universidade federal do piauÍ - leg.ufpi.br m... · roseli barros (ufpi), pelo incentivo e...

107
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ UFPI NÚCLEO DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO TRÓPICO ECOTONAL DO NORDESTE TROPEN PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE PRODEMA MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE MDMA MARIA DO SOCORRO BARBOSA ALMEIDA DOS SANTOS AGRICULTURA FAMILIAR E PRODUÇÃO DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL EM COIVARAS / PIAUÍ TERESINA 2010

Upload: dangtuyen

Post on 09-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI

NÚCLEO DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO TRÓPICO

ECOTONAL DO NORDESTE – TROPEN

PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E

MEIO AMBIENTE – PRODEMA

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE – MDMA

MARIA DO SOCORRO BARBOSA ALMEIDA DOS SANTOS

AGRICULTURA FAMILIAR E PRODUÇÃO DE VASSOURAS DA

PALHA DE CARNAÚBA NA PERSPECTIVA DO

DESENVOLVIMENTO LOCAL EM COIVARAS / PIAUÍ

TERESINA

2010

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

MARIA DO SOCORRO BARBOSA ALMEIDA DOS SANTOS

AGRICULTURA FAMILIAR E PRODUÇÃO DE VASSOURAS DA

PALHA DE CARNAÚBA NA PERSPECTIVA DO

DESENVOLVIMENTO LOCAL EM COIVARAS / PIAUÍ

Dissertação apresentada ao Programa

Regional de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente da

Universidade Federal do Piauí

(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como

requisito para a obtenção do título de

Mestre em Desenvolvimento e Meio

Ambiente. Linha de Pesquisa: Políticas de

Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área

de Concentração: Desenvolvimento do

Trópico Ecotonal do Nordeste.

Orientador: Prof. Dr. José Luis Lopes

Araújo

Co-orientadora: Profª. Dra. Roseli Farias

Melo de Barros

TERESINA

2010

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Piauí

Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco Serviço de Processamento Técnico

S237a Santos, Maria do Socorro Barbosa Almeida dos

Agricultura familiar e produção de vassouras da palha de

carnaúba na perspectiva do desenvolvimento local em Coivaras-

Piauí / Maria do Socorro Barbosa Almeida dos Santos.--2010.

105f.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente) – Universidade Federal do Piauí, 2010.

Orientação: Prof. Dr. José Luis Lopes Araújo.

1. Sustentabilidade Ambiental. 2. Extrativismo Vegetal –

Piauí. 3. Agricultura Familiar – Coivaras (PI). I. Título.

CDD: 577

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

MARIA DO SOCORRO BARBOSA ALMEIDA DOS SANTOS

AGRICULTURA FAMILIAR E PRODUÇÃO DE VASSOURAS DA

PALHA DE CARNAÚBA NA PERSPECTIVA DO

DESENVOLVIMENTO LOCAL EM COIVARAS / PIAUÍ

Dissertação aprovada pelo Programa Regional

de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente da Universidade Federal do Piauí

(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito

para a obtenção do título de Mestre em

Desenvolvimento e Meio Ambiente. Linha de

Pesquisa: Políticas de Desenvolvimento e Meio

Ambiente. Área de Concentração:

Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do

Nordeste.

Dissertação aprovada em _____/______/______

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Prof. Dr. José Luis Lopes Araújo - Orientador

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

_____________________________________________

Prof. Dr. José Levi Furtado Sampaio

Universidade Federal do Ceará (PRODEMA/UFC)

______________________________________________

Prof. Dr. Antonio Alberto Jorge Farias Castro

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

OFEREÇO

Ao amigo e professor, mestre José Ferreira Mota Júnior.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Piauí – UFPI;

Ao Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste –

TROPEN;

Ao professor Dr. José Luis Lopes Araújo (UFPI), pela paciência, apoio e disposição

em todos os momentos desta caminhada, ... Muito obrigada!

À professora Drª. Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me

fortaleceram;

Ao Professor Dr. Antonio Alberto Gorge Farias Castro, pelas contribuições durante a

elaboração do trabalho;

À querida amiga Lúcia Helena Bezerra Ferreira e família pelo apoio e incentivo;

Aos professores do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (TROPEN);

Aos funcionários João Batista de Sousa Araújo e Maridete de Alcobaça Brito, pela

força e companheirismo incondicional;

Ao funcionário Raimundo Lemos de Oliveira;

Aos produtores de vassouras de Coivaras – PI, pela confiança e colaboração em cada

etapa da pesquisa;

À minha querida mãe, Rosa Maria Barbosa Lima Almeida, amante da educação;

Ao meu amado pai, Ananias Ribeiro de Almeida;

À minha querida amiga, companheira de geografia, Teresa Cristina Ferreira da Silva;

À Charlene de Sousa e Silva, pelo estímulo a mim dispensado;

Ao casal amigo, João Correia da Silva e Maria do Livramento Silva;

Às amigas de mestrado Sônia Maria Ribeiro e Mariane Goretti de Sá Bezerra Leal;

Ao mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente e grande amigo, Paulo César Lima,

companheiro e grande ser humano que em todas as dificuldades na caminhada do mestrado

sempre me ajudou...

À companheira de mestrado Eliciana Selvina Ferreira Mendes Vieira;

À bibliotecária Ana Cristina Carvalho;

À toda equipe do Programa Saúde da Família (PSF) de Coivaras;

Ao meu primo-irmão, Claudio Luis Lima, amigo de todas as horas;

Ao meu amado irmão, Carlos Alberto Barbosa de Almeida, e sua esposa, Maria Ester

Machado, pela força incondicional;

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

Às minhas sobrinhas, que muito amo, Denise Evelyng, Andréia Fernanda, Carla

Stefane e Juliana Almeida grandes amigas;

À amiga Maria do Amparo Meireles, pelo apoio e carinho;

À querida amiga e companheira de mestrado, Francinalda Lima Rocha;

Especialmente, ao querido amigo Ígor Monteiro, pelo afeto e disposição para comigo

em todo o período de execução do trabalho;

Ao meu esposo Raimundo Wilson Pereira dos Santos e aos meus filhos, João Paulo

Neto e Wilson Júnior, grandes amigos que o Criador me concedeu;

À minha prima querida Francisca Mendes Ribeiro, amiga- irmã com quem, em todos

os momentos de minha vida, pude contar;

Especialmente, ao amigo Daniel César Meneses de Carvalho, companheiro de

mestrado;

Agradeço à amiga Tatiana Nordeste Machado;

Ao meu filho, afilhado e amigo, Cristiano Gleison Almeida Marques – professor

Cristiano;

Aos funcionários do Centro de Saúde do Poti Velho;

Ao médico e grande ser humano, Amando José Alves de Moura Filho, pelo apoio

nesta jornada;

À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas de minha

caminhada;

A toda equipe do PSF do Município de Coivaras pela contribuição na realização desta

pesquisa;

E, finalmente, à minha companheira de trabalho, Ediane Patrícia Ferreira Lima, pelo

companheirismo e colaboração.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

RESUMO

A carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore) é uma palmeira nativa do Nordeste do

Brasil que ocorre apenas na área em que compreende porções do leste do Maranhão,

territórios dos estados do Piauí e do Ceará e oeste do Rio Grande do Norte, sendo a extração

de sua palha de grande relevância econômica. Este estudo trata da atividade extrativista de

carnaúba para confecção de vassouras e suas relações com a agricultura familiar, no

município de Coivaras - Piauí. Objetivou-se analisar se a estrutura da produção artesanal de

vassouras de carnaúba e suas relações com a agricultura familiar contribuem para a

sustentabilidade econômica, social e ambiental da população do município de Coivaras. Para

tanto, buscou-se caracterizar os aspectos socioeconômicos do município; descrever as etapas

da confecção artesanal de vassouras da palha de carnaúba na área em estudo; identificar as

formas de relações entre a produção de vassouras e as práticas da produção da agricultura

familiar, e caracterizar os impactos ambientais da produção de vassouras em Coivaras.

Utilizou-se, como metodologia, pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de

campo. Foram pesquisados 48 produtores de vassoura, sendo dois na zona urbana e 46 na

zona rural. Estes são encontrados em doze localidades de Coivaras. Pode-se destacar que no

município há predominância de pequenas propriedades, com práticas produtivas

agropecuárias tradicionais; há atividade de produção de vassouras da palha de carnaúba

consorciada à produção agropecuária familiar; formas distintas de acesso à matéria-prima;

mão-de-obra basicamente familiar, com renda, na produção de vassouras, de até quatro

salários mínimos mensais; 81,25% dos entrevistados têm como ocupação principal a produção

de vassouras e a atividade agropecuária; a confecção de vassouras não traz impactos negativos

ao meio ambiente, tendo em vista que, para obtenção da palha de carnaúba, principal matéria-

prima, não é necessário derrubar a palmeira e os resíduos são aproveitados como adubo

orgânico, configurando-se, assim, como atividade sustentável, que impacta positivamente o

meio ambiente.

Palavras-chave: Extrativismo vegetal. Pequena produção. Artesanato. Sustentabilidade.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

ABSTRACT

The carnauba (Copernicia prunifera (Mill.) HE Moore) is a palm native of Brazilian

Northeastern. However, it‟s found only in the area that includes portions of eastern of

Maranhão, territories of the states of Piauí and Ceará and west of Rio Grande do Norte. The

extraction of its straw is of great economic relevance. This study deals of the extraction

activities of carnauba for making brooms and their relationships with familiar farming in the

municipal district of Coivaras - Piauí. The principal aim was to analyze if the structure of

production of handmade carnauba brooms and their relationships with familiar farming

contribute for economic sustainable, social and environmental impacts of the population of

the municipal district of Coivaras. To this end, sought to characterize the socioeconomic

aspects of the city; describe the steps of making handmade brooms carnauba straw in the

study area; identify the relationships among the production of brooms and practices of

familiar farming production, and characterize the environmental impacts of brooms

production in Coivaras. It was used as methodology, bibliographical research, documentary

research and fieldwork. It was surveyed 48 producers broom, two in urban areas and 46 in

rural areas. These are found in twelve localities Coivaras. There is a predominance of small

farms with traditional agricultural production practices, there is activity of production of

carnauba straw brooms intercropped agricultural production family; different forms of access

to raw materials, manpower basically family-income, production brooms, up to four minimum

wages; 81.25% of brooms producers surveyed have as the primary occupation and the

agricultural activity, the activity making brooms doesn‟t bring negative impacts on the

environment, considering that, to explore of carnauba straw, the main raw material, isn‟t

necessary to cut the down the palm and the residues are recovered as organic fertilizer,

becoming, then, as sustainable activity, resulting in a positive impact on the environment.

Keywords: Extraction plant. Small production. Handmade. Sustainability.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 - Apresentação do projeto de pesquisa aos agentes de saúde do PSF de Coivaras-

PI ............................................................................................................................................... 20

Fotografia 2 - Casa coberta com palha de carnaúba – Coivaras – PI. ...................................... 40

Fotografia 3- Templo evangélico em Coivaras – PI. ................................................................ 49

Fotografia 4 - Detalhe do interior da igreja de Santa Luzia em Coivaras – PI. ........................ 49

Fotografia 5 - Procissão do vaqueiro no município de Coivaras – PI. ..................................... 50

Fotografia 6 - Almoço em homenagem aos vaqueiros- Coivaras – PI. .................................... 50

Fotografia 7 – Pequenos animais na feira de Altos – PI (em destaque suíno) ......................... 56

Fotografia 8 – Pequenos animais na feira de Altos – PI (em destaque caprinos)..................... 56

Fotografia 9 – Feira de pequenos animais em feira de Altos - PI (em destaque aves) ............. 56

Fotografia 10 - Produção de arroz em área de carnaubal em Coivaras – PI............................. 58

Fotografia 11 – Criação de animais em área de carnaubal em Coivaras – PI. ......................... 58

Fotografia 12 - Foice: ferramenta encaixada à vara de bambu para o corte das palhas da

carnaúba- Coivaras-PI .............................................................................................................. 59

Fotografia 13 - Retirada da palha de carnaúba -Coivaras-PI.................................................... 59

Fotografia 14 - "Apara", recolhimento e corte dos talos das palhas, Coivaras-PI. .................. 59

Fotografia 15 - Transporte da palha para o lastro, Coivaras-PI. .............................................. 59

Fotografia 16 - Material utilizado para riscar a palha de carnaúba(faca e tamborete), Coivaras-

PI . ............................................................................................................................................. 60

Fotografia 17 - "Risca" da palha da carnaúba, Coivaras-PI . ................................................... 60

Fotografia 18 - Palhas expostas ao sol, no lastro, Coivaras-PI................................................. 60

Fotografia 19 - Palhas secas ao sol, recolhidas do lastro após secagem Coivaras-PI. ............. 60

Fotografia 20 - Fase em que se dá a batida da palha de carnaúba para a retirada do pó,

Coivaras-PI. .............................................................................................................................. 61

Fotografia 21 - "Cupinhamento" das palhas batidas,Coivaras-PI. ........................................... 62

Fotografia 22 - Cupim: forma de armazenamento da palha de carnaúba para produção de

vassouras, Coivaras-PI. ............................................................................................................ 62

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

Fotografia 23 - Embira de buriti, Coivaras-PI. ......................................................................... 62

Fotografia 24 – Fitilho, Coivaras-PI. ........................................................................................ 62

Fotografia 25 - Junção das palhas para montagem da vassoura, Coivaras-PI. ......................... 63

Fotografia 26 - Anelamento da vassoura - Coivaras – PI. ........................................................ 63

Fotografia 27 - Ajuste da vassoura – Coivaras – PI. ................................................................ 63

Fotografia 28 – Bagana - descarte das palhas da produção das vassouras – Coivaras – PI. .... 63

Fotografia 29 – Preparação do "mói" de vassouras, Coivaras – PI. ......................................... 65

Fotografia 30 - "Mói" de vassouras – Coivaras – PI. ............................................................... 65

Fotografia 31 - Olho da carnaúba, Coivaras-PI. ....................................................................... 65

Fotografia 32- Palha da carnaúba, Coivaras-PI. ....................................................................... 65

Fotografia 33 - Vassoura de palha amarrada com embira de buriti, Coivaras-PI .................... 66

Fotografia 34 - Vassoura do olho amarrada com fitilho,Coivaras-PI....................................... 66

Fotografia 35 - Vassoura da palha amarrada com fitilho,Coivaras-PI. .................................... 66

Fotografia 36 - Feira de Altos - Piauí ....................................................................................... 68

Fotografia 37 - Caminhão carregado de vassouras – Feira de Altos - Piauí ............................ 68

Fotografia 38 – Queimada: fase de preparação da roça – Coivaras - PI .................................. 79

Fotografia 39 - Galpão (ao fundo) onde são confeccionadas as vassouras – Coivaras - PI ..... 83

Fotografia 40 – Estrutura interna de um galpão – Coivaras - PI .............................................. 83

GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição dos produtores de vassouras da palha de carnaúba em Coivaras - PI,

segundo o gênero. ..................................................................................................................... 69

Gráfico 2 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo relação

com outras atividades no município de Coivaras - PI. ............................................................. 70

Gráfico 3 - Distribuição dos tipos de tratamento da água consumida nas residências dos

produtores de vassoura – Coivaras – PI.................................................................................... 72

Gráfico 4 - Distribuição dos destinos dados aos dejetos humanos nas residências dos

produtores de vassouras no município de Coivaras –PI. .......................................................... 72

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

Gráfico 5 - Distribuição dos destinos dados ao lixo domiciliar dos produtores de vassouras –

Coivaras - PI ............................................................................................................................. 73

Gráfico 6 - Distribuição dos produtores, segundo produtividade e formas de aquisição da

palha de carnaúba em Coivaras – PI. ........................................................................................ 76

Gráfico 7 - Distribuição segundo renda mensal com produção de vassouras no município de

Coivaras-PI. .............................................................................................................................. 84

Gráfico 8 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo relação

entre condições de acesso a terra e renda - Coivaras –PI. ........................................................ 85

Gráfico 9 - Distribuição da média de produção de vassouras da palha de carnaúba . por tempo

dedicado à atividade em Coivaras – PI. .................................................................................... 86

Gráfico 10 - Distribuição dos produtores de vassoura da palha de carnaúba, segundo a relação

entre renda mensal e tempo de atividade no município de Coivaras – PI. ............................... 87

Gráfico 11 - Distribuição dos produtores de vassouras da palha de carnaúba, segundo média

semanal e relação com local de produção – Coivaras – PI. ...................................................... 87

MAPAS

Mapa 1 – Microrregiões do estado do Piauí: em destaque o município de Coivaras – PI ....... 18

Mapa 2 - Localidades produtoras de vassouras em Coivaras - PI, selecionados para a pesquisa

.................................................................................................................................................. 21

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - População de Coivaras e do Piauí por situação de domicílio e gênero (2007) ....... 52

Tabela 2 - Distribuição do número e área dos estabelecimentos agropecuários no município de

Coivaras – PI (2006) ................................................................................................................. 53

Tabela 3 – Distribuição de imóveis rurais, seguindo categorias de propriedades – Coivaras

(2010) ....................................................................................................................................... 53

Tabela 4 - Distribuição dos trabalhadores em estabelecimentos familiares a partir do grau de

parentesco no município de Coivaras - PI (2006) .................................................................... 54

Tabela 5 - Distribuição dos principais produtos cultivados em lavouras permanentes do

município de Coivaras (2008) .................................................................................................. 54

Tabela 6 - Distribuição dos principais produtos cultivados nas lavouras temporárias do

município de Coivaras - PI ....................................................................................................... 55

Tabela 7 - Distribuição do número de estabelecimentos e de cabeças, por tipo de criação no

município de Coivaras - PI (2006) ........................................................................................... 56

Tabela 8 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo condição

de acesso a terra no município de Coivaras (2008) .................................................................. 70

Tabela 9 - Características físicas das residências dos produtores de vassouras no município de

Coivaras - PI (2008) ................................................................................................................. 71

Tabela 10 - Distribuição das residências dos produtores de vassouras, segundo o tipo de

combustível utilizado para o cozimento de alimento – Coivaras - PI ...................................... 74

Tabela 11 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba no município de

Coivaras (2008), segundo localidade e volume de produção semanal ..................................... 74

Tabela 12 - Distribuição dos produtores de vassouras por tempo de dedicação à atividade

Coivaras - PI ............................................................................................................................. 77

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14

2 METODOLOGIA ............................................................................................................... 16

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .......................................................... 22

2.1.1 ASPECTOS FÍSICOS................................................................................................. 22

3 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL E A OCUPAÇÃO NO PIAUÍ .......................... 25

3.1 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL ........................................................................ 25

3.2 A OCUPAÇÃO NO PIAUÍ E O EXTRATIVISMO ..................................................... 29

4 O EXTRATIVISMO: UM CONTEXTO HISTÓRICO .................................................. 34

4.1 O EXTRATIVISMO ...................................................................................................... 34

4.2 A CARNAÚBA: SUAS APLICAÇÕES E IMPACTOS AMBIENTAIS DA

ATIVIDADE EXTRATIVISTA .......................................................................................... 36

4.3 AGRICULTURA FAMILIAR ...................................................................................... 41

4.3.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL .................................................................................. 41

4.4 DESENVOLVIMENTO LOCAL ................................................................................. 45

5 PRODUÇÃO ARTESANAL DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA EM

COIVARAS-PI ....................................................................................................................... 49

5.1 ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DE COIVARAS – PIAUÍ ......................... 49

5.2 EXTRATIVISMO DA CARNAÚBA E CONFECÇÃO DE VASSOURAS ............... 57

5.3 CONTEXTO DA COMERCIALIZAÇÃO DAS VASSOURAS DA PALHA DE

CARNAÚBA ........................................................................................................................ 64

5.4 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO PRODUTOR DE VASSOURAS

DA PALHA DE CARNAÚBA – COIVARAS/PI ............................................................... 68

5.4 ASPECTOS GERAIS DA PRODUÇÃO DE VASSOURAS EM COIVARAS-PI ...... 73

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

6 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 89

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 91

APÊNDICE A – Ficha de caracterização dos produtores de vassouras: localização,

produção, semanal, local de vendas acesso à matéria-prima e divisão do trabalho,

aplicado pelos agentes de saúde ............................................................................................. 98

APÊNDICE B - Formulário de pesquisa das condições socioeconômicas dos produtores

de vassouras em Coivaras - PI ............................................................................................... 99

APÊNDICE C - Calendário de atividade mensal na produção agropecuária e de

vassouras em Coivaras - PI .................................................................................................. 105

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

14

1 INTRODUÇÃO

A Carnaúba (Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore) foi considerada, no século

XVIII, pelo naturalista Humboldt, como “árvore da vida”, ao registrar ele sua admiração pelas

finalidades da planta. A economia dessa palmeira decorre do seu aproveitamento integral, que

gera inúmeras formas de uso, satisfazendo necessidades diversas da população,

principalmente do meio rural. Os seus frutos servem de alimentação animal, e as folhas, além

de fornecerem o pó, que tem sua principal matéria-prima - a cera utilizada em vários ramos

industriais, também é empregada na cobertura de casas e na confecção de peças de artesanato,

sem mencionar que as raízes possuem qualidades medicinais e o caule tem largo emprego na

construção civil, usado como caibros, mourões, lenha, e decoração de ambientes.

Essa palmeira instala-se, sobretudo, nos aluviões dos vales dos rios, e em baixões

arenosos. Nessas áreas, o lençol freático encontra-se em pouca profundidade e sujeito a

inundações, que ocorrem praticamente em todos os anos, no período chuvoso. Trata-se de

uma planta resistente tanto à estiagem, quanto às inundações (LIMA; ARAÚJO, 2006).

No Nordeste brasileiro, o extrativismo vegetal ainda apresenta relativa importância

para a economia, sendo fonte de renda e absorção de mão de obra no campo e, ao longo da

História, tem-se tornado grande contribuinte para a geração de riquezas, ora complementar,

ora principal, proporcionando alternativa de renda para parcela da população rural.

Neste contexto, o estudo fundamenta-se na tentativa de compreender como a produção

artesanal de vassouras da palha de carnaúba e a atividade agrícola propiciam a

sustentabilidade econômica, social e ambiental no município de Coivaras – PI.

Assim, o presente trabalho desenvolveu-se a partir do seguinte questionamento: a

produção artesanal de vassouras de carnaúba e suas relações com a agricultura familiar

contribuem para a sustentabilidade econômica, social e ambiental do município de Coivaras,

no estado do Piauí?

Norteado pelo questionamento acima e, levando-se em conta a importância do

extrativismo da carnaúba em termos econômicos e sociais, propôs-se, como objetivo geral,

analisar se a estrutura da produção artesanal de vassouras de carnaúba e suas relações com

agricultura familiar contribuem para a sustentabilidade econômica, social e ambiental da

população do município de Coivaras – PI. Já como objetivos específicos estabeleceram-se

caracterizar os aspectos socioeconômicos do município, descrever as etapas da confecção

artesanal de vassouras da palha de carnaúba na área em estudo, identificar as formas de

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

15

relações entre a produção de vassouras e as práticas da produção da agricultura familiar, e

caracterizar os impactos ambientais da produção de vassouras em Coivaras.

Utilizou-se, como metodologia, pesquisa bibliografia, pesquisa documental e pesquisa

de campo, com técnicas de observação e aplicação de 48 formulários em 13 localidades do

município. Ao investigar como se dá a atividade extrativista para a confecção de vassouras da

palha de carnaúba foi possível distinguir categorias de análise, selecionando-se extrativismo

vegetal, agricultura familiar e artesanato.

O presente trabalho foi estruturado em seis partes. A primeira constitui-se de uma

introdução, na qual são abordados aspectos gerais relacionados à pesquisa, a segunda trata da

metodologia, fazendo-se uma caracterização da área de estudo e a descrição das etapas da

pesquisa. Na terceira parte, procede-se a um resgate da questão agrária no Brasil e no Piauí.

Na quarta, aborda-se o extrativismo, com ênfase na carnaúba e sua relação com a agricultura

familiar. A quinta parte consiste na apresentação e discussão dos resultados alcançados na

pesquisa, e a sexta e última reserva-se à conclusão do trabalho.

Espera-se que este estudo contribua para suscitar novas pesquisas no município, nos

diferentes ramos da ciência, para que, com mais conhecimento da realidade, opere-se no

sentido de melhorá-lo.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

16

2 METODOLOGIA

A escolha de um caminho metodológico é de fundamental importância para a

realização de pesquisas, pois permite a construção da fundamentação teórica e da coleta de

dados. Segundo Viertler (2006, p. 214),

a teia de dificuldades é densa, e as armadilhas que interceptam a comunicação

pesquisador-pesquisado são inúmeras. “Temas tais como „manejos‟, ou, „práticas

sociais‟ não podem prescindir do emprego de técnicas quantitativas, enquanto outros

dependem mais de uma combinação peculiar de várias técnicas de natureza

qualitativa”. Esta só pode ser desenvolvida por meio de uma aproximação social

maior entre pesquisador e pesquisados, de modo que torna imprescindível o

conhecimento de certos padrões de etiqueta vigentes na comunidade, indispensáveis

ao cientista que deseja desenvolver a contento o seu projeto de pesquisa. A postura

do corpo, a mímica, os gestos e a direção do olhar revelam padrões culturais não

manifestos, latentes que caracterizam posturas e movimentos corporais das pessoas

que, em relações cotidianas face a face, acabam tendo grande importância.

Este estudo foi realizado utilizando o modelo de observação que, segundo Coutinho e

Cunha (2004), desenvolve num conjunto de estratégias de observação, que vão desde a

simples observação de um objeto, de um evento ou de um fenômeno, até o planejamento

altamente sistematizado.

Esta pesquisa classifica-se dentro das características quantitativas descritivas,

lançando-se mão de entrevistas, com aplicação de formulários padronizados com questões

abertas e fechadas (ALBUQUERQUE; LUCENA, 2008) e utilização de fichas de

identificação para produtores de vassouras.

Sobre a entrevista, Coutinho e Cunha (2004) descrevem-na como um processo social,

uma interação ou um empreendimento cooperativo em que as palavras são o meio principal de

troca. Não se trata apenas de um processo de informação de mão única, que passa de um,

entrevistador, para o outro, entrevistado, mais de uma interação, uma permuta de idéias e

significados em que várias realidades e percepções são exploradas e desenvolvidas. Com

respeito a isso, tanto o(s) entrevistado(s) como o entrevistador estão, de maneiras diferentes,

envolvidos na produção do conhecimento.

Utilizou-se, também, um diário de campo, que é mais do que um simples registro de

fatos ocorridos no tempo. Seu aproveitamento metodológico depende do olhar atento do

pesquisador para captar detalhes do trabalho de campo, auxiliando, sobretudo, a memória do

pesquisador, para que as informações sejam analisadas em profundidade (WHITAKER,

2008).

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

17

As principais categorias utilizadas neste estudo foram: a) extrativismo vegetal, que se

designa, conforme Clement (2006), como a atividade produtiva baseada na extração de

produtos naturais não cultivados; b) agricultura familiar, que segundo Carmo (1998) é a

modalidade que tem como características centrais a gestão da unidade produtiva e os

investimentos nela realizados, feitos por indivíduos que mantêm entre si laços consanguíneos

ou de casamento; c) artesanato, que consoante Araújo (1996) é a atividade exercida com

instrumentos e técnicas rudimentares, a fim de elaborar total ou parcialmente um bem,

podendo também contar com o uso de ferramentas consideradas modernas.

Como suporte a temática ambiental, trabalhou-se com a categoria sustentabilidade, que

significa para Cavalcante (2003), a possibilidade de obterem-se condições iguais ou

superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em um dado ecossistema.

A fundamentação teórica foi obtida a partir da bibliografia das disciplinas do curso de

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente e leituras complementares, que serviram de

alicerce para melhor conhecimento do tema trabalhado, envolvendo conceitos básicos, como

os de: extrativismo, agricultura familiar, desenvolvimento sustentável e artesanato.

A escolha de Coivaras como área de pesquisa foi determinada a partir de visitas de

campo a municípios produtores de vassouras da Microrregião Teresina e Microrregião Campo

Maior.

O município de Coivaras, localizado na Microrregião Teresina, como ilustrado no

(mapa 1), foi selecionado como área de pesquisa devido à realidade observada no campo e

informações colhidas com produtores de vassouras na feira semanal de Altos – PI, além das

visitas a diversos municípios, incluindo suas áreas urbana e rural. Também consideraram- se

dados revelados em Araújo e Santos (2007) sobre a feira semanal de Altos, onde foi

observado que os municípios de origem dos produtores de vassouras comercializadas na

referida feira estavam assim distribuídos: Coivaras 50,0%; Altos 30,8%; Campo Maior

11,6%; Alto Longá e José de Freitas 3,8%. Esses números reforçam a relevância do estudo da

produção de vassouras em Coivaras.

Posteriormente à escolha do município, selecionaram-se, no próprio município de

Coivaras, localidades para o acompanhamento das atividades predominantes: agricultura e

confecção de vassouras. A principal fonte de dados proveio de pesquisa direta: aplicação de

formulários, entrevistas, acompanhamento das etapas da confecção de vassouras e visitas in

locus. A partir de então, prosseguiu-se com análise dos impactos sociais, econômicos e

ambientais da atividade extrativista para a confecção de vassouras no município.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

18

Mapa 1 – Microrregiões do estado do Piauí: em destaque o município de Coivaras – PI

Fonte: Adaptado do IBGE (2007).

Elaboração: Igor Monteiro

A coleta de dados secundários ocorreu junto a diversos órgãos, como Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e

Sociais do Piauí – CEPRO, bibliotecas públicas, Sindicato dos Produtores Rurais de Coivaras,

Prefeitura de Coivaras e Prefeitura de Altos. Esse município é ponto de convergência de

comercialização de vassouras da palha de carnaúba produzida em diversos outros, inclusive

Coivaras.

Na análise da área, utilizou-se de mapas e cartas do Diretório de Serviço Geográfico –

DSG, na qual se observaram as variáveis da divisão do município de Coivaras em localidades,

por meio de dados geofísicos, como vegetação, solos, hidrografia e clima, consultados em

Rivas (1996).

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

19

No período de abril a maio de 2008, foram realizadas visita a municípios da

Microrregião Teresina e Campo Maior, objetivando conhecer as características da produção

de vassouras e selecionar o município a ser pesquisado. Os municípios visitados foram:

Beneditinos (11, 12 e 13 de abril);

Pau D‟Arco (18, 19 e 20 de abril);

Coivaras (2 e 3 de maio);

Altos (4, 5 e 6 de maio);

Alto Longá1 (25, 26 e 27 de abril).

O estado do Piauí e o município de Coivaras foram caracterizados, separadamente, nos

seus aspectos físicos, ambientais e socioeconômicos, através de bibliografia pertinente e de

dados adquiridos em órgãos e instituições já mencionadas.

Os mapas da pesquisa foram confeccionados a partir da base de mapas do IBGE,

gerados de forma semiautomatizada pelo do mapeamento sistemático brasileiro do DSG, em

formato de RASTER/Vetorial, com atualização proveniente de diversas fontes, dentre elas o

Anuário Estatístico do IBGE (2007).

O levantamento de corpus compreendeu 13 viagens ao município de Coivaras, onde se

realizaram reconhecimento da área a ser pesquisada e visitas aos produtores de vassouras dos

povoados São Félix, Boi Manso, Canto Alegre, Benjamim e Sambaíba. O reconhecimento da

área de pesquisa, com visitas aos produtores de vassouras do município, feito em junho de

2008, objetivou estreitar relações com produtores de vassouras. Houve também, visita à sede

do município de Coivaras, em julho de 2008 para reunião com os agentes do Programa Saúde

da Família – PSF, na qual se apresentou o projeto de pesquisa, conforme fotografia 1, sendo

solicitado o preenchimento de ficha de identificação e localização, como pode ser visto no

Apêndice A, dos produtores de vassouras.

O formulário-teste da pesquisa de campo foi aplicado em 22 de setembro de 2008,

subdividido em dois formulários para cada uma das localidades: Canto Alegre, Caninana,

Belo Horizonte e Boi Manso.

Em outubro de 2008, fez-se acompanhamento de um dia de trabalho na confecção de

vassouras, onde se realizaram observações, desde o deslocamento ao carnaubal até o ponto em

que a vassoura foi comercializada. Nos dias 25 e 26, ocorreram entrevistas com produtores de

vassouras.

1 Único município, dentre os citados, pertencente à Microrregião Campo Maior.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

20

Fotografia 1 - Apresentação do projeto de pesquisa aos agentes de

saúde do PSF de Coivaras-PI

Fonte: Santos (2008)

A visita ao município de Coivaras para recebimento das fichas de identificação de

produtores de vassouras junto à equipe do PSF se deu em 20 de novembro de 2008.

Foram utilizados, como critérios para a escolha das localidades, a expressiva

quantidade de vassouras produzidas e a participação familiar na atividade de confecção de

vassouras da palha de carnaúba. Nas localidades selecionadas para a pesquisa, foram

selecionados 48 produtores, segundo como critério a Amostra Intencional, que consta de um

grupo de elementos escolhidos intencionalmente e dos quais se deseja saber a opinião sobre o

que será estudado (FONSECA; MARTINS, 2006).

Com as informações contidas nas fichas obtidas pelos agentes de saúde, os quais

identificaram 120 (cento e vinte) famílias produtoras de vassouras, elegeram-se as localidades

Sambaiba, Buritizinho, Belo Horizonte, Boi Manso, Coivara de Baixo, Buriti do Padre, Canto

Alegre, Buriti Grande, Morro Redondo, São Felix, Beijamim, Belém e Caninana, conforme

ilustrado no mapa 2.

No dia 30 de novembro de 2008, foram aplicados 48 formulários, por uma equipe de

13 pessoas, um economista, dois pedagogos e dez geógrafos, treinados para a correta

aplicação e preenchimento.

No dia 20 de dezembro de 2008, procedeu-se visita à feira semanal de Altos – Piauí,

com o objetivo de observar a atuação dos atravessadores na dinâmica da atividade.

No dia 9 de março de 2009, realizou-se visita à sede do município, para reunião com a

equipe do PSF, objetivando conferir a distribuição espacial das localidades do município em

mapa.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

21

Mapa 2 - Localidades produtoras de vassouras em Coivaras - PI, selecionados para a pesquisa

Fonte: adaptado do IBGE (2007)

Elaboração: Igor Monteiro

No período de 7 a 11 de dezembro de 2009, fizeram-se visitas de campo, com a

finalidade de preencher o formulário de atividades anuais junto aos produtores de vassouras.

Os dados secundários foram obtidos em órgãos públicos e multimídias, e os coletados

na pesquisa de campo foram tabulados utilizando-se o programa Pacote Estatístico para

Ciências Sociais (Statistic Package for Social Sciences) – SPSS.

Cabe ressaltar que foram realizados registros fotográficos em todas as etapas da

pesquisa a fim de ilustrar a realidade pesquisada.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

22

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1.1 ASPECTOS FÍSICOS

O Piauí se formou territorialmente a partir de atividades primárias, destacando-se a

pecuária e a agricultura de subsistência, que deram forma à configuração atual do território

piauiense. O Estado tem como fronteiras: ao norte, o oceano Atlântico; ao sul, o estado da

Bahia; a leste, os estados do Ceará e Pernambuco e a oeste, Maranhão e Tocantins.

A conformação dos aspectos naturais do Piauí tem relação direta com a formação da

bacia hidrográfica do Parnaíba. Segundo Rivas (1996), essa bacia hidrográfica foi

compartimentada, de acordo com a diversidade de seu quadro natural em unidades

geoambientais, denominadas geossistemas, sendo divididas em geofáceis, unidades de maior

ocorrência.

Ainda segundo Rivas (1996), a região da savana-cerrado ocupa a área sudoeste da

bacia hidrográfica, compreendendo o alto curso do rio Parnaíba e seus afluentes. O domínio

da flora da savana, com variações traduzidas por fisionomias arbóreas, aberta e densa,

apresenta pequenas diferenças entre si, refletindo mudanças locais de solo, altitude e

distribuição de umidade, enquanto o geossistema da região da estepe (caatinga) engloba as

áreas sudeste e leste da bacia hidrográfica do rio Parnaíba.

O geossistema da região da floresta ombrófila aberta ocupa a Serra da Ibiapaba, na

porção nordeste da bacia hidrográfica do rio Parnaíba, com clima úmido, provocado por efeito

orográfico, cujas precipitações chegam a 1.500 mm/ano nos meses de janeiro a maio, com

temperaturas médias anuais de 26 a 29º C (RIVAS, 1996).

A região da floresta estacional decidual ocupa a porção sul da bacia do rio Parnaíba,

englobando as unidades geoambientais Cuesta Bom Jesus do Gurguéia, Cabeceiras do

Gurgueia e Chapada da Tabatinga. A área de formações pioneiras recobre toda a extensão do

Delta do Parnaíba e penetra para o interior, ocupando os campos de dunas, as planícies

fluviais e as depressões inundáveis, envolvendo os geossistemas superfície litorânea e Delta

do Parnaíba (RIVAS, 1996).

O maior domínio fitoecológico da bacia hidrográfica do rio Parnaíba é a área de tensão

ecológica que se apresenta desde as proximidades das cidades de Luís Correia e estende-se

para o Sul, até as nascentes do rio Gurgueia, distribuindo-se desde os contrafortes da Cuesta

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

23

da Ibiapaba até o interior do estado do Maranhão. Nesse domínio, há formações vegetais com

características de flora indiferenciadas, que se interpenetram sob forma de enclave e ecótono,

com clima variando de semiárido a úmido, com isoietas anuais que oscilam de 700 a 1.500

mm e deficiência hídrica de seis a nove meses.

As áreas de tensão ecológica são representadas por contatos entre savana/estepe e

savana/floresta estacional e dividem-se em três unidades geoambientais: Vale do Gurgueia,

Baixada de Campo Maior e Tabuleiros do Parnaíba RIVAS (1996). A unidade geoambiental

Tabuleiros do Parnaíba engloba parte do médio e baixo curso do Parnaíba, dispondo-se da

barragem de Boa Esperança até próximo do litoral e contendo os principais centros urbanos

do Piauí, incluindo a capital, Teresina, e ainda o Parque Nacional de Sete Cidades (RIVAS,

1996).

Segundo Rivas (1996), a área onde se situa o município de Coivaras tem

vulnerabilidade natural de muito fraca a moderada, e o uso da terra dá-se a partir da pecuária

extensiva de bovinos, caprinos e ovinos. Apresenta alterações significativas de potencial

vegetal e pouco significativa do potencial erosivo em longo prazo, com raleamento da

cobertura vegetal, fraca erosão laminar e sulcos ocasionais e superficiais. Os solos têm pouca

compactação significativa. A área possui interferência na densidade e diversidade vegetal,

com algumas modificações na superfície do solo, acelerando os processos erosivos,

produzidos por exploração vegetal e por sistemas de exploração animal extensiva.

No tocante ao seu potencial geoambiental, o município apresenta depressão, com

lagoas com áreas predominantemente inundáveis, nível altimétrico de 100 metros, modeladas

em rochas pelíticas e arenitos, contendo pelitossolos colonizados por vegetação de contato

savana/estepe e contato savana/estepe/savana, estepe/floresta estacional (RIVAS,1996).

O clima é úmido a subúmido, com pluviosidade de 1.300 a 1.500mm/ano, concentrada

de dezembro a maio, e deficiência hídrica de quatro a seis meses. O potencial hídrico

subterrâneo é caracterizado como de fraco a médio e o potencial hídrico superficial de médio

a alto. A área deprimida é localmente inundável, com lagoas e declives de até 2ª moldada em

rochas pelíticas, com pilitossolos álicos e concrecionários, apresentando textura

média/argilosa, associadas a podizólicos vermelhos-amarelos plintitos e concrecionários.

Atuam no processo de acumulação e erosão por escoamento concentrado, com dinâmica

fraca, apresentando vales de fundo plano com fraca incisão/declive de zero a segunda e

ocorrências de printossolossálicos concrecionários de textura média e média/argilosa,

associados a podizólicos vermelhos-amarelos álicos, plinticos e concrecionários, ambos com

restrições importantes de drenagem e localmente pedregosos, sujeitos a escoamento

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

24

concentrado, evidenciados pela ocorrência de sulcos, com dinâmica moderada (RIVAS,

1996).

Aguiar e Gomes (2004, p. 22) descrevem as principais formas de relevo no município

de Coivaras, como sendo de

[...] superfícies tabulares reelaboradas (chapadas baixas), relevo plano com partes

suavemente onduladas e altitudes variando de 150 a 300 metros; superfícies

tabulares cimeiras (chapadas altas), com relevo plano, altitudes entre 400 (sic.) a 500

(sic.) metros, com grandes mesas recortadas e superfícies onduladas com relevo

movimentado, encostas e prolongamentos residuais de chapadas, desníveis e

encostas mais acentuadas de vales, elevações (serras, morros e colinas).

Segundo PLANAP (2006), o clima do Piauí, conforme a classificação climática de

Köppen, recebe a denominação de Aw‟, ou seja, apresenta-se como tropical chuvoso, com

precipitações anuais, variando de 1.200 a 1.400 mm. A média anual da temperatura do ar é de

26,7 ºC, com temperatura mínima de 21,6°C e máxima de 32,9°C. Coivaras apresenta

temperatura mínima de 25º C e máxima de 35° C, com clima predominantemente quente

tropical. A precipitação média anual varia entre 400 a 800 mm, com dois regimes marcados

por cinco a seis meses chuvosos, sendo os demais considerados meses secos (AGUIAR;

GOMES, 2004).

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

25

3 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL E A OCUPAÇÃO NO PIAUÍ

3.1 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL

De acordo com Guimarães (1977, p. 5), antes da chegada dos portugueses no Brasil, “a

terra era um bem comum, pertencente a todos e muito longe se achavam os seus donos de

suspeitar que pudesse alguém pretender transformá-la em propriedade privada”. Não sabiam

eles que antes do descobrimento do Brasil, diversos tratados já disciplinavam a partilha do

território americano entre Portugal e Espanha, dentre eles o Tratado de Tordesilhas2. Após a

chegada dos portugueses no Brasil, toda a terra que antes era ocupada pelos índios passou a

pertencer à Coroa Portuguesa pelo direito de ocupação. A partir de 1530, Portugal decide

ocupar a nova terra e explorá-la, devido ao mal sucedido comércio das especiarias indianas

(ALMEIDA, 2003).

A primeira divisão do território brasileiro ocorreu com a criação das capitanias

hereditárias, um total de 15 lotes inicialmente distribuídos aos donatários e aos seus

descendentes, cujos direitos e deveres constavam na Carta de Doação. Cabendo aos seus

proprietários a administração das capitanias, bem como a distribuição das cartas de sesmaria3

aos colonos. As cartas de sesmaria foi o primeiro instrumento de divisão e legitimação da

ocupação da propriedade territorial no Brasil, sendo sua aquisição uma das formas de

apropriação do solo (BITTAR FILHO, 2000).

No que se refere ao ciclo econômico brasileiro, a cana-de-açúcar foi o primeiro

produto cultivado no Brasil, principalmente nas capitanias de São Vicente e Pernambuco. Em

Pernambuco, a cana-de-açúcar adaptou-se bem ao seu tipo de solo e contou com a maior

proximidade em relação à metrópole, bem como todo o Nordeste, ao contrário de São Vicente

que, devido à distância da metrópole, tornou-se uma região pobre da Colônia (BITTAR

FILHO, 2000).

Costa (2008) pontua que a produção açucareira se caracterizava por uma estrutura

escravista, com produtividade afetada e condicionada por três elementos: o fato de a terra

2 O Tratado de Tordesilhas foi um acordo assinado entre Portugal e Espanha, em 1494, para definir os territórios

descobertos e a descobrir, dividindo o mundo em duas partes, a partir de um meridiano a 370 léguas a Oeste de

Cabo Verde. 3 Sesmarias, sinteticamente, consistem nos lotes de terras abandonadas ou incultas cedidos pelos reis lusitanos a

determinadas pessoas que resolvessem cultivá-las. Esses cultivadores passaram a ser conhecidos e tratados por

sesmeiros, ou seja, os beneficiários das sesmarias (FERREIRA, 1994, p. 107 apud ALMEIDA, 2003, p. 34).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

26

nada valer inicialmente; o regime monopolista comercial e a situação de colônia, de área

complementar de produção em que foi transformada pela divisão mundial dos mercados.

Para Bittar Filho (2000), os principais fatores que proporcionaram o sucesso da

atividade açucareira no Brasil Colônia foram a substituição do mel como adoçante pelo açúcar

da cana nas mesas europeias, o domínio de seu cultivo e tecnologia pelos portugueses (que já

o faziam na Ilha Madeira), o solo e o clima favoráveis ao seu cultivo no Nordeste do Brasil, a

quase extinção do pau-brasil no território e sua desvalorização, a progressiva decadência do

comércio com as Índias e a ameaça estrangeira sobre a colônia (que exigiam da metrópole

medidas mais efetivas de povoamento e colonização).

A escravização do indígena permitiu o primeiro avanço da produção colonial, depois

de trocada pelo escravo africano, após o firme estabelecimento dessa produção (GERMAUD;

SAES; TONETO JÚNIOR, 1997). A monocultura da cana-de-açúcar era sustentada pelo

latifúndio escravista dentro, ainda, de uma mentalidade feudal, tornando-se, a terra alvo de

todas as atenções, sendo concedidos direitos políticos aos latifundiários (BITTAR FILHO,

2000).

Segundo Costa (2008) como no Brasil Colonial não existia mercado interno para a

produção, a metrópole controlava a circulação da mercadoria produzida através do monopólio

comercial.

Guimarães (1977) afirma que, após o estabelecimento da produção canavieira, a

pecuária iniciou-se com um novo tipo de domínio territorial, gerado pela sesmaria: a fazenda.

Esta surgiu como um domínio latifundiário, ligado, a priori, unicamente à pecuária, servindo

logo em seguida para designar quaisquer outras grandes atividades destinadas à agricultura. A

intenção da metrópole era ampliar seus objetivos colonizadores. A faixa litorânea, que

dispunha das melhores terras, era destinada à cultura canavieira, estando a pecuária como um

segundo instrumento de ocupação, principalmente para o interior.

Ao contrário da produção canavieira, que melhor se estabeleceu no litoral, a atividade

pecuarista ocorreu principalmente no interior. Essa interiorização da pecuária ocorreu pela

necessidade de proteção dos canaviais, devido à sua danificação pelo gado. A interiorização

da pecuária visava, também, a proteção dos engenhos contra os ataques indígenas vindos do

interior para o litoral (FURTADO, 2000).

Infere-se assim que, a questão agrária no Brasil não é recente, mas remonta ao período

em que os portugueses iniciaram a ocupação das terras brasileiras e implementaram o

processo de colonização que se desenvolveu no século XVI.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

27

Segundo Lima (19--?, apud GUIMARÃES, 1977), a apoderação de terras devolutas e

cultivadas tornou-se comum entre os colonizadores, sendo considerada como um modo

legítimo de aquisição do domínio no decorrer dos anos, paralelamente a princípio e em

substituição ao regime das sesmarias. Após a extinção das sesmarias, a posse passou a

campear livremente, ampliando-se de zona a zona à proporção que a civilização expandia-se

geograficamente. Assim, a ocupação tomava o lugar das concessões do poder público,

caracterizando a Sesmaria como um latifúndio, inacessível ao lavrador sem recursos, e que a

posse é, pelo contrário, a pequena propriedade agrícola, criada pela necessidade, na ausência

de providências administrativas sobre a sorte do colono livre, e vitoriosamente firmada pela

ocupação.

Para Santos (2007), até a primeira metade do século XIX não existia uma legislação

que ordenasse uso e posse de terra no Brasil, pois vigorava o sistema de sesmarias que, nesse

período, apresentava dificuldades no que se refere ao processo de produção, baseado no

regime escravocrata. Essas unidades produtivas, em meados desse século, foram extintas, por

conta das dificuldades da aquisição de mão de obra escrava. O que levou o governo a buscar

uma legislação que viesse regular a questão da terra no Brasil.

Medeiros (2003, apud SANTOS, 2007) diz que o primeiro passo para a

regulamentação da situação de posse e propriedade fundiária no Brasil ocorreu somente em

1850, com a Lei de Terras. Consagra-se o direito absoluto da propriedade, que vigorava na

prática desde o início do processo de colonização, com o advento das capitanias hereditárias e

das sesmarias, e legitimava as terras que estavam efetivamente produzindo, de acordo com as

necessidades definidas pelo governo e pelo mercado europeu. Por outro lado, a lei dificultava

o acesso a terra às famílias que trabalhavam nas fazendas, pois proibia a aquisição de terras

devolutas que não fosse por meio da compra.

A posse da terra passou a ser regulamentada ao longo da história do Brasil e a ser

compreendida a partir das atividades econômicas implantadas.

Com a Proclamação da República, ocorrida em 1889, as terras devolutas e as questões

agrárias ficaram sob a responsabilidade dos poderes estaduais, medida que premiava

oligarquias regionais e servia para a sustentação do regime republicano. Com essa política, as

classes dominantes estaduais podiam distribuir as terras públicas de acordo com seus

interesses econômicos e políticos para seus cabos eleitorais, clientes e protegidos. Tomar a

terra dos coronéis seria tirar-lhes o poder de dominação que tinham (MARTINS, 1984).

Sobre o contexto de opressão pelo domínio da posse de terras Martins (1984, p, 20)

afirma que:

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

28

a quebra do poder dos coronéis, do poder dos grandes proprietários de terra, se por

um lado fortalecia os setores políticos e militares interessados na centralização do

poder, por outro lado, enfraquecendo os fazendeiros, fortalecia os trabalhadores

rurais, libertava-os também progressivamente do poder pessoal dos latifundiários.

Essa mudança alterou radicalmente as formas de luta dos trabalhadores rurais: antes,

o único recurso para enfrentar a prepotência e a violência dos fazendeiros era o

messianismo, a luta religiosa, ou então o cangaço - forma não política de libertação,

que não podia modificar a sociedade inteira. A mudança abriu caminho para as lutas

políticas dos trabalhadores rurais já nos anos cinquenta: a formação das ligas

camponesas.

A posse da terra traduzir-se-ia em forma de esperança de dias melhores, pois o maior

bem que o camponês vislumbrava era terra para plantar e dela tirar seu sustento e o da família.

Foi, no entanto, nos séculos XIX e XX que se processaram os maiores conflitos pela posse de

terras no Brasil. sendo, aliás, a periodização da questão agrária marcada por três momentos

cruciais, citados por Linhares e Silva (1999, p. 126):

a) De 1930 a 1945, a busca sob o impacto das transformações internacionais

do capitalismo administrado (imposição do modelo fordista-keynesiano ou do

chamado), da autarquia por grandes potenciais e dos efeitos imediatos da II Guerra

Mundial geraram e impuseram ao Brasil a alteração dos automatismos vigentes na

economia desde o império. No período Campos Sales/Joaquim Martinho, já sob a

república, rompeu-se com a dependência em relação aos produtos primários e a

pauta única de exportação (café). Os projetos implementados, principalmente a

colonização interna, visavam à autossuficiência, em especial no plano do

abastecimento alimentício, como suporte indispensável para o funcionamento de

uma nova regulação econômica, agora de caráter urbano industrial;

b) A questão agrária como óbice ao desenvolvimento, 1945-1964/66:

aceleração de um modelo fordista-keynesiano periférico, a chamada substituição de

importações, criando-se ilhas de desenvolvimento (em especial no eixo Rio/São

Paulo) de relativo bem-estar social, com a concessão de benefícios sociais para

grupos inicialmente restritos, como os trabalhadores industriais urbanos, a

manutenção dos baixos índices de produtividade agrícola, a recorrência das crises de

abastecimento e a estreiteza do mercado de insumos – fatos recorrentes nas décadas

de 1950 e 1960. A questão agrária é identificada como a questão nacional, com a

luta contra o atraso e pela soberania.

c) A modernização autoritária, desde 1966: após o período de 1964/1966, de

reorganização liberal da economia, optou-se por um amplo processo de

modernização técnica do campo, com a extensão do modelo fordista- keynesiano

periférico ao meio rural (inclusive com vários mecanismos de bem estar social para

os trabalhadores rurais como o FUNRURAL etc), e incentivou-se a completa

industrialização do campo, com o surgimento dos CAIs, os complexos

agroindustriais. O espaço de reprodução da pequena produção é restrito ao máximo,

lançando as massas camponesas para a fronteira agrícola, particularmente com a

expansão da pecuária, dos grandes projetos agroexportadores, como soja e laranja,

ao mesmo tempo em que a intensificação da mecanização atinge, também, os

trabalhadores assalariados no interior das empresas agrícolas. A questão agrária

surge, agora, como item fundamental do desemprego no campo.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

29

Dessa maneira, processaram-se mudanças no campo agrário brasileiro sem que tenham

sinalizado melhorias no acesso à propriedade da terra e na qualidade de vida do pequeno

agricultor.

Para Santos (2007), o desenvolvimento da atividade pecuária no Piauí necessitou do

apresamento de índios, que passaram a serem utilizados como mão de obra, proteção das

fazendas de gado dos constantes ataques indígenas, além do principal objetivo, que era

dominar as terras indígenas para expansão das fazendas de gado bovino.

Ainda segundo Santos (2007), os conflitos no Piauí pela posse da terra passaram a

intensificar-se entre as comunidades indígenas, os colonos, os posseiros e os sesmeiros no

período entre o século XVI e XVII. Somente no século XVIII foi que o governo português

determinou a demarcação das terras por meio da elaboração de regras para o aforamento e

arrendamento, o que permitiu a fixação de um maior número de fazendas no Estado e

provocou conflitos entre as autoridades e missões jesuíticas na região.

Apenas no século XX, foi implantada a legislação que tratava da distribuição de terras

no Estado, com a Lei Estadual nº 3.271/73, que incorpora as terras devolutas ao patrimônio da

Companhia de Desenvolvimento do Piauí (COMDEPI). A legislação também autoriza esta

empresa a alienar terras públicas a empresários para investir no Piauí (BRASIL, 2005). O

fato justifica a concentração de terras rurais em poder de empresas privadas, servindo de

obstáculo ao trabalho do pequeno produtor.

3.2 A OCUPAÇÃO NO PIAUÍ E O EXTRATIVISMO

O processo de ocupação, formação e colonização do território piauiense está associado

ao objetivo de Portugal de explorar o domínio das terras, dividindo o Brasil em capitanias

hereditárias que originaram os latifúndios. Esses latifúndios correspondiam a parte do litoral

nordestino chegando até as terras dos atuais estados do Piauí e Maranhão. Dessa forma, o

estado teve sua origem a partir da produção ligada a atividades primárias, decorrentes do

processo de ocupação do espaço nordestino nos três primeiros séculos de colonização

(SANTANA, 2001).

Segundo Santos (2007), nas terras piauienses proliferaram-se latifúndios ligados à

atividade pecuária, devido a suas terras se localizarem numa área de transição entre o sertão

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

30

semiárido e a Amazônia Equatorial, que possuía características fundamentais para a criação

de gado, além de extensos pastos que permitiam a fixação das fazendas de gado.

Sobre a espacialização da pecuária, Andrade (2005, p.186) relata que,

no início do século XVIII, os currais baianos estendiam-se pela margem direita do

São Francisco e pelas ribeiras do rio das Velhas (hoje território mineiro), das Rãs,

Verde, Paramirim, Jacuípe, Itapicuru, Real, Vasa Barris, e Sergipe, possuindo perto

de 500 cabeças de gado. Os currais pernambucanos, que deviam abrigar perto de 800

mil reses, ocupavam a margem esquerda do rio São Francisco e os vales dos rios

Preto, Guaraíra, Corrente, Pajeú, Moxotó, além de São Miguel em Alagoas, do

Paraíba do Norte, do Piranhas-Açu, do Apodi, do Jaguaribe, do Acaraú, do Piauí e

até do Parnaíba. Era um mundo que se estendia desde Olinda, a leste, até á fronteira

do Maranhão.

Desse modo, a configuração do território piauiense, até o final do século XVII,

começou a delinear-se pela espacialização das fazendas de gado e instalação da freguesia de

Nossa Senhora da Vitória, que se tornou a primeira capital do Piauí (ARAÚJO, 2006, p. 19).

Para se ter uma ideia da relevância da pecuária na ocupação do território piauiense,

Araújo (2006, p.56) destaca que

as fazendas de gado foram a primeira forma de ocupação deste espaço pelos

colonizadores portugueses. Essas fazendas se instalaram em grandes propriedades,

chamadas sesmarias, doadas aos fazendeiros pelo governo português. As sedes das

fazendas, onde ficavam a casa grande e os currais, localizavam-se, quase sempre, às

margens de rios ou lagoas.

Por todo o período colonial, até meados do século XIX, a história do Piauí não

apresentou outra atividade de relevância econômica que não a pecuária extensiva, a principal

fonte geradora da riqueza de fazendeiros e comerciantes, bem como dos recursos necessários

à sustentação e funcionamento da máquina pública, na forma como se evoluiu nesse período

(ROCHA, 1983).

Segundo Queiroz (2006), da criação de gado derivaram os principais produtos

alimentares do comércio interprovincial, colocando-a na posição de maior responsável pela

geração de renda para particulares – o interesse dos produtores concentrava-se nessa

atividade, e isso resultava na pequena diversidade no âmbito da economia. Vale ressaltar que,

além da função econômica, a social também é assumida pela pecuária ao longo da história do

Piauí.

O declínio na pecuária, no século XIX, contribuiu para uma crise econômica no Piauí,

que se deu devido ao baixo poder de compra da população, às grandes distâncias a vencer, aos

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

31

núcleos populacionais muito expressivos e à distribuição desigual da renda, concentrada nas

mãos dos coronéis (SANTANA, 2001). Assim, as atividades extrativistas da maniçoba e da

carnaúba ganharam destaque no cenário econômico, começando seus produtos, a borracha da

maniçoba e a cera da carnaúba, a serem exportados pelo Nordeste ainda no século XIX

(QUEIROZ, 2006).

A maniçoba teve papel de relevo na história econômica do Piauí, como citado por

Santana (2001, p. 90):

A primeira notícia que se tem sobre a produção de borracha no Piauí, encontra-se na

mensagem encaminhada pelo governador do Estado à Câmara Legislativa, em 2 de

julho de 1898. Informa que, em alguns municípios, estavam sendo exploradas,

embora por processos demorados e imperfeitos, mas com profícuos resultados e sob

os melhores auspícios, duas ricas variedades de borracha, estabelecendo-se, desde

logo, por altos preços, considerável comércio desse produto.

Sobre a produção da maniçoba no Estado e sua espacialização, Queiroz (2006, p. 33)

destaca que,

no Piauí, a produção da borracha concentrou-se principalmente em suas regiões

semiáridas e, em menor escala, em faixas definidas como de transição semiárida,

que constituíam as principais áreas de ocorrência nativa das plantas e também

sediavam o maior número de culturas. As maniçobas, entretanto, ocorriam em todo

o Estado.

O caráter predatório da atividade extrativa nos maniçobais era acentuado. Sua

exploração foi caracterizada pelo nomadismo, sendo incompatível com a realização de

investimento de qualquer vulto, inclusive com a conservação das árvores exploradas

(QUEIROZ, 2006).

No ano de 1902, a intensa extração de borracha desencadeou vasta devastação das

matas pelos que praticavam a atividade, matando, até milhares delas, de modo a esgotá-las.

Mais, mesmo com esse manejo inadequado, foi uma das principais fontes de receita no

período (SANTANA, 2001).

A queda dos preços da maniçoba resultou da inserção dos produtores asiáticos no

mercado a partir da primeira década do século XX,o que alterou a situação do monopólio da

borracha brasileira. No Piauí, em 1913, a queda do preço da maniçoba já era acentuada e já se

observava a perda de receita por parte do Estado, tornando a atividade economicamente pouco

significativa (QUEIROZ, 2006).

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

32

Sobre a importância que assumirá a exploração da carnaúba, Andrade (2005, p. 196)

discorre que,

a carnaubeira, palmeira que recobre grandes áreas dos vales secos do Açu do Apodi-

Mossoró, do Jaguaribe e do Acaraú e é abundante no médio São Francisco, tinha

grande importância devido à multiplicidade de atividades que apresentava. Vários

foram os visitantes a quem ela impressionou a ponto de o famoso Sábio Agassiz

afirmar que ela “fornece uma madeira muito linda, forte e durável, com que aqui se

fazem as armações dos telhados, dá também uma cera que, mais bem purificada e

clareada, daria velas excelentes; assim mesmo como é, constitui a única espécie de

iluminação usada; com suas fibras sedosas, fabricam-se cordas e um fio muito

resistente; o miolo das folhas, depois de cozido, dá um verdadeiro legume, mais

delicado que a couve, e as folhas inteiras servem de forragem muito nutritiva para o

gado. Na província do Ceará passa como um provérbio que: „onde a carnaúba não

falta, um homem possui tudo de que necessita para si e para o seu cavalo‟.

O principal produto de exportação advindo da carnaúba é a cera, obtida pela extração

do pó dos carnaubais. Em relação à cera, Santana (2001, p. 97) descreve que,

em 1860, a cera era imperfeitamente aproveitada pelos habitantes do lugar.

Anteriormente, a árvore era empregada na construção de currais, de casas, ou na

fabricação de utensílios, a exemplo de esteiras, chapéus, cofo, peneira, corda, e o pó,

em vela, etc.

Quanto ao extrativismo da carnaúba4, Andrade (2005, p. 197) chama a atenção para a

importância dos carnaubais, afirmando que,

pela extensão ocupada pelos carnaubais e pela multiplicidade de aplicações dos

produtos da carnaubeira, podemos afirmar que há um complexo cultural na região,

onde uma civilização da carnaúba está a exigir minucioso levantamento, inventário

que a encare do ponto de vista econômico, das influências culturais, antropológicas e

sociológicas, sem esquecer-se dos aspectos históricos.

Em 1907, a cera da carnaúba ganha importância e passa a ser mais valorizada como

produto para exportação, ocupando, em 1910, o terceiro lugar na pauta de exportações

(SANTANA, 2001). O primeiro pico de exportação da cera deu-se com a Primeira Guerra

Mundial. Após a guerra, o mercado volta a normalizar-se e há retração de preço,

influenciando o setor exportador e as áreas produtoras (QUEIROZ, 2006).

É curioso destacar que os ensaios da economia piauiense no mercado internacional só

dariam resultados durante a primeira metade do século XX. Ao longo de cinco décadas, a

dinâmica econômica foi dada pelas exportações de produtos extrativistas – borracha de

4 A questão do extrativismo da carnaúba será tratada no próximo item.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

33

maniçoba, cera de carnaúba e coco-babaçu – que sobrepujaram a função até então exercida

pela pecuária (QUEIROZ, 2006).

Para Rocha (1983), na primeira metade do século XX, as exportações de produtos

extrativistas tiveram importância econômica fundamental para o Estado, proporcionando,

inclusive, um fluxo de divisas em magnitudes relativas para o país. Os impactos mais

interessantes, em nível de Estado, ocasionados pelo extrativismo foram o surgimento de

algumas indústrias beneficiadoras, a expansão comercial, o aumento das receitas e das

finanças estaduais e, por conta disso, o empreendimento de uma série de melhoramentos

urbanos, como a implantação da rede de abastecimento de água na capital, a construção de

prédios públicos e a abertura de ruas e praças na capital e nas cidades interioranas.

De acordo com Araújo (2008), as exportações que se apresentavam como sendo dos

estados do Maranhão e Ceará eram, em grande número, do Piauí, que tinha parte de seus

produtos desviados pelos municípios que fazem limite com outros Estados. O autor ainda

relata que o estado do Piauí teve lugar de destaque nas exportações nacionais, atingindo, a

sétima colocação em valor nos anos de 1941 e 1942, superando os estados do Pará, Rio de

Janeiro e Pernambuco.

Conforme Araújo (2008), a falta de um porto com capacidade para receber

embarcações de grande calado foi o entrave para que o Piauí não alcançasse melhores

posições por mais tempo. Nessa fase da economia estadual, a atividade extrativista da

carnaúba atraía para si as forças produtivas e os investimentos, tanto que, na composição da

receita estadual de 1939 a 1949, 70% provinha de impactos gerados pela cera.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

34

4 O EXTRATIVISMO: UM CONTEXTO HISTÓRICO

4.1 O EXTRATIVISMO

Desde os primórdios da humanidade, o homem faz uso dos recursos naturais para sua

sobrevivência, tendo sempre retirado da natureza o necessário, através de uma ação

extrativista. No entanto, a partir do período em que deixa de ser nômade para se tornar

sedentário, esse uso torna-se mais intenso.

O extrativismo tem sido comumente descrito como uma atividade dos povos

primitivos. Mas, é uma atividade econômica de grupos sociais que não exclui a incorporação

de técnicas, nem a transformação e agregação de valor aos produtos, abrangendo inclusive

agropastoris. No Brasil, o extrativismo e o processo de ocupação ocorreram a partir da

colonização européia, no século XVI.

Carvalho e Gomes (2007, p. 3) relatam que “no período da colonização, destacou-se a

coleta das chamadas „Drogas do Sertão‟, que eram especiarias (plantas medicinais, cacau,

canela, baunilha, castanha e guaraná), extraídas da Amazônia, com elevado valor comercial”.

Já Clement (2006) afirma que, nesse período, o extrativismo foi o alicerce econômico da

Amazônia e do Brasil, tendo sua importância gradativamente diminuída pela atividade

agropecuária, mineração e, posteriormente, da indústria.

Sobre a economia extrativista, Homma (1993 apud RÊGO, 1999, p. 2) diz que a sua

decadência,

[...] começa pela descoberta do recurso natural que apresenta possibilidade

econômica ou útil [...] A sequencia natural é o início do extrativismo como atividade

econômica. Em geral, o crescimento do mercado e o processo tecnológico fazem

com que seja iniciada a domesticação desses recursos extrativos [...] e com que

sejam descobertos substitutos sintéticos.

Homma (1993, apud RÊGO, 1999) ressalta que poderá haver uma superação das

condições de atraso da atividade extrativa por meio de um salto de qualidade das forças

produtivas. Rêgo (1999) acrescenta que a visão de que a atividade se extinguirá advém da

referência a um extrativismo puro que pode sofrer domesticação.

Rêgo (1999, p. 58) apresenta um novo tipo de extrativismo que seria o

neoextrativismo, o qual está:

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

35

[....] ligado à totalidade social, em todas as instâncias da vida social: a econômica, a

política e a cultural. Na dimensão econômica, é um novo tipo de extrativismo que

promove um salto de qualidade pela incorporação de progresso técnico e envolve

novas alternativas de extração de recursos associados com cultivo, criação e

beneficiamento da produção.

A caracterização de neoextrativismo deve advir de uma conceituação precisa de

extrativismo, ainda visto, como a atividade de coleta de produtos naturais como os vegetais,

minerais e animais. Essa modalidade de extrativismo pode ser considerada como sustentável.

O neoextrativismo, segundo Rêgo (1999), abrange o “agro” e o “florestal”, além do

extrativismo puro. Contudo, não contém a agropecuária e a silvicultura moderna, baseadas na

Revolução Verde que acelerou a modernização agrícola, também não faz uso de fertilizantes e

biocidas. Utiliza, assim, a diversificação e o consórcio de espécies.

Outra alternativa sustentável para a atividade extrativista são as Unidades de

Conservação – UC, definida pela lei nº 9.985/00 do Sistema Nacional de Unidade de

Conservação – SNUC, em seu capítulo I, artigo 2º, como um:

[..] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,

com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público,

com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de

administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).

As UC‟s dividem-se em duas categorias: de proteção integral e a de uso sustentável,

podendo o extrativismo ser nesta praticado nesta última, denominando-se, assim, de Reserva

Extrativista.

A Reserva Extrativista – RESEX:

[...] é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais cuja subsistência

baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e

na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos

proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso

sustentável dos recursos naturais da unidade (BRASIL, 2000).

Quanto aos aspectos social e econômico da atividade, Figueiredo, Schmidt e Sampaio

(2006) afirmam que nas últimas décadas o comércio de produtos do extrativismo vegetal tem

sido apontado como forma de conciliar conservação e geração de renda para comunidades

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

36

locais, sendo mesmo um desafio garantir a efetiva conciliação entre a utilização sustentável de

recursos naturais e a qualidade de vida dos extrativistas.

Homma (1993, apud CLEMENT, 2006) destaca a importância da atividade extrativista

na complementação da renda, mas reforça que a maioria das famílias pratica agricultura

familiar como atividade principal.

Para Carvalho e Gomes (2007) o Nordeste brasileiro que concentra, historicamente, os

maiores focos de pobreza do país. Em sua área meio norte, que agrupa parte dos estados do

Piauí e Maranhão, uma atividade bastante característica, desenvolvida geralmente por grupos

de baixa renda, é o extrativismo vegetal, com aproveitamento do babaçu (Orbignia phalerata

Mart.) e da carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore).

Segundo os autores, o extrativismo, em especial o vegetal, reveste-se de fundamental

importância para a economia do Nordeste brasileiro, representando fonte de renda e absorção

de mão-de-obra no campo. No Brasil, o extrativismo apresenta-se em diversas regiões, com

destaque para a região Norte, que tem este como fator de ocupação de mão de obra.

Clement (2006) ressalta que o extrativismo contribui em todo o país para a

subsistência de considerável grupo de agricultores familiares em todo o país, com grande

importância na região amazônica, e maior ainda no Nordeste, que o tem como fator de

ocupação de mão de obra.

4.2 A CARNAÚBA: SUAS APLICAÇÕES E IMPACTOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE

EXTRATIVISTA

A carnaúba é uma Liliopsida da família Arecaceae Bercht & J. Presl, sendo explorada

em maior escala nas grandes propriedades, mas por ser planta nativa pode sê-lo também nas

pequenas. A denominação carnaúba derivou-se da palavra carnaíba, derivada da língua Tupi

(Caraná = cheia de escamas, áspero, arranhamento; iba = madeira), tendo sido introduzida

por George Marcgrav, donde veio carnaúba. No Ceará, chama-se carnaubeira a árvore e

carnaúba o seu fruto, enquanto no Piauí e no Rio Grande do Norte empregam-se ambos os

nomes, sem distinção (SANTOS, 1979).

Coube a Arruda Câmara classificá-la como Corypha cerifera, como passou a ser

chamada por pouco tempo, sendo depois classificada como Arrudaria cerifera, em

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

37

homenagem ao seu classificador. Ainda conforme Santos (1979), Martius rebatizou-a de

Copernicia cerifera, numa alusão a Copernius, famoso astrônomo do século XVI.

Segundo Alves e Coêlho (2008), a carnaubeira é uma planta que, em condições

normais, cresce, em média, cerca de 30 cm ao ano, atingindo a maturidade botânica (primeira

floração) entre 12 e 15 anos de idade e podendo produzir entre 45 e 60 folhas anuais. O

carnaubal instala-se nos vales dos rios e em baixões, preferindo solos argilosos (pesados),

aluviais (de margens dos rios) e com capacidade de suportar alagamentos prolongados na

época de chuvas, além de ser bastante resistente a elevados teores de salinidade e apresentar

elevada adaptabilidade ao calor ( suporta 3.000 horas de insolação por ano).

Nativa do Nordeste do Brasil, somente na área que compreende porções do leste do

Maranhão, os territórios dos estados do Piauí e Ceará e o oeste do Rio Grande do Norte a

extração da palha de carnaúba é de grande relevância econômica.

A carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore) fornece matérias-primas para

diversos produtos. Dela aproveita-se o pó cerífero, a partir do qual se extrai a cera de

carnaúba. Essa cera tem grande aplicação industrial, uma vez que entra na composição de

uma elevada gama de produtos na indústria cosmética, farmacêutica, de tintas automotivas,

informática, filmes plásticos e fotográficos, revestimentos, impermeabilizantes, lubrificantes,

vernizes, confecção de chips, tonners e códigos de barras, sem dizer da indústria alimentícia.

Os principais produtos advindos da carnaúba são os não madeireiros. A Portaria nº

432/2008 do Ministério da Agricultura (BRASIL, 2008) define produtos não madeireiros

todos os materiais de origem vegetal e fúngica oriundos dos ecossistemas nativos ou

agroecossistemas, produtos brutos e seus subprodutos, como raízes, cogumelos, cascas, cipós,

folhas, flores, frutos, sementes, exsudatos e fibras, destinados aos usos medicinal, ornamental,

aromático, alimentar, industrial, religioso e artesanal.

Tudo é aproveitado da carnaubeira. Na medicina caseira, as raízes se utilizam na

preparação de depurativos e diuréticos para o tratamento de várias doenças entre as quais se

destacam: úlceras, manifestações secundárias da sífilis, reumatismo e artrite. O caule se usa

como madeira para construção civil e marcenaria (caibro ou inteiro, ripas, calhas e mourões).

Os frutos alimentam animais de pequeno porte, da polpa produz-se uma espécie de farinha e

um leite semelhante ao extraído do babaçu.

A folha é a parte da palmeira de maior aproveitamento econômico. É dela que se extrai

o pó, de onde se faz a cera, com grande demanda no mercado internacional, tendo também

aplicação na produção de bens utilitários ou ornamentais (GOMES; NASCIMENTO, 2006).

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

38

No Piauí, o município de Campo Maior destaca-se no extrativismo da carnaúba, tanto

que, em estudo sobre os elementos indicadores de ecoeficiência5 na produção de pó e cera de

carnaúba nesse município, Carvalho (2005, p.84) enfatiza que,

a) O processo produtivo de pó não teve grandes mudanças no padrão tecnológico ao

longo da história, do corte à secagem mantém-se, ainda, a mesma estrutura do

início da atividade. [...]. Os equipamentos e/ou instrumentos de trabalho são de

baixo custo, foice com uma vara de bambu, facão e faca. Utilizam-se, para o

transporte, animais como mulas e jumentos, também de baixo custo que, em

muitas vezes, são animais de uso doméstico do responsável pela produção.

b) Já existiram tentativas de mudanças na forma de secagem das folhas, com

incremento de estruturas de estufas, mas não houve, ainda, disseminação dessa

técnica e a secagem permanece na forma tradicional de exposição ao sol sobre o

chão. As mudanças mais importantes, no processo de produção de pó, ocorreram

com a inserção da máquina de bater palha, que agilizou o processo de batição e

elevou, amplamente, a produtividade, reduzindo o esforço humano e o contato

com o pó em suspensão, no momento da batição, este com possibilidades de

provocar problemas respiratórios.

c) A produção de pó tem um mercado com importantes entraves no padrão

tecnológico, caracterizando um baixo nível de dinamismo econômico. Não há

uma estrutura produtiva formalizada; o negócio é montado apenas no período da

safra com uso de mão de obra informal.

d) É uma atividade extrativa que depende de melhorias no processo produtivo para

ampliar o nível de produtividade; essencialmente, melhorias na organização do

trabalho, incorporação de máquinas e equipamentos e nas condições genéticas de

cultivo das plantas para aumentar a capacidade produtiva.

O autor conclui que as empresas estão incorporando as premissas do desenvolvimento

sustentável e que a eco-eficiência, como traz esse propósito, procura conciliar desenvolvimento

econômico com redução de impactos.

A palha é depois da cera, o produto da carnaúba que tem mais importância econômica

no Nordeste, principalmente na produção artesanal. Utiliza-se essa matéria prima para a

confecção de inúmeros objetos, como tarrafas, escovas, cordas, chapéus, bolsas, vassouras,

cestas, acento de cadeiras, sofás, colchões, redes, esteiras, dentre outras.

Segundo Araújo (1996, p. 38), artesanato vem a ser,

atividade exercida com instrumentos e técnicas rudimentares, a fim de elaborar total

ou parcialmente um bem, podendo também contar com o uso de ferramentas

consideradas modernas – como, por exemplo, uma máquina de costurar que utiliza

até motor elétrico – desde que haja uma participação direta das pessoas que a

manejam na determinação das formas do produto, ou parte deste, em elaboração.

5 A ecoeficiência permite averiguar o desempenho econômico associado à redução de impacto sobre a natureza

(Carvalho, 2005).

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

39

Araújo (1996) considera, ainda, que o artesanato propicia oportunidade de trabalho e

ocupação para um grande contingente populacional que se inseriu no mercado informal de

trabalho.

Para o Centro de Apoio Tecnológico (2007), artesanato é tradicionalmente a produção

de caráter familiar na qual o produtor (artesão) possui os meios de produção (sendo o

proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalha com a família na própria casa, realizando

todas as etapas, desde o preparo da matéria-prima até o acabamento, não havendo, assim,

divisão de trabalho ou especialização para a confecção de algum produto.

Nesse contexto, destaca-se a contribuição do extrativismo vegetal, especificadamente

o da carnaúba para o cenário econômico e social onde se insere, afirmando Alves e Coêlho

(2008), acerca do uso da palha da carnaúba no estado do Rio Grande do Norte, que lá,

o artesanato de palha de carnaúba predomina nas regiões de Trairi e no Vale do rio

Assu, com trabalhos de destaque nas cidades de Assu, Ipanguaçu, Upanema, São

Rafael, Pedro Avelino, São José de Campestre, e zona metropolitana de Natal. A

carnaúba é uma das maiores fontes de matéria prima para o artesanato do Estado

(ALVES; COÊLHO, 2008, p. 49).

Para Alves e Coêlho (2008), a carnaúba é utilizada comumente no paisagismo. Em

cidades do Piauí, e do Ceará várias avenidas, espaços de passeio, estacionamentos, lojas e

condomínios estão ornamentados com carnaúba, o que supõe, pelo seu lento crescimento, que

tenham sido transplantadas dos locais de origem.

Além do artesanato, as palhas também são utilizadas na cobertura de casas, conforme

ilustrado na Fotografia 2, e na confecção de vassouras, produto que, no município de

Coivaras, se destaca como importante atividade econômica.

No Piauí, a carnaúba é protegida por um marco legal, num intuito de evitar sua

extinção por desmatamento e uso indiscriminado. Trata-se da Lei estadual nº 3.888, de 26 de

setembro de 1983 que, no artigo primeiro determina que,

è proibida a derrubada em áreas rurais de todo território estadual, de palmeiras de

babaçu [...], de carnaúba [...], de buriti [...], de arvores de pequizeiros [...], do

bacurizeiro [...], e da faveira [...] para qualquer fim, ressalvadas as exceções

previstas nesta Lei.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

40

Fotografia 2 - Casa coberta com palha de carnaúba – Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2008)

A atividade extrativista, realizada respeitando as normas da sustentabilidade, não

degrada o meio ambiente, deixando os recursos naturais para as gerações futuras.

Para Crespo (2007), o extrativismo é tido como atividade de menor pressão ao meio, o

que lhe confere apenas alterações de pouca significação ao potencial do vegetal. Uma

carnaúba pode conter até oito folhas fechadas (olho de carnaúba ou mangará6) de uma vez e,

após o corte, a sua reposição ocorre em um período de até 15 dias, podendo assim, repetir-se o

corte. Mas Silva e Gomes (2006, p.57) destacam práticas que podem ser pontos de impacto

ambiental, o que de maneira mais ou menos agressivas, afetam a carnaúba e o solo, com

efeitos sobre diversos componentes do ambiente, o que coloca em risco a sustentabilidade da

atividade extrativista,

ausência de um corte apurado e seletivo, realizado de forma drástica, provoca uma

diminuição sensível da área foliar da planta, ocasionado mudanças no seu ritmo

natural de crescimento; Agressão à renovação dos carnaubais devido à presença de

animais domésticos criados extensivamente como bovino, suíno, caprino que

comem os frutos em germinação da carnaubeira, principalmente os suínos; à

queimadas que eliminam as plantas, em destaque as mais jovens.

A atividade produtiva do artesanato da palha da carnaúba na extração da folha pode

apresentar um risco à sustentabilidade da atividade, embora os artesãos, ao não cortarem o

mangará, que provoca a morte da planta, demonstrem a consciência da necessidade de

conservação da planta

6 O mangará consiste na ponta terminal da inflorescência da carnaúba, conhecida em Coivaras como “olho da

carnaúba”.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

41

4.3 AGRICULTURA FAMILIAR

4.3.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL

No Brasil, a terminologia agricultura familiar é relativamente nova, sendo o termo

utilizado a partir da última década do século XX. Anteriormente, eram frequentes

denominações como pequeno agricultor, pequena produção e, especialmente, camponês

(DENARDI, 2001).

Lamarche (1993) considera que a agricultura familiar esteve sempre erroneamente

associada à pobreza no meio rural e à ineficiência no uso dos fatores produtivos. Para o autor,

isso não corresponde à verdade, pois essa modalidade de produção agrícola, na maioria das

vezes, é extremamente eficiente na combinação de seus fatores produtivos, apesar de não

possuir renda elevada, em razão dos limites físicos (em geral pequenas propriedades), da

baixa escolaridade e da ausência de poupança mínima.

Quanto à diversidade conceitual da agricultura familiar, o Departamento de Estudos

Sócio-Econômicos Rurais – DESER (1997, p. 13) acrescenta que:

A expressão agricultura familiar trata das realidades econômicas e sociais muito

diversas conforme a história e as características do meio. Ela abrange a grande

propriedade de uma centena de hectares nos países ocidentais até a pequena

agricultura de subsistência asiática ou africana com menos de dois hectares, e

mesmo os agricultores sem terra. O tamanho da propriedade pode, então, ser muito

variável. Os sistemas produtivos também podem ser muito diferentes, entre

proprietários familiares que praticam uma agricultura manual extensiva, utiliza

cultura atrelada, a motomecanização está em sistemas intensivos, etc.

De acordo com a Portaria nº 432/2008 do Ministério da Agricultura (BRASIL, 2008),

o agricultor familiar compreende: o assentado de reforma agrária, o extrativista, o pescador

artesanal ou o silvicultor, que promova o manejo sustentável do ambiente, desde que,

predominantemente, utilize mão de obra familiar, obtenha renda familiar, seja do próprio

estabelecimento ou empreendimento ou unidade de produção e dirija, com a família o seu

estabelecimento ou empreendimento.

Para Souza e Caume (2008), a agricultura familiar apresenta-se com três

características centrais:

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

42

a) A gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos por

indivíduos que mantêm entre si laços consanguíneos ou de casamento;

b) A maior parte do trabalho é fornecida pelos membros da família;

c) A propriedade dos meios de produção, embora nem sempre da terra, pertence à

família e é em seu interior que se realiza a transmissão em caso de falecimento ou de

aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva.

Carmo (1998) destaca as três principais funções apostas à exploração familiar:

produção, consumo e acumulação de patrimônio, e atribui-lhes uma lógica de

produção/reprodução em que cada geração procura assegurar um nível de vida estável para o

conjunto da família e a reprodução dos meios de produção. Enfatiza, ainda, que o

funcionamento de uma exploração familiar passa necessariamente pela família, enquanto

elemento básico da gestão financeira, destinação dos recursos monetários auferidos e do

trabalho total disponível internamente na unidade do conjunto familiar.

É válido sublinhar que o Brasil rural é formado por uma heterogeneidade de contextos

geográficos, socioambientais, econômicos e culturais, cada qual com possibilidades e limites

específicos para a realização de atividades agrícolas, pecuárias e extrativas. É preciso

reconhecer que o Brasil rural também é o da agricultura familiar, dos assentados da reforma

agrária, dos reassentados por obras públicas de infraestrutura, dos artesãos, das populações

tradicionais, enfim de uma infinidade de identidades coletivas que se (re)criam e buscam

afirmar sua especificidade cultural e histórica (DESER, 2007).

Carmo (1998) explicita que, dessa maneira, o conceito de agricultura familiar – que

objetiva apreender a importância da pequena produção, não tendo como elemento central

categorias estritamente econômicas – contrapõe-se à noção de empresa agrícola. Acrescenta,

ainda, que a agricultura familiar, pelas suas características de diversificação de produção e por

produzir em menor escala, pode apresentar-se como o espaço ideal para uma agricultura

sustentável. Esta fundamenta-se em princípios que englobam o social, o econômico, o

ambiental,o político e o cultural,

.

a agricultura sustentável, banalizada no contexto atual, é vista como um conjunto de

técnicas que podem minimizar alguns impactos ambientais. No entanto, ela só faz

sentido em um contexto diferente, onde a diversidade seja privilegiada nas relações

fisicas e sociais de produção, conferindo novo carater ás politicas públicas enquanto

um conjunto de instrumentos para se atingir determinadas metas, determinado

desenvolvimento. (CARMO,1998, p.236).

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

43

Nesse sentido, a forma de trabalho do agricultor familiar se aproxima da agricultura

sustentável, pela variedade da produção e pelo não uso de máquinas pesadas e agrotóxicos.

Carmo (1998, p. 226) diz que essa agricultura,

adapta-se a diferentes condiçoes regionais, aproveitando ao máximo os recursos

locais; Atua considearando o agrossistema como um todo, procurando inverter as

principais consequências da adoção das técnicas. O manejo do solo visa, sua

manuntenção minima, conservando a fauna e a flora; Retorno econômico a longo e

médio prazo, com elevado objetivo social; Relação capitalista baixa; Grande

diversificação: policultura ou cultura de rotação; Associação de produto animal e

vegetal.

A agricultura familiar responde por mais de 70% da produção de alimentos do país,

constituindo a base econômica de cerca de 90% dos municípios, o que corresponde a 35% do

PIB nacional e à ocupação de 40% da população economicamente ativa, mantendo

empregados milhões de brasileiros e conservando a paisagem rural ocupada e produtiva,

mesmo em menor grau. Contudo, depara-se com dificuldades de responder aos desafios de

maior competitividade da agricultura em geral. Esta, e a familiar sofreram os efeitos do

modelo de exportação de produtos primários, da importação substitutiva de produtos

nacionais e da assimetria das regras internacionais. Na transição da década de 80 para a de 90

do século XX, a agricultura brasileira, anteriormente protegida, foi exposta à concorrência

internacional, enquanto, o conjunto dos produtores rurais familiares não acompanhou essa

evolução e, como resultado, perdeu competitividade para seus concorrentes (ROSA,1999).

Quanto aos desafios estratégicos da agricultura familiar, DESER (1997) descreve que

deve ser levada em conta a multidimensionalidade dos papéis por ela desempenhados na

sociedade, considerando-lhe a dimensão política, econômica, tecnológica, social, territorial,

ambiental e cultural. DESER (1997, p. 8) expõe que dentre os desafios, destacam-se

a) O de se afirmar socialmente como um sujeito político capaz de se fazer

representar e de defender seus interesses coletivos no cenário das forças sociais que

disputam os rumos do projeto de desenvolvimento e de sociedade para o País.

b) A constituição de arranjos produtivos que articulem de forma integrada os

processos de produção, beneficiamento, agroindustrialização, armazenagem e

comercialização de produtos, permitindo-lhes condições mais favoráveis de

resistência e de luta contra o processo de globalização atualmente em curso nas áreas

rurais.

c) O desafio fundamental que condensa as ações na área social deve estar focado na

eliminação das desigualdades sociais, buscando-se estimular processos de inclusão

social, e promover constituição de novas relações sociais que eliminem as diversas

concepções e práticas coletivas reprodutora das desigualdades, da discriminação e

do preconceito rural.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

44

No que tange aos entraves, Rosa (1999) os identifica nos menores índices de

escolaridade, na dificuldade de acesso à energia elétrica e nos meios de comunicação, na

descompensada forma de acesso a terra e na falta de investimentos em infraestrutura no meio

rural. Sobre a temática, Carvalho (s/d) descreve que

A forma de pensar dominante normalmente caracterizou o agricultor familiar como

atrasado, resistente à modernização, que necessitava de ser convencida da adoção de

modernas técnicas agronômicas de produção. Tal modo de pensar resultou na maior

concentração da renda e da riqueza, este processo no âmbito da agricultura foi

denominado Revolução Verde, que estava amparado no produtivismo, na produção

em escala, em uma cultura alvo (monocultivo), na adubação química, no uso dos

agrotóxicos e tratores com crédito vinculado, ou seja, em torno de 20% do crédito

era para aquisição de insumos modernos.

Essa concepção da agricultura familiar como um setor arcaico está ainda enraizada,

em grande parte, na sociedade brasileira, bem como na elite agrária dominante.

Segundo o DESER (2007, p. 12), os agricultores familiares possuem capacidades de

levantar o desafio de um desenvolvimento sustentável, entre as quais se destacam,

a capacidade de criar ou manter empregos e manter jovens em seu território, e até

mesmo de absorver jovens que chegam ao mercado de trabalho; capacidade de

administrar o risco e de se adaptar; capacidade de lutar contra a pobreza e as

desigualdades; capacidade de produzir suficientemente para garantir a soberania

local e abastecer os mercados locais; capacidade de contribuir no crescimento

econômico, nas exportações e entrada de divisas; capacidade de preservar os

recursos naturais e a biodiversidade, de preservar o meio ambiente; capacidade de

manter especificidades culturais nos territórios rurais, considerados hoje como

territórios; capacidade de contribuir em processo de desenvolvimento local, e na

manutenção de territórios.

Corroborando este pensamento, Carneiro (1997) ressalta que o apoio à agricultura

familiar tem que ser pensado no âmbito do desenvolvimento local, no qual os aspectos

econômicos, ecológicos, sociais e culturais devem ser igualmente levados em conta na busca

de soluções não excludentes.

Em 2006, a legislação federal estabeleceu as diretrizes das políticas públicas do setor

familiar, definindo como agricultor familiar toda pessoa que exerce suas atividades no meio

rural, em uma superfície que não ultrapasse quatro módulos fiscais, predominantemente com

mão de obra familiar (DESER, 2007).

Como política pública de apoio e desenvolvimento da agricultura familiar, o governo

brasileiro apresenta o Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar – PRONAF, que

tem como objetivo geral propiciar condições para o aumento da capacidade produtiva,

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

45

geração de emprego e renda e melhoria da qualidade de vida dos agricultores. Esse programa

tem como objetivos específicos:

Ajustar as políticas públicas de acordo com a realidade dos agricultores

familiares;

Viabilizar a infraestrutura necessária à melhoria do desempenho produtivo dos

agricultores familiares;

Elevar o nível de profissionalização dos agricultores familiares, através do

acesso aos novos padrões de tecnologia e de gestão social;

Estimular o acesso desses agricultores ao mercado de insumos e produtos.

O público alvo do programa atende, necessariamente, os que se enquadram como

agricultores familiares.

4.4 DESENVOLVIMENTO LOCAL

A mudança para um novo paradigma de desenvolvimento mundial está ligada

diretamente ao processo de globalização com integração econômica, a formação de blocos

regionais e a emergência de grandes redes empresariais com estratégias e atuação mundial.

Essa globalização da economia não conseguiu sucumbir a relevância que tem o local,

nunca foi tão forte o desenvolvimento que dele advém e a descentralização econômica, social

e política, provocando movimentos localizados e endógenos de mudança e desenvolvimento

(BUARQUE, 2002).

Segundo Martinelli e Joyal (2004), a palavra local refere-se a uma conotação sócio-

territorial para o processo de desenvolvimento, não estando associada à ideia de diminuição

ou redução. Para Buarque (2002, p. 244),

sob um olhar estático, “o local” é percebido como espaço territorial definido e

identificado como a comunidade rural, o bairro, a microbacia, o município ou a

microrregião. No plano dinâmico visualizam-se relacionamentos de poder e o tecido

social em rede de comunidades, relativamente homogêneas e desarticuladas. Nesta

perspectiva, “o local” aparece como uma figura geográfica inserida dentro de outro

maior, de características globais.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

46

Para Jara (2001), a abordagem local refere-se às relações políticas, sociais, econômicas

e ambientais que vinculam ou separam os atores e os agentes sociais de determinado

território.

De acordo com Buarque (2002), o processo endógeno de mudanças, que proporciona o

dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população, apresenta aspectos de

sustentabilidade quando promove a ruptura da dependência, da inércia do

subdesenvolvimento e do atraso em localidades periféricas, desencadeando uma alteração

social no território. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento local deve assegurar a conservação

dos recursos naturais, que representam a base das potencialidades e condição para a qualidade

de vida da população local. Conforme Buarque (2002), Qualquer estratégia para a promoção

do desenvolvimento local deve-se estruturar em, pelo menos, três pilares:

Organização da sociedade, contribuindo para a formação de capital social local

(entendido como capacidade de organização e cooperação da sociedade local),

combinada com a formação de espaços institucionais de negociação e gestão;

Agregação de valor na cadeia produtiva, com articulação e aumento da

competitividade das atividades econômicas com vantagens locais; Reestruturação e

modernização do setor público local, como forma de descentralização das decisões e

elevação da eficiência e eficácia da gestão pública local. Estes três pilares devem

estar associados de forma concreta a ativos sociais, tais como: educação e

capacitação tecnológica.

Segundo Castells e Borja (1996, apud BUARQUE, 2002), as experiências bem

sucedidas de desenvolvimento local decorrem, quase sempre, de um ambiente político e social

favorável, expresso por uma mobilização e, sobretudo, por uma convergência importante dos

atores sociais do município ou comunidade em torno de determinadas prioridades e

orientações básicas. Representa, assim, o resultado de uma vontade conjunta e dominante da

sociedade que dá sustentação e viabilidade política a iniciativas e ações capazes de organizar

as energias e promover a dinamização e a transformação da realidade. Assim, o objetivo do

desenvolvimento local no processo de planejamento participativo e gestão social

compartilhada é unir na construção de vínculos e parcerias, as dimensões econômica, social,

cultural, política e ambiental.

Contudo, o desenvolvimento local demanda mudanças institucionais que aumentam a

governabilidade e a governança das instituições públicas locais, construindo uma autonomia

relativa das finanças públicas e acumulação de excedentes para investimentos sociais e

estratégicos para a localidade (BUARQUE, 2002).

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

47

Jara (2001) afirma que a construção de uma sociedade sustentável depende de decisão

política para ações que visam ao bem-estar comum. Essas ações caracterizam-se:

Na política de diálogo e na troca de percepções e comunicação flexível, para permitir

processar os conflitos entre atores sociais;

Na governança com justiça, equidade e eficiência;

Nas articulações do público com o privado;

No cuidar da natureza.

Essas mudanças iniciam pela internalização de novos valores e pela mobilização social

com vista ao futuro sustentável, com o compromisso de se trabalhar o social e o ambiental

para alcançar a diminuição das desigualdades sociais.

Segundo Santos (2005 p, 30),

o desenvolvimento local é um processo interno que acontece em pequenas unidades

territoriais e agrupamentos humanos capazes de promover dinamismo econômico e a

melhoria da qualidade de vida das pessoas. Representa uma enorme transformação

nas bases econômicas e na organização social em nível local, resultante da

mobilização integrada das energias da sociedade, explorando as suas capacidades e

as potencialidades específicas.

O desenvolvimento local está inserido em uma realidade complexa e ampla com a qual

interatua e da qual recebe influência e pressões, tanto positivas quanto negativas, sendo um

movimento que se constitui de forte conteúdo interno. Dentro das atuais condições de

mundialização da economia, o desenvolvimento local compreende algum tipo de integração

econômica mundial, nacional e regional que cria e redefine oportunidades e ameaças,

demandando competitividade e especialização (SANTOS, 2005).

Nesse sentido, uma abordagem sobre a questão ambiental passa pelo viés da

sustentabilidade que, conforme Severo, Ribas e Miguel (2008, p. 122),

refere-se ao uso dos recursos biofísicos, econômicos e sociais, segundo sua

capacidade em um espaço geográfico, mediante tecnologias biofísicas, econômicas,

sócias e institucionais para obter bens e serviços diretos e indiretos da agricultura e

dos recursos naturais para satisfazer as necessidades das gerações futuras, e

presentes. O valor presente dos bens e serviços deve representar mais que o valor

das externalidades e dos insumos incorporados, melhorando, ou pelo menos

mantendo, de forma indefinida, a produtividade do ambiente biofísico e social.

Cavalcante (2003) destaca que a política de desenvolvimento na montagem de uma

sociedade sustentável não pode desprezar as relações entre o homem e a natureza, que ditam o

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

48

que é possível em face do que é desejável. Optar pela sustentabilidade quer dizer adotar uma

reorientação de se conservar mais capital natural para as futuras gerações.

No tocante à sustentabilidade, Calvacante (2003) argumenta que, numa sociedade

sustentável, o progresso deve ser apreendido pela qualidade de vida, de saúde, de

longevidade, de maturidade psicológica, de educação, por um meio ambiente limpo e pelo

espírito de comunidade,

Sustentabilidade significa a possibilidade de se obterem continuamente condições

iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em dado

ecossistema [...] O conceito de sustentabilidade equivale à idéia de manutenção de

nosso ecossistema de suporte de vida. Ele significa comportamento que procura

obedecer às leis da natureza. Basicamente, trata-se do reconhecimento do que é

biofisicamente possível em uma perspectiva de longo prazo. (CAVALCANTE,

2003, p. 165).

A sustentabilidade deve estar presente no extrativismo, bem como na agricultura,

surgindo como base para a elaboração de políticas públicas de apoio a ações ligadas a essas

atividades, tendo em vista que, no Brasil, a prática extrativista envolve considerável gama de

cidadãos. A produção artesanal de vassouras de palha de carnaúba apresenta-se, na verdade,

com características de sustentabilidade, haja visto não haver necessidade da derrubada das

palmeiras para extração das folhas, sendo os resíduos empregados na agricultura.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

49

5 PRODUÇÃO ARTESANAL DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA EM

COIVARAS-PI

5.1 ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DE COIVARAS – PIAUÍ

Mendras (1997) afirma que as sociedades rurais se autodefinem por proporcionarem a

seus membros uma visão de mundo, um sistema de valores, um código de comportamento e

competências técnicas comuns a todos. Segundo o autor, o conjunto de crenças e de cultos

locais pode constituir uma religião particular da sociedade camponesa, variando de

coletividade para coletividade. O importante, para essa categoria é conservar seus deuses e

sua autonomia e preservar sua identidade.

Os aspectos culturais, caracterizados por Mendras (1997), são observados em

Coivaras, já que, a população detém sua religiosidade e mantém suas atividades culturais

dentro do espaço local. Na sede do município, há quatro templos, três evangélicos e um

católico, como ilustram as Fotografia 3e Fotografia 4.

Fotografia 3- Templo evangélico em Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2009)

Fotografia 4 - Detalhe do interior da igreja de Santa

Luzia em Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2009)

No mês de dezembro de cada ano, realiza-se o festejo de Santa Luzia, atraindo devotos

do próprio município e turistas da capital do Estado. Essa festa cultural tem início no dia 29

de novembro e estende-se até dia 13 de dezembro, traduzindo-se em atividade de maior

destaque econômico-social e cultural para o município de Coivaras.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

50

Anualmente, no dia 12 de dezembro, consagrado ao vaqueiro, acontece, pela manhã,

uma cavalgada, quando os vaqueiros da região saem em cortejo pelas ruas da cidade, como

mostrado na Fotografia 5, a qual se encerra com “a missa do vaqueiro”. Após a missa,

celebrada na igreja de Santa Luzia, deslocam-se para almoço, como ilustrado na Fotografia 6.

Às 17 horas, a população acompanha a procissão de Santa Luzia, juntamente com os

visitantes, tendo os vaqueiros à frente. Segundo relato de produtores de vassouras, no período

que antecede os festejos, há uma intensificação na sua confecção, e, na última semana, não

ocorre produção, isso indica a importância do evento para a sociedade coivarense.

Fotografia 5 - Procissão do vaqueiro no município

de Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2009)

Fotografia 6 - Almoço em homenagem aos

vaqueiros- Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2009)

Quanto à escolha do nome Coivaras7 para o município, a senhora Dos Anjos

8 informa

que,

o nome Coivaras se originou quando pessoas que vinham da Caatinga do Mimoso,

um povoado que existia, e essas pessoas passavam por aqui, chegavam à noite e se

arranchavam na ingazeira, lá tinha muitas lenhas e faziam grandes fogueiras, só que

eles não chamavam fogueiras, e sim coivaras, daí a origem do nome dado ao

município.

Sobre a origem do nome Coivaras, o primeiro, prefeito Benerval Freire Araújo, relata9

que,

7 Coivara: montículo de galhos ou gravetos mal queimados na roça a que se lançou fogo e que se juntam para

serem incinerados; fogueira (FERNANDES; LUFT; GUIMARÃES, 2000). 8 Entrevista de Dos Anjos, moradora de Coivaras, a Maria do Socorro B. A. dos Santos, concedida em 24 de

outubro 2008. 9 Entrevista de Benerval Freire Araújo a Maria do S. B. A. dos Santos, concedida em 26/11/2008.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

51

o nome Coivaras é porque teve aqui uma seca, um inverno fraco e tinha um olho

d‟água, chamado olho d‟água da ingazeira, muito forte e, na época, não era habitado

aqui, era pessoa pouquinha, um aqui; outra acolá. Aí o povo de uma região que é

mais pra cima, e é muito seca, vinha para cá fazer fogueira para adquirir uma cinza

para fazer sabão, porque a madeira eles queimavam, faziam coivaras e tiravam a

cinza. Aqui ainda não era Coivaras. Eles se juntavam lá no olho d‟água, aí que veio

o nome Coivaras. Foram mesmo os vaqueiros que botaram o nome de Coivaras,

quando vinham para campinhar junto ao olho d‟água.

Na organização social local, destaca-se o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, fundado

em 2 de julho de 1992, contando, em 2009, com 1.700 filiados.

O município possui um Centro de Saúde e equipe do PSF, composta por um médico,

uma enfermeira, oito agentes de saúde e um dentista.

O município conta com os níveis do Ensino Infantil ao Médio, distribuídos em 15

escolas, que atendem às modalidades de ensino presencial e Educação de Jovens e Adultos –

EJA. De acordo com dados fornecidos pela prefeitura de Coivaras, no ano de 2009 foram

matriculados 1.241 alunos nas escolas municipais, dos quais 640 nas escolas da zona urbana e

601 nas da zona rural, com assistência nos turnos da manhã, tarde e noite.

Segundo a Secretaria de Planejamento do Estado do Piauí – SEPLAN - PI, o

município está inserido no “Território de Desenvolvimento Entre Rios”, que é um dos

territórios da divisão do Estado, para fins de planejamento. Esta divisão visa transformar as

regiões do estado piauiense em territórios de desenvolvimento sustentável. Com este objetivo,

o Piauí foi dividido em 4 macrorregiões, 11 territórios e 28 aglomerados, tendo assim, o

território como célula básica de planejamento. Os territórios constituem, assim, unidades de

planejamento e têm, como meta, a diminuição das desigualdades e a melhoria da qualidade de

vida da população. A efetivação das ações governamentais concretizar-se-á a partir da

formulação do Plano Plurianual do Governo, das Diretrizes Orçamentárias, do Orçamento

Anual, dos Planos de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios e do Plano de

Desenvolvimento do Estado do Piauí.

O “Território de Desenvolvimento entre Rios” apresenta características, como:

Conter, em seu projeto, a capital do estado, Teresina, onde predomina os setores de

comércio e serviços, principalmente relacionados à saúde e à educação;

Apresentar a agropecuária com a agricultura familiar, a partir de cultivos tradicionais

de arroz, milho, feijão e mandioca, do extrativismo do coco babaçu e da carnaúba, da

exploração da castanha do caju e demais atividades, como a horticultura, a fruticultura, a

ovinocaprinocultura, a apicultura, a bovinocultura, a avicultura, a agroindústria da mandioca,

a polpa de frutas, o artesanato, a piscicultura e o turismo de negócios;

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

52

Apresentar-se como melhor estruturado dentre os 11 territórios, por estar inserido na

capital do estado,mas só em relação a serviços de infraestrutura e comunicação, mas também

nas condições de acesso a toda a rede pública, englobando serviços de saúde de alta e média

complexidade, ensino e pesquisa.

Tomando como parâmetro a contagem populacional de 2007 do IBGE, a distribuição

da população do Piauí apresenta-se em sua maioria, localizada no espaço urbano, evidenciado

na tabela 1. Esses números indicam uma tendência do tipo de sociedade que hoje se encontra

vivendo nos centros urbanos. No entanto, Coivaras possui sua população rural superior a

urbana. Supõe-se que isso se deve ao pouco tempo de emancipação do município, pois seu

desmembramento de Altos ocorreu somente em 1992.

Tabela 1 - População de Coivaras e do Piauí por situação de domicílio e gênero (2007)

Discriminação

Coivaras

Piauí

Urbana Rural Total¹

Urbana Rural Total¹

Total 1.089 2.708 3.797

1.944.840 1.087.581 3.032.421

Homens 540 1.447 1.987

918.250 563.326 1.481.576

Mulheres 549 1.258 1.807

1.014.033 515.020 1.529.053

Fonte: IBGE, Contagem da População, 2007

¹ Inclusive a população estimada nos domicílios fechados

Em relação ao aspecto econômico de Coivaras, a base principal da economia é

observada em duas modalidades produtivas: a agricultura familiar, com lavouras e criação de

animais, e o extrativismo.

Os dados relativos ao número e à área dos estabelecimentos com atividade

agropecuária, em 2006, revelam que havia 519 estabelecimentos no município de Coivaras,

ocupando uma área de 33.748 ha, o que corresponde a uma área média de 65,2 ha, como é

apresentado na tabela 2. Essa média da área de estabelecimentos indica a presença de

pequenas propriedades, caracterizando, assim, a prática da agricultura familiar.

A classificação das propriedades foi orientada pela Lei n 8.629, de 25 de fevereiro de

1993, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – (INCRA / SNCR- Manual

de Cadastro Rural), que classifica os imóveis rurais, quanto à sua dimensão, em:

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

53

Tabela 2 - Distribuição do número e área dos estabelecimentos

agropecuários no município de Coivaras – PI (2006)

Discriminação Total

Número de estabelecimentos 519

Área (ha) dos estabelecimentos 33.748

Área (ha) média 65,2

Fonte: IBGE ( 2006)

I - minifúndio - dimensão menor que um módulo fiscal fixado para o município;

II - pequena propriedade - imóvel rural de área compreendida entre 1 (um) a 4 (quatro)

módulos fiscais;

III - média propriedade - imóvel rural de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze)

módulos fiscais;

IV- grande propriedade - imóvel rural de área superior a 15 (quinze) módulos fiscais.

Segundo dados dos imóveis cadastrados junto ao INCRA até 14 de abril de 2010

(INCRA, 2010), em Coivaras10

a estrutura fundiária apresenta-se de acordo com as categorias

listadas na tabela 3.

Tabela 3 – Distribuição de imóveis rurais, seguindo categorias de propriedades

– Coivaras (2010)

Classes Imóveis

Quantidade %

Minifúndios 115 47,52

Pequena propriedade 86 35,54

Média propriedade 31 12,81

Grande propriedade 10 4,13

Total 242 100,00

Fonte: INCRA( 2010).

Outro indicador de que há efetivamente uma agricultura familiar no município de

Coivaras é a ocorrência de atividades produtivas envolvendo indivíduos com o mesmo grau

de parentesco, observando-se que 89,7% dos trabalhadores economicamente ativos pertencem

a estabelecimentos familiares, conforme indicado na tabela 4.

10

O módulo fiscal de Coivaras é de 30 ha.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

54

Tabela 4 - Distribuição dos trabalhadores em estabelecimentos familiares a

partir do grau de parentesco no município de Coivaras - PI (2006)

Tipo Quantidade %

Sem grau de parentesco 151 10,3

Com grau de parentesco 1.327 89,7

Total 1.478 100,0

Fonte: IBGE( 2006).

A respeito da agricultura familiar, Carmo (1998, p. 228) afirma que “o funcionamento

de uma exploração familiar passa necessariamente pela família, enquanto elemento básico de

gestão financeira, destinação de recursos monetários auferidos e do trabalho total disponível

internamente na unidade do conjunto familiar”. A autora acrescenta que a produção familiar,

devido às suas características de diversificação/integração de atividades vegetais e animais e,

por trabalhar em menores escalas, pode representar o locus ideal ao desenvolvimento de

agricultura ambientalmente sustentável.

Quanto aos produtos de lavouras permanentes de Coivaras, em 2008 destacaram-se a

cultura de caju (Anacardium occidentale L), com 277 toneladas de castanhas colhidas em 910

hectares, alcançando uma receita de R$ 148.000,00; seguida da manga (Mangifera indica L.),

com 96 toneladas, em uma área plantada de 20 hectares e receita de R$ 24.000,00, conforme

se visualiza na Tabela 5.

Tabela 5 - Distribuição dos principais produtos cultivados em lavouras permanentes

do município de Coivaras (2008)

Discriminação Castanha de Caju Manga

Quantidade produzida (ton.) 277 96

Valor da produção (mil reais) 148 24

Área Plantada (ha) 910 20

Área Colhida (ha) 910 20

Fonte: IBGE (2008)

Pelos dados, deduz-se que o município ainda tem uma produção de lavouras

permanentes incipiente e a população não despertou para a importância da diversificação.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

55

Assim, esse cultivo poderia ser uma alternativa para a melhoria da renda familiar, tendo em

vista que a produção pode ser comercializada na feira de Altos ou em supermercados e

comércios de municípios vizinhos. Ressalta-se, ainda, que Coivaras encontra-se a 70 km de

Teresina, o maior mercado consumidor do Estado.

Nas lavouras temporárias, o município de Coivaras, em 2008, teve como produtos

principais, em volume de produção, a mandioca (Manihot sp.), a cana-de-açúcar(Saccarum

officinarum) e o arroz (Aryra sariva), indicados na tabela 6. É válido destacar que a produção

de arroz alcançou, com 125 toneladas, uma receita de R$ 75.000.00; e a mandioca, com 496

toneladas, auferiu R$ 74.000,00.

Apesar de o feijão não apresentar uma produção expressiva em relação ao arroz e à

mandioca, conforme indicado na tabela 6, o grão constitui um dos principais itens da cesta

básica e da dieta alimentar dos coivarenses.

Tabela 6 - Distribuição dos principais produtos cultivados nas lavouras temporárias do

município de Coivaras - PI

Discriminação Arroz

(em casca)

Cana-de-

açúcar Feijão Mandioca Milho

Quantidade produzida

(ton.) 125 420 16 496 64

Valor da produção (mil

reais) 75 17 30 74 33

Área Plantada (ha) 178 15 60 62 135

Área Colhida (ha) 125 15 42 62 81

Fonte: IBGE( 2008).

Em Coivaras, o sistema de criação animal é extensivo, e os efetivos de maior destaque,

excetuando-se as aves, são os de caprinos e ovinos, com média de animais por

estabelecimento de 42,97 e 36,02, respectivamente, conforme apresentam na tabela 7. Isso se

deve ao seu fácil manejo, pois são criados soltos e não necessitando de investimentos de

grande porte. A média de cabeças dos demais rebanhos por estabelecimento confirma que a

atividade pecuária no município integra uma estrutura de produção familiar, parte da qual é

escoada na feira semanal de Altos, como ilustrado na Fotografia 7, Fotografia 8 e Fotografia

9.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

56

Tabela 7 - Distribuição do número de estabelecimentos e de cabeças, por tipo de criação no

município de Coivaras - PI (2006)

Tipo de

rebanho

Quantidade Média de animais por

estabelecimento Estabelecimentos Cabeças (un.)

Bovino 113 4.045 35,79

Caprino 184 7.908 42,97

Ovino 164 5.908 36,02

Suíno 229 3.425 14,95

Aves 394 10.661 27,05

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário (2006)

Fotografia 7 – Pequenos animais na feira de Altos – PI

(em destaque suíno)

Fonte: Araújo, (2009)

Fotografia 8 – Pequenos animais na feira de Altos – PI

(em destaque caprinos)

Fonte: Araújo (2009)

Fotografia 9 – Feira de pequenos animais em feira de

Altos - PI (em destaque aves)

Fonte: Santos (2009)

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

57

O sistema de criação animal funciona como uma reserva de renda para a maioria dos

pequenos criadores no município, tendo em vista que sua comercialização ocorre,

principalmente, quando há necessidade do complemento de recursos para suprir

eventualidades financeiras.

O extrativismo vegetal, com destaque para a palha da carnaúba, é uma atividade que

assegura complementação de renda para um grande contingente de agricultores familiares de

Coivaras, na medida em que fornece a matéria prima para a produção de vassouras. Ressalta-

se que da palha de carnaúba também é extraído o pó, utilizado na produção de cera, com largo

emprego na indústria. Segundo o IBGE (2008), o município de Coivaras produziu 111

toneladas de pó de carnaúba, o que gerou uma receita de R$ 333.000.00.

Sobre esse aspecto, Silva e Gomes (2006, p. 49) considera que, no Piauí,

a exploração da carnaúba para a produção do pó, de onde se extrai a cera, garante o

sustento de um contingente significativo de trabalhadores, em um período no qual o

cultivo de subsistência, em virtude da estação seca, característica da região, fica

impossibilitado.

Segundo Carvalho (2005), desde o início do século XX a extração do pó para a

produção da cera de carnaúba constituía-se numa atividade que respondia por boa parcela da

economia do Estado, configurando-se como produto regular de exportação, entre 1939 a 1946,

o auge da ascensão dos preços. Nesse período, assim como hoje, a atividade não requeria

maiores preparos de mão de obra, e embora a cera se tenha sobressaído como o mais dinâmico

produto derivado da carnaúba, os demais produtos promovem a melhoria da qualidade de vida

das pessoas, seja de forma direta, pelo consumo de bens artesanais, remédios, alimentos e

outros, seja indireta, pela geração de emprego e renda.

5.2 EXTRATIVISMO DA CARNAÚBA E CONFECÇÃO DE VASSOURAS

O extrativismo da carnaúba destaca-se em diversos municípios piauienses e objetiva a

extração do pó, utilizado na produção de cera. Porém em Coivaras, a produção extrativista da

carnaúba ganha destaque na confecção artesanal de vassouras. Desenvolvida em diversas

localidades, tanto no perímetro urbano, quanto nos povoados, é executada por produtores que

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

58

se dedicam, além disso, à agricultura familiar, aliada à produção vegetal e animal, conforme

ilustrado nas Fotografias 10 e 11.

Fotografia 10 - Produção de arroz em área de

carnaubal em Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2008)

Fotografia 11 – Criação de animais em área de

carnaubal em Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2008)

Identificaram-se 120 unidades de produção, sendo 21 na zona urbana e 99 na zona

rural, todas produzindo em moldes artesanais, das quais 48 foram selecionadas para esta

pesquisa.

Em todas as 48 unidades produtoras selecionadas, se realizaram observações do

processo produtivo. Após essa verificação, pode-se ordenar a sequência para a confecção de

vassouras, que se estabelecem conforme descritas a seguir:

A primeira etapa consiste na retirada das palhas da carnaubeira, utilizando-se, como

ferramenta, uma foice encaixada a uma vara de bambu (Bambusa sp.), como mostrado nas

Fotografias 12 e 13. Esta etapa requer bastante habilidade, pois há risco de a palha atingir

quem a está derrubando.

Carvalho (2005), estudando a ecoeficiência na produção com carnaúba no município

de Campo Maior, afirma que o processo de extração da folha não degrada o carnaubal, visto

que pouco se conhece sobre os danos do corte das folhas ao desenvolvimento do ciclo de vida

da planta, além do que as cortadas são repostas, naturalmente, e podem ser extraídas, outra

vez, na safra seguinte, constituindo, assim, recursos renováveis.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

59

Fotografia 12 - Foice: ferramenta encaixada à vara de

bambu para o corte das palhas da carnaúba- Coivaras-

PI Fonte: Santos (2009)

Fotografia 13 - Retirada da palha de carnaúba -

Coivaras-PI

Fonte: Santos (2009)

Sobre a retirada de palhas, Alves e Coêlho (2008) salientam que a precariedade das

condições físicas de trabalho em campo são precárias, pois o processo extrativo é rudimentar,

insalubre, inseguro, além de árduo. As hastes pontiagudas das folhas podem cair sobre o

vareiro podendo causar machucados e até cegueira.

A segunda etapa consiste em aparar a palha, quando o trabalhador, denominado

“aparador”, recolhe as palhas e retira o pecíolo, como pode ser visto na Fotografia 14. O

trabalhador utiliza uma proteção no braço em que acumula as palhas colhidas, geralmente

uma peça de tecido grosso (jeans ou brim) que evita que ele seja atingido com pontas das

palhas e espinhos. Forma-se, a cada cinqüenta palhas colhidas, um feixe, que é depositado em

local apropriado para, posteriormente, ser transportado, por animal de carga, carroça, moto,

bicicleta, ou camioneta até o ponto de secagem (Fotografia 15).

Fotografia 14 - "Apara", recolhimento e corte dos

talos das palhas, Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2009)

Fotografia 15 - Transporte da palha para o lastro,

Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2009)

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

60

A terceira etapa, denominada “riscagem”, consiste em desfiar com faca as palhas,

ainda verdes, quando já se delineiam os fios da vassoura (Fotografias 16 e 17). Observou-se,

em campo, que esta etapa é realizada por membros da família.

A quarta consiste em colocar ao sol a palha já riscada, a fim de que, mesmo ao secar,

esteja pronta para a próxima a fase. O local onde a palha é exposta ao sol se denomina lastro,

como representado na Fotografia 18. A palha fica exposta ao sol no lastro em média por três

dias, sendo recolhida em feixes (como se pode ver na Fotografia 19) para ser conduzida até o

ponto da etapa seguinte: a batição.

Fotografia 16 - Material utilizado para riscar a palha de

carnaúba(faca e tamborete), Coivaras-PI .

Fonte: Santos (2008)

Fotografia 17 - "Risca" da palha da carnaúba, Coivaras-

PI .

Fonte: Santos (2008)

Fotografia 18 - Palhas expostas ao sol, no lastro,

Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2008)

Fotografia 19 - Palhas secas ao sol, recolhidas do lastro

após secagem Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2008)

A quinta etapa da confecção de vassouras consiste na batição, ou seja, em “bater a

palha”, como se observa na Fotografia 20. Realiza-se em um quarto fechado, onde o

“batedor” com uma espécie de cassetete bate as palhas secas que estão postas em um gancho,

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

61

com o objetivo de retirar o pó cerífero. Como medida de segurança, o batedor utiliza um pano

sobre o rosto para que este não inale poeira e o pó propriamente dito. Observou-se em campo

que, mesmo com esta proteção, o batedor ainda está exposto a risco de doenças no decorrer

desta etapa.

Fotografia 20 - Fase em que se dá a batida da palha de carnaúba

para a retirada do pó, Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2008)

Vale ressaltar que, para a atividade em estudo, o produto principal é a palha, a ser

utilizada na confecção de vassouras, e não o pó cerífero. No período chuvoso, não há retirada de

palhas e as vassouras confeccionadas de janeiro a junho são feitas de palhas armazenadas em

forma de cupim.

O período da retirada da palha se dá entre julho a dezembro, podendo variar conforme

a duração do período chuvoso. No período sem extração da palha, de janeiro a junho, os

produtores de vassouras que não armazenaram palhas em cupim dedicam-se, principalmente,

ao cultivo de roça. Como exposto no depoimento Abaixo:

Eu trato da roça em janeiro faço só queimar no verão, deixo lá e agora só em janeiro,

quando termina a palha. E aí passo para a roça, pois a roça só chovendo, e a palha

chovendo não serve, não seca (NASCIMENTO, 2008)11

.

A sexta etapa da produção, denominada “cupinhar”, consiste em colocar as palhas,

após secagem ao sol, em forma circular, formando o “cupim”, como demonstrado nas

Fotografias 21 e 22. Esse cupim é utilizado como forma de armazenamento de palhas para

serem usadas durante o ano inteiro, inclusive no período chuvoso.

11

Entrevista de Antonio Nascimento à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos concedida em 25 de

outubro de 2008.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

62

Fotografia 21 - "Cupinhamento" das palhas

batidas,Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2008)

Fotografia 22 - Cupim: forma de armazenamento da

palha de carnaúba para produção de vassouras,

Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2009)

A sétima etapa consiste em juntar uma quantidade de palhas, amarrando-as com

embira de buriti (mauritia Spiciosa), ilustrada na Fotografia 23, ou fitilho, na Fotografia 24.

Após a junção das palhas para formar a vassoura, observada na Fotografia 25, demarca-se,

amarrando com fitilho ou embira de buriti, o local de corte (anelamento) do excesso de palha,

como se pode observar na Fotografia 26. Em média, para a formação da vassoura, utiliza-se

entre quatro a cinco palhas.

Fotografia 23 - Embira de buriti, Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2009)

Fotografia 24 – Fitilho, Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2009)

A oitava e última etapa, denominada ajuste, ilustrada na Fotografia 27, consiste em

cortar a parte desprezível da palha para a formação da vassoura. É justamente nesta etapa que

se obtém a bagana (ilustrada na Fotografia 28) parte da palha descartada e utilizada como

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

63

adubo em lavouras e quintais. Alguns produtores de vassouras vendem a bagana para

agricultores familiares da região.

Fotografia 25 - Junção das palhas para montagem da

vassoura, Coivaras-PI.

Fonte: Santos (2009)

Fotografia 26 - Anelamento da vassoura - Coivaras –

PI.

Fonte: Santos (2009)

Fotografia 27 - Ajuste da vassoura – Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2008)

Fotografia 28 – Bagana - descarte das palhas da

produção das vassouras – Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2009)

Sobre a bagana o senhor Antônio Nascimento descreve:

“Essa bagana é o maior adubo que tem para o legume. Eles compram na carrada

para botar em plantios, e aquilo, quando tem um pé de árvore que tá dando um

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

64

problema nele, eles levam e pode botar um pouco no pé, e ela acaba todo o problema

que tem no pé da fruta que tá pelejando pra botar. Pode botar que ele apuluma 12

.”

Nesse depoimento, observa-se que há o reaproveitamento pelo produtor de vassouras

do subproduto advindo de sua produção. Carmo (1998, p. 75) explicita que: “a vida do solo, o

equilíbrio dos ecossistemas, a diversificação e o uso da matéria orgânica são alguns dos

elementos que devem ser repensados em uma nova agricultura”.

Ainda de acordo com Carmo (1998), a sustentabilidade envolve o enfoque técnico-

produtivo, assim como o econômico, e não pode prescindir do enfoque ambiental, associado à

exploração dos recursos naturais e sociais ligados à concentração dos meios de produção.

Como na área da pesquisa a produção de vassouras está intrinsecamente ligada à

agricultura familiar; a bagana, pelas suas qualidades de retentora de umidade no solo e de

adubo, constitui-se num importante recurso, utilizado por produtores de vassouras nas

próprias áreas de plantio ou vendido para outros.

No período da pesquisa, uma carrada (caminhão) de bagana foi vendida a R$ 30,00.

Essa utilização pelos produtores do subproduto da palha de carnaúba para adubação de roças e

quintais indica que há uma prática com indícios de sustentabilidade na medida em que pode

contribuir para a diminuição do ritmo de desmatamento de novas áreas para cultivo, com

ganho de produtividade.

Na preparação para comercialização, as vassouras são unidas em grupos de 50

unidades, conforme mostra a Fotografia 29, utilizando-se embira de buriti ou fitilho. Cada

conjunto de cinquenta vassouras unidas é denominado “mói”, conforme ilustrado na

Fotografia 30. A quantidade de vassouras por “mói” em número de cinquenta é

tradicionalmente acertada pelos produtores de vassouras e comerciantes.

5.3 CONTEXTO DA COMERCIALIZAÇÃO DAS VASSOURAS DA PALHA DE

CARNAÚBA

A atividade extrativista, notadamente para a confecção de vassouras, é de expressiva

importância social e econômica para Coivaras, sendo a variedade das matérias-primas

12

Entrevista de Antonio Nascimento à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos, concedida em 25 de

outubro de 2008.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

65

utilizadas para confecção fator determinante na sua comercialização. Cabe salientar que da

carnaubeira extraem-se dois tipos de palha: a palha do olho - mais nova e mais fechada,

mostrada na Fotografia 31, e a palha mais velha e completamente aberta, vista na Fotografia

32. Assim, têm-se vassouras classificadas conforme o tipo de palha utilizado: vassoura de

olho (mais valorizada) e vassoura de palha.

Fotografia 29 – Preparação do "mói" de vassouras,

Coivaras – PI.

Fonte: Santos (2008)

Fotografia 30 - "Mói" de vassouras – Coivaras – PI.

Fonte: Araújo (2008)

Fotografia 31 - Olho da carnaúba, Coivaras-PI.

Fonte: Araújo (2009)

Fotografia 32- Palha da carnaúba, Coivaras-PI.

Fonte: Araújo (2009)

Outro ponto fundamental é a variação de preços das vassouras em função das matérias-

primas utilizadas e do acabamento relacionado com o tipo de palha, o tipo de fibra empregada

na junção das palhas ou o fitilho e a forma de traçado do amarradio da junção das palhas,

conforme mostrado nas Fotografias 33, 34 e 35.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

66

Fotografia 33 - Vassoura de palha amarrada com

embira de buriti, Coivaras-PI

Fonte: Santos (2009)

Fotografia 34 - Vassoura do olho amarrada com

fitilho,Coivaras-PI..

Fonte: Araújo (2009)

Fotografia 35 - Vassoura da palha amarrada com

fitilho,Coivaras-PI.

Fonte: Araújo (2009)

Quanto ao preço do material para amarrar e laçar as vassouras, no período da pesquisa

detectou-se que a unidade da embira do olho de buriti custava R$ 3,00 (três reais) e o tubo de

fitilho, R$ 1,90 (um real e noventa centavos). No entanto, com um tubo de fitilho de plástico se

faz duzentas vassouras, e com um olho de buriti se confeccionam somente setenta vassouras.

A vassoura amarrada com embira de buriti é mais vendável, no entanto tem sua

confecção mais lenta, devido à necessidade de umedecê-la constantemente com água para

evitar ressecamento e, consequentemente, a sua quebra. Daí ser essa forma de confecção

menos utilizada.

No processo de confecção das vassouras, o uso de fitilho não necessita de nenhum

tratamento, o que proporciona maior produtividade, enquanto que a produção com embira de

buriti é menos utilizada. Conforme depoimento a seguir:

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

67

“A vassoura pode ser tecida na embira de buriti, mais eu não uso porque nesse tempo

é preciso tá molhando todo tempo, e é mais dispendiosa, ela é mais rentável. Mais

resulta mais trabalho para se lutar com ela. É três real só um olho, e para trabalhar só

com olhos de bom tamanho13

.”

Quanto à diferença de preço entre estas, constatou-se que o mói de vassouras amarrado

com embira de buriti era vendido, no período da pesquisa por R$ 30,00 (trinta reais), e a

vassoura amarrada com fitilho por R$ 28,00 (vinte e oito reais).

Outro dado que merece destaque no tocante ao preço de comercialização das vassouras

é que estes variam de acordo com o período do ano. No período chuvoso, de janeiro a abril,

dependendo da instabilidade pluviométrica, a vassoura pode ter seu preço elevado, devido à

diminuição da produção. Também o local onde são comercializadas pode influenciar no preço,

o que pode ocorrer na feira semanal do município de Altos, ou no próprio local, vide

Fotografias 36 e 37.

No município, há a presença de atravessadores, pessoas que compram vassouras para

venderem para outros compradores, com preço ainda maior. Observou-se em campo que os

atravessadores têm poder de barganha com os produtores, principalmente quando há uma

grande oferta de vassouras. Os atravessadores compram a vassoura no local de confecção ou na

feira de Altos, e as levam para revenda em outros municípios do próprio Estado e/ou para os

estados do Maranhão e Pará.

Os donos de carnaubal, os arrendatários, os produtores e os aparadores, vareiros e

atravessadores são elementos participativos das etapas da confecção de vassouras ou de sua

comercialização.

Em Teresina, há uma larga utilização dessas vassouras pela população, sendo este

produto encontrado em estabelecimentos comerciais, tanto de pequeno como de grande porte, e

por ser um produto de baixo preço é acessível a todas as classes sociais.

13

Entrevista de Antônio Neto, produtor de vassouras, à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos, concedida

em 20 out. 2008.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

68

Fotografia 36 - Feira de Altos - Piauí

Fonte: Santos (2008)

Fotografia 37 - Caminhão carregado de vassouras –

Feira de Altos - Piauí

Fonte: Santos (2008)

5.4 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO PRODUTOR DE VASSOURAS DA

PALHA DE CARNAÚBA – COIVARAS/PI

No século XX, segundo Rocha (1998), a economia agrária do Piauí definiu-se em

função de três atividades, a pecuária extensiva, a lavoura de algodão e o extrativismo vegetal,

complementando-se com a incorporação de outra atividade essencial, a agricultura de

subsistência”. O autor reforça que essa atividade se combinará e acompanhará no tempo e no

espaço as demais que se desenvolvem no campo piauiense. Esse contexto ainda se apresenta

em municípios do estado do Piauí, bem como na área da pesquisa.

Em Coivaras, a pesquisa de campo mostrou que dos 48 produtores entrevistados, 33 são

do gênero masculino ( 68,75%) e 15 feminino ( 31,25% ), conforme disposto no Gráfico 1.

Ressalta-se, porém, a dupla jornada de trabalho das mulheres, relativa aos afazeres domésticos,

como relata Luzineide Carvalho14

:

“Eu começo o dia cuidando das coisas de casa, aí, depois vou para a vassoura.

Eu faço 100 vassouras de manhã e 100 vassouras a tarde e também faço os

“mói” de vassouras e risco 50 feixes de palhas todo dia. Faço vassoura de

manhã, depois que boto as panelas no fogo, faço comida e faço vassoura.

Depois do almoço eu passo até quatro horas fazendo vassouras.”

14

Entrevista de Luzineide Carvalho à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos, concedida em 26 de outubro

de 2008.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

69

Gráfico 1 - Distribuição dos produtores de vassouras da palha de carnaúba em Coivaras -

PI, segundo o gênero.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

A grande participação de homens como produtores indica que a atividade exige maior

esforço físico em diversas etapas de produção, como a derrubada da palha, que requer força

física. Ressalta-se ainda, que não foram identificados indivíduos com vínculo empregatício,

reforçando, assim, elementos típicos de uma agricultura familiar.

Com relação à categoria profissional citada pelos produtores de vassouras, a pesquisa

detectou que 81,25% dos entrevistados disseram ter como ocupação principal as atividades de

agricultor e produtor de vassouras, enquanto 16,67% relataram serem exclusivamente

produtores de vassouras da palha de carnaúba. Esses dados já implicam que a produção de

vassouras é fonte de ocupação/trabalho predominante na área estudada (ver Gráfico 2), estando

fortemente associada às atividades agrícolas, já que 4/5 dos produtores também são

agricultores.

Em Coivaras, a pesquisa revelou um certo equilíbrio entre os produtores, no que diz

respeito à propriedade da terra, como mostrado na tabela 08. Dos 48 entrevistados, 52,08% são

moradores agregados e 47,92% proprietários de terras. Esses indicadores, embora muito

próximos confirmam, o grande índice de trabalhadores sem acesso à moradia própria. Ressalte-

se que, dos 25 proprietários, apenas dois estão na zona urbana, sendo que na zona rural o

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

70

número de proprietários e de agregados é igual. Que explicaria, então, o elevado número de

proprietários como produtores de vassouras?

Gráfico 2 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo relação

com outras atividades no município de Coivaras - PI.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Tabela 8 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo condição de acesso

a terra no município de Coivaras (2008)

Discriminação Quantidade de produtores %

Proprietário 25 52,08

Morador Agregado 23 47,92

Total 48 100,00

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Ao argumentar sobre a posse da terra no Piauí, Rocha (1998) afirma que o que

caracterizou e ainda caracteriza, em certa medida, a pecuária e o extrativismo foi a grande

propriedade e não a grande exploração. O autor destaca que o sistema de propriedade da terra

definiu-se, basicamente, em função dessas atividades, com ênfase para a pecuária extensiva,

gerando, assim, uma estrutura de distribuição fundiária altamente desigual. Nem as crises que

assolaram esses sistemas produtivos modificaram o sistema de concentração de terra.

A área média dos estabelecimentos é de 65,2 ha, como explicitado na tabela 2, sendo

que dos imóveis rurais no município 47,52% minifúndios e 35,54 % pequenas propriedades,

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

71

conforme indicado na tabela 3. Há ainda uma baixa média de animais – gado (bovino, caprino,

suíno) e aves – por estabelecimento (Tabela 7), e um elevado percentual (89,79%) de

trabalhadores com grau de parentesco em estabelecimentos familiares, como apresentado na

Tabela 4. Considerando-se que as atividades agropecuárias no município se realizam com

práticas rudimentares que levam à baixa produtividade, mesmo os proprietários de terras se

vêem impelidos de procurar outras fontes de renda.

Quanto às condições físicas das residências dos produtores de vassouras em Coivaras,

destaca-se que em 37,5% delas o piso é de chão batido, embora a cobertura seja de telha em

91,67%( ver Tabela 9).

Tabela 9 - Características físicas das residências dos produtores de

vassouras no município de Coivaras - PI (2008)

Discriminação Número de

produtores %

Cobertura Telha 44 91,67

Palha 4 8,33

Parede

Tijolo/Alvenaria 23 47,92

Taipa 20 41,67

Adobe 4 8,33

Palha 1 2,08

Piso

Cerâmica 1 2,08

Cimento 26 54,17

Ladrilho 3 6,25

Chão Batido 18 37,5

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Com relação à fonte de água utilizada para consumo das famílias dos produtores de

vassouras na área pesquisa, verificou-se a seguinte distribuição: 58,35% usavam poço

cacimbão, 29,17% poço tubular, 10,42% cacimba e 2,08% chafariz. Essa situação indica a falta

de infraestrutura no abastecimento de água potável, item fundamental para a saúde humana.

Outra informação relevante são as formas de tratamento da água para consumo humano

no âmbito das residências dos produtores pesquisados. Os resultados obtidos (gráfico 3)

revelam que cerca de 1/3 dos produtores fazem uso de água coada e sem nenhum tipo de

tratamento, enquanto que 43,75% filtram a que consomem. Os dados sinalizam para uma

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

72

realidade na qual a água consumida não é tratada adequadamente, podendo contribuir para o

aparecimento de doenças causadas por consumo de água contaminada.

Gráfico 3 - Distribuição dos tipos de tratamento da água consumida nas residências dos

produtores de vassoura – Coivaras – PI.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Ainda relacionando os aspectos do saneamento básico, com relação ao destino dos

dejetos humanos, a pesquisa detectou que nas residências dos 48 entrevistados, 22 não possuem

fossa séptica, utilizando o “mato” como local de depósito de dejetos; 20 utilizam banheiro com

fossa séptica, cinco depositam em terreno baldio e um enterra, conforme é mostrado no Gráfico

4:

Gráfico 4 - Distribuição dos destinos dados aos dejetos humanos nas

residências dos produtores de vassouras no município de Coivaras –PI.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Destino dos dejetos

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

73

Com relação ao destino do lixo doméstico, dos 48 consultados na pesquisa, 75%

declararam queimarem-no, 22,92% depositam-no em terreno baldio e 2,08% fazem outro

procedimento, deixando-o a céu aberto. Ressalte-se que, dos domicílios pesquisados, 46 ou

95,83 % esta na zona rural. Os dados refletem a carência de política de saneamento na área em

estudo, mas servem como parâmetro para análise das condições sanitárias e ambientais,

demonstradas no Gráfico 5.

Gráfico 5 - Distribuição dos destinos dados ao lixo domiciliar dos produtores

de vassouras – Coivaras - PI

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Quanto ao tipo de combustível utilizado para cozimento dos alimentos, a pesquisa

detectou que em 56,25% das residências dos entrevistados utilizam carvão, 8,33% utilizam a

lenha, 6,25% e 29,17 % gás e o carvão conforme (tabela 10). O uso de lenha como

combustível para cozimento de alimentos justifica-se por fazer parte da cultura das

comunidades rurais e pelo fácil acesso a ela, bem como pelo baixo poder aquisitivo da

população.

5.4 ASPECTOS GERAIS DA PRODUÇÃO DE VASSOURAS EM COIVARAS-PI

O município de Coivaras possui características dinâmicas específicas que permitem a

análise do espaço a partir de seus elementos sociais e econômicos numa perspectiva de

Destino do lixo

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

74

sustentabilidade socioambiental. Nesse sentido, quanto à espacialização da produção

pesquisada, obtiveram-se os dados constantes na Tabela 11.

Tabela 10 - Distribuição das residências dos produtores de vassouras, segundo o tipo de combustível

utilizado para o cozimento de alimento – Coivaras - PI

Tipo de combustível Quantidade de pessoas %

Gás 3 6,25

Carvão 27 56,25

Lenha 4 8,33

Gás e Carvão 14 29,17

TOTAL 48 100,00

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Tabela 11 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba no município de Coivaras (2008),

segundo localidade e volume de produção semanal

Localidade Quant. de

produtores

Nº de

pessoas

na

produção

Produção semanal Média semanal

por unidade

produtiva Número

absoluto %

Zona urbana 2 8 13.000 10 6.500

Sambaíba 2 7 10.000 7,69 5.000

Boi Manso 6 12 21.000 16,15 3.500

Coivara de Baixo 2 6 7.000 5,38 3.500

Belo Horizonte 2 4 6.000 4,62 3.000

Buriti do Padre 1 3 3.000 2,31 3.000

Canto Alegre 14 36 37.500 28,85 2.679

Buriti Grande 2 10 4.000 3,08 2.000

Morro Redondo 1 2 2.000 1,54 2.000

São Félix 1 2 2.000 1,54 2.000

Benjamim 10 14 17.000 13,08 1.700

Belém 3 6 4.500 3,46 1.500

Caninana 2 3 3.000 2,31 1.500

TOTAL 48 113 130.000 100,00 37.879

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

75

Santos (2008) destaca que, o espaço deve ser considerado como um conjunto

indissociável do qual participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos

naturais e objetos sociais e, de outro, a vida que os anima ou aquilo que lhes dá vida, isto é a

sociedade em movimento.

Nas 13 localidades pesquisadas, observou-se que o maior percentual de produção

semanal, 28,85%, está na localidade Canto Alegre, seguida de Boi Manso, que detém 16,15%,

enquanto o menor concentra-se nas localidades Morro Redondo e São Félix, ambas com 1,54%

da produção de vassouras.

Tanto na zona urbana quanto na localidade Sambaíba, ocorre a contratação de

trabalhadores pagos por diária, no valor de R$ 15,00. O que explica o fato de essas localidades

destacarem-se com maior média semanal em produção. Ressalte-se que os produtores dessas

áreas possuem carnaubal próprio.

As menores médias foram encontradas nas localidades de Belém e Caninana com 1.500

unid./semanal, sendo que ambas não contratavam trabalhadores rurais.

A localidade Canto alegre é a que apresenta a maior concentração de produtores de

vassouras, entretanto nenhum possui carnaubal. É importante destacar que, na localidade Canto

Alegre, mesmo as famílias de maior poder aquisitivo também confeccionam vassouras.

Na atividade de produção de vassouras existem diversas formas de aquisição das palhas

de carnaúba, dentre as quais se destacam:

a) De carnaubal próprio, quando o vassoureiro é proprietário do carnaubal ;

b) Arrendamento, quando a palha é adquirida pela compra desta do dono do carnaubal

ou encarregado;

c) Compra palha já tirada, quando o dono do carnaubal ou encarregado vende a palha já

derrubada da carnaúba;

d) Outras formas, entre os vassoureiros há comercialização de palhas.

O proprietário do carnaubal ou seu representante tem um contrato informal, ou seja, um

acordo com os produtores, que se traduz em compromisso mútuo. Todos os anos, no período de

retirada da palha, o vassoureiro paga R$ 5 (cinco reais ), valor em 2008, pelo milheiro de palha,

ficando acertado que não podem derrubar a carnaúba, nem lhe tirar totalmente as palhas,

conforme depoimento seguinte:

“O dono do carnaubal ou rendeiro só não arrenda todos os anos pelo menos se você

arrenda a palha, tira e não paga a renda . No outro ano ele não arrenda mais, e se você

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

76

paga tudo certinho você está na frente, só se você despacha de não querer mais o

carnaubal dizendo não quero mais e você pode caçar outro, ele pode caçar outro15

.”

O arrendamento de carnaubais é uma forma significante de relação entre produtor de

vassouras e dono da terra e/ou arrendatário. Os dados indicam o arrendamento como a forma

predominante de acesso à matéria-prima, representada por 36 produtores, o que significa 75%

do total. Pode-se ainda destacar que, por meio do arrendamento, os produtores tem acesso às

palhas de carnaúba, os produtores com maior faixa de produção semanal, como apresentado no

Gráfico 6.

Gráfico 6 - Distribuição dos produtores, segundo produtividade e formas de aquisição da palha de carnaúba em

Coivaras – PI.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

O arrendamento de carnaubais também tem participação marcante na atividade

extrativista para a produção do pó de carnaúba no Nordeste do Brasil, conforme acrescentam

Alves e Coêlho (2006).

A categoria arrendamento deve-se ao fato de os proprietários das terras não terem como

prioridade a atividade extrativista, almejando dos carnaubais apenas a renda gerada com as

palhas.

15

Entrevista de Antônio Nascimento, produtor de vassouras, à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos,

concedida em 26 de outubro de 2008.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

77

Com relação ao tempo na atividade da confecção de vassouras, os dados da Tabela 12

revelam que 70,83% dos pesquisados as produzem há dez ou mais anos, Em segundo lugar,

apareceu o tempo de seis a menos de dez anos, totalizando cerca de 16,67%, sendo possível ser

justificado pela relativa facilidade de acesso à matéria-prima, à falta de exigência de

qualificação formal para o desempenho desse ofício e à escassez de oportunidades de inserção

no mercado de trabalho formal. E, também, pelo fato da renda advinda da produção de

vassouras ter retorno imediato, pois o que é produzido de segunda a quinta-feira, no final de

semana é escoado para a feira de Altos, ou vendido no próprio município.

Tabela 12 - Distribuição dos produtores de vassouras por tempo de dedicação à atividade

Coivaras - PI

Quantidade de anos Número de produtores %

De um a menos de três anos 2 4,17

De três a menos de seis anos 4 8,33

De seis a menos de dez anos 8 16,67

De dez a mais 34 70,83

TOTAL 48 100,00

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Em Coivaras, o setor é desenvolvido individualmente, è que, como verificado em

campo, inexiste prática cooperativa entre os produtores de vassouras, o que difere da situação

da Ilha Grande de Santa Isabel, onde, segundo Crespo (2007), o artesanato da carnaúba é uma

atividade com elevados níveis de cooperação entre os agentes produtivos, havendo quatro

organizações de artesãos.

Ainda segundo Crespo (2007), o arranjo produtivo da carnaúba no território de Ilha

Grande de Santa Isabel, no delta do Parnaiba, é constituído por pequenos negócios na extração

do pó de carnaúba, na atividade artesanal e na construção civil, as atividades complementares,

como no caso dos especializados no fornecimento de matérias primas (talo, palha, linho,

produtos alimentícios), apresentam sinais coletivos da presença de identidade social, cultural,

econômica, política, histórica e ambiental, devido a tradição técnica produtiva artesanal, com

grau de especificidade e originalidade suficientes para garantir a subsistência.

Sobre a atividade de produção de vassouras da palha de carnaúba em Coivaras:

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

78

“Quem não tem o estudo, o emprego e o serviço é esse a palha e a roça. Aí então é nós

mesmo aqui na palha, aqui ganha salário dobrado, porque não é no pó, porque o pó é

pouco e a vassoura que você faz quatro milheiro... você faz mil reais quatro milheiro

no preço que ela tá se ela não caí mais. Aí o pó você bate dez milheiro não dá quarenta

quilos de pó e não dá para apurar quarenta real. Não dá para se apurar trezentos reais

de pó no preço que tá. E quatro milheiro de vassouras você faz na semana com a palha

lá sequinha batida você faz mil reais. Então, nosso progresso aqui é esse... de quem

não tem estudo16

.”

Confirmando a importânciada da produção de vassouras para Coivaras, o funcionário da

Secretaria de Agricultura Raimundo Martins Barbosa, relata17

que:

A vassoura aqui em Coivaras é um trabalho muito avançado, se você andar em 100

casas você encontra 80 casas de vassoureiros, quando o cabra não tá fazendo vassoura

ele tá comprando palha. Nós temos aqui uma grande produção de vassouras, quase

todo mundo é produtor de vassouras.Também na cidade é grande o número de pessoas

que trabalham na vassoura e na roça, mais o forte é produção de vassoura, aqui se faz

produção o ano todo. O significado daqui é vassoura.

Assim, as duas atividades, agricultura familiar e extrativismo vegetal da carnaúba para

confecção de vassouras estão presentes na economia local. A renda gerada por ambas a partir

de um recurso/produto do extrativismo tem um grande significado para as famílias, e portanto,

na possibilidade de sua reprodução social/cultural das localidades na qual estão inseridos.

Nesse sentido, Crespo (2007), em estudos sobre o arranjo produtivo da carnaúba em

Ilha Grande de Santa Isabel, concluiu que ele apresenta sinais coletivos de identidade social,

cultural, econômico, político, histórico e ambiental, devido à tradição técnica artesanal, com

grau de especialidade e originalidade suficientes para garantir sua subsistência.

Com base em critérios de identificação do arranjo produtivo local da carnaúba no

território de Ilha Grande de Santa Isabel, Crespo (2007 p. 63) apresenta que:

a) “Grande número de negócios informais são realizados com carnaúba no território,

envolvendo atividades que geram ocupação e renda para parte significativa da

população local;

b) O arranjo é baseado em três atividades especializadas na exploração da carnaúba ,

são elas, produção do pó cerífero, produção de artesanato da palha, e do talo da

carnaúba e a atividade de construção civíl;

c) A mão de obra existente é abundante, porém não qualificada (nível escolar),

entretanto é rica em conhecimento ímplicito, adquirindo com a experiência passada

entre gerações e aperfeiçoada pelos cursos de capacitação;

d) A existência de atividades correlacionadas (montante e jusante da cadeia). O

arranjo possui no local os fornecedores de matérias primas e de insumos (montante),

que são: os fornecedores de alimentos e equipamentos para produção do pó,

fornecedores de palha, linho e talo da carnaúba para a confecção do artesanato, os

16

Entrevista de Antonio Neto à Maria do Socorro Barbosa Almeida dos Santos, concedida em 24/10/2008. 17

Entrevista de Raimundo Martins Barbosa concedida a José Luis L. Araújo em 02/06/2010.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

79

proprietários de carnaubal que vendem os caules para construção civil e arrendam os

carnaubais permitindo a exploração para a extração do pó;

e) Há significativo número de instituicões atuando no arranjo, principalmente na

atividade do artesanato, em consequência do associativismo da maioria dos

produtores,

f) Existência de forte comunidade local, grande número de produtores tem origem no

território,portanto possui fortes vínculos entre si e com a atividade de exploração da

carnaúba.”

A realidade encontrada em Coivaras, onde agricultores familiares praticam o

extrativismo como forma de obtenção de renda, se faz presente não só na região Nordeste. Reis

(2008) relata que, no Sudeste e Sul do país, no âmbito da Mata Atlântica e seus ecossistemas

associados, apesar do alto grau de degradação dos ambientes de vegetação natural, a atividade

extrativista possui grande importância social e cultural. O autor acrescenta, que essa situação é

especialmente relevante para agricultores familiares que, além de estarem envolvidos na

agricultura em suas propriedaes, praticam o extrativismo para complementação de renda.

Nas localidades pesquisadas em Coivaras, detectou-se que o tipo de agricultura

praticada é a tradicional, conforme exposto no Quadro 1, utilizando-se de rotatividade da terra

nas áreas de plantio, primeiramente, fazendo-se a broca; depois, a derrubada da vegetação e,

logo após, toca-se fogo, (Fotografia 38), prosseguindo-se com a pinica, logo após faz-se a

cerca do terreno, encoivara-se (fogueira localizada) e, por último, plantio e colheita. Segundo

depoimento de agricultores locais, está cada vez mais difícil encontrar terra para plantio em

Coivaras, restando como alternativa mais viável a confecção de vassouras.

Fotografia 38 – Queimada: fase de preparação da roça – Coivaras - PI

Fonte: Santos (2008)

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

80

Continua

Meses

Localidades

Atividades

Agropecuária Produção de vassouras

Cultivo/Criação Preparação da matéria-

prima Confecção

Janeiro

1. Bejamim Planta e capina -18 Faz vassoura

2. Belo Horizonte Capina e planta - Faz vassoura

3. São Félix Planta Tira palha até 30 de janeiro Faz vassoura

4. Boi Manso coivara e Planta - Faz vassoura

5. Buriti do Padre Planta - Faz vassoura

6. Buriti Grande Planta - Faz vassoura

7. Sambaíba Criação de porco, galinha, roça e capina - Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Criação de Porco, galinha, roça, cercar - faz vassoura

9. Canto Alegre Planta - Faz vassoura

10. Morro Redondo -* - Faz vassoura

11. Zona urbana planta Faz vassouras com palha

de cupim

12. Belém capina - Faz vassoura

13. Caninana Planta - Faz vassoura

Fev

ereiro

1. Bejamim Capina - Faz vassoura

2. Belo Horizonte Capina e planta - Faz vassoura

3. São Félix Limpa - Faz vassoura com palha de

cupim

4. Boi Manso Capina e limpa - Faz vassoura

5. Buriti do Padre Planta - Faz vassoura

6. Buriti Grande Limpa - Faz vassoura

7. Sambaíba - Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Roça e planta - Faz vassoura

9. Canto Alegre Planta - Faz vassoura

10. Morro Redondo - - Faz vassoura renda

11. Zona urbana Limpa e Roça - Faz vassoura com palha de

cupim

12. Belém Capina - Faz vassoura

13. Caninana Limpa - Faz vassoura

Março

1. Bejamim Limpa - Faz vassoura

2. Belo Horizonte Limpa - Faz vassoura

3. São Félix Esperar chuva - Faz vassoura

4. Boi Manso Limpa - Faz vassoura

5. Buriti do Padre Limpa - Faz vassoura

6. Buriti Grande Esperar a chuva - Faz vassoura

7. Sambaíba limpa Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Limpa o arroz - Faz vassoura

9. Canto Alegre Limpa do arroz - -faz vassoura

10. Morro Redondo - - Faz vassoura

11. Zona urbana Limpa Faz vassoura com palha de

cupim

12. Belém Limpa - Faz vassoura

13. Caninana Esperar a chuva - Faz vassoura

Ab

ril

1. Bejamim Limpa - Faz vassoura

2. Belo Horizonte Apanha - Faz vassoura

3. São Félix Apanha Faz vassoura

4. Boi Manso Apanha - Faz vassoura

5. Buriti do Padre Apanha - Faz vassoura

6. Buriti Grande Apanha - Faz vassoura

7. Sambaíba Apanha legume - Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Espera a colheita - Faz vassoura

18

*Sem informação em todos os casos assinados com hífen (-)

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

81

Continuação

9. Canto Alegre Limpa - Faz vassoura

10. Morro Redondo - - Faz vassoura

11. Zona urbana Roça já plantada, só esperar Faz vassoura

12. Belém Limpa - Faz vassoura

13. Caninana Apanha - Faz vassoura

Maio

1. Bejamim Apanha - Faz vassoura

2. Belo Horizonte Apanha - Faz vassoura

3. São Félix Apanha Faz vassoura

4. Boi Manso Apanha Faz vassoura

5. Buriti do Padre Apanha arroz e feijão - Faz vassoura

6. Buriti Grande Apanha Tira palha Faz vassoura

7. Sambaíba Apanha Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Apanha da roça - Faz vassoura

9. Canto Alegre Apanha do arroz - Faz vassoura

10. Morro Redondo - - Faz vassoura

11. Zona urbana Apanha de arroz - Faz vassoura

12. Belém Apanha

Arroz - Faz vassoura

13. Caninana Apanha Tira palha Faz vassoura

Jun

ho

1. Bejamim Apanha - Faz vassoura

2. Belo Horizonte - - Faz vassoura

3. São Félix - - Faz vassoura

4. Boi Manso - Faz vassoura

5. Buriti do Padre Terminando a apanha - Faz vassoura

6. Buriti Grande Limpa da mandioca Tira a palha Faz vassoura

7. Sambaíba Apanha Faz vassoura-

8. Coivara de Baixo Apanha - Faz vassoura

9. Canto Alegre - Tira a palha Faz vassoura

10. Morro Redondo - - Faz vassoura-

11. Zona urbana Apanha de arroz - Faz vassoura-

12. Belém Apanha Tira a palha Faz vassoura-

13. Caninana Limpa da mandioca Tira a palha Faz vassoura

Julh

o

1. Benjamim - Tira a palha -faz vassoura

2. Belo Horizonte Broca - Faz vassoura-

3. São Félix - Tira a palha Faz vassoura

4. Boi Manso - Tira a palha Faz vassoura-

5. Buriti do Padre Farinhada - Faz vassoura-

6. Buriti Grande Arranca mandioca Tira a palha Faz vassoura

7. Sambaíba Broca Tira a Palha Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Broca Tira a palha Faz vassoura-

9. Canto Alegre - Tira a palha Faz vassoura

10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura

11. Zona urbana - Tira a palha Faz vassoura-

12. Belém Apanha - Faz vassoura-

13. Caninana Arranca mandioca Tira a palha Faz vassoura

Ag

osto

1. Benjamim - Tira a palha Faz vassoura

2. Belo Horizonte Broca - -faz vassoura

3. São Félix Broca Tira a palha Faz vassoura

4. Boi Manso - Tira a palha Faz vassoura-

5. Buriti do Padre Broca - Faz vassoura-

6. Buriti Grande - Tira a palha Faz vassoura

7. Sambaíba - Tira a palha Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Termina a broca - Faz vassoura-

9. Canto Alegre - Tira a palha Faz vassoura

10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura

11. Zona urbana - - Faz vassoura-

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

82

Conclusão

12. Belém - Tira a palha Faz vassoura

13. Caninana - Tira a palha Faz vassoura

Setem

bro

1. Benjamim - Tira a palha Faz vassoura

2. Belo Horizonte Broca Tira a palha Faz vassoura

3. São Félix Derruba Tira a palha Faz vassoura

4. Boi Manso Broca Tira a palha Faz vassoura

5. Buriti do Padre Broca Tira a palha Faz vassoura

6. Buriti Grande Broca Tira a palha Faz vassoura

7. Sambaíba - Tira a palha Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Queima Tira a palha Faz vassoura

9. Canto Alegre Broca Tira a palha Faz vassoura

10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura

11. Zona urbana - Tira a palha Faz vassoura

12. Belém - Tira a palha Faz vassoura

13. Caninana Broca Tira a palha Faz vassoura

Ou

tub

ro

1. Bejamim Broca Tira a palha Faz vassoura

2. Belo Horizonte - Tira a palha Faz vassoura

3. São Félix Queima Tira a palha Faz vassoura

4. Boi Manso Broca Tira a palha Faz vassoura

5. Buriti do Padre Broca Tira a palha Faz vassoura

6. Buriti Grande Queima, Pinica Tira a palha Faz vassoura

7. Sambaíba - Tira a palha Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Derruba Tira a palha Faz vassoura

9. Canto Alegre Derruba, Queima e Pinica Tira a palha Faz vassoura

10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura

11. Zona urbana Queima e Pinica Tira a palha Faz vassoura

12. Belém Broca Tira a palha Faz vassoura

13. Caninana Queima, Pinica Tira a palha Faz vassoura

No

vem

bro

1. Benjamim Derruba Tira a palha Faz vassoura

2. Belo Horizonte Derruba e Queima Tira a palha Faz vassoura

3. São Félix Pinica e Cerca Tira a palha Faz vassoura

4. Boi Manso Queima e Pinica Tira a palha Faz vassoura

5. Buriti do Padre Derruba Tira a palha Faz vassoura

6. Buriti Grande Cerca Tira a palha Faz vassoura

7. Sambaíba Queima Tira a palha Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Pinica Tira a palha Faz vassoura

9. Canto Alegre Cerca Tira a palha Faz vassoura

10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura

11. Zona urbana - Tira a palha Faz vassoura

12. Belém Derruba Tira a palha Faz vassoura

13. Caninana Cerca Tira a palha Faz vassoura

Dezem

bro

1. Benjamim Queima Tira a palha Faz vassoura

2. Belo Horizonte Pinica Tira a palha Faz vassoura

3. São Félix Espera a chuva Tira a palha Faz vassoura

4. Boi Manso Queima e cerca Tira a palha Faz vassoura-

5. Buriti do Padre Pinica Tira a palha Faz vassoura

6. Buriti Grande - Tira a palha Faz vassoura

7. Sambaíba Cerca Tira a palha Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Pinica Tira a palha Faz vassoura

9. Canto Alegre Esperando chuva Tira a palha Faz vassoura

10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura-

11. Zona urbana - Tira a palha Faz vassoura

12. Belém Queima Tira a palha Faz vassoura

13. Caninana - Tira a palha Faz vassoura

Quadro 1 - Calendário anual de atividades na agricultura e confecção de vassouras nas unidades de produção de

vassouras pesquisadas no município de Coivaras – PI

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

83

De acordo com o Quadro 1, no município de Coivaras prevalece a atividade agrícola

no primeiro semestre, com diminuição da produção de vassouras, fato justificado pela época

de chuva na região, que impossibilita a retirada de palha. Os produtores que confeccionam

vassouras nesse período armazenaram palha em forma de cupim, enquanto, no segundo

semestre, há uma intensificação da produção de vassouras, sem alteração na atividade

agropecuária.

Verifica-se, assim, uma ligação entre a atividade agropecuária e o extrativismo, que

serve de suporte para a economia local.

No tocante ao local de confecção de vassouras, detectou-se que 77,08% dos

entrevistados possuem ambiente específico para desenvolver a atividade, ou seja, um galpão

(sempre próximos às residências), como ilustrado pelas Fotografias 39 e 40. Já 16,67%

disseram que confeccionam vassouras dentro de sua própria residência; enquanto 6,25%

relataram que as produzem em outro local (debaixo de árvores, em seus quintais).

Fotografia 39 - Galpão (ao fundo) onde são

confeccionadas as vassouras – Coivaras - PI

Fonte: Santos (2008)

Fotografia 40 – Estrutura interna de um galpão –

Coivaras - PI

Fonte: Santos (2008)

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

84

A pesquisa revelou que, dos 48 produtores, 50,00 % declararam obter de um a menos

de dois salários mínimos mensais com a venda de vassouras, 33,33% apresentaram-se com

renda de menos de um salário mínimo mensal; 14,58% ganham de dois a menos de três

salários mínimos mensais e 2,08% declararam obter de três a menos de quatro salários

mínimos mensais com esta atividade. Considerando-se o valor médio das classes de renda

mensal, expressas no Gráfico 7, a pesquisa junto aos vassoureiros demonstrou que, dos 48

entrevistados, representando 40,00 % dos produtores de Coivaras, obtiveram juntos uma

receita anual de cerca de R$ 269.750,00 (duzentos e sessenta e nove mil e setecentos e

cinquenta reais) no ano de 2008. Vale ressaltar que o valor da produção vassoureira descrito

representa apenas a produção de cerca de um terço dos produtores de vassouras em Coivaras,

o que permite estimular uma renda anual para todos os produtores no valor de R$ 674.375,00

(seiscentos e setenta e quatro mil e trezentos e setenta e cinco reais).

Gráfico 7 - Distribuição segundo renda mensal com produção de vassouras no município de

Coivaras-PI.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Comparando a produção vassoureira com dados do Censo Agropecuário de 2008,

Coivaras produziu 111 toneladas de pó da carnaúba, com uma receita de R$ 333.000,00

(trezentos e trinta e três mil reais), enquanto o cultivo de lavouras temporárias e permanentes

juntas auferiram R$ 401.000,00 (quatrocentos e um mil reais), conforme tabelas 5 e 6.

Verifica-se que a atividade vassoureira no município tem um faturamento aproximado ao

obtido com a extração do pó da carnaúba e o cultivo de lavouras permanentes e temporárias.

Essas famílias também cultivam roça, cuja renda não necessariamente se reverte em

dinheiro, pois sua principal finalidade é o autosustento.

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

85

Em depoimento, Luzineide Carvalho19

, produtora de vassouras, diz que “o dinheiro

mesmo é da vassoura, porque a roça a gente planta para tirar as coisas para dentro de casa. O

arroz, o feijão, e o grosso mesmo, é a vassoura”.

Com relação ao exposto pela senhora Luzineide Carvalho, seu esposo, o produtor de

vassouras Antônio Nascimento20

, em entrevista relatou que:

“O lucro da vassoura dá justamente com alguma coisa que você faz para casa na

alimentação, nos remédios, no transporte, e vai indo. A gente pega o dinheiro, mas

quando termina de resolver, tá acabando. Ainda bem que tá dando para manter a

vida.”

Esses depoimentos demonstram a importância econômica da produção de

vassouras como fonte de renda das famílias que as confeccionam e que esses valores em

salários mínimos, para os parâmetros locais, são bem significativos.

O Gráfico 8 indica que, dentre os produtores de vassouras, 25 (52,08%) têm a

propriedade da terra onde residem e apenas 6 (24,00%), dentre os proprietários, ganham

menos de um salário mínimo mensal com vassouras, faixa de renda encontrada em 10

(43,47%) dos moradores agregados. A renda advinda da produção de vassouras torna-se ainda

mais relevante quando consorciada à agricultura familiar.

Gráfico 8 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo relação entre condições de

acesso a terra e renda - Coivaras –PI.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

19

Entrevista de Maria Luzineide Rodrigues Carvalho, produtora de vassouras à Maria do Socorro Barbosa

Almeida do Santos, concedida em 24 de outubro de 2008. 20

Entrevista de Antônio Nascimento, produtor de vassouras, à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos

concedida em 25 out. 2008.

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

86

Dos entrevistados, detectou-se que, de acordo com a média de produção semanal de

vassouras, 29 (60,42 %) produziram até 2.000 unidades, dos quais 20 (68,96%) trabalham na

atividade há mais de 10 anos(Gráfico 9).

Gráfico 9 - Distribuição da média de produção de vassouras da palha de carnaúba . por tempo dedicado à

atividade em Coivaras – PI.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Cabe ressaltar que os produtores que apresentaram maior volume de produção se

inserem entre os que confeccionam vassouras há mais tempo.

Analisando-se a relação entre o tempo na atividade e a renda mensal, exposta no

Gráfico 10, observa-se que as maiores faixas de renda estão entre aqueles com mais de seis

anos na atividade. Contudo, cerca de um terço dos que já tem dez anos ou mais tem renda

inferior ao salário mínimo. Aliás, entre os fatores que podem limitar a produção de vassouras

em Coivaras destacam-se os poucos recursos financeiros para comprar palhas e a mão-de-obra

familiar reduzida, pois em algumas famílias somente os adultos exercem a atividade.

A relação entre volume de produção e local de comercialização, exposta no Gráfico 11

indica a grande relevância da feira semanal de Altos, que ocorre aos sábados. Essa feira

traduz-se em ponto quase exclusivo de convergência de toda a produção de vassouras de

Coivaras e de outros municípios circunvizinhos.

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

87

Gráfico 10 - Distribuição dos produtores de vassoura da palha de carnaúba, segundo a relação entre renda

mensal e tempo de atividade no município de Coivaras – PI.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Gráfico 11 - Distribuição dos produtores de vassouras da palha de carnaúba, segundo média semanal e relação

com local de produção – Coivaras – PI.

Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

88

Observa-se assim que quanto menor o volume de produção, mais os produtores de

Coivaras comercializam na feira semanal de Altos, inferindo-se que se o município de

Coivaras possuísse sua própria feira semanal poderia haver uma diminuição das pressões dos

atravessadores sobre os produtores e, certamente, dar-se-ia maior valorização nos preços das

vassouras com maior lucro e maior incremento da economia local. Supõe-se que a

inexistência de uma feira semanal em Coivaras deva-se ao fato de o município ter sido

desmembrado há pouco tempo de Altos e ainda não despertou para a importância econômica e

social da produção de vassouras. Ademais, o asfaltamento da estrada que liga Coivaras a

Altos, concluída no início de 2010, poderá repercutir na melhoria do ganho da atividade.

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

89

6 CONCLUSÃO

A carnaúba é uma árvore nativa do Nordeste que representou importante papel

no processo de ocupação do espaço e no desdobramento da economia piauiense até os

dias atuais.

Coivaras apresenta potencial econômico no que se refere a atividades extrativas

aliadas à agricultura familiar, representadas principalmente pela extração da carnaúba,

de cuja palha se extrai o pó – matéria-prima para a produção de cera – se

confeccionam vassouras.

Um número considerável de famílias desse município tem como principal fonte

de sustentação o consórcio agropecuário e a produção de vassouras.

Destaca-se no município a predominância de pequenos proprietários, o que se

reflete na produção agropecuária, exercida em moldes tradicionais, com baixo índice

de produtividade. No rebanho, predominam pequenos animais (caprino, ovino e suíno),

cuja produção é escoada para a feira semanal de Altos - PI.

O arrendamento é a forma predominante de aquisição de matéria-prima para a

confecção de vassouras, o que denota uma atividade de pequenos produtores rurais,

ainda que proprietários de terra. A mão de obra familiar e o conhecimento é tácito,

passando de geração a geração, não se constatando, durante a pesquisa, qualquer tipo

de cooperação entre produtores, nem a participação em cursos de capacitação para

aprimoramento técnico ou organização da categoria.

A atividade de confecção de vassouras não traz impacto negativo ao meio

ambiente é que, para a obtenção da palha, principal matéria-prima, não é necessária a

derrubada da carnaúba, Além do que a bagana (excesso de palha da vassoura) é

utilizada como adubo em quintais e lavouras, configurando-se como atividade

sustentável.

As relações da produção de vassouras com a agropecuária dão-se nos âmbitos

da conjugação de atividades e de práticas socioculturais, pois se trata de uma atividade

artesanal que absorve mão de obra familiar, reforça laços de reprodução cultural local

e, contribui para a fixação do homem a terra. Configura-se, assim, como atividade

fomentadora de processos que induzem ao desenvolvimento local , com

sustentabilidade.

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

90

Sublinhe-se que pensar em sustentabilidade e viabilidade da atividade de

produção de vassouras no município de Coivaras não passa apenas pela adoção de

infraestrutura ( estradas, eletrificação, escolas, postos de saúde, qualidade na moradia ,

etc). Mas também implica o implemento de políticas públicas direcionadas ao pequeno

produtor, no que tange o acesso a crédito e a capacitação a partir das potencialidades

locais, respeitando-se os saberes e a cultura.

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

91

REFERÊNCIAS

AGUIAR, R. B; GOMES, J. R. C. (Org.). Projeto cadastro de fontes de abastecimento por

água subterrânea, estado do Piauí: diagnóstico do município de Coivaras. Fortaleza:

CPRM, 2004.

ALMEIDA, R. M. Sesmarias e terras devolutas. Revista de informação legislativa, abr./jun.

2003.

ALVES, M. O.; COÊLHO, J. D. Extrativismo da carnaúba: relações de produção,

tecnologia e mercados. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2008. (Série Documentos do

ETENE, 20).

_______. Extrativismo da carnaúba: o desafio de estimar os resultados econômicos. In:

CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E

SOCIOLOGIA RURAL, 46, 2008, Rio Branco. Anais... Rio Branco: Sociedade Brasileira de

Economia, Administração e Sociologia Rural, 2008.

ANDRADE, M. C. A terra e o homem no nordeste: contribuição ao estudo da questão

agrária no Nordeste. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

ARAÚJO, J. L. L. 2 Fotos digital color, 2010.

______. 4 Fotos digital color, 2009.

______. 1 Foto digital color, 2008.

______. O Rastro da Carnaúba. Revista Mosaico, v.1, n. 2, p. 198-205, jul./dez. 2008.

______. (Coord.) Atlas escolar do Piauí: espaço geo-histórico e cultural. João Pessoa: Ed.

Grafset, 2006.

______. As Transformações na produção artesanal de redes de dormir no nordeste

brasileiro e suas relações com a produção do espaço. 1996. 307 f. Tese (Doutorado em

Geografia Humana) - Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1996.

ARAÚJO,J. L. L.; SANTOS, M. S. B. A. . Análise sócioeconômica da produção de

vassouras da palha de carnaúba comercializada na feira de Altos - Piauí. In: 12º

Encuentro de Geógrafos de América Latina, 2007, Montevideo. Imprenta Gega, 2007. v. 1. p.

98-98.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6023: Referências

- elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

______. NBR 10520: Citações em documentos - apresentação. Rio de Janeiro, 2002.

______. NBR 10520: Trabalhos acadêmicos - apresentação. Rio de Janeiro, 2005.

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

92

______. NBR 6027: Sumário - apresentação. Rio de Janeiro, 2003.

______. NBR 6028: Resumo - elaboração. Rio de Janeiro, 2003.

BITTAR FILHO, C. A. A apropriação do solo no Brasil colonial e monárquico: uma

perspectiva histórico-jurídica. Revista de Informação Legislativa. Brasília, v. 37, n. 148, p.

177-181, out./dez. 2000.

BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Diário Oficial da República Federativa do

Brasil. Brasília, 18 jul. 2000. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso em: 13 mar. 2010.

______. Portaria Nº 432, de 13 de maio de 2008. Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento. Brasília, 13 mai. 2008. Disponível em:

<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-

consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=18625>. Acesso em: 13 mar. 2010.

BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável. Rio de Janeiro:

Garamond, 2002.

CARMO, M. S. A produção familiar como locus ideal da agricultura sustentável. In:

FERREIRA, Â. D. D.; BRANDENBURG, A. Para pensar outra agricultura. Curitiba:

UFPR, 1998. p. 215-238.

CARNEIRO, M. J. Política pública e agricultura familiar: uma leitura do PRONAF. Estudos,

Sociedade e Agricultura, v. 8, abr. 1997, n. 4, p. 70-82, abr. 1997. Disponível em:

<http//www.bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/Brasil/cpda/estudos/oito/carneiro8.html>

Acesso em: 09 abr. 2009.

CARVALHO, A. J. A. Agricultura sustentável e agricultura familiar. Disponível em:

< http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo22.htm>. Acesso em: 9/4;2009

CARVALHO, F. P. A. Eco-eficiência na produção de pó e cera de carnaúba no município

de Campo Maior (PI). 2005. 151 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente) – Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do

Nordeste (TROPEN), Universidade Federal do Piauí, Teresina. 2005.

CARVALHO, J. N. F.; GOMES, J. M. A. Contribuição do extrativismo da carnaúba para a

mitigação da pobreza no Nordeste. In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE

ECONOMIA ECOLÓGICA, 7, 2007, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de

Economia Ecológica, 2007.

CARVALHO, J. N. F.Pobreza e tecnologia e Sociais no extrativismo da carnaúba 2008. 93 f.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Núcleo de Referências em

Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN), Universidade Federal do

Piauí, Teresina. 2008.

CAVALCANTE, C. (org.) Desenvolvimento e Natureza: estudos para uma sociedade

sustentável. 4. ed. São Paulo: Cortez; Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2003.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

93

CLEMENT, C. R. A lógica do mercado e o futuro da produção extrativista. In: KUBO, R. R.

et al. Atualidades em etnobiologia e etnoecologia. Recife: Nupeea; Sociedade Brasileira de

Etnobiologia e etnoecologia, 2006. p. 135-150.

COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO DOS VALES DO SÃO FRANCISCO E DO

PARNAÍBA – CODEVASF. Plano de ação para o desenvolvimento integrado da Bacia do

Parnaíba – PLANAP: síntese executiva: território entre rios / Companhia de

Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF – Brasília, DF:

TDA Desenhos & Arte Ltda., 2006. 82p. : il. – (Plano de Ação para o Desenvolvimento

Integrado da Bacia do Parnaíba – PLANAP; v. 4)

COSTA, M. C. O escravismo no Brasil Colonial: a interpretação de Nelson Werneck Sodré.

In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL, 2, 2008, Natal. Anais

eletrônicos... Natal: UFRN, 2008.

COUTINHO, M. T. C; CUNHA, S. E. O caminho da pesquisa em ciências humanas. Belo

Horizonte: PUC, 2004, p. 91-134.

CRESPO, M. F. V. Estratégia de desenvolvimento do arranjo produtivo local da

carnaúba em Ilha Grande de Santa Isabel. 2007. 106 f. Dissertação (Mestrado em

Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do

Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN), Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2007.

DENARDI, Reni Antônio. Agricultura familiar e políticas públicas: alguns dilemas e

desafios para o desenvolvimento rural sustentável. In: Agroecologia e

Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.2, n.3, jul./set. de 2001.

DESER. Agricultura familiar e desenvolvimento local: municipalização, diretrizes de

desenvolvimento e propostas de políticas públicas. Departamento de Estudos

Socioeconômicos Rurais 1997. Disponível em: <

http://gipaf.cnptia.embrapa.br/publicacoes/artigos-e-trabalhos/deser97-1.pdf/view> Acesso

em: 05 set. 2009.

______. Desafios Estratégicos para agricultura familiar no Brasil. Departamento de Estudos

Socioeconômicos Rurais. Conjuntura agrícola: boletim eletrônico, n.156, fev. 2007.

Disponível em: <http://www.deser.org.br/boletim.asp> Acesso em: 12 mar. 2009.

DUQUE, R. C.; MENDES, C. L. O planejamento turístico e a cartografia. Campinas:

Alínea, 2006.

DURSKI, G. R. Avaliação do desempenho em cadeias de suprimentos. Revista FAE,

Curitiba, v. 6, n. 1, p. 27-38, jan./abr. 2003.

ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Tradução Ciro

Mioranza. 2. ed. rev. São Paulo: Ed. Escala, [2008]. (Coleção Grandes Obras do Pensamento

Universal, 2). Título Original: Der ursprung der familie, des privateigentaums und des staats.

FAO/INCRA. Perfil da agricultura familiar no Brasil: dossiê estatístico. Projeto

UTF/BRA/036/BRA. ago. 1996.

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

94

FERNANDES, F.; LUFT, C. P.; GUIMARÃES, F. M. Dicionário brasileiro Globo. 56. ed.

São Paulo: Globo, 2003.

FIGUEIREDO, I. B.; SCHMIDT, I. B.; SAMPAIO, M. B. Manejo Sustentável de capim

dourado e buriti no Jalapão, TO: importância do envolvimento de múltiplos atores. In: Rumi

Regina et al. Atualidades em etnobiologia e etnoecologia. Recife: Nupeea; Sociedade

Brasileira de Etnobiologia e etnoecologia, 2006. p. 103-113.

FONSECA, J. S; MARTINS, G de A. Curso de estatística. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

FURTADO, M. B. Síntese da economia brasileira. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

GARCIA, S. M. M.; GOMES, J. M. A. Indicadores socioeconômicos da indústria de cera de

carnaúba. In: GOMES, J. M. A. (Org.) Cadeia produtiva da cera da carnaúba: diagnóstico

e cenários. Teresina: EDUFPI, 2006. p. 131-144.

GERMAUD, A. P.; SAES, F. A. M.; TONETO JÚNIOR, R. Formação econômica do

Brasil. São Paulo: Atlas, 1997.

GOMES, J. M. A.; NASCIMENTO, W. L. Visão sistêmica da cadeia produtiva da carnaúba.

In: GOMES, J. M. A. (org.). Cadeia produtiva da cera da carnaúba: diagnóstico e cenários.

Teresina: EDUFPI, 2006. p. 23-34.

GUERRA, A. T; GUERRA, A. J. T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. Rio de

Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

GUIMARÃES, A. P. Quatro séculos de latifúndio. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. Censo agropecuário de 2008.

Disponível em:< http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 >. Acesso em: 13 jan

2010.

______. Censo agropecuário de 2007. Disponível em:

< http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 >. Acesso em: 13 jan 2010.

______. Censo agropecuário de 2006. Disponível em:

< http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 >. Acesso em: 13 jan 2010.

INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária / SNCR – Piauí. 2010.

JARA, C. J. As dimensões intangíveis do desenvolvimento sustentável. Brasília: IICA,

2001.,

LAMARCHE, H. A agricultura familiar. Campinas: UNICAMP, 1993.

LIMA, A. S; ARAÚJO, J. L. L. Geoambientes e as atividades agropecuárias consorciados e

associados nas áreas dos carnaubais. In: GOMES, Jaíra Maria Alcobaça (org.) Cadeia

produtiva da cera de carnaúba: diagnósticos e cenários. Teresina: EDUFPI, 2006. p. 35-47.

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

95

LINHARES, M. Y.; SILVA, F. C. T. Terra Prometida: uma história da questão agrária no

Brasil. Rio de Janeiro: Campos, 1999.

M.; FRISCHKORN, H.; ARAÚJO, J.C. (eds.). Global change and regional impacts: water

availability of ecosystems and society in the semiarid northeast of Brazil. Berlin: Springer,

2003. p. 117-123.

MARTINELLI, D.P., JOYAL, A. Desenvolvimento local e o papel das pequenas e

médias empresas. 1 ed. Barueri: Manole. 2004.

MARTINS, J. S. A militarização da questão agrária no Brasil: terra e poder - o problema

da terra na crise política. Petrópolis: Vozes Ltda., 1985.

MAY, T. Pesquisa social: questões, métodos e processos. Tradução Carlos Alberto Silveira

Netto Soares. Porto Alegre: Artmed, 2004.

MEDEIROS, P.M.; ALBUQUERQUE, U.P. (Org.). Atualidades em Etnobiologia e

Etnoecologia. V.3. Recife: NUPEEA/ Sociedade Brasileira de Etnobiologia e

Etnoecologia. 2006. p.115-128.

MENDRAS, H. Sociedades camponesas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

MUNIZ, A. C. F.; FARIAS, A. S.; SOUSA, M. A. M. Ligas camponesas no Piauí. Geografia.

EDUFPI, ano 1, n. 2, abr. 2003.

OLIVEIRA, G. P. T. C; THEODORO, S. K. S. A evolução da função social da propriedade.

Revista Jurídica Eletrônica UNICOC, v. 1, n. 1, 2004.

PIAUÍ. Lei nº 3.888 de 26 de setembro de 1983. Proíbe a derrubada de palmáceas e árvores,

que especifica e, dá outras providências. In: FREITAS, Márcio Antônio Sousa da Rocha.

Legislação do meio ambiente e recursos hídricos do Piauí. Teresina: Ed. Expansão, 2003.

p. 25-26.

PLANAP 2006. Plano de ação para o desenvolvimento integrado da bacia do Parnaíba.

Disponível em:<http://www.codevasf.gov.br/programas_acoes/plano-de-desenvolvimento-do-

parnaiba-1/arquivosplanap/?searchterm=planap>. Acesso em: 31 abr 2009.

PRADO JÚNIOR, C. História econômica do Brasil. [São Paulo]: Ed. Brasiliense, 1976.

PROGRAMA NACIONAL DE APOIO À AGRICULTURA FAMILIAR – PRONAF.

Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/resulter.htm>. Acesso em: 10 ago. 2009.

QUEIROZ, T. Economia piauiense: da pecuária ao extrativismo. 3. ed. rev. Teresina:

EDUFPI, 2006.

RÊGO, J. F. Amazônia: do extrativismo ao neoextrativismo. Ciência hoje. v. 25, n. 147. p.

62-65. 1999.

REIS, M. S. Extrativismo no sul e sudeste do Brasil: caminhos para a sustentabilidade

sócioambiental. In: KUBO, R.R.; BASSI, J.B.; SOUZA, G.C.; ALENCAR, N..;

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

96

RIVAS, M. P. Macrozoneamento geoambiental da bacia hidrográfica do rio Parnaíba.

Rio de Janeiro: IBGE, 1996 (Estudos e pesquisas em geociências, n. 4)

ROCHA, J. A pequena produção rural no estado do Piauí. Carta Cepro, Teresina, v. 9, n. 1,

p. 5-18, jul./dez. 1983.

ROSA, S. L. C. Agricultura familiar e desenvolvimento local sustentável. In: CONGRESSO

BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 37, 1999, Foz do Iguaçu. Anais

eletrônicos... Foz do Iguaçu: Sober. Disponível em:

<http://www.incra.gov.br/portal/arquivos/publicacoes/0174600> Acesso em: 25 fev. 2009.

SANTANA, R. N. M. Evolução histórica da economia piauiense. 2. ed. Teresina:

Academia Piauiense de Letras; Banco do Nordeste, 2001.

SANTOS, A. P. S. Estudo sócio-econômico dos principais produtos do extrativismo

vegetal do Piauí: carnaúba. Teresina: Fundação Cepro, 1979.

SANTOS, J. R. A questão agrária no Piauí e as políticas de sustentabilidade para os

assentamentos rurais: a experiência do assentamento Quilombo em Altos/José de Freitas –

PI. 2007. 147 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Núcleo de

Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN),

Universidade Federal do Piauí, Teresina. 2007.

SANTOS, M. S. B. A. dos; ARAÚJO, J. L. L. Diagnóstico sócio-econômico da produção de

vassouras comercializadas na feira de Altos – PI. In: ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA

AMÉRICA LATINA, 12, 2009, Montevideo, Uruguai. Anais... Montevideo: Easy Planners,

2007. 1 CD-ROM.

______. 16 Fotos digital color, 2009.

______. 17 Fotos digital color, 2008.

SANTOS, R. W. P. dos. Desenvolvimento rural e organização do espaço no Vale do

Tremendal-Parnarama-Maranhão. 2005. 171f. Dissertação (Mestrado em

Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do

Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN), Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2005.

SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DO ESTADO DO PIAUI – SEPLAN.

Regionalização do Estado do Piauí 2007. Disponível em: <http:www.seplan.pi.gov.br>

Acesso em: 25 ago. 2009.

SEVERO, C. M.; RIBAS, R. P; MIGUEL, L. A. Tipologia dos sistemas de produção agrícola

abrangendo a samambaia-preta. In: SOUZA, G. C.; KUBO, R. R.; MIGUEL, L. A. (Org.).

Extrativismo da samambaia-preta no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. UFRGS,

2008. p. 121-137.

SILVA, A. M. D; GOMES, J. M. A. Sustentabilidade ambiental da exploração dos carnaubais

piauienses. GOMES. J.M.A; SANTOS, K.B; SILVA, M.S (Orgs). Cadeia produtiva da cera

de carnaúba: diagnóstico e cenários. Teresina: EDUFPI, 2006. p. 49-60.

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

97

SMITH, A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas: com a

tradução de Luiz João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural, 1983. 350 p.

SOUZA, C. B.; CAUME, D. J. Crédito Rural e Agricultura Familiar no Brasil. In:

CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E

SOCIOLOGIA RURAL, 46, 2008, Rio Branco. Anais eletrônicos... Rio Branco: Sober.

Disponível em: <http://www.sober.org.br/palestra/9/882.pdf > Acesso em: 17 jan. 2009.

SPINK, M. J.; LIMA, H. Rigor e visibilidade: a explicitação dos passos da interpretação. In:

SPINK, Mary Jane (org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano:

aproximações teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez, 2000. p. 93-151.

VIERTLER, R. B. Contribuições da antropologia para a pesquisa em etnobiologia. In:

KUBO, Rumi Regina et al. Atualidades em etnobiologia e etnoecologia. Recife: Nupeea;

Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, 2006. p. 213-222.

WANDERLEY, M. N. B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: ENCONTRO

ANUAL DE ANPOCS. GT 17. PROCESSOS SOCIAIS AGRÁRIOS, 20. 1996, Caxambu,

MG. Anais eletrônicos... Caxambu: Anpocs. Disponível em:

<http://www.territoriosdacidadania.gov.br/0/899445>. Acesso: 18 abr. 2009.

WHITAKER, D. C. A. A sociologia rural: questões metodológicas emergentes. São Paulo:

Letras à margem, 2008. p. 121-168.

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

98

APÊNDICE A – Ficha de caracterização dos produtores de vassouras: localização,

produção, semanal, local de vendas acesso à matéria-prima e divisão do trabalho,

aplicado pelos agentes de saúde

Produtor de

vassouras

Data Localidade/

povoado do

produtor

Produção

semanal

Local de

venda das

vassouras

Como

adquire

a palha

(carnaubal

próprio,

arrendado

ou compra

a palha?)

Divisão do

trabalho na

elaboração

das

vassouras

(quem faz

cada etapa)

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

99

APÊNDICE B - Formulário de pesquisa das condições socioeconômicas dos produtores

de vassouras em Coivaras - PI

Pesquisador:________________________________________________________________

Município de Coivaras - Piauí / Localidade: _______________________________________

Público Alvo: Produtor de Vassouras

I - IDENTIFICAÇÃO DO PRODUTOR

01- Nome: __________________________________________________________________

02 - Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

03 - Idade: ________________ 04 - Estado Civil: ________________

05 - Profissão (ativ. principal): _________________________________________________

06- Condições em relação à propriedade em que habita:

( ) proprietário ( ) morador agregado

07 - Condições de moradia (morador na zona urbana):

( ) casa própria ( ) casa alugada ( ) casa cedida

08 - Tipo de construção:

Cobertura: ( ) telha ( ) palha

Parede: ( )tijolo/alvenaria ( ) taipa ( ) adobe ( ) palha

Piso: ( ) cerâmica ( ) chão batido ( ) ladrilho ( ) cimento

II – SANEAMENTO

01 - Possui água encanada? ( ) sim ( ) não

02 - Qual a fonte de água utilizada (caso não seja encanada)?

( ) poço cacimbão ( ) lagoa ( ) cacimba ( ) chafariz

( ) outros:________

03 - Que tipo de tratamento é dado à água utilizada para consumo humano?

( ) fervida ( ) filtrada ( ) coada ( ) nenhum

( ) outros: ______

04 - Destino dado aos dejetos humanos:

( ) banheiro com fossa ( ) buraco/privada ( ) terreno baldio

( ) mato ( ) enterrado ( ) outros:__________________

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

100

05 - Destino dado ao lixo domiciliar:

( ) queimado ( ) terreno baldio/céu aberto ( ) enterrado ( ) outros:____________

III – INFRAESTRUTURA

01 - Utiliza energia elétrica: ( ) sim ( ) não

02 - Utiliza telefonia: ( ) sim [residencial ___; público ___] ( ) não

IV - INFORMAÇÕES DO GRUPO FAMILIAR

01 - Escolaridade dos membros da família

Nome do Membro Idade Sexo Estuda Analfabeto

Ensino

Fundamental Médio Superior

I C I C I C

02 - Número de familiares não-residentes no domicílio: ( ) estudar ( ) trabalhar

03 - Existe escola na comunidade? ( ) sim ( ) não

04 - Alguém da família desloca-se diariamente para frequentar escola em outra comunidade?

( ) sim ( ) não

05 - Faz uso de transporte escolar? ( ) sim ( ) não

06 - Qual é o tipo de transporte escolar?

( ) ônibus ( ) caminhão (pau-de-arara) ( ) pick-up

( ) outros: ________

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

101

07 - Onde fica a escola mais próxima (distância em km)?

___________________________________________________________________________

08 - Renda mensal familiar, em salários mínimos:

( ) menos de 1 ( ) de 1 a menos de 2 ( ) de 2 a menos de 3

( ) de 3 a menos de 4 ( ) de 4 a mais

V - SITUAÇÃO ECONÔMICA DO GRUPO FAMILIAR

01 - Tem alguém aposentado na residência? ( ) sim (quantos? ___ ) ( ) não

02 - A família recebe alguma bolsa social?

( ) sim (qual? ________________________ ) ( ) não

03 - Existe, na família, alguém que trabalha em regime celetista ou estatutário?

( ) sim (quantos? ___ ) ( ) não

VI - ORGANIZAÇÃO SOCIAL E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

01 - Quais as principais formas de organização social da comunidade a qual participa?

( ) cooperativa de trabalhadores ( ) associação de moradores

( ) Sindicato dos Trabalhadores Rurais ( ) associação de produtores de vassouras

02 - Quais as manifestações culturais?

( ) cultos religiosos ( ) festejos ( ) outras :__________________________

03 - Qual sua religião?

( ) católico ( ) evangélico ( ) outros: ___________________________

VII - DADOS RELACIONADOS À SAÚDE

01 - Recebe visita do agente de saúde? ( ) sim ( ) não

02 - Onde procura assistência médica?

( ) na sede do município ( ) em outro município ( ) na capital do estado

( ) em outra capital (Citar: ________________________________ )

03 - Como é feito o cozimento dos alimentos?

( ) utilizando gás ( ) carvão ( ) lenha ( ) outros: _____________________

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

102

VIII - DADOS RELACIONADOS À PRODUÇÃO DE VASSOURAS

01 - Há quanto tempo produz vassouras de palha de carnaúba (em anos)?

( ) menos de um ano ( ) de 1 a menos de 3 ( ) de 3 a menos de 6

( ) de 6 a menos de 10 ( ) de 10 a mais (citar: ______ )

02 - Como tem acesso à matéria-prima (palha)?

( ) carnaubal próprio ( ) arrenda carnaubal

( ) compra palha já tirada (terceiros) ( ) outros

(citar: ___________ )

03 - Qual o meio de transporte para deslocamento da palha até o ponto de produção?

( ) carro próprio ( ) carro alugado ( ) carroça própria

( ) carroça alugada ( ) outros (citar: ___________________)

04 - Há algum período do ano em que não se produzam vassouras?

( ) não ( ) sim (especificar motivo: ____________________ )

05 - Caracterização do operador produção vassouras

CARACTERIZAÇÃO DO OPERADOR NA PRODUÇÃO VASSOURAS

Operador /

fabricação de

vassoura:

(1) de casa

(2) de fora da

casa

Tipo de

tarefa na

produção

de

vassouras

Horas

trabalhadas

por dia

Outra

atividade

exercida

(estudo;

func. público

etc.)

Valor

remuneração

operador de

fora

(diária ou

por peça)

Valor

remuneração

operador de

casa

(diária ou

por peça)

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

103

06 - Além da palha de carnaúba, quais outras matérias-primas são utilizadas para

produção de vassouras?

________________________________________________________________________

07 - Como é realizada a comercialização das vassouras?

( ) na feira de Altos - PI ( ) no próprio local de produção

( ) outros (especificar: __________________________________________________ )

08 - Produção semanal de vassouras: ___________________________________

09 - Faz estoque de vassouras para aguardar melhores preços?

( ) sim ( ) não

10 - Faz estoque de palhas (cupim)?

( ) não ( ) sim (especificar quantidade e período do estoque:_________________ )

11 - Os subprodutos da palha são utilizados?

( ) não ( ) sim (especificar: ___________________________________________ )

12 - Em sua opinião, a produção de vassouras traz algum impacto negativo ao meio

ambiente?

( ) não ( ) sim (especificar: __________________________________________ )

13 - O preço da palha tem variações?

( ) não ( ) sim (especificar: __________________________________________ )

14 - Qual a área onde se produz a vassouras?

_______________________________________________________________________

15 - Custo do frete do local de produção das vassouras ao ponto de comercialização:

R$ ____________

16 - Proporção do tipo de vassoura, conforme a palha utilizada, no volume de vassouras

produzidas na unidade de produção:

a) ( ) Vassouras do olho:_______% b) ( ) Vassouras da palha:________%

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

104

IX - RELAÇÕES ENTRE A AGRICULTURA FAMILIAR E A PRODUÇÃO DE

VASSOURAS PARA PRODUTORES QUE FAZEM ROÇA E CRIAM ANIMAIS

DEMONSTRATIVO DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

DOS PRODUTORES DE VASSOURA EM COIVARAS/PI

Tipos

produtos/animais

Unidades

(Saco de

60 kg;

cabeça)

Destino da

produção % Local de venda

dos produtos

comercializados

Data do

estoque

atual

__/__/__

Consumo Venda

Arroz Saco de

60 kg

Feijão Saco de

60 kg

Mandioca

Farinha Saco de

60 kg

Goma Saco de

60 kg

Milho Saco de

60 kg

Melancia Kg

Abóbora Kg

Galinhas Cabeças

Capotes Cabeças

Perus Cabeças

Bode Cabeças

Carneiro Cabeças

Porcos Cabeças

Bovinos Cabeças

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - leg.ufpi.br M... · Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me ... À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas

105

APÊNDICE C - Calendário de atividade mensal na produção agropecuária e de

vassouras em Coivaras - PI

Meses

Atividades

Outros Agropecuária

Cultivo / Criação

Vassouras

Preparação

matéria-prima Confecção

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro