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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA CAMILA CAMPOS LOPES MOREIRA VALORES DE REFERÊNCIA DE QUALIDADE PARA METAIS PESADOS EM SOLOS DE MANGUE DO ESTADO DO CEARÁ: SUBSÍDIOS PARA GESTÃO DA ZONA COSTEIRA FORTALEZA 2014

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ... · do trabalho e com quem eu fico imensamente feliz e honrada em dividir essa conquista. Ao Prof. Dr. Maurício

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

CAMILA CAMPOS LOPES MOREIRA

VALORES DE REFERÊNCIA DE QUALIDADE PARA METAIS PESADOS EM

SOLOS DE MANGUE DO ESTADO DO CEARÁ: SUBSÍDIOS PARA GESTÃO DA

ZONA COSTEIRA

FORTALEZA

2014

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CAMILA CAMPOS LOPES MOREIRA

VALORES DE REFERÊNCIA DE QUALIDADE PARA METAIS PESADOS EM SOLOS

DE MANGUE DO ESTADO DO CEARÁ: SUBSÍDIOS PARA GESTÃO DA ZONA

COSTEIRA

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Geografia do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Geografia. Área de concentração: Dinâmica Territorial e Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Antônio Jeovah de Andrade Meireles. Co-Orientadores: Prof. Dr. Tiago Osório Ferreira e Prof. Dr. Maurício Paulo Ferreira Fontes.

FORTALEZA

2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências e Tecnologia

M837v Moreira, Camila Campos Lopes.

Valores de referência de qualidade para metais pesados em solos de mangue do Estado do

Ceará: subsídios para gestão da zona costeira / Camila Campos Lopes Moreira. – 2014.

163 f. : il. color., enc. ; 30 cm.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências, Departamento de

Geografia, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Fortaleza, 2014.

Área de Concentração: Dinâmica Territorial e Ambiental.

Orientação: Prof. Dr. Antônio Jeovah De Andrade Meireles.

Coorientação: Prof. Dr. Tiago Osório Ferreira.

Coorientação: Prof. Dr. Maurício Paulo Ferreira Fontes.

1. Manguezais. 2.Região semiárida. 3. Monitoramento ambiental. I. Título.

CDD 910

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CAMILA CAMPOS LOPES MOREIRA

VALORES DE REFERÊNCIA DE QUALIDADE PARA METAIS PESADOS EM SOLOS

DE MANGUE DO ESTADO DO CEARÁ: SUBSÍDIOS PARA GESTÃO DA ZONA

COSTEIRA

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Geografia do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Geografia. Área de concentração: Dinâmica Territorial e Ambiental.

Aprovada em: 27 / 08 / 2014.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Antônio Jeovah de Andrade Meireles (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Tiago Osório Ferreira (Co-Orientador)

Universidade de São Paulo (USP)

Prof. Dr. Maurício Paulo Ferreira Fontes (Co-Orientador)

Universidade Federal de Viçosa (UFV)

Prof. Dr. Edson Vicente da Silva

Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. George Satander de Sá Freire

Universidade Federal do Ceará (UFC)

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ... · do trabalho e com quem eu fico imensamente feliz e honrada em dividir essa conquista. Ao Prof. Dr. Maurício

Aos meus pais, Francisco Alberto e

Wilka, pelo amor incondicional, pela confiança em mim depositada e por nunca terem medido esforços para que eu chegasse até aqui;

Aos meus irmãos, Karyne e Isaías Neto, meus verdadeiros amigos, pela nossa história, pelo nosso amor e por todos os momentos que ainda virão;

À minha avó Benizalba, por todos os ensinamentos, pelas palavras cheias de sabedoria e pela torcida de sempre;

Ao meu esposo, Leo, por todo o apoio durante essa jornada e por me fazer conhecer o verdadeiro amor;

À Belinha, amor que ultrapassa todo entendimento.

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AGRADECIMENTOS

O Doutorado foi, acima de tudo, a concretização de um sonho, além de um

período marcado por desafios, renúncia, saudade, aprendizado e superação. A realização desse

trabalho não seria possível sem a ajuda e o apoio de muitas pessoas, às quais eu serei

eternamente grata, pois sei que essa conquista não é só minha.

Quero agradecer primeiramente a Deus, Pai de infinita bondade, pelo dom da

vida, por me amar mesmo diante das minhas imperfeições, pelas oportunidades a mim

concedidas e por me conduzir no caminho da luz.

A todos da minha família, meu maior tesouro e porto seguro em todos os

momentos da minha vida. Em especial aos meus pais, Francisco Alberto e Wilka, pelo amor

imensurável, pelo zelo de sempre, por terem me proporcionado o melhor em termos de estudo

e por estarem sempre preocupados com a minha formação. Aos meus irmãos, Karyne e Isaías

Neto, que me inspiram a viver o amor, principalmente por tudo que vivemos juntos. Ao meu

esposo, Leo, pelo apoio incondicional durante a realização do Doutorado e por despertar em

mim a vontade de ser cada vez melhor. À minha avó Benizalba, sempre presente em todos os

momentos da minha vida, pela doçura e amor a mim dedicados. Aos meus tios Vera Lúcia,

Vera Maria, Wilza, João Batista e Walmick, pela torcida sincera de todas as horas. Aos meus

sogros, Jamil e Ângela, pelas constantes demonstrações de afeto. À Cezinha, pela

disponibilidade e alegria de sempre. Aos meus cunhados Clara, Antoni, Alex e Priscila, com

quem também compartilho essa vitória. Aos anjos Décio, Rosalba, Wilson Júnior e Isaías,

pela torcida tanto aqui quanto no outro plano.

À Universidade Federal do Ceará – UFC, pela oportunidade de fazer parte dessa

instituição desde o período de Mestrado.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo

apoio financeiro através da concessão da bolsa de estudo junto ao Programa REUNI de

Orientação e Operacionalização da Pós-Graduação Articulada à Graduação (PROPAG).

Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFC, que tão bem me recebeu,

por todas as experiências vividas e pelo conhecimento adquirido. A todos os professores,

principalmente Elisa Zanella, Edson Vicente, Vládia Oliveira, Eustógio Dantas e Christian

Oliveira, com os quais convivi mais diretamente. Aos colegas de curso, em especial Nubelia

Moreira e Rita Vidal, pelos momentos compartilhados, pela amizade e pelas palavras de

incentivo ditas sempre no momento certo. À secretária Nonata, pela disponibilidade e por

estar disposta a contribuir sempre que precisei.

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Ao Prof. Dr. Antônio Jeovah de Andrade Meireles (UFC), meu orientador, com

quem tive o prazer de conviver, que desde o começo me deixou muito à vontade para

conduzir a pesquisa de acordo com a minha linha de trabalho e por quem tenho profunda

admiração, pois sua luta e amor pelo que faz me inspiram a ir além.

Ao Prof. Dr. Tiago Osório Ferreira (USP), pelo seu lado humano, pelo apoio,

paciência e amizade a mim destinados durante os últimos anos, bem como pela co-orientação

do trabalho e com quem eu fico imensamente feliz e honrada em dividir essa conquista.

Ao Prof. Dr. Maurício Paulo Ferreira Fontes, pelo seu profissionalismo, pela

atenção de sempre, parceria, apoio, co-orientação da pesquisa e por ter me recebido tão bem

no Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde realizei as

análises do presente trabalho.

Ao Prof. Dr. Xosé Luis Otero Pérez, pela parceria mantida e pelas análises de

combustão seca (Leco) na Universidade de Santiago de Compostela – Espanha.

Ao Prof. Dr. Carlos Roberto Bellato (Departamento de Química da Universidade

Federal de Viçosa - UFV), pela parceria e apoio durante as análises de determinação dos

teores de metais das amostras.

Ao Prof. Dr. Edson Vicente da Silva (Cacau), bem como ao Prof. Dr. George

Satander de Sá Freire, pela disponibilidade em participar da banca examinadora desse

trabalho, o que me deixou profundamente honrada.

A todos que me ajudaram durante as etapas de campo e coleta das amostras de

solo: ICMBio (Base Multifuncional do Peixe-Boi – APA Delta do Parnaíba) e Cláudio

(Cajueiro da Praia); Seu Nô, Vicente e Vanderlei (Camocim); Manduca, Antonino e Glaís

(Itarema); Edmar, Assis, Magno e Armando (Fortaleza); e em especial ao meu esposo Leo e

aos amigos Dimitri e Leilson, cuja ajuda foi fundamental, e à minha mãe, que tão bem cuidou

dos meus solos durante o período que estive em Fortaleza.

Aos companheiros do Laboratório de Mineralogia da UFV, com os quais eu tive o

prazer de conviver ao longo dos últimos anos: Jéssica, Rafael, Thiago, Felipe, Anderson e, em

especial, ao Chico (José Francisco Dias), pelos ensinamentos diários, disponibilidade,

incentivo, pelos momentos de descontração e, acima de tudo, pela amizade de todas as horas.

A todos os funcionários e/ou professores do Departamento de Solos da UFV que

me ajudaram nessa etapa, dentre eles o Prof. Teógenes Oliveira, pelo apoio logístico, e os

funcionários Mário, Ciro, Edimaldo, Carlinhos, Braz e Danielle.

Por fim, aos amigos de longa data, bem como aos que fiz desde que cheguei em

Viçosa, que foram peças fundamentais para que esse período fosse, acima de tudo, repleto de

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alegria: Ivana, Kezia, Eline, Eveline, Leilson, Dimitri, Janine, Samia, Natália, Cristiano,

Lorena, Guilherme, Aridiano, Lucas, Lauana, Fernanda, Milena, Caio, Vanessa, Rafaela,

Wallace.

A todos vocês,

MUITO OBRIGADA!

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"Foi o tempo que dedicaste à tua rosa

que a fez tão importante." (Antoine de Saint-Exupéry)

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RESUMO

Nos dias de hoje, atividades relacionadas à urbanização e à industrialização têm contribuído para o aumento das concentrações de metais pesados nos diversos tipos de solo. Tais elementos apresentam relevante toxicidade e podem se acumular no ambiente, configurando sério risco à saúde humana e dos ecossistemas em geral. Nesse cenário, percebe-se uma preocupação crescente dos países em adotar uma política ambiental eficiente e, dessa forma, a determinação da concentração natural (níveis de background) de metais nos solos e o estabelecimento de valores de referência de qualidade (VRQs) já são realidade em alguns países, inclusive no Brasil. Entretanto, percebe-se a escassez de estudos dessa natureza que contemplem os solos sob florestas de mangue no país, onde tais áreas são bastante expressivas e desempenham importantes funções e serviços no ambiente. Nesse contexto, a contaminação dos solos de mangue por metais pesados é uma das grandes questões ambientais da atualidade, podendo, inclusive, comprometer os estuários em toda a sua extensão. Assim, foi realizado um estudo em solos de mangue do Estado do Ceará visando a classificação e caracterização dos mesmos, além da determinação dos teores naturais de metais e a consequente proposição de seus VRQs. Para isso, foram realizadas análises físicas, químicas e mineralógicas, extração dos metais por métodos de digestão semitotal (EPA 3051A e água régia) e a determinação dos VRQs foi realizada de acordo com o disposto na resolução n° 420/2009 do CONAMA. Os resultados obtidos indicaram que o clima predominantemente semiárido da região explica o comportamento dos principais atributos desses solos (ex: CE, COT, constituição mineralógica). Verificou-se ainda que os teores de metais nos solos em questão são influenciados pela intensidade da interferência antropogênica nos ambientes costeiros, tendo em vista que os solos de mangue do estuário do rio Ceará, inserido em contexto urbano e submetido a diversos tipos de tensões ambientais, apresentaram os maiores fatores de enriquecimento de metais. Por outro lado, observou-se que a distribuição de tais elementos nesses solos é também regida por interações entre os próprios metais e dos mesmos com atributos como a fração argila e os óxidos de Fe e Mn. Além disso, a digestão por água régia mostrou-se eficiente na extração de metais nesses solos, enquanto o EPA 3051A, indicado pelo CONAMA para avaliações de qualidade dos solos, subestimou os teores dos metais disponíveis nos mesmos. Diante do exposto, os teores naturais dos metais determinados no presente estudo podem servir de base para a definição de VRQs para os solos de mangue do Estado do Ceará, auxiliando o órgão ambiental responsável na formulação de uma legislação específica para o monitoramento das áreas de manguezal do Estado, configurando, portanto, uma nova perspectiva para a gestão dos ambientes estuarinos. Palavras-chave: Ecossistema manguezal; Níveis de background; Semiárido brasileiro; Monitoramento ambiental.

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ABSTRACT

Currently, activities related to urbanization and industrialization have contributed to increased concentrations of heavy metals in different types of soil. These elements have significant toxicity and can accumulate in the environment, configuring serious risk to human health and ecosystems in general. Thus, there is an increasing concern among countries in adopting an efficient environmental policy and, thus, the determination of natural concentration (background levels) of metals in soils and the consequent establishment of Quality Reference Values (QRV) are reality in some countries, including Brazil. However, there is a lack of studies like these related to soils under mangrove forests in the country, where these areas play very important roles and services in the environment. In this context, the contamination of mangrove soils by heavy metals is one of the major environmental issues today and may even compromise the estuaries throughout its length. Thus, a study was carried out in mangrove soils of the State of Ceará aiming their classification and characterization, beyond the determination of natural levels of metals in these soils and the consequent proposition of their QRV. For this, physical, chemical and mineralogical analyzes were realized, beyond the metals extraction by methods of semitotal digestion (EPA 3051A and aqua regia) and the determination of QRV was performed in accordance with the resolution 420/2009 of CONAMA. The results indicated that the semiarid climate preponderant in this region explains the behavior of the main attributes of these soils (ex: EC, TOC, mineral composition). It was also found that the levels of metals in these soils are influenced by the intensity of anthropogenic interference in the coastal environments, given that mangrove soils of Ceará River estuary, inserted into urban context and subjected to environmental stresses, showed the highest enrichment factors of metals. On the other hand, it was observed that the distribution of these elements in this environment is also regulated by interactions between the metals themselves and with attributes as clay and Fe and Mn oxides. Furthermore, the aqua regia digestion was efficient in extracting metals in these soils, while EPA 3051A, indicated by CONAMA for soil quality assessments, underestimated the available levels of metals in the analyzed soils. Given the above, the natural levels of metals determined in this study can serve as a basis for defining QRV for mangrove soils of the State of Ceará, assisting the environmental agency in the formulation of a specific legislation for monitoring mangrove areas in the State, thus setting a new perspective for the management of estuarine environments. Keywords: Mangrove ecosystem; Background levels; Brazilian semiarid; Environmental monitoring.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO GERAL................................................................................................. 14

Referências .......................................................................................................................... 18

2 METAIS PESADOS EM SOLOS DE MANGUE E VALORES DE REFERÊNCIA DE

QUALIDADE: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A GESTÃO DE AMBIENTES

ESTUARINOS .................................................................................................................... 22

Resumo ................................................................................................................................ 22

Abstract ............................................................................................................................... 23

2.1 Introdução ...................................................................................................................... 24

2.1 Manguezais: funções e serviços na natureza e principais impactos evidenciados ............ 26

2.2 Solos de manguezais: processos atuantes, contaminação por metais pesados e

consequências para o ecossistema ........................................................................................ 29

2.3 Valores de referência de qualidade: avanços na política de proteção dos solos e

ferramentas de gestão ........................................................................................................... 35

2.4 Breves considerações ..................................................................................................... 38

Referências .......................................................................................................................... 39

3 CLASSIFICAÇÃO E ATRIBUTOS FÍSICOS, QUÍMICOS E MINERALÓGICOS DE

SOLOS DE MANGUE DA COSTA NORDESTE SEMIÁRIDA DO BRASIL (ESTADO

DO CEARÁ) ....................................................................................................................... 47

Resumo ................................................................................................................................ 47

Abstract ............................................................................................................................... 48

3.1 Introdução ...................................................................................................................... 49

3.2 Materiais e métodos ....................................................................................................... 51

3.2.1 Áreas de estudo ........................................................................................................... 51

3.2.2 Etapas de campo ......................................................................................................... 52

3.2.3 Procedimentos analíticos ............................................................................................ 54

3.2.3.1 Análises físicas e químicas ....................................................................................... 54

3.2.3.2 Análises mineralógicas ............................................................................................. 55

3.2.4 Análise estatística ....................................................................................................... 56

3.3 Resultados ...................................................................................................................... 56

3.3.1 Morfologia e classificação dos solos ........................................................................... 56

3.3.2 Determinações de campo............................................................................................. 59

3.3.3 Parâmetros físicos e químicos ..................................................................................... 59

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3.3.4 Mineralogia ................................................................................................................ 63

3.4 Discussão ....................................................................................................................... 73

3.4.1 Ambiente físico-químico .............................................................................................. 73

3.4.2 Caracterização física e química dos solos ................................................................... 74

3.4.3 Aspectos relacionados aos minerais presentes nos solos ............................................. 81

3.5 Conclusões ..................................................................................................................... 84

Referências .......................................................................................................................... 85

4 TEORES NATURAIS E VALORES DE REFERÊNCIA DE QUALIDADE DE

METAIS PESADOS EM SOLOS DE MANGUE DO ESTADO DO CEARÁ -

BRASIL ............................................................................................................................... 92

Resumo ................................................................................................................................ 92

Abstract ............................................................................................................................... 93

4.1 Introdução ...................................................................................................................... 94

4.2 Materiais e métodos ....................................................................................................... 97

4.2.1 Áreas de estudo ........................................................................................................... 97

4.2.2 Etapas de campo e manuseio das amostras ................................................................. 98

4.2.3 Procedimentos analíticos .......................................................................................... 101

4.2.3.1 Análises para fins de caracterização física e química das amostras ........................ 101

4.2.3.2 Determinação dos teores naturais dos metais nos solos .......................................... 102

4.2.4 Análise estatística ..................................................................................................... 103

4.3 Resultados .................................................................................................................... 104

4.3.1 Caracterização física e química dos solos ................................................................. 104

4.3.2 Recuperação dos metais nas amostras certificadas.................................................... 106

4.3.3 Teores naturais dos metais nos solos ......................................................................... 107

4.3.4 Estabelecimento dos valores de referência de qualidade (VRQs) ............................... 110

4.4 Discussão ..................................................................................................................... 113

4.4.1 Teores dos metais e os principais aspectos relacionados à sua dinâmica nos solos ... 113

4.4.2 Valores de referência de qualidade dos solos ............................................................ 121

4.4.3 Estudo de caso: avaliação da qualidade dos solos de mangue do estuário do rio

Ceará ................................................................................................................................ 125

4.5 Conclusões ................................................................................................................... 131

Referências ........................................................................................................................ 133

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5 COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE DIGESTÃO PARA A DETERMINAÇÃO DE

TEORES DE METAIS PESADOS EM SOLOS DE MANGUE INSERIDOS EM

CONTEXTO SEMIÁRIDO ............................................................................................... 141

Resumo .............................................................................................................................. 141

Abstract ............................................................................................................................. 142

5.1 Introdução .................................................................................................................... 143

5.2 Materiais e métodos ..................................................................................................... 145

5.2.1 Áreas de estudo ......................................................................................................... 145

5.2.2 Etapas de campo e manuseio das amostras ............................................................... 146

5.2.3 Procedimentos analíticos .......................................................................................... 149

5.2.4 Análise estatística ..................................................................................................... 150

5.3 Resultados .................................................................................................................... 151

5.3.1 Recuperação dos metais nas amostras certificadas.................................................... 151

5.3.2 Teores dos metais determinados pelos dois métodos de digestão ............................... 152

5.4 Discussão ..................................................................................................................... 154

5.5 Conclusões ................................................................................................................... 157

Referências ........................................................................................................................ 158

Anexo ................................................................................................................................ 161

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1 INTRODUÇÃO GERAL

Diversas atividades desenvolvidas na atualidade, principalmente as relacionadas

aos avanços da urbanização e da industrialização, bem como ao elevado crescimento

populacional das últimas décadas, têm contribuído para o aumento da concentração de metais

pesados na biosfera. Tais elementos requerem atenção principalmente pelo fato de os mesmos

apresentarem relevante toxicidade, além da propriedade de se acumular no ambiente,

viabilizando seu transporte para os diferentes níveis tróficos da cadeia alimentar

(NAGAJYOTI; LEE; SREEKANTH, 2010; WUANA; OKIEIMEN, 2011; SAKAN et al.,

2011; BRADY et al., 2014).

Assim, percebe-se uma preocupação crescente acerca da intensa e contínua

liberação de metais pesados no meio ambiente e dos seus efeitos para a saúde humana e dos

ecossistemas em geral, o que tem contribuído para o aumento do monitoramento das

concentrações de tais elementos e, sobretudo, de avaliações sobre o comportamento dos

mesmos nos diversos tipos de solos (BRADY et al., 2014).

Nesse sentido, sabe-se que uma ferramenta que tem sido utilizada para fins de

monitoramento ambiental, em ações de prevenção da poluição do solo e no controle de áreas

contaminadas é o estabelecimento de valores de referência de qualidade dos metais nos solos,

o qual está diretamente relacionado à determinação das concentrações naturais (níveis de

background) de tais elementos nesses sistemas, ou seja, das concentrações dos metais em

solos que estejam livres da interferência antropogênica, refletindo, portanto, a qualidade

natural dos mesmos (BIONDI; NASCIMENTO; NETA, 2011; SANTOS; ALLEONI, 2012).

Os primeiros estudos relacionados à determinação de padrões de referência para

solos foram desenvolvidos na Holanda (1983), com a formulação da chamada “Lista

Holandesa” ou “Lista ABC”, utilizada como guia de avaliação e remediação de locais

contaminados, e a posterior promulgação da Lei de Proteção do Solo (“Soil Protection Act”).

Outros trabalhos relevantes foram também desenvolvidos pela Agência de Proteção

Ambiental dos Estados Unidos (EPA) (1996), bem como pela Alemanha, que, em 1999,

lançou a versão preliminar da Legislação Federal Alemã de Proteção do Solo (CETESB,

2001).

Atualmente, tais práticas são comuns em países comprometidos com uma política

ambiental eficiente, dentre eles China, França, Inglaterra, Espanha, além dos anteriormente

citados (CHEN; MA; HARRIS, 1999; CHEN et al., 1991, 1997; GOUGH; SEVERSON;

JACKSON, 1994; MA; TAN; HARRIS, 1997; HORCKMANS et al., 2005; McGRATH;

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ZHAO, 2006; MARTÍNEZ et al., 2007; ZHAO; McGRATH; MERRINGTON, 2007;

ZHANG et al., 2007; MARTÍNEZ-LLADÓ et al., 2008; SU; YANG, 2008; BRUS; LAME;

NIEUWENHUIS, 2009).

Já no Brasil, o Estado de São Paulo foi o precursor de estudos referentes a valores

orientadores (1996) e, em 2009, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

expediu a resolução n° 420/2009 (CONAMA, 2009), que dispõe sobre critérios e valores

orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas, bem como

estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas

substâncias em decorrência de atividades antrópicas, fato este que evidencia um grande

avanço na política de proteção dos solos no país.

O ato normativo em questão estabeleceu três tipos de valores orientadores para os

solos brasileiros (valor de prevenção – VP; valor de investigação – VI; valor de referência de

qualidade – VRQ), que servirão de base para orientações sobre a qualidade e as alterações do

solo e da água subterrânea, e, em sua atualização em 2013 (CONAMA, 2013), definiu que os

VRQs do solo para substâncias químicas naturalmente presentes deverão ser estabelecidos

pelos órgãos ambientais competentes de cada unidade da Federação até dezembro de 2014.

Assim, trabalhos sobre VRQs e concentrações naturais de metais pesados em solos já são

consolidados em alguns Estados do país (CETESB 2001; FADIGAS et al., 2002, 2006;

PAYE et al., 2010; CAIRES, 2009; BIONDI, 2010; BIONDI; NASCIMENTO; NETA, 2011;

BIONDI et al., 2011; SANTOS; ALLEONI, 2012; PRESTON et al., 2014).

Diante disso, percebe-se a escassez de estudos relacionados à determinação desses

padrões em solos sob florestas de mangue no Brasil. Nesse contexto, sabe-se que os

manguezais possuem grande importância ecológica, evidenciada pelas inúmeras funções e

serviços que os mesmos desempenham no ambiente (CHAUDHURI; NATH; BIRCH, 2014;

NATH; BIRCH; CHAUDHURI, 2014, 2013; LEOPOLD et al., 2013; TUE et al., 2014;

MEIRELES; CAMPOS, 2010). Entretanto, nas últimas décadas, tais ecossistemas têm sido

diretamente impactados por atividades que vão desde a retirada da madeira, agricultura de

subsistência (SILVA; SOUZA, 2006), criação de camarão em cativeiro (MEIRELES et al.,

2007), até o descarte de efluentes industriais e esgotos domésticos (MACHADO et al., 2002;

MARCHAND et al., 2006), o que contribui para o acúmulo de substâncias de natureza tanto

orgânica quanto inorgânica nesses ambientes, dentre elas os metais pesados.

É importante observar que os solos de mangue possuem mecanismos próprios

para a imobilização de metais, principalmente através da formação de sulfetos metálicos e

compostos orgânicos ricos em metais (LACERDA et al., 1991; HUERTA-DIAZ; MORSE,

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1992). Entretanto, sabe-se que as intervenções nas áreas costeiras são cada dia mais

frequentes, o que afeta, por exemplo, o equilíbrio sulfetos/metais nos solos em questão

(SHARPE, 2005), interferindo na dinâmica desses elementos e permitindo que os mesmos

fiquem “livres” no sistema, o que pode comprometer o estuário em toda sua extensão (solo,

água e biota).

Dessa forma, percebe-se que o estabelecimento de valores de referência de

qualidade para metais pesados em solos de mangue pode constituir uma importante

ferramenta de gestão dessas áreas, auxiliando, por exemplo, os órgãos ambientais no controle

da qualidade desses solos, fortalecendo assim a fiscalização das áreas de manguezais.

Entretanto, é oportuno observar que, para que as ações de monitoramento dessas áreas sejam

bem fundamentadas, os VRQs para esses solos devem ser estabelecidos levando-se em

consideração as suas principais características, bem como os fatores que regem a dinâmica

dos metais nesse tipo de ambiente.

Em relação ao Estado do Ceará, sabe-se que o mesmo possui uma zona costeira

significativa e tem as suas áreas de mangue (aproximadamente 185 km2) situadas na costa

nordeste semiárida do país (MAIA et al., 2006), onde o clima é uma das mais importantes

variáveis controladoras dos processos costeiros, interferindo diretamente no desenvolvimento

dos estuários, inferindo-se assim a peculiaridade dos manguezais situados nesse setor do país

(MORAIS et al., 2006).

Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivos principais:

Classificar e caracterizar solos de mangue do Estado do Ceará (estuários dos

rios Timonha, Coreaú, Aracati-Mirim e Ceará) quanto à sua natureza física, química e

mineralógica;

Determinar os teores naturais dos seguintes metais nos solos analisados:

Alumínio, Bário, Cádmio, Cobalto, Cromo, Cobre, Ferro, Manganês, Molibdênio, Níquel,

Chumbo, Vanádio e Zinco;

Avaliar dois métodos de extração semitotal de metais nos solos em questão

(água régia e EPA 3051A);

Definir valores de referência de qualidade para metais pesados nos solos de

mangue do Estado do Ceará, a fim de dar suporte científico para a formulação de uma

legislação específica para o monitoramento das áreas de manguezal do Estado, contribuindo

para estudos preliminares de VRQs em solos estuarinos situados na costa nordeste semiárida

do país;

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Avaliar a qualidade dos solos de mangue do estuário do rio Ceará, inserido em

contexto urbano e submetido a diversos tipos de tensões ambientais, por meio da

determinação dos teores de metais nesses solos,

Criar um banco de dados para futuros trabalhos relacionados à contaminação

dessas áreas por metais pesados e à definição de estratégias para uma gestão eficiente e

integrada da zona costeira do Estado, assegurando, portanto, melhorias na saúde pública e

ambiental.

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2 METAIS PESADOS EM SOLOS DE MANGUE E VALORES DE REFERÊNCIA DE QUALIDADE: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A GESTÃO DE AMBIENTES ESTUARINOS

RESUMO

Diversas atividades desenvolvidas na atualidade, principalmente as relacionadas à urbanização e à industrialização, têm impactado diretamente o meio ambiente, comprometendo assim vários ecossistemas, dentre eles o manguezal. Nesse contexto, uma das principais problemáticas atuais refere-se à contaminação dos solos de mangue por metais pesados, o que pode, inclusive, acarretar sérios danos à zona costeira. Diante da necessidade do fortalecimento da política de proteção dos solos, baseada principalmente no estabelecimento de valores de referência de qualidade (VRQs) ou níveis de background, percebe-se a importância de se melhor fundamentar as estratégias e ações voltadas ao monitoramento das áreas de manguezais. Dessa forma, o presente capítulo traz uma revisão sobre os aspectos principais relacionados às funções e serviços do ecossistema manguezal na natureza, bem como trata dos principais impactos evidenciados na zona costeira, dando uma maior ênfase à contaminação dos solos de mangue por metais pesados. Assim, pretende-se mostrar que a determinação dos VRQs, aliada a uma abordagem mais ampla sobre o tema, pode auxiliar em uma gestão mais eficiente das áreas de manguezais, se configurando, portanto, em novas perspectivas para a gestão dos ambientes estuarinos. Palavras-chave: Ecossistema manguezal; Funções e serviços ambientais; Contaminação;

Níveis de background; Monitoramento ambiental.

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HEAVY METALS IN MANGROVE SOILS AND QUALITY REFERENCE VALUES:

NEW PERSPECTIVES FOR THE MANAGEMENT OF ESTUARINE

ENVIRONMENTS

ABSTRACT

Currently, many activities related to urbanization and industrialization have directly impacted the environment, thus compromising various ecosystems, including mangroves. In this context, a major current problem is related to the contamination of mangrove soils by heavy metals, which can even result in serious damage to the coastal zone. Due to the necessity of strengthening of soil protection policy, based primarily on establishing Quality Reference Values (QRV) or background levels, it is realized the importance of a better formulation of strategies and actions aimed to the monitoring of mangrove areas. Thus, this chapter provides an overview about the main aspects related to the functions and services of mangrove ecosystem in nature, as well as deals with the major impacts evidenced in the coastal zone, emphasizing the contamination of mangrove soils by heavy metals. Thus, it is intended to show that the determination of QRV, associated with a broader approach about the subject, can assist in a more efficient management of mangrove areas, configuring a new perspective for the management of estuarine environments. Keywords: Mangrove ecosystem; Environmental functions and services; Contamination; Background levels; Environmental monitoring.

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2.1 INTRODUÇÃO

As questões relacionadas à qualidade e ao monitoramento ambiental representam

um dos maiores desafios da sociedade contemporânea. O crescimento demográfico acelerado,

a industrialização e a urbanização contribuem cada vez mais para o comprometimento da

relação homem-natureza, acarretando danos ao meio ambiente e afetando vários ecossistemas,

principalmente os vinculados às bacias hidrográficas, dentre eles, nos baixos cursos, o

manguezal.

De forma geral, os principais impactos evidenciados nas áreas de manguezais

estão diretamente relacionados a atividades oriundas de descarga de esgotos, efluentes

industriais, resíduos sólidos, queima de combustíveis fósseis, mineração, aquicultura

industrial, construção de aterros e uso indevido das áreas do entorno (DUKE et al., 2007;

BAYEN, 2012). Todos esses fatores contribuem, de forma direta ou indireta, para o acúmulo

de substâncias de natureza orgânica e/ou inorgânica em solos de manguezais, o que pode

comprometer o desempenho de suas funções e serviços na natureza.

Atualmente, uma das grandes questões de cunho ambiental refere-se à presença de

metais pesados nos solos de manguezais, devido à toxicidade e bioacumulação de tais

elementos nesses ambientes, uma vez que tais contaminantes podem ser transportados para os

diferentes níveis tróficos da cadeia alimentar (TAM; WONG, 2000; MARCHAND;

LALLIER-VERGÈS; ALLENBACH, 2011; WU et al., 2014). As condições anóxicas desses

solos, aliadas às elevadas concentrações de sulfetos e carbono orgânico, favorecem a

imobilização de metais no solo, por meio da formação de sulfetos metálicos e compostos

orgânicos ricos em metais (LACERDA et al., 1991; HUERTA-DIAZ; MORSE, 1992;

NATH; BIRCH; CHAUDHURI, 2013).

Sabe-se ainda que a biodisponibilidade desses metais é controlada por frações

como os sulfetos voláteis em meios ácidos (AVS) e a pirita. Entretanto, convém ressaltar que

variações no meio, sejam elas relacionadas a pH, Eh, sazonalidade, temperatura, atividade

microbiana e efeitos da fauna e da flora podem alterar a especiação de tais formas químicas

no solo (HINES et al., 1984; CLARK et al., 1998; OTERO, 2000; OTERO; MACÍAS, 2002;

FERREIRA et al., 2007a, 2007b; OTERO et al., 2009) e interferir na mobilidade e

disponibilidade dos metais, fazendo com que tais elementos fiquem “livres” no sistema,

podendo acarretar impactos ao meio ambiente, bem como comprometer a biodiversidade e a

saúde humana (FILGUEIRAS; LAVILLA; BENDICHO, 2002; LAING et al., 2009).

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Diante disso, percebe-se a necessidade de se adotar medidas que promovam o

fortalecimento da política de proteção dos solos e, especificamente no Brasil, o Conselho

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) expediu a resolução n° 420/2009 (CONAMA,

2009), que, de forma geral, trata sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo

quanto à presença de substâncias químicas, bem como estabelece diretrizes para o

gerenciamento de áreas contaminadas. Nesse contexto, tal ato normativo surge como uma

importante ferramenta para os órgãos ambientais, tendo em vista que os mesmos poderão

melhor fundamentar suas ações de avaliação e monitoramento ambiental.

Dessa forma, a questão da contaminação dos solos por metais pesados pode ser

melhor trabalhada por meio da determinação das concentrações naturais (níveis de

background) desses elementos no ambiente e do consequente estabelecimento de valores de

referência de qualidade dos solos (VRQs) (SANTOS; ALLEONI, 2012). De fato, medidas

como essa já são consolidadas em diversos países (CHEN; MA; HARRIS, 1999; CHEN et al.,

1991, 1997; GOUGH; SEVERSON; JACKSON, 1994; MA; TAN; HARRIS, 1997;

HORCKMANS et al., 2005; McGRATH; ZHAO, 2006; MARTÍNEZ et al., 2007; ZHAO;

McGRATH; MERRINGTON, 2007; MARTÍNEZ-LLADÓ et al., 2008; SU; YANG, 2008;

BRUS; LAME; NIEUWENHUIS, 2009) e em alguns estados do Brasil (CETESB 2001;

FADIGAS et al., 2002, 2006; PAYE et al., 2010; CAIRES, 2009; BIONDI, 2010; BIONDI;

NASCIMENTO; NETA, 2011; BIONDI et al., 2011; SANTOS; ALLEONI, 2012; PRESTON

et al., 2014).

Assim, percebe-se a escassez de trabalhos relacionados à determinação desses

padrões em solos sob florestas de mangue no Brasil e, diante da importância do ecossistema

manguezal para o meio ambiente e também levando-se em consideração o fato de que tais

áreas são bastante expressivas no país, percebe-se que a determinação de VRQs ou níveis de

background para metais pesados em solos de mangue pode se constituir em uma importante

ferramenta de gestão dessas áreas.

Nesse contexto, observa-se a necessidade do fortalecimento de políticas que não

estimem apenas o valor do serviço prestado pelo ecossistema manguezal, mas que

quantifiquem os principais parâmetros envolvidos na questão, adotando-se uma abordagem

não só qualitativa, mas também quantitativa. Sharpe (2005) enfatiza ainda que são necessárias

abordagens mais integradas à avaliação e gestão dos ambientes costeiros e marinhos, o que

tornará mais eficiente o processo de monitoramento ambiental.

Dessa forma, o presente capítulo traz uma revisão sobre os aspectos mais

relevantes relacionados às funções e serviços do ecossistema manguezal no meio ambiente e

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aos principais impactos evidenciados na zona costeira, dando uma maior ênfase à

contaminação dos solos de manguezais por metais pesados e, nesse cenário, pretende-se

mostrar que o estabelecimento dos VRQs, aliado a uma abordagem mais ampla sobre o tema,

pode auxiliar em uma gestão mais eficiente dessas áreas.

2.1 Manguezais: funções e serviços na natureza e principais impactos evidenciados

Os manguezais são ecossistemas costeiros, influenciados de forma direta pelas

marés e tidos como o elo entre os ambientes marinho, terrestre e de água doce (SCHAEFFER-

NOVELLI, 1991; ROSSI; MATTOS, 2002; ONOFRE et al., 2007; BAYEN, 2012). Eles são

considerados os maiores ecossistemas das zonas costeiras tropicais e subtropicais, cobrindo

uma área de mais de 136.760 km2 e estendendo-se por uma faixa latitudinal de 30oN a 38oS

(LEOPOLD et al., 2013).

No Brasil, tais ecossistemas são encontrados em quase toda a extensão do litoral,

em cerca de 92 % da linha da costa, abrangendo áreas desde o extremo norte no Oiapoque

(Amapá) até o sul, na Praia do Sonho, em Santa Catarina. Isso corresponde a

aproximadamente 13.800 km2, ou seja, cerca de 50 % da área total de manguezais das

Américas. Sendo assim, representa a segunda maior área de manguezal no mundo, ficando

atrás somente do sul e sudeste da Ásia, que, juntos, possuem cerca de 75.173 km2 de florestas

de mangue (MAIA et al., 2006).

Tais áreas são consideradas de grande importância ecológica, social e econômica

(LUGO; SNEDAKER, 1974; JAGTAP; NAGLE, 2007; FERNÁNDEZ-CADENA et al.,

2014) e, dentre os ecossistemas da zona costeira, os ambientes estuarinos estão entre os mais

produtivos e atuam como fornecedores de alimento, criadouros e habitats para diversas

espécies ameaçadas de extinção, sendo de fundamental importância para a manutenção de

atividades relacionadas à pesca comercial e representando, portanto, pontos centrais da

economia de algumas áreas (SHARPE, 2005). Além disso, os manguezais possuem fauna e

flora diversificadas e teias alimentares complexas, as quais abrangem relações intrínsecas e

também com habitantes de ecossistemas adjacentes (Figura 1) (BAYEN, 2012).

Sabe-se ainda que as áreas de manguezal possuem uma dinâmica marcada pela

interação de diversos fatores, atuando na produção, consumo e distribuição de nutrientes para

a zona costeira, exercendo importante função na manutenção da alta diversidade biológica,

estrutural e funcional da costa, além de atuarem na proteção da mesma contra os efeitos da

erosão, tempestades e inundações. Além disso, tais áreas desempenham um papel crucial na

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proteção da integridade do ecossistema marinho como um todo (CHAUDHURI; NATH;

BIRCH, 2014; NATH; BIRCH; CHAUDHURI, 2014, 2013).

Figura 1 - Esquema representativo da teia alimentar do manguezal (Fonte: Adaptado de

Waikato, 2014).

Outro aspecto que merece destaque é a importância dessas áreas para os ciclos

biogeoquímicos dos elementos ferro, manganês, enxofre (OTERO et al., 2006, 2009;

FERREIRA et al., 2007a, 2007b, 2007c, 2010) e carbono, atuando, inclusive, como

excelentes “sumidouros” deste último. Leopold et al. (2013) afirmam que os manguezais são

bastante eficientes na imobilização do CO2 atmosférico, possuindo um papel importante na

fixação de carbono, em virtude de sua alta produtividade primária, aliada às baixas taxas de

decomposição da matéria orgânica, fato este relevante nos dias de hoje, onde se avalia cada

vez mais a capacidade que um ecossistema tem de fixar e estocar carbono. Tue et al. (2014)

afirmam ainda que os manguezais estão entre as mais importantes reservas de carbono nos

trópicos e que o estoque desse elemento nesses ambientes é de duas a três vezes maior que nas

florestas terrestres. Sobre isso, Hutchison et al. (2013) elaboraram o primeiro mapa global

com uma estimativa de biomassa acima do solo dos manguezais (Figura 2) e afirmam que

políticas nacionais que incentivem a preservação dessas áreas são de grande relevância para a

questão dos fluxos globais de carbono.

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Figura 2 - Mapa da distribuição global de manguezais com estimativa de biomassa acima do

solo por unidade de área (Fonte: Hutchison et al., 2013)

Vários trabalhos acrescentam ainda outros serviços desempenhados pelas áreas de

manguezais na natureza (TEAS, 1977; SNEDAKER, 1978; WONG et al., 1995; RIVIERA-

MONROY et al., 1999; SCHAEFFER-NOVELLI; CINTRÓN, 1999; SILVA; SOUZA, 2006;

MEIRELES; CAMPOS, 2010), dentre os quais podem ser destacados: produção e regulação

de gases de efeito estufa, regulação do clima, suplemento de água, adsorção e imobilização de

substâncias inorgânicas (metais pesados), além de recreação e cultura.

Mesmo diante de toda essa importância, os manguezais têm sido alvos de práticas

não conservacionistas (principalmente as relacionadas ao aumento da urbanização e

industrialização) que acabam por comprometer a dinâmica desses ecossistemas, fazendo com

que sua área total venha diminuindo ao longo das últimas décadas (WU et al., 2014).

Marchand, Lallier-Vergès e Allenbach (2011) afirmam que as florestas de mangue têm

desaparecido a uma taxa de 1 a 2 % ao ano, taxa essa superior ou equivalente à de outros

ecossistemas também ameaçados, tais como os recifes de corais e as florestas tropicais. Já

Bayen (2012) aponta que algumas espécies vegetais das áreas de mangue estão em risco de

extinção e podem desaparecer antes da próxima década. Além disso, Fernández-Cadena et al.

(2014) atentam para o fato de que, apesar da grande relevância ecológica dessas áreas, menos

de 10 % dos manguezais em todo o mundo são considerados áreas protegidas.

Atualmente, os manguezais estão entre os ecossistemas mais ameaçados e estima-

se que cerca de um terço das florestas de mangue do mundo tenha sido perdido nos últimos 50

anos principalmente devido à conversão dessas áreas para aquicultura e agricultura

(HUTCHISON et al., 2013). Duke et al. (2007) acrescentam que essa taxa de devastação tem

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aumentado rapidamente em países em desenvolvimento, onde mais de 90 % dos manguezais

do mundo estão localizados. Os autores afirmam ainda que a urbanização, construção de

aterros e uso indevido de terras do entorno são as atividades que mais têm impactado os

manguezais e alertam para o fato de que o comprometimento do manguezal faz com que

serviços essenciais desse ecossistema sejam perdidos, uma vez que declínios nas áreas de

mangue são acompanhados de perdas funcionais aceleradas.

Sabe-se também que outras práticas tais como a retirada da madeira, atividade

salineira, agricultura de subsistência, cultivo de coqueiros e especulação imobiliária

constituem atualmente as principais formas de uso e ocupação dos manguezais (SILVA;

SOUZA, 2006). Meireles et al. (2007) apontam que no litoral do Nordeste do Brasil, por

exemplo, a aquicultura industrial é uma atividade que impacta de forma direta as áreas de

mangue, tendo em vista que a criação de camarão em cativeiro é uma prática concentradora

de renda que utiliza grande parte do ecossistema manguezal para a instalação de suas

unidades produtoras, não levando em consideração os custos e prejuízos ambientais,

ecológicos, sociais e culturais, bem como os danos à biodiversidade. Lacerda (1984) afirma

ainda que, além da carcinicultura, outras práticas que comprometem seriamente os

manguezais brasileiros são a poluição, crimes e acidentes ambientais, poluição por dejetos

sanitários e a contaminação de seus solos por metais pesados.

2.2 Solos de manguezais: processos atuantes, contaminação por metais pesados e

consequências para o ecossistema

Os manguezais são ambientes alagados quase que permanentemente, o que

dificulta a difusão de oxigênio no solo. Isto faz com que o equilíbrio de elementos e

compostos, bem como o metabolismo microbiano sejam alterados, conduzindo a uma série de

transformações que convergem para um novo estado de equilíbrio (SOUSA; VAHL, OTERO,

2009). Dessa forma, a baixa concentração de oxigênio no sistema faz com que o curso do

processo de degradação do material orgânico seja alterado (PONNAMPERUMA, 1972),

fazendo com que rotas alternativas para a obtenção de energia sejam utilizadas, sendo estas

facilitadas por microorganismos anaeróbios que utilizam outros compostos inorgânicos como

receptores de elétrons, tais como NO3-, Mn4+, Fe3+ e SO4

2- (Tabela 1) (FROELICH et al.,

1979; CAMARGO; SANTOS, ZONTA, 1999; SILVA; SOUSA, POCOJESKI, 2008).

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Tabela 1 - Principais rotas de obtenção de energia com diferentes receptores de elétrons.

Reação Rendimento energético

em relação ao O2 (relação molar)

Potencial redox (mV)

C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + H2O 1,000 300 a 700

5 C6H12O6 + 24 NO3- + 24 H+ → 30 CO2 + 12 N2 + 42 H2O 0,948 200 a 300

C6H12O6 + 12 MnO2 + 24 H+ → 6 CO2 + 12 Mn+2 + 12 H2O 0,669 200

C6H12O6 + 24 Fe(OH)3 + 48 H+ → 6 CO2 + 24 Fe2+ + 66 H2O 0,147 100

C6H12O6 + 3 SO42- → 6 CO2 + 3 S2- + 6 H2O 0,133 -75 a -150

Fonte: Adaptado de Otero (2000).

A redução dos oxihidróxidos de ferro é um dos processos químicos mais atuantes

em solos alagados e provoca várias alterações no sistema, dentre elas o aumento da

concentração e mobilidade da forma reduzida desse elemento no solo (Fe+2), modificações no

pH e a formação de novos minerais (PONNAMPERUMA, 1972).

Outra rota de obtenção de energia nesse tipo de solo é a Redução Bacteriana do

Sulfato (RBS), que tem como produtos finais sulfetos de ferro, dentre eles greigita (Fe3S4) e

mackinawita (FeS). Juntamente com a redução dos oxihidróxidos de ferro, a RBS é de

extrema importância para os eventos geoquímicos atuantes nas áreas de manguezais (OTERO,

2000; HOLGUIN; VAZQUEZ, BASHAN, 2001), tendo em vista que esses dois processos

interligam os ciclos biogeoquímicos dos elementos ferro e enxofre, através da formação da

pirita, principal produto da redução do sulfato nesse tipo de ambiente.

Nesse contexto, percebe-se que a formação de minerais sob as condições

redutoras dos solos de manguezais é de grande relevância para o processo de imobilização de

metais pesados nesses ambientes, uma vez que, sob condições anóxicas, tais elementos podem

co-precipitar juntamente com os sulfetos metálicos (ex: pirita), bem como com os minerais de

baixa estabilidade e constituintes da fração AVS, o que permite, portanto, que os metais

estejam no solo sob uma forma não disponível (OTERO, 2000; BAYEN, 2012).

Entretanto, Sharpe (2005) aponta para o fato de que intervenções nos solos de

manguezais são cada dia mais frequentes e afetam diretamente esse equilíbrio sulfetos/metais,

comprometendo assim a remobilização e a dinâmica dos metais nesses solos, podendo levar a

um estado de contaminação, o que pode, por exemplo, influenciar na qualidade das águas dos

rios e estuários.

Diante do exposto, torna-se necessária uma melhor compreensão acerca dos

metais pesados e como tais espécies químicas chegam aos solos de manguezais. Assim, sabe-

se que a definição de “metais pesados” engloba um conjunto heterogêneo de elementos,

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incluindo metais, semi-metais e não-metais cuja densidade atômica é maior ou igual a 6 g cm-

3 ou que possuem número atômico maior ou igual a 20 (ALLOWAY, 2013). Dentre esses

elementos, podem ser citados: Cu (cobre), Zn (zinco), Mn (manganês), Fe (ferro), Cr (cromo),

Pb (chumbo), Ni (níquel), dentre outros.

A maioria desses elementos ocorre naturalmente no meio ambiente, entretanto as

políticas de desenvolvimento adotadas a partir do século XX, pautadas principalmente na

extração mineral, indústria de transformação e eliminação de resíduos, contribuíram para a

entrada e acúmulo de grandes quantidades desses elementos nos diversos tipos de solos

(HOODA, 2010). A preocupação em relação à contaminação por metais pesados está

relacionada à propriedade que muitos desses elementos têm de se acumular no ambiente,

viabilizando o transporte dos contaminantes para os diferentes níveis tróficos da cadeia

alimentar, tornando-se, inclusive, um risco potencial à saúde humana (SAKAN et al., 2011).

A presença de metais pesados em solos de manguezais é resultado da interação

entre fatores naturais e contribuições antrópicas (atividade industrial e de mineração, queima

de combustíveis fósseis, dentre outras) e os metais oriundos dessas atividades alcançam as

áreas de mangue pelo transporte nos rios, pelo aporte de água do mar, pelo escoamento de

águas pluviais ou mesmo por deposição atmosférica. Além disso, sabe-se que os teores de tais

elementos nesses ambientes podem variar em função de parâmetros como profundidade,

distância da costa, tipo de cobertura vegetal e hidrologia (BAYEN, 2012; BRADY et al.,

2014).

Outra forma de os metais pesados chegarem às áreas de manguezais é por meio do

descarte de efluentes industriais (oriundos de atividades extrativistas minerais), os quais, por

muitas vezes, não recebem nenhum tipo de tratamento prévio (MACHADO et al., 2002).

Sobre isso, Marchand et al. (2006) acrescentam ainda que alguns países optaram por usar os

manguezais no tratamento de efluentes de esgotos. Além disso, a expansão populacional e o

consequente desenvolvimento industrial dos últimos anos fizeram com que os resultados da

ação antrópica afetassem diretamente as áreas de manguezais, geralmente ali lançando

grandes quantidades de poluentes, acarretando em toxicidade ao ambiente e bioacumulação de

metais (DEFEW; MAIR; GUZMAN, 2005).

É importante salientar que os metais presentes nos solos em geral não são

resultados apenas das atividades antrópicas no meio ambiente, mas também são derivados dos

materiais de origem (TAM; YAO, 1998; OLIVEIRA et al., 1999; ZHAO; McGRATH;

MERRINGTON, 2007). Boaventura, Hadlich e Celino (2011) apontam, inclusive, para a

importância de se levar em consideração a contribuição natural em estudos sobre a

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contribuição antrópica para a presença de metais pesados em ambientes estuarinos, tendo em

vista que o intemperismo das rochas do entorno e a erosão, dentre outros fatores, estabelecem

níveis de background de metais nesses solos.

Os solos de manguezais possuem propriedades que favorecem o acúmulo de

metais pesados, dentre as quais podem ser destacadas: altos teores de sulfetos e compostos

orgânicos, valores elevados de pH, bem como elevadas taxas de sedimentação (esses

ambientes favorecem a deposição de argila, silte e outras frações finas). Além disso, são áreas

de baixa energia, protegidas contra ondas e correntes fortes, estando constantemente

inundadas por água salobra, condicionando assim o estabelecimento de condições redutoras

no meio (LACERDA et al., 1991; TAM; YAO, 1998; TAM; WONG, 2000; ONOFRE et al.,

2007; QIU et al., 2011). De forma geral, o poder de retenção de metais pesados pelos solos de

manguezais está principalmente relacionado à presença dos sulfetos e da matéria orgânica, os

quais, aliados às condições anóxicas, favorecem a formação de sulfetos metálicos, bem como

de complexos orgânicos ricos em metais.

Um aspecto a ser considerado é que os metais podem ser retidos no solo por meio

da adsorção na superfície de minerais (ex: argilominerais, oxihidróxidos de ferro, alumínio e

manganês, carbonatos e sulfetos) (FILGUEIRAS; LAVILLA; BENDICHO, 2002;

MARCHAND et al., 2006), a qual ocorre por diversos mecanismos, dentre eles a

precipitação, co-precipitação, troca iônica e complexação. Faria e Sanchez (2001) afirmam

que há uma clara associação entre alguns metais e os argilominerais, que apresentam uma

elevada superfície específica, o que explica essa capacidade de enriquecimento em metais,

podendo ser a fração argila, portanto, um confiável indicador de poluição ambiental. Convém

destacar que em solos brasileiros já existem vários trabalhos e revisões que tratam sobre essa

questão da adsorção de metais pesados (FONTES et al., 2000; GOMES et al., 2001;

FONTES; GOMES, 2003; FONTES; SANTOS, 2010; FONTES, 2012), mas em solos de

mangue os estudos ainda são incipientes.

Em relação à dinâmica dos metais pesados nas áreas estuarinas, sabe-se que a

especiação química de tais elementos é um aspecto de grande importância, uma vez que a

mesma permite que inferências sobre a biodisponibilidade desses metais no solo sejam feitas.

Além disso, dentre os principais parâmetros que regulam essa biodisponibilidade e,

consequentemente, a mobilidade de tais espécies, podem ser citados: matéria orgânica (tipo e

quantidade), distribuição das partículas do solo, propriedades redox (diretamente alteradas por

efeitos da bioturbação e atividades do sistema radicular), salinidade, capacidade de troca

catiônica, bem como os constituintes minerais do solo (TAM; WONG, 2000; BAYEN, 2012).

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Chaudhuri, Nath e Birch (2014) acrescentam que os solos de mangue possuem

uma alta capacidade de retenção de metais, principalmente em sua rizosfera, protegendo

assim os ambientes marinho e costeiro de problemas como a poluição, mas alertam para o fato

de que mudanças nas propriedades físico-químicas desses solos ou alterações em algum dos

parâmetros anteriormente destacados podem fazer com que tais metais passem por um

processo de remobilização, tornando-se então disponíveis no ambiente.

Nath, Birch e Chaudhuri (2013) afirmam que mudanças de pH nos solos de

manguezal, por exemplo, exercem influência direta sobre a especiação química dos metais e

que tais alterações, sejam elas de origem natural ou antrópica (escavações, drenagens),

quando aliadas a outros fatores físicos, químicos ou biológicos, promovem alterações nos

ciclos de diversos elementos, dentre eles o Fe, S e Mn. Além disso, os autores apontam para o

fato de que a manutenção das condições naturais das áreas estuarinas é de extrema

importância para a retenção dos metais na fase sólida do solo e garante a estabilização dos

sulfetos metálicos.

Borch et al. (2010) afirmam que os processos redox e biogeoquímicos que

ocorrem naturalmente no ambiente controlam o equilíbrio existente entre os metais e as

superfícies minerais que os detém e que mudanças nas condições do meio podem alterar a

especiação química desses elementos através de modificações nos mecanismos de sorção e

precipitação de metais. Os autores enfatizam ainda que nas áreas onde a RBS é atuante, como

é o caso dos manguezais, a imobilização de alguns metais pesados ocorre principalmente pela

precipitação dos mesmos sob a forma de sulfetos ou co-precipitação com sulfetos de ferro ali

presentes. Entretanto, em situações de contaminação, pode haver a formação de sulfetos

metálicos coloidais, os quais aumentam a mobilidade de contaminantes como Cu, Pb e Cd.

Luiz-Silva et al. (2006), em estudos sobre a contaminação de solos do sistema

estuarino de Santos-Cubatão (São Paulo – Brasil), verificaram uma importante variação

sazonal das concentrações de metais como Cu, Cd, Hg e Pb e atribuem tal fato às mudanças

nas condições físico-químicas do meio em reposta às alterações temporais. Os autores

afirmam que parâmetros como salinidade, temperatura, pluviosidade, condições redox e de

acidez determinam a estabilidade dos principais compostos envolvidos na retenção de metais,

promovendo assim um incremento na adsorção ou na solubilidade dos mesmos no sistema.

Os metais são poluentes conservativos, ou seja, não são biologicamente

degradados, e seu acúmulo, em longo prazo, pode se constituir em uma ameaça, uma vez que

podem atravessar todo o ciclo ecológico envolvido no ecossistema, causando impactos sobre

os vegetais e a microbiota. MacFarlane, Pulkownik e Burchett (2003) e Melville e Pulkownik

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(2007) apontam que, por meio do monitoramento de espécies vegetais, pode-se obter

informações quantitativas sobre a qualidade do ambiente, tendo a vegetação, portanto, um

grande potencial para a bioindicação de metais pesados em sistemas estuarinos, papel este que

também pode ser desempenhado por algumas espécies animais, tais como caranguejos da

espécie Ucides cordatus (PINHEIRO et al., 2012).

Em estudos realizados em um dos estuários da Austrália, por exemplo, Nath,

Birch e Chaudhuri (2014) avaliaram o potencial de bioindicação da Avicennia marina e

verificaram uma correlação significativa positiva entre a concentração de metais pesados

presentes no solo e alguns tecidos vegetais, inferindo-se que os metais estariam entrando no

meio biótico e evidenciando, portanto, que as estruturas analisadas (pneumatóforos) podem

ser utilizadas como bioindicadores de contaminação de ambientes estuarinos por metais

pesados.

Em relação ao efeito dos metais pesados sobre o ecossistema manguezal, sabe-se

ainda que, sob condições controladas, tais elementos possuem relação com o

comprometimento das taxas de fotossíntese das espécies vegetais, bem como com a redução

do crescimento e da biomassa das mesmas. Além disso, a microbiota local também tem a sua

estrutura e diversidade alteradas, devido aos efeitos tóxicos causados e a mudanças em

processos de grande importância, tais como respiração e degradação de carbono orgânico

(BAYEN, 2012). Fernández-Cadena et al. (2014) acrescentam ainda que a poluição dos solos

de mangue por metais pesados pode interferir diretamente nas condições ecológicas, ciclos

biogeoquímicos e na produção primária desses ambientes.

Andrade e Patchineelam (2000) destacam o papel dos ambientes estuarinos na

incorporação de metais pesados nas diversas frações dos solos de manguezais, pois, dessa

forma, haverá um controle da biodisponibilidade de tais elementos, que não ficarão livres para

serem incorporados à cadeia trófica. Marchand, Lallier-Vergès e Allenbach (2011), por

exemplo, avaliando áreas de mangue impactadas pelo lançamento de efluentes oriundos de

fazendas de camarão, constataram que tal prática alterou as propriedades redox do meio,

fazendo com que condições anóxicas passassem a prevalecer no sistema, o que influenciou

diretamente a especiação química de alguns metais, os quais ficaram menos disponíveis no

solo em virtude de sua precipitação junto a sulfetos.

Além disso, outros estudos apontam o manguezal como uma eficiente barreira

biogeoquímica que, por meio de diferentes mecanismos, imobiliza os metais no solo,

deixando-os sob formas não disponíveis, reduzindo as chances de os mesmos serem

incorporados à fauna e flora locais (CARVALHO; LACERDA, 1992; TAM; WONG, 2000;

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BERNINI et al., 2006; CARVALHO; ZAGAGLIA; FERREIRA, 2007), além de evitarem o

movimento de tais espécies químicas para sistemas aquáticos adjacentes.

Entretanto, mesmo diante das evidências de que os manguezais funcionam como

excelentes barreiras biogeoquímicas, deve-se levar em consideração o fato de que eventos

induzidos pelo homem podem atuar como tensores crônicos no meio ambiente, perpetuando

sua ação e seus impactos a longo prazo. No caso dos manguezais, a contaminação por metais

pesados acarretará principalmente a perda das produtividades primária e secundária do

ecossistema, bem como a redução do desenvolvimento estrutural dos bosques de mangue e da

biodiversidade (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). Além disso, outros tensores de origem

externa podem também comprometer de forma significativa a qualidade do ambiente em

questão, principalmente no que diz respeito à qualidade dos solos e das águas do estuário, daí

a necessidade do estabelecimento de padrões que auxiliem o monitoramento e gestão dessas

áreas.

2.3 Valores de referência de qualidade: avanços na política de proteção dos solos e

ferramentas de gestão

Conforme exposto anteriormente, o uso indiscriminado de fertilizantes, o

tratamento inadequado de resíduos, o lançamento de efluentes, a deposição atmosférica por

meio de atividades industriais e outras práticas desenvolvidas pelo homem nos dias de hoje

têm contribuído para o acúmulo de metais pesados nos diversos tipos de solos

(ANDERSSONA; OTTESEN; LANGEDAL, 2010; NAGAJYOTI; LEE; SREEKANTH,

2010).

Além disso, sabe-se que a toxicidade e a mobilidade de tais elementos dependem

diretamente do estado de ligação dos mesmos. Portanto, ações que promovam alterações nas

condições físico-químicas do meio, por exemplo, tornam possível a transição dos metais de

uma fase não-reativa para formas reativas no solo, podendo acarretar em contaminação.

Estudos mais específicos sobre os metais pesados se fazem necessários, tendo em vista que

uma melhor compreensão sobre os processos geoquímicos envolvidos na dinâmica desses

elementos no solo colaboraria para a avaliação do potencial de remobilização desses metais e

dos riscos que os mesmos oferecem (GLEYZES; TELLIER; ASTRUC, 2002).

Nesse contexto, percebe-se a crescente preocupação de diversas esferas da

sociedade no que diz respeito ao estabelecimento de padrões de qualidade para solos e, no

Brasil, tal fato fica evidenciado na resolução n° 420/2009 do CONAMA (CONAMA, 2009),

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que, além de dispor sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à

presença de substâncias químicas, estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de

áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas, fato que

indica um grande avanço na política de proteção dos solos brasileiros.

Tal resolução leva em consideração a necessidade de prevenção da contaminação

do solo, tendo como objetivo principal a manutenção de suas funções básicas na natureza e,

além disso, aponta que a existência de áreas contaminadas pode configurar sério risco à saúde

pública e ao meio ambiente. O ato normativo em questão sugere ainda que a proteção do solo

seja realizada de forma preventiva, por meio da garantia da manutenção de sua

funcionalidade, como também de uma maneira corretiva, atuando na restauração da qualidade

do solo ou na recuperação do mesmo de forma compatível com os usos previstos (CONAMA,

2009).

Dessa forma, a legislação brasileira possui atualmente três tipos de valores

orientadores que são de grande importância para os órgãos de monitoramento ambiental,

tendo em vista que os mesmos podem ser utilizados em estudos de avaliação continuada de

impactos ambientais, uma vez que fornecem orientação sobre a qualidade e as alterações do

solo e da água subterrânea (CONAMA, 2009). Assim, a resolução define tais parâmetros da

seguinte maneira:

Valor de Referência de Qualidade – VRQ: é a concentração de determinada

substância que define a qualidade natural do solo, sendo determinado com base em

interpretação estatística de análises físico-químicas de amostras de diversos tipos de solo;

Valor de Prevenção – VP: é a concentração de valor limite de determinada

substância no solo, tal que ele seja capaz de sustentar as suas funções principais,

Valor de Investigação – VI: é a concentração de determinada substância no

solo ou na água subterrânea acima da qual existem riscos potenciais, diretos ou indiretos, à

saúde humana.

Diante do exposto, percebe-se que a política de proteção dos solos brasileiros está

relacionada ao estabelecimento de valores de referência de qualidade (VRQs), pois, uma vez

definidos, inferências sobre possíveis contaminações ou riscos ao meio ambiente podem ser

feitas, o que auxilia na implementação de ações voltadas à manutenção da qualidade dos solos

e ao monitoramento ambiental.

A utilização de VRQs tem sido comum em países comprometidos com uma

política ambiental eficiente. Os primeiros estudos relacionados à determinação de valores

orientadores foram desenvolvidos na Holanda, em 1983, com a formulação de uma lista como

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guia de avaliação e remediação de locais contaminados, a chamada “Lista Holandesa” ou

“Lista ABC”, e em 1987 o Governo Federal do país promulgou a Lei de Proteção do Solo

(“Soil Protection Act”). Nesse contexto, o estudo técnico desenvolvido pela Agência de

Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) em 1996 também merece destaque,

juntamente com a Legislação Federal Alemã de Proteção do Solo que, em 1999, teve sua

versão preliminar e estabeleceu três tipos de valores orientadores para auxiliar no

monitoramento da qualidade dos solos (valor gatilho, de ação e de precaução) (CETESB,

2001).

Nesse contexto, sabe-se que o estabelecimento de valores de referência está

diretamente relacionado à determinação das concentrações naturais dos metais nos solos, ou

seja, aos seus níveis de background ambiental, correspondendo às concentrações de tais

metais nos solos que estão livres da interferência humana (BIONDI; NASCIMENTO; NETA,

2011; SANTOS; ALLEONI, 2012). Dessa forma, a determinação dos teores naturais dos

metais nos solos de cada unidade da Federação, que, de acordo com a resolução n° 460/2013

do CONAMA (CONAMA, 2013), deve ser feita até dezembro de 2014, é de extrema

importância e seria a primeira etapa do processo de determinação dos valores orientadores

para cada Estado brasileiro (BIONDI; NASCIMENTO; NETA, 2011).

Um ponto a ser considerado é a importância de se levar em consideração a

variação das classes e das propriedades físicas e químicas de cada solo, bem como os aspectos

geológicos, pedológicos e geomorfológicos no processo de determinação dos teores naturais

desses metais, evitando assim intervenções inadequadas e contribuindo para a formulação de

uma legislação ambiental cujas ações sejam condizentes com a realidade de cada local (PAYE

et al., 2010; BIONDI; NASCIMENTO; NETA, 2011; SANTOS; ALLEONI, 2012). Além

disso, Pérez et al. (2006) enfatizam a necessidade de se não utilizar métodos de análises que,

apesar do respaldo internacional, não foram desenvolvidos para as condições locais. Há,

portanto, uma necessidade de se uniformizar as metodologias envolvidas em trabalhos dessa

natureza, evitando assim que interpretações inadequadas sejam realizadas.

Dessa forma, a determinação dos teores naturais dos metais no solo e,

consequentemente, dos valores de referência de qualidade, tem sido, ao longo dos anos,

implementada em vários países (CHEN; MA; HARRIS, 1999; CHEN et al., 1991, 1997;

GOUGH; SEVERSON; JACKSON, 1994; MA; TAN; HARRIS, 1997; HORCKMANS et al.,

2005; McGRATH; ZHAO, 2006; MARTÍNEZ et al., 2007; ZHAO; McGRATH;

MERRINGTON, 2007; MARTÍNEZ-LLADÓ et al., 2008; SU; YANG, 2008; BRUS;

LAME; NIEUWENHUIS, 2009).

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No Brasil, o Estado de São Paulo foi o precursor de estudos referentes a valores

orientadores (1996) e a partir de então vários trabalhos nesse ramo foram desenvolvidos

(CETESB 2001; FADIGAS et al., 2002, 2006; PAYE et al., 2010; CAIRES, 2009; BIONDI,

2010; BIONDI; NASCIMENTO; NETA, 2011; BIONDI et al., 2011; SANTOS; ALLEONI,

2012; PRESTON et al., 2014).

Assim, percebe-se a escassez de trabalhos no Brasil que contemplem a

determinação de VRQs em solos de manguezais. Silva (2009) aponta que a determinação

desses parâmetros é de extrema importância para futuras inferências sobre a qualidade dessas

áreas e poluição inorgânica, além de auxiliarem no direcionamento de ações para a

recuperação de áreas contaminadas. Dada a importância do ecossistema manguezal para a

natureza, percebe-se a necessidade de se extrapolar tais estudos para os ambientes costeiros,

tendo em vista que as áreas de manguezais apresentam papéis expressivos no meio ambiente e

precisam ser alvos de ações relacionadas à preservação ambiental.

2.4 Breves considerações

Diante do exposto, percebe-se que as áreas estuarinas possuem uma importância

que não se limita apenas a aspectos econômicos e sociais, mas que é representada

principalmente pelas funções e serviços que as mesmas desempenham no ambiente.

Entretanto, diversas práticas desenvolvidas na atualidade têm impactado, sobretudo, os solos

de mangue, mais precisamente por meio da contaminação destes por metais pesados, o que

tem comprometido seriamente o ecossistema manguezal.

Assim, diante da necessidade de se adotar uma abordagem mais ampla nas

avaliações de impactos evidenciados na zona costeira, verifica-se a importância de se

conhecer os principais processos geoquímicos atuantes nas áreas de manguezal, a fim de se

obter também um conhecimento mais preciso sobre a dinâmica dos metais nesse tipo de

ambiente.

Nos dias atuais, onde a determinação de valores de referência de qualidade tem

sido uma forte aliada no processo de fortalecimento da política de proteção dos solos

brasileiros, o estabelecimento de VRQs para metais pesados em solos de mangue surge como

uma ferramenta essencial para uma melhor fundamentação de estratégias e ações voltadas ao

monitoramento das áreas de manguezais, se configurando, portanto, em novas perspectivas

para a gestão dos ambientes estuarinos.

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3 CLASSIFICAÇÃO E ATRIBUTOS FÍSICOS, QUÍMICOS E MINERALÓGICOS DE SOLOS DE MANGUE DA COSTA NORDESTE SEMIÁRIDA DO BRASIL (ESTADO DO CEARÁ)

RESUMO

O clima é uma das mais importantes variáveis controladoras dos processos costeiros das zonas tropicais e influencia diretamente o desenvolvimento dos ambientes estuarinos. Nesse contexto, sabe-se que os manguezais brasileiros situados na costa nordeste semiárida do país possuem características bastante peculiares, uma vez que a sazonalidade climática nesse setor da costa é marcante. Com o objetivo de se obter uma melhor compreensão acerca dos principais processos que regem a dinâmica de manguezais inseridos em contextos semiáridos, foi realizado um estudo detalhado de áreas de mangue de quatro estuários do Estado do Ceará. Para isso, foram determinados parâmetros que possibilitaram a classificação e a caracterização física, química e mineralógica dos solos desses ambientes. Assim, os solos analisados foram classificados como Gleissolos Tiomórficos Órticos sódicos e as condições físico-químicas do meio, refletidas nos valores de pH (variação entre 5,95 e 6,76) e Eh (˂ 100 mV), permitiram caracterizar as áreas de mangue como ambientes ligeiramente ácidos e anóxicos. Além disso, as características do clima semiárido predominante nas áreas de estudo (altas temperaturas, baixas taxas de precipitação) influenciaram diretamente diversos parâmetros dos solos, dentre eles a CE (variação entre 29,2 e 70,6 dS m-1) e o COT (teores entre 2,19 e 5,95 %). Os dados de DRX permitiram constatar que a assembleia mineralógica dos solos em questão é formada por minerais tanto formados in situ quanto de origem alóctone, sendo eles: mica (biotita, ilita), quartzo, feldspatos (potássico, plagioclásio / albita), pirita, caulinita e esmectitas, dentre elas a montmorilonita e minerais da série beidelita / nontronita. Assim, percebeu-se que os processos atuantes nos manguezais analisados são regulados, de forma direta ou indireta, pelo clima, uma vez que tal fator explica o comportamento das principais variáveis dos solos desses ambientes e interfere diretamente nos mecanismos de transporte e sedimentação da planície costeira, o que reflete, por exemplo, na constituição mineralógica dos solos de mangue.

Palavras-chave: Manguezal; Clima semiárido; Caracterização do solo; Mineralogia.

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CLASSIFICATION AND PHYSICAL, CHEMICAL AND MINERALOGICAL

ATTRIBUTES OF MANGROVE SOILS INSERTED IN THE SEMIARID

NORTHEASTERN COAST OF BRAZIL (STATE OF CEARÁ)

ABSTRACT

The climate is one of the most important variables controlling the processes of tropical coastal areas and directly influences the development of estuarine environments. In this context, it is known that Brazilian mangroves located in the semiarid northeastern coast of the country have very peculiar characteristics, since the seasonality in this sector of the coast is striking. With the aim of obtaining a better knowledge about the main processes that govern the dynamics of mangroves inserted in semiarid environments, a detailed study of mangrove areas of four estuaries of the State of Ceará was realized. For this, parameters that allowed the classification and the physical, chemical and mineralogical characterization of these soils were determined. Thus, the analyzed soils were classified as Gleissolos Tiomórficos Órticos sódicos and the physicochemical conditions of the environment, reflected in pH (range between 5.95 and 6.76) and Eh (˂ 100 mV) values, characterized the mangrove areas as slightly acidic and anoxic environments. Furthermore, the characteristics of the semiarid climate prevalent in the study areas (high temperatures, low precipitation rates) directly influenced several parameters of the soil, including EC (range between 29.2 and 70.6 dS m-1) and TOC (levels between 2.19 and 5.95 %). The XRD data showed evidences that the soil mineralogical assembly is composed of both minerals formed in situ and from allochthonous origin: mica (biotite, illite), quartz, feldspars (potassic, plagioclase / albite), pyrite, kaolinite and smectites (montmorillonite and beidellite / nontronite). Thus, it was observed that the active processes in the analyzed mangroves are regulated, directly or indirectly, by the climate, since this factor explains the behavior of the main variables of these soils and interferes directly in transport and sedimentation mechanisms of the plain coast, which reflects, for example, in the mineralogical composition of mangrove soils.

Keywords: Mangrove; Semiarid climate; Soil characterization; Mineralogy.

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3.1 INTRODUÇÃO

Os manguezais são tidos como o elo entre os ambientes marinho, terrestre e de

água doce e se estabelecem principalmente em zonas litorâneas tropicais e subtropicais, em

terrenos de topografia plana e protegidos da ação das ondas e dos ventos fortes. Além disso,

são áreas quase que permanentemente encharcadas, salobras e calmas, sendo consideradas

ambientes de baixa energia, favorecendo assim o acúmulo de frações finas e matéria orgânica

(ROSSI; MATTOS, 2002; SOUZA-JÚNIOR et al., 2007; VILHENA; COSTA; BERRÊDO,

2010).

Tais áreas apresentam grande relevância social e econômica, além de

desempenharem inúmeras funções e serviços no meio ambiente (LUGO; SNEDAKER, 1974;

SHARPE, 2005; JAGTAP; NAGLE, 2007), dentre eles: produção, consumo e distribuição de

nutrientes para a zona costeira; manutenção da diversidade biológica, estrutural e funcional da

costa (CHAUDHURI; NATH; BIRCH, 2014; NATH; BIRCH; CHAUDHURI, 2013, 2014);

atuação nos ciclos biogeoquímicos dos elementos ferro, manganês, enxofre (OTERO et al.,

2006; FERREIRA et al., 2007a, 2007b, 2010) e carbono (LEOPOLD et al., 2013); produção e

regulação de gases de efeito estufa; suplemento de água (MEIRELES; CAMPOS, 2010), bem

como adsorção e imobilização de substâncias inorgânicas (ex: metais pesados).

Dentre as principais características dos solos desses ambientes, podem ser citadas:

baixas taxas de difusão de oxigênio no sistema, alto teor de matéria orgânica, valores de pH

próximos da neutralidade e elevada concentração de sais solúveis (OTERO et al., 2006).

Além disso, do ponto de vista geoquímico, os manguezais são ambientes halomórficos

(devido à salinidade elevada) e hidromórficos (condição de drenagem impedida), fazendo

com que o intemperismo hidrolítico, caracterizado pela perda de sílica e bases, não seja

atuante nesse tipo de ambiente. Assim, a evolução geoquímica salinolítica predomina nesses

solos, favorecendo o processo cristaloquímico da bissialitização, formando preferencialmente

minerais do tipo 2:1 (PRADA-GAMERO; VIDAL-TORRADO; FERREIRA, 2004;

ANDRADE, 2010).

O aporte de sedimentos através de descargas fluviais, correntes de marés e ação

das ondas é de grande importância para os processos de formação dos solos de ambientes

estuarinos. Assim, sobre a origem dos minerais presentes nos solos de mangue, pode-se

afirmar que os mesmos podem ter natureza detrital (alóctone - formados em áreas adjacentes e

chegam ao manguezal pela ação hídrica ou eólica) ou autigênica (autóctone - são formados in

situ e o processo de neoformação ou neogênese se dá por precipitação direta de íons presentes

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na solução do solo ou por transformação a partir de um mineral precursor) (SOUZA-JÚNIOR

et al., 2008, 2010).

Os manguezais apresentam uma dinâmica marcada pela interação de diversos

fatores, dentre eles clima, frequência das marés e disponibilidade de água doce (VILHENA;

COSTA; BERRÊDO, 2010; FERREIRA et al., 2010). Desses, o clima constitui uma das mais

importantes variáveis controladoras dos processos costeiros das zonas tropicais e interfere

diretamente no sistema de drenagem de uma determinada região. Nesse sentido, sabe-se que o

fato de áreas como o Nordeste do Brasil, por exemplo, possuírem seus rios inseridos em

núcleos de semiaridez, pode comprometer o desenvolvimento de seus estuários, fazendo com

que os mesmos se estabeleçam em áreas com baixo aporte de sedimentos argilo-siltosos e

submetidas a condições de hipersalinização nos períodos de estiagem, inferindo-se assim a

peculiaridade dos manguezais situados nesse setor do país (MORAIS et al., 2006).

Nos últimos anos, os manguezais têm sido alvo de vários estudos e, no ramo da

Ciência do Solo, trabalhos sobre a classificação, caracterização física, química e mineralógica

de seus solos, bem como sobre a geoquímica, distribuição e transporte de metais, têm

contribuído para um melhor entendimento sobre os principais processos que atuam nesses

ambientes e também sobre as relações do manguezal com as áreas e ecossistemas adjacentes

(TAM; WONG, 2000; FARIA; SANCHEZ, 2001; ROSSI; MATTOS, 2002; PRADA-

GAMERO; VIDAL-TORRADO; FERREIRA, 2004; BEHLING; COSTA, 2004;

MARCHAND et al., 2004; FERREIRA et al., 2007a, 2007b, 2007c, 2010; BERRÊDO et al.,

2008; SOUZA-JÚNIOR et al., 2008, 2010; OTERO et al., 2009; VILHENA; COSTA;

BERRÊDO, 2010; ANDRADE et al., 2014).

Assim, diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo classificar e

caracterizar os solos de mangue de quatro estuários do Estado do Ceará quanto à sua natureza

física, química e mineralógica, a fim de se obter uma melhor compreensão acerca dos

principais processos que regem a dinâmica dos manguezais inseridos na costa nordeste

semiárida do Brasil, bem como gerar um banco de dados que possa auxiliar em futuros

trabalhos de gestão e monitoramento ambiental das áreas estudadas.

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3.2 MATERIAIS E MÉTODOS

3.2.1 Áreas de estudo

O estudo foi realizado em áreas de manguezal de quatro estuários do Estado do

Ceará, sendo eles: estuários dos rios Timonha, Coreaú, Aracati-Mirim e Ceará (P1, P2, P3 e

P4, respectivamente) (Figura 1). Convém ressaltar que os referidos estuários foram definidos

levando-se em consideração, dentre outros fatores, a representatividade desses setores diante

do total de áreas de manguezais do Estado (Timonha: 27,08 %; Coreaú: 19,08 %; Aracati-

Mirim: 10,71 %; Ceará: 4,76 %).

Figura 1 - Localização das áreas de estudo.

Tais áreas estão situadas na costa nordeste semiárida do Brasil, onde o clima é

predominantemente semiárido e com sazonalidade marcante (duas estações bem definidas,

uma seca, longa e outra úmida, curta e irregular). A precipitação média anual é de cerca de

800 mm, podendo haver variações, e o aporte de água doce é geralmente baixo, sendo a média

anual da descarga total dos rios inferior a 1000 m3 s-1 (MAIA et al., 2006).

De acordo com a classificação de Köppen, as áreas estudadas apresentam clima do

tipo Aw’ – tropical chuvoso (quente e úmido com chuvas de verão e outono) e nesse setor da

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costa o regime térmico é caracterizado por temperaturas elevadas e amplitudes reduzidas e,

em consequência disso, as médias mensais de evaporação também são bastante acentuadas.

Além disso, o sistema de drenagem é constituído por rios de regime de escoamento

intermitente, que fluem apenas na estação chuvosa, o que limita o desenvolvimento das

planícies flúvio-marinhas e dos manguezais (BRASIL, 1981; MORAIS et al., 2006). Outras

características das áreas de estudo são apresentadas na Tabela 1.

3.2.2 Etapas de campo

As etapas de amostragem dos solos foram realizadas em março de 2013, durante

períodos de maré baixa e sem chuvas significativas. Os pontos de coleta foram definidos

levando-se em consideração a diversidade de usos e o estado de conservação do ecossistema

manguezal, bem como a melhor representação das áreas. Tais pontos foram devidamente

localizados, sendo registradas as coordenadas geográficas e a altitude, bem como o sistema

geodésico de referência (WGS 84) (Tabela 1).

Para a classificação e caracterização física, química e mineralógica dos solos, foi

definido um perfil de solo representativo em cada estuário. As amostras foram coletadas com

um amostrador próprio para solos inundados (tubo cilíndrico de inox semi-aberto com 0,07 m

de diâmetro e 1,50 m de comprimento) e, em seguida, foram estratificadas nas profundidades

de 0 – 0,2; 0,2 – 0,4; 0,4 – 0,6 e 0,6 – 0,8 m.

Com o auxílio de um aparelho portátil (Phmetro Digital Portátil – Marca Lutron –

Modelo Ph221), foram medidos no campo os seguintes parâmetros físico-químicos de todas

as amostras: potencial hidrogeniônico (pH) e de oxi-redução (Eh). As leituras de pH foram

obtidas com um eletrodo previamente calibrado com soluções padrão de pH 4,0 e 7,0.

Todas as amostras foram colocadas em sacos plásticos previamente identificados

e mantidas congeladas até o momento de análise, visando a manutenção de suas propriedades

físico-químicas fundamentais.

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Tabela 1 - Características gerais das áreas de estudo.

Perfil Município Coordenadas Altitude Associação florística

Geologia das áreas do entorno

Nível de conservação

P1 - Timonha Chaval 41° 15' 8" (W); 2° 57' 22" (S)

2 m Rhizophora, Avicennia,

Laguncularia

Embasamento Cristalino, Grupo

Barreiras e Aluviões

Melhor estado de preservação; vegetação com árvores de grande porte; elevado número

de espécies animais

P2 - Coreaú Camocim 40° 48' 18" (W);

2° 57' 6" (S) 4 m

Rhizophora, Avicennia,

Conocarpus

Embasamento Cristalino, Grupo

Barreiras e Aluviões

Diversidade faunística; carcinicultura

P3 - Aracati-Mirim

Itarema 39° 52' 55" (W);

2° 53' 53" (S) 11 m Rhizophora

Grupo Barreiras e Aluviões

Salinas; cultivo de coqueiros

P4 - Ceará Fortaleza 38° 37' 15" (W);

3° 42' 31" (S) 7 m

Rhizophora, Avicennia,

Laguncularia

Embasamento Cristalino, Grupo

Barreiras e Aluviões

Manguezal inserido em contexto urbano; estaleiro; salinas

desativadas; poluição hídrica

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3.2.3 Procedimentos analíticos

3.2.3.1 Análises físicas e químicas

Em laboratório, as amostras de solo foram secas ao ar e passadas em

peneiras de abertura de malha de 2,0 mm. Visando-se estimar a salinidade das mesmas,

a condutividade elétrica (CE) foi determinada no extrato de saturação (EMBRAPA,

2011), sendo a leitura realizada com o auxílio de um condutivímetro digital (Marca

Orion – Modelo 115).

Devido à elevada concentração de sais nas amostras de solo, antes das

outras determinações, as mesmas foram submetidas a um pré-tratamento com álcool

etílico a 60 % (v/v), visando a eliminação prévia dos sais solúveis, até que o filtrado não

apresentasse reação de cloretos pelo nitrato de prata (EMBRAPA, 2011).

Para a análise granulométrica das amostras, as mesmas foram previamente

tratadas com peróxido de hidrogênio a 30 volumes para a oxidação da matéria orgânica

(EMBRAPA, 2011). O processo foi realizado baseando-se no método da pipeta e com

uma combinação de métodos físicos (agitação mecânica horizontal) e químicos (solução

de hexametafosfato de sódio 0,015 M) para dispersão. A fração areia foi separada por

tamisação (peneira de 0,053 mm) e as frações silte e argila por sedimentação com base

na lei de Stokes (GEE; BAUDER, 1986).

As análises para fins de caracterização química das amostras foram

realizadas conforme metodologias dispostas em Embrapa (2011). As análises em

questão foram as seguintes: cátions trocáveis (Ca2+, Mg2+, Na+, K+, Al3+); acidez

potencial (H+ + Al3+, pelo método do acetato de cálcio 1 M a pH 7,0); fósforo

assimilável (“Mehlich-I”, determinação por colorimetria); ataques sulfúrico e alcalino

(% Fe2O3, % Al2O3, % SiO2) e equivalente de carbonato de cálcio.

Os teores totais dos elementos carbono (COT), nitrogênio (NT) e enxofre

(ST) foram determinados via oxidação seca, com o auxílio de um analisador elementar

(Leco CSN-1000), após a eliminação do carbono inorgânico com solução de HCl 6 M

(HUERTA-DIAZ; MORSE, 1992).

Por fim, o teste de incubação para a constatação da presença de materiais

sulfídricos nas amostras foi realizado conforme metodologia proposta em Embrapa

(2013).

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3.2.3.2 Análises mineralógicas

A determinação de Fe e Al provenientes dos óxidos cristalinos foi realizada

partindo-se da metodologia proposta por Mehra e Jackson (1960), o método do

ditionito-citrato em sistema tamponado com bicarbonato de sódio (DCB), a 80 °C, em

duas extrações. Já os teores de Fe e Al oriundos dos óxidos de baixa cristalinidade

foram extraídos com solução de oxalato de amônio 0,2 M a pH 3,0, na ausência de luz,

de acordo com McKeague e Day (1966). Após as análises, o índice de cristalização (IC)

do ferro nas amostras foi calculado pela relação FeOXA / FeDCB.

Para a investigação da assembleia mineralógica dos solos, as amostras

foram submetidas aos seguintes pré-tratamentos: álcool etílico a 60 % (v/v) para a

remoção dos sais (JACKSON, 1969); solução de ditionito-citrato-bicarbonato para a

extração dos óxidos de ferro pedogenéticos (MEHRA; JACKSON, 1960); hipoclorito

de sódio a 10 % (p/v), pH 8,5 e à temperatura de 40 oC, visando a oxidação da matéria

orgânica com a mínima destruição ou alteração da fração inorgânica do solo

(ANDERSON, 1963; LAVKULICH; WIENS, 1970; MIKUTTA et al., 2005;

SOUKUP; BUCK; HARRIS, 2008).

A análise mineralógica dos solos foi realizada por difratometria de raios-X

(DRX) em um difratômetro (Marca PanAnalytical - Modelo X’pert PRO) com tubo

ânodo de cobalto, com velocidade de varredura de 0,02º (2θ) s-1 de emissão e recepção

de raios-X em um intervalo de leitura entre 4º e 70º (2θ) (para as frações areia, silte e

argila natural) e num intervalo entre 4º e 20º (2θ) para as lâminas de todos os

tratamentos detalhados a seguir.

A mineralogia das frações areia e silte foi investigada em lâminas escavadas

(pó) e, para a fração argila, a análise foi realizada em amostras orientadas (esfregaço) e

em pó. Nas amostras onde foi identificada a presença de minerais do tipo 2:1, foram

realizados os tratamentos de saturação com K+ (KCl) e Mg2+ (MgCl2) (em superfície e

subsuperfície; camadas de 0 – 20 e 60 – 80 cm). As lâminas saturadas com K+ foram

analisadas sob as temperaturas de 25, 350 e 550 oC (K25, K350 e K550,

respectivamente), ao passo que as saturadas com Mg2+ foram solvatadas com glicerol

(MgG) (HARRIS; WHITE, 2008).

As amostras nas quais foi verificada a presença de minerais esmectíticos

foram submetidas ao teste de Greene-Kelly (1953), adaptado por Lim e Jackson (1986),

por meio da saturação com lítio. Tal teste permite a diferenciação entre as esmectitas

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dioctaedrais montmorilonita e a série beidelita / nontronita por meio da substituição

isomórfica em suas camadas octaedrais e tetraedrais, respectivamente. Para isso,

amostras desferrificadas foram saturadas com solução de LiCl 1 M (três saturações

consecutivas; agitação individual por 8 horas), sendo os excessos de sais removidos

com três lavagens com solução de etanol a 80 % (v/v) e uma com água deionizada.

Após a confecção das lâminas orientadas, as mesmas foram secas ao ar e submetidas a

aquecimento em mufla, a 250 oC por uma noite (Li250). Em seguida, as mesmas foram

solvatadas com glicerol a 90 oC por um período de 16 horas (Li250G). As amostras

foram analisadas por DRX antes e após a solvatação.

3.2.4 Análise estatística

A análise estatística dos dados foi realizada com o auxílio dos programas

Assistat – versão 7.7 beta (SILVA; AZEVEDO, 2009) e OriginPro – versão 9.0. Para se

verificar as diferenças entre as áreas, os dados foram submetidos à Análise de Variância

(ANOVA), seguida do Teste de Tukey. As correlações entre as variáveis foram

determinadas pelo cálculo do coeficiente de correlação de Pearson.

3.3 RESULTADOS

3.3.1 Morfologia e classificação dos solos

Os solos analisados foram classificados de acordo com o Sistema Brasileiro

de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2013) e tendo-se como base os dados dispostos

na Tabela 2. Assim, os solos dos quatro perfis representativos foram classificados como

Gleissolos Tiomórficos Órticos sódicos.

Nesses solos a presença do horizonte glei foi evidenciada pelo predomínio

de condições redutoras ao longo dos perfis, sendo estes caracterizados pela presença de

ferro no estado reduzido em virtude das más condições de drenagem das áreas e também

pela presença de cores acinzentadas ou próximas de neutras na matriz do horizonte, com

cromas baixos e valores menores ou iguais a 4, variando entre cinzento muito escuro,

preto, oliva e cinzento-oliváceo-escuro. Além disso, observou-se que tais ambientes

mostraram-se propícios ao acúmulo de matéria orgânica, refletindo nos percentuais de

COT obtidos (variação entre 2,19 e 5,95 %), justificando assim o enquadramento dos

solos em questão na ordem dos GLEISSOLOS.

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Os dados do teste de incubação dos solos para a constatação da presença de

materiais sulfídricos (Tabela 2) mostraram que os valores de pH em todos os perfis não

caíram até o limite estabelecido (pH ≤ 4,0) (EMBRAPA, 2013), o que ocorreu devido à

presença de carbonatos nesses solos. Sabe-se que o carbonato neutraliza a acidez gerada

no meio pela oxidação dos compostos de enxofre reduzido (FANNING et al., 2010),

atuando como um tampão efetivo contra a diminuição do pH (LAING et al., 2009),

sendo, portanto, o Eq. Carb. o parâmetro que mais parece influenciar o comportamento

dos solos em questão diante da incubação por um período de 8 semanas sob condições

aeróbicas úmidas, conforme será discutido posteriormente. Entretanto, os dados da

caracterização mineralógica dos solos em questão, que serão abordados adiante,

evidenciaram a presença do mineral pirita (FeS2) em todos os perfis, o que, associado ao

surgimento de manchas alaranjadas em algumas amostras de solo incubadas (devido à

formação da jarosita, mineral oriundo da oxidação da pirita) (CURI; KÄMPF, 2012),

evidenciou a presença de materiais sulfídricos nesses ambientes, permitindo que tais

solos fossem enquadrados, no segundo nível categórico, na subordem dos

GLEISSOLOS TIOMÓRFICOS.

Por fim, o caráter sódico (definido em casos onde 100Na+/T ≥ 15 %)

(EMBRAPA, 2013) foi verificado em todas as amostras (valores de % PST variaram

entre 46,03 e 68,92 %), permitindo assim a classificação dos solos como GLEISSOLOS

TIOMÓRFICOS Órticos sódicos.

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Tabela 2- Resultados das análises para fins de classificação e caracterização dos perfis representativos.

Hor. Prof. (cm) Cor CE COT C/N P Na K Ca Mg Al H+Al SB CTC V PST Eq. Carb. Material sulfídrico ΔpH

dS m-1 % mg kg-1 -------------------- cmolc kg-1 ---------------------- % % g kg-1 pH inicial pH final

P1 - Gleissolo Tiomórfico Órtico sódico

Cgjќn 0 - 20 5Y 3/1 40,0 4,31 25,96 4,7 14,7 0,9 7,3 4,6 0 0 27,5 27,5 100 53,50 121,68 6,77 7,64 0,87

Cgjќn2 20 - 40 5Y 3/1 40,5 3,80 27,54 5,7 20,7 0,8 4,9 5,2 0 0 31,6 31,6 100 65,40 113,56 6,83 7,65 0,82

Cgjќn3 40 - 60 5Y 2,5/1 37,2 4,22 27,76 5,7 15,7 0,9 11,4 6,1 0 0 34,1 34,1 100 46,03 116,90 6,71 7,58 0,87

Cgjќn4 60 - 80 5Y 2,5/1 42,6 4,91 32,73 3,9 21,4 0,9 13,5 6,8 0 0 42,6 42,6 100 50,19 121,58 6,69 7,43 0,74

P2 - Gleissolo Tiomórfico Órtico sódico

Cgjќn 0 - 20 5Y 4/3 38,7 2,86 14,16 19,5 20,0 1,0 3,3 4,7 0 0 29,0 29,0 100 68,92 48,25 6,63 6,93 0,3

Cgjќn2 20 - 40 5Y 3/1 52,6 3,09 18,39 17,9 29,8 0,3 5,0 7,1 0 1,15 42,3 43,4 97 68,72 49,68 6,75 4,65 -2,1

Cgjќn3 40 - 60 5Y 2,5/1 51,2 3,67 20,28 17,0 19,4 1,1 12,8 5,8 0 1,32 39,1 40,4 97 48,08 57,98 6,72 7,18 0,46

Cgjќn4 60 - 80 5Y 2,5/1 55,6 3,28 25,63 19,5 32,4 1,0 8,3 7,7 0 0 49,4 49,4 100 65,62 97,90 6,72 7,34 0,62

P3 - Gleissolo Tiomórfico Órtico sódico Cgjќn 0 - 20 5Y 2,5/1 70,6 5,95 18,31 41,0 23,2 1,2 7,1 0,9 0 1,49 32,3 33,8 96 68,48 64,32 6,65 6,62 -0,03

Cgjќn2 20 - 40 5Y 2,5/1 59,1 5,34 20,70 16,1 17,0 1,0 10,5 6,0 0 1,49 34,5 36,0 96 47,10 58,08 6,78 4,51 -2,27

Cgjќn3 40 - 60 5Y 2,5/1 64,7 4,55 22,30 17,5 19,1 1,1 10,8 5,6 0 0 36,6 36,6 100 52,22 73,62 6,72 6,54 -0,18

Cgjќn4 60 - 80 5Y 2,5/1 48,8 4,07 24,97 7,4 22,8 1,0 9,1 6,8 0 0 39,7 39,7 100 57,50 100,70 6,82 7,33 0,51

P4 - Gleissolo Tiomórfico Órtico sódico Cgjќn 0 - 20 5Y 3/2 29,2 2,19 12,96 34,8 12,2 0,8 2,4 4,0 0 0,66 19,4 20,1 97 60,85 45,44 6,61 6,48 -0,13

Cgjќn2 20 - 40 5Y 3/2 32,3 2,47 20,25 47,5 18,0 1,0 5,1 5,7 0 0,33 29,7 30,1 99 59,76 44,83 6,88 6,62 -0,26

Cgjќn3 40 - 60 5Y 3/1 36,0 2,91 27,20 54,2 13,9 1,0 8,6 4,8 0 0,33 28,3 28,6 99 48,55 35,54 6,93 6,28 -0,65

Cgjќn4 60 - 80 5Y 2,5/1 35,9 2,82 21,20 26,1 15,4 0,9 7,2 4,0 0 0,99 27,4 28,4 97 54,06 45,00 6,84 4,45 -2,39

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3.3.2 Determinações de campo

O comportamento dos valores de pH e Eh obtidos in situ em função da

profundidade é mostrado na Figura 2. Os valores de pH variaram numa faixa de 5,95 a

6,76, evidenciando condições moderadamente ácidas ou próximas da neutralidade nas

áreas de estudo, tendência essa comum em solos alagados (PONNAMPERUMA, 1972).

Além disso, observou-se em todos os perfis que os maiores valores de pH foram obtidos

em subsuperfície, sendo o maior valor desse parâmetro verificado em P1 (pH 6,76 na

camada de 20 – 40 cm).

Figura 2 - Variação do pH e Eh em função da profundidade nos quatro perfis de solo

analisados.

Em relação aos valores de Eh, os mesmos indicaram o predomínio de

condições anóxicas nos solos (Eh ˂ 100 mV), sendo os maiores valores dessa variável

encontrados em P4 (-72 mV em superfície e -69 mV na camada de 60 – 80 cm).

Observou-se que os valores mais baixos de Eh estão associados às camadas mais

profundas dos perfis, sendo as condições mais fortemente redutoras verificadas em P2 (-

131 mV na camada de 40 – 60 cm).

3.3.3 Parâmetros físicos e químicos

Os dados da composição granulométrica dos solos analisados (Figura 3)

mostraram o predomínio da fração areia em todas as profundidades de P1 e P4, com

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60

teores médios dessa fração de 45 e 48,5 %, respectivamente, conferindo-lhes texturas

que variaram entre franca, franco-argilosa, franco-arenosa e franco-argilo-arenosa.

Observou-se que P2 apresentou textura argilosa em todas as suas profundidades, uma

vez que os teores de argila ali encontrados foram elevados (teor médio de 50,5 %). Já

em P3 a distribuição das partículas foi mais homogênea, com médias de 35 % de argila,

33 % de silte e 32 % de areia. Além disso, outro aspecto observado nesse perfil foi a

tendência para o aumento da concentração de areia em profundidade (teor de 22 % em

superfície e 36 % na camada de 60 – 80 cm), o que também foi verificado em perfis

analisados por Vilhena, Costa e Berrêdo (2010) em áreas de manguezal do Estado do

Pará – Brasil.

Figura 3 - Diagrama de classe textural dos quatro perfis de solo estudados.

Os dados utilizados para a caracterização dos solos são mostrados na Tabela

2. De forma geral, os valores de CE foram bastante elevados nas quatro áreas de estudo

e variaram entre 29,2 e 70,6 dS m-1, sendo os maiores valores encontrados em P3

(média de 60,8 dS m-1) e os menores em P4 (média de 33,4 dS m-1). Em P3 verificou-se

ainda que o maior valor de CE foi obtido em superfície (70,6 dS m-1), o que pode estar

relacionado a uma evaporação diferenciada de fluidos salinos ao longo do perfil (TAM;

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61

WONG, 1998). Entretanto em todos os outros perfis os valores obtidos para esse

parâmetro foram maiores em profundidade, o que está em concordância com os

resultados obtidos por Ferreira et al. (2010), que afirmam que tal fato pode refletir um

efeito de diluição da água doce no solo, especialmente em camadas superficiais.

Em relação aos cátions trocáveis, observou-se o predomínio de Na+ no

complexo sortivo, apresentando os valores mais elevados em todos os perfis e

profundidades, alcançando, por exemplo, um valor médio de 25,4 cmolc kg-1 em P2. De

forma geral, os teores de K+ e Mg2+ foram semelhantes em todos os perfis e

profundidades, atingindo valores médios de 1,1 e 6,3 cmolc kg-1, respectivamente. Já o

Ca2+ apresentou valores mais elevados que K+ e Mg2+, com os maiores teores sendo

encontrados em subsuperfície de todos os perfis.

Observou-se que os valores de equivalente de carbonato de cálcio (Eq.

Carb.), relativos à porcentagem de CaCO3 nas amostras, apresentaram relevante

variação entre as áreas, com os maiores teores médios sendo encontrados em P1

(118,43 g kg-1) e os menores em P4 (42,70 g kg-1). Já em P2 e P3, verificou-se que o

parâmetro em questão apresentou os maiores valores em profundidade, corroborando

assim com os resultados obtidos por Aguiar Neto, Gomes e Freire (2008) em estudos

desenvolvidos em solos de mangue do Nordeste do Brasil.

As concentrações de fósforo assimilável (P) variaram entre as áreas, sendo

os maiores valores médios obtidos em P4 (40,65 mg kg-1) e os menores em P1 (5,0 mg

kg-1). Observou-se ainda que em P3 os valores de P diminuíram em profundidade,

variando de 41,0 mg kg-1 em superfície para 7,4 mg kg-1 na camada de 60 – 80 cm.

A variação dos parâmetros COT, NT e ST em função da profundidade nas

quatro áreas de estudo é mostrada na Figura 4. De forma geral, os valores de COT

encontrados foram elevados, evidenciando o acúmulo de matéria orgânica nesses solos,

e apresentaram variações entre as áreas e profundidades, variando numa faixa de 2,19 a

5,95 %, com os maiores teores sendo verificados em P3, com um valor médio de 4,98

%. Observou-se ainda que tal parâmetro apresentou uma distribuição irregular com a

profundidade e com os maiores percentuais sendo obtidos em subsuperfície, exceto em

P3, onde o teor mais elevado foi encontrado em superfície (5,95 %) e o menor na

camada de 60 – 80 cm (4,07 %).

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Figura 4 - Distribuição dos teores de COT, NT e ST em função da profundidade nos

quatro perfis de solo analisados.

Em relação ao ST, observou-se que seus percentuais variaram entre as áreas

(maior valor médio de ~1,23 % em P2) e com a profundidade, estando os teores mais

elevados do parâmetro em questão associados às camadas de subsuperfície em todos os

perfis. Já os teores de NT apresentaram variação entre as áreas, sendo o maior

percentual médio obtido em P3 (~0,24 %) e o menor em P4 (0,13 %). Além disso, tal

parâmetro variou em função da profundidade, com os maiores valores sendo obtidos em

superfície e os menores nas camadas mais internas de todos os perfis.

Os resultados das análises dos ataques sulfúrico e alcalino (% Fe2O3, %

Al2O3, % SiO2), bem como das determinações de Fe e Al provenientes dos óxidos

cristalinos (DCB) e dos de baixa cristalinidade (oxalato) são apresentados na Tabela 3.

Observou-se que P2 apresentou os maiores teores de ferro, alumínio e silício extraídos

pelo ataque sulfúrico. Os teores médios de ferro e alumínio nos perfis extraídos com

DCB foram de 11,41 e 1,41 g kg-1, respectivamente. De forma geral, verificou-se que os

teores de ferro e alumínio associados aos óxidos cristalinos e aos de baixa cristalinidade

decresceram com o aumento da profundidade em todos os perfis.

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Tabela 3 - Dados da composição química (óxidos) dos solos das quatro áreas de estudo.

Perfil Prof. Fe2O3 Al2O3 SiO2 FeDCB AlDCB FeOXA AlOXA IC (Fe)

cm ---------- % ---------- --------------------g kg-1 --------------------

P1

0 – 20 3,3 8,76 15,35 17,5 1,76 8,5 1,78 0,49

20 – 40 3,32 9,73 14,48 15,33 1,58 6,54 1,56 0,43

40 – 60 2,83 8,49 14,61 8,65 1,36 4,14 1,62 0,48

60 – 80 2,62 7,28 13,66 4,49 1,27 4,76 1,46 1,06

Média

3,02 8,57 14,53 11,49 1,49 5,99 1,61 0,61

P2

0 – 20 4,37 13 25,35 24,88 1,45 7,71 1,14 0,31

20 – 40 4,02 12,4 22,56 13,2 1,39 5,79 1,09 0,44

40 – 60 3,55 11,58 22,62 7,16 0,89 4,59 1,01 0,64

60 – 80 3,42 11,76 20,39 5,93 0,96 2,33 1,17 0,39

Média

3,84 12,19 22,73 12,79 1,17 5,11 1,10 0,45

P3

0 – 20 3,81 10,59 18,42 14,81 1,75 7,29 1,66 0,49

20 – 40 3,65 9,63 16,08 10,12 1,62 4,43 1,41 0,44

40 – 60 3,58 9,88 18,24 9,35 1,33 4,27 1,62 0,46

60 – 80 3,34 9,64 14,85 5,41 1,24 2,83 1,63 0,52

Média

3,60 9,94 16,90 9,92 1,49 4,71 1,58 0,48

P4

0 – 20 3,15 7,37 12,84 20,57 1,87 10,31 1,63 0,50

20 – 40 3,16 8,57 14,59 11,87 1,61 5,48 1,65 0,46

40 – 60 2,89 7,79 14,61 6,65 1,38 3,36 1,54 0,51

60 – 80 3,06 8,39 13,18 6,86 1,16 6,46 1,44 0,94

Média 3,07 8,03 13,81 11,49 1,51 6,40 1,57 0,60

3.3.4 Mineralogia

De forma geral, observou-se que os solos analisados apresentaram

constituição mineralógica semelhante em todas as frações, com algumas variações

pontuais. Os dados de DRX da fração areia são apresentados na Figura 5, onde os

difratogramas das amostras indicaram a presença dos seguintes minerais: mica, quartzo,

plagioclásio, albita e feldspato potássico. A presença de mica foi verificada apenas na

camada superficial de P4 (pico em 1,0011 nm), ao passo que os outros minerais foram

encontrados em todos os perfis. O quartzo foi identificado através dos picos de 0,4264,

0,3344 e 0,2452 nm e, dentre os feldspatos, o plagioclásio (onde se inclui a albita) foi

identificado pelos picos de 0,4058 e 0,3186 nm e o feldspato potássico pelos picos de

0,3485, 0,3235 e 0,2997 nm.

Em relação à fração silte (Figura 6), verificou-se a presença dos minerais

mica, quartzo, plagioclásio / albita, feldspato potássico e pirita em todos os perfis. A

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mica foi identificada através do pico em 1,0011 nm; o quartzo pelos picos de 0,4264,

0,3347 e 0,2459 nm; o plagioclásio / albita pelos picos em 0,4021 e 0,3188 nm e o

feldspato potássico pelos picos de 0,3470 e 0,3242 nm. Já a pirita foi identificada

através dos picos em 0,2703, 0,1912 e 0,1632 nm, sendo as maiores intensidades dos

mesmos verificadas nas camadas mais profundas (60 – 80 cm) de todos os perfis, onde

há predomínio de condições mais redutoras.

Figura 5 - Difratogramas de raios-X da fração areia (camadas de 0 – 20 e 60 – 80 cm)

dos quatro perfis de solo analisados.

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Figura 6 - Difratogramas de raios-X da fração silte (camadas de 0 – 20 e 60 – 80 cm)

dos quatro perfis de solo analisados.

Os dados de DRX da fração argila natural (amostras em pó e orientadas;

Figuras 7 e 8, respectivamente) mostraram que tal fração em todos os perfis é

constituída essencialmente pelos mesmos minerais: ilita e caulinita. A ilita foi

identificada pelos picos de 1,0032, 0,4441 e 0,3344 nm nas amostras em pó (escavadas)

e pelos picos em 1,0079, 0,5007 e 0,3343 nm nas amostras orientadas (esfregaço). Já a

caulinita foi identificada através dos picos de 0,7141, 0,3561 e 0,2341 nm nas amostras

em pó e pelos picos em 0,7202, 0,3579 e 0,2511 nm nas amostras orientadas. Além

disso, por meio da análise das lâminas orientadas, verificou-se ainda a presença de

minerais do tipo 2:1 em todos os perfis (picos em 1,5529 nm).

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Figura 7 - Difratogramas de raios-X da fração argila natural (amostras em pó; camadas

de 0 – 20 e 60 – 80 cm) dos quatro perfis de solo analisados.

Figura 8 - Difratogramas de raios-X da fração argila natural (amostras orientadas;

camadas de 0 – 20 e 60 – 80 cm) dos quatro perfis de solo analisados.

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Os difratogramas referentes à fração argila dos perfis submetida aos

tratamentos com Mg2+ e K+ (Figuras 9 a 12) confirmaram a presença de ilita e caulinita

em todas as amostras analisadas. A ilita foi identificada através dos picos próximos de

1,0196 e 1,0095 nm, já a caulinita pelos picos próximos de 0,7204 e 0,7197 nm, os

quais colapsaram após o aquecimento a 550 oC.

Além disso, os tratamentos realizados permitiram a identificação das

esmectitas como os principais constituintes do grupo dos minerais 2:1 presentes nesses

solos. Os minerais em questão foram evidenciados pelos picos próximos de 1,5689 e

1,2876 nm, uma vez que esmectitas saturadas com Mg+2 fornecem um pico

característico em aproximadamente 1,5 nm, ao passo que, quando saturadas com K+,

fornecem um pico próximo de 1,25 nm, picos estes que tendem ao colapso diante de

aquecimento (BORCHARDT, 1989; REID-SOUKUP; ULERY, 2002).

Os difratogramas das amostras saturadas com Li (Figura 13) mostraram um

comportamento variável das mesmas em relação à origem das cargas das esmectitas dos

solos analisados. Observou-se na profundidade de 0 – 20 cm que houve expansão das

amostras de P1 e P2 após a solvatação com glicerol (Li250G), evidenciando o

predomínio de cargas na camada tetraédrica das esmectitas, inferindo-se assim a

presença de minerais da série beidelita / nontronita. Já em P3 e P4 não foi observada

expansão das amostras após a solvatação, o que indica que as cargas dessas esmectitas

estão localizadas na camada octaédrica, sugerindo, portanto, a presença de

montmorilonita nesses solos.

De forma análoga, na camada de 60 – 80 cm a expansão das amostras de P2

e P4 após a solvatação indica, portanto, a presença de beidelita / nontronita nesses solos,

ao passo que em P1 e P3 há presença de montmorilonita. Convém ressaltar que, nesse

caso, a expansão em P3 após a solvatação foi muito discreta, o que pode indicar a

presença de um mineral esmectítico com predomínio de cargas em sua camada

octaédrica, como a montmorilonita (SOUZA-JÚNIOR et al., 2010; LIM; JACKSON,

1986).

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Figura 9 - Difratogramas de raios-X da fração argila em P1 (Timonha) nas

profundidades de 0 – 20 (A) e 60 – 80 cm (B).

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Figura 10 - Difratogramas de raios-X da fração argila em P2 (Coreaú) nas

profundidades de 0 – 20 (A) e 60 – 80 cm (B).

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Figura 11 - Difratogramas de raios-X da fração argila em P3 (Acarati-Mirim) nas

profundidades de 0 – 20 (A) e 60 – 80 cm (B).

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Figura 12 - Difratogramas de raios-X da fração argila em P4 (Ceará) nas profundidades

de 0 – 20 (A) e 60 – 80 cm (B).

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Figura 13 - Difratogramas de raios-X das amostras de argila das camadas de superfície

(A) e subsuperfície (B) submetidas ao teste de Greene-Kelly (saturação com Li).

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3.4 DISCUSSÃO

3.4.1 Ambiente físico-químico

Em relação às condições físico-químicas das áreas de estudo, observou-se

que os valores de pH obtidos estão em concordância com outros trabalhos realizados em

áreas de manguezais, tais como o de Ferreira et al. (2007c), no Estado de São Paulo (a

maioria dos valores de pH variou entre 5,2 e 7,5) e o de Marchand, Lallier-Vergès e

Baltzer (2003), na costa da Guiana Francesa, onde os valores de pH encontrados

evidenciaram o predomínio de condições ligeiramente ácidas nos solos, com valores de

pH médios próximos de 6,6.

Os maiores valores de pH encontrados em subsuperfície de todos os perfis

parecem estar relacionados às condições de redução predominantes nessas camadas,

tendo em vista que o encharcamento quase que permanente dos solos, associado à má

drenagem dessas áreas, favorece a redução do ferro e do sulfato, levando ao consumo de

prótons no sistema e ao consequente aumento nos valores de pH (FERREIRA et al.,

2010).

Já em P4 observou-se que o menor valor para o parâmetro em questão foi

obtido em superfície, o que pode ser atribuído à oxidação dos sulfetos de ferro presentes

no solo em decorrência da capacidade das espécies vegetais que habitam esse tipo de

ambiente de translocarem oxigênio em suas estruturas, promovendo assim a difusão

desse gás nas camadas do solo, principalmente em superfície (FERREIRA et al., 2007b;

McKEE, 1993; McKEE; MENDELSSOHN; HESTER, 1988). Além disso, sabe-se que

durante os períodos de maré baixa há uma maior exposição da superfície do solo nesses

ambientes, fato este que favorece tanto a penetração de oxigênio no sistema como o

aumento da evapotranspiração em superfície, ocasionando assim a oxidação dos sulfetos

de ferro ali presentes e o aumento na acidez do solo (TAM; WONG, 1998; LUTHER

III; CHURCH, 1988).

De forma geral, observou-se que todos os solos analisados são

caracterizados por potenciais de oxi-redução negativos, inclusive próximo da superfície,

o que parece ter relação com as inundações às quais tais áreas são frequentemente

submetidas, bem como com o fato de tais ambientes serem essencialmente de

sedimentação e com uma degradação de material orgânico bastante pronunciada

(MARCHAND; LALLIER-VERGÈS; BALTZER, 2003). Verificou-se ainda que em P1

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o maior valor de Eh foi encontrado na camada de 40 – 60 cm (-70 mV), contrastando

com as condições mais redutoras predominantes no restante do perfil, o que pode estar

associado à atividade do sistema radicular das plantas, bem como aos efeitos da

bioturbação no sistema, os quais favorecem a translocação de oxigênio no solo criando

assim micro-zonas de oxidação (TAM; WONG, 1998; MARCHAND; LALLIER-

VERGÈS; BALTZER, 2003; LACERDA; ITTEKKOT; PATCHINEELAM, 1995).

3.4.2 Caracterização física e química dos solos

As diferenças verificadas na constituição granulométrica dos perfis

estudados deixam claro que os manguezais podem apresentar solos de diferentes

texturas, o que pode estar relacionado aos principais processos que atuam em cada área,

bem como à morfologia de cada estuário. De forma geral, por serem áreas protegidas da

ação direta dos agentes marinhos, os manguezais condicionam o estabelecimento de um

sistema hídrico de baixa energia, caracterizado por uma forte dinâmica de

sedimentação, favorecendo assim a deposição de partículas finas (SOUZA-JÚNIOR et

al., 2007; CINTRÓN; SCHAEFFER-NOVELLI, 1983), o que pode justificar o

predomínio de frações finas nos solos dos estuários dos rios Coreaú (P2) e Aracati-

Mirim (P3).

Entretanto, apesar da dinâmica dos manguezais favorecer a deposição de

sedimentos finos, em P1 (Timonha) e P4 (Ceará) observou-se a ocorrência de solos de

constituição arenosa, fato este também verificado por Rossi e Mattos (2002) e Souza-

Júnior et al. (2007) em solos de mangue do Estado de São Paulo, bem como por Lopes

(2011) em um manguezal inserido em contexto semiárido (Estado do Ceará).

Sobre isso, sabe-se que o processo evolutivo do Quaternário tem sido

caracterizado pela existência de várias oscilações no nível relativo médio do mar. Dessa

forma, os eventos que promoveram o avanço ou o recuo marinho foram responsáveis

tanto pelo preenchimento das planícies litorâneas com sedimentos arenosos e areno-

argilosos, como também pela exposição de extensas áreas com predomínio de

sedimentos de natureza quartzosa. Assim, a interação dos fluxos eólico (nas regiões

tropicais semiáridas a velocidade dos ventos é mais intensa), hidrodinâmico e de

sedimentos no litoral do nordeste do Brasil pode ter ocasionado o transporte desses

sedimentos mais grosseiros na forma de dunas, por exemplo, bastante expressivas ao

longo da costa do Estado do Ceará, até as áreas mais baixas da planície costeira, como,

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por exemplo, os manguezais, interferindo diretamente na distribuição de partículas

nessas áreas (MORAIS et al., 2006; MEIRELES; SILVA; THIERS, 2006; SOUZA-

JÚNIOR et al., 2007; MEIRELES; CAMPOS, 2010).

As peculiaridades do clima semiárido predominante nas áreas de estudo

parecem influenciar os valores de CE obtidos, os quais foram bem mais elevados que os

encontrados por Andrade et al. (2014), em estudos realizados em manguezais de

diversos Estados ao longo da costa brasileira (valores entre 19,1 e 37,2 dS m-1), bem

como por Prada-Gamero et al. (2004) e Ferreira et al. (2007b, 2010), que avaliaram tal

parâmetro em áreas de mangue do Estado de São Paulo (clima subtropical úmido),

obtendo valores máximos de 23,40 e 25,62 dS m-1, respectivamente. Tal fato pode estar

relacionado à maior concentração de sais verificada em solos de áreas situadas em

contextos semiáridos, em decorrência das elevadas temperaturas e taxas de

evapotranspiração, aliadas às baixas taxas de precipitação desses locais. Sobre isso, as

médias de precipitação dos últimos 20 anos das áreas de estudo (Figura 14) mostram

que nos últimos quatro anos o volume de chuva nessas áreas tem se apresentado abaixo

da média, o que parece contribuir para o processo de salinização dos solos analisados.

Figura 14 - Médias de precipitação dos últimos 20 anos das áreas de estudo

(FUNCEME, 2014).

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76

Além disso, sabe-se que o sistema de drenagem do Estado do Ceará é

constituído por rios que possuem seus médio e alto cursos inseridos em núcleos de

semiaridez, sendo o seu fluxo reduzido e controlado por um grande número de

barragens construídas para fins de abastecimento (MORAIS et al., 2006). Assim, infere-

se que tais condições podem colaborar para uma maior concentração de sais na água

doce (CIRILO; MONTENEGRO; CAMPOS, 2010) antes da mesma chegar ao estuário,

o que pode justificar os altos valores de CE verificados para os solos em questão.

Em todos os solos analisados observou-se que os teores dos cátions

trocáveis apresentaram a ordem Na+ ˃ Ca2+ ˃ Mg2+ ˃ K+ e os dados da CTC

evidenciaram, portanto, forte presença de cátions básicos, principalmente Na+ e Ca2+.

Os elevados teores desses íons no complexo de cargas estão relacionados à influência da

água do mar nos solos de mangue, uma vez que a mesma possui em sua constituição

cerca de 10,7 g kg-1 de Na+ e 0,4 g kg-1 de Ca2+ (ODUM, 2004; KRAUSKOPF, 1972).

Além disso, sabe-se que os teores de Ca2+ também são influenciados pela contribuição

biogênica, tais como conchas de ostras e carapaças de caranguejos, conforme será

discutido posteriormente.

Em relação à porcentagem de CaCO3 nas amostras, foi verificada diferença

significativa (p ˂ 0,01; dados não demonstrados) entre P1 e os demais perfis. De fato,

durante o período de amostragem dos solos, foi observada uma grande quantidade de

caranguejos e ostras nos pontos de coleta do estuário do rio Timonha e sabe-se que o

carbonato de cálcio é um dos principais constituintes das conchas das ostras e carapaças

de caranguejos, as quais podem ser incorporadas ao solo, justificando assim os altos

valores de Eq. Carb. obtidos para essa área.

Em condições de aerobiose, sabe-se que os sulfetos presentes nos solos de

mangue (ex: pirita) são oxidados, produzindo ácido sulfúrico, processo esse conhecido

como sulfurização (CURI; KÄMPF, 2012). Assim, quando exposto a esse ambiente

ácido, o CaCO3 pode ser dissolvido e parte do cálcio liberado, diante de um excesso de

sulfato no meio, precipita como gesso, mineral de elevada solubilidade, de acordo com a

seguinte equação (FANNING et al., 2010):

CaCO3 + H2SO4 + H2O → CaSO4.2H2O (gesso) + CO2..................(Equação 1)

Diante de um excesso de CO2 produzido na etapa anterior ou oriundo do

processo de mineralização da matéria orgânica, o CaCO3 ainda disponível no meio pode

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continuar a ser dissolvido, reação esta que ocasionará aumento no pH do solo em

virtude da hidrólise do composto em questão e a produção de íons bicarbonatos (HCO3-)

(FAGNANI et al., 2011; LAING et al., 2009), conforme detalhado a seguir:

CaCO3 + CO2 + H2O → 2 HCO3- + 2 Ca2+..................................(Equação 2)

Nesse contexto, a equação descrita anteriormente mostra de forma clara o

que ocorreu em todas as profundidades de P1 (perfil com os maiores valores de Eq.

Carb.) durante o teste para a constatação da presença de materiais sulfídricos, uma vez

que os valores de pH do solo aumentaram ao longo das oito semanas de incubação

(Tabela 2). Já em P4, por exemplo, onde os teores de Eq. Carb. obtidos foram mais

baixos, observou-se que a capacidade tampão do solo foi limitada, em virtude do pouco

CaCO3 disponível, e os valores de pH decresceram (camada de 60 – 80 cm; pH variando

de 6,84 para 4,45) como consequência do processo de sulfurização.

Verificou-se ainda uma correlação significativa negativa (n=16; r = -0,7745;

p ˂ 0,05) (Figura 15) entre os valores de Eq. Carb. e fósforo, o que pode evidenciar um

controle da biodisponibilidade desse elemento por parte do carbonato de cálcio. Em

ambientes com predomínio de CaCO3, a formação de reservas inorgânicas de fósforo na

fase sólida do solo inclui principalmente processos de quimiosorção desse elemento na

calcita e/ou aragonita (ambas carbonatos) seguidos de co-precipitação para formar

apatita, sendo a fluorapatita uma das principais reservas de fósforo em estuários

situados em zonas tropicais (KOCH; BENZ; RUDNICK, 2001).

Figura 15 - Correlação entre P assimilável e equivalente de carbonato nos quatro perfis

de solo analisados.

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Ainda em relação ao fósforo, foi verificada diferença significativa (p ˂ 0,01;

dados não demonstrados) entre as suas concentrações em P4 e os demais perfis, o que

pode ser um indicativo acerca do estado de conservação do estuário do rio Ceará.

Atualmente, a expansão urbana desordenada e a poluição hídrica são

consideradas as principais causas das tensões ambientais na área em questão. Assim, o

despejo de esgotos industriais e domésticos, em virtude da ausência e/ou ineficiência do

sistema de saneamento básico em grande parte das áreas urbanas adjacentes, tem

contribuído para o lançamento de efluentes que não recebem nenhum tipo de tratamento

prévio diretamente no rio e em seus afluentes de forma intensa e contínua,

comprometendo assim a qualidade das águas do estuário (ANDRADE; ALMEIDA,

2012; ARAÚJO et al., 2008). Nesse contexto, sabe-se que tal fato pode acarretar aportes

excessivos de nutrientes, dentre eles o fósforo, e elevadas concentrações desse elemento

são consideradas as causas mais comuns de eutrofização nesse tipo de ambiente, o que

pode comprometer a dinâmica das áreas de manguezais, uma vez que os mesmos podem

atuar como dissipadores ou fontes de P, dependo das condições físico-químicas

predominantes em seus solos e nas águas sobrejacentes (LAI; LAM, 2008).

A dinâmica da matéria orgânica nos solos de ambientes estuarinos é regida

por parâmetros tais como temperatura, condições redox do meio, amplitude das marés,

pluviosidade e tipo de vegetação (MIDDELBURG et al., 1996). Assim, as condições

predominantes nas áreas de estudo parecem interferir diretamente nos teores de COT

verificados, tendo em vista que os valores obtidos no presente trabalho (máximo de 5,95

%) mostram-se bem abaixo de outros observados, por exemplo, em áreas de clima

subtropical, como em trabalhos desenvolvidos em solos de mangue de Hong Kong

(valores máximos de COT foram de aproximadamente 19 %) (TAM; WONG, 1998) e

na região sudeste do Brasil (tores de COT variando entre 4 e 25 %) (FERREIRA et al.,

2007b). Nesse contexto, tal fato pode estar relacionado às principais características do

clima semiárido, dentre elas o baixo aporte de água doce nas áreas, elevadas

temperaturas e, consequentemente, maior atividade microbiana nos solos, o que

contribui para uma maior mineralização da matéria orgânica nesses ambientes,

acarretando assim valores mais baixos de COT.

Além disso, foi verificada diferença significativa (p ˂ 0,01; dados não

demonstrados) entre os valores de COT de P1 e P4, o que parece estar relacionado ao

porte da vegetação dos estuários dos rios Timonha e Ceará, respectivamente. Os teores

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de material orgânico acumulado nos solos de mangue estão diretamente relacionados à

contribuição da vegetação de cada área e em campo verificou-se que a vegetação em P1

(estuário em maior estado de conservação) era mais diversificada e de maior porte

quando comparada, por exemplo, à de P4 (estuário inserido em contexto urbano e

afetado por atividades antrópicas, dentre elas o desmatamento). Nesse sentido, pode-se

inferir que em P1 a contribuição da vegetação foi maior, acarretando uma maior

incorporação de material orgânico ao solo, justificando assim os maiores valores de

COT obtidos.

Verificou-se ainda uma correlação significativa (n=16; r = 0,6958; p ˂ 0,05)

entre os teores de COT e NT, evidenciando que boa parte do nitrogênio do solo está sob

a forma orgânica, tendo em vista que, nas condições redutoras predominantes nos solos

analisados, o NO3- disponível no solo é rapidamente reduzido a N2 ou N2O por meio do

processo de desnitrificação (TAM; WONG, 1998). Além disso, este processo também

explica os menores valores de NT obtidos em P4, onde a poluição hídrica é bastante

expressiva, uma vez que a elevada concentração de NO3- decorrente da descarga de

esgotos nessa área é neutralizada pelo incremento no processo de desnitrificação,

acarretando assim a perda das formas minerais de N (FERREIRA, 2002).

Todos os solos analisados apresentaram valores da relação C/N elevados

(Tabela 2), evidenciando assim que a matéria orgânica do meio apresenta-se pouco

decomposta e, portanto, não completamente humificada, tornando elevados os teores de

COT no meio (ONOFRE et al., 2007). Além disso, a maioria dos valores para tal

relação foi superior a 20, caracterizando uma matéria orgânica derivada principalmente

das estruturas da vegetação local, tendo em vista que, nessa situação, os elevados

valores da relação C/N estão associados à riqueza de carbono da lignina e da celulose

que constituem as plantas superiores (MARCHAND; LALLIER-VERGÈS; BALTZER,

2003; MARCHAND; LALLIER-VERGÈS; ALLENBACH, 2011).

A distribuição de ST ao longo dos perfis mostrou que os maiores valores

desse parâmetro foram obtidos em subsuperfície, corroborando, por exemplo, com

resultados obtidos em solos de mangue da China (DING; YAO; CHEN, 2014), sendo o

maior percentual médio verificado, inclusive, no perfil mais redutor (P2), o que pode

indicar que parte do ST desses solos está presente na forma inorgânica, possivelmente

associado à pirita (FeS2) (OTERO et al., 2006), principal reservatório mineral para

espécies de ferro e enxofre reduzidos em solos de ambientes estuarinos (LORD III;

CHURCH, 1983).

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De fato, as condições redox predominantes nesses solos (Eh ˂ 100 mV)

favorecem a ocorrência da redução bacteriana do sulfato no sistema, processo esse que

produz íons sulfetos, os quais reagem com espécies de ferro presentes no meio,

formando assim sulfetos de ferro, dentre eles a pirita (FANNING et al., 2010),

conforme a seguinte reação:

2 FeOOH + 3 H2S → FeS + FeS2 + 4 H2O...................................(Equação 3)

Nesse contexto, observa-se que um dos fatores que influenciam diretamente

o processo da piritização é a existência de uma fonte de ferro reativa e prontamente

disponível no sistema, tais como os óxidos de ferro (DING; YAO; CHEN, 2014;

LAING et al., 2009; KOSTKA; LUTHER III, 1995; LORD III; CHURCH, 1983), o que

justifica as correlações verificadas entre os teores de ST e os valores de FeDCB e FeOXA

(n=16; r = -0,7270; p ˂ 0,05 e n=16; r = -0,7093; p ˂ 0,05, respectivamente) (Figura

16).

Figura 16 - Correlação entre ST, FeDCB e FeOXA nos quatro perfis de solo analisados.

Sobre os óxidos presentes nos solos, observou-se que a relação média entre

os teores de silício e alumínio (SiO2 / Al2O3) foi de 1,75, inferindo-se assim a presença

de minerais do tipo 2:1 nesses solos (2 camadas de tetraedros de Si e 1 camada de

octaedro de Al). Verificou-se ainda que os maiores teores de silício e alumínio foram

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encontrados em P2, o que pode estar relacionado ao fato de os maiores teores de argila

terem sido encontrados nesse perfil.

Além disso, observou-se que os teores de ferro associados ao extrator DCB

diminuíram em profundidade, o que pode também evidenciar que as condições redox

predominantes nas camadas superficiais desses solos favorecem a formação de óxidos

de ferro de melhor cristalinidade em comparação com as camadas mais profundas.

Segundo Schwertmann e Kämpf (1983), a relação entre FeOXA e FeDCB (IC) é um

indicador seguro sobre as formas de ferro que ocorrem no solo. Assim, percebeu-se que

esta relação variou entre 0,31 e 1,06, o que pode indicar uma possível presença de

óxidos de ferro de baixa cristalinidade nesses ambientes (ex: ferrihidrita, lepidocrocita).

3.4.3 Aspectos relacionados aos minerais presentes nos solos

Os dados da mineralogia das frações areia e silte mostraram que o quartzo e

o feldspato (plagioclásio / albita e feldspato potássico) são os principais constituintes

dessas frações e sobre tais minerais sabe-se que os mesmos são, na maioria das vezes,

originados do intemperismo das rochas do entorno, que se constituem na fonte primária

de minerais para os solos da planície costeira (SOUZA-JÚNIOR et al., 2008).

Especificamente no caso da região semiárida do Estado do Ceará, os solos

são originados, em sua maioria, de rochas cristalinas do Pré-Cambriano (ex: gnaisses e

migmatitos), apresentando em sua constituição minerais como biotita (mica das frações

areia e silte), quartzo, feldspato (potássico e plagioclásio), caulinita, ilita (mica da fração

argila) e montmorilonita (MOTA; OLIVEIRA; GEBHARDT, 2002; MOTA;

OLIVEIRA, 1999), os quais podem ficar em suspensão nas águas dos rios e serem então

transportados até as áreas estuarinas, inferindo-se assim, a origem alóctone de tais

minerais nos manguezais estudados.

A formação da caulinita nos solos ocorre geralmente sob condições de pH

baixo, boa drenagem e em virtual ausência de Na, Ca, Mg, Fe e K na solução do solo

(MELO; WYPYCH, 2009). Nesse contexto, percebe-se que o ambiente geoquímico do

manguezal não é propício à formação desse mineral, uma vez que as condições

halomórficas (meio concentrado em sais, pH ≥ 5) e hidromórficas (drenagem restrita)

predominantes nos solos de mangue fazem com que o intemperismo salinolítico seja

atuante nesse tipo de ambiente, favorecendo o processo da bissialitização, que forma

preferencialmente minerais do tipo 2:1 (PRADA-GAMERO; VIDAL-TORRADO;

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FERREIRA, 2004), reforçando assim a origem alóctone da caulinita nesses ambientes,

sendo, portanto, tal mineral oriundo dos solos do entorno.

Dentre os minerais 2:1 encontrados nos solos analisados, têm-se as ilitas, as

quais podem ser formadas in situ, através da transformação de micas e feldspatos

presentes nas frações mais grosseiras do solo ou mesmo por precipitação direta de ilitas

de cristalinidade menor (ANDRADE, 2010). Entretanto, para os manguezais do Estado

do Ceará, acredita-se que as ilitas presentes nesses ambientes sejam, em sua maioria, de

origem alóctone, sendo oriundas dos solos das áreas do entorno, os quais são pouco

intemperizados e ricos em minerais do tipo 2:1 (BÉTARD et al., 2009; MOTA;

OLIVEIRA, 1999; MOTA; OLIVEIRA; GEBHARDT, 2002).

Em relação à presença de pirita nos solos analisados, sabe-se que este

mineral é o principal produto da redução bacteriana do sulfato (RBS) nesse tipo de

ambiente e que o mesmo se mantém estável nas condições de pH e Eh dos solos de

mangue. Conforme discutido anteriormente, o predomínio de condições redutoras

nesses solos, aliado à presença de formas reduzidas de enxofre, bem como à

disponibilidade de ferro reativo e sulfato no sistema favorecem a ocorrência da RBS, a

qual tem como produtos finais sulfetos de ferro, dentre eles a pirita, o que explica,

portanto, a origem autigênica do mineral em questão (PRADA-GAMERO; VIDAL-

TORRADO; FERREIRA, 2004; BERRÊDO et al., 2008; SOUZA-JÚNIOR et al.,

2008).

Sobre as esmectitas, sabe-se que a formação e a preservação das mesmas

são favorecidas em solos com elevadas concentrações Si e cátions básicos

(principalmente Mg2+) e estabelecidos sob condições de drenagem restrita (KÄMPF;

MARQUES; CURI, 2012; BORCHARDT, 1989), com baixa ou moderada lixiviação de

sílica e pH básico, fato este que pode evidenciar a neoformação desses minerais nos

solos de mangue, uma vez que as esmectitas desses ambientes podem ser formadas pela

precipitação direta de íons presentes na solução do solo (REID-SOUKUP; ULERY,

2002).

A presença de esmectitas nos solos em questão também pode ser resultado

do intemperismo de minerais presentes em rochas de áreas adjacentes, dentre eles a

mica, processo este que envolve mudanças na estrutura e na carga das camadas desse

mineral, além da saída de K das entrecamadas e a substituição do Al tetraedral por Si,

formando, nesse caso, a beidelita (AZEVEDO; VIDAL-TORRADO, 2009;

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BORCHARDT, 1989), que, por meio de mecanismos de transporte e sedimentação,

pode alcançar as áreas de manguezal.

Além disso, as esmectitas encontradas nos manguezais estudados podem ter

sido herdadas dos solos do entorno, uma vez que solos ricos nesses minerais podem ser

encontrados na região nordeste do Brasil, onde o clima bastante seco e sem excedente

hídrico favorece a ocorrência e a permanência de esmectitas nos solos (MELO;

MATTOS; LIMA, 2009), reforçando, portanto, uma possível origem alóctone desses

minerais em ambientes estuarinos inseridos em contexto semiárido (ANDRADE et al.,

2014).

Os dados do teste de Greene-Kelly, empregado para diferenciar as

esmectitas dioctaedrais, revelaram a presença tanto de montmorilonita como de

minerais da série beidelita / nontronita nos solos analisados. Em P1 e P4, por exemplo,

verificou-se a presença desses dois tipos de minerais e, sobre isso, Lim e Jackson (1986)

afirmam que a maioria das esmectitas apresenta heterogeneidade de cargas entre as suas

camadas, sendo, portanto, comum a ocorrência de misturas das mesmas na natureza.

Além disso, tais dados corroboram com os resultados obtidos por Andrade (2010) em

solos de mangue dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, nos quais

foi verificada a presença de esmectitas com cargas de natureza tanto octaedral

(montmorilonita) quanto tetraedral (beidelita / nontronita). Já em manguezais do Estado

do Ceará, o mesmo autor constatou o predomínio de minerais da série beidelita /

nontronita, o que também foi verificado em P2 (estuário do rio Coreaú).

A respeito da origem da montmorilonita, sabe-se que a mesma pode ser

formada diretamente de soluções ricas em Si, Al e Mg em áreas continentais, podendo

ser encontrada juntamente com a beidelita. Já a nontronita é uma esmectita férrica cuja

formação está associada a processos autigênicos típicos de sedimentos marinhos

(OTERO et al., 2009), os quais parecem influenciar a dinâmica do mineral em questão

nas áreas de mangue. Souza-Júnior et al. (2010) apontam que alterações nas condições

redox dos manguezais podem promover a oxidação de sulfetos de ferro, dentre eles a

pirita, acarretando a liberação de Fe no sistema, o que, associado ao meio rico em Si,

Mg e Al, favorece a formação de nontronita nesses ambientes, inferindo-se assim a

origem autigênica desse mineral. De fato, na camada superficial de P1 observou-se um

deslocamento pronunciado da amostra após a solvatação com glicerol durante o teste de

Greene-Kelly (Figura 13), o que parece indicar um possível favorecimento da formação

de nontronita diante da oxidação da pirita na superfície do solo.

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Os mesmos autores afirmam ainda que as condições geoquímicas

predominantes nas camadas mais internas dos solos de mangue, as quais são propícias à

piritização, podem contribuir para a instabilidade da nontronita, uma vez que, diante da

ausência ou de baixas concentrações de oxihidróxidos de Fe no sistema, as bactérias

redutoras do sulfato e do ferro podem promover a redução biológica parcial do Fe3+

presente na estrutura da nontronita, comprometendo assim a cristalinidade e as

propriedades físico-quimicas do mineral em questão. Assim, em casos como este, a

dissolução da nontronita pode contribuir para um aumento da concentração de ferro

reativo no sistema, o qual pode ser utilizado em uma eventual precipitação de pirita

(OTERO et al., 2009).

3.5 CONCLUSÕES

O presente estudo evidencia que os manguezais inseridos em contextos

semiáridos têm sua dinâmica fortemente influenciada pelo clima, fator este que interfere

diretamente no desenvolvimento dos ambientes estuarinos e explica o comportamento

de vários parâmetros dos solos dessas áreas, fazendo com que os mesmos tenham, por

exemplo, uma caracterização física e química bastante diferente dos manguezais

situados em outros setores da costa brasileira.

Além disso, percebe-se que a influência do clima sobre o manguezal

também é exercida de forma indireta, através da regulação dos principais processos que

atuam nas áreas do entorno, que se constituem na fonte primária de sedimentos para a

planície costeira, interferindo diretamente nos mecanismos de transporte e sedimentação

desses ambientes, o que reflete, por exemplo, nos principais aspectos relacionados à

constituição mineralógica dos solos de mangue.

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REFERÊNCIAS

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4 TEORES NATURAIS E VALORES DE REFERÊNCIA DE QUALIDADE DE METAIS PESADOS EM SOLOS DE MANGUE DO ESTADO DO CEARÁ - BRASIL

RESUMO

Diversas práticas da atualidade relacionadas à urbanização e à industrialização têm contribuído para o aumento das concentrações de metais pesados na biosfera, impactando, sobretudo, os solos e representando um sério risco à saúde pública e ao meio ambiente. Nesse cenário, percebe-se uma tendência crescente na determinação das concentrações naturais (níveis de background) de metais nos solos e o consequente estabelecimento de valores de referência de qualidade (VRQs) como ferramentas a serem utilizadas na prevenção da poluição do solo e no controle de áreas contaminadas. Diante da importância do ecossistema manguezal para a natureza e levando-se em consideração que tais áreas são bastante expressivas no Brasil, o presente estudo teve como objetivo determinar os teores naturais de metais pesados em solos de mangue do Estado do Ceará, que possui uma zona costeira significativa, bem como estabelecer VRQs para tais elementos e, de posse desses resultados, avaliar a qualidade dos solos de mangue do estuário do rio Ceará, submetido a diversos tipos de tensões ambientais. A determinação dos teores dos metais foi realizada via extração semitotal (EPA 3051A) e os resultados indicaram que os menores teores desses elementos foram obtidos nos solos das áreas menos impactadas pela ação antrópica. Observou-se que a fração argila e os óxidos de Fe e Mn se correlacionaram positivamente com boa parte dos metais, indicando que tais atributos possuem um papel relevante na adsorção e/ou retenção desses elementos nesses ambientes. Verificou-se ainda que os VRQs propostos para o monitoramento dos solos de mangue do Estado do Ceará estão em concordância com parâmetros utilizados na avaliação da qualidade de solos de ambientes costeiros em outras partes do mundo. Em relação às áreas de mangue do estuário do rio Ceará, observou-se que seus solos apresentaram os maiores fatores de enriquecimento de metais, sendo os valores mais altos do parâmetro em questão obtidos para os elementos Cu, Pb, Zn e Cd, evidenciando um incremento nas concentrações dos metais nesses solos em virtude de atividades desenvolvidas nas áreas do entorno (descarga de esgotos domésticos e efluentes industriais). Por fim, constatou-se que a distribuição de metais pesados nos solos de mangue analisados é regida por interações entre os próprios metais e dos mesmos com os principais atributos físicos e químicos desses solos. Além disso, sugere-se que os teores naturais dos metais determinados nos solos analisados no presente estudo sirvam de base para a definição dos VRQs para os solos de mangue do Estado do Ceará, auxiliando o órgão ambiental responsável na formulação de uma legislação específica para o monitoramento das áreas de manguezal do Estado.

Palavras-chave: Manguezal; Níveis de background; Semiárido brasileiro; Gestão da zona costeira; Monitoramento ambiental.

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NATURAL CONCENTRATIONS AND QUALITY REFERENCE VALUES OF

HEAVY METALS IN MANGROVE SOILS OF THE STATE OF CEARÁ –

BRAZIL

ABSTRACT

Currently, various practices related to urbanization and industrialization have contributed to the increased concentrations of heavy metals in the biosphere, impacting mainly soils and representing a serious risk to public health and the environment. In this context, there is a growing trend in the determination of the natural concentrations of metals in soils and the consequent establishment of Quality Reference Values (QRV) as tools to be used in the soil pollution prevention and in the control of contaminated areas. Given the importance of mangrove ecosystem for nature and taking into account that these areas are very significant in Brazil, this study aimed to determine the natural concentrations of heavy metals in mangrove soils of the State of Ceará, which has a significant coastal zone, and establish QRV for these elements, and, in possession of these results, evaluate the quality of mangrove soils of Ceará River estuary, subjected to various environmental stresses. The determination of the metals concentrations was performed by semitotal extraction (EPA 3051A) and the results indicated that the lowest levels of these elements were obtained in soils of less impacted areas by human activities. It was observed that clay and Fe and Mn oxides were positively correlated with much of the metals, indicating that these attributes have an important role in the adsorption and/or retention of these elements in these environments. It was also found that GRV proposed here for the monitoring of mangrove soils in the State of Ceará are consistent with parameters used in assessing the quality of soils of coastal environments in other parts of the world. In relation to mangrove areas of Ceará River estuary, it was observed that their soils showed the highest enrichment factors of metals, being the highest values of this parameter obtained for Cu, Pb, Zn and Cd, showing an increase in the metals concentrations in these soils due to activities in the surrounding areas (discharge of domestic sewage and industrial effluents). Finally, it was found that the distribution of heavy metals in the mangrove soils analyzed is governed by interactions between the metals themselves and with the main physical and chemical properties of these soils. Furthermore, it is suggested that natural concentrations of metals determined in the present study serve as the basis for the definition of QRV for mangrove soils in the State of Ceará, assisting the environmental agency in the formulation of a specific legislation for the monitoring of mangrove areas in the State.

Keywords: Mangrove; Background levels; Brazilian semiarid; Coastal zone management; Environmental monitoring.

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4.1 INTRODUÇÃO

Diversas práticas da atualidade relacionadas ao avanço da urbanização e da

industrialização (ex: uso de fertilizantes e pesticidas, atividades de mineração, resíduos

industriais, efluentes domésticos) têm impactado o meio ambiente e contribuído

significativamente para o aumento da concentração de metais pesados na biosfera.

Assim, nos dias atuais, uma das grandes questões ambientais refere-se à contaminação

dos solos por metais pesados, os quais estão entre os principais poluentes ambientais em

áreas sob a influência antrópica. A toxicidade desses elementos é um problema de

grande relevância, principalmente pelo fato de alguns desses metais serem

bioacumulativos, podendo ser incorporados aos diferentes níveis tróficos da cadeia

alimentar (NAGAJYOTI; LEE; SREEKANTH, 2010; WUANA; OKIEIMEN, 2011).

A existência de áreas contaminadas, além de comprometer as funções

básicas do solo, representa um sério risco à saúde pública e ao meio ambiente

(CONAMA, 2009). Nesse sentido, em casos de solos contaminados por metais pesados,

por exemplo, sabe-se que o processo de restauração e proteção dos mesmos inclui uma

correta caracterização e remedição desses sistemas, englobando aspectos relacionados à

especiação, mobilidade e biodisponibilidade dos metais, bem como a identificação das

principais fontes de contaminação, consequências para o meio ambiente e avaliações de

risco. Assim, inferências sobre o nível de contaminação dos solos podem ser realizadas

através de métodos que auxiliem na determinação da concentração de metais pesados

nessas áreas, dentre eles as análises dos teores totais e semitotais desses elementos, bem

como procedimentos de extração sequencial e extração de sulfetos volatilizáveis por

acidificação (WUANA; OKIEIMEN, 2011; FILGUEIRAS; LAVILLA; BENDICHO,

2002).

Atualmente, percebe-se uma preocupação crescente dos países em se adotar

uma política ambiental eficiente e que possa auxiliar os órgãos ambientais em uma

melhor fundamentação de suas ações de gestão e monitoramento ambiental e, nesse

cenário, uma ferramenta que tem sido bastante utilizada é a determinação das

concentrações naturais de metais nos solos (níveis de background) (MATSCHULLAT;

OTTENSTEIN; REIMANN, 2000) e o consequente estabelecimento de valores de

referência de qualidade dos solos (VRQs), os quais devem ser utilizados como

referência nas ações de prevenção da poluição do solo e de controle de áreas

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contaminadas (PRESTON et al., 2014; SANTOS; ALLEONI, 2012; PRAVEENA et al.,

2008; CETESB, 2005).

Assim, medidas como essa já são consolidadas em diversos países (CHEN;

MA; HARRIS, 1999; CHEN et al., 1991, 1997; GOUGH; SEVERSON; JACKSON,

1994; MA; TAN; HARRIS, 1997; HORCKMANS et al., 2005; McGRATH; ZHAO,

2006; MARTÍNEZ et al., 2007; ZHAO; McGRATH; MERRINGTON, 2007; ZHANG

et al., 2007; MARTÍNEZ-LLADÓ et al., 2008; SU; YANG, 2008; BRUS; LAME;

NIEUWENHUIS, 2009) e em alguns estados do Brasil (CETESB 2001; FADIGAS et

al., 2002, 2006; PAYE et al., 2010; CAIRES, 2009; BIONDI, 2010; BIONDI;

NASCIMENTO; NETA, 2011; BIONDI et al., 2011; SANTOS; ALLEONI, 2012;

PRESTON et al., 2014).

Especificamente no Brasil, sabe-se que a resolução n° 420/2009 do

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 2009) representou um avanço na

política de proteção dos solos brasileiros, uma vez que a mesma dispõe sobre critérios e

valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas,

bem como estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas

por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas.

O ato normativo em questão afirma que a proteção do solo deve ser

realizada não só de forma preventiva, como também de uma maneira corretiva, visando

restaurar sua qualidade ou recuperá-la de forma compatível com os seus usos previstos.

Assim, a legislação brasileira possui atualmente três tipos de valores orientadores, os

quais servem de base para avaliações sobre a qualidade e as alterações do solo, sendo

eles: valor de investigação, valor de prevenção e valor de referência de qualidade

(relacionado à concentração de determinada substância que define a qualidade natural

do solo). De acordo com a resolução n° 460/2013 do CONAMA (CONAMA, 2013), os

VRQs do solo para substâncias químicas naturalmente presentes deverão ser

estabelecidos pelos órgãos ambientais competentes de cada unidade da Federação até

dezembro de 2014.

Nesse contexto, verifica-se a escassez de estudos dessa natureza que

contemplem os solos sob florestas de mangue no Brasil. Tais solos possuem certas

propriedades que favorecem a retenção e o acúmulo de metais pesados nesses

ambientes, dentre elas o predomínio de condições anóxicas e as elevadas concentrações

de sulfetos e carbono orgânico, que favorecem a imobilização desses elementos no solo

por meio da formação de sulfetos metálicos e compostos orgânicos ricos em metais

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(LACERDA et al., 1991; HINES et al., 1984; HUERTA-DIAZ; MORSE, 1992;

CLARK et al., 1998; LAING et al., 2009; NATH; BIRCH; CHAUDHURI, 2013).

Entretanto, sabe-se que intervenções nos solos de manguezais são cada dia

mais frequentes e variações em parâmetros como pH, potencial redox, temperatura e

atividade microbiana, por exemplo, podem alterar a especiação dos metais no solo,

influenciando na dinâmica, mobilidade e disponibilidade desses elementos, fazendo

com que os mesmos fiquem “livres” no sistema, o que pode levar a um estado de

contaminação, acarretando impactos ao meio ambiente, comprometendo a

biodiversidade e a saúde humana, bem como influenciando na qualidade das águas dos

rios e estuários (HINES et al., 1984; OTERO; MACÍAS, 2002; FILGUEIRAS;

LAVILLA; BENDICHO, 2002; SHARPE, 2005; LAING et al., 2009).

Diante da importância do ecossistema manguezal, evidenciada

principalmente pelas funções e serviços que o mesmo desempenha no meio ambiente

(CHAUDHURI; NATH; BIRCH, 2014; NATH; BIRCH; CHAUDHURI, 2014, 2013;

LEOPOLD et al., 2013; MEIRELES; CAMPOS, 2010), considerando que tais áreas são

bastante expressivas no Brasil e que, no Estado do Ceará, as mesmas correspondem a

uma área de aproximadamente 185 km2 (MAIA et al., 2006), percebe-se que a

determinação de VRQs pode se constituir em uma importante ferramenta de gestão da

zona costeira, possibilitando assim uma abordagem mais ampla no que diz respeito à

avaliação dos ambientes costeiros e marinhos, e tornando, portanto, mais eficiente o

processo de monitoramento ambiental dessas áreas.

Assim, o presente estudo teve como objetivo determinar os teores naturais

de metais pesados em solos de mangue do Estado do Ceará, bem como estabelecer

valores de referência de qualidade para tais elementos, e, de posse desses resultados,

avaliar a qualidade dos solos de mangue do estuário do rio Ceará, inserido em contexto

urbano e submetido a diversos tipos de tensões ambientais. Além disso, objetivou-se

também obter uma melhor compreensão acerca dos principais parâmetros que regem a

dinâmica dos metais nos solos de mangue inseridos na costa nordeste semiárida do

Brasil e gerar um banco de dados para futuros trabalhos relacionados à contaminação

dessas áreas e à definição de estratégias para uma gestão eficaz e integrada da zona

costeira do Estado, assegurando, portanto, melhorias na saúde pública e ambiental.

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4.2 MATERIAIS E MÉTODOS

4.2.1 Áreas de estudo

O estudo foi realizado em áreas de manguezal de quatro estuários do Estado

do Ceará, sendo eles: Estuários dos rios Timonha, Coreaú, Aracati-Mirim e Ceará

(Figura 1). Os referidos estuários foram definidos levando-se em consideração a

diversidade de usos e o estado de conservação do ecossistema manguezal,

acessibilidade, bem como a representatividade desses setores diante do total de áreas de

manguezais do Estado (Timonha: 27,08 %; Coreaú: 19,08 %; Aracati-Mirim: 10,71 %;

Ceará: 4,76 %) (MAIA et al., 2006).

Figura 1 - Localização das áreas de estudo.

Tais áreas estão situadas na costa nordeste semiárida do Brasil, onde o clima

é predominantemente semiárido e com sazonalidade marcante (duas estações bem

definidas, uma seca, longa e outra úmida, curta e irregular). A precipitação média anual

é de cerca de 800 mm, podendo haver variações, e o aporte de água doce é geralmente

baixo, sendo a média anual da descarga total dos rios inferior a 1000 m3 s-1 (MAIA et

al., 2006).

De acordo com a classificação de Köppen, as áreas estudadas apresentam

clima do tipo Aw’ – tropical chuvoso (quente e úmido com chuvas de verão e outono),

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caracterizado por apresentar temperatura média elevada, praticamente constante durante

o ano, amplitudes térmicas reduzidas (inferiores a 5 oC) e, em consequência disso, as

médias mensais de evaporação também são bastante acentuadas. O sistema de drenagem

da região é constituído por rios de regime de escoamento intermitente, que fluem apenas

na estação chuvosa, o que limita o desenvolvimento das planícies flúvio-marinhas e dos

manguezais. Além disso, tais áreas estão situadas em terrenos influenciados por

sedimentos do Embasamento Cristalino, Grupo Barreiras e Aluviões, com exceção do

estuário do rio Aracati-Mirim, que tem sua dinâmica mais influenciada pelos dois

últimos grupos (BRASIL, 1981; MORAIS et al., 2006).

Em relação à vegetação de mangue presente nessas áreas, sabe-se que a

mesma é constituída por uma associação de espécies dos gêneros Rhizophora (mangue

vermelho), Avicennia (mangue canoé), Laguncularia (mangue branco) e Conocarpus

(mangue de botão). Entretanto, essa combinação de espécies pode variar de acordo com

as condições ambientais locais e com as características de uso das respectivas bacias

hidrográficas (MAIA et al., 2006).

4.2.2 Etapas de campo e manuseio das amostras

Para a determinação dos VRQs, as amostras de solo foram coletadas nas

áreas de mangue dos estuários dos rios Timonha, Coreaú e Aracati-Mirim, que, juntas,

representam cerca de 60 % do total de áreas de manguezais do Estado do Ceará (MAIA

et al., 2006). A classe de solo predominante nesses setores é a dos Gleissolos, cuja

caracterização foi realizada e discutida no Capítulo 2 do presente trabalho.

As estações de amostragem foram definidas em trechos sem interferência

antropogênica ou onde a mesma era desprezível e em áreas de vegetação nativa, visando

uma melhor avaliação da qualidade dos solos amostrados em cada estuário (CONAMA,

2009; ABRAHÃO; MARQUES, 2013). Assim, foi definido um total de 15 (quinze)

estações (E1→E15), devidamente localizadas, sendo registradas as coordenadas

geográficas e a altitude, bem como o sistema geodésico de referência (WGS 84) (Tabela

1).

As etapas de amostragem dos solos foram realizadas em março de 2013,

durante períodos de maré baixa e sem chuvas significativas. A amostragem em cada

estação foi do tipo composta, sendo cada amostra formada por subamostras de 5 (cinco)

pontos amostrais, obtidos na profundidade de 0 – 20 cm. Uma vez determinados os

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pontos de amostragem, as amostras foram coletadas com o auxílio de tubos de cloreto

de polivinila (PVC) (0,075 m de diâmetro e 0,3 m de comprimento) e as parcelas de

interesse (0 – 20 cm) foram isoladas e homogeneizadas ainda no campo, sendo retirados

previamente os materiais não-representativos.

Com o auxílio de um aparelho portátil (Phmetro Digital Portátil – Marca

Lutron – Modelo Ph221), foram medidos no campo os seguintes parâmetros físico-

químicos de todas as amostras: potencial hidrogeniônico (pH) e de oxi-redução (Eh). As

leituras de pH foram obtidas com um eletrodo previamente calibrado com soluções

padrão de pH 4,0 e 7,0.

Em seguida, as amostras foram colocadas em sacos de polietileno de alta

densidade previamente identificados e mantidas congeladas até o momento de análise,

visando a manutenção de suas propriedades físico-químicas fundamentais. Todos os

instrumentos utilizados no campo passaram pelo seguinte protocolo de limpeza antes

das coletas: lavagem com detergente neutro, triplo enxágue com água corrente, banho

com solventes orgânicos (acetona e etanol), seguido de outro banho com água, lavagem

ácida (HCl 5%) e banho triplo com água destilada. No campo, entre cada coleta, os

instrumentos foram lavados com solução de HNO3 10 % (USEPA, 2001).

Já no local de destino, as amostras foram postas para secar à sombra, sobre

papel permeável, em ambiente protegido de ventilação forte, evitando qualquer tipo de

contaminação. Em virtude do elevado teor de umidade das amostras, antes de serem

secas ao ar, as mesmas foram submetidas a uma secagem prévia dentro do próprio saco

plástico de coleta com revolvimento frequente (ABRAHÃO; MARQUES, 2013). Em

seguida, as amostras foram destorroadas e passadas em peneira de aço inoxidável de 2

mm de malha, obtendo-se terra fina seca ao ar (TFSA), sendo então armazenadas para

posteriores determinações.

Convém ressaltar que, para a avaliação da qualidade dos solos de mangue

do estuário do rio Ceará, foram adotados os mesmos critérios de seleção das estações de

amostragem, bem como todos os procedimentos de coleta anteriormente descritos,

sendo assim determinados três pontos de amostragem no referido estuário (P1→P3),

cujas informações são encontradas na Tabela 1.

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Tabela 1 - Informações sobre os pontos de coleta das amostras de solo.

Estações/ Pontos

Estuário Município Coordenadas Altitude

(m) Associação florística

E1 Timonha Chaval 2° 54' 44.67" (S) 41° 17' 22.01" (W) 3 Rhizophora E2 Timonha Chaval 2° 54' 22.64" (S) 41° 17' 06.04" (W) 8 Rhizophora, Avicennia, Laguncularia E3 Timonha Chaval 2° 54' 49.68" (S) 41° 15' 48.05" (W) 5 Rhizophora E4 Timonha Chaval 2° 56' 33.48" (S) 41° 15' 58.00" (W) 5 Rhizophora E5 Timonha Chaval 2° 57' 22.91" (S) 41° 15' 09.58" (W) 3 Rhizophora, Avicennia, Laguncularia E6 Timonha Chaval 2° 57' 53.21" (S) 41° 14' 22.19" (W) 5 Rhizophora, Avicennia E7 Timonha Chaval 2° 58' 24.93" (S) 41° 14' 10.47" (W) 2 Avicennia, Laguncularia E8 Timonha Chaval 3° 00' 17.20" (S) 41° 13' 44.54" (W) 2 Avicennia E9 Coreaú Camocim 2° 55' 50.29" (S) 40° 48' 25.04" (W) 4 Rhizophora

E10 Coreaú Camocim 2° 57' 06.54" (S) 40° 48' 15.80" (W) 2 Rhizophora, Avicennia E11 Coreaú Camocim 2° 58' 43.92" (S) 40° 47' 49.86" (W) 11 Rhizophora, Avicennia E12 Coreaú Camocim 2° 59' 33.74" (S) 40° 48' 20.38" (W) 9 Rhizophora E13 Coreaú Camocim 2° 58' 51.46" (S) 40° 48' 33.33" (W) 10 Rhizophora, Avicennia E14 Aracati-Mirim Itarema 2° 53' 54.72" (S) 39° 52' 53.88" (W) 10 Rhizophora, Avicennia E15 Aracati-Mirim Itarema 2° 54' 21.28" (S) 39° 51' 58.39" (W) 9 Rhizophora P1 Ceará Fortaleza 3° 42' 01.42" (S) 38° 36' 35.12" (W) 10 Rhizophora P2 Ceará Fortaleza 3° 42' 24.17" (S) 38° 37' 10.44" (W) 7 Rhizophora P3 Ceará Fortaleza 3° 43' 22.99" (S) 38° 37' 16.90" (W) 16 Rhizophora

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4.2.3 Procedimentos analíticos

4.2.3.1 Análises para fins de caracterização física e química das amostras

Visando-se estimar a salinidade das amostras, a condutividade elétrica (CE)

das mesmas foi determinada no extrato de saturação (EMBRAPA, 2011), sendo a

leitura realizada com o auxílio de um condutivímetro digital (Marca Orion – Modelo

115).

Devido à elevada concentração de sais nas amostras, antes das outras

determinações, as mesmas foram submetidas a um pré-tratamento com álcool etílico a

60 % (v/v), visando a eliminação prévia dos sais solúveis, até que o filtrado não

apresentasse reação de cloretos pelo nitrato de prata (EMBRAPA, 2011).

Para a análise granulométrica das amostras, as mesmas foram previamente

tratadas com peróxido de hidrogênio a 30 volumes para a oxidação da matéria orgânica

(EMBRAPA, 2011). O processo foi realizado baseando-se no método da pipeta e com

uma combinação de métodos físicos (agitação mecânica horizontal) e químicos (solução

de hexametafosfato de sódio 0,015 M) para dispersão. A fração areia foi separada por

tamisação (peneira de 0,053 mm) e as frações silte e argila por sedimentação com base

na lei de Stokes (GEE; BAUDER, 1986).

As análises para fins de caracterização química das amostras foram

realizadas conforme metodologias dispostas em Embrapa (2011). As análises em

questão foram as seguintes: cátions trocáveis (Ca2+, Mg2+, Na+, K+, Al3+); acidez

potencial (H+ + Al3+, pelo método do acetato de cálcio 1 M a pH 7,0); fósforo

assimilável (“Mehlich-I”, determinação por colorimetria); ataques sulfúrico e alcalino

(% Fe2O3, % Al2O3, % SiO2, % MnO) e equivalente de carbonato de cálcio (representa

o percentual de CaCO3 na amostra).

Os teores totais dos elementos carbono (COT), nitrogênio (NT) e enxofre

(ST) foram determinados via oxidação seca, com o auxílio de um analisador elementar

(Leco CSN-1000), após a eliminação do carbono inorgânico com solução de HCl 6 M

(HUERTA-DIAZ; MORSE, 1992).

Por fim, a determinação de Fe, Al e Mn provenientes dos óxidos cristalinos

foi realizada partindo-se da metodologia proposta por Mehra e Jackson (1960), o

método do ditionito-citrato em sistema tamponado com bicarbonato de sódio (DCB), a

80 °C, em duas extrações. Já os teores de Fe, Al e Mn oriundos dos óxidos de baixa

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cristalinidade foram extraídos com solução de oxalato de amônio 0,2 M a pH 3,0, na

ausência de luz, de acordo com McKeague e Day (1966).

4.2.3.2 Determinação dos teores naturais dos metais nos solos

Os teores naturais dos metais nos solos foram determinados via extração

semitotal de acordo com o método EPA 3051A (USEPA, 2007), que é uma das

metodologias sugeridas pela resolução n° 420/2009 do CONAMA (CONAMA, 2009)

para a obtenção dos VRQs.

Para isso, alíquotas da TFSA anteriormente armazenada foram maceradas

em almofariz de ágata e passadas em peneira de 200 mesh (0,075 mm) com malha de

aço inoxidável. Em seguida, subamostras de aproximadamente 0,5 g desse material

foram transferidas para tubos de teflon, onde foram adicionados 9 mL de ácido nítrico e

3mL de ácido clorídrico concentrados, e, em virtude do elevado teor de carbono

orgânico das amostras, as mesmas foram então submetidas a pré-digestão por um

período de 12 horas, conforme as especificações do método de análise adotado.

Em seguida, os tubos foram submetidos a sistema fechado em forno de

microondas (Marca Milestone – Modelo Ethos One) por um período de 6 minutos na

rampa de temperatura, tempo necessário para atingir 140 ºC, sendo esta temperatura

mantida por mais 5 minutos. Após o resfriamento, as amostras foram transferidas para

balões volumétricos de 50 mL, que foram aferidos com solução de HNO3 2 % (v/v) para

se manter uma adequada acidez da solução e garantir a estabilidade dos elementos ali

presentes (USEPA, 2007).

Os extratos foram posteriormente analisados via espectrometria de emissão

atômica por plasma induzido (ICP-OES) (Marca Perkin Elmer – Modelo Optima 8300

DV) para a determinação das concentrações dos metais Al, Ba, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, Mn,

Mo, Ni, Pb, V e Zn. Os comprimentos de onda nos quais os metais foram analisados,

bem como o limite de detecção (LDM) e o limite de quantificação praticável (LQP) do

método são apresentados na Tabela 2. Tais parâmetros foram calculados conforme as

recomendações dispostas em Inmetro (2010).

As análises foram realizadas em triplicata e, paralelamente, foram feitas

provas em branco, as quais foram analisadas simultaneamente. Os ácidos utilizados nas

digestões foram previamente submetidos a um processo de bidestilação para a remoção

de quaisquer impurezas e o controle de qualidade da análise foi realizado com a

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utilização de amostras de solo com valores certificados dos metais (SRM 2709a San

Joaquin Soil - Baseline trace element concentrations), certificadas pelo National

Institute of Standards and Technology (NIST, 2009), bem como com o uso de soluções

de referência (spikes).

Tabela 2 - Comprimentos de onda utilizados para a leitura dos metais e limites de detecção e de quantificação praticável do método.

Elemento Comprimento

de onda (λ) Limite de detecção do método – LDMa

Limite de quantificação praticável – LQPb

nm mg L-1 mg kg-1

Al 396,153 5,535 16,449 Ba 233,527 0,301 1,004 Cd 228,802 0,483 0,694 Co 228,616 0,226 0,718 Cr 267,716 0,326 1,215 Cu 327,393 0,311 1,074 Fe 238,204 13,166 46,670 Mn 257,610 0,302 0,897 Mo 202,031 0,093 0,297 Ni 231,604 0,274 0,732 Pb 220,353 1,430 4,250 V 290,880 0,409 1,091 Zn 213,857 0,343 0,755 a Menor valor da concentração do metal que pode ser detectado pelo método. b Menor valor da concentração do metal que pode ser quantificado pelo método a um determinado nível de confiança.

4.2.4 Análise estatística

Os resultados analíticos foram avaliados por análise descritiva (média,

desvio padrão, coeficiente de variação), as correlações entre os teores dos metais e os

atributos do solo foram determinadas pelo cálculo do coeficiente de Spearman (a 5 % de

significância) e a normalidade dos dados das concentrações naturais dos metais foi

avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk (a 5 % de significância), todos com o auxílio do

programa OriginPro – versão 9.0. Já a interpretação dos dados das concentrações

naturais dos metais para a obtenção dos VRQs foi realizada de acordo com o disposto

em CONAMA (2009).

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4.3 RESULTADOS

4.3.1 Caracterização física e química dos solos

Os dados referentes aos principais atributos físicos e químicos dos solos

analisados são apresentados na Tabela 3. Observou-se que os valores de pH obtidos

(variação entre 5,81 e 6,97) evidenciaram condições moderadamente ácidas ou

próximas da neutralidade nas amostras, tendência essa comum em solos alagados

(PONNAMPERUMA, 1972; FERREIRA et al., 2007). Já os valores de Eh (valor médio

de -106,56 mV) indicaram o predomínio de condições anóxicas na camada superficial

dos solos (Eh ˂ 100 mV), o que está relacionado às inundações às quais as áreas de

manguezal são frequentemente submetidas (MARCHAND; LALLIER-VERGÈS;

BALTZER, 2003).

Os resultados da análise granulométrica indicaram o predomínio de areia

nas amostras analisadas, seguida das frações silte e argila, com teores médios de 47,44;

32,94 e 20,72 %, respectivamente, o que parece ter relação com o fato de as amostras

terem sido coletadas na profundidade de 0 – 20 cm, tendo em vista que o fluxo de água

na camada superficial do solo favorece o arraste das partículas menores (argila e silte)

durante o transporte das águas costeiras, justificando assim os teores obtidos.

Observou-se que os valores de CE variaram numa faixa entre 26,80 e 69,20

dS m-1, apresentando um valor médio de 40,86 dS m-1, valor este bastante elevado e que

está relacionado às condições de hipersalinização verificadas em solos de mangue

situados em contextos semiáridos (MORAIS et al., 2006), bem como a uma evaporação

diferenciada de fluidos salinos na camada superficial do solo (TAM; WONG, 1998). Já

os dados de Eq. Carb. obtidos, referentes à porcentagem de CaCO3 nas amostras,

apresentaram uma ampla faixa de variação (22,77 – 107,41 g kg-1), o que pode estar

refletindo possíveis diferenças existentes entre as áreas de coleta.

Em relação aos cátions trocáveis, observou-se o predomínio de Na+ no

complexo sortivo, apresentando uma concentração média de 20,50 cmolc kg-1, o que

influenciou diretamente na porcentagem de saturação por sódio (PST) das amostras

(variação entre 42,67 e 70,65 %). Os valores obtidos para a CTC variaram entre 14,35 e

61,85 cmolc kg-1, sendo influenciados pela presença de cátions básicos, principalmente

Na+ e Ca2+, e os dados da saturação por bases (V %) foram bastante elevados, com um

valor médio de 93,89 %.

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O teor médio de COT obtido nas amostras foi de 47,71 %, refletindo assim

o favorecimento do acúmulo de matéria orgânica nos solos de mangue (ROSSI;

MATTOS, 2002). Sobre o ST, cujo ciclo biogeoquímico é de grande importância para

as áreas de manguezal, os dados variaram entre 1,43 e 21,08 %, apresentando um valor

médio de 8,65 %. Por fim, em relação aos elementos Fe, Al e Mn presentes na forma de

óxidos observou-se que, tanto para o extrator DCB quanto para o oxalato, os valores

obedeceram à seguinte ordem: Fe ˃ Al ˃ Mn.

Tabela 3 - Atributos físicos e químicos das amostras de solo coletadas. Parâmetros Média Máximo Mínimo Desv. Padrão C.V. pH 6,26 6,97 5,81 0,24 3,86 Eh (mV) -106,56 -68,00 -126,00 16,25 -15,25 Argila (%) 20,72 41,00 3,00 11,41 55,04 Silte (%) 32,94 51,00 9,00 12,66 38,43 Areia (%) 47,44 88,00 19,00 19,87 41,88 CE (dS m-1) 40,86 69,20 26,80 9,46 23,15 Eq. Carb. (g kg-1) 55,81 107,41 22,77 22,18 39,74 P (mg kg-1) 19,57 29,80 3,50 8,76 44,76 Na (cmolc kg-1) 20,50 33,68 7,57 7,55 36,85 K (cmolc kg-1) 0,88 1,25 0,47 0,18 19,96 Ca (cmolc kg-1) 6,67 15,40 2,20 3,79 56,90 Mg (cmolc kg-1) 6,53 9,70 1,80 1,95 29,88 H+Al (cmolc kg-1) 2,24 12,21 0,00 3,19 142,60 SB (cmolc kg-1) 34,58 49,64 12,04 10,56 30,55 CTC (cmolc kg-1) 36,81 61,85 14,35 11,54 31,34 CTCe (cmolc kg-1) 34,59 49,84 12,04 10,58 30,59 PST (%) 55,41 70,65 42,67 9,19 16,59 V % 93,89 100,00 80,26 7,10 7,56 COT (%) 47,71 116,00 15,60 26,94 56,47 NT (%) 2,20 5,59 0,88 1,21 54,82 ST (%) 8,65 21,08 1,43 6,03 69,72 Fe2O3 (%) 3,11 4,19 1,05 0,87 28,08 Al2O3 (%) 9,36 14,16 2,96 3,22 34,35 MnO (%) 0,03 0,06 0,01 0,01 51,22 SiO2 (%) 17,20 26,79 5,30 5,89 34,24 FeDCB (g kg-1) 9,53 17,77 3,98 4,12 43,19 AlDCB (g kg-1) 1,62 2,19 1,16 0,28 17,08 MnDCB (g kg-1) 0,05 0,15 0,01 0,04 88,17 FeOXA (g kg-1) 5,49 8,21 1,83 1,94 35,37 AlOXA (g kg-1) 2,15 2,60 1,45 0,36 16,81 MnOXA (g kg-1) 0,05 0,16 0,01 0,04 88,58 Onde: SB = Na+K+Ca+Mg; CTC = SB + (H+Al); CTCe = SB+Al; PST = (Na/CTC) x 100; V % = (SB/CTC) x 100.

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106

4.3.2 Recuperação dos metais nas amostras certificadas

Os resultados referentes à recuperação dos metais nas amostras certificadas

são apresentados na Tabela 4 e os mesmos são comparados com os valores certificados

obtidos a partir da utilização de métodos de digestão semitotal nas amostras por NIST

(2009). De forma geral, observou-se que as taxas de recuperação dos metais nas

amostras de solo certificado foram satisfatórias (variação entre 81 e 114 %). Dentre os

elementos, Al, Cu, Fe, Pb e Zn foram os mais efetivamente recuperados, enquanto o Cd

apresentou a taxa de recuperação mais baixa (81 %). Diante disso, tais dados

evidenciam a qualidade do método empregado para a digestão das amostras e a

consequente determinação da concentração natural dos metais nos solos.

Tabela 4 - Recuperação dos metais no solo certificado (SRM 2709a San Joaquin Soil) pelo método EPA 3051A para a avaliação da qualidade analítica do método.

Elemento Valor Total

Valor Recuperadoa

Recuperação por

Lixiviadob

Valor Recuperado

Recuperação por

Lixiviadoc

Taxa de Recuperaçãod

------------ Certificado ------------ ------------- Determinado -------------

------ mg kg-1 ------ % mg kg-1 -------- % --------

Al 73700 16000 22 16816 23 104

Ba 979 380 39 327,03 33 86

Cd 0,371 0,4 110 0,33 89 81

Co 12,8 10 81 10,21 80 98

Cr 130 53 41 50,17 39 94

Cu 33,9 27 81 29,06 86 106

Fe 33600 24000 70 24394 73 104

Mn 529 420 79 391,13 74 94

Mo * * * 0,33 - -

Ni 85 66 77 56,73 67 87

Pb 17,3 9,2 53 10,42 60 114

V 110 48 44 48,27 44 100

Zn 103 79 77 79,94 78 101 a Valor semitotal certificado b (Valor recuperado certificado / Valor total certificado) x 100 c (Valor recuperado determinado / Valor total certificado) x 100 d (Recup. por lixiviado determinada / Recup. por lixiviado certificada) x 100 * Valores não determinados por NIST (2009)

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4.3.3 Teores naturais dos metais nos solos

Os resultados dos teores naturais dos metais nos solos analisados são

apresentados na Tabela 5. De forma geral, observou-se que os teores médios mais

baixos dos metais foram obtidos nos solos de mangue do estuário do rio Timonha

(E1→E8). Além disso, os maiores teores médios dos elementos Co, Cu, Mn, Ni, Pb, Al

e Fe foram verificados nos solos do estuário do rio Coreaú (E9→E13), ao passo que,

para os metais Ba, Cd, Cr, Mo, Pb e Zn, os maiores teores médios foram observados nos

solos do estuário do rio Aracati-Mirim (E14→E15).

Tabela 5 - Teores médios dos metais nos solos analisados. Estação Ba Cd Co Cr Cu Mn Mo Ni Pb V Zn Al Fe

--------------------------------------- mg kg-1 ---------------------------------------- --- g kg-1 ---

E1 30,66 0,87 6,01 31,19 12,25 90,79 2,54 10,87 10,20 30,19 39,60 15,52 17,55

E2 40,43 0,21 7,03 31,21 11,90 103,05 0,25 12,14 10,41 33,26 49,45 21,74 17,26

E3 45,51 0,25 6,36 26,05 10,08 126,12 0,68 11,52 11,38 29,97 47,45 13,34 17,05

E4 38,15 0,04 7,12 30,77 15,27 107,49 4,82 12,63 13,46 39,14 50,97 17,03 19,96

E5 31,47 0,30 4,85 22,56 9,41 111,35 1,26 9,02 8,99 27,16 41,36 14,65 16,04

E6 31,93 0,35 4,75 24,50 9,88 110,87 0,95 9,63 11,47 29,88 48,09 14,92 16,95

E7 32,10 0,45 7,14 27,59 15,16 123,65 7,51 10,41 12,31 40,24 46,60 16,60 21,10

E8 11,80 0,63 2,21 8,68 3,73 31,17 1,40 3,67 6,07 14,64 17,01 5,39 8,50 Média

(Timonha) 32,75 0,39 5,69 25,32 10,96 100,56 2,43 9,98 10,54 30,56 42,57 14,90 16,80

E9 39,00 0,35 7,16 26,62 12,50 231,02 0,15 11,72 11,45 33,90 48,93 15,34 19,66

E10 45,93 0,35 7,90 29,96 12,59 303,11 0,15 13,11 12,69 34,49 53,84 23,97 23,70

E11 57,97 0,35 7,10 43,43 18,18 232,77 0,15 16,69 14,00 48,99 71,31 60,33 27,43

E12 64,54 0,35 9,03 39,44 17,32 436,79 0,15 15,06 15,09 44,52 50,29 41,27 25,42

E13 43,49 0,24 5,11 28,40 10,57 77,47 0,57 11,04 12,80 39,04 46,50 22,48 22,85 Média

(Coreaú) 50,19 0,33 7,26 33,57 14,23 256,23 0,23 13,52 13,21 40,19 54,17 32,68 23,81

E14 38,40 2,13 4,58 26,37 7,75 61,25 1,37 9,06 7,25 26,44 31,62 13,85 14,91

E15 68,40 1,20 6,86 50,68 17,22 95,04 4,55 17,94 11,31 57,66 76,86 46,37 23,09 Média

(Aracati-Mirim)

53,40 1,67 5,72 38,53 12,48 78,14 2,96 13,50 9,28 42,05 54,24 30,11 19,00

Média 41,32 0,54 6,21 29,83 12,25 149,46 1,77 11,63 11,26 35,30 47,99 22,85 19,43

Máximo 68,40 2,13 9,03 50,68 18,18 436,79 7,51 17,94 15,09 57,66 76,86 60,33 27,43

Mínimo 11,80 0,04 2,21 8,68 3,73 31,17 0,15 3,67 6,07 14,64 17,01 5,39 8,50

Des. Pad. 14,33 0,53 1,67 9,59 3,94 107,30 2,19 3,42 2,43 10,31 14,08 14,85 4,76

C.V. 34,67 97,72 26,92 32,16 32,17 71,79 124,16 29,41 21,58 29,20 29,34 64,99 24,51

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Verificou-se que os valores máximos das concentrações dos metais foram

obtidos nas estações E7 (Mo), E11 (Cu, Al, Fe), E12 (Co, Mn, Pb), E14 (Cd) e E15 (Ba,

Cr, Ni, V, Zn). Já na estação E8 foram encontrados os valores mínimos dos teores de

todos os metais, exceto Cd e Mo. Os maiores coeficientes de variação das concentrações

dos metais foram obtidos para o Mo (124,16 %) e o Cd (97,72 %), ao passo que o Pb

apresentou o valor mais baixo para tal parâmetro (21,58 %).

Os resultados obtidos evidenciaram ainda que o comportamento dos metais

nos solos estudados é influenciado por interações entre os próprios metais, bem como

dos mesmos com os principais atributos físicos e químicos dos solos, conforme

ilustrado na Tabela 6. Dentre as principais correlações verificadas, observou-se, por

exemplo, que a fração argila se correlacionou positivamente com os metais Al, Ba, Co,

Cr, Fe, Mn, Ni, Pb e V, inferindo-se assim a importância de tal fração para a dinâmica

desses elementos no solo. Já os teores de COT e ST se correlacionaram positivamente

com o Mo (r = 0,83 e 0,86, respectivamente), o que pode estar indicando uma possível

influência da matéria orgânica e do enxofre sobre a adsorção e/ou retenção desse metal

no solo.

Observou-se ainda que os elementos Fe e Mn, que tendem a formar os

principais minerais adsorventes da fase sólida do solo, se correlacionaram positivamente

com os metais Al, Ba, Co, Cu, Ni, Pb V e Zn. As principais correlações do Al foram

verificadas com os elementos Fe e V (r = 0,93 e 0,92, respectivamente) e, além isso,

outras correlações importantes entre os metais foram obtidas: Cr com Cu e Ni (r = 0,83

e 0,88, respectivamente), Cu com Ni e Zn (r = 0,88 e 0,84, respectivamente), Ni e Zn (r

= 0,93), Pb e V (r = 0,80).

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Tabela 6- Matriz de correlação entre os parâmetros analisados (coeficientes de correlação de Spearman a 5 % de significância). Al Ba Co Cr Cu Fe Mn Mo Ni Pb V Zn Cd Arg. Sil. Are. pH Eh Eq. C. CE COT ST CTC Fed Mnd Feo Mno

Al 1,00

Ba 0,64 1,00

Co 0,63 0,59 1,00

Cr 0,73 0,59 0,57 1,00

Cu 0,60 0,56 0,79 0,83 1,00

Fe 0,93 0,68 0,78 0,68 0,70 1,00

Mn 0,47 0,49 0,82 0,33 0,61 0,62 1,00

Mo -0,30 -0,47 -0,25 -0,01 0,05 -0,29 -0,48 1,00

Ni 0,73 0,79 0,75 0,88 0,88 0,76 0,59 -0,18 1,00

Pb 0,78 0,53 0,62 0,42 0,46 0,83 0,60 -0,41 0,55 1,00

V 0,92 0,68 0,75 0,70 0,72 0,95 0,54 -0,14 0,77 0,80 1,00

Zn 0,60 0,64 0,63 0,78 0,84 0,60 0,57 -0,09 0,93 0,45 0,63 1,00

Cd -0,19 -0,14 -0,27 -0,15 -0,17 -0,16 -0,32 0,22 -0,27 -0,36 -0,17 -0,33 1,00

Arg. 0,88 0,51 0,53 0,52 0,45 0,87 0,49 -0,34 0,53 0,78 0,82 0,40 -0,15 1,00

Sil. 0,40 0,15 0,53 0,29 0,50 0,42 0,60 0,08 0,46 0,38 0,46 0,62 -0,45 0,39 1,00

Are. -0,75 -0,40 -0,55 -0,49 -0,55 -0,72 -0,59 0,11 -0,59 -0,70 -0,72 -0,64 0,42 -0,73 -0,80 1,00

pH -0,52 -0,34 -0,09 -0,30 -0,20 -0,42 -0,19 0,18 -0,25 -0,49 -0,48 -0,30 0,27 -0,68 -0,24 0,55 1,00

Eh -0,32 -0,18 -0,25 0,02 0,03 -0,36 -0,22 0,25 -0,13 -0,42 -0,31 -0,03 0,00 -0,40 -0,21 0,29 -0,08 1,00

Eq. C. 0,29 0,12 0,33 0,11 0,04 0,18 0,43 -0,25 0,23 0,23 0,19 0,29 -0,49 0,29 0,51 -0,37 -0,26 -0,11 1,00

CE 0,26 0,05 0,15 0,16 0,17 0,20 0,20 0,29 0,21 0,33 0,35 0,35 -0,55 0,34 0,69 -0,59 -0,54 -0,07 0,58 1,00

COT -0,13 -0,16 -0,04 0,23 0,23 -0,16 -0,28 0,83 0,10 -0,27 0,05 0,18 -0,10 -0,25 0,19 0,04 0,04 0,33 0,08 0,51 1,00

ST -0,24 -0,35 -0,12 0,07 0,12 -0,24 -0,26 0,86 -0,05 -0,25 -0,05 0,08 -0,11 -0,33 0,19 0,04 0,05 0,33 0,05 0,53 0,93 1,00

CTC 0,57 0,34 0,40 0,35 0,41 0,56 0,42 0,12 0,44 0,69 0,68 0,49 -0,41 0,57 0,55 -0,72 -0,63 -0,21 0,39 0,80 0,33 0,38 1,00

Fed 0,38 0,20 0,24 0,07 0,04 0,43 0,29 -0,61 0,10 0,33 0,23 -0,10 -0,11 0,51 -0,04 -0,23 -0,07 -0,50 -0,07 -0,35 -0,71 -0,75 -0,19 1,00

Mnd 0,38 0,35 0,71 0,32 0,47 0,46 0,87 -0,63 0,48 0,41 0,33 0,41 -0,40 0,36 0,39 -0,36 -0,02 -0,15 0,49 -0,03 -0,40 -0,42 0,09 0,48 1,00

Feo 0,18 0,14 0,28 0,00 0,03 0,27 0,27 -0,55 0,05 0,14 0,09 -0,13 -0,11 0,33 -0,04 -0,06 0,08 -0,50 -0,06 -0,39 -0,65 -0,71 -0,35 0,92 0,49 1,00

Mno 0,31 0,30 0,69 0,31 0,46 0,41 0,85 -0,59 0,46 0,33 0,27 0,40 -0,36 0,29 0,39 -0,32 0,04 -0,14 0,45 -0,07 -0,39 -0,40 0,03 0,46 0,99 0,50 1

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4.3.4 Estabelecimento dos valores de referência de qualidade (VRQs)

A interpretação dos dados das concentrações naturais dos metais para a

obtenção dos VRQs foi realizada conforme preconizado por CONAMA (2009). Dessa

forma, para as determinações dos metais onde todos os resultados analíticos obtidos

foram menores que o limite de quantificação praticável do método (LQP), foi adotado

“˂ LQP” como sendo o VRQ do metal (caso do Cd, que foi então excluído dos demais

procedimentos de interpretação estatística dos dados).

Já nos casos onde somente parte dos resultados obtidos foi menor que o

LQP, foi considerado como resultado na matriz de dados o valor LQP/2. Assim, para o

estabelecimento dos VRQs foi avaliada a necessidade de se excluir da matriz de dados

os resultados discrepantes (outliers). Através da avaliação dos gráficos mostrados nas

Figuras 2 e 3, verificou-se que, para todos os metais, não houve projeção de valores

outliers, evidenciando que a distribuição da concentração dos metais na camada

superficial dos solos de mangue do Estado do Ceará foi homogênea.

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Figura 2 - Distribuição dos metais Ba, Co, Cr, Cu, Mn e Mo nas estações de

amostragem.

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Figura 3 - Distribuição dos metais Ni, Pb, V, Zn, Fe e Al nas estações de amostragem.

Assim, o VRQ para cada metal (Al, Ba, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni,

Pb, V, Zn) foi estabelecido com base nos percentis 75 (P75; quartil superior) e 90 (P90)

do universo amostral, sendo os dados apresentados na Tabela 7. Observou-se que os

resultados dos VRQs obtidos com base no P90 foram superiores aos obtidos com base

no P75. No entanto, para os metais Co, Cu, Pb e Fe, verificou-se que os dois valores

obtidos foram relativamente próximos. Já para os elementos Ba, Cr, Mn, Ni, V, Zn, Mo

e Al as diferenças foram mais relevantes e, no caso do Mo e Al, foram bem mais

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expressivas, uma vez que o valor obtido com base no P90 é quase o dobro do obtido

com base no P75.

Tabela 7 - Valores de referência de qualidade para metais pesados em solos de mangue do Estado do Ceará.

Elemento P75 P90 Média Máximo Mínimo CV

Ba (mg kg-1) 45,93 64,54 41,32 68,40 11,80 35%

Cd (mg kg-1) < 0,69* 1,20 - - - -

Co (mg kg-1) 7,14 7,90 6,21 9,03 2,21 27%

Cr (mg kg-1) 31,21 43,43 29,83 50,68 8,68 32%

Cu (mg kg-1) 15,27 17,32 12,25 18,18 3,73 32%

Mn (mg kg-1) 231,02 303,11 149,46 436,79 31,17 72%

Mo (mg kg-1) 2,54 4,82 1,76 7,51 0,15 125%

Ni (mg kg-1) 13,11 16,69 11,63 17,94 3,67 29%

Pb (mg kg-1) 12,80 14,00 11,26 15,09 6,07 22%

V (mg kg-1) 40,24 48,99 35,30 57,66 14,64 29%

Zn (mg kg-1) 50,97 71,31 47,99 76,86 17,01 29%

Al (g kg-1) 23,97 46,37 22,85 60,33 5,39 65%

Fe (g kg-1) 23,09 25,42 19,43 27,43 8,50 25%

* Menor que o limite de quantificação praticável (LQP) do método.

4.4 DISCUSSÃO

4.4.1 Teores dos metais e os principais aspectos relacionados à sua dinâmica nos

solos

Em relação às variações observadas nas concentrações dos metais entre as

áreas estudadas, sabe-se que as mesmas podem estar relacionadas tanto à variabilidade

natural dos solos, sendo a distribuição dos metais controlada por processos naturais,

quanto à contribuição antrópica (TAM; YAO, 1998; PREDA; COX, 2002).

Nesse contexto, os menores teores médios dos metais verificados nos solos

de mangue do estuário do rio Timonha podem ter relação com o melhor estado de

preservação do mesmo, que está inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) Delta

do Parnaíba, onde a interferência antropogênica é mínima, ao passo que os estuários dos

rios Coreaú e Aracati-Mirim tendem a ser mais influenciados por atividades

desenvolvidas nas áreas do entorno e que, de certa forma, podem contribuir para um

incremento nas concentrações de alguns metais em seus solos.

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114

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE, 2014), das três áreas de estudo em questão, o município de Chaval (próximo do

estuário do rio Timonha) tem sua população estimada em 12.865 habitantes, ao passo

que os municípios de Camocim (próximo do estuário do rio Coreaú) e Itarema (próximo

do estuário do rio Aracati-Mirim) têm populações correspondentes a 61.918 e 39.494

habitantes, respectivamente. Além disso, sabe-se que uma das principais fontes de

contaminação dos recursos hídricos de uma determinada área é a descarga de efluentes

domésticos, cuja carga sólida particulada e matéria orgânica propiciam a adsorção de

metais como Cd, Cu, Cr, Ni, Pb e Zn, que têm suas concentrações fortemente

influenciadas por este tipo de despejo (PINTO et al., 2009; AGUIAR; MARINS;

ALMEIDA, 2007). Assim, diante do fato de que as maiores concentrações dos metais

em questão foram verificadas nos solos de mangue dos estuários dos rios Coreaú e

Aracati-Mirim, pode-se inferir que atividades relacionadas ao crescimento populacional

e ao estabelecimento de núcleos urbanos próximos dessas áreas podem estar

contribuindo para o acúmulo de tais metais em seus respectivos manguezais.

Os dados dos teores médios dos metais obtidos no presente trabalho e os de

outras áreas de manguezais do Brasil e do mundo são apresentados na Tabela 8.

Observou-se que os teores médios aqui obtidos foram, por exemplo, bem inferiores aos

determinados por Fernández-Cadena et al. (2014) em solos de mangue da costa noroeste

da América do Sul (Equador), situados em áreas que têm sido impactadas nos últimos

anos principalmente devido ao lançamento de águas residuais industriais, sendo as

maiores variações observadas nos teores de Ba, Cu, Ni, Pb, V e Zn, onde as diferenças

entre as concentrações obtidas variaram entre três (V) e treze vezes (Cu).

Em relação ao manguezal de Nansha, no sul da China, também influenciado

por atividades industriais, observou-se que as concentrações dos metais Cr, Cu, Mn, Ni,

Pb e Zn obtidas foram superiores às dos três estuários analisados no presente trabalho.

Wu et al. (2014) afirmam que a concentração de Cd nesses solos (média de 0,78 mg kg-

1) indica um estado de contaminação dos mesmos pelo metal em questão e atribuem tal

fato às descargas de efluentes industriais constantes nessa área. Convém ressaltar que tal

concentração é bem inferior à observada nos solos de mangue do estuário do rio

Aracati-Mirim (média de 1,67 mg kg-1), evidenciando que alguma atividade

desenvolvida nas áreas do entorno desse estuário pode estar contribuindo para um

incremento nos teores de Cd nesses solos, sugerindo-se, portanto, investigações mais

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detalhadas acerca da dinâmica desse metal nesse ambientes, bem como sobre possíveis

fontes poluidoras.

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Tabela 8 - Teores médios de metais em solos de mangue de diferentes áreas do mundo.

Localização Ba Cd Co Cr Cu Mn Mo Ni Pb V Zn Al Fe

Informações sobre as áreas mg kg-1 g kg-1

Timonha – Brasila 32,75 0,39 5,69 25,32 10,96 100,56 2,43 9,98 10,54 30,56 42,57 14,90 16,80 Preservado

Coreaú – Brasila 50,19 0,33 7,26 33,57 14,23 256,23 0,23 13,52 13,21 40,19 54,17 32,68 23,81 Urbanização

Aracati-Mirim – Brasila 53,40 1,67 5,72 38,53 12,48 78,14 2,96 13,50 9,28 42,05 54,24 30,11 19,00 Urbanização

Mala Bay – Panamáb - <10 - 23,30 56,30 295,00 - 27,30 78,20 - 105,00 - 9,83 Poluição

Ciénaga – Colômbiac - 1,92 - 13,20 23,30 623,00 - 32,50 12,60 - 91,00 - 15,59 Relativamente poluído

Queensland – Austráliad - 0,60 - 1-72 1-12 103,00 - 9,00 36,00 - 23-56 - 1,06 Relativamente poluído

São Paulo – Brasile - 1,63 - - 15,42 - - - - - 59,90 - 2,53 Poluição

São Paulo – Brasile - 0,60 - - 3,82 - - - - - 24,20 - 2,46 Preservado

Hong Kong – Chinaf - 1,20 - 33,00 67,10 - - 70,80 135,00 - 222,00 - 1,76 Poluição

Estero Salado – Equadorg 291,48 0,97 14,79 54,40 161,69 338,45 3,19 49,48 45,24 127,65 390,19 52,48 34,17 Atividades industriais

Nansha – Chinah - 0,78 - 155,00 113,00 880,00 - 48,40 55,30 - 159,00 - - Atividades industriais

Espirito Santo – Brasili - - - 103,00 21,00 160,00 - 42,00 41,00 - 88,00 86,00 50,00 Relativamente preservado

Rio Sinnamary - Guiana Francesaj - - 18,86 59,80 17,79 539,41 - 31,70 26,94 - 164,10 - 44,18 Preservado

Rio Kaw - Guiana Francesaj - - - 55,64 - 528,98 - 35,22 26,94 - 173,91 - 47,38 Preservado

Sydney – Austráliak - 0,59 4,60 30,00 42,00 - - 9,50 95,00 - 156,00 - - Cidades, indústrias

Ash Island – Austrálial - 0,65 15,00 41,00 37,00 92,00 - 47,00 29,00 - 161,00 53,28 72,85 Agricultura e indústrias

Ash Island – Austrálial - 0,43 14,00 40,00 29,00 358,00 - 35,00 30,00 - 138,00 39,10 46,98 Floresta natural

Baía Conception - Nova Caledôniam - - 8,25 63,44 13,98 159,30 - 65,16 - - 88,26 - 18,58 Urbanização e mineração a Presente estudo; b Defew; Mair; Guzman, 2005; c Perdomo et al., 1998; d Preda; Cox, 2002; e Harris; Santos, 2000; f Che, 1999; g Fernández-Cadena et al., 2014; h Wu et al., 2014; i Jesus et al., 2004; j Marchand et al., 2006; k Chaudhuri; Nath; Birch, 2014; l Nath; Birch; Chaudhuri, 2013; m Marchand; Allenbach; Lallier-Vergès, 2011.

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Conforme destacado anteriormente, um fator que também deve ser

considerado em avaliações sobre o conteúdo de metais pesados nos solos é a possível

influência de áreas urbanas. Nesse contexto, verificou-se que os teores dos metais

obtidos nos solos de mangue da região estuarina dos rios Santa Maria da Vitória e Bubu

(Espírito Santo – Brasil) foram mais elevados que os aqui encontrados, principalmente

os de Cr, Ni e Pb. Apesar da área em questão ser considerada relativamente preservada,

seus elevados teores de metais podem estar relacionados ao fato de o trecho inferior da

bacia hidrográfica desses dois rios ser ocupado por áreas urbanas, recebendo assim

diversos tipos de efluentes (esgotos, resíduos sólidos metálicos, indústrias) (JESUS et

al., 2004), os quais acabam por comprometer as áreas de mangue adjacentes.

Além das atividades antrópicas, outros fatores influenciam o

comportamento dos metais nos ambientes estuarinos, afetando a mobilidade e a

disponibilidade desses elementos, que são governadas por processos de

sorção/dessorção, precipitação/dissolução e complexação/descomplexação (LAING et

al., 2009), os quais podem ser controlados por parâmetros físicos e químicos do solo,

relação essa ilustrada pelas correlações obtidas entre os teores dos metais e os principais

atributos dos solos analisados (Tabela 6).

Nesse contexto, sabe-se que os metais, que são positivamente carregados,

podem ser atraídos pelas superfícies negativas da matéria orgânica, partículas de argila e

óxidos de ferro, influenciando a CTC do solo (LAING et al., 2009), o que justifica as

correlações observadas entre alguns metais e tais parâmetros.

Verificou-se que a fração argila se correlacionou positivamente com os

metais Al, Ba, Co, Cr, Fe, Mn, Ni, Pb e V, sendo as maiores correlações verificadas

com o Al, Fe e V (r = 0,88, 0,87 e 0,82, respectivamente), evidenciando que a mesma

possui um papel importante na mobilidade e distribuição desses elementos no solo

(PREDA; COX, 2002), fato que está diretamente relacionado à maior superfície

específica dessa fração (TAM; WONG, 2000; MARCHAND et al., 2006), o que

justifica a sua maior afinidade para reter metais pesados (WU et al., 2014). Já a areia,

por exemplo, se correlaciona negativamente com grande parte dos metais, tendo em

vista que as frações mais finas do solo é que possuem os principais minerais

adsorventes e exercem uma maior influência sobre a distribuição dos metais no sistema

(PAYE; MELLO; MELO, 2012).

Além disso, no caso da correlação da fração argila com o Fe (r = 0,87),

sabe-se que a mesma pode ser justificada pelo fato de grande parte desse elemento estar

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associada a argilominerais, pirita e óxidos de ferro que compõem essa fração nos solos

estudados (BIONDI et al., 2011; PREDA; COX, 2002).

Com o objetivo de se obter informações mais detalhadas acerca da

distribuição dos metais nos solos analisados foi utilizada uma técnica de estatística

multivariada chamada análise de agrupamento (hierárquico – tipo Cluster; método

Ward; distância euclidiana). Assim, tal análise possibilitou a reunião dos teores dos

metais em quatro grupos, sendo os resultados expressos em um dendograma (Figura 4),

o qual identifica a semelhança ou não entre os grupos. Dessa forma, observou-se que os

mesmos estão divididos da seguinte maneira: Grupo 1 (formado pelas estações E1, E6,

E3, E5, E14, E4, E7, E9), Grupo 2 (formado pela estação E8), Grupo 3 (formado pelas

estações E2, E10, E13) e Grupo 4 (formado pelas estações E11, E12 e E15).

Figura 4 - Dendograma de classificação das quinze estações de amostragem em quatro

grupos em função dos teores dos treze metais analisados.

Analisando-se a composição de cada grupo, observou-se que os grupos 3 e 4

são formados pelas estações de amostragem onde foram obtidos os maiores teores

médios de metais, ao passo que os grupos 1 e 2, constituídos em sua maioria por

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estações situadas no estuário do rio Timonha, englobam os pontos onde foram

verificados os teores médios mais baixos de metais, conforme ilustrado na Figura 5.

Figura 5 - Concentração média dos metais nos quatro grupos obtidos.

Com base na Figura 5, observou-se que os menores teores médios dos

metais foram verificados no grupo 2 (E8), exceto para Cd e Mo. O baixo teor de metais

no grupo em questão parece estar relacionado ao conteúdo de argila presente em E8,

que, dentre todas as estações, apresentou o teor mais baixo da referida fração (4 %). A

importância da argila para a retenção dos metais nos solos é apontada por diversos

autores (PREDA; COX, 2002; TAM; WONG, 2000; WU et al., 2014; MARCHAND et

al., 2006) e é evidenciada pelas correlações positivas obtidas entre tal fração e os metais

nos solos analisados (Tabela 6). De forma contrária, os maiores teores médios dos

metais verificados no grupo 4 (E11, E12, E15) podem estar relacionados aos maiores

teores de argila presentes nas estações em questão (variação entre 31 e 41 %).

As condições climáticas de uma determinada área também influenciam a

dinâmica dos metais nos solos de mangue. Assim, uma elevada salinidade do meio,

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evidenciada por parâmetros como a CE, pode favorecer a dessorção de metais no solo,

promovendo uma maior solubilidade dos mesmos e diminuindo sua concentração no

solo (LUIZ-SILVA et al., 2006), o que pode ser exemplificado pela correlação

verificada entre a condutividade elétrica e os teores de Cd (r = -0,55). O aumento da

salinidade do meio é acompanhado de um aumento na concentração de cátions como

Na, K, Ca e Mg, os quais competem com os metais presentes no solo pelos sítios de

sorção, favorecendo a mobilização de metais sob a forma de cloretos (LAING et al.,

2009; JESUS et al., 2004). No caso do Cd, o CdCl2 formado é estável e possui uma

solubilidade elevada, enquanto a afinidade de adsorção para a fase sólida do solo é

baixa. Assim, haverá uma diminuição da atividade do Cd2+ livre no meio e a dessorção

do metal tende a aumentar (LAING et al., 2009), explicando, portanto, a correlação

obtida.

Em relação ao Mo, verificou-se que tal elemento se correlacionou

positivamente com o teor de ST (r = 0,86), evidenciando a adsorção ou co-precipitação

desse elemento juntamente com sulfetos presentes nesses ambientes (LAING et al.,

2009), e com o teor de COT (r = 0,83), inferindo-se que a matéria orgânica do meio

possa ter um papel importante na retenção desse elemento no solo (CAMARGO;

SANTOS; ZONTA, 1999; PREDA; COX, 2002). Em estudos sobre a distribuição de

metais em solos do sistema estuarino da Ilha de Vitória (Estado do Espírito Santo –

Brasil), Jesus et al. (2004) encontraram correlações pouco significativas entre o teor de

matéria orgânica e os metais e apontam que em solos muito salinos o material orgânico

tem uma importância secundária na retenção/complexação de metais quando

comparada, por exemplo, à exercida pelos óxidos de Fe e Mn e aos sulfetos.

Sobre os metais Fe e Mn, sabe-se que a determinação das concentrações

desses elementos, que não são diretamente referenciados em legislações ambientais, é

de grande relevância para estudos de geoquímica, possibilitando, inclusive, inferências

sobre os teores de outros metais (BIONDI et al., 2011). Além disso, os oxihidróxidos

desses elementos e, no caso do ferro, também a pirita, são eficientes na imobilização de

alguns metais através de processos de co-precipitação ou adsorção (LAING et al., 2009;

JESUS et al., 2004; PREDA; COX, 2002; MARCHAND et al., 2006; PÉREZ et al.,

2006), o que justifica as correlações verificadas entre tais elementos e os metais Al, Ba,

Co, Cu, Ni, Pb, V e Zn.

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4.4.2 Valores de referência de qualidade dos solos

De acordo com CONAMA (2009), o estabelecimento dos valores de

referência de qualidade deve ser realizado com base no percentil 75 ou 90 do universo

amostral. Os VRQs de Estados brasileiros como Rio Grande do Norte, Minas Gerais,

São Paulo, Mato Grosso e Rondônia foram determinados utilizando-se o P75

(PRESTON et al., 2014; COPAM, 2011; CETESB, 2001; SANTOS; ALLEONI, 2012)

e, sobre isso, Santos e Alleoni (2012) afirmam que o mesmo é mais rigoroso, uma vez

que exclui 25 % dos valores mais altos, o que pode garantir uma maior segurança

ambiental.

Entretanto, Paye et al. (2010) apontam que a utilização desses valores mais

restritivos implica em um aumento de casos de solos suspeitos de contaminação, o que

pode comprometer o gerenciamento de áreas contaminadas por parte dos órgãos

ambientais. Os mesmos autores acrescentam que, levando-se em consideração que os

VRQs são obtidos a partir de áreas onde a influência antrópica é mínima ou desprezível,

os valores que extrapolam o P75 nem sempre evidenciam um comprometimento da

qualidade ambiental dos solos e podem simplesmente representar a variabilidade natural

dos mesmos. Assim, os autores afirmam que uma opção razoável seria a de se adotar o

P90 (menos restritivo) ou se adotar vários valores dentro de um mesmo Estado.

Dessa forma, a Tabela 9 apresenta os dados dos VRQs dos metais aqui

obtidos tanto com base no P75 quanto no P90. Observou-se que, mesmo em casos como

o do Mo, onde a diferença entre os valores é de quase o dobro, os dois VRQs

encontrados para os metais estão bem abaixo dos valores de prevenção (VP) adotados

atualmente pelo CONAMA (Tabela 9). Entretanto, no caso do Cd, verificou-se que o

VRQ obtido com base no P90 (1,20 mg kg-1) foi próximo do VP desse elemento (1,3

mg kg-1), o que reforça a necessidade de um monitoramento dos níveis desse metal nos

solos de mangue do Estado.

Os VRQs dos metais propostos no presente trabalho (referentes à classe dos

Gleissolos do Estado), bem como os valores de referência de qualidade estabelecidos

para a avaliação das diversas classes de solo de alguns Estados do Brasil estão dispostos

na Tabela 9. Observou-se, por exemplo, que os valores aqui definidos para os metais Ni

e Zn (13,11 – 16,69 e 50,97 – 71,31 mg kg-1, respectivamente) foram bem mais

elevados que os obtidos para os Estados de Rondônia e Mato Grosso (2,1 – 3,2 e 3,0 –

9,3 mg kg-1, respectivamente), ao passo que, para o Co, os valores de tais Estados foram

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mais elevados (21,3 – 23 mg kg-1). Além disso, quando comparados aos valores

definidos para o Estado de São Paulo, verificou-se que os valores aqui propostos para os

metais Co, Cu e V são mais baixos que os do Estado em questão.

Nesse contexto, percebe-se que as diferenças verificadas entre os valores de

referência aqui obtidos e os determinados para os diferentes Estados brasileiros estão

relacionadas à diversidade de materiais de origem e classes de solos, bem como de

fatores e processos de formação dos mesmos, os quais influenciam diretamente o teor de

metais pesados no sistema (PRESTON et al., 2014; SANTOS; ALLEONI, 2012;

PÉREZ et al., 2006), inferindo-se, portanto, a necessidade de se estabelecer padrões de

referência de acordo com as características de cada local e, principalmente, levando-se

em consideração as peculiaridades dos solos que serão analisados.

Tabela 9 - Valores orientadores de qualidade para solos de diferentes locais do Brasil.

Ba Cd Co Cr Cu Mn Mo Ni Pb V Zn Al Fe

------------------------------------------ mg kg-1 ------------------------------------------ --- g kg-1 ---

Presente estudo

P75 45,93 ˂ 0,69 7,14 31,21 15,27 231,02 2,54 13,11 12,80 40,24 50,97 23,97 23,09

P90 64,54 1,20 7,90 43,43 17,32 303,11 4,82 16,69 14,00 48,99 71,31 46,37 25,42

CONAMAa VP 150,00 1,30 25,00 75,00 60,00 - 30,00 30,00 72,00 - 300,00 - -

RO e MTb P75 - ˂ 0,3 21,30 44,80 20,60 - - 2,10 9,00 - 3,00 - -

P90 - ˂ 0,3 23,00 59,10 25,90 - - 3,20 12,70 - 9,30 - -

ESc P75 - ˂ 0,13 10,21 54,13 5,91 137,80 1,74 9,17 ˂ 4,54 - 29,87 - -

P90 - ˂ 0,13 14,56 68,81 10,78 253,01 3,36 17,22 8,92 - 49,32 - -

SPd P75 75,00 ˂ 0,5 13,00 40,00 35,00 - ˂ 4 13,00 17,00 275,00 60,00 - -

RNe P75 58,91 0,10 15,41 30,94 13,69 - - 19,84 16,18 28,71 23,85 - -

P90 114,06 0,13 23,41 53,75 23,50 - - 32,90 25,55 42,16 42,44 - - a CONAMA, 2009 - valores determinados com base em análises de risco; b Santos; Alleoni, 2012 – extração pelo método 3051A; c Paye et al., 2010 – extração pelo método 3052; d CETESB, 2001 – extração pelo método da água régia; e Preston et al., 2014 – extração pelo método 3051A.

Nos dias atuais, onde os impactos na zona costeira são cada vez mais

frequentes, percebe-se a preocupação dos países em se adotar diretrizes que possam

auxiliar os órgãos ambientais nos processos de monitoramento dessas áreas. Na Tabela

10 são apresentados alguns parâmetros utilizados na avaliação da qualidade de

sedimentos e/ou solos de ambientes costeiros em outras partes do mundo. Observou-se

que, de forma geral, os valores de referência de qualidade propostos no presente

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trabalho como ferramentas para a gestão das áreas de manguezais do Estado do Ceará,

juntamente com os valores de prevenção adotados atualmente pelo CONAMA, estão em

concordância com os parâmetros listados, existindo, porém, algumas exceções.

Verificou-se, por exemplo, que os VRQs estabelecidos para os metais Cr,

Cu, Pb e Zn, os quais foram obtidos a partir dos teores desses elementos em áreas onde

a interferência antropogênica é mínima ou desprezível, representam solos considerados

“limpos” pela legislação portuguesa utilizada para a classificação de materiais coletados

em ambientes costeiros (CAEIRO et al., 2005), inferindo-se assim que os mesmos

refletem, de fato, a qualidade natural dos solos analisados.

Já as diretrizes adotadas na Flórida para a avaliação da qualidade de

sedimentos relacionados às águas costeiras (FDEP, 2014) são bem mais restritivas que

os parâmetros aqui propostos, uma vez que seus limites inferiores de concentrações dos

metais (níveis de efeito limiar; estimam a concentração do metal abaixo da qual os

efeitos adversos do mesmo raramente ocorrem) (MACDONALD et al., 1996) são bem

mais baixos que os valores de prevenção (concentração de valor limite de determinada

substância no solo tal que ele seja capaz de sustentar suas funções principais) adotados

atualmente pelo CONAMA, sendo as maiores diferenças verificadas para o Zn e Pb

(variações de 176 e 41,80 mg kg-1, respectivamente) e as menores para o Ni.

Observou-se ainda que os parâmetros utilizados pelas legislações da

Austrália e da Nova Zelândia (ANZECC; ARMCANZ, 2000), bem como de Hong

Kong (CHAPMAN; ALLARD; VIGERS, 1999) no monitoramento de Cr e Cu são

próximos dos valores de prevenção adotados pelo CONAMA, mas são bem mais

restritivos no caso do Zn (200 mg kg-1; VP de 300 mg kg-1 no Brasil). Em relação ao Ni

e Pb, verificou-se que os VP adotados pela legislação brasileira são mais permissivos,

por exemplo, que os valores adotados na Austrália e na Nova Zelândia, ao passo que

Hong Kong possui limites inferiores das concentrações desses metais estimados em 40 e

75 mg kg-1, respectivamente.

Por fim, no caso do Cd, observou-se que o VRQ proposto para o metal em

questão (P90; 1,20 mg kg-1) é bem próximo das concentrações limites adotadas pelas

legislações da Austrália, Nova Zelândia e Hong Kong, bem como já é indicativa de

áreas comprometidas de acordo com os parâmetros de Portugal e da Flórida, o que

corrobora com a necessidade dos teores desse elemento e sua dinâmica serem melhor

avaliados nos solos analisados, conforme explicado anteriormente.

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Tabela 10 - Parâmetros utilizados na avaliação da qualidade de sedimentos e/ou solos de ambientes costeiros em diversas partes do mundo. Ba Cd Co Cr Cu Mn Mo Ni Pb V Zn Al Fe

---------------------------------------------------------- mg kg-1 ----------------------------------------------------- -- g kg-1 --

VRQ P75* 45,93 ˂ 0,69 7,14 31,21 15,27 231,02 2,54 13,11 12,80 40,24 50,97 23,97 23,09

VRQ P90* 64,54 1,20 7,90 43,43 17,32 303,11 4,82 16,69 14,00 48,99 71,31 46,37 25,42

VP* 150,00 1,30 25,00 75,00 60,00 - 30,00 30,00 72,00 - 300,00 - -

Hong Kong - limite inferiora - 1,50 - 80,00 65,00 - - 40,00 75,00 - 200,00 - -

Hong Kong - limite superiora - 9,60 - 370,00 270,00 - - - 218,00 - 410,00 - -

Austrália e Nova Zelândia - limite inferiorb

- 1,50 - 80,00 65,00 - - 21,00 50,00 - 200,00 - -

Austrália e Nova Zelândia - limite superiorb

- 10,00 - 370,00 270,00 - - 52,00 220,00 - 410,00 - -

Portugal – limpoc - < 1 - < 50 < 35 - - - < 50 - < 100 - -

Portugal - minimamente contaminadoc

- 1 – 3 - 50 - 100 35 – 150 - - - 50 – 150 - 100 - 600 - -

Portugal - levemente contaminadoc

- 3 – 5 - 100 – 400 150 – 300

- - - 150 – 500 - 600 - 1500 - -

Portugal – contaminadoc - 5 – 10 - 400 – 1000 300 – 500

- - - 150 – 500 - 1500 - 5000 - -

Portugal - fortemente contaminadoc

- > 10 - > 1000 > 500 - - - 500 - 1000 - > 5000 - -

Flórida - limite inferiord - 0,67 - 52,30 18,70 - - 15,90 30,20 - 124,00 - -

Flórida - limite superiord - 4,21 - 160,00 108,00 - - 42,80 112,00 - 271,00 - - * Presente estudo; a Chapman; Allard; Vigers, 1999; b ANZECC; ARMCANZ, 2000 (Austrália e Nova Zelândia); c Caeiro et al., 2005; d FDEP, 2014; MacDonald et al., 1996.

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4.4.3 Estudo de caso: avaliação da qualidade dos solos de mangue do estuário do

rio Ceará

A Área de Proteção Ambiental (APA) do estuário do rio Ceará está

localizada na divisa das cidades de Fortaleza e Caucaia e possui uma área de

aproximadamente 2.744,89 ha, abrangendo cerca de 500 ha de manguezais. Apesar de

sua importância econômica, social e ecológica, as áreas de mangue do referido estuário

têm sido submetidas a diversos tipos de tensões ambientais, estando, inclusive, sob um

constante estado de risco ambiental (ANDRADE; ALMEIDA, 2012).

Dentre os principais impactos evidenciados nessas áreas, podem ser citados:

ocupação desordenada e irregular nas margens do rio, acúmulo de lixo, ausência e/ou

ineficiência do sistema de saneamento básico, desmatamento da mata ciliar, ocupação

das dunas, pesca predatória, poluição do rio e degradação do ecossistema manguezal

(ARAÚJO et al., 2008; ANDRADE; ALMEIDA, 2012).

Sobre a presença de metais pesados nessas áreas, sabe-se que a mesma está

diretamente relacionada a atividades decorrentes do alto crescimento populacional (ex:

lançamento de esgotos domésticos) e do complexo industrial estabelecido nas áreas do

entorno (ex: indústrias de plásticos, têxtil, galvanoplastia), que resultam na descarga de

efluentes ricos em metais como Cd, Zn e Cr no rio principal e em seus afluentes, o que

acaba por comprometer o estuário em toda a sua extensão (solo, água, biota)

(GONÇALVES; FREIRE; NASCIMENTO NETO, 2007).

Nesse contexto, avaliando-se os teores de metais dos solos de mangue do

estuário em questão (através do EPA 3051A), verificou-se que, com exceção do Cd,

todas as concentrações dos metais obtidas foram inferiores aos VRQs (P75 e P90) e aos

VP aqui propostos como ferramentas de gestão e monitoramento dos solos de ambientes

costeiros do Estado, o que é ilustrado nas Figuras 6 e 7, onde também é possível se

comparar os teores médios dos metais dos solos de mangue do estuário do rio Ceará e

os dos outros estuários analisados no presente trabalho.

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Figura 6 - Teores médios dos metais Ba, Cd, Co, Cu, Mn, Mo, Ni, Pb e V nos solos de mangue analisados.

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Figura 7 - Teores médios dos metais Zn, Cr, Al e Fe nos solos de mangue analisados.

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Entretanto, sabe-se que a concentração absoluta de metais nesse tipo de solo

não necessariamente indica o grau de contaminação do mesmo, tendo em vista que

metais tanto de fontes naturais como antropogênicas se acumulam nesses ambientes e,

além disso, aspectos relacionados à mineralogia e à composição granulométrica desses

solos podem afetar a concentração de metais nos mesmos (TAM; YAO, 1998). Assim,

um ponto a ser considerado é que os teores de metais nos solos de mangue do estuário

em questão podem estar sendo influenciados pelo seu conteúdo de argila (variação entre

3 e 11 %), o qual está relacionado à retenção de metais nesses solos, refletindo assim

nas concentrações obtidas.

Diante das evidências de que a influência antropogênica sobre as áreas de

mangue do referido estuário tem se mostrado intensa e contínua nos últimos anos, os

fatores de enriquecimento (FE) dos metais nos solos de mangue dos quatro estuários

foram determinados. Tais parâmetros propiciam a obtenção de informações sobre a

origem dos metais nesses ambientes (antropogênica ou natural), bem como sobre o grau

de contaminação dos mesmos, mostrando assim a magnitude das mudanças induzidas

pelo homem nessas áreas (CHAUDHURI; NATH; BIRCH, 2014; FERNÁNDEZ-

CADENA et al., 2014; ESSIEN; ANTAI; OLAJIRE, 2009).

Dessa forma, sabe-se que o FE tem sido calculado para solos de mangue

tomando-se como base uma abordagem geoquímica utilizada para compensar a

variabilidade natural dos metais nesses solos através da normalização das concentrações

dos metais para as concentrações de um elemento normalizador, a fim de que os efeitos

das variações granulométricas e mineralógicas sejam minimizadas, quantificando-se

assim a concentração do elemento de interesse no solo em relação ao seu background

geoquímico (TAM; YAO, 1998; LUIZ-SILVA et al., 2006; ESSIEN; ANTAI;

OLAJIRE, 2009).

No presente estudo utilizou-se como normalizador o Al, que é bastante

empregado em normalizações de sedimentos marinhos em virtude de apresentar entrada

antropogênica desprezível e de se comportar de forma conservadora em ambientes

marinhos normais (HERUT; SANDLER, 2006; AGUIAR; MARINS; ALMEIDA,

2007). Assim, o FE dos metais foi calculado de acordo com a Equação 1:

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.......................................................................................... (Equação 1)

Onde M é a concentração do metal no solo analisado (s) e em relação ao seu

background geoquímico (b).

Os dados dos FE dos metais nos solos analisados são apresentados na Figura

8. Verificou-se que, de forma geral, os maiores valores para o parâmetro em questão

foram obtidos nos solos de mangue do estuário do rio Ceará, sendo os valores mais

expressivos encontrados para os elementos Cu, Pb, Zn e Cd. Tais resultados indicam um

incremento nas concentrações dos metais nesses solos em virtude de atividades

desenvolvidas nas áreas do entorno, principalmente as relacionadas ao avanço da

urbanização e da industrialização, conforme abordado anteriormente.

Figura 8 - Fatores de enriquecimento (FE) dos metais nos solos de mangue dos quatro

estuários analisados.

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Além disso, os resultados apresentados evidenciam que metais

potencialmente tóxicos estão armazenados nos solos de mangue do estuário em questão.

Em relação ao Pb e Cd, por exemplo, sabe-se que os mesmos estão na lista das

substâncias mais perigosas da Agência para Substâncias Tóxicas e Registro de Doença

Americana (ATSDR, 2013), representando, portanto, um risco ecotoxicológico

potencial.

Assim, percebe-se a necessidade do fortalecimento de programas de

políticas públicas que visem a restauração e a recuperação dos recursos naturais e que

integrem os aspectos sócio-econômicos e as ciências naturais, levando-se em

consideração o risco potencial de uma eventual remobilização dos metais nesses solos

(FERNÁNDEZ-CADENA et al., 2014), tendo em vista que trata-se de uma área de

mangue submetida a diversas tensões ambientais nos dias atuais.

Nesse contexto, a situação requer uma avaliação por parte do órgão

ambiental responsável no sentido de se verificar a ocorrência natural dos metais

anteriormente citados, mas, principalmente, de se identificar as principais fontes de

poluição, bem como adotar ações preventivas de controle, se for o caso. A legislação

brasileira prevê ainda que os empreendimentos que desenvolvem atividades com

potencial de contaminação deverão, a critério do órgão ambiental competente, implantar

um programa de monitoramento de qualidade do solo na área do empreendimento e na

sua área de influência direta, além de apresentar um relatório técnico conclusivo sobre a

qualidade do recurso natural em questão a cada solicitação de renovação de licença e

previamente ao encerramento das atividades. Assim, percebe-se a necessidade de ações

de planejamento e gestão dessas áreas que priorizem a população potencialmente

exposta, a proteção dos recursos hídricos, além da presença de áreas de interesse

ambiental (CONAMA, 2009).

Por fim, um aspecto a ser observado é que os gráficos das Figuras 6 e 7

evidenciam que os VRQs dos metais obtidos com base no P75 são, de certa forma, bem

mais restritivos que os determinados com base no P90, tendo em vista que, em alguns

casos, seus valores chegam a ser menores que os teores médios de metais em áreas onde

a interferência antropogênica é considerada mínima ou desprezível. Assim, diante do

exposto, percebe-se que, para os solos de mangue do Estado do Ceará, a adotação dos

VRQs obtidos com base no P90 é mais prudente como uma ferramenta de avaliação da

qualidade desses solos. Além disso, é oportuno destacar que, em áreas onde há suspeita

de contaminação, o VRQ não deve ser utilizado de forma isolada, sendo necessárias

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outras avaliações (ex: determinação do fator de enriquecimento, ensaios de adsorção e

análises de extração sequencial de metais) que permitem, por exemplo, determinar o

potencial de mobilidade e biodisponibilidade ambiental dos metais, bem como

possibilitam a identificação da fração do solo que retém um determinado elemento

(PÉREZ et al., 2006), contribuindo assim para que a influência antrópica nessas áreas

possa ser melhor dimensionada.

4.5 CONCLUSÕES

Os teores de metais pesados nos solos de mangue do Estado do Ceará são

diretamente influenciados por fatores de ordem natural, bem como por aspectos

relacionados à intensidade da interferência antropogênica nos ambientes costeiros. Além

disso, a distribuição de tais elementos nesses ambientes é regida por interações entre os

próprios metais e dos mesmos com os principais atributos físicos e químicos desses

solos, tendo a fração argila e os óxidos de ferro e manganês um papel relevante na

adsorção e/ou retenção dos metais no sistema.

Nos dias atuais, onde os impactos evidenciados na zona costeira são cada

dia mais frequentes, a determinação de valores de referência de qualidade para metais

pesados em solos de mangue constitui uma importante ferramenta de gestão dos

ambientes estuarinos. Nesse contexto, é importante destacar a necessidade de se

estabelecer padrões de referência que levem em consideração as características de cada

local, bem como as peculiaridades dos solos a serem analisados, a fim de que o processo

de monitoramento ambiental seja condizente com a realidade da área em estudo.

Diante disso, os teores naturais dos metais determinados nos solos

analisados no presente estudo podem servir de base para a definição dos valores de

referência de qualidade para os solos de mangue do Estado do Ceará, auxiliando o órgão

ambiental responsável na formulação de uma legislação específica para o

monitoramento das áreas de manguezal do Estado.

Os dados das concentrações de Cd aqui obtidas apontam para a necessidade

de investigações mais detalhadas acerca da dinâmica e dos teores naturais desse metal

nesses ambientes, tendo em vista que o valor de referência obtido para o metal em

questão foi próximo do valor de prevenção adotado atualmente pela legislação

brasileira.

Em relação às áreas de mangue do estuário do rio Ceará, os elevados fatores

de enriquecimento de metais obtidos para seus solos evidenciam o incremento nas

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concentrações desses elementos em decorrência de atividades relacionadas ao avanço da

urbanização e da industrialização nas áreas do entorno. Assim, recomenda-se o

fortalecimento de programas específicos que englobem a geração e a difusão de

informações que conscientizem a população sobre os principais aspectos relacionados à

zona costeira do Estado. Além disso, percebe-se a necessidade da consolidação de ações

que viabilizem o repasse das informações obtidas para a comunidade através de um

intercâmbio entre a universidade, os órgãos ambientais, os donos de empreendimentos,

os usuários e os demais beneficiados e/ou afetados das áreas consideradas.

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5 COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE DIGESTÃO PARA A DETERMINAÇÃO DE TEORES DE METAIS PESADOS EM SOLOS DE MANGUE INSERIDOS EM CONTEXTO SEMIÁRIDO

RESUMO

A contaminação das áreas costeiras por metais em decorrência de atividades urbanas e industriais é uma das grandes questões ambientais da atualidade, tendo em vista que compromete diretamente a qualidade dos solos e das águas desses ambientes. A presença de metais pesados em solos de mangue, por exemplo, representa um sério risco ao meio ambiente e à saúde humana devido à persistência, toxicidade e biodisponibilidade de tais espécies químicas. Nesse contexto, as digestões ácidas têm sido amplamente utilizadas em avaliações de contaminação ambiental e monitoramento de metais pesados em solos. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo comparar dois métodos de extração semitotal (água régia e EPA 3051A, ambos assistidos por microondas) utilizados na determinação de teores de metais pesados em solos de mangue do Estado do Ceará. Os resultados obtidos mostraram que os métodos em questão se correlacionaram positivamente para todos os metais, exceto Cd, sendo os maiores teores dos metais obtidos diante da utilização da água régia tanto nas amostras de solo certificado quanto nos solos de mangue analisados. Além disso, os valores de referência de qualidade (VRQs) estabelecidos com base nas concentrações dos metais obtidas pela água régia foram superiores aos obtidos com base no EPA 3051A, que é o método oficial para a determinação de VRQs em solos brasileiros. Assim, constatou-se que a água régia constitui um método eficiente para a extração de metais em solos de mangue inseridos em contexto semiárido e que, apesar do EPA 3051A ser adotado pela legislação brasileira para fins de regulamentação e avaliações de qualidade dos solos, tal método subestima os teores dos metais disponíveis nesse tipo de solo, acarretando a proposição de VRQs restritivos e que podem implicar em um aumento de casos de solos suspeitos de contaminação, prejudicando assim a atuação dos órgãos ambientais no gerenciamento de áreas contaminadas no Estado. Palavras-chave: Manguezal; Semiárido brasileiro; Água régia; EPA 3051A;

Monitoramento ambiental.

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COMPARISON OF DIGESTION METHODS FOR THE DETERMINATION OF

HEAVY METALS CONCENTRATIONS IN MANGROVE SOILS INSERTED

IN SEMIARID CONTEXT

ABSTRACT

Contamination of coastal areas by metals due to industrial and urban activities is a major environmental issue today, considering that it directly compromises the quality of soils and waters in these environments. The presence of heavy metals in mangrove soils represents a serious risk to the environment and human health due to the persistence, toxicity and bioavailability of these chemical species. In this context, acid digestions have been widely used in evaluations of environmental contamination and monitoring of heavy metals in soils. Thus, the present study aimed to compare two methods of semitotal extraction (EPA 3051A and aqua regia, both assisted by microwave) used in determining heavy metals concentrations in mangrove soils of the State of Ceará. The results showed that the methods in question were positively correlated for all metals, except Cd, and the highest levels of metals were obtained by the use of aqua regia in both samples of certificate soil as mangrove soils analyzed. In addition, the Quality Reference Values (QRV) established based on the concentrations of metals obtained by aqua regia were higher than those obtained under the EPA 3051A, which is the official method for the determination of QRV in Brazilian soils. Thus, it was found that aqua regia is an effective method for metal extraction in mangrove soils inserted in semiarid context and that, despite the EPA 3051A be adopted by Brazilian legislation for the regulation and quality evaluations of soils, this method underestimated the available metals levels in these soils, leading to the proposition of restrictive QRV and may result in an increase of cases of suspected contaminated soils, harming the performance of environmental agencies in the management of contaminated areas in the State. Keywords: Mangrove; Brazilian semiarid; Aqua regia; EPA 3051A; Environmental monitoring.

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5.1 INTRODUÇÃO

Atualmente, as áreas costeiras têm sido impactadas por atividades urbanas e

industriais que contribuem para o lançamento de efluentes ricos em metais nos

ecossistemas marinhos, comprometendo assim a qualidade das águas e dos solos desses

ambientes. Assim, a presença de metais pesados nos solos de mangue, por exemplo,

representa uma ameaça à biodiversidade dessas áreas e também à saúde humana devido

à persistência, toxicidade e biodisponibilidade de tais espécies químicas, além da

capacidade de bioacumulação na cadeia alimentar, situação essa que requer uma

avaliação de risco adequada (SOUZA et al., 2012; AGUIAR; MARINS; ALMEIDA,

2007; CHAND; PRASAD, 2013).

Diversas técnicas têm sido empregadas em avaliações de contaminação

ambiental e monitoramento de metais pesados em solos, dentre as quais podem ser

destacadas as digestões ácidas (SILVA; NASCIMENTO; BIONDI, 2014; CHAND;

PRASAD, 2013; TAM; YAO, 1999; SCANCAR; MILACIC; HORVAT, 2000). Um

aspecto a ser considerado é que não existe um método padrão de abertura das amostras e

a eficiência de cada metodologia varia com o tipo de elemento que se pretende

determinar, bem como com a composição e origem do solo (SALDANHA et al., 1997;

AGUIAR; MARINS; ALMEIDA, 2007; SOUZA et al., 2012). É importante observar

que a utilização desses diferentes métodos gera uma ampla variação nos teores de

metais obtidos, contribuindo para a incerteza dos resultados analíticos, dificultando

assim a comparação dos dados gerados (SILVA; NASCIMENTO; BIONDI, 2014).

Nesse sentido, sabe-se que extrações consideradas “totais” fornecem poucas

informações úteis para fins de monitoramento ambiental, tendo em vista que os efeitos

ecotoxicológicos de um determinado metal e aspectos relacionados aos seus

mecanismos de transporte, reatividade e mobilidade estão diretamente relacionados com

a sua forma química no solo. Assim, os métodos considerados “semitotais” propiciam

uma melhor determinação da influência antropogênica em uma determinada área, sendo,

portanto, bastante utilizados em avaliações dessa natureza (PÉREZ et al., 2006).

Sabe-se ainda que tais métodos de extração total fazem uso de ácido

fluorídrico (substância perigosa e altamente corrosiva que requer especial atenção no

manuseio) e não são considerados apropriados para análises de rotina (SALDANHA et

al., 1997; HOSSNER, 1996; TAM; YAO, 1999). Assim, tem-se buscado o uso de

misturas ácidas menos agressivas e eficientes para estudos desse tipo, dentre elas as

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digestões parciais que utilizam os ácidos nítrico e clorídrico (TAM; YAO, 1999), que

apresentam propriedades oxidantes distintas e são capazes de promover a liberação dos

metais associados às frações lábeis e, portanto, biodisponíveis (fração trocável, matéria

orgânica, óxidos de Fe e Mn, carbonatos, bem como Al, Fe e Mn amorfos) (AGUIAR;

MARINS; ALMEIDA, 2007; SOUZA et al., 2012).

Nesse contexto, dois métodos de extração semitotal amplamente utilizados

na atualidade são a água régia (ISO 11466, 1995) e o EPA 3051A (USEPA, 2007). A

água régia é utilizada em vários países na certificação de amostras de solo e para se

estimar impactos decorrentes de alterações nos solos (CHEN; MA, 2001; BETTINELLI

et al., 2000; SCANCAR; MILACIC; HORVAT, 2000). Além disso, acredita-se que tal

método forneça uma estimativa razoável do máximo dos elementos que pode passar

para a fase disponível para a planta ou ser, por exemplo, lixiviado para as águas

subterrâneas (SALDANHA et al., 1997; CHEN; MA, 2001). Já o EPA 3051A é uma

das metodologias sugeridas pela legislação brasileira para análises de avaliação da

qualidade de solos (CONAMA, 2009). Essas digestões, quando realizadas com o auxílio

de fornos de microondas, otimizam as análises principalmente no que diz respeito ao

consumo de reagentes, risco de contaminação externa das amostras, segurança, tempo e

eficiência, uma vez que são menos susceptíveis à perda dos elementos voláteis (SOUZA

et al., 2012; CHEN; MA, 2001; HOSSNER, 1996; SILVA; NASCIMENTO; BIONDI,

2014; CHAND; PRASAD, 2013; JIN et al., 1999), melhorando assim os limites de

detecção e a precisão dos métodos analíticos (BETTINELLI et al., 2000).

Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo comparar dois métodos

de digestão semitotal (água régia e EPA 3051A) utilizados na determinação de teores de

metais pesados em solos de mangue inseridos em contexto semiárido (Estado do Ceará -

Brasil), a fim de se verificar se os procedimentos analíticos em questão diferem em

relação às concentrações de metais associados às frações biodisponíveis dos referidos

solos. Além disso, com os dados gerados, objetivou-se ainda dar o suporte científico

para os órgãos ambientais responsáveis na formulação de uma legislação específica para

o monitoramento dos manguezais do Estado e que leve em consideração as

características físicas e químicas desses solos, tornando mais eficiente a classificação de

impactos ambientais nessas áreas.

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5.2 MATERIAIS E MÉTODOS

5.2.1 Áreas de estudo

O estudo foi realizado em áreas de manguezal de quatro estuários do Estado

do Ceará, sendo eles: Estuários dos rios Timonha, Coreaú, Aracati-Mirim e Ceará

(Figura 1). Os referidos estuários foram definidos levando-se em consideração a

diversidade de usos e o estado de conservação do ecossistema manguezal, bem como a

representatividade desses setores diante do total de áreas de manguezais do Estado

(Timonha: 27,08 %; Coreaú: 19,08 %; Aracati-Mirim: 10,71 %; Ceará: 4,76 %) (MAIA

et al., 2006).

Figura 1 - Localização das áreas de estudo.

Tais áreas estão situadas na costa nordeste semiárida do Brasil, onde o clima

é predominantemente semiárido e com sazonalidade marcante (duas estações bem

definidas, uma seca, longa e outra úmida, curta e irregular). A precipitação média anual

é de cerca de 800 mm, podendo haver variações, e o aporte de água doce é geralmente

baixo, sendo a média anual da descarga total dos rios inferior a 1000 m3 s-1 (MAIA et

al., 2006).

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De acordo com a classificação de Köppen, as áreas estudadas apresentam

clima do tipo Aw’ – tropical chuvoso (quente e úmido com chuvas de verão e outono).

Nesse setor da costa o regime térmico é caracterizado por temperaturas elevadas e

amplitudes reduzidas e, em consequência disso, as médias mensais de evaporação

também são bastante acentuadas. Além disso, o sistema de drenagem é constituído por

rios de regime de escoamento intermitente, que fluem apenas na estação chuvosa, o que

limita o desenvolvimento das planícies flúvio-marinhas e dos manguezais (BRASIL,

1982; MORAIS et al., 2006).

As áreas em questão estão situadas em terrenos influenciados por

sedimentos do Embasamento Cristalino, Formação Barreiras e Aluviões, e, no caso do

estuário do rio Aracati-Mirim, o mesmo possui uma dinâmica mais influenciada pelos

dois últimos grupos (BRASIL, 1981; MORAIS et al., 2006).

Em relação à vegetação de mangue presente nessas áreas, sabe-se que a

mesma é constituída por uma associação de espécies dos gêneros Rhizophora (mangue

vermelho), Avicennia (mangue canoé), Laguncularia (mangue branco) e Conocarpus

(mangue de botão). Entretanto, essa combinação de espécies pode variar de acordo com

as condições ambientais locais e com as características de uso das respectivas bacias

hidrográficas (MAIA et al., 2006).

5.2.2 Etapas de campo e manuseio das amostras

As etapas de amostragem dos solos foram realizadas em março de 2013,

durante períodos de maré baixa e sem chuvas significativas, em áreas de mangue com

predomínio da classe dos Gleissolos. Os pontos de coleta foram selecionados

considerando-se aspectos relacionados à acessibilidade e a uma boa representação das

áreas. Assim, foi definido um total de 18 (dezoito) pontos, devidamente localizados,

sendo registradas as coordenadas geográficas e a altitude, bem como o sistema

geodésico de referência (WGS 84) (Tabela 1).

A amostragem em cada ponto foi do tipo composta, sendo cada amostra

formada por subamostras de 5 (cinco) pontos amostrais, obtidos na profundidade de 0 –

20 cm. As amostras de solo foram coletadas com o auxílio de tubos de cloreto de

polivinila (PVC) (0,075 m de diâmetro e 0,3 m de comprimento) e as parcelas de

interesse (0 – 20 cm) foram isoladas e homogeneizadas ainda no campo, sendo retirados

previamente os materiais não-representativos.

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Com o auxílio de um aparelho portátil (Phmetro Digital Portátil – Marca

Lutron – Modelo Ph221), foram medidos no campo os seguintes parâmetros físico-

químicos de todas as amostras: potencial hidrogeniônico (pH) e de oxi-redução (Eh). As

leituras de pH foram obtidas com um eletrodo previamente calibrado com soluções

padrão de pH 4,0 e 7,0.

Em seguida, as amostras foram colocadas em sacos plásticos previamente

identificados e mantidas congeladas até o momento de análise, visando a manutenção de

suas propriedades físico-químicas fundamentais. Todos os instrumentos utilizados no

campo passaram pelo seguinte protocolo de limpeza antes das coletas: lavagem com

detergente neutro, triplo enxágue com água corrente, banho com solventes orgânicos

(acetona e etanol), seguido de outro banho com água, lavagem ácida (HCl 5%) e banho

triplo com água destilada. No campo, entre cada coleta, os instrumentos foram lavados

com solução de HNO3 10 % (USEPA, 2001).

Já no local de destino, as amostras foram secas ao ar e, em seguida, foram

destorroadas e passadas em peneira de aço inoxidável de 2 mm de malha, obtendo-se

terra fina seca ao ar (TFSA), sendo então armazenadas para posteriores determinações.

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Tabela 1 - Informações sobre os pontos de coleta das amostras de solo.

Pontos Estuário Município Coordenadas Altitude

(m) Associação florística

P1 Timonha Chaval 2° 54' 44.67" (S) 41° 17' 22.01" (W) 3 Rhizophora P2 Timonha Chaval 2° 54' 22.64" (S) 41° 17' 06.04" (W) 8 Rhizophora, Avicennia, Laguncularia P3 Timonha Chaval 2° 54' 49.68" (S) 41° 15' 48.05" (W) 5 Rhizophora P4 Timonha Chaval 2° 56' 33.48" (S) 41° 15' 58.00" (W) 5 Rhizophora P5 Timonha Chaval 2° 57' 22.91" (S) 41° 15' 09.58" (W) 3 Rhizophora, Avicennia, Laguncularia P6 Timonha Chaval 2° 57' 53.21" (S) 41° 14' 22.19" (W) 5 Rhizophora, Avicennia P7 Timonha Chaval 2° 58' 24.93" (S) 41° 14' 10.47" (W) 2 Avicennia, Laguncularia P8 Timonha Chaval 3° 00' 17.20" (S) 41° 13' 44.54" (W) 2 Avicennia P9 Coreaú Camocim 2° 55' 50.29" (S) 40° 48' 25.04" (W) 4 Rhizophora P10 Coreaú Camocim 2° 57' 06.54" (S) 40° 48' 15.80" (W) 2 Rhizophora, Avicennia P11 Coreaú Camocim 2° 58' 43.92" (S) 40° 47' 49.86" (W) 11 Rhizophora, Avicennia P12 Coreaú Camocim 2° 59' 33.74" (S) 40° 48' 20.38" (W) 9 Rhizophora P13 Coreaú Camocim 2° 58' 51.46" (S) 40° 48' 33.33" (W) 10 Rhizophora, Avicennia P14 Aracati-Mirim Itarema 2° 53' 54.72" (S) 39° 52' 53.88" (W) 10 Rhizophora, Avicennia P15 Aracati-Mirim Itarema 2° 54' 21.28" (S) 39° 51' 58.39" (W) 9 Rhizophora P16 Ceará Fortaleza 3° 42' 01.42" (S) 38° 36' 35.12" (W) 10 Rhizophora P17 Ceará Fortaleza 3° 42' 24.17" (S) 38° 37' 10.44" (W) 7 Rhizophora P18 Ceará Fortaleza 3° 43' 22.99" (S) 38° 37' 16.90" (W) 16 Rhizophora

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5.2.3 Procedimentos analíticos

A determinação dos teores dos metais nos solos foi realizada através de dois

métodos de extração semitotal: água régia (ISO 11466, 1995) e EPA 3051A (USEPA,

2007). Para isso, alíquotas da TFSA anteriormente armazenada foram maceradas em

almofariz de ágata, passadas em peneira de 200 mesh (0,075 mm) com malha de aço

inoxidável e, em seguida, subamostras de aproximadamente 0,5 g desse material foram

transferidas para tubos de teflon. No caso da água régia, foram então adicionados 9 mL

de ácido clorídrico e 3 mL de ácido nítrico concentrados, ao passo que, para o método

EPA 3051A, foram adicionados 9 mL de ácido nítrico e 3mL de ácido clorídrico. Em

virtude do elevado teor de carbono orgânico das amostras, as mesmas foram então

submetidas a pré-digestão por um período de 12 horas.

Em seguida, os tubos foram submetidos a sistema fechado em forno de

microondas (Marca Milestone – Modelo Ethos One) por um período de 6 minutos na

rampa de temperatura, tempo necessário para atingir 140 ºC, sendo esta temperatura

mantida por mais 5 minutos. Após o resfriamento, as amostras foram transferidas para

balões volumétricos de 50 mL, que foram aferidos com solução de HNO3 2 % (v/v) para

se manter uma adequada acidez da solução e garantir a estabilidade dos elementos ali

presentes (USEPA, 2007).

Os extratos foram posteriormente analisados via espectrometria de emissão

atômica por plasma induzido (ICP-OES) (Marca Perkin Elmer – Modelo Optima 8300

DV) para a determinação das concentrações dos metais Al, Ba, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, Mn,

Mo, Ni, Pb, V e Zn. Os comprimentos de onda nos quais os metais foram analisados,

bem como os limites de detecção (LDM) e os limites de quantificação praticável (LQP)

dos dois métodos são apresentados na Tabela 2. Tais parâmetros foram calculados

conforme as recomendações dispostas em Inmetro (2010).

As análises foram realizadas em triplicata e, paralelamente, foram feitas

provas em branco, as quais foram analisadas simultaneamente. Os ácidos utilizados nas

digestões foram previamente submetidos a um processo de bidestilação para a remoção

de quaisquer impurezas e o controle de qualidade das análises foi realizado com a

utilização de amostras de solo com valores certificados dos metais (SRM 2709a San

Joaquin Soil - Baseline trace element concentrations), certificadas pelo National

Institute of Standards and Technology (NIST, 2009), bem como com o uso de soluções

de referência (spikes).

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Tabela 2 - Comprimentos de onda utilizados para a leitura dos metais e limites de detecção e de quantificação praticável dos dois métodos.

Elemento Comprimento

de onda (λ) Limite de detecção do

método – LDMa

Limite de quantificação

praticável – LQPb

------ mg L-1 ------ ------ mg kg-1 ------

nm EPA

3051A Água Régia

EPA 3051A

Água Régia

Al 396,153 5,535 4,507 16,449 9,924

Ba 233,527 0,301 0,286 1,004 0,987

Cd 228,802 0,483 0,306 0,694 0,673

Co 228,616 0,226 0,475 0,718 1,411

Cr 267,716 0,326 0,562 1,215 1,874

Cu 327,393 0,311 0,296 1,074 0,424

Fe 238,204 13,166 37,359 46,67 135,163

Mn 257,610 0,302 0,152 0,897 0,334

Mo 202,031 0,093 0,433 0,297 1,377

Ni 231,604 0,274 0,308 0,32 0,916

Pb 220,353 1,430 1,175 4,25 2,589

V 290,880 0,409 0,432 1,091 1,284

Zn 213,857 0,343 1,275 0,755 4,056 a Menor valor da concentração do metal que pode ser detectado pelo método. b Menor valor da concentração do metal que pode ser quantificado pelo método a um determinado nível de confiança.

5.2.4 Análise estatística

Para se verificar as diferenças entre os métodos, os dados das concentrações

dos metais foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA), seguida do Teste de

Tukey, a 5 % de significância; já as correlações entre os métodos para cada metal foram

determinadas pelo cálculo do coeficiente de correlação de Spearman, também a 5 % de

significância, todos com o auxílio do programa OriginPro – versão 9.0. Por fim, a

interpretação dos dados das concentrações naturais dos metais para a obtenção dos

VRQs foi realizada de acordo com o disposto em CONAMA (2009).

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151

5.3 RESULTADOS

5.3.1 Recuperação dos metais nas amostras certificadas

Os resultados referentes à recuperação dos metais nas amostras certificadas

com a utilização dos dois métodos são apresentados na Tabela 3 e os mesmos são

comparados com os valores certificados por NIST (2009). De forma geral, observou-se

que os valores dos metais recuperados pela água régia foram superiores aos obtidos pelo

método 3051A, sendo as maiores diferenças verificadas para os elementos Al, Cr, Mo e

V.

Tabela 3- Recuperação dos metais no solo certificado (SRM 2709a San Joaquin Soil) pelos métodos EPA 3051A e água régia para a avaliação da qualidade analítica dos métodos em questão.

Elemento Valor Total

Valor Recuperadoa

Recuperação por

Lixiviadob Valor Recuperado

Recuperação por Lixiviadoc

------------ Certificado ------------ -------------- Determinado --------------

------ mg kg-1 ------ % ----- mg kg-1 ----- --------------- % ---------------

EPA

3051A Água Régia

EPA 3051A

Água Régia

Flóridad

Al 73700 16000 22 16816 36716 23 50 55 Ba 979 380 39 327,03 398,50 33 41 45 Cd 0,371 0,4 110 0,33 - 89 - 89 Co 12,8 10 81 10,21 12,80 80 100 - Cr 130 53 41 50,17 77,46 39 60 59 Cu 33,9 27 81 29,06 33,79 86 100 106 Fe 33600 24000 70 24394 29605 73 88 89 Mn 529 420 79 391,13 441,75 74 84 89 Mo * * * 0,33 1,05 - - - Ni 85 66 77 56,73 67,80 67 80 89 Pb 17,3 9,2 53 10,42 13,07 60 76 68 V 110 48 44 48,27 85,36 44 78 - Zn 103 79 77 79,94 95,12 78 95 97

a Valor semitotal certificado b (Valor recuperado certificado / Valor total certificado) x 100 c (Valor recuperado determinado / Valor total certificado) x 100 d Valores obtidos por Chen e Ma (2001) para solos da Flórida - EUA * Valores não determinados por NIST (2009)

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Os valores de recuperação por lixiviado obtidos pelo método 3051A foram

comparados aos obtidos por NIST (2009). Assim, observou-se que as taxas de

recuperação dos metais nas amostras de solo certificado foram satisfatórias, sendo o Al,

Cu, Fe, Pb, V e Zn os elementos mais efetivamente recuperados, ao passo que o Cd

apresentou a recuperação mais baixa.

Já os valores de recuperação por lixiviado obtidos para a água régia foram

comparados aos resultados determinados por Chen e Ma (2001) em estudos sobre a

utilização do método em questão em solos da Flórida (EUA), onde a amostra certificada

utilizada foi a mesma (SRM 2709 San Joaquin Soil). Assim, verificou-se que todos os

metais foram recuperados satisfatoriamente, sendo as melhores recuperações observadas

para os elementos Cr e Pb.

Assim, diante do exposto, tais dados evidenciam a qualidade dos métodos

empregados para a digestão das amostras e a consequente determinação dos teores de

metais nos solos analisados.

5.3.2 Teores dos metais determinados pelos dois métodos de digestão

Os teores médios dos metais obtidos a partir da digestão das amostras de

solo pelos métodos da água régia e EPA 3051A são apresentados na Figura 2. Apesar

dos dois métodos utilizados serem de extração semitotal, observou-se que, para todos os

metais, os teores médios obtidos pela água régia foram mais elevados que os

determinados pelo EPA 3051A, sendo verificadas diferenças significativas (p ˂ 0,05)

entre tais concentrações para todos os metais, exceto Mn, Zn, Cd e Mo.

Observou-se ainda que os dois métodos se correlacionaram positivamente

para todos os metais analisados, exceto Cd (Tabela 4), fato este que pode ser explicado

pela baixa concentração desse elemento nos solos estudados, conduzindo a uma elevada

variabilidade dos resultados (SILVA; NASCIMENTO; BIONDI, 2014). As correlações

mais baixas foram obtidas para os elementos Ba e Cr, ao passo que os metais Mn, Mo,

Cu, Fe e V apresentaram as mais elevadas.

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Figura 2 - Teores médios dos metais obtidos com a utilização dos métodos da água régia

e EPA 3051A.

Tabela 4 - Coeficientes de correlação de Spearman entre os métodos EPA 3051A e água

régia para todos os metais.

Elemento EPA 3051A x Água Régia

Al 0,83*

Ba 0,71*

Cd -0,06

Co 0,77*

Cr 0,71*

Cu 0,90*

Fe 0,88*

Mn 0,99*

Mo 0,92*

Ni 0,73*

Pb 0,77*

V 0,88*

Zn 0,73*

*Significativa ao nível de 5 %.

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5.4 DISCUSSÃO

Em relação à recuperação dos metais nas amostras certificadas, observou-se

que os elementos Al, Ba, Cr, Pb e V apresentaram as menores taxas de recuperação para

os dois métodos utilizados (˂ 80 %). Sobre isso, sabe-se que o Al é um dos principais

constituintes dos minerais silicatados do solo e os mesmos são mais resistentes às

digestões semitotais, fato este que pode estar influenciando a baixa recuperação do

metal em questão (CHEN; MA, 2001; CHAND; PRASAD, 2013). Além disso, a

eficiência na dissolução do Ba depende diretamente da força de ligação desse elemento

a minerais insolúveis do solo (CHEN; MA, 2001).

No caso do Cr, sua baixa recuperação pode estar relacionada a uma

dissolução incompleta de minerais ricos nesse elemento possivelmente presentes no

solo, dentre eles a cromita (FeCr2O4), ou ao fato de tal metal ser imobilizado em solos

de mangue por meio da formação de compostos orgânicos refratários (TAM; YAO,

1999; CHEN; MA, 2001). Por fim, em relação ao Pb, sabe-se que o mesmo é retido em

aluminossilicatos como os feldspatos potássicos, sendo moderadamente resistente a

dissoluções ácidas (TAM; YAO, 1999).

Os maiores teores dos metais foram obtidos diante da utilização da água

régia tanto na amostra certificada quanto nos solos de mangue analisados, o que ocorre

devido ao elevado poder oxidativo do método em questão, que está relacionado

principalmente à reatividade do cloreto de nitrosilo (NOCl) e/ou do cloro livre formados

durante a preparação da referida solução de digestão (TAM; YAO, 1999; CHAND;

PRASAD, 2013), conforme ilustrado pela Equação 1:

HNO3 (aq) + 3 HCl (aq) → NOCl (g) + 2 Cl (g) + 2 H2O ................. (Equação 1)

Dessa forma, observou-se, por exemplo, que os teores médios de Ba e Co

obtidos diante da digestão das amostras dos solos de mangue com a utilização da água

régia (74,87 e 12,06 mg kg-1, respectivamente) (Figura 2) foram quase o dobro dos

obtidos com a extração pelo EPA 3051A (40,95 e 6,0 mg kg-1, respectivamente). Já no

caso do Al, a diferença verificada foi maior, tendo em vista que o teor médio desse

elemento foi de 51,65 g kg-1 na extração pela água régia, ao passo que, na digestão pelo

EPA 3051A, o teor médio obtido foi de 20,88 g kg-1.

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Nesse sentido, Souza et al. (2012), em estudos relacionados à determinação

de metais pesados em solos de mangue da Baía de Sepetiba (Rio de Janeiro – Brasil),

verificaram que a digestão com a água régia foi mais eficiente na extração de metais

como Ni, Pb e Zn, quando comparada, por exemplo, à digestão com HNO3 assistida por

microondas, a qual possui o mesmo princípio do método EPA 3051A.

Um aspecto a ser observado é que os dois métodos analisados no presente

estudo se correlacionaram positivamente para todos os metais, exceto Cd (Tabela 4),

evidenciando, portanto, que as duas digestões estão atuando de forma semelhante no

sistema, ou seja, estão extraindo os metais das mesmas frações do solo e, nesse caso,

tais frações constituem a fase biodisponível do mesmo. Sobre isso, sabe-se que o

método da água régia não fornece os teores totais dos metais, mas sim a concentração

pseudototal de cada elemento (SCANCAR; MILACIC; HORVAT, 2000). Dessa forma,

o método em questão fornece um bom indicativo acerca da fração biodisponível

presente no solo (SALDANHA et al., 1997), ou seja, dos metais associados à fração

trocável, matéria orgânica, óxidos de Fe e Mn, carbonatos, além de Al, Fe e Mn

amorfos, restando somente a fração residual, onde os metais estão associados à estrutura

mineralógica de silicatos de origem litogênica, não caracterizando contribuições

antrópicas (AGUIAR; MARINS; ALMEIDA, 2007). Assim, um raciocínio semelhante

se estende ao método EPA 3051A, tendo em vista que o mesmo também não é um

método de extração total e determina a quantidade do analito que é biodisponível no

sistema (LINK; WALTER; KINGSTON, 1998; USEPA, 2007).

Conforme abordado no Capítulo 3 do presente trabalho, o Conselho

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) determina que os valores de referência de

qualidade (VRQs) de metais pesados para solos brasileiros sejam obtidos com base nos

teores semitotais de tais elementos (CONAMA, 2009). Dessa forma, para fins

comparativos, foram calculados os VRQs dos metais de acordo com as concentrações

obtidas pelos dois métodos aqui analisados e verificou-se que os VRQs determinados

(P75 e P90) foram inferiores aos valores de prevenção (VP) adotados atualmente pela

legislação brasileira (Tabela 5). Além disso, em virtude das diferenças verificadas entre

os teores dos metais obtidos pelos dois métodos, os VRQs estabelecidos com base na

extração por água régia foram superiores aos determinados com base no EPA 3051A,

que é o método oficial para a determinação de VRQs em solos brasileiros (CONAMA,

2009), sendo as maiores diferenças verificadas para os metais Ba, Co, Cr, Mo, Pb e Al.

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Dessa forma, percebe-se que, para os solos de mangue analisados, os

valores de referência estabelecidos com base no CONAMA são mais restritivos no que

diz respeito à segurança ambiental. Sobre isso, Paye et al. (2010) afirmam que a

utilização de valores mais restritivos pode implicar em um aumento de casos de solos

suspeitos de contaminação, comprometendo assim o gerenciamento de áreas

contaminadas por parte dos órgãos ambientais. Levando-se em consideração que os

VRQs apresentados na Tabela 5 foram obtidos a partir da concentração dos metais em

áreas onde a influência antrópica é mínima ou desprezível, os valores estimados com

base na extração por água régia, apesar de mais elevados, não evidenciam um

comprometimento da qualidade ambiental dos solos analisados, mas representam os

teores dos metais biodisponíveis no sistema.

Nesse contexto, como os dois métodos comparados são de extração

semitotal, infere-se que o EPA 3051A subestima a concentração dos metais nos solos de

mangue analisados, ao passo que a água régia se mostrou mais eficiente na

determinação dos teores de metais biodisponíveis nos solos em questão.

Tabela 5 - Valores de referência de qualidade obtidos a partir das concentrações dos

metais determinadas pelos dois métodos de digestão.

Elemento ---- P75 ---- ---- P90 ---- ---- Média ---- --- Máximo --- --- Mínimo ----

EPA

3051A Água Régia

EPA 3051A

Água Régia

EPA 3051A

Água Régia

VP CONAMA

EPA 3051A

Água Régia

EPA 3051A

Água Régia

Ba (mg kg-1) 45,93 102,00 64,54 128,86 41,32 80,03 150 68,40 129,05 11,80 21,78

Cd (mg kg-1) < 0,69* 0,80 1,20 0,84 - 0,56 1,3 - 1,35 - 0,34

Co (mg kg-1) 7,14 13,82 7,90 14,46 6,21 12,13 25 9,03 16,01 2,21 5,56

Cr (mg kg-1) 31,21 55,27 43,43 57,63 29,83 46,42 75 50,68 62,71 8,68 17,76

Cu (mg kg-1) 15,27 20,39 17,32 22,12 12,25 16,35 60 18,18 22,35 3,73 6,03

Mn (mg kg-1) 231,02 269,96 303,11 365,97 149,46 190,40 - 436,79 468,47 31,17 56,03

Mo (mg kg-1) 2,54 3,69 4,82 6,91 1,76 2,77 30 7,51 9,39 0,15 0,69

Ni (mg kg-1) 13,11 19,83 16,69 21,66 11,63 17,35 30 17,94 22,18 3,67 6,11

Pb (mg kg-1) 12,80 20,02 14,00 20,25 11,26 17,09 72 15,09 23,10 6,07 11,37

V (mg kg-1) 40,24 62,45 48,99 65,43 35,30 50,68 - 57,66 71,26 14,64 20,82

Zn (mg kg-1) 50,97 74,06 71,31 75,88 47,99 59,92 300 76,86 78,21 17,01 19,22

Al (g kg-1) 23,97 68,46 46,37 71,76 22,85 55,00 - 60,33 72,69 5,39 18,24

Fe (g kg-1) 23,09 29,92 25,42 31,47 19,43 25,60 - 27,43 32,80 8,50 11,87

* Menor que o limite de quantificação praticável (LQP) do método.

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5.5 CONCLUSÕES

Os dados apresentados indicam que a digestão por água régia constitui um

método eficiente para a extração de metais pesados em solos de mangue inseridos em

contexto semiárido, mais precisamente os do Estado do Ceará. Apesar do EPA 3051A

ser indicado pelo CONAMA para fins de regulamentação e avaliações de qualidade dos

solos, tal método subestima os teores dos metais disponíveis nesse tipo de solo,

acarretando a proposição de valores de referência de qualidade restritivos e que podem

implicar em um aumento de casos de solos suspeitos de contaminação, prejudicando a

atuação dos órgãos ambientais no gerenciamento de áreas contaminadas no Estado.

Nesse contexto, atenta-se, portanto, para a necessidade de se levar em consideração as

peculiaridades de cada solo diante da escolha do método de digestão de amostras para

fins de monitoramento ambiental.

Além disso, os dados apresentados no presente estudo podem auxiliar os

órgãos ambientais responsáveis na escolha de uma metodologia mais apropriada para a

extração dos teores de metais biodiponíveis nos solos de mangue, visando a

uniformização dos métodos utilizados e a consolidação do banco de dados sobre metais

em solos de ambientes estuarinos, a fim de proporcionar comparações entre os dados até

agora levantados, trabalho este que deve começar numa escala regional, mas tendo

como enfoque compor um banco de dados nacional especializado.

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REFERÊNCIAS

AGUIAR, J. E.; MARINS, R. V.; ALMEIDA, M. D. Comparação de metodologias de digestão de sedimentos marinhos para caracterização da geoquímica de metais-traço na plataforma continental nordeste oriental brasileira. Geochimica Brasiliensis, v. 21, n. 3, p. 304-323. 2007.

BETTINELLI, M.; BEONE, G. M.; SPEZIA, S.; BAFFI, C. Determination of heavy metals in soils and sediments by microwave-assisted digestion and inductively coupled plasma optical emission spectrometry analysis. Analytica Chimica Acta, v. 424, p. 289-296. 2000.

BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Secretaria-Geral. Projeto RADAMBRASIL: Levantamento de Recursos Naturais. Folha SA.24. Fortaleza; geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 488p. 1981.

CHAND, V.; PRASAD, S. ICP-OES assessment of heavy metal contamination in tropical marine sediments: a comparative study of two digestion techniques. Microchemical Journal, v. 111, p. 53-61. 2013.

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ANEXO

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Figura 1- Estuário do rio Timonha.

Figura 2- Estuário do rio Coreaú.

Figura 3- Estuário do rio Aracati-Mirim.

Figura 4- Estuário do rio Ceará.

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Figura 5- Etapas da coleta de solos nas estações de amostragem.

Figura 6- Coleta de solos para fins de classificação.

Figura 7- Pré-tratamentos com álcool etílico a 60 % (v/v) para a eliminação de sais solúveis (A) e com peróxido de hidrogênio a 30 volumes para a oxidação da matéria orgânica (B).

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Figura 8- Teste de incubação para a constatação da presença de materiais sulfídricos nas amostras de solo (A) e medição do pH das mesmas (B).

Figura 9- Determinação da cor úmida amassada dos solos.

Figura 10- Análise dos extratos via espectrometria de emissão atômica por plasma induzido (ICP-OES).