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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁPRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DIRETORIA DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA.
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período: Fevereiro 2014 a Agosto 2015( ) PARCIAL(X) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho): ANÁLISE DE PARÂMETROS DE EXPOSIÇÃO MERCURIAL, INTOXICAÇÃO E SUSCETIBILIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES RIBEIRINHAS DE ITAITUBA (TAPAJÓS) E TUCURUÍ.
Nome do Orientador: Maria Elena Crespo López
Titulação do Orientador: Doutora em Neurociências
Instituto/Núcleo: Instituto de Ciências Biológicas - ICB
Laboratório: Laboratório de Farmacologia Molecular
Título do Plano de Trabalho: SUSCETIBILIDADE GENÉTICA À INTOXICAÇÃO MERCURIAL EM POPULAÇÕES RIBEIRINHAS DO TAPAJÓS
Nome do Bolsista: Ricardo Sousa de Oliveira Paraense
Tipo de Bolsa: (X) PIBIC/ CNPq( ) PIBIC/CNPq – AF( ) PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador( ) PIBIC/UFPA( ) PIBIC/UFPA – AF( ) PIBIC/ INTERIOR( ) PIBIC/PARD( ) PIBIC/PADRC( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ PIAD ( ) PIBIC/PIBIT
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INTRODUÇÃO
1. Mercúrio
O mercúrio é um metal pesado altamente tóxico em sistemas orgânicos humanos e
animais (BAIRD, 1998; NRC, 2001). Dentre as formas de apresentação deste na natureza, o
metilmercúrio (MeHg) é uma das formas mais tóxicas por penetrar as barreiras biológicas como
a barreira hemato-encefálica e a placenta, o que pode acarretar em: retardo mental, paralisia
cerebral, surdez, cegueira, e disartria em indivíduos expostos quando no útero; e em indivíduos
adultos: comprometimento motor, queda de cabelo e de dentes, podendo causar cegueira, e
morte (BAIRD, 1998; NRC, 2001).
O ciclo-biogeoquímico natural do mercúrio inicia-se com a desgaseificação do mercúrio
elementar de solos e superfícies aquáticas, seguindo-se do transporte atmosférico e deposição
de mercúrio inorgânico de volta ao solo e na superfície da água (BAIRD, 1998; NRC, 2001).
Alguns micro-organismos de sistemas aquáticos são responsáveis por transformar esse
mercúrio inorgânico em metilmercúrio, que sofre bioacumulação e biomagnificação na cadeia
alimentar, até chegarem ao homem, através do consumo de peixes contaminados (BAIRD,
1998; NRC, 2001).
2. Mercúrio na Amazônia
Desde a década de 70 a Amazônia, e principalmente a região do rio Tapajós, possui
histórico de atividade garimpeira onde se utiliza a amalgamação com mercúrio na procura por
metais preciosos. Esse é um dos principais fatores que levam ao aumento do mercúrio no
ecossistema aquático na Amazônia (BAIRD, 1998; BERZAS-NEVADO et al., 2010).
Dessa forma, o principal meio de intoxicação das populações ribeirinhas ao
metilmercúrio é a via alimentar, uma vez que a dieta é constituída principalmente por peixes
(PINHEIRO et al., 2008).
Alguns estudos realizados na região do rio Tapajós desmonstraram que a exposição ao
metilmercúrio em populações ribeirinhas, através da análise de amostras de cabelo
(biomarcador de intoxicação por metilmercúrio) está acima do limite de 10 µg/g estabelecido
pela Organização Mundial de Saúde (PINHEIRO et al., 2008; BERZAS-NEVADO et al., 2010),
assim, atualmente estas populações continuam expostas ao mercúrio.
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3. Mercúrio e Apolipoproteína E
A toxicidade do metilmercúrio varia de acordo com três fatores: via de entrada,
quantidade de exposição e suscetibilidade individual (HONG et al., 2012). No que diz respeito à
susceptibilidade, já existem na literatura trabalhos que relacionam esta susceptibilidade à
apolipoproteína E (apoE) (MUTTER et al.,2004; WOJCIK et al., 2006).
Esta apolipoproteína é responsável pelo transporte de lipídios no plasma. No sistema
nervoso central, dentre inúmeras funções já descritas, é responsável pela manutenção e reparo
dos neurônios, e é produzida principalmente por astrócitos e micróglia (PITAS et al., 1987;
NAKAI et al., 1996; WEISGRABER & MAHLEY, 1996).
Os alelos ɛ2, ɛ3 e ɛ4 desta proteína codificam três principais isoformas, apoE2, apoE3 e
apoE4, respectivamente, estes diferem em dois aminoácidos nos resíduos 112 e 158 da
proteína, onde nos humanos são possíveis seis combinações genotípicas (ɛ2/ɛ2, ɛ2/ɛ3, ɛ2/ɛ4,
ɛ3/ɛ3, ɛ3/ɛ4 e ɛ4/ɛ4) (GODFREY et al., 2003; SEET et al., 2004 HARRIS et al., 2006).
Na ApoE4, os aminoácidos de arginina encontrados nessas porções (ambas 112 e 158)
levam a uma conformação diferenciada da proteína que compromete a afinidade desta pelo
seu receptor, o que pode estar relacionado com certas patologias (ZHONG & WEISGRABER ,
2009).
Dentre várias patologias e condições especiais envolvidas com a expressão da ApoE4,
está o aumento do dano causado pela intoxicação por metais pesados, como por exemplo o
metilmercúrio, que pode estar relacionado a diminuição da capacidade natural de “quelar” o
metal, favorecendo a forma livre, levando a intensificação da toxicicidade (GODFREY et al.,
2003; WOJCIK et al., 2006).
Até o presente, não existem trabalhos aplicando teste de suscetibilidade individual nas
populações amazônicas, correlacionando os genótipos da apoE com a intoxicação mercurial.
Assim, torna-se necessário saber a distribuição dos genótipos da apolipoproteina E
presentes nas populações amazônicas e verificar a relação da apoE com os sintomas
autorreferidos da intoxicação da intoxicação mercurial. A partir disso, podemos correlacionar a
presença da apoE4 a um maior dano nas populações amazônicas que estão expostas ao
mercúrio.
Ainda, pretendemos estabelecer um possível biomarcador de suscetibilidade frente à
intoxicação mercurial, através da genotipagem da apoE, nestas populações que possibilitará a
identificação de indivíduos de risco, com o intuito de evitar futuras situações de intoxicação
mercurial.
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JUSTIFICATIVA:
As populações ribeirinhas do Tapajós, na Amazônia, estão atualmente expostas ao
mercúrio, principalmente pela via alimentar, através da ingestão de peixes contaminados com
este metal. No entanto, apesar dos diversos estudos realizados acerca da grave problemática
da contaminação mercurial, ainda não foi testado um marcador de suscetibilidade que ajude a
prevenir futuros casos de intoxicação mercurial. A genotipagem da apoE foi proposta
recentemente como um marcador biológico para identificação de indivíduos suscetíveis à
neurotoxicidade por metais pesados. Especificamente, o alelo ɛ4 do gene da apoE codifica a
isoforma da proteína com menor conteúdo em grupos sulfidrilas, isto é, com a menor
capacidade de proteção perante a intoxicação mercurial. Assim o presente trabalho se propõe
a analisar esse parâmetro de suscetibilidade genética (genotipagem da apolipoproteína E) nas
populações ribeirinhas da região do Tapajós. Os resultados do presente projeto poderão
significar um primeiro passo para o desenvolvimento de futuras formas de ação, no intuito de
identificar indivíduos de risco e evitar futuras situações de intoxicação.
OBJETIVOS:
Objetivo geral:
Analisar a distribuição dos genótipos da apolipoproteína E nas populações ribeirinhas da
região do Tapajós e correlaciona-los com os sintomas clínicos autorreferidos destas
populações expostas ao mercúrio.
Objetivos Específicos:
a) Selecionar indivíduos das populações da região do Tapajós (de acordo com critérios
de inclusão e exclusão) e aplicar questionário de triagem para avaliação autorreferida da
presença ou ausência dos possíveis sintomas clínicos de intoxicação mercurial;
b) Estudar a distribuição dos genótipos da apolipoproteína E nestas populações;
c) Identificar indivíduos de alto risco.
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MATERIAL E MÉTODOS:
a. População de estudo: Comunidades ribeirinha do Rio Tapajós (Itaituba): As
populações ribeirinhas estão situadas na margem do rio Tapajós, que foi cenário para a
atividade garimpeira na extração do ouro, desde os anos 70, onde desde então, são
encontrados níveis de mercúrio acima do limite de segurança estabelecido pela OMS
(BERZAS-NEVADO et al., 2010).
b. Critérios de inclusão: Foram incluídos no estudo indivíduos adultos (≥ 18 e < 60 anos
de idade), de ambos os sexos, ribeirinhos moradores no município há mais de dois anos, que
consomem semanalmente peixe em cinco refeições ou mais.
c. Critérios de exclusão: Os critérios de exclusão para todos os participantes neste
estudo foram: fumantes de mais de quatro cigarros ao dia, portadores de doenças aguda e
crônica graves ou que estejam em tratamento à base de medicamentos nos últimos dois
meses, usuários fármacos-dependentes, indivíduos que bebam quantidades significativas de
álcool (mais de 200 mL) ao dia, ou aqueles que tenham sofrido exposição ocupacional e/ou no
exercício de outras atividades que produzam genotoxicidade.
d. Questionário: Foi aplicado um questionário detalhado com 122 sintomas, resultando
em um score semi-quantitativo de respostas entre presença e ausência do sintoma, baseado
no questionário de triagem da International Academy of Oral Medicine and Toxicology – IAOMT
(disponível em www.iaomt.org). Assim, foi possível avaliar a presença ou ausência dos
possíveis sintomas clínicos autorreferidos da intoxicação mercurial.
e. Aspectos éticos: Todos os participantes da pesquisa foram informados sobre o
objetivo do estudo e fora solicitado seu consentimento por escrito para participar da pesquisa.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos da UFPA, sob o
CAAE #43927115.4.0000.0018 e com o parecer #1.090.858.
f. Coleta de amostras de sangue: De cada indivíduo foram extraídos 10 mL de sangue
venoso com material estéril e de uso único que foi aberto pela primeira vez diante do
participante. As amostras foram armazenadas em tubos vacutainer contendo EDTA a -4ºC.
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g. Genotipagem da Apolipoproteína E:
g.1. Extração de DNA:
O DNA genômico foi extraído a partir de 2 mL de sangue total através do PureLink®
Genomic DNA Mini Kit (Invitrogen) de acordo com as instruções do fabricante. O DNA foi
quantificado no Picodrop, e foi padronizada a concentração de 50 ƞg para todas as amostras.
g.2. Amplificação por PCR em tempo real:
A sequência do gene da apolipoproteína E (apoE) foi amplificada mediante PCR em
tempo real de acordo com o método descrito por Calero et al., (2009). Para este método, foram
desenhados 4 primers específicos onde o último nucleotídeo de cada primer na posição 3’ está
localizado no sítio polimórfico (CALERO et al., 2009):
CGGACATGGAGGACGTGT - ApoE_112C;
CGGACATGGAGGACGTGC - ApoE_112R;
CTGGTACACTGCCAGGCA - ApoE_158C;
CTGGTACACTGCCAGGCG - ApoE_158R.
Para o PCR, os primers foram combinados em três reações, gerando um amplicon de
173 pb:
• Reação ApoE2: primers ApoE_112C e ApoE_158C;
• Reação ApoE3: primers ApoE_112C e ApoE_158R;
• Reação ApoE4: primers ApoE_112R e ApoE_158R.
Cada reação foi composta por: 1X Power SYBR Green PCR Master Mix (Applied
Biosystems), 0.3 μM de cada primer e 50 ƞg de DNA genômico. Foram feitos controles
negativos e todas as reações foram feitas em duplicatas.
As condições de PCR foram uma desnaturação inicial de 10 min a 95ºC seguidos de 40
ciclos (desnaturação de 15 s a 95ºC, anelamento + extensão a 62ºC por 1 min). A amplificação
foi realizada no equipamento Real Time PCR Plus One (96-well) da Applied Biosystems. O
valor Ct (limite de ciclo) foi calculado e fixado, a partir dele, pudemos identificar cada genótipo.
Na figura 1 é possível visualizar como é feita a identificação do genótipo de uma amostra
através do software StepOne v2.3.
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Figura 1. Exemplo de amplificação de uma amostra ɛ3/ɛ3 através do software StepOne v2.3
h. Análise estatística: Foi aplicado o teste do Qui-quadrado para verificar se as
frequências alélicas observadas estavam de acordo com as esperadas, de acordo com o
Equilibrio de Hardy-Weinberg. Para todas estas análises foi aplicado o programa estatístico
BioEstat 5.0 (AYRES et al., 2007).
RESULTADOS:
Seleção das comunidades de estudo:Para iniciar o estudo foram selecionadas três comunidades ribeirinhas situadas às
margens do Rio Tapajós (município de Itaituba): Boa Vista do Tapajós, Barreiras e Pimental
(Fig 2).
Cabe ressaltar que este trabalho está inserido em um projeto maior com o objetivo de
analisar o maior número possível de comunidades da região do Tapajós até 2018. Assim, os
dados apresentados neste relatório serão pouco a pouco acrescentados de forma a ter um
perfil claro da região.
Após a chegada nas comunidades, foram ministradas palestras informativas sobre o
projeto. No dia seguinte, a equipe do projeto (que inclui bioquímicos, biomédicos, enfermeiros e
representantes comunitários, entre outros), recebia os voluntários que, após serem
esclarecidos de novo sobre o projeto e assinar seu consentimento livremente, preenchiam o
questionário (com ajuda da equipe no caso de ser necessário) e eram dirigidos para a coleta de
amostras.
Através do questionário e de acordo aos critérios de inclusão e exclusão, selecionamos
31 indivíduos de Barreiras, 29 de Boa Vista e 28 de Pimental, totalizando 88 indivíduos das três
comunidades do estudo.
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Figura 2. Mapa da região do estudo mostrando as três comunidades: Boa Vista, Barreiras e Pimental.
Análise antropométrica das populações de estudo:Os indivíduos selecionados em cada comunidade foram analisados em relação aos
dados antropométricos de idade, sexo e índice de massa corporal (IMC). A partir desses
dados, foram calculadas as distribuições dentro de cada comunidade.
A Figura 3 exibe as frequências de gênero, idade, e IMC dos participantes do estudo em
cada comunidade.
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Figura 1. Frequências de gênero, idade e IMC, das comunidades. As unidades de IMC por faixa são: Baixo peso (< 18,5), Peso Normal (18,5 a 24,9), Sobrepeso (≥ 25), Pré-Obeso (25 a 29,9), Obeso I (30 a 34,9), Obeso II (35 a 39,9) e Obeso III (≥ 40).
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Genotipagem da Apolipoproteina ETodos os genótipos descritos para a apolipoproteina E foram analisados nas três
comunidades resultando em perfis ligeiramente diferenciados. A Figura 4 apresenta a
distribuição dos genótipos da apolipoproteína E observados nas comunidades, obtidos através
da análise do sangue coletado e processado com PCR em tempo real.
Figura 2. Distribuição dos genótipos da apolipoproteina E nas comunidades do estudo.
Devido ao número relativamente reduzido de participantes de cada comunidade e
considerando que se trata do mesmo município, decidimos realizar uma análise adicional dos
dados, juntando o número de amostras das três comunidades (Fig 5).
Figura 3. Distribuição dos Genótipos da Apo E dos indivíduos selecionados para o estudo.
O estudo dos alelos isoladamente revelou uma distribuição de frequência alélica
característica que aparece na figura 6.
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Figura 6. Frequência dos alelos da apoliproproteina E nos indivíduos do estudo.
Para confirmar a ausência de inbreeding nas nossas amostras, foi realizada a análise
pelo teste estatístico Qui-quadrado entre os alelos observados e os esperados, revelando
valores de x² = 2,722 e p = 0,7427.
Sintomatologia autorreferida encontrada nas comunidades de estudo:Adicionalmente aos objetivos estabelecidos inicialmente no plano de trabalho, os
questionários aplicados foram analisados para estabelecer a principal sintomatologia
autorreferida pelos voluntários participantes (Tabela 1).
Tabela 1. Sintomatologia autorreferida dos indivíduos do estudo.Sintomatologia n
Emocional 74 (84,0%)
Neurológico 49 (55,7%)
Visão 31 (35,2%)
Outros 47 (53,4%)
Essa análise nos permitiu tentar procurar possíveis relações entre os diferentes
genótipos e as queixas autorreferidas dos indivíduos selecionados.
Nós consideramos como portador de sintomatologia os indivíduos que identificaram,
no questionário, 3 ou mais sintomas de cada um dos grupos Emocional, Neurológico e Outros,
e àqueles que relataram no mínimo 1 sintoma do grupo Visão (ver questionário em Anexo).
Essa análise nos permitiu visualizar a distribuição dos genótipos da apo E em relação ás
queixas autorreferidas dos indivíduos selecionados (Figura 7).
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Figura 4. Presença dos genótipos por grupo de sintomatologia autorreferida.
Perfis de distribuição semelhantes sugerem a ausência de associação entre a
sintomatologia e os genótipos.
Para uma análise mais apurada, as amostras foram separadas em dois grupos:
portadores de Ɛ4 e não-portadores de Ɛ4 (alelo que implicaria uma maior suscetibilidade à
intoxicação por MeHg).
Tabela 2. Sintomatologia da intoxicação por MeHg entre os portadores e não portadores de Ɛ4.Sintomatologia MeHg Ɛ4+ (n = 21) Ɛ4- (n = 67)
Emocional 17 (81%) 58 (87%)
Neurológico 12 (57%) 37 (55%)
Visão 07 (33%) 24 (36%)
Outros 11 (52%) 36 (54%)
Contudo, não foi observada correlação significativa entre a sintomatologia
autorreferida e a presença de ɛ4.
DISCUSSÃO:
Os dados genéticos acerca das populações residentes na região do Tapajós são
extremamente escassos devido à dificuldade de acesso. Assim, nosso estudo se mostra
importante, por colaborar com a caracterização de uma região pouco estudada, esperando
levar retorno à saúde da população local.
Dentre as comunidades escolhidas, a comunidade de Barreiras (BERZAS-NEVADO
et al., 2010) foi a mais estudada até hoje; contudo, sem nenhum estudo sobre uma possível
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suscetibilidade genética. Já as comunidades de Pimental e Boa Vista não apresentam nenhum
dado na literatura.
Como proposto por Godgrey et al. (2003), a genotipagem da apolipoproteina E, pode
ser usada como biomarcador para identificar pacientes com alto risco de intoxicação por
metilmercúrio. Assim como na literatura que se refere a populações brasileiras, obervamos
maior prevalência de indivíduos Ɛ3/Ɛ3 (68,2%), e do alelo Ɛ3 (82%) na população participante
(Oriá et al., 2005; Garcia et al., 2008; Cezaro et al., 2015).
Os genótipos da apolipoproteina E apresentaram semelhante distribuição quando
foram divididos de acordo à sintomatologia de intoxicação por metilmercúrio. Embora, isto só
foi uma primeira aproximação ao problema, cabe destacar que esses dados devem ser
confirmados quando aumente o número de comunidades e indivíduos estudados na região no
decorrer do projeto.
De acordo aos nossos dados, a sintomatologia autorreferida se mostrou um
parâmetro pouco relacionado a uma possível suscetibilidade genética, apontando para a
necessidade de uma avaliação médica especializada para realizar este tipo de análise.
Quase 24% dos indivíduos selecionados apresentaram no mínimo um alelo ɛ4. A
identificação de portadores deste alelo já está sendo usada para detectar indivíduos de risco
para a intoxicação por metais pesados ao redor do mundo, contudo, esta é a primeira vez que
se realiza este tipo de análise nas populações da região do Tapajós. Interessantemente, o
percentual de indivíduos portadores encontrado nesta população foi maior do que o que vem
sendo relatado na literatura para outras populações, que está em torno dos 15%, incluídas as
brasileiras (WOJCIK et al., 2006; SHARON et al., 2013; SHARON et al., 2015). Entretanto, a
análise de um maior número de participantes no futuro próximo poderá confirmar essa hipótese
de uma maior presença do alelo e, talvez uma maior suscetibilidade à intoxicação.
Assim, este estudo contribuiu para elucidar pela primeira vez a distribuição da
genotipagem da apoliproteina E, em populações constantemente expostas ao metilmercúrio.
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ANEXOS:
Pesquisa: ANÁLISE DE PARÂMETROS DE EXPOSIÇÃO MERCURIAL, INTOXICAÇÃO E
SUSCETIBILIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES RIBEIRINHAS DE ITAITUBA
(TAPAJÓS) E TUCURUÍ.
QUESTIONÁRIO
MERCÚRIO
SAÚDE DO PACIENTE E ACOMPANHAMENTO DE SINTOMAS
Nome:_________________________________________________________________
Data:__________________________________________________________________
Endereço:______________________________________________________________
Telefone:_______________________________________________________________
Data de Nascimento:____________________ Idade:_____________Sexo:___________
Peso:_______________ Altura: _____________ P.A.:__________________________
1. Você fuma? ( )Sim ( )Não. Se sim, quantos cigarros por dia: _______________
Já fumou? Parou há quantos anos? __________________________________________
2. Você está exposto a metais pesados (chumbo, alumínio, mercúrio), ou solventes no trabalho /casa? ( )
Sim. Qual? ____________________________________________
( )Não
Qual sua ocupação?______________________________________________________
3. Você tem alguma alergia a algum tipo de metal? ( ) Sim ( )Não
Se sim, qual metal? _____________________________________________________
4.Tem história familiar de Doença de Alzheimer? ( ) Não ( ) Sim. Quem?
_____________________________________________________________________________________
_______________________________________________________
5. Em média quantas refeições contendo peixe você come por semana?
______________________________________________________________________
Qual a quantidade média por refeição?______________________________________
Qual o tipo de peixe?
_____________________________________________________________________________________
_______________________________________________________
6. Qual é a idade aproximada da sua casa? ___________________________________
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Sua casa é úmida e/ou apresenta mofo? ( ) Sim ( )Não
7. Você já teve contato ou foi exposto a algum tipo de agrotóxico? ( ) Sim ( ) Não
8. Você usa celular? ( ) Sim ( ) Não
9. Você tem ou já teve restaurações de amálgama em sua boca? ( ) Sim ( )Não
Se você atualmente tem amálgamas, quantas estão presentes? ____________________
Se você já removeu, quanto tempo faz?_______________________________________
Por favor, preencha cada questão abaixo.
MENTAL/ EMOCIONAL
( )Se aborrece facilmente ( )Ansiedade ( ) Chora facilmente ( ) Depressão ( ) Sonolência ( ) Acessos
de raiva ( )Alucinações ( )Insônia ( ) Irritabilidade ( ) Falta de atenção ( ) Falta de auto-controle ( )
Perda de memória ( )Nervosismo ( ) Outros transtornos psicológicos? ?
_________________________________________________
CARDIOVASCULAR:
( ) Bradicardia (batimento cardíaco lento) ( ) Pulso fraco e irregular ( )Pressão arterial elevada ( ) Batimento
cardíaco irregular ( ) Pressão arterial baixa ( ) Dor ou pressão no peito ( ) Taquicardia (batimento cardíaco
rápido) ( ) Outros cardiovascular?
______________________________________________________________________
Neurológico:
( ) Dores de cabeça crônicas ou freqüente ( ) Tonturas ( ) Tremores finos (mãos / pés) ( ) Tremores finos
(lábios / pálpebras / língua) ( ) Dores nas articulações ( ) Dormência ( ) Paralisia ( ) Zumbido ou ruídos nos
ouvidos ( ) Outros neurológicos?
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VISÃO:
( )Visão turva ou dupla ( ) Reduzida visão periférica ( ) Outros visuais?
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FEMININO:
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( ) Infértil ( ) Problemas menstruais ( ) Problemas do trato urinário ( )Infecções fúngicas (crônica) ( )
Outros? _____________________________________________________
MASCULINO:
( )Infértil ( ) Problemas de próstata ( ) Outros? _______________________________
OUTROS:
( ) Anemia ( ) Anorexia (perda do apetite) ( ) Fadiga / cansaço ( ) Há perda de cabelo
( ) Fraqueza muscular ( ) Sensação diminuída de cheiro ( )Distúrbios da fala ( )Ganho de peso ( ) Perda de
peso ( ) Outros ____________________________________________ SÍNDROMES / DOENÇAS:
( )AIDS ( )Doença de Alzheimer ( )Esclerose Lateral Amiotrófica ( )Artrite
( ) Câncer ______________ ( )Doença cardiovascular__________________________
( ) Fibromialgia ( )Hipotireoidismo ( ) Hipertireoidismo ( )Lúpus ( )Esclerose Múltipla ( )Outra doença?
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