

accorge di lui.

_ Vuo’? (p. 19)

_ Dopo un po’ Venturino si

accorge di lui.

_ Vuoi? 72

_ Niente, tengo ‘na notizia, si

‘a vulite sentì. (p.101)

_ Niente, ho una notizia se

vuoi sentirla. 73

71 _ Quantos anos você tem? 72 Um pouco depois Venturino o percebeu. _ Quer? 73 _ Nada, tenho uma noticia, se quiser ouvi-la.

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_ Assiettate, che ti si’ aizata

a ffa’?

_ Eh, vulevo capí...

_ Eh, vulevo capí. ‘O

Maresciallo Rocca. (p. 26) 74

– –Siediti, perché ti sei

alzata?

_ Volevo capire. Eh, volevo

capire. Il Maresciallo

Rocca. 75 76

• Verbo venì (venire).

Napolitano Italiano

Io vengo Io vengo

Tu vieni Tu vieni

Isso, essa vene Lui, lei viene

Nuje venimmo Noi veniamo

Vuje venite Voi venite

Isse veneno Loro vengono

Em Certi Bambini temos um exemplo do verbo venì (venire) sendo

usado na terceira pessoa do singular do presente do indicativo.

74 _ Senta, por que se levantou?

_ Queria entender... _ Ah, queria entender. O maresciallo Rocca. (figura da TV italiana)

75 _ Senta, por que se levantou? _ Queria entender... _ Ah, queria entender. O maresciallo Rocca.

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_ ‘A pioggia ca num vene, -

le da i soldi Rosario. (p.13)

_ La pioggia che non

viene, - le da i soldi

Rosario. 77

• Verbo sapè (sapere).

Napolitano Italiano

Io saccio Io so

Tu saje Tu sai

Isso, essa sape Lui, lei as

Nuje sapimmo Noi sapiamo

Vuje sapite Voi sapete

Isse sapeno Loro sanno

Em Certi Bambini, temos o verbo sapè (sapere) sendo usado pelas

personagens na primeira e na segunda pessoa do singular no presente do

indicativo.

_ Ma o’ ssaje qual è ‘o

problema , Rosa’? (p. 143)

_ Ma sai qual è il problema

Rosario? 78

76 _ Maresciallo Rocca é uma figura da TV italiana. 77_ A chuva que não chega - lhe dá o dinheiro Rosario. 78 _ Mas sabe qual é o problema Rosário?

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_ Pur’io saccio a guida’ – prese

il coraggio a un certo punto.

(p.48)

_ Anch’io so guidare – prese il

coraggio a un certo punto. 79

_ Eeh! Che è?

_ Ma che staie facenno? – E

ritorna perplessa

_ Niente, ch’aggia fa’.

_ Ma perchè alluca?

_ Che ne saccio. (26) 80

_ Eeh! Che è?

_ Ma che stai facendo? – E

ritorna perplessa.

_ Niente, che cosa devo fare.

_ Ma perché gridi?

_ Che ne so.

5.2.7.3 Formas nominais do verbo

Como no italiano, no napolitano existem três formas nominais do verbo:

infinitivo, gerundio e participio.

79 _ Eu também sei dirigir, - tomou coragem a um certo ponto. 80 _ Eeh! O que foi? _ Mas o que você fazendo?- e retoma coragem. _ Nada, e o que deveria fazer? _ Mas por que ela esta gritando? _ Eu é que sei.

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118

• Infinitivo

Os verbos napolitanos que surgiram da primeira conjugação do latim

vulgar –are ( piglià / pigliare) , da segunda –ere (sapé / sapere) e da quarta

conjugação -ire (vení / venire), perdem a sílaba final -re por apócope no

infinitivo, exceto quando são usadas como reflexivos diretos e indiretos

(appicciarse, tenerse, vestirse) e nos verbos proparoxítonos de terceira pessoa

(córrere, pérdere). Esta perda já acontecia no latim vulgar por causa da forte

intensidade do acento tônico ou devido à influencia dialetal dos Catalani

aragonesi , em Nápoles de 1442 a 1503.

Retiramos do romance Certi Bambini um exemplo de cada conjugação

dos verbos no infinitivo.

Primeira conjugação –are

_ Pur’io saccio a guida’ – prese

il coraggio a un certo punto.

(p.48)

_ Anch’io so guidare – prese il

coraggio a un certo punto. 81

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119

2º conjugação –ere

_ Ll'aggio purtato io a chill'omm'

e mmerda, no tu. M'aggio

acchiappata io 'a foca'n canna,

no tu. c' aggio fatto vede' io o

pesce ,

no tu. (p.84)

_ L’ho portato io quell’ uomo di

merda, non tu. Io che mi sono

preso quella sretta al collo,

non tu. Io che gli ho fatto

vedere mio pene, non tu. 82

3º conjugação –ire

_ Niente, tengo ‘na notizia, si ‘a

vulite sentì. (p.101)

_ Niente, ho una notizia se

volete sentirla. 83

• Gerúndio

Em napolitano o gerúndio tem a terminação –nno e não –ndo como

em italiano. Exemplos: facenno (facendo), sènno (essèndo) , avènno

(avèndo) , parlànno (parlando) e durmènno (dormènndo).

81 _ Eu também sei dirigir, - tomou coragem a um certo ponto. 82_ Eu é que levei aquele homem de merda, não você. Eu é que levei uma pancada no pescoço, não você. Eu que mostrei o pau para ele , não você. 83 _ Nada, tenho uma noticia, se quiser ouvi-la.

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120

Abaixo temos dois exemplos dos verbos sendo usados no gerúndio

na voz das personagens de De Silva.

_ Tu che ne pensi? – gli chiesi

Dieci e Dieci.

_ Mmfffchi, io?

_ E cu chi stongo parlanno?

(p.88)

_ Che ne pensi? – gli chiesi

Dieci e Dieci.

_ Mmfffchi, io?

_ E con chi sto parlando? 84

_ A chi vaie cercanno?

_ A uno ‘e vuje , chi vulite.

_ Saglie. (p.100)

_ Chi vai cercando?

_ Uno di voi, che volete.

_ Sali. 85

• Participio

Os verbos no participio em napolitano apresentam as mesmas

terminações do italiano: na 1º conjugação a terminação –ato, os de 2º

conjugação em –uto e de 3º conjugação em –ito. Podemos observar abaixo

exemplos de alguns verbos no participio passado presentes na obra.

84 _ O que você acha? – lhe perguntou Dieci e Dieci. _ Eu? _ Com quem estou falando? 85 _ O que está procurando? _ Um de vocês, o que querem. _ Suba.

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_ L'aggio purtato io a

chill'omm' e mmerda, no tu.

_ L’ho portato io quell’ uomo di

merda, non tu. 86

_ No, aggio capito, - disse

finalmente Rosario. (p.120)

_ No, ho capito. – disse

finalmente Rosario. 87

5.3 Conclusões preliminares:

A voz do vucumprà

Diego De Silva, afirmou na entrevista que me concedeu, que em Certi

Bambini procurou não dominar as personagens, mas sim respeitar as suas

vozes e contar a estória com a língua usada por essas pessoas, dando uma

tradução quase literal do dialeto. E não é apenas a língua daqueles meninos

que De Silva procura respeitar. Neste trabalho focalizamos a língua deste

grupo específico de personagens: os meninos camorristi, mas no romance

podemos observar que o autor realmente procura respeitar a voz de todas as

suas personagens, inclusive dos imigrantes que vivem na Itália.

Um exemplo, logo no inicio do romance, é quando ele tenta traduzir

também a língua de um vucumprà, (ou vu’ cumprà), que é um neologismo

86 Eu é que levei aquele homem de merda, não você. 87 Não, entendi. – disse finalmente Rosario.

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122

difundido na Itália na década de noventa para indicar, no sentido geralmente

depreciativo, os vendedores ambulantes de origem africana. A palavra imita a

pronuncia distorcida desses imigrantes com pouco conhecimento da língua

italiana na frase vuoi comprare?, ou seja, quer comprar? O trecho a seguir é

uma passagem onde Rosario se depara com um vucumprà e trocam algumas

palavras:

Sotto il palazzo c’è un banchetto di cd (una casseta di legno scoperchiata su tre piani di cartoni). Per terra , allineate su un lenzuolo di plastica giallina, due file di videocassette con le copertine fotocopiate, vendute così così. Proprio davanti, appena più in là verso la strada, quanto basta a occupare quel tanto di marciapiede in più che tiene i passanti alla distanza necessaria. (…) Rosario butta l’occhio ai dischi senza interesse. Il vucumprà appare dal nulla, con un sorriso da qui a qui.

_ ‘Migo? Vuoi ciddí? Vedi? Madounna, oggi próprio arrivata – E senza dargli il tempo di guardare ne afferra tre o quattro insieme e glieli apre a ventaglio sotto gli occhi, come un mazzo di carte. Rosario guarda i polpastrelli rosa e non risponde.

_ C’è Patti Pravou, Festivàl Sanremou, Ramassotti...

A Ramazzotti capisce che Rosario non compra. Smette di guardarlo e comincia a riordinare i dischi nella casseta (uno per volta e lentamente). Indica con la testa i film per terra. Dice un titolo soltanto.

Rosario, per niente in colpa, attraversa. (p.15)88

88 Sob o prédio tem um banquinho de cd (uma gaveta velha de madeira descoberta sobre três andares de desenhos animados. No chão, alinhados sobre um lençol de plástico amarelinho , duas fileiras de fitas cassete com as capas fotocopiadas, vendidas mais ou menos. Exatamente na frente, apenas mais em direção à rua, o suficiente para ocupar aquele tanto de calçada a mais que tem a distancia necessária para os pedestres. (...) Rosário coloca os olhos nos discos sem interesse. O vucumpra aparece do nada, com um sorriso daqui ali. _ Amigo? Quer cd? Veja? Madona, chegou hoje mesmo – e sem dar-lhe tempo de olhar a oferta três ou quatro juntas lhe abre o leque sob os olhos, como um maço de cartas . Rosário olha as pontas dos dedos rosa e não responde. _ Tem Patty Pravo, Festival Sanremo, Ramazzotti... Ramazzotti entende que Rosário não compra. Para de olhá-lo e começa a reordenar os discos na gaveta (um por um lentamente). Indica com a cabeça os filmes no chão. Diz um título apenas.

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123

Como observamos no trecho acima, o autor tenta reproduzir fielmente a

“língua” do vucumprà, ou seja, a sua pronúncia distorcida da língua italiana

devido ao pouco conhecimento da mesma e, provavelmente, pela influência da

sua língua materna. Essa influência é bem marcada nas palavras “Madounna

(Madonna), Patti Pravou (Patty Pravo), Festival Sanremou (Festival di

Sanremo) e Ramassotti (Ramazzotti)”, Migo ( amico ). Tratar essa questão da

“língua” dos imigrantes na Itália exigiria um estudo mais profundo, porém a

nossa intenção aqui é apenas mostrar a tentativa de uma “tradução” literal de

Diego De Silva da língua de suas personagens. Porém não poderíamos deixar

de assinalar a introdução dessa outra voz não napolitana no romance

ambientado numa periferia napolitana onde certamente existirão esses

vendedores ambulantes colorindo a paisagem com suas vestimentas e uma

“língua” toda particular.

Do napolitano ao italiano standard:

Em uma outra passagem, De Silva mostra que a língua serve

também como aproximação, intimidade ou distanciamento. Isso é mostrado na

obra durante uma briga, presenciada por Rosario, de um casal de namorados

napolitanos. No momento em que deixa o namorado, Giulia já não fala mais

com ele em napolitano, pelo contrário, usa um italiano forçado, recitado,

apropriado para afrontar o adversário.

Rosário, sem culpa, atravessa.

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124

Poco piu avanti c'è una coppietta appoggiata a una macchina. Sono vicinissimi ma non si toccano. Lei gli rinfaccia un elenco, si acompagna con le dita. è piena di rancore. Lui la fa parlare e le guarda le scarpe. Rosario va in quella direzione. Rallenta il passo per vedere.

A un tratto lei smette di parlare, gli volta le spalle e lo lascia. Lui rimane dov'era con la bocca mezza aperta e la guarda incredulo mentre si allontana come stesse assistendo a una scena impossibile. La chiama; ma mentre lui non è piu capace di muoversi, lei cammina. Lui alza la voce , ma è una richiesta. Non ha nessuna autorità.

_ E mò che fai, addò vai. Perché te ne vai? Giulia. Giuliaa.

Giulia si ferma e si gira convinta, solamente per rispondere. (Parla in italiano costretto, recitato, adattissimo ad affrontare nell'avversario.

_ Perchée mi sono scocciata che devo essere sempre io ogni volta. Ma chi sei, - muove i capelli con soddisfazione. (p. 16) 89

Como pudemos observar no exemplo acima, – o napolitano - , a língua

familiar, expressão de uma certa intimidade entre as personagens, se

transforma numa língua impessoal, a língua da maior parte da população

italiana.

O napolitano na narrativa

Observamos que da mesma forma que ocorre nos diálogos, temos

algumas passagens em que é usado o italiano standard. Como vimos no

89 Um pouco mais a frente tem um casalzinho apoiado em um carro. Estão muito próximos mas não se tocam. Ela faz uma lista de acusações, acompanha com os dedos. Esta cheia de rancor. Ele deixa ela falar e olha os sapatos. Rosário segue naquela direção. Diminui os passos para ver. De repente ela para de falar lhe da as costas e o deixa. Ele permanece onde estava com a boca meio aberta e a olha incrédulo enquanto ela se afasta como se estivesse assistindo a uma cena impossível. A chama; mas enquanto ele não é mais capaz de mover-se , a ela caminho. Ele aumenta a voz, mas é um pedido. Não tem nenhuma autoridade. _ E agora o que esta fazendo, onde vai. Per que você se vai? Giulia, Giuliaaa. Giulia para e olha para trás convencida, somente para responder. Fala em italiano forçado, recitado e apropriadíssimo para afrontar o adversário.

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exemplo acima, na narrativa muitas vezes encontramos traços do dialeto

napolitano, palavrões e palavras de baixo calão, que geralmente refletem o

pensamento das personagens. A seguir podemos ver alguns exemplos:

1- Rosario tira col naso tutta l'aria che può. Quasi viene meno dalla

soddisfazione. immediatamente pensa: mò vado a casa sua, busso, quella apre

e me la fotto. Nessuna cosa nel mondo gli è mai sembrata più possibile. Poi si

schiaccia l'erezione con la mano. p. 6 90

2- Rosario la incrocia. È vero che quando s'incazzano sono più belle, pensa.

p.1691

3- Rosario vorrebbe andarsi a sedere con Matteo e Brasile che adesso si

stanno dicendo qualcosa (commentano una partita forse), che dove sta già si è

rotto le palle. p22 92

4- Rosario non spara. << Che cazzo è?>> pensa sbalordito. L'uomo non smette

di fissarlo, lo guarda con una spaventosa dignità. Rosario reagisce con rabbia.

Vafangulovafangulo, ringhia. Spara ancora due volte. p.35 93

5- Supera un palazzo, poi un altro, poi gira, poi attraversa, una volta e un’ altra

volta ancora. è finita, ormai è già abbastanza lontano , non ci passerà mai più

_ Porque estou aborrecida porque tem que ser sempre eu toda vez, quem é você, - move os cabelos com satisfação. 90 Rosário respira fundo. Quase desmaia de tanta satifação. imediatamente pensa: agora vou à sua casa, bato, ela abre a porta e eu como ela. Nada no mundo lhe pareceu mais possível. Depois abaixa a ereção com a mão. 91 Rosário a encontra. É verdade que quando ficam putas, ficam mais bonitas, pensa. 92 Rosário gostaria de ir se sentar com Matteo e Brasile que agora estão falando alguma coisa (comentam uma partida talvez) , que onde esta já encheu o saco. 93 Rosário não dispara << o que que foi?>> pensa maravilhado. O homem não para de fixá-lo, o olha com uma assustadora dignidade. Rosário reage com raiva. Vai tomá no cú, vai tomá no cú, rosna. Dispara mais duas vezes.

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per quel posto di merda. p.38 94

6-Il ricchione col borsello si era scelto un buon sistema per controllare l'entrata.

p. 81 95

7- Uno era nuovo, non l'avevano mai visto. Uguale e Gullit. L'altro era una

vecchia consoscenza , lo chiamavano Dieci e Dieci perché era strabico. Però

un figlio di puttana che ti dovevi stare attento. Di quelli che fanno gli spiritosi.

p.87 96

8- Per la prima volta sentiva crescere dentro di sè una rabbia totale, che non

era solo per i falchi ma per tutti i chiunque, chi c'entrava e chi non c'entrava, un

credito che nemmeno lui sapeva come si poteva pagare , una voglia di morti.

La strada, le macchine, i muri, la vecchia del piano di sopra che alza il volume

della messa, Scannapieco, la signore Assuntina, il Burger King, le sigarette di

contrabbando, il Las Vegas, Casaluce, le donne con la busta della spesa, la

gente di merda che si nasconde dietro le finestre. p.90 97

9- Guarda Ramra, sempre per i cazzi suoi, che si dimentica l'italiano quando le

chiedi una cosa che non vuol fare. p.92 98

10- Rosario, assieme il dolore che gli rivoltava le viscere , si sentiva gonfiare i

94 Passa por um prédio, depois por outro, depois gira, atravessa, uma vez e uma outra vez ainda. Acabou agora já esta bem longe, não passara mais por aquele lugar de merda. 95 O viado com a sacola tinha escolhido um bom sistema para controlar a entrada. 96 Um era novo, nunca o haviam visto. Uguale e Gullit. O outro já era velho conhecido, o chamavam Dieci e Dieci porque era estrábico, porem um filho da puta que você deveria ficar atento. Daqueles que se fazem de espirituosos. 97 Pela primeira vez sentia crescer dentro de si uma raiva total que não era apenas pelos gaviões, mas por todos os ninguéns, quem entrava e quem não entrava, um crédito que nem ele mesmo sabia como poderia pagar , uma vontade de morrer. A estrada, os carros, os muros, a velha do andar de cima que aumenta sempre o volume da missa, Scannapieco, a senhora Assuntina, o Burger King, os cigarros do contrabando, o Lãs Vegas, Casaluce, as mulheres coma sacola das compras, aquela gente de merda que se esconde atrás das janelas.

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pantaloni. Puttana, zoccola. Avrebbe voluto andarsene , o bestemmiare Cristo ,

o tirare pietre, ma voleva guardare . Puttana, zoccola. Puttana, zoccola. E si

stringeva il cazzo che tirava. p.97 99

11- Rosario pensò a quanto gli fosse sembrata impassibile la sua faccia mentre

si fotteva Caterina nel furgone. p. 105 100

12- Diceva ad alta voce << No, non ci vado>>. si sollevava la maglietta, si

stringeva una mammela due, tre volte, ogni volta di più, quasi fino al dolore, poi

si girava sul fianco tirando le ginocchia al petto, sapendo benissimo che non

avrebbe mai avuto il coraggio di rinunciare all'occasione di rivedere Caterina,

quella puttana. p. 107. 101

13- Avrebbe voluto afferrarla per un braccio, farle venire il livido, trascinarla

fuori da quella processione di cristi segnati , portarsela in un vicolo e fotterla

contro una parete per pareggiare i conti. p 112 102

14- Gullit, intanto, senza neanche voltarsi dall'altra parte , stava pisciando per

terra. 122 103

15- Un figlio di puttana sciupafemmine, alto , snello, abbronzato, le braccia

lunghe e venose, vestito sportivo ma tutto di marca , i capelli biondicci scalati

98 Olha Ramra, que faz somente o que lhe interessa, que se esquece do italiano quando lhe pedem algo que não quer fazer. 99 Rosário, junto à dor que lhe revoltava as vísceras, se sentia inflar as calças. Piranha, cadela. Piranha, cadela. E apertava seu pau que se lamentava. 100 Rosário pensou no quanto que parecia impassível a sua cara enquanto comia Caterina no furgão. 101 Dizia em voz alta << não, não vou>> Levantava a sua camisa, apertava um seio, duas, três vezes , cada vez mais, quase ate doer, depois virava-se para o seu lado puxando os joelhes para o seu peito, sabendo muito bem que nunca teria tido coragem de renunciar a ocasião de rever Caterina, aquela puta. 102 Quisera agarrá-la pelo braço, até machucar, arrastá-la para fora daquela procissão de Cristos Marcados levá-la a um beco e comê-la contra parede para acertar as contas. 103 Gullit, enquanto isso , sem sequer olhar para o outro lado, estava mijando no chão.

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sulle orecchie e più lunghi davanti. p.144 104

A forte presença de palavrões

“Palavrão” é uma forma depreciativa do termo “palavra”. O Palavrão

serve para falar, de maneira ofensiva dos instintos humanos básicos: o sexo, o

metabolismo, a agressividade, a religião. Os palavrões tornaram-se uma

linguagem especializada para exprimir emoções primarias do homem como a

raiva, a surpresa, o desgosto, o medo, a diversão, etc. e são sempre objetos de

tabus linguísticos. Embora o uso de palavrões tenha sido disseminado em

todas as línguas, o italiano é talvez uma das línguas em que eles são mais

recheados e esses, muitas vezes, tem uma derivação regional . Na linguagem

adolescente, eles desempenham um papel importante e quase todos os

discursos compreendem um ou mais palavrões. Os mais comuns são cazzo e

vaffanculo.

No romance Certi Bambini existe uma forte presença de palavrões e

gírias. Como já foi visto anteriormente, podemos observar nos diálogos

apresentados, a presença de muitos palavrões e palavras de baixo calão na

voz das personagens, principalmente de Rosario e seus amigos, que

pertencem ao mesmo grupo: sexo masculino, mesma faixa etária (em media 11

anos de idade), moram na mesma região (neste caso a periferia de Nápoles),

alguns estudaram apenas até a terceira série do ensino fundamental ( terza

elemmentare ), já fazem parte de organizações criminosas ( a camorra),

104 Um filho da puta, mulherengo, alto, magro, os braços longos e venosos, com estilo esportivo, mas tudo

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vivem de pequenos furtos e frequentam lugares como bares, casas de

jogos,etc.

Nos diálogos apresentados e em algumas partes na narrativa foram

repetidas diversas vezes palavrões e palavras de baixo calão como: incazzano

(p. 16), rotto le palle (p. 22), vafangulovafangulo (p. 35), posto di merda (p.38),

ricchione (p.81e 17), figlio di puttana (p.81 e p.144), gente di merda (p.90), i

cazzi suoi (p.92), puttana (p.7 e, p.107), zoccola (p.97), fotteva (p.105), fotterla

(p.112), pisciando per terra (p.122), cazzo (p.84), strunzo ‘e merda (p.121),

chill’omm’ e merda (p.84), chiatton ‘e merda, gente ‘e mmerda (p.87) scasst’ ‘o

cazzo (p.84), ecc.

A voz do narrador

Uma última observação bastante relevante, também é em relação à

narrativa. Observamos que o romance é narrado em terceira pessoa. Quanto

ao tempo verbal, algumas passagens são narradas no presente do indicativo e

outras no passado remoto, enquanto nos diálogos o que prevalece é o passado

próximo. A seguir apresentaremos dois exemplos da narrativa no presente,

dois no passado remoto e dois exemplos do passado próximo presente em um

diálogo, respectivamente.

de marca, os cabelos alourados escalados nas orelhas e mais longos na frente.

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• La testa tocca terra per prima. Le braccia arrivano subito dopo, è

un momento ma è un tempo che passa, perfettamente percepibile.

(p.37) 105

• Sente ancora il sapore del sangue, ma almeno la bocca è fresca.

(39)106

• Immediatamente dopo lo sparo , non si sentì quasi niente.

(p.72)107

• Rosario capì che non c’era più niene da dire. (p.84)108

• _ Com’è che non sei venuto questi giorni?

Rosario ebbe un principio di capogiro.

_ Aggio tenuto nu poco che ffa’. 109

105 A cabeça toca o chão primeiro. Os braços chegam depois, é um momento, mas é um tempo que passa perfeitamente perceptível. 106 Sente ainda o sabor do sangue, mas pelo menos esta com a boca fresca. 107 Imediatamente após o disparo, não se ouviu quase nada. 108 Rosario entendeu que não tinha mais nada a dizer. 109 _Por que você não veio esses dias? Rosário teve um principio de vertigem. _Estive um pouco ocupado.

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6- CONCLUSÃO

Principiei esta Dissertação contando a minha experiência pessoal e o

momento em que despertou em mim o desejo de estudar a realidade linguística

italiana contemporânea com foco nos dialetos, o napolitano em especial. Como

já declarei na introdução, o curso de Especialização em Língua e Literatura

Italiana realizado na Faculdade de Letras/UFRJ foi fundamental nessa decisão,

pois tive acesso ao romance Certi Bambini, o qual me chamou muito a atenção

primeiramente pela capa do livro (em anexo) e principalmente pela sua

linguagem rica e fascinante. Desde então comecei a fazer questionamentos e

iniciei a desenvolver estudo sobre a variação e usos da língua italiana através

desta obra. A partir desse estudo, outros questionamentos foram construídos e

junto a eles novos desafios foram surgindo.

O caminho percorrido foi muito importante porque me proporcionou um

grande crescimento acadêmico. Vale lembrar que no período em que fazia a

pesquisa tive oportunidade de viajar para a Itália para um curso de atualização

em língua e cultura italiana na Universidade per Stranieri di Perugia, ocasião

em que pude constatar “ao vivo” a diversidade linguística e cultural italiana.

Considero esta experiência ímpar e espero que este estudo possa ser um

“norte” para outros pesquisadores desenvolverem grandes pesquisas no

campo linguístico e identitário italiano.

Sabe-se que todas as línguas têm as suas próprias histórias e evoluções

particulares, porém, no caso da língua italiana, este percurso é de uma riqueza

única. Ainda nos dias de hoje se utilizam línguas que remontam a milhares de

anos de história e quando se trata da língua italiana atual, não é possível

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esquecer que sua evolução e escolha, de uma dentre tantas outras línguas

existentes no território italiano, não foi um processo tão simples.

Uma das características histórica e cultural italiana é a presença dos

dialetos. A primeira classificação dos dialetos está na obra de Dante. Pode-se

ver nos capítulos IX-XV do tratado De Vulgar Eloquência (1304) uma

subdivisão de quatorze “vulgares”, e aquilo que disse Dante, foi confirmado por

diversos linguistas, dentre eles Tullio de Mauro: “não existe país de língua

românica o qual ao lado do dialeto eleito como língua nacional não coexistam e

persistem outros tantos dialetos diversos”.

Atualmente a presença dos dialetos é ainda muito viva na Itália e é uma

das características histórica e social italiana. Essa marcante expressão dialetal

pode ser observada em várias obras literárias. Pudemos concluir com o

presente estudo que, em Certi Bambini, o autor passa do italiano standard ao

dialeto napolitano e do dialeto à língua da malavita, refletindo assim a relação

diglossica da língua.

Na obra, o dialeto napolitano aparece na voz das personagens, enquanto

que na narrativa propriamente dita, escrita em terceira pessoa, predomina o

italiano standard. De acordo com cada grupo, cada personagem e cada

situação apresentada, Diego de Silva reproduz nos diálogos uma língua mais

ou menos dialetal, respeitando a voz das personagens, contando àquela

estória com a língua mais próxima de seus personagens. Este registro faz

parte do esforço do autor em não apenas escrever em dialeto napolitano, mas

em trazer mais realismo para o romance. É uma maneira de apresentar ao

leitor uma visão mais próxima da plural realidade italiana.

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Para chegar a tal conclusão o arcabouço teórico utilizado (DE MAURO,

BERRUTO, SOBRERO E COVERI) foi o leme norteador, mas vale ressaltar

que se outra pessoa tivesse usado outros teóricos poderiam ter chegado a

outras conclusões.

Termino afirmando que realizei este trabalho com grande satisfação e

tentei dar conta do que eu me propus a fazer dentro do prazo, porém este é

muito curto e peço desculpas aos leitores por eventuais equívocos, pois

acredito que muitos questionamentos ainda podem ser levantados e

respondidos. Anseio que outras pessoas se inspirem neste trabalho e que

possam desenvolver mais estudos no campo linguístico e identitário italiano e

espero, também, ter oferecido aos interessados nesta pesquisa uma visão

ampla para novos estudos na área de língua e identidade italiana.

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8 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FONTE PRIMÁRIA:

DE SILVA, Diego. Certi Bambini. Torino: Einaudi, 2001 e 2004. FONTES SECUNDÁRIAS:

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SABATINI, Francesco. L’italiano nella tempesta delle lingue, “Lingua e stile”, 43.1, 2008, pp. 3-20

SABBATUCCI, G. e Vidotto, V. Storia D’Italia. Volume: 6 - L’Italia Contemporanea - Dal 1963 a Oggi. Editori Laterza, 1999.

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Intervista con Diego de Silva

De Silva, Lei è stato avvocato penalista. Come ha comminciato a

scrivere? La Sua esperienza professionale come avvocato ha in alcun

modo infuenzato la Sua scrittura?

Cominciato, come quasi tutto quello che m’è capitato nella vita, un po’

per caso. Quando ho capito che mi veniva naturale, e c’era chi aveva voglia di

leggermi, ho provato a investirci sul serio. Quanto alla mia precedente

esperienza avvocatesca, diciamo che la mattina mi sembrava di mandare in

tribunale la mia controfigura: volevo scrivere, dunque ero, almeno

tendenzialmente, spinto da un’esigenza di sincerità (se non altro con me

stesso), e questo mio desiderio cozzava contro la necessità di sposare la difesa

di una causa, che un buon avvocato assume anche quando è consapevole di

non star lavorando perché trionfi la verità.

Certi Bambini è un romanzo il quale mostra un’Italia poco

conosciuta da noi stranieiri. Com’ è nato il questo romanzo?

Essenzialmente dall’idea di raccontare il più grave dei delitti che la

camorra abbia scelto di commettere, lo scippo dell’infanzia. Mi coinvolgeva

molto, letterariamente parlando, l’idea di un bambino programmato come una

sorta di elettrodomestico, utilizzabile seguendo le istruzioni di un manuale

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criminoso; del tutto privo di senso etico e quindi capace di compiere il bene e il

male senza avvertire alcuna differenza fra l’uno e l’altro.

Certi Bambini è un’ opera in cui possiamo vedere una scelta

linguistica molto interessante, dove la narrativa è in italiano, ma i dialoghi

sono in napolitano. Come Lei ha scritto questi dialoghi? So che Lei è

napoletano e sicuramente conosce la lingua, ma voglio dire la lingua dei

bambini, la lingua della malavita.

Questo dipende da un gesto d’immedesimazione linguistica, che riesce

anche piuttosto semplicemente se lo scrittore non sovrasta i suoi personaggi

ma cerca di rispettare la loro voce.

Che obbiettivo avrebbe la Sua scelta linguistica in Certi Bambini?

Raccontare quella storia con la sua lingua: dando una traduzione non

alta, ma quasi letterale del dialetto.

Ho osservato che in Certi Bambini Lei non nomina la città, che

secondo me sarebbe Napoli, più precisamente la periferia di Napoli, come

possiamo dedurre anche dall’uso della lingua dai personaggi. Però si può

anche interpretare che la storia si passa nella periferia di un’altra città

qualsiasi. Direi ancora, che se io leggessi quest’ opera in portoghese,

sarei sicura che la storia fosse ambientata nelle favelas di Rio de Janeiro.

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Questo mi fa particolarmente piacere, perché era mia intenzione scrivere

un romanzo che potesse trovare accoglienza nell’immaginazione di un qualsiasi

lettore del mondo. Non mi piace ambientare i romanzi in luoghi precisi, e a

maggior ragione un romanzo come Certi bambini, che racconta una tragedia

che non riguarda solo Napoli.

La ringrazio tantissimo per l’attenzione, la cordialità e l’aiuto nella

mia ricerca, che potrà mostrare qui in Brasile un po’ di più della cultura

italiana e la presenza viva dei dialetti, in questo caso il napoletano, nella

letteratura italiana.