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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIAS, CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS FELIPE BARRETO DE LIMA CRISTINO A IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO SOJA PARA A ECONOMIA BRASILEIRA. UMA ANÁLISE SOB O ENFOQUE DAS EXPORTAÇÕES. FORTALEZA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIAS,

CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

FELIPE BARRETO DE LIMA CRISTINO

A IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO SOJA PARA A ECONOMIA BRASILEIRA.

UMA ANÁLISE SOB O ENFOQUE DAS EXPORTAÇÕES.

FORTALEZA

2013

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FELIPE BARRETO DE LIMA CRISTINO

A IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO SOJA PARA A ECONOMIA BRASILEIRA.

UMA ANÁLISE SOB O ENFOQUE DAS EXPORTAÇÕES.

Monografia apresentado ao Curso de Ciências

Econômicas da Faculdade de Economia,

Administração, Atuária, Contabilidade e

Secretariado Executivo da Universidade

Federal do Ceará, como requisito parcial para

a obtenção do Título de Bacharel em

Economia.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Américo Leite

Moreira.

FORTALEZA

2013

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade

C951i Cristino, Felipe Barreto de Lima.

A importância do complexo soja para a economia brasileira. Uma análise

sob o enfoque das exportações / Felipe Barreto de Lima Cristino - 2013.

35 f.: il.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de

Economia, Administração, Atuária e Contabilidade, Curso de Ciências

Econômicas. Fortaleza, 2013.

Orientação: Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira.

1.Soja 2.Agroindústria - Brasil 3.Exportação I. Título

CDD 330

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FELIPE BARRETO DE LIMA CRISTINO

A IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO SOJA PARA A ECONOMIA BRASILEIRA.

UMA ANÁLISE SOB O ENFOQUE DAS EXPORTAÇÕES.

Monografia apresentado ao Curso de Ciências

Econômicas da Faculdade de Economia,

Administração, Atuária, Contabilidade e

Secretariado Executivo da Universidade

Federal do Ceará, como requisito parcial para

a obtenção do Título de Bacharel em

Economia.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Américo Leite

Moreira.

Aprovada em: ____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira.

Universidade Federal do Ceará (UFC)

____________________________________________________

Prof. Alfredo José Pessoa de Oliveira.

Universidade Federal do Ceará (UFC)

____________________________________________________

Profª. Drª. Inez Silvia Batista Castro.

Universidade Federal do Ceará (UFC)

FORTALEZA

2013

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A Deus.

Aos meus pais, Helder e Conceição.

Aos meus irmãos, Andre e Marcelo.

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AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, gostaria de agradecer a Deus, pois, sem ele, nada disso seria

possível e essa realização pessoal não estaria acontecendo.

Gostaria de agradecer ao Professor Dr. Carlos Américo Leite Moreira por ter

aceitado ser meu orientador e me dado total apoio e auxílio necessário para a elaboração e

defesa da minha monografia. Além disso, um agradecimento aos professores Marcelo Callado

e Henrique Félix e a todos os outros professores e colaboradores da Universidade Federal do

Ceará que estiveram presente durante minha jornada na faculdade.

Outro agradecimento vai para toda minha família, pois esteve sempre ao meu lado

e me apoiou em todos os momentos, especialmente meus pais, José Helder e Maria da

Conceição e meus irmãos, Andre Barreto e Marcelo Barreto.

Meus grandes colegas e amigos de faculdade também são merecedores de

agradecimentos, pois todos me acompanharam e apoiaram durante todo o período de

faculdade, tornando-se grandes amigos, especialmente, Anderson Cruz Barbosa; Augusta

Henz; Filipe Rabelo; Francisco Xavier; Leonardo Gadelha; Marcos Renan Magalhães; Rafael

Araujo; Raiza Mota; Rodrigo Bezerra; Thalys Mesquita; Victor Nascimento; Victor Tajra e

Vitor Monteiro.

Para finalizar, também gostaria de agradecer a outras pessoas que também me

apoiaram e me auxiliaram bastante durante todo esse período, são elas: Alana Fontenelle;

Isabel Castelo Branco; Roberta Álvaro Carneiro e, especialmente, Virna Távora, que me

ajudou bastante e dedicou parte de seu tempo em me ajudar na elaboração da monografia,

retirando minhas dúvidas e me dando conselhos de melhoramento.

Agradeço a todos vocês que foram fundamentais para essa realização. Muito

obrigado por tudo.

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RESUMO

O agronegócio brasileiro está focando, cada vez mais, na competitividade e na modernidade.

Sendo um setor de extrema importância na economia nacional, pois participa, diretamente, da

geração de renda e emprego, denotando ao país um papel privilegiado no comércio mundial.

No Brasil, a soja é considerada como uma das principais commodities agrícolas exportadas. O

seu volume de exportações e sua rentabilidade afetam, diretamente, o PIB nacional e balanço

de pagamentos brasileiro já que essa é o “carro chefe” das exportações agrícolas do Brasil.

Sendo uma das culturas agrícola que mais evoluiu nos últimos anos, a soja corresponde, hoje,

a 49% da área plantada em grãos do país, firmando-se, assim, como um dos produtos de mais

destaque na agricultura nacional e na balança comercial. A ampliação da participação da

China no comércio internacional também é bastante importante dentro desse contexto de

evolução do agronegócio nacional e destaque da soja, já que vem contribuindo de forma

bastante significativa para o crescimento das exportações brasileiras, sendo um dos principais

destinos das exportações agrícolas nacionais. Desse modo, é possível considerar a grande

importância que a China representa para o agronegócio brasileiro e para o aumento do

destaque da soja dentro da economia nacional.

Palavras-chave: Agronegócio. Soja. Exportações. China.

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ABSTRACT

Brazilian agribusiness is focusing increasingly, competitiveness and modernity. Being a very

important sector in the national economy as take part directly in the generation of income and

employment, denoting the country a privileged role in world trade. In Brazil, soybean is

considered one of the main agricultural export commodities. The volume of exports and

profitability directly affect the national GDP and the Brazilian balance of payments since this

is the "flagship" of agricultural exports from Brazil. Being one of most agricultural crops that

evolved in the last years, soybean corresponds today to 49 % of the planted area in the

country's grain, establishing itself as well as one of the most outstanding products in the

national agriculture and trade balance. The expansion of China's participation in international

trade is also very important within this context of national developments and highlight

soybean agribusiness, as it has contributed very significantly to the growth of Brazilian

exports, one of the main destinations of national agricultural exports. Thus, it is possible to

consider the great importance China is Brazil's agribusiness sector and to increase the

prominence of soybeans within the national economy.

Keywords: Agribusiness. Soy. Exports. China.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

1.2 Metodologia ........................................................................................................ 13

2 O AGRONEGÓCIO E A QUESTÃO AMBIENTAL .......................................... 14

3 A SOJA ..................................................................................................................... 16

3.1 O conceito de commodity e o Mercado de Futuros ............................................. 16

3.2 A Soja no Brasil .................................................................................................. 20

3.3 A produção de soja no Brasil .............................................................................. 24

3.4 A Relação Comercial Brasil - China e o Mercado da Soja ................................. 28

3.5 Perspectivas para a produção de soja no Brasil .................................................. 33

4 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 36

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 38

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente, em conformidade com Brasil (2013.a, p.3), o agronegócio brasileiro

está caminhando para a próxima década, focando em competitividade e modernidade, fazendo

com que a utilização permanente da tecnologia seja uma opção de caminho para a

sustentabilidade.

De acordo com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (2012,

p.8) esse é um setor de extrema importância dentro da economia brasileira, participando da

geração de renda em emprego e, com isso, manifesta ao país um papel excelente dentro do

comércio mundial.

“Desde o final dos anos 90, poucos países cresceram tanto no comércio de

agronegócio como o Brasil. O País é um dos líderes mundiais na produção e exportação de

vários produtos agropecuários.” (BRASIL, 2013.b).

“Hoje o agronegócio, entendido como a soma dos setores produtivos com os de

processamento do produto final e os de fabricação de insumos, responde por quase um terço

do PIB do Brasil e por valor semelhante das exportações totais do país.” (GUANZIROLI,

2006, p.3).

Cesario et al. (2007, p.1) consideram que o forte dinamismo apresentado por esse

setor no País tem sido um dos aspectos mais importantes para a economia nacional nos

últimos anos. Considerando que de 2000 a 2004, o setor agropecuário brasileiro cresceu, em

média, 4,64% ao ano, enquanto a economia brasileira apresentava um crescimento de 2,66%

ao ano. Demonstrando, assim, que o desempenho desse setor, nesse período, foi superior aos

desempenhos da indústria e serviços no País no mesmo período.

Além disso, Cesario et al. (2007, p. 2) também afirmam que:

O setor já obteve um crescimento sustentável em termos financeiros ao longo dos

anos. Por isso, é considerado o setor mais importante da nossa economia. Os

excelentes resultados resumem sua relevância para o bolso das pessoas e para todos

os veios ligados a ele. No entanto, o agronegócio já enfrentou muitos obstáculos em

sua trajetória de crescimento. Alguns de caráter externo a ele, como distorções

macroeconômicas provocadas pela inflação e por problemas cambiais, e outros de

caráter interno, como desenvolvimento de certas tecnologias e identificação de áreas

propícias para o cultivo de determinadas culturas. Dessa forma, podemos perceber o

grau de relevância do agronegócio brasileiro para nossa economia no que se trata de

proporcionar crescimento e aquecimento da mesma.

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Para Cesario et al. (2007, p.2), a principal explicação para o bom desempenho do

comércio exterior do agronegócio brasileiro está no ganho de competitividade das

commodities brasileiras. Isso se deu devido às melhores condições de qualidade e preços em

relação aos concorrentes. Preços esses que passaram a ser competitivos decorrentes,

principalmente, de pesquisas e desenvolvimento realizadas pela Empresa Brasileira de

Pesquisa Agrícola (EMBRAPA).

Conforme Guanzirolli (2006, p.3), o aumento da produtividade no campo é

consequência dos níveis tecnológicos expressivos obtidos pelos produtores rurais brasileiros

nas últimas décadas. Esse desempenho de produtividade só foi realizado devido à utilização

de insumos, basicamente sementes; adubos e agrotóxicos de primeira linha que foram

disponibilizados ao setor.

Guanziroli (2006, p.3) também que considera que:

A melhoria da competitividade da agricultura e pecuária do Brasil, sobretudo nos

últimos dez anos, e o próprio empenho do governo e da iniciativa privada em

estimular e divulgar o produto agrícola brasileiro no exterior tem proporcionado

aumento das exportações do agronegócio. Além da maior produtividade do setor, o

câmbio permitiu uma maior competitividade aos produtos brasileiros. A partir de

1999, a taxa de câmbio real permitiu que a competitividade do produto brasileiro

conseguisse ser repassada ao mercado externo. Também foram importantes na

melhoria do desempenho dos embarques os ganhos em logística, com a melhoria na

infra-estrutura de rodovias e portos. Além disso, em 1996, foi desonerada a cobrança

do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incidia sobre as

exportações de produtos agropecuários. Para aumentar a participação de mercado

dos produtos agrícolas brasileiros, além do trabalho promocional desenvolvido em

conjunto pelo governo federal e iniciativa privada, o governo tem atuado junto a

OMC (Organização Mundial de Comercio) no sentido da eliminação de barreiras

comerciais nos países importadores.

Guanzirolli (2006, p.3) destaca que o atual sucesso do agronegócio foi parte de

uma estratégica, inicialmente, desenhada durante os anos 70 que teve como principal diretriz

o apontamento para a resolução de vários problemas de caráter estrutural que atrapalhavam o

desempenho da agricultura brasileira. Além disso, o papel da EMBRAPA também foi

bastante destacado devido, principalmente, ao desenvolvimento tecnológico promovido pela

mesma.

O recente sucesso do agronegócio brasileiro se deve, conforme Guanzirolli (2006,

p.23), ao Crédito Rural Subsidiado; Política de Preços Mínimos; Letras de Crédito, Mercados

Futuros e Derivativos na Agricultura; Crédito de Modernização de Frota do Maquinário

Agrícola e a Isenção do imposto de renda sobre atividades agrícolas.

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Diante disso, Guanzirolli (2006, p.4) considera que vários fatores podem

contribuir, no longo prazo, para incrementar, ainda mais, a produção agrícola nacional,

especialmente para as culturas de soja e milho. Entre esses fatores é válido destacar o fato de

que o Brasil ainda possui várias áreas ainda inexploradas. Entretanto, em meio a perspectivas

promissoras, é importante destacar que, no curto prazo, percebe-se um declínio de preços

domésticos e internacionais e, no médio e longo prazo, surgem problemas como os de infra-

estrutura de transportes, atualmente já enfrentados pelo País, comprometendo o escoamento

da produção. Além disso, outro problema é a questão ambiental, que vem causando várias

divergências devido ao aumento do desmatamento para a abertura de novas áreas de

plantação.

Benetti (2006, p.78) considera que a função estratégica do agronegócio nacional

na evolução recente sofrida pela economia brasileira no mercado mundial, especialmente, das

commodities de valor baixo adicionado, aparenta explicar, assim, o surto de exportações

acontecido a partir da segunda metade da década de 90.

A Tabela 1 apresenta o panorama atual da balança comercial brasileira e do

agronegócio. Demonstrando a clara evolução desse setor que, no último ano, apresentou seu

maior volume em exportações e em saldo.

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Tabela 1 - Balança comercial brasileira e balança comercial do agronegócio: 1989

a 2012.

Diante desse contexto de evolução do agronegócio brasileiro, o estudo tem por

objetivo geral analisar a representatividade, os benefícios e a importância que as exportações

de soja representam para o agronegócio e economia brasileira.

Para o melhor atendimento do objetivo geral foram estabelecidos os seguintes

objetivos específicos para o estudo:

a) Apresentar o mercado de soja.

b) Analisar a evolução das exportações da soja e do agronegócio brasileiro.

c) Apresentar algumas projeções e perspectivas para a produção e exportação de

soja brasileira.

Além disso, o estudo tem como pressuposto as seguintes hipóteses:

Total Brasil (A) Agronegócio (B) Part.% (B/A) Total Brasil (C) Agronegócio (D) Part.% (D/C) Total Brasil Agronegócio

1989 34,383 13,921 40,49 18,263 3,081 16,87 16,119 10,840

1990 31,414 12,990 41,35 20,661 3,184 15,41 10,752 9,806

1991 31,620 12,403 39,23 21,040 3,642 17,31 10,580 8,761

1992 35,793 14,455 40,38 20,554 2,962 14,41 15,239 11,492

1993 38,555 15,940 41,34 25,256 4,157 16,46 13,299 11,783

1994 43,545 19,105 43,87 33,079 5,678 17,16 10,466 13,427

1995 46,506 20,871 44,88 49,972 8,613 17,24 -3,466 12,258

1996 47,747 21,145 44,29 53,346 8,939 16,76 -5,599 12,206

1997 52,983 23,367 44,10 59,747 8,193 13,71 -6,765 15,173

1998 51,140 21,546 42,13 57,763 8,041 13,92 -6,624 13,505

1999 48,013 20,494 42,68 49,302 5,694 11,55 -1,289 14,800

2000 55,119 20,594 37,36 55,851 5,756 10,31 -0,732 14,838

2001 58,287 23,857 40,93 55,602 4,801 8,64 2,685 19,056

2002 60,439 24,840 41,10 47,243 4,449 9,42 13,196 20,391

2003 73,203 30,645 41,86 48,326 4,746 9,82 24,878 25,899

2004 96,677 39,029 40,37 62,836 4,831 7,69 33,842 34,198

2005 118,529 43,617 36,80 73,600 5,110 6,94 44,929 38,507

2006 137,807 49,465 35,89 91,351 6,695 7,33 46,457 42,769

2007 160,649 58,420 36,37 120,617 8,719 7,23 40,032 49,701

2008 197,942 71,806 36,28 172,985 11,820 6,83 24,957 59,987

2009 152,995 64,786 42,35 127,722 9,900 7,75 25,273 54,886

2010 201,915 76,442 37,86 181,768 13,391 7,37 20,147 63,051

2011 256,040 94,968 37,09 226,238 17,497 7,73 29,802 77,471

2012 242,580 95,814 39,50 223,142 16,406 7,35 19,438 79,408

Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC

Elaboração:CGOE / DPI / SRI / MAPA

US$ Bilhões

AnoExportações Importações Saldo

Fonte: Brasil (2013). d.

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1. A soja apresentou um aumento considerável em seu volume de exportações nos

últimos anos, tornando-se, assim, a commodity agrícola mais importante dentro do

cenário econômico brasileiro.

2. O aumento do dinamismo do agronegócio brasileiro está, diretamente, relacionado ao

crescimento da demanda asiática, principalmente chinesa, por commodities agrícolas

nacionais.

1.2 Metodologia

Este é um estudo econômico. Trabalhando com base em pesquisas de caráter

exploratório; descritiva; bibliográfica; qualitativa, quando se descreve o mercado de soja e

suas características, e quantitativa, ao se apresentar dados estatísticos acerca desse mercado.

Tendo como base dados governamentais com fonte no Ministério da Agricultura e

EMBRAPA, como os dados do balanço de pagamentos nacional e informações acerca do

comércio exterior do Brasil, além disso, também são usadas fontes teóricas, tendo como

referência artigos e monografias relacionadas ao tema em questão dos autores Mafioletti;

Guanziroli; Melo; Puga entre outros.

A primeira parte do estudo consiste em uma caracterização geral do agronegócio

brasileiro, trazendo informações relacionadas à soja, como histórico do mercado no Brasil,

passando pela formação de preço e caracterização do mercado agrícola e da soja no Brasil.

A segunda parte consiste em trazer dados estatísticos relacionados à soja e ao

agronegócio nacional, como dados acerca do volume de exportações; principais destinos da

commodity e dados sobre o comércio bilateral Brasil-China. Nessa parte do estudo, onde

foram realizadas as análises dos dados e elaboradas as conclusões, utilizaram-se os dados

compreendidos no intervalo de 10 anos, entre os anos de 2002 a 2012, onde foi analisada a

evolução dos valores compreendidos dentro desse período. Desse modo, a análise se torna

mais didática e compreensível, além disso, é válido lembrar que, antes de 2002, os dados

referentes à soja, ainda, não eram muito bem trabalhados e consolidados.

O estudo buscou, principalmente, relacionar a relevância que as exportações de

soja representam sobre o agronegócio e a economia brasileira, focando no comércio exterior e

no volume de exportações dessa commodity, seja em valor ou quantidade.

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2 O AGRONEGÓCIO E A QUESTÃO AMBIENTAL

Antes de ser feita a análise acerca das exportações do agronegócio e sobre a soja,

é importante analisar um assunto que, diante do atual contexto de expansão do agronegócio

nacional, vem sendo bastante discutido. Essa questão se refere aos impactos que o

crescimento do setor agrícola pode gerar sobre o meio-ambiente.

“No agronegócio tem-se fortemente a utilização de insumos nocivos ao meio

ambiente e práticas produtivas que causam danos”. (SILVA, 2012, P.24).

Baseado nesse panorama atual, que Romeiro (2007 apud SILVA, 2012, p.24)

considera que uma questão essencial é a problemática da sustentabilidade devido à

necessidade de reduzir os impactos que são gerados, principalmente na agricultura. Entre os

principais impactos temos a erosão e contaminação dos solos e da água. Desse modo, uma

atitude tomada por algumas empresas é incorporar ações consideradas sustentáveis às suas

estratégias, buscando, assim, mais vantagens competitivas e, além disso, melhorar sua

imagem diante da opinião pública.

Com base nisso, conceitos como a sustentabilidade tem ganhado bastante

importância e força dentro do agronegócio brasileiro.

Dentro desse contexto, Souza Filho (2009 apud SILVA, 2012, p. 24) afirma que:

A agricultura tem forte impacto sobre o meio ambiente, por isso os efeitos da

exploração têm sido objeto de grande preocupação e discussão. Nesse sentido, o

conceito de desenvolvimento sustentável tem ganhado força. O conceito envolve um

conjunto de questões simultâneas, tais como crescimento econômico, exploração

racional dos recursos naturais, conservação, qualidade de vida, pobreza e

distribuição de renda.

Além disso, em relação à sustentabilidade, Silva (2012, p.29) considera que:

[...] tem ganhado destaque devido à crescente conscientização da necessidade de

melhoria nas condições ambientais, econômicas e sociais, de forma a aumentar

qualidade de vida de toda a sociedade, preservando o meio ambiente, assim como ter

organizações sustentáveis econômicas e indivíduos socialmente sustentáveis. Mais

que os benefícios à sociedade, a adoção de mecanismos sustentáveis tem sido

estrategicamente pensados como uma forma de diferenciação de produtos e também

para inserção em alguns mercados.

Além da sustentabilidade, outro conceito que também vem se destacado dentro do

agronegócio é a Economia Verde que, conforme a Fundação Brasileira para o

Desenvolvimento Sustentável (2012, p.15):

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[...] é caracterizada por mover os cultivos industriais e de subsistência em direção às

práticas ecologicamente corretas, tais como: uso eficiente de água, uso extensivo de

nutrientes naturais e orgânicos do solo, cultura ideal do solo e controle integrado de

pragas. Para tal, são necessários bens de capital físico, investimentos financeiros,

pesquisa e investimento em capacitação, além de educação em seis áreas:

gerenciamento de fertilidade do solo, o uso mais eficiente e sustentável da água,

diversificação de culturas e animais, gerenciamento da saúde animal e vegetal

biológicos, nível adequado de mecanização agrícola. Uma análise do plano agrícola

sugere que as práticas de cultivo verde podem aumentar substancialmente o

rendimento.

“O conceito de Economia Verde não substitui o de Desenvolvimento Sustentável,

porém existe um reconhecimento de que a prática da sustentabilidade é baseada quase que

totalmente na aquisição do modelo correto de economia.” (PROGRAMA DAS NAÇÕES

UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE apud FUNDAÇÃO BRASILEIRA PARA O

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, 2012, p.7).

De acordo com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (2012,

p.7):

Para se fazer a transição para uma Economia Verde são necessárias condições

facilitadoras, que consistem de um pano de fundo de regulamentos nacionais,

políticas, subsídios e incentivos, mercado internacional, infraestrutura legal e

protocolos comerciais e de apoio. Em escala nacional, os exemplos de tais condições

são: mudanças na política fiscal, reforma e redução de subsídios prejudiciais ao

meio ambiente; emprego de novos instrumentos de base de mercado; procura de

investimentos públicos para setores-chave “verdes”; tornar mais “verdes” os

contratos públicos; e a melhoria das regras e regulamentos ambientais, bem como

sua execução. Na escala mundial, também há oportunidades para complementar a

infraestrutura de mercado, melhorar o fluxo de comércio e de apoio e promover

maior cooperação internacional.

Com base nesse contexto de evolução das exportações do agronegócio nacional, o

presente estudo visa analisar a evolução do agronegócio, juntamente com a expansão da

cultura e das exportações da commodity soja no Brasil que, nos últimos anos, está

apresentando um grande crescimento no volume e na participação das exportações, tornando-

se, assim, um dos produtos essenciais para o agronegócio; comércio exterior e economia do

País.

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3 A SOJA

3.1 O conceito de commodity e o Mercado de Futuros

A soja é um produto agrícola que se enquadra no conceito de commodity e que

Branco (2008, p.12) define como:

[...] o termo utilizado para se referir aos produtos de origem primaria que são

transacionados nas bolsas de mercadorias. São normalmente produtos em estado

bruto ou com pequeno grau de industrialização, com qualidade quase uniforme e são

produzidos e comercializados em grandes quantidades do ponto de vista global.

Também podem ser estocados sem perda significativa em sua qualidade durante

determinado período. Podem ser produtos agropecuários, minerais ou ate mesmo

financeiros.

Em relação ao preço das commodities, o Banco do Nordeste do Brasil (2008, p.5)

considera que:

As turbulências financeiras internacionais provocadas pela economia dos Estados

Unidos desde o segundo semestre do ano passado, vieram se somar agudas pressões

inflacionárias provindas de acelerações de altas e excessos de volatilidade de preços

de commodities estratégicas para o crescimento e desenvolvimento, em que se des-

tacam petróleo e alimentos.

Além disso, “historicamente, sabe-se que os preços agrícolas sofrem sistemáticas

flutuações, alternando-se períodos de altas com períodos de baixas, em que os últimos tendem

a prevalecer no longo prazo [...]”. (BANCO DO NORDESTE DO BRASIL, 2008, p.7).

De acordo com o Banco do Nordeste do Brasil (2008, p.8-9), existem

particularidades importantes referentes às altas nos preços dos alimentos. São fatores que, no

longo e médio prazo, atingem as condições internacionais de demanda e oferta por alimentos.

Esses fatores são divididos em duas categorias, sendo eles:

Fatores Conjunturais:

I. Desequilíbrios climáticos que, temporalmente, são reversíveis.

II. Os movimentos especulativos em mercados de commodities.

III. A redução, em nível mundial, considerável no ramo de pesquisas

agrícolas.

IV. A expansão recente dos níveis de demanda, sendo consequência, direta,

das melhorias de rendimentos dos mais pobres, principalmente, na Ásia;

Brasil e Rússia.

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Fatores Estruturais:

I. Acelerados processos de urbanização, destacando-se aqueles observados

em países da Ásia e da África, os quais implicam aceleração da demanda,

independentemente do aumento das rendas per capita, inclusive com

significativas modificações nos padrões de consumo.

II. Modelo de expansão urbano-industrial fundamentado em sobreconsumo

de energias e materiais não-renováveis.

III. Tradicional domínio da oferta das mega empresas transnacionais do setor

agroindustrial.

IV. Desertificação e outras degradações ambientais em larga extensão, com

reduzidas possibilidades de reversão.

V. Apropriação concentrada da terra rural e ociosidade deliberada.

VI. Ausência de políticas públicas sistemáticas e eficazes, aos níveis nacionais

e internacionais, com vistas a garantir, com sustentabilidade no longo

prazo, a segurança alimentar das populações pobres expostas aos riscos de

fome e subnutrição.

A negociação das commodities é feita, em geral, por meio de um mercado

conhecido por Bolsa de Mercadorias e Futuros, o qual Branco (2008, p.13) considera que:

Nelas, o principal objetivo é, alem de negociar contratos a termo, de opções e swaps,

e organizar, desenvolver e operacionalizar um transparente e livre mercado de

futuros. Um mercado que possa proporcionar aos agentes econômicos oportunidades

para realização de operações de hedge como forma de proteção contra as flutuações

de preços dos mais variáveis tipos de commodities, taxas de juros, taxas de cambio,

índices de ações ou qualquer outra variável macroeconômica cuja incerteza quanto

ao seu futuro possa influenciar de maneira negativa a atividade econômica.

Para Branco (2008, p.13), são através de contratos futuros que são firmados os

compromissos de compra e de venda de ativos, onde são especificadas questões relevantes,

como os prazos de entrega; as quantidades a serem negociadas; datas de pagamento e valores.

O nome contrato de futuros decorre do fato de os envolvidos na negociação definirem um

preço, hoje, para uma quantidade de produto que será entregue apenas futuramente. Porém, é

válido lembrar que nesse tipo de operação, o dinheiro pode ser recebido antecipadamente ou

na data da entrega. Além disso, nesse tipo de contrato é determinada a quantidade de produto

a ser comprada e a ser vendida, porém, o preço já é pré-determinado no ato do fechamento do

contrato.

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Dentro do contexto de mercado de futuros, também é válido explicar sobre

como se dá a formação de preços da soja e da maioria das outras commodities agrícolas que,

conforme Mafioletti (2000, p.20):

[...] ocorre nas bolsas de mercadorias e futuros internacionais e através da dedução

dos custos de transporte, armazenamento e impostos chega-se aos preços nas várias

regiões de comercialização do mercado físico (Spot). No caso da soja, a expectativa

é de que os preços sejam formados na Chicago Board of Trade (CBOT).

Além disso, a Agroinvvesti (2013) considera que:

Por se tratar de uma commodity negociada no mundo inteiro e com grande liquidez,

tanto em Bolsa quanto no mercado físico, a soja tem a variação da sua cotação

totalmente atrelada no sobe e desce do câmbio. A moeda norte-americana é o fator

multiplicador fundamental da formação final do preço para o produtor. A sua

variação tem significativo resultado na conta da margem de lucratividade da

produção. A moeda americana sob valorizada em comparação as demais

concorrentes mundiais, diminui o apelo pela commodity. Reduzindo o apelo, a

oferta fica maior que a demanda e consequentemente pressiona as cotações na

Chicago Board of Trade (CBOT), fazendo com que ocorram realizações e vendas

por parte dos participantes de mercado.

Barros (1987 apud MAFIOLETTI, 2000, p.20) considera que o processo em que

se da à formação e a determinação de preços das commodities agrícolas é realizado sob a

dependência de uma superestrutura institucional, dada como prioritariamente devido ao grau

de competitividade do mercado e pelo nível de intervenção governamental no mesmo. Desse

modo, para se explicar a formação de preços agrícolas, é necessário considerar os seguintes

fatores que podem ser determinantes para a variação dos preços:

I. O nível do produtor: mudanças tecnológicas, preços dos fatores e produtos

alternativos, financiamento, clima, etc.

II. O nível do intermediário: variações nos custos dos insumos de comercialização

(transporte, armazenamento, condições de financiamento, etc.).

III. O nível do consumidor: variações na renda, população, preços de outros bens, etc.

Porém, é importante considerar que, mesmo que esses fatores permaneçam

inalterados, incluindo as condições de ceteris paribus, outros fatores poderiam levar a uma

variação nos preços, são elas:

i. Variações cíclicas: Originam-se na defasagem entre a decisão de produção e a

disponibilidade do produto para comercialização. Ocorrendo, nesse intervalo de

tempo, a formação das expectativas para diferentes graus de confiabilidade.

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ii. Variações estacionais: Originam-se após se ter certo volume de produção. Desse

modo, os custos de armazenamento e preservação e a escassez de capital financeiro

resultam em oscilações periódicas dos preços e do abastecimento.

Margarido et al. (1998 apud MAFIOLETTI, 2000, p.27) afirma que , mesmo nas

condições do Brasil de grande produtor e exportador de soja, o País ainda é considerado como

um tomador de preços e não como formador, devido a isso, as cotações do preço dessa

commodity, dentro do mercado interno, ainda são baseadas nas cotações da Bolsa de Chicago.

Em relação ao mercado interno, Mafioletti (2000, p.29) considera que a formação

de preços da soja se dá por dois meios, são os seguintes:

a. Preços recebidos pelos exportadores: Nesse caso, os preços são baseados nas

cotações da Bolsa de Chicago, às quais são somados prêmios específicos.

Onde esses prêmios são determinados de acordo com uma série de critérios,

podendo ser positivos ou negativos.

Os principais critérios são: i) condições de oferta e demanda no mercado

interno; ii) pequenas diferenças de qualidade, principalmente ligadas ao teor de proteína do

farelo; iii) eficiência do porto exportador e; iv) condições de pagamento, principalmente para

o óleo Aguiar (1990 apud MAFIOLETTI, 2000, p. 29).

b. Preços recebidos pelos produtores.

Os preços recebidos pelos produtores, de acordo com Neves (1993 apud

MAFIOLETTI, 2000, p.32) sofrem variações resultantes de três fatores que são: Soma dos

preços dos diversos serviços adicionados; deslocamento da curva de demanda de algum dos

produtos derivados e variações nas quantidades produzidas face às variações climáticas,

estrutura de custos, entre outros.

Barros et al. (1997 apud MAFIOLETTI, 2000, p.29) considera que:

No caso particular do preço da soja no Brasil, estudos econométricos têm mostrado

que a formação do seu preço dá-se de fora para dentro. Os preços se formariam em

mercados internacionais e os produtores seriam bem informados e passariam a

reivindicar internamente preços compatíveis com os praticados no mercado externo.

Dessa forma, a formação dos preços da soja a nível mundial começa com Roterdã,

refletindo-se nas cotações da bolsa de futuros de Chicago (CBOT), derivando daí a

demanda pelo produto brasileiro, o qual recebe um ágio ou deságio (prêmio) e

deduzem-se os custos de frete, chegando-se ao preço no porto de Paranaguá.

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Para Mafioletti (2000, p.30), também é importante perceber que a formação dos

preços da soja e de outras commodities agrícolas dependerá também dos custos operacionais e

da concorrência, ou seja, o preço final dependerá da necessidade da operadora repor estoques,

obter produto, etc.

Finalizando, Mafioletti (2000, p.30) considera que:

Na safra, os preços da bolsa têm um peso maior e o cálculo da paridade representa

melhor o preço nas diversas praças. Na entressafra, no entanto, os preços dependem

quase que totalmente das variações de oferta e demanda da indústria esmagadora

nacional. Estas variações, por seu lado, são influenciadas principalmente pelo

mercado de farelo, pois este é o principal produto oriundo do esmagamento da soja.

Desse modo, é possível perceber que, mesmo com o aumento da produção

nacional e o destaque que o País possui dentro do mercado de soja, a formação de preços da

soja ainda é, em boa parte, definido por movimentos especulativos exercidos, principalmente,

na Chicago Board of Trade (CBOT), fazendo, assim, com que o Brasil se enquadre como

tomador de preços e não como formador.

3.2 A Soja no Brasil

“A soja (Glycine max (L.) Merrill) é uma cultura cuja origem se atribui ao

continente asiático, sobretudo a região do rio Yangtse, na China [...]”. (CENTRO DE

INTELIGÊNCIA DA SOJA, 2013).

Conforme o Centro de Inteligência da Soja (2013) é possível considerar que:

O cultivo da soja é muito antigo. Alguns relatos revelam que os plantios de soja

remontam há 2838 anos A.C, na China, sendo muitos desses escritos numa língua

ainda arcaica. Na cultura chinesa daquele período, algumas plantas eram

consideradas sagradas, dentre elas a soja. Por séculos, a cultura permaneceu restrita

ao oriente, só sendo introduzida no ocidente, pela Europa, por volta do século XV,

não com finalidade de alimentação, como acontecia na China e Japão, mas de

ornamentação, como na Inglaterra, França e Alemanha.

O Centro de Inteligência da Soja (2013) afirma que as primeiras tentativas de

produzir soja na Europa fracassaram, principalmente devido aos fatores climáticos e à

ausência de conhecimento sobre as exigências dessa cultura agrícola. Porém, no final do

século XIX e começo do século XX, os norte-americanos conseguiram produzir, em escala

comercial, o cultivo da soja, através da criação de novas variedades com teor de óleo mais

elevado. A partir de então, passou a ocorrer aumento do cultivo e produção da soja na região.

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Em relação ao Brasil, o Centro de Inteligência da Soja (2013) considera que:

A introdução da soja no Brasil deu-se por volta de 1882, e foi o professor Gustavo

Dutra, da Escola de Agronomia da Bahia, o responsável pelos primeiros estudos

com a cultura no país. Cerca de dez anos depois, o Instituto Agronômico de

Campinas (IAC), no Estado de São Paulo, também iniciou estudos para obtenção de

cultivares aptos à região. Naquela época, porém, o interesse pela cultura não era pelo

seu material nobre, o grão, era mais pela planta como uma espécie a ser utilizada

como forrageira e na rotação de culturas. Os grãos eram administrados aos animais

já que ainda não havia o seu emprego na indústria.

O Centro de Inteligência da Soja (2013) afirma que, no início do século XX, cerca

de dez anos após o início dos estudos com a cultura de soja no Brasil, o Instituto Agrônomico

de Campinas (IAC) iniciou o processo de distribuição de sementes para os produtores. Foi

nesse período que a região sul do Brasil, especificamente, o Rio Grande do Sul, iniciou seu

cultivo de soja. Foi nessa região, especificamente, onde a cultura de soja se desenvolveu

devido às boas condições oferecidas para seu cultivo nessa região, como a semelhança de

clima com a região sul dos Estados Unidos.

De acordo com a EMBRAPA (2013),

O primeiro registro de cultivo comercial de soja no Brasil data de 1914 no município

de Santa Rosa, RS. Mas foi somente a partir dos anos 40 que ela adquiriu alguma

importância econômica, merecendo o primeiro registro estatístico nacional em 1941,

no Anuário Agrícola do RS: área cultivada de 640 ha, produção de 450t e

rendimento de 700 kg/ha. Nesse mesmo ano, instalou-se a primeira indústria

processadora de soja do País (Santa Rosa, RS) e, em 1949, com produção de

25.000t, o Brasil figurou pela primeira vez como produtor de soja nas estatísticas

internacionais.

Porém, conforme a EMBRAPA (2013), foi somente a partir da década de 60 que a

soja se firmou como cultura economicamente importante para o Brasil, impulsionada por

políticas de subsídios ao trigo e visando auto-suficiência. Durante esse período, a

produtividade de soja foi multiplicada por cinco, onde 98% de todo volume produzido era

concentrado nos três estados da região Sul do País.

Mesmo com o grande crescimento apresentado durante a década de 60, em

conformidade com a EMBRAPA (2013) foi somente na década seguinte que a soja se

consolidou como a principal cultura do agronegócio nacional, elevando a produção de 1,5

milhões de toneladas em 1970 para mais de 15 milhões de toneladas em 1979. Essa evolução

da produção foi consequência de um expressivo incremento na produtividade devido às novas

tecnologias que passaram a ser disponibilizadas aos produtores, além disso, ocorreu um

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grande aumento da área cultivada, passando de 1,3 para 8,8 milhões de hectares. Nesse

período, boa parte da produção ainda se concentrava na região Sul do País, cerca de 80%.

Durante as décadas de 80 e 90, o grande crescimento produtivo ocorrido, antes, na

região Sul do Brasil, repetiu-se na região tropical do País. Em conformidade com a

EMBRAPA (2013),

Em 1970, menos de 2% da produção nacional de soja era colhida no centro-oeste.

Em 1980, esse percentual passou para 20%, em 1990 já era superior a 40% e em

2003 está próximo dos 60%, com tendências a ocupar maior espaço a cada nova

safra. Essa transformação promoveu o Estado do Mato Grosso, de produtor marginal

a líder nacional de produção e de produtividade de soja, com boas perspectivas de

consolidar-se nessa posição.

De acordo com a EMBRAPA (2013), A soja foi a única cultura a ter um

crescimento expressivo na sua área cultivada ao longo das últimas três décadas. Atualmente,

em conformidade com Brasil (2013.a, p.28), Mato Grosso lidera a produção de soja no País

com 29% de toda produção nacional, seguido pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e

Goiás, produzindo 19,5%; 15,4% e 10,5%, respectivamente. Porém, a produção de soja está

expandindo-se para novos territórios, como Bahia; Maranhão e Tocantins e Piauí que, juntas,

atualmente, respondem por 8,4% de toda produção brasileira de soja.

Segundo a EMBRAPA (2013), Muitos fatores contribuíram para que a soja se

estabelecesse como uma importante cultura, primeiro no sul do Brasil (anos 60 e 70) e,

posteriormente, nos Cerrados do Brasil Central (anos 80 e 90). Alguns desses fatores são

comuns a ambas as regiões, outros não. Dentre aqueles que contribuíram para seu rápido

estabelecimento na Região Sul, pode-se destacar:

Semelhança do ecossistema do sul do Brasil com aquele predominante no sul dos

EUA, favorecendo o êxito na transferência e adoção de variedades e outras

tecnologias de produção.

Estabelecimento da “Operação Tatu” no RS, em meados dos anos 60, cujo

programa promoveu a calagem e a correção da fertilidade dos solos, favorecendo o

cultivo da soja naquele estado, então o grande produtor nacional da oleaginosa.

Incentivos fiscais disponibilizados aos produtores de trigo nos anos 50, 60 e 70

beneficiaram igualmente a cultura da soja, que utiliza, no verão, a mesma área, mão

de obra e maquinaria do trigo cultivado no inverno.

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Mercado internacional em alta, principalmente em meados dos anos 70, em

resposta à frustração da safra de grãos na Rússia e China, assim como da pesca da

anchova no Peru, cuja farinha era amplamente utilizada como componente proteico

na fabricação de rações para animais, para o que os fabricantes do produto

passaram a utilizar-se do farelo de soja.

Substituição das gorduras animais (banha e manteiga) por óleos vegetais, mais

saudáveis ao consumo humano.

Estabelecimento de um importante parque industrial de processamento de soja, de

máquinas e de insumos agrícolas, em contrapartida aos incentivos fiscais do

governo, disponibilizados tanto para o incremento da produção, quanto para o

estabelecimento de agro-indústrias.

Facilidades de mecanização total da cultura.

Surgimento de um sistema cooperativista dinâmico e eficiente, que apoiou

fortemente a produção, a industrialização e a comercialização das safras.

Estabelecimento de uma bem articulada rede de pesquisa de soja envolvendo os

poderes públicos federal e estadual, apoiada financeiramente pela indústria privada

(Swift, Anderson Clayton, Samrig, etc.).

Melhorias nos sistemas viário, portuário e de comunicações, facilitando e

agilizando o transporte e as exportações.

Em relação à região central do Brasil, considerada a nova e principal fronteira da

soja, a EMBRAPA (2013) destaca as seguintes causas para que possam explicar o grande

crescimento da produção de soja:

Construção de Brasília na região, determinando uma série de melhorias na infra-

estrutura regional, principalmente vias de acesso, comunicações e urbanização.

Incentivos fiscais disponibilizados para a abertura de novas áreas de produção

agrícola, assim como para a aquisição de máquinas e construção de silos e

armazéns.

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Estabelecimento de agro-indústrias na região, estimuladas pelos mesmos incentivos

fiscais disponibilizados para a ampliação da fronteira agrícola.

Baixo valor da terra na região, comparado ao da Região Sul, nas décadas de

1960/70/80.

Desenvolvimento de um bem sucedido pacote tecnológico para a produção de soja

na região, com destaque para as novas cultivares adaptadas à condição de baixa

latitude da região.

Topografia altamente favorável à mecanização, favorecendo o uso de máquinas e

equipamentos de grande porte, o que propicia economia de mão de obra e maior

rendimento nas operações de preparo do solo, tratos culturais e colheita.

Boas condições físicas dos solos da região, facilitando as operaçõesda maquinaria

agrícola e compensando, parcialmente, as desfavoráveis características químicas

desses solos.

Melhorias no sistema de transporte da produção regional, com o estabelecimento de

corredores de exportação, utilizando articuladamente rodovias, ferrovias e

hidrovias.

Bom nível econômico e tecnológico dos produtores de soja da região, oriundos, em

sua maioria, da Região Sul, onde cultivavam soja com sucesso previamente à sua

fixação na região tropical.

Regime pluviométrico da região altamente favorável aos cultivos de verão, em

contraste com os frequentes veranicos ocorrentes na Região Sul, destacadamente no

RS.

3.3 A produção de soja no Brasil

“[...] A soja corresponde, hoje, a 49% da área plantada em grãos do país. Além

disso, a oleaginosa se firmou como um dos produtos mais destacados na agricultura nacional

e na balança comercial.” (Brasil, 2013.c).

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O seu volume de exportações e sua rentabilidade afetam, diretamente, o PIB

nacional e balanço de pagamentos brasileiro já que essa é o “carro chefe” das exportações

agrícolas do Brasil. É possível perceber uma grande evolução no volume brasileiro exportado

desse grão nos últimos anos. A Tabela 2 representa a evolução das exportações do complexo

soja no Brasil.

Com base nos dados, é possível perceber a grande evolução em relação ao valor

exportado nos últimos anos.

A Tabela 3 é mais detalhada e representa a evolução do volume em valor

exportado e da participação dos componentes do complexo soja que, no caso são o farelo de

soja; a soja em grãos e o óleo de soja, comparando-os à outros produtos agrícolas exportados.

Mil US$ Toneladas Valor Quant. US$/t Var. (%)

2002 6.006.195 30.413.249 - - 197 -

2003 8.122.103 35.969.796 35,2% 18,3% 226 14,3%

2004 10.041.490 36.240.405 23,6% 0,8% 277 22,7%

2005 9.473.586 39.549.378 -5,7% 9,1% 240 -13,5%

2006 9.308.112 39.702.641 -1,7% 0,4% 234 -2,1%

2007 11.381.459 38.541.225 22,3% -2,9% 295 26,0%

2008 17.980.184 39.098.238 58,0% 1,4% 460 55,7%

2009 17.239.708 42.394.703 -4,1% 8,4% 407 -11,6%

2010 17.107.048 44.296.851 -0,8% 4,5% 386 -5,0%

2011 24.139.420 49.069.750 41,1% 10,8% 492 27,4%

2012 26.114.125 48.956.010 8,2% -0,2% 533 8,4%

AnoComplexo Soja Variação (%) Preço Médio

Fonte: AgroStat Brasil, a partir de dados da SECEX/MDIC

Tabela 2 – Exportações Brasileiras do Complexo Soja no Brasil: 2002 a 2012.

Fonte: Brasil (2013). e.

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Com base na Tabela 3, é possível perceber que a soja em grãos corresponde ao

produto agrícola nacional com maior participação no valor das exportações, além disso, é

notável que, nesse intervalo de dez anos, todos os componentes do complexo soja

apresentaram uma grande evolução em relação ao valor exportado.

Também é válido observar que, o óleo de soja, por sua vez, dos produtos

pertencentes ao complexo soja, é o que representa o menor volume dentro das exportações

nacionais.

De forma geral, a Tabela 4 expressa a evolução compreendida entre os anos de

2002 a 2012, comparando todo o complexo soja aos demais grupos de produtos agrícolas

exportados pelo Brasil.

Valor (US$) Part. % Valor (US$) Part. %

TOTAL 95.814.177.578 100,0% 24.803.593.304 100,0%

SOJA EM GRÃOS 17.447.306.054 18,2% 3.029.177.169 12,2%

AÇÚCAR EM BRUTO 10.030.103.067 10,5% 1.111.342.998 4,5%

CARNE DE FRANGO 7.211.201.783 7,5% 1.392.823.429 5,6%

FARELO DE SOJA 6.595.483.857 6,9% 2.198.958.730 8,9%

CEREAIS 6.452.301.318 6,7% 266.839.502 1,1%

CARNE BOVINA 5.744.134.848 6,0% 1.143.840.655 4,6%

CAFÉ VERDE 5.721.757.641 6,0% 1.195.531.237 4,8%

MILHO 5.287.267.448 5,5% 259.944.725 1,0%

CELULOSE 4.700.499.229 4,9% 1.160.146.998 4,7%

FUMO NÃO MANUFATURADO 3.197.303.248 3,3% 977.669.510 3,9%

AÇÚCAR REFINADO 2.814.765.927 2,9% 982.300.747 4,0%

OLEO DE SOJA 2.071.336.883 2,16% 778.058.219 3,1%

DEM AIS 18.540.716.275 19,4% 10.306.959.385 41,6%

Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC

Elaboração: CGOE / DPI / SRI / MAPA

2012 2002PRINCIPAIS

PRODUTOS EXPORTADOS

EXPORTAÇÃO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO - TOTAL

Tabela 3 – Exportações do Agronegócio Brasileiro – Principais Produtos

Exportados: 2002-2012.

Fonte: Brasil (2013). f.

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Com base na Tabela 4 é possível perceber, no último ano, o grande volume em

valor exportado apresentado pelos produtos pertencentes ao complexo soja e a grande

diferença apresentada, tanto em participação como em valor, quando comparado aos outros

grupos de produtos agrícolas exportados. Além disso, também é possível perceber a grande

evolução em relação ao valor exportado do complexo soja dentro do intervalo compreendido.

Demonstrando, assim, a grande participação que esse grupo de produtos representa nas

exportações agrícolas do Brasil, influenciando, desse modo, também, diretamente, a economia

nacional.

Conforme Batista et al. (2011, p.10),

Quando se associa a elevada produtividade, aos baixos custos de produção e aos

preços competitivos no mercado internacional, o resultado converge em apontar a

soja como uma das atividades mais expressivas da agricultura brasileira na pauta de

exportações. As taxas de crescimento positivas na produtividade da oleaginosa

Valor (US$) Part. % Valor (US$) Part. %

26.114.126.794 27,25% 6.006.194.118 24,22%

15.735.682.498 16,42% 3.194.554.172 12,88%

15.044.586.196 15,70% 2.280.345.671 9,19%

9.067.485.007 9,46% 4.271.429.838 17,22%

6.462.656.546 6,74% 1.384.821.726 5,58%

3.256.987.488 3,40% 1.008.227.724 4,06%

2.623.717.303 2,74% 2.330.534.325 9,40%

6.674.305.709 6,97% 322.725.880 1,30%

2.451.464.388 2,56% 1.095.949.744 4,42%

2.615.593.458 2,73% 858.993.899 3,46%

909.626.486 0,95% 387.317.797 1,56%

1.060.535.561 1,11% 341.784.000 1,38%

641.750.310 0,67% 150.222.314 0,61%

642.567.351 0,67% 5.010.089 0,02%

523.335.246 0,55% 157.846.238 0,64%

379.104.824 0,40% 206.585.489 0,83%

354.652.320 0,37% 130.728.301 0,53%

210.044.115 0,22% 343.110.058 1,38%

286.436.599 0,30% 130.144.204 0,52%

119.632.078 0,12% 42.126.279 0,17%

81.835.866 0,09% 52.430.154 0,21%

305.391.689 0,32% 63.264.577 0,26%

168.565.048 0,18% 35.257.203 0,14%

58.021.080 0,06% 29.982.013 0,12%

26.073.618 0,03% 16.133.770 0,07%

95.814.177.578 100,0% 24.803.593.304 100,0%

Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC

TOTAL

PRODUTOS HORTÍCOLAS, LEGUMINOSAS, RAÍZES E TUBÉRCULOS

PRODUTOS OLEAGINOSOS (EXCLUI SOJA)

RAÇÕES PARA ANIMAIS

PRODUTOS APICOLAS

PLANTAS VIVAS E PRODUTOS DE FLORICULTURA

CACAU E SEUS PRODUTOS

BEBIDAS

PESCADOS

CHÁ, MATE E ESPECIARIAS

LÁCTEOS

FRUTAS (INCLUI NOZES E CASTANHAS)

DEMAIS PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL

DEMAIS PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

ANIMAIS VIVOS (EXCETO PESCADOS)

PRODUTOS ALIMENTÍCIOS DIVERSOS

FUMO E SEUS PRODUTOS

COUROS, PRODUTOS DE COURO E PELETERIA

CEREAIS, FARINHAS E PREPARAÇÕES

SUCOS

FIBRAS E PRODUTOS TÊXTEIS

COMPLEXO SOJA

CARNES

COMPLEXO SUCROALCOOLEIRO

PRODUTOS FLORESTAIS

CAFÉ

2002PRODUTOS EXPORTADOS

2012

Tabela 4 – Exportações do Agronegócio Brasileiro – Produtos Exportados: 2002-

2012.

Fonte: Brasil (2013). f.

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28

juntamente com os preços internacionais permitiram o Brasil ocupar uma posição de

destaque entre os maiores produtores mundiais.

Guanziroli (2006, p.3) aponta a soja como uma das principais responsáveis pelo

crescimento do agronegócio no País em volume físico e financeiro envolvido e, também, pelo

crescimento da visão empresarial de administração da atividade por parte dos fornecedores de

insumos, produtores, processadores de matérias-primas e negociantes. Além disso, o autor

também considera que a soja cultivada no Brasil consegue ter uma competitividade superior

em relação à norte-americana devido à produtividade e os custos de produção das fazendas

nacionais.

O grande aumento das exportações do agronegócio brasileiro, sobretudo nos

últimos dez anos, de acordo com Guanziroli (2006, p.3) é resultado da melhoria da

competitividade da agricultura e pecuária do Brasil, além do empenho do Governo e da

iniciativa privada para divulgar e estimular o produto agrícola brasileiro no exterior.

É válido lembrar que, também, existe outro grande fator que colaborou

diretamente para que ocorresse esse aumento das exportações de soja brasileira. Esse fator foi

o crescimento das relações comerciais, envolvendo Brasil e China.

3.4 A Relação Comercial Brasil - China e o Mercado da Soja

Inicialmente, é importante comentar acerca da evolução comercial sofrida pela

China nos últimos anos, pois, conforme Melo et al. (2010, p.9),

Nos primeiros anos da década de 1970, a China tinha participação pouco

significativa no comércio internacional. O valor de suas exportações e importações

era inferior a US$ 15 bilhões, esse país era apenas o trigésimo maior exportador

mundial. Ainda, a China também era um participante pouco ativo nos mercados

financeiros mundiais.

Além disso, Melo et al. (2010, p.10) considera que a evolução chinesa, quanto à

participação nos mercados financeiros e de bens, aconteceu no final da década de 70. Isso se

deveu, principalmente, aos planos de reforma econômica lançados pelo governo chinês que,

em pouco tempo, conseguiram alterar totalmente a expressão econômica do país. Fazendo,

assim, com que a China saísse de um status de estagnação, para uma situação com condições

de disputar com os países desenvolvidos a hegemonia mundial.

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29

Melo et al. (2010, p.16) também afirma que:

A forma e o ritmo de entrada da China no comércio internacional, com grandes

escalas de produção industrial e forte demandas por insumos, levaram à redução de

preços internacionais de manufaturados e à elevação dos preços de commodities.

Com isso, os termos de troca chineses têm se deteriorado, o que leva à preocupação

por parte das autoridades locais quanto aos níveis de superávit em balanço de

pagamentos, importante elemento para a continuidade do ciclo de crescimento

daquele país.

Conforme Puga et al. (2004, p.6):

A ampliação da participação da China no comércio internacional tem contribuído

significativamente para o crescimento das exportações brasileiras. Em 2003, as

vendas do Brasil para a China aumentaram 78% em relação a 2002, tornando-se o

terceiro mercado consumidor das exportações brasileiras.

O interesse em relações comerciais do Brasil pela China é bastante atual, pois, de

acordo com Puga et al.(2004, p. 22-23), apenas no ano 2000, pode ser percebido um aumento

relevante do comércio realizado entre os dois países.

É válido lembrar que, de acordo com Melo et al. (2010, p.17) algo que

impulsionou bastante esse crescimento das relações comercias entre os dois países foi o fato

que:

De meados da Década de 1990 até o ano de 2002, os governos do Brasil e da China

assinaram dezessete acordos bilaterais. A partir de 2003, entraram em vigor dezoito

entendimentos nas áreas de ciência e tecnologia, transportes, padrões fito-sanitários,

cooperação industrial e comércio. Isto mostra claramente uma crescente

aproximação do país para com a China.

Além disso, para Melo et al. (2010, p.24), o comércio brasileiro com a China

apresenta um maior grau de concentração, tanto em exportações como em importações,

quando comparado às relações comerciais do Brasil com resto do mundo. Apontando, desse

modo, para uma pauta de exportações e importações entre China e Brasil mais concentradas

em certos produtos.

Puga et al. (2004, p. 24) afirma que o maior volume das exportações do Brasil

para China é mais intenso em poucos setores intensivos em recursos naturais, como a soja e

seus derivados, produtos de origem siderúrgica e minério de ferro.

Desse modo, Melo et al. (2010, p.27) considera que:

[...] o bom desempenho recente das exportações do Brasil para a China tem sido

reflexo do dinamismo de produtos nos quais o Brasil é competitivo em escala global.

Ou seja, os ganhos brasileiros não parecem refletir uma estratégia ativa de

diversificação e geração de novos mercados e oportunidades comerciais na China,

mas, reflete o aproveitamento de oportunidades produzidas pelo crescimento das

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30

importações chinesas, mediante a elevação da oferta de commodities produzidas no

país.

Em relação aos produtos de origem do agronegócio do Brasil, a China,

atualmente, é o principal destino das exportações brasileiras, conforme a Tabela 5.

Com base na Tabela 5, é possível perceber a grande evolução apresentado pela

China como destino das exportações do agronegócio brasileiro, aumentando, bastante, tanto

em valor importado como em participação dentro dos destinos das exportações agrícolas

nacionais, superando os Estados Unidos que, em 2002, era o principal destino.

Ainda tomando como base a Tabela 5, é possível perceber que, no último ano, a

China importou cerca de 19% de todo o volume (em US$) exportado do agronegócio

brasileiro.

Em relação à soja, atualmente, a China também é principal destino das

exportações desse produto do Brasil, apresentando uma grande evolução em relação ao valor

importado quando comparado ao ano de 2002, conforme a Tabela seguinte:

Valor (US$) Part. % Valor (US$) Part. %

CHINA 1.360.100.876 5,47% 17.975.280.966 18,76%

ESTADOS UNIDOS 4.138.756.980 16,66% 7.028.434.784 7,34%

PAISES BAIXOS 2.273.670.656 9,15% 6.123.631.401 6,39%

JAPAO 994.189.682 4,00% 3.538.263.716 3,69%

ALEMANHA 1.336.235.926 5,38% 3.121.335.383 3,26%

RUSSIA,FED.DA 1.211.345.363 4,88% 2.904.470.620 3,03%

BELGICA 1.029.686.599 4,14% 2.463.984.771 2,57%

ARABIA SAUDITA 409.796.789 1,65% 2.450.254.549 2,56%

ITALIA 1.019.888.111 4,10% 2.298.310.461 2,40%

COREIA,REP.SUL 367.800.424 1,48% 2.196.330.206 2,29%

DEMAIS 10.704.248.177 43,08% 45.713.208.880 47,71%

TOTAL 24.845.719.583 100% 95.813.505.737 100%

Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC

Elaboração: CGOE / DPI / SRI / MAPA

20122002PRINCIPAIS DESTINOS

Tabela 5 – Exportações do Agronegócio Brasileiro – Principais Destinos:

2002-2012

Fonte: Brasil (2013). g.

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31

Tabela 6 – Exportações Brasileiras do Complexo Soja – Principais Destinos:

2002-2012.

Do mesmo modo como ocorreu com as exportações do agronegócio, a China

também passou a ser, no ultimo ano, o principal destino da soja brasileira, apresentando uma

notável evolução, tanto em valor como em peso importado. Outro dado bastante importante

que pode ser observado ao se analisar as Tabelas 5 e 6 é que, no último ano, somente a China

importou do Brasil US$ 17.975.280.966 em produtos do agronegócio nacional, sendo que

,desse valor, 12.959.240.875 equivale ao complexo soja, ou seja, em torno de 72% do total

do agronegócio exportado para China corresponde ao complexo soja, demonstrando, assim, a

clara importância que a China representa dentro desse mercado para o Brasil.

De acordo com a Tabela 6 também é possível perceber que, somente a China

importou, no último ano, cerca de 50% de todo o volume do complexo soja exportado pelo

Brasil.

Conforme Puga et al. (2004, p. 28),

O Brasil passou a exportar grãos de soja para a China somente em 1996. Assim, o

desempenho das vendas do produto entre 1996 e 2002 traduziu-se integralmente em

ganhos de participação no mercado chinês. Também houve significativos ganhos de

competitividade em minérios de ferro. Por outro lado, o efeito composição do

produto foi negativamente influenciado pela drástica queda nas importações

chinesas de óleo de soja, que responderam por quase metade (47%) das exportações

brasileiras para a China em 1995.

Puga et al. (2004, p. 29) também considera que a atividade da China dentro desse

mercado tem aumentado, consideravelmente, nos últimos, tornando-a maior importadora de

artigos do complexo soja desde o ano de 1997. Além disso, no ano de 2002, a China foi

Valor (US$) Peso Líq. (KG) Valor (US$) Peso Líq. (KG)

COMPLEXO SOJA 26.114.126.794 48.956.011.861 6.006.194.118 30.413.249.745

12.959.240.875 23.689.802.611 950.307.269 4.441.712.181

2.517.975.508 5.037.541.896 1.184.895.447 6.581.222.830

1.299.533.673 2.555.802.022 300.292.579 1.663.735.049

1.222.505.292 2.441.194.408 108.733.391 594.870.942

1.130.550.656 2.360.499.099 568.413.243 3.259.610.539

1.064.502.726 2.196.306.181 412.907.570 2.181.023.341

607.792.746 1.082.815.116 36.809.523 197.131.000

493.664.490 1.078.631.422 129.918.140 744.151.485

488.656.133 831.908.145 304.593.887 1.015.710.641

431.613.777 885.004.025 7.574.804 42.258.770

389.195.421 778.601.078 151.701.744 773.367.111

3.508.895.497 6.017.905.858 1.850.046.521 8.918.455.856

Elaborado pela SRI/MAPA a partir de dados da SECEX/MDIC

VIETNA

JAPAO

OUTROS

CHINA

PAISES BAIXOS

ESPANHA

TAILANDIA

FRANCA

ALEMANHA

TAIWAN (FORMOSA)

COREIA,REP.SUL

IRA REP.ISL.DO

2012 2002

Fonte: Brasil (2013). d.

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32

responsável por 14,5% das importações mundiais de artigos pertencentes ao complexo soja,

representando um aumento bastante significativo em relação à participação de 6,6% no ano de

1995.

De acordo Puga et al. (2004, p. 30),

Em 2002, o Brasil voltou a ser o principal exportador de soja para a China, posição

que deteve em 1995 e 1996, mas que foi ocupada pelos Estados Unidos nos cinco

anos seguintes. As exportações brasileiras de soja para a China cresceram 91,5%

(9,7% ao ano) entre 1995 e 2002, superando a marca de US$ 1bilhão em 2002.

Em conformidade com a Secretaria da Receita Federal (2003 apud Puga et al.,

2004, p.30) a performance apresentada pelas vendas brasileiras dentro do mercado da soja foi

estimulado, principalmente, por:

I. Aumento da produtividade da soja brasileira, tendo superado a americana.

II. Decisões estratégicas de empresas transnacionais que consistem em utilizar as regiões

de maior eficiência na produção para suprir regiões populosas e com perspectivas de

crescimento de renda.

III. Restrição à produção de transgênicos no Brasil. Entre 2001 e 2002, a China impôs

significativas restrições à importação desses produtos. Em particular, o Ministério da

Agricultura da China especificou que:

i. O processo de certificação requerido para importação de

transgênicos pode durar até 270 dias.

ii. Cada envio de transgênicos deve ser acompanhado de um certificado

próprio.

iii. A importação de transgênicos requer o resultado de testes que

comprovem que o produto pode ser utilizado para consumo humano

e não impõe riscos a animais, plantas ou ao meio ambiente.

Desse modo, é possível perceber a grande importância que a China, que, nos

últimos anos, tornou-se um forte parceiro comercial do Brasil, representa quando se trata de

relações comerciais de produtos do agronegócio, especialmente a soja do Brasil. Nesse caso, o

grande destaque como maior importador de gêneros do agronegócio brasileiro, além de ser o

principal comprador dos produtos do complexo soja nacional atualmente.

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33

3.5 Perspectivas para a produção de soja no Brasil

Segundo o Departamento de Economia Rural do Estado do Paraná (2008, p.1), em

conseqüência da grande variedade de uso da soja e o crescimento da procura mundial por

gêneros alimentícios, os territórios destinados ao plantio de soja vem aumentando anualmente,

fazendo com que a cultura da oleaginosa ganhe, cada vez mais, destaque no cenário da

agricultura mundial. Além disso, estão ocorrendo aumentos significativos no território de soja

plantada, e investimentos em pesquisas e no desenvolvimento de cultivares mais resistentes

tem feito com que ocorram melhoras no rendimento e ajudando a aumentar a produção.

O Departamento de Economia Rural do Estado do Paraná (2008, p.7) também

considera que:

Seguindo a tendência mundial, a cultura da soja ganha cada vez mais espaço na

produção agrícola brasileira. O aumento constante do consumo de alimentos, entre

eles a carne, devido não somente ao crescimento populacional assim como também

à melhoria da renda nos países emergentes tem feito com que haja maior

investimento nos últimos anos. A produtividade vem aumentando em praticamente

todas as culturas devido ao uso de sementes certificadas, maior acompanhamento da

assistência técnica entre outras iniciativas e tem trazido ganhos não só de

quantidade, mas principalmente de qualidade.

A EMBRAPA (2013) afirma que a cultura de soja, apresenta as seguintes

perspectivas:

Crescimento do consumo e, consequentemente, crescimento da demanda por

soja no mundo devido ao aumento populacional.

Aumento do poder aquisitivo da população consumidora e, consequentemente,

aumento do consumo, destacando-se a Ásia, local onde está o maior potencial

consumidor dessa commodity.

O consumo interno de soja deverá crescer, estimulado por políticas oficiais

destinadas a aproveitar o enorme potencial produtivo do País, que está

excessivamente dependente do mercado externo.

O protecionismo e os subsídios à soja, patrocinados pelos países ricos, tenderão

a diminuir pela lógica e pressão dos mercados e da Organização Mundial do

Comércio, aumentando, consequentemente, os preços internacionais, que

estimularão a produção e as exportações brasileiras.

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34

A produção dos nossos principais concorrentes (EUA, Argentina, Índia e China)

tenderá a estabilizar-se por falta de áreas disponíveis para expansão em seus

territórios.

A cadeia produtiva da soja brasileira tenderá a desonerar-se dos pesados tributos

sobre ela incidentes, para incrementar a sua competitividade no mercado

externo, de vez que o País precisa “exportar ou morrer”.

Em relação à produção, CONAB (2013 apud. BRASIL.a, 2013, p.29) aponta que,

para 2023, a projeção no Brasil é de 99,2 milhões de toneladas, representando um aumento de

21,8%, comparando-se a atual produção nacional. Entretanto, esse percentual ainda representa

uma evolução abaixo da ocorrido na última década que foi de 66%.

No que se refere ao consumo, o Brasil (2013.a, p.29), projeta que o crescimento

da demanda por soja no mercado externo e interno se dará por meio de um grande aumento de

demanda por rações animais à base de soja, além disso, acredita-se que, também, ocorrerá um

grande incremento de consumo de soja, visando à produção de Biodiesel.

Em relação ao aumento da área plantada, consoante Brasil (2013.a, p.32) é

possível considerar que,

As projeções de expansão de área plantada de soja mostram que a área deve passar

de 27,7 milhões de hectares em 2013 para 34,4 milhões em 2023, um acréscimo de

6,7 milhões de hectares. Representa um acréscimo de 6,7 milhões de hectares em

relação à área prevista em 2012/2013. A expansão da produção de soja no país dar-

se-á pela combinação de expansão de área e de produtividade. Enquanto o aumento

de produção previsto nos próximos 10 anos é de 21,8%, a expansão da área é de

24,3%. Nos últimos anos, a produtividade da soja tem se mantido estável em 2,7

toneladas por hectare, e esse número está sendo projetado para 3,0 toneladas por

hectare nos próximos 10 anos [...]

Essa expansão da soja, conforme Brasil (2013.a, p.33), se dará através de uma

agregação da ampliação da fronteira em locais onde existem áreas produtivas disponíveis,

apropriação de terras de pastagens de lavouras e por mudanças de culturas agrícolas onde não

existem áreas disponíveis para incorporação.

Além disso, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) (2013 apud.

BRASIL.a, 2013, p.33),

Estima-se que essa expansão deve ocorrer em áreas de grande potencial produtivo,

como as áreas de cerrados compreendidas na região que atualmente é chamada de

MATOPIBA, por compreender terras situadas nos estados de Maranhão, Tocantins,

Piauí e Bahia. O Mato Grosso deverá perder força nesse processo de expansão de

novas áreas, devido principalmente aos preços de terras nesse estado que são mais

que o dobro dos preços de terras de lavouras nos estados do MATOPIBA. Como os

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35

empreendimentos nessas novas regiões compreendem áreas de grande extensão, o

preço da terra é um fator decisivo.

De acordo com essas informações, é possível perceber que a cultura de soja

tende a se expandir ainda mais no Brasil. As projeções de aumento de consumo; expansão da

área plantada e elevação da produção demonstram que essa commodity continuará a ser

bastante importante para nossa economia no decorrer dos próximos anos, firmando-se, cada

vez mais, como a commodity agrícola mais importante para a economia nacional e para as

relações comercias externas.

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36

4 CONCLUSÕES

Com base nos dados e nas informações apresentadas durante o estudo é possível

considerar que o agronegócio brasileiro está passando por uma fase de grande produtividade.

Com lavouras, cada vez, maiores e tecnologias de ponta aplicadas no campo, além de alguns

incentivos governamentais, a produtividade agrícola nacional vem contribuindo

significativamente para economia nacional devido aos bons resultados apresentados pelas

exportações desse setor nos últimos anos.

Em relação à soja, é correto afirmar que essa commodity vem, no decorrer dos

últimos anos, se firmando como o principal produto agrícola nacional. Apresentando valores

(em US$) de volume exportado maiores a cada ano, além do grande percentual de

participação dentro do cenário agrícola nacional, esse produto pode ser considerado como o

“carro-chefe” e principal responsável pelos elevados resultados das exportações do

agronegócio brasileiro.

É importante lembrar que, mesmo o Brasil sendo um dos maiores exportadores

dessa commodity no mundo, o País ainda ocupa uma situação de tomador de preços, ao invés

de formador, já que os preços da soja e de outras commodities agrícolas ainda são definidos na

Chicago Board of Trade (CBOT).

Outro ponto importante a ser considerado é o fato de a China está diretamente

envolvida nesse aumento de dinamismo do setor agrícola brasileiro, já que, nos últimos anos,

ela se consolidou como a principal importadora de produtos de gêneros agrícolas,

especialmente da soja. Conforme os dados apresentados foi possível identificar que, no último

ano, somente a China foi responsável por importar cerca de 50% de todo o volume (em US$)

do complexo soja exportado do Brasil.

Desse modo, é possível perceber a grande influência que a China exerce sobre as

importações agrícolas brasileiras, sendo responsável direta por esse crescimento no volume de

exportações, especialmente da soja.

Futuramente, projeta-se que a produção nacional; o consumo mundial e a área

plantada de soja no Brasil vão aumentar ainda mais. Desse modo, pode-se comprovar a

consolidação dessa commodity e que esse produto agrícola ainda poderá trazer muitos

benefícios para a economia nacional, seja por meio de receitas ou, até mesmo, fortificação ou

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37

novas relações comerciais que podem ser geradas por meio do comércio exterior desse

produto.

Todo o complexo soja já oferece diversos benefícios para o Brasil, porém, com

base nos dados atuais e nas projeções, é possível perceber que essa commodity ainda tem a

contribuir para o agronegócio brasileiro e, de modo geral, para toda economia nacional.

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38

REFERÊNCIAS

AGROINVVESTI. A importância do dólar na formação da cotação da soja, Passo Fundo,

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