universidade federal do parÁ campus … · estudo, que foi indispensável à execução deste...

90
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA INSTITUTO DE ESTUDOS COSTEIROS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA AMBIENTAL MESTRADO EM RECURSOS BIOLÓGICOS DA ZONA COSTEIRA AMAZÔNICA ESTRUTURA POPULACIONAL DA FLORESTA DE MANGUE E DO CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), NA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA MÃE GRANDEDE CURUÇÁ, CURUÇÁ-PA SUELEN MARIA OLIVEIRA PEROTE Prof. Dr. MARCUS EMANUEL BARRONCAS FERNANDES (ORIENTADOR)

Upload: nguyenliem

Post on 24-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA

INSTITUTO DE ESTUDOS COSTEIROS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA AMBIENTAL MESTRADO EM RECURSOS BIOLÓGICOS DA ZONA COSTEIRA

AMAZÔNICA

ESTRUTURA POPULACIONAL DA FLORESTA DE MANGUE E DO

CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), NA RESERVA

EXTRATIVISTA MARINHA “MÃE GRANDE” DE CURUÇÁ, CURUÇÁ-PA

SUELEN MARIA OLIVEIRA PEROTE

Prof. Dr. MARCUS EMANUEL BARRONCAS FERNANDES

(ORIENTADOR)

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

34

BRAGANÇA-PA

2010

SUELEN MARIA OLIVEIRA PEROTE

ESTRUTURA POPULACIONAL DA FLORESTA DE MANGUE E DO

CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), NA RESERVA

EXTRATIVISTA MARINHA “MÃE GRANDE” DE CURUÇÁ, CURUÇÁ-PA

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Biologia

Ambiental: Mestrado em Recursos

Biológicos da Zona Costeira Amazônica,

da Universidade Federal do Pará,

Campus Universitário de Bragança, como

parte dos requisitos necessários à

obtenção do grau de Mestre em Biologia

Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Marcus E. B.

Fernandes

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

35

BRAGANÇA-PA

2010

SUELEN MARIA OLIVEIRA PEROTE

ESTRUTURA POPULACIONAL DA FLORESTA DE MANGUE E DO

CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), NA RESERVA

EXTRATIVISTA MARINHA “MÃE GRANDE” DE CURUÇÁ, CURUÇÁ-PA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental: Mestrado em Recursos Biológicos da Zona Costeira Amazônica, da Universidade Federal do Pará, Campus Universitário de Bragança, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Biologia Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Marcus E. B. Fernandes

Data de aprovação:____/____/ 2010

Banca examinadora:

__________________________________________________

Dr. Marcus Emanuel Barroncas Fernandes (Orientador) Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança - UFPA __________________________________________________

Dr. João Marcos Góes (Titular) Universidade Federal do Piauí, Campus de Parnaíba - UFPI __________________________________________________

Dra. Cláudia Nunes-Santos (Titular) Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança - UFPA

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

36

__________________________________________________

Dra. Marivana Borges (Titular) Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança - UFPA

BRAGANÇA-PA

2010

...

Eu amo você terra minha amada

Minha oca meu iglu, minha casa

Eu amo você pérola azulada conta

No colar de Deus, pendurada

A benção minha mãe

Já aprendi nadar em seu mar

azul

Adorar a água, homem peixe,

água

Fonte iluminada

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

37

Já aprendi a ser parte de você

Respeitar a vida em sua barriga

Quantos mais vão aprender

...

Zé Miguel e Joãozinho Gomes

A toda minha família,

composta por meus verdadeiros

mestres, modelos reais de

perseverança, parceria,

dedicação e paciência.

Ao meu namorado,

por ter permanecido ao meu lado

compartilhando angústias e dúvidas,

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

38

estendendo sua mão amiga em

momentos difíceis, por cada palavra

de incentivo e pela ternura de cada

abraço.

Dedico

AGRADECIMENTOS

Sem dúvidas, escrevê-los são mais difíceis do que redigir a dissertação.

Diversas pessoas colaboraram direta ou indiretamente para a realização deste

trabalho, com sugestões, idéias, críticas e opiniões. Outros contribuíram com

amizade, carinho e afeto, provavelmente os ingredientes mais importantes para

um bom trabalho. Temendo esquecer alguém, agradeço a todos que

conviveram comigo nesses últimos dois anos. Porém, gostaria de destacar

algumas pessoas e entidades que foram especialmente importantes.

Ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental pela

oportunidade.

Ao Professor Dr. Marcus Fernandes pela orientação, incentivo,

compreensão e amizade.

À CAPES pelo suporte financeiro, através da concessão de bolsa de

estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

39

À minha família pelo apoio incondicional, pelos dias de trabalho e

descanso que abdicaram para me ajudar em todas as minhas coletas de

dados no manguezal. Obrigada por depositarem em mim a confiança

para todas as horas! Obrigada por vocês existirem!

Ao meu namorado, Marcelo Morita, que por vezes deve ter detestado a

mim e a esse trabalho, pois ele sacrificou muitos momentos que

poderíamos ter desfrutado juntos, mas sempre incentivou, sempre

apoiou e, o melhor de tudo, sempre cobrou para que eu continuasse e

concluísse mais esta etapa de nossas vidas que vamos construindo

juntos. Amo-te!

Ao Sr. Messias Sousa (Bolor), catador de caranguejo que me

acompanhou em todas as minhas idas ao manguezal, e a sua família de

me acolheu de braços abertos. Obrigada pelo carinho, pela amizade e,

acima de tudo, pelas lições de vida.

À turma de Mestrado/2008 com quem convivi boa parte desses últimos

dois anos, pela diversão, pelo aprendizado e pela amizade. Em especial,

a Adriana Pedale, Andreza Sombra, Fátima Gomes, Milene Tavares e

Renata Barros que se tornaram muito mais que companheiras de curso

e de casa. Tornaram-se amigas pra todo o sempre!

Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase

nada) de biologia, manguezal e caranguejo. Mas que estiveram

presentes nos momentos de diversão ao longo desses últimos anos.

Valeu galera!

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO GERAL..........................................................

8

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................

9

1.1 MANGUEZAL............................................................................................

9

1.2 VEGETAÇÃO............................................................................................

11

1.3 CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763).........................

14

1.3.1 IMPORTÂNCIA 2

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

40

ECOLÓGICA......................................................... 0

1.3.2 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA........................................................

21

1.4 ESCOPO DA DISSERTAÇÃO..................................................................

22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................

24

CAPÍTULO 2 - ATRIBUTOS ESTRUTURAIS DAS FLORESTAS DE

MANGUE DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA “MÃE GRANDE”

DE CURUÇÁ, CURUÇÁ-PA

RESUMO.........................................................................................................

34

INTRODUÇÃO.................................................................................................

35

MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................

36

RESULTADOS.................................................................................................

40

DISCUSSÃO....................................................................................................

50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................

54

CAPÍTULO 3 - BIOMETRIA E ESTRUTURA POPULACIONAL DO

CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763)

(CRUSTACEA, BRACHYURA) NOS MANGUEZAIS DA RESERVA

EXTRATIVISTA MARINHA “MÃE GRANDE” DE CURUÇÁ, CURUÇÁ-

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

41

PA

RESUMO.........................................................................................................

60

INTRODUÇÃO.................................................................................................

61

MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................

65

RESULTADOS.................................................................................................

69

DISCUSSÃO....................................................................................................

73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................

77

CAPÍTULO 4 - DISCUSSÃO

GERAL.............................................................

84

ANEXO

...........................................................................................................

89

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

42

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO GERAL

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

43

1 INTRODUÇÃO

1.1 MANGUEZAL

O manguezal é um ecossistema onde ocorre o encontro de água doce

dos rios com a água salina do mar (TOMLINSON, 1986). Está localizado em

áreas costeiras nas regiões tropicais e subtropicais ao redor do mundo e

desenvolve-se preferencialmente em deltas, enseadas e baías, locais que

favorecem a deposição de sedimentos (ADAIME, 1987).

As florestas de mangue apresentam maior desenvolvimento nas faixas

entre os trópicos de Câncer e Capricórnio (23o30'N – 23o30'S), podendo

estender-se até latitudes superiores (30oN e 30oS), mas, no entanto, seu ótimo

desenvolvimento estrutural é associado à linha do Equador (QUIÑONES,

2000). Assim, a ocorrência dos manguezais está relacionada às temperaturas

constantes (< 5ºC de variação) e acima de 20ºC (WALSH, 1974).

O desenvolvimento destas florestas é também associada à baixa

energia das ondas, às linhas de costa protegidas, ao aporte de água doce

abundante, à salinidade entre 5 e 30 e à deposição e acúmulo de sedimentos

finos. Além destas condições, a grande amplitude de maré e a precipitação

pluvial anual acima de 1.500 mm.ano-1 proporcionam o crescimento de florestas

de mangue em direção ao interior, formando cinturões que podem se estender

por mais de 60 km continente adentro. Diversos autores apontam para o fato

de que variáveis abióticas, como as supracitadas, estão diretamente

relacionadas à biodiversidade do ecossistema de manguezal (LUGO &

SNEDAKER, 1974; WALSH, 1974; TOMLINSON, 1986; HUTCHINGS &

SAENGER, 1987; SCHAEFFER-NOVELLI, 1995).

Esse ecossistema representa cerca de 8% de toda linha costeira do

planeta e 25% da costa tropical, abrangendo um total de 181.077 km2. O Brasil

é o segundo maior país em área de manguezais (13.400 km2), perdendo apenas

para a Indonésia, que apresenta 42.550 km2 distribuídos ao longo de seus

arquipélagos. Os manguezais brasileiros estão distribuídos do rio Oiapoque, no

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

44

Estado do Amapá (4º30’N), à Praia do Sonho, no Estado de Santa Catarina

(latitude 28º53’S) (SPALDING, BLASCO & FIELD, 1997).

A costa amazônica brasileira, por sua vez, apresenta cerca de 2.250 km

de extensão e localiza-se entre a Ponta do Tubarão, no Estado do Maranhão e

o Cabo Orange, no Estado do Amapá, compreendendo os estados do Amapá,

Pará e Maranhão. A área ocupada pelos manguezais no Estado do Amapá

corresponde a 2.300 km2, no Pará representa 2.117 km2 e no Maranhão 5.414

km2. Em conjunto, os dois últimos estados abrigam 57% dos manguezais do

Brasil, totalizando uma área de 7.591 km2 (MENDES, 2005; SOUZA FILHO,

2005).

Os manguezais representam uma parcela relevante dos estuários com

substrato lamoso, destacando-se como um sistema-chave no litoral do ponto

de vista biológico, ecológico e econômico (ALCÂNTARA-FILHO, 1978). Esse

ecossistema promove a estabilidade da linha de costa contra erosão (CINTRÓN-

MOLERO & SCHAEFFER-NOVELLI, 1981; SAENGER, HEGERL & DAVIES, 1983;

ALONGI, TIRENDI & CLOUGH, 2000; SZLAFSZTEIN, 2003), cria diversos micro-

hábitats para a fauna associada (AUGUSTINUS, 1995), exporta nutrientes para os

ambientes aquáticos adjacentes (GOLLEY, ODUM & WILSON, 1962; ALONGI,

1996), favorece uma intensa atividade pesqueira (CINTRÓN-MOLERO &

SCHAEFFER-NOVELLI, 1983; NEIMAN, 1989; MANESCHY, 1993; MANESCHY,

2005), alimenta a cadeia trófica costeira (DITTMAR, LARA & KATTNER, 2001),

serve como berçário e local de desova para diferentes espécies de peixe, crustáceo

e molusco (NEIMAN, 1989; PRIMAVERA, 1998; PROST & LOUBRY, 2000), bem

como fornece refúgio, alimento e local de procriação para uma grande variedade de

vertebrados, como: anfíbios, répteis, aves e mamíferos (SAENGER, HEGERL &

DAVIES, 1983; FERNANDES, 2000; ANDRADE & FERNANDES, 2005).

Além de sua importância ecológica, os manguezais têm grande relevância

do ponto de vista econômico por: i) apresentarem uma diversidade faunística

utilizada como recurso alimentar; ii) promoverem a produção de bens e serviços

capazes de atrair e manter populações humanas em suas proximidades

(SNEDAKER, 1978; NASCIMENTO, 1995; RIBEIRO et al., 1995; MASCARENHAS

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

45

& GAMA, 1999); iii) fornecerem recursos vegetais para produção de lenha, carvão,

medicamentos, construção de casas e currais para a pesca (HAMILTON &

SNEDAKER, 1984; ABUODHA & KAIRO, 2001) e iv) auxiliarem na produção de

mel de abelha (D’AQUINO & SANTANA, 1995; ALMEIDA, 1996).

1.2 VEGETAÇÃO

As florestas de mangue apresentam baixa diversidade florística quando

comparadas às outras florestas tropicais. Isto porque o ambiente onde ocorrem

oferece condições peculiares, como alta salinidade da água intersticial, baixa

concentração de oxigênio do substrato lamoso e regime de inundações diárias, o

que permite o desenvolvimento apenas de espécies com adaptações específicas ao

meio (TOMLINSON,1986).

As principais características adaptativas das árvores de mangue são as

raízes aéreas, a presença de lenticelas e pneumatóforos, dispersão de propágulos

pelas marés, rápido desenvolvimento da copa, eficiente mecanismo de retenção de

água e nutrientes e excreção de sal (TOMLINSON, 1986). Essas plantas servem de

substrato para moluscos e crustáceos, obstáculo à energia das marés e ao fluxo de

água doce e abrigo às espécies de peixe no período da desova. Essa vegetação

contribui para a fixação do substrato, além de ser a maior responsável pela maior

produção primária na zona costeira (ALCÂNTARA-FILHO, 1978).

A paisagem do manguezal é composta por espécies botânicas lenhosas,

chamadas de mangue, acompanhadas por espécies herbáceas, epífitas,

hemiparasitas e aquáticas típicas (HERZ, 1991). Botânicos e ecologistas brasileiros

utilizam o termo “manguezal” para o bosque, a floresta; e “mangue” para as

espécies vegetais arbóreas (MACIEL, 1991).

As espécies vegetais das florestas de mangue, segundo Duke (1992), são

classificadas em dois tipos:

i) espécies típicas – espécies vegetais arbóreas que dominam a

paisagem em áreas características do sistema e,

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

46

ii) espécies associadas – espécies pertencentes à flora de outros

sistemas, como: terra firme, várzea estuarina e igapó, que ocorrem associadas às

espécies típicas do manguezal.

À medida que se distanciam das margens d’água, os manguezais vão

ocupando níveis topográficos mais elevados, onde há maior consistência do solo,

facilitando o estabelecimento e o desenvolvimento de outras espécies vegetais

precursoras, provenientes de ambientes adjacentes às espécies associadas (LIMA,

PAOLI & GIRNOS, 2005).

Tomlinson (1986) descreve que a composição florística considerada típica

para os manguezais, ao redor do mundo, é representada por 16 famílias, 20

gêneros e 54 espécies. As famílias Avicenniaceae e Rhizophoraceae, com 25

espécies dominam as florestas de mangue do planeta. Nos manguezais brasileiros

ocorrem seis espécies típicas de mangue (Avicennia germinans (L.) Stearn,

Avicennia schaueriana Stapf, Rhizophora mangle L., Rhizophora racemosa G.F.W.

Meyer, Rhizophora harrisonii Leechman e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn f.),

todas associadas a várias outras espécies botânicas.

Segundo ABREU et al., 2006 todas essas seis espécies típicas ocorrem nos

manguezais do litoral paraense, ao longo da costa amazônica brasileira, além das

plantas associadas de hábito arbóreo ou arbustivo: Conocarpus erectus L., ou de

vegetação baixa que são atingidos somente pelas marés de sizígia: Acrostichum

aureum L., Hibiscus tiliaceus L., Rhabdadenia biflora (Jacq.) M. Arg. etc. Nas

margens de acumulação de meandros de rios, predominam as espécies típicas da

várzea estuarina: Euterpe oleracea, Montrichardia arborescens (L.) Schott,

Montrichardia lunatum, dentre outras (PROST & RABELO, 1996).

Para Tomlinson (1986), o número reduzido de espécies vegetais típicas nos

manguezais neotropicais parece estar relacionado à recente formação desse

ecossistema, bem como aos processos geológicos históricos, os quais podem estar

determinando a distribuição e abundância atuais dessas espécies. As florestas de

mangue têm suas características estruturais e funcionais determinadas pela

interação de características ambientais que atuam em escalas global, regional

e local (BROWN & LUGO, 1982).

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

47

A estrutura dos bosques de mangue pode incluir: composição e

diversidade de espécies, área basal, densidade, distribuição dos indivíduos por

meio das classes de altura e diâmetro e padrões de distribuição dos

componentes florestais (SMITH III, 1992). Todos esses atributos estruturais são

importantes, pois fornecem uma idéia do grau de desenvolvimento da floresta,

o que possibilita a identificação e delimitação das florestas com características

semelhantes, permitindo comparações entre as diferentes áreas

(SCHAEFFER-NOVELLI & CINTRÓN-MOLERO, 1986).

Os manguezais brasileiros apresentam grande variabilidade estrutural,

fato intimamente relacionado às condições ambientais particulares encontradas

ao longo de uma grande extensão latitudinal (SCHAEFFER-NOVELLI &

CINTRÓN-MOLERO, 1988). Assim, considerando as características

ambientais, espera-se que o maior desenvolvimento estrutural das florestas de

mangue, ao longo da costa brasileira, seja encontrado na região amazônica,

onde o complexo hidrobiológico e o clima equatorial têm favorecido o

estabelecimento de manguezais bem desenvolvidos (SEIXAS, FERNANDES &

SILVA, 2006).

Os fatores econômicos e sociais têm levado os manguezais a um

crescente processo de degradação (CINTRÓN-MOLERO & SCHAEFFER-

NOVELLI, 1992). De fato, a forte pressão antrópica nos manguezais é um dos

principais responsáveis pelo aumento da vulnerabilidade dos ambientes

litorâneos, em geral, podendo ocasionar um processo de degradação

irreversível do meio (CRUZ, 1995). Assim, considerando o efeito antrópico nos

manguezais, Cintrón-Molero & Schaeffer-Novelli (1992) apontaram para o fato

de que quando as perturbações antrópicas se assemelham a um fenômeno

natural, a restauração ocorre rapidamente. Porém, a maior parte das

perturbações causadas pelo homem transforma drasticamente os fluxos de

energia e matérias, ou ainda, deixa resíduos tóxicos, que impedem a

regeneração e o desenvolvimento das plantas.

Impactos naturais e impactos antrópicos compõem os agentes

causadores de degradação das florestas de mangue. Na região nordeste do

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

48

Estado do Pará, o assoreamento tem causado a morte da vegetação

característica dos manguezais. Tais impactos naturais são causados,

principalmente, por ação de correntes, ondas e marés, além de migração das

dunas sobre os manguezais por processos eólicos (SENNA, MELLO &

FURTADO, 2002). Incluídos dentre os impactos antrópicos mais danosos na

região estão: construção de estradas, bloqueio de canais e barragens, turismo

predatório, extração de madeira, produção de carvão e lenha, intensificação da

especulação imobiliária, exposição do solo para práticas agrícolas, sobrepesca

de crustáceos para a comercialização (BASTOS & LOBATO, 1996).

1.3 O CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763)

O caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) é umas das

espécies mais importantes que compõem a fauna dos manguezais brasileiros,

ocorrendo em maior ou menor abundância em toda a extensão da costa do

Brasil, desde o estado do Amapá até o estado de Santa Catarina (COSTA,

1972). Essa espécie é a única espécie do gênero Ucides com registro de

ocorrência no Brasil e segundo Bowman & Abele (1982), Melo (1996) e Ng,

Guinot & Davie (2008), possui o seguinte registro taxonômico:

Reino: Animalia

Filo: Arthropoda

Subfilo: Mandibulata

Classe: Crustacea

Subclasse: Malacostraca

Ordem: Decapoda

Infraordem: Brachyura

Super-Família: Ocypodoidea Rafinesque (1815)

Família: Ucididae Števčić (2005)

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

49

Gênero: Ucides Rathbun (1897)

Espécie: Ucides cordatus Linnaeus (1763)

Subespécie: Ucides cordatus cordatus

Por ser a única subespécie do gênero Ucides presente no Brasil, no

presente trabalho será utilizada a nomenclatura Ucides cordatus em

substituição a Ucides cordatus cordatus.

O caranguejo-uçá é uma espécie semiterrestre que habita as porções

altas dos manguezais. Ocorre principalmente nas zonas entremarés e vive em

galerias ou galerias escavadas no substrato lamoso (PAIVA, BEZERRA &

FONTELES-FILHO, 1971; ALCÂNTARA-FILHO, 1978; COSTA, 1972; COSTA,

1979; CASTRO, 1986; NASCIMENTO, 1993). Segundo Lutz (1912), as galerias

onde os caranguejos-uçá habitam são profundas, tortuosas e ficam submersas

durante a preamar, período em que os caranguejos permanecem no interior

das galerias, saindo destas somente na baixamar. As primeiras saídas são

destinadas à limpeza das galerias, quando os indivíduos retiram todo o

excesso de substrato introduzido em seu interior durante a maré enchente,

sendo as saídas seguintes para a procura de alimento (COSTA, 1979;

NASCIMENTO, 1993).

Cada indivíduo ocupa uma única galeria, característica acentuada de

territorialismo na espécie, no entanto, durante o período de acasalamento é

possível encontrar mais de um caranguejo por galeria (BLANKENSTEYN,

CUNHA-FILHO & FREIRE, 1997). Os caranguejos adultos habitam galerias

com uma única abertura, enquanto os jovens podem habitar galerias

escavadas no sentido horizontal, com até cinco aberturas que se comunicam

entre si. As dimensões da abertura das galerias do caranguejo-uçá possuem

correlação positiva com o tamanho do seu habitante (ALCÂNTARA-FILHO,

1978; COSTA, 1979; BLANKENSTEYN, CUNHA-FILHO & FREIRE, 1997).

Este fato, associado às marcas deixadas pelos machos na lama, que são

facilmente diferenciadas das marcas deixadas pelas fêmeas (COSTA, 1979),

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

50

torna a coleta desse caranguejo bastante seletiva quanto sexo e tamanho dos

indivíduos.

A obtenção de alimentos é realizada durante a baixamar nas

proximidades da galeria, sendo o alimento levado para o interior da mesma. O

caranguejo-uçá alimenta-se principalmente de vegetais e restos de matéria

orgânica em decomposição (PAIVA, BEZERRA & FONTELES-FILHO, 1971;

CASTRO, 1986), por isso, é considerado por Costa (1979) uma espécie

onívora.

Como todos os crustáceos, o caranguejo-uçá também passa pelo

processo de muda ou ecdise, que é a troca do exoesqueleto decorrente do seu

crescimento. A classificação dos estágios de muda do caranguejo-uçá baseia-

se no trabalho de Drach publicado em 1939 (IVO & GESTEIRA, 1999). O

estudo de Drach é relevante pela ênfase dada ao aspecto biológico que a

muda envolve. A muda não é um ato restrito que interrompe o curso da vida do

caranguejo, mas todos os aspectos da fisiologia desse indivíduo estão

mudando continuamente, junto com os estágios do ciclo de muda

(NASCIMENTO, 1993). No final da década de 30, Drach descreve o ciclo das

mudas em quatro períodos:

A – É o período que se dá imediatamente após a muda. O exoesqueleto

ainda está muito mole e deforma facilmente quando pressionado, mesmo que

levemente. Também é chamado de Pós-Muda.

B – É o período em que o exoesqueleto já está mais rígido, porém ainda

deforma se pressionado. Também é chamado de Pós-Muda.

C – É o período mais longo que compreende a maior parte da vida do

animal, e nele o exoesqueleto já está totalmente rígido. Também é chamado de

Inter-Muda.

D – É o período preparatório para a muda, em que o exoesqueleto

antigo começa a se desprender do corpo, sendo facilmente quebrado com as

mãos. Segundo Pinheiro & Fiscarelli (2001), o corpo fica preenchido por uma

substância leitosa rica em cálcio, magnésio e carbonatos e qualquer injúria de

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

51

apêndices locomotores permite o extravasamento de hemolinfa. Por isso, os

caranguejos neste período são chamados popularmente de “caranguejos-de-

leite”. Este período é também chamado de Pré-Muda.

Durante o período de muda os caranguejos adultos costumam manter a

abertura de suas galerias fechada, permanecendo em no seu interior, ao passo

que os indivíduos jovens a mantém tapada durante o ano todo, sugerindo a

existência de sucessivas mudas, sem período definido (COSTA, 1972).

Os caranguejos apresentam morfologia externa bastante diferenciada, o

que permite a fácil caracterização sexual dos indivíduos. O abdome do macho

é longo, estreito, triangular e, geralmente, com o quinto e sexto segmentos

soldados num segmento longo, articulando-se com o telson, enquanto nas

fêmeas o abdome é semicircular, largo, com todos os segmentos visíveis e não

fusionados (NASCIMENTO, 1993).

No período reprodutivo do caranguejo-uçá (meses de maior fotoperíodo,

temperatura e precipitação), machos e fêmeas saem de suas galerias para o

acasalamento em um fenômeno denominado pelas comunidades litorâneas de

“andada”, “andança”, “soatá”, “corrida” ou “carnaval” (PINHEIRO &

FISCARELLI, 2001). Existem relatos de ocorrência de “andadas” tanto no

período das luas cheias (GÓES et al., 2000; PINHEIRO & FISCARELLI, 2001)

quanto no das luas novas (GÓES et al., 2000; DIELE, 2000; PINHEIRO &

FISCARELLI, 2001; WUNDERLICH et al., 2002).

Segundo Góes et al. (2000), de três a nove dias antes da “andada” os

machos liberam uma espuma branca, possivelmente para atração sexual

através de feromônios. A “andada” começa com um comportamento pré-

copulatório, que envolve um grande deslocamento e troca de golpes com

quelípodos entre indivíduos (GÓES et al., 2000; WUNDERLICH et al., 2002).

Neste momento, há uma intensificação da exploração comercial deste recurso

pela maior facilidade de captura, como também pelo aumento de sua procura

para o consumo humano, particularmente nos meses de verão (GLASER &

DIELE, 2004).

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

52

O acasalamento do caranguejo-uçá ocorre com a fêmea em decúbito

dorsal, ocasião em que o macho a cobre e deposita o líquido seminal nas

aberturas existentes na base do terceiro par de patas, com o auxílio do pênis.

Os espermatozóides transferidos para os receptáculos seminais da fêmea

ficam armazenados até o momento da desova, que pode ser total, quando

óvulos e líquido espermático são simultaneamente liberados, evidenciando a

fecundação externa (MOTA-ALVES, 1975). Por outro lado, Nascimento (1993)

ainda discute se a fecundação do caranguejo-uçá é externa ou interna.

Mota-Alves (1975) define a desova de U. cordatus como sendo total,

porém, Góes et al. (2000) sugerem que a desova desta espécie é do tipo

parcelada, já que observou ovários com características dos estágios maduro e

em recuperação, simultaneamente. Diele (2000) apresenta evidências de que

algumas fêmeas podem liberar larvas mais de uma vez no mesmo período

reprodutivo. Segundo Dalabona & Silva (2005), a análise histológica das

gônadas das fêmeas confirmou que não ocorrem desovas múltiplas em um

mesmo ciclo reprodutivo anual, uma vez que ovários desovados não

apresentam ovócitos em maturação.

O ciclo de vida do caranguejo-uçá apresenta sete estágios larvais antes

de adquirir morfologia similar a do adulto, por isso é dita como de

desenvolvimento indireto (PINHEIRO & FISCARELLI, 2001). O

desenvolvimento larval é constituído por cinco ou seis estádios zoea e um de

megalopa, não sendo observado estádio pré-zoea (RODRIGUES, 1982;

RODRIGUES & HEBLING, 1989). Após a ecdise da megalopa, origina-se o

primeiro estádio juvenil do caranguejo-uçá. Neste estádio os exemplares têm

tamanho reduzido, aproximadamente 1,5 mm de largura de cefalotórax (DIELE,

2000). Em laboratório, experimentos realizados por Abrunhosa et al. (2002)

indicam que as larvas zoea de Ucides cordatus, embora lecitotróficas, pois

possuem reservas nutricionais, precisam capturar alimento para suprir todas as

suas necessidades e ter êxito na realização das mudas. Após chegarem à

costa, as larvas megalopas assentam-se e metamorfoseiam-se em pequenos

caranguejos terrestres. Estes são raramente vistos e pouco se sabe sobre seu

hábitat e ecologia (WOLCOT, 1988).

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

53

U. cordatus apresenta crescimento lento, sendo variadas as estimativas

de idade em que os machos atingem o tamanho comercial de 6 cm de largura

do cefalotórax, segundo Portaria IBAMA nº 34/03-N, de 24 de junho de 2003

para as regiões Norte e Nordeste do Brasil. Estudos realizados em diferentes

regiões brasileiras revelam que, devido a esse crescimento reduzido, os

indivíduos levam de 3,8 a 11 anos para atingir o tamanho comercial

(NASCIMENTO, 1993; OSTRENSKY et al., 1995; IVO et al., 2000; DIELE,

2000; PINHEIRO, FISCARELLI & HATTORI, 2005). De acordo com DIELE

(2000); PINHEIRO, FISCARELLI & HATTORI (2005), os machos atingem uma

largura máxima de carapaça entre 8,3 e 9,1 cm, ao passo que as fêmeas entre

7,3 e 7,8 cm. No entanto, FERNANDES & CARVALHO (2006) já registraram

indivíduos, na Ilha de Maracá, Amapá, maiores do que 10 cm de largura de

carapaça. A longevidade dessa espécie de caranguejo para alguns autores

ultrapassa um pouco os dez anos de idade (DIELE, 2000; PINHEIRO,

FISCARELLI & HATTORI, 2005).

A atividade de “catação” do caranguejo-uçá nos manguezais brasileiros

constitui uma das mais importantes atividades para a subsistência das

populações humanas tradicionais que vivem no entorno desse ecossistema. De

acordo com Nordi (1994a), durante todo o ciclo anual, o caranguejo-uçá vive

em galerias individuais construídas sob as árvores de mangue. Sua captura ou

"catação" acontece no período da baixamar e é feita com as mãos, ou auxiliada

por instrumentos adaptados pelo próprio catador. A experiência dos catadores

de caranguejo-uçá lhes permite identificar, com certa facilidade, as galerias

habitadas, o sexo e a faixa de comprimento aproximado do indivíduo no interior

da galeria (COSTA, 1972). Abaixo estão descritos os métodos de captura do

caranguejo-uçá utilizados nas regiões Norte e Nordeste do país:

i) Braceamento - consiste na coleta dos indivíduos pela introdução do

braço nas galerias para a retirada dos caranguejos (NORDI, 1992);

ii) Tapamento - consiste na obstrução da saída das diversas galerias

com pedaços de plantas e/ou sedimentos do próprio mangue, fazendo com que

os caranguejos movam-se em direção à superfície (NORDI, 1992);

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

54

iii) Ratoeira - é uma armadilha construída a partir de latas vazias, onde

iscas são utilizadas para atrair e aprisionar o caranguejo quando ele,

acidentalmente, aciona o mecanismo de fechamento da mesma (NORDI,

1992);

iv) Raminho - consiste na introdução de um ramo de planta na galeria

para atiçar o caranguejo, que ao agarrá-lo é puxado para fora mesma (NORDI,

1992);

v) Redinha - é uma armadilha de rede armada na saída da galeria onde

o caranguejo é imobilizado na medida em que tenta desprender-se da mesma

(NORDI, 1992);

vi) Laço - é uma armadilha construída com um pedaço de bambu, sendo

uma extremidades introduzida no sedimento e na outra amarrado um fio de

seda feito um laço de forca (MANESCHY, 1993);

vii) Gancho ou Cambito – consiste na introdução de uma vara com um

gancho na ponta para a remoção do caranguejo (LEGAT & PUCHNICK, 2003).

A Portaria do IBAMA Nº 034/03-N de junho de 2003 permite nos Estados

do Norte e Nordeste a captura de caranguejo-uçá apenas através do método

de braceamento com o auxílio de gancho, ou cambito, com proteção na

extremidade. Contudo, os catadores ainda continuam utilizando todas essas

técnicas de captura acima descritas.

A densidade é um parâmetro imprescindível para o manejo do

caranguejo-uçá (BRANCO, 1993; BLANKENSTEYN, CUNHA-FILHO &

FREIRE, 1997; IVO et al., 2000; ALVES & NISHIDA, 2004; ALVES, NISHIDA &

HERNANDEZ, 2005; DIELE, KOCK & SAINT-PAUL, 2005). A estimativa da

densidade de caranguejos semiterrestres tem sido um tópico relativamente

bem abordado na literatura (WARREN, 1990; LOURENÇO, PAULA &

HENRIQUE, 2000; FLORES, ABRANTES & PAULA, 2005). No entanto, a

escolha do método ideal para se obter uma estimativa mais confiável é um dos

maiores entraves para esse tipo de estudo, particularmente para braquiúros

semiterrestres que habitam costões rochosos (FLORES & PAULA, 2002) e

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

55

manguezais (NOBBS & MCGUINESS, 1999; MACIA, QUINCARDETE &

PAULA, 2001; SKOV et al., 2002). A quantificação direta do número de

galerias/área tem sido um dos métodos mais utilizados para a estimativa da

densidade populacional de braquiúros semiterrestres (LOURENÇO PAULA &

HENRIQUE, 2000; SKOV et al., 2002).

Estimativas que utilizam a morfologia da abertura das galerias de U.

cordatus, bem como sua inclinação de 45º em relação ao sedimento (COSTA,

1979; GERALDES & CALVENTI, 1983) possibilitam seu fácil reconhecimento

em relação às demais espécies escavadoras, especialmente das espécies do

gênero Uca. Tais métodos para o caranguejo-uçá ganham ainda maior

robustez quando: i) as galerias abandonadas (sem atividade biogênica) e ii)

aquelas com dupla abertura, contadas como uma única galeria, são ambas

desconsideradas durante as estimativas (HATTORI, 2002). Utilizando-se tal

refinamento, os valores estimados têm sido mais próximos aos reais

(BREITFUSS, 2003), trazendo grande aceitação da comunidade científica ao

método de estimativa indireta da densidade por quantificação das galerias/área

(SKOV et al., 2002; JORDÃO & OLIVEIRA, 2003).

1.3.1 IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA

Nos manguezais, a interação planta-animal é de fundamental

importância na distribuição, estrutura e ciclagem de nutrientes. Isto pode ser

atribuído à presença de insetos e de caranguejos no sistema, haja vista esses

animais serem os principais predadores de sementes e propágulos, além de

interferirem no processo de ciclagem da matéria vegetal do sistema

(ROBERTSON, 1991). De fato, o caranguejo-uçá possui importante função

ecológica dentro das florestas de mangue. De hábito basicamente herbívoro,

essa espécie de caranguejo alimenta-se de folhas senescentes que caem das

árvores de mangue, armazenando-as em sua galeria. Devido ao baixo valor

nutricional e à difícil ingestão, esses animais precisam ingerir uma quantidade

excessiva de folhas senescentes de Rhizophora mangle, pois assimilam

apenas 7,2% da energia orgânica, sendo o restante excretado de volta ao

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

56

ambiente (KOCH, 1999; KOCH & WOLF, 2002; NORDHAUS, 2004;

NORDHAUS, WOLFF & DIELE, 2006).

A quantidade elevada de folhas que os caranguejos-uçá ingerem e

entocam em suas galerias, contribuem para diminuir a “exportação” de matéria

orgânica dos manguezais, pelas marés vazantes (KOCH, 1999; KOCH &

WOLF, 2002; SCHORIES et al., 2003). A análise do processo de exportação de

matéria orgânica dos manguezais para as águas costeiras evidencia que cerca

de 30% da produção fica retida dentro do próprio manguezal, sendo consumida

pela fauna local, enquanto que o restante é exportado para os sistemas

aquáticos adjacentes (BOTO & BUNT, 1981; ALONGI et al., 1998; DITTMAR,

1999; KOCH, 1999). O simples ato de entocar material nas galerias

subterrâneas do manguezal revela o importante papel do caranguejo-uçá no

aproveitamento da matéria orgânica produzida e na ciclagem de nutrientes,

além de aumentar o fluxo de energia na cadeia alimentar nesse ecossistema

(KOCH, 1999; SCHORIES et al., 2003).

O caranguejo-uçá, segundo Koch (1999), está em segundo lugar no

fluxo energético em função de apresentar maior biomassa e ao seu

comportamento no processamento do material orgânico no manguezal. Além

do mais, sua presença nos manguezais é também importante para a

manutenção desse ecossistema por devolver ao substrato, em forma de

partículas, cerca de 70% das folhas consumidas, facilitando assim a ação e a

eficiência de bactérias decompositoras e de outros organismos saprófitos.

1.3.2 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

U. cordatus constitui um importante recurso pesqueiro, por ser um

alimento rico em proteínas, vitaminas e sais minerais (FISCARELLI, 2004) e

constar da alimentação básica das comunidades litorâneas tradicionais

(GLASER & GRASSO, 1998). Além disso, a pesca desse caranguejo constitui

a principal fonte de renda de muitas comunidades que vivem às margens dos

manguezais (GLASER & DIELE, 2004). Assim, o caranguejo-uçá assume

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

57

características de recurso pesqueiro de elevado valor socioeconômico nas

regiões Norte e Nordeste do Brasil, contribuindo para a geração de emprego e

renda nas comunidades pesqueiras que vivem nas zonas de estuário. Sua

comercialização atinge altos valores em função da sua elevada procura na

gastronomia das grandes cidades (NASCIMENTO, 1993), o que certamente

tem auxiliado no impacto sobre suas populações naturais. Embora conste na

Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes

Sobreexplotadas ou Ameaçadas de Sobreexplotação (Anexo II da Instrução

Normativa N° 5 de 21 de maio de 2004 do MMA), U. cordatus é uma espécie

de caranguejo de grande interesse comercial.

A criação desse caranguejo em cativeiro ainda apresenta várias

dificuldades técnicas, as quais promovem: i) elevada taxa de mortalidade na

fase larval (RODRIGUES & HEBLING, 1989) e ii) reduzida taxa de crescimento

(DIELE, KOCH & SAINT-PAUL, 2005; PINHEIRO, FISCARELLI & HATTORI,

2005), maximizando os gastos para a larvicultura e evitando o crescimento

adequado para a comercialização (HATTORI, 2002). Por fim, segundo

OSTRENSKY et al. (1995), é importante ressaltar que a viabilidade da criação

em cativeiro do caranguejo-uçá também está atrelada à alimentação dos

indivíduos, ou seja, depende da formulação de uma ração que permita o

aumento da taxa de crescimento dos indivíduos.

A notável diminuição do caranguejo-uçá nos manguezais do Norte e

Nordeste do país tem sido a principal preocupação dos órgãos gestores,

indicando a premência de estudos sobre a viabilidade técnico-econômica de

seu cultivo e quantificação de seus estoques pesqueiros (OSTRENSKY et al.,

1995; BLANKENSTEYN, CUNHA-FILHO & FREIRE, 1997; BOTELHO, DIAS &

IVO, 1999; IVO & GESTEIRA, 1999; IVO et al., 1999; VASCONCELOS,

VASCONCELOS & IVO, 1999; SOUZA, 1999; DIELE, 2000; GÓES et al., 2000;

RODRIGUES et al., 2000). Portanto, mesmo com os estudos disponíveis na

literatura, é evidente a escassez de informações sobre as interações biológicas

que influenciam a abundância e/ou densidade desta espécie nas florestas de

mangue. Assim, o presente trabalho apresenta-se com o propósito de gerar

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

58

informações que contribuam para o preenchimento dessa lacuna nos estudos

sobre o caranguejo-uçá.

1.4 ESCOPO DA DISSERTAÇÃO

A presente dissertação possui quatro capítulos. O CAPÍTULO 1 é uma

introdução geral sobre o ecossistema manguezal, enfatizando as florestas de

mangue e o caranguejo-uçá, cujo objetivo é apresentar informações

importantes, as quais ressaltem as principais características e relevância de

ambos. Os outros três capítulos apresentam os resultados e discussões acerca

da estrutura populacional das espécies arbóreas de mangue e do caranguejo-

uçá, Ucides cordatus, bem como sua interação ao longo da Reserva

Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

CAPÍTULO 2 - “Atributos estruturais das florestas de mangue da Reserva

Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA” – contribui para

o conhecimento dos manguezais da costa paraense, enfatizando a composição

e distribuição espacial dos mangues nos limites da Reserva Extrativista

Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá, Pará

CAPÍTULO 3 – “Biometria e estrutura populacional do caranguejo-

Uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Brachyura) nos

manguezais da Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá,

Curuçá-Pa - analisa comparativamente a eficiência de duas técnicas de

estimativa de densidade usadas para o caranguejo-uçá, além de verificar a

relação entre variáveis biométricas e populacionais desse caranguejo e os

atributos estruturais dos manguezais onde vivem na Reserva Extrativista

Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA

O CAPÍTULO 4 é uma discussão geral abrangendo os aspectos da

estrutura das florestas de mangue e das populações do caranguejo-uçá, no

intuito de melhor entender suas características individuais e suas interações.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, M. M. O.; MEHLIG. U.; NASCIMENTO, R. E. S. A. & MENEZES, M. P. M. Análise de composição florística e estrutura de um fragmento de bosque de terra firme e de um manguezal vizinhos na Península de Ajuruteua, Bragança-Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais, Belém. v. 1, n. 3: 27-34, 2006.

ABRUNHOSA, F. A.; SILVA NETO, A. A.; MELO, M. A. & CARVALHO, L. O. Importância da alimentação e do alimento no primeiro estágio larval de Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Decapoda: Ocypodidae). Revista Ciência Agronômica. v. 33, n. 2, p. 5-12, 2002.

ABUODHA, P. A. W. & KAIRO, J. G. Human-induced stresses on mangrove swamps. Hydrobiologia. 458: 255-265, 2001.

ADAIME, R. R. Estrutura, produção e transporte em um manguezal. In: Simpósio Sobre Ecossistemas da Costa Sul e Sudeste Brasileira: Síntese dos Conhecimentos. Academia de Ciências do Estado de São Paulo, Cananéia, São Paulo: Aciesp, p. 80-99, 1987.

ALCÂNTARA-FILHO, P. Contribuição ao Estudo da Biologia e Ecologia do Caranguejo-uçá, Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapada, Brachyura), no Manguezal do Rio Ceará. (Brasil). Arquivos de Ciência do Mar, Fortaleza, 18(1/2), p. 1 – 42, 1978.

ALMEIDA, S. S. Identificação, avaliação de impactos ambientais e uso da flora em manguezais paraenses. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Ciências da Terra, Belém, Pará, Brasil, 8: 31-47, 1996.

ALONGI, D. M. The dynamics of bentic nutrient pools and fluxes in tropical mangrove forests. Journal Marine Research. 54: 123-148, 1996.

ALONGI, D. M.; SASEKUMAR, A.; TIRENDI, F. & DIXON, P. The influence of stand age on benthic decomposition and recycling of organic matter in managed mangrove forests of Malaysia. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, v. 225, p. 197–218, 1998.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

60

ALONGI, D. M.; TIRENDI, F. & CLOUGH, B. F. Below-ground decomposition of organic matter in forests of the mangroves Rhizophora stylosa and Avicennia marina along the arid coast of Western Australia. Aquatic Botany. 68: 97-122, 2000.

ALVES, R. R. N. & NISHIDA, A. K. Population structure of the mangrove crab Ucides cordatus (Crustacea: Decapoda: Brachyura) in the estuary of the mamanguape river, Norhteast Brazil. Tropical Oceanography, v. 32, p. 23-37, 2004.

ALVES, R. R. N.; NISHIDA, A. K. & HERNÁNDEZ, M. I. M.. Environmental perception of gatherers of the crab “caranguejo-uçá” (Ucides cordatus, Decapoda, Brachyura) affecting their collection attitudes. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 1: 10, 2005.

ANDRADE, F. A. G. & FERNANDES, M. E. B. Mamíferos. In: FERNANDES, M. E. B (Org.). Os manguezais da costa norte brasileira. Fundação Rio Bacanga, Maranhão, Brasil, v. II, p. 105-134, 2005.

AUGUSTINUS, P. G. E. F. Geomorphology and Sedimentology of Mangroves. In: PERILLO, G. M. E. (Ed.). Geomorphology and Sedimentology of Estuaries. Amsterdam, Elsevier., p. 333-357, 1995.

BASTOS, M. N. C. & LOBATO, L. C. B. Estudos fitossociológicos em áreas de bosque de mangue na Praia do Crispim e Ilha de Algodoal, Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Ciências da Terra. Belém, Pará, Brasil, 8: 157-167, 1996.

BLANKENSTEYN, A.; CUNHA-FILHO, D. & FREIRE, A. S. Distribuição, estoques pesqueiros e conteúdo protéico do caranguejo do mangue Ucides cordatus (L. 1763) (Brachyura, Ocypodidae) nos manguezais da Baía das Laranjeiras e adjacências.Paraná. Brasil. Arquivos de Biologia e Tecnologia, 40 (2): 331-339, 1997.

BOTELHO, E. R. O.; DIAS, A. F. & IVO, C. T. C. Estudo sobre a biologia do caranguejo-uçá Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763), capturado nos estuários dos Rios Formoso (Rio Formoso) e Ilhetas (Tamandaré), no estado de Pernambuco. Boletim Técnico Científico do CEPENE, v. 7, n. 1, p. 117-145, 1999.

BOTO, K. G. & BUNT, J. S. Tidal export of particulate organic matter from a Northern Australian mangrove system. Estuarine, Coastal and Shelf Science, vol. 13, p. 247-255, 1981.

BOWMAN, T. E. & ABELE, L. G. Classification of the recent Crustacea. In: Abele, L.G. (ed.), The bíology of Crustacea, vol 1; Systematícs, the Fossíl Record and Biogeography. New York: Academic Press. p.1-27, 1982.

BRANCO, J. O. Aspectos ecológicos do caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapoda) do manguezal do Itacorubi, Santa Catarina, Brasil. Arquivos de Biologia e Tecnologia, v. 36, n. 1, p. 133-148, 1993.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

61

BREITFUSS. M. J. Defining the characteristics of burrow to better estimate abundance of the grapsid crab, Helograpsus haswellianus (Decapoda, Grapsidae), on east Australian saltmarsh. Crustaceana, v. 76, n. 4, p. 499-507, 2003.

BROWN, S. & LUGO, A. E. The storage and production of organic matter in tropical forests and their role in the global carbon cycle. Biotropica, 14: 161-187, 1982.

CASTRO, A. C. L. Aspectos Bioecológicos do caranguejo-uçá, Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) no estuário do rio dos Cachorros e estreito do Coqueiro, São Luís do Maranhão. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia. V. 7, p.7-26, 1986.

CINTRÓN-MOLERO G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Ecology and Management of New World Mangroves. In: SEELIGER, U. (ed.). Coastal Plant Communities of Latin America. San Diego: Academic Press. p. 157-193, 1992.

CINTRÓN-MOLERO, G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Caracteristicas y desarrollo estructural de los manglares de Norte y Sur America. Ciencia interamericana, 25: 4-15, 1985.

CINTRÓN-MOLERO, G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Introducción a la ecología del manglar. Montevideo. UNESCO/ROSTLAC, 1983.

CINTRÓN-MOLERO, G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Proposta para estudo dos recursos de marismas e manguezais. Relatatório Interno do Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo, 10: 1-13, 1981.

COSTA, R. S. Biologia do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus), 1763) –Crustáceo, decápode – no Nordeste brasileiro. Boletim Cearense Agronômico, Fortaleza, v. 20, p. 1 – 74, 1979.

COSTA, R. S. Fisiologia do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) – Crustáceo, Decápodo do Nordeste Brasileiro. 1972. 121 f. Tese (Doutorado em Oceanografia) – Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1972.

CRUZ, R. C. A.. Turismo e impacto em ambientes costeiros: Projeto Parque das Dunas - Via Costeira, Natal (RN). 1995. Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo, 1995.

D’AQUINO, G. & SANTANA, G. Ontem manguezais, hoje bairro do Agreste. In: III Workshop ECOLAB. Resumos… Belém, Pará, Brasil, p. 139-140, 1995.

DALABONA, G. & SILVA, J. L. Período reprodutivo de Ucides cordatus (Linnaeus) (Brachyura, Ocypodidae) na Baía das Laranjeiras, sul do Brasil. Acta Biológica Paranaense, 34 (1,2,3,4): 115-126, 2005.

DIELE, K. Life history and population structure of the exploited mangrove crab Ucides cordatus (L.) (Decapoda: Brachyura) in the Caeté estuary, North Brazil. Bremen, 2000. 103 f. Tese (Doutorado na área de especialidade

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

62

2 –Biologia/Química) - Zentrum für Marine Tropenökologie, Universität Bremen. 2000.

DIELE, K.; KOCK, V. & SAINT-PAUL, U. Population structure, catch composition and CPUE of the artisanally harvest mangrove crab Ucides cordatus (Ocypodidae) in the Caeté estuary, North Brazil: Indications for overfishing? Aquatic Living Resources, vol. 18, p. 169-178, 2005.

DITTMAR, T. Outwelling of organic matter and nutrients from a mangrove in North Brazil: Evidence from organic tracers and flux measurements. Center for Tropical Marine Ecology, Bremen, ZMT-Contributions – 5, 1999.

DITTMAR, T.; LARA, R. J. & KATTNER, G. River or mangrove? Tracing major organic matter sources in tropical Brazilian coastal waters. Marine Chemistry, 73: 253-271, 2001.

DRACH, P. Meu Et Cycle D`Intermute Chez Les Crustacés Décapodes. Ann. Inst. Oceanog. Paris (NIS), 19: 103-391, 1939.

DUKE, N. C. Mangrove floristics and biogeography. In: ROBERTSON, A.I.; ALONGI, D.M. Tropical mangrove ecosystems. Washington D.C.: American Geophysical Union, p. 63-100, 1992.

FERNANDES, M. E. B. Association of mammals with mangrove forests: a world wide review. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia, 13: 83-108, 2000.

FISCARELLI, A. G. Rendimento, Análise Químico-Bromatológica da carne e fator de condição do caranguejo-uçá Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Brachyura, Ocypodidae). 2004. 92 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia – Área de Produção Animal) – Faculdade de Ciência Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2004.

FLORES, A. A. V. & PAULA, J. Population dynamics of the shore crab Pachygrapsus marmoratus (Brachyura: Grapsidae) in the Central Portuguese coast. Journal of Marine Biology. Assoc. U.K., v. 82, n. 2, p. 229-241, 2002.

FLORES, A. A. V.; ABRANTES, K. G. & PAULA, J. Estimating abundance and spatial distribution patterns in the bubble crab Dotilla fenestrata (Crustacea, Brachyura). Austral Ecology, v. 30, n. 1, p. 14-23, 2005.

GERALDES, M. G. & CALVENTI, I. B. Estudios experimentales para el mantenimiento em cautiverio del cangrejo Ucides cordatus. Ciência Interamericana, v. 23, n. 4, p. 41-53, 1983.

GLASER, M. & DIELE, K. Asymetric outcomes: assessing central aspects of the biological, economic and social sustainability of a mangrove crab fishery, Ucides cordatus (Ocypodidae), in North Brazil. Ecological Economics, 49: 361-373, 2004.

GLASER, M. & GRASSO, M. Fisheries of a mangrove estuary: Dynamic and interrelationships between economy and ecosystem in Caeté Bay, Notheastern Pará, Brazil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Zoologia, v. 14, p. 95-125, 1998.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

63

GÓES, P.; SAMPAIO, F. D. F; CARMO, T. M. S; TÔSO, G. C. & LEAL, M. S. Comportamento e períodos reprodutivos do caranguejo do mangue Ucides cordatus. In: Simpósio de Ecossistemas Brasileiros: Conservação, 5. 2000, Vitória, ES. Academia de Ciências do Estado de São Paulo, p. 335-348, 2000. (Publicações ACIESP, n. 109, v. 2).

GOLLEY, F.; ODUM, H. T. & WILSON, R. The structure and metabolism of a Puerto Rican red mangrove forest in May. Ecology, 43: 9-19, 1962.

HAMILTON, L. S. & SNEDAKER, S. C. Handbook for mangrove area management. East West Centre, International Union for the conservation of nature and natural resources & UNESCO, 123 p. 1984.

HATTORI, G. Y. Biologia populacional do caranguejo de mangue Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Brachyura, Ocypodidae) em Iguape (SP). 2002. 82 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia – Área de Produção Animal) – Faculdade de Ciência Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2002.

HERZ, R. Manguezais do Brasil. Instituto Oceanográfico. Universidade de São Paulo, 223 p. 1991.

HUTCHINGS, P. A. & SAENGER, P. Ecology of mangroves. University of Queensland Press. First Edition St. Lúcia. Brisbane. Australia, 388 p. 1987.

IVO, C. T. C. & GESTEIRA, T. C. V. Sinopse das observações sobre a bioecologia e pesca do caranguejo-uçá, Ucides cordatus cordatus (Linnaeus,1763), capturado em estuários de sua área de ocorrência no Brasil. Boletim Técnico-Científico do CEPENE, v. 7, n. 1, p. 9-52, 1999.

IVO, C. T. C.; DIAS, A. F.; BOTELHO, E. R. O.; MOTA, R. I.; VASCONCELOS, J. A. & VASCONCELOS, E. M. S. Caracterização das populações de caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), capturadas em estuários do nordeste do Brasil. Boletim Técnico-Científico do CEPENE, v. 8, n. 1, p. 9-43, 2000.

JORDÃO, J. M. & OLIVEIRA, R.F. Comparsion of non-invasive methods for quantifying population density of the fiddler crab Uca tangeri. Journal of Marine Biology. Assoc. U.K., v. 83, n. 5, p. 981-982, 2003.

KOCH, V. & WOLFF, M. Energy budget and ecological role of mangrove epibenthos in the Caeté estuary, North Brazil. Marine Ecology Progress Series (in press). Marine Ecology Progress Series 228: 119-130, 2002.

KOCH, V. Epibenthic production and energy flow in the Caeté mangrove estuary, North Brazil. 1999. 97 f. Tese (Doutorado em Ecologia). Center for Tropical Marine Ecology, University Bremen, Bremen, 1999.

LEGAT, J. F. A & PUCHNICK, A. Sustentabilidade da pesca do caranguejo-uçá, Ucides cordatus, nos Estados do Piauí e Maranhão: Uma Visão da Cadeia Produtiva do Caranguejo a partir de Fóruns Participativos de Discussão. EMBRAPA Meio-Norte, Parnaíba, Brasil, 25 p. 2003.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

64

LIMA, T. C. M.; PAOLI, A. A. S. & GIRNOS, E. C. Morfo-anatomia foliar do gênero Rhizophora L. In: FERNANDES, M. E. B. (org.). Os manguezais da costa norte brasileira II. Fundação Rio Bacanga, Maranhão, Brasil, p. 33-52, 2005.

LOURENÇO, R.; PAULA, J. & HENRIQUE, M. Estimating the size of Uca tangeri (Crustacea, Ocypodidae) without massive crab capture. Marine Science, v. 64, n. 4, p. 437-439, 2000.

LUGO, A. E. & SNEDAKER, S. C. The ecology of mangroves. Annual Review of Ecology and Systematic, 5: 39-64, 1974.

LUTZ, A. Contribuição para o Estudo das “Ceratopogoninas” Hematófagas Encontradas no Brasil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 6 (1): 1–33, 1912.

MACIA, A.; QUINCARDETE, I. & PAULA, J. A comparison of alternative methods for estimating population density of the fiddler crab Uca annulipes at Saco Mangrove, Inhaca Island (Mozambique). Hydrobiologia, v. 449, n. 1-3, p. 213-219, 2001.

MACIEL, N. C. Alguns Aspectos da Ecologia da Manguezal. In. Alternativas de Uso e Proteção dos Manguezais do Nordeste. CPRH, Série Publicações Técnicas, Recife. p. 9-37, 1991.

MANESCHY, M. C. Pescadores nos manguezais: estratégias técnicas e relações sociais de produção na captura de caranguejo. In: Furtado, L.; LEITÃO, W. & MELLO, A. F. (Orgs.). Os povos das águas. Belém, CNPq/Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará, Brasil, p. 19-62, 1993.

MANESCHY, M. C. Sócio-economia: Trabalhadores e Trabalhadoras nos Manguezais. In: FERNANDES. M. E. B. (org.). Os Manguezais da Costa Norte Brasileira. Maranhão: Fundação Rio Bacanga, v. 2, p.135-165, 2005.

MASCARENHAS, R. E. B. & GAMA, J. R. N. F. Extensão e característica das áreas de mangue do litoral paraense. Embrapa Amazônica Oriental, Belém, Pará, Brasil, 20 p. 1999.

MELO, G. A. Manual de identificação dos Brachyura (caranguejos e siris) do Litoral Brasileiro, São Paulo: Ed.Plêiade/FAPESP. 603 p. 1996.

MENDES, A. C. Geomorfologia e Sedimentologia. In: FERNANDES. M. E. B. (org.). Os Manguezais da Costa Norte Brasileira. Maranhão: Fundação Rio Bacanga, v. 2, p. 13-30, 2005.

MOTA-ALVES, M. I. Sobre a reprodução do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus), em mangues do Estado do Ceará (Brasil). Arquivos de Ciências do Mar, v. 15, n. 2, p. 81-95, 1975.

NASCIMENTO, I. Projeto: formas de utilização social dos manguezais - coletores e extratores do litoral do Pará. In: III Workshop ECOLAB. Resumos... Belém, Pará, Brasil. p. 143-144, 1995.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

65

NASCIMENTO, S. A. Biologia do caranguejo-uçá (Ucides cordatus). Aracajú: ADEMA (Administração Estadual do Meio Ambiente), p.13-45, 1993.

NEIMAN, Z. Era verde?: ecossistemas brasileiros ameaçados. São Paulo: Editora Atual, 1989.

NG, P. K. L.; GUINOT, D. & DAVIE, P. J. F. Systema Brachyurorum: Part I - An annotated checklist of extant brachyuran crabs of the world. Raffles Bulletin of Zoology, Singapore, n. 17, p. 1-286, 2008.

NOBBS, M. & MCGUINESS, K. Developing methods for quantifying the apparent abundance of fiddler crabs (Ocypodidae: Uca) in mangrove habitats. Australian Journal of Ecology, v. 24, p. 43-49, 1999.

NORDHAUS, I. Feeding Ecology of the semi-terrestrial crab Ucides cordatus cordatus (Decapoda: Brachyura) in a mangrove forest in northern Brazil. PhD. Thesis. University of Bremen, 2004.

NORDHAUS, I.; WOLFF, M. & DIELE, K. Litter processing and population food intake of the mangrove crab Ucides cordatus in a high intertidal forest in northern Brazil. Estuarine, Coastal and Shelf Science, 67: 239-250, 2006.

NORDI, N. A captura do caranguejo-uçá (Ucides cordatus) durante o evento reprodutivo da espécie: o ponto de vista dos caranguejeiros. Revista Nordestina de Biologia. v, 9: 41-47, 1994.

NORDI, N. Os catadores de caranguejo-uçá (Ucides cordatus) da região de Várzea Nova (PB): Uma abordagem ecológica e social. Tese de doutorado, UFSCar. São Carlos. 107 pp. 1992.

OSTRENSKY, A.; STERNHAIN, U. S.; BRUN, E.; WEGBECHER, F. X. & PESTANA, D. Análise da viabilidade técnico-econômica dos cultivos do caranguejo -uçá Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) no litoral paranaense. Arquivos de Biologia e Tecnologia, 38 (3): 939 – 947, 1995.

PAIVA, M. P.; BEZERRA, R. C. & FONTELES-FILHO, A. A. Tentativa de avaliação dos recursos pesqueiros do nordeste brasileiro. Arquivos de Ciências do Mar, Fortaleza, 11(1): 1-43, 1971.

PINHEIRO, M. A. & FISCARELLI, A. G. Manual de Apoio à Fiscalização do Caranguejo-uçá (Ucides cordatus). CEPSUL. Itajaí (Santa Catarina). 43p. 2001.

PINHEIRO, M. A.; FISCARELLI, A. G. & HATTORI, G. Y. Growth Of The Mangrove Crab Ucides cordatus (Brachyura, Ocypodidae). Journal of Crustacean Biology, 25(2): 293–301, 2005.

PRIMAVERA, J. H. Tropical shrimp farming and its sustainability. In: De Silva, S. (ed.) Tropical Mariculture. London: Academic Press, p. 257-289, 1998.

PROST, M. T. & LOUBRY, D. Estrutura de espécies de manguezais e processos geomorfológicos: interesse da abordagem integrada. V Workshop ECOLAB. Macapá, Amapá, Brazil. p. 147-151, 2000.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

66

PROST, M. T. R. & RABELO, B. V. Variabilidade fito-espacial de manguezais litorâneos e dinâmica costeira: exemplos da Guiana Francesa, Amapá e Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Ciências da Terra. Belém, Pará, Brasil, 8: 101-121, 1996.

QUIÑONES, E. M. Relações água-solo no sistema ambiental do estuário

de Itanhaém (SP). Tese de Doutorado. Faculdade de Engenharia Agrícola,

Universidade de Estadual de Campinas, p. 07, 2000.

RIBEIRO, T. E.; SILVA, J. M. L.; OLIVEIRA JÚNIOR, R. C. & VALENTE, M. A. Homem-meio: sítios arqueológicos do litoral do Salgado, Pa. In: III Workshop ECOLAB. Resumos... Belém, Pará, Brasil, p.135-137, 1995.

ROBERTSON, A. I. Plant-animal interactions and the structure and function of mangrove Forest ecosystems. Australian Journal of Ecology, 16: 433- 443, 1991.

RODRIGUES, A. M. T.; BRANCO, E. J.; SACCARDO, S. A. & BLANKENSTEYN, A. A. exploração do caranguejo Ucides cordatus (Decapoda: Ocypodidae) e o processo de gestão participativa para normatização da atividade na região sudeste-sul do Brasil. Boletim do Instituto de Pesca, v. 26, n. 1, p. 63-78, 2000.

RODRIGUES, M. D. & HEBLING, N. J. Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapoda). Complete larval development under laboratory conditions and its systematic position. Revista Brasileira de Zoologia, v. 6, n. 1, p. 147-166, 1989.

RODRIGUES, M. D. Desenvolvimento pós-embrionário de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustácea, Decapoda, Gecarcinidae). São Paulo, 1982. 101f. Dissertação (Mestrado), Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 1982.

SAENGER, P.; HEGERL, E. & DAVIES, J. D. S. Global Status of Mangroves Ecosystems. The Environmentalist, 3(3): 1-88, 1983.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. & CINTRÓN-MOLERO, G. Expedição Nacional aos Manguezais do Amapá, Ilha de Maracá. Relatório técnico. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), p. 99, 1988.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. & CINTRÓN-MOLERO, G. Guia para estudo de áreas de manguezal: estrutura, função e flora. Caribbean Ecological Research, São Paulo, Brasil, 150 p. 1986.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal: Ecossistema entre a Terra e o Mar. Caribbean Ecological Research. São Paulo, Brasil, 64 p. 1995.

SCHORIES, D.; BARLETTA-BERGAN, A.; BARLETTA, M.; KRUMME, U.; MEHLIG, U. & RADEMAKER, V. The keystone role of leaf-removing crabs in mangrove forests of North Brazil. Wetlands Ecology and Management, vol. 11, p. 243-255, 2003.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

67

SEIXAS, J. A. S.; FERNANDES, M. E. B. & SILVA, E. S. Análise estrutural da vegetação arbórea dos bosques no Furo Grande, Bragança, Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Ciências Naturais, Belém, Pará, Brasil, 2(3): 35-43, 2006.

SENNA, C.; MELLO, C. F. & FURTADO, L. G. Impactos naturais e antrópicos em manguezais do litoral nordeste do estado do Pará. In: FURTADO, L. G. & QUARESMA, H. D. A. B. (Orgs.). Gente e ambiente no mundo da pesca artesanal. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará, Brasil, p. 209-238, 2002.

SKOV, M. W.; VANNINI, M.; SHUNULA, J. P. & HARTNOLL, R. G. Quantifying the density of mangrove crabs: Ocypodidae and Grapsidae. Marine Biology, v. 141, n. 4, p. 725-732, 2002.

SMITH III, T. J. Forest structure. In: ROBERTSON, A. I. & ALONGI, D. M. (Eds.). Tropical mangrove ecosystems. Coastal and estuarine series. American Geophysical Union, Washington, USA, p. 101-136, 1992.

SNEDAKER, S. C. Mangroves: Their value and perpetuation. Nature and Resources. UNESCO, 14(3): 6-13, 1978.

SOUZA FILHO, P. W. M. Costa de Manguezais de Macromaré da Amazônia: Cenários Mofológicos, Mapeamento e Quantificação de Áreas Usando Dados de Sensores Remotos. Revista Brasileira de Geofísica, 23(4): 427-435, 2005.

SOUZA, E. P. Distribuição, aspectos reprodutivos e morfométricos do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) no Manguezal de Itacuruça-Coroa Grande, Baía de Sepetiba, RJ. 1999. 47 f. Dissertação (Mestrado em Zoologia) - Instituto de Biociências, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica/Rio de Janeiro, 1999.

SPALDING, M. D.; BLASCO, F. & FIELD, C. D. World mangrove atlas. The International Society for mangrove Ecosystems, Okinawa, Japan, 178 p. 1997.

SZLAFSZTEIN, C. F. Vulnerability and response measures to natural hazards and sea level rise impacts: long-term coastal zone management, NE of the state of Pará, Brazil. ZMT Contributions 17. Center for Marine Tropical Ecology (ZMT). Bremen, Germany. 192 p. 2003.

TOMLINSON, P. B. The Botany of Mangroves. Cambridge: Cambridge University Press. 419 p, 1986.

VASCONCELOS, E. M. S.; VASCONCELOS, J. A. & IVO, C. T. C. Estudo sobre a biologia do caranguejo-uçá Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), capturado no estuário do Rio Curimatau (Canguaretama) no Estado do Rio Grande do Norte. Boletim Técnico-Científico do CEPENE, v. 7, n. 1, p. 85-116, 1999.

WALSH, G. E. Mangrove forests: a review. In: R.J. REINOLD & W.H. QUEEN (Eds.). Ecology of Halophytes. Academic Press. New York, 1974.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

68

WARREN, J. H. The use of open burrows to estimate abundance of intertidal estuarine crabs. Australian Journal of Ecology, v.15, p.277-280, 1990.

WOLCOTT, T. G. Ecology. In: Burggren, W. W. & B. R. McMahon, eds. Biology of the Land Crabs. Cambridge University Press, USA, p. 55 – 96, 1988.

WUNDERLICH, A. C.; RODRIGUES, A. M. T.; LIN, C. F. & PINHEIRO, M. A. A.. Etograma da “andada” de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (BRACHYURA, OCYPODIDAE) na Baía da Babitonga, SC. In: Livro de resumos do II Congresso Brasileiro sobre Crustáceos / Ed. Fernando Luis Mantelatto. São Pedro: Sociedade Brasileira de Carcinologia, p. 237, 2002.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

69

CAPÍTULO 2

ATRIBUTOS ESTRUTURAIS DAS FLORESTAS DE MANGUE DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA “MÃE GRANDE” DE CURUÇÁ,

CURUÇÁ-PA

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

70

RESUMO

O presente trabalho visa contribuir para o melhor conhecimento dos

manguezais da costa paraense, enfatizando a composição e distribuição

espacial dos mangues nos limites da Reserva Extrativista Marinha “Mãe

Grande” de Curuçá, Curuçá-PA. O trabalho de campo investigou cinco sítios de

trabalho de forma a cobrir a maior parte da RESEX. As espécies de mangue

foram identificadas e seus atributos estruturais mensurados. Os resultados

apontam a ocorrência de três espécies típicas: Rhizophora mangle, Avicennia

germinans e Laguncularia racemosa. R. mangle foi a espécie mais abundante e

dominou a paisagem da RESEX. Nos sítios localizados nas ilhas (3, 4 e 5) foi

registrada a presença de indivíduos de diferentes portes, indicando um

processo constante de renovação dos bosques, enquanto nos sítios 1 e 2 a alta

densidade de indivíduos de portes menores sugere a presença de bosques

jovens ou em regeneração. Todos os sítios apresentaram árvores mortas,

evidenciando um processo de mortalidade natural associada à competição

interindividual. Contudo, somente o Sítio 1 apresentou indivíduos mortos por

ação antrópica, o que explica o alto índice de indivíduos jovens, ou seja, o seu

processo de regeneração acentuada, resultado da sua localização próximo às

vilas e assentamentos humanos.

Palavras-chave: Manguezal, estrutura de bosque, Curuçá.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

71

INTRODUÇÃO

O manguezal apresenta grande variação dos fatores ambientais e

reduzida diversidade florística, com espécies herbáceas e arbóreas adaptadas

morfofisiologicamente a sobreviver em águas salobras e substratos

inconsolidados, com baixa concentração de oxigênio (NAIDOO 1985;

TOMLINSON 1986). As relações tróficas entre as florestas de mangue e os

ecossistemas marinhos podem ser caracterizadas pela biomassa e

produtividade dos manguezais, apresentando ambos relações estreitas com a

estrutura das florestas de mangue (FROMARD et al. 1999).

A estrutura dos bosques de mangue refere-se à composição das

espécies e às principais características dos espécimes, como: altura, diâmetro,

área basal, densidade, etc., além da distribuição desses componentes na

paisagem vegetacional (SMITH III 1992), refletindo as características e hábitos

de crescimento das espécies vegetais (CINTRÓN-MOLERO & SCHAEFFER-

NOVELLI 1985).

A estrutura da vegetação fornece idéia do grau de desenvolvimento das

florestas de mangue, possibilitando a identificação e a delimitação dessa

vegetação entre diferentes paisagens (SCHAEFFER-NOVELLI & CINTRÓN-

MOLERO 1986). De fato, a caracterização estrutural dos manguezais constitui

valiosa ferramenta no que concerne à resposta desse ecossistema às

condições ambientais existentes, bem como aos processos de alteração do

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

72

meio, auxiliando, assim, nos estudos e ações que objetivam a conservação

desse ecossistema (SOARES 1999).

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA) tem adotado uma política de implantação de Reservas Extrativistas

Marinhas - RESEXM (GLASER & OLIVEIRA 2004) ao longo da costa

paraense, que envolve diretamente as áreas de manguezais. Aliado a essa

política, encontra-se a geração de informações sobre a estrutura e a

distribuição da vegetação dos manguezais nessas áreas de reserva, o que se

torna fundamental para efetivar o processo de implantação e implementação

das mesmas.

Na costa norte brasileira poucos são os estudos que enfocam a estrutura

e a dinâmica das maiores e mais desenvolvidas florestas de mangue do mundo

(DAMÁSIO 1980a, 1980b; SCHAEFFER-NOVELLI & CINTRÓN-MOLERO

1988; ALMEIDA 1996; PROST & RABELO 1996; BASTOS & LOBATO 1996;

FERNANDES 1997; MENEZES, BERGER & WORBES 2003; MENEZES,

BERGER & MEHLIG 2008). Portanto, o presente trabalho vem contribuir para o

conhecimento dos manguezais da costa paraense, enfatizando a composição e

distribuição espacial dos mangues nos limites da Reserva Extrativista Marinha

“Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá, Pará

MATERIAIS E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

73

O presente trabalho foi realizado no município de Curuçá-PA, nordeste

paraense, entre as coordenadas 00°30’S, 00°45’S e 48°00’W, 47°30’W, dentro

dos limites da Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá (Figura

1).

Figura 1. Mapa ilustrando os sítios de trabalho na Reserva

Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA. Sítio 1 –

Vila de Curuperé; Sítio 2 – Fazenda São Paulo; Sítio 3 – Ilha

Mutucal; Sítio 4 – Ilha Ipomonga e Sítio 5 – Ilha Mariteua.

O município de Curuçá apresenta um patrimônio natural composto por

várias ilhas de considerável extensão e de formação recente: Ilha Mutucal, Ilha

Ipomonga, Ilha Mariteua ou Ilha dos Guarás, Ilha Pacamorema, Ilha Cipoteua e

Ilha Santa Rosa. O clima do município fica inserido na categoria Equatorial

Amazônico, do tipo Am da classificação de Köppen. Caracteriza-se pelas

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

74

temperaturas elevadas, com média de 27ºC, pequena amplitude térmica, e

precipitações abundantes que ultrapassam os 2000 mm anuais, sendo os

meses mais chuvosos de janeiro a junho, e os menos chuvosos, de julho a

dezembro (FIGUEIREDO et al. 2009).

A Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, criada em

2002, é considerada uma das mais importantes Unidades de Conservação

(UC) localizadas na costa amazônica. Sua área abrange 37.062 hectares de

estuário, povoada por 6000 pescadores e suas famílias, instaladas em

comunidades localizadas nas ilhas próximo aos furos, rios, praias e

manguezais da região (FIGUEIREDO et al. 2009).

As Reservas Extrativistas Marinhas são UC (Unidades de Conservação)

nacionais que se inserem na classificação do Governo Federal como de uso

sustentável – cujo objetivo legal é conciliar manutenção dos meios de vida da

população tradicional que vive em sua área à conservação de recursos naturais

renováveis locais (FIGUEIREDO et al. 2009).

O trabalho de campo foi realizado em cinco sítios de trabalho: Sítio 1 –

Vila de Curuperé; Sítio 2 – Fazenda São Paulo; Sítio 3 – Ilha Mutucal; Sítio 4 –

Ilha Ipomonga e Sítio 5 – Ilha Mariteua, distribuídos de forma a cobrir a maior

parte do estuário de Curuçá (Figura 1). O acesso aos sítios de trabalho foi

realizado através de canoa ou embarcação motorizada, exceto no Sítio 1, pois

o mesmo localiza-se no continente.

PROCEDIMENTO DE CAMPO

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

75

O trabalho de campo foi realizado durante o período de junho a

setembro de 2009. Em cada sítio de trabalho foram abertas oito parcelas de

25x25 m, perfazendo um total de meio hectare (5000 m2), sendo medidos ao

final do trabalho 2,5 ha. Em cada parcela as árvores foram identificadas e

mensuradas. A altura total (AT) foi estimada considerando da base à

extremidade superior da copa. As árvores com altura superior a 1 m tiveram a

circunferência do tronco medida com fita métrica, a aproximadamente 1,30 m

(circunferência à altura do peito - CAP), com posterior conversão para diâmetro

à altura do peito (DAP), inclusive os troncos das árvores mortas.

Os indivíduos registrados foram divididos em seis classes de DAP e

Altura, com o objetivo de analisar o desenvolvimento das florestas estudadas

(Tabela 1).

Tabela 1. Classes de DAP (cm) e Altura (m)

utilizadas para análise da estrutura das

florestas de mangue em todos os sítios de

trabalho na Reserva Extrativista Marinha

“Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

DAP (cm) ALTURA (m)

1 – 9,9 1 – 4,9

10 – 19,9 5 – 9,9

20 – 29,9 10 – 14,9

30 – 39,9 15 – 19,9

40 – 49,9 20 – 24,9

> 50 > 25

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

76

Os dados obtidos serviram como base para a estimativa dos seguintes

atributos estruturais: Frequência Relativa (FR), Densidade Relativa (DeR),

Dominância Relativa (DoR) e Valor de Importância (VI) = FR + DeR + DoR.

ANÁLISE DE DADOS

Os dados brutos foram testados quanto à sua normalidade através do

teste de Lilliefors. Os valores de cada atributo estrutural das árvores vivas e

mortas para cada espécies de mangue foram comparados entre os sítios de

trabalho através da análise de variância (ANOVA - um fator). A regressão linear

foi utilizada para analisar a arquitetura dos das árvores (todas as espécies

juntas) registradas nos sítios de trabalho através da relação entre os valores de

(DAP), altura total (AT) e densidade. Todas as análises foram realizadas

através do programa BioEstat 5.0 (AYRES et al. 2007).

RESULTADOS

Nas áreas de manguezal estudadas ocorreram três espécies arbóreas

típicas de mangue: Rhizophora mangle L. (Rhizophoraceae), Avicennia

germinans (L.) Stearn (Acanthaceae) e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn f.

(Combretaceae). Nos cinco sítios foram medidas 1981 árvores, sendo 1836 de

R. mangle (92,68%), 89 de L. racemosa (4,49%) e apenas 56 de A. germinans

(2,83%).

A espécie A. germinans apresentou os maiores valores de DAP em

todos os sítios de estudo, seguido por R. mangle e L. racemosa. Sendo no

sítio 4 registrado o maior valor de DAP (32,39 cm) para A. germinans. A altura

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

77

média geral foi mais elevada para a espécie R. mangle (13,68 m). A maior

altura das árvores de R. mangle foi registrada no sítio 4 (17,80 m), sendo que

essa espécie só perde em altura para A. germinans no sítio 3. L. racemosa é

maior apenas que A. germinans no sítio 1 (Tabela 2).

Em geral, a Frequência Relativa (FR) das espécies botânicas em todos

os sítios apresentou valores semelhantes, ou seja, R. mangle e A. germinans

foram registradas pelo menos uma vez em cada sítio, porém L. racemosa só foi

registrada nos Sítios 1 e 2 (Tabela 2).

R. mangle foi a espécie mais abundante em todos os sítios (densidade

relativa: Sítio 1 - 89,67%, Sítio 2 - 98,31%, Sítio 3 - 91,85%, Sítio 4 – 92,11% e

Sítio 5 – 97,26%), A. germinans a segunda mais abundante (densidade

relativa: Sítio 1 – 0,23%, Sítio 2 – 1,27%, Sítio 3 – 8,15%, Sítio 4 – 7,89% e

Sítio 5 – 2,79%), e L. racemosa foi a menos freqüente, presente em apenas

dois sítios (densidade relativa: Sítio 1 – 10,10% e Sítio 2 – 0,42%), aparecendo

principalmente em áreas de recolonização (clareiras e áreas com corte). R.

mangle apresentou Valor de Importância (VI) mais elevado em todos os sítios

estudados (Tabela 2).

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

78

Tabela 2. Dados estruturais dos bosques de manguezais dos cinco sítios estudados da Reserva Extrativista

Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA. Espécie: Rh - Rhizophora mangle; Av – Avicennia germinans;

Lg – Laguncularia racemosa. DAP (diâmetro a altura do peito) médio; Altura média; FR – freqüência relativa;

DeR – densidade relativa; DoR – dominância relativa e VI – valor de importância.

Local

DAP (cm) Altura (m) FR (%) DeR (%) DoR (%) VI

Rh Av Lg Rh Av Lg Rh Av Lg Rh Av Lg Rh Av Lg Rh Av Lg

Sítio 1 7,08 8,96 6,47 12,30 9,50 10,20 33,33 33,33 33,33 89,67 0,23 10,10 82,11 0,22 17,66 205,11 33,79 61,10

Sítio 2 13,43 20,64 11,94 17,00 14,00 12,00 33,33 33,33 33,33 98,31 1,27 0,42 97,71 2,07 0,23 229,35 36,67 33,98

Sítio 3 10,15 13,36 - 6,20 7,50 - 50,00 50,00 - 91,85 8,15 - 84,69 15,31 - 226,55 73,45 -

Sítio 4 19,14 32,39 - 17,80 14,90 - 50,00 50,00 - 92,11 7,89 - 71,14 28,86 - 312,25 86,75 -

Sítio 5 17,28 25,46 - 15,10 10,40 - 50,00 50,00 - 97,26 2,74 - 89,73 10,27 - 236,99 63,01 -

Média geral 13,41 20,16 9,20 13,68 11,26 11,10 - - - - - - - - - 242,05 58,73 47,54

42

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

79

Analisando a distribuição das classes de altura no Sítio 1, R. mangle e A.

germinans concentram maior quantidade de indivíduos na classe de até 19,9 m, ao

passo que L. racemosa apresenta árvores de altura mais elevada. Nos sítios 2 e 4

os indivíduos de R. mangle estão distribuídos de forma mais equilibrada em todas as

classes. No entanto, ocorrem poucos indivíduos nas classes de altura inferiores e

uma leve tendência para a presença de indivíduos mais altos. O sítio 3 é dominado

por árvores baixas de até 9,9 m, enquanto no sítio 5 a espécie R. mangle está

presente em todas as classes, muito embora os indivíduos tenham se concentrado

nas classes intermediárias. A. germinans apresenta uma distribuição de altura mais

uniforme, embora não tenham sido registrados indivíduos na última classe (> 25)

(Figura 2).

Considerando as classes de DAP, os indivíduos de R. mangle e L. racemosa

estão distribuídos nas classes de diâmetro menores em todos os sítios estudados,

isto é, entre 1 e 19,9 cm. A. germinans apresenta indivíduos de elevado diâmetro

nos sítios 3, 4 e 5. Mas, em geral, as classes de diâmetro com indivíduos até 29,9

cm são as que predominam em todos os sítios (Figura 3).

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

80

Figura 2. Distribuição das classes de altura (m) das árvores em todos os sítios

estudados na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

%

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

81

Figura 3. Distribuição das classes de DAP (cm) das árvores de mangue em todos os

sítios estudados na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-

PA.

%

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

82

A análise de regressão entre os valores médios de altura e DAP para os cinco

sítios de trabalho mostra uma correlação positiva e significativa entre essas duas

variáveis (R2=0,74; F=8,96; gl=4; p<0,05). A Figura 4 mostra que os sítios 1 e 3

possuem altura similar, muito embora apresentem diferentes médias de DAP, sendo

o mesmo é registrado para os sítios 2 e 4.

A regressão linear dos valores médios de DAP e densidade revela uma

correlação negativa entre as varáveis (R2=0,62; F=4,67; gl=4; p>0,05). Esse mesmo

resultado fio encontrado na regressão entre altura e densidade (R2=0,57; F=3,77;

gl=4; p>0,05) .

Figura 4. Regressão linear entre a altura e o DAP das

árvores registradas nos cinco sítios de trabalho

estudados na Reserva Extrativista Marinha “Mãe

Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

83

Dentre os cinco sítios de trabalho, o Sítio 1 apresentou mais árvores mortas

por ação antrópica, isto é, por corte, ao passo que o Sítio 3 apresentou o maior

número por ação não-antrópica (Figura 5). Das árvores mortas registradas em todos

os sítios, somente o Sítio 1 apresentou árvores mortas por ação antrópica. As

árvores cortadas desse sítio pertencem às espécies R. mangle e L. racemosa que

apresentaram percentual de corte similares. No entanto, a maioria das árvores

cortadas da espécie R. mangle pertencem a menor classe de diâmetro (1 – 9,9 cm)

e as árvores de L. racemosa cortadas foram as que apresentaram o maior DAP

(classe de diâmetro 10 -19,9 cm) (Figura 6).

A Figura 7 estabelece a relação entre o número de indivíduos mortos por

ação não antrópica e as classes de diâmetro para cada sítio. Os sítios 3 e 5

apresentaram os maiores diâmetros (39,9 cm), nos demais sítios o diâmetro máximo

foi de 29,9 cm.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

84

Figura 5. Distribuição do número de árvores mortas por ação

antrópica e não-antrópica nos cinco sítios de trabalho, na Reserva

Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

Figura 6. Percentual de árvores mortas por ação antrópica nas classes

de DAP (cm) do Sítio 1, na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande”

de Curuçá, Curuçá-PA.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

85

Figura 7. Distribuição das classes de

DAP (cm) das árvores mortas por ação

não-antrópica nos cinco sítios de

trabalho, na Reserva Extrativista

Marinha “Mãe Grande” de Curuçá,

Curuçá-PA.

DISCUSSÃO

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

86

As florestas de mangue estudadas na RESEX Marinha “Mãe Grande” de

Curuçá, Curuçá-PA apresentam em sua composição florística as espécies R.

mangle, A. germinans e L. racemosa, que são as mesmas registradas em outros

estudos sobre os manguezais ao longo da costa nordeste do Pará: em Curuçá

(FERREIRA et al. 1992; ALMEIDA 1996), na praia do Crispim, em Marudá e Ilha de

Algodoal, em Maracanã (BASTOS & LOBATO 1996), na península de Ajuruteua, em

Bragança (MENEZES, BERGER & WORBES 2003; MATNI, MENEZES & MEHLIG

2006; SEIXAS et al. 2006; ABREU et al. 2006), na Ilha de Canela (AMARAL et al.

2001) e em Marapanim (COSTA-NETO, SENNA & LOBATO 2000). No presente

trabalho não foi registrada a presença de Avicennia schaueriana Stapf and

Leechman ex Moldenke nos manguezais de Curuçá.

A análise dos atributos estruturais mostrou que R. mangle é a espécie mais

dominante nos manguezais de Curuçá, corroborando a revisão realizada por

Menezes, Berger & Mehlig (2008) sobre os atributos estruturais dos manguezais da

Amazônia brasileira. A. germinans e L. racemosa aparecem como a segunda e

terceira espécies com ocorrência em todos os sítios estudados, respectivamente,

porém com valores de Vl muito baixos quando comparados aos de R. mangle.

A distribuição das espécies de mangue está relacionada a diferentes fatores

abióticos. No presente estudo de caso, R. mangle desenvolve-se ao longo de toda a

região da reserva, sendo A. germinans mais ocorrente nos sitos 3 e 4. Isto implica

que, a distribuição, principalmente, de R. mangle não está associada aos diferentes

fatores abióticos (salinidade, inundação, etc.). Já A. germinans parece estar quase

restrita a dois sítios, sendo os indivíduos registrados quase todos adultos. Este fato

pode estar indicando que, ao longo da reserva, esta espécie pode estar em

processo de substituição por R. mangle. A paisagem local não registra a presença

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

87

de bosques dominados por A. germinans, o que corrobora com o fato de que essa

espécie não está se expandindo na região. L. racemosa, por sua vez, foi apenas

registrada nos sítios 1 e 2. Os registros de indivíduos dessa espécie foram

realizados em clareiras e nas bordas dos canais-de-maré, o que confirma a

tendência dessa espécie ser heliófila e mais pioneira do que as outras duas na

colonização de áreas abertas (ELLISON & FARNSWORTH 1993). L. racemosa

também é citada colonizando bancos de lama na Guiana Francesa (FORMARD et

al. 1998) e áreas degradadas no Estado do Maranhão (REBELO-MOCHEL et al.

2001). Em geral, a variação estrutural nas florestas de mangue e a dominância de

cada espécie arbórea nesse ecossistema estão relacionadas tanto às características

ambientais regionais quanto aos fatores de caráter local (SCHAEFFER-NOVELLI et

al. 1990). Dentre esses fatores podem ser citados a frequência de inundação

(MENEZES, BERGER & WORBES 2003), o aporte de nutriente (FELLER et al.

2003) e a salinidade (JIMENEZ 1991; SANTOS, ZIEMAN & COHEN 1997; REISE

2003).

Os dados de altura e diâmetro mostram que os sítios estudados no presente

trabalho apresentam árvores de mangue de grande porte. Pois, segundo Matni,

Menezes & Mehlig (2006), enquanto as árvores crescem em diâmetro, a altura

eleva-se até assumirem o ponto em que as árvores cessam o crescimento em altura

atingindo a idade madura, enquanto o diâmetro apresenta crescimento contínuo.

Em geral, mais de 50% das árvores de mangue da RESEXM “Mãe Grande”

de Curuçá possuem DAP reduzido, atingindo até a segunda classe de diâmetro aqui

estabelecida (10 a 19,9 cm), mostrando que os bosques possuem uma alta

densidade de indivíduos de pouco diâmetro. No entanto, considerando a presença

de árvores adultas, com porte superior a 25 m de altura e DAP em torno de 40 a 50

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

88

cm ou maior, estes registros podem indicar a presença de um bosque adulto, mas

em processo de substituição de indivíduos senescentes por indivíduos jovens. Da

mesma forma, a presença de indivíduos mortos nas primeiras classes de diâmetro,

também sugere que a maioria dos bosques está em processo de substituição

desses indivíduos. Segundo Schaeffer-Novelli e Cintrón-Molero (1986), os bosques

passam, durante seu desenvolvimento, por uma fase em que a área está ocupada

por uma grande densidade de árvores de diâmetros reduzidos e, posteriormente, a

uma fase de maior amadurecimento, quando o domínio é feito por poucas árvores

de grande porte.

A distribuição dos valores de diâmetro evidencia a diferença estrutural dos

bosques. Em todos os sítios de estudo somente A. germinans, nos sítios 3, 4 e 5,

apresentou diâmetro maior que 50 cm, evidenciando que as árvores desta espécie

são mais antigas do que aquelas de R. mangle e que estão, provavelmente, sendo

substituídas no bosque. A substituição de A. germinans parece ser um processo

natural, já que nenhum indício de alteração antrópica foi encontrado nesses sítios.

Nos sítios 3, 4 e 5, localizados nas ilhas, foi registrada a presença de vários

indivíduos de todos os portes, indicando um processo de constante renovação. Os

sítios 1 e 2, localizadas no continente, já apresentam maior número de indivíduos de

menor porte, indicando que essas áreas podem ser ou mais jovens ou estar em fase

de regeneração mais acentuada. O sítio 1, por exemplo, além do diâmetro reduzido,

também apresentou a maior densidade (n=871), reforçando o fato de que essa

mancha de manguezal é composta predominantemente por árvores jovens. Os sítios

de trabalho, pela distribuição espacial, não apresentam gradiente das variáveis DAP

e altura, sendo estas variáveis distribuídas de forma equivalente nos sítios

continentais e nas ilhas.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

89

Apesar do razoável estado de conservação dos manguezais estudados,

existem áreas de manguezal com manchas de corte produzidas por ação antrópica.

Árvores de mangue mortas por corte foram encontradas apenas no sítio 1. Este sítio,

que está localizado nas proximidades da Vila de Curuperé, é de fácil acesso, ao

passo que para alcançar as áreas de manguezal das ilhas é necessário o uso de

embarcações. Portanto, a alta densidade de indivíduos jovens nesse sítio pode ser

explicada pela intensa atividade de corte das árvores de mangue para a produção

de carvão, lenha e para a confecção de currais de pesca. De acordo com os

moradores locais, essa área é, há muito, utilizada para o corte de madeira de

mangue. Moradores relatam que, depois da instalação Reserva Extrativista Marinha

“Mãe Grande” de Curuçá, áreas de corte de manguezais são raras na região por

causa da intensa vigilância feita pelos próprios ribeirinhos e também pelos

trabalhadores da Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá.

Por fim, é importante ressaltar que árvores mortas por ação não-antrópica

foram registradas em todos os sítios de trabalho e com maior representatividade no

sítio 3, no qual se observou áreas de clareiras. No caso desses indivíduos mortos e

com DAP reduzido, de acordo com Jimenez et al. (1985) pode-se estar diante de um

processo de mortalidade natural associada à competição interindividual, o que,

segundo Harper (1977), é característico de populações de plantas que sofrem

autoafinamento. Além do mais, o registro de indivíduos mortos e com DAP

intermediário pode indicar que a morte desses indivíduos propiciou o recrutamento

de indivíduos mais jovens, sendo isto um indicador de bosques saudáveis com

mortalidade associada a um processo natural (SOARES 1999; SOARES et al. 2003).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

90

ABREU, M.M.; MEHLIG, U.; NASCIMENTO, R.E.S.A.; MENEZES, M.P.M. 2006.

Caracterização estrutural e composição florística em um bosque de terra firme e um

manguezal da península de Ajuruteua, Bragança (Pará-Brasil). Boletim do Museu

Paraense Emílio Goeldi, Ciências Naturais, 2(3): 27-34.

ALMEIDA, S.S. 1996. Estrutura e florística em áreas de manguezais paraenses:

evidências da influência do estuário amazônico. Boletim do Museu Paraense Emílio

Goeldi, Ciências Naturais, v. 8, p. 93-100.

ALONGI, D.M.; TIRENDI, F.; CLOUGH, B.F. 2000. Below-ground decomposition of

organic matter in forest of the mangroves Rhizophora stylosa and Avicennia marina

along the arid coast of Western Australia. Aquatic Botany, 68: 97-47.

AMARAL, D.D.; SANTOS, J.U.M.; BASTOS, M.N.C.; COSTA –NETO, S.V.; COSTA,

D.C.T. 2001. A vegetação da Ilha Canela, município de Bragança, Pará, Brasil.

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Botânica, 2: 398-400.

AYRES, M.; AYRES JUNIOR, M.; AYRES, D.L.; SANTOS, A.S. 2007. BioEstat 5.0:

aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Belém:

Sociedade Civil Mamirauá, 364 pp.

BASTOS, M.N.C.; LOBATO, L.C.B. 1996. Estudos fitossociológicos em áreas de

bosque de mangue na praia do Crispim e Ilha de Algodoal-Pará. Boletim do Museu

Paraense Emílio Goeldi, Ciências Naturais, v. 8, p. 157-167.

CINTRÓN-MOLERO, G.; SCHAEFFER-NOVELLI, Y. 1985. Caracteristicas y

desarrollo estructural de los manglares de Norte y Sur America. Ciencia

Interamericana, 25: 4-15.

CONDE, J.E.; TOGNELLA, M.M.P.; PAES, E.T. 2000. Population and life history

features of the crab Aratus pisonii (Decapoda: Grapsidae) in a subtropical estuary.

Interciencia, v.25, n. 3, p. 151-158.

COSTA-NETO, S.V.; SENNA, C.; LOBATO, L.C.B. 2000. Estrutura e diversidade de

bosques de manguezal da Baía de Marapanim, Pará, Brasil. Mangrove 2000,

Conference, Recife. CD-ROM.

DAMÁSIO, E. 1980a. Contribuição ao conhecimento da vegetação dos manguezais

da Ilha de São Luis. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia, v. 3, p. 17-56. Part I.

DAMÁSIO, E. 1980b. Contribuição ao conhecimento da vegetação dos manguezais

da Ilha de São Luis. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia, v. 3, p. 57-76. Part II.

DUKE, N.C. 1992. Mangrove floristics and biogeography. p. 63-100. In:

ROBERTSON, A.I.; ALONGI, D.M. Tropical mangrove ecosystems. Washington

D.C.: American Geophysical Union.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

91

ELLISON, A.M.; FARNSWORTH, E.J. 1993. Seedling survivorship, growth, and

response to disturbance in Belizean mangal. American Journal of Botany, v. 80, p.

1137-1145.

FELLER, I.C.; WHIGHAM, D.F.; MCKE, K.; LOVELOCK, C.E. 2003. Nitrogen

limitation of growth and nutrient dynamics in a disturbed mangrove forest, Indian

River Lagoon, Florida. Oecologia, 134: 405-414.

FELLER. I.C. 1995. Effects of nutrient enrichment on growth and herbivory of dwarf

red mangrove (Rhizophora mangle). Ecological Monographs, 65(4) : 477-505.

FEREIRA, C.P.; MENEZES, M.P.M.; CARVALHO, E.A.; MARQUES DA SILVA, N.S.;

ALMEIDA, L.F. 1992. Caracterização estrutural dos bosques de mangue dos

municípios de Curuçá e Soure (PA). Anais do Simpósio sobre Estrutura

Funcionamento e Manejo de Ecossistemas: 55. UFRJ, Rio de Janeiro.

FERNANDES, M.E.B. 2002. Structural analysis of Rhizophora, Avicennia, and

Laguncularia forests on Maracá Island, Amapá, Brazil. p. 565-572. In:

Neotropical Ecosystems. Proceedings of the German-Brazilian Workshop, Hamburg

2000, GKSS-Geesthacht CD-ROM. R. Leiberei, H-K, Bianchi, V. Boehm, C. Reisdorff

(eds.), FERNANDES, M. E. B. 1997. The ecology and productivity of mangroves in

the Amazon region, Brazil. 214 f. Tese (Doutorado) – University of York, England.

FIGUEIREDO, E.M.; FURTADO, L.G.; CASTRO, E.R. 2009. Trabalhadores da pesca

e a Reserva Extrativista Marinha Mãe Grande de Curuçá-PA: impactos

socioambientais da rodovia PA-136. Amazônia: Ciência & Desenvolvimento, Belém,

v.5, n.9, jul./dez.

FROMARD, F.; PUIG. H.; MOUGIN, E.; MARTY, G.; BÉTOULLE, J.L.; CADAMURO,

L. 1998. Structure, above-ground biomass and dynamics of mangrove ecosystems:

new data from French Guyana. Oecologia, 115:39-53.

HARPER, J. L. 1977. Population Biology of Plants. Academic Press, New York.

JENNERJAHN, T.C.; ITTEKKOT, V. 2002. Relevance of mangroves for the

production and deposition of organic matter along tropical continental margins.

Naturwissenschaften, v. 89, n. 1, p. 23-30.

JIMENEZ, J.A. 1991. Structure and dynamics of mangrove forests along a flooding

gradient. Estuaries, 14(1): 49-56.

JIMENEZ, J.A.; LUGO, A.E.; CINTRÓN, G. 1985. Tree mortality in mangrove forests.

Biotropica, 17(3): 177-185.

LEE, S.Y. 1995. Mangrove outwelling – a review. Hydrobiologia, v. 295, n. 1-3, p.

203-212.

LUGO, A.E.; SNEDAKER, S.C. 1974. The ecology of mangroves. Annual Review of

Ecology and Systematic, 5: 39-64.

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

92

MATNI, A.S.; MENEZES, M.P.M.; MEHLIG, U. 2006. Caracterização estrutural dos

bosques de mangue na Península Bragantina. Boletim do Museu Paraense Emílio

Goeldi, Ciências Naturais, 3(2): 45-54.

MENEZES, M. P. M.; BERGER, U.; MEHLIG, U. 2008. Mangrove vegetation in

Amazonia: a review of studies from the coast of Pará and Maranhão States, north

Brazil. Acta Amazonica, v. 38(3), p. 403-420.

MENEZES, M. P. M.; BERGER, U.; WORBES, M. 2003. Annual growth rings and

long-term growth patterns of mangrove trees from the Bragança´s peninsula, north

Brazil. Wetlands Ecology and Management, v. 11, p. 233-242.

NAIDOO, G. 1985. Effects of waterlogging and salinity on plant-water relations and

the accumulation of solutes in three mangrove species. Aquatic Botany, v. 22, p.

133-143.

PETROBRÁS.1994. Diagnóstico ambiental oceânico e costeiro das regiões sul e

sudeste do Brasil. Lagoas costeiras, manguezais, marismas, dunas e restingas.

Petrobrás, n. VII, 402 pp.

PROST, M.T.R.C.; RABELO, B.V. 1996. Variabilidade fito-espacial de manguezais

litorâneos e dinâmica costeira: exemplos da Guiana Francesa, Amapá e Pará.

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Naturais, v. 8, p. 101-121.

REBELO-MOCHEL, F.; CUTRIM, M.V.J.; CORREIA, M.M.F.; IBAÑEZ, M.S.R.;

AZEVEDO, A.C.G.; OLIVEIRA, V.M.; PESSOA, C.R.D.; MAIA, D.C.; SILVEIRA, P.C.;

IBAÑEZ-ROJAS, M.O.A.; PACHECO, C.M.; COSTA, C.F.M.; SILVA, L.M.; PUISECK,

A.M.B. 2001. Degradação dos manguezais da Ilha de São Luís (MA): processos

naturais e antrópicos. p. 113-131. In: Prost, M.T.; Mendes, A.C. (Org.).

Ecossistemas costeiros: impactos e gestão ambiental. Vol. 1. Belém: Editora do

Museu Paraense Emílio Goeldi.

REISE, A. 2003. Estimates of biomass and productivity in fringe mangroves on

North-Brazil. Tese de Doutorado, ZMT, Contribution 16, Center for Marine Tropical

Ecology (ZMT) Bremen, Germany. 194pp.

SANTOS, M.V.; ZIEMAN, J.C.; COHEN, R H. 1997. Interpreting the upper mid-

littoral zonation patterns of mangroves in Maranhão (Brazil) in response to

microtopography and hydrology. In : B. KERJVE, L. D. LACERDA & E. H. DIOP

(Eds.): Mangrove ecosystem studies in Latin America and Africa. UNESCO, Paris,1-

149. p. 540.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y.; CINTRÓN, G.M. 1986. Guia para estudo de áreas de

manguezal: estrutura, função e flora. [S.l.]: Caribbean Ecological Research. 186 p.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y.; CINTRÓN, G.M. 1988. Expedição Nacional aos

Manguezais do Amapá, Ilha de Maracá. [S.l.:s.n.]. 99 p. Relatório Técnico- Cons.

Nac. Desenv. Científico e Tecnológico- CNPq. Coordenação de Ciências Biológicas.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

93

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. 1995. Manguezal: ecossistema entre a terra e o mar.

São Paulo: Caribbean Ecological Research, p.7-15.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. ; CINTRÓN-MOLERO, G.; ADAIME, R.R. ; CAMARGO,

T. M. 1990. Variability of mangrove ecosystems along the Brazilian coast. Estuaries,

13: 204-218.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y.; CINTRÓN-MOLERO, G.; SOARES, M.L.; DE-ROSA,

M.T. 2000. Brazilian mangroves. Aquatic Ecosystem Health & Management, v. 3, p.

561-570.

SCHWAMBORN, R.; EKAU, W.; VOSS, M.; SAINT-PAUL, U. 2002. How important

are mangroves as a carbon source for decapod crustacean larvae in a tropical

estuary? Marine Ecology Progress Series, v. 229, p. 195-205.

SEIXAS, J.A.S.; FERNANDES, M.E.B.; SILVA, E.S. 2006. Análise estrutural da

vegetação arbórea dos bosques no Furo Grande, Bragança, Pará. Boletim do Museu

Paraense Emílio Goeldi, Ciências Naturais, Belém, Pará, Brasil, 2(3): 35-43.

SMITH III, T. J. 1992. Forest structure, p. 101-136. In: A.I. ROBERTSON & D.M.

ALONGI (eds.). Tropical mangrove ecosystems. Coastal and estuarine series.

American Geophysical Union, Washington, USA.

SOARES, M.L.G. 1997. Estudo da biomassa aérea de manguezais do sudeste

do Brasil - Análise de modelos. Tese de Doutorado, Instituto Oceanográfico,

Universidade de São Paulo. 294 p.

SOARES, M.L.G. 1999. Estrutura vegetal e grau de perturbação dos manguezais da

Lagoa da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Revista Brasileira de Botânica, 14: 21-

25.

SOARES, M.L.G.; CHAVES, F.O.; CORRÊA, F.M.; SILVA JÚNIOR, C.M.G. 2003.

Diversidade Estrutural de Bosques de Mangue e sua Relação com Distúrbios de

Origem Antrópica: o caso da Baía de Guanabara (Rio de Janeiro): Anuário do

Instituto de Geociências – UFRJ. Rio de Janeiro-RJ, 26: 101-116.

TOMLINSON, P.B. 1986. The Botany of Mangroves. Cambridge: Cambridge

University Press. 419 p.

TWILLEY, R.R.; LUGO, A.E.; PATTERSON-ZUCCA, C. 1986. Litter production and

turnover in basin mangrove forests in southwest Florida. Ecology, v. 67, n. 3, p. 670-

683.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

94

CAPÍTULO 3

BIOMETRIA E ESTRUTURA POPULACIONAL DO CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) (CRUSTACEA, BRACHYURA) NOS MANGUEZAIS DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA “MÃE GRANDE” DE CURUÇÁ, CURUÇÁ-PA

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

95

RESUMO

Aspectos da estrutura populacional do caranguejo-uçá, Ucides cordatus

(Linnaeus, 1763) foram investigados em cinco sítios de estudo nos manguezais da

Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA com o objetivo de

realizar uma análise comparativa das dimensões da carapaça de caranguejos

capturados comercialmente e de duas técnicas de estimativa de densidade

(contagem das galerias e captura direta dos indivíduos). A análise da largura e

comprimento da carapaça e peso demonstrou que existe diferença significativa entre

os sítios estudados, sendo os animais de maior porte registrados nos sítios 4 e 5 e

os menores no sítio 1, esses mesmos sítios apresentam maiores e menores valores

de DAP e altura da vegetação, respectivamente, evidenciando um gradiente

espacial. A comparação entre a densidade populacional do caranguejo-uçá realizada

através das duas técnicas empregadas revelou diferença significativa, pois o método

de contagem das galerias causou superestimativa da população aumentando o

número de indivíduos em torno 60%.

Palavras-chave: Ucides cordatus, biometria, densidade populacional, Curuçá.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

96

INTRODUÇÃO

Ucides cordatus é uma espécie de caranguejo semiterrestre com distribuição

no Oceano Atlântico Ocidental, desde a Flórida (EUA) até o Estado de Santa

Catarina (Brasil). Trata-se de uma espécie endêmica de áreas de manguezal (Melo,

1996), que habita galerias situadas na zona entremarés, permanecendo escondido

durante a preamar e saindo no início da baixamar para a captura de alimentos

(Eltringhan, 1971).

O caranguejo-uçá, como é popularmente conhecido, destaca-se como o

detentor da maior proporção de biomassa incorporada entre os animais do

manguezal (Wolff et al., 2000). O grande porte e a importância econômica do

caranguejo-uçá fazem com que seja considerado um dos principais recursos

pesqueiros do litoral brasileiro (Fausto-Filho, 1968; Nordi, 1994; Alves & Nishida,

2003; Glaser & Diele, 2004), onde seu comércio e exploração aumentam

gradativamente.

O caranguejo-uçá apesar de atingir grande porte na fase adulta, apresenta

uma taxa de crescimento extremamente reduzida (Diele, 2000). Considerando a

baixa taxa de crescimento e as agressões antrópicas que esta espécie vem

sofrendo, observa-se uma acentuada redução no tamanho desse caranguejo, bem

como a diminuição no número de indivíduos machos por unidade de área, o que, por

sua vez, reduz a taxa de renovação deste recurso (IBAMA, 1994). Portanto, pode-se

considerar que o caranguejo-uçá vem sofrendo uma sobrepesca crescente

A expressiva diminuição do caranguejo-uçá nos manguezais do Norte e

Nordeste brasileiro nos últimos anos tem preocupado os órgãos gestores, que

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

97

indicaram a premência de estudos relacionados à viabilidade técnico-econômica de

seu cultivo (Ostrensky et al., 1995; Blankensteyn et al., 1997) e à situação de seus

estoques in natura (Botelho et al., 1999; Ivo et al., 1999; Vasconcelos et al., 1999;

Diele, 2000). Assim, informações sobre os fatores bióticos e abióticos associados ao

tamanho e à abundância dessa espécie nas florestas de mangue tornam-se

necessárias no intuito de revelar o processo de associação de U. cordatus com a

floresta de mangue.

Devido à grande importância dessa espécie, o presente estudo tem por

objetivo analisar comparativamente a eficiência de duas técnicas de estimativa de

densidade usadas para o caranguejo-uçá, além de verificar a relação entre variáveis

biométricas e populacionais desse caranguejo e os atributos estruturais dos

manguezais onde vivem na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá,

Curuçá-PA

MATERIAIS E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

A descrição detalhada da área onde o presente estudo foi realizado encontra-

se no CAPÍTULO 2 - ÁREA DE ESTUDO - p. 37

PROCEDIMENTO DE CAMPO

O trabalho de campo foi realizado durante o período de junho a setembro de

2009. Cada parcela aberta para o estudo botânico foi esquadrinhada formando 25

subparcelas de 5x5 m (25 m2). Destas foram sorteadas três subparcelas para o a

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

98

coleta dos dados. Nas três subparcelas, todas as galerias dos caranguejos-uçá

foram identificadas de acordo com a descrição de Costa (1972), em que a abertura

das galerias de U. cordatus assume posição oblíqua em relação à superfície do

chão da floresta de mangue, além de possuir formato interno peculiar, detalhes que

diferenciam as galerias do caranguejo-uçá daquelas escavadas por outros

caranguejos.

No presente estudo as galerias de U. cordatus foram classificadas em quatro

categorias:

1) fechadas – caracterizada pela abertura oclusa por um “tampão” de

sedimento úmido ou abertura não evidente, neste caso reconhecida pela elevação e

textura diferenciada do sedimento, sendo confirmada por escavação;

2) aberta com atividade biogênica - caracterizada pelo registro de lama fluida,

fezes e/ou rastros na proximidade da abertura;

3) aberta com dupla abertura - confirmada por escavação e considerada como

sendo uma única galeria para as análises;

4) abandonadas – caracterizadas por não possuírem qualquer atividade

biogênica ao seu redor. Seguindo o trabalho de Hattori (2002), as galerias

abandonadas foram desconsideradas para as análises.

Todos os exemplares capturados foram utilizados para a retirada das medidas

biométricas. Para cada exemplar foi determinado o sexo, pela morfologia externa do

abdome (Mota-Alves, 1975; Nascimento, 1993) e aferido o peso total individual (P), a

largura (LC) e o comprimento (CC) da carapaça. As medidas foram retiradas com o

auxílio de paquímetro (0,01 mm) e as pesagens em balança do tipo Pesola (500 g),

após a limpeza para retirada da lama do corpo do animal.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

99

A densidade populacional, ou seja, o número médio de indivíduos por área

(ind.m-2) foi obtida através dos seguintes métodos: i) contagem direta das galerias e

ii) captura direta do(s) caranguejo(s) durante a baixamar, com auxílio de um

experiente catador local, através das técnicas de captura de braceamento e

tapamento [ver definição no CAPÍTULO 1, 1 INTRODUÇÃO, 1.3 O CARANGUEJO-

UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763)].

Para a estimativa da produtividade do caranguejo-uçá foi calculada a

biomassa (t.ha-1), multiplicando-se o valor do peso médio de um caranguejo (g) pelo

estoque de caranguejos, sendo que o estoque representa o número médio de

indivíduos por área (ind.ha-1), estimado a partir dos valores de densidade.

ANÁLISE DE DADOS

O Teste-t foi utilizado para detectar a diferença entre o comprimento (CC, cm)

e a, utilizando-se os valores médios de cada sítio de trabalho. O mesmo teste foi

utilizado para a análise entre as duas técnicas de estimativa de densidade. A análise

de variância (ANOVA - um fator) foi utilizada para testar a diferença entre os cinco

sítios de trabalho quanto ao comprimento (CC, cm) e largura (LC, cm) da carapaça e

peso (g) dos indivíduos machos e fêmeas. A mesma análise foi também utilizada

para testar as variações de densidade das populações de caranguejo-uçá, utilizando

os valores obtidos através do método de captura direta dos indivíduos nas galerias.

A análise de regressão linear foi utilizada para verificar a relação entre as variáveis

biométricas: i) comprimento (CC, cm) e largura (LC, cm) da carapaça e ii)

comprimento (CC, cm) e peso (g) dos indivíduos machos e fêmeas dos cinco sítios

de trabalho e populacionais de U. cordatus e os atributos estruturais dos

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

100

manguezais. Todas as análises foram realizadas através do programa BioEstat 5.0

(Ayres et al. 2007).

RESULTADOS

MEDIDAS BIOMÉTRICAS

A análise entre a largura (LC, cm) e o comprimento (CC, cm) da carapaça dos

indivíduos dos cinco sítios de trabalho foi significativamente diferente (Teste-t; t=81;

gl=4; p<0,01). Na população analisada a média geral da LC foi de 7,07 cm e de CC

foi de 5,44 cm. Os machos de U. cordatus apresentaram LC variando de 6,6 a 8,4

cm (Teste-t; t=59,1; gl=4; p<0,01) e as fêmeas a LC variou de 4,4 a 7,9 cm (Teste-t;

t=89,04; gl=4; p<0,01).

O peso dos exemplares de U. cordatus variou entre 75 e 275 g, sendo, em

média, encontrados os maiores indivíduos (peso), no sítio 4 (193,45±25,32) e os

menores no sítio 1 (190,44±25,18). Os machos apresentaram peso (g) variando de

115 a 275 g (ANOVA; F=10,10; gl=4; p<0,01), enquanto nas fêmeas o peso variou

entre 75 e 190 g (ANOVA; F=19,20; gl=4; p<0,01) (Tabela 1).

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

101

Tabela 1. Valores médios ± Desvio Padrão (mínimo-máximo) das variáveis comprimento (CC) e largura (LC) da carapaça e peso (g) de Ucides cordatus nos cinco sítios de trabalho na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

Sítios

Dimensões da carapaça (cm) Peso (g)

Machos Fêmeas Machos Fêmeas

LC CC LC CC

Sítio 1 7,41±0,32 (6,8-7,9)

5,66±0,27 (4,8-6,2)

6,25±0,71 (4,4-7,2)

4,79±058 (3,1-5,5)

190,44±25,18 (125-235)

190,44±25,18 (75-160)

Sítio 2 7,40±0,43 (6,6-8,4)

5,65±0,31 (5,0-6,4)

6,77±0,28 (6,6-7,2)

5,31±0,19 (4,5-5,6)

187,36±33,50 (115-275)

148,69±15,61 (95-185)

Sítio 3 7,24±0,40 (6,6-8,2)

5,60±0,33 (5,0-6,6)

6,87±0,27 (6,2-7,4)

5,35±0,21 (4,4-5,7)

183,11±31,85 (120-255)

151,42±16,5 (105-180)

Sítio 4 7,47±0,34 (6,7-8,3)

5,73±0,65 (5,3-6,6)

6,52±0,40 (5,2-7,0)

5,05±0,35 (4,2-5,5)

193,45±25,32 (150-265)

132,50±18,85 (95-160)

Sítio 5 7,14±0,38 (6,5-8,3)

5,52±0,26 (5,1-6,7)

6,88±0,26 (6,6-7,9)

5,34±0,20 (4,8-5,7)

173,58±29,9 (120-265)

147,62±19,6 (115-190)

Nível de significância

p<0,001 p>0,05 p<0,001 p<0,001 p<0,01 p<0,01

A distribuição de frequência de classes de tamanho de U. cordatus nos cinco

sítios mostrou uma maior frequência de machos na classe de 7,0 a 7,9 cm, enquanto

a de fêmeas ocorreu entre 6,0 a 6,9 cm (Figura 2). A regressão revelou que esses

estes parâmetros biométricos são, em ambos os sexos, positiva e significativamente

relacionados (Figura 3).

A análise considerando a relação entre o comprimento (CC) da carapaça (cm)

e o peso (g), calculada através da análise de regressão, mostra uma correlação

positiva e significativa entre os dois parâmetros (Figura 4).

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

102

Figura 2. Distribuição das classes de largura da carapaça (cm) de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) das cinco áreas estudadas na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

103

Figura 3. Relação entre as médias das variáveis largura (LC) e comprimento (CC) da carapaça de machos e fêmeas de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) das cinco áreas estudadas na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

Figura 4. Relação entre as médias das variáveis comprimento (CC) da carapaça e peso (g) de machos e fêmeas de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) das cinco áreas estudadas na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

MEDIDAS DA POPULAÇÃO

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

104

Os dados sobre proporção sexual dos 510 indivíduos amostrados

apresentaram uma predominância de machos (300 ou 58,82%) em relação às

fêmeas (210 ou 41,18%), uma relação permanente de 1,4:1.

A densidade relativa do caranguejo-uçá na Reserva Extrativista “Mãe

Grande” de Curuçá foi estimada pelo método de contagem das galerias e, também,

pela captura direta dos indivíduos. Na contagem das galerias a densidade média foi

de 1,48 galeria.m-2, enquanto a densidade estimada pelo método de captura direta

foi de 0,6 ind.m-2. Através desse último método foi observada uma maior densidade

de indivíduos no Sítio 5 (0,7 ind.m-2) e menor no Sítio 1 (0,3 ind.m-2). Já a densidade

pelo método da contagem de galerias o maior valor foi obtido no sítio 4 e menor no

sítio 1, com 1,81 e 0,82 galeria.m-2, respectivamente. Os métodos utilizados para a

estimativa de densidade quando submetidos à análise de variância apresentaram

diferença significativa (ANOVA, F=20,98; gl=4; p<0,01) (Tabela 2).

Os resultados obtidos através dos dois métodos empregados para estimar a

densidade populacional de U. cordatus revelam que um percentual de 40 a 45% do

total das galerias contabilizadas estava ocupada por um caranguejo-uçá (Figura 5).

A análise comparativa entre os dois métodos de amostragem mostrou uma diferença

bastante significativa (Teste-t; t=7,86; gl=4; p<0,01) entre os valores médios obtidos

na área de estudo.

O estoque médio de caranguejo-uçá para a reserva foi de 6400 ind.ha-1, com

máxima de 7500 ind.ha-1 no Sítio 5 e mínima de 3700 ind.ha-1 Sítio 1. A biomassa

média calculada para a reserva foi de 10,5 t.ha-1, sendo máxima (12,6 t.ha-1) e

mínima (5,8 t.ha-1) encontrada nos sitos 4 e 1, respectivamente (Tabela 3).

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

105

Tabela 2. Valores de densidade média ± Desvio Padrão (mínima e máxima) do caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) estimados por dois métodos nos cinco sítios de trabalho na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

MÉTODOS

Contagem Galeria

(galeria.m

-2)

Captura Direta

(ind.m

-2)

Sítio 1 0,82±0,69 (0-2,56) 0,37±0,23 (0,04-0,63)

Sítio 2 1,43±0,66 (0-2,68) 0,60±0,20 (0,17-0,85)

Sítio 3 1,73±0,85 (0,68-4,48) 0,74±0,38 (0,47-1,61)

Sítio 4 1,81±0,91 (0,16-3,68) 0,74±0,21 (0,4-0,96)

Sítio 5 1,61±0,83 (0,32-3,12) 0,75±0,18 (0,5-0,96)

Tabela 3. Valores de estoque e biomassa do caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) calculados para os cinco sítios de trabalho na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

PRODUTIVIDADE

Estoque

(ind.ha

-1)

Biomassa

(t.ha

-1)

Sítio 1 3700 5,8

Sítio 2 6000 9,4

Sítio 3 7400 12,5

Sítio 4 7400 12,6

Sítio 5 7500 12,2

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

106

Figura 5. Variação dos valores obtidos pelos dois métodos de amostragem populacional utilizados para Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) nos cinco sítios de trabalho na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

107

CARANGUEJO X VEGETAÇÃO

Dentre os exemplares de caranguejo-uçá analisados, os menores indivíduos

encontrados, tanto em largura (LC) quanto em comprimento (CC) da carapaça

pertenciam ao Sítio 1, embora os machos estivessem dentro do tamanho comercial

de 6 cm. Os sítios 3 e 5 apresentaram caranguejos com tamanhos médios para o

padrão encontrado. Os maiores indivíduos de Ucides cordatus foram encontrados

nos sítios 2 e 4 (Figura 6).

Análises de regressões lineares entre as variáveis densidade de árvores e

densidade de caranguejos capturados (R2= 0,56; F= 3,95; gl= 4; p>0,05) e entre

DAP e densidade de caranguejos capturados (R2= 0,52; F= 3,32; gl= 4; p>0,05)

foram realizadas e mostraram correlações, porém não significativas.

Figura 6. Classes de largura da carapaça (cm) do caranguejo-uçá, Ucides cordatus nos cinco sítios de trabalho estudados na Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA.

DISCUSSÃO

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

108

Dentre os caranguejos semiterrestres de manguezal, as espécies do gênero

Uca têm sido as mais abordadas na literatura quanto à estrutura populacional (Costa

& Negreiros-Fransozo, 2003; Koch et al., 2005), evidenciando que os machos têm

maior porte físico do que as fêmeas. No caso de Ucides cordatus, os estudos

disponíveis mostram que esta espécie apresenta dimorfismo sexual (Alcantara-Filho,

1982; Castro, 1986; Ivo et al., 2000; Alves & Nishida, 2004), sendo tal diferença

sexual também comprovada no presente estudo. O fato de que os machos são

maiores e mais pesados do que as fêmeas pode estar relacionado com a função

reprodutiva. Nesse contexto, esse peso é diretamente influenciado pelo maior

tamanho dos quelípodos dos machos, essencial para o acasalamento (Mota-Alves,

1975; Botelho et al., 1999). Além do mais, alguns coletores de caranguejo

argumentam que por serem maiores e mais largos do que as fêmeas, os machos

possuem mais carne, por isso a preferência pelos machos no que se refere à

captura e comercialização desse crustáceo.

A largura média da carapaça de U. cordatus (n=7,07 cm) encontrada no

presente estudo está abaixo dos valores médios registrados para outros municípios

do Pará: Bragança (n=7,18 cm), Curuçá (n=7,60 cm), Maracanã (n=7,15 cm), São

Caetano de Odivelas (n=7,60 cm) e Soure (n=8,01 cm) (Melo, 2000). Porém, vale

ressaltar que estes dados foram obtidos há dez anos e que esses valores podem ter

sofrido alterações, de acordo com a intensidade de comercialização dessa espécie.

A proporção sexual de U. cordatus no presente trabalho (1,4:1) revela que os

machos predominam sobre as fêmeas, corroborando com o estudo de Castro

(1986), realizado nos manguezais do Maranhão. No entanto, Alcântara-Filho (1978)

relata a existência de mais fêmeas nos manguezais do estuário do rio Ceará, Ceará.

De fato, é possível encontrar uma grande variação no que diz respeito à razão

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

109

sexual do caranguejo-uçá, o que segundo Wenner (1972) e Margalef (1977) está à

migração reprodutiva, comportamento, longevidade e mortalidade.

Para populações naturais em equilíbrio, a proporção sexual esperada é de

1:1, mas a maior parte dos trabalhos com U. cordatus têm relatado uma freqüência

maior de machos (Costa, 1972; Diele, 2000). Tais resultados são inesperados,

principalmente porque a captura comercial tem como alvo principal os machos, os

quais apresentam maior tamanho, maior rendimento de carne e maior aceitação no

mercado. Desta forma, os catadores de caranguejo capturam preferencialmente os

machos, por serem mais rentáveis. Além disso, segundo Costa (1972), as galerias

das fêmeas geralmente estão posicionadas em locais estrategicamente mais

protegidos e de difícil acesso. Outro fator relevante que parece interferir diretamente

na diferença da razão sexual é a taxa de crescimento. Tal fato pode ser explicado

pelo crescimento mais lento das fêmeas após a puberdade (Díaz & Conde, 1989),

que ocorre em função do maior gasto energético alocado na reprodução (Sartry,

1983). Isto foi confirmado por Pinheiro et al. (2005), cujos resultados mostraram uma

reduzida taxa de crescimento, particularmente para as fêmeas.

A estimativa de populações de caranguejos semiterrestres tem sido realizada

por contagem visual dos animais em atividade, quantificação das galerias escavadas

ou captura direta dos indivíduos (Lourenço et al., 2000; Macia et al., 2001; Skov et

al., 2002). No presente trabalho, os valores de densidade populacional de U. cordatus

foram obtidos através da captura direta dos indivíduos e da contagem do número de

indivíduos por galeria. Lourenço et al. (2000) e Skov et al. (2002) relatam que dentre os

diferentes métodos para estimativa da densidade populacional de crustáceos braquiúros

semiterrestres, a contagem direta do número de galerias/área parece ser o método que

confere maior precisão, principalmente pelo fato de que apenas um exemplar é

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

110

encontrado por galeria (Costa, 1972) e por ser um método que minimiza o impacto

ambiental, dispensando a captura dos indivíduos (Warren, 1990; Jordão & Oliveira,

2003). Por outro lado, Skov et al. (2002) acrescentam que, geralmente, o método de

contagem direta das galerias causa superestimativa da população de braquiúros, fato

esse registrado no presente trabalho, onde a estimativa da densidade populacional

aumentou o número de indivíduos em cerca de 60%.

Embora a densidade de U. cordatus já tenha sido estudada por alguns

autores (Branco, 1993; Blankensteyn et al., 1997; Alves & Nishida, 2004), os dados

obtidos muitas vezes são distintos quanto à área de maior preferência da espécie.

Certamente isto se deve à ausência de uma padronização do método adotado na

quantificação dos tipos de galerias (principalmente as do tipo "fechadas”, “com dupla

abertura” e “abandonadas”), ou até mesmo por falhas no delineamento experimental.

A caracterização da estrutura populacional de U. cordatus é bastante limitada,

pois a difícil captura dos indivíduos, tanto jovens como adultos, prejudica a

determinação das taxas de mortalidade e recrutamento ao longo do ano (Diele et al.,

2005). De acordo com Schories et al. (2003), as galerias do caranguejo-uçá podem

apresentar profundidade variando de 55 a 211cm, explicando a dificuldade em sua

extração, mesmo por catadores experientes.

A estimativa de biomassa na RESEX “Mãe Grande” de Curuçá são superiores

as médias encontradas por Paiva (1997) no Piauí - 0,9 t.ha-1, por Diele (2000) - 1,4

t.ha-1 em Bragança no Pará, por Barros (1976) - 5,1 t.ha-1 e Castro (1986) - 3,5 t.ha-1

ambos no Maranhão, mas inferiores aquelas encontradas por Fernandes & Carvalho

(2007) no Amapá que foi de 22,7 t.ha-1. Os resultados obtidos no presente trabalho

mostram uma população com estoque bem preservado de porte acima da média.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

111

Os recursos oferecidos pelos manguezais possibilitam importante meio de

sobrevivência às populações humanas tradicionais da região norte do Brasil (Glaser

& Grasso, 1998). Em decorrência do manejo inadequado, os estoques populacionais

de U. cordatus têm decrescido anualmente na natureza, com redução do tamanho

comercializado (Gondim & Araújo, 1996). Isto se deve à reduzida taxa de

crescimento da espécie (Pinheiro et al., 2005), combinada com i) o uso de

armadilhas predatórias, ii) a captura de indivíduos muito pequenos e, em menor

quantidade, iii) a captura de fêmeas para o esquartejamento e produção de “massa”,

dessa forma não cumprindo a legislação vigente. As informações geradas sobre os

diversos aspectos da estrutura populacional do caranguejo-uçá são essenciais no

que concerne à melhor avaliação dos estoques desse recurso pesqueiro, podendo

ser utilizadas também como subsídio para a elaboração de planos de manejo

efetivos para as Reserva Extrativistas Marinhas implantadas na zona costeira da

Amazônia brasileira.

Apesar da notória importância do caranguejo-uçá para os manguezais -

ecossistemas de funções ecológicas relevantes e constatadas cientificamente - e

para milhares de ribeirinhos, como recurso econômico, o manejo desse recurso

ainda é incipiente do ponto de vista das demandas ecológicas, econômicas, sociais

e culturais (Jankowsky, Pires & Nordi, 2006).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

112

ALCÂNTARA-FILHO, P. 1978. Contribuição ao estudo da biologia e ecologia do

caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapoda,

Brachyura) no manguezal do Rio Ceará (Brasil). Arquivos de Ciências do Mar

18(1/2): 1-41.

ALCÂNTARA-FILHO, P. 1982. Diversificação intraespecífica do caranguejo-uçá,

Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea - Decapoda - Brachyura), entre

os manguezais dos Rios Pará, Estado do Pará e Pomonga, Estado de

Sergipe (Brasil): 00° 41'S – 10° 40'S. 192 f. Tese (Doutorado em Ciências –

Área de Oceanografia Biológica) - Instituto Oceanográfico, Universidade de

São Paulo, São Paulo.

ALVES, R. R. N. & NISHIDA, A. K. 2003. Aspectos socioeconômicos e percepção

ambiental dos catadores de caranguejo-uçá Ucides cordatus cordatus (L.

1763) (Decapoda, Brachyura) do Estuário do Rio Mamanguape, Nordeste do

Brasil. Interciencia, 28: 36-43.

ALVES, R. R. N. & NISHIDA, A. K. 2004. Population structure of the mangrove crab

Ucides cordatus (Crustacea: Decapoda: Brachyura) in the estuary of the

mamanguape river, Norhteast Brazil. Trop. Oceanography, 32: 23-37.

AYRES, M.; AYRES JÚNIOR, M.; AYRES, D. L. & SANTOS, A. A. 2007. Bioestat –

Aplicações estatísticas nas áreas das ciências bio-médicas. Ong Mamiraua.

Belém, PA.

BARROS, A.C. 1976. Prospecção dos recursos pesqueiros das reentrâncias

maranhenses. Brasília: Governo do Maranhão/Superintendência do

Desenvolvimento da Pesca de São Luíz, 124 p.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

113

BLANKENSTEYN, A.; CUNHA-FILHO, D. & FREIRE, A. S. 1997. Distribuição dos

estoques pesqueiros e conteúdo protéico do caranguejo do mangue Ucides

cordatus (L. 1763) (Brachyura, Ocypodidae) nos manguezais da Baía das

Laranjeiras e Adjacências, Paraná, Brasil. Arq. Biol. Tecnol., 40: 331-349.

BOTELHO, E. R. O.; DIAS, A. F. & IVO, C. T. C. 1999. Estudo sobre a biologia do

caranguejo-uçá Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763), capturado nos

estuários dos Rios Formoso (Rio Formoso) e Ilhetas (Tamandaré), no estado

de Pernambuco. Bol. Tec. Cient. do CEPENE, 7: 117-145.

BRANCO, J. O. 1993. Aspectos ecológicos do caranguejo Ucides cordatus

(Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapoda) do manguezal do Itacorubi, Santa

Catarina, Brasil. Arq. Biol. Tecnol., 36: 133-148.

CASTRO, A. C. L. 1986. Aspectos bio-ecológicos do caranguejo-uçá, Ucides

cordatus cordatus (Linnaeus, 1763), no estuário do Rio dos Cachorros e

Estreito do Coqueiro, São Luís, MA. Bol. Lab. Hidrob., 7: 7-26.

COSTA, R. S. 1972. Fisioecologia do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus,

1763) - Crustáceo, Decápode - do Nordeste brasileiro. Tese de Doutorado.

Universidade de São Paulo. USP. São Paulo. 121 pp.

COSTA, T. M. & NEGREIROS-FRANSOZO, M. L. 2003. Population biology of Uca

thayeri Rathbun, 1900 (Brachyura, Ocypodidae) in a subtropical south

American mangrove area: results from transect and catch-per-unit-techniques.

Crustaceana, 75(10): 1201-1218.

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

114

DIAZ, H. & CONDE, J. E. 1989. Population dynamics and life history of the mangrove

crab Aratus pisonii (Brachyura, Grapsidae) in a marine environment. Bull. Mar.

Sci., 45: 148-163.

DIELE, K. 2000. Life History and Population Structure of the Exploited Mangrove

Crab Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Decapoda: Brachyura) in

the Caeté Estuary, North Brazil.116 f. Tese (Doutorado em Ecologia) -

Universidade de Bremen, Bremen.

DIELE, K.; KOCK, V. & SAINT-PAUL, U. 2005. Population structure, catch

composition and CPUE of the artisanally harvest mangrove crab Ucides

cordatus (Ocypodidae) in the Caeté estuary, North Brazil: Indications for

overfishing? Aquat. Living Res., 18: 169-178.

ELTRINGHAN, S. K. 1971. Life in mud and sand. New York: Crane Russak Co.

218p.

FAUSTO-FILHO, J. 1968. Terceira contribuição ao inventário dos crustáceos

decápodos marinhos do Nordeste brasileiro. Arquivos da Estação de Biologia

Marinha da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 8: 43-45.

FERNNADES, M. E. B. & CARVALHO, M. L. 2007. Bioecologia de Ucides cordatus

Linnaeus, 1763 (Decapoda: Brachyura) na costa do Amapá. Boletim do Lab.

de Hidrologia, 20: 14-21.

GLASER, M. & GRASSO, M. 1998. Fisheries of a mangrove estuary: Dynamic and

interrelationships between economy and ecosystem in Caeté Bay,

Notheastern Pará, Brazil. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Zool., 14: 95-

125.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

115

GLASER, M. & DIELE, K. 2004. Asymmetric outcomes: assessing central aspects of

the biological, economic and social sustainability of a mangrove crab fishery,

Ucides cordatus (Ocypodidae), in North Brazil. Ecol. Econ., 49: 361-373.

GONDIM, C. J. E. & ARAÚJO, F. B. 1996. Redução dos tamanhos dos caranguejos

Ucides cordatus (L.) capturados nos manguezais de Maracanã, Zona do

Salgado Paraense. 3° Congresso de Ecologia do Brasil. Universidade de

Brasília, Brasília, DF: 260.

HATTORI, G. Y. 2002. Biologia populacional do caranguejo de mangue Ucides

cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Brachyura, Ocypodidae) em Iguape

(SP). 82 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia – Área de Produção Animal)

– Faculdade de Ciência Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual

Paulista, Jaboticabal.

IBAMA. 1994. Lagosta, caranguejo-uçá e camarão do Nordeste. Brasília, DF:

IBAMA. p. 107-140. (Coleção Meio Ambiente, Série Estudos-Pesca, 10).

IVO, C. T. C.; DIAS, A. F. & MOTA, R. I. 1999. Estudo sobre a biologia do

caranguejo-uçá, Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763), capturado no

Delta do Rio Parnaíba, Estado do Piauí. Bol. Tec. Cient. do CEPENE, 7: 53-

84.

IVO, C. T. C.; DIAS, A. F.; BOTELHO, E. R. O.; MOTA, R. I.; VASCONCELOS, J. A.

& VASCONCELOS, E. M. S. 2000. Caracterização das populações de

caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), capturadas em estuários

do nordeste do Brasil. Bol. Téc. Cient. do CEPENE, 8: 9-43.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

116

JANKOWSKY, M.; PIRES, J. S. R. & NORDI, N. 2006. Contribuição ao manejo

participativo do Caranguejo-uçá, Ucides cordatus (L., 1763), em Cananéia,

SP. Boletim do Instituto de Pesca 32(2): 221-228.

JORDÃO, J. M. & OLIVEIRA, R. F. 2003. Comparsion of non-invasive methods for

quantifying population density of the fiddler crab Uca tangeri. J. Mar. Biol.

Assoc. U.K., 83: 981-982.

KOCH, V.; WOLFF, M. & DIELE, K. 2005. Comparative population dynamics of four

fiddler crabs (Ocypodidae, genus Uca) from a North Brazilian mangrove

ecosystem. Marine Ecology Progress Series 291:177-188.

LOURENÇO, R.; PAULA, J. & HENRIQUE, M. 2000. Estimating the size of Uca

tangeri (Crustacea, Ocypodidae) without massive crab capture. Sci. Mar., 64:

437- 439.

MACIA, A.; QUINCARDETE, I. & PAULA, J. A. 2001. Comparison of alternative

methods for estimating population density of the fiddler crab Uca annulipes at

Saco Mangrove, Inhaca Island (Mozambique). Hydrobiologia, 449: 213-219.

MARGALEF, R. 1977. Ecologia. Barcelona, Ediciones Omega, 951p.

MELO, G. A. S. 1996. Manual de identificação dos Brachyura (caranguejos e siris)

do litoral brasileiro. São Paulo: Editora Plêiade, 604 p.

MELO, N. F. A. C. 2000. Caracterização sobre a biometria do caranguejo uçá

(Brachiura, Decápoda, Ucides cordatus L.) em cinco municípios do Estado do

Pará. Relatório de bolsa DTI/CNPq. 45p.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

117

MOTA-ALVES, M. I. 1975. Sobre a reprodução do caranguejo-uçá, Ucides cordatus

(Linnaeus), em mangues do Estado do Ceará (Brasil). Arq. Ciên. Mar, 15: 85-

91.

NASCIMENTO, S. A. 1993. Biologia do Caranguejo-Uçá (Ucides cordatus). Sergipe,

Administração Estadual do Meio Ambiente (ADEMA), 45p.

NORDI, N. 1994. A produção dos catadores de caranguejo-uçá (Ucides cordatus) na

região de Várzea Nova, Paraíba, Brasil. Rev. Nordestina, Biol., 9: 71-77.

OSTRENSKY, A.; STERNHAIN, U. S.; BRUN, E. ; WEGBECKER, F. X. &

PESTANA, D. 1995. Análise da viabilidade técnico - econômica dos cultivos

do caranguejo-uçá Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) no litoral paranaense.

Arq. Biol. Tecnol., 38: 939-947.

PAIVA, M. P. 1997. Recursos pesqueiros marinhos e estuarinos do Brasil. Rio de

Janeiro: EUFC, 278 p.

PINHEIRO, M. A. A.; FISCARELLI, A. G. & HATTORI, G. Y. 2005. Growth of the

mangrove crab Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Brachyura: Ocypodidae) at

Iguape, SP, Brazil. J. Crustacean Biol., EUA, 25: 293-301.

SARTRY, A. N. 1983. Ecological aspects of reproduction. In: Vernberg, F. J. &

Verneberg, W. B. The Biology of Crustacea, New York: Academic Press, 8:

179-210.

SCHORIES, D.; BARLETTA-BERGAN, A.; BARLETTA, M.; KRUMME, U.; MEHLIG,

U. & RADEMAKER, V. 2003. The keystone role of leaf-removing crabs in

mangrove forests of North Brazil. Wet. Ecol. Managem., 11: 243-255.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

118

SKOV, M. W.; VANNINI, M.; SHUNULA, J. P.; HARTNOLL, R. G. & CANNICCI, S.

2002. Quantifying the density of mangrove crabs: Ocypodidae and Grapsidae.

Mar. Biol., 141: 725-732.

VASCONCELOS, E. M. S.; VASCONCELOS, J. A. & IVO, C. T. C. 1999. Estudo

sobre a biologia do caranguejo-uçá Ucides cordatus cordatus (Linnaeus,

1763), capturado no estuário do Rio Curimatau (Canguaretama) no Estado do

Rio Grande do Norte. Bol. Téc. Cient. CEPENE, 7: 85-116.

WARREN, J.H. 1990. The use of open burrows to estimate abundance of intertidal

estuarine crabs. Austral. J. Ecol., 15: 277-280.

WENNER, A.M. 1972. Sex ratio as a function of size in Marine Crustacea. The

American Naturalist, 106(4): 321-350.

WOLFF, M.; KOCH, V. & ISAAC, V. A. 2000. Trophic Flow Model of the Caeté

Mangrove Estuary (North Brazil) with Considerations for the Sustainable Use

of its Resources. Estuarine, Coastal and Shelf Science 50: 789-803.

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

119

CAPÍTULO 4

DISCUSSÃO GERAL

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

120

Nos manguezais da Reserva Extrativista Marinha “Mãe Grande” de Curuçá, Curuçá-PA ocorrem três espécies típicas: Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa, sendo R. mangle a espécie mais abundante e que domina a paisagem da RESEX. Dentre os sítios de trabalho, aqueles localizados nas ilhas (3, 4 e 5) contam com a presença de indivíduos de diferentes portes, indicando um processo constante de renovação dos bosques, enquanto nos sítios 1 e 2 a alta densidade de indivíduos de portes menores sugere a presença de bosques jovens ou em regeneração. Todos os sítios apresentaram árvores mortas, evidenciando um processo de mortalidade natural associada à competição interindividual. Árvores mortas por ação antrópica (corte) ocorreu somente no Sítio 1, resultado da sua localização próximo às vilas e assentamentos humanos, o fato desse sítio apresentar árvores cortadas explica o alto índice de indivíduos jovens, ou seja, o seu processo de regeneração acentuada.

Os fatores que moldam as populações de caranguejos nos manguezais ainda não são claramente definidos. No entanto, sabe-se que os fatores abióticos exercem grande influência sobre a distribuição espacial, padrões comportamentais, e demais atividades dos caranguejos semiterrestres, grande parte deles regidos pela presença do tipo de vegetação do local. A idade dos bosques de mangue pode criar microclimas específicos, que exercem grande influência sobre a fauna local (SMITH et al., 1991).

A composição e dominância vegetal das áreas de manguezal são fatores que exercem grande importância sobre a densidade populacional de Ucides cordatus (MATSUMASA et al., 1992; NOMANN & PENNINGS, 1998), que apresenta um padrão de distribuição agregado e associado com áreas de maior densidade de raízes no sedimento. Com relação a esta mesma espécie, Diele (2000) registrou em bosques com predomínio de Rhizophora mangle os maiores exemplares de U. cordatus, embora não mencione qualquer informação quanto às demais espécies arbóreas sobre a densidade desta espécie. As áreas de manguezal com predominância de R. mangle promovem uma maior disponibilidade de alimento para o caranguejo-uçá. (CHRISTOFOLETTI, 2005).

A disponibilidade e abundância de alimento podem influenciar a densidade populacional dos caranguejos (ZIMMER-FAUST, 1987; GENONI, 1991), que de acordo com DALEO et al. (2003), a presença de um predador, também, pode modular a distribuição espacial de caranguejos do gênero Uca afetando sua densidade populacional. A presença de predadores naturais na área de manguezal, principalmente de mamíferos (ex. guaxinim, Procyon cancrivorus) e aves (ex. gavião caranguejeiro, Buteogallus aequinoctiallis), que se alimentam do caranguejo-uçá são comuns nas áreas de manguezal da Amazônia brasileira, podendo influenciar a densidade de U. cordatus.

As medidas de largura (LC) e comprimento (CC) carapaça mostram, em linhas gerais, a redução do tamanho dos caranguejos nos sítios mais próximos e de mais fácil acesso às populações humanas e o aumento do tamanho daqueles presentes nos sítios mais afastados. Vale ressaltar que os menores exemplares de U. cordatus estão associados a bosques como DAP e altura reduzida e que os maiores encontram-se nos bosques mais desenvolvidos, como maiores DAP e altura.

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

121

Esse tamanho reduzido dos caranguejos capturados no Sítio 1 ocorre em função pressão de coleta nesse local ser muito elevada e direcionada aos indivíduos maiores, com expressivo valor comercia. Dessa maneira, grande parte dos indivíduos de grande porte foi reduzida, comprometendo a média do tamanho populacional dessa espécie. Os catadores mais antigos da região e que sobrevivem desse recurso confirmam esse evento, assim como é do conhecimento da própria comunidade que reconhece a redução do tamanho dos animais. Adicionalmente, Miranda et al. (2005) afirmam que a captura dos indivíduos maiores pode afetar a estrutura genética da população, dando maiores chances aos indivíduos sexualmente maduros com um menor tamanho corporal. Isto pode gerar um ciclo, no qual os caranguejos menores possuem menor preço no ato da comercialização, fato que os catadores procuram compensar com o aumento da captura, comprometendo cada vez mais as populações de caranguejos.

Os sítios estudados que apresentaram maiores tamanhos da população de U. cordatus localizam-se nos sítios mais afastados (3, 4 e 5). Esses sítios apresentam alta produtividade, ou seja, elevada biomassa quando comparados à maioria dos sítios estudados na região amazônica. Tal produtividade, certamente, é decorrente da menor influência antrópica nestas áreas distantes, particularmente nas áreas mais internas, que são de difícil acesso. Como todos os sítios são predominantemente bosques R. mangle e alguns sítios estudados possuem acesso somente por barco. Além do mais, é importante ressaltar que os maiores caranguejos parecem estar associados à maior abundância e qualidade de alimento disponíveis nos manguezais, de acordo com os resultados apresentados por CHRISTOFOLETTI (2005), em estudos realizados com caranguejo-uçá, em Jaboticabal-SP.

A captura dos caranguejos em ambiente natural e a sua comercialização são processos tradicionais e culturais das comunidades litorâneas no Brasil. Em muitas regiões ao longo da costa brasileira, essa espécie de caranguejo constitui a principal fonte de renda de muitas famílias tracionais ribeirinhas, principalmente na Amazônia. Assim, estudos para o conhecimento dos atores sociais relacionados ao uso dos manguezais e a este recurso de maneira direta ou indireta, bem como a relação entre os mesmos com a captura e comercialização da espécie são de extrema importância.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHRISTOFOLETTI, R. A. Ecologia trófica do caranguejo-uçá, Ucides cordatus

(Linnaeus, 1763) (Crustacea, Ocypodidae) e o fluxo de nutrientes em bosques de

mangue, na região de Iguape (SP). 139 f. Tese (doutorado) –Universidade Estadual

Paulista , Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias , Jaboticabal, 2005.

DALEO, P.; RIBEIRO, P. & IRIBARNE, O. The SW Atlantic burrowing crab

Chasmagnathus granulatus Dana affects the distribution and survival of the fiddler

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS … · estudo, que foi indispensável à execução deste trabalho. 39 ... Aos meus amigos que não entendem absolutamente nada (ou quase nada)

122

crab Uca uruguayensis Nobili. Journal of Experimental Marine Biology and

Ecology, v. 291, n. 2, p. 255-267, 2003.

DIELE, K. Life History and Population Structure of the Exploited Mangrove Crab

Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Decapoda: Brachyura) in the Caeté

Estuary, North Brazil. 116 f. Tese (Doutorado em Ecologia) Universidade de Bremen,

Bremen, 2000.

GENONI, G. P. Increased burrowing by fiddler crabs Uca rapax (Smith) (Decapoda:

Ocypodidae) in response to low food supply. Journal of Experimental Marine

Biology and Ecology, v.147, n. 2, p. 267-285, 1991.

MATSUMASA, M.; TAKEDA, S.; POOVACHIRANON, S. & MURAI, M. Distribution

and shape of Dotilla myctiroides (Brachyura: Ocypodidae) burrow in the seagrass

Enhalus acoroides zone. Benthos Res, v. 43, p. 1-9, 1992.

MIRANDA, C. L.; BARBOSA, R. P.; LIMA, A. S.; ROVIDA, J. C.; ROCHA, J. C.;

SOUZA, L. S.; PIRES, A. V.; MARTINS, R. L. & PAIVA, S. R. Análise morfométrica

de populações do caranguejo-uçá (Ucides cordatus L.) (Crustacea - Decapoda) em

manguezais do litoral do Espírito Santo. Revista de Ciências Médicas e

Biológicas, v. 4, n. 1, p. 15-23, jan./abr. 2005.

NOMANN, B. E. & PENNINGS, S. C. Fiddler crab-vegetation interactions in

hypersaline habitats. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, v.

225, n. 1, p. 53-68, 1998.

SMITH III, T. J.; BOTO, K. G.; FRUSHER, S. D. & GIDDINS, R. L. Keystone species

and mangrove forest dynamics: the influence of burrowing by crabs on soil nutrient

status and forest productivity. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 33, p. 419-

432, 1991.

ZIMMER-FAUST, R. K. Substrate selection and use by a deposit-feeding crab.

Ecology, v. 68, n. 4, p. 955-970, 1987.