aianna rios magalhÃes vÉras e silva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA ERGONOMIA E SEGURANÇA DO PACIENTE NA PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO DE EVENTOS ADVERSOS NO TRANSPORTE E TRANSFERÊNCIA DE PACIENTES POR MAQUEIROS EM UMA MATERNIDADE DE ALTA COMPLEXIDADE Natal - RN Outubro/2020

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Page 1: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA

AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

ERGONOMIA E SEGURANÇA DO PACIENTE NA PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO

DE EVENTOS ADVERSOS NO TRANSPORTE E TRANSFERÊNCIA DE

PACIENTES POR MAQUEIROS EM UMA MATERNIDADE DE ALTA

COMPLEXIDADE

Natal - RN

Outubro/2020

Page 2: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

ERGONOMIA E SEGURANÇA DO PACIENTE NA PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO

DE EVENTOS ADVERSOS NO TRANSPORTE E TRANSFERÊNCIA DE

PACIENTES POR MAQUEIROS EM UMA MATERNIDADE DE ALTA

COMPLEXIDADE

Dissertação submetida ao Programa de Pós-

Graduação em Engenharia de Produção da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

– UFRN, como requisito necessário para a

obtenção do título de Mestre em Engenharia

de Produção.

Linha de Pesquisa: Ergonomia, Engenharia do

Produto e Engenharia da Sustentabilidade.

Professor: Ricardo José Matos de Carvalho.

Natal - RN

Outubro/2020

Page 3: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Silva, Aianna Rios Magalhaes Veras e.

Ergonomia e segurança do paciente na prevenção e mitigação de

eventos adversos no transporte e transferência de pacientes por

maqueiros em uma maternidade de alta complexidade / Aianna Rios

Magalhaes Veras e Silva. - 2021.

183 f.: il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Centro de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em

Engenharia de Produção, Natal, RN, 2021.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho.

1. Ergonomia -Dissertação. 2. Segurança do paciente -

Dissertação. 3. Eventos adversos - Dissertação. 4. Maqueiros -

Dissertação. 5. Transporte de pacientes - Dissertação. I.

Carvalho, Ricardo José Matos de. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 614.253.83

Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco - CRB-15/262

Page 4: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

ERGONOMIA E SEGURANÇA DO PACIENTE NA PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO

DE EVENTOS ADVERSOS NO TRANSPORTE E TRANSFERÊNCIA DE

PACIENTES POR MAQUEIROS EM UMA MATERNIDADE DE ALTA

COMPLEXIDADE.

AIANNA RIOS MAGALHAES VERAS E SILVA

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE

DO NORTE COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO

DO GRAU DE

MESTRE EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

OUTUBRO, 2020

© 2020 AIANNA RIOS MAGALHAES VERAS E SILVA

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

O autor aqui designado concede ao Programa de Engenharia de Pós-graduação em Engenharia

de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte permissão para reproduzir,

distribuir, comunicar ao público, em papel ou meio eletrônico, esta obra, no todo ou em parte,

nos termos da Lei.

Assinatura do Autor:

__________________________________________________________________________________________________________________________

APROVADO POR:

_________________________________________________________________________________________________________________________

Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho – Presidente

___________________________________________________________________________________________________________________________ Prof. Dr. Júlio Francisco Dantas de Rezende – Examinador Interno ao Programa

______________________________________________________________________________________________________________

Profª. Drª Maria Christine Werba Saldanha –Examinadora Externa à Instituição

Page 5: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

Aos meus pais, Acácio Salvador Véras e

Silva e Réia Sílvia Rios Magalhães,

exemplos de pais dedicados e professores

universitários competentes, e que, além de

terem me inspirado a seguir meus sonhos,

também os sonharem junto comigo. Amor

pleno e amparo fundamental!

E aos meus irmãos, Acácio Júnior e Anne

que, pela grande diferença de idade, foram

meus professores de tarefas escolares,

motoristas, cuidadores, protetores e

companheiros, sempre abraçando minhas

dores como se fossem suas. Amor

incondicional a me estimular!

Page 6: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente а Deus por este presente maravilhoso que é concluir esta

etapa tão importante em minha vida acadêmica e pelas pessoas que Ele colocou em meu

caminho. Maior mestre que alguém pode conhecer!

Ao meu orientador, Prof. Dr. Ricardo José Matos de Carvalho, pela forma segura,

dedicada, competente e acolhedora com que conduziu as atividades, ao longo do processo de

construção desta dissertação. Você é admirável, muito obrigada!

Aos meus familiares: pais, irmãos, tios, primos e cunhados, pelo carinho, incentivo e

apoio constante em todos os momentos da minha vida pessoal e acadêmica. Em especial, à tia

amada e fonte de inspiração, Maria do Socorro Rios Magalhães, pelas correções de Português.

Parte fundamental da minha vida e da minha história!

Ao meu noivo, João Isaque Fortes Machado, pelo carinho, paciência e apoio. Seu

amor e companhia foram imprescindíveis!

À cunhada e professora de inglês, Tátila Galganea, pela elaboração do Abstract deste

trabalho. Valiosa contribuição!

À Maternidade Januário Cicco pela disponibilidade e colaboração na execução deste

projeto, principalmente, aos membros do Núcleo de Segurança do Paciente e aos maqueiros.

Convivência harmoniosa e engrandecedora!

Aos professores do curso de Engenharia de Produção da UFPI que me indicaram a

direção certa para que eu construísse meu conhecimento na área. Meu eterno agradecimento!

Agradeço, em especial, a minha banca examinadora, Profª. Drª. Maria Christine Werba

Saldanha e Prof. Dr. Julio Francisco Dantas de Rezende, pelas sugestões e contribuições

preciosas a este trabalho. Para vocês, meu reconhecimento sempre!

Enfim, agradeço aos meus queridos amigos, Cryslaine Nascimento, Danyella

Reinado, Danylla Gabryella, Rômullo Dantas e Matheus Alves, pela convivência sadia, rica

de bons sentimentos, momentos de cumplicidade, companheirismo, superação, estudos,

tensão e muitas alegrias. A vocês, minha gratidão, para sempre, Bruacas!

Page 7: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AET – Análise Ergonômica do Trabalho

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CAAE – Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CCIH – Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

COFEN – Conselho Federal de Enfermagem

CORENs – Conselhos Regionais de Enfermagem

EA – Eventos Adversos

EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

ERS – Ergonomic Research Society

GA – Grupo de Acompanhamento

GAE – Grupo de Ação Ergonômica

GF – Grupo de Foco

IBSP – Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente

IEA – International Ergonomics Association

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

IOM – Institute of Medicine

LER/DORT – Lesões Por Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteomusculares Relacionados

Ao Trabalho

MEJC – Maternidade Escola Januário Cicco

NR – Norma Regulamentadora

OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMS – Organização Mundial da Saúde

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PNSP – Programa Nacional de Segurança do Paciente

PPRA – Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais

RDC – Resolução da Diretoria Colegiada

REBA – Rapid Entire Body Assessment

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SNVS – Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

Page 8: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

UFRN – Universidade Federal do Rio grande do Norte

WAI – Work As Imagined

WAD – Work As Done

SUS – Sistema Único de Saúde

LOS – Lei Orgânica da Saúde

Page 9: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Manchete revista VEJA .......................................................................................... 19 Figura 2 – Manchete Tribuna do Norte .................................................................................... 20

Figura 3 – Determinantes da atividade de trabalho .................................................................. 36 Figura 4 – Equipamento de transferência de paciente .............................................................. 57 Figura 5 – Fachada da MEJC ................................................................................................... 75 Figura 6 – Esquema da construção social a ser desenvolvida na MEJC .................................. 79 Figura 7 – Grandes Momentos da AET .................................................................................... 81

Figura 8 – Quarta reunião para instrução da demanda entre a pesquisadora e os membros do

NSP ........................................................................................................................................... 84 Figura 9 – Série histórica de notificações de EA’s ................................................................... 99

Figura 10 – Organograma da MEJC ....................................................................................... 101 Figura 11 – Fluxograma do chamado dos maqueiros ............................................................. 104 Figura 12 – Fluxograma do transporte de pacientes realizado pelos maqueiros .................... 105 Figura 13 – Riscos ambientais e ocupacionais para os maqueiros ......................................... 106

Figura 14 – Acesso a unidade B2 ........................................................................................... 112 Figura 15 – Sala do setor dos maqueiros ................................................................................ 113

Figura 16 – Local de descanso dos maqueiros ....................................................................... 114 Figura 17 – Cadeiras de rodas e macas do setor ..................................................................... 115

Figura 18 – Desnível do elevador ........................................................................................... 116 Figura 19 – Percentual de respostas do questionário nórdico ................................................ 117 Figura 20 – Sequência de ações de transferência de uma paciente para cama de um leito .... 120

Figura 21 – Maqueiro correndo com a paciente na cadeira de rodas para pegar impulso na

rampa ...................................................................................................................................... 121

Figura 22 – Cadeiras de rodas sem suporte para soro ............................................................ 122 Figura 23 – Uso do elevador para o transporte de pacientes .................................................. 123

Figura 24 – Paciente saindo da plataforma com auxílio do acompanhante............................ 124 Figura 25 – Transferência e transporte de pacientes sendo realizados sem luvas .................. 125 Figura 26 – Paciente de alta saindo sem acompanhamento do maqueiro nem de outra pessoa

................................................................................................................................................ 128 Figura 27 – Transporte sendo feito por terceiros .................................................................... 129 Figura 28 – Transferência da maca para o leito com auxílio do acompanhante .................... 129

Figura 29 – Gráfico de barras escala de avaliação de risco .................................................... 131 Figura 30 – Idade das respondentes ........................................................................................ 133

Figura 31 – Nível de escolaridade das respondentes .............................................................. 134 Figura 32 – Uso do espaço: utilização e frequência de uso da MEJC .................................... 135 Figura 33 – Uso do espaço: tempo médio de permanência .................................................... 136

Figura 34 – Utilização do serviço dos maqueiros................................................................... 136 Figura 35 - Condições do serviço de transporte e transferências de pacientes ...................... 137

Figura 36 - Condições dos equipamentos utilizados para esse serviço .................................. 138 Figura 37 - Condições das instalações para transporte ........................................................... 138

Figura 38 - Condições gerais da maternidade ........................................................................ 139

Page 10: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Fatores que influenciam a prática clínica .............................................................. 31 Quadro 2 – Classificações da ergonomia ................................................................................. 40

Quadro 3 – Etapas para realização da busca dos documentos em inglês ................................. 47 Quadro 4 – Etapas para realização da busca dos documentos em português ........................... 47 Quadro 5 – Classificações da pesquisa ..................................................................................... 72 Quadro 6 – Exigências éticas fundamentais ............................................................................. 92 Quadro 7 – Princípios e principais competências do NSP da MEJC ....................................... 97

Quadro 8 – Percentuais de respostas de cada ponto por dados .............................................. 132 Quadro 9 – Resumo dos objetivos específicos da pesquisa, suas constatações e sugestões de

melhorias ................................................................................................................................ 143

Page 11: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Modelo Tradicional e a nova abordagem para resposta à ocorrência de EA’s ....... 30 Tabela 2 – Novos impulsos de ação global para melhorar a segurança do paciente ................ 33

Tabela 3 – Fatores de risco para LER/DORT........................................................................... 44

Page 12: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

RESUMO

Nos últimos tempos, a segurança do paciente vem se tornando uma preocupação de âmbito

mundial, compreendendo, para assegurá-la, uma gama de aspectos a considerar, tais como a

cirurgia segura, a identificação do paciente, a higienização das mãos, a prevenção de quedas,

o uso seguro de medicamentos, o ambiente seguro de cuidado, entre outros, tornando mais

complexo o conhecimento e o controle de todas essas variáveis, quando se trata do

gerenciamento dos sistemas de atendimento de pacientes, como hospitais e maternidades,

entre outros. A segurança do paciente, assim como as causas dos eventos adversos (EAs) e

suas consequências, em maior ou menor grau, têm relação com a qualidade das instalações,

dos equipamentos e dos serviços prestados, com o dimensionamento de pessoal para

realização dos serviços, com a jornada diária e semanal de trabalho, com a densidade ou

intensificação do trabalho, com a complexidade do quadro clínico dos pacientes, com a

remuneração dos profissionais, com a gestão da segurança e saúde do trabalhador, com a

gestão da infecção hospitalar, entre outros. Nesse contexto, o transporte e a transferência de

pacientes realizados por maqueiros no ambiente intra-hospitalar expressa preocupação como

atividade suscetível à ocorrência de eventos adversos com os pacientes envolvidos, devido à

frequência com que são realizados, bem como a sua complexidade, porque envolve todos os

aspectos citados anteriormente. Apesar disto, do tempo de internação prolongado, das

consequências aos pacientes e dos custos envolvidos com os eventos adversos, as pesquisas

sobre este tema ainda não são abundantes. A ideia de segurança, conforme preconizada por

Hollnagel, na abordagem Safety II, ressalta a importância de se analisar o trabalho como é

realmente feito ou realizado (“work as done-WAD”), diferentemente de analisar o trabalho

como foi imaginado ou prescrito (“work as imagined-WAI”), como é a abordagem Safety I. A

abordagem Safety II valoriza o conhecimento e a experiência dos trabalhadores sobre o

trabalho que realizam e se interessa sobre como e por que as coisas dão certo (“go right”). A

abordagem Safety I, por sua vez, largamente adotada nos sistemas de gestão de segurança das

organizações em geral, inclusive hospitalares, centra-se nos aspectos normativos e

prescritivos, no conhecimento de especialistas e gestores, e interessa-se por conhecer o

porquê de as coisas não darem certo (“go wrong”), a exemplo dos modelos de análise de

riscos do trabalho e de erros utilizados. O trabalho real do maqueiro é muito mais do que

transportar e transferir o paciente de um local a outro. Consiste em transportar e fazer

transferência do paciente com eficiência e segurança, e isto envolve a consideração, por parte

dos maqueiros, dos aspectos tecnológicos e organizacionais, do layout das instalações, das

condições de saúde do paciente e das condições de saúde e estratégias cognitivas do próprio

maqueiro, para se evitar eventos adversos com os pacientes. A Ergonomia apresenta-se, neste

contexto, como um campo científico e metodológico fundamental que, através da Análise

Ergonômica do Trabalho, permite que se compreenda o trabalho real do maqueiro, que se

formule um diagnóstico da sua atividade e se estabeleça indicações de melhoria da sua

atividade e das unidades de saúde que cuidam de pacientes, visando à segurança desses

durante a atividade de transporte e transferência. Assim, o presente trabalho tem como

objetivo central analisar a atividade dos maqueiros da Maternidade Escola Januário Cicco

(MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, visando identificar os determinantes dessa

atividade laboral que impactam na segurança dos pacientes. Pretende-se, com isso, indicar

medidas de melhoria da atividade dos maqueiros, que minimizem as possibilidades de

ocorrência dos eventos adversos e aumentem a segurança do paciente. Para tanto, foi adotado

o método situado da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que se caracteriza por aplicar

técnicas observacionais e interacionais e por adotar uma abordagem participativa e negocial

com os sujeitos interessados na solução dos problemas em foco. Os resultados da pesquisa

demonstraram que os maqueiros, ao realizarem suas atividades, defrontam-se com contrantes

Page 13: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

físicos, devido às características das instalações físicas (degradação de equipamentos, ao

layout inadequado, ausência de elevador de acesso à unidade B2, entre outros) da MEJC e dos

equipamentos utilizados (cadeiras de rodas sem suportes, macas de diferentes modelos, entre

outros). Defrontam-se, também, com contrantes temporais (urgência do transporte, alta

demanda x baixo número de efetivos, alta demanda x equipamentos indisponíveis etc.). Para

garantir a eficiência do serviço prestado, os maqueiros realizam regulações frequentemente,

que consistem no desenvolvimento de estratégias e ações, tais como contar com auxílio de

terceiros para realizar certas transferências e transportes de pacientes, e fazer antecipações

com previsões de demanda de chamados, ao depararem-se com fluxos intensos em

determinados períodos e dias da semana, retirar todas camas de leitos, cadeiras de

acompanhantes e berços de dentro do leito, ao realizarem uma transferência da maca para

cama do leito, além de fazê-la no corredor, suspender cadeiras de rodas e macas, ao entrarem

e saírem dos elevadores, correr com cadeiras de rodas, ao subirem rampas muito íngremes

etc., sendo que parte dessas estratégias constatadas podem aumentar o risco de ocorrência de

uma EA. Essas regulações têm como objetivo atenuar ou eliminar os contrantes e as

variabilidades incidentais, facilitando a execução das ações (transporte e transferência do

paciente). Diante dos achados, sugeriu-se, uma série de medidas para melhoria da segurança

do paciente, como, por exemplo, a aquisição de suportes para as cadeiras de rodas, a

realização de um estudo aprofundado de análise e previsão de demanda do setor, a realização

de um treinamento conjunto do setor de enfermagem e o setor dos maqueiros, quanto à

instrução para o seguimento do protocolo de chamados, além disso, incluir nesse protocolo

níveis que digam o grau de enfermidade do paciente, pois, assim, facilitaria para os

maqueiros, em momentos de alta demanda, a escolha da estratégia utilizada, além de dar um

maior noção do estado de saúde do paciente, o que ajudaria na prevenção de eventos adversos.

Sugeriu-se, ainda, a inclusão dos maqueiros nos treinamentos, palestras, cursos etc. sobre a

segurança do paciente, que incluam a importância da sua atividade e como fazê-la de forma

segura para os pacientes e profissionais, evitando que os maqueiros utilizem manobras

arriscadas no transporte de pacientes. Além disso, recomendou-se, também, que esses

profissionais sejam alertados sobre a importância da lavagem das mãos pré e pós-

atendimento, principalmente, diante do momento atual de pandemia de COVID-19.

PALAVRAS-CHAVE: Ergonomia. Segurança do paciente. Eventos adversos. Maqueiros.

Transporte de pacientes.

Page 14: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

ABSTRACT

Throughout the years, patient safety has become a worldwide concern, covering a range of aspects to

be taken into consideration, looking to ensure it, such as safe surgery, patient identification, hands

sanitization, prevention of falls, safe use of medicines, safe care environment, among others, making

the knowledge more intricate and the control of all these variables, when it comes to managing the

system of patient care, such as hospitals, maternity, amongst others. Patient safety, as well as the

causes of adverse events (AEs) and their consequences, to a greater or lesser extent, are related to the

facilities and equipment quality, the services provided, the distribution of the staff to do the services,

the daily and weekly work, the density or intensification of work, the complexity of the patients'

clinical conditions, the payment of the professionals, the management of the worker’s safety and

health, the management of infections in the hospital, among others. In this context, the transportation

and relocation of patients in the intra-hospital environment expresses concern due to the frequency it

occurs, its complexity, given the occurring aspects, above mentioned, and the possible manifestations

of adverse events related to these activities, in which are performed by the stretcher-bearers. However,

there is a scarcity of research that considers them as an important barrier to the occurrence of AEs.

Despite the hospital stay length, the side effects on the patients, and the costs caused by unexpected

events, the research on this theme is still not sufficient. The understanding of safety, as proposed by

Hollnagel, in the Safety II procedure, emphasizes the importance of analyzing the work as it is done

(WAD), unlike analyzing the work as it was imagined (WAI), as is the Safety I procedure. The Safety-

II procedure values the workers' knowledge and experience on the job they execute, besides taking

interest in how and why things “go right”. The Safety I procedure, in turn, generally adopted in the

security management systems of organizations, including hospitals, focuses on normative and

prescriptive aspects, on the knowledge of specialists and managers, and is interested in knowing why

things “go wrong”, as the used work risk and error samples. The actual work of the stretcher-bearer is

much more than transporting the patient from one place to another. It consists of transporting and

relocating efficiently and safely, and this action involves the stretcher-bearer’s consideration of the

technological and organizational aspects, the layout of the facilities, the patient's health conditions as

well as the stretcher-bearer’s own cognitive strategies and health conditions, to avoid adverse events.

Ergonomics presents itself, in this context, as a fundamental scientific and methodological field,

through the Ergonomic Analysis of Work, to comprehend the work of the stretcher-bearer, to

formulate a diagnosis of their work and, to establish indications to improve the stretcher-bearer’s

activity and the health units that take care of the patients, aiming their safety during the activity of

transportation and relocation of the patient. Thus, the present work has as its main objective the

analysis of the stretcher-bearers’ activity in the Maternity School Januário Cicco (MEJC), situated in

the city of Natal-RN, proposing to identify the causes of this work activity that impact patients’ safety.

The objective is to indicate measures to improve stretcher-bearers’ work activity, to level down the

occurrence of possible adverse events, or vulnerabilities associated with the activity, and increase

patient safety. Therefore, it will adopt a method based on the Ergonomic Analysis of Work (TSA),

which is characterized for applying observational and interactional techniques and also for adopting an

inclusive and negotiable approach with interesting subjects to solve the aforementioned problems. The

preliminary results of the research show that the stretcher-bearers, when performing their work

activities, face physical problems, due to the characteristics of the physical facilities (deterioration of

equipment, inadequate layout, lack of elevator of access to unit B2, among others) of the MEJC and

the equipment used. They also endure usual incidents (the urgency of transportation, high demand x

low number of staff, high demand x availability equipment, etc.). To promote the efficiency and

security of the service provided, stretcher-bearers often deal with adjustments, such as the

development of strategies and actions, as in relying on the assistance of third parties to carry out

certain transportations and relocations of patients and make anticipations with forecasts of on-call

demands that encounter intense flows in certain periods and days of the week, remove all beds,

escort’s chairs and cradles from inside the bed when transferring the patient from the stretcher to the

bed, in addition to doing it in the hallway, suspending wheelchairs and stretchers when getting in and

out of elevators, running with wheelchairs when climbing very steep ramps, etc., part of these

strategies can increase the risk of an AE. These regulations aim to attenuate or eliminate contractors

Page 15: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

and accidental variabilities, facilitating the accomplishment of actions (patient’s transportation and

relocation). Considering the made discoveries it was suggested a series of measures to improve patient

safety, such as the acquisition of accessories for wheelchairs, the execution of an in-depth study to

analyze and estimate the demand of the sector, along with the implementation of collaborative

training, nurses and stretcher-bearers, as instructions for the follow-up protocol to callings. In addition,

the inclusion in this protocol of degrees to inform the patient’s illness condition, as to facilitate the

choices for the stretcher-bearers in moments of high demand, besides giving a greater awareness of the

patient’s health situation, preventing the rise of adverse events. Furthermore, the admission of

stretcher-bearers into training courses and lectures on patient safety, showing the importance of their

job and how to best perform it for the sake of patients’ professionals’ assurance, as to avoid that the

stretcher-bearers use risky maneuvers in the transportation of patients and the importance of hand-

washing pre and post care, especially in face of the current COVID-19’ pandemic state.

KEYWORDS: Ergonomics. Patient safety. Adverse events. Stretcher-bearers. Transport of

patients.

Page 16: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 19 1.1 Problemas e hipóteses de pesquisa ................................................................................ 24

1.1 Objetivos ........................................................................................................................ 25 1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................................ 25 1.1.2 Objetivos específicos ................................................................................................. 25 1.2 Justificativa .................................................................................................................... 25 2 REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL ............................................................ 28

2.1 Segurança do Paciente e Eventos Adversos .................................................................. 28 2.2 Ergonomia: conceitos relevantes para pesquisa ............................................................ 34 2.2.1 Ergonomia Participativa ............................................................................................ 41

2.3 LER/DORT .................................................................................................................... 42 3 PESQUISAS RELACIONADAS AO TEMA ............................................................... 46 3.1 Quantificação das publicações de pesquisas científicas e estudos relevantes para

pesquisa .................................................................................................................................... 46

4 ASPECTOS LEGAIS E NORMATIVOS RELACIONADOS À PESQUISA ............. 62 4.1 Aspectos legais da enfermagem e a relação com a função de maqueiro ....................... 62

4.2 Movimentação e Transporte de paciente: norma regulamentadora brasileira ............... 63 4.3 Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde: norma

regulamentadora brasileira ....................................................................................................... 64 4.4 Lei 8080/1990 (Lei Orgânica da Saúde - LOS) ............................................................. 67 4.5 Resolução de diretoria colegiada – RDC nº 36 ............................................................. 69

5 METODOLOGIA .............................................................................................................. 72 5.1 Classificação da pesquisa .............................................................................................. 72

5.1.1 Quanto à natureza ...................................................................................................... 73 5.1.2 Quanto à abordagem .................................................................................................. 73

5.1.3 Quanto aos objetivos .................................................................................................. 74 5.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos ........................................................................... 74 5.2 Local da pesquisa........................................................................................................... 75

5.3 População ...................................................................................................................... 76 5.4 Pesquisa bibliográfica e documental ............................................................................. 77 5.5 Pesquisa Empírica (Estudo de Caso): pesquisa de campo na Maternidade Escola

Januário Cicco-MEJC ............................................................................................................... 78 5.5.1 Construção Social-CS ................................................................................................ 78

a) Instrução da Demanda ................................................................................................... 81 b) Análise Global ............................................................................................................... 84 c) Análise da Atividade ..................................................................................................... 85

- Análise focal da atividade (focalização da análise) e pré-diagnóstico .......................... 85 - Análise focada da atividade e diagnóstico ..................................................................... 87

d) Especificações ergonômicas .......................................................................................... 89 e) Restituição e validação .................................................................................................. 90

5.6 Tratamento e análise de dados ....................................................................................... 91 5.7 Aspectos éticos da pesquisa ........................................................................................... 92 6 CARACTERIZAÇÃO DA MATERNIDADE .............................................................. 94 6.1 Análise global da maternidade ...................................................................................... 94 6.1.1 Histórico da Maternidade-escola ............................................................................... 94 6.1.2 Estrutura da Maternidade-escola................................................................................ 94

6.1.3 População de trabalhadores da maternidade-escola ................................................... 94

Page 17: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

6.1.4 Serviços oferecidos na Maternidade-escola ............................................................... 95 6.1.5 Núcleo de Segurança do Paciente .............................................................................. 96 6.1.5.2 Princípios e competências ...................................................................................... 97 6.1.5.3 Série histórica do registro de EA’s ......................................................................... 98 6.2 Análise global do setor dos maqueiros ........................................................................ 100

6.2.1 Organograma ........................................................................................................... 100 6.2.2.1 Dados sócio demográficos ................................................................................... 102 6.2.2.2 Organização do Trabalho ..................................................................................... 102 6.2.3 Instalações e equipamentos do Setor dos Maqueiros ............................................... 103 6.2.4 Fluxo do processo de chamada e do transporte de pacientes ................................... 103

6.2.5 Trabalho prescrito dos maqueiros ............................................................................ 105 6.2.6 Aspectos relativos à Saúde e Segurança do Trabalho .............................................. 106 6.2.7 Atendimentos prestados pelos maqueiros ................................................................ 107

7 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 108 7.1 Segurança do Paciente ................................................................................................. 108 7.2 Incidentes e acidentes .................................................................................................. 109 7.3 Treinamento ................................................................................................................. 110

7.4 Pontos positivos e negativos da função de maqueiro .................................................. 111 7.5 Aspectos negativos relacionados a equipamentos e instalações .................................. 112

7.5.1 Plataforma automática utilizada para suspensão e elevação do paciente ................ 112 7.5.2 Sala do Setor dos maqueiros .................................................................................... 113

7.5.3 Cadeiras de rodas, macas e acessórios ..................................................................... 114 7.5.4 Elevador da MEJC ................................................................................................... 115 7.6 Sugestões de melhorias da atividade apontadas pelos próprios maqueiros ................. 116

7.7 Resultados referentes aos dados coletados através da aplicação do Questionário

Nórdico ................................................................................................................................... 116

7.8 Análise Focal da atividade e Pré-diagnósticos da atividade ........................................ 118 7.9 Análise Focada da atividade e diagnóstico da atividade ............................................. 119

7.9.1 Resultados referentes aos dados coletados através da aplicação do Plano de

observação sistemático e conversações .................................................................................. 119 7.9.1.1 Tipo, equipamentos utilizados e contrantes encontrados no transporte ............... 119

7.9.1.2 Uso de EPI’s e higienização das mãos e dos equipamentos ................................ 124 7.9.1.3 Comunicação e chamados .................................................................................... 125 7.9.1.4 Acompanhamentos e auxílios no transporte......................................................... 128

7.9.2 Resultados referentes à aplicação da Escala de avaliação dos riscos no transporte,

remoção e transferência .......................................................................................................... 130

7.9.3 Resultados referentes à aplicação dos Questionários com pacientes e/ou

acompanhantes........................................................................................................................ 132 7.9.3.1 Informações sociodemográficas ........................................................................... 133

7.9.3.2 Uso do espaço....................................................................................................... 134 7.9.3.3 Percepção do local ................................................................................................ 137

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 141 8.1 Aspectos gerais ............................................................................................................ 141

8.2 Síntese do atendimento aos objetivos e sugestões de melhoria ................................... 142 8.2 Limitações e recomendações para trabalhos futuros ................................................... 145 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 146 ANEXOS ................................................................................................................................ 156 ANEXO A – QUESTIONÁRIO NÓRDICO ......................................................................... 157 ANEXO B - ESCALA DE AVALIAÇÃO DOS RISCOS NO TRANSPORTE, REMOÇÃO E

TRANSFERÊNCIA ............................................................................................................... 158

Page 18: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

ANEXO C - PLANTA BAIXA TÉRREO DA MATERNIDADE ESCOLA JANUÁRIO

CICCO .................................................................................................................................... 161 ANEXO D - PLANTA BAIXA PRIMEIRO ANDAR DA MATERNIDADE ESCOLA

JANUÁRIO CICCO ............................................................................................................... 162 ANEXO E - PLANTA BAIXA SEGUNDO ANDAR DA MATERNIDADE ESCOLA

JANUÁRIO CICCO ............................................................................................................... 163 APÊNDICES .......................................................................................................................... 164 APÊNDICE A - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (ANÁLISE GLOBAL DA

MATERNIDADE) ................................................................................................................. 165 APÊNDICE B - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (ANÁLISE GLOBAL SETOR

MAQUEIROS) ....................................................................................................................... 166 APÊNDICE C - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (MAQUEIROS) ................ 168 APÊNDICE D - PLANO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICO .......................................... 170

APÊNDICE E - QUESTIONÁRIO COM PACIENTES E OU ACOMPANHANTES ........ 173 APÊNDICE F - QUESTIONÁRIO COM MAQUEIROS ..................................................... 176 APÊNDICE G - QUESTIONÁRIO COM GESTORES ........................................................ 179 APÊNDICE H - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE ... 180

APÊNDICE I - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGENS (FOTOS E

VÍDEOS) ................................................................................................................................ 183

APÊNDICE J - TERMO DE COMPROMISSO .................................................................... 184

Page 19: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

19

1 INTRODUÇÃO

Embora as organizações que cuidam da saúde das pessoas (maternidades, hospitais

etc.) se destinem à cura dos pacientes, muitos eventos adversos – que não fazem parte do

quadro clínico que provocou a internação do paciente – ocorrem nesses ambientes, desde os

primórdios de sua existência, provocando problemas à saúde dos internos, que vão, desde os

pequenos agravos, passando por sequelas irreversíveis, e até mesmo a morte.

Somente a partir dos anos 2000, a segurança do paciente passou a fazer parte das

estratégias internacionais (Organização Mundial de Saúde - OMS) e nacionais (Ministério da

Saúde - MS) de cuidado da saúde (healthcare) nas organizações de saúde públicas, privadas e

filantrópicas. Por isso, cada vez mais, essas organizações de saúde têm se preocupado com o

controle de eventos adversos visando à segurança do paciente durante o atendimento.

No entanto, atualmente, a frequência dos eventos adversos ainda é preocupante. Em

julho de 2011, a revista VEJA estampou a seguinte manchete, mostrada na Figura 1: OMS – ir

ao hospital é mais arriscado do que viajar de avião.

Figura 1 – Manchete revista VEJA

Fonte: VEJA (2011)

De acordo com esta reportagem, os dados da Organização de Mundial de Saúde

(OMS) apontam que milhões de pessoas morrem todos os anos em função de erros médicos e

infecções adquiridas em hospitais (VEJA, 2011).

Page 20: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

20

A Tribuna do Norte, em novembro de 2017, apontou, em uma de suas manchetes, que

as falhas hospitalares matam mais que acidentes e câncer, como evidenciado na Figura 2,

destacando ainda os eventos adversos como a segunda maior causa de morte no Brasil.

Figura 2 – Manchete Tribuna do Norte

Fonte: Tribuna do Norte (2017)

No Brasil, registrou-se, em 2018, a ocorrência de 103.275 eventos adversos nas

unidades de saúde, localizados, principalmente, nas regiões Sudeste e Nordeste, sendo

responsáveis, respectivamente, por 40% e 21,3% das notificações dos eventos adversos

relacionados à assistência à saúde (BRASIL, 2019). Quanto à distribuição das notificações

dos eventos adversos, por período/turno, observa-se que a maioria (60%) ocorreu durante o

plantão diurno (7 h às 19 h) (BRASIL, 2019). Vale ressaltar que muitos eventos adversos não

são informados, de maneira que os dados publicados são subnotificados.

Os cuidados da saúde em organizações que prestam serviços de alta complexidade,

exigem uma atenção especial, pois envolvem pacientes que necessitam de cuidados de

natureza complexa, em que uma série de aspectos deve ser levada em conta para promover a

segurança do paciente e garantir a minimização de eventos adversos (EAs) correlatos.

A World Alliance for Patient Safety (2004) (em português, Aliança Mundial para

Segurança do Paciente) foi criada em 2004, por meio da Organização Mundial de Saúde

(OMS), visando à disseminação de conhecimentos a respeito da segurança do paciente em

todo o mundo, fornecendo alertas sobre aspectos sistêmicos e técnicos envolvidos e

promovendo campanhas internacionais sobre o tema, na tentativa de minimizar os eventos

Page 21: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

21

adversos e, consequentemente, as vítimas de eventos adversos evitáveis (WORLD

ALLIANCE FOR PATIENT SAFETY, 2004).

Há muitas formas de prevenir os EAs, mas, segundo a World Alliance for Patient

Safety (2004), a principal causa dos EAs está relacionada às deficiências na concepção,

organização e operação do sistema hospitalar. Sendo assim, a maioria dos eventos adversos

(EAs) ocorrem devido a causas latentes dentro dos sistemas, e não por conta de negligência

ou falta de treinamento dos profissionais (WORLD ALLIANCE FOR PATIENT SAFETY,

2004).

Para Belela, Peterlini e Pedreira (2010), as causas dos EAs e suas consequências, nos

ambientes hospitalares, devem-se, também, à precariedade dos serviços prestados, à falta de

dimensionamento adequado de pessoal, à carga horária excessiva e à má remuneração dos

profissionais. Depreende-se dessa afirmação, que os aspectos organizacionais do trabalho têm

relação com os eventos adversos e, portanto, com a segurança do paciente.

A segurança do paciente envolve uma vasta gama de aspectos, que estão elencados nas

Portarias nº 1377/2013 (BRASIL, 2013) e nº 2095/2013 (BRASIL, 2013) em que se tem os

protocolos básicos de segurança do paciente. Os aspectos mencionados nessas portarias são:

cirurgia segura, identificação do paciente, higiene das mãos, prevenção de quedas, uso seguro

de medicamentos, e ambiente seguro de cuidado.

A identificação e análise das causas dos eventos adversos tem despertado interesses

científicos no campo da segurança do paciente. “O trabalho pioneiro e clássico nessa área é o

Estudo da Prática Médica de Havard, (em inglês, Harvard Medical Practice Study (HMPS)),

realizado em 1984, que constou da revisão de 30.121 prontuários de internações hospitalares

em 51 hospitais de Nova York” (ZANETTI et al., 2020).

Os pacientes dão entrada nas unidades hospitalares em busca de tratamento e cura,

mas, durante o período de tratamento, parte deles pode ser afetada por eventos adversos que

podem, por sua vez, agravar a patologia original ou provocar uma nova lesão ou patologia,

prolongando o tempo de internação ou incapacitando o paciente, de forma temporária ou

permanente, podendo até provocar o óbito.

É válido ressaltar, que não somente os profissionais da área de saúde são os

responsáveis pela segurança do paciente. Devem, também, fazer parte deste processo, além de

todos os profissionais envolvidos, os acompanhantes e, até mesmo, os próprios pacientes. Os

acompanhantes passam, muitas vezes, mais tempo com o paciente do que os próprios

profissionais e há ocasiões em que o paciente não conta com a vigilância ativa de

acompanhantes, nem dos profissionais que o assistem.

Page 22: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

22

No Brasil, por meio da Portaria GM/MS nº 529, de 1° de abril de 2013 (BRASIL,

2013), foi instituído o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), com o objetivo

de contribuir para a melhoria do cuidado com o paciente em todos os estabelecimentos de

saúde em todo o território nacional. O PNSP propõe uma série de estratégias para

implementação da cultura de segurança do paciente. Para o Ministério da Saúde (2016), essas

estratégias reforçam o fato de que a responsabilidade sobre a segurança é de todos, indo muito

além da segurança do paciente, e incluindo a segurança dos próprios profissionais, familiares

e comunidade.

Este projeto de pesquisa concentra-se na área temática da segurança do paciente, tendo

como unidade de análise a atividade de transporte de pacientes realizada por maqueiros em

uma organização de saúde pública federal – maternidade-escola de atendimento de alta

complexidade. Objetiva-se, com este projeto, compreender quais as relações existentes entre a

atividade do maqueiro e a segurança do paciente. Procura-se, com isso, identificar e analisar

os determinantes dessa atividade potencialmente causadores de adventos adversos e, portanto,

ameaçadores da segurança do paciente. Pretende-se, por outro lado, identificar e analisar as

estratégias e ações utilizadas pelos maqueiros para gerenciar as variabilidades (GUÉRIN et

al., 2001; VIDAL, 2008) e os contrantes (GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008) da atividade e

manter a segurança do paciente.

A coleta no ponto de origem, o transporte por maca ou cadeira de rodas e a entrega de

pacientes a um ponto de destino é uma atividade que possui riscos e está sujeita a ocorrências

acidentais, que podem resultar em queda do paciente, choques de parte do corpo do paciente

contra superfícies, desconexão de dispositivos de tratamento injetados no corpo, coleta, e

transporte e entrega do paciente errado no ponto de destino, entrega do paciente ao destino

errado etc.

Assim, a atividade dos maqueiros exige algumas capacidades e habilidades que fazem

parte da gestão da segurança do paciente por ele realizada. Como exemplo disso, tem-se a

identificação ou certificação do paciente (com quem o maqueiro precisa interagir), a

certificação do local do destino do paciente, o manuseio seguro do paciente, para evitar

quedas e outras ocorrências indesejáveis, trafegar com o paciente em meio a outras pessoas e

equipamentos, a manipulação segura da maca em diversos trajetos e ambientes, a

manipulação de dispositivos clínicos utilizados pelo paciente (soro, injetáveis, balões de

oxigênio, etc.), a leitura correta da documentação do paciente, o recebimento e despacho da

documentação do paciente, a orientação espacial na planta da unidade de saúde, o transporte

em si na unidade de saúde (corredores, elevadores, rampas, etc.), a operação do elevador etc.

Page 23: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

23

O conhecimento ou não, dentre outros aspectos, da natureza da enfermidade do paciente, do

efeito do medicamento utilizado (sonolência, tonteira, inconsciência etc.) e o grau de

autonomia do paciente tem relação também com a atividade do maqueiro e com a segurança

do paciente.

Logo, não cabe ao maqueiro apenas transportar o paciente de um ponto (A) a outro

(B), mas transportá-lo com segurança e conforto. Isto exige do maqueiro conhecimentos e

prática em transporte de pessoas que não se encontram em suas condições de saúde plena, que

podem estar sentindo dores, ter lesões, estarem medicadas, cirurgiadas, desacordadas, com

algum dispositivo invasivo (sondas, soro, tubo de oxigênio), ou sem autonomia total. Os

maqueiros, além de realizar o transporte intra-hospitalar, atuam também na transferência e

transporte de pacientes da ambulância ou veículo particular para a maca ou cadeira de rodas e

vice-versa.

Os modos operatórios adotados pelos maqueiros durante o transporte também têm a

ver com o estado dos equipamentos de transporte (maca ou cadeira de rodas) utilizados, com

os modelos dos equipamentos de transporte (se cadeira de roda ou maca, se é regulável ou não

etc.) e os acessórios a eles acoplados, com sua própria antropometria e estado de saúde, com a

antropometria do paciente, com os dispositivos de pega e controle do equipamento de

transporte, com o fluxo de circulação de pessoas no ambiente em que o transporte está sendo

realizado, com a acessibilidade do local, com o contexto do transporte (se de urgência ou não)

etc.

Muitas variáveis estão envolvidas e relacionadas com a segurança do paciente,

podendo causar eventos adversos no paciente durante o transporte pelo maqueiro. Daí a

importância de se estudar a atividade do maqueiro e sua reação com a segurança do paciente e

a ocorrência de eventos adversos. Este é um tema ainda escasso na literatura científica e, em

especial, quando se trata de maternidade-escola, que presta atendimento de alta complexidade.

A presente pesquisa tem por objetivo analisar a atividade dos maqueiros da

Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, visando

identificar os determinantes dessa atividade laboral que impactam na segurança dos pacientes.

Pretende-se, com isso, indicar medidas de melhoria da atividade que minimizem as

possibilidades de ocorrência dos eventos adversos, ou as vulnerabilidades associadas à

atividade, e que aumentem a segurança do paciente.

Espera-se com este estudo contribuir para a implementação de medidas que melhorem

a segurança dos pacientes transportados pelos maqueiros na MEJC e que essas medidas

possam inspirar outras unidades de saúde a implementarem, também, medidas adequadas,

Page 24: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

24

nesse mesmo sentido. O estudo pode, também, a partir do método aplicado, dos achados

científicos e das medidas de melhoria propostas incentivar outros estudos similares em outras

unidades de saúde. E, por fim, o estudo pode contribuir para o conhecimento científico na

área de ergonomia, segurança do paciente e engenharia de produção.

1.1 Problemas e hipóteses de pesquisa

A fim de responder a algumas questões, que só podem ser respondidas e confirmadas

por meio da pesquisa científica, foram formulados três problemas de pesquisa e quatro

hipóteses, que nortearão a investigação, quais sejam:

P1: De que maneira os contrantes temporais e físicos (acessibilidade, espaços, leiaute),

relacionados com a atividade de transporte e transferência de pacientes pelos

maqueiros, impactam na segurança do paciente, provocando, por exemplo, risco de

agravamento da lesão original do paciente, riscos de queda, riscos de colisões contra

pessoas, equipamentos e instalações físicas e desconexão de dispositivos clínicos (seringa,

sonda, máscara de oxigênio etc.) conectados ao paciente?

H1: Os contrantes temporais, devido ao grau de urgência do quadro clínico do paciente e à

grandeza da demanda de transportes de pacientes, fazem com que os maqueiros acelerem os

procedimentos de transporte e transferência do paciente, criando instabilidades nas ações

correlatas, aumentando os riscos de acidentes ou eventos adversos e, portanto, impactando a

segurança do paciente.

H2: Os contrantes físicos dificultam o transporte e transferência do paciente pelos maqueiros,

devido às barreiras físicas existentes no percurso do local de origem ao destino, constituindo-

se em riscos de acidentes ou eventos adversos, tais como riscos de queda e riscos de choque

da maca com o paciente contra instalações, equipamentos e/ou pessoas.

P2: Até que ponto as exigências físicas da atividade dos maqueiros impactam na

segurança do paciente e na própria saúde dos maqueiros, e como se dá essa relação entre

a saúde dos maqueiros e a segurança do paciente?

H3: O manuseio dos pacientes pelos maqueiros se dá através de intensa e frequente exigência

física muscular e posturas corporais instáveis, que geram fadiga e distúrbios

musculoesqueléticos nos maqueiros, que podem criar maiores dificuldades e mudanças no

Page 25: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

25

modo recomendado de manuseio de paciente, e provocar riscos de queda e/ou risco do

agravamento da enfermidade original do paciente.

P3: Quais as estratégias utilizadas pelos maqueiros para gerenciar as variabilidades

individuais, técnicas e organizacionais de sua atividade, a fim de promover e/ou garantir

a segurança dos pacientes?

H4: Os maqueiros antecipam certas ações de acordo com certas situações possíveis de

acontecer, solicitam ajudas de terceiros para a realização de certas operações e fazem ajustes

nos dispositivos técnicos do equipamento de transporte, como forma de economizar tempo e

fazer o transporte e a transferência do paciente de forma segura.

1.1 Objetivos

Para solucionar a problemática da subseção anterior, houve a necessidade de apontar

os objetivos geral e específicos da pesquisa, os quais serão expostos a seguir.

1.1.1 Objetivo geral

Propor um conjunto de medidas de melhoria da atividade de transporte e transferência

dos pacientes realizada pelos maqueiros, visando à minimização de ocorrências dos eventos

adversos e à melhoria da segurança do paciente da maternidade escola.

1.1.2 Objetivos específicos

• Identificar e analisar os contrantes temporais e físicos da atividade de

transporte e transferência dos pacientes, que podem contribuir para a ocorrência de eventos

adversos e impactar a segurança do paciente.

• Apreender e examinar a efetividade das estratégias utilizadas pelo maqueiro

para gerenciar as variabilidades e contrantes da atividade e promover ou garantir a segurança

do paciente.

1.2 Justificativa

A ocorrência de eventos adversos (EA) no ambiente hospitalar é uma realidade que, há

tempos, preocupa os profissionais de saúde. No entanto, a partir dos anos 2000 passou a ser

uma preocupação de âmbito mundial, devido à divulgação do relatório publicado pelo

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26

Institute of Medicine (IOM), To err is human, em que os resultados indicaram a ocorrência de

2,9 a 3,7% de EA em pacientes norte-americanos, o que resultou em 44.000 a 98.000 mortes

por ano, por conta da assistência insegura (IOM, 1999).

Segundo o Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), estima-se que 15%

dos custos hospitalares nos países da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico) seja resultado direto da ocorrência de eventos adversos. No Brasil, os eventos

adversos consomem de R$ 5,19 bilhões a R$ 15,57 bilhões de reais (WARELINE, 2017).

No Boletim de Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde - SNVS,

número 20, emitido pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária em novembro de 2019, as

quedas de pacientes ocupam o quarto lugar do ranking de EAs mais frequentes no Brasil,

sendo responsável por, em média, 11% dos incidentes relacionados à assistência à saúde. No

mesmo boletim há o registro de 2037 notificações classificadas como lesões aos pacientes e

hematomas, representando, cerca de 2% dos incidentes relacionados à assistência à saúde

(BRASIL, 2019). Estes podem estar relacionados com a atividade de transporte e

transferência de pacientes, uma vez que é uma atividade que tem o contato direto com os

pacientes, que se encontraram com sua saúde mais fragilizada e, muitas vezes, com uso de

medicamentos, estando assim mais propensos a quedas, que, por sua vez, podem causar lesões

e hematomas aos pacientes.

No entanto, há uma escassez de pesquisa que mostrem a relação entre os eventos

adversos e a atividade de transporte de pacientes, ainda que esta atividade seja de suma

importância dentro do contexto hospitalar, uma vez que esses profissionais têm o contato

direto com os pacientes. Além disso, a maioria das pesquisas encontradas que se relacionam

aos profissionais maqueiros restringe-se ao aspecto ergonômico físico da atividade e sua

influência na saúde do próprio trabalhador, evidenciando essa atividade como uma ocupação

propensa a causar sintomas osteomusculares na parte inferior e superior das costas, bem como

nos tornozelos/pés e joelhos, que podem a vir acarretar uma LER/DORT, como mostrou o

estudo de Oliveira (2014). Segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN), no Rio Grande do Norte, em 2010, as LER/DORT apresentaram-se como o terceiro

agravo mais frequente entre as notificações de agravos relacionados ao trabalho, assim como

também no Nordeste e no Brasil (BRASIL, 2011).

É importante ressaltar que a presente pesquisa, não apenas analisará os aspectos físicos

da atividade dos maqueiros, mas também investigará o impacto desses para segurança do

paciente, da mesma maneira que identificará os contrantes temporais e físicos dessa atividade,

analisando a efetividade das estratégias utilizadas por esses profissionais para gerenciar esses

Page 27: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

27

contrantes e as variabilidades da atividade, sendo esse um diferencial dentro das pesquisas

encontradas que se relacionam com o presente tema.

Carayon (2010) destaca a importância do uso da Ergonomia e Fatores Humanos (em

inglês, Human Factors and Ergonomics - HFE) para a melhoria da segurança do paciente. A

Academia Nacional de Engenharia entende que a HFE constitui uma ferramenta-chave, que

pode contribuir para melhorar os sistemas de saúde e, assim, gerar melhorias na qualidade dos

cuidados e da segurança dos pacientes (REID, COMPTON, GROSSMAN, E FANJIANG,

2005). No entanto, o transporte de pacientes, a segurança do paciente e a ergonomia são

encontrados nas pesquisas de forma dissociada, sendo essa associação uma individualidade da

presente pesquisa.

A escolha do tema, além de todos esses fatores considerados, surgiu de situações reais

de vida da pesquisadora, pois, há cerca de sete anos, esta tem vivido experiências dentro do

ambiente hospitalar, por acompanhar a mãe, que tem recorrido a longos tratamentos de saúde.

Neste processo, verificou-se que os maqueiros careciam de conhecimentos e condições de

trabalho seguras, que se manifestavam no modo como trabalhavam, cuja atividade os expunha

a riscos de acometimento de distúrbios musculoesqueléticos e ameaçava a segurança dos

pacientes que transportavam e faziam transferências.

Pelas razões supracitadas e tomando conhecimento do interesse da Maternidade Escola

Januário Cicco (MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, em realizar seu primeiro estudo

em que se analisasse a relação entre a atividade dos maqueiros e a segurança dos pacientes,

decidiu-se realizar esta pesquisa na referida maternidade, para atender à demanda da referida

instituição.

A relevância desta pesquisa consiste no ineditismo do estudo na referida maternidade,

em contribuir para o conhecimento científico da Ergonomia em Segurança do Paciente,

especificamente, no que se refere ao trabalho do maqueiro e na possibilidade de contribuir

para indicações de melhoria nessa atividade, no sentido de, integradamente, melhorar a

segurança do paciente, a saúde dos maqueiros e a qualidade do serviço de saúde na referida

maternidade, minimizando os custos de internação prolongada e de indenizações judiciais, por

conta da ocorrência dos possíveis eventos adversos com os pacientes transportados e

transferidos pelo maqueiros, em ambiente intra-hospitalar.

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28

2 REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL

Este capítulo apresenta os principais conceitos e aspectos teóricos oriundos da

literatura científica sobre o tema deste projeto de pesquisa, que ajudarão a compor o desenho

deste projeto e as futuras discussões teóricas à luz dos resultados obtidos. Assim, os principais

conceitos e aspectos teóricos abordados neste capítulo dizem respeito à Segurança do paciente

e à ergonomia, envolvendo aspectos da ergonomia participativa e das lesões por esforço

repetitivos e doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho.

2.1 Segurança do Paciente e Eventos Adversos

Vincent (2009) define a segurança do paciente como “o ato de evitar, prevenir e

melhorar os resultados adversos ou as lesões originadas no processo de atendimento médico-

hospitalar”. Esses danos têm sido estudados há mais de um século, no entanto, dificilmente,

eram, até meados dos anos 2000, mencionados em revistas médicas, discutidos publicamente,

nem tampouco eram considerados pelas instituições governamentais.

Segundo Trindade e Lage (2014), no final do século XIX, a comunidade médica e a

sociedade em geral acreditavam que os incidentes ocorriam devido ao comportamento de

alguns raros profissionais, tendo, assim, pouca influência no resultado do tratamento do

paciente.

Vincent (2009) ainda afirma que o mais famoso estudo já realizado no campo da

segurança do paciente foi o Estudo da Prática Médica em Harvard, publicado em 1989, com o

intuito de expor a extensão do problema das lesões causadas ao paciente, estimando os

números de casos potencialmente indenizáveis em Nova York, nos Estados Unidos, e

considerando que as indenizações poderiam ser oferecidas sem procurar culpados.

Somente, a partir da década de 2000, a segurança do paciente tornou-se, de fato, uma

preocupação mundial, devido à divulgação do relatório publicado pelo Institute of Medicine

(IOM), “To err is human”, já citado anteriormente. Segundo Reis, Martins e Laguardia

(2012), a segurança do paciente é posta como prioridade para pesquisadores de todo o mundo,

passando a ser internacionalmente reconhecida como uma dimensão fundamental da

qualidade em saúde, o que fez com o que vários países passassem a criar institutos,

associações e organizações voltadas à questão da segurança do paciente.

Tendo em vista esse enorme crescimento do interesse quanto à segurança do paciente,

a Organização Mundial de Saúde (OMS) constituiu, em 2004, a Aliança Mundial para a

Page 29: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

29

Segurança do Paciente (World Alliance for Patient Safety). No seu programa de segurança do

paciente, formado por diversos países, estão definidas as questões prioritárias para a pesquisa

na área de segurança do paciente, destacando-se, entre outras, os cuidados de saúde para com

as mães e aos recém-nascidos e fragilidade da cultura de segurança (WORLD ALLIANCE

FOR PATIENT SAFETY, 2004). Para a World Alliance for Patient Safety (2004, p. 4), a

segurança do paciente é definida como “a redução do risco de danos desnecessários durante

os processos assistenciais e uso das boas práticas para alcançar os melhores resultados para o

cuidado de saúde”.

Um conceito fundamental para a compreensão da segurança do paciente é o de eventos

adversos. Leape et al. (1991) definiram Eventos Adversos (EAs) como todos os incidentes

que resultam em danos à saúde do paciente. Segundo Vincent (2009, p. 51), eventos adversos

são entendidos como “uma lesão não intencional causada pelo tratamento médico, e não pelo

progresso da doença” (VINCENT, 2009, p. 51). Para o National Quality Forum (2002), os

EAs incorporam todos e quaisquer tipos de episódios de caráter negativos ou deficitários

decorridos de uma prestação de serviço de saúde no ambiente hospitalar que podem ocasionar

em danos aos envolvidos. Padilha et al. (2015), por sua vez, definem eventos adversos (EAs)

como aqueles não relacionados à evolução natural da doença de base, podendo levar ao

aumento do tempo e do custo de internação, a incapacitações e até à mortalidade dos doentes.

Portanto, conclui-se que, ao longo dos anos, não houve alterações significativas no conceito

de Eventos Adversos.

De acordo com o programa de segurança do paciente (WORLD ALLIANCE FOR

PATIENT SAFETY, 2004), ao tecer comentários sobre a segurança do paciente, os problemas

no próprio sistema de cuidados de saúde são compreendidos como fatores predominantes para

a ocorrência de EAs. De acordo com este programa, os seres humanos cometem falhas, que

podem resultar em erros e, por isso, os erros devem ser considerados consequências e não

causas. Para minimizá-los, devem ser criadas defesas no sistema de cuidados de saúde, uma

vez que a condição humana é imutável.

Beccaria et al. (2009) afirma que, apesar do EA ser, comumente, associado ao erro

humano, devem-se considerar como fatores desencadeadores dos EAs as condições de

trabalho, os aspectos estruturais, a complexidade da tarefa, a qualificação dos profissionais e a

sobrecarga de serviço. Para Trindade e Lage (2014), isso exige uma mudança de cultura das

organizações de saúde, passando de uma cultura de culpabilização do indivíduo para a cultura

de segurança e de aprendizagem com o erro. Para tal, deve haver o incentivo dos profissionais

a reportar os EAs, com a criação de sistemas de notificação confidencial de eventos adversos

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30

e, além disso, deve haver a análise sistemática dos dados e a divulgação dos resultados, para

que todos fiquem cientes e se beneficiem com as recomendações.

Outro mecanismo de defesa para não ocorrência de EA’s é o conhecimento de que

todo profissional da saúde é uma barreira para ocorrência de EA, incluindo os maqueiros que

têm um contato direto com os pacientes. No entanto, é importante que os envolvidos

entendam que aprender apenas com os próprios erros tornaria o processo vagaroso e com

grande impacto negativo para os pacientes, sendo, portanto, necessário que as experiências

dos outros também sirvam de aprendizado.

Preocupado com a ocorrência de EAs nas unidades de saúde, o Department of Health

(2000) expôs dois modelos de resposta do sistema nacional de saúde diante da ocorrência de

EA, um modelo tradicional, que visa culpabilização do indivíduo diante das falhas e o outro

que considera a aprendizagem com o erro (falha) com uma nova abordagem (Tabela 1).

Tabela 1 – Modelo Tradicional e a nova abordagem para resposta à ocorrência de EA’s

Tradicional Nova abordagem

Medo de represálias Política de relatórios geralmente sem culpa

Indivíduos como “bode expiatório” Quando houver justificativa, os indivíduos serão

responsabilizados

Bancos de dados de eventos adversos com

discrepâncias

Todas as bases de dados coordenadas

Os funcionários nem sempre ouvem o resultado de

uma investigação

Feedback regular para o pessoal da linha de frente

Formação individual dominante Treinamento baseado em equipe

A atenção concentra-se em erro individual Abordagem de sistemas para identificar perigos e

prevenção

Falta de consciência da gestão de riscos Treinamento de conscientização geral de risco

Fixação a curto prazo de problemas Ênfase na manutenção da redução de risco

Uso manipulativo de dados Uso consciente dos dados

Muitos eventos adversos considerados como

exceções

Reconhecimento do potencial para replicação de

eventos adversos similares

Lições de eventos adversos vistos como interessantes

apenas para equipe envolvida

Reconhecimento de que as lições aprendidas podem

ser relevantes para outros

Aprendizagem passiva ou individual Aprendizagem ativa baseadas em equipes

Fonte: Adaptado de Department of Health (2000)

Assim, de acordo com a Tabela 1, na segunda coluna, a “nova abordagem” formulada

para o enfrentamento dos EAs está assentada em alguns princípios, quais sejam: o sistema de

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31

saúde deve focar mais na prevenção, no reconhecimento precoce e na resolução rápida, justa e

eficaz dos problemas, além de no trabalho em equipe. Segundo essa abordagem, os esforços

para a melhoria da segurança do paciente devem envolver todo o sistema, que, por natureza, é

complexo, abrangendo uma ampla gama de disciplinas de cuidados de saúde e todos os atores

envolvidos, devendo detectar e controlar os riscos reais e potenciais à segurança do paciente,

além de buscar soluções de longo prazo (DEPARTMENT OF HEALTH, 2000).

Para Taylor-Adams e Vincent (2004), há alguns tipos de fatores que influenciam o

desempenho dos profissionais, podendo precipitar erros e afetar a segurança do paciente.

Esses fatores mencionados pelos autores, mostrados no Quadro 1, são uma extensão do

modelo do queijo suíço de James Reason (que mostra que quando não há camadas de queijo

“barreiras”, os buracos se comunicam, ou seja, o risco não encontrou barreira e atingiu o

paciente), que foi adaptado para uso em um ambiente de saúde, considerando sua influência

na prática clínica.

Quadro 1 – Fatores que influenciam a prática clínica

TIPOS DE FATORES FATORES CONTRIBUINTES OU INFLUNCIADORES

Fatores do Paciente

Condição (complexidade e gravidade)

Comunicação e linguagem

Fatores sociais e de personalidade

Fatores da Tarefa ou Tecnologia

Claridade da estrutura e desenho da tarefa Disponibilidade e

uso de protocolos

Disponibilidade e acurácia dos testes

Auxílios a tomada de decisão

Fatores Individuais (pessoas)

Conhecimento e habilidade

Competência

Saúde física e mental

Fatores da equipe

Comunicação verbal

Comunicação escrita

Disponibilidade de ajuda e supervisão

Estrutura da equipe (congruência, consistência,

liderança, etc.)

Fatores do Ambiente de Trabalho

Mix de nivelamento e habilidades do staff

Padrões de turno e carga de trabalho

Manutenção, design e disponibilidade de equipamentos

Apoio administrativo e gerencial Ambiente de trabalho

Área física

Fatores Organizacionais & Gerenciais Restrições financeiras

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32

Estrutura organizacional

Políticas, padrões e objetivos

Cultura de segurança e prioridades

Fatores do Contexto Institucional

Contexto regulatório e econômico

Sistema de saúde nacional

Ligação com organizações externas

Fonte: Taylor-Adams e Vincent (2004)

Por meio do Quadro 1, é possível verificar que muitos são os fatores que influenciam

na prática clínica e consequentemente na segurança do paciente. Patriarca et al. (2017)

comungam com essa visão, pois consideram que os cuidados de saúde são um sistema sócio

técnico complexo, uma vez que há uma grande quantidade de componentes que interagem

fortemente, cujos agentes são adaptáveis e podem alterar o seu comportamento de acordo com

a interações globais e o do próprio ambiente de trabalho, o que mostra, de fato, a necessidade

de uma mudança de paradigma do modelo de resposta aos eventos adversos, emergindo no

campo da engenharia de resiliência (ER).

Macchi et al. (2011) afirmam que, embora os serviços de cuidados de saúde possam

ser padronizados, espera-se que os profissionais de saúde quebrem protocolos, caso seja

necessário para segurança do paciente, pois cada paciente é único e tem necessidades e

condições que são difíceis de prever nos procedimentos ou padrões de cuidados gerais, sendo

que um sistema resiliente deve ser capaz de responder a essas variações. Assim, a engenharia

de resiliência oferece a oportunidade para resolver os problemas ou incidentes que surgem

devido às variabilidades.

Powell (2006) criou uma abordagem de sistemas para segurança dos pacientes

envolvendo o trabalho de equipe. Este modelo, concebido para o sistema de saúde, foi

desenvolvido utilizando-se de técnicas de engenharia de sistemas que identificaram a

liderança, a cultura organizacional de aprendizagem, as equipes eficazes e uma melhor

utilização da tecnologia da informação como elementos centrais, considerando quatro níveis

de barreiras: o paciente individual, a equipe de cuidados, a organização e o ambiente político

e econômico.

Hollnagel (2014) faz uma distinção entre duas visões de Segurança, denominadas

como Safety I e Safety II. Para este autor, Safety I representa o modelo hegemônico de

segurança amplamente disseminado e adotado nas academias e organizações produtivas, que

se assenta na criação de estruturas de gerenciamento de segurança, na identificação e análise

de riscos e em medidas de controle de riscos baseadas em prescrições técnicas,

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33

organizacionais e normas. Nessa abordagem, os gestores são os principais protagonistas e não

há a participação direta ou há pouca participação dos trabalhadores em todo o processo de

gerenciamento da segurança. Ou seja, trata-se de características de um modelo de cultura de

segurança top-down e de uma abordagem que cria prescrições, considerando o trabalho como

imaginado (work as imagined - WAI). A abordagem Safety II expressa-se em outra

perspectiva, pois leva em consideração o trabalho situado, o conhecimento dos trabalhadores

e, portanto, a perspectiva do trabalho como é realmente realizado (work as done - WAD).

Partindo da perspectiva de que os trabalhadores podem contribuir para a melhoria do

gerenciamento da segurança na maternidade em questão, este projeto adotará a perspectiva da

Safety II, para compreender os aspectos de segurança presentes na atividade do maqueiro nos

diversos contextos. O encaminhamento metodológico deste projeto tornará clara esta escolha

de abordagem teórica, quando explicitará a adoção do método participativo da Análise

Ergonômica do Trabalho (WISNER, 1987; GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008), em

especial, o desenvolvimento da etapa de análise da atividade, prevista nesse método, que

coloca no centro das análises o trabalho real ou o trabalho como realmente realizado (work as

done - WAD).

Em dezembro de 2018, a World Health Organization (WHO, 2018) disponibilizou seu

relatório geral sobre a segurança do paciente, evidenciando, de fato, que o panorama global

dos cuidados de saúde está mudando e os sistemas de saúde operam em ambientes cada vez

mais complexos. Neste relatório são apresentados os novos impulsos de ação global para

melhorar a segurança do paciente, de modo que os principais encontram-se listados na Tabela

2.

Tabela 2 – Novos impulsos de ação global para melhorar a segurança do paciente

NOVOS IMPULSOS DE AÇÃO GLOBAL PARA MELHORAR A SEGURANÇA DO PACIENTE

A necessidade de uma visão mais integrada, baseada no sistema de segurança;

Conhecimento de que a necessidade de garantir a segurança do paciente abrange quase todos os sistemas de

saúde, campos de cuidados, grupos demográficos e áreas temáticas;

Incorporar nas políticas e práticas sobre a segurança do paciente as evidências e conhecimento gerado a partir

de pesquisas;

Entender que pacientes, famílias e comunidades são os co-produtores de saúde, portanto engajar pacientes,

familiares e cuidadores é a chave para a prestação de cuidados seguros;

Assegurar uma liderança eficaz e a disponibilidade de uma força de trabalho competente e compassivo é um

pré-requisito para a prestação de cuidados seguros;

A disponibilidade de informações sobre a gravidade, os tipos e as causas dos erros, dos eventos adversos e

quase-acidentes é fundamental para o desenvolvimento e implementação de políticas de segurança do

paciente, estratégias e planos;

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34

A aplicação das tecnologias digitais é indispensável no século 21 para a implementação de intervenções de

segurança do paciente e monitorar e medir o seu impacto;

A incorporação dos princípios de responsabilidade e cooperação nos ambientes hospitalares.

Fonte: WHO (2018)

O Ministério da Saúde desenvolve ações visando à divulgação da segurança do

paciente, que incluem medidas de educação e propagação das boas práticas para profissionais

de saúde, pacientes e acompanhantes e, também, promoção de ações preventivas como a

implementação das seis metas da OMS, que são: identificar corretamente o paciente, melhorar

a comunicação entre os profissionais da saúde, melhorar a segurança na prescrição, no uso e

na administração de medicamentos, assegurar a cirurgia em local de intervenção,

procedimento e paciente corretos, higienizar as mãos para evitar infecções e reduzir o risco de

quedas e úlceras por pressão (WORLD ALLIANCE FOR PATIENT SAFETY, 2004).

Para Macchi et al. (2011), as organizações de saúde estão entre as organizações mais

complexas, devido à evolução dos modelos de atenção, regimes de tratamento e tecnologias

disponíveis, em conjunto com pressões econômicas e temporais. Neste cenário, o

fornecimento seguro de serviços de saúde é uma responsabilidade organizacional, em que as

organizações devem criar pré-requisitos para o trabalho das equipes e profissionais

individuais na organização. Ainda para os autores um bom modelo de gestão de segurança do

paciente deve considerar todos os fatores necessários para fornecer serviços de saúde, bem

como as interações entre eles.

Diante do que foi visto, pode-se assegurar que, atualmente, um sistema de gestão de

segurança deve visar não só avaliar e eliminar os riscos, mas, também, aumentar os acertos e

ser desenvolvido levando em conta as características específicas de cada organização. Para

Costa (1998), deve haver a substituição do modelo de gestão que se baseia em um regime

autoritário, centralizado, rígido e especializado, por um novo paradigma, em que haja a

descentralização, a flexibilidade, a polivalência dos colaboradores e o processo participativo.

2.2 Ergonomia: conceitos relevantes para pesquisa

A International Ergonomics Association (IEA) define em seu site oficial a ergonomia

como “uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres

humanos e outros elementos dos sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e

métodos a projetos, a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema”

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(em inglês: “Ergonomics (or human factors) is the scientific discipline concerned with the

understanding of interactions among humans and other elements of a system, and the

profession that applies theory, principles, data and methods to design in order to optimize

human well-being and overall system performance.” ) (IEA, 2000).

No Brasil, a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) surgiu em 31 de agosto

de 1983 e define, assim, ergonomia: “é uma disciplina científica relacionada ao entendimento

das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias,

princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho

global do sistema"(ABERGO, 2018).

O campo de atuação da ciência da Ergonomia vem crescendo e se expandindo. Uma

das contribuições para isso é o fato de a Ergonomia ser a única ciência que inclui uma gama

de disciplinas científicas amplas para projetar e oferecer soluções para sistemas, processos,

máquinas e produtos (BOATCAA; CIRJALIU, 2015).

Segundo Carayon (2006), houve um aumento da complexidade do sistema de trabalho,

o que apresenta desafios únicos para as pessoas envolvidas na concepção, implementação e

manutenção de sistemas sócio técnicos (sistemas que reconhecem a interação entre

as pessoas e os sistemas técnicos nos ambiente de trabalho), incluindo os ergonomistas.

De acordo com Falzon (2007), os ergonomistas devem ter uma compreensão ampla de

todos os aspectos da atividade humana, devendo considerar os fatores físicos, cognitivos,

sociais, organizacionais, ambientais, dentre outros. Másculo e Vidal (2011) definem os

ergonomistas como profissionais responsáveis por responder às demandas acerca da atividade

de trabalho. Essas demandas, segundo os autores, podem exigir campos de interesses amplos

e variados, como áreas que envolvem anatomia, conforto, prevenção de acidentes etc.

Alguns conceitos da Ergonomia ajudarão no desenvolvimento deste projeto de

pesquisa, no que se refere ao entendimento da atividade de trabalho e sua relação com a

segurança do paciente, como é o caso dos seguintes conceitos: trabalho prescrito (VIDAL,

2002) ou trabalho como imaginado (Work As Imagined - WAI), utilizado na engenharia de

resiliência (HOLLNAGEL, 2017), trabalho real (VIDAL, 2002) ou trabalho como realizado

(work as done - WAD), também utilizado na engenharia de resiliência (HOLLNAGEL, 2017),

determinantes da atividade (GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008), variabilidade (GUÉRIN et

al., 2001; VIDAL, 2008), gestão de variabilidades (GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008),

contrante (GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008) e regulações (VIDAL, 2008).

Segundo Vidal (2002, p. 150), o trabalho prescrito surge “da concepção teórica do

trabalho e dos meios de trabalho”, por meio de “parâmetros determinados pela empresa a

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36

partir de regras, normas, e avaliações empíricas”. Vidal (2002) afirma que o trabalho prescrito

jamais corresponde ao trabalho real, devido à dinamicidade da realidade e à incapacidade de

prever-se todos os ocorridos ou imprevistos. Para o autor, o trabalho real é, portanto, o que, de

fato, o sujeito mobiliza para realizar a tarefa, ou seja, o que realmente é feito por ele. Para

Falzon (2007) tarefa é o que é prescrito pela organização, de maneira que estabeleça o

objetivo, as demandas e as condições de sua realização.

Hollnagel (2017) refere-se a trabalho como imaginado (em inglês, work as imagined-

WAI) como o que designers, gerentes, reguladores e autoridades acreditam que o trabalho

acontece ou deveria acontecer. Enquanto o trabalho como realizado (em inglês, work as done-

WAD) é como realmente ocorre e o que as pessoas realmente fazem durante o trabalho.

Para Guérin et al. (2001), as atividades de trabalho podem causar consequências

diversas para os trabalhadores, podendo ser negativas, como alterações “da saúde física,

psíquica e social”, ou positivas, como o alcance de mais conhecimentos, aumento de

experiência e qualificação. Diante disso, os determinantes da atividade de trabalho possuem

diferentes resultados, sendo afetados por vários componentes diferentes, mostrados na Figura

3.

Figura 3 – Determinantes da atividade de trabalho

Fonte: Guérin et al. (2001)

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37

O autor distingue os determinantes da atividade entre fatores internos (próprio de cada

trabalhador), por exemplo, as características pessoais, experiência, formação adquirida e

estado momentâneo, representados na coluna “O operador”, da Figura 3, e fatores externos

(situação na qual se exerce a atividade), representados na coluna “A empresa”, da Figura 3.

As variabilidades provêm da inconstância das pessoas e dos componentes das

situações de trabalho, ao longo do tempo. Por isso, os ergonomistas devem identificar as

variabilidades dos trabalhadores e adaptar os sistemas de acordo com as mesmas

(DANIELLOU, 2004).

Para Vidal (2002), as variabilidades podem ser divididas em duas grandes categorias:

a variabilidade normal e a variabilidade incidental. A variabilidade normal é aquela já

esperada, podendo assim ser, muitas vezes, previsível e até, parcialmente, controlada, por

exemplo, variações no mix de produtos ou variações sazonais. A variabilidade incidental, por

sua vez, é aquela decorrente de imprevistos de ordens diversas, por exemplo, a quebra de um

equipamento (VIDAL, 2002).

As variabilidades podem ainda ter origem técnica, humana ou organizacional:

• Técnicas: estão ligadas ao processo em si, por exemplo, variabilidades advindas dos

equipamentos ou da matéria prima (VIDAL, 2008). Por exemplo, nesta pesquisa, a

variabilidade pode expressar-se pela diferença existente entre as macas, entre as cadeiras de

roda, os diversos modelos, entre os diferentes tipos de dispositivos invasivos nos pacientes

(soro, entubação etc.), a existência ou não de dispositivos de regulação, de defeitos que

surgem nesses equipamentos etc.;

• Humanas: surgem das características dos indivíduos que realizam a atividade, podendo

ser interindividual (considera que cada pessoa tem sua própria característica, se homem ou

mulher, mais ou menos jovem, baixo ou alto; os indivíduos apresentam estratégias, posturas,

raciocínios, esforços e fadigas diferentes entre si etc.) (GUÉRIN et al., 2001, p. 50-51) e

intraindividual (considera que, além da diversidade entre as pessoas, há variações do estado

de cada indivíduo em diferentes escalas, por exemplo em escala diária decorrentes da fadiga

por acontecimentos ocorridos no dia ou em uma escala maior como o efeito do

envelhecimento, ao longo dos anos) (GUÉRIN et al., 2001, p. 51). A variabilidade

interindividual, para efeito desta pesquisa, ocorre pela diferença das características entre os

próprios maqueiros e entre os pacientes (quadro clínico, gordo-magro, nível de autonomia

etc.). E a variabilidade intraindividual ocorre, por exemplo, pela ocorrência de um mal súbito

no paciente durante o transporte;

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38

• Organizacional: originam-se de normas, procedimentos, tarefas e da própria

organização do trabalho, a exemplo as escalas de trabalho, folgas, intervalos, rotatividade etc.

(VIDAL, 2008).

Os contrantes ou constrangimentos (GUÉRIN et al., 2001) e as contingências

(VIDAL, 2002) também estão presentes nas atividades humanas e são definidos como toda

influência impostas ao homem pelo ambiente em que ele se encontra (DE MONTMOLLIN,

1995).

Contrante é um termo de origem latina “constringere”, que denota compressão,

aperto, apertado, restrição, cerceamento (GUÉRIN et al., 2001), ou seja, são as dificuldades

encontradas pelos trabalhadores para realizar sua tarefa da melhor maneira para si. Para Vidal

(2002), os contrantes podem ser temporais, posturais e ambientais.

Para Guérin et al. (2001), os constrangimentos ou contrantes podem ser classificados

em temporais e físicos. Os contrantes físicos estão ligados aos espaços, acessibilidade,

ambiente térmico, iluminação, ruídos, vibrações, tóxicos etc. Os contrantes temporais, por sua

vez, relacionam-se com a pressão do tempo, horários, cadências. Os contrantes temporais

ocorrem devido ao fato de que “o tempo é um dos elementos essenciais que intervém na

determinação dos modos operatórios” e “em certas situações a gestão dos constrangimentos

temporais realizada pelo operador estão ligadas a gestão dos constrangimentos referentes ao

espaço” (GUÉRIN et al., 2001, p. 50).

Vidal (2008, p. 120) define contingência como o “conjunto de circunstâncias

particulares a que um sistema esteja submetido em face de um grupo de eventos especiais e

articulados”. É válido ressaltar, que, muitas vezes, as contingências são confundidas com as

variabilidades, mas há diferenças entre elas, que nem sempre são fáceis de serem esclarecidas.

Vidal (2002) cita um exemplo de contingência que mostra a lentidão dos operários, ao

operar um guindaste com capacidade de velocidade superior à usada. Isso ocorria devido à

deficiência no tecido urbano e de cortes, imprevisíveis, de energia elétrica que poderiam criar

uma inércia capaz de tombar o pórtico, sendo mantida, por prudência, a velocidade lenta.

Assim, se o problema da baixa produtividade for analisado em um âmbito menor (de

variabilidades técnica e/ou humana), seria aparentemente solucionável, no entanto, ao se

considerar o âmbito maior (de contingência), o problema torna-se insolúvel. Na maternidade,

a falta de energia no horário noturno no momento que o maqueiro está transportando o

paciente no corredor ou no elevador, pode gerar um advento adverso, principalmente, se

tratar-se de um transporte de urgência, pois isto pode significar uma demora maior do que o

tempo esperado para o paciente chegar ao seu destino previsto.

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Para atender os objetivos e metas traçados pela empresa, com a cadência imposta pela

produção e com os meios disponibilizados, o trabalhador precisa usar de seus conhecimentos

e de suas condições físicas e mentais, tendo que fazer regulações nesse processo (VIDAL,

2002). Vidal (2002, p. 151) define regulação como o ato de realizar “ajustes de

comportamento e de procedimentos”, resultando em um modo operatório, estando presente

nos três tipos de sistemas que tratam a ergonomia (sistemas físicos, cognitivos e

organizacionais (VIDAL, 2008).

As regulações no sistema físico são complexas e têm em vista garantir a manutenção

da capacidade física do operador e também do dispositivo que está sendo operado, no sistema

cognitivo elas dividem-se em rastreamento sistemático (formal) ou oportunista (estrutural),

em antecipações e em correções individuais ou compartilhadas (cooperação), as regulações

nos sistemas organizacionais objetivam definir as regras cabíveis para determinação das

influências do contexto real sobre a atividade (VIDAL, 2008).

De acordo com a International Ergonomics Association (IEA) (em português,

Associação Internacional de Ergonomia) (IEA, 2000) e a Associação Brasileira de Ergonomia

(ABERGO) (ABERGO, 2018), os ergonomistas, em geral, podem trabalhar em três domínios

de especialização: ergonomia cognitiva, ergonomia organizacional e ergonomia física. O

presente trabalho abrangerá os três domínios citados.

Segundo a IEA (2000), a ergonomia cognitiva refere-se “aos processos mentais, tais

como percepção, memória, raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações entre

seres humanos e outros elementos de um sistema”. Os aspectos das situações de trabalho,

relacionados à ergonomia cognitiva, expressar-se-ão, neste trabalho, devido ao fato de tratar

dos processos mentais, incluindo a percepção e os processos de tomadas de decisão, com

relação às interações entre as pessoas e os demais elementos do sistema (FALZON, 2007),

que no presente trabalho encontra-se na interação dos maqueiros com os próprios pacientes e

com os equipamentos utilizados para movimentação e transferência deles, como macas,

cadeiras de rodas e elevadores, visando compreender as estratégias utilizadas na atividade,

durante a normalidade (antecipações) e diante de contrantes, variabilidades, incidentes e

acidentes, que resultam em regulações/ações.

O estudo da ergonomia organizacional também é de grande importância, uma vez que,

como já comentado anteriormente, as principais causas das ocorrências dos eventos adversos

estão relacionadas com as deficiências na concepção, organização e operação do sistema de

trabalho (WORLD ALLIANCE FOR PATIENT SAFETY, 2004).

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40

De acordo com Iida e Guimarães (2016), a ergonomia organizacional busca a

otimização de sistemas sociotécnicos, envolvendo as estruturas organizacionais, políticas e

processos. Para Falzon (2007), a ergonomia organizacional inclui a comunicação, a

concepção do trabalho, o trabalho em equipe, a cultura organizacional, dentre outros

elementos. A Abergo (2018) cita que a ergonomia organizacional está ligada à otimização dos

sistemas sociotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e de processos.

O domínio da ergonomia física expressa-se também, neste trabalho, devido à provável

relação existente entre os fatores biomecânicos, impostos pelos modos operatórios, a que

estão submetidos os maqueiros, e a segurança do paciente. Para Abergo (2018), a ergonomia

física relaciona-se com às características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e

biomecânica em sua relação à atividade física. Segundo Falzon (2007), a ergonomia física

inclui as posturas de trabalho, manuseio de materiais, arranjo físico do posto de trabalho, a

segurança, a saúde, movimentos repetitivos e distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao

trabalho.

Como foi evidenciado, o escopo da ergonomia é amplo, assim, ao longo do tempo, os

ergonomistas desenvolveram modalidades para desempenhar suas funções. Vidal (2002)

classifica a ergonomia quanto ao tipo de problema prioritário (objeto), quanto à forma de

buscar soluções (perspectivas), e quanto a sua ação ergonômica (finalidade), de acordo com o

que mostra o Quadro 2.

Quadro 2 – Classificações da ergonomia

Ergonomia

Quanto ao objeto Ergonomia de Produto

Ergonomia de Produção

Quanto à perspectiva Ergonomia de Intervenção

Ergonomia de Concepção

Quanto à finalidade

Ergonomia de Correção

Ergonomia de Enquadramento

Ergonomia de Remanejamento

Ergonomia de Modernização

Fonte: Vidal (2002)

A ergonomia de produto é aquela que inclui recomendações ergonômicas no projeto

de artefatos diversos, enquanto a ergonomia de produção volta-se para compreensão das

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condições reais da atividade de produção. Quanto à perspectiva, a ergonomia de intervenção é

a resposta a uma demanda ergonômica, e a ergonomia de concepção é a produção com base

na ergonomia de novos itens (processo, produtos etc.). Quanto à finalidade, a ergonomia de

correção ocorre quando a demanda é de corrigir um erro de projeto, por exemplo. A

ergonomia de enquadramento visa ao atendimento a uma norma e/ou lei. A ergonomia de

remanejamento ocorre, quando há alguma necessidade de mudança, que pode ser facilmente

resolvida e deve ser aproveitada para corrigir erros passados. A ergonomia de modernização,

por sua vez, diz respeito a mudanças mais amplas e extensas, com mais abrangência e

profundidade (VIDAL, 2002, p. 68), a exemplo da antropotecnologia, citada por Wisner

(2004).

Diante disso, a presente pesquisa envolverá a ergonomia de produção, pois analisará as

condições da atividade dos maqueiros; ergonomia de intervenção, pois foi feita a análise de

uma atividade já existente; ergonomia de enquadramento, pois foram consideradas todas as

normas e leis vigentes para a atividade e correção, pois visa analisar e melhorar a atividade

dos maqueiros.

Assim, a natureza dos sistemas de trabalho e as interações internas exigem uma

abordagem multidisciplinar dos sistemas para gerar melhorias na segurança (NAGAMACHI e

IMADA, 1992). A partir disso, é válido ressaltar, também, o conceito de ergonomia

participativa e sua importância no presente trabalho.

2.2.1 Ergonomia Participativa

A macroergonomia é um campo de estudo que permite avaliar a estrutura

organizacional de forma holística e participativa, lidando com as análises e projetos do

sistema de trabalho (HENDRICK e KLEINER, 2006), que incluem as variáveis ambientais,

tecnológicas e interpessoais que interferem nas interações sistêmicas entre os indivíduos e

seus dispositivos de trabalho, revelando assim oportunidades de melhoria que transcendem os

aspectos ergonômicos, partindo de uma visão integrada da organização, passando pelo

processo até chegar ao posto de trabalho.

Hendrick (1994), ao tratar da evolução ou abordagem da ergonomia, afirma que a

ergonomia está se movendo em direção a uma abordagem de sistemas, ou seja, a própria

macroergonomia, que “trata da tecnologia de interface humano-organização” (HENDRICK e

KLEINER, 2006, p. 17). Assim, a ergonomia participativa consiste, fundamentalmente, numa

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42

técnica utilizada pela macroergonomia, em que se reconhece todo o grupo ou a equipe como

unidade de trabalho (HENDRICK e KLEINER, 2006).

Segundo Kuorinka (1997), algumas tendências da indústria, como o “design para

manufatura” influenciaram o surgimento da ergonomia participativa, além de mudarem “o

papel de ergonomista de especialista para agente de mudança, que, por sua vez, influencia a

prática da ergonomia participativa”. Assim, o autor define a ergonomia participativa como

uma abordagem resultante de várias tendências, como a participação na sociedade, a

organização da produção de acordo com os princípios sociotécnicos e o desenvolvimento da

ergonomia de “micro” a “macro” (KUORINKA, 1997).

Numa pesquisa realizada por Gadbois et al. (1992) foi adotado o método da ergonomia

participativa, que contou com a participação 180 profissionais de 60 hospitais franceses. Os

pesquisadores concluíram que seria possível desenvolver uma abordagem estruturada,

ergonômica, ou ainda ter atitudes altamente descentralizadas, nos diversos departamentos

hospitalares, usando a ergonomia participativa.

O presente trabalho adotará como método a ergonomia participativa, uma vez que

analisará a atividade dos maqueiros, com a observação in loco de suas tarefas e atividades,

realizará entrevistas e aplicará questionários com os mesmos, bem como irá conhecer a

percepção dos gestores, pacientes e acompanhantes a respeito do processo de movimentação e

transferência de pacientes, visando identificar os determinantes dessa atividade laboral que

impactam na segurança dos pacientes, considerando a segurança do paciente como um

resultado de um sistema de trabalho cooperativo.

2.3 LER/DORT

Para se responder ao segundo problema da pesquisa (até que ponto as exigências

físicas da atividade dos maqueiros impactam na segurança do paciente e na própria saúde dos

maqueiros, e como se dá esta relação entre a saúde dos maqueiros e a segurança do paciente?)

é importante compreender as Lesões por Esforços Repetitivo / Doenças Osteomusculares

Relacionadas ao Trabalho.

A Agency for Healthcare Research and Quality (2003) cita que as relações entre a

segurança do paciente e a saúde do trabalhador da área de saúde pode influenciar os

resultados em saúde, gerando eventos adversos, devido, por exemplo, a forma de organização

do trabalho, com fluxos de trabalhos deficientes que causam staff dos trabalhadores. Para

Souza e Mendes (2014), há uma interdependência entre a saúde do trabalhador, a ergonomia e

Page 43: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

43

a segurança do paciente, de tal maneira que a maioria das intervenções para a prevenção de

eventos adversos devem envolver esses temas e considerar a perspectiva sistémica do

contexto.

A dor relacionada ao trabalho esteve presente desde a antiguidade, no entanto,

segundo o Ministério da Saúde (2012), com o advento da globalização e da revolução

industrial, houve um maior desequilíbrio entre as exigências das tarefas realizadas no trabalho

e as capacidades funcionais individuais, tornando essas dores mais numerosas.

No tocante a distúrbios ou doenças relacionadas ao trabalho, a Organização Mundial

de Saúde (OMS) os classifica em dois tipos: doença profissional, como sendo aquela inerente

às atividades laborais, e doença do trabalho (ou relacionada ao trabalho), que é aquela em que

não se identifica apenas um fator causal (BRASIL, 2012).

As lesões por esforços repetitivos (LERs) e distúrbios osteomusculares relacionados

ao trabalho (DORTs) são as expressões mais utilizadas para problemas no sistema

musculoesquelético, no Brasil. Tais denominações são adotadas, oficialmente, pelo Ministério

da Saúde (MS) e pelo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS). No entanto, o

MS, em seu Protocolo de Complexidade Diferenciada, considera alguns sinônimos, como:

Síndrome Cervicobraquial Ocupacional, Afecções Musculoesqueléticas Relacionadas ao

Trabalho (AMERT) e Lesões por Traumas Cumulativos (LTC) (BRASIL, 2012).

Entretanto, segundo Colombini, Occhipinti e Fanti (2008) fatores não ocupacionais,

como idade, sexo, condição psicológica, estrutura antropométrica, estado hormonal,

patologias crônicas, traumas e fraturas, também, podem relacionar-se com o surgimento da

LER/DORT. Assim, por essa relação existente entre os fatores de risco, orienta-se que sua

análise envolva, não só aspectos de organização do trabalho, mas, também, deve-se incluir

aspectos biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afetivos (BRASIL, 2012).

Para Oliveira (2014), as LER/DORTs constituem distúrbios de extrema importância

em vários países, tendo, em alguns, dimensões epidêmicas em diversas categorias

profissionais, podendo manifestar-se sob distintas formas clínicas, sendo complicado o seu

controle, tanto por parte das equipes de saúde, como também das instituições previdenciárias.

Segundo a cartilha da Comissão de Reumatologia Ocupacional (SBR, 2011) do Brasil,

pode-se adquirir um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho, quando não se segue

pelo menos um dos seguintes fatores organizacionais no ambiente de trabalho:

- Treinamento e condicionamento (técnicas para execução de tarefas);

- Local de trabalho adequado (piso, superfície, barulho, umidade, ventilação,

temperatura, iluminação, distanciamentos percorridos, angulação etc.);

Page 44: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

44

- Ferramentas, utensílios, acessórios e mobiliários adequados;

- Duração das jornadas de trabalho corretas;

- Intervalos apropriados;

- Posturas adequadas;

- Respeito aos limites biomecânicos (força, repetitividade), manutenção de posturas

específicas por períodos prolongados.

Dessa forma, quando se tem um ambiente de trabalho organizado de maneira

adequada, o risco de um indivíduo desencadear um distúrbio musculoesquelético torna-se

mais baixo.

Kuorinka e Forcier (1995) referem-se aos seguintes fatores de risco, conforme ilustra a

Tabela 3, como sendo os responsáveis pelo aparecimento de LER/DORT:

Tabela 3 – Fatores de risco para LER/DORT

O grau de adequação do posto de trabalho a zona de atenção e a visão

A presença de vibrações

Frio

Posturas inadequadas

A invariabilidade da tarefa

As exigências cognitivas do trabalho

Fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho

A carga estática

As lesões mecânicas, decorrente de tensão, pressão, fricção e irritação

A influência da força, da repetitividade, da duração da carga etc.

Fonte: Kuorinka e Forcier (1995)

Em geral, muitas situações de trabalho apresentam condições desfavoráveis, o que

contribui para o aparecimento das LER/DORTs. Assim, para se identificar quais fatores de

risco estão presentes na atividade, indica-se a realização de uma análise ergonômica,

considerando os pontos críticos do trabalho, com o estudo da atividade real dos trabalhadores,

possibilitando a identificação de riscos, bem como as suas características moduladoras

(intensidade, duração, frequência), detectando o desequilíbrio entre a força de trabalho e o

executor, pois relacionar o surgimento desses distúrbios apenas ao ambiente de trabalho é

desconsiderar a realidade do trabalho, uma vez que não leva em conta a dinâmica das relações

Page 45: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

45

de trabalho, a atividade desenvolvida, a duração, o tempo de pausa, a produtividade exigida

etc. (BRASIL, 2001).

Page 46: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

46

3 PESQUISAS RELACIONADAS AO TEMA

Este capítulo tem o intuito de apresentar a revisão bibliográfica que foi realizada, em

que se buscou, nas bases de dados Periódicos Capes e PubMed, identificar o que há de

estudos e pesquisas relativos ao tema desta pesquisa, publicados em artigos científicos,

dissertações de mestrado e teses de doutorado. Com isso, primeiramente, foi feita uma

quantificação ou bibliométrica referente à bibliografia obtida e, depois, foram descritas, de

forma sucinta, o conteúdo dos estudos e pesquisas da bibliografia consultada e selecionada.

Esta revisão bibliográfica sistematizada permite se conhecer o que há de estudos sobre o tema

em foco, bem como colaborar com a discussão dos resultados com a presente pesquisa.

3.1 Quantificação das publicações de pesquisas científicas e estudos relevantes para

pesquisa

Inicialmente, realizou-se uma quantificação da bibliografia consultada nas bases de

dados Periódicos Capes e PubMed, com o intuito de organizar as publicações com potencial

de colaboração para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa. Sampaio e Mancini (2007)

afirmam que esse tipo de trabalho tem como finalidade orientar o desenvolvimento de

pesquisas, apontando novos caminhos para investigações futuras, além de mostrar quais os

métodos de pesquisa mais indicados para o estudo.

A pesquisa bibliográfica sistemática da literatura científica e a respectiva quantificação

consistiu na busca de artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado que abordassem

estudos ou pesquisas no domínio da ergonomia e da segurança do paciente relacionados à

atividade de transporte e transferência de pacientes pelos maqueiros em unidades de saúde,

como maternidades e hospitais.

Para a definição da pesquisa sistemática, utilizaram-se 3 (três) arranjos de palavras-

chave: ergonomia, segurança do paciente, transporte de paciente, a serem localizadas no

resumo dos artigos. Tais palavras foram, também, traduzidas para o inglês, devido ao fato de

que a maior parte das plataformas científicas ser de língua inglesa. Diante disso, a busca foi

feita em duas fases, com quatro etapas cada, de acordo com o Quadro 3 e Quadro 4, a seguir.

Page 47: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

47

Quadro 3 – Etapas para realização da busca dos documentos em inglês

E

t

a

p

a

s

Palavra-chave em inglês

Operador

Lógico

Utilizado

Quantidade encontrada

Período de

realização

da Pesquisa

1 1 "ergonomics"

AND Periódicos Capes: 452

PubMed: 360

09/06/2018

à

20/05/2019 2 "patient safety"

2 1 "ergonomics"

AND Periódicos Capes: 19

PubMed: 18

09/06/2018

à

20/05/2019 2 "patient transport"

3 1 "patient transport"

AND Periódicos Capes: 25

PubMed: 21

09/06/2018

à

20/05/2019 2 "patient safety"

4

1 "ergonomics"

AND Periódicos Capes: 0

PubMed: 0

09/06/2018

à

20/05/2019

2 "patient safety"

3 "patient transport"

A partir do Quadro 3, observa-se a utilização do operador lógico “AND”, utilizado

entre as respectivas palavras-chave com valor de inclusão, delimitando a busca apenas por

artigos que apresentam ambas as palavras no decorrer do trabalho. A busca deu-se também

com palavras-chave em português, tais como: ergonomia, segurança do paciente, transporte

de pacientes, como mostra o Quadro 4, a seguir.

Quadro 4 – Etapas para realização da busca dos documentos em português

E

t

a

p

a

s

Palavra-chave em português

Operador

Lógico

Utilizado

Quantidade

encontrada

Período de

realização

da Pesquisa

1 1 "ergonomia"

E Periódicos Capes: 6

PubMed: 0

09/06/2018

à

20/05/2019 2 "segurança do paciente"

2 1 "ergonomia"

E Periódicos Capes: 17

PubMed: 0

09/06/2018

à

20/05/2019 2 "transporte de pacientes"

3 1 "transporte de pacientes "

E Periódicos Capes: 25

PubMed: 0

09/06/2018

à

20/05/2019 2 "segurança do paciente"

4

1 "ergonomia"

E Periódicos Capes: 1

PubMed: 0

09/06/2018

à

20/05/2019

2 "transporte de pacientes "

3 "segurança do paciente"

Page 48: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

48

Após finalizar a coleta de publicações científicas, através da pesquisa sistemática,

criou-se um banco de dados em uma planilha eletrônicas do software MicroSoft Excel®. A

criação desse banco de dados, por sua vez, teve a intenção de facilitar a triagem dos

documentos buscados anteriormente, de maneira a eleger os que podem contribuir

significativamente para o trabalho. Como critérios de exclusão de artigos que não viessem a

contribuir para o trabalho, utilizaram-se os seguintes:

• Publicações científicas que não fossem artigos publicados em periódicos científicos;

• Artigos repetidos;

• Artigos escritos em idiomas que não fossem o português, inglês, ou espanhol, tendo

em vista que a autora possui conhecimento nesses idiomas;

• Artigos indisponíveis para leitura, ou seja, artigos a que não se tinham acesso; Artigos

científicos oriundos de periódicos que não possuíam o processo peer review, ou seja,

publicações que não tinham sido analisados pelo processo de revisão por pares, o que

assegura a qualidade do artigo, no caso da plataforma do Periódico Capes.

Após a aplicação dos critérios de exclusão, encontrou-se a necessidade de aplicar um

método para selecionar, dentre os artigos selecionados, aqueles que apresentassem conteúdo

embasado nas palavras-chave utilizadas, uma vez que a busca das palavras-chaves deu-se em

todo o corpo do texto e não apenas no título, o que aumentou a chance de possuírem artigos

que não estabeleciam ligação lógica com o tema estudado. No entanto, realizou-se a leitura

dos resumos de todas as publicações, para realizar essa triagem e, assim então, haver a leitura

completa dos selecionados.

Considerou-se importante especificar as datas de início e término da busca de

documentos devido à dinamicidade dos dados contidos nas bases, ou seja, a quantidade de

publicações científicas de um portal pode ser alterada constantemente à medida que surgem

novos estudos.

É válido ressaltar que outras referências foram acrescentadas, provenientes de fontes

do professor orientador da pesquisa. Assim, julgou-se relevante e necessário acrescentá-las.

O Quadro 5, a seguir, apresenta as principais referências bibliográficas obtidas e

exploradas para fins de elaboração deste capítulo.

Page 49: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

49

Quadro 5 – Principais referências selecionadas para apoio da presente pesquisa

N° REFERÊNCIA

COMPLETA

OBJETIVOS

METODOLOGIA

ANO LOCAL

1

OLIVEIRA, J. M. C.

Aspectos ergonômicos

e sintomas

osteomusculares em

um setor de

transporte de

pacientes -

maqueiros.

Monografia de

especialização em

engenharia e segurança

do trabalho. Curitiba,

2014.

Caracterizar os sintomas

osteomusculares e as

atividades que exigem maior

esforço para o sistema

musculoesquelético em

maqueiros que atuam no

transporte de pacientes.

Escala de Avaliação

do Risco na

Movimentação e

Transferência e

questionário

Nórdico adaptado.

2014 Curitiba/Brasil

2

ALMEIDA, R. A. R.;

ABREU, C. C. F.;

MENDES, A. M. O. C.

Quedas em doentes

hospitalizados:

contributos para uma

prática baseada na

prevenção. Revista de

Enfermagem

Referência, v.3, n.2,

p.163-172, 2010.

Contribuir para uma maior

compreensão do fenómeno

da queda, sensibilizando os

enfermeiros para o seu

estudo e incorporação nas

práticas de cuidados

(prevenção).

Revisão de literatura 2010 Coimbra/Portugal

3

HAINS, I.; MARKS,

A.; GEORGIOU, A.;

WESTBROOK, J.

I.Non-emergency

patient transport: what

are the quality and

safety issues? A

systematic review.

International Journal

for Quality in Health

Care. USA, v. 23, n. 1,

p. 68–75, 2011.

Examinar os fatores

associados à qualidade e

segurança dos serviços de

transporte não-emergenciais.

Revisão de literatura 2011 Australia

4

MARKUS A.

FEUFEL,

KATHERINE D.

LIPPA, & HELEN A.

KLEIN. Calling 911:

Emergency Medical

Services in Need of

Human Factors.

Ergonomics in design.

Spring, 2009.

Destacar as principais áreas

onde as intervenções HF / E

pode ajudar a melhorar a

qualidade dos sistemas de

EMS e tornar a vida dos

paramédicos e seus

pacientes mais seguro e

fácil.

Observacional 2009 Estados Unidos

Page 50: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

50

5

COSTA, A. L.;

FLAUSINO, T. C.

Prevalência dos

distúrbios

osteomusculares

relacionados ao

trabalho (DORTs) em

maqueiros de um

centro de reabilitação

na cidade de Goiânia-

GO. Revista

eletrônica saúde e

ciência, v. 5, n.1, p.22-

35, 2015.

Identificar a presença dos

DORTs, segundo o

Questionário Nórdico para

Distúrbios Osteomusculares,

dos maqueiros do CRER e

correlacionar quanto ao

perfil sociodemográfico

Pesquisa de campo;

aplicação de

Questionário

Nórdico

2015 Goiânia/Brasil

6

DONNA, U. B. et al.

Incidents relating to

the intra-hospital

transfer of critically ill

patients. Intensive

Care Medicine, n.30,

p.1579-1585, 2004.

Identificar as causas, os

resultados e fatores

contribuintes associados ao

transporte intra-hospitalar.

Revisão transversal

do caso, por

relatórios de

incidentes

submetidos ao

estudo de

monitoramento

Australian Incident

em Cuidados

Intensivos (AIMS-

UTI).

2004 Australia

7

WANG, H.;

KASAGAMI, F. A

Patient Transfer

Apparatus Between

Bed and Stretcher.

IEEE transactions on

systems, man, and

cybernetics - part b:

cybernetics, v. 38, n.

1, 2008.

Apresentar um aparelho de

transporte de doentes entre

cama e maca.

Observacional 2008 Japão

8

MUELLER, J. A.;

STANLEY, L. M.

Emergency Medical

Services: A

Naturalistic Posture

Evaluation While

Providing Patient Care

during Patient

Transport.

Proceedings of the

human factors and

ergonomics society

57th annual meeting,

p. 1546- 1550, 2013.

analisar os profissionais

médicos que administram a

assistência ao paciente

durante o transporte do

paciente para destacar

previamente questões

negligenciadas de segurança

em uma ambulância.

Observacional,

fazendo vídeos por

3 meses

2013 Bozeman,

Montana

9

GALLASCH, C. H.;

ALEXANDRE, N. M.

C. Avaliação dos riscos

ergonômicos durante a

movimentação e

transporte de pacientes

em diferentes unidades

hospitalares. Revista

de Enfermagem, Rio

de janeiro: UERJ, v.

11, p. 252-260, 2003.

Mapear os riscos

ergonômicos durante os

referidos procedimentos em

unidades de internação,

clínicas e cirúrgicas de um

hospital universitário

Observacional,

análise de

prontuários e escala

de avaliação do

risco na

movimentação e

transferência

2003 São Paulo/Brasil

Page 51: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

51

10

TULLAR, J. M.;

BREWER, S.;

AMICK, B. C.;

IRVIN, E. MAHOOD,

Q.; POMPEIA, L. A.;

WANG, A.; EERD, D.

V.; GIMENO, D.;

EVANOFF, B.

Occupational Safety

and Health

Interventions to

Reduce

Musculoskeletal

Symptoms in the

Health Care Sector.

Journal Occupation

Rehabilitation.

Estados Unidos:

Springer Science, v.

20, p.199–219, 2015.

Verificar se as intervenções

de segurança e saúde no

trabalho em ambientes de

cuidados de saúde têm um

efeito sobre o estado de

saúde musculoesquelética

Revisão de literatura 2010 Mundial

11

NELSON, A.;

COLLINS, J.;

SIDDTHARTHAN,

K.; MATZ, M.;

WATERS, T. Link

Between Safe Patient

Handling and Patient

Outcomes in Long-

Term Care.

Rehabilitation

Nursing. John Wiley

& Sons, v. 33, n. 1, p.

33 – 43, 2008.

Examinar a relação entre

manipulação segura dos

pacientes e medidas de

qualidade de cuidados

Observacional e

modelo de regressão

linear

2008 Estados Unidos

12

NELSON, A.; MATZ,

M.; CHEN, F.;

SIDDTHARTHAN,

K.; LLOYD, J.;

FRAGALA, G.

Development and

evaluation of a

multifaceted

ergonomics program to

prevent injuries

associated with patient

handling tasks.

International Journal of

Nursing Studies.

Revista Elsevier, v.

43, p. 717-733, 2006.

Criar ambientes de trabalho

mais seguros para pessoal de

enfermagem que prestam

assistência direta ao

paciente, projetar e

implementar um programa

multifacetado que a prática,

tecnologia e melhoria da

segurança é baseada em

evidência e avaliar o

impacto do programa na

taxa de lesões, dias de

trabalho perdidos e

modificados, satisfação no

trabalho, atos inseguros de

manipulação do paciente

auto-relato, o nível de apoio

ao programa, funcionários e

aceitação do paciente, a

eficácia do programa, custos

e retorno sobre o

investimento.

Um desenho pré-

pós, sem um grupo

de controlo foi

utilizado para

avaliar a eficácia de

um programa de

atendimento ao

paciente em 23

unidades de alto

risco

2006 Estados Unidos

13

NELSON, A.;

BAPTISTE, A.

Evidence-based

practices for safe

patient handling and

Resumir as evidências atuais

de intervenções destinadas a

reduzir as lesões do cuidador

Revisão de literatura 2004 Estados Unidos

Page 52: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

52

movement. Online

Journal of Issues in

Nursing, v.9, n. 3, p.

1-26, 2004.

14

RETSAS, A.;

PINIKAHANA, J.

Manual handling

activities and injuries

among nurses: an

Australian hospital

study. Journal of

Advanced Nursing, v.

31, n. 4, p. 875-883,

2000.

Identificar padrões de

atividades de manipulação

manual e suas lesões e

conseqüências associadas

entre enfermeiros que

trabalham em um grande

centro médico de referência

e ensino em Melbourne,

Austrália.

Um questionário

com 140 itens de

autorrelato

2000 Austrália

15

RADOVANOVIC, C.

A. T.; ALEXANDRE,

N. M. C.

Desenvolvimento de

um instrumento para

avaliar a

movimentação e

transferência de

pacientes: um enfoque

ergonômico. São

Paulo: Revista da

Escola de

Enfermagem da USP,

v. 36 n. 3, p. 231-239,

2002.

Descrever o

desenvolvimento de um

instrumento para avaliar os

riscos ergonômicos durante

os procedimentos de

movimentação e

transferência de clientes.

desenvolver o check

list como referencial

teórico a ergonomia,

o que abrange a

interação entre os

equipamentos, as

atividades, o

ambiente e o próprio

trabalhador.

2002 São Paulo/Brasil

16

GARG, A.; OWEN,

B.; BELLER, D.;

BANAAG, J. A

biomechanical and

ergonomic evaluation

of patient transferring

tasks: bed to

wheelchair and

wheelchair to bed.

Ergonomics. Queen's

University Libraries,

Kingston, v. 34, n. 3, p.

289- 312, 1991.

Reduzir o estresse nas costas

do pessoal de enfermagem

enquanto realizavam tarefas

de manuseio de pacientes

entre a cama e a cadeira de

rodas e vice e versa.

estudo em

laboratório

1991 Estados Unidos

17

KEIR, P. J.;

MACDONELL, C. W.

Muscle activity during

patient transfers: a

preliminary study on

the influence of lift

assists and experience.,

Ergonomics.v.47, n.

3., p. 296–306, 2004.

Examinar os padrões de

atividade muscular durante o

manuseio do paciente

durante as transferências

manuais e as transferências

usando os elevadores de piso

e teto.

estudo em

laboratório

2004 Canada

Page 53: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

53

18

MARRAS, W. S.;

DAVIS,K. G.;

KIRKING, B. C.;

BERTSCHE, P. K. A

comprehensive

analysis of low-back

disorder risk and spinal

loading during the

transferring and

repositioning of

patients using different

techniques.

Ergonomics. v. 42, n.

7, p. 904 – 926, 1999.

Avaliar o risco de lesões

lombares em manipuladores

de pacientes realizando

diferentes tarefas de

manipulação.

modelo de risco de

transtorno de

lombalgia e modelo

de carregamento

espinhal

biomecânico

1999 Estados Unidos

19

MARRAS, W. S;

KNAPIK, G. G.;

FERGUSON, S.

Lumbar spine forces

during manoeuvring of

ceilingbased and floor-

based patient transfer

devices. Ergonomics.

Taylor & Francis

online, v. 52, n. 3, p.

384–397, 2009.

Analisar as forças da coluna

dorsal impostas à coluna

lombar quando 10

indivíduos manipularam

elevadores de pacientes

baseados no teto e no chão

através de várias condições e

manobras de manuseio do

paciente.

estudo de campo 2009 Estados Unidos

20

SOUSA, C. M. DE;

BEZERRA, A. L. Q.;

BARRETO, R. A. S.

S.; PALOS, M. A. P.;

TOBIAS, G. C.;

PARANAGUÁ, T. T.

B. Perspectiva dos

condutores/maqueiros

diante dos incidentes

ocorridos no transporte

de pacientes. Revista

enfermagem UFPE

online, v. 12, n. 2, p.

475 – 480, 2018.

Analisar os incidentes

ocorridos durante o

transporte intra-hospitalar

dos pacientes na perspectiva

dos condutores/maqueiros.

Estudo quantitativo,

exploratório,

descritivo, realizado

com 10 maqueiros

de um hospital

universitário.

2018 Recife/Brasil

21

RODRIGUES, C. M.

A. Sintomas

osteomusculares

relacionados ao

trabalho de

enfermagem em uma

unidade de terapia

intensiva: uma

abordagem sobre

ler/dort. Dissertação

de Mestrado em

Enfermagem da

Universidade Federal

do Estado do Rio de

Janeiro (UNIRIO).

UNIRIO: Rio de

Janeiro, 2016.

Identificar sintomas

musculoesqueléticos em

trabalhadores de

enfermagem que atuam em

uma Unidade de Terapia

Intensiva de um hospital

Federal do Estado do Rio de

Janeiro e discutir os

sintomas

musculoesqueléticos e seus

aspectos ergonômicos com

ênfase na saúde do

trabalhador

Questionário

composto por

informações

relativas às

variáveis

sociodemográficas,

laborais, sintomas

osteomusculares e

de um censo de

ergonomia

modificado

2016 Rio de

Janeito/Brasil

Page 54: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

54

22

MERLO, A. R. C.;

VAZ, M. A.; SPODE,

C. B.; ELBERN, J. L.

G.; KARKOW, A. R.

M.; VIEIRA, P. R. B.

O trabalho entre

prazer, sofrimento e

adoecimento: a

realidade dos

portadores de lesões

por esforços

repetitivos. Psicologia

& Sociedade. v.15,

n.1, p. 117-136, 2003.

Determinar as relações das

Lesões por Esforços

Repetitivos/Distúrbios

Osteomusculares

Relacionados ao Trabalho

(LER/DORT) com o

processo produtivo e suas

conseqüências sobre a saúde

física e mental dos

trabalhadores estudados.

Anamnese

Ocupacional

e de Entrevistas

individuais com

roteiro semi-

estruturado.

2003 Rio Grande do

Sul/Brasil

A partir das leituras e análises das bibliografias referenciadas (ou literaturas

científicas/técnico-científicas) no Quadro 5, pode-se evidenciar os objetivos, a metodologia e

o local de cada um dos trabalhos levantados. A seguir tem-se os resultados das principais

bibliografias.

Para Almeida, Abreu e Mendes (2010), os EA’s mais frequentes, em unidades de

saúde do Brasil, são as quedas, podendo ter consequências físicas, psicológicas e sociais para

os pacientes. Krause W. e Krause T. (2004), em seu estudo, com duração de três anos,

realizado em um hospital da Alemanha, concluíram que as quedas afetam cerca de 2% a 17%

dos pacientes durante a internação, e as taxas de queda podem variar de 1,4 até 17,9 quedas

por 1000 dias de internamento. Heinze et al. (2006) corrobora, afirmando em seu estudo que

mais de um quarto das quedas, em geral, resultam em lesões físicas.

Em uma revisão de literatura a respeito do tema, que inclui apenas os enfermeiros na

incorporação das práticas de cuidados (prevenção), Almeida, Abreu e Mendes (2010) também

contribuíram para uma maior compreensão do fenômeno da queda, evidenciando como

medidas de prevenções: a avaliação de risco individual, a determinação de fatores de risco e a

constituição de protocolos de intervenção e treinamento, no entanto dá ênfase aos enfermeiros

na incorporação das práticas de cuidados (prevenção).

Merlo et al. (2003), em seu estudo realizado em 2003, relativo às relações das Lesões

por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

(LER/DORT) com o processo produtivo e suas consequências sobre a saúde física e mental

dos trabalhadores, desenvolvido no Ambulatório de Doenças do Trabalho do Hospital de

Clínicas de Porto Alegre, chegaram à conclusão de que o sofrimento das LERs/DORTs está

associado não apenas à dor física, mas, também, a aspectos fisiopatológicos da doença,

existindo uma complexa relação que vincula a dor às vivências subjetivas e à identidade

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55

social. Afirmam, ainda, que, nos anos seguintes, haveria uma disseminação das doenças

osteomusculares na população como um todo.

Esta previsão confirmou-se, cinco anos mais tarde (2008), nas pesquisas de Rosa et al.

(2008), para quem as LER/DORTs são conhecidas como a doença da modernidade, por conta

do elevado número de afastamentos, que, por muitas vezes, acarretam na aposentadoria por

invalidez do trabalhador. Tais fatores podem impactar na segurança do paciente, uma vez que

o absenteísmo elevado de trabalhadores pode provocar o aumento da carga de/do volume de

trabalho para os trabalhadores presentes, gerando a eles maiores chances de adquirir

problemas como estresse, fadiga e a própria LER/DORT.

Segundo Rodrigues (2016), as afecções musculoesqueléticas representam uma grande

fração do conjunto de adoecimentos que afetam o trabalhador, atingindo homens, mulheres e

até adolescentes, tendo como possíveis causas a organização do trabalho, mas a imprecisão do

diagnóstico pode dificultar o processo de associação entre o adoecimento e o histórico

profissional do trabalhador.

É válido ressaltar que as LER/DORTs têm origem multifatorial, mas o adoecimento do

trabalho por LER/DORT não resulta de nenhum defeito ontogenético, ou seja, não resultam

do processo evolutivo acerca das alterações biológicas sofridas pelo indivíduo ao longo da

vida ou de caracteres depreciativos, de natureza biológica ou psíquica, mas sim objetivamente

do trabalho. Por conseguinte, atinge quase exclusivamente homens e/ou mulheres que

realizam o trabalho concreto, que se situam no nível hierárquico inferior das organizações

(AUGUSTO et al., 2008; RIBEIRO, 1997).

O estudo de Costa e Flausino (2015), relativo à atividade dos maqueiros de um centro

de reabilitação na cidade de Goiânia-GO, identificou a prevalência de sintomas

osteomusculares na parte inferior das costas (50%) e na parte superior nas costas (36,4%)

desses trabalhadores. A pesquisa realizada por Oliveira (2014), com maqueiros de um

hospital de Curitiba-PR, revelou que a região corporal mais afetada nesses profissionais é a

região dos tornozelos/pés (57,4%) e dos joelhos (28,6%), pelo fato de percorrerem grandes

distâncias durante a atividade de remoção e transporte dos pacientes.

O recente estudo realizado por Sousa et al. (2018) trouxe a perspectiva dos

condutores/maqueiros diante dos incidentes ocorridos no transporte de pacientes em estudo

exploratório realizado com 10 maqueiros de um hospital universitário em Goiás.

Identificaram, em seus resultados, que 60% dos trabalhadores relataram participação em

cursos de capacitação; dentre os incidentes ocorridos durante o transporte intra-hospitalar,

identificou-se a desconexão de O2 (oxigênio), de sonda, de equipo de soro, quebra de maca,

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56

paciente com parada cardíaca, crise de vômitos e quedas. Esta pesquisa verificou que os

incidentes relatados por eles, relacionados ao transporte do paciente, colocam os profissionais

em situação de vulnerabilidade e em conflito com as diretrizes do hospital, além de referir-se

à escassez de estudos, na literatura disponível, que envolvam a atividade laboral dos

maqueiros e os riscos envolvidos.

Na pesquisa de Oliveira (2014), observou-se uma maior relação com o presente

projeto de pesquisa, uma vez que ele baseou-se em fundamentos da ergonomia para

caracterizar os sintomas osteomusculares e as atividades que exigem maior esforço para o

sistema musculoesquelético em maqueiros que atuam no transporte de pacientes. Assim, parte

da metodologia apresentado pelo autor traz uma certa contribuição, embora seu foco maior se

centre na segurança dos profissionais, evidenciando o aspecto físico, sem relacioná-los com a

segurança do paciente, que é o foco deste projeto de pesquisa.

Oliveira (2014) relaciona os seguintes fatores como causadores de risco, não só para

os pacientes, mas, também, para o próprio maqueiro, com o alto índice de ocorrência de

lesões na coluna vertebral: cadeiras de rodas e macas de difícil movimentação, falta de travas

e suporte lateral em macas, cadeiras de rodas sem trava, falta de apoio para os pés, desnível de

altura entre a cama e maca, falta de equipamentos auxiliares para transportar pacientes, falta

de acessórios para transporte de cateteres, tubos de oxigênio, entre outros.

Hains et al. (2011) examinou, por meio de uma revisão de literatura, os fatores

associados à qualidade e segurança dos serviços de transporte não-emergenciais (transporte

para pacientes de alta acuidade, que inclui pacientes gravemente doentes que necessitam de

habilidades clínicas, mas não para pacientes que necessitam de urgência, constatando como

principais fatores os seguintes: a comunicação, a adequação de pessoal, o tempo para

organizar transferências e a segurança e eficiência do processo dos serviços de transporte não-

emergenciais.

Feufel, Lippa e Klein (2009) destacaram as principais áreas onde as intervenções em

fatores humanos e ergonomia podem ajudar a melhorar a qualidade dos sistemas de serviços

médicos de emergências (no caso, equipes de ambulâncias em incêndio), tornando a vida dos

paramédicos e seus pacientes mais segura. Assim, constataram que as tomadas de decisão dos

paramédicos nas ambulâncias dependiam de “overtraining” e que o trabalho em equipe é

essencial.

Hollnagel (2012) afirma que, durante os últimos anos, a engenharia de resiliência vem

sendo utilizada como uma ferramenta de gestão de segurança no ambiente sociotécnico, a fim

de apoiar a utilização da capacidade de adaptação de pessoas e sistemas, além de reconhecer

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57

algumas variabilidades como inevitáveis e benéficas, devendo ser geridas, em vez de

reduzidas. Esta expansão pode ser evidenciada, uma vez que, em uma revisão de literatura,

Righi, Saurin e Wachs (2015) selecionaram 237 estudos, e desses, apenas 16% utilizavam a

ER como ferramenta de gestão de segurança, e esse número seria a ainda menor, se

buscassem as pesquisas que relacionassem o tema com a área de saúde. No entanto, dois anos

mais tarde, Patriarca et al. (2017), também, em uma revisão de literatura, evidenciaram 63

estudos englobando o tema da ER como ferramenta de melhoria da segurança do paciente nos

cuidados de saúde.

Donna et al. (2004) buscaram identificar as causas, os resultados e fatores

contribuintes associados aos incidentes no transporte intra-hospitalar de pacientes em estado

crítico em uma Unidade de Terapia Intensiva na Austrália, identificando que, dos fatores que

contribuem, 46% foram baseados no sistema, e 54% baseado no humano. Destacam, portanto,

que é imprescindível o fornecimento adequado de pessoal altamente qualificado,

equipamentos bem conservados, bem como o acompanhamento adequado dos pacientes para

evitar / minimizar esses incidentes.

Wang e Kasagami (2008), no Japão, projetaram um equipamento de transferência

entre a cama e a maca, ou vice-versa (Figura 4), que faz com que seja possível uma

enfermeira mover um paciente fraco, com feridas, ou paralisado, sem ajuda. Além disso, com

tal equipamento, o sofrimento, estresse e sensação desconfortável do paciente podem ser

aliviados.

Figura 4 – Equipamento de transferência de paciente

Fonte: Wang e Kasagami (2008)

Além disso, Wang e Kasagami (2008) afirmam que, com tal equipamento, o

sofrimento, o estresse e a sensação desconfortável do paciente podem ser aliviados,

assegurando, dessa maneira, a segurança do paciente nesse aspecto.

Mueller e Stanley (2013) evidenciaram que os trabalhadores de serviços médicos de

emergência são um grupo de alto risco e, embora parte desse risco seja inerente ao tipo de

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58

trabalho que realizam, grande parte dele pode ser evitável. Em seu estudo, os autores

examinaram os profissionais médicos que administram o atendimento ao paciente durante o

transporte, destacando problemas de segurança negligenciados em uma ambulância. Suas

descobertas indicaram que há uma relação entre a capacidade do trabalhador de serviço

médico de emergência de fornecer adequadamente o atendimento ao paciente e sua

incapacidade de fazê-lo, a partir de uma postura sentada em ambulâncias usadas em todo o

mundo.

Gallasch e Alexandre (2003) relataram que os procedimentos de movimentação e

transporte de pacientes requerem grande esforço físico e estão associados a problemas

musculoesqueléticos em trabalhadores da área da saúde. Os autores mapearam os riscos

ergonômicos durante tais procedimentos em unidades de internação, clínicas e cirúrgicas de

um hospital universitário de Campinas-SP, utilizando-se de uma metodologia observacional,

da análise de prontuários e de uma escala de avaliação do risco na movimentação e

transferência, já utilizada e mencionada anteriormente por Oliveira (2014). Tal metodologia

foi desenvolvida por Radovanovic e Alexandre (2002), e, também, foi utilizada na presente

pesquisa, como poderá ser observada no Capítulo 5 (Metodologia).

Radovanovic e Alexandre (2002) ratificam, ainda, que um elemento crucial para

qualquer programa de prevenção dos eventos adversos nas instituições de saúde, baseado na

ergonomia, é identificar riscos e apresentar métodos que podem minimizá-los, elencando os

procedimentos de movimentação e transferência de pacientes como uma atividade que

envolve altos riscos para os trabalhadores responsáveis e para os pacientes.

Por meio de uma revisão da literatura científica, Tullar et al. (2010) buscaram verificar

se as intervenções de segurança e saúde no trabalho em ambientes de cuidados de saúde têm

efeito sobre o estado de saúde musculoesquelética no setor de saúde. Constataram que há um

número considerável de pesquisas que atestam que intervenções de segurança e saúde no

trabalho reduzem as lesões musculoesqueléticas e as consequências de ter uma lesão em

ambientes de cuidados de saúde. Não foi encontrada nenhuma evidência de que qualquer

intervenção possa ter tido algum efeito negativo para o trabalhador.

Nelson et al. (2008) buscaram examinar a relação entre tratamento seguro dos

pacientes e medidas de qualidade de cuidados, em uma instalação de cuidados de longa

duração (lar de idosos), por meio de uma metodologia observacional e regressão linear. Os

resultados desse estudo permitiram concluir que a implementação de um programa de

tratamento de paciente seguro melhorasse significativamente a qualidade da assistência aos

pacientes (residentes) para alguns indicadores de qualidade de atendimento. Após a

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59

implementação desse programa, o funcionamento físico dos residentes aumentou, o número

daqueles que relataram pouca ou nenhuma atividade durante o dia diminuiu, o número de

quedas entre residentes diminuiu, e os pacientes ficaram mais atentos pela manhã. No entanto,

não foram capazes de mostrar uma melhora significativa nos indicadores de humor e

comportamento ou na cognição.

Nelson et al. (2006), em outra pesquisa, publicada em 2006, nos Estados Unidos,

denominada “Development and evaluation of a multifaceted ergonomics program to prevent

injuries associated with patient handling tasks”, objetivavam o seguinte: 1) criar ambientes

de trabalho mais seguros para o pessoal de enfermagem que prestava assistência direta ao

paciente, 2) projetar e implementar um programa multifacetado de ergonomia, tecnologia e

melhoria da segurança baseado em evidência, e 3) avaliar o impacto deste programa na taxa

de lesões, dias de trabalho perdidos, satisfação no trabalho, atos inseguros de manipulação do

paciente, o nível de apoio ao programa, e aceitação de funcionários e paciente, a eficácia do

programa, custos e retorno sobre o investimento.

Como resultados mostraram que a taxa de lesões pós-intervenção diminuiu em 15 das

23 unidades, aumentou em sete unidades e manteve-se a mesma em uma unidade, portanto

obtiveram resultados positivos. No entanto, o número total de dias de trabalho perdidos

diminuiu apenas 18% pós-intervenção, o que não foi considerada uma diferença

estatisticamente significante para o autor. Assim, o programa foi bem aceito pelos pacientes e

bem-sucedido no curto prazo, mas mais pesquisas são necessárias para avaliar o impacto do

programa, a longo prazo.

Retsas e Pinikahana (2000) identificaram padrões de atividades de manipulação

manual, suas lesões e as consequências associadas, entre enfermeiros que trabalham em um

grande centro médico de referência e ensino em Melbourne, Austrália, por meio de um

questionário de 140 itens de autorrelato. Com isso, os autores evidenciaram que 40% dos

enfermeiros relataram possuir/ter sido acometidos de uma lesão associada à atividade de

manuseio manual, dos quais 75% a 89% incluíam lesões nas costas. Aproximadamente um

terço (34%) de todas as lesões foi associada com o transporte de pacientes e essa atividade

compreendia metade de todas as causas associadas a lesões decorrentes de atividades diretas

de atendimento ao paciente.

Os demais estudos também limitaram-se aos aspectos físicos, como, por exemplo,

reduzir o estresse nas costas do pessoal de enfermagem enquanto realizavam tarefas de

manuseio de pacientes entre a cama e a cadeira de rodas e vice-versa, avaliar o risco de lesões

lombares em manipuladores de pacientes realizando diferentes tarefas de manipulação e

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60

analisar as forças à coluna lombar, quando utilizam equipamentos auxiliares (MARRAS;

KNAPIK; FERGUSON, 2009; MARRAS et al., 1999; GARG et al., 1991; KEIR;

MACDONELL, 2004). E, embora o(s) autore(s) não tenham feito relação entre as lesões

lombares nos manipuladores do paciente, essas lesões fragilizam o sistema osteomuscular

desses trabalhadores, fazendo com que eles tenham menos firmeza na manipulação, podendo

colocar em risco a segurança do paciente, que pode sofrer quedas, sentir dores maiores

durante a manipulação entre outros problemas.

Belela, Peterlini e Pedreira (2010) evidenciaram uma série de fatores que se

relacionavam com as equipes de trabalho em saúde, tais como a carga de trabalho dos

profissionais, o estresse e as características do ambiente da prática de trabalho, que podem

acarretar eventos adversos. Assim, pode-se deduzir, à luz das evidências encontradas pelos

autores, que a equipe de trabalho formada pelos profissionais responsáveis pelo transporte e

transferência dos pacientes, os maqueiros, exercem um papel fundamental nesse processo de

trabalho, podendo contribuir para a prevenção e minimização da ocorrência de eventos

adversos e a consequente melhoria da segurança do paciente. Para tanto, é fundamental

gerenciar os fatores de carga de trabalho, o estresse e a qualidade do ambiente de trabalho e

das práticas desses profissionais.

Há muitos estudos que consideram os enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos

como elementos importantes para saúde e segurança do paciente, como os estudos de Silva

(2010) e Fassini e Hahn (2012), mas há uma escassez de pesquisas na área que considerem os

maqueiros.

Diante do que foi visto, pode-se observar que os temas ergonomia, transporte de

pacientes e segurança do paciente são encontrados nas pesquisas com duplas associações

(ergonomia-segurança do paciente; transporte do paciente-segurança do paciente; ergonomia-

transporte do paciente), sendo que a tripla associação (ergonomia-transporte do paciente-

segurança do paciente) é um diferencial na presente pesquisa.

Observa-se que a maior parte das pesquisas estão relacionados apenas com lesões

lombares e sintomas osteomusculares presentes na atividade de manuseio de pacientes, e

poucas relacionam tais fatores com os eventos adversos e a segurança do paciente.

Além disso, a maioria das pesquisas encontradas restringem-se ao aspecto físico da

ergonomia, sendo que a presente pesquisa buscará identificar e analisar os contrantes

temporais e físicos da atividade de transporte e transferência dos pacientes, que podem gerar

ou contribuir para a ocorrência de eventos adversos, impactando na segurança do paciente.

Nesta pesquisa, também, buscar-se-á analisar a efetividade das estratégias utilizadas pelos

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maqueiros da unidade de saúde em foco, para gerenciar as variabilidades e contrantes da

atividade, no sentido de minimizar ou prevenir a ocorrência dos EAs e, consequentemente,

melhorar a segurança do paciente.

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62

4 ASPECTOS LEGAIS E NORMATIVOS RELACIONADOS À PESQUISA

Este capítulo destina-se a apresentar as legislações e as normas aplicáveis em nível

nacional para regulamentar o funcionamento do SUS e a função do maqueiro.

4.1 Aspectos legais da enfermagem e a relação com a função de maqueiro

O órgão incumbido de normatizar e fiscalizar o exercício da profissão de enfermeiros,

técnicos e auxiliares de enfermagem no Brasil é o Conselho Federal de Enfermagem

(COFEN), fundado em 1973, juntamente com os seus respectivos Conselhos Regionais

(CORENs), por meio da Lei 5.905, devendo zelar pela qualidade dos serviços prestados.

Conforme determina o COFEN, em sua Resolução n.º 376/2011, no Art. 1º, “os

profissionais de Enfermagem participam do processo de transporte do paciente em ambiente

interno aos serviços de saúde”

De acordo, ainda, com o Art. 1º, inciso I desta Resolução, na etapa de planejamento,

deve o Enfermeiro da Unidade de origem:

a) avaliar o estado geral do paciente;

b) antecipar possíveis instabilidades e complicações no estado geral do paciente;

c) prover equipamentos necessários à assistência durante o transporte;

d) prever necessidade de vigilância e intervenção terapêutica durante o transporte;

e) avaliar distância a percorrer, possíveis obstáculos e tempo a ser despendido até o destino;

f) selecionar o meio de transporte que atenda às necessidades de segurança do paciente;

g) definir o(s) profissional(is) de Enfermagem que assistira(ão) o paciente durante o

transporte;

h) realizar comunicação entre a Unidade de origem e a Unidade receptora do paciente;

De acordo com o Art. 3º da referida Resolução, “não compete aos profissionais de

Enfermagem a condução do meio (maca ou cadeira de rodas) em que o paciente está sendo

transportado”.

Segundo o Art. 4º, “todas as intercorrências e intervenções de Enfermagem durante o

processo de transporte devem ser registradas no prontuário do paciente”.

Tendo em vista o que consta na Resolução n.º 376/2011, não compete aos enfermeiros

a atividade de transporte de pacientes, e qualquer intercorrência e intervenção de Enfermagem

durante esse processo deve ser registrada no prontuário do paciente, podendo os técnicos de

enfermagem fazê-lo.

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É válido ressaltar que o maqueiro hospitalar está incluído na classe de trabalhadores

dos Serviços de Promoção e Apoio à Saúde, sob o código 5155, com o título de Atendente de

Enfermagem, derivação 10, completando o código de ocupação como 5151-10, definido por

meio da Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, estabelecido pelo Ministério do

Trabalho e Emprego, que é o órgão responsável por regulamentar as profissões no Brasil,

obedecendo à Lei nº 7.183, de 05 de abril de 1984, Lei nº 9.615, de 25 de março de 1998 e

Portaria n.º 397, de 09/10/2002.

4.2 Movimentação e Transporte de paciente: norma regulamentadora brasileira

No Brasil, não há uma norma especifica para a movimentação e o transporte de

pacientes no ambiente hospitalar, no entanto, tem-se a Norma Regulamentadora 17 (NR-17),

que é a responsável por determinar os parâmetros que relacionam as características

psicofisiológicas dos indivíduos e as suas condições de trabalho, de maneira que garanta o

conforto e segurança dos profissionais, além de preocupar-se com o seu desempenho

eficiente.

No tocante às condições de trabalho e ao levantamento, transporte e descarga de

material ou carga, essa norma estabelece os seguintes pontos:

• 17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento,

transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições

ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho.

• 17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga

é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a

deposição da carga.

• 17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de

maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de

cargas.

• 17.2.6. O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração de

vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico deverão

ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja

compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua

segurança.

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64

• 17.3.5. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser

colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os

trabalhadores durante as pausas.

Assim, tais pontos dessa norma devem ser levados em consideração, ao analisar-se

atividade de trabalho dos maqueiros, uma vez que, apesar de não ser uma norma específica

para tal profissional, serve como base de referência, pois trata-se de uma norma de nível geral

destinada a qualquer atividade que envolva transporte e movimentação de carga, em que se

inclui, nesse caso, o transporte de pacientes realizado pelos maqueiros.

4.3 Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde: norma

regulamentadora brasileira

A Norma Regulamentadora 32 (NR-32), denominada Segurança e Saúde no Trabalho

em Estabelecimentos de Saúde, quanto ao seu objetivo e campo de aplicação, visa estabelecer

as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos

trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção

e assistência à saúde em geral, como é o caso dos maqueiros, entendendo-se por serviços de

saúde qualquer edificação destinada à prestação de assistência à saúde da população, e todas

as ações de promoção, recuperação, assistência, pesquisa e ensino em saúde em qualquer

nível de complexidade.

Diante disso, quanto aos riscos biológicos previstos no tópico 32.2 desta norma,

destacam-se os seguintes quesitos:

• 32.2.4.3 Todo local onde exista possibilidade de exposição ao agente biológico deve

ter lavatório exclusivo para higiene das mãos provido de água corrente, sabonete

líquido, toalha descartável e lixeira provida de sistema de abertura sem contato

manual;

• 32.2.4.3.2 O uso de luvas não substitui o processo de lavagem das mãos, o que deve

ocorrer, no mínimo, antes e depois do usá-las;

• 32.2.4.4 Os trabalhadores com feridas ou lesões nos membros superiores só podem

iniciar suas atividades após avaliação médica obrigatória com emissão de documento

de liberação para o trabalho;

• 32.2.4.5 O empregador deve vedar:

a) a utilização de pias de trabalho para fins diversos dos previstos;

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65

b) o ato de fumar, o uso de adornos e o manuseio de lentes de contato nos postos de

trabalho;

c) o consumo de alimentos e bebidas nos postos de trabalho;

d) a guarda de alimentos em locais não destinados para este fim;

e) o uso de calçados abertos.

• 32.2.4.6 Todos os trabalhadores com possibilidade de exposição a agentes biológicos

devem utilizar vestimenta de trabalho adequada e em condições de conforto.

• 32.2.4.6.1 A vestimenta deve ser fornecida sem ônus para o empregado.

• 32.2.4.6.2 Os trabalhadores não devem deixar o local de trabalho com os

equipamentos de proteção individual e as vestimentas utilizadas em suas atividades

laborais.

• 32.2.4.7 Os Equipamentos de Proteção Individual - EPI, descartáveis ou não, deverão

estar à disposição em número suficiente nos postos de trabalho, de forma que seja

garantido o imediato fornecimento ou reposição.

• 32.2.4.8 O empregador deve garantir a conservação e a higienização dos materiais e

instrumentos de trabalho;

• 32.2.4.9.1 A capacitação deve ser adaptada à evolução do conhecimento e à

identificação de novos riscos biológicos e deve incluir:

a) os dados disponíveis sobre riscos potenciais para a saúde;

b) medidas de controle que minimizem a exposição aos agentes;

c) normas e procedimentos de higiene;

d) utilização de equipamentos de proteção coletiva, individual e vestimentas de

trabalho;

e) medidas para a prevenção de acidentes e incidentes;

f) medidas a serem adotadas pelos trabalhadores no caso de ocorrência de incidentes e

acidentes;

• 32.2.4.13 Os colchões, colchonetes e demais almofadados devem ser revestidos de

material lavável e impermeável, permitindo desinfecção e fácil higienização;

• 32.2.4.13.1 O revestimento não pode apresentar furos, rasgos, sulcos ou reentrâncias.

Essa norma ainda estabelece em suas disposições gerais, presentes no tópico 32.10, os

seguintes pontos:

• 32.10.1 Os serviços de saúde devem:

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66

a) atender as condições de conforto relativas aos níveis de ruído previstas na NB 95 da

ABNT;

b) atender as condições de iluminação conforme NB 57 da ABNT;

c) atender as condições de conforto térmico previstas na RDC 50/02 da ANVISA;

d) manter os ambientes de trabalho em condições de limpeza e conservação.

• 32.10.2 No processo de elaboração e implementação do PPRA e do PCMSO devem

ser consideradas as atividades desenvolvidas pela Comissão de Controle de Infecção

Hospitalar – CCIH do estabelecimento ou comissão equivalente.

• 32.10.3 Antes da utilização de qualquer equipamento, os operadores devem ser

capacitados quanto ao modo de operação e seus riscos.

• 32.10.4 Os manuais do fabricante de todos os equipamentos e máquinas, impressos em

língua portuguesa, devem estar disponíveis aos trabalhadores envolvidos.

• 32.10.5 É vedada a utilização de material médico-hospitalar em desacordo com as

recomendações de uso e especificações técnicas descritas em seu manual ou em sua

embalagem.

• 32.10.8 Os postos de trabalho devem ser organizados de forma a evitar deslocamentos

e esforços adicionais.

• 32.10.9 Em todos os postos de trabalho devem ser previstos dispositivos seguros e

com estabilidade, que permitam aos trabalhadores acessar locais altos sem esforço

adicional.

• 32.10.10 Nos procedimentos de movimentação e transporte de pacientes deve ser

privilegiado o uso de dispositivos que minimizem o esforço realizado pelos

trabalhadores.

• 32.10.11 O transporte de materiais que possa comprometer a segurança e a saúde do

trabalhador deve ser efetuado com auxílio de meios mecânicos ou eletromecânicos.

• 32.10.12 Os trabalhadores dos serviços de saúde devem ser:

a) capacitados para adotar mecânica corporal correta, na movimentação de pacientes

ou de materiais, de forma a preservar a sua saúde e integridade física;

b) orientados nas medidas a serem tomadas diante de pacientes com distúrbios de

comportamento.

• 32.10.13 O ambiente onde são realizados procedimentos que provoquem odores

fétidos deve ser provido de sistema de exaustão ou outro dispositivo que os

minimizem.

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67

• 32.10.14 É vedado aos trabalhadores pipetar com a boca.

• 32.10.15 Todos os lavatórios e pias devem:

a) possuir torneiras ou comandos que dispensem o contato das mãos, quando do

fechamento da água;

b) ser providos de sabão líquido e toalhas descartáveis para secagem das mãos.

Destacam-se ainda, nas disposições finais, encontradas no tópico 32.11, os seguintes

subtópicos:

• 32.11.1 A observância das disposições regulamentares constantes dessa Norma

Regulamentadora - NR não desobriga as empresas do cumprimento de outras

disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em códigos ou regulamentos

sanitários dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, e outras oriundas de

convenções e acordos coletivos de trabalho, ou constantes nas demais NR e legislação

federal pertinente à matéria.

• 32.11.2 Todos os atos normativos mencionados nesta NR, quando substituídos ou

atualizados por novos atos, terão a referência automaticamente atualizada em relação

ao ato de origem.

• 32.11.4 A responsabilidade é solidária entre contratantes e contratados, quanto ao

cumprimento desta NR.

4.4 Lei 8080/1990 (Lei Orgânica da Saúde - LOS)

A Constituição Federal de 1988 determinou que a saúde é um direito fundamental de

toda população, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício,

determinando a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). O Congresso Nacional aprovou a

Lei Orgânica da Saúde (LOS), que detalha e regulamenta o funcionamento do SUS. Esta lei

foi publicada no Diário Oficial da União em 20 de setembro de 1990.

Em seu Art. 1º, essa Lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de

saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas

naturais ou jurídicas de direito público ou privado (BRASIL, 1990).

No seu Art. 2º, a lei determina a saúde como um direito fundamental do ser humano,

devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. Para isso, o

Estado deve compreender que garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas

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68

econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no

estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos

serviços para a sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1990). No entanto, o dever

do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade (BRASIL, 1990).

O Art. 5º dessa lei trata dos objetivos do Sistema Único de Saúde, elencando: a

identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; a formulação

de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a observância do

disposto no § 1º do art. 2º desta lei; a assistência às pessoas por intermédio de ações de

promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações

assistenciais e das atividades preventivas (BRASIL, 1990).

No Art. 6º da lei estão incluídas, ainda no campo de atuação do Sistema Único de

Saúde:

I - A execução de ações: a) de vigilância sanitária; b) de vigilância epidemiológica; c)

de saúde do trabalhador; e d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;

II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento

básico;

III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde;

IV - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho;

V - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a

saúde;

VI - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e

tecnológico;

VII - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados.

O capítulo 3 da referida lei trata da organização, da direção e da gestão. De acordo

com o Art. 8º desse capítulo da lei, as ações e serviços de saúde executados pelo Sistema

Único de Saúde - SUS, seja diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa

privada, serão organizados de forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade

crescente (BRASIL, 1990).

Ainda no capítulo 3, no Art. 9º, registra-se que a direção do Sistema Único de Saúde -

SUS é única, de acordo com o inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo exercida em

cada esfera de governo pelos seguintes órgãos: no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde;

no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão

Page 69: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

69

equivalente; e no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão

equivalente (BRASIL, 1990).

No capítulo 7, denominado de subsistema de acompanhamento durante o trabalho de

parto, parto e pós-parto imediato, (Capítulo acrescido pela Lei nº 11.108, de 7/4/2005)

determina-se que os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde, da rede própria ou

conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um)

acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato

(BRASIL, 1990).

4.5 Resolução de diretoria colegiada – RDC nº 36

Esta resolução, de 26 de julho de 2013, tem por objetivo instituir ações para a

promoção da segurança do paciente e a melhoria da qualidade nos serviços de saúde, sejam

eles públicos, privados, filantrópicos, civis ou militares, incluindo aqueles que exercem ações

de ensino e pesquisa.

Esta resolução, em sua seção III, conceitua os principais termos que aparecem ao

longo de seus capítulos, sendo eles: boas práticas de funcionamento do serviço de saúde;

cultura de segurança; dano; evento adverso; garantia da qualidade; gestão de risco; incidente;

núcleo de segurança do paciente; plano de segurança do paciente em serviços de saúde,

serviço de saúde e tecnologia em saúde.

O capítulo II, seção I, destina-se à obrigatoriedade da criação do NSP pela direção do

serviço de saúde (arto 4o) e estabelece que devem ser disponibilizados para o seu

funcionamento sistemático e contínuo, recursos humanos, financeiros, equipamentos, insumos

e materiais, bem como um profissional responsável pelo NSP com participação nas instâncias

deliberativas do serviço de saúde (arto 5o). No referido capítulo também são estabelecidas

todas as competências do NSP (arto 7o), além dos seus princípios e diretrizes (arto 6o), que são:

I – A melhoria contínua dos processos de cuidado e do uso de tecnologias da saúde;

II – A disseminação sistemática da cultura de segurança;

III – A articulação e a integração dos processos de gestão de risco;

IV – A garantia das boas práticas de funcionamento do serviço de saúde.

Na seção seguinte, tem-se informações a respeito do Plano de Segurança do Paciente

em Serviços de Saúde, que deve ser elaborado pelo NSP, visando estabelecer estratégias e

Page 70: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

70

ações de gestão de risco (arto 8o), conforme as atividades desenvolvidas pelo serviço de saúde,

para:

I – Identificação, análise, avaliação, monitoramento e comunicação dos riscos no

serviço de saúde, de forma sistemática;

II – Integrar os diferentes processos de gestão de risco desenvolvidos nos serviços de

saúde;

III – Implementação de protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde;

IV – Identificação do paciente;

V – Higiene das mãos;

VI – Segurança cirúrgica;

VII – Segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos;

VIII – Segurança na prescrição, uso e administração de sangue e hemocomponentes;

IX – Segurança no uso de equipamentos e materiais;

X – Manter registro adequado do uso de órteses e próteses quando este procedimento

for realizado;

XI – Prevenção de quedas dos pacientes;

XII – Prevenção de úlceras por pressão;

XIII – Prevenção e controle de eventos adversos em serviços de saúde, incluindo as

infecções relacionadas à assistência à saúde;

XIV– Segurança nas terapias nutricionais enteral e parenteral;

XV – Comunicação efetiva entre profissionais do serviço de saúde e entre serviços de

saúde;

XVI – Estimular a participação do paciente e dos familiares na assistência prestada;

XVII – Promoção do ambiente seguro.

O capítulo 3 dessa resolução fala a respeito da vigilância, do monitoramento e da

notificação de eventos adversos, que devem ser realizados mensalmente pelo NSP, por meio

das ferramentas eletrônicas disponibilizadas pela Anvisa (arto 10o). No caso de eventos

adversos levarem o paciente a óbito, devem ser notificados em até 72 horas a partir do

ocorrido (parágrafo único do arto 10o). Compete a Anvisa (arto 11o):

I – Monitorar os dados sobre eventos adversos notificados pelos serviços de saúde;

II – Divulgar relatório anual sobre eventos adversos com a análise das notificações

realizadas pelos serviços de saúde;

Page 71: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

71

III – Acompanhar, junto às vigilâncias sanitárias distrital, estadual e municipal as

investigações sobre os eventos adversos que evoluíram para óbito.

O quarto e último capítulo desta resolução refere-se às disposições finais e transitórias,

citando que o descumprimento das disposições contidas nesta Resolução constitui infração

sanitária, nos termos da Lei n. 6.437, de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo das

responsabilidades civil, administrativa e penal cabíveis.

Page 72: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

72

5 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta a metodologia adotada para o desenvolvimento da presente

pesquisa, expondo suas classificações, segundo os aspectos da natureza, da forma de

abordagem do problema, dos objetivos e dos procedimentos técnicos, apontando os fatores

que a qualificam como tal, além de definir o local da pesquisa e caracterizar a sua população e

a amostra. Posteriormente, foi abordado o método empírico utilizado na pesquisa,

caracterizando a forma de levantamento dos dados bibliográficos, documentais e de campo e

o tratamento e análise dos dados.

5.1 Classificação da pesquisa

A classificação de uma pesquisa pode se dar em diferentes perspectivas ou pontos de

vistas. Berto e Nakano (2014) classificam-na quanto à natureza, podendo ser básica ou

aplicada, quanto à abordagem, que se subdivide em quantitativa, qualitativa ou ainda em uma

combinação de ambas, formando a abordagem mista, quanto aos objetivos, podendo ser de

caráter exploratório, descritivo ou explicativo, e quanto ao procedimento, pode ser um estudo

de caso, uma modelagem, um levantamento (survey), uma simulação, um estudo de campo,

um experimento ou um estudo teórico/conceitual. O Quadro 6, a seguir, sintetiza essas

classificações da pesquisa.

Quadro 5 – Classificações da pesquisa

Quanto à natureza Quanto à abordagem Quanto aos objetivos Quanto aos

procedimentos

Básica

Quantitativa Exploratório

Estudo de caso

Modelagem

Survey

Aplicada

Qualitativa Descritivo Simulação

Estudo de campo

Mista Explicativo Experimento

Teórico/conceitual

Fonte: Adaptado Berto e Nakano (2014)

As subseções apresentadas a seguir detalharão a classificação desta pesquisa, de

acordo com as perspectivas supracitadas.

Page 73: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

73

5.1.1 Quanto à natureza

Para Vergara (2003), uma pesquisa caracteriza-se como aplicada, quando é motivada

pela necessidade de se resolver problemas (demandas) concretos, mais imediatos ou não,

tendo uma finalidade prática, ao contrário da pesquisa básica (pura), configurada,

basicamente, pela curiosidade intelectual do pesquisador e situada no nível de especulação.

Assim, a presente pesquisa é definida como aplicada, uma vez que se fundamentou, a partir da

demanda real explicitada pela MEJC e negociada, que consiste em se analisar a atividade dos

maqueiros da Maternidade-escola, buscando identificar os determinantes dessa atividade

laboral que impactam na segurança dos pacientes.

5.1.2 Quanto à abordagem

Por muito tempo houve um entendimento de que as abordagens quantitativas

(experimentais e objetivas) e as abordagens qualitativas (interpretativas e subjetivas) eram

opostas e excludentes, no entanto, atualmente, há uma flexibilidade de tais abordagens,

permitindo a existência de procedimentos metodológicos combinados, ou seja, mistos, que,

por sua vez, possibilitam estudos mais significativos sob quaisquer que sejam as perspectivas

e áreas do conhecimento (BERTO; NAKANO, 2014). Deste modo, esta pesquisa classifica-se

como de abordagem mista, tendo em vista que adotou, por um lado, uma abordagem

qualitativa, pois considerou os elementos interpretativos e subjetivos nas entrevistas e

conversações aplicadas aos maqueiros e gestores (Apêndices A, B, C e G) e, também, coletou,

nas observações abertas e sistemáticas, aspectos da realidade que não podem ser

quantificados. Exemplos dos dados qualitativos que foram levantados nesta pesquisa são as

opiniões dos maqueiros a respeito dos pontos negativos e positivos do seu trabalho, as

opiniões dos pacientes e acompanhantes a respeito do transporte de paciente na MEJC.

Também, por outro lado, adotou uma abordagem quantitativa, pois levantou dados

quantitativos através dos questionários que foram aplicados aos maqueiros e pacientes

(Anexos A e B). Exemplo desses dados quantitativos são peso, altura etc.

Page 74: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

74

5.1.3 Quanto aos objetivos

Segundo Prodanov e Freitas (2013), uma pesquisa é caracterizada como descritiva

quando o pesquisador registra os fatos que estão sendo observados, descrevendo as

características de determinado fenômeno, podendo ainda estabelecer relações entre variáveis.

Para mostrar/explicar como determinado fenômeno se manifesta, foram realizadas

avaliações (avaliando os equipamentos utilizados, as condições das instalações, e etc.) e coleta

de dados, utilizando-se de técnicas específicas e padronizadas, que podem ser identificadas

pelos questionários (Anexos A e B, Apêndice E e F), pelo Plano de observação sistemática

(Apêndice D) e pelas entrevistas e conversações (Apêndice A, B e C) que foram aplicadas.

A pesquisa exploratória permite uma maior familiaridade entre o pesquisador e o tema

pesquisado, sendo necessário que o pesquisador inicie um processo de sondagem, para

aprimorar ideias, descobrir intuições e, posteriormente, construir hipóteses, sendo que a

pesquisa explicativa registra fatos, analisa-os, interpreta-os e identifica suas causas.

(PRODAVOV; FREITAS, 2013).

Considerando as definições e características de tais pesquisas, pode-se constatar que a

presente pesquisa enquadra-se como de caráter descritivo, pois houve o registro de fatos que

foram observados e descritos, como o curso da ação da atividade dos maqueiros, além da

aplicação de questionários com maqueiros e pacientes, bem como uma entrevista com o

gestor do setor, podendo ainda estabelecer relações entre essas variáveis, de caráter

exploratório, uma vez que foi desenvolvida uma análise global da maternidade e do setor

específico, a fim de instruir melhor a demanda de pesquisa e construir as hipóteses de

pesquisa, e de caráter explicativo, pois, com os registro anteriores, foram feitas análises que

buscaram identificar suas causas.

5.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos

Para Yin (2015), uma investigação pode se configurar como estudo de caso, quando se

deseja compreender fenômenos sociais complexos e ter uma perspectiva holística e de eventos

do mundo real. De maneira complementar a essa ideia, Gil (2008) atesta que o estudo de caso

é caracterizado também por um estudo profundo e até exaustivo de um ou de poucos

fenômenos, até que os torne altamente delineados, fazendo perguntas do tipo “como” ou “por

que”. É importante ressaltar, que, no estudo de caso, o pesquisador exerce pouco ou nenhum

controle sobre os fenômenos estudados, ou seja, o seu papel é obter informações do

Page 75: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

75

fenômeno, a partir da opinião dos indivíduos, coletando evidências que possam auxiliar na

interpretação do ambiente estudado (GANGA, 2012). Para Berto e Nakano (2014), o estudo

de caso define-se pela descrição e análise aprofundada de um ou mais objetos de

observação (casos), permitindo a interação entre pesquisador e objeto de pesquisa, devendo

ter o uso de múltiplos instrumentos de coleta de dados.

Desta forma, como foi realizada uma análise ergonômica do trabalho dos maqueiros

na MEJC, esta pesquisa caracteriza-se, quanto aos seus procedimentos, como estudo de caso,

pelo fato de enquadrar-se em tais características supracitadas.

Tal estudo pode, ainda, ser classificado com estudo de campo, que segundo Berto e

Nakano (2014), ocorre, quando há o emprego de outros métodos de pesquisa (principalmente

com dados primários de natureza qualitativa) ou uso de dados primários sem estruturação

formal do método de pesquisa. Segundo Gil (2008), o estudo de campo pretende estudar um

único grupo ou comunidade. Esta pesquisa foi realizada nas dependências de uma

maternidade e buscou ressaltar a relação entre seus componentes, utilizando-se de técnicas

observacionais (curso da ação dos maqueiros) e interacionais (questionários, conversações)

com maqueiros, gestores e pacientes.

5.2 Local da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, na Maternidade

Escola Januário Cicco – MEJC (Figura 5), localizada na Avenida Nilo Peçanha, número 259,

no bairro Petrópolis. A MEJC é considerada a mais importante maternidade do Estado,

pertencente à esfera pública federal e está vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do

Norte.

Figura 5 – Fachada da MEJC

Fonte: EBSERH: Ministério da educação (2018)

Page 76: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

76

5.3 População

A população da pesquisa, em um primeiro momento, compreendeu todos os dez

maqueiros da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), sendo considerado, portanto, um

estudo censitário. Estes maqueiros estão distribuídos entre os três turnos de trabalho diário

(manhã, tarde e noite) e as observações feitas com os mesmos ocorreram nos três turnos, a fim

de se verificar se havia variações entre eles, as observações abertas ocorreram entre abril e

agosto de 2019, enquanto as observações sistemáticas ocorreram no período de setembro a

novembro de 2019, assim foram realizados 60 acompanhamentos de campo, referentes às

atividades dos maqueiros, com relação ao transporte e transferência de pacientes, totalizando

90 horas de observações sistemáticas e coletas de dados.

Posteriormente, a pesquisa também envolveu as pacientes, compreendidas por toda e

qualquer mulher ou mãe que desse entrada na maternidade e fosse transportada em macas ou

em outro sistema de transporte de finalidade similar, podendo ser as mulheres/mães que

fossem parir ou realizar cirurgias e/ou endoscopias ginecológicas.

Para fins de cálculo amostral do número de pacientes que deveriam ser estudados, foi

considerado, como tamanho da população (N), o número médio de pacientes atendidos por

mês na maternidade, no ano de 2018, resultando em uma população (N) média mensal de 560

pacientes no referido ano. Assim, essa média mensal de 560 pacientes é o resultado do

número de pacientes atendidos na maternidade em todo o ano de 2018, ou seja, 6720

pacientes, divididos por 12, que é o número de meses no ano. Foram, ainda, definidos o nível

de confiança de 95% (com z = 1,96), a margem de erro (e) de 5%, o desvio padrão (p) de 0,5

e a taxa estimada de 10% não respondentes.

O cálculo do tamanho da amostra (n), referente aos usuários ou pacientes da

maternidade, que deveriam participar desta pesquisa, ou seja, que deveriam se entrevistados,

baseou-se na seguinte fórmula (LUIZ; MAGNANINI, 2000):

Sendo:

n = tamanho da amostra

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77

N = tamanho da população = 560

z = escore z do nível de confiança 95% = 1,96;

e = margem de erro = 5% = 0,05;

p = desvio padrão = 0,5.

Ao inserir, nessa fórmula, os valores referidos anteriormente, correspondentes às

respectivas variáveis, chegou-se ao tamanho da amostra (n) de 228 pacientes, que corresponde

ao número inicial de pacientes que deveriam fazer parte desta pesquisa. No entanto, foi

adicionada uma taxa de recusa de 10% dos potenciais participantes, resultando em um

tamanho amostral de 205 pacientes, que diz respeito ao número de pacientes participantes

desta pesquisa. Este valor foi considerado para duas partes da pesquisa, quais sejam:

PARTE 1: aplicação do Check list (Anexo B), que permitiu avaliar os riscos

ergonômicos presentes nos procedimentos de transporte e transferência dos pacientes,

possibilitando, dessa forma, que se faça uma descrição do tipo de assistência requerida por

esses pacientes. Tratou-se de um estudo observacional, em que foi feita uma seleção

sistemática dos períodos de observação de campo, que foi realizado nos 3 turnos de

funcionamento da MEJC pois considerou-se que poderia haver uma variação, entre eles, dos

quesitos e contextos observados. Esta parte ocorreu também no período de setembro a

novembro de 2019, havendo a aplicação de 205 check list com pacientes em diferentes

unidades e em todos os turnos.

PARTE 2: aplicação dos questionários com os pacientes e/ou acompanhantes

(Apêndice E), em que foram abordadas questões qualitativas a respeito do transporte e

transferência dos pacientes na referida maternidade, a fim de se conhecer a percepção dos

mesmos sobre o transporte de pacientes da MEJC. Assim, é importante, também, que os

questionários sejam aplicados durante os três turnos e identifique o local de aplicação, para

que se verifique se essa percepção varia de acordo com o turno e local de aplicação, dessa

maneira, esta parte também ocorreu no período de setembro a novembro de 2019, havendo a

aplicação de 205 questionários com pacientes em diferentes unidades e em todos os turnos.

5.4 Pesquisa bibliográfica e documental

Para a imersão no campo da segurança do paciente, dos eventos adversos e da

atividade dos maqueiros, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em bases de dados

acadêmicas, como Periódicos Capes e PubMed, e de órgãos governamentais, aspirando

escolher e definir as possíveis teorias e/ou conceitos que ajudassem na fundamentação teórica

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78

da pesquisa, na melhor formulação do problema, das hipóteses, dos objetivos e da

metodologia, na compreensão e explicação dos resultados, na explicitação da contribuição

teórica da pesquisa e nas reflexões sobre os trabalhos futuros sobre o tema em questão.

Também, foi realizada uma pesquisa documental referente a legislações, normas e

resoluções, no tocante ao sistema de saúde, maternidades-escolas, atividades dos maqueiros,

segurança do paciente, estatísticas e outros assuntos pertinentes.

5.5 Pesquisa Empírica (Estudo de Caso): pesquisa de campo na Maternidade Escola

Januário Cicco-MEJC

Para descrever o método adotado na pesquisa empírica, caracterizada pela pesquisa de

campo na MEJC, local do estudo de caso, primeiramente, será apresentada a construção social

a ser desenvolvida para a realização da AET e, em seguida, será descrita a AET adotada no

estudo de caso, o tratamento e a análise dos dados e os aspectos éticos relacionados com a

pesquisa empírica.

5.5.1 Construção Social-CS

Para o andamento adequado de uma ação ergonômica, Vidal (2008) defende que é

necessária uma estrutura de ação, de natureza participativa, técnica e gerencial para tal e,

portanto, propõe que haja uma interação do pesquisador (responsável pela ação ergonômica)

com vários grupos de composições distintas do local onde foi realizada a ação ergonômica,

sendo eles: Grupo de Interesse (GI), Grupos de Foco (GF´s), Grupo de Acompanhamento

(GA) e o Grupo de Suporte (GS).

Nessa pesquisa, os grupos relacionados por Vidal (2008) foram compostos da seguinte

forma:

• Grupo de Ação Ergonômica (GAE): formado pela equipe externa de

Ergonomia e pelo grupo de interesse, ou seja, o grupo de pessoas responsáveis pela ação

ergonômica na empresa. Assim, o GAE, na presente pesquisa, foi formado, pelo Grupo de

Extensão e Pesquisa em Ergonomia - GREPE da UFRN, representado pela autora deste

projeto (mestranda em Engenharia de Produção), pelo professor orientador da pesquisa, pela

gestora do Núcleo de Segurança do Paciente-NSP da maternidade estudada e pelo gestor da

hotelaria responsável pelos maqueiros da referida maternidade.

Page 79: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

79

• Grupo de Suporte (GS): fazem parte deste grupo os tomadores de decisão do

local em estudo, competindo ao GAE interagir com esse grupo durante todo o período da ação

ergonômica. Nesta pesquisa, o GS foi composto pelos gestores e funcionários que ocupam

posições-chaves no Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e o gestor da hotelaria

responsável pelos maqueiros, como também o gestor responsável pela direção da

maternidade.

• Grupo de Acompanhamento (GA): este grupo assemelha-se ao anterior, no

entanto, é formado por pessoas com autoridade técnica para tomada de decisão. Assim, nesta

pesquisa, o professor orientador deste trabalho atuou como a autoridade técnica deste grupo,

bem como o gestor do Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e o gestor da hotelaria

responsável pelos maqueiros.

• Grupos de Foco (GF’s): são formados por pessoas que participam do

levantamento de dados e da validação dos diversos momentos da análise, estabelecendo e

pontuando os momentos importantes da ação ergonômica. Nesta pesquisa, tem-se dois grupos

de foco: o Grupo de Foco 1, composto pela equipe de maqueiros da Maternidade Escola

Januário Cicco e o Grupo de Foco 2, formado pelas pacientes que iriam parir ou haviam

parido seus bebês, e pelas pacientes que iriam fazer ou haviam feito cirurgias e / ou

endoscopias ginecológicas, bem como alguns acompanhantes.

A Figura 6, a seguir, ilustra o esquema da construção social desenvolvida na pesquisa

de campo.

Figura 6 – Esquema da construção social a ser desenvolvida na MEJC

Fonte: Autora (2019)

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80

5.5.2 Análise Ergonômica do Trabalho-AET

O método científico adotado na pesquisa ou estudo de campo foi a Análise

Ergonômica do Trabalho (AET) (WISNER, 1987; GUÉRIN et al., 2001; VIDAL, 2008),

tendo como caso a ser estudado a Maternidade Escola Januário Cicco-MEJC, localizada na

cidade de Natal-RN, Brasil.

A AET foi realizada mediante o desenvolvimento da Construção Social, que permeia

todas as suas fases. Para Daniellou (2004), a AET consiste na análise da demanda, da análise

do processo técnico e da tarefa, da análise da atividade, da formulação e difusão do

diagnóstico e das recomendações ergonômicas.

Guérin et al. (2001) denomina de construção da ação ergonômica o processo de análise

ergonômica do trabalho, consistindo, nas seguintes etapas:

• Análise da demanda;

• Conhecimento do Funcionamento da empresa (Hipóteses de Nível 1);

• Escolha da ou das situações a analisar;

• Observações abertas da atividade e pré-diagnóstico (Hipóteses de Nível 2);

• Observações sistemáticas da atividade, tratamento de dados e validação;

• Diagnóstico local incidindo sobre a(s) situação(ões) analisada(s);

• Diagnóstico global incidindo sobre o funcionamento global da empresa.

Vidal (2008), por sua vez, concebe a AET, primordialmente, considerando as

seguintes etapas:

• Instrução da demanda;

• Focalização e pré-diagnóstico;

• Modelagem Operante;

• Validação e restituição;

• Resultados.

Para efeito deste projeto, foi adotada a seguinte estrutura, adaptada de Vidal (2008):

• Instrução da demanda;

• Análise global;

• Análise da atividade

o Análise focal da atividade e pré-diagnóstico;

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81

o Análise focada da atividade e diagnóstico;

• Validação e restituição;

• Especificações ergonômicas.

A Figura 7, a seguir, sintetiza a estrutura definida anteriormente, que representa os

grandes momentos da AET:

Figura 7 – Grandes Momentos da AET

Fonte: Adaptado de Vidal (2008)

Cada uma dessas etapas, evidenciadas na Figura 7, estão detalhadas nos pontos a

seguir.

a) Instrução da Demanda

Como foi visto, o processo da AET inicia-se com o surgimento da demanda, que pode

originar-se da direção da empresa ou, até mesmo, dos próprios trabalhadores, sendo, portanto,

crucial analisar e reformular a demanda por pessoas competentes para a condução do processo

da ação ergonômica (GUÉRIN et al., 2001). Segundo Carvalho e Saldanha (2001), a demanda

pode ainda não se conceber, inicialmente, a partir da empresa, isto é, quando pesquisadores

interessados em um tema buscam uma organização propondo ajudá-la a compreender e

solucionar possíveis problemas existentes, no âmbito da Ergonomia.

Este tipo de abordagem para a formulação de demandas, surgidas de um movimento

exógeno, mas que confrontada dentro da organização, é denominado pelos referidos autores

Page 82: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

82

de demanda provocada, como foi o caso da presente pesquisa, uma vez que a pesquisadora

procurou a MEJC e propôs um estudo, que despertou o interesse do setor encarregado pela

segurança do paciente na referida maternidade, por ter esse setor evidenciado problemas desta

natureza relacionados com a atividade dos maqueiros.

A instrução da demanda realizada nesta pesquisa foi conduzida por uma construção

social (VIDAL, 2008), utilizando-se de técnicas interacionais e observacionais (VIDAL,

2008), para a formulação da demanda inicial provocada e para a reformulação da demanda.

As técnicas interacionais consistiram em ações conversacionais e verbalizações

espontâneas. As interações ocorreram através de reuniões com os gestores da MEJC,

responsáveis pelo Núcleo de Segurança do Paciente-NSP, e com o gestor dos maqueiros, que

fazem parte do grupo de suporte (GS) indicado acima.

Houve, inicialmente, dois encontros na MEJC, em que estavam presentes os

representantes do Núcleo de Segurança do Paciente, três alunos do mestrado de engenharia de

produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, e o professor orientador

dos mestrandos, que é Coordenador do Grupo de Extensão e Pesquisa em Ergonomia da

UFRN.

Na primeira reunião, o professor orientador desta pesquisa fez uma explanação, para

os membros do NSP, a respeito da área de Ergonomia e sua abrangência, mostrando em que e

de que maneira as pesquisas em Ergonomia poderiam ajudar na melhoria da segurança do

paciente, ao lidar com possíveis problemas presentes em diversas atividades hospitalares,

como: lavagem de roupa hospitalar , transporte de pacientes ,

dispensação/prescrição/administração de medicamentos, classificação de riscos , banho de

pacientes etc. Esses problemas poderiam suscitar, na visão do grupo da UFRN, possíveis

demandas de ergonomia (hipóteses de demanda) a serem solucionadas, desde que tivessem,

obviamente, a validação destas hipóteses de demanda pelo NSP e concordância para

solucioná-las através da ação ergonômica, utilizando o método da AET.

Nessa mesma reunião, portanto, os membros do NSP confirmaram a existência, na

MEJC, dos problemas que acabaram de ser apresentados, destacaram a importância de estudá-

los e enfrentá-los e apontaram interesse em negociar algumas dessas demandas de pesquisa

relativas à Segurança do Paciente. Eles levantaram também outros problemas que tinham

interesse de que fossem pesquisados e solucionados, tais como estudar os processos de

higienização das mãos e de manutenção de equipamentos.

O confronto dos problemas e respectivas demandas entre os grupos de ergonomia e do

NSP resultou na negociação de três demandas ergonômicas, quais sejam: 1) estudar e

Page 83: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

83

solucionar as quedas relacionadas com o transporte de pacientes por maqueiros; 2) estudar a

atividade de classificação de riscos para minimizar os eventos adversos relacionados; 3) fazer

um diagnóstico da cultura de segurança do paciente na MEJC. A demanda ergonômica

negociada, de que trata esta pesquisa, diz respeito à de número 1: “estudar e solucionar as

quedas relacionadas com o transporte de pacientes por maqueiros”.

Após a primeira reunião, foram mantidos contatos com a Coordenação do NSP,

através de e-mails, e uma nova reunião foi marcada com um intervalo de um mês. Na segunda

reunião, houve a apresentação e discussão das propostas de pesquisa relativas às três

demandas, mas, aqui, vamos tratar somente da demanda 1, que diz respeito ao tema desta

pesquisa.

Após as discussões durante a segunda reunião, ficou entendido que a atividade dos

maqueiros reúne uma série de aspectos e que os problemas relacionados a ela vão além da

ocorrência de quedas de pacientes e que, portanto, havia outros problemas nesta atividade que

têm potencial de afetar a segurança do paciente. Face a este novo entendimento, a demanda 1

foi reformulada e negociada da seguinte maneira: “estudar e solucionar os eventos adversos

relacionados com a atividade dos maqueiros, visando à melhoria da segurança do paciente”.

Uma terceira reunião com o grupo do NSP ocorreu, aproximadamente, dois meses e

meio depois, em que estiveram presentes dois representantes do NSP, três alunos do mestrado

de Engenharia de Produção da UFRN, dois gestores de hotelaria responsáveis pelos

maqueiros, e uma gestora do Setor de Classificação de Risco (uma vez que se estava também

negociando uma demanda ergonômica relacionada a essa atividade) da maternidade.

Nessa reunião, foram novamente apresentadas as três propostas de estudo (demandas

ergonômicas), desta feita já com as devidas alterações introduzidas na demanda 1, que foram

negociadas na segunda reunião. Contudo, uma nova solicitação foi feita pelos membros do

NSP, que não alterava a formulação da demanda 1 negociada, mas implicava na forma de

encaminhar a pesquisa de campo (análise da atividade), que consistia em garantir que a

pesquisa considerasse todos os transportes e movimentações que o maqueiro executa, seja

com as mães, bebês ou mulheres que farão ou fizeram cirurgias ginecológicas.

Outro ponto abordado na reunião foi como se daria, a partir daquele momento, o livre

acesso dos pesquisadores à maternidade e suas dependências para a execução da pesquisa de

campo. Ficou definido, portanto, que o acesso dos mesmos à maternidade só seria liberado,

após protocolar e aprovar, no Comitê de Ética de Pesquisa da Plataforma Brasil, o projeto de

pesquisa relativo à demanda ergonômica negociada.

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84

Uma quarta reunião ocorreu, aproximadamente, três meses após a terceira, com o

intuito de solicitar alguns dados iniciais necessários para a pesquisa e definir onde se poderia

obtê-los-iam e quais seriam os responsáveis por fornecê-los. Nessa reunião, estiveram

presentes a pesquisadora responsável por esta pesquisa e três gestores responsáveis pelo NSP,

como pode ser visto na Figura 8.

Figura 8 – Quarta reunião para instrução da demanda entre a pesquisadora e os membros do NSP

Fonte: Autora (2019)

b) Análise Global

Para Vidal (2008), a análise global serve para ampliar o escopo inicial, ajustar os focos

e os temas, e refinar a demanda. Ainda para o referido autor, ela consiste em reconhecer o

local onde a ação ergonômica deverá produzir seus efeitos. Trata-se, portanto, de procurar

conhecer o contexto social, econômico e tecnológico da maternidade que se pretende estudar

para melhor conhecer a demanda ergonômica e as especificidades da organização (GUÉRIN

et al., 2001). Esta análise global é motivada pela demanda e pela necessidade de se formular

um pré-diagnóstico da situação de trabalho (GUÉRIN et al., 2001) dos maqueiros na

Maternidade Escola Januário Cicco – MEJC.

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85

O presente trabalho subdividiu a análise global em duas categorias: análise global da

maternidade, contendo informações gerais sobre a Maternidade Escola Januário Cicco, desde

a sua fundação, o organograma geral, os tipos de serviços, o número de atendimentos, o

fluxograma de atendimento das pacientes, o número de funcionários, e outros; e análise global

do setor de estudo, no caso o setor dos maqueiros, contendo informações especificas do setor,

como: quantidade de profissionais, jornada de trabalho, número de atendimentos,

equipamentos utilizados, normas de trabalho, etc.

Os dados da análise global da maternidade foram obtidos, principalmente, a partir de

uma entrevista com roteiro de ação conversacional (Apêndice A) realizada pela pesquisadora,

com o gestor dos maqueiros, o gestor de classificação de riscos, e gestores do NSP e, também,

por meio do site e de documentos e relatórios oficiais da maternidade.

Já os dados da análise global do setor foram obtidos, a partir da aplicação, via e-mail,

pela pesquisadora, do roteiro de ação conversacional (Apêndice B), com o gestor dos

maqueiros da empresa terceirizada que presta o serviço interno de transporte e movimentação

dos pacientes e com o gestor dos maqueiros da própria MEJC. Tais dados também foram

obtidos por meio de duas entrevistas realizadas pela pesquisadora, utilizando o roteiro de ação

conversacional (Apêndice C). Assim, a primeira entrevista foi realizada, no dia 22 de agosto

de 2018, com os três maqueiros que estavam em trabalho (no momento da entrevista) e o

responsável por atender as chamadas telefônicas referentes às demandas de transporte dos

pacientes e por repassar aos maqueiros para atendimento. A segunda entrevista foi realizada,

no dia 06 de maio de 2019, com o gestor da hotelaria e com o gestor dos maqueiros da

referida empresa terceirizada.

c) Análise da Atividade

- Análise focal da atividade (focalização da análise) e pré-diagnóstico

As fases que antecedem à análise focal da atividade – análise global e instrução da

demanda - permitem formar uma visão genérica da atividade, no entanto, de fora do seu

contexto real, sem respeitar, portanto, uma característica fundamental da AET, que é a de

considerar a atividade como sendo “situada” (VIDAL, 2008).

A focalização da análise caracteriza-se, portanto, pela confrontação das informações

obtidas nas etapas anteriores – distanciadas da situação de trabalho a analisar – com os

conhecimentos empíricos e situados obtidos diretamente nessa situação de trabalho e

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atividade (GUÉRIN et al., 2001). Para tanto, é necessário se fazer entrevistas com cada um

dos trabalhadores envolvidos, com o grupo e com o gestor direto, observações livres na

situação de trabalho e observação da documentação local (GUÉRIN et al., 2001). A

realização de conversações (VIDAL, 2008) com trabalhadores e gestores também é

recomendada. Procura-se, com isso, confrontar “o que deve ser feito com o que realmente é

feito” (GUÉRIN et al., 2001, p. 134) no contexto da situação de trabalho que foi analisada.

As primeiras investigações durante esta fase procuram conhecer o funcionamento do

processo técnico e a organização do trabalho e a relação com os constrangimentos ou

contrantes (físicos, temporais) impostos, a circulação das informações entre os operadores e

os setores, o resultado do trabalho em termos de qualidade, quantidade e modos de controle e

as modalidades de manutenção de equipamentos etc. As informações daí decorrentes ajudam

no entendimento das variabilidades presentes na atividade de trabalho, das condições de

execução, da distância com relação às normas, das dificuldades enfrentadas pelos

trabalhadores, das características dos trabalhadores, do conhecimento que eles têm da própria

saúde etc. (GUÉRIN et al., 2001).

A focalização consiste na escolha de situações de trabalho a analisar. Estas situações

são escolhidas a partir de critérios em função da problemática em questão e da estrutura da

empresa. Os critérios das escolhas devem levar em consideração as situações em que: as

queixas dos operadores são mais urgentes, as queixas ou as consequências dos problemas são

mais graves, encontra-se a amostra mais ampla dos problemas levantados, ocupam um papel

central no dispositivo e cujo funcionamento tem repercussões a montante e a jusante, que

devem ser objeto de transformações num prazo mais ou menos longo, as características sejam

estáveis durante a ação ergonômica e haja facilitação dos atores sociais para a realização da

ação ergonômica (GUÉRIN et al., 2001).

Assim, “a focalização consiste em identificar os fatores de carga de trabalho e o pré-

diagnóstico significa apontar como se processam as regulações em situação real de trabalho”

(VIDAL, 2008, p. 217).

Para Vidal (2008), a focalização da atividade é feita mediante realização de

observações abertas e conversa-ação na situação de trabalho em questão, e a formulação do

pré-diagnóstico, a partir daí, deve ser empreendida, estabelecendo-se relações causais simples

entre um dado do contexto e um dado das condições de execução naquela situação.

Nesta pesquisa, foram realizadas observações abertas, em que se observou, de maneira

preliminar, dados como: condições gerais dos equipamentos, problemas frequentes, as

divisões das tarefas, as comunicações etc.

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87

De maneira complementar, foi aplicado o roteiro de ação conversacional (Apêndice C)

com os maqueiros, bem como questionários com os gestores de transporte e transferência dos

pacientes da MEJC e da empresa terceirizada (Apêndice G), para se identificar o perfil desses

profissionais, bem como conhecer as tarefas previstas para os maqueiros e confrontar com o

que foi observado nas situações de trabalho.

Foram também aplicados questionários (Apêndice F) com os maqueiros, a fim de se

conhecer o perfil desses profissionais, suas tarefas, bem como suas demandas a respeito do

trabalho. Todos os dados obtidos das observações, roteiro de ação conversacional e

questionários foram confrontados com a instrução da demanda e a análise global para, então,

ser formulado o pré-diagnóstico.

Formular o pré-diagnóstico é, portanto, o objetivo da análise focal. O pré-diagnóstico

é de natureza qualitativa e constitui-se de um conjunto de hipóteses explicativas sobre a

atividade de trabalho. Para Guérin et al. (2001, p. 142), o pré-diagnóstico é “um enunciado

provisório de relações entre certas condições de execução do trabalho, características da

atividade e resultados da atividade”.

Assim, o pré-diagnóstico contribui para o planejamento da observação da atividade de

forma sistematizada, conforme prevê a etapa seguinte da AET, análise focada e diagnóstico.

Além de expressar “uma explicação dos problemas levantados, aponta os elementos que

deverão ser levados em conta nas transformações e justifica as investigações que vão ser

realizadas” (GUÉRIN et al., 2001, p. 142), durante a análise focada da atividade e de

formulação do diagnóstico, assunto do próximo tópico.

- Análise focada da atividade e diagnóstico

Esta é a fase da análise da atividade, de natureza qualitativa e quantitativa, que se

desenvolve a partir de observações sistemáticas da atividade e de sua descrição, visando a

objetivos específicos, que resultarão em um diagnóstico ergonômico da atividade.

Vidal (2008) elucida a importância das observações sistemáticas para o diagnóstico,

que requerem a construções de bons observáveis, subdividindo-os em três categorias básicas:

comportamentos de ação, de monitoração e comunicação, e esses, independentemente do tipo

de comportamento a observar, podem ser elementares ou compostos. Ainda para o autor, os

observáveis elementares mais comuns são as posturas, os deslocamentos, a direção do olhar e

as comunicações, sejam elas diálogos, comunicados, ordens ou sinais. Já os observáveis

compostos são as sequências das ações e a aferição do estado dos equipamentos e instalações.

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O autor ainda define outra categoria, sendo a mais específica a da Análise Ergonômica

do Trabalho (AET), que não pode ser classificada nem como elementar nem como composta,

denominada de verbalizações. As verbalizações podem ser espontâneas (partindo do

operador), provocadas (partindo da provocação do ergonomista, que faz perguntas ou

solicitações de comentários etc.), e autoconfrontadas, em que o operador é chamado para

verbalizar diante da gravação apresentada de sua própria atividade (áudio, vídeo...).

Nesta pesquisa, os observáveis definidos para a análise da atividade foram: as

posturas, as comunicações, as sequências das ações e a aferição do estado dos equipamentos e

instalações, que foram verificados por meio do Plano de Observação Sistemático (Apêndice

D), e as verbalizações, mediante a aplicação do roteiro de ação conversacional (Apêndice C).

O Plano de Observação Sistemático (Apêndice D) desenvolvido consistiu em observar

a atividade dos maqueiros de forma sistematizada considerando, além dos observáveis

definidos anteriormente, as variabilidades, os contrantes e as regulações realizadas pelos

maqueiros, durante o transporte e transferência dos pacientes. Para facilitar os registros das

observações guiadas pelo referido Plano, foi feito o registro audiovisual das atividades (curso

da ação) dos maqueiros, com utilização de câmeras de vídeo e fotográficas, que possibilitou,

depois, se verificar, dentre outros quesitos, os observáveis da atividade e analisar a atividade.

O Roteiro de ação conversacional (Apêndice C) aplicado com os maqueiros consistiu

no registro das verbalizações provocadas e autoconfrontadas sobre os assuntos relativos ao

transporte e transferência do paciente, ocorrência de eventos adversos e segurança do

paciente, visando à formulação do diagnóstico ergonômico. O questionário Nórdico

(PINHEIRO; TRÓCCOLIA; CARVALHO, 2002) foi aplicado com os maqueiros, conforme

Anexo A, para avaliar os distúrbios musculoesqueléticos relacionados com a atividade dos

maqueiros.

O check list denominado de Escala de Avaliação do Risco na Movimentação e

Transferência (RADOVANOVIC; ALEXANDRE, 2002) (Anexo B) foi aplicado com as

pacientes e preenchido pelo pesquisador. Esse instrumento permitiu avaliar os riscos

ergonômicos presentes nos procedimentos de transporte e transferência dos pacientes,

possibilitando, dessa forma, fazer uma estimativa do tipo de assistência requerida pelas

pacientes para os maqueiros.

O referido check-list prevê a coleta de dados referentes à unidade de internação e do

paciente, e contempla nove tópicos, sendo eles: peso, altura, nível de consciência e

psicomotricidade, mobilidade na cama, transferência da cama/maca ou cama/cadeira e vice-

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versa, deambulação, cateteres e equipamentos utilizados pelo paciente e ambiente. Cada

tópico contém três respectivos conceitos ou valores representados pelos números 1, 2 e 3.

A pontuação conferida a cada paciente pode variar entre 8 e 24 pontos. A faixa

referente ao intervalo entre 8 e 12 pontos significa que há pouco risco ergonômico, durante os

procedimentos de movimentação e transporte, entre 13 e 18 pontos, significa que há médio

risco, ou seja, necessita-se de planejamento, de auxílio da equipe de enfermagem e de

pequenos equipamentos, como pranchas, cintos e tábua de transferência e, entre 19 e 24

pontos, significa que há muito risco, durante os procedimentos, ou seja, necessita-se de um

rigoroso planejamento, de auxílio da equipe de enfermagem e de equipamentos mecânicos,

como, por exemplo, elevadores mecânicos.

Na análise focada da atividade também foram aplicados questionários com os

pacientes (Apêndice E), em que foram abordadas questões a respeito do transporte e da

transferência do paciente na referida maternidade e a relação com a segurança do paciente, e

para verificar a percepção deles sobre a atividade de transporte e transferência de pacientes.

d) Especificações ergonômicas

A descrição e comunicação da AET desenvolvida na MEJC foi caracterizada pelas

especificações ergonômicas, que foram expressas através de um relatório final da AET (RF-

AET), que foi entregue à MEJC para conhecimento – restituição – e validação.

O RF-AET foi restituído aos sujeitos respondentes da pesquisa, e por eles validado.

Esse documento deve apresentar uma descrição sintetizada da AET desenvolvida, com os

objetivos, com a descrição do processo de instrução da demanda, com a modelagem operante

da atividade e com as indicações das transformações que deverão ser realizadas nas situações

de trabalho analisadas (VIDAL, 2008).

Segundo Vidal (2008), o resultado mais concreto da AET é o relatório final, e deve ser

constituído de seis elementos:

• Ficha do relatório: devendo conter o título do projeto, nome completo dos integrantes,

coordenadas da equipe, supervisão (se for o caso), contato e ementa de objetivos;

• Sumário: elenca os títulos e subtítulos, permitindo uma localização mais rápida do que

se procura;

• Preliminares: neste campo deve conter informações sobre o trabalho desenvolvido,

descrever o processo de instrução da demanda, detalhar a ementa de objetivos,

enfatizar a natureza do trabalho;

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90

• Resultados: descrever de maneira geral o trabalho, fazer uma caracterização física da

situação de trabalho e dos procedimentos organizacionais e expor a modelagem

operante da atividade analisada (descrever a atividade, a situação e carga de trabalho,

bem como fazer associações dessa carga com os componentes da situação de

trabalho);

• Encaminhamentos: são as indicações de mudanças, que devem ser precisas e objetivas;

• Anexos: deve conter as notas técnicas, os instrumentos usados e os protocolos de

mensuração.

• Um outro elemento que pode ser acrescentado a esta lista são os apêndices,

constituídos de elaborações textuais e gráficos como esquemas, notas explicativas,

questionários utilizados etc., desenvolvidos pelos autores do relatório final.

e) Restituição e validação

Para Terssac (1990) apud Vidal (2008, p. 254) a AET é “um meio de confrontação,

uma vez que ela obriga os atores a discutir a representação do trabalho que ela produz”, o

autor refere-se à validação, o “aspecto técnico e integrador desse processo”, enquanto a

“restituição ao seu sentido deontológico e holístico”. A confrontação propicia a validação e

restituição desta representação.

A etapa de restituição e validação consiste em averiguar, com a população observada,

se os resultados que foram obtidos exprimem a realidade da instituição e do setor em questão.

A validação é o aspecto técnico e integrador deste processo, e a restituição o seu sentido

deontológico e holístico (VIDAL, 2008). Para efeito desta pesquisa, este processo envolveu

os gestores dos maqueiros, os membros do Núcleo de Segurança do Paciente e os próprios

maqueiros (VIDAL, 2008).

A restituição e validação foram realizadas em todas as etapas da AET, da seguinte

forma:

- Instrução da demanda: foram apresentados, aos gestores do NSP e do Setor de

Transporte e Movimentação de Pacientes e aos maqueiros, os problemas identificados na

pesquisa bibliográfica, nas observações in loco e nas conversações com os gestores e

maqueiros. Também foram apresentadas as demandas que foram formuladas por todos, bem

como suas formulações até se formular a demanda ergonômica negociada. Isto foi feito em

reuniões separadas, em que os textos com a lista de problemas e as respectivas demandas

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foram apresentadas/lidas, discutidas e validadas, por meio de apresentação dos slides

referentes ao processo de instrução da demanda, através do uso de notebook e/ou notebook

com projetor de slides, e/ou de entrega dos respectivos slides em papel impresso. A validação

final da demanda ergonômica negociada foi feita pelos gestores do NSP, considerando as

demandas específicas e as negociações efetivadas durante o processo.

- Análise global: ao longo de sua construção foi apresentada aos gestores do NSP e do

Setor de Transporte e Movimentação de Pacientes, bem como aos maqueiros por meio de

reuniões com slides mostrando os resultados que foram obtidos e os corrigindo, conforme

solicitado por eles.

- Análise da atividade (focal e focada): esta etapa foi restituída e validada por meio de

conversas com os maqueiros após cada coleta, em que foram mostrados a eles trechos de

vídeos, áudios e extratos de fala, para assim serem feitas as respectivas alterações e correções,

bem como com uma apresentação para os gestores dos maqueiros da MEJC e também da

empresa terceirizada.

- Especificações Ergonômicas: após definida as especificações ergonômicas ocorreu

uma reunião que esteve presente 2 maqueiros, bem como os gestores envolvidos na

construção social desta pesquisa, tanto dos maqueiros como do Núcleo de Segurança do

Paciente.

5.6 Tratamento e análise de dados

Todos os dados coletados por meio dos roteiros de ação conversacional (Apêndices A,

B e C), utilizados, principalmente, para a análise global foram organizados de forma

sistemática para realização de uma análise detalhada, assim, para esse tratamento e análise, foi

utilizado um software online de reconhecimento de voz e tradução instantânea de voz da web,

denominado de Speechlogger.

De forma complementar, após essas transcrições e organizações, os dados foram

importados para software ATLAS.ti, responsável por facilitar a análise sistemática de dados

qualitativos, oriundos de discussões feitas com os grupos focais, entrevistas e outros tipos de

dados, incluindo áudio/vídeos.

A tabulação das informações quantitativas obtidas por meio dos questionários (Anexo

A, B e Apêndices E, F), bem como do Plano de Observação Sistemático da atividade

(Apêndice D), foi realizada com o auxílio de planilhas eletrônicas do software MicroSoft

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Excel® e salvos em formato .txt. Os aspectos qualitativos foram importados para o software

ATLAS.ti.

5.7 Aspectos éticos da pesquisa

Um projeto de pesquisa que envolve seres humanos possui aspectos éticos, sendo

necessário discuti-los para cumprir as determinações éticas previstas na Resolução nº

466/2012, que diz respeito ao aspecto bioético das pesquisas, à garantia da dignidade humana

e à proteção devida aos participantes das pesquisas, procurando estimular o desenvolvimento

e o engajamento ético, inerente ao desenvolvimento científico e tecnológico, respeitando a

dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano.

Entende-se por pesquisa com seres humanos, toda e qualquer pesquisa que envolve o

ser humano, direta ou indiretamente, devendo assegurar, dentro dos seus procedimentos,

confidencialidade, privacidade, proteção de imagem, não estigmatizar, não utilizar

informações que causem algum prejuízo aos indivíduos estudados. Assim, as exigências

éticas fundamentais e científicas devem ser respeitadas (MELO; LIMA, 2004). Algumas

destas encontra-se na Quadro 6.

Quadro 6 – Exigências éticas fundamentais

Fonte: Melo e Lima (2004)

O projeto de pesquisa inicial, que resultou no projeto de qualificação de mestrado e

nesta dissertação, foi submetido ao Comitê de Ética da Plataforma Brasil, no dia 08/04/2019 e

foi aprovado no dia 03/05/2019, recebendo o Certificado de Apresentação para Apreciação

Ética (CAAE) sob o número 08910118.0.0000.5292. Para tanto, alguns documentos foram

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93

exigidos, como, por exemplo, o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE)

(Apêndice H), que exprime que a vontade e decisão do voluntário em participar da pesquisa

deverá ser respeitada, o Termo de Autorização para Uso de Imagens, incluindo Fotos e

Vídeos (Apêndice I), bem como o Termo de Compromisso do Pesquisador para com a

Pesquisa (Apêndice J).

Os riscos associados à realização desta pesquisa são considerados mínimos, sendo

eles, o de causar constrangimentos aos profissionais maqueiros, aos pacientes e aos

acompanhantes, durante a realização das entrevistas ou na aplicação dos questionários, bem

como acontecer algum desconforto, ansiedade e/ou estresse devido à temática abordada.

Diante de sua ocorrência, o pesquisador assume a responsabilidade de dar assistência integral

às complicações e danos decorrentes dos riscos previstos, bem como, também, ao

ressarcimento e/ou indenizações, caso comprovado sua necessidade. Durante as entrevistas

e/ou questionários, o participante pode pausar a qualquer momento, bem como estar livre para

desistir de participar da presente pesquisa.

Quanto aos benefícios desse estudo, pode-se incluir o aumento do atual contexto de

conhecimento a respeito do trabalho dos maqueiros e sua relação com a segurança do

paciente, o que pode auxiliar na melhoria dos serviços prestados aos pacientes e na melhoria

da saúde e segurança do profissional, uma vez que o número de pesquisas desse tipo é escasso

no mundo, e na maternidade em questão nunca houve um estudo com tais profissionais,

principalmente, envolvendo os pacientes e acompanhantes no processo de pesquisa.

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6 CARACTERIZAÇÃO DA MATERNIDADE

Este capítulo expõe a análise global da Maternidade Escola Januário Cicco, bem como

os dados específicos coletados do setor estudado (maqueiros). Para a realização da análise

global, foram realizadas observações in loco e entrevistas semiestruturadas e conversações

(VIDAL, 2008) com os gestores do hospital responsáveis pelo Núcleo de Segurança do

Paciente-NSP e pelo setor da atividade dos maqueiros, respectivamente.

6.1 Análise global da maternidade

6.1.1 Histórico da Maternidade-escola

A MEJC teve sua construção iniciada no ano de 1932 e terminada no início da década

de 1940. Mas, somente em 1950, houve, de fato, a inauguração da Maternidade de Natal, pois

esse prédio foi cedido, entre os anos de 1941 e 1947, para o Ministério da Guerra, por meio de

acordo com a Sociedade de Assistência Hospitalar, ficando bastante deteriorado, sendo

necessários três anos de trabalhos de recuperação do edifício.

Segundo Trindade (2015), na sua fundação em 1950, a maternidade possuía 130 leitos,

com o que havia de mais moderno em termos de equipamentos hospitalares à época.

6.1.2 Estrutura da Maternidade-escola

A MEJC possui uma edificação em estilo eclético neocolonial, predominantemente,

que dispõe de uma estrutura composta por 141 leitos, sendo 26 leitos de Unidade de Terapia

Intensiva, 16 leitos cirúrgicos de ginecologia e 72 leitos de obstetrícia clínica e cirúrgica; 22

consultórios ambulatoriais; 01 Anfiteatro e 01 Centro de Estudos, distribuídos em uma área

total equivalente a 7.787 m².

6.1.3 População de trabalhadores da maternidade-escola

Segundo a Ebserh (2019), a MEJC é um Hospital de referência em gestação de alto

risco, possuindo um quadro de profissionais de excelência na área assistencial, que

compreende técnicos, médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, psicólogos,

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farmacêuticos, biomédicos, assistentes sociais, nutricionistas, fonoaudiólogos, biólogos e

fisioterapeutas, assim como profissionais administrativos de apoio à gestão.

6.1.4 Serviços oferecidos na Maternidade-escola

A MEJC é um complexo hospitalar especializado, de natureza pública, que oferece

atendimento integral ao público usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, com

atuação nas áreas de saúde da mulher, alto risco gestacional e cirurgia ginecológica. Também,

na MEJC, são realizadas atividades de ensino (formação de alunos do curso de graduação em

medicina) e de pesquisa (Programas de Pós-Graduação, Residência Médica e Mestrado).

Em 2013, a MEJC passou a ser gerida pela Empresa Brasileira de Serviços

Hospitalares (EBSERH), com a missão de garantir e ampliar a assistência à saúde, seguindo

os princípios fundamentais do SUS, e de contribuir com a formação de profissionais de saúde,

dentro do que está proposto no Plano de Reestruturação dos Hospitais Universitários

(REHUF) (EBSERH, 2019). A missão de formar profissionais de saúde resultou na criação da

Gerência de Ensino e Pesquisa da MEJC e na formalização de um contrato entre a UFRN e

EBSERH.

Esse contrato estabeleceu obrigações e responsabilidades, que consistiam em

preservar e ampliar os espaços e serviços necessários para o processo de ensino e

aprendizagem destinados à formação do profissional dos cursos oferecidos pela UFRN,

incentivar a produção de conhecimento científico e tecnológico no âmbito dos hospitais, bem

como criar um fundo para o incentivo à pesquisa e à extensão, cujo percentual é definido

anualmente pela Diretoria Executiva da EBSERH. Estabelecia, ainda, preservando as

necessidades para o ensino, a pesquisa e a extensão de interesse da UFRN, a característica de

manter seu perfil de Hospital Universitário, atendendo as necessidades da rede de saúde e das

políticas prioritárias do Ministério da Saúde (EBSERH, 2019).

A MEJC disponibiliza, também, ambulatórios de gestação de alto risco, planejamento

familiar, perinatologia, medicina fetal, ginecologia geral e especializada e prevenção das

doenças do trato genital inferior, além dos ambulatórios multiprofissionais (psicólogo,

enfermeiro, assistente social, nutricionista) e do Centro de Reprodução Assistida (pioneira na

introdução do método de reprodução assistida no serviço público do norte e nordeste

brasileiro), único nas regiões norte e nordeste com serviço 100% prestado pelo SUS. A

Maternidade ainda possui serviço de urgência e emergência durante 24 horas, constituído de

um Centro Obstétrico, uma UTI Neonatal, uma UTI Materna, um Banco de Leite Humano,

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96

uma sala de Mamografia, uma sala de Ultrassonografia, bem como, Laboratórios de Análises

Clínicas, de Microbiologia e de Citopatologia.

A Maternidade-escola possui também enfermarias de alojamento conjunto, onde mãe e

bebê já saem juntos do centro obstétrico, quando não há necessidade de UTI neonatal. Existe

na Maternidade o programa Mãe-Canguru, em que se identificam bebês de baixo peso, que

não necessitam de incubadora e sim do calor materno, sendo esse um importante programa

que conforma a política de humanização de assistência ao recém-nascido prematuro e de

baixo peso. Além de possuir um Núcleo de Segurança do Paciente-NSP, que foi caracterizado

no subtópico 6.1.5.

Segundo seus relatórios técnicos, de 2010 a 2014, foram realizados mais de vinte mil

partos na MEJC, dos quais mais de 60% foram do tipo cesárea. Neste mesmo período, de

2010 a 2014, foram registrados mais de 120 acidentes de trabalho. Em 2016, o Núcleo de

Segurança do Paciente-NSP passou a registrar a quantidade de partos de alto risco. Nesse ano,

foram realizados mais de 3.800 partos na MEJC, sendo 63% do tipo cesárea e 37% do tipo

normal. Desses 3.800 partos, 91% foram considerados de alto risco e 9% de risco habitual.

No relatório técnico, referente ao ano de 2018, consta um total de 6764 internações,

incluindo as cirurgias ginecológicas, parto cesárea de alto risco, tratamentos clínicos, entre

outros, com um total de 1.244 cirurgias realizadas e mais de 2100 tratamentos clínicos,

internando, assim, em média, 560 pacientes por mês.

6.1.5 Núcleo de Segurança do Paciente

6.1.5.1 Histórico e finalidades

O Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), constituído por meio da

portaria GM/MS nº 529, de 1° de abril de 2013, tem como principal objetivo contribuir para a

qualificação do cuidado, em todos os estabelecimentos de saúde em território nacional, e

propõe uma série de estratégias para implementação da cultura de segurança do paciente,

nesses estabelecimentos (BRASIL, 2013).

A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC), nº. 36, de 25 de julho de 2013,

estabeleceu a obrigatoriedade de implantação dos Núcleos de Segurança do Paciente (NSPs)

em serviços de saúde do país, sejam eles públicos, privados, filantrópicos, civis ou militares,

incluindo aqueles que exercem ações de ensino e pesquisa (BRASIL, 2013).

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97

Em 2014, implantou o NSP da MEJC, que tem como finalidade a promoção de uma

cultura de segurança do paciente no ambiente hospitalar, com o planejamento,

desenvolvimento, controle e avaliação de processos assistenciais, com o intuito de garantir a

qualidade desses processos. Os membros desse núcleo devem representar diferentes setores

do hospital, além de contar com a participação de pacientes, família e/ou cuidadores sempre

que possível (EBSERH, 2019). Atualmente, o núcleo conta com a chefe do setor de vigilância

em saúde e segurança do paciente (setor de qualidade), chefe da unidade de riscos

assistenciais e chefe da unidade de vigilância em saúde.

6.1.5.2 Princípios e competências

A partir do que estabelece a RDC nº 36/2013, o NSP da Maternidade Escola Januário

Cicco definiu sete princípios e dezenove competências do NSP, expostos no Quadro 7.

Quadro 7 – Princípios e principais competências do NSP da MEJC

PRINCÍPIOS COMPETÊNCIAS

1. A garantia da proteção à honra e à imagem dos

pacientes, profissionais, fabricantes de produtos e

notificadores envolvidos em incidentes em saúde.

1. Promover mecanismos para identificar e avaliar a

existência de não conformidades nos processos

realizados e na utilização de equipamentos,

medicamentos e insumos, propondo ações

preventivas e corretivas.

2. A garantia da independência e imparcialidade de

seus membros na apuração dos fatos.

2. Promover ações para a gestão de risco no âmbito

da instituição.

3. A melhoria contínua dos processos de cuidado e do

uso de tecnologias da saúde.

3. Analisar e avaliar as notificações sobre incidentes

e queixas técnicas selecionadas pelo setor de

vigilância em saúde e segurança do paciente.

4. A disseminação sistemática da cultura de

segurança do paciente.

4. Desenvolver ações para a integração e a

articulação multiprofissional no âmbito da

instituição.

5. A articulação e a integração dos processos de

gestão de risco.

5. Promover e acompanhar ações de melhoria de

qualidade alinhadas com a segurança do paciente.

6. A garantia das boas práticas de funcionamento do

serviço de saúde.

6. Estabelecer, avaliar e monitorar barreiras para

prevenção de incidentes nos serviços de saúde.

7. A promoção da gestão do conhecimento sobre a

segurança do paciente.

7. Elaborar, divulgar e manter atualizado o plano de

segurança do paciente.

8. Elaborar propostas de metas e indicadores para

inserção nos processos de contratualização.

9. Acompanhar os processos de notificação ao

sistema nacional de vigilância sanitária os eventos

adversos decorrentes da prestação do serviço de

saúde

10. Elaborar plano de pesquisa sobre segurança do

paciente para desenvolvimento da instituição, em

parceria com a gerência de ensino e pesquisa ou

equivalente.

Avaliar e monitorar as ações vinculadas ao plano de

segurança do paciente.

Priorizar a implantação dos protocolos de segurança

Page 98: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

98

do paciente determinados pelo ministério da saúde,

ANVISA, EBSERH e realizar monitoramento dos

respectivos indicadores.

Compartilhar e divulgar à direção e aos profissionais

os resultados da análise e avaliação dos dados sobre

incidentes e eventos adversos decorrentes da

prestação de serviço em saúde.

Acompanhar o processo de notificação ao SNVS dos

eventos adversos.

Acompanhar os alertas sanitários e outras

comunicações de risco divulgadas pelas autoridades

sanitárias.

Participar de eventos e demais ações promovidas pela

EBSERH.

Apoiar a sede da EBSERH no desenvolvimento de

estratégias de segurança do paciente para a rede da

empresa.

Desenvolver, implantar, avaliar, monitorar e manter

atualizado o plano de capacitação em segurança do

paciente.

Desenvolver, implantar, avaliar, monitorar e manter

atualizado o plano de comunicação social em saúde

quanto aos temas referentes a segurança do paciente.

Fonte: EBSERH (2018)

Por meio do Quadro 7, pode-se observar que esse Núcleo tem como finalidade a

promoção de uma cultura de segurança do paciente no ambiente hospitalar, com o

planejamento, desenvolvimento, controle e avaliação de processos assistenciais, com o intuito

de garantir a qualidade desses serviços. Os membros deste Núcleo devem representar

diferentes setores do hospital, além de contar com a participação de pacientes, família e/ou

cuidadores sempre que possível (EBSERH, 2018).

Este NSP deve ter reuniões, no mínimo, mensalmente, devendo ter lista de presença

assinada pelos participantes e deve ser elaborada uma ata de cada reunião. Anualmente, um

relatório de atividades deve ser publicado para o conhecimento de todos os funcionários da

MEJC, após ser aprovado pela Superintendência (EBSERH, 2018). Tudo isso vem sendo

cumprido devidamente pelo NSP da MEJC, todas as reuniões têm atas com assinaturas dos

participantes e acontecem as quartas-feiras de 15 em 15 dias.

6.1.5.3 Série histórica do registro de EA’s

As notificações de eventos adversos são realizados através do software de gestão de

riscos VIGIHOSP próprio da rede EBSERH, a notificação pode ser feita por qualquer

profissional da rede, não sendo necessário identificar-se para fazer a notificação, no entanto,

essa forma de notificação não é disponibilizada para pacientes e/ou acompanhantes, que, caso

Page 99: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

99

queiram relatar a ocorrência de um evento adverso, devem direcionar-se à ouvidoria da

MEJC.

Após a análise e classificação dos eventos adversos relatados no VIGIHOSP, os dados

são repassados ao módulo de Assistência à Saúde do Sistema de Notificações em Vigilância

Sanitária (módulo assistência à saúde ou NOTIVISA 2.0). Essa etapa apenas o gerente de

riscos assistenciais ou profissionais cadastrados do núcleo de segurança do paciente podem

realizar. A classificação dos eventos adversos na referida maternidade ocorre, apenas, quanto

ao grupo de notificações (doenças e agravos de notificações compulsórias, artigo médico-

hospitalar, perda de cateter, erro médico, quedas, identificação de paciente, erro de

medicação, lesões de pele, outros e etc.) e ano que ocorreu o evento adverso, não sendo

possível classificá-los por setor de ocorrência.

No ano de 2019, a identificação de paciente, doenças e agravos de notificações

compulsórias e flebites (traumatismos ou contaminações bacterianas devido a injeções

intravenosas de medicamentos ou de drogas) ficaram como os três grupos com mais

notificações, é válido ressaltar que a identificação do paciente está sempre entre as mais

notificadas, desde 2015, esses dados, porém, são referentes aos incidentes ocorridos, logo nem

todos chegaram a resultar, de fato, em danos aos pacientes (EBSERH, 2019).

A partir da implantação do NSP, em 2014, observou-se um aumento do número de

notificações de eventos adversos entre 2014 e 2017, com decréscimo entre 2017 e 2018, como

mostra a Figura 9, a seguir.

Figura 9 – Série histórica de notificações de EA’s

Fonte: EBSERH (2018)

Page 100: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

100

Por meio da Figura 9, como supracitado, observa-se um aumento significativo no

número de notificações de EA’s na MEJC, mas tal fato não significa um aumento no número

de ocorrência de EA’s, mas sim que estão sendo notificadas e registradas pelo NSP, além

disso, observa-se um decréscimo em 2018 com relação a 2017. Tais observações podem

indicar a passagem de um sistema de gestão tradicional para um sistema de gestão que faz o

uso consciente dos dados, reconhece o potencial para replicação de eventos adversos e

reconhece que as lições aprendidas podem ser relevantes para outros, o que entra em

consonância com nova abordagem dos sistemas de gestão mostrada anteriormente na Tabela

1.

6.2 Análise global do setor dos maqueiros

Os dados da análise global do setor dos maqueiros foram obtidos a partir do contato

via e-mail, com o gestor dos maqueiros da empresa terceirizada, que presta serviço para a

MEJC, e por meio de uma entrevista, utilizando-se um roteiro semiestruturado, realizada pela

pesquisadora com três maqueiros e o responsável pelo atendimento das chamadas de

solicitação de serviços de transporte de pacientes e pelo repasse destas chamadas para aos

maqueiros.

6.2.1 Organograma

Os maqueiros, que são responsáveis pela atividade de transporte de paciente, estão

alocados na Unidade de Hotelaria, vinculada à Divisão de Logística e Infraestrutura

Hospitalar da Maternidade de acordo com a Figura 10, do organograma da empresa.

Page 101: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

101

Figura 10 – Organograma da MEJC

Fonte: EBSERH (2018)

Por meio da Figura 10, observa-se que o organograma está dividido em quatro níveis

hierárquicos, no primeiro encontra-se a gerência administrativa, no segundo tem-se a divisão

administrativa financeira e a divisão logística de infraestrutura hospitalar, no terceiro, o setor

de orçamentos, finanças e contabilidade, o setor de administração e o setor de gestão de

pessoas, no quarto, encontram-se as unidades dos setores, e abaixo os maqueiros que

pertencem à unidade de hotelaria, geridos pela divisão de logística e infraestrutura hospitalar.

6.2.2 Caracterização dos maqueiros

Ao todo, são dez maqueiros que trabalham na maternidade. Os maqueiros são

terceirizados. Em 2016, houve a troca da empresa que terceiriza este setor, contudo 80% dos

maqueiros permaneceram. No entanto, 1 dos 10 maqueiros não é exclusivo da MEJC, sendo

escalado para diversos hospitais, quando há demanda ou falta de algum profissional, mas

costuma ser mais demandado para própria MEJC. Nove deles se intercalam em regime de

plantão de 12 horas, folgando 36 horas, e um em regime de 44 horas semanais (horário

administrativo: das 07h às 17h de segunda a sexta), ficando presente três ou quatro durante o

turno do dia e, sempre, dois no turno da noite. O turno do dia, para os maqueiros que

trabalham em regime de plantão de 12 horas, inicia às 7h e termina às 19h, enquanto o turno

da noite inicia às 19h e termina às 7h. Todos eles têm intervalos de 1 hora para almoço e duas

pausas de 15 minutos, mas foi relatado que as pausas são feitas, quando não há chamado.

Page 102: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

102

6.2.2.1 Dados sócio demográficos

• Idade: 50% dos maqueiros têm entre 30 –| 40 anos e 50% possuem mais de 40 anos;

• Sexo: 100% são do sexo masculino;

• Nível de escolaridade: 90% dos maqueiros possuem nível médio completo e 10%

fundamental completo;

• Salário da profissão: 100% recebem 1 salário-mínimo mensal, adicional de

insalubridade mensal e 13º salário;

• Férias: os maqueiros gozam de 30 dias de férias anuais;

• Tempo de serviço na função: 60% têm acima de 9 anos; 10%, 7 anos; 20% têm 5 anos

e, apenas, 10%, 1 ano de serviço na função;

• Tempo de serviço na empresa (terceirizada): 80% com 3 anos, e 20 % com 1 ano ou

menos.

• Tempo de serviço na MEJC: 40% dos maqueiros têm acima de 19 anos, 40% entre 5 e

7 anos e 20% tem menos de 1 ano;

• Trabalhadores primários e terceirizados: 100% dos maqueiros são trabalhadores

terceirizados.

6.2.2.2 Organização do Trabalho

• Jornada semanal de trabalho: 9 dos maqueiros trabalham em regime de plantão, de

12h/36h, ou seja, trabalham 12h e folgam 36h, e 1 deles trabalha em jornada de 44h

semanais de segunda à sexta, de 07h às 17h;

• Turno de trabalho: 40% realizam trabalho noturno (19h – 7h) e 60% realizam

trabalhos diurno (7h – 19h);

• Pausa de 1h para almoço e duas pausas de 15 minutos;

• Trabalham na folga: dos 9 que trabalham em regime de plantão, 67% trabalham nas

36h de folga em trabalhos extras que variam entre lava jato, atleta de futebol, carrinho

de venda, conserto de móveis e serviços gerais e 33% trabalham exclusivamente como

maqueiros.

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103

6.2.3 Instalações e equipamentos do Setor dos Maqueiros

Há uma sala administrativa (ver Anexo C) que não é exclusiva para os maqueiros, e é,

também, utilizada por outros profissionais, como por exemplo, os de serviço gerais e um

auxiliar administrativo. Os maqueiros em serviço compartilham essa sala com um profissional

que dispõe de um computador (auxiliar administrativo), através do qual são recebidas, via

telefone, as chamadas de solicitação de transporte, que são repassadas por ele aos maqueiros.

Nesta sala, os maqueiros aguardam os chamados vindo dos vários setores da MEJC para o

transporte de pacientes, nela também realizam seus intervalos e descansos. A MEJC conta

com 16 macas, 9 cadeiras de rodas, 1 cadeira para banho e 1 incubadora transporte.

6.2.4 Fluxo do processo de chamada e do transporte de pacientes

Há um responsável por receber as chamadas (auxiliar administrativo), via telefone, e

repassar aos maqueiros, via rádio (para os maqueiros que não se encontram na sala) ou

pessoalmente (para os maqueiros que se encontram na sala), as demandas de transporte de

pacientes, conforme ilustra o fluxograma da Figura 11. O auxiliar administrativo é também

responsável por controlar as tarefas dos maqueiros, a partir do preenchimento de uma planilha

de controle de chamadas, que contém o nome do maqueiro, o tipo de transporte que

necessitou, o setor de início do transporte do paciente, o setor de destino do paciente, o

horário de saída e de chegada à sala administrativa dos maqueiros, tal planilha foi usada até,

aproximadamente, março de 2019. Atualmente, esse controle é feito por meio do software de

chamados GLPI (Gestionnaire Libre de Parc Informatique), no entanto, esse registro só

ocorre no período diurno. Até março de 2019, em todas as sextas-feiras, o gestor da hotelaria,

responsável pelo gerenciamento das atividades dos maqueiros na MEJC, salvava esta planilha

e a enviava para a empresa terceirizada. Atualmente, isso se dá em tempo real, de acordo com

o preenchimento dos dados mencionados anteriormente no software GLPI.

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104

Figura 11 – Fluxograma do chamado dos maqueiros

Fonte: Autora (2020)

Os chamados telefônicos, solicitando, aos maqueiros, o transporte dos pacientes,

devem ser realizados por enfermeiros, que devem identificar-se, informando seu nome ao

maqueiro, o ramal de onde está, o local de origem e o de destino do paciente, o tipo de

transporte que necessita e se precisa de oxigênio durante o transporte, a fim de que seja

preenchida corretamente a planilha citada anteriormente e de tornar o processo mais ágil. No

entanto, durante a entrevista com os maqueiros, foi relatado que esse protocolo não é seguido

corretamente pelos enfermeiros.

De acordo com os maqueiros e com o chefe dos maqueiros, o transporte dos pacientes

obedece às etapas mostradas no fluxograma da Figura 12.

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105

Figura 12 – Fluxograma do transporte de pacientes realizado pelos maqueiros

Fonte: Autora (2020)

Como pode ser visto na Figura 12, o processo inicia-se como o recebimento dos dados

do atendimento, seguido da colocação dos EPI’S. Logo após, os maqueiros pegam o

equipamento necessário para o transporte, vão ao local, procuram a enfermeira que solicitou o

transporte para, por fim, pegar a paciente e entregá-la ao lugar de destino.

6.2.5 Trabalho prescrito dos maqueiros

O trabalho prescrito para os maqueiros consiste em: encaminhar pacientes para áreas

solicitadas; receber, conferir e transportar exames, materiais ou equipamentos, como

oxigênio, prontuário, entre outros; controlar material esterilizado; manter equipamentos

limpos e organizados, como macas e cadeiras; providenciar macas e cadeiras de rodas para

transporte dos pacientes; socorrer as vítimas e relatar, quanto ao atendimento e conclusão de

chamadas para efeito de controle. Durante o período de coleta de dados, observou-se que tais

tarefas realmente são realizadas pelos maqueiros, no entanto, no trabalho real, houve uma

observação em que transporte de pacientes ocorreu externo a MEJC, onde o maqueiro foi

acompanhando a paciente na ambulância, o que não consta no trabalho prescrito.

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106

6.2.6 Aspectos relativos à Saúde e Segurança do Trabalho

De acordo com a empresa responsável pelos maqueiros da MEJC, esses profissionais

estão submetidos a riscos ocupacionais, como, por exemplo, riscos devido a agentes físicos

(ruído, vibrações, temperaturas extremas), químicos (poeiras, gases, vapores, absorvidos pelo

organismo humano por via respiratória, através da pele), biológicos (bactérias, fungos,

bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros), ergonômicos (trabalho em pé, manuseio

dos pacientes etc.) e de acidentes de trabalho, como mostra a Figura 13.

Figura 13 – Riscos ambientais e ocupacionais para os maqueiros

Fonte: Empresa terceirizada (2019)

Durante o ano de 2018, houve dois afastamentos pelo Instituto Nacional do Seguro

Social-INSS, contudo, não há detalhamento sobre os motivos desses afastamentos.

Anualmente, são realizados treinamentos com esses profissionais sobre saúde e

segurança do trabalho. Em dezembro de 2018, ocorreram treinamentos abordando os

seguintes assuntos: acidente de trabalho; Norma Regulamentadora 32; princípios básicos em

prevenção e combate a incêndio e a Norma Regulamentadora 17 (Ergonomia). No entanto,

esses treinamentos não são específicos para a função maqueiros, pois contemplam, também,

motoristas e profissionais do setor da lavanderia.

Nos últimos dois anos (2017-2018), os principais tipos de acidentes de trabalho na

MEJC foram os acidentes com material biológico (58%), seguido de quedas (16%). Para

minimizar a ocorrência de acidentes do trabalho, a MEJC, através do NSP do paciente,

realiza, além dos cursos mencionados anteriormente, atividades educativas e de mobilização,

tais como exposições dialogadas, bate-papos, campanhas informativas, aplicação de

questionários junto aos colaboradores para identificar a ocorrência de violência ou de

situações de riscos e prevenção de quedas (EBSERH, 2019).

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107

6.2.7 Atendimentos prestados pelos maqueiros

Até junho de 2019, o setor de maqueiros teve, em média, 14.000 chamados

registrados, ou seja, apenas no turno diurno, em que 63% foram para manuseio, transporte

e/ou transferência de pacientes, e 37% transporte de materiais e/ou equipamentos, como

exames e oxigênio. Dentre os cinco setores que mais solicitaram chamados, até junho de

2019, estão em primeiro lugar o setor de alto risco (13%), em segundo a unidade A (9,2%),

em terceiro o setor da ultrassonografia (7,7%), em quarto a unidade B2 (6,5%), e em quinto a

UTI materna (6,4%).

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108

7 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo explana os resultados alcançados na execução dos procedimentos

metodológicos apresentados anteriormente.

7.1 Segurança do Paciente

Quando os maqueiros da MEJC foram questionados sobre o que entendem por

segurança do paciente, 80% dos 10 maqueiros responderam que segurança do paciente refere-

se a transportar com cuidado, atenção e/ou calma, 40% responderam que é dar segurança ao

paciente, fazendo a conferência dos equipamentos, 30% disseram que é fazer o transporte

acompanhado de técnicos, enfermeiros e/ou médicos, 30% responderam que é detectar a

enfermidade do paciente e saber se é de urgência ou não, 20% disseram que é ter cuidado com

o bebê e, apenas 10%, citaram que é usar EPI’S.

Como pode ser visto, o entendimento sobre segurança do paciente, para eles,

compreende, principalmente, em transportar com cuidado, atenção e/ou calma os pacientes.

Vejamos alguns relatos dos maqueiros com relação ao que entendem por segurança do

paciente:

TRECHO 1 - “O paciente sentir confiança na gente e, também, assim né, nos

equipamentos utilizados, mas, muitas vezes, os equipamentos não tão muito bom” (Maqueiro

F. M. S.).

TRECHO 2 - “Tem que ter cuidado ao transportar o paciente, né?! Dar atenção, ter

cuidado com o bebê também” (Maqueiro E.J.C.A)

TRECHO 3 - “Transportar elas com calma, fazer a transferência do leito com atenção,

conferir os equipamentos, pois tem macas com trilho que tem que tá encaixado, se não o

paciente cai” (Maqueiro D. S. S.).

TRECHO 4 - “É quando transportar o paciente, dependendo da gravidade, tomar

cuidado, sempre acompanhado da enfermeira, médico. E tomar cuidado com a gente também

né, para não pegar em sangue, porque a gente não sabe o que ela tem, tem que usar as luvas

né” (Maqueiro C. R. A. P.).

Com o primeiro trecho pode se observar uma visão mais peculiar sobre a segurança do

paciente, tratando de um aspecto mais abstrato que é a confiança que o paciente deve ter nos

maqueiros, mas também mostrou entendimento sobre a segurança do paciente em um

contexto mais técnico ao falar da importância dos equipamentos. O segundo trecho restringiu-

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109

se à importância do cuidado e da atenção dos maqueiros no transporte. Enquanto o terceiro,

também citou o cuidado e a atenção, mas acrescentou o aspecto técnico dos equipamentos,

que também foi citado no primeiro trecho. Já no quarto trecho tem-se como diferencial dos

demais trechos o fato de falar sobre o contexto do transporte, se de urgência ou não e,

também, sobre o cuidado com a sua própria saúde, ao citar o uso das luvas para não se ter

contato com sangue.

Assim, na maioria dos trechos da fala dos maqueiros, pode-se observar que a maioria

considera a segurança do paciente como, principalmente, ter cuidado e atenção no transporte e

transferência de pacientes. O Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, entende a

segurança do paciente como tudo aquilo que é estudado e aplicado na prática para que os

riscos de danos desnecessários diminuam até um nível aceitável, ou até mesmo que haja

eliminação desses riscos (IBSP, 2015), o que se relaciona com as questões citadas

anteriormente pelos maqueiros.

Quanto aos pacientes e/ou acompanhantes, muitos relataram que a segurança do

paciente tinha relação com os cuidados que os médicos e enfermeiros deveriam ter com as

pacientes, citaram tratamento desrespeitoso, erros de medicação e falta de condições

adequadas como exemplos.

7.2 Incidentes e acidentes

Quando os maqueiros da MEJC foram questionados se já haviam vivenciado,

testemunhado ou se envolvido em algum incidente e/ou acidente, durante o transporte de

pacientes, 60% dos 10 maqueiros disseram que nunca vivenciaram, testemunharam ou se

envolveram em algum incidente e/ou acidente, durante o transporte de pacientes, e 40%

responderam que sim. As falas dos maqueiros, a seguir, ilustram os tipos de incidentes ou

acidentes vivenciados:

” Uma vez o elevador estava quebrado, aí o maqueiro que ia levar ela teve que ir

subindo pela escada, não tomou muito cuidado, também estava fraca e a paciente caiu.”

(Maqueiro I. D. T. O.).

“Ah rapaz teve uma vez que passei a maca por cima do pé da técnica de enfermagem

que acompanhava, mas foi sem querer, não dava pra eu ver. Ela até pegou afastamento

(Maqueiro E. J.C.A.).

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110

“Um dia uma paciente desmaiou durante a transferência na unidade B, pois não tem

elevador e a plataforma não tava funcionando no dia e ela teve que subir de escada recém-

parida.” (Maqueiro D. N. S.).

“Assim né, aqui já ocorreram alguns desmaios e quedas de pacientes, mas nada muito

grave não, pode acontecer” (Maqueiro F. M. S.).

A partir desses relatos, observa-se a predominância nesta ME de incidentes como

desmaios e quedas cotidianas. Tal fato pode ser relacionado com a condição de saúde das

pacientes e com o esforço físico exigido das mesmas, por conta de problemas com layout e da

falta de elevadores, em certos locais.

Alguns pacientes e acompanhantes atribuíram a ocorrência de incidentes e/ou

acidentes devido às péssimas condições de internação, citando exemplo de macas ruins que

que poderiam auxiliar para ocorrência de um incidente e/ou acidentes, verificou-se que as

pacientes e acompanhantes que relataram esse problema estavam alojadas em macas nos

corredores.

7.3 Treinamento

Sobre já ter passado por algum tipo de treinamento específico para exercer sua função,

10% responderam que nunca receberam nenhum treinamento e 90% disseram que já

receberam treinamento. 30% dos maqueiros que receberam treinamento, tiveram apenas 1

treinamento; 40% tiveram 2 treinamentos, 20% tiveram 4 treinamentos e apenas 10% tiveram

mais de 15 treinamento. 80% dos maqueiros responderam que os treinamentos duraram, em

média, de 2 a 4 horas, e 20% responderam que duraram 8h, abordando tópicos sobre

manuseio seguro do paciente (100%), forma correta de transferência (100%), postura (100%),

humanização no ambiente hospitalar (10%), importância do uso EPI’S (40%), manuseio e

operação dos equipamentos (freios das macas, etc.). Embora haja alguma relação entre alguns

desses treinamentos com a segurança do paciente, nenhum deles tinha esse enfoque

específico. Segundo o gestor da empresa terceirizada, esses treinamentos têm por objetivo

melhorar o desempenho dos maqueiros e diminuir os riscos ergonômicos, para eles, durante a

realização de sua função, tanto em relação à forma como devem manusear os pacientes,

incluindo o modo de transferências de paciente entre macas, como em relação à parte técnica

de operação das cadeiras de rodas e macas. Todos os maqueiros já estão há mais de 1 ano e

meio sem receber treinamento.

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111

Para ser maqueiro na MEJC, não é necessário nenhum curso específico ou formação

na área, no entanto, foi relatado que eles, logo que são contratados, recebem um treinamento

básico para exercer a função, como foi o caso de um dos maqueiros da MEJC, que estava

exercendo a função há apenas 1 ano e só tinha recebido esse treinamento, em que relatou que

abordava os temas de manuseio seguro de paciente, postura, forma correta de transferência e

manuseio e operação dos equipamentos (freios da macas, etc.).

No entanto, Sousa et al. (2018) identificaram, em seus resultados, que, apenas, 60%

dos trabalhadores relataram participação em cursos de capacitação, e constatou diversos tipos

de incidentes ocorridos durante o transporte intra-hospitalar, que colocavam esses

profissionais em situação de vulnerabilidade e em conflito com as diretrizes do hospital,

sendo, portanto, essencial a capacitação desses trabalhadores. E Oliveira (2014) corroborou,

relatando a necessidade que se faça a implementação de treinamentos em transporte e

movimentação de cargas, técnicas corretas de movimentação de pacientes, aquisição por parte

dos empregadores de materiais adequados para o exercício da profissão, programas

ergonômicos nos locais de trabalho e também cursos de reciclagem para os funcionários,

visando à promoção da saúde e ao bem-estar dos maqueiros, nas situações de trabalho.

7.4 Pontos positivos e negativos da função de maqueiro

Como pontos positivos em relação a sua função, 80% dos maqueiros relataram a boa

relação com a equipe e gestores, 30%, os bons equipamentos e macas novas, 10% o fato de

ser uma função essencial, pois tem o primeiro contato com o paciente, e 10% relataram o

prazer pela função.

A seguir, podem ser observados alguns dos relatos feitos por eles:

- “Eu acho que um ponto positivo é gostar do que faz né, se eu não gostasse não

trabalhava há mais de 30 anos com isso, é bom ajudar os outros, a gente tem que entender os

pacientes, porque cada um tem seus problemas, e a gente não sabe o eles estão passando, tem

que respeitar” (H.S.S).

- “Os maqueiros é o primeiro que recebe os pacientes, então a gente é, digamos assim,

a entrada deles né, é uma função essencial, e a equipe também, somos amigos” (C.R.A.P).

Quanto aos pontos negativos, 70% dos maqueiros se referiram à falta de rampa ou

elevador para unidade B2 e ao fato de a plataforma de transporte para Unidade B2 da MEJC

estar inoperante em agosto de 2019. 40% dos maqueiros destacaram o baixo salário como um

dos pontos negativos da própria função; 40% apontaram a falta de disponibilização de

Page 112: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

112

aparelho de rádio de comunicação, para uso entre eles e algumas enfermarias, como sendo

um dos pontos negativos, especificamente no turno da noite, uma vez que não há funcionário

(auxiliar administrativo) disponível com a responsabilidade de receber os chamados por

telefone referentes às demandas de transportes de pacientes na sala em que fica o setor e

repassar aos maqueiros, 30% apontam como ponto negativo a existência de um desnível entre

o piso do elevador e o do corredor da MEJC, dificultando a entrada do paciente que está na

cadeira de rodas ou maca, exigindo um esforço biomecânico para elevar o conjunto veículo-

paciente para adentrar ao elevador; 30% consideram as cadeiras de rodas velhas, sem freio e

sem suporte, como um dos pontos negativos da função; 10% consideram, como um dos

pontos negativos, o fato de o telefone de chamados não ser exclusivo para receber chamados,

mas estar disponível, também, para receber outras demandas; e, por fim, 10% dos maqueiros

consideram como ponto negativo o fato de serem demandados para pegar, também,

equipamentos diversos, exames, e por atenderem outras providências demandadas pelos

enfermeiros.

7.5 Aspectos negativos relacionados a equipamentos e instalações

7.5.1 Plataforma automática utilizada para suspensão e elevação do paciente

A plataforma automática existente (Figura 14), responsável pela suspensão e elevação

do paciente até a unidade B2, tem recorrentes problemas que impedem o seu funcionamento,

até agosto de 2019, esta plataforma encontrava-se sem uso, fazendo com que as pacientes que

estão com menos de 24h de cirurgia, ou que acabaram de se submeter ao parto, tenham que

subir as escadas sozinhas ou, apenas, com o auxílio dos maqueiros. No entanto, a partir de

setembro de 2019, sua manutenção foi regularizada, permitindo o seu funcionamento, o que

vem sendo observado, desde então, pela pesquisadora.

Figura 14 – Acesso a unidade B2

Fonte: Autora (2019

Page 113: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

113

7.5.2 Sala do Setor dos maqueiros

A sala do setor dos maqueiros (Figura 15) é considerada pelos maqueiros como sendo

um ambiente pequeno, com pé direito baixo para antropometria dos ocupantes, pois suas

cabeças ficam próximas ao teto, locomoção é dificultada por uma quantidade de objetos,

como mesa, cadeiras, pia, frigobar etc., distribuídos em poucos metros quadrados, além disso,

há infiltrações em uma das paredes.

Figura 15 – Sala do setor dos maqueiros

Fonte: Autora (2019)

O local de descanso também foi alvo de muitas reclamações, o acesso é pela sala do

setor dos maqueiros, ficando embaixo de uma escada, cujo teto é inclinado e muito baixo

(Figura 16), além do local ser extremamente pequeno.

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114

Figura 16 – Local de descanso dos maqueiros

Fonte: Autora (2019)

Segundo relatos dos maqueiros, já houve acidentes de choques das suas cabeças contra

o teto da sala, ao se levantarem do colchão (Figura 16), ou contra a parte superior da porta,

por esta ser mais baixa do que a altura da maioria deles.

Entretanto, o local mostrou-se em conformidade com a NR-17, tópico 17.3.5, que cita

que as atividades em que os trabalhos são realizados de pé, como é caso dos maqueiros,

“devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por

todos os trabalhadores durante as pausas”, uma vez que há assentos disponíveis.

Conforme determina a NR-32, “todo local onde exista possibilidade de exposição ao

agente biológico deve ter lavatório exclusivo para higiene das mãos provido de água corrente,

sabonete líquido, toalha descartável e lixeira provida de sistema de abertura sem contato

manual”, o que também é cumprido na sala dos maqueiros. Todavia, mesmo estando

cumprindo as normas básicas exigidas, pôde-se observar pontos que necessitam de melhorias

nesse ambiente, como os mencionados acima.

7.5.3 Cadeiras de rodas, macas e acessórios

Com as observações abertas, verificou-se que os equipamentos como macas e cadeiras

de rodas só são limpos, quando estão visivelmente sujos (com manchas), e a troca do pano na

cadeira de rodas também só é feita, quando este está muito sujo, com manchas escuras, ou

quando está sujo de sangue da paciente. Também, foram observadas as condições das nove

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115

cadeiras de rodas, em que seis estão enferrujadas e quatro com o apoio de pés quebrados, e

nenhuma tem suporte para soro ou outro medicamento, como mostra, a exemplo, a Figura 17-

A. Quanto às macas, observou-se que há quatro tipos de macas diferentes, dentre as 15

unidades existentes na MEJC, que diferem de tamanhos, larguras e alturas, o que implica

formas de uso diferentes para os maqueiros e, também, influencia no conforto percebidos pelo

paciente (ver Figura 17-B).

Figura 17 – Cadeiras de rodas e macas do setor

Fonte: Autora (2019)

7.5.4 Elevador da MEJC

Na Maternidade-escola estudada, só há dois elevadores, de capacidades diferentes,

sendo que apenas por um deles é possível subir com macas. No elevador que permite o uso de

macas foi observada a existência de um pequeno desnível entre o piso do elevador e o piso

dos corredores de acesso aos andares 1 e 2 (destacado de vermelho na Figura 18). Além disso,

verificou-se que não há um elevador exclusivo para lixos comuns e/ou hospitalares. Assim, os

dois elevadores transportam pacientes, acompanhantes, funcionários e, também, os lixos.

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116

Figura 18 – Desnível do elevador

Fonte: Autora (2019)

7.6 Sugestões de melhorias da atividade apontadas pelos próprios maqueiros

Como sugestões de melhorias, relativas às situações de trabalho dos maqueiros,

questionadas pelo apêndice F, eles indicaram as seguintes:

• Disponibilizar uma sala exclusiva para os maqueiros;

• Melhorar a qualidade do local de descanso;

• Obter o rádio de comunicação para todos os setores;

• Estabelecer que o telefone instalado na sala do setor dos maqueiros deve ser exclusivo

para chamadas referentes às demandas de transporte de pacientes;

• Instalar um elevador ou uma rampa não automática para acesso a Unidade B da

MEJC;

• Instalar/construir uma passarela que ligue a Unidade A à Unidade B2 e alto risco da

MEJC (ver Anexo C)

• Adquirir cadeiras de rodas para pacientes com suporte para soro;

• Melhorar a sala do setor dos maqueiros;

• Instalar uma rampa de acesso em um determinado local da Unidade B2.

7.7 Resultados referentes aos dados coletados através da aplicação do Questionário

Nórdico

Como pode ser visto na Figura 19, apenas 40% dos maqueiros, ao responderem ao

Questionário Nórdico, relataram algum tipo de dor, formigamento ou desconforto.

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117

Figura 19 – Percentual de respostas do questionário nórdico

Fonte: Autora (2019)

Dos 40% dos maqueiros, 50% têm acima de 40 anos. 75% deles relataram que

exercem a função de maqueiro há mais de cinco anos. 75% deles relataram que tiveram

problemas anteriores, como cirurgia em joelhos e ombros, por conta de acidente de moto, ou

sofreram queda fora do ambiente de trabalho. Destes 75% que relataram problemas anteriores,

75% exercem a função de maqueiro há mais de cinco anos.

Quando questionados sobre problemas, como dores, lesão e/ou formigamentos etc. nos

últimos 12 meses, apenas 30% haviam sentido dor na parte inferior das costas, 20% na parte

superior das costas, punhos/mãos, quadril/coxas e joelhos e 10% nos cotovelos e ombros.

Apenas 10% relataram impedimento de realizar as atividades normais nos últimos 12

meses, por conta de problemas dores, lesão e/ou formigamentos na parte inferior das costas.

Neste caso, consultaram um profissional da saúde nos últimos 12 meses, por conta de dores

na parte inferior das costas.

Quanto a problemas como dores, lesão e/ou formigamentos nos últimos sete dias, 10%

sentiram nos ombros, parte superior das costas, parte inferior das costas, punhos/mãos e

joelhos. Tais achados podem ser comparados aos encontrados por Oliveira (2014), que

constatou uma grande variação, entre 14,5% a 71,5%, nos sintomas osteomusculares dos

maqueiros, em que, nos últimos 12 meses, a maioria (71,5%) relatou sentir dores nos

tornozelos e/ou pés, seguido dos joelhos e parte inferior das costas (43%), e das partes

superiores das costas, bem como quadril/coxas e punhos e mãos (28,6%). O maior percentual

de dores dos maqueiros da pesquisa de Oliveira (2014), tornozelos e pés, nem mesmo foram

relatados na presente pesquisa. Dessa forma, percebe a importância de estudos específicos

para cada local.

40%60%

Q U E S T ION Á RI O N Ó R D I C O

SIM NÃO

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118

Essas evidências podem ser decorrentes de que os maqueiros da pesquisa de Oliveira

(2014) eram, em sua maioria jovens, entre 18 e 29 anos, e em início de carreira, nesta

pesquisa os maqueiros já enquadram-se como adultos, em que 50% têm entre 30 e 40 anos e

50% possuem mais de 40 anos, além de terem um bom nível de experiência, uma vez que

90% têm acima de cinco anos no exercício da função, no entanto, precisam sempre estarem

conscientes da responsabilidade e importância do seu trabalho, que exige esforços e desgastes

físicos necessários para a execução da atividade de movimentação e transporte de pacientes

doentes.

Os estudos de Marras et al. (1999); Garg et al. (1991); Keir; Macdonell (2004)

também evidenciaram os aspectos físicos da atividade, por exemplo, o risco de lesões

lombares em manipuladores de pacientes realizando diferentes tarefas de manipulação, a

análise das forças da coluna lombar quando utilizam equipamentos auxiliares. E, embora o(s)

autore(s) não tenham feito relação entre as lesões lombares nos manipuladores do paciente e a

segurança do paciente, estas lesões fragilizam o sistema osteomuscular desses trabalhadores,

fazendo com que eles tenham menos firmeza na manipulação, podendo colocar em risco a

segurança do paciente, que pode sofrer quedas, sentir dores maiores, durante a manipulação,

entre outros problemas.

7.8 Análise Focal da atividade e Pré-diagnósticos da atividade

A partir dos dados supracitados, que foram advindos dos relatos dos maqueiros e das

observações abertas, chegou-se aos seguintes pré-diagnósticos:

• A falta de uma rotina de higienização dos equipamentos, a não regularidade nas trocas

dos panos usados no atendimento de transporte e/ou transferência, bem como o uso

comum do elevador para toda e qualquer atividade, inclusive para lixos comuns e/ou

hospitalares e, também, o transporte de pacientes, podem aumentar o risco de

infecções hospitalares, considerado um EA comum no Brasil. Segundo Oliveira e

Maruyama (2008), as principais causas da infecção hospitalar são: esterilização e

desinfecção inadequada dos artigos e equipamentos, quebra nas rotinas de limpeza do

hospital, quebra dos procedimentos de rotina da enfermagem e médica. Ou seja, tais

procedimentos podem gerar o agravo de risco de uma EA aos pacientes da MEJC.

• Os contrantes físicos observados, que envolvem a falta de acessibilidade na Unidade

B2, problemas com o layout na Unidade A, fazem com que os maqueiros tenham que

utilizar de estratégias, como pedir ajuda a terceiros, durante o transporte de ou para

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119

Unidade B2, ou utilizar manobras mais arriscadas ao passar com a maca na Unidade

A, bem como levantar a maca durante a entrada e saída do elevador, devido ao

desnível existente. Tais estratégias podem aumentar a chance de ocorrência de um EA,

como quedas e/ou desmaios, que podem afetar diretamente a segurança do paciente da

MEJC.

• Para certos tipos de pacientes e de transportes, há a necessidade de haver o auxílio dos

enfermeiros e/ou técnicos de enfermagem, de outros maqueiros, ou até mesmo do

próprio acompanhante do paciente, embora nada disso esteja prescrito para esses

casos.

7.9 Análise Focada da atividade e diagnóstico da atividade

Neste tópico foram explanados os resultados referentes aos dados coletados através da

aplicação do Plano de observação sistemático e conversações, da Escala de avaliação dos

riscos no transporte, remoção e transferência dos Questionários com pacientes e/ou

acompanhantes.

7.9.1 Resultados referentes aos dados coletados através da aplicação do Plano de observação

sistemático e conversações

Foram realizados 60 acompanhamentos de campo, referentes às atividades dos

maqueiros, com relação ao transporte e transferência de pacientes, totalizando 90 horas de

observações e coletas de dados, no período de setembro a novembro de 2019. Nos tópicos a

seguir, tem-se os principais resultados obtidos com as observações, utilizando o plano de

observação sistemático e conversações.

7.9.1.1 Tipo, equipamentos utilizados e contrantes encontrados no transporte

Não houve nenhum transporte de paciente realizado pelos maqueiros, que pudesse ser

enquadrado como urgência, dentro das observações de campo. E, em 88% das vezes, os

maqueiros fizeram transporte de pacientes e, em média, 12% das vezes, fizeram transferências

de pacientes.

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120

Das sete transferências de pacientes observadas (em média 12% das observações), seis

foram da maca para a cama do leito ou para outra maca, e apenas um da cadeira de rodas para

a maca.

Nas transferências das macas para as camas dos leitos, o layout apresenta-se como um

contrante físico para esse tipo de operação, devido à quantidade de macas distribuídas nos

corredores. Em um dos quartos, em que se observou esta operação, havia três camas de leitos,

impossibilitando o maqueiro de transitar com a maca dentro do quarto. Para resolver o

contrante, ele retirou duas camas do quarto, as colocou no corredor, e fez a transferência da

paciente no corredor. Em seguida, colocou a cama novamente no quarto, e, por fim, colocou a

outra cama no quarto (ver Figura 20).

Figura 20 – Sequência de ações de transferência de uma paciente para cama de um leito

Fonte: Autora (2020)

Legenda:

1: Retiram a primeira cama do leito;

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121

2: Verificam se será necessário retirar a outra cama;

3: Retiram as cadeiras das acompanhantes do leito;

4: Retiram a segunda cama do leito;

5: Fazendo a transferência da paciente para uma das camas do leito;

6: Transferência da paciente realizada;

7: Colocando a cama com paciente transferida dentro do leito;

8: Colocando o bebê da paciente dentro do leito;

9: Colocando a outra cama do leito.

Outro contrante encontrado foi quanto à rampa de acesso muito íngreme para a

Unidade B e alto risco, em que os maqueiros utilizam da estratégia de correr para pegar

impulso e subir na rampa (ver Figura 21).

Figura 21 – Maqueiro correndo com a paciente na cadeira de rodas para pegar impulso na rampa

Fonte: Autora (2019)

Esses tipos de contrantes encontrados, que envolvem as características do ambiente da

prática de trabalho dos maqueiros, foram evidenciados na pesquisa de Belela, Peterlini e

Pedreira (2010) como um dos fatores que se relacionavam com as equipes de trabalho em

saúde que poderiam acarretar eventos adversos.

Além disso, em 83% dos transportes, foram utilizadas cadeiras de rodas e, em apenas

17% das vezes, utilizaram macas, e se observou que nenhuma das cadeiras de rodas possuíam

suporte para fixar o soro ou qualquer outro dispositivo (ver Figura 22), o que dificulta o

transporte de pacientes que estão com soros ou outros dispositivos acoplados, tendo esses que

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122

segurar o dispositivo, que por sua vez, pode enganchar nas suas vestimentas, no seu corpo ou

nas rodas das cadeiras e provocar um evento adverso.

Dessa forma, sugere-se a aquisição de suportes para as cadeiras de rodas, pois as

pacientes, muitas vezes, têm que levar o soro, o bebê, o prontuário e até mesmo as sacolas do

bebê nas pernas, o suporte ajudaria, nesse sentido, além de, como mencionado anteriormente,

diminuir as chances de ocorrência de eventos adversos, como a desconexão do soro ou

incidentes com o tubo de soro.

Esses tipos de eventos adversos são comuns e foram evidenciados na pesquisa Sousa

et al. (2018) em que, durante sua coleta, ocorreram incidentes, como desconexão de O2

(oxigênio), de sonda, de equipo de soro e quedas durante o transporte intra-hospitalar, o que

coloca em risco os pacientes e torna os trabalhadores vulneráveis diante de tais incidentes.

Figura 22 – Cadeiras de rodas sem suporte para soro

Fonte: Autora (2019)

Em 70% dos transportes de pacientes, os maqueiros utilizaram o elevador (ver Figura

23) e há um desnível no elevador, mencionado e mostrado anteriormente na Figura 18, com

isso, os maqueiros utilizam da estratégia de suspender a maca ou cadeira de rodas ao passar

pelo desnível, o que também se enquadra como um fator de maior risco de EA,

principalmente, com as macas que são mais extensas e pesadas.

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123

Figura 23 – Uso do elevador para o transporte de pacientes

Fonte: Autora (2019)

Em 80% das vezes em que houve o uso da plataforma automática para transportar a

paciente até o piso superior, observou-se que o maqueiro colocava a paciente na plataforma de

transporte, mas não a auxiliava no desembarque, nem a acompanhava até o destino (Leitos da

unidade B2). Somente o acompanhante, quando existia, a auxiliava no desembarque e a

acompanhava até o destino (ver Figura 24). No entanto, na demais observações os maqueiros

não deixaram a paciente sozinha em nenhum momento, permanecendo sempre próximo ao

paciente, mesmo quando havia acompanhantes e enfermeiras, ou seja, o destino para a

unidade B2 é um ponto crítico do transporte, pois os maqueiros devem sempre acompanhar as

pacientes até seu destino final.

Em 60% das vezes que o setor de destino foi a unidade B2, o maqueiro precisou da

ajuda do acompanhante para auxiliar a mãe com o bebê para subir na plataforma, que dá

acesso a unidade B2.

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Figura 24 – Paciente saindo da plataforma com auxílio do acompanhante

Fonte: Autora (2019)

Como sugestão seria a construção de uma rampa de acesso interligando a parte que

contém a unidade A com a parte que contém a unidade de alto risco e unidade B2, o que

evitaria o uso contínuo da plataforma de acesso, que nem sempre está funcionando e, muitas

vezes, as pacientes têm que subir escadas, recém-paridas, e mesmo quando está funcionando,

as pacientes acabam saindo sozinha da plataforma, ou seja, sem ajuda dos maqueiros.

Durante as observações de campo foi observado apenas um incidente, que ocorreu da

seguinte maneira: uma senhora quase caía ao se sentar na cadeira de rodas, porque o apoio de

pés da cadeira estava na vertical, mas logo o maqueiro a segurou, evitando que ela caísse, e a

auxiliou para que ela se sentasse novamente.

7.9.1.2 Uso de EPI’s e higienização das mãos e dos equipamentos

Em aproximadamente 97% dos transportes e transferências de pacientes realizadas

pelos maqueiros, verificou-se que eles não fizeram a lavagem de mãos de pré-atendimento e,

em 87% das vezes não houve a lavagem pós-atendimento. Ademais, em aproximadamente

57% das vezes, os maqueiros não utilizavam luvas e nem máscaras (ver Figura 25).

Tais medidas encontram-se em desacordo com o estabelecido na NR-32, que cita a

obrigatoriedade da utilização de equipamentos de proteção coletiva, individual e vestimentas

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125

de trabalho, além de determinar que nem mesmo uso de luvas substitui o processo de lavagem

das mãos, que deve ocorrer, no mínimo, antes e depois do seu uso.

Figura 25 – Transferência e transporte de pacientes sendo realizados sem luvas

Fonte: Autora (2019)

Não há uma periodicidade da limpeza das macas e cadeiras de rodas, que é feita

somente quando o maqueiro julga necessário. Durante todo o período das observações de

campo, verificou-se apenas uma limpeza nas cadeiras de rodas e macas.

7.9.1.3 Comunicação e chamados

De acordo com Art. 1º, inciso I da Resolução n.º 376/2011, o enfermeiro da unidade

de origem deve “selecionar o meio de transporte que atenda às necessidades de segurança do

paciente”, mas, frequentemente, foi observada a falta de comunicação adequada entre

enfermeiros e maqueiros, em que em 97% das vezes, os chamados não seguiram o protocolo

citado no capítulo 7, no subtópico 7.2.4, ou seja, não repassavam aos maqueiros o tipo de

transporte necessário para o paciente, o que está em desacordo com a resolução mencionada e,

por vezes, ocasionava retrabalho, pois o maqueiro recebia o chamado e seguia para o local

com a cadeira de rodas, e ao chegar, constatava a necessidade de uma maca.

As comunicações entre maqueiros e enfermeiros ocorriam, principalmente, durante a

chegada ao setor de origem do paciente, em que o maqueiro questiona qual foi a enfermeira

que o chamou, qual a paciente a ser transportada e qual é o setor de destino, por conta do não

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126

seguimento do protocolo de chamados, em que o enfermeiros já deveriam ter citado no

chamado seu nome ao maqueiro, o ramal de onde se encontra, o local de origem e o de

destino do paciente, o tipo de transporte que necessita e se precisa de oxigênio durante o

transporte.

Já a comunicação com os pacientes limitava-se, essencialmente, em saber como estava

se sentindo e se conseguia caminhar. Para Oliveira (2014), a comunicação entre pacientes e

maqueiros é essencial, evidenciando que os maqueiros devem sempre manter a atenção no

nível de consciência e nas condições físicas do paciente e do ambiente (leito, corredores do

hospital) antes de iniciar os procedimentos de remoção e transporte de pacientes em qualquer

que sejam as condições e unidades do hospital, mesmo que aparentemente a paciente esteja

em alerta.

Ainda para o autor a comunicação, eficiência e adequação (padronização) são fatores-

chaves. Dessa forma, sugere-se a realização de um treinamento conjunto do setor de

enfermagem e o setor dos maqueiros, quanto à instrução para o seguimento do protocolo de

chamados, em que deve ser dito no chamado o nome do enfermeiro, o ramal de onde está, o

local de origem e o de destino do paciente, o tipo de transporte que necessita e se precisa de

oxigênio durante o transporte. Além disso, seria importante incluir, nesse protocolo, níveis

que diriam o grau de enfermidade do paciente, ou seja, a urgência do transporte, por exemplo:

nível 1 – transporte de rotina para exames e etc., nível 2 - paciente com dores, nível 3 –

paciente com alto risco (urgência no transporte), pois assim facilitaria para os maqueiros, em

momentos de alta demanda, na escolha da estratégia a ser utilizada, além de dar um maior

noção do estado de saúde do paciente, o que ajudaria na prevenção de eventos adversos.

Outro treinamento necessário é quanto ao uso do rádio, por parte dos enfermeiros,

principalmente do turno da noite, em que não há o responsável pelos chamados por telefone,

o que faz com que a maioria dos chamados tenham que ser realizados pelos rádios e o seu

mau uso dificulta na comunicação entre maqueiros e enfermeiros, gerando transtornos, pois

enfermeiros querem ligar para o setor e, muitas vezes, não é possível os maqueiros atenderem

por não estarem na sala, e sim fazendo outro transporte. Diante disso, também, sugere-se a

aquisição de rádio de comunicação para todos os setores, além de definir que o telefone

instalado na sala do setor dos maqueiros deve ser exclusivo para chamadas referentes às

demandas de transporte de pacientes.

Em, aproximadamente, 87% dos transportes ou transferências dos pacientes, os

maqueiros realizaram a identificação do paciente e conferiram o local de destino. No entanto,

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127

isto foi feito com o maqueiro perguntando a enfermeira e nunca perguntando ao próprio

paciente.

O estudo de Feufel, M. A.; Lippa, K. D.; Klein, H. A. (2009) buscou destacar as

principais áreas em que as intervenções em fatores humanos e ergonomia podem ajudar a

melhorar a qualidade dos sistemas de serviços médicos de emergência, constatando que o

trabalho em equipe é essencial para o sucesso da serviços médicos de emergência, além da

importância dos treinamentos para tomadas de decisões eficientes com estratégias heurísticas.

Tal achado corrobora, mais uma vez, a importância da comunicação entre maqueiros,

enfermeiros e, também, pacientes.

Em 67% dos transportes ou transferências, as pacientes estavam cirurgiadas, com

bebês, sob efeitos de medicamentos e/ou com um ou mais dispositivos invasivos, mas

nenhuma delas se encontrava desacordada, o que poderia facilitar a comunicação e

colaboração entre maqueiros e pacientes, além de acordar mais facilmente ao tópico 17.2.6 da

NR-17, que cita que o transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração de

vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico, no caso cadeiras

de rodas ou macas, deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo

trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a

sua segurança, isto também pode ser verificado com os achados do questionário nórdico.

Verificou-se que os chamados, também, são feitos por acompanhantes e/ou pacientes e

porteiros, e não apenas por enfermeiros.

Quando as mães recebem alta, os maqueiros não são chamados, geralmente, para

transportá-las. Eles, habitualmente, são chamados apenas quando uma mãe sai da Unidade A,

em que funciona a clínica cirúrgica ginecológica, com cirurgias de histerectomia, mama,

ovário, suspensão de bexiga, laqueadura tubária etc. (ver Figura 26).

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128

Figura 26 – Paciente de alta saindo sem acompanhamento do maqueiro nem de outra pessoa

Fonte: Autora (2019)

7.9.1.4 Acompanhamentos e auxílios no transporte

Segundo o Art. 1º, inciso I da Resolução n.º 376/2011, o enfermeiro da unidade de

origem deve “definir o(s) profissional (is) de Enfermagem que assistira(ão) o paciente durante

o transporte”, no entanto, aproximadamente, 87% dos transportes de pacientes foram

realizados sem a participação de enfermeiras ou técnicos de enfermagem. Ou seja, esses

transportes foram realizados apenas pelo maqueiro, o que demonstra desconformidade com a

resolução. Foi observado, também, pacientes saindo da curetagem, semi-nuas, sendo

transportadas e/ou transferidas por maqueiros, sem o auxílio de uma enfermeira.

É previsto na maternidade que o transporte de pacientes é uma atribuição exclusiva

dos maqueiros e que “não compete aos profissionais de enfermagem a condução do meio

(maca ou cadeira de rodas) em que o paciente está sendo transportado”, mas, constatamos in

loco o transporte do paciente sendo realizado, com certa frequência, por enfermeiros e/ou

auxiliares de enfermagem, principalmente em situações em que não há a comunicação

adequada entre eles e os maqueiros, ou em picos de alta demanda da atividade. Foram

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129

observados, também, transportes de pacientes feitos por terceiros, por falta de maqueiros

disponíveis no momento (ver Figura 27) e, também, transferências sendo feitas com auxílio de

acompanhantes (ver Figura 28), o que contraria o que diz o Art. 3º da resolução do cofen n.º

376/2011.

Figura 27 – Transporte sendo feito por terceiros

Fonte: Autora (2019)

Figura 28 – Transferência da maca para o leito com auxílio do acompanhante

Fonte: Autora (2019)

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130

Em, aproximadamente, 22% das observações o maqueiro necessitou da ajuda de

terceiros. Em todos os casos de transferências de pacientes, o maqueiro teve de auxílio de

outro maqueiro, acompanhante e/ou enfermeiros.

Desta maneira, sugere-se a realização de um estudo aprofundado de análise e previsão

de demanda, uma vez que, previamente, observou-se uma variação de demanda, ao longo dos

dias de coletas de dados, o que fazia com que, em determinados momentos, houvesse uma

baixa demanda, em que os maqueiros acabavam ficando ociosos e, em outro momento, uma

alta demanda, que acabava gerando transtornos e fazendo com que terceiros, como pessoas de

outro setor ou acompanhantes, realizassem o transporte de pacientes, ou auxiliassem na

transferências de pacientes.

7.9.2 Resultados referentes à aplicação da Escala de avaliação dos riscos no transporte,

remoção e transferência

A forma de avaliação e análise dessa etapa, citada na metodologia, atribuem uma

pontuação a cada paciente, que pode variar de oito a 24 pontos e, de acordo com essas

pontuações, é dado o grau de risco da atividade de transporte e transferência desses pacientes

para os maqueiros.

Das 205 aplicações feitas com os pacientes, 113 somaram entre oito e 12 pontos, ou

seja, 55,12% do total apresentam pouco risco para os maqueiros na atividade de transporte e

transferência, em que 43 (38%) encontram-se no limite dessa categoria com os 12 pontos

máximos para se enquadrarem na mesma, outros 91 respondentes, ou seja, 44,39% do total,

somaram entre 13 e 18 pontos e, apenas um somou 19 pontos.

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131

Figura 29 – Gráfico de barras escala de avaliação de risco

Fonte: Autora (2020)

Desta forma, é possível identificar que a maioria dos transportes e transferências

observados na MEJC, apresenta pouco risco para os profissionais que realizam a atividade, no

entanto, uma parcela considerável, aproximadamente 45%, apresentou um médio risco para

esses profissionais, além de 43 (38%) estarem no limite da categoria anterior (de pouco risco),

o que pode indicar a necessidade de uma maior atenção para essa atividade, necessitando de

um maior planejamento, auxílio de terceiros, como de equipes de enfermagem, além de uma

possível necessidade de adquirir equipamentos que auxiliem no processo, amenizando o risco

para os maqueiros, como pranchas, cintos e tábua de transferência.

O achado desta pesquisa mostrou-se similares aos encontrados por Oliveira (2014), em

que nas unidades de Ginecologia e Obstetrícia, 31% representavam pouco risco, 65% médio

risco e apenas 4% alto risco, e na unidade de Cirurgias de parto, 38% representavam pouco

risco, 57% médio risco e apenas 5% alto risco.

Para uma análise mais detalhada é válido ressaltar como se deu a distribuição das

respostas de cada paciente para cada item de dados e as respectivas pontuações atribuídas,

conforme as definições de cada item explicitadas em seus valores/conceitos e definidos por

Radovanovic e Alexandre (2002) (ver Anexo B). Assim, no Quadro 8, tem-se os percentuais

correspondentes a 205 pacientes respondentes.

Page 132: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

132

Quadro 8 – Percentuais de respostas de cada ponto por dados

DADOS/PONTOS 1 2 3 TOTAL

Peso 3% 33% 64%

100%

Altura 10% 88% 2%

100%

Nível de

consciência e

psicomotricidade 94% 3% 3%

100%

Mobilidade na

cama/cadeira de

rodas 76% 22% 2%

100%

Transferência 57% 40% 3%

100%

Deambulação 61% 38% 2%

100%

Cateteres e

equipamentos 93% 7% 0%

100%

Ambiente do

paciente 47% 45% 8%

100%

Fonte: Autora (2020)

De acordo com o Quadro 8, os pontos com maiores percentuais de resposta que

somavam três pontos foram referentes ao peso, em que, aproximadamente, 64% das pacientes

tinham mais de 70kg, seguida da altura, em que 88% tinham entre 1,51m a 1,79m,

enquadrando-se na soma 2. Os dados de nível de consciência e psicomotricidade, e cateteres e

equipamentos foram os com maiores percentuais de respostas com soma 1, ou seja, 95% das

pacientes estavam alertas e 93% estavam com até 1 acessório acoplado.

7.9.3 Resultados referentes à aplicação dos Questionários com pacientes e/ou

acompanhantes

Este questionário (APÊNDICE E) foi dividido em 3 partes a serem respondidas,

sendo elas: informações sociodemográficas, uso do espaço e percepção do local, os resultados

obtidos nessa etapa encontraram-se nos subtópicos posteriores.

Page 133: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

133

7.9.3.1 Informações sociodemográficas

Nesse subtópico será visto como se comportaram, dentro da amostra de 205

respondentes, as informações sociodemográficas dos pacientes, como sexo, idade e nível de

escolaridade.

Quanto ao sexo, 100% das respondentes eram do sexo feminino e estavam como

pacientes da MEJC.

Quanto à idade, houve duas respondentes de 0 a 13 anos, sete respondentes de 14 a 17

anos, 62 respondentes de 18 a 24 anos, 116 respondentes de 25 a 39 anos, 15 respondentes de

40 a 59 anos e quatro respondentes com 60 anos ou mais, as porcentagens representativas de

cada faixa de idade podem ser vistas na Figura 30.

Figura 30 – Idade das respondentes

Fonte: Autora (2020)

Conforme a Figura 30, a maioria das pacientes (57%) tinha entre 25 e 39 anos. 30%

das pacientes tinham entre 18 e 24 anos e grande parte dessas estavam internadas por

complicações na gravidez, ou porque iam parir, seja por cesárea ou parto normal. Apenas 4%

(9 pacientes) das pacientes eram menores de idade, tendo duas pacientes com 13 anos, que

estavam com gravidez de alto risco, e sendo que uma delas tinha também o diagnóstico de

esquizofrenia. Outras (9%) tinham 40 anos ou mais, sendo essas internadas, principalmente,

Page 134: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

134

por motivos de cirurgias ginecológicas. Observa-se, portanto, a predominância de pacientes

jovens sendo atendidas na MEJC.

Quanto ao nível de escolaridade, três respondentes estavam na categoria de sem

instrução e menos de um ano de estudo, 37 respondentes com nível fundamental incompleto,

28 respondentes com nível fundamental completo, 39 com nível médio incompleto, 70 com

nível médio completo, 4 respondentes com nível superior incompleto e 24 com nível superior

completo ou equivalentes.

Figura 31 – Nível de escolaridade das respondentes

Fonte: Autora (2020)

Por meio da Figura 31, pode-se observar que a maioria das pacientes (53%) tinham

nível médio, seja ele completo (34%) ou incompleto (19%). E, apenas, 14% haviam chegado

ao nível superior, em que 12% o concluíram. Observa-se também que somente 1% não tinha

nenhuma instrução ou menos de um ano de estudo.

7.9.3.2 Uso do espaço

Das 205 pacientes respondentes, 92 respondentes nunca haviam utilizado o serviço da

maternidade, antes, e 113 respondentes já haviam utilizado o serviço da maternidade

anteriormente, sendo que, dessas, 113, 93 haviam utilizado, esporadicamente, enquanto 15

utilizaram de uma a duas vezes ao ano, e cinco utilizaram de três a quatro vezes ao ano, de

acordo com a Figura 32.

1%

18%

14%

19%

34%

2%

12%

Sem instrução e menos de um ano de estudo

Nível fundamental incompleto ou equivalente

Nível fundamental completo ou equivalente

Nível médio incompleto ou equivalente

Nível médio completo ou equivalente

Nível superior incompleto ou equivalente

Nível superior completo ou equivalente

Page 135: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

135

Figura 32 – Uso do espaço: utilização e frequência de uso da MEJC

Fonte: Autora (2020)

Como pode ser visto na Figura 32, a maioria das respondentes (55%) já havia utilizado

os serviços da MEJC anteriormente, no entanto, quando elas foram questionadas a respeito da

frequência de uso, 82% não tinham regularidade nesse uso, ou seja, vinham esporadicamente

para MEJC, 13% frequentavam de uma a duas vezes ao ano, e 5% de três a quatro vezes ao

ano e nenhuma mais de quatro vezes ao ano. Tais achados podem indicar a realização

inadequada dos pré-natais, o que pode ser preocupante, principalmente, pelo fato da MEJC

atender predominantemente gravidez de alto risco, além disso, é indicado que as consultas do

pré-natal devem ser realizadas uma vez por mês até as 28 semanas de gestação, de 15 em 15

dias das 28ª até a 36ª semana e semanalmente a partir da 37ª semana de gestação.

Quanto ao tempo médio de permanência na Maternidade Escola Januário Cicco, oito

respondentes estavam há menos de seis horas na MEJC, 10 respondentes estavam com entre

seis e 12 horas de permanência, quatro respondentes estavam com entre 12 e 18 horas de

permanência, 33 estavam com entre 18 e 24 horas, e 150 entrevistadas estavam com mais 24

horas na MEJC, os percentuais representativos a essas respostas podem ser vistos na Figura

33.

Page 136: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

136

Figura 33 – Uso do espaço: tempo médio de permanência

Fonte: Autora (2020)

Dessa forma, por meio da Figura 33, conclui-se que a grande maioria das respondentes

(73%) estava na MEJC a mais de 24h, 16% estavam entre 12 e 18 horas de permanência e

apenas 11% estavam com menos de 18 horas de permanência, o que pode revelar que as

pacientes, em sua maioria, estavam internadas e não apenas em consultas de rotina, ou em

realizações de exames, que exigem um menor tempo de permanência na MEJC.

Quando questionadas sobre quantas vezes utilizaram o serviço dos maqueiros da

MEJC naquela permanência, 24 respondentes ainda não haviam utilizado o serviço dos

maqueiros, 105 haviam utilizado de uma a duas vezes, 35 respondentes haviam utilizado de

três a quatro vezes e 41 respondentes já haviam utilizado mais de quatro vezes, como pode ser

visto na Figura 34.

Figura 34 – Utilização do serviço dos maqueiros

Fonte: Autora (2020)

4%

5%2%

16%

73%

Menos de 6 horas Entre 6 -|12 horas Entre 12 -|18 horas

Entre 18 -|24 horas Mais de 24 horas

12%

51%

17%

20%

Nenhuma vez 1 a 2 vezes 2 a 4 vezes Mais de 4 vezes

Page 137: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

137

Por meio do gráfico da Figura 34, observa-se que 88% (181) já haviam utilizado o

serviço dos maqueiros da MEJC, pelo menos uma vez naquela estadia, e apenas 12% ainda

não haviam utilizado. Das 181 respondentes que já haviam utilizado os serviços de maqueiros,

14 (7,7%) só haviam utilizado macas, 104 (57,5%) só haviam utilizado cadeiras de rodas e 63

(34,8%) respondentes utilizaram macas e cadeiras de rodas, ou seja, a maioria só havia

utilizado cadeiras de rodas. Isso corrobora com as observações de campo feitas com o plano

de observação sistemático, em que 83% das vezes utilizaram cadeira de rodas e, em apenas

17% das vezes, utilizaram macas.

7.9.3.3 Percepção do local

Quanto às condições do serviço de transporte e transferências de pacientes, dos 181

que já haviam utilizado o serviço, nenhum classificou como muito ruim, apenas duas

classificaram com muito ruim, nove como regular, 114 como bom, e 56 classificaram com

muito bom, esses justificando que os maqueiros são muito atenciosos e solícitos e que nunca

tiveram nenhum problema com esse setor (ver Figura 35).

Figura 35 - Condições do serviço de transporte e transferências de pacientes

Fonte: Autora (2020)

Já com relação às condições dos equipamentos utilizados para esse serviço, três

classificaram com muito ruim, 10 como ruim, justificando que as macas que estavam

utilizando no momento eram desconfortáveis e duras, 47 classificaram como regular, 90 como

bom e 31 como muito bom (ver Figura 36).

Page 138: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

138

Figura 36 - Condições dos equipamentos utilizados para esse serviço

Fonte: Autora (2020)

Quanto às condições das instalações para transporte, três classificaram como muito

ruim, 11 como ruim, alegando não ter local adequado para os acompanhantes ficarem, bem

como não ter acesso por elevadores para determinados locais, e corredores lotados de macas

como leitos, ficando, assim, muito apertado para a passagem com outras macas ou cadeira de

rodas e, ainda, 46 classificaram com regular, 98 como bom e 23 como muito bom (ver Figura

37).

Figura 37 - Condições das instalações para transporte

Fonte: Autora (2020)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Bom Muito bom Regular Ruim Muito ruim

31

90

47

10

3

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Bom Muito bom Regular Ruim Muito ruim

23

98

46

11

3

Page 139: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

139

Dos 205 respondentes, apenas um respondeu já ter ocorrido com ele, ou ter tomado

conhecimento ou testemunhado, algum tipo de incidente ou acidente ou evento adverso ou

anormalidades, durante o transporte ou transferência de paciente na Maternidade Escola

Januário Cicco, relatando ter presenciado um desmaio durante a transferência de uma paciente

para leito da unidade A, mas que o maqueiro conseguiu segurá-la e colocá-la na cama do leito

com segurança.

Dos 205 respondentes, sete elencaram como muito ruim as condições gerais da

maternidade, oito como ruim, 30 como regular, 102 como boa e 58 como muito boa (ver

Figura 38).

Figura 38 - Condições gerais da maternidade

Fonte: Autora (2020)

É válido ressaltar que não houve variação significativa nas respostas entre os turnos de

aplicação, no entanto, houve um maior número de reclamações das condições dos

equipamentos e das instalações da maternidade por pacientes localizadas na unidade B1 (ver

Anexo D), uma vez que, nesse local, havia um maior número de pacientes em leitos extras,

alocadas em macas nos corredores da maternidade, assim, a maioria delas reclamou das

instalações e também dos equipamentos, alegando que as macas eram duras e não eram

confortáveis, diferentemente das alocadas nos quartos em camas de leitos.

Tal achado pode ser considerado delicado e importante, pois, como já foi visto, a

maioria das respondentes (73%) estava há mais de 24 horas internadas, ou seja, estas,

provavelmente, também poderiam estar alojadas em leitos extras em corredores apertados e

0

20

40

60

80

100

120

Bom Muito bom Regular Ruim Muito ruim

58

102

30

8 7

Page 140: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

140

macas desconfortáveis, por um longo período. No entanto, foi relatado que essa é a forma que

a maternidade consegue conduzir, ao serem atingidos o número máximo de pacientes nos

leitos, uma vez que a demanda, em certos períodos, é mais alta que o número de leitos

ofertados, e por ser uma maternidade escola de alta complexidade e 100% SUS, a situação

torna-se ainda mais delicada.

Page 141: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

141

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo discorrerá sobre as conclusões a respeito do estudo, expondo uma visão

geral do tratamento dos dados, prováveis razões para determinados achados e sugestões de

possíveis melhorias, além de explicitar as limitações do estudo e recomendações para estudos

futuros.

8.1 Aspectos gerais

Esta dissertação objetivou propor um conjunto de medidas de melhoria da atividade de

transporte e transferência dos pacientes realizada pelos maqueiros da MEJC, visando à

minimização de ocorrências dos eventos adversos e a melhoria da segurança do paciente da

maternidade escola, além de expandir o atual contexto de conhecimento sobre o tema, uma

vez que, como supracitado, os números de pesquisas similares são escassos,

consequentemente, difundir o entendimento sobre ergonomia, seus métodos, e sua aplicação

na área de saúde e segurança do paciente.

Na abordagem metodológica foi utilizada a Análise Ergonômica do Trabalho, com a

utilização de métodos de observação e interação, como roteiros de ação conversacional,

questionários, verbalizações, registro de fotos e vídeos. Como componente do processo

metodológico desta pesquisa, a construção social realizada com a pesquisadora, professor

orientador, maqueiros, membros do núcleo de segurança do paciente, gestores dos maqueiros,

foi essencial neste processo, pois, a partir dessa relação comunicativa e interativa, houve o

compartilhamento de informações imprescindíveis para compreensão da atividade.

Os achados da pesquisa evidenciaram que os maqueiros, ao realizar suas atividades,

se defrontam com contrantes físicos – devido às características das instalações físicas

(degradação de equipamentos, layout inadequado, ausência de elevador de acesso à unidade

B2 e etc.) da MEJC e dos equipamentos utilizados – e com contrantes temporais (urgência

do transporte, alta demanda etc.), e que para realizar o seu objetivo – de transportar e

movimentar o paciente com segurança – realizam regulações que consistem em

desenvolvimento de estratégias e ações, tais como contar com auxílio de terceiros para

realizar certas transferências, fazer antecipações com previsões de demanda de chamados, ao

se depararem com fluxos intensos em determinados períodos e dias da semana, retirar todas

camas de leitos, cadeiras de acompanhantes e berços de dentro do leito ao realizar uma

transferência da maca para cama do leito, além de fazê-la no corredor, suspender cadeiras de

Page 142: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

142

rodas e macas, ao entrar e sair dos elevadores, correr com cadeiras de rodas ao subir rampas

muito íngremes etc. Grande parte dessas estratégias constatadas podem aumentar o risco de

ocorrência de uma EA, uma vez que, por exemplo, o auxílio de terceiros, que não são

instruídos para realizar tais atividades, como também correr com paciente na cadeira de rodas

aumentam as chances de quedas, ou de desconexão de dispositivos conectados ao paciente.

Esse ano, devido à pandemia, o NSP promoveu treinamento sobre a importância e as

formas corretas de uso dos epi’s, para todos os profissionais da MEJC, incluindo maqueiros.

No entanto, observou-se que, de maneira geral, a atividade dos maqueiros é, em sua maioria

das vezes, esquecida e desconsiderada nas ações do núcleo de segurança do paciente, que

realizam atividades, como palestras, treinamentos, cursos e etc., regularmente, com os

profissionais de saúde da MEJC sobre segurança do paciente, mas os maqueiros não estão

dentro dos participantes dessas ações, apenas participam, quando há stands com os temas no

corredor, uma vez que estão expostos em frente à sala dos maqueiros, que ao passarem,

acabam tendo a curiosidade de “visitar”, durante suas pausas.

Assim, essa cultura de desconsideração da importância dessa atividade e de seus

riscos para segurança do paciente é evidenciada, mais uma vez, com esse achado, pois, como

vimos, há poucas pesquisas que consideram os maqueiros como uma das barreiras para

ocorrência de EA’s. Dessa forma, os resultados alcançados juntamente com as recomendações

de melhoria puderam ser restituídos por meio de reunião online, com o intuito de expandir o

conhecimento dos riscos da atividade e minimizar a ocorrência dos eventos adversos e, assim,

promover melhorias na segurança do paciente da maternidade escola.

8.2 Síntese do atendimento aos objetivos e sugestões de melhoria

Nessa subseção são expostas as considerações acerca dos objetivos específicos pré-

estabelecidos no projeto, apresentadas no Quadro 9.

Page 143: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

143

Quadro 9 – Resumo dos objetivos específicos da pesquisa, suas constatações e sugestões de melhorias

Objetivos

específicos

Subseção

no qual

foi

atendido

Constatações Sugestões de melhoria

Identificar e

analisar os

contrantes

temporais e

físicos da

atividade de

transporte e

transferência

dos pacientes,

que podem

contribuir para a

ocorrência de

eventos

adversos e

impactar a

segurança do

paciente.

7.1 a 7.8

Resumidamente, constatou-se que

os maqueiros, ao realizar suas

atividades, se defrontam com

contrantes físicos – devido às

características das instalações

físicas (degradação de

equipamentos, layout inadequado,

ausência de elevador de acesso à

unidade B2 e etc.) da MEJC e dos

equipamentos utilizados – e com

contrantes temporais (urgência do

transporte, alta demanda etc.).

Construir uma rampa de acesso

interligando a parte que contém a

unidade A com a parte que contém a

unidade de alto risco e unidade B2, o

que evitaria o uso contínuo da

plataforma de acesso, que nem sempre

está funcionando, e, muitas vezes, as

pacientes têm que subir escadas recém

paridas, e mesmo quando está

funcionando, as pacientes acabam

saindo sozinha da plataforma, ou seja,

sem ajuda dos maqueiros. Outra

sugestão, seria a aquisição de suportes

para as cadeiras de rodas, pois as

pacientes, muitas vezes, têm que levar

o soro, o bebê, o prontuário e até

mesmo as sacolas do bebê nas pernas,

o suporte ajudaria nesse sentido, além

de diminuir as chances de ocorrência

de eventos adversos, como a

desconexão do soro ou incidentes com

o tubo de soro.

Apreender e

examinar a

efetividade das

estratégias

utilizadas pelo

maqueiro para

gerenciar as

variabilidades e

contrantes da

atividade e

promover ou

garantir a

segurança do

paciente.

7.9

Contatou-se que para realizar o

seu objetivo – de transportar e

movimentar o paciente com

segurança – realizam regulações

que consistem em

desenvolvimento de estratégias e

ações, tais como contar com

auxílio de terceiros para realizar

certas transferências, fazer

antecipações com previsões de

demanda de chamados ao se

depararem com fluxos intensos

em determinados períodos e dias

da semana, retirar todas camas de

leitos, cadeiras de acompanhantes

e berços de dentro do leito ao

realizar uma transferência da

maca para cama do leito, além de

fazê-la no corredor, suspender

cadeiras de rodas e macas ao

entrar e sair dos elevadores, correr

com cadeiras de rodas ao subir

rampas muito íngremes etc.,

sendo que grande parte dessas

estratégias constatadas podem

aumentar o risco de ocorrência de

uma EA, uma vez que, por

exemplo, ao pedirem auxílio de

terceiros os mesmos não são

Outra sugestão é a realização de um

estudo aprofundado de análise e

previsão de demanda, uma vez que,

previamente, observou-se uma variação

de demanda ao longo dos dias de

coletas de dados, o que fazia em

determinados momentos ter uma baixa

demanda, em que os maqueiros

acabavam ficando ociosos, e em outro

momento uma alta demanda, que

acabava gerando transtornos e fazendo

com que terceiros, como pessoas de

outro setor ou acompanhantes,

realizassem o transporte de pacientes,

ou auxiliassem na transferências de

pacientes.

Uma outra sugestão, seria a realização

de um treinamento conjunto do setor de

enfermagem e o setor dos maqueiros, o

treinamento seria quanto a instrução

para o seguimento do protocolo de

chamados, em que deve ser dito no

chamado o nome do enfermeiro, o

ramal de onde está, o local de origem e

o de destino do paciente, o tipo de

transporte que necessita e se precisa de

oxigênio durante o transporte, e isso

não é seguido, além disso seria

importante incluir nesse protocolo

Page 144: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

144

instruídos para realizar tais

atividades, como também correr

com paciente na cadeira de rodas

aumentam as chances de quedas,

ou de desconexão de dispositivos

conectados ao paciente.

níveis que diriam o grau de

enfermidade do paciente, ou seja, a

urgência do transporte, por exemplo:

nível 1 – transporte de rotina para

exames e etc., nível 2 - paciente com

dores, nível 3 – paciente com alto risco

(urgência no transporte), pois assim

facilitaria para os maqueiros em

momentos de alta demanda na escolha

da estratégia utilizada, além de dar um

maior noção do estado de saúde do

paciente, o que ajudaria na prevenção

de eventos adversos.

Outro treinamento necessário é quanto

ao uso do rádio por parte dos

enfermeiros, principalmente do turno

da noite, que não há o responsável

pelos chamados por telefone, o que faz

com que a maioria dos chamados

tenham que ser realizados pelos rádios

e o seu mau uso dificulta na

comunicação entre maqueiros e

enfermeiros, gerando transtornos, pois

enfermeiros querem ligar para o setor e

muitas vezes não é possível os

maqueiros atenderem por não estarem

na sala, e sim fazendo outro transporte.

Outra sugestão é inclusão dos

maqueiros nos treinamentos, palestras,

cursos etc. sobre a segurança do

paciente, que incluam a importância da

sua atividade e como fazê-la de forma

segura para os pacientes e

profissionais, evitando que os

maqueiros utilizem de manobras

arriscadas no transporte de pacientes,

como correr nas rampas, não auxiliar o

paciente na saída da plataforma, não

lavar as mãos pré e pós atendimento,

principalmente, diante do momento

atual de pandemia etc.

Como pode ser visto no Quadro 9, a partir da aplicação do método da AET, foi

possível observar uma relação entre a atividade de trabalho dos maqueiros e a ocorrência de

eventos adversos ou de riscos de eventos adversos e, consequentemente, para a segurança do

paciente.

É importante ressaltar que a realização de uma AET propõe melhorias nas condições

de saúde, segurança e eficiência às empresas e aos seus trabalhadores, e não deve ser tratada

como um processo acabado, com início, meio e fim, devendo ser um processo contínuo, que

precisa ser realizado, constantemente, visando sempre à melhoria das situações de trabalho.

Page 145: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

145

8.2 Limitações e recomendações para trabalhos futuros

Como se observou, no decorrer deste projeto de pesquisa, há uma escassez, nas bases

de dados acessadas, de trabalhos científicos relacionando a atividade de transporte e

transferência de pacientes pelos maqueiros com a segurança do paciente, principalmente, com

o uso de uma abordagem ergonômica, sendo esse um diferencial na presente pesquisa.

No entanto, essa pode ser considerada uma limitação para o estudo, uma vez que a

pesquisadora teve dificuldades na construção dos instrumentos de coletas e na forma de

abordagem e coleta, por se tratar de um ambiente de saúde e, também, pelo estado físico e

emocional das pacientes.

Outra limitação do estudo foi o tempo de coleta de dados, devido a problemas para

conseguir uma assinatura exigida pelo comitê de ética e ao longo tempo de espera para

aprovação no Comitê.

Essas limitações podem ser aproveitadas para impulsionar novas pesquisas

complementares, investigando cada vez mais os problemas, e ficando mais fácil propor

melhores soluções.

Dessa forma, a partir das observações elencadas, pode-se sugerir trabalhos futuros que

repliquem este estudo em diferentes maternidades e hospitais nos diversos estados do país,

sendo possível fazer um quadro comparativo da atividade dos maqueiros com os mais

diversos tipos de enfermidades nos pacientes.

Outro estudo complementar recomendado é um maior aprofundamento no aspecto

físico no âmbito da ergonômica para os maqueiros da MEJC, utilizando de outras ferramentas

que analisem mais detalhadamente este aspecto e, ainda, a realização de um estudo

aprofundado de análise e previsão de demanda, uma vez que, previamente, observou-se uma

variação de demanda ao longo dos dias de coletas de dados.

Por fim, recomenda-se também um estudo comparativo da atividade, com o antes e

depois da realidade atual de pandemia com a presença do vírus COVID-19, uma vez que um

dos achados deste trabalho diz respeito à baixíssima regularidade da lavagem das mãos, por

parte dos maqueiros, ao iniciar ou finalizar um atendimento.

Page 146: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

146

REFERÊNCIAS

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Page 147: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

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Page 156: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

156

ANEXOS

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157

ANEXO A – QUESTIONÁRIO NÓRDICO

NOME:_______________________________________________________________________

DADOS PARA CONTATO (TELEFONE; EMAIL):____________________________________

IDADE:__________

PESO: _________

ALTURA: _________

FUNÇÃO:-_____________________________________

TEMPO DA FUNÇÃO: ______________________________

INFORMAÇÕES ADICIONAIS (USO DE REMÉDIOS, PROBLEMAS

ANTERIORES):_____________________________________________________________________________

Fonte: adaptado PINHEIRO; TRÓCCOLIA; CARVALHO, 2002.

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158

ANEXO B - ESCALA DE AVALIAÇÃO DOS RISCOS NO TRANSPORTE,

REMOÇÃO E TRANSFERÊNCIA

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159

DEFINIÇÕES

PESO

1 = equivale ao peso de até 50 Kg;

2 = indica um peso de 51 Kg a 69 Kg;

3 = o paciente deverá pesar igual ou superior a 70 Kg.

ALTURA

1 = equivale a uma estatura de 1,50 m;

2 = equivale a estatura entre 1,51 e 1,79 m;

3 = indica que o paciente possui estatura igual ou superior a 1,80 m.

NÍVEL DE CONSCIÊNCIA E PSICOMOTRICIDADE

1 = alerta: o paciente responde apropriadamente aos mínimos estímulos, e na ausência deles

está desperto e parece perceber o meio;

2 = confusão/ letargia

Confusão: o paciente tem alteração ainda que transitória do nível de consciência, alteração da

orientação e atenção, possíveis distúrbios de senso-percepção, alguma inquietação motora;

Letargia: o paciente pode parecer lento ou hesitante ao falar, aos estímulos tátil e verbal;

3 = inconsciência/ agitação psicomotora:

Inconsciência: o paciente não percebe impressões sensoriais devido a alterações

estruturais/funcionais ou por indução de drogas;

Agitação psicomotora: é a aceleração e exaltação de toda atividade motora do indivíduo,

comumente associa-se à hostilidade e à heteroagressividade.

MOBILIDADE NA CAMA

1 = independente: o paciente realiza todos os movimentos, mexe os membros inferiores e

superiores, senta-se na cama, sem necessitar de auxílio;

2 = movimenta-se com auxílio: o paciente mexe os membros inferiores e superiores, consegue

virar parcialmente o corpo para os lados e só se senta na cama com auxílio;

3 = dependente: o paciente não consegue mexer os membros inferiores e superiores, depende

totalmente da equipe de enfermagem.

TRANSFERÊNCIA DA CAMA/MACA PARA A CAMA/CADEIRA E VICE-VERSA

1= independente: o paciente consegue sentar-se na cama ou virar o corpo e transferir-se sem

ajuda, e fazer o processo de retorno para a cama;

2 = transfere-se com auxílio: o paciente consegue mexer os membros inferiores e superiores,

vira o corpo parcialmente, mas para transferir-se necessita da supervisão da e auxílio da

equipe de enfermagem;

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160

3 = dependente: o paciente não realiza nenhum movimento citado acima, depende totalmente

da equipe de enfermagem.

DEAMBULAÇÃO

1 = independente: o paciente deambula sem necessitar de auxílio da enfermagem;

2 = deambula com auxílio: o paciente necessita de auxílio e supervisão da equipe de

enfermagem;

3= dependente: o paciente não deambula.

CATETERES E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PELO PACIENTE

1 = até um: o paciente não possui nenhum ou possui até um acessório ou equipamento

conectado;

2 = dois a quatro: o paciente possui de dois a quatro acessórios ou equipamentos conectados;

3 = mais de cinco: o paciente possui cinco ou mais acessórios ou equipamentos conectados.

Consideram-se acessórios e cateteres como: sonda vesical, nasogástrica/enteral, drenos, soros,

cateteres periféricos e centrais bolsas de colostomia.

Consideram-se equipamentos como: monitores, respiradores, bomba de infusão, oxímetros,

máquinas de hemodiálise, tração transesquelética e cutânea.

AMBIENTE DO PACIENTE

1 = bom: quando o ambiente não proporciona risco, durante o processo de movimentação e

transferência do paciente, espaço físico e piso adequado, camas com altura ajustável,

maca/cama e cadeiras com travas nas rodas.

2 = potencial para risco: tem a presença de um dos fatores de risco como espaço físico

restritivo, piso irregular ou camas sem altura ajustável, maca/cama e cadeiras sem travas nas

rodas.

3 = risco: quando o ambiente apresenta dois ou mais dos fatores de risco como piso irregular,

espaço físico restrito ou camas sem altura ajustável, maca/cama e cadeiras sem travas nas

rodas.

Fonte: RADOVANOVIC; ALEXANDRE, 2002.

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161

ANEXO C - PLANTA BAIXA TÉRREO DA MATERNIDADE ESCOLA JANUÁRIO

CICCO

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162

ANEXO D - PLANTA BAIXA PRIMEIRO ANDAR DA MATERNIDADE ESCOLA

JANUÁRIO CICCO

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163

ANEXO E - PLANTA BAIXA SEGUNDO ANDAR DA MATERNIDADE ESCOLA

JANUÁRIO CICCO

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164

APÊNDICES

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165

APÊNDICE A - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (ANÁLISE GLOBAL DA

MATERNIDADE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

- Verificar o conceito de acidente do trabalho que se baseiam (lei federal, nbr, ...);

- Sistema de controle de incidentes (quase-acidentes), acidentes de trabalho e doença

ocupacional com trabalhadores;

- Sistema de controle de eventos adversos com pacientes;

- Histórico / fundação da MEJC– antes e depois da EBSERH (anteriores: área construída,

setores, número de atendimentos, números de funcionários);

- Número de atendimentos por mês e ano (série histórica);

- Serviços prestados;

- Perfil do usuário (capital, interior, faixa etária...);

- Quadro de funcionários (quantidade geral, nomes das funções, sexo, faixa etária e gênero,

Turnos, horários);

- Organograma geral (departamentos e hierarquia);

- Política de recursos humanos;

- Tipo de vínculo dos funcionários;

- Setores terceirizados;

- Dados de eventos adversos envolvendo pacientes;

- Treinamentos prestados a comunidade;

- Indicadores gerais usados na MEJC;

- Visão do usuário (qualidade);

- Verificar como se dá o processo de reformas das instalações da MEJC e pedido de novos

equipamentos (setor de compra);

- Leis e regulamentações seguidas;

- Principal atendimento (referência com porcentagem);

- Responsabilidades, objetivo e finalidade do NSP;

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166

APÊNDICE B - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (ANÁLISE GLOBAL

SETOR MAQUEIROS)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

- Dados sociodemográficos (quantidades, nomes dos maqueiros, idade, nível de escolaridade,

renda, gênero, tempo na função de forma geral e na MEJC, trocas de turno);

- Treinamentos: tipos, objetivos e carga horária; quantidade; tempo que têm sido realizados; a

regularidade de tempo nos treinamentos ofertados;

- Jornada de trabalho (horário de entrada e saída, dias da semana, ritmo, pausas e horas

extras);

- Sindicato da categoria; pautas principais; relação do empregador com o sindicato;

- Organograma do setor ou hierarquia;

- Atribuições gerais (tarefas);

- Regras do setor de forma geral, e referente aos cuidados com o paciente;

- Absenteísmo;

- Rotatividade;

- Número de atendimentos por funcionário e de forma geral durante o mês;

- Local de trabalho (acesso, espaço, iluminação, temperatura, ruído);

- Maqueiros quantidade antes da EBSERH e atualmente, e números de atendimentos;

- Dados de acidentes de trabalho e qual conceito de acidente de trabalho que se baseiam;

- Sistema de controle de incidentes (quase-acidentes), acidentes de trabalho e doença

ocupacional com trabalhadores;

- Leis e regulamentações seguidas;

- Fluxograma geral das atividades;

- Fluxograma de cada tarefa;

- Protocolos da atividade; regras que têm que cumprir (por exemplo, uso de quais EPI’s,

identificação dos pacientes);

- Verificação de presença de outros profissionais acompanhando o maqueiro durante o

transporte e a transferência de pacientes (técnico de enfermagem).

- Histórico das empresas terceirizadas responsáveis pelos maqueiros nos últimos 10 anos na

MEJC. Anos de contratação de empresas na prestação do serviço de maqueiros. Verificar se a

Page 167: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

167

empresa terceirizada, ao ser contratada para assumir a prestação do serviço de maqueiro,

manteve os maqueiros da empresa anterior.

- Verificar como se dá a gestão dos maqueiros pela empresa terceirizada e como se dá a

supervisão pela MEJC.

Page 168: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

168

APÊNDICE C - ROTEIRO DE AÇÃO CONVERSACIONAL (MAQUEIROS)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

Explicação da pesquisa aos maqueiros, identificação interpessoal e autorização para execução

da pesquisa;

- Pontos negativos em relação ao trabalho;

- Pontos positivos em relação ao trabalho;

- Quantidade de profissionais;

- Jornada semanal de trabalho; folgas; jornada diária de trabalho, intervalos e pausas;

- Número de transporte de paciente diário por maqueiro;

- Rotina de revezamento;

- Condições dos equipamentos e instalações;

- Necessidade de algum equipamento auxiliar;

- Serviço de transportes: se é apenas interno; se pegam os pacientes nas ambulâncias e carros

particulares também; tipos de equipamentos que utilizam (maca, cadeira etc.) e em que

situações; se fazem transporte manual de paciente, com que frequência e como se dá.

- Tipo de pacientes (jovem, adulta, idosa, bebê, com deficiência, com mobilidade reduzida,

dependente/autônoma, cirurgiada, em situação de urgência ou emergência etc.), que

transportam (mães, bebês etc.). Tipo de serviço (exames e/ou cirurgias etc) a que se destina o

transporte do paciente. Pedir para descrever situações mais complicadas que enfrentaram no

transporte ou transferência de pacientes.

- Quantidade de maqueiros por transporte de paciente. Verificar se há variação da formação

da equipe de transporte (1 pessoa, 2 pessoas etc. em função do tipo de transporte ou de

paciente, como se dá a constituição desta formação (2 maqueiros; 1 maqueiro-1 técnico de

enfermagem etc.) e quais as razões para esta formação.

- Pedir para que os maqueiros descrevam em que situações eles pedem ajuda no transporte ou

transferência de pacientes, como eles pedem as ajudas e a quem (citar se a outro profissional

da MEJC ou se pessoas da população em geral, que está na MEJC no momento).

- Verificar: se o maqueiro em questão já trabalhou de maqueiro antes; há quanto tempo

trabalha de maqueiro; se já recebeu treinamento para exercer a função de maqueiro, qual tipo

de treinamento e a frequência.(OBS: se ele não citar nada relativo a treinamento sobre

segurança do paciente e/ou evento adverso, estimulá-lo a falar)

Page 169: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

169

- Pedir para descrever o fluxo do processo de transporte com diferença de nível (uso de

elevador, rampa e escada) e sem diferença de nível.

- Relação dos profissionais com os pacientes;

- Saber quais os cuidados que devem ter durante a realização de suas tarefas (uso de máscaras,

luvas, limpeza de equipamentos, lavagem das mãos etc.)

- Tipos de doença a que foi acometido por estar em contato com pacientes e em que período

contraiu cada uma. Explicar como contraiu cada doença.

- Experiências anteriores na maternidade ou em outros locais de incidentes e/ou acidentes

durante o transporte.

- Verificar se o maqueiro tem conhecimento sobre a ocorrência de algum evento adverso com

algum paciente em decorrência do transporte ou transferência, feito por ele mesmo ou por

outro colega. Pedir para descrever em detalhes. (OBS: explicar para o maqueiro, de forma

fácil, o que é um evento adverso. Dar exemplos, para facilitar o entendimento dele).

- Saber se ele tomou conhecimento se alguma medida foi tomada para se evitar ou minimizar

a ocorrência de eventos adversos na atividade dele. Pedir para ele descrever como se deu esta

medida e seus efeitos.

- O que, no entender do maqueiro, é preciso ser feito (pela MEJC, pela empresa em que ele

trabalha, por ele mesmo, pelo paciente, pelo acompanhante etc.) para que a atividade dele

(transporte e transferência de pacientes) seja realizada de maneira a

garantir/promover/propiciar a segurança do paciente e a evitar ou minimizar a ocorrência de

eventos adversos.

Page 170: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

170

APÊNDICE D - PLANO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

Nome do observado:

Data:____/_____/______ Hora de início: | Hora do fim:

Enfermeiros ou técnicos acompanhando o

transporte: _______________________________ Setor de início:____________________________

Setor de destino:___________________________

Foi seguido o protocolo de chamada pelas

enfermeiras:

( ) sim

( ) não. Como foi

feito:_____________________________________

( ) não se aplica

Realizou a identificação do paciente: ( ) sim

( ) não

Conferiu o local de destino do paciente: ( ) sim

( ) não

Transporte de urgência: ( ) sim

( ) não

Grau de autonomia do paciente: ( ) sob efeito de medicamentos

( ) cirurgiado

( ) desacordado

( ) com um ou mais dispositivos invasivos (sondas,

soro, tubo de oxigênio)

Materiais e Equipamentos utilizados

para o transporte:

( ) maca

( ) cadeira de rodas

( ) cadeira de rodas para banho

( ) outros. Quais:____________________________________

___________________________________________________

Condição do equipamento utilizado: ( ) possui problemas

Quais:______________________________________________

___________________________________________________

( ) Não possui problemas

Tipo de transferência: ( ) maca para cama, e vice-versa

( ) cadeira de rodas para cama, e vice-versa

( ) cadeira de rodas para maca, e vice-versa

( ) outros. Qual: _____________________________________

Foi necessário o uso do elevador: ( ) sim. Problemas observados (largura, comprimento,

diferença de nível, funcionamento, outros usuários, altura da

Page 171: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

171

porta, altura do ambiente, dificuldades operatórias,

estratégias/regulações realizadas, etc.).

( ) não

Uso de epi’s: ( ) sim. Quais:______________________________________

___________________________________________________

( ) não

Contrantes físicos e/ou temporais

(exceto elevador):

( ) falta de acessibilidade. Local:________________________

Especificação:_______________________________________

( ) problema com o leiaute. Local:______________________

Especificação:_______________________________________

( ) outros. Qual: ____________________________________

Limpeza dos materiais e/ou

equipamentos - pré e pós-atendimento.

( )sim. Qual:_______________________________________

___________________________________________________

( ) não

Lavagem da mão pré-atendimento: ( ) sim. Seguiu o protocolo de lavagem (Portaria nº 1377/2013

e nº 2095/2013 ?____________________________________

( ) não

Lavagem da mão pós-atendimento: ( ) sim. Seguiu o protocolo de lavagem?_________________

( ) não

Em algum momento deixou o paciente: sozinho(a)

( ) sim

( ) não

com alguém

( ) sim. Quem (téc enferm; maqueiro, acompanhante, outros):

_________________________________________________

( ) não

Necessitou de ajuda de terceiros em

algum momento:

( ) sim. De quem:____________________________________

__________________________________________________

Em que tipo de operação:_____________________________

_________________________________________________

Como se deu (descrever):_____________________________

_________________________________________________

__________________________________________________

( ) não

Ocorreu algum acidente e/ou incidente

durante a operação de

transporte/transferência:

( ) sim. Quais e como procedeu: ______________________

__________________________________________________

Page 172: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

172

_________________________________________________

( ) não

Houve a devida comunicação e

colaboração entre os maqueiros e

enfermeiros:

( ) sim. Como ocorreu: ______________________________

__________________________________________________

( ) não

Houve a devida comunicação e

colaboração entre os maqueiros e/ou

pacientes e acompanhantes:

( ) sim. Como ocorreu: ______________________________

__________________________________________________

( ) não

O maqueiro estava no início, meio, ou

fim do seu turno?

( ) início (até 4 horas)

( ) meio (entre 4 e 8 horas)

( ) fim (acima de 8 horas)

Observações adicionais:

Page 173: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

173

APÊNDICE E - QUESTIONÁRIO COM PACIENTES E OU ACOMPANHANTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

INFORMAÇÕES SÓCIO-DEMOGRÁFICAS

RESPONDENTE:

( ) paciente ( ) acompanhante

Idade:

( ) 0 a 13 anos

( ) 14 a 17 anos

( ) 18 a 24 anos

( ) 25 a 39 anos

( ) 40 a 59 anos

( ) 60 ou mais

Sexo:

( ) Masculino

( ) Feminino

Nível de escolaridade:

( ) Sem instrução e menos de um ano de estudo

( ) Nível fundamental incompleto ou equivalente

( ) Nível fundamental completo ou equivalente

( ) Nível médio incompleto ou equivalente

( ) Nível médio completo ou equivalente

( ) Nível superior incompleto ou equivalente

( ) Nível superior completo ou equivalente

( ) Não determinado

O/a paciente chegou à Maternidade:

( ) em veículo particular (próprio, táxi, uber etc.)

( ) à pé

( ) veículo público

( ) outro: ________________________________________________________________

USO DO ESPAÇO

Já utilizou dos serviços da Maternidade Escola Januário Cicco anteriormente?

( ) Sim

( ) Não

( ) Não sabe

ESTA PRÓXIMA PERGUNTA SÓ SERÁ RESPONDIDA SE A RESPOSTA

ANTERIOR FOR SIM

Page 174: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

174

Com que frequência utiliza os serviços da Maternidade Escola Januário Cicco?

( ) Esporadicamente

( ) De 1 a 2 vezes ao ano

( ) De 3 a 4 vezes ao ano

( ) Acima de 4 vezes ao ano

____________________________________________________________________

Tempo médio de permanência, nesta estadia, até o momento na Maternidade Escola

Januário Cicco?

( ) Menos de 6 horas

( ) 6 –| 12 horas

( ) 12 –| 18 horas

( ) 18 –| 24 horas

( ) Mais de 24 horas

Quantas vezes utilizou o serviço dos maqueiros da MEJC nessa estadia?

( ) Nenhuma

( ) De 1 a 2 vezes

( ) De 3 a 4 vezes

( ) Acima de 4 vezes

Qual tipo de serviço de transporte que já utilizou?

( ) Maca

( ) Cadeira de rodas

( ) Ambos

( ) Nenhum até o momento

PERCEPÇÕES DO LOCAL

Nas próximas questões assinale a que melhor responde as suas impressões da Maternidade

Escola Januário Cicco.

Como você classificaria a condição geral da Maternidade Escola Januário Cicco?

( ) Muito ruim

( ) Ruim

( ) Regular

( ) Boa

( ) Muito Boa

Justifique: ___________________________________________________________

Como você classificaria o serviço de transporte de pacientes da Maternidade Escola

Januário Cicco?

( ) Muito ruim

( ) Ruim

( ) Regular

( ) Boa

( ) Muito Boa

Justifique: ___________________________________________________________

Como você classificaria as condições gerais dos equipamentos de transporte de pacientes

da Maternidade Escola Januário Cicco?

( ) Muito ruim

Page 175: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

175

( ) Ruim

( ) Regular

( ) Boa

( ) Muito Boa

Justifique: ___________________________________________________________

Como você classificaria as condições gerais das instalações para o transporte de

pacientes da Maternidade Escola Januário Cicco?

( ) Muito ruim

( ) Ruim

( ) Regular

( ) Boa

( ) Muito Boa

Justifique: ___________________________________________________________

Já ocorreu com você, ou você tomou conhecimento ou testemunhou, algum tipo de

incidente ou acidente ou evento adverso ou anormalidades durante o transporte ou

transferência de paciente na Maternidade Escola Januário Cicco?

( ) Sim

( ) Não

Em caso afirmativo, descreva.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

O que entende por segurança do paciente?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

MUITO OBRIGADA PELA SUA PARTICIPAÇÃO!

PREENCHIMENTO POR PARTE DO APLICADOR

Data:___/___/___

Turno:______

Setor de aplicação:

___________________________________________________________________________

Observações adicionais:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 176: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

176

APÊNDICE F - QUESTIONÁRIO COM MAQUEIROS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

INFORMAÇÕES SÓCIO-DEMOGRÁFICAS

Iniciais do nome:

Idade: Nível salarial:

( ) 0 a 13 anos ( ) 1 –| 2 salários mínimos

( ) 14 a 17 anos ( ) 2 –| 3 salários mínimos

( ) 18 a 24 anos ( ) 3 –| 4 salários mínimos

( ) 25 a 39 anos ( ) Acima de 4 salários mínimos

( ) 40 a 59 anos

( ) 60 ou mais

Sexo: Férias / Décimo terceiro:

( ) Masculino

( ) Feminino

Nível de escolaridade: Jornada / Pausas:

( ) Sem instrução e menos de um ano de estudo

( ) Nível fundamental incompleto ou equivalente

( ) Nível fundamental completo ou equivalente

( ) Nível médio incompleto ou equivalente Trabalha durante sua folga? Se sim, em que?

( ) Nível médio completo ou equivalente

( ) Nível superior incompleto ou equivalente

( ) Nível superior completo ou equivalente

( ) Não determinado

DADOS DA FUNÇÃO

Tempo de serviço na função: __________________________________________________

Tempo de serviço na empresa terceirizada:______________________________________

Tempo de serviço na Maternidade Escola Januário Cicco:_________________________

O que entende por Segurança do paciente? Dê exemplo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 177: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

177

O que entende por Evento Adverso? Dê exemplo

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Já ocorreu com você, ou você tomou conhecimento ou testemunhou, algum tipo de

incidente ou acidente ou anormalidade ou evento adverso durante o transporte ou

transferência de paciente na Maternidade Escola Januário Cicco?

( ) Sim (a- ocorreu comigo ( ); b- tomei conhecimento ( ); c- testemunhei ( ))

( ) Não

Em caso afirmativo, descreva. ________________________________________________

a-incidente ou acidente ( ); b-anormalidade ( ); c-evento adverso ( )

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

Qual a relação que sua atividade (transporte e transferência de pacientes) tem com a

segurança do paciente e, portanto, com a ocorrência de eventos adversos? Explique.

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

O que é preciso ser feito (pela MEJC, pela sua empresa, por você, pelo paciente, pelo

acompanhante etc) para que sua atividade (transporte e transferência de pacientes) seja

realizada de maneira a garantir/promover/propiciar a segurança do paciente e a evitar

ou minimizar a ocorrência de eventos adversos?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Já passou por algum tipo treinamento específico para exercer sua função?

( ) Sim

( ) Não

Em caso afirmativo:

Quantos?

__________________________________________________________________________

Page 178: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

178

Quanto tempo durou?

__________________________________________________________________________

O que foi abordado?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Há quanto tempo foi seu último treinamento?

___________________________________________________________________________

Quais pontos positivos, em relação a sua função, da Maternidade Escola Januário

Cicco?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quais pontos negativos, em relação a sua função, da Maternidade Escola Januário

Cicco?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

SUGESTÕES DE MELHORIA:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

MUITO OBRIGADA PELA SUA PARTICIPAÇÃO!

PREENCHIMENTO POR PARTE DO APLICADOR

Dia:______

Hora:______

Data:___/___/___

Page 179: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

179

APÊNDICE G - QUESTIONÁRIO COM GESTORES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

Nome: _____________________________________________________________________

Idade: __________________

Formação: __________________________________________________________________

Função na MEJC:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Tempo na função: __________________

Tarefas e responsabilidades em geral:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Responsabilidades específicas com o setor dos maqueiros:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Já teve algum tipo de dificuldade relacionado a esse setor na sua gestão? Qual (is)?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Já houve incidentes e/ou acidentes, com pacientes ou com os próprios maqueiros durante sua

gestão, relacionados com o transporte e movimentação do paciente? Em caso afirmativo: De

que tipo? Quando ocorreram? O que foi feito?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Quais principais dificuldades você elencaria para este setor? Por exemplo: há maqueiros e

equipamentos suficientes? O turno da noite sem supervisão? Ambiente adequado (pisos,

acessibilidade)? Elevadores suficientes?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Como entende a relação dos maqueiros com a segurança do paciente?

___________________________________________________________________________

Page 180: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

180

APÊNDICE H - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

TCLE para maiores de idade:

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa: Análise ergonômica do trabalho

dos maqueiros e sua relação com a segurança do paciente em uma maternidade escola da

cidade de Natal, que tem como pesquisador responsável Aianna Rios Magalhães Véras e

Silva. Esta pesquisa pretende analisar a atividade dos maqueiros da Maternidade Escola

Januário Cicco (MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, visando identificar os

determinantes dessa atividade laboral que impactam na segurança dos pacientes. Pretende-se

com isso, indicar medidas de melhoria da atividade que minimizem as possibilidades de

ocorrência dos eventos adversos, ou as vulnerabilidades associadas à atividade, e aumentem a

segurança do paciente.

O motivo que nos leva a fazer este estudo é que percebe-se a importância de

pesquisas que visem conhecer os incidentes que podem ocorrer com os pacientes durante o

transporte intra-hospitalar, a exemplo, um estudo recente realizado por Sousa et al (2018)

com maqueiros de um hospital em Goiás, verificou que os incidentes relatados por eles,

advindos do transporte do paciente, os colocam situação de vulnerabilidade e em conflito

com as diretrizes do hospital, além de ratificar, em sua pesquisa, a escassez de literatura

que envolva a atividade laboral dos maqueiros e os riscos envolvidos na mesma.

Observou-se, também, a necessidade do estudo pela demanda real em uma maternidade

escola na cidade de Natal, pois na mesma nunca houve um estudo com tais profissionais,

principalmente, envolvendo os pacientes e acompanhantes no processo da pesquisa,

devendo assim haver a exploração da literatura a respeito do tema para que haja melhorias

na saúde e segurança dos pacientes e do profissional estudado.

Caso você, maqueiro, decida participar, você deverá participar de entrevistas

semiestruturadas, a fim de se descobrir o seu perfil profissional (idade, sexo, escolaridade),

demandas e queixas a respeito do seu trabalho, o que elencariam como os pontos positivos no

seu trabalho, durante a entrevista haverá registro de imagens e/ou vídeos, assim como durante

como durante a observação da realização de suas atividades. Além disso, ocorrerá a aplicação

Page 181: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

181

de questionário Nórdico, com o objetivo de analisar e averiguar os problemas musculares que

a afetam o sistema locomotor. Já com pacientes, ocorrerá a aplicação de um Check list,

denominado de escala de avaliação do risco na movimentação e transferência, permitindo

avaliar os riscos ergonômicos que podem estar presentes durante os procedimentos de

movimentação e transporte de pacientes, possibilitando, dessa forma, fazer uma estimativa do

tipo de assistência requerida por estes, além de um questionário com pacientes e/ou

acompanhantes, visando recolher as suas percepções a respeito da MEJC. Tais processos

levaram, cerca de, 3 meses para coleta. Qualquer registro de vídeo, imagem ou voz será para

uso do próprio pesquisador, sendo excluído posteriormente.

Durante a realização das entrevistas e questionários a previsão de riscos é mínima, ou

seja, o risco que você corre é semelhante àquele sentido exame físico ou psicológico de rotina.

Sendo eles, o de causar constrangimentos aos profissionais maqueiros, aos pacientes e aos

acompanhantes durante a realização das entrevistas ou na aplicação dos questionários, bem

como acontecer algum desconforto, ansiedade e/ou estresse devido a temática abordada, e

diante de sua ocorrência o pesquisador assume a responsabilidade de dar assistência integral

às complicações e danos decorrentes dos riscos previstos, bem como, também, ao

ressarcimento e/ou indenizações, caso comprovado sua necessidade.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para

Aianna Rios Magalhães Véras e Silva, (86)99932-3597, [email protected].

Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer

fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em

congressos ou publicações científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe

identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa pesquisa em local

seguro e por um período de 5 anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo

pesquisador e reembolsado para você.

Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você será

indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá entrar em contato com o

Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes, telefone: 3342-5003,

endereço: Av. Nilo Peçanha, 620 – Petrópolis – Espaço João Machado – 1° Andar – Prédio

Administrativo - CEP 59.012-300 - Nata/Rn, e-mail: [email protected].

Page 182: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

182

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o

pesquisador responsável Aianna Rios Magalhães Véras e Silva.

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados

serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela

trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da

pesquisa Análise ergonômica do trabalho dos maqueiros e sua relação com a segurança do

paciente em uma maternidade escola da cidade de Natal, e autorizo a divulgação das

informações por mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde que

nenhum dado possa me identificar.

Assinatura do participante da pesquisa

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo Análise ergonômica do trabalho dos

maqueiros e sua relação com a segurança do paciente em uma maternidade escola da cidade

de Natal, declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir fielmente os

procedimentos metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e assegurados ao

participante desse estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade sobre a identidade do

mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei

infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de

Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Aianna Rios Magalhães Véras e Silva

Page 183: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

183

APÊNDICE I - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGENS (FOTOS E

VÍDEOS)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

Eu, ____________________________________________________________,

profissional maqueiro ou paciente da Maternidade Escola Januário Cicco, AUTORIZO o(a)

pesquisadora Aianna Rios Magalhães Véras e Silva, com pesquisa intitulada: análise

ergonômica do trabalho dos maqueiros e a sua relação com a segurança do paciente em uma

maternidade escola na cidade de natal, sob coordenação do Prof. Ricardo José Matos de

Carvalho a fixar, armazenar e exibir a minha imagem por meio de vídeos com o fim

específico de inseri-la nas informações que serão geradas na pesquisa, aqui citada, e em outras

publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas científicas, congressos e jornais.

A presente autorização abrange, exclusivamente, o uso de minha imagem para os fins

aqui estabelecidos e deverá sempre preservar o meu anonimato. Qualquer outra forma de

utilização e/ou reprodução deverá ser por mim autorizada. O pesquisador responsável Aianna

Rios Magalhães Véras e Silva, assegurou-me que os dados serão armazenados em meio de

vídeo sob sua responsabilidade, por 5 anos, e após esse período, serão destruídas. Assegurou-

me, também, que serei livre para interromper minha participação na pesquisa a qualquer

momento e/ou solicitar a posse de minhas imagens.

Natal, ______/______/ 2020.

Assinatura do participante da pesquisa

Impressão datiloscópica do participante

Assinatura e carimbo do pesquisador responsável

Page 184: AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA

184

APÊNDICE J - TERMO DE COMPROMISSO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM ERGONOMIA – GREPE

Ilma Profª. Drª. Janaina Cristiana de Oliveira Crispim Freitas

Chefe do setor de Pesquisa da GEP/MEJC.

Eu, AIANNA RIOS MAGALHÃES VÉRAS E SILVA, (86) 99932-3597,

[email protected], submeto o presente projeto de pesquisa intitulado ”ANÁLISE

ERGONÔMICA DO TRABALHO DOS MAQUEIROS E A SUA RELAÇÃO COM A

SEGURANÇA DO PACIENTE EM UMA MATERNIDADE ESCOLA NA CIDADE DE

NATAL”, sob orientação do Ricardo José Matos de Carvalho, Professor, Doutor,

Departamento de engenharia de produção, a ser desenvolvido como:

( ) Relato de caso para fins acadêmicos*;

( ) Relato de caso para fins científicos*;

( ) TCC de conclusão de curso da graduação;

( ) TCC de curso de pós-graduação lato sensu;

( x ) Dissertação de mestrado;

( ) Tese se doutorado;

( ) Pós-doutoramento;

Outros: _______________________

Declaro que o projeto de pesquisa apresentado contempla os princípios vigentes da

Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS) 466/12 que trata da Pesquisa

envolvendo Seres Humanos. Quando se aplicar, comprometo-me a entregar um relatório

parcial por escrito, até 30 dias após a finalização da coleta do material e apresentar de forma

oral e/ou escrita o produto da minha pesquisa, desenvolvida nesta Maternidade, citar o nome

desta instituição nos trabalhos publicados em congressos, simpósios ou outras atividades

semelhantes, bem como em jornais, revistas e periódicos nacionais ou estrangeiros, seja no

título, resumo (abstract) ou na metodologia do estudo publicado como artigo científico.

*Não será necessário relatório parcial e final.

Natal, 13 de agosto de 2018.

__________________________

Pesquisador (a) responsável