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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIAS,
CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
FELIPE BARRETO DE LIMA CRISTINO
A IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO SOJA PARA A ECONOMIA BRASILEIRA.
UMA ANÁLISE SOB O ENFOQUE DAS EXPORTAÇÕES.
FORTALEZA
2013
1
FELIPE BARRETO DE LIMA CRISTINO
A IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO SOJA PARA A ECONOMIA BRASILEIRA.
UMA ANÁLISE SOB O ENFOQUE DAS EXPORTAÇÕES.
Monografia apresentado ao Curso de Ciências
Econômicas da Faculdade de Economia,
Administração, Atuária, Contabilidade e
Secretariado Executivo da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial para
a obtenção do Título de Bacharel em
Economia.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Américo Leite
Moreira.
FORTALEZA
2013
2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade
C951i Cristino, Felipe Barreto de Lima.
A importância do complexo soja para a economia brasileira. Uma análise
sob o enfoque das exportações / Felipe Barreto de Lima Cristino - 2013.
35 f.: il.
Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de
Economia, Administração, Atuária e Contabilidade, Curso de Ciências
Econômicas. Fortaleza, 2013.
Orientação: Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira.
1.Soja 2.Agroindústria - Brasil 3.Exportação I. Título
CDD 330
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FELIPE BARRETO DE LIMA CRISTINO
A IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO SOJA PARA A ECONOMIA BRASILEIRA.
UMA ANÁLISE SOB O ENFOQUE DAS EXPORTAÇÕES.
Monografia apresentado ao Curso de Ciências
Econômicas da Faculdade de Economia,
Administração, Atuária, Contabilidade e
Secretariado Executivo da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial para
a obtenção do Título de Bacharel em
Economia.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Américo Leite
Moreira.
Aprovada em: ____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira.
Universidade Federal do Ceará (UFC)
____________________________________________________
Prof. Alfredo José Pessoa de Oliveira.
Universidade Federal do Ceará (UFC)
____________________________________________________
Profª. Drª. Inez Silvia Batista Castro.
Universidade Federal do Ceará (UFC)
FORTALEZA
2013
4
A Deus.
Aos meus pais, Helder e Conceição.
Aos meus irmãos, Andre e Marcelo.
5
AGRADECIMENTOS
Antes de tudo, gostaria de agradecer a Deus, pois, sem ele, nada disso seria
possível e essa realização pessoal não estaria acontecendo.
Gostaria de agradecer ao Professor Dr. Carlos Américo Leite Moreira por ter
aceitado ser meu orientador e me dado total apoio e auxílio necessário para a elaboração e
defesa da minha monografia. Além disso, um agradecimento aos professores Marcelo Callado
e Henrique Félix e a todos os outros professores e colaboradores da Universidade Federal do
Ceará que estiveram presente durante minha jornada na faculdade.
Outro agradecimento vai para toda minha família, pois esteve sempre ao meu lado
e me apoiou em todos os momentos, especialmente meus pais, José Helder e Maria da
Conceição e meus irmãos, Andre Barreto e Marcelo Barreto.
Meus grandes colegas e amigos de faculdade também são merecedores de
agradecimentos, pois todos me acompanharam e apoiaram durante todo o período de
faculdade, tornando-se grandes amigos, especialmente, Anderson Cruz Barbosa; Augusta
Henz; Filipe Rabelo; Francisco Xavier; Leonardo Gadelha; Marcos Renan Magalhães; Rafael
Araujo; Raiza Mota; Rodrigo Bezerra; Thalys Mesquita; Victor Nascimento; Victor Tajra e
Vitor Monteiro.
Para finalizar, também gostaria de agradecer a outras pessoas que também me
apoiaram e me auxiliaram bastante durante todo esse período, são elas: Alana Fontenelle;
Isabel Castelo Branco; Roberta Álvaro Carneiro e, especialmente, Virna Távora, que me
ajudou bastante e dedicou parte de seu tempo em me ajudar na elaboração da monografia,
retirando minhas dúvidas e me dando conselhos de melhoramento.
Agradeço a todos vocês que foram fundamentais para essa realização. Muito
obrigado por tudo.
6
RESUMO
O agronegócio brasileiro está focando, cada vez mais, na competitividade e na modernidade.
Sendo um setor de extrema importância na economia nacional, pois participa, diretamente, da
geração de renda e emprego, denotando ao país um papel privilegiado no comércio mundial.
No Brasil, a soja é considerada como uma das principais commodities agrícolas exportadas. O
seu volume de exportações e sua rentabilidade afetam, diretamente, o PIB nacional e balanço
de pagamentos brasileiro já que essa é o “carro chefe” das exportações agrícolas do Brasil.
Sendo uma das culturas agrícola que mais evoluiu nos últimos anos, a soja corresponde, hoje,
a 49% da área plantada em grãos do país, firmando-se, assim, como um dos produtos de mais
destaque na agricultura nacional e na balança comercial. A ampliação da participação da
China no comércio internacional também é bastante importante dentro desse contexto de
evolução do agronegócio nacional e destaque da soja, já que vem contribuindo de forma
bastante significativa para o crescimento das exportações brasileiras, sendo um dos principais
destinos das exportações agrícolas nacionais. Desse modo, é possível considerar a grande
importância que a China representa para o agronegócio brasileiro e para o aumento do
destaque da soja dentro da economia nacional.
Palavras-chave: Agronegócio. Soja. Exportações. China.
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ABSTRACT
Brazilian agribusiness is focusing increasingly, competitiveness and modernity. Being a very
important sector in the national economy as take part directly in the generation of income and
employment, denoting the country a privileged role in world trade. In Brazil, soybean is
considered one of the main agricultural export commodities. The volume of exports and
profitability directly affect the national GDP and the Brazilian balance of payments since this
is the "flagship" of agricultural exports from Brazil. Being one of most agricultural crops that
evolved in the last years, soybean corresponds today to 49 % of the planted area in the
country's grain, establishing itself as well as one of the most outstanding products in the
national agriculture and trade balance. The expansion of China's participation in international
trade is also very important within this context of national developments and highlight
soybean agribusiness, as it has contributed very significantly to the growth of Brazilian
exports, one of the main destinations of national agricultural exports. Thus, it is possible to
consider the great importance China is Brazil's agribusiness sector and to increase the
prominence of soybeans within the national economy.
Keywords: Agribusiness. Soy. Exports. China.
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8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
1.2 Metodologia ........................................................................................................ 13
2 O AGRONEGÓCIO E A QUESTÃO AMBIENTAL .......................................... 14
3 A SOJA ..................................................................................................................... 16
3.1 O conceito de commodity e o Mercado de Futuros ............................................. 16
3.2 A Soja no Brasil .................................................................................................. 20
3.3 A produção de soja no Brasil .............................................................................. 24
3.4 A Relação Comercial Brasil - China e o Mercado da Soja ................................. 28
3.5 Perspectivas para a produção de soja no Brasil .................................................. 33
4 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 36
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 38
9
9
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, em conformidade com Brasil (2013.a, p.3), o agronegócio brasileiro
está caminhando para a próxima década, focando em competitividade e modernidade, fazendo
com que a utilização permanente da tecnologia seja uma opção de caminho para a
sustentabilidade.
De acordo com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (2012,
p.8) esse é um setor de extrema importância dentro da economia brasileira, participando da
geração de renda em emprego e, com isso, manifesta ao país um papel excelente dentro do
comércio mundial.
“Desde o final dos anos 90, poucos países cresceram tanto no comércio de
agronegócio como o Brasil. O País é um dos líderes mundiais na produção e exportação de
vários produtos agropecuários.” (BRASIL, 2013.b).
“Hoje o agronegócio, entendido como a soma dos setores produtivos com os de
processamento do produto final e os de fabricação de insumos, responde por quase um terço
do PIB do Brasil e por valor semelhante das exportações totais do país.” (GUANZIROLI,
2006, p.3).
Cesario et al. (2007, p.1) consideram que o forte dinamismo apresentado por esse
setor no País tem sido um dos aspectos mais importantes para a economia nacional nos
últimos anos. Considerando que de 2000 a 2004, o setor agropecuário brasileiro cresceu, em
média, 4,64% ao ano, enquanto a economia brasileira apresentava um crescimento de 2,66%
ao ano. Demonstrando, assim, que o desempenho desse setor, nesse período, foi superior aos
desempenhos da indústria e serviços no País no mesmo período.
Além disso, Cesario et al. (2007, p. 2) também afirmam que:
O setor já obteve um crescimento sustentável em termos financeiros ao longo dos
anos. Por isso, é considerado o setor mais importante da nossa economia. Os
excelentes resultados resumem sua relevância para o bolso das pessoas e para todos
os veios ligados a ele. No entanto, o agronegócio já enfrentou muitos obstáculos em
sua trajetória de crescimento. Alguns de caráter externo a ele, como distorções
macroeconômicas provocadas pela inflação e por problemas cambiais, e outros de
caráter interno, como desenvolvimento de certas tecnologias e identificação de áreas
propícias para o cultivo de determinadas culturas. Dessa forma, podemos perceber o
grau de relevância do agronegócio brasileiro para nossa economia no que se trata de
proporcionar crescimento e aquecimento da mesma.
10
Para Cesario et al. (2007, p.2), a principal explicação para o bom desempenho do
comércio exterior do agronegócio brasileiro está no ganho de competitividade das
commodities brasileiras. Isso se deu devido às melhores condições de qualidade e preços em
relação aos concorrentes. Preços esses que passaram a ser competitivos decorrentes,
principalmente, de pesquisas e desenvolvimento realizadas pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agrícola (EMBRAPA).
Conforme Guanzirolli (2006, p.3), o aumento da produtividade no campo é
consequência dos níveis tecnológicos expressivos obtidos pelos produtores rurais brasileiros
nas últimas décadas. Esse desempenho de produtividade só foi realizado devido à utilização
de insumos, basicamente sementes; adubos e agrotóxicos de primeira linha que foram
disponibilizados ao setor.
Guanziroli (2006, p.3) também que considera que:
A melhoria da competitividade da agricultura e pecuária do Brasil, sobretudo nos
últimos dez anos, e o próprio empenho do governo e da iniciativa privada em
estimular e divulgar o produto agrícola brasileiro no exterior tem proporcionado
aumento das exportações do agronegócio. Além da maior produtividade do setor, o
câmbio permitiu uma maior competitividade aos produtos brasileiros. A partir de
1999, a taxa de câmbio real permitiu que a competitividade do produto brasileiro
conseguisse ser repassada ao mercado externo. Também foram importantes na
melhoria do desempenho dos embarques os ganhos em logística, com a melhoria na
infra-estrutura de rodovias e portos. Além disso, em 1996, foi desonerada a cobrança
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incidia sobre as
exportações de produtos agropecuários. Para aumentar a participação de mercado
dos produtos agrícolas brasileiros, além do trabalho promocional desenvolvido em
conjunto pelo governo federal e iniciativa privada, o governo tem atuado junto a
OMC (Organização Mundial de Comercio) no sentido da eliminação de barreiras
comerciais nos países importadores.
Guanzirolli (2006, p.3) destaca que o atual sucesso do agronegócio foi parte de
uma estratégica, inicialmente, desenhada durante os anos 70 que teve como principal diretriz
o apontamento para a resolução de vários problemas de caráter estrutural que atrapalhavam o
desempenho da agricultura brasileira. Além disso, o papel da EMBRAPA também foi
bastante destacado devido, principalmente, ao desenvolvimento tecnológico promovido pela
mesma.
O recente sucesso do agronegócio brasileiro se deve, conforme Guanzirolli (2006,
p.23), ao Crédito Rural Subsidiado; Política de Preços Mínimos; Letras de Crédito, Mercados
Futuros e Derivativos na Agricultura; Crédito de Modernização de Frota do Maquinário
Agrícola e a Isenção do imposto de renda sobre atividades agrícolas.
11
Diante disso, Guanzirolli (2006, p.4) considera que vários fatores podem
contribuir, no longo prazo, para incrementar, ainda mais, a produção agrícola nacional,
especialmente para as culturas de soja e milho. Entre esses fatores é válido destacar o fato de
que o Brasil ainda possui várias áreas ainda inexploradas. Entretanto, em meio a perspectivas
promissoras, é importante destacar que, no curto prazo, percebe-se um declínio de preços
domésticos e internacionais e, no médio e longo prazo, surgem problemas como os de infra-
estrutura de transportes, atualmente já enfrentados pelo País, comprometendo o escoamento
da produção. Além disso, outro problema é a questão ambiental, que vem causando várias
divergências devido ao aumento do desmatamento para a abertura de novas áreas de
plantação.
Benetti (2006, p.78) considera que a função estratégica do agronegócio nacional
na evolução recente sofrida pela economia brasileira no mercado mundial, especialmente, das
commodities de valor baixo adicionado, aparenta explicar, assim, o surto de exportações
acontecido a partir da segunda metade da década de 90.
A Tabela 1 apresenta o panorama atual da balança comercial brasileira e do
agronegócio. Demonstrando a clara evolução desse setor que, no último ano, apresentou seu
maior volume em exportações e em saldo.
12
Tabela 1 - Balança comercial brasileira e balança comercial do agronegócio: 1989
a 2012.
Diante desse contexto de evolução do agronegócio brasileiro, o estudo tem por
objetivo geral analisar a representatividade, os benefícios e a importância que as exportações
de soja representam para o agronegócio e economia brasileira.
Para o melhor atendimento do objetivo geral foram estabelecidos os seguintes
objetivos específicos para o estudo:
a) Apresentar o mercado de soja.
b) Analisar a evolução das exportações da soja e do agronegócio brasileiro.
c) Apresentar algumas projeções e perspectivas para a produção e exportação de
soja brasileira.
Além disso, o estudo tem como pressuposto as seguintes hipóteses:
Total Brasil (A) Agronegócio (B) Part.% (B/A) Total Brasil (C) Agronegócio (D) Part.% (D/C) Total Brasil Agronegócio
1989 34,383 13,921 40,49 18,263 3,081 16,87 16,119 10,840
1990 31,414 12,990 41,35 20,661 3,184 15,41 10,752 9,806
1991 31,620 12,403 39,23 21,040 3,642 17,31 10,580 8,761
1992 35,793 14,455 40,38 20,554 2,962 14,41 15,239 11,492
1993 38,555 15,940 41,34 25,256 4,157 16,46 13,299 11,783
1994 43,545 19,105 43,87 33,079 5,678 17,16 10,466 13,427
1995 46,506 20,871 44,88 49,972 8,613 17,24 -3,466 12,258
1996 47,747 21,145 44,29 53,346 8,939 16,76 -5,599 12,206
1997 52,983 23,367 44,10 59,747 8,193 13,71 -6,765 15,173
1998 51,140 21,546 42,13 57,763 8,041 13,92 -6,624 13,505
1999 48,013 20,494 42,68 49,302 5,694 11,55 -1,289 14,800
2000 55,119 20,594 37,36 55,851 5,756 10,31 -0,732 14,838
2001 58,287 23,857 40,93 55,602 4,801 8,64 2,685 19,056
2002 60,439 24,840 41,10 47,243 4,449 9,42 13,196 20,391
2003 73,203 30,645 41,86 48,326 4,746 9,82 24,878 25,899
2004 96,677 39,029 40,37 62,836 4,831 7,69 33,842 34,198
2005 118,529 43,617 36,80 73,600 5,110 6,94 44,929 38,507
2006 137,807 49,465 35,89 91,351 6,695 7,33 46,457 42,769
2007 160,649 58,420 36,37 120,617 8,719 7,23 40,032 49,701
2008 197,942 71,806 36,28 172,985 11,820 6,83 24,957 59,987
2009 152,995 64,786 42,35 127,722 9,900 7,75 25,273 54,886
2010 201,915 76,442 37,86 181,768 13,391 7,37 20,147 63,051
2011 256,040 94,968 37,09 226,238 17,497 7,73 29,802 77,471
2012 242,580 95,814 39,50 223,142 16,406 7,35 19,438 79,408
Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC
Elaboração:CGOE / DPI / SRI / MAPA
US$ Bilhões
AnoExportações Importações Saldo
Fonte: Brasil (2013). d.
13
1. A soja apresentou um aumento considerável em seu volume de exportações nos
últimos anos, tornando-se, assim, a commodity agrícola mais importante dentro do
cenário econômico brasileiro.
2. O aumento do dinamismo do agronegócio brasileiro está, diretamente, relacionado ao
crescimento da demanda asiática, principalmente chinesa, por commodities agrícolas
nacionais.
1.2 Metodologia
Este é um estudo econômico. Trabalhando com base em pesquisas de caráter
exploratório; descritiva; bibliográfica; qualitativa, quando se descreve o mercado de soja e
suas características, e quantitativa, ao se apresentar dados estatísticos acerca desse mercado.
Tendo como base dados governamentais com fonte no Ministério da Agricultura e
EMBRAPA, como os dados do balanço de pagamentos nacional e informações acerca do
comércio exterior do Brasil, além disso, também são usadas fontes teóricas, tendo como
referência artigos e monografias relacionadas ao tema em questão dos autores Mafioletti;
Guanziroli; Melo; Puga entre outros.
A primeira parte do estudo consiste em uma caracterização geral do agronegócio
brasileiro, trazendo informações relacionadas à soja, como histórico do mercado no Brasil,
passando pela formação de preço e caracterização do mercado agrícola e da soja no Brasil.
A segunda parte consiste em trazer dados estatísticos relacionados à soja e ao
agronegócio nacional, como dados acerca do volume de exportações; principais destinos da
commodity e dados sobre o comércio bilateral Brasil-China. Nessa parte do estudo, onde
foram realizadas as análises dos dados e elaboradas as conclusões, utilizaram-se os dados
compreendidos no intervalo de 10 anos, entre os anos de 2002 a 2012, onde foi analisada a
evolução dos valores compreendidos dentro desse período. Desse modo, a análise se torna
mais didática e compreensível, além disso, é válido lembrar que, antes de 2002, os dados
referentes à soja, ainda, não eram muito bem trabalhados e consolidados.
O estudo buscou, principalmente, relacionar a relevância que as exportações de
soja representam sobre o agronegócio e a economia brasileira, focando no comércio exterior e
no volume de exportações dessa commodity, seja em valor ou quantidade.
14
2 O AGRONEGÓCIO E A QUESTÃO AMBIENTAL
Antes de ser feita a análise acerca das exportações do agronegócio e sobre a soja,
é importante analisar um assunto que, diante do atual contexto de expansão do agronegócio
nacional, vem sendo bastante discutido. Essa questão se refere aos impactos que o
crescimento do setor agrícola pode gerar sobre o meio-ambiente.
“No agronegócio tem-se fortemente a utilização de insumos nocivos ao meio
ambiente e práticas produtivas que causam danos”. (SILVA, 2012, P.24).
Baseado nesse panorama atual, que Romeiro (2007 apud SILVA, 2012, p.24)
considera que uma questão essencial é a problemática da sustentabilidade devido à
necessidade de reduzir os impactos que são gerados, principalmente na agricultura. Entre os
principais impactos temos a erosão e contaminação dos solos e da água. Desse modo, uma
atitude tomada por algumas empresas é incorporar ações consideradas sustentáveis às suas
estratégias, buscando, assim, mais vantagens competitivas e, além disso, melhorar sua
imagem diante da opinião pública.
Com base nisso, conceitos como a sustentabilidade tem ganhado bastante
importância e força dentro do agronegócio brasileiro.
Dentro desse contexto, Souza Filho (2009 apud SILVA, 2012, p. 24) afirma que:
A agricultura tem forte impacto sobre o meio ambiente, por isso os efeitos da
exploração têm sido objeto de grande preocupação e discussão. Nesse sentido, o
conceito de desenvolvimento sustentável tem ganhado força. O conceito envolve um
conjunto de questões simultâneas, tais como crescimento econômico, exploração
racional dos recursos naturais, conservação, qualidade de vida, pobreza e
distribuição de renda.
Além disso, em relação à sustentabilidade, Silva (2012, p.29) considera que:
[...] tem ganhado destaque devido à crescente conscientização da necessidade de
melhoria nas condições ambientais, econômicas e sociais, de forma a aumentar
qualidade de vida de toda a sociedade, preservando o meio ambiente, assim como ter
organizações sustentáveis econômicas e indivíduos socialmente sustentáveis. Mais
que os benefícios à sociedade, a adoção de mecanismos sustentáveis tem sido
estrategicamente pensados como uma forma de diferenciação de produtos e também
para inserção em alguns mercados.
Além da sustentabilidade, outro conceito que também vem se destacado dentro do
agronegócio é a Economia Verde que, conforme a Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento Sustentável (2012, p.15):
15
[...] é caracterizada por mover os cultivos industriais e de subsistência em direção às
práticas ecologicamente corretas, tais como: uso eficiente de água, uso extensivo de
nutrientes naturais e orgânicos do solo, cultura ideal do solo e controle integrado de
pragas. Para tal, são necessários bens de capital físico, investimentos financeiros,
pesquisa e investimento em capacitação, além de educação em seis áreas:
gerenciamento de fertilidade do solo, o uso mais eficiente e sustentável da água,
diversificação de culturas e animais, gerenciamento da saúde animal e vegetal
biológicos, nível adequado de mecanização agrícola. Uma análise do plano agrícola
sugere que as práticas de cultivo verde podem aumentar substancialmente o
rendimento.
“O conceito de Economia Verde não substitui o de Desenvolvimento Sustentável,
porém existe um reconhecimento de que a prática da sustentabilidade é baseada quase que
totalmente na aquisição do modelo correto de economia.” (PROGRAMA DAS NAÇÕES
UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE apud FUNDAÇÃO BRASILEIRA PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, 2012, p.7).
De acordo com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (2012,
p.7):
Para se fazer a transição para uma Economia Verde são necessárias condições
facilitadoras, que consistem de um pano de fundo de regulamentos nacionais,
políticas, subsídios e incentivos, mercado internacional, infraestrutura legal e
protocolos comerciais e de apoio. Em escala nacional, os exemplos de tais condições
são: mudanças na política fiscal, reforma e redução de subsídios prejudiciais ao
meio ambiente; emprego de novos instrumentos de base de mercado; procura de
investimentos públicos para setores-chave “verdes”; tornar mais “verdes” os
contratos públicos; e a melhoria das regras e regulamentos ambientais, bem como
sua execução. Na escala mundial, também há oportunidades para complementar a
infraestrutura de mercado, melhorar o fluxo de comércio e de apoio e promover
maior cooperação internacional.
Com base nesse contexto de evolução das exportações do agronegócio nacional, o
presente estudo visa analisar a evolução do agronegócio, juntamente com a expansão da
cultura e das exportações da commodity soja no Brasil que, nos últimos anos, está
apresentando um grande crescimento no volume e na participação das exportações, tornando-
se, assim, um dos produtos essenciais para o agronegócio; comércio exterior e economia do
País.
16
3 A SOJA
3.1 O conceito de commodity e o Mercado de Futuros
A soja é um produto agrícola que se enquadra no conceito de commodity e que
Branco (2008, p.12) define como:
[...] o termo utilizado para se referir aos produtos de origem primaria que são
transacionados nas bolsas de mercadorias. São normalmente produtos em estado
bruto ou com pequeno grau de industrialização, com qualidade quase uniforme e são
produzidos e comercializados em grandes quantidades do ponto de vista global.
Também podem ser estocados sem perda significativa em sua qualidade durante
determinado período. Podem ser produtos agropecuários, minerais ou ate mesmo
financeiros.
Em relação ao preço das commodities, o Banco do Nordeste do Brasil (2008, p.5)
considera que:
As turbulências financeiras internacionais provocadas pela economia dos Estados
Unidos desde o segundo semestre do ano passado, vieram se somar agudas pressões
inflacionárias provindas de acelerações de altas e excessos de volatilidade de preços
de commodities estratégicas para o crescimento e desenvolvimento, em que se des-
tacam petróleo e alimentos.
Além disso, “historicamente, sabe-se que os preços agrícolas sofrem sistemáticas
flutuações, alternando-se períodos de altas com períodos de baixas, em que os últimos tendem
a prevalecer no longo prazo [...]”. (BANCO DO NORDESTE DO BRASIL, 2008, p.7).
De acordo com o Banco do Nordeste do Brasil (2008, p.8-9), existem
particularidades importantes referentes às altas nos preços dos alimentos. São fatores que, no
longo e médio prazo, atingem as condições internacionais de demanda e oferta por alimentos.
Esses fatores são divididos em duas categorias, sendo eles:
Fatores Conjunturais:
I. Desequilíbrios climáticos que, temporalmente, são reversíveis.
II. Os movimentos especulativos em mercados de commodities.
III. A redução, em nível mundial, considerável no ramo de pesquisas
agrícolas.
IV. A expansão recente dos níveis de demanda, sendo consequência, direta,
das melhorias de rendimentos dos mais pobres, principalmente, na Ásia;
Brasil e Rússia.
17
Fatores Estruturais:
I. Acelerados processos de urbanização, destacando-se aqueles observados
em países da Ásia e da África, os quais implicam aceleração da demanda,
independentemente do aumento das rendas per capita, inclusive com
significativas modificações nos padrões de consumo.
II. Modelo de expansão urbano-industrial fundamentado em sobreconsumo
de energias e materiais não-renováveis.
III. Tradicional domínio da oferta das mega empresas transnacionais do setor
agroindustrial.
IV. Desertificação e outras degradações ambientais em larga extensão, com
reduzidas possibilidades de reversão.
V. Apropriação concentrada da terra rural e ociosidade deliberada.
VI. Ausência de políticas públicas sistemáticas e eficazes, aos níveis nacionais
e internacionais, com vistas a garantir, com sustentabilidade no longo
prazo, a segurança alimentar das populações pobres expostas aos riscos de
fome e subnutrição.
A negociação das commodities é feita, em geral, por meio de um mercado
conhecido por Bolsa de Mercadorias e Futuros, o qual Branco (2008, p.13) considera que:
Nelas, o principal objetivo é, alem de negociar contratos a termo, de opções e swaps,
e organizar, desenvolver e operacionalizar um transparente e livre mercado de
futuros. Um mercado que possa proporcionar aos agentes econômicos oportunidades
para realização de operações de hedge como forma de proteção contra as flutuações
de preços dos mais variáveis tipos de commodities, taxas de juros, taxas de cambio,
índices de ações ou qualquer outra variável macroeconômica cuja incerteza quanto
ao seu futuro possa influenciar de maneira negativa a atividade econômica.
Para Branco (2008, p.13), são através de contratos futuros que são firmados os
compromissos de compra e de venda de ativos, onde são especificadas questões relevantes,
como os prazos de entrega; as quantidades a serem negociadas; datas de pagamento e valores.
O nome contrato de futuros decorre do fato de os envolvidos na negociação definirem um
preço, hoje, para uma quantidade de produto que será entregue apenas futuramente. Porém, é
válido lembrar que nesse tipo de operação, o dinheiro pode ser recebido antecipadamente ou
na data da entrega. Além disso, nesse tipo de contrato é determinada a quantidade de produto
a ser comprada e a ser vendida, porém, o preço já é pré-determinado no ato do fechamento do
contrato.
18
Dentro do contexto de mercado de futuros, também é válido explicar sobre
como se dá a formação de preços da soja e da maioria das outras commodities agrícolas que,
conforme Mafioletti (2000, p.20):
[...] ocorre nas bolsas de mercadorias e futuros internacionais e através da dedução
dos custos de transporte, armazenamento e impostos chega-se aos preços nas várias
regiões de comercialização do mercado físico (Spot). No caso da soja, a expectativa
é de que os preços sejam formados na Chicago Board of Trade (CBOT).
Além disso, a Agroinvvesti (2013) considera que:
Por se tratar de uma commodity negociada no mundo inteiro e com grande liquidez,
tanto em Bolsa quanto no mercado físico, a soja tem a variação da sua cotação
totalmente atrelada no sobe e desce do câmbio. A moeda norte-americana é o fator
multiplicador fundamental da formação final do preço para o produtor. A sua
variação tem significativo resultado na conta da margem de lucratividade da
produção. A moeda americana sob valorizada em comparação as demais
concorrentes mundiais, diminui o apelo pela commodity. Reduzindo o apelo, a
oferta fica maior que a demanda e consequentemente pressiona as cotações na
Chicago Board of Trade (CBOT), fazendo com que ocorram realizações e vendas
por parte dos participantes de mercado.
Barros (1987 apud MAFIOLETTI, 2000, p.20) considera que o processo em que
se da à formação e a determinação de preços das commodities agrícolas é realizado sob a
dependência de uma superestrutura institucional, dada como prioritariamente devido ao grau
de competitividade do mercado e pelo nível de intervenção governamental no mesmo. Desse
modo, para se explicar a formação de preços agrícolas, é necessário considerar os seguintes
fatores que podem ser determinantes para a variação dos preços:
I. O nível do produtor: mudanças tecnológicas, preços dos fatores e produtos
alternativos, financiamento, clima, etc.
II. O nível do intermediário: variações nos custos dos insumos de comercialização
(transporte, armazenamento, condições de financiamento, etc.).
III. O nível do consumidor: variações na renda, população, preços de outros bens, etc.
Porém, é importante considerar que, mesmo que esses fatores permaneçam
inalterados, incluindo as condições de ceteris paribus, outros fatores poderiam levar a uma
variação nos preços, são elas:
i. Variações cíclicas: Originam-se na defasagem entre a decisão de produção e a
disponibilidade do produto para comercialização. Ocorrendo, nesse intervalo de
tempo, a formação das expectativas para diferentes graus de confiabilidade.
19
ii. Variações estacionais: Originam-se após se ter certo volume de produção. Desse
modo, os custos de armazenamento e preservação e a escassez de capital financeiro
resultam em oscilações periódicas dos preços e do abastecimento.
Margarido et al. (1998 apud MAFIOLETTI, 2000, p.27) afirma que , mesmo nas
condições do Brasil de grande produtor e exportador de soja, o País ainda é considerado como
um tomador de preços e não como formador, devido a isso, as cotações do preço dessa
commodity, dentro do mercado interno, ainda são baseadas nas cotações da Bolsa de Chicago.
Em relação ao mercado interno, Mafioletti (2000, p.29) considera que a formação
de preços da soja se dá por dois meios, são os seguintes:
a. Preços recebidos pelos exportadores: Nesse caso, os preços são baseados nas
cotações da Bolsa de Chicago, às quais são somados prêmios específicos.
Onde esses prêmios são determinados de acordo com uma série de critérios,
podendo ser positivos ou negativos.
Os principais critérios são: i) condições de oferta e demanda no mercado
interno; ii) pequenas diferenças de qualidade, principalmente ligadas ao teor de proteína do
farelo; iii) eficiência do porto exportador e; iv) condições de pagamento, principalmente para
o óleo Aguiar (1990 apud MAFIOLETTI, 2000, p. 29).
b. Preços recebidos pelos produtores.
Os preços recebidos pelos produtores, de acordo com Neves (1993 apud
MAFIOLETTI, 2000, p.32) sofrem variações resultantes de três fatores que são: Soma dos
preços dos diversos serviços adicionados; deslocamento da curva de demanda de algum dos
produtos derivados e variações nas quantidades produzidas face às variações climáticas,
estrutura de custos, entre outros.
Barros et al. (1997 apud MAFIOLETTI, 2000, p.29) considera que:
No caso particular do preço da soja no Brasil, estudos econométricos têm mostrado
que a formação do seu preço dá-se de fora para dentro. Os preços se formariam em
mercados internacionais e os produtores seriam bem informados e passariam a
reivindicar internamente preços compatíveis com os praticados no mercado externo.
Dessa forma, a formação dos preços da soja a nível mundial começa com Roterdã,
refletindo-se nas cotações da bolsa de futuros de Chicago (CBOT), derivando daí a
demanda pelo produto brasileiro, o qual recebe um ágio ou deságio (prêmio) e
deduzem-se os custos de frete, chegando-se ao preço no porto de Paranaguá.
20
Para Mafioletti (2000, p.30), também é importante perceber que a formação dos
preços da soja e de outras commodities agrícolas dependerá também dos custos operacionais e
da concorrência, ou seja, o preço final dependerá da necessidade da operadora repor estoques,
obter produto, etc.
Finalizando, Mafioletti (2000, p.30) considera que:
Na safra, os preços da bolsa têm um peso maior e o cálculo da paridade representa
melhor o preço nas diversas praças. Na entressafra, no entanto, os preços dependem
quase que totalmente das variações de oferta e demanda da indústria esmagadora
nacional. Estas variações, por seu lado, são influenciadas principalmente pelo
mercado de farelo, pois este é o principal produto oriundo do esmagamento da soja.
Desse modo, é possível perceber que, mesmo com o aumento da produção
nacional e o destaque que o País possui dentro do mercado de soja, a formação de preços da
soja ainda é, em boa parte, definido por movimentos especulativos exercidos, principalmente,
na Chicago Board of Trade (CBOT), fazendo, assim, com que o Brasil se enquadre como
tomador de preços e não como formador.
3.2 A Soja no Brasil
“A soja (Glycine max (L.) Merrill) é uma cultura cuja origem se atribui ao
continente asiático, sobretudo a região do rio Yangtse, na China [...]”. (CENTRO DE
INTELIGÊNCIA DA SOJA, 2013).
Conforme o Centro de Inteligência da Soja (2013) é possível considerar que:
O cultivo da soja é muito antigo. Alguns relatos revelam que os plantios de soja
remontam há 2838 anos A.C, na China, sendo muitos desses escritos numa língua
ainda arcaica. Na cultura chinesa daquele período, algumas plantas eram
consideradas sagradas, dentre elas a soja. Por séculos, a cultura permaneceu restrita
ao oriente, só sendo introduzida no ocidente, pela Europa, por volta do século XV,
não com finalidade de alimentação, como acontecia na China e Japão, mas de
ornamentação, como na Inglaterra, França e Alemanha.
O Centro de Inteligência da Soja (2013) afirma que as primeiras tentativas de
produzir soja na Europa fracassaram, principalmente devido aos fatores climáticos e à
ausência de conhecimento sobre as exigências dessa cultura agrícola. Porém, no final do
século XIX e começo do século XX, os norte-americanos conseguiram produzir, em escala
comercial, o cultivo da soja, através da criação de novas variedades com teor de óleo mais
elevado. A partir de então, passou a ocorrer aumento do cultivo e produção da soja na região.
21
Em relação ao Brasil, o Centro de Inteligência da Soja (2013) considera que:
A introdução da soja no Brasil deu-se por volta de 1882, e foi o professor Gustavo
Dutra, da Escola de Agronomia da Bahia, o responsável pelos primeiros estudos
com a cultura no país. Cerca de dez anos depois, o Instituto Agronômico de
Campinas (IAC), no Estado de São Paulo, também iniciou estudos para obtenção de
cultivares aptos à região. Naquela época, porém, o interesse pela cultura não era pelo
seu material nobre, o grão, era mais pela planta como uma espécie a ser utilizada
como forrageira e na rotação de culturas. Os grãos eram administrados aos animais
já que ainda não havia o seu emprego na indústria.
O Centro de Inteligência da Soja (2013) afirma que, no início do século XX, cerca
de dez anos após o início dos estudos com a cultura de soja no Brasil, o Instituto Agrônomico
de Campinas (IAC) iniciou o processo de distribuição de sementes para os produtores. Foi
nesse período que a região sul do Brasil, especificamente, o Rio Grande do Sul, iniciou seu
cultivo de soja. Foi nessa região, especificamente, onde a cultura de soja se desenvolveu
devido às boas condições oferecidas para seu cultivo nessa região, como a semelhança de
clima com a região sul dos Estados Unidos.
De acordo com a EMBRAPA (2013),
O primeiro registro de cultivo comercial de soja no Brasil data de 1914 no município
de Santa Rosa, RS. Mas foi somente a partir dos anos 40 que ela adquiriu alguma
importância econômica, merecendo o primeiro registro estatístico nacional em 1941,
no Anuário Agrícola do RS: área cultivada de 640 ha, produção de 450t e
rendimento de 700 kg/ha. Nesse mesmo ano, instalou-se a primeira indústria
processadora de soja do País (Santa Rosa, RS) e, em 1949, com produção de
25.000t, o Brasil figurou pela primeira vez como produtor de soja nas estatísticas
internacionais.
Porém, conforme a EMBRAPA (2013), foi somente a partir da década de 60 que a
soja se firmou como cultura economicamente importante para o Brasil, impulsionada por
políticas de subsídios ao trigo e visando auto-suficiência. Durante esse período, a
produtividade de soja foi multiplicada por cinco, onde 98% de todo volume produzido era
concentrado nos três estados da região Sul do País.
Mesmo com o grande crescimento apresentado durante a década de 60, em
conformidade com a EMBRAPA (2013) foi somente na década seguinte que a soja se
consolidou como a principal cultura do agronegócio nacional, elevando a produção de 1,5
milhões de toneladas em 1970 para mais de 15 milhões de toneladas em 1979. Essa evolução
da produção foi consequência de um expressivo incremento na produtividade devido às novas
tecnologias que passaram a ser disponibilizadas aos produtores, além disso, ocorreu um
22
grande aumento da área cultivada, passando de 1,3 para 8,8 milhões de hectares. Nesse
período, boa parte da produção ainda se concentrava na região Sul do País, cerca de 80%.
Durante as décadas de 80 e 90, o grande crescimento produtivo ocorrido, antes, na
região Sul do Brasil, repetiu-se na região tropical do País. Em conformidade com a
EMBRAPA (2013),
Em 1970, menos de 2% da produção nacional de soja era colhida no centro-oeste.
Em 1980, esse percentual passou para 20%, em 1990 já era superior a 40% e em
2003 está próximo dos 60%, com tendências a ocupar maior espaço a cada nova
safra. Essa transformação promoveu o Estado do Mato Grosso, de produtor marginal
a líder nacional de produção e de produtividade de soja, com boas perspectivas de
consolidar-se nessa posição.
De acordo com a EMBRAPA (2013), A soja foi a única cultura a ter um
crescimento expressivo na sua área cultivada ao longo das últimas três décadas. Atualmente,
em conformidade com Brasil (2013.a, p.28), Mato Grosso lidera a produção de soja no País
com 29% de toda produção nacional, seguido pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e
Goiás, produzindo 19,5%; 15,4% e 10,5%, respectivamente. Porém, a produção de soja está
expandindo-se para novos territórios, como Bahia; Maranhão e Tocantins e Piauí que, juntas,
atualmente, respondem por 8,4% de toda produção brasileira de soja.
Segundo a EMBRAPA (2013), Muitos fatores contribuíram para que a soja se
estabelecesse como uma importante cultura, primeiro no sul do Brasil (anos 60 e 70) e,
posteriormente, nos Cerrados do Brasil Central (anos 80 e 90). Alguns desses fatores são
comuns a ambas as regiões, outros não. Dentre aqueles que contribuíram para seu rápido
estabelecimento na Região Sul, pode-se destacar:
Semelhança do ecossistema do sul do Brasil com aquele predominante no sul dos
EUA, favorecendo o êxito na transferência e adoção de variedades e outras
tecnologias de produção.
Estabelecimento da “Operação Tatu” no RS, em meados dos anos 60, cujo
programa promoveu a calagem e a correção da fertilidade dos solos, favorecendo o
cultivo da soja naquele estado, então o grande produtor nacional da oleaginosa.
Incentivos fiscais disponibilizados aos produtores de trigo nos anos 50, 60 e 70
beneficiaram igualmente a cultura da soja, que utiliza, no verão, a mesma área, mão
de obra e maquinaria do trigo cultivado no inverno.
23
Mercado internacional em alta, principalmente em meados dos anos 70, em
resposta à frustração da safra de grãos na Rússia e China, assim como da pesca da
anchova no Peru, cuja farinha era amplamente utilizada como componente proteico
na fabricação de rações para animais, para o que os fabricantes do produto
passaram a utilizar-se do farelo de soja.
Substituição das gorduras animais (banha e manteiga) por óleos vegetais, mais
saudáveis ao consumo humano.
Estabelecimento de um importante parque industrial de processamento de soja, de
máquinas e de insumos agrícolas, em contrapartida aos incentivos fiscais do
governo, disponibilizados tanto para o incremento da produção, quanto para o
estabelecimento de agro-indústrias.
Facilidades de mecanização total da cultura.
Surgimento de um sistema cooperativista dinâmico e eficiente, que apoiou
fortemente a produção, a industrialização e a comercialização das safras.
Estabelecimento de uma bem articulada rede de pesquisa de soja envolvendo os
poderes públicos federal e estadual, apoiada financeiramente pela indústria privada
(Swift, Anderson Clayton, Samrig, etc.).
Melhorias nos sistemas viário, portuário e de comunicações, facilitando e
agilizando o transporte e as exportações.
Em relação à região central do Brasil, considerada a nova e principal fronteira da
soja, a EMBRAPA (2013) destaca as seguintes causas para que possam explicar o grande
crescimento da produção de soja:
Construção de Brasília na região, determinando uma série de melhorias na infra-
estrutura regional, principalmente vias de acesso, comunicações e urbanização.
Incentivos fiscais disponibilizados para a abertura de novas áreas de produção
agrícola, assim como para a aquisição de máquinas e construção de silos e
armazéns.
24
Estabelecimento de agro-indústrias na região, estimuladas pelos mesmos incentivos
fiscais disponibilizados para a ampliação da fronteira agrícola.
Baixo valor da terra na região, comparado ao da Região Sul, nas décadas de
1960/70/80.
Desenvolvimento de um bem sucedido pacote tecnológico para a produção de soja
na região, com destaque para as novas cultivares adaptadas à condição de baixa
latitude da região.
Topografia altamente favorável à mecanização, favorecendo o uso de máquinas e
equipamentos de grande porte, o que propicia economia de mão de obra e maior
rendimento nas operações de preparo do solo, tratos culturais e colheita.
Boas condições físicas dos solos da região, facilitando as operaçõesda maquinaria
agrícola e compensando, parcialmente, as desfavoráveis características químicas
desses solos.
Melhorias no sistema de transporte da produção regional, com o estabelecimento de
corredores de exportação, utilizando articuladamente rodovias, ferrovias e
hidrovias.
Bom nível econômico e tecnológico dos produtores de soja da região, oriundos, em
sua maioria, da Região Sul, onde cultivavam soja com sucesso previamente à sua
fixação na região tropical.
Regime pluviométrico da região altamente favorável aos cultivos de verão, em
contraste com os frequentes veranicos ocorrentes na Região Sul, destacadamente no
RS.
3.3 A produção de soja no Brasil
“[...] A soja corresponde, hoje, a 49% da área plantada em grãos do país. Além
disso, a oleaginosa se firmou como um dos produtos mais destacados na agricultura nacional
e na balança comercial.” (Brasil, 2013.c).
25
O seu volume de exportações e sua rentabilidade afetam, diretamente, o PIB
nacional e balanço de pagamentos brasileiro já que essa é o “carro chefe” das exportações
agrícolas do Brasil. É possível perceber uma grande evolução no volume brasileiro exportado
desse grão nos últimos anos. A Tabela 2 representa a evolução das exportações do complexo
soja no Brasil.
Com base nos dados, é possível perceber a grande evolução em relação ao valor
exportado nos últimos anos.
A Tabela 3 é mais detalhada e representa a evolução do volume em valor
exportado e da participação dos componentes do complexo soja que, no caso são o farelo de
soja; a soja em grãos e o óleo de soja, comparando-os à outros produtos agrícolas exportados.
Mil US$ Toneladas Valor Quant. US$/t Var. (%)
2002 6.006.195 30.413.249 - - 197 -
2003 8.122.103 35.969.796 35,2% 18,3% 226 14,3%
2004 10.041.490 36.240.405 23,6% 0,8% 277 22,7%
2005 9.473.586 39.549.378 -5,7% 9,1% 240 -13,5%
2006 9.308.112 39.702.641 -1,7% 0,4% 234 -2,1%
2007 11.381.459 38.541.225 22,3% -2,9% 295 26,0%
2008 17.980.184 39.098.238 58,0% 1,4% 460 55,7%
2009 17.239.708 42.394.703 -4,1% 8,4% 407 -11,6%
2010 17.107.048 44.296.851 -0,8% 4,5% 386 -5,0%
2011 24.139.420 49.069.750 41,1% 10,8% 492 27,4%
2012 26.114.125 48.956.010 8,2% -0,2% 533 8,4%
AnoComplexo Soja Variação (%) Preço Médio
Fonte: AgroStat Brasil, a partir de dados da SECEX/MDIC
Tabela 2 – Exportações Brasileiras do Complexo Soja no Brasil: 2002 a 2012.
Fonte: Brasil (2013). e.
26
Com base na Tabela 3, é possível perceber que a soja em grãos corresponde ao
produto agrícola nacional com maior participação no valor das exportações, além disso, é
notável que, nesse intervalo de dez anos, todos os componentes do complexo soja
apresentaram uma grande evolução em relação ao valor exportado.
Também é válido observar que, o óleo de soja, por sua vez, dos produtos
pertencentes ao complexo soja, é o que representa o menor volume dentro das exportações
nacionais.
De forma geral, a Tabela 4 expressa a evolução compreendida entre os anos de
2002 a 2012, comparando todo o complexo soja aos demais grupos de produtos agrícolas
exportados pelo Brasil.
Valor (US$) Part. % Valor (US$) Part. %
TOTAL 95.814.177.578 100,0% 24.803.593.304 100,0%
SOJA EM GRÃOS 17.447.306.054 18,2% 3.029.177.169 12,2%
AÇÚCAR EM BRUTO 10.030.103.067 10,5% 1.111.342.998 4,5%
CARNE DE FRANGO 7.211.201.783 7,5% 1.392.823.429 5,6%
FARELO DE SOJA 6.595.483.857 6,9% 2.198.958.730 8,9%
CEREAIS 6.452.301.318 6,7% 266.839.502 1,1%
CARNE BOVINA 5.744.134.848 6,0% 1.143.840.655 4,6%
CAFÉ VERDE 5.721.757.641 6,0% 1.195.531.237 4,8%
MILHO 5.287.267.448 5,5% 259.944.725 1,0%
CELULOSE 4.700.499.229 4,9% 1.160.146.998 4,7%
FUMO NÃO MANUFATURADO 3.197.303.248 3,3% 977.669.510 3,9%
AÇÚCAR REFINADO 2.814.765.927 2,9% 982.300.747 4,0%
OLEO DE SOJA 2.071.336.883 2,16% 778.058.219 3,1%
DEM AIS 18.540.716.275 19,4% 10.306.959.385 41,6%
Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC
Elaboração: CGOE / DPI / SRI / MAPA
2012 2002PRINCIPAIS
PRODUTOS EXPORTADOS
EXPORTAÇÃO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO - TOTAL
Tabela 3 – Exportações do Agronegócio Brasileiro – Principais Produtos
Exportados: 2002-2012.
Fonte: Brasil (2013). f.
27
Com base na Tabela 4 é possível perceber, no último ano, o grande volume em
valor exportado apresentado pelos produtos pertencentes ao complexo soja e a grande
diferença apresentada, tanto em participação como em valor, quando comparado aos outros
grupos de produtos agrícolas exportados. Além disso, também é possível perceber a grande
evolução em relação ao valor exportado do complexo soja dentro do intervalo compreendido.
Demonstrando, assim, a grande participação que esse grupo de produtos representa nas
exportações agrícolas do Brasil, influenciando, desse modo, também, diretamente, a economia
nacional.
Conforme Batista et al. (2011, p.10),
Quando se associa a elevada produtividade, aos baixos custos de produção e aos
preços competitivos no mercado internacional, o resultado converge em apontar a
soja como uma das atividades mais expressivas da agricultura brasileira na pauta de
exportações. As taxas de crescimento positivas na produtividade da oleaginosa
Valor (US$) Part. % Valor (US$) Part. %
26.114.126.794 27,25% 6.006.194.118 24,22%
15.735.682.498 16,42% 3.194.554.172 12,88%
15.044.586.196 15,70% 2.280.345.671 9,19%
9.067.485.007 9,46% 4.271.429.838 17,22%
6.462.656.546 6,74% 1.384.821.726 5,58%
3.256.987.488 3,40% 1.008.227.724 4,06%
2.623.717.303 2,74% 2.330.534.325 9,40%
6.674.305.709 6,97% 322.725.880 1,30%
2.451.464.388 2,56% 1.095.949.744 4,42%
2.615.593.458 2,73% 858.993.899 3,46%
909.626.486 0,95% 387.317.797 1,56%
1.060.535.561 1,11% 341.784.000 1,38%
641.750.310 0,67% 150.222.314 0,61%
642.567.351 0,67% 5.010.089 0,02%
523.335.246 0,55% 157.846.238 0,64%
379.104.824 0,40% 206.585.489 0,83%
354.652.320 0,37% 130.728.301 0,53%
210.044.115 0,22% 343.110.058 1,38%
286.436.599 0,30% 130.144.204 0,52%
119.632.078 0,12% 42.126.279 0,17%
81.835.866 0,09% 52.430.154 0,21%
305.391.689 0,32% 63.264.577 0,26%
168.565.048 0,18% 35.257.203 0,14%
58.021.080 0,06% 29.982.013 0,12%
26.073.618 0,03% 16.133.770 0,07%
95.814.177.578 100,0% 24.803.593.304 100,0%
Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC
TOTAL
PRODUTOS HORTÍCOLAS, LEGUMINOSAS, RAÍZES E TUBÉRCULOS
PRODUTOS OLEAGINOSOS (EXCLUI SOJA)
RAÇÕES PARA ANIMAIS
PRODUTOS APICOLAS
PLANTAS VIVAS E PRODUTOS DE FLORICULTURA
CACAU E SEUS PRODUTOS
BEBIDAS
PESCADOS
CHÁ, MATE E ESPECIARIAS
LÁCTEOS
FRUTAS (INCLUI NOZES E CASTANHAS)
DEMAIS PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL
DEMAIS PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL
ANIMAIS VIVOS (EXCETO PESCADOS)
PRODUTOS ALIMENTÍCIOS DIVERSOS
FUMO E SEUS PRODUTOS
COUROS, PRODUTOS DE COURO E PELETERIA
CEREAIS, FARINHAS E PREPARAÇÕES
SUCOS
FIBRAS E PRODUTOS TÊXTEIS
COMPLEXO SOJA
CARNES
COMPLEXO SUCROALCOOLEIRO
PRODUTOS FLORESTAIS
CAFÉ
2002PRODUTOS EXPORTADOS
2012
Tabela 4 – Exportações do Agronegócio Brasileiro – Produtos Exportados: 2002-
2012.
Fonte: Brasil (2013). f.
28
juntamente com os preços internacionais permitiram o Brasil ocupar uma posição de
destaque entre os maiores produtores mundiais.
Guanziroli (2006, p.3) aponta a soja como uma das principais responsáveis pelo
crescimento do agronegócio no País em volume físico e financeiro envolvido e, também, pelo
crescimento da visão empresarial de administração da atividade por parte dos fornecedores de
insumos, produtores, processadores de matérias-primas e negociantes. Além disso, o autor
também considera que a soja cultivada no Brasil consegue ter uma competitividade superior
em relação à norte-americana devido à produtividade e os custos de produção das fazendas
nacionais.
O grande aumento das exportações do agronegócio brasileiro, sobretudo nos
últimos dez anos, de acordo com Guanziroli (2006, p.3) é resultado da melhoria da
competitividade da agricultura e pecuária do Brasil, além do empenho do Governo e da
iniciativa privada para divulgar e estimular o produto agrícola brasileiro no exterior.
É válido lembrar que, também, existe outro grande fator que colaborou
diretamente para que ocorresse esse aumento das exportações de soja brasileira. Esse fator foi
o crescimento das relações comerciais, envolvendo Brasil e China.
3.4 A Relação Comercial Brasil - China e o Mercado da Soja
Inicialmente, é importante comentar acerca da evolução comercial sofrida pela
China nos últimos anos, pois, conforme Melo et al. (2010, p.9),
Nos primeiros anos da década de 1970, a China tinha participação pouco
significativa no comércio internacional. O valor de suas exportações e importações
era inferior a US$ 15 bilhões, esse país era apenas o trigésimo maior exportador
mundial. Ainda, a China também era um participante pouco ativo nos mercados
financeiros mundiais.
Além disso, Melo et al. (2010, p.10) considera que a evolução chinesa, quanto à
participação nos mercados financeiros e de bens, aconteceu no final da década de 70. Isso se
deveu, principalmente, aos planos de reforma econômica lançados pelo governo chinês que,
em pouco tempo, conseguiram alterar totalmente a expressão econômica do país. Fazendo,
assim, com que a China saísse de um status de estagnação, para uma situação com condições
de disputar com os países desenvolvidos a hegemonia mundial.
29
Melo et al. (2010, p.16) também afirma que:
A forma e o ritmo de entrada da China no comércio internacional, com grandes
escalas de produção industrial e forte demandas por insumos, levaram à redução de
preços internacionais de manufaturados e à elevação dos preços de commodities.
Com isso, os termos de troca chineses têm se deteriorado, o que leva à preocupação
por parte das autoridades locais quanto aos níveis de superávit em balanço de
pagamentos, importante elemento para a continuidade do ciclo de crescimento
daquele país.
Conforme Puga et al. (2004, p.6):
A ampliação da participação da China no comércio internacional tem contribuído
significativamente para o crescimento das exportações brasileiras. Em 2003, as
vendas do Brasil para a China aumentaram 78% em relação a 2002, tornando-se o
terceiro mercado consumidor das exportações brasileiras.
O interesse em relações comerciais do Brasil pela China é bastante atual, pois, de
acordo com Puga et al.(2004, p. 22-23), apenas no ano 2000, pode ser percebido um aumento
relevante do comércio realizado entre os dois países.
É válido lembrar que, de acordo com Melo et al. (2010, p.17) algo que
impulsionou bastante esse crescimento das relações comercias entre os dois países foi o fato
que:
De meados da Década de 1990 até o ano de 2002, os governos do Brasil e da China
assinaram dezessete acordos bilaterais. A partir de 2003, entraram em vigor dezoito
entendimentos nas áreas de ciência e tecnologia, transportes, padrões fito-sanitários,
cooperação industrial e comércio. Isto mostra claramente uma crescente
aproximação do país para com a China.
Além disso, para Melo et al. (2010, p.24), o comércio brasileiro com a China
apresenta um maior grau de concentração, tanto em exportações como em importações,
quando comparado às relações comerciais do Brasil com resto do mundo. Apontando, desse
modo, para uma pauta de exportações e importações entre China e Brasil mais concentradas
em certos produtos.
Puga et al. (2004, p. 24) afirma que o maior volume das exportações do Brasil
para China é mais intenso em poucos setores intensivos em recursos naturais, como a soja e
seus derivados, produtos de origem siderúrgica e minério de ferro.
Desse modo, Melo et al. (2010, p.27) considera que:
[...] o bom desempenho recente das exportações do Brasil para a China tem sido
reflexo do dinamismo de produtos nos quais o Brasil é competitivo em escala global.
Ou seja, os ganhos brasileiros não parecem refletir uma estratégia ativa de
diversificação e geração de novos mercados e oportunidades comerciais na China,
mas, reflete o aproveitamento de oportunidades produzidas pelo crescimento das
30
importações chinesas, mediante a elevação da oferta de commodities produzidas no
país.
Em relação aos produtos de origem do agronegócio do Brasil, a China,
atualmente, é o principal destino das exportações brasileiras, conforme a Tabela 5.
Com base na Tabela 5, é possível perceber a grande evolução apresentado pela
China como destino das exportações do agronegócio brasileiro, aumentando, bastante, tanto
em valor importado como em participação dentro dos destinos das exportações agrícolas
nacionais, superando os Estados Unidos que, em 2002, era o principal destino.
Ainda tomando como base a Tabela 5, é possível perceber que, no último ano, a
China importou cerca de 19% de todo o volume (em US$) exportado do agronegócio
brasileiro.
Em relação à soja, atualmente, a China também é principal destino das
exportações desse produto do Brasil, apresentando uma grande evolução em relação ao valor
importado quando comparado ao ano de 2002, conforme a Tabela seguinte:
Valor (US$) Part. % Valor (US$) Part. %
CHINA 1.360.100.876 5,47% 17.975.280.966 18,76%
ESTADOS UNIDOS 4.138.756.980 16,66% 7.028.434.784 7,34%
PAISES BAIXOS 2.273.670.656 9,15% 6.123.631.401 6,39%
JAPAO 994.189.682 4,00% 3.538.263.716 3,69%
ALEMANHA 1.336.235.926 5,38% 3.121.335.383 3,26%
RUSSIA,FED.DA 1.211.345.363 4,88% 2.904.470.620 3,03%
BELGICA 1.029.686.599 4,14% 2.463.984.771 2,57%
ARABIA SAUDITA 409.796.789 1,65% 2.450.254.549 2,56%
ITALIA 1.019.888.111 4,10% 2.298.310.461 2,40%
COREIA,REP.SUL 367.800.424 1,48% 2.196.330.206 2,29%
DEMAIS 10.704.248.177 43,08% 45.713.208.880 47,71%
TOTAL 24.845.719.583 100% 95.813.505.737 100%
Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC
Elaboração: CGOE / DPI / SRI / MAPA
20122002PRINCIPAIS DESTINOS
Tabela 5 – Exportações do Agronegócio Brasileiro – Principais Destinos:
2002-2012
Fonte: Brasil (2013). g.
31
Tabela 6 – Exportações Brasileiras do Complexo Soja – Principais Destinos:
2002-2012.
Do mesmo modo como ocorreu com as exportações do agronegócio, a China
também passou a ser, no ultimo ano, o principal destino da soja brasileira, apresentando uma
notável evolução, tanto em valor como em peso importado. Outro dado bastante importante
que pode ser observado ao se analisar as Tabelas 5 e 6 é que, no último ano, somente a China
importou do Brasil US$ 17.975.280.966 em produtos do agronegócio nacional, sendo que
,desse valor, 12.959.240.875 equivale ao complexo soja, ou seja, em torno de 72% do total
do agronegócio exportado para China corresponde ao complexo soja, demonstrando, assim, a
clara importância que a China representa dentro desse mercado para o Brasil.
De acordo com a Tabela 6 também é possível perceber que, somente a China
importou, no último ano, cerca de 50% de todo o volume do complexo soja exportado pelo
Brasil.
Conforme Puga et al. (2004, p. 28),
O Brasil passou a exportar grãos de soja para a China somente em 1996. Assim, o
desempenho das vendas do produto entre 1996 e 2002 traduziu-se integralmente em
ganhos de participação no mercado chinês. Também houve significativos ganhos de
competitividade em minérios de ferro. Por outro lado, o efeito composição do
produto foi negativamente influenciado pela drástica queda nas importações
chinesas de óleo de soja, que responderam por quase metade (47%) das exportações
brasileiras para a China em 1995.
Puga et al. (2004, p. 29) também considera que a atividade da China dentro desse
mercado tem aumentado, consideravelmente, nos últimos, tornando-a maior importadora de
artigos do complexo soja desde o ano de 1997. Além disso, no ano de 2002, a China foi
Valor (US$) Peso Líq. (KG) Valor (US$) Peso Líq. (KG)
COMPLEXO SOJA 26.114.126.794 48.956.011.861 6.006.194.118 30.413.249.745
12.959.240.875 23.689.802.611 950.307.269 4.441.712.181
2.517.975.508 5.037.541.896 1.184.895.447 6.581.222.830
1.299.533.673 2.555.802.022 300.292.579 1.663.735.049
1.222.505.292 2.441.194.408 108.733.391 594.870.942
1.130.550.656 2.360.499.099 568.413.243 3.259.610.539
1.064.502.726 2.196.306.181 412.907.570 2.181.023.341
607.792.746 1.082.815.116 36.809.523 197.131.000
493.664.490 1.078.631.422 129.918.140 744.151.485
488.656.133 831.908.145 304.593.887 1.015.710.641
431.613.777 885.004.025 7.574.804 42.258.770
389.195.421 778.601.078 151.701.744 773.367.111
3.508.895.497 6.017.905.858 1.850.046.521 8.918.455.856
Elaborado pela SRI/MAPA a partir de dados da SECEX/MDIC
VIETNA
JAPAO
OUTROS
CHINA
PAISES BAIXOS
ESPANHA
TAILANDIA
FRANCA
ALEMANHA
TAIWAN (FORMOSA)
COREIA,REP.SUL
IRA REP.ISL.DO
2012 2002
Fonte: Brasil (2013). d.
32
responsável por 14,5% das importações mundiais de artigos pertencentes ao complexo soja,
representando um aumento bastante significativo em relação à participação de 6,6% no ano de
1995.
De acordo Puga et al. (2004, p. 30),
Em 2002, o Brasil voltou a ser o principal exportador de soja para a China, posição
que deteve em 1995 e 1996, mas que foi ocupada pelos Estados Unidos nos cinco
anos seguintes. As exportações brasileiras de soja para a China cresceram 91,5%
(9,7% ao ano) entre 1995 e 2002, superando a marca de US$ 1bilhão em 2002.
Em conformidade com a Secretaria da Receita Federal (2003 apud Puga et al.,
2004, p.30) a performance apresentada pelas vendas brasileiras dentro do mercado da soja foi
estimulado, principalmente, por:
I. Aumento da produtividade da soja brasileira, tendo superado a americana.
II. Decisões estratégicas de empresas transnacionais que consistem em utilizar as regiões
de maior eficiência na produção para suprir regiões populosas e com perspectivas de
crescimento de renda.
III. Restrição à produção de transgênicos no Brasil. Entre 2001 e 2002, a China impôs
significativas restrições à importação desses produtos. Em particular, o Ministério da
Agricultura da China especificou que:
i. O processo de certificação requerido para importação de
transgênicos pode durar até 270 dias.
ii. Cada envio de transgênicos deve ser acompanhado de um certificado
próprio.
iii. A importação de transgênicos requer o resultado de testes que
comprovem que o produto pode ser utilizado para consumo humano
e não impõe riscos a animais, plantas ou ao meio ambiente.
Desse modo, é possível perceber a grande importância que a China, que, nos
últimos anos, tornou-se um forte parceiro comercial do Brasil, representa quando se trata de
relações comerciais de produtos do agronegócio, especialmente a soja do Brasil. Nesse caso, o
grande destaque como maior importador de gêneros do agronegócio brasileiro, além de ser o
principal comprador dos produtos do complexo soja nacional atualmente.
33
3.5 Perspectivas para a produção de soja no Brasil
Segundo o Departamento de Economia Rural do Estado do Paraná (2008, p.1), em
conseqüência da grande variedade de uso da soja e o crescimento da procura mundial por
gêneros alimentícios, os territórios destinados ao plantio de soja vem aumentando anualmente,
fazendo com que a cultura da oleaginosa ganhe, cada vez mais, destaque no cenário da
agricultura mundial. Além disso, estão ocorrendo aumentos significativos no território de soja
plantada, e investimentos em pesquisas e no desenvolvimento de cultivares mais resistentes
tem feito com que ocorram melhoras no rendimento e ajudando a aumentar a produção.
O Departamento de Economia Rural do Estado do Paraná (2008, p.7) também
considera que:
Seguindo a tendência mundial, a cultura da soja ganha cada vez mais espaço na
produção agrícola brasileira. O aumento constante do consumo de alimentos, entre
eles a carne, devido não somente ao crescimento populacional assim como também
à melhoria da renda nos países emergentes tem feito com que haja maior
investimento nos últimos anos. A produtividade vem aumentando em praticamente
todas as culturas devido ao uso de sementes certificadas, maior acompanhamento da
assistência técnica entre outras iniciativas e tem trazido ganhos não só de
quantidade, mas principalmente de qualidade.
A EMBRAPA (2013) afirma que a cultura de soja, apresenta as seguintes
perspectivas:
Crescimento do consumo e, consequentemente, crescimento da demanda por
soja no mundo devido ao aumento populacional.
Aumento do poder aquisitivo da população consumidora e, consequentemente,
aumento do consumo, destacando-se a Ásia, local onde está o maior potencial
consumidor dessa commodity.
O consumo interno de soja deverá crescer, estimulado por políticas oficiais
destinadas a aproveitar o enorme potencial produtivo do País, que está
excessivamente dependente do mercado externo.
O protecionismo e os subsídios à soja, patrocinados pelos países ricos, tenderão
a diminuir pela lógica e pressão dos mercados e da Organização Mundial do
Comércio, aumentando, consequentemente, os preços internacionais, que
estimularão a produção e as exportações brasileiras.
34
A produção dos nossos principais concorrentes (EUA, Argentina, Índia e China)
tenderá a estabilizar-se por falta de áreas disponíveis para expansão em seus
territórios.
A cadeia produtiva da soja brasileira tenderá a desonerar-se dos pesados tributos
sobre ela incidentes, para incrementar a sua competitividade no mercado
externo, de vez que o País precisa “exportar ou morrer”.
Em relação à produção, CONAB (2013 apud. BRASIL.a, 2013, p.29) aponta que,
para 2023, a projeção no Brasil é de 99,2 milhões de toneladas, representando um aumento de
21,8%, comparando-se a atual produção nacional. Entretanto, esse percentual ainda representa
uma evolução abaixo da ocorrido na última década que foi de 66%.
No que se refere ao consumo, o Brasil (2013.a, p.29), projeta que o crescimento
da demanda por soja no mercado externo e interno se dará por meio de um grande aumento de
demanda por rações animais à base de soja, além disso, acredita-se que, também, ocorrerá um
grande incremento de consumo de soja, visando à produção de Biodiesel.
Em relação ao aumento da área plantada, consoante Brasil (2013.a, p.32) é
possível considerar que,
As projeções de expansão de área plantada de soja mostram que a área deve passar
de 27,7 milhões de hectares em 2013 para 34,4 milhões em 2023, um acréscimo de
6,7 milhões de hectares. Representa um acréscimo de 6,7 milhões de hectares em
relação à área prevista em 2012/2013. A expansão da produção de soja no país dar-
se-á pela combinação de expansão de área e de produtividade. Enquanto o aumento
de produção previsto nos próximos 10 anos é de 21,8%, a expansão da área é de
24,3%. Nos últimos anos, a produtividade da soja tem se mantido estável em 2,7
toneladas por hectare, e esse número está sendo projetado para 3,0 toneladas por
hectare nos próximos 10 anos [...]
Essa expansão da soja, conforme Brasil (2013.a, p.33), se dará através de uma
agregação da ampliação da fronteira em locais onde existem áreas produtivas disponíveis,
apropriação de terras de pastagens de lavouras e por mudanças de culturas agrícolas onde não
existem áreas disponíveis para incorporação.
Além disso, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) (2013 apud.
BRASIL.a, 2013, p.33),
Estima-se que essa expansão deve ocorrer em áreas de grande potencial produtivo,
como as áreas de cerrados compreendidas na região que atualmente é chamada de
MATOPIBA, por compreender terras situadas nos estados de Maranhão, Tocantins,
Piauí e Bahia. O Mato Grosso deverá perder força nesse processo de expansão de
novas áreas, devido principalmente aos preços de terras nesse estado que são mais
que o dobro dos preços de terras de lavouras nos estados do MATOPIBA. Como os
35
empreendimentos nessas novas regiões compreendem áreas de grande extensão, o
preço da terra é um fator decisivo.
De acordo com essas informações, é possível perceber que a cultura de soja
tende a se expandir ainda mais no Brasil. As projeções de aumento de consumo; expansão da
área plantada e elevação da produção demonstram que essa commodity continuará a ser
bastante importante para nossa economia no decorrer dos próximos anos, firmando-se, cada
vez mais, como a commodity agrícola mais importante para a economia nacional e para as
relações comercias externas.
36
4 CONCLUSÕES
Com base nos dados e nas informações apresentadas durante o estudo é possível
considerar que o agronegócio brasileiro está passando por uma fase de grande produtividade.
Com lavouras, cada vez, maiores e tecnologias de ponta aplicadas no campo, além de alguns
incentivos governamentais, a produtividade agrícola nacional vem contribuindo
significativamente para economia nacional devido aos bons resultados apresentados pelas
exportações desse setor nos últimos anos.
Em relação à soja, é correto afirmar que essa commodity vem, no decorrer dos
últimos anos, se firmando como o principal produto agrícola nacional. Apresentando valores
(em US$) de volume exportado maiores a cada ano, além do grande percentual de
participação dentro do cenário agrícola nacional, esse produto pode ser considerado como o
“carro-chefe” e principal responsável pelos elevados resultados das exportações do
agronegócio brasileiro.
É importante lembrar que, mesmo o Brasil sendo um dos maiores exportadores
dessa commodity no mundo, o País ainda ocupa uma situação de tomador de preços, ao invés
de formador, já que os preços da soja e de outras commodities agrícolas ainda são definidos na
Chicago Board of Trade (CBOT).
Outro ponto importante a ser considerado é o fato de a China está diretamente
envolvida nesse aumento de dinamismo do setor agrícola brasileiro, já que, nos últimos anos,
ela se consolidou como a principal importadora de produtos de gêneros agrícolas,
especialmente da soja. Conforme os dados apresentados foi possível identificar que, no último
ano, somente a China foi responsável por importar cerca de 50% de todo o volume (em US$)
do complexo soja exportado do Brasil.
Desse modo, é possível perceber a grande influência que a China exerce sobre as
importações agrícolas brasileiras, sendo responsável direta por esse crescimento no volume de
exportações, especialmente da soja.
Futuramente, projeta-se que a produção nacional; o consumo mundial e a área
plantada de soja no Brasil vão aumentar ainda mais. Desse modo, pode-se comprovar a
consolidação dessa commodity e que esse produto agrícola ainda poderá trazer muitos
benefícios para a economia nacional, seja por meio de receitas ou, até mesmo, fortificação ou
37
novas relações comerciais que podem ser geradas por meio do comércio exterior desse
produto.
Todo o complexo soja já oferece diversos benefícios para o Brasil, porém, com
base nos dados atuais e nas projeções, é possível perceber que essa commodity ainda tem a
contribuir para o agronegócio brasileiro e, de modo geral, para toda economia nacional.
38
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