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ETNOCONHECIMENTO DE PESCADORES NO SISTEMA LAGO GRANDE DE MANACAPURU MANAUS - AMAZONAS 2011 PPG/CASA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS- GRADUAÇÃO Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia PPG/CASA Mestrado Acadêmico

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ETNOCONHECIMENTO DE PESCADORES NO SISTEMA LAGO

GRANDE DE MANACAPURU

MANAUS - AMAZONAS

2011

PPG/CASA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-

GRADUAÇÃO

Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente

e Sustentabilidade na Amazônia – PPG/CASA

Mestrado Acadêmico

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FABIANA CALACINA DA CUNHA

ETNOCONHECIMENTO DE PESCADORES NO SISTEMA LAGO

GRANDE DE MANACAPURU

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade da Amazônia PPG/CASA

como requisito para a obtenção do título de

Mestre em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia.

Orientadora: Profª Dra. Therezinha de Jesus Pinto Fraxe

Co-orientadora: Dra. Maria Gercilia Mota Soares

MANAUS – AMAZONAS

2011

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FABIANA CALACINA DA CUNHA

ETNOCONHECIMENTO DE PESCADORES NO SISTEMA LAGO

GRANDE DE MANACAPURU

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade da Amazônia PPG/CASA

como requisito para a obtenção do título de

Mestre em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia.

Aprovada em 31 de agosto de 2011.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. ª Dra. Therezinha de Jesus Pinto Fraxe

Universidade Federal do Amazonas

Prof. Dr. Henrique dos Santos Pereira

Universidade Federal do Amazonas

Prof. Dr. Manuel de Jesus Masulo da Cruz

Universidade Federal do Amazonas

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Ficha Catalográfica

(Catalogação realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

C972e

Cunha, Fabiana Calacina da

Etnoconhecimento de pescadores no sistema Lago Grande de

Manacapuru / Fabiana Calacina da Cunha. - Manaus: UFAM, 2011. 130 f.; il. color.

Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia) –– Universidade Federal do

Amazonas, 2011.

Orientadora: Profª. Dra. Therezinha de Jesus Pinto Fraxe

Co-orientadora: Profª. Dra. Maria Gercilia Mota Soares

1. Etnoconhecimento 2. Pescadores 3. Manejo da pesca 4. Lagos

de várzea I. Fraxe, Therezinha de Jesus Pinto (Orient.) II. Soares,

Maria Gercilia Mota (Co-orient.) III. Universidade Federal do Amazonas IV. Título

CDU 639.312:39(811.3)(043.3)

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Dedico às minhas queridas avós Edith Vieira e

Adelaide Calacina que mesmo eu estando

distante sempre se lembram de mim em suas

orações. Deram-me a força para continuar

essa jornada.

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Agradecimentos

À minha família pelo amor, torcida e pela compreensão para com as minhas ausências

durante essa jornada.

À minha orientadora Dra. Therezinha Fraxe pela orientação, dedicação, paciência e

amizade. E, principalmente pela motivação sempre presente nos momentos decisivos.

À Dra. Maria Gercilia por estar sempre disponível para esclarecer minhas dúvidas, pelas

contribuições ao meu conhecimento que muito ajudaram no desenvolvimento de meu trabalho

e, especialmente, pela amizade. Obrigada pela dedicação, principalmente por ter contribuído

para minha formação acadêmica, compartilhando seus conhecimentos e possibilitando viver

e aprender sobre os desafios da pesquisa. Obrigada pela confiança creditada em mim.

Aos amigos do Laboratório de Biologia e Ecologia de Peixes do Instituto Nacional de

Pesquisas da Amazônia-INPA, que proporcionaram efetivamente o diálogo entre as áreas de

conhecimento e contribuíram de forma significativa para a consecução deste trabalho. Estes

amigos que além de conhecimentos, compartilharam bons momentos, boas conversas. Em

especial, Luiza Prestes, Renata Eiko, Davison Carneiro e Lucian Prestes.

Agradeço também aos amigos que conheci participando da SUB-REDE: Bases para a

Sustentabilidade da Pesca na Amazônia- BASPA.Compartilhamos momentos bons do

trabalho de campo, das decidas e subidas de barrancos na seca bem como a observação das

mais belas paisagens na enchente e cheia.

Agradeço aos professores do Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia pelas contribuições acadêmicas.

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Aos amigos Andréia, Railma, Hayla, Seu Carlinhos, Eduardo, Daniele Marian, Michele pela

força e idéias compartilhadas.

A FAPEAM pela concessão da bolsa que proporcionou a execução deste estudo.

E, por fim, quero agradecer aos pescadores, mulheres e crianças do Lago Grande de

Manacapuru que partilharam comigo momentos de suas vidas e que estiveram sempre

presentes e dispostos a participar deste estudo. Agradeço seus ensinamentos e pelas boas

conversas. A todos, sinceramente obrigada!

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RESUMO

O trabalho investigou o etnoconhecimento dos pescadores sobre a pesca e bioecologia de

peixes para averiguar se o acervo dessas informações em sinergia com as informações

científicas podem ser utilizadas nas práticas de manejo da pesca. Para isso, o estudo foi

realizado em 7 comunidades no sistema Lago Grande de Manacapuru, AM, próximas aos

lagos São Lourenço e Jaitêua, onde é intensa a atividade pesqueira, sendo a principal fonte de

alimento para as famílias. O conhecimento dos entrevistados no Sistema se expressa através

da identificação dos locais e ambientes de pesca, onde discorrem sobre as pescarias, da época

e dos locais de reprodução, assim como dos movimentos migratórios de peixes permitindo

que esse conhecimento favoreça no estabelecimento de estratégias na captura do pescado. Em

geral, o acesso e a quantidade de locais para a realização das pescarias pelos moradores estão

relacionados com o ciclo hidrológico. Na enchente e cheia os peixes se espalham pela áreas

alagadas onde encontram locais de refúgio e alimentação, consequentemente os pescadores

buscam esses locais para pescar. Na vazante ou descida d’água devido o deslocamento dos

peixes para os ambientes mais profundos (poços, mãe do rio, canais passíveis de navegação),

os pescadores pescam nos locais considerados passagem dos peixes, tais como nas bocas e

furos. Na seca, a área alagada já está muito reduzida e a pesca concentra-se nos e poços dos

lagos que permanecem com água nessa época. Da mesma forma, o uso dos apetrechos

também está relacionado ao período do ciclo hidrológico e naturalmente com o peixe alvo da

pesca. Na enchente, cheia e seca, a maioria dos peixes capturados é residente, enquanto que

na vazante é migrador. Dentre os peixes mais capturados estão aqueles de maior valor

comercial, tais como tucunaré, curimatã e tambaqui. Os entrevistados também descreveram a

reprodução de 16 peixes e, para a maioria, a enchente é o principal período de desova. Os

pescadores citam como os principais locais de desova para os peixes residentes, os igarapés,

paranás e lagos no Sistema e, para os migradores, além dos igarapés dentro do Sistema, o rio

Solimões. Estas informações em sua maioria estão de acordo com aquelas relatadas na

literatura específica consultada. No que se refere aos movimentos migratório dos peixes, os

pescadores mencionam três movimentos os quais tem relação com ciclo hidrológico: o

movimento do peixe gordo, realizado pelo jaraqui (Semaprochilodus spp.); o movimento com

fins reprodutivos, realizado pela curimatã e o movimento com fins tróficos realizados pela

curimatã (Prochilodus nigricans) e tambaqui (Colossoma macropomum). Finalmente, é

possível concluir que o conhecimento dos pescadores, em sua maioria, estava de acordo com

a informação que consta na literatura consultada e ainda com o banco de dados BASPA,

indicando assim a importância da integração destes conhecimentos. Portanto, o conhecimento

destes pescadores é detalhado, consistente e relevante para o aprofundamento de questões

complexas que podem proporcionar novas pesquisas e contribuir para organização de

informação integrada que possa ser utilizada como subsídio para políticas públicas que

tratarem dos recursos pesqueiros.

Palavras-chave: etnoconhecimento, pescadores, reprodução de peixes, movimentos

migratórios, lagos de várzea.

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ABSTRACT

This study investigated the ethnic knowledge of fishermen on fisheries and bio-ecology of

fish to assess wetter the collection of this information in synergy with the scientific

information can be used in practical fisheries management. For such, the study was conducted

in seven communities in the Great Lake System of Manacapuru, Amazonas, near St.

Lawrence and Jaitêua lakes where fishing activity is intense and the main source of food for

families. The knowledge of respondents in the system is expressed by the identification of

fishing locations and environments, where they discourse on fisheries, and the time of

breeding and sites, as well as the migratory movements of fish causing this knowledge to

favor the establishment of strategies to capture fish. In general, access to and the amount of

local fisheries to the achievement of the residents are related to the hydrological cycle. In full

flood and the fish spread throughout the wetlands where they find places of refuge and food,

hence the fishermen seek out these places to fish. At low water or fall of water due to the shift

from fish to deeper environments (Wells, mother of river channels capable of navigation),

anglers fish in places considered passage of fish, such as the mouths and holes. During the dry

season, the flooded area is already very low and fishing is concentrated in lakes and wells

with water that remain at this time. Likewise, the use of fishing gear is also related to the

devices period of the hydrological cycle and of course the fish targeted by the fisheries. In the

flood, flood and drought the most fish caught is a resident, while the tide is migrating. Among

the most fish caught are those of greatest commercial value, such as peacock bass, and

tambaqui curimatã. Respondents also described the reproduction of 16 fishes, and for the most

of the flooding it is the main spawning period. Fishermen cite as the main spawning grounds

for fish residents, the streams, and lakes paranás System, and the addition of migratory

streams into the system, the Solimões River. This information mostly agree with that reported

in the relevant literature consulted. With regard to the movements of migratory fish, the

fishermen mentioned three movements which are related to the hydrological cycle: the

movement of fatty fish, carried out by jaraqui (Semaprochilodus spp.), The movement for

reproductive purposes, and the motion carried with the curimatã purposes made by trophic

curimatã (Prochilodus nigricans) and tambaqui (Colossoma macropomum). Finally, we

conclude that the knowledge of fishermen, mostly agreed with the information contained in

the literature and with the database BASPA, thus indicating the importance of integrating

knowledge. Therefore, knowledge of these fishermen is comprehensive, consistent and

relevant to the deepening of complex issues that can provide new research and contribute to

the organization of integrated information that can be used as a subsidy for public policies that

deal with fish stocks.

Keywords: ethnic knowledge, fishermen, fish breeding, migration, floodplain lakes.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01

Localização dos lagos Jaitêua e São Lourenço, integrantes do lago

Grande de Manacapuru, Amazonas, Brasil.

(2008)........................................................................................................

33

Figura 02 Flutuação do nível da água do Rio Solimões. Fonte: CPRM extraído de

SOARES et al., 2009...............................................................................

34

Figura 03

Localização das comunidades no Sistema lago Grande de Manacapuru,

Manacapuru, AM. ......................................................................................

35

Figura 04

Comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Jaitêua de

Cima............................................................................................................

37

Figura 05

Comunidade Assembléia de Deus Tradicional, Jaitêua de

Cima...........................................................................................................

37

Figura 06

Comunidade Assembléia de Deus, Jaitêua de Cima. Fonte: BASPA,

2008...........................................................................................................

38

Figura 07

Comunidade de Santa Izabel, localidade de Jaiteua de

Cima..........................................................................................................

38

Figura 08

Comunidade de Santo Antônio, Jaitêua de

Baixo..........................................................................................................

39

Figura 09

Comunidade Nossa Senhora Perpétuo Socorro,

Cajazeiras..................................................................................................

40

Figura 10

Comunidade Nossa Senhora Aparecida,

Cajazeiras....................................................................................................

40

Figura 11

a) Mapeamento participativo com os pescadores para o delineamento

dos movimentos migratórios mais citados ; b) mapa elaborado por

pescadores sobre o movimento dos peixes e ambientes da paisagem

local...........................................................................................................

45

Figura 12

Georreferenciamento dos movimentos dos peixes: pescador indicando

os caminhos dos peixes....... .......................................................................

46

Figura 13

Participação da família no prepraro da farinha: a) homem torrando a

farinha; b) criança participando do processo de preparo da farinha.

...................................................................................................................

49

Figura 14

a) Pescador da localidade de Jaitêua de Cima; b) gado no pasto na

localidade de Jaitêua de Cima..................................................................

50

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Figura 15 Peixes mais capturados pelos entrevistados no período da enchente no

Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

...................................................................................................................

54

Figura 16

Peixes mais capturados pelos entrevistados no período da cheia, no

sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

..................................................................................................................

55

Figura 17

Peixes mais capturados pelos entrevistados no período da vazante, no

sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

...................................................................................................................

56

Figura 18

Peixes mais capturados pelos entrevistados no período da seca, no

sistema Lago Grande de Manacapuru, AM Fonte:

BASPA...................................................................................................

57

Figura 19

Ambientes de pesca no período da enchente no Sistema Lago Grande de

Manacapuru, AM.....................................................................................

64

Figura 20

Ambientes de pesca no período da cheia no Sistema Lago Grande de

Manacapuru, AM.......................................................................................

65

Figura 21

Ambientes de pesca no período da vazante no Sistema Lago Grande de

Manacapuru, AM....................................................................................

66

Figura 22

Ambientes de pesca no período da seca no Sistema Lago Grande de

Manacapuru, AM......................................................................................

67

Figura 23

Locais de desova de acordo com os períodos do ciclo hidrológico de

peixes residentes e migradores citados pelos entrevistados no Sistema

Lago Grande Manacapuru,

AM............................................................................................................

87

Figura 24 Locais de desova de acordo com os períodos do ciclo hidrológico de

peixes migradores citados pelos entrevistados no Sistema Lago Grande

Manacapuru...............................................................................................

88

Figura 25

a) tronco e vegetação aquática em igarapé; b) capins e folhas no

Igarapé...................................................................................................

88

Figura 26

Locais de reprodução citados pelos entrevistados do Sistema Lago

Grande de Manacapuru, AM................................................................

92

Figura 27

Movimento de peixe gordo, jaraquis, saída de peixes no Sistema Lago

Grande de Manacapuru, AM. …………………………………............

97

Figura 28

Movimento para reprodução, curimatã, saída de peixes no Sistema Lago

Grande de Manacapuru,

AM…………………………………......................................................

99

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Figura 29

Movimentos para fins tróficos, curimatã, entrada de peixes no Sistema

Lago Grande de Manacapuru, AM.

……………………………………........................................................

101

Figura 30

Movimentos para fins tróficos, curimatã e tambaqui, entrada de peixes no

Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM………………......................

103

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1

Número de famílias e infraestrutura das comunidades no Jaitêua de

Cima, Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.................................

36

Tabela 2

Número de famílias e infraestrutura das comunidades na localidade de

Cajazeiras, Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM. .......................

39

Tabela 3

Peixes mais citados pelos entrevistados no Sistema Lago Grande de

Manacapuru,AM. N= número de citação; %= percentagem das

citações. Fonte: Banco de dados BASPA (2009) e pesquisa de campo

(2010)......................................................................................................

44

Tabela 4

Perfil socioeconômico dos entrevistados nas comunidades do Sistema

Lago Grande de Manacapuru, AM..........................................................

48

Tabela 5

Modalidades de pesca nas três localidades, Cajazeiras, Jaitêua de

Baixo e Jaitêua de Cima..........................................................................

52

Tabela 6

Classificação dos ambientes aquáticos pelos entrevistados e os

registros encontrados na literatura específica..........................................

59

Tabela 7

Número (N) e percentagem (%) de citações dos pescadores (etno) e

conhecimento científico (cient) sobre época de reprodução de 16

peixes no sistema Lago Grande de Manacapuru, AM............................

69

Tabela 8

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do acará-açú. ..............................................................................

70

Tabela 9

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do aruanã. ..................................................................................

71

Tabela 10

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do bodó........................................................................................

72

Tabela 11

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova da pescada...................................................................................

73

Tabela 12

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova da piranha-caju............................................................................

74

Tabela 13

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do pirarucu..................................................................................

75

Tabela 14

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do tamoatá...................................................................................

76

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Tabela 15 Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova da traíra. ....................................................................................

77

Tabela 16

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do tucunaré..................................................................................

78

Tabela 17

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do aracú.......................................................................................

79

Tabela 18

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova da branquinha..............................................................................

80

Tabela 19

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do curimatã..................................................................................

82

Tabela 20

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova dos jaraquis..................................................................................

83

Tabela 21

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova dos matrinxã................................................................................

84

Tabela 22

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do pacu........................................................................................

85

Tabela 23

Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de

desova do tambaqui.................................................................................

86

Tabela 24

Conhecimento dos pescadores sobre período reprodutivo de peixes no

Sistema Lago Grande, portarias e instruções normativas do IBAMA

referente ao período de defeso e informações científicas sobre a

biologia reprodutiva de peixes................................................................

91

Tabela 25

Conhecimento dos pescadores entrevistados sobre os movimentos de

três peixes migradores no Sistema Lago Grande Manacapuru, AM…...

94

Tabela 26

Pontos Georreferenciados dos movimentos migratórios de peixes no

Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM............................................

104

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................... 18

2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESCA NO BRASIL............................................... 18

2.2 A PESCA NA AMAZÔNIA........................................................................................ 18

2.2.1 A pesca até a década de 60 ................................................................................... 19

2.2.2 A pesca no período dos governos militares........................................................... 21

2.2.3 Marco legal da nova lei da pesca........................................................................... 22

2.2.4 Modalidades de pesca existentes na Amazônia.................................................... 23

2.3 O ESTUDO DO CONHECIMENTO DAS POPULAÇÕES LOCAIS:

DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE A RELAÇÃO POPULAÇÃO

HUMANA E RECURSOS NATURAIS..................................................................

25

2.3.1 O etnoconhecimento de pescadores e a conservação do recurso pesqueiro..... 27

2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE REPRODUÇÃO E MIGRAÇÃO DE PEIXES........... 29

2.4.1 Reprodução de peixes............................................................................................. 29

2.4.2 Migração de peixes.................................................................................................. 31

3 METODOLOGIA....................................................................................................... 32

3.1 ÁREA DE ESTUDO................................................................................................... 32

3.1.1 Município de Manacapuru..................................................................................... 32

3.1.2 Sistema Lago Grande de Manacapuru.................................................................. 32

3.1.2.1 Aspectos ecológicos.............................................................................................. 32

3.1.2.2 As comunidades do Sistema Lago Grande de Manacapuru................................. 35

3.2 MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.............................................. 40

3.2.1 Métodos................................................................................................................... 40

3.2.2 Etapas da pesquisa................................................................................................. 41

3.2.3 Sujeitos da pesquisa............................................................................................... 42

3.3 TÉCNICAS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS............................................ 42

3.3.1 Perfil socioeconômico dos entrevistados, modalidades de pesca, espécies

capturadas e locais de pesca utilizados no ciclo hidrológico..............................

43

3.3.2 Etnoconhecimento dos pescadores sobre o período reprodutivo de peixes..... 43

3.3.3 Etnoconhecimento dos pescadores sobre o movimento de peixes..................... 44

3.4 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE............................................................................ 46

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................. 47

4.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS ENTREVISTADOS....................................... 47

4.2 ETNOCONHECIMENTO DOS ENTREVISTADOS SOBRE A PESCA E

PEIXES NO SISTEMA LAGO GRANDE DE MANACAPURU..................................

51

4.2.1 Modalidades de pesca............................................................................................ 51

4.2.2 Peixes capturados nas pescarias........................................................................... 53

4.2.3 Local de pesca......................................................................................................... 58

4.3 ETNOCONHECIMENTO DOS ENTREVISTADOS SOBRE REPRODUÇÃO DE

PEIXES............................................................................................................................. .

68

4.3.1 Contribuição da biologia reprodutiva dos peixes do SLGM à legislação

pesqueira...........................................................................................................................

89

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15

4.4 ETNOCONHECIMENTO DOS ENTREVISTADOS SOBRE MOVIMENTOS DE

PEIXES......................................................................................................................

93

4.4.1 Movimento do peixe gordo (saída dos peixes do Sistema)................................. 95

4.4.2 Movimento com fins reprodutivos (saída dos peixes do Sistema)..................... 98

4.4.3Movimento com fins tróficos ( entrada de peixes no Sistema)............................ 100

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 106

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................

109

ANEXOS........................................................................................................................... 126

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16

1 INTRODUÇÃO

A Amazônia possui uma grande variedade de ecossistemas terrestres e aquáticos que

proporciona habitats para inúmeros organismos. Dentre eles destacamos os biótopos aquáticos

que abrigam uma rica ictiofauna, estimada em cerca de 3000 espécies. Isto representa 30%

dos peixes de água doce do mundo e 75% do Brasil (COHEN, 1970; REIS et al., 2003). E,

diante disso, é detentora da maior sociobiodiversidade sendo considerado um dos biomas mais

produtivos do planeta sendo, portanto, foco de atenção de todos (SANTOS e SANTOS,

2005). A biodiversidade, nos termos da ciência moderna, está circunscrita ao entendimento da

variabilidade de organismos vivos que fazem parte de ecossistemas terrestres, marinhos e

outros ecossistemas aquáticos, assim como os complexos ecológicos de que fazem parte,

considerando ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas (Artigo

2 da CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA).

Diegues (2000) amplia a discussão sobre biodiversidade ao explicar que tal conceito

pertence ao domínio do natural e do cultural e remete a sociobiodiversidade. Este

entendimento está baseado na compreensão de que a sociobiodiversidade é, por sua vez, uma

construção social e cultural. Isso se dá a partir do reconhecimento de que os grupos humanos

podem nomear, classificar e manipular os recursos naturais. Mas, segundo ele, é por meio da

cultura que estes grupos entendem, representam mentalmente e manuseiam os recursos, que

possuem um valor de uso e um valor simbólico, sendo por isso capaz de estabelecer formas de

manejo. Diante dessas considerações, estes grupos humanos são reconhecidos como

detentores de conhecimentos detalhados sobre a sociobiodiversidade.

O peixe é um recurso natural de grande abundância e intensamente explorado na

região. Evidentemente, a existência dessa grande riqueza permite que esse recurso seja a

maior fonte de proteína para região, com consumo variando entre 369 a 600 g/ pessoa

(CERDEIRA et al., 1997; BATISTA et al., 2004). O peixe é importante não somente como

alimento, mas tem grande papel na economia regional, sendo comercializado nas feiras,

supermercados e ainda exportado tanto na forma de pescado semi-industrializado como na

comercialização de peixe ornamental.

A questão mais relevante do peixe na Amazônia talvez seja a sua acessibilidade para

as populações tanto para aquelas que habitam as áreas alagadas (rios, igarapés, lagos) como a

sua disponibilidade para as populações dos centros urbanos (CERDEIRA et al., 1997). E, um

ponto principal a considerar é que o desenvolvimento amazônico, crescimento populacional e

demanda por alimento, junto com outros impactos, tem reduzido as populações de peixes.

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Ribeiro e Fabré (2005) destacam a grande importância que é conferida a pesca, pelas

comunidades e, principalmente pelos pescadores, que acumulam conhecimento detalhado em

relação à fauna íctica que exploram e manejam em um sistema de subsistência, organizando,

em muitos casos, modelos informais de manejo e de conservação do recurso. Diante disso, há

um crescente interesse em compreender as diferentes formas de apropriação do recurso

pesqueiro por parte das populações locais e como as suas interações com o ambiente podem

possibilitar um conhecimento detalhado sobre o recurso. Assim, para uma melhor

compreensão da dinâmica do uso dos recursos naturais e, em particular do recurso pesqueiro,

são necessárias abordagens que contemplem a interação existente entre os sistemas

ecológicos, sociais e culturais. Desse modo, estudos sobre o etnoconhecimento das

populações locais podem revelar caminhos profícuos para a compreensão e análise da relação

homem e ambiente. Mas, ainda são incipientes os estudos a respeito do conhecimento que os

pescadores possuem sobre o recurso pesqueiro na Amazônia e, principalmente sobre a

relevância destes conhecimentos para sua conservação. Isso tem relação com a elaboração de

propostas intervencionistas ou até mesmo de políticas públicas que necessita ouvir os agentes

que estão envolvidos na atividade (LEFF, 2000; CAVALCANTE, 1997; SACHS, 2002).

Nesse sentido, o resgate desse conhecimento tem implicações no meio social das

próprias populações ribeirinhas e muito mais se for associada ao conjunto de conhecimentos

técnico-científicos disponíveis. Nesse caso, a integração entre esses conhecimentos pode

preencher lacunas, em particular sobre a bioecologia de peixes, que permitirão desenvolver

estratégias de conservação e manejo mais adequadas para a Amazônia (DIEGUES, 2000;

CASTRO, 2000; COSTA-NETO et al., 2002; BATISTA, et al., 2004). Assim, o estudo

propõe registrar o etnoconhecimento dos pescadores sobre a pesca e a bioecologia de peixes

no Sistema Lago Grande de Manacapuru, para averiguar se o acervo de informações dos

pescadores em sinergia com as informações técnico-científicas pode ser utilizado como

subsídio para políticas públicas dos recursos pesqueiros, como por exemplo, o defeso. Para

isso, faz-se necessário compreender a atividade da pesca no sistema em foco. E com isso, foi

realizado o levantamento sobre o etnoconhecimento dos pescadores sobre as espécies de

peixes exploradas para consumo e comercialização; a descrição do conhecimento dos

pescadores sobre a reprodução e migração de peixes, identificando a época, locais de desova e

georreferenciando os movimentos migratórios dos peixes.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE PESCA NO BRASIL

A pesca é uma das atividades mais antigas no país. Relatos dos primeiros viajantes

pela Amazônia descreveram a relação que as populações estabeleciam com seu ambiente

natural, destacando a pesca como uma das atividades essenciais para a obtenção de alimento

(VERÍSSIMO, 1970). Sem embargo, essa atividade tem na própria geografia do país, o fator

que propicia o seu desenvolvimento. Isso porque o Brasil apresenta um vasto litoral e

importantes bacias hidrográficas1 que contribuem para que aproximadamente quatro milhões

de pessoas dependam direta ou indiretamente, da atividade pesqueira (BORGHETTI, 2000).

De acordo com os dados do Ministério da Pesca e Aqüicultura (2008-2009), a

produção pesqueira no país atingiu em 2009 o valor de 1 240 813 t. Deste total, a região norte

contribuiu com 21%, ficando em terceiro lugar, enquanto que as regiões Nordeste e Sul

ficaram em primeiro e segundo lugar, respectivamente. Esses dados correspondem à produção

da pesca artesanal, industrial e aqüicultura.

2.2 A PESCA NA AMAZÔNIA

Conforme já mencionado no Brasil e, em particular na Amazônia, os aspectos

ecológicos e geográficos da região contribuem para a alta atividade da pesca. Barthem e Fabré

(2005, p.31) ressaltam que a várzea é de fundamental importância para a pesca na Amazônia

por apresentar áreas periodicamente alagadas por ciclos anuais regulares de rios de água

branca, ricos em sedimentos. O solo dessas áreas, submersos durante quase a metade do ano,

possuem alto teor de nutrientes que são constantemente renovados, sendo grande a

diversidade de espécies de vegetação, com alta biomassa (JUNK, 1989; AYRES, 2006).

A compreensão dos fatores que afeta o ciclo de vida dos organismos possibilita

perceber a complexidade principalmente no que diz respeito à ictiofauna da região, pois as

espécies apresentam estratégias de adaptações biológicas relacionadas às variações que

ocorrem no ciclo hidrológico. Compreender estas adaptações é questão imprescindível para o

entendimento da abundância e da composição dos recursos pesqueiros na região (BARTHEM;

FABRÉ, 2005).

1 Há no Brasil oito principais bacias hidrográficas: Amazônica, rio Paraná, rio Paraguai, Parnaíba, Araguaia-Tocantins, São Francisco, Uruguai e Paraíba do sul.

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E, levando em consideração esses aspectos a atividade da pesca se destaca em relação

às demais regiões, devido a riqueza de peixes explorados, pela quantidade do pescado que é

capturado e ainda pela dependência da população tradicional a esta atividade (BARTHEM e

FABRÉ, 2005). Contudo, a pesca passou ao longo dos anos por processos de transformação e

intensificação, por meio de projetos que visavam transformar o sistema tradicional das

populações ribeirinhas em um sistema de alta produtividade e de caráter nacional (RUFFINO,

2005).

2.2.1 A pesca até a década de 60

Os registros históricos sobre a pesca na Amazônia consistem nas descrições dos

cronistas que acompanhavam as grandes expedições. Tais registros descrevem como os

habitantes nativos utilizavam o recurso pesqueiro na época. Nesse sentido, a compreensão da

longa trajetória da atividade da pesca nesta região e do consumo de peixes revela a

importância deste recurso para as populações locais tal como afirma Santos e Santos (2005):

“O próprio processo de colonização desencadeado a partir dos séculos XVII e XVIII e centrado ao longo do Solimões/Amazonas e de seus principais

tributários é, em certa medida, o reflexo da importância dos rios e dos

recursos pesqueiros na vida do homem amazônico” (p.165).

Desse modo, para resgatar essa trajetória serão evidenciados as narrativas citadas por

Veríssimo (1970) em sua obra A pesca na Amazônia. Tais narrativas trazem elementos e

informações que permitem resgatar a trajetória da pesca no processo de conquista da região. O

autor destaca que quando da chegada das expedições, os colonizadores depararam-se com

fartura de peixes na região que possibilitaram alimento necessário durante os percursos pelos

rios da Amazônia:

“O peixe foi sempre, então como hoje, mais ainda então que hoje, na

Amazônia, o principal desse alimento. A sua abundância, a habilidade com que os índios, tinham em pescá-lo, foram parte nessa obra verdadeiramente

admirável da fácil penetração dos portugueses sertões amazônicos adentro

[...]” VERÍSSIMO (1970), p. 90.

Os indígenas, nesse período, possibilitaram a partir de suas técnicas de captura que os

colonizadores tivessem acesso ao peixe e que dele pudessem se alimentar e levar reservas

durante as viagens. Esses indígenas passaram então a realizar as pescarias que ajudavam a

alimentar as escoltas das expedições como se observa no relato a seguir:

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“Parados, à espera de uma canoa que havia se atrasado, ‘se mandou a fazer

pescaria nos muitos e grandes lagos que havia nas mesmas ilhas (do

Madeira) de que resultou copiosa abundância de peixe, com que se abasteceu toda a escolta’[...]” José Gonçalves da Fonseca citado por

VERÍSSIMO (1970, p. 90).

Não somente os peixes, mas também tartarugas, adultos e ovos, e o peixe-boi eram

utilizados como alimento para os povos nativos e para as escoltas que recorriam a estes para o

seu sustento durante as expedições. No entanto, muito antes da chegada dos portugueses, os

indígenas já utilizavam os peixes como fonte de proteína animal, além da caça. Veríssimo

(1970, p. 87) cita que o indígena da Amazônia tem no ambiente ao seu redor as condições

favoráveis:

“[...] a prodigiosa rede de canais- rios, furos e igarapés, igarapés-miris, lagos

ligados uns aos outros e aos rios próximos – que lhes oferecem o meio mais fácil, mais conveniente, mais propício as suas, aliás, resumidas,

necessidades da vida social [...]”.

Também, é através destes relatos que se encontram as descrições do apetrecho de

pesca utilizado pelos indígenas e a dinâmica do ciclo das águas. No que se refere ao apetrecho

utilizado pelos indígenas, Acuña citado por Veríssimo (1970) descreve: “[...] Era, porém com

as frechas [sic] que em todo tempo e ocasião apoderavam-se de quanto pescado sustentava o

rio. Disparavam-as com a mão com um instrumento especial que nela seguravam [...]” p.93. E

para a realização de tais pescarias não necessitavam percorrer grandes distâncias já que as

áreas próximas às residências constituíam os principais pesqueiros. Veríssimo (1970) afirma

não haver relatos de uso de malhadeira até o final do século XIX. Mas observou-se que os

indígenas já possuíam o puçá, uma espécie de rede em forma de sacos que eram feitos de

algodão ou das folhas da palmeira tucum sendo os de algodão os mais duráveis.

Com a formação das vilas e povoados e o crescimento populacional, aumentou-se a

demanda por alimentos na região. Atividades como a produção da borracha e o cultivo da juta

trouxeram imigrantes para a região e colocou em segundo plano o incentivo a atividade

pesqueira, fato que perdurou até a crise destas atividades. De acordo com Ruffino (2005) as

preocupações com a conservação dos recursos já era observada na época colonial e em

meados de 1912, com normas para evitar o uso de técnicas predatórias. Ainda neste ano, foi

criada a Inspetoria Federal de Pesca que, de acordo com o autor, passou a centralizar esta

atividade. Posteriormente, verificaram-se os incentivos do governo, com a criação da

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Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia, em 1953, para o desenvolvimento da

atividade pesqueira visando aumentar a produtividade.

2.2.2 A pesca no período dos governos militares

O breve resgate histórico da pesca permite visualizar as modificações ocorridas e sua

intrínseca relação com os planos de desenvolvimento econômico adotado pelo país,

principalmente a partir da década de 60. No plano político, o país iniciava nessa década um

período de governos militares que perdurou até meados da década de 80. Batista et al. (2004)

citam que a implementação de projetos desenvolvimentistas, como a “Operação Amazônia”2

ocasionou um crescimento urbano acelerado, aumento demográfico e ainda com a Criação da

Zona Franca de Manaus o estado do Amazonas sofreu significativas transformações, inclusive

na ampliação do mercado da pesca comercial. Portanto, a partir dessa intervenção

intensificou-se o processo de pesca industrial na região. Além da introdução do motor a

diesel, das fibras de nylon para redes de malhar, a instalação de frigoríficos contribuiu para

uma mudança qualitativa do potencial de pesca na região (RUFFINO, 2005; BARTHEM et

al., 1997).

Esse modelo de desenvolvimento trouxe conseqüências sociais, políticas e ambientais,

pois contribuiu para o acirramento dos conflitos sociais entre grupos com diferentes

capacidades de exploração do recurso pesqueiro e, principalmente, pela grande pressão

exercida sobre o recurso (RUFFINO, 2005). A necessidade de regulamentação exigia

conhecimento aprofundado sobre a dinâmica do recurso bem como das questões sociais e

econômicas envolvidas, ainda insuficientes na época, e isso acabou contribuindo para que até

1989 verificassem “ações isoladas, buscando-se, tão somente, a solução de problemas

pontuais decorrentes, na maioria dos casos de pressões político-ecológicas locais” (p.36).

Ainda de acordo com o autor, como conseqüência do declínio da produtividade pesqueira e da

falta de credibilidade governamental, proliferam conflitos de pesca na bacia Amazônica. O

autor destaca que a criação de regras de uso do recurso pesqueiro, não depende apenas dos

conhecimentos científicos, pois para ele necessita, sobretudo, da mediação de interesses

2 De acordo com Teixeira (2009), essa operação foi deflagrada na década de 60 com intuito de efetivar

a estratégia de integração da Amazônia ao desenvolvimento capitalista brasileiro, pautado pela compreensão da necessidade de ocupação iniciou uma remodelagem de incentivos fiscais para região e

ainda implementação de programas de investimento em infraestrutura.

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sociais, econômicos e culturais. E, como respostas à falta de participação no processo formal

são verificadas iniciativas de manejo comunitário por meio de acordos de pesca3.

2.2.3 Marco legal da nova lei da pesca

A partir de 1989, diante das novas configurações econômicas e políticas com a

Constituição, a concentração urbana e a degradação dos recursos naturais verificou-se o início

de debates no âmbito nacional e internacional acerca da conservação dos recursos naturais.

Para a pesca, em específico, ocorreu a extinção da SUDEPE e a criação do Instituto Brasileiro

do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA, que passa também a

preocupar-se com a conservação do recurso pesqueiro (RUFFINO, 2005).

Porém, somente no ano de 2009 com a lei n o 11.958 de 29 de junho que importantes

modificações ocorreram no setor pesqueiro. Neste ano, foi criado o Ministério da Pesca e

Aquicultura, em substituição a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Lei 11.958/09).

Isso ocorreu em virtude da nova lei da pesca ter sido sancionada no referido ano. O setor até

então era regulado pelo decreto Lei 221, de 1967, conhecido como Código da Pesca, que

estava completamente defasado e não respondia mais às necessidades da atividade pesqueira

que havia passado por modificações ao longo dos anos. No antigo decreto temos referência

apenas aos pescadores profissionais, quando matriculados em Colônia e com RGP.

A nova Lei de Pesca destaca a necessidade de regulamentação e a conservação do

recurso pesqueiro, trazendo em seu texto o conceito de desenvolvimento sustentável,

conforme o artigo 3o:

Art 3o. Compete ao poder público a regulamentação da Política Nacional de

Desenvolvimento Sustentável da Atividade Pesqueira, conciliando o equilíbrio entre

o princípio da sustentabilidade dos recursos pesqueiros e a obtenção de melhores

resultados econômicos e sociais, calculando, autorizando ou estabelecendo, em cada caso:

I – os regimes de acesso;

II – a captura total permissível;

III – o esforço de pesca sustentável;

IV – os períodos de defeso;

V – as temporadas de pesca;

VI – os tamanhos de captura;

VII – as áreas interditadas ou de reservas;

VIII – as artes, os aparelhos, os métodos e os sistemas de pesca e cultivo;

3 O IBAMA considera o acordo de pesca como uma importante estratégia de administração pesqueira

que reúne um conjunto de normas específicas, decorrentes de tratados consensuais entre os diversos

usuários dos recursos pesqueiros de uma determinada área. (Instrução Normativa nº 29, de 31 de

dezembro de 2002).

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IX – a capacidade de suporte dos ambientes;

X – as necessárias ações de monitoramento, controle e fiscalização da atividade;

XI – a proteção de indivíduos em processo de reprodução ou recomposição de

estoques. (artigo 3, Lei 11.958/09).

Outro aspecto importante é que esta nova lei dá visibilidade aos pescadores artesanais,

de subsistência e à aquicultura familiar bem como suas particularidades de forma a assegurar

a sua realização. Além disso, amplia o acesso aos créditos rurais, possibilitando assim meios

para que os pescadores possam obter financiamentos para melhorias na produção bem como

garantiu acesso a direitos previdenciários previstos aos trabalhadores rurais.

2.2.4 Modalidades de pesca existentes na Amazônia

Para uma melhor compreensão da atividade pesqueira na Amazônia utilizaremos a

classificação de Barthem et al. (1997) que destaca cinco modalidades, descritas a seguir:

A pesca de subsistência é praticada de forma artesanal pelos moradores da região e é

voltada para o consumo. Por outro lado, na pesca comercial o objetivo é a comercialização do

pescado capturado. O seu crescimento se deu em grande parte pelo aumento da demanda em

virtude do crescimento populacional, nos centros urbanos principalmente a partir da criação

da Zona Franca e ainda pelas modificações e introdução do motor a diesel, do melhoramento

na conservação do pescado e a utilização do náilon (BARTHEM et al, 2007; RUFFINO,

2005).

Na pesca industrial são utilizadas grandes embarcações com maior potencial de

captura. Essa atividade atende os grandes frigoríficos e é realizada, principalmente, na foz do

rio Amazonas e no litoral Amazônico, está voltada para exportação (BARTHEM et al, 2007).

A pesca ornamental é uma atividade comercial que vem se tornando uma importante

fonte de renda na região, sendo o Estado do Amazonas o principal produtor. Já a pesca

esportiva vem se expandindo na Amazônia, mas está relacionada com o lazer, turismo (idem).

Diante dessas considerações sobre as modalidades de pesca existentes é válido

mencionar as contribuições de Furtado (1993) que classifica tais modalidades em duas

categorias: a tradicional e a moderna. Deste modo, as modalidades de pesca tradicional e

moderna se distinguem devido à aplicação de técnicas e o uso de apetrechos de pesca que

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podem ser mais ou menos eficazes. E, dependendo da intensidade do esforço de pesca podem

ou não contribuir para o aumento da pressão sobre os estoques dos recursos pesqueiros,

ocasionando a rápida diminuição ou a garantia e o controle de tais recursos. Essas

considerações são evidenciadas pela autora porque estas categorias reúnem um conjunto de

apetrechos de pesca, cujas características de uso têm uma relação com natureza do processo

de pesca.

A modalidade tradicional engloba algumas técnicas como a arpoagem, a fisga e a

espera e tais técnicas podem ser consideradas de baixo impacto aos recursos pesqueiros, pois

a sua natureza permite a manutenção, por conseguinte, a renovação dos estoques de peixes.

Por outro lado, a modalidade moderna dispõe de técnicas mais eficazes, com ênfase na

quantidade de peixes capturados e por isso utilizam grandes redes, malhadeiras, arrastão,

considerados por pescadores, principalmente os da modalidade artesanal, como predatórias,

pois retiram qualquer espécie de peixe não respeitando os períodos de reprodução. Em muitos

casos o peixe de menor interesse ao pescador é descartado. Pereira e Pinto (2001) corroboram

tais informações descrevendo que para os ribeirinhos a pesca predatória, refere-se ao uso

técnicas e utensílios que diminuem a possibilidade dos peixes escaparem da captura, ou ainda

aquelas que não selecionam as espécies de maior interesse ao pescador.

No contexto da pesca verificam-se diversos agentes sociais que desenvolvendo suas

atividades podem ser identificados, levando-se em consideração duas dimensões da atividade

de pesca (FURTADO, 1993). A primeira expressa que a pesca é realizada de forma

complementar as demais atividades produtivas, assegurando a manutenção do grupo familiar.

Enquanto que na outra a pesca configura-se como uma atividade central, ocupando grande

parte do tempo do pescador.

A partir destas dimensões, Furtado (1993) identifica os pescadores polivalentes e o

pescadores monovalentes. Os primeiros se caracterizam pela prática da atividade de pesca,

onde o recurso obtido (peixes) destina-se ao consumo familiar do que para comercialização,

indicando que além da pesca são realizadas outras atividades tais como agricultura,

extrativismo vegetal e animal. No que se refere aos pescadores monovalentes, a atividade

pesqueira é o centro de sua ocupação e, no tempo em que não está pescando, dedica-se ao

conserto de seus apetrechos de pesca. Assim, de acordo com a autora, a atividade da pesca é

prioritária e configura-se com a principal fonte de renda familiar. Diante disso, conclui-se que

a pesca na Amazônia é complexa e envolve uma diversidade de agentes sociais bem como

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interesses notadamente diferenciados que implicam também na magnitude dos problemas

relacionados aos recursos pesqueiros.

Para alguns peixes, sobretudo os de maior importância comercial, tais como o

pirarucu (Arapaima gigas) e o tambaqui (Colossoma macropomum) (RUFFINO e ISAAC,

1994; ISAAC e RUFFINO, 1996) os dados indicam um cenário preocupante. Mas, ainda há

poucas informações científicas disponíveis sobre a pesca, sendo que apenas nos últimos 10

anos foram intensificadas as investigações que passaram a gerar dados sistemáticos sobre o

recurso pesqueiro, envolvendo a biologia, ecologia e ainda aspectos sociais e econômicos

(RUFFINO, 2005).

Finalmente, sabe-se que as informações sobre a ictiofauna, importantes para o manejo

são ainda insuficientes, apesar do grande esforço para obtenção de dados sistematizados de

pesquisadores e instituições de pesquisa, e nesse contexto, o conhecimento local dos

pescadores pode ser de grande utilidade (BEGOSSI et al., 2006). Também, informações sobre

o conhecimento local podem facilitar a concepção de novos modelos de conservação dos

recursos naturais (RIBEIRO e FABRÉ, 2003).

2.3 CONHECIMENTO DAS POPULAÇÕES LOCAIS: DIFERENTES ABORDAGENS

SOBRE A RELAÇÃO POPULAÇÃO HUMANA E RECURSOS NATURAIS

Estudos sobre o conhecimento das populações locais acerca dos recursos naturais

estiveram inicialmente relacionados à investigação dos conceitos e classificações, em grande

parte, desenvolvidos com povos indígenas (POSEY, 1987). Posteriormente, foi expandido

para as populações litorâneas, habitantes de rios e lagos no interior da Amazônia. E, durante

algum tempo o conhecimento local das populações não recebia a atenção devida. As

preocupações ambientais desconsideravam a importância do conhecimento dessas populações

para a conservação dos recursos. Isso resultou em propostas que muitas vezes não

assinalavam o capital cultural dessas populações, como foi o caso da criação dos primeiros

parques ao redor do mundo, que consideravam ser incompatível a permanência dessas

populações em áreas protegidas (DIEGUES, 2004). Porém, a partir da década de 80, esses

saberes passaram a ser valorizados na perspectiva de conservação da sociobiodiversidade.

No âmbito científico, o estudo dos saberes das populações locais vem sendo

intensamente realizado a partir da etnociência. A etnociência é “parte da lingüística para

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estudar o conhecimento das populações humanas sobre os processos naturais, de forma a

descobrir a lógica subjacente ao conhecimento humano do mundo natural, as taxonomias e

classificações totais” (DIEGUES, 2004, p.78).

Estes conhecimentos por sua vez são criados e recriados no âmbito da sociedade em

que as populações se desenvolvem conforme Furtado (1993):

“O conhecimento do ambiente em que vive e a habilidade para fazer as coisas

para utilizar este ambiente à medida que vão sendo transmitidas e absorvidos

pelas gerações transformam práticas, hábitos de vida, modo de apreensão e apropriação da natureza com traços característicos do povo, no seio do qual

são desenvolvidos”. (p.199)

O saber responde por um entendimento formulado na experiência das relações com a

natureza, com o ambiente ao seu redor, através de diversas maneiras de perceber, representar

e agir sobre o território, possibilitando uma complexa adaptação a um meio ecológico e

formas de uso (CASTRO, 2000, p.169):

Suas atividades apresentam-se complexas, pois constituem formas múltiplas de relacionamento com os recursos, e é justamente essa variedade de

práticas que assegura a reprodução do grupo, possibilitando também uma

construção da cultura integrada à natureza e as formas apropriadas de

manejo.

E é com a valorização destes conhecimentos e das práticas desenvolvidas por estas

populações que se pode vislumbrar ações de uso e conservação dos recursos mais conectadas

e coerentes com a realidade local. Também pode ser resgatado e registrado tais

conhecimentos visto que, a grande pressão ocasionada pela demanda crescente do mercado

urbano-industrial, muitos dos conhecimentos encontram-se ameaçados (SILVANO, 2004).

Várias abordagens são utilizadas tais como a etnoecologia, etnobiologia e

etnoictiologia. A etnoecologia trata do conhecimento do ambiente, do conhecimento

tradicional da dinâmica do meio natural. Ou seja, busca compreender as percepções das

populações locais sobre os recursos naturais. Marques (1995) conceitua a etnoecologia “como

o estudo das interações entre a humanidade e o resto da ecosfera, através da busca da

compreensão dos sentimentos, comportamentos, conhecimentos e crenças a respeito da

natureza [...] p.37”. Já a etnobiologia é entendida como o conhecimento e das conceituações a

respeito do mundo natural e das espécies, enfatizando os conceitos e categorias das

populações estudadas (POSEY, 1987). E a etnoicitiologia trata do conhecimento que as

populações locais, dentre elas destacamos os pescadores, sobre os peixes. Conhecimento este

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relacionado às estratégias de captura, nomenclatura, morfologia, reprodução e migração

(BEGOSSI et al.,1999). Embora existam subdivisões no que se refere ao estudo do

conhecimento das populações locais, o ponto em comum entre tais subdivisões é o fato de

todos estes estudos reconhecem que estes conhecimentos apresentam relevância social e

cultural. E, acima de tudo, por reconhecer nestas populações a riqueza e detalhamento de

informações e a importância destes para propostas de conservação dos recursos.

E, um dos primeiros trabalhos etnoecológicos foi realizado por Maranhão (1975) sobre

a classificação dos peixes feita por uma comunidade de pescadores do litoral cearense;

Marques (1995) realizou um estudo com pescadores no baixo São Francisco Alagoano sobre

as plantas e animais da várzea maritubana. No que se refere à etnobiologia podemos destacar

Posey (1987) que investigou os conceitos dos grupos indígenas dentro e entre as categorias

cognitivas.

2.3.1 O etnoconhecimento de pescadores e a conservação do recurso pesqueiro

A maioria desses estudos tem sido realizada em comunidades de pescadores artesanais

que atuam em regiões litorâneas com destaque para Begossi et al. (2005) que analisou a

etnotaxonomia de peixes em comunidade de pescadores da mata Atlântica, SP. Muitos outros

trabalhos fazem a descrição de recursos pesqueiros, como por exemplo, Souza e Barella

(2004) que analisaram a pesca artesanal exercida pelos pescadores na Estação Ecológica de

Juréia, em termo de composição de espécies, sazonalidade e produtividade das pescarias.

Fernandes Pinto e Marques (2004) observaram que os pescadores de Guaraqueçaba (PR)

possuem conhecimento detalhado sobre a variação espacial e temporal dos peixes, facilitando

assim a captura. Thé (2003) também analisou e descreveu a atividade pesqueira de

comunidades de pescadores do Rio São Francisco (MG), e registrou a existência de regras de

uso para a utilização dos recursos.

Na Amazônia, trabalhos têm sido realizados com etnias indígenas como os Kayapós,

onde está destacado o conhecimento sobre os peixes e as estratégias de captura (PETRERE,

1990). Além desse, outro importante estudo foi realizado com as tribos Tukano e Tuyuka, no

alto rio Tiquié, que têm amplo conhecimento sobre nomenclatura usual, habitat, reprodução e

hábitos alimentares de 147 espécies de peixes (CABALZAR, 2005). Tais estudos evidenciam

que o conhecimento está relacionado com experiências, a cultura e o ambiente em que as

populações vivem. Esse conhecimento possibilita produzir e se reproduzir socialmente num

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determinado espaço por meio de informações sobre os recursos naturais disponíveis,

tecnologias e práticas para aproveitamento e conservação dos recursos (BEGOSSI et al.,

2006; CASTRO, 2000; DIEGUES, 2004).

Posteriormente, o foco da pesquisa mudou, passando a ser realizado com populações

de seringueiros e os ribeirinhos que residem próximos aos principais rios e lagos que possuem

um conhecimento detalhado sobre o ambiente em que vivem. Os resultados de estudos

realizados com pescadores têm alta contribuição para a compreensão da atividade pesqueira,

principalmente por reconhecer na pesca a sua importância social, econômica e cultural

(SMITH, 1979).

Thé (2003) ressalta que as populações ribeirinhas4 mantêm contato direto com o

ambiente natural e exploram a natureza com base num conjunto de crenças e saberes no uso

dos recursos naturais, fundado nas tradições culturais e na relação empírica com o meio

ambiente. Assim, é necessário levar em consideração os aspectos sociais, econômicos e

culturais das populações humanas estudadas.

Diversas pesquisas têm dado ênfase ao conhecimento dos pescadores sobre os

aspectos ecológicos dos peixes (LIMA, 2003; BARROS e RIBEIRO, 2005), análise sobre o

uso dos peixes e tabus (BEGOSSI e BRAGA, 1992) e classificação (BEGOSSI e

GARAVELO, 1990). Batistella et al. (2005) também relatam que os pescadores da

comunidade Boas Novas no Lago Janauacá, rio Solimões, possuem conhecimentos

consistente e detalhados sobre a dieta alimentar de mais de 40 espécies de peixes; No lago

Grande de Manacapuru, Rebelo (2008) menciona que os pescadores conhecem a dieta

alimentar de 10 espécies mais capturadas nas pescarias, e que estes conhecimentos são

consistentes e condizentes com as resultados científicos de análises de conteúdo estomacal. E,

essas informações são importantes para a conservação dos recursos pesqueiros.

Sendo assim, conhecimento expressa uma forma empírica de explicação sobre o

ambiente como resultado de um processo cumulativo e de dimensão histórica. Dito de outra

4 As populações ribeirinhas expressam um modo de vida particular onde no sentido de CASTRO (2000)

apresenta referência na linguagem, imagens de mata, rios, igarapés e lagos, definindo por sua vez lugares e

tempos na vida destas populações que se encontra intimamente relacionada com as concepções construídas sobre

a natureza. FRAXE (2000) destaca que os caboclos ribeirinhos são polivalentes, ou seja, desenvolvem diversas

atividades como caça, pesca, agricultura, extrativismo vegetal e criação de animais, com a finalidade de atender

às demandas do grupo doméstico e, caso haja excedente, disponibilizam-no ao mercado por meio de sistemas de

trocas e/ou comercialização.

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forma, a interação das populações locais com o ambiente em que vivem possibilitou um

conhecimento particular sobre o ecossistema. Este saber é resultado de processos de

conhecimentos a partir das atividades desenvolvidas por estas populações utilizando os

recursos do ambiente natural, como a pesca, e que pode contribuir para o conhecimento cada

vez mais detalhado sobre os recursos naturais.

Diante disso, é preciso que a atenção devida seja dada a tais conhecimentos, pois como

salienta Allut (2000, p.118):

“Então se os pescadores regem sua vida pelo que consideram sua verdade, e a prova de sua verossimilhança vem demonstrada por sua efetividade para a

sobrevivência ao longo dos séculos, é óbvio que os conhecimentos

adquiridos, desempenham um papel fundamental. E isto deveria constituir-se

argumento para que quem desenha as políticas pesqueiras lhes desse mais

atenção”.

O reconhecimento desses conhecimentos foi destacado por Batista et al., (2004, p.118)

ao mencionar que “as etnociências representam a forma atual de incorporação desses saberes

no conjunto de conhecimentos técnico-científicos disponíveis para subsidiar as políticas

públicas e ao manejo pesqueiro regional”. Trabalhos como o de Doria et al. (2008)

evidenciam essa articulação entre os saberes ao registrar a contribuição do conhecimento local

dos pescadores em Rondônia sobre o período reprodutivo de 5 espécies de importância

comercial para ajustes na legislação pesqueira, sugerindo a adequação dos períodos de defeso

na localidade. Além desse, o estudo de Moysés (2008), realizado com catadores de caranguejo

na Área de Proteção Ambiental de Guapimirim (RJ) também destacou a importância dos

conhecimentos dos catadores inclusive para verificação do período adequado de defeso dos

caranguejos na área estudada.

2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE REPRODUÇÃO E MIGRAÇÃO DE PEIXES

2.4.1 Reprodução de peixes

Em termos biológicos, a reprodução assegura a preservação e a abundância das

espécies, sendo o conhecimento do ciclo reprodutivo de fundamental importância para

proteção de estoques naturais (GODINHO, 2007). Na Amazônia Central, peixes migradores

realizam a desova na calha principal dos rios (SANTOS, 1980; GOULDING e CARVALHO,

1982; VIEIRA et al. 1999) enquanto que grande parte dos residentes realiza a reprodução nos

lagos, sendo principalmente no início das chuvas, quando o lago ainda está desconectado dos

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rios (ARAGÃO, 1986; WORTHMANN, 1992; LEÃO et al. 1991). Isso é explicado pela

flutuação do nível da água, que acaba regulando o ciclo biológico dos peixes principalmente

no desenvolvimento dos órgãos sexuais e, por isso é considerado importante estímulo para o

desencadeamento da desova (SANTOS, 1982; LEÃO et al. 1991). Essas condições estão

associadas ao início da época de chuvas e da alagação quando ocorre maior disponibilidade de

alimentos e com isso favorece o desenvolvimento e crescimento das larvas e juvenis

(MENEZES e VAZZOLER, 1992; SÁNCHEZ-BOTERO e ARAÚJO-LIMA, 2001).

Muitas informações têm sido geradas sobre reprodução de peixes residentes, como o

tucunaré Cichla monoculus tanto em lagos (Fernandes, 2001; OLIVEIRA JÚNIOR, 1998;

SANTOS et.al., 2004) quanto em rio (LOWE-McCONNELL, 1969; DUPONCHELLE et al.,

2005; MUÑOZ et al., 2006); tamoatá Hoplosternum littorale (CARTER e BEADLE, 1931;

WINEMILLER, 1987; HOSTACHE e MOL, 1998; FERREIRA NETO, 2001; SÁ-

OLIVEIRA e CHELLAPA, 2002; MACIEL, 2010); traíra Hoplias malabaricus

(VAZZOLER e MENEZES, 1992; ARAÚJO-LIMA e BITTENCOURT, 2001; PRADO et al.,

2006); piranha Pygocentrus nattereri (SAZIMA e MACHADO, 1990;

BITTENCOURT,1994; QUEIROZ et al., 2010); pescada Plagioscion squamosissimus

(WORTHMANN, 1992; OLIVEIRA 2000; LOUBENS, 2003; CAMARGO e LIMA

JÚNIOR, 2007), bodó Pterigoplichthys pardalis (FERREIRA et al., 1998, NASCIMENTO,

2004) e acará-açu Astronotus ocellatus (FERREIRA-NETO e SOARES, 1999).

Já em relação a peixes migradores, grande parte dos estudos foram realizados com o

tambaqui Colossoma macropomum (GOULDING e CARVALHO, 1982; ARAÚJO-LIMA e

GOULDING, 1998; MUÑOZ e VAN DAMME, 1998; VIEIRA et al., 1999); curimatã

Prochilodus nigricans (GOULDING, 1980; CARVALHO e MERONA, 1986; LOUBENS e

PANFILI,1995; FERNANDES,1997) e jaraqui, Semaprochilodus spp. (RIBEIRO, 1983;

RIBEIRO e PETRERE, 1990; VAZZOLER et al., 1989; FERNANDES ,1997; BATISTA e

LIMA ,2010).

Porém ainda há a necessidade de elucidação de questões quanto a reprodução de várias

espécies, principalmente daquelas que são alvo da pesca comercial. E, a lacuna dessas

informações tem dificultado à elaboração de ações voltadas a conservação deste recurso, a

exemplo da definição de períodos de defeso.

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2.4.2 Migração de peixes

De acordo com Nikolsky (1963) a migração é um componente do ciclo de vida dos

peixes que influencia na abundância de exemplares de determinada espécie no ambiente. É

um fenômeno adaptativo que permite a uma espécie de peixe colonizar vários ambientes em

diferentes estádios da vida. As migrações podem ser classificada em três tipos básicos (JUNK,

1984):

1. Migrações motivadas pela mudança do nível das águas: estas migrações

são geralmente movimentos curtos num espaço de centenas de metros a

poucos quilômetros, sendo realizadas pelas espécies que colonizam as

várzeas. Elas são ocasionadas pelas mudanças no nível das águas que permitem ou facilitam o acesso aos locais de alimentação e de proteção no

período das enchentes e a saída destes locais durante a vazante. Os peixes

característicos deste tipo de migração são: o pirarucu (Arapaima gigas) e os acarás (Astronotus spp., Geophagus spp., Satanoperca spp.).

2. Migrações para fins reprodutivos: estas migrações são realizadas por

peixes como o tambaqui, curimatã, jaraquis e ocorrem, geralmente, no inicio da enchente.

3. Migrações para fins tróficos: praticamente todas as espécies que realizam migrações reprodutivas também efetuam migrações tróficas. Em geral, elas

são direcionadas rio acima, talvez para compensar deslocamento dos ovos,

das larvas e dos jovens, ocasionados pelo movimento rio abaixo. Migrações tróficas são realizadas por vários bagres, como a dourada, filhote, surubim e

maparás e também os peixes de escamas como jaraquis, curimatãs,

matrinchãs, entre outros.

Na Amazônia, o saber dos pescadores a respeito dos movimentos migratórios de

peixes comercializados pode auxiliar e contribuir nas propostas para o uso adequado do

recurso pesqueiro, visto que as informações na literatura específica ainda são escassas. Muitos

estudos estão concentrados em dados de desembarque do pescado para peixes migradores de

longa distância, dourada Brachyplatystoma flavicans; piramutaba, B. vaillanti (BARTHEM e

GOULDING, 1997); para peixes migradores de curta distância, os maparás, Hypophthalmus

spp. e a curimatã, Prochilodus nigricans no Baixo Tocantins, PA (CARVALHO e MERONA,

1986); e para peixes migradores de média distância, o tambaqui, Colossoma macropomum, no

médio Amazonas (ARAÚJO-LIMA e GOULDING, 1998), e os jaraquis, Semaprochilodus

insignis e S. taeniurus (RIBEIRO e PETRERE, 1990) no rio Negro.

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3 METODOLOGIA

3.1 ÁREA DE ESTUDO

3.1.1 Município de Manacapuru

O Município de Manacapuru (3° 18' 15" S e 60° 37' 03" W) está situado à margem

esquerda do Rio Solimões, na confluência com o Rio Manacapuru, distante cerca de 98 km de

Manaus, capital do estado do Amazonas. O município ocupa uma área de 7 329,234 km²,

representando 0,46 % da área do Estado do Amazonas. Limita-se com seis municípios que

são: Iranduba e Manaquiri ao leste; Beruri ao sul; Anamã e Caapiranga ao oeste e Novo Airão

ao norte e noroeste.

A população total é de 85 144 habitantes sendo o 4º mais populoso do Estado e

apresenta uma densidade populacional de 11,62 habitantes por km². De acordo com estes

dados, o município apresenta 70,6% do total de habitantes vivendo na área urbana, enquanto

que 29,3% vivem na área rural. As principais atividades econômicas estão relacionadas à

agropecuária, com destaque na agricultura para a produção de mandioca, banana, juta entre

outros (IBGE, 2010).

É rico em recursos aquáticos, florísticos e faunísticos, que proporciona um cenário de

beleza singular em seu território. Os principais rios que passam pelo território de Manacapuru

são os rios Solimões e Manacapuru. Um fato interessante é que Manacapuru foi o primeiro

município do Amazonas a ter em sua área territorial um Sistema Municipal de Unidade de

Conservação (SMUC) que é a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Piranha . Além

disso, possui a Área de Proteção Ambiental do Miriti e dos Lagos de Manutenção do Paru e

Calado. A vegetação da localidade caracteriza-se em quase sua totalidade por áreas de várzea

e terra firme (BIBLIOTECA VIRTUAL DO AMAZONAS, 2008; PREFEITURA

MUNICIPAL DE MANACAPURU, 2010). E, é neste município que está localizado o

sistema Lago Grande de Manacapuru.

3.1.2 Sistema Lago Grande de Manacapuru

3.1.2.1 Aspectos ecológicos

Os lagos Jaitêua (0317’555’’ S e 6043’759’’ W) e São Lourenço (0313’901’’ S e

6044’326’’ W) fazem parte do Sistema que forma o Lago Grande de Manacapuru com área

estimada em torno de 420 km2

(SOARES et al., 2009) (Figura 1). O lago Grande é neste

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trabalho entendido como um sistema por apresentar não somente um sistema ecológico no

sentido de um complexo de lagos5, canais, igarapés e paranás, mas por ser constituído também

de um sistema cultural e social. Na localidade habitam populações com suas organizações

sociais e que interagem com ambiente ao seu redor através representações feitas sobre a

natureza que permitem construir um modo de vida particular.

Figura 1- Localização dos lagos Jaitêua e São Lourenço, integrantes do lago Grande de

Manacapuru, Amazonas, Brasil. Fonte: INPE (2008); Maciel (2010)

A paisagem sofre variações sazonais por causa do pulso de inundação6 (JUNK et al.,

1989). A enchente no rio Solimões-Amazonas próximo ao Sistema Lago Grande de

5Soares et al. (2009) explica que o Lago Grande é formado por um complexo lacustre, constituído de

lagos, igarapés e furos. 6 De acordo com Junk et al.. (1989) o pulso de inundação pode ser entendido como “a principal força

direcionadora, responsável pela existência, produtividade e interações da biota em sistemas rio-

planícies de inundação”, onde “um pulso previsível de longa duração gera adaptações e estratégias que

propiciam o uso eficiente dos atributos da zona de transição aquática/terrestre”.

Brasil

Lago Jaiteua

Lago São Lourenço

Lago Jaiteua

03˚13’901’’ S

e 60˚44’326’’

W),

009

(03˚13’901’’ S

e 60˚44’326’’

W),

Lago Grande

rio Manacapuru

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Manacapuru, começa no final de novembro, e continua até o final de abril, quando o fluxo da

água é no sentido rio-lago, atingindo o nível máximo entre maio e julho, cheia. A vazante do

rio começa no final de julho e início de agosto prosseguindo até setembro. Nesse período o

fluxo da água é no sentido lago-rio, ocorrendo uma grande retração dos ambientes aquáticos.

Finalmente, a cota atinge o valor mais baixo de setembro a novembro, época de seca (águas

baixas). A água começa a entrar no lago a partir de dezembro (SOARES et al., 2009) (Figura

2)

Figura 2- Flutuação do nível da água do Rio Solimões. Fonte: CPRM extraído de SOARES et

al. (2009).

A flutuação sazonal do nível das águas promove condições que levam os lagos de

várzea a terem importante papel associado à produtividade e a variabilidade de habitats

resultando em diversos ambientes de pesca, que são muitos procurados pelos pescadores

(SOARES et al., 2009). Considerando essas condições, é esperado que o pescado proveniente

da pesca praticada por moradores dessas comunidades, assim como pelos pescadores

profissionais, tenha alta participação na comercialização nos mercados de Manacapuru e de

outras cidades vizinhas. Isso permite que Manacapuru seja uma das cidades de maior

produção pesqueira no Amazonas (RUFFINO et al., 2006; GONÇALVES e BATISTA,

2008). Outro ponto a ser ressaltado é o acesso ao Lago Grande de Manacapuru. Em geral, é

facilitado naturalmente por meio fluvial em todos os períodos do ciclo hidrológico, sendo

dificultado somente na seca, principalmente em outubro, quando o nível da água está muito

baixo. Nesse sentido, o deslocamento para realização da pesquisa foi realizado por meio de

barco saindo do porto do Ceasa em Manaus e, em 2010, a logística foi reorganizada tendo

como ponto de partida o porto do Município de Manacapuru.

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3.1.2.2 As comunidades do Sistema lago Grande de Manacapuru

A pesquisa foi realizada em 7 comunidades7 rurais pertencentes a três localidades:

Jaitêua de Cima, Jaitêua de Baixo (no lago Jaitêua) e Cajazeiras nas proximidades do Lago

São Lourenço (Figura 3). Fraxe et al. (2009) realizaram um estudo sobre a vida social das

comunidades, onde foi possível identificar os aspectos sociais, culturais e demográficos, a

saber:

Figura 3- Localização das comunidades no Sistema lago Grande de Manacapuru,

Manacapuru, AM. Fonte: BASPA (2008).

Jaitêua de Cima

No Jaitêua de Cima estão localizadas as comunidades Nossa Senhora Perpétuo

Socorro, Assembléia de Deus, Tradicional e Santa Isabel. De modo geral, as comunidades

possuem suas instituições (escolas e igrejas) e domicílios formando um núcleo comunitário.

Essa centralização de serviços e instituições é de suma importância, “por desempenhar o papel

de sustentar a socialização entre os moradores” (MIGUEZ et al., 2007, p. 55). A maioria das

comunidades na localidade de Jaitêua de Cima possui escola, igreja e sede social (Tabela 1).

7 Nesta pesquisa o conceito de comunidade refere-se a denominação utilizada pelos moradores locais, que

envolve principalmente uma área delimitada e identificada pelos grupos sociais que vivem nesse espaço e

estabelecem relações entre si.

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A comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Figura 4) possui 25 famílias que

se dedicam às atividades extrativistas. Fraxe et al. (2009) relata que a comunidade possui

apenas uma escola de ensino fundamental que também atende os estudantes do Jaitêua de

Baixo. Mas, em 2010 a escola passou por uma reforma e foi ampliada para atender os alunos

até o 3º ano do Ensino Médio. A comunidade conta ainda com uma igreja católica, campo de

futebol e sede social onde são realizadas as reuniões com os moradores e outros trabalhos

comunitários. A energia é fornecida por meio de motor que é ligado apenas em ocasiões

especiais como reuniões realizadas durante a noite.

Tabela 1- Número de famílias e infraestrutura das comunidades no Jaitêua de Cima, Sistema

Lago Grande de Manacapuru, AM.

Comunidades na localidade de Jaitêua de Cima

Comunidades

N.S. do Perpétuo

Socorro

Assembléia de Deus

Tradicional

Assembléia

de Deus

Santa Isabel

Nº de famílias

25 famílias

30 famílias

17 famílias

40 famílias

Infr

aest

rutu

ra

Escola de Ensino Médio

Escola de Ensino Fundamental

Igreja

Escola de Ensino Fundamental

Sede social

Poço artesiano

-

Gerador de energia

Gerador de energia

Gerador de energia

-

Igreja

Campo de futebol

Campo de futebol

-

Campo de futebol

Igreja Igreja - Sede social

Fonte: Adaptado de Fraxe et al. (2009) e Cunha (2011).

A Comunidade Tradicional (Figura 5) reúne 30 famílias. No núcleo comunitário estão

localizados a escola primária, o poço artesiano, o campo de futebol e a igreja evangélica

Assembléia de Deus Tradicional. O fornecimento de energia elétrica é por meio de gerador a

diesel que atende as casas que se localizam próximo ao núcleo comunitário.

Na comunidade Assembléia de Deus (Figura 6) vivem 17 famílias, onde uma parcela

reside no núcleo comunitário e o restante está dispersa em casas flutuantes ao longo dos

igarapés. No período de cheia, a água alcança o assoalho das residências e os animais são

transportados para terra firme.

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A comunidade Santa Isabel (Figura 7), localizada mais afastada das demais

comunidades, possui em média 40 famílias que contam ainda com uma escola de Ensino

Fundamental e um espaço para reuniões. O acesso à energia é por meio de gerador a diesel

sendo utilizado em ocasiões especiais, tais como, realização de cultos, reuniões e em alguns

casos nos finais de semana.

Figura 4- Comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Jaitêua de Cima. Fonte: BASPA

(2008).

Figura 5- Comunidade Assembléia de Deus Tradicional, Jaitêua de Cima. Fonte: BASPA

(2008).

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Figura 6- Comunidade Assembléia de Deus, Jaitêua de Cima. Fonte: BASPA (2008).

Figura 7- Comunidade de Santa Izabel, localidade de Jaitêua de Cima. Fonte: BASPA (2008).

Jaitêua de Baixo

Nesta localidade existe apenas uma comunidade que é a de Santo Antônio (Figura 8),

onde vivem aproximadamente 16 famílias. A comunidade possui uma escola, sede

comunitária, igreja católica e um campo de futebol. O acesso à energia é por meio de placas

solares existentes em algumas casas, tais placas foram instaladas através de um projeto de

alternativas tecnológicas da Eletrobrás em áreas rurais do Amazonas denominado

“Ribeirinhas” com a tecnologia Sistemas Fotovoltaicos, em meados de 2004.

Cajazeiras

Nesta localidade encontram-se as comunidades de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

e Nossa Senhora de Aparecida. Semelhante às outras comunidades a infraestrutura é composta

por escola de ensino fundamental, sede social e igreja (Tabela 2).

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Figura 8- Comunidade de Santo Antônio, Jaitêua de Baixo. Fonte: BASPA (2008), pesquisa

de campo 2010.

Tabela 2- Número de famílias e infraestrutura das comunidades na localidade de Cajazeiras,

Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

Comunidades em Cajazeiras

Comunidades

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Nossa Senhora Aparecida

Nº de famílias

10 famílias 14 famílias

Infr

aest

rutu

ra Sede social Escola de ensino fundamental

Gerador de energia Forno de farinha comunitário

Forno de farinha comunitário Gerador de energia

Campo de futebol Campo de futebol

Igreja Igreja

Fonte: Adaptado de Fraxe et al. (2009) e Cunha (2011).

Na comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Figura 9) vivem 10 famílias,

cujas principais atividades são agricultura, pesca e criação de gado. Possui uma sede social

utilizada para reuniões e para realização de eventos festivos. Além disso, possui gerador de

energia e um campo de futebol, onde são realizados alguns torneios.

A Comunidade Nossa Senhora Aparecida (Figura 10) está localizada no igarapé

Cajazeira e possui aproximadamente 14 famílias. A comunidade possui uma escola de Ensino

Fundamental, um gerador de eletricidade, um forno de farinha que pode ser utilizado pelos

membros da comunidade, uma sede onde os comunitários se reúnem. O campo de futebol é

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bastante utilizado nos sábados e domingos. Nesta comunidade há uma igreja católica

denominada de Nossa Senhora de Aparecida.

Figura 9- Comunidade Nossa Senhora Perpétuo Socorro, Cajazeiras. Fonte: BASPA (2008).

Figura 10- Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Cajazeiras. Fonte: BASPA (2008).

3.2 MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

3.2.1 Métodos

Essa pesquisa está inserida em uma abordagem quanti-qualitativa. A pesquisa

qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o

sujeito, uma interdependência viva entre sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o

mundo objetivo e a subjetividade do sujeito (CHIZZOTTI, 2000, p. 79). Nesse sentido, as

informações obtidas levam em consideração as representações, as relações que estes sujeitos

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criam em suas ações, compreender a percepção destes do ambiente que convivem, bem como

seu conhecimento empírico.

No trabalho foi utilizado o método etnográfico, considerado importante em estudos

com grupos humanos e a sua interpretação pelas ciências sociais. O modelo etnográfico

buscou uma descrição e interpretação do etnoconhecimento dos pescadores a respeito da

ictiofauna no Lago Grande de Manacapuru, envolvendo seus aspectos culturais e sociais.

Nesse sentido, destacamos que a etnografia tem como objetivos principais selecionar

informantes, transcrever textos, levantar genealogias, levando em consideração a capacidade

criativa do pesquisador em estabelecer a descrição densa (GEERTZ, 1989).

Para isso, é necessário considerar três caminhos que fundamentam e direcionam o

trabalho do antropólogo: o olhar, ouvir e escrever (OLIVEIRA, 1996). Assim, durante o

trabalho de campo os sentidos devem estar treinados para perceber a realidade social,

registrando minuciosamente tal realidade no seu diário de campo, mediante observação

participante, onde posteriormente parte-se para última etapa que é escrever, sistematizando e

dando sentido às impressões percebidas.

Nesse contexto, o trabalho de campo entendido como além de se configurar apenas

como o local de realização da pesquisa, referindo-se ao recorte espacial, é principalmente o

espaço ocupado pelas pessoas e grupos convivendo numa dinâmica de interação social. A este

respeito é válido o aprofundamento nesta questão onde:

“Essas pessoas e esses grupos são sujeitos de uma determinada história a ser

investigada, sendo necessária uma construção teórica para transformá-los em objeto. Partindo da construção teórica do objeto de estudo, o campo

torna-se um palco de manifestações de intersubjetividades e interações entre

pesquisador e grupos estudados, propiciando a criação de novos

conhecimentos” (NETO, 1994, p. 54).

Para compreender a percepção dos pescadores a respeito do ambiente em que vivem, o

trabalho se apóia no conceito de Representações Sociais (MOSCOVICI, 2003). Nessa

perspectiva, as representações sociais expressam a capacidade de perceber, compreender,

inferir, dando sentido às coisas. E, é diante dessas considerações, que o estudo busca

compreender as representações sociais dos pescadores do Sistema Lago Grande cujo senso

comum expressa a representação de sua realidade.

3.2.2 Etapas da pesquisa

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Para a consecução do estudo procedeu-se a realização das seguintes etapas: pesquisa

bibliográfica e pesquisa de campo. Na pesquisa bibliográfica procedeu-se o levantamento de

livros, artigos e dissertações relacionados ao tema da presente pesquisa, bem como

relacionados à área de estudo, Sistema Lago Grande de Manacapuru, Amazonas. Além disso,

foi direcionada aos relatórios e a base de dados da sub- Rede Bases para a Sustentabilidade da

Pesca na Amazônia- BASPA (MCT/CNPq/PPG7)8. A sub-rede realizou pesquisas na área do

Lago Grande de Manacapuru de 2006 até 2008. No que se refere à base de dados BASPA,

foram consultadas informações geradas por dois sub-projetos a saber: “Caboclos-ribeirinhos e

a Etnoconservação dos Recursos Pesqueiros em Manacapuru” e o “Biologia e Ecologia de

Peixes em lagos de várzea: subsídios para conservação e uso dos Recursos Pesqueiros na

Amazônia.”

E, por fim, procedeu-se a etapa de pesquisa de campo. O primeiro contato com os

habitantes do lago Grande de Manacapuru ocorreu em 2006 quando iniciaram as atividades da

sub-rede BASPA e, grande parte dos dados utilizados corresponde aos anos dedicados à

pesquisa na área. A permanência na área de estudo, durante cada viagem, compreendia um

período de 5 dias, onde foram aplicadas as técnicas de coleta de dados que subsidiaram o

banco de dados da sub-rede. Posteriormente, em 2010 foram realizadas 3 viagens para

obtenção de dados que consubstanciaram os resultados que se apresentam nesta dissertação.

3.2.3 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa foram os agentes sociais que praticam a pesca, seja para

consumo ou comercialização, pertencente às 7 comunidades das localidades de Jaitêua de

Cima, Jaitêua de Baixo e Cajazeiras.

3.3 TÉCNICA DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

As técnicas de coleta de dados consistiram basicamente na aplicação de formulários,

observação participante, a realização de mapas mentais e georreferenciamento dos

movimentos de peixes no Sistema conforme abaixo relatados.

8 A sub-rede Bases para Sustentabilidade da Pesca na Amazônia (MCT/CNPq/PPG7) era composta pelos

seguintes sub-projetos: 1- Caboclos-ribeirinhos e a Etnoconservação dos Recursos Pesqueiros em Manacapuru,2-

Tecnologia do pescado, 3- Estimativa do Valor do Não-uso de Recursos Ambientais na Região do Lago de

Manacapuru, Amazonas, 4- Estratégias de Manejo Pesqueiro na Amazônia, 5- Biologia e Ecologia de Peixes de

Lagos de Várzea: Subsídios para Conservação e Uso dos Recursos Pesqueiros da Amazônia e 6- Modelos de

Avaliação de Estoques Pesqueiros de Lagos de Várzea.

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3.3.1 Perfil socioeconômico dos pescadores, modalidade de pesca, espécies capturadas e

locais de pesca utilizados no ciclo hidrológico.

Os dados foram obtidos por meio do banco de dados (BASPA, 2008) do subprojeto

Caboclos-ribeirinhos e a Etnoconservação dos Recursos Pesqueiros em Manacapuru, sub-

rede BASPA, cujas informações foram obtidas por meio formulários aplicados com o chefe

de família ou alguém da família com experiência e conhecimento na pesca, alcançando um

total de 57% das famílias da área estudada. No formulário, constam questões que atendem aos

subprojetos integrantes da sub-rede BASPA. As questões consultadas no banco de dados

foram relacionadas à faixa etária, escolaridade, profissão dos entrevistados, se praticavam a

pesca para consumo ou comercialização, local de pesca e quais os peixes mais capturados nas

pescarias ao longo de ciclo hidrológico. Os dados foram tabulados em planilhas no Excel e

posteriormente por meio de estatística descritiva calculada a freqüência relativa. Os resultados

são apresentados em forma de gráficos e tabelas.

3.3.2 Etnoconhecimento dos pescadores sobre o período reprodutivo de peixes

Os dados sobre o conhecimento dos pescadores sobre a reprodução dos peixes foram

obtidos por meio do banco de dados BASPA e de entrevistas para complementação das

informações realizadas durante a pesquisa de campo em 2010, conforme já mencionada. Nos

formulários, foram abordados aspectos reprodutivos referentes ao período e local de desova.

Na análise dos dados, foram selecionados os peixes que apresentaram freqüência de

ocorrência de citação pelos entrevistados, acima de 4%, totalizando 16 peixes (Tabela 3).

Em seguida, uma análise de dados foi efetuada por meio de uma tabela de cognição

comparada (MARQUES, 1995). A tabela exibe as informações dos pescadores sobre os

peixes mais citados e os dados da literatura científica específica, inclusive Instruções

Normativas e Portarias do IBAMA referente ao período de defeso. Para elaboração da tabela

foram considerados os trabalhos publicados sobre as espécies selecionadas assim como os

dados sobre reprodução gerados no sub-projeto Biologia e Ecologia de Peixes em Lagos de

Várzea (BASPA). Na consulta, foram considerados os nomes comuns dos peixes que foram

citados pelos pescadores, ressaltando em alguns casos, o nome correspondia a um grupo de

espécies, como por exemplo, as branquinhas que englobam espécies de vários gêneros. Nesse

caso foram escolhidas as espécies mais representativas do grupo em termos de números de

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exemplares capturados nas pescarias experimentais nos lagos. Finalmente, na comparação das

informações do etnoconhecimento com as portarias do defeso para cada peixe, foi verificado

que na maioria das vezes a reprodução era mencionada no contexto do período do ciclo

hidrológico (enchente, cheia, vazante e seca). Não tendo informação, para maioria das

espécies, sobre o mês em que ocorre a desova. Isso pode ser explicado pela metodologia da

coleta de dados, que privilegiou informações sobre período. Deste modo, para algumas

espécies é possível apenas mencionar o período de desova. Mas, para outras espécies foi

possível relatar o mês de desova a partir das informações da biologia reprodutiva existentes

no banco de dados BASPA.

Tabela 3- Peixes mais citados pelos entrevistados no Sistema Lago Grande de Manacapuru,

AM. N= número de citação; %= percentagem das citações.

Nome comum Nome científico N %

Tucunaré Cichla monoculus 58 95,08

Acará-açú Astronotus ocellatus 43 70,49

Curimatã Prochilodus nigricans 37 60,65

Pirarucu Arapaima gigas 30 49,18

Bodó Pterigoplichthys pardalis 18 29,50

Aruanã Osteoglossum bicirrhosum 14 22,95

Tambaqui Colossoma macropomum 14 22,95

Jaraquis Semaprochilodus sp. 13 21,31

Traíra Hoplias malabaricus 13 21,31

Piranha Pygocentrus nattereri 10 16,39

Aracu Schizodon fasciatum 8 13,11

Branquinha Potamorhina latior 7 11,47

Tamoatá Hoplosternum littorale 5 8,19

Pacu Mylossoma duriventre 4 6,55

Matrinxã Brycon sp. 3 4,91

Pescada Plagioscion squamosissimus 3 4,91

Fonte: Banco de dados BASPA (2008) e pesquisa de campo (2010).

3.3.3 Etnoconhecimento dos pescadores sobre os movimentos de peixes

Para compreender o movimento dos peixes no Sistema Lago Grande de Manacapuru

foram selecionados os entrevistados que participariam de três etapas: aplicação de formulário,

mapeamento participativo e georreferenciamento. A seleção aconteceu durante a aplicação

dos formulários da sub-rede BASPA, onde era perguntado ao entrevistado se ele conhecia os

movimentos dos peixes no Sistema e, diante da resposta positiva, iniciava-se a aplicação de

formulário específico (ANEXO). Nesse contexto, foram aplicados 25 formulários. Estes

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informantes, a partir de seu conhecimento a respeito da ictiofauna, elucidaram sobre a época e

locais de reprodução, assim como os movimentos migratórios para fins reprodutivos e tróficos.

No mapeamento participativo, os entrevistados desenharam a comunidade, os

igarapés, furos, canais, paranás que compõem o ambiente da região e, principalmente,

delinearam os principais movimentos realizados por jaraquis (Semaprochilodus spp.),

curimatã (Prochilodus nigricans) e tambaqui (Colossoma macropomum). Descrevem os

ambientes por onde estes peixes passam e a época, possibilitando assim registrar como que os

pescadores compreendem a distribuição espacial e temporal desses peixes no Sistema Lago

Grande de Manacapuru (Figura 11).

Figura 11- a) Mapeamento participativo com os pescadores para o delineamento dos

movimentos migratórios mais citados ; b) mapa elaborado por pescadores sobre o movimento

dos peixes e ambientes da paisagem local. Fonte: BASPA (2008).

Finalmente, foi realizado o georreferenciamento dos movimentos dos peixes que

foram mais citados, com GPS (Global Positioning System) junto com os pescadores de forma

individual (Figura 12), onde indicaram os movimentos delineados através do mapeamento,

detalhando os ambientes por onde os cardumes passam, de onde que eles vem, qual o destino.

As trajetórias das dos peixes foram percorridas com uma embarcação tipo voadeira, com

motor de 25 HP nas áreas de lagos, igarapés, paranás, furos que integram o ambiente local

(Figura 12). Posteriormente, esses dados foram transferidos para o computador utilizando o

programa GPS TrackMaker versão 13.1 para assim identificá-los no mapa da localidade.

a) b)

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Figura 12- Georeferrenciamento dos movimentos dos peixes no Sistema Lago Grande de

Manacapuru: pescador indicando os caminhos dos peixes. Fonte: BASPA (2008).

3.4 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

A observação participante, no sentido de Minayo (1994) é conceituada como um

processo pelo qual o observador se mantém numa determinada situação social com a

finalidade de realizar uma investigação. No entanto, a inserção no mundo do outro não ocorre

sem estranhamento, pois como desconhecidos que adentram e passam a conviver em sua

realidade, respondíamos também aos questionamentos feitos por homens, mulheres e crianças.

Essa técnica permitiu, em muitos casos, que acompanhássemos os agentes sociais na

realização de suas atividades, tais como a pesca, a agricultura permitindo compreender a

dinâmica de sua vida, seus conhecimentos e práticas. Durante tais acompanhamentos

utilizava-se o caderno de campo como instrumento para registrar os acontecimentos, as

observações e as dúvidas que surgiam. Além disso, essa técnica permitiu ainda que

registrássemos os fatos do cotidiano, principalmente durante as visitas aos domicílios e

caminhadas pelas comunidades.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS ENTREVISTADOS

Nas 7 comunidades que fazem parte do Sistema Lago Grande de Manacapuru, foram

entrevistados 64 comunitários, e as comunidades estão localizadas ao redor dos lagos Jaitêua

e São Lourenço. Na localidade Jaitêua de Cima, comunidade de Santa Isabel, foram aplicados

13 formulários, na Nossa Senhora do Perpétuo Socorro 14, na Assembléia de Deus, 6, e na

Assembléia de Deus Tradicional, 8. Na localidade Jaitêua de Baixo, comunidade de Santo

Antônio, foram aplicados 6 formulários. E, por fim, na localidade de Cajazeiras, comunidade

de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foram aplicados 4 formulários e na comunidade de

Nossa Senhora Aparecida 13 (Tabela 4).

A maioria dos entrevistados encontra-se entre 41 e 50 anos, conforme foi o caso dos

entrevistados nas comunidades de Santa Isabel (61,5%), Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

(61,5%) e Assembléia de Deus (50%) (Jaitêua de Cima) e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

(50%) (Cajazeiras). Todos os entrevistados eram do sexo masculino.

Em relação à escolaridade observa-se que a maioria possui grau de escolaridade

referente 1ª à 4ª série do ensino fundamental com destaque para as comunidades Assembléia

de Deus tradicional (87,5%) e Santa Isabel (61,5%). Os moradores que apenas assinam o nome

alcançam percentuais acima de 30 % nas comunidades de Santa Isabel (Jaitêua de Cima) e

Nossa Senhora Aparecida (Cajazeiras).

Estes números indicam a situação da educação de populações que vivem em áreas

rurais no Brasil e, especialmente, no interior do Estado do Amazonas, cujas distâncias

geográficas e a variação sazonal dos rios exigem do poder público estratégias locais que

assegurem o acesso à educação. Na área de estudo, somente em 2010 os jovens e adultos

puderam cursar o ensino médio na própria localidade, com a ampliação da disponibilidade do

ensino até o 3º ano do Ensino médio. Tal situação possibilitou aos jovens continuarem seus

estudos sem ter que deixar seus familiares e seu local de residência.

Com relação às atividades desenvolvidas, a principal foi a agricultura, com destaque

para a comunidade Assembléia de Deus (83,3%) (Jaitêua de Cima) e Nossa Senhora

Aparecida (80%) (Cajazeiras) onde os entrevistados afirmaram dedicar-se a atividade da

agricultura, autodenominando-se, portanto, de agricultores, conforme pode ser observado na

tabela a seguir:

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Tabela 4- Perfil socioeconômico dos entrevistados nas comunidades do Sistema Lago Grande de

Manacapuru, AM.

Jaitêua de Cima Jaitêua

de Baixo

Cajazeiras

Santa Isabel N.S. Perpétuo

Socorro

Assembléia de Deus

Assembléia de Deus

Tradicional

Santo Antonio

N. S. Perpétuo

Socorro

N.S. Aparecida

n= 13 n=14 n=6 n=8 n=6 n=4 n=13

Faixa etária (%)

16 – 20 - - - 12,5 - 25,0 7,7

21 – 30 15,4 15,4 33,3 12,5 50,0 - 23,1

31 – 40 7,7 7,7 33,3 12,5 16,7 - 15,4

41 – 50 61,5 61,5 16,7 50,0 0 50,0 -

50 – 60 7,7 7,7 16,7 - 16,7 25,0 30,8

61 – 70 - - - - - - 15,4

71 – 76 7,7 7,7 - - 16,7 - 7,7

Sexo (%)

Masculino 100 100 100 100 100 100 100

Escolaridade ( %)

1a a 4a Série 61,5 21,4 50,0 87,5 50,0 50,0 38,5

5a a 8a Série - 42,9 33,3 12,5 16,7 - 15,4

Só Assina o Nome

30,8 14,3 16,7 - - 25,0 30,8

Ensino Médio Incompleto

- - - - 16,7 25,0 15,4

Ensino Médio Completo

- 7,1 - - 16,7 - -

Nunca Estudou 7,7 14,3 - - - - -

Profissão (%)

Agricultor 76,92 78,57 83,33 50,0 16,67 100 80

Pescador 30,0 21,43 - 50,0 83,33 - 20

Agente de saúde - - 16,67 - - - -

Fonte: Banco de dados BASPA (2008).

Na agricultura os entrevistados plantam mandioca para fazer a farinha, banana, cana-

de-açúcar, milho, feijão, dentre outros. FRAXE (2000) destaca que cultivo da mandioca

constitui um componente básico do sistema da produção na Amazônia em ambientes de terra

firme ou de várzea porque possui uma dupla finalidade: subsistência e comercialização. Além

disso, essa produção é de forma artesanal e envolve mão-de-obra familiar. A participação das

crianças também foi verificada durante o acompanhamento de uma família até a casa da

farinha comunitária para a observação do processo de preparo da farinha (Figura 13).

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Figura 13- Participação da família no prepraro da farinha: a) homem torrando a farinha; b)

criança participando do processo de preparo da farinha. Fonte: BASPA (2008).

A criação de gado, porcos, carneiros e galinhas são direcionadas ao consumo e

eventualmente comercializadas. A criação de gado, por parte das famílias que habitam em

áreas de várzea, funciona como uma poupança que pode ser utilizada em situações de

necessidade extrema, visto que podem consumir ou obter renda, no caso de comercializar

(PEREIRA, 2007, p.18). Finalmente, a extração de madeira é realizada principalmente para a

construção de casas, canoas, reforma das sedes sociais, confecção de apetrechos de pesca9 tais

como caniço ou de utensílios como o remo (Figura 14).

9 Brito (2010) registrou que a madeira utilizada na fabricação de apetrechos como o caniço, arco e flecha são

retiradas da floresta próximo de suas residências.

a) b)

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50

Figura 14- Atividades dos entrevistados. a) Pesca, pescador da localidade de Jaitêua de Cima;

b) Criação de gado na localidade de Jaitêua de Cima. Fonte: BASPA (2008).

No entanto, na localidade de Jaitêua de Baixo a maioria dos entrevistados afirmou

que se dedicam mais a pesca, considerando-se, por sua vez pescadores (Tabela 4).

Eu pesco para vender, eu vendo aí na beira mesmo, na balsa dos peixeiros, lá

em frente de Manacapuru [ ...] Hoje não deu para pescar para vender não , só

para comer mesmo, aqui pertinho de casa. Para vender as vezes eu pesco duas vezes, às vezes só uma mesmo, depende... por exemplo assim, a

pescaria é aquela coisa tem vezes que a gente vai e o mar tá pra peixe , tem

vezes que é mais difícil, tem que procurar o peixe, tem que saber pescar

também. (pescador da localidade de Jaitêua de Baixo, F.R.L.32 anos, BASPA).

De fato, no Sistema Lago Grande de Manacapuru, há uma diversidade de atividades

produtivas desenvolvidas pelos comunitários. Essas atividades apresentaram maior ou menor

intensidade de acordo com os aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos. O

resultado indica que nas localidades, Jaitêua de Cima e Cajazeiras, é maior a atividade

dedicada à agricultura e pecuária. Por outro lado, na localidade de Jaitêua de Baixo há maior

dedicação a atividade da pesca, com grande participação na renda familiar.

a) b)

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51

4.2 ETNOCONHECIMENTO DOS ENTREVISTADOS SOBRE A PESCA NO SISTEMA

LAGO GRANDE DE MANACAPURU

4.2.1 Modalidades de pesca

Na Amazônia a pesca artesanal10

tem importância vital na vida das populações,

especialmente as ribeirinhas (ISAAC et al., 1996). Isto porque atende às necessidades básicas

da demanda nutricional familiar e pode ser fonte de renda, através da comercialização do

pescado. Witkoski et al. (2009) explicam que a realização das várias atividades produtivas em

conjunto com a piscosidade dos ambientes aquáticos, aos quais as comunidades têm acesso,

favorece a economia de subsistência e do excedente que se encontram também vinculada as

demandas do mercado de Manacapuru.

Os entrevistados pescam quase que diariamente, coexistindo duas principais

modalidades de pesca: pesca voltada para o consumo e a pesca destinada à comercialização.

Um bom exemplo dessa situação é observado nas localidades de Cajazeiras e Jaitêua de Cima,

onde a maioria dos entrevistados mencionou que a pesca é realizada para o consumo (Tabela

5). Nestas localidades, o cotidiano dos entrevistados é marcado por atividades produtivas

diversificadas. Isso porque se dedicam a atividades da produção agrícola, através do cultivo

de suas roças, assim como pescam de forma complementar, atendendo a demanda de

subsistência do grupo familiar. O excedente é eventualmente comercializado (WITKOSKI et

al, 2009; BRITO, 2010).

E tais atividades foram constantemente mencionadas com o período mais favorável

para sua realização, pois alguns entrevistados destacavam o tempo de plantar e o tempo de

pescar, identificando, assim, um período de realização das atividades para sua reprodução

social, que está intrinsecamente relacionado aos ciclos da natureza, ao tempo que não é

demarcado pelo relógio, mas pela natureza que acaba por direcionar os seus afazeres diários

(MALDONADO, 2000). Da mesma forma, Furtado (1993) relata a percepção sobre o tempo

de pescadores no baixo Amazonas. Ainda nesse estudo, a autora ressalta que essa percepção

tem uma dimensão ecológica, onde a sazonalidade da subida e descida das águas direciona e

reorganiza as atividades.

10 A pesca artesanal neste estudo é entendida como aquela realizada com uma variedade de apetrechos, captura

de variadas espécies e a utilização de embarcações de pequeno porte.

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Por outro lado, na localidade de Jaitêua de Baixo, a pesca comercial ocorre como

principal modalidade para todos os entrevistados. As pescarias são realizadas levando em

consideração a demanda e o valor do pescado nos pontos de venda, exigindo do pescador

grande dedicação na atividade. Esses pescadores são também denominados localmente de

pescadores de caixinha11

, pois transportam em suas canoas uma caixa de isopor de tamanho

variado onde o pescado é armazenado no gelo e comercializado nos principais pontos de

venda em Manacapuru, tais como na Panairzinha e Balsa dos Peixeiros.

Tabela 5- Modalidades de pesca nas três localidades, Cajazeiras, Jaitêua de Baixo e Jaitêua de

Cima.

Modalidade de Pesca

Localidades Comunidades Consumo (% ) Comercialização (% )

Jaitêua de Cima

Santa Isabel 77 23

N.S Perpétuo Socorro 86 14

Assembléia de Deus 100 -

Assembléia de Deus Tradicional 75 25

Jaitêua de Baixo Santo Antônio - 100

Cajazeiras Nossa Senhora Aparecida 75 25

Nossa Senhora Perpétuo Socorro 100 -

Fonte: BASPA (2008).

Outro fato de destaque é a pesca efetuada por crianças. Alguns pescadores das

localidades mencionam que quando possível, os filhos ou sobrinhos acompanhavam as

pescarias. Estudos realizados indicam que a socialização para a arte da pesca ocorre desde a

mais tenra idade, sendo registrado por volta dos cinco anos (FRAXE, 2000). Na localidade foi

observado que os meninos pescam sozinhos nas áreas próximas da comunidade. Garcez e

Sanchez-Botero (2006) relatam, em comunidades rurais de Manacapuru, a pesca realizada por

crianças com idades entre 5 e 12 anos de idade. Segundo esses autores, as crianças praticam a

pesca para alimentação da família, frequentemente em locais próximos a comunidade.

11 Brito (2010) descreve que se trata de uma prática de pesca que é rentável para os pescadores do

Sistema Lago Grande de Manacapuru e consiste na captura de diversos peixes, de variados tamanhos armazenados em uma caixa de isopor com gelo que é transportada até os locais de venda através de

uma canoa motorizada.

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Somente em raras ocasiões a pesca tinha por objetivo a comercialização, mas, sempre

acompanhados de algum familiar.

4.2.2 Peixes capturados nas pescarias

Fatores ambientais, características climáticas e a dinâmica sazonal das águas

determinam à distribuição e a ecologia dos recursos pesqueiros e, como conseqüência, o

comportamento do pescador e da pesca (BARTHEM e FABRÉ, 2004). Tais fatores

influenciam a disponibilidade e acessibilidade aos recursos ictiofaunísticos exigindo do

pescador um profundo conhecimento sobre o comportamento dos peixes, o que pode

favorecer o êxito das pescarias. Nesse sentido, a complexidade ambiental requer adaptações

dos recursos ictiofaunísticos conforme explica Soares et al. (2007, p. 13) que “os peixes, em

especial, estão bastante adaptados ao ecossistema amazônico, com espécies de variados

tamanhos, formas e estratégias de vida (tipos de reprodução, alimentação)”.

Por meio das entrevistas também foi possível identificar os peixes que são alvos das

pescarias e, que variam conforme o período do ciclo hidrológico. Estes peixes podem ser

classificados quanto ao seu comportamento em temporários e residentes. Os temporários se

agrupam em cardumes e realizam migrações, desenvolvendo parte do seu ciclo de vida nos

lagos de várzea, na época de alagação, e parte nos rios, na época de seca. Os residentes por sua

vez, desenvolvem todo o seu ciclo de vida nos lagos de várzea, se reproduzem nos lagos;

realizando movimentos dentro do sistema conforme a flutuação do nível d´água (JUNK,

1984).

Os principais peixes residentes capturados pelos entrevistados no período da enchente

foram os acarás (Geophagus proximus, Chaetobranchus sp., Heros efasciatus), o tucunaré

(Cichla monoculus), as piranhas (Pygocentrus nattereri, Serrasalmus sp.), o acará-açú

(Astronotus ocellatus) e com menor frequência o bodó (Pterygoplichthys pardalis), a aruanã

(Osteoglossum bicirrhosum), a traíra (Hoplias malabaricus) e a pescada (Plagioscion sp.).

Entre os migradores os mais capturados foram o tambaqui jovem, denominado localmente de

ruelo (Colossoma macropomum), os pacus (Mylossoma sp., Metynnis sp.), a curimatã

(Prochilodus nigricans) as branquinhas (Potamorhina spp.), os aracus (Schizodon fasciatus,

Leporinus sp.), a matrinxã (Brycon sp.), a pirapitinga (Piaractus brachypomus) e as sardinhas

(Triportheus spp.) (Figura 15).

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0 5 10 15 20

Acarás

Ruelo

Tucunaré

Pacus

Piranhas

Curimatã

Acará-açú

Bodó

Branquinhas

Aracus

Aruanã

Matrinxã

Pirapitinga

Sardinhas

Traíra

Pescada

Peix

es

Frequencia relativa de citação (%)

Figura 15- Peixes mais capturados pelos entrevistados no período da enchente no Sistema

Lago Grande de Manacapuru, AM. Fonte: BASPA, 2008.

A cheia é considerada pelos pescadores como um período difícil para a pescaria, pois:

“ele [peixe] entra no capim e fica difícil, o peixe fica depressa” (V. L. S, 48 anos). Outro

pescador, durante entrevista, informou que na cheia “o volume de água aumenta e o peixe ele

acha muito lugar pra ele tá, tá a vontade né? É isso que acontece aí você tem que usar da

artimanha pra pegar ele, tem que usar um material mais fino, tem que saber pintar bem, tem

que saber botar[ o apetrecho de pesca]”(F. R. L, 32 anos). Soares et al. (2009) em estudo

realizado no Sistema Lago Grande de Manacapuru, relatam que o aumento da área alagada

permite a ampliação de habitats e, assim, os peixes encontram refúgio tornando-se menos

vulneráveis a pesca. Isso explica o fato dos pescadores mencionarem a maior dificuldade de

captura. Esse período, conforme relatado pelos pescadores, corresponde a maio e junho.

Na cheia, também foram capturados vários peixes residentes, sendo os mais citados o

tucunaré (C. monoculus), a piranha (Pygocentrus nattereri, Serrasalmus sp.), o acará-açú (A.

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ocellatus), bodó (P. pardalis). Entre os migradores os mais capturados são ruelo (C.

macropomum), curimatã (P. nigricans), branquinhas (Potamorhina spp.) e pacus (Mylossoma

sp., Metynnis sp.) (Figura 16).

0 5 10 15 20

Ruelo

Tucunaré

Curimatã

Pacus

Piranhas

Acará-açú

Branquinhas

Bodó

Aracus

Acarás

Sardinhas

Pescada

Matrinxã

Pirapitinga

Aruanã

Surubim

Cuiu-cuiu

Traíra

Pe

ixe

s

Frequência relativa de citação %

Figura 16- Peixes mais capturados pelos entrevistados no período da cheia no sistema Lago

Grande de Manacapuru, AM. Fonte: BASPA, 2008.

Já a vazante é considerada um bom período para as pescarias, pois “o rio fica raso o

peixe passa toda hora e em qualquer lugar que acha malhadeira pega o peixe” (J. C. L, 45

anos). Outro pescador mencionou também que é neste período que ocorre “a saída do peixe”

(R. S, 24 anos), em direção a calha principal do rio pelos peixes migradores. É quando muitos

dos peixes capturados são os migradores com destaque para o ruelo (C. macropomum),

curimatã (P. nigricans) e pacus (Mylossoma sp.,Metynnis sp.). Também foram citados,

embora com menor freqüência de ocorrência, as branquinhas (Potamorhina spp.), o surubim

(Pseudoplatystoma fasciatum), as sardinhas (Triportheus spp.), os jaraquis (Semaprochilodus

spp.), a pirapitinga (P. brachypomus ) e os maparás (Hypophythalmus spp.). No que se refere

aos peixes residentes, os mais capturados foram o tucunaré (C. monoculus), o acará-açú (A.

ocellatus), as piranhas (Pygocentrus nattereri, Serrasalmus sp.), os acarás (Geophagus

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proximus, Chaetobranchus sp., Heros efasciatus), o bodó (P. pardalis ), a pescada

(Plagioscion sp.), a traíra (H. malabaricus ) e o matrinxã (Brycon sp.) (Figura 17).

0 5 10 15 20

Tucunaré

Ruelo

Acará-açú

Curimatã

Piranhas

Pacus

Acarás

Branquinhas

Bodó

Pescada

Surubim

Sardinhas

Traíra

Jaraquis

Matrinxã

Pirapitinga

Maparás

Peix

es

Frequência relativa de citação (%)

Figura 17- Peixes mais capturados pelos entrevistados no período da vazante no Sistema Lago

Grande de Manacapuru. Fonte: BASPA, 2008.

No período da seca, a retração das águas e concentração dos peixes nos poços e

igarapés, facilita a pesca. Os mais capturados nesse período foram os peixes residentes com

destaque para o tucunaré (C. monoculus), as piranhas (Pygocentrus nattereri, Serrasalmus

sp.), a aruanã (O. bicirrhosum), o acará-açú (A. ocellatus) e o bodó (P. pardalis). No que se

refere aos migradores de curta distância os mais capturados foram ruelo (C. macropomun),

curimatã (P. nigricans), surubim (P. fasciatum). Os com menor freqüência foram as

branquinhas (Potamorhina spp.), os aracus (S. fasciatus, Leporinus sp.), a pirapitinga (P.

brachypomus) e os pacus (Mylossoma sp., Metynnis sp.) (Figura 18).

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0 5 10 15 20

Ruelo

Tucunaré

Curimatã

Piranhas

Aruanã

Acará-açú

Surubim

Bodó

Cuiu-cuiu

Acarás

Branquinhas

Aracus

Pescada

Pirapitinga

Pacus

Traíra

Peix

es

Frequência relativa de citação %

Figura 18- Peixes mais capturados pelos entrevistados no período da seca no Sistema Lago

Grande de Manacapuru, AM. Fonte: BASPA,2008.

Os pescadores do Sistema Lago Grande de Manacapuru capturam em suas pescarias

uma variedade de peixes. Na enchente, cheia e seca predominam as residentes, enquanto que

na vazante, a maioria é migradora. No que se refere aos residentes, o tucunaré, a piranha e o

acará-açú foram os mais citados, sendo capturados ao longo de todo o ciclo hidrológico. Já

entre os migradores, predominou o tambaqui/ruelo e a curimatã. Estudos realizados na

Amazônia com dados de desembarque apontam alta freqüência de captura de peixes como

curimatã, pacu, tambaqui, tucunaré (PETRERE, 1978; BATISTA et al., 1998; BARTHEM e

FABRÉ, 2004; VIANA, 2004). Assim como dados de desembarque de pescado no porto da

Panairzinha, em Manacapuru, lista esses 5 peixes como os principais (SOUSA, 2009). Esses

resultados corroboram as informações relatadas pelos pescadores do Lago Grande.

Portanto, nota-se regularidade na captura de tucunaré, curimatã, tambaqui, acará-açú e

a piranha. E, a maior freqüência de captura desses peixes pode estar associada: a) objetivos da

pesca, se é para consumo ou comercialização, b) a ocorrência das espécies ao longo do ciclo

hidrológico e c) o conhecimento do pescador sobre o ambiente e a ictiofauna que deseja

capturar.

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58

4.2.3 Local de pesca

A identificação dos locais de pesca refere-se, principalmente, a representação social do

ambiente que está intimamente associada às atividades produtivas desenvolvidas pelos

habitantes do Sistema Lago Grande de Manacapuru. Nesse sentido, o território muitas vezes

ocupado há várias gerações, não é definido apenas pelos limites espaciais, recursos existentes

e, consequentemente, das atividades ali executadas. Mas, de forma essencial, é o espaço onde

se estabelecem as relações sociais, as representações dos mitos e lendas. Portanto, o espaço

assim como o lugar apresenta importância econômica, social e cultural (TUAN , 1980).

Maldonado (2000) explica que falar do espaço, nem sempre significa falar de um dado

concreto, mas de uma realidade geográfica da natureza com a qual o homem se confronta para

se reproduzir. Esses espaços tanto terrestres e aquáticos são revestidos de significados. Nesse

sentido, a pesca mostra relevância da percepção do ambiente não somente para a ordenação

dos homens nos espaços sociais, mas, de acordo com a autora, essa percepção do ambiente é

importante também para a organização da própria produção e da reprodução da atividade

pesqueira.

Autores como Little (2002) conceituam a delimitação desses espaços como

territorialidade, pois trata-se de “esforço coletivo para ocupar, usar, controlar e se identificar

com a parcela específica de seu ambiente biofísico, convertendo-a assim em seu ‘território’”

(p. 03). A utilização desses territórios pressupõe um conhecimento detalhado sobre a

ictiofauna local, sobre onde encontrar os peixes, como capturar e, por isso, a função prática

deste saber empírico demonstra como um conjunto de conhecimentos influencia de maneira

incisiva na produção de alimentos para essas populações. A escolha do local de pesca também

está relacionado com o ciclo das águas, onde determinados períodos do ciclo possibilitam

maior ou menor acesso aos locais de pesca. Nesse sentido, este ciclo das águas implica

compreender como que os pescadores se inter-relacionam com o ambiente ao seu redor. Com

efeito, para o deslocamento aos locais de pesca, os pescadores utilizam um conhecimento

detalhado sobre as características do ambiente e as transformações decorrentes da variação

sazonal das águas cuja identificação dos locais é seguida de uma nomeação dos elementos da

paisagem que orientam e facilitam o acesso.

Souto (2010) destaca que é comum a existência de percepções êmicas de espacialidade

que correspondem a diferenciações e identificação dos ambientes, ou de acordo com o

mesmo, permitem a identificação dos locais e acesso aos ambientes aquáticos. Os ambientes

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59

aquáticos que compõem o Sistema Lago Grande de Manacapuru são nomeados e classificados

há vários anos e, tais nomeações, são compartilhadas entre homens, mulheres e crianças. E os

pescadores com maior idade possuem um maior detalhamento destes ambientes.

No Sistema Lago Grande de Manacapuru foi possível identificar um modelo cognitivo

de classificação desses locais, através da representação social do ambiente, de aspectos

culturais, da sazonalidade e do conhecimento da movimentação das espécies de peixes. Os

locais são categorizados pela população local em: rio, lago, paraná, igarapé, furo, igapó, poço,

mãe do rio e chavascal, sendo extensamente descritos na literatura especifica (Tabela 6).

Tabela 6- Ambientes aquáticos citados pelos entrevistados e os registros encontrados na

literatura específica.

Ambientes Etnoconhecimento pescadores Descrição na literatura

Rio Canal principal, os pescadores

identificam o rio Manacapuru (água preta) e o Rio Solimões

(água branca).

Os rios da bacia Amazônica podem ser classificados de

acordo com sua cor, origem e química em três principais categorias: rios de águas pretas ex. Rio Negro), rios de

águas claras (ex. Tapajós) e rios de águas brancas (ex.

Amazonas) (SIOLI, 1975).

Lago Curso d’água maior que

expande-se no período de

enchente/cheia e reduz no período da seca.

Os lagos podem ser considerados como corpos de água,

total ou parcialmente circundados pelo sistema terrestre

com origens e tempo de vida variáveis., podem ser de terra firme ou de várzea.

Os lagos de várzea surgem de depressões no terreno que

são alcançadas periodicamente pelas inundações, sendo que no período de seca ficam parcialmente ou totalmente

isolados dos ambientes lóticos. Os lagos de terra firme se

diferem dos lagos da várzea por serem permanentes. Geralmente são lagos grandes, abastecidos por nascentes

( SIOLI, 1984)

Paraná Permite o acesso a diversos ambientes (lagos e igarapés) e

localidades (localidade de

Jaitêua, Cajazeira e suas comunidades).

Os paranás são canais de navegação até os lagos, importantes para a migração e dispersão das espécies

(GARCEZ et al., 2010).

São formações de bancos arqueados estreitos e muito longos, depositados por migração lateral de todo um

canal ou de um braço. ( PEREIRA, 2007).

Igarapé Curso d’água menor que o lago,

que muitas vezes deságua no

lago, paraná.

São corpos d´água de pequeno porte, caracterizados pelo

leito bem delimitado e apresenta correnteza relativamente

acentuada. (SANTOS e FERREIRA, 1999).

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Continuação Tabela 6- Ambientes aquáticos citados pelos entrevistados e os registros

encontrados na literatura específica.

Ambientes Etnoconhecimento pescadores Descrição na literatura

Furo

É um canal que possibilita o acesso mais

rápido a dois ambientes, é um tipo de

atalho que pode ser usado na enchente/cheia, local de passagem de

peixes. Os principais furos do sistema lago

Grande possibilitam o acesso entre os lagos São Lourenço e Jaitêua.

canais muito rasos e estreitos e

meandriformes, denominados de furos, que

drenam a água para o paraná ou para o canal principal. (PEREIRA,2007)

Igapó

Área de floresta inundada no período da cheia.

São florestas inundáveis, localizados ao longo dos rios de águas pretas e águas

claras (AYRES, 2006, p.36).

Poços

Áreas profundas que permanecem na seca

e que concentram os peixes.

Trata-se de um micro-ambiente

característico dos lagos de origem fluvial da

Amazônia cuja fisiografia propicia sua

integridade aquática ainda que no período da seca, fato que lhes confere alta

produtividade pesqueira (RIBEIRO e

FABRÉ, 2003).

Chavascal Existe em locais como lagos onde há

capins aquáticos, que são os chavascais, geralmente associado a um local de difícil

pescaria principalmente a realizada com

malhadeira.

Os chavascais são constituídos por extensas

áreas de vegetação arbustiva e pantanosa e são comuns na região entre os lagos, canais

e rios, normalmente atrás das faixas de

restinga (AYRES, 2006, p.36).

Mãe do rio

Parte mais funda passível de navegação o

ano inteiro, como um canal que possibilita

o deslocamento do rio até a área do Sistema Lago Grande de Manacapuru.

A imagem da água sempre remeteu a

mulher, no aspecto de fertilidade,

sensualidade, flexibilidade e instabilidade frequentemente destacados e descritos nas

representações também do elemento

aquático (Fortes, s/d). Além disso, a água é sempre associada a fonte de vida e, no

contexto ribeirinho, pode representar a fonte

de vida que permanece e garante o acesso

das comunidades, a circulação de produtos, a realização das pescarias. A relação com a

água assegura um modo de vida particular,

um rico universo simbólico (FRAXE, 200; DIEGUES, 2007; FORTES, s/d).

Fonte: Pesquisa de campo (2010) e literatura específica. Adaptado de Brito (2010).

No período da enchente, com o aumento das chuvas no inverno, grandes porções de

floresta são inundadas, dispersando os peixes e dificultando sua captura. Para esse período, os

entrevistados citaram 43 locais, considerados como os mais procurados para a pesca: os lagos

Jaitêua, Mutum e Grande; igarapés Jauari Grande, Boca larga, Grande, Cedro, Tiago, Cumaru.

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Também foi mencionado pelos pescadores, o rio Manacapuru e a mãe do rio. Esse último é

bastante procurado pelos pescadores, principalmente porque fica próximo da comunidade de

Santo Antônio (Jaitêua de Baixo). Outro local muito procurado é o furo do Acari e o Canal

Serra Lima, identificados como locais de passagem de peixes (Figura 19).

No que se refere ao período da cheia foram citados 51 locais de pesca. O aumento do

número de locais deve-se ao fato de que na cheia, a expansão dos ambientes facilita o acesso

aos lagos, igarapés, furos e canal. O lago do Jaitêua, por exemplo, é o principal local de pesca.

E, com relação aos igarapés, tem destaque os do Tiago, Cedro e Jauarí Grande. Os furos do

Acari e Cumaru são também muito pescados, principalmente, pela presença da floresta

inundada que propicia alimento e refúgio aos peixes.

Além desses, o canal do Serra Lima é outro local de pesca muito utilizado. Os

moradores, principalmente da localidade de Jaitêua de Cima, estão pescando na Reserva de

Desenvolvimento Sustentável do Piranha12

. A reserva é conhecida pela grande quantidade de

peixes, principalmente tambaqui e pirarucu. Nesse período também pescam nas áreas de

chavascal. O rio foi procurado para as pescarias com menor freqüência, apesar da facilidade

de deslocamento (Figura 20).

No período da vazante, a área alagada começa a reduzir e os peixes iniciam os

movimentos dentro do sistema procurando os locais mais profundos. E, diante disso, os

pescadores posicionam-se nas bocas dos igarapés, furos, por onde os peixes passam em

direção ao rio, lagos e canais mais profundos. Foram mencionados 40 locais de pesca e os

mais citados foram os lagos, com destaque para o lago do Jaitêua e o Grande e, com menor

freqüência o Mutum Grande, Mutunzinho, Inácio, Redondo e ainda o lago do Piranha, na

RDS Piranha; para os igarapés, tem destaque o Grande, Cedro, Cajazeira, Boca Larga, Zé

Leite e Peraço, principalmente nas bocas; para os furos, tem pescarias no Acari, Bode, Tigre;

Canal, locais mais profundos tem o do Cedro, Peraço e Serra lima. No Paraná do Anamã é

freqüente a pescaria, mas também ocorre com menor freqüência no Paraná da Fazenda,

Seringa, Cajazeira e Tiago. Finalmente, a pesca ocorre também no poço do Chatu, devido à

facilidade de captura de peixes (Figura 21).

12

Prefeitura Municipal de Manacapuru implantou em 1997 por meio da lei n° 009/97, a primeira RDS

municipal do país, denominada Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piranha. Brito (2010) em seu

estudo sobre a pesca no lago Grande, evidenciou que a pesca na área da reserva ocorre no período de águas altas, que corresponde a enchente e cheia, devido a maior rentabilidade obtida com a

comercialização do pescado capturado.

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Finalmente, com a retração das águas na seca há uma redução na quantidade de locais

de pesca para os pescadores, sendo citados somente 21 principais pontos de pesca. Isso

porque o baixo volume da água promove a concentração dos peixes em locais específicos,

geralmente mais profundos, como os canais e poços que não secam. Os poços mais citados

foram do Barro Vermelho, Chatu, e Pescoço do Veado localizados ao longo do paraná do

Anamã (Jaitêua de Cima). E ainda, os poços do Cumaru, Terra Preta e do Jaitêua de Baixo.

Além desses, são ainda utilizados nas pescarias o paraná do Cedro e Jaitêua. Também devem

ser mencionados os lagos Grande, Mutum Grande, Mutunzinho, Jaitêua, São Lourenço, a mãe

do rio e os igarapés Grande e da Cajazeira, pois permanecem com água suficiente para

ocupação de muitos peixes (Figura 22).

Resumindo, no período da enchente e cheia com o aumento das áreas alagadas, os

pescadores tem acesso a vários ambientes de pesca, principalmente, os lagos, igarapés e

paranás. Enquanto que, na vazante exploram, principalmente, os furos e as partes mais

profundas como os canais, além dos lagos e igarapés. Finalmente, na seca, há uma diminuição

de locais, agora ficando restritos aos poços que em sua maioria estão situados ao longo do

paraná do Anamã. Também os lagos do Jaitêua e Grande são preferenciais para a pesca

porque continuam acessíveis durante o ciclo hidrológico, inclusive na seca. Estes dados

corroboram as informações registradas por Sousa (2009)13

, que detectou diminuição das

freqüências de pescaria na seca, sendo realizadas principalmente nas proximidades do lago

Grande e Paraná do Anamã.

Estudos realizados a partir de dados de desembarque identificou pesqueiros

relacionados com 5 principais rios e somente no Rio Solimões foi registrado 59 locais, sendo

em sua maioria lago, paraná e costa (PETRERE, 1978). Esse resultado indica a utilização de

vários espaços aquáticos onde estão sendo realizadas as pescarias. Da mesma forma Cardoso

e Freitas (2007) no médio rio Madeira relatam pescarias realizadas em lagos, igarapés e rio.

Por outro lado, no estudo de Batista et al. (1998), realizados com pescadores ribeirinhos

observou que em localidades constituídas por grandes lagos, a tendência é que as capturas

sejam efetuadas principalmente no lago, diferentemente do que ocorre em lugares com poucos

lagos onde as pescarias são realizadas mais nos rios.

13 Sousa (2009) dividiu o Sistema Lago Grande em setores, que são unidades geográficas definidas que

possibilitam fazer uma relação entre o banco de dados de estatística pesqueira e Sig (Sistemas de Informação

Geográfica). Foi utilizado o mapeamento participativo, por meio de imagens de satélites impressas na escala de

1:700.000, com a localização dos principais setores.

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Portanto, os pescadores do Sistema Lago Grande de Manacapuru estão pescando em

vários ambientes que são categorizados, nomeados e cuja acessibilidade depende 1) da

possibilidade de deslocamento conforme o ciclo hidrológico (enchente, cheia, vazante e seca),

2) dos hábitos das espécies de peixes alvo da pesca, 3) da experiência pessoal de cada

pescador e 4) dos acordos de pesca14

existentes. Para as pescarias que envolvem pequenos

deslocamentos, geralmente os entrevistados utilizam as canoas, enquanto que nas longas

distâncias são utilizadas canoas com rabetas. Os pescadores comerciais também usam a canoa

com rabeta (canoa com motor de 3 a 5HP), mas para adentrar aos locais de difícil acesso, tais

como o igapó, utilizam-se da canoa a remo.

14 O IBAMA considera o acordo de pesca como uma importante estratégia de administração pesqueira que reúne

um conjunto de normas específicas, decorrentes de tratados consensuais entre os diversos usuários dos recursos

pesqueiros de uma determinada área. (Instrução Normativa nº 29, de 31 de dezembro de 2002). Na área da

pesquisa, Jacaúna (2009) registrou que um grupo de pescadores de subsistência que residem nas comunidades

localizadas em Jaitêua de Cima possui um acordo informal para manutenção do pescado no Paraná do Anamã,

no período da seca. De acordo com o autor trata-se de um acordo verbal e informal onde ficou estabelecido que

neste período apenas a pesca para o consumo é permitida no Paraná do Anamã.

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Figura 19- Ambientes de pesca no período da enchente no Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

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Figura 20- Ambientes de pesca no período da cheia no Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

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Figura 21- Ambientes de pesca no período da vazante no Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

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Figura 22- Ambientes de pesca no período da seca no Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

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68

4.3 ETNOCONHECIMENTO DOS ENTREVISTADOS SOBRE A REPRODUÇÃO DE

PEIXES

Na visão dos entrevistados, o período de reprodução dos peixes é considerado como

época de desova. A época e características de desova descritas pelos entrevistados revelam o

conhecimento que é adquirido através da realização da pesca e de observações direta do

comportamento dos peixes.

No que se refere aos conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo

da ictiofauna no Sistema, analisando a lista dos peixes mais capturados pelos entrevistados em

conjunto com as informações da literatura cientifica específica, foi possível resgatar dados

referentes a 16 peixes (Tabela 3). Esses peixes são alvos da pesca local e pertencem a dois

distintos grupos, os residentes e os migradores (temporários).

Os residentes, acará-açú, aruanã, bodó, pescada, piranha-caju, pirarucu, tamoatá, traíra e

tucunaré, na visão dos pescadores são aqueles que permanecem no Sistema. Eles realizam

migrações locais, principalmente na vazante, procurando locais de maior profundidade e na

enchente deslocam-se em direção as áreas recentemente alagadas para se alimentar e/ou

desovar (MACIEL, 2010; MÉRONA e RANKIN-DE-MERONA, 2004). Por outro lado, os

migradores (temporários), aracu, branquinha, curimatã, jaraquis, matrinxã, pacu e tambaqui,

vivem nos lagos temporariamente, se agrupam em cardumes realizando movimentos de saída

dos lagos, e, na vazante, em direção a calha principal do rio. Já na enchente, sobem o rio para

desovar (migrações reprodutivas), e, depois, os adultos e larvas retornam as áreas alagadas

(migração trófica) onde encontram locais para alimentação, abrigo e crescimento,

permanecendo até a próxima vazante (SANTOS, 1981; ZANIBONI-FILHO, 1985; RIBEIRO

e PETRERE, 1990). E, para grande parcela dos entrevistados é a enchente o período que

ocorre a reprodução para a maioria dos peixes (Tabela 7).

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Tabela 7- Número (N) e percentagem (%) de citações dos pescadores (etno) e conhecimento

científico (cient) sobre época de reprodução de 16 peixes no Sistema Lago Grande de

Manacapuru, AM.

PEIXES

N % N % N % N % N % N % N % N %

Acará-açu 38 88 3 100 4 9 - - 1 2 - - - - - - 3

Aruanã 13 93 6 67 - - - - - - - - 1 7 3 33 6

Bodó 15 83 3 43 - - - - 2 11 - - 1 6 4 57 3

Pescada 1 33 5 45 1 33 - - 1 33 3 27 - - 3 27 7

Piranha-caju 8 80 7 64 2 20 1 9 - - - - - - 3 27 8

Pirarucu 23 77 5 63 7 23 - - - - - - - - 3 38 5

Tamoatá 5 83 7 78 1 17 - - - - - - - - 2 22 7

Traíra 12 86 3 50 2 14 - - - - - - - - 3 50 4

Tucunaré 52 76 6 40 12 17 1 7 4 6 1 7 1 1 7 47 9

Aracu 8 100 5 83 - - - - - - - - - - 1 17 5

Branquinha 6 86 5 100 - - - - - - - - 1 14 - - 5

Curimatã 26 70 11 73 11 30 4 27 - - - - - - - - 11

Jaraquis 9 70 6 75 2 15 - - 2 15 - - - - 2 25 6

Matrinxã 3 100 4 100 - - - - - - - - - - - - 4

Pacu 3 75 3 75 1 25 1 25 - - - - - - - - 3

Tambaqui 10 72 9 90 3 21 1 11 1 7 - - - - 1 10 9

legenda: n cientifico=total de trabalhos científicos

Científico Etno Científico Etno Científico

Mig

rad

ore

sR

esi

den

tes

Etno Científico N científico

ENCHENTE CHEIA VAZANTE SECA

Etno

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo 2010.

O acará-açú é um peixe cuja reprodução é bastante conhecida pelos pescadores, e

para a maioria dos entrevistados a desova ocorre na enchente (Tabela 7). Esse resultado é

similar aos relatados na literatura específica consultada, assim como naqueles gerados no

banco de dados dos projetos da sub-rede BASPA (Tabela 8). Com relação ao local de desova,

os pescadores descrevem como ocorrendo nas raízes, troncos, galhadas e folhas em lagos e

igarapés dentro do Sistema. Na literatura consultada é mencionado que o acará-açú constrói

ninhos em galhadas, troncos e raízes flutuantes.

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Tabela 8- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do acará-

açú.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Lago, igarapé, e paraná Igapó, raízes, toco de árvores, margens,

(novembro a março) do SLGM pausadas e folhas no fundo de lago

e igarapé, cabeceira de igarapé

Cheia Rio Amazonas Rio Amazonas Troncos caídos no rio, em cima

Igarapé do SLGM de pau

Vazante Rio Amazonas Igarapé e furo do SLGM Pau velho, em cima das folhas

(agosto)

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente (janeiro Rio Amazonas Lago Camaleão -

a março) (FERREIRA-NETO e SOARES, 1999)

Enchente (dezembro) Rio Amazonas Lago -

e cheia (julho) (SANTOS et al., 2006)

Enchente (dezembro Rio Amazonas Lago Jaitêua (SLGM) Água aberta, floresta alagada

a fevereiro) (Banco de dados BASPA)

Local de desova

Literatura científica

Etnoconhecimento

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

Em relação ao aruanã, os entrevistados destacam que a reprodução acontece na

enchente (Tabela 7). Estudos específicos (ARAGÃO, 1989; CAVALCANTE, 2008;

FERREIRA e SOARES, 1999) informam que a reprodução ocorre no final da seca e início da

enchente, concordando com as informações geradas pela sub-rede BASPA. No que se refere

ao local, os pescadores descrevem que a desova ocorre em lagos, paranás e igarapés e, que a

aruanã cuida da prole protegendo os filhotes na boca. Tal informação é similar às informações

científicas acima mencionadas (Tabela 9).

O bodó é frequentemente citado pelos entrevistados como desovando na enchente,

embora tenha sido menos freqüente nos períodos da vazante e seca (Tabela 7). Os estudos de

reprodução apontam que a reprodução do bodó ocorre entre o período de seca e a enchente

(NASCIMENTO, 2004; FERREIRA et al., 1998; BASPA, 2008). E, segundo os pescadores,

no Sistema Lago Grande de Manacapuru, a desova ocorre em buracos feitos no barro,

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principalmente em lagos e igarapés. E, essas informações estão em consonância com as

informações relatas na literatura específica consultada (Tabela 10).

Tabela 9- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do aruanã.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Lago, igarapé, paraná Boca do igarapé

do SLGM

Seca Rio Amazonas Lago do SLGM Na boca de outro

peixe

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Final de seca (novembro) a Rio Amazonas Lago Janauacá -

meados da enchente (março) (ARAGÃO, 1989)

Enchente (novembro e Rio Amazonas Rios Ucayali e Maranon -

dezembro) (TELLO et al ., 1992)

Final de seca (dezembro) a Rio Amazonas Lago Camaleão -

meados da enchente (março) (FERREIRA-NETO e

SOARES, 1999)

Inicio (dezembro) a Rio Amazonas Canal, lago na RDS Mamirauá -

meados da enchente (março) (QUEIROZ 2008)

Inicio (dezembro) a Rio Amazonas Lagos, paranás e ressacas -

meados da enchente (março) (RDS Mamirauá)

(CAVALCANTE, 2008)

Seca (outubro, novembro) e Rio Amazonas Lago Jaitêua Água aberta,

inicio da enchente (dezembro). (Banco de dados BASPA) fundo do lago

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

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72

Tabela 10- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do bodó

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Lago, paraná e Buraco cavado no fundo

(dezembro a março) igarapé do SLGM

Vazante Rio Amazonas Lago Jaitêua Buraco cavado no

no barranco

Seca Rio Amazonas Lago Jaitêua Buraco cavado no fundo

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Final de seca (dezembro) Rio Amazonas Lagos Ninhos em tocas

início da enchente (março) (FERREIRA et al., 1998) no fundo

Seca (novembro e dezembro) Rio Amazonas Lagos Poraque, Aruã, -

início da enchente (janeiro) Campina, Iauara e Preto

(NASCIMENTO, 2004)

Seca (outubro e dezembro) Rio Amazonas Lago Jaitêua do SLGM Ninhos em tocas

(Banco de dados BASPA) no fundo

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

A pescada com base nas entrevistas, não tem o período de reprodução bem definido,

pois é mencionado que os peixes desovam na enchente (33%), cheia (33%) e vazante (33%)

(Tabela 7). Os estudos realizados com pescada destacam que a desova ocorre entre o período

da seca e enchente (DORIA e LIMA, 2008; WORTHMANN, 1992; OLIVEIRA, 2000). No

rio Ucayali, Riofrío (2009) relata que a desova acontece o ano inteiro, com maior frequência

na vazante e enchente. E, no Sistema Lago Grande de Manacapuru Maciel (2010) afirma que

a reprodução ocorre na enchente, vazante e seca. Mas, considerando que o resultado está

baseado em somente três questionários, é sugerido aumentar o número de entrevistas, para um

resultado conclusivo. Os locais de desova da pescada, segundo os pescadores, são os capins e

as partes profundas no rio Solimões e paranás. Oliveira (2000) relata que a pescada desova

nas margens do rio Solimões, enquanto que Maciel (2010) sugere no próprio Sistema, nos

lagos Jaitêua e São Lourenço (Tabela 11).

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73

Tabela 11- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova da

pescada.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio, paraná No fundo parana

Cheia Rio Amazonas Rio, paraná Rio, paraná fundo,

capim

Vazante Rio Amazonas Dentro da fêmea

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Início da seca Rio Amazonas Lago Janauacá

(WORTHMANN, 1992) -

Enchente, do inicio Rio Amazonas Rio Solimões-Amazonas, Margens do rio

(dezembro) ao final (abril) (OLIVEIRA 2000) Costa do Catalão

Final da seca (setembro) Rio Amazonas Rio Mamoré, lago Água aberta

e inicio da enchente (LOUBENS, 2003).

(dezembro)

Todo o ano, principalmente Rio Amazonas Médio rio Xingu Ambientes lênticos,

na vazante (julho) e (CAMARGO e LIMA áreas de corredeiras

enchente (novembro). JÚNIOR, 2007) e de inundação sazonal

Todo o ano todo, com Rio Tocantins- UHE DE TUCURUÍ -

pico de desova de Araguaia (Rocha et al. 2006)

setembro a outubro

Todo o ano, com Rio Amazonas Rio Ucayali (Amazônia

maior frequencia entre Peruana) -

setembro (vazante) e (RIOFRÍO 2009)

outubro (enchente)

Enchente (janeiro) Rio Amazonas Lago São Lourenço, lago Área aberta

Vazante (agosto), Jaitêua (MACIEL, 2010)

Seca (novembro).

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

A piranha-caju para a maioria dos entrevistados desova na enchente (80%), mas a

cheia também foi citada, embora com menor freqüência (20%) (Tabela 7). A reprodução da

piranha-caju tem sido estudada em vários ambientes. No Rio Mamoré, Amazônia Boliviana

(PIMENTEL, 2002; DUPONCHELLE et al., 2007), rio Miranda, Paraguai (SAZIMA E

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MACHADO, 1990), rio Rupunini, Orinoco (LOWE-MCCONNELL, 1964) e no lago do Rei,

rio Solimões (BITTENCOURT, 1994) a desova é relatada como acontecendo na enchente.

Para Vicentin et al., (2012), no rio Negro, a desova ocorre na enchente e cheia. Mas, na

Reserva Mamirauá (QUEIROZ et al., 2010) acontece na seca. No sistema Lago Grande de

Manacapuru a piranha cajú desova entre a seca e início da enchente (MACIEL, 2010). Os

locais de desova segundo os pescadores são os tocos de paus, capim, no lago, canal, igapó e

igarapé. Bittencourt (1994) e Queiroz et al. (2010) também mencionam a desova ocorrendo

em lagos, especialmente nos capins e outros tipos de vegetações (Tabela 12).

Tabela 12-Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova da piranha-

caju.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Igarapé, paraná, lago, canal Tronco, igapós, capim,

no SLGM margens, nas costa de outra

piranha, qualquer lugar

Cheia Rio Amazonas Igarapé, paraná, lago, canal Igapó, boca de outra piranha

no SLGM

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Início da enchente (maio) Rio Amazonas Rio Rupunini -

(LOWE-McCONNELL, 1964)

Início da enchente Rio Paraguai Rio Miranda -

(SAZIMA e MACHADO, 1990)

Início da enchente Rio Paraguai Rio Vermelho Ninhos escavados no fundo,

(fevereiro) (UETANABARO et al. 1993) na vegetação, entre raízes e

caules, recentemente alagada

Início (dezembro) ao Rio Amazonas Lago do Rei Galhadas

final da enchente (abril) (BITTENCOURT,1994)

Seca (outubro) e inicio Canal e lagos nos rios Mamoré Nas margens

da enchente (dezembro) Rio Amazonas e Iténe (Amazônia Boliviana)

(DUPONCHELLEe et al ., 2007)

Seca (novembro) e Rio Amazonas Lagos São Lourenço e Jaitêua Água aberta

início de enchente (janeiro) do SLGM (MACIEL, 2010)

Seca (outubro e novembro) Rio Amazonas Lagos da RDS Mamirauá Capins e outras vegetação

(QUEIROZ et al ., 2010)

início de enchente (dezembro) Rio Paraguai Rio Negro (Pantanal central) -

e cheia (fevereiro) (VICENTIN et al ., 2012)

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

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O pirarucu tem a época de desova bastante citada pelos entrevistados. Para a maioria é

na enchente que ocorre a desova, mas a cheia também foi citada, embora com menor

freqüência (Tabela 7). Nos trabalhos consultados também é evidente a citação da desova na

enchente como sendo a mais freqüente. Os locais de desova, de acordo com os entrevistados,

são os lagos, igarapés e até mesmo no rio Solimões onde o pirarucu cava buraco para depois

desovar. Queiroz e Sardinha (1999) na RDS Mamirauá destacam que a desova acontece nos

lagos, corroborando assim com as informações dos pescadores entrevistados no Lago Grande

que descrevem em detalhes os locais de desova (Tabela 13).

Tabela 13- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do

pirarucu.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rios Solimões e Purus Buraco na terra (panela), igapó no lago

(novembro a março) Lago, paraná e igarapé ,boca do macho, restinga,cabeceiras

no SLGM dos lagos, em cima dos paus

Cheia Rio Amazonas Lago no SLGM Buracos no igapó, chavascal

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio Ucayali (Amazônia peruana) Constrói ninhos na floresta alagada

(dezembro a maio) (LǗLING, 1964) (quando a água do rioalcança a floresta)

Enchente Rio Amazonas Rio Tocantins

(janeiro e março) (GODINHO et al . 2005) -

Final da seca (novembro) Rio Amazonas Lagos, canais na RDS Mamirauá Constrói ninhos na margens

início de enchente (janeiro) (QUEIROZ e SARDINHA, 1999)

Seca (setembro) Rio Amazonas Rio Pacaya e Samiria -

e enchente (dezembro) (FLORES, 1980)

Final da seca (novembro) Rio Amazonas Ressaca, paraná, lago na RDS Constrói ninhos nas margens da

inicio da enchente (janeiro) Mamirauá (CASTELLO, 2008) floresta alagada em substratos de areia

Local de desova

Literatura científica

Etnoconhecimento

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

No que se refere a época de desova do tamoatá, a maioria dos entrevistados menciona

que ocorre na enchente (Tabela 7). Esta informação está de acordo com os estudos realizados

por Carter e Beadle (1931), Winemiller (1987), Hostache e Mol (1998) e Maciel (2010).

Sobre o local de desova, os entrevistados descrevem que o tamoatá constrói ninhos em folhas

e capins em canais e lagos. Carter e Beadle (1931), Winemiller (1987) e Ferreira Neto (2001)

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também descrevem que o tamoatá constrói ninhos de espuma flutuante na vegetação aquática

nos lagos de várzea (Tabela 14).

Tabela 14- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do

tamoatá.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Paraná e lago do Folhas, capim

SLGM Ninho em plantas aquáticas

Cheia Rio Amazonas Lago do SLGM Ninho de espuma

no capim

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente, logo no início Rio Paraguai Chaco paraguaio Locais rasos, proximo as margens

período de chuvas (CARTER e BEADLE, 1931) Ninhos de plantas aquáticas flutuantes

na superfície da água, folhas e caules

Enchente, logo no início Rio Orinoco Riacho de segunda Ninhos na vegetação aquática

período de chuvas ordem do rio Apure

(WINEMILLER, 1987)

Enchente, depois do Rio Amazonas Rio Rupununi Locais rasos, areas abertas nas

início das chuvas (HOSTACHE e MOL, 1998) margens da vegetação aquática, perto de

diques, anexados em moitas de capim

Ninhos flutuante de espuma em material

vegetal

Seca (final), início da Rio Amazonas Lago Camaleão Margens, ninhos nos capins e

enchente (FERREIRA NETO, 2001) macrófitas aquáticas flutuantes

Final da seca (dezembro) Rio Amazonas Lagos permanente e temporário -

e enchente (fevereiro) da APA do Rio Curiaú

(SÁ-OLIVEIRA e CHELLAPA, 2002)

Enchente UHE de Tucuruí Margens

(SANTOS et al., 2004)

Enchente, início das Rio Amazonas Lagos São Lourenço Água aberta

chuvas (novembro e dezembro) e Jaiteua do SLGM

( MACIEL, 2010)

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Rio Tocantins-

Araguaia

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

A traíra para a maioria (86%) dos entrevistados, desova na enchente, mas a cheia

também foi mencionada como menor freqüência (14%) (Tabela 7). Estas informações

concordam com aquelas relatadas por Araújo-Lima e Bittencourt (2001), Prado et al. (2006) e

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principalmente, com os dados procedentes do banco do BASPA. Os principais locais de

desova segundo os entrevistados são os lagos, igapós e paranás. Segundo eles, a traíra desova

em folhas, troncos, e constrói ninhos no fundo (buracos), próximos a vegetação. E, esta

informação é similar à relatada por Araújo-lima e Bittencourt (2001) e Prado et al. (2006)

(Tabela 15).

Os pescadores mencionam que o tucunaré desova no início da enchente (Tabela 7).

Esses resultados corroboram aqueles gerados em outros locais da Amazônia onde é relatado

que a reprodução dos tucunarés ocorre com maior freqüência na enchente (OLIVEIRA-

JUNIOR, 1998; CORREA, 1998, ISAAC et al., 2000) e ainda com as informações para o

Sistema Lago Grande de Manacapuru registradas no banco de dados do BASPA. Os

pescadores também mencionaram como importante local de desova as galhadas, troncos e

raízes nos igarapés dos lagos. E, essas informações estão de acordo com os estudos de

Gomiero e Braga (2004) e Fontenele (1982) onde relatam que o tucunaré normalmente

constrói os ninhos em galhos ou troncos (Tabela 16).

Tabela 15- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova da traíra.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Igapó, paraná e lago Buracos na terra, pedaços

do SLGM de paus, raízes e folhas

Cheia Rio amazonas Igapó, igarapé e lago Margens

do SLGM

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Final da seca Rio Amazonas Lagos Águas rasas

(VAZZOLER e MENEZES, 1992)

Final da seca (início do Rio Amazonas Lago do Rei Moitas de capim,

período de chuvas) e o início (ARAÚJO-LIMA e floresta alagada,

da enchente.Quando o nivel BITTENCOURT, 2001) ninhos no fundo do lago

da água ainda está baixo

Início da enchente Rio Paraguai Rio Miranda Área alagada, águas rasas,

(período de chuvas) (PRADO et al ., 2006) ninhos em solo arenoso

Entre a seca e início Rio Amazonas Lagos São Lourenco e Jaiteua Água aberta

da enchente do SLGM

(novembro e dezembro) (Banco de dados BASPA)

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

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Tabela 16 - Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do

tucunaré.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Paraná , igarapé, Canal, Tronco, capim, cabeceiras,

(novembro a março) igapó,cabeceira de igarapé beiradas, folhas no fundo

do SLGM de lagos, canoas afundadas

perto das galhadas

Cheia Rio Amazonas Igapó, cabeceira de igarapé Em cima dos paus

(maio) do SLGM

Vazante Rio Amazonas Canal e igarapé do SLGM

(agosto)

Seca Rio Amazonas Igarapé do SLGM Paus no fundo

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Final da seca Rio Amazonas Rio Rupununi Ninhos em troncos

e galhadas

Final da seca (abril) e Rio Orinoco Rio Cinaruco, paraná e Ninhos em bancos de areia,

inicio da enchente e lago margens, pausadas, pedras

(WINEMILLER et al., 1997)

Seca (outubro) e final Rio Amazonas Baixo rio Amazonas -

da enchente (abril), (CORREA, 1998)

com pico no começo da

enchente (fevereiro)

Todo o ano. Maior Rio Amazonas Lago UHE Balbina -

atividade no começo até (OLIVEIRA JÚNIOR 1998)

meados da enchente

(época de chuvas)

Inicia na seca (outubro) e Rio Amazonas Lago do Rei -

prolonga até a cheia (abril) (FERNANDES, 2001)

Vazante Lago UHE Tucuruí -

(setembro) e o início da (SANTOS et.al., 2004)

enchente (janeiro).

Seca (setembro) até Rio Amazonas Rios Mamoré e Iténez -

a enchente (março). (Amazônia Boliviana)

(DUPONCHELLE et al.,

2005)

Final da seca e início Rio Amazonas Rio Paraguá e lago Ninhos no fundo do canal

das chuvas (Amazônia Boliviana) do rio e de lagos

(MUÑOZ et al., 2006)

Final de Seca (novembro) Rio Amazonas Lago São Lourenço e Jaiteua Água aberta

início de enchente (dezembro) (Banco de dados BASPA)

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

(LOWE-McCONNELL, 1969)

Rio Tocantins-

Araguaia

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

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O aracu para os entrevistados e em concordância com os resultados de estudos sobre a

reprodução (SANTOS, 1982; VILARA, 2003; FABRÉ E SAINT-PAUL, 1998; ISAAC et al.,

2000), desova na enchente. Mas, os dados da reprodução gerados pela sub-rede BASPA

indicam a reprodução ocorre no final da seca e início da enchente. Em relação aos locais, os

entrevistados mencionam que ocorre em folhas, na beira do rio, cabeceiras de igarapés, lago e

Paraná do Anamã (Tabela 17).

Em relação à branquinha, a maioria dos entrevistados menciona que a reprodução

ocorre na enchente (Tabela 7) e esta informação é similar ao registrado para o rio Ucayali e

Maranon, Amazônia Peruana (TELLO et al., 1992) e, no lago Grande de Manacapuru

(MACIEL, 2010) onde foi identificado que a reprodução acontece no período da enchente.

Com relação ao local, os entrevistados mencionam que a desova ocorre na praia, em cima e de

folhas e em capins no Paraná do Anamã e Lago Jaitêua, corroborando com as informações de

Maciel (2010) que indica que a reprodução ocorre no próprio Sistema (Tabela 18).

Tabela 17- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do aracu.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio, igarapé, lago e Folhas na beira do rio Solimões,

paraná do SLGM cabeceiras de igarapé

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Início (janeiro) até Rio Amazonas Rio Solimões-Amazonas Encontro das águas dos

meados da enchente (abril) (SANTOS, 1982) rios Solimões-Amazonas e

Início (janeiro) até meados Rio Amazonas Rio Solimões-Amazonas -

da enchente (abril) (FABRÉ e SAINT-PAUL,1998)

Enchente (novembro a Rio Amazonas Baixo rio Amazonas

janeiro) (ISAAC et al ., 2000) -

Enchente (novembro Rio Amazonas Rios Purus, Madeira, Juruá Litoral com vegetação

a março) (LIMA e ARAÚJO-LIMA 2004)

Seca (novembro) e inicio Rio Amazonas Lagos Jaetêua e São Água aberta

da enchente (dezembro) Lourenço do SLGM

(Banco de dados BASPA)

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

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Tabela 18 - Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova da

branquinha.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Lago, igarapés Capim no paraná,

(novembro a março) e paraná do SLGM cabeceira de igarapé,

praia

Seca Rio Amazonas - -

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente (novembro Rio Amazonas Rios Ucayali e Maranon -

e dezembro) (Amazônia Peruana)

(TELLO et al ., 1992)

Enchente (dezembro a Rio Amazonas Rio Amazonas -

janeiro) (FERNANDES 1997)

Período de chuvas, Rio Amazonas Lago Pirapora, rio Acre, -

dezembro a fevereiro Amapá (FREITAS, 2002)

Enchente (novembro Rio Amazonas Rios Purus, Madeira, Juruá Litoral com vegetação

a março) (LIMA e ARAÚJO-LIMA 2004)

Enchente, do inicio Rio Amazonas Sistema Lago Grande de Água aberta

(dezembro) ao final Manacapuru

(abril) (MACIEL, 2010)

Local de desova

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

O curimatã, para os entrevistados, tem a desova acontecendo principalmente no

período da enchente (70%) embora ocorra com menor freqüência na cheia (30%) (Tabela 7).

Estudos realizados sobre a reprodução compartilham esta informação, onde é destacado que a

desova também acontecendo na enchente (GOULDING, 1980; TELLO et al., 1992;

OLIVEIRA, 1997; MOTA e RUFFINO, 1997; MONTREUIL et al., 2001). Outros trabalhos

mencionam os peixes desovando no final da enchente e início da cheia (LOUBENS e

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PANFILI,1995; CAMARGO e LIMA JÚNIOR, 2007). As informações que constam no

banco de dados do BASPA destacam que a reprodução do curimatã na área estudada ocorre

no período da enchente, o que corrobora as informações fornecidas pelos entrevistados. Em

relação ao local de desova os entrevistados relatam que curimatã desova no capim (capim

murim) no rio Solimões e nos igapós e igarapés do Sistema Lago Grande. Uma informação

diferente foi relatada pelos pescadores sobre os peixes estarem desovando na escama de outro

peixe, que também foi mencionado por Rebelo (2008) (Tabela 19).

Os jaraquis (S. insignis e S. taeniurus) para a maioria dos entrevistados se reproduzem

no período da enchente (69%) e, com menor freqüência, na cheia (15%) e vazante (15%). A

literatura específica consultada registra que a reprodução do jaraqui ocorre no final da seca e

início da enchente (RIBEIRO, 1983; VAZZOLER et al., 1989; RIBEIRO e PETRERE, 1990).

Em relação ao local de desova, os pescadores mencionam que ocorre no encontro das águas

do rio Manacapuru e Solimões, em paranás como o do Anamã e Laguinho, no capim no rio

Manacapuru, nas pedras no rio Solimões e em lagos (Tabela 20).

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Tabela 19- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do

curimatã.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio Solimões Capim (arroz, canarana, murim),

(novembro a abril) Lago, igarapé na beira do rio, igapó, boca do lago,

e paraná do SLGM na praia (de cima e de baixo), ponta

de murinzal, pedras, pausadas,

folhas das arvores e barrancos,

nas costas de outro peixe

Cheia Rio Amazonas Rio Solimões Capim (canarana, murim), na beira do

(maio) Paraná do SLGM rio e igapó, escama do outro peixe

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio Madeira, lagos Boca de lago

(GOULDING, 1980).

Enchente (janeiro Rio Tocantins Baixo rio Tocantins -

e fevereiro) (CARVALHO e MERONA 1986)

Final da enchente e cheia Rio Amazonas Lagos (rio Mamoré, Bolivia) -

(janeiro a março). (LOUBENS e PANFILI,1995)

Enchente (dezembro a Rio Amazonas Rio Amazonas -

janeiro) (FERNANDES, 1997)

Enchente, do inicio Rio Amazonas Baixo rio Amazonas -

(dezembro) ao final (abril) (MOTA e RUFFINO, 1997)

Inicio e final da enchente Rio Amazonas Amazônia central -

(dezembro a março) (OLIVEIRA, 1997).

Inicio e final da enchente Rio Amazonas Baixo rio Amazonas (Amazônia -

(dezembro a março) Peruana), rio Maranon

(MONTREUIL et al ., 2001)

Enchente e inicio da cheia Rio Amazonas Rio Ucayali (Amazônia Peruana)

(outubro-janeiro) (RIOFRIO, 2002). Litoral com vegetação

Enchente (novembro Rio Amazonas Rios Purus, Madeira, Juruá

a março) (LIMA e ARAÚJO-LIMA 2004) Ambientes lênticos no canal

principal do rio, áreas de corredeiras

Enchente, do inicio Rio Amazonas Médio rio Xingu e áreas de inundação sazonal

(novembro) e cheia (maio) (CAMARGO e LIMA

JÚNIOR, 2007).

Enchente, do inicio Rio Amazonas Lago Jaitêua do SLGM -

(dezembro) ao final (abril) (Banco de dados BASPA).

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

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Tabela 20- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova dos

jaraquis.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio Manacapuru e Solimões. Encontro das águas dos rios

Paraná, igarapé e lago Manacapuru e Solimões, capim no

do SLGM igarapé e lago

Cheia Rio Amazonas Rio Manacapuru Capim no rio Manacapuru

(maio) Paraná SLGM

Vazante Rio Amazonas Rio Solimões Pedras no rio, no

(agosto) murinzal (capim)

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Final da seca (dezembro) Rio Amazonas Rios Negro e Solimões Encontro das águas dos rios

e inicio da enchente (RIBEIRO, 1983; RIBEIRO e de água branca (rio Solimões) e

(janeiro) PETRERE, 1990) e preta (rio Negro)

Final da seca (dezembro) Rio Amazonas Rios Negro e Solimões Encontro das águas dos rios

e inicio da enchente (VAZZOLER et al ., 1989) de água branca (rio Solimões) e

(janeiro) e preta (rio Negro)

Enchente (dezembro a Rio Amazonas Rio Amazonas -

janeiro) (FERNANDES 1997)

Inicio da enchente Rio Amazonas Rios Negro, Solimões, Boca de igarapé e rio água preta,

Purus e Madeira área de conexão entre lagos de água

VIEIRA et al. (2002) preta e rios de água brancas

Enchente (novembro Rio Amazonas Rios Purus, Madeira, Juruá Litoral com vegetação

a março) (LIMA e ARAÚJO-LIMA 2004)

Inicio da enchente Rio Amazonas Rios de agua brancas

(BATISTA e LIMA 2010) -

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

No que se refere à reprodução da matrinxã, os entrevistados mencionam que a desova

ocorre principalmente no período de enchente (Tabela 7), em troncos no igarapé da Cajazeira,

nas proximidades do rio Manacapuru e em capins no rio Solimões. Estudos realizados por

Zaniboni (1985), Borges (1986) e Goulding (1980) concordam com essas informações ao

ressaltar a desova de matrinxã acontecendo também na enchente. Em relação aos locais de

desova tais estudos destacam o rio como sendo o principal local de desova (Tabela 21).

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Tabela 21-Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova dos

matrinxã.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio Manacapuru , Troncos, murinzal,

rio Solimões, igarapé. capim

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas GOULDING, 1980) -

Início da enchente

(dezembro e

janeiro)

Rio Amazonas

Baixo Rio Negro e

Solimões/Amazonas Encontro dos rios de

(ZANIBONI, 1985) águas brancas e pretas

Início da enchente Rio Amazonas Rio Amazonas -

(dezembro a janeiro) (BORGES, 1986)

Enchente (novembroRio Amazonas Rios Purus, Madeira, Juruá Litoral com vegetação

a março) (LIMA e ARAÚJO-LIMA 2004)

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

O pacu para a maioria (75%) dos entrevistados desova na enchente, mas a cheia

também foi citada, embora com menor freqüência (25%) (Tabela 7). E, segundo esses

entrevistados o capim, principalmente no murim (Paspalum repens), no rio Solimões e os

troncos do igarapé da Cajazeira são importantes locais de desova. Paixão (1980) no lago

Janauacá (próximo a Manaus) relata que a reprodução do pacu acontece entre os períodos de

seca e cheia enquanto que Goulding (1980) no rio Madeira, afirma que ocorre na enchente,

concordando assim com as informações dos entrevistados (Tabela 22).

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Tabela 22- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do pacu

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio Manacapuru Troncos, murinzal, capim

Rio Solimões

igarapé do SLGM

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio Madeira -

GOULDING, 1980).

Início da enchente Rio Amazonas Rio Solimões -

(dezembro) e a cheia (PAIXÃO, 1980)

(fevereiro)

Enchente (janeiro e Rio Amazonas Rio Solimões Canal do rio próximo

março) (OLIVEIRA e a foz de lago

ARAÚJO-LIMA, 1998)

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

Já em relação à reprodução do tambaqui a maioria dos entrevistados menciona o

período da enchente (71%) enquanto que outros citam a cheia (21%) e a vazante (7%) (Tabela

7). Esse resultado concorda com aqueles mencionados para outros rios onde o tambaqui

desova no período da enchente (GOULDING e CARVALHO, 1982; ARAÚJO-LIMA e

GOULDING, 1998; VIEIRA et al., 1999; ISAAC et al., 2000). De acordo com os

entrevistados a desova ocorre principalmente em pausadas, raízes, pedras ao longo do rio

Solimões. Além do rio, segundo alguns pescadores entrevistados o tambaqui desova nos

locais mais profundos nos paranás e lagos que integram o sistema Lago Grande de

Manacapuru. Esta informação está em consonância com a descrita por Araújo-Lima e

Goulding (1998, p.42) ao identificar o local de desova também através de relatos de

pescadores, onde foi registrado que a desova acontece nas áreas de pausadas ou ao longo das

margens, com capins flutuantes, alagadas durante a subida das águas, enchente. Os mesmos

autores em coletas experimentais no meio do rio Solimões-Amazonas concluíram que o

tambaqui não desova no meio do canal, mas provavelmente em lugares ao longo das margens.

E, uma explicação para esse fato seria a de que estes locais evitam turbulências e superfícies

abrasivas, possibilitando maior sobrevivência dos ovos e larvas (Tabela 23).

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Tabela 23- Etnoconhecimento e literatura específica sobre local e época de desova do

tambaqui.

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio Solimões Pauzadas e troncos

Lago, paraná e no fundo dos poços

igarapé do SLGM e locais fundos

Cheia Rio Amazonas Lago do SLGM Capinzal, raízes, paus

Vazante Rio Amazonas Rio Solimões -

Época de desova

Bacia Biótopo Habitat

Enchente Rio Amazonas Rio Solimões Diques, gramíneas inundadas

(GOULDING e CARVALHO, 1982)

Início (novembro) a Rio Amazonas Rio Solimões Canal do rio principal.

meados (abril) da (ARAÚJO-LIMA e GOULDING, 1998) Margens com capins flutuantes

enchente

Início da enchente Rio Amazonas Rio Ichilo ( Amazônia Boliviana) Confluência do rio e tributários

(dezembro a janeiro) (MUÑOZ e VAN DAMME, 1998) (Ibaresito, Ibabo e Useuta)

Enchente Rio Amazonas Rio Amazonas ( Baixo Amazonas) -

(VIEIRA et al., 1999)

Enchente (outubro Rio Amazonas Rio Solimões, lagos e paranás Canal do rio

e novembro) (Costa, 1998)

Seca (setembro) e Rio Amazonas Rio Solimões e afluentes Margens dos rios de água branca

enchente (fevereiro) (VILLACORTA-CORREA

e SAINT-PAUL, 1999)

Inicio (dezembro) a Rio Amazonas Lagos, rios e igarapés do baixo -

meados (março) rio Amazonas (ISAAC et al., 2000)

da enchente

Enchente (novembro Rio Amazonas Rios Purus, Madeira, Juruá Litoral com vegetação

a março) (LIMA e ARAÚJO-LIMA 2004)

Enchente (outubro a Rio Amazonas Rio Mamoré e Itinez ( Amazônia -

fevereiro) Boliviana) (NUÑEZ et al ., 2005)

Etnoconhecimento

Local de desova

Literatura científica

Local de desova

Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo (2010).

Os peixes que têm o local de reprodução mais conhecido pelos entrevistados são os

residentes, acará-açú, aruanã, bodó, piranha, pirarucu, traíra e tucunaré; e os migradores,

curimatã, jaraqui e tambaqui. Outro ponto importante diz respeito a identificação dos locais de

desova, onde os entrevistados citam não apenas o biótopo (rio, igarapé, lago), mas também

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descrevem o habitat, capim, praia e troncos. Para os residentes, as pausadas, raízes e troncos

(Figura 25) nos igapós (igapó o Inácio e do Tiago), paranás (paraná do Anamã e Laguinho),

igarapés (igarapé do Cedro e Grande) e lagos (lago Jaitêua, Piranha e Catoré) são os locais de

desova mais citados nas entrevistas (Figura 26). Para os peixes migradores, segundo os

entrevistados, os capins em igarapés, paranás e rios são importantes locais de desova (Figura

24). Até as crianças, conhecem os locais de desova dos peixes, pois relatam sobre a “panela”

feita pelo pirarucu, o “buraco” escavado pelo bodó e a “pauzada” ou “galhada” utilizada na

desova de tucunaré. É evidente a participação das crianças na pesca que já foi mencionada na

zona rural de Manacapuru (GARCEZ e SÁNCHEZ-BOTERO, 2006).

De acordo com a dinâmica da flutuação da água do rio, durante o período de seca

grande parte da área, tanto correspondente aos habitats água aberta como parte da floresta,

que anteriormente estavam alagadas é ocupada por vegetação semi-aquática e/ou terrestres e

capins. Também, a deposição periódica de material proveniente da floresta alagada favorece o

acumulo de material orgânico, como raízes, folhas, galhos, troncos e paus (AYRES, 2006)

(Figura 25). E, todos esses ambientes ao serem alagados com a entrada da água do rio

Solimões no Sistema, na enchente, são disponibilizados para os peixes que utilizam como

local de reprodução e/ou de alimentação (Figura 25).

0 10 20 30 40 50 60 70

Cabeceiras

Canal

Igapós

Igarapés

Lagos

Paranás

Beirada

Buracos

Capim

Folhas

Fundo

Galhadas

Paus

Raizes

Troncos

Número de citações

Enchente

Cheia

Vazante

Seca

Peixes residentes

Figura 23- Locais de desova de acordo com os períodos do ciclo hidrológico de peixes residentes

citados pelos entrevistados no Sistema Lago Grande Manacapuru. Fonte: BASPA, 2008; pesquisa de

campo 2010.

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0 10 20 30 40 50

Cabeceiras

Igapós

Igarapés

Lagos

Paranás

Rios

Poço

Praia

Fundo do rio

Capim

Folhas

Barrancos

Paus

Troncos

Costas de peixes

Pastos

Pedras

Número de citações

Enchente

Cheia

Vazante

Peixes migradores

Figura 24- Locais de desova de acordo com os períodos do ciclo hidrológico de peixes

migradores citados pelos entrevistados no Sistema Lago Grande Manacapuru. Fonte:

BASPA,2008; pesquisa de campo 2010.

Figura 25- Ambientes no Sistema alagados com a água do rio Solimões. a) tronco e vegetação

aquática em igarapé; b) capins e folhas no Igarapé. Fonte: BASPA (2008), pesquisa de campo,

2010.

Na Amazônia Central, conforme relatado por vários autores, a reprodução dos peixes

está estreitamente relacionada com a flutuação do nível d’água (PAIXÃO, 1980; SANTOS,

1982, LEÃO et al., 1991). Os resultados das entrevistas com os pescadores indicam a

enchente (82%) como o período mais mencionado para a reprodução dos peixes, seguido da

cheia (13%), vazante (3%) e seca (2%). E, esses resultados estão em consonância com aqueles

relatados na literatura e principalmente, daquelas gerados pelo BASPA. Concluindo, os

a) b)

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pescadores possuem um conhecimento detalhado sobre a reprodução dos peixes no Sistema

lago Grande de Manacapuru.

As diferenças entre as informações sobre a época de reprodução dos peixes, entre o

conhecimento dos pescadores e científico, tem explicação. Os pescadores têm uma visão

muito ampla da dinâmica do ambiente em que vivem, pois conhecem profundamente o

Sistema e suas variações. Por outro lado, os estudos sobre a reprodução em geral procuram

contemplar o ciclo reprodutivo de forma mais detalhada. E, isso envolve o conhecimento do

mês em que ocorre a desova de acordo com a variação mensal do nível d’água. Mas, a

comparação das informações entre o etnoconhecimento e o conhecimento científico não

significa que um ou outro possa estar errado. Porém, deve ser ressaltado que as diferenças têm

relação com a visão espaço/temporal do ambiente que os pescadores têm do local em que

vivem. Resultado similar é relatado por REBELO (2008) ao comparar o conhecimento

científico e tradicional sobre a composição da dieta da ictiofauna no Lago Grande de

Manacapuru.

4.3.1 Contribuição da biologia reprodutiva dos peixes do SLGM à legislação pesqueira.

O conhecimento sobre a biologia reprodutiva dos peixes possibilita a elaboração de

uma das principais ferramentas de ordenamento pesqueiro. Entre as medidas gerais de

ordenamento podem ser destacadas a definição de tamanho mínimo de captura para

determinadas espécies de peixes, restrição ou proibição de determinados apetrechos de pesca

e definição do período de defeso. Este último consiste em estabelecer normas para a pesca no

período de reprodução natural dos peixes, proibindo a captura de espécies em períodos

definidos (Portaria n° 48 de 05/11/07, IBAMA).

No entanto, conforme afirma Doria et al. (2008), as estratégias de ordenamento são

limitadas porque as informações disponíveis sobre biologia, reprodução e tamanhos de

primeira maturação sexual das espécies ainda são insuficientes para a elaboração de medidas

adequadas. Além disso, os autores destacam ainda que normas de defeso e restrição do

tamanho de captura para a pesca de algumas espécies de peixes são emitidas anualmente para

toda Amazônia brasileira, com raras exceções de regionalização entre bacias e sub-bacias

hidrográficas. Assim, não são consideradas as variações regionais impostas pelas condições

ambientais locais na biologia das populações de peixes.

Atualmente, a legislação pesqueira que define o período de defeso na área do SLGM é

a Portaria nº 48, de 5 de novembro de 2007, Instrução Normativa n° 35 de 29 de setembro de

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90

2005 para tambaqui (Colossoma macropomum) e a Instrução normativa nº 1 de 1º de junho de

2005 que proíbe anualmente a captura do pirarucu (Arapaima gigas).

A Portaria n° 48 de 05/11/07(IBAMA) define o período de 15 de novembro a 15 de

março o defeso para pirapitinga (Piaractus brachypomus), mapará (Hypophthalmus spp.),

sardinha (Triportheus spp.), pacu (Mylossoma spp.) e aruanã (Osteoglossum bicirrhosum),

matrinxã (Brycon spp.). Dos peixes cujas informações sobre a reprodução foram descritas no

SLGM, apenas três estão contemplados pela referida portaria, pacu, aruanã e matrinxã. Para

aruanã (Osteoglossum bicirrhosum) a desova de acordo com os dados da biologia reprodutiva

no banco BASPA inicia em outubro e se estende até novembro, enquanto que a portaria

define de novembro a março ( Tabela 24)

Para pacu e matrixã não foi possível obter dados com relação a biologia reprodutiva do

banco de dados BASPA, uma vez que o exemplares capturados não foram suficientes para

determinação do período de desova, como foi o caso também de jaraqui, matrinxã, pacu,

tambaqui e pirarucu. Por outro lado, os pescadores entrevistados mencionam a reprodução

ocorrendo no período de enchente (que compreende de quatro a seis meses, ou seja, de

novembro até abril), não citando detalhadamente que mês(es) em que ocorre a desova. Assim,

sugere-se que estudos futuros possam levar em consideração a definição do mês de desova,

contribuindo para definição correta do período de defeso.

O tambaqui possui o período estabelecido pela Instrução Normativa n° 35 de 29/09/05

(IBAMA), de 1° de outubro a 31 de março. Porém, no SLGM, os pescadores destacaram que

esta reprodução se estende até o período da cheia, até meados do mês de maio (Tabela 24).

O pirarucu tem a sua captura proibida com exceção de áreas manejadas e com

autorização do IBAMA. E, na IN n° 01 de 01/06/05, o período de sua reprodução ficou

definido de 01 de junho a 30 de novembro. No entanto, as informações obtidas para este peixe

no SLGM a partir do etnoconhecimento, o período de reprodução corresponde de novembro a

março, diferente do mencionado na IN (TABELA 24). Esse fato também é observado quando

consultado estudos realizados em outras localidades, conforme apresentado na tabela 13.

A IN n° 43 de 18 de outubro de 2005 (IBAMA) definiu o período de defeso de 15/11

até 15/03 para curimatã (Prochilodus nigricans), porém as informações citadas pelos

entrevistados e no banco de dados sobre biologia reprodutiva do BASPA no SLGM indicam

que a reprodução inicia em novembro e se estende até meados de abril (Tabela 24).

Para o acará-açu, aracu, bodó, branquinha, pescada, piranha, tamoatá, traíra e tucunaré

não foram encontrados portarias ou IN do IBAMA para o estado do Amazonas a respeito de

seu período de defeso. Os jaraquis, apesar de serem frequentemente capturados e

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comercializados no estado, não possuem proteção específica na legislação consultada. No

SLGM com base no etnoconhecimento, a reprodução dos jaraquis ocorre na enchente e isso

pode auxiliar na definição do período de defeso para este peixe.

Portanto, não se tem portarias ou IN para a maioria das espécies capturadas e

frequentemente comercializadas no SLGM. Além disso, observa-se a necessidade de maior

aprofundamento dos estudos de biologia reprodutiva para estas espécies, principalmente para

peixes migradores como jaraquis, pacu, matrinxã e tambaqui. Assim, com a definição do mês

de desova é possível auxiliar na adoção de medidas para a conservação do recurso, em

especial para a definição adequada dos períodos de defeso. E, para isto, devem-se levar em

consideração as condições ambientais locais, no caso específico do SLGM, observou-se

discordâncias em relação aos períodos de defeso para aruanã, pirarucu, curimatã.

Tabela 24- Conhecimento dos pescadores sobre período reprodutivo de peixes no Sistema

Lago Grande, portarias e instruções normativas do IBAMA referente ao período de defeso e

informações científicas sobre a biologia reprodutiva de peixes.

Peixes jan fev mar abr maio jun jul ago set out nov dez

Acará-açu (Astronotus ocellatus)

Aracu (Schizodon fasciatum)

Aruanã (Osteoglossum bicirrhosum) x x x x x

Bodó (Pterigoplichthys pardalis)

Branquinha (Potamorhina latior)

Curimatã (Prochilodus nigricans) x x x x x

Jaraqui (Semaprochilodus sp.)

Matrinxã (Brycon sp.) x x x x x

Pacu (Mylossoma duriventre) x x x x x

Pescada (Plagioscion squamosissimus)

Piranha (Pygocentrus nattereri)

Pirarucu (Arapaima gigas) ** x x x x x x

Tambaqui (Colossoma macropomum) x x x x x x

Tamoatá (Hoplosternum littorale)

Traíra (Hoplias malabaricus)

Tucunaré (Cichla monoculus)

* Portaria nº 48 , DE 5 DE NOVEMBRO DE 2007 Legenda:

N° 35 DE 29 DE SETEMBRO DE 2005 Conhecimento dos pescadores sobre o período de reprodução

Nº 1, DE 1º DE JUNHO DE 2005 X Período de defeso*

IN n° 43 de 18 de outubro de 2005 Conhecimento científico (Banco de dados BASPA)

** o pirarucu tem a pesca proibida o ano todo,

exceto em areas manejadas.

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Figura 26- Locais de reprodução dos peixes citados pelos entrevistados do Sistema Lago Grande de Manacapuru, Am.

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93

4.4 ETNOCONHECIMENTO DOS ENTREVISTADOS SOBRE OS MOVIMENTOS DE

PEIXES

Os pescadores entrevistados conhecem os movimentos dos peixes dentro do Sistema

Lago Grande os quais estão relacionados com a variação sazonal do nível da água do rio

Solimões-Amazonas. A compreensão dos fatores que afeta o ciclo de vida dos peixes

possibilita perceber a complexidade da ictiofauna da região, pois as espécies apresentam

estratégias de adaptações biológicas relacionadas às variações que ocorrem no ciclo

hidrológico (BARTHEM e FABRÉ, 2005). Diante disso, compreender estas adaptações é

questão imprescindível para o entendimento da abundância e da composição dos recursos

pesqueiros na região. Outra questão importante se refere ao fato de que os peixes migradores,

tais como tambaqui, curimatã, jaraquis, pacus, sardinhas, apresentarem alto valor econômico.

Isso é relevante, pois conforme mencionado por Barthem e Goulding (1997) “para explorá-los

comercialmente é fundamental conhecer melhor as migrações enquanto os rios ainda se

mantêm conservados” (p.59).

Considerando que os movimentos são influenciados pela variação do nível d`água, os

pescadores conhecem detalhadamente os meses correspondentes aos períodos do ciclo

hidrológico. Isso porque para os entrevistados o uso adequado do apetrecho de pesca e dos

locais de pesca tem relação direta com a percepção do fluxo migratório. Isso envolve o

conhecimento de rotas migratórias, assim como o mês de entrada e saída dos peixes,

especialmente aqueles de valor na comercialização. Então, das entrevistas foi possível

selecionar as espécies migratórias mais citadas pelos pescadores que realizam os movimentos,

relacionar com o período do ciclo hidrológico e com o tipo de movimento (Tabela 25).

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Tabela 25- Conhecimento dos pescadores entrevistados sobre os movimentos de três peixes

migradores no Sistema Lago Grande Manacapuru. AM.

Peixes (%) de

citações

Conhecimento dos

entrevistados

Citações sobre os

deslocamentos Curimatã

(Prochilodus

nigricans)

68

Vazante (movimento de saída do

Sistema)

Para pegar cria (desovar) no

rio Solimões e/ou

Poços no paraná do Jaitêua

Enchente

(movimento de entrada no Sistema)

Depois da desova entra para

alimentação (adultos e

larvas)

Tambaqui

(Colossoma

macropomum)

56

Vazante (movimento de saída do

Sistema)

Para desovar no rio Solimões

e/ou

paraná do Anamã

Enchente (movimento de entrada no

Sistema)

Depois da desova entra para

alimentação (adultos e

larvas)

Jaraquis

(Semaprochilodus

spp.)

52

Vazante (movimento de saída do

Sistema)

O peixe faz cardume e vai

para o rio

Desovar

porque é a época dele sair

porque está gordo

Enchente (movimento de entrada no

Sistema) Retorna depois da desova

Com relação ao movimento migratório, um pescador da região destacou o seguinte:

“A curimatã vai pro Solimões, é porque lá no Solimões muitas delas já vai subi pra cima pra desova, quando ela vai, quando ela sai daqui ela, ela já vai

com a ova deste tamanho assim, ela desova em novembro, dezembro,

janeiro, fevereiro, às vezes até março ainda encontra alguma curimatá

ovada, nesses meses aí, já vi muita curimatá ovada em dezembro e janeiro. Quando bate água nova ela desova, tem peixe que só desova quando a água

nova chega. Por que a curimatã vai pro Solimões? porque lá ela vai

encontrar água nova, água corrente aí lá ela desova, naquelas beiradas [...] ”.(pescador da localidade de Jaitêua de Baixo, F. R. L. 32 anos, BASPA).

Conforme revela o depoimento acima mencionado, a dinâmica do ciclo das águas e os

aspectos bioecológicos dos peixes são constantemente observados pelos pescadores, sendo

considerado durante a pesca. E, ao descrever a migração de curimatã em direção ao rio

Solimões no período da vazante para a reprodução e o de entrada no Sistema para alimentação

e crescimento, o pescador usa um conhecimento complexo que se encontra relacionado com a

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95

sua realidade socioambiental. Este conhecimento é corroborado com as informações sobre

movimentos migratórios relatadas para o rio Madeira (GOULDING, 1979), rio Tocantins

(CARVALHO e MERONA, 1996) e rio Solimões (COX-FERNANDES, 1997).

Outro peixe muito conhecido pelos pescadores é o tambaqui e, sobre os jovens

denominados de ruelo, foi relatado durante entrevista que:

“ruelo gosta do fundo não é peixe do baixio não, o ruelo essa época quando é tempo do igapó ele come, come, ele engorda mesmo, fica gordo e quando

chega essa época [ seca] ele não come quase, ele fica agüentando aquela

gordura dele. Muitos deles vai pelo menos o tambaqui ele vai pro Solimões. O tambaqui ele vai pro Solimões, ele vai para beira do Solimões vai

procurar aqueles poços na beira do Solimões para aquelas pausadas mais

horríveis do mundo que a pessoa tem até medo de ir pra lá [...], ele desova

lá.”(pescador da localidade de Jaitêua de Baixo, F.R.L.32 anos, BASPA).

Nos relatos de Goulding (1980), Almeida (1984), Goulding et al. (1988), Claro Jr.

(2003) e Santos e Ferreira (1999, p.363), tal consideração é evidente, visto que tambaquis,

pacus, matrinxãs e sardinhas exploram as áreas alagadas nos períodos de enchente e cheias

para alimentação, pois é grande a oferta de frutos, sementes, insetos ou outros organismos. O

resultado dessa alimentação é o acúmulo de grandes quantidades de gordura na cavidade

abdominal e nos músculos que será utilizada como reserva nutritiva no período da seca,

quando a oferta de alimentos é reduzida (JUNK, 1985). O mesmo autor ainda relata que essa

gordura também é gasta durante os meses de atividade reprodutiva.

Considerando o profundo conhecimento dos pescadores sobre os peixes associado a

um sofisticado conhecimento acerca dos locais e ambientes que integram o sistema, fica claro

a sua precisão ao identificar os seus movimentos. Nos resultados das entrevistas vários

movimentos foram destacados pelos pescadores, pois o Sistema Lago Grande Manacapuru é

constituido de lagos, paranás, igarapés, furos e canais apresentando variedade de locais onde

os peixes possam usar como caminhos, alimentação e reprodução. Assim, foram selecionadas

as informações de movimentos do peixe gordo, reprodutivo e trófico usando como exemplo

três peixes de amplo conhecimento dos entrevistados.

4.4.1 Movimento do peixe gordo (saída dos peixes do Sistema)

O primeiro percurso relatado pelos entrevistados estabelece uma rota migratória

exemplificada pelos jaraquis (Semaprochilodus spp.). O movimento dentro do sistema é

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96

similar ao mencionado por Ribeiro (1983) no rio Negro, denominada localmente de baixada

do peixe gordo. Depois de cerca de 3 meses nas florestas alagadas, onde se alimentaram

intensamente, os jaraquis, durante descida das águas (vazante), se deslocam para fora dessas

áreas em direção ao rio Solimões. Nesse percurso (Figura 27) passa por 3 principais

ambientes, furos, igarapés e paranás. Como exemplos são mencionados 4 caminhos que os

jaraquis utilizam para acessar o lago Jaitêua (onde também fica a mãe do rio, p. 03), passando:

1) pelos furos do Bode (p.09), Cumaru (p.07), Ponta do Seu Toti (p.08) e Paranã do Jaitêua

(p.10);

2) pelo Furo do Tigre (p.06) e também atrás da Comunidade de Santo Antonio (p. 05);

3) pelo igarapé da Terra Preta (p.11);

4) pelo igarapé do Acarí (p.14), furo do Acarí (p.15), ilha do Val (p.13) e igarapé Siglóia

(p.12).

Finalmente, os peixes seguem para a Boca do Jaitêua (p.02) e do rio Manacapuru (p.

01) alcançando o rio Solimões (Figura 27). Esse é um dos principais locais de entrada e saida

do Sistema. Assim, os jaraquis na vazante seguem para o rio Solimões, onde permanecem

durante a seca. Mas, retornam para as áreas alagadas quando o nível da água começa a subir.

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Figura 27- Movimento de peixe gordo, jaraquis, saída de peixes no Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

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4.4.2 Movimento com fins reprodutivo (saída dos peixes do Sistema)

O segundo percurso relatado pelos entrevistados descreve o movimento de saída,

realizado também no período da vazante, onde segundo eles tem como finalidade a

reprodução ou como afirmam “pegar cria”, “desovar” . E, começa quando o nível da água

começa a diminuir, o que obriga aos peixes a se deslocarem do sistema em direção ao rio

Solimões, em busca de local para desovar. É importante ressaltar que a vazante do rio é

rápida, acontecendo em torno de 1 mês (agosto), próximo a Manaus. Porém, os peixes que

não conseguem sair, seguem em direção aos locais mais profundos, em sua maioria os poços

que permanecem na seca.

Nesse caso, para exemplificar foi selecionado o movimento do curimatã (Prochilodus

nigricans). Durante a descida d`água os curimatãs começam a sair dos paranãs e igarapés em

direção ao lago Grande (ou Cabaliana) usando os locais de maior profundidade. Os

entrevistados mencionaram como principal caminho aquele que passa pelo canal do Tiago

(p.24), atravessa o paraná do Jaitêua (Jaitêua de Cima) (p. 53), o igarapé do Tauarí (p.52) e

saem na boca do Tauarí (p.51). Nesse ponto os peixes se reúnem e seguem para a boca do

Laguinho (p. 49), o lago do Jaitêua (p. 48) e o Paraná do Anamã (p.47). Esse paraná é

identificado pelos pescadores como local de reprodução ou “chocadeira” para muitos peixes.

Considerando que o curimatã segue ao rio Solimões, em busca de local para desovar, os peixes

continuam os deslocamentos passando pelo poço do Muruca (p.46), chegando ao lago Grande

(p.34). Depois atravessam a Prainha (p.33) e o Canal do Serra Lima (p. 45), alcançando a boca

do rio Manacapuru (p.1) e também o rio Solimões. Durante a “descida das águas” alguns peixes

ficam nos poços, por exemplo Poço do barro vermelho (p.36), mais profundos que são local de

pesca, abastecendo a comunidade durante o período de seca (Figura 28; tabela 26).

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Figura 28- Movimento para reprodução, curimatã, saída de peixes no Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM..

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4.4.3 Movimento com fins trófico (entrada dos peixes no Sistema)

O terceiro percurso relatado pelos entrevistados estabelece movimento com fins tróficos

aqui exemplificado também com o curimatã e o tambaqui. Segundo os pescadores, os peixes

percorrem dois principais caminhos: o primeiro é caminho mencionado para o curimatã (Figura

29) e o segundo para o curimatã e tambaqui (Figura 30).

O primeiro caminho que é percorrido pelo curimatã, acontece no período da enchente

quando os peixes oriundos rio Solimões, entram no sistema pela boca do rio Manacapuru (p.01) e

seguem direto para as áreas de cabeceiras dos igarapés e paranás. Em geral, os peixes fazem o

caminho inverso: passam pela Boca do Jaitêua de baixo (p.02), entram no paraná do Jaitêua

(p.10), Prainha (p. 33), lago Grande (p.34), paraná do Cedro (p.35), poço do Barro Vermelho

(p.36), poço do Chatu (p.37), boca do Jaitêua do meio (p.38), lago do Mutum Grande (p.39),

poço do Pescoço do Veado (p.40), lago do Redondo (p.41) e atravessam o Canal que vai para o

Castanho (p.42). Aqui passam pela Enseada do Mutum e margeando a floresta alagada começam

a se espalhar pelo paraná do Castanho (p.32), paraná do Catoré (p.29), lago do Catoré (p.30),

paraná do Seringa (p.27 e 26), boca do São João (p.25), paraná do Tauarí (p.23) até o canal Tiago

(p 24) e igarapé Água Branca (p.28) (Figura 29).

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Figura 29- Movimentos para fins tróficos, curimatã, entrada de peixes no Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

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O segundo caminho, que é percorrido pelo curimatã e tambaqui, também acontece no

período da enchente. Essas informações corroboram aquelas relatadas para o curimatã. Na

enchente o curimatã e o tambaqui vindos do rio Solimões, passam pela boca do Maracati (p.17),

boca do Jaitêua (p.02), ilha no Jaitêua de baixo (p.18). A partir desse ponto os peixes se espalham

pelas áreas alagadas das cabeceiras do paraná do Jaitêua (p.10 ), ilha do Val (p.13), Fazenda do

Seu Pedro (p.19), boca do Igarapé do Cumarú (p.20), igarapé do Cumaru (p.21), paraná do

Tauarí (p. 23) se espalham dos Igarapé Água Branca (p.28) , no canal Tiago (p.24). Também os

peixes podem prosseguir pela boca do São João (p.25), paraná do Seringa (p.26), igarapé do

Seringa (p.27). Finalmente chegam ao paraná do Catoré (p.29) que dá acesso ao lago do Catoré

(p.30) e paraná do Castanho (p. 31) (Figura 30; Tabela 26).

É importante ressaltar que nos movimentos, tanto de entrada como de saída, os peixes

procuram ambientes profundos e margeando a floresta alagada. Isso é fundamental, não somente

como forma de proteção contra predadores como também por ser grande fonte de alimentos.

Somente em alguns trechos os peixes atravessam o lago pela parte central.

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Figura 30- Movimentos para fins tróficos, curimatã e tambaqui, entrada de peixes no Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.)

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Tabela 26- Pontos Georreferenciados dos movimentos migratórios de peixes no Sistema Lago

Grande de Manacapuru, AM.

Pontos Ambientes Coordenadas

1 Boca do rio Manacapuru S 03° 16' 56,35534'' W 060° 39' 28,67947''

2 Boca do Jaitêua de baixo S 03° 16' 09,00406' W 060° 42' 57,38624''

3 Mãe do rio S 03° 16' 10.70" W 060° 44' 32.06 ''

5 Comunidade Santo Antônio S 03° 15' 58.30" W 060°45'04.043"

6 Furo do Tigre S 03° 15' 18,05382 W 060° 44' 58,65354

7 Furo do Cumaru S03° 15' 08.80" W 060° 43' 58.0"

8 Ponta do Seu Toti S03° 15' 45.6" W 060° 43' 32.87"

9 Furo do Bode S03° 15' 44.85" W 060° 43' 31.11"

10 Paraná do Jaitêua S 03°15' 59.25 " W 060° 43' 56.65"

11 Igarapé da Terra Preta S 03º 15' 42.14 " W 060° 45' 56.91"

12 Igarapé Sigloia S 03° 16' 07,03455'' W 060 46' 32,88115

13 Ilha do Val S 03° 16’ 07.4” W 060° 47’ 17.9”

14 Igarapé do Acarí S 03° 15' 04.1'' W 060° 46' 16.4''

15 Furo do Acarí S 03° 15' 56.51" W 060° 47' 10.52"

16 Igarapé do Canarana S 03° 15' 32.7'' W 060° 47' 12.1''

17 Boca do Maracati 03 17' 42,26125'' W 60° 38' 54,96511''

18 ilha no Jaitêua de baixo S03° 16' 14,81664'' W 060° 44' 20,27656''

19 Fazenda do Seu Pedro S03° 16' 14,81664'' W 060° 44' 20,27656''

20 Boca do igarapé do Cumaru S 03° 15' 05,69058'' W 60° 50' 46,58315''

21 Igarapé do Cumaru S 03° 15' 06,61604'' W 060° 51' 01,00009''

23 Paraná do Tauari S 03°15’39.5’’ W 060°51’14.9’’

24 Canal Tiago S03°15`54.9'' W 060° 51' 57.7"

25 Boca do São João S 03° 15' 33,90920'' W 060° 51' 21,52080''

26 Paraná do Seringa S 03° 16' 04,67427'' W 060° 52' 03,76258''

27 Paraná do Seringa S 03° 16’ 26.5’’ W 060° 52’ 33.0’’

28 Igarapé Água Branca S 03° 15’ 10.9’’ W 060° 51’ 49.1’’

29 Paraná Catoré S 03° 16' 45,58503'' W 060° 53' 06,11680''

30 Lago Catoré S03° 17’ 10.6’’ W 060° 53’ 52.0’’

31 Paraná do Castanho S03° 17’ 35.2’’ W 060°5' 55.7''

32 Paraná do Castanho S03° 17’ 35.2’’ W 060°5' 55.7''

33 Prainha S 03° 16' 49,64475'' W 060° 50' 04,71374''

34 Lago Grande S 03° 17' 02,43950'' W 060° 51' 02,23756''

35 Paraná do Cedro S 03° 17' 03,00316'' W 060° 51' 15,32923''

36 Poço do Barro Vermelho S 03° 17’ 02.5’’ W 060° 51’ 21.2’’

37 Poço Chato S 03° 17' 06,07104'' W 060° 51' 31,32069''

38 Boca Jaitêua do meio S 03° 17' 08,83687'' W 060° 51' 36,87286''

39 Lago Mutum Grande S 03° 17' 11,01640'' W 060° 51' 45,21530''

40 Poço Pescoço do Veado S 03° 17’ 24.0’’e W 060° 52’ 08.6’’

41 Lago Redondo S 03º 17' 13,23515'' W 060° 52' 49,73336''

Fonte: pesquisa de campo 2008-2010.

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Continuação Tabela 25- Pontos Georreferenciados dos movimentos migratórios de peixes no

Sistema Lago Grande de Manacapuru, AM.

Pontos Ambientes Coordenadas

42 Canal do Castanho S 03° 17’ 33.8’’ W 060° 53' 03.6'

43 Enseada do Mutum S 03º 17' 35,70546'' W 060° 53' 39,06260''

45 Canal Serralima S 03° 17’ 14.8” W 060° 45’ 55.1’’

46 Poço do Muruca S 03° 17’ 14.1’’ W 060°51’53.0’’

47 Paraná do Anamã S 03° 16’ 58.6’’ W 060° 51’ 36.6’’

48 Lago do Jaitêua S 03° 16' 33,59053'' W 060° 51' 33,86865''

49 Boca do Laguinho S 03° 16' 12,25721'' W 060° 51' 11,38477''

50 peixes se reúnem S 03° 16' 06,89393'' W 060° 51' 04,13526''

51 Boca do Tauarí S 03° 16' 01,37374'' W 060° 51' 05,41015''

52 Igarapé do Tauarí S 03° 15' 46,60406'' W 060° 51' 11,99430''

53 Paraná do Jaitêua de cima S 03° 15’ 28.7’’ W 060° 51’34.3’’

Fonte: pesquisa de campo 2008-2010.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os habitantes do Sistema Lago Grande de Manacapuru desenvolvem atividades de

pesca, agricultura e criação de pequenos animais. No que se refere a agricultura, foi uma

atividade predominante nas comunidades das localidades de Jaitêua de Cima e de Cajazeira.

No entanto, a pesca apresenta uma relevância inquestionável, pois alimenta e é fonte de renda,

principalmente para os moradores da comunidade de Jaitêua de Baixo, onde a

comercialização do pescado foi predominante.

Além disso, a intrínseca relação com os recursos naturais pemitiu à população local

acumular um conhecimento particular sobre a área que residem. Este saber empírico reflete

um conhecimento processual e histórico, que se estabelece empiricamente no desenvolver de

suas atividades cotidianas. A observação direta, as relações de aprendizagem que se

estabelecem entre gerações, ou de informações obtidas através de outrem, fornece todo o

processo explicativo da vida cotidiana demarcada pela variação sazonal do nível d’água para

as populações que habitam às margens de rios e lagos.

Este conhecimento detalhado possibilita a utilização espacial e temporal dos recursos

pesqueiros. A observação do ciclo hidrológico, da localidade e das variações correspondentes

a tais períodos permite a escolha adequada dos locais, apetrechos de pesca e dos peixes que

desejam capturar e, principalmente, permite comprender aspectos comportamentais de

reprodução e migração de peixes no Sistema Lago Grande de Manacapuru.

Em geral, o acesso e a quantidade de locais para a realização das pescarias pelos

moradores está relacionado com os períodos do ciclo hidrológico, cheia, vazante, seca e

enchente. Na enchente e cheia, as espécies se espalham nas áreas alagadas encontrando

locais de refúgio e alimentação e, com isso, os pescadores tem acesso a diferentes locais de

pesca. Na vazante ou descida d’água, pescadores verificam o deslocamento dos peixes para os

locais mais profundos (poços, mãe do rio, canais passíveis de navegação), até saindo para os

rios, como o tambaqui adulto, sardinhas, branquinhas, jaraquis e, por isso, os pescadores

realizam suas pescarias nos principais locais de passagem como, por exemplo, bocas e furos.

Na seca, o ambiente está bastante reduzido e a pesca concentra-se nos poços dos lagos que

permanecem com água.

O conhecimento dessa dinâmica favorece a captura dos peixes pelo pescador. Durante

os periodos de enchente, cheia e seca os pescadores capturam mais os peixes residentes

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enquanto que na vazante há predominância na captura de peixes migradores. Dentre os

principais peixes capturados pelos pescadores a maioria apresenta alto valor comercial nos

mercados e feiras da região. Da mesma forma, a eficiência da pesca, que em parte tem relação

com o uso adequado dos apetrechos, também está relacionado ao período do ciclo hidrológico

e ao peixe que se deseja capturar.

Para os entrevistados, é no período da enchente que ocorre a reprodução ou “desova”

da maioria das espécies. No que se refere aos locais, os entrevistados mencionam e descrevem

com detalhes a reprodução dos peixes residentes e migradores. Já em relação aos peixes

residentes, os pescadores mencionam que a reprodução ocorre principalmente em igarapés,

paranás e lagos no Sistema Lago Grande de Manacapuru, em áreas com pauzadas, troncos,

capins e buracos. Já para os migradores, observa-se que além dos igarapés, o rio é um

importante local de desova, onde procuram os paus e capins. As informações mencionadas

pelos pescadores, em sua maioria, foram similares aos registros verificados na literatura

específica para cada espécie e principalmente pelos dados gerados pela sub-rede BASPA,

indicando assim a importância da integração destes conhecimentos. Além disso, tais

informações podem auxiliar a legislação pesqueira, quanto a definição dos períodos de defeso

e de áreas para conservação. No caso específico do SLGM, observou-se discordâncias em

relação aos períodos de defeso para aruanã, pirarucu, curimatã. No entanto, observa-se ainda a

necessidade de adequações metodológicas para estudos futuros sobre biologia reprodutiva de

peixes, devendo-se levar em consideração a investigação dos meses em que ocorre a desova,

uma vez que os pescadores detêm o conhecimento sobre esses meses. Além disso,

considerando o grande número de espécies capturadas, é necessário a inclusão de mais

espécies nas portarias e instruções normativas que definem o defeso, a exemplo dos jaraquis

que não possuem proteção no período de reprodução.

Os movimentos migratórios estão relacionados com a variação do nível d´àgua, uma

vez que os três peixes migradores, jaraqui, tambaqui e curimatã, durante a vazante saem das

áreas alagadas em direção ao canal do rio principal para desovar na enchente. Após a desova

retornam (adultos e larvas) às áreas alagadas para alimentação, na enchente e cheia

(RIBEIRO, 1983; COX-FERNANDES, 1988; ZANIBONI, 1984). A complexidade dos

movimentos na área estudada, principalmente para os jaraquis (Semaprochilodus spp.)

permite conhecer os deslocamentos, porém a compreensão dos movimentos ainda é

diversificada para os entrevistados. Mas, é evidente o conhecimento dos principais

movimentos, de reprodução e trófica. Os movimentos de dispersão no sistema são mais

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complexos, uma vez que os jaraquis fazem movimentos de arribação (movimento rio acima

na enchente) e do peixe gordo (movimento rio abaixo na cheia) (RIBEIRO, 1983). A saída

para o rio (Solimões) foi predominante no período da vazante para curimatã, jaraqui e

tambaqui. O retorno ocorre no período da enchente após a desova. Os entrevistados

identificaram também dois principais locais de entrada dos peixes no Sistema Lago Grande

Manacapuru, no período de enchente: Boca do Maracati e Boca do rio Manacapuru.

Em suma, este estudo descreve o etnoconhecimento dos pescadores do Sistema Lago

Grande de Manacapuru de forma a evidenciar a visão de mundo presente em suas narrativas e

da dinamicidade presente em seu modo de vida, cujos conhecimentos são empregados

cotidianamente nas suas atividades e, principalmente, na pesca. Finalmente, é possível

concluir que o conhecimento dos pescadores, em sua maioria, está de acordo com a

informação relatada na literatura consultada. Portanto, o conhecimento destes pescadores é

detalhado, consistente e relevante para o aprofundamento de questões complexas que podem

proporcionar novas pesquisas e contribuir para organização de informação integrada para ser

utilizada como subsídio para políticas públicas que tratarem dos recursos pesqueiros.

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126

ANEXO - Formulário específico

Data: ___/___/___ Localidade:______________________ Comunidade:__________________________

Período:_____________

1. Identificação

Nome:

____________________________________________________________________Idade:_____________

Quanto tempo mora na Comunidade?______________________________________________________

Quantas pessoas trabalham na Família?____________________________________________________

Desempenha alguma atividade na comunidade? ( ) SIM ( )NÃO QUAL?______________________

2. Pesca

Exerce atividade pesqueira? ( ) SIM ( ) NÃO Há quanto tempo? __________________________

Exerce outra atividade além da pesca?

Etnoconhecimento de pescadores em lagos de várzea: subsídios para manejo integrado dos recursos pesqueiros

na Amazônia

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127

_______________________________________________________________________________________

Que modalidade de Pesca? ( ) SUBSISTÊNCIA ( ) COMERCIAL

Que utensílios (apetrecho de pesca) de pesca são usados?

_______________________________________________________________________________________

Quais o mês mais intenso de pesca? _____________________________ Quais as espécies mais

pescadas?__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

Que tipo de embarcação é utilizada? ______________________________________________________

As espécies passam o ano todo no lago?___________________________________________________

Quais os locais onde o peixe

vive?__________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

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Quais as espécies sedentárias ( habitam ambiente lacustre, desovam em lagos, não realizam

movimentação em direção ao rio) ?

Espécies

Onde ficam?

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4. Época e local de DESOVA

Espécies

Época da desova

( E – C- V- S)

Local de desova

Características e denominação

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3. Migração

Espécies Época de entrada

( E, C, V, S)

De onde vem? Por onde entram?

Onde ficam? Época de Saída/ Por que?