universidade federal de santa catarina centro … · foi possível concluir que a ete compacta...

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2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLGICO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITRIA E

AMBIENTAL

Giliane Feital Klaus

ESTUDO DE UM SISTEMA COMPACTO DE TRATAMENTO

DE EFLUENTES SANITRIOS DO TIPO LODOS ATIVADOS.

Trabalho de Concluso de Curso

apresentado Universidade Federal de Santa Catarina para Concluso do

Curso de Graduao em Engenharia Sanitria e Ambiental.

Orientadora: Jamile Wagner, Msc.

Florianpolis

2012

3

4

5

Dedico este trabalho a minha

famlia, pelo amor incondicional,

em especial ao meu pai pelo

carinho, apoio e confiana nas

difceis escolhas de minha vida.

6

7

AGRADECIMENTOS

Agradeo primeiramente aos meus pais, Rudi Delmar Klaus e Regina

Maria Barra Feital Klaus, que no deixaram de lutar e sonhar nem por

um segundo pela formao de seus filhos. So meus fortes exemplos de

coragem, de unio, de amor e de vitria. A eles, toda gratido!

A minha irm, minha metade, minha amiga e incentivadora, pelas

conversas e confiana.

Agradeo ao Henrique da Cunha Santanna, pelo grande amor,

companheirismo, incentivo e pacincia ao longo da minha formao,

agradeo principalmente por ter acreditado.

Agradeo a minha orientadora, Jamile Wagner, pelo enorme

conhecimento e pacincia a mim dedicada. Uma jovem mulher com

garra e dedicao para o melhor.

MWV Rigesa, pela oportunidade do aprendizado profissional.

Em especial gostaria de agradecer ao meu padrinho o Engenheiro

Sanitarista Jacson Roberto Guimares e a todos da empresa com quem

convivi durante o perodo de estgio.

Agradeo aos meus amigos, os de infncia, os da faculdade, os do

trabalho, os da vida, sem eles as etapas se tornariam mais difceis de

serem vencidas.

Obrigada a todos os tutores que passaram ao longo de minha

formao, com certeza carrego um pouco de cada um em minhas

palavras e atitudes.

E por fim, agradeo a Deus, pelo apoio, vida e f.

8

9

RESUMO

Estaes compactas de tratamento de esgoto so ideais para o

atendimento de pequenas comunidades e habitaes isoladas,

apresentando eficincia suficiente para cumprimento da legislao

vigente relacionada a baixo custo de investimento. O presente trabalho

tem como objetivo avaliar uma estao compacta do tipo Lodos

Ativados, utilizada para o tratamento de esgoto sanitrio, instalada no

alojamento de colaboradores da indstria papeleira MWV Rigesa

Celulose, Papel e Embalagens Ltda., no municpio de Trs Barras, Santa

Catarina. O sistema de tratamento era constitudo das seguintes etapas:

tratamento preliminar, tratamento secundrio (tanque anxico, tanque de

aerao, decantador secundrio e recirculao do lodo), vala de

infiltrao e destinao final do lodo. A partir da avaliao do sistema,

foi possvel concluir que a ETE compacta apresentou eficincia mdia de

remoo de matria orgnica carboncea igual a 81% e de nitrognio

amoniacal igual a 95%. No efluente tratado obteve-se concentraes

mdias de DBO5,20C e NH4+-N iguais a 58,0 mgL

-1 e 2,4 mgL

-1,

respectivamente. O lodo apresentou uma tima sedimentabilidade, com

valor mdio de IVL igual a 50,9 mLg-1

. Em relao aos slidos

sedimentveis em cone de Imhoff, obteve-se um valor mdio de 0,1

mLL-1

, atendendo aos limites de lanamento especificados em

legislao brasileira. Foi possvel identificar problemas quanto

ocorrncia do processo de desnitrificao no decantador secundrio,

causando a flotao do lodo nessa unidade e prejudicando a qualidade do

efluente tratado. Com o intuito de solucionar este problema, foi proposta

uma readequao da ETE a fim de que a desnitrificao ocorra no tanque

anxico. De maneira geral, a ETE compacta se mostrou como uma

alternativa eficiente e econmica para o tratamento descentralizado de

esgoto sanitrio.

Palavras-chave: ETE compacta; Lodos Ativados; tratamento de esgoto

sanitrio.

10

11

ABSTRACT

Compact wastewater treatment is ideal for small and isolated

communities, with enough efficiency to compliance with current

legislation related to low investment cost. The present study aims to

evaluate a compact wastewater treatment Activated Sludge type, used for

treating domestic sewage, installed in the housing of employees of the

paper industry MWV Rigesa, in Trs Barras, Santa Catarina. The

treatment system consisted of the following steps: preliminary treatment,

secondary treatment (anoxic tank, aeration tank, secondary clarifier and

sludge recirculation), infiltration trench and disposal of sludge. From the

evaluation of the system, it was concluded that the WWTP compact had

an average efficiency of removal of carbonaceous organic matter equal

to 81% and ammonia equal to 95%. In the treated effluent was obtained

average concentrations of BOD5,20C and NH4+-N equal to 58.0 mLg

-1

and 2.4 mLg-1

, respectively. The sludge had a great sedimentation,

averaging sludge volume index equal to 50.9 mLg-1

. For sedimented

solids in the Imhoff cone was obtained a mean value of 0.1 mLL-1

,

given the limits specified in release Brazilian law. It was possible to

identify issues regarding the occurrence of denitrification in the

secondary clarifier, causing sludge flotation in this unit and damaging

the quality of treated effluent. In order to solve this problem, it was

proposed a readjustment of the WWTP. In general, compact WWTP

proved as an efficient and economical for decentralized treatment of

sewage.

Keywords: compact wastewater treatment; Activated Sludge; sanitary

wastewater treatment.

12

13

NDICE GERAL

1 INTRODUO.............................................................................. 19

2 OBJETIVOS ................................................................................... 21

2.1 Objetivo Geral ....................................................................... 21

2.2 Objetivos Especficos ............................................................ 21

3 FUNDAMENTAO TERICA ................................................. 23

3.1 Lodos Ativados ...................................................................... 23

3.1.1 Lodos Ativados do Tipo Convencional ............................. 26

3.1.2 Lodos Ativados do Tipo Aerao Prolongada ................... 27

3.2 Remoo Biolgica de Nitrognio ......................................... 27

3.2.1 Amonificao e Assimilao ............................................. 30

3.2.2 Nitrificao ........................................................................ 30

3.2.3 Desnitrificao ................................................................... 34

3.3 Microbiologia em Lodos Ativados ........................................ 36

4 METODOLOGIA .......................................................................... 43

4.1 Local de Estudo ..................................................................... 43

4.2 Estao Compacta de Tratamento por Lodos Ativados ......... 45

4.3 Anlises e Instalaes Laboratoriais ...................................... 51

4.4 Clculos realizados ................................................................ 55

4.4.1 Vazo de Recirculao ...................................................... 55

4.4.2 ndice Volumtrico do Lodo .............................................. 56

4.4.3 Relao Alimento/Microrganismo (A/M) ......................... 56

4.4.4 Eficincia de remoo ....................................................... 57

4.4.5 Carga Orgnica Volumtrica ............................................. 57

14

5 RESULTADOS E DISCUSSES ................................................. 59

5.1 Monitoramento da ETE Compacta ........................................ 59

5.1.1 Caracterizao Preliminar da ETE Compacta ................... 59

5.1.2 Caractersticas do Esgoto Bruto ........................................ 61

5.1.3 Comportamento do pH e da temperatura .......................... 61

5.1.4 Comportamento dos Slidos ............................................. 64

5.1.5 Comportamento da Matria Orgnica Carboncea e

Nitrogenada .................................................................................... 69

5.1.6 Microscopia ....................................................................... 73

5.2 Alternativas de Melhoria da ETE .......................................... 76

6 CONCLUSES ............................................................................. 79

7 RECOMENDAES .................................................................... 81

8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................... 83

15

NDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema bsico das unidades de sistema de lodos ativados . 25

Figura 2 - Transformao do nitrognio no processo biolgico de

tratamento. .............................................................................................. 29

Figura 3 Espcies de bactrias autotrficas capazes de oxidar amnia

e nitrito. .................................................................................................. 31

Figura 4 Amostra do licor misto do tanque de aerao com bactrias

livres e dispersas. .................................................................................... 38 Figura 5 Alguns microrganismos presentes em Lodos Ativados: a.

Monas spp. (400x); b. Arcella spp. (1000x); c. Paramecium spp. (200x);

d. Aspidisca spp. (200x); e. Opercularia spp.; f. Epistylis spp.; g.

Rotferos; h. Aelosoma spp. .................................................................... 41

Figura 6 Mapa do estado de Santa Catarina com a localizao do

municpio de Trs Barras........................................................................ 43 Figura 7 Foto area do alojamento. .................................................... 44

Figura 8 ETE compacta Tratamento Primrio e Secundrio. .......... 45

Figura 9 ETE compacta Tratamento Secundrio. ............................ 46

Figura 10 - Fluxograma do Sistema de Tratamento de Efluentes

instalado no alojamento. ......................................................................... 47

Figura 11 - Chegada do efluente bruto peneira esttica da ETE

compacta................................................................................................. 48 Figura 12 - Decantador secundrio (esquerda) e bombas de recirculao

do lodo (direita). ..................................................................................... 49

Figura 13 - Tanque para armazenamento do lodo excedente (esquerda) e

Filtro Prensa para desaguamento do lodo (direita). ................................ 50

Figura 14 - Calha Parshall na sada da estao de tratamento. .............. 50

Figura 15 - rea da Vala de Infiltrao. ................................................ 51

Figura 16 - Foto do Laboratrio Central na Fbrica de Papel de Trs

Barras. .................................................................................................... 52

Figura 17 Variao de pH na entrada e sada do sistema. .................. 63

Figura 18 Variao de temperatura na entrada e na sada do sistema. 63

Figura 19 Concentraes de Slidos Suspensos no Tanque de Aerao

e a proporo de SSV/SST. .................................................................... 66

16

Figura 20 - Concentraes de Slidos Suspensos no Lodo de

Recirculao e a proporo de SSV/SST. .............................................. 66

Figura 21 - Comportamento do ndice Volumtrico do Lodo................ 67

Figura 22 - Valores de Slidos Sedimentveis em Cone de Imhoff por 1

hora na sada da ETE. ............................................................................ 68

Figura 23 Concentraes de DBO5,20C no afluente e efluente, com a

eficincia de remoo............................................................................. 71

Figura 24 - Concentraes de NH4+-N no afluente e efluente, com a

eficincia de remoo............................................................................. 71

Figura 25 - Lodo flotado no decantador secundrio (11 de Abril de

2012). ..................................................................................................... 72 Figura 26 Flocos de lodo ativado presentes no tanque de aerao

(100x). .................................................................................................... 74

Figura 27 a. Ciliado livre; b. Rotfero (400x); c. Ciliado livre; d.

Arcella sp.(400x). ................................................................................... 75

Figura 28 a. Vorticella spp. (ciliado fixo); b. Ciliado livre; c.

Aspidisca spp. (400x); d. Ciliado livre. .................................................. 76

Figura 29 - Desprendimento de lodo do fundo do decantador

secundrio. ............................................................................................. 77

Figura 30 Esquema de um sistema MLE (Modified Ludzack-Ettinger).

............................................................................................................... 78

17

NDICE DE TABELAS

Tabela 1 Idade do lodo mnima para a ocorrncia da nitrificao. ..... 33

Tabela 2 - Agrupamento de organismos de diversos gneros comumente

encontrados em Sistemas de Lodos Ativados......................................... 39

Tabela 3 Condies de desempenho num sistema operado por Lodos

Ativados de acordo com a predominncia da fauna microscpica. ........ 40

Tabela 4 - Rotina das anlises laboratoriais. .......................................... 53

Tabela 5 - Parmetros fsico-qumicos e tcnicas analticas utilizadas. . 54

Tabela 6 Vazo de recirculao do lodo de acordo com a razo de

recirculao. ........................................................................................... 60 Tabela 7 Caractersticas do esgoto bruto e cargas aplicadas. .............. 61

Tabela 8 Resultados de pH e temperatura obtidos em amostras de

afluente, tanque de aerao e efluente. ................................................... 62

Tabela 9 Concentraes de slidos suspensos no tanque de aerao e

na recirculao do lodo. .......................................................................... 65

Tabela 10 Eficincia de remoo de DBO5,20C e NH4+-N. ................. 70

Tabela 11 - Concentraes de nitrito e nitrato no afluente e no efluente

da ETE. ................................................................................................... 73

18

19

1 INTRODUO

O controle ambiental uma grande preocupao governamental e dos

centros de pesquisa que estudam tecnologias adequadas para reverter a

tendncia degradao do meio ambiente. Junto com a conscientizao

da sociedade e a criao de legislaes ambientais mais restritivas, estes

fatores tendem a assegurar a no ocorrncia de prejuzos irreparveis e

garantir a melhoria da qualidade de vida das geraes atuais e futuras.

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico,

realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) em

2008, apenas 55,16% dos municpios brasileiros apresentavam servio

de esgotamento sanitrio com rede coletora de esgoto e 28,5% possuam

tratamento dos efluentes.

As atividades humanas so um dos fatores de principal causa de

lanamento inadequado de esgotos no tratados diretamente nos corpos

receptores, promovendo uma acelerada deteriorao da qualidade da

gua. Alm do material orgnico carbonceo, esses efluentes podem

conter concentraes de outros compostos que servem de nutrientes para

o crescimento de microrganismos, sendo capazes de ocasionar um efeito

poluidor ainda maior.

Elevadas concentraes de nitrognio e fsforo presentes nas

guas residurias, quando dispostos no ambiente aqutico sem

tratamento, provocam a degradao do corpo hdrico e podem acarretar

em um fenmeno denominado de eutrofizao. A eutrofizao tem como

consequncia o acentuado crescimento de algas, principalmente as

cianofceas; reduo dos teores de oxignio dissolvido;

comprometimento da esttica do meio; e problemas de transparncia,

gosto, odor e potabilidade das guas.

Diante do exposto e considerando os problemas que o lanamento

de efluentes sanitrios pode provocar no meio ambiente, fundamental o

desenvolvimento de pesquisas, monitoramentos e otimizao dos

parmetros operacionais de estaes de tratamento de efluentes de guas

residurias. Alm disso, de acordo com Sousa & Chernicharo (2005),

diante do perfil sanitrio e scio-econmico das comunidades brasileiras,

constata-se a necessidade por sistemas simplificados de coleta e

tratamento dos esgotos, com baixos custos de implantao e operao,

simplicidade operacional e sustentabilidade do sistema como um todo.

Os sistemas centralizados de tratamento de esgotos so

amplamente utilizados em grandes cidades e so normalmente

associados a uma elevada eficincia tecnolgica, com altos custos

empregados na concepo do sistema, principalmente no que se refere ao

20

transporte de efluentes. Estaes compactas so ideais para o

atendimento de pequenas comunidades e habitaes isoladas,

apresentando eficincia suficiente para cumprimento da legislao

vigente relacionada a baixo custo de investimento (PROSAB, 2009).

Nunes (2004) salienta que essas estaes compactas no precisam

ser necessariamente pr-fabricadas, elas podem tambm ser construdas

em alvenaria no local. O autor ressalta ainda que a principal vantagem

dos sistemas pr-fabricados a facilidade com que os mesmos podem

ser desmontados e relocados em outro local.

Na rea de tratamento de efluentes, os processos biolgicos que

utilizam microrganismos para remoo da matria orgnica e nutrientes

em geral, constituem uma alternativa mais econmica. Desta forma, os

processos biolgicos vm sofrendo inovaes no s nas variantes dos

processos existentes como tambm na amplitude de suas aplicaes.

Dentre os processos de tratamento biolgico, o sistema de Lodos

Ativados atualmente o mais utilizado, a nvel mundial, para a

depurao de efluentes sanitrios e industriais caracterizados por

contaminao de carga orgnica e/ou produtos nitrogenados, em

situaes em que necessria uma elevada qualidade do efluente e

reduzidos requisitos de rea (VON SPERLING, 2002).

O princpio do processo baseia-se na oxidao bioqumica para

remoo de compostos orgnicos e inorgnicos presentes no esgoto

bruto, mediada por uma populao microbiana diversificada e mantida

em suspenso num meio aerbio, que se utiliza do substrato presente no

efluente para se desenvolver. A eficincia do processo depende, dentre

outros fatores, da capacidade de floculao da biomassa ativa e da

composio dos flocos formados.

As unidades fundamentais que integram um sistema de lodos

ativados constituem-se basicamente de um tanque de aerao, de um

decantador secundrio e da recirculao do lodo. Podendo as variantes

do sistema serem adaptadas para incluir remoes biolgicas de

nitrognio e fsforo.

Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo principal

avaliar uma estao compacta, do tipo Lodo Ativado, utilizada para o

tratamento de esgoto sanitrio, instalada no alojamento de colaboradores

da indstria papeleira MWV Rigesa Celulose, Papel e Embalagens Ltda.,

no municpio de Trs Barras, Santa Catarina.

21

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Estudar um sistema compacto do tipo Lodos Ativados utilizado no

tratamento de efluentes sanitrios provenientes de um alojamento de

colaboradores da empresa MWV Rigesa Celulose, Papel e Embalagens.

2.2 Objetivos Especficos

Avaliar o desempenho da ETE em operao a partir da caracterizao qumica, fsica e biolgica;

Propor alternativas de melhorias do sistema em questo.

22

23

3 FUNDAMENTAO TERICA

3.1 Lodos Ativados

O sistema de tratamento de guas residurias pelo processo de Lodos

Ativados para despejos domsticos e industriais, corresponde a um dos

mtodos biolgicos mais eficientes na remediao de poluentes em

soluo. O sistema constitudo de um reator biolgico onde ocorrem as

reaes bioqumicas de remoo de matria orgnica e, em determinadas

condies, da matria nitrogenada.

Esse sistema biolgico de tratamento de efluentes utiliza

microrganismos na depurao da matria orgnica e de outros

componentes presentes nas guas residurias. um sistema amplamente

utilizado a nvel mundial por apresentar tima eficincia, maior

flexibilidade de operao e menor disponibilidade de rea para

implantao (VON SPERLING, 2002). No Brasil, as condies

climticas tropicais apresentam-se como vantagem na utilizao de

Lodos Ativados, por propiciar maior atividade microbiolgica no reator.

Entretanto, este processo apresenta nvel de mecanizao superior

ao de outros sistemas de tratamento de efluentes, implicando em maiores

consumos de energia e de custos, alm de cuidados mais detalhados

quanto ao correto manuseio da estao de tratamento.

Historicamente, o Sistema de Lodos Ativados teve sua origem na

Inglaterra por volta de 1914, quando Arden e Lockett estudaram o uso de

slidos floculados com a aerao do efluente, obtendo resultados

significativos. O nome Lodos Ativados foi assim chamado, pois os

estudiosos acreditavam que o lodo contido no efluente ativava-se e

adquiria a propriedade de estabilizar a matria orgnica. No ano

seguinte, na Inglaterra e nos Estados Unidos, duas estaes pilotos

entraram em operao, demonstrando que o processo operado de modo

contnuo era mais adequado (JEPPSON, 1996 apud LEVY, 2007). Em 1960, os Sistemas de Lodos Ativados foram adaptados para

remoo biolgica de nutrientes. De acordo com USEPA (2010),

Ludzack & Ettinger (1961) e Wuhrman (1964) aperfeioaram o modelo

introduzindo o processo de nitrificao e desnitrificao para a remoo

de nitrognio das guas residuais. O autor ainda cita os trabalhos de

Levin e Shapiro, que em 1965, pesquisaram a remoo biolgica de

fsforo, desenvolvendo um processo patenteado, conhecido como

PhoStrip.

24

Segundo Cervantes (2009), os sistemas de Lodos Ativados

adaptados para remoo de nitrognio foram rapidamente popularizados,

particularmente para pequenas e mdias estaes de tratamento, aps

percepo das vantagens operacionais e econmicas que o sistema

oferecia perante outros sistemas dimensionados para a remoo desse

nutriente.

Lodo Ativado, conforme Jordo & Pessa (2005), definido

como sendo o floco produzido num esgoto bruto ou decantado pelo crescimento de bactrias zooglias ou outros microrganismos, na

presena de oxignio dissolvido, e acumulado em concentrao suficiente graas ao retorno de outros flocos previamente formados.

A caracterstica principal deste sistema consiste na manuteno

deste lodo biolgico dito como ativo dentro do reator, a qual ser

responsvel pela relao apropriada entre a matria orgnica presente no

efluente e a massa de microrganismos no tanque de aerao. Esta massa

de microrganismos parte constituinte do floco biolgico, que

produzido pelo crescimento e agrupamento destes sob condies

aerbias (HORAN, 1990 apud MEDEIROS, 2005).

As unidades fundamentais que integram um sistema de lodos

ativados constituem-se basicamente de um tanque de aerao, de um

decantador secundrio e da recirculao do lodo, como demonstrado na

Figura 1.

no tanque de aerao que a gua residuria proveniente de um

tratamento preliminar e/ou primrio ser estabilizada biologicamente por

uma massa de microrganismos sob constante aerao mecanizada,

formando os flocos biolgicos. A corrente de sada do tanque de aerao

direcionada para o decantador secundrio, que responsvel pela

separao slido-lquido, permitindo que o sobrenadante saia clarificado,

enquanto parte do lodo biolgico retorna do decantador secundrio ao

tanque de aerao por bombeamento, constituindo o chamado lodo de

retorno. Uma parcela menor dos slidos sedimentados, o lodo excedente,

retirada do fundo do decantador, tratada e disposta corretamente no

ambiente (VON SPERLING, 2002).

25

Figura 1 - Esquema bsico das unidades de sistema de lodos ativados

Fonte: Beranger, 2009.

A recirculao interna dos flocos biolgicos garante a elevada

eficincia do processo, pois com a maior permanncia dos

microrganismos no sistema, a biomassa tem tempo suficiente para

metabolizar praticamente toda a matria orgnica dos esgotos (VON

SPERLING, 2002).

Como descrito por Jordo & Pessa (2005), a biomassa

recirculada formada principalmente por bactrias, fungos, protozorios,

rotferos e nematdeos. As bactrias so os microrganismos de maior

importncia, por serem responsveis pela estabilizao da matria

orgnica e pela formao dos flocos, atravs da converso da matria

orgnica biodegradvel em novo material celular, CO2 e gua, e outros

produtos inertes.

Os fungos so elementos indesejveis ao tratamento, pois

dificultam a boa formao do floco, tendo, em geral, forma filamentosa.

J os protozorios no contribuem diretamente para a estabilizao da

matria orgnica, assim como os rotferos (JENKINS et al., 1993). Atravs do processo de Lodos Ativados, possvel obter um

efluente com baixa concentrao de matria orgnica, alcanando

eficincia de reduo da DBO entre 85 e 95%, para o sistema

convencional, e entre 93 e 98%, para o sistema de aerao prolongada

(VON SPERLING, 2002).

26

O desempenho do processo de lodos ativados est diretamente

relacionado aos fatores que influenciam no crescimento da microfauna,

que compem seu lodo. Segundo Gerardi (1986), esses fatores podem

ser nutricionais, fsicos ou qumicos. Ainda de acordo com o autor, os

fatores nutricionais de grande relevncia incluem a variabilidade de

substrato e nutrientes (alimento), estando assim relacionados s

caractersticas do efluente a ser tratado. J os fatores fsicos incluem pH,

alcalinidade, temperatura e disponibilidade de oxignio, estando

relacionados no s as caractersticas do efluente a ser tratado, como

tambm ao clima e ao prprio sistema de aerao, responsvel pela

disponibilizao de oxignio ao reator. Outro fator que influencia no

crescimento da microfauna do lodo ativado e, consequentemente, na

estabilidade do processo, a presena de substncias inibidoras no

efluente a ser tratado alm de seu grau de toxicidade.

Como exemplifica Von Sperling (2002), os processos de lodos

ativados podem ser classificados em diversas variantes, como por

exemplo, quanto idade do lodo, quanto ao fluxo, e quanto ao afluente

etapa biolgica do sistema. J de acordo com USEPA (1993), os

processos de lodos ativados podem tambm ser divididos pelas

sequncias dos estgios anxicos e aerbios, e pelo mtodo de aerao.

Em relao idade do lodo (tempo de reteno dos slidos), o

sistema pode ser classificado em lodos ativados convencional e lodos

ativados por aerao prolongada. Vale ressaltar, que essas duas variantes

se aplicam tanto para sistemas de fluxo contnuo quanto para sistemas de

fluxo intermitente ou batelada (VON SPERLING, 2002).

3.1.1 Lodos Ativados do Tipo Convencional

Segundo Von Sperling (2002), neste tipo de processo, parte da matria

orgnica em suspenso forma o lodo primrio, originado do processo de

sedimentao, que removida antes da etapa de aerao no reator. No

sistema convencional, a idade do lodo da ordem de 4 a 10 dias e o

tempo de deteno hidrulica no reator da ordem de 6 a 8 horas. Por ter

uma idade de lodo baixa, a biomassa retirada do sistema requer um

tratamento de estabilizao por ainda conter muita matria orgnica.

Essa estabilizao ocorre nos digestores primrios e secundrios, aps

ser submetido a uma etapa de adensamento, para retirar parte da umidade

(VON SPERLING, 2002).

A vantagem de possuir uma etapa primria de remoo da matria

orgnica est associada a menor disponibilidade de oxignio dissolvido

27

no reator, reduzindo custos de consumo de energia com a aerao e

diminuindo o volume do reator biolgico.

3.1.2 Lodos Ativados do Tipo Aerao Prolongada

Nos reatores de aerao prolongada, a idade do lodo controlada entre

18 a 20 dias, podendo chegar a 30 dias em certos casos, fazendo com que

a biomassa permanea no sistema por um perodo mais longo,

aumentando a quantidade de microrganismo no reator. Com isso a

relao alimento/microrganismos menor do que no processo

convencional (VAN HAANDEL & MARAIS, 1999), assim, a respirao

endgena exercida tende a ser maior, pois as bactrias, para

sobreviverem, passam a utilizar nos seus processos metablicos a prpria

matria orgnica componente de suas clulas, convertendo-a em gs

carbnico e gua. Logo, a estabilizao do lodo em excesso ocorre

dentro do tanque de aerao, estando o mesmo pronto para destinao

final aps desaguamento, evitando a etapa complementar de tratamento

do lodo como nos processos de lodos ativados convencional.

Como o processo de estabilizao do lodo ocorre dentro do

prprio sistema e a fim de evitar a gerao de alguma outra forma de

lodo que necessite posterior estabilizao, neste tipo de processo no se

faz necessrio a utilizao de um decantador primrio,

consequentemente no h unidades de digesto de lodo, simplificando o

fluxograma do processo (VON SPERLING, 2002).

O processo de lodos ativados por aerao prolongada

recomendado para que se tenha a promoo satisfatria da nitrificao,

visto que as bactrias nitrificantes so de crescimento lento em

comparao com as bactrias heterotrficas que oxidam a matria

orgnica.

Alm disso, o sistema de aerao prolongada a variante de lodos

ativados mais eficiente na remoo de DBO, embora exija maior rea

para construo e tenha maior consumo de energia eltrica, quando

comparado ao processo convencional. Segundo Alm Sobrinho (1983), a

eficincia do processo em termos de remoo de DBO de 90 a 98% e a

nitrificao quase que total.

3.2 Remoo Biolgica de Nitrognio

O nitrognio encontrado em diversas formas em meio aquoso devido

aos vrios nmeros de oxidao que pode assumir, como: nitrognio

28

molecular ou gasoso (N2), escapando para a atmosfera; nitrognio

orgnico (dissolvido e em suspenso); nitrognio inorgnico,

representado pela amnia tanto na forma livre (NH3) quanto na ionizada

(NH4+); nitrato (NO3

-) e nitrito (NO2

-) (SEDLAK, 1991).

Ainda de acordo com Sedlak (1991), em esgotos sanitrios recm-

coletados o nitrognio encontrado predominantemente na forma

orgnica, correspondendo a 60% e 40% de N-amoniacal, que

transformado por meio da decomposio da matria orgnica contendo

protenas e na hidrlise da ureia.

Para a remoo de nitrognio de efluentes domsticos tm-se os

processos fsico-qumicos e os processos biolgicos. Em geral os

processos fsico-qumicos exigem maior manuteno e podem causar

impactos ambientais considerveis tais como a liberao de amnia no

processo de stripping, produo de grande quantidade de lodo, alm do

custo com produtos qumicos. Desta forma os processos biolgicos tm

sido a melhor alternativa, enquanto os fsico-qumicos so usados

somente para o polimento de efluente de sistemas biolgicos (SEDLAK,

1991).

Para os processos biolgicos so utilizadas as transformaes que

ocorrem com o nitrognio na natureza, partindo principalmente do N-

amoniacal at a liberao do nitrognio gasoso. As transformaes que

podem ocorrer no sistema biolgico de tratamento para remoo de

nitrognio so mostradas na Figura 2.

As principais etapas no processo biolgico de remoo de

nitrognio nos sistemas de tratamento de esgoto domstico so: a

amonificao, a assimilao, a nitrificao (nitritao e nitratao) e a

desnitrificao. Nestes sistemas, o nitrognio pode ser removido de 15 a

30% pela etapa de assimilao. Entretanto, somente com a etapa de

desnitrificao possvel alcanar um elevado nvel de remoo de

nitrognio e uma baixa concentrao de nitrognio inorgnico no

efluente (USEPA, 2010).

29

Figura 2 - Transformao do nitrognio no processo biolgico de tratamento.

Fonte: Adaptado de Metcalf & Eddy (2003).

Segundo Da Rocha (2003), no processo de remoo biolgica de

nitrognio, a etapa de nitrificao responsvel pela oxidao biolgica

da amnia a nitrato, com a utilizao do oxignio molecular presente

como agente oxidante, enquanto na desnitrificao se desenvolve a

reduo biolgica do nitrato a nitrognio molecular utilizando-se

material orgnico como redutor.

Em pases tropicais as elevadas temperaturas favorecem o

desenvolvimento de bactrias nitrificantes, sendo este, o caso do Brasil,

no entanto a maioria das estaes de tratamento desenvolvidas no

projetada para que este processo de nitrificao ocorra.

30

3.2.1 Amonificao e Assimilao

A amonificao pode ocorrer na prpria rede coletora de esgoto, em

sistemas com tratamento primrio, ou em reatores anaerbios, nos quais

a grande maioria dos compostos nitrogenados presentes no esgoto

convertida a NH3 e NH4+ (SILVA FILHO, 2009).

Durante este fenmeno, na etapa de remoo do nitrognio

presente nas guas residurias, a parte nitrogenada orgnica

transformada em nitrognio amoniacal atravs da decomposio

bacteriana de protenas e hidrlise da ureia, com um pouco de

crescimento bacteriano. Segundo Sedlak (1991), como o nitrognio

constitui aproximadamente 13% do peso seco das clulas, parte do

nitrognio amoniacal ser assimilada nas novas clulas formadas, como

demonstra van Haandel & Marais (1999) na equao abaixo:

(Equao 1)

Onde R um radical orgnico.

3.2.2 Nitrificao

Um importante processo de oxidao no tratamento de esgotos o

referente s formas nitrogenadas. A nitrificao a oxidao biolgica

do nitrognio amoniacal para nitrato, com a formao de nitrito como

produto intermedirio, via microrganismos auttrofos

quimiossintetizantes (ou quimioauttrofos), para os quais o gs

carbnico a principal fonte de carbono para sntese de novas clulas, e

a energia obtida atravs da oxidao de um substrato inorgnico de

nitrognio, derivado do on amnio (NH4+) e nitrito (NO2

-) (VON

SPERLING, 2002).

A nitrificao um processo que ocorre em duas fases e envolve

dois grupos de microorganismos, Nitrosomonas e Nitrobacter. Na

primeira fase, conhecida como nitritao, a amnia convertida a nitrito;

e na segunda fase, a nitratao, o nitrito convertido a nitrato. A Figura

31

3 apresenta algumas espcies de bactrias vlidas para as etapas de

nitritao, no grupo da esquerda, e nitratao, grupo da direita:

Figura 3 Espcies de bactrias autotrficas capazes de oxidar amnia e nitrito.

Fonte: Adaptado de Vanparys (2006) apud Silva Filho (2009).

Na nitritao, a reao catalisada pelas bactrias oxidadoras de

amnia, como as do gnero Nitrossomonas. Na nitratao a reao ocorre com a atuao das bactrias oxidadoras de nitrito, como as do

gnero Nitrobacter. Estas reaes so apresentadas nas Equaes 2 e 3, respectivamente, segundo Metcalf & Eddy (2003).

(Equao 2)

32

(Equao 3)

Sendo que a reao global da etapa de nitrificao a soma das

equaes acima, expressa pela Equao 4.

(Equao 4)

Segundo Von Sperling (2005), em estaes de tratamento de

efluentes domsticos projetadas para a remoo de nitrognio, deve-se

haver um cuidado especial com a idade do lodo (C), pois as bactrias

autotrficas do gnero Nitrossomonas possuem taxa de crescimento

bacteriano lento, inferior taxa de crescimento dos microrganismos

heterotrficos responsveis pela estabilizao da matria orgnica, por

isso este controle se faz necessrio, para evitar que as bactrias sejam

lavadas do sistema antes de seu desenvolvimento.

Para garantir a nitrificao, o mesmo autor apresenta a Tabela 1

com indicaes de valores de idade de lodo mnima para a nitrificao,

em funo da temperatura do lquido no reator.

Essas baixas velocidades de crescimento celular pelos

microrganismos nitrificantes chegam a ser uma problemtica tambm

pela pouca biomassa produzida, o que contribui para o aumento da

sensibilidade do processo (SORIA & CHAVARRIA, 1978; HNEL,

1988 apud BASSIN, 2008).

33

Tabela 1 Idade do lodo mnima para a ocorrncia da nitrificao.

Temperatura do

lquido no reator

(C)

c para nitrificao completa

(dias)

5 12

10 9,5

15 6,5

20 3,5

Fonte: Arceivala (1981) apud Von Sperling (2002).

Henze et al. (1997) propuseram as seguintes reaes (Equaes 5

e 6) para as duas etapas da nitrificao, em termos de crescimento

celular, onde possvel perceber que alguns ons amnio so assimilados

pelas clulas.

(Equao 5)

(Equao 6)

Reao global:

(Equao 7)

Assim, como descrito por Henze et al. (1997), as bactrias Nitrobacter crescem a uma velocidade duas vezes maior,

aproximadamente, do que as do gnero Nitrossomonas, concluindo-se,

34

desta forma, que o passo limitante do processo de nitrificao a

transformao do on amnio a nitrito.

As bactrias nitrificantes so bastante sensveis a fatores

ambientais e operacionais que podem influenciar diretamente em seu

metabolismo de forma a interferir no seu crescimento. Dentro os fatores

que afetam a nitrificao podem ser destacados a temperatura, a

concentrao de oxignio dissolvido, o pH e a presena de substncias

txicas ou inibidoras.

A temperatura um fator de grande influncia sobre o

crescimento bacteriano por estar associada velocidade das reaes

metablicas dos microrganismos, e para a operao do sistema, este

um parmetro difcil de ser controlado. Segundo von Sperling (2002) a

nitrificao pode ocorrer numa faixa de temperatura entre 5 a 50 C, com

valor timo na ordem de 25 a 36 C. E como verificado por van Haandel

& Marais (1999), a taxa de crescimento das bactrias nitrificantes dobra

quando a temperatura aumenta em 6 a 7 C.

Para a ocorrncia da oxidao da amnia e do nitrito

indispensvel a presena de oxignio dissolvido no reator, com uma

variao que compreende uma faixa de concentrao de 0,2 a 2,0

mgL-1

. Barnes & Bliss (1983) apud von Sperling (2002) indicam que a concentrao crtica de OD encontra-se em torno de 0,2 mgL

-1,

enquanto van Haandel & Marais (1999) recomendam uma concentrao

mnima de 2,0 mgL-1

a fim de garantir uma eficiente transferncia de

oxignio para o interior do floco biolgico. Para Metcalf & Eddy (2003),

baixas concentraes de OD tem um efeito inibidor maior nas

Nitrobacter do que nas Nitrosomonas, o que pode levar a um aumento da concentrao de nitrito no efluente.

Com a nitrificao, o valor do pH tende a diminuir uma vez que

consumida alcalinidade do meio, logo, segundo van Haandel & Marais

(1999) a taxa de crescimento das bactrias permanece constante na faixa

de pH entre 7 e 8,5. E de acordo com Downing (1978) apud von

Sperling (2002), a taxa de nitrificao tima se encontra com pH entre

7,2 e 8,0.

3.2.3 Desnitrificao

Quando, em guas residuais, o oxignio molecular um fator limitante

para a realizao da respirao aerbia dos microrganismos e h a

presena de formas ionizadas de nitrognio, diz-se que o ambiente

tornou-se anxico. De acordo com Metcalf & Eddy (2003), o termo

35

anxico refere-se a uma via metablica oxidativa sem utilizao do

oxignio. E neste meio anxico que promovido o processo da

desnitrificao, quando o nitrito e o nitrato passam a ser utilizados como

aceptores de eltrons aps a ausncia do oxignio (VAZOLLER, 2001).

Segundo Metcalf & Eddy (2003), a desnitrificao a reduo

dos nitratos, gerados no processo de nitrificao, a xido ntrico (NO),

xido nitroso (N2O) e nitrognio gasoso (N2), com sua liberao para

atmosfera. Nas duas primeiras etapas h a participao de uma enzima

redutase especfica para cada transformao, a nitrato redutase e nitrito

redutase, respectivamente (SOUSA & FORESTI, 1999). A Equao 8

indica esta reduo do nitrato.

(Equao 8)

A desnitrificao realizada por microrganismos heterotrficos,

sendo ditos facultativos, pois em ambiente aerbio utilizam o oxignio

como aceptor final de eltrons e em ambiente anxico, utilizam o nitrato,

sempre consumindo a matria orgnica e convertendo-a em CO2 e H2O.

E ao ser utilizado o nitrato nesta cadeia transportadora de eltrons,

ocorre uma menor formao de quantidade de energia (ATP) se

comparado com a utilizao do oxignio (USEPA, 1993).

Metcalf & Eddy (2003) apresentam, como exemplos de

microrganismos heterotrficos, as seguintes bactrias desnitrificantes:

Achromobacter, Aerobacter, Alcaligenes, Bacillus, Brevibacterium,

Flavobacterium, Lactobacillus, Micrococcus, Proteus, Pseudomonas e

Spirillum. Assim, a desnitrificao pode diminuir o consumo de O2 para a

remoo de matria orgnica, devido liberao do mesmo pela reduo

do nitrato, alm de devolver parte da alcalinidade do sistema que venha a

ser consumida pelo processo de nitrificao. De acordo com van

Haandel et al. (1981), a diminuio do consumo de oxignio na

desnitrificao torna-o mais disponvel para sua utilizao na

nitrificao, podendo ser alcanado uma economia terica de at 62,5%.

Para que ocorra a etapa de desnitrificao num sistema,

necessrio que haja uma fonte de carbono como doador de eltrons para

o metabolismo dos organismos heterotrficos. Como exemplifica

Metcalf & Eddy (2003), esta fonte de carbono pode ser obtida da matria

36

orgnica presente no prprio efluente domstico, dos compostos

orgnicos solveis decorrentes do processo de endogenia e dos produtos

de reserva dos microrganismos. Podem ser utilizados tambm, fontes

externas de carbono de origem qumica, como o metanol e o etanol, o

lodo biolgico de uma estao de tratamento de efluentes e resduos da

agricultura.

Von Sperling (2002) descreve a reao de desnitrificao para o

carbono orgnico como mostra a Equao 9 abaixo:

(Equao 9)

Segundo Sedlak (1991) e Von Sperling (1996) a taxa de

desnitrificao influenciada pela natureza e concentrao da matria

carboncea, temperatura, pH e pela presena de oxignio dissolvido e de

substncias txicas.

A temperatura influencia diretamente o crescimento das bactrias,

sendo que a desnitrificao pode ocorrer na faixa ampla de 0 a 50 C.

Entretanto, a condio mais favorvel de temperatura seria de cerca de

35 C (SOUSA & FORESTI, 1999).

O pH ideal prximo a neutralidade devendo-se evitar valores

inferiores a 6 e superiores a 9, pois diminuem a velocidade de

desnitrificao. Para valores de pH abaixo de 7, a produo de xidos de

nitrognio dotados de alta toxicidade mais acentuada, e caso haja a

presena de nitrito sob estas condies de pH, concentraes elevadas de

cido nitroso podem estar presentes (SOUSA & FORESTI, 1999). Para

Metcalf & Eddy (2003), a faixa tima do pH compreendia entre 6,5 e

8,0, enquanto que para Arceivala (1981) apud Von Sperling (2002)

apresenta valores na faixa de 7,5 a 9,2.

Segundo Sousa & Foresti (1999), uma concentrao de oxignio

dissolvido acima das condies anxicas tem a capacidade de inibir tanto

a atividade como a sntese de enzimas desnitrificantes. Para se ter uma

ideia, concentraes de OD acima de 1 mgL-1

j interferem na atividade

desnitrificante.

3.3 Microbiologia em Lodos Ativados

37

Em um sistema de Lodos Ativados, os flocos so formados por dois

tipos de componentes: os biolgicos, que consistem de uma variedade de

bactrias, fungos, protozorios e alguns metazorios, e os no

biolgicos, formados por partculas orgnicas e inorgnicas (JENKINS

et al., 1993). Os componentes biolgicos so representados por

decompositores (bactrias e fungos) que utilizam a matria orgnica

dissolvida no esgoto, e pelos consumidores (flagelados, ciliados,

rizpodes e pequenos metazorios) que se alimentam de bactrias

dispersas e outros organismos (MADONI, 1994).

Segundo Curds (1969) apud Medeiros (2005) a funcionalidade dos microrganismos no processo de lodos ativados est relacionado a sua

capacidade de assimilar matria orgnica, fungos e bactrias. Por serem

extremamente sensveis s alteraes no processo, os componentes da

microfauna alternam-se no sistema em resposta s mudanas nas

condies fsico-qumicas e ambientais. Desse modo, a composio da

microfauna do lodo ativado revela tendncias do processo, quanto a

eficincia na remoo de DBO, de slidos suspensos, das condies de

sedimentao do lodo, do nvel de aerao empregado no sistema, da

presena de compostos txicos, tais como metais pesados e amnia, alm

de poder indicar a ocorrncia de sobrecargas orgnicas e de nitrificao

(GERARDI, 1986).

As bactrias so consideradas a base do floco de lodo ativado.

Segundo Jenkins et al. (1993), para que o sistema alcance uma boa qualidade do clarificado final, a quantidade de bactrias dispersas no

tanque de aerao deve ser baixa, pois do contrrio, produzir um

efluente com alta turbidez. A Figura 4 evidencia uma amostra

microscpica de um efluente com alta concentrao de bactrias livres e

dispersas.

38

Figura 4 Amostra do licor misto do tanque de aerao com bactrias livres e

dispersas.

Fonte: Jenkins et al., 1993.

A composio da comunidade bacteriana depende da qualidade do

substrato e das condies ambientais do tanque de aerao. As bactrias

filamentosas, por exemplo, so predominantes em sistemas com escassez

de nutrientes, baixa concentrao de OD, baixa carga orgnica, elevada

concentrao de compostos de baixa massa molar, presena de

compostos reduzidos de enxofre, baixo pH, dentre outros (JENKINS et

al., 1993). Os fungos so pouco encontrados em lodos ativados, ocorrendo

em situaes usualmente no encontradas neste tipo de sistema, tais

como, pH baixo e efluente deficiente em nitrognio. A predominncia

destes organismos pode causar intumescimento do lodo e dificultar a

separao do lquido no decantador secundrio (CETESB, 1985).

Os organismos mais desenvolvidos so caracterizados por

atuarem como polidores do efluente, consumindo bactrias dispersas que

no floculam e flocos biolgicos de partculas que no sedimentam, cuja

presena um indicativo das condies de depurao do sistema

(CETESB, 1997; GAUTHIER, 2000). Eles so classificados de acordo

com a Tabela 2 e so associados a condies de desempenho, como

mostrado na Tabela 3.

39

Tabela 2 - Agrupamento de organismos de diversos gneros comumente

encontrados em Sistemas de Lodos Ativados.

Fonte: CETESB, 1985.

40

Tabela 3 Condies de desempenho num sistema operado por Lodos Ativados

de acordo com a predominncia da fauna microscpica.

Fonte: VAZOLLR et al., 1997, CORDI et al., 2007 apud CORDI et al., 2008.

Na Figura 5 possvel visualizar alguns desses organismos

presentes na biomassa do reator biolgico de Sistemas de Lodos

Ativados.

41

Figura 5 Alguns microrganismos presentes em Lodos Ativados: a. Monas spp.

(400x); b. Arcella spp. (1000x); c. Paramecium spp. (200x); d. Aspidisca spp.

(200x); e. Opercularia spp.; f. Epistylis spp.; g. Rotferos; h. Aelosoma spp. Fonte: JENKINS et al., 1993.

42

43

4 METODOLOGIA

4.1 Local de Estudo

A Estao Compacta de Tratamento de Efluentes Sanitrios, objeto de

estudo deste trabalho, pertence empresa corporativa MWV Rigesa

Fbrica de Celulose, Papel e Embalagens, a qual se encontra localizada

no planalto norte do Estado de Santa Catarina, no municpio de Trs

Barras (Figura 6).

Figura 6 Mapa do estado de Santa Catarina com a localizao do municpio de

Trs Barras.

Fonte: Wikimedia Commons, 2012.

A Rigesa Celulose, Papel e Embalagens Ltda. pertence ao grupo

norte americano Mead Westvaco, e a Fbrica de Papel de Trs Barras

uma unidade do grupo, no Brasil, produtora de celulose e papel kraft,

existindo ainda outras unidades que produzem papel reciclado e

embalagens a partir destas matrias primas bsicas.

No momento, a unidade de Trs Barras est em fase de ampliao,

para que a capacidade de produo de papel seja duplicada com a

instalao de uma nova mquina de papel. Com investimentos de

aproximadamente 800 milhes de reais, a obra de expanso,

atualmente, um dos maiores empreendimentos privados de Santa

Catarina, gerando aproximadamente 2.500 vagas de empregos diretos e

indiretos, a maioria para a fase da construo civil.

44

Para suprir a demanda de trabalho, foi construdo um alojamento

na Fazenda Becker, de propriedade da Rigesa, com toda infraestrutura

necessria para alojar um total de 900 trabalhadores, ocupando uma rea

com cerca de 100.000 m, constitudos de dez blocos com 20 quartos

cada. O local conta ainda com:

Estacionamento com capacidade para 20 veculos coletivos (nibus) e 20 veculos leves;

Edifcio Central de Servios com portaria, administrao, sala de apoio para segurana patrimonial, ambulatrio mdico,

almoxarifado, manuteno predial, vestirios, refeitrio;

Centro social e de entretenimento, pista de caminhada e corrida e trs quadras poliesportivas;

Depsito intermedirio de resduos slidos e coleta seletiva,

Unidade de Tratamento de gua para a captao de poo artesiano;

Estao de Tratamento de Efluentes sanitrios;

Gerador de energia.

Na Figura 7 possvel visualizar uma foto area da rea de

estudo.

Figura 7 Foto area do alojamento.

Fonte: Rigesa, 2012.

45

4.2 Estao Compacta de Tratamento por Lodos Ativados

A ETE compacta, pr-fabricada, apresentava formato retangular e foi

construda em ao SAE 1020, onde recebeu uma pintura protetora

anticorrosiva. Possua uma altura total de 3 metros com largura de 2,55

metros e comprimento igual a 11 metros, divididos em trs

compartimentos internos, onde funcionava o tratamento secundrio.

Segundo especificaes do fabricante, o equipamento pode atingir uma

eficincia de remoo de carga contaminante superior a 90%, e foi

dimensionado para tratar uma capacidade mxima de 4,5 mh-1

,

atendendo uma populao de 900 pessoas.

Esta ETE pode ser utilizada no tratamento de efluentes sanitrios

de pequenos condomnios, hotis, escritrios, dentre outras aplicaes,

sendo possvel tambm a utilizao no tratamento de efluentes

industriais de fcil degradao.

A estao foi instalada em setembro de 2011 no alojamento

pertencente ao grupo MWV Rigesa e pode visualizada nas Figuras 8 e 9.

Figura 8 ETE compacta Tratamento Primrio e Secundrio.

46

Figura 9 ETE compacta Tratamento Secundrio.

O sistema completo de tratamento era constitudo das seguintes

etapas: tratamento preliminar, tratamento secundrio, recirculao do

lodo, vala de infiltrao e destinao final do lodo, conforme

apresentado na Figura 10.

O efluente gerado nos banheiros coletivos de cada bloco do

alojamento e do refeitrio chegava at a ETE compacta por gravidade e

seguia para tratamento preliminar. Os slidos grosseiros eram retidos nas

duas grades instaladas na entrada da estao e a areia carreada era

removida no desarenador locado logo aps as grades.

O gradeamento teve por objetivo reter os slidos grosseiros, para

que estes materiais no obstrussem as tubulaes subsequentes, no

danificassem equipamentos e no acumulassem no reator aerbio. A

caixa de areia ou desarenador teve a funcionalidade de reter slidos de

menores dimenses, como a prpria areia, evitando atingir o tanque de

aerao e prejudicando o funcionamento do mesmo.

47

Figura 10 - Fluxograma do Sistema de Tratamento de Efluentes instalado no alojamento.

A limpeza, nessa etapa do sistema, era feita diariamente de forma

manual com o auxlio de rastelo e p. Os resduos gerados eram

dispostos em caambas estacionrias as quais eram retiradas por empresa

terceirizada, contratada pela Rigesa, que encaminhava o material para

disposio final em Aterro Industrial Classe IIA.

Aps estas etapas, o efluente bruto era acumulado em um poo de

suco, de onde era ento bombeado para a ETE compacta propriamente

dita, por onde passava por mais um processo de tratamento prvio, a

peneira rotativa.

A bomba de recalque (marca ABS), do tipo submersvel com

rotor triturante, foi dimensionada para uma vazo de 4,6 mh-1

e altura

manomtrica de 8 mca.

A peneira rotativa tinha a funo de remover slidos mais finos

que chegavam com o efluente, como cabelo, cotonete, e pequenos

objetos. O material retido na malha de ao inoxidvel com espessura de

1,5 milmetros, protegido por caixa retangular em ao carbono, era

48

varrido para uma calha coletora instalada no final da peneira,

direcionando os materiais para um tanque coletor de resduos. Aps o

acmulo de certa quantidade de slidos, estes tambm eram coletados e

enviados para aterro.

A Figura 11 mostra a chegada do efluente bruto peneira rotativa,

de onde se inicia o tratamento secundrio.

Figura 11 - Chegada do efluente bruto peneira esttica da ETE compacta.

Em continuidade ao tratamento, aps o peneiramento o efluente

era encaminhado para o primeiro reator, composto por um tanque

anxico com volume igual a 5 m. Esta cmara foi dimensionada para

obteno de condies anxicas onde o efluente bruto e o lodo

recirculado chegavam ao reator, passando antes por medidores de vazo

do tipo calha Parshall distintos, e se misturavam visando promover

reaes de desnitrificao, com a converso de nitrato a nitrognio

gasoso.

O efluente seguia ento para o tanque de aerao, com um volume

til de 63 m, onde ocorreriam as reaes bioqumicas de degradao da

matria carboncea. A aerao foi realizada por insuflao de ar atravs

de domos difusores de ar de bolhas finas fixados no fundo do reator,

49

tendo os sopradores instalados em rea coberta prpria para a operao

do complexo da ETE.

O modelo dos domos difusores utilizado foram o OXYFLEX MF

650 com membrana de borracha EPDM de alta resistncia, com

capacidade de aerao entre 2 e 12 mh-1

, transferindo 8,0 kg de

O2kWh-1

. Os domos garantiam o fornecimento de oxignio na

quantidade necessria para a atividade biolgica dos microrganismos na

remoo do substrato e no processo de nitrificao.

Aps o tempo de deteno necessrio para as reaes bioqumicas

dentro do reator aerado, o efluente seguia para o decantador secundrio

(Figura 12), de formato retangular e fundo inclinado, com capacidade

volumtrica de 15 m. Nesta etapa a separao da fase slida-lquida,

permitindo que o efluente saia com boa qualidade ao final do processo e

que os slidos sedimentados no fundo do reator retornem ao sistema,

garantindo uma quantidade suficiente de microrganismos no processo.

Figura 12 - Decantador secundrio (esquerda) e bombas de recirculao do lodo

(direita).

O lodo retirado no fundo do tanque por tubulao de 50 mm era

bombeado para a cmara anxica. As bombas de recirculao

funcionavam 24 horas por dia, e a parte excedente de lodo era

encaminhada para um tanque de armazenamento, atravs de manobras

manuais, onde recebia um aditivo de cal para ento ser prensado no filtro

prensa da marca Andritz, localizado na casa de operao. Os

50

equipamentos envolvidos na etapa de desaguamento do lodo excedente

podem ser visualizados na Figura 13.

Figura 13 - Tanque para armazenamento do lodo excedente (esquerda) e Filtro

Prensa para desaguamento do lodo (direita).

O clarificado passava ainda por um medidor de vazo do tipo

calha parshall (Figura 14) e por desinfeco com pastilhas de cloro antes

de seguir por gravidade para vala de infiltrao para percolao no solo

(Figura 15). A massa de lodo formada no filtro prensa seguia para

destinao final em Aterro Classe IIA.

Figura 14 - Calha Parshall na sada da estao de tratamento.

51

Figura 15 - rea da Vala de Infiltrao.

4.3 Anlises e Instalaes Laboratoriais

Para o controle e monitoramento das amostras coletadas em pontos pr-

determinados da ETE foram definidas algumas anlises especficas, de

acordo com o ponto de coleta.

Durante todo o perodo experimental, algumas variveis mais

importantes foram determinadas mais frequentemente em detrimento de

outras, sendo que algumas dessas variveis somente foram quantificadas

esporadicamente.

As determinaes analticas de variveis fsico-qumicos foram

realizadas de acordo com o Standart Methods for the examination of

water and wastewater (APHA, 1992).

Os pontos de coleta das amostras para anlise foram definidos

como:

Ponto 01 Entrada na ETE (esgoto bruto)

Ponto 02 Tanque Anxico

Ponto 03 - Tanque de Aerao

Ponto 04 - Sada do Decantador Secundrio

Ponto 05 - Lodo Recirculado

As amostras analisadas em laboratrio foram coletadas em

recipientes de plstico de polipropileno prprios, guardados em caixa de

52

isopor para preservao e levados at o local onde eram feitas as

anlises.

Algumas variveis foram observadas e realizadas in loco, como vazo, pH, temperatura e slidos sedimentveis em cone de Imhoff. As

anlises laboratoriais foram realizadas no Laboratrio da Estao de

Tratamento de Efluentes Industriais (ETEI) e no Laboratrio Central da

Fbrica de Papel de Trs Barras (FPTB). As variveis analisados foram:

Demanda Bioqumica de Oxignio (DBO5, 20C); ndice Volumtrico de

Lodo (IVL); nitrognio amoniacal (NH4+-N); nitrito (NO2

--N); nitrato

(NO3--N); srie de slidos, sendo slidos suspensos totais (SST), slidos

suspensos fixos (SSF) e slidos suspensos volteis (SSV). importante

salientar que no foi possvel monitorar a concentrao de oxignio

dissolvido no sistema, pois a sonda disponvel encontrava-se danificada.

As anlises biolgicas, para o controle microbiolgico em

microscpio, foram efetuadas no Laboratrio Central da FPTB (Figura

16).

Figura 16 - Foto do Laboratrio Central na Fbrica de Papel de Trs Barras.

A rotina das anlises foi definida de acordo com bibliografia e

pode ser verificada na Tabela 4. Na Tabela 5 esto apresentados as

variveis fsico-qumicas e biolgicas e as tcnicas analticas

empregadas.

53

Tabela 4 - Rotina das anlises laboratoriais.

Variveis Efluente

Bruto(1)

Sada

Tanque

Anxico

Tanque de

Aerao

Sada do

Decantador

Lodo

Recirculado Frequncia

DBO5 X X quinzenal

SST X X X quinzenal

SSV X X X quinzenal

SSF X X X quinzenal

Amnia X X X X mensal

Nitrito X X X X mensal

Nitrato X X X X mensal

Slidos Sedimentveis (IMHOFF)

X X X X dirio

IVL30 X quinzenal

pH X X X X X dirio

Temperatura X X X X X dirio

Vazo X X X dirio

(1) Amostra coletada aps passagem por tratamento preliminar.

54

Tabela 5 - Parmetros fsico-qumicos e tcnicas analticas utilizadas.

Variveis Unidades Tcnica Analtica

Temperatura C Standard Methods - Mtodo 2550 B

pH - Standard Methods - Mtodo

4500-H+ B Demanda Bioqumica de

Oxignio mgL-1 O2 Standard Methods - Mtodo

5210 B Nirognio Amoniacal mgL-1NH4

+-N HACH - Mtodo 10031

Nitrognio Nitrito mgL-1NO2- -N HACH - Mtodo 8507

Nitrognio Nitrato mgL-1NO3- -N HACH - Mtodo 8171

Slidos Suspensos Totais mgL-1 SST Standard Methods - Mtodo 2540 D

Slidos Suspensos Fixos mgL-1SSF Standard Methods - Mtodo

2540 E Slidos Suspensos Volteis mgL-1SSV Diferena

Slidos Sedimentveis mgL-1 SS Standard Methods - Mtodo 2540 F

Determinao do Teor de Nitrato (APHA, 1992)

Os valores das concentraes de nitrato foram obtidos pelo

mtodo 8171 (HACH COMPANY, 1998) para gua e guas residurias,

mtodo de reduo do Cdmio, descrita no manual do espectrofotmetro

modelo DR2000 da Hach. O limite de quantificao aplicado na faixa

de 0 a 4,5 mgNO3--NL

-1, lendo-se a absorvncia em espectrofotmetro a

400 nm.

Determinao do Teor de Nitrito (APHA, 1992)

Os valores das concentraes de nitrito foram obtidos pelo

mtodo 8507 (HACH, 1998) para gua e guas residurias, o mtodo de

diazotizao, descrita no manual do espectrofotmetro modelo DR-2000

da Hach. O limite de quantificao aplicado a faixa de 0 a

0,3 mgNO2--NL

-1, lendo-se a absorvncia em espectrofotmetro a um

comprimento de onda de 507 nm.

55

Determinao do Teor de Nitrognio Amoniacal (APHA, 1992)

Os valores das concentraes de nitrognio amoniacal foram

obtidos pelo mtodo 10031 (HACH, 1998) para gua, guas residurias

e gua do mar, como mtodo de salicilato, descrita no manual do

espectrofotmetro modelo DR-2000 da Hach. O limite de quantificao

aplicado a faixa de 0 a 50 mgNH4+-NL

-1, com o ajuste do

comprimento de onda igual a 655 nm.

Anlise microscpica da biomassa

A caracterizao microscpica da biomassa foi realizada em

microscpio ptico Zeiss, modelo MC 80 DX. As imagens foram obtidas

atravs da cmera Nikon Coolpix, observando a biomassa presente no

tanque de aerao.

4.4 Clculos realizados

4.4.1 Vazo de Recirculao

A vazo de recirculao do lodo (QR) foi calculada em funo da vazo

mdia afluente (Qm) e da razo de recirculao (R) do sistema (Equao

10), que definido como sendo a concentrao de slidos suspensos

totais no reator biolgico (SSTTA) pela concentrao de slidos que

retornam ao reator (SSTR) menos a concentrao de slidos no reator,

como indica a Equao 11.

(Equao 10)

Onde:

(Equao 11)

56

4.4.2 ndice Volumtrico do Lodo

O ndice Volumtrico do Lodo (IVL) a medida do volume ocupado

pelo lodo aps 30 minutos de sedimentao, expresso em mL, dividido

pela massa de slidos presentes no reator, expresso em gramas,

conforme a Equao 12.

(Equao 12)

Os slidos em sedimentao ( ) determinado segundo Standart Methods em proveta graduada de 1000 mL durante 30 minutos,

com a amostra do licor misto do tanque de aerao. E em seguida,

determina-se o teor de slidos em suspenso (SST) da amostra, obtendo-

se ento o IVL do sistema, expresso em mL/g.

4.4.3 Relao Alimento/Microrganismo (A/M)

Esta relao tambm conhecida como F/M, termo originrio do ingls

food/microrganisms, e baseia-se na relao existente entre a matria

orgnica do efluente a ser tratado e a quantidade de microrganismos

necessrios para degrad-la.

Esta relao expressa pela Equao 13.

(Equao 13)

Onde, Q a vazo do afluente (Ld-1

), DBO a demanda

bioqumica do afluente (mgL-1

), V o volume do reator aerado (L) e SSV

so os slidos suspensos volteis do tanque de aerao (mgL-1

). A razo

57

A/M expressa em gramas de DBO fornecida por dia por gramas de

SSV.

4.4.4 Eficincia de remoo

Com relao eficincia do tratamento empregado, foram feitas anlises

da entrada e da sada da ETE, onde as seguintes variveis foram

investigadas: DBO5, 20C, nitrognio amoniacal, slidos suspensos totais e

slidos suspensos volteis.

As eficincias de remoo foram calculadas pela Equao 14.

(Equao 14)

Onde:

Ef: eficincia de remoo (%);

E: concentrao na entrada do sistema (mgL-1

);

S: concentrao na sada do sistema (mgL-1

).

4.4.5 Carga Orgnica Volumtrica

A carga orgnica volumtrica quantifica a massa em quilograma de um

poluente que entra no sistema de tratamento vezes a vazo mdia diria

desse mesmo sistema pelo volume do reator onde ocorrer o processo de

depurao do composto (Equao 15).

(Equao 15)

Onde:

Sa: Concentrao afluente do poluente (gm-3

);

V: volume do tanque de aerao.

58

59

5 RESULTADOS E DISCUSSES

5.1 Monitoramento da ETE Compacta

Neste item sero abordados os resultados referentes ao primeiro

objetivo especfico, referentes avaliao do desempenho da ETE

compacta a partir da caracterizao qumica, fsica e biolgica.

5.1.1 Caracterizao Preliminar da ETE Compacta

O monitoramento da ETE compacta do tipo Lodos Ativados comeou a

ser realizado no final de Fevereiro de 2012, aps a identificao de

algumas adversidades. Inicialmente, a estao apresentava problemas

operacionais como: ausncia de um sistema preliminar de remoo de

slidos grosseiros eficiente; ausncia de caixa de gordura; ineficincia

das bombas de recirculao de lodo, causada por entupimentos; e baixa

eficincia de aerao no reator biolgico.

Para a melhoria da operao e consequente aumento da eficincia

da ETE, inicialmente foi instalado um sistema de gradeamento antes da

caixa desarenadora, o qual foi dimensionado para impedir que slidos

grosseiros adentrassem no tratamento. Alm disso, os sopradores de ar

foram substitudos, com o auxlio da assistncia tcnica responsvel pela

construo da ETE compacta, por um com capacidade superior de

sopragem.

Para suprir a recirculao adequada do lodo, as bombas de

recirculao passaram a ser limpas diariamente, minimizando problemas

com entupimento. Quanto instalao de uma caixa de gordura na sada

do refeitrio, devido problemas com o acmulo de gordura na cmara

anxica, a solicitao no pode ser atendida at o final deste estudo por

motivos no justificveis.

Aps as correes adequadas no sistema, o monitoramento

operacional com anlises dos parmetros fsico-qumicos e biolgicos

foi realizado entre os meses de Abril e Julho de 2012.

A vazo afluente da ETE foi regulada para que o tempo de

deteno hidrulica dentro do reator biolgico se mantivesse entre 16 e

24 horas, conforme recomendado por von Sperling (2002), e estivesse

ainda em concordncia com o volume de armazenamento no poo de

suco, de modo a garantir o fluxo contnuo sem que houvesse

60

extravases na capacidade do poo. Desta forma, a vazo mdia afluente

foi mantida em torno de 3,0 mh-1

.

Com a vazo mdia afluente definida, a vazo de recirculao do

lodo foi calculada de acordo com a Equao 10, variando segundo a

Tabela 6.

Tabela 6 Vazo de recirculao do lodo de acordo com a razo de

recirculao.

Data R (%) QR (mh-1

)

4-abr 3,2 9,6

12-abr 1,8 5,4

20-abr 1,3 3,9

4-mai 1,1 3,4

17-mai 1,1 3,4

30-mai 5,8 17,3

15-jun 3,6 10,8

28-jun 0,6 1,9

9-jul 3,2 9,6

16-jul 1,5 4,6

Mdia 1,7 5,0

Desvio Padro 1,6 4,8

A razo de recirculao mdia foi igual a 1,7, sendo que para

parmetros de projeto aconselhvel manter valores entre 0,7 e 1,2

(VON SPERLING, 2002). No entanto, com a finalidade de reduzir

efeitos da desnitrificao no decantador secundrio, optou-se por adotar

razes de recirculao altas para uma maior vazo de recirculao do

lodo na ETE (MARAIS & EKAMA, 1976 apud VON SPERLING,

2002). Com isso, o lodo formado no decantador secundrio era mais

rapidamente removido, tendo menores chances de formao de

nitrognio gasoso.

Nos dias em que a razo de recirculao apresentava valores

acima da capacidade mxima das bombas, devido s variaes de

slidos suspensos na estao, optava-se por diminuir a vazo afluente,

com intuito de aumentar a quantidade de slidos no reator, equilibrando

o sistema.

61

5.1.2 Caractersticas do Esgoto Bruto

As principais caractersticas do esgoto domstico bruto afluente

estao de tratamento em estudo, coletado aps o tratamento preliminar,

esto apresentadas na Tabela 7. Segundo Henze (2002), as

caractersticas apresentadas apontam para uma gua residuria

concentrada em termos de DBO5,20C e de NH4+-N, para valores iguais a

350 mgL-1

e 50 mgL-1

, respectivamente.

Tabela 7 Caractersticas do esgoto bruto e cargas aplicadas.

Varivel Unidade Mdia Desvio

Padro

Nmero

de dados

DBO5,20C mgL-1 322,0 92,5 11

NH4+-N mgL

-1 54,5 18,4 6

Carga orgnica kg DBO5m-3d-1 0,34 0,11 11

Carga nitrogenada kg NH4+-N m-3d-1 0,06 0,02 6

5.1.3 Comportamento do pH e da temperatura

Os valores obtidos para pH (Tabela 8 e Figura 17) mostram um afluente

alcalino, com valores variando entre 7,3 e 8,9. Segundo Metcalf & Eddy

(2003), esses valores esto dentro do recomendado para a oxidao da

matria orgnica carboncea. Entretanto, alguns valores de pH ficaram

acima da faixa tima para a ocorrncia do processo de nitrificao, que

de acordo com Gerardi (2002) entre 7,2 e 8,0.

Em relao ao afluente, possvel observar ainda que houve uma

queda no valor do pH no tanque de aerao, com uma mdia igual a 6,7.

Esta diminuio no valor do pH pode ser explicada pela ocorrncia do

processo da nitrificao, onde com a oxidao da amnia ocorre a

liberao de ons H+, o que, conseqentemente, provoca o consumo da

alcalinidade do meio e a reduo do pH (VON SPERLING, 1996).

As temperaturas mdias (Tabela 8 e Figura 18) enfrentadas pelo

sistema tiveram uma variao semelhante no afluente, no tanque de

aerao e no efluente, com valores, respectivamente, iguais a 24,6, 25,6

e 25,4 C. Estes valores estiveram dentro da faixa recomendada para a

62

oxidao do material orgnico, conforme SantAnna Jr. (2010).

Entretanto, os mesmos se encontram fora da faixa de temperatura tima

de crescimento das bactrias nitrificantes, que, segundo Bernet &

Sprandio (2009), entre 28 e 36C.

Tabela 8 Resultados de pH e temperatura obtidos em amostras de afluente,

tanque de aerao e efluente.

Varivel Anlise

Amostras

Afluente Tanque de

Aerao

Efluente

pH

Mdia 8,3 6,7 7,2

Desvio Padro 0,4 0,4 0,5

Mximo 8,9 7,5 7,8

Mnimo 7,3 6,0 6,0

Nmero de dados 29 29 29

T (C)

Mdia 24,6 25,6 25,4

Desvio Padro 4,4 4,3 4,6

Mximo 26,2 26,9 27,1

Mnimo 12,7 13,0 13,2

Nmero de dados 29 29 29

De acordo com o Cdigo Estadual do Meio Ambiente de Santa

Catarina (Lei n 14.675/09), o pH se encontra dentro dos padres de

lanamento de efluentes, que deve ficar entre 6,0 e 9,0. Para

temperatura, os limites so especificados na resoluo do CONAMA n

430 de 2011, que apresenta padres de lanamento inferior 40C,

estando o efluente em conformidade com legislao (BRASIL, 2011).

63

Figura 17 Variao de pH na entrada e sada do sistema.

Figura 18 Variao de temperatura na entrada e na sada do sistema.

5

6

7

8

9

10

pH

Data da coleta

Afluente Efluente

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

T ( C

)

Data da coleta

Afluente Efluente

64

5.1.4 Comportamento dos Slidos

Na Tabela 9 est apresentada a variao de slidos suspensos totais

(SST), volteis (SSV) e fixos (SSF), bem como a proporo de slidos

suspensos volteis pelos totais (SSV/SST) presentes no tanque de

aerao e no lodo de recirculao da ETE.

Para os slidos suspensos totais no tanque de aerao, obteve-se

um valor mdio igual a 2245 mgL-1

, com variao entre 2970 e 1370

mgL-1

para os valores mximos e mnimos respectivamente. E para

slidos suspensos volteis a concentrao mdia, mxima e mnima foi

igual 1553, 2340 e 1030 mgL-1

, com a proporo de slidos de

SSV/SST mdia igual a 69%. Na recirculao do lodo, a concentrao

mdia encontrada para o SST, SSV e SSF foi igual a 3403, 2846 e 520

mgL-1

, com proporo de SSV/SST igual a 80%.

Tendo em vista os altos valores de SSV, tanto no tanque de

aerao como na recirculao, pode-se perceber que os slidos presentes

em ambas as amostras eram compostos principalmente por material

orgnico. SegundoVon Sperling (2002), quanto maior a concentrao de

SSV no reator, maior ser a disponibilidade de biomassa disponvel para

assimilao da matria orgnica, e consequentemente menor ser o

volume necessrio do reator, para uma mesma eficincia.

Na Figura 19 e Figura 20 possvel acompanhar a evoluo dos

slidos suspensos no reator e na recirculao, e suas respectivas

propores de SSV/SST.

65

Tabela 9 Concentraes de slidos suspensos no tanque de aerao e na

recirculao do lodo.

Varivel Anlise

Amostras

Tanque de

Aerao Recirculao

SST

(mgL-1

)

Mdia 2245,0 3403,5

Desvio Padro 455,9 1179,1

Mximo 2970,0 5896,0

Mnimo 1370,0 1830,0

Nmero de dados 10 10

SSV

(mgL-1

)

Mdia 1553,0 2846,1

Desvio Padro 376,7 991,7

Mximo 2340,0 4328,0

Mnimo 1030,0 1420,0

Nmero de dados 10 8

SSF

(mgL-1

)

Mdia 645,0 520,6

Desvio Padro 173,2 392,7

Mximo 860,0 1568,0

Mnimo 230,0 370,0

Nmero de dados 10 8

SSV/SST

(%)

Mdia 69,1 80,5

Desvio Padro 6,6 5,7

Mximo 83,2 89,5

Mnimo 65,3 73,4

Nmero de dados 10 8

66

Figura 19 Concentraes de Slidos Suspensos no Tanque de Aerao e a proporo de SSV/SST.

Figura 20 - Concentraes de Slidos Suspensos no Lodo de Recirculao e a proporo de SSV/SST.

0

25

50

75

100

0

1000

2000

3000

4000

SS

V/S

ST

(%)

Conce

ntra

o d

e Slidos (m

gL

-1)

Data da coleta

Tanque de Aerao

SST SSV SSF SSV/SST

0

25

50

75

100

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

SS

V/S

ST

(%)

Conce

ntra

o d

e Slidos (m

gL

-1)

Data da coleta

Lodo de Recirculao

SST SSV SSF SSV/SST

67

As caractersticas de sedimentabilidade e adensabilidade do lodo

esto intimamente associadas estrutura do floco formado no reator

biolgico e interferem na qualidade final do efluente tratado. E para uma

avaliao mais simplificada dessas caractersticas em estaes de

tratamento de esgotos, adota-se o conceito do ndice Volumtrico do

Lodo (IVL), pela eficincia e rapidez do mtodo (VON SPERLING,

2002).

A ETE apresentou uma variao no IVL, entre 31 a 140 mLg-1

,

com valor mdio de 50,9 mLg-1

(Figura 21), sendo que a interpretao

desse teste feita no sentido de que quanto menor o valor de IVL,

melhor a sedimentabilidade do lodo.

Segundo Jenkins et al. (1993), o IVL considerado adequado

quando se encontra na faixa entre 80 e 120 mLg-1

, embora diferentes

autores apontem outras faixas recomendveis do ndice. Com base no

valor mdio do IVL e de acordo com Von Sperling (2002), pode-se

classificar a condio de sedimentabilidade apresentada pelo lodo como

sendo tima.

Figura 21 - Comportamento do ndice Volumtrico do Lodo.

O alto ndice do IVL encontrado no ms de Maio justificado

pela queda de slidos em suspenso total presente no reator, ocorrido

devido a fortes chuvas com grande infiltrao nas tubulaes de coleta

do efluente que chegavam ETE, contribuindo com a diluio das

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

120.0

140.0

160.0

ndice Volu

mtrico

do L

odo (m

Lg

-1)

Data da Coleta

IVL30

68

concentraes de slidos no sistema. Wagner (2011), estudando o

tratamento de esgoto domstico com reator em bateladas sequenciais de

grnulos aerbios, tambm observou que a concentrao de biomassa no

reator foi inversamente proporcional a sedimentabilidade da mesma, ou

seja, quanto maior a concentrao de biomassa, maior foi a eficincia da

sedimentao e menor o valor de IVL.

Os slidos sedimentveis em cone de Imhoff por 1 hora tiveram

um valor mdio igual a 0,1 mLL-1

(Figura 22). De acordo com

legislao vigente, CONAMA N 430, o limite mximo de lanamento

de materiais sedimentveis igual a 1 mLL-1

, estando portanto, o

efluente da ETE em conformidade aos padres de lanamento, com

apenas 10% dos resultados fora dos padres.

Foi possvel observar um aumento considervel nos resultados de

slidos sedimentveis nos meses de Abril e de Junho, podendo estes

serem explicados pela ocorrncia de flotao do lodo no decantador

secundrio, o que prejudicou a separao lquido-slido do sistema,

acarretando numa piora do efluente final.

Figura 22 - Valores de Slidos Sedimentveis em Cone de Imhoff por 1 hora na

sada da ETE.

0

1

2

3

4

5

6

7

Slidos Sedim

ent

veis (m

LL

-1)

Data da coleta

SSed na sada da ETE

SS Padro de Lanamento CONAMA n 430

69

5.1.5 Comportamento da Matria Orgnica Carboncea e

Nitrogenada

Os resultados encontrados no esgoto afluente e efluente durante o

monitoramento, bem como a eficincia de remoo desses compostos no

sistema para as variveis DBO5,20C e NH4+-N esto apresentados na

Tabela 10.

As concentraes de matria orgnica afluente variaram de 113 a

375 mgL-1

com valor mdio de 322 mgL-1

. Maiores oscilaes na

concentrao de DBO5,20C afluente foram encontradas nos dias em que

as coletas foram realizadas em horrios diferentes do habitual, no

perodo matutino, onde haviam poucos alojados no local e era realizada

a limpeza dos banheiros, acarretando em menor gerao de carga

orgnica. A concentrao de DBO5,20C na sada do decantador

secundrio manteve-se em mdia de 58 mgL-1

, com uma eficincia de

remoo do material carbonceo igual a 81,4 %. Este percentual

apresentou-se abaixo da eficincia de remoo em sistemas de

tratamento por Lodos Ativados, onde se espera atingir eficincias

superiores a 90% (VON SPERLING, 2002).

No entanto, a mdia de remoo de matria orgnica do sistema

atendeu aos padres de lanamento vigente em legislao ambiental do

Estado de Santa Catarina Lei Estadual N 14.675/09, que determina

limites mximos de lanamento igual a 60 mgL-1

ou eficincia de

remoo de DBO5,20C em no mnimo 80% (oitenta por cento), e a

Resoluo CONAMA n 430 de 2011, que estipula o limite mximo de

lanamento de DBO5,20C aps estaes de tratamento de efluentes igual

a 120 mgL-1

ou eficincia de remoo mnima de 60%.

A relao alimento/microrganismo manteve uma mdia igual a

0,24 kgDBO5/kgSSV.d, com variaes entre a mxima e mnima igual a

0,07 e 0,42 kgDBO5/kgSSV.d, sendo que segundo Jordo & Pessa

(2005), em sistema de Lodos Ativados de aerao prolongada os valores

geralmente assumidos ficam entre 0,05 a 0,15 kgDBO5/kgSSV.d.

Analisando as variaes de DBO5,20C no afluente e no efluente da

estao (Figura 23), possvel observar que nos dias 12 e 20 de Abril, e no dia 9 de Julho, ocorreu um aumento significativo no valor da

concentrao da DBO de sada do sistema, o que acarretou na

diminuio da eficincia de remoo do mesmo. Estes resultados so

explicados devido flotao considervel do lodo no decantador

secundrio (Figura 25) que ocorreu no dia 11 de abril de 2012 e outra no

70

incio de Julho, ocasionando desequilbrio do sistema e aumento da

concentrao de slidos na sada do decantador.

Em relao ao nitrognio amoniacal, obteve-se um valor mdio

afluente de 50,1 mgL-1

, variando de 40,5 a 63 mgL-1

. Von Sperling

(2002) apresenta concentraes tpicas de nitrognio amoniacal em

esgotos sanitrios na faixa de 20 a 35 mgL-1

, e Henze (2002) apresenta

concentraes igual a 50 mgL-1

em esgotos tipicamente domsticos e

concentrados. Ainda segundo von Sperling (2002), para as mdias de pH

e temperatura do afluente, iguais a 8,3 e 24,6 C respectivamente, as

propores das formas de amnia encontrada no esgoto bruto em torno

de 85% de on amnio (NH4+) e 15% na forma livre, no ionizada (NH3).

Tabela 10 Eficincia de remoo de DBO5,20C e NH4

+-N.

Varivel Anlise Amostras Eficincia de

Remoo

(%) Afluente Efluente

DBO5, 20C (mgL

-1)

Mdia 322,0 58,0 81,4

Desvio Padro 92,5 34,3 8,01

Mximo 375,0 138,0 86,9

Mnimo 113,0 21,0 58,8

Nmero de dados 11 11 -

NH4+-N

(mgL-1

)

Mdia 54,5 2,4 95,1

Desvio Padro 18,4 6,5 6,3

Mximo 93,0 18,1 97,3

Mnimo 40,5 1,3 80,5

Nmero de dados 6 6 -

Quanto eficincia na remoo de nitrognio amoniacal, pode-se

observar que a mdia alcanada neste sistema foi igual a 95%, com

baixas concentraes apresentadas no efluente final, indicando a boa

ocorrncia de nitrificao, com valor mdio na sada do tratamento igual

a 2,4 mgL-1

. O comportamento do nitrognio amoniacal durante o

estudo se manteve estvel (Figura 24), apresentando um aumento na

71

concentrao na sada do sistema no ms de julho, ocasionado pela

deficincia de aerao no reator biolgico, causado por queda de energia

no local, resultando em problemas nos aeradores de ar.

Figura 23 Concentraes de DBO5,20C no afluente e efluente, com a eficincia

de remoo.

Figura 24 - Concentraes de NH4+-N no afluente e efluente, com a eficincia

de remoo.

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

90.0

100.0

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Efi

cin

cia

(%

)

DB

O5

,20 C

(mgL

-1)

Data da coleta

Afluente Efluente Eficincia de remoo

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

120.0

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Efi

cin

cia

(%

)

NH

4+-N

(m

gL

-1)

Data decoleta

Afluente Efluente Eficincia de remoo

72

Figura 25 - Lodo flotado no decantador secundrio (11 de Abril de 2012).

O valor mdio de nitrito e nitrato no afluente da ETE apresentou

concentraes iguais a 2,2 e 2,7 mgL-1

, e na sada do decantador

apresentaram valores mdio iguais a 1,0 e 30 mgL-1

, respectivamente

(Tabela 11). A alta concentrao de nitrato na sada do tratamento e o

baixo valor de nitrito indicam que o processo de nitrificao ocorreu at

a etapa final (nitratao).

Com essas evidncias, possvel associ-las ao processo de

desnitrificao no prprio decantador, pois, com a ocorrncia de alta

concentrao de nitrato e condies mnimas da presena de oxignio no

fundo do tanque, fortes indcios apontam para a reduo do nitrato a

nitrognio gasoso no fundo do decantador secundrio, justificando o

constante desprendimento de flocos de lodo na superfcie do mesmo.

Segundo van Haandel & Marais (1999), a produo do nitrognio

molecular no decantador secundrio provoca o desprendimento de

bolhas que arrastaro consigo partculas de lodo sedimentado,

promovendo perda de parte da massa de lodo ativo necessrio ao

sistema, acarretando tambm a degradao da qualidade do efluente

lanado.

No entanto, a justificativa acima no pode ser comprovada pela

deficincia de anlises para as variveis nitrito e nitrato, devido falta

de reagentes durante o estudo em questo.

73

Tabela 11 - Concentraes de nitrito e nitrato no afluente e no efluente da ETE.

Varivel Anlise Amostras

Afluente Efluente

NO2+-N

(mgL-1

)

Mdia 2,2 1,0

Desvio Padro 1,6 5,1

Mximo 4,6 12,7

Mnimo 0,2 0,6

Nmero de dados 5 5

NO3--N

(mgL-1

)

Mdia 2,7 30,0

Desvio Padro 0,6 7,5

Mximo 3,7 45,5

Mnimo 2,0 27,0

Nmero de dados 6 5

5.1.6 Microscopia

A microscopia foi utilizada para avaliar a estrutura dos flocos de lodo

ativado e observar a microfauna presente no lodo biolgico do tanque de

aerao, com intuito de identificar os principais microrganismos

presentes no sistema de tratamento. A Figura 26 apresenta os flocos de

lodo ativado, os quais se mostraram bem formados e dispersos, com uma

estrutura bem irregular. De acordo com Hoffmann et al. (2001), as

caractersticas dos flocos