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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS
INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DA LAMA VERMELHA NAS PROPRIEDADES
E NA CORROSIBILIDADE DO CONCRETO ARMADO
Daniel Véras Ribeiro
São Carlos
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS
INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DA LAMA VERMELHA NAS PROPRIEDADES
E NA CORROSIBILIDADE DO CONCRETO ARMADO
Daniel Véras Ribeiro
Tese apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia
de Materiais como requisito parcial à
obtenção do título de DOUTOR EM
CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS
Orientador: Prof. Dr. Marcio Raymundo Morelli
Agência Financiadora: CNPq
São Carlos / SP
2010
DEDICATÓRIA
Dedico esta tese a meu pai, Everaldo Prates Ribeiro, que, infelizmente,
nos deixou ao longo deste árduo caminho.
VITAE DO CANDIDATO
Engenheiro Civil, formado pela Universidade Federal da Bahia, UFBA (2004).
Mestre em Engenharia de Materiais, formado pelo PPGCEM/UFSCar (2006)
Especialista em Gestão Ambiental, formado pelo IBEAS/UFSCar (2008)
i
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA TESE DE DOUTORADO DE
______________________DANIEL VÉRAS RIBEIRO____________________ APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO
CARLOS, EM 28 DE MAIO DE 2010.
BANCA EXAMINADORA
ii
iii
CAMINHO PARA O CRESCIMENTO
CUMPRIR ⇒ Procure cumprir o estilo básico e assimile seus fundamentos;
ROMPER ⇒ Cumpridos os fundamentos, rompa esta casca e busque o crescimento;
AFASTAR ⇒ Conseguindo crescer, afaste-se do estilo básico e crie a própria forma de agir.
Sabedoria Chinesa
iv
v
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter iluminado meu caminho nestes 29 anos e ter permitido
alcançar meus objetivos;
Aos meus pais, Carmen Lucia Veras Ribeiro e Everaldo Prates Ribeiro (in
memorian) por tornarem possíveis os passos deste caminho e por estarem
sempre a postos nos momentos de adversidades;
Às minhas irmãs, Vanessa e Veruska (in memorian), pelo perene apoio;
Ao Prof. Dr. Marcio Raymundo Morelli pela orientação, confiança e,
principalmente, amizade durante estes 6 anos em que trabalhamos juntos
(mestrado e doutorado). Muito mais que um orientador, um grande amigo;
A toda minha família que torceu, mesmo de longe, pela concretização
deste sonho;
Aos meus amigos Glauber, Lourdimine, Polyanne e Malu, sempre
presentes nesta empreitada, auxiliando no desenvolvimento deste trabalho e,
especialmente, a Mateus e Candido pela convivência ordeira e pacífica ao
longo deste período;
Ao amigo e aluno de IC, Igor, pelo apoio no desenvolvimento de alguns
dos experimentos;
Aos técnicos de laboratório Walter, Binoto, Zezinho, Alemão e Zé Luis
(DEMA) pela ajuda e cooperação nos experimentos desenvolvidos;
Ao Prof. Dr. João A. Labrincha pela acolhida em Portugal durante o
estágio PDEE e pelo grande interesse dado ao estudo, facilitando a realização
de diversos ensaios, bem como o contato com empresas, laboratórios e
centros de pesquisa em Portugal;
Aos amigos de laboratório em Aveiro; Wallid, Ana Castela, Ana Brandão,
Janaína e Claudio por todo o apoio durante minha estadia em Aveiro. Foi por
pouco tempo, mas nunca esquecerei vocês;
Ao Prof. Dr. Antônio Santos Silva, do Laboratório Nacional de Engenharia
Civil (LNEC), em Lisboa, e aos técnicos Luís Vicente, Ana Paula, Fátima
Meneses e João Balsinha pelo apoio para a realização dos testes de
verificação da reação álcalis-agregado (RAA);
vi
Aos Professores Dr. Manuel Ribeiro e Dr. João Abrantes (Viana do
Castelo), pela ajuda na interpretação dos resultados de espectroscopia de
impedância eletroquímica;
Ao engenheiro Paulo Cunha, presidente da empresa Icorr (Aveiro), pela
doação dos equipamentos e sondas para a realização dos testes de
resistividade elétrica;
À Quartzolit / Weber (Aveiro), na figura dos engenheiros Luis Silva e Olga
Barros, pelo apoio no desenvolvimento dos testes de carbonatação;
Ao Prof. Dr. Sebastião Kuri e aos seus orientandos, os amigos Carlos
Rovere e Thais Busquim, pela ajuda e na realização dos ensaios de potencial
de corrosão e espectroscopia de impedância eletroquímica (EIS);
Ao Prof. Dr. Jeferson Libório por dispor as instalações do Laboratório de
Materiais Avançados à Base de Cimento (LMABC) na USP/São Carlos para a
moldagem e acondicionamento dos corpos de prova de concreto;
Aos professores e funcionários do PPGCEM/UFSCar pelo incentivo ao
crescimento profissional e científico. São estas pessoas que fazem do
PPGCEM/UFSCar uma referência na pesquisa em materiais em todo o mundo;
Ao CNPq e à CAPES pelo apoio financeiro que permitiu a realização
deste trabalho;
A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para que este
doutorado se completasse.
vii
RESUMO
O presente trabalho de doutorado aborda dois problemas que
acompanham a humanidade há muitos anos, mas que começaram a chamar a
atenção da sociedade há relativamente pouco tempo: a geração e o destino
inadequado dos resíduos sólidos e a corrosão em estruturas de concreto
armado. Estes dois problemas da sociedade moderna se intensificaram com a
elevada produção industrial (para os resíduos) e com o projeto de estruturas
cada vez mais esbeltas, que utilizam, por questões econômicas, seus materiais
cada vez mais próximos ao limite, muitas vezes em detrimento da segurança
(para as estruturas de concreto armado). Dentro deste contexto, é proposta
uma alternativa para utilização da lama vermelha, resíduo gerado em grandes
quantidades (cerca de 82 milhões de toneladas mundialmente, sendo 10,6
milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio,
no beneficiamento da bauxita, pelo processo Bayer, como adição a matrizes de
cimento Portland e que, devido à sua composição química, elevada finura e
alcalinidade podem ajudar a mitigar os processos corrosivos no concreto
armado. Com o objetivo de avaliar a influência do resíduo e estabelecer os
teores ótimos de adição, foi feita uma extensa caracterização física de pastas,
argamassas e concretos, procurando relacionar estas propriedades às técnicas
de análise de corrosão escolhidas (migração de cloretos, carbonatação,
resistividade, potencial de corrosão e espectroscopia de impedância
eletroquímica). A escolha destas técnicas teve como intuito envolver os quatro
principais mecanismos que levam ao processo corrosivo: permeabilidade,
absorção capilar, difusão e migração iônica. Os resultados apresentaram-se
favoráveis à adição da lama vermelha (até 30% de adição), sendo positivos
para a maioria das técnicas utilizadas quanto à corrosibilidade, além de uma
caracterização ambiental positiva. Assim, foi observado que a lama vermelha é
uma opção bastante promissora como adição ao concreto armado.
viii
ix
INFLUENCE OF RED MUD ADDITION IN PROPERTIES AND
CORROSIBILITY OF REINFORCED CONCRETE.
ABSTRACT
This doctoral project addresses two problems associated with humanity
for many years but began to call the attention of the society is relatively recent:
the inadequate generation and destination of solid wastes and corrosion in
reinforced concrete structures. These two problems of modern society were
intensified by high industrial production (for the waste) and the design of
structures increasingly slim, using, for economic reasons, their materials closer
and closer to the limit, often at the expense of security (for reinforced concrete
structures). Within this context, it’s proposed an alternative use to red mud, by-
product generated during aluminium production from bauxite ore, by using the
Bayer process (about 82 Mton worldwide, with 10.6 Mton in Brazil), as addition
to Portland cement matrices and that, due to its chemical composition, fineness
and high alkalinity can help to mitigate the corrosive processes in reinforced
concrete. In order to evaluate the red mud influence and to establish the
optimum levels of addition has been made an extensive physical
characterization of pastes, mortars and concrete in order to relate these
properties to the analytical corrosion techniques chosen (chlorides migration,
carbonation, resistivity, corrosion potential and electrochemical impedance
spectroscopy). The choice of these techniques aimed to involve the four main
mechanisms that lead to the corrosive process: permeability, capillary
absorption, diffusion and ionic migration. The results were favorable to red mud
addition (up to 30%), being positive for most of the techniques used about de
corrosibility, and a positive environmental characterization. Thus, it was
observed that the red mud is presented as a promising addition to the
reinforced concrete.
x
xi
SUMÁRIO
Pág. BANCA EXAMINADORA ..................................................................................... i
AGRADECIMENTOS .......................................................................................... v
RESUMO .......................................................................................................... vii
ABSTRACT........................................................................................................ ix
SUMÁRIO .......................................................................................................... xi
ÍNDICE DE TABELAS....................................................................................... xv
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS .....................................................................xxix
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................1
2 REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................3
2.1 Concreto de Cimento Portland .................................................................3
2.1.1 Estrutura dos Poros do Concreto.................................................. 6
2.1.2 Principais Mecanismos de Transporte no Concreto ................... 10
a) Permeabilidade .................................................................................10
b) Absorção Capilar...............................................................................11
c) Difusão ..............................................................................................12
d) Migração Iônica.................................................................................15
2.2 Durabilidade e Vida Útil do Concreto .....................................................16
2.3 Corrosão em Concreto ...........................................................................18
2.3.1 Carbonatação ............................................................................. 22
2.3.2 Corrosão nas Armaduras............................................................ 27
a) Processos de Corrosão.....................................................................30
b) Passivação da Armadura no Concreto..............................................34
c) Iniciação da Corrosão........................................................................36
d) Propagação da Corrosão ..................................................................37
2.3.3 Íons Cloreto ................................................................................ 38
2.4 Técnicas de Avaliação e Estudo da Corrosão em Concreto Armado.....43
2.4.1 Ensaio de Migração de Cloretos................................................. 43
2.4.2 Profundidade de Carbonatação.................................................. 44
2.4.3 Resistividade do Concreto.......................................................... 45
2.4.4 Técnica do Potencial de Corrosão.............................................. 48
xii
2.4.5 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) ................... 53
a) Interpretação dos Resultados........................................................... 54
b) Circuitos Equivalentes ...................................................................... 57
2.5 Reação Álcalis-agregado (RAA) ............................................................ 65
2.6 Utilização de Resíduos Industriais em Matriz de Cimento Portland....... 67
2.6.1 Normatização Vigente - Classificação de Resíduos Sólidos....... 68
2.6.2 Resíduo de Bauxita – Lama Vermelha........................................ 69
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .......................................................... 75
3.1 1ª. Etapa – Estabelecimento dos Teores de Adição .............................. 75
3.2 2ª. Etapa – Análise da Corrosividade do Concreto Armado .................. 76
4 MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................... 79
4.1 Materiais ................................................................................................ 79
4.1.1 Cimento Portland ........................................................................ 79
4.1.2 Lama Vermelha........................................................................... 79
4.1.3 Areia............................................................................................ 80
4.1.4 Agregado Graúdo – Brita ............................................................ 80
4.1.5 Armadura – Barras de Aço CA 50............................................... 81
4.1.6 Aditivo Superplastificante............................................................ 81
4.1.7 Água de Amassamento............................................................... 81
4.2 Métodos ................................................................................................. 82
4.2.1 Caracterização das Matérias-primas........................................... 82
a) Área Superficial Específica............................................................... 82
b) Massa Específica.............................................................................. 82
c) Massa Unitária .................................................................................. 83
d) Análise da Distribuição do Tamanho de Partículas .......................... 83
e) Fração de Orgânicos e Inorgânicos.................................................. 84
f) Potencial Hidrogeniônico (pH) ........................................................... 85
g) Composição Química dos Reagentes .............................................. 85
h) Formação de Fases (DRX)............................................................... 85
i) Microestrutura (MEV)......................................................................... 86
j) Caracterização Ambiental (Solubilização e Lixiviação)...................... 87
xiii
4.2.2 1a. Etapa – Estabelecimento dos Teores de Adição de Lama
Vermelha................................................................................................... 89
a) Definição do Traço e Preparo das Argamassas.................................89
b) Influência da Presença do Resíduo nas Propriedades do Cimento
Portland e das Argamassas ...................................................................89
Tempo de Pega ......................................................................................89
Propriedades Reológicas .......................................................................90
Calor de Hidratação................................................................................93
Pozolanicidade .......................................................................................94
Reação Álcalis-agregado (RAA).............................................................97
Resistência Mecânica.............................................................................99
Porosidade e Densidade Aparentes .....................................................100
Absorção de Água por Capilaridade (NBR 9779/1995) ........................101
4.2.3 2a. Etapa – Análise da Corrosividade do Concreto Armado...... 102
a) Obtenção e Preparo do Concreto ...................................................102
b) Influência da Presença do Resíduo nas Propriedades do Concreto105
Resistência Mecânica...........................................................................105
Porosidade e Densidade Aparentes .....................................................105
Distribuição de Tamanho de Poros ......................................................105
Absorção de Água por Capilaridade (NBR 9779) .................................106
c) Técnicas de Avaliação da Corrosão em Concreto Armado .............106
Ensaio de Migração de Cloretos ..........................................................106
Profundidade de Carbonatação............................................................113
Resistividade do Concreto....................................................................114
Técnica de Medida do Potencial de Corrosão......................................115
Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) ............................124
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................127
5.1 Caracterização das Matérias-primas....................................................127
5.1.1 Cimento Portland ...................................................................... 127
5.1.2 Resíduo de Bauxita (Lama Vermelha)...................................... 129
5.1.3 Areia ......................................................................................... 133
5.1.4 Agregado Graúdo – Brita.......................................................... 135
xiv
5.2 Primeira Etapa - Estabelecimento dos Teores de Adição.................... 136
5.2.1 Cimento Portland ...................................................................... 136
a) Tempo de Pega .............................................................................. 136
b) Potencial Hidrogeniônico (pH) ........................................................ 139
c) Pozolanicidade................................................................................ 139
d) Reação Álcalis-agregado (RAA) ..................................................... 144
5.2.2 Caracterização da Argamassa no Estado Fresco ..................... 147
a) Propriedades Reológicas................................................................. 147
b) Calor de Hidratação......................................................................... 151
5.2.3 Caracterização da Argamassa no Estado Endurecido.............. 152
a) Resistência Mecânica - Compressão Axial..................................... 152
b) Porosidade e Densidade Aparentes ............................................... 154
c) Absorção de Água por Capilaridade ............................................... 156
5.2.4 Escolha dos teores ideais de lama vermelha............................ 157
5.3 Segunda Etapa – Análise da Corrosividade do Concreto Armado ...... 157
5.3.1 Caracterização Física do Concreto ........................................... 157
a) Porosidade e Densidade Aparentes e Distribuição do Tamanho de
Poros ................................................................................................... 157
b) Absorção de Água por Capilaridade ............................................... 160
c) Resistência Mecânica - Compressão Axial..................................... 160
5.3.2 Ensaios de Verificação da Corrosão do Concreto Armado ....... 162
a) Ensaio de Migração de Cloretos..................................................... 162
b) Profundidade de Carbonatação...................................................... 169
c) Medida da Resistividade do Concreto ............................................ 174
d) Medida do Potencial de Corrosão................................................... 178
e) Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE)....................... 187
5.3.3 Caracterização Ambiental – Ensaios de Lixiviação e Solubilização
197
5.4 Discussão Geral .................................................................................. 200
6 CONCLUSÕES ......................................................................................... 209
7 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS ........................................ 211
8 REFERÊNCIAS......................................................................................... 213
xv
ÍNDICE DE TABELAS
Pág.
Tabela 2.1. Abreviações utilizadas para os principais óxidos do clínquer e
compostos do cimento Portland [1]. ............................................................ 5
Tabela 2.2. Corrosão relativa para as diversas atmosferas a que o concreto
armado pode estar submetido [14]. .......................................................... 20
Tabela 2.3. Valores de resistividade elétrica indicativos da probabilidade de
corrosão do concreto, segundo a CEB-192 e o boletim europeu COST 509
apud POLDER [32]. .................................................................................. 47
Tabela 2.4. Valores de resistividade elétrica mínimos requeridos em função do
tipo de ataque e da classe de exposição das estruturas (ANDRADE apud
SANTOS [14]). .......................................................................................... 47
Tabela 2.5. Probabilidade de ocorrência de corrosão da armadura em função
do potencial, tendo como referência diversos tipos de eletrodo. .............. 51
Tabela 2.6. Correlação entre os processos físicos e os elementos de circuito
elétrico [34]. .............................................................................................. 58
Tabela 2.7. Faixa de Variação da Composição Química da Lama Vermelha
[53]. ........................................................................................................... 73
Tabela 4.1. Quantidades de material a serem misturadas para a verificação
física da pozolanicidade, segundo a NP EN 4220. ................................... 94
Tabela 4.2. Proporção dos materiais necessária para moldagem dos corpos de
prova usados para determinar o índice de atividade pozolânica, de acordo
com a NBR 5752....................................................................................... 95
Tabela 4.3. Requerimentos de um material pozolânico (classe E), definidos
segundo a NBR 12653.............................................................................. 96
Tabela 4.4. Consumo de materiais e característica das misturas de concreto
utilizadas na segunda etapa do projeto. ................................................. 103
Tabela 4.5. Tipos, dimensões e número de corpos de prova utilizados em cada
idade, para cada ensaio e traço produzido. ............................................ 104
Tabela 5.1. Composição química do Cimento Portland CP-II 32 Z obtida pela
técnica de espectrometria por fluorescência de raios X.......................... 127
Tabela 5.2. Caracterização física do Cimento Portland CP-II 32 Z. ............... 127
xvi
Tabela 5.3. Composição química da lama vemelha, obtida pela técnica de
espectrometria de fluorescência de raios X (em óxidos). ........................ 129
Tabela 5.4. Resultados de caracterização física e de pH da lama vermelha
seca e desaglomerada. ........................................................................... 129
Tabela 5.5. Resultados de solubilização e lixiviação do resíduo de bauxita,
segundo as normas NBR 10004, NBR 10005 e NBR 10006................... 132
Tabela 5.6. Composição química da areia utilizada na produção das
argamassas obtida pela técnica de espectrometria por fluorescência de
raios X. .................................................................................................... 134
Tabela 5.7. Caracterização física da areia utilizada na produção das
argamassas............................................................................................. 134
Tabela 5.8. Graduação da areia utilizada em alguns ensaios específicos. .... 135
Tabela 5.9. Caracterização física da brita utilizada na produção dos corpos de
prova de concreto.................................................................................... 136
Tabela 5.10. Potencial hidrogeniônico (pH) de argamassas de cimento Portland
em função do teor de lama vermelha adicionado.................................... 139
Tabela 5.11. Requerimentos de um material pozolânico artificial (classe E),
definidos segundo a NBR 12653............................................................. 140
Tabela 5.12. Determinação do Índice de Atividade Pozolânica, segundo a
norma NP EN 4220. ................................................................................ 141
Tabela 5.13. Condutividade equivalente (λ0) de íons em solução aquosa com
concentração infinita a 25 °C (ADAMSON apud SHI [96]). ..................... 176
Tabela 5.14. Valores obtidos via espectroscopia de impedância eletroquímica
(EIE) para a resistência do concreto, Rb (ohms), em função dos diversos
teores adicionados de lama vermelha. .................................................... 195
Tabela 5.15. Valores obtidos via espectroscopia de impedância eletroquímica
(EIE) para a resistência do eletrodo, Re (= Rp, ohms), em função dos
diversos teores adicionados de lama vermelha....................................... 196
Tabela 5.16. Resultados do ensaio de solubilização em amostras de concreto
com 600 dias de idade, contendo lama vermelha como adição, realizado
de acordo com as normas NBR 10004 e NBR 10006. ............................ 198
xvii
Tabela 5.17. Resultados do ensaio de lixiviação em amostras de concreto com
600 dias de idade, contendo lama vermelha como adição, realizado de
acordo com as normas NBR 10004 e NBR 10005.................................. 200
xviii
xix
ÍNDICE DE FIGURAS
Pág.
Figura 2.1. Representação esquemática da estrutura do concreto [11]............. 7
Figura 2.2. Esquema da distribuição do tamanho de poros na pasta de cimento
endurecida (SIEBEERT apud FREIRE [9]). ................................................ 8
Figura 2.3. Mecanismo predominante de transporte de massa em função
transporte das dimensões de poros [12]. .................................................... 9
Figura 2.4. Representação esquemática do modelo de vida útil de estruturas de
concreto armado, proposto por TUUTTI apud SANTOS [14].................... 18
Figura 2.5. Causas físicas da deterioração do concreto [1]. ............................ 21
Figura 2.6. Causas químicas da deterioração do concreto [1]. ........................ 21
Figura 2.7. Variação da profundidade de carbonatação com o tempo e com a
relação água/cimento [15]......................................................................... 23
Figura 2.8. Representação esquemática da penetração de CO2 por difusão e
do processo de carbonatação [9].............................................................. 25
Figura 2.9. Representação esquemática da carbonatação parcial do concreto
em estrutura porosa não saturada [9]. ...................................................... 26
Figura 2.10. O efeito do pH na velocidade de corrosão do ferro, em água
aerada e em temperatura ambiente [20]. .................................................. 27
Figura 2.11. Processo básico de corrosão. ...................................................... 28
Figura 2.12. Representação gráfica da pilha eletroquímica da corrosão da
armadura no concreto [14]. ....................................................................... 28
Figura 2.13. Velocidade de corrosão em relação à concentração de oxigênio
dissolvido [20]. .......................................................................................... 32
Figura 2.14. Deterioração da corrosão das armaduras. (A) Penetração de
agentes agressivos; (B) fissuração devido às forças de expansão dos
produtos de corrosão; (C) lascamento do concreto e corrosão acentuada e;
(D) Redução significativa da seção da armadura (SHAFFER, apud
HELENE [15]). .......................................................................................... 34
Figura 2.15. Efeito da concentração de cloreto de sódio na taxa de corrosão
[20]. ........................................................................................................... 39
xx
Figura 2.16. Diagrama de Pourbaix simplificado para o sistema ferro-água com
Cl- (355 ppm) [14]. ..................................................................................... 40
Figura 2.17. Formas de ocorrência de íons cloreto na estrutura do concreto
[22]. ........................................................................................................... 40
Figura 2.18. Curvas relacionando umidade relativa e cloreto de sódio [20]. (1)
UR 58%; (2) UR 70%; (3) UR 80%; (4) UR 89%; (5) UR 94%; (6) UR 97%.
.................................................................................................................. 42
Figura 2.19. Representação esquemática do ensaio de migração de cloretos
(LOPES apud SANTOS [14]). ................................................................... 44
Figura 2.20. Diagrama de equilíbrio termodinâmico (diagrama de Pourbaix),
Potencial versus pH para o sistema ferro-H2O a 25°C. ............................. 49
Figura 2.21. Diagrama de Pourbaix simplificado para o sistema ferro-H2O a
temperatura de 25°C [14]. ......................................................................... 50
Figura 2.22. Diagrama de Evans característico [9]........................................... 52
Figura 2.23. Diagrama de Nyquist, com seu circuito equivalente, mostrando o
efeito da impedância difisional (SILVERMAN apud FREIRE [9]). ............. 55
Figura 2.24. Diagrama de Bode representando a impedância (módulo e ângulo
de fase) de um sistema eletroquímico de corrosão em função da
freqüência angular [34].............................................................................. 57
Figura 2.25. Circuito equivalente para concreto proposto por JOHN et al [36].
Rc: resistência do concreto; Rf e Cf: resistência e capacitância do filme;
Zd: impedância difusional; Rct e Cdl: resistência de transferência de carga
e capacitância de dupla camada. .............................................................. 58
Figura 2.26. Modelo de linhas de transmissão descrito para concreto armado
proposto por MACDONALD et al. apud FREIRE [9].................................. 58
Figura 2.27. Circuito equivalente para o concreto proposto por DHOUIBI-
HACHANI et al. [37]................................................................................... 59
Figura 2.28. Circuito equivalente com introdução de CPE. Re = resistência do
eletrólito; Rp = resistência de transferência de carga; CPE = elemento
constante de fases; ZD = difusão Warburg ............................................... 60
Figura 2.29. (A) Circuito equivalente simples do tipo Randles e; (B) Circuito
Randles modificado com duas constantes de tempo [40]. ........................ 61
xxi
Figura 2.30. Representação esquemática de (A) interface aço/concreto; (B)
Circuito elétrico equivalente (m=matriz e f=filme) e; (C) diagrama de
Nyquist correspondente [35]. .................................................................... 62
Figura 2.31. Circuito equivalente típico proposto por CHRISTENSEN et al. [41].
.................................................................................................................. 63
Figura 2.32. (A) Diagrama de Nyquist proposto por CHRISTENSEN et al. [41]
para o concreto armado e; (B) Ampliação da região de alta freqüência do
diagrama anterior. ..................................................................................... 64
Figura 2.33. Diagrama simplificado do processo Bayer para produção de
hidróxido de alumínio e alumina a partir da bauxita [49]. .......................... 71
Figura 3.1. Esquema das duas etapas que compõem o projeto experimental. 77
Figura 4.1. Moendas utilizadas para desagregação (a) primária (moinho de
mandíbula) e (b) secundária (galga) do resíduo. ...................................... 80
Figura 4.2. Caracterização e classificação de resíduos sólidos segundo a NBR
10004/2004. .............................................................................................. 88
Figura 4.3. Determinação da consistência argamassas contendo diversos
teores de lama vermelha. (A) Mesa de espalhamento (Flow Table) e; (B)
Viscosímetro Viskomat NT........................................................................ 91
Figura 4.4. Modelo de Bingham, utilizado na determinação da tensão de
escoamento (g) e da viscosidade plástica (h). .......................................... 93
Figura 4.5. Aparato utilizado para a medição do calor de hidratação das
argamassas contendo lama vermelha. ..................................................... 93
Figura 4.6. (A) Aparelho para medida do comprimento dos corpos de prova; (B)
amostras em água a 80ºC e; (C) amostras em solução de NaOH (1N).... 99
Figura 4.7. Modelo da curva de absorção capilar de água em função da raiz
quadrada do tempo, segundo a NBR 9779 para a determinação do
coeficiente de absorção capilar (Tg φ).................................................... 102
Figura 4.8. Molde para confecção dos corpos de prova prismáticos (50x70x90
mm3), utilizados para as medidas de potencial de corrosão e
espectroscopia de impedância................................................................ 104
Figura 4.9. Esquema e montagem do aparato para a realização do ensaio de
migração de cloretos............................................................................... 107
xxii
Figura 4.10. Realização do ensaio de migração de cloretos. ......................... 107
Figura 4.11. Correlação entre a condutividade elétrica e a concentração de íons
cloretos, obtida experimentalmente......................................................... 108
Figura 4.12. Esquema do processo de seleção de amostras para a realização
do ensaio de migração de cloretos (em escuro, a “fase brita”)................ 109
Figura 4.13. Esquema do gráfico padrão obtido no ensaio de migração de
cloretos, bem como a determinação do time lag (τ) e; início (∆) e fim () do
estado estacionário de difusão................................................................ 110
Figura 4.14. Câmara de carbonatação utilizada para acelerar o processo de
carbonatação dos corpos de prova de concreto...................................... 113
Figura 4.15. (A) Esquema do aparato utilizado no ensaio de resistividade
elétrica do concreto; (B) sonda utilizada e; (C) medição da corrente
elétrica..................................................................................................... 114
Figura 4.16. (A) Barras em solução de ácido clorídrico 1:1 com 3,5 g/L de
hexametilenotetramina; (B) imersão das barras em acetona e; (C)
secagem das barras com jato de ar quente. ........................................... 116
Figura 4.17. Célula eletroquímica montada para a medida do potencial de
corrosão das barras de aço. (A) imersa em solução de NaCl 3% e (B)
medida do potencial das barras. ............................................................. 117
Figura 4.18. (A) e (B) Esquema da delimitação da área de exposição da barra
e; (C) e (D) Posicionamento da barra no corpo de prova (adaptado de
SANTOS [14]). ........................................................................................ 118
Figura 4.19. (A) Conexão dos fios de cobre para a realização de medidas
eletroquímicas; (B) isolamento com fita e; (C) revestimento com resina
epóxi........................................................................................................ 119
Figura 4.20. Célula eletroquímica para a medida do potencial de corrosão das
barras. (A) Colocação da esponja para umedecimento superficial; (B)
Medida do potencial de corrosão da armadura no concreto, utilizando uma
esponja umedecida como contato. .......................................................... 120
Figura 4.21. Ciclo de medida do ensaio de medida de potencial de corrosão.
(A) Corpos de prova parcialmente imersos em solução de NaCl (3%)
durante 2 dias; (B) Corpos de prova em estufa a 50°C durante 5 dias. .. 122
xxiii
Figura 4.22. Aparato de borrifação de névoa salina, conhecido por Salt Spray.
................................................................................................................ 123
Figura 4.23. Aparato de medida do processo de corrosão via espectroscopia de
impedância eletroquímica (EIE). ............................................................. 125
Figura 5.1. Distribuição do tamanho de partículas do cimento Portland CP-II 32
Z da marca Itaú....................................................................................... 128
Figura 5.2. Difratograma de raios X do cimento Portland CP-II 32 Z da marca
Itaú. ......................................................................................................... 128
Figura 5.3. Distribuição do tamanho de partículas da lama vermelha seca e
desaglomerada (resultado médio de cinco determinações).................... 130
Figura 5.4. Difratograma de raios X da lama vermelha.................................. 130
Figura 5.5. Micrografias do resíduo de bauxita obtidas por microscopia
eletrônica de varredura (MEV), mostrando sua estrutura de flocos
misturada a placas soltas........................................................................ 131
Figura 5.6. Distribuição granulométrica da areia utilizada e limites que a
classificam como “areia média – faixa 3”, segundo a NBR 7211. ........... 134
Figura 5.7. Distribuição granulométrica da brita utilizada e limites que a
classificam como intermediária entre a “brita 0” e a “brita 1”, segundo a
NBR 7211. .............................................................................................. 136
Figura 5.8. Tempo de pega das pastas de cimento Portland em função do teor
de lama vermelha adicionado para as misturas preparadas com uma
quantidade fixa de água.......................................................................... 137
Figura 5.9. Tempo de pega de pastas de cimento Portland em função do teor
de lama vermelha para as misturas preparadas com quantidade variável
de água necessária para corrigir a consistência no estado fresco.......... 138
Figura 5.10. Diagrama para a determinação da pozolanicidade, de acordo com
a norma NP EN 196-5............................................................................. 143
Figura 5.11. Curvas de expansão das argamassas contendo lama vermelha
como adição, para a verificação da reação alcalis-sílica, de acordo com a
norma ASTM C 1260-07. ........................................................................ 145
xxiv
Figura 5.12. Micrografias óticas de amostras das argamassas de cimento
Portland: (A) e (B) sem a presença de resíduo (0%) e; (C) e (D) contendo
20% de resíduo como adição. ................................................................. 146
Figura 5.13. Índice de Consistência (trabalhabilidade) das argamassas de
cimento Portland, em função do teor de lama vermelha adicionada ou em
substituição ao cimento. .......................................................................... 148
Figura 5.14. Índice de retenção de água das argamassas de cimento Portland
em função do teor de lama vermelha adicionada ou em substituição ao
cimento.................................................................................................... 148
Figura 5.15. Reologia das argamassas de cimento Portland contendo lama
vermelha como adição, expressa em função do torque medido utilizando-
se o reômetro. ......................................................................................... 149
Figura 5.16. Valores de viscosidade plástica (h) e da tensão de escoamento (g)
das argamassas contendo diversos teores de lama vermelha, obtidos a
partir do Modelo de Bingham. ................................................................. 150
Figura 5.17. Calor de hidratação das argamassas contendo diversos teores de
lama vermelha. ........................................................................................ 151
Figura 5.18. Resistência à compressão axial de argamassas (28 dias) em
função do teor de lama vermelha adicionada ou em substituição ao
cimento.................................................................................................... 153
Figura 5.19. Densidade aparente das argamassas de cimento Portland (28
dias) em função do teor de lama vermelha adicionada. .......................... 155
Figura 5.20. Porosidade aparente das argamassas de cimento Portland (28
dias) em função do teor de lama vermelha adicionada. .......................... 155
Figura 5.21. Coeficientes de absorção capilar de argamassas (28 dias) em
função do teor de lama vermelha adicionada ou em substituição ao
cimento.................................................................................................... 156
Figura 5.22. (A) Porosidade e (B) densidade aparentes das amostras de
concreto (28 dias) em função do teor de lama vermelha adicionada. ..... 158
Figura 5.23. Distribuição do tamanho de poros em amostras de concreto (28
dias) em função do teor de lama vermelha adicionada. .......................... 159
xxv
Figura 5.24. Coeficientes de absorção capilar de amostras de concreto (28
dias) em função do teor de lama vermelha adicionada........................... 160
Figura 5.25. Resistência à compressão axial do concreto em função (A) do teor
de lama vermelha adicionada e (B) da idade dos corpos de prova. ....... 161
Figura 5.26. Evolução da concentração de cloreto na solução presente na
célula anódica em função do tempo, para ensaios de migração de cloretos
(∆ = início do estado estacionário e = final do estado estacionário). ... 163
Figura 5.27. Valores de “time lag” (τ), estimados a partir de ensaios de
migração de cloretos, em função do teor de lama vermelha adicionado ao
concreto. ................................................................................................. 164
Figura 5.28. Fluxo de íons cloreto (JCl), estimado a partir de ensaios de
migração de cloretos, em função do teor de lama vermelha adicionado ao
concreto. ................................................................................................. 165
Figura 5.29. Coeficientes de difusão nos estados estacionário e não
estacionário, calculados a partir de ensaios de migração de cloretos, em
função do teor de lama vermelha adicionado ao concreto...................... 166
Figura 5.30. Relação entre o tempo de vida útil e a penetração de cloretos
(espessura em que a concentração de cloretos atinge 0,4%). ............... 168
Figura 5.31. Relação entre o tempo de vida útil e o teor de resíduo adicionado,
estimado em função do ensaio de migração de cloretos. ....................... 168
Figura 5.32. Verificação da região carbonatada do concreto, indicada pela
reação da fenolftaleína aos (A) 7 dias, (B) 14 dias e (C) 28 dias. Da
esquerda para a direita, em cada uma das fotos: 0%, 10%, 20% e 30% de
adição da lama vermelha. ....................................................................... 170
Figura 5.33. Continuação da verificação da região carbonatada do concreto,
indicada pela reação da fenolftaleína aos (A) 52 dias, (B) 91 dias e (C) 180
dias. Da esquerda para a direita, em cada uma das fotos: 0%, 10%, 20% e
30% de adição da lama vermelha........................................................... 171
Figura 5.34. Resistência à flexão dos corpos de prova de concreto contendo
diversos teores de lama vermelha adicionados, submetidos a um ambiente
saturado de CO2, em função da idade. ................................................... 173
xxvi
Figura 5.35. Micrografias (A) da amostra carbonatada de concreto e (B) da
região interfacial da zona carbonatada com a não carbonatada de concreto
contendo 30% de adição da lama vermelha............................................ 174
Figura 5.36. Evolução da resistividade elétrica do concreto contendo diversos
teores de lama vermelha, em função da idade........................................ 175
Figura 5.37. Correlação entre os coeficientes de difusão e a resistividade
elétrica medida aos 21 dias de idade em corpos de prova de concreto
contendo diversos teores de lama vermelha, mantidos em ambiente úmido.
................................................................................................................ 178
Figura 5.38. Evolução do potencial de corrosão das barras de armadura dos
corpos de prova de concreto contendo adição de lama vermelha em
diversos teores, em função da idade, obtidos pelo método de
envelhecimento por ciclos. ...................................................................... 179
Figura 5.39. Período de iniciação de corrosão das barras de aço inseridas nos
corpos de prova de concreto armado, em função do teor de lama vermelha
adicionada. .............................................................................................. 181
Figura 5.40. Taxa de corrosão das barras de aço inseridas nos corpos de prova
de concreto armado, calculados após o término do teste de potencial de
corrosão (método de envelhecimento por ciclos), em função do teor de
lama vermelha adicionada....................................................................... 182
Figura 5.41. Evolução do potencial de corrosão das barras de armadura dos
corpos de prova de concreto contendo adição de lama vermelha em
diversos teores, em função da idade, obtidos pelo método de
envelhecimento por névoa salina. ........................................................... 183
Figura 5.42. Taxas de corrosão das barras de aço inseridas nos corpos de
prova de concreto armado, calculadas após o término do teste de potencial
de corrosão (método de envelhecimento por névoa salina), em função do
teor de lama vermelha adicionada. ......................................................... 184
Figura 5.43. Correlação entre a resistividade elétrica e a taxa de corrosão
obtida por meio da técnica de potencial de corrosão pelos métodos de
envelhecimento (A) por ciclos e (B) por névoa salina. ............................ 185
xxvii
Figura 5.44. Correlação entre os coeficientes de difusão e a taxa de corrosão
obtida por meio da técnica de potencial de corrosão pelos métodos de
envelhecimento (A) por ciclos e (B) por névoa salina. ............................ 186
Figura 5.45. Evolução dos espectros de impedância (diagramas de Nyquist e
Bode) obtidos em concreto de referência (0%) e com diversos teores de
lama vermelha adicionada, com idade de (A) 1 mês, (B) 2 meses e, (C) 3
meses. .................................................................................................... 188
Figura 5.46. Evolução dos espectros de impedância (diagramas de Nyquist e
Bode) obtidos em concreto de referência (0%) e com diversos teores de
lama vermelha adicionada, com idade de (A) 5 meses, (B) 7 meses e, (C)
9 meses. ................................................................................................. 189
Figura 5.47. Evolução dos espectros de impedância (diagramas de Nyquist e
Bode) obtidos em concreto de referência (0%) e com diversos teores de
lama vermelha adicionada, com idade de (A) 11 meses e, (B) 13 meses.
................................................................................................................ 190
Figura 5.48. Circuitos elétricos equivalentes propostos para a interface aço-
concreto, segundo (A) análise geral e (B) análise por arcos
individualizados (circuito simplificado). ................................................... 191
Figura 5.49. Exemplos de correlação entre as capacitâncias e freqüências
características de cada um dos fenômenos observados via EIE para as
amostras de concreto de referência (A) e contendo a adição de 10% de
lama vermelha (B)................................................................................... 193
Figura 5.50. Exemplos de correlação entre as capacitâncias e freqüências
características de cada um dos fenômenos observados via EIE para as
amostras de concreto contendo a adição de (A) 20% e (B) 30% de lama
vermelha. ................................................................................................ 194
xxviii
xxix
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais
ACI American Concrete Institute
ASTM American Society for Testing and Materials Standards
BET Brunauer, Emmett e Teller - Ensaio para determinação de área
superficial específica
BSE Back scatered electrons - Elétrons retroespalhados
CEB Comitê Euro-international du Béton
CEMBUREAU European Cement Association
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CP Cimento Portland
CPE Constant Phase Element
DA Densidade aparente
DRX Difração de Raios X
Ds Coeficiente de Difusão no Estado Estacionário
Dns Coeficiente de Difusão no Estado Não-estacionário
E Campo elétrico
EIE Espectroscopia de Impedância Eletroquímica
eV Eletron-volt
EDS Energy Dispersive Spectroscopy - Espectroscopia de energia
dispersiva
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FRX Fluorescência de Raios X
Hg Mercúrio
Hz Hertz (s-1)
H2 Hidrogênio
H2O Água
JCPDS Joint Committe on Power Diffraction Standards
xxx
KV Quilovolt (103 volts)
L Comprimento do corpo de prova
mA Miliàmpere
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
MgO Óxido de Magnésio
Min Minuto
MPa Megapascal
Ms Massa seca
Mu Massa úmida
Mi Massa imersa
n Número inteiro correspondendo à ordem de difração
NBR Norma Brasileira
NBRI National Building Research Institute
NM Norma Mercosul
N2 Nitrogênio
P Carga máxima suportada pelo corpo de prova
PC Penetração de Cloretos
PF Perda ao Fogo
pH Potencial hidrogeniônico
PA Porosidade aparente
Pap Pressão aplicada
RAA Reação álcalis-agregado
RAS Reação álcalis-sílica
Rc Resistência mecânica à compressão
Ri Raio de intrusão de mercúrio.
RT Resistência mecânica à tração por compressão diametral
SE Secondaries electrons - Elétrons secundários
SNIC Sindicato Ancional das Indústrias de Cimento
T Temperatura
ΔT Variação de temperatura
t Tempo
UR Umidade Relativa do ar
xxxi
UV Ultravioleta
VMP Valor Máximo Permitido
W Watts
% Porcentagem
°C Grau Celsius
γLV Energia de interface mercúrio-ar
φ Diâmetro do corpo de prova
θ Ângulo de difração de raios X
λ Comprimento de onda
ρ Densidade do material
ρL Densidade do líquido
ρmist. Densidade da mistura seca
ρres. Densidade do resíduo
φ Coeficiente de absorção capilar (Kg/m2.min0,5)
τ Time-lag
xxxii
1
1 INTRODUÇÃO
A corrosão das armaduras do concreto armado é um problema mundial
e de graves conseqüências ao ser humano, inclusive com mortes das vítimas
das tragédias ocorridas devido a este processo degradativo. A justificativa mais
cômoda para se explicar problemas associados à corrosão é atribuir o fato à
falta de cobrimento adequado de concreto, tomando como referência as
normas técnicas que tratam do tema. Assim, o uso de técnicas que mensurem
a corrosão das armaduras do concreto armado e que contribuam para a
previsibilidade e a verificação da confiabilidade destas técnicas são tarefas
árduas.
Outro foco de preocupação da sociedade moderna é a grande
quantidade de resíduos gerada pela atividade humana. Segundo levantamento
realizado pela FIESP, em parceria com a Abrelpe (Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), em 2008, o Brasil gerou
cerca de 86,5 milhões de toneladas de resíduos industriais, sendo 4,1 milhões
de toneladas de resíduos industriais perigosos. Dentre os perigosos, apenas
28% são tratados, destinados e dispostos adequadamente, sem causar danos
ao meio ambiente. O restante, cerca de 2,95 milhões de toneladas, a cada ano,
é jogado em lixões a céu aberto ou despejados em cursos d’água. Dentro
desse contexto, a destinação dos resíduos industriais sólidos é motivo de
crescente preocupação dos órgãos ambientais, que através de fiscalização,
têm obrigado as empresas a cuidarem minuciosamente do acondicionamento
de seus resíduos durante todo o processo, desde sua correta classificação,
tratamento, coleta, transporte, até a sua destinação final. É com o propósito de
dar uma destinação final adequada e mens onerosa a estes resíduos que a sua
utilização alternativa em materiais de construção vem sendo desenvolvida.
Entre todos estes resíduos está o resíduo da bauxita, também conhecido
como lama vermelha, um sub-produto gerado no beneficiamento da bauxita,
através do processo Bayer. Suas características de elevada alcalinidade,
inicialmente fator de preocupação ambiental, surge como principal trunfo na
2
tentativa de utilizá-lo como inibidor de corrosão em concreto armado, mantendo
sua passividade.
Para avaliar esta possibilidade de utilização, neste trabalho, a armadura
do concreto armado teve sua corrosibilidade verificada por meio das técnicas
de medida do potencial de corrosão, ensaio de migração de cloretos,
profundidade de carbonatação, espectroscopia de impedância eletroquímica e
resistividade.
Foi analisada também a influência da adição do resíduo quanto às
questões ambientais. Para isso, os concretos com 600 dias (20 meses) de
idade foram submetidos aos ensaios de lixiviação e solubilização, segundo a
NBR 10004:2004.
Por meio da análise dos resultados, em comparação com amostras de
referência (sem adição do resíduo), pretendeu-se determinar a viabilidade do
resíduo como adição à matriz de cimento Portland, proporcionando uma
destinação adequada e menos onerosa.Dessa forma, buscou-se uma
alternativa para dois grandes problemas atuais: a corrosão em concreto
armado, que consome milhões de dólares da sociedade com a manutenção e a
revitalização de estruturas, e o passivo ambiental provocado pela disposição de
resíduos sólidos industriais, uma das maiores questões a serem resolvidas
neste século.
3
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Concreto de Cimento Portland
O cimento Portland pode ser definido como um aglomerante hidráulico
produzido pela moagem do clínquer, que consiste essencialmente de silicatos
de cálcio hidráulicos, usualmente com uma ou mais formas de sulfato de cálcio
como um produto de adição. Os clínqueres são nódulos de 5 a 25 mm de
diâmetro, produzido quando uma mistura de matérias-primas de composição
pré-determinada é aquecida a altas temperaturas [1, 2].
Inicialmente chamado de cimento Portland devido à semelhança da
dureza e cor do produto com a pedra da Ilha de Portland, Inglaterra,
empregada nas construções daquela época, é atualmente manufaturado em
todo o mundo, com uma produção que excede 2,8 bilhões de toneladas
anualmente [3], de acordo com dados da European Cement Association
(CEMBUREAU) e do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). O
Brasil ocupa a sexta posição na produção mundial de cimento, ficando atrás da
China (33,49%), Estados Unidos (5,62%), Índia (5,60%), Japão (5,13%) e
Coréia do Sul (3,54%), e possuindo um parque industrial de última geração e
alto grau de desenvolvimento, comparável aos principais produtores mundiais.
O consumo anual de cimento per capita, no Brasil, está em torno de 267
kg/habitante [4].
Sendo os silicatos de cálcio os principais constituintes do cimento
Portland, as matérias-primas para a produção do cimento devem suprir cálcio e
sílica em formas e proporções adequadas. Os materiais de carbonato de cálcio,
que ocorrem naturalmente como pedra calcária e mármore são as fontes
industriais comuns de cálcio, contendo ainda argila e dolomita (CaCO3.MgCO3)
[1, 5].
As argilas são fontes de alumina (Al2O3), sílica (SiO2) e, freqüentemente,
óxidos de ferro (Fe2O3) e álcalis. A presença de Al2O3, Fe2O3, MgO e álcalis na
4
mistura de matérias-primas tem um efeito mineralizante na formação de
silicatos de cálcio; isto é, ajuda na formação de silicatos de cálcio a
temperaturas consideravelmente mais baixas do que seria possível de outro
modo. Como resultado, além de silicatos de cálcio, o produto final também
contém aluminatos e ferroaluminatos de cálcio [1].
Para facilitar a formação dos compostos desejados no clínquer de
cimento Portland, é necessário que a mistura de matérias-primas esteja bem
homogeneizada antes do tratamento térmico. Isto explica porque os materiais
extraídos têm que ser submetidos a uma série de operações de britagem,
moagem e mistura.
As matérias-primas são moídas em moinho de bolas ou de rolo até
partículas geralmente menores que 75 μm, sendo a mistura assim obtida
denominada por “farinha”. Essa mistura é processada em fornos rotativos onde
a temperatura máxima alcançada gira em torno de 1450 °C, ocorrendo a
formação do clínquer. Após o resfriamento, aproximadamente 5% de gipsita
(ou de sulfato de cálcio) é usualmente moído juntamente com o clínquer com a
finalidade de controlar as reações iniciais de pega e endurecimento do cimento
[1, 2, 6].
Devido à importância do cimento na construção civil, sua hidratação tem
sido intensivamente estudada. As reações químicas são complexas devido à
natureza polimineral do clínquer de cimento e à presença de aditivos, além de
uma cinética de reação complexa [7].
Os produtos de hidratação do cimento Portland incluem fases cristalinas e
amorfas. Assim como a mineralogia define as propriedades químicas do
sistema, a microestrutura define suas propriedades físicas (resistência,
permeação e percolação) [8].
Costuma-se expressar os compostos individuais dos óxidos do clínquer
usando-se as abreviações apresentadas na Tabela 2.1.
Os principais compostos responsáveis pela resistência mecânica do
cimento Portland são o C3A (primeiras 24 horas), C3S (até os 28 dias) e C2S (a
partir de 45 dias).
5
O concreto de cimento Portland é atualmente o material manufaturado
mais utilizado no mundo e, a julgar pelas tendências mundiais, o futuro destes
materiais parece ser ainda mais promissor, pois, para a maioria das aplicações,
oferece propriedades adequadas a um baixo custo.
Tabela 2.1. Abreviações utilizadas para os principais óxidos do clínquer e
compostos do cimento Portland [1].
Óxido Abreviação Composto Abreviação
CaO C 3CaO.SiO2 C3S
SiO2 S 2CaO.SiO2 C2S
Al2O3 A 3CaO.Al2O3 C3A
Fe2O3 F 4CaO.Al2O3.Fe2O3 C4AF
MgO M 4CaO.3Al2O3.SO3 C4A3S
SO3 ⎯S 3CaO.2SiO2.3H2O C3S2H3
H2O H CaSO4.2H2O C⎯SH2
O concreto é um material composto que consiste essencialmente de um
meio contínuo aglomerante, dentro do qual estão mergulhadas partículas ou
fragmentos de agregados. No concreto de cimento hidráulico, o meio
aglomerante é composto por uma mistura de cimento hidráulico e água.
Assim, os compostos que compõem basicamente o concreto são: cimento
Portland, agregados - miúdo (areia) e graúdo (brita) - e água.
A combinação das características do aço (resistência à tração e flexão) e
do concreto (elevada resistência à compressão axial) tem tornado o concreto
armado um dos principais e mais populares materiais do mundo. Soma-se a
isso o fato do concreto e do aço serem materiais de construção compatíveis,
não apresentando problemas quanto a dilatação térmica.
Uma das grandes vantagens do concreto armado é que ele pode, por
natureza e desde que bem executado, proteger a armadura da corrosão. Um
bom cobrimento das armaduras com um concreto de alta compacidade, com
6
composição adequada e homogênea garante, por impermeabilidade, a
proteção do aço ao ataque de agentes agressivos externos. Essa proteção
baseia-se no impedimento da formação de células eletroquímicas, através de
proteção física e química, principalmente devido ao elevado pH do cimento.
A espessura do cobrimento da armadura é um fator importante de
controle da movimentação dos íons agressivos: quanto maior a espessura,
maior o intervalo de tempo até que as concentrações dos íons atinjam a
armadura. Assim, a qualidade do concreto quanto à baixa penetrabilidade e a
espessura do cobrimento atuam em conjunto [9].
Existem diferentes causas de deterioração das estruturas de concreto,
como a corrosão das barras de reforço devido à carbonatação ou entrada de
agentes agressivos, tais como cloro, ataque por sulfatos, reação álcali-
agregado, dentre outros. O impacto econômico do problema da durabilidade
conduz a uma pesquisa extensiva de três décadas e tem iniciado os caminhos
para a produção de concretos mais duráveis ou estruturas de concreto
reforçadas.
2.1.1 Estrutura dos Poros do Concreto
Apesar da aparente simplicidade do concreto, há várias dificuldades em
se entender os mecanismos de formação deste material, como o fato do
concreto ter uma estrutura altamente complexa, devido principalmente a uma
distribuição heterogênea de muitos componentes sólidos, além de vazios; o
fato da estrutura do concreto não ter uma propriedade estática, além de que,
ao contrário do que ocorre com outros materiais que são entregues em sua
forma final, o concreto é freqüentemente manufaturado em canteiros de obras
[10].
Na Figura 2.1 é mostrada, esquematicamente, a estrutura do concreto e
os possíveis caminhos formados em seu interior durante o processo de
hidratação da pasta de cimento. O desempenho do concreto é altamente
dependente da estrutura e da distribuição do tamanho de poros, em particular
sua durabilidade e resistência à penetração de agentes agressivos, tais como
7
os íons cloreto. Segundo SONG [11], estes caminhos internos podem ser
classificados em:
• Caminho condutivo contínuo (CCP), que permite a passagem
decorrente elétrica;
• Caminho descontínuo (DCP) onde, devido à sua descontinuidade,
não há passagem de corrente no interior do concreto;
• Caminho isolante (ICP) que, conforme a quantidade de água e os
produtos de hidratação no interior dos poros do concreto, pode ou não
conduzir correntes.
Figura 2.1. Representação esquemática da estrutura do concreto [11].
Estes vazios e caminhos na estrutura do concreto são decorrentes do uso
de água na massa em quantidade superior à necessária para a hidratação do
cimento e cujo excesso, ao evaporar, deixa vazios, em virtude da diminuição
8
dos volumes absolutos e também da inevitável incorporação de ar à massa do
concreto.
Estes vazios ou poros formam uma rede conectada com o exterior que é
relevante no processo de transporte de gases, água e substâncias agressivas
dissolvidas para o interior do concreto. A destruição do concreto e a corrosão
das armaduras dependem desta estrutura de poros, na qual os mecanismos de
degradação se fundamentam.
O tamanho dos poros na pasta de cimento varia dentro de algumas
ordens de grandeza e, de acordo com SIEBEERT apud FREIRE [9], podem ser
classificados em: poros de ar aprisionado (decorrentes dos processos de
adensamento do concreto); poros de ar incorporado (obtidos quando do
emprego de aditivos incorporadores de ar); poros capilares (oriundos da saída
de água livre do concreto) e; poros de gel (devidos à água de gel), sendo os
três primeiros tipos os de maior influência na durabilidade, conforme o
esquema apresentado na Figura 2.2.
Figura 2.2. Esquema da distribuição do tamanho de poros na pasta de cimento
endurecida (SIEBEERT apud FREIRE [9]).
Poros com dimensões maiores que 0,1 micrometros (10-7 m) contribuem
para o transporte de massa por difusão, migração iônica, capilaridade e
9
permeabilidade, enquanto que os poros menores influem apenas no processo
de difusão gasosa e de difusão e migração iônicas, conforme mostra a Figura
2.3.
Figura 2.3. Mecanismo predominante de transporte de massa em função
transporte das dimensões de poros [12].
Os principais responsáveis pela penetração de agentes agressivos no
interior do concreto são os poros capilares que geralmente são interligados e,
portanto, favorecem o transporte das substâncias agressivas [13]. A velocidade
do transporte destas substâncias no interior do concreto, no entanto, é
determinada pela distribuição dos diâmetros médios dos poros [14].
Ao redor das armaduras e das partículas de agregado formam-se filmes
duplos de transição com espessura da ordem de micrometros. Diretamente
sobre essas superfícies forma-se uma fina camada de Ca(OH)2 (hidróxido de
cálcio) e na superfície das barras da armadura, o óxido de ferro reage com o
hidróxido de cálcio para formar ferrito de cálcio, o qual faz parte do filme que
passiva, ou protege, o aço contra a corrosão. No interior da rede do concreto,
os poros são ocupados pela fase aquosa do mesmo, contendo componentes
iônicos como OH-, Na+, Ca2+, K+ e SO42-, liberados pelas reações de hidratação
ou de cura. Os íons OH-, presentes nos compostos NaOH e KOH, são os
10
principais responsáveis pela elevação da alcalinidade do concreto. A fase
líquida ou aquosa do concreto apresenta pH entre 12,5 e 13,5, favorecendo a
formação da camada de óxido férrico passivante, compacta e aderente à
superfície da armadura (ACI apud FREIRE [9]).
2.1.2 Principais Mecanismos de Transporte no Concreto
Entre os mecanismos de transporte de líquidos e gases no concreto,
pode-se destacar como mais influentes no fenômeno de corrosão: a
permeabilidade, a absorção capilar, a difusão e a migração iônica.
a) Permeabilidade
A permeabilidade é definida como o fluxo de um fluido devido a um
gradiente de pressão, sendo caracterizada pela facilidade com que um fluido
atravessa um sólido poroso sob uma diferença de pressão [14].
A permeabilidade do concreto de cobrimento para misturas preparadas
com agregados densos (salvo a existência de fissuras) é fortemente
determinada pela permeabilidade da pasta de cimento. Por sua vez, a
permeabilidade da pasta de cimento depende da relação água/cimento e do
grau de hidratação do mesmo. A permeabilidade da pasta com 1 dia de idade
pode ser dez mil vezes superior à permeabilidade da mesma pasta com 7 dias
e cerca de um milhão de vezes maior que aos 28 dias (NEVILLE apud
HELENE [15]).
A permeabilidade aos gases de boas argamassas e concretos é tão
baixa, que são raras as determinações precisas dessa propriedade. Sob iguais
gradientes de pressão, o oxigênio deve penetrar através do concreto mais
rapidamente que o CO2, vapor de água, devido às suas características
moleculares, mas dificilmente os gradientes de pressão são elevados (RILEM
apud HELENE [15]). A pressão parcial dos gases agressivos no ar é muito
baixa (para o CO2 é da ordem de 10-3 atm), pois depende de sua concentração
no ar, que também é baixa comparativamente à concentração do O2 e do N2.
O dióxido de carbono parece não penetrar no concreto além da zona
carbonatada, sendo sua pressão de contato proporcional ao teor de CO2 na
11
atmosfera. A permeabilidade do CO2 diminui com a carbonatação do concreto,
que tende a preencher os poros e capilares.
Espera-se que o ingresso de cloretos por permeabilidade ocorra de forma
indireta, por meio da penetração da água na qual estão dissolvidos [14].
O coeficiente de permeabilidade é obtido aplicando a lei de Darcy para
um fluxo laminar, estacionário e não-turbulento através de um meio poroso, de
acordo com a equação (2.1):
LHAKV h
f..
= (2.1)
Onde Vf é a velocidade de escoamento do fluido (m3/s), Kh é a
permeabilidade hidráulica (m/s), A é a seção do meio poroso (m2), H é a altura
da coluna d’água (m), e L é o comprimento da amostra (m).
Nos concretos, a permeabilidade aos gases diminui em ambientes
úmidos, pois, além da eventual formação superficial de microfissuras de
retração, a umidade e a água presentes nos poros dificultam o movimento dos
gases. Daí o fato consagrado de observarem-se maiores profundidades de
carbonatação em ambientes secos (UR < 80%), ou submetidos a ciclos de
secagem e umedecimento (RILEM apud HELENE [15]).
b) Absorção Capilar A absorção capilar é definida como o fluxo de um fluido devido a um
gradiente de umidade. Uma outra definição para este mecanismo é o
transporte de líquidos devido à tensão superficial atuante nos poros capilares
do concreto.
A absorção de água no concreto é um dos fatores mais difíceis de serem
controlados. Em princípio, quanto menor o diâmetro dos capilares, maior as
pressões capilares e, conseqüentemente, maior e mais rápida a absorção. Este
fenômeno é comprovado pela equação de Young (2.2).
0cos =−+ SGLGSL γθγγ (2.2)
12
Sendo γSL, γLG, γSG a tensão superficial sólido-líquido, líquido-gás e sólido-
gás, respectivamente e θ o ângulo de molhamento.
Segundo HELENE [15], reduções na relação água/cimento parecem
contribuir para reduzir a absorção, porém, à medida que tornam o concreto
mais denso e compacto, diminuem o diâmetro dos capilares e, desde que estes
sejam intercomunicáveis, podem aumentar a absorção capilar (altura da
coluna). No outro extremo, concretos porosos absorvem pouca água por
capilaridade, mas acarretam outros problemas insuperáveis de permeabilidade
e carbonatação acentuada.
A absortividade do material (S), pode ser obtida a partir de resultados
experimentais (equação 2.3), onde A é um termo constante, i é o volume
acumulado de água absorvida por unidade de área, e t é o tempo.
21
.tSAi += (2.3)
Em termos práticos, a absortividade (ou coeficiente de absorção capilar) é
obtida experimentalmente utilizando-se a declividade da parte reta da curva de
i (volume acumulado de água absorvida por unidade de área) versus a raiz
quadrada do tempo, obtida no ensaio de absorção.
Deve-se levar em consideração também o grau de saturação do concreto,
ou seja, não há absorção de água em concretos saturados. Portanto,
admitindo-se que não haja pressões externas, aparentemente não há risco de
penetração de agentes agressivos em concretos saturados e o fenômeno
passa a ser de permeabilidade. Caso a penetração ocorra, esse fato pode ser
explicado pelo fenômeno de difusão, desde que haja um gradiente de
concentração considerável.
c) Difusão A difusão é o processo de transporte de substâncias de um meio para
outro devido a uma diferença de potencial químico, muitas vezes de
concentração. A difusão é um processo espontâneo de transporte de massa
13
por efeito de gradientes de concentração proporcionado por dois diferentes
meios em contato íntimo através dos quais a substância se difunde para igualar
as concentrações.
Este fenômeno ocorre tanto para substâncias presentes em meio líquido
como para aquelas em meio gasoso. Os dois principais agentes agressivos que
comprometem as armaduras do concreto, os íons cloreto e o CO2, têm a sua
penetração controlada por este fenômeno. Além disso, a penetração do
oxigênio, substância essencial para o progresso do processo catódico, também
se dá por difusão [14].
É raro que uma diferença de pressão considerável seja exercida sobre a
estrutura para que ocorra o efeito da absorção, que é tipicamente limitado a
uma região superficial da espessura do cobrimento. Desta forma, o mecanismo
predominante de penetração de agentes agressivos é a difusão. Pode-se
afirmar que este mecanismo de penetração possui considerável influência no
período de iniciação da corrosão [16].
Assim, são definidos dois estágios distintos do fluxo por difusão: o estágio
estacionário, caracterizado pelo fluxo constante das substâncias em difusão, e
o estágio não estacionário no qual o fluxo é dependente do tempo e da
profundidade de penetração. Estes estágios podem ser representados pela
primeira e segunda leis de Fick, respectivamente.
Os coeficientes de difusão específicos para cada estágio podem ser
obtidos por meio da equação (2.4), no caso do coeficiente de difusão no estado
estacionário (ou coeficiente de difusão efetivo) e utilizando-se as equações
(2.5) e (2.6) para o cálculo do coeficiente de difusão no estado não-
estacionário, também chamado de coeficiente de difusão aparente.
xCDqm ∂
∂−= (2.4)
2
2
xCD
tC
∂∂
−=∂∂ (2.5)
Que tem como solução:
14
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−=
tDxerfCtxC S .2
1),( (2.6)
,onde qm representa o fluxo de massa, x é a profundidade onde se mede
a quantidade de massa que penetrou, C é a concentração, D é o coeficiente de
difusão, C(x,t) é a concentração da substância a uma distância x, em um tempo
t e Cs é a concentração superficial da substância em difusão.
No caso da difusão de cloretos no concreto, o estado não-estacionário da
difusão representa o período em que o transporte dos íons através do concreto
ocorre de forma combinada com a sua fixação às fases do cimento, enquanto
que o estágio estacionário refere-se ao período em que a fixação não ocorre
mais e o fluxo dos íons cloreto se dá em uma taxa constante (CASTELLOTE
apud SANTOS [14]).
De uma maneira geral, a difusividade de líquidos e gases no concreto
depende da concentração desta substância na superfície do concreto, da
variação da temperatura, da microestrutura do concreto e das interações
destas substâncias com os constituintes do cimento e os produtos da
hidratação. Neste sentido, são parâmetros importantes a composição química e
a porosidade da pasta de cimento endurecida. O coeficiente de difusão é
função de muitas variáveis: da porosidade, da relação água/cimento, do teor de
cimento, da composição química do cimento, da umidade relativa, e da
temperatura [17].
Quando ocorre a difusão do CO2 no concreto, este gás se dissolve na
solução aquosa dos poros e reage com o hidróxido de cálcio também
dissolvido na fase aquosa do concreto. Estas reações são responsáveis pela
redução do pH do concreto e, conseqüentemente, pela corrosão das
armaduras devido à carbonatação [14].
15
d) Migração Iônica A migração iônica é o processo de transporte que ocorre quando existe
um potencial elétrico que possibilita o deslocamento dos íons presentes para
que se neutralize o efeito da diferença de potencial [14].
Segundo NEPOMUCENO apud SANTOS [14], este fenômeno pode
ocorrer em estruturas suporte de veículos que utilizam corrente elétrica para a
sua movimentação (dormente de metrô), em estruturas de concreto com
proteção catódica por corrente impressa ou em estruturas submetidas à
extração de cloretos e à realcalinização pela aplicação de uma diferença de
potencial.
ANDRADE [18] propôs uma metodologia para calcular o coeficiente de
difusão, parâmetro que pode caracterizar o concreto e prever a sua resistência
à difusão iônica. Esta metodologia utiliza um mecanismo de transporte
freqüentemente utilizado em ensaios acelerados para avaliar a resistência à
penetração dos íons cloreto no concreto conforme a ASTM C 1202.
Como as leis de Fick não são apropriadas para modelar o fenômeno da
migração, ANDRADE [18] propôs a utilização da equação de Nernst-Planck
que é utilizada no mecanismo de transporte em eletrólitos (equação (2.7)).
)()()()()( xVC
xxECD
RTFz
xxCDxJ iii
iiii +
∂∂
+∂
∂=− (2.7)
onde, Ji é o fluxo da espécie iônica, Di é o coeficiente de difusão, Ci(x) é a
concentração da espécie iônica (i) em função da profundidade (x), zi é a
valência da espécie iônica, F é a constante de Faraday, R é a constante
universal dos gases, T é a temperatura, E(x) é o potencial elétrico aplicado em
função da profundidade e Vi(x) é a velocidade de convecção de i.
Conceitualmente, a equação (2.7) pode ser escrita como:
Fluxo = difusão pura + migração elétrica + convecção (2.8)
16
ANDRADE [18] considerou em seus estudos que a parcela da difusão
pura é desprezível em comparação ao efeito de migração, o que é razoável
para diferenças de potencial suficientemente altas (10 a 15 V). Assim,
assumindo-se a situação onde não há convecção, isto é, não existem
gradientes de pressão ou umidade, a equação (2.7) resume-se a:
)()()(
xxECD
RTFzxJ ii
ii ∂
∂−= (2.9)
SANTOS [14] utilizou-se dos ensaios de migração para o cálculo do
coeficiente de difusão aparente ou não estacionário (Dap) utilizando-se o
conceito de time-lag em uma solução analítica que relaciona os resultados
obtidos em ensaio de difusão natural e em ensaios acelerados de migração.
O time-lag (τ) caracteriza o período de tempo em que a difusão se
mantém no regime não estacionário e, no caso do transporte dos cloretos, é
definido como o tempo em que estes íons levam para estabelecer um fluxo
constante através do concreto em ensaios de migração ou difusão [14].
2.2 Durabilidade e Vida Útil do Concreto
Devido às suas interações com o ambiente no qual estão expostas, as
estruturas de concreto sofrem alterações que podem, com o passar do tempo,
comprometer a sua estabilidade e a sua funcionalidade.
A NBR 6118 (2003) define durabilidade como a capacidade da estrutura
de resistir às influências previstas e definidas em conjunto pelo autor do projeto
estrutural e o contratante, no início dos trabalhos de elaboração do projeto.
Segundo esta norma brasileira, as estruturas de concreto armado devem
ser projetadas e construídas de modo que, sob as condições ambientais
previstas e quando utilizadas conforme preconizado em projeto, conservem sua
segurança, sua estabilidade e sua aptidão em serviço durante o período
correspondente à sua vida útil.
17
A durabilidade também é definida por instituições internacionais. O código
FIP-CEB (Comitê Euro-international du Béton) de 1997 a define como a
capacidade da estrutura em oferecer o desempenho requerido durante um
período de vida útil desejado, de acordo com a influência dos fatores de
degradação. O Comitê 201 do American Concrete Institute (ACI) define
durabilidade do concreto de cimento Portland como a sua capacidade de
resistir à ação das intempéries, ataques químicos, abrasão ou qualquer outro
processo de deterioração.
Portanto, o concreto é considerado durável quando desempenha as
funções que lhe foram atribuídas, mantendo a resistência e a utilidade
esperada, durante um período previsto [19]. Como qualquer tipo de material, a
elevada durabilidade do concreto não implica em uma vida indefinida, nem em
suportar qualquer tipo de ação, pois, com as interações com o meio ambiente,
a microestrutura e as propriedades dos materiais mudam ao longo do tempo
[1].
Outro conceito bastante importante é o de vida útil. A vida útil de uma
estrutura é definida pelo código FIP-CEB (Comitê Euro-international du Béton)
de 1989 como o tempo que a estrutura mantém um limite mínimo de
comportamento em serviço, para o qual foi projetada, sem elevados custos de
manutenção e reparo. A NBR 6118 (2003) utiliza o conceito de vida útil de
projeto para definir o período de tempo durante o qual se mantêm as
características das estruturas de concreto, desde que atendidos os requisitos
de uso e manutenção previstos pelo projetista e pelo construtor, bem como de
execução dos reparos necessários decorrentes de danos acidentais.
Um modelo simplificado foi proposto por TUUTTI e apresentado por
SANTOS [14]. De acordo com este modelo, a vida útil de uma estrutura de
concreto armado, sob o ponto de vista da corrosão das armaduras, é dividida
em dois períodos: o período de iniciação da corrosão e o período de
propagação, conforme apresentado na Figura 2.4.
Neste modelo, o período de iniciação é definido como o tempo em que
os agentes agressivos levam para atravessar o cobrimento, atingir a armadura
e provocar a sua despassivação e o período de propagação é definido como o
18
tempo em que a deterioração evolui até chegar a uma condição inaceitável
[14].
Durante a fase de iniciação, os danos apresentados pela estrutura são
geralmente imperceptíveis. Na segunda fase, ocorre a formação de óxidos
devido à corrosão das armaduras e a conseqüente redução da seção das
armaduras e, em função do grau de corrosão, pode ocorrer o aparecimento de
fissuras o que acelera ainda mais o processo de deterioração [14].
Figura 2.4. Representação esquemática do modelo de vida útil de estruturas de
concreto armado, proposto por TUUTTI apud SANTOS [14].
A armadura não é suscetível a sofrer corrosão, a não ser que ocorram
contaminação e deterioração do concreto. Os constituintes do concreto inibem
a corrosão do material metálico e se opõem à entrada de contaminantes. Daí
se pode afirmar que, quanto mais o concreto se mantiver inalterado, mais
protegida estará a armadura. Na maioria dos casos, a armadura permanece
por longo tempo resistente aos agentes corrosivos [20].
2.3 Corrosão em Concreto
19
De uma forma muito difundida e aceita universalmente, a corrosão é
definida como a deterioração de um material por ação química ou eletroquímica
do meio ambiente, associada ou não a esforços mecânicos. A deterioração
causada pela interação físico-química entre o material e o seu meio
operacional representa alterações prejudiciais indesejáveis sofridas pelo
material, que podem ser o desgaste, variações químicas ou modificações
estruturais, tornando-o inadequado para o uso. Assim, a deterioração de
materiais não metálicos, como o concreto de cimento Portland, devida à ação
química, também é considerada corrosão.
O concreto que envolve a armadura de aço, quando executado sem os
devidos cuidados, pode não funcionar como uma barreira perfeita, permitindo
que os vergalhões de aço sofram ataques de íons agressivos ou de
substâncias ácidas existentes na atmosfera. Os principais agentes
responsáveis pela corrosão são: o dióxido de carbono (CO2) e os íons cloreto
(Cl-).
De acordo com GENTIL [20], a corrosão e a deterioração observada no
concreto podem estar associadas a fatores mecânicos, físicos, biológicos ou
químicos, e entre os quais são citados:
• Mecânicos: vibração e erosão;
• Físicos: variações de temperatura;
• Biológicos: bactérias;
• Químicos: produtos químicos como ácidos e sais.
Entre os fatores mecânicos, as vibrações podem ocasionar fissuras no
concreto, possibilitando o contato da armadura com o meio corrosivo. Líquidos
em movimento, principalmente contendo partículas em suspensão, podem
ocasionar erosão no concreto, com o seu conseqüente desgaste. Se esses
líquidos contiverem substâncias químicas agressivas ao concreto, tem-se a
ação combinada, isto é, erosão-corrosão, mais prejudicial e rápida do que as
ações isoladas. A erosão é mais acentuada quando o fluido em movimento
20
contém partículas em suspensão na forma de sólidos, que funcionam como
abrasivos, ou mesmo na forma de vapor, como no caso de cavitação [20].
Os fatores físicos, como variações de temperatura, podem ocasionar
choques térmicos com reflexos na integridade das estruturas. Variações de
temperatura entre os diferentes componentes do concreto (pasta de cimento,
agregados e armadura), com características térmicas diferentes, podem
ocasionar microfissuras na massa do concreto que possibilitam a penetração
de agentes agressivos [20]. A atmosfera local, que além da temperatura
engloba umidade, presença de ventos, contaminantes e suas respectivas
variações cíclicas, também é um fator físico de grande importância para a
corrosão. A Tabela 2.2 apresenta a corrosão relativa em função das diversas
atmosferas a que as estruturas de concreto armado estão submetidas.
Tabela 2.2. Corrosão relativa para as diversas atmosferas a que o concreto
armado pode estar submetido [14].
Atmosfera Corrosão Relativa
Rural seca 1 – 9
Marinha 38
Industrial (marinha) 50
Industrial 65
Industrial, fortemente poluída 100
Os fatores biológicos, como microrganismos, podem criar meios
corrosivos para a massa do concreto e a armadura, como aqueles criados
pelas bactérias oxidantes de enxofre ou de sulfetos, que aceleram a oxidação
dessas substâncias para ácido sulfúrico [20].
Os fatores químicos estão relacionados com a presença de substâncias
químicas nos diferentes ambientes, normalmente água, solo e atmosfera. Entre
as substâncias químicas mais agressivas devem ser citados ácidos como o
sulfúrico e o clorídrico. Os fatores químicos podem agir na pasta de cimento, no
21
agregado e na armadura de aço-carbono. O mecanismo de deterioração
química deve-se à ação de substâncias químicas sobre os componentes não
metálicos do concreto. Como exemplo tem-se o ataque do concreto por ácidos
como o clorídrico com a formação de cloretos de cálcio e sílica gel [20].
A Figura 2.5 e a Figura 2.6 mostram um resumo apresentado por METHA
et al [1] com as principais causas de deterioração do concreto.
Figura 2.5. Causas físicas da deterioração do concreto [1].
Figura 2.6. Causas químicas da deterioração do concreto [1].
22
As proteções anti-oxidantes comumente realizadas consistem na
utilização de inibidores de ferrugem, com propriedades fosfatizantes,
permitindo uma proteção do tipo pintura sobre a qual o concreto tem uma boa
aderência ou na utilização de cobrimentos epóxi em duas camadas. No
entanto, estas alternativas de proteção têm custos elevados e muitas vezes se
tornam impossíveis frente aos custos da obra.
2.3.1 Carbonatação
O gás carbônico, ou dióxido de carbono, juntamente com o monóxido de
carbono são normalmente originados da queima de combustíveis, como os
hidrocarbonetos (gasolina, óleo) e carvão. Em temperaturas normalmente
encontradas em atmosferas ambientais, eles não costumam ser corrosivos
para os materiais metálicos, embora o gás carbônico forme com água o ácido
carbônico (H2CO3), que é um ácido fraco. Entretanto, gás carbônico e umidade
ocasionam a carbonatação de concreto, responsável pela deterioração desse
material [20].
O concreto, quando exposto aos gases como o gás carbônico (CO2), o
dióxido de enxofre (SO2) e o gás sulfídrico (H2S), pode ter reduzido o pH da
solução existente nos seus poros. A alta alcalinidade da solução intersticial
devido, principalmente, à presença do hidróxido de cálcio, Ca(OH)2, oriundo
das reações de hidratação do cimento, também poderá ser reduzida. Tal perda
de alcalinidade, em processo de neutralização, por ação, principalmente, do
CO2 (gás carbônico), que transforma os compostos do cimento em carbonatos,
é um mecanismo chamado de carbonatação, segundo a reação principal:
OH CaCO CO Ca(OH) 23222 +⎯⎯ →⎯+ OH (2.10)
O pH de precipitação do CaCO3 é cerca de 9,4 (à temperatura ambiente),
o que altera as condições de estabilidade química da capa ou película
passivadora do aço.
23
De acordo com os estudos de SORETZ apud HELENE [15] as
profundidades de carbonatação aumentam, inicialmente, com grande rapidez,
prosseguindo mais lentamente e tendendo assintoticamente a uma
profundidade máxima, de acordo com a Figura 2.7.
Figura 2.7. Variação da profundidade de carbonatação com o tempo e com a
relação água/cimento [15].
Essa tendência à estabilização pode ser explicada pela hidratação
crescente do cimento, que aumenta gradativamente a compacidade do
concreto desde que haja água suficiente. Alia-se a isso, a ação dos produtos
da transformação que também obstruem os poros superficiais, dificultando o
acesso de CO2, presente no ar, ao interior do concreto [15].
A conseqüência da carbonatação é a redução da alcalinidade do
concreto, devido à lixiviação dos compostos cimentícios, que reagem com os
componentes ácidos da atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO2),
resultando na formação de carbonatos e H2O [9]. Pelo fato do concreto ser um
material poroso, o CO2 presente no ar penetra com uma certa facilidade
através dos poros, até o seu interior. Com isso, acontece a reação do CO2 com
o hidróxido de cálcio, provocando a carbonatação. Um modelo simples,
24
proposto por MONTENOR et al. [21], considera a carbonatação um fenômeno
caracterizado por 4 etapas:
• 1ª. Etapa: O CO2(g) difunde para o interior do concreto, de acordo com a
equação 2.11:
CO2(g) → CO2(aq) + H2O + H2CO3 ↔ HCO3- + H+ → CO3
2- + 2H+ (2.11)
• 2ª. Etapa: O CO2 dissolvido na solução de poros do concreto reage com
hidróxido de cálcio:
Ca(OH)2 + CO2(aq) → CaCO3 + H2O (2.12)
• 3ª. Etapa: Reação com silicatos e aluminatos:
2SiO2.3CaO.3H2O + 3CO2 → 2SiO2 + 3CaCO3 + 3H2O (2.13)
ou
4CaO.Al2O3.13H2O + 4CO2 → 2Al(OH)3 + 4CaCO3 + 10H2O (2.14)
• 4ª. Etapa: o passo final do processo de carbonatação sempre produz
carbonato de cálcio e água. Porém, o carbonato de cálcio tem uma solubilidade
muito baixa e precipita dentro dos poros reduzindo a porosidade e formando
uma barreira ao progresso da frente de carbonatação.
A carbonatação do concreto segue de acordo com as reações acima,
levando a uma diminuição de pH para valores abaixo de 9. Sob estas
condições, e de acordo com o diagrama de Pourbaix, a barra de aço fica ativa.
Assim que isto acontece, o processo de corrosão é iniciado e a química da
interface aço/concreto sofre mudanças drásticas que afetam as propriedades
do concreto armado, como a adesão interfacial. Porém, na presença de água e
excesso de CO2, outra reação pode ocorrer, conduzindo à formação de
bicarbonato que, devido a seu comportamento ácido, reduz o pH a valores
25
quase neutros, de acordo com a equação 2.15. Nestas condições, a corrosão
de aço pode ser catastrófica [21].
CaCO3 + H2O + 2CO2 → Ca(HCO3)2 (2.15)
A representação do processo de carbonatação, devido à penetração do
CO2 no concreto pode ser observada na Figura 2.8.
Figura 2.8. Representação esquemática da penetração de CO2 por difusão e
do processo de carbonatação [9].
Tendo a relação água/cimento um papel preponderante na
permeabilidade aos gases, é natural que tenha grande influência na velocidade
de carbonatação. Pode–se observar que a profundidade de carbonatação de
concretos com relação água/cimento iguais a 0,80, 0,60 e 0,45, em média, está
na relação 4:2:1. A carbonatação pode ser cerca de 10 vezes mais intensa em
ambientes climatizados do que em ambientes úmidos, devido à diminuição da
permeabilidade do CO2 no concreto por efeito da presença de água [9].
Assim, há a necessidade de uma certa quantidade de água nos poros
para que as reações de carbonatação ocorram. Desta forma, a melhor
condição para a carbonatação é aquela apresentada na Figura 2.9, onde se
26
observa a presença de um filme de umidade nas paredes capilares e livre
acesso à entrada de CO2 [9, 22].
Figura 2.9. Representação esquemática da carbonatação parcial do concreto
em estrutura porosa não saturada [9].
Uma outra situação que vem ocorrendo com certa freqüência na parte
inferior de pilares e de paredes de concreto é a corrosão por carbonatação
associada à urina. O cloreto de amônio, NH4Cl, existente na urina, reage com o
hidróxido de cálcio [Ca(OH)2], fazendo com que este seja consumido,
diminuindo o valor do pH e possibilitando, assim, a corrosão da armadura e
conseqüente desagregação do concreto [20], segundo a equação (2.16):
Ca(OH)2 + 2NH4Cl → 2NH3 + CaCl2 + 2H2O (2.16)
Em todos os casos apresentados, quando a frente com pH baixo atinge a
superfície da armadura, a película passivadora é rompida, podendo assim
ocorrer o processo de corrosão. Esta corrosão ocorre de forma generalizada e
homogênea, como se a armadura estivesse exposta à atmosfera sem nenhuma
proteção. No entanto, no interior do concreto existe umidade, deixando assim a
armadura em contato com esta umidade muito mais tempo do que se estivesse
livremente exposta ao ar, visto que a absorção pelo concreto é muito rápida e
sua secagem muito lenta [9].
27
Assim, a corrosão da armadura será tanto mais intensa quanto menor o
valor de pH, isto é, teor elevado de H+ [20], como mostra a Figura 2.10.
Figura 2.10. O efeito do pH na velocidade de corrosão do ferro, em água
aerada e em temperatura ambiente [20].
2.3.2 Corrosão nas Armaduras
De certo modo, a corrosão dos metais pode ser vista como o inverso da
metalurgia extrativa. A maioria dos metais existe na natureza no estado
combinado, por exemplo, como óxidos, sulfuretos, carbonatos ou silicatos.
Nestes estados combinados, as energias dos metais são menores. No estado
metálico, as energias dos metais são maiores e, por isso, há uma tendência
espontânea dos metais para reagirem quimicamente e formarem compostos.
Por exemplo, os óxidos de ferro encontram-se vulgarmente na natureza e, com
o auxílio de energia térmica, podem ser reduzidos a ferro metálico, o qual está
numa energia superior. Há, por isso, a tendência para que o ferro metálico,
caso não tenha proteção, regresse espontaneamente a óxido de ferro por meio
da corrosão (formação de ferrugem) para que, deste modo, possa ficar num
estado de menor energia [23], conforme Figura 2.11.
28
Figura 2.11. Processo básico de corrosão.
A maioria dos ataques de corrosão de materiais diz respeito ao ataque
químico de metais que ocorre habitualmente por ação eletroquímica, uma vez
que os metais possuem elétrons livres que são capazes de criar pilhas
eletroquímicas nas interfaces, gerando uma diferença de potencial, como pode
ser visto na Figura 2.12.
Figura 2.12. Representação gráfica da pilha eletroquímica da corrosão da
armadura no concreto [14].
O problema da corrosão metálica é bastante significativo: estima-se que
cerca de 5% da receita de uma nação industrializada são gastos na prevenção
da corrosão e na manutenção ou substituição de produtos perdidos ou
contaminados como resultado de reações de corrosão [24]. De acordo com
GENTIL [20], os Estados Unidos gastaram, no período entre 1999-2001, cerca
29
de 276 bilhões de dólares (aproximadamente 3% do PIB) com problemas
ligados diretamente à corrosão. Os custos indiretos ultrapassaram 552 bilhões
no mesmo período.
As armaduras podem sofrer as seguintes formas de corrosão
eletroquímica:
• corrosão uniforme: corrosão em toda a extensão da armadura quando
esta fica exposta ao meio corrosivo;
• corrosão puntiforme ou por pite: os desgastes são localizados sob a
forma de pequenas cavidades, também chamadas alvéolos;
• corrosão intragranular: é processada entre os grãos dos cristais do
metal e quando os vergalhões sofrem, principalmente, tensões de
tração, podem fissurar ou fraturar perdendo sua estabilidade;
• corrosão transgranular: que se realiza intragrãos da rede cristalina,
podendo levar à fratura da estrutura, quando houver esforços
mecânicos;
• fragilização pelo hidrogênio: corrosão originada pela ação do
hidrogênio atômico na sua difusão pelos vergalhões da armadura,
propiciando a sua fragilização e, em conseqüência, a fratura, sendo,
no entanto, bastante rara.
São extremamente graves as quatro últimas formas de corrosão quando
existe ação conjunta de solicitação mecânica e meio corrosivo (o que é
bastante provável), pois ocasionam a corrosão sob tensão fraturante,
possivelmente a mais grave.
Na armadura do concreto é comum a utilização dos aços de baixo teor
de carbono, (menos de 0,4%) quando os vergalhões são usados em concreto
armado. Ao invés de se depositarem no próprio metal, os produtos da corrosão
são depositados nos poros capilares e fissuras existentes na circunvizinhança
da armadura.
30
A corrosão tem como conseqüência uma diminuição da seção de
armadura e fissuração do concreto em direção paralela a esta. Eventualmente,
podem surgir manchas avermelhadas produzidas pelos óxidos de ferro. As
fissuras ocorrem porque os produtos da corrosão ocupam espaço maior que o
aço original [25].
A microrregião (onde se encontra o componente estrutural) e a própria
natureza do componente (laje, viga ou pilares e paredes) devem ser levados
em conta. Lajes em ambientes úmidos podem sofrer muito mais o fenômeno de
condensação do que elementos verticais. Da mesma forma, pilares semi-
enterrados poderão corroer-se mais rapidamente que pilares em ambientes
interiores e secos [15].
a) Processos de Corrosão Basicamente, são dois os processos principais de corrosão que podem
sofrer as armaduras de aço para concreto armado: a oxidação e a corrosão
eletroquímica.
Por oxidação, entende-se o ataque provocado por uma reação gás-metal,
com formação de uma película de óxido, sendo também conhecida como
corrosão química. Este tipo de corrosão é extremamente lento à temperatura
ambiente e não provoca deterioração substancial nas superfícies metálicas,
salvo se existirem gases extremamente agressivos na atmosfera (WEXLER &
WOLINEC apud HELENE [15]).
Pelo fato da oxidação não ser o fenômeno principal na corrosão de
estruturas convencionais, não será abordada com profundidade.
O processo da corrosão da armadura é uma manifestação específica da
corrosão eletroquímica em meio aquoso, se bem que o eletrólito confinado a
uma rede de poros existentes no concreto possui resistividade elétrica bem
mais elevada do que a verificada nos eletrólitos típicos ou comuns. Daí o
processo da corrosão do aço, no concreto, só se desenvolver em presença de
água ou ambiente com umidade relativa elevada (UR > 60%). Não há corrosão
em concretos secos (ausência de eletrólito) e tampouco em concreto
totalmente saturado, devido não haver suficiente acesso de oxigênio [26].
31
A corrosão das armaduras ocorre preponderantemente em meio aquoso.
Há a formação de uma película de eletrólito sobre a superfície da barra de aço,
que é originada pela presença de umidade no concreto, salvo situações
especiais e muito raras, tais como dentro de estufas ou sob a ação de elevadas
temperaturas (> 80°C) e em ambientes de baixa umidade relativa (UR < 60%)
[15]. É um tipo de ataque que as armaduras podem sofrer ainda no canteiro de
obra, no armazenamento, e sobre a qual o engenheiro deve se preocupar.
A corrosão conduz à formação de óxidos e hidróxidos de ferro, produtos
de corrosão avermelhados, pulverulentos e porosos, denominados ferrugem e,
segundo HELENE [15], só ocorrem nas seguintes condições:
• Deve existir um eletrólito: A água, presente no concreto em grandes
quantidades, funciona perfeitamente como um eletrólito. Além desta,
certos produtos de hidratação do cimento como, por exemplo, a
portlandita (ou hidróxido de cálcio, Ca(OH)2), também formam nos poros
e capilares uma solução saturada que constitui um bom eletrólito. O
eletrólito é o meio que permite a dissolução e movimentação dos íons ao
longo das regiões anódicas e catódicas na interface entre a superfície do
aço e a matriz porosa de concreto, papel que é desempenhado no
concreto pela solução salina contida nos seus poros. Para se ter uma
idéia da quantidade de água presente no concreto, estima-se que a uma
temperatura de 25°C e uma umidade relativa de 65%, o teor de umidade
de equilíbrio seja de cerca de 4%, ou seja, 95 litros de água por metro
cúbico de concreto.
• Deve existir uma diferença de potencial: Em solução, parte dos
átomos do ferro tendem a transformarem-se em cátions ferro (Fe2+), com
carga positiva, deixando a armadura com carga negativa e criando o que
se conhece como potencial de equilíbrio ou reversível. Este fato, por si
só, não gera força eletromotriz, mas em presença de reagentes capazes
de sofrer redução, ou seja, capazes de combinar com o elétron liberado
na reação de formação do íon ferroso, pode formar-se uma pilha ou
célula de corrosão eletroquímica. Podem ser causas de diferenças de
32
potencial entre pontos da barra: diferença de umidade, aeração,
concentração salina, tensão no concreto e no aço.
• Deve existir oxigênio: É necessário que haja a presença do oxigênio
para a formação da ferrugem (óxido/hidróxido de ferro), além do eletrólito,
representado pela umidade e o hidróxido de cálcio. A velocidade de
corrosão, no início, é rápida, tendendo a diminuir com a formação da
camada de óxido, pois essa irá funcionar como uma barreira de difusão
do oxigênio, como pode ser observado na Figura 2.13.
Figura 2.13. Velocidade de corrosão em relação à concentração de oxigênio
dissolvido [20].
• Podem existir agentes agressivos: A corrosão pode ser acelerada por
agentes agressivos contidos ou absorvidos pelo concreto. Entre eles
pode-se citar os íons sulfeto, cloreto, dióxido de carbono (CO2), os
nitritos, o gás sulfídrico (H2S), o cátion amônio, os óxidos de enxofre,
fuligem, etc. Os agentes agressivos não permitem a formação ou
quebram a película já existente de passivação do aço, acelerando a
corrosão e atuando como catalisadores.
33
Assim, a corrosão da armadura pode ser resumida da seguinte forma:
Nas zonas anódicas, o ferro perde elétrons, ocasionando a dissolução do
metal (oxidação).
2Fe → 2Fe 2+ + 4e - (2.17)
Nas zonas catódicas, em meios neutros e aerados, ocorre a redução:
2H2O + O2 + 4e - → 4OH - (2.18)
Acarretando, assim, as seguintes reações de corrosão, com formação de
ferrugem:
2Fe + 2H2O + O2 → 2Fe 2+ + 4OH - (2.19)
2Fe2+ + 4OH - → 2Fe(OH)2 ou 2FeO. H2O (2.20)
2Fe(OH)2 + H2O + 1/2O2 → 2Fe(OH)3 ou Fe2O3.H2O (2.21)
Sendo o Fe(OH)2 (hidróxido ferroso) fracamente solúvel e; o FeO.H2O
(óxido ferroso hidratado), o Fe(OH)3 (hidróxido férrico) e o Fe2O3.H2O (óxido
férrico hidratado, goetita), compostos expansíveis.
Nas regiões em que o recobrimento do concreto não é adequado, a
corrosão torna-se progressiva com a conseqüente formação de óxi-hidróxidos
de ferro, que passam a ocupar volumes de 3 a 10 vezes superiores ao volume
original do aço da armadura, podendo causar pressões de expansão
superiores a 15 MPa. Essas tensões provocam, inicialmente, a fissuração do
concreto na direção paralela à armadura corroída, o que favorece a
carbonatação e a penetração do CO2 e agentes agressivos, podendo causar o
lascamento do concreto [15], de acordo com a Figura 2.14.
34
Figura 2.14. Deterioração da corrosão das armaduras. (A) Penetração de
agentes agressivos; (B) fissuração devido às forças de expansão
dos produtos de corrosão; (C) lascamento do concreto e corrosão
acentuada e; (D) Redução significativa da seção da armadura
(SHAFFER, apud HELENE [15]).
b) Passivação da Armadura no Concreto A passivação refere-se à perda de reatividade química de certos metais e
ligas sob condições particulares. De acordo com FONTANA apud FREIRE [9]
duas considerações importantes podem ser destacadas a respeito da
passivação:
• No estado passivo a velocidade de corrosão do metal é muito lenta.
Freqüentemente a redução na velocidade de corrosão que acompanha a
transição de estado ativo para passivo está na ordem de 104 a 106 vezes;
• O estado passivo freqüentemente é relativamente instável e sujeito a
danos no filme como trincas e riscos. Portanto, do ponto de vista da
engenharia, a passivação oferece uma possibilidade única para redução
da corrosão, mas também deve ser usada com precaução devido à
possibilidade de uma transição do estado passivo-ativo. O filme
superficial formado de acordo com o fenômeno da passivação tem
(A) (B)
(C) (D)
35
espessura estimada de 30 Ǻ, é consideravelmente hidratado e delicado,
estando sujeito a variações quando removido da superfície do metal ou
do meio corrosivo exposto.
Em ambiente altamente alcalino, como a do concreto, é formada uma
capa ou película protetora de caráter passivo. A alcalinidade do concreto deriva
das reações de hidratação dos silicatos de cálcio (C3S e C2S), que liberam
certa porcentagem de Ca(OH)2, podendo atingir cerca de 25% da massa total
de compostos hidratados presentes na pasta [15].
O hidróxido de cálcio, Ca(OH)2, presente na matriz de cimento, tem um
pH da ordem de 12,6 (à temperatura ambiente) que proporciona uma
passivação do aço, de acordo com o diagrama de Pourbaix, na região de
equilíbrio do Fe2O3 ou Fe3O4, de acordo com a equação 2.22.
3Fe + 4H2O → Fe3O4 + 8H+ + 8e- (2.22)
Com relação à corrosão das armaduras, a função do cobrimento de
concreto é, portanto, proteger essa capa ou película protetora contra danos
mecânicos [26] e, ao mesmo tempo, manter sua estabilidade, visto que o
hidróxido de cálcio presente no concreto reage com o gás carbônico da
atmosfera, reduzindo para 9 o pH da massa de concreto, tornando possível a
corrosão da armadura [25].
Assim sendo, a proteção do aço no concreto pode ser assegurada por:
• Elevação do seu potencial de corrosão em qualquer meio de pH > 2,
de modo a estar na região de passivação (inibidores anódicos). Esta
situação é meramente teórica, visto que, dificilmente o concreto será
submetido a pH tão baixo;
• Abaixamento de seu potencial de corrosão, com o fim de passar ao
domínio da imunidade (proteção catódica);
36
• Manter o meio com pH acima de 10,5 e abaixo de 13, que é o meio
natural proporcionado pelo concreto, desde que seja homogêneo e
compacto.
Efeitos como temperatura e pH tendem a aumentar a densidade de
corrente anódica crítica e usualmente apresentam um pequeno efeito no
potencial de passivação e na velocidade de dissolução passiva. Um efeito
similar é noticiado quando se adicionam cloretos no caso de ferro e ligas de
ferro. Como conseqüência destes fatores tem-se a despassivação do metal [9].
Estas alterações, principalmente do pH do interior de uma estrutura de
concreto armado, por causa de agentes agressivos, ocasiona instabilidade do
filme passivante, promovendo o fenômeno de despassivação. Assim, os
principais agentes despassivantes da armadura do concreto armado são o
dióxido de carbono (CO2), os íons sulfatos e cloretos, além da reação álcali-
agregado [9].
Alguns estudos têm tratado da despassivação de cloretos pelo uso de
inibidores inorgânicos ou orgânicos, que protege a superfície do aço [27].
c) Iniciação da Corrosão Para que a corrosão da armadura do concreto se inicie é necessário que
agentes agressivos capazes de destruir a camada passivadora do aço
atravessem o cobrimento de concreto e alcancem a armadura em
concentrações suficientes para provocar a sua despassivação.
A perda da passividade natural da armadura do concreto pode ser
ocasionada pela presença de íons cloreto em quantidades suficientes para
destruir de forma localizada a camada passivadora ou pela redução do pH do
concreto devido ao efeito da carbonatação. Segundo estudos de GONZALEZ et
al. [28], no caso da ação de cloretos, a dissolução da camada de óxidos é
pontual e ocorre quando há algum oxigênio e existem fissuras ou algum tipo de
heterogeneidade geométrica na interface aço-concreto. O início do processo de
despassivação ocasionado pelos íons cloreto ocorre, em geral, por meio de
37
uma aeração diferencial nas fissuras que resulta em uma acidificação local
gradual até que a camada passivadora seja destruída.
A despassivação da armadura também pode ser provocada pela
carbonatação do concreto. Neste caso, a despassivação ocorre de forma
generalizada em função da redução da alcalinidade do concreto nas regiões
próximas à armadura. A redução da alcalinidade ocorre devido à penetração de
substâncias ácidas, como o dióxido de carbono (CO2), o gás sulfídrico (H2S) e
o dióxido de enxofre (SO2) no concreto e à sua reação com os hidróxidos
alcalinos presentes na solução dos poros [14]. Como resultado da
carbonatação, o pH do concreto decresce a cerca de 8,3.
O processo de iniciação da corrosão envolve, além da despassivação da
armadura, o mecanismo de transporte dos íons cloreto e do CO2 através da
rede de poros do concreto e as suas interações com as fases sólidas do
cimento [14]. Neste sentido, são importantes as características da estrutura dos
poros e a capacidade de fixação destas substâncias, aspectos abordados
anteriormente (seção 2.1.1).
Um outro fator importante de influência na iniciação da corrosão é a
fissuração do concreto. As fissuras no concreto constituem um caminho rápido
de penetração dos agentes agressivos até a armadura e facilitam o acesso do
oxigênio e da umidade, fatores necessários à iniciação da corrosão [14].
d) Propagação da Corrosão Após a despassivação da armadura, o desenvolvimento do processo de
corrosão depende de diversas condições termodinâmicas, que determinam a
intensidade e a velocidade da corrosão. Assim, o teor de umidade do concreto
é o principal parâmetro de controle deste processo [29].
O fator determinante do conteúdo de umidade do concreto é a
temperatura, pois, neste caso, controla a evaporação e a condensação da água
no interior do concreto que atua como um eletrólito durante o processo
eletroquímico [14]. Além disso, a temperatura também assume um importante
papel no desenvolvimento da corrosão das armaduras, pois pode estimular a
38
mobilidade iônica e favorecer o transporte dos íons através da microestrutura
do concreto.
As velocidades de corrosão máximas ocorrem em concretos com
elevados conteúdos de umidade (porém não-saturados), nos quais o oxigênio
pode chegar livremente até a armadura e a resistividade é suficientemente
baixa para permitir elevadas velocidades de reação (TUUTTI apud SANTOS
[14]).
2.3.3 Íons Cloreto
É comum, na maioria das vezes por desconhecimento técnico, a
incorporação de elementos agressivos durante o preparo do concreto. Dentre
os agentes agressivos, o cloreto (íon Cl-) é o mais comum, podendo ser
adicionado involuntariamente a partir de aditivos aceleradores de pega,
agregados e água contaminados ou tratamentos de limpeza.
Segundo HELENE [15], os ânions Cl- podem destruir a película
passivadora proporcionada pelo meio alcalino e acelerar permanentemente a
corrosão, sem consumir-se, conforme reações abaixo.
Fe3+ + 3Cl- → FeCl3 + H2O (2.23)
FeCl3 + 3OH- → 3Cl- + Fe(OH)3 (2.24)
Essas reações continuam sem consumir o ânion cloreto. Pequenas
quantidades de cloretos podem, portanto, ser responsáveis por grandes
corrosões.
O efeito do cloreto de sódio na corrosão deve-se ao fato deste sal ser um
eletrólito forte, ocasionando, portanto, aumento da condutividade, que é
fundamental no mecanismo eletroquímico de corrosão. No caso de ferro em
água saturada de ar, em temperatura ambiente, observa-se que a taxa de
corrosão inicialmente cresce com a concentração de cloreto de sódio atingindo
39
um valor máximo (3% de NaCl) e depois decresce até um teor de 26%,
conforme Figura 2.15.
Figura 2.15. Efeito da concentração de cloreto de sódio na taxa de corrosão
[20].
Não se pode deixar de considerar a possível ação do cloreto de
magnésio, MgCl2, existente na água do mar, na ação corrosiva da atmosfera
marinha. Sua presença na névoa salina, juntamente com o cloreto de sódio,
cria condições favoráveis à corrosão, porque, como é um sal deliqüescente,
absorve umidade atmosférica tornando a superfície metálica sempre
umedecida e conseqüentemente sujeita à corrosão, pois se tem a presença de
eletrólitos fortes (NaCl e MgCl2) e água [20].
A influência desses íons cloreto pode ser visualizada também pela
alteração no diagrama de Pourbaix para o sistema ferro-água com Cl- (Figura
2.16). Este diagrama evidencia o decréscimo da região de passividade
provocado pela ação dos cloretos em comparação ao diagrama do sistema
ferro-água. Além disso, este diagrama apresenta uma maior região de corrosão
composta por uma região de corrosão por pite.
40
Figura 2.16. Diagrama de Pourbaix simplificado para o sistema ferro-água com
Cl- (355 ppm) [14].
O cloreto se apresenta em três formas no concreto: quimicamente ligado
ao aluminato tricálcico (C3A), formando cloro-aluminato de cálcio ou sal de
Friedel (C3A.CaCl2.10H2O); adsorvido na superfície dos poros; e sob a forma
de íons livres. Por maior que seja a capacidade de um dado concreto de ligar-
se quimicamente ou adsorver fisicamente íons cloreto, haverá sempre um
estado de equilíbrio entre as três formas de ocorrência desses íons, de forma
que sempre existirá um certo teor de Cl- livre na fase líquida do concreto [22].
Esses cloretos livres são os que efetivamente causam preocupação. A Figura
2.17 ilustra as três possibilidades de ocorrência de Cl- na estrututa do concreto.
Figura 2.17. Formas de ocorrência de íons cloreto na estrutura do concreto
[22].
41
De acordo com o ACI (American Concrete Institute) apud FREIRE [9],
existem 3 teorias modernas que explicam os efeitos dos íons cloreto na
corrosão do aço: adsorção, filme óxido e complexo transitório.
• Teoria da adsorção: os íons são adsorvidos na superfície metálica
em competição com o oxigênio dissolvido ou com os íons hidroxila. O
cloreto promove a hidratação dos íons metálicos, facilitando a sua
dissolução;
• Teoria do filme óxido: os íons cloretos penetram no filme de óxido
passivante sobre o aço, através de poros ou defeitos, ou através de
dispersão coloidal, mais facilmente do que penetram outros íons, por
exemplo o sulfato (SO42-). Assim, os íons cloreto diminuem a tensão
superficial interfacial resultando na formação de rupturas e falhas,
debilitando o filme passivo;
• Teoria de Complexo Transitório: os íons Cl- competem com os íons
hidroxila (OH-) para a produção de íons ferrosos. Forma-se, então, um
complexo solúvel de cloreto de ferro. Este pode difundir-se a partir de
áreas anódicas, destruindo a camada protetora de Fe(OH)2 e permitindo
a continuação do processo corrosivo. A certa distância do eletrodo, o
complexo é rompido, precipita o hidróxido de ferro e o íon cloreto fica livre
para transportar mais íons ferrosos da área anódica. Uma vez que a
corrosão não é estancada, mais íons de ferro continuam a migrar dentro
do concreto a partir do ponto de corrosão e reagem, também, com o
oxigênio para formar óxidos que ocupam um volume quatro vezes maior,
causando tensões internas e fissuras no concreto.
Há uma rápida aceleração do processo corrosivo quando a umidade
atinge um valor crítico, a partir do qual o material começa a corroer de forma
mais acentuada. Se além da umidade houver também substâncias poluentes, a
velocidade de corrosão é acelerada. A Figura 2.18 evidencia a influência da
42
deposição de partículas de cloreto de sódio nas superfícies de ferro em
diferentes valores de umidade relativa [20].
Figura 2.18. Curvas relacionando umidade relativa e cloreto de sódio [20]. (1)
UR 58%; (2) UR 70%; (3) UR 80%; (4) UR 89%; (5) UR 94%; (6)
UR 97%.
As curvas evidenciam que a corrosão, mesmo sem a presença de cloreto
de sódio, só se torna acentuada com a elevação do valor de umidade relativa.
Mesmo que o concreto não possua cloretos, eles podem atingir a
armadura de aço, oriundos do exterior, através da rede de poros, caso a
estrutura esteja em atmosfera marinha ou em outro ambiente que contenha
cloretos. A quantidade de cloretos é incrementada temporalmente chegando,
até mesmo, a atacar toda a superfície da armadura, podendo provocar
velocidades de corrosão intensas e perigosas.
43
2.4 Técnicas de Avaliação e Estudo da Corrosão em Concreto Armado
Diversas técnicas podem ser empregadas para a avaliação e estudo da
corrosão em concreto armado e entre as mais utilizadas encontram-se as
técnicas eletroquímicas.
Estas técnicas, além de analisarem a corrosão como um fenômeno
eletroquímico, e por isso, apresentarem maior confiabilidade, possuem a
vantagem de serem rápidas e não acarretarem sérios danos à estrutura no
momento da sua aplicação; além de poderem ser utilizadas tanto em
laboratório quanto em campo.
No presente trabalho utilizaram-se o ensaio de migração de cloretos e a
medida da profundidade de carbonatação, além de técnicas eletroquímicas,
como a medida do potencial de corrosão, espectroscopia de impedância e
resistividade elétrica do concreto.
2.4.1 Ensaio de Migração de Cloretos
Diversas pesquisas [18, 30, 31] vêm utilizando os ensaios de migração
para avaliar a resistência do concreto à penetração de íons cloreto.
Inicialmente, estes ensaios eram utilizados para avaliar a penetrabilibidade dos
íons cloreto por meio da avaliação da carga total passante, conforme a ASTM
C 1202/1992, e o coeficiente de difusão de cloretos no estado estacionário,
conforme a proposta de ANDRADE [18]. Mais recentemente, alguns autores
têm utilizado ensaios de migração para calcular o coeficiente de difusão
também no estado não-estacionário [30, 31]. Em função do objetivo proposto,
os ensaios podem apresentar variações no procedimento a ser adotado e nos
parâmetros a serem coletados, porém todos se baseiam na indução do
movimento dos íons sob a ação de um campo elétrico externo [14].
O ensaio de migração tem como princípio a aplicação de uma diferença
de potencial entre duas células: uma contendo uma solução de cloretos, célula
catódica, e outra sem cloretos, célula anódica, entre as quais é colocada a
amostra de concreto a ser analisada.
44
O potencial elétrico externo aplicado força a passagem dos íons cloreto
através da amostra de concreto da primeira para a segunda célula. A Figura
2.19 mostra uma representação esquemática deste ensaio, proposta por
LOPES apud SANTOS [14].
Figura 2.19. Representação esquemática do ensaio de migração de cloretos
(LOPES apud SANTOS [14]).
Neste método, o transporte dos íons cloreto através do corpo de prova é
induzido pela corrente elétrica gerada devido à diferença de potencial de 12
volts aplicada por uma fonte de corrente contínua por meio dos eletrodos
contidos em cada célula.
A célula positiva, célula anódica, é preenchida com água destilada para
evitar a corrosão induzida pela deposição do cloro. A solução utilizada na
célula negativa, célula catódica, é composta por cloreto de sódio (NaCl) a uma
concentração de 1 M.
2.4.2 Profundidade de Carbonatação
Uma determinação mais precisa da profundidade de carbonatação só é
possível através do estudo de secções microscópicas, com o auxílio de
prismas Nicol. A dupla refração sofrida pelo carbonato de cálcio que produz
uma cor clara pode contrastar com a pasta de cimento endurecida, que
aparece escura, como material opticamente isotrópico [15].
45
Essa técnica não é muito acessível e, por isso, tradicionalmente se
utilizam indicadores à base de fenolftaleína ou equivalentes, que indicam a
mudança de pH entre 8 e 11 e podem ser empregados com sucesso.
A fenolftaleína apresenta coloração róseo-avermelhada com valores de
pH iguais ou superiores a 9,5 e incolor abaixo desse valor. A timolftaleína
apresenta coloração azulada com valores de pH da ordem de 10,5 ou superior
e incolor abaixo desse valor [20].
Qualquer determinação dessa natureza deve ser cuidadosa e nunca
sobre corpos de prova serrados, molhados ou alterados por deficiência de
técnicas de amostragem. Deve-se, então, quebrar uma porção local e
imediatamente aplicar o indicador.
Em geral, aplica-se uma solução de 1g de fenolftaleína dissolvida em 50g
de álcool e 50g de água [20].
2.4.3 Resistividade do Concreto
A resistividade elétrica é uma importante propriedade do concreto e
caracteriza a sua capacidade de resistir à passagem da corrente elétrica. Esta
propriedade é fundamentalmente relacionada à permeabilidade de fluidos e à
difusividade de íons através dos poros do material e, no caso do concreto, está
intimamente relacionada à velocidade do processo de corrosão das armaduras
[14].
O princípio de medida da resistividade baseia-se na aplicação de uma
diferença de potencial entre eletrodos posicionados em duas faces opostas e
planas do material ou entre dois eletrodos colocados no interior do concreto e a
posterior medida da corrente resultante. A relação entre a tensão aplicada e a
corrente medida é a resistência elétrica (R) do material. A resistividade elétrica
(ρ) é obtida multiplicando-se a resistência (R) por um fator de conversão
chamado de constante de célula que depende das dimensões do corpo de
prova utilizado.
O concreto úmido comporta-se como um semicondutor com resistividade
da ordem de 102 Ω.m, enquanto que seco em estufa pode ser considerado
46
isolante elétrico, com resistividade da ordem de 109 Ω.m (NEVILLE apud
HELENE [15]).
Pode-se concluir que a corrente elétrica no concreto movimenta-se
através de um processo eletrolítico, ou seja, quanto maior a atividade iônica do
eletrólito, menor a resistividade do concreto. Portanto, um aumento da relação
água/cimento, da umidade relativa ambiente e da eventual presença de íons
tais como Cl-, SO42-, H+, etc., corresponde a uma diminuição da resistividade do
concreto.
Segundo HELENE [15], a resistividade de um líquido é inversamente
proporcional ao teor de sais dissolvidos, enquanto que a de materiais porosos é
inversamente proporcional à umidade salina absorvida. Assim, teores de
apenas 0,6% de cloretos são suficientes para reduzir a resistividade da
argamassa em cerca de 15 vezes.
Outro possível caminho para passagem da corrente elétrica é por meio
dos próprios compostos e produtos hidratados do cimento (C-S-H, água
adsorvida ao C-S-H, e partículas não-hidratadas de cimento). Em uma matriz
de cimento na qual os poros não são conectados, é possível que a
transferência de elétrons através do gel C-S-H promova o aumento da
resistência elétrica e, conseqüentemente, o aumento da resistividade [14].
Em um mesmo grau de saturação, quanto maior for a fração volumétrica
dos poros do concreto, menor será a sua resistividade. Além disso, quanto
maior for o grau de saturação do concreto, menor é a sua resistividade [14].
A presença de sais como cloretos, sulfatos e nitratos possibilita a
corrosão das armaduras, pois, como são eletrólitos fortes, permitem que o meio
apresente baixa resistividade, possibilitando o fluxo de elétrons, ocasionando a
corrosão das armaduras. Os valores de resistividade elétrica indicativos da
probabilidade de corrosão no concreto não estão totalmente consagrados e
apresentam valores diferentes, de acordo com a pesquisa utilizada. Valores
comumente utilizados como referência (Tabela 2.3) são encontrados na norma
CEB-192 ou no boletim europeu CE - COST 509 (“Corrosion and protection of
metals in contact with concrete”), apresentado em pesquisa de POLDER [32].
47
Tabela 2.3. Valores de resistividade elétrica indicativos da probabilidade de
corrosão do concreto, segundo a CEB-192 e o boletim europeu
COST 509 apud POLDER [32].
Resistividade (kΩ.cm)
CEB-192 COST 509 Risco de Corrosão
> 20 > 100 Desprezível
10 a 20 50 a 100 Baixo
--- 10 a 50 Moderado
5 a 10 < 10 Alto
< 5 --- Muito Alto
ANDRADE apud SANTOS [14] sugeriu valores mínimos de resistividade
em função da agressividade do ambiente. Neste trabalho, foram apresentadas
duas classes ambientais referentes à carbonatação e três faixas de
classificação associadas aos ambientes com cloretos, conforme mostrado na
Tabela 2.4. Os resultados referem-se à resistividade medida aos 28 dias.
Tabela 2.4. Valores de resistividade elétrica mínimos requeridos em função do
tipo de ataque e da classe de exposição das estruturas
(ANDRADE apud SANTOS [14]).
Tipo de Ataque Carbonatação Ação de Cloretos
Classes
Estrutura
interna ou
protegida da
chuva
Estrutura
externa
não-
saturada
Estrutura
exposta à
atmosfera
Estrutura
Submersa
Estrutura
na região
de maré
Resistividade mínima
requerida (KΩ.cm)
1 5 10 15 20
48
É importante ressaltar que a resistividade do concreto varia conforme a
natureza da corrente que o atravessa. Corrente alternada fornece resultados de
resistividade ligeiramente menores do que correntes contínuas, devido ao
fenômeno de polarização provocado por esta última [15].
Dentre os fatores que influenciam a resistividade do concreto, SANTOS
[14] cita: as características do concreto (relação a/c, tipo e quantidade de
agregados, consumo de cimento, presença de adições e aditivos químicos,
além do grau de hidratação); as características ambientais (temperatura e
umidade relativa) e a ação de agentes agressivos (penetração de cloretos e
carbonatação).
Dentre os métodos de medida da resistividade elétrica do concreto,
podem-se citar o método do disco (um eletrodo externo, com presença da
armadura), o método dos dois eletrodos, o método dos quatro eletrodos
(método de Wenner) e a NBR 9204/2005 (“Determinação da Resistividade
Elétrica Volumétrica do Concreto”). Um grande fator condicionante para a
utilização da NBR 9204 se dá pela dificuldade na montagem da célula de
ensaio com a utilização de mercúrio como eletrodo.
2.4.4 Técnica do Potencial de Corrosão
O monitoramento do potencial de corrosão permite que sejam registradas
mudanças no processo eletroquímico de corrosão, o que pode ser bastante
interessante para o monitoramento de estruturas.
A grande deficiência dessa técnica é que seus valores indicam o balanço
entre a reação anódica e a catódica, sem oferecer informações quantitativas,
isto é, não é possível obter-se resultados referentes à velocidade de corrosão
da armadura. Assim, o potencial de corrosão das armaduras embebidas no
concreto é uma grandeza que indica uma situação de corrosão ou estado
passivo destas, de forma aproximada.
Os diagramas de Pourbaix relacionam pH e potencial e apresentam uma
possibilidade para se prever as condições sob as quais podem-se ter corrosão,
imunidade ou possibilidade de passivação. Estas representações são válidas
49
para uma temperatura de 25°C e sob uma pressão de 1 atm, levando-se em
consideração o eletrodo normal de hidrogênio (ENH).
As reações que dependem do pH e do potencial são representadas por
um conjunto de linhas inclinadas. As equações dessas retas decorrem da
aplicação de equação de Nernst às reações em questão. A Figura 2.20
representa o diagrama de Pourbaix para o sistema Fe-H2O.
Figura 2.20. Diagrama de equilíbrio termodinâmico (diagrama de Pourbaix),
Potencial versus pH para o sistema ferro-H2O a 25°C.
No diagrama, as duas linhas pontilhadas paralelas “a” e “b” representam
a condições de equilíbrio das reações eletroquímicas. Abaixo da linha “a”,
correspondendo a pH2 = 1 atm, a água tende a se decompor por redução,
gerando H2. Acima da linha “b” correspondendo à pO2 = 1 atm, a água tende a
se decompor por oxidação, gerando O2. A região entre as linhas é o domínio de
estabilidade termodinâmica da água [20].
50
Para uma melhor visualização das condições de corrosão, imunidade e
passivação, SANTOS 14] apresenta um diagrama simplificado (Figura 2.21).
Figura 2.21. Diagrama de Pourbaix simplificado para o sistema ferro-H2O a
temperatura de 25°C [14].
Para que seja possível a medida do potencial de corrosão, é necessária a
criação de uma pilha eletroquímica, que consiste, basicamente, em:
• Anodo: eletrodo em que há oxidação (corrosão) e onde a corrente
elétrica, na forma de íons metálicos positivos, entra no eletrólito (no
concreto armado, a armadura);
• Eletrólito: Condutor (usualmente um líquido) contendo íons que
transportam a corrente elétrica do anodo para o catodo. Neste caso, a
umidade presente nos poros do concreto;
• Catodo: eletrodo onde a corrente elétrica sai do eletrólito ou o
eletrodo no qual as cargas negativas (elétrons) provocam reações de
redução. No caso será usado o eletrodo de calomelano saturado;
• Circuito Metálico: ligação metálica entre o anodo e o catodo por onde
escoam os elétrons, no sentido anodo-catodo.
51
A ASTM, em sua norma C-876/91, apresenta como critério de avaliação
da corrosão uma correlação entre intervalos de potenciais e a probabilidade de
ocorrência da mesma, tomando como eletrodo de referência o de cobre -
sulfato de cobre (Cu/CuSO4, Cu2+). Esta correlação, assim como as demais, é
apresentada na Tabela 2.5.
Tabela 2.5. Probabilidade de ocorrência de corrosão da armadura em função
do potencial, tendo como referência diversos tipos de eletrodo.
Probabilidade de ocorrer a corrosão Tipo de eletrodo
< 10% 10% - 90% > 90%
ENH * > 0,118 V 0,118 V a -0,032 V < -0,032 V
Cu/CuSO4,Cu2+
(ASTM C 876) > -0,200 V -0,200 V a -0,350 V < -0,350 V
Hg,Hg2Cl2/KCl (sol. saturada)**
> -0,124 V -0,124 V a -0,274 V < -0,274 V
Ag,AgCl/KCl (1M) > -0,104 V -0,104 V a -0,254 V < -0,254 V * Eletrodo Normal de Hidrogênio, padrão. ** Eletrodo de calomelano saturado, utilizado neste projeto.
Segundo a teoria de potenciais mistos, em decorrência dos fenômenos de
polarização, a célula de corrosão tende a atingir um estado eletroquímico
estacionário, no qual a velocidade das reações anódicas se iguala à velocidade
das reações catódicas, ou seja, as densidades de corrente de ambos os
processos são idênticas. Conforme o diagrama de Evans mostrado na Figura
2.22, o potencial característico deste estado corresponde ao chamado
potencial de corrosão ou misto (Ecorr). Observa-se ainda que a este potencial
está associada uma densidade de corrente, denominada corrente de corrosão
(Icorr) [9].
52
Figura 2.22. Diagrama de Evans característico [9].
Por outro lado, em determinadas situações, o potencial de corrosão
medido em uma célula eletrolítica pode não ser representado por um único
valor. É o caso da formação de macropilhas, onde pode haver um potencial de
corrosão anódico e outro catódico, devido à queda ôhmica (Icorr’R) associada a
uma possível resistência eletrolítica elevada. Nestes casos, a magnitude dos
valores de densidade de corrente de corrosão fica bem além daquela esperada
em função das condições termodinâmicas iniciais, geradoras do processo [9].
Outro fator que afeta as leituras de potencial é a presença de alta
resistividade na camada do concreto, que está diretamente ligada ao seu teor
de umidade. Assim, uma camada superficial seca, altamente resistiva, pode
afetar as medidas de potencial. Isto ocorre porque a corrente de corrosão
(iônica) tende a evitar o concreto resistivo, implicando no eletrodo de referência
não detectá-la. O efeito dessa situação é ter na superfície valores de potencial
mais positivos (ou menos negativos), acarretando na não identificação de áreas
que estejam efetivamente sendo corroídas [33].
53
A magnitude da distorção causada por camadas superficiais resistivas,
nas medidas de potencial, depende da espessura dessas camadas, porém ela
pode, teoricamente, variar de valores desprezíveis até uma diferença de 200 a
300 mV [33].
Outros fatores que afetam medidas de potenciais incluem posição de
eletrodo de referência, o tipo de cimento e a presença de trincas [9].
2.4.5 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE)
A espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) é uma técnica
poderosa para a caracterização de uma grande variedade de sistemas
eletroquímicos e para a determinação da contribuição de processos individuais
de eletrodo ou eletrólito nestes sistemas. Pode ser usada para investigar a
dinâmica de cargas ligadas ou móveis nas regiões de volume ou de interface
de qualquer tipo de material líquido ou sólido (MACDONALD apud FREIRE [9]).
Segundo MONTENOR [33], a impedância de um circuito elétrico
representa o nível de dificuldade pelo qual um sinal elétrico (potencial ou
corrente) enviado a esse circuito encontra ao percorrê-lo. É uma combinação
de elementos passivos de um circuito elétrico: resistência, capacitância e
indutância.
Pode-se dizer que o princípio desta técnica consiste em aplicar um sinal
alternado de pequena amplitude (5 a 20 mV) a um eletrodo (armadura) inserido
num eletrólito (concreto). Compara-se, então, a perturbação inicial (aplicada)
com a resposta do eletrodo, pela medida da mudança de fase dos
componentes de corrente e voltagem e pela medida de suas amplitudes. Isto
pode ser feito nos domínios de tempo ou nos domínios de freqüência,
utilizando-se um analisador de espectro ou um analisador de resposta de
freqüência, respectivamente. É importante salientar que a perturbação inicial é
uma perturbação de potencial (ΔE), do tipo senoidal, que deve ser imposta no
estado estacionário do sistema e a resposta do eletrodo é uma corrente (ΔI),
também senoidal, porém com uma diferença de fase Φ em relação ao sinal
aplicado [9]. Portanto, a impedância, que se representa por Z, mede a relação
entre ΔE e ΔI.
54
A espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) é uma técnica que
trabalha no domínio de freqüência. O conceito básico envolvido em EIE é que
uma interface pode ser vista como uma combinação de elementos de circuito
elétricos passivos, isto é, resistência, capacitância e indutância. Quando uma
corrente alternada é aplicada a estes elementos, a corrente resultante é obtida
usando a lei de Ohm. Para o sistema de aço/concreto é possível obter
informação sobre vários parâmetros, como a presença de filmes de superfície,
características do concreto, corrosão interfacial e fenômenos de transferência
de massa. Porém, a interpretação dos resultados pode ser uma tarefa difícil e a
necessidade de um circuito equivalente, que pode mudar conforme as
condições do aço, torna a técnica mais satisfatória para estudos de laboratório
[33]. As principais vantagens desta técnica são [9]:
• Fornece informações sobre a cinética do processo, pela velocidade
de corrosão;
• Técnica precisa e reprodutiva, apropriada para ambientes de alta
resistividade como é o caso do concreto;
• Fornece dados a respeito do mecanismo de controle eletroquímico,
indicando se o processo corrosivo se dá por ativação, concentração ou
difusão;
• Caracteriza o estado da armadura e a morfologia da corrosão;
• Técnica não-destrutiva e não-perturbativa, uma vez que sinais
aplicados são de pequena amplitude, de forma que o potencial de
corrosão não é alterado e;
• Permite o acompanhamento da evolução do estado passivo ou ativo
ao longo do tempo.
a) Interpretação dos Resultados A interpretação das medidas de EIE geralmente é feita pela correlação
dos dados de impedância com um circuito elétrico equivalente que representa
os processos físicos que estão ocorrendo no sistema em investigação ou por
meio de gráficos. O gráfico Z = Z’ + jZ’’, parte real e parte imaginária,
55
respectivamente, medido a diferentes freqüências é chamado de “Nyquist”,
diagrama de impedância ou espectro de impedância. A outra representação é
chamada de “Bode”, que apresenta o logaritmo do módulo da impedância
(log|Z|) e o deslocamento de fase como função do logaritmo da freqüência.
O diagrama de Nyquist, também conhecida como representação de
Argand ou Colo-Cole consiste de uma série de pontos, cada um representando
a grandeza e a direção do vetor de impedância para uma freqüência em
particular [34]. O diagrama é um plano complexo (real imaginário) de
coordenadas cartesianas, onde se tem na abscissa a parte real (termos
resistivos) e na ordenada a parte imaginária (termos capacitivos ou indutivos).
Os dados de impedância representados no plano cartesiano sob uma larga
variação de freqüência (100 KHz a 10 mHz; em geral 10 KHz a 10-4 Hz), gera
configurações típicas, de acordo com o mecanismo eletroquímico
predominante. A Figura 2.23, mostra um diagrama de Nyquist típico,
acompanhado se seu circuito equivalente.
Figura 2.23. Diagrama de Nyquist, com seu circuito equivalente, mostrando o
efeito da impedância difisional (SILVERMAN apud FREIRE [9]).
Uma vez construído o diagrama de Nyquist, faz-se a extrapolação da
parte direita do semicírculo até encontrar o eixo horizontal. O diâmetro do
semicírculo é a resistência à transferência de carga Rt, equivalente à
resistência de polarização (Rp) [9]. Assim, quanto maior o diâmetro deste semi-
56
círculo, maior a resistência, Rp, e, conseqüentemente, menor a taxa de
corrosão [35].
Uma das dificuldades da impedância nitidamente evidenciada no
diagrama de Nyquist, diz respeito à caracterização de uma armadura
essencialmente passiva. Neste estado, a transferência de carga ao longo da
armadura, que denota um processo de corrosão, é muito pequena. Sendo
assim, os semicírculos ou arcos capacitivos de transferência de carga na dupla
camada elétrica são pobremente desenvolvidos, prejudicando a interpretação
de dados [9].
O diagrama de Bode consiste de um plano de eixos ortogonais, nos quais
se tem no eixo das ordenada, duas grandezas: o logaritmo da impedância
(log|Z|) em ohms (Ω) e o ângulo de fase (Φ) em graus; e no eixo das abscissas,
tem-se o logaritmo da freqüência angular (logω), com ω em radianos por
segundo (rad/s). Pode-se também representar as abscissas pelo logaritmo da
freqüência (log f), com f em Hertz. Com a configuração logω versus |Z| pode-se
determinar Rω e Rt, de acordo com a Figura 2.24; e por meio de logω versus
ângulo da fase, é possível a determinação da capacitância da dupla camada
elétrica Cdl, sabendo-se que:
Rp = 2.|Z|.tgφmax (2.25)
2/1)/1.(.1
Ω+=
RRRC PPdlmáxφω (2.26)
onde: φmax é o ângulo de fase máximo da impedância do sistema, ωφmax é
a freqüência angular correspondente ao φmax e |Z| é o módulo de impedância
correspondente ao φmax.
No diagrama de Bode distingue-se claramente a região de alta freqüência
(Figura 2.24a, região A), caracterizada pela presença de películas de
passivação e outros tipos de revestimento sobre a armadura, a região de
freqüência média (Figura 2.24a, região B), que reflete a mudança de
condutividade elétrica do revestimento durante exposição em meio corrosivo e,
57
finalmente, a região de baixa freqüência (Figura 2.24a, região C), onde a
reação de corrosão na interface metal/revestimento pode ser estudada [9].
Figura 2.24. Diagrama de Bode representando a impedância (módulo e ângulo
de fase) de um sistema eletroquímico de corrosão em função da
freqüência angular [34].
b) Circuitos Equivalentes Um dos maiores problemas em se utilizar circuitos equivalentes é decidir
qual circuito equivalente específico, entre tantas possibilidades, deverá ser
utilizado.
Um processo corrosivo envolve simultaneamente diversos processos
físicos e, portanto, o seu circuito equivalente será composto por diferentes
elementos de circuito. Contudo, de um processo para outro, os elementos de
circuito podem variar também a forma com que os mesmos são
interconectados. Na Tabela 2.6 é mostrada a correlação entre processos
físicos e elementos de circuito elétrico usados na EIE.
Um dos percursores do uso da EIE para monitorar corrosão em concreto
armado foi JOHN et al. [36]. Estes autores propuseram o circuito descrito na
Figura 2.25 e aplicaram EIE em amostras concreto imersas em água do mar. A
resposta de impedância na baixa freqüência foi relacionada com o processo de
transferência de carga, considerando que a resposta em altas freqüências foi
designada à presença de um filme de superfície.
58
Tabela 2.6. Correlação entre os processos físicos e os elementos de circuito
elétrico [34].
Processo Físico Elemento de Circuito
Transferência de carga Resistores Re e Rp
Dupla camada elétrica Capacitor, Cdl
Camadas Superficiais Dielétricas (revestimentos orgânicos e óxidos)
Capacitor, C
Adsorção Pseudocapacitor, Cw e resistor, R
Transporte de massa Pseudocapacitor, Cw e pseudoresistor, Rw
Figura 2.25. Circuito equivalente para concreto proposto por JOHN et al [36].
Rc: resistência do concreto; Rf e Cf: resistência e capacitância do
filme; Zd: impedância difusional; Rct e Cdl: resistência de
transferência de carga e capacitância de dupla camada.
Outra alternativa para a interpretação do sistema de aço/concreto foi
proposta por MACDONALD et al. apud FREIRE [9]. Os autores descreveram a
resposta de sistema baseado em um modelo de linhas de transmissão como
mostrado na Figura 2.26, onde R: resistência barra/segmento; Ri: resistência
concreto/segmento; Zj: impedância interfacial segmento barra/concreto.
Figura 2.26. Modelo de linhas de transmissão descrito para concreto armado
proposto por MACDONALD et al. apud FREIRE [9].
59
Este modelo assume que as propriedades elétricas de aço e concreto são
puramente resistivas, com a resistividade do concreto sendo dependente na
posição devido à não homogeneidade de matriz. Por outro lado, o modelo
assume que a interface é reativa devido à existência de capacitor, pseudo-
capacitor e componentes difusionais. Os modelos mostram que a parte real e a
parte imaginária da resposta de impedância e o ângulo de fase a baixas
freqüências permitem detectar e localizar a corrosão.
DHOUIBI-HACHANI et al. [37] propuseram outra aproximação mostrada
na Figura 2.27, que inclui os itens seguintes: (i) produtos formados diretamente
na superfície do aço, (ii) produtos que são o resultado de reação entre produtos
de corrosão e a pasta de cimento e (iii) o tamanho da cobertura de concreto.
Figura 2.27. Circuito equivalente para o concreto proposto por DHOUIBI-
HACHANI et al. [37].
O modelo mostra um bom acordo entre os dados experimentais e os
diagramas de Nyquist calculados, onde Rc: resistência concreto; R1: resistência
dos produtos formados na armadura; C1 e R4: capacitância e resistência
dispersão (dependente da freqüência); R3: resistência da interface aço; C2 e R2:
capacitância e resistência dispersão devido à homogeneidade dos produtos na
superfície do metal.
60
Às vezes, apesar dos desenvolvimentos crescentes na interpretação dos
espectros de EIE, eles revelam a presença de características difíceis de
explicar. Estas incluem: presença de ramos de baixa freqüência, semicírculos
deslocados e efeitos de altas freqüências. O primeiro efeito conduziu à
introdução de um elemento de Warburg (W) em série com a resistência de
transferência de carga por causa das respostas dos processos faradaicos que
acontecem na interface. Estes efeitos explicam por que o estado estacionário
às vezes não pode ser alcançado com técnicas de DC convencionais, até
mesmo depois de muito tempo de espera. Eles também explicam as longas
constantes de tempo observadas nos espectros de impedância a baixas
freqüências e a necessidade para extrapolar os valores da resistência de
polarização [33].
A presença de semi-círculos deslocados sugere um comportamento não
ideal do capacitor, conduzindo à introdução do elemento de fase constante
(CPE) nos circuitos equivalentes. SAGUES et al. [38] introduziram este
elemento em sistemas que exibem processos de polarização simples. Eles
concluíram que alguma melhoria é obtida se o CPE é usado em vez de um
capacitor ideal. Em outro trabalho, FELIU et al. [39] propuseram um sistema
mais complexo e introduziram um CPE e parâmetros difusionais no circuito
equivalente, como mostrado na Figura 2.28. Isto conduziu a um aumento na
precisão da determinação da resistência de polarização quando isso era
possível.
Figura 2.28. Circuito equivalente com introdução de CPE. Re = resistência do
eletrólito; Rp = resistência de transferência de carga; CPE =
elemento constante de fases; ZD = difusão Warburg
61
O circuito equivalente proposto por Randles, na Figura 2.29a, tem uma
larga aplicação em muitos sistemas eletroquímicos. Nele, Re representa a
resistência da solução e do filme do produto de corrosão, que também é
conhecido, segundo SAGUES et al. [38], como a resistência ôhmica do
eletrólito entre o ponto sensitivo de voltagem do eletrodo de referência e a
interface eletrodo/eletrólito. Rt e Cdl representam a interface de corrosão: Cdl é
a capacitância da dupla camada elétrica resultante de íons e moléculas de
água adsorvidos, devido à diferença de potencial entre eletrodo em corrosão e
a solução (ou eletrólito) e Rt é a resistência à transferência de carga, que
determina a taxa da reação de corrosão e é uma medida da transferência de
cargas elétricas através da superfície do eletrodo. Em um sistema controlado
por ativação, Rt é a parcela medida pela técnica de resistência de polarização,
isto é, Rt equivale a Rp.
Figura 2.29. (A) Circuito equivalente simples do tipo Randles e; (B) Circuito
Randles modificado com duas constantes de tempo [40].
Em estudo recente, MARTÍNEZ & ANDRADE [40] adicionaram duas
constantes de tempo RC, utilizadas quando necessário, como pode ser
verificado na Figura 2.29b.
Para a interface aço/concreto, o circuito equivalente não é tão simples
como o circuito de Randles. O modelo proposto por CRENTSIL apud
MACHADO [35] relaciona um semicírculo em altas freqüências às propriedades
62
do concreto. O segundo semicírculo, em freqüências intermediárias, é atribuído
à formação de produtos de corrosão. Em baixas freqüências, a presença de um
semicírculo e uma reta com inclinação característica igual a 1 envolve a
sobreposição dos dois efeitos.
Ainda segundo MACHADO [35], o semicírculo reflete o efeito da cinética
de corrosão e a reta relaciona a difusão de oxigênio através da camada de
óxido, representada por um elemento de Warburg, W. A Figura 2.30 mostra a
representação esquemática desta interface aço/concreto, o circuito elétrico
equivalente e o correspondente diagrama de Nyquist.
Figura 2.30. Representação esquemática de (A) interface aço/concreto; (B)
circuito elétrico equivalente (m=matriz e f=filme) e; (C) diagrama
de Nyquist correspondente [35].
Assim, podem-se associar estas três regiões do diagrama às
propriedades relativas à argamassa (matriz, m), ao filme interfacial (camada de
Ca(OH)2) e a uma região de interface, com transferência de cargas e
capacitância da dupla camada (interface solução intersticial / aço).
63
De forma simplificada, pode-se identificar três faixas de freqüência, onde
diferentes processos apresentam uma resposta de impedância [35]:
• Altas freqüências (MHz – KHz): o eletrólito apresenta uma resposta.
As capacitâncias são da ordem pF/cm2. Mais de uma constante de tempo
pode aparecer devido ao grau de umidade do concreto e aos diferentes
constituintes das fases sólidas;
• Médias freqüências (KHz – Hz): os processos faradaicos apresentam
uma resposta. As capacitâncias típicas são da ordem de μF/cm2. Pode-
se encontrar mais de uma constante de tempo quando existe ataque
localizado. O concreto carbonatado produz um achatamento do
semicírculo nos diagramas de Nyquist;
• Baixas freqüências (Hz – μHz): as reações redox Fe2+ ↔ Fe3+ podem
ocorrer, dependendo do potencial. As capacitâncias medidas são da
ordem de mF/cm2. Fenômenos de difusão podem aparecer através da
camada passiva.
Com base nestas freqüências citadas acima, CHRISTENSEN et al.
[41, 44] propuseram uma correlação entre o fenômeno de corrosão e o circuito
equivalente e que é bastante aceita em diversas pesquisas. O circuito
equivalente proposto por estes autores é apresentado na Figura 2.31.
Figura 2.31. Circuito equivalente típico proposto por CHRISTENSEN et al. [41].
O diagrama equivalente acima está associado a uma resistência “offset
aparente” (R0) em série com a rede de concreto (R2Q2) e conectada, também
64
em série, ao eletrodo (ReQe). Estes elementos são mais bem visualizados pelo
diagrama de Nyquist apresentados na figura 2.32.
Figura 2.32. (A) Diagrama de Nyquist proposto por CHRISTENSEN et al. [41]
para o concreto armado e; (B) Ampliação da região de alta
freqüência do diagrama anterior.
As variáveis mostradas na figura 2.31 podem ser interpretadas como:
• Resistência do Eletrodo (Re): A resistência do eletrodo (no caso, a
armadura) é representada pelo raio do semi-círculo que se apresenta nas
regiões de baixa freqüência. A princípio, quanto menor este raio, maior a
corrosão.
65
• Resistência da matriz de cimento (Rb): Este valor é facilmente
detectado dos espectros de impedância, correspondendo à intersecção
entre os arcos referentes ao eletrodo e ao corpo de cimento propriamente
dito.
• Resistência Offset (R0): É uma resistência “de partida”, sem muito
interesse para o processo e sem significado físico aparente. Em termos
práticos, pode ser desprezado, considerando-se Rb = R0 + R2.
• Ângulo de Depressão (θ): Muitas vezes expresso pelo fator de
depressão do arco, n (n = 1 - (2θ/ π) ), está relacionado às imperfeições
do corpo de prova, predominantemente, com a distribuição de tamanho
de poros. Quanto mais próximo de zero (n próximo de 1), se comporta
como um capacitor perfeito no sistema.
Como se pode observar, existe uma infinidade de circuitos equivalentes
propostos e que se adequam às diferentes formas de avaliar os diferentes
materiais utilizados na produção do concreto e é uma árdua tarefa determinar
um circuito equivalente que atenda completamente a todos os fenômenos
observados no processo corrosivo.
2.5 Reação Álcalis-agregado (RAA)
A degradação do concreto por ações químicas é um fenômeno
extremamente complexo, envolvendo muitos parâmetros, nem sempre fáceis
de serem isolados e que atuam em diferentes graus.
As reações álcalis-agregado (RAA) são reações químicas que se
desenvolvem entre constituintes reativos dos agregados e íons alcalinos e
hidroxilos presentes na solução intersticial da pasta de cimento, podendo ter
um efeito altamente prejudicial para o concreto [1, 42]. Estas reações são de
caráter fortemente expansivo, levando ao desenvolvimento de tensões internas
no concreto e conseqüente fissuração, freqüentemente acompanhadas do
aparecimento de eflorescências e exsudações à superfície do concreto.
66
Apesar de dificilmente ser referida como causa primária do colapso, a
fissuração gerada pela RAA pode favorecer outros processos de deterioração
no concreto armado como a carbonatação e a corrosão das armaduras [42].
Existem três tipos distintos de RAA: reações álcalis-sílica (RAS), reações
álcalis-silicato e reações álcalis-carbonato.
A reação álcalis-sílica é o tipo de reação álcalis-agregado mais comum e
que tem recebido maior atenção. A RAS corresponde essencialmente a uma
reação química entre certas formas de sílica reativa, possuindo estrutura mais
ou menos desordenada e, por isso, instável num meio de elevado pH, e os íons
alcalinos (Na+ e K+) e hidroxilos (OH-) presentes na solução intersticial da pasta
de cimento, produzindo um gel de silicato alcalino [42].
A velocidade de reação dependerá da concentração dos hidróxidos
alcalinos na solução intersticial. Os íons cálcio (Ca2+), cuja fonte principal é a
portlandita (hidróxido de cálcio) formada pelas reações de hidratação do
cimento penetram rapidamente no gel, dando origem a geles de silicatos de
cálcio, sódio e potássio. Estes geles são capazes de absorver moléculas de
água e expandir, gerando forças expansivas [42, 43].
As reações álcalis-silicato é um fenômeno mais complexo e tem sido
pouco explorado. Supõe-se que o mecanismo de expansão seja semelhante à
RAS, sendo, no entanto, mais lenta [42]. Freqüentemente estes dois tipos de
reações são englobados num mesmo termo genérico de reações álcalis-sílica
(RAS).
A reação álcalis-carbonato é explicada por uma desdolomitização, ou
seja, uma decomposição do carbonato duplo de cálcio e magnésio (dolomita)
por ação da solução intersticial alcalina, a qual origina um enfraquecimento da
ligação pasta de cimento-inerte. Não há a formação de geles expansivos e a
expansão é atribuída à absorção de íons hidróxilos pelos minerais de argila
[42].
Assim, os fatores condicionantes da reação álcalis-agregado associados
à velocidade da reação são [45, 46]:
• Temperatura, sendo maior a expansão quanto maior a temperatura;
67
• Umidade Elevada;
• Alcalinidade suficientemente elevada da solução intersticial;
• Existência de inertes reativos com concentrações dentro de uma
faixa crítica e;
• Granulometria, sendo maior a força de expansão à medida que
diminui a superfície específica do material.
A RAA só será perigosa quando coexistirem estas condições [1, 42, 43].
Assim sendo, devido à elevada concentração de íons Na+ e OH- no resíduo de
bauxita, provenientes do uso da soda caustica no processo Bayer, as reações
álcalis-agregado são foco de preocupação quanto à utilização deste material de
elevado pH como aditivo ao cimento Portland em concretos e argamassas.
Segundo diversos autores, uma concentração de Na2O superior a 0,6% [1] ou
entre 3 e 5 Kg/m3 [47] é suficiente para uma RAA acentuada.
Os álcalis presentes no cimento Portland são expressos na forma de
óxido de potássio (K2O) e óxido de sódio (Na2O). A quantidade de álcalis
disponíveis no cimento Portland é expressa em equivalente alcalino em Na2O
(%Na2O + 0,658.%K2O) por apresentar melhor correlação com a expansão
devida à reação álcali-agregado [1, 46].
Para ocorrer a RAA, o agregado deve conter formas de sílica capazes de
reagir quimicamente com os íons hidroxila e os álcalis presentes na solução
dos poros, tais como: vidro vulcânico, sílica amorfa, sílica microscritalina,
tridimita, cristobalita, calcedônia, opala, quartzo e feldspato deformados [46].
2.6 Utilização de Resíduos Industriais em Matriz de Cimento Portland
Matrizes alcalinas como as de cimento Portland são comumente usadas
no acondicionamento de resíduos por serem relativamente baratas, serem
bastante conhecidas e de tecnologia facilmente acessível. Além disso, sua
elevada alcalinidade reduz a solubilidade de muitos resíduos inorgânicos
tóxicos e perigosos, inibe os processos microbiológicos e, por necessitarem de
68
água para a hidratação, podem incorporar resíduos líquidos e pastosos [8],
como o resíduo gerado no processo de produção de aluminio.
2.6.1 Normatização Vigente - Classificação de Resíduos Sólidos
No Brasil, as normas que classificam, normatizam a amostragem, os
ensaios de lixiviação e a obtenção de seus substratos são as normas NBR
10004 (“Resíduos Sólidos – Classificação”), NBR 10005 (“Procedimento para
obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos”), NBR 10006 (“Procedimento
para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos”) e NBR 10007
(“Amostragem de resíduos sólidos”).
A NBR 10004 classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos
potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que possam ser
gerenciados adequadamente. A periculosidade do resíduo é analisada em
função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas. A
classificação dos resíduos envolve a identificação do processo ou atividade que
lhes deu origem e de seus constituintes e características e a comparação
destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à
saúde e ao meio ambiente é conhecido. De acordo com a NBR 10004/2004, os
resíduos sólidos podem ser classificados como:
• Classe I – perigosos: são aqueles que, em função de suas
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade
ou patogenicidade, apresentam riscos à saúde ou ao meio ambiente;
• Classe II – Não perigosos
II A – não inertes: são aqueles que podem apresentar características de
combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, sem se enquadrarem
na classe I;
II B – inertes: são aqueles que, por suas características intrínsecas, não
oferecem riscos à saúde e que não apresentam constituintes solúveis em
água em concentrações superiores aos padrões de potabilidade.
69
A NBR 10005 fixa os requisitos exigíveis e o método para a obtenção de
extrato lixiviado de resíduos sólidos, visando diferenciar os resíduos
classificados pela NBR 10004 como classe I - perigosos e classe II – não
perigosos. Lixiviação é o processo para a determinação da capacidade de
transferência de substâncias orgânicas e inorgânicas presentes no resíduo
sólido, por meio de dissolução no meio extrator.
A NBR 10006 fixa os requisitos exigíveis e método para a obtenção de
extrato solubilizado de resíduos sólidos, visando diferenciar os resíduos
classificados pela NBR 10004 como classe II A – não inertes e II B – inertes.
Os procedimentos para a amostragem de resíduos sólidos são
apresentados na NBR 10007, seja o resíduo homogêneo ou composto. A
norma estabelece diretrizes para a preparação, amostragem, identificação e
ficha de coleta, além de requisitos de segurança e transporte.
2.6.2 Resíduo de Bauxita – Lama Vermelha
A obtenção do alumínio é feita a partir da bauxita, um minério que pode
ser encontrado em três principais grupos climáticos: o Mediterrâneo, o Tropical
e o Subtropical [48, 49].
A produção mundial de bauxita em 2008 foi de 205 milhões de toneladas,
sendo os principais países produtores Guiné, Brasil, Austrália, e Jamaica.
Ocupando a terceira posição no ranking mundial, em 2008, o Brasil produziu
26,6 milhões de toneladas de bauxita [50]. Possui também a terceira maior
reserva mundial do minério, cujo potencial é da ordem de 3,5 bilhões de
toneladas, concentrada principalmente na região Norte do país (estado do
Pará). A bauxita deve apresentar no mínimo 30% de alumina aproveitável para
que a produção de alumínio seja economicamente viável. Mais de 90% da
produção mundial de bauxita é utilizada na obtenção de alumina, visando
principalmente a redução ao alumínio metálico (85%) [51]. O processo de
obtenção de alumínio primário divide-se em três etapas: Mineração, Refinaria e
Redução [48].
70
Mineração
O alumínio não é encontrado diretamente em estado metálico na crosta
terrestre. Sua obtenção depende de etapas de processamento até chegar ao
estado em que o vemos normalmente. O processo da mineração da bauxita,
que origina o alumínio, pode ser exemplificado da seguinte maneira:
a) Remoção planejada da vegetação e do solo orgânico;
b) Retirada das camadas superficiais do solo (argilas e lateritas);
c) Beneficiamento:
• Inicia-se na britagem, para redução de tamanho;
• Lavagem do minério com água para reduzir (quando
necessário) o teor de sílica contida na parcela mais fina;
• Secagem.
Refinaria
A refinaria é a fase do processo que transforma a bauxita em alumina
calcinada. O procedimento mais utilizado é o Bayer. Esta é a primeira etapa até
se chegar ao alumínio metálico e é quando se gera o resíduo principal do
processo, a lama vermelha.
As principais fases da produção de alumina, desde a entrada do minério
até a saída do produto final são: moagem, digestão, filtração/evaporação,
precipitação e calcinação. As operações de alumina têm um fluxograma de
certa complexidade, que pode ser resumido em um circuito básico simples,
conforme Figura 2.33.
A lama vermelha é gerada no processo de digestão da bauxita, quando o
minério é saparado da lama pelo uso da soda caústica, responsável pelo
elevado pH deste resíduo.
71
Figura 2.33. Diagrama simplificado do processo Bayer para produção de
hidróxido de alumínio e alumina a partir da bauxita [49].
Redução do alumínio
Redução é o processo de transformação da alumina em alumínio
metálico. Basicamente, são necessárias cerca de 5 toneladas de bauxita para
se produzir duas toneladas de alumina e duas toneladas de alumina para
produzir uma tonelada de alumínio pelo processo de Redução [52]. Isto
significa que a produção mundial de bauxita, que é de cerca de 205 milhões de
toneladas anualmente, gera aproximadamente 41 milhões de toneladas de
alumínio e 82 milhões de toneladas de resíduo sem destinação final. No Brasil,
a geração de lama vermelha é estimada em 10,6 milhões de toneladas.
Estes valores são uma estimativa, visto que a quantidade de resíduo
gerado por tonelada de alumínio produzido varia bastante, a depender do tipo
de bauxita utilizada, variando desde 0,3 toneladas para bauxitas de alto grau a
2,5 toneladas para a bauxita de baixo grau. As propriedades físicas e químicas
72
dependem primariamente da bauxita utilizada, além da forma em que ela é
processada [53].
Estima-se que o custo de gerenciamento ambiental deste resíduo é de
cerca de 1 a 2% do preço de venda da alumina, além de requerer uma grande
área (cerca de 1 Km2 a cada 5 anos para uma indústria que produz 1Mton de
lama vermelha por ano) [54].
A bauxita é composta principalmente das formas monohidratadas e
trihidratadas de alumina em proporções variadas. As principais impurezas são
os óxidos de ferro, sílica e titânio, além de traços de zinco, fósforo, níquel e
vanádio. SNARS & GILKES [55] verificaram que a lama vermelha apresenta
propriedades diferentes em função do local e processo de produção mas que
resíduos provenientes da mesma jazida são bastante semelhantes. A origem
da bauxita, as condições utilizadas no processo Bayer e qualquer outro
processo de tratamento ou acondicionamento têm grande influência na
mineralogia e na composição química da lama vermelha.
A busca de alternativas de reciclagem economicamente e
ambientalmente viáveis incluem aplicações de lama vermelha como adsorvente
para a remoção de cádmio, zinco e arsênio, flúor, chumbo e cromo em
soluções aquosas [54], estabilização de solos em aplicações geotécnicas [56],
como componente de materiais de construção, ou seja, tijolos [57] cerâmicas e
telhas [58], esmaltes [59], como compósitos poliméricos para substituir a
madeira [60], processo de clinquerização [61], cimento rico em ferro [62, 63],
etc. A utilização de materiais de construção comuns tem sido sugerido como
uma forma de assegurar altas taxas de consumo [63, 64]. Além dos estudos
citados acima, SGLAVO et al. [65] mostraram que a tentativa de extração dos
óxidos de ferro e de titânio presentes na lama vermelha são economicamente
inviáveis.
A Tabela 2.7 mostra a larga faixa de variação da composição química que
pode ser encontrada na lama vermelha. A alta concentração de compostos
ferrosos dá ao resíduo sua cor vermelha típica e, conseqüentemente, seu
nome (lama vermelha). O grande volume de lama vermelha produzida e seu
73
caráter alcalino (pH ≈ 13) representa um importante problema ambiental nas
áreas onde as indústrias geradoras estão instaladas [52, 66, 67].
Tabela 2.7. Faixa de variação da composição química da lama vermelha [53].
Composto Fe2O3 Al2O3 SiO2 Na2O CaO TiO2
Teor (%) 30 – 60 10 – 20 3 – 5 2 – 10 2 – 8 Traços – 10
Neste contexto, se no concreto armado for mantido um pH elevado,
haverá a formação de um filme passivador que protegerá o aço do fenômeno
da corrosão ao longo do tempo.
Assim, o resíduo de bauxita (lama vermelha), que apresenta um pH
semelhante ao do concreto (12,5), e elevada concentração de íons Fe3+ pode
ser considerado um bom candidato a inibidor da ação dos cloretos devido à sua
comprovada atividade redox (de oxidação e redução) [27, 67] e propriedades
complexas [68] que reduzem a taxa Cl-/OH- na interface metal – concreto.
Aliado a este fato, o resíduo da bauxita é extremamente fino (mais fino que o
cimento) e apresenta leve propriedade cimentante, podendo densificar as
zonas de transição pasta-agregado/concreto-armadura, produzindo uma
microestrutura mais densa, que pode ser mais impermeável à ação dos
agressores.
74
75
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
O procedimento experimental do trabalho segue duas etapas básicas,
que consistem: 1) avaliação da adição do resíduo de bauxita (lama vermelha)
ao cimento Portland e a influência em suas propriedades; 2) análise da
corrosão do concreto armado contendo o resíduo por diferentes técnicas.
3.1 1ª. Etapa – Estabelecimento dos Teores de Adição
A primeira etapa consiste, basicamente, na avaliação da adição da lama
vermelha em argamassas de cimento Portland, seguindo as seguintes
atividades:
• Obtenção do traço de referência das argamassas de cimento
Portland (sem a presença do resíduo);
• Análise da adição da lama vermelha no tempo de pega (NBR NM 65)
e pH do cimento Portland;
• Análise da pozolanicidade da lama vermelha e possíveis reações
álcalis-agregado (RAA) que possam ocorrer, prejudicando a
durabilidade do material;
• Avaliação da influência da adição do resíduo nas propriedades da
argamassa no estado fresco (índice de consistência, retenção de
água e propriedades reológicas) e no calor de hidratação;
• Avaliação da influência da adição do resíduo nas propriedades da
argamassa no estado endurecido (resistência à compressão axial,
absorção de água por capilaridade, porosidade e densidade
aparentes).
A avaliação dos resultados foi realizada pela verificação das
características dos corpos de prova e das misturas com adição do resíduo de
76
bauxita, em comparação à mistura de referência (sem adição do resíduo).
Assim, determinaram-se os teores de adição a serem utilizados na segunda
etapa do trabalho.
3.2 2ª. Etapa – Análise da Corrosividade do Concreto Armado
Após os teores “ideais” de adição de lama vermelha terem sido
determinados, partiu-se para a elaboração dos traços de concreto a serem
utilizados e de sua posterior caracterização, principalmente no tocante à
corrosividade. Esta caracterização pode ser resumida pelas seguintes técnicas:
• Ensaio Acelerado de Corrosão por Ação de Cloretos (Técnica do
Potencial de Corrosão);
• Ensaio de Migração de Cloretos;
• Profundidade de Carbonatação;
• Espectroscopia de Impedância;
• Resistividade do Concreto.
Além da análise da corrosividade do concreto armado, prossegiu-se a
realização da caracterização física (resistência mecânica, porosidade e
densidade aparentes e absorção de água por capilaridade) e ambiental (ensaio
de lixiviação/solubilização, de acordo com a NBR 10004/2004). Estas análises
foram feitas com o intuito de verificar se a adição do resíduo de bauxita não
afetaria as características primordiais do concreto, como a resistência
mecânica, por exemplo, ou se a sua presença não comprometeria o
desempenho ambiental, sendo um risco aos usuários deste material alternativo.
Após a análise destes resultados, busca-se entender os mecanismos de
corrosão de concreto armado (e em suas barras), bem como verificar a
efetividade da adição de resíduo de bauxita como inibidor destes processos de
corrosão.
As duas etapas do trabalho podem ser resumidas na Figura 3.1.
77
Figura 3.1. Esquema das duas etapas que compõem o projeto experimental.
78
79
4 MATERIAIS E MÉTODOS
Serão apresentados, a seguir, os materiais utilizados neste trabalho, além
dos métodos empregados para caracterizá-los e na análise de desempenho
das argamassas e concretos.
4.1 Materiais
Os materiais utilizados foram matérias-primas de pureza comercial e,
quando necessário, matérias-primas de análise PA como ferramenta de auxílio
na análise de formação das fases. Os principais materiais são: cimento
Portland CP-II 32 Z, areia, brita, água potável e destilada, aditivo
superplastificante e lama vermelha.
4.1.1 Cimento Portland
Utilizou-se um cimento Portland CP-II 32 Z, da marca Itaú,
comercialmente encontrado na cidade de São Carlos.
4.1.2 Lama Vermelha
Por apresentar-se na forma pastosa, a lama vermelha, gerada pela
ALCOA do Brasil, em Poços de Caldas (MG), e utilizada neste trabalho foi seca
e, posteriormente, desaglomerada para que se tivesse à disposição um
material pulverulento. As moendas utilizadas para realizar esta desagregação
primária e secundária são apresentadas na Figura 4.1.
O teor de líquido presente inicialmente no resíduo é de cerca de 40%. Isto
significa que o teor de sólidos (apenas 60%) que foi utilizado neste estudo, na
verdade, representa uma utilização de cerca de 1,67 vezes mais resíduo
(100/60). O ideal, se verificada a efetividade da adição deste resíduo, é
aproveitar a própria água constituinte como água de mistura da argamassa.
Isto seria parte de uma nova etapa do projeto de pesquisa e desenvolvimento.
80
Figura 4.1. Moendas utilizadas para desagregação (a) primária (moinho de
mandíbula) e (b) secundária (galga) do resíduo.
4.1.3 Areia
Areia, geologicamente, é um sedimento clástico inconsolidado, de grãos
em geral quartzosos de diâmetros entre 0,06 e 2,0 mm. Considerada como
material de construção, areia é o agregado miúdo e precisa ter grãos formados
de material consistente, não necessariamente quartzosos. A areia pode ser de
rio, de cava, de britagem, de escória ou de praias e dunas (não utilizada no
Brasil devido à sua elevada finura e teor de cloreto de sódio) [2].
Neste trabalho foi utilizada uma areia de rio, normalmente comercializada
na cidade de São Carlos, São Paulo.
Para os ensaios de verificação do índice de atividade pozolânica (método
físico) e da reação álcalis-agregado foram utilizadas areias graduadas segundo
as respectivas normas. No ensaio de reatividade álcalis-agregado foi utilizada
uma areia de alta reatividade proveniente do rio Tejo, em Portugal, com o
objetivo de tornar a análise mais efetiva.
4.1.4 Agregado Graúdo – Brita
O agregado graúdo utilizado é de origem basáltica, constituindo-se em
um material comumente utilizado e comercializado na região de São Carlos,
São Paulo.
(A) (B)
81
4.1.5 Armadura – Barras de Aço CA 50
A armadura é composta de barras de aço, também chamadas de ferro de
construção ou vergalhões. A armadura tem a propriedade de se integrar ao
concreto e apresenta elevada resistência à tração. Por isso, são
dimensionadas em projeto e colocadas nas partes da peça de concreto que
sofrerão esse esforço.
As Normas Técnicas Brasileiras classificam os vergalhões para concreto
de acordo com a sua resistência em: aço CA 25, aço CA 50 e aço CA 60. Os
números 25, 50 e 60 referem-se à resistência do aço: quanto maior o número,
mais resistente será o vergalhão. Por exemplo, o aço CA 50 tem resistência
mínima de 550 MPa e o CA 60 de 660 MPa.
Para este projeto, foram utilizadas barras de aço CA 50 nervuradas,
fabricadas pela Gerdau, com 6,3 mm de diâmetro e densidade de 7,85 g/cm3.
4.1.6 Aditivo Superplastificante
O aditivo químico utilizado foi o superplastificante Vedalit, aditivo líquido à
base de resinas naturais produzido pela Vedacit.
4.1.7 Água de Amassamento
Para a confecção dos corpos de prova de argamassa e concreto foi
utilizada água potável, proveniente de poços existentes na Universidade
Federal de São Carlos, campus São Carlos.
Para a determinação do teor de água para a consistência normal, tempo
de pega e soluções utilizadas nos ensaios de corrosão, foi utilizada água
destilada e deionizada.
82
4.2 Métodos
4.2.1 Caracterização das Matérias-primas
a) Área Superficial Específica
A área superficial específica é um indicativo da reatividade do material.
Quanto maior este valor, maior a reatividade e, conseqüentemente, maior a
quantidade de água necessária na mistura. As verificações das áreas
superficiais específicas Brunauer, Emmett e Teller (BET) do cimento Portland,
da areia e da lama vermelha foram realizadas com o aparelho Gemini 2370
V1.02 – Micrometrics.
A técnica consiste na medida das alterações sofridas por uma mistura de
nitrogênio (N2) e hélio (He), quando uma amostra é submetida à variação de
pressão, na temperatura do N2 líquido. Equações matemáticas baseadas nos
trabalhos de Brunauer, Emmett e Teller (BET) permitem relacionar a área
específica do material, a partir da adsorção física de moléculas de N2. A partir
de isotermas de adsorção de gases sobre os pós ou materiais cerâmicos, as
características das suas texturas podem ser obtidas. Estas medidas
compreendem o conjunto de informações que definem a morfologia do pó, que
são o tamanho dos poros e a área da superfície específica.
b) Massa Específica A determinação da massa específica tem por finalidade aferir a densidade
e o volume dos grãos, incluindo os poros impermeáveis. Nesta aferição, não
são levadas em consideração as reentrâncias externas, que serão preenchidas
pela pasta. Verifica-se, assim, a massa por volume realmente ocupado pelo
agregado na mistura. A massa específica é usada para cálculos de produção
de argamassa ou das quantidades de agregados necessárias para um dado
volume e nos dá uma idéia do volume que o material ocupará no corpo
endurecido. As medidas de massa específica do cimento Portland, da lama
vermelha e da areia foram feitas pelo método do picnômetro de hélio, utilizando
um aparelho Accupyc 1330 V2.01 – Micrometrics.
83
A massa específica do agregado graúdo (brita) foi determinada segundo
a norma NBR NM 53/2003 (“Agregado graúdo - Determinação de massa
específica, massa específica aparente e absorção de água”), que substituiu a
NBR 9937.
c) Massa Unitária A massa unitária indica o volume que o material ocupa quando disposto
sem compactação (material mais vazios), sendo de fundamental importância
para a conversão do traço em massa para o traço em volume, facilitando as
atividades de campo. Apesar de não ter importância para o cálculo do consumo
real e da produção (volume), ainda é bastante utilizada no canteiro de obras
pelos operários e no momento da aquisição dos materiais, pois o uso de
balanças inviável.
O ensaio resume-se a preencher com agregado um vasilhame de volume
pré-determinado e medir esta massa que foi adicionada, de acordo com a NBR
7251 (“Agregado em estado solto - Determinação da massa unitária”). A
relação entre esta massa e o volume do recipiente representa a massa unitária
(Kg/dm3).
d) Análise da Distribuição do Tamanho de Partículas Para a determinação da distribuição do tamanho das partículas do
cimento e da lama vermelha sca e desaglomerada, utilizou-se a técnica
baseada na sedimentação de partículas em uma dada suspensão, associada à
absorção da luz.
Para tal, empregou-se um Sedígrafo (Analisador de distribuição do
tamanho de partículas) Horiba CAPA-700, o qual possibilitou o registro da
porcentagem de massa acumulada em função do diâmetro equivalente das
partículas.
O princípio ótico de transmissão de luz mede o grau de sedimentação das
partículas pela quantidade de luz que é transmitida através da solução. A fonte
de luz é colocada em um plano de medida de um lado da célula de medida,
84
enquanto do lado oposto da célula é colocado o detector de intensidade de luz.
A unidade de referência utilizada é a absorção da luz.
Para a análise da distribuição do tamanho de partículas da areia e da
brita foi utilizado um conjunto de peneiras ABNT, segundo norma NBR 7211
(Determinação da Composição Granulométrica dos Agregados). A partir da
determinação da distribuição do tamanho de partículas, foram também
verificados o módulo de finura (areia) e a dimensão máxima característica
(brita).
Se em um ensaio de distribuição granulométrica somam-se as
porcentagens retidas acumuladas de cada peneira da série normal e se divide
por 100, dá-se à grandeza assim obtida o nome de módulo de finura do
agregado. Ele é equivalente à área da superfície compreendida entre a curva
de distribuição granulométrica e a abscissa inferior e serve como indicativo da
finura do material [2].
A Dimensão Máxima Característica corresponde à abertura nominal, em
milímetros, da malha da peneira da série normal ou intermediária na qual o
agregado apresenta uma porcentagem retida acumulada, em massa, igual ou
imediatamente inferior a 5%. Em geral, quanto maior a Dimensão Máxima
Característica do agregado, menor será a área superficial por unidade de
volume que tem de ser coberta pela pasta de cimento, para uma dada relação
água/cimento [1].
e) Fração de Orgânicos e Inorgânicos A estimativa da fração de orgânicos e inorgânicos foi feita por meio do
método de perda ao fogo, que consiste na determinação da diferença de peso
do material antes e após queima em mufla, em uma temperatura de 950°C
durante quatro horas. A seguir, a amostra foi deixada para resfriar na própria
mufla por 20 horas e pesada. A quantidade de material restante representa a
fração de inorgânicos na amostra.
85
f) Potencial Hidrogeniônico (pH) Em estudos que envolvem a utilização de resíduos, a análise do pH é de
fundamental importância devido aos limites impostos pela NBR 10004/2004
quanto à corrosividade e que está entre 2,0 e 12,5.
O procedimento consiste em preparar uma solução com relação
resíduo:água igual a 1:1, de acordo com a NBR 10004. A mistura assim
preparada, foi analisada utilizando-se um pHmetro NA 2000 Microprocessado.
g) Composição Química dos Reagentes A composição química dos materiais utilizados foi obtida por meio da
técnica de fluorescência de raios X, FRX (cimento, lama vermelha e areia).
Adicionalmente, a lama vermelha foi caracterizada pelos ensaios de lixiviação,
solubilização e estudo analítico da amostra bruta, segundo a NBR 10004:2004.
O fenômeno da fluorescência ocorre quando os primeiros fótons de raios
X possuem energia suficiente para gerar vacâncias nas camadas eletrônicas
dos átomos constituintes da amostra. O aparecimento dessas vacâncias
provoca a geração de uma segunda radiação (fluorescência) na amostra. Essa
segunda radiação é característica dos elementos formadores da amostra. A
técnica de espectroscopia por fluorescências de raios X consiste no isolamento
e medida dos comprimentos de onda individuais característicos produzidos,
dessa forma, pela amostra [69].
h) Formação de Fases (DRX) A identificação de fases cristalinas de um material por difração de raios X
baseia-se na incidência de um feixe monocromático de raios X de comprimento
de onda λ, o qual é difratado por planos de alta concentração atômica da
amostra, periodicamente distribuídos, ocorrendo interferências destrutivas ou
construtivas entre as ondas difratadas. As interferências construtivas produzem
reflexões em certas direções definidas pela lei de Bragg, de acordo com a
equação 4.1.
nλ = 2d senθ (4.1)
86
sendo:
n: número inteiro correspondendo à ordem de difração
λ: comprimento de onda característico do feixe
d: distância interplanar
θ: ângulo de incidência.
Obtêm-se, então, informações referentes às distâncias interplanares dos
planos cristalográficos e à intensidade da reflexão, possibilitando a
caracterização da fase sólida ordenada reticularmente.
Esta técnica foi empregada na caracterização da lama vermelha e do
cimento Portland, utilizando-se um difratômetro Rigaku Geirgeflex ME 210GF2,
com tubo de alvo de cobre de 40 kV e 40 mA, e sistema de filtragem de
monocromador secundário de grafite curvo. Os espectros de difração foram
obtidos na faixa de 2θ de 10° a 80°, modo contínuo a 2°/min. As fases
presentes nas amostras foram posteriormente identificadas com o auxílio do
programa computacional DIFFRAC plus-EVA, com base de dados centrada no
sistema JCPDS (Joint Committe on Power Diffraction Standarts).
i) Microestrutura (MEV) A técnica de microscopia eletrônica de varredura (MEV) utiliza um feixe
de elétrons, que varre a superfície da amostra, causando a emissão de elétrons
secundários que são utilizados na formação da imagem a ser analisada.
O microscópio eletrônico de varredura (MEV) consiste basicamente de
uma coluna eletrônica, câmara para a amostra, sistema de vácuo eletrônico e
sistema de imagem. As imagens no MEV são construídas ponto a ponto, de
modo similar à formação de uma imagem de televisão. Um feixe de elétrons de
alta energia de até 30 eV é focalizado numa região da amostra, causando a
emissão dos mesmos com grande espalhamento de energia, sendo
posteriormente coletados e amplificados a fim de fornecer um sinal elétrico.
Esse sinal é utilizado para modular a intensidade do feixe de elétrons no tubo
de raios catódicos. Para construir uma imagem completa tridimensional, este
87
feixe é varrido sobre uma área da superfície da amostra, uma vez que os
elétrons são gerados a partir da interação feixe-matéria. Tal projeção permite a
avaliação da geometria e dimensões dos aglomerados e partículas primárias
do material.
Para a utilização do MEV, as amostras requerem um cuidadoso preparo;
os materiais não condutores necessitam de uma camada condutora sobre toda
a superfície para aterrar os elétrons que as atingem, e com isso, evitar efeitos
de carregamento que impeçam a obtenção das imagens. Para tal, deve-se
depositar em sua superfície materiais como o ouro ou carbono por vaporização
a vácuo.
Neste trabalho, foi utilizada uma fina camada de ouro que atuou como
meio condutor de elétrons e, posteriormente, as amostras foram analisadas no
microscópio eletrônico de varredura Zeiss FEG. Nas análises foi utilizada uma
tensão de 25 KV e a distância de trabalho foi de 15 mm.
A técnica foi empregada como ferramenta na caracterização da lama
vermelha e do cimento Portland.
j) Caracterização Ambiental (Solubilização e Lixiviação) Ensaios de solubilização/lixiviação, de acordo com a norma NBR 10004,
foram realizados para se verificar a efetividade da incorporação dos resíduos,
visando a extensão dos resultados para a inertização de resíduos perigosos em
matrizes de cimento Portland. O resumo das etapas de caracterização,
segundo a NBR 10004 / 2004 é mostrado na Figura 4.2.
Para tal, foram enviadas duas amostras do resíduo para dois laboratórios
credenciados distintos, com o objetivo de se obter uma média dos valores e
maior confiabilidade dos resultados obtidos.
88
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Não
Não
Não
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo inerte classe II B
Resíduo perigoso classe I
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo não-inerte classe II A
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Possui constituintes que são solubilizados em
concentrações superiores ao anexo G?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Resíduo não perigoso classe II
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Tem características de: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxidade ou
patogenicidade?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Consta nos anexos A ou B?
Consta nos anexos A ou B?
Residuo
O resíduo tem origem conhecida?
Não
Não
Não
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Figura 4.2. Caracterização e classificação de resíduos sólidos segundo a NBR
10004/2004.
89
4.2.2 1a. Etapa – Estabelecimento dos Teores de Adição de Lama Vermelha
a) Definição do Traço e Preparo das Argamassas
As matérias-primas envolvidas foram caracterizadas física e
quimicamente e partiu-se, então, para a elaboração do traço (relação entre os
componentes da mistura, em peso). Para tal, foram realizados vários testes,
chegando-se ao “traço de referência” 1,0 : 3,0 : 0,60 (cimento : areia : água), e
que foi utilizado nas moldagens dos corpos de prova de argamassa. Sobre este
traço final, foi acrescida a quantidade de resíduo referente a cada composição.
Vale ressaltar que este acréscimo foi adicional ou substitucional com relação à
massa de cimento.
As matérias-primas foram misturadas mecanicamente em
argamassadeira durante três minutos e, a seguir, as massas foram vertidas em
moldes plásticos cilíndricos com 50 mm de diâmetro e 100 mm de altura. Após
isso, foram vibradas por dois minutos, numa freqüência de 60 Hz.
Após 24 horas os corpos de prova foram desmoldados e acondicionados
para posterior análise. A cura foi imersa, com controle de temperatura e
umidade (20 ± 1 °C e 70 ± 5%) do ambiente. Nesta etapa, todos os resultados
apresentados são uma média de três determinações, com desvio padrão
máximo de 5%.
b) Influência da Presença do Resíduo nas Propriedades do Cimento Portland e das Argamassas
Tempo de Pega
A determinação do tempo de pega foi realizada pelo método de Vicat,
segundo a NM 65 (“Cimento Portland – Determinação do Tempo de Pega”).
O procedimento consiste em preparar a amostra com a água de
consistência normal (determinada anteriormente). A seguir, preenche-se o
molde troncônico e faz-se investidas com a agulha em tempo normalizados até
que esta penetre a (4 ± 1) mm da base. Observa-se neste momento o início de
90
pega. A seguir, troca-se a agulha por uma mais “precisa”, inverte-se o tronco e
quando a penetração for de apenas 0,5 mm na amostra, é caracterizado o
tempo de fim de pega.
A medida do tempo de pega foi utilizada para analisar a influência da
adição do resíduo nesta importante propriedade do cimento Portland.
Propriedades Reológicas
Para a verificação da influência da lama vermelha nas propriedades
reológicas dos artefatos de cimento Portland, foi verificado o índice de
consistência, por meio da mesa de espalhamento (flow table) e do reômetro.
Determinou-se, ainda, o índice de retenção de água, segundo a NBR
13277/2005.
A determinação da retenção de água dá um indicativo da água
necessária para o molhamento adequado das partículas da argamassa de
cimento Portland. Para esta determinação, seguiu-se a norma NBR
13277/2005 (“Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e
tetos - Determinação da retenção de água”).
Este ensaio resume-se no preenchimento de um molde cilíndrico raso
(Mm) de dimensões pré-determinadas com a argamassa, pesando o conjunto
(Mma). A seguir, colocam-se uma rede de gaze e 12 filtros de papel
anteriormente pesados (Mse), aplicando-se uma carga de 2 Kg e aguardando
assim por 2 min e pesando a gaze e os filtros (Mf).
A determinação da retenção de água (RA) é dada pela equação 4.2,
sendo AF o fator água/argamassa fresca.
( )( )⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−−
−−×=
MmMmaAFMseMfRA
1100(%) (4.2)
O índice de consistência é um importante parâmetro de desempenho
para argamassas de cimento Portland. Este índice reflete a trabalhabilidade da
massa, o que é de fundamental importância para a sua aplicabilidade. No
91
presente trabalho, foram utilizados dois métodos para a verificação da
trabalhabilidade: uma mais usual na construção civil (mesa de espalhamento,
Figura 4.3a) e uma técnica mais precisa que a anterior, utilizando-se um
Viscosímetro Viskomat NT, da Schleibinger Geräte (Figura 4.3b).
Figura 4.3. Determinação da consistência argamassas contendo diversos
teores de lama vermelha. (A) Mesa de espalhamento (Flow Table)
e; (B) Viscosímetro Viskomat NT.
De acordo com a NBR 13276/2005 (“Argamassa para assentamento e
revestimento de paredes e tetos - Preparo da mistura e determinação do índice
de consistência”), após determinado o traço a ser utilizado, preenche-se um
molde troncônico, em três camadas (com 5, 10 e 15 golpes de soquete,
respectivamente), liberando-o, a seguir. São aplicados então 30 golpes, numa
velocidade de um golpe por segundo, na mesa de ensaio (flow table) e verifica-
se o diâmetro da massa espalhada, tendo como resultado uma média de três
determinações.
(A) (B)
92
O diâmetro da base inferior do molde é de 100 mm (diâmetro inicial) e o
diâmetro que adotaremos como limite de trabalhabilidade é de 140 mm
(diâmetro limite).
As propriedades reológicas também foram determinadas através de um
reômetro Viskomat NT Schleibinger Geräte (Figura 4.3b), aplicando uma
velocidade de rotação de 150 rpm durante 45 minutos (tempo máximo em que
as argamassas ficam paradas em uma obra). A cada 15 minutos, a velocidade
era reduzida para zero, mantida por 30 segundos e então se aumentava
novamente até 150 rpm.
O modelo tradicionalmente usado para determinar os parâmetros
reológicos (tensão de escoamento e viscosidade plástica) das argamassas é o
modelo de Bingham (equação 4.3).
τ = τo + μpγ (4.3)
onde τ (Pa) representa a tensão de cisalhamento, τo (Pa) a tensão de
escoamento, μp (Pa.s) a viscosidade plástica and γ (s-1) representa a taxa de
cisalhamento.
Para reômetros que medem o torque (T) como função da velocidade (N),
a equação de Bingham pode ser descrita da seguinte forma:
T = g + hN (4.4)
onde “T” é o torque, “g” a tensão de escoamento e “h” representa a
viscosidade plástica.
A cada 15 minutos a velocidade de rotação (N) é reduzida para zero.
Nesse momento obtém-se a Figura 4.4a. Na curva de descida, que está
destacada em vermelho, é aplicado o modelo de Bingham, de acordo com a
Figura 4.4b. A tensão de escoamento (g) é representada pelo coeficiente linear,
enquanto a viscosidade plástica (h) pelo coeficiente angular.
93
Figura 4.4. Modelo de Bingham, utilizado na determinação da tensão de
escoamento (g) e da viscosidade plástica (h).
Calor de Hidratação
O calor de hidratação é uma forma de se avaliar a reatividade dos
materiais cimentícios e/ou pozolânicos. Isto ocorre, pois a química de formação
dos principais compostos do cimento Portland ocorre por meio de reações
exotérmicas.
As misturas foram preparadas de acordo com a norma NP EN 196-1,
utilizando o mesmo traço adotado nos ensaios de reologia. As argamassas
foram colocadas em moldes de PVC (Figura 4.5a), os quais foram
hermeticamente fechados e colocados no interior de uma caixa de isopor. Esta
caixa permaneceu dentro de uma estufa (Figura 4.5c) sob condições
controladas de temperatura (22ºC) e umidade relativa (60%). Os dados foram
registrados a cada 1 min através de um termopar ligado a um computador
(Figura 4.5c). Os resultados apresentados são uma média de 3 amostras.
Figura 4.5. Aparato utilizado para a medição do calor de hidratação das
argamassas contendo lama vermelha.
0
50
100
150
200
250
0 20 40 60 80 100 120
N (rpm)
T (N
mm
)
y = 0.6583x + 107.27R2 = 0.9912
0
50
100
150
200
250
0 20 40 60 80 100 120
N (rpm)
T (N
mm
)
(A) (B)
T = hN + g
(A) (B) (C)
94
Pozolanicidade
No intuito de verificar-se o índice de atividade pozolânica da lama
vermelha foram realizadas medidas físicas e químicas.
Para a pozolanicidade por meio físico, utilizaram-se duas normas: a NP
EN 4220 (“Pozolanas para Betão”) e a NBR 5752 (“Determinação da atividade
Pozolânica com Cimento Portland”). Foram utilizadas duas normas diferentes
com o objetivo de aumentar o grau de confiabilidade dos resultados, pelo fato
destas considerarem parâmetros constantes diferentes. A NP EN 4220 mantém
constante a relação água/aglomerante (cimento+material pozolânico),
diferentemente da NBR 5752, que utiliza o índice de consistência como
parâmetro constante.
Segundo a NP EN 4220, deve ser preparada uma argamassa de acordo
com a NP EN 196-1, com as quantidades de material apresentadas na Tabela
4.1.
Tabela 4.1. Quantidades de material a serem misturadas para a verificação
física da pozolanicidade, segundo a NP EN 4220.
Composição cimento (g) Areia (g) Pozolana (g)* H2O (g)
Padrão 450,0 1350,0 0,0 225,0
Com material pozolânico 337,5 1350,0 112,5 225,0 * Neste caso, assume-se que a lama vermelha é a pozolana.
Observa-se que, segundo esta norma, a relação água/aglomerante
(cimento + pozolana) é constante e igual a 0,5. No entanto, a relação
água/cimento é maior (igual a 0,67) para as misturas contendo 25% de lama
vermelha em substituição ao cimento, em relação à mistura de referência.
Depois de misturadas, as argamassas foram moldadas em corpos de
prova prismáticos de 40x40x160 mm3 que, após 24 horas, foram imersas em
água, dentro de uma estufa a 38 ± 2 °C, durante 28 dias, quando foram
rompidos por flexão e, depois, as duas metades foram submetidas a ensaios
de compressão axial, com o auxilio de uma placa metálica de 4 x 4 cm2.
95
Segundo a norma NP EN 4220, o material é considerado pozolânico se a
relação entre as resistências à compressão axial do material sem pozolana e
com pozolana (índice de atividade pozolânica), após os 28 dias, for superior a
0,85.
De acordo com a norma brasileira NBR 5752, são utilizadas duas
diferentes formulações de argamassa: (i) argamassa “A”, contendo cimento
Portland como aglomerante; (ii) argamassa “B”, contendo 35% do material
pozolânico (lama vermelha) em substituição ao cimento.
Resumidamente, estas condições são apresentadas na Tabela 4.2. Nesta
tabela, “x” e “y” representam a quantidade de água necessária para produzir
uma argamassa com índice de consistência igual a 225 ± 5 mm, ρp e ρc
correspondem à massa específica do material pozolânico (lama vermelha) e
cimento, respectivamente.
Tabela 4.2. Proporção dos materiais necessária para moldagem dos corpos de
prova usados para determinar o índice de atividade pozolânica, de
acordo com a NBR 5752.
NBR 5752 Material
Argamassa “A” Argamassa “B”
Cimento Portland 1,0 0,65
Material Pozolânico - C
P
ρρ
×35,0
Areia Normal * 3,0 3,0
Água x y * Areia com distribuição granulométrica de acordo com a norma NBR 7214 ("Areia normal para
ensaio de cimento”).
Amostras cilíndricas (50 mm de diâmetro e 100 mm de comprimento)
foram moldadas (três amostras). Após 28 dias, estes corpos de prova foram
testados por compresão axial.
A NBR 12653 (“Materiais Pozolânicos – Especificação”) define os
parâmetros para se verificar o potencial pozolânico, de acordo com a Tabela
96
4.3. Para se considerar o material como pozolânico, todos os requerimentos
devem ser satisfeitos.
Tabela 4.3. Requerimentos de um material pozolânico (classe E), definidos
segundo a NBR 12653.
Requerimento Especificação (NBR 12653)
SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 (%) ≥ 50
SO3 (%) ≤ 4
Teor de Umidade (%) ≤ 3%
Teor de Alcalis disponível (em %Na2O) ≤ 1,5
Perda ao Fogo (%) ≤ 6%
Material retido (%) na malha 45 μm. ≤ 34
Resistência à compressão axial, MPa (7 dias) > 6,0
Índice de Atividade Pozolânica, IAP = RCB/RCA ≥ 0,75
Água Requerida, H2Oreq ≤ 1,15
O índice de atividade pozolânica (IAP) para amostras contendo cimento
Portland é definido pela equação (4.5), onde RCB é a resistência mecânica da
argamassa “B” e RCA é a resistência mecânica da argamassa “A”, verificadas
aos 28 dias de idade.
CA
CBAP R
RI ×= 100(%) (4.5)
A água requerida (H2Oreq) corresponde à quantidade relativa de água
necessária para produzir argamassas com índice de consistência “flow table”
igual a 225 ± 5 mm e é definida pela equação (4.6), sendo y e x já definidos na
Tabela 4.2.
xyOH req ×= 100(%).2 (4.6)
97
Em complemento à análise física da pozolanicidade, foram realizados
também ensaios químicos com o objetivo de ratificar os resultados anteriores e
garantirem se um possível bom resultado ocorreu devido às reações químicas
ou foi somente proveniente de um melhor empacotamento (efeito filler) da
mistura.
Para tal, utilizou-se a norma NP EN 196-5 (“Ensaio de pozolanicidade dos
cimentos pozolânicos”). Segundo esta norma, a pozolanicidade é determinada
comparando a quantidade de hidróxido de cálcio presente na solução aquosa
em contato com o cimento hidratado, depois de um período de tempo
determinado, com a quantidade de hidróxido de cálcio que faz saturar um meio
de mesma alcalinidade. O ensaio deve ser considerado positivo se a
concentração de hidróxido de cálcio em solução for inferior à concentração de
saturação.
Para o procedimento experimental, prepara-se uma solução padrão
contendo 20g de cimento para 100 mL de água destilada. Para a solução
contendo o material a ser analisado, substitui-se 25% do cimento (5g) pela
pozolana, ficando com 15g de cimento e 5g de pozolana para cada 100 mL de
água destilada.
As misturas assim preparadas foram acondicionadas em estufa a
40 ± 2 ºC durante 14 dias, quando foram retiradas para a realização do ensaio.
Reação Álcalis-agregado (RAA)
De acordo com REIS & SILVA [42], ainda não existe um método
universalmente aceito para a avaliação da reatividade dos agregados aos
inertes. Os dois métodos clássicos desenvolvidos nos Estados Unidos, as
normas ASTM C 289 (“Standard test method for potencial alkali reactivity of
aggregates – Chemical method”) e ASTM C 227 (“Standard test method for
potencial alkali reactivity of aggregates – Mortar-bar method”) estão entre as
mais utilizadas no mundo.
O método químico, embora rápido, não é indicado para todos os tipos de
inertes, principalmente os que contêm carbonatos, e não permite uma
estimativa do potencial de expansão associado à reatividade do inerte [42].
98
O método da barra de argamassa baseia-se na medida das expansões
de barras de argamassas conservadas a 38 °C em ambiente úmido, sendo
considerado internacionalmente mais seguro. No entanto, os resultados são
obtidos apenas após seis meses de análise e, por isso, foram propostas
algumas alterações para acelerar sua obtenção, conservando as amostras de
argamassa em soluções alcalinas e aumentando a temperatura de ensaio. É o
caso dos métodos de expansão acelerados, que utilizam uma solução de
cloreto de sódio a 50 °C e dos métodos de expansão ultra-acelerados, como o
ensaio sul-africano NBRI (National Building Research Institute) em que o
ensaio é realizado a 80 °C e conservação em solução de hidróxido de sódio
(NaOH).
A norma ASTM C 1260-07 (“Standard test method for potencial alkali
reactivity of aggregates – Mortar-bar method”) é baseada no método sul-
africano e foi utilizada no presente estudo. Segundo esta norma, deve ser
usada uma areia graduada e a argamassa deve ter o traço 1,00 : 2,25 : 0,47
(aglomerante : areia graduada : água). O aglomerante é composto apenas pelo
cimento na amostra de referência (0%), que é substituído pela lama vermelha
nos teores de 10%, 20% e 30% para as respectivas composições.
Após a mistura das matérias-primas, são moldados três corpos de prova
prismáticos (25x25x285 mm3) para cada composição (0%, 10%, 20% e 30%).
Estes corpos de prova devem ser desmoldados 24 horas após a moldagem e
terem o seu comprimento aferido.
A seguir, colocam-se os corpos de prova em recipiente com água, em
estufa a 80 ± 2 °C, onde as amostras devem permanecer por mais 24 horas até
nova medida do comprimento. Após esta medida, deve-se colocar os corpos de
prova em solução de NaOH (1N) também em estufa a 80 ± 2 °C e realizam-se
medidas do comprimento a cada dois dias, até completarem-se 16 dias de
ensaio (14 dias em NaOH). As etapas deste procedimento podem ser
visualizadas na figura 4.6.
99
Figura 4.6. (A) Aparelho para medida do comprimento dos corpos de prova; (B)
amostras em água a 80ºC e; (C) amostras em solução de NaOH
(1N).
A expansão é calculada como o aumento percentual do comprimento ao
longo do ensaio, sendo considerado para análise que:
• Expansões inferiores a 0,10% aos 16 dias são indicativas de
comportamento inócuo, isto é, a expansão é desprezível;
• Expansões de mais de 0,20% aos 16 dias são indicativas de
expansão potencialmente deletéria;
• Expansões entre 0,10% e 0,20% aos 16 dias são duvidosas. Para
estes casos, é interessante continuar o ensaio até os 28 dias, com o
objetivo de verificar se o limite de expansão igual 0,20% é ultrapassado.
Resistência Mecânica
O limite de resistência à compressão axial é uma das propriedades mais
importantes em materiais frágeis, como as cerâmicas, e é cerca de dez vezes
superior ao limite de resistência à tração por compressão diametral.
O limite de resistência à compressão axial (Rc) é calculado pela carga
máxima (P) suportada pelo corpo de prova (CP), dividida pela sua secção
original, de acordo com a equação 4.7, em que Φ representa o diâmetro do
corpo de prova.
100
24πφ
PRt = (4.7)
Os resultados de limite de resistência à compressão axial apresentados
foram uma média de três valores obtidos para cada uma das idades das
argamassas e concretos (3, 7, 28, 63 e 91 dias após a moldagem), utilizando
uma máquina de ensaios universal Instron modelo 5500R. Os valores que
diferiram mais de 5% da média foram descartados e substituídos pelos obtidos
por novos corpos de provas.
Porosidade e Densidade Aparentes
Para a verificação da porosidade e da densidade aparentes das
composições foi utilizada uma técnica baseada no princípio de Arquimedes, em
que as amostras são pesadas ainda secas (Ms). A seguir, são imersas em água
e deixadas em repouso por 24 horas para que haja a saturação das mesmas.
Após esse período, são determinadas a massa imersa (Mi) e a massa úmida
(Mu). Assim, calculou-se a porosidade aparente (PA) e a densidade aparente
(DA), de acordo com as equações 4.8 e 4.9.
MiMuMsMuPA −
−= .100% (4.8)
MiMuMsD LA −
= .ρ (4.9)
Sendo ρL a densidade do líquido com o qual se realiza o ensaio (neste
caso, a água, ρL = 1,0 g/cm3).
Foram realizadas medidas de densidade e porosidade aparentes em
amostras com 28 dias de idade. Assim, procurou-se observar a influência da
água residual no material.
101
Absorção de Água por Capilaridade (NBR 9779/1995)
Verificar a absorção de água por capilaridade das argamassas é muito
importante, pois uma absorção excessiva de água pode gerar a proliferação de
fungos e bactérias danosos ao usuário, além de outros problemas, como o
descolamento da argamassa e/ou do revestimento e o descascamento da
pintura, além de ser um indicador de uma maior difusão de elementos e
soluções para o interior da mistura e, conseqüentemente, aumentando as
chances de ocorrência de corrosão.
Para a determinação da absorção de água por capilaridade, os corpos de
prova utilizados (três corpos de prova por composição) devem estar com 28
dias de idade. Inicialmente, são secos em estufa por 24 horas e, após isso,
resfriados à temperatura ambiente e têm suas massas determinadas.
Posicionam-se, então, os corpos de prova sobre suportes, preenchendo-
se com água a bandeja do recipiente de ensaio, de modo que o nível de água
permaneça constante e igual a (7 ± 1) mm da base inferior do recipiente, e
evitando a molhagem de outras superfícies do corpo de prova. Durante o
ensaio, determina-se a massa dos corpos de prova com intervalos de tempo
normalizados pela NBR 9779/1995 (“Argamassa e concreto endurecido -
Determinação da absorção da água por capilaridade”).
Calcula-se, dessa forma, o coeficiente de absorção capilar, que
representa a massa de água absorvida por metro quadrado da argamassa em
contato com a água, em função da raiz quadrada do tempo decorrido até atingir
este ponto de absorção. Numericamente, este valor corresponde ao coeficiente
angular da reta proveniente do gráfico “absorção (kg/m2) x raiz do tempo
(min0,5)” até que seja atingido o ponto de saturação, como pode ser visto na
Figura 4.7.
102
0
5
10
15
20
25
30
35
0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0
Raiz do tempo (min1/2)
Abs
orçã
o (k
g/m
2)
φ
Figura 4.7. Modelo da curva de absorção capilar de água em função da raiz
quadrada do tempo, segundo a NBR 9779 para a determinação do
coeficiente de absorção capilar (Tg φ).
4.2.3 2a. Etapa – Análise da Corrosividade do Concreto Armado
a) Obtenção e Preparo do Concreto
Na segunda etapa do trabalho, foram escolhidos os três teores de resíduo
a serem utilizados como adição à massa de cimento que mostraram melhor
desempenho na etapa anterior.
O traço de referência para o concreto foi estabelecido segundo o método
ACI, por meio da Curva de Abrams. No entanto, foram feitos ajustes para que a
mistura se adequasse melhor às características geométricas dos moldes a
serem utilizados na análise da corrosão.
Assim, o traço final para o concreto foi 1,0 : 1,5 :1,3 : 0,5 (cimento, areia,
brita, água). Este traço foi inspirado nos trabalhos de SILVA et al. [70] e
SANTOS [14] e a ele foram adicionados os teores de resíduo selecionados na
etapa inicial do trabalho O consumo de material por metro cúbico (m3), bem
como as características das misturas podem ser visualizadas na Tabela 4.4.
103
Tabela 4.4. Consumo de materiais e característica das misturas de concreto
utilizadas na segunda etapa do projeto.
Traço (cimento : areia : brita : água) 1,0 : 1,5 :1,3 : 0,5
Teor de Resíduo Adicionado 0% 10% 20% 30%
Cimento (kg/m3) 526 517 508 499
Areia (kg/m3) 789 775,5 762 748,5
Brita (kg/m3) 684 684 684 684
Água (kg/m3) 263 258,5 254 249,5
Aditivo (L/m3) 0 2,6 5,1 7,5 Con
sum
o do
s
Mat
eria
is
Resíduo seco (kg/m3) 0 51,7 101,6 149,7
Relação água/cimento 0,5 0,5 0,5 0,5
Argamassa Seca (%) 58,1 58,8 59,4 59,9
Água/Materiais Secos (%) 13,2 12,7 12,4 12,0
Abatimento - Slump (mm) 240 121 20 10
Car
acte
rístic
as
das
Mis
tura
s
Nomenclatura C0% C10% C20% C30%
A moldagem dos corpos de prova foi feita em fôrmas cilíndricas e
prismáticas de diversos tamanhos, conforme Tabela 4.5. Foi utilizado o mesmo
tempo de mistura e a mesma freqüência de vibração, anteriormente utilizados
para as misturas de argamassa (3 minutos e 60 Hz durante 2 minutos).
Os corpos de prova prismáticos utilizados para as análises do potencial
de corrosão e espectroscopia de impedância foram confeccionados em moldes
metálicos, onde eram fincadas as duas barras de aço CA50 de 6,3 cm de
diâmetro. O molde é mostrado na Figura 4.8.
104
Tabela 4.5. Tipos, dimensões e número de corpos de prova utilizados em cada
idade, para cada ensaio e traço produzido.
Prismáticos Cilíndricos
Ensaio (4x4x16)cm3
(5x7x9)cm3
(20x20x10)cm3
Ø = 5 cm h = 10 cm
Ø = 10 cmh = 30 cm
Potencial de Corrosão a, * - 5 - - -
Potencial de Corrosão b, * - 3 -
Migração de Cloretos - - - 4 -
Resistividade Elétrica* - - 3 - -
Espectroscopia de Impedância *
- 3 - - -
Profundidade de Carbonatação
3 - - - -
Resistência Mecânica - - - - 3
Porosidade e Densidade Aparentes
- - - 3 -
Absorção de água por capilaridade
- - - 3 -
Solubilização e Lixiviação - - - - 2
* Os corpos de prova para as medidas do potencial de corrosão, resistividade elétrica e espectroscopia de impedância contêm dois eletrodos cada. Logo, 5 corpos de prova geram 10 resultados. a “método de envelhecimento por ciclos”. b “método de envelhecimento por névoa salina”.
Figura 4.8. Molde para confecção dos corpos de prova prismáticos (50x70x90
mm3), utilizados para as medidas de potencial de corrosão e
espectroscopia de impedância.
105
b) Influência da Presença do Resíduo nas Propriedades do Concreto
Resistência Mecânica
Os resultados de limite de resistência à compressão axial apresentados
foram uma média de três valores obtidos para cada uma das idades dos corpos
de prova de concreto (3, 7, 28, 63 e 91 dias após a moldagem), utilizando uma
máquina de ensaios universal ELE – Autotest 2000. Os valores que diferiram
mais de 5% da média foram descartados e substituídos pelos obtidos por
novos corpos de prova.
Porosidade e Densidade Aparentes
Utilizando o mesmo procedimento das argamassas, foram realizadas
medidas de densidade e porosidade aparentes em amostras aos 28 dias de
idade.
Distribuição de Tamanho de Poros
O método de porosimetria de mercúrio para a determinação da
distribuição de tamanhos médios de poros abertos em sólidos porosos, baseia-
se na não molhabilidade destes sólidos pelo mercúrio, devido a um balanço de
suas energias superficiais. Em decorrência deste fato, torna-se necessário
aplicar pressão para forçar a entrada de mercúrio no interior dos poros do
material, que devem ser previamente submetidos a vácuo para a retirada do ar
existente. O raio do poro pode então ser relacionado à pressão necessária para
preenchê-lo. Neste caso, o raio de intrusão (Ri) é calculado a partir da pressão
aplicada (Pap), supondo o poro cilíndrico, pela equação de Washburn;
AP
LVi P
R ωγ cos.2−= (4.10)
106
sendo:
γLV : energia de interface mercúrio-ar
ω : ângulo de contato entre o mercúrio e a amostra.
Neste trabalho, todas as medidas foram feitas em porosímetro da marca
Micromeritics, modelo Porosizer 9320. Os resultados de intrusão de mercúrio
foram obtidos para as amostras de concreto com 28 dias de idade, na forma de
volume acumulativo de mercúrio penetrado por unidade de massa em função
do diâmetro de intrusão do poro. Foram utilizadas cinco amostras com
dimensões de 1x1x1 cm3 para cada teor de adição do resíduo.
Absorção de Água por Capilaridade (NBR 9779)
Assim como o ocorrido para as argamassas, na determinação da
absorção de água por capilaridade, os corpos de prova utilizados (três corpos
de prova por composição) devem estar com 28 dias de idade. O procedimento
é o mesmo citado anteriormente.
c) Técnicas de Avaliação da Corrosão em Concreto Armado
Ensaio de Migração de Cloretos
Para a execução de ensaio, foram utilizadas células de PVC constituídas
por um flange de 100 mm, um “T” rosqueável, com uma tampa superior para
realizações de medidas e uma lateral, contendo o eletrodo, devidamente
selada para evitar a perda das soluções.
Os corpos de prova foram colocados na interface das duas células, sendo
também colados com adesivo à base de silicone e auxílio de um par de
abraçadeiras. Assim, a troca iônica entre as células deu-se somente através da
área exposta da superfície do corpo de prova. O esquema do ensaio e sua
realização são apresentados nas Figura 4.9 e 4.10, respectivamente. A tensão
107
de 12 Volts foi aplicada ao sistema por meio de eletrodos posicionados nas
extremidades do sistema, que estavam conectados a fios de cobre
provenientes de uma fonte de tensão controlada.
Figura 4.9. Esquema e montagem do aparato para a realização do ensaio de
migração de cloretos.
Figura 4.10. Realização do ensaio de migração de cloretos.
108
A Norma americana ASTM C-1202/97 (“Standard Test Method for
Electrical Indication of Concrete's Ability to Resist Chloride Ion Penetration”)
preconiza a utilização do processo de saturação a vácuo das amostras antes
da execução dos ensaios de migração. Este procedimento tem sido adotado
por outros pesquisadores [30] para garantir que o ingresso de cloretos na
amostra se dê predominantemente por difusão. Neste trabalho, a utilização da
saturação a vácuo não foi utilizada. A solução adotada foi manter a amostra em
água durante 24 horas antes da realização do ensaio, como proposto por
SANTOS [14].
A condutividade elétrica da solução da célula anódica, inicialmente sem
cloretos, foi analisada diariamente durante todo o ensaio. Assim, obteve-se a
evolução da condutividade elétrica da solução utilizando o Condutivímetro
Digital Portátil tipo caneta modelo CD-880 da marca Instrutemp e, em seguida,
fez-se uma estimativa da concentração de cloretos empregando a correlação
obtida experimentalmente entre a concentração de íons cloreto (Cl-) e a
condutividade elétrica (Figura 4.11).
y = 89,749xR2 = 0,986
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25
Concentração de Cl- (M)
Con
dutiv
idad
e (m
S/cm
)
Figura 4.11. Correlação entre a condutividade elétrica e a concentração de íons
cloretos, obtida experimentalmente.
109
A análise da condutividade elétrica tem sido uma alternativa mais rápida e
mais prática utilizada por alguns autores [14, 30] para analisar de forma indireta
a evolução da concentração de íons cloreto da solução da célula anódica em
ensaios de migração e difusão.
No presente estudo foram utilizados quatro corpos de prova para cada
teor adicionado, aos 28 dias de idade, sendo o resultado apresentado uma
média destes. As amostras tinham uma espessura de cerca de 25 mm,
superior à dimensão máxima característica da brita utilizada, que era de
19 mm.
No processo de seleção das amostras, verificou-se uma grande
diversidade na relação entre o teor de brita e a pasta, o que inviabilizaria
comparações efetivas entre as amostras. Por isso, optou-se por uma
adaptação da ASTM E 562 – 99 (“Standard Test Methods for Determining
Volume Fraction by Sistematic Manual Point Count”). Segundo esta norma, é
possível estimar a porcentagem de uma fase de interesse (no caso, a brita)
sobrepondo uma grade sobre a amostra e contando os nós da rede que
estiverem sobre a fase em questão (os pontos que estiverem em um contorno
devem ser contados como 0,5). A seguir, divide-se este valor obtido pelo o total
de nós, estimando a porcentagem da fase. Um esquema deste processo é
apresentado na Figura 4.12.
Figura 4.12. Esquema do processo de seleção de amostras para a realização
do ensaio de migração de cloretos (em escuro, a “fase brita”).
110
No exemplo apresentado na Figura 4.12, temos uma rede de 38 nós, com
15 pontos (12 de 1 ponto e 6 de 0,5 ponto). Assim, 15/38 resultaria numa
estimativa de 39,5 % de brita nesta amostra. Foram escolhidas as quatro
amostras de cada teor a partir de uma seleção entre 8 amostras.
Durante a realização do ensaio, inicialmente, há um período em que a
quantidade de cloretos que passa para a célula anódica (com água destilada) é
insignificante. Este tempo corresponde ao chamado “time-lag” e define o tempo
necessário para que os íons cloreto atravessem a amostra, saturando-a [30].
Este valor é importante para a determinação do coeficiente de difusão no
estado não-estacionário. Após este período, o fluxo de íons cloreto através da
amostra se torna constante, o que corresponde ao período estacionário. O time
lag (τ) é obtido por meio da interseção entre o prolongamento da reta que
caracteriza o regime estacionário e o eixo do tempo, de acordo com o esquema
da Figura 4.13.
Figura 4.13. Esquema do gráfico padrão obtido no ensaio de migração de
cloretos, bem como a determinação do time lag (τ) e; início (∆) e
fim () do estado estacionário de difusão.
O cálculo do coeficiente de difusão no estado estacionário (ou coeficiente
de difusão efetivo), a partir de ensaios de migração, é efetuado através da
equação de Nerst-Plank modificada (4.11):
111
ΔΦ=
γCl
ClS zFC
RTlJD (4.11)
Sendo:
Ds = coeficiente de difusão no estado estacionário (cm²/s);
JCl = fluxo de íons (mol/(s.cm²));
R = constante de gases (1,9872 cal/(mol.K));
T = temperatura (K);
l = espessura do corpo de prova (cm);
z = valência dos íons (para cloretos = 1);
F = constante de Faraday (23063 cal/(volt.eq));
CCl = concentração de íons cloretos na célula catódica (mol/cm3);
γ = coeficiente de atividade da solução da célula catódica (0,657 para o Cl-);
ΔФ = média da tensão que efetivamente atravessa o corpo de prova durante o
estado estacionário (V).
O fluxo dos íons cloreto (JCl) pode ser calculado utilizando a inclinação da
parte linear do gráfico de concentração de cloretos na célula anódica versus
tempo, obtido a partir do ensaio de migração (Figura 4.13), o que pode é
representado pela equação 4.12.
dtdC
AVJCl ⋅= (4.12)
Sendo:
A= área da seção do corpo de prova exposta (cm²);
V = volume da célula catódica, com cloretos (cm3);
dC/dt = inclinação da parte linear do gráfico de concentração de cloretos versus
tempo.
112
Para calcular o coeficiente de difusão no estado não-estacionário a partir
de ensaios de migração, faz-se necessário converter os resultados obtidos a
valores equivalentes aos obtidos em ensaios de difusão natural. O tempo que
os íons cloretos teriam levado para atingir, durante o ensaio de difusão natural,
a mesma profundidade alcançada durante o ensaio de migração acelerada, tdif,
pode ser calculado pela equação 4.13, proposta por CASTELLOTE et al. [30].
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡ −⋅⋅= 2
2coth61
2νν
τνdift (4.13)
Sendo:
tdif = tempo equivalente na difusão (s);
τ = “time-lag” do ensaio de migração (s);
kTzeΔΦ
=ν ;
k = constante de Boltzmann (1,38.10-23 J/K);
T = temperatura (K);
e = carga do elétron (1,6.10-19 C)
z = valência dos íons (para cloretos = 1);
ΔФ = média da tensão que efetivamente atravessa o corpo de prova durante o
estado não-estacionário (V).
Assim, calcula-se o coeficiente de difusão do estado não estacionário,
Dns, a partir da equação 4.14.
difns t
lD3
2
= (4.14)
Com a combinação entre as duas equações apresentadas acima (4.13 e
4.14), chega-se à equação direta, (4.15):
113
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡ −⋅⋅= 2
2coth2
2
2 νντν
lDns (4.15)
Profundidade de Carbonatação
Após moldados, os corpos de prova prismáticos (4x4x16 cm3) foram
colocados em uma câmara de carbonatação da empresa Quartzolit/Weber, em
Aveiro, Portugal, com capacidade para 600 litros e saturada com gás carbônico
(Figura 4.14).
Figura 4.14. Câmara de carbonatação utilizada para acelerar o processo de
carbonatação dos corpos de prova de concreto.
Para a medida da profundidade de carbonatação, foi elaborada uma
solução aquosa-alcóolica, contendo 1% do indicador fenolftaleína. Esta solução
foi posta em frascos com spray para que fosse facilmente borrifada sobre a
superfície dos corpos de prova, sendo possível a medida do grau de
carbonatação pela reação concreto-solução. A fenolftaleína apresenta
coloração róseo-avermelhada com valores de pH iguais ou superiores a 9,5,
aproximadamente e incolor abaixo desse valor.
Foram efetuadas verificações do nível de carbonatação quando os corpos
de prova atingiram as idades de 3, 7, 14, 28, 52, 91 e 180 dias e as amostras
contendo resíduo foram comparadas às de referência. Para tal, as amostras
(A) (B)
114
foram rompidas sob uma tensão de flexão, visto que a serragem dos corpos de
prova poderia mascarar resultados com a mistura entre as zonas carbonatadas
e não carbonatadas.
Resistividade do Concreto
A resistividade elétrica do concreto foi calculada a partir dos valores da
corrente elétrica (I) que atravessa os corpos de prova prismáticos (20x20x10
cm3).
O sistema, representado esquematicamente na Figura 4.15, consiste, em
traços gerais, de duas sondas cilíndricas, cada uma delas com dois eletrodos
(que corresponde cada um deles a um nível de medição), em aço inox
(anéis/anilhas) e espaçadas entre si, de modo a ficarem a diferentes
profundidades da camada de recobrimento. O espaçamento entre os anéis de
aço é constituído por anéis em polietileno de alta densidade (PEAD). Anéis de
aço e de PEAD são enroscados num suporte, formando um cilindro, suporte
este que sendo oco, permite a passagem de cabos de ligação elétrica com uma
caixa de terminais ou de leitura, sendo completamente fixos e isolados através
do enchimento da zona oca com resina epoxídica.
As sondas utilizadas neste trabalho foram fornecidas pela empresa
portuguesa Icorr, especializada em estudos de corrosão. As duas sondas do
sistema devem ser colocadas a uma distância de 10 cm entre si.
Figura 4.15. (A) Esquema do aparato utilizado no ensaio de resistividade
elétrica do concreto; (B) sonda utilizada e; (C) medição da
corrente elétrica.
(A) (B) (C)
115
Através deste sistema de monitoramento, a resistividade/condutividade
iônica do concreto a cada profundidade da camada de recobrimento pode ser
determinada através da técnica dos dois eletrodos. Neste método aplica-se
uma corrente alternada entre os eletrodos de aço inoxidável, determinando-se
a resistividade através da medição da resistência (ΔE/ΔI, lei de Ohm) e de um
parâmetro que depende da geometria e distância entre os dois eletrodos (A/L).
Assim, a resistividade (ρ) é calculada de acordo com a equação 4.16:
LIAV
⋅⋅
=ρ (4.16)
Que, no caso de eletrodos circulares, é equivalente a:
ILV ⋅⋅
=πρ 2 (4.17)
Sendo; ρ a resistividade elétrica do concreto (Ω.cm); V a tensão aplicada
no corpo de prova; I a intensidade de corrente medida, que o atravessava; A a
área da face do corpo de prova em contato com os eletrodos (cm2) e; L a
distância entre os eletrodos (cm). Como parâmetro de avaliação dos valores
obtidos, serão utilizadas as faixas de valores propostas pelo boletim europeu
CE - COST 509 (“Corrosion and protection of metals in contact with concrete”),
por serem mais rigorosas em relação às sugeridas pela norma CEB-192
(Tabela 2.3, item 2.4.3).
Técnica de Medida do Potencial de Corrosão
Antes de tratar da técnica de medida do potencial de corrosão, é válido
falar da preparação do corpo de prova, bem como do pré-tratamento dado às
barras de aço (armadura).
116
As barras de aço utilizadas foram do tipo CA-50 com 6,3 mm de diâmetro
e 100 mm de comprimento. Elas foram submetidas a um processo de limpeza
para retirada do filme de óxidos presente em sua superfície. Este procedimento
foi adotado como uma tentativa de padronização da condição superficial inicial
das barras utilizadas e foi desenvolvido conforme o procedimento
recomendado pela norma ASTM G-1/03 (“Preparing, Cleaning, and Evaluating
Corrosion Test Specimens”) conforme segue:
• Imersão da barra em uma solução de ácido clorídrico 1:1 com 3,5 g/L
de hexametilenotetramina por dez minutos para a remoção dos
óxidos presentes, sem atacar o metal (Figura 4.16a);
• Lavagem e escovação das barras em água corrente com a utilização
de uma escova com cerdas plásticas para remoção final dos óxidos;
• Imersão das barras em acetona por dois minutos para retirada de
elementos gordurosos e facilitar a evaporação da água (Figura
4.16b) e;
• Secagem das barras com jato de ar quente (Figura 4.16c).
Figura 4.16. (A) Barras em solução de ácido clorídrico 1:1 com 3,5 g/L de
hexametilenotetramina; (B) imersão das barras em acetona e; (C)
secagem das barras com jato de ar quente.
As 40 barras utilizadas foram escolhidas a partir de uma avaliação inicial
na qual, após o procedimento de limpeza, 60 barras tiveram o seu potencial de
corrosão medido, tendo como referência o eletrodo de calomelano saturado.
117
Para a realização destas medidas montou-se uma célula eletroquímica
composta por: barras de aço, tomadas como eletrodo de trabalho e um eletrodo
de referência, o eletrodo de calomelano saturado. Como eletrólito foi utilizada
uma solução aquosa de cloreto de sódio (NaCl) a uma concentração de 3% na
qual todos os componentes da célula foram imersos. As barras de aço foram
presas em duas placas de acrílico furadas e posicionadas próximas ao fundo e
à superfície do recipiente plástico que as continham (Figura 4.17).
Figura 4.17. Célula eletroquímica montada para a medida do potencial de
corrosão das barras de aço. (A) imersa em solução de NaCl 3% e
(B) medida do potencial das barras.
As barras permaneceram imersas na solução (3% de NaCl) por 72 horas
para que fosse formado na superfície o filme de óxidos resultantes do processo
de corrosão. Após este período, o eletrodo de referência foi parcialmente
imerso na solução aquosa e, conforme mostrado na Figura 4.17b efetuou-se a
medida do potencial das barras.
Esse procedimento objetivou detectar irregularidades e não-
uniformidades nas barras que pudessem provocar comportamentos
diferenciados quando estas fossem submetidas a um processo corrosivo [14].
Desta forma, as barras escolhidas foram aquelas cujos potenciais medidos
diferiram no máximo 2% do valor médio obtido.
118
As 40 barras escolhidas foram limpas com água destilada, sem
escovação, para tirar o depósito de NaCl presente em sua superfície e, a
seguir, foram colocadas em acetona durante 2 minutos.
As barras foram pesadas em uma balança analítica com precisão de
0,01g. Em seguida, fez-se a delimitação com fita isolante da área na barra a
ser exposta ao ataque do agente agressivo (cerca de 15,83 cm²), como pode
ser visto nas Figuras 4.18a e 4.18b. As barras foram posicionadas de forma
que a área exposta estivesse localizada na região central dos corpos de prova
como pode ser visto na Figura 4.18d.
Figura 4.18. (A) e (B) Esquema da delimitação da área de exposição da barra
e; (C) e (D) Posicionamento da barra no corpo de prova (adaptado
de SANTOS [14]).
Os corpos de prova foram moldados em duas camadas e adensados com
o uso da mesa vibratória. Após 24 horas, os corpos de prova foram
desmoldados e fios flexíveis foram conectados às barras e envolvidos em fita
isolante (Figuras 4.19a e 4.19b), para a realização das medidas eletroquímicas.
Em seguida, a face superior dos corpos de prova foi revestida com resina epóxi
119
(Figura 4.19c) para garantir a proteção da parte externa das barras e para a
delimitação da superfície de exposição do concreto.
Figura 4.19. (A) Conexão dos fios de cobre para a realização de medidas
eletroquímicas; (B) isolamento com fita e; (C) revestimento com
resina epóxi.
Após o período de cura em água, que durou sete dias, os corpos de
prova prismáticos (5x7x9 cm3) foram dispostos em ambiente de laboratório até
o início do ensaio. Durante esse período foi feito o monitoramento da perda de
massa dos corpos de prova e do potencial de corrosão das barras de aço neles
contidas.
A verificação do potencial de corrosão consiste, basicamente, em um
ensaio acelerado de corrosão pela ação de cloretos. Na presente pesquisa
foram utilizadas duas técnicas: i) a primeira consistiu em ciclos de imersão
parcial e secagem, metodologia adotada por SANTOS [14] e que será
chamada de “método de envelhecimento por ciclos”; ii) a segunda consistiu na
exposição dos corpos de prova a uma névoa salina, por meio de um
equipamento conhecido como “Salt Spray” e que será chamada de “método de
envelhecimento por névoa salina”.
A célula eletroquímica utilizada para as medidas do potencial de corrosão
foi composta pelo eletrodo de trabalho, a barra de aço do corpo de prova
prismático e o eletrodo de calomelano saturado, utilizado como eletrodo de
referência.
Antes da realização das medidas, os corpos de prova tinham a face de
leitura pré-umidificada por meio do seu posicionamento durante um minuto
sobre uma esponja molhada (Figura 4.20a). O umedecimento destas esponjas
120
era feito com uma solução condutora, contendo 5 mL de detergente neutro
para um litro de água potável, de acordo com a ASTM C-876/91 (“Standard
Test Method for Half-Cell Potentials of Uncoated Reinforcing Steel in
Concrete”). A solução apresentou uma condutividade de 0,15 ± 0,02 mS/cm.
Para a realização das medidas, em ambas as técnicas, o eletrodo de
referência era posicionado sobre a barra que estava sendo analisada,
aproximadamente no centro da área de exposição da barra. O contato entre o
eletrodo de referência e o corpo de prova foi feito por meio de uma esponja
umedecida (Figura 4.20b).
Figura 4.20. Célula eletroquímica para a medida do potencial de corrosão das
barras. (A) Colocação da esponja para umedecimento superficial;
(B) Medida do potencial de corrosão da armadura no concreto,
utilizando uma esponja umedecida como contato.
O ensaio de corrosão foi iniciado após 63 dias. quando os corpos de
prova apresentaram constância de massa (variação de 1,0 g em leituras
consecutivas de 24 h) e quando o potencial de corrosão medido indicou a
formação do filme passivo na superfície das barras de aço utilizadas
(Ecor > -0,124 V). Este valor de referência corresponde a uma possibilidade
inferior a 10% de ocorrência da corrosão, segundo a ASTM C 876/91, para o
eletrodo de calomelano saturado, utilizado neste trabalho.
(A) (B)
121
Em outros trabalhos que utilizaram o “método de envelhecimento por
ciclos” [14, 71], achou-se necessário definir uma idade específica, ou idade de
referência, a partir da qual foram iniciados os procedimentos dos ensaios
acelerados de corrosão. Estes autores atrelaram a idade de referência à
estabilização do processo de hidratação do cimento e definiram a idade de 63
dias [71] e 80 dias [14] como suficientes para que a estrutura das pastas
analisadas apresentasse estrutura física relativamente desenvolvida e grau de
hidratação significativamente elevado.
No “método de envelhecimento por ciclos”, após atingir o “potencial de
segurança”, os corpos de prova foram submetidos a semi-ciclos de imersão
parcial em solução com 3% de cloreto de sódio (NaCl) com duração de dois
dias (Figura 4.21a) e posteriores semi-ciclos de secagem em estufa ventilada a
50ºC com duração de 5 dias (Figura 4.21b). Durante o semi-ciclo de imersão
parcial, o nível da solução de imersão foi mantido em uma altura
correspondente à metade da área exposta da barra (Figura 4.21a). Nesta
condição, o ingresso de cloretos ocorre inicialmente por absorção capilar, já
que os corpos de prova apresentam-se inicialmente secos, e por difusão após
a saturação dos poros, e é acelerado devido à evaporação da água através da
parte exposta do concreto [14]. De acordo com MCCARTER apud SANTOS
[14], em um material poroso, há uma relação entre a força de sucção capilar e
o grau de saturação. Assim, quando existe uma região exposta e seca, as
forças de sucção serão maiores e irão resultar em um mais rápido movimento
da água no interior do concreto.
A concentração de 3% de NaCl foi adotada por ser uma concentração
próxima à apresentada pela água do mar, além de ser a concentração crítica,
de acordo com o mostrado anteriormente. A concentração da solução de
imersão era medida antes de iniciar cada semi-ciclo de umedecimento e
ajustada sempre que necessário. Além disso, esta solução utilizada foi trocada
por uma nova com a mesma concentração a cada quatro ciclos.
122
Figura 4.21. Ciclo de medida do ensaio de medida de potencial de corrosão.
(A) Corpos de prova parcialmente imersos em solução de NaCl
(3%) durante 2 dias; (B) Corpos de prova em estufa a 50°C
durante 5 dias.
Ao final de cada semi-ciclo foram medidos o potencial de corrosão (Ecor) e
a massa dos corpos de prova. O potencial de corrosão foi utilizado como um
indicativo da condição de passivação das barras e a variação de massa dos
corpos de prova após cada semi-ciclo fez-se necessária para a avaliação do
grau de saturação dos poros dos concretos analisados.
Na medida do potencial de corrosão via “método de envelhecimento por
névoa salina”, a exposição dos corpos de prova com idade inicial de 63 dias foi
feita em uma câmara de ensaio conhecida como “Salt Spray”, que borrifa uma
solução aquosa em forma de névoa salina com concentração fixa de NaCl
(5%), a uma pressão (70 KPa) e temperatura (55°C) constantes. Estes
parâmetros são estabelecidos pela NBR 8094/83 (“Material metálico revestido
e não revestido – corrosão por exposição à névoa salina”) e pela ASTM B-117-
97 (“Standard Practice for Operating Salt Spray Apparatus”).
O equipamento utilizado neste estudo e apresentado na Figura 4.22 é
uma câmara “Salt Spray”, modelo USC-MP-02-2002 fabricada pela Bass
Equipamentos Ltda, com volume de 710 litros. Os corpos de prova foram
retirados do equipamento a cada 10 dias, tiveram seus potenciais de corrosão
medidos e foram recolocados no equipamento, repetindo-se este procedimento
até o fim do ensaio.
(A) (B)
123
Figura 4.22. Aparato de borrifação de névoa salina, conhecido por Salt Spray.
Por meio da análise dos resultados obtidos de potencial de corrosão
(Ecor), observou-se se a barra apresenta-se em estado ativo (Ecorr < - 0,274 V)
ou passivo (Ecorr > - 0,124 V) de corrosão, utilizando como referência o
eletrodo de calomelano saturado. O ensaio foi finalizado no momento em que 2
ciclos completos e consecutivos (para o “método de envelhecimento por
ciclos”) ou a primeira medida (para o “método de envelhecimento por névoa
salina”) apresentassem valores de potencial abaixo do valor crítico
(Ecorr < - 0,274 V).
Após a finalização do ensaio, as barras foram extraídas dos corpos de
prova, limpas de acordo com a ASTM G-1/03 e pesadas para observar a perda
de massa e comparar com o valor verificado antes do início do ensaio.
A única diferença no processo de limpeza, em relação ao realizado
anteriormente foi o aumento do tempo de imersão das barras: neste caso,
foram colocadas durante 25 minutos em solução de ácido clorídrico 1:1 com
3,5 g/L de hexametilenotetramina (ao invés de dez minutos) e, após esse
período, as barras foram imersas em acetona por 5 minutos (ao invés de dois
minutos). Este aumento no tempo de limpeza foi devido a uma maior deposição
de material corroído sobre as barras e é previsto na ASTM G-1/03.
Assim, a taxa de corrosão (TC) pode ser calculada, de acordo com a
equação 4.18.
(B) (A)
124
DTAWKTC..
.= (4.18)
Sendo:
K = constante (para TC(μm/ano), K=8,76.107; para TC(g/m2.ano),
K = 8,76.107.D);
W = perda de massa (g);
A = área de exposição (cm2);
T = tempo de exposição (h);
D = densidade (para o aço CA-50, D = 7,85 g/cm3).
No presente estudo, A = 15,83 cm2 e T = 4320 horas (180 dias).
Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE)
Os corpos de prova utilizados nos ensaios de espectroscopia de
impedância eletroquímica foram idênticos aos utilizados nas medidas de
potencial de corrosão, tanto em relação às dimensões quanto em relação à
forma de tratamento das barras e preparação das mesmas.
As amostras também foram submetidas a ciclos de secagem em estufa e
umedecimento com imersão parcial em solução de NaCl 3%. No entanto,
devido ao fato do intervalo entre as medidas ser maior, foram feitos ciclos
mensais, com a permanência dos corpos de prova durante uma semana em
estufa e, em seguida, três semanas em solução de NaCl. Assim como no
ensaio de potencial de corrosão, utilizaram-se três corpos de prova para cada
composição, que proporcionaram uma média entre os seis resultados (duas
barras por amostra).
Antes de iniciar cada medida, foi montada a célula utilizando o eletrodo
de calomelano saturado (ECS, Hg/Hg2SO4 sat K2SO4) como referência e como
contra-eletrodo utilizou-se carbono, sendo a barra central dos corpos de prova
o eletrodo de trabalho. Os corpos de prova foram umedecidos com solução
condutora durante 1 minuto para que se uniformizasse a superfície.
125
Para a realização dos testes de EIE utilizou-se um sistema de medições
eletroquímicas sendo um potenciostato/galvanostato Solartron 1287 e um
módulo de impedância Solartron modelo 1260, ambos monitorados por
microcomputador com sistema operacional Windows contendo o sofware
ZPlot/CorrWare V. 2.3.
Os ensaios de EIE foram realizados por varredura freqüência
descendente, calculada pelo software após a entrada de alguns dados. Na
seqüência estão colocadas algumas informações a respeito desta varredura:
• freqüência inicial: 50 kHz;
• freqüência final: 10 mHz;
• amplitude (rms): 5 mV;
• temperatura ambiente: (23 ± 2) ºC;
• faixa de corrente: 1A a 100nA;
• potencial eletroquímico: Ecorr;
• tempo total de cada ensaio: 30 min.
A Figura 4.23 ilustra a montagem do aparato do ensaio para medida do
processo corrosivo via EIE.
Figura 4.23. Aparato de medida do processo de corrosão via espectroscopia de
impedância eletroquímica (EIE).
A partir do instante em que as conexões entre os terminais dos
equipamentos e os eletrodos são realizadas, o equipamento mostra (na tela do
(A) (B) (C)
126
monitor), de maneira automática e instantânea, o potencial do sistema (medido
em relação ao eletrodo de referência). Nos instantes iniciais, este potencial
varia lentamente, e tende a se estabilizar em um potencial fixo, após alguns
minutos. Desta forma, as medições só se iniciaram após decorridos 20 minutos
da conexão dos eletrodos, quando o potencial (potencial de corrosão, Ecorr) já
estava estabilizado.
Os resultados foram analisados utilizando os softwares CView 2
(potencial de corrosão) e ZView 2 (Impedância). As medidas foram feitas a
cada 30 dias para os 3 primeiros meses e, após isso, a cada 2 meses. Assim,
as medidas foram tomadas com, 1, 2, 3, 5, 7, 9, 11 e 13 meses de idade.
127
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Caracterização das Matérias-primas
5.1.1 Cimento Portland
A composição química do cimento Portland utilizado foi fornecida pelo
fabricante e é apresentada na Tabela 5.1.
Tabela 5.1. Composição química do cimento Portland CP-II 32 Z obtida pela
técnica de espectrometria por fluorescência de raios X.
Constituinte CaO SiO2 Al2O3 MgO Fe2O3 SO3 K2O Na2O PF
Teor (%) 56,0 24,5 6,1 4,0 2,5 1,8 0,25 0,45 4,1
A perda ao fogo (PF) do cimento foi de apenas 4,1%. Foram observadas,
também, as características físicas do material, mostradas na Tabela 5.2 e na
Figura 5.1. O diâmetro médio de partículas (D50) do cimento utilizado é de
aproximadamente 12 μm.
Tabela 5.2. Caracterização física do cimento Portland CP-II 32 Z.
Grandeza Cimento Portland
Área superficial específica 0,93 m2/g
Massa unitária 1,00 kg/dm3
Massa específica 3,11 kg/dm3
128
0
20
40
60
80
100
0 1 10 100
Diâmetro esférico equivalente (µm)
Freq
uênc
ia a
cum
ulad
a (%
m)
Figura 5.1. Distribuição do tamanho de partículas do cimento Portland
CP-II 32 Z da marca Itaú.
As principais fases presentes e detectadas são mostradas no
difratograma da Figura 5.2. Observa-se a predominância dos silicatos de cálcio,
o que está de acordo com o observado na composição química apresentada na
Tabela 5.1.
10 20 30 40 50 60 70 80
2φ (graus)
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
+ 3CaO.SiO2
x 2CaO.SiO2
+
+
+
+
+
+ +
+ +
x
x x x x x
Figura 5.2. Difratograma de raios X do cimento Portland CP-II 32 Z da marca
Itaú.
129
5.1.2 Resíduo de Bauxita (Lama Vermelha)
A lama vermelha foi recebida como uma pasta, contendo cerca de 40% de
água livre. No presente estudo, o material foi seco e moído e então utilizado
como um material em pó.
A composição química da lama vermelha utilizada é apresentada na
Tabela 5.3. A alta concentração de compostos ferrosos dá ao resíduo da
bauxita uma cor vermelha típica.
Tabela 5.3. Composição química da lama vemelha, obtida pela técnica de
espectrometria de fluorescência de raios X (em óxidos).
Composto Al2O3 Fe2O3 Na2O CaO SiO2 K2O MnO TiO2 Outros PF
Teor (%) 19,87 19,87 7,35 4,61 14,34 1,87 0,21 2,66 2,02 27,20
Após correção da perda ao fogo (PF)
Teor (%) 27,30 27,30 10,10 6,33 19,70 2,57 0,29 3,65 2,76 -
As principais características físicas do resíduo de bauxita são
apresentadas na Tabela 5.4.
Tabela 5.4. Resultados de caracterização física e de pH da lama vermelha
seca e desaglomerada.
Grandeza Resíduo de Bauxita
Área superficial específica 20,27 m2/g
Massa unitária 0,63 kg/dm3
Massa específica 2,90 kg/dm3
pH (1 : 1) 12,04
Uma característica que chama a atenção é a área superficial do resíduo
de bauxita, bastante elevada, o que mostra ser este resíduo muito mais fino
130
que o próprio cimento Portland e o elevado pH, próximo ao limite da norma
NBR 10004.
Verificou-se ainda a distribuição do tamanho de partículas e as fases
presentes no resíduo. Estes resultados podem ser verificados na Figura 5.3 e
pelo difratograma da Figura 5.4.
0
20
40
60
80
100
0 1 10 100
Diâmetro esférico equivalente (µm)
Freq
uênc
ia a
cum
ulad
a (%
m)
Figura 5.3. Distribuição do tamanho de partículas da lama vermelha seca e
desaglomerada (resultado médio de cinco determinações).
0
250
500
750
1000
1250
1500
0 10 20 30 40 50 60 70 80
2ϕ (graus)
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
x
x ◊
+
+
x
x
+
x
x
x
+ SiO2
x Fe2O3
CaCO3
Al(OH)3
◊ FeO(OH) Muscovite Na5Al3CSi3O15
◊ ◊
Figura 5.4. Difratograma de raios X da lama vermelha.
131
Observa-se que o diâmetro médio de partículas (D50) da lama vermelha é
igual a 3,5 μm. Como esperado, o hidróxido de alumínio (Al(OH)3), o carbonato
de cálcio (CaCO3), o SiO2 e o óxido de ferro (Fe2O3) são os compostos
predominantes. No entanto, quantidades relativas de muscovita e FeO(OH) são
também relevantes. Além destes, uma fase complexa de sódio e alumínio, o
carbonato silicato de sódio e alumínio ,(Na5Al3CSi3O15) foi identificada.
Com o objetivo de verificar a forma das partículas da lama vermelha após
desaglomeração, utilizou-se em um microscópio eletrônico de varredura (MEV).
As micrografias são mostradas na Figura 5.5.
Figura 5.5. Micrografias do resíduo de bauxita obtidas por microscopia
eletrônica de varredura (MEV), mostrando sua estrutura de flocos
misturada a placas soltas.
(A) (B)
(C) (D)
132
Como podemos observar nas micrografias da Figura 5.5, o resíduo de
bauxita apresenta uma estrutura floculada, associada a placas. É uma estrutura
que favorece a adição às matrizes cerâmicas por ser semelhante à encontrada
no cimento Portland.
Para a verificação da periculosidade ambiental, foram realizados ensaios
de lixiviação e solubilização, cujos resultados são apresentados na Tabela 5.5.
Tabela 5.5. Resultados de solubilização e lixiviação do resíduo de bauxita,
segundo as normas NBR 10004, NBR 10005 e NBR 10006.
Solubilizado Lixiviado Amostra Bruta
Parâmetros Resultado mg/L
VMPmg/L
Resultadomg/L
VMPmg/L
Resultado g/Kg
VMP mg/Kg
Óleos e graxas x # x # nd 5%
Alumínio 41,8 0,2 x # 79,77 #
Arsênio 0,082 0,010 nd 1,0 nd 1000
Bário nd 0,7 nd 70,0 nd #
Chumbo nd 0,010 nd 1,0 nd 1000
Cromo Total nd 0,050 nd 5,0 nd #
Fenóis 0,014 0,010 x # nd 10
Prata nd 0,05 nd 5,0 x #
Selênio 0,019 0,010 nd 1,0 nd 100
Sódio 1665 200 1510 # 59,98 #
Ferro nd 0,3 x # 128,07 #
Cloretos 54,6 250,0 x # x #
Fluoretos 78,0 1,5 2,26 150,0 x #
Nitratos 0,2 10,0 x # x #
Sulfatos 43,0 250,0 x # x #
Surfactantes 0,81 5,00 x # x #
VMP = Valor máximo permitido; # = ausência de limite pela NBR 10004; x =não solicitado pela NBR 10004; nd = não detectado.
133
Os ensaios de solubilização e lixiviação mostram que a periculosidade
deste resíduo, está associada, principalmente, à presença de sódio, fluoretos e
alumínio, bastante acima dos limites estabelecidos pela NBR 10004 e do seu
elevado pH (12,04), que caracterizam este material, inicialmente, como
“resíduo não-perigoso não inerte” (Classe II-A). No entanto, outros parâmetros
(patogenicidade, inflamabilidade, combustibilidade, radioatividade, etc) devem
ser realizados para se ter um laudo mais preciso.
A elevada concentração destes elementos no extrato solubilizado era
previsível, uma vez que a argila que compõe este resíduo está numa jazida de
bauxita (alto teor de alumínio e fluoretos) e a soda caustica (sódio) é utilizada
na etapa de digestão, no processo Bayer.
O arsênio, fenóis e o selênio também se apresentaram em limites acima
do permitido. No entanto, estes resultados foram atribuídos a alguma impureza
ou contaminação do material, haja vista não haver motivos aparentes para sua
presença.
Algo que chama a atenção é o fato do ferro não ser detectado, apesar de
o óxido de ferro estar presente, de acordo com a análise química apresentada
na Tabela 5.3, em elevado teor (19,87%). Isto se justifica pelo método de
ensaio, em que se pesa certa massa de material e a deixa em repouso por sete
dias, em água destilada. Pelo fato do resíduo ser altamente alcalino, os metais
se precipitam, ficando retidos em membrana 0,45 μm após serem filtrados e,
conseqüentemente, não são detectados pelo teste.
5.1.3 Areia
A distribuição do tamanho de partículas da areia utilizada no presente
estudo é mostrada na Figura 5.6. A NBR 7211 classifica as areias em quatro
faixas, denominadas muito fina, fina, média e grossa. Ainda na Figura 5.6,
podemos ver os limites inferior e superior que caracterizam uma areia como
“média” (faixa 3). Como se pode perceber, todas as porções da areia utilizada
se colocam dentro da faixa em questão.
A composição química e a caracterização física da areia são mostradas
nas Tabelas 5.6 e 5.7, respectivamente.
134
0
20
40
60
80
100
0,1 1,0 10,0
Diâmetro esférico equivalente (mm)
Freq
uênc
ia a
cum
ulad
a (%
)
Figura 5.6. Distribuição granulométrica da areia utilizada e limites que a
classificam como “areia média – faixa 3”, segundo a NBR 7211.
Tabela 5.6. Composição química da areia utilizada na produção das
argamassas obtida pela técnica de espectrometria por
fluorescência de raios X.
Constituinte SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO Na2O K2O TiO2 PF
Teor (%) 95,33 1,91 0,64 0,20 0,15 0,91 0,32 0,47
Tabela 5.7. Caracterização física da areia utilizada na produção das
argamassas.
Grandeza Areia
Área superficial 0,68 m2/g
Massa unitária 1,63 kg/dm3
Massa específica 2,48 kg/dm3
Módulo de Finura 2,62
Dimensão Máxima Característica 2,40 mm
135
Para o ensaio de índice de atividade pozolânica, de acordo com as
normas NBR 5752 e NP EN 4220, além da avaliação da reação álcalis-
agregado (ASTM C 1260-01), foram utilizadas areias graduadas, segundo a
Tabela 5.8.
Tabela 5.8. Graduação da areia utilizada em alguns ensaios específicos.
Abertura da Malha (#) Massa (%)
Passando na Retida na NBR
5752/92 NP EN
4220/95 ASTM C 1260-01
4,75 mm 2,36 mm --- --- 10
2,36 mm 1,18 mm 25 7 ± 5 25
1,18 mm 600 μm 25 26 ± 5 25
600 μm 300 μm 25 34 ± 5 25
300 μm 150 μm 25 32 ± 1 15
5.1.4 Agregado Graúdo – Brita
A distribuição granulométrica da brita utilizada no presente trabalho é
mostrada na Figura 5.7.
A NBR 7211 classifica a brita em seis faixas, denominadas 0, 1, 2, 3, 4 e
5. De acordo com a Figura 5.7, pode-se observar os limites inferior e superior
que caracterizam uma brita como 0 e 1. A distribuição granulométrica da brita
utilizada situa-se uma posição intermediária entre estas, classificando-a, então,
como brita 1. A caracterização física da brita é mostrada na Tabela 5.9.
136
0%
20%
40%
60%
80%
100%
0,1 1,0 10,0 100,0
Diâmetro equivalente (mm)
Freq
uênc
ia a
cum
ulad
a (%
)
Brita 0
Brita 1
Figura 5.7. Distribuição granulométrica da brita utilizada e limites que a
classificam como intermediária entre a “brita 0” e a “brita 1”,
segundo a NBR 7211.
Tabela 5.9. Caracterização física da brita utilizada na produção dos corpos de
prova de concreto.
Grandeza Areia
Massa unitária 1,48 kg/dm3
Massa específica 2,74 kg/dm3
Módulo de Finura 6,69
Dimensão Máxima Característica 19,00 mm
5.2 Primeira Etapa - Estabelecimento dos Teores de Adição
5.2.1 Cimento Portland
a) Tempo de Pega O efeito da adição da lama vermelha no tempo de pega das misturas foi
verificada em duas condições distintas: (i) em formulações preparadas com
137
teor de água fixo (água/aglomerante igual a 0,6) e (ii) formulações preparadas
com ajuste da quantidade de água, em função do teor de cimento Portland
substituído pela lama vermelha, com o objetivo de fixar o nível de consistência
(trabalhabilidade) da pasta. As Figuras 5.8 e 5.9 mostram os resultados obtidos
para ambas as situações.
0
100
200
300
400
500
0% 5% 10% 15% 20% 25%
Teor de Lama Vermelha
Tem
po (m
in)
Início de Pega Fim de Pega
Figura 5.8. Tempo de pega das pastas de cimento Portland em função do teor
de lama vermelha adicionado para as misturas preparadas com
uma quantidade fixa de água.
A adição de lama vermelha tende a acelerar o processo de pega. O fim
de pega reduz de 345 minutos para 300 minutos para as argamassas sem
lama vermelha e contendo 20% de resíduos, respectivamente. Este efeito pode
ser explicado pela presença de hidróxidos de alumínio e sódio (reconhecidos
como aceleradores de pega) [72] na lama vermelha, e também por seu caráter
de elevada alcalinidade. A finura das partículas do resíduo pode também
causar uma maior retenção de água, e fazendo-o competir com o cimento.
Uma vez que o teor de água é constante em todas as formulações, o teor de
138
água livre disponível para a hidratação das partículas de cimento será
rapidamente consumido.
Quando o teor de água foi aumentado para assegurar a igualdade na
consistência das misturas com maiores teores de lama, o processo de
endurecimento foi naturalmente desacelerado (Figura 5.9), pois as argamassas
com maior quantidade relativa de lama vermelha foram preparadas com mais
água. O fim de pega foi adiado, de 345 minutos (sem lama vermelha) para 485
minutos, em argamassas preparadas com 20% de lama.
0
100
200
300
400
500
600
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%
Teor de Resíduo
Tem
po (m
in)
Início de Pega Fim de Pega
Figura 5.9. Tempo de pega de pastas de cimento Portland em função do teor
de lama vermelha para as misturas preparadas com quantidade
variável de água necessária para corrigir a consistência no estado
fresco.
Assim, há água suficiente para molhar compostos ricos em alumínio,
presentes na lama vermelha e a presença de uma maior quantidade de álcalis
(compostos de sódio e cálcio) torna-se mais eficaz. Estes compostos são
altamente insolúveis (principalmente compostos de cálcio) e são facilmente
139
formados ao redor de partículas de hidratação do cimento. Esta envoltória
densa e insolúvel reduz consideravelmente a hidratação, devido ao retardo da
taxa de ionização, causando, assim, o fenômeno de endurecimento lento da
pasta [73].
b) Potencial Hidrogeniônico (pH) Como mostrado anteriormente, o elevado pH da lama vermelha (12,04)
é o seu principal problema ambiental. No entanto, a utilização de materiais com
esta característica é positiva quando adicionado à matrizes de cimento
Portland, como argamassas e concretos, uma vez que as reações de
hidratação são favorecidas em ambientes de elevada alcalinidade [74].
Como pode ser visto na Tabela 5.10, a adição de lama vermelha
proporciona um aumento nos valores de pH das pastas, de cerca de 13,5 (sem
lama) a 14,6 (30% em peso). Ainda que se pudesse esperar um alto valor de
pH, os valores obtidos foram surpreendentes por serem maiores que o pH da
lama vermelha. Isto acontece, provavelmente, devido à formação de grande
concentração de íons [OH-] livres na solução dos poros das pastas contendo
lama.
Tabela 5.10. Potencial hidrogeniônico (pH) de argamassas de cimento Portland
em função do teor de lama vermelha adicionado.
Teor adicionado 0% 10% 20% 30%
pH 13,48 14,79 14,57 14,61
c) Pozolanicidade A norma brasileira NBR 12653 apresenta parâmetros que devem ser
satisfeitos para que o material testado (no caso, a lama vermelha) seja
considerado pozolânico. Estes parâmetros são apresentados na Tabela 5.11.
140
Tabela 5.11. Requerimentos de um material pozolânico artificial (classe E),
definidos segundo a NBR 12653.
Propriedades Valor ObtidoEspecificação
NBR 12653
Requerimentos Químicos (% em peso)
SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 (%) 54,06 ≥ 50
SiO3 (%) 0,17 ≤ 4
Teor de Umidade (%) 0,78 ≤ 3
Teor de Alcalis disponível (em %Na2O) 8,6 ≤ 1,5
Perda ao Fogo (%) 27,20 ≤ 6
Requirementos Físicos
Material retido (%) na malha 45 μm. 32,15 ≤ 34
Resistência à compressão (MPa) após 7 dias
de cura (pozolana com cimento) 16,62 > 6,0
Resistência à compressão (MPa) após 28
dias de cura (apenas cimento), RCA 24,95 ± 0,43 -
Resistência à compressão (MPa) após 28
dias de cura (pozolana com cimento), RCB 19,61 ± 0,31 -
Índice de Atividade Pozolânica, IAP = RCB/RCA 0,79 ≥ 0,75
Água Requerida, H2Oreq 1,13 ≤ 1,15
Pelo fato do resíduo de bauxita ter sido seco e triturado neste estudo, os
resultados correspondem apenas a esta situação. Segundo a Tabela 5.11, o
resíduo não pode ser considerado exatamente um material pozolânico, pois a
exigência de perda ao fogo inferior a 6% não foi atingida (o valor obtido foi igual
a 27,2%) e, principalmente, devido ao elevado valor de equivalente alcalino em
Na2O (%Na2O + 0,658.%K2O, igual a 8,6%), o que ratifica a preocupação com
as possíveis reações álcalis-sílica. Apesar disso, existem indícios promissores
quanto ao potencial do material para substituir parcialmente o cimento em
aplicações menos exigentes (secundárias). Talvez uma simples calcinação
(reduzindo a perda ao fogo do resíduo) seja suficiente para o aumento da
141
pozolanicidade, o que não foi testado no presente trabalho, por não ser o foco
deste estudo.
Além disso, estima-se que aproximadamente metade da quantidade de
cimento Portland consumido na construção civil corresponde a aplicações
secundárias, como assentamento e reboco. Para tais utilizações, a resistência
máxima a que o cimento pode ser exigido (cerca de 15,0 MPa) nunca é
totalmente utilizada, sendo da ordem de 4,0 MPa [75].
Segundo a norma NP EN 4220, o material é considerado pozolânico se a
relação entre as resistências à compressão axial do material sem pozolana
(referência) e com pozolana (índice de atividade pozolânica), após os 28 dias,
for superior a 0,85.
Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 5.12. As amostras de
referência (sem lama vermelha) tiveram resistência mecânica média aos 28
dias de 27,54 MPa e as amostras contendo lama vermelha apresentaram
resistência mecânica média igual a 23,47 MPa, resultando em um índice de
atividade pozolânica igual a 0,852, isto é, no limite sugerido pela norma.
Tabela 5.12. Determinação do Índice de Atividade Pozolânica, segundo a
norma NP EN 4220.
Mistura Resistência à compressão
após 28 dias (MPa) Índice de Atividade
Pozolânica
Padrão (sem resíduo) 27,54 ± 1,02 ---
Com lama vermelha 23,47 ± 0,11 0,852
Outros autores [62] obtiveram resultados bastante satisfatórios, com
aumento de resistência mecânica para pastas e argamassas contendo lama
vermelha. No entanto, estes estudos não conseguem identificar os motivos que
levam a este comportamento.
É geralmente aceito que a atividade cimentícia dos minerais depende,
principalmente, do seu teor de SiO2 e Al2O3 ativos. Assim, os resultados dos
testes das quantidades dissolvidas de SiO2 e Al2O3 em solução de NaOH pode
ser utilizado para avaliar a atividade de cimento [76].
142
Em estudos recentes, DOW & GLASSER [76] verificaram que as
quantidades de SiO2 e Al2O3 dissolvidas na lama vermelha calcinada são muito
maiores do que as encontradas na amostra in natura e talvez este seja um
caminho para aumentar a pozolanicidade da lama vermelha. Além disso, a
reação de hidratação do cimento é favorecida pelo ambiente de elevada
alcalinidade, característica da lama vermelha [74].
As propriedades mecânicas são indicadores holísticos da microestrutura
durante a hidratação. No entanto, essas propriedades não refletem exatamente
a química da reação de hidratação, mas principalmente os efeitos físicos, como
a redução de água e a trabalhabilidade. Assim, o efeito da lama vermelha em
todo o sistema não pode ser determinado apenas com estes métodos. Com o
objetivo de complementar o ensaio físico, também foram realizados ensaios
químicos para uma verificação da pozolanicidade da lama vermelha.
Com base na NP EN 196-5, compararam-se as quantidades de hidróxido
de cálcio presentes nas soluções aquosas em contato com o cimento
hidratado, após 14 dias, com a quantidade de hidróxido de cálcio que faz
saturar um meio de mesma alcalinidade. O material é considerado pozolânico
se a concentração de hidróxido de cálcio em solução for inferior à concentração
de saturação. Os resultados obtidos são apresentados na Figura 5.10.
Como pode ser observado na Figura 5.10, o próprio cimento de referência
não se enquadra como um material pozolânico. Isto ocorre, pois o cimento por
si só não é pozolânico. É a adição da pozolana, em presença de água, que irá
fixar o hidróxido de cálcio proveniente da hidratação do cimento, fazendo com
que o teor em óxido de cálcio da fase líquida da pasta de cimento contendo
pozolana seja inferior.
O fenômeno citado no parágrafo anterior é verificado nos resultados para
as misturas de cimento com lama vermelha. Observa-se uma diminuição do
teor de CaO com a adição de pozolana e um aumento da concentração de íons
[OH-], levando os valores das misturas de cimento com lama vermelha para
valores muito próximos da curva de saturação.
143
Figura 5.10. Diagrama para a determinação da pozolanicidade, de acordo com
a norma NP EN 196-5.
Este resultado ratifica a análise física da pozolanicidade, mostrando que a
lama vermelha apresenta resultados bastante próximos ao limite das normas e
podendo ser considerados satisfatórios no intuito de substituir parcialmente o
cimento em atividades secundárias na construção (assentamento, emboço ou
reboco), mas, no entanto, a lama vermelha não pode ser considerada um
material perfeitamente pozolânico. Este fato também pode ser confirmado
pelos resultados preliminares de calor de hidratação, mostrando ser essa
técnica um bom indicativo indireto da atividade pozolânica dos materiais.
PERA et al. [77] utilizaram um método algébrico para determinar o índice
de atividade pozolânica (equação de Feret) que não é comparativo. Os
resultados obtidos no presente estudo foram bastante semelhantes aos
verificados por este autor, isto é, as amostras contendo lama vermelha
apresentaram pozolanicidade razoavelmente inferior à das amostras de
referência.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
35 45 55 65 75 85 95 105 115 125 135 145 155 165 175 185 195 205
Concentração de íons [OH-] (mmol/L)
Con
cent
raçã
o em
CaO
(mm
ol/L
) Referência (Cimento)
Cimento + Lama vermelha
Limite EN 196-5
Material Pozolânico
Material Não Pozolânico
144
d) Reação Álcalis-agregado (RAA) Uma grande preocupação quando se pensa em utilizar a lama vermelha
como adição em matrizes cimentícias é o fato de este resíduo apresentar um
elevado teor de álcalis, principalmente o sódio. Como mostrado na revisão de
literatura, a reação álcalis–sílica é altamente prejudicial à estrutura do concreto.
A reação entre os hidróxidos alcalinos solubilizados na fase líquida dos
poros dos concretos e alguns agregados reativos é lenta e resulta em um gel
que, ao se acumular em vazios do concreto e na interface pasta-agregado, na
presença de água, se expande, exercendo pressão interna no concreto. Ao
exceder a resistência à tração do concreto, a pressão interna pode promover
fissurações. A reação álcali-agregado requer a atuação conjunta de água,
agregado reativo e álcalis [46].
Assim, foram realizados testes para avaliar uma possível reação álcalis-
agregado. Escolheu-se o método das barras por ser o mais aceito
internacionalmente. Foram moldados três corpos de prova para cada teor e o
resultado apresentado na Figura 5.11 é uma média dos valores obtidos.
Para que os resultados fossem realçados, utilizou-se uma areia de
elevada reatividade. Assim, as amostras de referência (0%, sem resíduo)
apresentaram uma expansão média igual a 0,30% já aos 14 dias, chegando a
0,47% aos 28 dias. Esta expansão da amostra de referência já é bastante
acima do valor considerado “seguro” (0,10%) ou “duvidoso” (0,20%).
A adição da lama vermelha surpreendentemente reduziu a
expansilibilidade destas argamassas, provocada pela RAA. Para uma adição
de 30%, inclusive, a expansão aos 28 dias ficou abaixo dos 0,20%.
Observa-se na Figura 5.11 que nos instantes iniciais (primeiros cinco
dias), a expansão dos corpos de prova contendo lama vermelha foi mais
acentuada do que as amostras de referência. Aparentemente o Na+ livre
presente na lama vermelha foi consumido nestes primeiros instantes, na
reação com o agregado reativo, favorecendo uma menor expansão nos
momentos seguintes.
145
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
0,55
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28
Tempo (dias)
Expa
nsão
(%)
0%
10%
20%30%
Figura 5.11. Curvas de expansão das argamassas contendo lama vermelha
como adição, para a verificação da reação alcalis-sílica, de
acordo com a norma ASTM C 1260-07.
Alguns autores [46, 78] já demonstraram que entre as alternativas para
reduzir a reação álcalis-sílica está a adição de materiais pozolânicos ativos.
Assim a reatividade da lama com o cimento pode ter sido mais relevante
positivamente do que a elevada presença de álcalis, que contribui
negativamente.
Possivelmente, o fato de a lama vermelha ser rica em sódio é pouco
relevante neste ensaio, já que a solução de contato (NaOH 1N) fornece sódio
em quantidade mais que suficiente para a RAA. Assim, as amostras têm
expansão superior ao limite dos 0,10% aos 14 dias, pois a quantidade de
álcalis do material pode ser mobilizada para o ataque de sílica reativa nas
primeiras 48 horas antes da argamassa ser imersa na soda.
Esta expansão pouco pronunciada é também observada por meio de
microscopia ótica. Como pode ser observado na Figura 5.12, não se verificam
grandes diferenças entre as espessuras dos geles formados entre a pasta e o
146
agregado nas Figuras 5.12a e 5.12b (sem resíduo) e as observadas nas
Figuras 5.12c e 5.12d (contendo 20% de resíduo)
Figura 5.12. Micrografias óticas de amostras das argamassas de cimento
Portland: (A) e (B) sem a presença de resíduo (0%) e; (C) e (D)
contendo 20% de resíduo como adição.
A diminuição da expansão com adição sucessiva da lama vermelha pode
ter ocorrido devido a um efeito de diluição do teor de cimento, pois o cálcio é
fundamental no mecanismo da RAA, como demonstram os estudos de
BLESZYNSKISND et al. [79] e SHEHATA et al. [80]. A minimização da
expansão, relacionada à redução do teor de hidróxido de cálcio na argamassa,
que diminuiu com o aumento do teor de adições pozolânicas ativas no cimento,
foi verificada em extensivo estudo realizado por MUNHOZ [46].
147
Resultados semelhantes aos apresentados na Figura 5.11 haviam sido
obtidos por GARCÍA-LODEIRO et al. [78] que, ao adicionarem cinzas volantes
(material pozolânico) ao concreto, observaram uma expansão menor em
comparação às amostras de referência. Coincidentemente, os estudos de
MUNHOZ [46] mostram que o teor mínimo de adição de pozolana ativa para
que a reação álcali-agregado seja mitigada é entre 10% e 15%. No presente
estudo foi observado que este valor é de cerca de 20%.
5.2.2 Caracterização da Argamassa no Estado Fresco
a) Propriedades Reológicas
Índice de Consistência e Retenção de Água
Para assegurar a fluidez desejável, as argamassas devem ter um índice
de consistência superior a 140 mm após abatimento na “flow table”. A Figura
5.13 mostra que a adição de lama vermelha reduz significativamente a
trabalhabilidade, devido à finura das partículas e conseqüente maior demanda
de água para molhamento destas partículas. Uma vez garantida a
trabalhabilidade mínima, o ganho de consistência tem um efeito positivo: menor
quantidade de água livre na mistura significa menor porosidade e maior
resistência mecânica da pasta endurecida e também melhor resistência à
penetração de agentes agressivos (cloretos e carbonatação).
Uma tendência similar pode ser observada nos resultados da variação do
índice de retenção de água (Figura 5.14). Uma maior retenção de água na
argamassa significa menor perda para o ambiente (evaporação) e, sobretudo,
menos exsudação, ou seja, menor a migração de água livre no processo de
cura.
148
Figura 5.13. Índice de Consistência (trabalhabilidade) das argamassas de
cimento Portland, em função do teor de lama vermelha
adicionada ou em substituição ao cimento.
80
84
88
92
96
100
0% 10% 20% 30% 40% 50%
Teor de Resíduo
Ret
ençã
o de
águ
a (%
)
Adição Substituição
Figura 5.14. Índice de retenção de água das argamassas de cimento Portland
em função do teor de lama vermelha adicionada ou em
substituição ao cimento.
80
100
120
140
160
180
200
220
240
260
0% 10% 20% 30% 40% 50%
Teor de Resíduo
Índi
ce d
e C
onsi
stên
cia
(mm
)
Adição Substituição Dinicial Dlimite
Φ inicial
Φ limite
149
Viscosidade
Devido ao fato da lama vermelha ser extremamente fina e eventualmente
apresentar propriedades pozolânicas, sua presença em misturas cimentícias as
torna menos fluídas e dificultam a moldagem dos corpos de prova. Com o
objetivo de se observar esta influência, utilizou-se o Modelo de Bingham,
determinando-se a tensão de escoamento (g) e a viscosidade plástica (h) das
misturas.
Como pode ser observado na Figura 5.15, não foi possível efetuar a
medição para a argamassa com adição de 30% de lama vermelha pois estas
ficaram muito rígidas, acima da capacidade de torque do aparelho (reômetro)
utilizado.
0
50
100
150
200
250
300
350
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Tempo (min)
Torq
ue (N
.mm
)
0% RM10% RM20% RM30% RM
0%
10%
20%
30%
Figura 5.15. Reologia das argamassas de cimento Portland contendo lama
vermelha como adição, expressa em função do torque medido
utilizando-se o reômetro.
150
De uma forma geral, como esperado, há uma aumento da tensão de
escoamento (g) e uma diminuição da viscosidade plástica (h) com o passar do
tempo, devido à hidratação do cimento e à menor quantidade de água livre na
mistura, como pode ser visto na Figura 5.16. Este comportamento é mais
evidente à medida que se adiciona maior quantidade da lama vermelha,
podendo ser reflexo de uma atividade cimentícia da lama vermelha ou
simplesmente um efeito físico da presença de um material mais fino e que
“seqüestra” a água da mistura. Acredita-se que, nos instantes iniciais, o fator
físico é mais preponderante, tornando menos importante com o passar do
tempo, quando a hidratação do cimento se torna mais efetiva. Este
comportamento está de acordo com o obtido por TSAKIRIDS et al. [62], que
observaram um aumento da consistência nas misturas que continham lama
vermelha.
Estes resultados obtidos por meio do modelo de Bingham estão de
acordo com os obtidos na consistência via flow table. No entanto, o modelo de
Bingham permite mensurar melhor estes valores.
0,07
0,09
0,11
0,13
0,15
0,17
0,19
0 10 20 30 40 50
Tempo (min)
h (N
.mm
.min
)
20
40
60
80
100
120
140
160
g (N
.mm
)h-0% h-10% h-20%
g-0% g-10% g-20%
Figura 5.16. Valores de viscosidade plástica (h) e da tensão de escoamento (g)
das argamassas contendo diversos teores de lama vermelha,
obtidos a partir do Modelo de Bingham.
151
b) Calor de Hidratação Os compostos do cimento Portland são produtos de reações em altas
temperaturas que não estão em equilíbrio e, por isso, estão em um estado de
energia elevado. Ao reagir com água para atingir estados estáveis de baixa
energia, o processo é acompanhado pela liberação de calor, logo, são reações
exotérmicas [1].
A lama vermelha foi adicionada às argamassas nos teores de 10%, 20%
e 30% e tiveram o calor de hidratação acompanhado e comparado ao da
amostra de referência, sem a presença do resíduo (0%RM) e os resultados são
apresentados na Figura 5.17.
22
23
24
25
26
27
28
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51
Idade (h)
Tem
pera
tura
(ºC)
0% RM10% RM20% RM30% RM
0%
30%20%
10%
Figura 5.17. Calor de hidratação das argamassas contendo diversos teores de
lama vermelha.
Em geral, na mistura do cimento com a água, ocorre uma rápida evolução
de calor durante poucos minutos (momentos iniciais do gráfico apresentado na
Figura 5.17), quando a solubilidade dos aluminatos é reduzida na presença de
sulfatos em solução. Ainda na Figura 5.17, pode-se observar que a presença
152
da lama vermelha faz com que haja um aumento da evolução da temperatura
nos minutos iniciais, o que não é mantido por muito tempo, sendo rapidamente
superada pela amostra padrão (sem resíduo), após três horas.
Este evento pode ter influenciado também nos resultados de reologia
apresentados anteriormente, haja vista que elevadas temperaturas nos
primeiros minutos (quando os testes de reologia foram feitos) podem refletir
numa hidratação mais rápida do cimento e, conseqüentemente, um
enrijecimento da mistura.
O momento seguinte de evolução do calor, culminado com o segundo
pico depois de aproximadamente seis a doze horas de hidratação, representa o
calor de formação da etringita, sendo a temperatura máxima o momento em
que ocorre o fim da pega [1]. Alguns pesquisadores como VERBECK &
FOSTER [81] acreditam que o período de evolução do calor inclui algum calor
de dissolução devido ao C3S e ao calor de formação do C-S-H.
Como se pode observar na Figura 5.17, o calor de hidratação total das
argamassas segue comportamento semelhante ao apresentado nas primeiras
horas. A presença do resíduo de bauxita em adições sucessivas é refletida no
aumento da temperatura máxima de reação, mostrando uma maior intensidade
na formação de etringita e corroborando com os resultados obtidos para o
índice de atividade pozolânica.
5.2.3 Caracterização da Argamassa no Estado Endurecido
a) Resistência Mecânica - Compressão Axial A Figura 5.18 mostra a evolução da resistência à compressão das
amostras contendo uma quantidade crescente de lama vermelha como adição
ou substituição ao cimento Portland, após 28 dias de cura. Como esperado, a
resistência mecânica diminui com o aumento dos níveis de substituição do
cimento, uma vez que a lama vermelha tem limitadas características hidráulicas
e, como visto anteriormente, apresenta apenas uma leve atividade pozolânica.
Esse decréscimo é praticamente linear e a resistência da argamassa preparada
com substituição de metade da massa de cimento pela lama vermelha é de
153
cerca de 64% do valor obtido para a amostra de referência (12,75 MPa contra
20,1 MPa, respectivamente).
A adição de lama vermelha à mistura proporcionou um ligeiro aumento na
resistência, como visto na Figura 5.18, com valores superiores aos de
referência (0%) até uma adição de 30% de lama vermelha. Este ganho de
resistência foi de cerca de 10,2% para amostras contendo 15% de adição da
lama vermelha como adição, em relação às amostras de referência (24,43 MPa
e 26,92 MPa, respectivamente).
No entanto, as dificuldades mencionadas na moldagem e conseqüente
aumento da porosidade em amostras que continham mais de 20% de lama
vermelha, como será observado nos itens a seguir, são responsáveis pela
degradação da resistência observada. Porém, deve-se observar que, apesar de
maior porosidade, amostras contendo 30% de lama vermelha não tiveram a
resistência afetada significativamente em comparação às amostras de
referência, ou seja, não comprometem a qualidade da argamassa.
0
10
20
30
40
50
0% 10% 20% 30% 40% 50%
Teor de Resíduo (%)
Res
istê
ncia
Axi
al (M
Pa)
Adição
Substituição
Figura 5.18. Resistência à compressão axial de argamassas (28 dias) em
função do teor de lama vermelha adicionada ou em substituição
ao cimento.
154
IKEDA apud GORDON et al. [74] já haviam encontrado valores
semelhantes de resistência mecânica (20 MPa) para compósitos de cimento
Portland contendo lama vermelha. Segundo PINNOCK & GORDON [82] e
MAJUMDAR et al. [83], o óxido de cálcio reage com a alumina presente na
lama vermelha para a produção de aluminatos de cálcio (CA e, possivelmente,
C5A3). Estes também se hidratam para produzir compostos cimentícios em
reações que são bastante conhecidas por serem responsáveis pela resistência
das argamassas de cimento com elevado teor de alumina. De acordo com
DELAGRAVE et al. apud PRUCKNER & GJØRV [72], a resistência à
compressão de matrizes cimentícias aumenta com uma maior concentração de
hidróxido de sódio, pois a adição de NaOH origina uma rede de poros mais
finos.
A formulação preparada para determinar o índice de atividade pozolânica
(substituição de 35% do cimento pela lama vermelha, segundo a NBR 5752)
mostra uma diminuição da resistência mecânica de cerca de 23%. Este valor
está de acordo com estimativa obtida no teste de pozolanicidade (índice igual a
0,79, isto é, redução de 21%). Estes resultados confirmam a possibilidade de
utilização da lama vermelha como substituto parcial para o cimento Portland
em argamassas utilizadas em atividades não estruturais ou secundárias.
b) Porosidade e Densidade Aparentes As Figuras 5.19 e 5.20 mostram a evolução da densidade e porosidade
aparentes, respectivamente, em função da quantidade de lama vermelha
adicionada para a argamassa aos 28 dias. A finura das partículas do resíduo
de bauxita mencionada anteriormente promove um aumento da compacidade
da argamassa (densidade).
No entanto, a partir de um certo nível de adição, dificuldades de
moldagem podem ocorrer, uma vez que a trabalhabilidade é reduzida e a
densidade pode, então, diminuir (aumento da porosidade). Essa tendência foi
verificada, havendo um aumento inicial da densidade e uma diminuição da
porosidade devida ao melhor empacotamento das partículas (efeito “filler” e
155
uma leve atividade pozolânica). No entanto, acima de 20% de adição este
comportamento é invertido devido às dificuldades na moldagem dos corpos de
prova (reologia).
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 5 10 15 20 25 30
Teor de resíduo adicionado (%)
Den
sida
de A
pare
nte
(g/c
m3 )
Figura 5.19. Densidade aparente das argamassas de cimento Portland (28
dias) em função do teor de lama vermelha adicionada.
10%
13%
15%
18%
20%
23%
25%
0 5 10 15 20 25 30
Teor de resíduo adicionado (%)
Poro
sida
de A
pare
nte
(%)
Figura 5.20. Porosidade aparente das argamassas de cimento Portland (28
dias) em função do teor de lama vermelha adicionada.
156
c) Absorção de Água por Capilaridade A Figura 5.21 mostra os valores de absorção de água por capilaridade em
concretos com diferentes teores de lama vermelha. Como mencionado
anteriormente, as partículas mais finas de lama vermelha tendem a diminuir a
quantidade relativa de poros capilares, até certo limite. Conseqüentemente,
ocorre uma diminuição da sucção capilar, de 0,284 kg/m2.min0,5 (sem lama
vermelha) para 0,254 kg/m2.min0,5 (15% e 20% de lama vermelha adicionada).
No entanto, de maneira similar ao discutido quanto à densidade e porosidade,
as amostras com mais de 20% em de lama mostram valores crescentes de
absorção capilar. O esperado aumento da porosidade deve incluir poros
capilares ou estabelecer uma melhor conexão entre os poros existentes.
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
0% 10% 20% 30% 40% 50%
Teor de Resíduo (%)
Coe
f. de
Abs
orçã
o C
apila
r (k
g/m2 .m
in0,
5 )
Adição
Substituição
Figura 5.21. Coeficientes de absorção capilar de argamassas (28 dias) em
função do teor de lama vermelha adicionada ou em substituição
ao cimento.
157
5.2.4 Escolha dos teores ideais de lama vermelha
Com base nos resultados da primeira etapa, mostrados nos itens
anteriores, concluiu-se que a melhor escolha para a continuidade deste
trabalho seria a adição da lama vermelha em teores de até 30%, visto que este
limite de adição não compromete as características básicas de pastas e
argamassas de cimento Portland, conforme verificado anteriormente.
Logo, a segunda etapa do presente trabalho consistiu na utilização de
corpos de prova de concreto com adição de lama vermelha nos teores iguais a
10%, 20% e 30%, que foram submetidos a uma caracterização física básica,
com o objetivo de uma melhor correlação com os resultados dos ensaios de
corrosão.
5.3 Segunda Etapa – Análise da Corrosividade do Concreto Armado
5.3.1 Caracterização Física do Concreto
a) Porosidade e Densidade Aparentes e Distribuição do Tamanho de Poros
A Figura 5.22 mostra a evolução da porosidade e densidade aparentes do
concreto curado em idades distintas, em função da quantidade de lama
vermelha adicionada. Quanto à densidade, a variação total é pequena (menos
de 5% em termos absolutos). Devido à elevada finura do resíduo de bauxita, é
esperado um aumento da compacidade do concreto com o aumento do teor de
lama vermelha, até certo limite (teoria do empacotamento de partículas) e,
conseqüentemente, uma redução da porosidade. No entanto, esta tendência
não é verificada. Com o objetivo de ajudar a interpretar este resultado, a
distribuição do tamanho dos poros das amostras foi determinada (Figura 5.23).
158
Figura 5.22. (A) Porosidade e (B) densidade aparentes das amostras de
concreto (28 dias) em função do teor de lama vermelha
adicionada.
Lembrando que poros capilares têm "diâmetros" entre 0,01μm e 1μm, é
fácil ver na Figura 5.23b que os poros das amostras de concreto sem lama
vermelha (0%) concentram-se exatamente na região central desta faixa (cerca
de 0,1μm). Com a adição do resíduo, a distribuição do tamanho dos poros
torna-se mais homogênea e vazios maiores ou macroporos (cerca de 1μm de
diâmetro) são gerados, ocorrendo, também, um aumento na porosidade total,
como pode ser visto na Figura 5.22a e ratificados na Figura 5.23a.
159
Figura 5.23. Distribuição do tamanho de poros em amostras de concreto (28
dias) em função do teor de lama vermelha adicionada.
Esta tendência inesperada revela dificuldades na mistura e compactação
ineficiente durante a preparação das misturas de concreto contendo lama
vermelha.
0,00
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
0,09
0,0010,010,1110100
Diâmetro (micrometros)
Intru
são
acum
ulat
iva
(mL/
g)0%10%20%30%
0,00
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
0,09
0,01 0,1 1 10
Diâmetro (micrometros)
Log
Intru
são
Dife
rent
ial (
mL/
g)
0%10%20%30%
(A)
(B)
160
b) Absorção de Água por Capilaridade A Figura 5.24 mostra os valores de coeficientes de absorção capilar de
amostras de concretos com diferentes quantidades de lama vermelha,
estimados a partir de ensaios de absorção capilar de água. Como mencionado
anteriormente, as partículas mais finas de lama vermelha tendem a diminuir a
quantidade relativa de poros capilares, apesar do aumento da porosidade total.
Conseqüentemente, há uma diminuição na sucção capilar, de 0,081
Kg/m2.min0,5 (amostra de referência) a 0,015 Kg/m2.min0,5 (amostras contendo
30% de lama vermelha).
0,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
0% 10% 20% 30%
Teor de Resíduo (%)
Coe
f. de
abs
orçã
o ca
pila
r (kg
/m2 .m
in0,
5 )
Figura 5.24. Coeficientes de absorção capilar de amostras de concreto (28
dias) em função do teor de lama vermelha adicionada.
c) Resistência Mecânica - Compressão Axial Diferentemente do ocorrido nas amostras de argamassas, a adição da
lama vermelha provocou uma diminuição da resistência de cerca de 25% para
as amostras contendo 10% de adição da lama vermelha. Adições sucessivas
(20% e 30%) proporcionaram um leve aumento na resistência, chegando a
valores próximos aos de referência para amostras contendo 30% de lama
vermelha aos 3 e 7 dias. Os resultados são apresentados na Figura 5.25.
161
Figura 5.25. Resistência à compressão axial do concreto em função (A) do teor
de lama vermelha adicionada e (B) da idade dos corpos de prova.
Para este fenômeno, devem-se considerar dois efeitos simultâneos: i) a
adição da lama vermelha provoca alterações reológicas, como visto
anteriormente nas argamassas, dificultando o empacotamento e,
(A)
15
20
25
30
35
40
0% 10% 20% 30%
Teor de Resíduo (%)
Res
istê
ncia
Axi
al (M
Pa)
3 dias 7 dias 28 dias 63 dias 90 dias
(B)
15
20
25
30
35
40
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Idade (dias)
Res
istê
ncia
Axi
al (M
Pa)
0% 10% 20% 30%
162
conseqüentemente, aumentando a porosidade total e; ii) a adição da lama
vermelha, devido à sua atividade pozolânica, elevado teor de sódio e elevado
pH tendem a criar uma matriz mais densa e resistente.
Estes dois fatores afetam negativamente (i) e positivamente (ii) a
resistência mecânica, respectivamente. Assim, verificam-se que os efeitos
positivos da adição da lama vermelha se tornam mais evidentes à medida que
uma maior quantidade é adicionada, com um aumento da resistência apesar do
aumento da porosidade total, o que normalmente não é observado.
5.3.2 Ensaios de Verificação da Corrosão do Concreto Armado
a) Ensaio de Migração de Cloretos O ensaio de migração de cloretos é uma importante técnica para avaliar a
capacidade do concreto em proteger a armadura dos agentes agressivos. Isto
porque, devido à forma como o teste é realizado, estão envolvidos os quatro
mecanismos principais de transporte destes agentes agressivos, isto é, a
permeabilidade, absorção capilar, difusão e migração iônica. Pelo fato deste
experimento ser realizado de forma acelerada e com fluxo “forçado” por uma
corrente elétrica, a absorção capilar tem menor relevância em comparação ao
fenômeno natural.
Amostras representativas e criteriosamente selecionadas, como mostrado
anteriormente (item 4.2.3c), tiveram sua capacidade de retardar a migração dos
cloretos mensuradas.
A Figura 5.26 mostra a evolução da concentração de cloretos na câmara
anódica durante os ensaios de migração. A concentração de íons cloreto (Cl-)
aumenta com o tempo, uma vez que a tensão elétrica é aplicada, forçando
estes íons a migrarem em direção ao pólo positivo do sistema.
163
0,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
0,12
0,14
0,16
0 100 200 300 400 500 600 700
Tempo (h)
Con
cent
raçã
o de
Cl- (M
)
0% 10% 20% 30%
Figura 5.26. Evolução da concentração de cloreto na solução presente na
célula anódica em função do tempo, para ensaios de migração de
cloretos (∆ = início do estado estacionário e = final do estado
estacionário).
Inicialmente, há um período em que a quantidade de cloretos que passa
para a câmara anódica é desprezível. A sua duração corresponde ao chamado
''time lag'' (τ), e pode ser definido como o tempo necessário para que os íons
cloreto passem através da amostra de concreto, causando a sua saturação.
Este período de tempo será usado a seguir para estimar os valores de
coeficiente de difusão no estado não estacionário, Dns. Após este período, o
fluxo de íons cloreto através da amostra torna-se constante e corresponde ao
período de estado estacionário.
O “time lag” é empiricamente obtido a partir da interseção entre o
prolongamento da linha que caracteriza o estado estacionário e o eixo das
abscissas (tempo). Como pode ser visto na Figura 5.27, o “time lag” aumenta
com o aumento da adição de lama vermelha, sendo uma provável
164
conseqüência da redução da quantidade relativa de poros capilares, como visto
anteriormente na Figura 5.23 e confirmado na Figura 5.24.
Além disso, as partículas de lama vermelha podem fechar ou interromper
a conectividade entre alguns dos poros, diminuindo assim a sucção capilar do
concreto e, então, impedir o transporte de substâncias [11]. Isso acontece
mesmo em amostras que apresentaram maior porosidade total, o que significa
que, dentro de certos limites, este parâmetro não é tão relevante.
0
100
200
300
400
500
0% 10% 20% 30%
Teor de Resíduo (%)
Tim
e la
g, τ
(h)
Figura 5.27. Valores de “time lag” (τ), estimados a partir de ensaios de
migração de cloretos, em função do teor de lama vermelha
adicionado ao concreto.
Após o “time lag”, o fluxo de íons cloreto através da amostra aumenta a
uma taxa constante, correspondendo ao regime de estado estacionário [30].
O fluxo de íons cloreto (JCl) representa a velocidade na qual os íons são
transportados através do concreto e, então, os coeficientes de difusão no
estado estacionário e não-estacionário podem ser calculados. O fluxo de íons
cloreto pode ser obtido usando a inclinação linear do gráfico que representa a
165
evolução da concentração de cloretos na célula anódica em função do tempo.
A Figura 5.28 mostra os valores obtidos para o fluxo de íons cloreto (JCl)
através do concreto em função do tempo.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0% 10% 20% 30%
Teor de Resíduo (%)
Flux
o de
íons
, J (1
0-9 m
ol/s
.cm
2 )
Figura 5.28. Fluxo de íons cloreto (JCl), estimado a partir de ensaios de
migração de cloretos, em função do teor de lama vermelha
adicionado ao concreto.
Uma clara diminuição no fluxo de íons é observada para as amostras
contendo quantidades crescentes de resíduo. Esta indicação é muito positiva,
pois revela um atraso no início do processo de corrosão causada pela
migração de íons cloreto. Estas observações estão de acordo com as feitas por
por SANTOS [14] e AÏTCIN [12], que mostraram a tendência de materiais
cimentícios suplementares (como a lama vermelha) reduzirem
significativamente a mobilidade dos íons cloreto, refletindo o efeito do aumento
da tortuosidade e da melhor distribuição dos diâmetros dos poros, provocados
pelas reações pozolânicas, que dificultam a movimentação iônica.
Além disso, a lama vermelha contém fases mineralógicas, como
aluminossilicatos de sódio, conhecidos como “sodalites”, compostos tipo
166
zeólitos com uma capacidade de troca de íons extremamente elevada, o que
torna a lama vermelha um bom absorvente de metais pesados [68] e influencia
em suas propriedades superficiais [27], entre elas uma facilidade de formação
de compostos pela reação com os íons cloreto. Outros autores [84] também
citam a importância da presença de aluminatos, que têm um relevante papel na
fixação de íons cloretos, fazendo com que estes não estejam livres e
disponíveis para iniciar o processo de corrosão.
Estes aspectos discutidos no parágrafo anterior são refletidos nos
resultados dos coeficientes de difusão nos estados estacionário e não
estacionário, apresentados na Figura 5.29, onde ambos mostram-se
decrescentes em função de um maior teor de lama vermelha adicionado.
0
10
20
30
40
0% 10% 20% 30%
Teor de Resíduo (%)
Coe
ficie
ntes
de
Difu
são
(10-9
cm
2 /s)
Estado não-estacionário, Dns
Estado Estacionário, Ds
Figura 5.29. Coeficientes de difusão nos estados estacionário e não
estacionário, calculados a partir de ensaios de migração de
cloretos, em função do teor de lama vermelha adicionado ao
concreto.
Alguns autores [14, 30, 85] justificaram a redução dos coeficientes de
difusão devido a uma redução na relação água/aglomerante (neste caso,
167
cimento + lama vermelha). No entanto, eles observaram uma redução na
porosidade total em função da dominuição desta relação, o que não aconteceu
no presente estudo. Logo, não é possível associar uma diminuição da relação
água/aglomerante com os resultados obtidos.
Na tentativa de ter representações mais sensíveis quanto aos benefícios
do uso da lama vermelha ao concreto, tentou-se relacionar os resultados de
penetração de cloretos obtidos com o tempo de vida útil deste material. Para
tal, foi utilizada a segunda Lei da Difusão de Fick (equações 5.1 e 5.2), de
acordo com o proposto por estudos recentes [84, 86].
tDzPC s .)(2= (5.1)
oS
ocl
CCCCzerf
−−
−= 1)( (5.2)
onde Ds é o coeficiente de difusão no estado estacionário (cm2/ano); t é o
tempo de vida útil (anos), erf(z) é a função Gaussiana de erros, PC (penetração
de cloretos) é a profundidade em que a concentração de cloretos atinge o limite
para que ocorra a despassivação da armadura (cm), Co é a concentração inicial
de cloretos (neste caso, 0%), CS é a concentração de cloretos na superfície (%)
e CCl é a concentração de cloreto em função da profundidade e do tempo (%),
em relação à massa de cimento.
Orientando-se pela literatura [86, 87], foram fixados alguns parâmetros:
CS = 1,8% e CCl = Cdep = 0,4% em peso de cimento, onde Cdep é a
concentração limite de cloreto para despassivar o aço (por peso de cimento).
Os resultados obtidos são apresentados na Figura 5.30, onde são destacados
os valores de vida útil para a penetração de cloretos em estruturas com um
cobrimento de concreto igual a 4 cm (valor mínimo exigido pelas normas, para
ambientes agressivos, com presença de cloretos). Estes valores são melhor
visualizados na Figura 5.31.
168
1
10
100
1000
1 10
Penetração de Cloretos (cm)
Tem
po (a
nos)
0% 10% 20% 30%
4
<
Figura 5.30. Relação entre o tempo de vida útil e a penetração de cloretos
(espessura em que a concentração de cloretos atinge 0,4%).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 10 20 30
Teor de Resíduo (%)
Vida
Útil
(ano
s)
Figura 5.31. Relação entre o tempo de vida útil e o teor de resíduo adicionado,
estimado em função do ensaio de migração de cloretos.
169
As amostras de referência (sem resíduo) apresentaram 16,5 anos de vida
útil e a adição de lama vermelha aumentou a estimativa de vida útil do concreto
para até 35 anos (duas vezes maior do que a referência), em amostras de
concreto contendo 30% de adição da lama vermelha.
b) Profundidade de Carbonatação A verificação da profundidade de carbonatação é um dos testes mais
simples para se avaliarem fenômenos que podem favorecer a corrosão em
concreto armado. Os mecanismos de transporte dos agentes agressivos (neste
caso, o CO2) envolvidos na carbonatação são a permeabilidade e,
principalmente, a difusividade [88].
A adição da lama vermelha ao concreto envolve, teoricamente, aspectos
positivos e negativos quanto ao fenômeno da corrosão. O aspecto positivo
seria o fato de que, devido à sua elevada alcalinidade, a presença da lama
vermelha como adição ao concreto poderia retardar o processo de
carbonatação, que se caracteriza pela redução do pH dos compostos do
cimento.
Os aspectos negativos desta adição seriam que, devido às dificuldades
de moldagem, existe um ligeiro aumento da porosidade total do concreto,
aumentando a permeabilidade. Além disso, diversos estudos [84, 89] mostram
que, devido às suas características químicas, associadas à acentuada
alcalinidade, a lama vermelha apresenta uma elevada capacidade de
“seqüestrar” o dióxido de carbono (5,3g de CO2 para cada 100g de lama
vermelha) , formando produtos de reação termodinamicamente estáveis.
No presente trabalho, utilizaram-se dois corpos de prova para cada uma
das idades (3, 7, 14, 28, 52, 91 e 180 dias), que estiveram submetidos a um
ambiente saturado por CO2. Os corpos de prova foram rompidos por flexão e a
sua superfície de fratura foi borrifada uma solução aquo-alcóolica de
fenolftaleína que, ao reagir com a amostra, apresenta coloração róseo-
avermelhada para valores de pH iguais ou superiores a 9,5 e incolor abaixo
desse valor. Assim, a região carbonatada apresenta-se incolor.
170
Nas Figuras 5.32 e 5.33, pode-se observar a evolução da frente
carbonatada ao longo destes seis meses de estudo acelerado. Não foram
constatadas alterações significativas nos testes aos três dias e, por isso, seus
resultados não são apresentados. Em todas as figuras, as amostras estão em
ordem crescente de teor de lama vermelha. Assim, da esquerda para a direita:
amostra de referência (0%), 10%, 20% e 30% de adição.
Figura 5.32. Verificação da região carbonatada do concreto, indicada pela
reação da fenolftaleína aos (A) 7 dias, (B) 14 dias e (C) 28 dias.
Da esquerda para a direita, em cada uma das fotos: 0%, 10%,
20% e 30% de adição da lama vermelha.
(A) 7 dias
(B) 14 dias
(C) 28 dias
171
Figura 5.33. Continuação da verificação da região carbonatada do concreto,
indicada pela reação da fenolftaleína aos (A) 52 dias, (B) 91 dias
e (C) 180 dias. Da esquerda para a direita, em cada uma das
fotos: 0%, 10%, 20% e 30% de adição da lama vermelha.
Observa-se que a adição da lama vermelha é prejudicial ao concreto no
tocante à carbonatação. A porosidade e, principalmente, a capacidade da lama
vermelha em assimilar o dióxido de carbono se sobrepõem ao seu elevado pH
como fator que possa influenciar este comportamento. BERTOS et. al [89]
utilizaram a equação de Steinour para mensurar a capacidade teórica máxima
(A) 52 dias
(B) 91 dias
(C) 180 dias
172
de assimilação do CO2, em função da composição química do material,
expressa pela equação (5.3)
OKONaSOCaOCO 2232 93,009,1)7,0(785,0(%) ++−= (5.3)
Para a lama vermelha utilizada nesta pesquisa, este valor é igual a 18,4%
de CO2 absorvido. O fator positivo desta reação é o fato de se formarem
compostos carbonatados, que apresentam maiores capacidades de fixação dos
metais presentes neste resíduo [84, 90].
Nas medidas iniciais (até os 28 dias, Figura 5.32) este fenômeno não é
tão evidente, havendo uma pequena diferença entre as amostras. No entanto,
com um maior tempo de exposição ao ambiente saturado por CO2, as
diferenças vão ficando cada vez mais claras, sendo que a sucessiva adição da
lama vermelha gera um efeito mais pronunciando nas amostras. Aos 180 dias,
a amostra contendo 30% de lama vermelha apresenta-se quase que
completamente carbonatada (Figura 5.33c).
Os resultados visuais da carbonatação podem ser confirmados ao srem
analisados os resultados de resistência à flexão a que foram submetidos os
corpos de prova antes da aspersão da fenolftaleína. Estes resultados são
apresentados na figura 5.34.
Assim como verificado anteriormente, até os 28 dias não há um efeito
significativo da carbonatação e, inclusive, a evolução da resistência à flexão do
concreto tem comportamento semelhante ao verificado nos resultados de
resistência à compressão axial, apresentados no item 5.3.1c. Obviamente não
se deve levar em consideração a magnitude dos resultados, visto que a
resistência à compressão axial é bastante superior à resistência à flexão em
concretos.
No entanto, a partir da medida aos 52 dias, o efeito da carbonatação fica
mais evidente nas amostras contendo 20% e, principalmente, 30% de resíduo
adicionado, com uma desaceleração do ganho de resistência e até uma
estabilização para as amostras contendo 30%. Já as amostras contendo 0% e
10% continuam a ganhar resistência até os 63 e 91 dias, respectivamente.
173
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
11,0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Idade (dias)
Res
istê
ncia
à F
lexã
o (M
Pa)
0% 10% 20% 30%
Figura 5.34. Resistência à flexão dos corpos de prova de concreto contendo
diversos teores de lama vermelha adicionados, submetidos a um
ambiente saturado de CO2, em função da idade.
Este ganho de resistência em amostras submetidas a carbonatação havia
sido observado por outros pesquisadores, que relacionaram este fenômeno à
redução na porosidade durante o processo de carbonatação, com a
transformação do Ca(OH)2 em CaCO3 [88, 89, 91, 92]. No entanto, quando
essa carbonatação é muito acentuada (como para a adição de 20% e 30%), há
a formação de uma rede de poros mais grosseiros, devido à decomposição do
gel C-S-H na pasta de cimento [90, 91].
Na Figura 5.35 pode ser visualizado o efeito desta carbonatação
excessiva nas amostras contendo 30% de lama vermelha. Na figura 5.35a
podemos ver uma rede de poros extremamente grosseira e um aspecto
degradado da matriz. Na Figura 5.35b é mostrada uma região de interface da
zona carbonatada com a não carbonatada. Observa-se uma nítida diferença na
microestrutura, com uma região não carbonatada mais íntegra e densa, ao
174
contrário da região carbonatada, extremamente porosa, e com formação de
geles em seus poros.
Figura 5.35. Micrografias (A) da amostra carbonatada de concreto e (B) da
região interfacial da zona carbonatada com a não carbonatada de
concreto contendo 30% de adição da lama vermelha.
c) Medida da Resistividade do Concreto A resistividade elétrica é uma propriedade muito utilizada para
monitoramento de estruturas de concreto armado pelo fato de ser um método
não-destrutivo e poder ser monitorada externamente, com a presença de
eletrodos embutidos. Esta propriedade é fundamentalmente relacionada à
permeabilidade de fluidos e à difusividade de íons através dos poros do
concreto.
175
Diversos autores [14, 32, 93-95] verificaram que a resistividade elétrica
está relacionada às características microestruturais da matriz de cimento, tais
como porosidade total, distribuição do tamanho de poros e conectividade dos
poros, além da condutividade da solução aquosa presente no seu interior.
Neste estudo foram utilizados três corpos de prova para cada teor de
adição de lama vermelha, que proporcionaram seis resultados (cada corpo de
prova oferecia duas medidas distintas, visto que os eletrodos possobilitam duas
profundidades de medidas).
A Figura 5.36 apresenta o perfil de evolução da resistividade elétrica
média dos corpos de prova de referência (0%) e contendo lama vermelha como
adição (10%, 20% e 30%). Os corpos de prova foram mantidos em câmara
úmida até os 28 dias (linha vertical escura no gráfico) e as linhas pontilhadas
representam as faixas de risco de corrosão: alto (< 10 KΩ.cm), moderado (10 a
50 KΩ.cm), baixo (50 a 100 KΩ.cm) e insignificante (> 100 KΩ.cm), segundo a
COST 509.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Idade (dias)
Res
istiv
idad
e (KΩ
.cm
)
0% 10% 20% 30%
Figura 5.36. Evolução da resistividade elétrica do concreto contendo diversos
teores de lama vermelha, em função da idade.
176
A resistividade elétrica aumentou com o passar do tempo, para todas as
amostras, devido à maior hidratação da pasta e redução na concentração de
fluídos nos poros do concreto, com a crescente secagem dos corpos de prova,
tornando-os menos condutivos. De acordo com estudos de ANDRADE [18] e
SANTOS [14], a condução da corrente elétrica através do concreto ocorre por
meio de poros contínuos e microfissuras preenchidos com água e presentes na
matriz.
O comportamento dos corpos de prova parece ser bem diferente com
relação ao grau de umidade. Quando mantido em câmara úmida (até os 28
dias), os corpos de prova contendo lama vermelha apresentam-se mais
resistivos em comparação às amostras de referência (0%). Este efeito continua
se refletindo nos primeiros dias após a retirada destes da câmara úmida.
Com a secagem dos corpos de prova, o aumento da resistividade da
amostra de referência é bastante acentuado, superando as amostras contendo
lama vermelha entre os 40 e 80 dias de idade. Este efeito pode ser explicado
pela elevada concentração iônica da lama vermelha que, com a diminuição da
umidade, torna-se mais acentuada e atuante em comparação às amostras de
referência. Comportamento semelhante foi observado por WHITING & NAGI
[93].
As condutividades elétricas de íons em solução aquosa normalmente
encontrados nos poros do concreto foram determinadas por ADAMSON apud
SHI [96] e estes valores são apresentados na Tabela 5.13. Como se pode
observar, os íons Na+, OH-, Ca2+ e K+, presentes na lama vermelha, têm
elevada condutividade, contribuindo para uma menor resistividade do concreto
na medida que este perde umidade.
Tabela 5.13. Condutividade equivalente (λ0) de íons em solução aquosa com
concentração infinita a 25 °C (ADAMSON apud SHI [96]).
Íon Na+ K+ Ca2+ SO42- OH- Cl-
λ0 (m-1Ω-1) 0,00501 0,00735 0,00595 0,00798 0,0198 0,00763
177
Outro fator a ser considerado é a maior porosidade do concreto contendo
lama vermelha, fator que influi consideravelmente para uma menor
resistividade.
Apesar de apresentar valores de resistividade elétrica inferiores aos da
amostra de referência, o concreto contendo lama vermelha apresentou valores
bastante superiores ao limite que considera uma baixa probabilidade de
corrosão (> 50 KΩ.cm). Logo, se a presença da lama vermelha não dificulta a
ocorrência da corrosão, também não pode ser considerada prejudicial.
Outro fator positivo de análise é o fato dos corpos de prova com presença
da lama vermelha apresentarem maior resistividade em ambiente úmido,
situação mais propícia à corrosão. Infelizmente não foram realizadas medidas
em corpos de prova úmidos durante todo o período, com o objetivo de se
verificar se este comportamento seria mantido.
Pesquisas recentes [14, 32, 94] indicam que existe uma relação
inversamente proporcional entre a resistividade e a penetração de cloretos.
Não será possível fazer uma correlação segura entre estas variáveis no
presente estudo, pelo fato de que as condições de medida e manutenção dos
corpos de prova terem sido diferentes. Enquanto o teste de resistividade foi
realizado com amostras praticamente secas, os testes de migração de cloretos
ocorreram com amostras úmidas.
No entanto, foi feita uma análise dos resultados obtidos aos 21 dias
(última medida de resistividade feita com as amostras em câmara úmida),
pode-se verificar que esta correlação é mantida, conforme observado na Figura
5.37. Lembrando que cada um dos quatro pontos desta correlação corresponde
ao par de propriedades para cada uma das composições (0%, 10%, 20% e
30%).
Este resultado, apesar de não ser conclusivo, é um indicativo de que a
correlação é válida para amostras de concreto contendo lama vermelha, desde
que mantidos em ambiente úmido, o que é a situação mais propícia para que
ocorra a corrosão. Assim, quanto maior a resistividade do concreto, menor a
penetração de íons cloreto e, conseqüentemente, menor a probabilidade de
ocorrer corrosão.
178
y = -0,5707x + 45,746R2 = 0,9919
y = -0,2228x + 19,443R2 = 0,9603
0
10
20
30
40
15 20 25 30 35 40 45 50 55
Resistividade (KΩ.cm)
Coe
ficie
ntes
de
Difu
são
(10-9
cm
2 /s) Estado não-estacionário, Dns
Estado Estacionário, Ds
Figura 5.37. Correlação entre os coeficientes de difusão e a resistividade
elétrica medida aos 21 dias de idade em corpos de prova de
concreto contendo diversos teores de lama vermelha, mantidos
em ambiente úmido.
d) Medida do Potencial de Corrosão Por ser uma técnica de fácil medida em laboratório, a técnica do potencial
de corrosão é bastante utilizada em pesquisas que avaliam o processo
corrosivo em concreto armado. No entanto, não é possível avaliar a evolução
deste processo corrosivo e a técnica indica, apenas, se é ou não possível e
quais as possibilidades de ocorrência da corrosão. Esta técnica está
relacionada, principalmente, à difusividade de íons através dos poros do
concreto.
Por meio dos resultados de potencial de corrosão foi possível analisar a
duração do período de iniciação das barras analisadas, isto é, o momento em
que o potencial foi inferior a -274 mV (probabilidade de corrosão superior a
90%, tendo o eletrodo de calomelano saturado como referência). Resultados
obtidos por BAUER apud SANTOS [14] mostram que, na maioria dos casos, a
avaliação da duração da fase de iniciação da corrosão por meio de tal
parâmetro eletroquímico coincide com as avaliações feitas utilizando
179
parâmetros eletroquímicos mais precisos, tal como a intensidade de corrosão
(icorr).
A Figura 5.38 apresenta os resultados de potencial de corrosão obtidos
pelo “método de envelhecimento por ciclos”. Vale lembrar que, durante os
primeiros 63 dias, os corpos de prova não foram submetidos a ciclos de
secagem e umedecimento em solução de NaCl, até que se atingisse o
“potencial de segurança”, igual a -124 mV, e que os testes foram interrompidos
quando atingido o “potencial de insegurança” (-274 mV), em duas medidas
consecutivas para o estado seco. Os valores apresentados são uma média dos
seis valores obtidos para cada composição. Não foram colocadas as barras de
erros nos gráficos, pois estas barras os tornariam bastante confusos e de difícil
visualização. Mas, pode-se afirmar que os resultados foram altamente
reprodutíveis, com variação inferior a 6% para todos os teores.
-700
-600
-500
-400
-300
-200
-100
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Idade (dias)
Pote
ncia
l de
Cor
rosã
o (m
V)
0% 10% 20% 30%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140
Corrosão > 90%
Corrosão < 10%
10% < Corrosão < 90%
Figura 5.38. Evolução do potencial de corrosão das barras de armadura dos
corpos de prova de concreto contendo adição de lama vermelha
em diversos teores, em função da idade, obtidos pelo método de
envelhecimento por ciclos.
180
Como uma característica do procedimento de ensaio adotado, nota-se
que o potencial de corrosão das barras mostrou variação durante todo o
ensaio, com valores mais negativos ou menos, em função do semi-ciclo ao qual
o corpo de prova foi submetido.
Os valores de potencial de corrosão menos negativos são verificados
após os ciclos de secagem, pois, devido à redução do volume de eletrólito,
ocorre o aumento das concentrações das substâncias dissolvidas e, de acordo
com a Equação de Nernst, o potencial de equilíbrio aumenta com o aumento da
atividade, isto é, das concentrações efetivas das substâncias oxidadas.
Estudos desenvolvidos por SANTOS [14] confirmam esse comportamento e
mostram uma correlação inversamente proporcional entre o potencial de
corrosão e o teor de umidade do concreto, significando que o aumento do teor
de umidade implica na diminuição do potencial de corrosão medido nas barras.
De acordo com os resultados mostrados na Figura 5.38, verifica-se que a
amplitude entre as medidas do potencial de corrosão dos corpos de prova nos
estados úmido e seco é mais acentuada nas amostras de referência (0%), que,
por possuírem uma maior rede de poros capilares, apresentam maior
capacidade de absorção da solução contendo NaCl (sucção capilar) e uma
maior dificuldade em perder esta umidade (menor porosidade total), em
comparação às demais amostras.
Como descrito anteriormente, os testes foram interrompidos quando o
“potencial de insegurança” foi atingido para amostras no estado seco. Para
uma melhor visualização destes resultados é apresentada a Figura 5.39. Como
pode ser observado, a despassivação das barras em corpos de prova de
concreto armado contendo lama vermelha ocorreu posteriormente às das
amostras padrão, para todos os teores de adição, sendo o dobro do tempo
para as amostras contendo 10% e dimuindo com a adição sucessiva da lama
vermelha.
181
0
50
100
150
200
250
0% 10% 20% 30%
Teor de Resíduo (%)
Dia
s de
ens
aio
Total Após ciclos
Figura 5.39. Período de iniciação de corrosão das barras de aço inseridas nos
corpos de prova de concreto armado, em função do teor de lama
vermelha adicionada.
Estes resultados apontam apenas para o início do processo corrosivo
sem, contudo, dar informações quantitativas do fenômeno. Apesar de atingirem
o fim do ensaio mais cedo, os corpos de prova que atingiram o potencial de
risco continuaram sendo submetidos aos ciclos de secagem e umedecimento
até completarem 180 dias, tempo em que os últimos corpos de prova (10%)
atingiram este potencial. Assim, foi possível calcular a taxa de corrosão para
todas as amostras, de acordo com a equação 4.18, mostrada anteriormente.
Os resultados são apresentados na Figura 5.40.
De acordo com estes resultados, quanto maior o teor de lama vermelha
adicionado, menor a taxa de corrosão verificada, atingindo uma estabilização
entre os 20% e 30% adicionados. Isto deixa claro que não existe uma relação
entre o tempo de despassivação da armadura e as taxa de corrosão, isto é, a
barra pode iniciar o processo corrosivo mais cedo, mas, a partir deste
momento, apresentar taxa menor.
182
100
125
150
175
200
225
250
275
300
0 10 20 30
Teor de Resíduo (%)
Ta x
a de
cor
rosã
o ( μ
m/a
no)
Figura 5.40. Taxa de corrosão das barras de aço inseridas nos corpos de prova
de concreto armado, calculados após o término do teste de
potencial de corrosão (método de envelhecimento por ciclos), em
função do teor de lama vermelha adicionada.
Este comportamento pode ter ocorrido devido a três fatores isolados ou à
combinação entre eles: i) o aumento da alcalinidade na região próxima à
interface aço/concreto, e/ou ii) uma maior fixação dos íons cloreto devido à
presença dos aluminossilicatos de sódio, fazendo com que estes não estejam
livres e disponíveis para iniciar o processo de corrosão, conforme discutido
para os resultados do ensaio de migração de cloretos e/ou iii) segundo
MCCARTER apud SANTOS [14], poros mais largos (existentes nos corpos de
prova contendo lama vermelha) perdem água mais facilmente do que os poros
pequenos e tortuosos, presentes na amostra de referência.
Na literatura especializada ocorrem controvérsias na justificativa dos
fenômenos que envolvem os resultados obtidos pelo potencial de corrosão. No
entanto, parece ponto comum o entendimento de que esta técnica
isoladamente é insuficiente e deve estar sempre acompanhada de alguma
183
técnica que determine quantitativamente a cinética de corrosão das barras
[97, 98].
Os resultados de potencial de corrosão pelo “método de envelhecimento
por névoa salina” (Figura 5.41) têm o comportamento diferente em relação ao
método anterior. Por não estarem submetidos a ciclos de secagem e
umedecimento, não houve variações ao longo das medidas, cujos valores
diminuiram sucessivamente, conforme o esperado.
-700
-600
-500
-400
-300
-200
-100
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Idade (dias)
Pote
ncia
l de
Cor
rosã
o (m
V)
0% 10% 20% 30%
Corrosão > 90%
Corrosão < 10%
10% < Corrosão < 90%
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Figura 5.41. Evolução do potencial de corrosão das barras de armadura dos
corpos de prova de concreto contendo adição de lama vermelha
em diversos teores, em função da idade, obtidos pelo método de
envelhecimento por névoa salina.
Como se pode observar na Figura 5.41, os corpos de prova contendo
lama vermelha tiveram resultados mais favoráveis em comparação às amostras
de referência, que ultrapassaram a barreira de “potencial de insegurança” antes
das demais e mantiveram potenciais de corrosão mais elevados até o final do
ensaio.
184
Da mesma forma do método anterior, foram determinadas as taxas de
corrosão (Figura 5.42), que apresentaram comportamento bastante semelhante
ao verificado no “método de envelhecimento por ciclos”, ou seja, ocorre uma
queda na taxa de corrosão, que atinge a estabilização entre os 20% e 30% de
lama vermelha adicionada.
4
6
8
10
12
14
16
18
0 10 20 30
Teor de Resíduo (%)
Ta x
a de
cor
rosã
o ( μ
m/a
no)
Figura 5.42. Taxas de corrosão das barras de aço inseridas nos corpos de
prova de concreto armado, calculadas após o término do teste de
potencial de corrosão (método de envelhecimento por névoa
salina), em função do teor de lama vermelha adicionada.
Estes comportamentos tão semelhantes, obtidos por dois métodos
diferentes que envolveram a mesma técnica (potencial de corrosão), são um
indicador da confiabilidade e reprodutibilidade desta técnica em termos
comparativos. No entanto, o “método de envelhecimento por ciclos” é
consideravelmente mais agressivo em comparação ao “método de
envelhecimento por névoa salina”, o que é evidenciado pela diferença dos
valores obtidos para a taxa de corrosão, que chegam a uma ordem de
grandeza (145 a 230 µm/ano contra 7,5 a 14 µm/ano).
185
Para aferir a confiabilidade dos resultados e avaliar se a adição da lama
vermelha proporciona um comportamento estável ao concreto armado, são
propostas algumas correlações entre os resultados obtidos pelas diversas
técnicas utilizadas até o momento. Na Figura 5.43 é colocada a correlação
entre os resultados de resistividade elétrica e a taxa de corrosão obtida por
meio da técnica de potencial de corrosão pelos métodos de envelhecimento por
ciclos e por névoa salina.
Figura 5.43. Correlação entre a resistividade elétrica e a taxa de corrosão
obtida por meio da técnica de potencial de corrosão pelos
métodos de envelhecimento (A) por ciclos e (B) por névoa salina.
y = -0,3596x + 104,39R2 = 0,9466
15
25
35
45
55
65
120 140 160 180 200 220 240
Taxa de corrosão (µm/ano)
Res
istiv
idad
e (KΩ
.cm
)
(A)
y = -5,1088x + 89,987R2 = 0,9048
15
25
35
45
55
65
6 8 10 12 14 16
Taxa de corrosão (µm/ano)
Res
istiv
idad
e (KΩ
.cm
)
(B)
186
Como esperado, existe uma correlação inversamente proporcional entre a
resistividade elétrica e a taxa de corrosão, ratificando o princípio de que uma
maior resistividade está associada a uma menor taxa de corrosão. Os
coeficientes de correlação, R2, são bastante satisfatórios (0,9466 e 0,9048).
Na Figura 5.44 é mostrada a correlação entre os coeficientes de difusão e
a taxa de corrosão obtida por meio da técnica de potencial de corrosão pelos
métodos de envelhecimento por ciclos e por névoa salina.
y = 0,1905x - 10,587R2 = 0,9635
y = 0,073x - 2,3103R2 = 0,8996
0
5
10
15
20
25
30
35
40
120 140 160 180 200 220 240
Taxa de corrosão (µm/ano)
Coe
ficie
ntes
de
Difu
são
(10-9
cm2 /s
)
Estado não-estacionário, Dns
Estado estacionário, Ds
y = 2,6578x - 2,4765R2 = 0,8881
y = 1,0293x + 0,698R2 = 0,846
0
5
10
15
20
25
30
35
40
6 8 10 12 14 16
Taxa de corrosão (µm/ano)
Coe
ficie
ntes
de
Difu
são
(10-9
cm2 /s
)
Estado não-estacionário, Dns
Estado estacionário, Ds
(A)
(B)
y = 0,1905x - 10,587R2 = 0,9635
y = 0,073x - 2,3103R2 = 0,8996
0
5
10
15
20
25
30
35
40
120 140 160 180 200 220 240
Taxa de corrosão (µm/ano)
Coe
ficie
ntes
de
Difu
são
(10-9
cm2 /s
)
Estado não-estacionário, Dns
Estado estacionário, Ds
y = 2,6578x - 2,4765R2 = 0,8881
y = 1,0293x + 0,698R2 = 0,846
0
5
10
15
20
25
30
35
40
6 8 10 12 14 16
Taxa de corrosão (µm/ano)
Coe
ficie
ntes
de
Difu
são
(10-9
cm2 /s
)
Estado não-estacionário, Dns
Estado estacionário, Ds
(A)
(B)
Figura 5.44. Correlação entre os coeficientes de difusão e a taxa de corrosão
obtida por meio da técnica de potencial de corrosão pelos
métodos de envelhecimento (A) por ciclos e (B) por névoa salina.
187
Observa-se uma correlação diretamente proporcional entre os
coeficientes de difusão e a taxa de corrosão, confirmando que uma maior
penetração de íons cloreto proporciona uma maior taxa de corrosão. Os
coeficientes desta correlação também foram bastante satisfatórios (entre
0,8460 e 0,9635).
Assim, de acordo com a análise destas correlações entre resultados
obtidos por métodos diferentes e que envolvem mecanismos de corrosão
diferentes, podem-se considerar mais consistentes as conclusões a respeito do
desempenho da lama vermelha como adição ao concreto armado, uma vez que
as correlações cientificamente consagradas são satisfeitas plenamente.
e) Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) A espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) fecha a série de
técnicas utilizadas para a caracterização do concreto armado contendo
diversos teores de lama vermelha como adição. A princípio foram realizadas
medidas de EIE a cada 30 dias. No entanto, após os três primeiros meses de
análise, optou-se por aumentar este intervalo para dois meses, logo, os
resultados apresentados foram obtidos para os corpos de prova com as idades
de 1, 2, 3, 5, 7, 9, 11 e 13 meses. Os resultados obtidos são a média de, no
mínimo, três determinações. Por questões de clareza serão mostrados os
gráficos de apenas uma destas medidas para cada teor e em cada idade
(foram escolhidos resultados mais próximos à média e, conseqüentemente,
mais representativos). Os resultados são apresentados nas Figuras 5.45, 5.46
e 5.47.
Nos diagramas de Nyquist obtidos, observa-se que a maioria dos
espectros apresenta características semelhantes: dois arcos incompletos em
regiões distintas de freqüência. A estes arcos está relacionada uma constante
de tempo RC, que é representada por elementos de um circuito elétrico
(resistor em paralelo com um capacitor). Em alguns casos foi observada a
formação de um terceiro arco, o que tornou a interpretação dos resultados mais
complexa e gerou dúvidas quanto aos fenômenos associados.
188
Figura 5.45. Evolução dos espectros de impedância (diagramas de Nyquist e
Bode) obtidos em concreto de referência (0%) e com diversos
teores de lama vermelha adicionada, com idade de (A) 1 mês, (B)
2 meses e, (C) 3 meses.
(C)
(A)
(B)
189
Figura 5.46. Evolução dos espectros de impedância (diagramas de Nyquist e
Bode) obtidos em concreto de referência (0%) e com diversos
teores de lama vermelha adicionada, com idade de (A) 5 meses,
(B) 7 meses e, (C) 9 meses.
(A)
(B)
(C)
190
Figura 5.47. Evolução dos espectros de impedância (diagramas de Nyquist e
Bode) obtidos em concreto de referência (0%) e com diversos
teores de lama vermelha adicionada, com idade de (A) 11 meses
e, (B) 13 meses.
Para se obter informações por meio das medidas de EIE é necessário
possuir um modelo físico do sistema que permita correlacionar os elementos do
circuito equivalente com as suas propriedades e com a descrição dos
fenômenos. Em função das características do material (concreto armado) e das
possibilidades sugeridas na literatura, o circuito equivalente que melhor se
adequou aos resultados é proposto na Figura 5.48a, onde R0, R2 e Re
representam, respectivamente, a resistência “offset” (altas freqüências), a
(A)
(B)
191
resistência da matriz de concreto (médias freqüências) e a resistência do
eletrodo. Assim, Re representa o fenômeno de corrosão nas barras de aço
(baixas freqüências). Vale lembrar que, geralmente, o valor de R0 é desprezado
e considera-se como resistência típica da matriz de concreto a grandeza Rb
(Rb = R0 + R2).
A partir das medidas do sétimo mês, quando a corrosão já se
apresentava de forma acentuada, a análise dos dados, que já não era trivial, se
mostrou ainda mais complexa, devido à sobreposição de fenômenos e ao ruído
da medida, associados, evidentemente, à heterogeneidade das amostras.
Devido a estas dificuldades, optou-se por mudar a forma de análise. A
teoria de base diz que os processos têm uma freqüência angular de relaxação
característica, w (a partir da qual deixam de responder) e que é dada por
w = 1/RC e que também pode ser lida graficamente no topo do arco do
espectro de impedâncias [99, 100]. Assim, buscou-se associar os arcos
possíveis de serem analisados com as capacitâncias e freqüências típicas de
cada um dos fenômenos.
Desta forma, isolaram-se os arcos identificados e relacionados a cada um
dos fenômenos e fez-se uma análise local, melhorando, assim, a precisão.
Estratégia semelhante havia sido adotada em seus estudos por VERMOYAL et
al. [99]. Para tal, utilizou-se o circuito simplificado apresentado na figura 5.48b.
Figura 5.48. Circuitos elétricos equivalentes propostos para a interface aço-
concreto, segundo (A) análise geral e (B) análise por arcos
individualizados (circuito simplificado).
192
Quando os arcos são analisados isoladamente e fitados segundo o
circuito elétrico simplificado (Figura 5.48b), têm-se como resultados, além da
resistência do arco em questão (R’’), os valores do elemento de fase constante
(CPE), Q, e do índice “n” que mede a perfeição deste elemento, variando entre
0 e 1 e sendo mais próximo do valor unitário à medida que o CPE se aproxima
de um capacitor perfeito, C [35, 41, 101]. Assim pode-se calcular a capacitância
característica, C, de acordo com a equação 5.4.
nn
n RQC−
=11
. (5.4)
Já a freqüência característica (f) associada a esta capacitância
característica é calculada, em Hertz, de acordo com as equações 5.5 e 5.6,
onde w = 1/RC [35, 100].
π2)( wHzf = (5.5)
CRHzf
..21)(
π= (5.6)
Esta correlação entre as capacitâncias e freqüências características
calculadas para cada um dos fenômenos pode ser visualizada na figura 5.49.
Como se pode observar, as freqüências típicas verificadas para os corpos de
prova utilizados neste trabalho podem ser agrupadas como:
• Baixas freqüências: Na faixa de 1 mHz a 10 Hz (10-3 – 10 Hz),
corresponde à resistência do eletrodo (Re), logo, está associada ao
fenômeno de corrosão. A capacitância característica desta faixa está
compreendida entre 10-6 e 10-3 F/cm2.
• Médias freqüências: Na faixa de 100 Hz a MHz (102 – 106 Hz),
corresponde à resistência do concreto (R2), estando associada às
características da matriz que envolve e protege a armadura. A
capacitância característica desta faixa está compreendida entre 10-9 e
10-6 F/cm2.
193
• Altas freqüências: Superior à faixa dos MHz (> 106 Hz), está
associada à resistência “offset” (R0), de pequena relevância e valores
desprezíveis no presente estudo.
Figura 5.49. Exemplos de correlação entre as capacitâncias e freqüências
características de cada um dos fenômenos observados via EIE
para as amostras de concreto de referência (A) e contendo a
adição de 10% de lama vermelha (B).
194
Figura 5.50. Exemplos de correlação entre as capacitâncias e freqüências
características de cada um dos fenômenos observados via EIE
para as amostras de concreto contendo a adição de (A) 20% e (B)
30% de lama vermelha.
195
Valores semelhantes aos apresentados nas Figuras 5.49 e 5.50 foram
observados por outros autores [35]. Os resultados obtidos para a resistência do
concreto, Rb (ohms), em função dos diversos teores adicionados de lama
vermelha podem ser visualizados na tabela 5.14.
Tabela 5.14. Valores obtidos via espectroscopia de impedância eletroquímica
(EIE) para a resistência do concreto, Rb (ohms), em função dos
diversos teores adicionados de lama vermelha.
Resistência do concreto, Rb (Ω) Meses
Referência (0%) 10% 20% 30%
Mês 1 9527,4 15453,0 13934,0 13763,0
Mês 2 7494,8 8224,7 9671,6 21304,7
Mês 3 15528,7 18036,7 25407,7 23312,8
Mês 5 31113,7 27623,3 64915,7 39640,9
Mês 7 6867,0 5536,7 3566,5 3387,6
Mês 9 7615,7 5079,7 6112,0 5731,2
Mês 11 7914,2 3239,3 3790,7 3586,3
Mês 13 13188,5 5983,1 4773,3 4580,9
Como se pode verificar na Tabela 5.14, a resistência do concreto, Rb,
aumenta com o passar do tempo, como era de se esperar, pois este
comportamento já foi obsevado nos ensaios de resistividade do concreto. No
entanto, devido à agressividade dos ciclos de secagem e umedecimento em
solução com NaCl, após um determinado período de tempo, a concentração de
íons cloreto (altamente condutivos) no interior dos corpos de prova se torna
bastante elevada. Associado a isso, a presença de pequenas trincas
provocadas pelo próprio ciclo, além da expansão devida ao processo corrosivo
já iniciado, fazem com que a resistência do concreto volte a cair, chegando a
valores extremamente baixos no final do ensaio. Comportamento semelhante
havia sido observado nos estudos de SILVA [102], que o associou a um maior
teor de umidade nas amostras.
196
Observa-se que até que haja este momento de inversão do
comportamento (no presente estudo, após os cinco meses de análise) os
corpos de prova com diversos teores de lama vermelha têm comportamento
semelhante às amostras de referência, sendo inclusive superiores em alguns
momentos. No entanto, os corpos de prova de referência parecem resistir
melhor às intempéries proporcionadas pelo procedimento experimental, pois
suas resistências decaem menos em comparação às demais.
Na Tabela 5.15 são apresentados os resultados obtidos para a
resistência do eletrodo, Re (= Rp, ohms), em função dos diversos teores
adicionados de lama vermelha.
Tabela 5.15. Valores obtidos via espectroscopia de impedância eletroquímica
(EIE) para a resistência do eletrodo, Re (= Rp, ohms), em função
dos diversos teores adicionados de lama vermelha.
Resistência do eletrodo, Re = Rp (Ω) Meses
Referência (0%) 10% 20% 30%
Mês 1 1,99E+06 1,23E+06 3,33E+06 6,42E+06
Mês 2 1,79E+05 1,53E+05 2,79E+05 1,11E+06
Mês 3 7,66E+03 1,20E+04 1,08E+04 1,20E+05
Mês 5 5,44E+03 4,46E+03 3,16E+03 3,40E+03
Mês 7 2,24E+03 1,55E+03 1,93E+03 1,20E+03
Mês 9 3,14E+03 1,45E+03 1,50E+03 1,11E+03
Mês 11 3,18E+03 1,44E+03 1,34E+03 9,69E+02
Mês 13 3,09E+03 1,60E+03 2,68E+03 1,33E+03
Segundo alguns estudos realizados [35, 102], a armadura está em
processo de corrosão à medida que há o fechamento do semi-círculo formado
a baixas freqüências, observado no diagrama de Nyquist. Assim, quanto
menores os valores de Re, mais acentuado é o processo corrosivo.
De acordo com a Tabela 5.15, observa-se claramente uma redução nos
valores Re, chegando a diferenças de uma ordem de grandeza entre medidas
sucessivas e atingindo uma estabilização por volta de 103 Ω (ou KΩ). Alguns
197
aspectos podem ser realçados quanto a estes resultados, tais como: i) a
estabilização destes valores de Re coincide com a maior complexidade de
análise dos resultados e com a mudança de comportamento dos valores de Rb,
sugerindo que realmente este é o momento em que o processo corrosivo está
mais acentuado; ii) os corpos de prova de referência (0%) atingem este valor
de estabilização antes dos demais, isto é, já aos três meses de análise,
indicando que o processo corrosivo nas primeiras idades é mais pronunciado
nestas amostras em comparação às que contém lama vermelha como adição
e; iii) a resistência do eletrodo típica de um processo corrosivo considerável é
da ordem de KΩ.
A análise dos resultados de EIE apresentados, interpretados e discutidos
anteriormente estão de acordo com os resultados obtidos via resistividade
elétrica (em situação úmida) e medida do potencial de corrosão, indicando ser
esta técnica confiável para a verificação do processo corrosivo, com a
vantagem de poder observar a evolução da cinética de corrosão, identificando
o momento em que esta ocorre em nível considerável.
No entanto, as dificuldades de interpretação e diversas incertezas quanto
aos parâmetros e faixas características dos fenômenos fazem com que esta
técnica ainda requeira estudos mais aprofundados.
5.3.3 Caracterização Ambiental – Ensaios de Lixiviação e Solubilização
Como último aspecto a ser abordado no presente estudo e de
fundamental importância quando se pensa em projetos de desenvolvimento de
materiais contendo resíduos industriais, realizou-se a caracterização ambiental
(lixiviação e solubilização) das amostras de concreto contendo lama vermelha
e, inclusive, das amostras de referência.
Com este objetivo, os concretos com 600 dias (20 meses) de idade foram
submetidos a ensaios de lixiviação e solubilização, segundo as normas NBR
10005 e NBR 10006, respectivamente, em laboratório particular credenciado
para tal. Foram analisadas apenas as concentrações dos elementos que
198
estiveram acima dos valores permitidos, segundo a análise do resíduo,
mostrada anteriormente (item 5.1.2).
Os corpos de prova de concreto foram britados para a geração de um
material granular, enviado para análise. Os resultados obtidos para o extrato
solubilizado são apresentados na Tabela 5.16.
Tabela 5.16. Resultados do ensaio de solubilização em amostras de concreto
com 600 dias de idade, contendo lama vermelha como adição,
realizado de acordo com as normas NBR 10004 e NBR 10006.
Solubilização (mg/L) Parâmetro
Resíduo 0% 10% 20% 30% VMP
Alumínio 41,80 0,15 1,24 1,31 1,35 0,20
Arsênio 0,0820 < 0,0025 < 0,0025 < 0,0025 < 0,0025 0,0100
Fenóis 0,014 0,016 0,015 0,013 0,013 0,010
Fluoreto 78,00 0,40 0,53 0,79 1,45 1,50
Selênio 0,0190 < 0,0055 < 0,0055 < 0,0055 < 0,0055 0,0100
Sódio 1665,0 52,4 146,0 222,0 592,0 200,0
pH 12,04 12,3 12,2 12,1 12,1 2,5 – 12,5
VMP = Valor máximo permitido; # = ausência de limite pela NBR 10004; x =não solicitado pela NBR 10004; nd = não detectado.
Na Tabela 5.16 são apresentados também os resultados obtidos para a
lama vermelha. Observa-se que há uma grande redução dos teores dos
elementos lixiviados quando a lama é adicionada ao concreto.
O alumínio, cuja concentração no resíduo era cerca de 200 vezes
superior ao permitido, teve uma redução considerável, apesar de ainda
permanecer acima deste limite (cerca de 6 a 7 vezes). O arsênio, o fluoreto
(principalmente) e o selênio, cujas concentrações estavam acima do limite
superior máximo, não apresentaram concentrações consideráveis para
nenhuma das amostras contendo resíduo.
199
O sódio apresentou valores acima dos permitidos apenas para amostras
de concreto contendo 20% e 30%, também com uma grande redução em
comparação com a concentração observada no resíduo.
Os resultados verificados para a concentração de fenóis chamam a
atenção pelo fato da concentração na amostra de concreto de referência (0%)
ser superior ao permitido e, inclusive, superior à concentração verificada na
lama vermelha. Assim como o ocorrido na caracterização do resíduo não há
motivo aparente para a presença deste composto na matriz cimentícia. Assim,
pode-se considerar que sua presença possa ser proveniente de falha na
técnica utilizada.
O pH, como era de se esperar, apresenta-se numa mesma faixa pelo fato
do resíduo de bauxita ter uma alcalinidade semelhante à matriz de concreto.
Dessa forma, as amostras de concreto contendo lama vermelha, bem
como a própria lama vermelha podem ser consideradas como não-inertes.
Apesar de não apresentarem concentrações no resíduo acima das
permitidas para o extrato lixiviado, foram feitas análises para avaliar o efeito
desta adição ao concreto. Os resultados obtidos para o extrato lixiviado são
apresentados na Tabela 5.17. Como já era esperado, não foram observadas
concentrações relevantes para nenhum dos elementos analisados nas
amostras de concreto contendo lama vermelha.
Estes resultados favoráveis podem estar associados a dois aspectos: o
primeiro que a adição da lama vermelha ao concreto diminui a concentração
dos elementos, uma vez que a concentração nas amostras de referência (0%)
é extremamente baixa. Assim, a adição de 10% de resíduo de bauxita ao
concreto poderia representar naturalmente uma redução de 90% dos valores
obtidos. O outro fator seria a formação de compostos aluminossilicatos com a
presença destes elementos, fixando-os à matriz cimentícia. Este fato parece
bem evidente para o alumínio, o arsênio, os fluoretos e o selênio, que tiveram
uma redução bem acima do esperado para uma simples “diluição” dos
elementos.
200
Tabela 5.17. Resultados do ensaio de lixiviação em amostras de concreto com
600 dias de idade, contendo lama vermelha como adição,
realizado de acordo com as normas NBR 10004 e NBR 10005.
Lixiviação (mg/L) Parâmetro
Resíduo 0% 10% 20% 30% VMP
Alumínio x < 0,030 < 0,030 < 0,030 < 0,030 #
Arsênio nd < 0,0025 < 0,0025 < 0,0025 < 0,0025 1,0
Fenóis x 0,005 0,005 0,004 0,003 #
Fluoreto 2,26 0,51 1,12 1,96 1,58 150,0
Selênio nd 0,023 0,021 0,028 0,023 1,0
Sódio 1510 1321 1443 1417 1433 #
pH 12,04 11,8 10,9 11,7 11,3 2,5 – 12,5
VMP = Valor máximo permitido; # = ausência de limite pela NBR 10004; x =não solicitado pela NBR 10004; nd = não detectado.
Assim, pode-se concluir que a adição do resíduo de bauxita ao concreto
armado não afeta as suas características físicas, melhora diversos aspectos
quanto à durabilidade e apresenta-se segura aos usuários.
5.4 Discussão Geral
Com base nos resultados apresentados e discutidos, é apresentada uma
discussão geral dos resultados. Quanto ao efeito da adição da lama vermelha
em matrizes cimentícias:
• A lama vermelha é um forte candidato à substituição parcial do cimento
em argamassas e concretos para aplicações não estruturais;
• A adição da lama vermelha ao cimento proporciona uma redução do
tempo de pega, devido à sua elevada finura, à presença de hidróxidos
de alumínio e sódio (reconhecidos como aceleradores de pega) e
também por seu caráter de elevada alcalinidade;
201
• A adição da lama vermelha promove um aumento do pH das pastas,
devido a uma maior concentração de íons hidroxila (OH-), provenientes
dos hidróxidos de sódio e alumínio presentes no resíduo;
• De acordo com testes físicos e químicos, a lama vermelha não pode ser
considerada um material essencialmente pozolânico por não satisfazer a
alguns parâmetros das normas. No entanto, apresenta um razoável
índice de atividade pozolânica, independente da norma utilizada;
• Contrariamente ao esperado, a lama vermelha não aumenta a reação
álcalis-agregado (RAA). Este fenômeno pode estar associado a um
efeito de diluição do teor de cimento, pois o cálcio é fundamental no
mecanismo da RAA;
• A adição da lama vermelha provoca uma diminuição da tensão de
escoamento (g) e um aumento da viscosidade plástica (h) das
argamassas, devido à hidratação do cimento e à menor quantidade de
água livre na mistura (elevada finura do material);
• A medida do calor de hidratação pode ser uma importante ferramenta de
medida indireta do índice de atividade pozolânica. A presença da lama
vermelha faz com que haja um aumento da temperatura de reação nos
momentos iniciais, o que é evidenciado no calor máximo de hidratação,
indicando a reatividade da lama vermelha;
• A resistência mecânica das argamassas diminui com o aumento dos
níveis de substituição do cimento, devido às limitadas características
hidráulicas da lama vermelha;
• A resistência mecânica das argamassas é ligeiramente aumentada (até
10%) com a adição de baixos teores da lama vermelha, apresentando
valores aceitáveis até um limite de 30% de adição;
• A adição da lama vermelha reduz o índice de absorção capilar das
argamassas por diminuir a concentração de poros capilares ou promover
a sua obstrução. No entanto, a porosidade aparente total é levemente
aumentada (cerca de 5%);
• Com a adição do resíduo ao concreto, a distribuição do tamanho dos
poros torna-se menos homogênea e vazios maiores ou macroporos
202
(cerca de 1μm de diâmetro) são gerados, ocorrendo, também, um
aumento na porosidade total;
• A redução dos poros capilares nas amostras de concreto diminuem a
absorção capilar em função do teor de lama vermelha adicionada,
mesmo com uma maior porosidade total;
• A adição da lama vermelha ao concreto tem como conseqüência uma
imediata redução na resistência mecânica (compressão diametral),
devido a dificuldades de moldagem e maior porosidade. No entanto, com
adições sucessivas do resíduo, esta resistência mecânica é aumentada.
• A lama vermelha, que já não apresentava uma grande periculosidade,
teve a concentração de seus elementos acima dos valores permitidos no
extrato solubilizado bastante reduzida quando adicionada à matriz de
concreto;
• O alumínio e o sódio, com elevadas concentrações na lama vermelha,
tiveram seus teores reduzidos consideravelmente;
• O arsênio, o fluoreto (principalmente) e o selênio, cujas concentrações
no resíduo estavam acima do limite superior máximo, não apresentaram
concentrações consideráveis para nenhuma das amostras contendo
resíduo;
• O pH das amostras não foi influenciado consideravelmente pela
presença da lama vermelha;
• Os resultados positivos verificados na análise ambiental são associados
aos fatos de a adição da lama vermelha ao concreto diminuir a
concentração dos elementos uma vez que a concentração nas amostras
de referência (0%) é extremamente baixa e à formação de compostos
aluminossilicatos com a presença destes elementos, fixando-os à matriz
cimentícia.
No presente estudo, foram utilizadas 5 (cinco) diferentes técnicas para
avaliar a capacidade do concreto contendo lama vermelha em proteger a
armadura do concreto armado. A respeito da precisão e reprodutibilidade
destas técnicas:
203
• Para ensaios de migração de cloretos, o uso de água destilada como
solução anódica inicial facilita a medida da evolução da concentração de
cloretos por meio de medidas de condutividade da solução, tornando
possível a obtenção de excelentes resultados de forma simples, com
baixo custo e com elevada reprodutibilidade;
• A presença de poros com diâmetros de cerca de 1 μm facilita a difusão
de íons cloreto no concreto por difusão e sucção capilar;
• A redução do coeficiente de difusão no estado estacionário tem como
conseqüência direta o aumento da vida útil da estruturas;
• A avaliação da carbonatação em corpos de prova de concreto apenas
torna-se viável e reprodutível com a utilização de câmara de
carbonatação, devido ao lento processo que leva a este fenômeno;
• A evolução dos resultados de resistência à flexão de corpos de prova de
concreto são um bom indicativo dos efeitos da carbonatação;
• A microscopia apresenta-se como uma ferramenta complementar
bastante útil na avaliação da carbonatação em matrizes cimentícias;
• O método de verificação da resistividade elétrica do concreto por meio
de sensores embutidos na amostra mostrou-se bastante satisfatória,
com elevada reprodutibilidade mesmo com amostras secas;
• Os resultados de resistividade elétrica do concreto poderiam ser mais
conclusivos e inter-relacionados aos observados por outras técnicas
caso os corpos de prova fossem mantidos em câmara úmida durante
todo o período;
• A resistividade elétrica é um bom indicativo da possibilidade de
penetração de íons cloreto. Assim, quanto maior a resistividade do
concreto, menor a penetração de íons cloreto e, conseqüentemente,
menor a probabilidade de ocorrer corrosão;
• As medidas do potencial de corrosão apresentaram boa
reprodutibilidade e, além de serem simples, podem ser utilizadas em
campo, com a consciência, porém, de que esta técnica não deve ser
utilizada como único método de monitoramento da corrosão;
204
• Não é possível avaliar a evolução do processo corrosivo por meio da
técnica do potencial de corrosão, que nos indica apenas quais as
possibilidades de ocorrência da corrosão e, por isso, deve ser utlizada
como uma técnica complementar;
• Não existe uma relação entre o tempo de despassivação da armadura e
as taxa de corrosão nos testes de potencial de corrosão, isto é, a barra
pode iniciar o processo corrosivo mais cedo, mas, a partir deste
momento, apresentar taxa menor;
• Para a técnica do potencial de corrosão, o “método de envelhecimento
por ciclos” é consideravelmente mais agressivo em comparação ao
“método de envelhecimento por névoa salina”, o que é evidenciado pela
diferença dos valores obtidos para a taxa de corrosão, que chegam a
uma ordem de grandeza;
• A espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) mostrou-se uma
técnica altamente reprodutiva e poderosa. No entanto, as dificuldades de
interpretação e a falta de critérios consagrados mundialmente são
limitadores de sua aplicação e fazem com que esta técnica ainda esteja
bastante carente de estudos mais aprofundados;
• A associação entre os arcos observados nos resultados de
espectroscopia e a freqüência de relaxação característica, mostrou-se
uma interessante alternativa de análise para sistemas tão heterogêneos
e complexos como o concreto armado, aumentando a precisão das
medidas;
• Os fenômenos associados à corrosão das armaduras e às
características intrínsecas do concreto são observados em baixas (10-3 –
10 Hz) e médias (102 – 106 Hz) freqüências, respectivamente;
• A resistência do eletrodo típica de um processo corrosivo considerável é
da ordem de KΩ (103 Ω).
• A armadura está em processo de corrosão à medida que há o
fechamento do semi-círculo formado a baixas freqüências, observado no
diagrama de Nyquist;
205
Quanto à influência da adição da lama vermelha nos mecanismos que
levam à corrosão do concreto:
• O “time lag” aumenta com o aumento da adição de lama vermelha,
sendo uma provável conseqüência da redução da quantidade relativa de
poros capilares;
• A diminuição no nível de interconectividade entre os poros capilares nas
amostras contendo lama vermelha e a presença de fases mineralógicas
típicas, como aluminossilicatos de sódio, conhecidos como “sodalites”
são responsáveis pela redução do fluxo de íons e, conseqüentemente,
dos coeficientes de difusão nos estados estacionário e não estacionário;
• Amostras de concreto contendo lama vermelha apresentaram, segundo
resultados de migração de cloretos, uma maior vida útil, atingindo um
valor superior ao dobro do obtido para as amostras de referência (16,5
contra 35 anos);
• A adição da lama vermelha apresentou-se prejudicial ao concreto no
tocante à carbonatação. A porosidade e, principalmente, a capacidade
da lama vermelha em assimilar o dióxido de carbono se sobrepõem ao
seu elevado pH como fator que possa influenciar este comportamento;
• Por formar fases carbonatadas com maior facilidade, o concreto
contendo lama vermelha apresenta maior capacidade de fixação dos
metais presentes neste resíduo;
• A redução na porosidade durante o processo de carbonatação, com a
transformação do Ca(OH)2 em CaCO3 pode ser responsável pelo ganho
acentuado de resistência das amostras de referência e contendo 10% de
adição da lama vermelha mesmo após os 28 dias;
• Quando o processo de carbonatação é muito acentuado (como para a
adição de 20% e 30% de lama vermelha), há a formação de uma rede
de poros mais grosseiros, devido à decomposição do gel C-S-H na pasta
de cimento, tendo como conseqüência menores valores de resistência à
flexão;
206
• O grau de saturação (umidade) das amostras de concreto contendo
lama vermelha parece influenciar consideravelmente nos resultados de
resistividade elétrica;
• Os corpos de prova de concreto com presença da lama vermelha
apresentam maior resistividade em ambiente úmido, situação mais
propícia à corrosão;
• Com a redução da umidade dos corpos de prova, o aumento da
resistividade da amostra de referência em função do tempo é mais
acentuado em comparação às amostras contendo lama vermelha. Este
fenômeno é justificado pela elevada concentração iônica da lama
vermelha que, com a diminuição da umidade, torna-se mais acentuada e
atuante em comparação às amostras de referência devido a uma maior
porosidade e, principalmente, à elevada condutividade dos íons Na+,
OH-, Ca2+ e K+, presentes no resíduo;
• A relação inversamente proporcional entre a resistividade e a
penetração de cloretos para o concreto contendo lama vermelha é
observada quando ocorre a mesma situação de saturação das amostras;
• A amplitude entre as medidas do potencial de corrosão dos corpos de
prova nos estados úmido e seco é mais acentuada nas amostras de
referência (0%), que, por possuírem uma maior rede de poros capilares,
apresentam maior capacidade de absorção da solução contendo NaCl
(sucção capilar) e uma maior dificuldade em perder esta umidade
(menor porosidade total) em comparação às amostras contendo lama
vermelha;
• A presença da lama vermelha retarda o processo de despassivação das
barras. Este fenômeno é resultado de fatores que podem agir
isoladamente ou de forma conjunta, tais como: uma maior alcalinidade
do concreto na região interfacial devido à presença da lama vermelha,
uma maior fixação dos íons cloreto devido à presença dos
aluminossilicatos de sódio e a presença de poros largos, facilitando a
perda de umidade nos corpos de prova contendo lama vermelha;
207
• Quanto maior o teor de lama vermelha adicionado, menor a taxa de
corrosão verificada, atingindo uma estabilização entre os 20% e 30%
adicionados. Este comportamento foi verificado para os dois métodos
utilizados na técnica do potencial de corrosão;
• A taxa de corrosão obtida pela técnica de potencial de corrosão é
inversamente proporcional à resistividade elétrica e diretamente
proporcional aos valores de coeficientes de difusão, apresentando
satisfatórios índices de correlação (R2), dando uma maior confiança aos
resultados obtidos;
• Assim como o ocorrido no ensaio de resistividade, a espectroscopia de
impedância eletroquímica (EIE) apontou para um aumento da
resistividade dos corpos de prova com o passar do tempo;
• A agressividade dos ciclos de secagem e o aumento da concentração de
íons cloreto (altamente condutivos) associados à presença de pequenas
trincas provocadas pela expansão devida ao processo corrosivo fazem
com que a resistência do concreto seja bruscamente reduzida para
todas as amostras;
• Apesar de apresentarem comportamento semelhante às demais, os
corpos de prova de referência parecem resistir melhor às intempéries
proporcionadas pelo procedimento experimental em comparação às
amostras contendo lama vermelha;
• Nos resultados de EIE uma redução nos valores de resistência do
eletrodo, Re, chegando a diferenças de uma ordem de grandeza entre
medidas sucessivas e atingindo uma estabilização por volta de 103 Ω (ou
KΩ);
• A estabilização dos valores de Re coincide com a maior complexidade
de análise dos resultados e com a mudança de comportamento dos
valores de Rb, sugerindo que realmente este é o momento em que o
processo corrosivo está mais acentuado;
208
209
6 CONCLUSÕES
Devido ao grande volume de resultados obtidos no presente trabalho,
optou-se por dividir as conclusões em 2 (dois) grupos: i) o efeito da adição da
lama vermelha em matrizes de cimento Portand (argamassas e concretos) e
análise ambiental (lixiviação e solubilização); ii) influência da lama vermelha
nos resultados de análise de corrosão em concreto armado.
i) Quanto ao efeito da adição da lama vermelha em matrizes cimentícias,
pode-se concluir que:
• A lama vermelha é um forte candidato à substituição parcial do cimento
em argamassas e concretos (até 30%);
• A adição da lama vermelha promove uma redução do tempo de pega,
uma diminuição da tensão de escoamento, e um aumento da
viscosidade plástica, aumenta a temperatura de reação nos momentos
iniciais (calor máximo de hidratação), reduz o índice de absorção capilar,
com uma distribuição do tamanho dos poros mais homogênea e geração
macroporos;
• Não houve aumento na RAA devido à presença da lama vermelha;
• A matriz cimentícia mostrou-se competente no encapsulamento dos
elementos perigosos.
ii) A influência da adição da lama vermelha nos mecanismos que levam à
corrosão do concreto, foco principal desta tese, permite concluir que:
• A diminuição no nível de interconectividade entre os poros capilares nas
amostras contendo lama vermelha e a presença de fases mineralógicas
típicas, como aluminossilicatos de sódio, conhecidos como “sodalites” são
responsáveis pelo aumento do “time lag”, pela redução do fluxo de íons e,
conseqüentemente, dos coeficientes de difusão nos estados estacionário e
não estacionário;
210
• A adição da lama vermelha apresentou-se prejudicial ao concreto no
tocante à carbonatação. A porosidade e, principalmente, a capacidade da
lama vermelha em assimilar o dióxido de carbono se sobrepõem ao seu
elevado pH como fator que possa influenciar este comportamento;
• A presença da lama vermelha proporcionou um aumento na
resistividade do concreto em ambiente úmido, situação mais propícia à
corrosão. No entanto, com a redução da umidade, o aumento da
resistividade das amostras de referência em função do tempo é mais
acentuado em comparação às amostras contendo lama vermelha;
• Quanto maior o teor de lama vermelha adicionado, menor a taxa de
corrosão verificada, atingindo uma estabilização entre os 20% e 30%
adicionados;
• De acordo com os resultados de EIE, o processo corrosivo é mais
pronunciado nas amostras de referência em comparação às que contém
lama vermelha como adição.
Assim, com base nos resultados obtidos para argamassas, concretos,
caracterização ambiental e ensaios que avaliaram a corrosividade, pode-se
concluir que a lama vermelha apresenta-se como uma alternativa segura e com
benefícios quando adicionada a matrizes cimentícias. O próximo passo do
processo de desenvolvimento tecnológico seria a criação de protótipos para
atestar em escala real todos os resultados obtidos no presente estudo.
211
7 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
• Influência da temperatura de calcinação nas propriedades pozolânicas da
lama vermelha;
• Incorporação da lama vermelha ao clínquer de cimento Portland;
• Uso da lama vermelha como fixador de substâncias tóxicas do ambiente;
• Estudo da precisão e reprodutibilidade da técnica de espectroscopia de
impedância eletroquímica (EIE) em matrizes cimentícias;
• Melhoria das propriedades reológicas de matrizes cimentícias contendo
lama vermelha por meio de melhor distribuição de tamanho de partículas ou
pelo uso de aditivos.
212
213
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