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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA SETOR DE CIÊNCIAS HUMAMAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E SOCIOLOGIA MICHELLE DOS SANTOS RODRIGUES DE LIMA POLÍTICA DE HABITAÇÃO: ESTUDO DO PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL DE CURITIBA CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA SETOR DE CIÊNCIAS HUMAMAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E SOCIOLOGIA

MICHELLE DOS SANTOS RODRIGUES DE LIMA

POLÍTICA DE HABITAÇÃO: ESTUDO DO PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL DE CURITIBA

CURITIBA 2014

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MICHELLE DOS SANTOS RODRIGUES DE LIMA

POLÍTICA DE HABITAÇÃO: ESTUDO DO PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL DE CURITIBA

Monografia apresentada para a obtenção do grau de

Bacharelado no Curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências

Humanas.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Tarcisa Silva Bega.

Co-Orientadora; Profª. Drª. Eliza Maria Almeida Vasconcelos.

CURITIBA

2014

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MICHELLE DOS SANTOS RODRIGUES DE LIMA

Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de

Bacharelado e Licenciatura no Curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências

Humanas da Universidade Federal do Paraná, pela seguinte Banca Examinadora:

Orientadora: Profa Dra. Maria Tarcisa Silva Bega - Departamento de Ciência

Política e Sociologia, UFPR

Co-orientadora: Profa. Dra. Eliza Maria Almeida Vasconcelos - Departamento de

Ciência Política e Sociologia, UFPR

Marcelo Nogueira de Souza - Doutorando – Pós Graduação em Sociologia,

UFPR

Curitiba, 10 de julho de 2014

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a professora Maria Tarcisa Bega por orientar o desenvolvimento

desta pesquisa, por seu empenho em transmitir o conhecimento necessário a

atividade de pesquisa, por sua paciência, pelas correções e por acreditar em minha

capacidade de concretizar este estudo.

Agradeço a (co) orientadora Eliza Maria Almeida Vasconcelos, por

disponibilizar seu conhecimento contribuindo na orientação da pesquisa, pelas

correções e incentivos.

Agradeço a minhas colegas do grupo de pesquisa Programa de

Desenvolvimento Urbano e Regional-PDUR, Aline Fernanda Lopes, Julia Palmieri e

Mariana Dutra Teixeira pelo apoio e troca de informações e em especial à Marcela

Lino e Viviane Vidal Pereira que além do apoio e troca de informações me

acompanharam em pesquisas de campo.

Agradeço enormemente ao apoio e compreensão da minha família e a todas

as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste estudo.

Curitiba, 10 de julho de 2014

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar a política de habitação da cidade de Curitiba no período entre 2008 a 2012 partindo de um estudo do Plano Municipal de Habitação de Interesse Social de Curitiba (PMHIS Curitiba) para verificar quais são as necessidades habitacionais apontadas e se as linhas de ação que dizem respeito a ampliação da produção de habitação de interesse social, e a Implantação de habitação de interesse social em áreas dotadas de infraestrutura e equipamentos urbanos, estabelecidas por este documento, foi executada na prática, no seu curto prazo, período que corresponde ao recorte temporal da pesquisa; assim como verificar se houve impacto no déficit habitacional do município em decorrência da produção de unidades habitacionais, por meio da política de habitação da cidade. Com a pesquisa bibliográfica buscou-se entender o caminho traçado pela sociologia urbana, para compreender as categorias de análise do objeto e seus conceitos básicos. O estudo faz o levantamento de dados referentes à produção de Habitação de Interesse Social na cidade de Curitiba, feito através de pesquisa documental, junto aos órgãos municipais e institutos de pesquisa, a saber: COHAB-CT e IPPUC. O referencial teórico utilizado na pesquisa envolve os principais pensadores da escola francesa de sociologia urbana, a saber: Manuel Castells e Henri Lefebvre que, salvo suas diferenças, seguem a matriz marxista de estudos sociológicos. Portanto, a análise conceitual visa fazer uma problematização da Habitação de Interesse Social (HIS) ancorada na perspectiva de direito a cidade de Henri Lefebvre (1969), o conceito de segregação espacial de Manuel Castells (1983) e as condições de habitabilidade que englobam as demais políticas intersetoriais. O estudo vem demonstrar que a habitação de interesse social se constitui como direito, porém o alto índice de déficit habitacional mostra-se ainda como uma problemática a ser enfrentada com ações mais eficazes. Embora haja uma constatação de implementação de políticas de habitação de interesse social no Município de Curitiba, ainda verifica-se que atualmente os programas tem se distanciado do foco da política, que deveria ser a população de baixa renda, prevalecendo às regras do mercado imobiliário e dos interesses dos empresários e das empreiteiras. Por fim, faz a análise da questão da moradia em Curitiba no contexto das contradições e complexidade da produção de seu espaço urbano.

Palavras-chave: Programa de Desenvolvimento Urbano e Regional, Políticas Habitacionais, Plano Municipal de Habitação de Interesse Social e Habitação de Interesse Social.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 01- DOMICÍLIOS COM DÉFICIT POR CLASSE DE RENDA EM CURITIBA – 2000........................................................................................................................43

TABELA 02-PORCENTAGEM DO DEFICIT POR CLASSE DE RENDA EM CURITIBA - 2000........................................................................................................43

TABELA 03- SÍNTESE DO DÉFICIT HABITACIONAL POR TIPO EM CURITIBA-2000............................................................................................................................44

TABELA 04- DISPONIBILIDADE DE TERRAS PARA A PRODUÇÃO HABITACIONAL NO MUNICÍPIO...............................................................................51

TABELA 05- CUSTO DA AQUISIÇÃO DA TERRA PARA ATENDER A DEMANDA DO DÉFICIT HABITACIONAL EM CURITIBA............................................................56

TABELA 06- CUSTO DA EDIFICAÇÃO POR PADRÃO ARQUITETÔNICO.............56

TABELA 07- PRODUÇÃO REALIZADA PELA COHAB-CURITIBA POR TIPOLOGIAS HABITACIONAIS NO PERÍODO DE 2008 A 2012..............................58

TABELA 08- HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL CONSTRUIDAS A PARTIR DE 2009......................................................................................................................60

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 01 - METODOLOGIA DE CÁLCULO DO DEFICIT FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO..................................................................................................................42

GRÁFICO 01- OSCILAÇÃO DA PRODUÇÃO DA COAHAB-CT ENTRE 2008 E 2012............................................................................................................................59

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LISTA DE MAPAS

MAPA 01- DEFICIT HABITACIONAL EM CURITIBA – 2007.....................................46

MAPA 02- LOTES VAGOS E ZONEAMENTO EM ÁREAS APTAS À HABITAÇÃO..............................................................................................54

MAPA 03-LOCALIZAÇÃO DOS RESIDENCIAIS PRODUZIDOS PELA COHAB-CT ENTRE 2011 2012....................................................................................63

MAPA 04- EQUIPAMENTOS DE EDUCAÇÃO..........................................................65

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LISTA DE SIGLAS

APA- Área de Preservação Ambiental.

APP- Área de Preservação Permanente.

APPUC- Assessoria de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba.

BNH- Banco Nacional de Habitação.

CEF- Caixa Econômica Federal.

COHAB-CT- Companhia de Habitação Popular de Curitiba.

COHAPAR- Companhia de Habitação do Paraná.

CONAMA- Conselho Nacional do Meio Ambiente.

CONCITIBA- Conselho da Cidade de Curitiba.

DPP- Domicílios Particulares Permanentes.

FJP- Fundação João Pinheiro.

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IPARDES- Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social.

IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

IPPUC- Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba.

FMHIS- Fundo Municipal para Habitação de Interesse Social.

FNHIS- Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social.

HIS- Habitação de Interesse Social.

PEHIS- Plano Estadual de Habitação de Interesse Social

PDUR- Programa de Desenvolvimento Urbano e Regional.

PLANHAB- Plano Nacional de Habitação de Interesse Social.

PMCMV- Programa Minha Casa Minha Vida.

PMHIS- Plano Municipal de Habitação de Interesse Social.

PMRFAPP- Plano Municipal de Regularização Fundiária em Área de Preservação

Permanente.

PNAD- Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio.

PNH- Política Nacional de Habitação.

s.m.- Salários Mínimos.

SEHIS- Setores Especiais de Habitação de Interesse Social.

SNHIS- Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social.

ZEIS- Zonas Especiais de Interesse Social.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................11

CAPÍTULO I – O urbano como objeto de investigação sociológica....................14

CAPÍTULO II – A política de habitação no contexto da reforma urbana brasileira....................................................................................................................21

CAPÍTULO III – O desenvolvimento urbano e a política de habitação de Curitiba......................................................................................................................29

3.1 – A política de habitação de interesse social no contexto do desenvolvimento urbano........................................................................................................................34

CAPÍTULO IV – O PLHIS de Curitiba: análises e perspectivas............................39

4.1-Diagnóstico do déficit habitacional utilizado no PMHIS para planejamento da produção de HIS.........................................................................................................41

4.2- A Instituição das Zonas Especiais de Interesse Social.......................................47

4.3- Disponibilidade de terra para produção de habitação de interesse social no Município de Curitiba conforme o PMHIS..................................................................50

4.4- Balanço do cumprimento das linhas de ação a curto prazo...............................57

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................71

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INTRODUÇÃO

O interesse pelo presente estudo intitulado: Política de Habitação: Estudo do

Plano Local de Habitação de Interesse Social- PLHIS de Curitiba teve como ponto

de partida o meu engajamento e participação no Programa de Desenvolvimento

Urbano e Regional-PDUR, da Universidade Federal do Paraná Setor de Ciências

Humanas e Setor Litoral desde maio de 2013. O referido programa tem como

premissa compreender a problemática regional assim como contribuir para o avanço

nas discussões sobre desenvolvimento urbano e regional do estado do Paraná a

partir das diretrizes básicas do direito à cidade e a habitação de interesse social,

tendo como lócus de pesquisa é a região metropolitana de Curitiba e o Litoral

Paranaense, o presente estudo, porém, se restringe a uma pesquisa sobre a

experiência do planejamento da Habitação de Interesse Social da cidade de Curitiba.

Em Curitiba o PLHIS recebe o título de Plano Municipal de Habitação de

Interesse Social –PMHIS, foi elaborado em 2008, seguindo os critérios definidos

tanto pelo Estatuto da Cidade (2001), como pelas diretrizes nacionais para a

habitação de interesse social. Como consequência, exigiu a adequação da Lei de

Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo, condição para que o planejamento da

cidade tenha validade legal.

Embora para que se possa avaliar uma política pública e, em especial a de

habitação seja necessária uma série histórica mais larga, por sugestão das minhas

orientadoras, o período escolhido foi o que corresponde ao estabelecido no PMHIS

para que sejam executadas suas linhas de ação denominadas de ações de curto

prazo, este período vai de 2008 a 2012, o que permite fazer um balanço da

produção de habitação em Curitiba e relacionar com a oscilação do déficit neste

período.

Esta pesquisa tem como objeto de estudo o Plano Municipal de Habitação de

Interesse Social de Curitiba – PMHIS. O PMHIS tem como horizonte o ano de 2020

sendo que suas linhas programáticas de ação estão divididas em três períodos de

quatro anos, o primeiro período denominado de curto prazo coincide com o período

de estudo aqui realizado (2008 a 2012).

Nas linhas programáticas de ação relativas ao período supracitado o plano

classifica ações de ordem: normativas, gestão democrática, planejamento,

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capacitação, executiva e de recursos. Nas ações de planejamento interessa a este

estudo verificar: a ampliação da produção habitacional no município ea priorização

da Implantação de habitação de interesse social em áreas dotadas de infraestrutura.

A hipótese central recai na constatação que as habitações de interesse social

vêm sendo construídas em bairros que historicamente são reconhecidos como

periféricos e mal providos de equipamentos urbanos como, por exemplo, transporte,

infraestrutura e acesso as instalações públicas ligadas à saúde, educação,

assistência social, etc. Ainda que a produção habitacional tenha aumentado está

longe de causar grande impacto no déficit habitacional de Curitiba.

Entendendo por princípio metodológico que o processo do conhecimento dá-se

do abstrato ao concreto, este estudo utilizou-se de pesquisa bibliográfica que foi o

ponto de partida da análise. Com a pesquisa bibliográfica buscou-se entender o

caminho traçado pela sociologia urbana, para compreender as categorias de análise

do objeto e seus conceitos básicos.

O levantamento de dados referentes a produção de Habitação de Interesse Social

na cidade de Curitiba foi feito através de pesquisa documental junto aos órgãos

municipais e institutos de pesquisa, a saber: COHAB- CT, COHAPAR e IPPUC.

No capítulo I será apresentada a discussão acerca do contexto histórico da

urbanização marcada pelo advento da sociedade capitalista e das principais

transformações no espaço das cidades, os principais conceitos produzidos a partir

dos estudos sobre a urbanização.

O capítulo II traz uma discussão sobre o processo de industrialização do Brasil

e como se configura o problema da falta de habitação, traz também algumas

diretrizes da Política Nacional de Habitação para o planejamento das cidades na

tentativa de atender a demanda por moradia no país.

O capítulo III é composto do contexto da industrialização a nível local,

mostrando quando esse processo se iniciou na cidade de Curitiba e quais as

principais consequências para a produção de seu espaço urbano e para questão

habitacional da cidade e uma reflexão sobre Habitação de Interesse Social.

No capítulo IV estão os resultados da pesquisa realizada sobre o PMHIS de

Curitiba, onde pode-se aferir quais são as suas necessidades habitacionais; quais

foram os recursos investidos em habitação de interesse social no município no

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período de 2008 a 2012; a disponibilidade de terra apta a habitação e a produção de

unidades habitacionais, onde se situam e quantas foram construídas até 2012.

Nas considerações finais será exposta uma reflexão sobre as propostas de

ações do PMHIS e o que foi efetivamente construído em termos de Habitação de

Interesse Social na Cidade de Curitiba, e uma problematização da Habitação de

Interesse Social (HIS) produzida em Curitiba.

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Capitulo I - O urbano como objeto de investigação sociológica.

A sociologia urbana é o ramo da sociologia que trata das relações sociais no

espaço urbano e da estruturação deste espaço. Este ramo tem como principal

referência de estudos sobre a cidade as pesquisas desenvolvidas pela Escola de

Chicago. Conforme Mario A. Eufrásio a Universidade de Chicago foi criada em 1890

Financiada por um magnata do petróleo da região chamado John Rockefeller, seu

primeiro presidente foi William Rainey Harper que estruturou uma universidade

voltada para pesquisa e ensino no nível de pós-graduação, oferecendo incentivos

como salários para os professores acima da média das outras universidades e meios

de publicação das pesquisas desenvolvidas, cada departamento foi incentivado a

criar sua revista acadêmica, o chefe do departamento de sociologia a partir de 1892

foi Albion Small. (EUFRÁSIO,1999)

Mario A. Eufrásio faz um estudo das teorias das cidades nas ciências sociais

e em seu livro Estrutura Urbana e Ecologia Humana fala sobre a escola sociológica

de Chicago, que conforme este autor reúne um amplo conjunto de linhas de

pesquisas e temas com diversificadas posturas e procedimentos de investigação,

portanto, “os sociólogos de Chicago não constituíam uma tradição unificada ou uma

unidade intelectual” (EUFRÁSIO, 1999, p. 37).

A escola sociológica de Chicago abordou temas variados como movimentos

sociais, segregação sócio espacial, relações raciais, comportamento de massas e

multidões, opinião pública, história da sociologia e formas de patologia social como

crime, delinquência, entre outros.

Mario A. Eufrásio ressalta que embora a escola sociológica de Chicago

estudasse a cidade de forma ampliada, da confluência de um amplo conjunto de

interesses e reflexões sustentadas pelos sociólogos desta corrente sociológica

americana, formularam-se principalmente as temáticas: “da ecologia humana, da

sociologia da estrutura urbana, das relações sociais, da psicologia social e da cultura

urbanas” (EUFRÁSIO, 1999, p. 44).

Conforme Mario A. Eufrásio sociologia urbana se desenvolve como disciplina

principalmente a partir dos estudos de Robert Elza Parker que teve como principais

inspiradores George Simmel e William Israel Thomas, o segundo foi professor da

escola de Chicago de 1896 a 1908 e um dos primeiros a unir teoria à pesquisa de

campo na sociologia americana. Embora o estudo sobre a cidade não tenha sido

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iniciado por Robert Elza Park seus estudos têm grande importância para a sociologia

urbana. (EUFRÁSIO, 1999). Mario A. Eufrásio afirma que as pesquisas sobre a

organização espacial da cidade reunidas pela Escola de Chicago podem ser

divididas em duas linhas:

Uma em que se ressalta os aspectos dos processos espaciais que promovem um determinado quadro de relações entre áreas diferenciadas particulares da cidade, concebidas em constante estado de transformação; identifica-se as forças da dinâmica espacial e descreve-se seu movimento real até a recriação do quadro espacial que se quer apreender; essa linha tende a proporcionar uma análise interpretativa destacadamente empírica de áreas ou comunidades urbanas e a estabelecer generalizações e explicações de modo mais alusivo que direto e preciso. Na outra linha se ressalta os aspectos da estrutura espacial que se configura num conjunto definido de categorias de áreas diferenciadas na cidade num determinado momento, concebidas como dotadas de relativa estabilidade; tenta-se identificar os fatores atuantes dos processos que originaram essa estrutura e, pela consideração de determinadas conjugações dessas forças ou o destaque da importância da atuação de algumas forças presentes, demonstrar o quadro espacial considerado como seu resultado; essa perspectiva tende a apresentar explicações por princípios gerais das estruturas das áreas e relações espaciais urbanas de modo claro e isento de ambiguidade. (Mario A. Eufrásio, 1999, p.46).

Os estudos de Park e posteriormente Louis Wirth se encaixam na primeira

linha, estes autores contribuíram para formular a ideia de cultura urbana, Robert Elza

Park por sua vez foi um dos pioneiros da ideia de ecologia humana, pensava a

cidade como uma instituição, “como um produto não intencional do trabalho de

sucessivas gerações de homens”. (EUFRÁSIO, 1999, p.50).

Mario A. Eufrásio diz que as críticas à teorização ecológica da escola de

Chicago começaram a surgir no final da década de 1930, também dentro da própria

escola. Este tipo de análise era visto por muitos críticos como uma interpretação que

mostrava a cidade como resultado de processo não sociais, impessoais, com

ausência da ideia de competição pelo sustento por parte dos habitantes das cidades.

Conforme Heitor Frúgoli Junior (2005) a escola francesa de sociologia urbana

que se desenvolveu a partir de 1960 criticava o culturalismo presente nos estudos

da escola de Chicago e a falta de reflexões que abordassem os fatores

determinantes da estrutura da cidade, relacionados a política e a economia.

Manuel Castells em Problemas de investigação em sociologia urbana diz que

a escola de Chicago não tem como objeto de estudo a cidade em si, e sim “os

processos de desorganização social e inadaptação individual, a persistência de

certas subculturas autônomas divididas ou não; e sua resistência a integração”

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(CASTELLS, 1984, p. 28). Para ele,a teoria formada na escola de Chicago não tem

discussão histórica, não traz a leitura histórica da organização da cidade, ao

contrário a linha marxista que faz um resgate histórico do processo de formação da

cidade.

A escola francesa de sociologia urbana compreende o urbano como espaço

socialmente produzido, no qual os temas relevantes acerca da sociedade urbana

são principalmente o intercâmbio entre as relações de produção, consumo, troca e

distribuição, além da dimensão simbólica do poder que se manifesta no ambiente

urbano.

Os principais autores da escola francesa de sociologia urbana são Henri

Lefebvre e Manuel Castells, o primeiro ainda na década de 1960, o segundo a partir

da década de 1970 juntamente com David Harvey (1973) e Jean Lojkine (1977) que

também desenvolveram pesquisa em sociologia urbana.

Tanto Henri Lefebvre quanto Manuel Castells desenvolveram pesquisas

ancoradas na teoria marxista, propondo novos paradigmas para as reflexões sobre a

cidade trazendo novas questões como os movimentos sociais urbanos, os meios de

consumo coletivo, a estruturação social do território na sociedade capitalista e o

papel do Estado na urbanização.

Henri Lefebvre inicia seu livro O direito à cidade em 1968 afirmando que para

“expor a ‘problemática urbana’ impõe-se um ponto de partida: o processo de

industrialização” (LEFEBVRE, 1969).A industrialização é tomada pelo autor como

um processo que mobiliza as transformações na sociedade, como indutora dessas

transformações, e também como uma referência para a reflexão sobre a sociedade

capitalista, pois, segundo ele, a cidade é anterior a industrialização, para ele a

cidade industrial vai ocorrer com o nascimento do capitalismo concorrencial com

uma burguesia especificamente industrial.

O autor alerta que o processo de superação da cidade antiga com a

industrialização não é natural, sem intenções, isto é, existe nesse processo

estratégias de classe, a segregação da classe proletária por exemplo, que

aconteceu em Paris em 1848 foi uma estratégia da classe dominante para afastar

dos centros urbanos a outra classe que era vista como ameaça. (LEFEBVRE,1969)

Manuel Castels (1983) analisa o espaço enquanto expressão da estrutura

social, ao desenvolver seus estudos sob esta perspectiva estuda a produção do

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espaço pelos elementos do sistema econômico, do sistema político-jurídico ou

político-institucional e do sistema ideológico, conforme o autor esses sistemas se

combinam conforme as necessidades geradas pelas suas práticas sociais

(CASTELLS, 1983).

Conforme Manuel Castells no estudo do urbano é necessário dar ênfase na

intervenção do Estado pois ele tem o papel de gestor que vai lidar com o espaço que

é a expressão da estrutura social, para o autor a gestão é o processo de regulação

entre as relações de produção consumo e troca (CASTELLS, 1983) que muitas

vezes envolvem em maior ou menor grau os três sistemas citados, como pode-se

observar em: “a moradia é econômica, política e ideológica, embora sua contribuição

essencial se dê no plano da reprodução da força de trabalho” (CASTELLS, 1983,

p.160).

Conforme Heitor Frúgoli Junior (2005) as análises da escola francesa de

sociologia urbana buscam “explicações ‘macroestruturais’, tendo como principal

referência inicial o marxismo estruturalista, assinalado por uma ‘estrutura sem

sujeitos’” (JUNIOR, 2005, p. 140).

Heitor Frúgoli Junior diz que esta ideia de “estrutura sem sujeitos” seria

colocada em cheque com o surgimento de vários movimentos sociais que em grande

parte ocorreram em países latino-americanos reivindicando moradia e equipamentos

urbanos. O surgimento desses movimentos sociais exigia novos paradigmas para

discutirtemas que envolviam a questão da cidade, dos planejamentos e urbanização,

das relações econômicas, políticas e sociais, entre outros.

Os estudos, na área da sociologia urbana, desenvolvidos na América Latina

tem como referencial teórico Anibal Quijano e também Manuel Castells, estas

produções voltaram seu olhar para países considerados subdesenvolvidos, em sua

maioria recém saídos da condição de colônia de países europeus, a perspectiva

adotada tinha como instrumentos de análise as ideias de marginalidade e

dependência dos países latino americanos em relação aos países desenvolvidos

economicamente.

Em 1970 os países da América Latina se encontravam em um acelerado

processo de urbanização, diante desse quadro alguns intelectuais latinos

americanos se juntaram e começaram a desenvolver estudos sobre o tema nos

países latinos.Muitos desses estudos foram efetuados em contrapartida ao

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pensamento da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) que trouxe

novas interpretações sobre dependência e subdesenvolvimento, atraso e

modernização. Esses intelectuais se agruparam em torno da Cebrap (Centro

Brasileiro de Análise e Planejamento) e da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade de São Paulo) influenciados pelo estruturalismo francês

e seus teóricos que interpretavam a questão urbana (ARANTES, 2009)

Além de Castells, principal articulador, faziam parte do CEBRAP alguns

brasileiros como Paul Singer, Fernando Henrique Cardoso, Lucio Kowarick, Candido

Ferreira de Camargo e o geógrafo Milton Santos com seu texto sobre a urbanização

da Venezuela. Os ensaios produzidos a partir do tema em comum foram

organizados por Manuel Castells no livro Imperialismo e Urbanização na América

Latina (1973) e procuravam respostas alternativas para explicar o rápido

crescimento urbano latino-americano (ARANTES, 2009). Apesar de conviverem e

formarem um grupo com temas de pesquisa em comum haviam discordância de

concepções relacionadas a América Latina entre os membros da Cebrap.

Paul Singer com seu texto Economia Política da Urbanização faz uma crítica

direcionada a hipótese de Manuel Castells e Anibal Quijano que é baseada na ideia

de marginalidade dos países latino americanos por conta da situação de

dependência econômica, na medida em que estes estudos afirmam ser a situação

de dependência uma condição geral da América Latina.

Segundo este autor, Manuel Castells propõe que a América Latina sofreu

diferentes tipos de dependência em diferentes épocas e atribui a cada tipo de

dependência uma forma de urbanização, como se esta situação fosse fator

determinante da urbanização experimentada nesses países.

Paul Singer diz quea abordagem de Manuel Castells sobre a urbanização da

América Latina é uma consideração superficial e “seria um exagero admitir que a

determinação das fronteiras políticas da América Latina resultou das várias

situações de dependência capitalista-comercial” (SINGER, 1987, p. 65).

Ressalta que a dependência é um dos fatores dentre uma série de eventos

que foram importantes para a história latino-americana, acrescenta que apesar da

dependência comercial que muitos países experimentavam em relação ao mercado

capitalista internacional, vários momentos decisivos de sua história foram fruto de

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lutas de classes, que foram encerrados sem interferência externa1, e estes

momentos têm grande influência na forma de urbanização.

Em relação aos estudos de Anibal Quijano Paul Singer (1987) diz que este

tem “uma análise mais acertada ao vincular o desenvolvimento urbano à maior ou

menor integração dos vários países no mercado capitalista internacional”, porém não

explica os diferentes níveis de urbanização ocorridos em países como Argentina,

Brasil e México. Segundo o autor para explicar estas diferenças seria preciso

considerar especificidades como a estrutura econômica de cada um, o tamanho e a

natureza do seu setor de subsistência. (SINGER, 1987, p. 66).

De acordo com Paul Singer: Manuel Castells caracteriza a urbanização da

América Latina como de “aceleração crescente, desnível entre o fraco

desenvolvimento das forças produtivas e acelerada concentração espacial da

população, formação de uma rede urbana truncada e desarticulada” (SINGER, 1987,

p. 69). Enquanto que Anibal Quijano, em seus estudos, ao analisar a industrialização

dos países latino americanos:

vê o processo de urbanização na América Latina produzindo “enorme desequilíbrio interregional, urbano-rural e interurbano”, tremenda concentração de benefícios nas regiões e cidades mais profundamente vinculadas às metrópoles externas, acabando por lhe atribuir uma “acentuação do subdesenvolvimento” (SINGER, 1987, p. 69 e 70).

Frente as afirmações acerca da urbanização da América Latina formuladas

por Castells e Quijano Paul Singer novamente afirma que é preciso levar em

consideração diversos fatores ao analisar o processo de urbanização, como por

exemplo o desenvolvimento das novas atividades industriais e de serviços, que são

necessariamente praticadas em cima de uma base urbana, é preciso também notar

que a velocidade do processo de urbanização é influenciada pelo crescimento da

população, e diferenciar os fatores de expulsão que levam à migração do espaço

rural para o espaço urbano (SINGER, 1987).

O Brasil, no contexto latino americano, segue essa lógica de urbanização

que está fortemente ligada ao processo de industrialização que, no caso brasileiro,

tem como marco histórico a década de 1930 do século XX onde inicia-se uma nova

fase de expansão do capital, criando e recriando centros urbanos que tem como

1“Seria difícil, se não artificioso, argumentar que o confisco dos bens da Igreja no México ou a abolição da escravatura no Brasil (tão retardada, a pesar das pressões inglesas) tivessem decorrido de situações de dependência.” (Paul Singer, p.65, 1987)

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característica o rápido aumento da população e o desenvolvimento de fenômenos

que se caracterizam em processos sócio espaciais bastante desiguais.

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Capitulo II - A política de habitação no contexto da reforma urbana brasileira.

Uma contextualização da política habitacional brasileira remete aos anos

iniciais do processo de industrialização e urbanização do país, que ocorreu em 1930

com muitas mudanças, como a regulamentação do trabalho, incentivos à

industrialização, construção da infra estrutura industrial, entre outras medidas

(MARICATO, 2003) que promoveram o movimento de migração campo-cidade.

Antes deste período iniciado em 1930 a política habitacional do país tinha um caráter

sanitarista.

Segundo Nabil Georges Bonduk (1994) a política habitacional iniciou no

Brasil ainda no governo de Getúlio Vargas (1930-1954), momento em que a

economia passou paulatinamente do setor agrário-exportador para o setor industrial.

Anteriormente ao Governo Vargas a republica velha, fiel ao liberalismo

predominante, privilegiava a produção privada e recusava a intervenção direta no

setor da construção civil, portanto não haviam políticas que regulassem de forma

direta a construção e comercialização de casas para trabalhadores (BONDUK,

1994).

A intervenção Estatal a partir do governo Getúlio Vargas, fazia parte de uma

estratégia de fortalecer a indústria brasileira através de um forte controle e

intervenção em todos os ramos da economia (BONDUK, 1994, p.2). As principais

medidas tomadas em relação a habitação popular durante o governo Vargas foram:

o decreto-lei do inquilinato, em 1942, que, congelando os aluguéis, passou a regulamentar as relações entre locadores e inquilinos, a criação das carteiras prediais dos Institutos de Aposentadoria e Previdência e da Fundação da Casa Popular, que deram início à produção estatal de moradias subsidiadas e, em parte, viabilizaram o financiamento da promoção imobiliária, e o Decreto-Lei n.° 58, que regulamentou a venda de lotes urbanos a prestações (BONDUK,1994, p. 2).

De acordo com Nabil Bonduk (1994) com os recursos reunidos através dos

Institutos de Aposentadoria e Previdência (IAPs) e da Fundação da Casa Popular

(FCP) foi possível aumentar a produção de habitação por parte do Estado, embora

segundo Bonduk, a função de edificação de moradias fosse secundária para os

IAPsque tinha como prioridade o pagamento de aposentadorias. Foram construídos

muitos conjuntos habitacionais,o setor privado gradativamente deixou de investir em

produção de casas para aluguel por conta de suas perdas com a lei do inquilinato

então passou a considerar importante o aumento da presença estatal na atividade

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de produção de habitações para o ramo da construção civil, pois isso lhe garantia

recursos.

Conforme Nabil Bonduk (1994) o congelamento dos alugueis, com a lei do

inquilinato, contribuiu para aumentar a crise habitacional do Brasil, o setor privado da

construção civil estava fragilizado e a produção da casa própria neste período

passou a ser responsabilidade dos trabalhadores, por conta disso aumentou o

número de autoconstruções ou auto empreendimento nas principais cidades

brasileiras que passavam por intenso processo de urbanização e acelerado aumento

da população.

O governo militar que tomou o poder em 1964, tem como proposta a

implementação de um amplo projeto de planejamento urbano, cria as agências de

gestão dos projetos de intervenção para cada setor: para o setor de saneamento e

habitação criou o Banco Nacional de habitação-BNH, para o de transporte a

Empresa Brasileira de Transportes Urbanos-EBTU, para o planejamento criou o

Serviço Federal de Habitação e Urbanismo-Serfhau (OLIVEIRA,2000).

Em 21 de agosto de 1964 foi criada a lei 4380 que possibilitou o surgimento

do Sistema Financeiro da Habitação, do BNH, das Companhias de Habitação

Popular (COHABs), das Cooperativas Habitacionais e das Sociedades de Crédito

Imobiliário, muitas políticas de planejamento urbano foram criadas, mas a falta de

coordenação e integração entre os órgãos ou agências de planejamento urbano,

acabou por minar suas potencialidades (Fundação Cultural de Curitiba, 2006).

Conforme Nabil Bonduk, em seu texto: Política habitacional e inclusão social

no Brasil: revisão histórica e novas perspectivas no governo Lula, a importância do

BNH está no fato de que no período em que vigorou foi o único em que realmente

aconteceu uma Política Nacional de Habitação. O autor explica que os recursos do

BNH eram gerados pela criação do Fundo de garantia por tempo de Serviço - FGTS

que era complementado pela poupança voluntária que formava o Sistema brasileiro

de Poupança e Empréstimo-SBPE, dessa forma estruturou-se um sistema de

financiamento de produção de habitaçãocom abrangência nacional que obteve

resultados importantes porém não teve grande impacto em relação as necessidades

habitacionais do Brasil como percebe-se a seguir:

Assim, não foi por acaso que os resultados, do ponto de vista quantitativo da ação desenvolvida por este sistema, foram muito expressivos: nos vinte e dois anos de funcionamento do BNH, o Sistema Financeiro da Habitação

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financiou a construção de 4,3 milhões de unidades novas, das quais 2,4 com recursos do FGTS, para o setor popular, e 1,9 milhões com recursos do SBPE, para o mercado de habitação para a classe média. (Disponível em:<www.usjt.br>).

Embora a produção habitacional tenha sido significativa, ela esteve muito aquém das necessidades geradas pelo acelerado processo de urbanização que ocorreu no Brasil, na segunda metade do século XX. Entre 1950 e 2000, a população urbana brasileira vivendo em cidades com mais de 20 mil habitantes cresceu de 11 milhões para 125 milhões. No período de funcionamento do BNH (1964-86), foram financiadas cerca de 25% das novas moradias construídas no país, porcentagem relevante, mas totalmente insuficiente para enfrentar o desafio da urbanização brasileira. (Disponível em:<www.usjt.br>).

De acordo com Nabil Bonduk a forma de gestão do sistema de

financiamento da produção de habitação, instalado com o BNH, cometeu alguns

equívocos causando a exclusão de grande parcela da população com menor renda,

podendo ser caracterizada como:

administração autoritária; inexistência de participação na concepção dos programas e projetos; falta de controle social na gestão dos recursos; adoção da casa própria como única forma de acesso à moradia; ausência de estratégias para incorporar a processos alternativos de produção da moradia, como a autoconstrução, nos programas públicos. (Disponível em:<www.usjt.br>).

Nabil Bonduk acrescenta que a estratégia adotada pelo BNH beneficiou o

setor privado da construção civil que passou a poder contar com um recurso estável

para financiamento da construção de habitações.

A população que se encontrava fora do sistema formal de trabalho ou que

tinham renda baixa, por exemplo de 0 a 3 salários mínimos, dificilmente conseguiam

se beneficiar desta política habitacional que conta com o FGTS como principal forma

de financiar a casa própria, a dificuldade em acessar este sistema contribuiu para o

processo de ocupação de áreas periféricas e em condições irregulares

experimentado nas principais cidades do país.

Lucio Kowarick em seu livro Escritos Urbanos trata das modalidades de

produção do espaço urbano e de suas contradições, parte da ideia de que no Brasil

as principais cidades são metrópoles do subdesenvolvimento industrializado. Suas

pesquisas têm como lócus de observação a cidade de São Paulo, trata das

condições de vida e de experiências vividas pela população urbana, que em sua

maioria é trabalhadora, mal remunerada, e sofre as consequências das contradições

urbanas.

Nesse particular, deve-se ressaltar que a principal fatia do investimento público tem sido, no caso de uma metrópole como São Paulo, dirigida para

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áreas onde vivem e trabalham os grupos de renda média e alta, bem como para maximizar a realização do capital, gerando grande parte das assim chamadas condições gerais necessárias para o processo de acumulação se reproduzir em escala ampliada. Daí decorre o que tem sido normalmente designado pela expressão contradições urbanas, pois os investimentos públicos em bens de consumo coletivo têm sido tradicionalmente realizados em prejuízo da grande massa dos trabalhadores. (KOWARICK, 2000, p. 23 e 26)

Durante a década de 1970, principalmente nos últimos anos, os

trabalhadores das metrópoles começaram a se espalhar pelo território das cidades,

Lucio Kowarick diz que em São Paulo, assim como em outras metrópoles brasileiras,

os trabalhadores começaram a deixar de ocupar as áreas dos grandes centros fabris

e espalharam-se por vários pontos da capital originando o que chama de “padrão

periférico de ocupação do solo urbano” (KOWARICK, 2000, p.26).

Conforme Lucio Kowarick, a partir de 1959 o preço do metro quadrado de

terreno aumentou muito em São Paulo e essa é a principal razão da incidência de

moradores em favelas e cortiços ocorrido durante o final da década de 1970. Os

cortiços encontram-se prioritariamente nos centros das cidades, já as favelas em

áreas longe dos centros de comercio e ofertas de emprego, áreas próximas aos

limites do território da cidade. A esse processo de transição da população de menor

renda para as regiões periféricas dá-se o nome de periferização.

Os movimentos sociais por reforma urbana começaram a despontar já em

1960, durante o início do regime militar 1964 tiveram uma estagnação retornando na

década de 70, eram muitos grupos que reivindicavam melhorias urbanas, Lucio

Kowarick (2000) ao estudar os movimentos sociais vai fazer uma ligação entre as

lutas sociais travadas no mundo do trabalho e aquelas que acontecem no âmbito

dos bairros.

Conforme Nabil Bonduk, em seu texto Política habitacional e inclusão social

no Brasil: revisão histórica e novas perspectivas no governo Lula, na década de

1980 iniciou-se uma crise do modelo econômico vigente durante o regime militar que

gerou recessão, inflação, desemprego e queda dos níveis salariais, refletindo em

aumento da inadimplência dos compradores das habitações construídas no período.

Em 1986 o BNH foi extinto e suas funções são passadas à Caixa Econômica

Federal-CEF que assumiu a condição de maior agente nacional de financiamento da

casa própria e de importante financiadora do desenvolvimento urbano, passando a

agente financeiro do SFH.

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Após o fim do regime militar os movimentos sociais tiveram grande

importância durante as negociações para edição do documento da constituição

federal de 1988, a Assembleia Nacional Constituinte se configurou como um

importante espaço de disputa, a discussão sobre planejamento urbano se multiplicou

e com a contribuição dos diferentes grupos sociais, vários problemas relacionados a

cidade foram levantados.

A Constituição de 1988 tornou a habitação atribuição dos três níveis de

governo (federal, estadual e municipal). Os artigos 182 e 183 da constituição, que

fazem parte do capítulo II que trata da Política Urbana, a qual deve ser executada

pelo poder municipal, apresenta as normas para ações urbanísticas nos municípios

que devem ser acatadas em todas as ações, metas, programas e planos de

administração pública.

De acordo com Lucio Adauto Cardoso a política habitacional brasileira, após

a extinção do BNH, passou por um longo período sem dispor de aparato institucional

e de recursos consolidados que possibilitassem ações continuas e integradas,

deixou de existir uma política nacional de habitação, isso refletiu de forma prejudicial

nas COHABs que passaram por momentos de crise, a ação pública ficou a cargo

dos governos municipais(CARDOSO, 2011).De acordo com Nabil G. Bonduk, neste

contexto, experiências diversificadas com relação a habitação ocorreram por todo o

país:

Nesta fase, surgem, ao lado de intervenções tradicionais, programas que adotam pressupostos inovadores como desenvolvimento sustentável, diversidade de tipologias, estímulo a processos participativos e auto-gestionários, parceria com a sociedade organizada, reconhecimento da cidade real, projetos integrados e a articulação com a política urbana Esta postura diferenciava-se claramente do modelo que orientou a ação do BNH e com estes pressupostos emergem programas alternativos, como urbanização de favelas e assentamentos precários, construção de moradias novas por mutirão e autogestão, apoio à autoconstrução e intervenções em cortiços e em habitações nas áreas centrais.(Disponível em:<www.usjt.br>).

Emerge, assim, o embrião de uma nova postura de enfrentamento do problema habitacional adotada por gestões municipais de vanguarda, que se tornaram referencias nacionais para outros municípios e também para o próprio governo federal que, a partir de 1995, passa a ser administrado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso.(Disponível em:<www.usjt.br>).

Conforme Nabil G. Bonduk em 1996, já no governo de Fernando Henrrique

Cardoso (1995 a 2002), a Secretaria de Política Urbana passou a ser o agente

gestor do setor habitacional. Durante o governo FHC foram criados novos programas

habitacionais que se mantiveram até o início do governo Lula, a seguir:

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Dentre os programas criados no governo FHC e que continuaram a existir no primeiro ano do governo Lula, incluiu-se, como principal alteração, a criação de programas de financiamento voltados ao beneficiário final, (Carta de Crédito, individual e associativa), que passou a absorver a maior parte dos recursos do FGTS. Além deste, criou um Programa voltado para o poder público, focado na urbanização de áreas de áreas precárias (Pró-Moradia), paralisado em 1998, quando se proibiu o financiamento para o setor público e um programa voltado para o setor privado (Apoio à Produção), que teve um desempenho pífio. Em 1999, foi criado o Programa de Arrendamento Residencial – PAR –, programa inovador voltado à produção de unidades novas para arrendamento que utiliza um mix de recursos formado pelo FGTS e recursos de origem fiscal. (Disponível em:<www.usjt.br>).

O Estatuto da Cidade, como é conhecida oficialmente a lei 10.257 de 10 de

Julho de 2001, regulamenta o capitulo dois da constituição federal que trata da

política urbana, seus principais conceitos são: planejamento democrático e

participativo que envolve movimentos populares e as três instâncias de governo que

devem explorar a função social da propriedade e da moradia.

O Estatuto da Cidade lei que regulamenta a política urbana, diz que os planos

diretores e planos locais são instrumentos de política urbana, portanto, é a partir

desta data que os planos diretores foram elaborados para a maioria das cidades

com mais de 20 mil habitantes.

O Ministério das Cidades de acordo com documento próprio foi criado em

2003, conforme Nabil G. Bonduk esta foi uma das primeiras ações do governo Lula

no sentido de reestruturar uma política habitacional de forma articulada entre os três

níveis de governo.Representa o reconhecimento de que os desafios urbanos do país

precisam ser enfrentados como política de Estado, se configura como início do

processo de reconstrução de uma Política Nacional de Habitação-PNH.

Nos anos seguintes à criação do Ministério das Cidades foi aprovada uma

nova Política Nacional de Habitação e implementada a lei 11.124/05 que criou o

Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social-FNHIS e o Sistema Nacional de

Habitação de Interesse Social-SNHIS, o Plano Nacional de habitação-PlanHab é, por

sua vez, instrumento da PNH no processo de planejamento habitacional do Brasil

para o enfrentamento das necessidades habitacionais (www.cidades.gov.br).

Vários estudos foram contratados pela Secretária Nacional de Habitação do

Ministério das Cidades com o objetivo de conhecer melhor os problemas e desafios

habitacionais do país, um deles é sobre o déficit habitacional brasileiro, elaborado

pela Fundação João Pinheiro-FJP.

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Faz parte dos objetivos gerais do PlanHab garantir o acesso à terra

urbanizada, legalizada e bem localizada para a provisão de Habitação de Interesse

Social-HIS (unidades prontas ou lotes) na escala exigida pelas metas deste plano e

regularizar os assentamentos informais, garantindo a permanência dos moradores

de baixa renda.

Para alcançar estes objetivos uma das estratégias adotadas é dimensionar a

terra necessária para a produção de HIS e integrar a regularização fundiária nos

Planos Locais de Habitação de Interesse Social.

Para garantir uma oferta de terra compatível com sua demanda cada

município deve dimensionar a quantidade necessária para atender à demanda por

HIS, esta quantificação deve ser calculada na elaboração do PLHIS e estar

separada por faixa de renda.

O PLHIS, documento que foi criado para estabelecer quais as principais

necessidades da parcela da população que é mais atingida pela situação de déficit

habitacional e dar apontamentos de como essas necessidades podem ser

amparadas, através da política de habitação, é utilizado pelo PlanHab como um dos

indicadores do Índice de Capacidade Institucional e Gestão Urbana dos municípios e

condição obrigatória para a adesão ao SNHIS.

Para recorrer ao FNHIS os municípios devem apresentar seus Planos Locais

de Habitação de Interesse social ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse

Social, para então receberem o repasse de recursos financeiros e executarem seus

planos.

Com a crise econômica internacional que se intensificou em 2008, muitas

decisões políticas visavam amparar a economia, entra em cena então o Programa

Minha Casa Minha Vida-PMCMV implantado em 2009, que visavam impulsionar a

economia através do setor da construção civil (CARDOSO, 2011)

Adalto Lucio Cardoso diz que o modelo adotado pelo PMCMV, onde os

empreendimentos são projetados e construídos pelo setor privado da construção

civil, tende a promover a periferização das intervenções habitacionais na cidade,

pois a oferta de terra urbanizada, nos municípios com maior centralidade é

relativamente baixa então os projetos voltados para a população com baixa renda

são construídos em regiões mais afastadas do centro da cidade, e em muitos casos

nas regiões metropolitanas das capitais federais, onde o preço da terra é menor.

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A este fator soma-se a ausência de políticas de controle da especulação

imobiliária e do cumprimento da função social da cidade, que deve proporcionar e

facilitar o acesso de todos os moradores da cidade a todos os espaços e serviços da

mesma (CARDOSO, 2011)

A presença, cada vez mais institucionalizada do setor privado da economia

na construção e financiamento de unidades habitacionais,em que há garantia prévia

de recuperação do investimento pelas empresas (através da CEF) faz com que o

interesse do mercado tenha um peso muito maior na execução dos projetos, e que a

política de habitação reafirme a sua dupla função – mercado e social – indicando a

especificidade e as limitações de uma política de interesse social que inclua os

segmentos mais pobres da sociedade brasileira.

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Capitulo III - O desenvolvimento urbano e a política de habitação de Curitiba

O processo de urbanização de Curitiba acompanha o cenário nacional, a

cidade recebeu um grande contingente de imigrantes Estrangeiros no final do século

XIX e posteriormente nacionais a partir da década de 1950. Embora em escala

menor do que o das metrópoles nacionais, Curitiba viveu, ao longo da segunda

metade do século XX, os processos de exclusão social e de periferização tão bem

apontado por Kowarik.

Em 1970todo o perímetro urbano estava ocupado, sendo que a partir de

1975, as últimas áreas, ainda rurais, foram totalmente loteadas e ocupadas, e

posteriormente as áreas limítrofes, nos municípios da região metropolitana, onde o

preço da terra era mais acessível, iniciando o processo de conurbação. Em 1980 o

modelo de ocupação periférica já havia se consolidado em Curitiba. (PMHIS Curitiba,

2000). Aqui, como em muitas cidades brasileiras, o déficit habitacional é decorrente

do processo de expansão da cidade e da consequente favelização.

Apesar de Curitiba seguir o padrão de urbanização brasileiro, tem como

característica a experiência precoce de planejamento urbano da cidade que remonta

ao ano de 1942, quando Alfred Agache propôs o primeiro plano para a cidade, como

lê-se em Dennison de Oliveira:

Pensava-se a cidade como um conjunto arquitetônico que deveria atender a um certo número de funções essenciais como trabalho, habitação, e circulação. Caberia ao urbanista dividir a cidade em áreas ou regiões funcionais, nas quais esses espaços se especializariam em algumas das funções citadas (OLIVEIRA, 2000, p. 74)

A partir desta concepção de cidade planejada Curitiba foi dividida em zonas

funcionais: um centro comercial (centro tradicional), um centro administrativo (centro

cívico), uma cidade universitária (centro politécnico), um setor militar (Bacacheri), um

centro industrial (Capanema e Rebolças) e um centro de abastecimento (onde hoje é

o Mercado Municipal). (OLIVEIRA, 2000).

Porém o intenso crescimento da cidade nos anos seguintes ao fim da

segunda guerra mundial e do Estado Novo, somado às dificuldades econômicas de

implantação de um projeto que visava uma remodelação urbana, acabou por

inviabilizar a implementação do plano em sua totalidade.

Este plano demorou a ser implantado e logo ficou obsoleto, então foi aberta

uma concorrência nacional entre empresas de arquitetura e urbanismo para uma

seleção do futuro plano diretor da capital, a empresa vencedora foi a Serete

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Engenharia S. A., a qual delineou um plano preliminar que, depois de intensos

debates entre as elites econômicas e intelectuais de Curitiba, foi transformado em lei

pela Câmara em 1966, (OLIVEIRA,2000), este plano foi colocado em execução em

1971.

A Assessoria de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba-APPUC foi

criada durante o Seminário Curitiba de Amanhã promovido pela prefeitura de

Curitiba para apresentar à população da cidade, o Plano Preliminar de Urbanismo de

Curitiba, visando a implementação e aperfeiçoamento do mesmo.(Fundação Cultural

de Curitiba, 2006)

O Plano preliminar aprovado pela Lei nº 2.828, de 31 de julho de 1965, seria

iniciado, como já foi dito, como Plano Diretor de Curitiba somente no ano posterior

com a Lei nº. 2828 de 10 de agosto de 1966. Ainda no ano de 1965 a APPUC foi

transformada em Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba-IPPUC e

passou a supervisionar e detalhar a implantação do Plano Diretor de Urbanismo.

(Fundação Cultural de Curitiba, 2006)

O planejamento da expansão da cidade, no Plano Diretor de 1966, mudou

da forma radial para a linear, adotou-se a concepção de que a cidade deveria

crescer ao longo de vias lineares de circulação, que foram denominadas de eixos

estruturais, por este motivo idealizou-se que o desenvolvimento deveria ser

planejado a partir desses eixos.

A definição dos eixos estruturais levou em consideração padrões históricos

de crescimento da cidade, o primeiro eixo definido foi no sentido Norte-Sul,

posteriormente outro no sentido Leste-Oeste e por fim um no sentido sudeste que é

a avenida Marechal Floriano. (OLIVEIRA, 2000)

Os esforços dos governantes de Curitiba em planejar a cidade visavam

controlar seu crescimento e formar novas áreas a serem ocupadas, porem muitas

dessas áreas ficavam longe dos núcleos de atividade empresarial e comercial, essa

distância seria remediada com a reforma dos transportes, prevista no plano diretor

(1966), que iria agilizar a circulação da população permitindo seu acesso a várias

áreas da cidade.

No Plano Diretor as principais medidas eram melhorar o sistema viário; com

prioridade para o transporte coletivo, ampliar as áreas verdes; em virtude de uma

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preocupação ambiental; desafogar o centro tradicional, desenvolvimento e rápido

acesso à Cidade Industrial de Curitiba (CIC) (OLIVEIRA, 2000).

No texto de Dennisom de Oliveira verifica-se que a questão do déficit

habitacional não é tão presente no plano diretor, o autor relata que um observador

revelava que “a despeito do déficit habitacional verificado em 1985, nada menos que

metade das terras disponíveis para a construção de moradias de Curitiba estavam

ociosas” (OLIVEIRA, p.180, 2000) este autor em outro momento do texto aponta

uma possível resposta a isso, o fato de os planos diretores não estarem inclinados a

contemplar a economia informal:

O que se quer dizer com isso é que tais planos não são compatíveis nem compatibilizáveis com os setores informais da economia: comércio ilegal, transportes coletivos “piratas” e, principalmente os loteamentos clandestinos. Numa palavra os planos não se dirigem à cidade “real” mas sim à cidade “legal” (OLIVEIRA, 2000, p. 113 a 114)

Aline Figueiredo Albuquerque em sua dissertação de mestrado, apresentada

em 2007, cursado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de

São Paulo faz uma análise do discurso que propaga Curitiba como “cidade modelo”

e mostra que a questão habitacional é uma lacuna neste discurso, pois como diz a

autora da dissertação, entre os elementos frequentemente alçados por este discurso

não aparecia nenhuma pratica ou intervenção concluída no campo da habitação.

(ALBUQUERQUE, 2007).

De acordo com relatório elaborado pelo IPARDES em 2009, nas décadas de

70 e 80 o Plano Diretor não contemplava a questão da habitação para população de

baixa renda, porém esta população compõe, desde esta época, o principal

contingente de habitações precárias na cidade de Curitiba.

O fato de o acesso à moradia pela população de baixa renda não ter sido contemplado nos planos vigentes levou a um novo enfoque de tratamento do problema. Essa trajetória ainda não totalmente realizada procura integrar os assentamentos precários à dinâmica da cidade. A visão de que a propriedade urbana deve cumprir uma função social foi contemplada na Constituição de 1988, o que viabilizou uma série de instrumentos jurídicos que permitiram novas ações sobre a problemática dos assentamentos precários. (IPARDES, 2009, p. 21)

A intervenção pública municipal no setor de habitação acontece por meio de

dois órgãos o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba que faz

levantamento e analisa as necessidades habitacionais da cidade; e a Companhia de

Habitação Popular de Curitiba-COHAB-CT.

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A COHAB-CT de Curitiba foi criada pela Lei Municipal nº 1545 de 29 de abril

de 1965 para iniciar o processo de atender as necessidades de moradia da

crescente população da cidade, esta instituição é uma sociedade anônima de

economia mista, tendo como acionista majoritária a Prefeitura Municipal de Curitiba,

vinculada ao Sistema Financeiro de Habitação e sendo seu objetivo o planejamento,

a execução e a comercialização de unidades habitacionais para famílias de baixa

renda.

As ações da COHAB-CT visavam contribuir para o processo de

desfavelamento. No entanto há um crescimento populacional que não cabe a

COHAB-CT administrar: no começo dos anos 60 haviam 350 mil habitantes na

cidade de Curitiba que despontava como o nono maior aglomerado populacional

brasileiro, em 1970 chega a alcançar mais de 500 mil habitantes, começa a faltar

áreas próprias para habitação. A partir desta data a COHAB-CT passa também a

construir prédios, ao invés de unicamente casas. (Boletim Casa Romário Martins.

COHAB-CT, 2006).

Quando o BNH foi extinto a construção e financiamento de unidades

habitacionais passou por uma crise que atingiu todas as cidades brasileiras. A

citação a seguir mostra que está crise atingiu também a cidade de Curitiba:

A crise que abateu o sistema de financiamento de construção de conjuntos habitacionais para a população de baixa renda fez com que a administração pública mudasse a estratégia para a oferta de lotes urbanizados, com infraestrutura de água, luz, revestimento primário das vias e drenagem, com metragem de 160m² (IPARDES, 2009, p.23)

Conforme relatório do IPARDES as principais ações nesse sentido foram a

formação do Bairro Novo, na região do Sítio Cercado, e o Campo de Santana, no

Tatuquara, que beneficiou 22 mil famílias.

Outra mudança no perfil dos projetos habitacionais da COHAB-CT foi que

esta deixa de ser um órgão que realocava populações presentes em favelas para os

conjuntos habitacionais os quais projetava e construía, e passou a fazer o papel de

instrumento pelo qual as populações de baixa renda poderiam viabilizar a aquisição

de suas moradias, porém as famílias com renda abaixo de três salários mínimos

encontram mais dificuldades em arcar com as despesas de um financiamento.

Assim a COHAB altera seu foco, da resolução pura e simples, em que funcionava como ferramenta de desfavelamento, para a posição de instrumento pelo qual as populações de baixa renda, por iniciativa própria, poderiam viabilizar a aquisição de suas moradias. Tanto as áreas desocupadas dos conjuntos já prontos, como aquelas que passassem a ser

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construídas, passariam a ser disponibilizadas a pleiteantes com renda comprovada, capazes de arcar com as responsabilidades advindas da propriedade de uma casa (Fundação Cultural de Curitiba, 2006, p. 18)

Com a diminuição dos mecanismos de financiamento e subsídio à construção de moradias para a população de baixa renda, ocorreu um encarecimento dos imóveis produzidos pela COHAB-CT, tornando acessível esses imóveis apenas à população com renda acima de três salários mínimos (Apud, IPPUC, 2007)

Todas essas mudanças na política de habitação contribuíram para o

acelerado crescimento dos assentamentos precários em Curitiba, localizados

principalmente às margens da cidade e que se espalharam pela região

metropolitana, na década de 90 algumas medidas foram tomadas para minimizar a

crise da habitação no município.

Curitiba, desde o início da década de 1990, já dispunha de legislação que regulamentava o espaço urbano, a qual posteriormente foi incorporada ao Estatuto da Cidade. (...) A questão do uso do solo urbano tornou-se matéria de diversas leis, o que evidencia a preocupação com a função social da propriedade urbana e sua implementação no planejamento da cidade. No final da década de 1990, o município de Curitiba cria o Grupo de Análise e Avaliação de Loteamento de Interesse Social, com o objetivo de agilizar e definir a aprovação de loteamentos em áreas de ocupação consolidada. (IPARDES, 2009, p 22)

A partir de 2004, o município de Curitiba começa a se preocupar com a

adequação do Plano Diretor ao Estatuto da Cidade então são criados os setores

especiais, programas de regularização de áreas ocupadas já consolidadas, seguindo

os parâmetros para preservação ambiental. “Fruto dessa adequação foi a

elaboração em 2007 do Plano Municipal de Regularização Fundiária em Áreas de

Preservação Permanente, que enfocou o problema a partir da legislação ambiental”

(IPARDES, 2009)

A resposta ao problema das ocupações de áreas públicas e privadas continuou sendo a construção de conjuntos habitacionais, mas também uma política de aprovação de loteamentos. Em 1983, foi iniciado o Programa PROLOCAR – Plano dos Mil Lotes, que assentou a população de assentamentos precários em áreas da administração pública direta e indireta, principalmente da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e da Urbanização de Curitiba S.A. (URBS). Esse programa beneficiou cerca de 1.300 famílias com a entrega do título real de uso. (IPARDES, 2009, p. 23)

A realidade habitacional de Curitiba não fugiu ao padrão de produção do

espaço brasileiro, a periferização e favelização da população de baixa renda são

características que persistem e podem ser observadas em muitos estudos, a lógica

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de urbanização da cidade presente no plano diretor acaba privilegiando interesses

econômicos em detrimento dos interesses sociais2.

3.1 A política de habitação de interesse social no contexto do desenvolvimento

urbano.

O termo habitação de interesse social começou a ser utilizado de forma

constitucional a partir do momento que na constituição federal de 1988 esta

expressão aparece como princípio. No título VII Da ordem econômica financeira,

capitulo II Da Política Urbana, artigo 182 da constituição diz que:

A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.

(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm, acessado em 20 de janeiro de 2014)

Também na Constituição federal, título II Dos direitos e garantias

Fundamentais, capítulo II Dos direitos sociais, artigo 6º encontramos o seguinte

texto:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010) (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm acessado em 20 de Janeiro de 2014)

A habitação desempenha três funções diversas: social, ambiental e

econômica. Como função social, tem de abrigar a família e é um dos fatores do seu

desenvolvimento. Segundo Abiko (1995), a habitação passa a ser o espaço ocupado

antes e após as jornadas de trabalho, acomodando as tarefas primárias de

alimentação, descanso, atividades fisiológicas e convívio social. Assim, entende-se

que a habitação deve atender os princípios básicos de habitabilidade, segurança e

salubridade.

Na função ambiental, a inserção no ambiente urbano é fundamental para

que estejam assegurados os princípios básicos de infraestrutura, saúde, educação,

transportes, trabalho, lazer etc. Além de ser o cenário das tarefas domésticas, a

2 A respeito da lógica de urbanização de Curitiba ler: Oliveira, Dennison de. Curitiba e o mito da cidade modelo/ Dennison de Oliveira. – Curitiba: Ed. Da UFPR, 2000. SOUZA. Nelson Rosário. Planejamento urbano em Curitiba: Saber técnico, classificação odos citadinos e partilha da cidade. Ver. Sociologia e Política, Curitiba, 16, p. 107 a 122, junho de 2001.

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habitação é o espaço no qual muitas vezes ocorrem, em determinadas situações,

atividades de trabalho, como pequenos negócios (ABIKO, 1995).

Já a função econômica identificamos pelo fato de que sua produção oferece

novas oportunidades de geração de emprego e renda, mobiliza vários setores da

economia local e influencia os mercados imobiliários e de bens e serviços.

A habitação é um bem de consumo bastante durável, que como já foi dito,

exerce várias funções importantes na sociedade capitalista e é o único bem ao qual

se agrega valor com o passar do tempo.

O termo habitação de interesse social (HIS) define moradia destinada à

população de baixa renda, mais especificamente àquela camada da população que

tem renda familiar de 0 a 3 salários mínimos. A nomenclatura “interesse social” já

aparecia em muitos programas para a faixa de menor renda do extinto Banco

Nacional de Habitação, porém com o princípio da função social do uso do solo

previsto na constituição federal de 1988, este termo passou a ser utilizado

constitucionalmente.

Podemos dizer que habitação de interesse social é aquela moradia

financiada por meio de programas do governo federal, destinada a parcela da

população que tem baixa renda familiar, portanto não tem condições de pagar o

valor do mercado imobiliário, e pode também relacionar-se a outros aspectos, como

situações de risco, preservação ambiental ou cultural.

Para atender suas funções sociais a habitação deve ser concebida

amplamente, além de garantir abrigo e segurança deve também propiciar acesso as

atividades desenvolvidas no âmbito urbano que atendam às necessidades coletivas

de abastecimento de água, coleta de esgotos, distribuição de energia elétrica,

transporte coletivo, e também, às instalações destinadas às atividades relacionadas

com educação, saúde, lazer, etc. que compreendem as condições de habitabilidade.

É interessante acrescentar a esta ideia de habitação de interesse social a

tese desenvolvida por Henri Lefebvre acerca do direito à cidade, pois este autor diz

que duas questões são urgentes para que a sociedade urbana possa ser

problematizada, as questões da moradia e do habitat, segundo o autor esses dois

problemas foram colocados pelo crescimento econômico e pela produção industrial

com um incremento sem desenvolvimento social. (LEFEBVRE,1969)

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Conforme Henri Lefebvre a realização da sociedade urbana exige uma

planificação orientada para as necessidades sociais, para esta realização é

necessário um programa político de reforma urbana, que na opinião do autor tem um

caráter revolucionário.

Ao discorrer sobre o processo de industrialização e urbanização Henri

Lefebvre diz que a classe operária sofre as consequências da explosão das antigas

cidades, ela é vítima de uma segregação, que se configura em uma estratégia de

classe que os expulsa dos centros urbanos e da própria cidade, portanto uma

integração que não contemple a classe operária não tem sentido, pois assim a

desintegração continuará. Henri Lefebvre afirma que a classe operária é a única

capaz de conferir um caráter social ao planejamento da cidade, dando relevância as

organizações de movimentos sociais. (LEFEBVRE, 1969).

Manuel Castells entende segregação como a expressão da lógica da

produção capitalista no espaço urbano, para ele existe uma classificação da

população em função da posição social que cada pessoa ocupa e o local de moradia

está relacionada a esta classificação.

A distribuição dos locais residenciais segue as leis gerais da distribuição dos produtos e, por conseguinte, opera os reagrupamentos em função da capa-cidade social dos indivíduos, isto é, no sistema capitalista, em função de suas rendas, de seus status profissionais, de nível de instrução, de filiação étnica, da fase do ciclo de vida, etc. (CASTELLS, 1983, p.210).

Para Henri Lefebvre a segregação acontece de três formas diferentes, que

podem ocorrer simultaneamente ou não, uma delas acontece de forma espontânea,

quando por conta da renda ou de ideologia uma pessoa passa a morar em

determinado local, outra de forma voluntária, quando existe uma vontade por parte

das pessoas em situar espaços separados e a outra é quando a segregação

acontece de forma programada, planejada com uma intenção especifica.

Segundo Henri Lefebvre à sociedade capitalista incide a miséria do habitat,

da qual todas as classes sofrem, em meio esta situação o autor ressalta que alguns

direitos abrem caminho, o direito ao trabalho, à educação, à saúde, à habitação, aos

lazeres à vida (LEFEBVRE, 1969), conhecidos como direitos sociais3.

3 Conforme T. H. Marshall, o direito civil “é composto por elementos necessários a liberdade individual- liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, o direito à propriedade e de concluir contratos válidos. (...) O direito político diz respeito ao direito de participar do exercício do poder político (...) O social se refere a tudo que vai desde o direito a um mínimo de bem estar econômico e segurança ao direito de participar, por completo, na herança social.” (Marshall, 1967)

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E Henri Lefebvre cria o conceito de direito à cidade que segundo ele é “o

direito à vida urbana, à centralidade renovada, aos locais de encontro e de trocas,

aos ritmos de vida urbana e empregos do tempo que permitem o uso pleno e inteiro

desses momentos e locais”. (LEFEBVRE, 1969,p. 131).

A dificuldade de acesso à terra é fator determinante da carência de habitação

vivida pela população brasileira, os altos preços do solo urbanizado promovem a

segregação populacional por classe de renda. A busca por um aumento do acesso à

terra, principalmente para a habitação, tem como protagonista os movimentos

sociais.

A luta popular por acesso à habitação de qualidade vem deixando marcas

expressivas no caminho que a política habitacional brasileira vem tomando,

principalmente a partir da década de 1970, a aprovação da Lei 10.257/2001 é um

dos resultados desta ação.

No entanto o que se verifica na realidade do processo de produção do

espaço urbano brasileiro é que historicamente a periferização da população com

menor renda prevalece e que o índice do déficit habitacional do país teve baixa

redução como mostra a nota técnica elaborada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada) a partir da PNAD 2007-2012 coletada pelo IBEGE:

Entre os anos de 2007 e 2012 (Tabela 1), houve redução sistemática do indicador do déficit habitacional, que passou de 5,59 milhões de domicílios em 2007 para 5,24 milhões de domicílios em 2012. Esta redução ocorreu ao mesmo tempo em que houve incremento do número total de domicílios. (Ipea. Estimativas do Déficit Habitacional brasileiro (PNAD 2007-2012).

A partir da citação acima podemos ver que num período de cinco anos a

redução no déficit habitacional foi de apenas 0,35 percentual, ou seja a redução não

chega a um por cento do total de domicílios que se encontram em situação de déficit

habitacional no Brasil. Na Região Metropolitana de Curitiba o déficit habitacional

também é bastante alto e teve pequena diminuição ainda que tenha sofrido redução

maior que a do país apresentando queda de 1,6 % comparando –se os anos de

2007 e 2012

Diante desta problemática urbana, o governo federal vem desenvolvendo uma

política de habitação de interesse social para ser implementada através das

municipalidades. Neste contexto é colocado para os municípios alguns

condicionantes para a adesão ao sistema nacional de habitação conforme texto de

VASCOCELOS (2013):

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Para ter acesso ao sistema os municípios se comprometem a partir de um termo de adesão a cumprir com alguns condicionantes, a saber: a) elaborar o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS), b) criar o Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social (FMHIS) de natureza contábil e específica para habitação de interesse social e c) criar o Conselho Gestor com representação dos segmentos da sociedade o qual tem a competência de gerir o fundo e elaborar o plano local. (VASCONCELOS. 2013, p.8).

O Município de Curitiba fez sua adesão ao SNHIS em 2007e elaborou seu

plano local intitulado Plano Municipal de Habitação de Interesse Social que será

analisado no próximo capítulo no ano de 2008.

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Capitulo IV - O PLHIS de Curitiba: análises e perspectivas

O Plano Municipal de Habitação de Interesse Social elaborado em 2008 foi

estruturado a partir de um diagnóstico que traz características regionais, geográficas,

em relação ao relevo, ao meio ambiente, e características sociais ligadas à

habitação, aos condicionantes legais e normativos e ao déficit habitacional de

Curitiba.

O PMHIS apresenta quais são as necessidades habitacionais da cidade,

simula quais as necessidades habitacionais para atendimento das demandas

detectadas, faz um levantamento das disponibilidades de terra no município para a

produção habitacional, expõe quais são os recursos investidos em habitação de

interesse social no município e as linhas programáticas de ação a partir deste estudo

sobre a cidade.

O principal meio de recursos financeiros para a política de habitação de

interesse social em Curitiba é o Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social

que reúne recursos repassados do Governo Federal através do SNHIS aos Estados,

Municípios e Distrito Federal. (PMHIS, 2008).

A COHAB-CT é uma empresa de economia mista, criada na década de 60,

inicialmente para executar política de habitação no conjunto metropolitano de

Curitiba, entretanto, sua atuação restringiu-se apenas ao município de Curitiba,

portanto, a COHAB-CT desde de seu início esteve vinculada a cidade de Curitiba,

concentrando os recursos da PNH nesta cidade. Conforme texto a seguir:

A COHAB-CURITIBA apesar de suas atribuições como empresa de economia mista, sempre foi vista interna e externamente como o braço executor da Política de Habitação de Interesse Social do Município de Curitiba, desenvolvendo dentro da Administração Pública um papel relevante na prestação de serviços, essencial à comunidade, representando ela própria o Poder Público Municipal, e para todos os efeitos, sempre foi considerada parte integrante da própria Administração Pública Direta do município, com status de secretaria, separada do corpo mãe por uma divisão meramente operacional. (PMHIS, 2008, p.130 e 131)

Desta forma a COHAB-CT estava habilitada a captar os recursos para

regularização fundiária, urbanização e para construção de novas unidades

habitacionais destinadas aos inscritos em seu cadastro, mas no contexto atual da

política de habitação estabelecido pelo governo federal esta forma de atuação não

se sustenta, pois, como foi dito o repasse deve ser feito ao município o qual deve

eleger uma secretária para exercer o papel de gestão estratégica da política

habitacional, porém conforme o PMHIS nenhuma secretária municipal está apta a

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essa missão, então a COHAB-CT assume a função de executar a Política Municipal

de Habitação de Interesse Social. (PMHIS, 2008)

A lei 12816 de 01 de Julho de 2008 institui o FMHIS que é regulamentado

pelo decreto nº 1.094/2008 que diz que a finalidade do FMHIS é apoiar e suportar

financeiramente o Programa Municipal de Habitação de Interesse Social, este fundo

funciona vinculado à Secretaria de Obras Públicas e a gestão de seus recursos é

orientada pelo conselho gestor que tem caráter deliberativo e é composto de forma

paritária pela Secretaria Municipal de Obras Públicas, Secretaria Municipal de

finanças, COHAB, IPPUC, Câmara Municipal, setor privado da construção civil e

dois representantes dos movimentos populares.

Os representantes do poder executivo são indicados por seus respectivos

órgãos, os do setor privado da construção civil pelo Sindicato da Construção Civil do

Paraná (SINDUSCON/PR) e os representantes dos movimentos populares eleitos

pelas entidades populares ligadas às questões habitacionais. (PREFEITURA

MUNICIPAL DE CURITIBA, 2008).

O conselho gestor tem caráter deliberativo, ou seja, com base em

diagnóstico das necessidades habitacionais do município o conselho deve ponderar

e decidir as normas para o funcionamento da política de habitação de interesse

social. São competências do Conselho Gestor:

Fixar diretrizes e prioridades na alocação de recursos do FMHIS; aprovar os projetos de alocação de recursos do FMHIS; estabelecer política de subsídios para acesso à moradia, definir critérios para concessão dos benefícios; definir condições de empréstimo e financiamentos; acompanhar, controlar, avaliar e auditar a execução dos programas habitacionais; dirimir dúvidas quanto à aplicação das normas regulamentares; aprovar as contas do FMHIS; propor audiências públicas; fixar a remuneração do agente executor do FMHIS; elaborar o regimento interno. (Prefeitura de Curitiba, 2008) Conforme a lei 12816/2008 à COHAB compete exercer gestão operacional do FMHIS e proporcionar condições para o funcionamento do conselho gestor, fornecendo suporte técnico, administrativo, recursos humanos e financeiros correspondentes. (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2008)

A COHAB–CT é responsável pela coordenação e execução das atividades

deliberadas pelo conselho, além de organizar proposta orçamentária e a

contabilidade do FMHIS4; executar os programas e ações presentes no PMHIS;

4 “Compõem os recursos do FMHIS: capital orçamentário próprio; outros fundos ou programas que

vierem a ser incorporados ao FMHIS; captação de recursos estaduais, federais ou internacionais; prestações de mutuários; venda de imóveis do seu patrimônio; venda ou transferência de potencial construtivo; bens imóveis recebidos pelo município, através de dação em pagamento ou doação;

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velar pela efetividade da aplicação dos recursos captados e comercializar as

unidades habitacionais produzidas.

4.1- Diagnóstico do déficit habitacional utilizado no PMHIS para planejamento

da produção de HIS.

O PMHIS busca “dimensionar e delimitar espacialmente as carências

habitacionais da cidade de Curitiba”. (PMHIS, 2008). Para tanto faz uma síntese da

evolução das necessidades habitacionais no Brasil e regiões metropolitanas entre

1991 e 2005, com base nos estudos da Fundação João Pinheiro-FJP sobre o déficit

habitacional brasileiro, e situa o déficit habitacional de Curitiba, baseando-se em

dados preconizados em estudos de institutos de pesquisa e órgão públicos

municipais. Os dados apresentados seguir referem-se ao Município de Curitiba.

A análise da situação habitacional de Curitiba presente no PMHIS se baseia

no conceito de necessidades habitacionais elaborado pela Fundação João Pinheiro-

FJP que trabalha com dois segmentos: o déficit habitacional e a inadequação da

habitação5.

A metodologia adotada no PMHIS entende que o déficit quantitativo

corresponde à necessidade de reposição total de unidades habitacionais precárias e

ao atendimento da demanda sem provisão pelas condições atuais do mercado

habitacional,esta demanda é representada pelos inscritos na COHAB-CT6, que

quando o PMHIS foi escrito tinha 57.754 inscritos. (PMHIS, 2008).

doações de pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado e organismos de cooperação

nacionais ou internacionais. [...]Estes recursos devem ser aplicados na aquisição, construção,

melhoria reforma e locação social, regularização fundiária, produção de lotes urbanizados, implantação de saneamento básico, infraestrutura e equipamentos urbanos, aquisição de materiais para construção, ampliação e reforma de moradias, recuperação ou produção de imóveis em áreas deterioradas, aquisição de terrenos, realização de estudos e pesquisas, capacitação dos beneficiários e agentes promotores, contratação de assistência técnica, concessão de subsídios e custear a cessão não onerosa por tempo determinado” (BRASIL, 2008). 5Como déficit habitacional entende-se a noção mais imediata e intuitiva de necessidade de construção de novas moradias para a solução de problemas sociais e específicos de habitação detectados em certo momento. A inadequação de moradias, por outro lado, reflete problemas na qualidade de vida dos moradores: não está relacionada ao dimensionamento do estoque de habitações e sim às suas especificidades internas. Seu dimensionamento visa ao delineamento de políticas complementares à construção de moradias, voltadas para a melhoria dos domicílios. (Fundação João Pinheiro, 20014) 6 A relação de inscritos na COHAB-CT na faixa 1 (de 0 a 3 salários mínimos) é de 48.571 registros e na faixa 2 (mais de 3 até 5salários mínimos) é de 30.165 registros em julho de 2014. Disponível em http://www.cohabct.com.br/fila/Paginas/Faixa.aspx?f=1.

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A Fundação João Pinheiro que há muitos anos vem elaborando o conceito de

déficit habitacional quantitativo divide este índice em quatro componentes conforme

demonstrados no quadro 01, a seguir.

QUADRO 01. METODOLOGIA DE CÁLCULO DO DEFICIT FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO

ESPECIFICAÇÃO COMPONENTES

Déficit habitacional

(1) Habitações precárias

(1.1) Domicílios Rústicos

(1.2) Domicílios Improvisados

(2) Coabitação familiar

(2.1) Cômodos alugados, cedidos e próprios.

(2.2) Famílias conviventes secundárias com intenção de constituir

domicílio exclusivo

(3) Ônus excessivo com aluguel

(4) Adensamento excessivo de moradores em domicílios

alugados

FONTE: Fundação João Pinheiro, 2014.

Conforme o PMHIS a metodologia adotada para contabilizar o déficit

quantitativo entende que as situações de déficit habitacional, ou habitações

precárias, referem-se aos domicílios que não oferecem as condições básicas de

moradia e se decompõem nos seguintes componentes:

a) Domicílios improvisados - são locais utilizados como moradia tendo sido construídos com outra finalidade, denotando necessidade de novas habitações. Exemplos: caixas de papelão, vãos de pontes, carcaças de veículos; b) Cômodos alugados ou cedidos - famílias que moram em quartos, cômodos alugados ou cedidos, usando de forma comum áreas de acesso e equipamentos sanitários, com ausência de privacidade; c) Famílias conviventes familiar - mais de uma família composta por pelo menos duas pessoas (famílias conviventes secundárias) residindo no mesmo domicílio da família considerada “principal”; d) Domicílios Rústicos - são aqueles predominantemente “construídos” com material improvisado e devem ser repostos (reconstruídos), seja por que não apresentam paredes de alvenaria ou madeira aparelhada, seja por que representam desconforto e riscos físicos, de contaminação por doenças e insalubridade; e) Ônus excessivo com aluguel - consideram-se as famílias com renda familiar até 3 s.m., que comprometem 30% ou mais de sua renda com pagamento de aluguel (utilizado somente na metodologia da FJP, devido à dificuldade de obtenção deste dado, já que o Censo não formulou esta questão). (PMHIS, 2008, p. 146 e 147).

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Com base no estudo do déficit habitacional da FJP apresentado em 2000, o

único que tem as informações a nível dos municípios quando o PMHIS foi escrito, o

número de domicílios particulares permanentes de Curitiba é de 470.964, desses

25.147 se encontram em situação de déficit habitacional o que representa 5,8% do

total de domicílios.

Para saber quantos domicílios devem ser construídos a partir de 2008 o

PMHIS faz uma estimativa do déficit com base em dados encontrados em estudos

feitos a nível local, porem utiliza estudos feitos também em 2000.

Assim como é verificável nos estudos sobre o déficit habitacional do Brasil

organizados pela FJP, a faixa de renda mais atingida por situação de déficit de

habitação, conforme estudos efetuados por Curitiba, é a de 0 a 3 s.m como pode ser

observado nas tabelas, 01 e 02, a seguir. A faixa de 0 a 3 s.m. corresponde a

58,46%, enquanto a faixa de 3 a 5s.m. é representada por 41,54% da população que

reside em domicílios com déficit habitacional.

TABELA 01. DOMICÍLIOS COM DÉFICIT POR CLASSE DE RENDA EM CURITIBA – 2000.

Até1 s.m. >1 até2 s.m. > 2 até 3 s.m. >3 até 5 s.m. > 5 s.m. TOTAL

6.027 5.137 3.538 4.663 5.781 25.146

FONTE: PMHIS, 2008. NOTA: Atlas habitacional do Paraná – IPARDES 2000

TABELA 02. PORCENTAGEM DO DEFICIT POR CLASSE DE RENDA EM CURITIBA- 2000

SALÁRIO QUANTIDADE PERCENTUAL

0 a 3 14.702 58,46%

>3 a 5 10.444 41,54%

TOTAL 25.146 100%

FONTE: A autora com base nos dados do IPARDES 2000

O estudo do IPPUC sobre o déficit habitacional municipal com base em

dados do censo IBGE (2000) desagregou dados referentes a alguns componentes

para os bairros de Curitiba.

Quanto aos domicílios improvisados, isto é, construídos para fins não residenciais e que servem de moradia, estes totalizam 1.018 e abrigam 2.962 habitantes. É o Bairro Cidade Industrial que possui o maior número de domicílios nesta condição - 121 unidades, seguido dos bairros: Tatuquara – 115, Sítio Cercado – 83 e Boqueirão – 51. Nos outros bairros a incidência é menor que 50 e em 9 bairros não há domicílios improvisados (Campo Comprido, Cascatinha, Caximba, Hugo Lange, São João, Seminário, Taboão, Tingui e Vila Izabel). (PMHIS, 2008, p. 154)

Em Curitiba os domicílios particulares permanentes tipo cômodo totalizam 1.132 unidades e 2.418 moradores. Destes 407 são alugados, 381 são

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44

cedidos, e os demais 344 são próprios. (...) Os bairros que possuem o maior número de domicílios tipo cômodo são: Prado Velho – 128, Cajuru – 71, Boqueirão - 69, Uberaba – 69, Sítio Cercado - 65 e Pinheirinho – 62. Ainda existem 255 domicílios nesta condição, em área de aglomerados subnormais: destaca-se 64 cômodos no Prado Velho, 30 no Sítio Cercado, 28 no Pinheirinho e 26 no Parolin. (PMHIS, 2008, p. 156)

Áreas como o Pinheirinho, Boqueirão e Alto Boqueirão, Tatuquara, Cajuru, Guaíra, Abranches e Santa Cândida, todos com ocupação consolidada, apresentam proporções superiores a 7% de famílias sob condições de déficit habitacional. (PMHIS, 2008, p. 154)

Ainda conforme o PMHIS, as famílias conviventes, ou seja, de

características de coabitação, acumulam um total de 44.925 famílias que moram em

21.610 domicílios, com uma média de duas famílias por domicílios, o plano

acrescenta que nem todas as famílias conviventes têm problemas de espaço e

conforto onde moram e, portanto, não pretendem adquirir habitação unifamiliar.

Conforme constata o diagnóstico do PMHIS:

Do total de famílias, 10.269 (23 %) tem renda maior que 5 s.m., o que corresponde a 4.670 domicílios que podem ser retiradas do déficit porque, supostamente, residem em conjunto com a família principal por opção e não por necessidade. Isto se explica porque teoricamente possuem renda suficiente para alugar um imóvel ou conseguir um financiamento para moradia, e aparentemente não tem problemas de conforto ou espaço

insuficiente na moradia.(PMHIS, 2008, p. 156)

Para contagem dos domicílios rústicos foi utilizado a quantificação dos

reassentamentos necessários nas ocupações irregulares que, conforme os estudos

de institutos de pesquisa municipais, são:

domicílios situados em áreas de preservação permanente, sob linhas de alta tensão, faixas não edificáveis ao longo de rodovias e ferrovias, áreas alagadas, barrancos, áreas necessárias para o sistema viário, e aqueles que deverão ser reassentados em função do adensamento excessivo, dados estes mais próximos da realidade (PMHIS, 2008, p. 157).

Conforme o PMHIS de Curitiba essa metodologia permitiu contabilizar

13.136 domicílios localizados total ou parcialmente em Área de Proteção

Permanente-APP ao longo dos rios e 12.369 domicílios em outras condições de

risco como faixa de rodovias, alta tensão, margem de rodovias, etc. Feito este

levantamento pelos diferentes tipos de componentes referentes à precariedade

habitacional o PMHIS elabora uma síntese do déficit do município, conforme

demonstra a tabela 03, a seguir:

TABELA 03- SÍNTESE DO DÉFICIT HABITACIONAL POR TIPO EM CURITIBA-2000

Domicílios Rústicos

Domicílios improvisados

Cômodos alugados ou cedidos

Famílias conviventes familiar

Total

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45

25.505 1.018 1.132 17.696 45.351

FONTE:PMHIS, 2008.

Portanto, diante do diagnóstico apresentado chegou-se a um total de 45.351

domicílios necessários para zerar o déficit quantitativo do Município de Curitiba.

Para ilustrar a situação do déficit no momento de construção do PMHIS

apresenta-se na página a seguir o mapa que mostra a concentração do déficit

habitacional na cidade de Curitiba separado por bairro em 2007, o mapa-01 mostra

as ocupações irregulares em áreas de preservação permanente, mocós,

assentamentos PROLOCAR, ocupações irregulares, domicílios particulares

permanentes do tipo cômodo, domicílios particulares permanentes em aglomerados

subnormais tipo cômodo, domicílios improvisados e famílias conviventes7.

7Conforme o PMHIS“A expressão ocupações irregulares utilizada no município de Curitiba corresponde à nomenclatura Aglomerados Subnormais utilizado pelo IBGE nas tabelas e textos do mesmo. Conforme o Censo 2010 do IBGE “Considerou-se como aglomerado subnormal um conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais (barracos, casas etc) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. “ (IBGE. Censo, 2010) Conforme o PMHIS Assentamentos PROLOCAR são um programa de reassentamentos de famílias invasoras, adotado durante a década de 80 em Curitiba. “Plano dos Mil Lotes para reassentamento das famílias invasoras, estabeleceu critérios para a seleção das áreas e construção dos lotes” (PMRFAPP p.64, 2007). Em pesquisa informal e conversando com minha orientadora chegou-se ao consenso de que mocó, na linguagem popular, é uma moradia ilegal, muito próximo de cortiço, porém com aluguel mais irregular, algo como um cortiço piorado.

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MAPA01- DEFICIT HABITACIONAL EM CURITIBA - 2007

FONTE: Curitiba em Dados, 2014.

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47

Pode-se observar a partir do mapa 01 que na região norte da cidade o

principal componente do déficit habitacional presente é famílias conviventes. Nos

bairros centro, São Francisco, Centro Cívico, alto da Glória, Alto da XV, Cristo Rei,

Jardim Botânico, Rebouças, Água Verde e Batel existem pequenos pontos em

vermelho que ilustram a concentração de mocós, mas a maior concentração deste

tipo de habitação está no bairro Botiatuvinha; no bairro Sitio Cercado é onde há

incidência de todos os componentes do déficit e tipos de ocupação com exceção de

mocó. No Bairro Cajuru há alta concentração de ocupação irregular e ocupação em

área de preservação permanente.

O déficit habitacional total de Curitiba apresentado pelo PMHIS é de 45.351

domicílios particulares permanentes, o IPPUC calculou que deste total 25.505

domicílios devem ser reassentados, número que compreende o total de domicílios

rústicos, os outros 19.846 são denominados, no PMHIS, como remanescentes do

déficit.

4.2- A Instituição das Zonas Especiais de Interesse Social

A legislação de zoneamento, uso e ocupação do solo e de preservação

ambiental instituídas através do poder público têm grande impacto na oferta de terra

para habitação, pois a terra destinada a este fim deve respeitar os parâmetros de

urbanização onde já existe infraestrutura e equipamentos urbanos e, onde não

existe, um percentual da terra deve ser destinada ao sistema viário; às áreas de

lazer e recreação; à construção de equipamentos urbanos como postos de saúde,

creche, escola, etc. e à preservação ambiental.

Conforme o PMHIS a quantidade de terra calculada, para toda a demanda

(reassentamento e remanescentes), por tipo de ocupação é a quantidade bruta, ou

seja contabiliza também a terra que deve ser destinada a infraestrutura e

equipamentos urbanos. “Esse cálculo considera as áreas necessárias para o lote,

sistema viário, equipamento comunitário, recreação e preservação ambiental. ”

(Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, p. 168, 2008).

A escassez de terra para habitação é uma realidade que vem sendo

administrada através de planejamentos de urbanização como Planos Diretores, lei

de zoneamento uso e ocupação do solo, e leis como a 10.257 de 10 de Julho de

2001 que instituiu o Estatuto da Cidade.

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Conforme o PMHIS o plano diretor de Curitiba sofreu uma adequação ao

Estatuto da Cidade através da lei 11.266 de 2004 que determina a criação de seis

planos setoriais para políticas públicas locais, ou municipais, nas áreas do

desenvolvimento social, do transporte e mobilidade, da habitação de interesse

social, da segurança e defesa social, do desenvolvimento econômico e do meio

ambiente, estes setores devem estar previstos na lei de zoneamento e uso do solo

do município. A lei de zoneamento e uso do solo de Curitiba nº 9.800 de 03 de

janeiro de 2000, no seu capitulo III Art.15 estabelece que:

Os setores especiais compreendem áreas para as quais são estabelecidas ordenações especiais de uso e ocupação do solo, condicionadas às suas características locacionais, funcionais ou de ocupação urbanística, já existentes ou projetadas e aos objetivos e diretrizes de ocupação da cidade (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2000).

Na vasta literatura sobre planejamento urbano encontra-se o termo Zonas

Especiais de Interesse Social- ZEIS que conforme Nisimar Martines Pérez Caldas

doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, são um

instrumento jurídico de cunho urbanístico que pode se constituir de duas formas:

“ações de regularização fundiária e urbanística junto aos assentamentos informais” e

“fomentador da produção de novas unidades habitacionais destinadas à população

de baixa renda e do mercado popular” (CALDAS, 2009).

A referência usada por Nisimar Martines Pérez Caldas é o Plano Diretor do

Município de São Paulo elaborado em 2002 que segundo ela é o documento que

introduz o conceito de Zonas Especiais e entre elas as Zonas Especiais de Interesse

Social, mas foi com a experiência de Brasília Teimosa em Recife que, segundo esta

autora, se agregou “subsídio conceitual para a construção do arcabouço normativo

denominado posteriormente de Plano de Regularização das Zonas Especiais de

Interesse Social” (CALDAS, 2009). Conforme diz a autora:

Foi com a proposta e a implementação do Projeto Teimosinho que surgiram as primeiras discussões e conceituações sobre a concepção de um instrumento jurídico de cunho urbanístico idealizado para atender as peculiaridades de ambientes originários da informalidade, que permitisse a adoção de parâmetros urbanísticos distintos do existente zoneamento de uso do solo. Portanto, almejava-se a aplicação de um zoneamento que propiciasse a inclusão dos assentamentos informais à malha urbana (CALDAS, 2009, p.15)

O Plano Estadual de Habitação de Interesse Social (PEHIS) do Estado do

Paraná utiliza o conceito, a saber:

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Definidas como ‘parcela do território de área urbana instituída pelo Plano Diretor ou definida por Lei Municipal, destinada predominantemente à moradia de população de baixa renda e sujeita a regras específicas de parcelamento, uso e ocupação do solo’. (Lei Federal nº 11.977/09, art. 47, inciso V.)

Conforme o artigo 2º da lei 12.450/2007 que institui as Zonas Espaciais de

Interesse Social- ZEIS do Município de Curitiba, as define como:

Para efeito desta lei, consideram-se Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS, as áreas do território municipal, destinadas à recuperação urbanística e ambiental e à regularização fundiária de ocupação irregular já existente para implantação de habitações de interesse social, de equipamentos sociais e culturais, de espaços públicos, serviços e comércio de caráter local. (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2000)

No art. 4º da lei 12.450/2007 diz que as normas de urbanização e

parâmetros de ocupação e uso do solo para os imóveis integrantes das Zonas

Especiais de Interesse Social - ZEIS, serão objeto de projeto de lei de iniciativa do

Poder Executivo, ou seja os parâmetros e normas de urbanização para construção

de HIS nas ZEIS serão estabelecidos pela COHAB-CT que tem função de executar

os programas habitacionais de interesse social.

A Lei 9.800 de 03 de Janeiro de 2000, que estabelece o zoneamento e uso

do solo de Curitiba, denomina as áreas reservadas exclusivamente para habitação

de interesse social de Setor Especial de Habitação de Interesse Social (SEHIS). No

seu Cap. II consta que o território da cidade Curitiba está dividido em Zoneamentos

(Z), que se dividem em 20 tipos, Áreas de Proteção Ambiental (APA) e Setores

Especiais (SE) os quais se dividem em 18 tipos dentre eles o Setor Especial de

Habitação de Interesse Social (SEHIS). Conforme lê-se no Art.15 da Lei 9.800 de 03

de Janeiro de 2000:

SEHIS compreendem as áreas onde há interesse público em ordenar a ocupação por meio de urbanização e regularização fundiária, em implantar ou complementar programas habitacionais de interesse social, e que se sujeitam a critérios especiais de parcelamento, uso e ocupação do solo. (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2000)

As ZEIS e SEHIS, para o caso de Curitiba, constituem um instrumento de

política urbana criado para que loteamentos clandestinos sejam objetos de

regularização fundiária, para que possam fazer parte da cidade “legal”8, e também

para constituir-se reserva de lotes vagos que serão destinados a construção de

8Expressão usada por Dennisson de Oliveira em: Oliveira, Dennisson de. Curitiba e o mito da cidade modelo/ Denisson de Oliveira. – Curitiba: Ed. Da UFPR, 2000, p. 113 e114.

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Habitações de Interesse Social, visando a diminuição do déficit habitacional da

cidade.

Ao institucionalizar as áreas destinadas para habitação de interesse social, o

poder público cria uma forma de garantir que as habitações construídas nessas

áreas sejam destinadas à população alvo da política de habitação de interesse

social, famílias que se encontram na faixa de interesse social com renda de 0 a 3

salários mínimos ou até R$ 1.600,00.

Em contrapartida o simples fato de ser regularizada encarece a área, a

especulação imobiliária aumenta, faz-se necessário então incentivos para

implantação da Programas de Habitação de Interesse Social. Conforme Art. 2º da

Lei 9802/00, que institui os incentivos para implantação de Programas Habitacionais

de Interesse Social, os incentivos de que trata a lei são:

I - execução de loteamentos de interesse social pela Companhia de Habitação Popular de Curitiba – COHAB-CT em parceria com a iniciativa privada, que consiste em permitir o parcelamento do imóvel em lotes menores que o previsto na Lei de Zoneamento e Uso do Solo;

II - concessão de um aumento no potencial construtivo, assim entendido o aumento no coeficiente de aproveitamento e na altura da edificação. (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2000)

Esses incentivos visam impulsionar a participação da iniciativa privada na

resolução do déficit habitacional, a empreendedora que participa consegue construir

mais habitações por terreno, no caso de conjuntos habitacionais horizontais, pelo

fato do tamanho do lote poder ser reduzido, no caso de conjuntos verticais, o

aumento no coeficiente de aproveitamento e na altura da edificação faz com que o

número de apartamento por conjunto habitacional seja bastante alto, desta forma

mesmo que o valor de cada habitação esteja abaixo do comercializado no mercado

privado a empreendedora consegue ter um bom lucro por causa do número de

unidades que consegue comercializar.

Os incentivos citados anteriormente causam ainda um efeito perverso, uma

densidade muito grande de pessoas morando em conjuntos habitacionais, onde por

conta do aumento do coeficiente de aproveitamento do terreno a ser edificado,

muitas vezes, sobra pouco espaço de área destinada ao lazer para um número alto

de moradores.

4.3- Disponibilidade de terra para produção de habitação de interesse social no

Município de Curitiba conforme o PMHIS

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Para quantificar a disponibilidade de terra disponível para habitação, o

PMHIS fez um levantamento de todos os lotes vagos, no ano de 2007,

independentemente de sua localização, então separou os que tem zoneamento

prioritariamente residencial, chegando à conclusão que muitos lotes não são

edificáveis por se encontrarem em APAs; em APPs9; áreas com declividade acima

da tolerada que segundo a lei de zoneamento deve ser de no máximo 30%; em

linhas de alta tensão; em área reservada para o sistema viário; entre outras

situações.

A partir deste levantamento o PMHIS elaborou uma tabela com as áreas

com lotes vagos, auferindo a quantidade de terra disponível e sua disponibilidade

para destinação de provimento de habitação, conforme a tabela 04, a seguir:

TABELA 04- DISPONIBILIDADE DE TERRAS PARA A PTRODUÇÃO HABITACIONAL NO MUNICÍPIO

ZONA ÁREA TOTAL (m²

ÁREA LIQUIDA (m²)

AREA TOTAL DE LOTES VAGOS (m²)

% DE ÁREA DE LOTES VAGOS SOBRE ÁREA LIQUIDA DA ZONA (m²)

VALOR MÉDIO

(R$/M²)

SEHIS 24.582.644,44 19.138.918 1.651.511,04 8,60% 50,53

SE-OI 10.733.759,30 9.415.875,72 1.073.459,50 11,40% 30,49

ZR2 87.660.761,97 69.429.899,14 10.150.224 14,60% 71,82

ZR3 48.466.657,27 35.359.577,47 3.118.200,68 8,80% 91,28

ZR4 22.955.272,90 16.934.080,34 1.086.030,53 6,40% 196,52

ZR- OC 22.481.568,94 20.780.995,31 3.102.928,01 14,90% 45,61

ZR- U 5.406.952,80 4.316.584,53 952.326,78 21,90% 37,83

SUB TOTAL RESIDENCIAL

222.287.617,62 175.405.900,76 21.134.680,82 12%

APA 67.102.332,09 64.552.329,71 20.166.426,13 31,30% 33,79

OUTRAS ZONAS

144.711.952,81 111.760.137,75 19.139.975,55 17,10% 86,82

TOTAL 434.101.902,52 381.688.369,22 60.441.082,50 17,20%

FONTE:PMHIS, 2008. NOTA: IPPUC/2007. Elaboração: IPPUC 2007.

Conforme os artigos 7º e 15º da lei de zoneamento uso e ocupação do solo

de Curitiba (9.800/00) as zonas que compõem a tabela 04 são: SEHIS- Setor

9O município de Curitiba tem um planejamento para regularização fundiária de loteamentos em APP, o PMRFAPP, que regulariza os lotes que existem nestas zonas e formam ocupações que já estão consolidadas, mas a lei de zoneamento de 2000 impede a criação de novos lotes nestes locais.

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Especial de Habitação de Interesse Social, SE-OI- Setor Especial de Ocupação

Integrada, ZR2- Zona Residencial Dois, ZR3- Zona Residencial Três, ZR4- Zona

Residencial Quatro, ZR-OC- Zona Residencial de Ocupação Controlada, ZR-U Zona

Residencial do Umbará, APA- Área de Preservação Ambiental e outras zonas que

conforme artigo 7º do capítulo II da lei de zoneamento 9800 de 3 de janeiro de 2000

são Zona Residencial Um – ZR-1; Zona Residencial Batel – ZR-B; Zona Residencial

Mercês – ZR-M; Zona Residencial Alto da Glória – ZR-AG; Zona Residencial Santa

Felicidade – ZR-SF e Zona Residencial Passaúna – ZR-P. (Prefeitura Municipal de

Curitiba, 2000).

No parágrafo 1º do Art. 2º da lei 9802/00 dispõe-se que algumas zonas não

admitem loteamentos de interesse social, conforme:

§ 1º. Os loteamentos de interesse social serão admitidos nas zonas e setores definidos na Lei de Zoneamento e Uso do Solo, com exceção de:

I - Áreas de Proteção Ambiental – APAs;

II - Zona Residencial Um – ZR-1;

III - Zona Residencial do Passaúna – ZR-P;

IV - Zona Residencial de Santa Felicidade – ZR-SF;

V - Zonas Industriais – ZI. (Prefeitura Municipal de Curitiba, 2000).

Portanto entende-se que todas as outras zonas do território de Curitiba aptas

à habitação admitem loteamentos de interesse social, porém algumas áreas tem um

valor muito elevado por serem áreas mais próximas a região central da cidade e por

serem mais providas de equipamentos urbanos e infraestrutura.

Os programas de habitação de interesse social visam minimizar os gastos

da edificação das habitações destinadas à faixa da população com menor renda, por

esse motivo os empreendimentos são feitos nas áreas onde o custo do metro

quadrado de lote é mais baixo, conforme a tabela 04 as zonas com custo do metro

quadrado de lote mais baratos são: SEHIS, SE-OI, ZR-OC, ZR-U, essas são

também áreas periféricas da cidade.

Como consta no PMHIS de Curitiba a zona SEHIS compreende área

insuficiente para atender a população de 0 a 5 salários mínimos, que segundo este

mesmo documento é a faixa de renda que compõe a demanda prioritária do déficit

habitacional. Neste sentido, se faz mister o uso de áreas localizadas em outros

zoneamentos da cidade (PMHIS Curitiba, p. 173 2008).

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Observando a tabela 04 verifica-se que a zona SEHIS tem pouca área de

lote desocupado, apenas 8,60% dos lotes desta zona estão vagos no ano de 2007 e

aptos para construção de novas HIS, o mapa de lotes vagos e áreas aptas à

habitação, a seguir, permite visualizar a localização das zonas presentes na tabela

04.

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MAPA 02– LOTES VAGOS E ZONEAMENTO EM ÁREAS APTAS Á HABITAÇÃO.

FONTE: Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, 2008

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Visualizando o mapa 2 que faz parte do plano local de habitação de

interesse social de Curitiba, vê-se que os SEHIS, que estão na cor rosa, encontram-

se principalmente nas bordas da cidade, ou seja, em áreas periféricas, onde o custo

da terra tende a ser menor, porém, conforme observa-se na tabela 04, grande parte

desta zona já está ocupada, algumas por ocupações irregulares já consolidadas e

serão alvo de ação de regularização fundiária. Dada a pouca quantidade de terra

disponível para viabilizar a produção de habitação de interesse social, a ocupação

dos lotes de forma vertical acaba sendo incentivada a partir do PMHIS.

Comparando-se o mapa 02 com a tabela 04 vê-se que as zonas ZR3 e ZR4

são áreas mais próximas do centro da cidade e dos eixos estruturais instituídos no

Plano Diretor de 1966 como eixos ao longo dos quais a cidade deveria crescer10, o

custo da terra próxima aos eixos estruturais é alto, pois se tratam de locais onde se

concentram maior oferta de equipamentos urbanos, o PMHIS não descarta estas

áreas, mas prioriza a ocupação em áreas onde o custo da terra é mais baixo.

Conforme lê-se:

Para elaborar uma estimativa de custos para aquisição de terras para o reassentamento foram levantados os valores de terrenos adquiridos pela COHAB- CURITIBA para reassentamento e loteamentos de interesse social praticados em parceria com a iniciativa privada. Cabe destacar que essas áreas estão situadas na periferia da cidade onde os imóveis apresentam um valor mais baixo. Portanto nas ocupações situadas em bairros mais próximos a área central esses valores deverão ser majorados. (PMHIS, Anexo III, 2008, p. 6).

O déficit habitacional de Curitiba utilizado pelo PMHIS para cálculo da

demanda por terra e custos da habitação de interesse social no município foi o

estimado pelo IPPUC com base nos dados do IBGE e dados municipais referentes

ao ano de 2000 que soma um total de 45.351 domicílios em déficit.

Conforme a demanda total por terra apresentada no PMHIS para o

atendimento do déficit habitacional de Curitiba incluindo o reassentamento das

ocupações irregulares corresponde a:

Para a resolução dos passivos habitacionais referentes ao déficit habitacional somente em Curitiba, aí incluído os reassentamentos das áreas de ocupação irregular, serão necessários, para o padrão horizontal 14.615.720,28 m² de área bruta de terreno, para o padrão misto,

10Sobre a indução do crescimento da cidade de Curitiba ao longo dos eixos estruturais ler: OLIVEIRA, Dennison de. O mito da cidade modelo / Dennison de Oliveira. – Curitiba: Ed. Da UFPR, 2000; SOUZA. Nelson Rosário. Planejamento urbano em Curitiba: Saber técnico, classificação dos citadinos e partilha da cidade. Ver. Sociologia e Política, Curitiba, 16, p. 107 a 122, junho de 2001.

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8.836.415,60 m² e para o padrão vertical 3.057.110,91 m²(PMHIS, 2008,p. 170).

O custo da terra para atender à demanda calculada a partir do déficit

habitacional de Curitiba será apresentado a seguir:

TABELA 05- CUSTO DA AQUISIÇÃO DA TERRA PARA ATENDER A DEMANDA DO DÉFICIT HABITACIONAL EM CURITIBA

TIPO DE OCUPAÇÃO DEMANDA POR TERRA (m²) CUSTO DA TERRA (R$)

Horizontal 14.615.720,28 m² 438.471.608,40

Mista 8.836.415,60 m² 265.092.246,80

Vertical 3.057.110,91 m² 91.713.327,30

TOTAL 26.509.246,79 m² 795.277.180,50

FONTE: A autora com base em dados presentes no PMHIS.

O custo das edificações varia conforme o padrão arquitetônico adotado para

construção das unidades habitacionais, a seguir, na tabela 06 está o custo para a

edificação das unidades habitacionais necessárias para atendimento total do déficit

habitacional por padrão arquitetônico:

TABELA 06- CUSTO DA EDIFICAÇÃO POR PADRÃO ARQUITETÔNICO

PADRÕES ARQUITETÔNICOS QUANTIDADE (Nº unidades) CUSTO (R$)

Casa 27m² 45.351 544.212.000,00

Casa 33m² 45.351 680.285.000,00

Sobrado 51m² 45.351 1.179.126.000,00

Apto – 50m² 45.351 1.541.934.000,00

TOTAL 45.351 3.945.557.000,00 FONTE: A autora com base em dados presentes no PMHIS 2008.

É possível perceber nos orçamentos que o gasto com apartamento é o mais

alto, por outro lado a área necessária para ocupação vertical é muito menor que a

necessária para a ocupação horizontal e consequentemente a despesa para sua

aquisição é menor, mesmo assim juntando o custo da unidade habitacional tipo casa

com área de 33m², que é o padrão maior de casa, com o custo da aquisição da terra

para ocupação horizontal o valor final (R$ 1.118.756.608,00) ainda é menor que a

soma entre o custo da habitação tipo apartamento e da aquisição da terra para

ocupação vertical (R$ 1.633.647.327,00).

Escassez de oferta de terras em áreas urbanizadas se coloca como um dos

principais entraves na execução da política de habitação de interesse social, neste

sentido, sentiu-se a necessidade de criar instrumentos de promoção do acesso da

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população de baixa renda a habitação e que garantam o exercício da função social

da propriedade conforme preconizado no Estatuto da Cidade.

A partir do diagnóstico do déficit e da constatação de que há pouca terra

disponível para produção de HIS nas SEHIS, o PMHIS situa algumas linhas de ação

para planejar a produção de habitação a curto, médio e longo prazo entre elas as

linhas que serão abordadas no item a seguir.

4.4- Balanço do cumprimento das linhas de ação a curto prazo.

O PMHIS não diz diretamente quantas unidades habitacionais devem ser

construídas nos anos seguintes a sua edição, o que ele faz é apresentar um déficit

habitacional, calcular os custos necessários para atender o número domicílios em

situação de déficit e estabelece algumas linhas de ação para que se consiga

diminuir o déficit habitacional de Curitiba.

As duas linhas de planejamento para ação a curto prazo as quais esta

pesquisa se interessa são: ampliar a produção de habitação no município e priorizar

a Implantação de habitação de interesse social em áreas dotadas de infraestrutura.

Com base no PLHIS de Curitiba temos que a produção habitacional do setor

público do município executada pela COHAB-CT está voltada para a regularização

fundiária, ao atendimento dos reassentamentos e aos inscritos em seu cadastro para

a aquisição da casa própria. Conforme a assessoria de comunicação da COHAB-CT.

o governo federal sempre foi a principal fonte de financiamento para habitação popular em todo o país. A moradia é um produto caro e, para que as famílias possam ter acesso a ela, é preciso ter um recurso para financiamento de longo prazo e com juros baixos. Este dinheiro vem do FGTS. Atualmente, o governo federal concentra todos os recursos do FGTS num único programa, que é o Minha Casa, Minha Vida. O município é parceiro nos projetos, participando com a concessão de isenção fiscal (para reduzir custos de produção) e complementação da infraestrutura. (Célia Raquel Gomes, assessora de comunicação da COHAB-CT)

A Política Nacional de Habitação a partir de 2009 insere o Programa Minha

Casa Minha Vida que desde então é o principal programa por meio do qual as novas

habitações vêm sendo construídas, conforme consta no site do Ministério das

Cidades este programa tem como objetivo promover a produção ou aquisição de

novas unidades habitacionais, ou a requalificação de imóveis urbanos, para famílias

com renda mensal de até R$ 5.000,00.

Conforme o site da COHAB-CT em Curitiba o PMCMV divide as famílias a

serem atendidas por faixa de renda, à faixa 1 corresponde as famílias com renda de

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até R$ 1.600,00, à faixa 2 corresponde as famílias com renda entre R$ 1.601,00 e

R$ 3.275,00, estas duas faixas correspondem ao que se entende no município como

faixa de interesse social.

O PMHIS diz que a faixa de interesse social equivale a renda situada entre 0

e 5 salários mínimos, mas o plano foi escrito em 2008 e de lá para cá o salário

mínimo sofreu vários ajustes por este motivo, no momento, a política de habitação

de Interesse Social adota como faixa de interesse social as faixas 1 e 2 citadas

acima.

Os critérios para atendimento das famílias se diferenciam de acordo com a

faixa de renda, famílias da faixa 1 passam por uma seleção que segue critérios

nacionais e municipais. Os critérios nacionais, instituídos pelo Ministério das

Cidades, são: famílias desabrigadas de áreas de risco ou insalubridade; famílias

onde a mulher é responsável pelo domicílio; famílias que têm entre seus integrantes

pessoa com deficiência.

Para fixar critérios municipais para selecionar as famílias que devem ser

atendidas na faixa 1 o Conselho da Cidade de Curitiba (Concitiba) através da

resolução 19/2012 estabelece que para seleção devem ser acatados os critérios

federais como pré-requisitos para o atendimento no PMCMV e define outras

condições a serem exigidas no município, são elas:

famílias atendidas pela rede de proteção social da Prefeitura em situação de vulnerabilidade habitacional; · famílias residentes em imóveis alugados; · famílias com pelo menos um dependente menor de 18 anos. (http://www.cohabct.com.br/conteudo.aspx?conteudo=245).

Famílias cadastradas na faixa 2 são convocadas conforme a ordem de

inscrição no cadastro da COHAB-CT, começando pelos inscritos mais antigos. A

produção da COHAB-CT que será apresentada a seguir compreende a faixa 1 e 2.

Os dados concedidos pela COHAB-CT referentes aos empreendimentos

repassados a população com baixa renda nos mostram as quantidades de unidades

habitacionais repassadas a famílias inscritas em seu cadastro a cada ano em bairros

de Curitiba e por tipo de unidade, que se diferenciam em casa, apartamento e lote. A

partir do recorte temporal desta pesquisa foi elaborada a tabela a seguir mostrando

a quantidade de unidades habitacionais construídas a cada ano por tipo de unidade.

TABELA07- PRODUÇÃO REALIZADA PELA COHAB-CURITIBA POR TIPOLOGIAS HABITACIONAIS NO PERÍODO DE 2008 A 2012.

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ANO APARTAMENTO CASA LOTE TOAL

2008 1.129 193 40 1.362

2009 924 787 229 1.940

2010 828 2.271 0 3.099

2011 936 715 0 1.651

1012 840 1.175 0 2.015

TOTAL 4.657 5.141 269 10.067

FONTE: A autora com base no histórico de empreendimentos concluídos pela COHAB-CT no período de 1967 a 2013. (12/04/2014)

A partir da tabela 07 foi construído o gráfico a seguir, onde é possível

visualizar melhor o aumento ou a diminuição da produção de cada tipo de unidade:

GRAFICO 01-OSCILAÇÃO DA PRODUÇÃO DA COAHAB-CT ENTRE 2008 E 2012.

FONTE:A autora com base no histórico de empreendimentos concluídos pela COHAB-CT (12/04/2014)

É possível visualizar no gráfico que a produção de casas praticamente

triplicou de 2009 a 2010, mas que de 2010 a 2011 teve grande queda voltando a

uma produção menor que a de 2009, voltando a ter crescimento para 2012 com

aumento que representou 39,15% da produção do ano anterior, no entanto, de modo

geral, houve aumento da produção de casa, assim como de apartamentos, no

decorrer do período de 2008 a 2012.

Quanto aos lotes, estes apresentaram uma considerável queda a partir de

2009 e em 2010 já não eram mais produzidos, a assessoria de comunicação da

COHAB-CT explicou que após a implantação do PMCMV os lotes deixaram de ser

produzidos e passou-se a produzir somente habitações.

0

500

1000

1500

2000

2500

2008 2009 2010 2011 2012

Casa Lote Apartamento

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O histórico de produção da COHAB-CT traz dados desde 1967, então para

comparação, com o intuito de verificar se houve aumento da produção de habitação

(apartamentos e casas) a partir de 2008 fez-se a soma das habitações produzidas

no período de 5 anos anteriores ao intervalo de tempo ao qual esta pesquisa se

refere, ou seja, de 2003 a 2007, somente para comparação. Entre 2003 e 2007

foram construídos 2.900 apartamentos e 1.188 casas totalizando 4.088 habitações,

comparando-se este número com a produção ocasionada no recorte temporal desta

pesquisa (2008 a 2012) demonstrada na tabela 07, a qual soma 9.798 habitações

entre casas e apartamentos, entende-se que houve um considerável aumento da

produção de habitações no Município de Curitiba.

Fazendo um levantamento da localização das unidades habitacionais

produzidas pelas COHAB-CT encontrou-se as localidades a seguir, com informação

da faixa de renda. Elencados na tabela 08:

TABELA08- HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL CONSTRUIDAS A PARTIR DE 2009.

Residenciais Nº de unidades Bairros Destinação

São Francisco 48 Sítio Cercado Faixa 1

Santa Mônica 48 Sítio Cercado Faixa 1

Caiobá 112 Sítio Cercado Faixa 1

Vila Mariana 224 Tatuquara Faixa 1

Boa Esperança I 202 Tatuquara Faixa 1

Boa Esperança II 213 Tatuquara Faixa 1

Boa Esperança III 312 Tatuquara Faixa 1

Cerâmica 194 Tatuquara Faixa 1

Parque Iguaçu 1, 2 e 3 1.411 Ganchinho Faixa 1

Novo Bairro 1, 2, 3 e 4 313 Ganchinho Faixa 1

Buriti 96 Ganchinho Faixa 1

Aroeira IV, V e VI 288 Santa Cândida Faixa 1

Imbuia II e III 192 Santa Cândida Faixa 1

Rio Negro 32 CIC Faixa 2

Araucária 80 CIC Faixa 2

Cerro Azul 288 CIC Faixa 2

Morretes 48 CIC Faixa 2

Ilha do Mel 288 CIC Faixa 2

Antonina 160 CIC Faixa 2

Serra Azul 96 Alto Boqueirão Faixa 2

Ilha dos Pinheiros 216 Cachoeira Faixa 2

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Palmas de Ouro 1 e 2 560 Cachoeira Faixa 2

Floresta 192 Santa Cândida Faixa 2

Araçá 224 Ganchinho Faixa 2

Ipê 416 Ganchinho Faixa 2

Novo Bairro 5 336 Ganchinho Faixa 2

Laguna II 40 Tatuquara Faixa 2

Cidade de Pavia 256 Campo de Santana Faixa 2

Cidade de Broni 512 Campo de Santana Faixa 2

Cidade de Novara 208 Campo de Santana Faixa 2

Total entregue 7.605 unidades

FONTE: COHAB-CT, 2014.

A tabela 08 apresenta uma diferença de resultados em relação a tabela 07,

isso se explica pelo fato de a tabela 08 somar somente habitações (casa e

apartamento) excluindo as que foram construídas em 2008, já a tabela 07 soma toda

a produção da COHAB (casa, apartamento e lote) para o período de 2008 a 2012.

Analisando a tabela 08 e comparando-se ao mapa 03 a seguir pode-se

perceber que os conjuntos habitacionais construídos a partir de 2009 se encontram

em bairros onde se concentravam os focos de déficit habitacional apresentados pelo

PMHIS referentes ao ano de 2000, estes bairros são considerados bairros periféricos

por sua distância a região central da cidade. Em alguns casos os empreendimentos

são construídos na divisa de Curitiba com os municípios da região metropolitana,

mostrando uma tendência de expulsão da população com menor renda para fora da

cidade.

Dentre os empreendimentos presentes na tabela 08 existem alguns que

apesar de terem sido ocupados, pelas famílias sorteadas, no ano de 2013 foram

produzidos até 2012,como os residenciais Aroeira IV, V, VI; Imbuia II e III e Parque

Iguaçu I, II, III.

Os residenciais Aroeira e Imbuia reúnem 11 conjuntos habitacionais, os

citados no parágrafo anterior já foram entregues e os Aroeira I, II e III e Imbuia I, IV e

V estão em andamento de sorteio das famílias e devem ser entregues até o final

deste mês. Juntos os conjuntos habitacionais Aroeira e Imbuia, os já entregues e os

que estão em andamento, somam 1.000 unidades habitacionais, os residenciais

Parque Iguaçu I, II e III, como consta na tabela 07, somam 1.411 unidades

habitacionais, estes empreendimentos reúnem um número grande de habitações

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(2.411), 31,70% do total de unidades entregues presentes na tabela 08, por este

motivo foram escolhidos para a verificação da ação: priorizar a Implantação de

habitação de interesse social em áreas dotadas de infraestrutura. Os conjuntos

habitacionais citados que estão sinalizados no mapa 03 a seguir estão construídos

nas ruas rua Alexandro Glenski, nº 757-Ganchinho e final da rua Paulo Kulik - Santa

Cândida, conforme assessoria da COHAB-CT.

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MAPA 03- LOCALIZAÇÃO DOS RESIDENCIAIS PRODUZIDOS PELA COHAB-CT ENTRE 2011

2012.

FONTE: Elaborado pela Autora,2014.

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Quanto a priorizar a implantação de novas habitações em locais providos de

infraestrutura, o próprio PMHIS quando faz o cálculo para construção de novas

unidades habitacionais também calcula o custo da provisão de infraestrutura básica

(rede de abastecimento de água, rede de esgoto, rede de energia elétrica, drenagem

e revestimento primário) e para construção de alguns equipamentos urbanos,

principalmente os de educação e saúde, o que leva a crer que muitas das novas

habitações são construídas em áreas onde não há infraestrutura prévia. A seguir o

mapa 04 mostra onde estão localizados os equipamentos urbanos de educação na

cidade de Curitiba em 2007.

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MAPA 04 – EQUIPAMENTOS DE EDUCAÇÃO

FONTE: PMHIS, 2008.

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Comparando os mapas 03 e 04 percebe-se que os residenciais construídos

pela COHAB-CT se encontram bastante próximos aos limites territoriais da cidade,

entretanto os equipamentos de educação não chagam tão próximos a estes

conjuntos.

A pesquisa encontrou, na divulgação do site da COHAB-CT, que no projeto

de construção dos residenciais Aroeira e Imbuia estão previstos a construção de

duas creches e uma escola nas proximidades dos conjuntos. Ao entrar em contato

com a assessoria de comunicação da COHAB-CT esta informação foi confirmada,

porém a construção de tais equipamentos ainda não foi iniciada e a prefeitura de

Curitiba está disponibilizando um ônibus para que as crianças possam ir à escola

mais próxima.

A produção de habitação destinada a população com menor renda, aumentou

no período estabelecido no PMHIS como de curto prazo, porém a priorização da

produção destas habitações em regiões provida de infraestrutura ainda não pode ser

confirmada.

O estudo de déficit habitacional mais recente que contém dados por

município foi divulgado pela Fundação João Pinheiro em novembro de

2013.Conforme o documento: Déficit Habitacional Municipal no Brasil organizado

pela FJP, baseado no Censo demográfico de 2010 tem-se que no Paraná o déficit

habitacional urbano em números absolutos é 253.589 domicílios o que representa

8,9% do total de domicílios particulares permanentes-DPP do estado, em Curitiba

este indicador passa para 49.164 em números absolutos e 8,5% relativamente ao

total de DPP da cidade.

Comparando-se o déficit habitacional de Curitiba utilizado no PMHIS que foi

de 45.351 domicílios precários com o estimado no estudo da FJP referente ao ano

de 2010que contabilizou 49.164 domicílios em situação de déficit habitacional,

percebemos que houve aumento no déficit habitacional curitibano.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Plano Municipal de Habitação de Interesse Social de Curitiba, foi escrito em

2008 e tem um período total de 12 anos para ser totalmente executado, porém seu

planejamento se baseia em um déficit habitacional que pode ser considerado

obsoleto para o momento em que o plano foi escrito, o município de Curitiba, no

momento em que o plano foi escrito, tinha meios suficiente para atualizar os dados

do déficit para o ano em que o plano estava sendo elaborado e fazer os cálculos

referentes a provisão de habitação na cidade de forma mais responsável.

Conforme documento do PlanHab uma de suas estratégias é, através de

estudos feitos pelos municípios, dimensionar a terra necessária para a produção de

HIS, o PMHIS faz este cálculo, porém apoiado no índice do déficit habitacional de

2000 o que faz com que o cálculo da demanda por terra e dos valores necessários

para zerar o percentual de déficit habitacional, não correspondam à realidade do

momento em que o planejamento foi feito.

Para dimensionar a quantidade de terra necessária para provisão de HIS de

maneira responsável com a forma com que a PNH vem se configurando nas últimas

décadas faz-se necessário uma quantificação das necessidades habitacionais mais

segura, não basta apenas situar o déficit, como aconteceu no PMHIS, como pode

ser observado a seguir:

Deve-se, portanto, encarar o resultado aqui apresentado como uma aproximação, já que não se trata de chegar a um número absoluto, mas sim situar o déficit num determinado intervalo numérico. (Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, 2008, p.146).

O PlanHab tem como um de seus objetivos garantir acesso à terra urbanizada,

legalizada e bem localizada. Uma das ações de planejamento para curto prazo,

presentes no item linhas programáticas de ação do PMHIS, é priorizar a implantação

de novas habitações em locais providos de infraestrutura, porém os mapas 03 e 04,

ao serem comparados, mostram que muitas habitações vêm sendo construídas em

regiões retiradas, afastadas da oferta de equipamentos urbanos, longe da região

central da cidade, que apesar de não ser o único ponto onde existe concentração e

variedade de comercio e equipamentos públicos e oferta de emprego ainda tem

papel relevante neste sentido.

Ainda que a infraestrutura básica seja instalada juntamente com a habitação

ela sozinha não proporciona uma boa condição de habitabilidade que engloba

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mobilidade, segurança, salubridade e acesso as instalações públicas ligadas a

saúde, educação, assistência social, etc.

A segregação espacial na cidade de Curitiba pode ser pensada, não somente

na relação centro periferia, mas também na relação Curitiba região metropolitana. A

construção de habitações na região metropolitana de Curitiba vem acontecendo com

bastante intensidade por se tratar de locais onde o custo da terra é menor que em

áreas de Curitiba.

A cidade de Curitiba representa o polo da região metropolitana, é uma capital

brasileira, concentra um número maior de recursos e por este motivo, ainda que sua

população seja muito maior que a das outras cidades da RMC, sua capacidade de

proporcionar infraestrutura e condições de habitabilidade aos habitantes é maior,

portanto o fato da população com menor renda, que compram os imóveis mais

baratos, estarem indo para região metropolitana pode significar uma diminuição na

qualidade de vida e nas condições de habitabilidade dessas pessoas.

Esta preferência, defendida no PMHIS, para que unidades habitacionais sejam

construídas em áreas onde o preço da terra, ou do lote, é menor, levanta ainda outra

questão, ela barateia a produção das habitações mas não diminui o lucro dos

empresários que comercializam seus produtos com o mesmo valor do mercado,

apesar de economizarem muito comprando terrenos baratos e utilizando materiais

de menor custo na construção, como bloco ao invés de tijolo. Conforme Rodrigo

Brotero Lefévre (1982) o lucro desses empresários pode ser até maior produzindo

em terrenos baratos que no caso em que produzem uma habitação em uma área

onde o preço da terra é alto.

As famílias de renda baixa, que adquirem os imóveis, conseguem a duras

penas pagar a casa própria porque recebem subsídios por parte do governo federal

e redução de juros de financiamento por conta do compromisso formado entre

governo federal e agente financeiro.

A afirmação, presente no PMHIS, de que as habitações de interesse social são

construídas em áreas periféricas por que são mais baratas confronta com a ideia de

Função social da propriedade e com as diretrizes presentes no Estatuto das Cidades

que indicam que as HIS devem ser construídas em áreas que proporcionem ao

morador mobilidade, segurança, salubridade e acesso as instalações públicas

ligadas a saúde, educação, trabalho, assistência social, etc.

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Em relação a questão do barateamento das habitações pode-se questionar

porque que a produção de apartamentos é priorizada, já que este tipo de edificação

é mais caro que o tipo casa e sobrado? O PMHIS afirma que com a construção de

apartamentos pode-se construir mais unidades habitacionais em um mesmo terreno

onde seriam construídas casas ou sobrados, e isso resolveria a questão da

escassez de terra, porém na tabela 04 a soma da área total, em metros quadrados,

de lotes vagos das áreas residenciais de Curitiba mostra que há disponibilidade

21.134.680,82 m² de lotes vagos, enquanto que a tabela 05 mostra que a demanda

por terra para construção de casas, ou seja, para ocupação horizontal é de

14.615.720,28 m², o que leva a constatar que a quantidade de lotes vagos em área

residencial, em 2007, era mais que suficiente para receber uma ocupação horizontal.

Embora a produção de habitação de interesse social tenha aumentado em

relação aos anos anteriores ao período ao qual esta pesquisa se restringe, o déficit

habitacional de Curitiba apresentado no estudo da FJP em 2010 mostra-se maior

que o exposto no PMHIS referente ao ano de 2000. Deve-se lembrar que a questão

habitacional não pode ser resolvida apenas com o aumento da produção de novas

unidades habitacionais, a qualidade da habitação também deve ser levada em

conta.

Ainda em relação ao aumento da produção de habitação de Interesse social

entre os anos de 2008 e 2012, não é possível saber se existe um número de

unidades habitacionais a serem produzidos, pois o PMHIS não expõe um número

como meta, somente expressa que a produção deve aumentar. A meta final do

PMHIS é que em 2020 o déficit, de 2000, esteja zerado, se pensarmos que entre

2008 e 2012 foram construídas 10.067 habitações e que esta média de produção, a

cada 5 anos, seja mantida, a meta será alcançada, mas não devemos esquecer que

o déficit habitacional de Curitiba aumentou passando de 45.351 domicílios

particulares permanentes em 2000 para 49.164 DPP em 2010.

A habitação de Interesse Social ainda é um desafio, tanto em nível nacional

como estadual e principalmente em nível dos municípios, pois apesar da introdução

da ideia de função social da propriedade na constituição de 1988 e dos avanços

legais observados, como a criação da lei 10.257/01- Estatuto da Cidade e outras

decorrentes desta, o controle da garantia da função social da propriedade ainda é

pouco desenvolvido, não adianta que todas estas leis e condicionantes para fazer

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parte da política de habitação sejam criadas se há pouca fiscalização e

comprometimento em fazer acontecer a função social da propriedade.

Agregar à concepção de habitação de interesse social ao conceito de direito a

cidade é importante para que se construam habitações inseridas à cidade, que

façam parte da sua dinâmica e não à margem dela.

A ideia do direto a cidade tem sido bastante utilizada, inclusive em textos

oficiais como o da Política Nacional de Habitação porém a constatação de que

grandiosos conjuntos habitacionais destinadas a população de menor renda estão

sendo construídas em regiões onde há pouca infraestrutura e pouca conexão com a

configuração da cidade mostra que as ideias ainda não estão saindo do papel.

A construção de HIS prioritariamente nas bordas da cidade acaba reforçando

características da expansão do espaço urbano iniciada em Curitiba na década de

70, agora de forma legalizada e planejada a periferização da moradia da população

com menor renda perdura e reforça a segregação sócio espacial que, assim como

na maioria das cidades brasileiras, existe em Curitiba.

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