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FORMAS DE SOCIALIZAÇÃO DOS INDÍGENAS XAVANTE COM DEFICIÊNCIA NA ALDEIA NAMUNKURÁ Luciana Moura de Carvalho 1 Orientador: Prof. Dr .Diego Soares da Silveira 2 RESUMO Este estudo constitui uma análise pormenorizada de como vive o indígena com deficiência suas dificuldades, possibilidades e acessibilidades. Avaliando-se desde o nível de socialização do indígena com deficiência junto a comunidade e sua aceitação nos diversos espaços da aldeia na vida da comunidade no dia a dia de forma geral, as produções recentes legais que se voltam para a socialização deles de forma mais efetiva na comunidade. Considerações são realizadas a cerca da visão que a comunidade faz sobre o aspecto em questão o tais como: O que são estes deficientes, o que pensam sobre eles, o que julgam necessário para socialização do deficiente: na comunidade, na escola, na vida cotidiana, nos rituais, nas brincadeiras. O deficiente visto em sua singularidade, o entendimento de 1 Bacharel/Licenciada em Pedagogia pela Faculdade Católica de Uberlândia / Especialização em Psicopedagogia/ Educação Especial/ Inclusão pela Faculdade Unipac.- MG; Professora de Atendimento Educacional Especializado na ede municipal de ensino de Uberlândia e-mail [email protected]:(34) 996857999. 2 Doutor em Antropologia(UNB,2011), Professor Adjunto do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia. Tel: (034) 3239- 4238 Cel: (034) 99194-9480 - e-mail [email protected] - Blog: http://www.antroposimetrica.blogspot.com .

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FORMAS DE SOCIALIZAÇÃO DOS INDÍGENAS XAVANTE COM DEFICIÊNCIA NA ALDEIA NAMUNKURÁ

Luciana Moura de Carvalho1

Orientador: Prof. Dr .Diego Soares da Silveira2

RESUMO

Este estudo constitui uma análise pormenorizada de como vive o indígena com deficiência suas dificuldades, possibilidades e acessibilidades. Avaliando-se desde o nível de socialização do indígena com deficiência junto a comunidade e sua aceitação nos diversos espaços da aldeia na vida da comunidade no dia a dia de forma geral, as produções recentes legais que se voltam para a socialização deles de forma mais efetiva na comunidade. Considerações são realizadas a cerca da visão que a comunidade faz sobre o aspecto em questão o tais como: O que são estes deficientes, o que pensam sobre eles, o que julgam necessário para socialização do deficiente: na comunidade, na escola, na vida cotidiana, nos rituais, nas brincadeiras. O deficiente visto em sua singularidade, o entendimento de pessoa

humana para o Xavante. A interpretação nativa de que a “deficiência” teria surgido junto

com o contato com o homem branco também é um forte indicativo sobre a indigenização

Xavante da deficiência. O meio de pesquisa empregado neste trabalho foi o bibliográfico e o presencial trabalho de campo, limitando-se esse último a visita in loco a aldeia Namunkurá, e o acesso a sites disponíveis na WEB, atentando as suas limitações.

1

Bacharel/Licenciada em Pedagogia pela Faculdade Católica de Uberlândia / Especialização em Psicopedagogia/ Educação Especial/ Inclusão pela Faculdade Unipac.- MG; Professora de Atendimento Educacional Especializado na ede municipal de ensino de Uberlândia e-mail [email protected]:(34) 996857999.

2Doutor em Antropologia(UNB,2011), Professor Adjunto do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia. Tel: (034) 3239-4238 Cel: (034) 99194-9480 - e-mail [email protected] - Blog:http://www.antroposimetrica.blogspot.com.

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Palavras-Chave: Socialização de pessoas com deficiência Xavante, comunidade, aprendizado, participação.

ABSTRACT

This study is a detailed analysis of how the indigenous lives with disabilities their difficulties, possibilities and accessibility. Evaluating from the indigenous socialization level with disabilities in the community and its acceptance in the various spaces of the village community life on a daily basis in general, the legal recent productions turn to their socialization more effectively in the community. Considerations are made about the vision that the community is on the point in question the such as: What are these poor, what they think about them, what they deem necessary for socialization of the disabled: the community, the school, in everyday life in rituals, in play. Poor seen in its uniqueness, the understanding of the human person to the Xavante. Native interpretation that "disability" would have come along with the contact with the white man is also a strong indication of the Xavante indigenization of disability. The means of research used in this study was bibliographic and face fieldwork, merely the latter a site visit to Namunkurá village and access to websites available on the web, considering its limitations.

Keywords: Socialization of people with disabilities Xavante, community, learning, participation.

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INTRODUÇÃO

O Estado Brasileiro, por meio de dispositivo jurídico administrativos, tem buscado

garantir a socialização de pessoas com deficiência junto a todos de sua comunidade, visando

sua inclusão na rede regular de ensino, direito assegurado por lei. No Decreto nº 3.298 de

1999, por exemplo, a legislação brasileira caracteriza as pessoas com deficiência como sendo:

[...] aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual, ou sensorial, os quais, em interseção com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (Artigo 1º)

Em continuidade, o artigo 3º considera a deficiência como:

[...] toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;

A inclusão de pessoas com deficiência na sociedade é, de certo modo, recente na

educação brasileira (GOMES, 2006; BARBOSA,1998) e continua configurando como grande

desafio a ser enfrentado pelos profissionas de diversas áreas de atuaçao. Nesta perspectiva,

propomos com esta pesquisa entender como ocorre as formas de socialização dos indígenas

Xavante com deficiência dentro de sua aldeia. Desse modo, iremos tratar tal questão a partir

de um estudo de caso baseado em pesquisa realizada entre a etnia Xavante, na aldeia

Namunkurá, localizada no estado do Mato Grosso.

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Imagem de satélite da aldeia Namunkurá – Estado de Mato Grosso

Em entrevista realizada com o cacique Simão Butsé, constatamos que esta aldeia foi

Fundada em 1965, pelo então cacique Mário Juruna e alguns de seus irmãos que,

juntamente com 60 pessoas da mesma família se instalaram naquela localidade. Todos vieram

da aldeia São Marcos para ocupar as terras desta região e, assim, deram início ao processo de

formação da aldeia. Antes do início de suas atividades políticas, Mário Juruna passou a

função de cacique para seu irmão Simão Butsé. Segundo o cacique Simão posteriormente,

quem dará continuidade à sua sucessão dentro da aldeia será seu filho, o indígena Pio

Tsimhoropupu Butsé, tendo em vista que os irmãos primogênitos não querem assumir esta

função, porém Pio Tsimhoropupu Butsé em conversa informal relatou que não havia decido

isso ainda e que em futuro breve conversaria com seus irmãos. Namunkurá era o nome de um

indígena que era seminarista Zeferino Namuncurá que morava na Argentina na região da

Patagônia, “Zeferino”-conforme é conhecido popularmente – é o "santo" mais conhecido da

Argentina. Zeferino Namuncurá faleceu de tuberculose em Roma, em 11 de maio de 1905,

enquanto percorria o seu caminho de preparação para o sacerdócio. Foi beatificado em 11 de

novembrode 2007 em Chimpay na Argentina, pelo papa Bento XVI. O sobrenome

Namuncurá, em mapudungun significa "Pé de pedra" (namun = pie, cura = piedra)

significando alguém firme, decidido, razão pela qual os xavante quiseram homenageá-lo, até

porque todas as aldeias daquela região tem nome de santo, o que reflete o movimento de

evangelização católico-cristã entre os xavante.

No momento, a população da aldeia Namunkurá é de, aproximadamente 550 indígenas

e 57 casas -conforme os dados obtidos no (PSI) Posto de Saúde Indígena que contam com um

quadro de funcionários sendo, uma enfermeira que também exerce a função de coordenadora

do local, três técnicos de enfermagem, um dentista, um assistente de dentista, três (AIS)

Agente Indígena de Saúde, dois motoristas que são responsáveis pela caminhonete S10

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chamada de viatura que fica permanentemente na aldeia para alguma emergência e para

atendimentos fora, o posto está aberto em horário comercial, depois das 18:30 apenas

emergência. Há uma escala de trabalho - são 20 dias consecutivos no posto e descanso de 10

dias em casa. O dentista, uma técnica de enfermagem e a coordenadora dormem nas

instalações do posto de saúde e preparam suas refeições. Está sendo construído outro posto de

saúde na aldeia, o atual servirá de alojamento para os funcionários que moram em outras

cidades. Todas as quintas-feiras eles realizam atendimentos nas aldeias da microrregião. O

Posto de Saúde Indígena Namunkurá que pertence ao polo da aldeia de São Marcos atende

também as aldeias da microrregião da Namunkurá totalizando uma população de 987

indígenas Xavante (São Luiz, São Gabriel, Nossa Senhora Auxiliadora, Santo Antônio, Maria

Nossa Mãe, Nossa Senhora Aparecida, Divina Providência e São Marcos-aldeia de apoio).

Namunkurá tem 1 orelhão solar da empresa Embratel, há outro da empresa Oi porém não

funciona. A missa acontece na capela da aldeia uma vez por semana aos domingos.

A energia elétrica foi instalada na aldeia Namunkurá por meio do programa de

governo “Luz para todos”, no fim de 2015. Anteriormente, uma pequena usina hidrelétrica

construída no rio São Luiz era responsável pelo fornecimento de energia para a aldeia ela foi

construída e entrou em funcionamento em 2003 até 2014. Quando queimou a primeira turbina

depois de alguns anos de funcionamento os indígenas se organizaram junto com a prefeitura

de Barra da Garças para a manutenção da turbina com defeito, a prefeitura mandou uma

equipe custeando a mão de obra e os indígenas da aldeia Namunkurá e algumas aldeias da

região ajudaram com dinheiro para comprar uma nova turbina, as aldeias que não quiseram

participar ficaram sem o fornecimento de energia elétrica. A segunda vez queimou uma

turbina, ficou inviável para os indígenas Xavante o conserto, o custo seria de mais ou menos

de 15 a 20 mil reais para arrumar e nenhum Órgão do Governo próximo a eles se

comprometeu em ajudá-los. A primeira escola construída na comunidade indígena foi em

1976, sob os cuidados do Sr. Boaventura Tserewamarinwe Tserewa’wa, primeiro professor da

aldeia. O local, hoje, funciona como casa dos Waptés3. Segundo a entrevista com o Cacique

Simão em 2007 a Prefeitura Municipal de Barra das Garças com o recurso do Governo

Federal construiu a escola Escola Municipal “Educação Fundamental Indígena Namunkurá

3Wapté é um termo utilizado para se referir aos adolescentes da aldeia. A partir dos 8 anos de idade as crianças passam a morar em uma oca separada dos seus pais- oca onde funcionou a primeira escola-, de tal forma que crie

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(UMRÃTÃWAWE). O prédio da escola tem uma cantina , uma cozinha, 4 salas de aulas, uma

secretaria e uma sala de direção hoje a escola tem um quadro de 20 funcionários sendo, 13

professores sendo 1, professor de Atendimento Educacional Especializado (AEE), 4 serviços

gerais, 1 coordenador pedagógico, 1 diretor e 1 secretário, no total de 20 funcionários. Como

pude observar as crianças quando estão com sede tem total liberdade para saírem e tomar água

na bica do poço artesiano que estiver mais próximo e fazer suas necessidades fisiológicas

tendo em vista que não há bebedouro e nem banheiro dentro na escola. No caso do aluno(a)

com deficiência o professor manda um aluno(a) chamar alguém da família para buscá-los para

que seja cuidado.

Pelo fato de ser professora de alunos com deficiência na rede municipal de ensino, em

Uberlândia, me chamou bastante atenção as dificuldades enfrentadas pelos indígenas no que

se refere às adequações físicas e pedagógicas no espaço escolar. Um outro fator é falta de uma

formação específica para aqueles que lidam cotidianamante com os deficientes de forma geral

. Também pude observar a vontade desta comunidade em melhor entender as questões

relacionadas às deficiências e de compreender as formas de se trabalhar com estas pessoas

objetivando ajudá-las. Esta situação não se aplica só nesta comunidade indígena, mas também

nos centros urbanos e rurais.

É interessante ressaltarmos que, no decorrer de vários conversas informais com o

professor da Escola Municipal “Educação Fundamental Indígena Namunkurá

(UMRÃTÃWAWE)”Sr.Pio Tsimhoropupu Butsé, cada vez mais me convencia da

importância de estudar as formas de socialização de pessoas com deficiência na Aldeia

Namunkurá, uma vez que ele também se mostrava interessado na possibildiade de

compreender e ajudar as pessoas com deficiência, tanto na escola quanto em convívio com

seus familiares.

Na medida em que discutíamos sobre algumas possibilidades de trabalho o professor

Pio alegrava cada vez mais, o que demonstrou a existência de uma demanda local em torno da

questão. Confesso que seu encantamento mudou minha trajetória e me motivou a escrever

este artigo. Certa vez, em uma de nossas visitas à casa do jovem Jacson, que é deficiente

físico e mental, estávamos o Prof. Pio, o Prof. Benerval e eu tentando conversar com seus

familiares para vermos as potencialidades de socialização do adolescente na aldeia. Percebi,

força e resistência para se tornar um guerreiro. Além disso, evitar o contato com as meninas da aldeia.

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no entanto, que o seu comprometimento era menos cognitivo e mais físico. Ao saírmos,

pensamos de imediato: “temos muito o que fazer aqui”.

Acredito, então, que a ideia de escrever este artigo remete em continuá-lo no mestrado

pois há muito ainda o que pesquisar sobre as pessoas com deficiência em aldeias índigenas,

haja vista a quase ausência de bibliografia sobre este tema.

Assim, neste primeiro momento, verifiquei a possibilidade de realização de uma

pesquisa que pudesse contemplar as formas de socialização dos deficientes em toda a

comunidade, pois naquele momento, quando ainda tinha uma ideia muito vaga sobre como

essa questão ocorria entre os povos indígenas, eu acreditava que eles eram “excluídos”. Tudo

isso, baseado em diversos estudos e em máterias vistas na mídia. Claro, há muito o que

pesquisar e observar sem causar tantas interferências. Aliás, ao longo da pesquisa de campo

na aldeia Namunkurá pude perceber que esses esteriótipos e preconceitos foram se desfazendo

na medida em que eu participava das atividades da comunidade.

Vislumbrei na realização do Curso de Especialização em Culturas e História dos

Povos Indígenas(FACED/UFU), a realização de uma pesquisa de campo na aldeia

Namunkurá, com foco nas formas locais de socialização de pessoas com deficiência colocadas

em práticas pelos xavante na comunidade. Para tanto, conhecer uma aldeia indígena foi

fundamental para realização deste trabalho, mesmo que tenha sido pelo curto período de

tempo. Acredito que consegui reunir material para subsidiar a escrita deste artigo, buscando

articular minhas reflexões com a literatura existente sobre a aldeia Namunkurá. Com isso,

busquei fornecer dados que possibilitem facilitar o convívio e o desenvolvimento destas

pessoas bem como despertar o interesse dos profissionais da educação e familiares de que

tirar a possibilidade de uma pessoa com deficiência seja ela qual for da integração escolar e

do convívio na comunidade é privá-las do bem mais precioso que é seu desenvolvimento

pleno.

PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DOS DEFICIENTES NA ALDEIA NAMUNKURÁ

Até antes de conhecer os Xavante eu acreditava que aquela sociedade se resumia em

um único corpo com unidade absoluta de pensamento, um coletivo coeso sem diferenças

internas, o que de certa forma reproduzia os esteriótipos construídos na opinião pública,

principalmente, pela literatura e pela grande mídia, mas também por intermédio de livros

didáticos desatualizados utilizados no ensino fundamental e médio. Com o convívio, no

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entanto, pude perceber que não é desta forma tão simplista que se organiza uma aldeia. Para

os indígenas Xavante há também discordâncias sobre os mais diversos interesses que

envovlem o organização de sua sociedade. Por outro lado, também pude observar que os

homens da aldeia Namunkurá, de forma pacífica e com conversas no centro da aldeia (Wa’ra),

tentam resolver seus entraves.

A permanência na aldeia e a convivência com diversos interlocutores indígenas da

etnia Xavante serviu para demonstrar que uma comunidade indígena não é um todo

homogênio, mas, sim, uma pluraridade mais ou menos integrada de perspectivas

diferenciadas. O olhar de uma mulher xavante, por exemplo, não é o mesmo olhar dos

homens. Existem também diferenças de idade e posição social. Essa multiplicidade de

perspectivas sobre a cultura xavante logo mostrou seu reflexo no tema da pesquisa. Ou seja,

não só os Xavante possuem as suas próprias formas de conceituar “pessoas com deficiência

física e/ou mental”(conceito ocidental), como também existem pontos controversos sobre a

questão. Apesar, então, de os Xavante não contarem com uma instituição centralizada de

administração de controvérsia - como é o caso do nosso sistema judiciário –eles possuem

formas locais de resolução dos conflitos e das divergências internas. Essas controvérsias são

administradas conforme suas próprias instituições políticas.

Desta forma, uma das primeiras observações a serem feitas é que - da mesma forma

em que nossa sociedade os deficientes vivem sob autoridade e custódia do Estado e da família

- entre os Xavante, os deficientes não participam nas tomadas de decisão do grupo.

Isso, por sinal, levou-me a questionar se os deficientes da aldeia eram considerados

índios. Vejamos, pois, o que nos responde o indígena Abrão Ahopowe Tsiwari:

O deficiente é considerado índio porque nasceu na aldeia e é filho de índio. Ser índio é o que você vê aqui, é falar a nossa língua, é aprender português – o que é importante –, mas é também saber falar a nossa língua. Nóis aqui falamos só na nossa língua xavante, ser índio é o que você vê na nossa cultura e na tradição, o deficiente com seus pais entendem isso na nossa língua (Diário de campo, aldeia Namunkurá, 08/01/2016, conversa com Abrão).

O indígena Pio Tsimhoropupu, por sua vez, nos esclareceu que:

[...] Às vezes é difícil ser índio porque a sociedade dos brancos tem muito preconceito contra eles e, hoje, buscam seus direitos e reconhecimento de que são importantes para história. O deficiente também é índio que nasce aqui, mas ainda não sabemos como trabalhar direito com eles (Diário de campo, aldeia Namunkurá, 08/01/2016, conversa com Pio).

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Torna-se evidente, portanto, que o fato de os deficientes estarem inseridos na cultura

Xavante, seja falando a língua, seguindo os costumes de seus pais e, obviamente, terem

nascidos na aldeia, os fazem “indígenas”, ou neste caso, “Xavante”. Por conseguinte, ao

afirmarem que os deficientes são índios Xavante, eles também estão atestando o seu caráterde

pessoa, mesmo que se trate de uma pessoa “diferenciada” das demais, já que precisa de

cuidados específicos. É notório nas entrevistas, ainda, uma preocupação coletiva da aldeia

com a vida dos deficientes, mesmo que afirmem não saber o que fazer diante de tais questões.

Outro aspecto que merece ser discutido, aqui, é a interpretação do termo “deficiência”

a partir do entendimento do cacique Simão Butsé. Para ele:

[...] antes não existia deficiente né, os índios eram fortes e sadios; hoje estão fracos. Depois do contato com o branco é que começou a ter deficiente, antes não tinha. O branco trouxe o sarampo e outras doenças, antes não tinha deficiente (Diário de campo, aldeia Namunkurá, 10/01/2016, conversa com Cacique Simão).

No contexto supracitado, a “deficiência” resulta do contato dos Xavante com o homem

branco. Ou, em outras palavras, trata-se de uma “doença dos brancos”, algo que passou a

existir somente depois desse contato.

De outra maneira, a indígena Júlia, Agente Indígena de Saúde (AIS) e tia do

adolescente Jacson, atribui à vontade de Deus as causas da deficiência de seu sobrinho:

Se Deus quis assim, é por isso que ele é assim. Só Deus sabe o porquê né. O Jacson precisa de ajuda, né? Ele não anda né, é assim... precisa de ajuda do governo para comprar fralda, comida (Diário de campo, aldeia Namunkurá, 12/09/2015, conversa com Júlia).

Notemos que a deficiência, no entendimento de Júlia, reflete a influência da cultura

cristã na aldeia, provalvelmente advinda do evangelismo católico pelo qual eles passaram e

continuam a ser influenciados, como visto na Figura 1: Figura 1: Igreja católica localizada na aldeia Namunkurá

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Fonte: CARVALHO, 2016 (Arquivo pessoal)

Daí, provalmente, a interpretação de deficiência como um “castigo”, “providência” ou

“provação” divina. É interessante perceber que o deficiente é visto como uma pessoa

“doente”, mas também como alguém que foi “amaldiçoado”, o que nos remete ao imaginário

católico-cristão, onde predomina a noção de “pecado” e de “punição divina”. Percebe-se,

desta forma, que a “deficiência” surge como um problema ou questão oriunda da história de

contato com o homem branco. Contato esse inicialmente mediado pelos missionários que

atuaram entre os xavante na década de 1960.

A SOCIALIZAÇÃO DOS INDÍGENAS DEFICIENTES NA ALDEIA NAMUNKURÁ

Algumas abordagens antropológicas que foram apresentadas durante o curso de

especialização indígena me auxiliaram na busca de uma melhor compreensão sobre o tema

abordado aqui. Em paralelo, a experiência de estar na aldeia me possibilitou um entedimento

cultural mais denso de como os indígenas xavante identificam e classificam os diversas tipos

de deficiências e socilização que existem na aldeia Namunkurá.

Na primeira visita a esta aldeia eu pretendia trabalhar somente com as crianças

deficientes. Na segunda visita, porém, pude perceber que havia deficientes de diversas idades.

Neste momento optei por ampliar a pesquisa também para os adultos com deficiência. Melhor

fundamentada, refiz o levantamento e encontrei a seguinte situação:

Jacson, com 15 anos de idade, é deficiente físico e mental;

Fidélis, com 36 anos, Deficiência relacionada a Encefolopatia;

Oscarzinho, com 22 anos, tem a doença de creatinismo hisporádico (sem tiróide);

Onofre, com 4 anos, Deficiência relacionada à Encefolopatia;

Vasconcelos, com 33 anos, é Deficiênte Mental;

Siruza, com 9 anos, tem menigite, o que a deixou com deficiência física permanente.

Todos aqui mencionados têm comprometimento na fala e se esforçam para estabelecer

algum tipo de comunicação com outros indígenas. Cabe destacar que durante as relações

cotidianas, a língua materna é facilmente compreendida entre os deficientes, somente a língua

portuguesa é de difícil compreensão.

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É importante mencionar também que dentre os indígenas citados anteriormente, o

Onofre sempre participa dos cantos da aldeia. Quando se forma uma roda, ele entra no centro

e senta próximo de alguém de sua família , conforme ilustra a Figura 2.

Figura 2: Momento de socialização do Onfre durante o canto dos Waptés.

Fonte: CARVALHO, 2015 (Arquivo Pessoal)

De modo contrário, Jacson tem limitação física, não consegue andar . Ele possui

limitações cognitivas devido à menigite . O menino não participa das atividades que dizem

respeito às festividades, rituais da aldeia. Ele passa bastante tempo dentro de sua casa, onde

existe muita fumaça decorrente do fogão à lenha. De modo geral, ele quase não brinca com

outras crianças e se arrasta dentro da oca a maior parte do tempo, algumas vezes durante as

minhas visitas ele estava do lado de fora de sua casa. Ao ser abandonado pela mãe, Jacson

continuou a morar com os avós que já são idosos. Apesar das limitações que impedem o seu

movimento, acredito que ele teria capacidade de se socializar sem grandes dificuldades, uma

vez que ele se mostra carinhoso com todos aqueles que se econtram à sua volta, como

visualizamos na Figura 3. Figura 3:Jacson, à frente da imagem, juntamente com o seu tio e primos.

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Fonte: CARVALHO, 2016 (Arquivo pessoal)

Fidélis é deficiente por conta da encefolopatia hepática4, doença mental e que por sua

vez não o impede de ser um jovem bem ativo e participativo na comunidade. Ele realiza tanto

tarefas domésticas quanto as de ir para roça ajudar seus pais. Pude observar que ele participou

da corrida de tóra realizado pelos demais homens e mulheres da comunidade. Nas

brincadeiras, os jovens não o deixam entrar. Aliás, os jovens da comunidade o chamavam de

“calcinha”, o que o deixava bastante irritado, uma vez que realiza algumas tarefas domésticas

que não são executadas pelos homens da aldeia. A alcunha também provinha de fato dele se

apresentar algumas vezes com adornos e vestuário feminino.Essa inversão das atividades e

dos vestuários associadas à divisão de trabalho e de um padrão de gênero masculino de como

se vestir, pode estar apontando para a existência de uma série de arranjos sociais que visam

uma adaptação de pessoa com deficiência às divisões costumeiras da organização social

xavante. Neste estudo inicial não tive tempo para aprofundar o mapeamento inicial desses

arranjos, algo que pretendo fazer um estudo mais aprofundado, no âmbito de um mestrado

acadêmico.

Quanto ao Oscarzinho, doente por conta do hipotireodísmo5-apesar de sua deficiência

ser mental e não física, percebi que ele andava livremente pela aldeia, correndo de um lado

para o outro ao longo do dia. De acordo com o seu irmão Pio, Oscarzinho tem crises nervosas

quando não se encontra bem alimentado - inclusive, pude presenciar tal fato em determinados

momentos. Por isso, não frequenta a escola de maneira regular , sua participação nas

atividades cotidianas não é restrita ele escolhe o que quer fazer.

4Encefalopatia hepática, é uma perturbação pela qual a função cerebral se deteriora devido a altas quantidades de substâncias tóxicas proveniente da alimentação presentes no sangue- substâncias estas que deveriam ter sido eliminadas pelo fígado.

5Hipotireoidismo é o resultado da deficiência do hormônio da tiroide o bebê nasce sem a tiroide. Os bebês crescem mais lentamente.

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Já a Siruza, uma criança cuja a deficiência impede parte dos movimentos de suas

pernas, não participa de forma efetiva das atividades na aldeia. Os seus pais a deixam brincar

com o propósito de desenvolvimento de sua mobildiade e coordenação, em uma das minhas

visitas, Siruza estava ajudando sua irmã lavando louça me olhou e deu um largo sorriso, neste

momento percebi sua satisfação de estar ali. Mesmo assim, constatamos que existe, de modo

garal, certa dificuldade de inserí-la ao restante do grupo. Na Figura 4, por exemplo, Siruza

realiza uma atividade escolar sem a presença de outras crianças.

Figura 4:Siruza em um momento de Atividade Educacional Especializado (AEE).

FONTE: CARVALHO, 2015. (Arquivo pessoal)

Vasconcelos é deficiente mental, ou seja, não tem nenhuma limitação física, está

sempre presente em algumas atividades da comunidade, porém, tem dificuldades de se

relacionar. O menino está sempre sozinho e as vezes olha o movimento da comunidade da

porta de sua casa, sempre acompanhado de seus pais, que já são idosos demais para trabalhar

na roça. Vejamos, pois, o que nos responde o indígena Sr Boaventura Tserewamariwe

Tserewawa:

É bom ver como você fala com eles entende eles abraça conversa eles precisam isso, sabe falar com eles, isso é bom de ver, hoje precisamos entender mais eles para eles participarem, o Vasconcelos sempre sozinho, acompanha pais na roça, os pais decidem né pra ele (Diário de campo, aldeia Namunkurá, 14/01/2016, conversa com SrBoaventura).

Ao analisar o relato acima, notamos que os indígenas com deficiência estão inseridos

na comunidade sob a responsabilidade de seus pais, que decidem sob a particpação ou não em

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diferentes atividades e rituais que se fazem presentes na aldeia. Por vezes, nós, indivíduos

aparentemente “normais”, olhamos para os deficientes com preconceito porque nos causa

estranheza o fato de não pertencerem ao nosso grupo. É importante, pois, rompermos a

barreira que nos distancia do outro e entendermos que os deficientes são capazes de

desenvolver muitas atividades, mesmo com algumas limitações.

A questão da inclusão dos estudantes com deficiência, na aldeia Namunkurá, ainda

precisa melhorar. É desejo do diretor da escola indígena, por exemplo, que haja de forma mais

efetiva um rompimento dos preconceitos da parte de alguns professores por não saberem lidar

com as questões relacionadas à deficiência. Inclusive, é importante notar que esse

“estranhamento pedagógico” também é muito comum nas escolas públicas e privadas

existentes nos centros urbanos e rurais. O fato é que – apesar do Governo Brasileiro ter

instituído uma série de dispositivos jurídico-administrativos visando à integração do

deficiente na sociedade – esse movimento não venho acompanhado de uma formação

específica dos educadores.

Porém, de acordo com o resultado do questionário aplicado a 10 professores que

trabalham na aldeia Namunkurá, verificamos que, contraditoriamente à fala do diretor da

escola, todos eles afirmaram nunca terem presenciado nenhum tipo de preconceito com os

indígenas deficientes. Além disso, foi consenso entre todos os professores que a inclusão dos

deficientes deve acontecer na aldeia e em sala de aula. Por outro lado, nenhum professor

indígena participou de discusões concernentes à deficiência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O nosso propósito ao longo desta pesquisa foi o de compreender as diferentes

maneiras de socialização dos indígenas com deficiência no cotidiano da aldeia Namunkurá,

sem julgamentos que os comparassem à concepção ocidental. Se, por ventura, isso ocorreu,

foram incoerências do meu pensamento e de minha análise.

A constatação de que os indígenas com deficiência não estão totalmente integrados no

cotidiano da aldeia Namunkurá nos deixa uma série de inquietações para continuarmos este

estudo. A socialização dos indígenas xavante dentro da aldeia, colabora para desfazer o

imaginário simplista de que a pessoa com deficiência na escola só existe nos meios urbanos.

Para complementar, veja o que relata o Sr. Boaventura:

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[…]Deficiente é difícil que se chamava Petronília, hoje. Foi nascida deficiente a primeira coisa não era deficiente ela era que a gente ciudava muito dela, Petronília era só ela. A primeira coisa que eu cuidava quando o horário de merenda, intervalo eu atendo primeiro ela porque a gente sabe respeitar o deficiente o trabalho meu era assim, primeiro atendia ele quando estava no período de férias Julho a gente dava um pedaço de carne, pedaço de frango para ela levar pra mãe, pra família pra ela almoçar em casa porque ela não aguentava cuidar tudo, na escola que a gente lecionava no horário do período é assim, então é a gente assim não, é difícil ver ela dançar, cantar, gostava muito dela primeira coisa que como não era formado né, eu formado Ciências Sociais antropologia mas eu entendo como é sociedade indígena então respeitar ela arrumar os primeiros pra ela pedaço de alguma coisa, comida cuidar primeiros, depois eu os colegas dela vem receber as merenda […]a comunidade gostava muito dela tia, familiares e comunidade ajudava alguns traz peixes pra ela, comida, melancia todas as farturas que a comunidade produzia[…] (Diário de campo, aldeia Namunkurá, 09/01/2016, conversa com BoaventuraTserewamariwe Tserewa’wa)

E diante das colocações do Sr. Boaventura se faz necessário aprofundar as questões

de pessoas com deficiência nas aldeias indígenas. Percebe-se, a partir deste relato, que os

professores Xavante se preocupam em fornecer cuidado especial aos deficientes,

reconhecendo, desta forma, a sua singularidade. Existe, portanto, a consciência de que o modo

de ser xavante dos deficientes não só exige regras e princípios de tratamento e socialidade

diferenciados, como também envolve uma concepção xavante de “cuidado”. Essa concepção

– que deve ser tratada como um conceito e não uma crença – está associada a essa forma

específica de ser xavante expressa pelas práticas socioculturais dos membros da etnia que tem

alguma deficiência, seja física ou mental.

A observação do cotidiano dos deficientes também demonstrou que sua integração na

comunidade depende, em grande medida, das limitações físicas ou mentais oriundas da sua

enfermidade. Isso ocorre porque cada deficiência acarreta limitações cognitivas ou físicas

diferenciadas, exigindo cuidados específicos. Não estamos diante de uma concepção unitária

da “deficiência” – assim como não podemos falar de um “tipo” único de “deficiente”, mas,

sim, de uma multiplicidade de formas de deficiências, de uma multiplicidade ontológica que

também se revela em outras áreas da cultura xavante.

A interpretação nativa de que a “deficiência” teria surgido junto com o contato com o

homem branco também é um forte indicativo de que a indigenização xavante da deficiência –

um processo complexo ainda em curso e do qual, inclusive, este estudo faz parte – integra um

conjunto mais amplo de práticas de predação da alteridade. Nesse sentido, não é uma surpresa

que sejam os professores xavante – e o espaço da escola e, agora, com a minha pesquisa, da

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Universidade – que estejam à frente da invenção de uma nova forma de pensar a relação do

mundo do branco. Com isso o “deficiente” (físico ou mental) – assim como as concepções

xavante de deficiência e as respectivas práticas de cuidado e atenção – fornece um campo de

relação com o discurso biomédico ocidental, o Estado e outros agentes da sociedade nacional.

O que vemos, portanto, é a formação de uma rede em torno das controvérsias associadas à

deficiência, uma rede que inclui também este estudo e outros já realizados, assim como

agentes de saúde, os professores Xavante, os missionários católicos, funcionários da FUNAI,

lideranças Xavante e, de uma forma geral, as instituições de intervenção biomedical e o

próprio discurso da biomedicina e suas formas de concepção das “deficiências” mentais e

físicas.

Finalmente, concluímos com a grande descoberta diante do relato supracitado de

como era tratada a deficiente Petronília. Desde a década de 70 os Xavante tinham a

preocupação de cuidar da pessoa com deficiência e isto não consta em nenhum outro relato

segundo minha revisão bibliográfica, ou seja, estão à frente da sociedade ocidental já a muitos

anos, partindo do pressuposto de que precisamos de leis para fazer cumprir alguns direitos

humanos, e que para os Xavante da aldeia Namunkurá isto é normal em sua cultura. Neste

contexto, achamos que a experiência vivida em campo na aldeia Namunkurá, em parte

contribuiu para que retomemos um estudo mais aprofundado em nível de mestrado acadêmico

sobre o tema deste trabalho.

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