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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GESTÃO PENITENCIÁRIA NA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA CURITIBA 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GESTÃO PENITENCIÁRIA NA

EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA

CURITIBA

2006

LUCILDO SÉRGIO

UM ESTUDO DE CASO SOBRE A GESTÃO PENITENCIÁRIA NA

EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA

Monografia apresentada à Coordenação de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná, tendo como objetivo o preenchimento do pré-requisito para a obtenção do título de Especialista em Gestão Penitenciária Problemas e Desafios.

Orientadora: Professora Doutora Cristina Maria Kurowski

CURITIBA

2006

iii

SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS ................................................................................................ v

RESUMO .............................................................................................................. vi

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1

2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 5

2.1 CONCEPTUALIZANDO AS INSTITUIÇÕES TOTAIS: ........................... 5

2.2 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DO PARANÁ: 10

2.3 MEDIDA DE SEGURANÇA, DOENÇA MENTAL, E EXECUÇÃO

PENAL: ASPECTOS LEGAIS .............................................................. 14

2.3.1 Medida de Segurança ....................................................................... 14

2.3.2 Doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado: . 19

2.3.2 Os estabelecimentos de custódia e tratamento psiquiátrico

destinados aos doentes mentais........................................................ 22

2.3.3 Complexo Médico Penal: revendo suas concepções ..................... 27

3 DAS DIRETRIZES NACIONAIS DE POLÍTICA CRIMINAL E

PENITENCIÁRIA ..................................................................................... 31

3.1 ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR, UMA ABORDAGEM POSSÍVEL ÀS

MEDIDAS DE SEGURANÇA................................................................ 33

3.1.1 As relações sociais na dinâmica hospitalar: concepções relações

humanos e práticas gerenciais .......................................................... 33

3.1.1.1 As relações sociais na dinâmica hospitalar ................................... 33

3.1.2 A Humanização das Relações no Cotidiano Hospitalar: Cliente de

Saúde. ............................................................................................... 35

3.1.3 A importância dos recursos humanos na gestão hospitalar ............. 38

3.1.4 A Administração holística: uma possibilidade de gestão

humanizadora..................................................................................... 40

4 METODOLOGIA ..................................................................................... 43

4.1 DESCRIÇÃO DO MÉTODO................................................................. 43

5 CONCLUSÃO ......................................................................................... 44

iv

ANEXO ................................................................................................................ 47

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 50

v

LISTA DE SIGLAS

CEEBJA - Centro Estadual de Educação Básica de Joves e Adultos

COOSIPE - Coordenação do Sistema Penitenciário

CMP - Complexo Médico Penal

CNPCP - Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

CP - Código Penal

CTII - Centro de Triagem da Polícia Civil

DEPE - Departamento de Estabelecimentos Penais

DEPEN - Departamento Penitenciário do Paraná

DIED/DEPEM - Divisão de Educação

DST/AIDS Doenças Sexualmente Transmissíveis/ Acquired Immunodeficiency Syndrome

LEP - Lei de Execução Penal

SESJ Secretaria de Estado da Segurança, da Justiça e da Cidadania

vi

RESUMO

A presente monografia tem como objetivo conhecer como se promove a gestão das Medidas de Segurança no Complexo Medico Penal, tendo em vista a lei que orienta a aplicação dessas medidas, as Diretrizes da Política Criminal e Penitenciária e as teorias da administração hospitalar, área de formação do pesquisador. Segue-se o método de pesquisa bibliográfica e documental para a Revisão de Literatura. No primeiro momento do trabalho, descreve-se sobre as instituições totais e a respeito dos cárceres até o século XVIII e como após este período as prisões assumem caráter de estabelecimento público. No segundo momento, trata-se do Sistema Penitenciário do Paraná, de suas políticas administrativas, que seguem as Regras Mínimas da Organização das Nações Unidas (ONU), e destacam-se as Medidas de Segurança. Realiza-se revisão das concepções do Complexo Médico Penal e as diversas modalidades de assistência dada aos presos no Departamento Penitenciário do Paraná (DEPEN). No terceiro momento destacam-se as diretrizes do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e as estratégias de ação que devem estar comprometidas com a promoção social. Na conclusão, relata-se que, no Paraná, existem internados no Complexo Médico Penal cumprindo medida de segurança que não recebem um tratamento específico.

1

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objeto de analise a gestão

penitenciária, no que se refere a Medida de Segurança sob a ótica da

administração hospitalar.

Esse tema foi abordado tendo em vista o caráter polêmico dessa

forma de punição penal às pessoas inimputaveis. Na verdade, a Medida de

Segurança foi concebida pela lei, como sendo uma maneira de se

diferenciar as penas destinadas às pessoas imputáveis, ou seja,

responsáveis pelos seus atos criminosos daquelas que os cometem sem

estarem no gozo de seu juízo perfeito.

Significa dizer que a estas pessoas deveriam ser destinado um

tratamento terapêutico, curativo, preventivo, na prática esse tipo de

alternativa da lei acaba em alguns casos se tornando mais aflitivo para os

condenados do que as penas privativas de liberdade.

Espera-se com esse estudo contribuir para que a administração

penitenciária perceba a importância de se dar à Medida de Segurança um

tratamento hospitalar e não manicomial.

A finalidade de desenvolvimento dessa pesquisa foi apresentá-la ao

Curso de pós-graduação que a Universidade Federal do Paraná realizou

em parceria com os órgãos de Justiça da esfera Federal e Estadual

durante o ano de 2006-2007.

O objetivo geral desse estudo foi conhecer como se promove a

gestão das medidas de segurança no Complexo Medico Penal tendo em

vista a lei que orienta a aplicação dessas medidas, a Diretrizes da política

criminal e penitenciária e as teorias da administração hospitalar, área de

formação do pesquisador.

A justificativa para se realizar este estudo consiste na importância de

seu objeto, na medida em que do ponto de vista social os sujeitos condenados

a Medida de Segurança, somam no Paraná um total de 278 (Depen-Pr, 2006)

sentenciados. São pessoas que cometem crimes tipificados pelo Código Penal

mas que são consideradas inimputáveis em razão de algum tipo de doença

mental que não lhes permite discernir sobre o caráter ilícito de seu ato.

2

Historicamente as pessoas que se enquadram nessas condições são

mantidas segregadas da sociedade ate que pela via de exames periciais

possam comprovar que a sua periculosidade foi cessada, ou seja, enquanto

perdurar a dúvida sobre a possibilidade de virem a cometer novo crime,

permanecerão encarceradas por tempo indeterminado. O tratamento destinado

a estas pessoas corresponde ao tratamento terapêutico, porém, sabe-se que

pelas condições dadas no sistema penitenciário brasileiro, dificilmente essas

pessoas terão a sua disposição mecanismos para modificarem seu

comportamento diante da vida.

As novas estratégias de administração hospitalar, sobretudo no que se

refere às relações com os pacientes, revelam possibilidades alternativas ao

tratamento manicomial que norteiam as práticas nos hospitais psiquiátricos

destinados ao cumprimento das medidas de segurança.

Nesse sentido se percebe a relevância desse estudo como uma

contribuição à ciência da administração hospitalar na pratica nestas

instituições penais.

O quadro apresentado leva a formulação da seguinte pergunta que se

constitui no problema da pesquisa:

Como o sistema penitenciário administra a Medida de Segurança tendo

em vista as tendências propostas nas diretrizes de política criminal e

penitenciária e quais as contribuições possíveis à administração hospitalar?

A metodologia da pesquisa foi composta por um estudo de caso que

teve o Complexo Medico Penal como universo.

Foi realizada uma investigação bibliográfica sobre o tema buscando

revelar os fatores que estão presentes nessa dinâmica da execução penal

representada pelo cumprimento da Medida de Segurança.

Dessa maneira a revisão de literatura sobre o tema se compôs pelos

seguintes itens: Conceptualização das Instituições Totais. Baseando-se nos

conceitos de instituições como manicômios, conventos e prisões de Goffman.

Procurou-se demonstrar que instituições como estas são danosas à

constituição e ao respeito da autonomia, identidade dos sujeitos à elas

submetidos. Estabelecido o conceito que norteia a pesquisa sob o ponto de

vista da gestão da atividade intra muros, se desenvolveu o estudo sobre as

3

Características do Sistema Penitenciário do Paraná em termos de conhecer a

lógica que orienta a administração do sistema penitenciário, procurando

enfocar os fatores que são determinantes dessas praticas. Tal caracterização

se faz necessária tendo em vista que as determinações sobre a Medida de

Segurança que se constitui no objeto de estudo,bem como, a execução dessa

medida e a concepção de doença mental, estarão diretamente relacionadas à

forma como a administração penal se posiciona e se orienta.

Quanto à abordagem da Medida de Segurança, da Doença Mental, e da

Execução Penal a perspectiva de análise se promoveu de maneira crítica

tendo como fio condutor a legislação que as define no âmbito da execução da

pena e do Código Penal Brasileiro.

A Medida de Segurança é cumprida em estabelecimentos penais

específicos destinados à Custódia e Tratamento Psiquiátrico aos doentes

mentais submetidos ao cumprimento de Medida de Segurança por

determinação judicial. É interessante perceber a importância dessa análise no

sentido de que se evidencia embora a lei reconheça o caráter de doença, e da

inimputabilidade de crime, na prática pune o sujeito com uma medida cuja

característica é a reclusão, sem previsão determinada de cessação da

periculosidade, condição sine qua non para que o sujeito possa ser liberado da

instituição penal. Quanto a análise do Complexo Médico Penal: revendo suas

concepções, se procedeu à reprodução da caracterização apresentada pelo

Departamento Penitenciário do Estado do Paraná (Depen-PR) em seu site

oficial como meio de ilustrar a forma como o próprio Estado concebe essa

unidade, descrevendo as atividades exatamente como delibera a lei.

As Diretrizes do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

são estabelecidas pelo Conselho Nacional e devem nortear toda a prática de

administração penitenciária. Neste item procurou-se evidenciar apenas os

dispositivos que estão diretamente relacionados ao objeto de estudo.

Com base nestes estudos foi possível desvendar algumas demandas da

gestão das Medidas de Segurança em termos de administração hospitalar,

considerando que a execução destas deve ter uma abordagem de gestão

hospitalar muito mais do que penitenciária.

4

Uma vez desenvolvida a investigação bibliográfica foi possível analisar

os dados dessa pesquisa.

Ao final destas análises se apresentam as considerações finais

apontando alguns indicadores da administração hospitalar, que representar

uma contribuição desta pesquisa para a gestão penitenciária e seus desafios.

5

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 CONCEPTUALIZANDO AS INSTITUIÇÕES TOTAIS:

A questão da doença mental e a segregação dos portadores desse

problema de saúde estão intrinsecamente ligados às concepções que evoluíram

para o isolamento dos delinqüentes e contraventores, que resultaram na criação

das prisões ao longo da história da humanidade sob a perspectiva das

Instituições totais.

Segundo Goffman (2006) as instituições não se apresentam todas com as

mesmas condições de fechamento. Umas são mais fechadas do que outras. Seu

fechamento ou, na explicação do autor, seu caráter total é simbolizado pela

barreira que impõe à relação social exterior e em razão da proibição de saída, o

que invariavelmente se viabiliza pela adoção de medidas de intransponibilidade

na estrutura física dessas instituições.

Exemplos destas medidas, são as construções de muros altos, sistemas

de grades, portas fechadas, arames farpados, eletrificados e outros esquemas

para contenção de fugas ou evasões.

O aspecto central das instituições totais está demonstrado na ruptura das

barreiras que normalmente separam as três atividades cotidianas dos cidadãos

comuns que são as atividades de dormir, brincar e trabalhar em lugares

diferentes e, em companhia de diferentes co-participantes submetidos à

diferentes autoridades e sem um plano racional geral.

O que significa que estas atividades se promovem em espaços, tempos, e

sob diferentes condições com características de liberdade para os sujeitos.

No espaço das instituições totais estas três atividades se desenvolvem

em um mesmo lugar e sob a mesma autoridade obedecendo aos mesmos ritos.

Outro aspecto central destas instituições se refere ao fato de que todas

estas atividades são realizadas diariamente em companhia imediata de um grupo

relativamente grande de pessoas, recebendo o mesmo tratamento e obrigadas a

desempenharem em conjunto as tarefas pré-determinadas. Tais tarefas são

estabelecidas de forma rigorosa, com horários definidos, com tempo determinado

6

de tal forma que uma atividade sucede a outra em uma seqüência imposta de

cima a partir de um sistema de regras formalizadas, explicitadas em um plano de

trabalho acompanhadas por um grupo de funcionários. Assim as diferentes e

cotidianas atividades são obrigatórias e obedecem a uma dinâmica desenvolvida

por um plano racional único planejado para atender aos objetivos oficiais da

instituição. Aos estabelecimentos com estas características Goffmann (2006)

denominou instituições totais.

O autor analisa que na sociedade atual pode-se enumerar cinco

agrupamentos desse tipo de instituições:

Primeiramente, a instituições destinadas para cuidar das pessoas que

demonstram incapacidade de cuidar de si mesmas, são portanto incapazes e

inofensivas. Cita que essas instituições são os asilos para atender aos idosos, os

orfanatos para atender às crianças em situação de risco e abandono e aos

indigentes.

Como segundo tipo, as instituições destinadas a cuidar de pessoas

incapazes de cuidar de si mesmas e que também possam representar uma

ameaça para a comunidade, mesmo que esta ameaça não seja intencional.

Exemplos dessas instituições são os sanatórios para isolar tuberculosos,

hospitais para doentes mentais e leprosários.

Como terceiro tipo, as instituições criadas com o objetivo de realizar de

maneira mais adequada uma determinada atividade, ou tarefa. Estes são os

quartéis, os navios, escolas internas, campos de trabalho, colônias, etc. Tais

tipos de instituições se justificam pelos seus fundamentos instrumentais, isto, sua

instrumentalidade exige tais estruturas para o bom desempenho de seus

objetivos;

Como quarto tipo, as instituições que se prestam a servir como refúgio do

mundo. Muitas vezes este tipo de estabelecimento se presta também à formação

e instruções de caráter religioso. Os mais conhecidos destes estabelecimentos

são as abadias, os mosteiros, os conventos e outros claustros.

O quinto tipo de instituição se refere àquelas destinadas à proteção da

comunidade contra os perigos intencionais sendo que o bem-estar das pessoas

assim isoladas não se constitui no problema imediato. Exemplo destas

instituições são os campos de prisioneiros de guerra, os campos de

7

concentração, os presídios, as cadeias, as penitenciárias, as carceragens, as

prisões.

Conforme se sabe, inicialmente as prisões tiveram como finalidade o

isolamento dos sujeitos que praticavam algum tipo de delito, de desobediência á

ordem estabelecida e por conseguinte deveriam ser penalizadas.

É justamente no ínterim em que aguardavam o seu julgamento e a sua

sentença o período em que as pessoas permaneciam presas, em compasso de

espera para finalmente se caracterizar a sua punição.

Significa dizer, portanto, que a privação de liberdade nos primórdios das

relações das sociedades com o crime e seus criminosos não era concebida como

uma forma de castigo ou melhor de punição.

Como explica Carvalho Filho,

O cárcere sempre existiu, sua finalidade, porem, não era a de hoje. Destinava-se a guarde de escravos e prisioneiros de guerra. Em matéria penal, servia basicamente para a custódia de infratores à espera da punição aplicada e do próprio julgamento – para que não fugissem e para que fossem submetidos à tortura, método de produção de prova antes considerado legítimo. (...) Os réus não eram condenados especificamente à perda de liberdade por um período de dias, meses ou anos. Eram punidos com morte, suplício, degredo, açoite, amputação de membros, galês, trabalhos forçados, confisco de bens. Para viabilizar a punição imposta permaneciam presos durante dias, meses ou anos. (CARVALHO FILHO, 2002, p. 21).

Percebe-se assim que o encarceramento se constituía em um meio e não

em um fim.

Ressalta-se que como o período da prisão não fazia parte do contexto

punitivo, também as condições físicas do cárcere não estavam na pauta do

sistema punitivo. Assim, nem as condições do encarceramento nem as

condições da saúde física do prisioneiro se constituíam em preocupação dos

encarceradores.

Dessa forma a descrição que se tem daqueles locais revela sempre

lugares insalubres, sem iluminação, sem condições de higiene e “inexpurgáveis”.

Conforme se constata as masmorras são exemplos destes modelos de cárcere

infectos nos quais os presos adoeciam e podiam morrer antes mesmo de seu

julgamento e condenação. As prisões neste período se caracterizavam apenas

como um acessório de um processo punitivo que se baseava no tormento físico.

8

A natureza e a finalidade das prisões somente começam a se modificar a

partir do século XVIII.

É a partir de então que as prisões começam a se transformar na essência

do modelo punitivo. Assumem um caráter de estabelecimento público.

Rigor, severidade, regulamentação, higiene e intransponibilidade do ponto

de vista institucional e com uma dinâmica capaz de reprimir o delito e promover a

ressocialização de quem os comete, são as prerrogativas que passam a

caracterizar as instituições penais a partir do século XVIII.

A partir dessa concepção punitiva moderna, a finalidade do

encarceramento passa a ser o de isolar e recuperar o infrator.

Com essa lógica pode-se atribuir o desenvolvimento da prisão ao

pensamento humanista.

Na prática porem, esta expectativa não se realiza. Na critica de Foucault

(1997), pode-se perceber que a finalidade da prisão deixou de ser o de causar

dor física de tal forma que o objeto da punição deixa de ser o corpo para atingir a

alma do infrator. Para esse autor a prisão como pena privativa de liberdade se

constitui em uma nova tática da arte de fazer sofrer. Nesse novo modelo punitivo

extingui-se o espetáculo público e a dor insuportável da violência punitiva anterior

e o substitui por uma modalidade de sobriedade punitiva na qual o carrasco

passa a se caracterizar como “relojoeiro meticuloso”. Isso porque o tempo

perdido durante o encarceramento se torna moeda de valor sendo assim a

resposta do estado para a criminalidade.

Na análise de Marx (1985), o surgimento desta concepção de prisão está

relacionado à necessidade do capitalismo emergente de domesticar grandes

contingentes de indivíduos, para assumirem o papel de trabalhadores e a partir

desse comportamento alavancar o processo produtivo que emergiu a partir do

século XVIII.

A prisão nesta perspectiva assumiu um caráter de controle social na

medida em que servia para corrigir, operariar, treinar comportamentos, preparar

para a exploração do trabalho assalariado.

Sob esta perspectiva, pode-se dizer que as prisões concebidas no

compasso da modernidade em nada tinham de compromisso com o sujeito

encarcerado e sua ressocialização. O compromisso maior era viabilizar por meio

9

da coerção, o trabalho operário para servir aos interesses da classe capitalista

que se consolidou a partir desse período.

Como toda mudança estrutural e orgânica pensada pelas classes

dominantes, também as mudanças do sistema punitivo tiveram que desenvolver

uma justificativa bem estruturada e aceitável para poder contar com a aceitação

de todos e transformar-se na regra geral. Assim, a justificativa que permitiu

esconder a realidade das intenções na concepção dessa nova forma de punição

foi a da necessidade de romper com a barbárie do modelo anterior baseada no

castigo físico.

Como descreve Carvalho Filho (2002, p. 22),

(...) o sistema punitivo moderno foi construído a partir da segunda metade do século XVIII. Os exageros do antigo regime já vinham sendo objeto de crítica de filósofos iluministas, mas, foi um aristocrata de Milão, Cesare Beccaria (1738-1794) quem sintetiza o formato dos novos Códigos. Sua obra “Dos Delitos e das penas, publicada em 1764 (p. 85), sustenta que o ‘fim das penas não é o de atormentar e afligir um ser sensível, nem desfazer um crime que já foi cometido’ Para ele “os castigos têm por fim único impedir o culpado de ser nocivo futuramente à sociedade e desviar seus concidadãos da senda do crime. (CARVALHO FILHO, 2002, p. 22).

Outras contribuições, que estimularam a consolidação dessa nova

proposta punitiva, foram formuladas por Jonhatan Howard que, em 1777 fêz uma

série de criticas às prisões da época e de sua finalidade, ocupando o cargo de

xerife e conhecedor da realidade das prisões européias. Este profissional propôs

àquela época que se efetuasse a construção de estabelecimentos para o

cumprimento de penas sugerindo a separação dos presos, o isolamento noturno

e a religião como um instrumento para a regeneração do sujeito. Propôs ainda a

criação de mecanismos externos de controle retirando a responsabilidade da

regulamentação das mãos dos carcereiros responsáveis pelas prisões dessa

época.

Também desse período em que surgiram as prisões modernas têm-se as

contribuições significativas de Jeremy Bentham (1784 – 1832). São dele as

propostas de que se adotasse um castigo moderado, com rigor na disciplina, e

uso de roupas humilhantes. Para esse pensador estas medidas punitivas

serviriam para recuperar o criminoso.

A idéia principal desse novo modelo era a de que seria possível, através

da pena imposta e executada dessa maneira, promover a emenda do

10

delinqüente, o que se daria pelo temor de se castigado outra vez se reincidisse e

também de promover a mudança do caráter e dos hábitos do individuo.

Foi Bentham que em 1791 propôs a construção do Panóptico, uma

espécie de prédio circular construído em torno de uma torre a partir da qual os

presos eram submetidos a um controle diuturno. O observador detinha a visão de

toda a estrutura da prisão, todas a atividades internas eram controladas a partir

desse observatório sem que os presos pudessem fazer contato visual com seu

observador.

Para Foucault (1997) foram essas as bases arquitetônicas para a

construção das prisões modernas e o marco a partir do qual se pode

compreender o processo que desencadeou a erosão da privacidade resultante

de um poder visível e inverificável na medida em que o sujeito sabia que estava

sendo vigiado, mas, não podia confirmar tal vigilância, vivendo assim na

expectativa de ter todos os seus atos controlados e passiveis de punição.

A partir desse inicio histórico das prisões diferentes modelos foram

surgindo em todo o mundo, alguns sistemas mais rigorosos do que os outros,

mas, seguindo os princípios da privação de liberdade como modelo de punição

coercitiva e regenerativa.

2.2 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DO PARANÁ:

O Depen-Pr. se constitui em um órgão vinculado à Secretaria de Estado

da Justiça e da Cidadania, é composto por 21 unidades operacionais.

Conforme dados históricos dessa unidade administrativa as atividades do

Sistema Penitenciário tiveram inicio em 1909, quando a Secretaria de Justiça

em ação conjunta com a chefatura de polícia administravam as cadeias

públicas e as penitenciárias. Esta estrutura organizacional perdurou até a

criação do Departamento de Estabelecimentos Penais do Estado (DEPE), pela

Lei 1767 de 17 de fevereiro de 1954.

Em 1962 foi criada a Secretaria da Segurança Pública, que ficou

responsável pela DEPE e pelas penitenciárias, prisões, escolas de

11

recuperação, colônias, sanatórios e manicômios penais. A partir de em 1971 o

DEPEN retornou à responsabilidade da Secretaria do Interior e Justiça.

Somente em 1975 a DEPE foi transformada em Coordenação do

Sistema Penitenciário (COOSIPE).

Finalmente, em 1987 com base na nova regulamentação da Secretaria

de Estado da Justiça, a Coosipe passou a denominar-se Departamento

Penitenciário (DEPEN). Essa nova estrutura orgânica se efetivou e oficializou-

se pelo Decreto 609, de 23 de julho de 1991. Tal decreto teve como finalidade

promover a reestruturação da Secretaria dos órgãos a ela subordinados.

É com base nessa nova organização, que se procedeu a edição e

aprovação do Regimento Interno do DEPEN denominado Departamento

Penitenciário do Estado do Paraná - DEPEN.

A partir do ano dois mil o DEPEN assumiu a característica de Unidade

de Execução da Secretaria de Estado da Segurança, da Justiça e da

Cidadania (SESJ). Conhecida assim como a Super Secretaria, o Depen – Pr

passou a ser administrado no mesmo nível hierárquico da administração

publica das corporações da Policia Militar e da Policia Civil, por algum tempo

se conviveu com essa estrutura administrativa.

Do ponto de vista operacional o que se percebeu foi que as prioridades

se dividiram entre essas três demandas da Segurança Publica. Foi nesse

período em que uma das obras construídas no município de Piraquara

financiadas pelo Ministério da Justiça em Parceria com o Depen – Pr foi

desviada da função de seu projeto original para tornar-se parte do patrimônio

da Policia Civil, constituindo-se no Centro de Triagem da Polícia Civil,

conhecido na pratica como CTII. Estas entre outras demonstrações de

prioridades permitem inferir que essa estrutura de Secretaria alijou o DEPEN –

Pr. de suas prioridades. Percebe-se assim que desde sua origem o raciocínio

que orientou a origem do Depen assumiu sempre esse vínculo com policia,

com coerção, força, custodia e prisão.

Ao analisar a estrutura orgânica do Estado do Paraná é possível

constatar que entre as atribuições do Depen constam as seguintes

competências: “Supervisionar, coordenar e inspecionar os estabelecimentos

penais, Escola Penitenciária e patronatos; fazer cumprir as disposições da Lei

12

de Execução Penal, responsabilizando-se pela custódia, segurança e

assistência tanto dos internos quanto dos egressos do Sistema Penitenciário;

oferecer assistência jurídica, psicológica, social, médica, odontológica,

religiosa e material, além de desenvolver a reintegração social por meio da

educação formal.” (Lei Orgânica do Estado do Paraná). É com base nessa

legislação que o Depen-Pr emana suas políticas de administração

Penitenciária.

Como se percebe os presídios, penitenciárias, colônias penais,

manicômios judiciários, se caracterizam como instituições totais. Significa dizer

que toda atividade humana, que se desenvolve no interior destas instituições

são pensadas por agentes externos.

É nessa perspectiva que o DEPEN – PR estabelece suas políticas

administrativas. Conforme estabelece a legislação em vigor o pensamento que

hoje norteia a administração do Sistema Penitenciário brasileiro segue as

orientações das Regras Mínimas da ONU. A lei que regulamenta as práticas

da Execução Penal é a Lei 7210 de 11.07.84. Segundo essa Lei a Execução

Penal tem por objetivo a efetivação das disposições de sentença ou decisão

criminal e proporcionar as necessárias condições para que seu

desenvolvimento possibilite a harmônica integração do condenado e do

internado ao seu meio social, quando egresso do Sistema.

O Sistema Penitenciário acolhe os presos condenados, presos

provisórios que aguardam as sentenças transitarem em julgado, além dos

sujeitos inimputáveis que cumprem Medidas de Segurança.

O Sistema penal vigente no Brasil, com algumas modificações é

denominado sistema progressivo. Conforme esclarece Silva:

Neste sistema que surgiu na Inglaterra, no século XIX, leva-se em conta o mérito do condenado, demonstrado por sua conduta e trabalho. Há três estágios para o cumprimento da pena. No primeiro, há o isolamento celular absoluto, no segundo, já há a permissão para o trabalho em comum, em silencio, possibilitando-se outros benefícios. Por ultimo permite-se o livramento condicional. (SILVA, 2003, p. 146).

Conforme se pode perceber, a dimensão reformista da personalidade

humana proposta pela lei, apresenta um traço marcantemente positivista. De

maneira que essa pretensão da Lei vem sendo severamente criticada pela

13

Criminologia Critica tal como se percebe nas análises de Thompson (1998) e

Baratta (1997). Estes entre outros autores avaliam que da forma como a Lei

está concebida e da forma como a execução penal vem sendo viabilizada no

Brasil essa concepção reformista, ressocializadora não se realiza.

Para Thompsom,

(...) Punir é castigar, fazer sofrer. A intimidação a ser obtida pelo castigo, demanda que este seja apto a causar terror. Ora, tais condições são reconhecidamente impeditivas de levar ao sucesso uma ação pedagógica. Daí fica extremamente difícil estabelecer uma teoria da punição reformadora – a não ser que retificássemos os conceitos vigentes acerca da educação. (Thompsom, 1997, p. 5).

Dessa forma o que se percebe ao longo dos anos é o fato de que a

administração do Depen-Pr assim como as unidades penais obedecem

arbitrariamente à lógica de cada um de seus diferentes administradores que se

orientam por suas próprias convicções, pela sua história funcional adquirida

na sua vivência junto aos seus órgãos de origem e área de formação. O que

parece mais contraditório é o fato de que qualquer opção ou prioridade

adotada tem sempre o respaldo da lei em razão da dicotomia de seus

propósitos, fundamentos e princípios.

Desta forma é que o estudo sobre a administração de qualquer uma das

unidades penais do Estado, deve considerar o seu aspecto legal e o seu

aspecto real, ou seja, como de fato se operacionaliza na realidade do cotidiano

da unidade as práticas adotadas para a promoção da execução da pena e

termos de cumprimentos dos objetivos da lei.

Para Thompsom (1997) pensar uma penitenciária não punitiva é tão

contraditório quanto imaginar um hospital mental punitivo.

É nessa linha de análise que se pretende situar a Gestão das Medidas

de Segurança no âmbito do sistema penitenciário atue sob a perspectiva da

administração hospitalar.

14

2.3 MEDIDA DE SEGURANÇA, DOENÇA MENTAL, E EXECUÇÃO PENAL:

ASPECTOS LEGAIS

2.3.1 Medida de Segurança

A Medida de Segurança é uma sanção caracterizada pela

predominância do fim preventivo, cujo fundamento se inscreve na

periculosidade que se constitui na probabilidade do sujeito vir ou tornar a

praticar crimes. A “pena” se constitui igualmente em uma sanção penal a

diferença é que neste tipo de sanção o que predomina é o seu fim repressivo.

A Medida de Segurança visa à prevenção e à cura, no sentido de preservar a

sociedade da ação de delinqüentes temíveis e de recuperá-los com tratamento

curativo.

Segundo Bitencourt (2003) é possível estabelecer quatro diferenças

básicas entre as penas e as medidas de segurança:

a) as penas têm caráter retributivo-preventivo; as medidas de

segurança, caráter preventivo;

b) as penas têm como fundamento a culpabilidade; as medidas de

segurança, a periculosidade;

c) as penas são determinadas; as medidas não têm prazo determinado;

d) as penas aplicam-se aos imputáveis e aos semi-imputáveis; as

medidas, aos inimputáveis e, excepcionalmente, aos semi-

imputáveis.

A Lei presume a periculosidade dos inimputáveis, determinado a

aplicação da Medida de Segurança àquele que cometeu o ilícito. Portanto a

aplicação da Medida de Segurança se torna obrigatória, independentemente

só fato do sujeito estar sendo submetido de forma voluntária ao tratamento.

Quanto ao semi-imputável, a periculosidade pode ser reconhecida pelo juiz,

que, tem a prerrogativa de optar por substituir a pena pela Medida de

Segurança.

15

Para que se aplique uma Medida de Segurança é preciso que se

preencham três requisitos legais:

a) prática de fato típico punível significa que não pode haver

excludente de criminalidade ou de culpabilidade (com exceção da

inimputabilidade) ou ausência de provas;

b) periculosidade do agente trata-se de um juízo de probabilidade de

que o agente, tendo em vista a sua conduta anti-social e anomalia

psíquica – voltará a delinqüir. Pode ser presumida (quando o sujeito

é inimputável) ou real (quando é semi-imputável, dependendo de

reconhecimento judicial);

c) ausência de imputabilidade plena o imputável não pode sofrer

Medida de Segurança, somente pena; apenas os inimputáveis e os

semi-imputáveis que precisarem de especial tratamento preventivo

sujeitam-se à Medida de Segurança.

Prevê a lei que havendo cessação da periculosidade comprovada por

perícia médica, a Medida de Segurança é revogada (art. 178, LEP) – na

pratica a medida é suspensa – pelo prazo de um ano, com a desinternação ou

liberação do sujeito, que são provisórias. Uma vez transcorrido esse período

sem que tenha havido a prática de fato indicativo da persistência da

periculosidade, dá-se a extinção definitiva da medida.

A Medida de Segurança tem duração indeterminada: perdura enquanto

não cessada a periculosidade, comprovada por perícia médica.

Batista (1998) afirma que a doutrina mais moderna entende que a

duração da Medida de Segurança não pode ultrapassar o máximo da pena

abstratamente cominada ao delito. Conforme o art. 97, §1º do Código Penal o

prazo mínimo estabelecido de um a três anos é apenas para delimitar quando

o primeiro exame pericial deve obrigatoriamente ser feito. Significa dizer que o

juiz não pode estabelecer prazo além do máximo ou aquém do mínimo

estabelecido em lei. Disciplinam os arts. 41 e 42 CP que se considera na

Medida de Segurança a contagem do prazo mínimo o período de prisão

provisória ou de internação.

16

Na critica de Batista (1998) que por suas características, mesmo as

medidas concernentes aos inimputáveis, ainda que se orientem para fins de

proteção e melhoramentos, operam pela via retributiva da perda ou restrição

de bens jurídicos ou direitos subjetivos, e ostentem igualmente matiz penal.

(...) não existe diferença ontológica entre pena e Medida de Segurança”.

Do ponto de vista legal da sentença a lei estabelece que somente com o

trânsito em julgado da sentença pode-se falar em execução da Medida de

Segurança, o que demanda a expedição da guia de internamento ou

tratamento ambulatorial. A pena poderá ser substituída por Medida de

Segurança em dois casos: quando se tratar de condenado semi-imputável que

precise de “especial tratamento curativo” (art. 98, CP); ou ainda quando

sobrevier doença mental ao condenado, que deverá “ser recolhido a hospital

de custódia e tratamento psiquiátrico, ou, à falta, a outro estabelecimento

adequado”, nos termos do art. 41, CP.

Ressalta-se que a perícia médica para constatar a cessação da

periculosidade é realizada ao tempo do prazo mínimo fixado e deverá ser

repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo. Por disposição expressa,

computa-se na Medida de Segurança, o tempo de prisão provisória, o de

prisão administrativa e o de internação em qualquer estabelecimento referido

no artigo 41.

Conforme esclarece Bitencourt (2003) a perícia médica deve ser

obrigatoriamente realizada ao termo do prazo mínimo fixado pelo juiz,

atendendo o artigo 97, § 2º do Código Penal. Para aplicação da Medida de

Segurança, quer provisória, quer definitiva, exige sempre verificação diante de

fatos concretos para atestar a periculosidade do sujeito.

A justificativa para aplicação da medida se inscreve no caráter de

enfermidade psíquica ou intoxicação crônica por álcool ou substância

entorpecente. Nos casos de capacidade penal reduzida em virtude de

cegueira, surdo-mutismo e outras deficiências físicas e mentais. A fraqueza de

vontade também é um elemento justificável.

Outra critica apresentada por Batista (1998), refere-se à questão que

envolve a definição do tempo de duração desta medida. A lei diz que será por

prazo indeterminado, até que perdure a periculosidade, ou seja, a Medida de

17

Segurança tem um prazo mínimo de 1 a 3 anos, a contradição reside no fato

de que o máximo da duração é indeterminado, perdurando a sua aplicação

enquanto não for atestada a cessação da periculosidade conforme estabelece

o Código Penal em seu artigo o 97, §1º.

Também estabelece de forma critica uma comparação entre a medida e

a pena pelo fato de que a pena exige a individualização, de maneira que

atenda às condições pessoais do sujeito e às circunstâncias em que cometeu

o crime tal como descrito nos artigos 59 e 60 do Código Penal. Por sua vez, a

Medida de Segurança é generalizada à situação de periculosidade do agente,

limitando-se a duas únicas espécies (internação e tratamento ambulatorial),

conforme determinado pelo art. 96 do Código Penal. A pena se propõe a

retribuir o mal causado e prevenir outro futuro, já a Medida de Segurança se

constitui apenas em prevenção. Embora por suas características a pena não

tenha por resultado a prevenção, a cura, a defesa, o tratamento, a

ressocialização, ou a reabilitação servindo apenas como punição para o sujeito

a Medida de Segurança resulta tão aflitiva quanto à pena. São estas as

características que permitem concluir que o Estado não pode exercer sua

prerrogativa de punir de maneira perpetua uma pessoa. Na verdade, ambas

restringem a liberdade do indivíduo e violam seus direitos fundamentais. Por

este motivo é que ambas devem estar sujeitas às mesmas garantias e limites.

Nesse rumo, é fácil concluir que o prazo indeterminado de duração das

medidas de segurança vai de encontro à vedação constitucional à prisão

perpétua.

Apesar da Medida de Segurança não deter finalidade punitiva, mas sim,

curativa e de reintegração do indivíduo na sociedade a questão levantada por

muitos é que os hospitais e casas especializadas, na grande maioria, não

estão preparados para oferecer esse tipo de serviço.

Segundo Ferrari (2001) o tema diz respeito tanto ao aspecto social da

questão como também viola princípios básicos do sistema jurídico brasileiro,

ferindo significativamente os princípios do Estado Democrático de Direito, da

dignidade e até mesmo da condição de ser humano. Para o autor, ao se tentar

impor permanência perpétua de uma pessoa junto a um manicômio judiciário,

18

esquece-se que, mesmo sendo doente mental, tem direito à sua alteridade,

tendo, portanto, os mesmos direitos que qualquer cidadão.

Diferentemente do que se pensa, a enfermidade mental pode ser

controlada com remédios e tratamento terapêutico adequados, sendo esta

circunstância inteiramente capaz de propiciar ao doente a plena convivência

em sociedade, ao lado de sua família. Analisa Ferrari (2001), que determinar o

afastamento perpétuo de um ser humano do meio social e do convívio familiar

parece medida simplista e sem a menor razoabilidade que não pode, de forma

alguma, ser admitida pelos legisladores e juristas.

O doente mental, como qualquer outra pessoa, tem direito a tratamento digno e reintegrativo por parte do Estado, sendo que a sentença absolutória imprópria que lhe é aplicada não pode condená-lo a viver perpetuamente num circo de horrores, como se caracterizam os manicômios jurídicos, sem o mínimo de dignidade e esperança no amanhã“ (FERRARI, 2001, p. 63).

Revela o autor que assim com o as penas, também as medidas de

segurança não poderiam ultrapassar o prazo de 30 anos de duração. Mesmo

porque, se o que se busca com a internação é o tratamento e a cura, ou

recuperação do internado e não sua punição, de maneira que o período de 30

anos se constitui em um período suficiente para se atingir tal finalidade.

Nas analises do autor, o caráter perpétuo da Medida de Segurança fere

inúmeros direitos e cita a violação do Direito à igualdade pela discriminação

entre imputável e inimputável; o Direito à humanidade ou à humanização na

medida em que nenhuma sociedade ou legislação moderna pode concordar

com a possibilidade de se submeter um indivíduo a um mal tão grande, a

ponto de privar totalmente suas chances de reinserção à sociedade; o Direito à

dignidade da pessoa humana.

O princípio da dignidade humana exige que as autoridades competentes confiram ao doente mental delinqüente condições mínimas de tratamento, o que tem se revelado inviável tendo em vista a manutenção de Manicômios desaparelhados, sem estrutura física e humana, configurando verdadeiros depósitos de uma parte da população menos favorecida que, invariavelmente, sofre nas mãos do Estado o inaceitável desrespeito à sua condição de ser humano. (FERRARI, 2001, p. 64).

No mesmo compasso de análise pode-se citar as avaliações de

Goffmann sobre os manicômios judiciários e seu efeito sobre seus pacientes.

19

Ao mesmo tempo a vida do paciente é regulada e ordenada de acordo com um sistema de disciplina desenvolvido para o controle de um grande numero de internados involuntários por uma pequena equipe. Nesse Sistema, o auxiliar tende a ser a pessoa chave da equipe, pois, informa o paciente quanto aos prêmios e castigos que irão regular sua vida (...) o comportamento dócil e obediente leva o paciente à promoção no sistema de enfermarias, o comportamento violento e rebelde, à sua queda. (...) como resposta à sua estigmatização e à privação que ocorre quando entra no hospital, o internado freqüentemente desenvolve certa alienação com relação à sociedade. Civil. Essa alienação desenvolve-se independentemente do tipo de perturbação que o levou a ser internado e se constitui em um efeito secundário da hospitalização. (GOFFMANN, 2006, p. 292).

2.3.2 Doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado:

Por doença mental no âmbito da lei se concebe todas as doenças que

causem alterações mórbidas à saúde mental. Entre elas estão: a

esquizofrenia, a psicose maníaco-depressiva, a paranóia, a demência senil, a

psicose alcoólica.

São considerados portadores de desenvolvimento mental incompleto os

menores de dezoito anos, inclusos em dispositivo aparte (art. 27, do CP); os

silvícolas não adaptados à civilização; os surdos-mudos que não receberam

educação apropriada, desde que por isso tenham afetada a capacidade de

entendimento ou de autodeterminação. São, portanto, aquelas pessoas que

ainda não atingiram a plena maturidade mental.

Define Silva: “São considerados portadores de desenvolvimento mental

retardado: os sujeitos que possuem um estado mórbido de parada no

desenvolvimento mental, ocorrido nos primeiros anos de vida ou de forma

congênita, que implique a impossibilidade de criar ou de criticar os fatos,

incapacitando-o para o convívio social” (SILVA, 2003, p. 124). Não basta que o

agente possua doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou

retardado apenas.” Para que seja considerado inimputável, é preciso verificar

pela via da perícia se realmente ao tempo da ação ou da omissão o sujeito era

inteiramente incapaz de entender o caráter licito do fato ou de determinar-se

de acordo com esse entendimento, devido àquelas situações. Significa dizer

que se por ocasião do cometimento da ação ou da omissão o sujeito era capaz

de entender a ilicitude de sua conduta e de auto-determinar-se, embora

20

possuidor de algum problema mental, será considerado imputável podendo

assim ser responsabilizado pelo delito.

Caso a questão da insanidade mental seja levantada na fase executória,

a perícia deve ser determinada pelo juiz da execução, e restando reconhecida

a inimputabilidade, deverá o réu ser internado em Manicômio Judiciário,

seguindo-se o procedimento descrito no Código de Processo Penal em seu art.

682 e parágrafos. No âmbito da Lei a concepção de doente mental está

relacionada à capacidade do sujeito poder ser responsabilizado pelos atos que

praticou.

Assim diante da Lei no moderno Direito Penal a ação do criminoso

assume um caráter secundário atribuindo-se maior relevância à pessoa e sua

vontade.

Significa dizer que uma pessoa será submetida a um processo crime e

punida por sua ação se esta ação estiver tipificada como crime.

Diante da Lei Penal quando o sujeito não é capaz de discernir

plenamente que sua conduta é criminosa, o exclui de sofrer as punições

previstas no Código Penal. Descreve Fuhrer (1990) que nos casos em que

faltar discernimento ético para que o ao agente entenda o caráter ilícito do fato

ou de determinar-se com esse entendimento, caberá ao juiz proferir sentença

absolutória, com base no art. 26 do Código Penal e art. 386, V do Código de

Processo Penal, impondo-lhe, contudo, Medida de Segurança, tal como dispõe

os arts. 97 do Código Penal, e art. 386, parágrafo único, III do Código de

Processo Penal.

Percebe-se, portanto, a preocupação do legislador em prever situações

nas quais, mesmo estando presentes os elementos formais do delito, o agente

não sofrerá o peso da sanção, por sua conduta. No âmbito da lei o legislador

trata da imputabilidade subjetivamente, preferindo demonstrar quem são os

inimputáveis, ao invés de explicar quem seriam os imputáveis.

Bitencourt (2003) afirma que o Código Penal traz em seus arts. 26

"caput", 27 e 28, § 1, os inimputáveis, que são os doentes mentais, menores

de 18 anos e em casos onde o agente está sob estado de embriaguez

acidental.

21

Quando a inimputabilidade advier de embriaguez acidental será

necessária a comprovação dessa condição através de exame clínico,

enquanto que os atos praticados por agente menor de 18 anos a comprovação

se dará pela analise da documentação civil.

Conforme descreve a Lei, a declaração de inimputabilidade, quando se

suspeitar da integridade mental do agente terá sua confirmação atestada

mediante exame psiquiátrico.

De acordo com Silva (2003) o exame psiquiátrico pode ser solicitado em

qualquer fase do procedimento criminal, ou seja, na sua fase inquisitorial,

processual ou executória. Explica o autor que caberá ao magistrado a

competência para requisitar o exame de sanidade mental, sendo esse tipo de

perícia prerrogativa exclusiva do juiz.

Considera-se ser indispensável à realização do exame psiquiátrico,

quando surge dúvida dessa natureza, para que se estabeleça o nível de

entendimento do agente, no momento em que praticou o delito, e também,

para que se possa averiguar se a doença, pré existia ou se veio a ocorrer após

o evento delituoso.

Silva (2003) avalia que existe situação na qual o sujeito não apresenta

doença mental propriamente dita, mas sim, uma perturbação de seu estado

mental. Esta condição da origem a uma lacuna entre a higidez mental e a

insanidade. Estas situações são consideradas fronteiriças, de maneira que

para estes casos esta previsto no Código Penal a redução da pena de um a

dois terços (art. 26, parágrafo único).

Dessa forma, a ausência da culpabilidade isenta o réu da aplicação da

pena e a solução é a sua absolvição.

De acordo com a teoria normativa pura, os elementos que compõem a

culpabilidade se constituem da imputabilidade, do potencial de conhecimento

da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.

Uma vez ocorrido o crime, caberá ao juízo verificar se o agente era

imputável á época dos fatos, se tinha o potencial conhecimento da ilicitude do

ato que praticou e se poderia ter agido de forma diferente. Caso falte qualquer

um desses elementos normativos, não se pode atribuir culpabilidade, restando

ausente a reprovação social.

22

Silva (2003) afirma que o Código Penal adotou a teoria limitada da

culpabilidade. E esclarece que:

Para que seja possível falar em culpabilidade e aplicar a sanção, há a necessidade de saber se o agente tinha a capacidade de entender e de querer no momento do fato. Sem a capacidade de entendimento e de autodeterminação, não há como censurar alguém que cometeu um delito, sendo que ele estará isento de pena por falta de imputabilidade. Assim, imputável é o sujeito que possuía, ao tempo da ação ou da omissão, capacidade de entender e de querer. (SILVA, 2003, p. 123).

Aponta o autor que dois são os requisitos normativos da imputabilidade:

o intelectivo e o volitivo. O intelectivo representa a capacidade de entender o

caráter ilícito do fato, isto é, de saber que o fato tem repercussão social

negativa. O volitivo se constitui na capacidade de autodeterminação, ou

seja, de dirigir o comportamento de acordo com os padrões sociais.

Significa dizer que quando esse requisito não esta presente, diz-se que o

sujeito não tem limites de maneira que embora possa saber que o fato é

reprovável, não consegue conter-se.

A falta de um desses requisitos implica na a inimputabilidade.

De acordo com o Código Penal excluem a imputabilidade: a doença men-

tal e o desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26), a menoridade

(art. 27) e a embriaguez fortuita completa (art. 28, § 1°).

2.3.2 Os estabelecimentos de custódia e tratamento psiquiátrico destinados

aos doentes mentais

Conforme estabelece o Art. 99 da Lei de Execuções Penais, “o hospital

de custódia e tratamento psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e semi-

imputáveis referidos tal como se concebe no artigo 26 e seu parágrafo único

do Código Penal. Parágrafo único. Aplica-se ao Hospital, no que couber, o

disposto no parágrafo único do artigo 88 desta Lei”. (MIRABETE, 1990, p.

263).

23

Tal artigo disciplina as condições de acomodação no que se refere à

salubridade e outras condições visando um espaço adequado à sobrevivência

humana.

A partir do momento em que se legislou sobre a necessidade de se

adotar um regime de penas diferenciado para as pessoas inimputáveis ou

semi-imputáveis, fez-se necessário que também o padrão arquitetônico bem

como a disponibilização de equipamentos dos estabelecimentos penais

destinados à sua execução se adequassem a essa nova demanda. As

especificidades do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico o

caracterizam como sendo um hospital-presídio. Como analisa Mirabete (1990)

embora se destine ao tratamento, constitui-se também em um estabelecimento

penal que tem por finalidade assegurar a custódia do internado.

Na prática, estes estabelecimentos destinam-se ao tratamento tal como

determina a Lei na execução da Medida de Segurança, isso porque os

alienados que praticam crimes assemelham-se em todos os pontos a outros

alienados, o que os torna diferentes dos demais criminosos. De qualquer

maneira, é importante salientar que não é possível afastar a coerção à

liberdade de locomoção do internado, presumidamente perigoso tal como

tipificado no texto da lei.

Conforme entendimento dos dispositivos da lei observa-se que o

Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico não exige cela individual, tendo

em vista que a estrutura e as divisões dessa Unidade dependem de projeto

especializado que atenda aos padrões da medicina psiquiátrica.

Nesse sentido observa-se a necessidade do aporte de outra área das

ciências que se refere tanto á medicina especializada como à administração

hospitalar.

Em razão da especificidade do internado destas instituições e das

expectativas da lei o tratamento pressupõe que se propicie as dependências

adequadas à quimioterapia, psicoterapia, labor-lerapia, praxiterapia etc. Dessa

maneira, explica Mirabete (1990) o estabelecimento deve apresentar

características hospitalares, contando com aparelhagem apropriada às

diversas formas de tratamento.

24

A Lei diferencia o sujeito inimputável e semi-imputável de tal maneira

que considera inimputável o sujeito que, por doença mental ou

desenvolvimento mental incompleto ou retardado era, ao tempo da ação ou

omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de

determinar-se de acordo com esse entendimento. Ao presumir sua

periculosidade a lei determina seja ele submetido à Medida de Segurança de

internamento em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em

outro estabelecimento adequado (arts. 26, caput, 96 e 97 do CP). O sujeito

que em virtude de perturbação da saúde mental ou por desenvolvimento

mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o

caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento é

considerado pela Lei como semi-imputável. A Lei prevê que se esse sujeito

necessitar de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode

ser substituída pela internação, conforme disciplinam os arts. 26, parágrafo

único, e 98, do CP. Também dispõe sobre esse assunto o artigo 99, caput, da

LEP, combinando com o artigo 99 do CP.

Descreve Mirabete (1990) que outra possibilidade de indicação para

internamento no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico pode se

constituir “Do condenado que, no curso da execução da pena privativa de

liberdade vier a sofrer de doença mental ou apresentar perturbação da saúde

mental, quer pela conversão da pena em Medida de Segurança (art. 183 da

LEP), quer pela determinação do internamento pelo juiz (art. 108 da LEP). Na

primeira hipótese, de conversão, a execução passará a ser regida pelas

normas referentes às medidas de segurança (item 7.9); na segunda, de

simples transferência, ocorrerá a detração, computando-se o tempo de

internamento na duração da pena (art. 42 do CP)”.

A Lei prevê ainda que se proceda ao internamento em outras

instituições que apresentem igual possibilidade de tratamento e custodia caso

não se disponha de hospital de custódia e tratamento psiquiátrico (art. 96, I, do

CP). No caso de inexistência do hospital-penitenciário ou de absoluta falta de

vagas nesse estabelecimento, o internado será destinado a outro instituto que,

além do tratamento, possa assegurar a custódia do interno por parte da

Administração Pública.

25

Dessa maneira não se descarta a possibilidade do internamento em

hospital psiquiátrico-particular que ofereça condições de custódia na falta de

estabelecimento oficial ou quando a perícia comprove que não há condições

de ser o interno submetido ao tratamento específico de que necessita na

instituição hospitalar-prisional do Estado.

Conforme estabelece o art. 100 da Lei de execução Penal é obrigatória

a realização de exame psiquiátrico e os demais exames necessários ao

tratamento para todos os internados.

A finalidade da realização desses exames é garantir que se efetue uma

perfeita determinação dos indivíduos que estarão sujeitos ao tratamento. Tais

exames se constituem em uma seleção rigorosa no ato da internação. Deve

constar desses exames entre outros aspectos, o estado físico do internado.

Entende a Lei que a cessação da periculosidade presumida só pode ser

constatada no fim do prazo mínimo de duração da Medida de Segurança ou

então, quando o juiz da execução assim o determinar, através do exame

psiquiátrico.

Está previsto no art. 97, segunda parte do Código Penal o tratamento

ambulatorial de tal maneira que na pratica este atendimento será realizado no

Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com

dependência médica adequada.

Esclarece Bitencourt (2003) que há ainda outra disponibilidade descrita

na Lei que prevê que quando o sujeito for considerado inimputável o juiz

poderá, se o fato praticado for crime punível com detenção, submetê-lo a

tratamento ambulatorial como uma opção ao internamento (art. 97, caput, 2."

parte, do CP). Podendo, ainda, ficar sujeito ao tratamento ambulatorial o

condenado semi-imputável que tenha praticado crime a que é cominada pena

de detenção, caso necessite de especial tratamento curativo, em substituição à

pena privativa de liberdade (art. 98, do CP).

Esclarece Mirabete (1190:265) que “esse tratamento deve ser realizado

no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com

dependência médica adequada”.

Ainda que não se exija, nesses casos, qualquer medida de vigilância ou

custódia do inimputável ou semi-imputável que estão em liberdade, também

26

não faz referência expressa a Lei a estabelecimento particular. Isto porque o

tratamento ambulatorial deve ser realizado de modo que a administração

possa controlá-lo eficientemente, possibilitando, inclusive, que o juiz determine

a internação se essa providência for necessária para fins curativos (art. 97, §

4.°, do CP). Por outro lado, como não há impedimento expresso, também nada

impede, na impossibilidade de tratamento em estabelecimento público, que se

defira a tarefa a entidades particulares devidamente credenciadas junto ao

Poder Público para tal mister”.

Percebe-se, portanto, que estas instituições se destinam a pessoas

incapazes de responder por seus próprios atos perante a sociedade.

Uma vez concebido pela lei que os doentes mentais que cometem atos

tipificados como crimes devem cumprir medidas de segurança e não sofrerem

condenações penas privativas de liberdade e restritivas de direitos como se

prevê aos imputáveis, o estado cria tais unidades consideradas hospitais

presídios.

Nessas condições estes sujeitos, portadores de doenças mentais são

tratados pela medicina psiquiátrica numa perspectiva de tratamento e custódia

ao mesmo tempo.

Em sua análise sobre manicômios, prisões e conventos Goffmann revela

o aspecto negativo da interferência das práticas dessas instituições sobre o eu

destes internados considerados doentes mentais:

No ciclo usual de socialização de adultos, esperamos que a alienação e a mortificação sejam seguidas por um novo conjunto de crenças a respeito do mundo e uma nova maneira de conceber os eus. No caso do paciente de hospital psiquiátrico, esse renascimento ocorre às vezes, e apresenta a forma de uma crença muito forte na perspectiva psiquiátrica, ou, pelo menos por um curto período, uma devoção à causa social de melhor tratamento para doentes mentais. No entanto, a carreira moral do doente mental tem um interesse singular; pode exemplificar a possibilidade de que, ao tirar as vestimentas do antigo eu — ou ter suas vestes arrancadas — a pessoa possa não sentir a necessidade de uma nova roupa e uma nova audiência diante da qual se vista. Ao contrário, pode aprender, pelo menos durante certo tempo, a apresentar, diante de todos os grupos, as artes amorais do despudor. (GOFFMAN, 2003, p. 43).

27

2.3.3 Complexo Médico Penal: revendo suas concepções

Conforme se constata no histórico institucional disponivel no site

oficial do DEPEN-Pr, desde sua origem o Manicômio Judiciário se

identificou com o modelo hospitalar psiquiátrico com a finalidade de tratar

doentes mentais condenados. Tendo sido criado em 1969 como Manicômio

Judiciário do Paraná sua designação foi alterada organicamente para

Complexo Médico-Penal do Paraná em 21 de dezembro de 1993.

Com uma capacidade para 350 presos constitui-se atualmente em

um estabelecimento penal de regime fechado, destinado aos presos do

sexo masculino e feminino, provisórios, submetidos por Medida de

Segurança e/ou que necessitam de tratamento psiquiátrico e ambulatorial.

As atribuições dessa unidade estão reguladas pelo Código Penal, pela Lei

de Execuções Penais, pela Lei Orgânica do Estado, pelo Conselho

Nacional de Política Criminal, entre outros dispositivos legais.

Essa unidade abrange as atividades específicas de hospital

psiquiátrico desenvolvidas pelo extinto Manicômio Judiciário somadas as

atividades relacionadas à prestação de assistência médico-hospitalar e de

políticas de saúde para as demais unidades do Sistema Penitenciário. Tal

como descreve a página do Governo disponível em www.pr.gov.br/depen,

compete ao Complexo Médico Penal (CMP): “A coordenação da

assistência à saúde dos presos, de caráter preventivo e curativo,

compreendendo os atendimentos médico, farmacêutico, odontológico,

fisioterápico, psicológico e de enfermagem, inerentes aos estabelecimentos

penais; Segurança e custódia dos presos por medida judicial; Formulação

e implementação de políticas de saúde para os estabelecimentos penais

do Sistema Penitenciário do Paraná; Internamento dos presos de todos os

estabelecimentos penais para tratamento hospitalar; Promoção da

reintegração social dos presos e o zelo pelo seu bem-estar, através da

profissionalização, educação, prestação de assistência jurídica,

psicológica, social, médica, odontológica, religiosa e material. Observa-se

pela descrição da estrutura física que o espaço destinado ao manicômio

28

compreende a maior área construída desse complexo penitenciário

compondo-se de uma área total de 6.000 m2.

O quadro funcional desse complexo é formado por uma equipe

multidisiplinar compota por servidores da área de segurança, operacional,

de apoio, execução e saúde e pessoal das áreas técnicas, conforme

descreve o Depen-Pr. (2007), assistentes sociais, agentes penitenciários

femininos, agentes penitenciários masculinos, assistentes de

processamento de dados, assistentes administrativos, auxiliares

administrativos, auxiliares de enfermagem, auxiliares farmácia, auxiliares

de laboratório, auxiliares de serviços gerais, enfermeiros, farmacêuticos,

bioquímicos, fisioterapeutas, médicos, médicos psiquiatras, motoristas,

oficiais de manutenção, odontólogos, psicólogos, técnicos em programas

educacionais, técnicos em recursos humanos, técnicos administrativos,

telefonistas, terapeutas ocupacionais. A assistência prestada aos presos

do complexo Médico-Penal do Paraná atende ao dispositivo da LEP de

maneira conforme se transcreve nas descrições contidas no endereço

eletrônico do departamento:

a) assistência médica: É realizada por uma equipe de médicos que

cumprem regime de escala de plantão. Atendem aos presos do

CMP (Unidade Psiquiátrica e Hospital Penitenciário), bem como

aqueles oriundos de todas as Unidades Penais do Estado,

portadores de problemas de saúde que não podem ser

atendidos em nível local por falta de infra-estrutura física e de

recursos humanos;

b) assistência odontológica: É realizada por dentistas que prestam

atendimento aos presos do Sistema Penitenciário. Os

atendimentos abrangem: anestesia, extrações, próteses, raios-x

e tratamentos;

c) assistência psicológica: As atividades de assistência psicológica

e Psiquiátrica prestadas aos internos do CMP são

desempenhadas por profissionais da área, das quais destacam-

se: Acompanhamento e orientação; Aplicação e avaliação de

29

testes; Elaboração de laudos e pareceres; Contatos com

familiares;

d) assistência social: O serviço social, através de abordagem

individual e grupal, busca compreender a situação sócio-familiar

do preso, com vistas à sua reinserção social, seja no núcleo

familiar ou comunitário. A tônica do trabalho social no CMP

constitui-se da atividade com os presos portadores de

transtornos mentais, para os quais implica viabilizar condições

mínimas à família, através do resgate da documentação civil,

encaminhamento da curatela e de benefícios sociais, em

cumprimento à Lei Orgânica da Assistência Social. Por

deliberação da Vara de Execuções Penais (Portaria 002/2001),

realiza sindicância sócio-familiar, o que contribui para instruir e

agilizar o processo de Levantamento de Medida de Segurança;

e) assistência jurídica: O setor jurídico possui a relevante função de

adjuvante à Vara de Execuções Penais, tanto no cumprimento

das penas quanto das Medidas de Segurança, sendo esta última

a de maior ocorrência, por se tratar de unidade com

características de hospital de custódia e tratamento psiquiátrico.

Dentre os muitos procedimentos realizados por este setor,

podemos destacar: interposição de recursos, defesas junto ao

Conselho Disciplinar, juntadas de documentos, pedidos de

Levantamento de Medida de Segurança, pedidos de Livramento

Condicional, pedidos para progressão de regime, remissões de

pena, conversões de pena em Medida de Segurança e vários

outros que se façam necessários em prol da celeridade no

processo de execução das penas;

f) assistência pedagógica: A Coordenação da Educação Formal,

em parceria com o Centro Estadual de Educação Básica de

Jovens e Adultos (CEEBJA) - Mário Faraco, propicia: Ensino

Fundamental e Ensino Médio aos alunos; Assessoramento à

oferta de estudos e exames supletivos para funcionários e

policiais-militares lotados no CMP; Coordenação de cursos

30

profissionalizantes/terapêuticos, em parceria com a Divisão de

Educação-DIED/DEPEN; Organização de eventos e atividades

culturais, recreativas e esportivas; Participação na Área Técnica

e Administrativa da Unidade, como membro da Comissão

Técnica de Classificação e em projetos multiprofissionais;

Atendimento às demandas específicas dos presos, inseridos ou

não no processo de Educação Formal.

Tal como se percebe as atividades desenvolvidas são consoantes

aos dispositivos legais da Lei de execução Penal.

A expectativa atual é de que as unidades de execução penal possam

desenvolver em suas atividades, de maneira sistematizada e orgânica as

Diretrizes Básicas de Política Criminal e Penitenciária tal como prevê o

Governo Federal a partir das deliberações do Conselho de Política Criminal

e Penitenciário cujas deliberações prevêem a Diretrizes que devem compor

a políticas estaduais de administração penitenciária nas áreas de

prevenção do delito, administração da justiça criminal e execução das

penas e das medidas de segurança. Essas Diretrizes estão sistematizadas

na Resolução nº 16, de 17 de dezembro de 2003, do Conselho Nacional de

Política Criminal e Penitenciária.

31

3 DAS DIRETRIZES NACIONAIS DE POLÍTICA CRIMINAL E

PENITENCIÁRIA

Conforme o disposto no artigo 64, I, da Lei de Execução Penal, é

atribuição deste Conselho elaborar e propor as diretrizes da política

criminal quanto à prevenção do delito, administração da justiça criminal e

execução das penas e das Medidas de Segurança:

As Diretrizes do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária constituem o conjunto de orientações deste Colegiado destinadas aos responsáveis pela concepção e execução de ações relacionadas à prevenção da violência e da criminalidade, à administração da justiça criminal e à execução das penas e das medidas de segurança. Parágrafo único: A observância das Diretrizes poderá ser especialmente considerada quando da avaliação de proposições e destinação de recursos do Ministério da Justiça. Significa dizer que os estados devem adequar-se as regulamentações das políticas propostas para que tenham acesso aos recursos financeiros e materiais liberados pelo Governo Federal. A regulamentação dessas Diretrizes tem por finalidade atender às novas demandas da sociedade, sobretudo no âmbito da segurança; O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária considera ser necessário transcender às respostas simplistas que reduzem a complexidade das demandas e por esta razão deixam de atender às demandas sociais nessa área em sua ampla abordagem. Com isso as requisições da sociedade para a questão penitenciária e criminal recebem como resposta apenas maior endurecimento das sanções penais; Ao reconhecer que as estratégias de prevenção e de combate à criminalidade englobam políticas públicas de caráter social bem como a atuação do sistema de justiça criminal e que seus princípios basilares devem estar explicitados para que possam guardar profunda coerência, o Conselho permite inferir que as administrações penitenciarias devem estabelecer uma agenda propositiva para que se possa dar soluções às requisições da execução Penal. Orientando que as estratégias de ação devem necessariamente estar comprometidas com a promoção social, ou seja como o próprio Conselho explicita em suas fundamentações: ‘Considerando que essa coerência advém da vinculação de tais princípios aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, nomeadamente a dignidade da pessoa humana vista na sua individualidade e na sua dinâmica inserção social; considerando a superação científica do paradigma positivista que tratava a questão da criminalidade apenas na esfera do comportamento individual e o seu enquadramento contemporâneo como problema social de raízes multicausais, a ser enfrentado pelo conjunto da sociedade’.. (RESOLUÇÃO n. 16, de 17 de dezembro de 2003, Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária - CNPCP).

Conforme estabelecidos no próprio texto da Resolução, os princípios

que norteiam as Diretrizes do CNPCP, estão em consonância com os

princípios Constitucionais, os Tratados Internacionais ratificados pelo

Brasil, e foram elaborados da seguinte maneira:

I – respeito à vida e à dignidade da pessoa humana;

32

II – concepção do Direito Penal como última instância de controle

social;

III – valorização da criatividade na busca de alternativas à prisão;

IV – articulação e harmonização dos órgãos que compõem o sistema

de justiça criminal;

V – absoluto respeito à legalidade e aos direitos humanos na

atuação do aparato repressivo do Estado;

VI – humanização do sistema de justiça criminal;

VII – comprometimento com a qualidade na prestação do serviço,

para incremento da eficiência e da racionalidade do sistema de

justiça criminal.

Uma vez estabelecidos os princípios norteadores da Política

Nacional para a gestão penitenciaria, no que se refere à área de interesse

dos hospitais penitenciários as Diretrizes orientam para que os Estado

adotem medidas referentes que promovam a realização de Programas e

Projetos Especiais de Prevenção e Tratamento de DST/AIDS, tuberculose

e dependência química nas unidades penais e hospitalares; o

desenvolvimento de ações médico-psico-odontológicas e sociais em todos

os ambulatórios das unidades penais. A classificação inicial dos

condenados para orientar a execução da pena e sua submissão a exame

admissional de saúde.

Também se propõe que a Administração Pública promova a

integração entre as áreas de governo e a comunidade na prestação de

serviços de natureza social, com atenção à família do preso e ao egresso.

Na Resolução Nº 07, de 14 de abril de 2003, o Conselho delibera

sobre a atenção em Saúde Mental que caberá aos Estados prever a

assistência aos inimputáveis, de acordo com a legislação vigente, bem

como, ações de prevenção e tratamento dos agravos psicossociais

decorrentes ou não do confinamento. O Conselho também estabelece os

critérios a serem adotados para as instalações das áreas de Saúde no

âmbito do Sistema Penitenciário, conforme se constata no anexo I.

33

3.1 ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR, UMA ABORDAGEM POSSÍVEL ÀS

MEDIDAS DE SEGURANÇA

A administração hospitalar se constitui em uma área da ciência da

administração que vem se desenvolvendo a cada dia como meio de

corresponder às demandas da sociedade.

3.1.1 As relações sociais na dinâmica hospitalar: concepções relações

humanos e práticas gerenciais

3.1.1.1 As relações sociais na dinâmica hospitalar

As pessoas trabalham no hospital porque querem, mas, entram lá

como doentes porque são obrigadas.

Segundo Barnes (2002) os hospitais contêm e combatem a

desordem e o sofrimento da doença que a própria comunidade não

consegue tolerar. Todas as comunidades, civilizadas ou primitivas,

estáticas ou progressivas, têm processos de lutar contra a desordem e o

sofrimento, seja qual for a origem destes.

Explica a autora que, quanto mais uma sociedade se conscientiza e

se sente responsável pelos males humanos, tanto mais complexos

parecem tornar-se os seus meios de agir sobre eles. A alternativa tem sido

de estabelecer instituições e serviços especializados para os quais são

transferidas essas responsabilidades. Assim, a sociedade necessita de

hospitais para os seus doentes, da mesma maneira que de tribunais e

prisões para os seus criminosos, albergues para os seus indigentes.

Observa-se que durante a história da produção humana a sociedade

esteve sempre na busca pela humanização das relações no trabalho, no

comércio, na indústria e em todas as atividades desempenhadas pelo

homem, mesmo nos períodos mais difíceis e desfavoráveis da história.

(TARASBOULI, 2004). No âmbito das instituições hospitalares a história

também demonstra essa preocupação.

34

De acordo com o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa,

Hospital é definido como

edifício onde se recolhem e tratam doentes, afirmação que corrobora o papel que é esperado dessa instituição em na sociedade. Significa dizer que assim como qualquer empresa o Hospital é um prestador de serviço e tem também um elemento existente em todas as relações de trabalho: o cliente. Nesse contexto é chamado de paciente, doente, interno ou outros nomes, mas, observando-se sob uma visão adequada, trata-se de um indivíduo que tem uma necessidade, isto é, o desejo de reverter um quadro de doença ou de evitar a mesma e acredita que o Hospital é uma entidade que pode prover os benefícios que irão satisfazer essa necessidade. (CAVICCHIOLLI, 2005, 22).

Na prática quem executa os serviços de qualidade em uma

organização é o grupo de funcionários, e isso não muda em um hospital;

inclui-se nesse grupo o faxineiro, a recepcionista, o médico, o auxiliar de

enfermagem, o psicólogo, enfim, de todo e qualquer profissional que seja

necessário para manter o serviço prestado.

Porém, Azenha (2005) avalia que o hospital, pela sua própria razão

histórica, se constitui em uma instituição autoritária, fortemente alicerçada

em rotinas e normas que são impostas pelos gerentes de maneira

inflexível, regras estas que deverão ser cumpridas por seus colaboradores

e passíveis de penalidades quando não cumpridas ou quando da

ocorrência de anomalias. Em decorrência, as regras pelo seu caráter

inflexível não são mudadas e os erros não são analisados e, por

conseguinte, não são apreendidos para o autor, a maior fonte de

aprendizado em organizações de saúde são os erros crônicos, ou seja, os

servidores, quando estimulados a melhorar estes processos, conhecem

esses erros e sabem como introduzir as melhorias e propor as soluções

dos problemas.

A solução dos problemas é importante, mas para que se transformem em aprendizado duradouro os gerentes e colaboradores devem olhar para dentro de si mesmos, refletir criticamente sobre o próprio comportamento, perceber o modo como muitas vezes contribuem Para os problemas e então mudar sua conduta. Além disso, é necessário que aprendam como a sua maneira de resolver problemas pode ser fonte de outros, prejudicando o paciente e mesmo um colega de outro setor. O futuro das organizações está na gestão do conhecimento e segundo Peter Drucker os hospitais são entidades baseadas no conhecimento. (AZENHA, 2005, p. 133)

35

Segundo esse autor toda organização tem como objetivo produzir

bens e serviços, visando à satisfação das necessidades das pessoas, ou

melhor, auxiliá-las em suas necessidades. Para dar conta desse objetivo

elas executam inúmeras atividades que, analisadas criteriosamente,

determinam a natureza do produto ou serviço que estão oferecendo, seus

benefícios e suas vantagens. O hospital por sua vez, é uma das

organizações que, devido a aspectos legais, segue também essa lógica na

prestação de seus serviços, mas, em razão de suas especificidades, antes

de tudo, tem a “missão nobre a cumprir e não simplesmente transações

comerciais a realizar”.

Os clientes de saúde, como os denomina Tarasbouli (2004),

precisam ser vistos como pessoas, tratados como pessoas e respeitadas, e

nada melhor que a empatia para entender seu estado de aflição e

insegurança. Para o autor a importância do papel social a ser

desempenhado pelos hospitais transfere aos seus empregados,

enfermeiros, médicos e voluntários o título de missionários, pois trabalhar

no ambiente hospitalar significa servir com amor e empreendimento e,

sendo assim, torna-se também uma missão a cumprir e não simplesmente

uma profissão a exercer.

3.1.2 A Humanização das Relações no Cotidiano Hospitalar: Cliente de

Saúde.

Quando se analisa a administração no campo da hotelaria, o cliente

é concebido como o hóspede, o familiar, o amigo e o visitante e todos

devem ser tratados com respeito e cortesia.

Tarasbouli (2004) avalia que também na área hospitalar não pode

ser muito diferente. Para ele o hospital é um prestador de serviços

também, porém, a abrangência da expressão cliente de saúde sempre

esteve restrita à palavra paciente, uma nomenclatura cuja viabilidade de

sua substituição os gestores jamais analisaram. Para fazer uma

comparação entre cliente e paciente o autor recorre aos dicionários e

define

36

A palavra paciente significa: resignado, conformado, aquele que espera serenamente um resultado, que persevera na continuação de uma tarefa lenta e difícil. Pessoa que padece, doente, pessoa que está sob cuidados médicos, réu ou ré que vai padecer a pena capital, padecente. - Vítima de abuso ou ilegalidade do poder. que sofre ou é objeto de uma ação. Aquele que recebe a ação praticada por um agente. Etc..(TARASBOULI, 2004: 134)

Argumenta o autor que esses sinônimos não são suficientes para

alertar os gestores da importância de adotar a palavra cliente de saúde

para designar a pessoa enferma ao invés de paciente. É difícil

compreender que a expressão cliente de saúde abrange, além do enfermo,

os familiares amigos e visitantes.

Na verdade quando se reconhece que a expressão cliente de saúde

é a mais adequada dentro do contexto hospitalar e abrange, além da

pessoa enferma, os familiares, amigos e visitantes, torna-se mais fácil

adotar estratégias e implementar ações, inclusive as de hotelaria, que

possam garantir a humanização e a qualidade dos serviços médico-

hospitalares.

Azenha (2005) lembra que o cliente da saúde é a razão de ser do

hospital, e a sua cura representa a satisfação dos profissionais pelo

trabalho executado e por serem reconhecidos por isto.

Na prática, são inúmeras essas necessidades no ambiente hospitalar

e que poderão refletir diretamente no atendimento ao doente, trazendo

como conseqüências queixas de maus tratos, negligência, erros médicos,

administração incorreta de medicamentos, curativos mal-executados,

dietas em desacordo com a doença.

Por isso, isso é preciso conhecer bem o cliente para que todas as

pessoas envolvidas no atendimento possam ter a noção de sua

importância para a instituição de saúde.

Ao explicar essa possibilidade de concepção o autor explica que

neste contexto, cliente de saúde se constitui em toda e qualquer pessoa

que entra em contato com o hospital para adquirir serviço médico-

hospitalar, ou simplesmente solicitar uma informação. Ela é um ser

humano que quer atenção, respeito e qualidade. A princípio, ela não

gostaria que estivesse procurando pelos serviços hospitalares devido à

37

natureza dessa atividade e dos transtornos que isso possa lhe causar

afinal, ninguém freqüenta um hospital por sua livre e espontânea vontade,

mas, por estar, circunstancialmente, obrigado a fazê-lo. O cliente de saúde

é um ser humano que está passando por momentos de grande

instabilidade emocional, dores, insegurança, dúvidas, reflexões sobre a

vida e a é preciso ter a consciência de que o cliente de saúde é o bem

mais para a instituição. Isso se refere também aos doentes mentais.

Castelar informa que o quadro de doenças mentais é significativo no

Brasil, conforme se constata:

As doenças mentais caracterizam-se pela cronicidade e baixa letalidade. A sua incidência é muito alta, estimada pelo IBGE em 1986 como atingindo 12 % da população, ou seja, 17 milhões de brasileiros dos quais 500.000 internados. Outras estimativas destacam a prevalência do alcoolismo que eleva em 30 % o percentual dos afetados por graus variáveis de transtornos mentais. O alcoolismo gera um custo à nação em torno de 5 % do PIB, em função dos tratamentos, acidentes de trânsito e de trabalho, absenteísmo profissional, quebra de produtividade e custos jurídicos e carcerários. (CASTELAR, 1995, p. 75).

Significa dizer que não há distinção dos fins da hospitalização a

humanização do hospital deve abranger todas as especialidades da

medicina.

Para isso, buscando soluções, inovações, alternativas em sua

concepção de atendimentos e consecução de resultados no que se refere

à humanização da dinâmica hospitalar muitos hospitais tentam livrar-se da

cara de hospital isso representa significativas mudanças arquitetônicas,

programação social, serviços de hotelaria com porteiro e mensageiros

devidamente uniformizados e equipados para a recepção do cliente de

saúde, quadros em exposição, música ambiente, restaurante, piano-bar e

apresentações de músicos. Revela Azenha (2005) que quem entra pelo

saguão de alguns hospitais particulares tem a sensação de estar num

ambiente de hotel de primeira linha. Macas, clientes de saúde aglomerados

à espera de atendimento, cadeiras de rodas enfileiradas, ambiente frio e

com cheiro de éter são cenas do passado. Com essa inovação, alguns

“hospitais estão deixando de ter a cara de hospital”.

Preocupados com o estado físico e emocional do cliente de saúde e,

principalmente, com as internações prolongadas e com as horas gastas por

38

familiares e amigos em recintos que parecem mais com muros de

lamentações do que salas de espera, alguns gestores estão tentando

deixar para trás a imagem clássica de hospital, levando para suas

instituições mudanças e serviços que diminuem o impacto desses

momentos difíceis, transformando a permanência no ambiente hospitalar

mais agradável.

Na verdade, as pessoas nunca terão prazer de estar no hospital,

mas o desconforto pode ser minimizado.

Cavicchioli (2005) afirma que esta nova tendência, que traz em sua

essência a humanização do ambiente hospitalar, já atinge também alguns

hospitais públicos e outros cuja fatia de participação de clientes de saúde

do SUS é bastante representativa. Serviços de hotelaria, plantas

espalhadas pelas áreas sociais, jogos, aulas de dança e de arte, peças de

teatro e filmes, pessoas de todas as classes sociais dividem espaços de

televisão, leituras e brinquedos, aulas de alongamento e apresentações

musicais para combater o estresse dos familiares e acompanhantes, coral

próprio com a participação de empregados, médicos e voluntários e muitas

outras atividades de cunho humano e motivacional.

Embora para alguns gestores, psicólogos e médicos, este novo

cenário pareça luxo desnecessário e esforço inútil, a verdade é que a

receptividade dos clientes de saúde ao tratamento e a satisfação

observada facilitaram muito o serviço médico e diminuem,

consideravelmente, os quadros depressivos.

3.1.3 A importância dos recursos humanos na gestão hospitalar

Em nada resolve incrementar a estrutura física, as estratégias

administrativas, a modernização tecnológica, a experiência técnica sem

que deste processo se envolvam os servidores que atuam na instituição

hospitalar. A organização é o resultado da interação contínua do ser

humano com seu semelhante. Devido à suas limitações individuais, as

pessoas são levadas a cooperarem entre si para a produção de bens e

39

serviços que possam atender suas necessidades. Essa cooperação tem

como palco a organização, estrutura na qual as pessoas passam a maior

parte de seu tempo vivendo e trabalhando causa grande impacto sobre a

qualidade de suas vidas. Entretanto, com a evolução da humanidade,

essas organizações tornaram-se mais completas e dinâmicas e passaram

a exigir cada vez mais das pessoas, ao ponto transformá-las em recursos

em que as habilidades, capacidades e conhecimento técnico para a tarefa

organizacional se sobressaem ao aspecto humano pessoas - aspirações,

valores, motivações, medos e características de personalidade.

Nenhum sistema é melhor do que as pessoas que vão

operacionalizá-lo. Essa é a primeira lição que o gestor deve aprender e

praticar. É preciso que a valorização das pessoas seja uma prática

constante e efetiva. É preciso tratar as pessoas como pessoas e não mais

como material, bens depreciáveis e recursos, tal qual instalações,

equipamentos, salas, portas, títulos, ações, máquina, computador etc.

Antigamente, a conversa, o olhar, o toque e a atenção dedicados ao

paciente eram pressupostos de um bom tratamento. Contudo, hoje é

diferente.

Com a tecnologia atual, a equipe que atua dentro do hospital parece

ter perdido a capacidade de ouvir e olhar, passando a valorizar o

diagnóstico feito pela máquina. No entanto parecem ter esquecido de que

não é possível terceirizar suas emoções, e esquecem que o paciente é

uma pessoa, sensível, que se encontra num momento crítico.

Azenha (2005) avalia que alguns profissionais admitem que trabalhar

com questões técnicas é muito mais fácil do que lidar com o lado

psicológico do paciente, pois, para isso, é necessário ter tato e

sensibilidade, muitas vezes tendo que lidar com a morte e amparar a

família. Mas não se pode ignorar que, para dar o suporte a um paciente ou

à sua família, é necessário tê-lo também.

Levando essas reflexões ao ambiente hospitalar, onde a qualidade

dos serviços médico-hospitalares depende efetivamente das pessoas -

empregados administrativos, enfermeiros e médicos, percebe-se como é

40

importante a consideração das pessoas como pessoas para a consecução

dos objetivos organizacionais. (Cavicchiolli, 2005)

Um profissional deve no mínimo apresentar algumas qualidades para

que desempenhe suas funções com competência, entre elas pode-se citar:

a) postura ética de acordo com a profissão;

b) criatividade em lidar com as situações do dia-a-dia;

c) iniciativa (o tempo em que apenas uma pessoa mandava e

várias outras obedeciam já passou; as empresas precisam de

pessoas que tenham uma visão estratégica).

A competência pode ser dividida em duas partes: técnicas e

comportamentais.

É possível perceber que, as pessoas que possuem competência

técnica e comportamental, aumentam de forma considerável as chances

agregar valor à organização.

É preciso lembrar que o setor de enfermagem, representa 50% a

60% da força de trabalho, composto de enfermeiras, técnicos e auxiliares,

divididos em unidades fechadas, em três turnos de trabalho. É muito

comum ocorrerem queixas de doentes ou de familiares em relação a

determinado comportamento de uma pessoa da enfermagem num

determinado turno e outra pessoa receber elogios. Isto não deveria ocorrer,

porque a continuidade do atendimento tem que ser uniforme, seja nos

procedimentos prescritos como no respeito ao doente e familiares e aos

colegas de equipe.

3.1.4 A Administração holística: uma possibilidade de gestão humanizadora

Conforme se percebe muitos são os problemas enfrentados pela

administração de qualquer organização, incluindo-se os hospitais de

qualquer especialidade. Vários autores trataram do assunto. Bertelli (2005)

faz uma retrospectiva e cita vários cientistas da administração que em suas

teorias apontaram para a importância que a gestão de pessoas assume

41

para o sucesso das organizações. Conforme lembra a autora, Adam Smith,

conhecido por suas contribuições para a doutrina econômica clássica

argumentou, em 1776 sobre as vantagens econômicas que as

organizações e a sociedade poderiam colher com a divisão do trabalho.

Charles Babbage, em 1832, deu ênfase à especialização, que traria

ganhos relevantes para a economia e para o desenvolvimento físico e

mental dos trabalhadores. Robert Owen, um idealista, em 1825 sugeriu a

regulamentação das horas do trabalho, leis específicas para menores de

idade, educação pública, refeitórios nas fábricas e envolvimento das

empresas em projetos para o bem da humanidade.

A trajetória prossegue, passando por Taylor, Fayol, Chester Barnard,

que tinham em suas teorias administrativas a preocupação com o ser

humano no ambiente de trabalho. Maslow, McGregor, Moreno, David

McClelland preocuparam-se com a motivação do ser humano nesse

ambiente relacional; Frederick Herzberg, Hackman e W & Oldham, nos

anos 70, perceberam que a motivação no trabalho e a qualidade de vida

estão intimamente ligadas ao significado que o trabalho dá ao indivíduo”

muitos outros poderiam ser citados. O que se percebe no entanto, é a

necessidade de que cada organização procure desenvolver um program de

gestão que permita alcançar seus objetivos numa perspectiva de

totalidade, isto é, que esteja no escopo administrativo a consecução do

objetivo organizacional somado a qualidade de vida de sesu

colaboradores, a satisfação de seus clientes sejam estas organizações

publicas privadas com ou sem fins lucrativos. Esta visão perpassa uma

visão de totalidade tendo as pessoas como centro de suas ações.

É nesta perpsectiva que Barnes (2002) e Ferreira e Reis (2000)

apresentam a proposta holística de administração.

Conforme esclarecem Ferreira e Reis (2000:266), a palavra holismo

vem do grego holos, que significa todo. A teoria defende que o homem é

um ser indivisível, que não pode ser entendido através de uma análise

separada de suas diferentes partes.

Essa visão mostra-se mais apropriada e particularmente urgente,

porque todos os problemas atuais parecem ser problemas sistêmicos, que

42

já não podem ser entendidos dentro do âmbito da visão de mundo

cartesiana. Tudo converge para uma "sabedoria sistêmica. Como observou

Schumacher: a sabedoria exige uma nova orientação da ciência e da

tecnologia para o orgânico, o moderado, o não-violento, o elegante e o

belo". Tal redirecionamento oferece enormes oportunidades para a

criatividade, o espírito empreendedor e a iniciativa da humanidade.

Aumentar a complexidade deixando simplesmente que tudo cresça não é

difícil, mas, recuperar a elegância e a flexibilidade requer sabedoria e visão

criativa.

E nesse contexto que surge a busca de uma sabedoria sistêmica,

que bem pode ser concebida como sendo a busca de uma visão holística.

A visão holística pode ser considerada a forma de perceber a realidade e a

abordagem sistêmica o primeiro nível de operacionalização desta visão,

sendo ambas aplicáveis, portanto, a todas as áreas do conhecimento. E,

com certeza, a área da administração de hospitalar não é uma exceção.

Na gestão de negócios, o holismo vem sendo defendido nos últimos

anos, de forma paralela à evolução do conceito da globalização

econômica. A empresa não é mais vista como um conjunto de

departamentos, que executam atividades isoladas, mas, como um corpo

uno, um sistema aberto em contínua sintonia com o ambiente. Segundo

Barnes (2002) é essa a linha de pensamento adotada pelos autores que

discutem a adaptação da visão holística à administração, propondo assim a

administração holística.

Ferreira e reis (2000:269) apresentam um quadro demonstrativo

contendo alguns passos necessários para a implementação de uma gestão

baseada na administração holística:

a) Diagnóstico da empresa — avaliar o patrimônio social da empre¬sa: recursos humanos, tecnologia, fornecedores, clientes, sistemas de distribuição, produtos, marca, imagem, análise do clima e da cultura da organização. Entender como estão relacionados entre si e dentro da organização.

b) Análise do meio externo—perceber a situação político-econômico-cultural, tecnologia, concorrência e suas relações com a empresa.

c) Identificação do núcleo da empresa — mapear os pontos fortes da empresa, suas competências primordiais em seu negócio.

d) Estabelecimento da missão. e) Reconhecimento dos valores da empresa — identificar o que ela entende como

relevante e que define sua maneira de ser. f) Definição das políticas da empresa.

43

4 METODOLOGIA

4.1 DESCRIÇÃO DO MÉTODO

O método da pesquisa bibliográfica e documental foi aplicado como

subsidio para elaboração da revisão de literatura. A coleta de dados foi

feita com base nos relatórios do Departamento Penitenciário e do

Complexo Médico Penal visando coletar informações sobre o sistema de

administração aplicado.

44

5 CONCLUSÃO

Conforme foi possível constatar, as unidades penais, os manicômios,

hospitais psiquiátricos, conventos, etc, têm uma característica em comum, são

instituições consideradas instituições totais.

Não apenas porque as pessoas permanecem enclausuradas por muito

tem pó de suas vidas, mas, porque estas instituições tomam das pessoas o

seu eu. O que se quer dizer é que a forma como estas instituições tratam a

rotina, o cotidiano, as vontades, os rumos do destino dessas pessoas ao longo

dos dias que passam submetidas às normas institucionais se revestem de

mecanismo castradores, alienantes. A rigidez destas instituições para garantir

o cumprimento da norma, da disciplina faz com que as pessoas se fragilizem e

se submetam a uma forma coletiva de pensar e agir sucumbindo o jeito próprio

de ser de cada uma.

Isso se revelou tanto nas pessoas livres que estão internadas em

hospitais para promoção da sua saúde ou pessoas que foram internadas

contra a sua vontade.

Os mecanismos desenvolvidos são muito complexos e passam pela

fragilização das pessoas internadas, pelo exercício do poder daqueles que

prestam serviços nestas instituições, pela tutela e omissão da Lei e do Estado.

No caso das pessoas condenadas ao cumprimento de medidas de segurança

foi possível perceber que esta situação é ainda mais perversa.

Isso porque as pessoas submetidas a esta forma de sanção penal são

inimputáveis. Que dizer que o legislador reconhece que estas pessoas não

podem ser consideradas criminosas, não podem ser apenadas como

criminosos comuns apesar de que seus atos possam ser tipificados como

crimes.

Isso porque essas pessoas detêm alguma doença de caráter mental que

os impede de ser capazes de discernir sobre suas ações.

Diante desse quadro perante a lei estas pessoas são consideradas

inimputáveis.

A alternativa que o estado brasileiro encontrou foi criar uma medida

diferente de isolar estas pessoas do convívio social ate que se possa atestar

45

por meio de exames científicos se estas pessoas realmente não representam

riscos para a sociedade.

O interesse dessa pesquisa foi justamente o de apreender no âmbito da

execução penal qual o tratamento destinado a estas pessoas.

O que se evidenciou foi que no Paraná existem XXX internados no

Complexo Medico Penal cumprindo medida de segurança.

O que se percebeu foi que a estes doentes mentais não são destinados

nenhum tipo de tratamento hospitalar diferenciado que possa representar

oportunidade de receber um tratamento terapêutico especifico que lhes

permita desenvolver uma mudança de comportamento para cessar a sua

periculosidade.

Enquanto estas pessoas não conseguem provar que não voltarão a

cometer novos crimes, permanecem internados no manicômio judiciário.

No âmbito do complexo penal o manicômio se constitui em uma unidade

a parte do hospital penitenciário. Não há também diferença na designação de

tratamento em relação ao que se propõe na Lei de Execução para o

tratamento de presos imputáveis, ou seja, criminosos comuns.

Ao se analisar a forma como a Teoria da Administração concebe os

pacientes, os trabalhadores da saúde e as organizações hospitalares, buscou-

se apreender algumas possibilidades dessa área para criar alternativas para a

execução das medidas de segurança.

A foi surpreendente observar como é possível melhorar as relações

sociais no âmbito dos hospitais.

Concebendo a administração das organizações hospitalares sob a

perspectiva da hotelaria, ficou explicito que as organizações hospitalares que

não romperem com as concepções ultrapassadas de instituições totais que

submetem seus pacientes às vontades retrógradas de um corpo administrativo

autoritário e coercitivo tendem a não cumprirem com suas funções básicas,

predispondo às doenças como estress, depressão, alienação de seus

pacientes.

Também essa concepção “paciente” foi questionada. Na verdade a

administração hospitalar concebe hoje as pessoas que as procuram ou são

46

levadas como cliente da saúde, como qualquer cliente de um hotel que presta

serviços de hospedagem.

Sugere-se uma mudança de atitude por parte dos dirigentes e dos

servidores que atuam nestas instituições. A formação continuada, a

valorização do pessoal foi considerada uma das condições fundamentais para

se mudar a mentalidade de atendimento.

Uma proposta muito interessante se constituiu na gestão hospitalar com

base nos fundamentos holísticos.

Segundo essa teoria toda a instituição clientes, equipamentos,

tecnologias, profissionais da saúde formam um único sistema, todos devem

estar entrosados, todos devem contribuir no processo de decisão, conhecer a

totalidade de seus clientes, saber seus nomes, acompanhar a evolução de

seus quadros de saúde.

Qualquer peça desse sistema que não esteja em harmonia com o todo

promove um desequilíbrio comprometendo o resultado e prejudicando a

consecução dos objetivos.

A teoria holística tem representado uma possibilidade no campo da

administração hospitalar tendo em vista que permite desenvolver

metodologias, estratégias, logística, etc, que abrange as especificidades que

uma instituição hospitalar apresenta na medida em que atua em uma área tão

delicada que envolve a subjetividade das pessoas. Não se trata de uma

organização que vende qualquer serviço, trata-se de uma área que trabalha

com as fragilidades humanas, razão pela qual requer uma concepção

administrativa que contemple todas essas demandas dos clientes, de seus

familiares, dos trabalhadores.

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ANEXO

RESOLUÇÃO Nº 07, DE 14 DE ABRIL DE 2003

. RESOLUÇÃO Nº 07, DE 14 DE ABRIL DE 2003 Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária RESOLUÇÃO N.º 06, DE 09 DE MAIO DE 2006. Dá nova redação ao Anexo I, da Resolução n.º 07, de 14 de abril de 2003. O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA, no uso de suas atribuições legais e Regimentais; CONSIDERANDO a decisão, por unanimidade, do NPCP, na 320ª Reunião realizada nos dias 08 e 09 de maio de 2006, Resolve: Art. 1°. Alterar a Resolução n° 07/03, de 14/04/03, passando o Anexo I a figurar como segue: Anexo 1 Padronização Física da unidade de saúde nos estabelecimentos penais para atendimento de até 500 pessoas presas. AMBIENTE ÁREA MÍNIMA DESCRIÇÃO Controle dos Agentes 6,00 m²: Espaço para a permanência dos agentes de segurança e até controle de portas de acesso e/ou monitoramento eletrônico. Inclui área de sanitário. Cela de Espera 6,00 m² Espaço para a permanência dos presos que aguardam atendimento. Inclui área de sanitário. Sugere-se a construção de banco. Já a cama é vetada.Apoio Administrativo ¹ 6,00 m² Cômodo para tarefas administrativas e arquivo de prontuários. Sugere-se a previsão de ponto de lógica e ar-condicionado. Copa 3,60 m² Apoio aos funcionários, servida de bancada com cuba. Pode prever instalações para geladeira e fogão. No caso de previsão do fogão deverá haver exaustão e o recipiente reservatório do GLP deverá ser acondicionado externamente ao bloco, sem acesso de presos, devidamente protegido. Depósito material de limpeza 2,00 m² Pode ser dotado de ponto de água e até tanque de lavar.Sala de Curativos / Suturas /Vacinas/ Posto Enfermagem²12,00 m² Sala de procedimentos. Deve possuir bancada de apoio com pia (cuba) de lavagem. Pode possuir área de sanitário com aumento de área de 1,6 metros quadrados, no mínimo. Sala de Utilidades 4,00 m² Deve possuir bancada de apoio com pia (cuba) de lavagem e pia de despejos com descarga. Deve ter uma dimensão mínima de 1,5 metro. No caso dos hampers (dois) serem estacionados nesta sala com não mais de dois metros quadrados. Pode ser prevista exaustão para retirada de odores. Sanitários para Funcionários 1,60 m² (cada) um masculino e um feminino. Pode ser prevista ainda área para banho e troca de roupas (vestiário) aumento de área de dois metros quadrados, cada, no mínimo. Central de Material Esterilizado – Simplificada. 12,00 m² Formada por: Sala de Lavagem e Descontaminação: Deve possuir bancada de apoio com pia (cuba) de lavagem e pia de despejos com descarga. Deve ser prevista exaustão. Área de 4,5metros quadrados, no mínimo. Sala de Esterilização: Deve possuir bancada de apoio com pia (cuba) de lavagem. Ligada à Sala de Lavagem e Descontaminação por guichê. Área de 4,5metros quadrados, no mínimo ante-câmara (vestiário): barreira às salas de lavagem e descontaminação e esterilização. Deve possuir pia de lavagem. Área de 3,0metros quadrados, no mínimo. Rouparia - Espaço para guarda de roupa limpa. Pode ser um armário. Farmácia 1,50 m² Espaço para armazenagem de material e de medicamentos. Pode ser um armário com chave sobre ou sob a bancada do posto de enfermagem. Sala de Coleta de Material para Laboratório 3,60 m² Deve possuir bancada de apoio com pia(cuba) de lavagem. Deve ser prevista exaustão.

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Consultório Médico 7,50 m² Deve possuir pia de lavagem. Sugere-se a previsão de ponto de lógica e ar-condicionado. Sala Odontológica 9,00 m² Deve possuir bancada de apoio com pia (cuba) de lavagem. Sugere-se a previsão de ponto de lógica e ar-condicionado. Pode ser prevista exaustão para eliminar vapores anestésicos.Sala AtendimentoPsicológico6,00 m² Sugere-se a previsão de ponto de lógica e ar-condicionado.Sala Assistência Social 6,00 m² Sugere-se a previsão de ponto de lógica e ar-condicionado.Celas de Observação 9,00 m² (cada) Com visão do posto de enfermagem ². É recomendável um mínimo de quatro celas.Cada uma deve possuir um leito cada e pia de lavagem.Banheiro para pacientes 1,60 m² É recomendável cada cela possuir seu banheiro (pia, bacia sanitária e chuveiro),sendo pelo menos um deles para PNE ³ o que exige uma área maior. Pátio Externo e Solário ¹ - Deverá atender o mínimo de 6,00 m² por usuário e dimensão mínima de 3,00m (até quatro presos). Pode ser dotado de uma pequena cobertura com banco e área de sanitário. OBSERVAÇÕES Área de Sanitário: neste caso trata-se de conjunto de cuba ou pia e bacia sanitária, sendo que nos ambientes para presos deverão ser especificadas convenientemente, embora se adiante que o uso de bacias turcas é desaconselhado. É sugerido o uso de bacias em louça encapsuladas com concreto armado. Exaustão Mecânica: exaustor dotado de filtro e peça de descarga para proteção contra chuva. Pode ser estudada grade de segurança. Sempre que o ambiente possuir exaustão para o exterior do bloco, deve ser prevista uma abertura devidamente dimensionada para providenciar ar de reposição para o que está sendo exaurido. Por exemplo, a porta da sala pode ter uma tomada de ar tipo grelha ou veneziana de simples deflexão. O exaustor pode ser ligado em conjunto à iluminação da sala. NOTAS

1) Ambientes sugeridos, já que em algumas unidades federativas os procedimentos adotados não coadunam com estes espaços. Caso o projeto a ser apresentado no DEPEN não os possua, deverá ser produzida uma justificativa.

2) O Posto de Enfermagem normalmente possui a visão dos leitos de observação.Todavia, é possível sua incorporação junto ao Controle dos Agentes por questão de segurança do pessoal. Neste caso deverá ser providenciada a instalação de botoeiras de chamada junto aos leitos e/ou um sistema monitoramento eletrônico.

3) O Estabelecimento de Assistência à Saúde do preso deve possuir pelo menos um banheiro de acessibilidade.

Os projetos físicos deverão estar em conformidade com os seguintes instrumentos: Portaria Interministerial n° 1.777/GM, de 09/09/2003;Resolução RDC/ANVISA n° 050, de 21/02/2002;Decreto Federal n° 5.296, de 02/12/2004;Resolução N° 003, de 23/09/2005, do CNPCP. Qualquer outro ambiente não definido neste programa mínimo poderá ser agregado desde que justificado pelas necessidades de demanda ou especificidades do estabelecimento penal. Para a verificação das dimensões e características dos ambientes a serem acrescidos, deve-se verificar a Resolução ANVISA RDC N° 50, de 21/02/2002. Padronização física da unidade de saúde nos estabelecimentos penais para atendimento de 501 até 800 pessoas presas Para unidades penais acima de 500 presos a equipe necessariamente dobra. O reflexo disto no programa é variável, não implicando automaticamente no dobro de salas ou áreas, dependendo do caso. Para unidades de 501 até 800 vagas o programa recebe o dobro de salas para o atendimento médico e o tratamento penal. As áreas das salas de Curativos e Posto de Enfermagem, CMES, Sala de Coleta e Farmácia permanecem as mesmas. Na Sala de Utilidades teria de ser verificada apenas a área e dimensão para os hampers que podem variar de tamanho ou quantidade. O número de celas de observação também, no mínimo, dobraria. As dependências de depósito de material de limpeza, rouparia e sanitários cresceriam em área para atender o acréscimo de demanda de espaço.

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Considerações Gerais: 1) Os corredores de circulação de pacientes ambulantes ou em cadeiras de

rodas,macas ou camas, devem ter largura mínima de 2,00m para distâncias maiores que11,0m e 1,20 para distâncias menores, não podendo ser utilizados como áreas de espera. No caso de desníveis de piso superiores a 1,5cm deve ser adotada solução de rampa unindo os dois níveis.

2) Todas as portas de acesso a pacientes devem ter dimensões mínimas de 80 (vão livre) x 210 cm, inclusive sanitários (neste caso verificar dimensionamentos específicos para sanitários de acessibilidade). Todas as portas utilizadas para a passagem de camas / macas, ou seja, as portas das salas de curativos e das celas de observação, devem ter dimensões mínimas de 100 (vão livre) x 210cm.

3) Os consultórios e as celas de observação devem possuir ventilação e iluminação naturais. A sala de coleta deve possuir ventilação natural.

4) Todas as áreas molhadas da unidade devem ter fechos hídricos (sifões) e tampa com fechamento escamoteável. É proibida a instalação de ralos em todos os ambientes onde os pacientes são examinados e tratados.

5) Os materiais de acabamento para o revestimento das superfícies dos ambientes devem ser resistentes à lavagem e ao uso de desinfetantes, conforme o preconizado no manual de Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de Saúde, 2ª Edição,Ministério da Saúde, Brasília/DF, 1994, ou o que vier a substituí-lo.

6) Devem ser adotadas medidas para evitar a entrada de animais sinantrópicos nos ambientes da unidade, principalmente quando se tratar de regiões onde há incidência acentuada de mosquitos.

7) O projeto de combate a incêndio deverá ser aprovado pelo Corpo de Bombeiros local.Art. 2° Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.Brasília, 09

de maio de 2006.ANTÔNIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA Presidente Publicado no DO n.º 93, de 17/05/2006, seção 1 – pág. 42 e 43.

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REFERÊNCIAS

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BITTENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de direito penal. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. Saraiva.

BORBA, Valdir Ribeiro; LISBOA, Teresinha Covas. Teoria Geral da Administração hospitalar: Estrutura e Evolução do Processo de Gestão Hospitalar. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. CARVALHO FILHO. Luiz Francisco. A Prisão. São Paulo: Publifolha, 2002. CASTELAR, Rosa Maria. Gestão hospitalar: Um desafio para o hospital brasileiro. ENSP. São Paulo-SP. 1995. CAVICHIOLLI, Alex Tadeu. Recrutando e selecionando pessoas em hospitais segundo critérios de competências. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. CNPCP - Conselho Nacional de Políticas Criminal e Penitenciária. Resolução n.º 16, de 17 de dezembro de 2003. DELMANTO, Celso. Código penal comentado. FERRARI, Eduardo Reale. Medidas de segurança e direito penal no estado democrático de direito, 2001. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 10. ed. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2006. FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo e Maximiliano Roberto Ernesto. Resumo de direito penal. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 1990.

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GOFFMAN, Ervin. Manicômios, prisões e conventos. 6. ed.. São Paulo: Perspectiva, 2006. MARX, Karl. O capital, v. I, II. São Paulo: Nova Cultural, 1985. MINOTTTO, Ricardo. A estratégia em administrações hospitalares. 2 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. MIRABETE, Júlio Fablini. Execução penal: Comentários à Lei 7.210, de 11.07.84. 3ed. São Paulo: Atlas, 1990.

MIRABETE, Júlio Fablini. Manual de direito penal. 12. ed., São Paulo, Atlas, 1997.

PANTALEÃO, Juliana Fogaça. Medida de Segurança e reforma da Lei de Execução Penal. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 340, 12 jun. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto. Acesso em: 2 jul. 2007. REIS, Ana Carla Fonseca. FERREIRA, Ademir Antonio. Gestão empresarial: De Taylor Aos nossos dias. São Paulo: Pioneira, 2000.

ROSA, Antônio José Miguel Execução Penal. Revistas dos Tribunais.

TARABOUSLI, Fadi Antoine. Administração de hotelaria hospitalar. São Paulo: Atlas, 2004.

THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. 4. ed. Forense. 1998.